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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO

ERICA CRISTINA GREGGIO


JULIA BORTOLO
NILZA COSTA GOMES
PRISCILA RODRIGUES DISTEFANO
THIAGO DA SILVA SCHIAVON

MICROBIOTA, ALIMENTAÇÃO E EXERCÍCIO FÍSICO: UMA


REVISÃO DE SUAS INTERAÇÕES

São Paulo
2022
ERICA CRISTINA GREGGIO
JULIA BORTOLO
NILZA COSTA GOMES
PRISCILA RODRIGUES
THIAGO DA SILVA SCHIAVON

MICROBIOTA, ALIMENTAÇÃO E EXERCÍCIO FÍSICO: UMA


REVISÃO DE SUAS INTERAÇÕES

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como parte dos requisitos
para obtenção do título de Bacharel em
Nutrição, das Faculdades Metropolitanas
Unidas. 
Orientadoras: Profa. Dra. Andrea Rocha
Filgueiras
Coorientadora: Profa. Me. Ana Carolina
Lavio Rocha

São Paulo
2022
RESUMO

A questão da microbiota e seu papel na saúde do hospedeiro nunca foi tão investigada, em
virtude de inúmeras pesquisas terem descoberto que sua relação pode ser muito mais rica e
complexa do que se imaginava há alguns anos, além de que atualmente a tecnologia tende ser
mais avançada e apta para alcançar resultados. Este trabalho teve como objetivo analisar as
interações entre alimentação e microbiota do praticante de atividade física. Para tal, foi
realizada uma pesquisa de Revisão Integrativa da Literatura, com artigos relevantes para o
tema nas bases de dados U.S National Library of Medicine and the National Institutes Health
(PUBMED) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO) no período de Março à Junho de
2022. Para garantir uma microbiota em homeostase é necessário ter um aporte ideal de
probióticos e prebióticos, e assim atingir a eubiose intestinal e a consequente saúde do
hospedeiro e para tal, deve-se oferecer fibras fermentáveis em variedade, já que os
microorganismos se beneficiam dessa fermentação. A relação com a atividade física pode se
dar de formas como o bom funcionamento e a proteção do epitélio intestinal, evitando a
disbiose e o leaky-gut, condições que causam sintomas extra-intestinais. Os estudos são
promissores quanto a essa relação entre saúde gastrointestinal e atividade física em benefício
do hospedeiro, porém mais exploração se faz necessária, devido a variedade de esportes,
níveis de esforço, condutas alimentares, bem como a idade dos praticantes e suas
particularidades.

Palavras-chave: Microbiota; atividade física; alimentação; eubiose.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………….. 5

2 OBJETIVOS ………………………………………………………………………………...8

2.1 Objetivo geral …………………………………………………………………………...…8

2.2 Objetivos específicos ……………………………………………………………………...8

3 METODOLOGIA …………………………………………………………………………...9

4 REVISÃO DE LITERATURA …………………………………………………………….10

4.1 Conceito e composição da microbiota intestinal …………………………………………10

4.2 Probióticos, prebióticos e simbióticos …………………………………………………...10

4.3 Alimentação e microbiota intestinal………………………………………………………11

4.4 Amamentação e microbiota……………………………………………………………….13

5 COMO A MICROBIOTA PODE POTENCIALIZAR A ATIVIDADE FÍSICA ……….…19

5.1 Como a atividade física pode agir na eubiose intestinal ………………………………....20

6. MICROBIOTA, ALIMENTAÇÃO, EXERCÍCIO FÍSICO ……………………………….21

7. CONCLUSÃO …………………………...………………..……………………………..22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS …………………………………………………...…23


5

1. INTRODUÇÃO

A microbiota humana, especificamente a microbiota intestinal, tem sido implicada na


modulação da saúde e metabolismo humano, dada sua interação entre os microrganismos nele
presentes e o hospedeiro. Os seres humanos vivem em simbiose com diferentes tipos de
microrganismos que são encontrados na pele e na cavidade oral, na vagina e no intestino. Eles
podem afetar o estado nutricional do indivíduo, a função metabólica, o desenvolvimento
intestinal e a maturação do sistema imunológico e das células epiteliais (ALVAREZ; XU;
TELLEZ, 2020).

No corpo humano, podem ser encontrados mais de 100 trilhões de microrganismos, e


o conjunto desses microrganismos é denominado microbiota, sendo microbioma seu
respectivo genoma. Esses microorganismos realizam a fermentação de carboidratos,
produzem vitaminas e fazem a absorção de nutrientes, o que é essencial para a saúde,
desempenhando funções vitais para o organismo humano. Fatores como estilo de vida,
genética, alimentação e exercício físico podem influenciar e alterar a modulação da
microbiota intestinal do indivíduo (LOZUPONE; STOMBAUGH; GORDON, 2012).

Evidências demonstram que a microbiota intestinal de cada indivíduo é moldada no


início da vida, pois sua composição depende de fatores genéticos e ambientais como por
exemplo: o tipo de parto (cesariana/natural), alimentação, uso de medicamentos,
principalmente os classificados como antibióticos. A microbiota nativa permanece
relativamente estável até a fase adulta, onde após este período se difere entre os indivíduos
devido a fatores ambientais como o estilo de vida, índice de massa corporal (IMC), prática de
exercícios físicos, hábitos culturais e alimentação e sabe-se que, quando ocorre um aumento
na diversidade desta microbiota, há também uma melhora na saúde do hospedeiro, nas
funções metabólicas e imunológicas, evitando o desenvolvimento de doenças crônicas não
transmissíveis (MONDA et al., 2017).

O exercício físico possui a capacidade de enriquecimento da diversidade da


microbiota intestinal, auxiliando na melhora da proporção de bacteroidetes e firmicutes,
podendo assim, ter influência na diminuição de peso e de ocorrência de patologias que
estejam relacionadas à obesidade, assim como distúrbios gastrointestinais (MONDA et al.,
2017).
6

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021), o recomendado por


semana é de, no mínimo, 150 minutos de exercício físico para todas as populações e grupos
etários de 5 a 65 anos e idosos, independentemente do sexo, origem cultural ou nível
socioeconômico. A prática de exercícios físicos moderados apresenta inúmeros benefícios
para a saúde, inclusive a redução de risco de obesidade, diabetes mellitus, síndrome
metabólica, manutenção do metabolismo ósseo, e comorbidades relacionados à
hipercolesterolemia (OMS, 2021).

Neste contexto, o objetivo deste presente estudo foi analisar a relação do exercício
físico e sua influência na modulação da microbiota intestinal, sendo uma temática relevante,
já que o desequilíbrio da microbiota se relaciona ao desenvolvimento de diversas
comorbidades que podem impactar na saúde dos indivíduos. (CAVALCANTE, 2021). A
recomendação é que eles devem limitar a quantidade do tempo em comportamento sedentário
e praticar atividades físicas de qualquer intensidade, proporcionando benefícios para a saúde.

Além de todos os itens mencionados, os hábitos alimentares possuem grande


importância na modulação da microbiota intestinal, por exemplo, uma dieta rica em
carboidratos simples poderia contribuir para uma baixa variação no equilíbrio da microbiota,
enquanto uma dieta rica em fibras está relacionada com uma riqueza bacteriana. Uma dieta
rica em fibras prebióticas e fitoquímicos pode contribuir no crescimento de bactérias
comensais, como bifidobactérias e lactobacilos e assim aumentar a produção de Ácidos
Graxos de Cadeia Curta (AGCC) que pode sinalizar as células enteroendócrinas para
produção de peptídeos ligados ao controle da ingestão alimentar, como GLP-1 e PYY.
(MONDA et al., 2017).

Enquanto uma dieta rica em gorduras de origem animal, como carnes vermelhas, alto
teor de açúcares, álcool, ultraprocessados e poucas fibras, elevam os níveis de
microorganismos que podem trazer prejuízos a essa microbiota intestinal, e
consequentemente, à saúde do indivíduo. (CAVALCANTE, 2021).

Deste modo, reparar e restaurar a integridade da mucosa intestinal, por meio de uma
dieta equilibrada e saudável, não irritativa, rica em nutrientes importantes para a integridade
da barreira intestinal, como vitaminas A, D, zinco, ômega 3 e glutamina, focando em hábitos
saudáveis, é de extrema importância para assim obter um equilíbrio que favoreça a saúde
intestinal do indivíduo. (CAVALCANTE, 2021).
7

Sendo assim, é de suma importância que se realizem estudos que avaliem o efeito da
alimentação e atividade física na microbiota intestinal para a fundamentação de estratégias
nutricionais e de qualidade de vida (CAVALCANTE, 2021).
8

2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral

Revisar as interações entre alimentação, microbiota e atividade física.

2.2 Objetivos específicos

● Averiguar a relação do padrão alimentar no perfil da microbiota intestinal;


● Investigar a relação da atividade física no perfil da microbiota intestinal;
● Pesquisar estratégias nutricionais que favoreçam a eubiose intestinal.
9

3. METODOLOGIA

O presente estudo consiste em uma Revisão Integrativa da Literatura, método que


permite a síntese do conhecimento. A pesquisa foi realizada de março a junho de 2022. Os
artigos foram pesquisados nas bases de dados científicas: U.S National Library of Medicine
and the National Institutes Health (PUBMED) e Scientific Electronic Library Online
(SCIELO), utilizando-se os descritores “Microbiota Intestinal”, “Nutrition”, Microbiome”,
“Alimentação saudável” e "Exercícios físicos” entre os anos de 2010 a 2022. Foram
selecionados 20 artigos originais e de revisão, sendo 15 em português e 5 em inglês, os mais
relevantes e adequados ao tema.
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4. REVISÃO DE LITERATURA

4.1 Conceito e composição da microbiota intestinal

O corpo humano é habitado por um número de bactérias, vírus, arqueas e eucariotos


unicelulares, conhecidos como microbiota, seja na pele, nos cabelos, na microbiota vaginal e
intestinal. Estima-se que a microbiota intestinal possui 70% de micro-organismos do corpo
humano, que se formam ao longo da vida do hospedeiro. Esses micro-organismos e seus
resultados de fermentações e interações são denominados microbioma (CLAUSS et al., 2020).

O microbioma atua na digestão e na promoção de energia para o hospedeiro, na


fermentação de ácidos graxos de cadeia curta e lactato, além de ter alta relação com seu
sistema imune pela proteção da mucosa intestinal, das tight junctions - barreira epitelial
intestinal -, competição por nutrientes contra patógenos e a prevenção da inflamação
(CLAUSS et al., 2020).

O microbioma intestinal depende de uma boa variedade de fibras fermentáveis para


que esteja em homeostase. Caso a disponibilidade e a qualidade de fibras sofram uma queda,
o intestino entra em disbiose, estado que coloca o hospedeiro e o intestino em uma situação
vulnerável à patógenos, toxinas, remédios e dieta. O quadro de disbiose pode ser revertido,
caso seja tratado (CARDING et al., 2015).

4.2 Probióticos, prebióticos e simbióticos

Segundo a definição da FAO e da Organização Mundial da Saúde (2001), probióticos


são "organismos vivos que quando administrados em quantidades adequadas, conferem um
benefício para o hospedeiro" (tradução nossa). Os probióticos agem em favor da microbiota
intestinal pela inibição de patógenos com a produção de ácidos graxos de cadeia curta,
bacteriocinas e biossurfactantes; aumento da mucosa intestinal; produção de proteínas para as
tight junctions e aumento na comunicação do eixo cérebro-intestino (SIMON et al., 2021).

Já os prebióticos são fibras não digeridas que são utilizadas pelos microorganismos
intestinais em seu benefício. Alguns exemplos dessas fibras são os frutooligossacarídeos
(FOS), galactooligossacarídeos (GOS), oligossacarídeos e outros. Os prebióticos estimulam o
crescimento de bactérias favoráveis no intestino, além de ter efeitos positivos na saúde
cardiovascular e cognitiva (SIMON et al., 2021).
11

Juntos, probióticos e prebióticos formam o denominado simbiótico, duas espécies


diferentes que vivem em benefício do hospedeiro. Os simbióticos são usados como
suplemento para a sobrevivência e desenvolvimento do metabolismo dos probióticos e
consequentemente, do hospedeiro (SIMON et al, 2021).

4.3 Alimentação e microbiota intestinal

A barreira intestinal é um sistema complexo e tem sua funcionalidade influenciada


por diversos fatores como a espessura da camada de muco protetor, a composição desse muco,
as tight-junctions, atores da imunidade inata como os receptores TLRs e bactérias específicas
que podem melhorar ou prejudicar sua função (CANI; EVERARD, 2016). A fermentação de
carboidratos não digeríveis e outros prebióticos permite melhorar a função da barreira
intestinal e com isso, a inflamação sistêmica de baixo grau, uma vez que esse processo de
fermentação desencadeia a secreção de peptídeos intestinais como os do tipo glucagon
(GLP-1) e peptídeo YY (PYY), que são produzidos pela célula L e atuam no controle do
metabolismo da glicose, na homeostase energética e na função da barreira intestinal. (CANI et
al, 2013; MORAES et al, 2014; CANI et al, 2012)

Além disso, os subprodutos do metabolismo dos carboidratos não digeríveis, como


os ácidos graxos de cadeia curta, especialmente o butirato, atuam como fonte energética para
as células epiteliais e na melhora da função da barreira epitelial por meio do aumento da
produção de mucina, inibindo o crescimento de patógenos e aumentando a absorção de
nutrientes. (BAMBERGER et al, 2018; ZHANG et al, 2018; KOPF et al, 2018).

A avaliação da microbiota de um determinado indivíduo é complexa, visto que ela é


específica de cada um. Por esse motivo surgiu a proposta de se agrupar as bactérias
intestinais, denominados enterótipos (FESTI et al., 2014).

Os autores foram capazes de agrupar os metagenomas fecais em três enterótipos diferentes,


que foram identificados por quantidades relativas de qualquer um dos três gêneros
dominantes: Bacteroides (enterótipo 1), Prevotella (enterótipo 2) e Ruminococcus (enterótipo
3). Curiosamente, esses enterótipos parecem ser independentes da nacionalidade, gênero,
idade ou índice de massa corporal. No entanto, os resultados de outro estudo sugerem que os
enterótipos podem estar fortemente associados à composição da dieta em longo prazo.

O enterótipo 1, rico em Bacteroides, foi fortemente associado ao consumo de proteínas


animais e gorduras saturadas. O enterótipo 2, rico em Prevotella, foi associado com dieta à
12

base de carboidratos, composta de açúcares simples e fibras. Já o enterótipo 3 parece estar


fortemente relacionado com o estado de saúde individual. Embora não se saiba se os
enterótipos podem estar associados à predisposição a determinados estados de doença, esses
achados sugerem que os padrões alimentares em longo prazo podem afetar o estado do
enterótipo, a conexão nutricional-microbioma e a fisiopatologia em indivíduos suscetíveis à
doença (WU et al., 2012).

A microbiota intestinal também é responsável pela biossíntese de várias vitaminas


essenciais, incluindo vitaminas do complexo B, como cobalamina, ácido fólico, biotina,
tiamina, riboflavina, ácido nicotínico, pirodixina e ácido pantotênico, além da vitamina K.
Curiosamente, observaram vias de biossíntese de vitaminas nos três enterótipos identificados;
entretanto, o enterótipo 1 foi enriquecido na biossíntese de riboflavina, biotina, ascorbato e
ácido pantotênico, enquanto o enterótipo 2 foi enriquecido na biossíntese de tiamina e ácido
fólico (BAMBERGER et al, 2018; ZHANG et al, 2018; KOPF et al, 2018).

Estudos científicos têm enfatizado e evidenciado que o uso de alimentos fonte de


probióticos, prebióticos e simbióticos auxiliam na modulação e manutenção da microbiota
intestinal saudável. A Tabela 1 apresenta o resultado de estudos sobre os efeitos probióticos,
prebióticos e simbióticos de alguns alimentos. Os estudos apresentados na Tabela 1 foram
realizados com modelo experimental humano, exceto os estudos 4 e 5 em que foi utilizado o
Simulador de Ecossistema Microbiano Humano (SEMH®).

Tabela 1 - Efeito de alimentos na modulação da microbiota intestinal

N° Autores Alimentos Efeito na modulação da microbiota intestinal Pré Pro

1 Novak et al., 2001 Colostro Proporciona microbiota rica em bactérias lácticas X

2 Penders et al., 2006 Leite materno Flora intestinal benéfica, rica em bifidobactérias X

3 Carreiro, Vasconcelos, Cranberry Inibe a adesão de Escherichia coli X


Ayoub, 2009 (bactéria entérica)

4 Duque et al., 2016 Suco de laranja Aumento da população de Lactobacillus spp., X


fresco Enterococcus spp., Bifidobacterium spp.,
Clostridium spp.
e redução de enterobactérias

5 Duque et al, 2016 Suco de laranja Aumento da população de Lactobacillus spp.


pasteurizado e redução de enterobactérias X

6 Zanuzzi et al., Semente de linhaça Presença de fibras solúveis e insolúveis que


2008 modulam o funcionamento do TGI
13

e aumentam a resposta imune X

7 Queipo-Ortuño et al., Vinho tinto Presença de polifenóis, elevação do


2012 Bifidobacterium spp. e redução da proteína
C reativa (PCR) X

4.4 Amamentação e microbiota

Os alimentos descritos na Tabela 1 são: colostro, leite materno, cranberry, suco de


laranja fresco, suco de laranja pasteurizado, linhaça e vinho tinto, cujos efeitos como
prebióticos, probióticos ou simbióticos serão discutidos nesta seção. A amamentação deve ser
estimulada durante toda gravidez. No parto normal, a descida do leite ocorre mais rápido do
que no parto por cesariana, pelo maior estímulo e liberação do hormônio prolactina. Nos
primeiros dias de aleitamento, o bebê será alimentado por uma substância viscosa,
transparente e rica em proteínas conhecida como colostro. O colostro, quando oferecido ao
bebê nos primeiros dias pós-parto garante a proliferação de Bifidobacterium bifidum e
Bifidobacterium longum a partir do segundo dia de vida e predominam no final da primeira
semana (KALLIOMÄKI et al., 2001).

A alimentação exclusiva com leite materno até o 6º mês tem grande influência sobre
a microbiota intestinal do bebê, com predominância de Lactobacillus e Bifidobacterium, o que
reduz a ocorrência de diarreias e infecções do TGI. (RIBEIRO et al., 2016).

Crianças não amamentadas ao peito, que recebem outro tipo de leite, têm número
reduzido de bifidobactérias em sua flora intestinal e maior e maior quantidade Escherichia
coli, bacteroides e Clostridium. (KALLIOMÄKI et al., 2001).

Os oligossacarídeos do leite humano (HMOs) também participam do


desenvolvimento de uma microbiota intestinal humana equilibrada entre a colonização
bacteriana e o organismo do hospedeiro. A Chr. Hansen, empresa global de biociência
“Improving Food & Health” que desenvolve soluções com ingredientes naturais para as
indústrias alimentícia, nutricional, farmacêutica e agrícola. Entrou no mercado de probióticos
para fórmulas infantis de Oligossacarídeos do Leite Humano em 2020 com o intuito de criar
fórmulas mais próximas do leite materno para recém-nascidos e crianças pequenas
(KALLIOMÄKI et al., 2001).

Os HMOs são grupos essenciais de açúcares do leite encontrados apenas no leite


materno. Eles oferecem diversos benefícios à saúde infantil, auxiliando o desenvolvimento de
14

um sistema digestivo saudável, além de ajudar no sistema imunológico e no desenvolvimento


do cérebro (CRAFT; TOWNSEND, 2018).

Frutas, vegetais e cereais são os principais componentes da dieta humana, fornecendo


carboidratos essenciais e fibras alimentares, embora a digestão destes últimos esteja além do
escopo do genoma humano identificaram apenas 17 enzimas no genoma humano para quebrar
os nutrientes de carboidratos que incluíam amido, lactose e sacarose. Assim, polissacarídeos
da parede celular vegetal e amido resistente, que constituem a maioria das fibras dietéticas e
não podem ser digeridos ou absorvidos no intestino delgado, entram no intestino grosso e
sofrem degradação microbiana e subsequente fermentação. A microbiota também se alimenta
de carboidratos dietéticos derivados de animais (glicosaminoglicanos e glicanos ligados a N
da cartilagem e tecido), glicoma epitelial do hospedeiro e carboidratos derivados de micróbios
de micróbios intestinais residentes ou micróbios de origem alimentar. Coletivamente, os
carboidratos consumidos pela microbiota foram denominados “carboidratos acessíveis à
microbiota” (MORAES; SILVA; ALMEIDA-PITITTO; FERREIRA, 2014).

Os compostos bioativos isoflavonas e lignanas são polifenóis, que são uma grande
classe de compostos de origem vegetal. Estima-se que 90% dos polifenóis tenham absorção
incompleta no intestino delgado e sejam metabolizados pela microbiota no intestino delgado.
Existe uma grande variabilidade individual na produção de metabólitos após o consumo de
precursores polifenólicos na dieta, o que pode refletir diferenças na microbiota intestinal. O
consumo de plantas e muitos polifenóis, incluindo isoflavonas e lignanas, foram propostos
como relacionados a uma série de resultados de saúde, incluindo doenças cardiovasculares e
diabetes. Os achados de que as medidas funcionais da microbiota mudam com as mudanças
na dieta são convincentes, mas não sabemos se a função da microbiota intestinal é alterada
por meio de intervenções dietéticas direcionadas ou se as alterações na produção de
metabólitos e na expressão gênica refletem o potencial funcional existente que é ativado
através da entrega de precursores alimentares. Com relação aos resultados de saúde, os dados
indicam o potencial de interconexões complexas; por exemplo, a obesidade pode ser
influenciada pela microbiota intestinal (MORAES; SILVA; ALMEIDA-PITITTO;
FERREIRA, 2014).

A laranja, por exemplo, é uma fruta onde são encontrados compostos bioativos, em
especial polifenóis, relacionados com a composição e funcionalidade da microbiota intestinal.
Estudos demonstram que a microbiota intestinal pode transformar compostos fenólicos em
15

metabólitos bioativos que contribuem com a homeostase intestinal, inibindo a proliferação de


enterobactérias e estimulando o crescimento de bifidobactérias, o que caracteriza efeito
prebiótico. Em estudo realizado por Duque et al. (2016) foi verificado o efeito do consumo do
suco de laranja fresco e pasteurizado sobre a microbiota intestinal humana. Em ambos os
produtos foi evidenciada alteração da composição da comunidade microbiana, pelo aumento
da população de Lactobacillus spp. e redução de enterobactérias. Os sucos promoveram
aumento de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e de bactérias comensais, o que caracteriza
efeito prebiótico e seletivo sobre a microbiota intestinal. (DUQUE et al., 2016).

Em relação a ingestão proteica da dieta, durante o processo de digestão, sob efeito da


pepsina, enzima que atua na digestão das proteínas, as proteínas sofrem significativas
alterações da sua estrutura originando polipeptídios. No intestino esses polipeptídeos sofrem
outro processo de digestão através da atuação das peptidases, transformando-se em
aminoácidos. Alguns destes são metabolizados, favorecendo a produção de trifosfato
adenosina (ATP) (NELSON; COX, 2014).

A fermentação do ATP ocorre principalmente no cólon distal, favorecendo seu uso


como fonte de energia por bactérias presentes, quando os carboidratos começam a faltar por já
terem sido absorvidos. As bactérias que possuem característica proteolítica são,
principalmente, Bacteroides spp. e Propionibacterium spp., embora também estejam presentes
nesta porção as espécies de Clostridium, Fusobacterium, Streptococcus e Bacillus. Com a
mudança no padrão alimentar e ingestão elevada de proteínas, observa-se a presença em
grande escala das bactérias Bacteroides spp. no cólon (MARTINEZ et al., 2017).

A linhaça, semente originária da planta do linho, é um alimento rico em fibras


solúveis e insolúveis, que têm como efeito fisiológico a modulação da morfologia e função
gastrointestinal, que interfere no metabolismo dos nutrientes e na resposta imunológica do
organismo, ambas contribuem para o crescimento colônico: a fibra solúvel estimulam o
crescimento de bactérias benéficas e a insolúvel absorve água, aumenta o volume do bolo
fecal, estimula o peristaltismo intestinal e a expulsão das fezes. (ZANUZZI, 2008).

A cranberry (Vaccinium macrocarpon) é uma fruta bastante popular nos Estados


Unidos, que tem crescido comercialmente no Brasil, pelo sabor agradável e por suas
propriedades benéficas à saúde. Dentre as formas comercialmente ativas estão presentes: o
suco, o chá e as cápsulas contendo o extrato seco. Estudo in vitro realizado por Souza e
16

colaboradores (2014) avaliou a atividade antimicrobiana do extrato seco de cranberry sobre


microorganismos evidenciou que o extrato de cranberry apresentou propriedades
antibacterianas contra algumas espécies como S. aureus, E. coli, E. faecalis, E. faecium e S.
marscecens. A cranberry crua ou na forma de suco é uma fonte abundante dos flavonoides
antocianidina, cianidina, peonidina e quercetina, tem potente ação inibidora contra coliformes
fecais, prejudicando a adesão da Escherichia coli em células mucosas do TGI (CARREIRO;
VASCONCELOS; AYOUB, 2009).

O vinho tinto tem sido sugerido como possível modulador da microbiota do TGI pelo
seu conteúdo de polifenóis, que em parte não é absorvido pelo intestino delgado, chega ao
cólon e tem ação probiótica interagindo com a microbiota de maneira benéfica, os polifenóis
contidos no vinho tinto contribuem para o aumento nas populações de Proteobacteria,
Fusobacteria, Firmicutes e Bacteroidetes e nos gêneros Enterococcus, Bacteroides e
Prevotella e redução dos patógenos do gênero Clostridium (Clostridium histolyticum). Um
dos principais mecanismos protetores do vinho tinto decorre da elevação da produção de
Bifidobacterium spp., o que contribui na redução da colesterolemia e das concentrações de
PCR (marcador inflamatório). (QUEIPO-ORTUÑO,2013).

A microbiota intestinal contribui para o desenvolvimento da inflamação sistêmica de


baixo grau através de mecanismos que envolvem o aumento plasmático de LPS. Estudos
demonstraram que em resposta à refeição com alto teor de lipídios, ocorre uma redução de
Bifidobacterium spp., além de iniciar o transporte de LPS do lúmen intestinal em direção aos
tecidos alvo por quilomícrons recém-sintetizados a partir de células epiteliais do intestino.
(CANI, 2012).

Diversos estudos apontam que os lipídeos da dieta influenciam a composição da


microbiota intestinal, seja através da composição dos filos tipos ou impactos metabólicos
como o metabolismo de aminoácidos, a produção e conversão de energia e o próprio
metabolismo lipídico. (CANI; EVERARD, 2016).

Dietas com alto teor de lipídeos, principalmente saturados, podem ser um fator de
risco para o desenvolvimento de inflamação sistêmica de baixo grau, mas os estudos indicam
que a suplementação de ácidos graxos ômega-3 pode atenuar a inflamação frente a um
excesso do consumo de lipídeos pela dieta. (CANI, 2012).
17

Os estudos concluídos em adultos mostram que ocorrem algumas alterações comuns na


microbiota intestinal após a suplementação com ômega-3 PUFA, como diminuição na
Faecalibacterium associada a um aumento nos Bacteroidetes e bactérias produtoras de
butirato. A literatura também evidencia que uma dieta rica em gordura contribui para a
ruptura das proteínas das “tight junctions” envolvidas na função de barreira intestinal, por
meio de uma alteração na distribuição das proteínas das 12 junções e aumento no tônus do
sistema endocanabinóide, fazendo assim, com que aumente a permeabilidade intestinal
(CANI; EVERARD, 2016).

O possível efeito positivo do ômega-3 em quadros inflamatórios, deve-se ao aumento


de gêneros bacterianos produtores de ácidos 13 graxos de cadeia curta, que possuem
propriedades anti-inflamatórias, as quais ainda não estão bem elucidadas. (COSTANTINI,
2017).

Um estudo realizado com 20 indivíduos saudáveis mostrou que ao administrar uma


dose diária de 4 g de suplemento misto de DHA/EPA, durante oito semanas, há aumento da
abundância de gêneros bacterianos produtores de ácidos graxos de cadeia curta, como
Bifidobacterium, Roseburia e Lactobacillus. (COSTANTINI, 2017).

Além da gordura da dieta, os carboidratos não digeríveis (fibras alimentares,


prebióticos) também apresentam grande impacto na microbiota intestinal. Os ácidos graxos de
cadeia curta, como butirato, acetato, propionato, lactato, succinato e alguns gases como
hidrogênio e dióxido de carbono são os principais produtos do metabolismo de carboidratos
não digeríveis e têm ação benéfica para a saúde, como melhora na integridade da barreira
intestinal, redução da endotoxemia metabólica e melhora da intolerância à glicose.
(EVERARD; CANI; ZHANG, 2018).

Mas, a intervenção com inulina, por exemplo, parece beneficiar mais aqueles que já
têm um alto consumo de fibra. Um estudo classificou 34 participantes entre aqueles que
tinham um alto consumo de fibra e aqueles com baixo consumo de fibra na dieta habitual. A
composição da microbiota intestinal e as concentrações de ácidos graxos de cadeia curta
foram avaliadas após a intervenção que consistiu em 3 semanas de suplementação diária com
16 g de frutanos do tipo inulina ou com placebo, maltodextrina, também 16g diárias. O grupo
com baixa ingestão habitual de fibras, apresentou um aumento de Bifidobacterium, enquanto
o grupo com alta ingestão habitual de fibras, teve um aumento de Bifidobacterium e
18

Faecalibacterium e diminuição de Coprococcus, Dorea e Ruminococcus. A nível de filo,


ambos os grupos tiveram alterações discretas. Portanto, aqueles que já possuem uma alta
ingestão habitual de fibras alimentares têm maior resposta da microbiota intestinal e podem se
beneficiar mais de intervenções com frutano do tipo inulina. (MARTINEZ et al., 2017).

Já no estudo de Haro e colaboradores (2016), foram avaliadas as alterações da


microbiota intestinal de 20 indivíduos obesos do sexo masculino após intervenção com dois
tipos de dietas, dieta mediterrênea (Med), composta por 35% de gordura (22%
monoinsaturada; 6% poliinsaturada e 7% saturada) e adotando como principal componente o
azeite, e low-fat high-carbohydrate (LFHCC), composta por 28% de gordura (12%
monoinsaturada; 8% poliinsaturada e 8% saturada). Ao final do estudo, o consumo de dieta
LFHCC resultou num aumento de Prevotella e diminuição dos gêneros rosebúria, enquanto a
dieta Med diminuiu o Prevotella e aumentou os gêneros Roseburia e Oscillospira.
(MARTINEZ et al., 2017).

A abundância de Parabacteroides distasonis e F. prausnitzii aumentou após o


consumo a longo prazo da dieta Med e da dieta LFHCC, respectivamente. A rosebúria está
associada à produção de uma substância inibidora de B. subtilis (Hatziioanou), sugerindo que
a dieta mediterrânea induz alterações na microbiota favorecendo o efeito antimicrobiano desse
gênero, modificando a população microbiana no cólon. Enquanto o consumo de LFHCC
aumentou a concentração de outras espécies bacterianas, F. prausnitzii (encontrado baixo em
pacientes com diabetes mellitus II), sugerindo uma melhora na sensibilidade à insulina após o
consumo das duas dietas. (MARTINEZ et al., 2017).

O envelhecimento também tem um impacto significativo na microbiota intestinal


com dramáticas mudanças composicionais e funcionais observadas na microbiota idosa (em
geral > 65 anos). Várias mudanças fisiológicas e de estilo de vida associadas ao processo de
envelhecimento podem ser fatores contribuintes que resultam em mudanças nos hábitos
alimentares e, finalmente, na nutrição, incluindo declínio na dentição e função salivar,
redução na digestão e absorção, devido à dismotilidade gastrointestinal, alterações no apetite
como resultado de medicamentos prescritos e estado psicológico, ou mudanças nas condições
de vida, como cuidados residenciais ou hospitalização. Em geral, a microbiota idosa tem sido
caracterizada por um declínio na diversidade microbiana, um aumento na abundância de
patógenos oportunistas e uma diminuição nas espécies associadas à produção de ácidos
graxos de cadeia curta (AGCC), em particular o butirato. A variação interindividual
19

observada na microbiota intestinal de adultos é ainda maior na coorte de idosos. (DE LA


CUESTA-ZULUAGA et al., 2019).

O tipo de gordura ingerida impacta de forma relevante a composição e função da


microbiota, uma vez que o consumo adequado de ácidos graxos poliinsaturados de cadeia
longa, derivado de óleo de peixe, evitam mudanças negativas na microbiota intestinal e
resultam em uma diminuição da inflamação associada à obesidade no hospedeiro, quando
comparada ao consumo de gordura saturada (MARTINEZ et al., 2017).

Em termos de composição da microbiota, um aumento da abundância de Firmicutes e


diminuição da abundância de Bacteroidetes foi relatado em obesos em comparação com seus
homólogos magros. (PATTERSON et al., 2016).

5. Como a microbiota pode potencializar a atividade física

A microbiota intestinal pode ser potencializada através da atividade física com os


seguintes efeitos fisiológicos: induzidos por um stress causado com o exercício físico de
endurance, causando danos ao sistema muscular, respostas inflamatórias e imunológicas, as
funções metabólicas e imunológicas da microbiota intestinal (MI) regulam as respostas
inflamatórias mantendo íntegras a mucosa intestinal. Estudos mostram que além disso é capaz
de modular funções na massa muscular esquelética (MME), porém existem poucos estudos
sobre esse assunto e parece também ter um bom desempenho sobre a área desportiva (DA
SILVA, 2020).

O aumento da permeabilidade intestinal causado pelo exercício físico eleva à troca de


componentes bacterianos como o Lipopolissacarídeos (LPS) que resultam em desencadear
respostas inflamatórias, aumentando a liberação de citocinas pró- inflamatórias e originando
sintomas gastrointestinais que nos atletas são elevadas (DA SILVA, 2020).

A microbiota intestinal pode potencializar a atividade física através da capacidade de


regular o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) que é o eixo responsável pela resposta do
stress ocasionado pelo exercício físico, isso acontece provavelmente por causa de uma
regulação do órgão endócrino e da síntese dos Ácidos Graxos de Cadeias Curtas (AGCC),
hormônios e os neurotransmissores, o lactato e proprionato são produtos de fermentação
bacteriana, os mesmos são usados como fonte de energia pelo fígado e músculo, contribuindo
para manter a glicemia estável, por exemplo, em desportos de endurance, o que se traduz em
melhoria do desempenho, Porém, é importante considerar que, em comparação com
20

indivíduos que não são treinados, os atletas geralmente apresentam maior diversidade da MI,
e consequentemente maior diversidade de vias metabólicas, entre as quais vias de síntese de
AGCC, por conta do seu estilo de vida ativo e alimentação equilibrada (DA SILVA, 2020).

5.1 Como a atividade física pode agir na eubiose intestinal

Um estudo feito em jogadores de rugby profissionais demonstrou que o exercício


físico contribui para uma maior diversidade na microbiota intestinal de indivíduos
eutróficos comparados a sobrepeso. O exercício físico mostra um aumento significativo
e uma diminuição na proporção de determinados seres vivos dentro da MI, sendo que
algumas dessas modificações também podem ser associadas a alterações encontradas ao
nível das funções metabólicas desempenhadas pela MI (DA SILVA, 2020).
No primeiro estudo com humanos foram recrutados 40 jogadores de rugby
profissionais e 2 grupos controles de pessoas sedentárias (grupo 1 com IMC ≤25Kg/m²
e grupo 2 com IMC>28Kg/m²) e demonstrou que os atletas apresentaram uma maior
diversidade em comparação com os grupos controle, logo foi verificado essas mudanças
na composição da MI que foi denominada como uma diminuição dos níveis de
Bacteroidetes e maiores proporções do género Akkermansia nos atletas relativamente ao
grupo controle 2, verificando que maiores níveis de AGCCs nos atletas e uma
associação positiva entre o gênero Roseburia e os níveis de acetato e butirato, em
comparação com os grupos controle (DA SILVA, 2020).
A composição da MI dependeria do tipo de desporto praticado, neste foram
selecionados 37 atletas de elite (14 mulheres e 13 homens). Os 16 desportos por eles
praticados foram agrupados com base nas componentes estáticas e dinâmicas dando-se a
origem a um total de 6 categorias diferentes, foi observado diferenças a nível
composicional entre as várias categorias, cujos os nomes e as espécies
Faecalibacterium prausnitzii foi associada à categoria C1 (estática baixa e dinâmica
elevada) e a Bacteroides caccae foi associada à categoria C3 (estática e dinâmica
elevadas), sugerindo que a variação na composição de espécies bactérias possa estar
relacionada com as diferentes exigências de cada desporto a níveis de intensidade
(O’DONOVAN et al., 2020).
Os indivíduos que praticam exercício frequentemente de 3 a 5 vezes por semana,
tem um aumento nos níveis de bactérias produtoras de butirato, nomeadamente de
Faecalibacterium prausnitzii, comparados a indivíduos sedentários. (PETERSEN et al.,
2017).
21

6. Microbiota, alimentação, exercício físico

A alimentação é tida como um fator modulador direto da microbiota intestinal,


possuindo um potencial para causar modificações fisiológicas no ambiente intestinal. Por
exemplo, um dia de alimentação estritamente carnívora seguido de um dia de alimentação
baseada em plantas pode alterar de forma drástica a microbiota em composição e função
(DAVID et al., 2014).
A alta variabilidade individual de resposta ao treino é frequentemente descrita e
pode estar relacionada com microbiota intestinal, uma vez que esta tem capacidade de não só
de modular o metabolismo de alimentos, mas também potencializar adaptações ao estresse
induzido pelo exercício. Devido complexidade da alimentação é difícil atribuir os benefícios
somente ao fator fibras, assim torna-se importante mais investigações a respeito deste
componente alimentar e seu papel fisiológico conjunto na dieta de cada indivíduo (FULLER
et al, 2016)
Preconiza-se também a suplementação de probióticos associado a dieta com perfil
mediterrânea para recuperar e equilíbrio da microbiota intestinal e redução de processos
inflamatórios, pois o stress induzido pelo exercício de endurance, por exemplo, encontra-se
associado ao aumento da permeabilidade intestinal, danos ao sistema muscular e respostas
inflamatórias imunológicas. (FULLER et al, 2016)

A American Diet Association (ADA) recomenda o alto consumo de carboidratos


simples para atletas (6 a 10g/kg por dia), para garantir o estoque de glicogênio. Já a ingestão
de fibras solúveis fermentáveis deve ser controlada, cerca de 25g/dia em vista a diminuir
possíveis sintomas intestinais, pois muitas podem fermentar e causar gases, podendo
diminuir assim a performance do atleta. Os estudos mostram que a ingestão é muito
importante pois contribui para a diminuição do estresse induzido pelo exercício e maximizar
o número de vias de metabolização de nutrientes e melhorar a capacidade de resistência
através do metabolismo dos ácidos graxos de cadeia curta que se tornam fontes de energia. E
a baixa ingestão de fibras forma uma microbiota pobre em variedade e em qualidade de
espécies de microorganismos (CLARK; MACH, 2016).
22

7. CONCLUSÃO

Foi pesquisada a relação entre microbiota e alimentação de indivíduos treinados,


visto que um desportista precisa de uma alimentação com um aporte adequado de
carboidratos, proteínas e rica em fibras. O manejo de probióticos e prebióticos se faz
importante para garantir uma microbiota diversa e rica com microorganismos benéficos,
visando que, em atletas, a variedade da microbiota intestinal é muito maior do que as das
pessoas menos treinadas.
Assim conclui-se que o exercício físico pode influenciar a diversidade, composição
e função da microbiota intestinal estando em interferência o tipo, modo, duração e
frequência do exercício. A estas condições deve-se associar uma dieta equilibrada que inclua
uma adequada ingestão de fibras fermentáveis por exemplo (cerca de 25g/dia), para assim
minimizar situações de estresse induzido pelo exercício e maximizar o número de vias de
metabolização de nutrientes e melhorar a capacidade de resistência através da metabolização
bacteriana de AGCC que se tornam fontes de energia. Mostrou-se que determinados
nutrientes, alimentos e padrões saudáveis de dieta podem melhorar os mecanismos de
barreira intestinal e a diversidade dos gêneros bacterianos, e com isso beneficiar a saúde do
hospedeiro principalmente em condições de estresse induzido pelo exercício.
A microbiota intestinal parece exercer um papel importante na prática de exercício
físico não só por estar envolvida nas respostas ao stress, mas também por aparentemente
desempenhar ações sobre a massa muscular esquelética e sobre o desempenho esportivo.
No entanto, são necessários mais estudos com maior validade científica que melhor
investiguem todas as possibilidades de atividades físicas, intensidade, tipo de alimentação e
afins.
23

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