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ORIZICULTURA NOS CAMPOS DO

MONDEGO: ANTES E DEPOIS DO


EMPARCELAMENTO

Unidade curricular: História Local


e Regional
1º ano de licenciatura em
Animação Socioeducativa
Docente: António Silva
Discente: Inês Freire e Rafaela
Morais
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“O arroz, além de alimento, hoje quase imprescindível, é
património, é cultura, é arte, é alimento festivo [...] e é um
forte fator de identidade [...].”

MENDES, José Amado. “O arroz do Baixo Mondego, da


gastronomia ao turismo rural”, Canteiros de Arroz: a
orizicultura entre o passado e o futuro, Câmara Municipal
de Montemor-o-Velho, 2005, p.62.

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Índice
Introdução ........................................................................................................................ 3

Caracterização e localização do Baixo Mondego: Rio Mondego ..................................... 4

Emparcelamento rural do Baixo Mondego ...................................................................... 6

A evolução histórica da cultura do arroz .......................................................................... 8

Métodos e técnicas utilizadas .......................................................................................... 9

Arroz do Baixo Mondego como património Nacional .................................................... 11

Conclusão........................................................................................................................ 12

Bibliografia e webgrafia .................................................................................................. 13

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Introdução
Este trabalho aborda o Baixo Mondego e o antes e depois do emparcelamento nos
campos do Mondego.

A rizicultura é muito importante neste local como também os métodos usados,


sejam tradicionais ou mecanizados. São as técnicas utilizadas na produção/cultivo
do arroz que fazem dele o carolino “Diamante Azul” ou “Gatões”.

Este cereal é usado em vários pratos gastronómicos promovidos na zona, por


exemplo, o arroz de lampreia e o típico arroz-doce de casamento.

A nível do património nacional existem inúmeros vestígios que remontam aos finais
da Idade Média, no entanto apesar deste vasto espólio, poucas são as infraestruturas
que existem salientando-se a Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, Figueira da
Foz e o Museu do Campo na Carapinheira.

Em suma, muito ainda há a fazer pelo Baixo Mondego, apesar dos seus campos já
terem sido cantados pelo ilustre Luís Vaz de Camões, na sua obra Os Lusíadas.

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Caracterização e localização do Baixo Mondego: Rio Mondego
O Baixo Mondego, pertencente à NUT III do litoral da região centro com cerca de
2062km2 de área, engloba oito concelhos: Coimbra, Cantanhede; Condeixa-a-Nova,
Figueira da Foz, Mira, Montemor-o-Velho, Penacova e Soure. Resulta sobretudo, do
cruzamento de influências humanas, hidrográficas e morfológicas, sendo cada uma
delas um marco de diversidade. Esta zona sofreu com as devastações próprias da
Reconquista, tendo-se formado em Coimbra um condado, em 878, perdido para os
muçulmanos em 987. Só com a reconquista definitiva de Coimbra, em 1064, e depois no
final do século com a constituição de Condado Portucalense, a legião do Baixo Mondego
passou a ter alguma estabilidade e paz. Os principais polos urbanos desta região são e
Coimbra e Figueira da Foz, onde a nível de atividades económicas, encontramos o
comércio e serviços. Verifica-se ainda uma componente agrícola muito forte,
sobressaindo as culturas do arroz e do milho. Este tem características típicas do litoral
nacional: grande densidade populacional, importantes serviços de saúde e de educação,
visto que Coimbra é um grande centro hospitalar (dois hospitais centrais) e educativo
(uma grande Universidade Nacional). A população do Baixo Mondego, apesar de
envelhecida, apresenta-se mais jovem que a região centro. A elevada humidade do ar,
a menor radiação global, o menor número de horas de luz e ainda as temperaturas
médias e mais amenas, influenciadas pelo regime mediterrâneo. As temperaturas mais
altas ocorrem em agosto e as mais baixas em janeiro, aumentando a temperatura com
a proximidade do mar, no inverno e diminuindo, no verão, sendo este um elemento
regulador da mesma. Os meses mais pluviosos são os de outubro a abril. A agricultura é
condicionada pelo clima. O Rio Mondego é um dos mais importantes rios de Portugal e
é o quinto maior rio português, com 227 km de extensão. Nasce na Serra da Estrela,
passa por três distritos e desagua no Oceano Atlântico, num estuário com 25 km de
comprimento na Figueira da Foz e constitui uma zona de convergência e transição entre
o Note Atlântico e o Sul Mediterrânico. Este rio acolhe várias espécies de aves: garças
reais, garças brancas pequenas e estorninhos malhados. Nos vales encontram-se os
terrenos mais férteis e produtivos. Os principais afluentes são o rio Dão, o rio Alva, o rio
Arunca e rio Ceira. A barragem da Aguieira alimenta-se do rio Mondego e pertence à
Bacia hidrográfica principal deste rio, mas também possuí uma bacia hidrográfica

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própria. Observando as cartas hidrográfica e hipsométrica de Portugal verificamos
que a rede fluvial do Mondego constitui uma bacia simétrica, medindo cerca de 700 mil
hectares, limitados pela Serra do Caramulo a norte e a Sul pela Estrela, que o rio principal
cai da nascente até Celorico da Beira, onde forma um pequeno patamar, indo até à Foz-
Dão, que a partir desta zona a depressão longitudinal diminui até à Portela e Coimbra e
onde se inicia um alargamento do leito até à Figueira da Foz. A bacia hidrográfica do
Mondego estende-se por duas unidades diferentes da Península: o maciço antigo ibérico
e a orla mesozoica ocidental, sendo as planícies e ondulações do litoral de forma
moderna terciária e quaternária. A Bacia de receção do rio Mondego é depois do rio
Sado e é escassa de arborização, declivosa, muito vincada e escavada, nem tem
patamares importantes, nem reservatórios regulares. É propícia a erosão violenta e a
cheias súbitas e curtas. Sabendo que os campos do Mondego eram extremamente
férteis para a produção de cerais, principalmente de arroz era necessário salvaguardar
os terrenos das cheias, muito frequentes até ao início de obras de regularização e
aproveitamento do rio.

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Emparcelamento rural do Baixo Mondego
O emparcelamento relaciona-se com a correção da estrutura fundiária antiga
fragmentada e irregular para uma estrutura mais funcional que assenta no traçado das
novas redes secundárias.

O processo de emparcelamento tem três fases, segundo a Direção Geral da Agricultura


e Desenvolvimento Rural (2011): a fixação das bases do projeto, com a delimitação do
Perímetro, a determinação da situação jurídica dos prédios, a classificação e avaliação
dos terrenos e benfeitorias, as condições de atribuição da reserva de terras, elaboração
dos “traçados dos novos lotes” e entrega dos novos prédios resultantes do plano de
recomposição predial, a todos os proprietários, com a inerente titulação por auto.

O emparcelamento permite normalmente, reduzir o número de prédios através da


concentração dos mesmos que cada proprietário possa ter, a resolução de problemas
de prédios em dificuldades, uma nova estrutura fundiária com melhores condições para
a agricultura, fácil acesso à água de rega, à rede de drenagem e à rede viária que permite
uma melhor acessibilidade a todos os prédios. Assim, é possível uma observação do
antes e depois do emparcelamento.

No que diz respeito à rede secundária de rega, antes do emparcelamento era uma rede
de rega pouco desenvolvida, constituída por valas e canais degradados que eram
alimentados pelos açudes construídos no rio, processado por ação da gravidade e
condicionada pelo fraco declive. Devido à variabilidade sazonal do caudal do rio
Mondego, nos meses de seca era normal haver pouca água para todas as explorações
agrícolas e, por isso, esta tornava-se um alvo por parte de todos os agricultores.

Depois do emparcelamento, a rede de rega já se encontrava organizada em parcelas de


rega, constituída por regadeiras (tubagem enterrada) ligado uma caixa de rega por cada
uma destas parcelas. Parcelas estas que não excedem os cinco prédios ou 2,5 hectares,
fazendo com que os agricultores adquirissem uma certa autonomia de rega. Esta rede
adequa-se também ao tipo de cultura a que se destinavam os blocos.

Relativamente à rede de drenagem, antes do emparcelamento era constituída por valas


degradadas, devido à presença de espécies infestantes, condicionando a sua eficiência,
o seu traçado era insuficiente para uma drenagem de todos os prédios. Depois do
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emparcelamento, verificava-se que a rede de drenagem era estruturada,
garantindo uma boa drenagem de todos os prédios e mantendo um plano de água com
uma profundidade mínima de 0,6 metros, através de comportas automáticas de
descarga para o rio Mondego.

Em relação à rede viária, a sua situação antes do emparcelamento era desorganizada,


irregular e pouco funcional, provocando dificuldades de vários prédios e dificultando o
acesso a muitos outros. Com o emparcelamento a rede viária era constituída por vários
tipos de caminhos com fins diferentes, proporcionando um fácil acesso a todos os
prédios e resolvendo o problema daqueles que se encontravam em dificuldades.

Por fim, no que diz respeito à estrutura fundiária, verificava-se que esta era irregular,
larga, dispersa e pouco funcional. O pós-emparcelamento trouxe à estrutura fundiária
mais funcionalidade, através da agregação dos vários prédios de cada proprietário,
permitindo o acesso de cada prédio às redes de rega, de drenagem e viária,
proporcionando, assim, melhores condições para que as explorações agrícolas fossem
mais eficientes.

O emparcelamento permite o aumento significativo do rendimento e produtividade


agrícola, a mecanização do maior número de explorações agrícolas, a diminuição dos
custos de produção, a melhoria das condições de vida dos agricultores e a introdução
de novas espécies.

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A evolução histórica da cultura do arroz
Introduzida na Península Ibérica pelos árabes a cultura do arroz é muito antiga.

Sendo que não há datas precisas relativamente à introdução da cultura do arroz nos
Campos do mondego, várias Fontes historiográficas concluem que o arroz já era
cultivado desde a segunda metade do século XVIII.

Eram os frades do mosteiro de Santa Cruz os mais poderosos proprietários das terras
do campo mondego, assim sendo praticavam orizicultura na Quinta de Foja, verificando-
se um maior desenvolvimento desde o século XVII.

A cultura do arroz manteve-se até meados do século XIX, progredindo até ao século XX.

Em 1800 a extensão da cultura foi favorecida devido ao alto preço do arroz e ao aumento
do consumo no meio urbano.

Na segunda metade do século XIX dá-se o alargamento da área de cultivo, contudo


causou bastantes protestos na população principalmente devido a doenças que aquela
cultura causava, em particular o paludismo1.

Em 1930, a cultura do arroz voltou a ser beneficiada, ou seja, tinha garantia de preços e
de escoamento de produção.

A partir de 1950, devido às obras regularização do mondego o crescimento da cultura


acentua-se. Sendo o arroz uma cultura rica, ao longo dos anos já ocupava mais de
metade da sua área total.

O Concelho de Montemor-o-Velho é aquele que contribui com maior parcela e, por isso,
é considerado o “coração” da origem e cultura do Baixo Mondego.

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Doença parasitária provocada pela existência de um parasita (inseto).

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Métodos e técnicas utilizadas
O método tradicional designado por “pouco mecanizado” assenta principalmente no
trabalho manual e no uso da tração animal, uma vez que apenas se recorre à tração
mecânica para a rebaixa e para a ceifa, é uma tecnologia muito localizada, verificando-
se praticamente ao Vale do Pranto, onde são piores as condições de drenagem.

A utilização de tração mecânica nas operações de preparação do solo e na colheita,


caracteriza a tecnologia “medianamente mecanizada”, que é dominante, estando
bastante difundida em todo o vale e parecendo ser a tecnologia típica das explorações
familiares e de tempo parcial.

A mecanização da agricultura é um indicador da capitalização das explorações agrícolas.


No distrito de Coimbra o Baixo Mondego tem uma percentagem baixa das explorações
com trator próprio. Montemor-o-Velho é o concelho que tem a percentagem mais
elevada de mecanização.

O recurso ao avião e, naturalmente, a integral mecanização, caracterizam os outros dois


tipos. Na tecnologia “altamente mecanizada” o avião é utilizado também na sementeira,
enquanto na “muito mecanizada” apenas o tratamento com herbicidas é feito com este
meio. São, evidentemente, tecnologias a que recorrem as maiores explorações
estimando-se em quase 13% a área de arroz a que recorre meios aéreos.

A utilização do avião é o exemplo mais notório da evolução verificada nas últimas


décadas nas formas de produzir arroz, mas sem dúvida que as alterações com mais
consequências são as que generalizam a substituição de grandes quantidades de
trabalho humano, desempenhado aliás em condições de difíceis e que são claramente
recordadas.

A substituição da plantação pela sementeira direta, que hoje está generalizada, e a


utilização de herbicidas, associadas à promoção de mecanização, foram os processos
que mais marcaram esta atividade durante a sua fase mais recente e que permitem, em
parte, compreender que ela seja praticada por um número elevado de pequenos
agricultores.

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A disponibilidade de meios mecânicos para a produção de arroz está relacionada
com várias questões. Desde logo com a grande difusão da compra de equipamento
próprio, especialmente na zona mais central do desenvolvimento recente desta
atividade

A opção pela compra está, aliás, relacionada com vários fatores, não necessariamente
irracionais, como frequentemente se crê, entre os quais se destaca a possibilidade de
compatibilizar a escassez de tempo (que resulta, para certos agricultores, da
pluriatividade) com a manutenção de uma atividade que se reconhece rentável.

Para além disto é frequente a disponibilidade de meios através da prestação de serviços


por parte de alguns agricultores para quem o aluguer é uma opção deliberada. Esta
situação, no entanto, verifica-se e está bastante relacionada com a disponibilidade de
equipamentos de maior dimensão.

De facto, pode dizer-se que a compra de água atinge proporções elevadas. Na zona da
Ereira e Montemor-o-Velho a compra é a forma largamente maioritária, enquanto na
faixa central, até S. Martinho de Árvore e Ameal, a utilização de meios próprios será
superior à compra, mas não substancialmente.

Aliás vale a pena sublinhar que este recurso a serviços de rega exteriores tanto
representa uma possibilidade de compatibilização da atividade orizícola com o
desempenho de uma profissão não agrícola, dado que as exigências de trabalho
familiares por parte dos pequenos agricultores se reproduzem bastante, como significa,
em muitos casos, uma situação de dependência e até de inevitabilidade de praticar esta
cultura.

Com efeito, não só o acesso à água, não é, nas condições atuais, possível de fazer
diretamente, sem intervenção de quem controla uma zona vasta, como as próprias
condições físicas da cultura tornam imperativo, pelo alargamento que se produz, que
todos os agricultores dessa mesma área do campo façam arroz.

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Arroz do Baixo Mondego como património Nacional
Os campos de arroz dominam o património do Baixo Mondego, desde a sua paisagem,
da sua gastronomia, do seu folclore, da sua etnografia representando a identidade local.
Por isso é necessário preservar as tradições associadas às colheitas (penhora do arroz, o
ensacamento...), os testemunhos materiais, imateriais e orais da realidade dos
trabalhadores, os utensílios, as máquinas agrícolas e até mesmo as antigas indústrias de
descasque.

O arroz surge associado à gastronomia, seja em sopas, em peixes do rio, em carnes


diversas ou nas doçarias. As grandes atrações gastronómicas são a canja de arroz com
bacalhau, o arroz de lampreia, o arroz de pato, o arroz de cricos, o arroz de sardinha ou
o arroz-doce típico dos casamentos. O arroz Carolino do Baixo Mondego diferencia-se
por ter um grão longo de formato arredondado que depois de cozinhado é conhecido
pela sua cremosidade, pastosidade, brancura e nutritividade.

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Conclusão
O Baixo Mondego situa-se na NUT III do litoral da região centro, englobando oito
concelhos, com um clima temperado e é banhado pelo rio Mondego.

O emparcelamento é uma correção da estrutura fundiária antiga fragmentada e regular


para uma estrutura mais funcional, dividida em três fases. O emparcelamento trouxe
várias vantagens á população, nomeadamente uma melhoria para as condições de vida.

O arroz Carolino do Baixo Mondego é símbolo do património nacional, associando-se à


gastronomia com o típico “Festival do Arroz e da Lampreia” comprovando-o todos os
anos devido á afluência de turistas oriundos de vários locais.

Em suma, o Baixo Mondego é muito rico seja em História seja em histórias.

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Bibliografia e webgrafia
BARBOSA MARQUES LEAL, Luís Manuel. Monte Mayor: a terra e a gente. Câmara
Municipal de Montemor-o-Velho, 2006.

BARBOSA MARQUES LEAL, Luís Manuel. Monte Mayor: a terra e a gente. Câmara
Municipal de Montemor-o-Velho, 2007.

BARBOSA MARQUES LEAL, Luís Manuel. Monte Mayor: a terra e a gente. Câmara
Municipal de Montemor-o-Velho, 2010.

CRUZ COELHO, Maria Helena da. O Baixo Mondego nos finais da idade média-Volume I.

CRUZ COELHO, Maria Helena da. O Baixo Mondego nos finais da idade média-Volume II.

Direção Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural-Baixo Mondego-


http://sir.dgadr.gov.pt/images/conteudos/regadios/fichas/reg_exploracao/Centro/
Mondego.pdf-Acesso em: 15 de junho de 2022.

Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica -Projeto de desenvolvimento agrícola


do baixo mondego- http://siaia.apambiente.pt/AIADOC/AIA1665/RNT1665.pdf - Acesso
em 12 de junho de 2022.

MENDES- José Amado- O arroz do Baixo Mondego, da gastronomia ao turismo rural,


Canteiros de Arroz: a orizicultura entre o passado e o futuro, Câmara Municipal de
Montemor-o-Velho, 2005, p.62.

REIS, José; HESPANA, Pedro. O desenvolvimento do Baixo Mondego: Economias


Regionais e Intervenção do Estado. Coimbra, 1998.

VAQUINHAS; Irene – Saberes e Sabores do Arroz Carolino do Baixo Mondego.

VAQUINHAS, Irene; MENDES, Jorge Amado-Canteiros de Arroz: a orizicultura entre o


passado e o futuro-
https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/36700/1/Nem%20sempre%20o%20arr
oz%20e%20doce%20A%20polemica%20sobre%20os%20arrozais%20dos%20campos%
20do%20Mondego.pdf – Acesso em 20 de junho de 2022.

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