Você está na página 1de 134

Endocrinologia

DIABETES
DIABETES CM

ÍNDICE

Diabetes Mellitus 4

Introdução 4

- O metabolismo e a regulação da glicose 5

Fisiopatologia e Classificação do Diabetes Mellitus 10

- Diabetes Mellitus (DM) tipo 1 11

- Diabetes Mellitus (DM) tipo 2 15

- Outros tipos específicos de diabetes 18

Diagnóstico 24

- Glicemia de jejum (GJ) 26

- Hemoglobina glicada (HbA1c) 27

- Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG) 29

Tratamento 30

- Objetivos do Tratamento 31

- Tratamento não farmacológico 33

- Tratamento farmacológico com antidiabéticos não- 37


insulínicos.

- Tratamento Farmacológico Com Insulinas 59

2
DIABETES CM

- Como Iniciar o Tratamento Farmacológico 68

- Como Iniciar a Insulinização 74

Complicações do Diabetes 96

- Complicações agudas 96

- Complicações crônicas 111

Bibliografia 126

3
DIABETES CM

Diabetes Mellitus

Meus queridos, sejam bem vindos ao módulo de Endocrinologia do


nosso curso! Já vamos começar falando sobre a estrela da Endocrino nas
provas e na vida real: o Diabetes Mellitus.
 
Quando o assunto é diabetes a cobrança é o mais ampla possível, desde
diagnóstico, fisiopatologia, tratamento e complicações. Mas de fato, o
carro-chefe das questões difíceis é o tratamento (especialmente a
escolha do esquema de insulinoterapia) e o manejo das complicações,
especialmente as complicações agudas (como cetoacidose diabética).
 
Respira fundo, que o tema é denso! Ao longo do capítulo reforçaremos os
tópicos mais importantes e que exigem maior atenção. 

Introdução

O termo diabetes mellitus engloba uma série de doenças diferentes, nas


quais existe algum distúrbio nos mecanismos de controle dos níveis
séricos de glicose. Esta alteração pode ser por algum problema na ação
ou na produção da insulina, levando a uma consequência em comum: a
hiperglicemia.
 
Antes de falarmos sobre os critérios diagnósticos, classificação ou
tratamento do diabetes, é importante que você tenha uma noção geral
sobre como ocorre o metabolismo da glicose e seus mecanismos
regulatórios. Parece chato,  mas esse conhecimento vai ser bem
importante para compreender os principais tipos de diabetes, bem como
para entendermos os mecanismos de ação dos vários medicamentos
existentes e que caem muito na sua prova. Então, vamos lá!

4
DIABETES CM

O metabolismo e a regulação da glicose

O primeiro passo para entendermos as doenças do metabolismo


glicêmico é compreendermos como funciona o pâncreas — um dos
nossos principais órgãos endócrinos (com secreção também exócrina). É
importante termos bem sedimentada a definição desses termos, pois
ainda serão muito usados daqui pra frente. Quando dizemos que uma
célula tem função endócrina, significa que ela produz uma substância
que é secretada para dentro do corpo, diretamente na circulação
sanguínea e terá um efeito à distância. Por outro lado, o termo exócrino
significa que a célula produz uma substância que é secretada para “fora”
do organismo ou dentro de cavidades corporais (glândulas salivares,
pâncreas exócrino, glândula mamária).
 
Voltando ao que nos interessa: o nosso querido pâncreas. Didaticamente,
dividimos o órgão em exócrino (responsável pela secreção das enzimas
digestivas no tubo gastrointestinal) e endócrino (responsável pela
secreção de hormônios na circulação sanguínea). Na realidade, os
diferentes tipos de células estão “misturadas” dentro do mesmo órgão. O
mais interessante é que a parte endócrina é formada por milhões de
agrupamentos celulares que chamamos de “ilhotas” (pois são realmente
ilhas de células endócrinas no meio de um mar de células exócrinas). E
dentro destas ilhotas pancreáticas temos diferentes tipos de células
responsáveis pela secreção de hormônios específicos. São elas:
 
 

5
DIABETES CM

 
 
De todos estes tipos celulares, os mais importantes para entendermos o
metabolismo da glicose são as células alfa e as células beta e os
hormônios que elas secretam: o glucagon e a insulina. Num estado pós-
prandial, logo após uma refeição, teremos uma elevação nos níveis
plasmáticos de glicose e este será o principal estímulo para as células
beta secretarem insulina (e as células alfa deixarem de secretar
glucagon). 
 
A insulina é um hormônio com funções anabólicas, ou seja, de
construção e formação de moléculas. Ela promove o estoque de
carboidratos (principalmente na forma de glicogênio — glicogênese), de
gorduras (lipogênese) e a síntese de proteínas. A insulina vai agir
principalmente nas células musculares e adipócitos, induzindo a
captação de glicose para o interior destas células, através da expressão
de transportadores chamados GLUT-4. Estes tecidos são ditos insulina-
sensíveis, de modo que precisam da insulina para poder captar a glicose.
 
Quando estamos em jejum, ocorre o processo inverso (secreção de
hormônios contra-insulínicos) —  com redução da glicemia e
consequentemente da insulina, isso é responsável por estimular o
aumento da secreção de glucagon. De maneira geral, o glucagon tem
efeito oposto à insulina, ou seja, de catabolismo. Ele vai levar à quebra
dos estoques de glicogênio (glicogenólise) e estimular a produção de

6
DIABETES CM

glicose através de aminoácidos e ácidos graxos (gliconeogênese),


especialmente no fígado e nos rins.
 
 

Figura 1 - Regulação da homeostase da glicose. Fonte: Harrison’s Principles of Internal

Medicine, 19ed.

 
Pode parecer muito específico, mas é importante sabermos como ocorre
a secreção da insulina pela célula beta, porque estes mecanismos serão
importantes para compreender o tratamento com os antidiabéticos
orais. Força que a pior parte tá quase acabando!
 
O principal regulador da secreção de insulina pela célula beta é o
nível de glicose no plasma. Valores de glicose acima de 70 mg/dL já
começam a estimular a secreção de insulina. O primeiro passo é a
entrada de glicose na célula beta, que ocorre através de um
transportador naturalmente expresso na membrana desta célula,

7
DIABETES CM

chamado GLUT. Uma vez dentro da célula, a glicose será utilizada para o
metabolismo energético e produção de ATP pela mitocôndria. Este ATP
irá se ligar a um canal de potássio ATP-dependente, que joga o potássio
para fora da célula. O resultado deste efluxo de potássio é a
despolarização da membrana da célula beta, levando à abertura de um
canal de cálcio voltagem-dependente e a entrada de cálcio para o
intracelular. O cálcio participa no processo de ativação do sistemas de
transporte intracelulares que irão translocar diversos grânulos, contendo
moléculas de insulina, para a membrana, levando à sua secreção para a
corrente sanguínea. 
 
Uma observação muito interessante é que a quantidade de insulina
secretada pela célula beta após uma carga de glicose endovenosa é
MENOR do que com a mesma carga de glicose por via oral. Isto ocorre
devido à secreção de um grupo de substâncias chamadas em conjunto
de incretinas. Elas são, de modo geral, peptídeos secretados pelas
células do trato gastrointestinal diante do aumento da carga de glicose
no lúmen do intestino. 
 
A célula beta possui receptores para as incretinas de forma que, quando
ligadas a seu receptor, são capazes de estimular — ou incrementar (daí o
nome incretina) — ainda mais a secreção de insulina. Este fenômeno
chama-se efeito incretínico, ilustrado no gráfico abaixo. 
 
Existem diversas incretinas diferentes, mas uma muito importante e que
você precisa saber chama-se peptídeo semelhante ao glucagon 1
(GLP-1, do inglês glucagon-like peptide 1). O GLP-1 é produzido pelas
células L no intestino e, além de estimular a secreção de insulina pela
célula beta, também suprime a liberação de glucagon, a produção
hepática de glicose, o esvaziamento gástrico e a ingestão de alimentos
(por aumentar a saciedade).
 
 

8
DIABETES CM

Figura 2 - Gráfico demonstrando a diferença da secreção de insulina diante de uma

carga de glicose endovenosa (IV) versus uma glicose oral (VO), apesar de uma mesma

glicemia, representando o efeito incretínico.

 
 
Temos um último detalhe, que pode parecer informação demais, mas vai
ser bem importante na parte clínica mais para frente (acredite!). Na
realidade, a molécula de insulina não é produzida já na sua forma
biologicamente ativa, e sim como uma pré-molécula chamada de pró-
insulina. Esta contém duas cadeias peptídicas unidas por um peptídeo
de conexão, chamado peptídeo C. No retículo endoplasmático, enzimas
separam o peptídeo C das duas cadeias de forma que, quando são
incorporadas nos grânulos secretórios, temos não só a molécula de
insulina, mas também o peptídeo C. 
 

9
DIABETES CM

Mas por quê eu preciso saber desse detalhe bioquímico? Como a


quantidade de insulina sérica é flutuante, quando queremos estimar a
reserva funcional das células beta, podemos dosar o peptídeo C que, se
muito baixo, nos diz que a capacidade de secreção de insulina
daquele paciente já está esgotada.
 
 

Figura 3 - Peptídeo C, liberado a partir da clivagem do precursor da insulina. Pode ser

dosado para avaliar a hipoinsulinemia absoluta de maneira indireta (como os valores de

insulina são muito variáveis não adianta dosá-los).

Fisiopatologia e Classificação do
Diabetes Mellitus

Vamos classificar os diferentes tipos de diabetes com base no principal


mecanismo fisiopatológico. As principais classificações são:
 

• Diabetes tipo 1 (DM1): resulta da destruição das células beta,


causando uma deficiência absoluta de insulina;
• Diabetes tipo 2 (DM2): resulta da perda lenta e progressiva da
capacidade de secreção de insulina, precedida por um estado de
resistência à insulina;

10
DIABETES CM

• Diabetes gestacional: hiperglicemia que vai ser diagnosticada


durante a gravidez, geralmente surgindo a partir da 24ª semana;

• Tipos específicos: relacionadas a outras causas específicas como


diabetes neonatal, diabetes da maturidade dos jovens (MODY), DM
induzido por fármacos, DM relacionados às doenças do pâncreas
exócrino.

Diabetes Mellitus (DM) tipo 1

O diabetes tipo 1 é caracterizado por um estado de deficiência completa


de insulina secundário à destruição das células beta. Esta destruição
pode ser secundária à autoimunidade, idiopática ou adquirida.
 
Diabetes Mellitus Imunomediado (tipo 1A)
 
Este é, sem dúvida, o tipo mais importante de DM1, tanto na vida quanto
na prova. Tanto que muitas pessoas só se lembram dele quando falamos
de DM1. Como você vai ver adiante, existem outros tipos de diabetes por
destruição de células beta, mas este aqui é o que você deve ter mais
atenção — então, bora se concentrar nos próximos parágrafos!
 
No DM tipo 1A a destruição das células beta é autoimune.  Este
mecanismo está presente em cerca de 5% a 10% das pessoas recém
diagnosticadas com diabetes. O processo que leva um indivíduo a
desenvolver DM1A é multifatorial, envolvendo fatores genéticos e
ambientais.
 
De forma geral, é possível dosar os auto anticorpos direcionados contra
antígenos encontrados nas células beta, que estão presentes muito
antes do início dos sintomas.  Os mais importantes são:
 

➟ Anti-GAD (ácido glutâmico descarboxilase)

11
DIABETES CM

➟ Anti-IA-2 e IA-2β (tirosina fosfatase)

•   Anti-ilhota

•   Anti-insulina

•   Anti-Zn T8 (transportador de zinco)

 
Como este tipo de diabetes está associado à deficiência quase total de
insulina, uma característica importante é a tendência a desenvolver
quadros de cetoacidose. Isso ocorre porque, na ausência de insulina, as
células que dependem dela para captar glicose vão ficar sem substrato
para energia e precisarão utilizar um “combustível alternativo” e estes
serão principalmente os corpos cetônicos! Vamos estudar esses
mecanismos em maiores detalhes quando falarmos das emergências
hiperglicêmicas.
 
Os pacientes são diagnosticados numa idade mais jovem (geralmente
na infância ou adolescência) e podem se apresentar na forma dramática
de uma cetoacidose.
 
No momento do diagnóstico eles já perderam mais de 90% de sua
massa de células beta — ou seja, possuem muito pouca capacidade de
secretar insulina. Uma maneira de confirmarmos isso clinicamente é
com a dosagem do peptídeo C — que virá baixa. Desta forma, quando
formos falar do tratamento, veremos que aqui não temos muita escolha
a não ser iniciar o tratamento com insulina.
 
É comum que estes pacientes apresentem, nos primeiros meses ou anos
da doença, um período de fácil controle glicêmico e necessidades baixas
de insulina — um fenômeno que chamamos de lua de mel — conceito
que por vezes aparece em prova! Aqui, o paciente ainda tem uma
capacidade residual de produzir insulina e um peptídeo C detectável.

12
DIABETES CM

Mas, invariavelmente, esta capacidade vai se perder ao longo do tempo e


ele logo se tornará totalmente dependente da insulina exógena.
 
Como você bem sabe, doenças autoimunes gostam de andar juntas, e
aqui não é diferente! Os pacientes com DM tipo 1A têm maior risco de
apresentar outras doenças autoimunes, como:
 

• Doença celíaca

• Tireoidite autoimune

• Vitiligo

• Insuficiência adrenal primária autoimune

13
DIABETES CM

Diabetes Latente Autoimune do Adulto (LADA)


 
Este tipo de diabetes era classificado à parte, mas como também possui
um mecanismo de destruição de células beta, acaba entrando no grupo
do diabetes tipo 1. A principal diferença aqui é a velocidade bem menor
de destruição de células beta. Ou seja, no começo estes pacientes não
são dependentes de insulina como no tipo 1A e frequentemente
apresentam algumas características do DM2 (início na meia idade e
presença de sobrepeso ou obesidade).
 
Ao longo do tempo, podem evoluir para a necessidade total de insulina.
Pensem no LADA como uma “mistura” entre o DM1A e o DM2, que fica
mais fácil de lembrar. Na prática, eles são muitas vezes diagnosticados
como DM tipo 2. O que vai fazer você pensar na possibilidade de LADA é
no seguinte contexto:

14
DIABETES CM

• Início do diabetes na vida adulta (> 30 anos)

• Independência de insulina por pelo menos 6 meses após o


diagnóstico

• Presença de pelo menos um anticorpo contra células beta positivo

 
Na prática clínica, o termo LADA tem sido cada vez menos utilizado, e
estes pacientes são chamados de DM 1A. Entretanto, algumas provas
ainda podem cobrar este conceito e diferenciação, por isso deixamos
essa informação por aqui.
 
Diabetes Mellitus Idiopático (tipo 1B)
 
Neste tipo, também temos a destruição das células beta, porém não
detectamos nenhum autoanticorpo no sangue. Mesmo assim, estes
pacientes podem se comportar de forma semelhante ao DM 1A e
desenvolver episódios de cetoacidose na falta de insulina. 

Diabetes Mellitus (DM) tipo 2

O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é o tipo de diabetes mais prevalente,


tanto na prática, quanto na sua prova. Então, vamos prestar bastante
atenção nos aspectos fisiopatológicos, que serão muito importantes para
entendermos o tratamento (que é um dos temas mais quentes de toda
essa apostila). Vamos lá!
 
A principal característica do DM2 é a resistência à insulina, que nada
mais é do que a dificuldade da insulina de exercer sua ação intracelular.
Ou seja, estes pacientes não possuem falta de insulina, mas sim uma
dificuldade de sua ação. Essa resistência se desenvolve por diversos
mecanismos, muito relacionados à inflamação crônica, que vamos
estudar com mais detalhes no capítulo de Síndrome Metabólica. O

15
DIABETES CM

conceito importante que você precisa saber desde já são os fatores de


risco para a resistência insulínica e desenvolvimento de DM2:

• Obesidade: especialmente centrípeta, com acúmulo de gordura


visceral - a famosa “barriga de chopp”;

• Sedentarismo;

• História familiar: especialmente em parentes de primeiro grau (no


DM2 a influência genética é mais importante do que no DM1!);

• Idade > 40 anos;

• História prévia de diabetes gestacional;

 
Com isso em mente, você já consegue imaginar o perfil típico do
paciente com DM2: geralmente uma pessoa adulta, após os 40 anos de
idade, com sobrepeso ou obesidade, com familiares sabidamente
diabéticos. Entretanto, devido à prevalência crescente de obesidade em
crianças e adolescentes, observamos um aumento importante do
diagnóstico de DM2 em idades cada vez mais jovens.
 
É importante você ter em mente como se dá a evolução natural do DM2.
O primeiro evento fisiopatológico que contribui para o desenvolvimento
da doença é o surgimento da resistência insulínica. A resposta
fisiológica inicial que conseguimos imaginar é o aumento da secreção
de insulina, já que sua ação está dificultada. Por um período, a glicemia
se mantém controlada às custas deste aumento de secreção.
Infelizmente, em um momento esta secreção se torna insuficiente para
suplantar a resistência, caracterizando um estado de deficiência relativa
de insulina, com o surgimento da hiperglicemia.
 
Assim como você fica cansado no final de uma semana pesada, as
células beta também se “cansam”, o que marca outro evento importante
na fisiopatologia do DM2: a disfunção das células beta. A partir daí, a

16
DIABETES CM

hiperglicemia se perpetua, aumentando ainda mais o trabalho das


células beta, que têm seu funcionamento e capacidade de secreção
prejudicadas por tanta hiperglicemia, um quadro que chamamos de
glicotoxicidade. Este conceito é importante para entendermos porque,
quando falamos do tratamento do DM descompensado, vamos precisar
por vezes iniciar insulina de imediato - para diminuir a glicotoxicidade e
melhorar a função residual das células beta.
 
 

Figura 4 - História natural da evolução do diabetes clínico.

 
 
A maioria das pessoas com DM2 são assintomáticas por um longo
período, e tem seu diagnóstico através de um “exame de rotina” com o
achado de hiperglicemia. 

O indivíduo só vai apresentar sintomas no contexto de diabetes


francamente descompensado, com uma hiperglicemia marcante. Como
você já deve ter ouvido, os principais sintomas do diabetes
descompensado são os QUATRO Ps:
 
 

17
DIABETES CM

 
 
Diabetes gestacional
 
O DM gestacional é definido pelo surgimento de hiperglicemia
diagnosticada após a 24ª semana de gravidez. Ela pode ou não
persistir após o parto - mas é importante termos em mente que uma
mulher que é diagnosticada com DM gestacional apresenta risco
aumentado de desenvolver DM2 ao longo de sua vida. 
 
A partir do segundo trimestre de gestação, observamos a elevação de
diversos hormônios que aumentam a resistência à insulina, com o
objetivo de aumentar o aporte de glicose ao feto. Assim, a gestação é um
período em que o pâncreas deve mostrar muito trabalho, e se uma
mulher já tiver algum grau de disfunção de célula beta ou uma
resistência à insulina basal, o pobre pâncreas não vai dar conta de vencer
toda essa demanda e surge o DM gestacional.

Outros tipos específicos de diabetes

18
DIABETES CM

Pessoal, agora que já falamos dos três principais tipos de diabetes que
você deve saber muito bem para a prova, vamos conversar um
pouquinho sobre outros tipos mais raros de diabetes mellitus. Mas
fiquem tranquilos, porque aqui vocês não precisam saber de tantos
detalhes — trazemos esta informação para agregar conhecimento e
vocês terem um material diferenciado caso precisem fazer alguma
pesquisa direcionada (ou até para a vida). Vamos lá, na tranquilidade!
 
Se o tempo de estudos está curto, pula pro diagnóstico!
 
MODY (Mature Onset Diabetes of the Young)
 
O MODY é o principal tipo de diabetes monogênico. Tanto no DM1
quanto no DM2 existe uma influência genética importante, mas ela não
se deve a um gene específico, e sim a um grupamento de alterações que
conferem ao indivíduo maior risco de desenvolver aquela doença. No
MODY é diferente - temos defeito em UM gene, que vai levar ao
desenvolvimento da doença.
 
Vamos pensar em MODY em um paciente com as seguintes
características:
 

• Diagnóstico de diabetes com < 25 anos de idade em pelo menos


um familiar

• Diabetes em duas gerações consecutivas

• Ausência de anticorpos contra a célula beta

• Ausência de sinais de resistência à insulina

• Secreção de insulina preservada (peptídeo C dosável após 5 anos do


diagnóstico)

19
DIABETES CM

sta série de critérios nos diz basicamente que estamos diante de um tipo
de diabetes com fortíssimo componente familiar, com início em idade
relativamente jovem, e que não apresenta características
fundamentais do DM 1 (presença de anticorpos e insulinopenia).
 
Existem 14 tipos de MODY descritos até agora, cada um associado a uma
mutação em um gene específico. Obviamente, você não precisa saber
detalhes sobre nenhum destes 14 tipos, apenas ter uma noção do que
significa MODY. Vamos trazer apenas algumas informações gerais sobre
os 3 tipos mais importantes:
 

• MODY tipo 2: associado à mutação em um gene chamado GCK. A


principal característica é a apresentação de uma hiperglicemia
leve e assintomática, sendo o diagnóstico geralmente feito de
forma acidental. Não apresenta complicações microvasculares do
diabetes e o controle é feito apenas com modificações dietéticas.

• MODY tipo 1 e 3: associados à mutação no gene HNF, resultando


num defeito progressivo na secreção de insulina. A característica
mais importante deste tipo é uma excelente resposta ao uso de
sulfonilureias, sendo capaz de controlar a doença por muitos anos.
Estão associados ao desenvolvimento de complicações se não
tratados.

 
Doenças do pâncreas exócrino
 
Qualquer doença que acometa o pâncreas exócrino pode acabar lesando
as ilhotas pancreáticas, especialmente as células beta, e resultar em
diabetes. Afinal, não existe uma separação física entre o pâncreas
endócrino e o exócrino, e quando temos uma destruição significativa de
tecido pancreático, a secreção de insulina vai ser prejudicada também.
As principais doenças que você tem que ter em mente neste cenário são:

20
DIABETES CM

• Pancreatite crônica (principalmente a alcoólica)

• Trauma com lesão pancreática extensa

• Neoplasia de pâncreas

• Fibrose cística (ocorre em até 50% dos pacientes que chegam à


idade adulta)

• Hemocromatose

 
Endocrinopatias
 
Diversos hormônios (GH, cortisol, glucagon, catecolaminas) agem
antagonizando as ações da insulina nos tecidos periféricos, sendo
também chamados de hormônios contrarreguladores. As doenças
endocrinológicas que levam a um aumento da produção destes
hormônios podem afetar o metabolismo glicêmico e resultar em
diabetes. São elas:
 
 

 
 
Aqui vale a pena ressaltar alguns aspectos sobre o tumor produtor de
glucagon (glucagonoma). Sua apresentação mais característica é a tríade

21
DIABETES CM

de hiperglicemia, anemia e erupção cutânea chamada eritema


necrolítico migratório. O acometimento cutâneo pode preceder o
aparecimento do diabetes e pode aparecer numa questão de multimídia
que vai derrubar muita gente. Então, veja esta lesão e não esqueça:
 
 

Figura 5 - À esquerda, lesão característica do eritema necrolítico migratório e à direita

uma tomografia de abdome mostrando tumor pancreático (glucagonoma).

Fonte: New England Journal of Medicine. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/

10.1056/NEJMicm1915564

 
 
O eritema necrolítico migratório caracteriza-se por pápulas e placas
eritematosas, que iniciam no tronco, períneo e extremidades e
coalescem ao longo de 1-2 semanas, com posterior clareamento central,
deixando uma área endurada hiperpigmentada e borda com crostas e
bolhas ou vesículas. 
 
Diabetes induzido por medicamentos
 
O DM também pode surgir como consequência ao uso de diversos
medicamentos. Os mais importantes que você tem que saber são:
 

• Glicocorticoides (GC): como você lembra da nossa revisão


fisiológica inicial, os GC são hormônios contrarreguladores, que
contrapõem a ação da insulina promovendo hiperglicemia. É muito
comum um paciente que tinha diabetes bem controlado e
começou fazer uso de corticoide piora muito seu controle
glicêmico. Atualmente isto tem sido muito frequente no contexto

22
DIABETES CM

de COVID e uso de dexametasona, então fiquem ligados!

• Terapia antirretroviral (TARV): Virtualmente todos os


medicamentos utilizados no tratamento do HIV podem induzir
hiperglicemia; porém, os que têm maior impacto no metabolismo
da glicose são os inibidores da protease (atazanavir, darunavir,
lopinavir), que além de aumentarem a resistência insulínica,
também induzem dislipidemia;

• Antipsicóticos atípicos: como olanzapina e clozapina, estão


associados ao ganho de peso e piora da resistência insulínica

• Estatinas: Alguns estudos demonstraram aumento da incidência


de DM2 em pacientes em uso de estatina. Este aumento de risco
ocorre mais em nível populacional do que em individualmente,
provavelmente “puxado” por pacientes já com níveis glicêmicos
limítrofes e outros componentes da síndrome metabólica. De
qualquer forma, os benefícios cardiovasculares das estatinas são
muito superiores ao pequeno aumento de risco de desenvolver DM.
Mensagem final: saiba que existe essa associação, mas ela jamais
nos fará deixar de prescrever estatina quando bem indicado.

 
Diabetes pós-transplante
 
Uma boa proporção de pacientes desenvolvem diabetes após o
transplante de órgãos sólidos, com proporções que variam de acordo
com o órgão, mas podendo chegar a até 70% nos casos de transplante
renal. Existem diversos mecanismos envolvidos no DM pós-transplante,
mas os principais parecem ser:
 

• Aumento da resistência insulínica

• Menor secreção de insulina

23
DIABETES CM

• Medicamentos imunossupressores
◦ Glicocorticoides
◦ Inibidores da calcineurina (tacrolimus, ciclosporina)
◦ Inibidores da mTOR (sirolimus, everolimus)

 
É importante ressaltar que o diagnóstico de DM pós transplante só deve
ser feito quando o paciente estiver com dose estável de
imunossupressores, na ausência de infecção. Além disso, o uso da
hemoglobina glicada acaba perdendo seu valor, e o teste padrão ouro
seria o teste oral de tolerância à glicose (TOTG.)

Diagnóstico

Agora vamos para uma parte muito importante no estudo do diabetes,


tanto para a sua vida, quanto para a sua prova, porque as bancas adoram
questões sobre isso - o diagnóstico de diabetes. Aqui vamos focar no
DM2.
 
Antes de falarmos sobre os critérios diagnósticos, é importante sabermos
quais são as indicações de rastreio de diabetes em pacientes
assintomáticos. Lembrando que o DM2 é assintomático na maioria dos
casos e está associado ao desenvolvimento de complicações micro e
macrovasculares na ausência do controle da hiperglicemia, por isso o
rastreio é importante naqueles grupos de maior risco.
 
Abaixo, trouxemos uma tabela com as recomendações de rastreio de três
principais organizações: a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a
Associação Americana de Diabetes (ADA) e a Força-Tarefa de Saúde
Preventiva dos Estados Unidos (USPSTF). Obviamente você não precisa
saber os detalhes e nuances de recomendações de cada instituição, leia
esta tabela com calma e sem desespero, só para entender a ideia geral
do rastreio populacional de DM2.
 
 

24
DIABETES CM

 
 
Observe que a SBD propõe critérios mais simples para rastreio, enquanto
a ADA especifica com mais detalhes as populações de maior risco. A
USPSTF é extremamente baseada em evidências, então na falta de
evidências contundentes, ela simplesmente informa o que seria razoável
ser feito.

25
DIABETES CM

 
 
Certo, você já sabe em quem deve pedir exame de rastreio, e também já
sabe que, nos casos sintomáticos, vamos pedir exame para o diagnóstico.
Existem basicamente três testes que podem estabelecer o diagnóstico
de diabetes mellitus:

• Glicemia de jejum

• Hemoglobina glicada

• Teste de tolerância à glicose oral

 
Antes de falarmos sobre os exames, foque neste detalhe muito
importante: TODOS os valores alterados devem ser confirmados em
uma segunda amostra ou com um teste diferente na mesma amostra.

Glicemia de jejum (GJ)

26
DIABETES CM

A aferição da glicemia após jejum mínimo de 8 horas é o teste mais


prático para o diagnóstico de diabetes. Valores alterados refletem a
insuficiência de insulina para suprimir a gliconeogênese hepática
noturna. Com base no resultado podemos ter as seguintes
interpretações:
 

• < 100 mg/dL = normal

• 101 - 125 mg/dL = pré-diabetes ou glicemia de jejum alterada

• ≥ 126 mg/dL = diabetes

 
Aqui vale ressaltar que um valor de glicemia aleatória acima de 200
mg/dL na vigência de sintomas típicos de diabetes (Os “P’s”) já
permite o diagnóstico, sem repetição em outra amostra ou necessidade
de outro teste.

Hemoglobina glicada (HbA1c)

A hemoglobina glicada representa uma pequena porcentagem da


hemoglobina presente em nossos eritrócitos. Ela se forma a partir de
uma reação entre a glicose plasmática e o grupo aminoterminal de um
resíduo de valina na cadeia beta da hemoglobina. Esta reação é não
enzimática, irreversível e tem intensidade diretamente proporcional à
glicemia. Desta forma, a dosagem da hemoglobina glicada reflete uma
média das glicemias nos últimos 2 a 3 meses, que é o tempo médio de
sobrevida dos eritrócitos.
 
Os valores que você tem que gravar para o diagnóstico de diabetes são:
 

• ≤ 5,6% = normal

27
DIABETES CM

• 5,7 - 6,4% = pré-diabetes

• ≥ 6,5% = diabetes

 
Como veremos mais adiante, a HbA1c é um excelente teste para
seguimento do diabetes e marcador do controle da doença. Além disso,
também podemos ter uma estimativa da glicemia média em que o
paciente passou nos últimos 3 meses, como vemos na tabela a seguir:
 
 

 
 
Apesar de ser um excelente teste, existem algumas situações que podem
resultar em resultados falseados da dosagem de hemoglobina
glicada. Situações que diminuem a sobrevida das hemácias (anemias
hemolíticas, sangramentos), resultam em valores falsamente baixos de
HbA1c. Por outro lado, condições que aumentam a sobrevida das
hemácias (anemias carenciais) cursam com HbA1c inapropriadamente
elevada. Suplementação com altas doses de vitamina C ou E inibem a
glicação da hemoglobina e causam resultados falsamente diminuídos.
Por fim, uremia, hipertrigliceridemia, etilismo, uso crônico de salicilato e
opioides, por interferência na metodologia do exame, resultam em

28
DIABETES CM

valores falsamente elevados. A tabela a seguir resume os principais


fatores confundidores da aferição da HbA1c.

Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG)

Este exame avalia a capacidade do pâncreas em secretar rapidamente


insulina em resposta a uma alta carga de carboidratos. No início do
processo de desenvolvimento de diabetes, o primeiro momento em que
observamos uma insuficiência relativa de secreção de insulina é
justamente pós-prandial. 
 
O teste é feito coletando-se uma amostra de glicemia em jejum e, em
seguida, o paciente ingere 75 gramas de glicose. Após 2 horas é coletada
uma nova amostra de sangue para medir uma segunda glicemia. Os
valores e as interpretações possíveis da glicemia após 2h são:
 

• < 140 mg/dL = normal

29
DIABETES CM

• 140 - 199 mg/dL = pré-diabetes ou tolerância reduzida à glicose

• ≥ 200 mg/dL = diabetes

 
Em comparação à glicemia de jejum e à dosagem de hemoglobina
glicada, o TOTG é mais trabalhoso, demanda mais tempo do paciente,  e
está sujeito a algumas interferências (dose inadequada de glicose
ofertada, náuseas e vômitos, etc). Portanto, ele acaba sendo bem
indicado em algumas situações específicas:
 

• Resultados discordantes entre GJ e HbA1c

• Diagnóstico de DM gestacional

• Diagnóstico de DM pós-transplante

• Paciente com GJ alterada

Tratamento

30
DIABETES CM

Pessoal, já falamos sobre bastante coisa de diabetes, mas vamos entrar


no tema mais quente para a sua prova, então é um momento de foco
total! Se estiver cansado(a), dê um break, tome um café e volte com a
atenção plena. Vamos lá!
 
Vamos começar falando sobre as opções terapêuticas para o diabetes
mellitus tipo 2, que são bem amplas. Vamos terminar a abordagem do
tratamento do DM2 com insulinoterapia, que será nosso gancho para
falar do tratamento do DM1 (que é apenas com insulina).

Objetivos do Tratamento

Antes de falarmos sobre o arsenal terapêutico, é importante que você


conheça o motivo para nos preocuparmos tanto com o controle
glicêmico adequado. Como veremos mais adiante, a hiperglicemia está
associada ao desenvolvimento de diversas complicações micro e
macrovasculares, que aumentam muito a morbimortalidade do paciente
com diabetes. A principal forma de prevenir o desenvolvimento destas
complicações é através de um bom controle glicêmico.
 
Assim, existem algumas metas gerais de tratamento, que você precisa
saber! Os alvos glicêmicos variam discretamente, dependendo da
organização que recomenda. Abaixo, trazemos uma tabela com as
recomendações das principais organizações de endocrinologia cobradas
em prova: Associação Americana de Diabetes (ADA) e a Sociedade
Brasileira de Diabetes (SBD).
 
 

31
DIABETES CM

 
 
Uma ressalva muito importante feita por todas as organizações, é em
relação ao alvo de hemoglobina glicada. Dependendo da condição do
paciente, podemos ser mais rigorosos ou tolerantes. Por exemplo, em
um paciente jovem, com pouco tempo de doença, sem complicações
micro ou macrovasculares estabelecidas, vamos objetivar um alvo de
glicada mais rigoroso, abaixo de 6,5%, para prevenir ao máximo o
desenvolvimento de complicações. Por outro lado, em um paciente
idoso, com muitos anos de diabetes, já com complicações estabelecidas,
não precisamos ser tão rígidos, e podemos tolerar uma glicada em torno
de 8%. A figura a seguir ilustra as variáveis que devemos considerar ao
determinar um alvo de controle glicêmico para o paciente. 

32
DIABETES CM

Figura 6 - Variáveis a serem analisadas para determinar o alvo de controle glicêmico.

Fonte:  Vilar, Lucio. Endocrinologia Clínica (p. 689). Guanabara Koogan. Edição do Kindle.

Tratamento não farmacológico

As estratégias não farmacológicas, também chamadas de modificação


do estilo de vida (MEVs) são o primeiro passo no tratamento do diabetes,
tem grande importância e um impacto enorme no controle da doença,
quando são seguidas de fato. O grande problema é a adesão, que
depende totalmente da motivação do paciente. Justamente por isso ela
acaba sendo muito pouco valorizada na prática, mas é importante que
você saiba quais orientações dar ao paciente diabético, tanto para a vida,
quanto para uma possível questão prática.
 
Dividimos as recomendações de MEV em 4 grandes grupos:

33
DIABETES CM

• Orientações nutricionais

• Orientações de atividade física

• Perda de peso

• Cessação de tabagismo

 
Orientações nutricionais
 
Antes de mais nada, é importantíssimo ressaltar que o manejo
nutricional não deve ser somente prescritivo, situação na qual
simplesmente damos orientações do tipo “você deve comer isso e não
pode comer aquilo”. Na realidade, nossa abordagem deve colocar o
indivíduo no centro do cuidado (alô, preventiva!) e atentar para seus
padrões de comportamento alimentar. Esse enfoque leva em conta a
disposição e a prontidão do paciente para mudança, além de adaptar
nossas recomendações às preferências pessoais, para otimizar a adesão
(que é tão difícil).
 
Não vamos nos alongar muito aqui. É importante educar o paciente
diabético sobre quais são os principais macronutrientes (carboidratos,
gorduras, proteínas) e onde eles são encontrados. Após isso, vamos
recomendar uma porcentagem adequada de cada um deles na dieta,
conforme a tabela abaixo:
 
 

34
DIABETES CM

Fonte: Diretrizes SBD, 2020

 
 
Orientações de atividade física
 

Aqui está outro ponto fundamental no tratamento não farmacológico do


diabetes. Recomendamos que o paciente diabético realize tanto
exercícios aeróbicos (caminhada, corrida, natação, dança, etc) quanto
exercícios de resistência (musculação). Além disso, é interessante
recomendar que o paciente não permaneça por longos períodos numa
atividade sedentária (exemplo sentado), orientando a fazer intervalos
ativos (ficar de pé, alongamentos) a cada 30 minutos. 
 

Assim como um medicamento, a atividade física também precisa de


uma “dose mínima” para que exerça seus benefícios cardiovasculares e
no controle glicêmico. Portanto, a recomendação mínima é:

35
DIABETES CM

• Atividade aeróbica: pelo menos 150 minutos por semana


(moderada a alta intensidade). Não passar mais de 2 dias sem
praticar.

• Exercícios resistidos: 2 a 3 sessões por semana, em dias não


consecutivos.

Perda de peso
 

A orientação de perda de peso é extremamente importante no manejo


não farmacológico do DM2. Diversos estudos já demonstraram que se
um paciente perder pelo menos 5% de seu peso inicial (e manter esta
perda), há uma grande melhora no controle glicêmico, com redução da
necessidade de medicações!
 

Desta forma, deve fazer parte da orientação de TODO paciente com DM2,
o estímulo à perda de peso. Além das recomendações dietéticas e de
atividade física, alguns pacientes podem necessitar de tratamento
medicamentoso para ajudar na perda de peso. Mais detalhes acerca do
tratamento farmacológico na apostila de obesidade e síndrome
metabólica
 

Cessação de tabagismo
 

O tabagismo é considerado um importante fator de risco modificável


para o desenvolvimento ou piora do diabetes. Esta informação
provavelmente não é tão conhecida entre os médicos, mas a presença de
tabagismo por si só já aumenta o risco de desenvolver diabetes, por
diversos mecanismos (que vão desde toxicidade direta à célula beta, até
um aumento do cortisol associado à inflamação crônica). Fato é que
devemos orientar e estimular a cessação do tabagismo em todo paciente
com diabetes! Mais detalhes sobre estratégias para o manejo da
cessação do tabagismo na apostila de pneumologia.

36
DIABETES CM

Tratamento farmacológico com antidiabéticos não-


insulínicos.

Este é um dos temas em DM que as bancas mais gostam de cobrar!


Então vamos aprender com bastante detalhe e calma, para você
realmente entender, e não decorar!
 
Nas últimas décadas tivemos uma verdadeira revolução no tratamento
medicamentoso do diabetes mellitus, com o surgimento cada vez mais
rápido de diversas classes medicamentosas, que agem nos diferentes
mecanismos fisiopatológicos que levam à hiperglicemia. Antes de
falarmos sobre as classes específicas, vamos ver um panorama geral com
base na fisiopatologia do diabetes. Acompanhe a explicação vendo a
figura abaixo:
 
 

Figura 7 - Mecanismos envolvidos na hiperglicemia do diabetes e possíveis mecanismos

de ação.

Fonte:  Vilar, Lucio. Endocrinologia Clínica (p. 694). Guanabara Koogan. Edição do Kindle.

37
DIABETES CM

 
 
Como vimos, a fisiopatologia do diabetes é complexa e envolve
alterações metabólicas nos mais diversos órgãos. Vamos
compartimentalizar as principais disfunções para facilitar o
entendimento. Neste momento vamos apenas citar o nome das classes
medicamentosas, sendo que a explicação detalhada vem mais para
frente (vamos sem pressa!):
 

• Fígado: Há uma produção aumentada de glicose, relacionada à


deficiência de insulina, que seria capaz de inibir a glicogenólise e a
gliconeogênese hepáticas. As principais classes medicamentosas
que agem aqui são: metformina, insulina e glitazonas.

• Pâncreas: Observamos uma redução da secreção de insulina pelas


células beta e, consequentemente, aumento da secreção de
glucagon. Em relação à secreção deficitária de insulina, as
sulfonilureias, os inibidores de DPP-4, os agonistas de GLP-1 e a
própria insulina tem seu papel. Quanto ao aumento do glucagon,
quem age mais aqui são os agonistas de GLP-1 e inibidores de
DPP-4.

• Trato gastrointestinal: observamos uma redução da capacidade


de secreção e efeito das incretinas, que são substâncias secretadas
pelas células intestinais em resposta à ingestão alimentar, que
potencializam a secreção de insulina pela célula beta. Aqui, os
fármacos principais são os agonistas de GLP-1 e os inibidores de
DPP-4.

• Tecido adiposo: No diabetes descompensado, observamos


aumento da lipólise que resulta em liberação de substratos para a
gliconeogênese, secundário à deficiência relativa de insulina. Neste
aspecto, temos a insulina, as glitazonas e a metformina como
principais medicamentos.

38
DIABETES CM

• Rins: Os rins são responsáveis por cerca de 20% da produção


endógena de glicose. Indivíduos diabéticos têm um limiar mais alto
para reabsorção de glicose tubular, ou seja, os túbulos reabsorvem
mais glicose, contribuindo para hiperglicemia. Aqui, os inibidores
de SGLT-2 são as principais drogas. 

• Sistema nervoso central: A resistência insulínica no diabetes


também afeta o cérebro, levando a alteração na neurotransmissão
dos centros hipotalâmicos reguladores do apetite, resultando, em
última instância, em maior apetite, propagando ganho de peso e
piorando a resistência insulínica. Assim, as principais drogas que
agem neste mecanismo são os agonistas de GLP-1 e a
bromocriptina.

 
Agora, vamos estudar com um pouco mais de detalhe as classes
terapêuticas dos medicamentos antidiabéticos para, no final,
aprenderemos como utilizá-las na prática.
 
 

39
DIABETES CM

 
 

DIMINUEM RESISTÊNCIA PERIFÉRICA À INSULINA

Biguanidas
 
O único representante desta classe é a nossa querida metformina, que é
utilizada como primeira escolha no tratamento da maioria dos pacientes
com DM2. O principal mecanismo de ação da metformina é a melhora
da sensibilidade periférica à insulina nos mais diversos tecidos
(melhorando a ação da insulina e reduzindo o trabalho das células beta):
 

• Fígado: inibe a gliconeogênese hepática (responsável por 75% de


sua ação anti-hiperglicêmica), bem como a glicogenólise

• Tecido adiposo: inibe a lipólise, reduz reesterificação de ácidos


graxos livres, melhorando a função da célula beta por reduzir a
lipotoxicidade;

• Trato gastrointestinal: facilita captação e utilização de glicose,


estimula secreção de GLP-1 pelas células L, altera a microbiota para
uma população menos pró-inflamatória;

• Pâncreas: aumenta a expressão do receptor GLP-1 nas células beta,


o que otimiza a secreção de insulina.

 
Em termos práticos a metformina é como um porteiro, ele facilita a
entrada de glicose para dentro da célula (quando ela está em grande
quantidade e “quer entrar”), mas ele não faz nenhum trabalho ativo, ou
seja, se a glicose sérica está baixa ele não vai empurrar essa molécula
para o meio intra-celular, logo não causa hipoglicemia.
 
A figura abaixo resume os múltiplos mecanismos de ação da metformina:

40
DIABETES CM

 
 

Figura 8 - Principais mecanismos de ação da metformina.

Fonte:  Vilar, Lucio. Endocrinologia Clínica (p. 694). Guanabara Koogan. Edição do Kindle.

 
 
A metformina (MTF) não é metabolizada no fígado, sendo excretada de
maneira intacta na urina. Desta forma, sua excreção está diminuída em
pacientes com insuficiência renal. 
 
A metformina é a primeira escolha no tratamento farmacológico do
paciente com DM2, e já pode ser iniciada ao mesmo tempo em que as
MEV. Em monoterapia, é uma droga bastante eficaz, com capacidade
de reduzir a glicemia de jejum em 20 a 30%, a glicemia pós-prandial em
30 a 40% e a HbA1c em 1 a 2%. Outras vantagens são a redução da
secreção insulínica, perda de peso, não causar hipoglicemia e melhora
do perfil lipídico.
 
Apesar de ser uma excelente medicação, a MTF possui alguns efeitos
colaterais, sendo o mais comum o surgimento de sintomas
gastrointestinais (dor abdominal, constipação ou diarreia), que podem

41
DIABETES CM

aparecer em até 20% dos pacientes. Geralmente estes efeitos são


transitórios, então é importante orientar o paciente sobre eles, bem
como orientar a manter o uso da medicação. O uso das formulações de
liberação lenta (XR) melhora a tolerância gastrointestinal. 
 
Além disso, ela também pode reduzir a absorção de vitamina B12 no
íleo distal e causar deficiência de B12 com o uso crônico. O efeito
colateral mais grave é o surgimento de acidose láctica (felizmente é
muito rara), ocorrendo geralmente nos pacientes com insuficiência renal
e taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) < 30 mL/min.
 
As principais contraindicações do uso da MTF são aquelas que
aumentam o risco de acidose láctica: insuficiência renal grave (TFG <
30), cirrose, DPOC grave, insuficiência cardíaca descompensada, etilismo
e doenças graves agudas. Ainda pelo risco de acidose láctica, é
importante suspender o uso da medicação 1 a 2 dias antes de exame
contrastado ou cirurgias de moderado a grande porte. 
 
 

42
DIABETES CM

 
 

43
DIABETES CM

Glitazonas
 
As glitazonas (também chamadas de tiazolidinedionas) são drogas que
agem como agonistas de um receptor chamado PPAR-γ presentes em
grande quantidade no tecido adiposo. Este receptor está envolvido na
regulação da diferenciação dos adipócitos, além de captação e
armazenamento de ácidos graxos e captação de glicose. A ativação do
receptor PPAR-γ pela medicação resulta em aumento de lipogênese e
da massa do tecido adiposo subcutâneo (ganho de peso).
 
Mas então qual é a vantagem desta medicação? Apesar de aumentar o
tecido adiposo, ela tem efeitos benéficos como redução da produção de
substâncias pró-inflamatórias, aumento de receptores GLUT-1 e GLUT-4
na periferia, levando à maior captação de glicose e melhorando a
sensibilidade à insulina.
 
A única representante desta classe disponível no mercado é a
pioglitazona. Ela pode ser usada como monoterapia ou em combinação
com qualquer outro agente antidiabético. É uma droga de alta eficácia,
assim como as sulfonilureias e MTF (até 1,5% na glicada). Vale a pena
ressaltar que ela pode levar até 12 semanas para atingir o efeito máximo.
 
Os principais efeitos colaterais são: (1) retenção hídrica, que pode levar
a edema periférico e anemia dilucional, com consequente ganho de
peso; (2) maior risco de fraturas, especialmente nas extremidades
distais (antebraço, punho, pés, tornozelo, fíbula e tíbia), que são sítios
atípicos para fraturas osteoporóticas. 
 
As principais contraindicações têm relação aos efeitos colaterais: IC
NYHA III a IV, hepatopatia grave, etilismo, DM1 e gestação; Existem
outras situações que não são contraindicações formais, mas não são bom
candidatos às glitazonas: história de doença cardiovascular com risco de
IC, dispneia ou edema de MMII inexplicados, obesidade grave, DM2 de
longa data com insulinopenia.
 

44
DIABETES CM

Se você parar para pensar, a pioglitazona apresenta algum grau de


semelhança com a MTF, no sentido de que ambas levam a melhora da
sensibilidade insulínica (cada uma com seu mecanismo diferente). A
principal diferença que merece destaque é que a pioglitazona não
apresenta contraindicação em insuficiência renal (apenas devemos evitá-
la caso haja esta condição).
 
 

 
 

 
 

AUMENTAM A SECREÇÃO DE INSULINA

 
 

45
DIABETES CM

Sulfonilureias
 
Sulfonilureias (SFU) representam uma classe de medicamentos que
estimulam a secreção de insulina, agindo num receptor das células
beta chamado SUR1. O primeiro conceito que você tem que tirar dessa
frase é que se elas estimulam a secreção da insulina, ela só consegue
agir sobre um pâncreas que funciona (ou seja, não tem atuação em DM
tipo 1 - como “todo” hipoglicemiante oral; mas principalmente não tem
eficácia no DM 2 avançado que evoluiu com disfunção pancreática e
peptídeo C diminuído).
 
O segundo conceito é que essas drogas estimulam a produção de
insulina independente dos níveis séricos de glicose, ou seja, são capazes
de causar hipoglicemia.  
 
As SFU podem ser de primeira (clorpropamida) ou de segunda geração
(glibenclamida, gliclazida, glipizida e glimepirida). A clorpropamida não
é mais recomendada atualmente, por ser de longuíssima ação e ter
muito risco de hipoglicemia, por isso vamos falar apenas das drogas de
segunda geração.
 
Estas drogas apresentam uma excelente eficácia na redução de
glicemia, em média reduzindo 60 a 70 mg/dL na GJ e de 1 a 2% na
HbA1c. Este potencial todo vai se perdendo ao longo do tempo, muito
associado à falência das células beta. 
 
O principal efeito colateral é a hipoglicemia, que tem relação com seu
mecanismo de ação, uma vez que elas estimulam de forma constante a
secreção de insulina, que perde o seu padrão fisiológico. Outra
consequência do aumento da insulinemia é o ganho de peso. 
 
As principais contraindicações estão relacionadas à redução da
depuração da medicação e aumento do risco de hipoglicemia, ou seja:
insuficiência renal ou hepáticas graves. Também são contraindicadas
na gravidez (exceto glibenclamida) e durante a amamentação (exceto
glibenclamida e glipizida).

46
DIABETES CM

 
A tabela abaixo traz as principais informações sobre os exemplares das
SFU de segunda geração.
 
 

 
 

 
 
Glinidas
 

47
DIABETES CM

Os representantes desta classe são a repaglinida e a nateglinida. Agem


estimulando a secreção de insulina, através de receptores diferentes das
sulfonilureias. Não são mais recomendadas no tratamento do DM2, por
serem menos eficazes que as SFU. Apenas para saber de sua existência.

AUMENTAM A INCRETINA (INCRETINOMIMÉTICOS)

Inibidores da DPP-4
 
Estas medicações são conhecidas também como gliptinas e seu
mecanismo de ação é a inibição de uma enzima chamada dipeptidil
peptidase-4 (DPP-4), que é a principal responsável por degradar duas
incretinas muito importantes: o GLP-1 (peptídeo semelhante ao
glucagon-1) e o GIP (peptídeo gastrointestinal). 
 
Lembre-se que as incretinas são substâncias secretadas pelas células do
intestino e tem como principal efeito potencializar a resposta de
secreção insulínica das células beta diante de uma carga de carboidratos
oral, além de inibir a secreção de glucagon. Ao inibir a enzima que
degrada estes peptídeos, aumenta-se sua meia-vida, fazendo com que
elas possam estimular a célula beta por mais tempo.
 
 

48
DIABETES CM

 
 

Figura 9 - Mecanismo de ação dos inibidores da DPP-4.

 
 
Essa classe de medicamentos possui diversos representantes, os
disponíveis no Brasil são: vildagliptina, sitagliptina, saxagliptina,
linagliptina e alogliptina. Em monoterapia, as gliptinas apresentam
menor eficácia do que MTF e as SFU: reduzem a GJ em
aproximadamente 18 mg/dL (10 a 35 mg/dL), glicemia pós-prandial em
cerca de 25 mg/dL (20 a 60 mg/dL) e HbA1c em 0,75% (0,4 a 1,2%).

49
DIABETES CM

Podemos melhorar sua eficácia ao combiná-las com a MTF ou os


inibidores do SGLT-2.
 
Todas as gliptinas possuem excreção renal, ou seja, precisam de ajustes
de dose em pacientes com insuficiência renal crônica, sendo
contraindicadas nos estágios mais graves da doença. A exceção é a
linagliptina, que tem eliminação biliar e, portanto, não precisa de ajustes
na DRC.
 
Estas medicações geralmente são muito bem toleradas pelos pacientes,
não são associadas à hipoglicemia e tem um efeito neutro sobre o
peso (não causam perda, nem ganho). Alguns estudos iniciais
associaram o uso das gliptinas com maior risco de pancreatite aguda e
desenvolvimento de câncer de pâncreas, porém estudos subsequentes
não confirmaram esta associação. Desta forma, não podemos afirmar
com certeza que as gliptinas estejam relacionadas com estas condições,
mas é prudente evitar o uso dessas drogas em pacientes com história
prévia ou suspeita de pancreatite aguda. 
 
 

 
 

50
DIABETES CM

Agonistas do receptor do GLP-1 


 
Outra classe medicamentosa que tem ganhado muito destaque no
tratamento do DM2 são os análogos do GLP-1, os “tidas”, agonistas de
receptores de GLP-1 (GLP-1 RA).
 
O GLP-1 é uma incretina que, além de estimular a secreção de insulina
pela célula beta, também apresenta diversas outras propriedades
benéficas para o metabolismo da glicose. Para você não esquecer - os
principais efeitos metabólicos do GLP-1 são:
 

• Estimula a secreção de insulina dependente de glicose

• Inibe secreção de glucagon

• Inibe a produção hepática de glicose

• Retarda o esvaziamento gástrico

• Melhora sensibilidade à insulina (aumenta a captação de glicose


pelos adipócitos e músculo esquelético)

• Neuroproteção

• Cardioproteção

 
Atenção ao aspecto que justifica o seu uso entre as medicações de
primeira linha (a despeito do preço): cardioproteção!
 
Observe ainda seu impacto sobre o esvaziamento gástrico, um dos
mecanismos que justificam seu uso no tratamento da obesidade
(assunto aprofundado na apostila de Síndrome Metabólica)
 
 

51
DIABETES CM

Figura 9 - Mecanismo de ação dos agonistas do GLP-1.

Fonte: Vilar, Lucio. Endocrinologia Clínica (p. 701). Guanabara Koogan. Edição do Kindle.

 
 
De forma resumida, estas medicações agem nos receptores do GLP-1,
promovendo seus efeitos benéficos. São excelentes medicações do
ponto de vista de controle glicêmico, com capacidade de reduzir a
HbA1c de 0,5 a 1,5% (em alguns casos até mais). Além disso, levam a
perda de peso (por aumentar a saciedade), melhora do perfil lipídico,
também estão associadas à redução de eventos cardiovasculares e
mortalidade cardiovascular.  
 
O principal inconveniente destas medicações é a via de administração:
pela primeira vez estamos falando de um medicamento para o

52
DIABETES CM

tratamento de diabetes que é injetável (além da insulina). Isso fez com


que o termo antidiabéticos orais fosse substituído por antidiabéticos não-
insulina. Além da via de administração, os GLP-1 RA têm como principais
efeitos colaterais os sintomas gastrointestinais: náusea (o mais
comum e às vezes muito intensa), vômitos e diarreia. Assim como
orientamos na MTF, estes efeitos desagradáveis tendem a melhorar com
o tempo, mas a náusea pode levar algumas semanas para desaparecer.
 
Nos primeiros anos em que estas medicações foram introduzidas no
mercado, houve relatos de pancreatite aguda em alguns pacientes em
uso dessas drogas, o que levantou a preocupação de que os GLP-1 RA
possam aumentar o risco destes eventos. Entretanto, estudos
comparativos e meta-análises não confirmaram esta associação.
Infelizmente, a má fama ficou, e, portanto, não recomenda-se o uso de
GLP-1 RA em pacientes com história de pancreatite aguda. 
 
Outra preocupação quanto ao uso destes medicamentos é o risco
aumentado de desenvolvimento de carcinoma medular de tireoide
(CMT), que foi observado em estudos com animais. Aqui, novamente,
este achado não se confirmou em estudos feitos com humanos. De
qualquer forma, por segurança, também não indicamos o uso dos GLP-1
RA em pacientes com história pessoal ou familiar de CMT ou neoplasia
endócrina múltipla tipo 2.
 
Existem diversos GLP-1 RA disponíveis no mercado, e podemos dividi-los
em agentes de curta ação (aplicação diária) e de longa ação (aplicação
semanal). Não se preocupe em decorar qual é qual, aqui vamos trazer
uma lista apenas a título de curiosidade. Repare que todos os fármacos
terminam com o sufixo TIDA.
 

• Curta ação: exenatida, liraglutida e lixisenatida

• Longa ação: semaglutida, dulaglutida, exenatida SR e albiglutida

 
 

53
DIABETES CM

 
 

 
 

DIMINUEM A REABSORÇÃO TUBULAR DE GLICOSE

Inibidores do SGLT-2 (iSGLT2)


 
Agora vamos falar sobre uma das estrelas em ascensão no tratamento do
diabetes: as glifozinas. Para entender melhor o funcionamento dessas
medicações, precisamos lembrar de alguns conceitos importantes de
fisiologia renal. A glicose plasmática é filtrada pelos glomérulos e a maior
parte é reabsorvida logo no túbulo contorcido proximal (TCP). Cerca de

54
DIABETES CM

90% da glicose filtrada é reabsorvida pelo cotransportador de sódio e


glicose-2 (SGLT-2) e 10% pelo SGTL-1. 
 
Pessoas normais reabsorvem, em média, 180 gramas de glicose por dia.
Os pacientes diabéticos são expostos a uma maior glicemia constante e,
consequentemente, uma maior carga de glicose é filtrada pelos
glomérulos ao longo do dia. Isso leva a um aumento da expressão destes
cotransportadores, aumentando a capacidade de reabsorção de glicose,
chegando a até 250 g por dia.

 
As glifozinas agem inibindo o cotransportador SGLT2 que, como vimos, é
responsável pela maior parte da reabsorção de glicose no TCP. O
resultado disso, como você pode imaginar, é o aumento da eliminação
de glicose pela urina (glicosúria). A glicose tem efeito osmótico, e “puxa”
água para o espaço tubular, gerando um efeito diurético . Como o
paciente perde mais glicose pela urina, isso também contribui para
eliminação de carboidrato e “energia extra”, promovendo um certo grau
de perda de peso. Observe um esquema do mecanismo de ação destas
drogas na figura abaixo.
 
 

55
DIABETES CM

Figura 10 - Mecanismo de ação dos inibidores do SGLT2. Fonte: Vilar, Lucio.

Endocrinologia Clínica (p. 699). Guanabara Koogan. Edição do Kindle.

 
 
Existem 3 representantes desta classe disponíveis no Brasil:
canaglifozina, empaglifozina e dapaglifozina. Estas drogas são
bastante eficazes, levando a uma média de redução da glicada em torno
de 0,7 a 1%, uma redução de 2 a 4 kg de peso corporal e redução de PA
em torno de 2 a 5 mmHg. Até agora não existem estudos comparando a
eficácia de um agente com outro. 

Entretanto, o principal motivo pelo qual os iSGLT2 ganharam tanto


destaque foi a sua capacidade em reduzir eventos cardiovasculares
combinados, internações por descompensação de insuficiência
cardíaca e progressão da nefropatia diabética! Além disso, em um
estudo que ofertou a medicação para pacientes com doença

56
DIABETES CM

cardiovascular estabelecida, a empaglifozina reduziu a mortalidade


cardiovascular. 
 
Os principais efeitos adversos das glifozinas são: aumento da chance de
infecções do trato urinário - especialmente fúngicas (por aumento da
glicosúria) e aumento do risco de hipotensão (pelo efeito diurético e
depleção do volume intravascular), mais comum em pacientes idosos (o
que pode aumentar risco de quedas). 
 
Também se observa alteração na micro-hemodinâmica renal, com
vasoconstrição da arteríola aferente, levando a uma queda inicial da taxa
de filtração glomerular (TFG), mas com redução da velocidade de
queda de TFG e proteinúria nos pacientes com nefropatia prévia.
Existe também o risco de hipercalemia leve e transitória. 

 
Outro efeito colateral importante é o aumento da reabsorção óssea. O
primeiro estudo com canaglifozina demonstrou um maior risco de
fraturas ósseas e amputação em membros inferiores. Entretanto, este
efeito não foi observado com as outras glifozinas, nem em estudos
posteriores com a canaglifozina. Por fim, é importante destacar também
que os iSGLT2 estão relacionados a um maior risco de desenvolvimento
de cetoacidose diabética com a glicemia pouco elevada, fenômeno
chamado de cetoacidose euglicêmica.
 
 

57
DIABETES CM

 
 

 
 

DIMINUEM A ABSORÇÃO INTESTINAL DE GLICOSE

Inibidores da alfa-glucosidase

58
DIABETES CM

 
A única medicação desta classe no país é a acarbose. Seu principal efeito
é retardar a absorção intestinal de carboidratos, por inibir uma enzima
responsável pela degradação dos carboidratos no intestino delgado.
Estes carboidratos não absorvidos vão ser metabolizados por bactérias
no cólon, que produzem gás metano e resultam em distensão
abdominal e flatulência. 
 
Como o efeito redutor da glicemia é muito baixo, e está associada a
efeitos colaterais muito desagradáveis, a acarbose não é mais utilizada no
tratamento do DM2. Ela é ainda usada em algumas outras situações que
não diabetes: (1) tratamento de hipoglicemia pós-prandial idiopática ou
(2) tratamento da síndrome de dumping precoce pós-bariátrica.

Tratamento Farmacológico Com Insulinas

Agora vamos falar da insulinoterapia nos pacientes com DM2. Vamos


começar conhecendo os diferentes tipos de insulinas, bem como suas
propriedades farmacocinéticas. Por fim, vamos aprender como iniciar,
ajustar e progredir a insulinização.
 

59
DIABETES CM

Antes de mais nada, é importante ressaltar que o DM2 é uma doença


heterogênea e progressiva. Alguns pacientes conseguirão controlar o
diabetes por toda a vida com MEV e uso de antidiabéticos não insulina.
Outros, podem ter uma doença mais grave e, mesmo com boa adesão ao
tratamento, irão evoluir para falência das células beta e necessidade de
insulinoterapia. 
 
Infelizmente, vemos na prática que o uso de insulinas ainda é muito
estigmatizado e apresenta grande resistência por parte dos pacientes.
Muitas vezes o paciente sente-se culpado por não ter conseguido
controlar o diabetes, e às vezes enxerga o uso da insulina como “punição”
e pode acreditar que ele está “no fim da linha”. Por esse motivo, é
fundamental acessarmos essas crenças e desmistificar o uso da insulina,
para garantir uma boa adesão. Isso será muito importante no seu dia a
dia, mas também pode aparecer uma situação semelhante na prova
prática!
 
Dito isso, não há dúvidas de que a insulina é o fármaco com maior
potencial de redução de glicemia de todos os já mencionados aqui. Os
principais pontos negativos da insulinoterapia são: a via de
administração injetável, ganho de peso e risco de hipoglicemia.
 
Antes de falarmos sobre os diferentes tipos de insulinas disponíveis, é
importante revisarmos rapidamente como ocorre a secreção fisiológica
de insulina. Observe a figura abaixo para entender melhor.
 
 

60
DIABETES CM

Figura 11. Perfil normal de secreção de insulina.

Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD): CONDUTA TERAPÊUTICA NO DIABETES

TIPO 1: ALGORITMO SBD 2020

 
 
Repare que, mesmo em momentos de jejum ou entre as refeições, os
níveis plasmáticos de insulina não vão a zero. Isso ocorre porque o
pâncreas possui uma secreção basal de insulina, que serve para
controlar a glicemia mesmo nos períodos entre as refeições. Perceba
que, logo após uma refeição, observamos um pico na secreção de
insulina, estimulada pelo aumento da glicemia após absorção de
alimentos. É importante ter esta figura em mente para quando formos
prescrever insulina de forma plena, pois vamos tentar mimetizar este
padrão fisiológico.
 
As insulinas são divididas conforme a sua velocidade de absorção, início e
duração de ação. Inicialmente havia apenas a insulina regular (rápida) e
a insulina NPH (de ação intermediária). Posteriormente, foram
desenvolvidos os análogos de insulina, criados a partir de alterações na
sequência de aminoácidos da insulina humana - assim surgindo as
insulinas rápidas, ultrarrápidas, lentas e ultralentas. Observe na tabela
a seguir, os principais representantes das insulinas citadas, bem como
suas propriedades farmacocinéticas.

61
DIABETES CM

 
 

 
 

62
DIABETES CM

 
 

 
 
Nem pense em querer decorar esta tabela toda, isso só vai te fazer perder
tempo. O conceito que você precisa ter guardado é uma ideia geral da

63
DIABETES CM

farmacocinética das insulinas, bem como exemplos de cada tipo de


insulina.
 
 

 
 

64
DIABETES CM

 
Vamos falar com um pouco mais de detalhes sobre cada uma delas, para
que você tenha um bom entendimento e consiga compreender o
esquema de insulinização. 
 
Insulina de ação intermediária
 
A única insulina que se encaixa neste perfil é a insulina NPH. Ela foi a
primeira insulina de ação mais prolongada disponível comercialmente.

 
 
A insulina NPH tem um aspecto esbranquiçado ou leitoso, que se deve
à própria molécula de protamina. Entretanto, ao permanecer imóvel,
ocorre a precipitação e ela adquire um aspecto bifásico. Para que ela
mantenha as características farmacocinéticas originais, é importante ser
homogeneizada. E isso deve ser feito com a movimentação de forma
gentil (e não agitando violentamente - pois isso quebra as ligações da
insulina com a protamina e altera todas as suas propriedades).
 
Em relação à farmacocinética, ela tem um início de ação entre 2 a 4
horas após a aplicação, com um pico de ação entre 4 a 10 horas, e
duração total de 10 a 18 horas. 
 
Insulina de ação rápida
 

65
DIABETES CM

Aqui, nossa única representante é a insulina Regular. Ela é ligada a


cristais de zinco e dissolvida em um líquido transparente. Ela se agrega
em hexâmeros (conjunto de 6 moléculas de insulina) quando aplicada no
subcutâneo, que vão sendo degradados mais lentamente - o que leva a
um retardo parcial em sua absorção.
 
Quando aplicada por via endovenosa (como é feito no controle glicêmico
em UTI ou nas emergências hiperglicêmicas) essa transformação em
hexâmeros não acontece, e a insulina R passa a ter início de ação
imediato e meia vida de 10 minutos.
 
Quando aplicada por via subcutânea (como é feito habitualmente), ela
tem um início de ação entre 30 minutos a 1 hora. Por isso é importante
que seja aplicada pelo menos 30 minutos antes da refeição, para
começar a agir quando o paciente estiver comendo. Ela apresenta pico
de ação entre 1 a 3 horas, com duração total de 5 a 8 horas.
 
Análogos de ação rápida
 
Existem três tipos de insulina que se encaixam neste perfil: a lispro,
asparte e glulisina. Elas foram sintetizadas a partir de modificações na
estrutura da molécula da insulina, para fazer com que elas não se
agreguem em hexâmeros no subcutâneo, e permaneçam na forma
monomérica, o que acelera muito sua absorção. 
 
Assim, elas têm início de ação dentro de 5 a 15 minutos após a
aplicação, com pico entre 30 minutos a 2 horas e duração total de ação
entre 3 a 5 horas. Desta forma, pode ser aplicada no início da refeição.
 
 

66
DIABETES CM

 
 
Análogos de ação longa
 
Os principais representantes aqui são a glargina e a detemir. Ambas são
indicadas para cobrir aquele período basal de secreção constante de
insulina, que ocorre nos indivíduos saudáveis. A glargina tem início de
ação entre 2 a 4 horas, praticamente não faz pico (o que significa maior
estabilidade) e dura de 20 a 24 horas (uma aplicação dura o dia todo). Já
a detemir tem como principal diferença o fato de fazer pico e não durar
tanto quanto a glargina, de 12 a 20 horas. 
 
Análogos de ação ultralonga
 
Aqui temos moléculas de insulina que sofreram modificação para
retardar ainda mais sua absorção. Os representantes são: a glargina
U300 e a degludeca. A glargina U300 não faz pico e dura até 36 horas. A
degludeca também não faz pico e dura até 42 horas. O mais interessante
da degludeca é que, por ter ação tão longa, permite com que o paciente
não precise aplicar sempre no mesmo horário (mas ainda precisa aplicar
diariamente).
 
 

67
DIABETES CM

Como Iniciar o Tratamento Farmacológico

Depois de estudar todas as opções terapêuticas para o tratamento do


diabetes, você deve estar meio perdido e se perguntando “como que eu
vou escolher alguma coisa no meio de tantas opções?” Fique tranquilo,
pois vamos trazer um fluxograma bem interessante da ADA que ajuda a
não se perder e guiar o tratamento.
 
 

68
DIABETES CM

Figura 12. Fluxograma para início de tratamento do diabetes.

Fonte: Vilar, Lucio. Endocrinologia Clínica (p. 692). Guanabara Koogan. Edição do Kindle.

Adaptado de American Diabetes Asssociation (ADA) Standards of Medical Care in

Diabetes - 2021

 
 
Vamos caminhar juntos pelo fluxograma. Como vocês podem ver, o
primeiro passo é a mudança do estilo de vida (atividade física, dieta,
manejo do peso) e a medicação de primeira linha é a metformina. Tenha
isso bem claro na sua cabeça: na ausência de contraindicações, a
primeira escolha vai sempre ser a metformina. 
 
Em seguida, vamos nos perguntar se existe ou se há predomínio de
algum dos seguintes indicadores:

• Doença cardiovascular estabelecida ou alto risco cardiovascular?

69
DIABETES CM

• Doença renal crônica ou nefropatia diabética?

• Insuficiência cardíaca?

 
Se em nosso paciente predominar doença cardiovascular, definida por:
(1) doença cardiovascular estabelecida (infarto ou AVC prévios) ou (2)
indicadores de alto risco cardiovascular (idade > 55 anos, hipertrofia
ventricular esquerda, estenose coronariana, carotídea ou em artérias de
membros inferiores > 50%) vamos preferir as seguintes medicações como
segunda linha em associação à metformina:
 

• Agonista do receptor do GLP-1 com benefício cardiovascular (CV)


comprovado (liraglutida, semaglutida e dulaglutida) OU

• Inibidor do SGLT2 com benefício CV comprovado (empaglifozina e


canaglifozina) 

 
Se o paciente não atingir as metas de controle glicêmico podemos
associar os GLP-1RA e iSGLT2. Caso não haja tolerância de alguma dessas
drogas, vamos pensar em utilizar: iDPP4 (se não estiver usando GLP-1RA -
pois estas medicações não podem ser combinadas), insulina basal,
sulfonilureias ou glitazonas. 
 
Por outro lado, se no paciente predominar insuficiência cardíaca
(especialmente a IC com fração de ejeção < 45%), vamos escolher um
iSGLT2 com benefício em progressão de IC (empaglifozina >
dapaglifozina > canaglifozina).
 
Por fim, se no paciente predominar doença renal diabética e
albuminúria (TFG < 60 e albuminúria) vamos preferir um iSGLT2 com
demonstração de benefício na nefropatia diabética (canaglifozina >
dapaglifozina > empaglifozina). Se o paciente tiver apenas DRC com TFG
< 60, sem albuminúria, podemos preferir tanto um iSGLT2 quanto um
GLP1RA que tenham benefício CV (como mencionado no primeiro

70
DIABETES CM

cenário), porque o paciente é automaticamente classificado como alto


risco cardiovascular.
 
Nestes cenários que falamos acima, as medicações específicas estão
indicadas independentemente do valor de hemoglobina glicada, em
associação com metformina. Isso é muito importante e quer dizer que,
mesmo que ele tenha uma glicada na meta só com metformina,
vamos SIM entrar com uma segunda medicação - porque o benefício
nas outras doenças específicas é muito grande!

 
 
Se o paciente não tiver fator de risco para DCV, nem DRC ou IC
estabelecidas, vamos pensar em associar uma segunda medicação

71
DIABETES CM

apenas se ele não estiver na meta com a metformina. Aí, também vamos
nos perguntar qual nosso principal objetivo:

• Controle eficaz da glicemia?

• Perda ou evitar ganho de peso?

• Minimizar custos?

 
Se o objetivo for controlar a glicemia de forma eficaz, podemos indicar
qualquer um dos seguintes:

• Inibidor de DPP4

• Agonista de receptor de GLP1

• Inibidor de SGTL2

• Glitazonas

 
Caso mantenha glicada acima do alvo, vamos associando estas
medicações umas às outras (só lembrando de não associar iDPP4 com
GLP-1RA). Se mesmo assim, o paciente não atingir a meta, aí vamos
indicar ou uma sulfonilureia ou insulina basal.
 
Por outro lado, se o objetivo for promover a perda de peso, vamos indicar
medicações que sabidamente tenham este efeito no peso:

• GLP1RA com potencial de perda de peso (semaglutida > liraglutida


> dulaglutida > exenatida > lixisenatida)

• iSGLT2 (qualquer um)

72
DIABETES CM

Se mesmo assim não controlar a glicada, vamos associar os dois. Se


mesmo assim mantiver fora da meta, vamos para as sulfonilureias,
insulina basal ou glitazonas. 
 
Por fim, se o principal objetivo por reduzir custo, vamos escolher as
medicações mais baratas e disponíveis:

• Sulfonilureias

• Glitazonas

 
Se neste cenário, mantiver fora do alvo, associar as duas. Se mesmo
assim não houver controle, sobra a indicação de insulina. E este é o nosso
gancho para falar sobre o último tema mais prático em relação ao
tratamento do DM2 - como iniciar a insulinização.
 
Existem diversos esquemas possíveis para o uso de insulina. Mas antes,
vamos relembrar as indicações de início de insulina no DM2: (1) ausência
de controle de glicemia com os medicamentos orais ou (2) DM
francamente descompensado (presença de sintomas, glicemias
aleatórias > 300, glicemia de jejum > 250 ou hemoglobina glicada > 10%).
 
 

73
DIABETES CM

 
 

Como Iniciar a Insulinização

74
DIABETES CM

Existem diversos esquemas possíveis para o uso de insulina, mas aqui


vamos falar sobre os principais que mais são usados na prática e que
mais aparecem em provas.
 
Esquema basal
 
 

Figura 13 - Esquema insulina bed-time (geralmente a escolha inicial em pacientes com

DM tipo 2)

 
 
Geralmente é o que escolhemos quando vamos introduzir o uso de
insulina em pacientes já em uso de tratamento oral. Pode ser usado
também nos casos de DM muito descompensado. 
 
Iniciamos com uma insulina de ação intermediária (NPH) à noite ou
qualquer outro análogo de longa ação. A dose que iniciamos é de 10 UI
ou 0,1 - 0,2 UI/kg/dia. A partir daí, vamos controlando conforme a
glicemia de jejum. Se não atingir o alvo, vamos aumentando a dose em
2 unidades a cada 3 dias.
 
Esquema basal-plus

75
DIABETES CM

Figura 14 - Esquema insulina basal-plus.

 
 
Usamos quando conseguimos controlar a glicemia de jejum, mas o
paciente está fazendo hiperglicemias após as refeições. Neste caso,
vamos iniciar uma insulina de ação rápida antes da refeição em que ele
apresenta a pior hiperglicemia.
 
 

Figura 15 - Esquema insulina basal-plus

 
 

76
DIABETES CM

A partir daí, vamos adicionando doses de insulina rápida nas outras


refeições, conforme formos verificando hiperglicemias. 
 
Esquema basal-bolus
 
 

Figura 16 - Insulinização plena (recomendada para DM tipo 2 com falência completa de

células beta e DM tipo 1).

 
 
Este é o esquema de insulinização plena , em que garantimos uma
cobertura de insulina basal com 2 ou 3 doses de NPH ou 1 dose de
análogo de longa duração, associado a doses de insulina rápida para
cobrir as refeições. 
 
Este é o esquema utilizado nos pacientes com DM2 que apresentam
falência de células beta e nos DM1 (que não possuem produção própria
de insulina). Assim, estamos mimetizando como seria a secreção
fisiológica de insulina ao longo do dia.
 
As doses habituais deste esquema de insulinização plena variam de 0,3 a
0,7 U/kg. Evidentemente, os pacientes com resistência insulínica muito
importante podem precisar de doses maiores. É muito importante que,
quando estivermos distribuindo as doses de insulinas, manter a

77
DIABETES CM

proporção de insulina basal:bolus em 50:50% - ou seja, metade da dose


basal e metade da dose prandial! 
 
Um erro muito comum é o aumento indiscriminado da dose de insulina
basal, que aumenta muito o risco de hipoglicemia e não controla os picos
pós-refeição! O ideal, inclusive, é ir progressivamente aumentando a
proporção de insulina bolus em relação ao basal, porque é, sem dúvida,
muito mais fisiológico!
 
E como vamos ajustar as doses de insulina neste esquema de
insulinização plena? Com base no controle de oito pontos! Aquela
tabelinha que insistimos para o paciente preencher e trazer em toda
consulta, com as glicemias pré e pós-refeição.
 
Aqui vamos dar alguns exemplos de cenários para treinarmos juntos os
ajustes de insulina, que tem sido um conhecimento cada vez mais
cobrado nas provas (e obviamente é importantíssimo para a sua vida). 
 
Exemplo 1
 
Paciente DM2 de 57 anos, peso 95 kg, em insulinização plena, em uso de
NPH 40-10-10 e regular 15-15-15.
 
 

Figura 17 - Controle glicêmico de paciente fictício a partir da análise de 8 pontos.

 
 
Antes de tudo, temos que ter em mente o efeito de cada insulina em
diferentes momentos do dia. De maneira prática

78
DIABETES CM

• Insulina basal →  cobre as glicemias pré-prandiais (jejum, pré-


almoço, pré-jantar), ao deitar e madrugada. Se estivermos usando
NPH em 3 pontos ainda teremos
◦ Manhã → pré-almoço
◦ Almoço → pré-jantar
◦ Deitar → madrugada e jejum

Figura 18 - Atuação da insulina basal, realizando controle de glicemias pré-prandiais, ao

deitar e de madrugada (aferições na cor vinho). A insulina basal aplicada antes daquela

aferição é a responsável por ela. Assim, se o paciente aplica uma dose de NPH no jantar e

em jejum, sabemos que a dose do jantar controla as glicemias “ao deitar”, “madrugada” e

“jejum”, enquanto a dose do jejum controla as glicemias “pré-almoço” e “pré-jantar”.

Mesmo que neste intervalo seja aplicado uma insulina rápida, é a insulina basal que se

responsabiliza pelo controle dessas glicemias.

 
 

• Insulina bolus (rápida) → cobre as glicemias pós-prandiais

 
 

79
DIABETES CM

Figura 19 - Atuação das insulinas rápidas (bolus), realizando o controle das glicemias pós-

prandiais (em azul). A insulina regular aplicada antes daquela refeição é responsável por

“queimar” a glicose adquirida naquela refeição, ou seja, ela controla a glicemia pós-

prandial a partir do nível glicêmico pré-refeição. Por exemplo, a glicemia de 240 após o

café, apesar de estar aumentada, nos mostra que a insulina basal aplicada antes do café

está funcionando (o pré-jejum era 235 e agora está praticamente estável), enquanto a

insulina regular aplicada no almoço não surtiu efeito (glicemia foi de 90 para 204).

 
 
Voltando para o nosso cenário: Paciente DM2 de 57 anos, peso 95 kg, em
insulinização plena, em uso de NPH 40-10-10 e regular 15-15-15.
 
 

Figura 20 - Controle glicêmico de paciente fictício a partir da análise de 8 pontos.

 
 
Neste primeiro cenário, já conseguimos observar uma desproporção
basal-bolus (ele está utilizando 60 unidades de insulina NPH e 45 de
Regular (60% basal e 40% bolus). 
 

80
DIABETES CM

Vamos começar olhando as glicemias de jejum, que estão fora do alvo


desejado (entre 80 a 130).
 
 

81
DIABETES CM

 
 

82
DIABETES CM

Isso significa que está faltando basal da noite, então vamos precisar
aumentá-la. Porém, quando observamos a evolução da glicemia do pós-
café para o pré-almoço vemos que há uma queda muito importante.
 
 

 
 
Isso significa que há excesso de basal no pré-almoço (sendo a
responsável a NPH da manhã, que precisará ser reduzida). Para terminar
de ver a dose de basal, olhamos a glicemia do pré-jantar, que se mantém
estável em relação ao pós-almoço - significando que a dose de NPH
estaria adequada para este horário (o problema é que a do almoço já
chegou muito alta).
 
 

83
DIABETES CM

 
 
Então o ajuste da insulina basal que faríamos seria: diminuir a NPH do
café, manter a do almoço e aumentar a do deitar.
 
Agora vamos analisar as glicemias pós-prandiais. Vamos observar como é
a evolução da glicemia antes e pós-refeição. Lembre-se que a função da
insulina rápida é cobrir aquela refeição específica. Se houver um
aumento maior que 30 mg/dL, devemos aumentar a dose de bolus. Se
mantiver a glicemia com variação menor que 30, a dose está boa. Por
fim, se houver queda da glicemia, significa que aquela dose está
excessiva e precisa ser reduzida. 
 
No nosso exemplo, vemos que a dose regular do café está boa (ele
mantém a glicemia - se acordasse num jejum bom, iria manter uma pós-
boa). 

84
DIABETES CM

 
 
Já a dose após o almoço está insuficiente, porque ele sobe a glicemia em
104 mg/dL, portanto precisa ser aumentada.
 
 

85
DIABETES CM

 
 
Por fim, a dose do pós-jantar também parece boa, mantendo a glicemia
constante.
 
 

86
DIABETES CM

 
 
Exemplo 2
 
Paciente DM1 de 28 anos, peso 70 kg, em uso de glargina 15 unidades de
manhã e insulina asparte 10-10-10. Aplica doses adicionais conforme
tabela de fator de correção.
 
 

87
DIABETES CM

Figura 21 - Controle glicêmico de paciente fictício a partir da análise de 8 pontos.

 
 
Trouxemos este exemplo para ilustrar um fenômeno importante no
controle glicêmico. Observe que este paciente apresenta hiperglicemias
de jejum importantes e que, quando vamos olhar a noite anterior, vai
dormir com a glicemia bem controlada, que se mantém na madrugada e
de repente acorda muito alta! 
 
Será que ele está fazendo um lanchinho escondido na madrugada? Não! 
 
A hiperglicemia matinal pode acontecer por baixa dose de NPH ao deitar,
o que não parece ser o caso já que o paciente apresentou glicemia
controlada na madrugada. Excluída essa justificativa, vamos pensar em
outras duas causas teóricas:

• Fenômeno do alvorecer e

• Efeito Somogyi. 

 
Enquanto o fenômeno do alvorecer é um efeito muito bem conhecido e
estudado, muitos especialistas não acreditam na existência do segundo.
Mas como ele ainda é cobrado em provas, vamos explorar a sua
definição. 
 
O efeito Somogyi, cuja existência é controversa, é definido pelo conceito
de que hipoglicemias na madrugada provocam a liberação de
hormônios contra-reguladores que provocam hiperglicemia de rebote
pela manhã. Logo, o diagnóstico vem da identificação de hipoglicemias
na madrugada e hiperglicemias pela manhã. E o tratamento é feito

88
DIABETES CM

diminuindo a dose de insulina basal (NPH, glargina ou detemir) e/ou


fornecer mais alimentos na ceia.
 
Como nosso paciente não tem hipoglicemias na madrugada, sabemos
que este é um exemplo claro do fenômeno do alvorecer. Este fenômeno
se caracteriza por um incremento importante da glicemia de jejum,
quando a glicemia da noite está controlada. Isso ocorre porque, no final
da madrugada e ao amanhecer, ocorre um pico de hormônios
contrarreguladores (GH e cortisol), que aumentam a resistência
insulínica e levam à hiperglicemia). 
 
A solução para este problema é aumentar a dose de insulina basal
responsável pelo jejum (bedtime). Se o paciente estiver usando NPH 3x/
dia, seria aumentar a NPH da noite. Ou ainda modificar o horário em que
a insulina é aplicada. Essa segunda estratégia é melhor para pacientes
que costumam aplicar a NPH muito cedo (aproximadamente 20 horas).
Se jogarmos a aplicação para mais tarde (por exemplo, 22 horas), o
tempo de duração da insulina NPH vai ser suficiente para cobrir o pico
dos hormônios contrarregulatórios. 
 
Neste exemplo, o paciente está usando glargina de manhã. Uma
alternativa seria passar para noite (lembre-se que ela não faz pico e dura
um pouco menos de 24h) ou introduzir uma NPH antes de deitar só para
cobrir este alvorecer

89
DIABETES CM

 
 
Para finalizar a abordagem da insulinoterapia, temos sempre que nos
preocupar e questionar ativamente sobre episódios de hipoglicemia, o
principal efeito colateral do uso de insulina! Ela é definida como uma
glicemia < 70 mg/dL.
 
Os pacientes podem apresentar sintomas diversos, que podem ser
divididos em 2 grandes grupos:
 

• Sintomas secundários a ativação do sistema nervoso autônomo:


◦ Adrenérgicos: tremores, palpitações, ansiedade
◦ Colinérgicos: sudorese, fome, parestesias

• Sintomas secundários à redução da oferta de glicose aos


neurônios (neuroglicopênicos):
◦ Sonolência, tontura e fraqueza
◦ Em hipoglicemias mais graves, convulsões e coma

 
É importante, tanto para a vida, quanto para a prova (especialmente a
prática), saber como orientar um paciente a corrigir esta hipoglicemia. O
paciente deve ingerir uma quantidade de 15 a 20 gramas de carboidrato
de rápida absorção e aferir a glicemia capilar 15 minutos depois. Se não

90
DIABETES CM

houver correção, repetir o processo. Se corrigir, fazer um lanche ou


adiantar a próxima refeição. 
 
E o que são 15 a 20g de carboidratos simples? 3 colheres de chá de
açúcar (15 g), 2 colheres de sobremesa de açúcar (20 g), 1 colher de sopa
de açúcar (15 g), 1 colher de sopa de mel (12 g), 200 mL de suco de laranja
(15 g), 150 mL de refrigerante comum (15 g).
 
Existem diversas estratégias que podemos utilizar para evitar o
surgimento de hipoglicemia: O primeiro de tudo é evitar doses
excessivas de insulina basal! Além disso, o uso de insulinas de longa
ação ao invés de NPH garante níveis mais estáveis de insulinemia, o que
reduz a chance de desenvolver hipoglicemia
 
Nos pacientes em uso de NPH, um erro muito comum é a aplicação
antes do jantar, e não logo antes de deitar-se. Desta forma o paciente
estaria fazendo um pico da NPH no meio da madrugada, horário em que
estaria mais suscetível a hipoglicemia. Devemos sempre questionar e
garantir que ele aplique a NPH logo antes de deitar-se. 
 
Por fim, caso nenhuma dessas alternativas resolva, podemos reduzir a
dose da insulina basal ou mudar o horário de aplicação (para as insulinas
de longa). Um sinal de insulina basal excessiva é o desenvolvimento de
hipoglicemia se o paciente pular refeições. Se a hipoglicemia for pós-
prandial, significa que a dose de insulina daquela refeição está excessiva
e deve ser reduzida. 
 
 

91
DIABETES CM

QUESTÃO

Homem de 63 anos com diabetes tipo 2 de longa data, em uso de metformina 2 g/dia e
gliclazida 120 mg/dia. Além destas medicações, faz uso de insulina NPH (10 unidades ao
acordar e 10 unidades ao deitar) e insulina regular (6 unidades antes do café da manhã, 6
unidades antes do almoço e 6 unidades antes do jantar). Traz controle glicêmico do último
mês com médias conforme tabela abaixo. A conduta quanto ao manejo da insulina deve
ser:

A. Aumentar NPH da manhã e aumentar regular da manhã.


B. Diminuir NPH da manhã e aumentar regular da manhã.
C. Aumentar regular da manhã, apenas.
D. Diminuir NPH da manhã, apenas.
E. Aumentar NPH da manhã e diminuir regular da manhã.

92
DIABETES CM

GABARITO

Gabarito liberado pela banca: alternativa B

Comentário Medway

Gente, nessa questão temos um paciente de 63 anos, masculino, portador de DM2, em uso
de 2 g/dia de metformina, 120 mg/dia de gliclazida, insulina NPH (10 UI ao acordar e 10 UI ao
deitar) e insulina regular (6 UI antes das três principais refeições do dia). Traz em consulta
controle glicêmico ambulatorial e nos é fornecido o valor médio em cada período avaliado
 
Temos o seguinte:
Jejum 110 | 2h pós café 276 | Pré almoço 100 | 2h pós almoço 150 | Pré-jantar 122 | 2h pós
jantar 147 | 3h da manhã 120
 
Antes de mais nada, quais são as metas glicêmicas preconizadas? (Salvo pequenas
variações na bibliografia):
·     < 130 mg/dl nas aferições em jejum.
·         < 180 mg/dl 2 horas após uma refeição.
 
Dessa forma encontramos apenas um valor alterado, que nos chama a atenção: a glicemia
2 horas após café da manhã de 276 mg/dL!
 
E como fazemos o ajuste da insulinoterapia?
 
Antes do manejo terapêutico deste paciente, devemos compreender o perfil de ação das
insulinas:
·       Insulina NPH (basal): Pico de ação em 4-6 horas, com duração total de ação de 10-12
horas. Recomenda-se 2 a 3 administrações diárias
·       Insulina Regular (rápida): Início de ação em 30-60 minutos, com pico em 2-4 horas
 
Esses intervalos de tempo são pouco cobrados em prova, é mais importante entender o
propósito de usarmos cada tipo de insulina.
 
Vamos simplificar, de modo que você consiga estruturar seu raciocínio. Pense em um
mundo ideal, no qual tempos a melhor insulina ultrarrápida e a melhor insulina basal. Se
estivéssemos nessas condições, poderíamos confiar que a insulina regular sempre tem
ação na glicemia imediatamente após sua aplicação (administramos antes/durante
refeições para controle do pico glicêmico pós-prandial) e que a insulina NPH vai ter ação
sobre todas as insulinas basais do paciente (ou seja, no momentos de jejum – refletidos
pelas aferições pré-refeições e na madrugada).

93
DIABETES CM

 
Transferindo isso para o caso do nosso paciente, temos que:
10 UI NPH manhã – Impacto no pré-almoço e no pré-jantar.
6 UI Regular no café da manhã – Impacto no pós café da manhã.
6 UI Regular no almoço – Impacto no pós almoço.
·     6 UI Regular no jantar – Impacto no pós jantar.
·   10 UI NPH ao deitar (“bedtime”) – Impacto no jejum.
 
Então, se temos uma glicemia pós café da manhã alterada (> 180 mg/dl), qual é a dose de
insulina que não está sendo suficiente?
 
·     Jejum: 110 mg/dl – NPH noturna adequada.
·     Pós-café: 276 mg/dl – Regular manhã insuficiente.
·     Pré-almoço: 100 mg/dl – NPH manhã adequada.
·     Pós-almoço: 150 mg/dl – Regular almoço adequada.
·     Pré-jantar: 122 mg/dl – NPH manhã adequada.
·     Pós-jantar: 147 mg/dl – Regular jantar adequada.
·     3h madrugada: 120 mg/dl – NPH noturna adequada.
 
Então, para um adequado ajuste, devemos aumentar a dose de insulina regular do café
da manhã, concordam? No entanto – fique atento - ao aumentar essa dose, corremos o
risco de causar uma redução excessiva na glicemia, ocasionando hipoglicemias
iatrogênicas no nosso paciente.
 
Como reduzimos esse risco? Reduzindo a dose da NPH da manhã! Isso vai aumentar
discretamente o nível glicêmico basal, permitindo que a insulina regular atue
adequadamente, sem causar hipoglicemias
 
Vamos às alternativas?
 
A - Incorreta. Sim, devemos aumentar a regular da manhã, porém, se aumentarmos
também a NPH do mesmo período, a glicemia do paciente vai despencar durante o dia.
Receita para desastre essa prescrição.
 
B - Correta. Nossa resposta, conforme discutido acima!
 
C - Incorreta. Devemos sim aumentar a insulina regular da manhã, porém o mais seguro e
adequado é reduzir simultaneamente a NPH da manhã, como discutimos anteriormente
 
D - Incorreta. Já vimos que a NPH da manhã está atingindo os seus objetivos diários. Se
reduzirmos sua dose, isso favorecerá descontrole glicêmico em outros períodos do dia,
além do pós café da manhã
 
E - Incorreta. Não faz sentido né? Precisamos fazer justamente o contrário, aumentar a
regular da manhã e reduzir a dose da NPH do mesmo período.

94
DIABETES CM

Visão do aprovado: Queridos, fazer o ajuste glicêmico de um paciente é algo que todo
médico deve saber! Vocês certamente lidarão com isso na prática clínica e na prova isso
não será diferente. No entanto, não é algo muito simples. A melhor maneira de resolver
essas questões é pensar nas melhores insulinas disponíveis (ultrarrápidas e lentas), assim
vocês conseguem visualizar melhor onde cada insulina atuaria em cada momento. Pense
sempre que a regular atua na refeição em que ela é realizada e a NPH nos jejuns
subsequentes. 

95
DIABETES CM

Complicações do Diabetes

Galera, chegamos na última parte da nossa apostila, que são as


complicações do diabetes. Provavelmente você deve estar cansado, mas
esta parte é extremamente importante para as provas, cai demais! Então
vá pegar um café, dê uma respirada e volte quando estiver pronto para
ler com muita atenção!
 
As complicações do DM são divididas em agudas e crônicas. Vamos
começar abordando as complicações agudas, que são as emergências
hiperglicêmicas.

Complicações agudas

As emergências hiperglicêmicas representam um extremo de


descompensação do diabetes mellitus e são caracterizadas por
hiperglicemias importantes com alterações metabólicas graves. Elas são:
(1) Cetoacidose Diabética e (2) Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar.
 
1. Cetoacidose Diabética (CAD)
 
A CAD ocorre por uma deficiência absoluta de insulina (por isso é mais
comum em pacientes com DM1, geralmente na abertura do quadro). Na
falta de insulina, a glicose não consegue entrar na célula e cria-se um
estado de glicopenia intracelular, que começa a ativar outras vias
metabólicas para produção de energia.
 
A cetoacidose diabética geralmente é precipitada por infecção ou
outros fatores estressores. Diante de um evento estressor, ocorre uma
resistência à insulina muito importante, devido à liberação de hormônios
contrarreguladores (GH, cortisol e catecolaminas), que levam ao
aumento de glucagon e lipólise. A indisponibilidade da glicose para servir

96
DIABETES CM

de substrato para produção de energia intracelular e a alteração da


relação insulina/glucagon levam a um aumento da gliconeogênese e
glicogenólise. A glicemia vai se elevando progressivamente, causando
diurese osmótica por glicosúria e desidratação.
 
A acidose ocorre só na ausência total ou quase total de insulina - porque
quantidades pequenas de insulina ativa já conseguem suprimir a
secreção de glucagon por efeito parácrino. Sem insulina e com muito
glucagon, ocorre uma lipólise exagerada, cujo metabolismo leva à
produção de cetoácidos: ácido acetoacético, ácido beta-hidroxibutirato
e acetona - resultando em acidose metabólica.
 
Tendo visto toda essa fisiopatologia, podemos entender facilmente os
critérios diagnósticos para CAD:
 

• Glicemia > 250

• Acidose metabólica (pH < 7,3 e Bic < 15) com ânion gap aumentado

• Cetonemia positiva (na ausência de cetonemia, podemos usar a


cetonúria fortemente positiva)

97
DIABETES CM

Lembrando rapidamente como calcular o ânion gap. AG = Na - (Cl + Bic);


Valor normal de 8 - 12 (10); Maior que isso, indica a presença de ânions
não mensurados e, neste caso, são os cetoácidos. 
 
Vamos lembrar do quadro clínico típico, geralmente um paciente
diabético tipo 1 em sua primeira descompensação ou com má adesão ao
tratamento, manifesta com poliúria, polidipsia, perda de peso, dor
abdominal, taquipneia (para lavar os cetoácidos) e hálito cetônico. Casos
mais graves podem cursar ainda com rebaixamento do nível de
consciência e coma.
 
De acordo com a gravidade das alterações clínicas e laboratoriais,
podemos classificar a gravidade da CAD, de acordo com a tabela abaixo:

Referencia:  (Velasco, 2019-01-01, p. 959)1. Velasco, I. T., Neto, R. B. Medicina de emergência:

abordagem prática 13a ed., 13th Edition. Manole; 2019-01-01.

98
DIABETES CM

Além disso, existe um tipo “especial” de CAD, que preenche todos os


critérios mencionados, menos a glicemia elevada, chamada de
cetoacidose euglicêmica.
Mas em quem isso pode acontecer?
 

• Usuários de iSGLT2, que perdem mais glicose pela urina. Assim,


mesmo na ausência de insulina, o paciente vai ficar euglicêmico,
mas todas as outras alterações metabólicas estão presentes

• Gestantes, devido maior utilização de glicose pela placenta e feto

• Pacientes com baixa ingesta calórica e uso de dose baixa de


insulina (insuficiente para prevenir a lipólise)

 
2. Estado hiperosmolar hiperglicêmico
 
No EHH, ao contrário da CAD, a deficiência de insulina é relativa, de
forma que não ocorre uma elevação tão importante do glucagon, e não
ocorre uma lipólise tão intensa, nem produção de cetoácidos. Porém, no
EHH a hiperglicemia tende a ser mais importante, com uma diurese
osmótica muito intensa e desidratação significativa. A osmolalidade
eleva-se tanto que altera o funcionamento do sistema nervoso e,
portanto, o quadro geralmente cursa com alguma alteração de nível de
consciência. 

 
O quadro clínico típico para você não esquecer é de um paciente mais
velho, com pouco acesso à água, desidratação intensa, hiperglicemia
muito importante e rebaixamento do nível de consciência.
 
 

99
DIABETES CM

 
 
Tratamento das Emergências Hiperglicêmicas
 
O tratamento destas emergências, tanto a CAD quanto o EHH se
baseiam em três pilares fundamentais

1. Reposição volêmica agressiva

2. Vigilância e correção do potássio

3. Insulinoterapia

 
(1) Reposição volêmica
 
O primeiro passo é a reposição volêmica. E é para repor volume de
verdade, pois estes pacientes têm um déficit de água muito importante.
Você já começa com 1000 a 1500 mL de soro fisiológico em uma hora. Se
o paciente estiver em choque hipovolêmico franco, vamos continuar a
1000 mL por hora até estabilidade hemodinâmica
 
Se não estiver chocado, precisamos calcular o valor do sódio corrigido
pela hiperglicemia; importante saber que o sódio medido pelo aparelho
é menor quando temos hiperglicemia, porque a glicose puxa água e dilui
o sódio plasmático. Não vamos decorar conta, mas entender que para

100
DIABETES CM

cada 100 mg dL que a glicose sobe acima de 100, o sódio que vimos
no exame deve ser aumentado em 1,6 mEq/L.
 
Se sódio corrigido < 135, vamos manter o soro fisiológico a 0,9% mas com
velocidade menor (250 a 500 por hora). Se o sódio for maior ou igual a
135, trocamos por soro ao meio (250 a 500 por hora). Quando a glicemia
chegar a 200, trocamos por soro ao meio com glicose 5% na mesma
velocidade. 
 
Mas por que dar glicose se já conseguimos controlar a glicemia? Porque
o objetivo aqui é corrigir as alterações metabólicas com insulina, e não
corrigir a glicemia. É provável que mesmo tendo atingido glicemia de
200, nosso paciente ainda precise de insulina. Para não induzirmos uma
hipoglicemia, vamos manter com solução glicosada.
 
Observe o fluxograma abaixo:
 
 

101
DIABETES CM

Figura 21 - Hidratação nas emergências hiperglicêmicas

 
 
(2) Reposição de potássio
 

O segundo ponto fundamental que não dá para esquecer é o controle do


potássio, já que a infusão de insulina endovenosa pode levar ao shift de
potássio para dentro das células e hipocalemia! Por isso, entre os exames
iniciais precisamos da dosagem de potássio sérico na urgência.
 

Se menor que 3,3 mEq/L (ou 3,5 a depender da referência), não


iniciaremos insulina e vamos adicionar 1 ampola de KCl 19,1% em cada
litro do soro e medir o potássio depois de uma hora. Do outro lado, se o
potássio for maior que 5,2 mEq/L (5,2 a 5,5 a depender da referência),
vamos iniciar insulina, mas não o potássio e vamos seguir medindo o
potássio sérico a cada 2 horas. E no meio do caminho, se o potássio for
entre 3,3 e 5,2 mEq/L vamos dar insulina e potássio, medindo o potássio a
cada 2 horas (ou até de 4/4 horas após ajuste inicial). O objetivo é manter
o potássio entre 4,0 e 5,0 mEq/L.
 

102
DIABETES CM

Figura 22 - Reposição de potássio nas emergências hiperglicêmicas

 
 
Lembre-se que nosso objetivo é corrigir a acidose, e para isso, precisamos
de insulina.
 

(3) Insulinoterapia
 

O terceiro item fundamental no tratamento dessas emergências, é a


insulinoterapia endovenosa. Podemos começar de 2 maneiras:
 

• Bolus de 0,1 UI/kg e depois manter infusão contínua em 0,1 UI/kg/h

• Começamos direto 0,14 UI/kg/h, sem bolus

103
DIABETES CM

E para saber se o paciente está respondendo vamos medir glicemia


capilar de hora em hora. Temos um objetivo de queda: 50 a 70 mg/dL por
hora - parece detalhe, mas isso já foi questão. 
 

Se cair menos que 50: dobramos a taxa de infusão. 


 

Se cair mais que 70: reduzimos a taxa de infusão pela metade. 


 

Seguimos nesse esquema junto com a hidratação até a glicemia chegar


a 200 mg/dL. A partir daí, mantemos a velocidade de infusão da insulina
e trocamos a solução de hidratação por NaCl a 0,45% com 5% de glicose
para evitar a hipoglicemia. Até reversão da CAD.
 
 

Figura 23 - Insulinoterapia nas emergências hiperglicêmicas

 
 

104
DIABETES CM

 
 
Além dos três pilares básicos no tratamento das emergências
hiperglicêmicas, às vezes as questões perguntam se está indicado o uso
de bicarbonato para correção da cetoacidose diabética. De maneira
geral, não está indicado, porque a acidose vai se corrigir com a
hidratação e administração de insulina. Lembre-se que estamos diante
de uma acidose metabólica de ânion GAP aumentado, logo está tendo
acúmulo de ácidos e não perda de bicarbonato.
 

Entretanto, se a acidose for muito grave e ameaçadora à vida (pH < 6,9)
vamos indicar 100 mEq de bicarbonato IV (100 ml da solução de NaHCO3
a 8,4%), medindo uma nova gasometria e sódio 1h após. 
 

Por fim, precisamos saber quais são os critérios de resolução da


cetoacidose, que vão nos permitir interromper o esquema de
hidratação, potássio e insulina. Precisamos ter pelo menos 2 dos 3
critérios a seguir:

• pH > 7,3

• Ânion gap ≤ 12

105
DIABETES CM

• Bicarbonato ≥ 15

Resolvida a CAD, desligaremos a bomba. Mas antes de desligar a bomba


de insulina, sempre faremos uma dose de insulina subcutânea cerca de 1
a 2 horas antes. E já vamos começar o esquema basal bolus: somamos
toda a dose de insulina usada nas últimas 24 horas e distribuímos 50%
basal e 50% bolus. Estas doses serão distribuídas ao longo do dia,
ajustando conforme o controle de glicemia capilar. Se o paciente
controlar a cetoacidose em menos de 24h, o que não é raro, pegamos as
últimas 6h, multiplica por 4 e utilizamos 80% da dose (considerando
variações) para calcular a dose total de insulina ao ser administrada em
um dia.
 
Não esqueça: já faça a dose da insulina rápida subcutânea antes de
desligar a bomba!

106
DIABETES CM

QUESTÃO

Homem de 24 anos de idade, previamente hígido, é levado ao Pronto-Socorro com queda


do estado geral, náuseas e vômitos. Há duas semanas tem notado perda de peso (6 kg,
aproximadamente 8% do peso inicial). No exame clínico, está sonolento, desidratado +3/+4.
Frequência respiratória de 30 ipm, pressão arterial de 90 x 50 mmHg, frequência cardíaca
de 120 bpm; abdome flácido, sem sinais de peritonite. O restante do exame clínico é normal.
O exame de urina revelou glicosúria 4+/4 e cetonúria 4+/4. A gasometria arterial em ar
ambiente evidenciou: pH 7,02; pO2 95 mmHg; pCO2 26 mmHg; bicarbonato 6 mEq/L; Base
excess (BE) -10; SatO2 em ar ambiente 99%. K+ 3,8 mEq/L, Na+ 132 mEq/L Cl- 93 mEq/L;
Glicemia 400 mg/dL. Considerando a principal hipótese diagnóstica, assinale a alternativa
que indica condutas que compõem as primeiras duas horas de atendimento:

A. Cloreto de sódio 0,45% EV, insulina NPH subcutânea, KCI 19,1% EV.
B. Cloreto de sódio 0,45% EV, insulina regular EV, bicarbonato de sódio 8,4% EV.
C. Cloreto de sódio 0,9% EV, insulina NPH subcutânea, bicarbonato de sódio 8,4% EV.
D. Cloreto de sódio 0,9% EV, insulina regular EV, KCI 19.1% EV.

107
DIABETES CM

GABARITO

Gabarito liberado pela banca: alternativa D

Comentário Medway

A questão traz um paciente jovem com quadro de perda de peso, desidratação (já com
repercussões hemodinâmicas de hipotensão e taquicardia) e rebaixamento do nível de
consciência. Além disto, temos na avaliação complementar cetonúria e glicosúria positivos
com gasometria arterial mostrando acidose metabólica com ânion gap bastante elevado
(33).
AG = Na - Cl - HCO³ = 132 - 93 - 6 = 33. 
 
Para que haja glicosúria, em um rim saudável (o que esperamos de um paciente
previamente hígido), precisa haver uma glicemia aproximadamente > 180mg/dL. Nesse
caso, nosso paciente apresenta glicosúria de 4 cruzes, ou seja, é bem significativo! De
qualquer forma iríamos extrapolar, e interpretar que a glicemia também estaria bastante
elevada (e de fato, ela é de 400).
 
Agora ficou claro que estamos diante de um quadro de cetoacidose diabética
(hiperglicemia + acidose metabólica + cetonúria). 
 
Porém, como na maioria das questões do assunto, a banca não quer o diagnóstico, ela
quer a conduta! 
 
Um macete clássico de prova é pensar que o paciente com cetoacidose é jovem, com uma
condição ameaçadora à vida e que deve ser manejado corretamente. O paciente é VIP, e o
tratamento também será VIP, Volume, Insulina e Potássio, não necessariamente nesta
ordem…
 
O primeiro passo no tratamento desses pacientes será a hidratação. Infusão de solução
salina isotônica para expandir o volume extracelular e estabilizar o estado cardiovascular.
Perceba que nosso paciente estava tão desidratado que ele já apresentava repercussões
hemodinâmicas.
- A reposição de fluidos geralmente é iniciada com solução salina isotônica (cloreto de
sódio a 0,9% [NaCl]), não queremos nada de água livre sendo perdida para o terceiro
espaço!! 
- A velocidade de infusão vai depender do estado volêmico do nosso paciente.
- Depois dessa expansão volêmica inicial (após a segunda ou terceira hora), a reposição de
fluídos vai depender do grau de hidratação, dos níveis de eletrólitos séricos (especialmente
do sódio corrigido*) e da produção de urina.

108
DIABETES CM

 
*Na corrigido = Na sérico medido + (1,6 x [Glic - 100]/100)
 
Note que o paciente possui um sódio sério de 132mEq/L (sódio corrigido de 137mEq/L), logo
apesar de a expansão volêmica inicial ser recomendada com soro fisiológico. Depois de 2-3
horas, se continuarmos com esses valores (137), aí sim passaremos para o soro ao meio:
 
Se a concentração de sódio sérico "corrigida" (após expansão volêmica inicial) for:
- Menor que 135 mEq / L, solução salina isotônica (SF 0,9%) deve ser continuada a uma taxa
de aproximadamente 250 a 500 mL / hora
- Normal ou elevada, o fluido IV geralmente é trocado para soro ao meio (0,45%) a uma taxa
de 250 a 500 mL / hora, a fim de fornecer água livre de eletrólitos.
 
O segundo passo, NÃO é a insulina. Mas o potássio.
lembra que nosso objetivo na cetoacidose diabética é corrigir a acidose. Ninguém morre
agudamente pela hiperglicemia, os pacientes morrem de acidose!!
 
Por isso, antes de começar a reposição de insulina olharemos para o potássio. Grave os
valores de 3,3 e 5,3 para definir se haverá reposição violenta, moderada ou não será preciso.
 
Se o potássio for < 3.3mEq/L vamos segurar o início da insulinoterapia e repor primeiro o
potássio, lembre que com a insulina a tendência é que ocorra hipocalemia!
 
Se o potássio sérico inicial estiver entre 3,3 e 5,3 mEq/L, KCl IV (20 a 30 mEq) é
adicionado a cada litro de fluido de reposição IV. Ajustaremos a reposição de potássio para
manter a concentração de potássio sérico na faixa de 4 a 5 mEq / L. Ou seja, infunde
insulina e potássio juntos.
 
Se a concentração inicial de potássio sérico for superior a 5,3 mEq / L, a reposição de
potássio deve ser adiada até que a concentração caia abaixo desse nível.
 
No caso da questão a paciente possui um potássio de 3,8 mEq/L, então além de repor
potássio, vamos realizar insulina regular EV em bolus na dose de 0,1U/Kg e iniciar em
bomba de infusão na velocidade de 0,1U/Kg/h com o objetivo de diminuir a glicemia em
50-70mg/dL/h. Quando iniciamos o tratamento com insulina é esperado que o potássio
seja realocado para o meio intracelular provocando hipocalemia, por isso, apesar de não
atrasar o tratamento com insulina do nosso paciente (uma vez que o potássio é > 3.3mEq/
L) devemos repor potássio durante o tratamento quando o valor estiver entre 3,3 e 5,3mEq/
L, que é o caso da questão. 
 
Como falado anteriormente, estamos diante de uma acidose metabólica com ânion gap
elevado, logo não há déficit de bicarbonato, o que acontece é o acúmulo de um ânion que
não está na fórmula, e neste caso são os corpos cetônicos (cetoacidose), logo não há
benefício em repor bicarbonato de rotina, este deve ser realizado apenas em casos de
acidoses ameaçadora à vida, com pH <= 6.9.
 

109
DIABETES CM

A - Incorreta. Como vimos, não usamos soro 0,45% ("soro ao meio") no início do quadro
clínico. Após 2-3 horas de ressuscitação volêmica, vamos avaliar o sódio corrigido para
considerar o fluído de reposição. Além disso, a Insulina é regular EV e não NPH subcutânea. 
 
B - Incorreta. Não usamos soro 0,45%. A reposição de bicarbonato não está indicada. 
 
C - Incorreta. A Insulina é Regular EV e não repomos bicarbonato. 
 
D - Correta. O tratamento é VIP , volume com soro fisiológico, Insulina regular EV e
potássio. 
 
Visão do aprovado: Questão de cetoacidose vai continuar caindo sempre. É uma
emergência médica com alta mortalidade se não tratada adequadamente, e é onde
podemos fazer diferença pelo paciente. Essa questão ficava mais tranquila pelos erros
grosseiros como sugestão de Insulina NPH ao invés de insulina Regular ou uso de
bicarbonato. Mas lembre-se que o paciente é VIP e o tratamento também deve ser VIP
(volume, insulina e potássio), não esquecendo de só iniciar insulina quando potássio > 3.3.

110
DIABETES CM

Complicações crônicas

O diabetes mellitus está associado ao desenvolvimento de uma série de


complicações clínicas, que podem ser divididas basicamente em
complicações macrovasculares (aterosclerose acelerada, levando ao
maior risco de IAM, AVC e DAOP) e complicações microvasculares
(retinopatia, nefropatia e neuropatia diabéticas). O impacto dessas
complicações na prática clínica é gigantesco e, como não podia deixar de
ser, é muito abordado na prova:
 

• A retinopatia diabética é a principal causa de cegueira adquirida

• A nefropatia diabética é a principal causa de insuficiência renal


crônica dialítica

• A neuropatia diabética e as complicações vasculares em membros


inferiores são a principal causa de amputação não traumática
destes membros

• A presença de DM descompensado aumenta em 2 a 6 vezes o risco


de eventos cardiovasculares

 
É importante que você tenha um conhecimento básico sobre os
mecanismos que associam o diabetes a estas complicações tão
importantes. O fator chave que leva ao desenvolvimento das
complicações microvasculares do DM é a hiperglicemia. Essas
complicações ocorrem por dano ao endotélio dos vasos retinianos,
glomerulares e os vasa nervorum (microvasos responsáveis pela
irrigação dos nervos). Estas células são suscetíveis ao dano porque não
conseguem controlar a quantidade de glicose que entra nelas, ou seja,
diante de uma hiperglicemia, elas terão um aumento dos níveis
intracelulares de glicose. E este aumento intracelular de glicose é o fator

111
DIABETES CM

inicial que desencadeia todos os outros eventos de dano ao endotélio e


aos tecidos irrigados por eles:
 

• Redução do óxido nítrico

• Aumento de vasoconstrição e pressão intracapilar

• Elevação da pressão na artéria eferente do glomérulo renal


causando aumento de fluxo sanguíneo intraglomerular, o que
favorece o aumento da taxa de filtração glomerular inicialmente

• Aumento de permeabilidade vascular

• Extravasamento proteico.

 
Com o passar do tempo, o extravasamento de proteínas e o dano crônico
ao endotélio levam à redução do calibre dos capilares (por estímulo à
fibrogênese), que vai levar à redução do fluxo sanguíneo para a retina,
glomérulo e nervos. Nos estágios finais, os capilares acometidos podem
se fechar completamente, causando isquemia tecidual e induzindo a
apoptose celular. 
 
Já em relação às complicações macrovasculares, elas têm relação tanto
com a hiperglicemia, quanto com a hiperinsulinemia que geralmente
acompanha a síndrome metabólica destes pacientes. A resistência
insulínica está associada a um padrão lipídico desfavorável a aterogênico
(HDL baixo, LDL e triglicerídeos altos). Além disso, a resistência insulínica
e hiperglicemia afetam o endotélio vascular, reduzindo a síntese de
fatores vasodilatadores e culminando em maior vasoconstrição. Por fim,
a insulina induz a proliferação de fibroblastos e estimula a formação de
placa de ateroma.
 
Vamos abordar agora as três principais complicações que mais
aparecem na sua prova: retinopatia, nefropatia e neuropatia diabética
 

112
DIABETES CM

Retinopatia Diabética (RD)


 
A retinopatia diabética (RD) é uma complicação microvascular frequente
em pacientes diabéticos, e muito abordada na prova, com detalhes meio
decorebas, mas vamos tentar entender! Ela é causada por alterações
progressivas na microvasculatura da retina, que levam a áreas de má
perfusão retiniana, maior permeabilidade vascular, com exsudação e
proliferação patológica de neovasos retinianos. Ela pode causar perda
visual e até cegueira. Lembre-se que a RD é a primeira causa mundial
de cegueira adquirida.
 
 

 
 
É importante que você saiba quais são os mecanismos da retinopatia
que podem levar à perda de visão e cegueira:

• Isquemia na fóvea

• Edema macular

• Hemorragia vítrea ou pré-retiniana

• Descolamento de retina

• Glaucoma neovascular.

113
DIABETES CM

Além disso, existem diversos fatores de risco para o desenvolvimento e


progressão da RD. Os principais são:
 

• Mau controle glicêmico e variabilidade glicêmica importante

• DM1 (maior risco que o DM2)

• Tempo de DM

• Associação com outras comorbidades de acometimento vascular:


HAS, Dislipidemia, Tabagismo

• Presença de nefropatia diabética

• Puberdade e gestação (aumento de fatores de crescimento e


fatores angiogênicos nessas fases da vida)

 
Como a retinopatia diabética é uma complicação importante e em fases
iniciais pode ser assintomática, por isso precisa ser rastreada. Iniciamos o
rastreio em pacientes DM2 logo no momento do diagnóstico e nos
DM1, apenas 5 anos após o diagnóstico. Por que essa diferença de
tempo? No paciente DM2 não sabemos quando a doença iniciou e
quanto tempo de dano está ocorrendo, já no paciente DM1 sabemos a
data exata do diagnóstico, e sabemos que as complicações demoram
para se estabelecer e, por isso, não precisamos iniciar o rastreio de
imediato. 
 
O rastreio é feito com exame de fundo de olho anual. Este rastreio pode
fazer diagnóstico precoce de alterações retinianas que, se não forem
tratadas, podem evoluir para cegueira ou importante perda visual. É
importante fazer o tratamento a tempo, pois esse quadro é
potencialmente progressivo e causador de danos irreversíveis.
 
 

114
DIABETES CM

 
 
Infelizmente a prova costuma ser específica quando aborda estes temas.
E questiona quais os achados presentes na RD, bem como sua
classificação. Vamos conversar primeiro sobre os achados clínicos na
retinopatia diabética:
 

• Microaneurismas: decorrentes da oclusão capilar. São a primeira


alteração oftalmoscópica da retinopatia diabética

• Hemorragias em chama de vela: ocorrem na parte mais


superficial, próxima ao humor vítreo. São hemorragias pontuais

• Exsudatos duros: amarelos, resultado de seu alto conteúdo lipídico

• Exsudatos algodonosos: áreas de microinfarto e isquemia. São


áreas brancas e acinzentadas que estimulam a proliferação de
neovasos nos seus arredores

• Anormalidades da microvascularização da retina: vasos tortuosos


e aumento de vascularização local

• Anormalidades venosas: dilatações localizadas, áreas de vasos de


grande calibre e veias “em rosário”

115
DIABETES CM

• Edema retiniano (macular ou não)

• Descolamento de retina

• Hemorragia vítrea ou pré-retiniana.

 
Com base nestes achados, é possível classificarmos o grau da
retinopatia diabética - algo bem específico, mas que cai muito em
provas. Então vamos lá, com bastante atenção!
 
1. Ausência de retinopatia: exame de fundo de olho (FO) sem alterações

2. Retinopatia diabética não proliferativa (RDNP) leve: fundo de olho


com presença de microaneurismas e mais nada

3. Retinopatia diabética não proliferativa (RDNP) moderada: FO com


microaneurismas e outros achados, mas que não classificam como
RDNP grave - é o meio termo.

4. Retinopatia diabética não proliferativa (RDNP) grave: presença de


algum dos seguintes achados de gravidade:

• Mais de 20 pontos de hemorragia em cada quadrante

• Veias em rosário em pelo menos 2 quadrantes

• Anormalidades microvasculares retinianas (IRMAs) importantes em


pelo menos 1 quadrante. 

 
Algumas referências ainda trazem uma outra subclassificação (RDNP
muito grave), caracterizada por 2 das três alterações do quadro grave.
 

116
DIABETES CM

5. Retinopatia diabética proliferativa: definida pela presença de


neovascularização retiniana, hemorragia vítrea ou hemorragia pré-
retiniana. 
 
 

 
 

 
 
O último achado que você precisa saber é o edema macular. Ele
representa a principal alteração oftalmológica que causa perda visual
nos pacientes diabéticos, e pode ocorrer em qualquer fase da retinopatia
diabética, e se manifesta como redução da acuidade e turvação visual
tanto para perto quanto para longe, que não é corrigida com medidas
refrativas.
 
 

117
DIABETES CM

Figura 24 - Na imagem A temos um exemplo de RDNP leve (apenas com

microaneurismas); Imagem B mostra RDNP moderada com exsudatos algodonosos e

hemorragias, além dos microaneurismas; Imagem C: RD proliferativa, observe a

neovascularização no disco óptico; D: Edema macular, mostrando uma fóvea borrada,

com exsudatos duros.

 
 
O esquema a seguir ilustra as principais alterações da retinopatia
diabética
 
 

118
DIABETES CM

Figura 25 - Alterações relacionadas a retinopatia diabética

 
 
Nefropatia diabética 
 

Outra complicação muito importante para a vida e para a prova é a


nefropatia diabética. Ela representa a principal causa de doença renal
crônica dialítica (DRCd) no mundo. No Brasil, por muitos anos, ficou em
segundo lugar, atrás da hipertensão, mas estimativas recentes já
demonstraram que a ND se tornou a principal causa de DRCd também
aqui. 
 

A fisiopatologia da lesão renal pelo DM pode ser dividida em quatro


estágios de progressão. É importante ressaltar que a progressão pode ser
prevenida e até revertida com um bom controle glicêmico, dependendo
do estágio em que se encontra. 
 

Estágio 1 - hiperfiltração glomerular: 


Lembre-se da fisiopatologia da hiperglicemia nas células endoteliais, que
cursa com aumento de substâncias vasoconstritoras e redução das
vasodilatadoras. O resultado é a vasoconstrição da artéria renal eferente e
consequentemente aumento de pressão intraglomerular, resultando em
maior taxa de filtração glomerular. Nesta fase, também ocorre aumento

119
DIABETES CM

do tamanho renal, secundário à hipertrofia e hiperplasia dos túbulos e


glomérulos, estimulados por fatores de crescimento. Em resumo:
aumento da TFG e hipertrofia renal.

Estágio 2 - alterações estruturais:


Ocorrem mudanças na histologia renal - espessamento da membrana
basal glomerular (MBG) e proliferação mesangial. Por causa dessas
mudanças, a TFG que era aumentada, volta a níveis normais. Discreto
aumento da PA, mas com função renal normal e sem albuminúria
aumentada.
 

Estágio 3 - nefropatia incipiente:


O glomérulo começa a perder sua coesão e passa a filtrar partículas
maiores que, em situações normais, não são filtradas - a mais importante
na prática é a albumina. Isso resulta no que chamamos de albuminúria,
que pode ser categorizada em 3 classes, dependendo da quantidade,
como veremos adiante.
 

Estágio 4 - nefropatia estabelecida


Aqui já observamos uma albuminúria na sua classe superior (A3), além
de redução da função renal e elevação da PA. Importante ressaltar que
esta fase já é irreversível. 
 

Estágio 5 - DRC dialítica


É o estágio final da nefropatia diabética, quando o rim já perdeu toda a
sua função e o paciente precisa de terapia renal substitutiva (diálise)
crônica para sobreviver. 
 

O rastreio da nefropatia diabética é iniciado no DM1 5 anos após o


diagnóstico, ou na puberdade, enquanto no DM2 é feito no momento do
diagnóstico. Solicitamos dosagem de creatinina sérica (para estimar a
TFG) e dosagem de albumina e creatinina em amostra de urina
isolada. Os exames são repetidos anualmente.
 
 

120
DIABETES CM

 
 
Com estes dados, podemos estadiar a doença renal diabética conforme a
função renal e a albuminúria, conforme o esquema abaixo.
 
 

Figura 26 - Classificação da nefropatia diabética. Ref: Vilar, Lucio. Endocrinologia Clínica

(p. 783). Guanabara Koogan. Edição do Kindle.

121
DIABETES CM

 
Uma vez diagnosticada, devemos saber como manejar e tratar a
nefropatia diabética - que envolve uma série de intervenções:
 

• Controle glicêmico intensivo, com alvo de HbA1c inferior a 7%

• Controle pressórico rigoroso, mantendo com alvo de PAS < 140


mmHg e PAD < 90 mmHg, podendo objetivar níveis ainda mais
baixos, como PAS < 130 mmHg e PAD < 80 mmHg, se a condição
clínica do paciente permitir. A partir do estágio IV da DRC (TFG <
30), o controle pressórico torna-se mais importante que o
glicêmico para retardar a progressão da doença

• Uso de IECA ou BRA a partir do estágio III da DRC (TFG < 60),
mesmo em pacientes normotensos, para nefroproteção e
redução de albuminúria. Pacientes com albuminúria são
candidatos ao uso de iECA ou BRA independente do estágio de
doença renal, objetivando a nefroproteção.

• Controle lipídico, com meta de LDL < 100, HDL > 40, Triglicerídeos <
150

• Ingesta proteica < 0,8 g/kg/dia, se o paciente tiver perda de função


renal

Neuropatia diabética
 

A neuropatia é a última complicação microvascular que estudaremos.


Ela pode ocorrer das mais diversas formas possíveis, acometendo nervos
somáticos e autonômicos, únicos ou múltiplos. 
 

A neuropatia diabética está associada a morbidade e mortalidade


importantes, devido à presença de dor, parestesias, disestesias, feridas e
deformidades, além da maior incidência de quedas, infecções e
amputações.

122
DIABETES CM

A presença de neuropatia diabética impacta diretamente na taxa de


mortalidade do paciente diabético, aumentando o risco de morte em 25
a 50% em 5 a 10 anos. Além disso, sua presença aumenta em 1,7 vez o
risco de amputação de membros inferiores. Se já estiver acompanhada
de deformidade, esse risco aumenta em cerca de 12 vezes, sendo ainda
mais elevado (cerca de 36 vezes), se o paciente tiver história prévia de
úlcera no mesmo membro.
 

As neuropatias sensitivas e autonômicas geralmente têm início e


progressão gradual, dificilmente com regressão clínica. A progressão do
quadro tende a ser mais rápida nos casos de pior controle glicêmico. Por
outro lado, as mononeuropatias, radiculopatias e neuropatias agudas
dolorosas geralmente têm início abrupto, cursando com sintomas de
curta duração, apresentando resolução posterior completa.
 

As principais apresentações da neuropatia diabética são


 

1. Polineuropatia simétrica distal

É a forma mais comum e emblemática da neuropatia diabética,


podendo acometer tanto fibras nervosas finas, quanto fibras grossas,
podendo ser aguda ou crônica. 

Geralmente, a neuropatia começa com o acometimento das fibras finas


(desmielinizadas, do tipo C). Elas causam sintomatologia mais intensa:
dor, parestesias, queimação, hiperalgesia, alodinia, perda de sensação
tátil, térmica e dolorosa, disautonomia com disidrose, pele ressecada,
rachaduras e disfunções vasomotoras com reduzido fluxo sanguíneo e
membros frios. Neste estágio, o exame de monofilamento pode já estar
alterado, apesar de a eletroneuromiografia  ainda não mostrar alterações
evidentes.
 

Posteriormente, observamos acometimento das fibras grossas


(mielinizadas, do tipo A). Neste caso, temos mais sinais do que
sintomas:  fraqueza muscular, redução da sensibilidade vibratória,

123
DIABETES CM

diminuição da propriocepção, ataxia e redução de reflexos. Estes achados


são bem percebidos pela eletroneuromiografia. 
 

A forma crônica é a mais comum, com início insidioso, progressivo,


simétrico e ascendente (começa com acometimento em bota e luva). Os
sintomas pioram à noite e predominam em membros inferiores, pois os
nervos mais longos são afetados primeiro. Muitas vezes, a sintomatologia
é resistente a diversos tipos de tratamentos, na maioria dos casos
cursando com dor em queimação e alodinia.
 

2. Neuropatia focal
 

Esta condição trata-se do acometimento de um nervo isolado. Ocorre


mais comumente em pacientes mais velhos, tem início súbito e ocorre
de forma aguda. O quadro é consequência da obstrução vascular dos
vasa nervorum, levando à isquemia do nervo com desmielinização focal
aguda e disfunção deste nervo - ocasionando perda de força ou
neuropatia dolorosa. Geralmente é autolimitada e se resolve em menos
de 3 meses. 
 

Pode acometer qualquer nervo, sendo os mais comuns os nervos


cranianos II, IV, V e VI, nervo cervical, ulnar, mediano e fibular.
 

3. Neuropatia autonômica

A neuropatia autonômica, como já diz o nome, trata-se do


acometimento das fibras do sistema nervoso autônomo, e pode
acometer os mais diversos sistemas inervados por estas fibras. Pode ser:
 

• Neuropatia autonômica cardiovascular (NAC)

Ocorre uma sequência bem característica de acometimento,


primeiramente das fibras do sistema nervoso parassimpático, que cursa
com redução da variabilidade da frequência cardíaca (FC não reduz com
manobras vagais, como inspiração profunda ou Valsalva). Por fim, há o

124
DIABETES CM

acometimento das fibras simpáticas, caracterizada por hipotensão


ortostática
 

• Gastrointestinal

Pode acometer as fibras que inervam o estômago, prejudicando sua


motilidade e cursando com um quadro de retardo do esvaziamento
gástrico e sensação de plenitude precoce e empachamento, que
chamamos de gastroparesia diabética. Além disso, também pode
acometer as fibras que inervam o intestino, geralmente um quadro tanto
de diarreia quanto de constipação.
 

• Urogenital

Pode cursar com quadro de incontinência urinária e distúrbio da micção,


mais comumente um quadro compatível com bexiga neurogênica.
Também pode causar disfunção erétil (que é uma queixa muito
importante nos homens e deve sempre ser questionada), bem como
dispareunia nas mulheres (por alterações da lubrificação e das fibras
sensitivas do trato genital feminino).
 

• Hipoglicemia assintomática

Esta é uma manifestação muito preocupante da neuropatia autonômica.


Com a disfunção do sistema nervoso autônomo, o paciente vai perdendo
os sintomas simpáticos e parassimpáticos que ocorrem na hipoglicemia.

125
DIABETES CM

Bibliografia

Diretriz Sociedade Brasileira de Diabetes (2019-2020). Disponível em:


https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/DIRETRIZES-
COMPLETA-2019-2020.pdf

Vilar, Lucio. Endocrinologia Clínica. Guanabara Koogan. Edição do Kindle.

Sociedade Brasileira de Diabetes, https://www.diabetes.org.br/publico/

American Diabetes Association. Standards of Medical Care in Diabetes—


2019. Diabetes Care 2020;43(suppl 1):S1-S31. Available at: http://
care.diabetesjournals.org/content/43/Supplement_1.

Arnett DK, Blumenthal RS, Albert MA, et al. 2019 ACC/AHA Guideline on
the Primary Prevention of Cardiovascular Disease. Circulation. 2019 Mar
17:CIR0000000000000678. [Epub ahead of print] PMID: 30879355

Cryer PE, Axelrod L, Grossman AB, et al. Evaluation and management of


adult hypoglycemic disorders: an Endocrine Society Clinical Practice
Guideline. J Clin Endocrinol Metabl. 2009; 94:709-28. PMID: 19088155

Duckworth W, Abraira C, Moritz T, Reda D, Emanuele N, Reaven PD, et al;


VADT Investigators. Glucose control and vascular complications in
veterans with type 2 diabetes. N Engl J Med. 2009;360:129-39. PMID:
19092145 doi:10.1056/NEJMoa0808431

Evert AB, Dennison M, Gardner CD, et al. Nutrition Therapy for Adults
With Diabetes or Prediabetes: A Consensus Report. Diabetes Care.
2019;42:731-754. Epub 2019 Apr 18. PMID: 31000505

Garber AJ, Abrahamson MJ, Barzilay JI, et al. Consensus statement by the
American Association of Clinical Endocrinologists and American College
of Endocrinology on the comprehensive type 2 diabetes management

126
DIABETES CM

algorithm-2018 executive summary. Endoc Pract. 2018; 24:91-120. PMID:


29368965

Hayward RA, Reaven PD, Wiitala WL, Bahn GD, Reda DJ, Ge L, et al; VADT
investigators. Follow-up of glycemic control and cardiovascular outcomes
in type 2 diabetes. N Engl J Med. 2015;372:2197-206. PMID: 26039600 doi:
10.1056/NEJMoa1414266

Holman RR, Paul SK, Bethel MA, Matthews DR, Neil HA. 10-year follow-up
of intensive glucose control in type 2 diabetes. N Engl J Med.
2008;359:1577-89. PMID: 18784090 doi:10.1056/NEJMoa0806470

Ismail-Beigi F, Craven T, Banerji MA, Basile J, Calles J, Cohen RM, et al;


ACCORD trial group. Effect of intensive treatment of hyperglycaemia on
microvascular outcomes in type 2 diabetes: an analysis of the ACCORD
randomised trial. Lancet. 2010;376:419-30. PMID: 20594588 doi:10.1016/
S0140-6736(10)60576-4

Siu AL; U S Preventive Services Task Force. Screening for abnormal blood
glucose and type 2 diabetes mellitus: U.S. preventive services task force
recommendation statement. Ann Intern Med. 2015;163:861-8. PMID:
26501513

U.S. Department of Veterans Affairs/U.S. Department of Defense. VA/DoD


Clinical Practice Guidelines for the management of diabetes mellitus in
primary care. 2017. www.healthquality.va.gov/guidelines/cd/diabetes.
Accessed May 16, 2018.

Whelton PK, Carey RM, Aronow WS, Casey DE Jr, Collins KJ, Dennison
Himmelfarb C, et al; 2017 ACC/AHA/AAPA/ABC/ACPM/AGS/APhA/ASH/
ASPC/NMA/PCNA guidelines for the prevention, detection, evaluation,
and management of high blood pressure in adults: a report of the
American College of Cardiology/American Heart Association Task Force
on Clinical Practice Guidelines. J Am Coll Cardiol. 2017; doi: 10.1016/j.jacc.
2017.11.006.

127
DIABETES CM

Nosso curso Extensivo para a fase teórica das provas de residência


médica, para quem tem como primeira opção as grandes
instituições de São Paulo (USP-SP, USP-RP, Unifesp, Unicamp...). Ao
longo de um ano, o Extensivo SP te oferece todas as ferramentas
para você alcançar seu objetivo: videoaulas gravadas e ao vivo,
apostilas completas, um app com mais de 10 mil questões e provas
na íntegra, simulados SP e suporte direto via app para tirar dúvidas.

Quem é aluno do Extensivo SP ainda conta com agenda de


revisões, uma jornada passo a passo para conquistar e tão sonhada
pontuação maior que 80% e, no meio do ano, acesso gratuito ao
Intensivo São Paulo, que inclui guias estatísticos e aulas
direcionadas por instituição! Se quiser conferir de perto todo esse
conteúdo, clique no botão:

CLIQUE AQUI
PARA SABER MAIS

Se ainda tem dúvidas se essa é a melhor solução para você que


quer ser aprovado em São Paulo, veja a seguir o que alguns dos
nossos aprovados 2021 estão falando:

128
DIABETES CM

129
DIABETES CM

APLICATIVO MEDWAY

Com o app da Medway, disponível para desktop, IPhone e Android,


você estuda com mais de 10 mil questões de residência médica dos
últimos anos, com TUDO em um só lugar: comentários do nosso
time de professores, provas das principais instituições de SP,
simulados e apostilas! Comece a experimentar grátis e crie já suas
trilhas de questões personalizadas por ano, especialidade, tema,
foco, instituição e até tipo de imagem.

CLIQUE AQUI
PARA SABER MAIS

130
DIABETES CM

Um curso totalmente online no qual entramos a fundo em todos


os conceitos que ensinamos e que fizeram com que alguns dos
nossos mentorados tivessem resultados superiores a 80% nas
provas de residência, como mindset, planejamento, organização,
motivação, constância, priorização, dentre muitos outros!

CLIQUE AQUI
PARA SABER MAIS

Nosso curso direcionado para a segunda fase das provas de


residência médica, seja ela no formato de prova de habilidades,
seja no formato multimídia. Você terá acesso a simulações
realísticas, mais de 300 checklists, simulados multimídia exclusivos
e um Atlas de Multimídia para se preparar da melhor forma
possível!

CLIQUE AQUI
PARA SABER MAIS

131
DIABETES CM

Nosso curso Intensivo para a primeira fase das provas de


residência médica, direcionado exclusivamente para quem vai
prestar os processos de São Paulo. Através de uma análise
estatísticas detalhadas, vamos te entregar aulas, app de questões
e simulados específicos por instituição para fazer você voar nessa
reta final!

CLIQUE AQUI
PARA SABER MAIS

Nosso curso que te prepara para qualquer Sala de Emergência do


Brasil. Por meio de simulações realísticas, aulas online, e um
aprofudamento em eletrocardiograma e intubação orotraqueal,
você dominará o medo dos plantões de pronto socorro e elevará o
nível da sua assistência.

CLIQUE AQUI
PARA SABER MAIS

132
DIABETES CM

NOSSA MISSÃO

Todos os nossos esforços na Medway são voltados para uma única


missão: melhorar a assistência em saúde no Brasil. Através de um
ensino sólido em Medicina de Ermegência e uma excelente
preparação para as provas de Residência Médica, acreditamos que
nossos alunos se tornarão médicos ainda melhores do que eram
antes!

Começamos há pouco tempo, mas já alcanámos a;guns feitos que


nos enchem de orgulho. Em 2019, fizemos o curso presencial de
prova prática com maior número de alunos do país, o CRMedway. E
em 2020, montamos os primeiros cursos preparatórios de
residência médica voltado exclusivamente para as principais
bancas de São Paulo: o Extensivo SP e o Intensivo SP!

Além disso, desde 2017 contamos com um projeto de Mentoria para


nossos alunos, que já contou com mais de 1500 alunos.

Ficou com alguma dúvida? Nós respondemos 100% das pessoas


que entram em contato com a gente, seja para pedir uma
orientação quanto à melhor forma de se preparar para a residência
médica, prova prática ou para o primeiro plantão no PS. Basta
enviar um e-mail para alexandre.remor@medway.com.br que nós
mesmos te respondemos!

133

Você também pode gostar