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Módulo 6 - Problema 2

Allana Karine Gatinho Garcia

a) Defeitos na maturação dos linfócitos B, T ou


ambos: Os distúrbios que se manifestam como
1. Diferenciar imunodeficiência, imunotolerância, defeitos em ambos os ramos de células T e B do
imunodepressão, imunossupressão, imunidade sistema imunológico adquirido são classificados
cruzada e autoimunidade; como imunodeficiência combinada grave (SCID,
2. Caracterizar os tipos de reações de do inglês, severe combined immunodeficiency).
hipersensibilidade; Em um dos tipos de distúrbio genético que causa
3. Compreender os tipos de linfócitos T e seus esse problema, a cadeia gama comum de
receptores para as citocinas não é funcional devido
mecanismos de ação;
a mutações, então os linfócitos imaturos são
4. Elucidar os mecanismos de agressão e de defesa
incapazes a se proliferar em resposta à IL-7; isso
contra vírus e fungos. causa uma diminuição no número de células T
maduras e de células NK.
b) Defeitos na ativação e na função dos linfócitos:
Os linfócitos amadurecem normalmente, mas suas
funçoes de ativação e execução são defeituosas.
c) Defeitos na imunidade inata: Sobretudo
relacionados a anormalidades em fagócitos e no
sistema complemento. Um exemplo de defeito desse
Consiste em falhas no desenvolvimento e nas funções do tipo é a deficiência na adesão leucocitária, de
sistema imunológico, o que resulta em uma aumentada modo que mutações em genes que codificam as
suscetibilidade a infecções recém-adquiridas, a integrinas impedem que os leucócitos se firmem ao
reativação de infecções latentes e o aumento da endotélio vascular para serem recrutados aos
incidência de neoplasias. locais de infecção.
Na imunodeficiência, a resposta imune não ocorre d) Anormalidades linfocitárias associadas a
devido a problemas no funcionamento de outras doenças: Algumas doenças sistêmicas
componentes do sistema imunológico. Alguns desses genéticas, como a síndrome de Wiskott-Aldrich,
problemas incluem defeitos do desenvolvimento ou na podem ter repercussões em imunodeficiência.
ativação de linfócitos, defeitos nos mecanismos de
ativação das imunidades inata e adquirida, além de Imunodeficiência adquirida (secundária)
incidência de autoimunidade. São deficiências imunológicas decorrentes de fatores
Os distúrbios ocasionados por esses problemas não genéticos, mas adquiridos durante a vida. As
supracitados são denominados como doenças de causas comuns dessas anormalidades são a infecção
imunodeficiência, as quais podem ser primárias ou pelo HIV, cânceres de medula óssea, quimioterapia e
secundárias. radioterapia, desnutrição proteico-calórica, fármacos
imunossupressores (imunossupressão iatrogênica) e
Imunodeficiência congênita (primária) remoção do baço.
Resultam de anormalidades genéticas em um ou mais
componentes do sistema imunológico, o que leva a um
bloqueio na maturação ou na função desses
componentes. Causa Mecanismo
Os distúrbios imunológicos congênitos podem se Infecção por HIV Depleção de células T auxiliares
CD4+
manifestar causando:
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Quimioterapia e Lesão e diminuição de células apenas epitopos estranhos. O forte reconhecimento de


radioterapia proliferativas para os leucócitos autoantígenos, entretanto, ocorre em cerca de 90% dos
Imunossupressão Depleção ou comprometimento casos e resulta em apoptose (seleção negativa, ou
iatrogênica funcional de linfócitos
deleção).
Cânceres na Redução de locais para
medula óssea desenvolvimento de leucócitos Tolerância periférica
Desnutrição Desordem metabólica inibe
proteico-calórica maturação e função de linfócitos A tolerância a antígenos próprios que não estão
Remoção do baço Diminuição na fagocitose de presentes nos órgãos centrais do sistema imune deve ser
microorganismos mantida pelos mecanismos periféricos, e essa tolerância
é desenvolvida após a maturação de linfócitos B e T,
quando estes já saíram da medula e do timo. Ainda não
se sabe exatamente como essa tolerância periférica
ocorre no organismo.
Corresponde a falta de resposta a um antígeno,
induzida por uma exposição prévia do linfócito ao
antígeno.
No contato de um linfócito com um antígeno podem
ocorrer três tipos de respostas: (1) a ativação do
linfócito e a diferenciação desses em células efetoras e
células de memória, levando a uma resposta imune
produtiva; (2) a não reação dos linfócitos de nenhuma
maneira, ou seja, a ignorância imunológica; e (3) a
inativação ou eliminação dos linfócitos, resultando em
tolerância.
Normalmente, os microrganismos são imunogênicos,
gerando a 1º resposta, e os antígenos próprios são
tolerogênicos, gerando a 3º resposta. Assim, antígenos
próprios (autoantígenos) normalmente causam
tolerância, e a falha da autotolerância é a causa de
doenças autoimunes. Assim, a função principal da
autotolerância é evitar reações imunes contra os
tecidos próprios do indivíduo.
Consiste em um estado de deficiência do sistema
Os processos que induzem a tolerância podem ocorrer imunológico, o qual se torna incapaz de responder
nos órgãos linfoides centrais (medula e timo) ou nos adequadamente a agentes agressores. A
tecidos periféricos. imunodepressão é utilizada para rotular todos os casos
de imunodeficiência. Pode ser primária ou secundária
Tolerância central (adquirida).
Ocorre ainda na fase de maturação dos linfócitos. Os Imunodepressão primária
linfócitos T são apresentados a complexos
autoepítopo-MHC pelas células reticulares epiteliais do É dependente de fatores genéticos hereditários que
timo. Por meio de um mecanismo de seleção positiva, afetam o processo de defesa imunológica, causando
somente as células T que se ligam muito fracamente aos maior susceptibilidade às infecções, geralmente por
autopeptídeos (ou seja, peptídeos do próprio germes de baixa patogenicidade, bem como às
organismo) são conservadas; ou seja, sobrevivem a esse doenças autoimunes e às neoplasias. Na maior parte
processo apenas os linfócitos T que reconhecem das vezes, manifesta-se na infância.
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Imunodepressão secundária (adquirida) é oferecida uma resposta inicial muito mais eficaz do
que a resposta inata.
Deve-se a um fator externo que afeta o sistema
imunológico e é exemplificada pela Síndrome de Uma das hipóteses que explica porque algumas
Imunodeficiência Adquirida causada pelo vírus HIV-1; pessoas manifestam casos leves e outras casos mais
apresenta igualmente grande susceptibilidade às graves do Covid-19 baseia-se na imunidade
infecções por germes oportunistas e ao aparecimento cruzada. Um estudo publicado na revista Cell em
junho de 2020 sustenta que uma exposição anterior
de neoplasias.
a outros vírus da família coronavírus gera uma
memória imunológica que é utilizada no combate do
SARS-CoV-2 por imunidade cruzada.

É o ato de reduzir deliberadamente a atividade ou


eficiência do sistema imunológico. A imunossupressão
é feita, usualmente, para coibir a rejeição em É uma resposta imune contra os antígenos próprios
transplantes de órgãos ou para o tratamento de (autólogos). É fisiológica sobretudo quando ocorre no
doenças autoimunes como lúpus, artrite reumatoide, período fetal, pois gera a autotolerância, e continua
esclerose sistêmica, doença inflamatória intestinal, entre ocorrendo em toda a vida no processo de maturação
outras. e seleção dos linfócitos, sendo muito importante para a
Para fazê-la, recorre-se normalmente a medicamentos, regulação do processo imune.
mas também podem ser utilizados outros métodos, como A autoimunidade passa a ser deletéria quando ocorre
radiação ou plasmaferese (retirada dos autoanticorpos de modo anômalo e excessivo, ocasionando lesões em
do sangue com a utilização de uma máquina). Com o órgãos e tecidos, e resultando em sinais e sintomas
sistema imunológico praticamente desativado, o característicos das doenças autoimunes. Assim, os
indivíduo imunossuprimido fica vulnerável a infecções mecanismos de diferenciação do self e do nonself
oportunistas. falham, e sistema imune ataca células normais do corpo.
A cortisona foi o primeiro imunossupressor a ser
Os principais fatores no desenvolvimento da
usado, porém sua ampla gama de efeitos colaterais
autoimunidade são a herança de genes suscetíveis e
limitou seu uso. A azatioprina, mais específica, foi
lançada em 1959. A descoberta da ciclosporina em os estímulos ambientais, como infecções e lesões
1970 permitiu significativa expansão dos teciduais. Desse modo, os genes da suscetibilidade
procedimentos de transplantes de rim, fígado, interferem nas vias da tolerância própria e levam à
pulmão e coração. persistência de linfócitos T e B autorreativos. Os estímulos
ambientais podem provocar lesão celular e tecidual e
inflamação, resultando na entrada e ativação desses
linfócitos autorreativos. Os linfócitos ativados lesionam os
tecidos e provocam a doença.
Refere-se a uma reação imunológica não proposital Características das doenças autoimunes
entre o antígeno e o anticorpo, de modo que um
anticorpo produzido para outra finalidade é capaz de • São heterogêneas e multifatoriais;
se ligar a um antígeno diferente porque este possui • Têm como indutores e alvos das reações autoimunes
epítopos similares. os antígenos próprios, os quais frequentemente são
desconhecidos;
Nos casos de imunidade cruzada, há reação específica • Podem manifestar-se clinicamente muito tempo depois
sem que haja uma exposição prévia ao antígeno; assim, de as reações autoimunes terem sido iniciadas.
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• Podem ser sistêmicas ou específicas de um órgão, • Falhas na apoptose de linfócitos autorreativos


dependendo da distribuição dos autoantígenos que maduros;
são reconhecidos. • Função inadequada de receptores inibitórios;
A formação de complexos imunológicos circulantes • Apresentação anormal de autoantígenos nos órgãos
(compostos de autonucleoproteínas e anticorpos centrais, os quais são vistos como imunógenos.
específicos) produz doenças sistêmicas, como o
lúpus eritematoso sistêmico. Ao contrário, Além disso, inflamações, danos celulares, infecções virais
respostas de autoanticorpos ou células T contra e bacterianas contínuas, podem desencadear um
autoantígenos com distribuição tecidual restrita processo autoimune, uma vez que incitam resposta
levam a doenças específicas dos órgãos, como imunológica inata exacerbada, o que resulta em
miastenia grave, diabetes tipo 1 e esclerose ativação excessiva de linfócitos T, provavelmente
múltipla. porque as células apresentadoras de antígeno (APCs)
• Doenças autoimunes tendem a ser crônicas, se sobrepõem aos mecanismos regulatórios.
progressivas e de autoperpetuação.
Os autoantígenos que disparam essas reações são
persistentes e, uma vez que a resposta imunológica
se inicia, muitos mecanismos amplificadores que são
ativados perpetuam essa resposta; além disso, uma
Reações de hipersensibilidade são reações excessivas
resposta iniciada contra um autoantígeno que
lesiona tecidos pode resultar na liberação e
e danosas que causam injúria tecidual e podem ocorrer
alteração de outros antígenos teciduais, na devido a uma resposta descontrolada ou anormal a
ativação de linfócitos específicos para esses outros antígenos estranhos, ou devido a uma resposta
antígenos e na exacerbação da doença. Este autoimune contra antígenos próprios. As reações de
fenômeno, conhecido como propagação de hipersensibilidade são classificadas em quatro tipos, de
epítopo, pode explicar por que uma vez acordo com o mecanismo de lesão tecidual que
desenvolvida a doença autoimune, esta pode se apresenta.
prolongar ou se autoperpetuar.
Hipersensibilidade tipo I

Fatores que acarretam a autoimunidade É denominada imediata ou anafilática, sendo


comumente chamada de alergia. É ocasionada pela
A falha dos mecanismos de autotolerância em produção de anticorpos IgE contra alérgenos
células T ou B, levando ao desequilíbrio entre ativação (antígenos ambientais ou medicamentos), sensibilização
e controle de linfócitos, é a causa de todas as doenças dos mastócitos pela IgE e degranulação desses
autoimunes. A perda da autotolerância pode ocorrer se mastócitos na exposição seguinte ao alérgeno. As
linfócitos autorreativos não forem deletados ou manifestações clinicopatológicas da hipersensibilidade
inativados durante ou após a sua maturação; também imediata (urticária, eczema, conjuntivite, rinorreia, rinite,
pode ocorrer se as APCs forem ativadas, de modo que asma e gastroenterite) resultam das ações dos
autoantígenos sejam apresentados ao sistema mediadores secretados pelos mastócitos: as aminas
imunológico de forma imunogênica, ao invés da forma dilatam os vasos e contraem os músculos lisos, os
tolerogênica. metabólitos do ácido araquidônico também contraem
os músculos, e as citocinas induzem a inflamação, o
Dessa maneira, a falência da autotolerância pode se marco da reação de fase tardia.
dar devido a:
A reação é amplificada por PAF (fator ativador de
• Defeitos na deleção de células T ou B autorreativas; plaquetas) que causa agregação plaquetária e
• Defeitos no quantitativo ou na função dos linfócitos liberação de histamina, heparina e aminas
T regulatórios; vasoativas, assim como por fator quimiotáctico
eosinofílico de anafilaxia (ECF-A) e fatores
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quimiotácticos de neutrófilos que atraem eosinófilos e As reações autoimunes em geral são direcionadas
neutrófilos, respectivamente, os quais liberam várias contra antígenos celulares com distribuição tecidual
enzimas hidrolíticas que provocam a necrose. restrita. Portanto, as doenças autoimunes mediadas por
célula T tendem a se limitar a alguns poucos órgãos,
Os eosinófilos podem também controlar a reação
geralmente não sistêmicos.
local pela liberação de arilsulfatase, histaminase,
fosfolipase D e prostaglandina-E, assim como os
nucleotídeos cíclicos que parecem ter um papel
importante nessa modulação.
Hipersensibilidade tipo II
Os linfócitos T são os mediadores da resposta
É também chamada de hipersensibilidade citotóxica, imunológica de base celular. O processo de maturação
caracterizada pela ação de anticorpos contra dos linfócitos T ocorre no timo e envolve a expressão do
antígenos celulares e teciduais. Os anticorpos IgM e IgG receptor de células T (TCR) e das moléculas CD4 e/ou
promovem a fagocitose das células a que se ligam, CD8.
induzindo inflamação pelo recrutamento de leucócitos
Os TCRs dos linfócitos T são equivalentes às
mediado por receptor de Fc e complemento, e podem
imunoglobulinas de superfície dos linfócitos B e são
interferir nas funções das células ao se ligarem a
diferentes em cada célula T (portanto, a população
moléculas e receptores essenciais.
dessas células é capaz de reconhecer uma grande
Doenças como a anemia hemolítica induzida por diversidade de antígenos). O TCR se associa, em sua
drogas, a agranulocitopenia e trombocitopenia são porção transmembrana, a complexos proteicos diversos
exemplos. como o CD3, o CD4 e o CD8, formando o complexo
TCR.
Hipersensibilidade tipo III
Os TCRs são capazes de responder somente a
É também conhecida como hipersensibilidade imune
antígenos proteicos, o quais devem, necessariamente,
complexa. Nesse caso, os anticorpos se ligam aos
estar ligados a moléculas do MHC na superfície de
antígenos circulantes e formam os complexos imunes,
APCs para serem reconhecidos; por isso, os linfócitos T
que são depositados nos vasos, levando à inflamação
são considerados restritos ao MHC*. Para ser ativado,
na parede do vaso (vasculite), que provoca de
o linfócito T precisa reconhecer o epítopo estranho e
maneira secundária a lesão tecidual em função do fluxo
reconhecer que a molécula do MHC é própria (self). Se
sanguíneo comprometido.
o linfócito T reconhece apenas o epítopo e não o MHC,
Nesse caso, a reação é geral (no caso da doença do não é ativado.
soro, ou DS) ou envolve órgãos específicos, como é o
Após o reconhecimento do complexo peptídeo-MHC
caso do comprometimento renal por lúpus, ou das
pelo TCR, há necessidade de um segundo sinal, que é
articulações por artrite reumatoide.
mediado pela interação de várias outras moléculas
Hipersensibilidade tipo IV coestimuladoras presentes na superfície do LT e da APC,
como o CD28-CD80 ou CD28-CD86, que resulta em
É denominada hipersensibilidade mediada por
sinais estimuladores, e da interação CD28-CTLA4, que
células ou tardia. Ela é resultado de uma inflamação
promove sinalização inibitória.
causada por citocinas produzidas por células CD4+
TH1 e TH17 ou pelo extermínio de células do CD28 (cluster of differentiation 28) é um receptor
hospedeiro por CTL CD8+. As principais causas de presente nas membranas plasmáticas dos linfócitos T,
reações de hipersensibilidade mediadas por células T que se liga às proteínas CD80 (B7-1) e CD86 (B7-
são autoimunidade e respostas exageradas ou 2) que são expressas pelas APCs. O CTLA4
(cytotoxic T-lymphocyte-associated protein 4, que
persistentes aos antígenos ambientais.
também é denominado CD152)
* As exceções são funciona como
os linfócitos T γδ.um
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checkpoint e inibe a resposta imunológica ao se São derivados dos linfócitos T de memória e são
ligar aos receptores da APC. Estudos recentes imunologicamente competentes. São subdivididos em
sugerem que inibir a ligação da CTLA4, nesse caso, linfócitos T auxiliares (helper), linfócitos T citotóxicos
favorece a ativação da célula T e permite que o (killer) e linfócitos T regulatórios.
sistema imunológico ataque e destrua células
cancerosas.

Os três tipos principais de linfócitos T são os virgens, os Linfócitos T auxiliares


de memória e os efetores; estes são divididos em outros
Também chamados de linfócitos T helper, possuem
subtipos. Além disso, um tipo específico de linfócito T é
moléculas CD4 na membrana plasmática (além do TCR
o γδ (gama delta), que reconhece epítopos sem que
e do CD3) e tem a função de coordenar a função de
estejam ligados ao MHC.
defesa imunológica adaptativa, principalmente através
da produção e liberação de citocinas e interleucinas.
Também são capazes de estimular a resposta imune
humoral através de ligação direta com linfócitos B,
Possuem moléculas CD45RA na superfície celular. Saem estimulando-os a se tornarem plasmócitos e a liberarem
do timo como células imunocompetentes, mas ainda não imunoglobulinas. Existe uma variedade de subtipos de
são capazes de atuar porque precisam ser ativados. linfócitos TCD4, incluindo TH0, TH1, TH2, TH17 e THαβ.
Essa ativação se dá após o primeiro contato com seu a) Linfócitos TH0: produzem e liberam muitas citocinas, e
antígeno específico, após ter saído da medula tímica; podem se diferenciar em TH1 ou TH2, de acordo com o
quando ativado, um linfócito T virgem se diferencia em estímulo que receberem das APCs.
linfócito T de memória e em efetor.
b) Linfócitos TH1: secretam IFN- γ, IL-2 e TNF-α. A IL-2
estimula proliferação de linfócitos auxiliares e citotóxicos,
e aumenta a citotoxicidade deste. O IFN- γ estimula
macrófagos a destruírem os patógenos fagocitados e
estimula a citotoxicidade de células NK. Os macrófagos
São derivados do linfócito T que respondeu ao
estimulados liberam IL-12, que induz a proliferação dos
antígeno e expressam moléculas CD45R0 na superfície
linfócitos TH1 e inibe a proliferação de TH2.
celular. Eles formam a memória imunológica da
imunidade adaptativa e seu mecanismo de ação c) Linfócitos TH2: secretam citocinas IL-4, IL-5, IL-6, IL-9,
consiste na constituição de clones cujos membros são IL-10 e IL-13, e muitas dessas estimulam a produção de
idênticos e são capazes de combater um antígeno e imunoglobulinas por plasmócitos; além disso, promovem
particular. resposta contra infecções parasitárias, pois a IL-4
Existem dois tipos de linfócitos T de memória: os de estimula a síntese de IgE e a IL-5 induz produção de
eosinófilos. A IL-6 induz a proliferação de linfócitos B, a
memória centrais (TMCs) e os de memória efetores
(TMEs). Os TMCs expressam moléculas CR7+ na IL-9 estimula a proliferação dos TH2 e dos mastócitos, a
IL-10 em conjunto com a IL-4 inibe a diferenciação de
superfície celular e são incapazes de realizar ação
imediata. Eles interagem com APCs e as estimulam a TH0 em TH1, e a IL-13 incrementa as funções da IL-4.
liberar IL-12; esta IL-12 se liga aos receptores presentes d) Linfócitos TH17: secretam IL-17, IL-21 e IL-22. A IL-17
nas TMCs e fazem com que se diferenciem em TMEs, ou atrai neutrófilos ao sítio de ataque a antígenos e
seja, em versões efetoras. As TMEs migram para os locais incrementa sua capacidade fagocitária, a IL-21
de inflamação e, ali, imediatamente se proliferam e se estimula linfócitos B, T e NK, e a IL-22 estimula resposta
diferenciam em linfócitos T efetores. inflamatória e aumenta a integridade dos epitélios.
e) Linfócitos THαβ: secretam IL-10, o qual ativa células
NK e estimula a apoptose de células infectadas por
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vírus. Quando excessivos no combate a autoantígenos, células dendríticas nas imediações induzam a expressão
os linfócitos THαβ são responsáveis pelo início da de moléculas CD25 e FoxP3 por células T virgens,
hipersensibilidade tipo II. convertendo-as em células Treg.
Os linfócitos Treg naturais saem do timo e, quando se
ligam a uma APC ou a um linfócito T efetor, liberam IL-10
Linfócitos T citotóxicos
e TGF-β, os quais suprimem a resposta imune. Usualmente,
Também chamados de linfócitos T killer, possuem essa atividade do Tregn se dá após a eliminação do
moléculas CD8 na membrana plasmática (além do TCR patógeno do organismo, ou quando a resposta dos
e do CD3). Eles reconhecem epítopos apresentados linfócitos T efetores é contra uma célula própria do
por células estranhas, células tumorais e células organismo.
alteradas por vírus, as quais passam a apresentam
b) Células Treg induzíveis: também são chamadas de
epítopos virais; esses epítopos devem ser apresentados
TH3; se originam fora do timo, e são oriundas de linfócitos
por moléculas do MHC de classe I.
T virgens, assim como as Tregn, e também apresentam
O mecanismo de eliminação de células por Linfócitos T CD4, CD25 e FoxP3, e secretam IL-10 e TGF-β.
citotóxicos pode se dar por dois modos: a via das
perforinas/granzimas, ou a via do Fas/ligante do Fas.
a) Via das perforinas/granzimas: os linfócitos T citotóxicos
inserem perforinas na membrana plasmática da célula
afetada, ocasionando formação de poros; por estes São linfócitos T efetores que se assemelham a células
poros, o linfócito transfere granzimas ao citoplasma, e NK, mas entram no córtex tímico para se tornarem
estas estimulam as caspases a induzir a apoptose, imunocompetentes. Elas liberam IL-4, IL-10 e IFN-γ e, de
matando a célula. modo similar às células NK, são ativadas praticamente
instantaneamente. Os linfócitos TNK são capazes de
b) Via do Fas/ligante do Fas: os linfócitos T citotóxicos reconhecer antígenos lipídicos coapresentados com
expressam o ligante do Fas em sua membrana moléculas CD1 através de seus TCRs (a CD1 se
plasmática (também denominado CD95L, ligante do assemelha à MHC classe I).
CD95 ou ligante da morte). Esse ligante ativa o Fas
presente na superfície da célula-alvo (também
chamado de CD95 ou receptor da morte). Quando o
Fas é ativado, inicia uma cascata apoptótica que
resulta na morte celular. As células γδ apresentam um TCR distinto em suas
membranas, o qual é formado por cadeias proteicas
γ e δ (enquanto o TCR dos demais tipos de linfócitos T
Linfócitos T regulatórios é formado por cadeias α e β). Esse tipo de TCR é capaz
Também chamados de linfócitos Treg, apresentam de reconhecer antígenos que não estão ligados ao
moléculas CD4 na membrana plasmática e atuam na MHC, portanto, as células γδ não são restritas ao MHC.
supressão da resposta imunológica. São divididos em Eles reagem de modo muito rápido aos estímulos
células Treg naturais (ou constitutivas) e em Treg antigênicos e formam uma população celular pequena,
induzíveis (ou adaptativas); os dois tipos atuam em presente sobretudo na mucosa do trato gastrointestinal.
conjunto e têm funções sobrepostas, sendo sua Não são capazes de formar células T de memória.
principal função suprimir respostas autoimunes.
a) Células Treg naturais: se originam ainda no timo a
partir de células T virgens. Os corpúsculos de Hassal
liberam linfopoietina estromal tímica, que faz com que
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Os vírus são os parasitas intracelulares obrigatórios Alguns vírus produzem moléculas que inibem a resposta
que utilizam os componentes do ácido nucleico e a imunológica, ou seja, são imunossupressoras. Os
maquinaria da síntese de proteínas do hospedeiro para poxvírus, tal como o vírus da varíola, por exemplo,
se replicar e se espalhar. Os vírus tipicamente infectam codificam moléculas que são secretadas por células
diversos tipos de células, utilizando moléculas de infectadas e se ligam a várias citocinas, incluindo o IFN-
superfície de células normais como receptores para γ, TNF, IL-1, IL-18, e quimiocinas, impedindo que atuem
entrar nas células. normalmente.
Depois de entrar nas células, os vírus podem causar Respostas imunes inatas e adaptativas contra os vírus
lesão tecidual e doenças por uma série de mecanismos. têm como objetivo bloquear a infecção e eliminar as
A replicação viral interfere na síntese de proteína e células infectadas. Uma vez que a infecção é
função de células normais e leva à lesão e, por fim, à estabelecida, as células infectadas são eliminadas
morte da célula infectada. Este resultado é um tipo de pelas células NK na resposta inata e pelos CTL
efeito citopático do vírus e a infecção é dita lítica (Linfócitos T citotóxicos) na resposta adaptativa.
porque a célula infectada é lisada. Os vírus também
Etapas da replicação viral
podem causar infecções latentes.
1. Adsorção: ligação específica das partículas virais na
Os vírus podem alterar seus antígenos e, portanto, deixar
superfície das células hospedeiras, por meio das
de ser alvos da resposta imune. Os antígenos afetados
proteínas do capsídeo (no caso do vírus não
são mais comumente glicoproteínas de superfície
envelopado) ou por meio das glicoproteínas do
reconhecidas por anticorpos. Os dois principais
envelope, que se conectam aos receptores celulares.
antígenos do vírus são a hemaglutinina viral trimérica
(o pico de proteína viral) e a neuraminidase. 2. Penetração: por meio de fusão com a membrana
plasmática ou endocitose;
O rearranjo dos genes virais resulta em alterações
importantes na estrutura antigênica chamada de 3. Desnudamento: perda do capsídeo e exposição do
mudança antigênica, o que cria vírus distintos. Devido material genético viral. Quando esse material é o DNA,
à variação antigênica, um vírus pode tornar-se resistente penetra nos poros nucleares;
à imunidade gerada na população pelas infecções
anteriores. 4. Expressão gênica: transcrição e tradução;

Alguns vírus inibem a apresentação de antígenos de 5. Replicação do genoma: em vírus de DNA, ocorre no
proteínas citosólicas associados ao MHC de classe I, núcleo, de modo que o DNA é copiado pela DNA
pois produzem uma variedade de proteínas que polimerase do hospedeiro. Em vírus de RNA, a
bloqueiam diferentes etapas do processamento, replicação ocorre no citoplasma.
transporte e apresentação do antígeno. A inibição da 6. Morfogênese e maturação: a morfogênese é o
apresentação antigênica bloqueia a montagem e processo de montagem das partículas virais que ocorre
expressão de moléculas de classe I do MHC estáveis e ao fim do ciclo replicativo; a maturação é a aquisição
a exposição de peptídios virais. Como resultado, as da capacidade infectiva e, no caso de vírus
células infectadas por estes vírus não podem ser envelopados, do envelope.
reconhecidas ou mortas pelas CD8+ CTL.
7. Egresso: a célula infectada sofre lise e os vírus são
Nesses casos, as células NK são ativadas pelas liberados. Nesse processo, alguns vírus podem obter o
células infectadas, especialmente por conta da envelope por brotamento, tomando para si parte da
ausência de moléculas de MHC de classe I. Alguns
membrana nuclear
vírus podem produzir proteínas que atuam como
ligantes para receptores inibitórios das células NK e
assim, inibem a ativação de células NK.
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A primeira barreira inata contra a infecção é a queratina Quanto aos linfócitos T, a maioria dos que são
da pele; quando essa barreira é rompida, as células de específicos para vírus são células T CD8+ que
Langerhans (células dendríticas da derme) podem reconhecem peptídios virais, citosólicos, geralmente
capturar o agente invasor, dando início a resposta sintetizados endogenamente e que são apresentados
imune. Outro mecanismo de defesa contra os vírus são por moléculas de classe I do MHC.
as defensinas, proteínas expressas por células epiteliais
Se a célula infectada é uma célula de tecido e não uma
e neutrófilos, que formam poros em membranas ricas em
APC, tais como células dendríticas, a célula infectada
fosfolipídios aniônicos como as dos vírus causando a
pode ser fagocitada pelas células dendríticas, que
destruição dos mesmos.
processa os antígenos virais e os apresenta para as
Os principais mecanismos de imunidade inata contra os células T CD8+ imaturas.
vírus são a inibição da infecção por IFN-I e a destruição
das células infectadas mediada pelas células NK. A
infecção por diversos vírus está associada à produção
de interferons tipo I por células infectadas,
especialmente por células dendríticas. A partir da Os fungos são organismos eucarióticos, com parede de
produção de IFN-I e citocinas inflamatórias ocorre a quitina. A infecção causada pela presença de fungos é
ativação das células NK que são capazes de eliminar chamada de micose, e as toxinas liberadas por eles são
células infectadas pelo vírus por meio da liberação do denominadas micotoxinas.
conteúdo citolítico de perforinas e granzimas.
A parede celular fúngica possui fatores responsáveis
Além disso, expressão do de MHC I é muitas vezes pela aglutinação, crescimento e interação enzimática
desligada nas células infectadas por vírus como um entre fungos e com as células do hospedeiro. É
mecanismo de fuga dos CTLs, e isso permite que as composta por quitina e contém β-glucanos.
células NK destruam as células infectadas porque
ausência da molécula de MHC classe I libera as células Tipos de fungos
NK de um estado normal de inibição.
Leveduras: organismos unicelulares, de formato oval,
com colônias de aspecto macroscópico cremoso,
pastoso ou úmido. Causam, por exemplo, a candidíase.
Bolores: organismos multicelulares e filamentosos,
A imunidade adaptativa contra as infecções virais é organizados em hifas (estruturas tubulares e ramificadas),
mediada por imunoglobulinas, que se ligam às as quais, em conjunto, são denominadas micélio; se
glicoproteínas do envelope viral que seriam usadas reproduzem por meio de esporos. Macroscopicamente,
para se conectar aos receptores celulares e bloqueiam têm aspecto seco, aveludado ou algodonoso.
a entrada do vírus nas células hospedeiras, e por Fungos dismórficos: podem existir tanto como levedura
linfócitos T citotóxicos, que eliminam a infecção quanto como bolor, dependendo da temperatura na
matando as células infectadas. qual se encontram. Um exemplo desse mecanismo ocorre
Além da neutralização, os anticorpos podem opsonizar no caso do Paracoccidioides brasiliensis, causador da
partículas virais e promover a sua depuração por paracoccidioidomicose, que causa úlceras de pele e
fagócitos. Os anticorpos que neutralizam as inflamação de linfonodos; esse fungo invade o
glicoproteínas bloqueiam a infecção viral de células e organismo quando é inalado em forma de hifa e, com o
a disseminação de vírus de célula a célula, mas uma vez aumento de temperatura proporcionado pelo corpo
que os vírus entram nas células e começam a replicar humano, torna-se levedura.
intracelularmente, eles se tornam inacessíveis aos Mecanismos de agressão
anticorpos.
Allana Karine Gatinho Garcia - Medicina UEPA 2020.1 10

Os fungos ocasionam doenças por meio do A defesa inata ocorre principalmente por meio da ação
desencadeamento de alergias, pela produção de de neutrófilos e macrófagos. Esses fagócitos (e
toxinas ou pelo desenvolvimento de micoses. também as células dendríticas), reconhecem os fungos
por meio dos receptores tool-like (TLRs) e dos
Alergia: a inalação de esporos pode ocasionar uma
receptores dectinas; nesse contexto, os PAMPSs são os
resposta imune exagerada.
β-glucanos e as α-mananas, reconhecidos,
Produção de toxinas: os fungos produzem substâncias respectivamente, por dectina-1 e por dectinas 2 e 3.
que podem fazer mal ao organismo. Um exemplo disso
A parede de quitina fúngica desencadeia uma resposta
são as aflatoxinas produzidas pelo Aspergillus flavus.
imune que causa secreção de quitinases pelos
Micoses: são infecções crônicas causadas pela macrófagos; os fragmentos da quebra ocasionada pela
proliferação fúngica. São classificadas em cinco tipos, quitinase causam uma resposta inflamatória.
de acordo com o grau de envolvimento tecidual e com
Quanto ao sistema complemento, este pode agir na
o modo de entrada do fungo no hospedeiro.
defesa inata contra fungos; entretanto, alguns fungos
a) Superficial: micose localizada ao longo dos são capazes de inibir esse sistema, seja por meio de
fios de cabelo e nas células epidérmicas proteínas de superfície que impedem a ligação do
superficiais. Ex: pano branco. sistema complemento, ou pela secreção de proteases
b) Subcutânea: localizada abaixo da pele, que destroem as proteínas do sistema.
causada por fungos saprofíticos. A infecção
ocorre por implantação direta dos esporos ou
de fragmentos de micélio em uma perfuração na
pele. Ex: esporotricose. Se dá, sobretudo, por resposta celular. As células
dendríticas ativadas pela presença do fungo produzem
c) Cutânea: localizada na epiderme e causada
por fungos dermatófitos. Os dermatófitos citocinas como a interleucina 6, que é indutora de TH17;
secretam queratinase, enzima que degrada a os TH17 estimulam a inflamação, produzem defensinas e
queratina, proteína encontrada no cabelo, na recrutam neutrófilos e monócitos, que destroem o fungo.
pele e nas unhas. A infecção é transmissível entre Além disso, outros tipos de linfócito T importantes no
seres humanos, ou de um animal para um ser processo de defesa contra fungos são o TH1, que
humano. causa inflamação local e promove a resolução da
d) Sistêmica: infecção fúngica profunda, no interior infecção fúngica, e o TH2, que libera IL-4 e IL-5 e causa
do corpo, podendo afetar vários órgãos e alergia, inibindo os macrófagos e a resolução da
tecidos. Os esporos são transmissíveis por infecção.
inalação, por isso, essas infecções, em geral,
iniciam-se nos pulmões e, em seguida,
disseminam-se a outros tecidos do corpo. Não
são contagiosas entre animais e seres humanos
ou entre indivíduos.
e) Oportunista: se dá quando o patógeno
normalmente é inofensivo, mas se torna
patogênico no hospedeiro debilitado.
Geralmente, não infectam indivíduos
imunocompetentes.

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