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Imunossenescência: as Alterações

do Sistema Imunológico
Provocadas pelo Envelhecimento
Danuza de A. Esquenazi

Resumo aumento da expectativa e da qualidade de vida


nessa população. Assim, esse artigo tem como
O conhecimento acumulado sobre o con- objetivo revisar brevemente aspectos relevantes
junto de alterações observadas no sistema imune da natureza dos marcadores da imunosenescên-
em decorrência do envelhecimento sugere uma cia, e refletir sobre sua utilidade como um fator
correlação inversa entre o status imunológico, prognóstico da longevidade humana.
resposta a vacinação, saúde e longevidade, com
grande impacto clínico na população idosa. As PALAVRAS-CHAVE: Sistema imune;
principais alterações imunológicas relacionadas Imunossenescência; Envelhecimento; Doenças
ao envelhecimento resultam da involução do infecciosas; Inflamação; Imunidade; Vacinação.
timo e da modulação das populações leuco-
citárias, provavelmente como consequência Introdução
de resposta imune alterada contra patógenos. O envelhecimento de uma grande pro-
Embora relevante em praticamente todas as pa- porção da população mundial é um fenômeno
tologias que acometem os idosos, é incontestável recente, resultante da redução da mortalidade
que a imunosenescência produz seus efeitos infantil, da maior eficácia de novos métodos
mais nítidos no campo das doenças infecciosas, de diagnóstico precoce e de tratamento de
aumentando a susceptibilidade dos indivíduos inúmeras doenças. Estima-se que, em 2050,
a elas, e, ainda, acentuando a morbidade e cerca de 40% da população da Europa e dos
mortalidade nesse segmento populacional em Estados Unidos terá mais de 60 anos de idade23.
comparação com as outras faixas etárias. O Apesar dos graves problemas de saúde pública,
melhor entendimento sobre os mecanismos que o cuidado ministrado aos idosos vem ganhan-
aceleram as disfunções do sistema imune em do maior importância também nos países em
indivíduos idosos pode permitir intervenções desenvolvimento como o Brasil onde, segundo
terapêuticas que previnam, ou pelo menos re- dados do IBGE, somente na década de 90 a taxa
tardem o aparecimento de doenças relacionadas de indivíduos acima de 60 anos no país aumen-
com a idade e contribuam ainda mais com o tou em 35,5%, perfazendo 8,7% da população

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total. É importante mencionar que o avanço em processo denominado senescência celular
do processo de envelhecimento populacional replicativa22.
se encontra mais acelerado no Estado do Rio Novas evidências indicam que as funções
de Janeiro que nos demais, já que, em nosso do sistema imune parecem ser programadas ge-
Estado, a proporção de idosos na população já neticamente para diminuir ao longo do tempo,
supera 14%15. Torna-se, assim, imprescindível levando a uma maior vulnerabilidade a doen-
buscar novos conhecimentos acerca da biolo- ças6. Com efeito, o processo de envelhecimento
gia do envelhecimento que contribuam para a modifica progressivamente o funcionamento
elaboração de protocolos clínicos ainda mais de todos os órgãos, levando a um declínio na
eficazes visando, sobretudo, a prevenção das qualidade de vida, a incapacidades funcionais
principais doenças que acometem os idosos. e ao aparecimento de patologias, como por
Os processos biológicos inerentes ao en- exemplo, as doenças infecciosas, autoimunes
velhecimento são multifatoriais e determinam e neoplasias29.
um limite na duração da vida, com níveis va- Um problema central nos estudos acerca
riáveis de indivíduo para indivíduo. Quando a da resposta imune no envelhecimento consiste
homeostase é perdida, reduz-se a capacidade na obtenção de dados de idosos realmente
de adaptação do indivíduo às agressões inter- saudáveis, permitindo identificar as alterações
nas e externas, acarretando, assim, sua maior fisiológicas na imunidade ao longo do tempo
susceptibilidade a doenças. Nesse contexto, as e suas consequências clínicas. Vários estudos
infecções se apresentam como fator de extremo em imunogerontologia utilizam um protoco-
risco para a saúde dos idosos, devido à sua lo clínico (SENIEUR) desenvolvido há duas
elevada morbi-mortalidade nessa faixa etária. décadas com o intuito de selecionar coortes
A principal característica do sistema imu- de idosos estritamente saudáveis, sendo deles
nológico é a capacidade de reconhecer e reagir excluídas, principalmente, doenças inflamató-
especificamente aos mais variados tipos de rias, infecciosas, degenerativas, desnutrição e
agentes endógenos ou exógenos. A sensibilida- neoplasias preexistentes11,20. Apesar de alguns
de do reconhecimento faz com que até mesmo dados controversos, a maioria dos resultados
uma pequena quantidade de antígeno ative o obtida com base em estudos com idosos sau-
dáveis e apresentadas aqui leva à conclusão
sistema. A diversidade garante a eficácia na
que, no envelhecimento fisiológico, ocorre um
proteção contra milhares de micro-organismos
remodelamento do sistema imunológico tanto
diferentes e a aquisição da memória imunológi-
nas respostas inatas quanto nas adquiridas.
ca permite desencadear uma resposta a algum
agente infeccioso com o qual o hospedeiro já
tenha entrado em contato, mesmo após longo
Resposta imune inata e
período sem contato com ele. envelhecimento
Apesar da enorme plasticidade e capaci- Estudos acerca da resposta imune inata
dade de renovação do sistema imune mesmo mostram que numericamente, seus componen-
em organismos idosos - já que novas células de tes - neutrófilos, monócitos, células dendríticas
defesa são geradas a cada dia – os órgãos lin- e Natural Killer (NK) - estão preservados em
foides são afetados pelos mesmos mecanismos idosos saudáveis, contudo, a atividade funcio-
biológicos responsáveis pela perda de atividade nal dessas células aparece comprometida em
funcional - e consequente morte - de células diferentes situações. A maturação de células
de diferentes tecidos. Dentre eles, o stress dendríticas, cujo papel central é a apresentação
oxidativo e o encurtamento dos telômeros são de antígenos aos linfócitos T é defeituosa em
os principais causadores da diminuição do indivíduos idosos e sua causa é atribuída a
repertório imunológico relacionada à idade, alterações redox em consequência da diminui-

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ção de glutationa, um importante aminoácido envelhecimento
endógeno com função antioxidante. Já foi
Embora a qualidade da imunidade hu-
demonstrado que o defeito na apresentação
moral decline com a idade, o percentual de
antigênica observado em indivíduos idosos
linfócitos B periféricos e a produção de an-
leva a redução na proliferação de linfócitos
ticorpos não são significativamente menores
T e a diminuição na produção de citocinas,
em idosos saudáveis. A consequência clínica
como a IL-2 e a IL-12 (31). Em outro trabalho,
desse declínio é a menor proteção contra
foi observada diminuição na coestimulação
fungos, protozoários e respostas mais baixas à
entre linfócitos T e células apresentadoras de
vacinação observada em indivíduos idosos em
antígeno de idosos, caracterizada pela baixa
comparação a adultos jovens. Vários trabalhos
expressão das moléculas CD80 e CD86 nos
relatam alterações no switch de imunoglobuli-
monócitos. Como consequência, esses indiví-
nas com aumento preferencial das subclasses
duos apresentavam diminuição da resposta à
IgA e IgG no soro de indivíduos sadios com
vacinação contra a influenza32. Com relação à
idade avançada, e, ainda, o comprometimento
família de receptores do tipo TOLL (TLR) - um
da afinidade dos anticorpos produzidos 14.
componente crítico da resposta inata envolvido
Embora não seja uma regra, a incidência de
no reconhecimento rápido de patógenos -, es-
algumas doenças autoimunes aumenta com a
tudos recentes desse mesmo grupo apontaram
idade. Nesse contexto, já foi demonstrado que
a redução substancial de TLR1/2 em monócitos
o aumento dos níveis de autoanticorpos leva
de um grupo de indivíduos idosos que apresen-
ao desenvolvimento de artrite em indivíduos
tava susceptibilidade aumentada a infecções32.
idosos5,21.
Com relação aos neutrófilos, estudo in vitro
Ainda um aspecto acerca da resposta hu-
de quimiotaxia e fagocitose monstrou que
moral que vale ressaltar é a necessidade de inte-
esses processos eram significamente menores
ração entre linfócitos B e T para a produção de
em idosos quando comparados a um grupo diferentes classes de anticorpos. Em indivíduos
de indivíduos jovens28. Quanto a alterações idosos, essas interações podem ser defeituosas,
no repertório de células NK, que desempe- vez que linfócitos T CD4+ senescentes apresen-
nham importante papel na imunovigilância, tam expressão reduzida do ligante de CD40,
dados envolvendo grupos de idosos saudáveis, uma molécula de importância crucial para a
embora escassos, indicam que o percentual ativação de linfócitos B por células T. De uma
dessas células se mantém constante na circu- forma mais geral, pode-se afirmar que o avanço
lação, com atividade citotóxica preservada10. da idade per se é caracterizada pela diminuição
Recentes evidências associam deficiências na de respostas de linfócitos B clonotípicos contra
via de sinalização que controla a produção de novos antígenos extracelulares.
citocinas em células NK, através do receptor de
membrana CD94 expresso nessas células com o Resposta imune adquirida e
desenvolvimento de artrite9. Outros trabalhos
envelhecimento
associam baixos níveis de citotoxicidade por
células NK ao desenvolvimento da ateroscle- A involução do timo - processo degenera-
rose e de neoplasias4,24. Tem sido proposto que tivo normal observado desde a puberdade - é o
a análise funcional da atividade citotóxica de evento central crítico para as alterações obser-
células NK pode ser um importante marcador vadas na imunidade adquirida em decorrência
da imunosenescência10,20. do envelhecimento, e ocorre paralelamente a
uma inibição na produção do hormônio do
crescimento e de IL-7, fundamentais para a
Resposta imune humoral e maturação dos linfócitos. Como consequência

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da atrofia tímica, em células senescentes ocorre que a infecção persistente por CMV em idosos
redução da população e da diferenciação de possa influenciar no aumento de linfócitos T
linfócitos T virgens e de sua capacidade de CD8 de memória, porém, como demonstrado,
resposta ao antígeno quando comparadas a essas células apresentam capacidade coesti-
células jovens. Além disso, estudos sobre trans- muladora defeituosa pela baixa expressão da
dução de sinais mostram que a mobilização de molécula CD2817. A reposta CMV-específica
cálcio, a fosforilação de proteínas, a ativação tem sido associada como um biomarcador do
de quinases e a ativação do ciclo celular estão envelhecimento do sistema imune e o aumento
modificados nos linfócitos T virgens de indi- progressivo nos títulos de anticorpos anti-
víduos idosos26. CMV em indivíduos idosos está relacionado
Em contrapartida à redução do pool de com rápido declínio cognitivo34.
células virgens, é observado maior acúmulo
de linfócitos T com fenótipo de memória, Eixo neuro-imuno-
e evidências sugerem que essas células têm endócrino e envelhecimento
longevidade maior em virtude das contínuas
A diminuição da amplitude de parâmetros
ativações ao longo da vida. Esse fato, porém,
imunitários no envelhecimento está relacio-
não se traduz em maior resistência a agentes
nada com fatores comumente observados em
infecciosos como acontece em indivíduos
idosos como alterações do ciclo circadiano,
jovens e adultos de meia idade, uma vez que a levando a modificações no sono e redução da
ativação funcional dessas células é fraca assim reserva funcional, e do eixo neuroendócrino
como são reduzidos os níveis das citocinas pela diminuição na produção de hormônios
pró-inflamatórias produzidas por elas1. Esses neurotransmissores e neuropeptídeos. En-
achados são mais evidentes quando novos tretanto, mais recentemente, maior atenção
patógenos surgem, como no caso da SARS, vem sendo dada ao status psicológico, que
mas também são comumente observados nos pode constituir um importante fator de risco
resfriados comuns. Além disso, devido à senes- para a imunossenescência. Vários estudos têm
cência celular, após contato com algum agente mostrado que ansiedade, depressão e stress
infeccioso pode ocorrer a seleção de clones são mais comumente observados em idosos
menos eficientes, levando a consequências quando comparados com jovens e adultos até a
patológicas distintas do agente em questão. quinta década de vida. Com base nessas obser-
Nesses casos, a imunossenescência não somen- vações, alguns autores defendem que alterações
te contribui para a diminuição da defesa contra no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal sejam
doenças infecciosas no envelhecimento, como determinantes das modificações de resposta
também ela mesma pode ser substancialmente imune observadas no envelhecimento13.
causada por agentes infecciosos. Trabalhos relacionando resposta imune
Novas observações sugerem que em con- com depressão têm demonstrado que a grande
dições fisiológicas, linfócitos T CD4 e CD8 de maioria de pacientes geriátricos portadores
indivíduos idosos tenham um comportamento de depressão severa apresentam produção
similar às mesmas células de indivíduos jovens aumentada de mediadores inflamatórios e de
quando submetidas a estímulo antigênico crô- autoanticorpos levando a um maior acome-
nico, como mudança no fenótipo de diferencia- timento de inflamações crônicas e doenças
ção dessas células para um estágio mais tardio. autoimunes. Os mesmos achados são descri-
Nos idosos, a infecção persistente por citome- tos em idosos submetidos a stress crônico,
galovírus (CMV) induz a expansão preferencial como por exemplo, familiares cuidadores de
de clones CD8+ e apresenta similaridades com pacientes com doenças neurodegenerativas,
as respostas autoimunes. É, portanto plausível frequentemente demenciados e/ou incapa-

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citados fisicamente. Nesses indivíduos com influência no tipo de resposta contra os mais
importante sobrecarga emocional, as taxas diversos agentes agressores27. Assim, uma hipó-
de cortisol estão mais elevadas enquanto os tese plausível é que indivíduos geneticamente
níveis de d-hidro-epiandrosterona (DHEA) predispostos a uma resposta inflamatória de
encontram-se significativamente reduzidos. baixa intensidade, sobrevivam por mais tem-
O desequilíbrio na correlação cortisol/DHEA po, enquanto aqueles que apresentam longos
induz produção de IL-6, IL-10 e Fator de períodos de ativação imunológica constante
Necrose Tumoral-alfa (TNF-α), além da dimi- tenham menor expectativa de vida pelo aco-
nuição da atividade citotóxica por células NK. metimento de doenças relacionadas com o
Dessa forma, o aumento de glicocorticoides envelhecimento.
provocado pelo stress crônico contribui para Nesse cenário, TNF-α, IL-6 e IFN-γ des-
o desenvolvimento de infecções virais, doença pontam como citocinas implicadas com o pro-
cardiovascular, diabetes tipo II, osteoporose, cesso de doenças crônicas degenerativas, e com
artrite e neoplasias30,2. Embora haja uma as- um potencial valor preditivo para morbidades.
sociação entre a progressão da idade e aumento No tocante à IL-6, conhecida como a citocina
dos níveis de cortisol, não estão totalmente dos gerontologistas, seus níveis altos aparecem
esclarecidos os mecanismos pelos quais o eixo como um fator predisponente à incapacidade
neuroendócrino modula especificamente a funcional e mortalidade, comparável à prote-
resposta imune. ína C-reativa. Mais recentemente, a elevação
do receptor antagonista de IL-1 (IL-1ra) foi
Inflammaging e o fenótipo associada com mortalidade em um grupo de
de risco imunológico idosos16.
No final do século passado surgiu a “hipó- Em trabalho recente, foi demonstrado
tese inflamatória” para explicar diferenças nas que secreção aumentada TNF-α e IFN-γ está
alterações do sistema imune observadas nos correlacionada com a imunopatogênese da
idosos. Essa hipótese toma por base a origem doença de Alzheimer, por induzir aumento
de várias patologias relacionadas com o enve- na produção do peptídeo β-amiloide e, con-
lhecimento após exposição prévia a agentes sequentemente, neurodegeneração 8. Ainda
infecciosos e outras fontes geradoras de res- a respeito do TNF-α, o aumento da secreção
postas inflamatórias, incluindo as ambientais, dessa citocina em idosos induz a produção
em fases mais precoces da vida, e, também, de autoanticorpos, e é indicativo de processo
a forma como o organismo de cada indiví- inflamatório ligado a doenças relacionadas
duo reage a elas. Esse processo denominado com o envelhecimento, como por exemplo
como inflammaging, provoca um acúmulo de aterosclerose, fibrose e demência 3 . Cabe
lesões crônicas e tem sido considerado como lembrar ainda que níveis altos de mediadores
determinante de doenças neurodegenerativas, inflamatórios na circulação induzem mudanças
aterosclerose, diabetes tipo II e sarcopenia. In- de comportamento e mal-estar associados com
fecções subclínicas, acúmulo de tecido adiposo a enfermidade, como apatia, fadiga e anorexia.
e tabagismo contribuem para a manutenção do O conhecimento acerca dos fatores que
processo inflamatório crônico12. aceleram a imunosenescência levou a criação,
A demonstração recente de polimorfismos ainda na década de 90, de um “fenótipo de
em genes envolvidos com mediadores inflama- risco imunológico” que leva em consideração
tórios sugere que uma maior ou menor indução alguns fatores, como a soropositividade para
na produção tanto de citocinas pró quanto de CMV, a diminuição de resposta proliferativa
anti-inflamatórias podem realmente afetar a mitógenos e inversão da relação CD4/CD8.
a expectativa de vida de cada indivíduo pela Vários estudos subsequentes adicionaram

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novos parâmetros aos anteriormente citados, dessas doenças. Vários estudos vem sendo de-
destacando-se mais uma vez a presença de senvolvidos em modelos animais, mostrando
níveis séricos elevados de TNF-α e IL-625,10. que polimorfismos em genes relacionados
com resposta imune aparecem ao longo do
Resposta à vacinação em ciclo da vida, tendo como consequência o
idosos declínio dessas respostas. Recentemente, foi
mostrado que injeções intraperitoniais de LPS
É crescente o número de evidências su-
em camundongos levaram à ativação de 500
gestivas de que um programa de imunização
genes em macrófagos, porém ocorreu uma
adequado, principalmente contra influenza, in-
variação de aproximadamente 150 genes entre
fecções pneumocóccicas e tétano-difteria possa
animais jovens e velhos7. Nesse aspecto, estudos
proteger um número considerável de idosos.
longitudinais com grupos de seres humanos
Trabalho de Kovaiou e colaboradores relatou
saudáveis que apresentam faixa etária muito
que aproximadamente um milhão de óbitos são
alta, e comumente denominados “centenários”,
evitados por ano a partir de vacinação contra
tornaram-se atraentes. Os centenários são
microorganismos infecciosos19.
capazes de neutralizar os efeitos das respostas
Entretanto, estudos com grupos de idosos
inflamatórias relacionadas com doenças crôni-
vacinados contra influenza apontaram dimi-
co-degenerativas próprias do envelhecimento
nuição em até 50% na proteção contra a doença
pela ação de citocinas anti-inflamatórias, como
quando comparados com indivíduos jovens e
Interleucina-10 (IL-10) e TGF-β1, sem contudo
adultos, redução esta caracterizada in vivo por
alterar a imunidade contra agentes infeccio-
um menor número de anticorpos séricos e in
sos32. Com efeito, os recentes trabalhos no
vitro pela baixa proliferação de linfócitos T
campo da biogerontologia permitem afirmar
após a imunização36.
que nesses indivíduos o background genético
A redução da eficácia da vacinação em
peculiar é responsável pelo retardamento da
idosos tem sido atribuída a vários fatores tais
imunossenescência.
como a diminuição da capacidade fagocítica
Um grande número de estudos vem
de neutrófilos e macrófagos e redução do nú-
evidenciando que fatores nutricionais desem-
mero de células de Langerhans na epiderme.
penham importante papel na resposta imune
Além disso, o estímulo crônico persistente do
tanto de indivíduos imunocompetentes quanto
inflammaging compromete a capacidade do
de portadores de imunodeficiências. Já foi de-
organismo idoso de reconhecer tanto pató-
monstrado que a deficiência de zinco impede
genos quanto vacinas como “sinais de perigo”
a translocação do fator de transcrição NF-kB
36
. Pode ser que a infecção latente por CMV
cuja ativação e expressão são críticas para
comumente observada no envelhecimento
a produção de citocinas pró-inflamatórias.
module negativamente, pelo menos em parte,
Idosos costumam apresentar carência de pro-
o efeito protetor das vacinas.
teínas, geralmente acompanhada de deficiência
Background genético e de zinco. A queda nos níveis de zinco nesses
indivíduos foi associada a baixas respostas à
fatores anti-imunosenescência vacinação contra difteria e influenza, assim
O melhor entendimento das bases genéti- como à patogênese da doença de Alzheimer35.
cas da imunosenescência, a partir da identifica- Além dos fatores nutricionais, exercícios físicos
ção de novos genes candidatos associados com regulares de força são fatores frequentemente
o sistema imune e susceptibilidade a doenças associados com aumento da imunidade em
relacionadas com o envelhecimento, permitirá idosos. Dentre os efeitos relatados, destaca-
futuras intervenções voltadas para a prevenção se o aumento na produção de anticorpos em

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resposta à vacinação18. Assim, o incremento de stimulated macrophages. J Leukoc Biol, v. 79,
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melhoria da saúde de populações geriátricas. 8. CHIARINI, A. et al. The killing of neurons
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Tomados em conjunto, os dados anali- 9. MATOS, C. T. et al. Activating and inhibitory


receptors on synovial fluid natural killer cells
sados aqui sugerem que a imunosenescência
of arthritis patients: role of CD94/NKG2A in
é secundária a declínio hormonal, stress e control of cytokine secretion. Immunology, v.
estímulo antigênico persistente. Porém, a mu- 122, p. 291-301, 2007.
dança do repertório imunológico relacionada 10. DELAROSA, O. et al. Immunological biomarkers
com a idade, especialmente a diminuição de of ageing in man: changes in both innate and
adaptive immunity are associated with health
linfócitos T virgens e o aumento de clones and longevity. Biogerontology, v. 7, n. 5-6, p.
efetores de memória, parece ser compensada 471-81, 2006.
por uma adaptação na defesa inespecífica, di- 11. ERSHLER, W. B. The value of the SENIEUR
recionando o sistema imune a efetuar somente protocol: distinction between “ideal aging” and
clinical reality. Mech Ageing Dev, v. 122, n. 2,
respostas potencialmente menos inflamatórias. p. 134-6, Feb. 2001.
Em outras palavras, a imunidade nos idosos
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depende diretamente do equilíbrio entre os inflammaging: A systemic perspective on aging
efeitos benéficos e maléficos das respostas and longevity emerged from studies in humans.
inflamatórias. E, finalmente, a intensidade das Mech Ageing Dev, v. 128, n. 1, p. 92–105, Jan.
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inflamações ocorridas ao longo da vida parece
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ser determinante para a homeostase da imu-
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impact of immunosenescence. Exp Gerontol, v.
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terventions will be likely to avoid or, at least, to
32. VAN DUIN, D. et al. Prevaccine determination
postpone age-related diseases, contributing still
of the expression of costimulatory B7 molecules
in activated monocytes predicts influenza more for the improvement of life’s expectation
vaccine responses in young and older adults.
and standard in this population. Therefore, this
Am J Infect Dis, v. 195, n. 11, p. 1590-7, June
2007. review aims at a brief survey of the relevant
aspects of the nature of markers of immuno-
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Mech Ageing Dev, v. 128, n. 1, p. 83-91, Jan. utility as a predictor factor of human lifespan.

Ano 7, Janeiro / Junho de 2008 45

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