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GASTROENTEROLOGIA Prof.

Isabella Parente | Doença Inflamatória Intestinal 2

APRESENTAÇÃO:

PROF. ISABELLA
PARENTE
Prezado (a) aluno (a),
seja muito bem-vindo (a) à leitura de mais um resumo
do EstratégiaMed. Hoje, você escolheu estudar as famosas
"Doenças Inflamatórias Intestinais", o sétimo tema mais cobrado
da Gastroenterologia nas provas de Residência Médica.
Nesse resumo, nós iremos focar nos detalhes mais
importantes e prevalentes em prova. Tenho certeza que, após a
leitura, você se sentirá bem mais confiante quando se deparar
com uma questão de doença inflamatória intestinal.
Vamos juntos nessa?!
Professora Isabella

@profaisabella

Estratégia MED /estrategiamed

@estrategiamed t.me/estrategiamed

Estratégia
MED
GASTROENTEROLOGIA Doença Inflamatória Intestinal Estratégia
MED

SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO 4
2.0 EPIDEMIOLOGIA 4
3.0 ETIOPATOGENIA 6
4.0 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 6
4.1 RETOCOLITE ULCERATIVA 8

4.2 DOENÇA DE CROHN 8

5.0 MANIFESTAÇÕES EXTRAINTESTINAIS 10


6.0 COMPLICAÇÕES 12
7.0 DIAGNÓSTICO 15
7.1 EXAMES LABORATORIAIS 15

7.2 EXAMES ENDOSCÓPICOS 16

7.3 EXAMES RADIOLÓGICOS 19

8.0 ÍNDICES DE GRAVIDADE DA DOENÇA 20


9.0 TRATAMENTO 22
9.1 MANEJO NA RCU 22

9.1.1 DOENÇA LEVE E PACIENTE DE BAIXO RISCO 22

9.1.2 DOENÇA MODERADA/GRAVE E ALTO RISCO 23

9.1.3 ESQUEMA DE MANEJO DA RCU 25

9.2 MANEJO NA DC 26

9.2.1 DOENÇA LEVE E PACIENTE DE BAIXO RISCO 26

9.2.2 DOENÇA MODERADA A GRAVE E PACIENTE DE ALTO RISCO 28

9.2.3 ESQUEMA DO MANEJO NA DC 29

10.0 TRATAMENTO CIRÚRGICO/ MANEJO DAS COMPLICAÇÕES 31


11.0 LISTA DE QUESTÕES 32
12.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 33
13.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 34

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CAPÍTULO

1.0 INTRODUÇÃO

O que são as Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs)?!


Grupo de afecções inflamatórias intestinais crônicas e idiopáticas. As principais entidades que
fazem parte desse grupo são: RETOCOLITE ULCERATIVA (RCU) e DOENÇA DE CROHN (DC).
Em 10-15% dos casos, não conseguimos determinar exatamente se estamos diante de um caso
de RCU ou DC, ao que chamamos de COLITE INDETERMINADA.

CAPÍTULO

2.0 EPIDEMIOLOGIA

As DIIs apresentam dois picos de incidência: o primeiro e das DIIs. Fato curioso é observado em relação ao tabagismo. Ele
mais importante ocorre dos 15-30 anos e o segundo, em torno apresenta-se como FATOR PROTETOR para RCU e FATOR DE RISCO
dos 55-80 anos. Em relação ao gênero, nas DIIs a relação entre para DC. O uso de anticoncepcionais (ACO) parece aumentar o
homens e mulheres tem-se mostrado igualitária. Alguns autores risco e agravar tanto a DC quanto a RCU.
demonstram uma leve predominância entre homens na RCU e Apendicectomia parece PROTEGER o indivíduo do
discreta predominância entre mulheres na DC. Em relação à etnia, desenvolvimento de RCU e ser FATOR DE RISCO para DC, embora
destaca-se sua alta incidência entre judeus ashkenazi. esta última relação seja controversa, pois muitos doentes com DC
Quanto à distribuição geográfica, as DIIs têm maior incidência inicial recebem diagnóstico errôneo de “apendicite”.
nos países mais desenvolvidos da Europa e América do Norte, mas Há também influência genética na gênese das DIIs, sendo
a incidência nos países em desenvolvimento, antes considerada doença familiar em 5-10% dos pacientes. História familiar positiva
baixa, vem crescendo progressivamente. Paralelamente, também é, portanto, considerada um dos principais fatores de risco para
se observa uma maior prevalência de DIIs nas áreas urbanas e na DIIs. Mutações no gene NOD2/CARD15 estão associadas à DC em
população com melhores condições socioeconômicas. 20-30% dos doentes.
O estilo de vida também parece influenciar o surgimento

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Agora que já percebemos que a epidemiologia das DIIs é tema cobrado em prova, que tal uma tabela para facilitar sua memorização?

Aspectos epidemiológicos das doenças inflamatórias intestinais

Retocolite ulcerativa Doença de Crohn

Faixa etária Distribuição bimodal: 15-30 anos (PRINCIPAL) e 55-80 anos

H=M H=M
Gênero (alguns estudos mostram leve predomínio (alguns estudos mostram leve
em HOMENS) predomínio em MULHERES)

Tabagismo Fator protetor Fator de risco

Apendicectomia Fator protetor Fator de risco

ACO Fator de risco ou indiferente Fator de risco

Gastroenterite infecciosa Fator de risco

DR1501 (doença leve)


Genética Mutação NOD2/CARD15 (20-30%)
DR1502 (doença grave)

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CAPÍTULO

3.0 ETIOPATOGENIA

A etiologia das DIIs ainda não foi completamente elucidada, ambientais diversos e fatores genéticos atuariam nesses três
embora existam algumas hipóteses plausíveis e cada vez mais compartimentos, alterando a homeostase existente entre eles e,
estudadas. A principal delas diz respeito à interação entre flora consequentemente, gerando um estado de inflamação crônica, o
intestinal, células epiteliais intestinais e células imunes. Fatores que estaria associado ao início e à manutenção das DIIs.

CAPÍTULO

4.0 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Antes de falarmos sobre as manifestações clínicas com retocolite ulcerativa. Trata-se da ileíte de refluxo ou ileíte por
propriamente ditas, vamos pontuar os principais detalhes que contracorrente, em que ocorre inflamação ileal por continuidade
diferenciam a RCU da DC. ou “refluxo” frente a um acometimento extenso de todo o cólon
A RCU caracteriza-se por inflamação intestinal restrita (pancolite).
à camada MUCOSA, sendo confinada ao CÓLON e RETO de Já a DC apresenta um acometimento TRANSMURAL, ou
forma que cerca de 40 a 50% dos pacientes têm doença restrita seja, de todas as camadas (MUCOSA, SUBMUCOSA, MUSCULAR e
ao reto (proctite) ou retossigmoide. Além disso, na RCU o SEROSA) de QUALQUER PARTE DO TRATO GASTROINTESTINAL (daí
comprometimento da mucosa é contínuo e ascendente, iniciando- o mnemônico muito utilizado de que a DC afeta “da boca ao ânus”).
se no reto e progressivamente acometendo o cólon, restringindo- Na DC, 30-40% dos pacientes apresentam comprometimento
se ao intestino grosso. Em algumas situações, o endoscopista pode apenas do intestino delgado, sendo o íleo terminal sua porção mais
surpreender uma inflamação leve do ÍLEO DISTAL em pacientes afetada. O reto é, com frequência, poupado na DC.

ATENÇÃO!! Este tópico é um dos mais COBRADOS nas provas de Residência em termos de DIIs. Preparei um desenho esquemático e
algumas questões para reforçar o conhecimento adquirido até o momento. Peço que memorize os detalhes da figura abaixo.

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Figura 1. Representação esquemática das principais diferenças entre doença de Crohn e retocolite
ulcerativa.

A depender da porção afetada, as manifestações clínicas da DC e RCU podem variar. Assim, entendidas as nuances
que as diferenciam, fica mais fácil raciocinarmos em relação a suas manifestações clínicas. Vamos lá?

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4.1 RETOCOLITE ULCERATIVA

Como visto anteriormente, a RCU afeta


RETO e CÓLON. Seus sintomas, portanto,
correlacionam-se diretamente aos locais
afetados pela doença e variarão de intensidade
a depender da sua extensão.
O paciente típico de RCU é aquele que
apresenta intermitentemente uma diarreia
invasiva com muco e sangue. Períodos de
exacerbação e acalmia são descritos, mas a doença
configura-se como crônica. A RCU pode cursar
com sintomas sistêmicos como febre, fadiga e
perda ponderal, porém esses são mais incomuns
do que o observado na DC.
ACOMETIMENTO RETAL (PROCTITE):
paciente cursará com eliminação de sangue e/ou
muco ao evacuar, com fezes normais ou duras.
Urgência e tenesmo podem estar presentes e dor
Figura 2. Representação esquemática das diversas possibilidades de acometimento intestinal
abdominal é rara. na RCU (da proctite distal à pancolite).

ACOMETIMENTO COLÔNICO: paciente cursa com diarreia, que pode ser sanguinolenta, associada ou não a desconforto abdominal.
Fezes pastosas ou líquido-pastosas são observadas. Quanto maior o acometimento colônico, mais intensas serão as cólicas abdominais.

4.2 DOENÇA DE CROHN

O principal sintoma é dor abdominal frequente. Sintomas mucosa associadas à dor.


constitucionais como perda de peso, atraso puberal e retardo no Acometimento gastroduodenal (5 a 15%): náuseas, vômitos,
crescimento podem ocorrer isoladamente. Nas questões de prova, dor epigástrica e lesão ulcerosa Helicobacter pylori negativo são
os pacientes com diagnóstico de DC costumam apresentar os descritos. Pode haver fistulização para estômago ou duodeno.
sintomas cardinais da doença: dor abdominal, diarreia, perda de Geralmente, está associado também à doença colônica.
peso e fadiga/adinamia. Acometimento ileal (principal local de acometimento
Como a DC pode afetar qualquer porção do trato da DC): ocorre diarreia associada à dor em cólica no quadrante
gastrointestinal, ela admite uma gama variada de apresentações inferior direito, podendo simular uma apendicite aguda. Perda
clínicas. É importante reforçar o caráter crônico e a possível ponderal é frequente, bem como obstrução intestinal, causada
intermitência de qualquer uma dessas apresentações. principalmente por estenose secundária à inflamação crônica.
Acometimento oral: raro e caracterizado por ulcerações na Massa abdominal palpável no quadrante inferior direito é possível

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em decorrência da inflamação intestinal, induração do mesentério, Acometimento do cólon: diarreia, dor abdominal,
adenomegalias abdominais ou abscesso. Pode haver formação de hematoquezia e mal-estar são comuns, podendo haver obstrução
fístulas intestinais, cutâneas ou vesicais. intestinal.
Acometimento jejunoileal: a gordura é absorvida a nível Acometimento perianal: apresentação comum da DC, a
de intestino delgado proximal, portanto observa-se esteatorreia afecção perianal causa fissuras e fístulas anorretais, hemorroidas,
associada a défice absortivo conforme extensão do acometimento. úlceras superficiais e abscessos perirretais. Estenose retal também
Deficiências nutricionais são descritas e a diarreia é similar à forma pode ocorrer.
de acometimento ileal.

FIM DAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS! Trago-lhe agora mais uma adorável tabela com as principais diferenças entre DC e RCU.
MEMORIZE-A!!! Ela provavelmente vai salvá-lo(a) em alguma questão de prova no futuro...

Principais diferenças RCU x DC

Retocolite ulcerativa Doença de Crohn

Acometimento Contínuo e ascendente Descontínuo

Locais afetados Reto e cólon Da boca ao ânus

Camadas afetadas Mucosa Transmural

Fístulas Não Sim

Sangue e muco Frequente Ocasionalmente

Dor em cólica Ocasionalmente Frequente

Sintomas sistêmicos Ocasionalmente Frequente

Não para delgado


Obstrução do delgado e cólon Frequente
Rara para cólon

Envolvimento retal Comum Raro

Doença perianal Raríssima Comum

Massa abdominal Rara Frequente

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CAPÍTULO

5.0 MANIFESTAÇÕES EXTRAINTESTINAIS

Até 1/3 dos portadores de DIIs apresenta pelo menos uma cobrada nas provas, sem dúvidas, é a COLANGITE ESCLEROSANTE
manifestação extraintestinal. Vamos conhecer um pouco mais PRIMÁRIA (CEP).
sobre elas? A CEP é mais comum em portadores de RCU. Dado curioso
REUMATOLÓGICAS: as artrites e artralgias são as e muito explorado nas provas: CEP ocorre em cerca de 5% dos
manifestações extraintestinais mais comuns nos pacientes com portadores de RCU, entretanto cerca de 90% dos portadores de
DIIs. Elas são divididas em dois padrões, uma forma periférica CEP apresentam RCU. Manifesta-se clinicamente por icterícia
e outra forma axial. A artrite periférica caracteriza-se por assintomática ou por colangite episódica, adinamia e anorexia.
acometimento poliarticular assimétrico e migratório, sobretudo Laboratorialmente, apresenta elevação dos níveis de bilirrubinas,
das grandes articulações dos membros superiores e inferiores. aminotransferases e fosfatase alcalina. O diagnóstico é feito
Já a artrite axial manifesta-se como sacroileíte com ou sem por meio da colangiopancreatografia por ressonância nuclear
espondilite anquilosante. A espondilite anquilosante afeta coluna magnética (colangioRNM) ou colangiopancreatografia retrógrada
vertebral e pelve, caracterizando-se por lombalgia e rigidez matinal endoscópica (CPRE), que demonstram múltiplas estenoses
que evolui progressivamente e pode gerar deformidades ósseas. O nos ductos biliares, alternando com ductos normais/dilatados.
uso de anti-TNF é importante aliado no seu tratamento. O HLA-B27 A colangioRNM é preferível à CPRE pois apresenta acurácia
é expresso em 2/3 dos pacientes com DII e espondilite anquilosante. semelhante sendo exame não invasivo. Positividade para p-ANCA
DERMATOLÓGICAS: lesões cutâneas ocorrem em 10 a costuma ser observada nesses pacientes.
15% dos portadores de DIIs. As duas principais manifestações Pacientes com CEP têm risco aumentado para o
dermatológicas são o PIODERMA GANGRENOSO e o ERITEMA desenvolvimento de colangiocarcinoma.
NODOSO. O pioderma gangrenoso caracteriza-se por pústula inicial OSTEOMETABÓLICAS: até 1/3 dos pacientes com DII
que evolui para úlcera com bordas emolduradas e bem delimitadas, apresenta baixa massa óssea. Fraturas ósseas e osteonecrose
violáceas, com centro necrótico. Já o eritema nodoso manifesta- também são mais comuns nessa população.
se como nódulos subcutâneos eritematosos e dolorosos, UROLÓGICAS: a principal manifestação é a nefrolitíase, com
principalmente na porção anterior das pernas, podendo acometer destaque para os cálculos por oxalato de cálcio. Obstrução ureteral
qualquer parte do corpo. e fístulas vesicoileais também são descritas.
OFTALMOLÓGICAS: destacamos a CONJUNTIVITE, UVEÍTE TROMBOEMBÓLICAS: pacientes com DII têm maior risco
ANTERIOR/IRITE e EPISCLERITE. A uveíte manifesta-se como de trombose venosa e arterial. Anemia hemolítica autoimune
fotofobia, dor ocular e visão turva. Já a episclerite manifesta-se também tem sido associada às DIIs.
como sensação de ardência ou queimação ocular, sendo mais As manifestações extraintestinais podem ou não acompanhar
comum na DC. a atividade da doença intestinal, além de predominarem em um
HEPATOBILIARES: as manifestações hepatobiliares são ou outro tipo de DII. Por esse motivo, preparei o quadro abaixo,
diversas, desde ESTEATOSE HEPÁTICA, COLELITÍASE, CIRROSE sintetizando essas informações:
BILIAR, INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA e COLANGIOCARCINOMA. A mais

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Manifestações extraintestinais das DIIs

Doença mais comum Relacionada à atividade intestinal?

Pioderma gangrenoso RCU Não

Eritema nodoso DC Sim

Artrite periférica DC Sim

Artrite axial RCU Não

Episclerite DC Sim

Uveíte RCU = DC Não

CEP RCU Não

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CAPÍTULO

6.0 COMPLICAÇÕES

Outro item extensamente abordado nas questões de prova indicativa de COLECTOMIA.


diz respeito às complicações que podem ser ocasionadas no MEGACÓLON TÓXICO: o megacólon tóxico é uma grave
contexto das DIIs, levando o paciente a um quadro mais grave e, complicação de colite, sendo mais comum na RCU. Caracteriza-se
em alguns casos, ameaçador à vida. Que tal resumirmos cada uma por distensão colônica (total ou segmentar) na presença de colite
delas? aguda e com sinais de toxicidade sistêmica. É provocado por perda
SANGRAMENTO: HEMORRAGIA MACIÇA E VULTOSA é do tônus muscular da parede intestinal, secundária à inflamação.
mais comum nos pacientes com RCU, afetando 1% dos pacientes. O megacólon tóxico é uma das complicações MAIS
Uma hemorragia maciça, com indicação de múltiplas transfusões COBRADAS nas provas. Por esse motivo, preparamos uma tabela
sanguíneas (6-8 bolsas em 24-48 horas), pode, inclusive, ser com seus critérios diagnósticos:

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA MEGACÓLON TÓXICO


(Jalan et al, 1969)

Distensão do cólon > 6 centímetros (visualizada na radiografia)

- Temperatura > 38,5 ºC


- FC > 120 bpm
Pelo menos 3 dos critérios ao lado:
- Leucocitose à custa de neutrófilos
- Anemia (Hb < 60% do valor basal normal)

- Desidratação
- Alteração do nível de consciência
Pelo menos 1 dos critérios ao lado:
- Distúrbio hidroeletrolítico
- Hipotensão

Pacientes com megacólon tóxico apresentam adelgaçamento importante das paredes intestinais, que pode evoluir para PERFURAÇÃO
e PERITONITE, piorando o prognóstico do doente. Por esse motivo, colonoscopia é contraindicada nesses doentes.

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Inicialmente, o tratamento dos portadores dessa condição


envolve: hospitalização, hidratação endovenosa, descompressão
nasogástrica, uso de corticosteroides por via intravenosa
(hidrocortisona ou metilprednisolona) e antibioticoterapia de largo
espectro. Caso o paciente piore ou não melhore em 48 a 72 horas, a
cirurgia está indicada. Nesse caso, a prioridade é salvar o doente da
perfuração e do risco de óbito; portanto, o procedimento cirúrgico
de escolha é a colectomia abdominal total com ileostomia e
preservação do reto.
FÍSTULAS: o surgimento de fístulas é característico de
portadores de DC, mas você entende por que motivo? Isso ocorre
devido à inflamação transmural que pode acontecer nesses
doentes. A inflamação da parede do órgão em toda sua extensão
possibilita a criação de pertuitos entre o trato gastrointestinal e
outros órgãos, característicos das FÍSTULAS.
Fístulas perianais ocorrem em 15 a 35% dos portadores de
DC. Também podem ocorrer fístulas que comunicam um segmento
a outro do TGI, como fístulas enterogástricas, enterocolônicas,
colônicas, coloduodenal, cologástrica.

Figura 3. Tomografia computadorizada de abdome (corte coronal) exibindo


achados compatíveis com megacólon tóxico.

ABSCESSOS: também podem ocorrer em portadores de DC, acometendo cerca de ¼ dos pacientes em algum momento da vida.
Clinicamente, apresentam febre, massa abdominal palpável e dor abdominal localizada.
ESTENOSE: outra complicação possível nos pacientes com DC. Nem todos os pacientes evoluem com estenose, e ela pode permanecer
assintomática por anos, até que se torna grave o suficiente para provocar uma obstrução relativa, quando ocorre então cólica e distensão
abdominal.

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Você já ouviu falar no SINAL DA CORDA?


É um achado radiológico que significa estreitamento de um segmento intestinal. Tal estreitamento ocorre por estenose ou
por inflamação e espasmo muscular nos doentes portadores de DC, sendo mais comum nessa última situação.
Como cada vez mais imagens têm sido cobradas nas provas de Residência, seria prudente atentar na imagem desse sinal que
trazemos a seguir:

CÂNCER: tanto a RCU quanto a DC aumentam o risco de


desenvolvimento de carcinoma colorretal, sendo sua ocorrência
ainda mais comum nos pacientes com RCU. A duração da doença é
o fator mais importante para a evolução para carcinoma colorretal,
bem como sua atividade frequente e grau de inflamação.
A atual indicação de rastreio de câncer colorretal nos
pacientes portadores de DII é descrita abaixo:

INDICAÇÃO DE COLONOSCOPIA RCU/DC


(American Cancer Society)

A cada 2 anos após 8 anos da detecção da pancolite ou a


partir dos 45 anos, o que vier mais cedo.
Figura 4. Trânsito intestinal revelando sinal da corda, representado por
estreitamento ileal.

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7.0 DIAGNÓSTICO

Infelizmente não existe um único exame que, isoladamente, dê-nos a certeza de que estamos diante de um quadro de RCU e/ou DC.
História clínica, exames laboratoriais, endoscópicos, radiológicos e anatomopatológicos fazem parte do arsenal disponível e, muitas vezes, são
necessários para chegarmos a um diagnóstico.

7.1 EXAMES LABORATORIAIS

Nos pacientes portadores de DIIs esperamos encontrar um quando a doença está em atividade.
aumento dos marcadores inflamatórios, que são: proteína C reativa Existem, também, alguns marcadores sorológicos utilizados
(PCR), velocidade de hemossedimentação (VHS) e plaquetose. no contexto das DIIs, o ASCA (anticorpo anti-Saccharomyces
Anemia e hipoalbuminemia também podem ser encontradas. A cerevisiae) e p-ANCA (anticorpo anticitoplasma de neutrófilo
calprotectina e lactoferrina fecais costumam estar aumentadas perinuclear), distribuídos conforme a tabela a seguir:

Positividade para MARCADOR SOROLÓGICO

RCU DC

ASCA 10-15% 50-70%

pANCA 60-70% 10-40%

Pela tabela, concluímos que na RCU é mais comum a positividade para p-ANCA, enquanto na DC encontramos uma maior positividade
para ASCA.

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7.2 EXAMES ENDOSCÓPICOS

Os exames endoscópicos, como a retossigmoidoscopia, colônica, estando indicada em um segundo momento, caso a doença
ileocolonoscopia e endoscopia digestiva alta, permitem a tenha extensão além do alcançado pela retossigmoidoscopia ou
visualização direta das alterações presentes na mucosa intestinal. para excluir DC.
RETOSSIGMOIDOSCOPIA: trata-se de exame muito Assim, a depender da gravidade do acometimento, as
interessante para a fase aguda da RCU, sendo capaz de classificar a lesões visualizadas na mucosa são eritema, edema e perda do
atividade da doença em leve, moderada ou grave. A colonoscopia é padrão vascular, mucosa granulosa, friabilidade e sangramento
contraindicada na fase aguda, por aumentar o risco de perfuração espontâneo, pseudopólipos, erosões e ulcerações.

A B
Figura 5. A) Múltiplos pseudopólipos em paciente portador de RCU. B) Mucosa colônica com hiperemia acentuada e perda do padrão vascular. Fonte: Shutterstock.

Além disso, por meio desse exame é possível a realização da BIÓPSIA, ferramenta diagnóstica de suma importância nos casos de DIIs. E
quais são as alterações microscópicas que podemos encontrar em um paciente com RCU? Confira no quadro abaixo:

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MICROSCOPIA NA RETOCOLITE ULCERATIVA

Algumas características microscópicas são muito relevantes:


1. A inflamação acomete a camada MUCOSA, mais superficial de todas, e pode acometer a SUBMUCOSA superficial, poupando
MUSCULAR e SEROSA.
Obs.: na colite fulminante, todas as camadas podem estar atingidas. Falarei sobre isso nas próximas páginas.
2. Abscessos da cripta: aspecto microscópico mais característico, embora não seja patognomônico. Corresponde a coleções de
neutrófilos nas criptas intestinais.
3. Perda da arquitetura das criptas, que podem ser bífidas e reduzidas em número.
4. Presença de plasmócitos e múltiplos agregados linfoides basais.

Figura 6. Anatomopatológico de paciente com RCU, mostrando microabscessos


de criptas. Fonte: Shutterstock.

ILEOCOLONOSCOPIA: exame útil tanto nos casos de estenoses. Geralmente, o RETO ENCONTRA-SE PRESERVADO NA
RCU quanto nos casos suspeitos de DC, doença cujo principal DC. Já na RCU, encontraremos eritema, edema e até úlceras que
acometimento dá-se a nível ileal. Na DC, a visualização do cólon e acometem reto e ascendem ao longo do cólon de forma contínua.
íleo permitirá a visualização das lesões ulceradas aftosas ocorrendo Assim como a retossigmoidoscopia, a ileocolonoscopia
de forma descontínua, ou seja, áreas de lesão entremeadas por permite a realização de BIÓPSIA. Vamos revisar os aspectos
áreas sãs. Também poderão ser visualizadas fístulas, fissuras e microscópicos típicos de um paciente com DC?

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MICROSCOPIA NA DOENÇA DE CROHN

Além das características macroscópicas citadas acima, algumas características microscópicas são bastante relevantes:
1. Inflamação transmural acompanhada de fissuras, fístulas ou abscessos.
2. Úlceras aftoides também são visualizadas na microscopia.
3. Granulomas não caseosos caracterizados por agregado localizado de histiócitos epitelioides circundado por linfócitos e células
gigantes  característica típica de DC, porém não obrigatória.
4. Agregados linfoides submucosos ou subserosos.
5. Fibrose.

Figura 7. Anatomopatológico de paciente com DC mostrando granuloma


circundado por numerosas células imunes, incluindo linfócitos. Fonte:
Shutterstock.

ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA): a realização de EDA faz simples e indolor. Consiste em uma cápsula com formato de
sentido no contexto da doença de Crohn, uma vez que se destina à comprimido (mede cerca de 1-2,5 cm) cujo conteúdo contém uma
visualização do esôfago, estômago e parte do duodeno, os quais câmera com transmissão de imagens sem fio. O paciente ingere a
não são afetados pela RCU. Indicada para casos em que o paciente cápsula com auxílio de um copo com água e a câmera faz milhares
apresenta sintomas gastrointestinais altos, como vômitos, náuseas de fotos de todo o trato gastrointestinal, incluindo todo o intestino
e dor epigástrica, a EDA permite a avaliação do TGI até a segunda delgado, que é inacessível pelos métodos anteriormente descritos.
porção do duodeno. O exame dura cerca de 8 a 12 horas e a cápsula é eliminada através
CÁPSULA ENDOSCÓPICA: indicada para casos duvidosos das fezes. CONTRAINDICAÇÃO DO EXAME? Suspeita de estenose,
para DC nos quais se deseja avaliar todo o intestino delgado, pois a cápsula pode ficar “presa” e não ser eliminada.
aumentando a acurácia diagnóstica. Trata-se de exame bastante

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7.3 EXAMES RADIOLÓGICOS

TRÂNSITO INTESTINAL (ESTUDO COM BÁRIO): esse exame visualização de todo o intestino delgado e seu lúmen. Assim,
consiste na ingestão de um líquido (contraste de bário) e, a enquanto a TC tradicional permitiria a visualização das complicações
seguir, radiografias seriadas são realizadas de maneira intervalar, extraintestinais, a enterografia por TC é excelente inclusive para
permitindo a representação de um roteiro anatômico de todo o visualização de atividade da doença, demonstrando claramente a
trato intestinal, evidenciando fístulas, estenoses e úlceras. Trata- existência de inflamação no intestino.
se de um exame demorado, pois é necessário que o contraste ENTEROGRAFIA POR RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA
percorra todo o trato gastrointestinal. Nos grandes centros, esse (enteroRNM): permite a avaliação tanto da atividade inflamatória
exame vem sendo substituído por tomografias computadorizadas da doença quanto de alterações estruturais do intestino, sendo
e ressonâncias magnéticas com enterografia. seus achados semelhantes aos da enterografia por TC. Como
ENTEROGRAFIA POR TOMOGRAFIA COMPUTADORIZARA vantagens, podemos citar o alto contraste entre os tecidos moles e
(enteroTC): exame cada vez mais utilizado no contexto das DIIs, o fato de não expor o paciente à radiação ionizante.
a enterografia por TC difere da TC tradicional, pois permite a

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CAPÍTULO

8.0 ÍNDICES DE GRAVIDADE DA DOENÇA

A avaliação da atividade da DII tem suma importância o Índice de Atividade da RCU, elaborado pelo Colégio Americano de
para a definição da abordagem terapêutica, por esse motivo Gastroenterologia, e o Ulcerative Colitis Endoscopic Index of Severity
existem inúmeros escores que auxiliam na classificação desses (UCEIS). São escores complexos, cuja memorização felizmente não
distúrbios intestinais. costuma ser exigida nas provas.
Um dos escores mais cobrados nas provas de Residência
RETOCOLITE ULCERATIVA Médica baseia-se em achados endoscópicos e é chamado de escore
Vários escores podem ser usados no contexto da RCU, como de Mayo:

Figura 8. Achados endoscópicos, segundo escore de Mayo e UCEIS.

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No entanto, não se engane: em termos práticos e pensando nas questões de prova, é fundamental que você consiga classificar o
grau de atividade da DII. Por esse motivo, preparei esse quadro com os principais dados clínicos e laboratoriais que você deve avaliar para
classificar um quadro de retocolite ulcerativa quanto a sua gravidade! Vamos juntos?

CRITÉRIOS CLÍNICOS/LABORATORIAS DE GRAVIDADE NA RETOCOLITE ULCERATIVA


Leve: < 4 evacuações/dia, pouco sangue nas fezes, ausência de febre, FC normal, anemia leve, VHS < 30 mm
Moderada: 4-6 evacuações/dia, moderada quantidade de sangue nas fezes, temperatura < 37,5 oC, FC < 90
bpm, hemoglobina > 75% do normal
Grave: > 6 evacuações/dia, sangramento intenso nas fezes, temperatura média > 37,5 oC, FC > 90 bpm,
hemoglobina ≤ 75% do normal, VHS > 30 mm

Legenda: FC = frequência cardíaca/VHS = velocidade de hemossedimentação.

DOENÇA DE CROHN relação aos escores empregados na RCU. Felizmente, ele não
Vários escores também foram criados para definição do costuma ser cobrado nas provas.
índice de atividade da doença de Crohn. O CDAI ou IADC (Índice E o que você deve levar de conhecimento sobre a avaliação
de Atividade da Doença de Crohn) é um dos mais aceitos na da gravidade da DC para a prova, então? Basta focar no resumo
atualidade, embora envolva um cálculo ainda mais complexo em abaixo!

CRITÉRIOS CLÍNICOS/LABORATORIAS DE GRAVIDADE NA DOENÇA DE CROHN


Leve: estado geral preservado, boa aceitação alimentar, < 10% de perda de peso corporal, sem desidratação,
sem febre e sem complicações
Moderada (intermediário entre os dois extremos): estado geral comprometido, náuseas/vômitos
intermitentes, inapetência, perda ponderal > 10, febre, dor abdominal e anemia
Grave: estado geral ruim, caquexia, vômitos persistentes, febre, desidratação, presença de complicações,
necessidade de internação

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CAPÍTULO

9.0 TRATAMENTO

O tratamento das doenças inflamatórias intestinais vem sendo cada vez mais cobrado nas provas de Residência Médica! Nesse contexto,
existem duas possíveis estratégias, a chamada step up ou a estratégia top down, resumidas no quadro abaixo:

Estratégia step up  consiste em iniciar o tratamento com drogas menos potentes e, progressivamente, associar drogas mais
potentes, caso as drogas iniciais não surtam o efeito desejado.
Estratégia top down  consiste em iniciar o tratamento com drogas mais potentes, como imunobiológicos e/ou
imunomoduladores, e trocá-las por drogas menos potentes quando houver controle da doença.

Além disso, esse tratamento divide-se em dois momentos: indução de remissão, quando o doente apresenta DII ativa e queremos que
sua atividade remita; e manutenção, na qual a DII não está ativa, mas queremos impedir que essa atividade retorne.
Os manejos da RCU e da DC exibem algumas nuances que os diferenciam, de forma que trataremos sobre cada uma das doenças
separadamente.

9.1 MANEJO NA RCU

O tratamento da RCU também dependerá da gravidade dos sintomas apresentados pelo doente e do risco de evoluir mal e necessitar
de colectomia.

9.1.1 DOENÇA LEVE E PACIENTE DE BAIXO RISCO

Um paciente é considerado de baixo risco quando apresenta as seguintes características:

Paciente de BAIXO RISCO


6 ou menos evacuações diárias
Ausência de sintomas sistêmicos
Ausência de doença severa à colonoscopia
Níveis normais ou pouco elevados de PCR e calprotectina fecal
Ausência de manifestações extraintestinais
Idade ao diagnóstico > 40 anos
Albumina normal

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INDUÇÃO DE REMISSÃO oral.


• Colite esquerda ou extensa: preconiza-se tratamento com
O tratamento nessa fase visará a remissão dos sinais e 5-ASA oral associado à mesalazina tópica.
sintomas clínicos e das alterações endoscópicas. A depender da Tratamentos alternativos: 5-ASA oral + glicocorticoide
porção afetada pela RCU, o tratamento poderá variar sensivelmente. tópico ou budesonida oral (um tipo de corticoide) poderão ser
• Proctite ou proctosigmoidite: preconiza-se tratamento tentados.
com mesalazina (também chamada de ácido 5-aminossalicílico Prednisona via oral também poderá ser usada na ausência
ou 5-ASA) retal ou enema como primeira linha de tratamento. de resposta aos fármacos descritos acima.
Tratamentos alternativos: glicocorticoides tópicos ou 5-ASA

Basicamente, o “carro-chefe” do tratamento da RCU forma leve no paciente de baixo risco é a mesalazina, um fármaco
pertencente ao grupo dos aminossalicilatos, com efeito anti-inflamatório sobre a mucosa intestinal. A mesalazina pode ser ofertada
por via retal (supositório ou enema) ou por via oral.

TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO

O tratamento de manutenção das formas leves é simples. Baseia-se essencialmente em manter a droga utilizada na indução da
remissão, a menos que ela seja um corticoide.

CORTICOIDES jamais deverão ser utilizados como tratamento de manutenção, devido ao efeito deletério do uso prolongado
dessa medicação.

9.1.2 DOENÇA MODERADA/GRAVE E ALTO RISCO

São considerados pacientes de alto risco para evolução com sequelas graves, como colectomia, os seguintes:

Paciente de ALTO RISCO


Colite extensa
Úlcera colônica profunda
Idade ao diagnóstico < 40 anos
Valores elevados de PCR e calprotectina fecal
Necessidade de glicocorticoides para manter remissão
Infecção coexistente
História de hospitalização prévia por RCU

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INDUÇÃO DE REMISSÃO atualmente suportam tratamento com imunobiológico associado


ou não a um imunomodulador (tiopurina, como a azatioprina).
Pacientes com doença moderada podem beneficiar-se do Caso o paciente não tolere tiopurinas, metotrexato poderá ser
uso de budesonida oral na indução da remissão. utilizado em substituição.
Para doença moderada a grave, as melhores evidências

IMUNOBIOLÓGICOS
Os imunobiológicos são medicamentos complexos que têm revolucionado o tratamento de inúmeras doenças, entre elas as
doenças inflamatórias intestinais.
São imunobiológicos utilizados nesse contexto:
Anti-TNF: infliximabe, adalimumabe, golimumabe e certolizumabe
Anti-integrina: natalizumabe, vedolizumabe
Anti-Il12 e Il23: ustequinumabe
Inibidor da Janus Kinase: tofacitinibe

Glicocorticoides orais sistêmicos (prednisona) estão tratamento.


indicados para aqueles pacientes graves para os quais é Imunomoduladores, caso associados ao anti-TNF, deverão ter
necessária melhora imediata dos sintomas, sempre considerando sua suspensão avaliada a depender da falha prévia ao tratamento
associação com imunobiológico. Casos não respondedores anti-TNF. Caso ela exista, os imunomoduladores deverão ser
aos glicocorticoides orais beneficiam-se dos glicocorticoides mantidos por tempo mínimo de 1 ano.
endovenosos (hidrocortisona ou metilprednisolona). Caso o paciente tenha atingido a remissão com uso de
glicocorticoides, eles deverão ser trocados por tiopurinas ou anti-
TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO TNF.
O imunobiológico poderá ser mantido para manutenção do

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9.1.3 ESQUEMA DE MANEJO DA RCU

Abaixo, apresentamos o manejo simplificado dos portadores de retocolite ulcerativa, segundo o guideline de 2019 do Colégio Americano
de Gastroenterologia. Dedique alguns minutos aos esquemas abaixo! Com certeza, irão ajudá-lo a raciocinar diante de casos clínicos que
envolvam o tratamento dessa condição.

INDUÇÃO DE REMISSÃO

Tratamento
da RCU

Indução de remissão Manutenção

Doença LEVE Doença MODERADA


e GRAVE

Proctite leve: Colite esquerda Colite extensa: Moderada: Moderada a Grave:


5-ASA retal leve: enema de 5-ASA oral budesonida oral corticoide oral ou
5-ASA imunobiológico

Não responsivos: Não responsivos:


corticoide sistêmico corticoide intravenoso

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TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO

Tratamento
da RCU

Indução de remissão Manutenção

Leve Moderada
e grave

Manter 5-ASA
Remitiu com cortidoide: Remitiu com imunobiológico:
tiopurina imunobiológico

9.2 MANEJO NA DC

O manejo do paciente com DC também dependerá de características do paciente (alto x baixo risco) e da extensão/localização da
doença. Vamos aos detalhes?

9.2.1 DOENÇA LEVE E PACIENTE DE BAIXO RISCO

O paciente será considerado de baixo risco se apresentar os seguintes achados:

Paciente de BAIXO RISCO


Sintomas leves ou ausentes
Níveis normais ou pouco elevados de PCR e calprotectina fecal
Idade ao diagnóstico > 30 anos
Inflamação intestinal limitada
Úlceras ausentes ou superficiais
Ausência de complicações perianais
Ausência de ressecções intestinais anteriores
Ausência de doença estenosante ou penetrante

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INDUÇÃO DE REMISSÃO primeira linha será com budesonida, a qual tem-se mostrado mais
eficaz que a mesalazina. Por ser um corticoide, o uso da budesonida
O tratamento da DC ativa consiste em, primeiramente, induzir não deve ultrapassar 8 semanas e não deve ser utilizado como
a remissão do paciente de forma que ele não apresente sintomas fármaco na manutenção do tratamento.
clínicos e nem alterações histopatológicas ou endoscópicas. Após a Alternativa: Prednisona poderá ser utilizada, caso o paciente
remissão, institui-se a terapia de manutenção. não responda à budesonida.
Ileíte e/ou envolvimento de cólon proximal: tratamento de

O uso de aminossalicilatos é controverso na DC, mas alguns autores admitem a tentativa


em utilizá-los, dando preferência à mesalazina.

Caso não melhore: tiopurinas ou imunobiológicos poderão TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO


ser tentados.
• Colite difusa ou envolvimento do cólon esquerdo: nesses Na DC leve, geralmente o tratamento utilizado para
casos, admite-se o uso de prednisona oral na dose de 40 mg/dia indução de remissão é descontinuado e uma ileocolonoscopia é
por uma semana, com redução progressiva da dose.
repetida em 6 a 12 meses. Reserva-se o uso de imunomoduladores
Alternativa: sulfassalazina pode ser uma alternativa ao
(azatioprina, 6-mercaptopurina ou metotrexato) para o contexto de
tratamento inicial
doença moderada a grave.
• Lesões orais: poderão ser tratadas com triancinolona
acetonida tópica.
E em caso de RECIDIVA?
• Gastroduodenal: casos com sintomas leves podem ser
tratados apenas com inibidores da bomba de prótons. O ideal seria iniciar um segundo curso de corticoide e,
• Pacientes assintomáticos: nenhum tratamento se faz concomitantemente, iniciar tiopurina ou imunobiológico.
necessário, devendo-se repetir a ileocolonoscopia em 6-12 meses.

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9.2.2 DOENÇA MODERADA A GRAVE E PACIENTE DE ALTO RISCO

Um paciente será considerado de alto risco diante das seguintes características:

Paciente de ALTO RISCO


Tabagismo
Diagnóstico com idade inferior a 30 anos
PCR e calprotectina fecal elevados
Úlceras profundas
Longos segmentos intestinais acometidos
Doença perianal
Manifestações extraintestinais
História de ressecção intestinal prévia

Também se enquadrarão nesse algoritmo de tratamento Entre os fármacos anti-TNF, infliximabe e adalimumabe são
aqueles doentes que não respondem ou recidivam sempre após preferíveis na indução de remissão em relação ao certolizumabe.
uso de glicocorticoides. Em indivíduos > 60 anos, é preferível uso de monoterapia com anti-
INDUÇÃO DE REMISSÃO TNF devido ao alto risco de infecções ou malignidades.
Na doença grave/moderada, opta-se pela estratégia Biológicos anti-integrina ou anti-Il12 e Il23 podem ser
top down e, então, o tratamento é iniciado, com uso de um utilizados em monoterapia.
imunobiológico associado ou não a um imunomodulador. Alternativa: corticoides sistêmicos podem ser utilizados na
Em casos nos quais se utiliza biológico anti-TNF, opta- indução de remissão quando se deseja uma rápida melhora dos
se por associação com imunomodulador para prevenção da sintomas.
imunogenicidade do tratamento.

Atenção 1!
Na presença de fístulas, uso de anti-TNF associado a imunomodulador é preconizado. A indicação de antibióticos
na ausência de infecção é questionada por alguns autores, entretanto o guideline de 2018 do Colégio Americano de
Gastroenterologia traz o uso de imidazólicos como terapêutica efetiva no tratamento de fístulas perianais.
Atenção 2!
Na doença fulminante, corticoides intravenosos ou anti-TNF são drogas recomendadas para tratamento!

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TERAPIA DE MANUTENÇÃO deverá ser realizada para avaliar a possibilidade de descontinuação


do imunomodulador.
Para tratamento de manutenção, preconiza-se manter Caso o paciente tenha atingido remissão com uso de
o imunobiológico por tempo indefinido. O imunomodulador corticosteroides ou não possa fazer tratamento contínuo com anti-
poderá ser mantido por cerca de 1 a 2 anos. Ileocolonoscopia TNF, tiopurinas poderão ser utilizadas na terapia de manutenção.

9.2.3 ESQUEMA DO MANEJO NA DC

Abaixo, apresentamos manejo simplificado dos portadores de doença de Crohn, segundo o guideline de 2018 do Colégio Americano de
Gastroenterologia. Aprecie por alguns minutos os esquemas! Você não vai se arrepender.

INDUÇÃO DE REMISSÃO

Tratamento
da DC

Indução de remissão Manutenção

Doença LEVE Doença MODERADA a


GRAVE

Ileíte: budesonida | Colite esquerda ou


Imunobiológico Corticoide sistêmico
prednisona tiopurina | difusa: prednisona
imunobiológico imunobiológico

Obs.: se anti-TNF, associar imunomodulador


(tiopurina)

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TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO

Tratamento
da DC

Indução de remissão Manutenção

Doença leve Doença moderada a


grave

Sem tratamento
Remitiu com biológico: Remitiu com corticoide:
biológico tiopurina

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CAPÍTULO

10.0 TRATAMENTO CIRÚRGICO/ MANEJO DAS


COMPLICAÇÕES

As doenças inflamatórias intestinais são, via de regra, condições que exigem tratamento clínico. Entretanto, em algumas situações,
terapia cirúrgica pode ser preconizada. Conhecer as indicações de cirurgia é imprescindível para as provas de Residência Médica! E quais são
elas?

Indicações de cirurgia na retocolite ulcerativa

Falha ao tratamento medicamentoso otimizado

Défice de crescimento e desenvolvimento em crianças

Complicações:
Megacólon tóxico
Sangramento gastrointestinal refratário ao tratamento clínico
Displasia ou câncer colorretal

Indicações de cirurgia na doença de Crohn

Falha ao tratamento medicamentoso otimizado

Défice de crescimento e desenvolvimento em crianças

Complicações:
Fístulas entéricas refratárias ao tratamento clínico
Megacólon tóxico/colite fulminante
Perfuração intestinal
Abscessos refratários ao tratamento clínico
Sangramento gastrointestinal refratário ao tratamento clínico
Obstrução intestinal
Câncer de intestino delgado ou colorretal

Vale lembrar que na RCU o tratamento cirúrgico pode ser curativo, enquanto na DC ele nunca o será, já que essa condição pode afetar
qualquer porção do trato gastrointestinal e é impossível remover completamente o trato digestório de um doente.

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CAPÍTULO

12.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Catapani WR, Catapani ANS. Tratamento clínico da retocolite ulcerativa.In: Zaterka S, Eisig NE. Tratado de gastroenterologia: da
graduação à pós-graduação. 2 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016.
2. Dias AK, Guedes ALV, Leite AZA. Etiopatogenia da doença inflamatória intestinal. In: Zaterka S, Eisig NE. Tratado de gastroenterologia:
da graduação à pós-graduação. 2 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016.
3. Dias AK, Guedes ALV, Leite AZA. Doença inflamatória intestinal: quadro clínico e diagnóstico. In: Zaterka S, Eisig NE. Tratado de
gastroenterologia: da graduação à pós-graduação. 2 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016.
4. Friedman S, Blumberd RS. Doença inflamatória intestinal. In: Jameson JL, Kasper DL, Longo DL, Fauci AD, Hauses SL. Medicina
Interna de Harrison. 20 ed. Porto Alegre: AHGH, 2020.
5. Harris JW, Evers BM. Intestino Delgado. In: Townsend CM, Beauchamp RD, Evers BM, Mattox KL. Sabiston Tratado de Cirurgia: a
base biológica da prática cirúrgica. 20 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
6. Hashash JA, Regueiro M (2021). Overview of the medical management of high-risk, adults patients with moderate to severe Crohn
disease in adults. In Kane SV (Ed), UpToDate. In: www.uptodate.com (acessado em 27 de junho de 2021).
7. Lichtenstein GR, Loftus EV, Isaacs KL, et al. ACG Clinical Guideline: Management of Crohn's Disease in Adults. Am J Gastroenterol
2018; 113:481.
8. Mahmoud NN, Bleier JIS, Aarons CB, Paulson EC, Shanmugan S, Fry RD. Cólon e reto. In: Townsend CM, Beauchamp RD, Evers
BM, Mattox KL. Sabiston Tratado de Cirurgia: a base biológica da prática cirúrgica. 20 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
9. Peppercorn MA, Kane SV (2021). Clinical manifestations, diagnosis, and prognosis of ulcerative colitis in adults. In Lamont JT &
Robson KM (Ed), UpToDate. In: www.uptodate.com (acessado em 27 de junho de 2021).
10. Peppercorn MA, Cheifetz S (2021). Definitions, epidemiology, and risk factors for inflammatory bowel disease in adults. In Lamont
JT & Robson KM (Ed), UpToDate. In: www.uptodate.com (acessado em 27 de junho de 2021).
11. Peppercorn MA, Kane SV (2021). Clinical manifestations, diagnosis, and prognosis of Crohn disease in adults. In Lamont JT &
Robson KM (Ed), UpToDate. In: www.uptodate.com (acessado em 27 de junho de 2021).
12. Regueiro M, Hashash JA. Overview of the medical management of mild (low risk) Crohn disease in adults. In Lamont JT (Ed),
UpToDate. In: www.uptodate.com (acessado em 27 de junho de 2021).
13. Rubin DT, Ananthakrishnan AN, Siegel CA, et al. ACG Clinical Guideline: Ulcerative Colitis in Adults. Am J Gastroenterol 2019; 114:384.
14. Steinwurz F. Tratamento da doença de Crohn. In: Zaterka S, Eisig NE. Tratado de gastroenterologia: da graduação à pós-graduação.
2 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016.

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13.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Parabéns! Você acaba de chegar ao final de mais um importante resumo da disciplina de gastroenterologia. Foi um prazer revisar esse
tema com você. Em caso de dúvida ou observações, não se esqueça de procurar-me no Fórum de dúvidas.

Um forte abraço!
Professora Isabella Parente

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