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MÔNICA DE OLIVEIRA SANTOS

ADRIANA ALVES DE MENESES DELEVEDOVE


(ORGANIZADORAS)

Disbiose
C A R A C T E R Í S T I C A S
E
A T U A L I Z A Ç Õ E S
MÔNICA DE OLIVEIRA SANTOS
ADRIANA ALVES DE MENESES DELEVEDOVE
(ORGANIZADORAS)

Disbiose
C A R A C T E R Í S T I C A S
E
A T U A L I Z A Ç Õ E S

SBCSaúde
Goiás
ISBN 978-65-87580-02-9
Copyright © da Editora SBCSaúde Ltda

Editora SBCSaúde: http://sbcsaude.org.br/ ou


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DADOS DE CATALOGAÇÃO

___________________________________________________________________________
S237

Disbiose: Características e Atualizações/ Mônica de Oliveira Santos, Adriana Alves de Meneses


Delevedove [organizadoras]. 1 ed – Goiânia, Goiás: SBCSaúde, 2020.

155 p.

12000 kb - ePUB

Incluída bibliografia
ISBN 978-65-87580-02-9

1. Disbiose. 2. Intestino. 3. Saúde intestinal. 4. Microbiota

Índice para catálogo sistemático CCD 610


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E-mail address: publicacoes@sbcsaude.org.br


Corpo Editorial

Dr. Aroldo Vieira de Moraes Filho/ UNIFAN - GO


Dr. Benedito Rodrigues da Silva Neto/ UFG - GO
Dr. Ernane Gerre Pereira Bastos/ ULBRA- TO
Dr. Jonas Byk - Universidade Federal de Manaus - AM
Dr. Lucas Silva de Oliveira/ UNB - DF
Dr. Luiz Paulo Araújo dos Santos/ UFG - GO
Dra. Adriana Alves de Meneses Delevedove – UNAERP – SP
Dra. Aline Helena da Silva Cruz/ UFG - GO
Dra. Aline Raquel Voltan/ UNIRV - GO
Dra. Aliny Pereira de Lima/ UFG - GO
Dra. Andrielle de Castilho Fernandes/ UNIFAN - GO
Dra. Carolline Silva Borges/ UFG
Dra. Debora de Jesus Pires/ UEG – GO
Dra. Érica Izumi - UFT do Paraná - Campus de Santa Maria - PR
Dra. Juliana Santana De Curcio/ UFG - GO
Dra. Lilian Carla Carneiro/ UFG - GO
Dra. Mônica de Oliveira Santos/ UFG - GO
Dra. Mônica Santiago Barbosa/ UFG – GO
Dra. Pablinny Moreira Galdino de Carvalho/ UFOB - BA
Dra. Patricia Fernanda Zambuzzi Carvalho/ UFG – GO
Dra. Tereza Cristina Vieira de Rezende/ Universität Basel – Switzerland
Dra. Lara Stefânia Netto de Oliveira Leão – UFG-GO
Dra. Marcia Regina Pincerati - Universidade Positivo, Curitiba - PR.
Dra. Carla Cardoso da Silva/ UNIFAN - GO
Dra. Lorena Motta da Silva/ UEG - GO

Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9  3|


Autores
Adriana Alves de Meneses Delevedove
Aline Luiza Ribeiro
Ana Paula Silva Servato
Brunna Camargo dos Santos
Caroline Araujo Silva
Clara Elisa Melo Mundim
Mariana Queiroz Borges
Cynthia Nishigaki Sericaku
Daniela Ferreira de Araújo
Débora De Bortoli Verdelho
Dirceu Alves Carvalho
Fernanda Cristina de Abreu Mendes Claudino
Gabrielly Medeiros de Souza
Giovanna Cabrini Franco Martins
Herik Jansen de Souza Pimentel
Ingrid Oliveira Camargo
Isabela Gonçalves Costa
Kalitta Menezes e Silva
Karolyna Matos Silva
Kissy Rodrigues Borges
Laura Macruz David Amaral Capual
Lívia Costa de Assis
Luana Tavares Gonçalves
Ludmyla Auxiliadora Baumgratz de Brito
Luís Felipe Pires Fontana
Marcella Giovana Gava Brandolis
Marconi Augusto Toraci Marçal
Mariana Akemy Lopes Iuasse
Mariana Queiroz Borges
Matheus Campoy Tomazella
Matheus Mundim Bernardes
Milla Proto de Mattos Sabino
Mônica de Oliveira Santos
Nayra Cristina da Silva Melo
Ondina Almeida Resende
Sara Borges de Oliveira
Sayro Louis Figueredo Fontes
Tallita Rodrigues Suriani
Tauana Pereira Lacerda
Thayane Fogaça De Medeiros
Vinicius Morais De Sousa
Yhasmin Fernanda Silveira Lameira

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Sumário
CAPÍTULO 1............................................................................................................................................... 6

História da Disbiose

CAPÍTULO 2............................................................................................................................................. 20

Microbiota intestinal: composição e características

CAPÍTULO 3............................................................................................................................................. 31

Microbiota intestinal: ações e funções para o organismo

CAPÍTULO 4............................................................................................................................................. 43

Fatores que propiciam o desenvolvimento da disbiose

CAPÍTULO 5............................................................................................................................................. 57

Ação de drogas e fármacos na microbiota intestinal

CAPÍTULO 6............................................................................................................................................. 70

Como a disbiose causa doenças

CAPÍTULO 7............................................................................................................................................. 76

Relação entre intestino e sistema imune

CAPÍTULO 8............................................................................................................................................. 86

Diagnóstico da disbiose

CAPÍTULO 9............................................................................................................................................. 98

Dieta e efeitos atribuídos aos efeitos dos probióticos e prebióticos ao organismo

CAPÍTULO 10......................................................................................................................................... 113

Prevenção e Tratamento da Disbiose

CAPÍTULO 11......................................................................................................................................... 127

Disbiose em Paciente Obesos e Bariátricos

CAPÍTULO 12......................................................................................................................................... 142

Disbiose e Doenças Mentais

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CAPÍTULO 1
História da Disbiose

Sara Borges de Oliveira1 1. Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser

Dirceu Alves Carvalho1 Aparecida de Goiânia - Goiás


Mariana Akemy Lopes Luasse1
2. Faculdade de Medicina. – Universidade Federal de
Thayane Fogaça de Medeiros1
Goiás. Goiânia - Goiás
Mônica de Oliveira Santos2

A história da disbiose tem início com as implantou esses termos em um sentido diverso
primeiras análises da microbiota intestinal no ao da microbiologia portanto não é adequado
final do século XIX e início do século XX. citar ele como a fonte do conceito de disbiose
Metchnikoff, zoólogo-imunologista e [1].
pesquisador de longevidade, ganhador do O primeiro uso microbiológico do termo
Prêmio Nobel, jamais mencionou a palavra disbiose aparece em um artigo de 1920 de C.
disbiose. Porém, ele chamou a atenção para os Arthur Scheunert que alegou que a disbiose
microrganismos residentes e seus diferentes intestinal estava implicada na doença
efeitos no corpo humano, que ele questionou dosequinos e que poderia ser evitada por
serem "normais" ou "patológicos". Metchnikoff estábulos e água limpa. Mais tarde em sua
acreditava que o intestino grosso humano não carreira, Scheunert se envolveu em pesquisas
era útil e funcionava “meramente” para sobre digestão em seres humanos,
fornecer condições favoráveis às bactérias, especialmente prisioneiros durante a Segunda
muitas das quais ele pensava não poderem ser Guerra Mundial, mas o principal legado desse
úteis e provavelmente estavam diminuindo a projeto é uma forte crítica ética [1].
vida humana e que um dia a cirurgia permitiria O renascimento da disbiose na literatura
a remoção cirúrgica de rotina deste órgão inútil científica ocorreu na década de 60, através do
[1]. trabalho de Helmut Haenel, um
Um médico-romancista da mesma época, “microecologista” da era do pós-guerra
Elliott Furney, usou “eubiose” e “disbiose” em em Potsdam, Alemanha. Haenel fez menções
seu relato de ficção científica sobre clonagem repetidas à disbiose e deu a ela seu conceito
e regeneração de animais. No entanto, ele atual de mudança e desequilíbrio, o que
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poderia ser contrastado com o estado "normal" um dos ecossistemas mais complexos, com
positivo que ele chamou de eubiose [2]. cerca de 1.000 bactérias distintas. Seu
Haenel realizou análises do conteúdo estabelecimento é influenciado por múltiplos
intestinal humano e das fezes, a fim de fatores e chega ao ápice por volta dos dois
caracterizar os microrganismos no intestino anos de idade [4].
humano nas diversas fases da vida. Ele A microbiota intestinal influencia
descobriu que crianças convalescentes, diretamente na saúde do Hospedeiro, sendo
apesar de consideradas “clinicamente fundamental salientar que as bactérias podem
saudáveis”, possuíam uma microbiota tão ser patogênicas, mas também são essenciais à
alterada que não deve ser entendida como vida, devendo haver uma simbiose entre o
eubiose com composição normal, mas como hospedeiro e as bactérias, uma espécie de
disbiose com relações perturbadas. Haenel mutualismo, a qual ambos se beneficiem em
então propôs critérios para detectar essas prol da saúde do hospedeiro.
associações perturbadas quantificando O ser humano criou uma relação
variações das contagens bacterianas típicas simbiótica e mutualista com a microbiota
para intestinos e fezes. Haenel reconheceu intestinal e 95% bactérias não trazem efeitos
que a cultura não poderia mostrar a maléficos para ser humano. Não é a microbiota
composição total da microbiota, mas pensou que está dentro da gente, somos nós que
que suas contagens orgânicas funcionavam estamos dentro da microbiota. 100 micróbios
como indicadores efetivos do estado global da para cada célula humana.
“MICROBIOTA intestinal”. Sua pesquisa A primeira fonte de micróbios para a
ergueu questões sobre a estabilidade da colonização do trato gastrointestinal (TGI) é o
microbiota hospedeira, desequilíbrio e parto, principalmente o normal, por ter contato
respostas a perturbações, como os efeitos da direto com a microbiota fecal da mãe. Seguido
dieta (incluindo leite materno), cesarianas e então pelo ambiente e amamentação, essa por
tratamentos antimicrobianos nas comunidades sua vez sofre grande influência pelo uso de
de micróbios intestinais [2]. leite humano ou leite industrializado [5].
As principais bactérias que compõe a
MICROBIOTA INTESTINAL microbiota entérica são benéficas e/ou
O termo microbiota intestinal refere-se a probióticas e as nocivas. Como exemplo de
uma diversidade de microrganismos vivos probióticas temos as Bifidobactérias e
principalmente bactérias anaeróbias, que Lactobacilos (Bacteroides spp.,
colonizam o intestino logo após o nascimento. Bifidobacterium spp., Lactobacillus spp., e para
É constituído por microbiota nativa e de as nocivas podem ser citadas a
transição temporária, sendo considerado como Enterobacteriaceae e Clostridium spp. São
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encontrados também na microbita entérica a predominância de Proteobacteria; e que o
Eubacterium spp., Fusonbacterium spp., mecônio contém uma microbiota complexa,
PeptoStreptococcus spp., Ruminococcus [6]. com Prevotella sendo a predominante no
O trato gastrointestinal humano saudável primeiro mecônio [7].
é colonizado por microorganismos e a sua Assim sendo, em média a microbiota
formação possui tanto bactérias intestinal atinge a sua composição até os dois
(principalmente anaeróbicas), como fungos e anos de idade, mantendo-se estável até que
vírus. De acordo com alguns autores, ao alterações no sistema imunológico, fatores
nascer, o intestino é estéril, sendo colonizado genéticos do hospedeiro e fatores ambientais
durante o parto normal ou cesária [1]. No consigam, casualmente, desequilibrar a sua
entanto, tem autores que afirmam através de composição [2,3].
estudos que o intestino é colonizado ainda no A colonização do TGI infantil completa é
útero materno, mesmo sem haver qualquer de extrema importância para a saúde do bebê
evidência de ruptura da barreira amniótica. e posteriormente para o adulto, a sua
Esse estudo mostra que a placenta possui uma instalação e manutenção pode reduzir a
MICROBIOTA microbiana que compreende proliferação e disseminação de bactérias
micróbios não patogênicos dos filos multirresistentes. As bactérias entéricas
Tenericutes, Firmicutes, Bacteroidetes, apresentam funções favoráveis ao hospedeiro
Proteobacteria e Fusobacteria; que o líquido como as antibacterianas, imunomodulação e
amniótico tem uma comunidade microbiana metabólicos nutricionais [8].
distinta, mas que é caracterizada por baixa
diversidade, baixa riqueza e com

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Os períodos neonatais e da infância são geralmente são ocasionadas pelo
etapas importantes no estabelecimento da desequilíbrio dessa.
comunidade microbiana intestinal. Os Os micróbios que colonizam o trato
neonatos nascidos de partos normais são digestivo influenciam na transformação de
expostos a vagina materna e a microbiota nutrientes, no suprimento de vitaminas, na
fecal, esses possuem predominância por maturação da imunidade da mucosa e na
Prevotella spp. e Lactobacillus. Todavia, os que comunicação intestino-cérebro. A função da
nascem por cesariana não entram em contato microbiota intestinal depende principalmente
direto com a população microbiana vaginal de bactérias dos filos Bacteroidetes,
materna e, acaba que, são mais propensos a Firmicutes, Actinobacteria e Proteobacteria.
ter um microbioma dominado por micróbios Grandes mudanças na proporção entre esses
(Corynebacterium, Staphylococcus e filos, como, ampliação de patógenos e/ou
Propionibacterium spp) que são derivados da redução de bactérias benéficas de novos
pele da mãe, do ambiente ou da equipe grupos bacterianos levam a disbiose. O
hospitalar. Durante a primeira semana após o descontrole dessa microbiota pode causar
nascimento, o domínio principal é o gênero perda de efeitos imunes reguladores na
Bifidobacterium, observados em recém- mucosa intestinal, sendo associada a doenças
nascidos vaginais, enquanto os bebês inflamatórias e imuno-mediada [9].
nascidos de cesariana tem a prevalencia em
Firmicutes [7]. Alcançar uma homeostase adequada
A microbiota é fundamental para durante o momento de colonização do trato
sobrevivência. Ela contribui para o bem-estar gastrointestinal, é um dos elementos
do organismo do ser humano impedindo o imprescindíveis para a modulação do sistema
estabelecimento de bactérias patogênicas que imune adequado e indução da tolerância
imunológica. O não funcionamento desse
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sistema é a principal causa de doenças assim os mecanismos de defesa e gerando
autoimunes. A disbiose apresenta um sintomas clínicos.
agravante quando associado com As bactérias intestinais são apreciadas
permeabilidade intestinal, constipação e por propocionarem benefícios ao hospedeiro,
diarreia. Na microbiota anormal, a quebra dos como, fornecendo vitaminas, metabolizando
peptídeos e reabsorção de toxinas do lúmen compostos indigestíveis, defendendo contra
intestinal acontece de maneira inadequada, colonização de patógenos, contribuindo para
induzindo o surgimento de patologias pelo não o desenvolvimento da arquitetura do intestino
funcionamento das funções da microbiota e para o funcionamento do sistema imune. As
intestinal. Em pessoas saudáveis, nota-se uma bactérias colônicas podem fermentar
microbiota estável. Os agentes patogênicos substratos endógenos derivados do
quando obtidos são eliminados devido à hospedeiro, tais como, muco e enzimas
presença da microbiota comensal. Contudo, pancreáticas. À vista disso, a microbiota
ao obter uma quantidade significativa de intestinal produz metabólitos (substância
bactérias patogênicas (Salmonella spp., Vibrio resultante do processo de metabolismo) que
ou Estafilococcus), podem induzir uma certamente são absorvidos pelo sangue onde
desordem na microbiota natural, lesando eles podem alcançar o cérebro e o fígado [10].

Definição de disbiose:
Podemos definir disbiose intestinal como um desequilíbrio do ambiente microbiano:

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A disbiose intestinal ocorre pelo Ela pode ocasionar uma série de
desequilíbrio da microbiota local, havendo complicações ao organismo como a má
nesse caso, aumento no número de digestão e absorção de nutrientes no intestino
microrganismos patogênicos em relação delgado, produção de toxinas, mal estar,
àqueles considerados benéficos para nosso diarreia, inflamação e produção de
organismo [22]. substâncias peptídicas mutagênicas e
Esse desequilíbrio pode ocasionar carcinogênicas através da combinação de
aumento na permeabilidade intestinal, toxinas e proteínas provenientes da
resultando na passagem ascendente de alimentação [21].
lipopolissacarídeo (LPS) para a circulação É uma característica de doenças
sistêmica, gerando uma endotoxemia inflamatórias intestinais, distúrbios
metabólica e desenvolvimento de um estado metabólicos, doenças auto-imunes e
inflamatório crônico [11]. distúrbios neurológicos, podendo
De modo geral a disbiose intestinal é desencadear doenças nas primeiras semanas
causada pela falta de cuidado adequado com de vida ou durante a vida adulta [9]. Ela pode
o trato gastrointestinal como má alimentação, apresentar diversas causas como por
consumo excessivo de alimentos processados distúrbios metabólicos, autoimunes,
e estresse. Tratamentos prolongados com neurológicos e inflamatórios [2].
antibióticos também podem desempenhar um O Quadro clínico típico do paciente com
importante papel no desenvolvimento da disbiose intestinal engloba mau hálito,
disbiose intestinal, pois além de conferir flatulência, dispepsia, eructação, distensão
resistência aos microrganismos patogênicos abdominal.
ainda podem diminuir consideravelmente a É inquestionável o impacto que a saúde
população de microrganismos benéficos [12]. intestinal trás e as consequências advindas da
Com referência a isso, a disbiose disbiose estão relacionadas com diversas
caracteriza-se como um problema sério, e patologias, como, por exemplo, o câncer.
consequente dos hábitos mantidos Bactérias intestinais patogênicas produzem
atualmente, que tem grandes chances de carcionógenos poderosos. Ademais,
perturbar o organismo humano e por isso deve metabólitos bacterianos podem
ser mais investigada. Gases, cólicas, diarreias possuiratividade genotóxica, mutagênica ou
e prisão de ventre frequentes já é um quadro carcinogênica e contribuir para o
clínico que indica disbiose [13]. desenvolvimento de câncer, quando há um
longo período de exposição, que é o que
acontece na disbiose intestinal.

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Anatomofisiologia: moderadas na composição microbiana podem
Quando pensamos em disbiose temos fornecer uma oportunidade para que outros
que entender também o conceito de barreira fatores agravantes (estresse oxidativo,
intestinal, que é influenciada fisiologicamente bacteriófagos) amplifiquem as mudanças em
pelo MUCO, TIGH JUNCTIONS (TJ), agentes bacterianos, ao ponto de levar a uma
ADHERING JUNCTIONS (AJ), MICROBIOTA, disbiose [9].
SECREÇÃO ÁCIDA DO ESTÔMAGO, E Para digestão e absorção, além de
PERISTALTISMO. nutrientes absorvíveis, a mucosa intestinal
O nosso contato do meio interno com o também enfrenta antígenos externos. Assim, é
meio externo é feito através de um tubo que necessária uma barreira para bloquear a
vai da boca até ânus. Esse tubo é chamado de entrada desses antígenos enquanto absorve
TGI. Ele funciona como um exército, que vai nutrientes. No intestino, a linha dessa barreira
escolher o que entra e o que sai do corpo. é mantida por uma camada de células
O intestino possui 8 a 9 metros de epiteliais especializadas que estão ligadas
comprimento, fornecendo a maior interface entre si por proteínas de junção estreita (TJ).
entre o corpo e o mundo exterior. As células Se ocorrer alguma anormalidade entre esses
epiteliais cobrem as superfícies externas da fatores, a permeabilidade intestinal pode
mucosa intestinal e negociam a interação com aumentar. Com isso, poderá levar a um
o ambiente circundante. vazamento intestinal o que permitirá a entrada
É a interação entre os indivíduos e o meio de antígenos externos do lúmen intestinal no
ambiente em que vivem que dita o destino hospedeiro, o que pode promover respostas
clínico, ela é fisicamente e mecanicamente imunes locais e sistêmicas; podendo surgir ou
regulada por interfaces biológicas que dividem exacerbar doenças, como doença inflamatória
o corpo humano do ambiente que o circunda. intestinal, doença celíaca, hepatite autoimune,
Tanto fatores exógenos, como diabetes tipo 1, esclerose múltipla e lúpus
endógenos afetam a estruturação microbiana eritematoso sistêmico [14].
do intestino. Muitas vezes, é necessário mais A barreira física entre o lúmen intestinal
que um fator para induzir à disbiose, visto que e a circulação sistêmica permite a absorção de
a microbiota intestinal tem uma capacidade de nutrientes e impede a penetração da bactéria.
se adaptar a variações na disponibilidade de A barreira intestinal é composta
nutrientes e mudanças de condições preferencialmente por enterócitos (são
ambientais. Os fatores imprescindíveis que sobrepostos por uma camada de muco que
influenciam a composição da microbiota forma uma barreira física entre epitélio
intestinal são a dieta, fármacos, sistema subjacente e o lúmen do trato gastrointestinal
imunológico e a devida microbiota. Mudanças e protege o epitélio contra agentes nocivos,
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vírus e bactérias patogênicas). A barreira do células epiteliais intestinais são contínuo e o
muco consiste em camada interna, que é contato entre elas são selado por TJs. A via
presa à camada celular epitelial e é desprovida paracelular permite o transporte de
de bactérias; e em camada externa que pode substâncias através do epitélio intestinal pelos
ser lavada facilmente e é colonizada por espaços entre essas células. No topo do
bactérias. Os mecanismos de defesa intestinal epitélio intestinal, existem as camadas interna
são reforçados por células imunes na lâmina e externa, que cobrem o revestimento epitelial
própria, que desempenham um papel intestinal e fornecem proteção para separar os
essencial na proteção da mucosa intestinal microrganismos luminais do epitélio [14].
contra invasões de bactérias [8]. As moléculas bioquímicas com
Abaixo do epitélio intestinal, existem propriedades antimicrobianas existem no
placas de Peyer e folículos linfóides isolados. muco e no interior do lúmen, elas formam uma
Dentro destes, há Células B, células T, células rede para diminuir a carga de bactérias
dendríticas (DCs) e neutrófilos que colonizadas e reduzir a chance de contato
orquestram a resposta imune. As células entre antígenos no lúmen e células
caliciformes apresentam antígenos luminais hospedeiras [14].
adquiridos às células CD103 e dendríticas em
lâmina própria no intestino delgado. Além Permeabilidade intestinal:
disso, células caliciformes e GAPs são A permeabilidade intestinal se refere a
capazes de detectar patógenos invasores e mudanças no fluxo de solutos e fluidos entre o
inibir a translocação de bactérias patogênicas lúmen e os tecidos através do epitélio [17]. O
para o sistema imunológico do hospedeiro. epitélio do intestino é sustentado pelo
Outro componente da barreira imunológica é citoesqueleto, que se estende através das
a IgA secretora, que reside principalmente nas porções látero-apicais das células e forma as
superfícies da mucosa intestinal [14]. TJ. Essas junções são uma via de acesso de
As células epiteliais intestinais (IECs) macromoléculas, que permite ou não a
servem como uma barreira física no intestino, passagem bidirecional de substâncias. As
sendo renovadas a cada 3-5 dias. Existem rotas de permeação de substâncias pela
vários tipos de IECs funcionais, como os mucosa do intestino são: a transcelular, onde
enterócitos, células caliciformes, células as moléculas são menores que 0,4nm
Paneth, células M, células enteroendócrinas, (manitol) e atravessam as membranas
células de tufo. Os enterócitos são células celulares através de pequenos poros aquosos,
absorventes e vitais para captação de de alta incidência, presentes na membrana
nutrientes, e podem controlar a abundância de dos enterócitos; e paracelular, no qual as
bactérias Gram positivas. O revestimento das moléculas são maiores que 0,5nm (lactulose)
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e atravessam canais aquosos maiores essas junções compreendam proteínas
existentes nas TJ, de baixa incidência e diferentes, há semelhanças nos papéis das
susceptíveis ao estresse hiperosmolar [18]. proteínas transmembranares especializadas
Quando se utilizam marcadores com na formação de contatos adesivos
pesos moleculares variáveis, constata-se a extracelulares entre as células e intracelulares
presença de poros maiores e menores ao citoesqueleto de actina e vias de
localizados entre as células epiteliais. Esse sinalização. A AJ desempenha múltiplas
modelo é conhecido como teoria da via única. funções, como por exemplo, iniciação e
A permeação a macromoléculas aumenta em estabilização da adesão célula-célula,
processos que causam reação inflamatória na regulação do citoesqueleto de actina,
mucosa intestinal. A ruptura da barreira sinalização intracelular e regulação
intestinal e a permeação aumentada de transcricional. O núcleo da AJ inclui
macromoléculas têm sido relacionadas a interações entre glicoproteínas
mecanismos etiopatogênicos comuns a transmembranares da superfamília de
doenças inflamatórias do trato gastrointestinal caderina (caderina-E), e os membros da
e a doenças autoimunes. Para que a mucosa família da catenina (p120-catenina, β-catenina
possa desempenhar sua função de forma e α-catenina). Juntas, essas proteínas
adequada, sua integridade deve permanecer e controlam a formação, manutenção e função
o uso de bactérias probióticas vem sendo das AJ. As TJ têm duas funções exclusivas,
relacionado a essa manutenção da integridade são elas: função de vedação que impede a
do epitélio do intestino [18]. mistura de proteínas da membrana entre as
A permeabilidade do intestino pode ser membranas apical e baso-lateral e função de
alterada por excesso ou por defeito, e sua portão que controla a passagem paracelular
análise tem implicações na etiologia e na de íons e solutos entre as células. As TJ
patogenia de doenças intestinais e sistêmicas contêm proteínas transmembranares,
[16]. No entanto, a modulação da occludinas e claudinas, que conferem essas
permeabilidade intestinal mantém a funções, e proteínas citoplasmáticas de
homeostase da mucosa e, portanto, nem andaimes ZO-1, -2 e -3 associadas que podem
sempre resulta em resultados clínicos vincular TJ ao actina-citoesqueleto e à AJ [15].
patológicos [19]. A função de barreira da mucosa intestinal
pode ser alterada por: infecções intestinais,
Diferenças entre as junções: disbiose, deficiência de IgA secretora,
As tigh junctions (TJ) e adhering consumo de alimentos alergênicos ou de
junctions (AJ) fornecem contatos adesivos compostos tóxicos, álcool, anti-inflamatórios
entre as células epiteliais vizinhas. Embora
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não esteroides, antibióticos, quimioterapia, células dendríticas, regulam a passagem das
radioterapia, entre outros [16]. moléculas entre o lúmen intestinal e a
A função da barreira intestinal refere-se submucosa. As TJ regulam firmemente o
à capacidade da mucosa e componentes da tráfico de Ag paracelular [19]. A TJ é um
barreira extracelular (muco) para evitar trocas. complexo proteico que se forma dentro dos
As camadas do muco intestinal e cólon lipídios da membrana plasmática específica.
formam a primeira barreira. Ainda que o muco Essas junções restringem fluxo com base no
e as camadas sem agitação previnam alguns tamanho e na carga. Citocinas relacionadas à
organismos e moléculas grandes, eles fazem doença, fator de necrose tumoral e
pouco para impedir o fluxo de moléculas interleucina-13, podem regular
pequenas. Entretanto, a interrupção da diferencialmente a seletividade do tamanho e
produção de muco pode levar a danos a seletividade da carga dessa junção. Existem
intestinais e doenças inflamatórias. as vias de poros e de vazamentos de fluxo
Se falamos em disbiose, temos uma paracelular através da TJ que se referem a alta
mucosa intestinal mais fina, ruptura na capacidade, rotas seletivas e seletivas de
localização e distribuição das TJ e resposta carga, e rotas não seletivas de baixa
anormal do hospedeiro de peptídeos capacidade, respectivamente. A interleucina-
antimicrobianos e de imunoglobulinas IGA. 13 eleva o fluxo através da via dos poros. O
O aumento de permeabilidade intestinal, fator de necrose tumoral aumenta o fluxo pela
que é a perda ou redução da expressão das via de vazamento. Ambas as vias são
TJ, estão relacionadas a várias doenças envolvidas na perda de barreira associada à
crônicas. Tudo acompanha um processo doença [17].
inflamatório crônico corporal, que por muitas
vezes está alojada no TGI. A zonulina é um biomarcador de
Com toda essa alteração da permeabilidade intestinal que descreve o
permeabilidade, ele perde essa função de papel patogênico do intestino com vazamento
barreira e começa a entrar partículas que não em uma variedade de doenças inflamatórias
deveriam entrar. Como se nosso exército crônicas (CIDs), mas também, a ativação da
estivesse enfraquecido. Entram partículas via da zonulina faz parte do mecanismo
bacterianas (LPS) e partículas alimentares. E fisiológico para manter a homeostase da
isso faz um stress no sistema imune, pois este mucosa. Contudo, a zonulina não está
entende que está sendo atacado e começa a envolvida em todos os CIDs e que nem todos
formar anticorpos, principalmente IgG. os CIDs foram associados ao aumento da
A permeabilidade intestinal e o antígeno permeabilidade intestinal. A Zonulina é
luminal (Ag), através da via transcelular e de composta por uma família de proteínas [pré-
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haptoglobina 2 (HP2), precursor da HP2] quebra de tolerância, levando a doença
relacionadas. Haptoglobina evoluiu de uma inflamatória crônica em indivíduos
proteína associada à serina protease geneticamente suscetíveis. As doenças que a
associada à lectina de ligação à manose zonulina tem sido implicada são:
(MASP) que perdeu sua função de protease envelhecimento, doença celíaca, síndrome do
devido a mutações para adquirir novas intestino irritável, obesidade, diabetes mellitus,
funções, como por exemplo a capacidade de entre outras. Independentemente dessas
modular TJs intercelulares. Entre alguns CIDs, as etapas que levam a quebrar
estímulos luminais intestinais que podem tolerância e logo depois o desenvolvimento da
estimular a liberação de zonulina, o CID, parecem serem semelhantes [19].
crescimento excessivo de bactérias e as Vários componentes do meio
proteínas causadoras de doença celíaca (DC) inflamatório estão envolvidos no aumento da
foram identificadas como os dois gatilhos mais permeabilidade. O fator de necrose tumoral
poderosos. A secreção de zonulina é alfa (TNFα) é a citocina mais associada à
dependente de MyD8825 e é seguida por um junção epitelial (TJ), à desregulação e ao
aumento na permeabilidade intestinal comprometimento da barreira intestinal, no
secundária à desmontagem da proteína ZO-1 entanto, as interleucinas-13 (IL-13), os
do complexo juncional apertado. A gliadina interferon gama (IFN-γ), as IL-6 ou IL-1beta (IL-
desencadeia a liberação de zonulina através 1β) também foram envolvidos [20].
do receptor CXCR3 ativado pelo seu O butirato e os ácidos graxos de cadeia
envolvimento no MyD88 com um subsequente curta aumentam a transcrição da claudina 1 e
aumento da permeabilidade intestinal. A a competência de barreira, e abaixam a
ativação da via da zonulina pode representar claudina 2 formadora de poros. Os polifenóis
um mecanismo defensivo que libera da dieta têm sido usado na tentativa de reduzir
microorganismos, contribuindo para a a permeabilidade intestinal e melhorar a
resposta imunológica inata do hospedeiro função TJ, interferindo nas vias de transdução,
contra alterações no ecossistema microbiano porém tem ocorrido efeitos adversos, como
(colonização bacteriana intestino delgado ou atividades pró-oxidantes, perturbações de
alterações na sua composição ou ambas). transportadores e modulação de algumas
Estes achados estão de acordo com a enzimas. A Catequina (CAT) é um dos
crescente evidência sobre o papel das principais monômeros de flavan-3-ol
mudanças na composição e função do (polifenol) na dieta, enquanto a procianidina
microbioma, causando alterações funcionais dímero B2 (PB2) é uma proantocianidina
na permeabilidade intestinal, com dimérica generalizada; esses dois estão
subsequente aumento Tráfico de pessoas e presentes em alimentos, como cacau, maçã,
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vinho tinto, chá, entre outros e promovem A fosfatase alcalina intestinal é
respostas anti-oxidantes, impedindo produção ativamente ancorada na membrana do epitélio
de espécies reativas de oxigênio (ERO) e ou secretada no lúmen intestinal, a atividade
morte celular apoptótica. Entretanto, os efeitos dela pode aumentar bactérias supressoras de
por trás do papel protetor dos flavan-3-ols no lipopolissacarídeos (Bifidobacterium) e reduzir
início da doença intestinal inflamatória podem as produtoras de lipopolissacarídeos
estar relacionados a diferentes vias. Apesar de (Escherichia coli). A ativação do receptor 4 do
suas limitações, os modelos celulares in vitro toll-like (TLR4), que é uma proteína
ainda são úteis para prever os efeitos transmembranar que pertence à família de
mediados pelos compostos naturais na receptores de reconhecimento de padrões
permeabilidade da barreira epitelial [20]. (PRRs) e que é mais conhecido por
Várias substâncias exógenas coloniza o reconhecer o lipopolissacarídeo (LPS), inibi a
lúmen intestinal, como microorganismos, proliferação e promove a apoptose de células-
toxinas e antígenos. Sem a barreira intestinal tronco intestinais. Metabólitos bacterianos
funcionando adequadamente, essas (butirato) também foram identificados como
substâncias podem penetrar nos tecidos inibidores da proliferação de células-tronco do
abaixo do revestimento epitelial intestinal, intestino, porém a arquitetura de cripta
difundir no sangue e circulações linfáticas e intestinal protege as células-tronco intestinais
perturbar a homeostasia tecidual. Entretanto, desse efeito negativo dele [14].
existe um sistema de barreira com
propriedades físicas, bioquímicas e Conclusão:
imunológicas que impedem a entrada da Portanto, a microbiota é fundamental
maioria dos patógenos [14]. para a sobrevivência. Grandes mudanças na
No intestino, a comunicação entre proporção entre os filos Bacteroidetes,
bactérias e o hospedeiro é amplamente Firmicutes, Actinobacteria e Proteobacteria
dependente do reconhecimento de padrões levam a disbiose [9]. Na disbiose ocorrerá
moleculares associadas a micróbios por aumento da quantidade de bactérias maléficas
padrões receptores expressos em células e diminuição das benéficas, diminuição da
imunes e não imunes. Quando há um intestino diversidade das bactérias e crescimento em
com vazamento, bactérias comensais no locais onde normalmente não são encontradas
lúmen intestinal são capazes de escapar essas bactérias.
deste, com isso poderá induzir a inflamação e
causar danos sistêmicos ao tecido se
translocado para circulação periférica [14].

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REFERÊNCIAS:

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CAPÍTULO 2
Microbiota intestinal: composição e características

Isabela Gonçalves Costa1 Isabela.costa.igc@gmail.com


Luana Tavares Gonçalves1
Ingrid Oliveira Camargo1 1.Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser

Vinicius Morais de Sousa1 Aparecida de Goiânia – GO.

Adriana Alves de Meneses 2. Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP – SP.


Delevedove2

Composição da microbiota intestinal motilidade e na permeabilidade intestinal, na


A formação da colonização do trato função visceral e na resposta imune [3].
gastrointestinal inicia durante o nascimento e Determinadas alterações que ocorrem tanto
continua a se desenvolver até 3 anos de idade, no sistema imune quanto no sistema
modificando os microrganismos prevalentes. metabólico do hospedeiro, podem levar a
Nessa parte do organismo aloja uma distúrbios gastrointestinais, como em
variedade de gênero/espécies bacterianas, distúrbios intestinais (doença celíaca),
sendo compostos em sua maioria por distúrbios metabólicos (obesidade, diabetes),
Bacteroidetes e Firmicutes que podem variar doenças mentais (distúrbios alimentares,
em composição de acordo com a idade, transtorno do espectro autista) e distúrbios do
comprimento do trato gastrointestinal e sexo. sistema neural central [1,2,3].
A divisão da microbiota do intestino varia de Microbiota intestinal é um ecossistema
acordo à sua localização no trato simbiótico com o qual os seres humanos estão
gastrointestinal. No estômago e duodeno, sempre interagindo. A microbiota entérica é
devido à presença de suco gástrico e composta por microrganismos, constituindo
pancreático e das enzimas; a densidade um ecossistema rico, com cerca de 500
bacteriana é abundantemente baixa. Essa espécies bacterianas. Cada pessoa apresenta
densidade aumenta gradativamente no 160 espécies bacterianas distintas. 90% das
intestino delgado distal até chegar a atingir o bactérias fecais no adulto pertencem às
cólon, onde a sua maior concentração. Um Firmicutes (Gram positivas - 65%) e
desequilíbrio da microbiota pode interferir na Bacteroidetes (Gram negativas - 25%). Sendo

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que os anaeróbios (principalmente neuromoduladores (colina derivada de
Bacteroides e Bifidobacterium) dominam em bactérias, triptofano, gorduras de cadeia curta,
relação aos aeróbios [4]. ácidos graxos essenciais e grelina ou leptina)
Existe o microbioma que é um genoma no intestino [1].
coletivo dos microrganismos que habitam no Padrões gerais de enterotipos que
intestino e em outros nichos ecológicos, no compõem a microbiota intestinal ajudam a
qual contém 600.000 genes em cada distinguir as populações microbianas. A
indivíduo. E o metagenoma que é um genoma variedade de microbiomas é influenciada por
humano e microbiano [4]. microrganismos geneticamente relacionados,
É concedido ao microbioma, a habilidade idade semelhante e dietas comuns [3].
para formar uma barreira no intestino pelas A relação entre as células procariotas e
bactérias patogênicas, a diminuição do pH eucariotas desempenha um papel importante
relacionada à fabricação de ácidos e o desde o nascimento. Na fase inicial o número
estímulo à produção de substâncias e a variedade da colônia bacteriana são
(imunoglubulina A e mucina) que inibem a reduzidos, aumentando gradualmente sua
adesão de agentes patogênicos [4]. complexidade, que com 2 anos de idade
O sistema nervoso central modifica o consegue a maioria das propriedades da
microambiente intestinal, regulando a microbiota do adulto. Os fatores, como, o tipo
motilidade do intestino de secreção. Tanto de parto ou de leite, o ambiente ou a genética,
fatores extrínsecos, como intrínsecos regulam podem influenciar na colonização do
a composição da microbiota intestinal. No hospedeiro, na sua fase mais precoce. A
entanto, as bactérias reagem a essas alimentação tem a capacidade de causar
mudanças produzindo neurotransmissores ou alterações na composição do microbioma [4].

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Os Firmicutes, os Bacteroidetes e as Actinobacteria no intestino humano é
Proteobacteria, são as principais bactérias Bifidobacterium spp [3].
intestinais. Esses filos bacterianos auxiliam na Acredita-se que os fungos
absorção e na degradação dos nutrientes. Os compreendem aproximadamente 0,03% do
Firmicutes incluem os Clostridium spp., microbioma intestinal. Nota-se alta diversidade
Eubacterium spp., Faecalibacterium spp., fúngica entre os seres humanos. O gênero
Roseburia spp. e Ruminococcus spp. Os Candida spp. é o mais comum e o mais
Bacteroidetes incluem bactérias pertencentes frequente, seguido de Saccharomyces spp. e
ao gênero Bacteroides spp. e Prevotella spp. Cladosporium spp. Alguns fungos podem
O principal gênero pertencendo ao filo estar presentes em altas taxas no intestino
humano, a existência destes é devido a fontes

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ambientais tais como a água, local onde eles O gênero da Archaea que tem sido
podem ser facilmente encontrados. Gêneros encontrado no trato gastrointestinal é a
como Penicillium spp. e Aspergillus spp., não Methanobrevibacter spp. Outros gêneros que
residem em intestino humano. As principais também têm no intestino, são
espécies de fungos encontrados em Methanosphaera spp., Nitrososphaera spp.,
organismos humanos são fungos transitórios Thermogynomonas spp., e Thermoplasma
ou ambientais e não podem colonizar o spp. Distinções nas amostras de microbioma
intestino. Os fungos são instáveis e apenas de Archaea podem ser devidas ao método
20% destes, isolados em primeira coleta, são utilizado e/ou relações complexas com outra
identificados novamente após quatro meses. microbiota. As espécies, Methanobrevibacter
Alguns fungos estão correlacionados a e Nitrososphaera, revelaram previamente ser
processos inflamatórios (Malassezia mutuamente exclusiva e potencialmente
sympodialis que é conhecido por secretar associada à ingestão de carboidratos [3].
alérgenos potentes que podem aumentar a Ainda que, fungos, arqueas e vírus são
inflamação local na parte lesada do intestino considerados raros na composição da
de pacientes com doença inflamatória microbiota, eles apresentam um impacto
intestinal). M. sympodialis pode acionar os significativo na saúde do hospedeiro [3].
mastócitos para liberar leucotrienos A colonização do trato gastrointestinal
cisteínicos e elevar a resposta da IgE dos infantil completa é muito importante para a
mastócitos, o que pode levar à inflamação [3]. saúde do recém-nascido e posteriormente
Foram identificadas 13 espécies de para o adulto, pois a sua instalação e
poliomavírus, onde uns causam doenças e manutenção pode reduzir a disseminação de
outros não. As colônias virais são formadas bactérias resistentes. As principais bactérias
por 90% de bacteriófagos, ao passo que os que compõe a microbiota da criança são
vírus eucarióticos representam benéficas e/ou probióticas (Bifidobactérias e
aproximadamente 10%. Os recém-nascidos Lactobacilos) e as nocivas
salietam a maior variedade de fagos, essa (Enterobacteriaceae e Clostridium spp).
multiplicidade diminui com o avançar da idade. Probióticos são microrganismos vivos que
A função dos vírus no trato gastrointestinal oferecem vantagens para a saúde do
humano é ampliar a aptidão bacteriana como hospedeiro (ex: normalização da microbiota,
fontes de informação (exemplo: fonte de genes diminuição da permeabilidade intestinal,
de resistência a antibióticos), para melhorar a proteção contra invasores patogênicos, auxílio
imunidade das bactérias ou do hospedeiro nos reestabelecimentos pós antibicoterápicos
humano e proteger contra patógenos [3]. e estimulação do sistema imunológico) [9]. As
fezes de bebês que são amamentados com o
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leite materno, possuem 99% de bifidobactérias Os idosos possuem uma diminuição da
na sua microbiota, já os que se alimentam de variedade e uma instabilidade da microbiota
leite de fórmula possuem uma MICROBIOTA intestinal, levando ao favorecimento dos
mais heterogênea. Na composição das patobiontes (Helicobacter hepaticus,
espécies de bifidobactérias que colonizam o Helicobacter pylori, Clostridium difficile,
intestino das crianças existe um predomínio de Prevotela spp. e Klebsiella spp, Streptococcus,
Bifidobacterium longum e Bifidobacterium Staphylococcus e Enterococcus e algumas
bifidum [4]. espécies da família Enterobacteriaceae), que
Em adultos pode ser comum o encontro são espécies de bactérias que favorecem
de Bifidobacterium spp., Bacteroides spp., estados patológicos, no qual não são capazes
Clostridium spp. e Eubacterium. Em menor de gerar doença na presença de uma
presença pode ser encontrados os gêneros microbiota normal de um indivíduo saudável
Lactobacillus spp., Escherichia spp., [4].
Enterobacter spp., Streptococcus spp. e
Klebsiella spp [3].

BACTÉRIAS FUNÇÕES BIOLÓGICAS


Proteger contra lesões induzidas pelo
estresse a nível GI, modulação da
expressão de gene pro-inflamatórios,
Clostridium sporogenes, aumentar a expressão de genes anti-
E. coli inflamatórios. Associação das
patologias GI, do eixo cérebro-
intestino de algumas condições
neurológicas
Absorção das gorduras alimentares e
Lactobacillus, vitaminas lipossolúveis, manter a
Bifidobacterium, função de barreira intestinal, auxiliar
Enterobacter, em funções endócrinas que visam a
Bacteroides, regulação homeostática dos
Clostridium triglicerídeos, do colesterol, da glicose
e da energia
Ativar o eixo neuronal intestino-
Bifidobacterium, cérebro-fígado para regular a

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Roseburia, homeostase da glicose, influenciar a
Lactobacillus, permeabilidade da parede intestinal
Citrobacter,
Clostridium

Fornecer fontes endógenas


complementares de vitaminas,
Bifidobacterium fortalecer a função imune e exercer
efeitos epigenéticos na proliferação
celular

Eubacterium, Diminuição do pH, inibição do


Roseburia, crescimento de agentes patogênicos;
Faecalibacterium e estimulação da absorção de água e
Coprococus sódio; participação na síntese de
colesterol; fornecimento de energia às
células epiteliais

A colonização do trato gastrintestinal Bacterióides, Fusobactéria, Leptotrichia,


possui uma comunidade bacteriana estável. Peptostreptococci, Estreptocci, Veillonella e
As espécies bacterianas são encontradas em Treponema [5].
concentrações e regiões específicas [5]. Há pouca ação das bactérias no
A pele é composta por bactérias das estômago por causa do ácido clorídrico que
espécies de Actinobacteria, Firmicutes, atua como um agente germicida na
Proteobacteria e bacteroidetes; pelos gêneros concentração de 0-103 UFC/ml, sendo as
Staphylococcus, Propionibacterium espécies: a Helicobacter pylori (indivíduos
(associado a locais sebáceos) e com úlcera péptica ou neoplasia de
Corynebacterium basicamente; e pelo Filo de estômago), Lactobacillos e Streptococos. A
Thaumarchaeota da arquéia, possivelmente resistência bacteriana pode ser diminuída por
envolvido na oxidação de amônia [6]. uma baixa secreção de HCL, o que leva em
Na cavidade oral encontra-se alguns casos à inflamação da mucosa gástrica
principalmente bactérias anaeróbicas na ou até mesmo um risco aumentado de
concentração de 106 - 109 UFC/ml, sendo as supermultiplicação no intestino delgado, na
espécies: Bifidobactéria, Propionibactéria, qual, é moderadamente estéril [5]. O H. pylori

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é uma bactéria Gram negativa de forma Logo, o espaço de trânsito por meio do
espiralada, sendo a principal causa de gastrite intestino delgado não concede um maior
crônica ativa; acomete mais da metade da desenvolvimento bacteriano. Todavia, no cólon
humanidade, sendo considerada importante o tempo de trânsito é mais alargado, tendo
problema de saúde pública [11,13]. Esse uma microbiota mais diversificada [5].
agente desempenha importante papel na O gênero archaeal Metanobrevibacter,
gênese da úlcera péptica. Admite-se que a que se alimenta de metabólitos de outros
infecção pelo H. pylori seja adquirida micróbios intestinais e produz metano,
principalmente na infância [11]. O gênero geralmente é encontrado no cólon e é
Helicobacter é composto atualmente de, no altamente ativo; junto com outros desse
mínimo, 27 espécies que compartilham mesmo gênero, no entanto, menos dominante,
propriedades comuns, especialmente aquelas esses organismos removem o hidrogênio do
relacionadas com a vida no estômago, onde ambiente local e, tornando assim, a
podem localizar-se no fundo e no corpo, mas fermentação do polissacarídio mais
é principalmente no antro onde as bactérias termodinamicamente favorável. No cólon, há
são encontradas em maior densidade [12]. uma barreira contínua de muco intestinal que
A microbiota do íleo proximal consiste cobre o epitélio, organizado em uma camada
em 103 -104 UFC/ ml com predominância de interna que bloqueia a maioria das bactérias e
bactérias gram positivas aeróbicas e a do íleo uma camada externa que abriga bactérias de
distal consiste em 1011-1012UFC/ml do íleo espécies como: mucolíticas (como
distal, com principalmente bactérias gram- Akkermansia muciniphila), mucolizáveis (como
negativas aneróbicas (Escherichia coli), pois a Bacteroides), Bifidobacterium, e não-
bactéria no intestino delgado é impulsionada mucolíticas que podem se alimentar a jusante
pela rápida absorção e utilização de metabólitos desse processo. Entretanto, no
carboidratos simples, que poderia tornar essa intestino delgado, existe apenas uma camada
população particularmente sensível à de muco intestinal e é mais irregular do que a
composição dos alimentos ingeridos. Em do cólon [6].
particular, o gênero Streptococcus expressou No intestino grosso, há a microbiota
genes para essas funções em altas dominante com 109 -1011 UFC/ml,
correspondentes à alta abundância relativa da constituída apenas por bactérias anaeróbias
população . No entanto, a comunidade não é estritas (Bacteroides, Eubacterium,
necessariamente consistente ao longo de todo Fusobacterium, PeptoStreptococcus,
o intestino delgado, e há evidência de que a Bifidobacterium); a microbiota subdominante
composição bacteriana se torna mais com concentração de 107 -108 UFC/ml,
semelhante à do cólon em o íleo terminal [6]. possui principalmente bactéria anaeróbia
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facultativa (Escherichia coli, Enterococcus diversidade de microrganismos procarióticos
faecalis e algumas vezes Lactobacillos); e a (Enterobacteriaceae, Pseudomonas,
microbiota residual (< 107 UFC/ml de Veillonella) e alguns eucarióticos (leveduras e
conteúdo), que possui uma grande protozoários) [5].

PRINCIPAIS BACTÉRIAS ANAERÓBICAS DO TGI DE IMPORTÂNCIA CLÍNICA MÉDICA

A comunidade bacteriana vaginal na finais de fermentação, fazendo com que a


maioria dos indivíduos é dominada pelo vagina esteja protegida de infecções genitais
gênero Lactobacillus, possuindo uma baixa [8]. Entretanto, trabalhos recentes também
diversidade, mas com espécies e linhagens revelaram que um subconjunto de indivíduos
presentes diversas e variáveis que têm efeitos possui uma microbiota vaginal mais
importantes na saúde feminina [6,7]. Os heterogênea, incluindo Gardnerella,
lactobacilos beneficiem o hospedeiro Atopobium, Megasphaera, Streptococcus e
reduzinho o pH vaginal por meio de produtos Prevotella [6].

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Características da microbiota intestinal:

PH NO TGI

ESTÔMAGO
pH 1,5-5

CÓLON DUODENO
pH 5-7 pH 5-7

ÍLEO JEJUNO
pH 7-8 pH 7-9

BACTÉRIAS CARACTERÍSTICAS
Não esporulados
Aerotolerantes
pH 5-6,2
Habitat: cavidade oral, trato
Lactobacilos spp. intestinal e geniturinário feminino
Raramente provocam doenças
(ex: infecções genitais femininas)

Bacilos gram-positivos não


formadores de esporos
Anaeróbios estritos
Mais prevalente em crianças < 5
Bifidobacterium spp. anos e leite materno

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Produtor de ácido lático e ácido
acético
Diminui pH intestinal
Esporulados
Clostridium spp. Anaeróbios estritos e
aerotolerantes
Habitat: trato intestinal
Habitat: cólon
Bacteroides spp. Patologias associadas: infecções
microbianas e extraintestinais
Bacilo gram-negativo
Fusobacterium Patologias associadas: infecções
bucais e câncer cólon
Microbiota residente oral e
Prevotella spp. intestinal
Patologias associadas: infecções
bucais

Conclusão: continua até os 3 anos de idade. A composição


Portanto, no trato gastrointestinal (TGI) é e as características da microbiota variam de
alojado uma variedade de gênero/espécies acordo com a sua localização no TGI. Um
bacterianas, sendo compostos em sua maioria desequilíbrio dessa microbiota pode interferir
por Bacteroidetes e Firmicutes. A formação na motilidade, na permeabilidade intestinal, na
desse trato se inicia durante o nascimento e função visceral e na resposta imune.

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CAPÍTULO 3
Microbiota intestinal: ações e funções para o
organismo

Ondina Almeida Resende1 ondina.a.resende@hotmail.com

Milla Proto de Mattos Sabino1


1. Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo
Marconi Augusto Toraci Marçal1 Nasser Aparecida de Goiânia – GO.
Brunna Camargo dos Santos1
Adriana Alves de Meneses 2. Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP – SP.
Delevedove2

O trato gastrointestinal (TGI) é formado Essa microbiota é diferente para cada


por vários órgãos, os quais se diferem, em indivíduo, sendo diretamente determinada por
suma, por sua localização e características sua dieta, estrutura anatômica do organismo
constitucionais como pH, temperatura, hospedeiro, imunidade, genética do
presença de alguns solutos e enzimas, por hospedeiro, envelhecimento, condições de
exemplo. A partir dessas características, sabe- higiene e uso de medicamentos, entre outros.
se que, teremos para cada região uma Então, mudanças que ocorram em quaisquer
composição heterogênea de sua microbiota. desses fatores podem interferir na relação
Então, intuitivamente, é possível perceber que entre esses microrganismos e o organismo
a microbiota de todo TGI é variada, sendo que os possui (2).
composta por diferentes tipos de
microrganismos, como fungos, vírus e Funções
bactérias, como vimos anteriormente, e todos A microbiota do TGI, assim como de
com uma gama extensa de gêneros. Sabendo outras partes do organismo, possui uma
que cada microrganismo tem preferência por relação simbiótica com o seu hospedeiro, ou
uma localidade, seja devido alteração de pH seja, ambos se beneficiam dessa associação.
ou por maior ou menor relação com o Esses microrganismos são numerosos e
peristaltismo, cada local possui uma desempenham diversos papeis no organismo
microbiota específica (1). humano como proteção contra agentes

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infecciosos através da competição por sítios com a máxima que “o que acontece nos
de adesão e por nutrientes, imunomodulação, intestinos não fica nos intestinos”, visto que
influenciam e auxiliam na digestão e quando estudadas as patologias, em sua
metabolismo de alimentos (Figura 1), sendo maioria não ocorrem de forma individualizada,
importantíssimos para a manutenção da saúde tendo repercussões por todo o organismo,
do indivíduo. Essa interação ocorre de principalmente, nesse caso, quando falamos
maneira específica, por meio de sítios de em disbiose intestinal que pode ter
ligação determinados geneticamente (3). repercussões neurais, dermatológicas,
Além disso, ressaltaremos a importância ginecológicas, gástricas etc. Nos mostrando a
do intestino, ou melhor dizendo, a microbiota importância de se reconhecer a importância
intestinal com diversos órgãos do corpo, de olhar para o organismo de uma forma
sejam eles próximos ou não. Corroborando integral.

Figura 1 - Funções da microbiota intestinal

Influência no metabolismo Essa digestão dos polissacarídeos


Os microrganismos residentes do TGI promove formação e liberação de ácidos
auxiliam na digestão, melhorando o graxos de cadeia curta (AGCC) como acetato,
desempenho intestinal. O ser humano absorve propinato e butirato, principalmente (Figura 2),
açúcares simples (galactose, glicose), e é a principal forma de obtenção desses
dissacarídeos (sacarose, galactose e maltose), produtos no TGI. Porém, algumas condições
porém tem limitações diárias quanto à podem contribuir para que o metabolismo
hidrolisação de polissacarídeos. Esses realizado pelo próprio organismo contribua
polissacarídeos não hidrolisados pelo mais significativamente para a formação de
organismo do hospedeiro são prontamente AGCC como ingesta alcoólica, intolerância à
degradados pela microbiota intestinal (4). glicose, jejum prolongado, entre outros (5).

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Acetato

AGCC
Propinato
Butirato

Figura 2 - Principais ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) formados.

Os AGCC têm diferentes funções, eles Além da formação de AGCC, no


servem de substrato tanto para a processo de digestão de materiais que não
gliconeogênese, quanto para a síntese de foram digeridos previamente pelo organismo,
lipídeos (lipidogênese) no fígado, também são outros nutrientes são formados como a
precursores na formação de colesterol, atuam vitamina K, vitamina B12, tiamina e riboflavina,
no crescimento, desenvolvimento e que ficam disponíveis para a absorção. Eles
diferenciação celular, são apontados como também hidrolisam andrógenos, estrógenos,
moduladores em processos inflamatórios e sais biliares e ésteres de colesterol. O que
resposta imune a bactérias anaeróbicas, além reforça a importância desses microrganismos
de servir como fonte de energia para as residentes no TGI de um hospedeiro saudável
células colônicas e intestinais, entre outros (5). (6).
O butirato é a principal fonte energética
para os colonócitos, e substrato para a Imunomodulação
cetogênese. O acetato tem pouca absorção no A associação hospedeiro-microbiota
cólon, logo que produzido é quase que fornece estimulação de forma contínua ao
instantaneamente absorvido e captado pelo sistema imunológico humano, favorecendo o
fígado, onde é utilizado na gliconeogênese, desenvolvimento dele. Os microrganismos
cetogênese, lipogênese, produção de provocam expansão de linfócitos
glutamina, glutamato e colesterol. Já o intraepiteliais, aumento de centros de
butirato, que também serve de substrato no maturação de células produtoras de
fígado, é associado a gliconeogênese, síntese anticorpos (imunoglobulinas) nas Placas de
de colesterol, e formação de piruvato (5). Peyer (tecido organizado que forma centro
germinativo de linfócitos B e de proveniência
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de células precursoras, reguladoras e por ruptura da membrana interna das
produtoras de IgA ao longo do intestino), e bactérias. As α-defensinas são expressas pelo
consequentemente aumentam o número tecido epitelial, ou são fabricadas a partir de
desses compostos circulantes no sangue. produtos derivados da microbiota comensal,
Essa relação aconteceu para aperfeiçoar o relacionada com receptores de
sistema imune de forma a evitar reconhecimento de padrões (RRPs). A REG3γ
hipersensibilidade à antígenos alimentares, é uma lectina controlada de acordo com a
tolerar microrganismos que vivem em microbiota, está expressa no organismo
simbiose e destruir organismos patogênicos humano desde seu nascimento e possui efeito
detectados (7). microbicida sobre bactérias gram-positivas
Para manter a relação harmônica entre o (8).
binômio hospedeiro-microbiota, o contato A resposta inata está relacionada tanto
direto da mucosa com esses microrganismos pela detecção direta de microrganismos ou de
é minimizado, evitando a inflamação de derivados de seus produtos, que emitem sinais
mucosa e translocação bacteriana, para isso, através de receptores tipo Toll, tipo Nod, e
temos uma barreira física formada pela ácidos graxos de cadeia curta. Ainda não se
camada tecidual simples, camada de muco e sabe o mecanismo de penetração sistêmica
secreção de IgA presente na lâmina própria da dos metabólitos microbianos. Esses
mucosa e moléculas antimicrobianas (Figura metabólitos através dos receptores citados
3) (8). anteriormente impulsionam a produção e a
As proteínas antimicrobianas exercem emigração de monócitos da medula óssea,
um papel fundamental na imunidade inata do caracterizando, dessa forma, um estímulo à
organismo, elas podem tanto agredir a parede hematopoese do hospedeiro (8).
celular bacteriana através de enzimas como

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Sistema imune inato
Camada epitelial

Camada mucosa

IgA em lâmina
basal
Moléculas
antimicrobianas

Figura 3 - Composição do sistema imune inato do TGI humano

Caso, de alguma forma, os Placas de Peyer através do sangue e ao se


microrganismos comensais entrarem em depararem com antígenos (Ag) estranhos
contato com a mucosa intestinal (bacteremia ativam-se. Assim, linfócitos B são
transitória, por exemplo), eles irão desenvolver diferenciados em plasmócitos e produzem, a
o sistema imune adaptativo local e sistêmico partir desse momento, IgA contra esse
do organismo hospedeiro. Quando a barreira antígeno. Linfócitos T ativados e plasmócitos
física é atravessada, as bactérias são deixam a Placa de Peyer, transportados
fagocitadas por células dendríticas (o tipo através da linfa e são coletados pelo ducto
celular do sistema imune com maior interação torácico, posteriormente retornam à
inicial com microrganismos invasores). Essas circulação sanguínea e atingem a lâmina
células repletas internamente com bactérias própria intestinal, banhando também outras
(sobrevivendo por dias) podem interagir com mucosas, como do trato geniturinário e trato
células T e B nas Placas de Peyer, ou também respiratório, sendo ambos imunizados contra
podem migrar para linfonodos intestinais (7). esse Ag (Figura 4) (7).
Linfócitos previamente produzidos em
locais especializados movem-se para as

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Células
dendríticas
carregadas

Bactéria em
Ativação de
contato
linfócitos T
com a Ativação eB
mucosa
do sistema
imune
adaptativo

Destruição
Produção
das
de IgA
bactérias

Figura 4 Mecanismo de ativação do sistema imune adaptativo no hospedeiro

Os mecanismos de defesa compostos Inicialmente, o organismo é exposto aos


pelo sistema imune inato (barreira física microrganismos da mãe logo no parto, isso
inespecífica) e o sistema imune específico pode ser influenciado pelo tipo de parto (que
(resposta gerada de maneira exclusiva para é uma fonte natural de seus micróbios iniciais),
determinado agente) trabalham em cesarianas, por exemplo, a transferência
simultaneamente e de forma complementar dos microrganismos da mãe para o recém-
para a proteção do organismo, na preservação nascido não acontece. Posteriormente, o
de sua mucosa intestinal (7). organismo adquire outros microrganismos a
partir do meio ambiente. Outras situações que
Proteção contra infecções também podem estar relacionadas são
Há uma sequência específica para o isolamento em incubadora, amamentação
estabelecimento da colonização pelos exclusiva ou por fórmula, entre outras (Figura
microrganismos desde o nascimento, e esse 5) (6).
processo tem duração de cerca de seis meses A linhagem e a genética do hospedeiro
a um ano (apesar de ser discutível já que são importantes na composição da sua
alguns autores afirmam que há colonização microbiota, mas fatores externos como o uso
intraútero por passagem através da placenta e de antimicrobianos, alimentação, estilo de
outros afirmarem que esse processo ocorre vida, contato com o meio ambiente também
entre 2 a 4 anos), quando a microbiota será, possuem participação (Figura 5) (9).
então, semelhante à de um adulto.

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Formação da
microbiota

Fatores
Genética Linhagem
externos

Figura 5 - Mecanismos envolvidos na formação da microbiota humana

A função protetora da microbiota está medicamentos a fim de que o organismo se


associada ao impedimento da adesão de mantenha em homeostase, a relação
microrganismos patogênicos, tem-se a hospedeiro-microbiota seja simbiótica,
formação de uma barreira mecânica. Isso evitando-se patologias.
ocorre pela adesão da microbiota a sítios de
ligação que são determinados geneticamente. Associações com outros órgãos
A resistência à colonização envolve não Recentemente, têm-se voltado os
somente a competição aos sítios de ligação, estudos para a composição da microbiota
mas também, como citado anteriormente, a humana, visto que, a sua interação com o
defesa própria da mucosa intestinal, fatores organismo sugere uma influência significativa
anatômicos, fatores fisiológicos (integridade no processo saúde e doença de seu
da mucosa, por exemplo), salivação, respectivo hospedeiro.
descamação da mucosa, motilidade
gastrointestinal, há também a competição por - Doenças cardiovasculares
nutrientes, o que é importante para a Há uma recente preocupação sobre o
regulação da microbiota patogênica (3). grau de importância sobre a relação da
Sendo assim, mais uma vez, se mostra microbiota intestinal com doença
importante ressaltar a importância de uma boa cardiovascular (DCV), devido a DCV ser a
nutrição aliada a um estilo de vida saudável, principal responsável por mortes em países
sabedoria em relação ao uso de desenvolvidos (10).

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A microbiota intestinal age de forma cálcio plaquetário, aumentando assim o risco
direta sobre o organismo, como anteriormente de quadros de infarto (10).
citado em suas ações e funções, mas também Outras substâncias que podemos citar
pode interagir de forma indireta, com a são as toxinas urêmicas, que são metabólitos
formação de moléculas, que podem provocar de aminoácidos, que tanto a microbiota quanto
efeitos no hospedeiro por meio de diversos o fígado do ser humano sintetizam. Essas
processos. Existem as vias da trimetilamina toxinas podem estar concentradas no
(TMA)/ N-óxido de trimetilamina (TMAO), via organismo devido à doença renal crônica
dos ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e (DRC). Na circulação sanguínea, elas se
de ácidos biliares primários e secundários associam às proteínas, que geralmente estão
(ABs), que podem afetar processos realizados aumentadas nesses pacientes. O aumento
pelo hospedeiro (10). dessas proteínas (ligadas às toxinas urêmicas)
A nossa dieta fornece precursores como como a indoxil sulfato e p-cresil sulfatos e
colina, betaína, carnitina, γ-butirobetaína, tantas outras estão intimamente relacionadas
crotonobetaína, glicerofosfocolina, ao agravamento da fibrose cardíaca,
fosfatidilcolina, entre outros. Alguns hipertrofia de cardiomiócitos, fibrilação atrial,
microrganismos que compõem a microbiota aumentam a resposta do colágeno à trombina
parecem expressar enzimas como colina- com tendência à trombose, aumentam a
trimetil-liase (cut C/D), carnitina expressão de moléculas de adesão
monooxigenase (cnt A/B), betaína redutase, intercelular (ICAMs) em células endoteliais
por exemplo, que estão associadas à que acarretam formação de placa
formação de trimetilamina a partir desses aterosclerótica, entre outras. E assim,
substratos. No hospedeiro, existem flavinas consegue-se o entendimento das
monooxigenases (FMOs) que podem catalisar complicações da DRC, que estão
a oxidação da TMA em TMAO, essas enzimas correlacionadas com o aumento dessas
são produzidas no fígado. Existem três tipos toxinas (11).
dessas enzimas, a FMO1, FMO2 e FMO3 que
é a mais predominante (11). - Eixo intestinos-pele
Existem estudos que mostram a Esses órgãos possuem em comum uma
associação de níveis elevados de TMAO com série de características, tais como a sua rica
eventos cardiovasculares, principalmente à vascularização, perfusão e colonização
aterosclerose. A TMAO está vinculada à uma massiva, além de ambos serem barreiras que
placa aterosclerótica mais instável, além do entram em contato com o meio externo e
efeito pró-trombótico devido a sinalização de serem integrados ao sistema imune e
endocrinológico. O funcionamento deles é
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primordial no processo saúde e doença do A composição da microbiota do ser
organismo (12). humano está em constante mudança durante
Apesar da fisiopatologia não ser muito toda sua vida, sejam mudanças bem
bem compreendida, essa correlação é aceleradas (do nascimento até
perceptível quando reconhecemos que aproximadamente três anos, segundo alguns
alterações digestivas geram manifestações autores), ou quando há alguma certa
cutâneas e vice-versa. Como exemplo disso estabilidade (vida adulta, principalmente).
podemos citar pacientes com doença Porém mudanças aberrantes da microbiota
inflamatória intestinal (DII) que pode se podem ocorrer após 65 anos de idade,
apresentar-se com úlceras na pele e psoríase aproximadamente, por causas ainda
ou pacientes com doença celíaca podem se indefinidas, mas que enfatizam ainda mais a
apresentar com dermatite, por exemplo (12). relevância do estudo sobre a relação desses
Estudos apoiam que essa correlação microrganismos residentes e sua variação
ocorra pela regulação do ambiente com a presença ou ausência de algumas
imunológico pela microbiota tanto da pele doenças, que quando avaliada a idade, estão
quanto do intestino. O intestino quando em mais presentes em pessoas idosas. (13)
equilíbrio produz metabólitos Tão importante quanto saber sobre a
(neurotransmissores e hormônios) que podem atividade secretora do músculo esquelético
entrar na circulação sanguínea e repercutir que possibilita sua comunicação com outros
diretamente na pele. Componentes da dieta órgãos, é saber que outros órgãos também se
também podem influenciar de forma direta ou comunicam com o músculo e o influencia de
através da metabolização pelos alguma forma. (Nihms)
microrganismos intestinais e influenciar o Como forma de tentar comprovar toda
nosso tecido mais externo. Da mesma forma, essa correlação, podemos citar com casos de
a pele produz algumas substâncias, vitamina Kwashiorkor (forma de desnutrição aguda
D, por exemplo, que tem repercussão direta e grave) associada a alterações do metabolismo
uma grande função intestinal. Já em disbiose, de aminoácidos e carboidratos e que
além da hiperproliferação de bactérias, podem temporariamente poderiam ter uma melhora
ter toxinas produzidas no intestino e ambas com terapêutica nutricional que promove
conseguirem atravessar barreira intestinal reconfiguração microbiana. (13)
podendo criar ambiente pró-inflamatório Um estudo realizado em 2004 por
culminando em repercussões em todo o Backhed et al., demonstrou a regulação da
organismo, inclusive na pele (12) função metabólica muscular (já que tem papel
- Eixo intestinos-músculo no descarte da glicose), visto fizeram infusão
de conteúdo cecal de animais com criação
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convencional em camundongos nascidos e Eixo pouco compreendido, porém, com
criados em condições estéreis e sem potencial para tratamento de doenças
formação de uma microbiota, demonstrando pulmonares com manipulação da microbiota
aumento da gordura corporal desses animais intestinal. (budden2016)
e uma redução na sensibilidade à insulina e O pulmão e o trato gastrointestinal (TGI)
tolerância à glicose. (13) têm a mesma origem embrionária, sendo
Outro ponto crucial a ser ressaltado, foi assim possuem algumas semelhanças em sua
abordado em um estudo realizado por Cani et estrutura, então podendo ser órgãos que se
al. que demonstrou que uma alimentação rica comunicam tanto no organismo saudável
em gorduras em camundongos acarreta quanto doente, porém a forma que a
aumento de peso corporal, de marcadores microbiota intestinal interfere na imunidade
inflamatórios, além de diminuir a tolerância à pulmonar não está bem esclarecida. (14)
glicose. O estudo corroborou um aumento da Há anos, o pulmão era considerado local
permeabilidade intestinal, devido ao estéril, porém com o advento da cultura,
comprometimento das junções epiteliais no observou-se uma comunidade em território
intestino, culminando na facilitação da pulmonar, mesmo que de indivíduos
passagem de lipopolissacarídeos saudáveis. Acredita-se que por meio da
(componente de membrana externa de microaspiração, visto que quando
bactérias Gram-negativas) que promovem comparamos, os microrganismos presentes
uma resposta inflamatória do organismo e são semelhantes ao do TGI e diferentes de
consequentemente diminuem essa tolerância órgãos vizinhos. Acredita-se que essa
à glicose. (13) microbiota pulmonar possa não ser residente,
Por fim, de acordo com o mas sim uma colonização transitória que
envelhecimento há uma diminuição na função ocorre devido microaspirações e respiração.
e tamanho do músculo esquelético, fato que (14)
está relacionado ao estado inflamatório De forma análoga, pulmões e intestino
exacerbado que pode ser gerado por servem de barreira mecânica para entrada de
senescência imuno endócrina, dano do DNA, microrganismos, além da colonização normal
distorção da microbiota intestinal, entre outros, servir de resistência à patógenos. (14)
que provocam o aumento de endotoxinas Na prática, observamos essas
circulantes que afetam o equilíbrio proteico correlações pois é comum doenças
contribuindo para a redução da massa pulmonares crônicas (asma ou doença
muscular. (13) pulmonar obstrutiva crônica) associar-se com
- Eixo intestinos-pulmão doenças crônicas do TGI (doença inflamatória

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intestinal ou síndrome do intestino irritável. Por fim, existem várias outras
(14) associações/relações entre intestino e órgãos
Por terem a mesma origem embrionária, distantes, inclusive que serão abordados
alguns receptores encontrados no TGI se posteriormente. E o avanço de estudos nessa
encontram também nos pulmões, sendo assim área nos mostra o quanto o TGI é fundamental
explicada a associação, estímulos causados no processo de saúde e adoecimento do ser
na parede do TGI podem entrar em contato humano, visto isso, é importante uma
com o tecido pulmonar e motivar a mesma abordagem cada vez maior sobre esse
resposta, e vice-versa. (14) assunto.

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CAPÍTULO 4
Fatores que propiciam o desenvolvimento da disbiose

Caroline Araujo Silva1 Carol_rox06@hotmail.com


Daniela Ferreira de Araújo1
Sayro Louis Figueredo Fontes1 1.Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser
Lívia Costa de Assis1 Aparecida de Goiânia – GO.
Fernanda Cristina de A. M. 2. Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP –
Claudino1 SP.
Adriana Alves de Meneses
Delevedove2

A disbiose é caracterizada como são: estresse, uso frequente de antibióticos,


qualquer alteração indesejável na composição laxantes, corticoides e antiácidos, alterações
da microbiota intestinal que resulta em um na motilidade intestinal, alimentação
desequilíbrio entre as bactérias benéficas, inadequada, toxinas alimentares, poluição,
como lactobacilos e/ou bifidobactérias, e alcoolismo, imunodeficiência, infecção ou
patogênicas, em comparação com as infestações intestinais e alterações do pH
encontradas em uma população saudável. gástrico ou intestinal. Além disso, outros
Recomenda-se entender os diferentes fatores também podem contribuir para o
tipos de disbiose que podem afetar cada desenvolvimento da disbiose, como a idade, o
indivíduo, possibilitando uma investigação tempo de trânsito e o pH intestinal, a
clínica e um manejo no tratamento mais disponibilidade de material fermentável e o
adequado e assertivo. estado imunológico do hospedeiro. (14)
De acordo com Ayoub, os fatores que
predispõem ao desenvolvimento da disbiose

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AS PRINCIPAIS CAUSAS DO DESEQUILÍBRIO DA MICROBIOTA INTESTINAL SÃO:
▪ O consumo excessivo de alimentos processados ricos em carboidratos simples
(farinhas e açúcares) em detrimento de alimentos crus e naturais;
▪ O uso indiscriminado de antibióticos, que matam tanto as bactérias úteis como
nocivas;
▪ As doenças consumptivas, como câncer e síndrome da imunodeficiência
adquirida (AIDS)
▪ O uso de anti-inflamatórios hormonais e não hormonais; abuso de laxantes;
▪ As disfunções hepatopancreáticas e capacidade digestiva
▪ A excessiva exposição a toxinas ambientais, como os antibióticos nas carnes e
os agrotóxicos nas plantas;
▪ O estresse crônico e imunidade debilitada
▪ Constipação intestinal e diverticulose

As células endoteliais revestem então uma interface altamente dinâmica e


internamente os vasos sanguíneos e linfáticos, plástica entre a corrente sanguínea e o tecido
formando a monocamada endotelial. Essa intersticial, controlando a troca de água e
última funciona como uma barreira ativa e solutos. Também desempenham um crítico
reguladora do endotélio. (27) papel na regeneração, vasculogênese e
O endotélio vascular, como já referido angiogênese, inflamação e progressão
anteriormente, é composto por células tumoral das células endoteliais e junções de
endoteliais que se conectam entre si por células endoteliais passam por um programa
junções de células, aos quais se unem por específico e diferenciado de diferenciação em
estruturas complexas, que compreendem órgãos e segmentos. (26)
numerosas proteínas transmembranares que Os fatores de risco, que lesam a
interagem com ligantes de ligação em células integridade física da mucosa intestinal,
adjacentes e com parceiros intracelulares acarretando o fenômeno de intestino
associados. Sendo as duas principais permeável ou leaky gut, são propostos pelo
conexões estruturais as junções estreitas que estresse, uso abusivo de laxativos,
incorporam membros da família da molécula envelhecimento, ingesta rica em açúcares,
de adesão juncional (JAM), seletiva pelas consumo excessivo de álcool dieta rica em
células endoteliais de molécula de adesão e alimentos processados.
junções claudinas e aderentes. Formamos
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Parto cesária e Disbiose as bactérias mais comuns a colonização se
O contato de fato com o meio ambiente dão as anaeróbias - Bacteroides e Clostridium.
decorre durante o nascimento, onde de fato a Os indivíduos que apresentaram déficit no
colonização do recém-nascido acontece. O microbioma podem apresentar como
parto normal e a termo são condições que consequências casos de obesidade e aumento
provavelmente garantem a constituição do de infecções na vida adulta. (19)
que chamamos de microbiota saudável. Existem evidências convincentes de que
Crianças nascidas de parto normal serão o aleitamento materno e o parto normal
inicialmente colonizadas por bactérias do apresentam efeito protetor contra infecções
períneo da mãe, essas bactérias trazem virais e bacterianas e previnem o
benefícios, entre eles incluem o auxílio na desenvolvimento de doenças alérgicas e
digestão, defesa contra microrganismos autoimunes (AKAGAWA et. al., 2019).
patogênicos, além de contribuir no Crianças nascidas de parto cesárea,
amadurecimento do sistema imunológico. A principalmente partos agendados sem rotura
transmissão direta da microbiota vaginal ao da bolsa amniótica e sem trabalho de parto,
recém-nascido pode desempenhar um papel tendem a ter chance maior de desenvolver
defensivo, ocupando nichos e reduzindo a doenças alérgicas, autoimunes,
colonização por Staphylococcus aureus degenerativas, metabólicas, tanto intestinais
resistentes à meticilina e outros agentes como extra intestinais, incluindo obesidade e
patogênicos. (18) doenças cognitivas como, por exemplo, o
No parto cesariano, serão as bactérias autismo e a depressão. Uma colonização
do hospital e da pele do abdome materno os inicial por Clostridium difficille está associada
primeiros a serem recebidos pela criança, ao risco de asma, eczema e sensibilização a
sendo inclusive, o trabalho de parto em si, alérgenos alimentares aos 6 e 7 anos de vida.
considerado de suma importância, para que (29)
esta colonização inicial seja feita de modo Estudos recentes revelam a presença de
considerado saudável. Em estudos, neonatos microrganismos no líquido amniótico, nas
nascidos por cesariana possuem níveis baixos membranas fetais, cordão umbilical, placenta
de colonização, se comparados aos que e mecônio. Sendo que, neste último,
nasceram por via vaginal. E bactérias encontramos dois momentos distintos: o
importantes na constituição da microbiota, primeiro menos diversificado e com
como Lactobacillus e Bifidobacterias, que predomínio de bactérias da família
estão relacionadas com um decréscimo do Enterobacteriaceae; o segundo, mais tardio e
risco de doenças atópicas, são influenciadas diversificado, tem predomínio de bactérias do
negativamente na prática do parto cesáreo, já filo Firmicutes, especialmente bactérias
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ácidoláticas. Esta população bacteriana difere Os antibióticos são responsáveis por
do perfil encontrado na vagina, na pele ou nas atingir tanto as bactérias nocivas quanto as
fezes da mulher grávida, sugerindo que esta benéficas, promovendo o crescimento de
população de bactérias do mecônio tenha fungos que produzem toxinas que irritam
origem uterina, já que se assemelha ao perfil diretamente a mucosa intestinal. O aumento
do líquido amniótico. Neste sentido, acredita- da permeabilidade intestinal favorece a
se que a colonização do trato gastrintestinal absorção das toxinas pelo organismo. Outros
fetal possa acontecer, já intra-útero, pela fármacos envolvidos na causa da disbiose são
deglutição do referido líquido. Dessa forma, os anti-inflamatórios hormonais e não-
neonatos nascidos de cesárea terão alguns hormonais, e os laxantes (SANTOS, 2010).
microrganismos provenientes desse contato
mãe-feto, apesar de seu número reduzido em Alimentação e Disbiose
relação aos nascidos por parto vaginal. (20) A dieta do indivíduo pode ser
Ao nascimento, antes mesmo de realizar considerada uma das mais importantes
sua primeira respiração, esta criança já está causas da disbiose, pois a alimentação
sendo colonizada. Nas primeiras horas, ainda influência de modo direto a composição da
pela presença do oxigênio, o predomínio é de microbiota intestinal. (10)
bactérias aeróbias, como o Estreptococos e a Os consumos exagerados de sódio,
E. coli. Mais tarde, à medida que o oxigênio vai conservantes e gorduras saturadas
sendo consumido, prevalecem as estritamente contribuíram para o aumento da incidência da
anaeróbias, como as Bifidobactérias, obesidade, do diabetes e das doenças
Bacterióides e o Clostridium. inflamatórias intestinais. Tais hábitos, quando
frequentes, acarretam um desequilíbrio da
Medicamentos e Disbiose microbiota intestinal, relacionando-se
O uso irracional e indiscriminado de diretamente na manutenção da fisiologia do
medicamentos, sobretudo antibióticos, está trato gastrointestinal (TGI) e nos aspectos
entre as principais causas da disbiose. imunológicos. A disbiose propriamente dita,
Entende-se que o uso de antibióticos de amplo surge perante esse desequilíbrio da
espectro como, ampicilina, amoxicilina, microbiota intestinal, mediado também por
cefalosporina e clindamicina levam a abuso de antibióticos, dieta inadequada e
alterações no equilíbrio da microbiota, fatores emocionais.
principalmente sobre as bactérias benéficas, Entende-se, atualmente, que para um
causando diarreia em até 20% dos pacientes bom funcionamento do trato gastrointestinal
(ANTUNES et al., 2007). (TGI) é preciso equilíbrio entre os
microrganismos comensais presentes no sítio
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intestinal. Cada indivíduo possui uma A disbiose também pode estar associada
composição bacteriana específica, definida a intolerâncias alimentares decorrentes da
por padrões genéticos e ambientais, sendo deficiência de enzimas digestivas, por
que, majoritariamente bactérias dos filos exemplo, a deficiência de lactose, que
Firmicutes, em especial a ordem promove intolerância ao leite. (11)
lactobacillales, e bacteroidetes. Em adultos, Segundo evidências, o consumo de leite
essa microbiota permanece estável, até um e seus derivados são datados há 4 mil anos
estímulo levar a alterações, seja pela a.C. Esse consumo, pelo valor nutritivo do
alimentação, higiene, idade ou trânsito leite, fez com que aumentasse as variedades
intestinal. desse produto. A partir disso, o surgimento de
As espécies bacterianas, uma vez em novos tipos de leites, pelo avanço da indústria
desequilíbrio, com a proliferação de bactérias alimentar.
patológicas, como a Clostridium sp., sobre as A exclusão do leite e seus derivados,
bactérias comensais, prejudicam o para indivíduos com distúrbios de digestão,
metabolismo dos nutrientes e a sua adequada além de aliviar os sintomas, tem uma função
absorção e provocando um quadro de de prevenção da disbiose. Essa patologia em
hipovitaminose pela deficiência na síntese da questão causa redução das microvilosidades
vitamina K2. Levando, também, há deficiência da parede intestinal, diminuindo a superfície
na produção de ácido clorídrico. Como de absorção dos nutrientes e aumentando a
principal consequência, temos o rompimento taxa de passagem de grandes moléculas no
da barreira da mucosa intestinal, condição intestino. (34)
patológica chamada de permeabilidade As proteínas que compõem o leite são
intestinal. Sendo assim, produtos como classificadas em proteínas do soro do leite,
toxinas, bactérias e alimentos não digeridos contendo a alfa-lactalbumina e beta-
ultrapassam a barreira da mucosa e atingem a lactoglobulina e as proteínas caseínas, a
corrente sanguínea, levando a uma resposta exemplo a alfa s1, alfa s2, beta-caseína (CSN2)
do sistema imunológico. O organismo e kappa. Em maioria, temos as CSN2, que
interpreta tais substâncias como antígenos, possui variantes genéticas, as mais comuns
montando uma resposta imune contra o sendo A1 e A2.
antígeno. Quando constante o estímulo, um A produção de peptídeos bioativos (PB),
estado inflamatório crônico é atingido, como beta-casomorfina-7 (BCM-7), é
estimulando o desenvolvimento de obesidade, associada a variante A1, liberados em seguida
diabetes e manifestações alérgicas em a hidrólise enzimática pelas enzimas
pacientes suscetíveis. gastrointestinais e estão relacionados a efeitos
adversos da saúde humana, como alergia a
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proteína do leite, doença cardíaca isquêmica células dendriticas (DC) levando ao aumento
humana, diabetes mellitus tipo-1 e autismo. da carga viral do HIV (DILLON et al., 2017;
(35) KOAY et al., 2017).
Contudo, leite e derivados contendo a Desse modo, a disbiose incitada pelo
variante A2, evidenciaram a menor produção HIV é caracterizada por um desequilíbrio, com
do bioativo BCM-7, após a digestão características de diminuição de bactérias que
enzimática. são consideradas comensais, juntamente com
o aumento de bactérias potencialmente
Síndrome da Imunodeficiência patogênicas, o que culmina no fenótipo geral
Adquirida (AIDS) e Disbiose da inflamação da mucosa durante a infecção
A redução das bactérias no intestino pelo vírus, fazendo com que a disbiose
ocasiona uma perda da capacidade de microbiana se torne um importante fator de
controle da inflamação no trato gastrointestinal risco para diversas patologias intestinais,
em indivíduos portadores do vírus HIV, o que como a Síndrome do Intestino Irritável,
culmina em uma diminuição maciça de desnutrição, diarreia aguda e crônica em
subconjuntos das células T, já suprimidas indivíduos portadores do vírus HIV (ZEVIN et
inicialmente após o primeiro contato com o al., 2016; PUTIGNANI et al., 2016).
vírus. Além disso, à perda das bactérias
alteram o processo de degradação de Álcool e Disbiose
gorduras e glicanos derivados de animais na Estudos demonstram já estabelecida a
dieta de indivíduos infectados pelo vírus, relação entre a ingestão de álcool entérico e a
gerando manifestações de inúmeras doenças perda de função da barreira intestinal,
metabólicas (WU et al., 2011; LOZUPONE et podendo inclusive a ingesta aguda ou crônica
al., 2014). de álcool resultar em lesões funcionais e
A disbiose gerada durante a patogênese estruturais no trato gastrointestinal (LEQUERQ
do HIV contribui para a diminuição de células ela t., 2014). Essas lesões foram descritas
inatas como as Células NK, importantes na morfologicamente e incluem descobertas que
eliminação de células infectadas. Também vão desde erosões da mucosa gástrica à lesão
está associada positivamente com a ativação das pequenas vilosidades intestinais (QIN;
de marcadores de monócitos, ativação maciça DEITCH, 2014).
de células TCD4+ com consequente aumento O consumo crônico de etanol, acarreta
da inflamação sistêmica pela indução de uma diminuição na secreção de ácido gástrico
citocinas plasmáticas inclusive aquelas contribuindo para a ocorrência de
associadas à mortalidade, como IL-6, TNFα, supercrescimento bacteriano jejunal. Ocorre
IL-10, IFNγ, IL-1β e diminuição da ativação de também uma elevação na permeabilidade
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intestinal à bactérias e/ou toxinas. Estes podem melhorar a capacidade de agentes
fatores, somados a quebra da barreira patogênicos entéricos colonizarem o intestino,
intestinal vão ocasionar a liberação de além disso, o estresse metabólico agudo
bactérias por três mecanismos: aumento do repetido afeta os níveis de secreção de IgA no
número de bactérias no intestino, aumento de intestino, impactando na homeostase intestinal
permeabilidade da mucosa intestinal e promovendo uma possível disbiose (COLLINS
diminuição da defesa imunológica (1). et al. 2014).
Essas mudanças induzidas pelo estresse
metabólico gerado pelo consumo de álcool,

Consequências da Disbiose Intestinal induzida pelo Álcool


Aumento da permeabilidade intestinal
Lesão das tight junctions
Supercrescimento bacteriano
↑ Fusobacteria e Proteobacteria ↓ Clostridiales
↑ Candida sp ↓ Bacteroidadales
↑ Enterobacteriaceae ↓ Lactobacillus

Doenças do Trato Gastrointestinal e 3) Disbiose da microbiota comensal


Disbiose com aumento de espécies agressivas
A microbiota tem um papel importante no para o hospedeiro
desenvolvimento de Doenças Inflamatórias 4) Resposta desapropriada à
Intestinais (DII), apresentando uma tendência microbiota comensal
a ocorrer no cólon e íleo distal, devido à serem a. Alteração da permeabilidade da
regiões do intestino com maior concentração mucosa
de bactérias. (28) Inclusive, compreende-se b. Ineficácia da capacidade
que agentes microbianos fazem parte da bactericida
patogénese das DII, sendo desenvolvidas de c. Imunorregulação deficiente
quatro formas distintas:
Essas apresentações caracterizam as
1) Desequilíbrio da microbiota
principais evidencias que apoiam a
comensal;
participação da microbiota na fisiopatologia da
2) Indução de inflamação por
Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa.
patogénos microbianos;
(31,32)
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A disbiose desempenha um papel muito Já a Síndrome do Intestino Irritável, se
importante na Doença de Crohn, uma vez que apresenta como uma síndrome multifatorial,
a diminuição de bactérias produtoras de sendo que nos últimos anos foi realizada a
butirato, um ácido graxo de cadeia curta demonstração de casos em que pacientes
(AGCC), tem consequências diretas no meio apresentaram alterações na microbiota e na
ambiente intestinal, designadamente a mucosa intestinal. Existem evidencias
diminuição da sobrevivência dos enterócitos, relevantes que apoiam uma possível
aumento da produção de citocinas participação da microbiota na fisiopatologia da
inflamatórias e a diminuição da eliminação de SII, sendo elas (30):
Proteobacteria (agente potencialmente 1) Alterações qualitativas e
patogénico). quantitativas observadas com
Estudos recentes identificaram a frequência na microbiota intestinal;
microbiota intestinal e alguns fatores 2) Subgrupo de pacientes
ambientais, como dieta e estilo de vida, como apresentando histórico de
potenciais promotores do desenvolvimento do gastroenterite aguda precedendo o
Câncer de Cólon e Reto. Estudos in vitro e in início dos sintomas crônicos, sendo
vivo, identificaram que a alta ingestão de fibras considerado neste caso como tendo SII
pode trazer benefícios à saúde intestinal e pós-infecção;
diminuir a incidência de câncer colorretal. Isto 3) Maior prevalência de
ocorre devido às fibras serem fermentadas supercrescimento bacteriano intestinal
pelas bactérias do cólon, formando quando comparado com grupos
posteriormente aminoácidos de cadeia curta, controles saudáveis;
e, dentre eles, o butirato, que depois de 4) Restrição alimentar de
capturado pelos enterócitos, é usado como oligossacarídeos fermentáveis,
fonte local de energia. O butirato parece ser dissacarídeos, monossacarídeos e
capaz de induzir apoptose e inibir a polióis (FODMAPs) frequentemente
proliferação de células do cólon neoplásico. atenua a inflamação intestinal;
(33) 5) Possível modulação da
Porém, ainda não foi esclarecida a microbiota intestinal com antibióticos,
existência de microrganismos específicos probióticos e prebióticos e melhora
particularmente patogênicos e que podem clínica.
participar diretamente da carcinogênese ou se
o processo requer interações específicas
entre os tecidos hospedeiros e a microbiota do
cólon.
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Diabetes Mellitus tipo 2 e Disbiose
O diabetes mellitus tipo 2 é caracterizado Estresse e Disbiose
pela insuficiência da produção ou resistência O termo homeostasia é entendido como
aos efeitos da insulina. A relação entre a a constância entre um meio interno diante de
microbioma intestinal e o diabetes mellitus tipo um ambiente de mudança, já o estresse é
2 é estabelecida a partir do desequilíbrio de definido como a perturbação dessa
determinados filos de bactérias. homeostasia, respostas severas e prolongadas
O diabetes tipo 2 está associado a ao estresse podem levar a danos e doenças
composição do microbioma, vinculando-se ao nos tecidos.
nível de tolerância a glicose. Abordagens Várias situações tendem a provocar
metagenômicas recentes ajudaram a definir a diferentes padrões de respostas ao estresse,
composição específica da microbiota fecal em também existindo diferenças individuais nas
pacientes com DM2. Curiosamente, alguns respostas ao estresse para a mesma situação,
estudos correlacionaram o comprometimento essa tendência a exibir um padrão particular
do controle glicêmico e a resistência à insulina de respostas ao estresse em uma variedade
com a composição específica do microbioma de estressores é referido como resposta
intestinal. (17) estereotipada.
Li K e colaboradores (2019) em estudos Com a evolução, os mamíferos,
com camundongos confirmou a hipótese de progrediram com mecanismos homeostáticos
que o diabetes mellitus tipo 2 está intimamente razoavelmente eficazes para lidar com
correlacionado com inflamação crônica de estressores de curto prazo; na qual respostas
baixo grau e disbiose intestinal. Em seu agudas em indivíduos jovens e saudáveis não
estudo, realizou testes de glicemia de jejum e fornece ônus a saúde. Entretanto, uma vez que
de tolerância à glicose oral. Os ratos foram tal ameaça torna-se persistente, em especial
divididos em grupos, onde, após seis semanas para indivíduos idosos ou não saudáveis, os
de intervenção com insulina pode-se observar efeitos os efeitos a um longo prazo podem ser
que a abundância de Cyanobacteria e prejudiciais à saúde. (23)
Bacteroides estava positivamente A infância é uma fase de suma
correlacionada com IL-10; a abundância de importância para o desenvolvimento da
Deferribacteres, Tenericutes, Mucispirillum e microbiota e da saúde mental, sendo assim, é
Rumini Clostridium estava intimamente necessário perceber como o estresse, nos
relacionada à IL-6 ou TNF-α. Além disso, a primeiros dias de vida leva a alterações da vida
abundância de Mucispirillum e Rumini adulta. A separação materna, por exemplo, é
Clostridium foi correlacionada positivamente responsável pela disbiose intestinal na
com o lipopolissacarídeos plasmáticos. infância, a qual persiste na vida adulta,
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segundo pesquisas em ratos de laboratório. As metabolismo do triptofano ao longo da via da
maiores diferenças se dão na quantidade de quinurenina se encontra alterado. Também os
bactérias do filo Firmicutes e do filo níveis de triptofano e o seu metabolismo se
Bacteroidetes, que aumentaram seu número, encontravam alterados nos animais livres de
sendo que bactérias de outros filos sofreram germes. Os machos apresentavam
uma diminuição significativa. concentrações de triptofano superior ao das
Em um trabalho, a relação da depleção fêmeas e do grupo controle, mas os ratos de
da microbiota intestinal na adolescência, por ambos os sexos. Portanto, verificou-se que
uso de antibióticos, provocou diminuição de estas alterações neuroquímicas mas não as
bactérias intestinais, bem como da sua comportamentais, são resistentes à
diversidade. Predominando Proteobacterias e restauração da microbiota intestinal
Cyanobacterias em relação as Firmicutes e demonstrando o quão difícil é reverter as
Bacteroidetes. Em decorrência dessa modificações neuroquímicas induzidas pela
depleção intestinal, tem-se alterações de ausência de microbiota nos primeiros tempos
neuromoduladores, a exemplo o triptofano, de vida. (2)
participante na regulação de comportamentos
associados a desregulações do eixo intestino-
cérebro. (24) Fatores genéticos e Disbiose
Nossa microbiota intestinal, poderia, Existem evidências cientificas que
ainda, afetar o sistema serotoninérgico no corroboram a influência preponderante da
hipocampo, importante no controle de genética do hospedeiro na aquisição e no
estresse e ansiedade. O controle desse desenvolvimento da microbiota intestinal em
sistema varia com o sexo, contudo, tanto idade pediátrica. A sua contribuição fora
machos como fêmeas de ratos, apresentam avaliada em diferentes graus de parentesco,
aumento da reatividade do eixo hipotálamo- sendo verificado maior semelhança da
pituitária-adrenal (HPA), em decorrência do microbiota intestinal entre pares de gêmeos,
aumento dos níveis de corticosterona após quando comparado a indivíduos não
estímulo estressante. Porém, aumento de aparentados. Quanto a herdabilidade
concentração de serotonina ocorreu apenas individual da taxa de microbianos, as bactérias
em ratos do sexo masculino. Já os níveis de do phylum Bacteroidetes foi moldada,
triptofano e seu metabolismo eram menores principalmente, por fatores ambientais. Para
em ratos do sexo feminino, se comparado com as famílias do phylum Firmicutes, incluindo
o sexo masculino. E ambos os sexos Ruminococcaceae, Lachnospiraceae e
apresentaram diminuição do rácio Christensenellaceae, a influência da
quinurenina-triptofano, sendo assim, o hereditariedade foi mais significativa. A
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Christensenellaceae possui o táxon de maior sanguíneos ABO e Lewis na mucosa intestinal,
heritabilidade, concorrendo com outros táxons também a glicolisação do muco intestinal e
altamente hereditários, como a família dos oligossacarídeos do leite materno.
Methanobacteriaceae. Tal concorrência deve- A FUT3, adicionalmente, produz
se ao fato de múltiplos táxons serem antígenos de Lewis A para indivíduos não-
hereditários e concorrerem, contudo, cada um secretores e antígenos B para indivíduos
é afetado de forma independente pela secretores. Outros genes foram apontados
genética do hospedeiro. como influenciadores da composição da
Em estudos, a partir dos 12 meses de microbiota intestinal, em especial, aqueles que
idade, o perfil microbiano de um par de codificam mediadores imunológicos, a
gêmeos monozigóticos com um irmão fraterno exemplo o domínio de oligomerização de
tornou-se uniforme entre os lactentes, sendo ligação de nucleotídeos (NOD-2) e o gene da
proposto que a genética do hospedeiro possui Febre Mediterrânica Familiar (MEFV). Um
papel significativo na composição da receptor de NOD-2 reconhece os fragmentos
microbiota intestinal durante o início da vida e de dipéptido de muramilo, derivados da
os determinantes ambientais dominam parede celular bacteriana e regula assim a
posteriormente. libertação de α-defensinas por células de
Em outro estudo, temos uma abordagem Paneth. Em nós, humanos, mutações de NOD-
de genes candidatos para análise do 2, são um fator de risco para desenvolvimento
envolvimento de genes individuais na de doença inflamatória intestinal e estão
composição microbiana intestinal. O indivíduo associadas à disbiose intestinal. Já mutações
que possui o gene funcional fucosiltransferase do gene MEFV, levam a Febre Mediterrânica
2 (FUT2), conhecidos como secretores, Familiar, doença autoimune, que tem como
possuem comunidades microbianas diferentes causa a liberação desequilibrada de
em comparação com indivíduos não- interleucina 21, com alterações da microbiota
secretores. A condição de secretor, regula intestinal. (25)
existência de antígenos dos grupos

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CAPÍTULO 5
Ação de drogas e fármacos na microbiota intestinal

Luís Felipe Pires Fontana1


Herik Jansen de Souza
Pimentel1
Aline Luiza Ribeiro1 1.Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser
Aparecida de Goiânia - GO.
Mariana Queiroz Borges1
Débora de Bortoli Verdelho1 2. Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP – SP

Adriana Alves de Meneses


Delevedove2

A microbiota, por fazer parte da mucosa A mistura de maior efeito na composição


intestinal, interage com as drogas no lúmen bacteriana foi de IBPs, laxantes e antibióticos.
intestinal antes de serem transmitidas para a Os antibióticos atuam na sobrevida bacteriana;
corrente sanguínea. Devido a esse contato enquanto laxantes e inibidores da bomba de
direto, as bactérias não só podem atuar na prótons afetam fisicamente o trânsito intestinal
metabolização de compostos (Fig. 1) como e as características do hospedeiro. Apesar das
também são influenciadas pela ação dos alterações, a riqueza da microbiota não é
fármacos utilizados pelo paciente. Dessa alterada, mas alguns tipos bacterianos
forma, o receituário de um indivíduo é capaz apresentaram ligeiro aumento ou redução, o
de marcar uma “assinatura microbiótica” em que é proporcionalmente significativo, visto
sua flora intestinal. A partir dessa premissa, que o número de bactérias em um corpo é
em 2019, uma metanalise com 1883 quase equivalente ao de células humanas. 1, 4,

participantes demonstrou que 19 de 41 6

remédios testados, sendo esses comumente


usados, tiveram um reflexo característico na
microbiota intestinal. 2, 4, 6, 7

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Figura 1 – Diferentes mecanismos pelos quais a microbiota intestinall influencia a metabolização de medicamentos.
Imagem adaptada de [2] Bi-directional drug-microbiome interactions of anti-diabetics:

Os mecanismos subjacentes à disbiose elucidado pela medicina contemporânea.


intestinal ainda permanecem incertos, uma Busca-se cada vez mais diferenciar a
vez que combinações de variações alteração causada pelo efeito sistêmico na
ambientais e fatores de estresse medeiam doença de base da mudança gerada pelo
cascatas de eventos que alteram a microbiota. medicamento utilizado no tratamento. 3, 4

O estresse oxidativo, a indução de


bacteriófagos e a secreção de toxinas
bacterianas podem desencadear mudanças
INIBIDORES DA BOMBA DE PROTONS
rápidas entre os grupos microbianos
intestinais, produzindo, assim, a disbiose. 5 Os IBPs geram impactos diretos e
indiretos na microbiota. Os primeiros,
Há muito se sabe da relação entre
decorrentes da redução do pH gástrico, o que
diversas doenças crônicas e alterações de
reduz a ação antisséptica do conteúdo que
microbiota. Alguns desses relatos, no entanto,
transita no interior do estômago; e o seguinte
geraram resultados diferentes e, por vezes,
como resultado de alterações metabólicas,
contraditórios, devido à pouca tecnologia para
como o aumento da biossíntese de ácidos
pesquisas nessa área, o que vem sendo
graxos e lipídios. 6
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Com a queda da acidez gástrica, ocorre Streptococcus mutans co-agregando e
translocação de bactérias, causando o transformando os produtos metabólicos de
aumento de flora tipicamente oral em níveis bactérias fermentadoras de carboidratos. 4,6,7,9
mais baixos do trato. Além disso, tem efeito
As alterações funcionais resultantes
direto de inibição de certas bactérias
incluem o aumento da biossíntese de ácidos
intestinais de características comensais como
graxos e lipídios, o metabolismo da
as da espécie Dorea e Ruminococcus. Os
fermentação NAD e a biossíntese de L-
IBPs, sem a combinação de outras
arginina. A degradação de
medicações, segundo estudo de 2019,
desoxirribonucleósidos de purina, uma via
conseguiu gerar o impacto que outras drogas
usada como fonte de energia e carbono, foi
só atingiram quando combinadas. 4, 6, 7, 8
prevista a partir de genomas de gêneros
Espécies com grande prevalência oral, bacterianos diferentes. O aumento dessa
como o Streptococcus parasanguinis, se função no microbioma intestinal de usuários
tornam bem características no intestino e, em de IBP pode ser explicado por um aumento
conjunto com outros tipos bacterianos, abundância de espécies de Streptococcus (S.
apresentam um aumento em seu salivaris, S. parasanguinis e S. vestibularis)
metabolismo, afetando as vias de degradação
O uso de IBPs a longo prazo,
de carboidratos e de biossíntese de L-
principalmente em idosos ou em associação
arginina. Além disso, características como
com gastrite atrófica e acloridria, pode
resistência a macrolídios também foram
prejudicar a absorção de vitamina b12, cuja
encontradas em amostras fecais dos
desconjugação de sua proteína nativa
usuários. Devido à ausência do efeito protetor
depende de um meio ácido. A sua ausência
do pH gástrico, o usuário se torna mais
nos enterócitos, contribui para o crescimento
susceptível a infecções, sendo a colonização
bacteriano. Apesar desse crescimento por si
por Clostridium difficile, causador da colite
só não aparentar ser significado. É importante
pseudomembranosa, uma das mais
lembrar que drogas de absorção em meio
preocupantes em usuários de longo prazo. O
ácido, também terão sua ação prejudicada, o
aumento do risco é atribuído ao surgimento de
que inclui, mas não se limita a, itraconazole,
cepas mais virulentas nos usuários. Observa-
ketoconazole, isoniazid, levotiroxina, oral iron
se também um aumento da abundância de
supplements, and several protease inhibitors.
Veillonella parvula, que é conhecido por 6,7,9,10

estabelecer uma relação mutualística com

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(B12 – Imagem adaptada de 11 - Methods to assess vitamin B12 bioavailability and technologies to enhance its
absorption)

METFORMINA passou a ser usado para combater a Diabetes


Mellitus tipo II. 12, 15
Apesar de muito estudado, o efeito
hipoglicemiante da Metformina ainda não teve Com base em análises recentes foram
suas formas de ação quantificadas. Seu propostos diversos mecanismos de ação
composto originalmente se tratava de uma como a supressão da gliconeogênese
biguanina desenvolvida a partir da planta Hepática; aumento da captação de glicose no
Galega officinalis, conhecida com Lilás tecido muscular esquelético mediado pela
Francês. A partir de 1920, passou a ser ativação da Proteína Quinase Ativada por
produzido sinteticamente, e a partir de 1950, Adenosina Monofosfato (AMPK) 12,13,14;

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Inibição da Cadeia Respiratória Mitocondrial especialmente pela captação de
(Complexo I); Inibição da sinalização de cAMP fluorodeoxyglicose (FDG). No intestino, o
– PKA através da supressão da Adenilato metabolismo das incretinas, como a secreção
Ciclase; Inibição de Glicerofosfato de GLP-1, e o microbioma são modificados.
Desidrosenage na mitocôndria e alteração de Não se sabe exatamente como esse conjunto
microbiota intestinal. A maioria dos estudos, modifica o metabolismo da glicose e gera
portanto, direciona para uma ação dupla do efeitos colaterais gastrointestinais. 13, 19, 24
fármaco, sendo capaz de inibir a absorção e
No entanto, é conhecido que, usuários
reduzir a produção endógena de glicose. 16, 17,
de metformina possuem uma maior
18
abundância de Akkermansia muciniphila, uma
Diversos fatores corroboraram para a bactéria conhecida por degradar mucina, além
sugestão da ação intraluminal da metformina de outras bactérias produtoras de ‘short chain
e o surgimento de novas pesquisa na área, fatty’ como o Butyrivibrio. A abundância de A.
dentre eles, a maior concentração da droga no muciniphila cresceu 18 vezes em comparação
lúmen em relação ao plasma; a incapacidade com os controles, até um máximo de 12,44%
de relacionar o nível de glicose com a do bioma existente. Ela é capaz de contribuir
concentração no plasmática da droga; com a manutenção da camada de mucina e
Incapacidade de ação rápida em bolus IV, reduz a translocação de lipopolissacarídeo
indicando um processo adaptativo ao pró-inflamatórios, influenciando, assim, o
fármaco; a ação em sua forma original, sem a metabolismo do tecido adiposo, bem como o
necessidade do efeito de primeira passagem processo de estocagem de gordura. A
para ativação. A metformina também não é alteração bacteriana promovida pela
alterada pelas bactérias intestinais e metformina também favorece bactérias
consegue chegar sem alterações no intestino intestinais com maior capacidade de produzir
delgado distal, onde se acumula na mucosa butirato e propionato, substâncias envolvidas
em concentrações superiores a 300 vezes ao na homeostase da glicose, biossíntese de
valor plasmático. 19, 20, 21, 22, 23 quinona, degradação de derivados de açúcar
e vias de resistência à polimixina.
Em imagens de PET-CT, é aparente o
aumento da utilização de glicose no intestino,

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Imagem adaptada de [13] The mechanisms of action of metformin

ANTIBIÓTICOS retorno da microbiota para os níveis basais


varia de dias a semanas. 27
Diferentes mudanças no microbioma
intestinal podem ser obtidos dependendo da Além de sua ação em bactérias dentro
abrangência do antibiótico e da combinação de seu espectro, outras espécies podem ser
utilizada. A vancomicina, por exemplo, afeta indiretamente afetas. Isso ocorre devido ao
drasticamente a população de Firmicutes sistema de simbiose e codependência
phylum. Combinações de Ampicillina, bacteriana em seu processo de ocupação de
Gentamicina, metronidazole, Neomicina, e um ambiente, que normalmente se inicia com
Vancomicina se mostraram particularmente uma primeira linha de bactérias
eficazes na redução da diversidade e, como colonizadoras, aderindo à superfície e
resultado, possuem efeitos colaterais facilitando as condições para que outras
relacionados, como a diarreia, que pode afetar bactérias tenham nutrientes e matéria
cerca de 1/5 dos pacientes. 26, 27 orgânica disponível. Outra ação em conjunto
é a excreção de produtos tóxicos, como ocorre
Mesmo drogas administradas
entre o Methanobrevibacter smithii e a
seletivamente para microorganismos
bactéria Bacteroides thetaiotaomicron, que
patogênicos podem acometer membros do
em estudos em ratos, só foram capazes de
microbioma relacionados. Como resultado,
colonizar efetivamente quando em conjunto.
ocorre aumento de cepas resistentes,
27, 28
gerando reservas na microbiota intestinal. O

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Um dos exemplos mais fisiológicos papeis de diferentes famílias de bactérias na
dessa colaboração mútua é a ação de defesa do “território colonizado” através de
Lactobacilis, Bifidobactéria, Clostridium e alterações em carboidratos, hormônios e
Bacteroides no processo de desconjugação cadeias de ácidos graxos. 47
dos ácidos biliares. Os ácidos, quando
Dentre as estratégias de recuperação e
metabolizados e separados de seu radical
atualização dos sintomas, uma das mais
adicionado pelo fígado, podem ser tanto
utilizadas é o uso de probióticos, que acelera
utilizados por bactérias quanto reabsorvidos
a recolonização por bactérias simbióticas e,
de volta ao fígado pela circulação enterro-
por vezes, é utilizada diretamente como opção
hepática. 27,28.
tratamento. Outra alternativa superior, porém
Como resultado, o mecanismo de mais invasiva, como o transplante de
proteção contra patógenos infecciosos microbiota fecal, pode ser utilizada em
modulados pela própria microbiota, fica infecções oportunistas de C. difficile,
danificado. Esses mecanismos ainda estão entretanto o seu uso adianta é questionado
sendo pesquisados, revelando potenciais quando se possui antibioticoterapia viável. 46

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Imagem adaptada de About Bile Acid Diarrhoea (https://www.bad-uk.org/why-does-it-occur)

LAXATIVOS bacteriano. Experimentos em ratos sugerem


que todas as mudanças são causadas como
Um fator que prejudica o estudo da
consequência da alteração de osmolalidade,
relação entre laxativos e a microbiota
mudanças essas que podem persistir por
intestinal é a variação do tempo de trânsito
semanas quando administrado por
intestinal de pacientes usando a medicação.
gastrostomia percutânea endoscópica. Como
Em pacientes com rápido trânsito intestinal,
resultado, se observa um aumento relativo de
por exemplo, ocorre uma maior colonização
Alistipes genus. Não existe benefício claro da
por espécies Bacteroides.
presença de A. genus, tendo alguns estudos
Não há evidência da capacidade de ação apresentado efeito protetor à algumas
direta de compostos laxantes no crescimento
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doenças, como a Colite e a Fibrose hepática, mais complexo e mais estudado esteroide que
enquanto outros indicaram patogenicidade no se relaciona com a microbiota é o estrogênio,
câncer colorretal. 29, 45 cuja microbiota intestinal está associada à
proporção de metabólitos na urina, em
O contrário também é valido, foi
mulheres pós-menopausa. 38
observado que crianças com constipação
funcional possuem redução dessa espécie
[30]. Alguns estudos inclusive sugerem que Estrogênio
essa bacteria possa ter um papel na
Apesar de não ter mecanismos exatos,
patogênese da constipação. 31
sabe-se que o uso de contracepção oral a
longo prazo está associado com o maior risco
Esteróides do surgimento de doenças inflamatórias
intestinais e de necessidade de abordagem
A influência do gênero na microbiota,
cirúrgicas em casos já instalados. Diversas
apesar de não ter sido bem quantificada e ter
hipóteses vêm ganhando espaço: como a
apresentado divergências, pode ser provada
modificação da permeabilidade intestinal, pela
por diversos estudos tanto em humanos
32, 33. ação direta do estrogênio do intestino; a
quanto em animais Sabe-se que a
relação entre uso de hormônios endógenos
microbiota masculina e feminina apresenta
com o aparecimento de doenças relacionadas
diferenças e que, em animais, essa diferença
34, 35.
à ação inflamatória do Th1 e Th2; e a relação
se reduz após a castração. Além disso,
entre uso de andrógenos exógenos e
a retirada das gônadas é capaz de gerar mais
disbiose, influenciando o aparecimento de
alterações do que a mudança para uma dieta
doenças auto-imunes. 39, 40
gordurosa. 36
Estroboloma é o termo utilizado para
Em contrapartida ao efeito dos
designar tanto o efeito do estrogênio na
esteróides gonadais na microbiota, a
microbiota intestinal quanto o conjunto de
absorção intestinal também influencia nos
genes microbianos capazes de metabolizar
níveis hormonais. Dentro desse contexto é
esse hormônio. As principais enzimas
memorável que algumas proteínas podem ser
envolvidas são as β-glucuronidases e β-
capazes de mimetizar quimicamente alguns
glucuronidas, secretadas pela microbiota, são
hormônios e se ligar a receptores, como
37.
capazes de desconjugar o estrogênio para a
ocorre com os fitoestrógenos O principal,
sua forma ativa. 41, 42

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Imagem adaptada de [42] Microbiome and Malignancy

Devido a variedade de tecidos que (endométrio, mama, gástrico), infertilidade.


apresentam receptores de estrogênio, como Além disso, a integridade e permeabilidade
por exemplo no cérebro, ossos, tecido adiposo intestinal são modificadas pelo estrogênio.
e no próprio intestino, esse desbalanço pode Essa ação pode ser ilustrada em estudos que
ser relacionado com doenças como mostram maior resistência à lesão intestinal
endometriose, síndrome do ovário policístico, em mulheres. 41, 43, 44
obesidade, síndrome metabólica, câncer

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CAPÍTULO 6
Como a disbiose causa doenças

Tallita Rodrigues Suriani 1 1. Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser

Dirceu Alves Carvalho1 Aparecida de Goiânia – GO.


Gabrielly Medeiros de Souza1
2. Faculdade de Medicina. – Universidade Federal de
Mônica de Oliveira Santos2
Goiás. GO.

A microbiota intestinal normal é e qualidade da microbiota intestinal, da sua


constituída pela harmonia dos função metabólica e do seu local de
microrganismos que habitam no trato distribuição, sendo determinada pela
gastrointestinal (TGI), as bactérias elevação do número das bactérias
probióticas, comensais e patogênicas, as patogênicas no intestino. A alteração da
quais demonstram papeis importantes na permeabilidade do intestino prejudica a
regulação do sistema imune, nutrição, integridade da barreira intestinal, o que podem
fisiologia e mente de todo o organismo2. induzir a maior permeação de antígenos à
mucosa intestinal começando ou esticando
Nosso intestino é um extenso filtro
processos inflamatórios locais7.
capacitado a beneficiar ou interditar o trânsito
de substâncias ou nutrientes que podem ou A fisiopatologia da disbiose ocorre há um
não ser prejudiciais a nossa saúde. Se a desequilíbrio em alguma parte dessa
mucosa do intestino está saudável, os passagem intestinal, pois esse deixa de
nutrientes são bem absorvidos e as toxinas garantir a digestão e absorção de nutrientes,
presentes nas fezes não conseguem penetrar minerais e fluidos, produzindo a tolerância da
na corrente sanguínea. O contrário ocorre mucosa e sistêmica, protegendo e
quando suas paredes estão prejudicadas e a defendendo o hospedeiro de infecções e
microbiota bacteriana está em desequilíbrio, enviando sinais da periferia para o cérebro1.
gerando ou facilitando o aparecimento de
A permeabilidade intestinal corresponde
doenças4.
as ações de barreira, impedimento feito pelo
A disbiose intestinal é caracterizada epitélio intestinal, competente de admitir ou
como um estado de alterações da quantidade não a entrada de moléculas por mecanismos
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de difusão não-mediada por diferenças de até mesmo desenvolvendo a obesidade, já
gradiente de concentração ou pressão sem a que a saúde intestinal está integralmente
ajuda de um sistema carreador bioquímico relacionada à normalidade da absorção
passivo ou ativo. Essa função possui energética diária6.
alterações transitórias reversíveis devido ao
Esse estado acomete e lesiona a
estresse hiperosmolar, por doenças,
integridade da mucosa intestinal, estimulando
hormônios, medicamentos, dietas, citocinas,
o aumento da permeabilidade a carboidratos
fatores ambientais e outros3.
não digeridos e redução da seletividade na
Os mecanismos de desenvolvimento da absorção de outras substâncias, como
disbiose estão representados por toxinas, bactérias, proteínas ou peptídeos não
combinações de variações naturais e fatores digeridos que ativam o sistema imunológico,
de estresse, com cascatas de eventos que causando à sua fadiga e alterações
alteram a microbiota intestinal. Destacam-se o dermatológicas, como urticárias e acne9.
estresse oxidativo, a indução de bacteriófagos
A estabilidade da microbiota intestinal e
e a secreção de toxinas bacterianas podem
a nutrição saudável de enterócitos e
desencadear mudanças rápidas entre os
colonócitos estão intimamente vinculadas
grupos microbianos intestinais e assim
com a plenitude intestinal. A disbiose ocasiona
causando a doença5.
um estado de hiperpermeabilidade de
O incremento da permeabilidade
antígenos via paracelular e reduz a absorção
intestinal pressupõe um aumento da
de nutrientes via transcelular., gerando a
passagem de substâncias não desejadas ao
translocação de patógenos através desta,
fluxo sanguíneo, provocando inflamação na
piorando ainda mais o estado de saúde do
mucosa intestinal e alterações imunológicas
indivíduo12.
crônicas, de forma sistêmica e local. Esta
mudança é reconhecida como síndrome do A disbiose inibe a síntese de vitaminas
“intestino furado” (ou leaky gut em inglês), no intestino, como a B12, e também de
devido principalmente à alterações das uniões neurotransmissores como a dopamina e
estreitas e da absorção paracelular8. serotonina. Possibilita o crescimento
desordenado de fungos e bactérias capazes
Quando o conjunto de bactérias naturais
de afetar o funcionamento intestinal e de todo
do nosso corpo estiver alterado, com bactérias
o organismo. O quadro clínico é bem comum,
maléficas em maiores quantidades, não é
como constipação crônica, gases, cólicas,
possível obter a eficácia do aproveitamento de
diarreia10.
vitaminas e minerais, além de provocar uma
desarmonia na absorção de energia vinda dos Entre as principais causas das disbiose
alimentos, podendo resultar em sobrepeso e estão: o uso de medicamentos, o estresse

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psicológico e fisiológico, a hospitalização a respiratórias crônicas, a síndrome do intestino
idade, a hospitalização, um hábito alimentar irritável, o câncer e a hipertensão, intolerância
desequilibrado e o desenvolvimento imune do a lactose, glúten, refluxo, diabetes, anemia
feto que é influenciado pelos microrganismos crônica. É importante que sejam excluídas
da mãe ainda dentro do útero13. doenças do trato intestinal antes de chegar ao
diagnóstico de disbiose isolado, devido essas
A utilização desorientado de antibióticos
DCNT encontrar-se de maneira simultânea
que matam tanto as bactérias benéficas como
com a disbiose e se retroalimentando16.
as patogênicas, assim como o uso de anti-
inflamatórios hormonais e não hormonais e A disbiose é uma característica das

abuso de laxantes conseguem modificar a doenças inflamatórias intestinais, como a

microbiota intestinal. Em decorrência do ritmo colite ulcerativa e a doença de Crohn, mas

moderno de vida, o hábito alimentar da também de distúrbios metabólicos, doenças

população tem se modificado15. autoimunes e distúrbios neurológicos, câncer


colorretal, ou em pessoas idosas, como
A alimentação diária do indivíduo é
exemplificado pela diarreia associada à
considerada uma das mais relevantes causas
Clostridium difficile19.
da disbiose, pois a dieta influência de modo
Entre as possíveis causas da disbiose estão:
imediato e contínuo a formação e conteúdo da
emprego imoderado de antibióticos, que
microbiota intestinal. A disbiose é um distúrbio
matam tanto as bactérias boas assim como as
cada vez mais significativo no diagnóstico de
nocivas. Uso indiscriminado de
várias doenças, considerada como causa ou
antiinflamatórios hormonais e não-hormonais,
coadjuvante no desenvolvimento de doenças
abuso de laxantes, corticoides, anti-ácidos,
crônicas não transmissíveis11.
ingestão excessiva de alimentos processados
As Doenças Crônicas Não em detrimento de alimentos naturais,
Transmissíveis (DCNT) são um conjunto de envelhecimento, estresse, estado imunitário
condições que estão ligadas a múltiplos do hospedeiro, alérgenos alimentares, uso
fatores, com início gradativo, de prognóstico crônico de inibidores da bomba de prótons,
incerto e com longa ou indefinida duração. As pois alteram o pH do estômago o qual tem que
DCNT são um dos maiores problemas de ser ácido, alcoolismo, açúcares, frutose em
saúde pública na atualidade. Entre os excesso principalmente a industrializada em
principais indicativos de risco para o excesso e farinha de trigo, uso abusivo de
desenvolvimento de DCNT, estão: tabaco, adoçantes artificiais como sucralose,
inatividade física, consumo nocivo de álcool, sacarina e acessulfame22.
maus hábitos alimentares14. Também esta associada a outros fatores
As mais comuns doenças crônicas não alimentares, dieta com excesso de proteína,
transmissíveis relatadas são as doenças gordura ou carboidrato, porque uma grande
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ingestão de carboidrato provoca uma elevada O trato gastrointestinal (TGI) e o trato
taxa de fermentação pelas bactérias no respiratório, embora órgãos separados,
intestino grosso, ou com baixo teor de fibras ambos fazem parte de um sistema
ou ainda carência de vitaminas20. imunológico da mucosa compartilhado
A síndrome do intestino irritável é um denominado eixo intestino-pulmão. As
distúrbio na motilidade intestinal designado alterações na composição da microbiota
por uma série de alterações gastrointestinais intestinal, designada de disbiose podem
crônicas, ou então recorrentes e não modificar a resposta imunitária e, como
associadas a nenhuma alteração bioquímica. consequência, estar vinculada com o
A causa não é bem conhecida, mas há relação aparecimento de determinadas doenças
íntima com a disbiose intestinal. Algumas respiratórias como a asma, a doença
pessoas experimentam sensações frequentes pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e as
de desconforto abdominal, cólicas, diarreia, infecções respiratórias21.
obstipação e aumento dos movimentos Nas infecções respiratórias ou doenças
intestinais18. crônicas como asma, DPOC, tem observa-se
o efeito protetor da microbiota intestinal,
As evidências mais relevantes que
analisando estudos recentes que
comprovam a participação da disbiose
demonstraram uma relação entre o
intestinal na fisiopatologia da síndrome do
desequilíbrio da microbiota com as quebras
intestino irritável são: as alterações
nos mecanismos de defesa imunitária e o
quantitativas e qualitativas observadas com
desenvolvimento de infecções respiratórias
frequência na microbiota intestinal, o
bacterianas ou virais24.
supercrescimento bacteriano intestinal, a
As doenças inflamatórias do intestino
restrição alimentar de oligossacarídeos
(DII), que abrangem a Doença de Crohn (DC),
fermentáveis atenuam os sintomas, melhora
retocolite ulcerativa (RCU) e Colite
clínica após modulação da microbiota
Indeterminada (CI), são patologias sistêmicas,
intestinal com uso de probióticos e
imunomediadas, representadas pela
prebióticos23.
presença de uma inflamação crônica que tem
Determinados alimentos são mal como local principal o trato gastrointestinal,
tolerados por quem apresenta a síndrome do acometendo frequentemente outros órgãos e
intestino irritável, como couve-flor, feijão, sistemas, com períodos ativos e outros de
repolho, cebola crua, uva, vinho, ameixa, remissão5.
cerveja e alimentos ou bebidas com cafeína. O quebra das inter-relações entre
O hábito de fazer um diário alimentar ligando nutrição e metabolismo do microbioma e do
os sintomas com os alimentos ingeridos pode hospedeiro certamente constitui a principal
ser um instrumento bem útil17. origem do rompimento da homeostase normal

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do intestino, causando a disbiose, um junctions e caracteriza a primeira linha de
desequilíbrio na estrutura e/ ou função da defesa contra a invasão de agentes/bactérias
microbiota que perturba o equilíbrio do patogênicas. A inflamação da mucosa
microrganismo hospedeiro, sendo também intestinal provoca alterações nas tight
uma das características marcantes das DII25. junctions, fazendo com que a integridade
Apesar da etiologia das DII continuar desta barreira seja comprometida10.
desconhecida, sua fisiopatologia apresenta
Isto permite que bactérias entrem nas
dados suficientes para acreditar-se que
células epiteliais e provoquem inflamação da
resulta da desregulação do sistema imunitário
mucosa. São particularmente importantes
inato e adaptativo contra as bactérias e seus
nesta interação, os Toll-like receptores,
produtos no lúmen intestinal, em hospedeiro
importantes na regulação da permeabilidade
geneticamente suscetível de desenvolvê-las2.
intestinal e sua sinalização é relevante no
A alimentação tradicionalmente
efeito anti-inflamatório dos probióticos13.
ocidentalizada, presente na maior população
do mundo é marcada por grande ingestão de Nas DII, ocorre redução da tolerância às
açúcares refinados e pobre em fibras, tem bactérias comensais, levando a disbiose e
sido uma das viáveis justificativas para o produzindo uma inflamação crônica. A
aumento de incidência das DII. Tem-se microbiota intestinal estimula constantemente
analisado que doentes com DII exibem com o sistema imunitário do hospedeiro,
regularidade insuficiência de vitamina D, perpetuando a doença. Isto pode resultar do
todavia não se sabe se tal será uma sistema imunológico reconhecer a microbiota
consequência da doença ou se a vitamina D intestinal comensal como uma ameaça ou
terá um papel na modulação da função pela falha dos mecanismos que controlam a
imunitária do intestino8. resposta imunitária da mucosa às bactérias
A mucosa intestinal é constituída por intestinais15.
uma camada única de células unidas por tight

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CAPÍTULO 7
Relação entre intestino e sistema imune.

Herik Jansen de Souza


Pimentel Herikjansen5@gmail.com
Luís Felipe Pires Fontana
Clara Elisa Melo Mundim
Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser
Cynthia Nishigaki Sericaku
Aparecida de Goiânia – GO.
Matheus Mundim Bernardes

Interação da microbiota com o sistema nascimento, constituem as principais formas


imune durante o desenvolvimento de controle de patógenos indesejáveis, e
possuem como fator principal a
Os neonatos possuem meios de controle
Imunoglobulina IgA, cuja origem é imunidade
para a colonização intestinal, sendo fatores
materna, estendendo a imunidade adaptativa
como microbiota vaginal materna, imaturidade
da mãe para o feto. . A ação do leite
10,14
da imunidade adaptativa e amamentação os
materno, constituído por células imunes,
principais influenciadores nesse processo. Em
metabolitos, IgA e citocinas é estratégica para
condições normais, o trato gastrointestinal do
que ocorra uma colonização desejada. Os
feto é estéril, sendo o primeiro contato com
anticorpos restringem a imunidade fetal,
microrganismos gerado na passagem pelo
combatem de forma parcialmente seletiva os
canal vaginal. Além disso, outros processos
grupos patogênicos e permitem que os
naturais de imunização e exposição
metabolitos, constituídos principalmente por
contribuem para que grupos de
oligossacarídeos, sejam utilizados por tipos
microrganismos específicos se desenvolvam e
bacterianos comensais, como as
uma relação mutualística se estabeleça. 10
Bifidobacterium. 10
A placenta, nos últimos 3 meses de
gestação, e o leite materno, após o

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A forma de nascimento também é um necrosante. [1,12, 28]
Além disso, novos estudos,
fator que modifica os elementos pioneiros de ainda sem consenso e sem fisiopatologia
colonização. Crianças nascidas por parto totalmente elucidadas, buscam relacionar a
vaginal adquirem microbiota intestinal que formação da microbiota intestinal com o
lembra a microbiota da vagina materna, que surgimento de enfermidades na primeira
inclui Lactobacillus, Prevotella, Atopobium, infância, como asma e alergias , e na fase
23

Sneathia spp, dentre outros tipos bacterioides adulta, como diabetes mellitus, hipertensão
. Por outro lado, bebês nascidos de cesariana
14
arterial e obesidade e doenças inflamatórias
apresentam microbiota intestinal parecida intestinais. 2
com o microbioma da pele, que inclui
O sistema imunológico associado ao
Staphylococcus spp., Corynebacterium e
intestino
Propionibacterium spp. 2,14
Essas diferenças,
no entanto, tendem a diminuir após os 3 O trato digestivo é composto por
meses de idade, atingindo uma equidade que cavidade oral, esôfago, estômago, intestino
independe do nascimento em torno do nono delgado e intestino grosso. Trata-se de um
mês. 4,19
A maior transformação da microbiota tubo oco, composto por um lúmem,
ocorre nos primeiros anos de vida, se circundado por quatro camadas: mucosa,
estabilizando em seguida. Fatores como idade, submucosa, muscular e serosa. 4
geografia, tradições culturais, exposição
O intestino delgado é o sítio terminal
ambiental e uso de medicações definem a
responsável pela digestão dos alimentos,
diversidade de microbiomas existentes pelo
absorção de nutrientes e secreção endócrina.
mundo, podendo explicar a epidemiologia de
Com comprimento de aproximadamente 5
diversas doenças. 3 O período de estabilização
metros, é dividido em três segmentos:
do microbioma finaliza em torno do terceiro
duodeno, jejuno e íleo. Estes apresentam
ano de idade. [20,21,22]. Apesar de curto, diversos
muitas características em comum, que podem
estudos apontam que as consequências
ser discutidas em conjunto. [4]
imunológicas desse período podem predispor
ou evitar diversas alterações ao longo da vida, A parede do intestino delgado é

principalmente doenças auto-imunes e composta de vilos - projeções alongadas

imunomediadas. [20,21,22,23] formadas pelo epitélio e lâmina própria. Seu


epitélio de revestimento é do tipo cilíndrico
Um agrupamento bacteriano adequado é
simples, formado por enterócitos e células
capaz de prevenir o desenvolvimento de
caliciformes. Abaixo dos vilos estão as criptas,
algumas enfermidades, como doenças
que são formadas, também, por células
inflamatórias intestinais e enterocolite
absortivas (enterócitos) e células caliciformes,
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além de células enteroendócrinas, células de trato digestivo (GALT, do inglês gut-associated
Paneth e células tronco. Na parte proximal do lymphoid tissue), que é a maior massa de
trato, linfócitos estão comumentes dispersos tecido linfoide do corpo. O GALT é designado
na junção oclusiva, e abaixo dela, plasmócitos tanto para proteger de doenças infecciosas,
secretores de IgA e macrófagos. Já na porção quanto para evocar tolerância imunológica. [4,
distal, estão as células M. [4] 31,32]

As células de Paneth são células Ainda, correlacionando com o sistema


exócrinas granulares. Seus grânulos contêm imune, outros fatores, como a microbiota
lisozima e defensina, enzimas de função comensal presente na luz do intestino,
antibacteriana que permeabilizam e digerem a desempenham importante função na
parede de bactérias, atuando assim, no manutenção dessa homeostasia. Estima-se
controle da microbiota intestinal. [4] que mais de 500 espécies de bactérias,
totalizando cerca de 1014, residam no intestino
As Células microfold (células M) são
de mamíferos. Chega a ser cerca de 10 vezes
células epiteliais que, na placa de Peyer,
mais o número de células no corpo humano.
localizadas no íleo, recobrem os folículos
Assim sendo, essa abundância de
linfoides. Essas células possuem invaginações
microrganismos desempenha importantes
em sua base que acomodam linfócitos e APCs
funções, dentre elas a degradação de
(células apresentadoras de antígenos), como
componentes da nossa dieta que nossas
os macrófagos. Células M podem captar
próprias células não podem digerir e a
antígenos por endocitose e transportá-los até
competição com microrganismos
os macrófagos e células linfoides, as quais
potencialmente patogênicos, prevenindo de
migram para outros compartimentos do
infecções pelos mesmos. [5, 11]
sistema linfoide (linfonodos), onde acontece a
resposta contra estes antígenos. A lâmina Mesmo que esses microrganismos
basal sob as células M é descontínua a fim de comensais sejam benéficos quando contidos
facilitar o trânsito de células entre tecido no lúmen intestinal, ao cruzar a barreira da
conjuntivo e as células M. [4] mucosa – entrando em contato com o tecido
subjacente ou circulação – podem ser
Na mucosa e na submucosa do trato
potencialmente letais, particularmente em
gastrintestinal encontram-se células imunes
indivíduos imunocomprometidos. [5, 30]
como linfócitos B e T, macrófagos, células
apresentadoras de antígenos (incluindo Por outro lado, organismos patogênicos
células dendríticas e linfócitos específicos). podem ser introduzidos de diversas formas,
Estas formam o tecido linfoide associado ao como por ingestão em alimento ou água

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contaminados. Bactérias, vírus, protozoários e Diversas proteínas extensamente
parasitas helmintos, podem causar diversas glicosiladas, as chamadas mucinas (MUC2,
doenças, mesmo sem invadir o epitélio e MUC5 e MUC6), formam uma barreira física
mesmo representando uma pequena fração viscosa responsável por evitar o contato entre
de microrganismos no lúmen. [5, 30] microrganismos e células epiteliais. Essa
barreira é formada por um gel hidratado que
Para vencer esses desafios, foi
pode ser dividido em duas camadas, sendo a
desenvolvido em processo evolutivo um
mais externa menos densa e colonizada por
conjunto complexo de estratégias de
bactérias e a mais interna, ligada ao epitélio,
reconhecimento imune inato e adaptativo e
mais densa e livre de bactérias. [5]
mecanismos efetores para a eliminação
desses patógenos, mesmo em situações Essa barreira mucosa sofre
discretas e numericamente irrelevantes [5]. constantemente renovação e alterações
Alguns deles já foram citados, porém devem químicas, a depender do estímulo, que pode
ser melhor descritos nos tópicos seguintes: aumentar sua função defensiva contra os
patógenos. Podem ser citados, dentre estes
estímulos, citocinas (IL-1, IL-4, IL-6, IL-9, IL-13,
Microbiota e Imunidade Inata fator de necrose tumoral [TNF] e interferons do
tipo 1), produtos de neutrófilos (tais como
A imunidade inata é mediada, em parte,
elastase) e proteínas de adesão microbiana. [5,
por barreiras físicas e químicas fornecidas por
28]
celulas do epitélio e suas secreções. As
células epiteliais adjacentes são unidas por As defensinas, peptídeos que interagem
proteínas (zônula occludens 1 e claudinas) nas com a membrana fosfolipídica dos patógenos,
chamadas junções oclusivas. Estas, bloqueiam exercem efeito tóxico e letal sobre esses
a entrada de microrganismos pelos espaços microrganismos. Por isso, a deficiência de
intercelulares até a lâmina própria. Além disso, defensina está associada a doenças
conforme descrito, as células epiteliais inflamatórias intestinais, sendo muito
produzem substâncias antimicrobianas. A associada à Doença de Crohn. No intestino
resposta inflamatória inata pode ser mediada delgado, destacam-se as α-defensinas, HD5 e
pelas próprias células epiteliais da mucosa, HD6, produzidas por células de Paneth. No
células dendríticas e macrófagos. A maioria cólon, as β-defensinas são produzidas pelos
dessas respostas é induzida pela interação enterócitos, sendo algumas em resposta a
entre receptores e ligantes associados a expressão de IL-1 ou invasão bacteriana. [5]
patógenos. [5, 7, 9]

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Destacam-se, também, os TRLs Microbiota e Imunidade Adaptativa
(receptores do tipo Toll) e NLRs (receptores do
No intestino, o sistema imunológico
tipo NOD citoplasmáticos). Esses receptores
adaptativo possui características diferentes de
reconhecem padrões moleculares
outros tecidos. [5,6]
relacionados à patógenos (PAMPs) que são
produzidos pelos microorganismos e que Em 200 milhões de anos de evolução, os
induzem a resposta inflamatória. Bactérias mamíferos foram dotados de um sistema com
comensais podem expressar conjuntos de uma série de mecanismos de proteção que
PAMPs similares ao expresso por bactérias permitem uma existência mutualística entre
patogênicas. Por esse motivo, foi desenvolvido hospedeiro e microbiota. [9]
um sistema extremamente complexo e
A imunidade humoral regula a
rigoroso para controlar a resposta pró-
homeostase dos microrganismos no lúmen,
inflamatória induzida por TRLs a bactérias
evitando que organismos comensais e
comensais. A variedade de TLRs (TLRs 2, 4, 5,
patógenos colonizem e invadam a barreira
6, 7 e 9) é distribuída em distintas regiões do
epitelial da mucosa. Isso é possível através,
intestino. A sinalização de alguns TLRs
principalmente, de anticorpos IgA diméricos
aumenta a resistência das junções de oclusão
em associação com uma proteína epitelial
e a motilidade e proliferação do epitélio
transmembrana conhecida como receptor
intestinal, aumentando a função de barreira,
polimérico de Ig (pIgR). O IgA dimérico tem um
mas não a inflamação. Esses receptores estão
diâmetro anormalmente grande em relação ao
localizados em áreas estratégicas, geralmente
seu peso molecular, devido à combinação de
na camada basolateral das células epiteliais,
duas moléculas de Imunoglobulinas. Isso pode
sendo acessíveis apenas a bactérias que
limitar a penetração de micróbios revestidos
atravessarem a barreira. Os NLRs (por
por IgA através do epitélio da superfície
exemplo, NAIP e IPAF-1) são expressos no
intestinal ou diminuir a permeabilidade
citoplasma de células do epitélio intestinal,
paracelular efetiva dos componentes de
ativando as respostas inflamatórias apenas
decomposição bacteriana ligados. [5,7,8,9]
quando as bactérias patogênicas ou o produto
de bactérias patogênicas adentrarem ao A imunidade celular é mediada

citoplasma celular. A secreção de citocinas principalmente por células TH17, principais

anti-inflamatórias por macrófagos, como a IL- células efetoras que estão presentes na

10, pode reduzir a resposta inflamatória contra mucosa intestinal. A ativação de células T

bactérias comensais. [5,6,8,28]. regulatórias no intestino, quando comparada a


outros locais do corpo, é muito maior. Isso
porque esse sistema imune deve prevenir
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potenciais respostas inflamatórias nocivas que um pré-requisito para o desenvolvimento de
podem comprometer a barreira da mucosa. tolerância oral.
Sendo assim, há uma maior tolerância aos
Apesar da maioria dos estudos ter
antígenos alimentares e de outros
indicado uma associação entre a composição
microorganismos. [5,6,8,28]
da microbiota intestinal e sintomas atópicos,
ainda não foram identificados micróbios
prejudiciais ou protetores específicos, sendo
Disbiose e doenças alérgicas
uma área que necessita de mais estudo. [15]
Houve um aumento considerável na
prevalência de alergia alimentar mediada por
IgE nas últimas décadas, especialmente entre O Sistema Imune na homeostase
bebês e crianças pequenas. Há evidências
A mucosa intestinal possui sua defesa
crescentes que associam alterações da
resultante de diversos fatores relacionados à
composição microbiana intestinal durante a
imunidade adaptativa sistêmica, à defesa inata
primeira infância ao desenvolvimento de
local e seus eventos inflamatórios, e às
doenças atópicas, inclusive respiratórias.
respostas citoprotetoras geradas pelos
[15,16]
próprios enterócitos (fig. 1) [24]. O trato
A imunoglobulina E é um anticorpo intestinal representa um desafio único para o
produzido em resposta à alergia, sendo essa sistema imunológico pois lida com o trânsito
IgE específica, parte integrante da patogênese de uma gama diversa de antígenos e
dos distúrbios alérgicos. A IgE também é subprodutos do metabolismo bacteriano. [26]
produzida localmente no intestino como Células epiteliais participam diretamente
resultado da estimulação de patógenos da vigilância e do direcionamento das
alimentares e serve como um indicador de respostas imunológicas intestinais. Isso ocorre
sensibilização alimentar. [15] pela presença de inúmeros padrões de
receptors, incluindo os Toll-like 5 (TLR5),
Estudos demonstraram a relação entre
TLR1, TLR2, TLR3, TLR9 e a Proteína 2 de
disbiose intestinal e respostas alérgicas
Domínio de Oligomerização de Nucleotídeos
mediadas por IgE para eczema, rinite alérgica
(NOD2), bem como produção de fatores
e asma, ainda na primeira infância. [15,17,18]
quimiotáticos para atração de células
Sabe-se que a composição da microbiota
mieloides e linfoides em sítios específicos
gastrointestinal fornece uma fonte inicial e
durante o processo de inflamação. O tecido
importante de estimulação imune e parece ser
mucoso possui, abaixo de sua lâmina própria,
uma população nativa de células linfóides que
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exercem tanto a função protetiva quanto a própria regulam se a resposta será
disfunção danosa encontrada na fisiopatologia inflamatória ou anti-inflamatória com base nos
de muitas doenças gastrointestinais. As antígenos circulantes. [25]
células dendriticas que residem na lâmina

Figura 1: Imagem adaptada de [24].

Defeitos na tolerância da mucosa humano. Provavelmente a função mais


ocorrem nas Doenças Inflamatórias Intestinais, importante da microbiota intestinal é a
como na Doença de Crohn e na Retocolite chamada resistência à colonização. As
Ulcerativa. [26] Não se sabe detalhadamente bactérias nativas não apenas competem por
como esse processo ocorre, mas estudos nutrientes e locais de adesão, mas também
apontam para uma resposta exacerbada do produzem substâncias antibacterianas
hospedeiro voltada para agentes comuns e (bacteriocinas) que atingem gêneros
não patogênicos. [29] diferentes, dificultando a colonização de
bactérias potencialmente patogênicas. Outras
funções importantes são a fermentação de
Microbiota na homeostase
resíduos alimentares não digeríveis e muco
O hospedeiro fornece um ambiente rico endógeno, recuperação de energia, produção
em nutrientes e as bactérias podem conferir de vitamina K e absorção de íons [17]. Além
importantes benefícios à saúde do hospedeiro disso, ocorre a síntese de graxos de cadeia

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curta, polissacarídeo A, metabólitos de a- de citocinas pró inflamatórios com destaque
galactosilceramida e triptofano, que podem para o Fator de Necrose Tumoral (TNF) e o
induzir respostas de interleucina-22, Reg3c, Interferon-Y (IFNy). Recentemente foram
IgA e interleucina-17. [25,26,27] encontradas novas relações com a
patogênese dessas enfermidades, como a
presença de uma nova população de células T
Como a disbiose da mucosa intestinal nomeadas T helper 17(TH17), que seria
altera o sistema imunológico. responsável pela produção da interleucina 17
(IL-17) e seria retroalimentada pela IL-23. [28]
Classicamente as Doenças Inflamatórias
Intestinais foram relacionadas com o aumento

Figura 2: Imagem adaptada [28].

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CAPÍTULO 8
Diagnóstico da disbiose

Nayra Cristina da Silva Melo nayra-melo@hotmail.com


Giovanna Cabrini Franco Martins
Ana Paula Silva Servato
Laura Macruz David Amaral Capual Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser
Matheus Campoy Tomazella Aparecida de Goiânia – GO.
Nayra Cristina da Silva Melo

A definição de disbiose intestinal O diagnóstico é definido através de


compreende de forma temporária algumas alguns pontos essenciais. Deve-se investigar a
disfunções associadas a condições externas história do adoecimento, relacionar com sinais
que causam um desequilíbrio na microbiota e sintomas e se necessário utilizar exames
normal do intestino. Dentre as causas estão a auxiliares para o diagnóstico.
má alimentação, uso exagerado de
antibióticos, de antiinflamórios hormonais e Anamnese
não-hormonais, laxantes, doenças de base Durante o processo diagnóstico da
como síndrome da imunodeficiência adquirida disbiose intestinal é importante realizar uma
(AIDS), alterações hepáticas e pancreáticas, anamnese criteriosa.
diverticulose, consumo exacerbado de Além da história da doença atual, em
bebidas alcoólicas, tabagismo de longa data. que o paciente apresenta sinais e sintomas
Outros fatores incluem idade avançada, característicos de disfunção intestinal, entre os
estresse, estado imunológico, pH intestinal, mais relatados estão diarréia, gases, cólicas
entre outros. (1,2) abdominais, constipação, esteatorreia e
A disbiose é um grave problema que distensão abdominal, é necessário um
desestrutura não só as funções intestinais, interrogatório sintomatológico voltado para o
mas todo o organismo. Dessa forma, deve ser aparelho digestivo.
investigada criteriosamente e bem tratada.

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A pesquisa de alterações do aparelho como o omeprazol, se as enzimas digestivas
digestivo pode revelar algumas condições estão cumprindo o seu papel corretamente.
como obstipação, constipação, diarréia, Achados que indicam má digestão são gases,
náuseas, vômitos, distensão abdominal, dispepsia, eructações, distensão abdominal.
cólicas abdominais, gases, esteatorreia, Na absorção, alguns fatores podem interferir
dispepsia, eructações, pirose. Nesse na absorção de nutrientes, a mastigação
momento, deve-se averiguar a consistência inadequada pode não fracionar corretamente
das fezes por meio da Escala Bristol de forma os alimentos dificultando a ação de enzimas
fecal uma escala de fácil entendimento para gástricas; a ingestão de líquidos juntamente
que os pacientes consigam descrever o tipo com as refeições causa diluição do sulco
das fezes. gástrico que é necessário para a ação das
Alguns fatores que causam disfunções enzimas digestivas, absorção de nutrientes e
imunológicas e cursam com inflamação são a destruição de bactérias nocivas ao aparelho
alimentação rica em ácidos graxos trans, gastrointestinal. Com isso, a carência de
alimentos saturados e/ou araquidônico. nutrientes e de proteínas pode afetar no
Alergias alimentares são necessárias transporte de proteínas. Durante a excreção,
de serem investigadas, pois frequentemente os produtos resultantes do metabolismo que
algumas alergias estão associadas com o não serão utilizados pelo organismo devem
desenvolvimento de disbiose como a ser excretados, pois algumas substâncias
intolerância ao glúten e consumo de quando acumuladas podem causar danos
carboidratos não digeríveis orgânicos, quanto mais substâncias
Investigar processos de ingestão, desconhecidas forem absorvidas pelo
digestão, absorção, transporte e excreção de organismo maior a possibilidade de
nutrientes. Quanto a ingestão, fazer um intoxicação orgânica e desequilíbrios
levantamento da quantidade e qualidade de funcionais. São de importante investigação a
alimentos ingeridos, a frequência com que tais excreção por via urinária, fecal, trato
alimentos são consumidos e se há monotonia respiratório e pele que serão melhor
alimentar. Avaliando assim, o excesso de discutidos adiante. (6 ,9 ,10, 11, 12)
alimentos gordurosos, ricos em açucares, Avaliar a saúde mental do indivíduo, um
sódio, se existe carência nutricional de dos principais fatores predisponentes para
vitaminas, fibras e minerais. Sobre a digestão, disbiose, estresse mental, ansiedade,
deve-se investigar condições que interferem depressão, síndrome do pânico,
na quebra alimentar como a mastigação, hiperatividade, esquizofrenia, transtorno
produção diminuída de acido gástrico, que afetivo bipolar, características da
pode ser causado por uso de medicamentos personalidade e sempre relacionar com
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convívio familiar e profissional, condições e ambiente durante os primeiros dias de vida. A
tipo de trabalho. (6, 9 ,10, 11, 12) MICROBIOTA bacteriana infantil evolui para a
Hábitos de vida importantes como forma adulta a partir dos 2 anos de idade.
tabagismo, alcoolismo, tipo de alimentação (6 ,9 ,10, 11, 12)
(pobre em fibras, rica em carboidratos,
gorduras e sódio) e sedentarismo são Manifestações clínicas
importantes e podem ser associados com a Na maioria dos casos, os pacientes
disbiose. afetados por disbiose intestinal cursam com
Outro componente essencial na sinais e sintomas importantes que devem ser
investigação é o uso crônico de relacionados com o distúrbio quando existem
medicamentos. Devem ser listados todos os os fatores de risco associados e que levam a
medicamentos e posologias que o paciente suspeitar de disbiose.
possa usar. Sendo um importante fator de Um ponto muito importante no processo
risco o uso de antibióticos, antiinflamatórios diagnóstico da disbiose intestinal é apurar se
hormonais e não-hormonais, inibidores da realmente existe alteração na microbiota
bomba de prótons e laxativos. (6, 9, 10, 11, 12) intestinal, na permeabilidade intestinal e
Questionar se o paciente tem infecções processos inflamatórios. Para isso, é preciso
de repetição pode ajudar no diagnóstico. preencher cinco critérios para evidenciar um
Infecções do trato urinário, candidíase e intestino saudável e descartar alterações
infecções intestinais de repetição podem intestinais presentes na disbiose. Percebe-se,
afetar o microbioma intestinal. (6 ,9 ,10, 11, 12) que os critérios que classificam um intestino
Faz-se necessário também questionar saudável (BISCHOFF, 2011) têm grande
sobre o nascimento. No nascido a termo relevância na conservação da integridade da
(Idade gestacional de 37 semanas a 41 barreira intestinal e em sua composição
semanas e 6 dias), o lactente tem o intestino normal da microbiota. Os critérios estão
estéril e começa a ser colonizado pelas descritos na tabela 1. (3,4)
bactérias provenientes da mãe e do meio

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Tabela 1. Critérios para um Trato Gastrointestinal saudável (Adaptada)
Critérios para TGI Sinais de saúde gastrointestinal
saudável
- Estado nutricional normal e efetiva absorção de alimentos,
1. Digestão e absorção de água e minerais.
alimentos eficazes - Movimento intestinal regular, trânsito normal e sem dor
abdominal.
- Consistência normal das fezes e raras náuseas, vômitos,
diarréia, constipação e inchaço.
- Nenhuma doença péptica ácida, refluxo gastroesofágico ou
outra doença inflamatória gástrica.
2. Ausência de doença - Ausência de deficiências enzimáticas ou intolerâncias a
gastrointestinal carboidratos.
- Ausência de doença inflamatória intestinal, doença celíaca ou
outro estado inflamatório.
- Ausência de câncer colorretal ou outro gastrointestinal.
- Ausência de supercrescimento bacteriano.
3. Microbiota intestinal - Composição normal e vitalidade do microbioma intestinal.
normal e estável - Nenhuma infecção gastrointestinal ou diarréia associada a
antibióticos.
- Função de barreira gastrointestinal eficaz, produção normal
4. Estado imune eficaz de muco e sem aumento de translocação bacteriana.
- Níveis normais de IgA, número e atividade normal de células
imunes.
- Tolerância imunológica e ausência de alergia ou
hipersensibilidade de mucosa.
- Qualidade de vida normal.
5. Estado de bem-estar - “Qi (ch’i)”, ou sensação intestinal positva.
- Produção equilibrada de serotonina e função normal do
sistema nervoso entérico.
Legenda: TGI: trato gastrointestinal; IgA: imunoglobulina A; Qi: ideograma chinês.

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Após aplicar os critérios para um constipação. Tais sintomas correspondem à
intestino saudável se faz necessário instituir síndrome disabsortiva. Algumas alterações
uma anamnese completa, cuidadosa e efetiva encontradas na síndrome de mal-absorção
para identificar sinais e sintomas relacionados intestinal relacionada com os sintomas
à alterações da microbiota, presentes na gerados por ela (tabela 2) podem ser
disbiose intestinal. A investigação quanto ao encontrados, também, na disbiose intestinal.
hábito alimentar, hábitos de vida e saúde Faz-se importante também, relacionar a
mental são importantes. (3) história da evolução dos sintomas intestinais
As manifestações clínicas de disbiose da doença com alteração do humor,
intestinal são caracterizadas por diarréia, depressão e fadiga. (5,6)
distensão abdominal, cólicas, gases e

Tabela 2. Relação entre alterações e sintomas da síndrome disabsortiva.


Alterações Sintomas
Deficiência Dissacaridase ou Infecção Intestinal Diarréia e borborigmos
Aumento na produção de H2/CO2/CH4 Distensão abdominal, cólicas e
flatulência
Má absorção de nutrientes Perda de peso
Deficiência de Vitamina D, cálcio e magnésio Tetania, parestesias e fraturas
patológicas
Deficiência de Vitamina C e K Sangramentos/ Equimoses
Deficiência do complexo B, ácido Fólico e ferro Glossite/quelite
Hipoalbuminemia Edema
Hipoproteinemia, deficiência de Vitamina E Amenorréia e diminuição da libido
Deficiência de vitamina A Nictalopia
Deficiência de ácidos graxos essenciais e zinco Acrodermite
Fezes alteradas: Esteatorreia (fezes
Pancreatopatias gordurosas, brilhantes, acinzentadas,
odor rançoso), fezes aquosas
Anemia Fraqueza e fadiga

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Ao exame físico é importante realizar o evidenciam a síndrome disabsortiva e a partir
exame completo do abdome, nele será dos resultados deve-se dar seguimento em
observado ruídos hidroaéreos aumentados, outros exames auxiliares como o coprológico
hipertimpanismo à percussão e dor à de funcional,
palpação. A dor é referida principalmente em
cólon ascendente. (7) Coprológico funcional
O coprológico funcional ou prova
Exames laboratoriais coprológica funcional é um exame sistemático
A confirmação diagnóstica de disbiose das fezes, essencial para compreender o
intestinal pode ser feita através de testes processo patológico que será investigado.
laboratoriais. Inicialmente devem ser Este exame visualiza vários aspectos da
solicitados testes básicos, são eles: fisiopatologia digestiva como o trânsito
- Hemograma intestinal, o aspecto da MICROBIOTA
- VHS (velocidade de intestinal, o estado da parede intestinal e se há
hemossedimentação) disfunções secretoras. Contudo, este exame
- Ferro sérico, Ferritina, vitamina B12, deve ser solicitados após uma investigação
ácido fólico com exames mais simples quando o exame
- Perfil lipídico parasitológico de fezes é negativo, a pesquisa
- Cálcio e Magnésio de sangue humano oculto é negativo e
- TPA coprocultura negativa para microorganismos
- Proteinemia enteropatogênicos. (13,14)
- EPF (exame parasitológico de fezes) Para a realização do exame é indicado
- pH fecal: o pH fecal deve estar entre 6,0 uma dieta prévia, o regime de prova. O
e 7,0. Valores abaixo de 5,5 indicam mal- paciente deverá, por 3 a 5 dias, no mínimo por
absorção intestinal e fermentação dos hidratos 3 dias, seguir uma alimentação restrita
de carbono. descrita por Schmidt e Strasburger
Um estudo realizado nos Estados Unidos modificado (Tabela 2). É necessário prolongar
da America evidenciou, na cultura bacteriana os dias de regime para 5 ou 6 dias quando o
de fezes, que a Shigella e a Escherichia coli paciente sofre de constipação intestinal.
está entre os principais grupos que (13,14)
contribuem para disbiose intestinal. (8)
Os exames laboratoriais solicitados em
um primeiro momento auxiliam ou descartam
o diagnóstico de disbiose. Tais exames,

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Tabela 2. Descrição do regime de prova para realização do Coprológico funcional

Regime de prova para realização do Coprológico funcional


Café da manhã - 1 copo de leite, com ou sem café e açúcar
- 40 a 60 gramas de pão torrado
- 20 gramas de manteiga
- Arroz e purê de batatas à vontade ou 2 batatas cozidas e
picadas
Almoço - 1 bife de coxão duro (100-150gramas), mal-passado
(sangrante)
- 1 colher de sopa de caldo de feijão
- 1 banana
- 1 fatia de queijo minas
Lanche da Tarde - Opcional, podendo ser igual ao café da manhã
Jantar - Arroz e purê de batatas à vontade ou 2 batatas cozidas e
picadas
- 1 bife de coxão duro (100-150gramas), mal passado
(sangrante)
- Sopa de macarrão com cenoura cozida e picada em rodelas
ou pedaços pequenos
- 1 ovo cozido adicionado na sopa
- 1 banana ou goiabada
- 1 fatia de queijo minas
Líquidos - Apenas água sem gás, a vontade
- Não ingerir bebidas alcoólicas ou gasosas
Outros - Não usar medicamentos por via oral
- Não usar laxantes

No quarto dia de regime, deve ser Na análise laboratorial são analisados:


coletado todo material fecal da primeira
evacuação do dia, em recipiente próprio. Com
o cuidado para que não haja contaminação
com urina ou água.
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1. Características gerais bilirrubina), hemoglobina, albumina (integra ou
degradada), corpos protéicos, fermentos. Se
Primeiramente, são analisadas
presentes, podem revelar doenças ocultas
características gerais com grau de hidratação,
com icterícia oculta e sangramento oculto.
forma, odor, cor e pH. (13,14)
(13,14)
5. Dosagens químicas
2. Exame macroscópico

Para avaliar a MICROBIOTA intestinal são


São avaliados se há presença de restos
dosados os ácidos orgânicos totais e o
alimentares como o tecido conjuntivo da carne
amoníaco. (13,14)
crua, fragmentos de carne, fragmentos de
Com o término da análise é possível
batata e cenoura. São sinais sugestivos de
evidenciar algumas síndromes coprológicas
digestão gástrica insuficiente que pode
causadas por distúrbios motores,
ocorrer por uma hipossecreção ou pelo
insuficiências digestivas, síndromes de lesões
esvaziamento rápido do sulco gástrico. (13,14)
da mucosa e microbismos. (13,14)

3. Exame microscópico
Teste dos gases expirados
Parte do exame que permite um
É um teste diagnóstico não invasivo,
conhecimento mais profundo do aparelho
simples de ser realizado e tem precisão
digestivo. Durante a análise, são pesquisados
diagnóstica alta. Através dele, é possível
se há presença de fibras musculares bem
avaliar e classificar o paciente em algumas
digeridas ou mal digeridas, celulose digerível,
situações, se há ou não presença de disbiose,
amido, gorduras neutras, ácidos grasxos,
supercrescimento bacteriano no intestino
sabões, cristais, MICROBIOTA iodófila, bacilos
delgado, intolerância, má-absorção ou
filiformes, leucócitos, hemácias e leveduras.
sensibilidade alimentar. São analisados 4
Tais achados dizem se há aceleração do
gases o hidrogênio (H2), o metano (CH4), o
trânsito intestinal, excesso de fermentação ou
sulfeto de hidrogênio (H2S) e o acetato de
putrefação, entre outras. (13,14)
metila. (15)
A importância desse teste consiste na
4. Reações químicas
determinação se a MICROBIOTA da disbiose
Após a análise micro e macroscópica, o produz H2, CH4, H2S ou acetato de metila.
exame químico é essencial uma vez que, Evidencia o tipo de disbiose presente, a
existem várias substâncias dissolvidas que são provável localização (estomago, duodeno,
visualizadas por meio de reações químicas. intestino delgado, cólon ou se há associação).
São elas, pigmentos biliares (estercobilina + Revela também, se o quadro é grave pela

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presença de gases em maior quantidade que intestinal. Porém, é um exame pouco utilizado
podem causar maior dano. Quando a por ter um valor alto. (16)
avaliação é feita com os 4 gases os resultados O indican é realizado a partir de uma
falsos-negativos são baixos, ao contrário, o amostra de urina, a primeira da manhã ou
teste com apenas 1 gás aumenta os resultados concentrada por 4 horas. O resultado é obtido
falsos-negativos. (15) em cerca de 10 dias.
As amostras de gás expirado são
colhidas através de um aparelho a cada 20 Exame do microbioma
minutos, com duração total de 2 a 3 horas. São A análise da microbiota se dá por várias
recomendados alguns cuidados antes da técnicas q evoluíram ao logo do tempo,
realização do teste como evitar medicamentos anteriormente feito por cultura em placas e
e suplementos que não são de uso diário sendo hoje a mais utilizada a analise de
obrigatório, bebidas alcoólicas, alimentos de amostra fecal. Alguns estudos se destacam na
difícil digestão, o tempo de jejum antes do avaliação das amostras, os chamados
teste é de 12 horas. (15) sequenciamento de nova geração são o “16s
RNA” e o “Shotgun – sequenciamento”.
Indican Ambas as técnicas irão sequenciar o RNA das
O indican é resultado da decomposição bactérias presentes na microbiota intestinal. O
do triptofano intestinal, um aminoácido que diferencia tais estudos é o alcance do
presente em alimentos. Em condições normais exame, o 16s RNA identifica o gênero da
o triptofano é convertido em indol que é bactéria e o Shotgun – sequenciameto além de
convertido em indican pela ação das bactérias identificar o gênero mostra também a espécie
intestinais, sendo normal ser encontrado em da bactéria. (17)
traços da urina. A absorção intestinal do A técnica 16s RNA, subunidade menor
indican é maior quando há constipação ou do RNA ribossomal, sendo o principal alvo
aumento da putrefação intestinal. Dessa para análise das comunidades bacterianas.
forma, o nível de indican está aumentado na Em resumo, o 16s RNA, possui regiões com
presença de enterites, obstrução intestinal, sequências de bases de nucleotídeos que são
íleo paralítico e neoplasias gastrointestinais. A altamente conservados quando estão no
elevação do indican também é evidenciado domínio bacteriano, intercaladas por regiões
em situações de decomposição bacteriana de variáveis e altamente variáveis que são
proteínas corpóreas (septicemias e denominadas de V1 a V9. A região V4 é a mais
grangrenas). Esse aumento na concentração utilizada para análise de microbioma por
de indican confirma o diagnóstico de disbiose apresentar perfil taxonômico das
comunidades microbianas, sendo assim, mais
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fiel quando se compara com a análise da Diagnóstico diferencial
sequência completa do gene 16 rRNA. Dessa Algumas doenças surgem a partir do
forma, é possível vários estudos de desenvolvimento da disbiose ou até mesmo
caracterização filogenética de grupos e de podem gerar a disbiose. Quando a microbiota
espécies de bactérias. (18) normal é desregulada as vitaminas ali
O shotgun – sequenciamento utiliza o existentes são erradicadas, as enzimas são
sequenciamento genômico completo inativadas deixando de realizar suas funções.
associado à análise de bioinformática Com a produção de toxinas por
avançada. Identifica os perfis taxonômicos microorganismos e a ausência de mecanismo
funcionais e as potenciais comunidades protetor intestinal, a mucosa intestinal é
microbianas conhecidas e desconhecidas, não lesada, levando a uma absorção de nutrientes
há necessidade de cultura em laboratório, reduzida.
apesar de algumas amostras precisarem ser A alergia alimentar é um diagnóstico
exploradas. Tal técnica é abrangente e que cursa com a disbiose intestinal por causa
assertiva, mas ainda não é muito explorada do “efeito exorfina”. Este efeito é resultado do
por estudos. (19) aumento da permeabilidade da membrana da
Mesmo com avanços nas técnicas de mucosa intestinal e pela invasão de microbiota
sequenciamento de última geração existem anormal, surgindo a disbiose, o que promove
limitações em aplicações clínicas e de uma irregularidade na quebra de peptídeos e
pesquisas. Pode haver variação na qualidade reabsorção exacerbada de toxinas, atingindo a
e quantidade dos ácidos nucléicos circulação. O efeito exorfina faz com que
dependendo do horário e do método em que sejam absorvidas substâncias estranhas para
a amostra foi coletada, o tipo de o sistema imune, gerando a alergia alimentar.
armazenamento e a falha na técnica de (2)
processamento. Assim, podem ser A síndrome do intestino irritável pode ser
encontradas alterações na composição da provocada pelo acometimento da microbiota
microbiota que não refletem as verdadeiras intestinal resultando em uma fermentação
mudanças. (19) irregular no cólon. Isto, impede que o cólon
realize suas funções habituais, o resultado
dessa desrregulação são diarréias frequêntes
e dores abdominais. (2)

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REFERÊNCIAS

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manutenção da microbiota intestinal. 2014. 33 f. Monografia (Graduação em Farmácia). Centro Universitário Luterano
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intestinal e uso de prebióticos e probióticos como promotores da saúde humana. Rev Higei@. 2018 [acesso em: 28
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microbiota: a novel diagnostic test for determining dysbiosis in patients with IBS or IBD. Alimentary Pharmacology and
Therapeutics. 2015 [acesso em 20 de Fevereiro 2020]. 42(1): 71-83. Disponível em: https://doi.org/10.1111/apt.13236

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10 Disbiose. Associação Brasileira de Nuteologia (ABRAN). [acesso em: 07 de Março de 2020]. Disponível em:
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Glair_REV_VLS.REVi_.pdf

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11 Spiller RC, Thompson WG. Transtornos intestinais. Arq Gastroenterol. V.49 – suplemento – 2012. [acesso em: 07
de Março de 2020]. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ag/v49s1/v49s1a08.pdf

12 Souza ME. Avaliação da microbiota intestinal de indivíduos que sofreram acidente ocupacional com materiais
biológicos que realizaram profilaxia anti-retroviral. Dissertação de pós-graduação. Faculdade de Medicina de
Botucatu –SP. 2007. [acesso em: 07 de Março de 2020]. Disponível em:
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/95357/souza_me_me_botfm.pdf?sequence=1&isAllowed=y

13 Coprológico Funcional, Digestão alimentar. Biolider. [acesso em: 07 de Março de 2020]. Disponível em:
http://www.biolider.com.br/media/images/243.pdf

14 Pontes JF. Valor Propedêutico do Exame Coprológico.Revista de Medicina da Faculdade de Medicina da


Universidade de São Paulo. 1941. [acesso em: 07 de Março de 2020]. Disponível em:
file:///C:/Users/Usuario/Downloads/EXAME%20COPROLOGICO%20FUNCIONAL.pdf

15 Kleiner. Teste dos Gases Expirados. [acesso em: 07 de Março de 2020]. Disponível em:
https://drkleiner.com.br/teste_dos_gases_expirados/

16 Pesquisa INDICAN (teste de disbiose). Alvaro apoio. [acesso em: 07 de Março de 2020]. Disponível em:
https://alvaroapoio.com.br/detalhe-exame?ex=INDICAN

17 Science Play, Anytime, Everywhere, Meeting de Nutrição Eficiente, 2019, Campinas. Campinas: BF Eventos;
2019. [acesso em:30 de Junho de 2020]. Disponível em: https://www.bfeventos.com.br/wp-
content/uploads/2019/11/Ebook-Meeting-Nutric%CC%A7a%CC%83o-Eficiente-2019.pdf

18 Ribeiro RM. Estudo do efeito de diferentes métodos de armazenamento das amostras de Fezes para a
caracterização da microbiota intestinal, por meio de sequenciamento de nova geração [dissertação]. São Paulo:
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 2017

19 Tang WHW, Bäckhed F, Landmesser ULF, Hazen SL. Microbiota intestinal na saúde e doença cardiovascular,
Revisão do Estado da Arte do JACC. Rev JACC. 2019; 01(07): 71-87.

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CAPÍTULO 9
Dieta e efeitos atribuídos aos efeitos dos probióticos
e prebióticos ao organismo

kalittamenezess@gmail.com
Kalitta Menezes e Silva 1
1. Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser
Adriana Alves de Meneses Aparecida de Goiânia - GO.
2. Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP – SP.
Delevedove2 6. Universidade Federal de Goiás – GO.
Mônica de Oliveira Santos 3

O ser humano é formado por um número antibióticos, dieta inadequada e fatores


dez vezes maior de bactérias (cerca de 10 a emocionais, dá-se o nome de disbiose
100 trilhões) do que de células humanas, intestinal. Nesta, há alteração na composição
vivendo em harmonia. A formação da da microbiota intestinal, com um aumento de
microbiota humana inicia-se no momento do bactérias patológicas sobre as comensais. Tal
parto (natural ou cesariana) em média, até os desequilíbrio prejudica o metabolismo dos
dois anos de idade, a criança atinge o pico de nutrientes, há deficiência na produção de
formação das bactérias adquiridas que ácido clorídrico e provoca um quadro de
seguirão até sua vida adulta19,54. hipovitaminose pela deficiência na síntese da
A alimentação exerce um importante vitamina K220,55.
papel no bom funcionamento do organismo. O principal fator de risco associado é a
As alterações nos hábitos alimentares, como quebra da barreira da mucosa intestinal,
o consumo elevado de sódio, conservantes e condição patológica chamada de
gorduras saturadas contribuíram para o permeabilidade intestinal. Nesta, produtos
aumento da incidência da obesidade, do como toxinas, bactérias e alimentos não
diabetes e das doenças inflamatórias digeridos ultrapassam a barreira da mucosa e
intestinais. Tais escolhas, quando frequentes, atingem a corrente sanguínea, ativando o
levam a um desequilíbrio da microbiota sistema imunológico. O organismo, ao
intestinal, influenciando na manutenção da interpretar tais substâncias como antígenos
fisiologia do trato gastrointestinal (TGI)22,50. passam a montar uma resposta imune contra
A esse desequilíbrio da microbiota o antígeno. O constante estímulo causa um
intestinal, também mediada por abuso de estado inflamatório crônico, o que estimula o

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desenvolvimento da obesidade, diabetes e momentâneos a prolongados. Dentre
manifestações alérgicas em pacientes consequências da disbiose, destacam-se a
suscetíveis23,40. produção de toxinas pelas bactérias
Apesar de fatores genéticos de o patogênicas e a diminuição de absorção dos
hospedeiro terem certa influência na nutrientes pela destruição da microbiota
composição da microbiota intestinal, aspectos intestinal24, 57.
ambientais promovem um papel de Seu tratamento é baseado na alteração
prevalência e importância significativa na nutricional, com a utilização de simbióticos, os
formação do consórcio microbiano. Os genes quais são formados por prebióticos e
hospedeiros que foram encontrados para probióticos que recuperam a microbiota
afetar a microbiota intestinal estão intestinal atuando na prevenção de outras
relacionados às preferências alimentares. enfermidades crônicas como câncer,
Com isso, a regulação de fatores não obesidade27, 43.
genéticos, especialmente a dieta, é uma A conduta nutricional na disbiose é feita
medida viável de prevenção e controle de seguindo alguns passos, com o intuito de
doenças, como a disbiose para manter reparar, inserir e equilibrar a microbiota
homeostase21, 56. intestinal. As consequências dos estados de
A microbiota intestinal é um ecossistema desequilíbrio da microbiota intestinal e suas
prevalente bacteriano que reside funções fisiológicas refletem no
normalmente nos intestinos do homem, comprometimento local e sistêmico do
possui várias funções de grade importância, indivíduo, através da exposição a vários
destaca-se a de bloquear a presença de fatores ambientais, incluindo dieta, toxinas,
bactérias patogênicas que geralmente é medicamentos e patógenos5, 58.
produzido pelo desequilíbrio da microbiota. A dietoterapia para a prevenção e o
Esta é formada por bactérias benéficas, como tratamento da disbiose passa, principalmente,
bifidobacterias e lactobacilos, e de bactérias por uma reeducação alimentar, evitando-se o
nocivas, como Enterobacteriaceae e excesso do consumo das carnes vermelhas e
Clostridium spp., além de Eubacterium spp., de alimentos processados7. A ingestão de
Fusobacterium spp., PeptoStreptococcus spp. grandes quantidades e lactose e glúten em
e Ruminococcus26, 42. particular por indivíduos com intolerância,
A disbiose tem muitos fatores causais pode provocar flatulência e diarreia25.
que predispõe o aparecimento do A dieta é um fator modificável e,
desequilíbrio intestinal como alterações consequentemente, é uma abordagem
autoimunes, neurológicos e inflamatórios e terapêutica muito atraente para modular a
distúrbios metabólicos, sendo de origem microbiota intestinal. Vários alimentos são
endógena e exógena e variando de propostos atualmente, mas uma dieta

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adequada a todos os indivíduos é impossível, influencia a composição da microbiota
devido a variação de cada biótipo. Uma intestinal29, 46.
abordagem baseada na dieta para modular a É importante consumir alimentos
microbiota deve considerar o efeito de longo orgânicos, livres de agrotóxicos e aditivos
prazo dietas. Entre as intervenções dietéticas, químicos, tais como glutamato, sulfitos e
um regime alimentar com baixo conteúdo nitratos. Para reinocular e modular a
oligossacarídeos fermentáveis, microbiota intestinal utiliza-se os probióticos e
dissacarídeos, monossacarídeos e polióis prebióticos. Os Lactobacillus são importantes
(FODMAPs) demonstrou reduzir sintomas para colonizar principalmente o intestino
gastrointestinais em pacientes com alterações delgado e o gênero Bifidubacterium para
na microbiota intestinal28,44. albergar o intestino grosso8, 22.
As dietas mediterrânea e atlântica são A dieta não irritativa refere-se à exclusão
apresentadas como protetoras de um bom de frituras, café, e alimentos industrializados e
estado de saúde. A dieta mediterrânea é uma a moderação do consumo de carne bovina.
variedade de comportamentos alimentares Em concomitância com a dieta, utiliza-se a
habituais seguidos por pessoas de países suplementação de probióticos e prebióticos.
contíguos ao Mar Mediterrâneo. A dieta Também dão usados nutrientes importantes
atlântica tem sido relacionada à saúde para o reparo da mucosa intestinal, como o
metabólica e menor mortalidade por doenças zinco, ácido fólico, vitamina A, D e os
coronárias e alguns tipos de câncer. A dieta polifenóis. Constatam-se benefícios na
atlântica inclui alguns elementos essenciais, adoção de uma dieta não irritativa, isenta de
como o complexo de vitamina B, ácidos frituras, refrigerantes e alimentos
graxos: ômega 3 e 6 e iodo, que podem trazer industrializados. Sendo recomendada a
benefícios à saúde dos consumidores na ingestão hídrica sozinha ou associar com
região atlântica. A dieta tem um imediato hortelã, gengibre, canela em pau, cravo,
impacto na composição da microbiota33,59. rodelas de limão, ou laranja2, 47.
Os carboidratos não digeríveis são A inclusão de fibras na dieta alimentar é
fermentado pela microbiota sacarolítica outro fator importante, sendo agregado aos
intestinal, produzindo assim SCFAs. Para oligossacarídeos e outros carboidratos não-
aumentar a fermentação bacteriana e a digeríveis. Existe uma promoção da função
produção de SCFAs, o ajuste da dieta é muito intestinal, concedido as ações da fibra
atraente e estratégia terapêutica segura. Além alimentar o que leva há um maior volume da
disso, ao adotar uma abordagem alimentar, a massa fecal, e da frequência de evacuação,
contribuição de micronutrientes deve ser promovendo um melhor trânsito intestinal. A
considerada um fator importante que ingestão de fibra alimentar também está
associada a riscos reduzidos e à melhora de

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uma série de doenças, como inflamação e intestinal, especialmente quando verde e
infecção a distúrbios metabólicos, bem como cozida, pois apresenta amido resistente, o
aumento da abundância de bactérias qual está associado a múltiplos benefícios a
produtoras de ácidos graxos de cadeia curta saúde intestinal. Um de seus derivados, a
(SCFA)30,24. biomassa de banana verde auxilia no controle
Inversamente, ingestão insuficiente de de glicemia, colesterol e ajuda no tratamento
fibra alimentar faz com que a microbiota de distúrbios intestinais. Acredita-se que esse
intestinal utilize fontes alternativas de alimento, promova benefícios na microbiota
nutrientes, como a barreira ao muco rico em intestinal, modificando a microMICROBIOTA
glicoproteínas com isso o epitélio intestinal do do cólon e aumentando a excreção fecal de
hospedeiro torna-se mais vulnerável a nitrogênio. Tal ação, reduz de maneira
patógenos. Além de a fibra alimentar, outros importante o risco de câncer de cólon37, 52.
alimentos saudáveis têm demonstrado efeitos
benéficos no microbiota intestinal32, 37.
A ingestão de óleo de peixe que contém PROBIÓTICOS
muitos ácidos graxos poliinsaturados, como o A evidência de que existiam bactérias
ômega-3 é positiva, pois esta associada ao que exerciam um papel benéfico para a saúde
aumento da diversidade de espécies da surgiu no início do século XX. Posteriormente,
microbiota intestinal e a elevação da produção nasceu à designação probiótico, a qual deriva
do metabólito microbiano N ‐ do grego e significa “para a vida”. O termo foi
carbamilglutamato, este tem associação com introduzido pela primeira vez por Lilly e
a redução do estresse oxidativo31, 49. Stillwell em 1965, referindo-se às substâncias
O Kefir, uma bebida composta de leite secretadas por um microrganismo, as quais
fermentado que se traduz na associação de estimulavam o crescimento de outros.
leveduras e bactérias, também tem sido Atualmente, o conceito é ligeiramente
utilizado no tratamento de pacientes diferente, sendo definido como
portadores de disbiose, uma vez que contribui microrganismos vivos que contribuem para o
para a redução dos níveis séricos de glicose e equilíbrio da MICROBIOTA comensal
de colesterol LDL. É rico em vitaminas do entéricos, os quais quando são administrados
complexo B, vitaminas D, E e K, além de nas quantidades adequadas, exercem um
minerais como fósforo, cálcio, aminoácidos efeito benéfico na saúde do hospedeiro25, 32.
essenciais e ácido fólico. Algumas pesquisas Nos últimos anos, graças à sua
relatam presença também de cobre, zinco, segurança e eficácia, os probióticos foram
magnésio, potássio e manganês34, 39. incluídos não apenas em produtos lácteos,
A banana também é reconhecidamente mas também em alimentos não derivados do
como um alimento benéfico para a saúde leite, como sucos de frutas e cereais. Vários

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estudos recentes se concentraram na Os probióticos podem atuar quer através
utilização de probióticos para prevenir dos seus constituintes, nomeadamente, DNA,
antibióticos associados diarreia, limitar o uso peptidoglicano, lipopolissacarídeo e flagelina,
de antibióticos e, consequentemente, reduzir quer como através dos seus metabolitos
a disseminação de estirpes40. microbianos. Os efeitos benéficos dos
Os probióticos são amplamente probióticos devem-se à sua capacidade de
utilizados como suplementos dietéticos para influenciar a microMICROBIOTA intestinal
um contributo nutritivo adicional, ao deixar a residente e à sua habilidade de gerar produtos
digestão e absorção mais eficientes e com propriedades bioativas, como por
restabelecer o equilíbrio intestinal ao exemplo, péptidos e ácidos gordos de cadeia
hospedeiro. Entre os probióticos mais usados curta38, 27.
estão as bactérias lactoacidófilas dos géneros A estes metabolitos microbianos foram
Lactobacillus e Bifidobacterium, e uma reconhecidas propriedades neuroativas,
levedura não patogénica, a Saccharomyces principalmente ao ácido butírico, propiónico e
boulardii6, 24. acético. São vários os neurotransmissores
Os probióticos podem ser usados para produzidos por espécies comensais como a
prevenir o aparecimento de disbiose quando o serotonina, GABA, catecolaminas, acetilcolina
paciente é exposto a condições e a histamina. Há evidência científica de que
predisponentes (terapias antibióticas determinados probióticos conseguem regular
prolongadas, estresse físico ou mental a resposta imunológica ao nível do trato
intenso, doenças debilitantes crônicas etc.) e gastrointestianal (TGI) e externamente a este.
como agentes terapêuticos reequilibrar uma A capacidade que os probióticos, e a
condição contínua de disbiose45, 26. microbiota, têm de influenciar diretamente o
As estirpes probióticas devem: pertencer sistema imune, e o papel que a imunidade
a espécies que compõe de forma normal a inata e adquirida exerce a este nível é crucial
nossa microbiota intestinal. Pertencem ao para a manutenção da homeostasia do lúmen
grupo de microrganismos designados GRAS entérico30, 41.
(geralmente considerado seguro), mesmo Todavia, a literatura dá a conhecer que
para pacientes imunocomprometidos. os probióticos parecem, também, agir através:
Provaram permanecer ativo e vital no da competição metabólica com os agentes
ambiente intestinal e resistir quando exposto patogênicos; favorecimento da função de
ao estômago ambiente (secreções biliares e barreira da mucosa intestinal, com inibição da
pancreáticas). Por isso são usados como translocação bacteriana, revertendo o estado
profilaxia e terapêuticos porque competem por de permeabilidade, chamado de leaky gut e a
nutrientes36, 25. resposta inflamatória verificada por exemplo
em situações de estresse crônico. Por

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indução, ao nível do epitélio TGI, de probióticos, que atuam como anti-
receptores opióides e canabinóides e por mutagênicos e exercer efeitos em diferentes
modulação do sistema imunitário. Sendo um estágios da carcinogênese42.
dos possíveis mecanismos de ação, é a Outra ação importante é que após a
redução de citocinas pró-inflamatórias (IL-6 e absorção, ocorre a redução da produção de
TNF-α) e o papel antioxidante que conseguem colesterol e triglicerídeos, causando a
exercer ao nível do TGI e além deste, pois regularização de seus níveis na corrente
parecem produzir um efeito sistêmico39, 53. sanguínea. Além de produzir ácidos graxos de
Possuem potencial para a aplicação cadeia curta (AGCCs), contribuem para a
clínica de probióticos é na atenuação destoxificação hepática e auxiliam na
sintomática abdominal referente ao trânsito e metabolização de medicamentos,
motilidade colónica anormal e com as xenobióticos, hormônios, carcinógenos e
síndromes intestinais inflamatórias, entre elas metais tóxicos16.
a síndrome do intestino irritável. Devido Os benefícios imunológicos dos
alguns probióticos funcionarem na regulação probióticos podem ser devidos à modulação
dos receptores µopióides e canabinóides das da produção de IgA local e sistemicamente,
células epiteliais intestinais, modulando e podendo ser associada ao exame coprológico
restaurando a normal percepção da dor funcional, analisando a IgA secretória.
visceral4,20. Também promove a ativação dos macrófagos
Promovem a aderência da mucosa locais, a fim de causar alterações nos perfis
intestinal e sintetizarem substâncias das citocinas pró/anti-inflamatórias ou a
bacteriostáticas como as bacteriocinas, ácido modular a resposta com contato com os
e peróxido de hidrogénio. Também favorecem antígenos alimentares18.
a produção de substâncias bactericidas, como Em algumas situações, os probióticos
a angiogenina e a β-defensina e citocinas que podem repelir bactérias patogênicas e suas
agem no bloqueio da apoptose celular. Todos toxinas, previamente aderidas ao epitélio.
esses mecanismos estimulam a proliferação Mediante a atuação das bacteriocinas, que
de bactérias benéficas em detrimento de são pequenos péptidos antimicrobianos
outras prejudiciais ao hospedeiro, reforçando produzidos por Lactobacillus spp., estes têm
os seus mecanismos de defesa9, 21. um estreito espectro de ação e são
Os benefícios não imunológicos incluem especialmente tóxicas para as bactérias gram-
o processo de digestão, a competição com positivas, ao formar poros na sua membrana
potenciais patógenos para nutrientes e locais plasmática ou interferir nas vias enzimáticas
de adesão intestinal, alterações de pH e de umas espécies10.
produção de bacteriocinas. As propriedades Sabe-se que os lactobacilos são
anticâncer também foram associadas aos moduladores da inflamação intestinal e das

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respostas imunes. Sua administração é São predominantes na microbiota de
recomendada em doenças gastroentéricas bebês amamentados, e sua presença está
caracterizadas por altos níveis de inflamação, positivamente correlacionada com o estado
na prevenção da diarreia, no tratamento de de saúde. Em contraste, a microbiota
infecções causadas por patógenos entéricos e intestinal da fórmula crianças alimentadas
pacientes pediátricos para prevenir e tratar com leite ou misto é caracterizada por uma
cólicas infantis44. prevalência significativamente reduzida de
Determinadas estirpes de bifidobactérias e por um aumento nas
Bifidobacterium spp. são produtoras de espécies de Bacteroides e Escherichia coli50.
toxinas, com capacidade suficiente para O Bacillus subtilis é capaz secretar
intervir quer nas bactérias gram-positivas, muitas enzimas extracelulares (a-amilase,
quer nas gram-negativas. A levedura arabinase, celulase b-glucanacase e DNase),
Saccharomyces boulardii origina uma e é uma das terapias anti-diarréia mais
protease que reduz a ação das toxinas A e B eficazes. A Escherichia coli estirpe Nissle
do Clostridium difficile13. 1917 aumenta a homeostase intestinal e
Há também estirpes de Lactobacillus melhora a barreira intestinal, reduzindo a
spp . e Bifidobacterium spp que são capazes epitelial intestinal invasão celular por vários
de produzir o ácido láctico, o acético e o patógenos. Finalmente, cepas de bactérias
propiónico, levando a redução local do pH. pertencentes à Streptococcaceae família,
Devido a esse mecanismo observa-se a particularmente os dois gêneros
inibição do desenvolvimento de uma imensa Streptococcus e Lactococcus, bem como a
pluralidade de patógenos gram-negativos, cepa Enterococcus faecium (ex
com consecutiva estabilidade da microbiota Streptococcus, agora separado do gênero
intestinal15. Enterococcus), também foram utilizados como
Bifidobactérias representam 8 a 10% da probióticos em alimentos e rações. é
microbiota intestinal e são capazes de altamente resistente ao ácido gástrico artificial
produzir vitaminas, enzimas, ácidas acéticas e e sucos biliares. O probiótico Lactococcus
lácticas. Eles também diminuem o pH do lactis é uma espécie indígena que produz
cólon, inibem patógenos e têm propriedades bacteriocinas (ativo em vários patógenos) e
de ativação imune. A administração oral de ácido lático17, 47.
Bifidobacterium bifidum G9-1 parece suprimir O Streptococcus thermophilus tem
a produção de imunoglobulina E, para propriedades anti-inflamatórias e ajuda a
promover a resposta IgA, que é útil no combater bactérias potencialmente
tratamento profilático em respostas alérgicas patogênicas. Distúrbios gastrointestinais
à IgE6, 46. tratados com probióticos Enterococcus spp.
foram avaliados em vários hospedeiros

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(camundongos, leitões e humanos) E. faecium grupo seleto de microrganismo que habita no
demonstrou afetar a estrutura da microbiota intestino, estimulando o seu crescimento e a
intestinal, regular a função imunológica e produção de ácidos gordos de cadeia curta
mostrar efeitos inibitórios versus patógenos que são utilizados pelo organismo como fonte
entéricos e é produtor de ácido lático e de energia 52.
butírico51. Assim, denota-se a sua influência sobre
O Saccharomyces boulardii é um a microbiota, favorecendo uma comunidade
probiótico de levedura resistente à acidez microbiana mais saudável. Os prebióticos
gástrica, à proteólise e, é claro, aos consistem essencialmente em hidratos de
antibióticos. Embora a administração oral de carbono, nomeadamente, na maioria dos
S. boulardii não é capaz de colonizar de forma casos, oligossacáridos e polissacáridos que
estável o intestino (é eliminado dentro de não são digeríveis pelas enzimas intestinais e
alguns dias), no entanto, é capaz de atingir e que conferem vantagem, principalmente, o
manter altas concentrações em um curto crescimento e/ou a atividade das bactérias
espaço de tempo. Essas características torná- benéficas 49.
lo adequado para uso durante tratamentos São substâncias alimentares compostas
com antibióticos 48. principalmente por polissacarídeos não amido
Os dados disponíveis indicam que o uso e oligossacarídeos. Sendo carboidratos
dos probióticos promove a eubiose facilitando complexos, resistentes às atividades das
a produção de ácido lático e vitaminas do enzimas salivares e intestinais, não ocorrendo
grupo B e impedindo a proliferação de a absorção e digestão no trato gastrintestinal.
leveduras prejudiciais. Dessa forma, servem de um ingrediente que
altera a formação da microbiota, de modo que
PREBIÓTICOS as bactérias benéficas se tornam
O termo prebiótico é utilizado para predominantes7.
caracterizar ingredientes alimentares não Mais conhecido e caracterizado
digeríveis que ajudam o organismo por prebióticos incluem suplementos de
estimular seletivamente a reprodução e a frutooligossacarídeos (FOS), galacto-
atividade de uma quantidade limitada de oligossacarídeos, inulina (também capaz de
espécies bacterianas no intestino, sendo aumentar a absorção de cálcio), lactulose (um
importante na alteração da qualidade da dissacarídeo sintético usado como
microbiota colônica tornando mais saudável1. medicamento para o tratamento da
Os prebióticos são componentes constipação e encefalopatia hepática) e
alimentares que possuem um papel oligossacarídeos do leite materno. No
importante para o hospedeiro, na medida em entanto, a suplementação de inulina modula
que, funcionam como substratos, nutrem um

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endotoxemia metabólica e inflamação em uma diminuição significativa no pH, criando
mulheres com diabetes tipo 252. um habitat desfavorável para a putrefação
A administração ou uso de prebióticos crescimento de bactérias (clostrídios)53.
visa influenciar beneficamente o ambiente A oligofrutose prebiótica está
intestinal dominado por trilhões de micróbios evidenciada espontaneamente em muitos
comensais. Através da característica de não alimentos como exemplos no trigo, bananas,
digerível pelo hospedeiro beneficia a saúde do mel, cebolas, alho e alho-porró. Também pode
indivíduo graças a seu efeito positivo sobre os ser retirada da raiz de chicória ou pode ser
micróbios benéficos autóctones9. sintetizada por via enzimática a partir da
Em decorrência, produzem o sacarose. A sua fermentação no cólon resulta
desenvolvimento de bifidobactérias e em várias ações fisiológicas, incluindo:
lactobacilos, modificando favoravelmente a elevação da absorção de cálcio,
composição da microbiota intestinal e/ou encurtamento da duração do trânsito
estimulando a atividade metabólica destas gastrointestinal e aumento da quantidade de
bactérias. Os prebióticos alteram o trânsito bifidobactérias no cólon15.
intestinal, reduzindo metabólitos tóxicos e A inulina é derivada da raiz da chicória e
previnem alterações intestinais como diarréia encontrada em muitas plantas que fazem
e obstipação intestinal18. parte da dieta humana, sendo a cebola a mais
Também encontram-se outros consumida entre elas. Ela trabalha para
ingredientes que são introduzidos na melhorar as funções intestinais, como o
alimentação humana que são prebióticos, desenvolvimento de anticorpos, a diminuição
entre eles as fibras dietéticas, açucares não significativa em diversas condições
absorvíveis, féculas, alcoóis do açúcar e pediátricas, como diarreia, vômitos, febre e
oligossacarídeos. Os prebióticos mais usados flatulência e também demonstraram ajudar na
e conhecidos são: oligofrutose, inulina, modulação dos níveis no sangue de
galactooligossacarídeos, lactulose1. hormônios envolvidos na regulação do
Essas substâncias são frequentemente apetite10.
incluídas em formulações de simbióticos Galacto-oligossacarídeos (GOS) são
contendo bactérias probióticas para promover carboidratos constituídos por até 7 unidades
seu rápido crescimento no ambiente intestinal. de galactose e uma glicose terminal, são
FOS são capazes atravessar o lúmen resistentes aos efeitos das enzimas
digestivo, não digerido e não absorvido, para digestivas. Produzem um significativo
alcançar o cólon ascendente sem incremento, principalmente na população de
modificação, onde serão metabolizados Bifidobacterium, com a conseguinte redução
seletivamente pelo componente probiótico da concentração de bactérias patogênicas8.
residente da microbiota. Sua digestão causa

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Os efeitos benéficos ao trato no cólon, ocorre a melhora no trânsito
gastrintestinal são vários, desde a modulação intestinal e também uma significativa
do sistema imune, por meio das adequação da absorção de minerais
características antiadesivas que se desejáveis, em especial cálcio e magnésio16.
relacionam a reduções nos riscos de câncer

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CAPÍTULO 10
Prevenção e Tratamento da Disbiose

Karolyna Matos Silva1


karol_matos100@hotmail.com
Tauana Pereira Lacerda2
Marcella Giovana Gava 1. Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser
Aparecida de Goiânia – GO.
Brandolis1 2. União das Faculdades dos Grandes Lagos (UNILAGO) –
Adriana Alves de Meneses São José do Rio Preto - SP.
Delevedove3 3. Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP – SP.

A microbiota gastrointestinal (GI) maioria das superfícies ambientalmente


humana é um ecossistema complexo que expostas (como o pele, boca, intestino e
abriga trilhões de organismos, principalmente vagina).3,6 Moldado por milênios de evolução,
bactérias, mas também vírus e organismos algumas associações bactérias-hospedeiros
eucarióticos. Estima-se que a microbiota desenvolveram-se em relacionamentos
intestinal contém 1.014 células bacterianas, benéficos, criando um ambiente para
superando as células do hospedeiro em dez mutualismo, como no trato gastrointestinal
vezes. Além disso, o potencial genético do baixo de mamíferos.3,7,8,9 Na idade adulta
microbioma intestinal, o genoma coletivo de a jovem, tanto humanos quanto outros
microbiota é 100 vezes maior que a do mamíferos suportam um dos mais complexos
genoma humano.1,2,3,4 Ao contrário do nosso ecossistemas microbianos do planeta, com
próprio genoma, o microbioma intestinal não é mais de 100 trilhões de bactérias compostas
apenas transmitido e fixado verticalmente, de potencialmente muitos milhares de
mas pode ser modificado por eventos de vida, espécies microbianas no intestino distal.10,11
dieta e tratamentos farmacêuticos que afetam As bactérias simbióticas do intestino de
a composição, estabilidade e função do mamífero há muito tempo é apreciado pelos
ecossistema intestinal.5 benefícios que proporcionam ao hospedeiro:
Imediatamente após o nascimento, através fornecimento de nutrientes
todos os mamíferos são iniciados em um essenciais, metabolismo de compostos
processo de colonização ao longo da vida por indigeríveis, defesa contra colonização por
microorganismos estranhos que habitam a patógenos oportunistas e até mesmo
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contribuição para o desenvolvimento da estar intimamente ligado ao funcionamento
arquitetura intestinal.12 A microbiota intestinal adequado do sistema imunológico. Dentre os
está envolvida na maturação do sistema fatores que podem influenciar negativamente
imunológico13 e na regulação das respostas a microbiota saudável temos nos primeiros
da imunidade inata e adaptativa,14 na dias/semanas de vida, parto cesárea,
proteção contra o supercrescimento de fórmulas para alimentação infantil, higiene,
patógenos, na proliferação de células vacinação e uso de antibióticos, o que pode
hospedeiras e de sua vascularização, na alterar o desenvolvimento imunológico da
regulação das funções endócrino-intestinais, criança e potencializar a predisposição do
na sinalização neurológica e na densidade indivíduo a diversas doenças inflamatórias ao
óssea, como fonte de biogênese energética (5 longo da vida.16
a 10% das necessidades diárias de energia do As alterações da microbiota intestinal e o
hospedeiro), na biossintese de vitaminas, desbalanço da composição e funcionalidade
neurotransmissores e múltiplos outros destes microorganismos é chamado de
compostos com alvos ainda desconhecidos, disbiose, e pode ser um fator importante na
na metabolização sais biliares na reação ou patogênese de diversas doenças. Mudanças
modificação de drogas específicas; e na composicionais na microbiota – disbiose – têm
eliminação de toxinas exógenas.15 sido associadas a várias condições desde
Embora a barreira mucosa, que consiste distúrbios do trato GI, como diarreias,
na camada de muco e células epiteliais, evita obstipação crônica, colite
o contato direto com as bactérias intestinais, pseudomembranosa, doença de Crohn,
há uma interlocução constante entre os dois recolite ulcerativa, síndrome do intestino
sistemas que permitem benefícios mútuos. Ao irritável, câncer de cólon,17,18, 19 até desordens
contrário dos patógenos oportunistas, que neurológicas, respiratórias, metabólicas,
provocam respostas imunológicas que hepáticas e cardiovasculares.15
resultam em danos ao tecido durante a A prevenção e tratamento da disbiose se
infecção, algumas espécies bacterianas dá através de uma reeducação alimentar
simbióticas demonstraram prevenção de visando a eubiose. Dentre os artifícios que
doenças inflamatórias durante a colonização. podemos utilizar no manejo da disbiose
A microbiota "normal" também contém podemos destacar: retirada de alimentos
microrganismos que mostraram induzir deletérios, reparação da mucosa intestinal,
inflamação sob condições particulares. reintrodução de enzimas digestivas e
Portanto, a microbiota tem potencial para reinoculação de probióticos, buscando assim
exercer tanto respostas pró quanto equilibrar a microbiota intestinal, obter uma
antiinflamatórias e equilíbrio na estrutura da maior biodisponibilidade de nutrientes e
comunidade de bactérias intestinais podem

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intervir em fatores externos à saúde REPARAÇÃO DA MUCOSA INTESTINAL
orgânica.20 Fibras
Fibras alimentares são polissacarídeos
RETIRADA DE ALIMENTOS DELETÉRIOS vegetais da dieta (celulose, hemicelulose,
A dietoterapia para a prevenção e o pectina, gomas e mucilagens),
tratamento da disbiose passa, principalmente, oligossacarídeos, amido resistente e lignina,
por uma reeducação alimentar, evitando-se o as quais não são hidrolisadas pelas enzimas
excesso de ingestão das carnes vermelhas, digestivas. São também conhecidas como
do leite e derivados, dos ovos, do açúcar prebióticos.24
branco e de alimentos processados.21 Uma As fibras podem ser classificadas com
grande ingestão de carboidrato leva a maior base em sua solubilidade em água, podendo
fermentação pelas bactérias no intestino ser solúveis (pectinas, gomas, mucilagens e
grosso e a proteína produz putrefação algumas hemiceluloses), as quais apresentam
aumentada. Se a absorção imperfeita no efeito metabólico no trato gastrointestinal
intestino delgado permitir que grandes (retardam o esvaziamento gástrico e o tempo
quantidades de carboidrato e proteína atinjam de trânsito intestinal, diminuem a absorção de
o intestino grosso, a ação bacteriana pode glicose e colesterol), alteram a composição da
levar à formação de gases em excesso ou microbiota intestinal e do metabolismo por
certas substâncias tóxicas que comprometem meio da produção de ácidos graxos de cadeia
a microbiota intestinal benéfica.22 O consumo curta; ou insolúveis (celulose, lignina e
de grandes quantidades de lactose, hemicelulose), que apresentam um efeito
especialmente por indivíduos com mecânico no trato gastrointestinal (pouco
intolerância, e de açúcares pode causar fermentáveis, aumentam bolo fecal, aceleram
flatulência e diarréia, prejudicando também a o tempo de trânsito intestinal).24
microbiota intestinal.20 Os feitos benéficos das fibras
Para tratamento e prevenção da disbiose alimentares são bastante conhecidos, seja na
intestinal em indivíduos susceptíveis, devem prevenção ou no tratamento de diversas
ser retirados alimentos que causem maior afecções, como diabetes mellitus,
fermentação bacteriana no intestino grosso aterosclerose, câncer de cólon, síndrome do
como: glúten, cafeína, carboidratos refinados, intestino curto e doença diverticular. Elas
especialmente o açúcar branco, leite e seus aumentam o volume das evacuações,
derivados para uma desinflamação da parede regulam o tempo de trânsito intestinal e
intestinal.23 diminuem a pressão da luz intestinal. Além
disso, atuam no metabolismo dos
carboidratos e no controle da glicemia, na
redução dos triglicerídeos e colesterol

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sanguíneo e como substrato para formação de realiza uma função importante no crescimento
ácidos graxos de cadeia curta, os quais são e desenvolvimento do trato gastrointestinal.26
responsáveis pela nutrição dos enterócitos e Segundo estudos, recém-
colonócitos, entre outros.24 nascidos com restrição de crescimento intra-
Uma alimentação escassa em fibras uterino (RCIU) mostram maior taxa de
prejudica a microbiota intestinal. mortalidade e morbidade perinatal. A RCIU em
No estudo de Pedrosa (2018), foi recém-nascidos prematuros e a termo mostra
demonstrado que ao ingerir amêndoas de uma diminuição de Gln no plasma e no
diversos aspectos (inteira, torrada, picada e a intestino. Essa diminuição é devida uma
manteiga) ocorre modificação aleatória alteração no desenvolvimento do intestino,
favorável a formação da microflora. Também que interfere na absorção e utilização de
foi identificado quando realizamos uma dieta nutrientes e isso gera uma elevada
rica em fibras obtemos uma microbiota que morbimortalidade relacionada à RCIU.26
reage as modulações apropriadas para Foi observador que ao
dieta.25 administrar via oral, em leitões, uma
quantidade de Glutamina (1,0g/kg de peso
Glutamina corporal por dia) no dia 0 ao dia 21 foi obtido
A glutamina (Gln) é um aminoácido um crescimento de leitões com RCIU e
efetivo na nutrição, que possui um papel diminuiu a mortalidade pós -desmame.
fundamental na barreira intestinal e na saúde. Investigação similar foram feitos em bebês
Pesquisas recentes mostram que a GLn é com baixo peso ao nascer, ficando clara a
benéfica para o crescimento intestinal e de necessidade de uma estratégia nutricional
todo o corpo, favorece a proliferação e benéfica para reestabelecer o
sobrevivência de enterócitos e adéqua a desenvolvimento intestinal em neonatos com
função da barreira intestinal em lesões, RCIU.26
infecções, estresse no desmame, impede a Outro estudo, analisou o uso da
apoptose induzida por estresse oxidativo, suplementação de glutamina em atletas
organiza a expressão proteica da junção e a correndo em climas quentes, e identificamos
imunidade intestinal, melhora a condução de uma redução nos marcadores de
íons pelo intestino em neonatos e adultos, e permeabilidade gastrointestinal. Dessa forma,
outras condições imprescindíveis para o comprovamos que 0,9 g kg- 1 de
equilíbrio intestinal.26 suplementação aguda de glutamina mantém a
Alguns indícios mostram que a glutamina permeabilidade gastrointestinal em relação ao
é essencial para o neonato e relativamente placebo, porém doses mais baixas de 0,25 g
necessário para adultos. Nota-se, que no kg - 1 também seria capaz de ter algum
desenvolvimento intestinal do neonato, a Gln benefício. Nesse estudo, não foi possível

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esclarecer nenhum sintoma gastrointestinais consumidos cozidos. Quando estes alimentos
nos atletas. Foi concluído então que o uso de ingeridos não possuem enzimas, o pâncreas
suplementação com glutamina, antes do é forçado a produzir enzimas digestivas para
exercício mantém a integridade poder compensar a sua deficiência na comida.
gastrointestinal. 27 No entanto, com a presença de alimentos crus
na dieta ou com uma suplementação
REINTRODUÇÃO DE ENZIMAS enzimática, o pâncreas tem o seu trabalho
DIGESTIVAS diminuído e muitos sintomas ruins
Enzimas são substâncias de natureza desaparecem, como, entre outros, a
proteica que facilitam uma reação química, constipação intestinal.
como a quebra dos alimentos. As enzimas são Ainda segundo Almeida et al. (2009),29
responsáveis pela formação estrutural, um dos fatores que competem para o
crescimento, reparo, desintoxicação, defesa e desequilíbrio da microbiota intestinal é a má
existência dos mecanismos de cura do corpo, digestão. Assim sendo, a suplementação de
assim sendo essenciais para a vitalidade e enzimas pode prevenir a má digestão por
longevidade. O corpo produz milhares de diminuir carências enzimáticas e
espécies de enzimas vitais que tem funções consequentemente favorecer as condições de
específicas no organismo, mas elas também defecação, pois a disbiose pode ser uma
podem ser sintetizadas a partir das enzimas manifestação secundária da constipação, ou
contidas nos alimentos da dieta, que são as um fator que contribui para esse quadro.30
enzimas exógenas.28
Neste sentido, de acordo com Bontempo REINOCULAÇÃO DE PROBIÓTICOS
(2003),28 é preciso evitar a depleção ou o O tratamento da disbiose envolve
enfraquecimento enzimático através de também uma dieta composta por alimentos
“depósitos regulares” no “estoque de que possuem microorganismo vivos benéficos
enzimas” do organismo. Isso pode ser feito a saúde humana, os probióticos, com objetivo
por meio do consumo de alimentos crus ricos principal em restaurar a microbiota intestinal.
em enzimas, ou pela ingestão de suplementos A dieta contendo probióticos é importante,
enzimáticos, que geralmente incluem as pois a influência desses microorganismo
enzimas digestivas amilase, protease, lipase, sobre a microbiota intestinal humana engloba
lactase, celulase, bromelina e papaína. fatores como competição e efeitos
Normalmente o corpo conta com a presença imunológicos gerando o aumento da
de enzimas digestivas exógenas que já resistência contra patógenos.31
existem nos alimentos crus, e que servem Já o uso de alimentos prebióticos na
para sua própria digestão. Entretanto, dieta estimula a multiplicação de bactérias
atualmente, a maioria dos alimentos são benéficas, que interrompem a sobrevida de

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bactérias patogênica sendo assim um auxílio retirada de prebióticos por cozedura, ação
na imunidade pelos mecanismos de defesa do enzimática ou alcoólica. Ademais, temos os
organismo. A ação dos prebióticos ocorre oligossacarídeos sintéticos gerados pela
principalmente no intestino grosso, mas isso polimerização direta de alguns dissacarídeos
não se exclui que ocorra determinada ação na no envoltório extracelular de leveduras ou
microbiota do intestino delgado. Ao realizar fermentação de polissacarídeos. 34
ingestas diárias, os prebióticos podem gerar A recomendação diária de ingestão de
um aumento de bifidobactérias, e uma adesão fibras é em torno de 18 a 20 gramas/dia. No
dessas bactérias ao trato gastrintestinal, entanto, a quantidade necessária a cada
alterando e reestruturando a composição de pessoa deve ser avaliada individualmente de
sua microbiota. Ao mesmo tempo, ocorre uma acordo com suas necessidades. O consumo
inibição do crescimento de bactérias nocivas, excessivo de prebióticos pode levar a efeitos
por exemplo Escherichia coli, Clostridium colaterais como diarreia, cólicas, distensão
perfringens, entre outros.31 abdominal e flatulências, que são convertidos
após adequação de sua quantidade.34,35
Prebióticos
Prebióticos são fibras especiais, Probióticos
basicamente de origem vegetal, resistentes à Probióticos são organismos vivos, que
hidrólise pelas enzimas do trato digestivo quando ingeridos em determinado número
humano. Os prebióticos mais conhecidos são exercem benefícios sobre a saúde e a nutrição
resinas de aveia, pectina e básica intrínseca. Estes devem satisfazer
oligossacarídeos.32 Dentre os alimentos que alguns critérios para serem assim
contém maior quantidade de prebióticos classificados, como: não patogênico;
destacamos: betaglicanos, presentes na resistentes a acidez gástrica e a lise biliar;
aveia, pectina, encontrado em frutas, verduras viáveis no ambiente gastrointestinal; devem
e legumes; inulina, presente no alho, cebola e aderir ao epitélio; produzir substâncias
banana; frutooligissacarídeos (FOS), no antimicrobianas; e modular a resposta imune
aspargo e raiz da chicória; do hospedeiro.36
galactooligossacarídeos, presente no leite, Assim, a ANVISA aprovou o uso de
amido resistente, na banana verde, entre alguns probióticos, podendo estes serem
outros.33 acrescidos aos alimentos, geralmente em
Também encontramos uma boa laticínios, sendo eles: Lactobacillus casei,
quantidade destas fibras nas leguminosas: lactobacillus acidophilus, lactobacillus
grãos de soja, grão-de-bico, lentilhas, feijões rhamnosus e bifidobacterium lactis.37
e ervilha. Ocorre também a possibilidade de

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Cepas de probióticos estabelecidos pela ANVISA/OMS 33

Bactéria Dose

Lactobacillus casei 10 10 ufc/g - 2x/dia

Lactobacillus acidophilus 10 9 - 10 10 ufc/g - 1 a 3 x/dia

Lactobacillus rhamnosus 1010 - 10 11 ufc/g - 2x/dia

Bifidobacterium lactis 1010 ufc/g - 2x/dia

Fonte: (ANVISA/OMS). 33

Simbióticos
A Legislação Brasileira aconselha que a
Simbióticos são um ou mais probióticos
dose mínima de um probiótico esteja na faixa
e prebióticos combinados.36 Seu consumo
de 108 a 109 UFC (unidades formadoras de
gera uma melhora do ambiente físico para as
colônias) na quantidade diária da
bactérias benéficas do organismo o que
alimentação. Observa-se que os probióticos
potencializa sua ação. Observa-se que os
contribuem na formação de vitaminas do
simbióticos ajudam na sobrevida da bactéria
complexo B, que possuem a função de
probiótica em meio digestivo, auxiliando no
proteção hepática, agem no trânsito intestinal,
funcionamento do intestino. Estudos apontam
auxiliam na absorção de nutrientes,
ser necessário diferentes proporções dos
aumentam o teor nutritivo dos alimentos e
diversos tipos de bactérias para encontrar o
geram uma redução na acidez no decorrer do
equilíbrio, pois a eubiose tem importante papel
estoque final do produto, dentre diversas
na modulação do sistema imune, contribuindo
outras ações mencionadas anteriormente.33
significativamente na prevenção de doenças.
Efeitos colaterais mais comuns são
A presença de bactérias convivendo em
flatulências e desconforto abdominal leve,
simbiose é um fator protetor, gerando uma
raramente chegando a casos mais graves
competição contra bactérias ruins, trazendo
como septicemia. Não existe contraindicação
benefícios para o paciente.39
absoluta para a utilização de probióticos, no
A recombinação dos simbióticos causa
entanto deve-se lembrar que efeitos adversos
um aumento da resistência de cepas
graves e até letais em pacientes incapazes,
bacterianas, potencializando os probióticos
como gestantes, pacientes imunossuprimidos
dos alimentos, contribuindo assim para
como transplantados ou com distúrbios
manutenção da eubiose. Um estudo de caso
vasculares não são descartados.38
realizado na Universidade de Vila Velha

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mostrou a eficiência dos simbióticos para acordo com as necessidades dos mesmo,
tratamento de Constipação e Síndrome do ocasionando benefício para o hospedeiro.15
intestino irritável, em um intervalo de 3 meses São utilizadas bactérias comensais, que
com 107 UFC/g das cepas: Bifidobacterium pertencem ao sistema digestório de pessoas
lactis DN-173010, Bifidobacterium bifidum, saudáveis, as quais são processadas e
Lactobacillus casei Shirota, Lactobacillus inseridas de um indivíduo para outro por
acidofilus, Lactobacillus rhamnosus), sonda nasogastrica ou por colonoscopia, com
associados a 1 grama de oligofrutose. Os o objetivo de restaurar a microbiota benéfica.
participantes relataram melhoras no trânsito Essa terapia é mais indicada e utilizada em
intestinal, defecando com maior facilidade, infecções persistentes como Doença de
aumento da frequência, fezes mais pastosas Crohn Clostridium resistente, transplante para
e maior sensação de esvaziamento diário. obesos, idosos caquéticos.41
Mas, não se pode descartar os efeitos O primeiro caso de transplante de
colaterais como: dor abdominal, flatulência e microbiota fecal foi publicado na revista
fezes liquidas, em uma menor porcentagem Surgery nos anos 50, quando o procedimento
de pessoas.37, 40 foi realizado com quatro pacientes, os quais
Nesse período do tratamento os apresentaram melhora clínica após 48 horas
alimentos funcionais são recomendados pois do procedimento. Os resultados foram ótimos
possuem funções nutritivas básicas com com 93% de cura entre os participantes,
grande potencial de trazer benefícios à saúde demonstrado ser um tratamento eficaz.42
e diminuição de riscos de doenças crônicas. Observa-se uma grande dificuldade
Prebióticos e probióticos constantemente são para encontrar doadores adequados, sendo
utilizados e recomendados no tratamento geralmente escolhido cônjuge ou parente de
dessas por conterem nutrientes funcionais primeiro grau, por possuírem hábitos
que ajudam no equilíbrio das funções da alimentares parecidos, na tentativa de evitar
microbiota bacteriana do intestino, e assim rejeição e doenças. Existe alguns pontos para
diminuindo os riscos de doenças intestinais.40 a escolha do doador que devem ser
considerados, são eles: pesquisa de sangue
Transplante da Microbiota fecal oculto em busca de patógenos e exames de
O Transplante de Microbiota Fecal (TMF) sangue como hemograma, questionário com
é um novo tratamento que vem sendo perguntas pessoais sobre comportamentos de
bastante discutido. Este se baseia na alto risco, realização de tatuagem ou piercing
reintrodução e fortalecimento da microbiota recentes, uso de drogas ilícitas, múltiplos
intestinal em busca da eubiose, aplicando parceiros sexuais, pessoas com viagens
microrganismo vivos em quantidades e recentes para áreas com alto risco de
variedades diferentes para cada paciente de infecções entéricas ou incidência de bactérias

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resistentes. Além do mais, o paciente não o estilo de vida. As evidências atuais revelam
pode ter alterações mentais como ansiedade que os fatores dietéticos afetam o
ou depressão.43 ecossistema microbiano no intestino, se
Contudo, mesmo apresentando tantos fazendo assim necessário uma maior
benefícios, ainda existe um certo receio ao conscientização da população na tentativa de
uso de transplante de microbiota fecal, pela promoção de saúde.45
falta de pesquisas e dados relevantes, além A alergia alimentar vem sendo cada vez
de não se ter conhecimento de seus riscos a mais citada em estudos, afetando cerca de
logo prazo, não conhecendo efeitos adversos 10% da população mundial. Consideramos
do procedimento, não padronização e a falta alergia alimentar um efeito adverso por gerar
de consenso sobre o protocolo a ser seguido uma resposta imune exacerbada, podendo
e a periculosidade de transmitir outros tipos de causar anafilaxia e morte. Alguns
patógenos, são itens que ainda necessitam pesquisadores atribuem esta a uma
serem melhor avaliados para se ter um maior predisposição genética, no entanto tem-se
respaldo e aceitação da população para tal dado uma grande importância a fatores
procedimento.44 ambientais com ênfase na microbiota. O
O tratamento da disbiose consiste na microbioma possui uma grande atividade
abordagem dietética, por meio da ingestão de patogênica alterando a sensibilidade a
alimentos que contenham probióticos e/ou alérgenos.46
prebióticos. Nos casos mais críticos, pode Um estudo de Feehley realizou
haver a necessidade de lavagens colônicas transplante de microbiota de bebês com
(hidrocolonterapia), para remover conteúdos alergia ao leite de vaca à bebês sem alergia
putrefativos do intestino e permitir a drenagem em camundongos. Observou-se que os
linfática do cólon, o tratamento nutricional por camundongos transplantados com fezes do
sua vez, tem início com a inserção de bebê alérgico apresentaram sinais de reação
alimentos que contenham probióticos e/ou alérgica.46
prebióticos associados ao uso ou não de Assim observa-se que as respostas para
simbióticos, podendo contribuir para melhora tratamentos de doenças alimentares e
no quadro geral do paciente.29 imunes, estão intimamente ligadas a
Sendo assim, as campanhas de microbiota fecal. Dieta, probióticos,
educação nutricional tornam-se importantes prebióticos, simbióticos e transplantes de
para promover a saúde por meio de melhores microbiota fecal são promissores tratamentos
práticas alimentares e do autocuidado dos para alergias, apesar de ainda observar
indivíduos, uma vez que um dos principais poucas evidências e referências disponíveis.
problemas de saúde da população esta Dessa forma, faz-se necessário elucidar a
relacionado diretamente com a alimentação e importância não só do tratamento mas

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também da prevenção com bons hábitos Até então o que se tem de mais robusto
alimentares e introdução de suplementação na prevenção e tratamento da disbiose é a
com probióticos para melhora da qualidade de reeducação alimentar, evitando o consumo
vida do paciente na busca por uma excessivo de alimentos processados, de
dessensibilização imune.46 açúcares simples, das carnes vermelhas e do
leite e derivados, aumento na ingestão de
CONSIDERAÇÕES FINAIS vegetais, frutas e cereais. Além disso, o uso
Dessa maneira, compreendemos que de produtos probióticos, prebióticos e
uma alimentação saudável não está ligada simbióticos auxiliam na prevenção e no
somente ao tipo de alimento ingerido, mas tratamento das possíveis alterações da
também ao estilo de vida, hereditariedade, microbiota intestinal.
biodisponibilidade dos nutrientes e meio Esta abordagem revela uma nova forma
ambiente. O intestino pode ser considerado o de se pensar a saúde a fim de garantir uma
grande mantenedor da saúde. O acúmulo de vida saudável, na qual a alimentação e a
maus tratos na função intestinal afeta o nutrição efetiva estão relacionadas ao bom
equilíbrio da microbiota, fazendo com que as funcionamento intestinal e por fim a uma boa
bactérias nocivas proliferem e gerem saúde em geral.
consequências locais e sistêmicas ao
organismo humano.

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CAPÍTULO 11
Disbiose em Paciente Obesos e Bariátricos

Aline Luiza Ribeiro


Clara Elisa Melo Mundim
Mariana Queiroz Borges
Yhasmin Fernanda Silveira Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser
Lameira Aparecida de Goiânia – GO.

A microbiota intestinal, tem funções afetar a motilidade e a permeabilidade


fisiológicas, metabólicas, imunológicas e intestinal, a função visceral e a resposta imune,
neurais no corpo. Composta por mais de 1.000 propiciando doenças não transmissíveis,
espécies, porém principalmente por bactérias como obesidade, diabetes, asma, alergias e
anaeróbias Bacteroidetes e Firmicutes, que atopias, doença inflamatória intestinal,
constituem mais de 90% da microbiota síndrome metabólica e aterosclerose, que
intestinal total. Pode ser classificado em 6 estão intimamente associadas à microbiota
grupos bacterianos em indivíduos saudáveis intestinal. (ULKER, 2019)
(tabela 11.1). Alterações da microbiota podem

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(Tabela 11.1) Microbiota intestinal Humana
Grupo: Principais exemplos:
Bactérias
Firmicutes (gram-positive)
- Clostridium,
- Eubacterium,
- Ruminococcus,
- Butyrivibrio,
- Anaerostipes,
- Roseburia,
- Faecalibacterium.
Bacteroidetes (gram-negative)
- Bacteroides,
- Porphyromonas,
- Prevotella.
Proteobacteria - Enterobacteriaceae
Actinobacteria - Bifidobacterium genus
Fusobacteria
Verrucomicrobia - Akkermansia
Vírus - Poliomavírus
Fungos - Candida spp.
- Saccharomyces spp.
- Cladosporium spp.
Archaea - Methanobrevibacter smithii
- Nitrososphaera spp
Fonte: (ULKER, 2019; SANTOS, 2019)

Destaca-se a má alimentação, má disbiose, alergias alimentares e dermatite


digestão, idade, tensão emocional, infecções atópica. Doenças intestinais e extra intestinais
intestinais e o uso de medicamentos, que podem comprometer a integridade da
principalmente de antibióticos, no barreira mucosa e levar a alterações da
desenvolvimento de patologias como a permeabilidade intestinal facilitando a

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exposição do organismo a determinados resultante do desequilíbrio energético
antígenos, que definem o surgimento de prolongado, tem etiologia multifatorial,
respostas imunológicas inapropriadas. Esse estando envolvidos fatores genéticos e
processo pode ocasionar a translocação de ambientais (ABESO, 2010). A prevalência de
bactérias e antígenos bacterianos para a sobrepeso e obesidade no mundo tem sido
circulação sanguínea, levando a estimulação reconhecido como um importante problema
do sistema imunológico, desencadeando ou de saúde pública. O IMC (Índice de Massa
agravando a síndrome de resposta Corporal) por ser simples, prático e de baixo
inflamatória sistêmica e por fim acometendo custo é recomendado pela OMS para
doenças crônicas não transmissíveis como a classificação da obesidade. Um IMC acima de
obesidade (MARTINS, 2018). 30kg/m² caracteriza obesidade grau 1 e IMC
A obesidade é uma doença crônica, de 35-39,9kg/m² e um IMC 40kg/m²,
caracterizada pelo acúmulo anormal ou enquadram respectivamente obesidade grau II
excessivo de gordura no organismo, e está e III (tabela 11.2).
associada a comorbidades. Essa doença é

(Tabela 11.2) Classificação de peso pelo IMC adaptada pela OMS (ABESO, 2010)

Classificação IMC (kg/m²) Risco de


comorbidades

Baixo peso <18,5 Baixo

Peso normal 18,5 a 24,9 Médio

Sobrepeso 25,0 a 29.9 Aumentado

Obeso I 30,0 a 34,9 Moderado

Obeso II 35,0 a 39,9 Grave

Obeso III ≥ 40 Muito Grave

Há um complexo sistema de gasto de energia dentro de limites


mecanismos neuronais, hormonais e químicos relativamente precisos. Dessa forma a
que mantêm o equilíbrio entre ingestão e o obesidade é permeada por alterações

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neuroendócrinas. Incluindo o sistema aferente, transporte, utilização e excreção ocorram de
que envolve a leptina que é um hormônio que maneira eficiente.
possui efeitos no sistema nervoso central, A microbiota do intestino tem uma
fazendo controle de ingestão e outros sinais função ambiental relacionada à obesidade
de saciedade e de apetite de curto prazo. Há (SANTOS, 2019). Pacientes obesos têm
uma evidência crescente que a leptina, além menor variabilidade na microbiota intestinal do
dos seus efeitos no cerébro, está envolvida na que indivíduos magros. O fenótipo obeso se
deficiência da resposta imune humoral e associa com a capacidade de produzir
celular. Existem ainda alterações fermentação e alterações na composição da
neuroendócrinas da unidade de microbiota intestinal, que pode aumentar
processamento do sistema nervoso central e extração de energia a partir dos alimentos,
do sistema eferente, um complexo de apetite, contribuindo assim para a obesidade. Outra
saciedade, efetores autonômicos e diferença entre indivíduos obesos e magros é
termogênicos, que leva ao estoque energético. que os ácidos graxos de cadeia curta não
(VIANA, 2009). podem ser produzidos a partir de alimentos
O tecido adiposo é o agente responsável que não foram adequadamente digeridos
pela incompetência do sistema imunológico (ULKER, 2019). Dessa forma além de alterada
no organismo do obeso. As Interleucinas, na microbiota intestinal de indivíduos obesos,
como a Interleucina 6 (IL-6) e a Interleucina 8 a população bacteriana tem o potencial de
(IL-8) e o fator de necrose tumoral alfa (TNFα) influenciar na patogênese da obesidade
também são secretados pelo tecido adiposo e (MARTINS, 2018).
possuem participação direta na resposta Pacientes obesos ou aqueles submetidos
inflamatória. O peptídeo Adinopectina é à cirurgia bariátrica podem cursar com alguns
também secretado pelos adipócitos e participa problemas intestinais, favorecendo a disbiose.
na resposta, atuando como protetor da Mudanças na composição da microbiota
inflamação. O organismo do obeso é intestinal, correlacionada com a ingestão
inflamado, o que deve ser observado no dietética, podem induzir a produção de
tratamento terapêutico, para que a inclusão de moléculas pró-inflamatórias e,
nutrientes de ação anti-inflamatória seja consequentemente, desencadear alterações
introduzida na alimentação como função de na expressão do gene hospedeiro. Como
auxiliadores da resposta imune (ALVES, 2006). consequência, afeta o epitélio celular intestinal
Para tal evento ocorrer é necessário que todos e suas funções endócrinas, desequilibrando
os órgãos, principalmente do aparelho vias homeostáticas e impactando na
digestório, estejam desempenhando suas resistência e na adiposidade da insulina
funções, para que ingestão, digestão, (SANTOS, 2019).
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A microbiota intestinal de pacientes O tratamento da obesidade se dá através
obesos tem menos Bacteroides e mais de abordagens nutricionais, medicamentosas
Firmicutes do que pessoas com peso normal. e da prática de exercícios físicos.
Dietas ricas em ácidos graxos saturados levam Considerando que há uma grande
ao desenvolvimento de esteatose hepática e preocupação médica com risco elevado de
obesidade, aumentando as quantidades da doenças associadas ao sobrepeso e à
razão Firmicutes/Bacteroidetes. Dietas com obesidade, tais como diabetes, doenças
restrição de gordura e carboidratos e perda de cardiovasculares e alguns cânceres. A cirurgia
peso corporal aumentam a quantidade de bariátrica é um dos métodos de tratamento
Bacteroidetes. Porém estudos divergem eficazes no tratamento da obesidade e
quanto a relação entre o índice de massa complicações, alcançando perda sustentada
corporal e o Firmicutes/Bacteroidetes. A de peso a longo prazo. Os efeitos metabólicos
redução da ingestão de carboidratos em da obesidade são reduzidos, muitas doenças
pacientes com obesidade diminui os níveis de são prevenidas e há uma melhora na
butirato nas fezes e o nível de Roseburia spp. qualidade de vida (ULKER, 2019). Os
e Eubacterium retale. Um aumento na benefícios da cirurgia incluem melhora
proporção de Firmicutes/Bacteroidetes tem acentuada de doenças crônicas como
sido associado a obesidade e resistência hipertensão, diabetes e hiperlipidemia
insulínica. A microbiota é afetada pela perda (BORDALOL, 2011).
de peso corporal causada por dieta e O Conselho Federal de Medicina (CFM)
exercício. Foi relatado que as quantidades de especifica as comorbidades que poderão ter
Bacteroides e Lactobacillus aumentam como indicação para a realização da cirurgia
resultado da restrição energética e do bariátrica a pacientes com Índice de Massa
exercício em pacientes obesos. (ULKER, Corporal (IMC) maior que 35 kg/m² (resolução
2019). CFM - nº 2.131, de 12 de novembro de
2015)(tabela 11.3).

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Tabela 11.3 - Indicações Gerais Para Cirurgia Bariátrica (CFM, 2015)
1) Pacientes com índice de massa corpórea (IMC) acima de 35kg/m2.
▪ Diabetes,
2) Pacientes com IMC maior ▪ Apneia do sono,
que 35 kg/m² e afetados por ▪ Hipertensão arterial,
comorbidezes que ameacem a vida ▪ Dislipidemia,
como: ▪ Doenças cardiovasculares incluindo doença arterial
coronariana,
▪ Infarto de miorcárdio (IM),
▪ Angina, insuficiência cardíaca congestiva (ICC),
▪ Acidente vascular cerebral,
▪ Hipertensão e fibrilação atrial, cardiomiopatia dilatada,
▪ Cor pulmonale e síndrome de hipoventilação,
▪ Asma grave não controlada,
▪ Osteoartroses,
▪ Hérnias discais,
▪ Refluxo gastroesofageano com indicação cirúrgica,
▪ Colecistopatia calculosa,
▪ Pancreatites agudas de repetição,
▪ Esteatose hepática,
▪ Incontinência urinária de esforço na mulher,
▪ Infertilidade masculina e feminina,
▪ Disfunção erétil,
▪ Síndrome dos ovários policísticos,
▪ Veias varicosas e doença hemorroidária,
▪ Hipertensão intracraniana idiopática (pseudotumor cerebri),
▪ Estigmatização social e depressão.
3) Idade: maiores de 18 anos.
4) Obesidade estabelecida conforme os critérios acima, comtratamento clínico prévio insatisfatório de,
pelo menos, dois anos.
Precauções para indicação da cirurgia:
• Não uso de drogas ilícitas ou alcoolismo.
• Ausência de transtorno de humor grave, quadros psicóticos em atividade ou quadros demenciais.
• Compreensão, por parte do paciente e familiares, dos riscos e mudanças de hábitos inerentes a uma
cirurgia de grande porte sobreo tubo digestivo e da necessidade de acompanhamento pós-operatório com a
equipe multidisciplinar, a longo prazo.

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Dentre os diversos procedimentos É necessário destacar que o
cirúrgicos que se diferenciam pelo seu tratamento cirúrgico da obesidade não se
mecanismo de funcionamento estão às resume ao ato cirúrgico. A cirurgia bariátrica
técnicas restritivas, disabsortivas e as técnicas proporciona a perda de peso corporal através
mistas. No Brasil Quaisquer cirurgia que não da redução da digestão de macronutrientes,
seja a banda gástrica ajustável, a gastrectomia alteração dos hábitos alimentares, aceleração
vertical, derivação gastrojejunal e Y de Roux, do esvaziamento gástrico, regulação das
a cirurgia de Scopinaro ou de ‘switch alterações hormonais (por exemplo, peptídeo
duodenal’, são consideradas experimentais e semelhante ao glucagon 1 [GLP-1] e peptídeo
não devem ser indicadas (CFM, 2015). De YY [PYY]) e alterações no o metabolismo dos
acordo com a Federação Internacional de ácidos biliares. (ULKER, 2018).
Cirurgia da Obesidade e Distúrbios Embora a cirurgia bariátrica seja
Metabólicos (IFSO), uma federação de 62 adequada para o tratamento da obesidade,
sociedades nacionais, em 2016 a cirurgia mais algumas complicações imediatas, a curto e a
comumente realizada foi a gastrectomia longo prazo (tabela 11.4) (BAHIA, 2014).
vertical (53,6%).

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(Tabela 11.4) Complicações da Cirurgia Bariátrica (BAHIA, 2014)
Período: Principais complicações: Mortalidade (%):
Precoce (até 30 - Hemorragia, 2%
dias após a cirurgia): - Estenose, • 4,8% indivíduos com idade > 65
- Ulceração, anos vs. 1,7% entre os indivíduos mais
- Formação de fístulas (0,5% a 3%), jovens
- Estenose da anastomose
gastrojejunal (mais frequente quando se
usam grampeadores circulares),
- Hérnia incisional (mais frequente
após a cirurgia aberta, 24%, que na videola
paroscópica - até 1,8%);
- Tromboembolismo venoso com
embolia pulmonar.
- Atelectasias, infecções respiratórias,
pneumonias.
- Infarto do miocárdio e insuficiência
cardíaca.
Tardias (Após 90 - Colelitíase (38% dos operados em 2,8%
dias): até 6 meses da cirurgia); • 6,9% indivíduos com idade > 65
- Rabdomiólise anos vs. 2,3% entre os indivíduos mais
- Insuficiência renal, jovens
- Síndrome de Dumping,
- Deficiências de ferro, cálcio, zinco,
selênio, cobre e de vitaminas B12, D, C e
K;
Longo prazo - Déficits nutricionais (proteínas, 4,6 %
(Após 1 ano): vitaminas, sais minerais) • 1,1% indivíduos com idade > 65
anos vs. 3,9% entre os indivíduos mais
jovens

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O grau de perda de peso dos pacientes ricos em lipídios ou carboidratos. Durante o
varia, no entanto, entre indivíduos, tipo pré-operatório pacientes que consomem
cirurgias e tempo decorrido. A perda de peso poucos alimentos fontes de vitaminas e
bem-sucedida após a cirurgia se baseia em minerais, possuem um risco maior para
cerca 50% de perda do excesso de peso. Nos aquisição de doenças associadas a obesidade
10 anos seguintes, aproximadamente 20 a ou um potencial aumento dela, uma vez que
30% dos pacientes apresentaram perda de maus hábitos alimentares e de vida
peso insuficiente, com alguns pacientes inadequados, contribuem para tais
cursando até com reganho de peso. Além comorbidades (MARTINS, 2018).
disso, após 10 anos da cirurgia, Durante pós-operatório desses são
aproximadamente 20 a 25% do excesso de exigidas muitas adaptações nos hábitos
peso perdido, pode ser recuperado. alimentares, pois o consumo de alimentos
(SJOSTROM, 2007) ricos em lipídeos e de alto valor calórico são
Para o sucesso no tratamento cirúrgico desencorajados, visando aumentar a perda de
da obesidade com promoção de perda peso, diminuir a prevalência de deficiências
ponderal satisfatória e manutenção da saúde, nutricionais e manter a saúde pós-cirurgia
é fundamental que o paciente tenha um (BONAZZI, 2007). Havendo então a
acompanhamento nutricional direcionado necessidade do indivíduo aumenta a ingesta
para suas necessidades. Fazem-se de alimentos ricos em vitaminas e minerais
imprescindíveis modificações de hábitos (alimentos integrais, proteínas magras, frutas,
alimentares, com auxílio de instrumentos que legumes e vegetais) em virtude do tratamento
promovam o entendimento dos pacientes em e um novos hábitos de vida, pois implicações
relação aos grupos alimentares e suas podem prejudicar as vias de absorção dos
funções, favorecendo a educação nutricional, nutrientes e consequentemente afetando o
além de promover maior autonomia para estado nutricional (MARTINS, 2018). A
adequada seleção dos alimentos, adotando capacidade do paciente se adaptar às
uma dieta equilibrada e variada (SOARES, mudanças na dieta e estilo de vida após a
2013). cirurgia pode ser influenciada pelos traços
Estima-se que 50% dos candidatos a psicológicos de comportamento alimentar do
cirurgia bariátrica tenham sinais de vício em próprio indivíduo, podendo interferir
comer. Este quadro pode ser considerado diretamente nos resultados esperados após a
como um suposto estado alimentar vicioso, cirurgia.
pois o vício em comer é uma situação no qual A alimentação e suplementação desses
o paciente exibe um padrão de dependência pacientes bariátricos devem conter pré e
para certos tipos de alimentos, geralmente probióticos, fibras solúveis, manter macros e
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micronutrientes em equilíbrio para a ocidental" típica, rica em proteína animal e
manutenção das funções físicas, mentais e gordura saturada. Em particular, dietas com
emocionais, não esquecendo que os baixo teor de gordura, alto teor de
nutrientes são a fonte natural de formação das carboidratos e dietas com alto índice de
moléculas que constituem e mantém o carboidratos e índice glicêmico afetam as
funcionamento adequado do nosso quantidades de cepas específicas de maneira
organismo. (VIANA, 2009). diferente na microbiota intestinal (FAVA,
A cirurgia bariátrica é baseada em 2103).
mudanças fisiológicas e anatômicas do trato Após a cirurgia bariátrica, o jejuno distal
gastrointestinal, que incluem grandes e íleo proximal são expostos a uma quantidade
mudanças nas comunidades microbianas do alta de ácidos biliares, enquanto o intestino
intestino, há um interesse crescente em superior terá a ausência de “competição”
entender que mudanças na microbiota desses ácidos com os lipídios da dieta. Como
intestinal. Que podem atrapalhar a cirurgia a desconjugação da taurina e da glicina é
metabólica ou levar a uma melhoria da catalisada pelas hidrolases do sal biliar,
glicemia, controle e perda peso, presentes em todas as principais divisões
principalmente tecido adiposo. bacterianas, esse aumento na quantidade de
Significativas alterações na microbiota bactérias no intestino superior foi associado ao
intestinal são relatadas após cirurgia bariátrica aumento da desconjugação da BA (ANHÊ,
(tabela 11.5). Os possíveis mecanismos para 2017).
essas alterações na microbiota intestinal A alteração no tamanho do estômago
incluem mudanças no padrão alimentar, má aumenta significativamente o pH gástrico,
absorção de nutrientes, alterações no afetando também o pH intestinal. A redução da
metabolismo dos ácidos biliares, alterações no acidez estomacal está ligada a alterações na
pH gástrico e alterações no metabolismo dos população microbiana, gerando crescimento
hormônios. Ocasionando impacto na eficácia no espaço gastrointestinal. Essa elevação do
da cirurgia durante o pós-operatório. (ULKER, pH fornece um ambiente mais favorável para
2019) bactérias como Akkermansia muciniphila, E.
A curto prazo as mudanças no padrão coli e Bacteroides spp. Além disso, a redução
alimentar podem causar rápidas alterações na da barreira gástrica (isto é, pH aumentado)
composição da microbiota intestinal. Os poderia facilitar a colonização intestinal pela
enterótipos de Prevotella foram associados a microbiota oral, explicando o aumento da
dietas ricas em carboidratos (simples e presença de Streptococcus spp.,
complexos), enquanto o enterótipo Fusobacterium nucleatum, Bifidobacterium
Bacteroides estão associados a uma "dieta dentium e Veillonella spp. (ANHÊ, 2017).
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Algumas bactérias têm a capacidade de Além disso, a bactéria degradante de mucina
modular a secreção enteroendócrina, como A. muciniphila está associada também à
por exemplo a E. coli, mostrando correlação secreção de GLP-2.
positiva com os níveis plasmáticos de GLP-1.

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(TABELA 11.5) PERFIL TAXONÔMICO DA MICROBIOTA INTESTINAL APÓS CIRURGIA
BARIÁTRICA (ANHÊ, 2017)
MICRORGANISMO ALTERAÇÃO RELATADA
Microbiota total ↑H
Firmicutes ↓ A,H
− Erysipelotrichales (ordem) ↓A
Lactobacillales (ordem)/Lactobacillus spp. ↓A
− Lactobacillus reuteri ↓H
Clostridiales (ordem) ↓H
− Clostridium difficile ↓H
Dorea spp. ↓H
− Streptococcus spp. ↑H
− Staphylococcus epidermis ↓H
Eubacteriumrectale ↓H
Faecalibacterium prausnitzii ↓ H ↑ H*
Veillonella spp. ↑H
Bacteroidetes ↓ A,H
Bacteroides/Prevotella spp. ↑H
Alistipes spp. ↑ A,H
Actinobacteria
Bifidobacterium spp. ↓ H ↑ H*
Chloroflexi
Thermomicrobiumroseum ↓H
Fibrobacteres
Fibrobacter succinogenes ↓H
Verrucomicrobia
Akkermansia muciniphila ↑ A,H
Proteobacteria ↑ A,H
GammaProteobacteria (classe) ↑ A,H
Escherichia coli ↑ A,H
− Klebsiella pneumoniae ↑H

Shigellaboydii ↑H
− Salmonella enterica ↑H

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− Enterobacter hormaechei ↑A
Pseudomonas spp. ↑H
EpsilonProteobacteria
− Helicobacter spp. ↓H
Citrobacter spp. ↑H
Spirochaetes
− Treponema pallidum ↓H
Fusobacteria
− Fusobacterium nucleatum ↑H
− Fusobacterium periodonticum ↓H
Archae (reino) ↓ H ↑ A*

A, estudos em animais; H, estudos em humanos. Notas: Os filos são descritos em negrito. Gêneros
e espécies estão em itálico. *divergências de resultados entre diferentes estudos.

Hormônios como a leptina e a grelina tem uma correlação negativa com


alteram seu padrão de liberação após cirurgia Bacteroides, Clostridium e Prevotella, e uma
bariátrica. A mudança nos hormônios está correlação positiva com Bifidobacterium e
relacionada ao metabolismo energético e à Lactobacillus (ANHÊ, 2017).
microbiota. Embora a relação entre a Sabe-se hoje que pessoas obesas e
microbiota intestinal e a grelina não seja magras possuem diferentes microbiotas
totalmente compreendida, é relatado que os intestinais e as bactérias que habitam no trato
prebióticos modulam a microbiota intestinal e gastrointestinal afetam o ganho de peso e a
os prebióticos diminuem os níveis circulantes regulação do metabolismo energético. A
de grelina (CANI, 2009). Foi relatado que os adoção e promoção de novos hábitos
níveis séricos de leptina em circulação se alimentares saudáveis são fundamentais para
correlacionam positivamente com a melhoria da qualidade de vida e
Mucispirillum, Lactococcus e a alta quantidade consequentemente para a manutenção da
de Lachnospiraceae que não pode ser perda de peso a longo prazo.
classificada. Outro estudo relatou que a leptina

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CAPÍTULO 12
Disbiose e Doenças Mentais

Kissy Rodrigues Borges1 Kissy95@hotmail.com

Ludmyla Auxiliadora Baumgratz 1.Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser


de Brito1 Aparecida de Goiânia – Goiás
Adriana Alves de Meneses .
2. Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP – SP
Delevedove2

Na era moderna (século XX), George probióticos, como Lactobacillus, por exemplo.
Porter Philips foi o estudioso pioneiro que Além disso, ele realizou nesse grupo uma
notou que o intestino pode influenciar nos restrição alimentar para baixo teor calórico [1].
distúrbios mentais. O mesmo observou a No estudo, em seu teste terapêutico,
presença de constipação intestinal em seus Philips constatou que dentre os dezoito
pacientes com depressão e melancolia no pacientes observados, onze se recuperaram
Bethlem Royal Hospital em Londres. Muito se completamente dos sintomas e outros dois
dizia na época que as emoções influenciavam tiveram uma evolução positiva [1].
o hábito intestinal, no entanto, Philips buscou Portanto, surgiram inúmeros estudos
provar que o contrário também era verdadeiro posteriores a Philips relacionando as
.
[1]
disfunções gastrointestinais a distúrbios
Por conseguinte, para isso, George mentais. Todavia, para aprofundar
Porter Philips introduziu na dieta desse grupo satisfatoriamente sobre as patologias é
de pacientes com quadros depressivos e necessário saber como a disbiose intestinal
constipação intestinal, kefir, bebida láctea pode influenciar e gerar consequências para o
fermentada que constitui microorganismos sistema nervoso central (SNC).

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Número de
Evolução Porcentagem
pacientes
Pacientes que se recuperaram
11 61,11%
totalmente
Pacientes que tiveram melhora
significativa (mas sem resolução do 2 11,11%
quadro)
27,77%
Pacientes sem melhora significativa 5

Tabela 1: retratação dos resultados do estudo de George Porter Philips (de maneira estimada)

Comunicação entre o sistema logo, todas as camadas parietais são


gastrointestinal e o cérebro envolvidas com essa extensa rede que é
O sistema nervoso entérico (SNE) e o arquitetada [4].
SNC se correlacionam bidirecionalmente, ou O nervo vago é o componente essencial
seja, ambos são capazes de se influenciar. das vias parassimpáticas (aferente e eferente).
Essa comunicação pode ocorrer por meio de Dentre suas aplicações engloba-se o
sinalização neuronal (nervo vago e sistema peristaltismo intestinal (figura 1). Sabe-se que
nervoso entérico), metabólica, imunológica e algumas vertentes afirmam que o nervo vago
hormonal . Há literaturas que tratam a
[2]
aferente se ativa por meio da microbiota
microbiota intestinal como um órgão próprio e intestinal, logo, o nervo vago possui certa
“funcional” [3]. competência anti-inflamatória, o que protege
O SNE possui neurônios do plexo de contra infecções, todavia as evidências
Meissner (submucoso) e Auerbach literárias trazem certas dúvidas sobre essa
(mioentérico). Em todo TGI (trato função [5, 6].
gastrointestinal), existe o plexo primário, no Diversos neurotransmissores
qual esses neurônios são reunidos formando (catecolaminas, acetilcolina, GABA, histamina)
gânglios que interagem entre si [3]. O plexo de são obtidos por meio de precursores, que são
meissner constitui apenas o plexo primário, microorganismos comensais no TGI. Portanto,
contudo, o de Auerbach assume ramificações forma-se o eixo entre cérebro e intestino, pelo
culminando no plexo secundário, sendo que fato de bactérias serem necessárias para que
em algumas regiões ocorre ramificações substâncias neuroativas sejam geradas
seguintes mais afinaladas (plexo terciário), (Figura 1 e tabela 2) [2].
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Figura 1 – Características da microbiota intestinal e os neurotransmissores.

Por conseguinte, na tabela abaixo há uma exemplificação de bactérias e os


neurotransmissores produzidos por intermédio das mesmas:

Bactérias Neurotransmissor produzido


Candida, Streptococcus,
Serotonina
Escherichia, Enterococcus
Lactobacillus, Bifidobacterium GABA
Bacillus, Serratia Dopamina
Lactobacillus Acetilcolina
Escherichia, Bacillus,
Noradrenalina
Saccharomyces

Tabela 2: gêneros bacterianos precursores e os respectivos neurotransmissores produzidos.

A resposta motora intestinal sofre pois ao estar desregulada pode acarretar


influências da microbiota através da formação diarreia e constipação intestinal [4].
de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e Bifidobacterium bifidum e Lactobacillus
peptídeos (quimiotáticos) que excitam o SNE. acidophilus promovem a motilidade, já
Com isso, nota-se a importância que a determinadas espécies de Escherichia vão
MICROBIOTA intestinal confere à homeostase, inibir. Bifidobacterium infantis possui relação
com a produção do precursor de triptofano,
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aminoácido indispensável para a estruturação 1. Alterações comportamentais e
de muitos agentes biologicamente ativos, patologias relacionadas à disbiose
como neurotransmissores, por exemplo, a intestinal
serotonina (5HT), estando relacionado, assim,
2.1. Autismo
à fisiopatologia da depressão [5, 6].
O Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Tendo em vista atribuições dos saberes
se estabelece no sistema neurológico por
metagenômicos (estudo genético de uma
fatores genéticos, epigenéticos e ambientais,
amostra ambiental que torna possível a análise
sendo caracterizado por resistência a
de organismos não-cultiváveis em laboratório),
interação social e comunicação, assim como,
nota-se que há correlação com a baixa
comportamentos repetitivos e restritivos [8].
pluralidade bacteriana e o consequente risco
Apesar de ser um transtorno que não há
de evoluir para doenças inflamatórias e assim,
cura e de ser permanente, ao fazer uma
levar a alterações comportamentais e ao
intervenção precoce, pode-se ter uma
estresse do organismo . Esses eventos
[2, 7]
melhora significativa do prognóstico, com
inflamatórios podem se dar devido a produção
alívio de alguns comportamentos
de toxinas metabólicas por microoganismos
esteriotipados, por exemplo [8].
patogênicos que advêm da instabilidade da
Pode-se citar como fatores de risco para
microbiota intestinal, bactérias patogênicas e
o autismo, além de serem fatores que alteram
benéficas competem entre si [6].
uma MICROBIOTA intestinal em pleno
Por ventura uma mulher tenha feito uso
desenvolvimento, o nascimento por cesárea,
de antibióticos indiscriminadamente no
hospitalização, infecções prévias e uso de
decorrer da vida, assim como, a via do parto
antibióticos [9].
que a mesma escolher ter seu filho, pode
Por conseguinte, ao tentar intervir
influenciar direta e indiretamente a microbiota
precocemente no TEA deve-se compreender
do recém-nascido (RN). Os RNs possuem um
os fatores ambientais que influenciam o
ecossistema imaturo que aumenta
comportamento e outras manifestações, como
gradativamente e aproximadamente aos dois
sintomas gastrointestinais . É relevante
[9]

anos e meio de idade a criança possui a


afirmar que o TEA não é um distúrbio cerebral
maioria da microbiota constituinte do adulto.
primário, no entanto, envolve anormalidades
Com isso, na infância, a disposição microbiana
sistêmicas, interferindo na função imunológica
que habita o intestino pode estabelecer o
e metabólica [9].
desenvolvimento futuro de certas patologias . [2]
Há uma teoria que sugere que indivíduos
portadores de TEA são incapazes de digerir
completamente peptídios em aminoácidos,

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levando à produção de gluteomorfinas e reduzir mecanismos reguladores e de defesa
caseomorfinas (cadeias peptídicas que se contra patógenos. Portanto, nota-se a
estruturam de maneira similar aos opiáceos) importância de um bom acompanhamento
[10]
. Crianças com a alimentação irrestrita nutricional dos pacientes com TEA, pelo fato,
apresentam maior liberação de citocinas pró- de a resposta terapêutica ser bastante
inflamatórias que as com dietas restritas, de individual [10].
acordo com estudos [10]. Agora, no que se diz respeito, aos ácidos
Logo, acredita-se que há um aumento da graxos entéricos de cadeia curta (AGECCs),
permeabilidade intestinal em pessoas com estes podem ser produzidos na fermentação
TEA e isso resulta na passagem dos peptídios feita pelas bactérias oportunistas intestinais
para a corrente sanguínea, e posteriormente, devido ao carboidrato na dieta e podem ser
para a barreira hematoencefálica culminando fatores ambientais que favorecem o
nos sintomas do TEA, que previsivelmente se surgimento e manifestação do TEA [9].
aproxima à influência dos opióides nessa Pode-se citar como principais AGECCs
patologia, (em uma menor sociabilidade e relacionados ao TEA: ácido acético, ácido
persistência desses comportamentos) [10]. propiônico (APP) e ácido butírico. Estes
Por isso, há estudos que buscam podem agir como substratos energéticos,
fundamentos para intervenções dietéticas, contudo, são capazes de modificar
como diminuir da dieta peptídios com funções fenotipicamente as células epiteliais do cólon
opióides, ou seja, fontes alimentares contendo .
[9]

glutén e caseína [10]. Dessa forma, há Hoje, sabe-se que o APP está aumentado
evidências que a subtração dessas nas fezes de crianças com TEA. Este é o
substâncias da dieta demonstra diminuição da produto fundamental da fermentação das
quantidade de peptídios na urina com melhora bactérias ligadas ao autismo, sendo elas,
considerável do comportamento e redução clostrídios, desulfobrio e bacteróides e é
dos sintomas gastrointestinais. Sabe-se essencial para a modulação de reações
também que a gliadina é componente do bioquímicas dessa patologia [9]. Dessa forma,
glutén que é responsável por sinalizar e ativar percebe-se que os AGECCs são um
a zonulina (proteína moduladora da agrupamento de metabólitos da microbiota
permeabilidade) [10]. intestinal vinculado ao TEA que impulsiona
Apesar dessa dieta restritiva poder repercussões no intestino, cérebro, sistema
diminuir o quadro inflamatório intestinal, há imunológico e metabólico e no próprio
controvérsias, pois existe indícios que comportamento [9].
possivelmente é prejudicial quando se refere à Em um estudo feito por Derrick F.
diversidade da microbiota intestinal, por Macfabe com ratos Long-Evans grávidas,
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injetou-se APP uma vez ao dia e em filhotes intestinal ou as modificações da microbiota
duas vezes ao dia a cada dois dias, que são culpadas pelo surgimento do autismo
posteriormente notou-se que o APP pré e pós e seus sintomas [11].
natal aumentou o comportamento de
ansiedade em ratos fêmeas [9]. 2.2. Depressão, estresse e ansiedade
Hsiao e outros estudiosos também A depressão é uma síndrome
buscaram comparar a microbiota de animais psiquiátrica com altos níveis de incapacitação
com autismo e saudáveis. Percebeu-se em funcional [6]. O quadro clínico comum é: humor
ratos com a patologia variações parecidas aos triste, irritabilidade, perda de interesse em
pacientes humanos com TEA, de modo que as executar atividades que antes geravam prazer,
maiores alterações se encontravam nas baixa autoestima, presença de distúrbios do
bactérias pertencente ao filo Firmicutes com sono e apetite . Ela é definida por uma
[12]

elevação e nas do filo Bacteroidetes com disfunção bioquímica cerebral provocada pela
diminuição. Realizou-se o tratamento com diminuição no metabolismo da serotonina
Bacterioides fragilis (comensal humano), com (seja por uma menor quantidade ou um déficit
isso, houve melhora da microbiota intestinal e no próprio metabolismo). Como foi afirmado
redução de comportamentos típicos do TEA anteriormente, a produção de serotonina está
.
[11]
diretamente relacionada à microbiota intestinal
Em uma outra pesquisa, foi feita uma e consequentemente à depressão . As
[6, 13]

suplementação probiótica por três meses em motivações são multifatoriais, neurobiológicas


crianças com TEA com idades entre cinco e e genéticas (endógenas) e psicossociais
nove anos, tendo como resultado melhora da (exógena) [6].
microbiota e dos sintomas do TGI e melhora No que se diz respeito à fisiopatologia da
significativa comportamental [11]. disbiose conectando à depressão e estresse,
Com isso, observa-se a grande há indícios que tenha envolvimento de
diversidade de análises que foram feitas ao citocinas, por meio da ativação de vias
longo dos anos almejando explanar sobre a imunológicas tanto centrais quanto periféricas
relação constituinte entre autismo e disbiose e da translocação da microbiota, por conta do
intestinal. Desse modo, pode-se notar o aumento da permeabilidade intestinal e na
questionamento a respeito da via bidirecional diminuição da seletividade na absorção de
que o TEA possivelmente envolve, entre o toxinas, proteínas ou peptídeos, colaborando
próprio transtorno e os sintomas, se ambos assim, para a inflamação local e sistêmica [14,
podem se influenciar e qual seria . Conforme pode-se ver na exemplificação a
12]

predominante. Se o TEA provoca a disbiose seguir (figura 2):

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Figura 2 – Fisiopatologia da disbiose.

As citocinas sintetizadas pelo sistema além de importante função plaquetária e age


imunológico que influenciam diretamente a na fisiopatologia de alterações do humor,
atividade cerebral, em especial em regiões hipertensão sistêmica e pulmonar [15].
hipotalâmicas, são as interleucinas pro- Conforme pode-se observar no
inflamatórias (IL-1 e IL-6), na qual, esquema da figura 3, o triptofano (precursor
proporcionam a liberação do hormônio da serotonina) sofre ação da enzima triptofano
liberador de corticotrofina (CRH). O mesmo é hidroxilase se transformando em 5-
o hormônio regulador peptídico hidroxitriptofano, logo, é descarboxilado a 5HT
preponderante do eixo hipotálamo-hipofisário- pela enzima 5-hidroxitriptofano
adrenal, que é o eixo núcleo do estresse [6]. descarboxilase. Posteriormente, é
A serotonina é uma indolamina que é armazenada em grânulos secretórios por meio
vista em células do TGI, plaquetas e no SNC de um condutor vesicular e liberada para a
de mamíferos e 95% desta é produzida no fenda sináptica por exocitose dos neurônios
intestino (dentro dessa porcentagem, cerca de serotoninérgicos. Dessa forma, pelas ações
90% é produzido em células das enzimas, monoamina oxidase e aldeído
enteroendócrinas, um subtipo de células desidrogenase, tem-se sua metabolização e
enterocromafins, e 10% nos neurônios consequente origem a um dos seus
entéricos) [15]. Com isso, nota-se sua atuação metabólitos mais importantes, ácido 5-
na modulação da motilidade do TGI, tônus hidroxiindolacético [15].
vascular periférico, tônus vascular cerebral,

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Figura 3. Via simplificada da produção Serotonina.

Por conseguinte, a serotonina está constantemente frequente na população idosa


relacionada com o equilíbrio do sono, humor, .
[15]

apetite, alucinações, comportamentos Sabe-se que os medicamentos


estereotipados e percepção de dor, por antidepressivos (como o Inibidor seletivo da
exemplo [15]. recaptação de serotonina) não atuam no
A serotonina age nos receptores 5-HT3 aumento da produção do neurotransmissor e
(fibras aferentes vagais), despolariza os sim permite um maior tempo de ação na fenda
neurônios sensitivos dessa via o que leva na sináptica, por exemplo. Deste modo, percebe-
ativação do nervo vago que conduz vários se que ao usar um fármaco antidepressivo
estímulos, do TGI ao SNC. As adulterações na para que se obtenha resultados efetivos é
produção e liberação da serotonina (síntese necessário que o paciente tenha uma boa
deficiente e consequente baixa liberação, por produção de neurotransmissores, sendo
exemplo) sucedidas no TGI são transmitidas necessário preparar o ambiente intestinal.
ao SNC pelo nervo vago, pois ele possui uma Logo, atrelar uma dieta saudável à ação de
extensa quantidade de fibras aferentes que probióticos e aos antidepressivos seria um
provém do TGI [15]. método adequado para minimizar o processo
Portanto, pode-se afirmar que o estado inflamatório, normalizando a microbiota
inflamatório intestinal, entrelaçado a intestinal e reduzindo assim, os sintomas
alterações na absorção de nutrientes, diminui relacionados à depressão [16].
a sintetização de serotonina, evoluindo para
quadros clínicos de ansiedade e depressão,

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2.3. Alzheimer Lactobacillus casei, Bifidobacterium bifidum e
O Alzheimer é uma doença Lactobacillus fermentum) por dia, por 12 dias,
neurodegenerativa relacionada em um grupo de pessoas com Alzheimer boa
principalmente à idade, com deterioração evolução do score do Mini-Mental State
cognitiva e neuropsiquiátrica, acarretando Examination, além de outras melhoras
uma progressiva incapacitação funcional (em consideráveis como, da sensibilidade à
atividades básicas e instrumentais de vida insulina, do nível de triglicerídeos, redução dos
diária). Uma das primeiras manifestações níveis da proteína-C reativa e do
clínicas é a deficiência da memória malondialdeído [18].
anterógrada, sendo que, à medida que a Diversos pesquisadores afirmam que a
patologia progride outras funções cognitivas inflamação intestinal provocada pela disbiose
retrocedem. É muito comum também, é um fator que está correlacionado ao
evidenciar distúrbios comportamentais como, desenvolvimento da DA. Observou-se que
alucinações, agressividade, hiperatividade, enterobactérias, por meio de citocinas
irritabilidade e depressão [17]. inflamatórias (em estado inflamatório
A doença é qualificada pela presença de sistêmico), acentuam a progressão desta
placas de péptidio beta-amiloide e de patologia, havendo aumento de colônias de
agregados intracelulares de proteína tau Escherichia e Shighella e baixa de número de
hiperfosforilada que ocasionam lesão neuronal colônias de E. rectale, sendo possível
gradativamente [18]. perceber deterioração da cognição e elevação
Dessa maneira, pode-se afirmar que o do número de placas beta amiloides [18].
desenvolvimento da Doença de Alzheimer Como foi explicitado anteriormente,
(DA) se dá por inúmeros fatores, genéticos, bactérias entéricas, como Lactobacillus e
idade, história familiar e fatores ambientais Bifidobacterium produzem GABA,
com grande relevância [11]. neurotransmissor indispensável para a
Mesmo que a influência da microbiota cognição. Possui conexão com metabolização
entérica no desenvolvimento e na progressão do glutamato, logo, se elevado o GABA
da doença de Alzheimer seja pouco também estará. Portanto, com a disbiose,
compreendida, há importantes investigações a ocorrerá uma considerável redução deste
respeito. Elmira Akbari e outros pesquisadores neurotransmissor no TGI e no SNC e
notaram após suplementarem 200 mL de leite consequente deterioração da cognição
(enriquecido com Lactobacillus acidophilus, (didaticamente visto na figura 4) [18].

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Figura 4. Via de possível evolução da disbiose.

Por conseguinte, ao analisar as A etiologia é idiopática, porém, presume-


pesquisas e estudos atuais sobre DA e se que possui origem devido a fatores
microbiota intestinal, ainda não se genéticos, toxinas ambientais, estresse
compreende verdadeiramente o mecanismo oxidativo e anormalidades mitocondriais.
envolvido, no entanto, os mesmos apontam Também pode-se afirmar que a DP está
ligação entre a disbiose entérica e a profundamente relacionada ao
progressão da doença de Alzheimer [18]. envelhecimento, pois com o passar dos anos
há uma certa aceleração de perda de
2.4. Parkinson neurônios dopaminérgicos [20].
A Doença de Parkinson (DP) é uma O quadro clínico característico é:
doença degenerativa progressiva do SNC, tremores em repouso, acinesia, bradicinesia,
onde ocorre a morte celular de neurônios rigidez (cujo sinal clínico é o sinal em dente de
produtores de dopamina da substância nigran serra), instabilidade postural, transtornos
(SN). É determinada pelo acúmulo da proteína neuropsiquiátricos (ansiedade e depressão) e
alfa-sinucleína (AS) intracelular e por sua disfunção do SNA (os sintomas predominantes
agregação na SN (chamados de corpos de relacionados ao SNA estão ligados ao TGI,
Lewy), ela atinge todos os níveis do eixo como, a diminuição do paladar, os distúrbios
cérebro-intestino, incluindo o sistema nervoso da deglutição, o esvaziamento gástrico lento, a
central, entérico e autónomo. A DP pode ser perda de peso e a constipação intestinal) [19, 20,
classificada como parkinsonismo primário, .
21]

secundário, plus e heredodegenerativo [19, 20]. Há indícios que ocorre acumulação de


AS agregada em inclusões intraneuronais
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extracerebral, como, em neurônios do SNE do fenótipos mais graves de instabilidade postural
plexo submucoso mioentérico do TGI. Ao nível e pacientes apenas com tremor observou-se
intestinal também observou-se que a maior quantidade de Enterobacteriaceae no
concentração de AS fosforilada segue o primeiro grupo, percebe-se assim,
padrão de inervação do nervo vago. Em um interligação entre elevação da quantidade
estudo feito por Svensson e outros estudiosos desta bactéria e os sintomas axiais mais
a vagotomia troncular completa em um grupo graves em indivíduos com DP [21].
de pacientes com DP comparada à vagotomia Os receptores do tipo Toll possuem
parcial em outro grupo, apresentou diminuição função importante no sistema imunológico,
do risco de progressão da doença, concluindo pois reconhecem diversos antígenos que
que pode haver um envolvimento do nervo estão presentes nos microrganismos, e a
vago na disseminação dos corpos de Lewy do alteração da sinalização pode estar envolvida
SNE para o SNC [18, 21]. na alfa-sinucleinopatia na doença de
A desregulação do eixo cérebro- Parkinson. Uma alta estimulação do sistema
intestino-microbiota na DP pode estar imunológico inato pela disbiose adicionado a
correlacionada a sintomas gastrointestinais, uma permeabilidade intestinal aumentada,
que habitualmente antecedem as podem suscitar uma inflamação regional e
manifestações motoras, sustentando a sistêmica, ativação das células gliais do
hipótese de que a patologia pode ter princípio sistema nervoso entérico, e assim,
intestinal e se disseminar para o cérebro. fomentando o desenvolvimento da alfa-
Vários estudos demonstraram que a sinucleinopatia. O sistema imunológico
microbiota intestinal das pessoas com DP está também pode sofrer interferência pelas
alterada e está relacionada com os fenótipos proteínas bacterianas, pela reação cruzada
da doença [21]. com os antígenos humanos, e pelos
Scheperjans e seus associados ao componentes bacterianos, como os
analisarem pacientes com DP notaram-se uma Lipopolissacarídeos [21].
redução de bactérias Prevotellaceae e Portanto, mesmo ainda não tendo
aumento de Enterobacteriaceae em relação às evidências concretas que a microbiota
pessoas saudáveis. A diminuição de intestinal intervenha diretamente na
Prevotellaceae pode decrescer a síntese de fisiopatologia da DP, Sampson e outros
mucina, o que ocasiona uma elevação da pesquisadores concluíram que a microbiota
motilidade intestinal, concedendo uma maior intestinal é fundamental para provocar os
exposição regional e sistêmica da mucosa déficits motores, ativar a micróglia e fazer com
intestinal a endotoxinas bacterianas. que ocorra a agregação da AS [21].
Scheperjans ao comparar pacientes com
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