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IMPORTÂNCIA DA NUTRIÇÃO NAS DOENÇAS AUTOIMUNES

Virgínia Oliveira
Especialista em Nutrição Clínica Funcional Ortomolecular
@nutri_virginiaoliveira

A patogenia e etiologia das Doenças Autoimunes ainda não são totalmente


compreendidas, mas podemos dizer que elas ocorrem quando o sistema imunológico de
um indivíduo falha em diferenciar o que é “próprio” do que é “estrangeiro”, ou seja, por
alguma disfunção desconhecida, as proteínas produzidas pelo nosso próprio corpo são
reconhecidas como invasores estranhos a serem eliminados, desencadeando uma
resposta em forma de “ataque” à essas estruturas.

Fatores ambientais, estilo de vida, alimentação, drogas, infecções e certos antecedentes


genéticos são tidos como gatilhos para o surgimento de tais condições, e apesar de não
conseguirmos modificar as possíveis predisposições genéticas, podemos modular
fatores externos que influenciam mecanismos epigenéticos. A Nutrição torna-se então
peça chave no acompanhamento e manejo das Doenças Autoimunes, pois pode
promover atenuação dos sintomas, melhora da resposta imunológica, e ainda retardar o
surgimento destas doenças em indivíduos predispostos.

Outro gatilho comum é o aumento constante dos níveis de estresse, que elevam o
cortisol, hormônio associado ao déficit imunológico quando tem seus níveis
aumentados. Já reparou, por exemplo, que a herpes bucal, cândida ou infecção urinária
sempre aparecem em períodos de maior estresse ou vulnerabilidade? Justamente pela
queda da função imunológica, que muitas vezes está associada não apenas ao hormônio
do estresse, mas a uma deficiência nutricional também.

Dentre alguns dos alvos dessa disfunção imunológica e suas respectivas condições
autoimunes encontram-se o Sistema Nervoso Central (Esclerose Múltipla), Tireoide
(Tireoidite de Hashimoto), Pâncreas (Diabetes tipo I), Folículos capilares (Alopecia
Areata), Trato digestivo (Chron), e até vários ao mesmo tempo como ocorre no Lúpus
Eritematoso Sistêmico (LES). A depender do local e funções atingidas, esse tipo de
ataque ocasiona problemas diversos, incluindo prejuízos na integridade intestinal,
digestão, absorção e metabolismo de nutrientes.

O Intestino é considerado o maior órgão imunológico do corpo humano, sendo


responsável por aproximadamente 70% da resposta imune do organismo e tornando-o
nossa maior fonte de defesa interna. Logo, manter a saúde do trato gastrointestinal
equilibrada irá ajudar a estabelecer as defesas naturais do organismo de maneira
otimizada, reduzindo a intensidade da resposta inflamatória indesejada.

A relação entre microbiota e imunidade vai além do intestino, influenciando


positivamente as respostas de defesa de outros órgãos, como pulmão e trato urinário. A
comunicação frequente entre as células imunes e a microbiota intestinal ajuda a moldar
as respostas imunes do corpo contra qualquer elemento estranho ao organismo,
promovendo a produção de anticorpos. Além disso, um bom sistema imunológico,
fortalecido pelos hábitos de vida saudáveis, tem o poder de contribuir para que
infecções não se tornem extremamente graves.

Diversos nutrientes desempenham papel determinante para a produção e bom


funcionamento das células imunológicas, garantindo que as reações bioquímicas
necessárias ao nosso sistema de defesa ocorram da melhor maneira possível. A vitamina
D é um forte exemplo, pois é tida como um pré hormônio importante não apenas para o
metabolismo adequado do cálcio, mas também por atuar como imunomodulador tanto
inato como adaptativo com suas funções anti-inflamatória e antioxidante. Ela também é
responsável pela ativação, proliferação e diferenciação dos linfócitos T, que limitam o
desenvolvimento de células auto reativas, prevenindo inflamação e autoimunidade.

Além disso, estudos com a suplementação de Vitamina D mostram que ela pode moldar
o curso de algumas Doenças Autoimunes, bem como reduzir sua incidência, sendo
potencial melhoradora da qualidade de vida de pacientes já acometidos.

A vitamina C é talvez uma das mais conhecidas no contexto da imunidade, pois ela
consegue melhorar a nossa resposta imunológica fazendo com que os sintomas
inflamatórios sejam mais amenos e a duração da infecção seja menor. O ideal é
consumi-la de forma natural, em frutas cítricas por exemplo, pois na matriz alimentar a
Vitamina C encontra-se combinada com outros nutrientes bioativos, como os compostos
fenólicos, que potencializam ainda mais os benefícios para o nosso sistema imune.

O Ômega-3 também merece destaque pela sua alta atividade anti-inflamatória, além de
possuir efeito inibitório em células imunes, reduzindo a liberação de citocinas pro
inflamatórias. Sua suplementação está associada à uma significativa redução na
atividade de algumas das doenças autoimunes como no Diabetes tipo I, Artrite
Reumatoide, Lúpus e Esclerose múltipla.

Em infecções virais como a COVID-19, observou-se melhora na severidade dos


sintomas, prognóstico de recuperação e probabilidade de sobrevivência com o uso de
ácidos graxos Ômega-3 (EPA e DHA).
Em contrapartida, um indivíduo que possui carência desses e outros nutrientes
essenciais para a imunidade, como zinco, selênio e ferro, não conseguirá desempenhar
funções de defesa com a mesma eficácia. Estudos revelam que aproximadamente 90%
da população brasileira não atinge as recomendações de ingesta diária de frutas e
legumes, levando ao aparecimento e prolongamento de deficiências nutricionais
importantes.

O aumento recente da incidência das doenças autoimunes está possivelmente associado


ao estilo de Dieta Ocidental, que se destaca negativamente pelo alto consumo de
alimentos ricos em açúcares, gorduras de caráter pró-inflamatório, elevada densidade
calórica e baixo consumo de fibras, vitaminas e minerais.

Assim, manter uma alimentação nutritiva e variada, rica em frutas, legumes, vegetais,
cereais integrais, peixes frescos, azeite de oliva e oleaginosas, dentre outros alimentos,
irá estabelecer as defesas naturais do organismo de maneira otimizada, reduzindo a
intensidade ou ação da resposta inflamatória indesejada, além de trazer maior equilíbrio
e melhor funcionamento bioquímico para o sistema imune e consequentemente para
todo o restante do nosso organismo!

*Sempre busque um profissional de saúde habilitado para auxiliar no seu tratamento e


prevenção em saúde, pois cada indivíduo é único e merece atenção de forma detalhada e
personalizada.

REFERÊNCIAS

A patogenia e etiologia das doenças autoimunes não são totalmente compreendidas, mas os
fatores ambientais (estilo de vida, dieta, drogas, infecções) e certos antecedentes genéticos
foram propostos como fatores de risco.
Funções de barreira intestinal prejudicadas podem levar à ativação de uma resposta de sistema
(auto)imune, que pode ser induzida através de diferentes mecanismos, como mimetismo
molecular entre ingredientes alimentícios e autoantígenos, ou a reação de certos produtos
químicos com auto moléculas, gerando novas moléculas antigênicas.
A inflamação crônica ocorre quando a chave do seu sistema imunológico fica presa na posição
“Ligada”. Como resultado, acontece uma guerra contínua que vai lesando as células causando a
princípio, disfunção, depois lesão e finalmente degeneração e doença. Nesta guerra também
ocorre um ganho de tecido gorduroso (especialmente em torno da cintura) que produz citocinas
inflamatórias que alimentam e perpetuam a inflamação crônica que é silenciosa, insidiosa e
bastante destrutiva.
Caderno*

Esse ganho de tecido adiposo (ou gorduroso) é um fator importante a ser observado. A ingestão
de alimentos que favorecem a inflamação como carnes processadas, bebidas açucaradas,
alimentos processados, e gordura saturada, etc, auxilia no ganho de peso, que consequentemente
favorecem o acúmulo células de gordura, que favorecem o processo inflamatório e está iniciado
um ciclo nada benéfico ao organismo.
Além disso, ter bons hábitos como a prática de exercícios regulares, não fumar ou consumir
álcool, dormir bem, entre outras coisas, contribuem para a desinflamação do corpo.
Para praticar uma “alimentação anti-inflamatória”, é melhor se concentrar em uma dieta
globalmente saudável. A mesma dieta que protege o seu coração e mantém o seu peso sob
controle também tende a reduzir a inflamação. Isso significa uma enfatização em frutas,
vegetais, oleaginosas, grãos integrais, peixes e óleos saudáveis, e uma restrição nos alimentos
com açúcares simples (como refrigerantes e doces), bebidas que contêm xarope de milho com
alto teor de frutose (como muitos sucos e bebidas esportivas) e carboidratos refinados.
Porém é possível, com uma alimentação adequada, ajudar o organismo a se desinflamar. A
ingestão de vegetais, folhas verdes, cereais integrais, frutas, peixe, azeite de oliva, entre outros
alimentos, ajudam a reduzir a inflamação e, consequentemente, o risco do aparecimento de
doenças crônicas.

A microbiota interage com o sistema imunológico inato e adaptativo. 70% da resposta


imunológica vem do intestino
Inato: nascemos
Adaptativo: desenvolvemos com o contato a substancias potencialmente agressivas
(ex. vírus)
Nutrientes tem papel determinante > vitaminas, minerais, fitoterápicos, beta-
glucana, vitamina C, E, D, própolis, ajudam as células imunológicas a funcionarem
perfeitamente (formação de células e reações bioquímicas). Ex: herpes de repetição
pode ser deficiência nutricional
Aproximadamente 90% da população não atingem as recomendações de frutas e
legumes > deficiências nutricionais > deficiência no sistema imune.
Estilo de vida > Falta de sono, atividade física, Estresse - aumento de cortisol está
associado ao déficit imunológico.
Suplementos são a cereja do bolo. Organizar a base para que o suplemento surta o efeito
desejado.
Vit C – melhora resposta a infecções, menos dias de infecção ou atenuar resposta –
2g/dia, dividir ao longo do dia para garantir a absorção
Consumindo o alimento de sua forma integral (frutas cítricas, por exemplo) além
da vitamina C os compostos bioativos presentes estão em sinergia na matriz
alimentar, trabalhando de forma otimizada, potencializando seus efeitos benéficos
no sistema imune.
Vit D – pouca exposição ao sol. Acima de 40 é mais saudável. Atua em todas as células
imunológicas. Altas doses podem gerar feedback negativo, inativando a vit D. Doses
diárias são mais efetivas do que as doses agudas. Avaliar a cada 3 ou 4 meses
bioquimicamente.
Selênio, Zinco, Fitoterápico Equinácia * NAC * – síntese de glutationa, ômega 3,
probióticos.
Modular fatores de estilo de vida, ajustar os nutrientes e suplementar se necessário.

https://www.europeanreview.org/article/33310
https://www.mdpi.com/2072-6643/14/20/4286
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fimmu.2023.1147447/full

Vitamin D is responsible for the activation and proliferation of lymphocytes, and the
differentiation of Th lymphocytes, resulting in a more balanced Th1/Th2 response that
limits the development of self-reactive T cells preventing inflammation and
autoimmunity
Autores alegam que a vitamina D The authors aim to review the literature presenting
vitamin D as one of the important nutrients potentially modeling the course of disease in
selected autoimmune disorders. Vitamin D supplementation, with or without omega-3
fatty acids, was shown to reduce the incidence of autoimmune diseases in this cohort by
39% after 3 years of follow-up and by 22% after 5 years [119]. the ongoing
interventional clinical trials evaluating the utility of vitamin D in ameliorating the
course of autoimmune diseases and improving quality of life were presented
... any favorable effects of Omega-3 are believed to result from their anti-inflammatory
properties, but eicosapentaenoic acid (EPA) and docosahexaenoic acid (DHA) also have
inhibitory effects on immune cells and reduce proinflammatory cytokine release.
All these mechanisms can be beneficial in autoimmunity. No effective preventions or
definite cures for autoimmune diseases are yet known because pathophysiology is also
unclear. Omega-3 fatty acid supplementation is associated with a significant reduction
in disease activity in several autoimmune diseases, like type 1 diabetes (T1D),
rheumatoid arthritis (RA), systemic lupus erythematosus (SLE), and multiple sclerosis
(MS). Studies of viral diseases, including COVID-19, show improvement in symptom
severity, recovery prognosis, and probability of survival with the use of Omega-3.

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