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e Serviços de Saúde
R E V I S T A D O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E D O B R A S I L
ISSN 1679-4974
ISSN ONLINE 2237-9622
4
Epidemiologia
e Serviços de Saúde
REVISTA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DO BRASIL
I S S N 1679- 4974
ISSN online 2237-9622
ou pelo site:
http://www.saude.gov.br/svs
Indexação: LILACS
Sumarios.org
Latindex
© 2003. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Os artigos publicados são de responsabilidade dos autores e não expressam, necessariamente, a posição do Ministério da
Saúde. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer
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ISSN 1679-4974
ISSN online 2237-9622
Diagramação
Edite Damásio da Silva - SVS/MS
Tiragem
Epidemiologia e Serviços de Saúde / Secretaria de
30.000 exemplares
Vigilância em Saúde. − v. 12, n. 1 (jan./mar. 2003)-
. − Brasília: Ministério da Saúde, 2003-
Trimestral
ISSN 1679-4974, ISSN online 2237-9622
ARTIGO ORIGINAL
425 Apresentação do plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças
crônicas não transmissíveis no Brasil, 2011 a 2022
Presentation of the Strategic Action Plan for Cping with Chronic Diseases in Brazil from 2011 to 2022
Deborah Carvalho Malta, Otaliba Libânio de Morais Neto, Jarbas Barbosa da Silva Junior e Grupo Técnico de Redação
471 Fatores associados aos componentes de aptidão e nível de atividade física de usuários
da Estratégia de Saúde da Família, Município de Botucatu, Estado de São Paulo,
Brasil, 2006 a 2007
Factors Associated with the Components of Fitness and Physical Activity Level in Users of Family Health
Strategy, Municipality of Botucatu, state of São Paulo, Brazil, 2006 to 2007
Edilaine Michelin, José Eduardo Corrente e Roberto Carlos Burini
ARTIGO DE REVISÃO
565 Revisão sistemática dos fatores associados à leptospirose no Brasil, 2000-2009
Systematic Review of Factors Associated to Leptospirosis in Brazil, 2000-2009
Daniele Maria Pelissari, Ana Nilce Silveira Maia-Elkhoury, Maria de Lourdes Nobre Simões Arsky e Marília Lavocat Nunes
A
s doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) vêm aumentando no Brasil, hoje alcançando 72,0% do
total de óbitos. Em 1998, elas eram responsáveis por 66,0% dos DALY (anos de vida com qualidade
que são perdidos devido à doença).1 Já em 2005, no estado de Minas Gerais, elas eram responsáveis
por 75,0% dos DALY (66,0% dos DALY de mortalidade e 87,0% dos de morbidade).2 Considerando-se, entre
outros fatores, o progressivo envelhecimento da população, a tendência é de que continuem aumentando.
O desafio provocado pelas DCNT foi mundialmente debatido em 2011, culminando em uma Reunião de
Alto Nível da Organização das Nações Unidas (ONU) no mês de setembro.3 O ‘Plano de Ações Estratégicas
para o Enfrentamento das DCNT no Brasil 2011-2022’,4 apresentado nesta edição da Epidemiologia e
Serviços de Saúde,5 é a resposta do Governo Brasileiro a esse desafio.
O Plano, acertadamente, valoriza ações populacionais de Promoção da Saúde, que, com frequência,
extrapolam o setor Saúde e trazem, consigo, ao menos duas grandes vantagens: podem reduzir a incidência
das DCNT, o que é muito melhor do que combatê-las quando já instaladas; e há evidências, contundentes,
de que tais ações sejam altamente custo-efetivas.6
O combate ao fumo, que envolveu legislação e impostos, é um bem-sucedido exemplo de promoção
da saúde no Brasil: entre 1989 e 2009: as prevalências de fumo caíram de 35,0% para 17,0%, o que
poderia explicar, ao menos em parte, as quedas marcantes na mortalidade por doenças cardiovasculares
e respiratórias crônicas observadas no período.7,8 Ao ampliar essas ações, o Plano visa alcançar, em
2022, uma prevalência de fumo de apenas 10,0% (e quiçá de <5,0% em 2040!).
Ações semelhantes vêm sendo adotadas em vários países para reduzir o uso nocivo de bebidas al-
coólicas e o consumo de alimentos pouco saudáveis, hábitos estes também fortemente influenciados
por interesses comerciais e econômicos globalizados: exemplo recente é a exigência da FIFA para que
o Brasil remova suas restrições à venda de bebidas alcoólicas nos jogos da Copa do Mundo. Já foi
considerada a possibilidade de se firmar uma convenção-quadro para o controle do álcool; porém, a
vontade política e a longa história de resoluções multilaterais que resultaram na Convenção-Quadro
para o Controle do Tabaco (tratado internacional, negociado por 192 países e aprovado em 2003, que
estabelece compromissos para adoção de medidas de restrição do consumo de produtos derivados do
tabaco) ainda precisam ser construídas para o uso do álcool, um hábito bem mais antigo e disseminado.
Recolocada de forma mais ampla recentemente, a proposição é de que o controle dos demais fatores
de risco para as DCNT poder-se-ia inspirar na Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco.9 O Brasil,
ator importante na construção desta Convenção-Quadro, foi presença marcante na Reunião de Alto Nível
da ONU e poderá exercer liderança nas articulações internacionais necessárias, no sentido de se definir
uma convenção-quadro para o controle do álcool.
Referências
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11. Mendonca CS, Harzheim E, Duncan BB, Nunes LN, Leyh W. Trends in hospitalizations for primary care sensitive
conditions following the implementation of Family Health Teams in Belo Horizonte, Brazil. Health Policy Plan 2011.
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Health 2011; 101(10):1963-1970.
Presentation of the Strategic Action Plan for Coping with Chronic Diseases in
Brazil from 2011 to 2022
Resumo
Objetivo: apresentar uma síntese do ‘Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não
Transmissíveis (DCNT) no Brasil, 2011-2022’. Metodologia: a elaboração do Plano contou com a participação de diferen-
tes instituições, Secretarias e áreas técnicas do Ministério da Saúde (MS) e de outros órgãos governamentais. Resultados:
após dez meses de construção coletiva, o Plano de DCNT foi divulgado na Reunião de Alto Nível da Organização das Nações
Unidas, em setembro de 2011; o Plano define e prioriza as ações e os investimentos necessários ao país para enfrentar e
deter as DCNT nos próximos dez anos e fundamenta-se em três diretrizes principais: a) vigilância, informação, avaliação e
monitoramento; b) promoção da saúde; e c) cuidado integral. Conclusão: a consolidação do plano depende da mobilização
de toda a sociedade civil, para a priorização das DCNT nas políticas e nos investimentos nacionais.
Palavras-chave: doença crônica; fatores de risco; vigilância epidemiológica; cuidado integral; doenças cardiovasculares.
Summary
Objective: this work aims to present a synthesis of the ‘Strategic Action Plan to Tackle Non-Communicable Chronic
Diseases (NCD) in Brazil, 2011-2022’. Methodology: the plan elaboration counted on the participation of different
institutions, Secretariats and technical areas of the Ministry of Health, and other governmental organizations. Results:
after ten months of collective construction, NCDs Plan has been broadcast at the High Level Meeting of the United Nations,
in September 2011; the Plan defines and prioritizes actions and investments necessary to face and detain NCDs in the
next ten years based on three principles: a) surveillance, information, evaluation and monitoring, b) health promotion,
and c) integral care. Conclusion: NCDs Plan consolidation depends on the mobilizing of the entire civil society, to
contemplate NCDs as priority in national policies and investments.
Key words: chronic diseases; risk factors; epidemiologic surveillance; integral care; cardiovascular diseases.
Há forte evidência que correlaciona os determinan- e doenças respiratórias crônicas) têm quatro fatores de
tes sociais, como educação, ocupação, renda, gênero risco em comum, modificáveis: tabagismo, inatividade
e etnia, aos fatores de risco e à prevalência de DCNT.16 física, alimentação não saudável e álcool. Em termos
No Brasil, os processos de transição demográfica, de mortes atribuíveis, os grandes fatores de risco
epidemiológica e nutricional, a urbanização e o cresci- globalmente conhecidos são: pressão arterial elevada
mento econômico e social contribuem para um maior (responsável por 13,0% das mortes no mundo);
risco de desenvolvimento de doenças crônicas. Nesse tabagismo (9,0%); altos níveis de glicose sanguínea
contexto, grupos étnicos e raciais menos privilegiados, (6,0%); inatividade física (6,0%); e sobrepeso e
como a população indígena, têm tido participação obesidade (5,0%).8
desproporcional nesse aumento verificado na carga A maioria dos óbitos por DCNT é atribuída às doen-
de doenças crônicas.4 ças do aparelho circulatório, ao câncer, ao diabetes e
O tratamento para diabetes, câncer, doenças do às doenças respiratórias crônicas. Em 2007, a taxa de
aparelho circulatório e doença respiratória crônica mortalidade por DCNT no Brasil foi de 540 óbitos por
pode ser de curso prolongado, onerando os indivíduos, 100 mil habitantes.4 Apesar de elevada, observou-se
as famílias e os sistemas de saúde. Os gastos familiares redução de 20% nessa taxa na última década, princi-
com DCNT reduzem a disponibilidade de recursos palmente em relação às doenças do aparelho circula-
para necessidades como alimentação, moradia e tório e respiratórias crônicas. Entretanto, as taxas de
educação, entre outras. A OMS estima que, a cada mortalidade por diabetes e câncer aumentaram no
ano, 100 milhões de pessoas são levadas à pobreza mesmo período.
nos países em que se tem de pagar diretamente pelos Ainda preocupam os baixos níveis de atividade física
serviços de saúde.12 no lazer da população adulta (15,0%), de consumo de
No Brasil, mesmo com a existência do Sistema cinco porções de frutas e hortaliças em cinco ou mais
Único de Saúde – SUS –, gratuito e universal, o custo dias por semana (18,2%), o consumo de alimentos
individual de uma doença crônica ainda é bastante alto, com elevado teor de gordura (34,0%) e refrigerantes
em função dos custos agregados, o que contribui para cinco ou mais dias por semana (28,0%), além dos fa-
o empobrecimento das famílias. tores que contribuem para o aumento das prevalências
Para o sistema de saúde, os custos diretos das de excesso de peso e de obesidade, que atingem 48,0%
DCNT representam impacto crescente. No Brasil, as e 14,0% dos adultos respectivamente.19
DCNT estão entre as principais causas de internações Como resposta ao desafio das DCNT, o Ministério
hospitalares. da Saúde do Brasil tem implementado importantes
Recente análise do Banco Econômico Mundial políticas de enfrentamento dessas doenças, com
estima que países como Brasil, China, Índia e Rússia destaque para a Organização da Vigilância de DCNT,
perdem, anualmente, mais de 20 milhões de anos cujo objetivo é conhecer a distribuição, magnitude e
produtivos de vida devido às DCNT.17 Avaliações para tendência das doenças crônicas e agravos e seus fatores
o Brasil indicam que a perda de produtividade no de risco e apoiar as políticas públicas de promoção
trabalho e a diminuição da renda familiar resultantes da saúde. Foram organizados inquéritos de fatores
de apenas três DCNT (diabetes; doença do coração; e de risco em domicílios, monitoramentos anuais por
acidente vascular encefálico) levarão a uma perda na telefone e inquéritos em adolescentes.20 A Política
economia brasileira de US$ 4,18 bilhões entre 2006 Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), publicada
e 2015.18 em 2006, que prioriza diversas ações no campo da
O impacto socioeconômico das DCNT está afetando alimentação saudável, atividade física, prevenção do
o progresso das Metas de Desenvolvimento do Milênio uso do tabaco e álcool, tem sido uma prioridade de
(MDM), que abrangem temas como saúde e determi- governo.21 O programa ‘Academia da Saúde’, criado em
nantes sociais (educação e pobreza). Essas metas têm abril de 2011, visa à promoção de atividade física e tem
sido afetadas, na maioria dos países, pelo crescimento por meta sua expansão para quatro mil municípios até
da epidemia de DCNT e seus fatores de risco.3 2015. Entre as ações de enfrentamento do tabagismo,
As quatro doenças crônicas de maior impacto destacam-se as ações regulatórias, como proibição da
mundial (doenças cardiovasculares; diabetes; câncer; propaganda de cigarros, advertências sobre o risco
Foi criado um sítio eletrônico institucional para O Plano de DCNT aborda os quatro principais gru-
tornar público o Plano de DCNT, possibilitando sua pos de doenças – doenças do aparelho circulatório,
ampla divulgação pela internet. Por meio desse sítio, câncer, doenças respiratórias crônicas e diabetes – e
também foi possível o envio de sugestões e a participa- fatores de risco – tabagismo, consumo nocivo de
ção, por exemplo, na Carta Aberta de Brasília, em que álcool, inatividade física, alimentação inadequada e
pessoas físicas e entidades podiam aderir à Declaração obesidade.
Brasileira para a Prevenção e o Controle das Doenças Foram propostas três diretrizes ou eixos prioritá-
Crônicas Não Transmissíveis. Essa grande mobilização, rios: vigilância, informação, avaliação e monitoramen-
estimulando a participação na elaboração do Plano to; promoção da saúde; e cuidado integral.
de DCNT e sua divulgação, foi uma preparação para a
etapa seguinte, de aprovação nas instâncias do SUS e Resultados
de lançamento nacional e internacional.
Em julho de 2011, o Plano de Enfrentamento das Síntese do Plano de Enfrentamento de DCNT
DCNT foi apresentado na Comissão de Gestores Tripar- O ‘Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamen-
tite, sendo aprovado, bem como decidida a definição to das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT)
futura de metas regionais que também pudessem ser no Brasil, 2011-2022’ define e prioriza as ações e os
atingidas pelos gestores estaduais e municipais. Em 18 e investimentos necessários no sentido de preparar o
19 de agosto, o Plano foi lançado pelo Ministro da Saúde país para enfrentar e deter as DCNT nos próximos
no Fórum Nacional, em Brasília, reunindo mais de 400 dez anos.
pessoas, e amplamente divulgado para a população pela O objetivo do Plano de DCNT é promover o desen-
imprensa. O Fórum Nacional ainda serviu para a coleta volvimento e a implementação de políticas públicas
de sugestões dos diversos segmentos da sociedade para efetivas, integradas, sustentáveis e baseadas em
a versão final do Plano. evidências para a prevenção e o controle das DCNT
No início de setembro, o Plano de DCNT foi apre- e de seus fatores de risco, e fortalecer os serviços
sentado ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), que lhe de saúde voltados para a atenção aos portadores de
deu amplo apoio e onde se definiu que o mesmo seria doenças crônicas.
levado ao conhecimento da 14ª Conferência Nacional O Plano fundamenta-se no delineamento de três
de Saúde, em novembro de 2011. Antes, nos dias 19 e principais diretrizes ou eixos: a) vigilância, infor-
20 de setembro, o documento foi divulgado na Reunião mação, avaliação e monitoramento; b) promoção da
de Alto Nível da ONU, pela Presidenta Dilma Rousseff, saúde; e c) cuidado integral.
pelo Ministro da Saúde Alexandre Padilha e delegação
brasileira, sendo, na ocasião, distribuído nas versões Vigilância, informação,
para os idiomas inglês e espanhol. avaliação e monitoramento
Desde então, o Plano de DCNT tem sido apresentado Os três componentes essenciais da vigilância de
e divulgado em inúmeros eventos governamentais e da DCNT são: monitoramento dos fatores de risco; mo-
sociedade civil, como a 11ª Expo-EPI, o VIII Congresso nitoramento da morbidade e mortalidade específicas
de Epidemiologia da Abrasco e a 14ª Conferência Na- das doenças; e respostas dos sistemas de saúde, que
cional de Saúde, além de sua divulgação – permanente também incluem gestão, políticas, planos, infraestru-
– pela web (http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/ tura, recursos humanos e acesso a serviços de saúde
pdf/cartilha_dcnt_completa_portugues.pdf). Foi feita, essenciais, inclusive a medicamentos. O eixo da Vigi-
ainda, uma impressão de mais de 15 mil exemplares, lância dará sequência às ações de monitoramento de
para livre distribuição. DCNT e seus fatores de risco e ampliará novas ações
Decorreram cerca de dez meses entre o planeja- em termos de inquéritos populacionais mais amplos,
mento e a divulgação do ‘Plano de Ações Estratégicas pesquisas de monitoramento de desigualdades, entre
para o Enfrentamento das DCNT no Brasil’. Sua con- outros. As principais ações são: a) realização da Pes-
solidação foi um compromisso de todos os níveis de quisa Nacional de Saúde em 2013, em parceria com a
gestão do SUS e de diversas instituições da sociedade Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
civil organizada. (IBGE), gerando informações e conhecimentos sobre
o processo saúde-doença e seus determinantes sociais, praças do PAC dentro do Eixo Comunidade Cidadã,
para formulação de políticas de saúde no Brasil. Serão além de busca pela cobertura de todas as faixas etá-
pesquisados temas como: acesso aos serviços e sua rias; as praças do PAC integram atividades e serviços
utilização; morbidade; fatores de risco e proteção a culturais, práticas esportivas e de lazer, formação e
doenças crônicas; e saúde dos idosos, das mulheres qualificação para o mercado de trabalho, serviços
e das crianças. Também serão feitas medições an- socioassistenciais, políticas de prevenção à violência
tropométricas e de pressão arterial, além de coleta e de inclusão digital.
de material biológico; b) realização de inquéritos d) Espaços urbanos saudáveis: criação do ‘Pro-
populacionais, telefônicos e em populações especiais, grama Nacional de Calçadas Saudáveis’ e construção
como adolescentes; c) realização de estudos sobre e reativação de ciclovias, parques, praças e pistas de
DCNT, como análises de morbimortalidade, avaliação caminhadas.
de intervenções em saúde, estudos sobre desigualdades e) Campanhas de comunicação: criação de cam-
em saúde, identificação de populações vulneráveis panhas que incentivem a prática de atividade física e
(indígenas, quilombolas, outras), avaliação de custos hábitos saudáveis, articuladas com grandes eventos
de DCNT, entre outros; e d) criação de um portal na como a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as
internet, para monitorar e avaliar a implantação do Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro-RJ.
Plano Nacional de Enfrentamento das DCNT, bem como
a evolução das DCNT no país. Alimentação saudável
a) Escolas: promoção de ações de alimentação sau-
Promoção da saúde dável, pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar.
Compreendendo a importância das parcerias para b) Oferta de alimentos saudáveis: estabelecimento
superar os fatores determinantes do processo saúde- de parcerias e acordos com a sociedade civil (agri-
doença, foram definidas diferentes ações envolvendo cultores familiares, pequenas associações e outros),
diversos ministérios (Educação, Cidades, Esporte, De- para o aumento da produção e da oferta de alimentos
senvolvimento Agrário, Desenvolvimento Social, Meio in natura, visando ao acesso à alimentação adequada
Ambiente, Agricultura/Embrapa, Trabalho e Planeja- e saudável.
mento), a Secretaria Especial de Direitos Humanos, a c) Apoio a iniciativas intersetoriais, para o aumento
Secretaria de Segurança Pública, órgãos de Trânsito e da oferta de alimentos básicos e minimamente proces-
outros, além de organizações não governamentais, em- sados, no contexto da produção, do abastecimento e
presas e sociedade civil, com o objetivo de viabilizar as do consumo alimentar.
intervenções que impactem positivamente na redução d) Acordos com a indústria para redução do sal e
dessas doenças e seus fatores de risco, especialmente do açúcar: estabelecimento de acordo com o setor pro-
para as populações em situação de vulnerabilidade. dutivo e parceria com a sociedade civil, para redução
Principais ações: do sal e do açúcar nos alimentos, buscando avançar
em uma alimentação mais saudável.
Atividade física e) Redução dos preços dos alimentos saudáveis: fo-
a) Programa Academia da Saúde: construção de mento à adoção de medidas fiscais, tais como redução
espaços saudáveis que promovam ações de promoção de impostos, taxas e subsídios, visando à redução dos
da saúde e estimulem a atividade físicas-práticas corpo- preços dos alimentos saudáveis (frutas, hortaliças) e
rais, em articulação com a Atenção Primária à Saúde. o estímulo a seu consumo.
b) Programa ‘Saúde na Escola’: implantação em f) Implantação do ‘Plano Intersetorial de Obesida-
todos os municípios, incentivando ações de promoção de’, com vistas à redução da obesidade na infância e
da saúde e de hábitos saudáveis nas escolas (como as na adolescência.
cantinas saudáveis); reformulação de espaços físicos,
visando à prática de aulas regulares de educação física Tabagismo e álcool
e à prática de atividade física no contraturno. a) Adequação da legislação nacional que regula
c) Praças do Programa de Aceleração do Cres- o ato de fumar em recintos coletivos: ampliação das
cimento (PAC): fortalecimento da construção das ações de prevenção e de cessação do tabagismo, com
atenção especial aos grupos mais vulneráveis (jovens, b) Capacitação e telemedicina: capacitação das
mulheres, população de menor renda e escolaridade, equipes da Atenção Primária em Saúde, expandindo
indígenas, quilombolas). recursos de telemedicina, segunda opinião e cursos
b) Fortalecimento da implementação da política de à distância, para qualificação da resposta às DCNT.
preços e de aumento de impostos dos produtos derivados c) Medicamentos gratuitos: ampliação do acesso
do tabaco e álcool, com o objetivo de reduzir o consumo. gratuito aos medicamentos e insumos estratégicos pre-
c) Apoio à intensificação de ações fiscalizatórias vistos nos protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas
em relação à venda de bebidas alcoólicas a menores das DCNT e tabagismo.
de 18 anos. d) Câncer do colo do útero e de mama: aperfei-
d) Fortalecimento das ações educativas voltadas à çoamento do rastreamento do câncer do colo do
prevenção e à redução do uso de álcool e tabaco, pelo útero e de mama: universalização desses exames a
programa ‘Saúde na Escola’. todas as mulheres, independentemente de renda e
e) Apoio a iniciativas locais de legislação específica, raça/cor, reduzindo desigualdades; e garantia de
no sentido do controle de pontos de venda de álcool e 100% de acesso ao tratamento de lesões precur-
do horário noturno de fechamento de bares e outros soras de câncer.
pontos correlatos de comércio. e) Implantação do programa ‘Saúde Toda Hora’:
i. Atendimento de urgência: fortalecimento do
Envelhecimento ativo cuidado integrado ao portador de doenças
a) Implantação de um modelo de atenção integral do aparelho circulatório na rede de urgência,
ao envelhecimento ativo, favorecendo ações de promo- entre unidades de promoção, prevenção e
ção da saúde, prevenção e atenção integral. atendimento à saúde, com o objetivo de tornar
b) Promoção de envelhecimento ativo e de ações esse atendimento mais rápido e eficaz.
que envolvam a Saúde Suplementar. ii. Atenção domiciliar: ampliação do atendimen-
c) Incentivo aos idosos para a prática da atividade to em domicílio a pessoas com dificuldades
física regular no programa ‘Academia da Saúde’. de locomoção ou que precisem de cuidados
d) Capacitação das equipes de profissionais da regulares ou intensivos e não de hospitaliza-
Atenção Primária em Saúde para o atendimento, aco- ção, como idosos, acamados, portadores de
lhimento e cuidado da pessoa idosa e de pessoas com sequelas de acidente vascular encefálico –
condições crônicas. AVE –, entre outros; cuidados ambulatoriais
e) Incentivo à ampliação da autonomia e inde- e hospitalares em casa, ampliando o campo
pendência para o autocuidado e o uso racional de de trabalho dos profissionais de saúde que
medicamentos. atuam na atenção básica.
e) Criação de programas para formação do cuida- iii. Unidades coronarianas e de AVE: qualificação
dor da pessoa idosa e com condições crônicas. das estruturas hospitalares para o atendimen-
to em urgência e emergência, sem restringir
Cuidado integral as portas de entrada aos prontos-socorros;
Serão realizadas ações visando ao fortalecimento priorização dos atendimentos a traumas,
da capacidade de resposta do Sistema Único de Saúde problemas cardíacos e acidente vascular
e à ampliação das ações de cuidado integrado para a encefálico por meio da criação, dentro dos
prevenção e o controle das DCNT. Principais ações: hospitais, de unidades especializadas – uni-
a) Linha de cuidado de DCNT: definição e im- dades coronarianas e unidades de AVE –,
plementação de protocolos e diretrizes clínicas das visando qualificar a resposta a esses agravos
DCNT com base em evidências de custo-efetividade, e possibilitar a criação de novas vagas hos-
vinculando os portadores ao cuidador e à equipe da pitalares e de leitos de retaguarda, evitando
Atenção Primária, garantindo a referência e contrar- espera nas portas dos hospitais.
referência para a rede de especialidades e hospitalar, Foram propostas metas nacionais para o ‘Plano de
e favorecendo a continuidade do cuidado e a integra- Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmis-
lidade na atenção. síveis no Brasil, 2011-2022’:
• Reduzir a taxa de mortalidade prematura (<70 • Reduzir o consumo médio de sal, de 12 gramas
anos) por DCNT em 2,0% ao ano (Figura 1). (2010) para 5 gramas (2022).
• Reduzir a prevalência de obesidade em crianças de • Aumentar a cobertura de mamografia em mulheres
5 a 9 anos de idade, do sexo masculino, passando entre 50 e 69 anos de idade, de 54,0% (2008) para
de 16,6% (2008) para 8,0% (2022); e em crianças 70,0% (2022).
de 5 a 9 anos de idade, do sexo feminino, passando • Ampliar a cobertura de exame preventivo de câncer
de 11,8% (2008) para 5,1% (2022) (Figura 2). de colo uterino em mulheres de 25 a 64 anos de
• Reduzir a prevalência de obesidade em adolescen- idade, de 78,0% (2008) para 85,0% (2022).
tes de 10 a 19 anos de idade, do sexo masculino, • Garantir o tratamento das mulheres com diagnóstico
passando de 5,9% (2008) para 3,2% (2022); e de lesões precursoras de câncer de colo de útero e
em adolescentes de 10 a 19 anos de idade, do sexo de mama.
feminino, passando de 4,0% (2008) para 2,7%
(2022). Discussão
• Deter o crescimento da obesidade em adultos (18
anos ou mais anos de idade), mantendo, para os A Reunião de Alto Nível da ONU, em setembro de
próximos dez anos, as prevalências de 2008: 48,1% 2011, marca um novo momento global, priorizando o
de excesso de peso; e 15,0% de obesidade. tema das DCNT e a articulação e o suporte de todos os
• Reduzir as prevalências de consumo nocivo de setores do governo no enfrentamento dessas doenças.
álcool, de 18,0% (2011) para 12,0% (2022) Ela também destaca a importância da atuação da socie-
(Figura 3). dade civil, de ONG e do setor privado para a obtenção
• Reduzir a prevalência de tabagismo em adultos (18 do sucesso contra a epidemia das DCNT.
anos ou mais anos de idade), de 15,1% (2011) para O plano brasileiro de enfrentamento das DCNT visa
9,1% (2022) (Figura 4). preparar o país para enfrentar e deter, nos próximos
• Aumentar a prevalência de atividade física no lazer, dez anos, as doenças crônicas não transmissíveis
de 14,9% (2010) para 22,0% (2022) (Figura 5). (DCNT), entre as quais acidente vascular encefálico,
• Aumentar o consumo de frutas e hortaliças, de infarto, hipertensão arterial, câncer, diabetes e doen-
18,2% (2010) para 24,3% (2022). ças respiratórias crônicas. No Brasil, essas doenças
400
350
355
353
354
348
343
Taxa por 100 mil habitantes
329
300
321
319
315
310
303
296
290
285
278
250
273
268
262
255
250
245
240
236
231
226
200
222
217
213
209
205
200
196
150
100
50
0
92
94
96
98
00
02
04
06
08
10
12
14
16
18
20
22
91
93
95
97
99
01
03
05
07
09
11
13
15
17
19
21
19
19
19
19
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
Figura 1 - Projeção das taxas de mortalidade prematura (<70 anos de idade) pelo conjunto das quatro DCNTa.
Brasil, 1991 a 2022
46.5
43.2
40.1
37.3
34.7
32.2
29.9
27.8
Crescimento médio anual
25.8
7,6%
24.0
22.3
20.7
Crescimento médio anual
19.2
16,6%
2,5%
17.9
8,0%
16.6
15.4
14.3
13.3
2,9% 4,1%
12.4
11.5
10.7
9.9
9.2
8.6
8.0
1998
2012
75
89
08
2011
2013
2015
2018
2021
2014
2016
2017
2019
2020
22
19
19
20
20
Prevalência Projeção Meta
Meta: reduzir as prevalências de consumo de álcool, de 18,0% (2011) para 12,0% (2022)
24.8
24.3
23.8
23.3
22.7
22.2
21.7
21.2
20.7
20.2
19.7
19.2
18.0
18.9
17.4
17.6
16.8
17.5
16.3
15.7
16.2
15.2
14.7
14.2
13.7
13.3
12.8
12.8
12.4
09
06
08
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
Figura 3 - Projeção do consumo nocivo de álcool em adultos ( ≥18 anos) nas 26 capitais e no Distrito Federal.
Brasil, 2006 a 2022
constituem o problema de saúde de maior magnitude e escolaridade e renda. Na última década, observou-se
respondem por cerca de 70,0% das causas de mortes,4 redução de aproximadamente 20,0% nas taxas de
atingindo fortemente camadas pobres da população e mortalidade pelas DCNT, o que pode ser atribuído à
grupos mais vulneráveis, como a população de baixa expansão da Atenção Primária, melhoria da assistência
Meta: reduzir a prevalência do tabagismo em adultos de 15,1% (2011) para 9,1% (2022)
15.0
14.6
14.3
14.0
13.7
13.4
13.1
12.8
16.6
12.5
12.1
16.1
16.2
11.8
15.5
11.5
15.1
14.6
14.1
13.6
13.2
12.7
12.3
11.9
11.5
11.1
10.7
10.4
10.0
Prevalência IC95% Projeção Meta
07
09
06
08
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
Fonte: Coordenação-Geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis (GDANT)/SVS/MS
Figura 4 - Projeção do tabagismo em adultos ( ≥18 anos) nas 26 capitais e no Distrito Federal.
Brasil, 2006 a 2022
22.0
Meta: aumentar a prevalência de atividade física no lazer, de 14,9% (2010) para 22,0% (2022)
21.3
20.6
20.0
19.3
18.7
18.1
17.5
17.0
16.4
15.9
15.4
15.2
14.9
14.9
14.9
14.9
14.9
14.9
14.9
14.9
15.0
14.9
14.9
14.9
14.9
14.9
14.9
14.7
09
06
08
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
Figura 5 - Projeção da atividade física no lazer em adultos ( ≥18 anos) nas 26 capitais e no Distrito Federal.
Brasil, 2006 a 2022
e redução do consumo do tabaco desde os anos 1990, alcoólica, inatividade física e alimentação inadequada,
mostrando importante avanço na saúde dos brasileiros. tornando possível sua prevenção.
Como determinantes sociais das DCNT, são aponta- A pobreza, entendida não apenas como falta de
das as desigualdades sociais, as diferenças no acesso acesso a bens materiais como também de oportunida-
aos bens e serviços, a baixa escolaridade, as desigual- des, de opções e de voz perante o Estado e a sociedade,
dades no acesso à informação, além de fatores de risco constitui uma grande vulnerabilidade frente a imprevis-
modificáveis, como tabagismo, consumo de bebida tos e fator de risco para doenças crônicas. A epidemia
de DCNT tem um substancial impacto negativo sobre o das medidas que possam ter maior abrangência popu-
desenvolvimento humano e social. O diagnóstico das lacional, como a regulamentação da propaganda de
DCNT e de seus fatores de risco aponta para a maior alimentos, a proibição de propaganda de tabaco e ál-
carga entre populações vulneráveis, o que precisa cool, a proibição da venda de bebidas para menores,
ser enfrentado e monitorado com ações afirmativas, entre outras. O Plano de Enfrentamento de DCNT visa
no sentido de produzir mais investimentos junto a promover o desenvolvimento e a implementação de
essas populações e reduzir a iniquidade em saúde. A políticas públicas efetivas, integradas, sustentáveis e
prevenção e a promoção da saúde devem, por essa baseadas em evidências para a prevenção e o controle
razão, ser incluídas como prioridades nas iniciativas das DCNT e seus fatores de risco, além do fortale-
de desenvolvimento e investimento. O fortalecimento cimento dos serviços de saúde voltados às doenças
da prevenção e o controle de DCNT devem, também, crônicas. Medidas de prevenção e controle devem
ser considerados como parte integral dos programas estar embasadas em claras evidências de custo-
de redução da pobreza e de outros programas de as- efetividade. Intervenções de base populacional devem
sistência ao desenvolvimento. Este é outro argumento ser complementadas por intervenções individuais de
do Plano de Enfrentamento de DCNT: manter amplo atenção à saúde.22 O fortalecimento dos sistemas de
diálogo com diversos setores de governo de forma a atenção à saúde para a abordagem de DCNT inclui o
executar diversas ações em diferentes locus, o que reforço da atenção básica de saúde, articulando-a os
pressupõe a integração e o trabalho articulado entre demais níveis de atenção e às redes de serviços. É re-
diversos setores. conhecida a importância da atenção básica de saúde
O Plano de DCNT aborda os quatro principais gru- na realização de ações de promoção, vigilância em
pos de doenças (circulatórias, câncer, respiratórias saúde, prevenção e assistência e acompanhamento
crônicas e diabetes), as de maior magnitude, que cor- longitudinal dos portadores de DCNT, vinculando-se
respondem a cerca de 80,0% das DCNT. Tais doenças e responsabilizando-se pelos usuários.
têm, entre seus determinantes modificáveis, fatores Entre os fundamentos conceituais do Plano de
de risco em comum (tabagismo, álcool, inatividade DCNT, compreende-se uma abordagem integral das
física, alimentação não saudável e obesidade). Essa doenças crônicas não transmissíveis, em todos os
mesma abordagem é priorizada pela OMS, haja vista níveis de atuação (promoção, prevenção e cuidado
as inúmeras evidências de melhor custo-efetividade integral), articulando ações da linha do cuidado no
na abordagem integrada dos fatores de risco.1,3 Agir campo da macro e da micropolítica. No campo da ma-
sobre esses fatores de risco comuns também reduzi- cropolítica, situam-se ações regulatórias, articulações
rá outras DCNT não incluídas nesse primeiro rol de intersetoriais e organização da rede de serviços e do
doenças priorizadas. O Sistema único de Saúde atua sistema de saúde (fortalecimento das equipes multidis-
em todos os problemas e necessidades de saúde da ciplinares), bem como apoio aos sistemas de decisão
população; portanto, todas as doenças são objeto de (guidelines baseados em evidências, treinamento dos
cuidado,mesmo as que não foram aqui destacadas, profissionais) e ao sistema de informação clínico (in-
nos diversos serviços disponíveis no SUS. formações do portador). No campo da micropolítica,
A vigilância e o monitoramento das DCNT e seus atuação da equipe na linha do cuidado e vinculação e
fatores de risco, indispensáveis para a organização da responsabilização do cuidador, com acompanhamento
resposta dos serviços, devem ser integrados aos siste- longitudinal e a produção da autonomia do usuário.23 O
mas de informações em saúde, adotando-se indicado- modelo de atenção aos portadores de doenças crônicas
res mensuráveis e específicos. As ações de promoção implica em componentes do suporte ao autogeren-
à saúde são essenciais e visam à proteção universal, à ciamento, empoderamento e autonomização desses
comunicação em saúde, à atuação intersetorial, entre portadores, com investimento em aconselhamento,
outros. A regulação é essencial no Plano de DCNT e educação e informação e avaliação.23,24
várias das medidas adotadas passam pela articulação Outra compreensão essencial é a da abordagem
intersetorial, envolvendo temas como álcool, tabaco, precoce e abrangente das DCNT, desde a vida fetal
alimentos, os quais necessitam da integração entre até a vida adulta. Os fatores de risco para DCNT estão
governo, poder legislativo e sociedade, na definição disseminados na sociedade. Frequentemente, iniciam-
se de modo precoce e estendem-se ao longo do ciclo um dos pilares de uma melhor qualidade de vida
vital. Evidências de países onde houve grandes declí- aos portadores de doenças crônicas, também está
nios em certas DCNT indicam que as intervenções de prevista no Plano de DCNT;
prevenção e tratamento são necessárias.3,22 A reversão 6) Política Nacional de Promoção da Saúde e do pro-
da epidemia de DCNT exige uma abordagem popula- grama ‘Academia da Saúde’ – promoção da saúde
cional abrangente, com intervenções preventivas e por meio de atividade física, com meta de expansão
assistenciais, desde a vida intrauterina, com pré-natal para 4 mil municípios até 2015: em 2011, foram
adequado, passando pelo aleitamento materno e o anunciados recursos para a construção de duas mil
investimento na primeira infância, até a adolescência, unidades da Academia, bem como para seu custeio;
com o propósito de minimizar riscos em todas as 7) acordos voluntários com a indústria para a redução
fases da vida. do teor do sal dos alimentos ainda em 2011, em
As metas propostas ainda serão desagregadas para quase todos os grupos de alimentos;
as unidades federadas, possibilitando o monitoramento 8) luta contra o tabaco – um ponto de grande re-
regional. Ademais, o sistema de monitoramento estará levância, com reflexos verificados no declínio da
disponível no sítio eletrônico do Ministério da Saúde, prevalência das DCNT; em novembro de 2011, com
para que seja publicizado o acompanhamento das a aprovação, pelo Congresso Nacional, de Medida
metas. Provisória do governo, muitos progressos foram
Outro ponto a ser destacado é o da articulação obtidos, como a instituição dos ambientes livres
intrasetorial. O Plano de DCNT perpassa todas as de fumo em qualquer recinto coletivo fechado,
Secretarias e diversas áreas técnicas do Ministério da ampliação das taxações do cigarro em 85,0% e ins-
Saúde. Dezenas de técnicos estiveram envolvidos em tituição da política de preço mínimo dos cigarros,
sua elaboração. O Plano foi definido como prioridade além da proibição da propaganda de cigarros, a lei
de governo e de Estado e, por isso, o tempo para sua 12.546/2011 determina, ainda, a ampliação das ad-
implementação é de dez anos, implicando diálogo vertências nos maços para 100,0% da área de uma
permanente com os próximos governos. face e para 30,0% da área na outra face, até 2016;
O Plano de Enfrentamento de DCNT dialoga com as com essas medidas, o Brasil praticamente completa
prioridades e marcas do atual governo, quais sejam: seu marco regulatório em relação ao tabaco.
1) ‘Rede Cegonha’ – compreensão da prioridade Por fim, torna-se necessária a mobilização da
do pré-natal e do investimento na gestação e na sociedade civil, dos conselhos de saúde, das comis-
primeira infância; sões sociais, ONG e setor privado. As instituições e
2) enfrentamento do câncer de mama e colo de útero; grupos da sociedade civil são importantes na cons-
3) Rede de Urgência e Emergência – na urgência, o cientização para a prevenção e o controle de DCNT.
atendimento aos usuários com infarto agudo do Cabe estabelecer esforços de advocacy, para que as
miocárdio e acidente vascular encefálico; a mortali- doenças crônicas não transmissíveis sejam comple-
dade por AVE, por exemplo, pode ser reduzida com tamente reconhecidas como prioridade da agenda
o aumento de medidas preventivas como o controle de desenvolvimento global. As empresas podem fazer
da hipertensão e o tratamento agudo dos indivíduos contribuições importantes em relação aos desafios da
que sofrem de acidente vascular encefálico;25 prevenção de DCNT, principalmente quanto à redução
4) ‘Melhor em Casa’ – atenção domiciliar aos portado- dos teores de sal, gorduras saturadas e açúcar dos
res de doenças crônicas e aos idosos, os que mais alimentos. Um setor que evite a propaganda de ali-
sofrem e podem se beneficiar com esse acompa- mentação não saudável ou de outros comportamentos
nhamento, expansão dos cuidados domiciliares e prejudiciais ou, ainda, que reformule produtos para
capacitação dos cuidadores na comunidade; proporcionar acesso a opções de alimentos saudá-
5) ‘Saúde Não Tem Preço’ – o programa oferta me- veis, dará exemplos de abordagens e ações a serem
dicamentos gratuitos para hipertensão e diabetes seguidos por parceiros de todo o setor corporativo.
nas farmácias privadas credenciadas do programa Os governos são responsáveis por estimular as par-
‘Farmácia Popular’; a possibilidade de ampliação na cerias na produção de alimentos mais saudáveis,
distribuição de medicamentos de forma contínua, bem como por monitorar os acordos estabelecidos
entre as partes. Os conselhos de saúde e as comis- dos serviços de saúde. Juntos, governos e sociedade
sões sociais devem ter essa agenda como prioritária, podem estabelecer ações concretas visando à redução
cobrando investimentos, mobilizando e tomando o dessas doenças e à melhoria da qualidade de vida da
tema transversalmente no processo de organização população brasileira, em todo o ciclo de vida.
Lenildo de Moura
Coordenação-Geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, Departamento de Análise de Situação de Saúde, Secretaria de
Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília-DF, Brasil
Naiane B. F. Oliveira
Coordenação-Geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, Departamento de Análise de Situação de Saúde, Secretaria de
Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília-DF, Brasil
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Research; 2009. Aprovado em 28/12/2011
Factors Associated with Diabetes Mellitus in Participants of the ‘Academia da Cidade’ Program
in the Eastern Region of the Municipality of Belo Horizonte, State of Minas Gerais,
Brazil, 2007 and 2008
Resumo
Objetivo: identificar fatores de risco associados ao diabetes Mellitus (DM) entre usuários de serviço de promoção da
saúde. Metodologia: estudo transversal com indivíduos ≥20 anos de idade participantes do Programa ‘Academia da Cidade’,
no município de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, Brasil; foram coletados dados sociodemográficos e de saúde, consumo
alimentar e antropométricos; realizou-se análise descritiva e regressão logística com cálculo de odds ratio (OR) e respectivos
intervalos de confiança de 95% (IC95%). Resultados: foram avaliados 364 indivíduos, sendo 89,3% mulheres e 74,5% adultos;
a prevalência de DM foi de 15,2%; a análise multivariada mostrou, como fatores associados a DM, ter hipertrigliceridemia
[OR=1,33; IC95%: 1,07-1,65] e obesidade abdominal [muito elevada: OR=2,66; IC95%: 1,21-5,83] e relatar consumo diário de
doces [OR=0,26; IC95%: 0,08-0,83]. Conclusão: ações articuladas dos serviços de saúde podem contribuir para a prevenção
e controle de fatores de risco para DM, com destaque para a obesidade abdominal e a dislipidemia.
Palavras-chave: diabetes Mellitus; fatores de risco; hábitos alimentares; epidemiologia.
Summary
Objective: to identify risk factors associated with diabetes Mellitus (DM) in users of a health promotion service.
Methodology: cross-sectional study in individuals aged ≥20 years assisted by a health promotion program called
‘Academia da Cidade’, in the Municipality of Belo Horizonte, State of Minas Gerais, Brazil; data concerning sociode-
mographic, health, dietary intake and anthropometric characteristics were collected; bivariate and logistic regression
analyses were conducted; strength of association was measured by odds ratio (OR), according to a 95% of confidence
interval (CI95%). Results: data on 364 individuals were compiled; among the participants, 89.3% were women, and
74.5% adults; DM prevalence was of 15.2%; multivariate analysis showed factors associated with DM, which included
hipertriglyceridemia [OR=1.33; CI95%: 1.07-1.65], abdominal obesity [high elevated: OR=2.66; CI95%: 1.21-5.83], and
daily candy intake [OR=0.26; CI95%: 0.08-0.83]. Conclusion: coordinated actions of health services can contribute to
the prevention and control of risk factors for DM, especially abdominal obesity and dyslipidemia.
Key words: diabetes Mellitus; risk factors; food habits; epidemiology.
* Estudo financiado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais e da Secretaria Municipal de
Saúde de Belo Horizonte-MG.
pação profissional e renda mensal per capita), de O processamento de dados foi realizado com o
saúde (uso de medicamentos, morbidade referida e auxílio do programa Epi Info 6.04b; e o Statistical
percepção da saúde) e hábitos alimentares; também Package for the Social Sciences – SPSS versão 17.0
foram realizadas medidas antropométricas (peso, for Windows, utilizado para a análise estatística.
altura e circunferência da cintura).11 Realizou-se análise descritiva dos dados e teste qui-
Para avaliar o consumo de alimentos, utilizou-se quadrado de Pearson para averiguar possíveis associa-
aplicação única do ‘Recordatório Alimentar 24 horas’ ções entre a prevalência de DM e as covariáveis. A força
(R24), referente ao dia anterior. O R24 de um único de associação entre variáves foi determinada pelo odds
dia pode não representar o consumo habitual do in- ratio (OR) e seu respectivo IC95%. Foram consideradas
divíduo,12 razão porque foi associado ao ‘Questionário como candidatas ao modelo final de regressão logística
de Frequência Alimentar’ qualitativo (QFA), referente as covariáveis que apresentaram nível de significância
aos últimos seis meses. Este questionário constou estatística inferior a 20,0% (p<0,20).
de uma lista de 16 alimentos, obtida a partir de QFA Com relação à seleção do modelo final, foi adotada
calibrado para a população do interior de Minas Ge- a estratégia passo-a-passo, com a inclusão de todas
rais13 e revisado com base nos alimentos obtidos pela as variáveis selecionadas durante a análise bivariada,
análise de R24 realizado no próprio serviço de saúde, em ordem decrescente de significância estatística. As
em estudo piloto.11 variáveis que apresentaram p≥0,05 foram retiradas
As medidas antropométricas de peso, estatura e uma a uma do modelo e consideradas definitivamente
circunferência da cintura (CC) foram aferidas con- excluídas quando o decréscimo na explicação do
forme as recomendações da Organização Mundial da desfecho não era estatisticamente significativo. Para
Saúde (OMS).14 A partir das medidas de peso e altura, analisar esse parâmetro, o modelo foi avaliado a cada
calculou-se o índice de massa corporal (IMC=peso/ retirada, com o auxílio dos testes estatísticos de Wald
altura2), cuja classificação foi diferenciada para adul- e da razão de verossimilhança. Termos de interação
tos14 e idosos.15 Para avaliar a CC, foram utilizadas as também foram testados, considerando a descrição da
recomendações da OMS (complicações associadas à literatura e sua plausibilidade biológica. A avaliação
obesidade: sem risco = CC<80cm para mulheres e da qualidade do modelo final foi feita pelo cálculo
CC<94cm para homens; risco elevado = CC≥80cm de seu coeficiente de determinação (R2), pelas apli-
para mulheres e CC≥94cm para homens; risco muito cações do teste da bondade (goodness-of-fit test) e
elevado = CC≥88cm para mulheres e CC≥102cm para do linktest; e pela análise dos resíduos, baseando-se
homens).16 Para as mensurações, os entrevistadores principalmente nos pontos influenciais. O nível de
foram devidamente treinados, sendo realizadas três significância estatística foi fixado em 5,0% (p<0,05).
leituras para se obter uma média aritmética, então
registrada. Considerações éticas
O diagnóstico de diabetes Mellitus foi definido O projeto, do qual este estudo faz parte, foi apro-
pelo uso de medicamentos específicos e/ou relato da vado pelos Comitês de Ética da Universidade Federal
morbidade. de Minas Gerais (ETIC no 103/07) e da Prefeitura
Em relação à análise de dados, o consumo de Municipal de Belo Horizonte (Protocolo no 087/2007).
alimentos, registrado em medidas caseiras no R24 e
transformado em gramas,17 possibilitou o cálculo do Resultados
consumo de calorias e nutrientes. Para tal, utilizou-se o
programa DietWin® (2006), com a complementação Foram avaliados 364 indivíduos: 89,3% do sexo
de diferentes tabelas de composição de alimentos. feminino; 74,5% de adultos; e média de idade de
Quando necessário, foram utilizados produtos simila- 49,5±13,9 anos (Tabela 1).
res e rótulos de alimentos industrializados. Por fim, o A prevalência de DM correspondeu a 15,2% do
aporte calórico e os nutrientes estimados (carboidra- total de indivíduos entrevistados, sendo semelhante
tos, proteínas, lipídeos totais, ácidos graxos, colesterol, entre homens e mulheres. Na classificação por faixa
fibras, ferro, cálcio, zinco, sódio, vitaminas E, D, C e etária, observou-se aumento da prevalência de DM de
B12) foram categorizados em tercis. acordo com a idade, com 8,2% de diabéticos na faixa
de 20-29 anos e 25,5% entre aqueles com 60 anos e A análise bivariada mostrou como fatores asso-
mais (p=0,052). Também foram altas as prevalências ciados a DM ter HA (p=0,002), doenças do coração
das demais DANT avaliadas (Tabela 1). (p<0,001), hipercolesterolemia (p<0,001) e hiper-
Os resultados da avaliação antropométrica eviden- trigliceridemia (p<0,001) (Tabela 1). A obesidade ab-
ciaram alta prevalência de indivíduos com excesso de dominal, segundo a classificação de CC muito elevada,
peso: 38,2% de sobrepeso; 42,3% de obesidade entre os também se apresentou associada a DM (p=0,014).
adultos; e 63,4% de sobrepeso entre os idosos. Quanto No que se refere ao consumo alimentar, foram rela-
à obesidade abdominal, 70,9% apresentaram risco cionados ao desfecho: “beliscar” alimentos entre as
elevado e muito elevado de complicações associadas à refeições (p=0,055); e consumir doces diariamente
obesidade, de acordo com a CC averiguada (Tabela 1). (p=0,039) (Tabela 2).
Boa parte dos usuários apresentou inadequações Na análise multivariada, as variáveis que perma-
importantes no consumo de alimentos e nutrientes, neceram associadas de maneira independente ao
como pode ser verificado nas tabelas 2 e 3. A ingestão DM foram ter hipertrigliceridemia [OR=1,33; IC95%:
nos primeiros tercis de fibras, ácido graxo monoin- 1,07-1,65], obesidade abdominal mensurada por CC
saturado, cálcio, vitaminas C, D e B12 esteve aquém [muito elevada: OR=2,66; IC95%: 1,21-5,83] e relatar
dos valores recomendados, com exceção do sódio. consumo diário de doces [OR=0,26; IC95%: 0,08-0,83]
Ademais, comparou-se a prevalência de DM entre os (Tabela 6). Ressalta-se que a idade foi mantida no
tercis da ingestão de nutrientes (tabelas 4 e 5). modelo final apenas como variável de ajuste, tendo em
Total Diabetes
Variáveis ORa IC95% b Valor-pc
(n=364) % (n=55) %
Classificação etária
Adulto 74,5 13,0 1,00 – –
Idoso 25,5 21,5 1,83 0,99-3,36 0,051
Morbidades
Hipertensão arterial
Não 51,7 9,4 1,0 – –
Sim 48,3 21,3 2,61 1,40-4,85 0,002
Hipercolesterolemia
Não 68,3 9,9 1,0 – –
Sim 31,7 27,4 3,45 1,91-6,22 <0,001
Hipertrigliceridemia
Não 84,8 10,7 1,0 – –
Sim 15,2 38,9 5,33 2,75-10,29 <0,001
Doença do coração
Não 84,8 12,1 1,0 – –
Sim 15,2 32,7 3,53 1,82-6,84 <0,001
Circunferência da cintura
Normal 29,1 8,5 1,00 – –
Elevada 27,7 15,0 1,90 0,79-4,56 0,150
Muito elevada 43,1 19,9 2,67 1,21-5,87 0,014
a) OR: odds ratio
b) IC95%: Intervalo de confiança de 95%
c) Razão de verossimilhança
Total Diabetes
Variáveis ORa IC95% b Valor-pc
(n=364) % (n=55) %
Número de refeições/dia
≥5 22,3 18,5 1,00 – –
<5 77,7 14,2 1,36 0,71-2,63 0,345
“Beliscar” alimentos
Não 49,2 20,1 1,00 – –
Sim 50,8 12,2 0,55 0,30-1,01 0,055
Consumo
Frutas, verduras e legumes
Não diário 78,2 15,3 1,00 – –
Diário 21,8 15,6 1,02 0,51-2,05 0,956
Banha de porco – – – – –
Não diário 90,7 15,2 1,00 – –
Diário 9,3 14,7 0,95 0,35-2,59 0,934
Refrigerante comum
Não diário 89,0 15,8 1,00 – –
Diário 11,0 10,3 0,61 0,20-1,78 0,368
Refrigerante diet
Não diário 97,0 14,8 1,00 – –
Diário 3,0 27,3 2,15 0,55-8,39 0,268
Doces
Não diário 82,6 17,1 1,00 – –
Diário 17,4 6,3 0,32 0,11-0,94 0,039
a) OR: odds ratio
b) IC95%: Intervalo de confiança de 95%
c) Razão de verossimilhança
Diabetes
Variáveis ORa IC95% b Valor-pc
(n=55) %
Lipídeos
Tercil 1 16,7 1,00 – –
Tercil 2 15,7 0,93 0,47-1,85 0,839
Tercil 3 13,4 0,78 0,38-1,59 0,487
Ácido graxo saturado
Tercil 1 17,5 1,00 – –
Tercil 2 16,4 0,92 0,48-1,79 0,814
Tercil 3 11,6 0,62 0,29-1,31 0,209
Ácido graxo monoinsaturado
Tercil 1 17,5 1,00 – –
Tercil 2 17,1 0,97 0,49-1,93 0,939
Tercil 3 11,6 0,62 0,30-1,27 0,191
Ácido graxo poliinsaturado
Tercil 1 14,3 1,00 – –
Tercil 2 13,3 0,92 0,44-1,92 0,822
Tercil 3 18,3 1,35 0,67-2,72 0,406
Fibras
Tercil 1 12,5 1,00 – –
Tercil 2 15,0 1,24 0,59-2,58 0,574
Tercil 3 18,3 1,57 0,77-3,20 0,213
a) OR: odds ratio
b) IC95%: Intervalo de confiança de 95%
c) Razão de verossimilhança
Diabetes
Variáveis ORa IC95% b Valor-pc
(n=55) %
Cálcio
Tercil 1 15,3 1,00 – –
Tercil 2 15,8 1,05 0,52-2,11 0,902
Tercil 3 15,0 0,98 0,48-1,99 0,956
Zinco
Tercil 1 16,7 1,00 – –
Tercil 2 15,7 0,93 0,47-1,85 0,839
Tercil 3 13,4 0,77 0,38-1,58 0,487
Vitamina D
Tercil 1 16,0 1,00 – –
Tercil 2 14,9 0,92 0,46-1,85 0,815
Tercil 3 15,0 0,93 0,46-1,87 0,836
Vitamina C
Tercil 1 13,6 1,00 – –
Tercil 2 14,9 1,11 0,54-2,31 0,771
Tercil 3 17,5 1,35 0,67-2,74 0,403
Vitamina B12
Tercil 1 16,9 1,00 – –
Tercil 2 18,2 1,09 0,56-2,12 0,802
Tercil 3 10,7 0,59 0,28-1,25 0,168
a) OR: odds ratio
b) IC95%: Intervalo de confiança de 95%
c) Razão de verossimilhança
Tabela 6 - Modelo final de regressão logística tendo o diabetes Mellitus como variável dependente na Região
Leste de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais. Brasil, 2007 e 2008
Classificação etária
Adulto 1,00 – –
Hipertrigliceridemia
Não 1,00 – –
Consumo de doce
Circunferência da cintura
Normal 1,00 – –
Sexo
Feminino 1,00 – –
vista o consenso científico sobre a importância desse procurado, em sua maioria, por demanda espontânea
parâmetro para a prevalência de diabetes.2 dos usuários e por encaminhamento das equipes da
Estratégia Saúde da Família. Ressalta-se que, entre
Discussão aqueles que procuram o serviço espontaneamente,
muitos o fazem pelas condições da doença: a Aca-
A população do estudo apresentou elevada pre- demia da Cidade, um serviço de promoção da saúde
valência de diabetes (15,2%), resultado superior ao de caráter público – oferece orientação nutricional e
encontrado pelo Vigitel em 2009,5 assim como ao prática regular de exercícios físicos.
observado em estudo multicêntrico.18 Valores mais A presença de DM foi associada positivamente com
próximos ao presente estudo foram encontrados por a ocorrência de comorbidades como hipercoleste-
Ortiz e colaboradores em Ribeirão Preto-SP (12,0%),19 rolemia, hipertrigliceridemia, HA e DCV, sendo que
e por Gomes e colaboradores (14,6%).4 apenas a variável hipertrigliceridemia manteve-se no
Tendo em vista as diferentes metodologias utilizadas modelo final.
para definição de DM, a comparação entre os estudos As dislipidemias acometem 10,0 a 15,0% da popu-
é prejudicada. A elevada prevalência de DM encontrada lação brasileira adulta, valores inferiores aos encon-
pode ser explicada, em parte, pelo local do estudo, trados neste estudo. Elas constituem importante fator
de risco para progressão a DM. Sua principal compli- de macro e micronutrientes, haja vista as inadequações
cação, a aterosclerose, é precoce, mais frequente e observadas em ambos os grupos.
acelerada em indivíduos diabéticos.7 É mister salientar as limitações inerentes ao de-
O conhecimento das alterações do perfil lipídico senho de um estudo de delineamento transversal. A
em indivíduos diabéticos é necessário: a dislipidemia interpretação dos resultados merece cautela, uma vez
constitui importante fator de risco para as DCV nessa que fatores associados e seus efeitos foram medidos
população, com elevadas taxas de mortalidade.20 O em um único momento. Como exemplo de possível
fenótipo lipídico aterogênico, que pode estar presente causalidade reversa, há o menor consumo diário de
nesses indivíduos, é resultado do excesso de tecido doces relatado pelos indivíduos diabéticos, reflexo
adiposo visceral, o qual, por sua vez, libera grandes de uma provável redução do consumo em função da
quantidades de ácidos graxos na circulação. Em con- presença da doença. A realização de estudo de coorte a
sequência, há menor depuração hepática de insulina e posteriori poderá fornecer informações mais acuradas
hiperinsulinemia sistêmica, redução na degradação da sobre a etiologia da doença e mesmo corroborar as
apolipoproteína B e aumento da secreção hepática de conclusões aqui apresentadas.
lipoproteínas de muito baixa densidade.21 Isso resulta Apesar da associação inversa encontrada entre DM
em maior geração de LDL (low density lipoprotein, ou e consumo diário de doces, possivelmente pelo deli-
lipoproteína de baixa densidade) pequenas e densas, neamento transversal do estudo, é digna de relevância
diminuição do colesterol na HDL (high density lipo- a atuação dos serviços de saúde sobre os fatores de
protein, ou lipoproteína de alta densidade) e aumento risco modificáveis, com destaque para as dislipidemias
dos triglicérides,22 apontados como importante fator e a obesidade abdominal, contribuindo para prevenir
de risco para a doença coronariana e possíveis razões e retardar a progressão ao DM.25,26
para o fato de indivíduos diabéticos apresentarem Sendo a integralidade um princípio de nosso sis-
maior incidência de DCV.21 tema nacional de saúde, recomenda-se a integração
No que se refere à obesidade, a incidência de de serviços de promoção da saúde – a exemplo do
DM do tipo 2 está relacionada a sua duração e serviço prestado pelo Programa ‘Academia da Cidade’
gravidade: praticamente dobra na presença de au- – com todos os eixos da Atenção Primária, sobretudo
mento de peso moderado e pode mais que triplicar com a Estratégia Saúde da Família da unidade básica
no excesso acentuado de peso.23 Na população em de saúde da área de abrangência do serviço. Essa
estudo, o excesso de peso foi expressivo, superior interface oportunizará o incremento da atenção aos
a dados nacionais.5 Provavelmente, as prevalências portadores de DM mediante o desenvolvimento de
no presente estudo foram mais elevadas devido às ações articuladas que visem à melhora da qualidade
características dessa população, usuária de serviço de vida dos indivíduos atendidos. Segundo o Ministério
de promoção da saúde. da Saúde, a vinculação de portadores ao nível primário
Neste estudo, ainda mais importante que a obesida- de atenção é imprescindível para o sucesso do controle
de total foi a abdominal: a CC muito elevada aumentou desse agravo, favorecendo a identificação precoce dos
em aproximadamente três vezes a chance de ter dia- casos, prevenção e controle dos fatores de risco.1
betes. Esses dados corroboram achados indicadores
do padrão de distribuição do tecido adiposo como Agradecimentos
principal responsável pela morbimortalidade, mais
do que o depósito total de gordura.7 À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
Em relação ao consumo alimentar, há evidências na Minas Gerais e à Secretaria Municipal de Saúde de
literatura sobre a relação entre qualidade da alimenta- Belo Horizonte, pelo apoio financeiro.
ção e riscos do desenvolvimento de DM.24 No presente Ao Grupo de Pesquisa em Intervenções em Nutrição,
estudo, entretanto, o DM não foi associado ao consumo pelo incentivo e colaboração.
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Recebido em 21/07/2010
Aprovado em 08/12/2011
Case Study of the Formulation of the National Policy of Diet and Nutrition in Brazil
Lenildo de Moura
Departamento de Análise de Situação de Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília-DF, Brasil
Resumo
Objetivo: analisar o processo de formulação da ‘Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN)’ no campo das ações públicas voltadas à
proteção e promoção da saúde. Metodologia: trata-se de estudo de caso qualitativo multicêntrico, tendo por base o período de 1998 a 2005; foram
realizadas 16 entrevistas semi-estruturadas com atores-chave do governo e sociedade civil, e analisadas diferentes fontes secundárias de informação
para reconstituição do processo, a movimentação dos atores e suas motivações; para a análise da construção da PNAN, utilizou-se uma matriz com
cinco categorias – contexto, ideias, instituições, interesses e instrumentos de política. Resultados: a PNAN foi formulada de maneira participativa,
envolvendo diversos setores do governo e sociedade organizada; sua publicação, em 1999, destacou as seguintes diretrizes político-institucionais
– estímulo às ações intersetoriais, com vistas ao acesso universal aos alimentos; garantia da segurança e da qualidade dos alimentos e da prestação
de serviços; monitoramento da situação alimentar e nutricional do país; promoção de práticas alimentares e estilos de vida saudáveis; prevenção
e controle dos distúrbios nutricionais e de doenças associadas à alimentação e nutrição; promoção do desenvolvimento de linhas de investigação;
e desenvolvimento e capacitação de recursos humanos. Conclusão: o processo de formulação da ‘Política Nacional de Alimentação e Nutrição’
constituiu um sólido aprendizado, amparado na busca do aprimoramento democrático, da participação cidadã na discussão com a sociedade civil.
Palavras-chave: vigilância nutricional; segurança alimentar e nutricional; obesidade; política de saúde.
Summary
Objective: analyze the process of the formulation of the ‘National Policy of Diet and Nutrition in Brazil (NPDN)’ in the field of
public actions turned to health protection and promotion. Methodology: multicentric qualitative case study, based on the period from
1998 to 2005; sixteen semi-structured interviews with key government and civil society actors were performed and different secondary
information sources analyzed for reconstruction of process and mobility of the actors, and their motivation; for the analysis and cons-
truction of NPDN, a matrix with 5 categories was used – context, ideas, institutions, interest, and policy instruments. Results: NPDN
was formulated in a participatory manner involving several government sectors and organized society; the publication of the NPDN
in 1999 revealed its political-institutional guidelines: stimulus to intersectoral actions, in view of universal access to food; assurance
of the safety and quality of food and services rendered; monitoring of the diet and nutrition of the country; promotion of healthy diet
practices and life styles; prevention and conrol of nutrition disorders and diseases related to diet and nutrition; development promotion
of lines of investigation; human resource developing and training. Conclusion: the process of formulation of the ‘National Policy of
Diet and Nutrition’ is a solid learning way, supported by the search democratic perfecting, with an important citizen participation and
discussion with civil society.
Key words: nutrition surveillance; food and nutrition assurance; obesity; health policy.
A escolha da PNAN como unidade de análise para O período de 1998 a 2005 foi adotado como marco
estudo de caso brasileiro deveu-se aos seguintes temporal para a pesquisa, por ser o período de for-
motivos: a) diretriz do Governo Federal, de caráter mulação da PNAN e da organização da área técnica
multissetorial, de responsabilidade do Ministério da competente no Ministério da Saúde.
Saúde; b) coerência com objetivos nacionais relativos Foram realizados os seguintes procedimentos de
à prevenção de DCNT; e também, por se tratar de c) análise das entrevistas: a) transcrição completa das
uma política de abrangência nacional, envolvendo entrevistas gravadas, objetivando a pré-análise do conte-
um dos principais fatores de proteção das DCNT údo; e b) constituição do corpo discursivo, que objetiva
(alimentação). resguardar o contexto e a unidade das entrevistas.
Os intrumentos utilizados na pesquisa foram co- Para a análise da construção da PNAN, utilizou-se
muns aos três países do estudo multicêntrico (Canadá, uma matriz com cinco categorias interligadas – contexto,
Brasil, e Costa Rica),2 pré-testado e validado no Brasil. ideias, instituições, interesses e instrumentos de política
Para as entrevistas, semi-estruturadas, foram usados –6 com o objetivo de responder às seguintes perguntas:
os seguintes critérios de seleção dos entrevistados: a) Como as ideias e valores de diversos atores do Estado, da
indicação dos participantes do observatório de Políti- sociedade e do mercado foram incorporados no texto
cas sobre DCNT; b) gestores públicos que participaram da PNAN? Como as ideias foram construídas? Seriam
do processo de formulação da PNAN em vários setores construções sociais da realidade sobre os problemas e
da política pública; c) especialistas e acadêmicos da as soluções relativos à alimentação e nutrição no Brasil?
área de Alimentação e Nutrição; e d) especialistas com Afinal, como se deu esse processo? Como os atores
experiência comprovada na formulação de programas negociaram, concertaram, persuadiram, argumentaram
e ações de alimentação e nutrição. no campo das ideias e valores?
As seguintes instituições tiveram informantes-chave: Os dados secundários foram coletados por meio de
Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nu- legislação em vigor no Brasil que regulamenta ações e
trição (CGPAN) do Ministério da Saúde (MS), Coorde- programas (Decretos Presidenciais, Portarias), entre
nação-Geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis outros documentos governamentais: planos, boletins,
(CGDANT) da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/ relatórios expedidos; publicações de organismos in-
MS, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)/ ternacionais; artigos de jornais de circulação nacional;
Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da discursos, pareceres; atas de reuniões interministeriais
Republica, Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz)/ e intraministeriais, grupos de trabalho e memórias de
MS, Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Escola eventos realizados.
Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP)/Fio- Para análise dos dados secundários, foram respon-
cruz/MS, Universidade Federal de Pernambuco (UFPe), didos os seguintes tópicos: a) instituições governa-
Universidade Federal da Bahia (UFBa) e Universidade mentais e não governamentais que influenciaram; b)
de São Paulo (USP). Também foram entrevistados ideias e valores presentes; e c) interesses e conflitos
um técnico da Organização Mundial da Saúde (OMS/ inseridos no processo.
Genebra) e um informante da organização não go-
vernamental Associação Brasileira de Alimentação e Considerações éticas
Nutrição e Direitos Humanos (ABRANDH). Foi feita O estudo obteve aprovação da Comissão Nacional
a transcrição das entrevistas gravadas, guardando a de Ética em Pesquisa (CONEP)/Ministério da Saúde,
unidade das narrações e preservando o contexto no segundo o Parecer nº 449/2006, por se tratar de pes-
qual o discurso foi produzido. A análise das entrevistas quisa institucional financiada pelo Ministério da Saúde.
foi realizada em etapas, segundo o método da ‘Análise
de conteúdo’ desenvolvido por Bardin.4 Trata-se de Resultados
um conjunto de técnicas de análise de comunicação
visando obter o significado dos conteúdos enunciados A PNAN foi aprovada pela Portaria Ministerial n°
pelos entrevistados, em suas entrelinhas, seus ditos e 710/1999, como parte integrante da Política Nacional
não ditos, ou seja, os significados manifestos e latentes, de Saúde, inserindo-se no contexto da Segurança
a partir de material qualitativo.5 Alimentar e Nutricional (SAN).7
Após a elaboração do documento básico, este foi teriais, elaboração de protocolo de resultados, entre
submetido à consulta dos estados da Federação, por outros aspectos. O pacto foi devidamente firmado em
meio das Coordenações Estaduais de Alimentação e documento oficial.
Nutrição e da sociedade civil organizada representada Com a aprovação da PNAN, desencadeou-se um
em Fórum de discussão da OPAS. Sobre os atores da processo permanente de capacitação de recursos
sociedade civil, os informantes ressaltaram a impor- humanos envolvidos em atividades de planejamento,
tância do trabalho de consulta ao Fórum Brasileiro monitoramento e avaliação, de forma descentralizada
de Segurança Alimentar e Nutricional (FBSAN), com como preconiza a Constituição Federal e o SUS; ou seja,
ampla representação da sociedade, inclusive rema- “capacitamos todos os estados (da Federação) em
nescentes da ‘Ação da Cidadania Contra a Fome e a um processo interessante, depois os estados fizeram
Miséria’ (1992-1994). Um dos entrevistados afirma os seus planos de capacitação dos municípios,
que “o processo de formulação da PNAN foi bastante treinaram todos os municípios”.
inclusivo, consultivo, ao mesmo tempo em que O processo de capacitação baseou-se na re-
tentávamos reconhecer os programas, extinguindo construção de dois conceitos: segurança alimentar
umas ações e melhorando outras”. Sem dúvida, essa nutricional e direito humano à alimentação. A me-
ampliação da participação contribuiu para a sustenta- todologia de aprendizagem usada foi a construção
bilidade do processo. dos conceitos à luz das experiências pessoais e o
Porém, ao mesmo tempo em que significava um resultado foi que “começavam a perceber que eram
avanço no campo da concepção, das ideias e valores, capazes de fazer alguma coisa para modificar
o grupo redator da PNAN não tinha clareza de como aquela realidade”.
proceder para incorporar essa nova terminologia Ao longo das últimas décadas, as ações do Minis-
na agenda governamental, ou seja, a alimentação tério da Saúde nesse campo mudaram de escopo,
e nutrição como direito humano. Como ilustra um evoluíram da distribuição de leite para crianças e
informante-chave, “como lidar com isso, um campo gestantes, realizada à época pelo extinto INAN, para
novo, inclusive ainda o é, o que isso significa concei- o Programa Bolsa Alimentação em 2001 e, em 2004,
tualmente em termos de discurso, mas o que significa o Bolsa Família. Este último, mais inclusivo e agrega-
em termos programáticos, tínhamos pouca ideia”. dor de outras ações intersetoriais, foi e permanece
Necessário se fez que os técnicos demandassem a sendo conduzido pelo Ministério do Desenvolvimento
área de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, Social.9
para releitura do texto sob a ótica do direito humano O processo de elaboração da PNAN, na argumenta-
à alimentação. ção de um entrevistado, foi inclusivo, participativo e
Na esfera institucional, o Ministério da Saúde sólido, tanto que essa política permanece até os dias
criou a Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição atuais como política oficial do Ministério da Saúde:
(CGPAN), que organizou uma área específica de Ali- “porque uma política, ela tem que ter uma vida
mentação e Nutrição. Esta processou as implicações mais longa”.
da compreensão do “direito humano à alimentação”
a partir das seguintes indagações: O que significa esse Ideias e valores presentes
novo discurso? Trata-se de mais uma retórica ou ele no processo de formulação da PNAN
tem consistência programática? Como a extinção do INAN em 1997, em função de
A CGPAN decidiu pela escolha do tema da Anemia denúncias de corrupção, os técnicos e a maioria das
como primeiro exemplo para a materialização do funções do órgão extinto, passam para o Ministério da
conceito de direito humano à alimentação. Como fazer Saúde. Entretanto o grupo técnico de nutricionistas
para que os programas de combate à anemia ferropriva mantém uma série de apoios externos, por meio do
pudessem contribuir para a realização desse direito? O Conselho Nacional de Alimentação e Nutrição, e forte
Direito implicaria deveres dos vários atores. Estes deve- apoio de Universidades, conseguindo se rearticular
riam ser pactuados com prazos definidos, indicadores internamente no aparelho de estado, dentro do Mi-
estabelecidos, divulgação da informação e mobilização nistério da Saúde, que criou a Coordenação-Geral de
da sociedade, alocação de recursos humanos e ma- Alimentação e Nutrição, responsável pelo tema, mas
também em outras estruturas do governo. Uma das Ministério da Saúde. Exemplos de ações de natureza
maneiras de manter a articulação foi a formulação de tipicamente intersetorial seriam a regulamentação
uma política na área de Alimentação e Nutrição. Para da rotulagem nutricional dos alimentos, a restrição
tanto, foram articulados apoios externos que envolve- da publicidade de alimentos não saudáveis, a regula-
ram instituições médicas, o Conselho Federal de Nutri- mentação da quantidade máxima de sal nos alimentos
cionistas e algumas organizações internacionais, como industrializados, a promoção da alimentação saudável
o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e nas escolas e nos ambientes de trabalho, o incentivo
a OMS, “os atores mais relevantes da implantação da à produção de frutas e hortaliças, políticas fiscais
Política Nacional de Alimentação e Nutrição” segundo diferenciadas para a taxação de alimentos mais e
a percepção de um informante-chave. menos saudáveis, medidas de planejamento urbano
A construção da Política baseou-se em evidências para o estímulo da atividade física, campanhas de
científicas sobre o perfil alimentar e nutricional no esclarecimento usando os meios de comunicação de
Brasil à época. Por um lado, existiam alguns estudos massa, entre outras.
multicêntricos, dados sobre a avaliação do programa
do leite e questões sobre a necessidade de se criar o
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan).
O documento brasileiro defendia
Como enfatizou um informante-chave, “era como uma que os alimentos deveriam ter
colcha de retalhos, costurando diversas questões temá- qualidade, respeitar nossa
ticas, conceituais, estratégicas que eram fundamentais diversidade cultural, social e
para se ter o próprio escopo da política”.
No campo das ideias e valores que influenciaram a
econômica, além de
formulação da PNAN, cita-se a extinção do Conselho serem ambientalmente
de Segurança Alimentar, em 1994, e a criação do sustentáveis.
Programa ‘Comunidade Solidária’, propositado a
articular programas e ações de governo com a socie- Segundo um entrevistado, houve um impasse na
dade civil. Ademais, o Governo Brasileiro apresentou formulação da PNAN: pretendia-se uma política de
um documento na reunião da Cúpula Mundial para segurança alimentar intersetorial que abarcasse toda
a Alimentação, em Roma, 1996, levantando pontos a dimensão da segurança alimentar, desde a produção
sobre segurança alimentar e nutricional. O docu- até a utilização biológica do alimento; ou uma política
mento brasileiro defendia que os alimentos deveriam setorial (da Saúde), inserida em uma política mais
ter qualidade, respeitar nossa diversidade cultural, ampla de segurança alimentar?
social e econômica, além de serem ambientalmente A decisão foi pelo recorte setorial da Saúde,
sustentáveis. não só para que compusesse a Política Nacional de
Esses elementos influenciaram a formulação da Saúde como também porque a agenda da Saúde, no
PNAN e a definição das suas diretrizes, a saber: a) campo da segurança alimentar, todavia era frágil,
estímulo às ações intersetoriais, com vistas ao acesso inacabada.
universal aos alimentos; b) garantia da segurança e O Conselho Nacional de Saúde foi um ator-chave
da qualidade dos alimentos e da prestação de serviços na necessidade de argumentação em torno da ideia
neste contexto; c) monitoramento da situação alimen- da intersetorialidade, de um lado, e da amplitude da
tar e nutricional; d) promoção de práticas alimentares ideia da segurança alimentar de outro. Desse debate
e estilos de vida saudáveis; e) prevenção e controle e da força argumentativa dos especialistas, nasceu a
dos distúrbios nutricionais e das doenças associadas primeira diretriz da PNAN: a necessidade de ações
à alimentação e nutrição; f) promoção de linhas de intersetoriais para garantia da alimentação humana
investigação; e g) desenvolvimento e capacitação de como dever do Estado – portanto, política pública – e
recursos humanos. direito de cidadania.7
Os atores destacaram que muitas das ações pro- Na opinião de outro informante-chave, uma ideia
postas pela PNAN dependeriam do engajamento de não contemplada na PNAN e que precisa ser equacio-
outras esferas de governo e não apenas instaladas no nada no Brasil é o relacionamento do setor público
com o privado, pois o papel da indústria de alimentos programas e atividades com objetivos explícitos,
é relevante no país. Não só no campo da Alimentação e traduzidos em dispositivos político-administrativos
Nutrição mas em outros setores de políticas públicas, coordenados, 13 bem como às ações ou omissões
verifica-se a dificuldade dos gestores públicos em lidar do mesmo Estado em relação às demandas da
com a iniciativa privada, haja vista que “a tendência sociedade. 14-16
é recuar e não querer muito diálogo porque se tem Para se entender os processos de formulação de
medo de conflito de interesses, ainda mais em um políticas públicas, devemos compreender as carac-
momento de crise como a que estamos vivendo. Isso terísticas dos atores, suas instituições, os papéis que
é uma coisa que a política não aborda e temos que desempenham, as autoridades que representam, como
dar conta disso em algum momento”. se relacionam e controlam uns aos outros17 e, sobre-
Entre as diretrizes prioritárias da PNAN, a prevenção tudo, que interesses, ideias e instituições defendem.
e controle dos distúrbios nutricionais e das doenças Sabemos que os atores envolvidos e interessados no
associadas à alimentação e nutrição, inicialmente, processo de formulação de uma determinada política
apresentavam destaque para a desnutrição; poste- pública não coincidem plenamente sobre os proble-
riormente, esse componente foi ampliado, a partir da mas, as alternativas de solução e, especialmente, a
publicação dos resultados da Pesquisa de Orçamento solução a ser escolhida.
Familiar (POF 2003), que demonstraram que o Brasil Aqui, interessa analisar os processos cognitivos de
possuía 40,0% da população adulta com excesso de formulação de políticas públicas – como paradigmas,
peso, reforçando-se, a partir daí, a importância da ideias e referenciais. Segundo a concepção de Yves
‘Estratégia Global em Alimentação Saudável, Atividade Surel e Pierre Muller,13 trata-se de uma abordagem
Física e Saúde’.10,11 que estabelece a importância das dinâmicas de
No plano das ideias, os entrevistados enfatizaram construção social da realidade na determinação de
que a PNAN deveria ser aprimorada no que concerne quadros e de práticas socialmente legítimas, em uma
à prevenção das DCNT, “porque a obesidade está dada conjuntura.13
ganhando, cada vez mais força”. Nesse contexto, ideias representam informações
que os formuladores de políticas utilizam para
Interesses e conflitos presentes reconhecer um problema de Saúde Pública e deci-
no processo de formulação da PNAN dir a melhor maneira de agir. Os valores pessoais
Os formuladores de políticas recebem informa- constituem importante fonte de informações na
ções individuais, expressão das opiniões pessoais formulação de políticas públicas. Na área da Pro-
(ativistas), ou a opinião coletiva, comum de grupos moção da Saúde, pesquisas recentes, no Canadá e
de indivíduos.12 Por exemplo, grupos de interesse nos Estados Unidos da América, sugerem que as
representam associações profissionais (médicos, convicções pessoais dos legisladores sobre o pa-
enfermeiros, professores), cidadãos ou setores indus- pel do governo na promoção de comportamentos
triais. Juntamente com agências governamentais, essas saudáveis são um fator significativo de influência
várias partes interessadas formam comunidades de em seu apoio à legislação de controle do tabaco,
interesse próximas a campos específicos de políticas em particular, e a políticas de promoção da saúde
públicas (da Saúde, Educação, Agricultura). Dentro em geral.18
dessas comunidades, pequenos agrupamentos de As ideias e valores perpassam a elaboração de
partes interessadas interagem para tratar de questões políticas públicas. As políticas públicas definem não
específicas dessas políticas, como por exemplo, a só o discurso governamental mas, principalmente,
publicação de informações nutritivas em rótulos de sua própria ação. A formulação da ‘Política Nacional
alimentos ou atividades físicas nas escolas.12 de Alimentação e Nutrição’ processou-se de forma
bastante participativa. Não por acaso, os profissionais
Discussão que trabalhavam na área tomaram a política como
marco regulatório – nos planos político, técnico e
Quando se fala de política pública, remete-se ético – e estratégia de atuação na operacionalização
não só à perspectiva do Estado em ação, seus de suas diretrizes.19
A realização de entrevistas com atores governa- no Estado Brasileiro. Estudos, como a Pesquisa
mentais e não governamentais envolvidos nas etapas Nacional de Demografia e Saúde de 1996, em 2003,
de formação da agenda pública e na formulação das a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 200210 e
ações/programas permitiu a reconstituição do pro- a Pesquisa de Fatores de Risco em Doenças Crônicas
cesso, bem como as motivações e interesses visando em 2002-2003 (da Secretaria de Vigilância em Saú-
à alimentação e nutrição no Brasil. de e do Instituto Nacional do Câncer)21 mostraram
Foram destacadas algumas ações importantes na o crescimento do sobrepeso e da obesidade no
articulação com o setor privado/indústrias de ali- país e a necessidade de se investir em prevenção
mentos, como a implementação de medidas relativas de DCNT,22 alterando o marco técnico-científico
ao enriquecimento e/ou correção dos alimentos – a inicial do processo de constituição e aprovação
obrigatoriedade de adicionar iodo no sal para consu- da Política Nacional de Alimentação e Nutrição –
mo da população, por exemplo. PNAN – no Brasil.
Ressalta-se que a PNAN, “avançada e moderna” para A experiência acumulada pelo Ministério da Saúde
um dos atores-chave, foi assumida como política de na construção da PNAN foi importante, durante o
governo, inclusive na busca da operacionalização de processo de discussão internacional com a OMS,
suas diretrizes, caso dos programas ‘Bolsa Alimen- Organização das Nações Unidas para Alimentação e
tação’ (2001-2003) e ‘Bolsa Família’ (2004 até os Agricultura (FAO) e Unicef sobre a proposição e apro-
dias atuais). vação da ‘Estratégia Global em Alimentação Saudável,
Um mérito da PNAN foi a implantação do Sisvan – Atividade Física e Saúde’.11
resultado de uma de suas diretrizes – com o propósito A alimentação e nutrição e a vigilância de DCNT
de reunir informações que subsidiem políticas públicas devem trabalhar de forma integrada na implantação
para a melhoria das condições nutricionais da popu- da Estratégia Global e, por fim, da Promoção da
lação e a manutenção de um eixo de convergência Saúde enquanto prioridade do Ministério da Saúde.
setorial importante na Saúde Pública. Ao contrário de alguns pensamentos recorrentes, a
À época da formulação da PNAN, os marcos regu- alimentação e nutrição sempre fez parte da agenda
latórios sobre produção, comercialização, estoque, pública do país, embora variasse o nível de prioridade
rotulagem de alimentos, subsídios à produção de ou a capacidade dos governos darem conta de toda a
alimentos e controle da propaganda nos meios de complexidade inerente à questão.
comunicação eram incipientes. Com o advento da
globalização, os brasileiros, cada vez mais, aderiam A alimentação e nutrição e a vigilância
à dieta ocidentalizada, produtora de distúrbios nutri- de DCNT devem trabalhar de forma
cionais – por exemplo, o excesso de peso. Um avanço integrada na implantação da
significativo foi a colocação do tema na agenda, no
sentido da formulação de uma política pública, no
Estratégia Global e, por fim,
campo da alimentação e nutrição, com um marco da Promoção da Saúde
regulatório (Portaria Ministerial).7 enquanto prioridade do
No processo de implementação da PNAN – que Ministério da Saúde.
não constituiu o objeto central da atual investigação
–, foram tomadas importantes medidas por outros O processo de formulação da PNAN constituiu-se
órgãos do Ministério da Saúde, como a Agência Na- em um sólido aprendizado, amparado pela busca
cional de Vigilância Sanitária (Anvisa), destacando-se do aprimoramento democrático, importante parti-
a rotulagem de alimentos.20 cipação cidadã e ampla discussão com a sociedade
Em 1998, quando da aprovação da PNAN, a civil. Foi também o desencadeador da formulação
preocupação com a segurança alimentar e as ações de outras políticas públicas no âmbito do Ministério
de combate à desnutrição eram muito presentes da Saúde.
Referências
22. Malta DC, Cezário AC, Moura L, Morais Neto OL, Silva Recebido em 19/01/2011
Júnior JB. A construção da vigilância e prevenção das Aprovado em 16/12/2011
doenças crônicas não transmissíveis no contexto do
Sistema Único de Saúde. Epidemiologia e Serviços de
Saúde. 2006; 15(3):47-65.
Karoline Rizzatti
Acadêmica de Medicina, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC, Brasil
Eleonora d’Orsi
Departamento de Saúde Pública, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC, Brasil
Resumo
Objetivo: descrever as características de exposição e medidas de proteção solar contra câncer da pele no município de
Florianópolis, estado de Santa Catarina, Brasil. Metodologia: estudo transversal, do Inquérito Domiciliar sobre Comporta-
mento de Risco e Morbidade Referida de Doenças e Agravos não Transmissíveis. Foram calculadas medidas de frequência
e aplicado o teste qui-quadrado. Resultados: dentre os 851 entrevistados, 77,1% declararam se expor ao Sol. A exposição
solar foi mais freqüente entre homens, jovens, solteiros e fisicamente ativos. Entre as medidas de proteção solar adotadas
pela população exposta ao Sol, a mais utilizada foi o filtro solar (36,7% das mulheres e 10,5% dos homens). A utilização de
filtro solar foi positivamente associada à escolaridade. Conclusão: a frequência de exposição ao Sol sem nenhum tipo de
proteção foi elevada. Estes dados visam a colaborar na implementação de políticas públicas específicas para o fator de risco
prevenível na carcinogênese do câncer da pele: a exposição inadequada ao Sol.
Palavras-chave: neoplasia cutânea/prevenção & controle; neoplasia cutânea/etiologia; luz solar/efeitos adversos; estudos
transversais.
Summary
Objective: to describe the characteristics of exposure and sun protection measures in Florianopolis/SC.
Methodology: it is a cross-sectional study with sun exposure data from the city of Florianópolis househould survey
Risk Behavior and Reported Morbity of Diseases and Harm non-transmissibles. Results: it was used simple frequencies
and proportions with chi-squared test. For this module 851 people were interviewed, while 77.1% are exposed to the
sun, more frequent among men, young, single and physically active. Among the sun exposure protection factors used
by the population exposed to the sun, sunscreen was the most used one (36,7% of women and 10,5% of men make
use). Conclusion: high scholarity level was associated with the use of sunscreen. The obtained results can colaborate
on the implementation of specific public policies for the most preventable risk factor on skin cancer carcinogenesis:
the inadequate exposure to sun.
Key words: skin neoplasm/prevention & control; skin neoplasm/etiology; sunlight/adverse effects; cross-sectional
studies.
ção de medidas fotoprotetoras adequadas. O Ministério contra a exposição excessiva à luz solar – e secundária
da Saúde (MS), por intermédio do INCA, recomenda a – diagnóstico precoce e tratamento oportuno.10
adoção de medidas preventivas básicas para diminuir O presente estudo propõe-se a descrever as carac-
os efeitos maléficos e deletérios da excessiva exposição terísticas epidemiológicas da exposição e medidas de
ao sol: evitar exposição solar entre as 10 e as 16 horas; proteção solar na população de Florianópolis.
usar chapéu, óculos escuros, camisa, viseiras, guarda-
sol, boné; aplicar filtro solar com fator de proteção Metodologia
(FPS) 15 ou mais, 30 minutos antes da exposição ou
ao sair da água – não se esquecer de proteger lábios Trata-se de um estudo observacional, transversal
e orelhas com protetor solar.1 e descritivo,11 realizado com dados do Inquérito Do-
As campanhas de prevenção do câncer da pele miciliar sobre Comportamento de Risco e Morbidade
são atividades de rastreamento para o diagnóstico Referida de Doenças e Agravos não Transmissíveis.12
precoce dessa doença, possibilitam tratamento rápido, Os dados analisados são da população residente
diminuição da morbidade e aumento da sobrevida do do município de Florianópolis-SC, entrevistada
paciente.7 para o referido Inquérito12 coordenado pelo INCA.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) A população-alvo foi composta por indivíduos com
promove, desde 1999, a Campanha Nacional de Pre- idade igual ou superior a 15 anos no momento da
venção ao Câncer da Pele, com exame dermatológico pesquisa.
e orientação sobre exposição, tendo registrado dados O Inquérito Domiciliar Sobre Comportamentos de
demográficos, hábitos de exposição solar e diagnósti- Risco e Morbidade Referida de Agravos não Transmis-
cos.7 Como achado demográfico, entre 1999 e 2005, síveis representa a linha de base necessária à consti-
foram verificados os maiores índices de câncer da pele tuição do Sistema de Vigilância de Comportamentos
nos estados de Tocantins, Rio Grande do Norte e Santa de Risco para Doenças e Agravos não Transmissíveis
Catarina, corroborando as estimativas do INCA, que (DANT), ação estratégica para o controle de agravos
prevê para Florianópolis e Natal as maiores incidências como hipertensão arterial, tabagismo, consumo de
do país para câncer da pele não melanoma.2 álcool, inatividade física, obesidade, hipercoleste-
No Brasil, nos anos de 2002 e 2003, foi realizado rolemia. O inquérito foi realizado com o objetivo
um Inquérito Domiciliar sobre Comportamento de de identificar os grupos mais vulneráveis às DANT e
Risco e Morbidade Referida de Doenças e Agravos orientar o enfoque das políticas e ações educativas,
não Transmissíveis,9 o qual, entre outros objetivos, legislativas e econômicas desenvolvidas, aumentando
avaliou as formas de proteção à radiação solar mais sua efetividade e eficiência.12,13
adotadas nas cidades que participaram do estudo. O modelo de amostragem adotado para a pesquisa foi
Esse inquérito representou a primeira tentativa de o de uma amostra auto-ponderada em dois estágios de
obter, em nível nacional, informação sobre nossos seleção, os setores censitários e os domicílios. A seleção
hábitos de proteção à exposição solar, contribuindo desses setores foi feita de forma sistemática, com probabi-
para melhorar o conhecimento do nível de exposição lidade de seleção proporcional ao número de domicílios
solar cumulativa no Brasil e fornecer subsídios para em cada um deles por ocasião do censo demográfico.
programas de prevenção em nível nacional.9 Uma seleção sistemática dos domicílios dentro dos
Conhecendo a importância da exposição solar no setores escolhidos também foi realizada. As entrevistas
desenvolvimento do câncer da pele, faz-se necessário aconteceram nos domicílios selecionados. As informações
um estudo que demonstre as características socioeco- sobre o domicílio foram fornecidas pelo responsável do
nômicas e demográficas mais relacionadas à exposição domicílio. Todos os moradores de 15 anos ou mais de
solar prolongada. idade residentes no domicílio foram contatados para a
Além da grande magnitude do problema, há evi- realização das entrevistas individuais.12,13
dências de uma tendência de aumento da morbidade e Para a cidade de Florianópolis, foram sorteados 45
mortalidade por câncer da pele, o que impõe sua con- setores censitários, e 12 domicílios por setor, totali-
sideração como problema de Saúde Pública, embora zando 540 domicílios. Nestes domicílios esperava-se
de controle factível pela prevenção primária – proteção encontrar 994 pessoas com 15 anos ou mais.12,13
Exposição solar
Variáveis N % Valor de p
Sim %
Sexo
Feminino 472 55,5 343 72,7
0,001
Masculino 379 44,5 313 82,6
Total 851 100,0 656 77,1
Faixa etária (anos)
15-24 194 22,8 169 87,1
25-39 258 30,3 195 75,6
<0,0010,000
40-59 287 33,7 222 77,4
60 ou mais 112 13,2 70 62,5
Total 851 100,0 656 77,1
Estado civil
Casado (a) /união consensual 479 56,3 355 74,1
Separado (a) /divorciado(a)/desquitado(a) 72 8,5 52 72,2
<0,0010,000
Solteiro (a) 248 29,1 219 88,3
Viúvo (a) 52 6,1 30 57,7
Total 851 100,0 656 77,1
Escolaridade
12 ou mais 258 31,3 217 84,1
9-11 217 26,4 173 79,7
<0,0010,000
5-8 156 19,0 120 76,9
0-4 192 23,3 124 64,6
Total 823 100,0 634 77,0
IMC
<25 Kg/m² 481 61,4 383 79,6
0,717
>25 Kg/m² 303 38,6 238 78,5
Total 784 100,0 621 79,2
Atividade física
Insuficientemente ativo 344 44,4 239 69,5
<0,0010,000
Suficientemente ativo 430 55,6 367 85,3
Total 774 100,0 606 78,3
464
Exposição solar
Variáveis Exposição solar (N) Lazer Trabalho Locomoção
N % Valor de p N % Valor de p N % Valor de p
Sexo
Feminino 343 269 78,4 108 31,5 197 57,4
0,807 <0,001 0,088
Masculino 313 243 77,6 144 46,0 159 50,8
Faixa etária (anos)
15-24 169 156 92,3 38 22,5 113 66,9
25-39 195 140 71,8 86 44,1 104 53,3
Perfil da exposição solar em Florianópolis-SC
associação. Quanto ao IMC, as pessoas com peso mais preocupadas com a estética e em evitar os efeitos
normal sofrem maior exposição solar durante o lazer maléficos do sol.4,9,14-17
(p<0,05), enquanto as pessoas com sobrepeso ou Em Florianópolis, a alta escolaridade relacionou-
obesidade apresentam maior exposição no trabalho se com maior exposição solar por motivo de lazer,
(p=0,05). diferentemente da região Centro-oeste, onde a expo-
A Tabela 3 apresenta três tipos de proteção utiliza- sição solar esteve mais relacionada a baixos níveis de
dos pelas pessoas que são expostas ao sol: sombra, escolaridade e motivos ocupacionais.9 Robinson e co-
filtro solar e chapéu. A sombra foi utilizada por 15,2% laboradores,18 em 1997, observaram que a exposição
dos expostos, o filtro solar, por 24,2%, e o chapéu, prolongada ao sol durante os finais de semana estava
por 18,8%. Em relação à proteção solar utilizando associada a maior renda e a trabalhos em ambientes
como método a sombra, a faixa etária foi a única internos; e a exposição prolongada durante a semana,
variável associada. ao menor grau de escolaridade e ao trabalho ao ar
Em relação ao filtro solar, são as mulheres as que livre. Sabe-se, conforme aumenta o nível de escolari-
mais o utilizam como instrumento de proteção. Das dade, do ensino fundamental ao superior, eleva-se o
pessoas com 40 a 59 anos de idade expostas ao sol, percentual de indivíduos conhecedores dos danos ou
31,5% usam filtro solar. Esta foi a maior proporção en- consequências da fotoexposição.14
contrada entre as faixas etárias. Sobre a escolaridade, A escolaridade pode ser utilizada para inferir o nível
existe diferença significativa entre o uso de filtro solar: socioeconômico da população, como observado em
35,5% das pessoas com 12 ou mais anos de estudo estudos, principalmente no que se refere a medidas
utilizam-no, frente à adesão de tão-somente 12,1% das protetoras como uso de filtro solar.9 Duquia e colabo-
pessoas com até 4 anos de escolaridade. radores,16 em estudo realizado na cidade de Pelotas-RS,
No uso de chapéu, percebe-se uma associação com observaram uma relação positiva entre uso de filtro
sexo, faixa etária e prática de atividade física. Entre os solar e maior escolaridade. A exposição solar em situ-
homens, 21,1% utilizam o acessório como forma de ações de lazer, como em praias e prática de esportes,
proteção à exposição solar, homens e mulheres com foi maior entre a população de maior escolaridade,
60 anos ou mais de idade são quem mais usa chapéu enquanto no trabalho, a população mais exposta foi
(27,1%), assim como 19,9% das pessoas suficiente- a de menor escolaridade.16 Ainda foi constatado que
mente ativas. os trabalhadores são o grupo de maior risco para os
danos cumulativos causados pela radiação UV: eles que
Discussão se expõem mais são, todavia, os que menos utilizam
medidas de proteção.
Os resultados obtidos em nosso estudo podem Em nosso país o filtro solar ainda é um produto
ser comparados àqueles obtidos no estudo de Szklo caro por receber a classificação de cosmético e por
e colaboradores,9 que analisaram o comportamento isso recebe inúmeras taxações sendo muitas vezes
relativo à exposição e proteção solar na população inacessível a população de menor renda. O SunSmart
brasileira. Corroborando as conclusões desse estudo, Program,19 implementado na Austrália há mais de 20
Florianópolis apresentou maior prevalência de expo- anos, teve como um dos objetivos a pressão constante
sição solar no sexo masculino e indivíduos jovens. para a redução do custo dos filtros solares, acompa-
Em outro estudo realizado por Costa & Weber,4 entre nhando as campanhas de proteção solar.
universitários de Porto Alegre-RS, a maioria que não Florianópolis foi a capital com maior prevalência
usava filtro solar era de homens (62,5%) com menos de uso de filtros solares entre todas as outras capitais
de 25 anos (85,0%). brasileira, seguida de Curitiba-PR e Vitória-ES. A ca-
O sexo feminino associou-se, no presente estudo, pital do Estado do Pará, Belém, registrou os menores
com menor exposição solar e maior uso de medidas índices de uso de filtro solar.9 Segundo o sistema de
de proteção ao sol, principalmente uso de filtro solar. Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças
Essa constatação não é nova, muitos outros estudos Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel),20 realizado
demonstraram que as mulheres utilizam protetor solar em 2009, Florianópolis é a cidade brasileira pesqui-
no dia-a-dia mais frequentemente do que os homens, sada que conta com as maiores frequências de adulto
466
Proteção ao sol
Exposição solar
Variáveis Sombra Filtro Chapéu
(N)
N % Valor de p N % Valor de p N % Valor de p
Sexo
Feminino 343 57 16,6 126 36,7 57 16,6
0,742 <0,0010,000 0,028
Masculino 313 43 13,7 33 10,5 66 21,1
Faixa etária
15-24 anos 169 16 9,5 24 14,2 20 11,8
Perfil da exposição solar em Florianópolis-SC
que referem se proteger da radiação ultravioleta: dos mais atraente, de que o bronzeamento traz benefícios à
adultos florianopolitanos entrevistados, 59,2% utilizam saúde e de que o bronzeamento prévio previne os efeitos
algum tipo de proteção ao sol. indesejáveis de futuras exposições ao sol.21
Assim como observado nas demais capitais bra- No que concerne à atividade física, os indivíduos su-
sileiras os jovens florianopolitanos são a faixa etária ficientemente ativos foram os mais expostos ao sol. Em
mais vulnerável à exposição solar sem proteção. A estudo realizado em academias de ginástica de Recife,
literatura é farta em estudos comprovando que os encontrou-se a seguinte frequência de exposição solar:
jovens se expõem ao sol por um período maior, em 48,5% dos sujeitos se expunham à ação solar eventual;
horários de alta índices de radiação UV e sem o uso 36,1%, nos finais de semana; e 15,5% diariamente. Do
adequado de medidas de proteção.4,14,21 Haack e cola- total de entrevistados que se expunham ao sol, somente
boradores22 relataram a prevalência de queimaduras 29,9% utilizavam filtro solar diariamente.14 No estudo
solares em jovens moradores de Pelotas-RS, de 10 a ora apresentado, a relação entre atividade física e uso
29 anos de idade, entre outubro e dezembro de 2005, de filtro solar e procura por sombra não mostrou
e observou ao menos um episódio de queimadura associação; já o uso de chapéu, sim.
solar em 48,0%, e três ou mais episódios de quei- Lawler e colaboradores,17 em um trabalho sobre
madura em 24,0%. Aproximadamente metade dos atividade física, comportamento de proteção ao sol e
entrevistados não fez uso de fotoprotetor no período preocupação com exposição solar, observaram que
estudado e apenas 29,0% o utilizaram sempre quando as mulheres relataram uso mais frequente de filtro
expostos ao sol. solar e procura por sombra durante atividade física
As crianças e os adolescentes menores de 15 ao ar livre, enquanto os homens referiram maior uso
anos não foram pesquisados neste inquérito. Esse de chapéu. A preocupação com a exposição solar
grupo, porém, é o mais vulnerável: estima-se que foi associada com menor atividade física: as pessoas
50,0 a 80,0% dos danos causados à pele pelo sol classificadas com alto grau de preocupação sobre
ocorram durante a infância e adolescência, quando exposição ao sol eram 370% menos comprometidas
a intensa e intermitente exposição solar é causa de com atividades físicas, frente àquelas sem qualquer
queimaduras relacionadas ao aumento do risco de preocupação quanto a essa exposição. De acordo
desenvolver melanoma na fase adulta.23 Estudo reali- com os autores, os indivíduos inativos estavam mais
zado com crianças italianas24 revelou que 99,0% das preocupados com a exposição solar e lesões de pele
310 crianças com 6 a 14 anos de idade referiram não causadas pelo sol, sendo isso uma barreira para se
ter medo dos efeitos do sol e somente 60,0% delas tornarem fisicamente ativos.
usavam constantemente filtro solar. No contexto da O IMC, apesar de não apresentar dados estatis-
exposição solar em crianças e adolescentes, estudos ticamente significativos quanto à exposição solar e
mostram que a informação dos pais sobre os métodos fotoproteção em nosso estudo, possivelmente reflete
de proteção adequada promove a redução da inci- uma relação inversa com a intensidade de atividade
dência de queimaduras em seus filhos,24 provocada física. Szklo e colaboradores 9 encontraram, em
pelo sol; e que, quanto maior a idade das crianças seu trabalho, essa mesma constatação; ademais,
por ocasião da orientação, mais elas se tornam in- verificou-se que, entre os indivíduos com índice de
dependentes da supervisão dos pais e, com as suas massa corpórea ≥25kg/m2, havia menor proporção
próprias ideias, aumentam os riscos de exposição de uso de filtro solar quando comparada à dos in-
incorreta e perigosa ao sol.25 divíduos de IMC<25kg/m2. Esse fato está associado,
O hábito de bronzear-se nas praias de Florianópolis provavelmente, à combinação de fatores como menor
pode ter contribuído para os resultados encontrados cuidado com a saúde e maior dificuldade de aplicação
aqui. Apesar de algum conhecimento sobre os riscos adequada do filtro solar.
da exposição excessiva à radiação solar e as práticas Em países como a Austrália, onde a incidência de
visando à proteção da pele, prevalece o costume de câncer da pele é muito elevada, observou-se redução
expor-se intencionalmente ao sol. O comportamento das da exposição dos indivíduos ao sol no decorrer dos
pessoas em relação ao bronzeado é alimentado, em par- últimos anos. Essa redução é resultado de longos
te, pela crença de que a pele bronzeada torna a pessoa anos de campanha e ações efetivas para aumentar a
proteção ao sol, e do planejamento de áreas urbanas específicas para o fator de risco mais prevenível
que proporcionem opções de sombra aos cidadãos na carcinogênese do câncer da pele: a exposição
como forma de promoção a saúde, através do Creating inadequada a radiação UV.
Shade at Public Facilities – Policy and Guidelines for Aos trabalhadores expostos ao sol, há urgên-
Local Government.26 cia em informar e conscientizar a respeito de
O presente estudo está sujeito a limitações carac- medidas educativas para redução de exposição
terísticas dos estudos transversais, particularmente desprotegida.
aquelas relacionadas à temporalidade e possibilidade As medidas educativas quanto à proteção ao sol
de informação, uma vez que o estudo deriva de infor- devem ser entendidas a toda população, como o
mações auto-referidas pelos entrevistados. estímulo ao uso de chapéus, sombrinhas e filtro
Os resultados obtidos com este trabalho escla- solar. A arborização de espaços públicos deve fazer
recem o perfil de exposição solar na população parte do planejamento da infraestrutura da cidade,
da cidade de Florianópolis. Esses dados objetivam ampliando a proteção em todas as situações de
colaborar na implementação de políticas públicas exposição solar.
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Factors Associated with the Components of Fitness and Physical Activity Level in Users of
Family Health Strategy, Municipality of Botucatu, state of São Paulo, Brazil, 2006 to 2007
Edilaine Michelin
Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição, Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de Botucatu,
Universidade Estadual Paulista, Botucatu-SP, Brasil
Resumo
Objetivo: diagnosticar o nível de atividade, aptidão física e fatores associados entre usuários da Estratégia Saúde da Fa-
mília (ESF) do distrito de Rubião Jr., município de Botucatu-SP, Brasil, entre 2006 e 2007. Metodologia: estudo transversal
que avaliou níveis de atividade física (NAF), informações demográficas, socioeconômicas e estado de saúde (NAF-IPAQ 8),
composição corporal [índice de massa corporal (IMC) e circunferência abdominal (CA)], flexibilidade de tronco (FLEX) e
força de preensão manual (FPM) entre os 394 usuários da ESF (35-85 anos de idade) estudados. Resultados: observou-se
baixo e alto NAF em, respectivamente, 17,0% e 36,3% da amostra, com maior inaptidão para flexibilidade (77,2%) do que
para FPM (48,4%); no modelo de regressão logística ajustado, indivíduos com estado de saúde regular/ruim apresentaram
60,0% menos chance de terem NAF alto, e mulheres e indivíduos com CA alterada tiveram, respectivamente, 90,0% e 60,0%
menos chances de inaptidão para FPM; indivíduos com escolaridade até o ensino fundamental e má percepção de saúde
tiveram, respectivamente, 3,2 e 2,7 vezes mais chance de terem FPM ruim. Conclusão: o conhecimento do perfil de atividade
e aptidão física nas ESF pode contribuir para o diagnóstico de saúde de seus usuários.
Palavras-chave: atividade motora; aptidão física; questionários; atenção primária à saúde; estudos transversais.
Summary
Objective: to diagnose physical activity level and fitness, and related factors among users of the Family Health
Strategy (FHS) of Rubião Junior District, Municipality of Botucatu-SP, Brazil, from 2006 to 2007. Methodology: a
cross-sectional study that evaluated physical activity levels (PAL), demographic, socioeconomic, and health conditions
(PAL-IPAQ-8), body composition [Body Mass Index (BMI), and waist circumference (WC)], trunk flexibility (FLEX),
and handgrip strength (HGS) of 394 FHS studied users (aged 35-85 years). Results: there was a low and high PAL in,
respectively, 17.0% and 36.3% of the sample with greater unfitness for flexibility (77.2%) than HGS (48.4%); after ad-
justment of the regression model, individuals with fair/poor health had 60.0% less likely to show high PAL, and women
and individuals with altered WC showed, respectively, 90.0% and 60.0% less chance of being unfit for HGS; individuals
with education level until elementary school and poor health perception showed, respectively, 3.2 and 2.7 times more
likely to have bad HGS. Conclusion: the knowledge of FHS’s activity and physical fitness profile may contribute to
health diagnosis of their users.
Key words: motor activity; physical fitness; questionnaires; primary health care; cross-sectional studies.
usual ou nos últimos sete dias.23 A classificação do NAF (grupo referência) e Ruim; e FPM – ótimo/bom (grupo
obedeceu às orientações fornecidas pelo Guidelines referência) e ruim.
for Data Processing and Analysis of the International Utilizou-se análise de frequência para as variáveis
Physical Activity Questionnaire (IPAQ) – Short and qualitativas (sexo; faixa etária; estado civil; estado de
Long Forms, o qual considera: a) baixo NAF menos que saúde; renda familiar; escolaridade) e categorizadas
150 minutos/semana, b) moderado NAF o daqueles (IMC; CA; FLEX; FPM; e NAF), para caracterização da
que acumulam pelo menos 150 minutos/semana e c) amostra.
alto NAF indivíduos que acumulam pelo menos 750 Utilizou-se o teste de qui-quadrado (χ2) para
minutos/semana em atividades vigorosas, moderadas verificar a associação dos desfechos NAF alto e baixo
e caminhadas.24 e das inaptidões de flexibilidade e força com fatores
Optou-se pela aplicação do questionário na for- demográficos, socioeconômicos e antropométricos.
ma de entrevista individual. Desta forma, colhe-se Considerando-se os mesmos desfechos, utilizou-se
exemplos de atividades comuns à população entre- modelo de regressão logística múltipla para ajuste de
vistada e não se incorre no risco de incompreensão, possíveis fatores de confusão, considerando NAF alto
por essa população, dos termos técnicos contidos versus baixo/moderado e NAF baixo versus moderado/
em um questionário lido, a ser preenchido. Outro alto; e para aptidão, NAF ruim versus ótimo/bom.
fator que contribuiu para essa opção foi o fato de a O programa utilizado foi SAS for Windows, versão
recusa em responder às questões ser menor, quan- 9.1, e o nível de significância adotado para todos os
do comparada à de outras formas de aplicação de testes foi de 5% ou p-valor correspondente.
questionário.14
Peso corporal e estatura foram aferidos segundo Considerações éticas
as técnicas preconizadas por Heyward & Stolarczyk;25 Os usuários da ESF de Rubião Junior, Botucatu-SP,
e o índice de massa corporal (IMC), calculado por na qualidade de participantes, assinaram Termo de
meio do quociente peso/estatura². A classificação para Consentimento Livre e Esclarecido sobre a proposta e
IMC, bem como a medida da circunferência abdominal procedimentos do estudo. A coleta de dados ocorreu
(CA), seguiram as recomendações da Organização no período de outubro de 2006 a setembro de 2007,
Mundial da Saúde (OMS): IMC maior que 25kg/m2 de maneira a evitar vieses de sazonalidade.
foi considerado alterado; e foi adotado, como ponto Os preceitos éticos da Resolução nº 196/96 foram
de corte para risco cardiovascular, CA acima de 88cm seguidos e o estudo recebeu parecer favorável do Co-
para mulheres e de 102cm para homens.26 mitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina
Como indicadores funcionais da aptidão física, de Botucatu/UNESP em 4 de setembro de 2006, sob
avaliaram-se a flexibilidade de tronco (FLEX) pelo teste nº OF. 460/2006.
de sentar e alcançar; e a força de preensão manual
(FPM) foi aferida por dinamômetro hidráulico com Resultados
escala de 0 a 100kg, cujo valor adotado é a máxima
pressão exercida com o membro dominante em três Foram avaliados 394 usuários da ESF de Rubião Jr.
tentativas. Para ambas as aptidões, adotaram-se clas- com média de idade de 53,9±11,6 anos e detectou-se
sificações segundo sexo e idade.27,28 baixo e alto NAF em, respectivamente, 17,0% e 36,3%
As variáveis foram assim categorizadas: NAF – baixo, da amostra. Houve predomínio de indivíduos do sexo
moderado e alto; sexo – masculino (grupo referência) feminino, idade inferior a 60 anos, casados, renda
e feminino; faixa etária – <60 anos (grupo referência) familiar de até dois salários mínimos, ensino funda-
e ≥60 anos; estado civil – casado (grupo referência) mental, estado de saúde regular e ruim e inaptidão
e outros; escolaridade – ensino fundamental e ensino para flexibilidade (Tabela 1).
médio/superior (grupo referência); estado de saúde No presente estudo, optou-se por analisar somente
– excelente/muito bom/bom(E/MB/B, grupo refe- NAF baixo e alto, pretendendo, dessa forma, avaliar
rência) e regular/ruim (Reg/Ru); IMC – ≤24,9kg/m2 apenas aqueles indivíduos pouco ou muito ativos. Entre
(grupo referência) e >25kg/m2; CA – normal (grupo os indicadores estudados, estado de saúde mostrou as-
referência) e alterada –; flexibilidade – ótimo/bom sociação positiva com NAF baixo (χ2=9,5; p=0,0021).
Estado de saúde: E, excelente; MB, muito bom; B, bom; Reg, regular; Ru, ruim.
Todavia, após ajuste do modelo de regressão logística, todas as possíveis variáveis confundidoras, apenas
a referida associação perdeu significância e isso se os indivíduos com percepção de saúde regular/ruim
deve à inclusão no modelo de todos os possíveis fatores apresentaram 60,0% menos chances de terem NAF
confundidores (Tabela 2). alto, enquanto as demais variáveis deixaram de ser
O NAF alto associou-se negativamente com idade significantes (Tabela 2).
(χ2=6,1; p=0,0132) e estado de saúde (χ2=14,4; Quanto às aptidões físicas, força de preensão
p=0,001) e CA (χ2=6,0; p=0,0140). Porém, após manual ruim mostrou associação negativa com sexo
ajuste de modelo de regressão logística, incluindo (χ2=40,2; p<0,0001), CA (χ2=17,5; p<0,0001),
Tabela 2 - Ajuste do modelo de regressão logística do nível de atividade física e indicadores demográficos,
socioeconômicos, antropométricos e de aptidão física de adultos usuários da Estratégia de Saúde da
Família de Rubião Júnior (n=394), município de Botucatu-SP. Brasil, 2006 a 2007
IMC (χ 2=4,1; p=0,0431); e associação positiva Após ajuste do modelo de regressão, incluídos todos
com faixa etária (χ2=10; p=0,0016), escolaridade os possíveis fatores confundidores, encontrou-se que
(χ2=3,9; p=0,0480) e estado de saúde (χ2=5,4; mulheres e indivíduos com CA alterada mostraram,
p=0,0201). respectivamente, 90,0% e 60,0% menos chances de
Tabela 3 - Ajuste do modelo de regressão logística para flexibilidade de tronco (n=259) e força de preensão
manual (n=289) com indicadores demográficos, socioeconômicos, antropométricos e de aptidão
física de adultos usuários da Estratégia de Saúde da Família de Rubião Júnior, município de
Botucatu-SP. Brasil, 2006 a 2007
Inaptidãoa
Indicadores Flexibilidade Força de preensão manual
OR (IC95%) b OR (IC95%) b
Sexo
Masculino 1,0 1,0
Feminino 1,8 (0,7-4,2) 0,1 (0,06-0,3)
Faixa etária
<60 anos 1,0 1,0
≥60 anos 0,7 (0,4-1,4) 1,7 (0,8-3,4)
Estado civil
Casado 1,0 1,0
Outros 1,4 (0,7-2,9) 1,5 (0,7-3,1)
Renda familiar
> 2SM 1,0 1,0
≤2SM 0,8 (0,4-1,7) 0,8 (0,4-1,7)
Escolaridade
Médio/Superior 1,0 1,0
Fundamental 0,6 (0,2-2,1) 3,2 (1,02-10,1)
Estado de saúdec
E/MB/B 1,0 1,0
Reg/Ru 1,7 (0,9-3,3) 2,7 (1,3-5,3)
Índice de massa corporal
≤24,9 kg/m2 1,0 1,0
>25 kg/m2 1,4 (0,6-3,4) 0,9 (0,4-2,4)
Circunferência abdominal
Normal 1,0 1,0
Alterada 1,4 (0,6-3,5) 0,4 (0,2-0,9)
Flexibilidade
Ótimo/bom – 1,0
Ruim – 1,5 (0,7-3,3)
Força de preensão manual
Ótimo, bom 1,0 –
Ruim 1,6(0,7-3,4) –
a) ruim versus bom/ótimo; p<0,05.
b) OR, odds ratio; IC, intervalo de confiança;
c) Estado de saúde: E, excelente; MB, muito bom; B, bom; Reg, regular; Ru, ruim.
serem inaptas para FPM. De maneira semelhante, regressão, incluindo todas as variáveis estudadas,
indivíduos com escolaridade até o ensino fundamental não foi possível determinar a magnitude dessa
e má percepção de saúde exibiram, respectivamente, associação (Tabela 3).
3,2 e 2,7 vezes mais chances de apresentarem FPM
ruim. As associações com faixa etária e IMC não foram Discussão
confirmadas pela análise de regressão (Tabela 3).
Flexibilidade de tronco ruim associou-se ne- A amostra, de conveniência, com abordagem em
gativamente com sexo χ 2=5,5; p=0,0192) e CA sala de espera contou com a participação de 394
(χ 2=4,5; p=0,0341). Contudo, após ajuste de usuários da ESF os quais representaram 12,0% dos
homens, 32,0% das mulheres, 20,4% com menos de de lazer poderiam ser explicadas pela existência, há
60 anos e 25,4% com idade igual ou superior a 60 quatro anos, de programa de mudança de estilo de vida
anos dos indivíduos cadastrados na ESF. (exercício físico diário e orientação nutricional), ofe-
Sugere-se precaução na extrapolação dos resul- recido a todos os indivíduos cadastrados na ESF local
tados desta pesquisa para a população geral, em e conduzido por equipe multiprofissional do Centro
razão das diferenças no padrão cultural e estilo de de Metabolismo em Exercício e Nutrição, vinculado
vida específicos da amostra. Outra limitação é o tipo ao Departamento de Saúde Pública da Faculdade de
de amostra, de conveniência, com abordagem em Medicina de Botucatu-SP, além de a amostra ser predo-
sala de espera e que, embora pareça tendenciosa, minantemente composta por mulheres de baixa renda,
atingiu indivíduos que realmente se utilizavam dos responsáveis pelos serviços domésticos.
serviços públicos de saúde, mais especificamente Os resultados observados estudo foram plausíveis.
da Atenção Primária, não representativa da popu- Trata-se de uma população de baixa renda (59,4%),
lação de fato. usuária dos serviços públicos de saúde, que tem como
Dos avaliados, apenas 17,0% apresentaram baixo atividades físicas cotidianas a caminhada – como meio
NAF e tais resultados não são consistentes com estu- de transporte – e a realização de tarefas domésticas
dos que detectaram atividade física insuficiente em para elevar seu nível de atividade física, e ademais,
amostra populacional de Joaçaba-SC – 57,4% –11 e conta com exercícios físicos diários para os interes-
entre indivíduos residentes em Pelotas-RS – 41,1%.14 sados no programa.
Sedentários e insuficientemente ativos totalizaram A utilização de questionários como método diag-
46,4% da população do estado de São Paulo.15 Pes- nóstico do nível de atividade física pode não ser o
quisa nas capitais dos estados brasileiros e Distrito ‘padrão-ouro’ e, dessa forma, significar uma limita-
Federal observou maior prevalência de indivíduos ção da metodologia adotada, porém se mostra um
fisicamente inativos em Rio Branco-AC (22,1%) e instrumento viável em estudos populacionais. O IPAQ
menor em Manaus-AM (10,7%),13 ademais de encon- – testado em 12 países, inclusive o Brasil – foi criado
trar 31,8% de sedentarismo em adultos residentes em para produzir medida de atividade física mundialmente
áreas de abrangência de unidades básicas de saúde comparável, o que o torna altamente recomendável,23
de duas regiões do país.3 embora ainda seja necessário padronizar os termos
A maioria dos estudos supracitados utilizou a versão utilizados, principalmente quando se trata da classifi-
curta do IPAQ, a qual tende a superestimar a inativida- cação do nível de atividade física.
de física.11,14,23 Diante de tal constatação, no presente A associação entre níveis de atividade física e
estudo, optou-se pela versão longa do instrumento indicadores demográficos e socioeconômicos vem
buscando, assim, distinguir atividades de transporte, despertando o interesse de epidemiologista e profis-
ocupacionais, de lazer e tarefas domésticas. sionais ligados à Saúde Pública. No presente estudo,
Nos países em desenvolvimento, as atividades físicas indivíduos com percepção de saúde regular/ruim
no trabalho e meio de transporte ativo representam exibiram 60,0% menos chances de terem alto NAF, re-
parcela substancial na atividade física total dos indiví- sultados que corroboram aqueles obtidos em pesquisa
duos,14 confirmando os dados apurados no presente com industriários de Santa Catarina29 e em adultos e
estudo, os quais mostraram que a inexistência de idosos das áreas de abrangência de unidades básicas
atividades físicas vigorosas e moderadas no trabalho, a de saúde de municípios das regiões Sul e Nordeste
não utilização da bicicleta e da caminhada como meios do Brasil:3 os dois estudos detectaram percepção de
de transporte e, também, o fato de não constarem saúde positiva naqueles com maiores níveis de NAF,
registros de tarefas domésticas moderadas externas e vice-versa.
foi determinante para o baixo NAF (resultados não A inaptidão para FLEX atingiu mais de 2/3 da amos-
mostrados). tra e apresentou significativa associação com sexo.
Contrariamente, NAF alto (36,3%) foi definido pela Por exemplo, a avaliação da aptidão física de adultos
presença de caminhadas e atividades físicas moderadas participantes de projeto de extensão universitária e
no lazer e tarefas domésticas moderadas internas e um estudo com 8.116 adultos canadenses observaram
externas (resultados não mostrados). As atividades menor FLEX no sexo masculino do que no feminino.16,19
Esse indicador não se apresenta como preditor sig- Diante do exposto e da estreita relação da FPM com
nificativo de mortalidade;20 por ser específico para as atividades da vida diária, com qualidade de vida e
cada articulação, a relação da FLEX – em diferentes mortalidade, a FPM merece atenção das autoridades
articulações – com saúde ou mortalidade constitui em saúde, podendo ser adotada como indicador de
importante área para futuras pesquisas. saúde. Seu método de avaliação simples, relativamente
Os achados do presente estudo apuraram FPM barato e não invasivo poderia, facilmente, ser inserido
deficiente em aproximadamente metade da amostra, na prática das ESF.
e associação com sexo: as mulheres apresentaram O acesso e qualidade dos serviços prestados pelo SUS,
90,0% menos chances de serem inaptas para esse enfatizando o fortalecimento e qualificação da Saúde da
componente quando comparadas aos homens. Estudos Família, a promoção, informação e educação em saúde
com adultos participantes de projeto de extensão uni- com ênfase nas promoções da atividade física e hábitos
versitária e com amostra representativa da população alimentares saudáveis, o controle do tabagismo e do uso
adulta canadense mostraram o sexo masculino mais abusivo de álcool e os cuidados especiais direcionados ao
forte do que o feminino.16,19 Possível explicação para processo de envelhecimento são prioridades do Ministério
nossos resultados é a constituição da amostra, de da Saúde e se encontram no Pacto pela Vida.4 No que diz
conveniência e de predominância feminina. respeito à atividade física, a inserção dos Núcleos de Apoio
Indivíduos com CA alterada exibiram 60,0% menos à Saúde da Família – NASF –, em fase de estruturação, com
chances de terem FPM regular/ruim. Sabe-se que indivídu- a efetiva participação de profissionais de educação física na
os idosos são mais acometidos por perda de massa muscu- prescrição e orientação de atividade física, é promissora.
lar e consequente aumento de gordura corporal, inclusive Contrariando as estatísticas populacionais brasi-
a visceral, o que resulta em redução da força muscular. leiras, a amostra estudada apresentou prevalência
A presente amostra apresentou 69,3% de indivíduos com reduzida de baixo nível de atividade física e isso se
menos de 60 anos de idade, ou seja, adultos com massa deve, principalmente, às tarefas domésticas, meios
muscular preservada, resultando na manutenção da força de transportes ativos e à prática de exercícios físicos
independentemente do acúmulo de gordura. diariamente, por esses indivíduos.
Quase 90,0% dos indivíduos avaliados apresen- Conhecer o perfil de atividade física nas ESF e fato-
taram escolaridade até o ensino fundamental e esse res associados pode contribuir para o planejamento
nível educacional aumentou em 3,2 vezes as chances de ações e políticas públicas que minimizem os efeitos
de a amostra apresentar FPM ruim. Essa deve ser deletérios da inatividade física na saúde dos usuários
considerada uma característica peculiar da presente da rede básica de saúde.
amostra, pois indivíduos com maior escolaridade são A proposta de avaliação da aptidão física também
aqueles que, normalmente, apresentam menor força, acrescenta informações objetivas relacionadas à saúde
por referirem mais atividades cotidianas sedentárias. e pode trazer contribuições preciosas ao diagnóstico
A percepção de saúde regular/ruim apontou para de saúde dos usuários das ESF.
2,7 vezes mais chances de os indivíduos serem inap-
tos para FPM. Por ser uma aptidão bastante utilizada Agradecimentos
nas atividades da vida diária, a força muscular,
quando diminuída, pode impactar negativamente a Ao Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São
percepção de saúde. Paulo – FAPESP –, pelo apoio financeiro a este estudo.
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Recebido em 28/02/2011
Aprovado em 09/12/2011
Ivo Brito
Coordenação-Geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, Departamento de Análise de Situação de Saúde, Secretaria de
Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília-DF, Brasil
Martha Rabelo
Ministério da Educação, Brasília-DF, Brasil
Resumo
Objetivo: descrever as orientações recebidas pelos adolescentes na escola quanto a saúde sexual, DST/aids, prevenção de gravidez
e aquisição gratuita de preservativos. Metodologia: inquérito populacional realizado por meio de amostra por conglomerados em
dois estágios, totalizando 60.973 alunos do 9º ano do ensino fundamental de escolas públicas e privadas das 26 capitais de estados
brasileiros e o Distrito Federal. Resultados: 89,4% (IC95%: 88,5-90,2) dos alunos das escolas privadas e 87,5% (IC95%: 86,9-88,0)
das escolas públicas relataram ter recebido orientação na escola sobre doenças sexualmente transmissíveis; sobre gravidez na
adolescência, não houve diferenças entre as escolas privadas 82,1% (IC95%: 81,1-83,1) e as públicas 81,1% (IC95%: 80,5-81,8); e
com relação à informação sobre a aquisição gratuita de preservativo, a maior frequência foi em escolas públicas, 71,4% (IC95%:
70,7-72,2), comparativamente às privadas, 65,6% (IC95%: 64,2-66,7). Conclusão: constatou-se que o tema tem sido abordado nas
escolas, podendo contribuir para a mudança de comportamentos relacionados a sexualidade.
Palavras-chave: comportamento sexual; adolescente; medicina reprodutiva; gravidez na adolescência.
Summary
Objective: to describe the guidance received by adolescents on guidance at school on sexual health STD/AIDS, pregnancy
prevention and free condom acquisition. Methodology: population inquire performed with a sample by conglomerates, in
two stages, of 60,973 students in the 9th year of the basic level, at public and private schools in 26 Brazilian State capitals
and the Federal District. Results: 89.4% (CI95%: 88.5-90.2) of the students of private schools and 87.5% (CI95%: 86.9-88.0)
of public schools reported having received guidance at school on sexually communicable diseases; on pregnancy in adoles-
cence, there was no difference between private 82.1% (CI95%: 81.1-83.1) and public schools, 81.1% (CI95%: 80.5-81.8); and on
free condom acquisition, the greater frequency was in public, 71.4% (CI95%: 70.7-72.2), rather than private schools, 65.6%
(CI95%: 64.2-66.7). Conclusion: the authors found that the theme has been approached in schools, contributing for behavior
changes related to sexuality.
Key words: sexual behavior; adolescents; reproductive medicine; pregnancy in adolescence.
Outra ação para monitoramento dos escolares Foi utilizado o Personal Digital Assistant (PDA)
consiste na parceria firmada pelo Ministério da Saúde para coleta dos dados individuais. O questionário
e a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís- estruturado, auto-aplicável, contém módulos temáticos
tica (IBGE), com apoio do MEC, para a realização da sobre diversos fatores de risco e proteção; entre eles,
primeira Pesquisa Nacional de Saúde do Adolescente no tema da Sexualidade, sobre orientações recebidas
(PeNSE) em 2009. O objetivo da pesquisa foi ampliar na escola acerca de DST/aids e uso de preservativo.
o conhecimento sobre a saúde desta população, Neste estudo, são analisados os seguintes indica-
contendo informações sobre alimentação, atividade dores: a) orientação na escola sobre prevenção de
física, iniciação sexual, orientações recebidas na escola gravidez (% de escolares que receberam orientação na
sobre estes temas, dentre outros. A pesquisa visa gerar escola sobre prevenção à gravidez); b) orientação na
evidências para orientar ações de promoção da saúde escola sobre DST/aids (% de escolares que receberam
neste grupo etário. orientação na escola sobre DST/aids); e c) orientação
Neste sentido, o objetivo deste trabalho é descrever na escola sobre aquisição gratuita de preservativo (%
as orientações recebidas pelos adolescentes na escola de escolares que receberam orientação na escola sobre
quanto a saúde sexual, DST/aids, prevenção de gravidez aquisição gratuita de preservativo).
e aquisição gratuita de preservativos a partir da PeNSE. Os resultados foram descritos para o conjunto das
capitais brasileiras e o Distrito Federal e em seguida
Metodologia analisados segundo a ocorrência por capitais e de-
pendência administrativa: pública e privada. O estudo
Trata-se de estudo descritivo de corte transversal que atual descreve frequências simples, com intervalo de
utilizou dados da primeira Pesquisa Nacional de Saúde confiança de 95,0% das variáveis. Foi utilizado o pacote
do Escolar (PeNSE), realizada entre escolares do 9ª ano estatístico SPSS (versão 8.0.0).12
(8º série) do ensino fundamental de escolas públicas e
privadas das capitais dos estados brasileiros e do Distrito Considerações éticas
Federal, entre março e junho de 2009. A escolha dessa O Estudo foi aprovado no Conselho de Ética em
série deve-se ao fato de ser nessa época da vida que os Pesquisas do Ministério da Saúde, sob a emenda nº
alunos iniciam a novas práticas, exposição a fatores de 005/2009, referente ao Registro nº 11.537 do CO-
risco – como tabaco, álcool – e iniciação sexual. Pela NEP/MS em 10/06/2009. A realização do estudo foi
escolarização nessa faixa etária, o questionário pode precedida do contato com as secretarias de estado e
ser auto-preenchido e ademais, alunos com idade se- municipais de educação e com a direção das escolas
melhante são pesquisados por outros países, facilitando selecionadas em cada município.
a comparabilidade internacional.10 O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a
Foi desenhada uma amostra de alunos por con- autonomia do adolescente para tomar iniciativas como
glomerados, em dois estágios; no primeiro estágio, responder a um questionário que não ofereça riscos
foi feita a seleção de escolas; e no segundo, a seleção a sua saúde. Como a pesquisa visa subsidiar políticas
de turmas, pesquisando todos os alunos das turmas de proteção à saúde para essa faixa etária, optou-se
selecionadas.7,10 Utilizou-se o cadastro do Censo Es- pela autonomia do adolescente em definir sobre sua
colar 2007.11 participação na pesquisa. O estudante escolhia parti-
A amostra foi calculada para fornecer estimativas de cipar – ou não – e poderia responder o questionário
proporções (ou prevalências) de algumas característi- completo ou em parte. Todas as informações do aluno
cas de interesse, em cada um dos estratos geográficos, foram confidenciais e não identificadas, bem como as
com um erro máximo de 3 pontos percentuais e nível da escola.10
de confiança de 95,0%.7,10
Em cada uma das turmas do 9º ano (8º série) Resultados
selecionadas, todos os alunos foram convidados a
responder ao questionário da pesquisa. Aqueles que Foram selecionadas para a pesquisa 1.453 escolas
não se sentiam motivados a preencher o questionário e 2.175 turmas, nas quais havia 68.735 alunos fre-
eram dados como perda. quentes: 63.411 estavam presentes no dia da coleta,
totalizando 7,7% de perdas nessa etapa. Foram ex- e alunos das escolas públicas, 81,1% (IC95%: 80,5-
cluídos da amostra 501 estudantes que se negaram a 81,8). Nas escolas privadas, as maiores frequências
participar e aqueles que não preencheram a variável foram em: Salvador-BA, 90,2% (IC95%: 86,9-93,5);
sexo. Assim, foram analisados dados referentes a Florianópolis-SC, 88,4% (IC 95%: 85,4-91,3); São
60.973 escolares, com uma taxa de não resposta geral Paulo-SP, 87,5% (IC95%: 84,5-90,6); Belo Horizonte-
de 11,3% (Tabela 1). MG, 87,2% (IC95%: 84,3-90,0); Curitiba-PR, 86,6%
Com relação à orientação na escola sobre o (IC95%: 83,0-90,2); e Goiânia-GO, 85,5% (IC95%: 83,1-
tema de doenças sexualmente transmissíveis, 89,4% 88,0). E as menores, em: Belém-PA, 73,4% (IC95%:
(IC95%: 88,5-90,2) dos alunos das escolas privadas 69,3-77,5); Cuiabá-MT, 75,9% (IC95%: 71,2-80,6);
e 87,5% (IC95%: 86,9-88,0) dos alunos das escolas Vitória-ES, 76,1% (IC 95%: 72,5-79,7); Recife-PE,
públicas relataram ter recebido essa informação. 76,4% (IC95%: 73,2-79,6); e Rio de Janeiro-RJ, 76,5%
Houve grande variação entre as capitais, quanto a (IC95%: 73,0-80,0). (Figura 2A).
esse indicador e apenas Salvador-BA, 96,0% (IC95%: Para os alunos das escolas públicas, receber
93,7-98,4), apresentou frequência significativa informações na escola sobre gravidez na adoles-
acima da média nacional. Nas escolas privadas, as cência tem as maiores frequências em: Rio Branco-
menores frequências foram encontradas em: Belém- AC, 92,1% (IC95%: 90,6-93,7); Macapá-AP, 87,3%
PA, 83,5% (IC95%: 80,0-87,0); Vitória-ES, 82,4% (IC95%: 85,8-88,8); Florianópolis-SC, 86,7% (IC95%:
(IC 95%: 79,0-85,8); e Manaus-AM, 81,5% (IC 95%: 84,8-88,6); Porto Velho-RO, 86,6% (IC 95%: 84,7-
75,7-87,4) (Figura 1A). 88,4); Manaus-AM, 86,6% (IC95%: 84,6-88,7); Porto
Nas escolas públicas, as frequências significativas Alegre-RS, 85,9% (IC95%: 83,6-88,1); São Luis-MA,
acima da média foram encontradas em: Rio Branco-AC, 85,76% (IC95%: 84,0-87,4); Vitória-ES, 85,6% (IC95%:
95,7% (IC95%: 94,3-97,1); Porto Velho-RO, 92,6% (IC95%: 83,5-87,8); Palmas-TO, 85,3% (IC95%: 83,2-87,4);
91,1-94,1); Macapá-AP, 92,0% (IC95%: 90,7-93,3); Cam- Teresina-PI, 85,3% (IC95%: 83,4-87,3); e Maceió-
po Grande-MS, 91,5% (IC95%: 90,0-93,0); São Luis-MA, AL, 84,4% (IC95%: 81,9-87,0). E as menores, em:
91,4% (IC95%: 89,9-92,8); Porto Alegre-RS, 91,4% (IC95%: Aracaju-SE, 77,5% (IC 95%: 75,0-79,9); Belém-PA,
89,6- 93,3); Manaus-AM, 90,8% (IC95%: 88,9-92,6); 72,2% (IC95%: 69,7-74,7); e Recife-PE, 77,1% (IC95%:
Palmas-TO, 90,6% (IC95%: 88,7-92,4); e Teresina-PI, 74,9-79,2) (Figura 2B).
90,6% (IC95%: 88,9- 92,2). E as menores frequências, Quanto a receber informações nas escolas sobre
em: Belém-PA, 79,6% (IC95%: 77,4-81,9); e Aracajú-SE, aquisição gratuita de preservativo, a frequência de alu-
83,8% (IC95%: 81,5-86,1). (Figura 1B). nos que abordam esse assunto foi menor nas escolas
Quanto a receber informações nas escolas sobre privadas, 65,6% (IC95%: 64,2-66,7), se comparada à
gravidez na adolescência, não há diferenças entre alu- das escolas públicas, 71,4% (IC95%: 70,7-72,2). Para
nos das escolas privadas, 82,1% (IC95%: 81,1-83,1), as escolas públicas, as maiores frequências – estatis-
Tabela 1 - Percentual (% e IC95%) a de escolares do 9º ano do ensino fundamental que receberam orientação na
escola sobre doenças sexualmente transmissíveis, prevenção de gravidez e aquisição gratuita de
preservativo, por dependência administrativa da escola, segundo as capitais de estados e o Distrito
Federal. Brasil, 2009
a) Percentual ponderado para representar a população de escolares matriculados e frequentando o 9º ano do ensino fundamental em 2008.
b) IC95%: intervalo de confiança de 95%.
1A - Escola privada
100,0
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90,0
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80,0
75,0
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Prevalência LI LS
a) Percentual ponderado para representar a população de escolares matriculados e frequentando o 9º ano do ensino fundamental em 2008.
Obs: Prevalência, LI (Limite inferior) e LS (Limite Superior) considerando intervalo de confiança de 95% (IC95%).
1B - Escola privada
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Prevalência LI LS
a) Percentual ponderado para representar a população de escolares matriculados e frequentando o 9º ano do ensino fundamental em 2008.
Obs: Prevalência, LI (Limite inferior) e LS (Limite Superior) considerando intervalo de confiança de 95% (IC95%).
Figura 1 - Percentual (% e IC95%) a de escolares do 9º ano do ensino fundamental que receberam orientação
na escola sobre doenças sexualmente transmissíveis, por dependência administrativa da escola,
segundo as capitais de estados e o Distrito Federal. Brasil, 2009
2A - Escola privada
100,0
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Prevalência LI LS
a) Percentual ponderado para representar a população de escolares matriculados e frequentando o 9º ano do ensino fundamental em 2008.
Obs: Prevalência, LI (Limite inferior) e LS (Limite Superior) considerando intervalo de confiança de 95% (IC95%).
2B - Escola privada
100,0
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Prevalência LI LS
a) Percentual ponderado para representar a população de escolares matriculados e frequentando o 9º ano do ensino fundamental em 2008.
Obs: Prevalência, LI (Limite inferior) e LS (Limite Superior) considerando intervalo de confiança de 95% (IC95%).
Figura 2 - Percentual (% e IC95%) a de escolares do 9º ano do ensino fundamental que receberam orientação na
escola para prevenção de gravidez, por dependência administrativa, segundo as capitais de estados
e o Distrito Federal. Brasil, 2009
3A - Escola privada
90,0
80,0
70,0
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Prevalência LI LS
a) Percentual ponderado para representar a população de escolares matriculados e frequentando o 9º ano do ensino fundamental em 2008.
Obs: Prevalência, LI (Limite inferior) e LS (Limite Superior) considerando intervalo de confiança de 95% (IC95%).
3B - Escola privada
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Prevalência LI LS
a) Percentual ponderado para representar a população de escolares matriculados e frequentando o 9º ano do ensino fundamental em 2008.
Obs: Prevalência, LI (Limite inferior) e LS (Limite Superior) considerando intervalo de confiança de 95% (IC95%).
Figura 3 - Percentual (% e IC95%) a de escolares do 9º ano do ensino fundamental que receberam orientação na
escola para aquisição de preservativo, por dependência administrativa da escola, segundo as capitais
de estados e o Distrito Federal. Brasil, 2009
Essas desigualdades, por sua vez, influenciam as rela- mais frequente entre meninos que meninas,8 o que é
ções de saúde desse segmento da população, gerando bastante elevado nesse grupo etário. Pesquisa realizada
estatísticas perversas de morbimortalidade.2,9 Iniciação pela OMS em cerca de 40 países revelou média de
sexual precoce está associada com não uso, ou uso 22,0% dos adolescentes que já haviam tido relação
inadequado de preservativos e suas consequências – sexual aos 15 anos.2
gravidez precoce, DST/aids –, além de estar associado A Pesquisa PeNSE mostrou, ainda, que entre os alu-
ao uso do tabaco, de álcool e outras drogas.1 nos que já haviam tido relação sexual, cerca de 76,0%
A PeNSE mostrou que a iniciação sexual nessa faixa usaram preservativo na última relação sexual.8 O fato
ocorreu em cerca de um terço dos adolescentes, sendo de 24,0% não terem usado o preservativo demonstra a
importância desse conteúdo ser mais disseminado na e reprodutiva e prevenção das DST/aids entre seus
escola, visando à ampliação da prática de prevenção. estudantes, informando-os, inclusive, sobre disponi-
No Brasil, o Ministério da Saúde, por intermédio bilidade de preservativos.
do Departamento de DST e Aids e Hepatites Virais, e o Os dados obtidos pela PeNSE foram auto-referidos
Ministério da Educação implantaram, desde 2003, o – diferentemente do Censo Escolar, cujos dados são
programa ‘Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE)’, que declarados pela direção da escola, captados de forma
consiste em integrar os setores da Educação e da Saúde distinta –, reforçando a percepção de que a informação
no desenvolvimento de ações voltadas à promoção da sobre saúde sexual e reprodutiva tem sido destinada
saúde sexual e da saúde reprodutiva de adolescentes ao público-alvo, os adolescentes, tanto nas escolas
e jovens e redução de sua vulnerabilidade às DST e públicas quanto privadas.
à aids.9 Em 2008, esse programa foi potencializado Segundo o Censo Escolar, 40,0% dessas escolas
pela criação do ‘Programa Saúde na Escola (PSE)’, oferecem essas informações de forma esporádica, com
articulando o SPE ao PSE. Essa medida veio ampliar periodicidade semestral ou anual. Isso mostra que, em
suas ações, e demais relativas à promoção da saúde no uma parcela considerável das escolas, essa orientação
âmbito escolar, para os municípios com baixo Índice ainda não constitui uma estratégia pedagógica adequa-
de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).16 da, contínua e inserida em projetos pedagógicos.17
Os dados aqui descritos mostram que os alunos têm Os adolescentes respondentes do questionário da
recebido esses conteúdos nas escolas. Os programas PeNSE são do 9º ano do ensino fundamental, na sua
implantados – SPE e PSE – tem cumprindo seu objetivo maioria (89,1%) entre 13 e 15 anos, o que mostra
de inserir as temáticas sobre saúde sexual e reprodu- que mais de 80,0% receberam informações sobre
tiva na escola. Contudo, os dados aqui analisados não sexualidade, prevenção de DST/aids.
permitem inferir se o conteúdo tem sido absorvido e se Essas diferenças na detecção de temas diferentes
ele tem sido capaz de provocar mudanças de práticas. podem acontecer em função do universo pesquisado.
Um estudo com esse propósito necessitaria de outras A PeNSE constitui uma amostra de escolares de 13 a
metodologias de abordagem. 15 anos de idade nas capitais, onde, pressupõe-se, há
Há diferenças entre as capitais, para cada um maior implantação das ações de promoção e, especi-
dos indicadores. Em geral, Belém-PA apresentou ficamente, orientações do SPE. Já o Censo Escolar, que
frequências menores em quase todos os indicadores acontece anualmente e é respondido pelo gestor de
e Florianópolis-SC e Rio Branco-AC, ao contrário, cada escola, abrange o universo das escolas; inclusive
mostraram, para a maioria dos indicadores, maior as do interior, onde o programa ainda não se encontra
frequência, haja vista esses conteúdos terem sido consolidado. Torna-se importante inserir o tema de
mais relatados pelos adolescentes nestas duas capi- prevenção de DST/aids e orientação sexualidade no
tais. Estudos mais aprofundados sobre as diferenças conjunto das escolas, especialmente nos primeiros
regionais podem ajudar a compreender o quadro anos do ensino básico, conforme orientação dos
apresentado. organismos internacionais.18
O MEC e o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pes- Apesar de aproximadamente 70,0% dos alunos, se-
quisas Educacionais Anísio Teixeira) realizam, desde gundo a pesquisa PeNSE (71,4% nas escolas públicas;
1991, o Censo Escolar com o propósito de observar e 65,4% nas escolas privadas) receberem informações
analisar atividades desenvolvidas nas escolas do país. sobre preservativos nas escolas, ainda há contingente
Visando ao monitoramento das ações realizadas pelo a ser atingido por informação ou por disponibilização
SPE, o Censo Escolar incluiu um encarte sobre saúde do próprio insumo. O acesso a insumos de prevenção
reprodutiva. Esses dados, reunidos a outras pesquisas e informações de como utilizá-los é essencial para
de âmbito nacional, constituem importantes fontes prevenir as DST/aids e a gravidez nos adolescentes.
de informações para a construção dos indicadores Entre os possíveis limites deste estudo, é importante
de impacto e resultados das políticas públicas no destacar que a população escolar representa uma
setor. O Censo Escolar de 2008 foi respondido por aproximação da população adolescente, ao excluir
99.316 escolas de educação básica, das quais 93,8% os jovens que se encontram fora da escola. A cober-
declararam que trabalham o tema da saúde sexual tura do sistema de educação no país tem aumentado,
aproximando-se, cada vez mais, de sua universaliza- o envolvimento dos jovens, especialmente na educação
ção.19 Outro limite do presente estudo refere-se ao fato por pares, essencial no desenvolvimento de atividades
da amostra, ao representar as capitais, não refletir, que objetivem mudar comportamentos relacionados à
necessariamente, as condições de representatividade sexualidade, e fortalecer o protagonismo juvenil com
do interior do país. ações de promoção da saúde e prevenção de DST/aids
As informações dos alunos vão de encontro às do e gravidez precoce.
Censo Escolar, mostram que o tema tem se inserido Práticas de promoção da saude e de saúde sexual
no contexto das escolas e reforçam a necessidade de são bem-vindas no contexto da escola. O tema deve
aprofundar os conteúdos das variáveis de orientação ser, cada vez mais, inserido no cotidiano de alunos,
abordadas, na medida em que 30,0% dos alunos já se educadores, profissionais de saúde e famílias. Dessa
iniciaram sexualmente. Faz-se necessário antecipar e forma, estaremos promovendo maior conhecimento
inserir a saúde sexual e reprodutiva, de maneira defini- do tema e semeando – assim se espera – práticas
tiva, nos currículos escolares. Igualmente importante é mais responsáveis.
Referências
Recebido em 19/01/2011
Aprovado em 16/12/2011
Resumo
Objetivo: identificar fatores relacionados à mortalidade infantil em Foz do Iguaçu, estado do Paraná, Brasil. Metodologia: foi
realizado um estudo de caso-controle utilizando-se dados secundários obtidos do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos e
do Sistema de Informações sobre Mortalidade; os casos estudados foram crianças que morreram em 2007 antes de completarem
um ano de vida; para cada caso foram definidas como controles duas crianças do mesmo sexo, nascidas no mesmo hospital e que
ainda estivessem vivas; foi realizada análise multivariada com regressão logística. Resultados: participaram do estudo 69 casos
e 138 controles; a idade gestacional inferior a 37 semanas, baixo peso ao nascimento, crianças com anomalias congênitas e com
escore de Apgar menor de 7 aos cinco minutos foram considerados fatores de risco, apresentando odds ratios ajustadas de 5,96
(IC95%: 1,35-26,4), 4,32 (IC95%: 1,14-16,4), 7,87 (IC95%: 2,0-30,9) e 4,44 (IC95%: 1,21-16,2), respectivamente. Conclusão: excluído
as anomalias congênitas, os fatores de risco para mortalidade infantil identificados em Foz do Iguaçu estão relacionados à oferta e
qualidade dos serviços de saúde, principalmente em seu componente neonatal.
Palavras-chave: mortalidade infantil; fatores de risco; mortalidade neonatal; estudos de casos e controles; prematuridade;
anomalias congênitas.
Summary
Objective: to identify factors related to infant mortality in Foz do Iguaçu, State of Paraná, Brazil. Methodology: a
case-control study was conducted using secondary data obtained from Brazil’s Live Birth Information System and Mortality
Information System; the study cases were children who died in 2007 before reaching one year; for each case, the authors de-
fined as controls two children born of the same sex, in the same hospital, and still alive; multivariate analysis was performed
with logistic regression. Results: there were 69 cases and 138 controls; gestational age less than 37 weeks, low birth weight,
children with congenital anomalies and Apgar score less than 7 at five minutes were considered risk factors, with odds ratios
of 5.96 (CI95%: 1.35-26.4), 4.32 (CI95%: 1.14-16.4), 7.87 (CI95%: 2.0-30.9) e 4.44 (CI95%: 1.21-16.2), respectively. Conclusion:
excluding congenital anomalies, the risk factors for infant mortality identified in Foz do Iguaçu are related to the supply and
quality of health services, especially in its neonatal component.
Key words: infant mortality; risk factors; perinatal mortality; case-control studies; prematurity; congenital anomalies.
* Apresentado originalmente como Dissertação no Mestrado Profissional em Saúde Pública Baseada em Evidências,
Universidade Federal de Pelotas/Ministério da Saúde.
hospital e que sobreviveram durante o primeiro ano de afecções do período perinatal (47,8%); malformações
vida – ou seja, não registradas no SIM do ano 2007 –; congênitas (14,5%); e doenças do sistema respiratório
a partir da relação de controles obtida do Sinasc, foram (4,3%).
incluídas 138 crianças. Cumpre destacar que todos Na análise bruta das características maternas,
os controles foram filtrados no SIM, para verificar se nenhuma das variáveis desse grupo apresentou as-
permaneciam vivos no período de coleta dos dados sociação estatisticamente significativa com o óbito
Construiu-se a base de dados do estudo a partir (Tabela 1).
dos bancos do Sinasc e do SIM, selecionando-se as Quanto às variáveis relacionadas à assistência e
seguintes variáveis: a) características demográficas às características dos recém-nascidos, apresentaram
e antecedentes obstétricos maternos (cor da pele, maior risco de óbito os recém-nascidos cujas mães
escolaridade, idade, estado civil e número de filhos fizeram menos do que quatro consultas durante o
mortos; b) assistência à gestante (número de consul- pré-natal (OR=2,56), as crianças que nasceram com
tas de pré-natal e tipo de parto); e c) condições do peso menor de 2.500g (OR=17,9), com menos de
recém-nascido (idade gestacional, peso ao nascer, 37 semanas de idade gestacional (OR=32,2), com
presença de anomalias congênitas e escore Apgar no anomalias congênitas (OR=10,1) e com escore Apgar
5º minuto). As informações sobre os óbitos foram no 5o minuto igual ou menor de 7 (OR=20,3). Deve-se
coletadas do SIM. destacar que a idade gestacional inferior a 37 semanas
Em virtude do tamanho da amostra e da logística foi o principal fator de risco para os óbitos infantis
para obtenção dos dados, foram mantidos os recém- (Tabela 2).
nascidos gemelares, podendo impactar nos resultados Os resultados da análise de regressão logística
estatísticos relacionados às variáveis ‘baixo peso’ e múltipla condicional estão apresentados na Tabela
‘prematuridade'. 3. As variáveis que permaneceram estatisticamente
Por meio do programa Access versão 23, elaborou- significativas foram: idade gestacional menor de 37
se uma base de dados para o estudo com as variáveis semanas; peso ao nascimento menor de 2.500g; pre-
de interesse dos casos e controles, posteriormente sença de anomalias congênitas; e escore Apgar ao 5o
transferidas para o SPSS versão 13.0. Em seguida, minuto não superior a 7 (Tabela 3).
utilizando-se do programa Stata versão 11.0, foi reali-
zada a regressão logística bruta (bivariada) com todas Discussão
as variáveis, estimando-se o valor da razão de chances
(odds ratio, OR) individualmente, com intervalo de Muitos autores questionam estudos baseados em
confiança de 95%. Posteriormente, foi feita a regressão bancos de dados secundários quanto aos problemas
logística ajustada (multivariada) incluindo no modelo de subnotificação e classificação, pois se sabe que
as variáveis que atingiram nível de significância igual em algumas regiões do Brasil, esses sistemas funcio-
ou superior a 0,20 na análise bruta. nam de forma ainda precária. Porém, a cobertura e
a qualidade dos dados no município, comparados
Considerações éticas às regiões, são bastante satisfatórios. Foi avaliada a
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de qualidade do Sistema de Informações sobre Nascidos
Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Pelotas, Vivos no Estado do Paraná, no período de 2000 a
conforme ofício no 067/09, de 18 de março de 2009. 2005. O estudo descritivo, sobre dados secundários
fornecidos por esse banco de dados, demonstrou
Resultados que a qualidade do Sinasc no Paraná melhorou nesse
período, considerada excelente para a maioria das
Em 2006, segundo dados do SIM, as três principais variáveis em 2005. Uma variável de exceção encontrada
causas de morte foram: afecções do período perinatal no estudo, por exemplo, foi ‘ocupação da mãe’, com
(53,0%); malformações congênitas (21,0%); e doen- pequenas variações entre as regionais de saúde.7 Além
ças do sistema respiratório (4,4%). Em 2007, as duas disso, ambos os sistemas de informação, SIM e Sinasc,
primeiras causas sofreram uma pequena redução são amplamente utilizados para construção de indi-
em sua frequência, sendo as três principais causas: cadores epidemiológicos e, segundo Laurenti, Jorge e
Tabela 1 - Óbitos infantis e controles, razão de chances (OR) brutas e intervalos de confiança de 95%, segundo
características demográficas e antecedentes obstétricos maternos em Foz do Iguaçu, Estado do
Paraná. Brasil, 2007
Casos Controles
Variável N=69 N=138 OR IC95% Pa
n (%) n (%)
Cor da pele 0,53
Gotlieb,8 os dados vitais, aliados a outros sistemas de evitabilidade dos óbitos perinatais. Entre os 512 óbitos
informações de morbidade, constituem na principal analisados, 50,0% foram considerados evitáveis, suge-
fonte para se conhecer o perfil epidemiológico de rindo uma inadequação no pré-natal; também se con-
uma área. Esses mesmos dados, ademais, subsidiam firmou a associação do baixo peso, da prematuridade e
numerosas análises epidemiológicas, reconhecidas do crescimento intra-útero restrito com a mortalidade
nacional e internacionalmente.9 perinatal. Victora11 publicou uma subdivisão detalhada
No presente estudo, foi mostrado que as principais da mortalidade por causas perinatais em 1985. A sín-
causas de mortalidade infantil em Foz do Iguaçu, como drome do sofrimento respiratório (21,0%), a hipóxia
no Brasil,2 foram aquelas classificadas como afecções ou a anoxia (11,7%) e outros problemas respiratórios
do período perinatal. Fonseca e Coutinho10 procura- (28,7%), juntos, contabilizaram 61,4% dessas mortes.
ram, por meio de um estudo de coorte realizado em Prematuridade e baixo-peso ao nascer foram responsá-
maternidade no Município do Rio de Janeiro-RJ, de veis por 13,0%, infecções neonatais (excluindo tétano)
1999 a 2003, identificar as variáveis biológicas e a por 12,7% e outras causas por 14,0% dos óbitos. Victo-
Tabela 2 - Óbitos infantis e controles, razão de chances (OR) brutas e intervalos de confiança de 95%, segundo
características da assistência e do recém-nascido em Foz do Iguaçu, Estado do Paraná. Brasil, 2007
Casos Controles
Variável N=69 N=138 OR IC95% Pa
n (%) n (%)
Características da assistência
ra11 também ressaltou as intervenções necessárias para realizado no período 2001-2002 tampouco encontrou
reverter esse quadro, com destaque para a atenção essa associação.12 Em Campinas, Estado de São Paulo,
pré-natal, ao parto e ao recém-nascido. Esperava-se porém, outro estudo de caso-controle apontou, sim,
encontrar associação entre as variáveis relacionadas relação entre o número de visitas ao pré-natal e a
à assistência e à mortalidade infantil; entretanto, não ocorrência dos óbitos neonatais.13
foi encontrada associação entre mortalidade infantil e A literatura tem demonstrado, não obstante a re-
número de consultas de pré-natal. Em Caxias do Sul, dução na mortalidade pós-neonatal, o maior número
Estado do Rio Grande do Sul, estudo de caso-controle de óbitos concentrado no período neonatal precoce,
Variável OR IC95% Pa
Características da assistência
4 ou + 1,0 –
37 ou + 1,0 –
Não 1,0 –
8 a 10 1,0 –
compreendido entre zero e seis dias de vida. Este com- infantil no Município de Caxias do Sul.2 O baixo peso
ponente da mortalidade infantil, mesmo em declínio, também foi associado à mortalidade infantil e neonatal
mantém-se proporcionalmente maior que os óbitos em Campinas.13
pós-neonatais e constitui um problema de Saúde Sabe-se que o maior índice de mortes ainda cor-
Pública, haja vista os diversos fatores que colaboram responde ao período neonatal, quase sempre ligado
para seu evento.3 à prematuridade e, por consequência, ao nascimento
No presente estudo, idade gestacional inferior a de crianças com baixo peso (<2.500g). É este o
37 semanas, baixo peso ao nascimento, presença de segundo mais importante indicador de mortalidade
anomalias congênitas e escore Apgar no 5º minuto apontado pelo estudo de Mendonça e Duarte,14 rea-
não superior a 7 representaram fatores de risco para lizado em quatro maternidades do Município do Rio
a mortalidade infantil. A prematuridade, o baixo de Janeiro-RJ.
peso ao nascimento e o escore Apgar baixo já foram Os fatores de risco relacionados às condições do
reconhecidos como fatores de risco para mortalidade recém-nascido contribuem, sobretudo, para a elevação
da mortalidade não somente perinatal, também neona- mortalidade infantil, ainda que as novas tecnologias
tal tardia e pós-neonatal. Com o objetivo de identificar permitam um cuidado de maior qualidade ao recém-
fatores de risco para óbitos neonatais, Paulucci e Nas- nascido.17 No Município de Londrina, também no
cimento15 desenvolveram um estudo de caso-controle Estado do Paraná, foi realizado um estudo longitudinal
em Taubaté-SP, no ano de 2003, em que as variáveis com 360 recém-nascidos pesando entre 500 e 1.500g,
‘baixo peso ao nascimento’, ‘prematuridade’, ‘Apgar observados durante o período intra-hospitalar até sua
no 5o minuto menor que 8’ e ‘anomalias congênitas’ alta ou óbito. Apesar do uso das tecnologias, a mor-
apresentaram significância estatística. Os estudiosos talidade observada naqueles de muito baixo peso foi
demonstraram a importância da prevenção do baixo alta, quando comparada à dos países desenvolvidos.
peso e do bom atendimento na sala de parto. Quanto ao O presente estudo demonstrou haver importantes
escore Apgar no 5o minuto, sabe-se que esse indicador fatores de risco envolvidos da assistência ao recém-
está intimamente relacionado à qualidade do cuidado nascido. A redução da mortalidade infantil constitui o
no momento do parto: se esta assistência apresentar maior desafio para os gestores de saúde, principalmen-
deficiências, pode resultar em sofrimento fetal, com te no seu componente neonatal. Sabe-se, excluídas as
baixa pontuação no escore Apgar, mesmo em crianças anomalias congênitas, que as demais variáveis estão
a termo e com peso adequado.16 intrinsecamente relacionadas à oferta de serviços de
Percebe-se, na maioria dos estudos relacionados à saúde de qualidade, principalmente pelo programa de
mortalidade infantil, que os recém-nascidos de muito pré-natal e assistência ao parto, para a melhoria das
baixo peso representam uma parcela significativa na condições de vida da população geral.18
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Resumo
Objetivo: investigar as características epidemiológicas de pacientes idosos com aids notificados em hospital de referência
no município de Teresina, estado do Piauí, Brasil. Metodologia: foram revisadas as fichas de notificação de idosos com
aids, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde, de 1996 a 2009, em hospital de
referência de Teresina-PI. Resultados: entre os casos notificados (n=69), a maioria era procedente do Piauí (68,1%), com
idade entre 60 e 69 anos (88,8%), do sexo masculino (72,4%) e com baixa escolaridade (86,9%); a principal categoria
de exposição foi a heterossexual (73,9%) e quase metade dos casos (44,9%) era de residentes em cidades com menos de
50 mil habitantes; as manifestações clínicas mais frequentes observadas foram caquexia, astenia, anemia, diarreia crônica,
infecção por fungo e toxoplasmose cerebral; 27,5% dos indivíduos investigados haviam falecido. Conclusão: os resultados
apontam a aids entre idosos heterossexuais com baixa escolaridade.
Palavras-chave: idoso; aids; epidemiologia.
Summary
Objective: to investigate the epidemiological characteristics of elderly patients reported with AIDS in a referral
hospital, in the Municipality of Teresina, State of Piauí, Brazil. Methodology: review investigation of the compulsory
AIDS notification forms of elderly people, in the Information System for Notifiable Diseases (Sinan) of the Brazilian
Ministry of Health, from 1996 to 2009, in a referral hospital in Teresina-PI. Results: among the individuals investigated
(n=69), 68.1% were from the State of Piauí, 72.4% were male, and 86.9% had less than eight years of scholarship; 73.9%
were infected by heterosexual exposure, and 44.9% were residents in cities with less than 50 thousand inhabitants; the
most frequent clinical manifestations were cachexia, asthenia, anemia, chronic diarrhea, yeast infection and cerebral
toxoplasmosis; 27.5% of the individuals investigated had died. Conclusion: results suggest heterosexual AIDS among
elderly with low education.
Key words: elderly; aids; epidemiology.
Tabela 1 - Casos de aids em indivíduos com 60 anos de idade e mais, segundo variáveis sociodemográficas e
provável categoria de exposição por sexo em Hospital de Referência de Teresina, capital do Estado do
Piauí. Brasil, 1996 a 2009a
Entre as ocupações mais frequentes, constam os Quanto às manifestações clínicas segundo o critério
lavradores, com 15 registros (21,7%), e ocupação do ‘CDC-adaptado’, destacam-se a candidíase, a mais
lar, com oito (11,7%). Destaca-se o número de apo- frequente, presente em 11 pacientes (15,9%), seguida
sentados, com 16 notificações (23,6%), (Tabela 2). de toxoplasmose cerebral em quatro casos (5,7%) e
Quanto à procedência, o número de notificações da da pneumonia por pneumocystis carinii, registra-
doença em cidades com menos de 50 mil habitantes foi de da em dois casos (2,8%). Dos 69 casos, 19 idosos
31 casos, o que equivale a 44,9% dos registros no hospital. evoluíram para óbito e mais de 90,0% dos pacientes
Em relação às manifestações clínicas, de acordo deram seguimento ao tratamento, após o diagnóstico,
com o primeiro critério de definição de casos de aids, no próprio hospital.
‘Rio de Janeiro-Caracas’, as mais frequentes foram a
caquexia, presente em 62 idosos (89,8%), seguida de Discussão
astenia (n=57; 82,6%). Outras manifestações foram
observadas, em menores proporções: anemia (n=42; A aids em idosos vem apresentado uma tendência
60,8%), diarreia crônica (n=40; 57,9%) e manifesta- parcialmente distinta, em relação à estabilização e/ou
ções fúngicas (n=37; 53,6%). redução da incidência nos últimos anos, sinalizada
10
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Masculino Feminino
a) Até 02 de julho de 2009.
Fonte: Banco de dados do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia
Figura 1 - Casos de aids em indivíduos com 60 anos de idade e mais (n= 69), segundo ano de notificação por
sexo em Hospital de Referência de Teresina, capital do Estado do Piauí. Brasil, 1996 a 2009a
Tabela 2 - Casos de aids em indivíduos com 60 anos de idade e mais, segundo tipo de ocupaçãoem Hospital de
Referência de Teresina, capital do Estado do Piauí. Brasil, 1996 a 2009a
Ocupação n %
Agente administrativo 1 1,4
Agricultor 1 1,4
Alfaiate 1 1,4
Aposentado 16 23,6
Auxiliar de escritório 1 1,4
Auxiliar de serviços gerais 1 1,4
Caminhoneiro 1 1,4
Comerciante 2 2,9
Costureira 1 1,4
Desempregado 2 2,9
Do lar 8 11,7
Domestica 1 1,4
Fotografo 1 1,4
Lavrador 15 21,7
Motorista 2 2,9
Pedreiro 2 2,8
Pescador 1 1,4
Sem informação 6 8,2
Serralheiro 1 1,4
Serviço gerais 1 1,4
Sociólogo 1 1,4
Vendedor ambulante 1 1,4
Vigia 1 1,4
Vigilante 1 1,4
TOTAL 69 100,0
a) Até 02 de julho de 2009.
Fonte: Banco de dados do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia
do preservativo, dificuldade em manter a ereção, perda instrumento, imprescindível para o real conhecimento
da sensibilidade, além da crença de que a camisinha da situação epidemiológica da aids e posterior pla-
só é necessária em relações extraconjugais ou com nejamento das ações de prevenção e controle pelos
profissionais do sexo.24 serviços de saúde.
Os idosos que viveram uma juventude culturalmente Em relação às limitações desta investigação, aponta-
estimulada na manutenção de múltiplas parceiras se que o uso de dados secundários não permite ao
como sinal de masculinidade, sem o apelo à utilização pesquisador controlar possíveis erros decorrentes
de preservativo por não incorporar a necessidade do registro nas fichas do Sinan, além de prováveis
de seu uso, colocam inúmeras dificuldades para sua subnotificações. Acredita-se, no entanto, que, por ser
utilização. tratar de dados locais oficiais e de preenchimento
Somado a essa dificuldade no manuseio na rea- obrigatório, seus resultados permitiram alcançar o
lidade de relações estáveis, para o homem é muito objetivo proposto: caracterizar os idosos notificados
comprometedor propor o uso do condom; para com aids em um hospital de referência para a doença
muitos, esse pedido configura uma declaração da no estado do Piauí.
infidelidade entre o casal e pode assumir dimensões Estudos complementares a este são necessários,
dramáticas.24 para traçar um perfil epidemiológico do idoso com
Além do uso do preservativo, Janssen25 refere que aids mais completo e abrangente, em todo o Piauí,
uma estratégia importante na prevenção da infecção dada a relevância da questão para o estado, haja vista
pelo HIV é aumentar o número de indivíduos que essa investigação ter se restringido à população idosa
realizam o teste anti-HIV, pois mais da metade das notificada em um hospital de referência para a doença.
infecções são transmitidas por pessoas que não Outras investigações também são imprescindíveis
conhecem seu status sorológico. Normalmente, ao porque, até o momento atual, a notificação de aids na
conhecerem sua condição sorológica para o HIV, mui- maior parte do país é baseada em casos da doença,
tos procuram medidas para proteger seus parceiros.25 sem considerar o número de pessoas infectadas pelo
Confirmando o exposto pelo autor, pesquisa realizada HIV. Como o período de incubação do vírus é longo,
nos Estados Unidos da América estimou um milhão de provavelmente, a maioria de idosos notificados no
pessoas infectadas, das quais um terço desconhece Sinan adquiriu a infecção antes dos 60 anos.
essa condição.4 Alerta-se para a necessidade de a rede de saúde con-
Um indicador importante para o aumento das taxas siderar a importância da investigação e do diagnóstico
de idosos infectados é o baixo nível de escolaridade. da infecção pelo HIV/aids em populações pertencentes
Na presente investigação, apesar de o número final de a grupos de faixa etária mais elevada.
notificações encontradas não caracterizar uma popu- Espera-se que a divulgação deste estudo estimule
lação, a baixa escolaridade foi predominante entre os a produção de próximas investigações com o objetivo
casos registrados. Pessoas com menos tempo de estudo de auxiliar e orientar os profissionais de saúde que
tendem a assimilar as informações de forma inadequada prestam atendimento a essa clientela, e contribua para
e sabe-se que o aumento da doença pode ser maior pela informar os gestores sobre a necessidade de imple-
falta de informações tecnicamente fundamentadas.26 mentar políticas públicas de educação para pessoas
A baixa escolaridade também influencia nas opções com 60 anos e mais, voltadas para uma sexualidade
de ocupação profissional. Baixos salários e uma con- saudável e para a prevenção da aids, contendo a cres-
dição socioeconômica relativamente precária influen- cente disseminação do HIV nessa faixa etária.
ciam o acesso a uma maior qualidade na prevenção e
na assistência aos idosos com HIV/aids.8 Agradecimentos
Observou-se, em algumas fichas investigadas, o item
sobre anos de estudo com o registro ‘Ignorado’, sina- À equipe do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia,
lizando o pouco cuidado do profissional no momento pelo acesso aos documentos essenciais para a reali-
do preenchimento. Essa lacuna ressalta a importância zação desta pesquisa.
do investimento em educação permanente para os Ao Profº Márcio Dênis Medeiros Mascarenhas/SVS/
profissionais de saúde no sentido de valorizarem esse MS, SMS/Teresina-Pi, pelas críticas e sugestões.
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Resumo
Objetivo: descrever a situação epidemiológica da raiva, bem como, as atividades do Programa Nacional de Profilaxia
da Raiva (PNPR) realizadas no Brasil, no período de 2000 a 2009. Metodologia: foi realizada uma análise descritiva dos
casos de raiva humana e atendimento antirrábico humano com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(Sinan), da ficha de vigilância epidemiológica nº 7 e de planilhas padronizadas utilizadas pelo PNPR. Resultados: observou-
se redução dos casos humanos e caninos e uma mudança no perfil de ocorrência e transmissão, nos últimos cinco anos,
com 78,0% dos casos humanos transmitidos por morcegos, além do aumento na detecção de casos em espécies silvestres.
Conclusão: a situação atual da raiva no país impõe a necessidade de aprimoramento e manutenção das ações de vigilância
voltadas para o ciclo urbano, implementação no ciclo silvestre e reforça a importância da profilaxia humana, visando prevenir
ocorrência de casos humanos.
Palavras-chave: raiva; epidemiologia; vigilância em saúde pública.
Summary
Objective: to describe the epidemiological situation of rabies and the activities of the National Program for Pre-
vention of Human Rabies in Brazil, 2000 to 2009. Methodology: it was realized a descriptive analysis of the human
rabies and prophylaxis based on reports of the National System of Reporting (Sinan), Surveillance Epidemiological
Report-7 and standard sheets. Results: it was observed reduction of human cases and rabid dogs and changes in the
profile, of occurence and transmission in last five years, 78.0% of the human cases were transmitted by bats, and an
increase of reports of rabies in wild animals. Conclusion: the actual rabies situation in this country imposes the
necessity to maintain the actions in surveillance directed to urban cycle, implementation in sylvatic cycle reinforce
the importance of human rabies prophylaxis aiming to prevent human rabies cases.
Key words: rabies; epidemiology;surveillance in public health.
Metodologia Resultados
30
25
20
Número de casos
15
10
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Centro-oeste Região Sul
Tabela 1 - Casos de raiva humana segundo gênero, espécie transmissora e faixa etária. Brasil, 2000 a 2009
Tabela 2 - Casos de raiva humana segundo espécie transmissora e zona de infecção, Brasil, 2000 a 2009
100 1000
90 900
80 800
60 600
50 500
40 400
30 300
20 200
10 100
0 0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Figura 2 - Casos de raiva canina e coberturas vacinais em campanha de vacinação contra raiva animal.
Brasil, 2000 a 2009
1.600
1.400
1.200
1.000
Número de casos
800
600
400
200
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Figura 3 - Casos de raiva animal segundo ciclo epidemiológico. Brasil, 2002 a 2009
foram agredidas e buscaram assistência médica: as exposta, evitando novas infecções: passou-se de 635
médias de atendimento encontradas são superiores às casos de raiva canina em 2003 para 274 em 2009.13
verificadas em estudos realizados no Brasil da década Considerando-se a atual situação do perfil da raiva
de 1980 e nos EUA.6,21 Como ocorre em outros países, canina e visando sua eliminação no ciclo urbano, além
cães e gatos são as principais espécies transmissoras, da vacinação animal e monitoramento de circulação
responsáveis por 94,0% dos atendimentos.22 viral, outras atividades devem ser implementadas: blo-
A mudança da vacina humana representou um gran- queio de foco em até 72 horas; vacinação dos animais
de avanço para a profilaxia da raiva humana: a vacina na rotina; revisão periódica da estimativa populacional
de cultivo de células confere resposta imunológica animal; captura e eutanásia de animais não passíveis
mais precoce e mais duradoura, além de causar menos de vacinação.1,6,24
eventos adversos que a Fuenzalida & Palácios.23 Essa A estimativa da populacional animal é de fundamental
mudança pode ter contribuído para o incremento de importância no estabelecimento de metas para as ações
49,0% no percentual de atendimento em que houve implantadas com vistas ao controle da raiva canina, tais
indicação de vacina, quando comparado com outros como cobertura vacinal e monitoramento de circulação
estudos.6 A redução dos casos humanos no Brasil está viral. Observou-se, no período avaliado, um acréscimo
diretamente relacionada com a diminuição dos casos de 21,0% da população animal, fato indicador da
de raiva canina, acompanhando o que vem acontecen- importância da avaliação sistemática das estimativas
do em outros países das Américas.7 Em 1980, a taxa de populacionais e da implementação de políticas públicas
raiva canina era de 38,38 por 100.000 cães, passando frente a uma situação que extrapola as ações de controle
para 5,45/100.000 cães em 1990.6 Em 2000, essa taxa de zoonoses e, consequentemente, o âmbito da Saúde.
foi reduzida para 4,57/100.000 cães, e em 2009, para Os ciclos silvestres estão em expansão no país, com
0,11/100.000 cães, representando uma redução de maior detecção de casos. Não obstante o maior registro
97,0% no período de estudo. de casos de raiva em canídeos do que em primatas não
A distribuição dos casos de raiva canina no Brasil humanos, há mais casos de raiva humana envolvendo
demonstra diferentes situações epidemiológicas. saguis (5 casos) do que cachorros-do-mato (sem ca-
Verificaram-se alterações no perfil de distribuição da sos registrados), possivelmente decorrentes da maior
raiva canina: no início dessa década, a região Centro- busca de atendimento em razão da gravidade do feri-
oeste contribuía com 45,0% e atualmente, a região mento causado pela agressão do Cerdocyonthous.25,26
Nordeste concentra 81,0% dos casos. A partir da primeira capacitação em animais
Destaca-se, ademais, a importância e necessidade silvestres, realizada em 2003, a vigilância dessas
da realização de trabalhos integrados com outros espécies vem sendo implementada na forma de ‘vigi-
países para a vigilância em áreas de fronteiras: por lância passiva em estradas’, com o envio de animais
exemplo, entre a região de Corumbá-MS e a Província encontrados mortos ou atropelados para diagnóstico
de German Busch, sua fronteira com a Bolívia, dada a laboratorial cujo objetivo é determinar as áreas de
persistência do foco de raiva canina e a comprovação risco e orientar a população em como se prevenir da
da introdução no município sul-matogrossense da infecção.27 O número crescente de animais positivos
variante 1, não detectada no Brasil até então. para raiva nessas espécies reforça a mudança do perfil
As campanhas de vacinação antirrábica canina da doença no país.
foram as principais medidas adotadas para o controle Em relação aos morcegos não hematófagos, a vi-
da raiva no ciclo urbano, sendo preconizada pelo gilância passiva, que preconiza o envio dos morcegos
Ministério da Saúde a cobertura vacinal canina de no encontrados em situação não usual para realização
mínimo 80,0%.1 Apesar de essa cobertura apresentar de diagnóstico laboratorial da raiva, tem sido útil
uma média de 86,0%, ela não foi homogênea entre os na detecção de casos da doença, principalmente em
municípios. A estratégia da campanha de intensificação áreas urbanas.13 Municípios que enviam amostras
nos municípios considerados de risco, iniciada em regularmente têm encontrado altos índices de positi-
2003, contribuiu para a célere redução dos casos de vidade, demonstrando a importância dessa vigilância
raiva canina. Essa campanha de intensificação permitiu como sentinela para adoção de medidas de controle
a manutenção de níveis protetores na população canina e prevenção de casos humanos.28
Apesar do número reduzido de morcegos hema- estimada para monitoramento de circulação viral; c)
tófagos encontrados positivos para raiva, e consi- envio de 100,0% dos morcegos encontrados mortos para
derando-se o grande número de bovinos positivos, diagnóstico laboratorial; e d) esquema profilático de pós-
recomenda-se utilizar animais de produção para fins exposição completo em 100,0% das pessoas agredidas
de monitoramento da circulação viral e adoção de me- por morcegos, notificadas pelo sistema de informação.
didas de prevenção e controle, visto que a transmissão Por fim, é importante destacar a alteração no perfil
do vírus para essas espécies acontece, principalmente, epidemiológico da raiva nessa década, os avanços
pela mordedura dos morcegos hematófagos. no controle no ciclo urbano e a expansão do ciclo
O manejo e o controle de morcegos hematófagos silvestre. As atividades de vigilância e controle em cães
são de responsabilidade do Departamento da Agricul- devem ser mantidas e as dos ciclos silvestres, intensifi-
tura e suas ações de vigilância devem ser realizadas em cadas. Reforça-se a necessidade de a população buscar
parceria com a área da Saúde. Ressalta-se que a única atendimento em qualquer situação de agressão; e de
espécie de morcego em que é permitido o controle é os profissionais de saúde permanecerem atentos à ava-
a Desmodus rotundus.29 liação e indicação adequada e oportuna da profilaxia,
Apesar dos avanços no controle da raiva no Brasil quando esta se fizer necessária.
nessa década, decorrentes de um trabalho integrado
das três esferas de gestão que compõem o Sistema Único Agradecimentos
de Saúde, o SUS, muitos desafios ainda persistem. O
momento requer uma vigilância permanente para os Aos coordenadores dos programas estaduais da
diferentes componentes da cadeia de transmissão da raiva, centros de controle de zoonoses, Secretarias
doença. Como forma de reforçar essas atividades, bem de Estado e Municipais de Saúde e laboratórios de
como para manter o compromisso internacional de diagnóstico da raiva. Aos agentes de saúde. Aos mé-
eliminação da raiva humana transmitida por cães nas dicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem que
Américas, foram pactuadas ações entre os três níveis atenderam os pacientes. A todos que contribuíram
de gestão, quais sejam:1 a) cobertura vacinal canina de para o controle da raiva no país.
no mínimo 80,0%, pela campanha de vacinação antir- Finalmente, a Daniele Maria Pelissari, pela revisão
rábica nacional; b) envio de 0,2% da população canina desse artigo.
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Resumo
Objetivo: o objetivo deste estudo foi descrever o perfil epidemiológico, clínico e laboratorial dos casos de leishmaniose
visceral (LV) coinfectados com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) no Brasil, em 2007 e 2008. Metodologia: foi
realizado um estudo descritivo dos casos de LV coinfectados com HIV, registrados no Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (Sinan); foram contempladas características demográficas, epidemiológicas, clínicas, laboratoriais e de evolução.
Resultados: de 7.556 casos de LV, 3,7% eram coinfectados com HIV; o sexo masculino representou 78,1% desses casos
e a média de idade foi de 34,7 anos; os casos estavam distribuídos em quatro macrorregiões do país e suas manifestações
clínicas mais prevalentes foram febre, emagrecimento, esplenomegalia e hepatomegalia. Conclusão: o perfil dos pacientes
coinfectados por Leishmania-HIV não difere daqueles com LV clássica, à exceção da letalidade (9,7%); faz-se necessário
integrar as vigilâncias de leishmanioses e aids e aprimorar a vigilância da coinfecção leishmanioses-HIV-aids.
Palavras-chave: leishmaniose visceral; HIV; coinfecção.
Summary
Objective: the aim of this study was to describe the epidemiological, clinical and laboratorial cases of Visceral
Leishmaniases (VL) coinfected with Human Immunodeficiency Virus (HIV) in Brazil in 2007 and 2008. Methodology:
it was conducted a descriptive study of cases of VL coinfected with HIV, reported in the Reportable Diseases Information
System (RDIS). It was considered demographic, epidemiological, clinical, laboratorial variables and clinical evolution.
Results: among 7.556 cases of VL, 3.7% were coinfected with HIV. The males represented 78.1% and the average age
was 34.7 years. The cases were distributed into four regions of the country. The most prevalent clinical manifestations
were fever, weight loss, splenomegaly and hepatomegaly. Conclusion: the characteristics of coinfected Leishmania/HIV
patients are not different from those only infected with VL, with the exception of the lethality (9.7%). It is necessary to
integrate the surveillance of leishmaniasis and AIDS and improve the monitoring of coinfection leishmaniasis/HIV/AIDS.
Key words: visceral leishmaniasis, HIV, co-infection.
foram selecionados para o estudo. Foram incluídos do número de casos em 2008, em todas as macrorre-
os pacientes com diagnóstico confirmados de LV e giões do país (Figura 1).
sororeagentes para HIV, sendo excluídos aqueles cuja Os estados de Minas Gerais e São Paulo concentra-
variável ‘coinfecção HIV’ foi preenchida como negativa ram 38,2% dos casos de coinfecção – 19,1% em cada
(65,9%), ignorada (23,1%) ou se encontrava em um –, seguidos dos estados do Ceará (12,6%) e Mato
branco (7,4%). Grosso do Sul (12,2%) (Tabela 2).
Os indicadores estudados foram a proporção de Os casos de coinfecção estavam distribuídos em
casos com diagnóstico parasitológico confirmado e a 120 municípios, com predominância em áreas urba-
letalidade; esta foi calculada como a proporção entre o nas – 83,5% dos casos. Os maiores registros foram
total de óbitos por LV registrados no período do estudo em Belo Horizonte-MG (11,1%), Campo Grande-MS
sobre o total de casos de coinfecção confirmados no (7,5%), Fortaleza-CE (6,4%) e Araçatuba-SP (5,7%)
mesmo período. (Figura 2).
As análises foram feitas por meio dos softwares Ar- Em 64,7% do total de casos coinfectados LV-HIV,
cView e MapInfo, para a distribuição espacial dos casos o diagnóstico de LV foi confirmado pelo exame pa-
segundo município de residência, EpiInfo 2000® e rasitológico. De 2007 para 2008, observou-se um
Microsoft Excel 2007®. incremento nesse percentual, de 59,8% para 68,1%.
As manifestações clínicas mais prevalentes foram febre
Considerações éticas (87,4% dos casos), emagrecimento (83,8%), espleno-
Os dados foram obtidos de fonte secundária, sem megalia (77,0%) e hepatomegalia (73,0%). A droga
a identificação nominal dos pacientes, razão pela qual inicialmente administrada – em 45,0% dos casos – foi
o estudo não foi submetido a um Comitê de Ética em o antimoniato de meglumina, seguido da anfotericina B
Pesquisa. em 28,1% dos casos (Tabela 3). Evoluíram para óbito
27 pacientes coinfectados: uma letalidade de 9,7%,
Resultados com média de idade de 37,9 anos – mediana de 40,8
anos e DP de 13,2 anos.
Foram confirmados 3.565 casos de LV em 2007
e 3.991 em 2008, totalizando 7.556. Destes, 3,1% Discussão
(112/3.565) eram coinfectados com HIV em 2007
e 4,2% (166/3.991) em 2008, perfazendo o total O percentual de coinfectados LV-HIV aqui obser-
de 3,7% (278/7.556) dos casos de LV com HIV no vado encontra-se dentro dos valores de outros países
período de estudo. endêmicos em desenvolvimento, que variam de 2,0 a
Os pacientes coinfectados LV-HIV eram predomi- 9,0%,14 o que difere de países como a Etiópia, cujo
nantemente do sexo masculino e representavam 78,1% percentual de pacientes de LV coinfectados com HIV
dos casos, uma diferença estatisticamente significativa varia de 15,0 a 30,0%.15
(p<0,001). A média de idade foi de 34,7 anos – media- A distribuição dos casos foi predominante no sexo
na de 35,1 anos e DP de 13,6 anos – e as faixas etárias masculino, mantendo-se o padrão encontrado para
mais prevalentes foram as de 20 a 49 anos (77,7% dos os casos de LV-aids no Brasil, no período de 2001 a
casos) e a de 50 ou mais anos (10,4% dos casos). Dos 2005.12 Esse valor assemelha-se ao encontrado para
pacientes coinfectados, 57,9% eram predominante- Leishmania-HIV em Uganda7 e no Sudoeste da Eu-
mente negros e pardos, 27,7% eram brancos e 12,2% ropa,16 e inferior ao de estudos realizados em Mato
indígenas. E no que se refere à escolaridade, 38,8% Grosso do Sul13 e no grupo de pacientes notificados à
tinham ensino fundamental completo ou incompleto, rede de coinfecção Leishmania-HIV no Brasil.17
destacando-se que, para 39,6% dos casos, essa variável Ainda em relação ao sexo, tanto a LV clássica quanto
era ignorada/em branco (Tabela 1). a aids são predominantes no sexo masculino,3,4 o que
Os casos estavam distribuídos em quatro macror- seria uma possível justificativa para os resultados
regiões nacionais: Nordeste, com 38,1% dos casos; encontrados por este estudo. Não obstante, a razão
Sudeste, também com 38,1%; Centro-oeste, com de sexo dos pacientes com aids vem diminuindo ao
16,2%; e Norte, com 7,2%. Observou-se um aumento longo dos anos: de cerca de seis casos de aids no sexo
Tabela 1 - Casos de leishmaniose visceral coinfectados com HIV segundo características demográficas.
Brasil, 2007 e 2008
70
60
50
40
Casos LV-HIV
30
20
10
0
Norte Nordeste Sudeste Centro-oeste
2007 2008
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação/Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde
Figura 1 - Casos de leishmaniose visceral coinfectados com HIV segundo macroregião de residência.
Brasil, 2007 e 2008
Tabela 2 - Distribuição dos casos de leishmaniose visceral coinfectados com HIV segundo unidade federada (UF)
de residência. Brasil, 2007 e 2008
Figura 2 - Distribuição dos casos de leishmaniose visceral coinfectados com HIV segundo município de
residência. Brasil, 2007 e 2008
Tabela 3 - Casos de leishmaniose visceral coinfectados com HIV segundo droga inicialmente administrada.
Brasil, 2007 e 2008
masculino para cada caso no sexo feminino, em 1989, Os casos de coinfecção LV-HIV predominaram nos
a 1,6 casos em homens para um caso em mulheres em estados de Minas Gerais e São Paulo, enquanto os
2009. Essa diferença poderia explicar a diminuição da de coinfecção LV-aids concentraram-se no estado do
proporção de casos de coinfecção segundo sexo, entre Maranhão.12 A diferença desses resultados pode estar
2007 (81,3%) e 2008 (75,9%).18 relacionada às diferentes fontes de dados consultadas
A média de idade dos casos foi inferior à encontrada e distintas metodologias utilizadas, em cada uma das
em alguns estudos. No Brasil, essa média em pacientes análises. Vale ressaltar que os municípios com maior
coinfectados foi de 37 anos,12,13,17 valor semelhante ao registro de casos de coinfecção estão entre os 20
encontrado para o Sudoeste da Europa.16 Na Etiópia, é municípios com maior incidência de aids.3
mister destacar, mais de 60,0% dos casos de coinfecção As manifestações clínicas mais frequentes nos pacien-
LV-HIV eram menores de 15 anos de idade.15 tes coinfectados são semelhantes àquelas observadas
No que refere a raça, chama a atenção o percentual em pacientes com LV clássica.4 Quanto ao tratamento,
de indígenas coinfectados, possivelmente relacionado observou-se que a droga inicial de escolha foi o antimo-
a uma limitação no preenchimento da variável raça/cor niato, embora houvesse um aumento do uso de anfoteri-
ou à investigação propriamente; ou, ainda, trata-se de cina B quando comparados os anos de 2007 e 2008, o
um achado que reafirma o processo de interiorização que corrobora as novas recomendações de tratamento
da aids no Brasil.3 de pacientes coinfectados Leishmania-HIV no Brasil.5
O percentual de pacientes coinfectados com ensi- O percentual de pacientes deste estudo que iniciaram o
no fundamental completo ou incompleto foi inferior tratamento com o antimoniato de meglumina foi inferior
ao observado entre os casos de aids no ano 2000.17 ao encontrado em estudo realizado no Mato Grosso do
Porém, esses resultados necessitam de reavaliação, Sul (73,9%; 17/23); entretanto, 70,6% (12/17) desses
pois a variável escolaridade teve elevado percentual de pacientes usaram a posteriori a anfotericina B.13
casos com informação ignorada/em branco (39,6%). Conforme constatado em outros países,10,19,20 a leta-
As regiões do país com maior percentual de casos lidade de pacientes coinfectados LV-HIV, maior que a de
de coinfecção foram o Nordeste e o Sudeste, justamente pacientes com LV no Brasil de 2008,4 provavelmente
onde predominam, respectivamente, os casos de LV associada a fatores relacionados ao HIV, mostrou-se
clássica e aids.3,4 inferior à letalidade encontrada pelo estudo que ana-
lisou os casos de coinfecção LV-aids.12 Esse achado recomenda-se o aperfeiçoamento e melhoria da qua-
reforça a importância de se oferecer o teste HIV aos lidade do banco de dados da LV no Sinan.
pacientes com LV visando ao diagnóstico precoce da O perfil dos pacientes coinfectados LV-HIV não
coinfecção e redução de sua letalidade. difere do perfil dos pacientes com LV na forma clás-
Alguns dos resultados aqui apresentados merecem sica, à exceção da letalidade. A análise da coinfecção
uma interpretação cautelosa. A principal variável de evidenciou a interiorização do HIV e a urbanização da
análise, ‘coinfecção HIV’, apresentou 30,5% de notifi- LV no Brasil, constatando-se sobreposições das áreas
cações em branco/ignorada. Ademais, desconhece-se de transmissão.
o valor real de casos de LV dada a subnotificação. Faz-se necessária a integração das vigilâncias de LV
Maia-Elkhoury e colaboradores21 estimaram que o e aids e o aprimoramento da vigilância da coinfecção
valor do Sinan foi de 42,2% em relação ao Sistema leishmanioses-HIV-aids. Também é de fundamental
de Informações Hospitalares do Sistema Único de importância a oferta de testes sorológicos para HIV ao
Saúde (SIH/SUS) e de 45,0% em relação ao Sistema grupo de pacientes com leishmanioses, cujas condutas
de Informações sobre Mortalidade (SIM). Portanto, são distintas.
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Resumo
Objetivo: descrever e analisar a mudança do perfil epidemiológico da febre amarela silvestre no Brasil – que passa a ocorrer
fora da Amazônia – a partir de 1999, quando a detecção do vírus em primatas permitiu a aplicação oportuna de novas medidas
de vigilância. Metodologia: este estudo faz uma análise descritiva das epizootias em primatas notificadas ao Ministério da Saúde
(MS) entre 2007 e 2009; para captação dos dados, foram utilizadas a Ficha de Notificação de Epizootia do Sistema de Informação
de Agravos de Notificação (Sinan) e planilha de notificação diária. Resultados: No período, foram notificadas 1.971 epizootias
em primatas, sendo 73 no ano de 2007, 1.050 em 2008 e 848 em 2009; essas epizootias ocorreram em 520 municípios de 19
estados; do total de epizootias notificadas, 209 (10,6%) foram confirmadas para febre amarela. Conclusão: as informações aqui
discutidas são fundamentais para o aperfeiçoamento da vigilância e a consolidação da notificação de epizootias em primatas, como
instrumento de prevenção de casos humanos da doença.
Palavras-chave: epizootia; febre amarela; primatas não humanos.
Summary
Objective: to describe and analyze the change in the epidemiological profile of sylvatic yellow fever – whose cases began
to occur outside the Amazon region, in Brazil – from 1999, when the detection of the virus in primates has led to the timely
implementation of new surveillance measures. Methodology: this study is a descriptive analysis of epizootics in primates
notified to the Ministry of Health between 2007 and 2009; data were captured using the Epizootic Notification Form of the
Brazilian Information System for Notifiable Diseases (Sinan) and daily reporting spreadsheet. Results: from 1,971 epizoo-
tics reported during the period, 73 occurred in 2007, 1,050 in 2008, and 848 in 2009; and 209 (10.6%) were confirmed for
yellow fever; these epizootics have been registered in 520 municipalities of 19 states. Conclusion: the information discussed
herein is fundamental for improving the surveillance and consolidating the notification of epizootics in primates, as a tool
for preventing human cases of the disease.
Key words: epizootic; yellow fever; nonhuman primates.
Endereço para correspondência:
Coordenação de Vigilância de Doenças Transmitidas por Vetores e Antropozoonoses (COVEV/SVS/MS), SCS, Quadra 4, Bloco A,
Edifício Principal, 2º andar, Asa Sul, Brasília-DF. CEP: 70304-000
E-mail: francisco.araujo@saude.gov.br
Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 20(4):527-536,out-dez 2011 527
Epizootias em primatas não humanos
foram distribuídos em três momentos distintos: o Quando observados os dados referentes à atividade
primeiro período, de outubro de 2007 a maio de de investigação entomológica e coleta de mosquitos
2008, foi caracterizado por intensa transmissão na para tentativa de isolamento do vírus na ocasião de
região Centro-oeste e totalizou 596 epizootias notifi- epizootias em primatas, em apenas 0,5% (11/1971)
cadas, envolvendo a morte de 987 primatas em 259 das epizootias foi realizada a coleta vetorial, sugerindo
municípios de 16 unidades federativas; o segundo investigação integrada somente em 7 epizootias no
período foi caracterizado pela baixa ocorrência de Paraná (PR) e 4 no Rio Grande do Sul (RS).
epizootias suspeitas e ausência de epizootias confir- Das 1.971 epizootias notificadas no período,
madas para a febre amarela, e se estendeu de junho em 88,0% (1.735/1.971) foi possível identificar os
a setembro de 2008, com 71 epizootias notificadas, animais segundo o gênero: 29,0% (503/1.735) do
distribuídas em 33 municípios de nove estados; o gênero Callithrix; 64,4% (1.118/1735) do gênero
terceiro período esteve compreendido entre outubro Alouatta; e 6,6% (114/1735) do gênero Cebus.
de 2008 e junho de 2009 e totalizou 1.304 epizootias Em uma única epizootia ocorrida no RS, houve o
notificadas, distribuídas em 226 municípios de 15 envolvimento dos três gêneros simultaneamente;
estados (Figura 1). em duas, ocorridas em Goiás (GO) e Minas Gerais
Entre as epizootias notificadas, 209 foram con- (MG), foram acometidos Callithrix e Cebus; quatro
firmadas para FA: 18 no primeiro período de trans- epizootias em GO, Tocantins (TO) e Mato Grosso
missão, entre o final de 2007 e o início de 2008, do Sul (MS) atingiram Callithrix e Alouatta; e em
caracterizado pela maior concentração de registros na outras cinco, ocorridas em GO, PR, Roraima (RR) e
região Centro-oeste; e 191 no terceiro período, entre RS, Alouatta e Cebus. A média de animais do gênero
outubro de 2008 e junho de 2009, segundo momento Alouatta mortos foi de 2,1 por epizootia, enquanto
de transmissão no período do estudo, caracterizado que para os gêneros Cebus e Callithrix, foi de 1,4 e
pela confirmação de epizootias em primatas por febre 1,2, respectivamente.
amarela nas regiões Sul e Sudeste (Figura 2). Quando Foram encaminhadas amostras de primatas para
comparados os dois períodos de transmissão, observa- diagnóstico da FA em 22,2% (n=437/1971) do total
se maior número de confirmações em 2008-2009 de epizootias notificadas no período do estudo. As
(OR=5,51; IC95%: 3,29-9,33). vísceras foram os principais materiais clínicos para o
800
700
600
500
400
300
200
100
0
o
Ja n
i
t
z
Ja n
Ma
Ma
Ju
Ma
Ma
Ab
Ab
Se
Ou
Ou
De
De
No
No
Fe
Fe
Ag
Ju
2007-2008 2008-2009
Figura 2 - Epizootias em primatas notificadas e confirmadas para febre amarela segundo município de
ocorrência. Brasil 2007 a 2009
diagnóstico, com 69,3% (303/437) das amostras, se- estados de GO (7/226), TO (1/42), Distrito Federal
guidas de cérebro, com 4,1% (18/437), e sangue/soro, (DF) (3/65), MS (2/5), MG (2/134), São Paulo (SP)
com 2,5% (11/437) das amostras. Em 106 epizootias, (2/64) e PR (1/18) (Tabela 1). Destas, 11 foram
foram encaminhadas amostras de mais de um tipo de confirmadas por vínculo epidemiológico.
material clínico para diagnóstico, assim distribuídas: em No período de baixa ocorrência de epizootias, entre
15,5% (68/437), vísceras e cérebro; em 5,6% (25/437), junho e setembro de 2008, foram notificadas 71 epi-
vísceras e sangue/soro; e em 3,0% (13/437), foram zootias, com média de 17,7 epizootias/mês, distribuídas
coletados vísceras, cérebro e sangue/soro. em 33 municípios de nove estados, provenientes prin-
Do total de amostras de primatas encaminhadas cipalmente de SP, com 52,1% (37/71), da Bahia (BA),
para laboratório, 43,7% (191/437) foram confirma- com 16,9% (12/71), de MG, com 9,8% (7/71), e do RS,
das para FA, 55,8% (244/437) foram descartadas e com 5,6% (4/71). Nesse período, foram encaminhadas
duas tiveram resultados inconclusivos. Ademais, 18 somente quatro amostras para diagnóstico laboratorial
epizootias foram confirmadas para FA por vínculo epi- (duas provenientes de Ribeirão Preto-SP, uma de São
demiológico, totalizando 209 epizootias confirmadas José do Rio Preto-SP e uma de Montes Claros-MG), as
no período estudado.. quais tiveram resultado negativo para FA.
No período de transmissão 2007-2008, foram No segundo período de transmissão do estudo,
notificadas 596 epizootias em primatas entre outubro entre outubro de 2008 e maio de 2009, foram noti-
de 2007 e maio de 2008, com maior número de ficadas 1.304 epizootias envolvendo 2.526 primatas,
notificações em janeiro de 2008 (Figura 3). Foram com média de 163,4 epizootias/mês e 1,9 animais
confirmadas 18 epizootias por FA, distribuídas nos por epizootia, distribuídas em 14 estados, sendo o
80,0
2
70,0
60,0
50,0 47 1 39 17
8 392 61
40,0
11
30,0
20,0
10,0
0,0
t
Ja n
i
Ma
Ma
Ab
Ou
De
No
Fe
Figura 3 - Proporção das epizootias confirmadas, descartadas e mortes de PNH do total de epizootias
notificadas segundo o mês de ocorrência, durante o período de transmissão. Brasil, 2007 e 2008
maior número de notificações proveniente do RS, com 4,0% (50/1.253). Do total de amostras positivas
com 72,8% (950/1.304), seguido de SP, com 9,4% para FA, 96,7% eram do gênero Alouatta e em 3,3%
(123/1.304), e do Rio de Janeiro (RJ), com 5,1% não foi possível identificar o gênero.
(67/1.304) (Tabela 1). No mesmo período, em SP, foram notificadas 123
No período de reemergência 2008-2009, observou- epizootias, ocorridas em 53 municípios, entre outubro
se aumento do número de epizootias a partir de de 2008 (SE-40) e maio de 2009 (SE-20); 33,3%
outubro de 2008 (semana epidemiológica SE-40), (41/123) delas tiveram encaminhamento de amostras
persistindo até meados de maio de 2009 (SE-19). e destas, duas tiveram confirmação laboratorial para
Nesse período, foi observado um pico no número de FA, nos municípios de Buri-SP e Itapetininga-SP, e
epizootias em dezembro (SE-49) e outro entre março uma foi confirmada por vínculo epidemiológico, em
(SE-12) e abril (SE-17) (Figura 4). Urupês-SP. Não foi notificada a coleta de vetores em
Do total de epizootias notificadas no período de qualquer das epizootias ocorridas no estado.
transmissão 2008-2009, foram confirmadas para FA No PR, ocorreram 21 epizootias em 17 municípios,
191 (14,6%), sendo 96,3% (184/191) por laboratório entre dezembro de 2008 (SE-49) e maio de 2009
e 3,7% (7/191) por vínculo epidemiológico. A con- (SE-16), envolvendo 55 animais dos três gêneros mais
firmação de epizootias para febre amarela aconteceu frequentemente registrados. Foram encaminhadas para
nos estados do RS, com 19,7% (187/950) positivas, laboratório amostras de 38,1% das epizootias notifi-
SP, com 2,4% (3/123), e PR, com 4,8% (1/21) (Tabela cadas (8/21), com coleta de vetores em cinco delas.
1). Foram identificados os gêneros dos primatas em O resultado laboratorial de uma amostra proveniente
96,1% (1.253/1.304) das epizootias notificadas, sen- do município de Ribeirão Claro-PR, divisa com SP, foi
do o Alouatta o mais acometido, presente em 81,6% o único conclusivo para FA, e o material encaminhado
(1.023/1.253) das epizootias, seguido do gênero Calli- a partir da coleta de vetores não teve seu resultado
thrix, com 14,8% (186/1.253), e do gênero Cebus, laboratorial informado.
2007/2008 2008/2009
UF Número Número
Total de Número de % de % de Total de Número de % de % de
de amostras de amostras
epizootias epizootias epizootias positividade epizootias epizootias epizootias positividade
enviadas para enviadas para
notificadas confirmadas confirmadas laboratorial notificadas confirmadas confirmadas laboratorial
laboratório laboratório
AP 2 0 0,0 0 0,0 1 0 0,0 1 0,0
BA 6 0 0,0 0 0,0 7 0 0,0 4 0,0
DF 65 3 4,6 3 100,0 18 0 0,0 1 0,0
ES 2 0 0,0 0 0,0 0 0 0,0 0 0,0
GO 226 7 3,1 6 66,7 19 0 0,0 13 0,0
MA 5 0 0,0 0 0,0 2 0 0,0 0 0,0
MG 134 2 1,5 0 0,0 55 0 0,0 31 0,0
MS 5 2 40,0 0 0,0 0 0 0,0 0 0,0
MT 14 0 0,0 0 0,0 4 0 0,0 0 0,0
PI 2 0 0,0 0 0,0 0 0 0,0 0 0,0
PR 18 1 5,6 0 0,0 21 1 4,8 8 12,5
RJ 2 0 0,0 1 0,0 67 0 0,0 44 0,0
RO 6 0 0,0 0 0,0 2 0 0,0 0 0,0
533
Francisco Anilton Alves Araújo e colaboradores
Epizootias em primatas não humanos
70,0
58 27
11 37
60,0 4
25
50,0 392 1
290
40,0 150
55
30,0 183
90 48
11
20,0
11
10,0 1
0,0
t
Ja n
i
Ma
Ma
Ab
Se
Ou
De
No
Fe
Figura 4 - Proporção das epizootias confirmadas, descartadas e mortes de PNH do total de epizootias
notificadas segundo o mês de ocorrência, durante o período de transmissão. Brasil, 2008 e 2009
No RS, as epizootias em primatas ocorreram entre registradas epizootias em primatas nos estados das
outubro de 2008 (SE-42) e maio de 2009 (SE-21). regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste. Houve confirmação
Foram notificadas 950 epizootias, distribuídas em de epizootias por FA nos estados de TO, RS, PR, SP,
103 municípios, acometendo 2.017 animais, com MG, MS, GO e DF, ratificando a maior incidência da
média de 2,1 por epizootia. Houve coleta de amostra doença na região extra-amazônica, como observado
em 29,3% (278/950) das epizootias notificadas, desde 1999.
sendo as vísceras o material de eleição em 99,6% dos Conforme sugerido por Strode e colaboradores,1
casos. Foram coletados vetores em quatro municípios a ocorrência de casos de febre amarela silvestre em
do estado: Três Passos-RS, Porto Alegre-RS, Coronel humanos é precedida de epizootias em primatas. Os
Barros-RS e Tiradentes do Sul-RS. Foram confirmadas dados analisados neste estudo mostraram que as
187 epizootias por FA, sendo 96,8% (181/187) por epizootias tiveram início em outubro de 2007 (SE-
diagnóstico laboratorial e 3,2% (6/187) por vínculo 40) e seguiram até dezembro (SE-51), antecedendo
epidemiológico, distribuídas em 66 municípios do o período de maior ocorrência de casos humanos
estado. Quando referidos os gêneros dos primatas da doença, entre dezembro e maio (SE-52 a SE-19).
envolvidos nas epizootias, o Alouatta foi identificado Assim, pode-se verificar que o mesmo comportamento
em 99,2% (942/950), seguida do Callithrix, com 0,6% apontado por esses autores foi observado nesse estudo.
(6/950) e do Cebus, com 0,2% (2/950). Além disso, Lima e colaboradores14 reforçam que a
suscetibilidade de primatas ao vírus FA deve servir
Discussão de alerta para a aplicação de medidas preventivas em
humanos.4 Tais recomendações estão incorporadas às
Apesar de a febre amarela ser historicamente endê- normas técnicas do Programa de Vigilância e Controle
mica na região amazônica, entre 2007 e 2009 foram da FA desde 1999.4
O Manual de Vigilância de Epizootias em Primatas período de transmissão 2007-2008. Vale destacar que,
Não Humanos, da Secretaria de Vigilância em Saúde entre 2008 e 2009, o Ministério da Saúde, em caráter
do Ministério da Saúde (SVS/MS), publicado em 2005, temporário durante os períodos de transmissão de FA,
adota medidas de natureza preventiva, tais como busca optou pela realização do diagnóstico laboratorial de
ativa de casos humanos e bloqueio de transmissão por amostras oriundas da região Sul pelo Instituto Adolfo
vacinação, na ocasião da ocorrência de epizootias em Lutz, de São Paulo-SP, e o diagnóstico das amostras
primatas confirmadas por FA.13 oriundas do restante do país foi realizado pelo Instituto
A investigação entomológica como ferramenta de Evandro Chagas, de Belém-PA, visando à facilitação do
vigilância epidemiológica dos eventos envolvendo mor- fluxo de amostras e maior oportunidade na emissão
tes de macacos, conforme preconizada pelo Ministério dos resultados.
da Saúde, foi realizada em apenas 0,5% (11/1.971) Desde o início da implantação pelo Ministério da
das epizootias notificadas. Devido à baixa frequência Saúde, em 1999, da vigilância de epizootias em prima-
de aplicação, essa ferramenta não foi relevante como tas como ferramenta para a vigilância epidemiológica
apoio à investigação da circulação viral nos locais da FA, evidências de circulação viral, tanto em primatas
onde ocorreram as epizootias, embora seja útil para quanto em vetores, passaram a ser incluídas entre os
a avaliação de potenciais vetores e determinação do critérios de classificação das áreas de risco para FA.
ciclo de transmissão.13,15 A vigilância de epizootias como evento-sentinela
Quando comparadas as epizootias confirmadas por FA para a vigilância da FA, embora relativamente recente,
ocorridas durante os dois períodos de transmissão (2007- encontra-se em desenvolvimento no Brasil. Atualmente,
2008 e 2008-2009), observa-se comportamentos distintos são poucos os trabalhos desse tipo descritos na literatu-
quanto à evolução espaço-temporal dos eventos, além ra, seja pelo relato de pesquisadores, seja pela descrição
de diferenças nos critérios de confirmação dos casos. As de experiências de serviços de vigilância. É necessário
epizootias ocorridas durante o primeiro período (2007- que iniciativas de detecção precoce sejam estimuladas,
2008) apresentaram maior dispersão espacial (TO, GO, promovendo novas experiências e divulgação para
DF, MS, MG, SP e PR), concentrando-se com maior fre- o aperfeiçoamento do sistema de vigilância, que tem
quência nas regiões Centro-oeste e Sudeste, enquanto as como seu principal produto uma melhor capacidade
epizootias ocorridas entre 2008-2009 restringiram-se às dos serviços de Saúde Pública de responder à FA.
regiões Sul e Sudeste, nos estados de SP, PR e RS. No que Este estudo apresenta resultados da prática exercida
se refere à evolução no tempo, as epizootias do primeiro na rede de serviços do Sistema Único de Saúde, o SUS,
período de transmissão concentraram-se no mês de e as informações aqui discutidas são de fundamental
janeiro, enquanto as do segundo período de transmissão importância para o aperfeiçoamento da vigilância
tiveram picos nos meses de dezembro e abril. da febre amarela no Brasil e para a consolidação
Quanto à confirmação de casos, foi realizada em da notificação de epizootias em primatas como um
ambos os períodos, tanto por critério laboratorial instrumento de prevenção à ocorrência de casos
como por vínculo epidemiológico. No primeiro pe- humanos da doença.
ríodo, 61,1% das confirmações foram por vínculo
epidemiológico, enquanto no segundo período, o Agradecimentos
critério laboratorial foi o mais frequente, com 95,8%
das epizootias confirmadas. O maior número de con- Aos profissionais de saúde da rede de serviços do
firmações em 2008-2009 deve-se, entre outros fatores, SUS e unidades colaboradoras, unidades de notificação
à maior taxa de coleta de amostras registrada nesse no Sistema de Informação de Agravos de Notificação –
período, em função da maior sensibilização dos ser- Sinan – envolvidas direta e indiretamente neste estudo.
viços de vigilância em saúde quando comparada à da Aos colegas do Grupo Técnico de Vigilância das
vigilância no período anterior. Outrossim, grande parte Arboviroses, da Coordenação Geral de Laboratórios
dos eventos notificados em 2008-2009 ocorreu no RS, (CGLAB)/SVS/MS, dos Institutos Evandro Chagas e
onde a vigilância de epizootias em primatas havia sido Adolfo Lutz, e das Secretarias de Estado e Secretarias
implantada no ano 2000, o que contribuiu sobrema- Municipais de Saúde que contribuíram para a elabo-
neira para a maior capacidade de resposta frente ao ração deste artigo.
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Resumo
Objetivo: descrever os aspectos clínicos/epidemiológicos dos casos de hantavirose em áreas do bioma Cerrado Brasileiro entre
1996 e 2008. Metodologia: estudo descritivo dos casos de hantavirose com Local Provável de Infecção, em município exclusivamente
de cerrado; os casos de hantavirose foram provenientes do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério
da Saúde. Resultados: foram confirmados 320 casos, com letalidade média de 43,8%; Minas Gerais e São Paulo foram os estados
que apresentaram os maiores números de casos; os casos ocorreram, predominantemente, em indivíduos do sexo masculino, na
faixa etária de 20-29 anos, residentes em área urbana e com atividades em agropecuária; a epidemiologia caracterizou-se pelo
contato com roedores e pela infecção no ambiente de trabalho e em área rural/silvestre; os principais sinais/sintomas foram febre,
dispneia e cefaleia. Conclusão: os achados mostraram-se, em sua maioria, similares aos descritos em outros estudos no Brasil,
exceto no que se refere à sazonalidade e à letalidade.
Palavras-chave: hantavirose; epidemiologia descritiva; cerrado.
Summary
Objetive: to describe the clinical/epidemiological cases of hantavirus in areas of biome Brazilian Cerrado, between 1996
and 2008. Methodology: a descriptive study of cases of hantavirus disease with suspected infection site in a city of cerrado
exclusively; cases of hantavirus are available by the Information System for Notifiable Diseases (Sinan) of the Brazilian Ministry
of Health. Results: confirmed 320 cases, with a fatality rate averaged 43.8%; States of Minas Gerais and São Paulo showed
higher record; cases occurred predominantly in males aged 20-29 years, living in urban areas, and occupied on agricultural
activities; epidemiology has been characterized by contact with rodents, and infection in the workplace and in rural areas/
wildlife; main signs and symptoms were fever, dyspnea and headache.Conclusion: findings were similar to reported in other
studies in Brazil, except those with reference to seasonality and lethality.
Key words: hantavirus; descriptive epidemiology; cerrado.
80 100,0
70
80,0
60
Número de casos
50 60,0
%
40
40,0
30
20
20,0
10
0 0,0
1996 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Casos Letalidade
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)/SVS/MS
Figura 1 - Casos e taxa de letalidade por hantavirose segundo local provável de infecção no bioma Cerrado.
Brasil, 1996 a 2008
Do total de casos registrados, 49,0% (158/320) Sobre sua escolaridade, 23,7% (59/248) tinham
aconteceram em Minas Gerais, 21,0% (66/320) em entre a 5ª série e ensino médio completo. Vale destacar
São Paulo, 18,0% (58/320) no Distrito Federal, 10,0% que em 22,5% (72/320) dessa variável, a informação
(33/320) em Goiás e 2,0% (5/320) no Mato Grosso. foi ignorada ou estava em branco.
A extensão geográfica da doença foi limitada a 186 No que se refere ao perfil dos pacientes em relação
municípios de infecção, o que corresponde a 6,6% à ocupação profissional, observou-se que aproxi-
(186/2.815) do total de municípios do bioma Cerrado madamente 38,9% (95/244) exerciam atividades
no Brasil (Figura 2). relacionadas à agropecuária.
Quanto à distribuição temporal, foram confirma- Os principais sinais e sintomas verificados nos pa-
dos casos em todos os meses do ano, sendo 59,4% cientes com hantavirose, comuns às diferentes versões
(190/320) registrados entre abril e agosto (Figura 3). do Sinan, foram: febre, 95,6% (306/320); dispneia,
Do total de casos analisados, 76,9% (246/320) 86,6% (271/313); e cefaleia, 68,7% (209/304) (Fi-
foram pessoas do sexo masculino, a faixa etária com gura 4).
maior ocorrência de casos foi a de 20 a 29 anos, com Observou-se que nas manifestações clínicas dis-
média de 31 e mediana de 34 anos, e o intervalo de poníveis na versão SinanNET, que correspondem às
idade variou de 9 meses a 72 anos. análises dos casos de 2007 e 2008, 79,5% (58/73)
Os óbitos ocorreram com maior frequência no dos pacientes apresentaram tosse seca e mialgia
sexo masculino (105/140); observou-se maior taxa de 75,0% (54/72).
letalidade no sexo feminino (47,3%; 35/74), quando Em relação aos achados laboratoriais comuns aos
comparada à do sexo masculino (42,7%; 105/246). casos, a trombocitopenia foi identificada em 70,5%
A taxa de letalidade por faixa etária variou de 38,5% (191/271) dos pacientes; e hematócrito >50,0% esteve
(5/13) nos maiores de 60 anos a 53,3% (24/45) no presente em 63,4% (173/273) dos indivíduos.
grupo etário de 50 a 59 anos. Das informações disponíveis em 258 casos dos
Em relação a raça/cor, 61,7% (166/269) dos casos 320 confirmados, o tempo médio transcorrido entre o
eram brancos; e quanto à zona, 67,0% (204/305) dos início de sintomas e o primeiro atendimento foi de 2,7
pacientes residiam em área urbana. dias, com mediana de dois dias. Em 95,6% (246/258)
Figura 2 - Casos de hantavirose segundo o município de infecção no bioma Cerrado. Brasil, 1996 a 2008
60
50
40
Número de casos
30
20
10
0
o
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to
o
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Se
De
No
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)/SVS/MS
Figura 3 - Distribuição dos casos de hantavirose segundo o mês de início de sintomas e local de infecção no
bioma Cerrado. Brasil, 1996 a 2008
Febre
Dispneia
Cefaleia
Sinais e sintomas
Naúsea/Vômito
Dor abdominal
Insuficiência renal
Manifestações hemorrágicas
Sintomas neurológicos
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0%
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)/SVS/MS
dos pacientes, o primeiro atendimento ocorreu em até de três dias. Em 94,6% (283/299) desses pacientes,
seis dias após o início dos sintomas. a internação ocorreu até o 7º dia após os primeiros
Dos casos com informação sobre a necessidade de sintomas.
assistência hospitalar, 97,8% (305/312) foram interna- Em apenas 46,2% (141/305) dos pacientes
dos. Desses, a data de internação estava disponível em internados foi possível obter informações sobre o
98,0% (299/305) dos casos, sendo possível verificar período entre o início de sintomas e a alta hospitalar,
que o tempo transcorrido entre o início dos sintomas que apresentou média de 13,1 dias (0 a 155 dias) e
e a data de internação foi de 3,6 dias, com mediana mediana de dez dias.
Para 133 pacientes com a data de óbito preenchida, em 1,8 dia após a notificação (mediana de 0 dia). O
o tempo médio de evolução entre o início de sintomas intervalo de tempo transcorrido entre a notificação e
e o óbito foi de cinco dias, mediana de quatro e moda a investigação variou de 0 a 151 dias.
de três dias. Em relação ao intervalo entre a internação
e o óbito, a média foi de 1,8 dias e a mediana de 0 dia. Discussão
Em 95,5% (127/133), os óbitos ocorreram em até sete
dias após a admissão hospitalar. Os primeiros registros de hantavirose no Brasil
Dos 180 pacientes que evoluíram para cura, a datam de 1993, no Estado de São Paulo. A detecção de
informação sobre a data da alta estava disponível em casos na região do Cerrado, entretanto, acontece desde
46,1% (83/180). O tempo médio de internação dos 1996. No período de análise do estudo, verificou-se
pacientes que receberam alta por cura foi de 8,8 dias, que 28,6% (320/1.119) dos casos ocorreram em
com mediana de sete dias. Aproximadamente 90,4% municípios que compõem o bioma Cerrado brasileiro
dos pacientes tiveram alta até o 14º dia. e correspondem a 54,0% (186/343) dos municípios
Em relação ao tratamento, necessitaram de assistên- com transmissão de hantavirose no país. Apesar de os
cia respiratória mecânica 49,4% (116/235) dos casos; estados de Mato Grosso do Sul e Tocantins contarem
e no que se refere ao suporte terapêutico dos pacientes com áreas extensas desse bioma, não apresentaram
internados com SCPH (informação disponível nos registros de casos até o momento. Em Mato Grosso
anos de 2007 e 2008), 77,2% dos casos receberam do Sul, porém, há evidências de circulação do vírus:
antibioticoterapia e a utilização de drogas vasoativas em 2004, investigação eco-epidemiológica realizada
foi observada em 39,7% (25/63) dos casos. pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) identi-
Dos 320 casos de hantavirose confirmados nesse ficou um roedor-reservatório infectado e há registro
período, 93,8% (300/320) foram por critério labo- de que pelo menos uma pessoa nativa, sem histórico
ratorial, 1,6% (5/320) por critério clínico-epide- de deslocamento para fora do estado, apresentou an-
miológico; e em 4,6% (15/320) essa variável não se ticorpos da classe IgG reagentes para hantavírus. Em
encontrava preenchida, embora, quando verificada a estudo realizado por Serra,14 também se identificou a
classificação final, estes casos apresentassem resulta- circulação de hantavírus entre indígenas do estado.
dos confirmados para hantavirose. A partir de 2000, observou-se um aumento no
Entre as principais atividades e exposições de número de casos na área do Cerrado, com destaque
risco determinadas pela investigação epidemiológica, para 2004, quando foi registrada a maior frequência
38,1% (122/320) estavam associadas ao contato com de casos em função do surto ocorrido no Distrito
roedores e 36,3% (116/320) à limpeza de edificações Federal. A partir desse ano, observou-se uma redução
como paióis, celeiros, casas abandonadas ou fechadas de casos, embora a letalidade tenha-se mantido em
por qualquer tempo. torno dos 45,0%, o que demonstra a gravidade dessa
Quanto às características do LPI, 75,3% (213/320) enfermidade e a necessidade de implementar ações de
dos pacientes infectaram-se em área rural ou silvestre vigilância e assistência, visando à detecção precoce do
e 45,7% (121/320) em atividades laborais. maior número de casos. Figueiredo e colaboradores15
O prazo médio decorrido entre a data de início de sugerem que a letalidade em pacientes de hantavirose
sintomas e a notificaçao foi de 8,6 dias (0-291 dias), pode estar relacionada às variantes de hantavírus
sendo a mediana de 4 dias. Sobre as informações entre que apresentam diferentes tipos de virulência. Nesse
o primeiro atendimento e a notificação, a média foi de mesmo estudo, os autores demonstraram que a leta-
5,6 dias (0 a 286 dias), sendo a mediana de 2 dias. lidade de hantavirose no Planalto Central foi maior
Do total de casos, 42,4% foram notificados em até 24 quando comparada à letalidade dos casos da região Sul
horas após o primeiro atendimento. (p=0,0051). A letalidade média no bioma Cerrado foi
Em relação à investigação epidemiológica, 84,3% maior quando comparada à letalidade média no país
(270/320) dos casos foram investigados no dia 0, ou (39,6%) e na Mata Atlântica (32,4%).
seja, na mesma data da notificação, e 95,0% (304/320) No que se refere à distribuição temporal, observou-
tiveram a investigação iniciada até o quinto dia após se, na ocorrência mensal de casos, concentração entre
a notificação. Em média, a investigação foi realizada os meses de abril a agosto, que correspondem ao perí-
odo de seca, quando há maior densidade populacional No presente estudo, 97,8% dos pacientes necessi-
de roedores dada a disponibilidade de alimentos.7 taram de assistência hospitalar. O tempo médio entre
Essa concentração de casos de hantavirose no Cerrado o início de sintomas e o primeiro atendimento foi de
difere da observada no bioma Mata Atlântica, onde 2,7 dias; e entre o início de sintomas e a internação,
os picos de registros ocorreram entre os meses de 3,6 dias. Apesar de o paciente procurar assistência
setembro e dezembro.7,15-17 precocemente, 70,0% dos óbitos ocorreram até
O perfil dos pacientes foi semelhante aos descritos o 5º dia de doença, o que pode estar associado à
em outros estudos realizados no Brasil e em países das rápida evolução clínica, da fase prodrômica para a
Américas, em que o sexo masculino e os adultos jovens fase cardiopulmonar. Ademais, considerando-se que
foram os mais acometidos.18-21 Essas informações, asso- 97,8% dos pacientes foram hospitalizados, e devido
ciadas à ocupação dos pacientes, o local e o ambiente à gravidade da doença e aos resultados observados,
de infecção reforçam os resultados descritos em estudos infere-se que o sistema de vigilância da hantavirose
anteriores sobre o perfil dos pacientes no Brasil, onde é deficiente para a detecção de formas clínicas leves
a hantavirose tem se mostrado associada às atividades ou inespecíficas, quer pela falta de informação da
relacionadas ao trabalho.13-15 Vale destacar que, embora população e de profissionais de saúde sobre a doen-
a raça branca apresente maior proporção de casos, ela ça, quer pelo próprio acesso do usuário a serviços
não está especificamente associada à doença. assistenciais.
Apesar da ocorrência de apenas 23,0% (74/320) A hantavirose é um agravo de notificação imediata.
dos casos de hantavirose no sexo feminino, a letali- Sua investigação deve ser realizada em até 48 horas,
dade para esse sexo foi maior quando comparada à conforme descrito na Portaria nº 5/2006.22 Não obs-
dos cacos do sexo masculino. Elkhoury20 encontrou tante, o tempo transcorrido entre a notificação e o
resultados semelhantes quando analisou os casos de primeiro atendimento foi, em média, de 8,6 dias, e
hantavirose no Brasil, no período de 1993 a 2006. entre a notificação e investigação dos casos, em média,
Diante desses achados e das situações/exposições de de 2 dias – em um intervalo de registro de 0-151 dias.
risco dos pacientes em contato com roedores20 e/ou
dedicados a atividades de limpeza, pode-se inferir que a mulher, por realizar atividades
a mulher, por realizar atividades domésticas como domésticas como varredura de
varredura de ambientes considerados de risco, está ambientes considerados de risco,
exposta a uma maior concentração de carga viral,
com possibilidade de agravamento do quadro clínico. está exposta a uma maior
Em relação aos sinais e sintomas registrados neste concentração de carga viral.
estudo, observou-se que a febre tem grande importância
na detecção de casos, pois foi encontrada em 95,6% de- Entre as limitações deste estudo, pode-se citar as
les. Este resultado é semelhante ao obtido por Elkhoury alterações do sistema de informação – Sinan – e da
e Limongi e colaboradores, que revelaram a presença ficha de investigação, o número de variáveis em branco
de febre em 95,3% e em 100,0% dos casos, respecti- ou ‘ignorada’, as limitações inerentes a uma análise de
vamente.19,20 Estudo realizado no bioma Mata Atlântica, dados secundários, especialmente quanto à qualidade
no entanto, constatou registro de febre em 78,0% dos da informação, e ainda, o não sequenciamento da va-
casos,10 o que difere dos achados deste estudo. riante de hantavírus em todos os pacientes acometidos
Apesar de a mialgia ser um dos sinais clínicos para a pela doença na região do Cerrado, o que impossibilitou
identificação de suspeitos, conforme definição de casos análises entre manifestações clínicas e letalidade com
normatizada pela vigilância da hantavirose no Brasil, a espécie de hantavírus circulante.
não foi possível mensurá-la no período de análise, de Apesar das limitações encontradas, nos últimos
1996 até 2006, pois a variável era de preenchimento anos, tem-se observado uma melhora gradativa, tênue,
“aberto”. Chama a atenção que, a partir de 2007, no sistema de vigilância epidemiológica da hantavirose.
quando a ficha de investigação de hantavirose foi É mister adotar várias medidas visando à melhoria dos
reestruturada, esse sintoma passou a ter importância componentes e características desse sistema, entre
clínica, registrado em 75,0% dos casos. eles: fluxo de informação da notificação compulsória
imediata, dos serviços assistenciais para o serviço local A análise comparativa entre os resultados permitirá
de vigilância epidemiológica; qualidade da investiga- ampliar e aprofundar o conhecimento da hantavirose
ção; disponibilidade de metodologias diagnósticas que no Brasil.
permitam identificar as variantes associadas à doença; Não obstante, as atividades de informação e
comunicação em saúde; capacitação de profissionais educação para a população sob risco devem ser
das áreas de vigilância epidemiológica e assistencial; contínuas e permanentes, respeitadas as identidades
e monitoramento da qualidade das informações cole- da epidemiologia da hantavirose em cada área. A rea-
tadas e disponibilizadas. lização de estudos eco-epidemiológicos sobre as áreas
Estudos da hantavirose e seu comportamento epi- consideradas – epidemiologicamente – ‘silenciosas’
demiológico nos demais biomas brasileiros onde esse permitirão conhecer e definir as características e a
agravo ocorre, sob a forma de casos isolados ou de extensão geográfica real das áreas de risco para a
endemia, devem ser alvo de nossa atenção imediata. hantavirose no Brasil.
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Kátia Cesa
Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil
Claídes Abegg
Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil
Denise Aerts
Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva, Universidade Luterana do Brasil, Canoas-RS, Brasil
Resumo
Objetivo: estudar a vigilância do fluoreto nas águas de abastecimento público nas capitais brasileiras, em 2005. Metodo-
logia: os dados foram coletados por meio de questionário preenchido pelas coordenações locais do Programa de Vigilância
em Saúde Ambiental relacionada à Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua) nas secretarias municipais de saú-
de, e da base de dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) do
Ministério da Saúde; foram analisados 1.911 registros do parâmetro fluoreto. Resultados: em 2005, 17 capitais brasileiras
(62,9%) fluoretavam as águas de abastecimento público e, dessas, apenas cinco (29,4%) realizaram as etapas de coleta,
análise e divulgação do parâmetro fluoreto; o maior índice de adequação dos teores foi em Porto Alegre-RS (80,0%) e o
menor em Aracaju-SE (28,5%). Conclusão: embora seja a fluoretação de águas a principal política pública de prevenção
de cáries no país, na maior parte das capitais brasileiras, os níveis de fluoreto nas águas de abastecimento não foram moni-
torados pelo Vigiágua em 2005; evidencia-se a necessidade de um maior compromisso intersetorial para a qualificação da
fluoretação de águas no país.
Palavras-chave: fluoretação de águas; qualidade da água; vigilância; saúde ambiental.
Summary
Objective: to study the fluoride surveillance in public water supplies in Brazilian capitals, in 2005. Methodology:
data was collected through a questionnaire completed by the local coordinations of the Surveillance Program on Envi-
ronmental Health related with Quality of Water for Human Consumption (Vigiagua) in Municipal Health Secretariats,
and from database of the Surveillance Information System of Quality of Water for Human Consumption (Sisagua),
of the Brazilian Ministry of Health; 1,911 fluoride records were evaluated. Results: in 2005, 17 Brazilian capitals
(62.9%) fluoridated their public water supply; of those, only five (29.4%) carried out the steps of collection, analysis,
and publishing of fluoride parameter; the highest rate of appropriateness of fluoride levels was found in Porto Alegre-RS
(80.0%), and the lowest in Aracaju-SE (28.5%). Conclusion: water fluoridation is the main public policy for prevention
of caries in Brazil; even though, in most Brazilian capitals, levels of fluoride in water supplies were not monitored by
Vigiágua in 2005; this shows the need of a greater intersectoral commitment to improve water fluoridation in the country.
Key words: water fluoride; water quality; surveillance; environmental health.
Boa Vista
Macapá
Belém
Manaus São Luís
Fortaleza
Natal
Teresina João Pessoa
Rio Branco Recife
Porto Velho
Maceió
Palmas Aracaju
Salvador
Cuiabá Brasília
Goiânia
Belo Horizonte
Campo Grande Vitória
Figura 1 - Mapa da distribuição das capitais brasileiras com e sem fluoretação de águas. Brasil, 2005
faziam-no a partir dos relatórios recebidos das Das 17 capitais que informaram realizar a fluoreta-
companhias de abastecimento, ou seja, sem realizar ção de águas, cinco (29,0%) realizaram, no período
a coleta de amostras. Nas sete equipes que rotineira- do estudo, todas as etapas que constituem um sistema
mente coletavam amostras para análise do fluoreto de vigilância: Curitiba-PR; Porto Alegre-RS; Aracaju-SE;
em seus municípios, a frequência mensal do número Vitória-ES; e São Paulo-SP. Dificuldades relacionadas à
de amostras variou de 25, em Aracaju-SE, a 67, em vigilância do parâmetro fluoreto foram referidas pelas
Curitiba-PR. outras 12 capitais. Entre elas, a ausência de infraes-
Seis capitais sistematizaram, em meio eletrônico, trutura (veículo, recursos humanos, computadores)
os resultados referentes ao fluoreto: Aracaju-SE, e de laboratório ou equipamentos para análise foram
Fortaleza-CE, Vitória-ES, São Paulo-SP, Curitiba-PR e as principais razões apontadas.
Porto Alegre-RS. Dessas, apenas em São Paulo-SP não O número de amostras preconizadas pelo plano de
houve a alimentação do Sisagua no período do estudo, amostragem do Vigiagua, informadas no questionário e
pois o município paulistano utiliza um banco de dados registradas no Sisagua, é apresentado na Tabela 1. Em
próprio para a sistematização das informações da Salvador-BA, as 256 amostras informadas correspon-
qualidade da água. deram exclusivamente ao período de janeiro a julho de
Cinco capitais afirmaram emitir relatórios e 2005, razão porque a média anual não foi calculada.
divulgá-los para a população e outras instituições. Em Aracaju-SE e Fortaleza-CE, o número de amostras
Entre as instituições citadas, encontram-se o Conselho registradas no Sisagua foi inferior a 50,0% do número
Municipal de Saúde (Porto Alegre-RS; Curitiba-PR), a de amostras informadas.
Coordenação de Saúde Bucal da Secretaria Municipal Na base de dados Sisagua foram encontrados 6.058
de Saúde (Vitória-ES; Porto Alegre-RS), o Ministério registros referentes a análises físico-químicas e bacte-
da Saúde (São Paulo-SP; Porto Alegre-RS), a Vigilância riológicas em amostras de água coletadas pelas equipes
Estadual (São Paulo-SP; Porto Alegre-RS), o Sindicato de vigilância das 17 capitais com fluoretação. Dessas,
dos Odontólogos (Aracaju-SE) e Faculdades de Odon- apenas em Porto Alegre-RS, Curitiba-PR, Vitória-ES,
tologia, Assembleia Legislativa e Câmara de Vereadores Aracaju-SE e Fortaleza-CE houve o registro dos valores
(Porto Alegre-RS). referentes ao parâmetro fluoreto nas amostras, tota-
Em Fortaleza-CE, embora tenham sido cumpridas as lizando 1.911 registros válidos para a análise de sua
etapas de um sistema de vigilância – coleta, análise e adequação. A capital que apresentou o maior índice
sistematização dos resultados –, não houve a emissão de adequação nas amostras foi Porto Alegre-RS, com
de relatórios e divulgação dos resultados. 80,0% dos teores na faixa recomendada; o menor
Tabela 1 - Número de amostras de água para análise do parâmetro fluoreto preconizado pela diretriz nacional
do Vigiágua,a informado por mês e ano, registrado no Siságuab segundo capitais brasileiras.
Brasil, 2005
índice foi de 28,5%, em Aracaju-SE (Figura 2). Nas Coordenação Nacional de Saúde Bucal, do Ministério
cidades de Curitiba-PR, Aracaju-SE e Fortaleza-CE, da Saúde. O monitoramento contínuo, a análise re-
o número total de amostras inadequadas superou o gular dos níveis de fluoreto encontrados na água de
de adequadas,16 sendo encontrado o maior índice de abastecimento e a permanente avaliação do impacto
teores, acima de 0,8 ppm, em Fortaleza-CE (34,8%) e, epidemiológico dessa medida devem orientar as es-
em Aracaju-SE, abaixo de 0,6 ppm (65,0%). tratégias adotadas pelos programas de saúde bucal e
pelas equipes responsáveis pela vigilância da qualidade
Discussão da água nos municípios.
Em Cuba, o Sistema Nacional de Vigilância da
O Programa de Vigilância em Saúde Ambiental rela- Fluoretação trouxe grande contribuição na tomada
cionado à Qualidade da Água para Consumo Humano de decisões quanto às fontes de abastecimento na-
já foi implantado em grande parte dos municípios turalmente fluoretadas e com teores superiores a
brasileiros.17 O Vigiagua traz uma nova dinâmica 1,5 ppm.19
para as ações de coleta, sistematização e análise dos Em 2005, a fluoretação de águas não foi realizada
dados referentes à fluoretação de águas no país. As em 37,0% das capitais brasileiras, estando a sua maio-
informações geradas por esse sistema possibilitam a ria concentrada nas macrorregiões Norte e Nordeste.
identificação de áreas onde são necessários esforços O levantamento nacional das condições de saúde bucal
para a promoção da saúde e prevenção de agravos, constatou que até os 12 anos a proporção de dentes
além de contribuir para o aumento da percepção cariados foi significativamente maior nessas regiões.20
pública a respeito da importância dessa medida na Seguramente, além da ausência de fluoretação de
prevenção de cáries.18 águas, outros indicadores sociodemográficos contri-
No Brasil, essas informações podem colaborar buem para a ocorrência desse resultado. Entretanto,
para o mapeamento das áreas de risco para fluorose existem dados convincentes sugerindo que para essas
dentária, identificando grupos populacionais expos- populações poderia haver grandes benefícios com
tos, sendo uma responsabilidade intersetorial, pois a implantação desse método coletivo de acesso ao
envolve a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) e a fluoreto.21,22
90,0
80,0
80,0
70,9
70,0 65,0
60,0
Ausente
50,0 Abaixo
Taxa (%)
44,9
Adequado
38,4
40,0 34,8 Acima
29,1 28,4
30,0 26,0
24,6
20,4
20,0
14,6
10,0 8,7
5,4 6,6
0,0 0,0 0,0 2,2
0,0
Porto Alegre Curitiba Vitória Aracaju Fortaleza
Capitais
Figura 2 - Adequação dos teores de fluoreto registrados no Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade
da Água para Consumo Humano – Sisagua – segundo capitais brasileiras. Brasil, 2005
A baixa cobertura da fluoretação de águas nessas registradas no Sisagua. Possivelmente, esse resultado
regiões brasileiras é um exemplo concreto de omissão está associado a problemas na infraestrutura labora-
do poder público local, tendo em vista a obrigatorieda- torial, uma vez que essa foi a dificuldade mais citada
de dessa medida, regulamentada por legislação federal pelos gestores do Vigiagua na operacionalização da
desde 1974. Burt, ao revisar as evidências de estudos vigilância dos teores de fluoreto nas águas.
nos Estados Unidos da América (EUA), Grã-Bretanha, O presente estudo encontrou a utilização de dados
Austrália e Nova Zelândia, indicou que a fluoretação provenientes dos relatórios enviados pelas companhias
de águas não somente reduz a alta prevalência e seve- de abastecimento de água como única fonte de análise
ridade de cáries como também as disparidades entre para a vigilância, em Brasília-DF e no Rio de Janeiro-
grupos socioeconômicos.23 RJ. De acordo com diversas pesquisas realizadas no
Nas 17 cidades com fluoretação de águas, foram país, as informações repassadas pelas companhias
avaliadas as quatro etapas fundamentais de um siste- são consideradas pouco confiáveis – não fidedignas
ma de vigilância: coleta de amostras, sistematização, –, tornando imprecisas as análises realizadas.12,14,28-30
análise dos resultados e indispensável divulgação para O Sisagua, ao consolidar informações para ava-
quem necessita conhecê-los.24 liação da qualidade da água, desempenha papel
A coleta de água, etapa imprescindível para a con- fundamental para a vigilância epidemiológica da cárie
fiabilidade dos resultados do sistema, foi realizada em dentária e fluorose. Cabe destacar que, sobre o total
apenas sete capitais, sendo observada grande variação de amostras registradas no Sisagua, o fluoreto foi
no número de amostras para análise do fluoreto. analisado em apenas 31,0% delas, referentes a cinco
Colosimo, em estudo realizado para determinação capitais brasileiras. Faz-se necessária uma participação
estatística do número de amostras para a vigilância mais ativa dos diferentes atores envolvidos na vigilância
da qualidade da água de consumo humano, verificou da qualidade da água, para a efetiva utilização dessa
que entre todos os parâmetros analisados o fluoreto base de dados na tomada de decisão com relação
foi o que apresentou a maior instabilidade de seus à inadequação dos teores de fluoreto, amplamente
teores na série histórica estudada.25 Em função disso, relatadas na literatura.28-32
o Plano Nacional de Amostragem do Vigiagua deter- Quanto à etapa de divulgação dos teores encon-
minou um número mínimo de amostras mensais que trados, na maioria das capitais estudadas não houve
varia desde cinco amostras/mês para municípios com o intercâmbio de informações entre o Programa Vi-
menos de 50 mil habitantes até 68 amostras/mês para giagua e as diferentes instituições com interesse nessa
municípios com mais de 10 milhões de habitantes. medida, uma vez que os dados não foram repassados
Conforme a Tabela 1, com exceção de Fortaleza-CE às Coordenações de Saúde Bucal, Conselhos de Saúde
e São Paulo-SP, todas as capitais com informações ou universidades. As equipes que realizam a vigilân-
no Sisagua respeitaram a determinação do número cia da qualidade da água têm a responsabilidade de
de amostras mínimas proposto pelo Plano Nacional instrumentalizar as instâncias de gestão do SUS com
para o fluoreto.26 dados indispensáveis para a definição de estratégias,
Em Salvador-BA não foi respeitada a distribuição para assegurar o benefício da fluoretação e prevenir
uniforme das coletas de amostras ao longo de 2005, a ocorrência de fluorose dentária.
como preconiza os princípios de amostragem da Nos EUA, o Sistema de Informações de Fluoretação
Portaria MS no 518/2004.9 Esse fato compromete o de Águas, do Center for Disease Control and Pre-
diagnóstico e, consequentemente, a avaliação do risco vention (CDC), disponibiliza relatórios online para
e efetividade da medida, impedindo o dinamismo e a os estados componentes do sistema e publica dados
agilidade necessária para a execução de um sistema de municipais com o objetivo de facilitar o conhecimento
vigilância. Castro e Câmara alertam para a necessidade público sobre a fluoretação de água, em um esforço
do monitoramento do fluoreto nas águas de abasteci- para promover os ajustes devidos.18 No Brasil, avanço
mento público em Salvador, já que, com base em dados nesse sentido constitui o Decreto Presidencial nº
secundários, foi demonstrada uma grande inadequa- 5.440/2005, ao instituir mecanismos e instrumentos
ção desses teores.27 Em Aracaju-SE e Fortaleza-CE, que favorecem a divulgação de informações sobre a
menos de 50,0% do total de amostras coletadas foram qualidade da água para o consumidor, tanto nas contas
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Detection of the Legionella Genus in Water Samples from Air Conditioning Systems
Resumo
Objetivo: determinar a presença de Legionella sp. em amostras de água de sistemas de ar condicionado. Metodologia:
foram analisadas 41 amostras de água de sistemas de ar condicionado; as amostras foram concentradas em membrana,
seguindo-se seu tratamento ácido; alíquotas das amostras tratadas e não tratadas com ácido foram inoculados em BCYE
α-ágar, com e sem antibióticos. Resultados: quatro (9,8%) das amostras analisadas apresentaram resultado positivo para
Legionella sp.; uma foi identificada como Legionella pneumophila sorogrupo 1, confirmando-se a presença de Legionella
sp. nos sistemas de ar condicionado estudados; observou-se uma maior frequência dos isolados em hospitais. Conclusão:
os achados demonstram a importância e a necessidade de se programar planos de monitorização de sistemas de ar condi-
cionado, como medida preventiva contra a colonização por patógenos.
Palavras-chave: Legionella; água; ar condicionado.
Summary
Objective: the study aims to determine Legionella presence in water samples from air-conditioning systems.
Methodology: 41 samples of water from air-conditioning systems were concentrated on membrane, and received
acid treatment; aliquots of the sample treated and not treated with acid were inoculated on BCYE-α agar medium,
with and without added antibiotics. Results: from the samples analyzed, 4 (9.8%) were positive for Legionella sp.;
one was identified as Legionella pneumophila serogroup 1, revealing the presence of Legionella sp. in those systems; it
was observed a higher frequency in isolates from hospitals. Conclusion: the results demonstrate the importance and
the need of monitoring plans in air-conditioning systems as a preventive measure against colonization by pathogens
Key words: Legionella; water; air conditioning.
* O estudo contou com o apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)/
Ministério da Educação.
de água destilada, submetido a agitação utilizando-se tampão e o quinto reagente é o controle negativo,
agitador de tubos do tipo vortex, por três vezes durante composto por suspensão de células de L. spiritensis
30 segundos. Após a ressuspensão do material aderido em tampão não reativo com os reagentes do teste. O
à membrana, volume de 1mL da amostra foi submetido quarto e quinto reagentes são utilizados para verifica-
a tratamento com ácido. O restante da amostra não foi ção do correto funcionamento dos reagentes do látex.
submetido a esse tratamento. O sexto reagente é um látex de controle, constituído de
Para o tratamento com ácido, 1,0mL da amostra foi partículas de látex azul sensibilizadas com globulina
transferido para um tubo de ensaio e a esse volume foi de coelho não reativa.
adicionado 1,0mL da solução para tratamento ácido Para o controle positivo dos testes de látex, foi
(KCl/HCl 0,2M). A solução é mantida em repouso por utilizada uma cepa de L. pneumophila INCQS 00437,
15 minutos, passados os quais adicionou-se 1,0 mL correspondente a ATCC 33737; e para o controle
de solução alcalina (KOH 0,1N) para neutralizar a negativo, foi utilizada água destilada.
ação do ácido. Na avaliação do desempenho do método, utilizou-se
Uma alíquota de 0,1mL de cada uma das amostras lentícula com concentração conhecida de Legionella
– tratada com ácido e não tratada – foi inoculada, pneumophila (4,38x104UFC/disc), produzido pela
em triplicata, pela técnica de spread plate, em placas ‘Health Protection Agency’ (HPA). A lentícula foi
de Petri contendo ‘Buffered Charcoal Yeast Extract reidratada em 1mL de solução de tampão fosfato,
Alpha Base’ (BCYE-alfa) e BCYE-alfa suplementado seguindo-se as instruções do fabricante. Logo, a so-
com glicina, vancomicina, polimixina B e cicloexi- lução foi transferida a um frasco estéril contendo 1L
mina (GVPC). As placas de Petri foram incubadas a de solução-tampão de fosfato estéril, então submetida
35°C±0,5°C. ao mesmo processo de isolamento de Legionella já
Com 48 horas de incubação, foi feita a primeira descrito aqui.
leitura de placas. Após a primeira leitura, as placas A taxa de recuperação foi obtida de acordo com a
foram incubadas por um período de até oito dias, seguinte equação:
sendo examinadas diariamente durante todo o período.
As colônias típicas foram transferidas para os meios R (%) = [(concentração de Legionella / 4,38x104)] x 100
de cultura BCYE-alfa e BCYE sem cisteína, e incubadas
a 35°C±0,5°C por 24 horas, para confirmação do Para a avaliação das condições sanitárias dos
gênero Legionella. sistemas de ar condicionado avaliados, realizou-se a
As colônias confirmadas como Legionella sp. quantificação de bactérias heterotróficas de acordo
foram submetidas ao teste de látex Oxoid®, para com os ‘Standard Methods for Examination of Water
identificação de espécies. O teste de látex é composto and Wastewater’ (APHA 2000),15 mediante técnica
por uma cartela de reação, uma suspensão-tampão de pour plate, utilizando-se o ‘Plate Count Agar’
e seis reagentes. O primeiro reagente identifica L. (Difco®,USA), com tempo de incubação de 48 horas
pneumophila sorogrupo 1; consiste de partículas de a 35±0,5oC.
látex azul sensibilizadas com anticorpos de coelho es-
pecíficos contra o antígeno do sorogrupo 1. O segundo Resultados
reagente identifica L. pneumophila sorogrupos 2 a 14
e consiste de partículas de látex azul sensibilizadas com Das 41 amostras de água analisadas dos sistemas
anticorpos de coelho específicos contra o antígeno de ar condicionado, quatro (9,8%) foram positivas
do sorogupo 2 a 14. O terceiro constitui um soro para a presença de Legionella sp. como mostra a
polivalente, que identifica seis prováveis espécies – L. Figura 1.
longbeachae; L. bozemanni; L. dumoffi; L.gormanii; Três das quatro amostras positivas para a presença
L. jordanis; L. micdadei; e L. anisa – e consiste de de Legionella sp. foram obtidas a partir do sistema
partículas de látex azul sensibilizadas com anticorpos localizado no hospital HO1. Das cepas isoladas do
de coelho específicos contra essas seis espécies. O ponto HO1 M1, uma foi identificada como Legionella
quarto reagente é o controle positivo, ou seja, uma pneumophila sorogrupo 1, com concentração de
suspensão polivalente de células de Legionella em 1,0x10²UFC/L; a outra foi identificada como uma das
9,8%
Negativo
Positivo
90,2%
Figura 1 - Porcentagem de resultados positivos para a presença de Legionella sp. em amostras de água de
bandejas de sistemas de ar condicionado examinadas, coletadas em edifícios do município de São
Paulo-SP. Brasil, julho de 2007 a agosto de 2008
seis possíveis espécies segundo o teste de látex – L. As medidas de pH mostraram pouca variação entre
longbeachae; L. bozemanni; L. dumoffi; L. gorma- as amostras avaliadas: uma (2,4%) apresentou pH 4,0;
nii; L. jordanis; L. micdadei; e L. anisa –, exibindo quatro (9,8%) apresentaram pH 6,0; e 36 (87,8%)
concentração de 2,0x10²UFC/L. A espécie isolada do apresentaram pH 5,0. As medidas de cloro residual
ponto HO1 M2, igualmente, foi identificada como uma livre também mostraram pouca variação: apenas uma
das seis possíveis espécies segundo o teste de látex, amostra coletada no IES e outra no CC M2 apresenta-
com concentração de 1,6x10²UFC/L. E a quarta espécie ram concentração de cloro residual livre, com valores
isolada de Legionella, obtida de amostra proveniente de 0,1 e 1,5mg Cl/L, respectivamente. Todas as demais
do CC M3, também foi identificada como uma das seis amostras apresentaram valores <0,1mg Cl/L.
espécies supracitadas, apresentando concentração de O resultado de desempenho do método utilizado
1,3x10²UFC/L. foi uma taxa de recuperação de Legionella de 51,0 a
Em relação às condições higiênico-sanitárias, a 75,0% (desvio padrão de ±10,44%).
concentração de bactérias heterotróficas variou de
<1 a 2,62x104UFC/mL, como mostra a Tabela 1. Discussão
Observou-se, entre os pontos de coleta, maior concen-
tração desses organismos entre os meses de novembro Os resultados obtidos por este estudo revelaram a
e dezembro, quando se registram temperaturas mais ocorrência do gênero Legionella em sistemas de ar
elevadas. condicionado: das 41 amostras de água analisadas,
A média de temperatura nos pontos de coleta foi de quatro (9,8%) foram positivas para a presença da
14,1°C, variando de uma máxima de 19,0°C à mínima bactéria. Esses resultados corroboram os achados de
de 12,0°C. No hospital HO1, ponto HO1 M1, a média Pellizari e colaboradores,12 Turetgen e colaboradores5
da temperatura da água foi de 15,5°C; e no ponto HO1 e Carvalho e colaboradores.14
M2, verificou-se média de 14,5°C. No hospital HO2, a Três dos quatro isolados de Legionella foram
média observada foi de 14,0°C. No instituto de ensino obtidos a partir de amostras oriundas dos sistemas
superior, IES, a temperatura média foi de 15,2°C. de ar condicionado do hospital HO1, sendo dois
E no centro comercial, CC, as temperaturas médias isolados da mesma máquina de ar condicionado.
encontradas nos pontos CC M1, CC M2 e CC M3 foram Esse resultado evidencia que a manutenção dessa
de 13,0°C, 13,5°C e 13,5°C, respectivamente. máquina pode estar sendo negligenciada e, portanto,
Tabela 1 - Concentração de bactérias heterotróficas e de Legionella sp. nas amostras de bandejas de água de
sistemas de ar condicionado examinadas, coletadas em edifícios do município de São Paulo-SP.
Brasil, julho de 2007 a agosto de 2008
favorecendo a formação de biofilmes e colonização estas podem permanecer viáveis mas não cultiváveis.
por bactérias patogênicas como as do gênero Legio- O fato de as células se apresentarem não cultiváveis,
nella. Os outros isolados foram identificados como porém viáveis, leva a um número subestimado de
seis possíveis espécies de importância clínica, haja organismos no ambiente estudado.17
vista serem considerados responsáveis por causar O teor de concentração do cloro utilizado como
pneumonia nosocomial.16,17 desinfetante nesses sistemas também pode influenciar
As concentrações de Legionella sp. obtidas varia- a taxa de crescimento desses organismos. Estudo
ram de 1,0x10²UFC/L a 2,0x10²UFC/L. Os achados realizado por Gião e colaboradores24 demonstrou
destes autores coincidem com os resultados relatados que diferentes concentrações de cloro podem afetar
por Bentham,18 que analisou amostras de água de o desenvolvimento da bactéria. No presente estudo,
sistemas de ar condicionado associados a surtos de porém, não foi possível estabelecer tal relação, já
legionelose, nos quais obteve concentrações abaixo que a maioria das amostras apresentou concentração
de 100UFC/mL. O autor sugere que concentrações de cloro <0,1mg Cl/L; e nas amostras cuja concen-
elevadas de Legionella sp. nesses sistemas não são tração foi maior que 0,1mg Cl/L, Legionella sp. não
comuns, ocorrem esporadicamente e, nesses episódios foi isolada.
de pico, podem resultar em surtos da doença. De acordo com os resultados aqui obtidos, pode-
Segundo Stout e colaboradores,3 a concentração de se concluir que o gênero Legionella sp. esteve pre-
Legionella sp. não é relevante para a avaliação de risco sente nos sistemas de ar condicionado examinados,
de surtos. Relevante seria a presença desse patógeno incluindo-se a espécie L. pneumophila sorogrupo 1,
associado à extensão da área colonizada pela bactéria. a qual foi isolada de sistema de ar condicionado de
O mesmo foi observado por Armstrong e colaborado- um dos hospitais participantes. Esse resultado denota
res,19 que relataram a exposição a uma cepa virulenta que a manutenção preventiva desses equipamentos
suficiente para causar a doença. merece especial atenção. A presença dessas bacté-
As faixas de concentrações de bactérias hetero- rias representa risco aos ocupantes de ambientes
tróficas encontradas foram de <1 a 2,62x104UFC/ climatizados, especialmente no ambiente hospitalar,
mL. Relatos encontrados na literatura consultada onde há maior frequência de pessoas com a saúde
sugerem associação entre a presença de biofilme e comprometida.
a presença do gênero Legionella.20-22 No presente Ressalta-se, portanto, que o monitoramento e vi-
estudo, entretanto, não foi possível demonstrar essa gilância permanente de sistemas de ar condicionado
relação dado o número de amostras positivas para faz-se necessário para prevenir a colonização desses
a presença de Legionella sp. e a grande variação sistemas por organismos patogênicos e, assim, prote-
na concentração de bactérias heterotróficas nas ger a saúde dos ocupantes e usuários em ambientes
amostras analisadas. climatizados.
A média de temperatura encontrada nos pontos de
coleta foi de 14,1°C. Segundo Rogers e colaboradores,4 Agradecimentos
sob condições de temperaturas inferiores a 20°C, a
taxa de crescimento da bactéria diminui ou não é À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
observada. Nessas condições, os organismos podem Nível Superior – Capes –, do Ministério da Educação,
permanecer viáveis, porém não cultiváveis.9,23 pelo apoio financeiro a este estudo.
Outro fator que pode ter influenciado no baixo À Dra. Maria Inês Zanoli Sato e à Dra. Elayse
número de isolamentos é que as amostras apresenta- Maria Hachich, da Companhia Ambiental do Estado
ram valores de pH 6,0 em todas as ocasiões avaliadas. de São Paulo – CETESB –, pelas cepas de Legionella
Embora a baixa temperatura e o pH de caráter ácido pneumophila essenciais para a realização deste
possam causar alterações fisiológicas nas células, trabalho.
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Resumo
Objetivo: o estudo se propõe a uma revisão sistemática da publicação científica sobre os fatores associados à leptospirose no
Brasil, no período 2000-2009. Metodologia: rastrearam-se estudos no SciELO, MEDLINE e LILACS; 11 artigos foram elegidos para
a revisão. Resultados: sete estudos associaram a ocorrência de chuva ou enchentes com o aumento do número de casos; em área
urbana, a leptospirose foi relacionada aos baixos níveis socioeconômicos, ao aumento da precipitação pluviométrica e à família
que apresentou um caso de leptospirose; em área rural, a doença foi associada às atividades ocupacionais (plantação de arroz e
lavoura irrigada). Conclusão: os fatores envolvidos na transmissão da leptospirose são diferentes em relação à área urbana e rural
e as medidas preventivas devem se voltar a esses fatores.
Palavras-chave: leptospirose; literatura de revisão (como assunto); epidemiologia.
Summary
Objective: this study aims a systematic review of the published literature on epidemiological and demographic characte-
ristics of leptospirosis in Brazil, in the period 2000-2009. Methodology: studies were traced in SciELO, MEDLINE, and LILACS;
11 articles were considered eligible for the review. Results: seven studies associated the occurrence of rain or flooding with
the increase number of cases; in urban areas, leptospirosis was related to low socioeconomic levels, increased of rainfall
and household with a case of leptospirosis; in rural areas, the disease was associated with occupational activities (rice fields,
and irrigated farming). Conclusion: factors involved in the transmission of leptospirosis are different for urban and rural
areas, and prevention measures must be focused on these factors.
Key words: leptospirosis; review literature (as topic); epidemiology.
optou-se por adicionar o termo ‘Brazil’ e obteve-se, Barcellos e Sabroza18 selecionaram casos oriundos
respectivamente, 75 e 53 publicações. A somatória dos dos serviços de atenção primária/ambulatorial. Os
artigos das três bases de dados consultadas resultou autores Costa e colaboradores,13 Sarkar e colab.14 e
no total de 270 artigos a serem revisados. Maciel e colab.15 selecionaram casos hospitalizados,
Dos 270 artigos indexados nas três bases biblio- sendo estes dois últimos, estudos de caso-controle.
gráficas consultadas, foram considerados elegíveis Figueiredo e colaboradores20 e Romero e colabo-
para o estudo 7 artigos do SciELO,8 5 da LILACS11 e 5 radores21 examinaram amostras encaminhadas a
da MEDLINE,10 totalizando 17 estudos. Destes, 6 eram laboratórios de referência oriundos, respectivamente,
duplicados, restando 11. Os demais artigos não pre- da Fundação Ezequiel Dias (Funed) e do Instituto
encheram os critérios de inclusão pré-estabelecidos Adolfo Lutz (IAL). Barcellos e colab.22 e Tassinari e
(Tabela 1). colab.19 analisaram os casos notificados ao Sistema
Os artigos selecionados incluíram pesquisas reali- de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)
zadas nos estados do Rio Grande do Norte,12 Bahia,13-17 e, finalmente, Dias e colab.,15 Lacerda e colab.12 e
Rio de Janeiro,18,19 Minas Gerais,20 São Paulo21 e Rio Reis e colab.16 optaram por utilizar uma amostragem
Grande do Sul.22 Na Tabela 2, são apresentados os populacional aleatória. Os métodos de amostragem
estudos selecionados para a revisão segundo caracte- variaram entre os estudos que adotaram essa forma
rísticas gerais (Tabela 2). de seleção.
O número de casos de leptospirose analisados Dias e colab.15 selecionaram 1.390 indivíduos de
variou de 1920 a 9.335,21 com diferentes tipos de uma população de 68.749 habitantes, por amostragem
seleção e fonte de dados. aleatória simples sem reposição.
Tabela 1 - Artigos selecionados e não selecionados de acordo com suas características. Brasil, 2000 a 2009
SciELO 142
Artigos selecionados 7
Artigos não selecionados 135
Animais 61
Anteriores a 2000 31
Aspectos clínicos 16
Outros 27
Elegíveis, porém duplicados 0
LILACS 75
Artigos selecionados 0
Artigos não selecionados 75
Animais 32
Anteriores a 2000 29
Aspectos clínicos 0
Outros 9
Elegíveis, porém duplicados 5
MEDLINE 53
Artigos selecionados 4
Artigos não selecionados 49
Animais 17
Anteriores a 2000 15
Aspectos clínicos 3
Outros 13
Elegíveis, porém duplicados 1
TOTAL 270
Artigos/Autores Local do estudo Tipo de estudo Coleta dos dados Número de casos Zona
8ª-14ª semana
Barcellos e Sabroza, 200118 Rio de Janeiro-RJ Ecológico epidemiológica em 1996 73 Urbana
a) Casos eram famílias com a presença de pelo menos um caso índice e controles, famílias com a ausência de casos índices.
Lacerda e colab.12 sortearam seis setores censitá- Em relação às perdas desses estudos, Dias e colab.15
rios de uma área com 13 setores e população total de não especificaram se houve perdas e Lacerda e colab.12
8.469. Cada setor sorteado possuía de três a seis vilas. relataram que 13 indivíduos recusaram-se a participar
Duas vilas foram selecionadas aleatoriamente, em cada (4,1%). Reis e colab.16 tiveram taxa de participação de
setor; após o ordenamento das famílias por número, 84,0% (3.171), embora não detalhassem os motivos
foram sorteadas 10,0% das famílias de cada vila. Dos das perdas ou constasse, em seu relato, diferença
320 sujeitos elegíveis, 290 (91,0%) eram oriundos de significativa em relação ao sexo e idade, quando com-
68 residências localizadas em 15 vilas. pararam os selecionados com os não selecionados.
No estudo de Reis e colab.,16 em um município de Os estudos de caso-controle adotaram abordagens
2.443.107 habitantes, foram sorteadas 3.689 famílias, semelhantes para a seleção dos controles. Sarkar e
totalizando 14.122 habitantes. Cada casa recebeu um colab.14 selecionaram dois controles de vizinhança, pa-
número e, em seguida, foram aleatoriamente selecio- reados por idade e sexo. A vizinhança foi definida como
nadas 1.079 casas, com 3.797 indivíduos. um raio de cinco domicílios do caso-índice, totalizando
125 controles. Maciel e colab.17 adotaram os critérios uso do solo, relevo e bacias hidrográficas. Tassinari e
de seleção de Sarkar e colab.;14 porém, consideraram colab.19 analisaram a distribuição espacial pela razão
como controles as famílias que não possuíam caso- da suavização espacial, baseada na função Kernel, o
índice. Para quatro famílias que possuíam caso-índice que permitiu gerar uma superfície suavizada, um es-
(casos), foram selecionadas quatro famílias sem caso- timador da intensidade da incidência da leptospirose.
índice (controles); e para 18 famílias (casos), foram Sarkar e colab.14 e Maciel e colab.17 optaram por
selecionados duas famílias (controles), totalizando 52 estudos de caso-controle. O primeiro, com o objetivo
famílias sem caso-índice da doença. de identificar fatores de risco para leptospirose em
Em relação aos estudos que utilizaram os casos área endêmica, durante o período de chuva em região
notificados no Sinan, apenas Tassinari e colab.19 espe- urbana; e o segundo, para determinar a infecção por
cificaram os procedimentos utilizados para a limpeza agrupados, no interior de domicílios localizados em
do banco de dados. Após a eliminação de registros favelas.
duplicados e a verificação de inconsistências, o univer- Dias e colab.,15 Lacerda e colab.12 e Reis e colab.16
so de casos desse estudo foi formado por 2.369 casos verificaram a prevalência de infecção pregressa por
de leptospirose. Em seguida, esses autores excluíram leptospiras mediante inquéritos sorológicos. Costa
359 casos que não tinham a informação do endereço e colab.13 e Romero e colab.21 realizaram estudos
e, ainda, 242 casos cujo endereço não havia sido retrospectivos dos casos.
localizado, totalizando 1.732 casos.
Quase a totalidade dos estudos utilizou, como teste Aspectos demográficos e
de escolha para o diagnóstico da doença ou detecção epidemiológicos da leptospirose
de infecção, o teste de microaglutinação (MAT).14- Os estudos foram realizados no Rio de Janeiro-
18,20,21
Costa e colab.13 adotararam o questionário de RJ,18,19 Salvador-BA,13-17 Belo Horizonte-MG,20 São
Faine,23 constituído de questões com valores pré- Paulo-SP,21 Rio Grande do Sul22 e Rio Grande do
definidos sobre os sinais clínicos da doença, aspectos Norte.12 A incidência mínima de leptospirose foi de
epidemiológicos e laboratoriais; nesta situação, foram 0,53/100.000 hab. em São Paulo-SP;21 e a máxima, de
considerados confirmados os casos que apresentaram 42,05/100.000 hab. no Rio de Janeiro-RJ, esta última
somatório da pontuação das questões ≥26. Barcellos detectada em área de enchentes.18
e colab.22 e Tassinari e colab.19 não participaram do Em relação à distribuição da doença segundo o
processo de diagnóstico dos casos, os quais foram sexo, a maioria dos estudos que apresentou essa infor-
selecionados diretamente no Sinan. Lacerda e colab.12 mação obteve prevalência maior para o sexo masculi-
consideraram o teste Elisa como exame de escolha no, superior a 80,0% dos casos,13,17,18,20 à exceção de
(Figura 1). Lacerda e colab.12 (57,0%) e Reis e colab.16 (44,0%).
Dias e colab.15 constataram distribuição semelhante
Abordagens metodológicas entre ambos sexos.
Alguns autores realizaram análise espacial dos Quanto à faixa etária, os dados também foram se-
casos, porém com diferentes refinamentos.18-20,22 Para melhantes, entre os estudos analisados. Costa e colab.13
a investigação de um surto, Barcellos e Sabroza18 mape- encontraram média de 35,7 anos, Figueiredo e colab.20
aram áreas de risco e as classificaram como sujeitas ou constataram predomínio da faixa etária entre 20 e 29
não a inundações com acumulação de lixo doméstico. anos e Romero e colab.,21 de 20 a 39 anos; Lacerda e
Figueiredo e colab.20 calcularam a distância espacial colab.12 verificaram média de 28,3 anos, Reis e colab.,16
dos principais cursos d’água do município, em relação de 25,8 anos e Maciel e colab.,17 de 35,2 anos. Dias
aos casos. Barcellos e colab.22 identificaram áreas de e colab.15 associaram o aumento da soroprevalência
maior risco e possíveis componentes ecológicos da com o aumento da idade. Os únicos autores que apre-
transmissão da leptospirose, por meio da agregação sentaram informações sobre raça/cor foram Costa e
de dados epidemiológicos em unidades espaciais que colab.,13 que relataram a quase totalidade dos casos
representavam a diversidade socioambiental do estado (94,0%) de negros ou mulatos, e Reis e colab.,16 que
do Rio Grande do Sul. Neste estudo, os mapas de mu- reportaram 66,0% de pardos. De acordo com este
nicípios foram sobrepostos aos de caracterização de último trabalho, indivíduos de baixa renda e de cor
Figura 1 - Estudos segundo teste de escolha e critério de confirmação para o diagnóstico de leptospirose.
Brasil, 2000 a 2009
Casos diagnosticados pelos serviços locais de saúde. 30% da amostra foi testada para MAT,
Barcellos e Sabroza, 200118 porém sem detalhamento dos critérios de confirmação
Conversão de 4x o título
Romero et al., 200321 MAT entre 1ª e 2 ª amostra –
a) O diagnóstico da doença foi estabelecido quando, da análise dos dados clínicos e laboratoriais, se atingia pelo menos 26 pontos na escala de probabilidade proposta por Faine.22
b) Amostra única ≥1:800 ou 2 amostras pareadas com 4x o título entre 1ª e 2 ª amostra.
c) Detecção de anticorpos para confirmação de infecção prévia por leptospiras patogênicas.
negra [razão de prevalência (RP) 1,25; intervalo com nal. Lacerda e colab.12 analisaram a leptospirose em
95% de confiança (IC95%): 1,03-1,50] apresentaram área rural e verificaram que a infecção foi associada
risco aumentado de contrair leptospirose. a atividades de campos de arroz (P=0,08).
As prevalências de infecção encontradas nos es- Reis e colab.,16 em estudo realizado em área urba-
tudos que realizaram inquéritos de soroprevalência na, constataram que a presença de anticorpos contra
foram de 12,4% (172/1.390),15 15,2% (44/290)12 e a Leptospira se associou a fatores ambientais, como
12,9% (489/3.797).16 residir em áreas de enchente com esgoto a céu aberto
Dias e colab.15 encontraram correlação positiva (RP 1,42; IC95%: 1,14-1,75), presença de roedores (RP
entre infecção por Leptospira e baixo nível educacio- 1,32; IC95%: 1,10-1,58) e de galinhas (RP 1,26; IC95%:
1,05-1,51). Um aumento de US$1 por dia na renda fatores ambientais. As técnicas utilizadas foram uma
familiar foi associado a 11,0% (IC95%: 5%-18%) de importante aquisição metodológica na construção da
redução do risco de infecção. vigilância de base territorial.
Sete estudos associaram a ocorrência de chu- Em relação ao sexo e faixa etária, os valores apre-
vas ou enchentes com o aumento do número de sentados pela maioria dos estudos são semelhantes aos
casos. Barcellos e Sabroza 18 detectaram maior encontrados em 2007, quando, entre os confirmados,
incidência da doença em área com inundações 78,8% (2.594/3.292) eram do gênero masculino; e
(42,05/100.000), comparativamente a área sem inun- a faixa etária mais acometida, de 20 a 49 anos, com
dações (19,75/100.000). Costa e colab.13 observaram 61,2% dos casos (2.022/3.292).24
que o aumento na precipitação pluviométrica estava Os critérios de diagnóstico adotados pelos estudos
associado ao aumento no número de internamentos apresentaram grande variabilidade; porém, a maioria
no mês subsequente. Figueiredo e colab.20 observaram adotou o teste MAT. Quanto aos estudos que verifica-
que 14,0% dos casos confirmados residiam próximos ram a prevalência de infecção, aqueles que adotaram
a locais com curso de água e 12,0% relataram con- como critério de presença de infecção o resultado da
tato com água e/ou animais contaminados. Sarkar MAT obtiveram prevalências semelhantes (12,4%15 e
e colab.14 constataram que residências próximas a 12,9%16), mesmo com a utilização de pontos de corte
esgotos a céu aberto (odds ratio [OR] 5,15; IC95%: diferentes (amostra única ≥1:50;15 e amostra única
1,80-14,74), peridomicílio com presença de ratos ≥1:2516). Por outro lado, Lacerda e colab.11 constata-
(OR 4,49; IC95%: 1,57-12,83), exposição aos locais de ram prevalência de 15,2% ao utilizarem o teste Elisa.
fonte de contaminação (esgoto, enchente ou lama) Um estudo realizado na Itália constatou que o método
(OR 3,71; IC95%: 1,35-10,17) e presença de enchentes Elisa teve especificidade menor (95,9%) do que o MAT
(OR 2,54; IC95%: 1,08-6,17) foram fatores de risco para (100,0%), sendo considerado metodologicamente
adquirir a doença. Romero e colab.21 verificaram a mais simples de ser realizado.25 Entretanto, o MAT
concentração de casos entre janeiro a abril, os meses é utilizado quando se quer conhecer qual o sorovar
mais chuvosos de São Paulo-SP. Tassinari e colab.19 envolvido na infecção.26
relataram aumento do número de casos após o período No Brasil, de 2001 a 2003, do total de 3.747 casos
de chuva. Reis e colab.16 encontraram associação de confirmados laboratorialmente com o LPI determina-
risco entre a ocorrência de leptospirose e residir na do, 2.687 (72,0%) ocorreram em área urbana.27 A
proximidade de rios. Maciel e colab.17 constataram predominância da leptospirose em área urbana pode
que o fato de pertencer a uma família com um caso- ser um dos motivos pelos quais apenas dois estudos
índice de leptospirose associou-se a um risco maior foram conduzidos em área rural. Não obstante, a
(OR 5,29; IC95%: 2,13-13,12) de adquirir a infecção. revisão bibliográfica apresentou-se como importante
Os estudos que não referiram associação com os ferramenta para a atualização dos padrões epidemio-
índices pluviométricos ou enchentes foram aqueles lógicos e dos avanços na investigação epidemiológica
desenvolvidos em área rural.12,22 Barcellos e colab.22 da leptospirose em área rural.
verificaram que as maiores taxas de incidência se Os autores concluíram que a leptospirose em
encontravam em áreas sedimentares litorâneas, de área urbana esteve relacionada aos baixos níveis
baixa altitude e uso do solo predominantemente agrí- socioeconômicos; e que o aumento da precipitação
cola. Nessas localidades, a maior parte dos casos foi pluviométrica precede surtos epidêmicos. Outros
associada à lavoura irrigada. A infecção também foi estudos apoiaram a hipótese de que o ambiente fa-
associada a atividades de campos de arroz (P=0,08) e miliar é um determinante importante da transmissão
sua ocorrência inclusive em anos de poucas chuvas.11 no cenário das favelas urbanas: uma consequência,
provavelmente, das precárias condições ambientais
Discussão existentes no domicílio e peridomicílio, que, aliadas
à altas infestações de roedores, favorecem o risco de
Estudos mais recentes realizaram análises espaciais exposição humana.
refinadas, que contribuíram para a delimitação de Em área rural, não se evidenciou associação dos
áreas de risco e o conhecimento da contribuição dos casos com o aumento das chuvas e sim com as ativi-
dades desempenhadas, como, por exemplo, plantação e, mesmo assim, os principais fatores associados à
de arroz e lavoura irrigada. Os resultados sugeriram leptospirose se repetiram, demonstrando um consenso
a existência de características ambientais favoráveis à entre os achados.
transmissão da leptospirose em locais de proliferação Por se tratar de revisão da literatura, o presente
de roedores sinantrópicos e de produção agrícola estudo está, potencialmente, condicionado aos vieses
intensiva. dos estudos revisados. Também pode estar sujeito ao
Os resultados dos estudos internacionais são si- ‘viés de publicação’, uma forma de viés de seleção
milares aos encontrados nos estudos nacionais. Em dos estudos incluídos na revisão, caracterizado pela
Cuba, a ocorrência de leptospirose esteve associada à falha sistemática na publicação de alguns trabalhos: os
presença de condições ecológicas favoráveis para a so- que não tenham sido publicados; aqueles publicados
brevivência da Leptospira, assim como à presença de apenas como abstracts (resumos) ou em periódicos
atividades agrícolas de risco, especialmente o cultivo não indexados nas bases consultadas; e aqueles estu-
da cana de açúcar.28 Na África (Ilha da Reunião), os dos que, a despeito de seus resultados relevantes, não
casos de leptospirose tiveram distribuição sazonal e os foram destinados para publicação.32
autores concluíram que dados meteorológicos podem Diante dos diferentes fatores associados à leptos-
ser utilizados como preditores para a ocorrência da pirose em ambiente urbano e rural, a prevenção da
doença, auxiliando na implementação de medidas doença deve focalizar as fontes de contaminação e os
preventivas.29 Um surto com mais de 3.000 casos e fatores de risco apontados pelos estudos.
cerca de 250 mortes foi relatado nas Filipinas, entre Em área urbana, a maioria dos estudos associou
1o outubro e 5 de novembro de 2009,30 motivado por a doença às condições socioeconômicas da popu-
uma grave enchente, causada por três furacões, que lação e às condições sanitárias. Portanto, além de
assolou o país durante esse período. A incidência de atividades educativas voltadas à população, deve-se,
leptospirose em Guadalupe aumentou quatro vezes também, promover melhorias nas condições sanitá-
no período de 2002 a 2004, caracterizado por fortes rias urbanas.
chuvas associadas ao fenômeno El Niño.31 Em relação ao ambiente rural, apenas dois estudos
Estudos de revisão sistemática, em geral, contri- foram localizados, sendo necessário o aprofundamento
buem para consolidar os achados de diferentes estudos sobre a transmissão da leishmaniose nessas áreas. É
e concluir sobre os fatores associados ao objeto de recomendável a realização de ações educativas voltadas
análise. A diversidade da metodologia, entretanto, às atividades ocupacionais no ambiente rural: o uso
pode significar um limitador para a comparação dos de equipamentos de proteção individual, por exem-
resultados encontrados. Nesta revisão sistemática, os plo, poderia contribuir para a redução dos casos de
autores utilizaram diversas abordagens metodológicas leptospirose entre os camponeses.
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contato; 4) E-mail do autor principal para contato; Considerações éticas - desde que pertinentes,
5) Créditos a órgãos financiadores da pesquisa, se devem ser destacadas como último parágrafo da Me-
pertinente. todologia, fazendo menção às comissões de ética em
pesquisa que aprovaram o projeto.
Resumo - parágrafo de 150 palavras, estruturado
com as seguintes seções: 1) objetivo; 2) metodologia; Resultados
3) resultados; e 4) conclusão do estudo. Exposição dos resultados alcançados, podendo con-
Para pesquisas clínicas, é obrigatória a apresenta- siderar tabelas e figuras, desde que auto-explicativas
ção do número de identificação em um dos registros de (ver o item tabelas e figuras).
ensaios clínicos validados pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) e pelo ICMJE (http://www.icmje.org/). Discussão
Imediatamente ao Resumo, devem ser listados Comentários sobre os resultados, suas implicações
três a cinco descritores, escolhidos a partir da lista e limitações. Discussão do estudo com outras publica-
de Descritores de Saúde do Centro Latino-Americano ções de relevância para o tema e no último parágrafo
e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde da da seção, as conclusões.
Organização Pan-Americana de Saúde [Bireme/Or-
ganização Pan-Americana da Saúde (OPAS-OMS)], Agradecimentos
ou três a cinco palavras-chave escolhidas a partir de Após a secção da discussão e no fim do relato do
dados do resumo. estudo; devem-se limitar ao mínimo indispensável.
escorpião amarelo – Tityus serrulatus. In: Anais da a 2001] [Monografia na internet] Disponível em
8a Expoepi – Mostra Nacional de Experiências Bem- http://www.datasus.gov.br
Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de
10. Almeida MF, Novaes HMD, Alencar GP . Mortalidade
Doenças; 2008; Brasília, Brasil. Brasília: Ministério da
neonatal no Município de São Paulo: influência do
Saúde, 2008. p.84.
peso ao nascer e de fatores sócio-demográficos e
Artigos de periódicos assistenciais. Rev. Bras. Epidemiol. 2002; 5(1):93-
2. Melione LPR, Mello Jorge MHP. Morbidade Hospitalar 107 [acessado em 11 nov. 2008]. Disponível em
por Causas Externas no Município de São José dos http://www.scielosp.org/pdf/rbepid/v5n1/11.pdf
Campos, Estado de São Paulo, Brasil. Epidemiologia e
Teses
Serviços de Saúde. 2008; 17(3):205-216.
11. Waldman EA. Vigilância epidemiológica como prática
Autoria institucional de saúde pública [Tese de Doutorado]. São Paulo
3. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em (SP): Universidade de São Paulo; 1991.
Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica.
Doenças Infecciosas e Parasitárias: guia de bolso. 7a Tabelas e figuras
ed. rev. Brasília: Ministério da Saúde; 2007. As tabelas e as figuras (são considerados como
“figuras”: quadros, gráficos, mapas, fotografias,
Livros
desenhos, fluxogramas, organogramas) devem ser
4. Fletcher RH, Fletcher SW, Wagner EH. Epidemiologia
enviadas, em arquivos separados, por ordem de ci-
Clínica. 4ª ed. Porto Alegre: Armed; 2006. tação no texto.
Livros, capítulos de O título deve ser conciso, evitando o uso de abre-
5. Medronho RA, Perez MA. Distribuição das Doenças viaturas ou siglas; estas, quando indispensáveis, serão
no Espaço e no Tempo. In: Medronho RA et al.
traduzidas em legendas ao pé da própria tabela ou
figura.
Epidemiologia. São Paulo: Atheneu; 2004. p.57-71.
Tabelas, quadros, organogramas e fluxogramas
Material não publicado apenas serão aceitos se elaborados pelo Microsoft
6. Tian D, Stahl E, Bergelson J, Kreitman M. Signature of Office (Word; Excel); e gráficos, mapas, fotografias,
balancing selection in Arabidopsis. Proceedings of the somente se elaborados nos formatos EPS, BMP ou TIFF,
National Academy of Sciences of the United States of no modo CMYK, em uma única cor – preto, em suas
America. No prelo 2002. várias tonalidades.
» EDITORIAL: O enfrentamento das doenças crônicas não » Situação da Raiva no Brasil, 2000 a 2009
transmissíveis: um desafio para a sociedade brasileira Marcelo Yoshito Wada, Silene Manrique Rocha e Ana Nilce Silveira Maia-Elkhoury