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Microbiota em atletas de alta performance

Gut Microbiota of high performance athletes

¹MOURA, Cristina; ¹GAGNO, Fernanda; ¹RODRIGUES, Gabriella; ¹SANTOS, Marcela; ¹QUEIROZ, Thayla; ²VOGT, Priscilla.

Resumo

A microbiota intestinal é constituída de milhares de microrganismos e tem um perfil único em cada


indivíduo. Esta tem função direta com a relação saúde e doença do hospedeiro, por ser produtora
de Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC) que tem ação imunológica e anti-inflamatória, bem como
a homeostase do metabolismo e o perfeito funcionamento intestinal. Sabendo que esta microbiota
é modulada por fatores externos como forma de nascimento, estresse, alimentação, hábitos de vida
e exercícios físicos; essa é uma revisão bibliográfica com base em 22 artigos principais cujo foco é
na influência direta e indireta que o exercício físico exerce na microbiota. Também foi levado em
consideração os tipos de exercícios, seu nível de intensidade e o uso de subterfúgios que podem
favorecer os microrganismos intestinais, como os probióticos, prebióticos e simbióticos.

Palavras-chave: Microbiota. Alta performance. Nutrição.

Abstract

The intestinal microbiome consists of thousands of microorganisms and has a unique profile in each
individual. This has a direct role in relationship to the host’s health and disease, as it produces short-
chain fatty acids (SFA) that has immunological and anti-inflammatory actions, as well as metabolism
homeostasis and the perfect intestinal functioning. Knowing that this microbiome is modulated by
external factors such as birth form, stress, diet, lifestyle and physical activities; this is a literature
review based on 22 main articles which focus on the direct and indirect influences that physical
activity exerts on the microbiome. The review considers the types of exercises, their intensity level,
and the use of subterfuges that can favor intestinal microorganisms, such as probiotics, prebiotics
and symbiotics.

Keywords: Intestinal microbiome. High performance. Nutrition.

1 INTRODUÇÃO
O intestino apresenta uma barreira protetora que precisa ser compreendida, assim como a
manutenção da sua homeostase, não é possível apenas por um mediador, senão por um conjunto
composto pelo: sistema nervoso entérico, por células do sistema imune, células epiteliais e pela
microbiota local. Estas trabalham simultaneamente para garantir o perfeito funcionamento
intestinal (ORIÁ E BRITO, 2016).

1- Graduando em Nutrição
2- Orientador
A microbiota, por sua vez, é muito diversificada, estudos apontam que quanto mais diversa
melhor será sua contribuição para a homeostase. Esta estabelece uma relação simbiótica com todo
o sistema intestinal; colaborando para seu funcionamento através da influência na renovação
celular, na contribuição para formação de peptídeos antimicrobianos e camadas de proteção, e para
contribuir na modulação da permeabilidade intestinal (ORIÁ E BRITO, 2016).
A maior parte dos microrganismos contidos no intestino são parte dos filos Firmicutes e
Bacteroidetes, mas também há uma boa porcentagem de filos como Actinobacterias e
Proteobacterias. Vale destacar que além destas, existe uma infinidade de filos e espécies
encontradas que contribuem para a simbiose local (MORAES et al, 2014).
A disbiose, por sua vez, ocorre quando temos o desequilíbrio da microbiota local, onde as
bactérias patogênicas se sobressaem as bactérias locais (ANDRADE et al, 2015).
Com o desequilíbrio a mucosa intestinal não consegue cumprir sua função plena de barreira
e, consequentemente, permite a passagem de antígenos bacterianos e provenientes de alimentos.
Gerando, assim, quadros como constipação, diarreia e gases (PANTOJA et al, 2019).
Tal desequilíbrio, que pode ser causado por bactérias como Clostridium difficile e
Streptococcus, afeta diretamente o metabolismo do indivíduo. Pois quando bactérias patogênicas
são prevalentes acabam desestabilizando a permeabilidade intestinal comum, permitindo a
passagem de lipopolissacarídeos para a corrente sanguínea e causando endotoxemia metabólica,
que por sua vez, forma um quadro inflamatório crônico no indivíduo. Desta forma a disbiose pode
comprometer não só o sistema gastrintestinal, mas todo o sistema imune do indivíduo (CONRADO
et al, 2018 e PANTOJA et al, 2019).
Já é sabido que existem alguns fatores que influenciam direta e indiretamente na composição
da microbiota, e o exercício físico é um deles. Fatores associados ao exercício, como a dieta
específica, hidratação, o estresse, o ambiente, o tipo e o tempo de atividade, possuem relações
distintas com a microbiota (MOHR et al., 2020).
O estresse sofrido pelo intestino frente ao exercício inclui processos que envolvem respostas
fisiológicas, afetivas, cognitivo-comportamentais e bioquímicas em um esforço para recuperar a
homeostase (CLARK E MACH, 2016). Essas podem ser benéficas ou maléficas, dependendo do tipo
de esporte, das características do atleta e/ou indivíduo saudável, do condicionamento físico e do
regime de treinamento. Nesse âmbito, é estimado que a prevalência de estresse seja maior em
esportes de endurance, como natação, remo, esqui, ciclismo, triatlo e corrida de longa distância
(GRAVATO et al., 2021). O exercício de resistência é descrito como atividade cardiovascular que é
realizado por um longo tempo, quatro a seis horas por dia, seis dias por semana (BONOMINI-
GNUTZMANN et al, 2022).
Esses mecanismos estão bem estabelecidos nos estudos com animais, porém em humanos os
estudos mostram resultados distintos, possivelmente em razão da metodologia, da intensidade, da
frequência, da atividade física aplicada e do método de análise da microbiota intestinal. Por isso o
mecanismo de ação de como o exercício físico interfere na modulação intestinal em humanos ainda
é discutido (GRAVATO et al., 2021).
A atividade física praticada de forma regular e moderada, apresenta diversos benefícios para
a saúde, algumas doenças crônicas de fundo metabólico e inflamatório, tem no exercício físico a
prevenção primária. O exercício regular promove adaptações para manter o fluxo sanguíneo
intestinal, traz benefícios para a microbiota auxiliando na melhora da proporção de bacteroides e
firmicutes, estimula a proliferação de bactérias que fazem a modulação das mucosas e,
consequentemente, melhora a função de barreira levando a redução da inflamação e a saúde
intestinal. Podemos citar a redução do risco de obesidade e comorbilidades associadas; a melhoria
do metabolismo ósseo e muscular; a redução do risco de doenças gastrointestinais como o câncer
do cólon; diminuição de peso, entre outras (LIMA et al, 2022; HUGLES E HOLSCHER, 2021; GRAVATO
et al., 2021; CAVALCANTE, 2021).
Bonomini-Gnutzmann et al (2022) afirma que o exercício moderado tenha um efeito benéfico
sobre o sistema imunológico. E que os indivíduos praticantes correm menor risco de adoecer, em
comparação aos indivíduos com um estilo de vida sedentário.
A prática de exercícios de forma intensa, extenuante (≥60-70% VO2max) e prolongada é um
desafio exógeno percebido como adverso pelo organismo, acarretando o estresse. De tal forma que
é capaz de modificar os hormônios catabólicos, citocinas e moléculas microbianas intestinais,
podendo resultar em distúrbios gastrointestinais, ansiedade, depressão e baixo desempenho
esportivo (GRAVATO et al, 2022). O exercício até a exaustão pode perturbar o equilíbrio entre a
microbiota intestinal e o sistema imunológico, e a imunossupressão sofrida por esses atletas
aumenta o risco de surgirem doenças agudas (LIMA et al, 2022).
Diversas alterações fisiológicas podem ocorrer em atletas que praticam esportes de
resistência, uma vez que os exercícios de alta intensidade e treinamentos prolongados podem gerar
o desenvolvimento de doenças intestinais inflamatórias, o aumento da permeabilidade da parede
epitelial e a ruptura da espessura da mucosa intestinal. Foi recentemente demonstrado que 60
minutos de treinamento vigoroso de resistência a 70% da capacidade máxima de trabalho levou às
respostas características do intestino permeável, que ocorre principalmente devido a hipoperfusão
esplâncnica e a isquemia subsequente, prejudicando a absorção de nutrientes e causando danos as
células da mucosa intestinal. Com isso, é comum alguns atletas relatarem sintomas como distensão
abdominal, cólicas abdominais, refluxo ácido (azia), náuseas, vômitos, diarreia, câimbras, entre
outros. O comprometimento da imunidade das mucosas é um fator de risco para o surgimento de
infecções do trato respiratório superior com mais alta incidência em atletas de elite. Tudo isso, afeta
negativamente o treinamento dos atletas e consequentemente prejudica o desempenho durante
as competições (LIMA et al, 2022; GRAVATO et al, 2022; Bonomini-Gnutzmann et al, 2022; HUGLES
E HOLSCHER, 2021; CAMPOS et al., 202; DE ARAUJO E TOSCANO, 2020; RIBEIRO et al, 2021).
Os próbioticos, classificados como micro-organismos vivos que fazem parte de uma enorme
colônia formada por milhões deles, tem papel fundamental no organismo ao compor nosso
microbiano intestinal refletindo diretamente na qualidade de vida. Na alimentação, eles são
encontrados em iogurtes, bebidas fermentadas ou podem ser consumidos através de suplementos
que oferecem bilhões de organismos vivos. A suplementação vem sendo apontada como muito
eficaz em relação à diminuição do estresse oxidativo e inflamações que podem gerar sinalizações
prejudiciais nos padrões de expressões gênicas prejudicando o indivíduo em teoria. Sendo assim,
estratégias nutricionais como introdução da suplementação de próbioticos se mostram excelentes
ferramentas para induzirmos a redução de sintomas, recuperação dos atletas, melhora na saúde e
na imunocompetência durante a realização do exercício físico (CAVALCANTE, 2021).
O presente artigo visa explorar a microbiota dos atletas, bem como suas intercorrências a
depender de fatores como: a modalidade esportiva, a intensidade e duração dos treinamentos, a
rotina, a alimentação e o uso ou não de probióticos e suplementos.

2 METODOLOGIA
Esse estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, produzida por meio de uma literatura
narrativa, desenvolvida a partir de materiais já elaborados, incluindo artigos, revistas científicas e
livros.
Como critérios de inclusão foi definido a necessidade de delimitar os artigos publicados entre
os anos de 2012 e 2022 que fossem pertinentes ao assunto escolhido. Foram excluídos da pesquisa,
estudos com animais e uso de probióticos fora da prática esportiva.
Para a concepção deste trabalho foram realizadas pesquisas de artigos científicos nas bases
de dados eletrônicos Google acadêmico, PubMed, Scielo, EBSCO, BVS e Science direct.
As pesquisas foram realizadas em agosto de 2022, nos idiomas português e inglês, utilizando
os termos "microbiota", "atletas", "alta performance", "probióticos", "sports", "nutrition",
"probiotcs", "health", "exercise", "gut microbiota".
Após a escolha dos materiais, os mais pertinentes foram utilizados, com posterior leitura
abrangente, seguida de leitura seletiva buscando aprofundamento do tema e obtenção de respostas
a problemática.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Chamamos de microbiota intestinal, a comunidade de microorganismo que existem e habitam
o trato digestivo dos seres humanos. A composição da microbiota depende muito da saúde do ser
humano habitado, também chamado de hospedeiro, de fatores exógenos (atividade física, dieta,
sono e ritmo circadiano) e de fatores endógenos (estresse e saúde da barreira intestinal) (GRAVATO
et al, 2022).
Cada indivíduo possui uma microbiota única, que é formada no início da vida, mas é modulada
e influenciada por fatores ambientais. Dentre as que mais se destacam temos o tipo de parto, uso
de antibióticos, a alimentação, o IMC, os hábitos de vida e a prática de exercícios físicos. Ou seja,
não existe uma composição de microbiota perfeita ou padrão; a microbiota será composta de
acordo com os padrões de vida de cada ser humano, sem que seja possível estabelecer uma utopia
(GRAVATO et al, 2022).
O intestino, principalmente na parte do intestino grosso onde fica a maior parte, contém
trilhões de micro-organismos. Estes desempenham papel fundamental e essencial na fisiologia e na
saúde do hospedeiro. Para que estes benefícios sejam utilizados pelo hospedeiro, a proporção entre
as espécies de bactérias gram positivas e gram negativas precisam estar em equilíbrio, sempre com
as gram positivas em maior quantidade. Pois quando as gram negativas ficam em maior quantidade
temos um quadro de disfunção intestinal, chamada de disbiose. Segundo os estudos recente, os
exercícios físicos alteram a composição e a capacidade funcional da microbiota (GRAVATO et al,
2022).
Em atletas especificamente, a microbiota possui algumas diferenças em relação a indivíduos
que praticam pouco exercício físico ou sedentários. Uma característica importante é que a
microbiota tem um poder modelador no metabolismo energético dos atletas, graças a presença de
bactérias que conseguem metabolizar lactato em propionato. Esses produtos são utilizados como
energia pelo fígado e os músculos, colaborando para manutenção da glicemia e melhorando o
desempenho físico (CAVALCANTE, 2021).
Outro destaque é que quando comparado a indivíduos comuns, os atletas possuem uma maior
diversidade na microbiota e este aumento está, segundo Cavalcante (2021), diretamente ligado ao
exercício e sua intensidade. A variedade de gêneros bacterianos também é um diferencial nos
atletas, que possuem mais bactérias do tipo α (alfa) e uma concentração maior do gênero
Akkermansia; enquanto nos indivíduos comuns os gêneros Firmicutes e Bacteroidetes são
prevalentes (PEREIRA, 2021).
Pessoas que realizam mais atividades aeróbicas, que trabalha melhor a capacidade
cardiorrespiratória, tem maior variedade microbiana, atividade de quimiotaxia e diminuem a
biossíntese de LPS (Lipopolissacarídeos). Por isso, detém uma maior quantidade de bactérias
produtoras de ácidos graxos de cadeira curta, como o butirato. Dentre as bactérias presentes
podemos citar os das famílias clostridiales, erysipelotrichaceae, lachnospiraceae e roseburia (SILVA,
2020).
As bactérias são a população em maior quantidade na microbiota intestinal e podem ser
classificadas por gêneros, famílias, ordens e filos. Os filos Firmicutes e Bacteroidetes são os mais
prevalentes, seguidos por Proteobacteria e Actinobacteria (JANDHYALA, 2015).
Os estudos sobre os filos pertencentes aos seres humanos, concluíram que a microbiota dos
herbívoros possui 14 filos diferentes e dos carnívoros 6 filos. Na divisão das bactérias que habitam
o nosso intestino, 90 % são do filo Bacteroidetes e Firmicutes, sendo as demais compostas por
Proteobacteria, Actinobacteria, Fusobacteria e Verrucomicrobia. Essa proporção de microrganismos
é mantida para manter uma relação simbiótica entre o hospede e o ser humano (hospedeiro),
mantendo a homeostase intestinal e o equilíbrio entre as bactérias patogênicas (gram negativas) e
as não patogênicas (gram positivas) (GRAVATO et al, 2022).
Pessoas que realizam atividades físicas apresentam um aumento de espécies benéficas de
bactérias, como por exemplo: Faecalibacterium prausnitzii (efeito anti-inflamatório), Akkermansia
muciniphila (efeito anti-hiperpermeabilidade) e Roseburia hominis (responsável pela produção de
butirato) (GODOY et al,2020).
Dentre outras bactérias benéficas, temos: Bifidobacterias, Lactobacilos (Bacteroides spp,
Bifidobacterium spp, Lactobacillus spp) e as Prevotella spp (filo Bacteroidetes). Há também bactérias
nocivas, como: Escherichia coli, membros da família das Enterobacteriaceae, Clostridium,
Eubacterium spp, Fusobacterium spp, Peptostreptococcus spp e Ruminococcus (GRAVATO et al,
2022).
A disbiose acontece quando existe um desequilíbrio dentro da microbiota intestinal, onde o
número de bactérias patogênicas é maior que as bactérias benéficas. Afetando o trato
gastrointestinal, alterando o funcionamento intestinal, quanto a absorção de nutrientes, a digestão,
o sistema imunológico e a qualidade de vida (GAGLIARDI et al, 2018).
Esse quadro é comum em atletas, pois vários estudos já apontam uma relação entre a
atividade física e o risco de lesões gastrointestinais (AMÂNCIO et al, 2021).
Se, por um lado, a disbiose intestinal está associada a uma redução quantitativa e qualitativa
dos micróbios intestinais, por outro, o exercício em doses específicas pode ser uma estratégia
fundamental para restaurar a composição e função da microbiota intestinal, melhorando a mucosa
gastrointestinal e reduzindo a sinalização inflamatória (RIBEIRO et al, 2021).
A composição da microbiota intestinal pode detectar estresse em decorrência dos exercícios.
O exercício físico pode ser considerado um potente modulador da saúde intestinal e pode
influenciar a composição e a função da microbiota, dependendo da intensidade, do tempo, do tipo
de exercício e das condições em que o indivíduo se encontra durante o exercício. Atividades de baixa
intensidade podem aumentar a diversidade de microrganismos, e as de alta intensidade podem
trazer prejuízos à microbiota e à saúde dos atletas (RIBEIRO et al, 2021).
O exercício físico, a dieta específica para atletas e os fatores envolvidos no desempenho do
treinamento podem influenciar na microbiota intestinal. Atletas de alto desempenho têm uma
composição do microbioma diferente de pessoas sedentárias e de pessoas que praticam exercício
físico moderado. O exercício físico foi associado com uma microbiota intestinal mais saudável. Isso
inclui maior abundância nas espécies bacterianas, maior diversidade na microbiota, maior produção
de metabólitos, melhora na função da barreira intestinal e melhora na imunidade da mucosa
intestinal (MOHR et al, 2020).
A atividade física tem diversos benefícios e é recomendada para prevenção da saúde, seja ela
metabólica, cardiovascular ou imunológica (MOHR et al, 2020).
O exercício físico tem diversas intensidades: leve, moderado ou intenso. A intensidade se
refere a duração e dias de treino. A recomendação para prática de exercício pela OMS, de moderada
a intensa, são 150 minutos semanais. O exercício de resistência é descrito como atividade
cardiovascular que é realizado por um longo tempo, de quatro a seis horas por dia, seis dias por
semana. Como exemplo temos: ciclismo, corrida, natação, esqui e remo. Este exercício intenso inclui
processos que envolvem respostas fisiológicas, afetivas, cognitivo-comportamentais e bioquímicas
em um esforço para recuperar a homeostase (MOHR et al, 2020).
Não podemos afirmar, pois há poucos estudos referentes a relação da atividade física e a
microbiota intestinal, mas foi observado um desequilíbrio na microbiota de atletas que praticam
exercício intenso. (MOHR et al, 2020).
Da mesma forma é pouco conhecido até o momento, como o exercício de alta intensidade
influencia a microbiota intestinal. A importância de conhecer os mecanismos da microbiota
intestinal na rotina atlética, é fundamental para atletas que buscam expandir seu desempenho
competitivo e diminuir o tempo de recuperação durante os treinos. Tais informações podem ter
uma vantagem na compreensão das influências da microbiota intestinal na saúde do atleta (MOHR
et al, 2020).
É sabido que o exercício físico tem um papel fundamental no funcionamento intestinal, na
melhora vascular e no metabolismo geral, pois sua constância gera uma diminuição de citocinas pró
inflamatórias, alterando as vias de inflamação. Porém, estudos recentes apontam que a alta duração
do exercício pode estar relacionado a uma maior abundância de bactérias pró-inflamatórias
(BONOMINI-GNUTZMANN et al, 2022).
O exercício físico leve a moderado atua como um estressor intestinal benéfico levando ao
enriquecimento e proliferação bacteriana, melhora da integridade da barreira intestinal e síntese
de agentes imunomoduladores e antimicrobianos. Foi demonstrado que o treinamento aeróbico
moderado melhorou a motilidade gastrointestinal, reduzindo o tempo transitório das fezes, o que
beneficia o hospedeiro ao diminuir o contato dos patógenos com a camada de muco
gastrointestinal. O esvaziamento gástrico pode diminuir o risco de Doença do Refluxo
Gastroesofágico (RIBEIRO et al, 2021). Além disso, o exercício moderado mostrou reduzir a
síndrome do intestino irritável de forma eficaz e promoveu a perda de peso (GRAVATO et al, 2021).
Há evidências científicas convincentes que sugerem que o exercício moderado a longo prazo
tem um efeito positivo na homeostase energética e desempenha um papel preventivo contra vários
distúrbios metabólicos relacionados à obesidade. As adaptações fisiológicas mais importantes que
ocorrem em resposta ao exercício são biogênese mitocondrial, hipertrofia muscular e angiogênese,
aptidão cardiovascular, cadeia de suprimento energético mais bem organizada e ativação do eixo
hipotálamo-pituitária-adrenal que melhora consideravelmente esse equilíbrio energético e regula
melhor as respostas imunoinflamatórias. O exercício promove a via anti-inflamatória colinérgica e
reduz a liberação do fator de necrose tumoral α (CAVALCANTE, 2021). Também foram relatados
efeitos benéficos dos exercícios de leve e moderada intensidade no estímulo do sistema
imunológico, importante no enfrentamento do câncer e regularidade em pacientes assintomáticos
de COVID-19 para evitar tromboembolismo venoso (CAVALCANTE, 2021).
Embora o exercício moderado tenha um efeito benéfico sobre o sistema imunológico, em
comparação com um estilo de vida sedentário, a quantidade excessiva de exercícios prolongados
de alta intensidade podem comprometer a imunidade da mucosa visto com mais alta incidência em
atletas de elite (LIMA et al, 2022).
O exercício físico intenso implica em processos adaptativos que envolvem respostas
fisiológicas, bioquímicas e cognitivo-comportamentais, na tentativa de recuperar a homeostase
(CLARK E MACH, 2016).
Sabe-se que o exercício físico leva ao aumento da demanda energética do músculo
esquelético e à adaptação do organismo para suprir essa demanda. Por meio desse estímulo, a
atividade do sistema nervoso simpático altera a hemodinâmica, reduzindo e redistribuindo o fluxo
sanguíneo dos órgãos vitais para os músculos em exercício. Foi demonstrado que a diminuição do
fluxo sanguíneo esplâncnico ocorre em torno de 70-80% do consumo máximo de oxigênio (VO2max)
durante o exercício. Assim, o tipo de exercício e sua intensidade podem promover alterações no
sistema gastrointestinal por meio de seu efeito hipóxico. A isquemia induzida, a partir de 50% de
redução do fluxo sanguíneo, já é capaz de aumentar a permeabilidade intestinal. A hipoperfusão
esplâncnica e a isquemia subsequente podem danificar as células especializadas secretoras de
proteínas antimicrobianas (células de Paneth), as células produtoras de muco (como as células
caliciformes) e as proteínas de junção estreita (claudina e ocludina) que impedem a infiltração de
organismos patogênicos do intestino para a corrente sanguínea. Assim, endotoxinas como
lipopolissacarídeos (LPS) e citocinas pró-inflamatórias podem passar pelas células epiteliais devido
à sua permeabilidade, efeito conhecido como “leak gut” (intestino permeável). Esse fenômeno pode
explicar, em parte, a absorção prejudicada de nutrientes intestinais observada após exercícios
extenuantes (RIBEIRO et al, 2021). Combinado a inflamação intestinal ocorre a modificação da
microbiota com o aumento de bactérias como Ruminococcus gnavus, bem como Butyrivibrio,
Coprococcus e Oscillospira, e uma diminuição da Turicibacter spp (BONOMINI-GNUTZMANN et al,
2022).
Estes problemas em atletas podem também estar relacionados aos FODMAPs, aos alimentos
ricos em glúten, frutose, lactose e oligossacarídeos (GAGLIARDI et al, 2018) e a fatores externos
como a temperatura, a altitude e a desidratação do corpo durante o exercício de longa duração
(RIBEIRO et al, 2021).
Tem sido demonstrado que o exercício predominantemente aeróbio e de longa duração,
como aquele executado por maratonistas, triatletas e ciclistas, pode provocar sintomas
gastrintestinais e infecções do trato respiratório. Estes são divididos em sintomas superiores
(vômitos, náuseas e pirose retroesternal) e inferiores (diarréia, cólica abdominal, flatulência, perda
de apetite, sangramento, aceleração dos movimentos intestinais, defecação anormal e vontade de
defecar) (ARAUJO E TOSCANO, 2020). Esses distúrbios gastrointestinais, desequilíbrios na
hidratação, má absorção de nutrientes e eletrólitos e danos na mucosa intestinal, são efeitos que
afetam negativamente o desempenho do atleta (CLARK E MACH, 2016).
Como recurso para auxiliar e fortalecer a microbiota temos os probióticos. Este tem como
definição: microorganismos vivos que devem ser administrados em quantidades corretas, horários
adequados e que oferecem benefícios à saúde do hospedeiro. Exemplos de bactérias como
Lactobacillus rhamnosus GG, Bifidobacterium, Enterococcus faecium, e os fermentados
Saccharomyces boulardii se mostram muito eficazes quando introduzidos. Logo, são
frequentemente utilizadas como suplementos probióticos em alimentos (AMÂNCIO et al, 2021).
Sintomas como azia, digestão lenta, flatos, náuseas, constipação podem ser reduzidas e tratadas
com a associação de uso de fibras e probióticos além de melhorar a performance também
diminuindo quadros de transtornos gastrointestinais que são muito frequentes nesse grupo
(AMÂNCIO et al, 2021).
As cepas apresentadas acima, quando administradas corretamente, associada à atividade
física moderada, trabalham na redução de comorbidades frequentes relatadas pelo grupo; além de
aumentar a biodisponibilidade de nutrientes e melhora na qualidade de absorção de nutrientes.
Estudos que buscam identificar os benefícios do uso de probióticos aumentaram devido à sua
notável eficiência diante ao estresse oxidativo, onde mostram auxiliar diretamente na sua redução
inflamatória e sua capacidade para alterar padrões de expressão de determinados genes causadores
de doenças (AMÂNCIO et al, 2021).
Algumas vantagens a serem pontuadas sobre o uso dos probióticos são: a restauração da
imunidade comprometida pelo treinamento de alta performance, melhora da vascularização
intestinal, melhor desenvolvimento de cepas fazendo com que haja relevante diminuição das
causadoras de doenças, além de auxiliar na redução da permeabilidade (DE ARAUJO E TOSCANO,
2020).
Como citado anteriormente, a saúde intestinal é fundamental para a garantia de uma boa
imunidade, para a defesa contra patógenos e na garantia de eficiência em relação ao aumento de
citocinas anti-inflamatórias versus a queda das pró-inflamatórias. Sendo assim, percebe-se que o
uso frequente dos probióticos podem ser interessantes em quadros inflamatórios de atletas de alta
performance tendo como resultado, por exemplo, agir na redução dos dias ou gravidade dos
sintomas desencadeados pelo treino (DE ARAUJO E TOSCANO, 2020).
Bifidobacterium e Lactobacillus que são gêneros presentes em iogurtes, suplementos e
produtos lácteos fermentados, são exemplos de microorganismos predominantes no intestino de
um indivíduo saudável. Os Lactobacilli se mostram benéficos no auxílio da saúde do cólon e função
imune por conterem propriedades promotoras de barreiras contra possíveis desordens intestinais
(AMÂNCIO et al, 2021).
Já um simbiótico é “uma mistura que compreende microrganismos vivos e substrato(s)
utilizados seletivamente por microrganismos hospedeiros que conferem um benefício à saúde do
hospedeiro”. Um simbiótico pode ser uma combinação de um probiótico e um prebiótico
(simbiótico complementar), embora os componentes individuais não precisem necessariamente
atender aos critérios para probióticos e prebióticos, desde que atuem sinergicamente quando
coadministrados (simbiótico sinérgico) (HUGLES E HOLSCHER, 2021).
Segundo HUGLES E HOLSCHER (2021); o componente prebiótico pode melhorar a
funcionalidade do probiótico, ou os dois componentes podem fornecer funções benéficas
independentes após a introdução no intestino e seus micróbios residentes (simbiótico
complementar). Esta combinação de microorganismos e substratos seletivamente utilizados pode
ter efeitos diferentes do que a suplementação de prebióticos ou probióticos isoladamente. No
entanto, até onde sabemos, apenas um estudo investigou os efeitos sinérgicos e independentes
desses componentes em humanos fisicamente ativos.
Diante do seu modo de ação, podemos concluir que próbióticos com seus mecanismos são
ferramentas interessantes para serem aplicadas de modo constante com o objetivo de reduzir
inflamações locais e sistêmicas por desenvolver inúmeros benefícios apontados para o ambiente da
microbiota, estimulando o sistema imunoprotetor do atleta de alta performance (DE ARAUJO E
TOSCANO, 2020).

4 CONCLUSÃO
Utilizando os principais dados encontrados na literatura, pode-se estabelecer que o exercício
físico de alta intensidade resultou em efeitos adversos sobre a microbiota, como o aumento da
permeabilidade intestinal e a inflamação, o que acaba gerando o quadro de disbiose, influenciando
a diversidade, a composição e a função dos microrganismos intestinais, nesse caso o atleta acaba
desenvolvendo prejuízos a sua saúde e tem o seu desempenho físico prejudicado. No entanto, os
estudos encontraram efeitos positivos na realização de exercícios moderados. Em geral, não há
clareza absoluta dos mecanismos e fatores pessoais e ambientais capazes de influenciar na melhora
ou piora da microbiota em função do exercício, mais estudos são cruciais a fim de estabelecer a
quantidade de exercício necessário para ter efeitos favoráveis a microbiota e a partir de qual dose
de exercício as condições do microbioma intestinal começam a piorar.
As evidências mostram que a utilização de probióticos, prebióticos e simbióticos podem
apresentar benefícios a microbiota desses atletas, reduzindo a inflamação, melhorando a
imunidade e facilitando na recuperação deles. Porém, existem poucos achados que comprovem a
melhora no desempenho atlético. A diversidade de cepas, doses e os fatores individuais trazem
dificuldades para a conclusão desse tema, tornando indispensáveis mais estudos sobre o tema.

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