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Ana Laura Galdeano Boraschi1, Letícia Pantaleão Meira1, Maria Fernanda Vichiato
Galviolli1*.
RESUMO
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), comumente referido como autismo,
é um transtorno multifacetado caracterizado por uma deficiência de desenvolvimento que
se manifesta em dificuldades sociais, de comunicação e comportamentais. Numerosos
estudos documentaram a composição atípica da microbiota intestinal em indivíduos
diagnosticados com TEA, indicando assim uma possível associação entre esses dois
fatores. A potencial manipulação e restauração da microbiota intestinal pode servir como
um caminho promissor para melhorar as manifestações gastrointestinais e
comportamentais em indivíduos diagnosticados com TEA. O transplante fecal/microbiota
demonstrou a capacidade de corrigir a disbiose dentro da microbiota intestinal,
promovendo assim o estabelecimento de uma composição microbiana mais favorável.
Essa abordagem de modificação tem o potencial de emergir como uma intervenção
terapêutica viável para indivíduos com autismo no futuro, melhorando assim o bem-estar
geral de um número substancial de pacientes. O presente trabalho tem por objetivo
realizar uma revisão de literatura sobre a qualidade da microbiota intestinal em indivíduos
com Transtorno do Espectro Autista. Para tanto, uma revisão narrativa da literatura foi
realizada sobre a alteração da microbiota em indivíduos com Transtorno do Espectro
Autista. Conclui-se que o eixo bidirecional cérebro-intestino-microbiota desempenha um
papel significativo tanto no desenvolvimento quanto no agravamento dos sintomas
clínicos associados ao TEA. A fim de melhorar a qualidade de vida de um subconjunto
específico de indivíduos com TEA, certas abordagens terapêuticas, como a administração
de pró e prebióticos, bem como o transplante fecal/microbiota, demonstraram resultados
favoráveis.
Palavras Chaves: Microbiota Intestinal, Nutrição, Transtorno do Espectro Autista.
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ABSTRACT
Autism Spectrum Disorder (ASD), commonly referred to as autism, is a
multifaceted disorder characterized by a developmental disability that manifests itself in
social, communication, and behavioral difficulties. Numerous studies have documented
the atypical composition of the intestinal microbiota in individuals diagnosed with ASD,
thus indicating a possible association between these two factors. The potential
manipulation and restoration of the intestinal microbiota can serve as a promising way to
improve gastrointestinal and behavioral manifestations in individuals diagnosed with
ASD. Fecal/microbiota transplantation has demonstrated the ability to correct dysbiosis
within the gut microbiota, thereby promoting the establishment of a more favorable
microbial composition. This modification approach has the potential to emerge as a viable
therapeutic intervention for individuals with autism in the future, thereby improving the
general well-being of a substantial number of patients. The present work aims to carry
out a literature review on the quality of the intestinal microbiota in individuals with
Autistic Spectrum Disorder. Therefore, a narrative review of the literature was carried out
on the alteration of the microbiota in individuals with Autistic Spectrum Disorder. It is
concluded that the bidirectional brain-gut-microbiota axis plays a significant role in both
the development and worsening of clinical symptoms associated with ASD. In order to
improve the quality of life of a specific subset of individuals with ASD, certain
therapeutic approaches, such as the administration of pro- and prebiotics, as well as
fecal/microbiota transplantation, have demonstrated favorable results.
Keywords: Gastrointestinal Microbiome, Nutrition, Autism Spectrum Disorder.
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
(PubMed/MEDLINE) nos meses de junho de 2023 e agosto de 2023. Para a busca dos
artigos científicos foram utilizados os seguintes descritores em inglês: "Gastrointestinal
Microbiome”, "Nutrition”, " Autism Spectrum Disorder” e em português: "Microbiota
Intestinal", "Nutrição”, "Transtorno do Espectro Autista”.
Como critérios de inclusão, foram considerados relatos de casos clínicos e
revisões bibliográficas sobre alteração da microbiota em indivíduos com Transtorno do
Espectro Autista. Outros critérios de inclusão foram: artigos escritos em inglês ou
espanhol, artigos publicados no período de 2019 a julho de 2023, e artigos que
permitissem o acesso integral ao conteúdo. Os critérios de exclusão serão artigos
contendo apenas resumos, artigos que foram escritos em outras línguas que não fosse
inglês, espanhol e português e que não abordassem o tema na íntegra.
A estratégia de seleção dos artigos seguiu as seguintes etapas: busca na base de
dado; leitura dos títulos de todos os artigos encontrados e exclusão daqueles que não
abordavam o assunto; leitura crítica dos resumos dos artigos e leitura na íntegra dos
artigos selecionados nas etapas anteriores. Assim, foram identificados inicialmente 197
artigos na base citada. Após avaliação e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão,
foram selecionados 12 artigos científicos que atendiam os critérios de inclusão e exclusão
descritos anteriormente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
comunidade microbiana alterada no grupo TEA. Após o ajuste para fatores de confusão e
correções de testes múltiplos, nenhuma diferença significativa de grupo foi encontrada na
abundância relativa da microbiota no nível do filo. No nível familiar, as crianças com
TEA tiveram uma menor abundância relativa de Acidaminococcaceae do que os controles
saudáveis. Além disso, uma diminuição na abundância relativa dos gêneros
Lachnoclostridium, Tyzzerella subgrupo 4, Flavonifractor e Lachnospiraceae não
identificada foi observada no grupo TEA. Este estudo fornece mais evidências de disbiose
microbiana intestinal em TEA e lança luz sobre as características do microbioma
intestinal de crianças autistas.
Bezawada et al.22 concluíram em seus estudos que as alterações na microbiota
intestinal observadas no TEA podem ter um papel causal e perpetuar os sintomas
gastrointestinais ou podem simplesmente ser um fator de confusão causado pela restrição
alimentar. Crianças com autismo muitas vezes sofrem de uma variedade de sintomas
gastrointestinais, incluindo diarreia, dor abdominal, constipação e refluxo
gastroesofágico. As estimativas da prevalência de tais sintomas variam de 9 a 91% entre
os estudos. Pesquisas verificaram que havia um risco três vezes maior de sintomas
gastrointestinais em crianças com TEA do que naquelas sem. E sugeriram que alterações
na composição da microbiota intestinal em crianças com TEA podem contribuir para
sintomas gastrointestinais e neurológicos. Deste modo, como a microbiota intestinal
desempenha um papel na fisiopatologia, pode haver espaço para novos tratamentos por
meio de sua manipulação por terapia microbiana.
Os achados de Coretti et al.23 sustentam a alteração global do equilíbrio da
estrutura da microbiota intestinal em crianças com TEA, incluindo anormalidades na
colonização temporal por B. longum e F. prausnitzii. O desenvolvimento paralelo entre
estrutura da microbiota intestinal e os circuitos cerebrais, especialmente aqueles
necessários para a cognição social e emocional, sugere fortemente um papel d estrutura
da microbiota intestinal e seus metabólitos nos sintomas e progresso do TEA.
Srikantha et al.24 explicam que a correlação mútua entre TEA e alterações na
microbiota foi indubitavelmente confirmada por muitos estudos em animais e humanos.
Observou-se mudanças significativas na composição microbiana da população autista.
Mudanças frequentemente observadas em crianças com TEA foram uma diversidade
bacteriana geralmente diminuída em comparação com as populações de controle e a
proporção significativamente menor de Bacteroidetes para Firmicutes. Abundâncias
elevadas de Clostridiums em indivíduos autistas correlacionam-se com a gravidade do
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Autismo. Vários estudos têm sido realizados para demonstrar a presença de deficiências
nutricionais nesses pacientes, especificamente relacionadas à seletividade alimentar.
Verificou-se que esse comportamento alimentar seletivo perturba o equilíbrio da
microbiota intestinal, contribuindo potencialmente para o desenvolvimento e exacerbação
da disbiose.
A exacerbação das manifestações habituais do Transtorno do Espectro do Autismo
(TEA) pode estar ligada à disbiose, que decorre do surgimento de uma resposta
inflamatória na mucosa intestinal e subsequente aumento da permeabilidade intestinal.
Esses fatores contribuem para alterações neurológicas, metabólicas e comportamentais
comumente atribuídas à apresentação clínica do TEA.
A investigação e aplicação de intervenções visando a restauração da microbiota
intestinal, incluindo a utilização de pró e prebióticos, bem como o transplante
fecal/microbiota, têm recebido atenção significativa no contexto de indivíduos
diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esses tratamentos exibiram
resultados promissores, particularmente em termos de melhora das manifestações
gastrointestinais e neurocomportamentais.
Em conclusão, pode-se determinar que o eixo bidirecional cérebro-intestino-
microbiota desempenha um papel significativo tanto no desenvolvimento quanto no
agravamento dos sintomas clínicos associados ao Transtorno do Espectro do Autismo
(TEA). A fim de melhorar a qualidade de vida de um subconjunto específico de indivíduos
com Transtorno do Espectro Autista (TEA), certas abordagens terapêuticas, como a
administração de pró e prebióticos, bem como o transplante fecal/microbiota,
demonstraram resultados favoráveis. No entanto, é imperativo realizar ensaios clínicos
meticulosamente planejados que sigam padrões rigorosos, incluindo metodologia duplo-
cego, randomização e projetos controlados por placebo, a fim de estabelecer a eficácia
dessas intervenções.
REREFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Felipe JS, Carvalho ACC, Lamounier CN, Hanna GM, Daia ICG, Oliveira LM,
Moura LR. (2021). Relationship between autistic spectrum and eating disorders.
Brazilian Journal of Health Review, 2021, 4(1):1310–1324.
2. Oliveira C, Hubner MMC, Bueno MRSP. Um retrato do autismo no Brasil. São
Paulo: Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, 2015.
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