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DOENÇAS IMUNOLÓGICAS E

CÂNCER

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1. DOENÇAS IMUNOLÓGICAS

As doenças autoimunes são um conjunto de manifestações ligadas a


alterações do sistema imunitário (linfócitos B e T), em que ocorre uma falência
do mecanismo de distinção entre antigênicos externos e antigênicos do self.
O desenvolvimento da autoimunidade é suficientemente significativo para
resultar em lesão tecidual, que pode cingir-se a uma doença específica de
órgão ou resultar numa doença sistémica (1).
Os sintomas de doenças autoimunes se desenvolvem lentamente, e às
vezes as pessoas possuem dificuldade de perceber que algo está errado. E
o caminho para um diagnóstico pode ser longo e frustrante.
Elas aumentaram nos últimos 40 anos e afetam cerca de 15 a 20% da
população mundial. Os possíveis fatores indutores desta condição ainda não
são específicos. Estes fatores podem estar relacionados a fatores ambientais
(externos) e fatores intrínsecos do nosso organismo, como por exemplo,
alterações nos níveis hormonais, baixo controle imuno-regulatório e
predisposição genética (2).
Desta forma, fatores do nosso próprio organismo somados aos fatores
ambientais aos quais estamos expostos cotidianamente, podem desencadear
um ambiente propício para o surgimento de alguma doença autoimune.
Os fatores associados as doenças autoimunes mais estudadas na
nutrição, citamos infecções recorrentes, a exposição aos xenobóticos que
impedem a detoxificação hepática eficaz, a dieta ocidental que é
inflamatória e a hipermeabilidade intestinal (3).
Sobre a hipermeabilidade intestinal, normalmente, o corpo tem um
sistema de verificações e equilíbrios que mantém a atividade de anticorpos
funcionando e o microbioma tem o papel fundamental para esse equilíbrio
(4).
Infelizmente, B. fragilis é uma das bactérias que se tornaram ameaçadas
na história recente, o que os pesquisadores acreditam estar diretamente
relacionada ao nosso rápido aumento nas condições autoimunes (5).
Uma das características distintivas tanto do intestino permeável como
da doença autoimune, é a sua natureza progressiva.

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A síndrome do intestino permeável geralmente começa como uma
inflamação intestinal geral, mas ao longo do tempo avança para a má
absorção de nutrientes e alimentos ou outras sensibilidades químicas. Os
sintomas mais comuns de doença autoimune são: dores de cabeça,
ansiedade, confusão mental; déficit de atenção; erupções cutâneas,
vermelhidão na pele facial e pele vermelha descamando, acne, eczema,
psoríase, dermatite, alergias, asma, boca seca, resfriados frequentes,
problemas de tireoide que poderiam apontar para a doença de Hashimoto,
fadiga ou hiperatividade, ganho ou perda de peso, sensação geral de mal-
estar, dor muscular e fraqueza, rigidez e dor (pode sugerir artrite reumatoide
ou sintomas de fibromialgia), exaustão, cólicas estomacais, gases, estômago
inchado, diarreia, prisão de ventre (2).
Atualmente são conhecidos pela medicina vários tipos de doenças
autoimunes, sendo que cada uma possui sintomas e tratamentos diferenciados
e específicos, nesse módulo vamos abordar: Lúpus, Artrite reumatoide, Doença
de Crohn, Esclerose múltipla, Tireoidite de Hashimoto e Doença Celíaca.

2. ARTRITE REUMAÓTIDE

A artrite reumatóide (AR) é uma doença autoimune, caracterizada por


uma inflamação crônica das estruturas articulares e peri articulares.
Manifesta-se pela existência de articulações tumefactas, dor, alteração da
capacidade funcional, fadiga muscular, e uma maior predisposição para a
doença cardiovascular e osteoporose (6).
Há um elevado stress oxidativo, bem como inflamação local e sistêmica,
com elevação das concentrações plasmáticas de citocinas pró-inflamatórias,
tais como a IL-6, IL-β e TNF-α (7,8).
A inflamação sistêmica acarreta em alterações no metabolismo
energético e proteico, fraqueza muscular, fadiga intensa e acréscimo do
tecido adiposo, em particular da gordura visceral. Esta condição ocorre
independentemente do perfil da ingestão alimentar e é normalmente vista na
presença de hipermetabolismo e hipercatabolismo, associado a baixa
atividade física (6,8,9).

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Os tratamentos convencionais para a AR incluem os anti-inflamatórios
não esteróides (AINEs), fármacos antirreumáticos de ação lenta e corticóides,
destinados ao alívio dos sintomas e da dor articular, mas também como forma
de travar a evolução da doença. Não obstante, estas abordagens
terapêuticas raramente obtêm total eficácia e algumas terapêuticas
farmacológicas apresentam o risco de efeitos secundários como a perda de
massa óssea e hemorragia gastrointestinal (6,9).
Os indivíduos com AR referem que os seus sintomas são aliviados por
padrões alimentares específicos, ao excluírem determinados alimentos da
dieta ou após jejum.
Alguns estudos demonstram que a dieta do mediterrâneo pode trazer
benefícios a indivíduos com AR (10,11). Houve um estudo que demonstrou
melhora significativa no perfil lipídico de indivíduos que aderiram à
alimentação com características da dieta do mediterrâneo. Neste estudo
houve redução da progressão da doença e melhora da capacidade
funcional e vitalidade (12). A dieta mediterrânica é a dieta que, até ao
momento, demonstra maiores benefícios na sua recomendação a indivíduos
com AR.
Aumentar a oferta de ácido graxos eicosapentaenóico (EPA) na
membrana fosfolipídica não só reduz os níveis de ácido araquidónico (AA)
disponível para ser metabolizado pela via das lipoxigenases e
cicloxigenases, mas afeta a função celular e a produção de percursores de
eicosanóides (6,9).
O EPA e o DHA possuem a capacidade de diminuir a produção de
eicosanóides derivados do AA e diminuir a produção de citocinas pro-
inflamatórias TNF-α, IL-1β e IL-6, diminuindo a proliferação de linfócitos e
espécies reativas de oxigénio (ERO) (1, 5, 21).
Na AR, é frequentemente prescrito a medicação metotrexato, um
fármaco antirreumático, antagonista dos níveis de folato. Nos indivíduos que
fazem metrotrexato, os níveis de folato também estão diminuídos, sugerindo
que esta carência nutricional está relacionada com a toxicidade do
metotrexato (6). Pode haver efeito benéfico da suplementação com folato em
indivíduos com AR durante o tratamento com metotrexato, com uma redução

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significativa da incidência de efeitos secundários gastrointestinais e
disfunção hepática (14).
A deficiência em vitamina D pode desencadear uma resposta
autoimune e níveis apropriados de vitamina D possuem um efeito
imunossupressor. Vários são os estudos comprovam os benefícios da
suplementação com vitamina D em indivíduos com AR, com níveis reduzidos
desta vitamina e com uma fase ativa da doença, como forma de diminuir a
presença de mediadores pro-inflamatórios (15,16).

3. TIREOIDITE DE HASHIMOTO

A tireoide é um órgão sensível à apresentação de determinados


compostos tóxicos ou alergênicos. Algumas doenças da tireoide podem ser
autoimunes, ou seja, quando o organismo passa a atacar as células da
própria tireoide.
Muitas vezes, esta doença autoimune, chamada de Doença de
Hashimoto também é conhecida como tireoidite linfocítica crônica. Ela é uma
inflamação da tireoide causada por um erro do sistema imunológico. A
presença de anticorpos contra a tireoide faz parte do seu diagnóstico e sua
presença tem forte componente genético (17).
Dentre os principais sintomas estão: Cansaço excessivo, a depressão,
a pele seca e fria, a prisão de ventre, diminuição da frequência cardíaca,
decréscimo da atividade cerebral, voz mais grossa, mixedema (edema duro
no pescoço), diminuição do apetite, sonolência, reflexos mais vagarosos,
intolerância ao frio, ganho de peso, cãibras e alterações na menstruação e
na potência da libido dos homens (17).
Ela pode estar relacionada com o consumo do glúten em pacientes
com hipersensibilidade ou alergia. A tireoide também pode sofrer
consequências de uma alimentação ocidental, rica em alimentos processados,
devido à presença de aditivos químicos e de toxinas de embalagens
plásticas ou metálicas, que, em grande quantidade e de forma frequente na
dieta, podem ser tóxicos a vários órgãos, inclusive à tireoide.

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Uma alimentação deficiente nos minerais iodo e selênio, podem
desequilibrar as funções da glândula, pois são essenciais para a adequada
produção dos hormônios da tireoide. É importante o consumo de iodo em
quantidades adequadas para cada pessoa de acordo com suas
necessidades e considerando o quanto de sal iodado este indivíduo
consome diariamente, para que não ocorra problemas decorrentes da sua
falta ou de seu excesso (18,19).
Outra importante consideração é em relação a certos alimentos, como
peixes de cativeiro ou de grande porte e alimentos enlatados, que são ricos
em metais pesados, dentre os quais alumínio, cádmio, chumbo e mercúrio, que
são altamente tóxicos ao organismo e por esta razão também desequilibram
o funcionamento da tireoide e a formação de alguns hormônios (18,19).
De forma geral, uma alimentação pobre em vegetais, frutas e alimentos
integrais – que são fontes de vitaminas, minerais e compostos ativos
antioxidantes – e rica em alimentos industrializados, agrotóxicos e metais
pesados, corrobora com um dos perfis alimentares mais prejudiciais à saúde
da tireoide (20).
A dieta ideal para o bom funcionamento da tireoide se baseia em uma
alimentação saudável, pois um único alimento consumido em excesso e
isoladamente não terá os efeitos desejados (17,18,19,20).

Tabela 1.0 – Nutrientes envolvidos com o funcionamento da tireoide.

Nutriente Fontes
Iodo Encontrado nas algas marinhas (Kombu,
Wakame, Hijiki, kelp, Agar-agar, Chlorella,
Spirulina, Lithotanium).
Vitamina A Carnes e fontes de carotenoides (que
formam a vitamina A), como vegetais
verde-escuros, cenoura, abóbora, etc
Zinco Presente em castanhas e cereais integrais

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Selênio Oleaginosas, como castanha-do-Pará,
avelã, macadâmia, amêndoas, castanha-
de-caju
Ferro Castanhas, leguminosas, carnes e
vegetais folhosos verde-escuros
Vitamina B2 e B6 Carnes, vegetais e alimentos integrais
Vitamina B12 Carnes
Ômega-3 Peixes (preferir os de pequeno porte,
como sardinha, pescada branca, filé de
Saint Peter e merluza), linhaça,
oleaginosas, algas marinhas

Pacientes que já fazem o uso do hormônio podem seguir uma


alimentação equilibrada e saudável para suas necessidades individuais,
considerando os alimentos mencionados para auxiliar os medicamentos no
reequilíbrio da glândula.

4. DOENÇA CELÍACA

A doença celíaca (DC) é uma afecção inflamatória crônica


caracterizada por permanente intolerância ao glúten, uma proteína contida
em cereais como trigo, centeio e cevada (21).
Resulta de resposta autoimune mediada por linfócitos T, que leva a
lesão progressiva no intestino delgado, com infiltração linfocitária no epitélio
jejunal, atrofia vilositária e hipertrofia nas criptas, em indivíduos
geneticamente predispostos (21).
Os principais sintomas está a anemia por deficiência de ferro, além de
artrites, osteoporose, esterilidade, constipação intestinal, retardo no
crescimento e hipoplasia do esmalte dentário (22).
O diagnóstico dessa doença baseia-se em testes sorológicos
(antiendomisial, antigliadina e anticorpos de antitransglutaminase) e em
mudanças nas características histopatológicas (as vilosidades se atrofiam,

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hiperplasia das criptas e células inflamatórias infiltradas) visto em biópsia de
duodenal distal, teste padrão para o diagnóstico da DC (22).
O tratamento da DC consiste na dieta sem glúten, devendo-se,
portanto, excluir da alimentação alimentos que contenham trigo, centeio,
cevada e aveia, por toda a vida” (23).

5. LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é comumente conhecido como


lúpus. Ele é prevalente em mulheres em idade fértil, mais comum em negros e
mulheres de ascendência hispânica, asiática ou americana (24)
Os principais sintomas são: fadiga extrema, articulações dolorosas ou
inchadas, febre sem causa óbvia, erupções cutâneas, úlceras na boca e
problemas renais (24).
Além dos aspectos específicos relacionados ao tratamento
medicamentoso, algumas medidas de suporte, como orientação sobre a
doença, apoio psicossocial, atividade física e, de forma particular, a
abordagem dietética, são essenciais para um atendimento integral dos
pacientes com LES (24).
De fato, a dieta pode auxiliar no controle do quadro inflamatório da
doença e das complicações da própria terapêutica. Tendo em vista que o
risco cardiovascular parece ser aumentado em pacientes com LES devido à
maior frequência de condições associadas à aterosclerose, como
dislipidemia, diabetes mellitus (DM), síndrome metabólica (SM) e obesidade, a
orientação dietética surge como um importante meio para minimizar essas
complicações da doença (25).
A hiperinsulinemia aumenta o estresse oxidativo, que é considerado um
importante mecanismo fisiopatológico para o desenvolvimento da
aterosclerose. Alguns estudos revelam que o DM é significativamente mais
comum em pacientes com LES que na população em geral, devido à redução
da sensibilidade à insulina, e que aproximadamente 18%-38% dos pacientes
apresentam SM (25,26).

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Uma forma de abordagem do LES é a dietoterapia, com
recomendação de alimentação rica em vitaminas, minerais (principalmente os
antioxidantes) e ácidos graxos mono/poli-insaturados e moderado consumo
energético, visando à redução dos marcadores inflamatórios e ao auxílio no
tratamento dessas comorbidades e das reações adversas aos medicamentos
(27,28,29). A tabela a seguir traz os nutrientes mais indicados no tratamento
de LES (30).

6. DOENÇA DE CROHN

A Doença de Crohn é uma doença crônica de causa desconhecida e


envolve um processo inflamatório que afeta várias partes do trato
gastrointestinal, da boca ao ânus, onde geralmente o íleo terminal é

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considerado o epicentro da doença, enquanto que o reto é poupado e o
duodeno raramente envolvido.

Seus principais sintomas são diarreia, dor abdominal e perda de peso,


podendo causar sintomas sistêmicos como mal-estar, anorexia, emagrecimento
e febre.
A etiologia dessas doenças é multifatorial, envolvendo fatores
genéticos e ambientais, além da microbiota intestinal e a resposta imune dos
pacientes.
Na fase ativa da doença, é importante que a alimentação auxilie no
controle dos sintomas como diarreia, dor abdominal, distensão e previna ou
reverta a perda de peso através do uso de suplementos nutricionais
adequados. A dieta deve ser hipercalórica, pelo aumento das necessidades
energéticas em decorrência da inflamação (30 a 35 kcal/kg/dia),
hiperprotéica (1,5 a 2,0g/kg/dia) e normoglicídica com restrição de
carboidratos simples e alimentos que causam flatulência. O teor de fibras
insolúveis e resíduos (lactose, por exemplo) deve ser restrito e a alimentação

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deve ser fracionada em seis a oito refeições ao dia, contendo pouco volume
(31).
Os pacientes portadores de estenoses devem seguir dieta similar à da
fase ativa da doença, independente se com ou sem atividade,
considerando-se que este esquema alimentar permite a formação de um bolo
fecal menor e evita a flatulência, prevenindo a distensão abdominal, náuseas,
vômitos e possíveis episódios de suboclusão intestinal. Pacientes com
peristalse acelerada e distensão abdominal acentuada podem necessitar de
uma dieta líquida sem resíduos até a melhora dos sintomas, quando então, a
dieta deve ter a sua consistência gradativamente normalizada.
Adicionalmente, na presença de estenoses pode ocorrer hiperproliferação
bacteriana, levando à má absorção devido à utilização bacteriana de
nutrientes, efeitos tóxicos dos ácidos biliares desconjugados e alterações ou
exacerbação do processo inflamatório do intestino pelos ácidos biliares
desconjugados ou outros metabólitos tóxicos (31,32).
Na fase ativa da doença, é necessária a restrição de lactose, pois
apesar de o leite não possuir fibras, produz alto teor de resíduos intestinais
através da fermentação bacteriana da lactose. A quantidade de lactase na
borda em escova diminui pela lesão celular e a presença de diarreia
exacerba as perdas de lactase intestinal. A presença na luz intestinal de
lactose não digerida pode causar diarreia osmótica, que pode exacerbar o
processo diarreico de origem exsudativa. A intolerância à lactose ocorre
predominantemente em pacientes com DC (32).
A ingestão de derivados do leite que possuem menor teor de lactose
(que tem sua digestão facilitada ainda pela presença de β-galactosidase
na cultura bacteriana) como iogurtes e os queijos brancos, pode ser
tolerada, pois 6 a 12 gramas de lactose podem ser digeridos e absorvidos
sem gerar sintomas adversos na maioria dos pacientes com intolerância à
lactose (31,32).
Na vigência de uma dieta restrita como ocorre nos períodos de
atividade de doença é importante à suplementação de multivitamínicos e
minerais para que sejam atingidas as necessidades diárias, que estão
aumentadas neste período (32).

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A anemia atinge aproximadamente 60-80% dos pacientes com DC,
além de ocorrerem deficiências de vitaminas (especialmente D, B12 e ácido
fólico) e oligoelementos (especialmente magnésio, potássio e ferro), situações
que necessitam de adequado tratamento (32).
Devido ao uso de corticoides, ao baixo consumo de produtos lácteos,
à má absorção e à inflamação sistêmica, recomenda-se suplementar cálcio
e, se necessário, a vitamina D também deve ser suplementada pois há um risco
aumentado de osteopenia e osteoporose nesta população (32).
Na vigência de diarreia, esteatorreia e hiperproliferação bacteriana
podem ocorrer disbiose e perdas de cobre, magnésio, zinco, fósforo e cálcio
e, na esteatorreia, também, má absorção de vitaminas lipossolúveis (32).
Observar os sinais e sintomas das deficiências dessas vitaminas e minerais
bem como os sinais clínicos de desequilíbrio da microbiota, para suplementar
se necessário.

7. ESCLEROSE MÚLTIPLA

A esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica degenerativa de


caráter inflamatório que agride a bainha de mielina. Esta bainha é uma capa
composta por tecido adiposo que protege as células nervosas que fazem
parte do sistema nervoso central, responsável pelo transporte de mensagens
do cérebro para o restante do corpo. É considerada uma doença autoimune,
em que o organismo perde a capacidade de reconhecimento das suas
células e começa a atacá-las, resultando em destruição dos próprios tecidos
pelo sistema imunológico, também conhecido como mimetismo celular (33).

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A qualidade de vida destes pacientes é comprometida conforme a
doença avança, e os sintomas são caracterizados por paralisia, tremor, dor,
ansiedade, estresse, depressão, déficit de atenção, problemas de
aprendizagem, fadiga, vertigens e distúrbios visuais, chegando até a
alteração no controle da urina e das fezes (33).
Existem vários fatores envolvidos no desenvolvimento da doença, como:
desordens genéticas, dieta, cigarro, exposição a toxinas, infecção pelo vírus
Herpesvírus humano, entre outros (33).
A relação da EM e a alimentação vem sendo estudada e pode
contribuir para o desenvolvimento da doença. O excesso do consumo de
leite, de alimentos com glúten e gordura saturada, além do desequilíbrio da
microbiota intestinal e deficiência de vitamina D podem ter essa relação (34).
Os lácteos e os alimentos com glúten estão relacionados com a EM
devido ao mimetismo molecular (capacidade de um microrganismo
patogênico de criar estruturas semelhantes ao do hospedeiro) entre os
antígenos presentes nesses alimentos e uma sequência de aminoácidos
existentes na bainha de mielina (34,35).
A disbiose reduz a absorção dos nutrientes pelo corpo, causando
carências de vitaminas. As vitaminas mais importantes para o funcionamento
adequado do sistema imunológico e para os sintomas da doença são:

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vitaminas A e D por serem moduladoras do sistema imunológico, C, E e B12
por ser importante para a síntese de mielina (35,36).
A deficiência de vitamina D é outro fator ligado à doença, pois a
mesma interage com o sistema imunológico aumentando a tolerância às
substâncias estranhas, protegendo contra a autoimunidade e a inflamação.
Além disso, tem sido observado que há receptores de vitamina D no sistema
nervoso central e está vitamina regula a produção de mielina pelos
oligodentrócitos. Sendo assim, a suplementação de vitamina D pode contribuir
para reduzir o progresso e prevenir o desenvolvimento da doença (36).

8. CÂNCER

Cerca de 85% dos pacientes oncológicos estão em risco nutricional ou


desnutrem devido à doença ou seu tratamento. Esta condição ocorre devido
aos sintomas da própria doença e efeitos colaterais provocados pelo
tratamento oncológico, como falta de apetite, dificuldade para mastigar,
deglutição e outros. A quimioterapia, radioterapia, cirurgia, terapias
hormonais e transplante de medula óssea ou a combinação destes
tratamentos exigem um acompanhamento de perto da nutricionista para
orientações de uma alimentação adequada e balanceada específica para
à condição do paciente oncológico e mesmo para indicação de uma
terapia nutricional (37).
A terapia nutricional (TN) no paciente oncológico objetiva a
prevenção ou reversão do declínio do estado nutricional, bem como busca
evitar a progressão para quadro de caquexia, garantindo assim melhor
qualidade de vida para o paciente. A indicação da TN deve seguir critérios
que visem a individualidade do paciente, o estado nutricional, o estágio da
doença, os efeitos do tratamento e a função gastrointestinal (37).
A intervenção nutricional precoce e o acompanhamento nutricional são
essenciais para auxiliar na recuperação ou manutenção do estado
nutricional, orientar sobre o manejo da alimentação frente aos possíveis
eventos adversos de acordo com a terapia antineoplásica, contribuir na

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melhor qualidade alimentar, na melhor tolerância ao tratamento e em sua
qualidade de vida (37,38).
Pacientes oncológicos apresentam redução na ingestão total de
alimentos, alterações metabólicas provocadas pelo tumor e o aumento da
demanda calórica pelo crescimento do tumor, que os faz desenvolver a
desnutrição calórica e proteica (37,38,39).
As alterações metabólicas provocadas pelo câncer, estão
relacionadas às citocinas pró inflamatórias (fator de necrose tumoral alfa
(TNF-α), interleucina-1 beta, interleucina-6 (IL-6), interferon gama) e
conduzem o paciente ao hipermetabolismo, associado à anorexia por
alterações hormonais e aos fatores tumorais (fator indutor de proteólise (PIF)
e fator mobilizador de lipídeos (LMF). Portanto, há um aumento da
gliconeogênese, resistência à insulina, aumento do consumo de glicose,
proteólise muscular, redução da massa muscular, balanço nitrogenado
negativo, aumento de ácidos graxos livres e redução dos estoques de
gordura, consequentemente perda acentuada de peso (40,41,42).
Diante da frequente alteração do estado nutricional nestes pacientes,
os objetivos da terapia Nutricional (TN) são: prevenção e tratamento da
desnutrição, modulação da resposta orgânica ao tratamento oncológico e
controle dos efeitos adversos do tratamento oncológico (43).

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