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A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA E OS CONTEXTOS DA MEDICALIZAÇÃO


ESCOLAR (AINDA EM CONSTRUÇÃO)

TÍTULO EM INGLÊS

Wagner Luiz Ferreira Lima1


Alice Mota Brum2
Enoghalliton de Abreu Arruda3
Larisse de Souza Lessa Cabo4

RESUMO

A medicalização de crianças em idade escolar tem sido um assunto bastante pulverizado na


sociedade e em ascensão, pois se trata de uma premissa de melhorar o processo de Ensino
x Aprendizagem. Assim, o presente estudo tem como objetivo retratar a forma que os
Médicos(as) da ESF podem contribuir para a otimização do trabalho de educadores e a
aprendizagem de educandos, analisar abordagem especializada da medicina, a partir das
condições psicossociais dos educandos, apontar a importância da equipe multiprofissional
da EqSF nas escolas e descrever sobre a ampliação do ramo da ciência para uma nova
ótica de assistência médica humanizada, visando melhorias no contexto da medicalização
escolar, também servindo como base para futuras pesquisas. Para a construção conceitual
deste trabalho, utilizamos a bibliografia de autores como:...............................................
Trata-se de uma pesquisa qualiquantitativa, na qual teve como método entrevistar
Médicos(as) da Família atuantes na ESF e diretores de escolas, ambos inseridos na rede
pública do município de Pirapetinga/MG. Os resultados.........................

Palavras-chave: Médico de Família; Educação; Medicalização Escolar.


.

ABSTRACT

Keywords:

1 INTRODUÇÃO

1
Pós-doutorado em Cognição e Linguagem (UENF); Mestrado e Doutorado em Letras – Língua Portuguesa
(UERJ). Professor Adjunto (UNIG).
2
Especialista em Ortodontia (UniAvan); Bacharel em Odontologia (UNIG); Graduanda em Medicina (UNIG).
3
Doutorado em Educação (UCP); Mestrado Acadêmico em Educação (UCP); Bacharel em Enfermagem e
Licenciado em Filosofia; Graduando em Medicina (UNIG).
4
Bacharel em Enfermagem (FASAP); Graduanda em Medicina (UNIG).
2

A Estratégia Saúde da Família (ESF) assume, na atualidade, o papel mais


importante de acesso dos cidadãos aos serviços de saúde, pois, por meio deste
dispositivo, a população é acolhida, proporcionando a entrada nos serviços da
Atenção Básica, caminhando dessa atenção, caso necessário, a outros níveis de
atenção à saúde, sendo um sistema no qual as ações e os serviços possam
obedecer aos níveis de complexidade crescente e atendimento às demandas
sociais.
Por ser um serviço pautado nas prerrogativas individuais e coletivas,
objetivando ações de assistência integral à saúde, visa-se o acesso facilitado ao
usuário. Assim, as Equipes Saúde da Família (EqSF) se encontram distribuídas, em
bairros das cidades brasileiras, trazendo um modelo descentralizado, conforme
prerrogativas do SUS, na expectativa de otimizar o acesso dos usuários aos
serviços.
A Política Nacional da Atenção Básica (PNAB), de 2012, destaca como
atribuição da equipe multiprofissional que compõe a EqSF, a atuação frente ao
processo de atenção à saúde das famílias cadastradas, dentro do território adscrito,
bem como da coletividade, onde estão inseridas as escolas. Tal informação é
legitimada pela PNAB, em 2017 (BRASIL, 2012; 2017).
Os profissionais que compõem a EqSF passaram a ter como uma de suas
responsabilidades atuar junto às escolas que pertencem ao seu território de
abrangência, haja vista essas instituições se apresentarem como um importante
cenário de diversificação cultural, social e econômica, também assumindo desafios
de naturezas distintas, além de não possuírem, sozinhas, condições de encontrar
soluções para todos os problemas que enfrentam.
Assim, é perceptível que, diante da sua heterogeneidade, o ambiente escolar
enfrenta uma diversidade de problemas, dentre os quais o fracasso escolar, por
exemplo, que é um importante desafio. Nestes casos, medicamentos são
frequentemente utilizados de forma paliativa, pois resolvem “magicamente” qualquer
problema comportamental existente, não levando em conta a complexidade do
fracasso escolar, não se buscando nenhuma alternativa que priorize a proteção
integral do aluno.
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A PNAB, de 2017, ratifica e remodela as ações de saúde promovidas e


desempenhadas no primeiro nível de atenção à saúde, a Atenção Básica. Além das
propostas trazidas, a PNAB também redimensiona as atribuições dos membros da
equipe multiprofissional que compõem as EqSF, na qual se enquadram o médico de
saúde da família, o dentista, o Técnico em Saúde Bucal (TSB) e/ou Auxiliar de
Saúde Bucal (ASB), o Técnico em Enfermagem, os Agentes Comunitários de Saúde
(ACS) e o enfermeiro. Este último, além das atribuições de execução técnica,
também assume o importante papel de gerenciamento da equipe.
Porém, apesar de desvelarmos o profissional enfermeiro como o principal
responsável pelas características de gestão das ESF, não faz parte do escopo do
presente estudo imputar culpas e/ou falhas na interlocução entre escola e ESF
apenas nesse profissional, afinal, é uma atribuição de todos os membros da equipe
multiprofissional, não somente de um técnico que já possui inúmeras atribuições.
Como referencial teórico para o estudo, cabe refletir sobre a abordagem de
Foucault (2010, p. 181), no trabalho “Crise da Medicina ou Crise da Antimedicina”,
no qual afirma que “o que rege a sociedade não são os códigos, mas a perpétua
distinção entre o normal e o anormal, o perpétuo empreendimento de restituir o
sistema de normalidade” e, ainda acrescenta que “o diabólico é que, cada vez que
se quer recorrer a um domínio exterior à medicina, descobre-se que ele já foi
medicalizado” (p. 184). O texto de Foucault nos remete à compreensão de que a
sociedade, em geral, está impregnada pela cultura da busca por soluções
farmacológicas para problemas sociais, cuja complexidade não se restringe a
aspectos médicos, uma cultura medicalizada que se torna medicalizante.
Assim sendo, temos compreendido que a escola, como instituição que reflete
a realidade social, muitas vezes, também busca “soluções” para os mesmos
problemas, mas os resultados não têm sido satisfatórios. Não é por despreparo, mas
por tantos problemas acumulados num setor tão fragilizado e, muitas vezes, carente
de diversos recursos, como o caso da maioria das escolas públicas.
Compreende-se que a medicalização de alunos, muitas vezes para também
justificar o fracasso escolar, não é o melhor percurso para solucioná-lo e nem
mesmo para justificar um problema que possui. É importante que as escolas
recebam apoio do setor saúde para enfrentar esse e tantos outros problemas, mas
com a clareza das limitações que a ela se circunscrevem.
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É frente ao contexto das responsabilidades atribuídas às EqSF e ao


panorama das escolas que a presente pesquisa se insere, para inquirir o
conhecimento sobre a medicalização de educandos.
Com base no exposto, apresentam-se como pergunta de partida do presente
estudo: “De que modo a equipe multiprofissional atuante na EqSF pode
contribuir com melhorias no processo de trabalho dos profissionais da
educação que atuam no Primeiro Segmento do Ensino Fundamental, bem
analisar o processo de medicalização escolar na visão de Médicos(as) da
Família?”.
O estudo tem como objetivo analisar a medicalização escolar no município de
Pirapetinga-MG e a visão dos Médicos(as) da Família e a atuação das equipes
Saúde da Família no processo de transformação deste problema. Como objetivos
específicos, buscou apresentar brevemente a evolução da saúde no país; descrever
o problema da medicalização de crianças e adolescentes; discutir o papel das
escolas no processo de medicalização dessa população; e analisar e discutir a
relevância dos profissionais que compõem a eSF no processo de medicalização
escolar e a visão dos Médicos(as) de Família.
Tal estudo é de essencial importância para a melhoria das ações na atenção
básica e na educação do município, entendendo que somente com a efetiva
participação dos atores sociais envolvidos no problema (saúde, educação e família)
será possível reverter esta cultura medicalizante, sobre a qual não se sabe as
consequências futuras.
A estrutura geral do presente estudo se organiza em 4 capítulos. No primeiro
capítulo, traz-se um breve histórico evolutivo da saúde pública no Brasil e da criação
do SUS frente à Constituição Federal de 1988 e enfatiza a Estratégia Saúde da
Família (ESF), que, além de passar por constantes inovações, compreenderá parte
relevante do campo de pesquisa.
No segundo capítulo, buscou-se apresentar a questão da utilização
indiscriminada de medicamentos por escolares, buscando relacionar a sociedade
atual e sua busca por soluções rápidas com a patologização da vida e o uso de
psicofármacos, bem como seus efeitos deletérios para os indivíduos e a distinção
entre dificuldades e distúrbios de aprendizagem.
O capítulo três se dedicou a descrever a metodologia do estudo, por meio da
apresentação da natureza da pesquisa, universo do estudo, coleta e tratamento dos
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dados, enquanto o capítulo quatro apresentou os resultados e a discussão destes à


luz da literatura e dos achados das Entrevistas aplicadas aos quatro Médicos(as) da
Família do município e diretores das seis escolas públicas municipais.
A análise e discussão dos resultados da pesquisa foram discutidas no
capítulo quatro, tópico em que os achados da pesquisa foram discutidos e
analisados.
Ao final, apresentar-se-á as considerações finais que tecemos a partir deste
estudo, onde observa-se que várias são as lacunas encontradas, tanto no setor
saúde, quando no setor da educação, porém, torna-se perceptível averiguar que é
possível, através da otimização do processo de trabalho, desenvolvermos resultados
frente ao cenário da medicalização de escolares.

2 AS INTERFACES DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL E A ESF

Após um longo percurso histórico, em que a população brasileira sofria com


as dificuldades no atendimento à saúde, o SUS se constituiu como tentativa de
solução a este grave problema do país, num momento em que as exigências da
população por melhor atendimento na saúde pública se materializaram na
Constituição Federal de 1988, tornando a saúde um direito de todos os brasileiros.
Nesse contexto, o presente capítulo se dedica a apresentar um panorama da
saúde pública no Brasil, ressaltando a criação e a descentralização do SUS, a
garantia constitucional da saúde como direito fundamental e uma breve análise dos
programas desenvolvidos ao longo dos anos de sua existência e, sobretudo, a ESF,
como foco central.
O Brasil, desde sua colonização, sempre foi um país de pluralidade cultural,
trazendo para o contexto da saúde muitos conhecimentos empíricos, pois os
indígenas, negros e colonizadores possuíam conhecimentos para o enfrentamento e
terapêutica dos males que os afetavam.
Ainda em conformidade com Baptista (2007), a única forma de acesso à
saúde para a maioria da população era através de rezas, feitiços, plantas e ervas
nativas, utilizadas, em sua maioria, por pajés e curandeiros, na população indígena
e negra. Àqueles que podiam custear, havia a figura do barbeiro ou prático, que se
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apropriavam de técnicas utilizadas por médicos europeus, como exemplo a sangria


ou mesmo utilização de sanguessugas. Os Jesuítas também trouxeram da Europa a
experiência médica da disciplina e do isolamento como alternativa terapêutica.
Conforme os escritos de Correa et al. (2004), não tardou e os portugueses
começaram a instaurar o modelo das Santas Casas de Misericórdia. A primeira
inaugurada em Santos, em 1543, e na proporção em que a colonização se expandia,
outras unidades foram fundadas: Bahia, Espírito Santos, Rio de Janeiro, Olinda e
São Paulo.
Ainda com base nos achados de nossa pesquisa bibliográfica, é preciso
destacar que Oliveira (2000) apresentou, em uma de suas mais importantes
pesquisas, baseada no modelo campanhista e de inspiração bélica, que as
instituições de saúde se estruturavam para atacar as epidemias. Assim sendo, não é
de se estranhar as práticas autoritárias historicamente conhecidas do campo da
saúde, conforme evidências históricas de movimentos autoritários e violentos, como
o movimento conhecido como a Revolta da Vacina, por exemplo. Porém, que não é
escopo para a construção conceitual do presente estudo.
Segundo Martins (2104), o Período da Ditadura Civil Militar no país (1964-
1985) foi o que trouxe maior expansão da previdência social, mas também no qual
se observou uma piora considerável na saúde pública, com uma expansão
considerável da saúde privada. Em 1966, ocorreu a fusão dos Institutos de
Aposentadorias e Pensões (IAPs), sendo criado o Instituto Nacional da Previdência
Social (INPS). Diante da crise financeira enfrentada pelo INPS, em 1978, foi criado o
Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), formado por
diversos órgãos, a saber: Instituto de Administração Financeira da Previdência
Social (IAPAS); Instituto Nacional de Previdência Social (INPS); Instituto Nacional de
Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), Empresa de Processamento
de Dados da Previdência Social (DATAPREV); Fundação Legião Brasileira de
Assistência (LBA); Central de Medicamentos (CEME); Fundação Nacional de
Assistência e Bem Estar do Menor (FUNABEM).
Segundo Escorel (2017), em 1979, o Centro Brasileiro de Estudos da Saúde
(CEBES), presidido por um dos grandes representantes da Reforma Sanitária, o
médico Sergio Arouca, propôs o Sistema Único de Saúde, sistematizado em 1986,
na VIII Conferência Nacional de Saúde, cujo relatório serviu de base para a parte
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dedicada à saúde na Constituição Federal de 1988, além de outras leis que


tornaram possível o nascimento do SUS.
De acordo com Paim (2009), com a promulgação da Constituição Federal de
1988, iniciou-se a construção, em seu formato atual, do Sistema Único de Saúde,
possibilitando que houvesse unicidade no padrão de financiamento público da saúde
no Brasil, tendo como responsável um único órgão, o Ministério da Saúde. O SUS
representa o modelo vigente de política de saúde no Brasil inaugurado a partir da
década de 1990, devendo estar articulado ao conjunto das ações governamentais
voltadas ao setor nas três esferas de governo: federal, estadual e municipal.
Significa um grande avanço na luta por direitos e cidadania.
A saúde, a partir da Constituição de 1988, passa a ser reconhecida como um
dos tripés da Seguridade Social, de forma não-contributiva e de acesso a todos os
indivíduos, independente de contribuição previdenciária, garantida mediante políticas
sociais e econômicas, que assumam o princípio da Universalidade, Equidade e
Integralidade dos serviços. Apesar do SUS ter sido definido pela Constituição
Federal em 1988, só foi regulamentado em 19 de setembro de 1990, por meio da Lei
nº. 8.080, também conhecida como Lei Orgânica da Saúde (LOS) (BRASIL, 1990).
O artigo 198 da Constituição Federal dispõe que “as ações e serviços
públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um
sistema único” (BRASIL, 1988). Portanto, o sistema é único por ser integrado a uma
rede regionalizada e hierarquizada, contudo, se descentralizaram seus serviços dos
entes da Federação e conjugaram-se os recursos financeiros, com o objetivo de
aumentar a qualidade e o acesso aos serviços de saúde (BRASIL, 1988).
Na década de 1990, de acordo com Lima et al. (2012), a saúde foi marcada
por uma gradativa implementação dos preceitos constitucionais, por meio das
Normas Operacionais Básicas (NOB), apresentando um novo formato de gestão e
de alocação de recursos, constituindo-se em importante instrumento para
regulamentar o processo de descentralização, ao estabelecer critérios e
mecanismos para transferir recursos e responsabilidades para os estados e
municípios.
Assim, os municípios puderam atuar e assumir suas funções com maior
celeridade, com o intuito de realizar as transformações necessárias, especialmente
em relação às políticas sociais, com destaque para a saúde. Ao longo dos anos,
essa descentralização foi apresentando um crescimento progressivo, apesar desses
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resultados serem considerados aquém do necessário, situação ocasionada pela


insuficiência de recursos, que acabou por sucatear a atenção prestada.
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS, 2007), a Atenção
Primária à Saúde (APS) enfatiza que os sistemas devem refletir as necessidades
locais; integrar atividades sociais, biomédicas e de saúde pública, incluindo
fornecimento de água potável, segurança alimentar, controle de doenças endêmicas
locais e acesso a medicamentos essenciais; incentivar ações relacionadas à saúde
em outros setores; e trabalhar para promover uma forte participação da
comunidade. 
De acordo com Lavras (2011), a APS é o primeiro nível de atendimento ao
paciente, sua família e comunidade, conforme definido pela Organização Mundial da
Saúde (OMS, 1978). No Brasil, a APS se refere à Saúde da Família, que tem quatro
funções principais: acessibilidade, continuidade, abrangência e coordenação. A
acessibilidade é uma dimensão da experiência de atendimento do paciente que
pode ser medida para avaliar o desempenho da APS. 
A partir de diversas situações que assolavam as metas estabelecidas pelas
políticas de saúde implementadas no Brasil, surgiram propostas que buscassem o
aprimoramento das intervenções de saúde em todo contexto heterogêneo ao qual
estamos inseridos.
Assim sendo, em 1991, o Ministério da Saúde (MS) implementou o
Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), que visava otimizar o
processo de melhorias na condição de saúde das comunidades e, portanto,
contando com a participação de outros setores sociais, com integrantes da própria
comunidade, com maior aprimoramento de conhecimentos. Os mesmos eram
capacitados, treinados e supervisionados por profissionais da área da saúde. O
Programa, criado em 1991 e permanecendo até os dias atuais, em diversas cidades
do Brasil, é composto por Agentes Comunitários de Saúde e Enfermeiro (a) –
Instrutor/Supervisor (BRASIL, 2012).
Através de experiências positivas advindas do PACS e buscando otimizar
ainda mais a Atenção Básica da época e, sobretudo, para efetivar os princípios do
SUS, buscou-se um programa que trouxesse uma equipe multiprofissional que
possua capacidade de ofertar maiores possibilidades ao primeiro nível de atenção à
saúde.
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Assim, no processo de priorização do SUS, estabeleceu-se, em 1994, o


Programa de Saúde da Família (PSF), como um modelo de atenção a ser
implantado em todo o território nacional e desenvolvido pelos municípios, com o
objetivo de aumentar a cobertura de atenção à saúde da família, atingindo a
equidade e melhorando a qualidade de atenção à população em geral (BRASIL,
2010).
A princípio, o PSF, como Programa Governamental, possui efeito de tempo
determinado (início, meio e fim), ou seja, com prazo determinado. Porém, com o
intuito de aprimoramento das ações e maior garantia dos direitos à saúde, a
Estratégia (tendo seu início, meio e não havendo prazo determinado) surge como
abertura para novas possibilidades, uma vez que além de maior abrangência
conceitual, otimiza e fortalece as políticas de saúde pública de nosso país.
Os desafios enfrentados pela ESF se referem a ampliação do acesso à
saúde, bem como sua oferta de forma integral, tendo a família como foco, em um
cuidado humanizado, por meio da criação e fortalecimento dos vínculos dos
profissionais com a população assistida, por meio de ações que devem ser
desenvolvidas de acordo com as características e problemas do território onde está
situada (MAGALHÃES et al., 2012).
Em 2008, foram criados os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF),
como parte integrante das ESF, a fim de consolidar a atenção primária e ampliar a
oferta de saúde. Esses núcleos, na forma em que foram criados, eram compostos
por uma equipe multiprofissional, que deve atuar integrada às EqSF, possibilitando o
compartilhamento de informações, bem como projetos terapêuticos qualificados e
educação em saúde (BRASIL, 2008).
Em relação ao NASF, que a partir da PNAB 2017, passou a ser denominado
Núcleo Ampliado de Apoio à Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), possui
nove áreas consideradas estratégicas para a atenção primária, que são a saúde
mental; saúde da criança, jovem e adolescente; alimentação e nutrição; reabilitação
e saúde integral dos idosos; serviço social; assistência farmacêutica; saúde da
mulher; praticas integrativas e complementares; e atividade física (BRASIL, 2014).
As práticas de educação em saúde nas escolas tiveram início na década de
1990, através das Escolas Promotoras de Saúde, reforçado por conferências
internacionais que tratavam da importância de se criar ambientes educacionais
saudáveis, a fim de desenvolver uma cultura de autocuidado entre os estudantes,
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por meio da participação comunitária e estímulo ao acesso aos serviços de saúde.


Entretanto, diante da precariedade dos serviços da atenção primária, devido ao
comprometimento do financiamento do SUS, este projeto não surtiu os efeitos
almejados.

3 OS CONTEXTOS DA MEDICALIZAÇÃO DE ESCOLARES

O termo medicalização refere-se ao processo em que condições e


comportamentos de saúde são rotulados e tratados como problemas médicos,
sendo resultado do rápido avanço da ciência nos últimos anos, com a manipulação e
a transformação da natureza humana pela tecnologia biomédica. Foucault (1976)
declarou, na década de 1970, que o poder soberano da morte (de dar morte às
pessoas) foi substituído pelo poder do Estado para dar e melhorar a vida: o biopoder
(e o Estado de bem-estar social é o principal exemplo disto). 
Entendendo a escola como uma instituição que reflete e é refletida pela
sociedade, a medicalização adquiriu cada vez mais status de solução milagrosa para
todos os desvios de comportamento ali presentes, tornando-se a “fórmula mágica”
para resolver os problemas comportamentais e de aprendizagem, cada vez mais
recorrentes no seu ambiente.
Os medicamentos desempenham um papel importante na prestação de
cuidados de saúde e, segundo Ofori-Asenso e Agyeman (2016), quando usados
adequadamente, podem ajudar a curar doenças, aliviar sintomas e o sofrimento do
paciente. No entanto, seu uso irracional continua sendo um grande problema
enfrentado pela maioria dos sistemas de saúde em todo o mundo. A Organização
Mundial da Saúde estima que mais da metade de todos os medicamentos são
prescritos, distribuídos ou vendidos inadequadamente. Além disso, cerca de 50%
dos pacientes não tomam seus medicamentos corretamente. 
Em uma sociedade moderna, onde as pessoas buscam o imediatismo,
inclusive no restabelecimento da saúde, além das dificuldades de acesso aos
serviços de saúde, a propaganda apelativa das indústrias farmacêuticas, são fatores
que contribuem para a automedicação (BÁRTA; OLIVEIRA, 2010).
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Uma doença ou transtorno mental é um problema de saúde que afeta


significativamente como uma pessoa se sente, pensa, se comporta e interage com
as demais, havendo critérios padronizados para o seu diagnóstico. O
termo transtorno mental também é usado para se referir a esses problemas de
saúde (OMS, 1993).
Segundo Stolzer (2013), as doenças psiquiátricas são rotuladas ou retiradas
do DSM, como foi o caso da homossexualidade, e a maioria das doenças mentais
são invenções do século XX e nenhuma delas pode ser confirmada por qualquer
teste diagnóstico, nem existem, até o momento, pesquisas cientificas que apontem
marcadores neurológicos, anatômicos ou fisiológicos associados a qualquer doença
mental, sendo um consenso baseado em indicadores subjetivos, o que está
claramente fora do campo da ciência médica, pois em todos os campos médicos,
dados empíricos e quantificáveis devem existir antes que uma doença possa ser
confirmada e o tratamento eficaz possa começar.
Para Stolzer (2011), um percentual significativo de indivíduos diagnosticados
com transtornos mentais (depressão, ansiedade, transtorno bipolar, Transtorno do
Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, dentre outros) recebe prescrição de
doses diárias de medicamentos. Embora seja certamente mais fácil medicar
indivíduos com problemas psicológicos do que tratar dos diversos fatores
associados a eles, permanece o fato de que existem efeitos colaterais graves
associados a todas as classificações desses fármacos.
Segundo Caponi (2016), as drogas estimulantes costumam ser prescritas
para aliviar os sintomas do TDAH, que incluem inquietação, impulsividade, confusão
e desatenção. A grande maioria desses medicamentos estimulantes é prescrita a
crianças e adolescentes do gênero masculino, com idades entre dois e 20 anos,
incluindo a Ritalina, Adderall e Dexedrine. 
Para Melo (2016), seus efeitos colaterais, semelhantes aos medicamentos
estimulantes, incluem ansiedade, agitação, psicoses maníacas, violência, perda de
controle de impulsos, pensamentos suicidas obsessivos, perda de empatia, delírio e
anormalidades cerebrais. Também podem ocasionar hipomania, alucinações,
transtorno de personalidade, psicose, hostilidade, instabilidade emocional, paranóia,
confusão e delírios.
Os benzodiazepínicos, segundo Caliman (2016), são mais comumente
prescritos para tratar ansiedade, ataques de pânico e insônia. Os efeitos colaterais
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associados a essa classificação de drogas incluem ansiedade aguda,


comprometimento cognitivo, mau julgamento, sentimentos de dissociação consigo
mesmo ou com outros e amnésia. Além disso, costumam causar reações de
abstinência muito graves entre doses terapêuticas e a grande maioria dos indivíduos
experimenta uma dificuldade extrema ao descontinuar esses medicamentos. Outros
efeitos incluem confusão, paranóia, mania, agitação, raiva, agressão não provocada,
violência incontrolável, depressão, suicídio, impulsividade e despersonalização
aguda.
Para Ciasca (2003), não é raro a criança apresentar dificuldades no
aprendizado da leitura, escrita ou cálculo. Geralmente, estas dificuldades são
classificadas em dois tipos: as dificuldades escolares (DE), que estão relacionadas a
problemas de origem e ordem pedagógica; e os distúrbios de aprendizagem (DA),
relacionados a uma disfunção no SNC, que possui como característica falhas no
processo de aquisição e/ou desenvolvimento das habilidades escolares.
Correia e Martins (2004) conceituam o distúrbio de aprendizagem como um
termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se
manifesta por dificuldades significativas na aquisição e uso de habilidades para
ouvir, falar, ler, escrever e realizar cálculos matemáticos. Embora o distúrbio de
aprendizagem possa ocorrer concomitantemente com outras condições deficitárias
(como distúrbios sensoriais, deficiência mental, distúrbios sociais e emocionais), ou
influências ambientais (diferenças culturais, instrução insuficiente ou inapropriada),
não é resultado direto de tais condições ou influências. Presume-se que tais
transtornos são devidos a uma disfunção do sistema nervoso central resultando de
fatores como diferenças anatômicas, genéticas, atraso neuromaturacional,
desequilíbrio neuroquímico ou metabólico e severa deficiência nutricional
Para Alcântara (2012), não apenas crianças, mas adolescentes e adultos
podem apresentar distúrbios de aprendizagem, estando presentes no cotidiano das
escolas e sendo enfrentadas por educadores, responsáveis e demais pessoas que
convivem com aqueles que possuem tais problemas. Não é raro a escola e
professores taxarem esses indivíduos de preguiçosos e/ou desinteressados, por não
possuírem conhecimento do problema.
Elias (2003) ressalta que a escola é um dos locais onde a criança recebe
avaliações sistematizadas sobre o seu desempenho e de suas habilidades e
sucessos acadêmicos, construindo, com base nas mesmas, uma visão de si. Desta
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forma, a vivência de situações de baixo rendimento escolar ocasiona sentimentos


como baixa autoestima e influencia em sua capacidade produtiva. O sucesso
escolar, em contrapartida, favorece um desenvolvimento socioafetivo adequado.
Assim, esse período é de essencial importância, pois a ocorrência de dificuldades de
aprendizagem pode trazer consequências negativas no futuro.
Azevedo (2018) destaca que é difícil descartar a urgência e o imediatismo do
sofrimento de uma criança, especialmente quando é um filho, sendo compreensível
que muitos pais e professores estejam em busca de todo tipo de ajuda que possam
obter. Entretanto, à luz de uma abordagem biopsicossocial, é possível observar
parcialidades nessas tentativas de ajudar essas crianças, pois desviam a atenção da
qualidade das configurações educacionais para a biologia. 
Mitjavila (2015) entende por controle social as formas organizadas pelas
quais a sociedade responde ao comportamento e às pessoas que considera
desviadas, problemáticas, preocupantes, ameaçadoras, problemáticas ou
indesejáveis. No Brasil, as decisões relativas ao controle social foram cada vez mais
deixadas para duas instituições dominantes: a justiça e o sistema médico de saúde.
Esses dois sistemas passaram a moldar e definir um escopo cada vez mais amplo
do comportamento, tanto público quanto privado, com a criminalização e
medicalização do controle social.
Whitaker (2017) afirma que a infância se distingue claramente da idade
adulta. Crianças correm, pulam e escalam, são indisciplinadas, bagunceiras,
desorganizadas, cheias de exuberância e energia, e famosas por seus períodos de
atenção incrivelmente curtos. Ao longo de toda a história, essas características,
embora exasperantes e difíceis para os adultos, foram consideradas normativas em
todas as culturas.
No Brasil, estima-se que 30% das crianças e adolescentes possuem
diagnóstico de algum transtorno mental, sendo os mais comuns o TDAH, problemas
de conduta, ansiedade ou depressão. O TDAH é a doença psiquiátrica mais
comumente diagnosticada em populações infantis, apesar dos diagnósticos de
depressão estarem aumentando significativamente desde a década de 1990, tendo
ocorrido um aumento de cinco a seis vezes o número de crianças com prescrição de
drogas antidepressivas, em idades cada vez menores. Aumentos dramáticos em
todos os tipos de prescrições de medicamentos psiquiátricos vêm sendo
documentados nessa população (LOPES, 2020).
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Para Lopes (2020), uma das questões mais preocupantes consiste na falta de
conhecimento sobre os efeitos que várias dessas drogas têm sobre o sistema
nervoso central em desenvolvimento das crianças e adolescentes, entretanto,
estima-se que podem ocasionar efeitos negativos significativos, com
comprometimentos importantes, pois a maioria desses fármacos não é licenciada
para uso em populações de crianças e adolescentes. Essa tendência à prescrição
de psicofármacos tem sido atribuída ao costume aceito de tratar crianças que
exibem padrões comportamentais considerados inadequados com drogas
estimulantes, apesar do desconhecimento dos seus efeitos.
Segundo Conrad (2007), os tratamentos farmacológicos e não farmacológicos
podem reduzir a gravidade dos sintomas de distúrbios emocionais e
comportamentais em crianças e melhorar seu funcionamento geral na vida, mas o
tratamento farmacológico é imediatista, levando a uma supervalorização desse
tratamento. Assim, como resultado direto da medicalização do desenvolvimento
humano, traços comportamentais que sempre foram característicos de crianças e
adolescentes, agora são geralmente aceitos como indicadores de um transtorno
mental e esses diagnósticos e terapia farmacológica têm sido aceitos por pais e
educadores.
Estudo de Simoni (2017) também constatou que os professores são a favor
do uso de medicamentos para os transtornos mentais, tendo percebido que mais
tempo de experiência e maior qualificação indicaram maior convicção das atitudes
quanto à medicalização, entendendo que os comportamentos inadequados em sala
de aula impactam a normalidade acadêmica. Assim, a intervenção farmacológica
seria uma necessidade, para que crianças com dificuldades poderiam atingir a
normalidade acadêmica e comportamental.
Diante do que foi abordado, é possível conceber que há uma clara tendência
de diagnosticar crianças e adolescentes que fogem ao padrão do que se considera
normalidade. Nesses casos, o diagnóstico e a medicalização, muitas vezes por
conta das exigências postas aos educadores, são considerados um sucesso se
melhorarem a capacidade desses estudantes de manter padrões de comportamento,
realizar testes e alcançar o rendimento desejado o suficiente para que não destoem
ou sejam uma distração para a turma. 
Os avanços da medicina são, sem dúvida, uma das conquistas mais
importantes da humanidade. A maioria da população possui uma alta expectativa e
15

qualidade de vida graças ao acesso direto a medicamentos, cirurgias e tratamentos


de todos os tipos que permitem superar com sucesso diferentes doenças, acidentes
e déficits orgânicos congênitos. Não é surpreendente, portanto, que tais conquistas
também sejam benéficas à educação, ou melhor, às crianças e adolescentes que
todos os dias devem enfrentar o desafio de melhorar suas habilidades acadêmicas,
tanto intelectuais quanto afetivas e sociais, quando, por algum motivo seu
desempenho cognitivo ou estabilidade emocional estão ameaçados.
Somos uma sociedade que abusa de drogas, nos automedicamos para aliviar
doenças (reais ou não), consumimos todos os tipos de substâncias para elevar ou
controlar nosso humor e melhorá-lo mais rápida e facilmente, para aumentar o
desempenho intelectual e físico, para dormir melhor ou suportar horas sem dormir,
para perder peso, controlar a fome ou ganhar massa muscular, etc. 
Essa mesma tendência não permaneceu fora da esfera educacional. Por isso,
infelizmente, é comum que, quando pais e professores detectam um problema em
seus filhos ou alunos, considerem a possibilidade de acessar um tratamento médico
para resolvê-lo, situação cada vez mais frequente.
Um dos fatores para essa situação se refere à busca cada vez maior por
evidências empíricas na educação, criando novas concepções e modelos de
avaliações externas, onde as escolas e, consequentemente, seus profissionais,
passam a fazer parte de um ranking de qualidade.
Diante dessa mensuração da qualidade, o sistema educacional não pode se
fragilizar com alunos que não acompanham o ritmo exigido por essas formas de
avaliação, colocando em risco de serem consideradas “fracas” ou “sem qualidade”
as escolas que possuem alunos com dificuldades de acompanhar os conteúdos
disponibilizados. Assim, a forma mais rápida de “adaptar” e preparar esses alunos é
através da medicalização.
Na análise deste fenômeno é preciso levar em conta que a escola atual,
questionada por muitos e questionando-se pelo aumento e diversidade das
demandas que são feitas para os novos problemas com os quais se depara, parece
ter se tornado uma das áreas onde a medicina é necessária para soluções rápidas e
remédios eficazes para abordá-los. Observa-se, portanto, que diversos fatores
interagem no processo da medicalização escolar, sendo necessário conhecê-los, a
fim de se buscar soluções que possam amenizar o problema.
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4 OS PERCURSOS METODOLÓGICOS

O presente capítulo busca apresentar a metodologia utilizada na elaboração


deste estudo. Para fins de conhecimento geral, pode-se entender por metodologia o
desenvolvimento, aprimoramento e apropriação de métodos que incluam
procedimentos e dispositivo para construção, análise e difusão do conhecimento,
sobretudo, o saber de cunho científico. Desse modo, conforme explicitado por Kant
(2010), no prefácio da primeira edição de 1781 da Crítica da Razão Pura, em que
redefine as possibilidades e os fatores limitantes do conhecimento – o que podemos,
então, conhecer e, por outro lado, de que maneira se pode conhecer.

4.1 NATUREZA DA PESQUISA

Quanto aos objetivos, este estudo se classifica como uma pesquisa


exploratória, pois busca “levantar informações sobre determinado objeto, campo de
trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto” (SEVERINO, 2007,
p. 123); e descritiva, por utilizar técnica de coleta de dados, analisando-os e
interpretando-os.
Quanto à abordagem, a pesquisa se classifica como qualitativa, por entender
que pode trazer contribuições fundamentais na pesquisa social, tendo em vista seu
caráter investigativo, descritivo, com ênfase nos processos e nos significados dos
fatos para os atores envolvidos. Em se tratando de uma abordagem qualitativa,
entende-se que busca compreender fenômenos humanos, a fim de obter uma visão
detalhada e complexa, por meio de uma análise científica dos pesquisadores. Esse
tipo de pesquisa se preocupa com o significado dos fenômenos e processos sociais
(KNECHTEL, 2014).
Com a pesquisa qualitativa, ao contrário da pesquisa quantitativa, pode-se ir
além do dado imediato, pois ela busca fundamentar a informação, não se limitando
ao dado coletado e observado. Quanto aos procedimentos adotados, optou-se pela
pesquisa bibliográfica. Dessa forma, utilizando livros e publicações sobre o assunto,
é que se embasou a revisão bibliográfica sobre a temática proposta.
17

4.2 UNIVERSO DO ESTUDO

O presente estudo será desenvolvido na cidade de Pirapetinga-MG, que está


localizada na região Sul da Zona da Mata Mineira, com instalação em 1938 e,
atualmente, possui população estimada de 10.754 habitantes (2013). Essa região é
originária das terras que engendraram a que, antigamente, era chamada de
Sesmaria Solidão, abrangendo desde as províncias das terras além do Rio
Pirapetinga, até a Serra Bonita (RJ), que na atualidade delimita território entre os
estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, fazendo divisa com seis municípios,
sendo eles, dois municípios do estado do Rio de Janeiro e quatro municípios
mineiros: Santo Antônio de Pádua-RJ, Cantagalo-RJ, Leopoldina-MG, Recreio-MG,
Palma-MG e Estrela Dalva-MG (ARRUDA, 2014).
A pesquisa será desenvolvida junto às seis unidades escolares municipais da
Educação Básica e as quatro unidades de ESF existentes no município de
Pirapetinga-MG (IBGE, 2020).
Assim, foram considerados como critérios de inclusão do presente estudo, ser
graduado em medicina – Médico(a) da Família –, atuar na EqSF do município ou ser
gestor de escola pública municipal. Como critérios de exclusão, não foram inseridos
na pesquisa os demais profissionais da equipe multiprofissional que compõem a
EqSF, os médicos e enfermeiros que atuam no contexto da saúde pública municipal,
porém, não atuam nas EqSF e os profissionais da educação municipal que não
atuam como diretores das escolas públicas municipais que ofertam o primeiro
segmento do Ensino Fundamental.

4.3 COLETA DE DADOS

Inicialmente, foi realizado um levantamento bibliográfico para análise temática


de conteúdo, por meio de livros, revistas eletrônicas, manuais técnicos, dissertações
e teses, com o intuito de fundamentar a pesquisa.
A coleta de dados foi realizada por meio de uma entrevista semiestruturada
aplicada aos quatro profissionais Médicos(as) da Família (Apêndice A) e outra
aplicada aos seis Diretores das Escolas Públicas Municipais (Apêndice B). A
entrevista é a técnica com a qual o pesquisador tenta obter informação de forma
dissertativa e personalizada. As informações estão no entorno de eventos vividos e
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aspectos subjetivos da pessoa, tais como crenças, atitudes, opiniões ou valores em


relação à situação que está sendo estudada.
As entrevistas semiestruturadas serão agendadas antecipadamente e
realizadas à distância, através da plataforma Zoom.
A entrevista é uma técnica muito útil na pesquisa qualitativa para coletar
dados, sendo um instrumento técnico que assume a forma de um diálogo coloquial,
ou seja, a comunicação interpessoal estabelecida entre o pesquisador e o sujeito do
estudo, a fim de obter respostas verbais às questões colocadas sobre o problema
proposto Gil (2010) argumenta que a entrevista é mais eficaz do que o questionário
por obter informações mais completas e aprofundadas, além de apresentar a
possibilidade de esclarecimento de dúvidas durante o processo, garantindo
respostas mais úteis.
Para o presente estudo, todos os respondentes foram esclarecidos sobre o
objetivo da pesquisa e, após aceitação em participar, confirmarão o recebimento do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice C).
A entrevista foi composta por 12 questões e será realizada com a participação
das 06 (seis) diretores das instituições públicas municipais que atendem ao primeiro
segmento do Ensino Fundamental, bem como aos 4 médicos(as) da Família que
atuam nas EqSF do município (Apêndice A e B). O estudo obedeceu às exigências
contidas na Resolução nº 510/16, do Conselho Nacional de Saúde, que dispõe sobre
pesquisas envolvendo seres humanos.
A escolha das gestoras de escolas como entrevistadas se deu devido a estes
profissionais responderem pela função de coordenadores pedagógicos, possuindo,
portanto, conhecimento de toda a clientela escolar, o que não ocorreria se as
entrevistas fossem realizadas junto aos docentes, que conhecem a realidade
somente de suas turmas.
Quanto aos médicos(as) da Família, a escolha se deveu por estes terem
como atribuição, dentro das EqSF, desenvolver suas atividades tanto nas unidades
de saúde quanto na comunidade, planejando e, além de outras, o atendimento
individualizado e prescrição de medicamentos, aos pacientes de sua área adscrita.

4.4 TRATAMENTO DOS DADOS


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A análise dos dados obtidos a partir das entrevistas será tratada de forma
qualitativa, de modo a permitir que as informações pudessem ser analisadas caso a
caso, estabelecendo as possíveis relações entre as variáveis do problema, a fim de
atender os objetivos propostos pela pesquisa.
A análise dos dados foi realizada por meio da aplicação da técnica de análise
de conteúdo, que objetiva analisar o que foi dito nas entrevistas, escrito nos
instrumentos de pesquisa ou observado pelo pesquisador, com o intuito de produzir
inferências de um texto para seu contexto social. Para tanto, utiliza procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição dos conteúdos para compreender criticamente
o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações
explícitas ou ocultas. Pressupõe as etapas de pré-análise, exploração do material e
tratamento dos resultados, inferência e interpretação (BARDIN, 2011).

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Será construída após a realização das entrevistas, que ocorrerão setembro.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Será construída após a realização da Análise e Discussão dos Resultados.

REFERÊNCIAS

Em construção.

OBSERVAÇÃO: Todos os autores contribuíram na concepção e/ou no planejamento


do estudo; na obtenção, análise e interpretação dos dados, assim como na redação
e revisão crítica e aprovaram a versão final.
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APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA COM


MÉDICOS(AS) DA FAMÍLIA

Prezado (a) entrevistado (a),

I – Identificação

01. Gênero:

02. Idade:

3. Escolaridade:

4. Tempo de trabalho como Médico na ESF:

5. Possui algum curso específico em Saúde da Família? Qual?

II – Medicalização infantil

6. Durante a sua formação acadêmica você teve contato com algum estudo
envolvendo dificuldades ou transtornos de aprendizagem?

7. Em relação ao uso de medicamentos psicoterápicos, como a Ritalina, para tratar


as crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem, na sua opinião:

8. Você sabe o que é medicalização infantil? Você já prescreveu ou prescreve


medicamentos psicoativos, como ritalina?

9. Existe alguma estratégia de saúde para a redução e/ou prevenção do consumo de


drogas psicoativas por crianças e jovens?

10. Já foi abordado o tema da medicalização infantil nesta ESF? Em caso afirmativo,
onde e como?

11. Já foi utilizado algum método de ensino alternativo (orientação) para alunos que
não se adequaram ao ensino tradicional para que buscasse realmente confirmar
algum diagnóstico de doença comportamental? Se sim, quais?

12. Em relação à medicalização de crianças e jovens em idade escolar, você


gostaria de comentar mais alguma coisa que não tenha sido contemplada nas
demais questões do questionário?
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APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA COM


GESTORES DAS ESCOLAS MUNICIPAIS

Prezado (a) entrevistado (a),

I – Identificação

01. Gênero:

02. Idade:

3. Escolaridade:

4. Tempo de trabalho como Gestor nesta Unidade Escolar?

5. Possui algum curso específico em Gestão Escolar? Qual?

II – Medicalização infantil

6. Durante a sua formação acadêmica você teve contato com algum estudo
envolvendo dificuldades ou transtornos de aprendizagem?

7. Em relação ao uso de medicamentos psicoterápicos, como a Ritalina, para tratar


as crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem, na sua opinião:

8. Como você acompanha a questão das dificuldades de aprendizagem dos alunos,


quando há queixa de professores, de que um ou mais alunos não conseguem
acompanhar o ritmo da turma:

9. Você sabe o que é medicalização infantil?

10. Algum aluno desta escola já foi diagnosticado com alguma “patologia” em que foi
necessária a introdução de medicamentos psicoativos (como a ritalina)?

11. A equipe de Saúde da Família desta área de abrangência já realizou alguma


atividade de educação permanente na escola, com o intuito de propagar a não
medicalização de educandos? Se sim, quais?

12. Já foi utilizado algum método de ensino alternativo para alunos que não se
adequaram ao ensino tradicional para que se buscasse realmente confirmar algum
diagnóstico de doença comportamental? Se sim, quais?
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APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado (a) participante,

Você está sendo convidado(a) a participar da pesquisa “Medicalização e o contexto


escolar: “A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA E OS CONTEXTOS DA MEDICALIZAÇÃO
ESCOLAR”, desenvolvida por Alice Mota Brum; Enoghalliton de Abreu Arruda e Larisse de
Souza Lessa Cabo, discentes do Curso de Medicina da Universidade Iguaçu – Campus V,
sob a orientação do Professor Dr. Wagner Luiz Ferreira Lima.
O objetivo central do estudo é analisar a medicalização escolar no município de
Pirapetinga-MG e a visão dos Médicos(as) da Família e a atuação das equipes Saúde da
Família no processo de transformação deste problema.
Sua participação é voluntária, isto é, ela não é obrigatória, e você tem plena
autonomia para decidir se quer ou não participar, bem como retirar sua participação a
qualquer momento. Você não será penalizado de nenhuma maneira caso decida não
consentir em sua participação ou desistir da mesma. Contudo, ela é muito importante para a
execução da pesquisa. Serão garantidas a confidencialidade e a privacidade das
informações por você prestadas. Qualquer dado que possa identificá-lo será omitido na
divulgação dos resultados da pesquisa, e o material será armazenado em local seguro.
A qualquer momento, durante a pesquisa, ou posteriormente, você poderá solicitar
do pesquisador informações sobre sua participação e/ou sobre a pesquisa, o que poderá ser
feito através dos meios de contato explicitados neste Termo.
A pesquisa não apresenta risco direto. Indiretamente, pode-se ter o risco de
constrangimento para responder os questionários. Uma forma de minimizar esses potenciais
riscos é fazendo uma abordagem qualificada, uma explicação detalhada acerca do assunto,
respeitando as individualidades de cada participante e preservando a privacidade do
mesmo.
O(a) Sr(a) não terá nenhuma despesa e também não receberá nenhuma
remuneração.
A sua participação consistirá em responder perguntas de um questionário online,
através da plataforma Zoom. O tempo de duração do preenchimento é de aproximadamente
15 min. Apenas o pesquisador e seu orientador terão acesso aos questionários.
O benefício relacionado com a sua colaboração nesta pesquisa é o de oferecer um
maior conhecimento sobre a medicalização dos educandos, além de sua contribuição
acadêmica para novos estudos em áreas afins, haja vista ser um tema pouco explorado.
Ressalta-se que os participantes da pesquisa que vierem a sofrer qualquer tipo de
dano previsto ou não no termo de consentimento e resultante de sua participação no estudo,
além do direito à assistência integral, têm direito à indenização, conforme itens III.2.0,IV.4.c,
V.3, V.5 e V.6 da Resolução CNS 510/2016.
Este termo é redigido em duas vias, sendo uma para o participante e outra para o
pesquisador.
Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, você poderá entrar em
contato com o pesquisador, através do e-mail enoghalliton.arruda@hotmail.com ou pelo
telefone (32) 99806-9321.
Declaro que entendi os objetivos e condições de minha participação na pesquisa e concordo
em participar.

_________________________________________
(Assinatura do participante da pesquisa e RG)

Nome do participante: ________________________________________________

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