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Diretor Administrativo

Robert Allyson Cavalcante Pinto

Secretária Acadêmica

Eloane Coimbra Lima

Coordenação do Curso
Cleonice Layara Vieira da Silva

Coordenação do Nead

Levi de Sousa Lima


Entenda sobre a Imunidade e seus tipos

A Imunidade é um estado em que o corpo está protegido contra a doença infecciosa.

É conferida pelo sistema imunológico, uma complexa rede de células, tecidos e substâncias químicas que
combatem infecções e matam organismos quando invadem o corpo.

A Célula T e a Imunidade Mediada por Células

As células T, também denominada de Linfócitos T, são um grupo de glóbulos brancos (eucócitos)


responsáveis pela defesa do organismo contra agentes desconhecidos (antígenos). Seu papel principal é como
imunidade específica e imunidade celular, induzido a Apoptose (autodestruição) de células invadidas por vírus,
bactérias intracelulares, danificadas ou cancerígenas. Se diferenciam de acordo com sua função em: citotóxicas
(CD8), auxiliares (CD4), natural killer (NKT), memória (CD45), reguladoras (FOXP3) ou gama-delta.
Amadurecem no timo, por isso se chamam linfócitos.

Os Tipos de Imunidade

Imunidade inata

A imunidade inata é a primeira linha de defesa do organismo, coma qual ele já nasce. É uma resposta rápida,
não específica e limitada aos estímulos estranhos ao corpo. É representada por barreiras físicas, químicas e
biológicas, células e moléculas, presentes em todos os indivíduos.

Os principais componentes da imunidade inata são:

1. Barreiras físicas e mecânicas: Retardam/impedem a entrada de moléculas e agentes infecciosos (pele, trato
respiratório, membranas, mucosa, fluidos corporais, tosse, espirro).

2. Barreiras fisiológicas: Inibem/eliminam o crescimento de microrganismos patogênicos devido à


temperatura corporal e à acidez do trato gastrointestinal; rompem as paredes celulares e lisam (rompem)
células patogênicas através de mediadores químicos (lisozimas, interferon, sistema complemento);

3. Barreias celulares: Endocitam/fagocitam as partículas e microrganismos estranhos, eliminando-os


(linfócitos natural killer e leucócitos fagócitos-neutrófilos, monócitos e macrófagos);

4. Barreiras inflamatórias: Reação a infecções com danos tecidulares, induzem células fagocitárias para a
área afetada.

A resposta imune inata é capaz de prevenir e controlar diversas infecções, e ainda pode otimizar as respostas
imunes adaptativas contra diferentes tipos de microrganismos.

É a imunidade inata que avisa sobre a presença de uma infecção acionando assim os mecanismos de imunidade
adaptativa contra os microrganismos causadores de doenças que conseguem ultrapassar as defesas imunitárias
inatas.

Imunidade adquirida
A imunidade adquirida ou adaptada é ativada pelo contato com agentes infecciosos e sua resposta à infecção
aumenta em magnitude a cada exposição sucessiva ao mesmo invasor.

Existem dois tipos de imunidade adquirida: a imunidade humoral e a imunidade celular.

A imunidade humoral gera uma resposta mediada por moléculas no sangue e nas secreções da mucosa,
chamadas de anticorpos, produzidos pelos linfócitos B, sendo o principal mecanismo de defesa contra
microrganismos extracelulares e suas toxinas.

Os anticorpos reconhecem os antígenos (qualquer partícula estranha ao corpo), neutralizam a infecção e


eliminam estes antígenos por variados mecanismos efetores. Por sua vez, a imunidade celular gera resposta
mediada pelos linfócitos T.

Quando microrganismos intracelulares, como os vírus e algumas bactérias, sobrevivem e proliferam dentro das
células hospedeiras, estando inacessíveis para os anticorpos circulantes, as células T promovem destruição do
microrganismo ou a morte das células infectadas, para eliminas a infecção.

A imunidade adquirida ainda pode ser classificada em imunidade ativa e imunidade passiva. A imunidade ativa
é aquela que é induzida exposição a um antígeno.

Assim, o indivíduo imunizado tem um papel ativo na resposta ao antígeno. A imunidade ativa pode ser natural,
quando adquirida através de doença, ou passiva, quando adquirida por meio de vacinas.

A imunidade passiva é a imunização por meio da transferência de anticorpos específicos de um indivíduo


imunizado para um não imunizado.

A imunidade passiva é chamada de natural, quando acontece, por exemplo, através de transferência de
anticorpos maternais para o feto; é artificial quando há a passagem de anticorpos prontos, como num soro
anti-ofídico (contra veneno de serpentes).

A resposta imune adquirida, mediada pelos linfócitos B e T, apresenta uma série de propriedades que
administram a resposta destes. São elas:

· Especificidade: o sistema imunológico reconhece os diversos antígenos e produz uma resposta


imunológica específica para cada um deles.

· Diversidade: o sistema imune é capaz de reconhecer milhares de antígenos diferentes e produzir


uma resposta adequada para cada um deles.

· Memória imunológica: a exposição do sistema imunológico a antígenos faz aumentar sua


habilidade em responder a esse mesmo antígeno novamente. As respostas subseqüentes ao mesmo
antígeno são normalmente mais rápidas, maiores e qualitativamente diferentes da primeira. Uma
vez produzidas, as células de memórias tem vida longa e são capazes de reconhecer esse antígeno
por anos.

· Especialização: o sistema imune responde por vias distintas a diferentes antígenos, maximizando
a eficiência dos mecanismos de defesa. Assim, os linfócitos B e T se especializam entre as
diferentes classes de microrganismos ou pelos diferentes estágios da infecção do mesmo
microrganismo.

· Discriminação ou Auto-tolerância: capacidade de reagir que os linfócitos B e T apresentam


contra suas próprias moléculas.

· Auto-limitação da resposta: as células B e T ativadas produzem moléculas que auxiliam o


término da resposta imune. Para B são as imunoglobulinas G4 (lgG4) e para T são as interleucinas
4 e 10 (lL-4 e Ll-10).

Como conteúdo complementar, abaixo o site e os artigos foram anexados para melhor
introdução e entendimento do assunto de imunologia.

https://books.scielo.org/id/m4kn3/pdf/silva-9786557080917-11.pdf

ARTIGO I

Imunologia Geral

1. Antígenos Induzindo Imunidade

Antígenos e determinantes antigênicos

A imunidade contra as doenças infecciosas se desenvolve em resposta a antígenos. Os antígenos são


definidos como moléculas que são reconhecidas pelo sistema imunológico e induzem uma resposta
imunológica. O antígeno estimula a produção de anticorpos e/ou resposta imunológica celular que
reagirá especificamente com o antígeno. A reação entre o antígeno e o anticorpo é similar àquela que
ocorre entre a chave e a fechadura. É específica e os anticorpos produzidos contra um antígeno não
reagem, ou reagem fracamente, com outros antígenos.

O antígeno pode ser uma substância solúvel produzida por um microrganismo (por exemplo, toxina ou
sua forma desintoxicada, toxóide (Figura 1), ou uma substância presente em uma bactéria, vírus, outra
célula de superfície, ou na parede celular. A maioria dos antígenos são proteínas, porém algumas são
polissacarídeos de cápsulas bacterianas, ou glicolipídeo.
A parte do antígeno à qual o anticorpo se liga é denominada de determinante antigênico, local
antigênico, ou epitopo. Os antígenos normalmente contêm muitos determinantes que podem ser
diferentes entre si ou podem ser estruturas moleculares repetidas.

Uma determinado microorganismo contém muitos antígenos diferentes. O protozoário, fungo e bactéria
contém centenas de milhares de antígenos. Os vírus contêm de poucos antígenos (o vírus polyoma
contém 3 antígenos), a mais de 100 antígenos (hipersvirus e poxvírus). A resposta imunológica se
desenvolve para muitos desses antígenos durante a infecção. A resistência a infecção, entretanto,
depende principalmente da resposta imunológica a um menor número de antígenos de superfície do
microorganismo. Os antígenos de superfície relevantes encontra-se isolados e caracterizados para
algumas viroses. Muito pouco se conhece sobre os antígenos que induzem resistência a bactéria, fungo
e protozoário. Está claro, entretanto, que as vacinas de bactérias mortas disponíveis induzem um grande
número de respostas imunológicas irrelevantes (Mims 1982). A vacina de célula inteira contra pertussis,
por exemplo, contém vários componentes, como polissacarídeo, toxina lábil ao calor e citotoxina traqueal
que embora sejam ativas antigenicamente, não são importantes na indução da imunidade ao pertusssis.

Antígenos T-dependentes e T-independentes

Existem dois grupos de antígenos: T-dependentes e T-independentes. Os antígenos que requerem a


intervenção de linfócitos T (ver seção 3.2) para desencadear a produção de anticorpos pelo linfócito B
são denominados antígenos T-dependentes. A maioria dos antígenos do tipo proteína está enquadrada
nessa categoria. Os antígenos T-independentes

são capazes de estimular os linfócitos B para produzirem anticorpos sem o auxílio dos linfócitos
T. Os antígenos T-independentes são normalmente grandes compostos com múltiplas sub
unidades repetidas como aqueles da cápsula polissacarídica bactéria da Neisseria meningitidis;
Haemophilus influenzae tipo b, ou estreptococos do grupo B.

Figura 1. Desintoxicação de toxina tetânica em toxóide tetânico


inofensivo com perda das
propriedades antigênicas
Os antígenos T-independentes são imunógenos fracos nas pessoas com menos de dois anos de idade.
A imunogenicidade dos antígenos T-independentes é aumentada quando eles são transformados em
antígenos T-dependentes através de sua junção a uma proteína carreadora. Este fenômeno é utilizada
na preparação de vacinas conjugadas, como a vacina contra H. influenzae tipo b, na qual o
polissacarídeo relevante (T-independente) é unido ao toxóide diftérico, toxóide tetânico, ou outra
proteína carreadora (T-dependente).

2. Vacinas Usadas no PAI

Natureza das vacinas do PAI

As vacinas do PAI contêm preparações de tipos muito diferentes (Tabela 1).

Os toxóides diftérico e tetânico são proteínas toxinas que perderam suas toxicidades através de um
processo de desintoxicação com formaldeído (Figura 1). Os toxóides fluidos são imunógenos
relativamente fracos e, na prática, são usados na forma adsorvida, com a adição de adjuvantes
(substâncias que aumentam consideravelmente o poder imunogênico dos antígenos). Para os toxóides
diftérico e tetânico o adjuvante comumente usado é um sal de alumínio.

As vacinas contra pertussis disponíveis contêm a bactéria Bordetella pertussis inteira morta e
normalmente são usadas como componentes da vacina contra difteria-tétano-coqueluche (DTP). O
componente pertussis da vacina DTP também tem um efeito adjuvante para os toxóides diftérico e
tetânico.
A vacina inativada contra hepatite B (HB) contém antígeno de superfície HB (HBsAg) derivado do
plasma de portadores HBsAg ou obtido através de tecnologia de DNA recombinante.

Todas as vacinas mortas contêm um preservativo, o qual é normalmente o mertiolate, um composto que
contém mercúrio, em uma concentração menor que 0.1 mg por ml.

Outras são vacinas vivas, vacinas atenuadas. A vacina de Bacilo de Calmette-Guérin (BCG) contém a
bactéria BCG viva, uma forma atenuada do microorganismo Mycobacterium bovis. A vacina BCG não
contém preservativos e após sua reconstituição pode ser facilmente contaminada. Devido a isto, deve
ser usada rapidamente, durante uma sessão de imunização.

A vacina contra sarampo contém vírus vivo do sarampo de inúmeras cepas atenuadas (Schwarz,
Edmonston-Zagreb, Moraten, L-16, CAM-70, AIK-C). Estas cepas foram atenuadas através de diferentes
maneiras, porém todas elas induzem anticorpos anti- sarampo similarmente. A vacina contra o sarampo
normalmente contém uma pequena quantidade de antibiótico (neomicina, polimixina, ou kanamicina,
porém nunca a penicilina) como preservativo.

A vacina oral trivalente contra pólio (OPV) representa uma mistura de três tipos distintos de poliovírus
atenuados (tipos, 1, 2 e 3). Uma proporção adequada entre os três diferentes tipos de poliovírus é
essencial para assegurar a indução de anticorpos contra todos os três tipos. A OPV é estabilizada com
cloreto de magnésio ou sacarose.

A vacina contra febre amarela contém vírus vivo atenuado produzido em embrião de galinha a partir da
cepa 17 D do vírus da febre amarela.

Existem diferenças importantes entre as vacinas vivas e mortas. A quantidade de antígenos em uma
vacina morta é um parâmetro importante para sua eficácia. As vacinas mortas devem ser administras em
doses repetidas para induzir uma resposta imunológica adequada. O microorganismo nas vacinas vivas,
por outro lado, multiplicam-se no hospedeiro após vacinação. A massa antigênica na vacina viva é
pequena, porém é aumentada milhares de vezes seguinte ao crescimento do organismo no corpo, se
existirem condições favoráveis para esse crescimento.

Outras vacinas são usadas em alguns países. Elas incluem a vacina polissacarídica contra meningococo
e a vacina contra encefalite japonesa.

Estabilidade das vacinas do PAI


Em muitas situações, as vacinas não são armazenadas e transportadas de forma adequada, e resulta
em discussões freqüentes sobre o que fazer com estoques de vacinas que foram expostos a
temperaturas elevadas por vários períodos. Infelizmente, não existe método direto e de baixo preço que
possa ser usado no campo para avaliar se a vacina que foi exposta a temperaturas ambiente retém pelo
menos a potência mínima exigida. Isto pode ser determinado apenas em ensaios laboratóriais de alto
custo, os resultados freqüentemente demoram vários meses. Esses testes são apenas justificados
quando um alto número de doses (10.000 ou mais) foi exposto a temperaturas elevadas. As instruções
específicas sobre quando solicitar testes de potência para vacinas expostas ao calor e como enviar as
vacinas para esses testes estão contidas no módulo de treinamento do PAI intitulado “Administração da
Rede de Frio” (Documento WHO/EPI/MLM/91.4).

Tabela 1. Dados básicos sobre as vacinas do PAI listada pela ordem de estabilidade ao calor

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a a tê tida F Ad Con Modo Esta
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mi ate cloreto de
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ite ad 100.000 ou
os sacarose
Tipo 3: mínimo de
trê
600.00 TCID50
s
tipo
s
*IU = Unidades internacionais de potência determinada em teste animal.

**Lf = Valor de floculação, a quantidade de toxóide que quando misturada a uma unidade
internacional de antitoxina produz uma mistura de floculação ideal.

*** Em alguns países, são usadas injeções subcutâneas profundas.

****TCID50 = Cultura de tecido 50% infectante; a quantidade de uma suspensão de vírus que
infectará 50% de culturas celulares.

PFU = Unidades em forma de placas; a quantidade menor de uma suspensão de vírus que
produzirá uma placa em cultura celular em reprodução única.

Traduzido por: Edson Alves de Moura Filho


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e-mail: edson.moura@saude.gov.br

Já existem indicadores (monitores) térmicos individuais de frascos. Esses indicadores, colocados em


frascos individuais de vacinas, mudam de cor quando expostos a uma determinada temperatura por um
dado período de tempo. A mudança de cor irá mostrar aos trabalhadores da saúde que um determinado
frasco ou ampola foi exposto a temperatura elevada potencialmente danosa.

As informações sobre a estabilidade da vacina e especialmente sobre o percentual de perda de potência


sob uma dada temperatura, pode ser de utilidade na decisão se a vacina deve ser usada, enviada para
teste, ou destruída.

Os dados sobre a estabilidade das vacinas foram revistos recentemente (Galazka, 1989). A Tabela 2
mostra, de forma resumida, os dados de estabilidade para as vacinas do PAI em várias temperaturas de
armazenamento. A estabilidade das vacinas do PAI varia consideravelmente. Baseado na resposta ao
armazenamento a 37ºC elas podem variar de vacinas com estabilidade relativamente alta (toxóide diftérico
e tetânico e vacina contra hepatite B), àquelas com estabilidade relativamente baixa (OPV, vacina BCG
reconstituída, vacina contra o sarampo reconstituída e vacina contra febre amarela reconstituída).
Trabalhos estão em andamento para melhorar a estabilidade da OPV. As vacinas apresentadas na forma
seca-congelada têm estabilidade alta ou moderada, porém após a reconstituição essas vacinas não são
estáveis. Algumas vacinas, como o toxóide tetânico ou vacina contra hepatite B, podem resistir por
períodos longos de exposição sem perda significante da potência. Essa característica poderá ser
importante no futuro para o uso dessas vacinas em sistemas extra-muros para imunizar crianças ou
mulheres em áreas onde a rede de frio não possa ser mantida. Estão em planejamento estudos para
examinar o possível uso da vacina contra hepatite B e toxóide tetânico sem refrigeração em situações
especiais.

Cada exposição de uma vacina a uma temperatura elevada resulta em alguma degradação, mesmo se a
potência residual ainda exceder àquela considerada como a potência mínima para imunização. Além do
mais, cada exposição a temperatura ambiente tem um efeito cumulativo na redução da potência da vacina.
As recomendações atuais são de que todas as vacinas do PAI devem ser armazenadas rotineiramente em
temperaturas recomendadas pelos fabricantes e o PAI nacional.

Uso das vacinas do PAI

O princípio básico de orientação para uso das vacinas do PAI é que a proteção contra as doenças do PAI
devem ser alcançadas antes do momento em que as crianças estejam sob risco para essas doenças. Para
os países onde a coqueluche, poliomielite e sarampo representam graves problemas de saúde em crianças
jovens, o PAI recomenda o esquema vacinal contido na Tabela 3.

Em países onde o tétano neonatal é uma importante causa de mortalidade infantil, a imunização de
mulheres em idade fértil, e mulheres especificamente gestantes, é recomendada.

As razões para o início da imunização em uma determinada idade, o número de doses e intervalos entre
essas doses no calendário recomendado podem ser encontradas nos módulos específicos para cada
doença desta série. Nesses módulos também podem ser encontradas discussões sobre esquemas
alternativos de imunização.

Traduzido por: Edson Alves de Moura Filho


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Tabela 2. Estabilidade das vacinas do


PAI em várias temperaturas (Galazka,
1989).
V Estabilid
a ade em
c diferente
i s
n temperat
a uras de
armazen
amento

0 22ºC a 35º Aci


º 25ºC Ca ma
C 37º de
a C 37º
8 C
º
C

Toxóides 3a7 Vários meses Cerca de 6 2 semanas


diftérico e anos semanas a 45ºC;
tetânico
perda de

potência
após
poucas
horas em
60ºC a
65ºC

18 a 24 Variável; Variável. Cerca de


Vacina contra meses, algumas Algumas 10% de
pertussis embora vacinas vacinas perda de
com permanecem com 50% potência
pequen estáveis por de perda de por dia a
a 2 potência 45º C;
diminui após uma perda de
ção semanas semana potência
contínu rápida a
a da 50ºC
potênci
a
Instável;
Vacina BCG 1 ano Variável; 20% Variável; 50%
seca a 30% 20% de de
congelada perda de perda
de perda de potência de
após 3 a 14 potência
potência após
dias após 30
3 meses minutos a
70ºC

Vacina A vacina BCG reconstituída não deve ser usada durante


BCG mais que uma sessão de trabalho. Esta recomendação é
baseada no conceito sobre o risco de contaminação
reconstituída (considerando que a vacina BCG não contém agentes

bacteriostático) e conceitos sobre a perda de potência.

Retém Retém
Vacina contra o 2 anos potência potência 50% de
sarampo seca satisfatória perda de
congelada por 1 mês satisfatória potência
por no
após 2
mínimo 1
semana
a 3 dias a
41ºC; 80 %
de perda
de potência
após 1 dia
a 54ºC

Instável. 50% Muito


Vacina contra o Instável; de perda de instável; os Inativação
sarampo deve dentro de 1
potência títulos
reconstituída ser usa hora a
em uma após 1 hora, podem temperatur
sessão 70% de estar abaixo as
de do nível superiores
trabalho perda após 3 aceitável a 37ºC
horas após 2 a 7
horas
Instável; 50% Muito Muito
Vacina oral contra 6 a 12 de perda de instável. instável a
pólio meses potência Perda de 41ºC. 5-%
após 20 dias; títulos de perda
algumas satisfatórios de
vacinas após 1 a 3 potência
podem reter dias após um
títulos dia, perda
satisfatórios de
potência
por 1 a 2 completa
semanas após 1 a 3
horas a
50ºC

Traduzido por: Edson Alves de Moura Filho


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e-mail: edson.moura@saude.gov.br

Os resultados de estudos disponíveis indicam os benefícios do uso simultâneo de algumas vacinas (ou
seja, administradas simultaneamente em diferentes locais) ou o uso de vacinas combinadas (ou seja, a
mistura preparada durante a fabricação como as vacinas trivalente OPV e DTP). A administração de
várias vacinas simultaneamente simplifica a imunização de rotina infantil e reduz o número de visitas
com a finalidade de vacinação. Todas as vacinas do PAI podem ser administradas simultaneamente
(Galazka, 1991) e é prática comum se administrar vacina DTP e OPV na mesma visita. A vacina BCG é
compatível com a vacina DTP, vacina contra o sarampo e OPV.

A vacina contra hepatite B (HB) é compatível com as vacinas infantis e é usada em vários programas
integrados de imunização, simultaneamente com outras vacinas do PAI. Os esquemas vacinais devem
ser destinados a fornecer a primeira dose de vacina HB o mais cedo possível, consistente com a
epidemiologia da doença e dentro da capacidade do sistema de liberação da vacina. A série primária é
composta por 3 doses. Onde a transmissão perinatal do HBV for comum, a primeira dose deve ser
administrada logo ao nascer se possível, a segunda dentro de dois meses e a terceira dentro do
primeiro ano (Tabela 3, Esquema A). Se a transmissão precoce não for problema, a primeira dose de
vacina HB pode ser administrada em seis semanas (ou mais tarde) com a primeira dose de vacina DTP
e as demais doses da vacina HB podem ser administradas simultaneamente com cada dose de vacina
DTP ou vacina contra o sarampo (Tabela 3, Esquema B). Em qualquer caso, a segunda e terceira doses
de vacina HB deve ser aprazada para coincidir com visitas necessárias para outras imunizações infantis.

O PAI recomenda que os países sob risco para febre amarela devem incorporar a vacina contra essa
doença nas atividades de rotina do programa nacional de imunização. A vacina contra febre amarela
pode ser administrada aos 6 meses de idade ou com a vacina contra o sarampo aos 9 meses de idade.
A maioria dos países africanos que incorporaram a vacina contra febre amarela no PAI, faz sua
administração aos 9 meses de idade na mesma visita para a vacinação contra o sarampo.

A mistura de vacinas em uma seringa antes da aplicação (por exemplo usando vacina DTP como
diluente para a vacina contra o sarampo) não é recomendado devido que a presença de preservativos
ou estabilizantes em uma vacina pode interferir com a ação da outra vacina (Galazka, 1991).

A primeira prioridade dos programas de imunização de rotina é assegurar que todas as crianças sejam
completamente imunizados contra as doenças alvos, com imunização primária adequada na idade mais
jovem possível. Os programas de imunizações, considerando os esquemas vacinais que incluem doses
adicionais de vacinas, devem avaliar os padrões epidemiológicos das doenças alvos em seus países.
Os recursos adicionais exigidos e qualquer impacto potencial negativo na manutenção da alta cobertura
vacinal infantil devem ser considerados primeiramente para implementação desses esquemas.

3. Tipos de Imunidade

Os mecanismos de defesa do corpo humano são complexo. Apesar dos constantes desafios
microbianos do meio ambiente, o organismo humano se previne de infecções através de inúmeros
mecanismos específicos e inespecíficos, isoladamente ou juntos.

Mecanismos de defesa inespecíficos

Os mecanismos de defesa inespecíficos estão presente em todos os indivíduos normais. Eles são
eficazes ao nascimento e funcionam sem exigir exposição anterior a um microorganismo ou a seus
antígenos. Eles incluem barreiras físicas (p. ex., pele íntegra e membranas mucosas íntegras), barreiras
químicas (p. ex., ácido gástrico, enzimas digestivos, ácidos gordurosos bacteriostáticos da pele), células
fagocíticas e o sistema de complemento. O sistema de complemento contém vários enzimas e consiste
de pelo menos 19 proteínas sangüíneas. O complemento desempenha o papel principal na iniciação da
resposta inflamatória, ajustando os complexos imunológicos, modulando a produção de
imunoglobulinas, opsonizando os micróbios patógenos, e matando determinadas bactérias
gram-negativas.

Imunidade Específica
Ao contrário dos mecanismos de defesa inespecíficos, o sistema de defesa imunológico específico não
são completamente eficazes quando o indivíduo nasce e requer certo tempo para desenvolver-se após
exposição ao agente infectante ou seus antígenos. A imunidade específica pode ser adquirida
naturalmente por infecção ou artificialmente pela imunização.

Tabela 3. O calendário de imunização recomendado pelo PAI.

Vacina contra hepatite B (HB)


Idade Vacinas

Esquema A Esquema B

Ao nascer BCG, OPV0* HB1

6 semanas DTP1, OPV1 HB2 HB1

10 semanas DTP2, OPV2 HB2

14 semanas DTP3, OPV3 HB3

Sarampo,
9 meses febre HB3
amarela **

Mulheres em TT1 – o mais breve possível na gestação ou nos anos de


idade fértil, idade fértil
e

especialmente
as TT2 – no mínimo 4 semanas após TT1
gestantes
TT3 – no mínimo 6 meses após TT2

TT4 e TT5 – no mínimo um ano após a dose anterior de


TT

* OPV ao nascer (OPV0) é recomendada em países não existe o controle da


poliomielite.

** A vacina da febre amarela é recomendada em países sob risco para a doença.

A imunidade específica é dividida em componentes mediados por anticorpos e mediados por célula. As
reações efetuadas pelos anticorpos são denominadas reações imunológicas humorais. O indicador mais
conveniente de imunidade é o anticorpo, como os anticorpos são os mais conhecidos dos muitos
produtos do sistema imunológico. A imunidade mediada pelos anticorpos são relacionadas aos linfócitos
B (ou células B), e seus descendentes diretos, conhecidos como células do plasma. As células do
plasma produzem imunoglobulinas (anticorpos) quando uma célula B encontra um antígeno,
reconhecido pelo antígeno expresso no antígeno de superfície, a célula B é estimulada a se proliferar.
Isto leva a expansão do número de linfócitos capazes de secretar anticorpos a este antígeno. A
replicação e diferenciação das células B nas células plasmáticas é regulada pelo contato com antígeno
e pelas interações com células T, macrófagos e complementos.

Os linfócitos B se desenvolvem no fígado fetal e subseqüentemente na medula óssea. O nome célula


“B” é originário da bursa de Fabricius, um órgão especializado nos pássaros que atua como local de
desenvolvimento das células B. Os mamíferos não possuem este órgão. Aproximadamente 10% dos
linfócitos sangüíneos são células B; a maioria das células e aproximadamente todas as células
plasmáticas residem nos órgãos linfóides periféricos, p. ex.: o baço, gânglios linfáticos, amígdalas e
apêndice.

Figura 2. Mecanismos de defesa do corpo


A imunidade mediada por célula é conferida pelos linfócitos T e produzida por linfócitos e macrófagos.
Este tipo de imunidade envolve a função dos linfócitos T (células T) de vários tipos e seus produtos
solúveis, linfocinas (interleucinas), que atuam como sinais para comunicação entre os diferentes tipos
de células envolvidas na resposta imunológica.

Estes dois componentes de imunidade específica estão intimamente relacionados entre si. As células T
interagem com as células B na produção de anticorpo contra a maioria dos antígenos. Os anticorpos
específicos e CMI são induzidas em todas as infecções, porém a magnitude e qualidade desses dois
componentes varia nas diferentes infecções.

4. Imunidade Mediada por Anticorpo

Imunoglobulinas

Classes de Imunoglobulinas
Os anticorpos compreendem uma família de proteínas globulares denominadas imunoglobulinas (Ig).
Cinco classes diferentes de imunoglobulinas estão identificadas

(IgG, IgM, IgA, IgD e IgE), baseado nas diferenças estruturais na composição de suas cadeias pesadas.

Algumas das classes de imunoglobulinas contêm subclasses. Por exemplo, a IgG tem 4 subclasses:
IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4 que mostram diferenças em suas cadeias pesadas. Cada subclasse de IgG
tem propriedades fisioquímica e biológica diferentes. Por exemplo, a IgG3 tem uma vida média no
sangue muito mais curta que a IgG1, IgG2 ou IgG4. A IgG1 e a IgG3 ativam o complemento, enquanto a
IgG4 não é capaz disso. As respostas de anticorpo a maioria dos antígenos protéicos são encontrados
primariamente na subclasse IgG1, embora quantidades significativas de anticorpos antivirais ocorrem na
IgG3 também. Pequenas quantidades de anticorpos antiproteicos também ocorrem na IgG4.

Existem duas subclasses de IgA: IgA1 é a forma predominante no sangue (90% do total); IgA2 e a
forma predominante nas secreções (60% do total).

As imunoglobulinas mais abundantes são IgG, IgM, e IgA. Os anticorpos IgE representam um papel
principal nas reações alérgicas e a participação dos anticorpos IgD ainda não está completamente
esclarecido.

Estrutura básica das imunoglobulinas

Cada classe Ig tem uma unidade estrutural básica similar consistindo de duas cadeias peptídicas mais
longas, conhecidas como cadeias “pesadas” ou H, ligadas por pontes dissulfídicas a duas cadeias
peptídicas mais curtas, conhecidas como cadeias “leves” ou L (Figura 3). As cadeias pesadas são de
cinco tipos principais (g, m, a, d e e) que determinam a classe de anticorpo. As cadeias leves são de
dois tipos principais (k e l).

A IgG é um monômero com quatro cadeias. A IgM é um pentâmero composto de cinco unidades
básicas mais uma cadeia adicional, a J ou cadeia de junção. Concordantemente, o peso molecular da
IgM é cerca de 6 vezes mais que o peso da IgG. A IgA existe sob duas formas, uma no sangue e outra
nas secreções. A IgA do sangue é um monômero, com uma única unidade básica. A IgA secretória
(sIgA) é dimérica, composta de duas unidades, mais a cadeia J e um componente secretório (Figura 3).

As imunoglobulinas podem ser divididas em fragmentos ativos por digestão enzimática. O fragmento
principal, F(ab’)2, é a “cabeça” de uma estrutura em forma de Y e é composto por dois subfragmentos,
Fab. O termo Fab é usado devido ser este fragmento que se une ao antígeno. Cada fragmento Fab tem
um local de união, de forma que existem dois locais de ligação na molécula IgG. A IgM tem dez locais
de união (2 x 5). O fragmento Fc (a “perna” da estrutura em Y) não possui locais reativos ao antígeno,
porém dá a molécula determinada atividades biológicas, incluindo a habilidade de ativar o complemento
e se combinar com receptores e macrófagos. Estas propriedades são importante para a atividade
opsônica. Os microorganismos invasores são envolvidos por anticorpos específicos, opsoninas, as
quais tornam os microorganismos mais fáceis de ataque pelos macrófagos. Os macrófagos tragam os
microorganismos envolvidos pelo anticorpo através do processo de fagocitose. O fragmento Fc é
também responsável pelo transporte da IgG através da placenta.

Figura 3. Modelos estruturais de IgG, sIgA e IgM

Funções das imunoglobulinas

A função principal das imunoglobulinas é servir como anticorpos. Isto é executado pela porção de
ligação da molécula do antígeno (Fab).

O tamanho da molécula de imunoglobulina é um dos fatores determinantes de sua distribuição tissular.


A IgG é a principal imunoglobulina na circulação sangüínea e representa cerca de 80% da
imunoglobulina total circulante. A IgG está também presente nos espaços tissulares. Passa facilmente
pela placenta (Tabela 4). A IgG é responsável pela neutralização de vírus e toxinas bacterianas,
facilitando a fagocitose e lisando (destruindo) as bactérias.

A IgM, a maior imunoglobulina, está confinada principalmente na corrente sangüínea e é menos capaz
de passar através das paredes capilares. A IgM não atravessa a barreira placentária. Com seu local de
combinação com o antígeno de valência 10, a IgM tem uma alta afinidade, ou seja, uma grande
habilidade em unir-se firmemente com antígeno. A IgM é particularmente eficaz nas lises de
microorganismos mediadas por complemento.

A IgA é a segunda imunoglobulina mais abundante no sangue. A IgA é a imunoglobulina predominante


nas secreções dos tratos gastrointestinal e respiratório, como também no colostro e leite humanos. A
IgA promove imunidade mucosa local contra vírus e limita o crescimento bacteriano nas superfícies
mucosas. A IgA também funciona no trato gastrointestinal e mostra uma resistência maior a enzimas
proteolítica que outras classes de anticorpos.

Tabela 4. Propriedades das imunoglobulinas.

Propriedade IgG IgM IgA*

Peso molecular 150.000 900.000 385.000


(170.000)

Vida média em 25 5 (6)


dias

Concentração
no sangue 1.000 100 (250)
adulto, mg/dl

% de Igs totais 80 6 (130)

Proporção no
sangue (%) 50 a 60 90 0

Proporção no
fluido extracelulas 40 50 <10 0
(%)

Proporção
nas 0 0 100
secreções (5)
Fixação ++ ++++ 0
de

complemento

Atividade ++++ + 0
opsônica

Atividade lítica ++ ++++ 0

Neutralização +++ ++ +++


viral

Transferência ao Via placenta Não se transfere Via colostro/leite


feto

*dados para IgA secretória; dados para IgA sangüínea entre parênteses.

Transferência transplacentária das imunoglobulinas

A IgG materna (porém não a IgM ou IgA) é transportada através da placenta a partir da 16ª semana.
Isto reflete o transporte passivo, o qual aumenta progressivamente com a gestação e é proporcional a
concentração de IgG materna. Também reflete o transporte ativo, o qual tende a normalizar a
concentração IgG neonatal, sugerindo que valores maternos baixos estimulam e que altos valores
maternos inibem o transporte. Em termos completos, os níveis de IgG no cordão umbilical podem ser
iguais, ou mesmo mais altos que os níveis maternos. Os recém-nascidos prematuros têm níveis de IgG
mais baixos que os à termo. Os anticorpos IgG passivamente adquiridos são responsáveis pela
proteção dos recém- nascidos e crianças menores contra doenças virais e bacterianas.

A transferência de anticorpos IgG da mãe para o feto através da placenta fornece uma porção da
experiência imunológica materna para o recém-nascido. Esta experiência é diferentes em áreas onde os
agentes infecciosos circulam em níveis altos na população e os adultos são imunes naturalmente,
comparada com áreas onde a circulação de agentes infecciosos é limitada e os adultos têm baixos
níveis de imunidade. Em países em desenvolvimento, a transferência passiva ocorre para anticorpos
para a difteria, sarampo, pólio e rubéola. Também os anticorpos para o tétano induzidos através da
imunização materna pelo toxóide tetânico atravessa facilmente a barreira placentária, promovendo
proteção contra o tétano para o recém-nascido. Nos países desenvolvidos, onde as mulheres em idade
fértil podem ter baixos níveis de anticorpos para pólio e difteria, a transferência desses anticorpos não
são do tipo IgG, como é normalmente o caso de patógenos gram-negativos, como a Escherichia coli e
Salmonella, o feto não recebe anticorpos da mãe e o neonato não é passivamente protegido contra
essas infecções.

Desenvolvimento normal das imunoglubulinas sangüíneas

A síntese da imunoglobulina começa antes do nascimento. A IgM tem se mostrado presente na 10ª
semana, a IgG na 12ª semana e a IgA na 30ª semana de gestação. A maior parte dos anticorpos
sintetizados pelo feto é IgM. Não obstante, o feto cresce em meio estéril e a produção de
imunoglobulinas pela feto saudável é extremamente limitado até o nascimento. Em alguns fetos a
síntese de imunoglobulina pode ser retardada ou pode não ocorrer.

Figura 4. O desenvolvimento normal dos níveis de imunoglobulina sangüínea

No primeiro ano de vida os níveis de imunoglobulina aumentam rapidamente sob a influência das
provocações antigênicas do meio ambiente (infecções) e através do contato com antígenos de vacinas
(Figura 4). A um ano de idade, os valores das concentrações de IgG, IgM e IgA são aproximadamente
60%, 100% e 30%, respectivamente, daqueles nos adultos.

O recém-nascido é capaz de responder a inúmeros antígenos, porém em nível mais reduzido que o
adulto. Existe pouca ou não resposta a antígenos polissacarídicos. A ineficiência relativa da resposta
imunológica humoral do feto e recém-nascido reflete a imaturidade na produção de anticorpos pelas
células B e células plasmáticas e baixa cooperação células T-células B.

Os anticorpos passivamente transferidos, especialmente em altos níveis, podem suprimir


transientemente a resposta do lactente a antígenos específicos. Este fenômeno tem influenciado o
calendário para algumas imunizações. A imunização contra o sarampo, por exemplo, é adiada até 9
meses de idade quando os anticorpos transferidos através da placenta têm caído a baixas
concentrações. Um alto nível de anticorpos para a difteria, tétano e coqueluche, passivamente
adquiridos, podem inibir a resposta a todos os componentes da vacina DTP durante as primeiras
semanas de vida. Esta é a razão para o retardo da administração da primeira dose da vacina DTP até a
6ª semana de idade. Este efeito inibitório é transiente e diminui seguinte as doses subsequentes de
vacina DTP.

Os recém-nascidos prematuros e crianças menores para a idade gestacional respondem a imunização


tão bem como os recém-nascidos à termo de uma idade pós-natal similar.

Mensuração da atividade dos anticorpos – ensaio sorológico

Quando são de utilidade os estudos sorológicos?

Considerando que é mais fácil estimular a imunidade pela mensuração dos anticorpos circulantes,
existe uma tendência para a identificação de anticorpos com imunidade. Entretanto, o nível de
anticorpos não reflete a imunidade total do corpo (Ipsen, 1961). A presença de anticorpos sangüíneos
nem sempre significa que existe imunidade, porém indica que o indivíduo teve contato prévio com o
microorganismo. Além disso, para a maioria das doenças do PAI o nível de anticorpos considerado
protetor é definido de forma arbitrária ou é baseado em modelos artificiais de laboratório. O nível de
proteção depende não apenas da quantidade de anticorpo analisado, porém também da afinidade dos
anticorpos (ver seção 4.3.3), suas classes e subclasses e suas capacidades de fixação de complemento
– propriedades não mensuradas em testes de rotina. A concentração de anticorpos que existe em um
indivíduo não reflete o grau de aceleração por uma resposta de reforço após exposição subsequente ao
microrganismo.

Finalmente, as técnicas sorológicas disponíveis atualmente não podem distinguir entre anticorpos
induzidos pelo contato com microorganismos circulantes ou suas toxinas (imunidade natural) e
anticorpos induzidos por imunização. Todos esses fatores levam a um valor limitado dos métodos
sorológicos no monitoramento rotineiro dos programas de imunizações em países em desenvolvimento.
Outras ferramentas, como os inquéritos de cobertura vacinal, ou técnicas diferentes de vigilância para
as doenças alvos, podem ser de mais utilidade para esta finalidade.
Por outro lado, as técnicas sorológicas podem ser muito úteis para fornecer respostas para definir
claramente as questões sobre epidemiologia das doenças alvos ou a eficácia dos programas de
imunizações. Elas têm sido usadas com sucesso para a avaliação de soroconversão seguinte a
administração de várias vacinas contra o sarampo em diferentes grupos etários, para determinar os
títulos de anticorpos seguintes a diferentes vacinas e calendários de imunização contra poliomielite e
tétano. Para avaliar o estado de imunidade contra difteria em vários grupos etários em áreas onde a
circulação do Corinebacterium diphtheriae é reduzida, para avaliar a taxa de declínio de anticorpos
passivamente adquiridos e para avaliar a duração da imunidade induzida por vacina contra as diferentes
doenças alvo.

Métodos para mensurar os anticorpos antivirais

Os anticorpos antivirais podem ser mensurados por teste de neutralização ou cultura tissular, o teste de
inibição da hemaglutinação (HI) e o ensaio imunoabsorvente de ligação enzimática (ELISA).

A base do teste de neutralização é a propriedade dos vírus em se propagarem e para produzirem


mudanças morfológicas degenerativas (efeitos citopáticos) na cultura célula suscetível. Se o anticorpo
estiver presente na amostra, o vírus será neutralizado e devolvido inativo e não produzirá efeito
citopático. Embora a neutralização do anticorpo seja o mais importante para a resolução da infecção e o
estabelecimento da imunidade, os testes de neutralização não são realizados rotineiramente porque são
dispendiosos e demorados.

Alguns vírus têm propriedade de hemaglutinação, ou seja, o vírus tem a habilidade de se ligar aos
eritrócitos e formar um entrelaçamento de eritrócitos hemaglutinados no final de um tubo ou
reservatório. O bloqueamento seletivo de hemadsorção por anticorpos é a base do teste de inibição de
hemaglutinação comumente usado.

No teste de ELISA indireto, o anticorpo na solução teste é permitido reagir e formar um complexo com o
antígeno, um antígeno específico a um vírus ou a um vírus o qual é passivamente absorvido a uma
superfície de poliestireno microporosa ou manto plástico. Um anticorpo denominado enzima contra
anticorpo humano envolto (normalmente anti- IgG) é então unido ao completo antígeno-anticorpo. O
entendimento de classificação da fase sólida mostra a quantidade de anticorpo na amostra teste e pode
ser mensurada pelo grau de degradação do substrato enzimático apropriado. Normalmente, o substrato
é escolhido de forma que o resultado final seja uma mudança de cor que pode ser avaliada visualmente
ou fotometricamente.

Métodos par mensurar anticorpos antibacterianos

Os anticorpos antibacterianos são determinados por dois grupos principais de testes: teste de
neutralização in vivo e técnicas in vitro.
As propriedades diferentes de toxinas bacterianas são utilizadas para os testes de neutralização in vivo.
A propriedade dermonecrótica da toxina diftérica é usada para demonstrar a presença de anticorpo
neutralizante para a difteria na pele de porcos da guiné ou coelho. Uma alternativa é o teste Schick em
pele humana. A toxina tetânica não tem efeito dermonecrótico e a proporção de ratos que sobrevivem
após a injeção de um preparado de toxina e amostra testes é usada para mensurar os anticorpos
neutralizantes.

Os testes de neutralização in vivo são sensitivos e mostram a capacidade funcional dos anticorpos – a
neutralização de toxinas – e não apenas uma ração relevante e não relevante entre os sistema
antígeno-anticorpo, como ocorre com os testes in vitro. Entretanto, os testes in vivo são laboriosos,
dispendiosos, requerem pessoal bem treinado, utilizam um grande número de animais caros e
necessitam de uma quantidade relativamente alta de sangue para a determinação de baixas
concentrações de anticorpos.

Os anticorpos neutralizantes da difteria também podem ser testados in vitro em culturas microcelulares.
Os anticorpos neutralizantes da toxina pertusssis podem ser mensurados em cultura em microplacas de
células ovarianas de hamster chinês.

Muitos outros testes in vitro são usados para mensurar anticorpos antibacterianos. Os mais comuns são:
hemaglutinação passiva (HÁ) e ELISA para anticorpos para a difteria, tétano e pertussis; e aglutinação
bacteriana para aglutininas pertusssis. Em geral, esses testes são simples, sensíveis, rápidos (por
exemplo, os resultados de um teste HÁ para tétano pode ser conhecido após uma hora), e de baixo
custo. Entretanto, os testes in vitro são menos específicos que os testes de neutralização in vivo, os
quais são mais sensíveis na detecção de anticorpos IgM que IgG, particularmente nos períodos
precoces da resposta primária a imunização ou infecção. Por conseguinte, os resultados de técnicas in
vitro devem ser bem interpretadas cuidadosamente e verificados contra testes de neutralização in vivo.

Os detalhes de técnicas em particular podem ser encontradas nos módulos relevantes para as doenças
específicas.

Resposta imunológica

Resposta específica por classe

A imunização e infecção natural induzem a produção de anticorpos das classes IgG, IgM e IgA. Durante
a infecção aguda o anticorpo IgM normalmente aparece dentro dos primeiros dias após o início dos
sintomas e alcança seu pico de concentração em torno de 7 a 10 dias. A IgM gradualmente declina para
níveis não detectáveis durante os próximos meses com resolução da infecção. Então, a presença de
anticorpo IgM no sangue indica uma infecção atual ou recente, embora existam exceções para esta
regra.
Na infecção natural ou após a imunização, o anticorpo IgG sangüíneo aparece simultaneamente com a
IgM, ou dentro de um ou dois dias após. A IgG aumenta sua concentração rapidamente depois disso
(Figura 5). O anticorpo IgG normalmente persiste por anos em níveis baixos, os quais são detectáveis
com testes adequados de sensibilidade suficiente. Diante de uma reinfecção ou revacinação, ocorre
uma resposta de reforço (seção 4.3.2).

A via de imunização ou infecção determina se a resposta de anticorpo IgA será principalmente sistêmica
ou mucosa. Com injeção de vacina por via parenteral ou infecções por microrganismos que replicam e
se disseminam aos órgãos internos e ao sistema circulatório ocorre uma resposta de anticorpo IgA
sistêmica. A resposta de anticorpo IgA circulante varia no início, nível e duração e é menos
prognosticável que as respostas de anticorpo IgM e IgG.

Resposta imunológica primária verso secundária

Na primeira introdução de um antígeno no corpo, a resposta de anticorpo leva 10 dias para se


desenvolver. Esse período é denominado tempo de retardo, ou fase de retardo. As células linfóides
encontram o antígeno, dividem-se rapidamente para formar um clone de células com reatividade similar,
diferenciam-se e iniciam a síntese de anticorpo. Os níveis de anticorpos se elevam abruptamente,
alcançam um platô e então declinam.

A resposta de anticorpo seguinte ao primeiro (primário) encontro com o antígeno difere do contato
seguinte (secundário). A resposta primária tem uma fase de retardo maior, alcança um platô mais baixo
e declina mais rapidamente que a resposta secundária. Uma proporção de pessoas imunizadas com
uma vacina morta (toxóide tetânico, por exemplo) será “preparada”, porém não mostrará uma resposta
de anticorpo. Diante de re-exposição ao antígeno, ocorre uma resposta acelerada com um período de
retardo mais curto, um platô mais alto e níveis de anticorpos persistentes.

O principal componente da resposta imunológica primária é a IgM, enquanto que a IgG é a principal
classe de imunoglubulina representada na resposta imunológica secundária. A diferença entre a
resposta primária e secundária é mais marcante quando o antígeno estimula os linfócitos B e linfócitos T
(antígenos T-dependentes).

Uma denominada “fase negativa”, com um declínio transiente nos níveis de anticorpos por um curto
período após um estímulo secundário, tem sido observado. São necessárias mais pesquisas para
determinar a importância e magnitude desse fenômeno. Seguinte a uma
dose de reforço de toxóide tetânico, um estudo não mostrou mudança no nível de antitoxina tetânica;
entretanto, a resistência a toxina tetânica iniciou imediatamente (Ipsen 1961). Isto pode estar
relacionado a um aumento na atividade da antitoxina produzida (seção 4.3.3).

Figura 5. Surgimento temporal de classes diferentes de anticorpos seguintes a imunização primária com
vacina oral viva contra poliomielite

Maturação da resposta imunológica – atividade de anticorpos

A resposta imunológica é caracterizada não apenas pela quantidade de anticorpos produzidos, porém
também pela qualidade do anticorpo. Uma das medidas de qualidade é a força da união entre um local
de combinação simples do antígeno do anticorpo e um determinante antigênico do antígeno. Esta
propriedade é denominada afinidade do anticorpo e a soma de todas as forças das ligações é
denominada avidez do anticorpo. A avidez do anticorpo amadurece durante a resposta imunológica. Os
linfócitos B produtores de alta afinidade de anticorpos são mais prováveis de serem provocados na nova
disputa, de forma que a média de produção de afinidade do anticorpo aumenta seguinte a exposição
subsequente ao antígeno. O anticorpo de alta afinidade com grande capacidade de produção é muito
mais eficaz na neutralização de viroses ou toxinas bacterianas que os anticorpos de baixa afinidade.

5. Imunidade Mediada por Célula

A natureza da imunidade mediada por célula

Em muitas infecções a resposta imunológica do hospedeiro inclui não apenas a síntese de anticorpos
contra vários determinantes antigênicos, porém também o desenvolvimento de imunidade mediada por
célula a alguns dos componentes do microorganismo. O termo imunidade mediada por célula é uma
designação genérica para as respostas imunológicas que podem ser transferidas a um receptor não
imunizado pelas células linfóides, porém não por anticorpo.

5.2. O linfócito T – uma célula chave na resposta imunológica

A imunidade mediada por célula é mediada por uma subclasse de linfócitos denominados linfócitos T, ou
células T. Essas células circulam na corrente sangüínea e vasos linfáticos e também migram através do
espaço intracelular. Os linfócitos T imunologicamente reativos controlam as respostas imunológicas;
cada resposta imunológica é controlada por diferentes linfócitos. As células T mediam três principais
funções: auxílio, supressão e citotoxicidade. Os linfócitos T denominados células auxiliadoras estimulam
a resposta imunológica de outras células (ou seja, as células T estimulam as células B para produzirem
anticorpos). A função das auxiliadoras são mediadas primariamente por um subconjunto de auxiliadores
que expressam o antígeno de superfície CD4.

Outros linfócitos T, denominados células supressoras, desempenham um papel inibitório e controlam o


nível e qualidade da resposta imunológica. Uma outra função das células T é reconhecer e destruir
células infectadas e ativar os fagócitos para destruírem os agentes patógenos que surgirem. As funções
de supressão e citotoxicidade são mediadas primariamente pelas células T que expressam antígeno de
superfície CD8.

Sinais entre as células do sistema imunológico – linfocinas


Quando um linfócito T encontra um antígeno estranho, ele se une ao antígeno ou células contendo
antígeno. As células T ativadas por antígeno respondem secretando linfocinas, proteínas que atuam
como sinais moleculares para comunicação entre as células do sistema imunológico (interação célula B
– célula T) e como mediadores sistêmicos da resposta do hospedeiro a infeção. O grupo de linfocinas
inclui algumas interleucinas, células B com fatores de crescimento e diferenciação, e interferom gama.

Citocina é um termo mais geral. As citocinas incluem linfocinas produzidas por células T como também
substâncias similares produzidas por outros tipos de células, particularmente fagócitos mononucleares.
As linfocinas auxiliam as células B a produzirem anticorpos e os fagócitos atuam mais eficazmente com
os agentes patógenos.

6. Hipersensibilidade

O termo hipersensibilidade é usado quando uma resposta imunológica ocorre de uma forma exagerada
ou inadequada causando dano tissular. Quatro tipos de reação de hipersensibilidade são conhecidos; as
três primeiras são mediadas por anticorpos, a Quarta é mediada principalmente por células T e
macrófagos.

· Tipo I, ou hipersensibilidade imediata, é caracterizada por uma reação alérgica


imediatamente seguinte ao contato com o antígeno (o qual é denominado de alérgeno).
A reação de hipersensibilidade imediata é dependente do alerta específico das células
IgE sintetizadas pelo antígeno, resultando na liberação de mediadores farmacológicos
de inflamação (por exemplo, histamina). Um exemplo de hipersensibilidade imediata é a
reação ao veneno da abelha. As doença atópicas, como asma, eczema, febre do feno e
urticária, também pertencem a essa categoria.
· Tipo II, ou hipersensibilidade citotoxica anticorpo-dependente, ocorre quando o anticorpo
liga-se ao antígeno nas células e isto leva a fagocitose, atividade de células killer, ou lise
mediada por complemento. O melhor exemplo de uma reação tipo II é a resposta de um
indivíduo às células vermelhas sangüíneas em uma incompatibilidade de transfusão
sangüínea.
· Tipo III, ou hipersensibilidade mediada por complexo imunológico, se desenvolve quando
os complexos antígeno-anticorpo são formados em grandes quantidades, ou não podem
ser eliminados adequadamente pelo sistema retículo endotelial, levando a reações tipo
doença do soro. A formação de complexo imunológico crônico, com a deposição de
complexos nos tecidos, ocorre na endocardite estreptocócica e estafilocócica, malária e
infecção pelo vírus da hepatite B. As reações neurológicas seguintes a hiper-imunização
com toxóide tetânico pertencem a essa categoria e são devido a complexos
imunológicos que são formados entre os anticorpos formados e o toxóide injetado. Esses
complexos imunológicos atraem complementos e leucócitos, os quais produzem dano
vascular localizado. A doença do soro seguinte a injeção de soro heterólogo é um outro
exemplo de hipersensibilidade do tipo III.
· Tipo IV, ou hipersensibilidade do tipo retardada, se desenvolve quando o antígeno
envolto em um macrófago não pode ser eliminado. Os linfócitos T são então estimulados
a colaborar com as linfocinas, as quais mediam uma gama de respostas inflamatórias. A
hipersensibilidade tardia é vista com uma variedade de infecções virais, bacterianas, por
protozoas, fungos e helmintos. A reação de hipersensibilidade cutânea tardia a
tuberculina é uma exemplo clássico. A tuberculina é a lipoproteína obtida de
Mycobacterium tuberculosis. A fração minúscula de células T (menos que 1 em 1000)
naturalmente reativa a tuberculina prolifera para forma um clone de células reativas após
a exposição inicial (um clone é um grupo de células derivadas de uma única célula
original). Um indivíduo que foi exposto ao bacilo da tuberculose ou imunizado com BCG
tem linfócitos T que são sensibilizados a tuberculina. Quando esses indivíduos recebem
uma injeção intradérmica de tuberculina, ocorre uma reação inflamatória positiva no local
da injeção 24 horas a 48 horas após.
ARTIGO II

EMOÇÕES E SISTEMA IMUNOLÓGICO: UM OLHAR SOBRE A PSICONEUROIMUNOLOGIA

Ângela da Costa Maia1

Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, Portugal

Resumo - A concepção do sistema imunológico como sistema autónomo de funcionamento exclusivamente químico
deu lugar, especialmente a partir dos anos oitenta, a uma concepção integrada em que se reconhece que o sistema
imunológico está integrado com outros sistemas sendo sensível à regulação do sistema nervoso (Ader, 1983; Rabin,
Cohen, Ganguli, Lysle & Cunnick, 1989; Cohen & Herbert, 1996). Reconhece-se assim o papel que as diferentes áreas
do funcionamento humano, nomeadamente cognitivo e emocional, pode ter sobre a sua eficiência. Deste modo
nasceu uma disciplina designada por Psiconeuroimunologia dedicada a estudar as relações entre os stressores
psicossociais, as emoções e os sistemas neuroimunológicos que organizam a resposta adaptativa ao stress. A
hipótese base deste modelo é que os stressores psicossociais diminuem a eficiência do sistema imunológico o que
leva ao aumento de sintomas médicos. Neste trabalho abordamos esta temática, descrevendo a investigação actual
sobre as condições psicossociais e emocionais que parecem afectar a imunocompetência.

Palavras chave: psiconeuroimunologia, emoção, stress, saúde


Key words: Psychoneuroimmunology, emotion, stress, health

INTRODUÇÃO
Uma das razões para o forte interesse que a psiconeuroimunologia desperta entre os profissionais
de vários domínios advém do seu contributo para compreender porque razão os acontecimentos de vida ou
as emoções afectam a saúde. O estudo da função imunológica na relação com a experiência revelou-se
assim um campo promissor, onde têm ocorrido grandes avanços e onde se adivinham continuamente novas
descobertas.
1
Toda a correspondência relativa a este artigo deve ser enviada para Ângela da Costa Maia, Instituto de Educação e Psicologia, Departamento de
Psicologia, Campus de Gualtar, Universidade do Minho; Tel: 253 604240; Fax: 253 678987; E-mail: angelam@iep.uminho.pt

A concepção do sistema imunológico como sistema fisiológico autónomo de funcionamento


exclusivamente químico com a tarefa de reconhecer o que é e não é do próprio organismo deu lugar,
especialmente a partir dos anos oitenta, a uma visão integrada em que se reconhece que o sistema
imunológico interage com outros sistemas sendo sensível à regulação dos sistemas nervoso e endócrino
(Ader, 1983; Rabin, Cohen, Ganguli, Lysle & Cunnick, 1989).
A disciplina designada por Psiconeuroimunologia1 é o campo científico que investiga as ligações
entre o cérebro, o comportamento e o sistema imunológico, bem como as implicações que estas ligações
têm para a saúde física e a doença (Kemeny & Gruenewald, 1999). A hipótese base deste modelo é que os
stressores psicossociais diminuem a eficiência do sistema imunológico o que leva ao aumento de sintomas
médicos (risco de uma doença).
Assim, face a uma ameaça biológica com uma determinada potência, a imunocompetência, ou
seja, a capacidade do sistema imunológico proteger o corpo num determinado momento2 estará
relacionada com os factores psicossociais que afectam o sistema imunológico. Entre estes factores
contam-se os estados emocionais; o tipo e a intensidade de stress que a pessoa está a enfrentar, as
características de personalidade e a qualidade das relações sociais.
A relação entre stress e doença começou por ser estabelecida por Selye (1976) sugerindo que os
stressores crónicos contribuíam para um estado de exaustão do organismo pondo em causa o seu
equilíbrio. Assim, as respostas que envolvem as ligações entre cérebro, hormonas e sistema imunológico,
passariam, ao fim de um determinado tempo, a ter dificuldades em lidar com o stress e as manifestações
de doença ocorreriam num grau que poderia conduzir até à morte.
Um segundo momento na conceptualização dos desafios colocados pelos acontecimentos de vida
sobre a saúde física e emocional começou a ter em conta as características psicológicas e as estratégias
de confronto utilizadas pelos sujeitos para lidar com essas situações. Este desenvolvimento assume que o
impacto de uma situação no sujeito depende da avaliação que o sujeito faz dela, bem como das estratégias
que mobiliza de modo a fazer-lhe face.
Assim, enquanto alguns investigadores procuram averiguar o impacto de acontecimentos de vida na
saúde e/ou no sistema imunológico; outros tentam diferenciar o efeito dos acontecimentos de vida em
função das emoções envolvidas, do estilo cognitivo, ou das características de personalidade da pessoa.
Uma terceira abordagem sugere que o processamento dos acontecimentos de vida, especialmente
das situações traumáticas, os significados que os sujeitos constroem, ou as estratégias de coping que vão
sendo utilizadas, passam por uma série de fases sobre as quais poderá haver uma intervenção de modo a
diminuir os efeitos nefastos sobre o sistema imunológico. A psicoterapia ou outras estratégias poderão ser
concebidas como formas de intervir nesta sequência, contribuindo para acelerar o processo de lidar com o
trauma e prevenindo os potenciais efeitos nefastos sobre a saúde de uma determinada experiência.
Neste caso, é assumido que existe um processo fluído ao longo do qual os sujeitos vão elaborando os
acontecimentos de vida mais difíceis, havendo tarefas que facilitam esse trabalho.
Nos pontos que a seguir se apresentam serão descritos os estudos realizados no âmbito destas três
perspectivas.

1. ESTUDO DO IMPACTO DOS ACONTECIMENTOS DE VIDA SOBRE A SAÚDE

Os primeiros estudos sobre a ligação entre acontecimentos (positivos ou negativos) e o sistema


imunulógico utilizaram medidas muito indirectas, sem especificar os mecanismos que poderiam explicar os
efeitos de determinados acontecimentos de vida sobre a saúde ou o tempo de vida. Um exemplo deste tipo
de estudos foi realizado por Langer e Rodin (1976), que procuraram averiguar o efeito do envolvimento em
actividades com uma componente emocional e motivacional sobre a saúde de um grupo de idosos. Para
isso estes autores pediram a idosos institucionalizados em lares para tomarem conta de uma planta, tendo
verificado meses depois que, quando comparados com um grupo de controlo, estes idosos tinham menos
problemas de saúde e menor número de mortes. Assim, esta actividade simples pareceu ser suficiente para
dar sentido à vida destes idosos institucionalizados cuja possibilidade de estabelecer relações significativas
é, em geral, bastante diminuta, e este acontecimento teve um impacto positivo sobre a saúde.

Outros estudos realizados ao longo dos anos sessenta, setenta e início de oitenta estabeleceram
uma ligação entre alguns tipos de acontecimentos e saúde. Em alguns estudos clássicos foi verificado que
o ajustamento a acontecimentos de vida associado a stress prolongado, como casamento, divórcio,
problemas no emprego, morte, catástrofes naturais ou provocadas por erros humanos conduz a uma
diminuição da saúde dos protagonistas ou vítimas destes problemas (e.g. Holmes & Rahe, 1967; Kanner,
Coyne, Schaefer & Lazarus, 1981; Dohrenwend, 1982). Apesar da importância destes estudos
correlacionais, eles são omissos sobre os mecanismos que poderão estar envolvidos nestes resultados.

2. O IMPACTO DOS ACONTECIMENTO DE VIDA SOBRE A SAÚDE EM


FUNÇÃO DE FACTORES PSICOLÓGICOS
Depois do estabelecimento da relação global entre acontecimentos e problemas de saúde, muitos
estudos têm procurado analisar o impacto dos acontecimento de vida sobre a saúde em função dos
factores psicológicos.
Este modelo assume que a mudança imunológica é mediada por factores como a activação do
SNC, a resposta hormonal e a mudança comportamental, em função das características e estados
psicológicos. As ligações entre o SNC e o sistema imunológico foram identificadas (Felten, Felten, Carlson,
Olschowka, & Livnat, 1985; Felten & Olschowka, 1987), nomeadamente pela observação de que linfócitos
como as NK têm receptores para os neurotransmissores. Vários autores encontraram igualmente ligações
entre o sistema imunológico e o endócrino através do efeito de diferentes mediadores hormonais como
catecolaminas (epinefrina e norepinefrina), cortisol, prolactina, ACTH, TSH, hormona do crescimento ou
opiáceos endógenos, hormonas que estão relacionadas com a resposta ao stress (cf. Schneiderman &
Baum, 1992; Cohen, 1994; Wang, Delahanty, Dougall, & Baum, 1998). Além disso existe enervação
simpática e parasimpática dos órgãos linfóides (Felten & Olschowka, 1987). Por seu lado alguns
comportamentos que são associados a características psicológicas ou são respostas ao stress podem
influenciar o sistema imunológico: práticas de saúde más como fumar, dieta inapropriada e sono perturbado
diminuem a resposta imunológica.

Figura. 1. Relação entre acontecimento de vida, características e estados psicológicos e mudança imunológica
(Adaptado a partir de Cohen & Herbert, 1996).

Podemos dividir as investigações que analisaram a relação entre os factores psicológicos e a saúde
e/ou a eficiência imunológica em quatro grupos: os que estudaram o efeito das situações de stress (quer
em condições naturalistas, quer em laboratório); os que estudaram o efeito do afecto, nomeadamente o
humor triste e a depressão; os que estudaram o efeito das características de personalidade; e, finalmente,
os que estudaram a importância das relações interpessoais3

Estudo do efeito do stress

Estudo do efeito do stress em contexto naturalista

Janice Kiecolt-Glaser é uma das investigadoras que mais tem procurado averiguar o efeito de
variáveis psicosociais sobre o funcionamento do sistema imunológico. Os seus primeiros estudos, em
meados dos anos oitenta, procuraram observar, em contextos naturalistas, o efeito do stress durante a
época dos exames escolares sobre o funcionamento imunológico de estudantes universitários. Os
resultados sugerem que em épocas de maior stress, em comparação com épocas após férias, existe uma
diminuição da actividade dos linfócitos NK (Kiecolt-Glaser, Garner, Speicher, Penn, Holliday, & Glaser,
1984); na proliferação de linfócitos (Glaser, Kiecolt-Glaser, Stout, Tarr, Speicher, & Holliday, 1985; Glaser,
Rice, Sheridan, Fertel, Stout, Speicher, Pinsky, Kotur, Post, Beck, & Kiecolt-Glaser 1987; Glaser, Lafuse,
Bonneau, Atkinson, & Kiecolt-Glaser, 1993); e na citocidade dos linfócitos (Glaser, Rice, Speicher, Stout, &
Kiecolt-Glaser, 1986; Glaser et al., 1987). Paralelamente foi verificado que durante estas fases de stress há
um aumento na circulação de anticorpos anti herpes virus(Glaser et al., 1985; Glaser et al., 1987; Glaser,
Pearson, Jones, Hillhouse, Kennedy, Mao, & Kiecolt-Glaser 1991); bem como uma cura mais lenta de
feridas após biópsias (Kiecolt- Glaser, Page, Marucha, MacCallum, & Glaser, 1998).
Outra situação que tem mostrado estar relacionada com um aumento do stress a prestação de
cuidados a doentes crónicos, nomeadamente doentes com Alzheimer. O estudo da resposta imunológica de
familiares cuidadores destes doentes têm mostrado uma resposta diminuída do sistema imunológico,
incluindo diminuição do número de linfócitos totais e células T, menor reacção dos linfócitos NK e maior
número de anticorpos aos vírus herpes (e.g. Kiecolt-Glaser, Fisher, Ogrocki, Stout, Speicher, & Glaser,
1987; Esterling, Antoni, Fletcher, Margulies, & Schneiderman, 1994).
Para além do efeito do stress relacionado com as épocas de exames e com o cuidado de doentes,
foram igualmente avaliados os efeitos de uma variedade de acontecimentos que incluem situações tão
diversas como desastres naturais, desemprego, guerra, acidente nuclear ou conflitos conjugais. Por
exemplo McKinnon, Weiss, Reynolds, Bowles e Baum (1989) verificaram que os residentes à volta de uma
Central Nuclear em que houve uma ameaça de acidente tiveram mais doenças nos meses seguintes. As
análises sobre a função imunológica permitiram verificar uma diminuição das células B, Células T CD3,
CD4 e NK e menor produção de anticorpos em reacção à vacina de hepatite B. Por seu lado Kiecolt-Glaser,
Malarkey, Chee, Newton, Cacioppo (1993) verificaram que em casais com comportamentos mais negativos
e hostis, e que estão a passar por momentos de mal estar na relação, têm maiores diminuições nas NK e
menor resposta de proliferação dos linfócitos.
Uma outra forma de avaliar o efeito do stress sobre o sistema imunológico é pedir para os sujeitos
registarem o nível de stress experienciado/percebido, relacionando esse relato com medidas do sistema
imunológico ou medidas de infecção Por exemplo, Jabaaij, Grosheid, Heijink, Duivenvoorden, Ballieux,
Vingerhoets (1993) utilizaram a medida da produção de anticorpo em reacção à vacina de hepatite B para
analisar a relação entre stress percebido e resposta imunológica. Os seus resultados indicam que quanto
mais stress percebido, menor produção de anticorpo, um indicador de capacidade imunológica diminuída.
De modo a avaliar a relação entre experiências de stress e vulnerabilidade à doença,
especificamente ao vírus da gripe, Cohen, Tyrrell e Smith (1991, 1993) realizaram um estudo extremamente
rigoroso em termos metodológicos com mais de 400 sujeitos em que foi avaliada a relação entre o relato
de stress e a resposta à inoculação de vários tipos de vírus de gripe. Neste estudo verificou-se uma relação
significativa entre o nível de stress experienciado e a contracção da doença, mostrando bem que a
resistência à doença estava diminuída nos sujeitos que experienciaram mais stress.
Em suma, os resultados dos diferentes estudos sobre o efeito do stress em contexto naturalista
sugerem que, face a situações de stress, o sistema imunológico exibe sinais de diminuição de competência.
Para além disso, os estudos em que foi realizado um desafio ao sistema imunológico (com inoculação de
vírus) revelaram de forma consistente que os processos infecciosos eram mais prováveis nos sujeitos com
maior experiência de stress (para uma revisão dos estudos sobre o risco de infecção respiratória superior e
stress cf. Marsland, Bachen, Cohen, & Manuck, 2001).

Estudo do efeito do Stress em contexto laboratorial

De modo a avaliar, em contexto laboratorial, a resposta imunológica a situações de stress, os


investigadores pedem aos sujeitos para se envolverem em tarefas potencialmente stressantes, avaliando
depois a resposta imunológica. O contexto laboratorial é extremamente relevante em psiconeuroimunologia
uma vez que cria situações estandardizadas em que são controlados factores potencialmente mediadores
(diferenças individuais em outras respostas fisiológicas; efeito do suporte social, etc.,). Entre as tarefas
utilizadas, contam-se exercícios de aritmética, tarefa de stroop, exposição pública ou exposição a ruídos
intensos e incontroláveis. Os resultados dos estudos têm revelado que a participação nestas situações
altera o número e a função de um grande número de células do sistema imunológico, diminuindo a
imunocompetência (e.g. Wang, Delahanty, Dougall & Baum, 1998; Naliboff, Benton, Solomon, Morley, &
Fahey, 1991; Sieber, Rodin, Larson, Ortega, & Cummings, 1992; Gerritsen, Heijnen, Wiegant, Bermond, &
Fridja 1996). Marsland, Bachen, Cohen, e Manuck (2001) ao reverem a investigação sobre o efeito do
stress estudado em contexto laboratorial, chamam a atenção para o facto de algumas das mudanças
ocorrerem apenas 5 minutos após o início do stressor; e ainda para a existência de aparentes
inconsistências entre os resultados de alguns estudos que utilizam a medidas dos linfócitos NK, uma vez
que em alguns estudos o seu número aumenta e em outros diminui. Estes resultados devem-se a uma
característica de resposta bifásica na produção destas células, cujo número começa por aumentar, e só
depois diminui para valores abaixo da baseline. Um terceiro aspecto relevado por Marsland, Bachen, Cohen
Manuck. (2001) ao fazerem a revisão dos estudos realizados em laboratório, é o facto de haver uma
covariação entre a magnitude da activação do Sistema Nervoso Simpático e a variação na resposta
imunológica. Os sujeitos com reacção mais marcada a nível das respostas simpática e imunitária tornam-se
assim naqueles que são mais vulneráveis aos desafios do dia a dia.

Estudo do efeito do humor sobre o funcionamento do sistema imunológico


A associação entre a depressão clínica e a imunosupressão foi estabelecida há muito tempo.
Herbert e Cohen (1993), numa meta-análise de 40 estudos sobre a relação entre depressão clínica e
sistema imunológico, verificaram que os resultados são consistentes e permitem concluir que os deprimidos
exibem uma menor resposta de proliferação dos linfócitos; menor actividade dos linfócitos NK; e um menor
número de células NA, B, T, T auxiliadoras e T Supressoras / Citotóxicas. Estas relações são mais elevadas
nos idosos e sujeitos hospitalizados; e os estudos têm verificado que quando as pessoas recuperam da
depressão a actividade dos linfócitos NK aumenta de novo. Atendendo a que na depressão muitos
comportamentos dos sujeitos ficam alterados, muitos estudos procuraram controlar comportamentos
potencialmente prejudiciais para o sistema imunológico. Quando foram controlados os hábitos de exercício,
dietas, fumo, medicamentos, etc., os resultados foram os mesmos.
Quando, em vez do efeito da depressão, foi avaliado o efeito do humor deprimido sobre o sistema
imunológico em amostras não clínicas, os resultados são muito semelhantes ao que acontece na
depressão: as meta-análises revelaram os mesmos efeitos que a depressão clínica, nomeadamente menor
actividade dos linfócitos NK e menor proliferação de linfócitos; mas o efeito é menos significativo (cf.
Herbert & Cohen, 1993).
A relação entre funcionamento imunológico e estados associados ao processo de luto foi
igualmente estudado, no contexto do estudo do efeito de estados emocionais negativos sobre o sistema
imunológico. Os estudos realizados com pessoas em processo de luto permitiram concluir que o seu
sistema imunológico está afectado: foi verificado que as mulheres que tinham ficado viúvas recentemente
tinham uma diminuição na função das células T (Bartrop, Lazarus, Luchurst, Kiloh & Penny, 1977); ou uma
actividade proliferativa inferior de NK do que as esposas de homens saudáveis (Schleifer, Keller, Camerino,
Thornton, & Stein, 1983; Irwin, Daniels, Smith, Bloom & Weiner, 1987a). Estudos realizados por Kemeny,
Weiner, Duran, Taylor, Visscher e Fahey (1995); Irwin, Daniels, Smith, Bloom e Weiner (1987b) e Linn, Linn
e Jensen, (1984) encontraram resultados semelhantes, sendo a imunosupressão maior quanto maior for o
grau de humor negativo. As perdas por separação ou divórcio resultam igualmente em imunosupressão
(Kiecolt-Glaser, Fisher, Ogrocki, Stout, Speicher, & Glaser, 1987; Kiecolt-Glaser, Kennedy, Malkoff, Fisher,
Speicher, & Glaser, 1988).
Quando, em vez de olhar para efeito do humor negativo, se procura saber o efeito do humor
positivo sobre o sistema imunológico, verifica-se que existem poucos estudos sobre o efeito do humor
positivo no sistema imunológico. Num estudo realizado sobre a relação entre acontecimentos do dia a dia e
a quantidade de imunoglobulina A (IgA) em resposta a um antigene, foi verificado que esta era maior
quando o humor do sujeito era positivo e menor quando o humor do sujeito era negativo (Stone, Cox,
Valdimarsdottir, Jandorf & Neale, 1987; Stone, Neale, Cox, Napoli, Valdimarsdottir, & Kennedy-Moore,
1994). Curiosamente Futterman, Kemeny, Shapiro, e Fahey (1994) verificaram que a indução de humor
positivo e negativo tinha efeito diferenciado na resposta imunológica: após indução de humor positivo
aumentava a proliferação de linfócitos e o contrário acontecia face à indução de humor negativo.
Em suma, da revisão dos diferentes estudos que procuraram avaliar o efeito da depressão ou
humor triste sobre o sistema imunológico, pode-se concluir que o afecto negativo está relacionado com uma
diminuição da sua competência.

Estudo do efeito das características da personalidade sobre o funcionamento do sistema imunológico

Desde há muito tempo que se tem associado características da personalidade com a saúde, mas
não são muitos os estudos realizados directamente sobre o efeito de características da personalidade sobre
o funcionamento do sistema imunológico.
A tendência para o desânimo e o estilo pessimista foi relacionado com um pior funcionamento do
sistema imunológico (e.g. Kamen-Siegel, Robin, Seligman, Dwyer & 1991), mas a característica de
personalidade mais estudada tem sido a repressão/negação.
As estratégias inibitórias, repressivas ou de negação, têm sido associadas ao aumento de
sintomas físicos, com mais visitas médicas, a mais irregularidades do sistema nervoso autónomo e a mais
perturbações do sistema imunológico. O efeito da repressão das emoções negativas tem vindo a ser
salientado nos modelos psicossomáticos. Schwartz (1990), por exemplo, relacionou a repressão de
emoções negativas com a susceptibilidade à doença e vários autores sugeriram que a supressão de
emoções negativas potencia o risco de cancro (Gross, 1989; Kune, Kune, Watson & Rahe, 1991; Shaffer,
Graves, Swank & Pearson, 1987). Por exemplo Garssen e Goodkin (1999), verificaram que repressão de
emoções negativas e o baixo suporte social (dois factores que podem ocorrer associados) eram, para além
da tendência para o desânimo, factores de risco para o cancro.
Os sujeitos introvertidos são mais susceptíveis de contrair infecções respiratórias superiores após
uma exposição viral (Broadbent, Broadbent, Phillpots, Wallace & 1984; Totman, Kiff, Reedy & Craig, 1980) e
têm mais infecções periodontais (Manhold, 1953; cit. por Cohen, 1994)
Medidas directas sobre o sistema imunológico revelaram que um nível elevado de repressão
estava relacionado com a supressão da resposta imunológica nomeadamente observável num nível mais
elevado do anticorpo do vírus do herpes (Esterling, Antoni, Kumar, & Schneiderman, 1990; Esterling,
Antoni, Fletcher, Margulies, & Schneiderman, 1994). Cole e Kemeny (1997) verificaram que os homens
seropositivos para HIV que utilizavam os estilos de coping mais repressivos, evitantes ou de negação, eram
aqueles que tinham uma progressão mais rápida da doença.
Em suma, algumas características da personalidade, especialmente relacionados com a utilização
de estratégias repressivas para lidar com os problemas e emoções parecem estar relacionadas com mais
problemas imunológicos. Este resultado é, como veremos, consistente com o efeito do suporte social sobre
o sistema imunológico, bem como a importância de elaborar as experiências negativas de modo a proteger
este sistema.

Estudo do efeito do suporte social sobre o sistema imunológico

O estudo da relação entre suporte social e saúde tem uma longa história, e alguns estudos
prospectivos mostraram mesmo que a longevidade está relacionada com a pertença a grupos sociais fortes,
sendo a percepção de suporte social um factor protector face a stressores (cf. Cohen & Herbert, 1996). Os
sujeitos com mais suporte são mais saudáveis, têm menos probabilidade de ficar emocionalmente
perturbados e de ficar fisicamente doentes (Cohen & Willis, 1985). Este dado permite afirmar que o efeito
do isolamento social em termos de saúde é comparável ao efeito de outros factores de risco como fumar,
pressão sanguínea, lipídios no sangue, obesidade e actividade física (House, Landis & Umberson, 1988).
Um dos estudos prospectivos que foi realizado no final dos anos setenta avaliou a relação entre
algumas características dos sujeitos, e o efeito de vírus da gripe sobre a sua saúde, especificamente o
desenvolvimento de alguns tipos de infecções (Totman, Kiff, Reedy, Craig, 1980). Para isso os autores
inocularam sujeitos com um vírus de gripe e avaliaram os sintomas de infecção respiratória nos 6 meses
seguintes, tendo verificado que as perdas a nível da actividade social nos três meses anteriores constituíam
o melhor preditor do risco de infecção. Um outro estudo que avaliou a gravidade e a frequência de
episódios de gripe em função da rede social encontrou um resultado que parece contradizer os modelos
biológicos: são os sujeitos com mais e melhores contactos sociais (situações que normalmente são
associadas a risco aumentado) que têm os episódios de gripe mais leves e menos frequentes (Cohen,
Doyle, Skoner, Bruce, & Gwaltney, 1997).
Resultados que vão no mesmo sentido foram obtidos com outras populações. Kiecolt- Glaser,
Glaser, Williger, Stout, Messick, Sheppard, Ricker, Romisher, Briner, Bonnel, e Donnerberg, (1985) e
Kiecolt-Glaser, Garner, Speicher, Penn e Glaser, (1984) verificaram que os estudantes com mais auto-relato
de solidão têm uma menor actividade de NK e um nível mais elevado de anticorpo anti-vírus herpes; efeito
semelhante ao encontrado em doentes psiquiátricos internados, em que foi verificado que aqueles que
relatavam mais solidão demonstravam uma menor actividade dos linfócitos NK (Kiecolt-Glaser, et al. 1984).
Katcher, Brightman, Luborsky, e Ship (1973); Friedman, Katcher e Brightman, (1977); Manne e Sandler,
(1984) e McLarnon e Kaloupek, (1988) verificaram igualmente que as pessoas com menos competências
sociais e/ou pouco suporte social têm mais episódios de herpes genital e oral; enquanto Kiecolt et al. (1987)
verificaram que as mulheres separadas e divorciadas têm nível mais elevado de anticorpo anti-vírus herpes,
menor percentagem de linfócitos NK e menor proliferação dos linfócitos. Em outro estudo Kiecolt-Glaser,
Kennedy, Malkoff, Fisher, Speicher, & Glaser (1988) encontraram que os homens separados e divorciados
têm uma nível mais elevado de anticorpo anti-vírus herpes, e mais infecções.
Outros estudos que deram resultados que vão no mesmo sentido foram realizados por Baron,
Cutrona, Hicklin, Russel, & Lubaroff (1990) que observaram que os cônjuges de doentes com cancro com
mais apoio social têm uma melhor actividade dos linfócitos NK e melhor resposta de proliferação dos
linfócitos; Genest (1989) que pôde constatar uma relação entre suporte social e a diminuição da
probabilidade de artrite em situações de stress; Thomas, Goodwin, e Goodwin (1985) ao constatar que
idosos que relatam ter relações íntimas têm melhor resposta de proliferação dos linfócitos ou ainda Glaser,
Kiecolt-Glaser, Bonneau, Malarkey e Hughes, (1992) que verificaram que os estudantes universitários com
maior suporte social produziam mais anticorpo em resposta à vacina da hepatite B.
Em suma, como concluem McGuire e Kiecolt-Glaser (2000), as relações interpessoais positivas
estão relacionadas com menores níveis de hormonas de stress (e.g. cortisol, catecolaminas), melhor
resposta do sistema imunológico, e diminuição do risco de contrair vários tipos de infecção.
O que vamos analisar a seguir pode contribuir para explicar a efeito robusto do suporte social sobre
a saúde e o sistema imunológico, bem como explicar porque é que alguns estilos de personalidade em que
predomina a negação ou repressão emocional estão associados a mais problemas de saúde.

3. IMPACTO DOS ACONTECIMENTOS DE VIDA EM FUNÇÃO DOS


SIGNIFICADOS E DO TIPO DE PROCESSAMENTO

A ideia base da conceptualização e investigação sobre o efeito do tipo de processamento das


experiências de vida sobre o equilíbrio físico é a de que há formas de processamento das situações
(especialmente quando traumáticas) que são mais eficazes do que outras; e que este processamento
passa por uma série de fases. Enquanto os estudos realizados no âmbito da primeira linha procuram
averiguar de que modo a construção de significados sobre uma experiência afecta a saúde, na segunda
linha encontramos os estudos sobre o efeito da expressão emocional.

Acontecimentos de vida, construção de significados e saúde


Alguns autores têm sugerido que os acontecimentos traumáticos confrontam o sujeito com informação
que é inconsistente com o modo como normalmente organiza a informação e exigem da parte deste um
trabalho para integrar a nova informação. Por exemplo Horowitz (1986), Janoff-Bulman (1989) e Silver,
Boon e Stones (1983) defenderam que as experiências traumáticas são uma ameaça aos esquemas com
que a pessoa organiza o mundo e a si próprio, pondo em causa as suas crenças básicas sobre a existência
de um mundo previsível e a sua dignidade e eficácia como participante da sociedade. Para lidar com essa
ameaça é necessário reformular estas ideias e redefinir a si próprio e ao seu mundo. Isto implica um
trabalho activo de pensar quer sobre o acontecimento, quer sobre os pensamentos e sobre as emoções a
ele associado (cf. Harber & Pennebaker, 1992).
Bower, Kemeny, Taylor e Fahey (1998) sugerem que pensar/elaborar sobre um acontecimento
stressante pode aumentar o sentido de mestria e a probabilidade de a pessoa sentir que tem controlo sobre
a sua vida, aumentando a auto-estima. Para estes autores encontrar um significado positivo para as
experiências difíceis é um dos resultados potenciais deste processamento. Exemplos desta construção de
significados são, segundo Taylor (1983) e Yalom (1980); uma redefinição das prioridades para a vida;
aumento da sensação de viver no presente; uma redefinição das relações interpessoais especialmente pelo
aumento de intimidade com os outros significativos; e uma maior apreciação pela fragilidade e preciosidade
da vida.
A ideia de que esta construção de significado aumenta a adaptação psicológica tem sido defendida
por vários autores (e.g. Mendola, Tennen, Affleck, McCann, & Fitzgerald, 1990); tendo Afflect, Tennen,
Croog e Levine (1987) encontrado um efeito sobre a saúde: os sujeitos que reorganizaram a vida e
perceberam benefícios do facto de terem sido vítimas de um ataque cardíaco (mudando os seus valores e
filosofia de vida) revelaram menos probabilidade de ter um novo ataque e diminuíram a morbilidade num
follow up de 8 anos.
Um estudo realizado por Bower, Kemeny, Taylor e Fahey, (1998) verificou que o processamento
cognitivo e a procura de significado após a morte de um amigo está relacionado com um menor declínio
das células CD4 T e maior sobrevida entre um grupo de sujeitos contaminados com HIV. Exemplos de
indicadores de processamento cognitivo são frases como: “Eu tenho pensado muito nele como uma
pessoa, um amigo. Mais importante ainda, tenho pensado nele como uma vida”. Exemplos de descoberta
de significado encontram- se nas afirmações seguintes “Eu agora aprecio muito mais os amigos que tenho
e tornei-me um amigo mais íntimo” ou “de certa fora a sua morte levou-me a acreditar mais firmemente na
qualidade da vida e levou-me a procurar vivê-la de um modo mais satisfatório”.
Em suma, alguns estudos sugerem que face a experiências que dasafiam as concepções com que o
sujeito antes organizava o mundo, a capacidade de dar um significado positivo à experiência parece estar
relacionada com efeitos positivos a nível da saúde e do sistema imunológico.

Acontecimentos de vida, expressão emocional e saúde

Ainda que o trabalho individual de pensar e elaborar os significados dos acontecimentos traumáticos
seja uma dimensão importante ou mesmo suficiente para alguns sujeitos, é na interacção com os outros e
na elaboração dessas experiências através da linguagem que as respostas fisiológicas e emoções podem
ser melhor articuladas e integradas. Ou seja, a forma mais natural de dar sentido e integrar os
acontecimentos de vida é através da utilização da linguagem e da partilha com outros. Falar permite a
comparação social, integrar pontos de vista alternativos e, especialmente, contribuir para a organização das
imagens e das respostas fisiológicas e emocionais sob uma forma narrativa de modo a dar continuidade e
assim assimilar as dimensões cognitivas com as emocionais num todo articulado. Deste modo as respostas
fisiológicas e emocionais relacionados com uma experiência, muitas vezes repetidamente activadas de
forma caótica sob a forma de intrusão ou activação emocional ficam sob o controlo do sujeito autor, e não
apenas vítima, da experiência.
O estudo da relação entre expressão emocional e saúde física foi desenvolvido de uma forma
sistemática desde o início dos anos oitenta por Pennebaker. Numa síntese agora publicada (Smyth &
Pennebaker, 2001) são sistematizados os resultados da investigação produzidos nos últimos vinte anos e
que dão resposta à questão que constitui o título do próprio trabalho: “What are the health effects of
disclosure?”. É sobre esses efeitos, bem como dos efeitos da inibição das experiências de vida, que
trataremos de seguida.
Sendo falar a forma mais natural de lidar com uma experiência traumática, há, no entanto, situações
em que por razões relacionadas com o tipo de experiência vivida ou o contexto interpessoal, o sujeito não
encontra condições para falar. Alguns traumas dificultam a partilha por causarem embaraço, humilhação,
vergonha ou mesmo culpa ao próprio sujeito. Entre este tipo de experiências contam-se, por exemplo, ser
vítima de incesto, fazer um aborto voluntário, ou cometer um acto ilícito. Pode ainda acontecer que devido
ao sofrimento associado à experiência, ela é inibida uma vez que o sujeito não se sente capaz de lidar com
as suas próprias emoções. Outras vezes é o contexto interpessoal que não facilita porque a pessoa
antecipa crítica ou punição por parte dos outros, ou há dificuldade em encontrar pessoas disponíveis para
ouvir. Esta situação pode ocorrer pelo sofrimento que a situação produz no ouvinte 6, mas também pode
verificar-se em situações de desastres naturais em que toda a comunidade é afectada e cada um está a
tentar lidar com o seu próprio sofrimento, estando, por isso, pouco disponível para os outros. Nestes casos
existe uma inibição que pode ser prolongada, durando meses ou mesmo anos.
Como refere Pennebaker (1992), embora a inibição seja adaptativa e saudável uma vez que para
viver socialmente aprende-se a inibir impulsos, emoções e comportamentos, este processo é desadaptativo
quando a pessoa precisa falar sobre um acontecimento e não tem condições para o fazer. Neste caso a
inibição exige esforço, provoca ansiedade e ameaça a saúde, tornando-se um processo activo, que pode
ser mais ou menos consciente e esforçado de modo a pôr de parte pensamentos, comportamentos ou
emoções. Sabe-se que não falar aumenta a interferência cognitiva, sendo os processos intrusivos mais
frequentes nos acontecimentos não adequadamente assimilados em que se mantém activadas as
respostas fisiológicas e emoções a ela associadas. Por exemplo, as pessoas que não podem falar pensam
mais vezes, sonham mais e mantém o trauma mais tempo activo. A investigação demostrou mesmo que se
se pedir a alguém para inibir um pensamento ele torna-se mais frequente e a concentração diminui (Gilbert,
Krull & Pelham, 1987).
A relação entre inibição e perturbação física foi já estabelecida. A inibição exige trabalho fisiológico e
está associada ao aumento da actividade do sistema nervoso autónomo como o aumento da
conductividade da pele, activação do sistema nervoso central nas regiões do septo e hipocampo, e
activação nas áreas corticais (cf. revisão realizada por Pennebaker,1988). Quando a inibição ocorre por
períodos de tempo muito longos, conduz a mais episódios de doença e dificuldades imunológicas. Por
exemplo, Pennebaker (1989) e Pennebaker e Susman, (1988) verificaram que os sujeitos que tiveram um
trauma na infância sobre o qual não puderam falar têm mais probabilidade de ficar doentes do que aqueles
que passaram pelas mesmas experiências mas puderam partilhá-las. Este resultado está de acordo com o
que antes vimos acerca dos sujeitos com estilo de personalidade mais inibidos e/ou com menor rede de
relações interpessoais, que têm mais problemas de saúde.
Para testar o efeito da expressão sobre a saúde e mais exactamente sobre o sistema imunológico,
Pennebaker, Kiecolt-Glaser & Glaser (1988) pediram a sujeitos para escrever quatro dias seguidos sobre
situações traumáticas da sua vida, enquanto outros escreviam sobre situações triviais. Os sujeitos que
escreveram sobre situações traumáticas não só diminuíram os valores de activação do sistema nervoso
autónomo e o número de consultas médicas, como a avaliação da sua função imunológica revelou uma
melhoria da eficácia dos linfócitos T. Num estudo realizado por Petrie, Booth, Pennebaker, Davidson e
Thomas (1995) em que existiram igualmente dois grupos com a tarefa de escreveram ou sobre situações
traumáticas ou sobre assuntos triviais, verificou-se que escrever sobre situações emocionalmente dolorosas
estava associado a uma resposta mais eficaz do sistema imunológico, medido por um maior número de
anticorpos face à vacina da hepatite B. Mais recentemente Petrie e Pennebaker (1998) verificaram que os
sujeitos que escreveram durante 3 dias seguidos acerca das suas emoções revelaram um aumento
significativo de linfócitos CD4, enquanto os que só puderam relatar os factos sem revelar pensamentos ou
emoções diminuíram os níveis de linfócitos CD3.
Em suma, este conjunto de estudos parece indicar que o processamento das situações traumáticas
passa por uma série de fases, havendo tarefas, como escrever ou falar sobre os acontecimentos e as
emoções a eles associados, que parecem contribuir para amortecer o efeito potencialmente nefasto
associado a essas experiências.
Mas não podemos deixar de lembrar que sendo a relação entre partilha e saúde extremamente
importante, ela em alguns casos é independente do suporte social. Como Pennebaker (Pennebaker &
Susman, 1988; Pennebaker, 1992) afirma, ter uma experiência traumática e não poder partilhá-la quando se
tem amigos ainda é mais exigente do ponto de vista da inibição e, por isso, potencialmente mais
perturbador.

CONCLUSÃO

Partindo de uma concepção do sistema imunológico como um sistema integrado com os sistemas
endócrino e nervoso, e por isso sensível às emoções, neste artigo procuramos sistematizar a investigação
sobre algumas das condições que estão relacionadas com a imunocompetência. Os resultados da
investigação realizada nos últimos vinte anos permite concluir acerca das consequências negativas para o
sistema imunológico do stress, das emoções negativas, dos estilos de personalidade repressivos e do
isolamento social.
A investigação sobre a construção de significado e o processamento das experiências de vida mais
adversas têm revelado que o modo como estas experiências são organizadas e processadas pode ser mais
ou menos eficaz, quer do ponto de vista psicológico, quer da saúde. Os resultados recentes sobre a relação
entre tipo de processamento e resposta imunológica vêm contribuir para explicar este efeito e, tal como em
relação a outros factores psicológicos (stress, depressão, repressão, isolamento), confirmam o efeito já
longamente observado destas condições sobre os problemas físicos.
Assim, se não se pode afirmar que as alterações observadas directamente sobre o sistema
imunológico implicam necessariamente alterações nas condições de saúde, a verdade é que todas estas
dimensões foram associadas ao aumento de sintomas médicos. Provavelmente o estudo dos processos
imunológicos ajuda a esclarecer o porquê desta associação entre mente e corpo são.
Ainda que este trabalho se centre nas condições que afectam negativamente o sistema imunológico,
não podemos deixar de referir algumas das condições que parecem estar relacionadas com a promoção do
seu funcionamento.
Se o stress está relacionado com problemas imunológicos, parece óbvio que as estratégias que
procuram reduzir o stress terão um efeito positivo sobre o seu funcionamento. Estudos sobre o efeito do
relaxamento, gestão do stress, e grupos de suporte mostraram que estas actividades têm um efeito positivo
sobre a saúde (cf. Cohen & Herbert, 1996); e alguns estudos mostraram um impacto positivo directo sobre
o sistema imunológico. Por exemplo, Kielcolt-Glaser et al., (1985) verificou que a prática do relaxamento
aumenta as NK e células T num grupo geriátrico. Mais recentemente Fawzy, Fawzy, Hyun, Elashoff &
Guthrie (1993) verificaram que sujeitos com melanoma maligno que foram submetidos a um tratamento que
incluía gestão do stress e estratégias de coping, revelaram um melhor funcionamento do sistema
imunológico e maior sobrevida.
Se a psicoterapia for entendida como suporte social e uma oportunidade para acelerar o
processamento das experiências, ela terá, concerteza, um efeito positivo sobre o funcionamento
imunológico. Lidar com acontecimentos negativos exige a utilização de estratégias de coping que passam
por uma série de fases mais ou menos previsíveis (e.g., teoria do luto de Kubler-Ross, 1969) e a
psicoterapia constitui uma forma de realizar as tarefas de modo a diminuir as consequências negativas. De
facto a psicoterapia pode ser concebida como forma de acelerar o processo de lidar com as experiências
negativas e prevenir os potenciais efeitos nefastos de uma determinada experiência. Os estudos de
Pennebaker, ao

salientar a importância da expressão emocional, constituem uma forma de validação da eficácia da


psicoterapia e, provavelmente, explicam porque é que terapias muito diversas parecem ter efeitos muito
semelhantes. Curiosamente estes efeitos podem ser tão importantes ao nível do bem estar psicológico
como físico.

NOTAS

1. George Solomon (1964) utilizou pela primeira vez a palavra psicoimunologia para se referir às relações entre stress e problemas físicos. Nos anos
setenta destacaram-se os trabalhos de Ader e Cohen (1975) sobre a influência do condicionamento clássico no sistema imunológico. Ao observar que
as respostas imunológicas poderiam ser modificadas por condicionamento foi pela primeira vez estabelecido o envolvimento das vias neuroendócrinas
nas respostas imunológicas.

2. Esta protecção é assegurada por células do sistema imunológico, especialmente glóbulos brancos como os neutrófilos, monócitos e linfócitos
(Natural Killer Cell - NK, células T e células B).

3. Para medir a eficiência do sistema imunológico existem métodos enumerativos e métodos funcionais de vários sub-grupos de células imunológicas.
Nos testes enumerativos faz-se a contagem do número de linfócitos T, linfócitos B, macrófagos e linfócitos NK em circulação. Nas avaliações
funcionais é analisada a capacidade de proliferação dos linfócitos T e B, ou a citoticidade dos linfócitos NK quando estimulados por um antigene. Uma
medida diferente consiste em avaliar a função imunológica directamente no organismo, por exemplo através da medida de um anticorpo face a um
antigene (como a vacina à Hepatite B) partindo do princípio que quanto mais anticorpo, maior imunocompetência. (cf. Marsland, Bachen, Cohen &
Manuck, 2001).
4. Um dos tipos de infecção mais estudada na investigação da relação entre emoções, sistema imunológico e saúde são as infecções do aparelho
respiratório superior, tendo os estudos prospectivos revelado de modo consistente que quanto maior mal estar, maior a probabilidade de desenvolver
infecção (e.g. Cohen et al., 1998)

5. Note-se que expressão significa aqui revelação que, como referem Smyth e Pennebaker, (2001), envolve necessariamente a utilização da
linguagem e não apenas a expressão por meios não verbais como chorar ou gritar.

6. Pennebaker (1992) verificou que os pais que tinham perdido filhos de acidente ou doença súbita relatavam que os amigos se afastavam deles
e tinham dificuldade de encontrar confidentes com quem falar sobre esta experiência traumática. Esta resposta pode estar relacionada com o
facto de ouvir história traumáticas ser em si traumatizante, que perturba fisiologicamente o ouvinte. (cf. Pennebaker, Barger & Tiebout, 1989).

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Abstract

The idea of the immunological system as an autonomous system with an exclusively chemical functioning has resulted mainly in the early
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sensitive to the central nervous system regulation (Ader, 1983; Rabin, Cohen, Ganguli, Lysle & Cunnick, 1989; Cohen & Herbert, 1996).
This recognizes that other areas of human functioning, as is the case of emotion and cognition, may influence its
efficiency. Psychoneuroimmunology has appeared to study the relationship among the psychosocial factors, the emotions and the
neuroimmunological systems that organize the adaptative response to stress. This model is based on the hypothesis that psychosocial
factors diminish the efficiency of the immunological system and contribute to an increase in medical symptoms. In this work we discuss this
issue and current research on the emotional and psychosocial conditions that seem to affect immunocompetence.

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