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1.1.

O Rio Mondego como Gerador de Paisagens

O Rio Mondego, outrora Rio Munda, de origem no latim tem como significado
transparência, claridade e pureza, assim era o nome do maior rio que corre integralmente
em território português – 258 km, e que banhava a cidade romana Aeminium, hoje
conhecida como Coimbra.
Esta grande infraestrutura natural tem como nascente Corgo de Mós, concelhio de
Gouveia. Nesta primeira fase de desenvolvimento nada caracteriza melhor este corpo de
água do que o apelido ternamente atribuído pelos locais – “Mondeguinho”, sendo que no
decurso dos seus primeiros quilómetros se apresenta como um pequeno riacho, que de
forma talhada e afunilada corre entre a difícil e elevada topografia do Parque Natural da
Serra da Estrela, mais concretamente, no concelho da Guarda. Durante os próximos
quilómetros o rio Mondego livra-se da região montanhosa descendo radicalmente até Vila
Cortês do Mondego, passando dos cerca de 1400 metros de altitude até os 450 metros,
onde de forma vincada este encontra a sua direção final – Oeste, passando aí a encorpar-
se, ganhando assim a estrutura de leito de um rio largo e irregular, característico do maior
rio integralmente português. Após a Barragem Hidroelétrica da Aguieira, infraestrutura
artificialmente construída com ajuda dos enormes elementos naturais, rio Mondego e rio
Dão, este chega a Penacova, onde atravessa a fase final de uma grande região rochosa,
composta por formações de xisto e quartzo, sendo característico desta zona os vales
formados por imensos aglomerados de xisto recortados, esculpidos, para que assim se
faça passar o rio.
Chega assim enfim à paisagem mais comumente associada ao rio Mondego, as
suas margens urbanas, onde se implanta a cidade universitária de Coimbra, e também
onde apesar das suas mais valias referentes à fertilidade das suas margens, começa a
sentir-se os problemas que este acarreta devido ao seu percurso sinuoso:
“Define-se assim um padrão de imprevisibilidade nada fácil de controlar, devido à
estreiteza do leito do chamado Alto Mondego que, em alguns troços do curso médio, se
faz através de um vale bastante encaixado, que acelera as águas e as precipita
violentamente.” 1
Sendo este um problema antigo é impossível apontar todas as intervenções que
este álveo já sofreu, porém sabe-se que este atormentou várias dinastias do nosso reino,
das quais as primeiras que se debruçaram sobre este problema nada podiam fazer a não
ser pequenos esforços, planeados apenas de forma experimental, sendo que se carecia
do conhecimento técnico. Porém isto muda, quando em 1791 é chamado pelo rei D. Filipe
II o padre e engenheiro Estevão de Cabral, incumbido de resolver os problemas que
preocupavam não só os agricultores, mas também os senhores, donos particulares de
algumas quintas implantadas nas margens do rio, uma vez que o rio banhava
desgovernadamente a planície aluvial do baixo mondego desde 1783, propositadamente,
na esperança que este encontra-se nestes terrenos a cota mais baixa e por ali corresse.
Após um rápido trabalho, e umas quantas obras provisionais que cimentaram a
capacidade técnica do engenheiro, é em 28 de Março de 1791, determinado por alvará do
príncipe regente, D. João VI, o encanamento do rio, segundo o plano e a direção de
Estevão Cabral. É também realizada uma memória onde este explica não só o estado atual
do rio como a defesa da sua proposta, neste documento o autor evidencia aquelas que se
pensava ser as causas das últimas catástrofes, desde o aproveitamento agrícola dos
campos da beira, que muitos apontavam como sendo o principal responsável pelo
assoreamento do rio, até às penínsulas e ínsulas, que vinham crescendo artificialmente
com o apoio capital de senhores de poder que as adquiriam. Contudo de forma inteligível
a primeira é descartada, já a segunda volta-se mais uma vez concluir a destruição destes
elementos, 29 penínsulas e insulas que tornavam o álveo ainda mais irregular. Porém as
ideias principais e aquelas que marcam a cidade e o baixo mondego até os dias de hoje,
é o encanamento do rio num percurso mais a sul, através de um percurso em linha reta,
até Montemor-o-Velho, e, a plantação de uma grande mata – Mata Nacional do Choupal,
no lugar, outrora chamado “Quebrada Grande”, com o objetivo de delimitar o novo
percurso do rio.

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