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Imunopatologia – Thalita Madeira

PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

Imunidade inata e adaptativa


A imunidade inata consiste em mecanismos de defesa celulares e bioquímicos que já existem antes da
infecção e que já estão prontos para responder rapidamente a infecções. Os principais componentes desse sistema
são: barreiras físicas e químicas (epitélios e substâncias químicas antimicrobianas); células fagocitárias, células
dendríticas e natural killer; proteínas do sangue (incluindo sistema de complemento) e citocinas. Os mecanismos da
imunidade natural são específicos para estruturas que são comuns a grupos de micro-organismos relacionados e
podem não distinguir diferenças entre micro-organismos.
A imunidade adaptativa refere-se a respostas imunológicas estimuladas pela exposição a agentes infecciosos,
cuja magnitude e capacidade de defesa aumentam com cada exposição sucessiva. São características desse
mecanismo a especificidade para moléculas distintas e a capacidade de “lembrar” e responder com mais intensidade
em exposições repetidas. Os componentes desse sistema são os linfócitos e seus produtos secretados, como
anticorpos. Esse tipo de imunidade é exclusivo de vertebrados.
A resposta imune natural estimula respostas imunes adquiridas e influi na natureza das mesmas. As respostas
imunes adaptativas atuam ao intensificar os mecanismos protetores da imunidade natural.

Tipos de resposta imune adaptativa


Existem dois tipos de resposta imune adaptativa: a imunidade humoral e a imunidade celular.
A imunidade humoral é mediada por moléculas no sangue ou em secreções das mucosas, isto é, pelos
anticorpos produzidos por linfócitos B. Os anticorpos reconhecem antígenos, neutralizam a capacidade dos micro-
organismos de infectar e promovem a sua eliminação através de diversos mecanismos efetores. É o principal
mecanismo de defesa contra micro-organismos extracelulares e suas toxinas.
A imunidade celular é mediada por linfócitos T. Os micro-organismos intracelulares sobrevivem e proliferam
dentro dos fagócitos e em outras células, onde são inacessíveis aos anticorpos circulantes. A imunidade celular
promove a destruição dos micro-organismos que residem nos macrófagos ou a destruição das células infectadas.
A imunidade ativa é conferida pela resposta do hospedeiro a um micro-organismo ou a um antígeno
microbiano, enquanto a imunidade passiva é conferida pela transferência adotiva de anticorpos ou linfócitos T
específicos para o micro-organismo. Ambas as formas de imunidade fornecem resistência à infecção e são
específicas para antígenos microbianos, mas apenas as respostas imunológicas ativas geram memória imunológica.

Principais características da resposta imune adaptativa


 Especificidade: assegura que a resposta imunológica a determinado micro-organismo seja dirigida contra
esse micro-organismo;
 Diversidade: permite ao sistema imunológico responder a grande variedade de antígenos. Resulta da
variabilidade das estruturas dos sítios de ligação de antígenos presentes nos receptores dos linfócitos;
 Memória: aumenta a capacidade de combater infecções repetidas pelo mesmo micro-organismo. As
respostas secundárias são mais rápidas, de maior intensidade e qualitativamente diferentes da resposta
imunológica primária. Deve-se ao fato de que cada exposição a um antígeno gera células de memória de vida
longa e específicas para o antígeno;
 Expansão clonal: aumenta o número de linfócitos específicos para determinado antígeno para fazer frente à
capacidade replicativa dos micro-organismos;
 Especialização: gera respostas que são ideais para a defesa contra diferentes tipos de micro-organismos;
 Contração e homeostasia: permite ao sistema imunológico recuperar-se de uma resposta, de modo que
possa responder efetivamente a novos antígenos. Deve-se ao fato de que as respostas imunológicas que são
desencadeadas por antígenos atuam para eliminá-los, removendo um estímulo essencial para a sobrevida e
a ativação dos linfócitos;
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 Não reatividade ao próprio: impede a lesão do hospedeiro durante as respostas a antígenos estranhos;

Componentes celulares do sistema imunológico adaptativo


Os linfócitos são células que reconhecem e respondem especificamente a antígenos estranhos e que atuam
como mediadores da imunidade humoral e celular.
Os linfócitos B são as únicas células capazes de produzir anticorpos. Eles reconhecem antígenos extracelulares
e diferenciam-se em plasmócitos secretores de anticorpos, atuando como mediadores da imunidade humoral.
Os linfócitos T são células da imunidade celular que reconhecem os antígenos de micro-organismos
intracelulares e ajudam os fagócitos a destruí-los ou matam diretamente as células infectadas. Não produzem
anticorpos. Possuem especificidade restrita para os antígenos e reconhecem peptídeos derivados de proteínas
estranhas ligadas a moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC). Reconhecem e respondem a
antígenos associados à superfície celular, mas não a antígenos solúveis.
o As células T auxiliares secretam citocinas, que estimulam a proliferação e a diferenciação das
próprias células T e ativam outras células, inclusive B, macrófagos e leucócitos;
o Os linfócitos T citotóxicos destroem as células que exibem antígenos estranhos;
o Células T reguladoras atuam para inibir as respostas imunológicas;
o Células Natural Killer estão envolvidas na imunidade natural contra vírus e outros micro-organismos
intracelulares.
O início e desenvolvimento das respostas imunológicas adaptativas exigem que os antígenos sejam capturados
e apresentados aos linfócitos específicos por células apresentadoras de antígeno, das quais as de maior
especialização são as células dendríticas, que capturam os antígenos microbianos e os transportam para os órgãos
linfoides, apresentando-os aos linfócitos T virgens.
A eliminação do antígeno exige participação de células efetoras, das quais pode-se citar linfócitos T ativados,
fagócitos mononucleares e outros leucócitos.

Citocinas, mediadores solúveis do sistema imunológico


As citocinas medeiam e regulam todos os aspectos da imunidade natural e adaptativa. Em geral, sua síntese é
iniciada por nova transcrição gênica como resultado da ativação celular (i.e.: não ficam armazenadas como
moléculas pré-formadas). Atuam em sua maioria nas proximidades do local em que são produzidas, seja por ação
autócrina ou parácrina. Em grandes quantidades, podem entrar na circulação e ter ação endócrina.
Algumas citocinas são produzidas por células da imunidade inata (células dendríticas, macrófagos e
mastócitos) e impulsionam o processo de inflamação ou contribuem para a defesa antiviral. Outras citocinas
produzidas por subgrupos de linfócitos T auxiliares são responsáveis pela ativação e diferenciação das células T e B.
algumas citocinas são fatores de crescimento para hematopoiese.
Citocinas da imunidade inata e da adquirida são produzidas por diferentes populações de células, atuam sobre
células-alvo diferentes e apresentam propriedades distintas.

Visão geral das respostas imunes aos micro-organismos


 Imunidade inata
O sistema imune inato bloqueia a entrada de micro-organismos e elimina ou limita o crescimento destes. Os
epitélios funcionam como barreiras para impedir a entrada dos micro-organismos.
A imunidade inata consiste em dois tipos de reações:
o Inflamação: refere-se ao recrutamento de leucócitos e proteínas plasmáticas do sangue, seu
acúmulo nos tecidos e sua ativação para destruir os micro-organismos. Envolve citocinas produzidas
por células dendríticas e macrófagos. Os principais leucócitos envolvidos são neutrófilos e
monócitos. Esses fagócitos apresentam em sua superfície receptores que se ligam aos micro-
organismos e os ingerem, bem como receptores que reconhecem diferentes moléculas microbianas
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e ativam as células. Com a ativação, os fagócitos produzem radicais reativos de oxigênio e nitrogênio
e enzimas lisossômicas, que destroem os micro-organismos. A via alternativa do sistema de
complemento é ativada por superfícies microbianas, sendo gerados produtos de clivagem
proteolítica que medeiam as respostas inflamatórias;
o Defesa antiviral: consiste em reação mediada por citocinas, em que as células adquirem resistência à
infecção viral e na destruição pelas células NK das células infectadas por vírus.

 Imunidade adaptativa
Consiste em três estratégias:
1) Anticorpos secretados ligam-se aos micro-organismos extracelulares, boqueiam a sua capacidade de infectar
células do hospedeiro e promovem sua ingestão e subsequente destruição pelos fagócitos;
2) As células T auxiliares amentam a capacidade microbicida dos fagócitos;
3) Os linfóticos T citotóxicos destroem as células infectadas por micro-organismos que são inacessíveis aos
anticorpos e à destruição fagocítica.

- Captura e apresentação dos antígenos microbianos


As células dendríticas apresentam os peptídeos microbianos aos linfócitos TCD4 e CD8 virgens, iniciando
respostas imunológicas aos antígenos proteicos. Para isso, as células dendríticas capturam e digerem os micro-
organismos, expressando em sua superfície peptídeos deste ligados a moléculas MHC (especializadas em
apresentação de peptídeos). As células dendríticas transportam sua carga antigênica até os gânglios satélites, por
onde os linfóticos T virgem recirculam continuamente, aumentando a probabilidade de um linfócito com receptores
de antígeno entrar em contato com o antígeno.

- Reconhecimento dos antígenos pelos linfócitos


Hipótese de seleção clonal: clones de linfócitos específicos para determinado antígeno desenvolvem-se antes
e independentemente de sua exposição ao antígeno.
Todas as funções dos linfócitos T dependem de suas interações físicas com outras células (i.e.: não interagem
com antígeno livre). Para responder, as células T precisam reconhecer não apenas os antígenos, mas também outras
moléculas coestimuladoras, induzidas pelos micro-organismos a serem expressas nas superfícies das células
apresentadoras de antígenos. O reconhecimento do antígeno fornece especificidade à resposta imunológica e a
necessidade de coestimulação assegura que as células T respondam a micro-organismos.

- Imunidade celular: ativação dos linfócitos T e eliminação dos micro-organismos intracelulares


Linfócitos T CD4 auxiliares ativados proliferam e diferenciam-se em células efetoras, cujas funções são
mediadas por citocinas secretadas. A IL-2 é um fator de crescimento que atua sobre os linfócitos ativados por
antígenos e que estimula a sua proliferação. Algumas células T efetoras auxiliares CD4 secretam citocinas que
recrutam leucócitos e que estimulam a produção de substâncias microbicidas nos fagócitos. Outras células T efetoras
CD4 secretam citocinas que estimulam a produção de IgE, ativando eosinófinos. Algumas células T auxiliares CD4
permanecem nos órgãos linfoides e estimulam as respostas das células B.
Linfócitos CD8 ativados proliferam e diferenciam-se em CTL, que destroem as células que contêm micro-
organismos no citoplasma. Ao fazer isso, eliminam os reservatórios da infecção.

- Imunidade humoral: ativação dos linfócitos B e eliminação dos micro-organismos extracelulares


Uma vez ativados, os linfócitos B proliferam e diferenciam-se em células que secretam diferentes classes de
anticorpos. A resposta das células B a antígenos proteicos exige sinais ativadores das células T CD4.
Parte da progênie dos clones expandidos das células B diferencia-se em plasmócitos secretores de anticorpos.
Polissacarídeos e lipídios estimulam a secreção de IgM. Antígenos proteicos induzem secreção de IgG, IgA ou IgE. A
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produção desses anticorpos diferentes – denominada “mudança de classe” – exige ação das células T auxiliares.
Estas células também agem estimulando a produção de anticorpos com afinidade aumentada pelo antígeno
(“maturação de afinidade”).
Os anticorpos ligam-se aos micro-organismos e os impedem de infectar células, neutralizando-os. Anticorpos
IgG recobrem os micro-organismos e os transformam em alvos para a fagocitose. IgG e IgM ativam o sistema de
complemento através da via clássica, e os produtos do complemento promovem a fagocitose ou a destruição direta
dos micro-organismos. A IgA é secretada pelos epitélios da mucosa e neutraliza os micro-organismos presentes no
lúmen dos tratos respiratório e gastrointestinal. A IgG materna é transportada ativamente através da placenta e
protege o RN.
Alguns plasmócitos secretores de anticorpos migram até a medula óssea e vivem durante anos. Os anticorpos
secretados por esses plasmócitos de vida longa fornecem proteção imediata caso o micro-organismo volte a infectar
o indivíduo. Proteção mais efetiva é conferida pelas células de memória

- Memória imunológica
A ativação inicial dos linfócitos gera células de memória de vida longa que podem sobreviver durante anos
após a infecção. As células de memória são mais efetivas no combate aos micro-organismos do que os linfócitos
virgens, visto que representam um reservatório expandido de linfócitos específicos para um determinado antígeno e
respondem mais rapidamente e de modo mais efetivo contra o antígeno.

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