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Imunopatologia – Thalita Madeira

RESPOSTAS IMUNES MEDIADAS POR CÉLULAS

A imunidade mediada por linfócitos T é o braço da resposta imune adquirida cujo papel é combater infecções
causadas por micro-organismos intracelulares. Dois tipos de infecção podem levar os micro-organismos a se
refugiarem dentro das células: 1) os micro-organismos (bactérias e protozoários intracelulares) são englobados por
fagócitos como parte do mecanismo de imunidade inata; 2) vírus podem se ligar a receptores de superfície das
células e serem capazes de infectar o citoplasma das mesmas, se duplicando.
Para realizar suas funções, os linfócitos T precisam interagir com outras células (células do hospedeiro
infecatadas, fagócitos ou linfócitos B). A especificidade das células T em relação aos peptídeos exibidos pelas
moléculas de MHC assegura que as células T sejam capazes apenas de identificar antígenos associados a outras
células e de responder a eles.

 Etapas das respostas das células T


As respostas dos linfócitos T aos antígenos microbianos associados à célula consistem em uma série de etapas
sequenciais que resultam no aumento do número de células T antígeno-específicas e na conversão de células T
virgens em células efetoras.
As células T virgens expressam receptores para antígenos e outras moléculas que constituem um mecanismo
de reconhecimento de antígenos, porém para realizar suas funções efetoras, precisam ser estimuladas a se
diferenciar a partir do reconhecimento de um antígeno.
Antígenos proteicos são transportados para os mesmos órgãos linfoides onde circulam as células T virgens,
onde são processados e apresentados pelo MHC das células dendríticas. Linfócitos T virgens encontram pela
primeira vez esses antígenos e, ao mesmo tempo em que os reconhecem, recebem sinais adicionais na forma de
subprodutos microbianos ou moléculas expressas por APC em resposta às reações imunológicas. Começam então a
secretar citocinas que estimulam a expansão clonal e a diferenciação em células efetoras. Algumas células T
permanecem no linfonodo (eliminando as células infectadas ou fornecendo sinais para as células promoverem as
respostas humorais), outras migram pelo sangue para o local da infecção. Algumas células T se transformam em
células de memória. Quando as células T efetoras eliminam o agente infeccioso, os estímulos que desencaderam a
expansão e a diferenciação são eliminados e o clone expandido antígeno-específico morre.

 Reconhecimento de um antígeno e coestimulação


Para que as respostas das células T se iniciem, é preciso que vários receptores localizados nessas células
reconheçam os ligantes situados nas APCs: o TCR reconhece os antígenos peptídicos associados ao MHC, o
correceptor CD4 ou o CD8 reconhece as moléculas do MHC, as moléculas de adesão reforçam a ligação das células T
com as APCs e os receptores para os coestimuladores reconhecem os sinais secundários produzidos pelas APCs.

RECONHECIMENTO DOS PEPTÍDIOS ASSOCIADOS AO COMPLEXO MHC


Esse reconhecimento produz o primeiro sinal. O TCR expresso consiste em uma cadeia a e outra B, que
participam do reconhecimento dos antígenos. O TCR reconhece o peptídio apresentado e simultaneamente os
resíduos da molécula do MHC. Cada célula restrita ao MHC expressa a molécula CD4 ou a CD8 que se liga à molécula
do MHC, juntamente com o TCR.
Células TCD4 – que agem como células auxiliares produtoras de citocinas – reconhecem os antígenos
microbianos extracelulares que forma englobados e são apresentados pelas MHC II; células TCD8 – que atuam como
linfócitos T citolíticos – reconhecem os peptídios provenientes de micro-organismos citoplasmáticos que são
exibidos pelas moléculas do MHC I.
Dois ou mais TCRs e correceptores precisam ser acoplados de modo simultâneo para que a resposta das
células T tenha início.
Imunopatologia – Thalita Madeira

O TCR reconhece os antígenos, mas não é capaz de transmitir sinais bioquímicos para o interior da célula, o
que é feito pela CD3 e cadeia S do complexo TCR. Ativadores policlonais (moléculas que se ligam aos TCRs de todos
os clones de células independentemente da especificidade do TCR ao complexo peptídio-MHC), como
superantígenos microbianos, podem causar doenças graves por meio da ativação e da liberação excessiva de
citocinas de muitas células T.

PAPEL DAS MOLÉCULAS DE ADESÃO NA ATIVAÇÃO DAS CÉLULAS T


As moléculas de adesão localizadas na superfície das células T reconhecem seus ligantes na superfície das
APCs e estabilizam a ligação das células T com as APCs. Para induzir uma resposta eficaz, a ligação das células T com
as APCs precisa permanecer estável durante um período de tempo suficientemente longo para que o limiar de
sinalização seja alcançado. A molécula de adesão mais importante pertence à família das integrinas e é o antígeno-1
associado à função dos leucócitos (LFA-1), cujo ligante na superfície das APCs é a molécula de adesão intercelular-1
(ICAM-1).
Nas células T virgens em repouso, a LFA-1 encontra-se em baixo estado de afinidade. Quando uma célula T é
exposta às quimiocinas produzidas como parte da resposta imune inata a uma infecção, as moléculas de LFA-1 dessa
célula passam para um estado de alta afinidade. Como consequência, as células T ligam-se fortemente às APCs.

PAPEL DA COESTIMULAÇÃO NA ATIVAÇÃO DAS CÉLULAS T


A ativação total das células T depende do reconhecimento de coestimuladores presentes na superfície das
APCs, sendo estes os sinais secundários. Essas moléculas produzem estímulos para as células T em conjunto com a
estimulação proveniente do antígeno. Os coestimuladores mais bem definidos são B7-1 (CD80) e B7-2 (CD86),
expressos na superfície das APCs e cuja expressão se torna aumentada quando as APCs encontram micro-
organismos. Essas proteínas são reconhecidas pelo receptor CD28 expresso em todas as células T.
A sinalização mediada pelo CD28 é essencial para o início das respostas das células T virgens; na ausência das
interações CD28-B7 o acoplamento isolado do TCR é incapaz de ativar as células T. a necessidade de coestimulação
assegura que os linfócitos T virgens sejam totalmente ativados pelos antígenos microbianos e não por substâncias
estranhas danosas.
O ligante para a CD40, presente na superfície das células T, e na CD40, localizada na superfície das APCs não
intensificam de modo direto a ativação das células T: o CD40L expresso na superfície de uma célula T estimulada por
um antígeno liga-se à CD40 localizada na superfície das APCs, ativando-as, e as APCs ativadas expressam mais
coestimuladores B7 e secretam citocinas, como a IL-12, que intensifica a diferenciação das células T.
Antígenos proteicos, como aqueles utilizados nas vacinas, não conseguem provocar respostas imunes
dependentes de células T, a menos que sejam administrados juntamente com substâncias adjuvantes que ativam
APCs pela indução da expressão de coestimuladores e secreção de citocinas.
Diferentes membros da família CD28 estão envolvidos na ativação e na inibição das células T. receptores
inibitórios CLTA-4 reconhecem B7 nas APCs e PD-1. O CTLA-4 está envolvido na inibição da resposta a alguns
tumores e PD-1 inibe a resposta a algumas infecções e permite que estas se tornem crônicas.

ESTÍMULOS PARA ATIVAÇÃO DAS CÉLULAS TCD8+


A ativação dessas células é estimulada pelo reconhecimento dos peptídios associados ao MHC de classe I e
requer coestimuladores ou células T auxiliares. A mesma APC pode apresentar os antígenos virais do citosol em
complexos formados por moléculas MHC I e aqueles do interior de vesículas em complexos formados por MHC II.
Assim, tanto as células TCD8 quanto as células TCD4 específicas para antígenos virais são ativadas umas próximas às
outras. As células TCD4 podem produzir citocinas ou moléculas de membrana que auxiliam na ativação das células
TCD8. Esta necessidade de células T auxiliares nas respostas das células TCD8 é uma possível explicação para as
respostas incompletas dos CTLs a pacientes com HIV, o qual mata as células TCD4, mas não as TCD8.
Imunopatologia – Thalita Madeira

 Vias bioquímicas da ativação das células T


Células T virgens em repouso tem baixo nível de síntese proteica, diferentemente das ativadas, que
apresentam nova transcrição de genes e síntese proteica.
As vias bioquímicas ocorrem no complexo TCR ou próximo a ele. Este complexo, os correceptores CD4/CD8 e
CD28 coalescem para o centro e as integrinas se movem para formar um anel periférico (sinapse imunológica).
Proteínas transmembranas de sinalização associadas ao TCR contêm motivos de ativação de imunorreceptores
(ITAMs). A Lck transportada perto do complexo TCR pelas moléculas CD4 ou CD8 fosforila os resíduos ITAMS, que
tornam-se locais de ancoragem para uma tirosina cinase ZAP-70, que também é fosforilada pela Lck, passando a ser
enzimaticamente ativa. ZAP-70 ativada fosforila diversas proteínas adaptadoras e enzimas, que medeiam a
sinalização adicional.
- Via cácio-NFAT: é iniciada pela fosforilação mediada pela ZAP-70 e pela ativação da fosfolipase Cy (PLCy), que
catalisa a hidrólise dos fosfolipídios de membrana que tem inositol (PIP2). O subproduto IP3 estimula a liberação de
íons Ca2+ do RE. Em resposta ao Ca2+ elevado é aberto um canal de cálcio na membrana citoplasmática, que
provoca um influxo de Ca2+ extracelular. O Ca2+ liga-se à calmodulina e este complexo ativa a fosfatase
calcineurina, que remove os fosfatos de um NFAT citoplasmático, que então é capaz de migrar para o núcleo e ativar
a transcrição de genes, dentre os quais aqueles que codificam o fator de crescimento das células T (IL-2) e
componentes de seu receptor.
- Vias Ras/Rac-MAP: ligadas a GTP, Ras e RAC iniciam diferentes cascatas de enzima que resultam na ativação
de MAP cinases distintas. As MAP cinases terminais dessas vias promovem a expressão de uma proteína c-Fos e a
fosforilação de c-Jun, que combinam-se para formar o fator de transcrição ativo AP-1.
- Via PKC0: a PKC é ativada pelo DAG, formado pela hidrólise mediada pela PLC. A PKC0 age por meio de
proteínas adaptadoras que são recrutadas para o complexo TCR para ativar o NF-kB. Este fator está presente em sua
forma inativa no citoplasma em associação ao IkB, que é inativado pelos sinais gerados pelo TCR. O NF-kB é liberado
e transloca para o núcleo, onde ativa a transcrição gênica.
NFAT, AP-1 e NF-kB estimulam a transcrição e a subsequente produção de citocinas, receptores para citocinas,
indutores do ciclo celular e moléculas efetoras, como CD40L.

 Repostas funcionais dos linfócitos T aos antígenos e à coestimulação


SECREÇÃO DE CITOCINAS E EXPRESSÃO DOS RECEPTORES PARA CITOCINAS
Em resposta a um antígeno e aos coestimuladores, os linfócitos T, sobretudo CD4, secretam rapidamente
várias citocinas que atuam como mediadoras da imunidade e da inflamação.
A primeira citocina a ser produzida em 1-2 horas é a IL-2. A ativação aumenta a capacidade das células T de se
ligar e de responder à LI-2 por meio da regulação da expressão do receptor. O receptor de alta afinidade consiste em
uma molécula com três cadeias. Células T virgens expressam duas cadeias sinalizadoras, mas não a terceira que
capacita este receptor a se ligar à IL-2 com alta afinidade. Poucas horas após a ativação das células T essa terceira
cadeia é produzida. A IL-2 geralmente se liga à mesma célula que a produziu. Sua principal ação é estimular a
sobrevivência e a proliferação de células T. linfócitos TCD8 não secretam grandes quantidades de IL-2.

EXPANSÃO CLONAL
Um ou dois dias após sua ativação, os linfócitos T começam a proliferar, garantindo que a resposta
imunológica adquirida equipare-se à divisão dos micro-organismos e fornecendo rapidamente uma grande
população de linfócitos antígeno-específicos da qual podem ser geradas células efetoras. A expansão das células
TCD4 é muito menor do que das células TCD8 e isso reflete as diferentes funções dessas células: muitos CTLs podem
ser necessários para destruir grandes quantidades de células infectadas, mas talvez só haja necessidade de um
pequeno número de produtoras de citocinas.
Imunopatologia – Thalita Madeira

DIFERENCIAÇÃO DE CÉLULAS T VIRGENS EM CÉLULAS EFETORAS


A diferenciação resulta de alterações na expressão gênica e começa junto com a expansão clonal. As células
efetoras diferenciadas surgem dentro de 3-4 dias após a exposição aos micro-organismos e deixam os órgãos
linfoides para migrar para os sítios de infecção.
As células T CD4 diferenciam-se em células efetoras que respondem ao antígeno por meio da produção de
moléculas de superfície e citocinas cuja principal função é ativar fagócitos e linfócitos B. A proteína de superfície
celular mais importante na função destas células é o CD40L.
O sistema imune responde de modo diferente a diferentes micro-organismos. As células Th1 estimulam o
englobamento mediado por fagócitos e o extermínio de micro-organismos. A citocina mais importante nessa
resposta é o interferon-Y, potente ativador de macrófagos. O IFN-Y estimula a produção de isotipos de anticorpos
que promovem a fagocitose dos micro-organismos, que se ligam diretamente à porção Fc da superfície dos fagócitos
e ativam o complemento, gerando produtos que se ligam aos receptores para complemento dos fagócitos. Também
estimula a expressão de MHC II e de coestimuladores B7 na superfície de macrófagos e células dendríticas. As células
Th2 estimulam a imunidade independente de fagócitos mediada por eosinófilos, eficaz contra helmintos. Células Th2
produzem IL-4, que estimula a produção de IgE, e IL-5, que ativa eosinófilos. A IgE ativa os mastócitos e se liga aos
eosinófilos. IL-4 e IL-13 promovem a expulsão dos parasitas dos órgãos mucosos e inibem a entrada de micro-
organismos através da estimulação na secreção de muco. As citocinas das células Th2 também ativam macrófagos,
mas ao contrário do incremento da atividade microbicida provocada pela resposta Th1, esta ativação aumenta a
síntese de proteínas de matriz extracelular envolvida no reparo tissular. IL-4, IL-10 e IL-13 inibem a ativação de
macrófagos e suprimem a imunidade Th1. As células Th17 secretam IL-17 e IL-22, principais mediadores da
inflamação e também estão envolvidas na defesa contra infecções bacterianas e fúngicas.
O desenvolvimento dessas respostas é um processo regulado pelos estímulos que as células TCD4 virgens
recebem quando encontram antígenos microbianos. A diferenciação Th1 é guiada pela combinação de IL-12
(secretada pelas células dendríticas e macrófagos em resposta a bactérias e vírus) e IFN-Y (produzidos por células
NK). O desenvolvimento das células Th2 é estimulado pela IL-4: se um micro-organismo não estimular a produção de
IL-12 pelas APCs, as próprias células T produzem IL-4. Helmintos podem ativar as células de linhagem mastocitária a
secretar IL-4. O desenvolvimento e manutenção de células Th17 requerem citocinas inflamatórias IL-6 e IL-1
(produzidas por macrófagos e células dendríticas), IL-23 (relacionada ao IL-12) e TFG-B. Estas células promovem o
recrutamento de neutrófilos e monócitos.
Os linfócitos TCD8 ativados diferenciam-se em CTLs efetores, que destroem as células infectadas por meio da
secreção de proteínas que criam poros nas membranas das células infectadas e provocam a fragmentação do DNA e
apoptose. A diferenciação é acompanhada da síntese de moléculas que destroem as células infectadas.

DESENVOLVIMENTO DE LINFÓCITOS T DE MEMÓRIA


As células de memória de vida longa precisam de sinais enviados por citocinas IL-7 a fim de permanecerem
vivas. Células T de memória central povoam os tecidos linfoides e são responsáveis pela rápida expansão clonal após
reexposição ao antígeno. Células de memória efetoras se localizam nas mucosas e medeiam as funções efetoras
rápidas após a reintrodução do antígeno a esses locais.

DECLÍNIO DA RESPOSTA IMUNE


Espera-se que uma vez que a resposta esteja terminada, o sistema retorne ao seu estado de equilíbrio.
Durante a resposta, a sobrevivência e a proliferação das células são mantidas pelo antígeno, por sinais
coestimuladores das CD28 e por citocinas (como a IL-12). Uma vez que a infecção cesse, o estimulo para ativação dos
linfócitos some e essas células morrem.

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