Você está na página 1de 5

Patologia Geral – Imunonutrição e patologia

Resumo

Quando falamos de um estilo de vida saudável, torna-se incontornável falar de


alimentação e nutrição. A escolha de uma dieta saudável está diretamente associada a
uma maior esperança média de vida e à redução do risco de desenvolvimento de
certas doenças a médio ou longo-prazo. Em relação à nutrição, destacam-se três
aspetos importantes: a captação de energia; a conservação das funções físicas,
mentais e biológicas; e a geração, evolução e renovação dos tecidos. Por outras
palavras, corresponde ao impacto e às consequências da alimentação para a
manutenção da vida; ou seja, tudo o que ingerimos na nossa dieta terá influência na
nutrição do nosso corpo. Hábitos como manter uma alimentação saudável e
equilibrada, praticar exercício físico e alguma exposição solar, são essências para
conseguir obter uma boa nutrição, e deste modo, ajudar o individuo a prolongar a sua
vida a nível fisiológico. Assim sendo, torna-se claro que a alimentação e a nutrição têm
um impacto significativo na saúde dos indivíduos e, tal como outros fatores, como
predisposição genética, tem ação direta na redução do desenvolvimento de diversas
patologias. No entanto, ainda existe algumas lacunas na total compreensão dos
mecanismos pelos quais a alimentação/nutrição influenciam a saúde ou doença.

O mecanismo em causa neste trabalho é a imunonutrição, que pode ser definida


como a modulação do sistema imunitário ou a modulação das consequências da
ativação deste mesmo sistema, por parte de nutrientes ou ainda alimentos em
quantidades superiores as que se encontram usualmente na dieta. Na sequência deste
termo é necessário falar de imunonutrientes que por definição, são nutrientes que
provocam um efeito no sistema imunitário. (Grimble, 2008)

Com o objetivo de compreender a possível ponte entre nutrição e modulação da


resposta imunológica iremos abordar os nutrientes mais amplamente estudados para
efeito associado de imunonutrição, sendo estes, arginina, glutamina e ácidos gordos
ómega-3, assim como patologias em que este conceito apresenta resultados
promissores. (Calder, 2003)
Patologia Geral – Imunonutrição e patologia

A obesidade é uma das patologias mais prevalentes em todo o mundo, sendo de


enorme preocupação a nível de saúde pública, uma vez que se encontra relacionada
com diversas alterações fisiológicas, tais como: resistência à insulina, diabetes,
aterosclerose, hipertensão, ou até com alguns tipos de cancro. A obesidade encontra-
se por isso, ligada a um estado de inflamação crónica de baixo grau, em que a
inflamação se origina localmente no tecido adiposo, consequência da deposição
excessiva de gordura, que mais tarde irá atingir a circulação sistémica. (de Heredia, et
al., 2012)

Sabe-se que a obesidade, é um estado de desnutrição por excesso, e tem sido


relacionada com a disfunção imunológica, após observações de maiores taxas de
infeções e dificuldade na cicatrização de feridas em obesos. O excesso de gordura
corporal é acompanhado por alterações na enumeração de leucócitos, com contagens
elevadas de neutrófilos, monócitos e linfócitos, mas também uma menor proliferação
induzida por mitógenos das células T e B. Além disso, outros estudos mostraram que a
produção de anticorpos após a vacinação está diminuída em pacientes obesos. Mesmo
em crianças, foram obtidas evidências de respostas imunes mediadas por células
prejudicadas com a obesidade. Diante de tudo isso, parece claro que a obesidade,
como outras situações de desnutrição, prejudica a função imunológica. (de Heredia, et
al., 2012)

Descobriu-se que indivíduos obesos têm níveis mais baixos de vitamina A e menor
ingestão de vitamina A em comparação com indivíduos com peso normal. A vitamina A
desempenha um papel importante na função imunológica, incluindo imunidade inata,
imunidade mediada por células e imunidade de anticorpos humoral. Também foi
reconhecido recentemente que a vitamina A tem funções regulatórias importantes. O
status da vitamina A tem um efeito importante na resposta inflamatória crônica. O
efeito da deficiência de vitamina A na obesidade pode aumentar o risco de deposição
de gordura e também o risco de inflamação crônica associada à obesidade. (García,
2012)

A gastrite é uma inflamação da mucosa gástrica e a forma mais comum de gastrite


crónica tem como agente causador a bactéria Helicobacter Pylori (H. Pylori). Esta
bactéria afeta 50% da população mundial e é responsável por cerca de 75% dos casos
de cancro gástrico, mas nem todos os indivíduos afetados desenvolvem patologias.
Patologia Geral – Imunonutrição e patologia

(Peleteiro, et al., 2014) O desenvolvimento da patologia poderá estar relacionado com


as diferentes respostas do hospedeiro, fatores de virulência e influências ambientais
ou a combinação destes fatores.

A via de transmissão da H. Pylori não é totalmente compreendida. Pensa-se que


possa ser transmitida por via fecal-oral, oral-oral, gastro-oral, amamentação e
transmissão iatrogénica. Esta coloniza a mucosa gástrica e as microvilosidades
gástricas das células epiteliais, o que contribui diretamente para a destruição da célula
gástrica pois produz uma citotoxina vacuolizante e enzimas tóxicas que desregulam a
camada protetora do epitélio. Estas induzem uma inflamação persistente na mucosa
gástrica com diferentes tipos de lesões, sendo associada à etiopatogenia de diversas
patologias, tais como a úlcera péptica, o cancro gástrico, o MALT (linfoma do tecido
linfóide associado à mucosa) e linfoma não-Hodgkin gástrico. A infeção pode
manifestar-se de diferentes formas apesar de geralmente ser assintomática.

A resposta inflamatória inclui recrutamento de neutrófilos, linfócitos, macrófagos


e plasmócitos.

Um tratamento adequado para eliminação total da H. Pylori passa por uma


combinação de um inibidor de bomba de protões (PPI) e dois antibióticos. Atualmente
a população procura cada vez mais um estilo de vida saudável e equilibrado, o que tem
aumentado a procura por tratamentos alternativos.

O consumo de brócolos é aconselhado devido à sua composição rica em


sulforafano, um agente de ação bactericida e bacteriostática. Estudos têm
demonstrado que uma alimentação equilibrada rica em antioxidantes como as
vitaminas C, E e carotenóides estão relacionadas com a diminuição da gastrite.
(Oliveira, et al., 2012)

Acompanhado da infecção pela H. Pylori poderá existir uma deficiência em ferro


pois este nutriente é absorvido no estômago. Se as análises bioquímicas o
confirmarem, será necessária a suplementação em sulfato ferroso e a adequação da
alimentação de maneira a fornecer mais ferro e vitamina C. (ZENI, et al., 2018)

Efeitos antimicrobianos contra a H. Pylori têm sido relatados para o alho, chá
verde, mel, tomilho e hortelã. Também o sumo de oxicoco tem propriedades anti-
Patologia Geral – Imunonutrição e patologia

adesivas contra esta bactéria, inibindo a sua adesão à mucosa do estômago.


(O'Mahony, et al., 2005)

O consumo moderado de vinho e cerveja também parece ter uma ação protetora
contra a infecção. O resveratrol, polifenol produzido durante a fermentação, é ativo
em condições ácidas e pode estar associado à inibição da H. Pylori. (Lin, et al., 2005)

Também a combinação de curcuma e o zinco-carnosina são alternativas para o


tratamento da infeção pela H. Pylori, podendo levar à inibição do crescimento da
bactéria. (Prucksunand, et al., 2001) (Hudson, 2013)

A utilização de probióticos impede o aumento da carga bacteriana, evitando


assim os processos inflamatórios consequentes da infeção. (Pacifico, et al., 2014)

Os compostos fenólicos e flavonóides que são atribuídos à amêndoa têm


propriedades antibacterianas, anti-inflamatórias e anticancerígenas. A pele da
amêndoa aparenta ter um maior efeito anti- H. Pylori. (Bisignano, et al., 2013)

Também à raiz de gengibre são atribuídas propriedades terapêuticas capazes de


desempenhar um papel na erradicação da bactéria. (Biglar, et al., 2014)

Em suma, a resposta inflamatória a lesões e infeções, encontra-se em grande


parte associada à função imunológica. Esta resposta aumenta a morbidade e retarda a
sua recuperação. A imunonutrição fornece um meio de modular a resposta
inflamatória à lesão e à infeção e, portanto, melhora o outcome clínico.

Bruno Gaifem

Eduardo Araújo

Sara Guerreiro

CNUT2A

Referências
Patologia Geral – Imunonutrição e patologia

Biglar, M. et al., 2014. Screening of 20 commonly used Iranian traditional medicinal plants against
urease.. Iranian journal of pharmaceutical research, p. 195–198.

Bisignano, C. et al., 2013. Antibacterial activities of almond skins on cagA-positive and-negative clinical
isolates of Helicobacter pylori.. BMC microbiology, Maio, p. 103.

Calder, P. C., 2003. Immunonutrition. The BMJ, Julho.

Carvalho, P., 2020. Vitaminas Lipossolúveis. Nutrição Humana I.

Carvalho, P., 2021. Os Mitos que Comemos. 1º ed. s.l.:Matéria Prima.

de Heredia, F. P., Gómez-Martínez, S. & & Marcos, A., 2012. Obesity, inflammation and the immune
system.. The Proceedings of the Nutrition Society, p. 332–338.

García, O. P., 2012. Effect of vitamin A deficiency on the immune response in obesity.. The Proceedings
of the Nutrition Society, 7 Maio, p. 290–297.

Grimble, R. F., 2008. Basics in clinical nutrition: Immunonutrition – Nutrients which influence immunity:
Effect and mechanism of action. Clinical Nutrition ESPEN, 18 Agosto.

Hudson, T., 2013. Nutrient Profile: Zinc-Carnosine A combination of zinc and L-carnosine improves
gastric ulcers. Natural Medicine Journal, Novembro.

Lin, Y., Vattem, D., Labbe, R. & Shetty, K., 2005. Enhancement of antioxidant activity and inhibition of
Helicobacter pylori by phenolic phytochemical-enriched alcoholic beverages. Process Biochemistry,
Maio.

Oliveira, G. L. A., de Jesus Fukui, M. & Antonio Buzinaro, M., 2012. FATORES ASSOCIADOS À GASTRITE
CRÔNICA NA INFECÇÃO POR HELICOBACTER PYLORI. Acadêmica do 7 º período de Nutrição da
Faculdade Atenas.

O'Mahony, R. et al., 2005. Bactericidal and anti-adhesive properties of culinary and medicinal plants
against Helicobacter pylori.. World journal of gastroenterology.

Pacifico, L. et al., 2014. Probiotics for the treatment of Helicobacter pylori infection in children.. World
journal of gastroenterology, 21 Janeiro, p. 673–683.

Peleteiro, B., Bastos, A., Ferro, A. & Lunet, N., 2014. Prevalence of Helicobacter pylori infection
worldwide: a systematic review of studies with national coverage.. Digestive diseases and sciences, p.
1698–1709.

Prucksunand, C., Indrasukhsri, B., Leethochawalit, M. & Hungspreugs, K., 2001. Phase II clinical trial on
effect of the long turmeric (Curcuma longa Linn) on healing of peptic ulcer.. The Southeast Asian journal
of tropical medicine and public health, Março, p. 208–215.

ZENI, J., CHICONATTO, P., SCHMITT, V. & MAZUR, C. E., 2018. 19Visão Acadêmica, Curitiba, v.19n.4, Out.
-Dez./2018-ISSN 1518-8361CONDUTA DIETOTERÁPICA PARA PACIENTE COM GASTRITE CRÔNICA E
OSTEOPOROSE: RELATO DE CASOCONDUCT DIET THERAPEUTIC FOR PATIENT WITH CHRONIC GASTRITIS
AND OSTEOPOROSIS: CASE REPORT. Visão Acadêmica, Dezembro.

Você também pode gostar