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#metodologia
queempodera
2023
© Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos à Editora Sanar Ltda. pela Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de
1998. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume ou qualquer parte deste livro, no todo ou em parte, sob quaisquer formas
ou por quaisquer meios (eletrônico, gravação, fotocópia ou outros), essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem
como às suas características gráficas, sem permissão expressa da Editora.
Título | Apostila Bases da Medicina - Residência Médica: Pediatria III - Especialidades Pediátricas
Autoras | Beatriz Oliveira Leão Carneiro
Nathália da Costa Sousa
Coordenadora | Nathália da Costa Sousa
Líder Editorial |Gustavo Almeida
Produção Editorial | Renata Acácio Rocha
Projeto Gráfico | Richard Veiga Editoração
Diagramação | Deborah Silva
Thiago Almeida
Capa | Bruno Brum
Edição de Texto | Renata Panovich Ferreira
Tony Roberson de Mello Rodrigues
Conselho Editorial | Matheus Feliciano da Costa Ferreira
Vinícius Côgo Destefani
Caio Nunes
FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo-SP)
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes – CRB-8 8846
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Apostila Bases da Medicina – Residência Médica: Pediatria III - Especialidades Pediátricas / Coordenadora: Nathália da Costa Sousa;
Autoras: Beatriz Oliveira Leão Carneiro e Nathália da Costa Sousa. – 1. ed. – Salvador, BA : Editora Sanar, 2023.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-5462-456-9.
1. Especialidades Pediátricas. 2. Medicina. 3. Residência. I. Título. II. Assunto. III. Coordenadora. IV. Autoras.
CDD 618.92
CDU 616-053.2
Graduada pela Faculdade de Medicina da Bahia Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina
da Universidade Federal da Bahia (FMB – UFBA). do ABC. Residência em Pediatria e em Pneumo-
Residente do terceiro ano de Pediatria do Hospital logia Pediátrica pela Faculdade de Medicina da
Universitário Professor Edgard Santos da Universi- Universidade de São Paulo. Título de especialista
dade Federal da Bahia (HUPES – UFBA). em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria/
Associação Médica Brasileira. Título de área de
atuação em Pneumologia Pediátrica pela Socie-
dade Brasileira de Pediatria/Sociedade Brasileira
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de Pneumologia e Tisiologia/Associação Médica
Brasileira.
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COMO GARANTIR UMA APRENDIZAGEM
EFICAZ E UMA RETENÇÃO DURADOURA?
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1. MAPAS MENTAIS
u Como fazer: A partir do Título e da sua lista de palavras, comece a criar o seu Mapa:
a) Enquanto estuda um assunto, comece a escrever uma lista de palavras importantes que
você não pode deixar de entender e reter na sua memória. Enquanto faz isso, pense em
como essas palavras se conectam entre si.
b) Coloque o título no centro da folha. A partir dele, puxe linhas que conectem as informações
associadas ao título, que serão algumas das palavras da sua lista.
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Como garantir uma aprendizagem eficaz e uma retenção duradoura?
d) Utilize formas geométricas para distinguir as palavras do seu mapa por categorias, por
exemplo, use retângulos para todas as palavras que se encaixam na categoria Causas, use
eclipses para as palavras que você encaixa em Efeitos.
e) Use cores diferentes para deixar o seu mapa mental ainda mais claro e conectado. Defina
as cores que você irá utilizar para cada categoria ou cada tipo de conexão.
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Essa tarefa pode até demorar um pouco mais no começo, mas, com um pouco
de prática, você não vai gastar mais do que 10 minutos para garantir um enten-
dimento aprofundado e uma aprendizagem mais eficaz e duradoura.
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Como garantir uma aprendizagem eficaz e uma retenção duradoura?
2. FLUXOGRAMAS
u Quando fazer: Os Fluxogramas são ideais para consolidar processos e passo a passos! Por
exemplo, você pode começar o seu Fluxograma com uma suspeita diagnóstica, para depois
passar pela classificação e chegar até o tratamento.
u Como fazer: A partir do seu objetivo, defina o título e os assuntos que irão entrar no seu
Fluxograma:
a) Depois de ter estudado um assunto mais amplo, pense no quadro completo que você
precisa entender e saber. A partir disso, crie a lista de palavras, conceitos e frases mais
importantes que você precisa incluir para atingir o seu objetivo.
b) Coloque o Título no centro da folha. A partir do título, puxe linhas que conectem as infor-
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mações associadas ao título, que serão algumas das palavras ou frases da sua lista.
e) Utilize formas geométricas para distinguir as palavras do seu fluxograma por categorias,
por exemplo, use retângulos para todas as palavras que se encaixam na categoria Causas,
use eclipses para as palavras que você encaixa em Efeitos.
f) Use cores diferentes para deixar o seu fluxograma ainda mais claro e conectado. Defina
as cores que você irá utilizar para cada categoria ou cada tipo de conexão.
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Como garantir uma aprendizagem eficaz e uma retenção duradoura?
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No final, você terá um grande Fluxograma que não só vai garantir o seu entendi-
mento, mas facilitará a revisão dos assuntos mais amplos e ajudará o seu cérebro
a aprender, reter e saber usar as informações estudadas.
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Como garantir uma aprendizagem eficaz e uma retenção duradoura?
3. RESUMOS
u Quando fazer: Sempre que estudar! Resumos de fechamento são essenciais para a apren-
dizagem.
u Como fazer: Para executar essa estratégia você irá precisar só de alguns minutos, mas tam-
bém de concentração e reflexão.
b) Marque ou grife as palavras chave no texto ou as anote no seu caderno caso você esteja
assistindo uma videoaula.
c) Assim que terminar de estudar informações novas, olhe para as suas palavras chave e
reflita sobre 2 perguntas:
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• O que acabei de aprender sobre o assunto?
• Como isso se conecta ou se relaciona com o que eu já sabia?
d) Comece a escrever breves respostas de no máximo 10 linhas para cada uma dessas per-
guntas.
e) Garanta que o seu texto seja sucinto, sem repetições e descrições desnecessárias, mas
que responda bem às perguntas acima.
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CONHEÇA A APOSTILA
Importância/prevalência
do capítulo: Frequência do
conteúdo em questões de
provas de residência.
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o que realmente cai na prova.
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Conheça a apostila
Número do capítulo.
Subcapítulos em destaque.
Indicação da especialidade
ou área do capítulo.
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Sumário nas aberturas dos módulos,
com indicação dos níveis de
importância de cada capítulo.
importância/prevalência
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Conheça a apostila
Indicação da especialidade
Título do capítulo. ou área do capítulo.
Título do capítulo.
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Gabarito e comentário das questões,
com explicação do professor tanto
da resposta correta quanto do motivo
de as outras estarem incorretas.
dificuldade: Fácil
dificuldade: Intermediário
dificuldade: Difícil
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Conheça a apostila
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Ao final da apostila e de alguns capítulos você
encontrará espaços para construir mapas mentais,
fluxogramas ou fazer resumos e, assim, fixar seu conhecimento!
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SUMÁRIO
GASTROENTEROLOGIA PEDIÁTRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
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2.2. Q
uadro clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.3. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.4. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1. Alergia alimentar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
1.1. M
ecanismos imunológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2. Quadro clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5. Profilaxia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
15
Sumário
Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
2. Quadro clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
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capítulo 5. PARASITOSES NA INFÂNCIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
1. Síndrome de Loeffler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
1.1. Necator americanus e Ancylostoma duodenale . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
1.2. Strongyloides . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
1.3. A scaris lumbricoides . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
2. Enterobíase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
3. Giardíase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
4. Amebíase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
5. Toxocaríase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
6. Trichuris trichiura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
7. Prevenção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
16
Sumário
1. Epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
2. Etiopatogenia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
3. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
3.1. T
este tuberculínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
3.2. Quadro clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
3.3. R adiografia de tórax . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
3.4. B aciloscopia e cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
3.5. Escore de pontos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
3.6. T estes moleculares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
3.7. P
esquisa de interferon-gama específico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
3.8. Pesquisa de ADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
3.9. E
xames de imagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
6. Profilaxia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
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Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
17
Sumário
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
2. Fisiopatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160
3. Marcha atópica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
4. Dermatite atópica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
1. Fisiopatogenia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
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2. Suspeita clínica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182
3. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
4. Quadro clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
4.1. Trato respiratório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
4.2. T rato gastrointestinal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186
5. S
eguimento e tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
18
Sumário
3. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222
3.1. T
este do coraçãozinho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222
3.2. Teste de hiperóxia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
3.3. R adiografia de tórax . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
3.4. Ecocardiograma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
5. P
rincipais cardiopatias congênitas cianogênicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227
5.1. T
etralogia de Fallot . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228
5.2. Drenagem anômala total das veias pulmonares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229
5.3. T ransposição de grandes artérias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 230
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6. Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231
6.1. Oxigenioterapia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231
6.2. Ventilação mecânica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231
6.3. Prostaglandina E1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231
6.4. C ateterismo cardíaco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232
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21
GASTROENTEROLOGIA
PEDIÁTRICA
Gastroenterologia Pediátrica
Sumário
Prevalência/importância
1. Doença do refluxo gastroesofágico e
refluxo fisiológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2. Alergia à proteína do leite de vaca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3. Doença celíaca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4. Constipação na infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5. Parasitoses na infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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DOENÇA DO REFLUXO Capítulo
GASTROESOFÁGICO E
REFLUXO FISIOLÓGICO
1
importância/prevalência
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a faringe, a boca e as vias aéreas superiores. É um 12 e 18 meses.
processo fisiológico normal que ocorre várias vezes
por dia em todas as pessoas saudáveis, indepen- O refluxo fisiológico do lactente pode ser atribuído
dentemente da idade, principalmente no período a diversos fatores, sendo o principal a imaturidade
pós-prandial. Normalmente não causa sintomas, funcional do aparelho digestivo no primeiro ano
repercussão nos hábitos de vida ou complicações. de vida, que apresenta imaturidade dos mecanis-
mos antirrefluxo (Quadro 1). Além disso, fatores
ambientais e posturais próprios dessa faixa etária
também estão relacionados, como a alimentação
BASES DA MEDICINA
predominantemente líquida e o decúbito predomi-
nantemente horizontal. Com o amadurecimento dos
Apesar de muitas vezes serem utilizados como sinô-
mecanismos antirrefluxo e a modificação tanto da
nimos, regurgitação e vômito são sintomas distintos.
A regurgitação é a passagem do conteúdo do estômago
postura, que passa a ser predominantemente ereta,
para a boca de forma involuntária, ou seja, sem esforço quanto da dieta, que passa a contar com alimentos
e sem ejeção. Já o vômito é uma resposta voluntária e pastosos e sólidos, ocorre uma redução gradual da
coordenada que visa à expulsão forçada do alimento, frequência dos episódios visíveis de refluxo.
geralmente acompanhada de náuseas.
Quadro 1. Mecanismos antirrefluxo deficitários
nos primeiros meses de vida, contribuindo
O RGE fisiológico do lactente é muito comum e pode
para o refluxo fisiológico do lactente.
ser acompanhado de regurgitações e/ou vômitos
que não se associam à redução do ganho de peso Mecanismos
Alterações
antirrefluxo
ou a outras manifestações clínicas. É um distúrbio
transitório que afeta até 60% dos lactentes e geral- Esfíncter
Menor comprimento e baixo tônus
mente se inicia antes das oito semanas de vida. esofagiano inferior
23
Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Gastroenterologia Pediátrica
Mecanismos
superior (obstrução gástrica ou má rotação) quando
Alterações as regurgitações forem acompanhadas de vômitos
antirrefluxo
desde o início do período neonatal, quando estiverem
Ângulo esofagogástrico
Características associadas a vômitos biliosos ou se persistirem
(ângulo de Hiss) obtuso e
anatômicas
esôfago abdominal curto após o primeiro ano de vida.
Perda do efeito gravitacional pelo Não há necessidade de tratamento medicamentoso,
decúbito horizontal predominante
Clareamento devendo-se tranquilizar os pais quanto ao caráter
esofágico Peristaltismo imaturo benigno da condição e orientar algumas medidas
Baixa produção salivar gerais (Quadro 2). O refluxo fisiológico melhora
consideravelmente aos seis meses e, em geral,
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria1.
resolve-se até um ano de vida.
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lactentes são referidos como regurgitadores felizes. Ambientais
passivo
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Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Cap. 1
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Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria1.
quando o RGE causa manifestações clínicas de gra-
vidade variável associadas ou não a complicações,
como a esofagite. Nesses casos, o refluxo passa a
ser entendido como patológico.
É decorrente da presença de fatores que prejudiquem
a competência dos mecanismos antirrefluxo (Qua-
dro 3), favorecendo a ocorrência de relaxamentos
transitórios do esfíncter esofagiano inferior (prin-
cipal fator fisiopatológico), e fatores relacionados
com o aumento da lesividade do material refluído
sobre a mucosa esofágica.
25
Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Gastroenterologia Pediátrica
Ocorre quando os
Resistência fatores de defesa são
Defesa epitelial intrínseca do epitélio
Fisiopatologia sobrepujados pelos
fatores agressivos
Junções
intercelulares firmes
Mecanismos de
Barreira antirrefluxo
depuração intraluminal
Defeito mais comum é o
aumento da permeabilidade
paracelular
Mecanismos
Mecanismos químicos
mecânicos
Defesa pós-epitelial
Neutralização pela
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Peristaltismo e gravidade
saliva ou mucosa
Suprimento sanguíneo
Diminuição do fluxo
Alteração do
salivar secundário à
peristaltismo primária
síndrome de Sjõgren ou
ou secundária
ao uso de medicamentos
Principal fator na
etiopatogênese da DRGE*
Esfíncteres esofágicos
Distensão gástrica inferior e externo
Sono Ocorrência de
relaxamentos
transitórios do esfíncter
Presença de esofagiano inferior
hérnia hiatal
Colecistocinina,
óxido nítrico, peptídio
intestinal vasoativo *
DRGE: Doença do Refluxo Gastroesofágico.
26
Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Cap. 1
Com relação à etiologia da DRGE, ela pode ser O quadro clínico da DRGE é muito variável, tanto com
classificada em: relação à idade quanto com relação à manifestação
u Primária: decorrente de uma disfunção esofa- clínica, se típica (Quadro 5) ou atípica, decorrente
gogástrica, frequentemente com predisposição de sintomas extraesofageanos (Quadro 6).
genética.
Quadro 5. Manifestações clínicas típicas da
u Secundária: decorrente de causas subjacentes
DRGE de acordo com a faixa etária.
que predispõem ao RGE, como hérnia de hiato,
obstruções duodenogástricas, malformações Regurgitações frequentes, vômitos
congênitas e lesões do sistema nervoso central. propulsivos, recusa alimentar, déficit
Lactentes de ganho ponderal, choro, irritabilida-
de, dificuldade no sono e alteração na
Algumas condições estão associadas ao maior risco posição cervical
de desenvolvimento da DRGE e de suas complica-
Pré-escolares Vômitos intermitentes
ções (Quadro 4). Crianças com doenças neurológi-
cas apresentam dismotilidade esofágica, resultando Escolares e Azia, pirose, dor retroesternal ou epigás-
adolescentes trica, náuseas e plenitude pós-prandial
em disfunção do clareamento esofágico e do esfínc-
ter esofágico inferior. Já pacientes com doenças Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria1.
pulmonares crônicas apresentam tosse crônica e
disfunção respiratória que aumentam a pressão Quadro 6. Manifestações clínicas atípicas da
intra-abdominal, facilitando a ocorrência do RGE. DRGE, chamadas de extraesofageanas.
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Obesidade Otorrinolarin- otite, faringite, laringite crônica,
gológicas estenose subglótica, lesão de
Doenças neurológicas cordas vocais e laringoespasmo
Doenças pulmonares crônicas Erosão do esmalte dentário,
Orais
(displasia broncopulmonar e fibrose cística) halitose, aftas, ruminação
Malformações congênitas do trato gastrointestinal alto Síndrome da morte
Outras
(hérnia hiatal, hérnia diafragmática, atresia súbita do lactente
de esôfago e fístula traqueoesofágica)
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria1.
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria1.
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Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Gastroenterologia Pediátrica
orgânicas que podem se apresentar como se fossem DRGE é basicamente clínico, mediante a presença
uma DRGE (Quadro 7). de sintomas típicos que impactam a qualidade da
vida da criança ou da família ou que estejam asso-
Quadro 7. Sinais de alerta para ciados a complicações. A investigação com exames
investigação de doenças orgânicas. complementares se faz necessária nas crianças
Sinais de alerta Suspeita clínica
que apresentam sinais sugestivos de complicações
(como esofagite) e na presença de sintomas pura-
Obstrução intestinal
mente atípicos (extraesofageanos) que requerem
(doença de Hirschsprung,
Vômitos biliosos a comprovação do nexo causal com o RGE. Sendo
atresia intestinal, volvo
ou intussuscepção) assim, a investigação diagnóstica depende da gravi-
dade e da repercussão dos sintomas apresentados.
Sugestivo de obstrução,
Dor ou distensão dismotilidade ou Não existe, para a faixa etária pediátrica, um exame
abdominal anormalidades
anatômicas complementar padrão ouro que diagnostique ou des-
carte 100% dos casos de DRGE. Os exames devem
Complicações da DRGE:
Hematêmese (vômitos ser solicitados conforme a suspeita diagnóstica e
doença ácido-péptica
com sangue) para ajudar na pesquisa de complicações (Quadro 8).
e esofagite de refluxo
Doença inflamatória
Hematoquezia Quadro 8. Indicações dos exames
intestinal, proctocolite
(sangramento retal) complementares na DRGE.
(APLV)
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Abaulamento de fontanela Sugestivo de aumento da Avaliação dos sintomas
pressão intracraniana. atípicos de refluxo,
Macro/microcefalia pHmetria esofágica avaliação da resposta ao
Considerar: hidrocefalia,
meningite, tumor cerebral de 24 horas tratamento dos pacientes
Convulsões
não responsivos e para
Fonte: Rosen et al.2 análise pré e pós-cirúrgica
Endoscopia
Suspeita de esofagite
digestiva alta
DIA A DIA MÉDICO
Avaliação de anormalidades
EED
estruturais anatômicas
A síndrome de Sandifer é relatada em lactentes com
DRGE grave, em geral associada à esofagite de refluxo. Diagnóstico de estenose
Consiste na postura anormal do lactente com hiperexten- USG de abdome hipertrófica de piloro e
são cervical, retroarqueamento do tronco e lateralização má rotação intestinal
da cabeça. Essa posição retifica o esôfago e reduz os Cintilografia Não está recomendada
sintomas de queimação. gastroesofágica para diagnóstico de DRGE
EED: exame radiológico contrastado de esôfago, estômago e duo-
deno; USG: Ultrassonografia.
2.3. DIAGNÓSTICO Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria1.
28
Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Cap. 1
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padrão ouro para o diagnóstico da DRGE, mas, não é um método para confirmação de DRGE, mas
como ainda não existem padrões de normalidade sim para a detecção de anormalidades estruturais
definidos para as diferentes faixas pediátricas, e anatômicas que possam causar sintomas similares
por ser um exame pouco disponível, seu uso fica aos da DRGE, como hérnia, estenose e volvo. Pode
restrito à investigação da DRGE em crianças que ser útil na avaliação do esvaziamento gástrico.
mantêm sintomas persistentes à terapêutica de
supressão ácida. 2.3.5. USG de abdome
2.3.2. pHmetria esofágica de 24 horas Não é útil para o diagnóstico de DRGE, mas pode
auxiliar no diagnóstico de outras condições, como
Consiste no registro contínuo do pH intraesofágico a estenose hipertrófica de piloro e a má rotação
durante 24 horas, permitindo a quantificação da intestinal.
frequência e da duração dos episódios de RGE e o
tempo total de exposição ácida do esôfago naquele 2.3.6. Cintilografia gastroesofágica
período analisado. O índice de refluxo é o parâme-
tro mais importante, pois fornece a quantificação Realizada a partir da ingestão de um líquido ou
da exposição ácida esofágica cumulativa e pode sólido marcado com tecnécio radioativo, permitindo
ser correlacionado com a ocorrência de esofagite. a avaliação do esvaziamento gástrico e a identifi-
Considera-se índice de refluxo anormal se superior cação de refluxo não ácido e de microaspirações
a 5% em crianças acima de um ano ou superior a pulmonares, o que faz com que muitos médicos
10% naquelas menores de um ano. Está indicada solicitem esse exame para aqueles pacientes que
na avaliação dos sintomas atípicos de refluxo, na apresentam sintomas respiratórios crônicos e refra-
avaliação da resposta ao tratamento dos pacientes tários. Entretanto, a falta de padronização técnica,
não responsivos e para análise pré e pós-cirúrgica. a baixa sensibilidade e especificidade e a ausência
29
Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Gastroenterologia Pediátrica
de dados relacionados à idade limitam o valor desse em lactentes jovens. Após esse período de teste, o
teste em crianças, não sendo recomendado como lactente deve ser reavaliado para decidir quanto à
método de rotina para diagnóstico e seguimento manutenção ou não da dieta de exclusão.
de lactentes e crianças com DRGE.
Os principais objetivos do tratamento da DRGE são Em até 40% dos lactentes com DRGE, a causa básica é a
alergia à proteína do leite de vaca. Dados clínicos como
a promoção do ganho estaturoponderal adequado,
dermatite atópica, história de alergia alimentar na família
melhora dos sintomas, prevenção e cicatrização das e presença de sangue nas fezes reforçam essa hipótese.
lesões teciduais e prevenção de outras complica-
ções. Principalmente em escolares e adolescentes
ou em pacientes com fatores de risco (Quadro 4), a 2.4.2. Tratamento farmacológico
DRGE pode se apresentar com cronicidade e curso
recidivante, sendo por vezes necessário o tratamento Existem vários argumentos contra o tratamento
medicamentoso ou até cirúrgico. medicamentoso para DRGE em lactentes, destacan-
do-se que, nos primeiros meses de vida, os eventos
2.4.1. Medidas não farmacológicas predominantes relacionados aos sintomas são de
refluxos denominados fracamente ácidos, para os
Orientações semelhantes às fornecidas para os quais não há tratamento eficaz. Parte expressiva dos
lactentes com RGE fisiológico se aplicam, como lactentes nos primeiros meses de vida que apresen-
a elevação da cabeceira para dormir, o fraciona- tam sintomas de DRGE responde às medidas não
mento das refeições em volumes menores, evitar farmacológicas, substituição da fórmula e exclusão
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o consumo de líquidos durante as refeições e de da proteína do leite de vaca. Lactentes que não
alimentos que se associam ao relaxamento transi- melhorarem com essas medidas devem ser enca-
tório do esfíncter esofágico inferior ou ao aumento minhados para avaliação do gastroenterologista
do tempo do esvaziamento gástrico (cafeína, bebidas pediátrico, sendo o uso empírico de supressores
gaseificadas, frutas ou sucos cítricos, chocolate, ácidos recomendado apenas na indisponibilidade
condimentos, molhos picantes, alimentos gorduro- dessa avaliação clínica.
sos, álcool e fumo). O uso de fórmulas espessadas
ou AR não reduz o número total de episódios de O tratamento farmacológico (Quadro 9) deve ser
refluxo, mas apenas os episódios visíveis (regurgi- reservado aos pacientes com DRGE nos quais os
tação), tranquilizando os pais. sintomas são mais graves e com dificuldade ali-
mentar, desaceleração do ganho ponderal e/ou com
Em lactentes com suspeita de DRGE com sintomas comprovação de esofagite no exame endoscópico.
como recusa alimentar, extrema irritabilidade e desa- Crianças e adolescentes com sintomas típicos
celeração no ganho ponderal, que não apresentem de DRGE e que não apresentam melhora após as
melhora após as medidas não farmacológicas, deve- medidas não farmacológicas são elegíveis para o
-se considerar um teste terapêutico com exclusão tratamento empírico com supressores ácidos por
da proteína do leite de vaca da dieta (introdução de quatro a oito semanas como teste terapêutico. Os
fórmulas extensamente hidrolisadas da proteína ou procinéticos auxiliam no controle dos sintomas
fórmula à base de aminoácidos ou retirada de leite de regurgitação, mas não reduzem os relaxamen-
e derivados da dieta materna se em aleitamento tos transitórios do esfíncter esofágico inferior e
materno exclusivo) por duas a quatro semanas, pois possuem diversos efeitos colaterais, não sendo
o diagnóstico diferencial da APLV pode ser difícil recomendados de rotina no tratamento da DRGE.
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Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Cap. 1
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prótons para o tratamento da DRGE, sendo o principal do conteúdo refluído. A técnica mais utilizada na
medicamento utilizado o omeprazol. infância é a fundoplicatura de Nissen laparoscópica.
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Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Gastroenterologia Pediátrica
RGE fisiológico
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DRGE
Elevação cabeceira
para dormir,
Endoscopia digestiva
fracionamento
alta: pesquisa
das refeições,
de esofagite
uso de fórmulas
antirrefluxo
USG: Ultrassonografia.
EED: Exame radiológico contrastado de esôfago, estômago e duodeno.
TGI: Trato Gastrointestinal.
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Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Cap. 1
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Gastroenterologia Pediátrica
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA – DF – 2021) A respeito (HOSPITAL ESTADUAL DO ACRE – AC – 2021) A regurgitação
da amamentação e dos fatores fisiológicos ligados infantil ocorre na maioria dos lactentes saudáveis,
a esse processo de alimentação e aos problemas resolvendo espontaneamente entre 12 aos 18 me-
gastrointestinais em crianças, julgue os itens a se- ses, sendo sinal de alerta para refluxo patológico,
guir. Em lactentes, o refluxo gastroesofágico é co- a presença de:
mum e, na maioria das vezes, fisiológico; em geral,
as regurgitações tornam-se mais evidentes entre a ⮦ Retardo no ganho ponderal.
segunda e a quarta semana de vida. ⮧ Dois ou mais episódios de regurgitação duran-
te o dia.
⮦ CORRETA.
⮨ Choro noturno.
⮧ INCORRETA.
⮩ Ocorre após alimentação e duração menor que
3 minutos.
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Questão 2
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Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Cap. 1
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(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE VOTUPORANGA – SP – 2020) O til à base de proteína do leite de vaca, que ocorreu
refluxo gastroesofágico é a passagem do conteúdo aos 6 meses. Há 2 semana apresentou piora dos
gástrico para o esôfago, com ou sem regurgitação. sintomas referidos e passou a recusar as mamadas
Pode ser fisiológico ou patológico. Em relação ao e baixo ganho ponderal. Assinale a correta:
refluxo, assinale a alternativa incorreta:
⮦ Doença do refluxo gastroesofágico associado
à alergia à proteína do leite de vaca pode ser a
⮦ A endoscopia digestiva alta, possibilita avaliar
causa do desconforto. Para confirmá-la deve ser
complicações do refluxo.
realizada a prova de exclusão da proteína do lei-
⮧ O padrão-ouro diagnóstico de doença do refluxo te e seus derivados por 2 a 4 semanas, seguido
gastroesofágico consiste na realização de Ph- sempre pelo teste de provocação oral, mesmo
metria por 24 horas. que a criança apresente melhora clínica à dieta
⮨ Alguns sinais de alarme são: vômitos biliosos, de exclusão.
sangramento gastrointestinal, vômitos frequen- ⮧ Alergia à proteína do leite de vaca é uma pos-
tes e em jato. sibilidade diagnóstica e o exame IgE específico
⮩ Os principais objetivos do tratamento da doença para leite de vaca deve ser solicitado para con-
do refluxo são a promoção do crescimento e do firmar o diagnóstico.
ganho de peso adequados. ⮨ Realizar a prova de exclusão, se a criança apre-
sentar melhora clínica e voltar a ganhar peso,
fica confirmado o diagnóstico de alergia alimen-
Questão 3
tar e deve se manter a fórmula de aminoácidos
(SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE FLORIANÓPOLIS – SC livres por 1 ano.
– 2020) Mariana, uma criança lactente de 2 meses ⮩ Fazer endoscopia digestiva alta e excluir doen-
de idade, vem para sua consulta de puericultura. O ça péptica.
35
Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Gastroenterologia Pediátrica
Questão 5 Questão 6
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – PI – 2020) Em relação ao (SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE SÃO PAULO – SP – 2020)
refluxo gastroesofágico na população pediátrica, é No tratamento medicamentoso da Doença do Re-
incorreto afirmar: fluxo Gastroesofágico (DRGE) em crianças, apesar
das controvérsias, entre os fármacos recomendados
⮦ As regurgitações nos lactentes se tornam mais estão os inibidores da bomba de prótons (IBP) que
frequentes a partir do segundo ao quarto mês têm indicações precisas. Porém, esse uso apresenta
de vida com pico de incidência entre o quarto e vários efeitos colaterais descritos, sendo exceção:
quinto mês de vida.
⮧ A maioria dos lactentes apresenta refluxo gas- ⮦ Reações idiossincráticas, como cefaleia, diarreia,
troesofágico fisiológico e não são necessários constipação e náuseas.
medicamentos. ⮧ Interações com outras drogas.
⮨ Distensão abdominal, vômitos biliosos e início ⮨ Hipergastrinemia.
dos vômitos após seis meses de vida são si- ⮩ Hipocloridia.
nais de alarme em crianças com regurgitação
⮪ Prolongamento do intervalo QT.
ou vômito.
⮩ Os procinéticos diminuem a frequência do relaxa-
mento transitório do esfíncter esofágico inferior
e induzem a cicatrização das lesões esofágicas.
⮪ Em crianças maiores e adolescentes com sinto-
mas típicos de doença do refluxo gastroesofá-
gico, sem sinais de alerta, podem receber teste
empírico terapêutico com inibidor da bomba de
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prótons por quatro semanas.
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Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Cap. 1
GABARITO E COMENTÁRIOS
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entre os dois e quatro meses e depois diminuem
quando o RGE causa manifestações clínicas de gra-
progressivamente com o aumento de idade, sendo
vidade variável associadas ou não a complicações,
que 90% a 95% dos casos se resolvem até o segun-
tais como a esofagite. No lactente, é muito frequente,
do ano de vida, normalmente entre 12 e 18 meses.
o RGE fisiológico acompanhar-se de regurgitações
O diagnóstico é clínico de acordo com os critérios
ou “golfadas” que não se associam à redução no
de Roma IV: lactente saudável entre três semanas
ganho de peso ou outras manifestações clínicas.
e 12 meses que se apresenta com pelo menos dois
Trata-se de um distúrbio funcional gastrintestinal
episódios diários de regurgitação por pelo menos
transitório e dependente da imaturidade funcional
três semanas, na ausência de náuseas, hematême-
do aparelho digestivo no primeiro ano de vida. Está
se, aspiração, apneia, déficit de ganho ponderal,
incluído entre os distúrbios gastrintestinais funcio-
dificuldade para alimentação e/ou deglutição ou
nais e são recomendados critérios diagnósticos
postura anormal. Não há necessidade de investiga-
clínicos específicos nos critérios de Roma (Roma
ção complementar de rotina e nem de tratamento
IV). Afeta até 60% de todos os lactentes e inicia-se
medicamentoso, bastando as orientações gerais,
antes de oito semanas de vida. A frequência de re-
como a manutenção do lactente em posição vertical
gurgitações é variável (5% dos lactentes têm seis
por pelo menos 20 a 30 minutos após as mamadas,
ou mais episódios de regurgitação por dia). Estas
elevação do decúbito em 30 a 40 graus para dormir
regurgitações aumentam em número e volume entre
e o fracionamento das refeições ou das mamadas.
dois e quatro meses e, posteriormente, diminuem
progressivamente com o aumento de idade, sendo Alternativas A e B: INCORRETAS. Não se recomenda
que 90% a 95% dos casos resolvem até o primei- de rotina a prescrição de medicamentos nos ca-
ro ano de vida. A DRGE por outro lado, ocasiona, sos de refluxo gastroesofágico do lactente, já que
nos lactentes, outras manifestações além das re- esse é um distúrbio transitório que não se associa
gurgitações, como vômitos intensos, dificuldades a comprometimento do ganho ponderal e nem ao
durante as mamadas, déficit de ganho ponderal, aparecimento de outros sintomas.
37
Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Gastroenterologia Pediátrica
Alternativa C: CORRETA. A presença de ganho pon- posteriormente, de forma que a grande maioria dos
deral normal em vigência de regurgitações aponta casos se resolve até o primeiro ano de vida. Sobre
para o diagnóstico de refluxo fisiológico, devendo essa patologia, vamos avaliar as afirmativas:
ser manejado de forma conservadora não medi- Afirmativa I: CORRETA. O RGE fisiológico começa nas
camentosa. primeiras 8 semanas de vida, mas as regurgitações
Alternativa D: INCORRETA. A evolução ponderal nor- frequentemente aumentam em número e volume
mal faz com que a terapêutica medicamentosa não entre os dois e quatro meses de vida.
seja indicada. Afirmativa II: INCORRETA. Uma das coisas que di-
Alternativa E: INCORRETA. A estenose de piloro se ferencia o refluxo fisiológico do lactente de uma
apresenta com vômitos não biliosos intensos acom- doença do refluxo gastroesofágico é a presença de
panhados de distúrbio hidroeletrolítico e perda náuseas na DRGE. O refluxo fisiológico é um reflexo
ponderal. por imaturidade dos mecanismos do lactente, de
forma que o alimento, no caso o leite, retorna pela
✔ resposta: C
boca da criança sem que ela perceba.
Afirmativa III: CORRETA. Os sinais de alerta para reflu-
Questão 3 dificuldade: xos patológicos incluem: déficit de ganho de peso,
interrupção das mamadas, irritabilidade, distúrbio
Y Dica do professor: O refluxo fisiológico geralmen-
do sono, tosse, chiado, apneia, vômitos biliares, he-
te começa após a primeira semana de vida e antes
matêmese (vômitos com sangue) ou hematoquezia
dos 6 meses, com melhora com o passar do tempo
(sangue vivo nas fezes), febre, letargia, viscerome-
e resolução até os 2 anos. Ocorre em bebês sau-
galias e distensão abdominal.
dáveis, sem nenhum sinal de alerta, que, apesar de
apresentarem regurgitação, têm ganho de peso ade- Afirmativa IV: CORRETA. No RGE fisiológico 90% a 95%
quado e exame físico normal. Essas crianças são dos casos se resolvem até o segundo ano de vida,
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chamadas de “regurgitadores felizes”. Os sinais de normalmente entre 12 e 18 meses. A persistência
alerta para refluxos patológicos incluem: déficit de dos episódios além dessa idade requer a investiga-
ganho de peso, interrupção das mamadas, irritabi- ção de diagnósticos diferenciais.
lidade, distúrbio do sono, tosse, chiado, apneia, vô- ✔ resposta: B
mitos biliares, hematêmese (vômitos com sangue)
ou hematoquezia (sangue vivo nas fezes), febre,
letargia, visceromegalias e distensão abdominal. Questão 5 dificuldade:
38
Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Cap. 1
irritabilidade e sem melhora do quadro com mu- menos a camada muscular da mucosa), estenose
dança da dieta e tratamento medicamentoso. Vale péptica de esôfago de Barrett.
lembrar que as regurgitações do RGE fisiológico Alternativa B: INCORRETA. Ainda não existe exame
frequentemente aumentam em número e volume padrão-ouro para o diagnóstico de DRGE na pe-
entre os dois e quatro meses e depois diminuem diatria. A pHmetria pode identificar episódios de
progressivamente com o aumento de idade, sendo refluxo, apenas do tipo ácido, mas mesmo assim
que 90% a 95% dos casos se resolvem até o segun- ainda é difícil estabelecer relação causal entre os
do ano de vida, normalmente entre 12 e 18 meses. achados do exame e os sintomas dos pacientes.
Alternativa B: INCORRETA. Paciente com refluxo fisio- Alternativa C: CORRETA. Os sinais de alerta para reflu-
lógico, não tem indicação de tratamento cirúrgico. xos patológicos incluem: déficit de ganho de peso,
Alternativa C: INCORRETA. Paciente sem melhora do interrupção das mamadas, irritabilidade, distúrbio
quadro apesar de estar usando fórmula a base de do sono, tosse, chiado, apneia, vômitos biliares, he-
aminoácidos. matêmese (vômitos com sangue) ou hematoquezia
Alternativa D: INCORRETA. Não são necessários exa- (sangue vivo nas fezes), febre, letargia, viscerome-
mes complementares. galias e distensão abdominal.
Alternativa D: CORRETA. O tratamento clínico tem
✔ resposta: A
como objetivo o alívio dos sintomas, a cicatriza-
ção das lesões e a prevenção de recidivas e com-
Questão 6 dificuldade: plicações, com ganho de peso e desenvolvimento
adequados.
Dica do professor: A doença do refluxo gastroeso-
resposta: B
Y
✔
fágico (DRGE) é uma das afecções mais frequentes
na prática médica, sendo a afecção orgânica mais
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comum do tubo digestivo. O Consenso Brasileiro Questão 7 dificuldade:
da Doença do Refluxo Gastroesofágico (CBDRGE)
definiu a DRGE como uma afecção crônica decor- Y Dica do professor: A chave para responder essa
rente do fluxo retrógrado do conteúdo gastroduo- questão e não “cair na pegadinha” é estar atento
denal para o esôfago e/ou órgãos adjacentes a ele, aos detalhes. Paciente com vômitos após as ma-
acarretando um espectro variável de sintomas e/ou madas, mas que não tem nenhum sintoma asso-
sinais esofagianos e/ou extraesofagianos, associa- ciado, cresce e ganha peso adequadamente e não
dos ou não a lesões teciduais. tem comorbidades, muito provavelmente se trata
Alternativa A: CORRETA. É o exame de escolha na ava- de refluxo não patológico, ou seja, aquele decor-
liação de pacientes com sintomas da DRGE, tendo rente da imaturidade dos mecanismos de barreira
indicação naqueles com sintomas crônicos, com antirrefluxo.
idade superior a 40 anos e com sintomas de alar- Alternativa A: CORRETA. O refluxo gastroesofágico
me, tais como disfagia, odinofagia, perda de peso, pode ser conceituado como o fluxo retrógrado e
hemorragia digestiva, náusea, vômitos e história repetido de conteúdo gástrico para o esôfago. É
familiar de câncer. A endoscopia digestiva alta per- frequente em crianças, na maioria das vezes de
mite diagnosticar outras afecções, tais como úlcera evolução benigna e caracterizado pela presença
péptica, monilíase esofágica, câncer do estômago de regurgitações. Ao lado da dor abdominal e da
e esofagite eosinofílica, que também apresentam constipação intestinal, constitui uma das principais
sintomas dispépticos. Além disso, esse exame causas de consultas ao gastroenterologista pediá-
permite visualizar erosões (soluções de continui- trico. A maior parte dos casos corresponde ao re-
dade limitadas à mucosa, com pelo menos 3 mm fluxo fisiológico, resultante da imaturidade dos me-
de extensão, com depósito de fibrina e permeação canismos de barreira antirrefluxo. Embora podendo
neutrofílica do epitélio, caracterizando a esofagite), cursar com condições ameaçadoras à vida, como
úlceras (soluções de continuidade que atingem pelo as crises de apneia, o refluxo fisiológico tem, na
39
Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Gastroenterologia Pediátrica
maior parte dos casos, evolução satisfatória, sem Alternativa D: INCORRETA. A princípio, a conduta é clí-
comprometimento do crescimento e desenvolvi- nica, sem necessidade de exames complementares.
mento da criança. ✔ resposta: A
Alternativa B: INCORRETA. O refluxo patológico apre-
senta repercussões clínicas como déficit do cres- dificuldade:
Questão 9
cimento, dor abdominal, irritabilidade, hemorragias
digestivas, broncoespasmo, pneumonias de repeti- Y Dica do professor: O refluxo gastroesofágico é a
ção ou complicações otorrinolaringológicas. passagem do conteúdo gástrico para o esôfago. É
um processo fisiológico que ocorre no período pós-
Alternativa C: INCORRETA. Esôfago de Barret resulta
-prandial. Já a doença do refluxo gastroesofágico
da exposição recorrente ao ácido estomacal. Cos-
(DRGE) é a manifestação clínica do refluxo gastroe-
tuma ser diagnosticado em pessoas que sofrem
sofágico, sendo então, patológico. No lactente, é
com a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE)
comum que o refluxo ocorra associado à regurgi-
por muito tempo.
tação devido à imaturidade do aparelho digestivo,
Alternativa D: INCORRETA. Gastroenterite aguda, como não sendo considerado patológico.
o próprio nome diz, é um quadro agudo de infecção Alternativa A: CORRETA. As regurgitações ocorrem
intestinal que pode evoluir com vômitos. É autolimi- com mais frequência entre o segundo e o quarto
tado e não tem essa apresentação descrita. mês, sendo o pico entre o quarto e o quinto mês,
ocorrendo diminuição progressiva com o cresci-
✔ resposta: A mento.
Alternativa B: CORRETA. O refluxo fisiológico acomete
cerca de 60% dos lactentes.
Questão 8 dificuldade:
Alternativa C: CORRETA. Vômitos biliosos acompa-
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Y Dica do professor: Lactente com história de irri- nhados de distensão abdominal são indicativos
tabilidade, choro intenso e regurgitação desenca- de patologia.
deado à introdução de fórmula infantil à base de Alternativa D: INCORRETA. Procinéticos aumentam o
proteína do leite de vaca? Precisa pensar em APLV. tônus do esfíncter esofágico inferior, melhoraram
Sob a suspeita, realizar dieta de exclusão por 2 a o clearance esofágico e aceleram o esvaziamento
4 semanas com teste de provocação oral após. O gástrico.
diagnóstico definitivo é clínico com base na sinto- Alternativa E: CORRETA. A ausência de sinais de aler-
matologia desencadeada por alimentos com pro- ta em adolescente permite o teste terapêutico com
teína do leite de vaca. inibidor de bomba de prótons.
Alternativa A: CORRETA. Tem clínica de APLV? Dieta ✔ resposta: D
de exclusão por 2-4 semanas seguida do teste de
provocação oral.
Questão 10 dificuldade:
Alternativa B: INCORRETA. Exames complementares
Y Dica do professor: Os inibidores da bomba de pró-
não confirmam o diagnóstico de APLV, já que na
tons (IBP) – omeprazol, pantoprazol, lanzoprazol,
maior parte das vezes esse é um quadro não me-
rabeprazol, esomeprazol e tenatoprazol – suprimem
diado por IgE. O diagnóstico definitivo é clínico com
a secreção de ácido gástrico por meio da inibição
base na sintomatologia desencadeada por alimen-
específica da enzima H+/K+-ATPase na superfície
tos com proteína do leite de vaca.
secretora da célula parietal gástrica. Todos os re-
Alternativa C: INCORRETA. O teste de provocação oral presentantes dessa classe são similares entre si,
deve ser sempre realizado após a fase de exclusão, reduzindo em até 95% a produção diária de ácido
independente de como o paciente evoluiu no perío- gástrico. Quanto à doença do refluxo gastresofági-
do de exclusão. co (DRGE), há evidências da eficácia dos inibidores
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Doença do refluxo gastroesofágico e refluxo fisiológico Cap. 1
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ALERGIA À PROTEÍNA Capítulo
DO LEITE DE VACA 2
importância/prevalência
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IgE. São mais comuns em crianças e costumam ter
BASES DA MEDICINA
caráter transitório, sendo que apenas 10% dos casos
persistem até a vida adulta. Nas últimas décadas,
As reações adversas aos alimentos podem ser de dois temos visto um aumento da incidência e da preva-
tipos: não imunológicas ou imunológicas. As reações não
lência de alergia alimentar, associado ao aumento
imunológicas dependem principalmente da substância
ingerida (como as toxinas bacterianas contaminando da sua gravidade e ao retardo na aquisição de tole-
alimentos) ou das propriedades farmacológicas de deter- rância alimentar, o que se associa a um atraso na
minadas substâncias presentes em alimentos (como resolução das manifestações clínicas associadas.
a tiramina, presente em queijos maturados). Também
podem ser desencadeadas pela fermentação e efeito A APLV é uma das formas mais comuns de alergia
osmótico de carboidratos ingeridos e não absorvidos, alimentar, responsável por 80% dos casos de alergia
como acontece na intolerância à lactose. As reações alimentar em menores de um ano, mas outros ali-
adversas não imunológicas são chamadas de intolerân- mentos também estão implicados na infância, como
cia alimentar. Já as reações imunológicas dependem ovo, trigo e soja. Em adultos, podemos destacar a
da suscetibilidade individual do paciente e podem ser
alergia a amendoim, castanhas e frutos do mar. As
classificadas em três tipos, de acordo com o mecanismo
imunológico envolvido: mediada por IgE, não mediada crianças apresentam maior risco de alergia alimentar
por IgE e reações mistas. pela presença de alguns fatores que favorecem a
penetração do antígeno e, consequentemente, a
sensibilização (Quadro 1). Além disso, podemos
reconhecer alguns fatores de risco para alergia
alimentar (Quadro 2).
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Alergia à proteína do leite de vaca Gastroenterologia Pediátrica
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alimentar. O desmame precoce com introdução
da alimentação complementar ou de leite de vaca De acordo com o mecanismo imunológico envol-
antes dos quatro meses está associado ao aumento vido na alergia alimentar, podemos classificá-la
do risco de alergia alimentar. Da mesma forma, a em três tipos:
introdução tardia da alimentação complementar, u Mediada por IgE: decorrente da sensibilização
que antigamente era recomendada, também se
aos alérgenos alimentares com formação de IgE
associa ao maior risco de alergia alimentar.
específica, que se fixa aos mastócitos e basófilos.
Embora a via intestinal seja predominante para a Reexposições a esses alimentos levam a uma
entrada dos alérgenos e a sensibilização, ela não é a reação de hipersensibilidade imediata (tipo 1),
única capaz de induzir a alergia alimentar. A entrada com início em minutos ou horas após a ingestão,
dos alérgenos pela pele e trato respiratório também e liberação de mediadores vasoativos e citocinas
pode acontecer e levar à sensibilização alimentar. que levam a quadros de urticária, angioedema,
A sensibilização transcutânea parece ser especial- broncoespasmo e até mesmo anafilaxia.
mente importante em pacientes que apresentam u Não mediada por IgE: decorrente de uma hiper-
quebra da barreira cutânea, como na dermatite sensibilidade mediada por células, com ação dos
atópica. A via respiratória é rara, mas pode estar linfócitos T e das citocinas pró-inflamatórias.
relacionada a doenças ocupacionais, como a “asma Esse é o mecanismo envolvido nos quadros de
do padeiro”, decorrente da sensibilização ao trigo proctite, enteropatia ou enterocolite induzida por
pela inalação frequente e de grandes quantidades proteína alimentar. Compreende as manifesta-
desse alérgeno. ções mais associadas à APLV.
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Alergia à proteína do leite de vaca Cap. 2
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Acabamos de ver que as manifestações clínicas mais
associadas à APLV são reações do tipo não mediadas
por IgE. A partir dessa informação, já é possível supor Em até 40% dos casos de RGE em lactentes, a
que esses pacientes não necessariamente apresentarão APLV aparece como a principal causa. É por isso
produção de IgE específica para as proteínas do leite, de
que sempre devemos suspeitar desse diagnóstico
forma que a normalidade de exames como Immunocap,
RAST e prick test NÃO EXCLUI a APLV, principalmente nos em lactentes com Doença do Refluxo Gastroesofá-
casos em que há nexo causal entre a ingestão de leite e gico (DRGE), principalmente se os sintomas inicia-
o aparecimento das manifestações clínicas. ram após a introdução de fórmula e se o lactente
apresenta dermatite atópica ou história familiar de
alergia alimentar.
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Alergia à proteína do leite de vaca Gastroenterologia Pediátrica
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sanguínea nas fezes, à má absorção proveniente da
lesão intestinal ou em decorrência do processo infla-
3. D IAGNÓSTICO matório crônico. Esses pacientes também podem
apresentar eosinofilia periférica e IgE específica
positiva nos casos mediados por IgE. Lembre-se
BASES DA MEDICINA
de que a dosagem de IgE específica mostra ape-
nas que existe sensibilização alérgica, o que, por
si só, não permite o diagnóstico definitivo se não
Uma boa anamnese é essencial para a investigação dos
quadros suspeitos de alergia alimentar. É essencial o estiver associado ao quadro clínico. Além disso,
estabelecimento do nexo causal entre a ingestão do ali- as manifestações gastrointestinais, que são as
mento suspeito e os sintomas, investigando-se o tempo mais frequentes da APLV, não decorrem de reações
decorrido até o início da manifestação clínica, se existe mediadas por IgE.
recorrência dos sintomas com uma nova ingestão e se
há relação com o modo de preparo do alimento (cru, O diagnóstico da enteropatia induzida por proteína
cozido ou processado). Também é importante avaliar se alimentar depende da realização de endoscopia
o exercício físico contribui para o desencadeamento dos
digestiva alta com biópsia, que identifica atrofia
sintomas, o que pode acontecer em algumas situações.
vilositária e, em alguns casos, hipertrofia de cripta,
aumento de linfócitos intraepiteliais e infiltração
Uma vez feita a suspeita clínica de APLV, o melhor eosinofílica. Nesses casos, é essencial o diagnóstico
método diagnóstico é a realização do teste terapêu- diferencial com doença celíaca, o que pode ser feito
tico numa fase inicial seguida da provocação oral. com o auxílio de exames sorológicos.
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Alergia à proteína do leite de vaca Cap. 2
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da dieta. Em crianças que são amamentadas e As medidas de prevenção primária para alergia
não apresentam evidência clínica de reação com alimentar devem ser direcionadas à população de
o leite materno, não há necessidade de restrição alto risco para atopia, ou seja, crianças que tenham
alimentar materna. um ou ambos os pais ou irmãos alérgicos. Nesses
casos, podemos sugerir algumas intervenções desde
Cerca de 80% das crianças com APLV apresen-
a vida intrauterina e nos primeiros anos de vida:
tam resolução do quadro ao longo da infância,
sendo a tolerância oral geralmente adquirida por u Alimentação durante a gestação: atualmente não
volta dos dois a três anos de idade (nos casos de existe mais a recomendação de restrição da in-
proctocolite alérgica, pode ser até mais precoce, gestão de alimentos potencialmente alergênicos
em torno do primeiro ano); por isso, podemos durante a gestação, devendo a dieta ser saudável
tentar a reintrodução gradativa do leite e de seus e nutricionalmente balanceada.
derivados na dieta do paciente após essa idade. u Aleitamento materno exclusivo até os seis me-
Caso o paciente não manifeste sintomas, podemos ses de vida: tem um papel importante na modu-
reintegrar esses alimentos na dieta sem qualquer lação da microbiota intestinal e na indução da
problema. tolerância oral.
Crianças com sintomas leves e manifestações u Uso de fórmulas parcialmente hidrolisadas para
gastrointestinais de alergias não mediadas por IgE crianças de alto risco de atopia que não estejam
apresentam maior probabilidade de desenvolver em aleitamento materno: parece contribuir para
tolerância imunológica, já alguns fatores estão a prevenção da sensibilização.
associados ao maior risco de persistência da alergia u Introdução da alimentação complementar a
alimentar (Quadro 3). partir do sexto mês de vida: mesmo alimentos
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Alergia à proteína do leite de vaca Gastroenterologia Pediátrica
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mais embasamento teórico e estão contraindicadas.
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Alergia à proteína do leite de vaca Cap. 2
APLV
Enteropatia induzida
por proteína: síndrome
disabsortiva
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DRGE
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Alergia à proteína do leite de vaca Gastroenterologia Pediátrica
REFERÊNCIAS
1. Solé D, Silva LR, Cocco RR, Ferreira CT, Sarni RO, Oliveira
LC, et al. Consenso Brasileiro sobre alergia alimentar:
2018 – Parte 1 – Etiopatogenia, clínica e diagnóstico.
Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira
de Pediatria (SBP) e Associação Brasileira de Alergia e
Imunologia (SBAI). Arq Asma Alerg Imunol. 2018;2(1):7-38.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Asma Alerg Imunol. 2018;2(1):39-82.
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Alergia à proteína do leite de vaca Cap. 2
QUESTÕES COMENTADAS
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(HOSPITAL PROFESSOR EDMUNDO VASCONCELOS – SP – 2021)
⮧ Uma endoscopia digestiva normal afastaria a Lactente, 5 meses de idade, no pronto-socorro, com
doença do refluxo gastroesofágico. história de hiperemia em face (região perioral) e tos-
se, logo após ingerir mamadeira com fórmula láctea
⮨ Deve ser iniciado o tratamento com omeprazol.
polimérica de 1º semestre. Mãe relata aleitamento
⮩ A phmetria está indicada por diagnosticar até misto desde o 3⁰ mês de vida. Após ser medicada,
os refluxos não ácidos. a criança evoluiu bem e, ao exame clínico, verificou-
-se peso e comprimento adequados para a idade,
⮪ O leite de soja é uma opção terapêutica. sem outras alterações. Diante do quadro, assinale
a alternativa correta:
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Alergia à proteína do leite de vaca Gastroenterologia Pediátrica
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de diarreia com raias de sangue há 1 mês e lesões ⮨ Refluxo fisiológico do lactente e urticária, de-
eritematocrostosas associadas. Segundo a mãe, vendo-se tratar esta última com antialérgico,
lactente recebeu fórmula infantil como complemen- corticosteroide endovenoso e ranitidina para o
to no 1º dia de vida na maternidade por dificuldade refluxo; na alta, orientações sobre medidas pos-
de amamentação. Ao exame físico encontra-se co- turais antirrefluxo.
rado e hidratado, com bom ganho ponderal. Qual a ⮩ Urticária aguda associada a angioedema, por pro-
conduta mais adequada: vável alergia à proteína do leite de vaca. Proceder
o tratamento da crise alérgica na emergência,
⮦ Suspender aleitamento materno e iniciar fórmula
orientar a mãe a excluir o leite e seus derivados
infantil especial.
da sua dieta, e encaminhar ao alergista para in-
⮧ Manter aleitamento materno com dieta restritiva vestigar/confirmar o diagnóstico.
da proteína do leite de vaca da dieta materna.
⮨ Manter aleitamento materno com dieta restritiva
de lactose da dieta materna. Questão 7
⮩ Manter aleitamento materno e iniciar antibioti- (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO REGIONAL DE MARINGÁ – PR – 2020)
coterapia para enterovirose. Um lactente de 4 meses vem apresentando evacua-
ções mais amolecidas de até 10 vezes ao dia há cer-
Questão 6
ca de 1 mês. Neste último mês também apresentou
alguns episódios de evacuação associados a estrias
(FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP – 2020) Lactente com de sangue. Apresenta cólicas e irritabilidade. Nega
2 meses e meio, em aleitamento materno exclusivo, febre, vômitos e outros sintomas. Ganho de peso
vem apresentando há 15 dias quadro de cólicas in- nos últimos 30 dias de 100 g. Recebeu aleitamento
tensas, vômitos após as mamadas e irritabilidade. materno até 3 meses e depois iniciou com fórmula
52
Alergia à proteína do leite de vaca Cap. 2
apropriada para idade. Considerando a história clí- ⮩ Alimentos alergênicos, tais como peixe, ovo e
nica, assinale o diagnóstico mais provável e o tipo amendoim, devem ser introduzidos tardiamente.
de dieta a ser realizada.
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achava seu leite “fraco”. Foi iniciado tratamento
para “refluxo” com domperidona há duas semanas, não havendo atualmente indicação da realização
mas não houve melhora. Ao exame físico, apresenta do teste de provocação oral.
abdome normotenso e indolor à palpação. O diag- ⮪ O teste de puntura ou prick test pode ser reali-
nóstico mais provável é: zado ambulatorialmente, devendo substituir o
teste de provocação oral nos lactentes abaixo
⮦ Alergia à proteína do leite de vaca. de 3 meses.
⮧ Erro inato do metabolismo de açúcares.
⮨ Hipertensão intracraniana.
⮩ Volvo intestinal com intussuscepção.
Questão 9
53
Alergia à proteína do leite de vaca Gastroenterologia Pediátrica
GABARITO E COMENTÁRIOS
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as alternativas: papa, a refeição deve conter cereais ou tubérculos,
proteína vegetal ou leguminosas (feijão, soja, len-
Alternativa A: CORRETA. Em até 40% dos casos a tilha, grão de bico), proteína animal (todos os tipos
DRGE dos lactentes é secundária à alergia à pro- de carnes, vísceras e ovos), hortaliças (verduras de
teína do leite de vaca (APLV), sendo inclusive reco- folhas e legumes). De acordo com o Consenso Bra-
mendada a instituição de restrição alimentar por 2 sileiro de Alergia alimentar, as evidências científicas
a 4 semanas como teste terapêutico. Nesse caso, atuais não suportam a modificação na norma vigente
recomenda-se a exclusão de leite e derivados da de início da alimentação complementar a partir do
dieta materna já que o lactente está em aleitamento sexto mês de vida, sem restrição na introdução dos
materno exclusivo. alimentos potencialmente alergênicos (p. ex. ovo,
peixe e trigo), independentemente do risco familiar
Alternativa B: INCORRETA. A endoscopia digestiva
de atopias. Inclusive sabemos hoje que a introdução
alta não fecha diagnóstico de DRGE, sendo utili-
tardia de alimentos potencialmente alergênicos é
zada apenas para o diagnóstico de complicações
um fator de risco para alergia alimentar, justamen-
como esofagite.
te por já ter passado o período de maior tolerância
Alternativa C: INCORRETA. Em lactentes, como a DRGE oral, que ocorre entre 6 e 9 meses de vida.
frequentemente está associada à APLV não se re- ✔ resposta: E
comenda a instituição precoce de medicamentos
como omeprazol, mas sim o teste terapêutico com
exclusão do leite da dieta. Questão 3 dificuldade:
Alternativa D: INCORRETA. A pHmetria não diagnos- Y Dica do professor: A alergia à proteína do leite da
tica refluxos não ácidos, mas apenas a impedan- vaca é uma patologia comum nos primeiros meses
ciometria. de vida, a qual pode ser desencadeada tanto por
54
Alergia à proteína do leite de vaca Cap. 2
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nica sugestiva, desaparecimento dos sintomas de deixar de consumir leite de vaca e derivados e não
1 a 30 dias com dieta de exclusão da proteína do apenas lactose.
leite de vaca (fase de exclusão) e reaparecimento
Alternativa D: INCORRETA. Não se trata de enterovi-
dos sintomas ao realizar o teste de provocação oral
rose e sim de APLV.
(TPO). A realização de exames complementares
(Dosagem de Imunoglobulina E e Teste Cutâneo de ✔ resposta: B
Leitura Imediata - TC) é necessária apenas como
apoio na avaliação de gravidade ou no diagnóstico
Questão 6 dificuldade:
diferencial na APLV não mediada por IgE.
Alternativa C: CORRETA. As fórmulas extensamente Y Dica do professor: Dentre os vários fatores associa-
hidrolisadas são toleradas em 90% dos casos de dos ao risco de maior persistência da alergia alimen-
crianças menores de seis meses e em 95% das crian- tar, destacam-se: antecedente de reações graves,
ças acima de seis meses. Para todas as crianças reações desencadeadas por mínimas quantidades
com APLV não mediada por IgE, a primeira opção do alimento, presença de comorbidades alérgicas e
deve ser fórmula extensamente hidrolisada (FEH). altos níveis de IgE específica para o alimento aler-
gênico. O mecanismo envolvido na patogênese da
Alternativa D: INCORRETA. Esse teste se faz neces-
alergia alimentar tem implicações, tanto no tipo e
sário pois a suspensão/alta do tratamento dar-se-á
gravidade das manifestações clínicas, quanto no
quando a criança apresentar melhora completa de
padrão de evolução natural da doença. As alergias
sinais e sintomas relacionados à APLV, negativar
mediadas por anticorpos IgE habitualmente levam
TPO ao longo da conduta adotada, não apresentar
mais tempo para aquisição de tolerância, enquanto
TPO de monitoramento conforme protocolado ou
que as manifestações gastrointestinais de alergias
completar vinte e quatro meses de idade.
mediadas por mecanismos celulares costumam se
✔ resposta: C resolver espontaneamente até os 2-3 anos de idade.
55
Alergia à proteína do leite de vaca Gastroenterologia Pediátrica
Além disso, na alergia IgE mediada os pacientes para a avaliação e a orientação adequadas de sua
que reagem a alérgenos alimentares por inalação nutrição. Durante os primeiros meses de vida, o
parecem compor um grupo de risco para reações trato gastrointestinal, os rins, o fígado e o sistema
graves e mais persistentes, porém este grupo repre- imunológico encontram-se em fase de maturação.
senta uma pequena proporção dos casos. As causas O leite de vaca, por várias razões, entre as quais o
mais comuns de alergia alimentar na infância como fato de ser pobre em ferro e zinco, não deverá ser
o leite, a soja, o ovo e o trigo, com frequência se as- introduzido antes dos 12 meses de vida. É um dos
sociam à remissão da alergia ao longo do tempo,
grandes responsáveis pela alta incidência de ane-
enquanto que para amendoim, nozes e castanhas,
mia ferropriva em menores de 2 anos no Brasil. A
a alergia é considerada persistente. Embora alguns
alergia às proteínas do leite de vaca (APLV), a mais
casos possam desenvolver tolerância clínica para
frequente das alergias alimentares, persiste mais
peixe e camarão, existem poucos estudos que ava-
liaram a história natural de alergia a frutos do mar, provavelmente em doença mediada por IgE e quan-
as quais também são consideradas persistentes. do há forte sensibilização (níveis mais elevados
de IgE ou reações aos testes cutâneos fortemente
Alternativa A: INCORRETA. Não se trata de anafilaxia positivas), múltiplas sensibilizações alimentares e
uma vez que não houve comprometimento de mais alergia respiratória concomitante (asma e rinite). A
de um sistema além da pele. APLV pode ter manifestações diversas a depender
Alternativa B: INCORRETA. Não se deve interromper o do mecanismo imunológico envolvido (mediadas por
aleitamento materno, e sim orientar a mãe a excluir IgE, mediadas por célula T e mista), podendo ser
da sua dieta leite e seus derivados. gastrointestinais, dermatológicas ou respiratórias.
Os sintomas são vômitos, diarreia, má absorção, que
Alternativa C: INCORRETA. O lactente não apresenta leva a retardo do crescimento ou ganho de peso e
sintomas de refluxo. Urticária associada ao leite de
sangue nas fezes. Irritabilidade, cólica, choro inten-
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vaca é seu diagnóstico.
so e recusa alimentar podem ocorrer. Assim como,
Alternativa D: CORRETA. Os lactentes que estão em broncoespasmo, rinite, urticária, rash cutâneo e der-
aleitamento materno devem ser assim mantidos, matite atópica. Costuma ter resolução espontanea-
e a mãe deve ser submetida à dieta de exclusão mente na maioria das crianças. O tratamento é feito
do alérgeno envolvido, tanto para os com alergia com a retirada completa de leite de vaca da dieta,
alimentar IgE mediada, como para os com não-IgE substituindo fórmula extremamente hidrolisada. Os
mediada. Quando necessária a dieta materna com diagnósticos diferencias envolvem a intolerância a
restrição total de leite de vaca e derivados, deve ser lactose (IL) e a doença celíaca (DC). A IL provoca
recomendada a suplementação de cálcio e vitami- apenas diarreia, gases, cólicas e distensão abdomi-
na D (colecalciferol). É válido ressaltar que nos ca- nal, não tendo sintomas cutâneos ou presença de
sos em que o lactente em aleitamento natural não
sangue em fezes. Já a doença celíaca está asso-
manifestar reações com alérgenos veiculados pelo
ciada a ingesta de glúten na dieta, contido no trigo,
leite materno, não há indicação de se restringir a
centeio, cevada e aveia e cursa com diarreia com
dieta da nutriz, ainda que os sintomas possam ser
esteatorreia, vômitos, distensão abdominal, perda
observados após a ingestão do alimento direta-
mente pela criança. de peso e anemia. A questão traz um lactente de 4
meses que iniciou com fezes mais amolecidas com
✔ resposta: D estrias de sangue, manifestação típica da procto-
colite eosinofílica (forma mais comum da APLV),
justamente após a introdução de leite de vaca na
Questão 7 dificuldade: dieta. Diante de um quadro tão clássico não resta
dúvida quanto ao diagnóstico e a conduta.
Y Dica do professor: O conhecimento correto e atua-
lizado sobre a alimentação da criança é essencial ✔ resposta: A
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Alergia à proteína do leite de vaca Cap. 2
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deixar de pensar num quadro de alergia à proteína
do leite de vaca (APLV) não IgE mediada por não Questão 10 dificuldade:
ter apresentado manifestações digestivas imedia-
tas. Uma das formas clínicas da APLV é a proctite
Y Dica do professor: A história clínica minuciosa do
e proctocolite. Essas formas acometem especial- paciente, com recordatório alimentar associado
mente recém-nascidos e lactentes nos primeiros aos sintomas, continua sendo fundamental para
3 meses de vida. Esses pacientes apresentam, em a suspeição diagnóstica da alergia à proteína do
geral, enterorragia, com estado geral satisfatório e leite de vaca. Nos casos não IgE mediados, deve-
ganho de peso adequado. O sangramento, em sua -se levar em consideração que os sintomas podem
maioria, é de pequena monta e costuma ser relata- ser tardios e ocorrerem dias ou semanas após a
do apenas com a presença de rajas de sangue nas introdução das proteínas do leite de vaca. Após a
fezes. O lactente costuma ainda apresentar cólica, identificação do alimento suspeito, recomenda-se
irritabilidade e choro excessivo. O melhor tratamento a sua eliminação por 2 a 4 semanas. Como a res-
a ser instituído nessas crianças é a introdução de posta clínica favorável pode ser apenas uma coin-
fórmula infantil extensamente hidrolisada. cidência, é necessária a confirmação diagnóstica
por meio de teste de exames complementares e/
✔ resposta: A ou desafio oral.
Alternativa A: INCORRETA. A provocação oral faz parte
Questão 9 dificuldade: do arsenal diagnóstico da APLV mediada e não me-
diada pela IgE, mas se deve ter cuidado na indica-
Y Dica do professor: Estudos epidemiológicos indi-
ção desse teste, pois pode desencadear anafilaxia.
cam que a incidência de alergias alimentares (AA)
Alternativa B: INCORRETA. A eliminação do antígeno
tem aumentado. Portanto, medidas para prevenir
da dieta, no caso a proteína do leite de vaca, fornece
o desenvolvimento de AA se fazem necessárias.
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Alergia à proteína do leite de vaca Gastroenterologia Pediátrica
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58
Capítulo
DOENÇA CELÍACA
3
importância/prevalência
u Enteropatia crônica do intestino delgado, de caráter autoimune, desencadeada pela exposição ao glúten
em indivíduos predispostos.
u Forma clássica: manifestações clínicas predominantemente gastrointestinais.
u Forma não clássica: achados extraintestinais como baixa estatura, atraso puberal e anemia refratária à
reposição de ferro.
u Triagem sorológica: antiendomísio IgA e antitransglutaminase IgA.
u Padrão ouro diagnóstico: biópsia intestinal: encontro de mucosa celíaca.
u Tratamento: dieta sem glúten para o resto da vida.
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fortemente ligada ao HLA-DQ2 e DQ8.
Estudos de prevalência têm demonstrado que esta
BASES DA MEDICINA doença é mais frequente do que anteriormente se
acreditava, e sua prevalência ainda é subestimada,
O glúten é o maior composto proteico dos cereais, uma ocorrendo em aproximadamente 0,5% a 1% da popu-
glicoproteína insolúvel em água que contém na sua estru- lação geral. A prevalência na pediatria está entre 3 e
tura química uma prolamina, fração responsável pela lesão 13 casos/1.000 crianças, principalmente em crian-
tissular na doença celíaca. A prolamina é específica para ças de seis meses a cinco anos. No Brasil, dados
cada cereal e se apresenta em diferentes concentrações: obtidos a partir de inquéritos sorológicos estimam
no trigo, temos a gliadina compondo 69% da proteína total
que 1:474 adultos e 1:184 crianças possuem doença
do grão; na cevada é a hordeína, com 50%; no centeio, a
secalina com 50% e na aveia, a aveína com 16%. Embora celíaca ainda não diagnosticada.
todas as prolaminas sejam ativas na indução da doença Indivíduos geneticamente predispostos que inge-
celíaca, a gliadina (encontrada no trigo) é a mais estudada.
rem glúten apresentam uma resposta inflamatória
da mucosa intestinal dependente de mecanismos
A doença celíaca é uma enteropatia crônica do celulares e humorais. A gliadina, ao atingir a lâmina
intestino delgado, de caráter autoimune, desen- própria, é desaminada pela transglutaminase teci-
cadeada pela exposição ao glúten em indivíduos dual e então apresentada ao linfócito T CD4 gliadina
geneticamente predispostos. Apresenta discreto específico com expressão de HLA-DQ2.
predomínio no sexo feminino e em brancos, com pre- Esse linfócito é ativado e dá início a uma cascata
domínio no Sul e Sudeste do Brasil. Já foi demons- de ativação de outros elementos imunes:
trada agregação familiar, sendo a frequência em
u Th1: libera TNF-alfa que atua sobre os fibroblas-
parentes de primeiro grau de 2-20%. O padrão de
tos, levando à liberação de metaloproteinase na
herança parece ser autossômico dominante com
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Doença celíaca Gastroenterologia Pediátrica
matriz, que atua sobre o epitélio intestinal, indu- u Mucosa jejunal com aspecto celíaco: atrofia vi-
zindo a atrofia vilositária e hiperplasia de criptas. lositária, hiperplasia de criptas e infiltração de
u Th2: promove a maturação dos linfócitos B e ex- linfócitos intraepiteliais.
pansão da síntese de imunoglobulina e formação u Remissão clínica e histológica quando submetida
de diversos anticorpos: antigliadina, antiendomí- à dieta sem glúten.
sio e antitransglutaminase tecidual. u Recorrência clínica e histológica após reintrodu-
ção do glúten.
Face à agressão do glúten, a mucosa intestinal
reage primeiro com a redução do tempo de vida Os sintomas geralmente se iniciam no segundo
média das células absortivas, o que leva ao ama- semestre de vida, com a introdução da alimentação
durecimento insuficiente do enterócito jovem que complementar e, consequentemente, do glúten,
se apresenta com redução das enzimas da borda de forma insidiosa e progressiva, com anorexia,
em escova, aumento da produção de células jovens vômitos, irritabilidade ou alterações de humor, fezes
com aumento das criptas e infiltração da lâmina mais volumosas e má evolução estaturoponderal. As
própria por elementos linfoplasmocitários. evacuações esteatorreicas são frequentes, pútridas
e abundantes, acompanhadas de evidente distensão
abdominal. Devido à má absorção, ocorre desnutri-
DIA A DIA MÉDICO ção com parada do ganho de peso e depois perda
de peso, seguida pelo declínio da velocidade de
Atualmente o glúten tem sido apontado como o grande crescimento. Ocorre redução do panículo adiposo
vilão da saúde do trato gastrointestinal e diariamente vemos e da massa muscular (identificado principalmente
diversas pessoas referindo melhora de sintomas, como dis- em região glútea), os músculos ficam hipotônicos,
tensão abdominal, após a retirada do glúten da dieta. Note
os cabelos secos e quebradiços e a pele xerótica.
que a doença celíaca só ocorre em indivíduos geneticamente
As crianças se tornam irritadas ou apáticas. Pode
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predispostos que apresentam uma inabilidade permanente
de tolerar o glúten, o que gera uma lesão imunomediada das ocorrer mesmo edema por hipoproteinemia e púr-
vilosidades do intestino delgado e tem como consequência puras por má absorção de vitamina K.
alterações sorológicas, histológicas e sintomas clínicos.
Apenas a melhora de sintomas vagos, como a distensão
Lactentes portadores da forma clássica da doença
abdominal, com a retirada do glúten da dieta NÃO permite celíaca podem evoluir com a chamada “crise celíaca”,
que seja feito o diagnóstico de doença celíaca. quadro grave que acontece quando há retardo no
diagnóstico e se caracteriza por distensão abdo-
minal importante com diarreia aquosa profusa
que leva a uma desidratação grave com distúrbio
2. Q UADRO CLÍNICO hidroeletrolítico (geralmente hipocalemia) e letargia,
apresentando alta letalidade.
A doença celíaca pode se manifestar de forma
heterogênea conforme a extensão e o grau de lesão
DICA
da mucosa intestinal. Fatores como a sensibilidade A forma clássica da doença celíaca
individual ao glúten, a idade da introdução, a quan- se apresenta como uma síndrome disab-
sortiva com esteatorreia, distensão abdo-
tidade de glúten da dieta e o aleitamento materno
minal, baixo ganho pondero-estatural e, nas
também parecem influenciar os achados clínicos formas graves, evolui até com desnutrição.
da doença celíaca.
A forma clássica (típica) da doença celíaca se
caracteriza por manifestações predominantemente Muitos pacientes abrem o quadro completamente
gastrointestinais, com: assintomáticos, oligossintomáticos ou apresentando
u Sinais e sintomas de má absorção intestinal (es- sinais e sintomas não relacionados ao aparelho
teatorreia). digestivo, caracterizando as outras duas formas
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Doença celíaca Cap. 3
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cas da mucosa do intestino delgado compatíveis baixo para doença celíaca, não sendo, portanto,
com doença celíaca, na ausência de manifes- recomendada para a triagem desses pacientes.
tações clínicas. Esta forma é identificada prin- Como os anticorpos dosados são sempre do tipo
cipalmente em grupos de risco para a doença, IgA, devemos lembrar sempre de realizar também
como, por exemplo, parentes de primeiro grau a dosagem da IgA total, uma vez que a doença
de pacientes celíacos, e vem sendo reconhecida celíaca pode estar associada à deficiência de IgA
com maior frequência nas últimas duas décadas, e, com isso, cursar com todos os anticorpos desse
com o uso dos marcadores sorológicos. Apesar tipo reduzidos. Nesses casos, recomenda-se a
de serem assintomáticos, esses pacientes geral- dosagem da antigliadina desaminada IgG, que não
mente referem melhora do humor, do apetite e sofre influência pela deficiência de IgA.
da disposição física após o início de uma dieta
Pacientes assintomáticos com alto risco para
isenta de glúten.
doença celíaca devem ser investigados através de
testes sorológicos e histopatológicos. Esse grupo de
A doença celíaca está relacionada a uma série de
pessoais inclui parentes de primeiro grau de celía-
doenças autoimunes e não autoimunes, dentre
cos, pacientes com síndrome de Down e de Turner,
elas o diabetes mellitus tipo 1 (DM1), a tireoidite
hepatite e tireoidite autoimune e diabetes tipo 1.
autoimune, a dermatite herpetiforme, a deficiência
de IgA e a síndrome de Down. Cerca de 8% dos O padrão ouro para o diagnóstico de doença celíaca
pacientes com DM1 têm alterações características é a biópsia intestinal, da segunda e terceira porções
da doença celíaca na biópsia intestinal, e naqueles do duodeno, por meio da endoscopia digestiva
com síndrome de Down a prevalência pode che- alta. O encontro dos achados histológicos típicos
gar a 12%. Uma associação também foi vista em da doença celíaca (mucosa com atrofia vilositária,
indivíduos com síndrome de Turner e síndrome de hiperplasia de criptas e infiltração de linfócitos
Williams. intraepiteliais) confirma o diagnóstico (Figura 1).
61
Doença celíaca Gastroenterologia Pediátrica
Figura 1. Comparação histológica entre a mucosa intestinal normal (A) e a mucosa do paciente com doença celíaca (B).
A B
Note que a mucosa normal apresenta longas vilosidades em comparação com as criptas, já a mucosa celíaca apresenta atrofia vilositária,
hiperplasia de criptas e infiltração de linfócitos intraepiteliais.
Fonte: Adaptada de Levine1 e Vasudevan et al.2
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serem altamente sensíveis e específicos, eles ainda
não são suficientemente confiáveis para diagnos- desidratação, reposição de albumina para correção
ticar uma condição cujo tratamento é uma rígida da hipoalbuminemia, transfusão de sangue se ane-
restrição alimentar para o resto da vida. mia e uso de vitamina K, se presença de fenômenos
hemorrágicos.
O tratamento da doença celíaca consiste na dieta
DIA A DIA MÉDICO sem glúten, excluindo-se alimentos que contenham
trigo, centeio e cevada por toda a vida. A aveia
Até 2020 a biópsia intestinal era considerada obrigató- geralmente é excluída da dieta, já que cerca de
ria para o diagnóstico de doença celíaca, mas o último 5% dos celíacos também desenvolvem reação à
Guideline da Sociedade Europeia de Gastronterologia, aveína. Com a dieta de exclusão, há normalização da
Hepatologia e Nutrologia Pediátrica (ESPGHAN) liberou
mucosa intestinal, assim como das manifestações
uma atualização que permite o diagnóstico de doença
celíaca sem a necessidade de biópsia naqueles pacientes clínicas, com melhora inicial do apetite, do humor e
que apresentem antritransglutaminase IgA acima de dez do aspecto das fezes. O peso se mantém inicialmente
vezes o limite superior da normalidade e antiendomísio e depois de oito a 15 dias começa a aumentar, de
IgA positivo em uma segunda amostra. De acordo com início lenta e depois mais rapidamente. O abdome
essa nova diretriz, a biópsia intestinal continua sendo se mantém inicialmente distendido e pode até piorar
obrigatória para o diagnóstico se o paciente apresentar
se a ingestão alimentar for muito grande. O apetite
antitransglutaminase IgA em níveis inferiores a dez vezes
o limite superior da normalidade ou no caso de deficiên- torna-se voraz, voltando ao normal com a recupera-
cia de IgA. Note que essa recomendação ainda não foi ção ponderal. Nessa fase de voracidade, o volume de
endossada por outras sociedades, como a americana e fezes pode ser grande ainda devido ao desequilíbrio
a brasileira. entre o aumento da ingestão e a recuperação da
mucosa entérica. O peso é recuperado até o final
do primeiro ano e a estatura, até três anos. A longo
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Doença celíaca Cap. 3
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dessas manifestações está associado com a inob-
servância à dieta isenta de glúten e o diagnóstico
tardio. Portanto, justifica-se a prescrição de dieta
totalmente isenta de glúten por toda a vida a todos
os indivíduos com doença celíaca, independen-
temente das manifestações clínicas. A adoção
da dieta isenta de glúten deve ser rigorosa, pois
transgressões sucessivas podem desencadear um
estado de refratariedade ao tratamento.
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Doença celíaca Gastroenterologia Pediátrica
Doença celíaca
Atraso puberal
Distensão
abdominal
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Irritabilidade ferro refratária ao tratamento
ou apatia
Desnutrição
Hipotrofia de
musculatura
glútea
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Doença celíaca Cap. 3
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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PH, et al. The Oslo definitions for coeliac disease and related
terms. Gut. 2013;62(1):43-52.
Porta G, Koda YKL. Doença Celíaca. Gastroenterologia e
Hepatologia. Barueri: Manole; 2011. (Coleção Pediatria do
Instituto da Criança HC-FMUSP).
Rubio-Tapia A, Hill ID, Kelly CP, Calderwood AH, Murray JA.
ACG clinical guidelines: diagnosis and management of celiac
disease. Am J Gastroenterol. 2013;108(5):656-76; quiz 77.
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Doença celíaca Gastroenterologia Pediátrica
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO (FUNDAÇÃO HOSPITALAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS – MG –
ESTADUAL – IAMSPE – 2022) No que se refere à doença 2021) Paciente de nove anos de idade, sexo feminino,
celíaca na pediatria, assinale a alternativa correta. portadora de Diabetes mellitus (DM) insulinodepen-
dente foi encaminhada ao serviço de gastroente-
⮦ Não existem formas subclínicas dessa patolo- rologia devido à presença de úlceras aftosas orais
gia na pediatria. recorrentes, flatulência e distensão abdominal.
⮧ Dor abdominal, constipação ou manifestações Sem outras queixas. Nega perda de peso, edema
extraintestinais sugerem a forma não clássica ou diarreia. Na história pregressa, teve DM com
da doença. diagnóstico aos seis anos de idade. Em controle
⮨ As biópsias de intestino grosso estabelecem o adequado com endocrinologia. Vacinação em dia.
diagnóstico definitivo da doença celíaca. Teste do pezinho: normal. Exames apresentados na
⮩ A dieta isenta de glúten leva a inúmeras deficiên- consulta: IgA total: 85 mg/dL (valor de referência:
cias nutricionais e não deve ser recomendada. < 7 mg/dL); antitransglutaminase IgA: 80 U (valor
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de referência: < 20 U). No exame físico, estava co-
⮪ É considerada como uma condição rara que afe-
rada, hidratada, com boa perfusão capilar, pulsos
ta quase exclusivamente crianças caucasianas.
cheios e rítmicos, sem edemas. Aparelho digestivo:
abdome distendido, indolor, sem massas ou visce-
Questão 2 romegalias, ruído hidroaéreo presente. Oroscopia:
úlceras aftosas em língua e gengiva. Restante do
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RP exame sem alterações significativas. Com relação
DA USP – SP – 2022) Lactente de 1 ano de idade, apre- a esse quadro clínico, assinale a alternativa correta.
senta diarreia há 6 meses, caracterizada por fezes
líquidas, moderada quantidade, 4 vezes por dia, ⮦ Deve ser feita a exclusão imediata do glúten da
odor fétido, distensão abdominal, sem sangue ou dieta da paciente.
muco. Mãe refere que simultaneamente apresenta ⮧ A endoscopia digestiva alta (EDA) faz parte do
dificuldade de ganho de peso e de estatura. Os exa- manejo diagnóstico.
mes laboratoriais revelaram: Hemoglobina= 9,0 g/ ⮨ A presença de DM não é fator de risco para a
dl; Albumina= 2,5 g/dl (valor de referência 2,9 a 4,8 enfermidade em investigação.
g/dl) Anti-tranglutaminase IgA=positivo, Dosagem
⮩ Trata-se de um quadro clínico clássico com mar-
de imunoglobulinas: IgA= normal para a idade. Para
cadores sorológicos positivos, tornando desne-
esta criança, além do trigo qual outro componente
cessária a realização de EDA.
você excluiria da dieta?
⮦ Linhaça e aveia.
Questão 4
⮧ Tapioca e polvilho.
⮨ Maisena e trigo de sarraceno. (FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – SP – 2021)
Em relação a doença celíaca, podemos afirmar que:
⮩ Centeio e cevada.
66
Doença celíaca Cap. 3
⮦ A doença celíaca é diferente da alergia ao tri- apresenta crescimento deficiente. Seu DM1 foi diag-
go, que é mediada por IgE e induz a ativação de nosticado aos 7 anos e suas HBA1c variaram de 7
mastócitos e basófilos. a 8%. No interrogatório dos aparelhos e sistemas
⮧ A dosagem de anti-transglutaminase IgA não é ela apresenta dor abdominal crônica intermitente
recomendada antes de 5 anos de vida, na sus- e constipação intestinal. Há dois anos sua estatu-
peita de doença celíaca. ra estava no percentil 30 e agora está no percentil
10. Sua velocidade de crescimento é de 3 cm por
⮨ Um teste negativo para DQ2/DQ8 afasta a pos-
ano. Seu peso caiu do percentil 15 para 5 recente-
sibilidade de Doença celíaca e um resultado po-
mente. Há cerca de 2 meses o pediatra dessa me-
sitivo permite fechar diagnóstico.
nina solicitou exames que demonstraram anemia
⮩ As dosagens de anti-endomísio IgA e de anti- ferropriva, anticorpo anti-tireoperoxidase negativa
-transglutaminase IgA geralmente não apresen- e TSH normal. Qual é a conduta mais indicada para
tam boa concordância. essa paciente nesse momento?
⮦ Síndrome de Sjögren.
Questão 8
⮧ Diabetes mellitus.
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(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO/RJ - 2017) Lacten-
⮨ Deficiência de IgM.
te de 18 meses é trazida ao pediatra, pois a mãe
⮩ Síndrome de Down. acha que a criança parou de crescer. Na anamnese
⮪ Tireoidite de Hashimoto. dirigida, refere que a criança apresenta episódios
de distensão abdominal e diarreia frequentes e in-
termitentes, sem a presença de sangue. Segundo
Questão 6
a mãe, o quadro de diarreia se iniciou por volta dos
(SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS - SÃO PAULO – 2020) Não é nove meses após a introdução completa da dieta
habitualmente esperado na doença celíaca em sua complementar. Ao exame, nota-se a criança hipo-
forma atípica que o paciente apresente: corada, com abdome distendido, porém sem sinal
de irritação peritoneal, com restante do exame fí-
⮦ Hipoplasia do esmalte dentário. sico sem alterações. À avaliação nutricional, apre-
⮧ Artralgias ou artrites. senta-se abaixo do escore-Z -3 em estatura para a
⮨ Manifestações digestivas. idade e entre os escores-Z -2 e -3 peso para a esta-
tura e IMC para a idade. Tem hemograma recente
⮩ Baixa estatura.
que mostra anemia ferropriva. A principal hipótese
⮪ Irregularidade do ciclo menstrual. diagnóstica e a classificação nutricional para esse
caso, respectivamente, são:
Questão 7
⮦ Giardíase / baixa estatura para a idade e eutrófica.
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RP DA ⮧ Intolerância à lactose / baixa estatura para a
USP – SP – 2020) Uma menina com 8 anos de idade e idade e eutrófica.
com diabete melito tipo 1 (DM1) em uso de insulina
67
Doença celíaca Gastroenterologia Pediátrica
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cessidade de outras restrições alimentares.
⮨ Não deve ingerir alimentos que contenham soja,
milho e lentilha.
⮩ Não deve ingerir produtos que contenham ca-
seína.
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Doença celíaca Cap. 3
GABARITO E COMENTÁRIOS
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gicas e histológicas da mucosa do intestino delga- alimentos que contenham trigo, centeio e cevada
do compatíveis com doença celíaca, mas que não por toda a vida. Com a dieta de exclusão, há nor-
evoluem com manifestações clínicas. Esta forma malização da mucosa intestinal, assim como das
é identificada principalmente em grupos de risco manifestações clínicas, com melhora inicial do
para a doença, como, por exemplo, parentes de apetite, do humor e do aspecto das fezes. O peso é
primeiro grau de pacientes celíacos, e vem sendo recuperado até o final do primeiro ano e a estatura,
reconhecida com maior frequência nas últimas duas até três anos. Apesar de ser uma dieta restritiva e
décadas, com o uso dos marcadores sorológicos. difícil é importante de ser realizada já que o con-
Alternativa B: CORRETA. A forma não clássica (atípi- sumo de glúten por esses pacientes se associa ao
ca) da doença celíaca se caracteriza por um quadro desenvolvimento de neoplasias como adenocarci-
mono ou oligossintomático, em que as manifes- noma de intestino delgado, linfoma e carcinoma de
tações digestivas estão ausentes ou, quando pre- esôfago e faringe e as transgressões sucessivas
sentes, aparecem em segundo plano. Os pacientes podem desencadear um estado de refratariedade
podem apresentar manifestações isoladas, como ao tratamento.
baixa estatura, anemia por deficiência de ferro re- Alternativa E: INCORRETA. A doença celíaca apresenta
fratária à reposição de ferro por via oral, anemia por discreto predomínio no sexo feminino e em brancos,
deficiência de folato e vitamina B12, osteoporose, com predomínio no Sul e Sudeste do Brasil, mas não
hipoplasia do esmalte dentário, artralgias ou artri- podemos dizer que se trata de uma doença rara.
tes, constipação intestinal refratária ao tratamento, Estudos de prevalência têm demonstrado que esta
atraso puberal, irregularidade do ciclo menstrual, doença é mais frequente do que anteriormente se
esterilidade, abortos de repetição, ataxia, epilepsia acreditava, e sua prevalência ainda é subestimada,
(isolada ou associada à calcificação cerebral), neu- ocorrendo em aproximadamente 0,5% a 1% da po-
ropatia periférica, miopatia, manifestações psiquiá- pulação geral. No Brasil, dados obtidos a partir de
tricas (depressão, autismo, esquizofrenia), úlcera inquéritos sorológicos estimam que 1:474 adultos
69
Doença celíaca Gastroenterologia Pediátrica
e 1:184 crianças possuem doença celíaca ainda refratária ao tratamento, traumas devido à osteopo-
não diagnosticada. rose, anormalidades dentárias, urticária, estomatite
aftosa, elevação de aminotransferases, artralgias
✔ resposta: B
e constipação crônica. O tratamento consiste na
retirada do glúten da dieta, com melhora total dos
dificuldade:
sintomas e prevenção de possíveis complicações.
Questão 2
Alternativa A: INCORRETA. Sempre devemos indicar
Y Dica do professor: Temos um paciente com 1 ano a realização de EDA antes da retirada do glúten da
de idade que apresenta diarreia há seis meses, dieta.
provavelmente associada ao início da introdução
Alternativa B: CORRETA. A biópsia é considerada o
alimentar. Além disso, o paciente apresenta disten-
padrão ouro de diagnóstico, e deve ser feita atra-
são abdominal, dificuldade para ganho de peso e
vés de endoscopia com o objetivo de obter mais de
estatura e do ponto de vista laboratorial apresenta:
quatro fragmentos, pois a doença pode ocorrer em
anemia, hipoalbuminemia e antitransglutaminase IgA
mosaico. Um fragmento ou mais devem ser retira-
positivo. Diante desse quadro clínico e laboratorial,
dos do bulbo duodenal, e os demais da segunda e
devemos pensar na possibilidade de doença celíaca.
terceira poção do duodeno. Na biópsia, os achados
A questão nos pergunta o que devemos excluir da
incluem: infiltrados linfocitários, hiperplasia de crip-
dieta da criança além do trigo. Dentre as alternati-
tas e de atrofia vilositária.
vas, apenas a letra D possui elementos que devem
ser excluídos da dieta quando existe a suspeita de Alternativa C: INCORRETA. A presença de DM é fator
doença celíaca, centeio e cevada. de risco para a enfermidade em investigação.
Alternativa D: INCORRETA. A biópsia é o padrão ouro
✔ resposta: D
e deve ser realizada sempre que possível.
resposta: B
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✔
Questão 3 dificuldade:
70
Doença celíaca Cap. 3
padeiro). A maioria das crianças com AT tem outras mundial. Além de parentes de primeiro grau, observa-
alergias alimentares. -se prevalência aumentada da DC em portadores de
Alternativa B: INCORRETA. Testes para IgA total e IgA outras doenças autoimunes como o diabetes tipo 1,
antitransglutaminase devem ser usados para crian- tireoidite de Hashimoto, hepatite autoimune, além de
ças com suspeita de doença celíaca. Em crianças doenças com alteração cromossômica (síndromes
com valores séricos normais de IgA para a idade, a de Down, Williams e Turner) e a deficiência seletiva
IgA-antitransglutaminase deve ser usada, indepen- de IgA. A questão nos pede a alternativa que não
dentemente da idade. Em crianças com valor de IgA tem associação com doença celíaca.
total baixo, um teste baseado em IgG precisa ser Alternativa A: INCORRETA. A síndrome de Sjögren
usado como segundo passo. é doença autoimune associada a doença celíaca.
Alternativa C: INCORRETA. Dentre as doenças com- Alternativa B: INCORRETA. O diabetes tipo 1 é uma
plexas, a doença celíaca é a que apresenta a mais doença autoimune, está associada a doença celíaca.
forte associação com o HLA classe II, sendo que Alternativa C: CORRETA. A deficiência de IgA está
em 90% dos pacientes encontra-se o heterodíme- associada, e não a de IgM.
ro HLA-DQ2 e o HLA-DQ8. Considera-se que o HLA
Alternativa D: INCORRETA. A Síndrome de Down é
DQ2 e/ou DQ8 está presente em virtualmente todos
uma das cromossomopatias associadas a doen-
os pacientes com doença celíaca e a ausência de-
ça celíaca.
les tem um valor preditivo negativo de quase 100%
para excluir a doença. No entanto, apesar de ainda Alternativa E: INCORRETA. A Tireoidite de Hashimoto
necessários, o HLA-DQ2 e o HLA-DQ8 não são su- está associada com doença celíaca.
ficientes para causar a doença, uma vez que apro- ✔ resposta: C
ximadamente 30% da população carrega pelo me-
nos um dos alelos DQ2 e 9% um dos alelos DQ8, e
Questão 6 dificuldade:
mesmo se expondo ao glúten, apenas uma minoria
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desenvolve a DC. Y Dica do professor: As manifestações clínicas típicas
Alternativa D: INCORRETA. Denomina-se “Doença Ce- da doença celíaca incluem sintomas gastrintestinais
líaca em potencial” naqueles pacientes com IgA-an- de má-absorção como diarreia, esteatorreia, disten-
titransglutaminase e antiendomisio positivo e sem são abdominal, perda de peso, déficit de crescimento
alterações histológicas. No entanto, esses resulta- e deficiência de nutrientes. As formas atípicas, por
dos podem ser devido à baixa ingestão de glúten outro lado, são marcadas por manifestações extrain-
antes das biópsias, erro de amostragem. Requer testinais, com queixas gastrointestinais ausentes
vigilância clínica e laboratorial (sorologia, biópsias ou mínimas, o que torna seu diagnóstico mais di-
adicionais) para monitorar a possível evolução atro- fícil. Alguns sintomas que podem estar presentes
fia das vilosidades e encaminhamento para espe- nesses casos são dermatite herpetiforme, defeitos
cialista com experiência em doença celíaca para no esmalte dentário, baixa densidade mineral óssea
acompanhamento. ou osteoporose, baixa estatura sem causa definida,
✔ resposta: A atraso puberal, infertilidade, anemia por deficiência
de ferro refratária a tratamento, deficiência não
explicada de ácido fólico e/ou B12, doenças neu-
Questão 5 dificuldade: rológicas ou alterações comportamentais, atrite e
doenças hepáticas.
Y Dica do professor: A doença celíaca é doença sis-
têmica, imunomediada, desencadeada pelo glúten ✔ resposta: C
e suas prolaminas, em indivíduos geneticamen-
te predispostos. Caracteriza-se pela combinação dificuldade:
Questão 7
variada de manifestações clínicas, que regridem
com a retirada do glúten da dieta. Sua prevalência Y Dica do professor: Na doença celíaca, o glúten, uma
é estimada em aproximadamente 1% da população proteína presente no trigo e, em menor quantidade,
71
Doença celíaca Gastroenterologia Pediátrica
na cevada e no centeio, estimula a produção de cer- principal hipótese diagnóstica: doença celíaca. Além
tos anticorpos pelo sistema imunológico. Esses an- disso, a questão pede o diagnóstico antropométrico,
ticorpos danificam o revestimento do intestino del- apresentando estatura abaixo do escore Z - 3 para
gado, resultando em achatamento das vilosidades. a idade (muito baixa estatura) e IMC para a idade
A superfície lisa resultante provoca má absorção (ou peso para estatura, que tem a mesma classifi-
dos nutrientes. Contudo, a superfície ciliada normal cação) entre escore Z - 2 e -3 (magreza).
do intestino delgado e sua função são restabele- ✔ resposta: C
cidas quando a pessoa deixa de comer alimentos
que contêm glúten.
Alternativa A: INCORRETA. Uma criança portadora de Questão 9 dificuldade:
DM1 apresentando dor abdominal crônica, consti- Y Dica do professor: O padrão-ouro para o diagnós-
pação e alteração do crescimento chama atenção tico de doença celíaca é o encontro de mucosa
para a possibilidade de outra doença imune e não jejunal celíaca com achatamento de vilosidades e
apenas o Diabetes. hiperplasia de criptas, exatamente o apresentado
Alternativa B: INCORRETA. Uma criança portadora de pela paciente. Além disso, ela apresenta alteração
DM1 apresentando dor abdominal crônica, cons- sorológica, com positividade para os anticorpos
tipação e redução do crescimento necessita ser antitransglutaminase e antiendomísio. Não é inco-
investigada para outra patologia. mum a associação da doença celíaca com outras
Alternativa C: CORRETA. Pacientes diabéticos tipo 1 doenças, dentre elas o diabetes mellitus tipo 1, a
apresentam mais chances de desenvolver doença tireoidite autoimune, a dermatite herpetiforme, a
celíaca, comparados com a população geral. Isso deficiência de IgA e a síndrome de Down. O único
está relacionado ao fato de que o diabetes tipo 1 tratamento atualmente disponível ainda é basica-
também é uma doença autoimune, justificando al- mente dietético, devendo-se excluir o glúten da dieta
terações no complexo de histocompatibilidade. Na durante toda a vida. O glúten está presente no trigo,
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criança, a doença celíaca pode se manifestar com cevada, centeio, aveia e em grãos híbridos desses
dor/distensão abdominal, diarreia ou constipação cereais, como o Triticale sp.
em alguns casos, fadiga e alterações do crescimen- Alternativa A: CORRETA. Conforme comentário do
to. A dosagem de anticorpo anti-transglutaminase professor.
faz parte do diagnóstico. Alternativa B: INCORRETA. Deve-se restringir alimen-
Alternativa D: INCORRETA. A maior suspeita é doen- tos que contenham glúten para o tratamento da
ça celíaca e dosagem de IGF-1 não faz parte desse doença celíaca.
diagnóstico. Alternativa C: INCORRETA. Os alimentos citados não
✔ resposta: C contêm glúten, ou seja, são alimentos sem neces-
sidade de restrição.
dificuldade:
Alternativa D: INCORRETA. Para a doença celíaca,
Questão 8
é correta a restrição de glúten, e não de caseína.
Y Dica do professor: Estamos diante de uma pacien- ✔ resposta: A
te com 18 meses que se apresenta com um quadro
de síndrome disabsortiva: caracterizada por estea-
torreia, distensão abdominal e baixo ganho ponde- Questão 10 dificuldade:
roestatural. Devemos estar atentos ao dado de que
Y Dica do professor: A doença celíaca é uma entero-
esse quadro começou há 9 meses, ou seja, no se-
patia autoimune que ocorre em indivíduos geneti-
gundo semestre de vida da criança. Nesse período
camente predispostos quando expostos ao glúten.
de vida, ocorre a introdução de vários alimentos na
Classicamente se caracteriza como uma síndrome
dieta da criança, dentre os quais os alimentos que
disabsortiva com esteatorreia e baixo ganho pon-
contêm glúten, explicando a evolução do caso e a
deroestatural. O quadro pode ser grave a ponto de
72
Doença celíaca Cap. 3
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Alternativa C: CORRETA. Os principais testes soroló-
gicos para a detecção da intolerância ao glúten são
o anticorpo antigliadina, o anticorpo antiendomísio
e o anticorpo antitransglutaminase (TTG). Com re-
lação ao anticorpo antigliadina, determinado pela
técnica de ELISA, a especificidade do anticorpo
da classe IgA (71% a 97% nos adultos e 92% a 97%
nas crianças) é maior do que da classe IgG (50%),
sendo a sensibilidade extremamente variável em
ambas as classes. O anticorpo antiendomísio da
classe IgA é identificado por meio de imunofluo-
rescência indireta. Apresenta alta sensibilidade
em adultos (87% a 89%) e em crianças maiores de
2 anos (88% a 100%), e alta especificidade (91% a
100% nas crianças e 99% em adultos).
Alternativa D: CORRETA. Os marcadores sorológicos
são úteis para identificar os indivíduos que deverão
ser submetidos à biópsia de intestino delgado.
Alternativa E: INCORRETA. O milho não contém glúten,
portanto não deve ser excluído da dieta.
✔ resposta: E
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Fixe seus conhecimentos!
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Capítulo
CONSTIPAÇÃO NA INFÂNCIA
4
importância/prevalência
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que cursem com dificuldades para defecar, além de tentar
varia de 25% a 35%, de acordo com os critérios identificar complicações associadas. Devem ser feitas
utilizados. É uma doença que pode começar ainda algumas questões, como: idade do início dos sintomas,
no primeiro ano de vida (em cerca de 17% a 50% dos aquisição ou não do controle esfincteriano, frequência e
casos), mas apresenta seu pico na faixa etária dos consistência das fezes, dor ou sangramento ao defecar,
incontinência fecal, comportamento retentor, uso de
pré-escolares, ocorrendo igualmente em meninos e
medicações, hábitos alimentares, mudanças de ape-
meninas. É uma causa de sofrimento para a criança tite, presença de náuseas ou vômitos e perda ponderal.
e sua família, e tem um impacto significativo no No exame físico, podem ser encontrados os seguintes
custo de cuidados com a saúde. achados: distensão abdominal, massa fecal palpável no
abdome, fissura anal e presença de fezes impactadas
A pseudoconstipação ocorre em aproximadamente
no reto.
5% dos lactentes com idade inferior a 6 meses, em
aleitamento natural predominante. É definida como
a ocorrência de eliminação de fezes macias em fre- Alguns sinais de alarme são importantes para a
quência menor que 3 vezes na semana. É uma con- suspeita de causas orgânicas associadas. Os prin-
dição fisiológica e não requer tratamento. Quando cipais são: atraso na eliminação do mecônio, após
uma causa definida não é diagnosticada e quando 48h de vida, presença de febre associada, vômito,
são excluídas causas orgânicas que possam justifi- sangramento retal e distensão abdominal grave. As
car a constipação, tem-se a chamada constipação causas orgânicas mais importantes, e que devem ser
funcional. lembradas, são a Doença de Hirschsprung, fibrose
cística e Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV).
A presença de proctite e colite alérgica também
podem ser fatores desencadeantes de evacuações
dolorosas e com retenção fecal. O Quadro 1 suma-
riza os principais sinais de alerta na constipação.
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Constipação na infância Gastroenterologia Pediátrica
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Figura 1. Assoalho pélvico e funções anorretais durante continência e defecação.
Fonte: Blamb/Shutterstock.com².
76
Constipação na infância Cap. 4
Uma criança com fezes impactadas tende a sen- simples de abdome. É sempre importante questionar
tar-se com as pernas esticadas e cruzadas para a família com relação ao padrão da consistência e
manter a musculatura glútea contraída, evita agachar coloração das fezes. Para avaliar a consistência
e subir escadas. Quando evacua, apresenta fezes fecal, a Escala de Bristol, ilustrada na Figura 2, pode
em pequena quantidade e em cíbalos. Comumente, ser útil, facilitando o entendimento do padrão fecal
essa criança se contorce por cólicas abdominais. da criança. Com relação à coloração das fezes,
Para o diagnóstico da impactação fecal, a palpação na Caderneta da Criança, do Ministério da Saúde,
abdominal é suficiente, evidenciando fezes endu- têm ilustradas as colorações normais das fezes da
recidas em fossa ilíaca esquerda, na maior parte criança e as colorações suspeitas (vide Figura 3),
das vezes. Em caso de dúvidas, o toque retal pode com a finalidade de orientar as famílias a procurar
ser realizado à procura de fezes endurecidas na ajuda médica diante da presença de fezes suspeitas.
ampola retal, ou pode-se lançar mão da radiografia
TIPO 2
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Escala de TIPO 3
TIPO 6
TIPO 4
77
Constipação na infância Gastroenterologia Pediátrica
Algumas outras definições estão relacionadas com u Encoprese ou soiling: distúrbios de defecação
a constipação e devem ser lembradas, como: com incontinência fecal por retenção. Nesse
u Constipação crônica: duração maior que 8 se- caso, há perda de fezes de forma involuntária
manas. em lugares inapropriados e o material costuma
ser líquido ou semilíquido.
u Constipação intratável: refratária mesmo após
3 semanas de terapia adequada. u Incontinência fecal: perda involuntária de fezes
sólidas e/ou líquidas pela incapacidade de con-
u Impactação fecal: presença de massa endureci-
trolar a eliminação das fezes.
da no abdome inferior, percebida pela palpação
abdominal ou toque retal, com reto dilatado e
Atualmente, a constipação é definida de acordo
com grande quantidade de fezes endurecidas.
com os critérios de ROMA-IV, que estão listados
na Tabela 1.
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História de postura retentiva ou retenção
História de evacuações dolorosas ou endurecidas;
voluntária excessiva de fezes;
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Constipação na infância Cap. 4
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Sempre que estivermos diante de um caso de impactação
fecal, a desimpactação deve ser realizada antes da insti-
tuição do tratamento de manutenção. A impactação fecal
DIA A DIA MÉDICO
pode ser percebida pela identificação de massa fecal na
palpação abdominal, toque retal ou radiografia simples
Uma criança pode optar por não defecar por diversas de abdome. A desimpactação pode ser feita por via oral,
causas, como falta de interesse, porque quer continuar por enema, manual (com quebra das fezes) ou internado,
brincando, medo ou ansiedade de ir ao banheiro, medo de com administração nasogástrica de laxantes. Para melhor
evacuar fezes endurecidas, que acabam machucando, ou desimpactação, temos hoje o Polietilenoglicol (PEG), que
déficit na habilidade evacuatória. Dessa forma, a criança se trata de um laxativo osmótico, fornecido por via oral.
contrai o esfíncter anal externo e a musculatura glútea, Pode ser iniciado com uma dose maior (1 a 1,5 g/Kg/
de modo que as fezes retornam ao reto. Esse processo dia) para desimpactação e depois mantido em dose de
deixa um bolo fecal acomodado, o que gera distensão da manutenção (0,5 g/Kg/dia) por 3 dias. Caso não seja
parede retal, diminuindo a capacidade de contração retal, possível o uso do PEG, podemos substituir pela lactulose
sendo que, quanto mais tempo as fezes ficam “guardadas” (1 a 3 mL/Kg, 2 vezes ao dia) ou utilizar o enema por 3 a 6
no reto, mais a água será reabsorvida, tornando as fezes dias consecutivos, até a completa eliminação das fezes e
cada vez mais endurecidas e impactadas. O ciclo vicioso a criança apresentar 1 a 2 evacuações amolecidas por dia.
da constipação gera fezes endurecidas, dor ao evacuar
e retenção fecal. Algo que não podemos esquecer é que
uma grande quantidade de fezes endurecidas impactadas Para a terapia de manutenção, devem ser prescritos
no cólon pode acabar comprimindo a uretra e levar a um laxativos por pelo menos 2 meses. O seu uso só
esvaziamento vesical incompleto e, consequentemente, a deve ser interrompido quando todos os sintomas da
episódios de infecção urinária. Logo, podemos afirmar que
constipação estiverem resolvidos, por pelo menos
a constipação, principalmente crônica, está relacionada
com maior risco para infecção do trato urinário. 1 mês antes da descontinuação do tratamento.
Vale lembrar que a retirada do laxativo não deve
ser brusca, mas sim de forma gradual. A família
deve ser orientada com relação à importância da
79
Constipação na infância Gastroenterologia Pediátrica
terapia de manutenção para evitar novos episódios o acesso até o vaso sanitário, oferecer alguma ati-
de impactação fecal. Cerca de 50% dos pacientes vidade para a criança enquanto ela está sentada,
apresentam melhora e permanecem sem uso de encorajar a criança e estimulá-la a cada objetivo
laxativos entre 6 e 12 meses após o início do trata- alcançado. Quando se trata de modificação dieté-
mento. O atraso no início do tratamento por mais tica, não podemos esquecer a importância de aliar
de 3 meses, em relação ao início dos sintomas, as fibras alimentares ao correto consumo hídrico.
está correlacionado com tempo maior de duração Sobre os hábitos de vida, é necessário orientar e
dos sintomas. A Tabela 2 lista as principais drogas estimular a prática de atividades físicas (adequadas
laxativas e suas respectivas doses pediátricas. para a idade e condição física do paciente), que
contribuem de forma benéfica para o tratamento.
No que diz respeito à educação, algumas orien-
O especialista (gastropediatra) deve ser consultado
tações são benéficas, como agendar horário de
nos casos de falha terapêutica ou quando houver a
ir ao baneiro (geralmente 1 hora após o almoço,
suspeita de doenças orgânicas associadas.
permanecendo de 5 a 10 minutos sentado), facilitar
Tabela 2. Principais medicamentos laxativos e suas respectivas doses para a faixa etária pediátrica.
1 a 11 anos: 1-3 mL/kg/dia 12/12h (máx. 45 mL/dia) Contraindicado em pacientes com in-
Hidróxido de Magnésio
12 anos ou mais: 15-45 mL/dia suficiência renal
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Doses elevadas podem provocar hiper-
Lactulose 1-3 mL/kg/dia, uma ou duas vezes ao dia
natremia
Polietilenoglicol 3.350 0,2-0,8 g/kg/dia (PEG 3350) Para crianças > 6 meses
PEG 4000 –
0,32-0,76 g/kg/dia (PEG 4000)
manipulação
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Constipação na infância Cap. 4
Manifestações clínicas
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Diagnósticos
diferenciais
Diagnóstico
• Doença de Hirschsprung
• APLV
• Fibrose cística Critérios de Roma IV
• Malformações anatô-
micas
Tratamento
Medidas
Dieta Medicações
comportamentais
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Constipação na infância Gastroenterologia Pediátrica
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Schechter NL. Childhood functional gastrointestinal disorders:
neonate/toddler. Gastroenterol. 2016; 150: 1443-55.
Campos Júnior D, Burns DAR, Lopez FA (orgs). Tratado de
Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria. 4. ed. São
Paulo: Editora Manole; 2017.
Ministério da Saúde (BR). Série A. Caderneta da Saúde da
Criança. 4ª Tiragem; 5. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2008.
Morais MB, Maffei HV. Constipação intestinal. J Pediatr (Rio
J). 2000; 76(Supl.2): s147-s56.
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Constipação na infância Cap. 4
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RP DA (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PROFESSOR ALBERTO ANTUNES, AL,
USP, 2021) Paciente, sexo feminino, 5 anos de idade, 2021) Assinale a alternativa incorreta sobre a cons-
apresenta história de constipação intestinal desde 2 tipação em crianças.
anos de idade. No início evacuava a cada 3 dias, mas
este intervalo foi aumentando, atualmente evacua a ⮦ Pode ocorrer em diversas faixas etárias, sobre-
cada 10 dias, fezes calibrosas, dolorosas, às vezes tudo em crianças do sexo masculino e em idade
com estrias de sangue. Tem comportamento este- pré-escolar.
reotipado quando sente vontade de evacuar, cruza ⮧ Na grande maioria dos casos, é proveniente de
as pernas, se esconde atrás do sofá, fica pálida, quer causa benigna.
ficar sozinha. Nega febre e perda de peso. Apresenta ⮨ Trata-se de uma das acusas mais comuns de pro-
escape fecal diário, há 6 meses. Ao exame físico: peso cura ao pronto socorro.
e estatura no percentil 25. Apresenta massa palpável
⮩ São diagnósticos diferenciais alterações neuro-
em hipogástrio, móvel, chegando a 3 cm abaixo da ci-
lógicas, doença de Hirshsprung e malformações
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catriz umbilical, não dolorosa. Não foi realizado toque
anorretais.
retal, mas à inspeção do ânus, observou-se que está
envolto com material pastoso, marrom e odor fétido;
após limpeza, observou-se pequena fissura anal a 6 Questão 4
horas. Baseado no diagnóstico clínico mais provável,
qual o primeiro tratamento? (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DE PERNAMBUCO,
PE, 2021) CMS, 5 anos, sexo feminino, apresenta fezes
⮦ Laxativos orais de manutenção. endurecidas com esforço a cada 5 dias e escape
⮧ Desimpactação fecal. fecal diário. Família relata que, quando tem vonta-
⮨ Dieta rica em fibra. de de evacuar, se esconde atrás da cortina ou fica
⮩ Tratamento psicológico. andando na ponta dos pés. Queixa-se de dor abdo-
minal diária. A pediatra diagnosticou constipação
crônica funcional e, para confirmar esse diagnós-
Questão 2 tico, é necessário:
(HOSPITAL DE CÂNCER DE BARRETOS, SP, 2021)Assinale a ⮦ Fazer enema opaco e trânsito intestinal.
alternativa incorreta quanto aos sinais de alarme
⮧ Ter duas ou mais características dos Critérios de
para constipação orgânica em crianças. Roma IV.
⮦ Eliminação de mecônio após 48 horas de vida. ⮨ Realizar manometria anorretal.
⮧ Failure to thrive. ⮩ Apresentar dois sinais de alerta.
⮨ Constipação em pacientes com idade inferior ⮪ Ter anticorpo antitransglutaminase IgA positivo.
a 6 meses.
⮩ Sintomas sistêmicos.
83
Constipação na infância Gastroenterologia Pediátrica
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testes de triagem neonatal normais, com curvas de
paciente refere que toma bastante água, não poster-
crescimento pôndero-estatural dentro do esperado
ga a evacuação e que faz exercício físico diariamen-
para a idade e sexo. Em relação ao exposto, o diag-
te. Fez adequadamente esquema de desimpactação
nóstico do lactente é:
e manutenção com laxantes sem melhora. Levando
em consideração os dados apresentados, o provável ⮦ Constipação intestinal.
diagnóstico do paciente é:
⮧ Alergia à proteína do leite de vaca.
⮦ Constipação intestinal funcional. ⮨ Obstrução intestinal.
⮧ Doença de Hirschsprung. ⮩ Doença celíaca forma clássica.
⮨ Pseudo-obstrução intestinal. ⮪ Pseudoconstipação.
⮩ Colonopatia fibrosante.
⮪ Síndrome da obstrução do intestino distal. Questão 9
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Constipação na infância Cap. 4
Questão 10
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Constipação na infância Gastroenterologia Pediátrica
GABARITO E COMENTÁRIOS
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a cada 3 dias, com fezes de grande calibre e doloro-
sas, postura retentora e exame físico compatível com de 1 mês, posição anormal do ânus, passagem de
impactação fecal (massa fecal identifica na palpação mecônio após 48 horas de vida, ausência de reflexo
abdominal e no toque retal). Sempre que estivermos anal ou cremastérico, história familiar de Doença de
diante de um caso de impactação fecal, a desimpac- Hirschsprung, sangramento nas fezes na ausência
tação deve ser realizada antes da instituição do tra- de fissuras anais, glândula tireoide anormal, fístula
tamento de manutenção. A desimpactação pode ser perianal, tufo de cabelo na coluna e/ou abaulamento
feita por via oral, por enema, manual (com quebra das sacral e/ou desvio da prega interglútea, failure to thri-
fezes) ou internado, com administração nasogástrica ve (desenvolvimento físico mais lento) e medo extre-
de laxantes. Para melhor desimpactação, temos hoje mo durante inspeção anal (pensar em abuso sexual).
o Polietilenoglicol (PEG), que se trata de um laxativo ✔ resposta: C
osmótico, fornecido por via oral. Pode ser iniciado
com uma dose maior (1 a 1,5 g/Kg/ dia) para desim-
pactação e depois mantido em dose de manutenção Questão 3 dificuldade:
(0,5 g/Kg/dia) por 3 dias. Caso não seja possível o uso
do PEG, podemos substituir pela lactulose (1 a 3 mL/ Y Dica do professor: A constipação intestinal é uma
Kg, 2 vezes ao dia) ou utilizar o enema por 3 a 6 dias queixa comum na faixa pediátrica, e estima-se que
consecutivos, até a completa eliminação das fezes em escolares e adolescentes a prevalência esteja
e a criança apresentar 1 a 2 evacuações amolecidas entre 14% e 38%. Os critérios de Roma IV são utiliza-
por dia. Obviamente, as orientações de modificação dos para o diagnóstico, que é essencialmente clínico.
de dieta, os laxativos orais e o tratamento psicológi- Alternativa A: INCORRETA. Estudos mostram que em
co também serão necessários para o tratamento de 70% das crianças o diagnóstico ocorre no primeiro
manutenção dessa paciente, mas neste momento a
ano de vida.
conduta inicial deve ser a desimpactação.
Alternativa B: CORRETA. Na grande maioria dos ca-
✔ resposta: B sos, a etiologia é benigna.
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Constipação na infância Cap. 4
Alternativa C: CORRETA. Trata-se de uma das cau- da questão, é possível aferir que se trata de uma
sas mais comuns de procura ao pronto-socorro constipação orgânica, mas não sua causa.
em pediatria. Alternativa A: CORRETA. Diagnóstico sindrômico.
Alternativa D: CORRETA. São diagnósticos diferenciais Alternativa B: INCORRETA. Paciente não apresenta
da constipação intestinal em crianças as alterações características de constipação funcional.
neurológicas, Doença de Hirshsprung e malforma-
Alternativa C: INCORRETA. Não se pode aferir causa
ções anorretais.
da constipação orgânica pelos dados da questão.
✔ resposta: A Alternativa D: INCORRETA. Não se pode aferir causa
da constipação orgânica pelos dados da questão.
Questão 4 dificuldade:
✔ resposta: A
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critérios por pelo menos 1 mês. sinais de obstrução completa, como parada de eva-
cuações, distensão e vômitos. Possui uma forte re-
✔ resposta: B
lação coma insuficiência pancreática causada pela
fibrose cística. Essa complicação tem o nome de
Questão 5 dificuldade:
Síndrome da Obstrução do Intestino Distal e pode
ocorrer em 20% dos pacientes com fibrose cística.
Y Dica do professor: Questão que não foi bem ela- ✔ resposta: E
borada, mas em um concurso, incluindo as provas
de residência, devemos responder na resposta
mais abrangente, sindrômica. A diarreia funcional Questão 7 dificuldade:
é caracterizada pela retenção voluntária das fezes.
Normalmente ela se apresenta com a formação de
Y Dica do professor: Constipação é uma das princi-
fecalomas, medo de evacuação, ampola retal cheia pais causas de dor abdominal em pediatria. Está
de fezes, episódios de incontinência fecal. Não se associada com infecções de urina de repetição e
apresenta com grandes atrasos no crescimento/ escape fecal. O hábito alimentar da crianças é o
ganho ponderal. Já a constipação orgânica é uma principal fator associado a constipação. É neces-
constipação secundária, tendo como principais cau- sário ter uma alimentação rica em vegetais, fibras
sas: metabólicas (hipotireoidismo, fibrosecística, e líquidos. Pacientes com perdas fecais podem ter
hipercalcemia, hipocalemia), neuropáticas (Doen- seu psicológico abalado e necessitar de acompa-
ça de Hirschsprung, mielomeningocele, espinha nhamento multiprofissional.
bífida, paralisia cerebral) e imunológicos (alergia à Alternativa A: CORRETA. O acúmulo de fezes no in-
proteína do leite da vaca, doença celíaca), além do testino terminal leva a sua dilatação, o que causa
uso de medicamentos, como sais de ferro, antiáci- os escapes fecais. É necessário realizar evacuação
dos, anti-inflamatórios e opioides. Com os dados do colón para retirada do material impactado, iniciar
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Constipação na infância Gastroenterologia Pediátrica
terapia laxativa osmótica crônica e mudar hábitos diarreia e má absorção, resultando em retardo do
alimentares para evitar a recorrência da constipação crescimento e/ou sangue nas fezes. Ainda podem
Alternativa B: INCORRETA. O tratamento da consti- ocorrer sintomas súbitos como irritabilidade, cóli-
pação intestinal se dá pela evacuação do colón, ca, choro intenso e recusa alimentar. Note-se que
associada a mudanças alimentares e ao uso de manifestações dermatológicas e respiratórias tam-
laxativos crônicos (os osmóticos). bém são frequentes, como: broncoespasmo, rinite,
urticária, rash cutâneo morbiliforme, dermatite ató-
Alternativa C: INCORRETA. O principal pilar do trata-
pica, entre outros.
mento da constipação é a mudança alimentar, além
da criação de uma rotina intestinal. Nesse momen- Alternativa C: INCORRETA. Obstrução intestinal é a
to não é necessário fazer encaminhamentos para a oclusão da luz do intestino impedindo a passagem
criança, mas tratar a constipação de maneira efetiva. de seu conteúdo. Leva ao acúmulo de gases e lí-
quidos entéricos proximais à obstrução. Líquidos
Alternativa D: INCORRETA. Não há necessidade de
são sequestrados para dentro da luz e da parede
exames complementares. A radiografia irá mostrar
intestinal, contribuindo para o aumento do grau de
apenas o intestino com grande quantidade de fezes. obstrução. O represamento destes elementos e a
✔ resposta: A sua eventual expulsão por meio de vômitos acar-
retam desidratação e hipovolemia.
dificuldade:
Alternativa D: INCORRETA. A forma clássica da doen-
Questão 8
ça celíaca foi descrita por Samuel Gee, em 1888, a
Y Dica do professor: O hábito intestinal dos bebês qual se inicia nos primeiros anos de vida com diar-
que estão em aleitamento materno exclusivo pode reia crônica, vômitos, irritabilidade, anorexia, déficit
variar muito. A criança pode evacuar a cada ma- de crescimento, distensão abdominal, diminuição
mada ou mesmo ficar dias sem evacuar. Parece do tecido celular subcutâneo e atrofia da muscu-
constipação, mas não é! Por isso há o termo pseu- latura glútea.
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doconstipação intestinal, ou seja, falsa constipação. Alternativa E: CORRETA. Vide dica do professor.
Geralmente essa mudança de hábito é observada
✔ resposta: E
após os primeiros meses de vida porque acredita-se
que, com o amadurecimento do intestino, a capa-
cidade de absorver a água vinda do leite materno Questão 9 dificuldade:
ingerido aumenta e isso faz com que a frequência
das evacuações diminua. Portanto, se o bebê está
Y Dica do professor: Constipação intestinal é definida
como uma alteração no funcionamento do intestino,
bem, alimentando-se adequadamente, com abdome
com duração mínima de 3 meses, em que o paciente
flácido (mole, fácil de apertar) e se desenvolvendo,
poderá ter uma frequência evacuatória menor que
o mais provável é que esteja tudo bem e que isso
3 evacuações por semana com alteração no ato
seja ciclo normal de sua evolução.
de evacuar e na qualidade das fezes, ou seja, fezes
Alternativa A: INCORRETA. A constipação pode não ressecadas com muita dificuldade para expelir, às
ser causada por doenças subjacentes. Algumas vezes sendo necessário realizar digitação. A cons-
causas comuns incluem desidratação, dieta com tipação intestinal ocorre mais frequentemente em
baixa ingestão de fibras, sedentarismo ou efeitos idosos acamados, mulheres, negros e pessoas de
colaterais de medicamentos. No caso de lactente classe social menos favorecida; sua incidência na
sem outros sintomas além da dificuldade de eva- população norte americana varia de 2 a 27%, sendo
cuar e em aleitamento exclusivo, esta não é a prin- mais prevalente que a hipertensão e o diabetes. Na
cipal suspeita. criança, há sinais e sintomas de alerta que sugerem
Alternativa B: INCORRETA. Como o lactente está em origem orgânica para os paroxismos isolados de dor
aleitamento materno exclusivo, esse diagnóstico não abdominal, tais como perda de peso, desaceleração
é o principal; contudo, caso fosse presente existem do crescimento, dor distante da região umbilical,
alguns sintomas característicos como: vômitos, dor que acorda a criança à noite, manifestações
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Constipação na infância Cap. 4
Questão 10 dificuldade:
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Alternativa A: INCORRETA. Suspeita-se da alergia à
proteína do leite de vaca como causa de consti-
pação, principalmente quando há dados clínicos
sugestivos para tal. Ademais, é um diagnóstico de
constipação refratária ao tratamento inicial.
Alternativa B: CORRETA. A constipação intestinal crô-
nica funcional é a principal causa de constipação
na criança, sendo apresentada por ressecamento
das fezes e redução do número de evacuações.
Alternativa C: INCORRETA. A Doença de Hischprung
é uma doença congênita com manifestações co-
mumente presentes já nos primeiros dias após o
nascimento.
Alternativa D: INCORRETA. A manifestação mais co-
mum da intolerância à lactose é a diarreia, sendo
menos frequente a ocorrência de constipação.
Alternativa E: INCORRETA. A síndrome do intestino
irritável acomete frequentemente adolescentes e
adultos jovens; porém, quando acomete crianças
normalmente se manifesta com diarreia crônica.
✔ resposta: D
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Fixe seus conhecimentos!
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Capítulo
PARASITOSES NA INFÂNCIA
5
importância/prevalência
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culturais e educacionais, sendo mais prevalentes e os platelmintos trematódeos (Schistosoma masoni,
em populações de baixo nível socioeconômico, não S. haematobium, S. japonium e S. mekongi). Entre os
se relacionando diretamente à predisposição racial, protozoários intestinais, encontram-se principalmente
genética ou suscetibilidades específicas. Entamoeba histolytica, Giardia lamblia e Cryptosporidium.
O Quadro 1 mostra a classificação das principais para-
As enfermidades causadas por parasitas são apon- sitoses intestinais.
tadas como fortes indicadores de desenvolvimento
socioeconômico de um país. Entre os agravos que
as enteroparasitoses podem causar, destacam-se DIA A DIA MÉDICO
a obstrução intestinal (Ascaris lumbricoides), des-
nutrição (Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura), Os sinais e sintomas das parasitoses muitas vezes são
anemia ferropriva (ancilostomídeos), diarreia e má inespecíficos, como anorexia, irritabilidade, alterações
absorção (Entamoeba histolytica e Giardia lamblia). do hábito intestinal e dor abdominal recorrente, o que
A carga parasitária tende a ser proporcional às dificulta o diagnóstico clínico. Lembrando que temos
manifestações clínicas. Para que haja intervenções é algumas exceções, como prurido anal na enterobíase e a
eliminação de vermes na ascaridíase, que são manifesta-
necessário conhecer não apenas o agente etiológico,
ções clínicas mais específicas e auxiliam no diagnóstico.
os fatores biológicos e ambientais, mas também o
hospedeiro humano. O desconhecimento a respeito
das medidas preventivas, principalmente entre as
populações menos favorecidas, é condicionante
para a disseminação das enteroparasitoses.
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Parasitoses na infância Gastroenterologia Pediátrica
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Cisticercose: Taenia solium
2.3. Platelmintos trematódeos Manifestações extrapulmonares como hepatome-
2.3.1. Acometimento digestivo e potencialmente galia, reações meníngeas ou erupções cutâneas
extraintestinal pruriginosas também podem estar presentes. No
Esquistossomose mansônica: Schistosoma hemograma há eosinofilia sanguínea que, inclusive,
mansoni
pode ser acentuada. Eosinofilia pulmonar também
Fonte: Ministério da Saúde1. está presente na síndrome; entretanto, a avaliação
histológica do tecido pulmonar não é obrigatória para
que se feche o diagnóstico. O exame parasitológico
1. S ÍNDROME DE LOEFFLER das fezes é importante; entretanto, na maioria dos
casos, ele é inicialmente negativo, permanecendo
desta forma até cerca de 8 semanas após o início
A Síndrome de Loeffler é uma pneumonite eosino- dos sintomas pulmonares. O resultado negativo
fílica transitória, por reação de hipersensibilidade ocorre porque, na fase pulmonar do ciclo parasitário,
imediata, que ocorre devido à migração pulmonar os vermes ainda estão na fase larvária e, portanto,
das larvas de parasitas que realizam o ciclo ente- não colocam os ovos, que seriam percebidos pelo
ropulmonar em cerca de 2 semanas. As lesões exame.
pulmonares são transitórias, e na radiografia de
tórax há imagens opacas que variam de tamanho A radiografia de tórax evidencia infiltrado alvéo-
e forma e que podem surgir em qualquer um dos lo-intersticial não segmentar, transitório, de cará-
lobos pulmonares. A evolução clínica é benigna, e ter migratório, localizado preferencialmente na
os principais agentes etiológicos são os helmintos, periferia, mas que pode ter qualquer localização
como o Ascaris lumbricoides, Necator americanus, e ser unilateral ou bilateral. Além disso, pode ter
Ancylostoma duodenale e Strongyloides stercoralis. forma pequena e arredondada ou grande e irregular.
92
Parasitoses na infância Cap. 5
Quando há confirmação laboratorial da infecção nasofaringe, onde são ingeridas. Por fim, chegam
parasitária, deve-se utilizar drogas anti-helmínticas ao duodeno para se transformar em fêmeas parte-
como base do tratamento, até mesmo para evitar nogênicas e dar início à ovoposição, originando as
manifestações tardias da parasitose, como diarreia, larvas rabditoides. No desenvolvimento do ciclo de
desnutrição, dor abdominal e oclusão intestinal. Cor- vida livre, as larvas rabditoides são eliminadas por
ticoides sistêmicos também podem ser utilizados e meio das fezes em ambiente favorável, em tempe-
são bastante efetivos na diminuição da inflamação ratura média de 29°C. Evoluem entre o período de
celular e da eosinofilia. Neste caso, a droga mais 1 a 2 dias em larvas filarioides contaminadas, com
usada é a prednisona. O tratamento deve ser sempre capacidade de atingir outro indivíduo e começar um
repetido 2 semanas após a 1ª dose, para combater novo ciclo parasitário.
os agentes que podem fazer um novo ciclo pulmo-
A estrongiloidíase humana pode aparecer de forma
nar. Vamos agora falar especificamente sobre os
aguda ou crônica. A forma aguda origina uma reação
principais agentes parasitários.
inflamatória na região onde acontece a penetração
da larva, ocorrendo tosse, irritação traqueal, bron-
1.1. NECATOR AMERICANUS E quite, diarreia, anorexia e dores abdominais. As
ANCYLOSTOMA DUODENALE larvas são encontradas nas fezes, em média, de
21 a 28 dias após a infecção. A forma crônica é a
São responsáveis pela ancilostomíase. Os ovos mais encontrada, na maioria das vezes, nas crian-
lançados no solo liberam larvas que penetram ativa- ças, mostrando-se sem sintomas. O tratamento é
mente na pele do hospedeiro, migram para o pulmão principalmente com albendazol por 3 dias e, como
e chegam ao intestino, onde se tornam adultos e alternativa, o tiabendazol.
iniciam nova postura. As larvas liberadas no solo
podem penetrar de forma passiva pela boca, entrar 1.3. ASCARIS LUMBRICOIDES
na mucosa intestinal e passar para o intestino, onde
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terminam seu desenvolvimento.
Ascaridíase é a parasitose de maior prevalência.
A fase de invasão larvária provoca desde lesões Uma única fêmea pode eliminar 200 mil ovos por
cutâneas irritativas leves até lesões eritemato- dia. No solo eles se tornam infectantes e, depois de
papulares mais importantes. Durante a migração ingeridos, os ovos eclodem no intestino delgado. As
pulmonar, podem ocorrer pequenas hemorragias larvas migram para o fígado ou vão diretamente para
por ruptura de capilares pulmonares. No intestino, o coração direito, chegando aos pulmões. Rompem
os vermes se fixam por meio de dentes ou placas os capilares pulmonares, chegam à faringe e, se
cortantes, gerando a manifestação clínica mais deglutidas, voltam ao intestino, onde se completa
importante dessa parasitose: a ANEMIA. O trata- seu desenvolvimento e iniciam novo ciclo. Os áscaris
mento é principalmente com albendazol. não são hematófagos, eles causam danos ao homem
por lesão tecidual direta, pela resposta imunológica
1.2. STRONGYLOIDES do hospedeiro e por fenômenos obstrutivos. Uma
grave complicação da ascaridíase é a obstrução
intestinal, tendo como sinal característico a obs-
A partir do contato do homem com as larvas fila-
trução de miolo de pão (peritonite). O tratamento
rioides pela pele, mucosa oral ou esofágica, há a
é principalmente com albendazol.
liberação de uma enzima que ajuda na penetração
e na migração das larvas pelos tecidos. Chegam
aos pequenos vasos, sendo levadas pela circula-
DIA A DIA MÉDICO
ção venosa até o lado direito do coração por meio
das artérias pulmonares. Conseguem chegar aos
A obstrução intestinal por novelo de Ascaris lumbricoides
capilares penetrando nos alvéolos e sobem até a
afeta muitas crianças, principalmente aquelas com níveis
traqueia pelos cílios do epitélio respiratório até a socioeconômicos baixos e as desnutridas. Normalmente,
93
Parasitoses na infância Gastroenterologia Pediátrica
há a história prévia de eliminação do verme. A obstrução com o objetivo de eliminação dos vermes. Se não houver
em si ocorre quando há acúmulo do parasita no intestino, melhora clínica após 24 a 48 horas do tratamento clínico,
pela excreção de neurotoxinas que provocam contração ou se houver a suspeita de complicações intestinais, deve
do intestino delgado (espasticidade) ou como causa de ser indicada a cirurgia.
volvo. Em alguns casos, pode-se palpar o novelo de áscaris;
entretanto, exames de imagem, como a radiografia simples
de abdome e a ultrassonografia de abdome, auxiliam na Chama-se de “áscaris errático” o verme que se
identificação do enovelado. O tratamento inicial é CLÍNICO, localiza em “hábitats anormais”, como o apêndice
a partir do jejum, sondagem nasogástrica de alívio, hidra- cecal (causando apendicite aguda), canal colédoco
tação parenteral e administração de antiespasmódico.
(com sintomas hepatobiliares), boca, narinas, rins,
A partir da sonda, deve ser administrada a piperazina (75
a 100 mg/kg), associada ao óleo mineral (15 a 30 mL), uretra, cérebro e ducto nasolacrimal, como é mos-
trado na Figura 1.
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Fonte: Araujo et al.2
94
Parasitoses na infância Cap. 5
O ciclo de vida do parasita dura de 2 a 6 semanas. número de novos elementos em pouco tempo. A sua
A sintomatologia aparece quando existe um grande eliminação não é contínua no individuo parasitado,
número de vermes resultantes de infestações suces- ocorrendo em períodos intermediários de 7 a 10
sivas, que ocorrem alguns meses depois da infes- dias (surtos), podendo ser vistos em pequenas
tação inicial. O período de transmissibilidade dura quantidades. Dependendo da situação, devem ser
enquanto as fêmeas grávidas expulsam os ovos que repetidos os exames coprológicos, para não haver
permanecem infectantes por 1 ou 2 semanas fora falso-negativos. Não há migração extraintestinal e
do hospedeiro. As complicações: são salpingites, nem ocorrem infecções transplacentárias e trans-
vulvovaginites e granulomas pélvicos. mamárias. Uma vez feita a ingestão, os cistos de
Giardia podem ser suprimidos nas fezes cerca de 5
O diagnóstico, em geral, é clínico devido ao prurido a 16 dias mais tarde e podem permanecer vigentes
retal característico. O diagnóstico laboratorial reside nas águas de rios ou de lagoas por até 84 dias.
no encontro do parasita e de seus ovos. Como dificil-
mente é conseguido nos exames parasitológicos de
fezes de rotina (achado casual quando o parasitismo DIA A DIA MÉDICO
é muito intenso), deve-se pesquisar diretamente na
região perianal, o que deve ser feito pelo Método
O aparecimento da giardíase é amplo, desde infecções
de Hall (swab anal) ou pelo Método de Graham assintomáticas até infecções com diarreia crônica asso-
(fita gomada), cuja coleta é feita na região anal e é ciada à esteatorreia, perda de peso e má absorção intes-
seguida de leitura em microscópio. Também podem tinal. Pode se relacionar com a má absorção de açúcares,
ser pesquisados em material retirado de unhas de gorduras e vitaminas A, D, E, K (lipossolúveis), B12, ácido
crianças infectadas, que oferecem alto índice de fólico, ferro e zinco. Em sua forma aguda, se caracteriza
por diarreia do tipo explosiva, seguida de distensão e
positividade. O tratamento pode ser com pamoato
dor abdominal. Outros sintomas inespecíficos também
de pirvínio, mebendazol ou albendazol. podem estar presentes, como: constipação, anorexia,
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náuseas, vômitos e desconforto abdominal variável. Pode
aparecer na infância, por deficiência de lactose, devido
à perda da atividade enzimática na mucosa do intestino
3. G IARDÍASE
delgado. O diagnóstico laboratorial é feito a partir de
exame coprológico e o tratamento somente nos pacientes
sintomáticos ou assintomáticos imunodeprimidos com
A giardíase é uma protozoose causada pelo verme metronidazol ou albendazol.
Giardia lamblia, que é um protozoário flagelado,
monoxênico (ciclo de vida em hospedeiro único),
com formato de trofozoíto e de cisto. É uma infecção
amplamente distribuída e pode ser avaliada como a 4. A MEBÍASE
causadora de diarreia tanto aguda quanto crônica,
colaborando assim para deficiência e má absorção
A amebíase é uma infecção determinada pelo pro-
de nutrientes. A disseminação da giardíase está
tozoário Entamoeba histolytica. Os protozoários
integrada a vários fatores, tais como: contamina-
deste grupo são organismos que se movimentam
ção por meio da água, legumes, frutas e vegetais
e incorporam alimentos por meio de pseudópodes.
infectados pelos cistos e por meio do contato direto
O ciclo biológico da E. histolytica é relativamente
inter-humano (fecal-bucal).
simples, começando pela ingestão de cistos em
Com a ingestão do cisto, o desencistamento é água ou alimentos contaminados que desencistam
iniciado no meio ácido do estômago, chegando ao no lúmen do intestino delgado, gerando o metacisto
duodeno e jejuno, onde há a conversão para a forma (ameba com quatro núcleos). O metacisto sofre
de trofozoíto, a qual pode viver livre na luz intestinal consecutivas divisões binárias, formando os trofo-
ou fixar-se na parede duodenal através de seu disco zoítos, que migram para o intestino grosso. Nessa
ventral. O trofozoíto multiplica-se por um processo parte, os trofozoítos se aderem ao muco e às células
de divisão binária longitudinal, surgindo grande epiteliais, podendo se reencistar no lúmen do colón
95
Parasitoses na infância Gastroenterologia Pediátrica
e ser eliminados juntamente com as fezes, dando antígenos de Toxocara, a fim de confirmar o diagnóstico.
seguimento ao seu ciclo biológico. Títulos séricos de anticorpos podem ser baixos ou inde-
tectáveis. É comum haver hiperglobulinemia, leucocitose
e eosinofilia acentuadas. A tomografia computadorizada
ou ressonância magnética pode revelar múltiplas lesões
DIA A DIA MÉDICO ovais distribuídas no fígado ou em nódulos subpleurais
no tórax. Biópsias de fígado ou outros órgãos afetados
O sintoma clínico mais comum é a dor abdominal, com podem mostrar reações granulomatosas eosinofílicas,
ou sem alteração no padrão das fezes. Complicações mas as larvas são de difícil detecção em cortes de teci-
podem estar presentes e acometer regiões extraintes- dos; portanto, as biópsias podem não ser elucidativas.
tinais, como no caso da necrose amebiana do fígado,
úlceras e colites inflamatórias. O exame laboratorial para
diagnóstico da amebíase intestinal é a partir da análise O tratamento consiste principalmente no uso do
da presença do parasita nas fezes. O tratamento é para albendazol ou mebendazol para os pacientes sin-
os pacientes sintomáticos e assintomáticos pelo risco tomáticos. Para aqueles assintomáticos ou com
de invasão da corrente sanguínea. A etofamida é usada sintomas leves, a conduta pode ser expectante, não
nos casos de doenças não invasivas, e o metronidazol exigindo terapia anti-helmíntica, porque a infecção
para doenças invasivas. costuma ser autolimitada. Anti-histamínicos podem
ser suficientes para sintomas leves, e corticoides
podem ser associados para os pacientes com
sintomas intensos. Pacientes com Larva migrans
5. TOXOCARÍASE ocular podem se beneficiar do uso oral ou tópico
de corticoides, assim como de fotocoagulação a
laser, para reduzir a inflamação ocular e erradicar
Os ovos de Toxocara canis amadurecem no solo e
as larvas na retina.
infectam cães, gatos e outros animais. Seres huma-
nos podem acidentalmente ingerir ovos a partir do
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solo contaminado com fezes de animais infectados
ou podem ingerir hospedeiros infectados malcozi- 6. TRICHURIS TRICHIURA
dos. Os ovos eclodem no intestino humano, e as
larvas penetram na parede do intestino, podendo O Trichuris trichiura está relacionado com a tricu-
migrar para o fígado, os pulmões, o sistema ner- ríase. A forma de contágio se dá a partir da elimi-
voso central, os olhos e outros tecidos. A lesão nação dos ovos nas fezes com a ingestão pelo
tecidual é causada por reações granulomatosas hospedeiro. No intestino delgado do hospedeiro, os
eosinofílicas focais às larvas migrantes. As larvas ovos eclodem em larvas que migram para o ceco
normalmente não completam o desenvolvimento e para o cólon ascendente, transformando-se em
no corpo humano, mas podem permanecer vivas vermes adultos. Pode haver a presença de reação
durante muitos meses. inflamatória do ceco e do cólon ascendente, além
de necrose por liquefação da mucosa intestinal.
A maior parte dos pacientes tende a ser assintomá-
DIA A DIA MÉDICO tica; entretanto, pode haver a presença de sintomas
inespecíficos, como perda ponderal e anorexia, e
o PROLAPSO RETAL como sintoma característico
O Toxocara canis causa a Larva migrans visceral. Clini-
camente, pode haver a presença de febre, anorexia, hepa- dessa parasitose. O albendazol e o mebendazol
tosplenomegalia, rash cutâneo, pneumonite e sintomas são as drogas mais utilizadas para o tratamento.
respiratórios. Ocorre principalmente em crianças de 2 a
5 anos com histórico de geofagia. A síndrome é autoli-
mitada em 6 a 18 meses, se não houver nova ingestão
de ovos. O diagnóstico baseia-se em achados clínicos,
epidemiológicos e sorológicos. Os exames coprológicos
normalmente não são úteis para o diagnóstico. Reco-
menda-se a realização de imunoensaio enzimático para
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Parasitoses na infância Cap. 5
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ascaridíase, enterobíase, ancilostomíase, estron- Medicação Dose
giloidíase e giardíase. Essa medicação é a mais
Mebendazol 100 mg, via oral, 2 vezes
abrangente, como droga única, visando ao controle
(a partir de 1 ano) ao dia por 3 dias. Repetir
das parasitoses mais prevalentes de uma forma após 3 semanas.
(100 mg/5 mL)
geral. Se houver a informação sobre alta prevalência
de giardíase, deve-se associar o metronidazol ou o Albendazol
(a partir de 2 anos) 400 mg, via oral, dose única.
tinidazol. Essas medidas de controle, mesmo não Repetir após 3 semanas.
(400 mg/10 mL)
sendo consenso na literatura, podem ser importan-
tes para o tratamento individual das parasitoses, Metronidazol 20 a 40 mg/kg/dia, fracionado
bem como para a diminuição de sua prevalência (a partir de 1 ano) em 2 ou 3 vezes, por 10 dias
na comunidade a longo prazo. Tiabendazol 50 mg/kg/dia, 2 vezes ao dia,
(250 mg/5 mL) por 2 dias. Repetir após 15 dias.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orienta
que o tratamento preventivo seja realizado para Pamoato de 10 mg/kg em dose única, pela
todos os pacientes susceptíveis em áreas endê- Pirvínio manhã em jejum. Repetir após
micas a partir de 1 ano de idade, a cada 6 meses (400 mg/40 mL) 15 dias. Dose máxima: 800 mg.
até 5 anos e 1 vez por ano até os 12 anos de idade. Fonte: Adaptada de Sociedade Brasileira de Pediatria3.
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Parasitoses na infância Gastroenterologia Pediátrica
Parasitoses
Hábitos alimentares
Importante problema
Transmissão Baixo nível socioeconômico
de saúde pública
A Ancylostoma duodenale
Síndrome Principais
de Löeffler parasitas
S Strongyloides
Pneumonite
A Ascaris lumbricoides
eosinofílica com
tosse e sibilos
migratórios
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Necator americanus e Enterobius vermiculares
Strongyloides Ascaris lumbricoides
Ancylostoma duodenale ou oxiúrus
Albendazol, mebendazol
Albendazol Albendazol ou tiabendazol Albendazol
ou pamoato de pirvínio
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Parasitoses na infância Cap. 5
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Ferreira MU, Ferreira CS, Monteiro CA. Tendência secular das
parasitoses intestinais na infância na cidade de São Paulo
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Lopes AJ, Rocha JL, Kirk KM, Jansen JM. Síndrome de Löffler.
Pulmão. 2005; 14(4): 325-7.
Ministério da Saúde (BR). Doenças Infecciosas e parasitárias.
4. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.
Sociedade Brasileira de Pediatria. Manual Prático de Aten-
dimento em Consultório e Ambulatório de Pediatria. Rio de
Janeiro: SBP; 2006
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Parasitoses na infância Gastroenterologia Pediátrica
QUESTÕES COMENTADAS
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idade, independentemente da situação de risco
epidemiológico, uma vez ao ano.
Questão 2
⮧ Apenas para as crianças com sintomatologia,
(INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRAS – RJ – 2021) As parasito- independentemente do resultado do protopara-
ses intestinais determinam várias consequências; sitológico de fezes.
sua maior importância relaciona-se ao efeito nocivo
⮨ Apenas para as crianças com 3 amostras de pro-
sobre a nutrição das crianças, seu crescimento e o
toparasitológico positivos, independentemente
desenvolvimento cognitivo. Sobre o quadro clínico
da presença de sintomatologia.
das parasitoses intestinais na infância assinale a
afirmativa INCORRETA: ⮩ Apenas para as crianças que apresentam sin-
tomatologia e com exame protoparasitológico
⮦ A Giardia lamblia pode causar esteatorreia, per- positivo, independentemente da idade e da si-
da ponderal, prejuízo na absorção de nutrientes, tuação de risco epidemiológico local.
déficit de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K, ⮪ Para todas as crianças em idade escolar, mora-
vitamina B12, ferro e lactase. doras de regiões com alto risco epidemiológi-
⮧ Ascaris lumbricoides é uma causa comum de co, duas vezes ao ano, independentemente da
semi-oclusão ou oclusão intestinal. presença de sintomatologia ou do resultado do
⮨ Ancylostoma duodenale ou Necator america- protoparasitológico de fezes.
nos é a principal causa de anemia ferropriva na
infância por hematofagismo.
Questão 4
⮩ Enterobius vermicularis causa a migração dos
parasitas para a genitália feminina e consequen- (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE FLORIANÓPOLIS – SC –
te vaginite, cervicite e/ou salpingite. 2021) Beatriz acompanha sua filha Julia na consulta
100
Parasitoses na infância Cap. 5
com sua médica de família, queixando-se que a ⮦ Giardíase é a principal enteroparasitose que leva
criança vem apresentando episódios de dores de à má absorção intestinal.
barriga recorrentes, há cerca de três meses, pelo ⮧ O abscesso hepático amebiano costuma ser múl-
menos uma vez na semana, sem relação com ali- tiplo, loculado, provoca com frequência diarreia,
mentação. Demonstra preocupação porque isso já febre e icterícia.
fez com que a criança tivesse que faltar à escola em
⮨ Ascaridíase tem como habitat o duodeno e jeju-
algumas ocasiões, dada a intensidade da dor. Nega
no e, em adultos, muitas vezes provoca dor epi-
diarreia ou perda de peso no período. Ao examinar o
gástrica simulando um quadro ulceroso péptico.
abdome de Júlia, que não apresenta achados signi-
ficativos, a médica questiona sobre onde costuma ⮩ Na Síndrome de Loeffler, a imagem radiológi-
sentir a dor e a criança aponta a região periumbili- ca característica são as condensações pulmo-
cal, o que é confirmado pela mãe. Pergunta ainda nares semelhantes às vistas nas pneumonias
sobre mudanças recentes significativas na vida da bacterianas.
criança e Beatriz conta sobre processo de divórcio ⮪ O método Kato-Katz é indicado na investigação
um pouco conturbado que está vivenciando com o de Estrongiloidíase.
marido. Considerando o quadro clínico da pacien-
te, o diagnóstico mais provável e a conduta mais
indicada para o caso são: Questão 7
⮦ Úlcera péptica, realizando teste terapêutico com (AUTARQUIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE APUCARANA – PR - 2021)
inibidor de bomba de prótons. Dois irmãos, um com oito anos e o outro com seis
anos de idade são levados à UBS (Unidade Básica
⮧ Parasitose intestinal, que deve ser confirmada de Saúde) com a queixa de que há uma semana,
com exame parasitológico de fezes. estão apresentando prurido anal no período da noi-
⮨ Dor abdominal recorrente, com tranquilização te, levando-os a perder o sono. Ambos apresentam
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sobre a evolução benigna do quadro. exame físico sem alterações. Os medicamentos
que podem ser utilizados no tratamento desta pa-
⮩ Intolerância à lactose, devendo ser solicitado um
tologia são:
teste de tolerância à lactose.
⮦ Albendazol e pamoato de pirvínio.
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e diarreia, com fezes líquidas de cor amarelo-es-
verdeada, odor fétido, 5 vezes ao dia, sem muco ou
sangue. Apresenta-se com adinamia e recusa ali-
mentar. Ao exame: regular estado geral, acianótico,
anictérico, afebril, hidratado, hipocorado (1+/4+), aus-
culta cardíaca sem alterações, ausculta pulmonar
com roncos e sibilos difusos. Abdome normotenso,
globoso, hipertimpânico, indolor, fígado palpável a 3
cm do RCD, parenquimatoso. Exames laboratoriais:
hemograma com Hb: 8,5 g/dl; Leucócitos: 12.000
(25% de eosinófilo), RX tórax com infiltrado peri-hilar
e hilar difuso. Qual o provável agente responsável
pela associação deste quadro intestinal com mani-
festação pulmonar e a opção terapêutica?
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Parasitoses na infância Cap. 5
GABARITO E COMENTÁRIOS
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ser mais sintomáticas que os adultos. Logo, os Alternativa D: INCORRETA. Larvas de áscaris que mi-
sintomas não correspondem aos supracitados na gram para os pulmões podem causar tosse, sibilos
questão. Uma das opções terapêuticas da teníase e, ocasionalmente, hemoptise ou outros sintomas
realmente é o Praziquantel, dose única, 5 a 10 mg/ respiratórios nas pessoas sem exposição prévia ao
kg de peso corporal, por via oral. áscaris. Vermes adultos em pequeno número ge-
Alternativa B: CORRETA. A maioria das pessoas con- ralmente não produzem sintomas gastrointestinais,
taminadas pela Giardia lamblia não apresentarão embora a passagem de um verme adulto pela boca
sintomas. Naqueles que terão sintomas, os mais ou pelo reto possa levar um paciente assintomático
comuns são: diarreia, normalmente bem líquida, a procurar um serviço de saúde. Obstrução intesti-
mas por vezes gordurosa, chamada de esteatorreia; nal ou biliar causa cólicas abdominais, náuseas e
cólicas abdominais; mal-estar; flatulência; náuseas vômitos. Icterícia é incomum. Deve-se tratar todas
e vômitos; emagrecimento. Após uma fase aguda, as infecções intestinais. Albendazol, 400 mg VO
cerca de 2/3 dos pacientes que tiveram sintomas em dose única, mebendazol, 100 mg VO 2 vezes
apresentam melhora espontânea; 1/3, porém, desen- por dia durante 3 dias, ou 500 mg VO dose única,
volvem a infecção crônica pela giardia, mantendo-se ou ivermectina 150 a 200 mcg/kg, por via oral, em
infectados e sintomáticos por longos períodos. Na dose única é eficaz.
giardíase crônica, os sintomas mais comuns são: ✔ resposta: B
fezes pastosas; esteatorreia (fezes gordurosas e
com forte odor); perda de peso importante; can-
saço; depressão. Um dos principais problemas da Questão 2 dificuldade:
infecção pela giárdia é a síndrome de má absorção,
caracterizada clinicamente pela perda de peso e Y Dica do professor: A síndrome da hiperinfesta-
esteatorreia. O paciente com giardíase apresen- ção em pacientes imunossuprimidos foi descrita
ta dificuldade em digerir gorduras, carboidratos em associação com a infecção por Strongyloides
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por meio da realização de parasitológico de fezes, ✔ resposta: C
que permitem classificar os locais em alto, médio
e baixo risco. Os locais de alto risco, onde mais de
Questão 5 dificuldade:
50% dos estudados tiveram o parasitológico posi-
tivo, deve ser feita a profilaxia 2 vezes ao ano. Nos Y Dica do professor: A larva migrans, também conhe-
casos de risco moderado (entre 20 e 50%), faz-se 1 cida como Helminthiasis migrans, dermatite linear
vez ao ano e, para os casos de baixo risco, trata-se serpiginosa, bicho geográfico e bicho de praia é
apenas as crianças com o parasitológico positivo. causada mais comumente pelo Ancylostoma bra-
✔ resposta: E siliensis, parasita intestinal do cachorro e do gato,
sendo seus ovos eliminados com as fezes destes
animais. Pode afetar adultos e crianças, sendo mais
Questão 4 dificuldade: comum nas crianças, que adquirem a infestação em
areia de praia, construção, parques ou jardins, onde
Y Dica do professor: Este quadro clínico é bastante os animais infestados depositam suas fezes com
sugestivo de Dor Abdominal Recorrente (DAR). Esta os ovos. O quadro cutâneo inicia-se com o apare-
que é definida como a ocorrência de 3 ou mais ata- cimento de pápula encimada por pequena vesícula
ques de dor no abdome, em período não inferior a que assim permanece durante alguns dias. Deste
3 meses, graves o suficiente para interromper as ponto surge o elemento característico desta para-
atividades cotidianas, sendo que entre episódios sitose, representado por lesão linear serpiginosa,
dolorosos a criança mantém-se assintomática. progressiva, de tamanho variado, que muda frequen-
Alternativa A: INCORRETA. Em crianças em idade esco- temente de direção, apresentando pequena eleva-
lar e adolescentes, a úlcera péptica costuma causar ção na sua parte final. O tratamento de escolha é
náuseas e dor na região do estômago ou ao redor feito com ivermectina oral para adultos e crianças
do umbigo. Podem estar associadas a náuseas e com mais de 15 kg (a dose única de 200 mcg/kg é
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Parasitoses na infância Cap. 5
bastante efetiva). Em caso de indisponibilidade da sono intranquilo, causada pelas fêmeas do parasito,
ivermectina, o tratamento alternativo é feito com que são expulsas para a região perianal repletas de
albendazol. Em crianças acima de 2 anos, a dose ovos. Os medicamentos que podem ser utilizados
do albendazol é de 10 a 15 mg/kg/dia (dose máxi- no tratamento dessa patologia são: mebendazol
ma de 800 mg/dia) por 3 dias. Não há indicação (100 mg, 2 vezes ao dia, durante 3 dias consecuti-
de remoção cirúrgica na larva migrans. A parasito- vos), albendazol (10 mg/kg, VO, dose única, até no
se que tem como indicação remoção cirúrgica é a máximo de 400 mg), pamoato de pirvínio (10 mg/
tungíase (bicho de pé), causada pela pulga tunga kg, VO, dose única), pamoato de pirantel (11 mg/kg,
penetrans que habita o solo de zonas arenosas, dose única, max 1 g, repetir em 2 semanas).
quentes e secas. ✔ resposta: A
✔ resposta: D
Questão 8 dificuldade:
Questão 6 dificuldade:
Y Dica do professor: As parasitoses intestinais são
Y Dica do professor: Questão direta sobre parasito- infecções intestinais causadas principalmente por
ses. Vamos analisar as afirmativas isoladamente. protozoários ou helmintos, sendo um problema se
Alternativa A: CORRETA. A giardia é um protozoário saúde pública frequente em nosso meio. As princi-
que acarreta atapetamento do intestino delgado, pais manifestações clínicas no geral, incluem dor
acarretando má absorção. abdominal, podendo cursar também com anorexia,
irritabilidade, distúrbios do sono, vômitos, náuseas e
Alternativa B: INCORRETA. O abscesso hepático ame-
quadros diarreicos. O conhecimento da sintomatolo-
biano costuma ser ÚNICO, localizar-se em lobo di-
gia envolvendo cada tipo de parasitoses intestinais
reito do fígado e apresentar sinais e sintomas tais
é essencial para tanto para as provas de residência,
como febre, dor em hipocôndrio direito, sudorese
quanto para a prática médica diária.
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noturna e Sinal de Torres -homem positivo (percus-
são dolorosa sobre gradil costal direito). Alternativa A: INCORRETA. O prurido anal é queixa
frequente na oxiuríase, também chamado de en-
Alternativa C: INCORRETA. A dor epigástrica simu-
terobíase. Essa doença é causada pelo Enterobius
lando úlcera péptica é compatível estrongiloidíase.
vermicularis, um parasita da classe Nematoda. A
Alternativa D: INCORRETA. A Síndrome de Löeffler tricuriase, geralmente é marcada pelo prolapso re-
caracteriza-se por tosse seca, infiltrado pulmonar tal, resultante de infecções graves pelo Trichuris
migratório e eosinofilia, sem semelhança com qua- trichiura, um parasita comum do intestino grosso.
dros de pneumonia bacteriana. Pode estar presente
Alternativa B: CORRETA. Quando uma criança apre-
na helmintíase por: Strongyloides stercoralis, Ancy-
senta dificuldade respiratória, sibilos e infiltrados
lostoma duodenale, Necator americanos, Toxocara
nodulosos torácicos, devemos suspeitar da Síndro-
canis e Ascaris lumbricoides.
me de Loeffler. Essa síndrome refere-se a um quadro
Alternativa E: INCORRETA. O Método Kato-Katz é in- de manifestações respiratórias decorrentes de uma
dicado na investigação de esquistossome, objeti- resposta a infecção parasitária. Ocorre nas situa-
vando a busca de ovos nas fezes. ções de parasitas que realizam o Ciclo Pulmonar
✔ resposta: A de Looss. Os principais parasitas causadores dessa
síndrome são Ascaris lumbricoides, Strongyloides
stercoralis, Necator americanus, Ancylostoma duo-
Questão 7 dificuldade:
denale e Toxocara canis.
Y Dica do professor: A oxiuríase é uma parasitose Alternativa C: INCORRETA. A amebíase é uma infecção
intestinal provocada pelo nematódeo Enterobius causada pelo protozoário Entamoeba histolytica que
vermicularis. Sua manifestação clínica mais comum acomete o cólon e se transmite pela via oral-fecal.
consiste na sensação de prurido anal noturno, que Vale lembrar que nesses casos, o paciente deve
causa irritabilidade, desassossego, desconforto e
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ovos eclodirem no intestino, para regiões bem oxi- mecanismo fisiopatológico diverso do da anemia
genadas (pulmões), através da corrente sanguínea. ancilostomótica. Na ancilostomose, a anemia de-
São capazes de migrar através da árvore brônquica corre essencialmente da espoliação de ferro, e con-
em sentido proximal, até serem engolidas e voltarem funde-se com qualquer outra anemia ferropênica.
ao intestino, onde há a transformação em vermes Esta anemia depende quase que exclusivamente da
adultos. Vamos relembrar quais são os parasitas carência de ferro ocasionada pelas perdas sanguí-
capazes de realizar esse ciclo: Strongyloides ster- neas, o que não ocorre na anemia nutricional. Na
coralis; Ascaris lumbricoides; Necator americanos; desnutrição proteico-energética, os sintomas clíni-
Toxocara canis e Ancylostoma duodenale. Dessa cos devem-se à carência alimentar. Esta deficiência
forma, podemos eliminar, na questão, as letras B, C e proteica afeta o crescimento e, consequentemente,
D, visto que trazem patógenos que não apresentam influi no funcionamento do sistema nervoso, o que
esse ciclo. Logo, temos como resposta a alternativa prejudica o desenvolvimento psíquico.
A: temos um quadro de estrongiloidíase, que pode ✔ resposta: D
ser tratado com ivermectina ou benzimidazólicos
(albendazol, tiabendazol).
✔ resposta: A
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PNEUMOLOGIA
PEDIÁTRICA
Pneumologia Pediátrica
Sumário
Prevalência/importância
6. Tuberculose na infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
7. Lactente sibilante e asma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
8. Atopias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9. Fibrose cística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Capítulo
TUBERCULOSE NA INFÂNCIA
6
importância/prevalência
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de maior incidência de bacilíferos no Brasil hoje é a
Em 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) dos privados de liberdade (presidiários, abrigados
estimou a ocorrência de 10 milhões de casos novos em asilos e manicômios) e a dos indivíduos em
de tuberculose no mundo, sendo 11% em menores situação de rua, mas mesmo essa população pode
de 15 anos, com 205.000 mortes em decorrência ter contato com seus familiares e com as crianças,
da tuberculose nessa faixa etária, o que representa de modo a transmitir a doença.
13,8% de todas as mortes por tuberculose. Outro
dado importante é que 32.000 mortes ocorreram
em crianças coinfectadas pelo HIV. A incidência DIA A DIA MÉDICO
estimada de tuberculose em menores de 15 anos é
de 50 para cada 100.000 crianças. No Brasil, houve
As crianças têm um papel fundamental no entendimento
uma queda lenta, porém constante, na incidência da epidemiologia da tuberculose, pois sua infecção geral-
de tuberculose. Atualmente, ela é de 6,4 para cada mente resulta de uma exposição domiciliar. Dessa forma,
100.000 crianças menores de 2 anos e de 4,8 para o caso de tuberculose na infância funciona como um caso
cada 100.000 crianças de 5 a 14 anos. sentinela que indica a existência de transmissão recente
ou contínua de tuberculose na comunidade. O diagnóstico
O Brasil está entre os trinta países considerados de uma criança com tuberculose deve motivar a busca
pela OMS como prioritários para o controle da ativa dos possíveis adultos bacilíferos, assim como o
tuberculose no mundo, integrando tanto o grupo de diagnóstico de um adulto bacilífero deve desencadear a
países com alta incidência da tuberculose quanto investigação de todas as crianças comunicantes.
o grupo de países com alta taxa de coinfecção
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Tuberculose na infância Pneumologia Pediátrica
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muito intensa, ou se a resposta imune específica
é o M. tuberculosis, também conhecido como bacilo
demorar a ocorrer, surgem as formas mais graves,
de Koch, um bacilo aeróbio álcool-ácido resistente
como a tuberculose miliar e a neurotuberculose.
(de acordo com o padrão de coloração da parede
bacteriana) que apresenta transmissão respirató- Estima-se que, após a infecção, ocorra evolução
ria por aerossóis produzidos por pacientes com para doença em 10% dos casos em todas as faixas
tuberculose bacilífera (tuberculose ativa pulmonar etárias, sendo 5% primoinfecção (doença primária) e
ou laríngea). As gotículas exaladas (gotículas de 5% algum tempo depois (por reinfecção ou reativa-
Flügge) rapidamente ressecam e se transformam ção). Embora no adulto o adoecimento possa ocorrer
em partículas menores, contendo um ou dois bacilos anos após a infecção (tuberculose pós-primária ou
(núcleos de Wells) capazes de atingir os alvéolos. secundária), na criança a progressão para a doença
Essas partículas permanecem em suspensão no ar ocorre como um continuum, exibindo sinais clínicos
por dias, principalmente em ambientes pequenos e/ou radiológicos em 1 a 3 meses da infecção, o
com aglomerações, pouco arejados e sem ilumi- que caracteriza a tuberculose primária e se apre-
nação solar, ideais para a disseminação do bacilo. senta com o complexo primário de Ranke (lesão
parenquimatosa pulmonar chamada de nódulo de
A probabilidade de uma pessoa ser infectada
Ghon associada à linfangite tuberculosa local e ao
depende de fatores exógenos, como a infectividade
comprometimento do linfonodo regional).
do caso-fonte, a duração do contato e o tempo de
ambiente partilhado. Estima-se que uma pessoa O risco de uma criança infectar-se se exposta a um
com baciloscopia positiva infecte de 10 a 15 pessoas adulto bacilífero é variável com a idade, mas estima-
da comunidade durante um ano. O risco de trans- -se que seja em torno de 70 a 80% nos menores de
missão perdura enquanto o paciente for bacilífero. 1 ano, reduzindo-se progressivamente conforme a
110
Tuberculose na infância Cap. 6
BASES DA MEDICINA
DIA A DIA MÉDICO
O teste tuberculínico é um teste in vivo que mede a
enduração formada na pele por uma intradermorreação
Em algumas populações, como moradores de áreas rurais
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em resposta à injeção de uma tuberculina. Essa reação
e profissionais do campo (veterinários, ordenhadores,
acontece em indivíduos previamente infectados pelo
funcionários de matadouro) que têm o hábito de consumir
M. tuberculosis, independentemente se houve ou não
leite e derivados não pasteurizados e não fervidos, o M.
evolução para doença. A técnica correta de aplicação
bovis apresenta relevância semelhante ao M. tuberculosis
é essencial para evitar a ocorrência de falso-negativos
no desenvolvimento de tuberculose, estando associado
(por má técnica ou má qualidade da tuberculina empre-
com maior frequência às formas ganglionar e extrapul-
gada). Fatores que interferem na imunidade do paciente,
monar da doença.
como imunossupressão, quadros virais, febre e aplicação
recente de vacinas de vírus vivo atenuado são outras cau-
sas de falso-negativos. Falso-positivos podem decorrer
da reação cruzada com outras micobactérias, como o
3. D IAGNÓSTICO M. bovis, que dá origem à BCG e às micobactérias não
tuberculosas.
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Tuberculose na infância Pneumologia Pediátrica
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em comunicantes de casos bacilíferos. Além disso, manifesta geralmente como uma tuberculose miliar, com
achados disseminados em pulmão, fígado, baço e até trato
existem relatos de crianças menores de 2 anos com
biliar. Lembre-se de que a tuberculose perinatal pode ser
tuberculose grave que permanecem com teste tuber- prevenida com o uso da quimioprofilaxia primária.
culínico não reator até a instituição do tratamento.
O quadro clínico de tuberculose pulmonar é muito A radiografia de tórax deve ser solicitada preco-
variável em menores de 15 anos e pode mimetizar cemente em todas as crianças com suspeita de
doenças respiratórias comuns, como infecções res- tuberculose, e em alguns casos pode estar alterada
piratórias, pneumonias complicadas ou de repetição inclusive antes do aparecimento dos sintomas
e até asma. Frequentemente, a criança apresenta clínicos. Mas tome cuidado, pois a radiografia não
baixo ganho ponderal ou perda de peso, astenia, exclui a possibilidade de tuberculose pulmonar.
febre vespertina baixa ou intermitente com duração
O foco pulmonar habitualmente corresponde a uma
superior a 15 dias, tosse persistente por mais de 2
pequena opacidade parenquimatosa, frequente-
semanas, taquipneia, sudorese profusa, linfadeno-
mente unifocal, acometendo mais os lobos supe-
megalia e hepatoesplenomegalia. Sempre suspeitar
riores e o pulmão direito na infância (Figura 2).
de tuberculose pulmonar em crianças com pneu-
Os segmentos mais acometidos são o segmento
monia que não melhora com a antibioticoterapia
anterior dos lobos superiores e o segmento médio
habitual. Raramente aparece escarro sanguinolento
do lobo médio. Além disso, pneumonia de qualquer
ou hemoptise em menores de 10 anos.
aspecto radiográfico de evolução lenta ou que cavita
No caso da tuberculose linfoganglionar, deve-se durante a evolução também pode ser indicativa de
suspeitar da presença de linfonodos indolores, fixos tuberculose.
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Tuberculose na infância Cap. 6
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Pode ocorrer compressão extrínseca da via aérea tem melhor sensibilidade, mas, mesmo assim, não
pela linfadenomegalia, com consequente atelectasia tem bom rendimento em crianças.
ou enfisema obstrutivo.
A positividade em 3 amostras de baciloscopia e
cultura de lavado gástrico é de 50% dos casos de
DICA tuberculose pulmonar, mas esse método tem como
Suspeitar de tuberculose pulmo-
inconveniência a necessidade de internação para
nar em crianças com dissociação clínico-
-radiológica (achados clínicos discretos, a sondagem nasogástrica e coleta das amostras
porém alteração radiográfica importante), cedo em jejum.
contato prévio com indivíduos bacilíferos
e na presença de adenomegalia hilar ou
paratraqueal. DICA
CUIDADO! Em crianças, a negativida-
de das baciloscopias e culturas NÃO afasta
o diagnóstico de tuberculose doença.
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Tuberculose na infância Pneumologia Pediátrica
Tabela 1. Escore de pontos para o diagnóstico de Tuberculose Pulmonar (TB) em menores de 15 anos.
Sem alterações –5
≥ 10 mm + 10
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Teste tuberculínico Entre 5-9 mm +5
< 5 mm 0
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Tuberculose na infância Cap. 6
O Gene Xpert é um teste molecular que combina lesão nesses sítios, provando-se um exame auxiliar
o PCR para M. tuberculosis com a identificação de importante principalmente na tuberculose pleural.
resistência à rifampicina. A sensibilidade é de 92,5%
e a especificidade de 99% em relação à cultura de 3.9. E XAMES DE IMAGEM
escarro de adultos. Deve ser solicitado na infância
quando houver facilidade de coleta da amostra,
A Tomografia Computadorizada (TC) e a Resso-
como em adolescentes acima de 10 anos, que
nância Nuclear Magnética (RNM) podem auxiliar
geralmente são bacilíferos.
no diagnóstico de tuberculose extrapulmonar.
A tomografia de tórax ajuda a caracterizar melhor
3.7. PESQUISA DE INTERFERON- as alterações pulmonares, embora, em geral, nas
GAMA ESPECÍFICO crianças elas não sejam tão características de
tuberculose, além de identificar adenopatia hilar,
Os testes in vitro chamados de Interferon Gamma compressões brônquicas, pequenos derrames e
Release Assay (IGRA) baseiam-se na pesquisa de lesões parenquimatosas.
linfócitos T CD4 produtores de interferon previa-
A TC ou RNM de crânio podem ser utilizadas na
mente sensibilizados e presentes no sangue do
suspeita de neurotuberculose, evidenciando alte-
paciente sob suspeita de infecção. Ao apresentar
rações precoces como hidrocefalia, espessamento
o antígeno específico do M. tuberculosis (e não
meníngeo e infartos parenquimatosos. A TC ou RNM
presente no BCG) a uma população de linfócitos no
óssea podem ser utilizadas para o diagnóstico de
sangue periférico, aqueles sensibilizados iniciam a
tuberculose osteoarticular de coluna, identificando
produção de interferon-gama específico, que pode
lesões líticas, osteólise, acometimento de partes
ser dosado. Sua principal vantagem é ser especí-
moles contíguas ou de estruturas cartilaginosas.
fico para o M. tuberculosis, eliminando a reação
cruzada com a BCG e com outras micobactérias.
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Tem maior sensibilidade em imunodeprimidos do
que o teste tuberculínico, mas, assim como o teste 4. I NVESTIGAÇÃO DOS CONTATOS
tuberculínico, também não consegue diferenciar os
doentes dos apenas infectados, sendo considerado
mais um complemento do que um substituto do BASES DA MEDICINA
teste tuberculínico.
Com relação às desvantagens, além de esse exame É importante conhecer algumas definições importantes
apresentar um custo mais elevado, ele não está para o controle de contatos da tuberculose:
recomendado para menores de 2 anos devido à W Caso índice: paciente inicialmente identificado com
baixa produção de interferon-gama que ocorre tuberculose em um ambiente em que outras pessoas
nessa idade. Também não é um exame muito con- possam ter sido expostas. É em torno dele que a
avaliação dos contatos é centrada.
fiável em menores de 5 anos, pois mais de 10%
dos resultados são indeterminados, indicando a W Caso fonte: caso infectante daquela comunidade, não
repetição do exame. necessariamente o primeiro identificado.
W Contato: toda pessoa que convive no mesmo ambiente
(casa, trabalho, escola) com o caso índice ou o caso
3.8. PESQUISA DE ADA
fonte no momento do diagnóstico de tuberculose.
115
Tuberculose na infância Pneumologia Pediátrica
contatos devem ser convidados a comparecer à indicada de acordo com a idade do paciente. Em
Unidade Básica de Saúde (UBS) para avaliação crianças menores de 10 anos, deve ser solicitado
clínica. Caso os contatos sejam sintomáticos, está logo na primeira consulta o Raio-X (RX) de tórax e
indicada a realização de exames para investigação o teste tuberculínico (Fluxograma 1). Já em crian-
de tuberculose pulmonar doença, que em crianças ças maiores de 10 anos está indicada primeiro a
constitui a radiografia de tórax, o teste tuberculínico realização do teste tuberculínico, reservando-se a
e a baciloscopia e cultura de escarro. Já em contatos radiografia de tórax para aqueles com teste tuber-
assintomáticos, a avaliação complementar será culínico reator (Fluxograma 2).
RX tórax e Teste
RX normal RX suspeito
tuberculínico
≥ 5 mm Repetir em 8 semanas
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Tratar ILTB Conversão Sem conversão Alta
ILTB: infecção latente tuberculosa. Reator: ≥ 5 mm. Não reator: < 5 mm. Conversão: aumento ≥ 10 mm em relação ao teste tuberculínico anterior.
Fonte: Ministério da Saúde4.
ILTB: infecção latente tuberculosa. Conversão: aumento ≥ 10 mm em relação ao teste tuberculínico anterior.
Fonte: Ministério da Saúde4.
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Tuberculose na infância Cap. 6
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Não se esqueça de que a tuberculose é uma doença de
notificação compulsória após a sua confirmação. Apesar BASES DA MEDICINA
de a ILTB não integrar a lista nacional de doenças de noti-
ficação compulsória, ela deve ser notificada em uma ficha
específica, que serve para alimentar o banco de dados Quando uma pessoa saudável é exposta ao bacilo da
dos casos de tuberculose do país, o sistema TBWEB. tuberculose, ela tem 30% de chance de se infectar, depen-
dendo do grau de exposição, da infectividade do caso
índice e dos fatores imunológicos individuais. As pessoas
infectadas geralmente permanecem saudáveis por anos,
5.1. QUIMIOPROFILAXIA PRIMÁRIA com imunidade parcial ao bacilo, condição denominada
de infecção lactente pelo M. tuberculosis (ILTB). A OMS
estima que um quarto da população mundial tenha ILTB,
que não necessariamente precisa ser tratada, apenas em
BASES DA MEDICINA grupos de risco para adoecimento, como as crianças e
os imunodeprimidos.
Vale a pena relembrar alguns conceitos de preventiva
aqui relacionados com a quimioprofilaxia da tuberculose.
A profilaxia primária é aquela fornecida para evitar a O tratamento da ILTB tem por objetivo evitar que a
infecção pelo M. tuberculosis, sendo um bom exemplo a infecção evolua para doença. Deve ser instituído
quimioprofilaxia primária, que consiste no uso de medi- em todos os comunicantes de tuberculose baci-
cação para impedir que um paciente que apresenta alto lífera com idade inferior a 15 anos e com teste
risco de infecção (como RNs coabitantes de casos de tuberculínico reator, após descartado adoecimento
tuberculose bacilífera) adquira o bacilo. Já a profilaxia
(sem achados clínicos ou alterações de RX de
secundária no contexto da tuberculose tem por objetivo
evitar que um indivíduo já infectado pelo bacilo evolua para tórax). Antigamente o tratamento da ILTB era feito
doença. Nessa situação, fazemos o uso de medicação com isoniazida por 6 meses, mas o Ministério da
para o tratamento dessa infecção ainda latente (ILTB). Saúde modificou recentemente esse esquema,
117
Tuberculose na infância Pneumologia Pediátrica
recomendando que seja feito com isoniazida por 6 medicamento. Já a fase de manutenção tem o obje-
a 9 meses (total de 270 doses) ou com rifampicina tivo de eliminar os bacilos latentes ou persistentes,
por 4 meses (total de 120 doses). reduzindo a possibilidade de recidiva da doença.
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Quadro 2. Tratamento das formas clínicas da tuberculose.
2 meses:
2 meses:
• Rifampicina (R) + 2 meses, conforme a idade:
• Rifampicina (R) +
Fase intensiva • Isoniazida (H) + • < 10 anos: RHZ
• Isoniazida (H) +
• Pirazinamida (Z) + • > 10 anos: RHZE
• Pirazinamida (Z)
• Etambutol (E)
DICA
Em crianças menores de 10 anos Raramente há necessidade de internação para o
o tratamento da tuberculose é feito com tratamento da tuberculose, sendo reservada para
esquema tríplice (rifampicina, isoniazida investigação e tratamento inicial das formas graves
e pirazinamida) por 2 meses seguido de 4 (como a tuberculose meningoencefálica), naqueles
meses de rifampicina e isoniazida. pacientes com comorbidades como desnutrição
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Tuberculose na infância Cap. 6
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associação de HIV e tuberculose no nosso meio.
Caso a criança não tenha recebido a BCG na maternidade,
ela deve ser encaminhada para o posto de saúde mais
próximo para a sua realização no período neonatal. É uma
DIA A DIA MÉDICO vacina indicada apenas para menores de 5 anos e na
ausência de imunossupressão.
O tratamento da tuberculose geralmente é feito em regime
ambulatorial, mas, para aumentar a adesão, ponto essen-
cial para o sucesso terapêutico, é feito o Tratamento
Diretamente Observado (TDO), realizado por meio de
profissionais da saúde que observam a tomada do medi-
camento pelo menos 3 vezes por semana durante todo o
período de tratamento do paciente. Essa é uma estratégia
que não só garante o uso do medicamento, mas também
permite a criação de vínculo entre o paciente e o serviço
de saúde, permitindo a identificação de situações que
possam comprometer a adesão, como uso abusivo de
álcool e drogas, vulnerabilidade social e fragilidade da
rede de apoio familiar, permitindo a adoção precoce de
medidas que possam prevenir o abandono do tratamento.
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Tuberculose na infância Pneumologia Pediátrica
Linfonodomegalia regional
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e isoniazida
< 25 pontos: pouco provável
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Tuberculose na infância Cap. 6
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Barbisan BN, Toro AADC, de Almeida MB. Pneumologia
pediátrica. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu; 2018. v. 11. (Série
atualização e reciclagem em pneumologia – SPPT).
Gie RP. Leituras de radiografias de tórax em crianças suspei-
tas de possuir tuberculose pulmonar. Residência Pediátrica
2017 [citado em 14 jul. 2022];7(supl 1):20-6. DOI: 10.25060/
residpediatr-2017.v7s1-06. Disponível em: https://cdn.publi-
sher.gn1.link/residenciapediatrica.com.br/pdf/v7s1a06.pdf.
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Tuberculose na infância Pneumologia Pediátrica
QUESTÕES COMENTADAS
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criança, nessa consulta, está:
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isoniazida e pirazinamida. de tórax e prescreveram amoxicilina 50 mg/kg/dia,
⮨ O resultado do PPD é consequente ao contato durante 10 dias, para quadro de pneumonia. O anti-
com o pai da criança. A má resposta à amoxicilina biótico terminou há 14 dias, porém a criança continua
demonstra resistência ao antibiótico prescrito. sintomática. Ao exame físico, está em regular estado
geral, emagrecida, descorada +/4, levemente taquip-
⮩ Trata-se de tuberculose pulmonar muito prová-
neica, sem desconforto respiratório, com frequência
vel. Tratar por 2 meses com rifampicina, isonia-
cardíaca de 110 bpm e afebril. Apresenta gânglio cer-
zida e pirazinamida. Continuar com rifampicina
vical de 2 cm de diâmetro. Ausculta pulmonar com
e isoniazida por mais 4 meses.
roncos e estertores subcrepitantes difusos. Auscul-
ta cardíaca e abdome sem alterações. Recebeu as
Questão 5 seguintes vacinas, de acordo com a caderneta de
vacinação: BCG e hepatite B ao nascimento, 3 doses
(SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO MARANHÃO – MA – 2021) de pentavalente e VIP com 2, 4 e 6 meses, 2 doses
Em relação ao diagnóstico e conduta da tuberculo- de pneumocócica 10-valente e 2 doses de meningo-
se, assinale a alternativa correta: cócica conjugada tipo C com 3 e 5 meses. Exames
realizados no início do quadro: radiografia de tórax
⮦ A técnica-padrão para realização da cultura para apresenta condensação em lobo médio e hemogra-
M. tuberculosis é o meio de lowenstein-jensen. ma: Hb = 10,1 g/dL, Ht = 30%, volume corpuscular
Ela é padrão-ouro para o diagnóstico de tuber- médio (VCM) = 68 µ³, concentração de hemoglobina
culose com tempo de obtenção do resultado corpuscular média (CHCM) = 28 g/dL, coeficiente de
de 3-4 dias. variação do volume eritrocitário (RDW) = 18%, leucó-
⮧ Em pacientes pediátricos, há dificuldade de con- citos = 10.200 (3% bastonetes, 56% segmentados, 3%
firmação bacteriológica da tuberculose, pois a eosinófilos, 2% monócitos, 36% linfócitos), plaquetas
forma pulmonar nessa faixa etária é paucibacilar. = 390.000/mm³. Antes da adoção, foram realizadas
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Tuberculose na infância Pneumologia Pediátrica
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pulmonar inalterada. Foi realizado o PPD, que de- 2020) Adolescente com quadro de febre, moderada,
monstrou valor de 12 mm. Na história familiar, o pai persistente por mais de 15 dias e frequentemente
apresentava tosse e emagrecimento há um mês e vespertina, acompanhado de irritabilidade, tosse,
iniciara tratamento especifico há duas semanas e perda de peso, sudorese noturna, às vezes profusa.
o irmão de quatro anos de idade era assintomático Na investigação apresentou, duas baciloscopias di-
respiratório, com radiografia de tórax normal e PPD retas positivas no escarro; foi introduzido tratamento
com valor de 5 mm. Com base nessa situação hi- com o esquema básico. Assinale a alternativa cor-
potética, julgue o item a seguir. Deve-se iniciar iso- reta em relação ao tratamento. Segundo o Manual
niazida para o irmão da paciente, visando a tratar de Recomendações para o Controle da Tuberculose
uma tuberculose latente. no Brasil Ministério da Saúde:
⮦ CORRETO. ⮦ Inicia-se com Rifampicina; isoniazida; Pirazina-
⮧ INCORRETO. mida; Etambutol. Se surgir exantema, suspender
o tratamento e reintroduzir o tratamento droga
a droga após resolução.
Questão 8
⮧ Inicia-se com Estreptomicina; Etambutol, Iso-
(HOSPITAL ESTADUAL DO ACRE – AC – 2021) Em virtude da niazida e Pirazinamida. Se aparecer hepatite
dificuldade de isolamento do bacilo da tuberculo- suspender o tratamento.
se nas crianças infectadas, o Ministério da Saúde ⮨ Inicia-se com Rifampicina, Isoniazida e Pirazi-
recomenda um score para o diagnóstico, o qual namida. Se aparecer rabdomiólise suspender
considera todos os itens abaixo, exceto: o tratamento.
⮦ Estado nutricional. ⮩ Inicia-se com Rifampicina; Isoniazida e Pirazina-
mida. Se surgir neuropatia periférica suspender
⮧ Contato com adulto tuberculoso.
o tratamento e iniciar esquema duplo.
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Tuberculose na infância Cap. 6
GABARITO E COMENTÁRIOS
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e o teste tuberculínico. Já nos maiores de 10 anos
sudorese profusa, linfadenomegalia e hepatoes-
inicialmente deve-se solicitar o teste tuberculínico,
plenomegalia. Sempre diante da suspeita devemos
sendo a radiografia de tórax reservada apenas para
realizar uma radiografia de tórax. O foco pulmonar
aqueles contatos com teste tuberculínico reator.
habitualmente corresponde a uma pequena opa-
Vale lembrar que atualmente consideramos o teste
cidade parenquimatosa, frequentemente unifocal,
tuberculínico reator quando maior ou igual a 5 mm
sendo os segmentos mais acometidos o segmento
independentemente do tempo decorrido desde a
anterior dos lobos superiores e o segmento médio
vacina BCG. O tratamento da infecção latente por
do lobo médio. Além disso, a maioria das crianças
tuberculose (ILTB) só estará indicado se teste tuber-
apresenta linfadenomegalia, geralmente unilateral
culínico positivo na ausência de sintomas clínicos
(embora possa ser bilateral) e ocupando totalmente
ou alterações radiológicas. Como essa criança está
a região de hilo.
iniciando agora a investigação não há justificativa
no momento para o início do tratamento com rifam- Alternativa A: INCORRETA. Apesar da adenomegalia
picina ou isoniazida para ILTB. hilar ser um possível achado radiológico da pneu-
monia atípica, principalmente por Mycoplasma
✔ resposta: C pneumoniae não esperaríamos esse diagnóstico em
uma criança de 13 meses de vida, faixa etária mais
Questão 2 dificuldade: acometida pelos agentes típicos, como o Strepto-
coccus pneumoniae.
Y Dica do professor: A questão traz um lactente de Alternativa B: INCORRETA. A coqueluche se apresenta
13 meses com história de pneumonia recorrente principalmente como tosse persistente que evolui
(3ª internação em 8 meses) apresentando auscul- em crises, as vezes com cianose associada, episó-
ta e imagem radiológica localizada em lobo médio dios de engasgo e até vômitos pós-tosse. Em lac-
e associada a adenomegalia hilar. Lembrando que tentes a coqueluche pode se apresentar inclusive
125
Tuberculose na infância Pneumologia Pediátrica
com apneia associada. Note que o enunciado nega deaminase, enzima produzida por linfócitos T ati-
sintomas sugestivos de coqueluche como engas- vados encontrados em líquidos de serosas (pleura
go e cianose. e peritônio) e no líquor quando da presença do M.
Alternativa C: CORRETA. A maior dificuldade do diag- tuberculosis. Esse exame tem sensibilidade e espe-
nóstico de tuberculose pulmonar na infância é o cificidade de 80% quando há lesão nesses sítios.
encontro do bacilo de Koch, já que a doença pul- ✔ resposta: A
monar na infância evolui com menor exsudação e
formação de cavernas, sendo o escarro positivo em
apenas 20% dos casos. A baciloscopia e cultura de Questão 4 dificuldade:
lavado gástrico aumenta a chance de isolamento
Y Dica do professor: Pré-escolar sintomático res-
do bacilo, embora seja um método mais invasivo
piratório com tosse e febre que não respondeu ao
que requer internação e sondagem nasogástrica.
tratamento com amoxicilina com PPD reator: indu-
Vale lembrar que a negatividade das baciloscopias
bitavelmente estamos diante de um paciente com
e culturas não afasta o diagnóstico de tuberculose
Tuberculose Pulmonar. Note que o enunciado nos
pulmonar na infância, que pode ser fechado com
diz que duas amostras de escarro foram negativas,
base em outros critérios utilizados no escore de
porém esse dado não tem importância nas crianças
pontos (achados clínicos e radiológicos, teste tu-
menores de 10 anos, já que nessa idade a doença
berculínico, estado nutricional e história de contato
é frequentemente paucibacilar. O tratamento para
com adulto com tuberculose).
tuberculose pulmonar sensível e suas formas ex-
Alternativa D: INCORRETA. O paciente está fora da trapulmonares (exceto meningoencefálica) preco-
faixa etária mais característica da pneumonia atí- nizado pelo Ministério da Saúde no Brasil em crian-
pica, que acomete mais escolares e adolescentes. ças menores de 10 anos consiste em uma fase de
✔ resposta: C ataque por 2 meses com rifampicina, isoniazida e
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pirazinamida e uma fase de manutenção por 4 me-
ses com rifampicina e isoniazida.
Questão 3 dificuldade:
✔ resposta: D
Y Dica do professor: Guarde essa informação: toda
vez que estivermos diante de um quadro de pneu-
Questão 5 dificuldade:
monia comunitária na infância que não melhora a
despeito do tratamento habitual temos que pensar Y Dica do professor: Questão que traz algumas par-
em tuberculose! Nesse caso temos um adolescen- ticularidades do diagnóstico da tuberculose na in-
te que estava internado por pneumonia complicada fância, vamos analisar as alternativas.
com derrame pleural e que, a despeito do tratamen-
to adequado com penicilina cristalina, evoluiu com Alternativa A: INCORRETA. Os meios de cultura mais
aumento desse derrame. A piora do derrame pode- comumente utilizados são os sólidos à base de ovo,
ria ser secundária a um empiema pleural? Poderia! Löwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh, que possuem
Justamente por isso foi realizada toracocentese, a vantagem de serem de menor custo e de apresen-
que, no entanto, revelou predomínio de linfócitos. Na tarem um baixo índice de contaminação. Entretanto,
pediatria o encontro de derrame pleural com predo- a desvantagem do meio sólido é o tempo de detec-
mínio de linfócitos, principalmente nesse contexto ção do crescimento bacteriano, que varia de 14 a
de uma pneumonia que não melhora com o trata- 30 dias, podendo estender-se por até oito semanas.
mento habitual, e mesmo na ausência de história de Alternativa B: CORRETA. A tuberculose pulmonar na
contato com paciente com tuberculose bacilífera, infância representa um verdadeiro desafio diagnós-
deve levar a suspeita de tuberculose pleural. Nesse tico já que ela é geralmente fruto da infecção pri-
caso um exame que auxilia bastante no diagnósti- mária pelo M. tuberculosis, manifestando-se com
co, além do envio do líquido pleural para pesquisa doença menos localizada e com menor exsudação
do BAAR e para cultura, e a dosagem da adenosina e formação de cavernas do que o quadro pulmonar
126
Tuberculose na infância Cap. 6
no adulto e, portanto, sem a eliminação dos baci- e radiológico sugestivos (sintomas respiratórios e
los em geral (doença paucibacilar). É por isso que radiológicos que não melhoram mesmo com o tra-
a baciloscopia e a cultura negativas de escarro ou tamento antibiótico habitual para os germes mais
de outras amostras, como lavado gástrico, é insufi- comuns de pneumonia nessa faixa etária), que pelo
ciente para descartar o diagnóstico dessa doença. escore de pontos já pontuaria 30, compatível com
Alternativa C: INCORRETA. O teste tuberculínico deve o diagnóstico de TB possível. Para fechar esse
ser utilizado e valorizado em pacientes vacinados diagnóstico uma boa opção seria solicitar o teste
com BCG. Antigamente utilizávamos valores de tuberculínico.
referência diferentes de acordo com o tempo de- Alternativa A: INCORRETA. Amoxicilina-clavulanato
corrido desde a BCG (que também pode positivar seria uma boa opção terapêutica se suspeita de
o PPD), mas atualmente não devemos considerar falha do tratamento antibiótico por resistência bac-
mais esse critério na análise do PPD, sendo con- teriana dos germes típicos de pneumonia, o que não
siderado reator qualquer exame com diâmetro da é o caso, já que a paciente evolui com um quadro
enduração de 5 mm ou mais independentemente insidioso e apresenta outros sinais que apontam
do tempo decorrido desde a BCG. para a possibilidade de tuberculose (ser institucio-
Alternativa D: INCORRETA. O escore de pontos é uma nalizada e a linfonodomegalia cervical).
estratégia proposta pela Sociedade Brasileira de Alternativa B: INCORRETA. A pneumonia por estafi-
Pneumologia e Tisiologia e recomendada pelo Mi- lococos geralmente se apresenta de forma mais
nistério da Saúde para o diagnóstico da tubercu- dramática nessa faixa etária, com sepse. Não pa-
lose pulmonar em crianças menores de 15 anos. rece ser o caso e nessa situação o tratamento mais
Ele considera critérios epidemiológicos, clínicos, adequado não seria por via oral com cefalexina, mas
radiológicos e laboratoriais para avaliar o risco de sem endovenoso com oaxacilina.
tuberculose pulmonar, sendo o diagnóstico muito
Alternativa C: INCORRETA. Não existe indicação de
provável se 40 pontos ou mais, possível se de 30 a
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internação para investigação e tratamento de tu-
35 pontos e pouco provável se inferior a 25 pontos.
berculose pulmonar.
A indicação de tratamento medicamentoso é feita
imediatamente quando o diagnóstico é considerado Alternativa D: CORRETA. O teste tuberculínico mos-
muito provável, ou seja, 40 pontos ou mais. tra-se essencial nesse contexto para auxiliar no
diagnóstico de tuberculose pulmonar pelo escore
Alternativa E: INCORRETA. A vacina BCG tem por ob-
de pontos já que as crianças geralmente são pau-
jetivo a prevenção contra as formas graves da tu-
cibacilares e o escarro geralmente se apresenta
berculose (meningoencefálica e miliar) e não tem
negativo para a pesquisa do bacilo de Koch.
eficácia na prevenção de formas leves como a tu-
berculose pulmonar. Alternativa E: INCORRETA. Corticoide oral e beta2-a-
drenérgico seria o tratamento recomendado em
✔ resposta: B
caso de crise de sibilância, que não é compatível
com o quadro clínico da paciente.
Questão 6 dificuldade: ✔ resposta: D
Y Dica do professor: estamos diante de uma lactente
de 18 meses, previamente institucionalizada e que foi Questão 7 dificuldade:
recentemente adotada, que se apresenta com tosse,
febre baixa e inapetência há 3 semanas, já tendo Y Dica do professor: Todo contactante de paciente
feito tratamento com amoxicilina para pneumonia, com tuberculose bacilífera deve ser avaliado atra-
mas sem melhora do quadro. Ao exame físico a pa- vés de anamnese e exame físico. Se forem assin-
ciente se encontra emagrecida, taquipneica e com tomáticos, como no caso da questão, devemos
gânglio cervical de 2 cm de diâmetro. Nesse caso solicitar exames complementares, definidos de
devemos pensar na possibilidade de tuberculose acordo a idade do paciente. Em crianças menores
pulmonar, veja que a paciente tem quadro clínico de 10 anos, como é o caso do irmão de 4 anos da
127
Tuberculose na infância Pneumologia Pediátrica
paciente, deve-se solicitar imediatamente o teste a rifampicina e essa criança não poderá receber a
tuberculínico (PPD) e a radiografia de tórax. Con- vacina BCG. Nos casos que o PPD seja inferior a 5
sideramos PPD reator se maior ou igual a 5 mm, mm, a criança deve ter a quimioprofilaxia suspensa
independentemente do tempo decorrido desde a e deve receber a vacina BCG.
vacina BCG. Nesse contexto em que o paciente é ✔ resposta: D
contato de um caso de tuberculose, está assinto-
mático e tem radiografia de tórax normal, mas com
PPD reator (5 mm) fechamos o diagnóstico de in- Questão 10 dificuldade:
fecção latente por tuberculose (ILTB), que sempre
Y Dica do professor: A questão aborda um adoles-
deve ser tratada em crianças, com uso de isoniazida
cente com diagnóstico de tuberculose com neces-
270 doses ou rifampicina 120 doses. Caso o PPD
sidade de início de tratamento. Para crianças com
fosse menor que 5 mm (não-reator) estaria indicada
idade maior ou igual a 10 anos, o esquema inicial é
a repetição do exame em 8 semanas, para avaliar
composto pela Rifampicina, Isoniazida, Pirazinami-
possível viragem.
da e Etambutol. As 4 drogas juntas serão utilizadas
✔ resposta: A por 2 meses e a combinação da Rifampicina com
Isoniazida permanece por mais 4 meses. A tolerân-
dificuldade:
cia aos esquemas de tratamento é muito boa na
Questão 8
infância, podendo ocorrer efeitos adversos leves,
Y Dica do professor: A tuberculose pulmonar na como diarreia e vômitos, que podem ser contorna-
criança costuma apresentar-se de forma um pouco dos com a suspensão do esquema por dois ou três
diferente do quadro adulto. Normalmente, assume dias. Em geral, quando o esquema é reiniciado, os
a forma abacilífera, o que significa dizer que nas efeitos não reaparecem. Efeitos adversos graves,
secreções há um número reduzido de bacilos, o como icterícia e elevação acentuada das transami-
que acaba por fazer com que, principalmente nas nases, obrigam à suspensão dos medicamentos por
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menores de 10 anos, a baciloscopia seja frequen- alguns dias até a melhora clínica. A reintrodução das
temente negativa. Portanto, não é possível excluir medicações deve ser realizada uma a uma inician-
um diagnóstico de TB infantil pela baciloscopia. As- do sempre pela Rifampicina seguida da Isoniazida
sim, o Ministério da Saúde preconiza o uso de um e depois a Pirazinamida.
escore para estimar a probabilidade de tratar-se de Alternativa A: CORRETA. Conforme dica do professor.
tuberculose sem precisar de um resultado positivo
Alternativa B: INCORRETA. A estreptomicina não faz
na cultura de escarro. Os critérios analisados são:
parte do esquema básico para tratamento da tu-
estado nutricional, contato com adulto infectado,
berculose.
PPD e o quadro clínico-radiológico.
Alternativa C: INCORRETA. O esquema de três drogas
✔ resposta: D (sem o etambutol) deve ser utilizado inicialmente
para crianças com idade inferior a 10 anos.
Questão 9 dificuldade: Alternativa D: INCORRETA. Além de ser feito o esquema
de quatro drogas para crianças acima de 10 anos,
Y Dica do professor: De acordo com o último Manual quando há efeito adverso com necessidade de reti-
do Ministério da Saúde (2019), nos casos de recém- rada das medicações, o reinício deve ser realizado
-nascido com contato de pessoas com baciloscopia a partir de cada droga separadamente.
positiva, ele não deve receber a vacina BCG e deve
iniciar a quimioprofilaxia primária com Isoniazida
✔ resposta: A
ou Rifampicina. Após três meses de tratamento, a
criança deve realizar a prova tuberculínica (PT ou
PPD). Caso o PPD seja maior ou igual a 5 mm, a
quimioprofilaxia deve ser estendida por mais 3 me-
ses se for com Isoniazida ou por mais 1 mês com
128
Capítulo
LACTENTE SIBILANTE E ASMA
7
importância/prevalência
u Lactente sibilante: < 2 anos com ≥ 3 episódios de sibilância no último ano ou um episódio com duração
> 30 dias.
u Achados que aumentam a probabilidade de asma.
u Asma: doença pulmonar caracterizada por inflamação crônica e hiper-reatividade da via aérea.
u Aspectos avaliados no seguimento da asma.
u Tratamento de manutenção em pacientes de 6-11 anos e ≥ 12 anos.
u Classificação de gravidade da crise asmática e conduta.
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mês ou, pelo menos, 3 episódios de sibilância no
1.1. DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA último ano, sendo essa definição controversa, pois
alguns autores reduzem esse período para 6 meses.
Esse quadro também é conhecido como síndrome
BASES DA MEDICINA do bebê chiador e engloba diferentes diagnósticos.
Até 50% dos lactentes têm pelo menos 1 episódio
Os lactentes constituem um grupo de risco para sibilância de sibilância nos primeiros 2 anos de vida, mas
devido à presença de fatores anatômicos característicos
é a recorrência, ou seja, a presença de 3 ou mais
dessa faixa etária (Quadro 1).
episódios de sibilância, que caracteriza o lactente
sibilante. Destes, cerca de 25% desenvolverão sibi-
Quadro 1. Predisposição anatômica associada com lância recorrente na idade pré-escolar, também
a maior frequência de sibilância entre os lactentes.
definida como a presença de mais de 3 episódios
Fatores anatômicos associados de sibilância no ano, principalmente na presença
à sibilância em lactentes de alguns fatores de risco (Quadro 2). Quanto mais
Menor calibre da via aérea precoce e mais grave a infecção pelo Vírus Sincicial
Respiratório (VSR) na infância, maior o risco de
Maior resistência das vias aéreas
sibilância recorrente.
Maior complacência da caixa torácica
129
Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
Quadro 2. Fatores de risco para sibilância recorrente. V Sibilante persistente: início dos sintomas antes
dos 3 anos e manutenção da sibilância pelo menos
Sexo masculino até os 6 anos.
Prematuridade e baixo peso ao nascer V Sibilante de início tardio: início dos sintomas após
Uso de oxigênio no período neonatal os 3 anos.
Tabagismo materno
BASES DA MEDICINA
Fonte: Elaborado pelo autor.
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lias e tumores; obstrução dinâmica das vias aéreas como
de procura por serviços de urgência (17 a 45%) e
traqueomalácia; e obstruções intraluminais como corpo
hospitalizações (3 a 17%). estranho e secreções.
130
Lactente sibilante e asma Cap. 7
verdade, é um ronco, decorrente da presença de secreção Com certeza, o maior desafio está em identificar
em vias aéreas de grande calibre. Para diferenciar, você precocemente os pacientes que persistirão com
pode questionar se o barulho é audível de longe e se o
sibilância até a idade escolar, já que até 30% dos
tórax vibra quando palpado, achados sugestivos de ronco.
A sibilância costuma se manifestar com desconforto
pré-escolares com sibilância recorrente serão diag-
respiratório (tiragens), mas geralmente não é audível à nosticados com asma aos 6 anos de idade. Para
distância e nem leva à vibração do tórax. auxiliar nessa tarefa, diversos escores clínicos foram
desenvolvidos, sendo um dos mais utilizados o índice
preditivo de asma (ou Asthma Predictive Index – API)
1.3. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL criado por Castro-Rodríguez e que identifica um risco
de 4 a 10 vezes maior de a criança ser asmática na
O lactente sibilante e o sibilante recorrente (em idade idade escolar na presença de 1 critério maior ou 2
pré-escolar) constituem uma síndrome clínica que critérios menores. Esse escore foi posteriormente
engloba uma série de diagnósticos diferenciais e modificado por Chang (modified Asthma Predictive
é importante que você saiba que, nesse caso, vale Index – mAPI) com a adição de critérios de sensi-
a máxima: “nem tudo que chia é asma”. bilização alérgica (Quadro 3).
Quadro 3. Escores preditivos de asma na idade escolar: Índice Preditivo de Asma (Asthma
Predictive Index – API) e Índice Preditivo de Asma modificado (mAPI). Os diagnósticos paternos
de asma e os pessoais de rinite e dermatite atópica devem ser feitos por um médico.
API mAPI
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Critérios maiores Critérios menores Critérios maiores Critérios menores
Sensibilização alérgica
Eosinofilia periférica ≥ 4% a pelo menos um Eosinofilia periférica ≥ 4%
aeroalérgeno
Fonte: Chang et al.1
Embora os índices preditivos positivos sejam úteis de IgE sérica específica (aos aeroalérgenos mais
para o prognóstico do lactente sibilante, um resul- comuns: Dermatophagoides pteronyssinus, Derma-
tado negativo não exclui a possibilidade de asma na tophagoides farinae, Blomia tropicalis, Periplaneta
idade escolar. Devemos suspeitar da possibilidade americana e epitélios de cão e gato) e testes cutâ-
de asma em um lactente sibilante na presença de neos de hipersensibilidade imediata (prick test)
sibilância por outros desencadeantes que não virais podem ser solicitados diante da suspeita clínica
(como exercício físico e exposição a aeroalérgenos), de asma ou de alergia alimentar. Como o sistema
antecedentes de pessoais e familiares de atopia imunológico ainda é imaturo nessa faixa etária, esses
e resposta terapêutica a broncodilatadores e a exames são menos acurados e sempre devem ser
corticoides inalatórios. correlacionados com os achados clínicos, pois a
positividade indica apenas sensibilização alérgica
Exames laboratoriais para investigação de atopia,
e não obrigatoriamente a causa dos sintomas.
como dosagem de eosinófilos periféricos, dosagem
131
Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
Na presença de sintomas atípicos como regurgita- que não apresentam melhora clínica após o uso
ção, vômitos, disfagia, baixo ganho ponderoestatural, de corticoides inalatórios e broncodilatadores ou
alterações na ausculta cardíaca, hipoxemia e baque- que não apresentam os episódios de sibilância
teamento digital devemos ampliar a investigação desencadeados pelas infecções respiratórias virais
complementar para descartar outros diagnósti- também devem ser investigados para possíveis
cos diferenciais (Quadro 4). Sibilantes recorrentes diagnósticos diferenciais.
Quadro 4. Exames complementares para investigação dos diagnósticos diferenciais de lactente sibilante.
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Estridor inspiratório, desconforto
Laringomalácia Laringoscopia
respiratório desde o nascimento
Tosse abrupta e grave ou estridor durante
alimentação ou brincadeira, infecções
Aspiração de corpo estranho Broncoscopia
pulmonares de repetição, achados
pulmonares focais (RX ou ausculta)
Fonte: GINA 2.
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Lactente sibilante e asma Cap. 7
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(nas crises) prevenção da sibilância recorrente.
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Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
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Lactente sibilante e asma Cap. 7
Lactente sibilante
Predisposição Diagnóstico
Definição Tratamento Profilaxia
anatômica diferencial
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meses de vida
Fibrose cística
Vacinação
anti-influenza
Laringomalácia anual em menores
de 6 anos
Cardiopatia
Uso de
congênita
palivizumabe
se indicação*
Doença do refluxo
gastroesofágico
135
Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
• Eosinofilia perifé-
• Início na infância
A asma é a doença pulmonar crônica mais comum Asma rica
alérgica • História familiar e
da infância, acometendo 24% das crianças entre • Escarro eosinofílico
pessoal de atopia
≥ 2,5%
6 e 7 anos no Brasil, caracterizada por sintomas
respiratórios e por limitação variável ao fluxo expi- • Associada a infec-
ções virais • Escarro neutrofílico
ratório que se resolvem espontaneamente ou após Asma não
≥ 54% ou paucigra-
alérgica • Sem antecedentes
uso de medicação. Note que para o diagnóstico nulocítico
atópicos
de asma são necessários tanto o encontro dos
sintomas respiratórios quanto a limitação ao fluxo • Escarro com celula-
Asma com • Início tardio ridade mista (≥ 2,5%
expiratório, que só pode ser avaliada por meio das
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obesidade • Obesidade eosinófilos e ≥ 54%
provas de função pulmonar. A espirometria é a neutrófilos)
modalidade mais disponível e só pode ser realizada
Fonte: GINA 2.
em crianças acima de 6 anos devido à necessidade
de cooperação. Esse é um dos motivos pelos quais
o diagnóstico de asma pode ser confirmado apenas 2.2. QUADRO CLÍNICO
na idade escolar.
A asma é uma doença que caracteristicamente evo-
A asma é uma doença heterogênea que apresenta
lui em crises, episódios de exacerbação aguda dos
diferentes mecanismos patogênicos, mas que geral-
sintomas respiratórios, desencadeados por fatores
mente está associada à hiper-responsividade da via
como exercício, exposição a irritantes ou alérgenos,
aérea a estímulos diretos ou indiretos e à inflamação
mudança no tempo ou infecções respiratórias virais.
crônica da via aérea, características que persistem
Durante as crises asmáticas, o paciente cursa com
mesmo quando os sintomas estão ausentes ou
sintomas respiratórios como perda de fôlego, opres-
a função pulmonar é normal, mas que podem se
são torácica e tosse, que variam em intensidade,
normalizar com o tratamento.
sendo os sibilos expiratórios os achados clássicos
na ausculta pulmonar. Entre as crises, o paciente
asmático pode ser assintomático, com ausculta
pulmonar normal, ou apresentar sintomas leves
com tosse e limitação apenas da atividade física.
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Lactente sibilante e asma Cap. 7
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que aumentam a clínicas que reduzem a
probabilidade de asma probabilidade de asma pós-broncodilatador acima de 200 mL e 12% em
Presença de mais de relação ao VEF1 pré-broncodilatador).
um sintoma (sibilo, Tosse isolada sem outros
perda de fôlego, tosse, sintomas respiratórios
opressão torácica)
Sintomas desencadeados
por outras situações
além das infecções
Perda de fôlego
virais, como exercício,
associada com tontura,
exposição a alérgenos,
sensação de síncope e
mudanças no tempo,
parestesia periférica
risada ou irritantes como
fumaça do carro, fumaça
de cigarro e cheiros fortes
Presença de outras
Dispneia induzida
doenças atópicas
pelo esforço com
(dermatite atópica
inspiração ruidosa
ou rinite alérgica)
Fonte: GINA 2.
137
Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
Veja que a relação VEF1/CVF é inferior a 0,80, com redução abaixo de 80% do VEF1 (volume expiratório final de 1º segundo) sempre com
a CVF (capacidade vital forçada) normal, acima de 80%. Após o broncodilatador, houve aumento superior a 200 mL e 12% no VEF1, carac-
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terizando a resposta significativa ao broncodilatador.
Fonte: Acervo do autor.
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Lactente sibilante e asma Cap. 7
B2-curta: beta2-agonista de curta duração. SOS: se necessário, apenas nas crises de sibilância.
Fonte: GINA 2.
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Quadro 10. Fatores de risco futuro para desfechos desfavoráveis.
VEF1 baixo
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Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
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que elas conseguem realizar a manobra de apneia Antigamente, a gravidade da asma era definida, de acordo
(Figuras 2 e 3). O espaçador garante a deposição com a frequência dos sintomas, em intermitente ou per-
da medicação nas pequenas vias aéreas e reduz a sistente leve, moderada ou grave. Atualmente, realizamos
uma avaliação retrospectiva, que leva em consideração
deposição da medicação na boca e na orofaringe,
a quantidade de medicamento necessária para atingir o
reduzindo a absorção sistêmica e os efeitos adver- controle clínico do paciente, ou seja, reduzir os sintomas
sos locais. e as exacerbações asmáticas (Quadro 11).
140
Lactente sibilante e asma Cap. 7
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asma em crianças de 6 a 11 anos de idade. nessa faixa etária.
Etapas do
Medicamentos indicados
tratamento
Em adolescentes com 12 anos ou mais, o tratamento
• Educação + controle ambiental + corticoi- de manutenção é o mesmo recomendado para os
de inalatório baixa dose + B2-curta SOS
Etapa 1 adultos e envolve o uso preferencial da combinação
• Opção: baixa dose de corticoide inala-
tório diário formoterol + corticoide inalatório como medicação
de resgate já desde a primeira etapa do tratamento
• Adicionar medicação de controle à eta-
(Quadro 13), dando-se preferência também pelo uso
pa 1:
dessa combinação como tratamento de manuten-
⁃ Corticoide inalatório diário em bai-
Etapa 2 xa dose ção. O formoterol é o único beta2-agonista de longa
⁃ Opção: antagonista de leucotrieno OU duração que mostrou efeito benéfico no alívio das
baixa dose de corticoide inalatório + crises de asma, sendo a única opção para uso na
B2-curta SOS crise. Já nas etapas 3 ou 4, outros broncodilata-
• Alterar a medicação: dores de longa duração podem ser usados como
⁃ Corticoide inalatório em baixa dose + medicação de controle habitual, como o salmeterol
B2-longa diário OU Corticoide inalató- (disponível comercialmente na associação salme-
rio em média dose diário OU corticoide
Etapa 3
inalatório muito baixa dose + formote-
terol + fluticasona).
rol diário e SOS
⁃ Opção: corticoide inalatório em bai-
xa dose + antagonista de leucotrieno
141
Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
Quadro 13. Esquema preferencial para o Todos os maiores de 12 anos devem receber corticoide
tratamento de manutenção da asma em inalatório, sendo que na presença de sintomas muito
adolescentes ≥ 12 anos de idade. esporádicos esse uso pode ser feito apenas se necessário,
durante as crises, associado de preferência ao formoterol
Etapas do (broncodilatador de longa duração). O objetivo da adição
Medicamentos indicados
tratamento
do corticoide inalatório para todos os pacientes é reduzir
• Educação + controle ambiental + corticoi- o risco de exacerbações graves. No Brasil existem duas
de inalatório baixa dose + formoterol SOS associações disponíveis de corticoide inalatório com for-
Etapa 1
• Opção: baixa dose de corticoide inalató- moterol: budesonida + formoterol (Symbicort®, Forasec®
rio + B2-curta SOS e Alenia®) ou beclometasona + formoterol (Fostair ®).
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Etapa 4
⁃ Opção: corticoide inalatório em alta do- o tratamento da asma grave a partir dos 12 anos,
se OU adicionar antagonista de leuco-
no Brasil essa medicação ainda não foi liberada.
trieno OU adicionar tiotrópio
• Adicionar tiotrópio
• Considerar corticoide inalatório em alta DICA
dose diário + B2-longa Decidir em qual etapa deve-se ini-
• Encaminhar ao pneumologista para ava- ciar o tratamento de um paciente que não
Etapa 5 liação fenotípica e considerar adicionar fazia uso prévio de medicação de manu-
anti-IgE, anti-IL5, anti-IL4 ou anti-TSLP tenção é uma das situações que gera mais
• Opção: adicionar azitromicina (em adul- dúvidas na vida e na prova. Para auxiliar
tos) OU adicionar antileucotrieno OU nessa escolha, o GINA liberou as seguintes
adicionar corticoide oral em baixa dose orientações para a escolha do tratamento
inicial dos asmáticos:
B2-curta: beta2-agonista de curta duração. SOS: se necessário, ape-
nas nas crises de asma. B2-longa: beta2-agonista de longa duração. W Etapa 1: apenas em pacientes que pos-
Fonte: GINA 2. suem sintomas < 2 vezes por mês de
curta duração, sem despertar noturno,
com função pulmonar normal e que
DIA A DIA MÉDICO não apresentam fatores de risco para
exacerbações.
Desde 2019 a GINA recomenda que adolescentes e adultos W Etapa 2: pacientes com sintomas ou ne-
NÃO recebam mais tratamento apenas com broncodilata- cessidade de broncodilatador de curta
dor de curta duração, inclusive na etapa 1, devido ao maior duração ≥ 2 vezes por mês, mas não
risco de procura ao pronto-socorro por crise asmática diário.
e de morte relacionada a asma com o uso isolado de
broncodilatador de curta duração, risco presente mesmo
naqueles pacientes que apresentam bom controle clínico.
142
Lactente sibilante e asma Cap. 7
Embora a função pulmonar não esteja diretamente Quadro 14. Medidas não farmacológicas do
relacionada com o nível do controle da asma, a tratamento de manutenção da asma.
presença de um VEF1 reduzido é um fator de risco
Cessação do tabagismo ativo e passivo
independente para exacerbações a despeito do
controle clínico. Por isso, a avaliação espirométrica Incentivo à prática de atividade física
é essencial no seguimento do paciente asmático, Redução da exposição aos alérgenos ambientais
devendo ser realizada no começo do tratamento,
Vacinação anti-influenza anual e antipneumocócica
após 3 a 6 meses (com o objetivo de identificar a
melhor função pulmonar do paciente) e, depois, Fonte: GINA 2.
periodicamente, de preferência anualmente, para
auxiliar na conduta com relação ao tratamento de
manutenção. 2.6. TRATAMENTO DA
EXACERBAÇÃO ASMÁTICA
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Se o paciente persistir com sintomas e/ou exacer-
bações após 2 a 3 meses do tratamento de manu- A exacerbação asmática (ou crise asmática) é um
tenção, avaliar e corrigir os problemas mais comuns episódio caracterizado pelo aumento progressivo
antes de subir uma etapa. Os principais motivos dos sintomas de perda de fôlego, tosse, sibilância
de não controle da asma são a técnica inalatória ou pelo declínio progressivo na função pulmonar.
inadequada e a má aderência ao tratamento. Outros Em geral, ocorre em resposta a um agente externo
motivos incluem diagnóstico incorreto de asma, (nas crianças, é geralmente secundária a infecções
presença de comorbidades (como rinite alérgica, de vias aéreas superiores e à mudança no tempo)
doença do refluxo gastresofágico e obesidade) e e/ou à má aderência ao uso dos medicamentos
exposição ambiental persistente a agentes sensi- de controle.
bilizantes ou irritantes. Todo aumento de etapa de
tratamento deve ser considerado como um teste Uma vez diante de uma crise de asma, devemos
terapêutico por 2 a 3 meses. Se não houver melhora, classificá-la quanto a sua gravidade (Quadro 15)
deve-se reduzir a etapa anterior ou considerar tra- para a correta orientação do tratamento. Também
tamentos alternativos. é importante a avaliação dos fatores de risco para
óbito por asma (Quadro 8), que, quando presentes,
Depois de obtido bom controle da asma por 2 a indicam a necessidade da instituição rápida de um
3 meses, o tratamento pode ser reduzido com o tratamento eficaz.
143
Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
Frequência cardíaca ≤ 110 bpm > 110 bpm > 140 bpm ou bradicardia
Quadro 16. Fatores de risco para óbito por asma. A terminologia utilizada para a classificação da crise
História pessoal de crise asmática muito grave com de asma por vezes muda, conforme os serviços.
necessidade de intubação e ventilação mecânica Alguns serviços nomeiam a crise mais grave como
“asma muito grave”, enquanto outros utilizam a
Hospitalização ou procura ao PS por
crise asmática no último ano terminologia de asma com “risco de vida” ou “asma
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quase fatal” utilizada na diretriz global de manejo
Uso atual ou recente de corticoide oral
da asma (GINA) na presença de tórax silencioso
Não fazer uso de corticoide inalatório ou alteração do estado mental com sonolência ou
para o tratamento de manutenção confusão. O mais importante, contudo, é entender
Uso frequente de beta-agonista de curta duração que o manejo da crise asmática varia conforme a
(principalmente se mais de uma “bombinha” por mês) gravidade clínica (Quadro 17).
Baixa adesão ao tratamento de manutenção ou
ao plano de ação para as crises de asma
Alergia alimentar
PS: Pronto-Socorro.
Fonte: GINA 2.
144
Lactente sibilante e asma Cap. 7
• Internação em enfer-
• Alta com B2-curta • Alta com B2-curta por • Internação em UTI com B2-cur-
maria com B2-curta e
Se melhora 4 jatos 6/6 horas 7 dias e prednisolona ta e corticoide endovenoso
corticoide
por 5 dias por 3-5 dias • Desmame de oxigênio
• Desmame de oxigênio
PS: Pronto-Socorro; UTI: Unidade de Terapia Intensiva; EV: Endovenoso; IM: Intramuscular.
Fonte: Schvartsman et al.5
Em pacientes com exacerbações leves a modera- cerca de 4 horas para atingir uma boa resposta
das, o uso repetido de B2-curta (de preferência com clínica. Na alta ele deverá ser mantido por 3 a 5
inaladores dosimetrados pressurizados em espaça- dias em casa.
dores, na dose de 4 a 10 jatos a cada 20 minutos na
Hipoxemia com SatO2 < 92% é preditiva da neces-
primeira hora) é a maneira mais eficiente de conse-
sidade de hospitalização, e SatO2 < 90% é um sinal
guir a reversão rápida da limitação do fluxo aéreo.
da necessidade de tratamento agressivo, indicando
Principalmente em crianças com exacerbações
asma quase fatal. O uso de oxigênio em cânula nasal
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leves, por vezes, não há nem necessidade do uso
ou máscara deve ser titulado de acordo com a SatO2
de corticoide, ocorrendo resposta clínica total com
para mantê-la entre 93 e 95% em adolescentes a
o B2-curta (salbutamol, por exemplo), que deverá
partir de 12 anos ou entre 94 e 98% em crianças de
ser mantido de 6 em 6 horas por mais 5 dias.
6 a 11 anos. A ventilação não invasiva apresenta boa
Nas exacerbações moderadas a graves, o uso segurança e tem como objetivo reduzir o trabalho
combinado de brometo de ipratrópio e B2-curta se respiratório do paciente. Está indicada apenas para
associou com menor número de hospitalizações pacientes com bom nível de consciência, devendo-se
quando comparado com o uso isolado do B2-curta; tomar cuidado com a quantidade de sedação utili-
por isso, nessas situações, recomenda-se que o zada a fim de não ocasionar depressão ventilatória.
ciclo inicial (3 vezes de 20 em 20 minutos) seja
Em pacientes com asma quase fatal, sem melhora
feito com a combinação brometo de ipratrópio e
após as medidas iniciais, pode estar indicada a
B2-curta. Não há necessidade de manter o uso do
intubação orotraqueal, principalmente se queda do
ipratrópio na internação ou após a alta.
nível de consciência, apneia, hipercapnia persistente
O corticoide está indicado em pacientes com crise e crescente ou fadiga da musculatura respiratória.
moderada a grave, naqueles pacientes com quadro Lembre-se de manter parâmetros ventilatórios bem
clínico em deterioração ou que já estavam em uso gentis, como frequência respiratória reduzida (10-
de B2-curta antes da entrada no pronto-socorro. 12 ipm) e Pressão Expiratória Final Positiva (PEEP)
A via oral é tão eficaz quanto a intravenosa, sendo basal (pois o paciente já tem uma auto-PEEP pelo
preferida por ser menos invasiva e mais barata. aprisionamento aéreo) com hipercapnia permissiva.
O corticoide endovenoso é reservado para pacientes
O sulfato de magnésio está indicado apenas nas
dispneicos, com dificuldade para engolir, com vômi-
crises graves que não respondem à terapêutica
tos ou que necessitam de ventilação não invasiva
inicial ou na asma quase fatal. É liberado apenas
ou intubação orotraqueal. O corticoide oral demora
145
Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
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DIA A DIA MÉDICO
146
Lactente sibilante e asma Cap. 7
Asma na infância
Doença pulmonar
Quadro clínico Espirometria
crônica
Resposta ao
Fatores desencadeantes: broncodilatador:
infecções respiratórias aumento VEF1 pós-BD
virais, exercício > 12% e 200 mL
físico, exposição
a aeroalérgenos,
mudança de tempo
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Controle da asma Tratamento
Corticoide inalatório
sempre
Controle dos sintomas Fatores de risco para
nas últimas 4 semanas desfechos desfavoráveis
Resgate na crise:
broncodilatador de curta
duração OU corticoide
Controlada Exacerbações inalatório + formoterol
Efeitos adversos
Não controlada
das medicações
BD: Broncodilatador.
147
Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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recurrent wheezing. Am J Respir Crit Care
Med. 2000;162(4 Pt 1):1403-6.
Pizzichini MMM, Carvalho-Pinto RM, Cançado JED, Rubin
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148
Lactente sibilante e asma Cap. 7
QUESTÕES COMENTADAS
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de inalatório. solona 1 mg/kg e substituir o beta-2 agonista
⮪ A resposta ao tratamento com corticoide é su- inalatório por terbutalina intravenosa.
gestiva de asma. ⮩ Iniciar beta-2 agonista de curta duração, inalatório
(2 puffs), e, se houver persistência dos sintomas,
repetir a cada 20 minutos, não considerando a
Questão 2
associação de brometo de ipratrópio; caso haja
(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP – 2022) Um falha de resposta durante a primeira hora de
paciente de quatro anos de idade, com exacerba- tratamento, será necessário prescrever predni-
ção de asma, foi levado ao serviço de emergência solona 1 mg/kg e substituir o beta-2 agonista
agitado, com fala entrecortada, oximetria de 90% inalatório por terbutalina intravenosa.
em ar ambiente, FR de 42 ipm, FC de 155 bpm e ⮪ Iniciar beta-2 agonista de curta duração, ina-
murmúrio vesicular muito diminuído, com raros latório (6 puffs), e, se houver persistência dos
sibilos. Com base nesse caso hipotético, é correto sintomas, repetir a cada 20 minutos e conside-
afirmar que, após instalar monitorização e oxigênio, rar a associação de brometo de ipratrópio; caso
seguindo as recomendações da Global Initiative for haja falha de resposta durante a primeira hora
Asthma, deve-se: de tratamento, será necessário prescrever um
corticoide inalatório.
⮦ Iniciar beta-2 agonista de curta duração, inala-
tório (6 puffs), e, se houver persistência dos sin-
tomas, repetir a cada 20 minutos e considerar a Questão 3
associação de brometo de ipratrópio; caso haja
falha de resposta durante a primeira hora de (FUNDAÇÃO HOSPITALAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS –
tratamento, será necessário prescrever predni- MG – 2021) No seu primeiro plantão após formado,
solona 2 mg/kg. um pediatra atende um adolescente de 12 anos,
149
Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
previamente asmático, que iniciou ontem com dor ⮨ Trata-se de uma asma persistente leve parcial-
torácica, dispneia e sibilância, apresentando, ao exa- mente controlada, que necessita de ajustes de
me físico, sons pulmonares globalmente reduzidos tratamento com medicação de alívio mais um
acompanhados de esforço respiratório e oximetria único medicamento de controle, de preferência
de pulso de 89%. O pediatra, prontamente, colocou corticoide inalatório em dose baixa.
o paciente no oxigênio e iniciou beta-2 agonista ⮩ O tratamento deve ser ajustado periodicamen-
inalatório. Na reavaliação, notou leve melhora da te em resposta a uma perda de controle, que,
ausculta respiratória, com persistência do esforço para o caso acima não está indicado, visto que
respiratório e da hipoxemia. Diante desse caso, qual a criança já faz uso de beta-2-agonista inalatório
conduta não é adequada? de curta duração quando necessário.
⮦ Realizar radiografia de tórax, devido à suspeita ⮪ O controle da asma é importante já que implica
de alguma complicação como atelectasia ou no controle das limitações atuais, embora não
pneumotórax. consiga prevenir riscos futuros como desfechos
que possam levar a mudanças irreversíveis na
⮧ Iniciar antibioticoterapia, devido à gravidade
história natural da asma.
do caso e não melhora clínica com as medidas
adotadas.
⮨ Verificar a hipótese diagnóstica de exacerba- Questão 5
ção de asma, repetir o beta-2 agonista e iniciar
(FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP – 2021) Menino, 8 anos
corticoterapia.
de idade, com diagnóstico prévio de asma contro-
⮩ Conferir dispositivos inalatórios, se for o caso, a lada e sensibilização a gatos, em uso domiciliar
fim de verificar presença de medicação no frasco. de corticoide inalatório, em dose baixa. Admitido
em Unidade de Emergência com tosse e cansaço,
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iniciados há cerca de 2 horas, depois de ter ido à
Questão 4 casa de uma tia que possui dois gatos de estima-
ção. Ao exame: BEG, orientado, fala satisfatória,
(SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE – PB – 2021) Criança de 7
com leve tiragem intercostal e subdiafragmática.
anos de idade, que vem para a avaliação na Unida-
Sinais vitais: frequência cardíaca: 98 batimentos/
de Básica de Saúde acompanhada da genitora, por
minuto; frequência respiratória: 28 incursões/minu-
apresentar quadros de dispneia desde os 3 anos,
to; saturação de O₂: 95%, em ar ambiente. Sibilos
com crises de asma diárias e sintomas noturnos 2
expiratórios, bilateralmente. A conduta adequada
vezes/semana, apresenta sintomas quando corre
para este menino deve ser:
bastante. Já fez uso de corticoide em algumas cri-
ses e usa a bombinha da crise diariamente. Com ⮦ Oxigênio suplementar de baixo fluxo. Iniciar o
relação ao quadro apresentado pela criança, mar- uso do broncodilatador por via inalatória, corti-
que a alternativa correta: costeroide endovenoso. Solicitar radiografia de
tórax e gasometria arterial.
⮦ A dificuldade na obtenção de broncodilatação
sustentada após a utilização de beta-2-agonis- ⮧ Oxigenioterapia suplementar, broncodilatador
ta de curta duração não é um fator que indique por via inalatória, corticosteroides por via oral
a necessidade de cursos de corticosteroides de 12/12 horas. Colher gasometria arterial antes
orais na crise. de iniciar terapêutica.
150
Lactente sibilante e asma Cap. 7
complementares para o caso neste momento, utiliza outras medicações. Considerando o quadro
pela estabilidade clínica. de Pedro, a conduta correta é:
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ção grave da asma em crianças raramente provo- tosse. No último mês, fez uso de salbutamol três
ca insuficiência respiratória com necessidade de vezes por semana. Tem um irmão de dois anos de
ventilação mecânica. Estão corretas as assertivas: idade com dermatite atópica. Ao exame físico, en-
contrava-se em bom estado geral, eupneico e com
⮦ I, apenas. oximetria de pulso de 97%, sem outras alterações.
Com base nesse caso hipotético, assinale a alter-
⮧ I e II, apenas.
nativa que apresenta, correta e respectivamente, o
⮨ I e III, apenas. diagnóstico mais provável e o tratamento profilático
⮩ II e III, apenas. diário que deve ser iniciado.
151
Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
Questão 9 Questão 10
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP – 2021) Menino, (PUC – SOROCABA – SP – 2021) Quanto ao tratamento da
7 anos de idade, apresenta episódios recorrentes crise de asma na emergência, assinale a alternati-
de tosse seca, chiado e falta de ar nos últimos 3 va correta:
meses, com uso frequente de broncodilatador. Re-
fere, ainda, falta de ar e chiado no peito ao correr ou ⮦ Os corticoides inalados são indicados em doses
subir escadas. Nega crises graves ou internação. elevadas e associados aos beta-2agonistas de
Para o controle da asma deste paciente é indicado: longa duração.
⮧ A adrenalina subcutânea é uma boa opção bron-
⮦ Uso diário de corticoide inalatório em dose alta codilatadora.
e broncodilatador de longa ação nas crises.
⮨ Mucolíticos associados à tapotagem podem
⮧ Uso de corticoide inalatório em dose alta com acelerar o processo de recuperação da crise.
broncodilatador de longa ação, diariamente e
⮩ O uso de sulfato de magnésio IV pode reduzir
nas crises.
a taxa de internação de pacientes que não res-
⮨ Uso diário de antileucotrieno e broncodilatador pondem aos broncodilatadores e ao corticoide
de longa ação nas crises. sistêmico.
⮩ Uso diário de corticoide inalatório em dose bai-
xa e broncodilatador de curta ação nas crises.
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Lactente sibilante e asma Cap. 7
GABARITO E COMENTÁRIOS
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pulmonar é normal, mas que podem se normalizar positivos (cutâneos ou sanguíneos – dosagem de
com o tratamento. Acerca dessa doença vamos IgE sérica específica). Como toda doença alérgica,
analisar as alternativas: a asma atópica é muito responsiva ao uso de corti-
coides, apresentando uma ótima resposta aos me-
Alternativa A: INCORRETA. Embora a asma seja uma dicamentos mais utilizados no controle a doença,
doença de diagnóstico na idade escolar (entre 5-6 os corticoides inalatórios.
anos, quando a criança já é capaz de realizar uma
espirometria de forma adequada) é comum a his- Alternativa E: CORRETA. Dentre as características clí-
tória de sibilância prévia, muitas vezes desde os nicas sugestivas de asma, a melhora dos sintomas
primeiros anos de vida. Sabe-se que até 30% dos com o uso de corticoides e broncodilatadores ina-
pré-escolares com sibilância serão diagnosticados latórios é uma das que mais auxilia no diagnóstico
com asma na idade escolar. de asma no dia a dia.
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Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
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zer algumas ressalvas com relação ao manejo su- da saturação de oxigênio imediata e avaliação por
gerido na alternativa A: diante de um paciente com exame de imagem das possíveis complicações
crise asmática grave não se recomenda primeiro a associadas ao quadro. Note que o paciente não
realização de um ciclo de beta-2 agonista de curta apresenta, clinicamente, sinais e sintomas de infec-
duração para depois considerar o uso de ipratrópio ção, como expectoração purulenta, febre e roncos,
na falha, mas sim a pronta realização de ambas as dessa forma, não justifica a administração de um
medicações em associação, tendo em vista o be- antimicrobiano neste momento.
nefício do ipratrópio na redução da necessidade ✔ resposta: B
de internação nos pacientes com crise grave. Além
disso, sempre que o corticoide sistêmico estiver
Questão 4 dificuldade:
indicado, crises moderadas a graves, ele deve ser
feito o mais rápido possível, idealmente na primeira Y Dica do professor: Os principais objetivos do ma-
hora de entrada no pronto-socorro, já que a maior nejo da asma são otimizar o controle dos sintomas
eficácia dessa medicação acontece após 3 a 4 horas da asma e reduzir o risco de exacerbações da asma,
da administração. Também é importante relembrar ao mesmo tempo que minimiza os efeitos adversos
que mesmo em pacientes com crises mais graves é dos medicamentos. Os quatro componentes essen-
possível sim a realização de corticoide por via oral ciais do manejo da asma são educação do paciente,
já que a eficácia é a mesma da via parenteral, sen- controle dos gatilhos da asma, monitoramento de
do a medicação parenteral preferida na presença mudanças nos sintomas ou na função pulmonar e
terapia farmacológica;
de desconforto respiratório importante com risco
de aspiração ou má aceitação da medicação oral. Alternativa A: INCORRETA. Para todos os pacientes
com sintomas de exacerbação da asma, recomen-
✔ resposta: A da-se a administração imediata de um beta-agonista
154
Lactente sibilante e asma Cap. 7
inalado de curta ação (SABA). A dificuldade na O manejo farmacológico da asma mudou consi-
obtenção de broncodilatação sustentada após a deravelmente nas últimas décadas, com base no
utilização de beta-2 agonista de curta duração in- entendimento de que a asma é uma doença hete-
dica a necessidade de cursos de corticosteroides rogênea e complexa. Atualmente está claro que o
orais na crise. objetivo do tratamento da asma deve ser alcançar
Alternativa B: CORRETA. O aumento da necessidade e manter o controle da doença e evitar riscos futu-
de uso de beta-2 agonista inalatório de curta dura- ros (exacerbações, instabilidade da doença, perda
ção é um sinal de descontrole da asma. Além de acelerada da função pulmonar e efeitos adversos
tratar agudamente a crise, deve-se reforçar a im- do tratamento). Isso implica em uma abordagem
portância do controle dos gatilhos e do tratamento personalizada, incluindo tratamento farmacológico,
de manutenção. educação do paciente, plano de ação por escrito,
treinamento para uso do dispositivo inalatório e re-
Alternativa C: INCORRETA. Não se trata de asma per- visão da técnica inalatória a cada visita ao consul-
sistente leve pois esta é caracterizada por: sintomas tório. Estamos diante de uma agudização da asma
mais de duas vezes por semana (embora menos pelos sintomas de tosse e cansaço, iniciados há
que diariamente), aproximadamente três a quatro cerca de 2 horas, depois de ter ido à casa de uma
despertares noturnos por mês devido à asma (mas tia que possui dois gatos de estimação, associado
menos do que todas as semanas), uso de SABAs a tiragem intercostal e subdiafragmática, além de
para aliviar os sintomas mais de dois dias por se- sibilos expiratórios, bilateralmente. Nestes casos
mana (mas não diariamente) e menor interferência doses adequadas e repetidas de beta-2 agonistas
com atividades normais. por via inalatória a cada 10 a 30 minutos na primeira
Alternativa D: INCORRETA. O paciente apresenta asma hora constituem a medida inicial de tratamento e
persistente grave e está sendo tratado incorretamen- sabendo que os corticosteroides reduzem a infla-
te. Para asma persistente grave, os tratamentos de mação, aceleram a recuperação e diminuem o risco
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controle preferidos são doses médias (Etapa 4) ou de crise fatal, os pacientes atendidos na emergên-
altas (Etapa 5) de um corticoide inalado em com- cia em crise moderada ou grave devem receber
binação com um beta-2 agonista de longa duração corticosteroides sistêmicos precocemente, já na
(LABA). Pode ser necessária terapia adicional com primeira hora de atendimento. Vale lembrar que o
um modificador de leucotrieno, tiotrópio ou agen- uso de oxigênio está indicado apenas se hipoxemia,
te biológico, guiada pela resposta ao tratamento. devendo ser titulado de acordo com a SatO2, para
mantê-la entre 93 e 95% em adolescentes a partir
Alternativa E: INCORRETA. O controle da asma é ca-
de 12 anos ou entre 94 e 98% em crianças de 6 a
paz de prevenir riscos futuros.
11 anos. Não há indicação de exames laboratoriais
✔ resposta: B ou de imagem para confirmação, pois se trata de
diagnóstico clínico.
155
Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
grave, indicando a internação e o uso de sulfato de das crises, sendo nessa idade a medicação prefe-
magnésio. Vamos analisar as afirmativas: rencial o corticoide inalatório. Vale ressaltar que
grande parte dos pacientes com asma leve obtém
Afirmativa I: INCORRETA. Os estudos demonstram
o controle clínico com doses baixas do corticoide
que a efetividade do corticoide por via endovenosa
inalatório. Broncodilatadores inalatórios de longa
é semelhante à do corticoide por via oral, sendo a
duração são medicações usadas no controle da
medicação parenteral indicada apenas nos casos
asma de crianças maiores, a partir de 6 anos de
graves com desconforto respiratório intenso que
idade, e não estariam indicadas neste momento.
contraindique a via oral principalmente pelo risco
de aspiração pulmonar. ✔ resposta: C
Afirmativa II: CORRETA. O foco, neste momento, é es-
tabilizar o paciente, garantindo valores de saturação dificuldade:
Questão 8
adequados. Após estabilizá-lo podemos prescrever
fisioterapia respiratória. Y Dica do professor: Para responder adequadamente
Afirmativa III: CORRETA. A ventilação mecânica na a questão, o candidato deve conhecer as maneiras
crise asmática não ocorre com frequência, graças a de classificar a asma segundo seu controle, o que
efetividade do tratamento endovenoso, inalatório e depende dos sintomas apresentados pelo paciente
oral. Vale lembrar que ventilar um paciente asmáti- e da necessidade de medicação de resgate. Nessa
co entubado é extremamente complicado devido ao situação, temos um paciente de 3 anos de idade
aumento da resistência das pequenas vias aéreas. com três crises de sibilância no último ano com
necessidade de atendimento médico + presença
✔ resposta: D de sintomas durante atividade física + tosse notur-
na + uso de medicação de resgate por 3 vezes na
semana. Com essas informações é possível clas-
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Questão 7 dificuldade:
sificar a asma quanto ao controle e indicar o trata-
mento adequado.
Y Dica do professor: A asma é uma doença inflama-
tória crônica, caracterizada por hiperresponsividade Alternativa A: INCORRETA. Parcialmente controlada
das vias aéreas inferiores e por limitação variável seria se o paciente apresentasse de 1-2 dos parâ-
ao fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou com metros avaliados pelo GINA: sintomas diurnos > 2
tratamento, manifestando-se clinicamente por epi- vezes por semana, necessidade de medicação de
sódios recorrentes de sibilância, dispneia, aperto no resgate > 2 vezes por semana, despertares notur-
peito e tosse, particularmente à noite e pela manhã nos por asma e limitação das atividades pela asma.
ao despertar. O objetivo primordial do manejo da Alternativa B: INCORRETA. O diagnóstico está correto,
asma é a obtenção do controle da doença. A clas- mas o tratamento não. O B2 de longa duração não é
sificação da gravidade tem como principal função a indicado para o manejo da asma em crianças com
determinação da dose de medicamentos suficiente idade inferior a 6 anos.
para que o paciente atinja o controle no menor prazo
possível. Note que o paciente apresenta uma doen- Alternativa C: INCORRETA. Parcialmente controlada
ça não controlada, com sintomas noturnos e uso seria se o paciente apresentasse de 1-2 dos parâ-
frequente de salbutamol (broncodilatador de curda metros avaliados pelo GINA: sintomas diurnos > 2
duração) em dose baixa. Apesar do paciente apre- vezes por semana, necessidade de medicação de
sentar melhora com a dose baixa do broncodilata- resgate > 2 vezes por semana, despertares notur-
dor vale a orientação da mãe quanto a dose correta, nos por asma e limitação das atividades pela asma.
pelo menos 4 jatos de 8 em 8 horas nas crises leves Alternativa D: CORRETA. Com todas essas alterações
manejadas em domicílio, e de que não há risco de sabemos que a asma do paciente deve ser classi-
“vício na bombinha” a despeito da crença popular. ficada como não controlada (4 dos 4 critérios do
Além disso, é importante instituir um tratamento de GINA). O tratamento indicado para ele será o uso
manutenção para reduzir a frequência e a gravidade de corticoide inalatório.
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Lactente sibilante e asma Cap. 7
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anos (e em adultos), quando a base do tratamento
de manutenção passa a ser o corticoide inalatório sita de uso frequente de broncodilatador, mas não
associado ao broncodilatador de longa duração diário. Além disso essa é a única alternativa que
e o tratamento da crise é feito preferencialmente traz o broncodilatador de curta duração como a
também com corticoide inalatório associado ao for- medicação preferencial de uso na crise asmática,
moterol (o único broncodilatador de longa duração conforme o recomendado pelo GINA.
que comprovadamente tem eficácia no tratamento ✔ resposta: D
da crise asmática).
Alternativa A: INCORRETA. Embora o corticoide inala-
Questão 10 dificuldade:
tório seja uma boa opção de tratamento de manu-
tenção para esse paciente, não está recomendado Y Dica do professor: A asma é uma doença inflama-
o uso de broncodilatador de longa duração nas tória crônica, caracterizada por hipersensibilidade
crises nessa idade. das vias aéreas inferiores e por limitação variável
Alternativa B: INCORRETA. O broncodilatador de lon- ao fluxo aéreo e sintomas respiratórios, reversível
ga duração está liberado para crianças acima de 5 espontaneamente ou com tratamento. Manifesta-
anos, e seu uso associado ao corticoide inalatório -se clinicamente por episódios recorrentes de sibi-
em dose alta consiste na etapa 4 do tratamento lância, dispneia, aperto no peito e tosse, à noite e
de manutenção da asma para as crianças de 6 a pela manhã ao despertar. Resulta de uma interação
11 anos. Esse paciente não apresenta critério para entre genética, exposição ambiental a alérgenos, ir-
início do tratamento já em etapa 4, que está indi- ritantes e outros fatores específicos que levam ao
cada em pacientes com sintomas quase diários desenvolvimento e manutenção dos sintomas. A
ou que apresentam despertar noturno ≥ 1 vez por exacerbação asmática é um episódio agudo de agra-
semana, especialmente na presença de fatores de vamento dos sintomas asmáticos (falta de ar, tosse,
risco ou de redução da função pulmonar. Também sibilância, aperto no peito) causada por obstrução
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Lactente sibilante e asma Pneumologia Pediátrica
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corticosteroides sistêmicos e brometo de ipratrópio.
Estudos demonstraram que após a administração
em dose única, houve redução da taxa de admissão
hospitalar e melhora a função pulmonar. Idealmente
deve ser administrado na sala de emergência para
que a criança seja adequadamente monitorizada
durante a infusão.
✔ resposta: D
158
Capítulo
ATOPIAS
8
importância/prevalência
u Marcha atópica: dermatite atópica +/− alergia alimentar → sibilância recorrente → rinite alérgica.
u Apresentação clínica da dermatite atópica.
u Diagnóstico clínico da rinite alérgica.
u Tratamento da dermatite atópica e da rinite alérgica.
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Alguns conceitos de genética são importantes para enten- negativamente a qualidade de vida desses pacientes.
der a fisiopatologia das doenças alérgicas:
O aumento progressivo do número de pacientes
W Genótipo: conjunto de genes de um indivíduo, deter-
minado na sua concepção. alérgicos em países industrializados é explicado
em parte pela teoria da higiene, que relaciona esse
W Fenótipo: características observáveis de um indivíduo,
fato com a redução das doenças infectoparasitá-
que resultam não só da expressão dos genes, mas tam-
bém de fatores ambientais e da interação entre eles. rias, a intensificação das medidas de higiene e a
vacinação extensiva, que reduzem a estimulação
W Epigenética: conjunto de mecanismos que promo-
do sistema imune para o controle das infecções
vem a regulação da expressão gênica através de
modificações químicas no Desoxirribonucleic Acid e permite uma maior ativação dos linfócitos Th2,
(DNA - Ácido Desoxirribonucleico) e na cromatina estimulando a produção de IgE e o acúmulo de
(como metilação, acetilação e fosforilação). Resulta eosinófilos, fatores ligados à resposta alérgica
em modificações fenotípicas sem, no entanto, alterar medida por IgE. Fatores epigenéticos também são
a sequência do DNA. importantes no desenvolvimento das doenças alér-
gicas, pois fatores ambientais como a exposição
a vírus, bactérias, poluentes ambientais e fatores
dietéticos maternos são capazes de atuar na metila-
ção do DNA, levando a modificações químicas nos
cromossomos que afetam a expressão fenotípica
das doenças alérgicas.
159
Atopias Pneumologia Pediátrica
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vosas sensoriais que levam a sintomas como
W Alergia: manifestação de sintomas após a exposição sibilância, edema, eritema, hipersecreção, pru-
a substâncias que contêm alérgenos aos quais aquele rido, tosse e espirro.
paciente é sensibilizado.
W Fase tardia: ocorre após 4 a 6 horas da reexpo-
sição e está associada à infiltração secundária
A fisiopatologia das reações alérgicas (ou de hiper- de linfócitos e eosinófilos no tecido-alvo com
sensibilidade) depende da interação entre diferentes liberação de seus mediadores inflamatórios e
elementos como células inflamatórias (linfócitos T e perpetuação da resposta inflamatória.
B, eosinófilos, mastócitos, neutrófilos), mediadores
inflamatórios (histamina, citocinas, leucotrienos),
fatores de transcrição e resposta neural. Gell e DIA A DIA MÉDICO
Coombs foram os primeiros a descrever e classi-
ficar as reações de hipersensibilidade em quatro A inflamação crônica por exposições repetidas ao alér-
categorias, de I a IV. A forma mais relacionada às geno se associa ao recrutamento de fibroblastos e ao
doenças alérgicas, envolvida na urticária, na rinite remodelamento tecidual. Na asma, esse remodelamento
e na asma alérgicas é a hipersensibilidade tipo I, é identificado pela obstrução fixa da via aérea, achado
também chamada de imediata ou medida por IgE, mais comum em adultos asmáticos. Na rinite alérgica,
vemos uma hipertrofia dos cornetos nasais, e na der-
que envolve duas fases:
matite atópica vemos a liquenificação das aéreas de
u Fase de sensibilização: inicia com a penetração lesão, mais comum em crianças mais velhas, a partir
do alérgeno (pelas vias aéreas, pele ou trato gas- da idade escolar.
160
Atopias Cap. 8
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da pele). Diversos fatores desencadeantes estão
relacionados com a piora das lesões de pele, como
BASES DA MEDICINA a infecção pelo Staphylococcus aureus ou pela
Malassezia, a exposição aos alérgenos alimentares
Na dermatologia, os termos dermatite e eczema são (principalmente clara de ovo e leite de vaca) ou
frequentemente utilizados como sinônimos, sendo que, a aeroalérgenos, e até fatores emocionais, como
em geral, o uso da palavra eczema isolada faz referência o estresse.
à dermatite atópica. A característica básica do processo
de eczema é a natureza seroexsudativa que acomete a epi- O diagnóstico é clínico, pelo encontro de prurido
derme e a derme papilar. Na fase aguda ocorre exocitose associado às características clínicas do eczema e
e edema intercelular da camada de Malpighi, que leva ao aos antecedentes pessoais e familiares de rinite e
afastamento dessas células e ao acúmulo de serosidade. asma (Fluxograma 1). O eczema se apresenta em
Pode ocorrer a formação de vesículas intraepidérmi- diferentes locais e com diferentes características
cas, que podem, inclusive, se exteriorizar e dar origem
de acordo com a idade do paciente (Quadro 1). Até
a vesículas clínicas que se rompem, liberam exsudato
e depois formam crostas. O edema intracelular altera a 60% dos pacientes têm uma melhora importante ou
ceratinização normal, dando origem à paraceratose, que até desaparecimento dos sintomas de dermatite
se manifesta clinicamente com a formação de escamas. atópica ainda na fase pré-puberal.
Na fase crônica do eczema ocorre o espessamento de
todas as camadas da pele, originando a liquenificação.
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tornozelos, pescoço ou periorbital)
162
Atopias Cap. 8
Pápulas eritematosas
e vesículas que são
Pré-puberal gradualmente substituídas
(2 anos até a por liquenificação nas
puberdade) regiões flexurais dos joelhos
e dos cotovelos, pescoço,
punhos e tornozelos
Lesões liquenificadas
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Adulto em mãos, regiões
flexurais e periorbitais
163
Atopias Pneumologia Pediátrica
Exames complementares podem ser utilizados Além disso, podem ser necessárias medidas para
para a avaliação da sensibilização alérgica, como o controle da inflamação e do prurido durante as
contagem de eosinófilos periféricos, testes cutâneos exacerbações. O controle da inflamação pode ser
(prick test) e dosagem de IgE sérica específica. obtido pelo uso de corticoides tópicos de média ou
alta potência por curto período nas lesões ativas
Embora na infância a dermatite atópica geralmente
(cuidado com uso em região genital, inguinal, axilar
se manifeste de forma típica, podemos pensar em
e em face pelo risco de absorção sistêmica e alte-
alguns diagnósticos diferenciais (Quadro 2).
ração do trofismo da pele) ou imunomoduladores
tópicos (inibidores de calcineurina – pimecrolino,
Quadro 2. Diagnósticos diferenciais da dermatite atópica.
tacrolimo, preferidos para aplicação em face e
Dermatoses Doenças raras com eczema pregas). O prurido pode ser controlado pelo uso
inflamatórias semelhante à dermatite atópica
de anti-histamínicos orais de 1ª geração, como a
Dermatite
seborreica
Síndrome hiper-IgE hidroxizina, que possuem um discreto efeito sedativo
benéfico nessas situações.
Dermatite de
Síndrome hipereosinofílica
contato Na presença de infecção bacteriana secundária das
Eczema numular Agamaglobulinemia lesões, que geralmente se manifesta por eritema,
Displasia ectodérmica anidrótica exsudação e crostas melicéricas, está indicada
Ataxia telangiectasia limpeza local com antissépticos tópicos (mupirocina
Síndrome de Netherton ou ácido fusídico) e uso de antibióticos tópicos ou
Fenilcetonúria sistêmicos com cobertura para S. aureus (cefalexina)
Síndrome de Wiskott-Aldrich em casos disseminados. Nesses casos, geralmente
Fonte: Antunes et al.5 utilizamos de forma combinada os corticoides tópi-
cos, que diminuem a colonização pelo S. aureus.
Não se recomenda o uso profilático ou por longos
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DICA
Nas provas podemos reconhecer
períodos de antibióticos e nem de sabonetes antis-
um quadro de dermatite atópica pela pre- sépticos, que podem piorar a xerose e apresentam
sença de eczema em localização típica (na um risco de sensibilização.
face em lactentes ou em regiões flexurais
A imunossupressão sistêmica com ciclosporina
em crianças) associada a história de ante-
cedentes pessoais ou familiares de atopias, pode ser considerada em pacientes com dermatite
como alergia alimentar, rinite alérgica e atópica grave e refratária à terapêutica habitual,
asma/sibilância recorrente. sempre com monitoramento da função renal e da
pressão arterial. Corticoides sistêmicos raramente
são prescritos nas exacerbações agudas, pois,
A base do tratamento da dermatite atópica con- embora se associem à melhora das lesões, apre-
siste na hidratação da pele, que tem por objetivo a sentam efeito rebote, com recorrência dos sintomas
preservação da integridade da barreira cutânea, e após a retirada da medicação.
no controle dos fatores agressores para a pele e O uso de probióticos tem sido proposto na preven-
desencadeantes das lesões, como banhos quentes ção das doenças alérgicas, dentre elas a dermatite
e demorados, uso excessivo de sabonetes, poluição atópica. A administração de lactobacilos (Lacto-
aérea, fricção excessiva ou exposição a produtos bacillus rhamnosus GG) nas últimas semanas de
químicos. O banho do paciente com dermatite ató- gestação e durante o período de aleitamento foi
pica deve ser rápido, não muito quente, com uso efetiva na prevenção primária da dermatite atópica
de pouco sabonete e, de preferência, sabonetes em lactentes de alto risco em alguns estudos, mas
que apresentem pH levemente ácidos (5 a 5,5). Os esse efeito ainda precisa ser comprovado e padro-
hidratantes devem ser aplicados com a pele úmida nizado para que se possa recomendar o uso dos
nos primeiros 3 minutos após o banho para evitar probióticos com esse objetivo.
a desidratação da epiderme.
164
Atopias Cap. 8
Dermatite atópica
Doença inflamatória
Eczema + prurido
cutânea crônica
Lactente: em face,
tronco e superfície
extensora dos membros
Pré-puberal:
regiões flexurais
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Tratamento
Imunomoduladores
tópicos
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Atopias Pneumologia Pediátrica
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O diagnóstico é clínico, pela presença dos sintomas de epistaxe recorrente nesses pacientes devido
cardinais da rinite: espirros em salvas, prurido nasal, à friabilidade da mucosa e a presença de fatores
coriza hialina e obstrução nasal, cujos principais desencadeantes como os episódios de espirros e
fatores desencadeantes são os aeroalérgenos o ato de assoar ou coçar o nariz vigorosamente.
(poeira domiciliar, ácaros – Dermatophagoides pte-
Frequentemente, a rinite pode estar acompanhada
ronyssinus, D. farinae e Blomia tropicalis –, fungos,
da conjuntivite alérgica, que se caracteriza por hipe-
epitélios de cães e gatos), as mudanças bruscas de
remia conjuntival, lacrimejamento, prurido ocular,
clima e a inalação de irritantes (como perfumes e
fotofobia e dor local. Também pode ocorrer prurido
produtos de limpeza). De acordo com a frequência
no conduto auditivo externo, no palato e na faringe,
dos sintomas, a rinite alérgica pode ser classificada
o que reflete a sensibilização de toda a via aérea.
em intermitente (sintomas por menos de 4 dias na
Outras comorbidades que podem estar associadas
semana ou por menos de 4 semanas consecutivas)
à rinite alérgica são:
ou persistente (sintomas por mais de 4 dias na
semana e por mais de 4 semanas consecutivas). u Asma: a presença de rinite alérgica não controla-
Também podemos classificar a rinite de acordo com da eleva em até 3 vezes o risco de exacerbação
a intensidade dos sintomas em leve ou moderada/ de asmáticos.
grave (quando ocorre comprometimento da quali- u Rinossinusite aguda ou crônica.
dade de vida com interferência no sono, limitação u Otite média com efusão.
das atividades diárias, de lazer e/ou esporte, prejuízo u Tosse crônica por gotejamento posterior.
no desempenho escolar ou laboral).
u Alterações do desenvolvimento craniofacial (fá-
Algumas características faciais típicas podem ser cies adenoidiana) por respiração predominan-
encontradas nos pacientes com rinite alérgica, como temente bucal.
olheiras, a dupla prega palpebral de Dennie-Morgan u Apneia e hipopneia obstrutiva do sono.
(Figura 1) e a prega nasal transversa, resultado do
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Atopias Cap. 8
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barreira hematoencefálica e, por isso, não estão asso-
ciados à sedação. Os anti-histamínicos orais podem grave e nas formas persistentes. Pode ser sub-
ser indicados como monoterapia durante as crises cutânea ou sublingual e deve ser fundamentada na
de rinite em pacientes com rinite intermitente leve. comprovação da sensibilização alérgica. A duração
do tratamento é de 3 a 5 anos. Está contraindicada
Nos pacientes com rinite persistente, recomenda- se asma não controlada concomitante, doença
-se a associação com corticoides nasais (como a imune ativa, neoplasia maligna, SIDA ou em crianças
fluticasona, mometasona e a budesonida), para o abaixo de 2 anos.
controle da inflamação e dos sintomas nasais, redu-
zindo o risco de complicações como sinusite e otite
secretora. Corticoides orais podem ser utilizados DIA A DIA MÉDICO
por um curto período em casos excepcionais para
o controle da exacerbação grave da rinite.
Poucos estudos trazem evidências sobre a prevenção
primária da rinite alérgica. Embora saibamos que os
aeroalérgenos domiciliares são importantes na origem
e na manutenção dos quadros de alergia, ainda há con-
DICA
Guarde essa dica para a prova e trovérsias com relação à exposição a animais de pelo,
para a vida: a única indicação de anti-his- como gato e cachorro, sendo que alguns estudos mostram
tamínico oral como monoterapia é na rinite que a exposição precoce, desde o período intrauterino,
intermitente leve. Todos os outros pacien- estaria relacionada a uma menor incidência de doenças
tes necessitam da associação de corticoi- alérgicas, em comparação com a exposição mais tardia,
de nasal. durante a infância.
167
Atopias Pneumologia Pediátrica
Rinite alérgica
Inflamação alérgica
Sintomas cardinais Comorbidades Tratamento
da mucosa nasal
Sensibilização
Espirros em salvas Conjuntivite alérgica Controle ambiental
alérgica prévia
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Apneia obstrutiva
Imunoterapia
do sono
Classificação
Frequência dos
Gravidade
sintomas
Intermitente Leve
Persistente Moderada/grave
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Atopias Cap. 8
REFERÊNCIAS
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disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/ima-
ge-photo/eyelid-eczema-atopic-dermatitis-allergic-fe-
male-1542265277. Acesso em: 9 fev. 2022.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Atopias Pneumologia Pediátrica
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP – 2022) Paciente (SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS – BA – 2021) Mulher, 25
de 5 meses de idade, apresenta, há mais ou menos anos de idade, moradora de Salvador, comparece
40 dias, lesões cutâneas com eritema, pápulas, ve- ao ambulatório de clínica médica queixando-se de
sículas e formação de crostas, com prurido intenso, prurido nasal e em conduto auditivo frequentes.
localizadas em face, nas regiões malares, frontal e Relata ter quadros semelhantes desde a infância,
mentoniana, poupando o maciço central. O diagnós- associados a salvas de espirros, obstrução nasal
tico mais provável, dentre os abaixo, é: e coriza hialina. Mudou-se há cerca de dois meses
e, desde então, vem tendo queixas praticamente
⮦ Varicela. diárias, impedindo o sono e dificultando prestar
⮧ Dermatite seborreica. atenção às aulas na faculdade. Refere que o seu
⮨ Dermatofitose. quarto possui tapete e uma coleção de bichos de
⮩ Dermatite atópica. pelúcia. A cama fica encostada numa parede que
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separa o quarto do banheiro. Possui um cágado
de estimação. Não possui plantas. Ao exame físi-
Questão 2 co, encontra-se em bom estado geral, com sinais
vitais estáveis. Ausculta cardiorrespiratória e exa-
(ENARE/EBSERH – DF – 2021) Sobre as rinites, é correto
me abdominal normal. Mucosa nasal pálida, com
afirmar que:
presença de rinorreia clara e gotejamento pós-na-
⮦ A forma intermitente se caracteriza por sinto- sal posterior. Indique o diagnóstico mais provável
mas presentes em menos de 1 dia por semana. para a paciente.
⮧ A forma persistente se caracteriza por sintomas ⮦ Rinite alérgica intermitente exacerbada.
diários, sem prejuízo das atividades diárias.
⮧ Rinite alérgica persistente leve.
⮨ A doença não faz alteração do sono e, quando
⮨ Rinite alérgica persistente moderada a grave.
isso ocorre, devem-se buscar diagnósticos di-
ferenciais. ⮩ Rinossinusite crônica.
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Atopias Cap. 8
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pacientes da faixa etária pediátrica. A fisiopatolo- maior tolerância e evaporação.
gia inclui fatores genéticos, alterações na barreira
cutânea e imunológicas”. Guia prático de atualização
em dermatite atópica - Posicionamento conjunto Questão 7
da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia
e da Sociedade Brasileira de Pediatria/2017. Com (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE - RJ – 2020) Pré-escolar
relação ao tratamento da DA, assinale a alternati- de 3 anos foi levado à consulta médica por apre-
va incorreta. sentar quadro excessivo de espirros, normalmente
em salvas, além de roncar muito quando dorme. O
⮦ Os hidratantes mais indicados para pacientes responsável referiu que o paciente apresenta es-
com DA são aqueles que contêm ceramidas, pirros mais que quatro vezes na semana, tendo o
glicerina, ácidos graxos e ésteres de colesterol. quadro perdurado por mais de dois meses, sempre
⮧ Na fase aguda, deve-se evitar usar hidratantes à associados à coceira nasal. Ao exame físico, apre-
base de elevadas concentrações de ureia. sentou olheiras, prega nasal e respiração bucal. A
rinoscopia evidenciou edema de cornetos nasais,
⮨ Óleos, como os de semente de girassol ou o de
com mucosa pálida, e rinorreia clara. O tratamen-
oliva, são boas opções para reparação da bar-
to com maior eficácia para controle desse quadro
reira cutânea em crianças com DA.
deve ser realizado com:
⮩ Os inibidores de calcineurina (pimecrolimo e o
tacrolimo) reduzem os sinais de inflamação das ⮦ Corticoide intranasal.
lesões agudas, bem como podem reduzir o tem-
⮧ Anti-histamínico.
po de aparecimento de novas lesões.
⮪ A região genital é o local de maior absorção dos ⮨ Salina nasal 3%.
corticosteroides tópicos, portanto, nestes locais, ⮩ Leucotrieno.
171
Atopias Pneumologia Pediátrica
Questão 8 Questão 10
(FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO – SP – (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE VOTUPORANGA – SP – 2020)
2020) Lactente de 18 meses é trazido para consulta A dermatite atópica é uma dermatose inflamatória
devido ao aparecimento de lesões eczematosas e de curso crônico, recidivante, de etiologia desconhe-
pruriginosas em couro cabeludo, face e membros cida, de início precoce, caracterizada por: prurido,
superiores há 10 dias, sem melhora. Mãe nega xerose, lesões eczematosas de morfologia e dis-
outras queixas, refere aleitamento materno por 4 tribuição típicas. É a dermatose mais frequente na
meses e boa aceitação alimentar. Qual a principal infância, perfazendo 1% das consultas em pediatria,
hipótese diagnóstica: e 20% das consultas dermatológicas em crianças.
Atinge de 10 a 30% da população. Em relação a
⮦ Urticária. dermatite atópica, assinale a alternativa incorreta:
⮧ Escabiose.
⮦ A infecção secundária por Staphylococcus au-
⮨ Psoríase.
reus é muito frequente.
⮩ Dermatite Atópica.
⮧ O clima, os antígenos alimentares, os aeroalér-
genos e os fatores psicológicos são fatores de-
Questão 9 sencadeantes.
⮨ A primeira escolha de tratamento seria o uso
(FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP – 2020) A derma-
de corticoide sistêmico por uso prolongado nos
tite atópica é uma doença cutânea, inflamatória,
pacientes com formas graves e não controlados
crônica, caracterizada por xerose, eczema, pruri-
com medicamentos tópicos.
do intenso, por vezes pápulas, vesículas, crostas
e descamação. Com relação à dermatite atópica, ⮩ O tratamento pode ser embasado em 4 pilares:
pode-se afirmar que: educação e autocuidados do paciente, hidrata-
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ção da pele, controle dos desencadeantes, me-
⮦ Embora possa se manifestar em qualquer faixa dicamentos tópico-oral.
etária, o início da dermatite atópica é mais co-
mum na infância, precedendo a asma e a rinite.
A história familiar de dermatite atópica é um
dos principais fatores associados à expressão
da doença.
⮧ As alergias respiratórias não têm relação com a
dermatite atópica, pois são resultantes de me-
canismos imunológicos diferentes.
⮨ Nos adultos, a dermatite atópica é mais grave
do que nas crianças, e neles a doença leva a um
maior comprometimento da qualidade de vida.
⮩ A principal causa determinante do aparecimento
da dermatite atópica nas crianças é a alergia à
proteína do leite de vaca.
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Atopias Cap. 8
GABARITO E COMENTÁRIOS
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asma. O eczema se apresenta em diferentes locais nese com história típica de sintomas e exame físico
e com diferentes características de acordo com a da cavidade nasal. Exames complementares, como
idade do paciente. Em lactentes, como o descrito teste alérgico de leitura imediata ou IgE específica,
pelo enunciado, o eczema é principalmente agudo ajudam no diagnóstico diferencial.
(caracterizado por um eritema mal definido, com Alternativa E: CORRETA. Inclusive, na forma persis-
edema e vesículas) em face (poupando a região tente moderada e grave, muitas vezes é necessário
central), couro cabeludo, tronco e superfície exten- tratamento adjuvante com anti-histamínicos.
sora dos membros.
✔ resposta: E
✔ resposta: D
Questão 3 dificuldade:
Questão 2 dificuldade:
Y Dica do professor: Questão que aborda a classi-
Y Dica do professor: A rinite alérgica é uma inflama- ficação da rinite alérgica. Estamos diante de um
ção da mucosa nasal, induzida pela exposição a quadro clássico de rinite alérgica: espirros em sal-
alérgenos que desencadeiam uma resposta infla- vas, prurido nasal, coriza hialina e obstrução nasal.
matória mediada por imunoglobulina E. Pode cur- Geralmente os sintomas são desencadeados por
sar com sintomas crônicos ou recorrentes, sendo mudanças no tempo, exposição a alérgenos (poei-
caracterizada pela presença de congestão nasal, ra, pelo de animais, barata, mofo, ácaros, dentre
coriza, espirros e prurido nasal. Segundo a Allergic outros). A rinite alérgica pode ser classificada pelo
Rhinitis and its Impact on Asthma (ARIA), é classi- padrão temporal (intermitente X persistente) e pela
ficada em intermitente ou persistente, leve ou mo- gravidade (leve X moderada-grave). A rinite é dita
derada/grave, conforme a frequência e intensidade intermitente quando os sintomas estão presentes
dos sintomas, e seu impacto sobre a qualidade de menos de quatro dias por semana ou por menos de
vida do paciente.
173
Atopias Pneumologia Pediátrica
quatro semanas e persistente se os sintomas estão caso persistente (sintomas presentes por mais de
presentes mais de quatro dias por semana e por quatro dias por semana e por mais de quatro se-
mais de quatro semanas. Já com relação a gravi- manas) e moderado/grave (sintomas prejudicam o
dade a rinite é moderada/grave quando pelo menos sono e as atividades diárias da paciente). Dito isso,
um dos itens estão presentes: 1. Comprometimento o tratamento leva em consideração a classificação
do sono; 2. Limitação das atividades diárias, lazer da rinite, sendo necessário esse conhecimento para
e/ou esporte; 3. Prejuízo no desempenho escolar responder à questão.
ou no trabalho; 4. Sintomas incomodam o pacien- Alternativa A: CORRETA. Para pacientes com sinto-
te. Na ausência desses fatores a rinite é dita leve. mas persistentes ou moderados/graves os medi-
Alternativa A: INCORRETA. A paciente apresenta sin- camentos de primeira linha são os glicocorticoides
tomas praticamente diariamente há quase 2 me- intranasais (spray nasal), como por exemplo a be-
ses, logo a classificação de padrão temporal seria clometasona, budesonida, propionato de fluticasona
PERSISTENTE, não intermitente. Quanto ao termo e a mometasona.
“exacerbada”, não entra no sistema proposto para Alternativa B: INCORRETA. O corticoide via oral não é
classificação da rinite. utilizado como tratamento da rinite alérgica. Exis-
Alternativa B: INCORRETA. A primeira parte da res- tem outras opções como os glicocorticoides spray
posta está correta (rinite alérgica persistente), po- nasal, anti-histamínicos ou descongestionantes
rém a classificação “leve” está incorreta, visto que orais em alguns casos.
a paciente refere que sintomas impedem o sono e Alternativa C: INCORRETA. Os anti-histamínicos como
dificultam atividades da faculdade, sendo melhor a loratadina (segunda geração) são úteis no trata-
classificada como moderada/grave. mento, principalmente em sintomas leves/esporá-
Alternativa C: CORRETA. A paciente vem apresen- dicos, mas não são a primeira escolha em sintomas
tando sintomas diários, por mais de 4 semanas persistentes, moderados/graves.
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(PERSISTENTE), além de os sintomas causarem Alternativa D: INCORRETA. Não há indicação de an-
prejuízo no sono e limitação de atividades diárias tibioticoterapia neste caso, por ser um quadro de
(MODERADA/GRAVE). rinite alérgica. Não há sinais/sintomas de uma in-
Alternativa D: INCORRETA. O quadro de rinossinusite fecção de via aérea superior bacteriana.
crônica caracteriza-se por outros sintomas como:
✔ resposta: A
drenagem mucopurulenta nasal anterior e / ou pos-
terior, obstrução nasal ou bloqueio nasal, dor facial,
pressão e/ou plenitude, redução ou perda do olfato. Questão 5 dificuldade:
São sintomas que duram cerca de 12 semanas ou
mais. Assim, a paciente do caso descrito não possui Y Dica do professor: De acordo com a referência
os sintomas descritos para a rinossinusite crônica. citada, a aplicação de hidratantes é a primeira li-
nha no tratamento da dermatite atópica (DA). Os
✔ resposta: C
hidratantes mais indicados são os que contém os
ativos que estão diminuídos na barreira cutânea do
Questão 4 dificuldade: atópico: ceramidas, glicerina, ácidos graxos e éste-
res de colesterol. Hidratantes à base de lactato de
Y Dica do professor: Questão que aborda o tratamen- amônio e a ureia podem causar irritação e devem
to da rinite alérgica. Estamos diante de um quadro ser evitados nos surtos agudos. O óleo de semen-
clássico de rinite alérgica: espirros em salvas, prurido te de girassol melhora a barreira cutânea na DA,
nasal, coriza hialina e obstrução nasal. Geralmente enquanto que o óleo de oliva e o óleo de semente
os sintomas são desencadeados por mudanças no de mostarda são prejudiciais para a reparação da
tempo, exposição a alérgenos (poeira, pelo de ani- barreira cutânea e podem causar eritema. Para o
mais, barata, mofo, ácaros, dentre outros). Nessa controle das crises de DA os medicamentos mais
questão especificamente, estamos diante de um utilizados são os corticosteroides e os inibidores
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Atopias Cap. 8
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da doença. Como dito no enunciado da questão, sa nasal e nos seios paranasais e daí a importância
os hidratantes são compostos por combinações dos corticosteroides tópicos de uso nasal como
variáveis de emolientes, umectantes e substâncias fármaco de escolha no seu tratamento. Além disso,
oclusivas. Além disso, podem ser produzidos nos os corticoides nasais têm sido usados nos casos
veículos loção, creme ou pomada. Dessa forma, o de rinites não alérgicas, como as idiopáticas, ocu-
uso de hidratantes de forma adequada diminui o pacionais e a gestaciona. Eles melhoram todos os
número de crises agudas e ainda melhora o resse- sintomas de rinite alérgica em especial a congestão
camento e também o prurido. nasal, a alteração do olfato, a coriza, os espirros, o
prurido nasal e os sintomas oculares associados.
Alternativa A: INCORRETA. Este não é o papel dos
A melhora dos sintomas oculares traduz sua ação
emolientes. Os agentes ditos emolientes são ricos
no reflexo naso-ocular (rinoconjuntivite alérgica).
em compostos capazes de preencher as fendas
Seu uso leva à melhora na qualidade de vida, na
(ou espaços) intercorneocíticas (espaço intercelu-
qualidade de sono e na concentração diurna. O tra-
lar), retendo água na camada córnea. Ex.: PCA-Na
tamento com corticoides nasais reduz também o
hidroviton, hydrovance, lactato de amônio e ureia.
risco de complicações como a rinossinusite, a otite
Alternativa B: INCORRETA. Os umectantes aumen- secretora e a asma.
tam a hidratação da camada córnea, preservando
Alternativa B: INCORRETA. Os anti-histamínicos H1
a estrutura. São ditos componentes higroscópicos
são considerados medicamentos de primeira li-
capazes de reter água na pele (camada córnea) e
nha no tratamento da rinite alérgica. Eles aliviam
nas formulações cosméticas.
de forma eficaz os sintomas da fase imediata da
Alternativa C: INCORRETA. Essa característica faz rinite alérgica, tais como o prurido nasal, os espir-
parte dos cremes. Os cremes são uma emulsão ros, a rinorreia e os sintomas oculares associados,
bifásica de água em óleo ou óleo em água, com e parcialmente o bloqueio nasal, característico da
textura agradável. fase tardia da doença. No caso desse paciente, o
175
Atopias Pneumologia Pediátrica
uso do corticoide inalatório trará mais benefícios principalmente na face, poupando a região central
de forma geral. (nariz e boca), no couro cabeludo, no tronco e na
Alternativa C: INCORRETA. O principal e mais claro região extensora dos membros, poupando a região
mecanismo de ação é a limpeza das cavidades na- coberta pelas fraldas. As lesões iniciais são pápulas
sais. O uso da solução salina facilita a remoção de ou placas eritematosas pruriginosas, várias delas
secreções patológicas, promovendo consequente- com exsudação e crosta hemática.
mente alívio sintomático aos pacientes. Está indi- ✔ resposta: D
cada solução salina 0,9% - não há benefício do 3%
em relação ao 0,9%.
Questão 9 dificuldade:
Alternativa D: INCORRETA. O leucotrieno não é a pri-
meira escolha para o tratamento de pacientes com Y Dica do professor: A Dermatite Atópica é uma der-
rinite alérgica, mas tem sido apontado como uma matose inflamatória de curso crônico, recidivante,
alternativa terapêutica para os pacientes com asma de etiologia desconhecida, de início precoce, carac-
e rinite alérgica concomitante e naqueles com di- terizada por prurido, xerose, lesões eczematosas de
ficuldade de adesão aos regimes de tratamento morfologia e distribuição típicas. É a dermatose mais
com medicação tópica nasal. Além disso, podem frequente na infância, perfazendo 1% das consultas
ser considerados nos casos de rinossinusite crô- em pediatria e 20% das consultas dermatológicas
nica com polipose nasal, na doença respiratória na criança. Atinge de 10 a 30% da população. So-
exacerbada por aspirina. bre essa patologia, vamos analisar as alternativas:
✔ resposta: A Alternativa A: CORRETA. Em 45% dos casos a derma-
tite atópica surge durante os primeiros 6 meses, em
60% durante o primeiro ano e, em 85% dos casos,
Questão 8 dificuldade:
antes dos 5 anos. Cerca de 75% das crianças com
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Y Dica do professor: As lesões eczematosas são rea- dermatite atópica apresentarão melhora entre os
ções inflamatórias caracterizadas por placas erite- 10 e os 14 anos, mas 25% podem persistir com a
matosas que evoluem para vesículas, resultante do doença na adolescência. Os fatores genéticos são
edema intracelular da derme, e, posteriormente, para importantes no desenvolvimento da dermatite ató-
crostas e liquenificação. As principais dermatites pica, mas sua fisiopatologia é complexa e pouco
eczematosas são a dermatite atópica, dermatite de compreendida.
contato e dermatite seborreica. Alternativa B: INCORRETA. A dermatite atópica é
Alternativa A: INCORRETA. Na urticária geralmente te- doença inflamatória cutânea associada à atopia,
mos placas e/ou pápulas eritematosas pruriginosas predisposição a produzir resposta IgE a alérgenos
de duração efêmera; não é esperado que persistam ambientais, constituindo uma das manifestações
por mais de 10 dias, como no caso. das doenças atópicas, junto com a asma e a rinite
alérgica.
Alternativa B: INCORRETA. A escabiose é marcada
por lesões lineares eritematosas com pequenas Alternativa C: INCORRETA. A dermatite atópica é mais
vesículas em suas extremidades, mais frequentes frequente e mais grave nas crianças comprometen-
entre os dedos das mãos, nas axilas, na parte do do muito a qualidade de vida. Ela tem baixa morta-
punho que segue a palma da mão, auréolas e geni- lidade, mas alta morbidade, contribuindo para uma
tais, poupando a cabeça. baixa qualidade de vida e sua prevalência parece
estar aumentando, principalmente nos países desen-
Alternativa C: INCORRETA. A principal manifestação
volvidos e nas classes sociais mais altas. O prurido
da psoríase são placas eritematosas, espessas,
constante e de difícil controle leva a alterações do
com escamas prateadas no couro cabeludo e áreas
sono, as infecções de repetição (pela maior coloni-
de extensão.
zação por Staphylococcus aureus) contribuem para
Alternativa D: CORRETA. A dermatite atópica em as faltas escolares além de promover alterações
lactentes é marcada por lesões que ocorrem psicológicas importantes.
176
Atopias Cap. 8
Alternativa D: INCORRETA. O papel dos antígenos Alternativa A: CORRETA. A infecção secundária por
alimentares na patogênese da dermatite atópica é Staphylococcus aureus é muito frequente.
controverso, tanto na prevenção, quanto na melho- Alternativa B: CORRETA. O clima, os antígenos alimen-
ra com dietas restritivas e a maioria dos trabalhos tares, os aeroalérgenos e os fatores psicológicos
têm alguma limitação metodológica que impede são fatores desencadeantes.
conclusões definitivas sobre o tema.
Alternativa C: INCORRETA. A imunossupressão sis-
✔ resposta: A têmica com ciclosporina pode ser considerada em
pacientes com dermatite atópica grave e refratária
à terapêutica habitual, sempre com monitoramento
Questão 10 dificuldade:
da função renal e da pressão arterial. Corticoides
Y Dica do professor: A dermatite atópica é uma sistêmicos raramente são prescritos nas exacerba-
doença inflamatória pruriginosa crônica da pele ções agudas, pois, embora se associem à melhora
que ocorre mais frequentemente em crianças. Ela das lesões, apresentam efeito rebote, com recor-
costuma estar associada a um nível sérico eleva- rência dos sintomas após a retirada da medicação.
do de imunoglobulina E e uma história pessoal ou Alternativa D: CORRETA. O tratamento pode ser em-
familiar de atopia - eczema, asma e rinite alérgica. basado em 4 pilares: educação e autocuidados do
A apresentação clínica é bastante variável, mas paciente, hidratação da pele, controle dos desen-
pele seca e prurido intenso são os sinais cardinais cadeantes, medicamentos tópico-oral.
da dermatite atópica. O eczema agudo é caracte- ✔ resposta: C
rizado por pápulas e vesículas eritematosas inten-
samente pruriginosas com exsudação e crostas,
e lesões crônicas se apresentam como pápulas
eritematosas secas, escamosas ou escoriadas.
O espessamento da pele devido a coceira crônica
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(liquenificação) e fissuras podem se desenvolver
com o tempo. A doença segue um curso recidivante
crônico, e os pacientes estão mais predispostos a
infecções secundárias. O diagnóstico da dermatite
atópica é clínico, baseado na história, morfologia e
distribuição das lesões cutâneas e sinais clínicos
associados. O manejo ideal envolve a eliminação
de fatores de exacerbação, restauração da função
de barreira cutânea e hidratação da pele, educação
do paciente e tratamento farmacológico da infla-
mação cutânea. Casos leves podem utilizar creme
ou pomada de corticosteroide de baixa potência.
Outra opção de tratamento tópico é com inibidores
da calcineurina, como o pimecrolimus.
177
Fixe seus conhecimentos!
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178
Capítulo
FIBROSE CÍSTICA
9
importância/prevalência
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7, que codifica uma proteína transmembrana cha-
A fibrose cística é uma doença de caráter monogênico, ou mada regulador de condutância transmembrana da
seja, decorrente da alteração de um único gene. Relem- fibrose cística (CFTR – Cystic Fibrosis Transmem-
brando os conceitos de genética, sabemos que as pato- brane Regulator). Existem mais de 2000 mutações
logias monogênicas seguem a herança mendeliana, conhecidas, classificadas em 6 classes, de acordo
que pode ser de 4 padrões: autossômica dominante, com o momento em que a produção do CFTR é
autossômica recessiva, ligada ao X dominante ou ligada
afetada (Figura 1):
ao X recessiva. Como o gene alterado da fibrose cística
está localizado em um autossomo (cromossomo 7), u Classe I: defeitos na transcrição do mRNA, não pro-
sabemos que essa é uma doença autossômica do tipo duz ou produz uma proteína inadequada, levando à
recessiva, que só aparece se ambos os cromossomos perda completa ou quase total da função do CFTR.
7 desse indivíduo apresentam o alelo mutado, ou seja,
apenas em pacientes homozigotos para a mutação (aa).
u Classe II: afeta o processamento proteico no re-
Os pais do paciente com fibrose cística geralmente são tículo endoplasmático e no Complexo de Golgi,
heterozigotos para a mutação (Aa), e, portanto, apenas levando à degradação prematura do CFTR ou à
carreadores assintomáticos de um único alelo alterado. síntese de proteína imatura.
u Classe III: regulação alterada do CFTR impedindo
A fibrose cística é a doença autossômica recessiva a ativação do canal, apesar de estruturalmente
mais comum em caucasianos. Sua incidência varia normal.
de acordo com a etnia, sendo as maiores taxas u Classe IV: condutância de cloreto alterada do
encontradas na Europa (1 para cada 2.000 a 4.500 CFTR.
nascidos vivos) e as menores na Ásia (1 para cada u Classe V: defeitos de splicing, com clivagem
100.000 a 350.000 nascidos vivos). No Brasil, a anormal do mRNA, síntese ou processamento do
incidência estimada da fibrose cística é de 1:7.576 CFTR parcialmente alterado, com CFTR presen-
nascidos vivos, mas também aqui no nosso país te e funcionante; porém, em menor quantidade.
179
Fibrose cística Pneumologia Pediátrica
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Fonte: Acervo Sanar.
A mutação mais comum é uma mutação de classe II, para a luz dos canais e, para que a eletroneutrali-
a F508del, responsável por 66% dos casos mundiais dade seja mantida, ocorre uma menor reabsorção
de fibrose cística e presente em menos de 50% dos de sódio pelos canais (ENaC). Esse sódio na luz dos
casos brasileiros. canais favorece a fluidificação das secreções por
ser osmoticamente ativo e atrair a água (Figura 2).
O CFTR é um canal de cloro regulado por AMP cíclico
Nos pacientes com fibrose cística, uma vez que
(AMPc) e regulador de outros canais e transporta-
o CFTR não está funcionante, ocorre uma maior
dores. É encontrado nas células epiteliais e, quando
reabsorção de sódio, que leva consigo a água,
defeituoso, altera o movimento transmembrana dos
originando secreções mais espessas em todos
íons e da água em diversos tecidos. Normalmente,
os órgãos.
nas células epiteliais, o CFTR atua secretando cloro
180
Fibrose cística Cap. 9
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absorção intestinal.
da secreção de cloro no suor dos pacientes com
W Intestino: desidratação do bolo fecal com maior
fibrose cística que é utilizada para confirmação do
risco de obstrução intestinal e íleo meconial.
diagnóstico.
W Sistema hepatobiliar: obstrução dos ductos
Figura 3. Representação gráfica da função normal e biliares, originando uma doença hepatobiliar
alterada do CFTR em uma célula ductal sudorípara. canalicular de gravidade variável (podendo
evoluir até para cirrose biliar).
Célula ductal sudorípara Célula ductal sudorípara
com CFTR normal com CFTR mutante u Sistema reprodutor masculino: uma das princi-
pais características é a ausência, a atrofia ou a
obstrução das vias deferentes e da cauda e do
corpo do epidídimo.
u Glândulas sudoríparas: secreção excessiva de
cloro e sódio, facilitando a ocorrência de desi-
dratação, hiponatremia e alcalose metabólica
hipoclorêmica, principalmente em lactentes.
181
Fibrose cística Pneumologia Pediátrica
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antes da adolescência. do cloro no suor, mesmo se teste do pezinho (tria-
gem neonatal) normal, pois o íleo meconial é uma
das possíveis causas de falso-negativo no teste
As manifestações clínicas são ditadas pela alteração do pezinho.
genética e pela fisiopatogenia da fibrose cística.
Devemos suspeitar de fibrose cística principalmente
em pacientes que se apresentem com quadros DICA
A tríade clínica clássica da fibro-
supurativos pulmonares de repetição e síndrome
se cística é composta por baixo ganho
disabsortiva (Quadro 1) ou quando existe um ante- ponderoestatural, esteatorreia e infecções
cedente familiar sugestivo (irmão com diagnóstico pulmonares de repetição. Como o quadro
de fibrose cística ou com história de óbito precoce pulmonar é muito pronunciado nesses pa-
por íleo meconial ou doença respiratória). cientes, a fibrose cística entra como um
diagnóstico diferencial de outras doenças
Quadro 1. Sintomas sugestivos de fibrose cística. pulmonares crônicas da infância, como a
asma e o lactente sibilante. Deve-se pensar
História de tosse crônica, produ- em fibrose cística principalmente naqueles
ção crônica de catarro, pneumonia casos que não apresentam melhora com o
recorrente, asma que não responde tratamento habitual.
Trato respiratório ao tratamento, encontro de agen-
tes atípicos em escarro (S. aureus
e P. aeruginosa) e presença de
baqueteamento digital
182
Fibrose cística Cap. 9
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Tabela 1. Interpretação do teste do cloro no clínico sugestivo. Uma importante causa de falso-negativo
suor após estímulo pela pilocarpina. do teste do pezinho é o íleo meconial, e, por isso, esses
pacientes sempre devem ser encaminhados para a realiza-
Dosagem cloreto Interpretação ção do teste do cloro no suor. Outra situação que sempre
requer teste do cloro no suor é a dos irmãos de pacientes
> 60 mmol/L Positivo com fibrose cística. Nesses casos, devemos investigar
30-60 mmol/L Duvidoso ativamente o diagnóstico mesmo que o IRT seja normal.
183
Fibrose cística Pneumologia Pediátrica
torna o paciente com fibrose cística um hospedeiro ideal As exacerbações pulmonares são episódios inter-
para essas bactérias, que, em indivíduos normais, não mitentes e recorrentes de aumento da tosse e da
teriam capacidade de colonizar o trato respiratório.
produção de escarro, em geral acompanhadas de
declínio da função pulmonar e de sintomas sistêmi-
O principal acometimento da fibrose cística ocorre cos como anorexia e fadiga. Nesses casos, deve-se
no trato respiratório. O comprometimento do cla- colher hemograma, hemocultura, cultura de escarro
reamento mucociliar favorece a colonização bac- e solicitar uma radiografia de tórax (Figura 4). A inter-
teriana, que muda conforme a evolução da doença nação estará indicada apenas naqueles pacientes
e o envelhecimento do paciente. Os lactentes são com necessidade de oxigenioterapia. A escolha
inicialmente colonizados pelo S. aureus e o H. antibiótica deve ser direcionada pela colonização
influenzae. A Pseudomonas aeruginosa coloniza do paciente (Quadro 2).
posteriormente essas crianças, associando-se a
maior morbimortalidade da doença. A princípio, a Figura 4. Radiografia de tórax posteroanterior
de adolescente com fibrose cística.
P. aeruginosa é não mucoide e é responsiva à maior
parte dos antibióticos, devendo-se aproveitar esse
momento para a sua erradicação. Com a persistên-
cia da infecção, em geral, a P. aeruginosa se torna
mucoide, formando um biofilme, polissacáride que
envolve as bactérias, protegendo-as da penetração
do antibiótico, mas também reduzindo sua mobili-
dade e virulência. Embora de menor virulência, essa
cepa não pode ser erradicada com as alternativas
atuais de tratamento e contribui para aumentar a
resposta inflamatória, lesando progressivamente
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o pulmão. Em uma última etapa, a infecção pelo
complexo Burkholderia cepacia relaciona-se com o
declínio da função pulmonar e com pior prognóstico
mesmo após o transplante pulmonar.
184
Fibrose cística Cap. 9
A infecção e a inflamação crônicas resultam em mais as trocas gasosas. A técnica mais sensível
espessamento da parede da via aérea e na formação para detecção das anormalidades estruturais é a
de plugs de secreção purulenta nos bronquíolos. tomografia computadorizada de tórax, que normal-
Com a progressão da doença, ocorre dilatação mente identifica bronquiectasias, espessamento
irreversível das vias aéreas e formação das bron- da parede da via aérea, aprisionamento aéreo e
quiectasias. O parênquima pulmonar pode se tornar atelectasias (Figura 5).
ainda atelectásico ou infectado, piorando ainda
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Vemos diversas bronquiectasias (setas), bronquiolectasias com impactação mucoide (círculos), áreas de aprisionamento aéreo em região
anterior e uma grande área de atelectasia em base inferior esquerda.
Fonte: Acervo da autora.
Pode haver uma discrepância importante entre a obstrutiva crônica, com queda precoce e pronun-
função e a estrutura pulmonar, com dano estrutu- ciada dos fluxos terminais (FEF25-75%), indicando
ral importante mesmo em pacientes com função o comprometimento das pequenas vias aéreas, e
normal. Com a progressão da doença, os danos depois comprometimento do VEF1 e até da CVF
estruturais eventualmente se transformam em danos (Tabela 2).
funcionais, evoluindo para uma doença pulmonar
185
Fibrose cística Pneumologia Pediátrica
FEF25-75%
0,83 22% 1,03 28% 0,2 25%
(L/s)
Veja que a relação VEF1/CVF é inferior a 0,80, além de haver também redução abaixo de 80% do VEF1. O comprometimento do FEF25-75%
é muito importante, lembrando que o normal é acima de 70%. Esse paciente apresenta ainda redução da CVF e não apresenta resposta
ao broncodilatador.
Fonte: Acervo da autora.
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Os pacientes com fibrose cística podem evoluir uma pequena proporção dos pacientes desenvolve
com algumas complicações pulmonares, como doença hepática relacionada à fibrose cística, uma
hipertensão pulmonar (em decorrência da hipóxia cirrose multilobular que leva à hipertensão portal e
crônica), hemoptise recorrente e pneumotórax. hiperesplenismo, com idade média ao diagnóstico
de 9 a 10 anos.
4.2. TRATO GASTROINTESTINAL
186
Fibrose cística Cap. 9
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⁃ Prática de atividade física regular
⁃ Fisioterapia respiratória • Dieta hipercalórica, hipergordurosa e hiperproteica
⁃ Dornase-alfa inalatória
⁃ Inalação NaCl 7%
• Oxigenioterapia domiciliar: em pacientes com hi- • Ursacol para o tratamento da doença hepática
poxemia e/ou hipertensão pulmonar colestática
• Transplante pulmonar: quando VEF1 < 30% ou em • Gastrostomia para alimentação noturna em pa-
declínio acelerado cientes desnutridos
Fonte: Adaptado de Athanazio et al.2
187
Fibrose cística Pneumologia Pediátrica
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tório do Registro Brasileiro de Fibrose Cística de
2017, a sobrevida média dos pacientes foi de 43
a 54 anos, idade comparável com a encontrada
em países desenvolvidos da Europa e os Estados
Unidos da América.
188
Fibrose cística Cap. 9
Fibrose cística
Doença autossômica
Diagnóstico Tratamento
recessiva
Antibiótico inalatório
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e sistêmico
Tríade clínica
S. aureus e
P. aeruginosa
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Fibrose cística Pneumologia Pediátrica
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Fibrose cística Cap. 9
QUESTÕES COMENTADAS
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no vaso sanitário ao evacuar. Qual imagem tomo-
⮩ Solicitar teste do suor. gráfica mais compatível com o quadro?
⮪ Investigar fibrose cística se na evolução apre-
sentar sinais e sintomas sugestivos. ⮦
Questão 2
191
Fibrose cística Pneumologia Pediátrica
⮦ Tomografia de tórax.
⮧ Dosagem de gordura fecal.
⮨ Hemograma, proteína C reativa e radiografia
de tórax.
⮩ ⮩ Teste do suor.
Questão 6
⮦ Hemossiderose pulmonar.
⮧ Fenilcetonúria.
Questão 4
⮨ Fibrose cística.
(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP – 2021) Um
⮩ Doença de Gaucher.
menino de um ano e dois meses de idade, morador
de uma comunidade sem saneamento básico, foi
internado por pneumonia. Na anamnese, faz uso de Questão 7
leite integral, apresenta história de três pneumonias
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO REGIONAL DE MARINGÁ – PR – 2020)
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prévias, baixo ganho de peso e fezes fétidas, gor-
durosas e em grande quantidade. Com base nessa Pré-escolar de 3 anos apresenta quadros recor-
situação hipotética, deve-se: rentes de sibilância e tosse desde 1 mês de vida.
Apresenta tosse diariamente, produtiva, não apre-
⮦ Avaliar o teste do pezinho. sentando períodos de remissão dos sintomas. Já
⮧ Solicitar pesquisa de gordura nas fezes. ficou internado algumas vezes por pneumonia.
⮨ Solicitar colonoscopia com biópsia. Apresenta peso e estatura abaixo do Z score -2 e
segundo a mãe sempre teve dificuldade em ganhar
⮩ Solicitar pesquisa de antígeno de Giardia nas
peso, apesar de alimentar-se bem. Já vem realizando
fezes.
tratamento com corticoide inalatório em dose alta
⮪ Trocar o leite por fórmula de aminoácidos.
sem melhora. Ao exame físico apresenta aumen-
to do diâmetro anteroposterior do tórax, presença
Questão 5 discreta de tiragens, ausculta com estertores gros-
sos, finos e sibilos bilateralmente. Diante do quadro
(FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO – SP – apresentado, assinale a hipótese diagnóstica mais
2020) Lactente de 20 meses procura atendimento provável e o exame a ser realizado para confirma-
com queixa de tosse produtiva com duração de ção diagnóstica, respectivamente.
aproximadamente 2 meses e associada a presen-
ça de secreção fracamente purulenta. Mãe refere ⮦ Asma - espirometria com prova broncodilatadora.
que paciente apresenta quadro de Infecção de vias ⮧ Aspiração de corpo estranho - tomografia de
aéreas mensais, com necessidade de antibiotico- tórax.
terapias por 4 vezes nos últimos 6 meses; baixo
⮨ Fibrose cística - teste do suor.
ganho ponderal e presença de fezes amolecidas
e volumosas com flatulência por várias vezes. De ⮩ Discinesia ciliar primária - teste da sacarina.
antecedentes pessoais refere aleitamento materno ⮪ Sinusite crônica - tomografia de seios da face.
192
Fibrose cística Cap. 9
Questão 8 Questão 10
(SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE SÃO PAULO – SP – 2020) (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP – 2020)
Lactente com doze meses de idade é hospitalizado Uma paciente de sete anos de idade, portadora de
por conta de desconforto respiratório e hipoxemia fibrose cística, apresenta doença pulmonar desde
(sat de O₂ = 92%, em ar ambiente). Nasceu de par- os seis meses de vida, mas não vinha realizando
to cesáreo, sem intercorrências, IG - 38 semanas. acompanhamento regular por estar morando em
Quadro de obstrução intestinal nas primeiras 48h de uma região rural, com dificuldade de acesso. Há
vida que se resolveu com tratamento clínico. Os epi- duas semanas, voltou a morar na região central de
sódios de desconforto respiratório são recorrentes uma grande cidade e sua família decidiu retomar o
e desde os três meses de idade, sem relação com tratamento. Com base nesse caso hipotético, assi-
quadros virais e de menor relevância que o atual. nale a alternativa correta:
Ao exame, lactente com baixo peso, taquidispneia
moderada, com retrações intercostal e subcostal, ⮦ Embora a utilização da dornase alfa inalatória
irritado ao manuseio. AC: normal. AP: MV normal, não promova melhora da função pulmonar e
com sibilos difusos. Abdome: sem alterações. Assi- redução das exacerbações respiratórias, pode
nale a alternativa que indica a hipótese diagnóstica alterar propriedades do muco que postergam a
mais provável em relação ao diagnóstico etiológico colonização por determinados microrganismos.
de sibilância nesse lactente. ⮧ A solução salina hipertônica atua como hidratante
da superfície das vias aéreas, altera as proprie-
⮦ Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE). dades reológicas do muco, reduz exacerbações
⮧ Asma atópica. respiratórias e promove melhora na função pul-
⮨ Bronquiolite obliterante. monar, sendo uma excelente substituição ao uso
de dornase alfa.
⮩ Fibrose cística.
⮨ Se a paciente for colonizada por Pseudomonas
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⮪ Sibilância transitória da infância.
aeruginosa, o uso de azitromicina oral três vezes
por semana não resultará em melhora da função
Questão 9 pulmonar e redução das exacerbações.
⮩ O estudo genético de mutações no gene CFTR
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RJ –
não é recomendado, pois tem a finalidade de
2020) Considerando abordagem para o diagnóstico
amparar o aconselhamento genético, trazendo
da fibrose cística, o teste do suor será considerado
benefícios para os pais, mas não para a paciente.
positivo se o:
⮪ O tratamento modulador da CFTR com o uso
⮦ Cloro “maior ou igual a” 60 mEq/L. da associação ivacaftor/lumacaftor (potencia-
⮧ Sódio “maior ou igual a" 40 mEq/L. lizador/corretor pode reduzir o número de exa-
⮨ Cloro “maior ou igual a” 40 mEq/L. cerbações e melhorar a função pulmonar em
pacientes com a mutação F508del.
⮩ Sódio “maior ou igual a” 60 mEq/L.
193
Fibrose cística Pneumologia Pediátrica
GABARITO E COMENTÁRIOS
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que se associa com melhora do desenvolvimento regulação da passagem iônica entre o intracelular e
cognitivo e ponderoestatural desses pacientes. Tem o extracelular. Apesar de ser um canal de cloro sua
sensibilidade de 94 a 99%, embora apresente uma alteração compromete a função de outros canais
alta taxa de falso-positivos, por isso, diante de um epiteliais, como o canal de sódio (ENaC), alterando
1º IRT alterado, é recomendada a repetição da do- com isso as propriedades reológicas das secreções
sagem em uma nova amostra em papel-filtro até 4 de diversos sistemas do corpo, dentre eles o trato
semanas de vida. Caso essa segunda amostra se respiratório que é o mais acometido.
mantenha alterada, deve-se encaminhar o paciente Alternativa A: INCORRETA. A fibrose cística é uma
para a realização do teste do cloro no suor. Então doença monogênica autossômica recessiva.
você deve estar pensando: se a dosagem do IRT
Alternativa B: CORRETA. Dependendo da mutação
apresenta altos índices de falso positivo, e no se-
pode ocorrer desde redução da função do CFTR
gundo exame desse paciente o resultado foi nega-
até ausência completa desse canal na superfície
tivo, isso significa que o paciente não tem doença
epitelial.
e o caso deve ser encerrado (alternativa A correta)?
Significaria sim, se a coleta do segundo exame ti- Alternativa C: INCORRETA. A alteração do CFTR re-
vesse obedecido o prazo de até 28 dias de vida (4 duz o líquido da superfície das vias aéreas, o que
semanas). Note que o primeiro exame já foi colhido favorece a impactação da secreção mais espessa
mais tarde do que seria o ideal (com 15 dias de vida) (decorrente da alteração da função do canal) e com-
e o segundo exame foi colhido além do intervalo plica o batimento ciliar, apenas de estruturalmente
que seria adequado para a análise do IRT. Após 30 os cílios serem normais.
dias de vida o esperado é que, mesmo pacientes Alternativa D: INCORRETA. O CFTR é um canal de clo-
com fibrose cística, apresentem redução dos níveis ro, mas que também funciona na regulação da fun-
de IRT, o que poderia significar, na verdade, um fal- ção de outros canais na superfície epitelial, como
so-negativo desse segundo exame. Sendo assim, o ENaC (canal de sódio).
194
Fibrose cística Cap. 9
✔ resposta: B
Y Dica do professor: Estamos diante de uma crian-
ça, morador de uma comunidade sem saneamento
básico, com histórico de pneumonia de repetição,
Questão 3 dificuldade:
que mantém alimentação com leite integral e que
ao exame físico podemos identificar baixo ganho
Y Dica do professor: Eu sei o que você está pensando:
de peso e fezes fétidas, gordurosas e em grande
caso clínico de homem de 18 anos no capítulo de
quantidade, o que nos faz pensar na possibilidade
pediatria?! Acalme-se, não tem nada errado! Lendo
de fibrose cística como patologia de base para a
o caso clínico vemos que esse paciente tem tosse
criança, já que apresenta manifestações do trato
com expectoração purulenta desde os 2 anos de
respiratório e do trato digestório. Lembre-se de que
vida, evoluindo frequentemente com episódios de a fibrose cística é uma das doenças triadas pelo
exacerbação pulmonar. Além disso, ele tem clínica teste do pezinho, que esse paciente certamente
de esteatorreia (fezes brilhantes e gotas de gordura colheu na maternidade, por isso nesse momento é
no vaso sanitário ao evacuar), muito provavelmente válido solicitar o teste do pezinho para análise. Vale
associado a um quadro de baixo ganho ponderal, a pena ressaltar que triagem neonatal normal não
caracterizando uma síndrome disabsortiva. E qual exclui o diagnóstico de fibrose cística e, mesmo
a doença congênita que se caracteriza pela tríade: nessa situação, deve-se pensar nesse diagnóstico
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infecções pulmonares de repetição + esteatorreia + diferencial em pacientes que apresentam quadro
baixo ganho ponderal? A fibrose cística, a principal clínico sugestivo, como o descrito nesse enuncia-
doença autossômica recessiva dos caucasianos, do. Nesses casos, devemos investigar ativamente
que decorre de uma falha no funcionamento do ca- o diagnóstico mesmo que o IRT seja normal, por
nal de cloro das células epiteliais (CFTR), gerando meio de um teste do cloro no suor.
secreções espessas em todos os órgãos do corpo.
O sistema mais acometido é o respiratório, já que ✔ resposta: A
as secreções espessas atrapalham o clareamento
mucociliar, favorecendo a impactação mucoide e
a colonização bacteriana, que em última instância Questão 5 dificuldade:
195
Fibrose cística Pneumologia Pediátrica
gravidade do dano pulmonar, mas não confirma o viscosidade do muco, podendo levar a um processo
diagnóstico. de obstrução no intestino e no pâncreas, fazendo
Alternativa B: INCORRETA. A dosagem de gordura nas com que as enzimas digestivas não cheguem ao
fezes é um teste de triagem para a investigação das intestino. A ausência das enzimas digestivas alia-
síndromes de má absorção de origem pancreática da às secreções intestinais anormais pode levar
(que pode ocorrer na fibrose cística), mas não con- à obstrução do íleo distal pelo mecônio espesso.
firma o diagnóstico. Esse quadro de íleo meconial costuma ser a ma-
nifestação mais precoce da fibrose cística e até
Alternativa C: INCORRETA. O hemograma, PCR e ra-
90% dos casos de íleo meconial são secundários
diografia de tórax podem ajudar a documentar infec-
a fibrose cística. Clinicamente pode ser observado,
ções pulmonares, mas não confirmam o diagnóstico.
pela incapacidade de eliminar o mecônio, a disten-
Alternativa D: CORRETA. Em um lactente com qua- são abdominal, e o relato de episódios de vômitos
dro de tosse prolongada, IVAS de repetição, fezes é comum. Vale lembrar que o íleo meconial é uma
amolecidas/flatulência e baixo ganho ponderal, de- das causas de falso negativo do IRT (exame de tria-
vemos pensar fortemente na suspeita de Fibrose gem da fibrose cística pelo teste do pezinho), por
Cística, apesar do teste de triagem neonatal sem isso, esses pacientes sempre devem ser submeti-
alterações nesse caso. Diante disso, o melhor exa- dos a um teste do cloro no suor para confirmar ou
me para confirmação diagnóstica é o teste do suor. descartar essa patologia.
Uma concentração de cloro mais alta que o normal
Alternativa D: INCORRETA. A doença de Gaucher
(acima de 60 mmol/L) confirma o diagnóstico de
também é uma doença genética, a mais comum
fibrose cística em pessoas que apresentam sinto-
no grupo das doenças lisossômicas de depósito,
mas de fibrose cística ou que têm um irmão ou irmã
mas costuma comprometer o baço, fígado e pul-
com fibrose cística.
mão, além de um acometimento possivelmente
✔ resposta: D grave do sistema neurológico.
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✔ resposta: C
Questão 6 dificuldade:
196
Fibrose cística Cap. 9
exposto, o pré-escolar já fez uso de corticoide ina- Alternativa E: INCORRETA. Os sinais e sintomas mais
latório em dose alta sem melhora, o que não cor- frequentes nos quadros crônicos de sinusite in-
robora com o diagnóstico de asma. cluem obstrução nasal, rinorreia, cefaleia, irritabili-
Alternativa B: INCORRETA. O diagnóstico de aspiração dade, tosse diurna e noturna, secreção posterior e
de corpo estranho não tem associação com o qua- halitose. O exame da cavidade nasal, realizado com
dro do paciente, visto que os sintomas começaram boa iluminação preferencialmente por endoscópios,
desde o primeiro mês de vida. pode mostrar secreção purulenta saindo pelo mea-
to médio, ao mesmo tempo que permite avaliar as
Alternativa C: CORRETA. Lembre-se de que os prin-
condições da mucosa, a presença de alterações
cipais sintomas apresentados pela Fibrose Cística
anatômicas tais como hipertrofia das conchas na-
são as pneumonias frequentes, a tosse crônica, a
sais, da adenoide, desvios septais e tumores. Essa
dificuldade em ganhar peso e estatura e a esteator-
sintomatologia não se associa com a do paciente.
reia. Dessa forma, o quadro clínico e faixa etária se
encaixam na patologia. Sobre o teste diagnóstico, ✔ resposta: C
devemos considerar como exame padrão-ouro o
Teste do Suor, que é simples, indolor, não invasivo
Questão 8 dificuldade:
e fundamental para o diagnóstico precoce e seguro
da doença. Ele é feito por meio do estímulo do suor Y Dica do professor: Os episódios recorrentes indi-
da pessoa examinada e uma análise quantitativa cam uma afecção de provável caráter crônico, ou-
do cloro obtido no suor. De maneira geral, quando tra informação importante é de que a doença não
a dosagem de cloreto no suor é igual ou maior que apresenta relação com quadros virais. O lactente
60 mmol/L em duas amostras, o diagnóstico para ainda se apresenta com baixo peso, que pode ser
Fibrose Cística é confirmado. indicativo de má absorção e desnutrição secundária.
Alternativa D: INCORRETA. Nos primeiros anos de vida Alternativa A: INCORRETA. A DRGE é uma das mais
da criança com discinesia ciliar, o acometimento da
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importantes afecções digestivas. Compreende uma
via aérea superior e ouvido médio predomina, as ma- condição que se desenvolve quando o conteúdo
nifestações variam desde rinorreia leve a sinusite e gástrico causa sintomas e ou complicações. Os sin-
otite média de repetição, sendo os sintomas usual- tomas típicos relatados pela maioria dos pacientes
mente recorrentes. Com a progressão da doença, são pirose e regurgitação ácida. Já em lactentes é
surgem sintomas de infecção de trato respiratório comum a associação com baixo ganho ponderal e
inferior e o desenvolvimento de complicações como irritabilidade, entretanto, não seria comum o encon-
bronquiectasias, hipocratismo digital e déficit de tro de infecções respiratórias de repetição.
crescimento. A tríade clássica de sinusopatia, bron- Alternativa B: INCORRETA. A asma apresenta como
quiectasia e situs inversus está presente em cerca manifestações comuns tosse, sibilos, dispneia e
de metade dos casos. Dessa forma, o quadro clínico opressão torácica. As exacerbações da asma ató-
não é compatível com o do paciente em questão. pica (também conhecida como asma alérgica) es-
Além disso, para que se estabeleça o diagnóstico tão caracteristicamente relacionadas à exposição
definitivo de discinesia ciliar, devem estar presentes aos aeroalérgenos.
certas características fenotípicas (no mínimo três,
Alternativa C: INCORRETA. A bronquiolite obliterante
tipicamente cinco ou mais): desconforto respiratório
é uma afecção caracterizada por um processo de
neonatal em recém-nascidos a termo, defeitos de
inflamação pós-infecciosa das pequenas vias aé-
lateralidade, congestão nasal crônica o ano todo,
reas (bronquiolite obliterante pós-infecciosa). Os
tosse produtiva o ano todo, infecções recorrentes
principais agentes infecciosos que desencadeiam
do trato respiratório inferior, bronquiectasia, otite
este processo são os vírus influenza, parainfluenza,
média crônica com efusão maior de 6 meses, pan-
sarampo, adenovírus e vírus respiratório sincicial.
sinusite crônica, infertilidade masculina e história
de discinesia ciliar em familiar próximo. Alternativa D: CORRETA. A fibrose cística é uma doença
genética autossômica recessiva caracterizada pela
197
Fibrose cística Pneumologia Pediátrica
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por P. aeruginosa resulta em melhora da função
Questão 9 dificuldade:
pulmonar e redução de exacerbações.
Y Dica do professor: A fibrose cística é uma doença Alternativa D: INCORRETA. Todos os pacientes com
multissistêmica autossômica recessiva, causada fibrose cística devem ser submetidos ao exame
por uma mutação no gene que codifica a proteína genético. A identificação das mutações no gene
do canal do cloro, originando secreções mais es- CFTR tem implicações prognósticas e de planeja-
pessas em todos os órgãos. Possui uma tríade clí- mento familiar, permitindo o diagnóstico da fibrose
nica: baixo ganho ponderoestatural, esteatorreia e cística. Além disso, existem drogas que atuam em
pneumonia de repetição. Voltando à questão, seu mutações específicas (corretores e potencializado-
diagnóstico é baseado no encontro do quadro clíni- res da proteína CFTR), sendo algumas aprovadas
co sugestivo associado à evidência laboratorial de em diversos países e outras em desenvolvimento.
disfunção do gene CFTR. O teste do cloro no suor é Alternativa E: CORRETA. Para a mutação de classe II
o padrão-ouro e, para o diagnóstico ser confirmado, de maior prevalência em todo o mundo, a F508del, o
é necessário o encontro de dois exames com valo- uso da associação ivacaftor/lumacaftor (potencia-
res de cloreto maior ou igual a 60 mEq/L. lizador/corretor) mostrou uma redução no número
✔ resposta: A de exacerbações e uma melhora discreta no VEF1
e na qualidade de vida para pacientes homozigo-
tos, sem efeitos significativos para heterozigotos.
✔ resposta: E
198
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199
ENDOCRINOLOGIA
PEDIÁTRICA
Endocrinologia Pediátrica
Sumário
Prevalência/importância
10. Hiperplasia adrenal congênita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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200
HIPERPLASIA ADRENAL Capítulo
CONGÊNITA 10
importância/prevalência
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deficiente na hipófise e no hipotálamo, que promove cocorticoides, mineralocorticoides e esteroides sexuais, a
aumento do ACTH. Esse, por sua vez, estimula a partir do colesterol, que é um precursor comum. A Figura
1 ilustra a anatomia da glândula adrenal, e o Fluxograma 1
adrenal, levando à sua hiperplasia e ao acúmulo
mostra como ocorre a síntese dos hormônios esteroides.
de certos metabólitos precursores, principalmente
a 17-hidroxiprogesterona, resultando no aumento
dos androgênios suprarrenais, principalmente a
androstenediona e a testosterona.
StAR ACTH
COLESTEROL
CYP11A1
CYP17 CYP17
Δ5Pregnenolona Δ5 17OH-Pregnenolona DHEA Δ5 Androstenediol
CYP21A2 CYP21A2
CYP11B1 CYP11B1
Corticosterona CORTISOL
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CYP11B2
202
Hiperplasia adrenal congênita Cap. 10
o que dificulta o seu diagnóstico e resulta na sua descrita na Tabela 1. A virilização da genitália externa
subnotificação. Já a forma clássica apresenta pode variar de clitoromegalia até genitália externa
manifestações clínicas mais evidentes e pode ser masculina, sem glândulas palpáveis, como pode ser
dividida em perdedora de sal e virilizante simples visto na Figura 2. Já no sexo masculino (46, XY), não
(ou apenas virilizante). A forma perdedora de sal ocorrem malformações de genitália, mas pode-se
compreende cerca de 80% dos casos da forma observar a presença de macrogenitossomia ao
clássica, e há um bloqueio maior da 21-hidroxilase. nascimento. A genitália interna, em ambos os sexos,
Nessa forma, as manifestações clínicas são mais apresenta desenvolvimento normal, correspondente
intensas e há a perda de sal devido à não produção ao sexo genético. A longo prazo, sem o tratamento
de aldosterona para a reabsorção de sal e água. Já adequado, os sinais de virilização progridem, assim
a forma virilizante simples compreende cerca de como há a presença de sinais de puberdade precoce,
20% a 25% dos casos da forma clássica, e o nível o aumento de massa muscular e da velocidade de
do bloqueio da 21-hidroxilase é menor, com uma crescimento, o que acarreta o fechamento precoce
produção pequena de aldosterona suficiente para das epífises ósseas, resultando em baixa estatura.
não ocorrer perda de sal. Nos 2 subtipos da forma Na forma não clássica, a maior parte dos pacien-
clássica há a produção excessiva de testosterona. tes é assintomática; entretanto, há descrições de
manifestações androgênicas durante a infância, a
adolescência ou a idade adulta, em menor intensi-
DIA A DIA MÉDICO dade quando comparadas com a forma clássica.
A presença de puberdade precoce e o avanço da
Na forma clássica perdedora de sal, há uma deficiência maturação óssea, comprometendo a estatura final,
na produção de aldosterona, que é responsável pela reab- são as manifestações mais relatadas.
sorção de sódio e de água. Por conta disso, o paciente
perde sódio e água na urina, o que resulta em um quadro
Tabela 1. Graus de virilização em meninas portadoras
de desidratação com HIPOnatremia e HIPERpotassemia.
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de Hiperplasia Adrenal Congênita – Escala de Prader.
Normalmente, o quadro clínico ocorre com a presença de
náuseas, vômitos e, se a desidratação não for revertida, há Grau I: genitália de aspecto feminino com aumento do
o risco de evolução para o óbito. Nos meninos, devido à clitóris
ausência de sinais de virilização externa ao nascimento, o
Grau II: maior aumento do clitóris, associado à fusão pos-
diagnóstico, muitas vezes, é dado a partir da crise citada,
terior das saliências labioescrotais, sem seio urogenital
chamada de crise adrenal ou crise de perda de sal. Essa
realidade tem mudado com a instituição do teste do pezi- Grau III: importante aumento do clitóris associado à fusão
nho, que será abordado ainda neste capítulo. O acúmulo quase completa das saliências labioescrotais e à presença
de testosterona gera a virilização precoce da genitália de seio urogenital com abertura perineal
externa nas meninas, observada ao nascimento.
Grau IV: clitóris de aspecto peniano, associado à fusão
completa das saliências labioescrotais e à presença de
seio urogenital com abertura perineal na base do clitóris
A forma clássica virilizante simples, por ter uma
pequena produção de aldosterona, não cursa com Grau V: clitóris (ou falo) de aspecto peniano bem de-
senvolvido, associado à fusão completa das saliências
a desidratação e a perda de sal. Seu quadro clínico
labioescrotais e à presença de seio urogenital com abertura
é composto pelos sinais de virilização da genitália no corpo do falo ou balância
externa no sexo feminino (46, XX) em graus variáveis,
Fonte: Elaborada pela autora.
que podem ser classificados pela Escala de Prader,
203
Hiperplasia adrenal congênita Endocrinologia Pediátrica
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diminuição dos valores da 17-OH-progesterona e submetidos a transfusões sanguíneas, tratados
gerar casos falso-negativos. Os andrógenos, como com corticoides, filhos de mães que fizeram uso
a androstenediona e a testosterona, também estão de corticoide na gestação ou aqueles que tiveram
elevados nesses pacientes; porém, até os 6 meses o teste coletado antes do 2º dia de vida podem ter
de vida, deve-se valorizar os valores da androste- resultados falso-negativos.
nediona e da 17-OH-progesterona, tendo em vista
Diante do resultado da triagem neonatal para a
que, nesse período, há uma elevação fisiológica dos
hiperplasia adrenal congênita, dependendo da mag-
níveis séricos de testosterona mesmo em meninos
nitude da elevação dos valores obtidos através do
sem a doença. A essa situação dá-se o nome de
teste do papel-filtro, uma segunda coleta poderá
“minipuberdade fisiológica”.
ser necessária em papel-filtro ou a realização de
A triagem neonatal para a hiperplasia adrenal con- testes confirmatórios no soro e consulta médica
gênita, atualmente feita a partir do Teste do Pezinho, imediata. A Tabela 2 sumariza as condutas diante
possibilita o diagnóstico precoce da doença, assim dos valores de 17-OH-progesterona, com base no
como a prevenção das crises perdedoras de sal e peso ao nascimento e o tempo de vida da coleta (3º
complicações a longo prazo. A triagem possibilita a 5º dia), segundo as recomendações do Ministé-
o acesso à terapia de reposição hormonal, preve- rio da Saúde. Os valores de 17-OH-progesterona ≤
nindo o desenvolvimento de puberdade precoce e P.99% serão considerados normais. Valores > P.99%
o comprometimento estatural, além de permitir a e < 2 vezes o P.99% serão considerados aumentos
correção de erros de registro social, em meninas moderados, devendo-se repetir uma segunda dosa-
com virilização genital importante. O processo de gem em papel-filtro. Valores de 17-OHP > P. 99% e
triagem, a partir do Teste do Pezinho, consiste na > 2 vezes o P. 99%, serão considerados altamente
coleta do sangue, por meio de uma punção no
204
Hiperplasia adrenal congênita Cap. 10
Convocação de
Desnecessário novas Repetir dosagem
Conduta emergência para teste
investigações em papel-filtro
confirmatório sérico
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria1.
Os RNs que são encaminhados para a coleta dos em RNs com elevação da 17-OH-progesterona, sugere
testes confirmatórios séricos devem ser submeti- tratar-se de uma menina virilizada.
dos a dosagens de 17-OH-progesterona, cortisol,
androstenediona, testosterona, sódio e potássio. Os testes confirmatórios moleculares, que avaliam
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Embora não estejam incluídos no Protocolo Clínico as mutações no gene da 21-hidroxilase, não são
de Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde, essenciais para a confirmação diagnóstica de RNs
alguns serviços também solicitam ureia, creati- sintomáticos e com testes hormonais alterados.
nina, glicemia e gasometria, tendo em vista que São úteis para descartar a doença em pacientes
muitos RNs com atraso na realização da triagem assintomáticos e com valores de exames persis-
neonatal cursam com desidratação, hipovolemina, tentemente elevados, com o objetivo de evitar o
hipoglicemia e acidose. Na forma não clássica, o acompanhamento desnecessário. Podem ser uti-
valor da 17-hidroxiprogesterona é variável e, para lizados, também, para aconselhamento genético
certeza do diagnóstico, deve ser feito o teste agudo e em pacientes com uso atual de glicocorticoides,
de estimulação com ACTH. que não podem realizar a dosagem hormonal pelo
alto risco de falso-negativo.
205
Hiperplasia adrenal congênita Endocrinologia Pediátrica
glicocorticoides de curta ação por via oral. O uso situações de estresse. Os pacientes devem ser orientados
de glicocorticoides deve-se ao fato de realizarem a usar uma espécie de cartão explicitando o seu diagnós-
tico, para que possa ser conduzido de forma adequada
a reposição do cortisol, promovendo uma retroali-
em caso de intercorrências médicas.
mentação negativa efetiva, o que evita a produção
excessiva do ACTH e, consequentemente, diminui
a produção aumentada de androgênios. Pacientes portadores da forma clássica perdedora
de sal, além da reposição de glicocorticoide, devem
receber a reposição de mineralocorticoide, sendo
DIA A DIA MÉDICO o acetato de fludrocortisona a droga de escolha.
Esses pacientes precisam, ainda, fazer a reposição
É importante lembrar que, durante situações de estresse, de cloreto de sódio (sal de cozinha) na dose de 1 a
como febre, cirurgia ou grande trauma, a dose do glico- 2 g/dia, diluído em 20 a 30 mL de água. A Tabela 3
corticoide deve ser aumentada e os familiares devem ser sumariza as doses da terapia de manutenção para
orientados com relação aos sinais de possíveis situações
os pacientes com as formas clássicas da hiperplasia
de estresse. Deve ser prescrita a hidrocortisona intramus-
cular ou endovenosa na dose de 25 mg para lactentes,
adrenal congênita, que se encontram em fase de
50 mg para escolares e 100 mg para adolescentes. A dose crescimento, conforme orienta a Sociedade Brasi-
do mineralocorticoide não necessita ser aumentada em leira de Pediatria (SBP).
Tabela 3. Terapia de manutenção de pacientes com formas clássicas de hiperplasia adrenal congênita,
que se encontram em fase de crescimento segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
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Fludrocortisona (comprimidos) 50−200 mcg/dia 1−2 vezes ao dia
Cloreto de sódio (sal de cozinha) 1−2 gramas/dia (17−34 mEq/dia) Dividido em várias refeições
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria1.
O seguimento clínico dos pacientes deve ser feito A correção cirúrgica da genitália externa (genito-
por uma equipe multiprofissional e, de preferência, plastia) deve ser realizada antes dos 2 anos, para
em um centro especializado. Até os 6 meses de vida, corrigir a virilização da genitália e permitir a sua
as consultas devem ser mensais, sendo espaçadas funcionalidade. O acompanhamento psicológico
para intervalos de 2 meses, entre os 6 e 12 meses é fundamental para esses pacientes, no que diz
de vida. Após os 12 meses, as consultas devem respeito ao enfrentamento, aceitação da doença,
ser de 3 em 3 ou de 4 em 4 meses, a depender da adesão terapêutica e adequação do sexo social
condição clínica do paciente e da disponibilidade com a identidade de gênero. O aconselhamento
do serviço. Os exames sugeridos para o acompa- genético também é essencial para o paciente e para
nhamento são: sódio, potássio, 17-OH-progesterona, a sua família, tendo em vista o caráter autossômico
androstenediona, testosterona e atividade da renina recessivo da doença.
plasmática. A avaliação radiográfica da mão e de
punho esquerdos para a avaliação da idade óssea
deve ser realizada anualmente, após os 2 anos de
idade. Em todas as consultas devem ser avaliados
o ganho ponderal, a velocidade de crescimento e
a pressão arterial.
206
Hiperplasia adrenal congênita Cap. 10
Deficiência na produção
de cortisol
Aumento da retroalimentação
negativa na hipófise e hipotálamo
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Aumento de androgênios suprarrenais:
testosterona e androstenediona
Sem manifestações
clínicas evidentes
Virilização da Perdedora de Sal: deficiência Ambiguidade
genitália externa de mineralocorticoides genital variável
(vômitos e desidratação)
Tratamento
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Hiperplasia adrenal congênita Endocrinologia Pediátrica
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Hiperplasia adrenal congênita Cap. 10
QUESTÕES COMENTADAS
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timos 15 dias de gestação pode ocasionar um mais intensos e complicações mais graves que
resultado de triagem neonatal falso positivo [au- a forma clássica.
mento da 17OH progesterona]. ⮪ A triagem neonatal para HAC possibilita o diag-
⮨ As formas clássicas são mais graves, apresentam nóstico precoce da doença, especialmente das
manifestações já no período neonatal, podendo formas mais graves (perdedora de sal), com a
ou não haver perda de sal. baixa frequência de resultados falso-positivos,
⮩ Nas formas não clássicas há atividade enzimáti- sendo uma de suas principais vantagens.
ca parcial, o hiperandrogenismo não é evidente
nos primeiros anos de vida e o quadro clínico Questão 3
geralmente inicia após os 4 anos de idade.
⮪ Quando a virilização ocorre antes de 12 sema- (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP – 2021)
nas de gestação, pode haver fusão labioescrotal Uma menina com sete dias de vida tem quadro de
completa com orifício uretral fálico nas meninas, vômitos e inapetência há um dia. Sua mãe refere
ressaltando a importância da palpação testicular que não houve intercorrências na gestação ou no
ao nascimento. parto. Ao exame, encontra-se em regular estado
geral, corada, desidratada moderada, afebril, ativa
e reativa. Ausculta cardiopulmonar sem alterações.
Questão 2 Abdome sem alterações. Genitália atípica, com hi-
pertrofia de clitóris. Boa perfusão periférica, com
(HOSPITAL DE URGÊNCIA DE SERGIPE – SE – 2021) A hiperpla-
pulsos cheios. Exames laboratoriais: Na 131 mEq/L;
sia adrenal congênita (HAC) é uma doença com
K 6,5 mEq/L; cloro 102 mEq/L; pH 7,25; pCO2 28
significativa morbimortalidade, frequentemente
mmHg; bic 12; e BE –6. Com base nessa situação
subdiagnosticada no período neonatal, antes de sua
hipotética, assinale a alternativa que apresenta a
conduta que não deverá ser realizada.
209
Hiperplasia adrenal congênita Endocrinologia Pediátrica
⮦ Hidratação. Questão 6
⮧ Hidrocortisona. (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO REGIONAL DE MARINGÁ – PR – 2020)
⮨ Eletrocardiograma. Recém-nascido com 10 dias de vida, procurou o
pronto atendimento com sua mãe pois apresenta
⮩ Reposição de cloreto de sódio.
dificuldade para mamar, redução da diurese e hipoa-
⮪ Ultrassonografia de abdome. tividade. Ao exame: REG, desidratado 2+/4+ e tempo
de enchimento capilar >3 segundos. Genitais com
aspecto masculino, falus de 3cm, uretra na base
Questão 4 do falus, saliências labioescrotais fundidas, mas
sem gônadas palpáveis. O mesmo foi internado e
(FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – SP – 2021) o exame de cariótipo foi 46,XX. Qual a desordem
Menina, 5a, é trazida à Unidade de Emergência do desenvolvimento sexual mais provável?
com queixa de febre e tosse há 3 dias. Anteceden-
tes pessoais: Hiperplasia adrenal congênita forma ⮦ DDS, 46XX ovotesticular.
perdedora de sal, em uso de hidrocortisona e flu- ⮧ DDS, 46XX disgenesia gonadal.
drocortisona. A conduta é:
⮨ DDS, 46XX hiperplasia adrenal congênita por
deficiência da 11 beta-hidroxilase.
⮦ Manter as mesmas doses da hidrocortisona e
da fludrocortisona. ⮩ DDS, 46XX hiperplasia adrenal congênita por
deficiência da 17 alfa hidroxilase.
⮧ Aumentar a dose da hidrocortisona e manter a
⮪ DDS, 46XX hiperplasia adrenal congênita por
dose da fludrocortisona.
deficiência da 21-hidroxilase.
⮨ Manter a dose da hidrocortisona e aumentar a
dose da fludrocortisona.
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Questão 7
⮩ Aumentar as doses da hidrocortisona e da flu-
drocortisona. (SANTA CASA MISERICÓRDIA DE MARÍLIA – SP – 2020) O encon-
tro de níveis bastante elevados de 17-alfa-hidroxi-
progesterona em uma mulher sugere:
Questão 5
⮦ Deficiência de 21-hidroxilase.
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE - RS – 2020) Ado- ⮧ Tumor de ovário produtor de androgênio.
lescente de 15 anos, em estágio 1 de Tanner tanto ⮨ Disgenesia gonadal pura.
para desenvolvimento mamário quanto para pilifi-
⮩ Alteração cromossômica 45X.
cação pubiana, veio à consulta por amenorreia pri-
mária. À ultrassonografia pélvica, realizada em sua
cidade de origem, não foi possível visualizar o útero. Questão 8
Informou fazer uso de hidroclorotiazida e enalapril
devido à hipertensão de difícil controle, diagnosti- (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP – 2020) Um
cada na infância. Com base nessas informações, recém‐nascido termo, com doze dias de vida, nas-
qual o diagnóstico mais provável? cido com 3.050 g, Apgar 9/10, sem intercorrências
relatadas, foi levado ao pronto‐socorro com queixa
⮦ Hipogonadismo hipogonadotrófico. de irritabilidade, baixa aceitação da amamentação e
diminuição da diurese há um dia. Ao exame físico, o
⮧ Insensibilidade completa aos andrógenos. bebê estava dormindo, com frequência cardíaca de
⮨ Síndrome de Rokitansky. 180 bpm, frequência respiratória de 54 ipm, pulsos
periféricos normais, porém com mucosas secas e
⮩ Deficiência da 11β-hidroxilase.
fontanela deprimida. Notou‐se, também, viriliza-
⮪ Deficiência da 17α-hidroxilase/17,20-liase. ção de genitália externa. Foram realizados exames
210
Hiperplasia adrenal congênita Cap. 10
laboratoriais, que mostraram: Na 125 mEq/L; K 7,1 deprimida. Encaminhado ao serviço de emergên-
mEq/L; cálcio iônico 4,5 mg/dL; pH 7,27; pCO2 35 cia onde foi iniciada hidratação parenteral. Exames
mmHg; e Bic 17mmol/L. Considerando esse caso laboratoriais: hiponatremia, hipercalemia e acidose
hipotético, assinale a alternativa correta. metabólica. A principal hipótese diagnóstica para
este paciente é:
⮦ É uma doença de herança autossômica reces-
siva, potencialmente letal. ⮦ Doença do refluxo gastroesofágico.
⮧ Pode ser dividida em forma ativa e em forma ⮧ Estenose hipertrófica de piloro.
perdedora de sal tardia. ⮨ Gastroenterite aguda.
⮨ Manifestações clínicas são decorrentes da defi- ⮩ Hiperplasia adrenal congênita perdedora de sal.
ciência de andrógenos nos períodos pré e pós‐
natal.
⮩ Ocorre apenas em meninas.
⮪ A forma perdedora de sal corresponde à minoria
das formas clássicas.
Questão 9
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nativa correta?
Questão 10
211
Hiperplasia adrenal congênita Endocrinologia Pediátrica
GABARITO E COMENTÁRIOS
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ao recém-nascido previamente à coleta da amostra de mineralocorticoide e do excesso de andrógenos
neonatal, são fatores que contribuem para resulta- nos períodos pré e pós-natal.
dos falso-negativos. Alternativa D: INCORRETA. As formas clínicas da HA-
✔ resposta: B C-21OH são tradicionalmente divididas em 2 gran-
des grupos: forma clássica, com manifestações
ao nascimento e subdividida em forma Perdedora
Questão 2 dificuldade: de Sal (PS) e Virilizante Simples (VS), e forma não
clássica, cujos sintomas se iniciam tardiamente,
Y Dica do professor: A Hiperplasia Adrenal Congê-
podendo ser na infância, na puberdade ou na vida
nita (HAC) é uma doença com significativa morbi-
adulta, mas com intensidades e complicações mui-
mortalidade, subdiagnosticada no período neona-
to menos graves que a forma clássica.
tal com frequência, principalmente em crianças do
sexo masculino, antes de sua inclusão nos testes Alternativa E: INCORRETA. Apesar da sua eficácia, so-
de triagem neonatal. O diagnóstico e o tratamento bretudo no diagnóstico da forma clássica perdedora
precoces são disponíveis e são capazes de prevenir de sal, um dos grandes problemas da triagem da
as complicações pós-natais. Estas características, HAC é a elevada frequência de resultados falso-po-
associadas a um teste de triagem de execução fácil, sitivos. Considerando que em países desenvolvidos,
fizeram com que a HAC fosse incluída nos progra- de forma geral, a HAC é adequadamente diagnosti-
mas públicos de triagem neonatal. cada sem a triagem neonatal, diversos estudos não
consideraram esta triagem custo-efetivo.
Alternativa A: CORRETA. Em populações caucasianas,
90 a 95% dos casos de HAC ocorrem por redução ✔ resposta: A
da atividade da enzima 21-hidroxilase (21OH). A
HAC resultante da deficiência da enzima 21-hidroxi-
lase (HAC-21OH) é causada por mutações no gene
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Hiperplasia adrenal congênita Cap. 10
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✔
o restabelecimento da euvolemia.
Alternativa B: INCORRETA. A hidrocortisona é o tra-
tamento de escolha para reposição hormonal, uma Questão 5 dificuldade:
vez que possui ação glico e mineralocorticoide.
Y Dica do professor: A puberdade se refere às tran-
Alternativa C: INCORRETA. O ECG deve ser realizado
sições físicas que ocorrem durante a adolescência;
devido à hipercalemia.
adolescentes também passam por amadurecimento
Alternativa D: INCORRETA. Vide alternativa A. cognitivo e psicossocial. As alterações mais visíveis
Alternativa E: CORRETA. Não há indicação de USG neste período são o crescimento e o desenvolvimen-
abdominal para diagnóstico de hiperplasia adrenal to de caracteres sexuais secundários; entretanto,
congênita. também ocorrem mudanças na composição cor-
poral, desenvolvimento cerebral, entre outras. Ame-
✔ resposta: E
norreia primária é a ausência de menstruação até
os 14 anos de idade, na ausência de crescimento
Questão 4 dificuldade: ou de desenvolvimento dos caracteres sexuais se-
cundários, ou até os 16 anos independentemente
Y Dica do professor: A Hiperplasia Adrenal Congênita da presença desses caracteres. Vamos analisar o
(HAC) é uma doença com significativa morbimor- quadro da paciente: trata-se de uma adolescente de
talidade, subdiagnosticada no período neonatal, 15 anos, hipertensa e pré-púbere que não apresen-
principalmente em crianças do sexo masculino, ta útero à ultrassonografia. Isso nos leva a pensar
antes de sua inclusão nos testes de triagem neo- na deficiência de 17 alfa hidroxilase e de 17,20-lia-
natal. Resulta da deficiência de uma das enzimas se, uma desordem rara de herança autossômica
responsáveis pela síntese de cortisol nas glândulas recessiva, caracterizada por mutação no gene que
adrenais. As formas clínicas são tradicionalmente codifica o CYP17, uma enzima que funciona como
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Hiperplasia adrenal congênita Endocrinologia Pediátrica
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normal de gonadotrofinas e, portanto, caracteres Alternativa E: CORRETA. Enzima correta.
sexuais secundários normais. Isto difere do quadro ✔ resposta: E
da paciente e também não justifica a hipertensão.
214
Hiperplasia adrenal congênita Cap. 10
menstrual, infertilidade e acne. Alguns pacientes de uma das enzimas responsáveis pela síntese de
com HAC não clássica permanecem assintomáticos. cortisol nas glândulas adrenais. Com a deficiência
A HAC não clássica (NCCAH) é uma forma menos de cortisol, não ocorre feedback negativo do ACTH
grave do distúrbio em que há 20 a 50% da ativida- e a adrenal continua sendo estimulada. As formas
de da enzima 21-hidroxilase em comparação com clínicas são divididas em 3 grupos: (1) Clássica per-
0 a 2% na forma clássica. Em mulheres adultas, o dedora de sal; (2) Clássica não perdedora de sal,
diagnóstico de NCCAH é fortemente sugerido por com apenas virilização simples; (3) Não clássica,
um valor basal de 17-hidroxiprogesterona maior que com início tardio.
200 ng/dL (6 nmol/L) e confirmado com um teste Alternativa A: CORRETA. RN com genitália ambígua
de estimulação com ACTH. sem gônadas palpáveis é suspeita de HAC.
✔ resposta: A Alternativa B: INCORRETA. A dosagem normal de ele-
trólitos só mostra que o paciente não está em crise
dificuldade:
perdedora de sal.
Questão 8
Alternativa C: INCORRETA. Paciente com genitália
Y Dica do professor: Em um RN apresentando desidra- ambígua e gônadas não palpáveis ao exame tem
tação associada à virilização da genitália, somado a como principal hipótese HAC.
exames laboratoriais que comprovam hiponatremia
e hipercalemia, devemos obrigatoriamente pensar Alternativa D: INCORRETA. A monitorização de eletró-
em Hiperplasia Adrenal Congênita. litos deve ser feita a cada 24-48 horas para avaliar
a crise perdedora de sal.
Alternativa A: CORRETA. A HAC é uma doença de
herança autossômica recessiva, potencialmente Alternativa E: INCORRETA. A crise perdedora de sal
letal, que decorre da insuficiência das enzimas en- é caracteriza por hiponatremia, hipercalemia, as-
volvidas na síntese do cortisol no córtex adrenal. sociadas à desidratação, hipotensão, taquicardia
e letargia.
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A deficiência da 21-hidroxilase (21OHD) é a mais
frequente e responsável por 95% dos casos. Além ✔ resposta: A
da redução da síntese de glicocorticoides, em 75%
das crianças afetadas ocorre deficiência concomi-
tante de aldosterona. Questão 10 dificuldade:
Alternativa B: INCORRETA. A HAC pode ser dividida em Y Dica do professor: Ao se deparar com uma ques-
forma perdedora de sal e forma virilizante simples. tão mencionando um paciente com hiponatremia,
Alternativa C: INCORRETA. As manifestações clínicas hipercalemia e acidose metabólica, pense imedia-
são decorrentes da deficiência de glicocorticoides tamente em insuficiência adrenal primária, doença
e, possivelmente, mineralocorticoides, além de ex- que também cursa com desidratação, hipoglicemia,
cesso de andrógenos nos períodos pré e pós‐natal, anorexia, náuseas e vômitos.
causando virilização.
Alternativa A: INCORRETA. A DRGE em lactentes ge-
Alternativa D: INCORRETA. Também ocorre em me- ralmente cursa com regurgitação pós-prandial,
ninos. engasgos, recusa alimentar e até movimentos con-
Alternativa E: INCORRETA. A forma perdedora de sal torcionistas por dor, mas não justificaria os demais
corresponde à maioria das formas clássicas. sintomas metabólicos.
✔ resposta: A Alternativa B: INCORRETA. Os sintomas da EHP ge-
ralmente se manifestam a partir de 3 a 5 semanas
de vida, com vômitos pós-prandiais em jato, não
Questão 9 dificuldade:
biliosos, podendo cursar com alcalose metabólica
Y Dica do professor: Hiperplasia Adrenal Congêni- pela perda de ácido gástrico.
ta (HAC) é um conjunto de doenças de herança Alternativa C: INCORRETA. Uma infecção aguda le-
autossômica recessiva resultantes da deficiência vando a vômitos de repetição geralmente cursa com
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Hiperplasia adrenal congênita Endocrinologia Pediátrica
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CARDIOLOGIA
PEDIÁTRICA
Cardiologia Pediátrica
Sumário
Prevalência/importância
11. Cardiopatias congênitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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218
Capítulo
CARDIOPATIAS CONGÊNITAS
11
importância/prevalência
u O canal arterial é a estrutura que permite a comunicação das cavidades direitas para a aorta, no período fetal.
u As cardiopatias congênitas acianogênicas mais comuns são: Comunicação Interventricular (CIV), Comu-
nicação Interatrial (CIA) e coartação da aorta. Já as cianogênicas mais comuns são: Transposição de
Grandes Artérias (TGA) e Tetralogia de Fallot (T4F).
u A T4F consiste em 4 achados: estenose pulmonar, CIV, dextroposição ou cavalgamento da aorta e hiper-
trofia do Ventrículo Direito (VD).
u A CIA raramente causa sintomas. Já a CIV, devido ao hiperfluxo pulmonar importante, pode causar taqui-
dispneia com piora aos esforços, sudorese e interrupções das mamadas.
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de abordagem cirúrgica ainda no 1º ano de vida. Os
1. C IRCULAÇÃO FETAL
pacientes acometidos apresentam maiores taxas
de mortalidade e morbidade; por isso, a importância
do diagnóstico precoce para evitar a deterioração A circulação fetal é estruturada para suprir as neces-
hemodinâmica da criança, além de comprometi- sidades de um organismo em crescimento rápido
mento de outros órgãos e sistemas, como o Sistema em um ambiente de hipóxia relativa. Nos adultos,
Nervoso Central (SNC). as trocas gasosas ocorrem nos pulmões, enquanto
Existem diversas cardiopatias congênitas relatadas nos fetos, a placenta é a responsável pela troca de
na literatura; entretanto, a apresentação clínica gases e nutrientes. O sangue oxigenado que retorna
delas costuma ter pouca variação. O diagnóstico, da placenta flui para o feto através da veia umbilical
idealmente, deve ser feito intraútero ou ainda nos com uma PO2 de aproximadamente 30 a 35 mmHg.
primeiros dias de vida, antes da alta hospitalar da Cerca da metade desse sangue passa através dos
maternidade. Os principais sinais clínicos que nos sinusoides hepáticos, enquanto o restante é des-
levam a pensar na possibilidade de uma cardiopatia viado do fígado e segue pelo ducto venoso para a
congênita são: cianose, baixo débito sistêmico, veia cava inferior. Esse fluxo combinado da parte
taquipneia e sopro cardíaco. Na presença de 1 ou inferior do corpo mais o sangue venoso umbilical
mais desses sinais, deve-se pensar em cardiopatia (PO2 de aproximadamente 26 a 28 mmHg), pene-
congênita, e a investigação diagnóstica deve ser tra no átrio direito e é preferencialmente direcio-
iniciada. Outros diagnósticos diferenciais devem nado através do forame oval para o átrio esquerdo.
sempre ser afastados com uma abordagem diag- O sangue, então, flui para o ventrículo esquerdo e
nóstica racional e criteriosa. Levando em consi- é ejetado para a aorta ascendente. O sangue da
deração que a transição da circulação fetal para veia cava superior fetal, que é consideravelmente
a circulação neonatal ocorre em até alguns dias menos oxigenado (PO2 de 12-14 mmHg), entra no
após o nascimento, muitas vezes, são necessárias átrio direito e, atravessa a valva tricúspide, em vez
219
Cardiopatias congênitas Cardiologia Pediátrica
Figura 1. A circulação fetal e os seus shunts: ducto venoso, forame oval e ducto arterioso (canal arterial).
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Fonte: Acervo Sanar.
Cerca de 5% a 10% do volume que passa para o ven- Ao nascimento, a expansão mecânica dos pulmões
trículo direito é levado aos pulmões pelas artérias e um aumento na PO2 arterial resultam em uma
pulmonares, e deles volta ao átrio esquerdo através rápida redução na resistência vascular pulmonar.
das veias pulmonares, sem ser oxigenado. Uma Concomitantemente, a redução da circulação pla-
parte desse sangue é desviada pelo canal arterial centária de baixa resistência leva a um aumento na
para a aorta antes de alcançar os pulmões. No átrio resistência vascular sistêmica. Assim, a circulação
esquerdo, o sangue que chega dos pulmões e o no canal arterial é reduzida quase completamente.
proveniente do forame oval se misturam, chegam Quando persiste alguma circulação, ocorre da aorta
ao ventrículo esquerdo e à aorta ascendente. Assim, para a artéria pulmonar esquerda, desde que não
as artérias do coração, da cabeça, do pescoço e dos haja hipertensão pulmonar.
membros superiores recebem sangue com maior
O canal arterial contrai-se ao nascimento e deixa de
teor de oxigênio do que o restante do corpo. Cerca
ser funcional nas primeiras 12 a 15 horas pós-parto,
de 40% a 50% do sangue da aorta descendente
exceto em prematuros e naqueles com hipóxia per-
passa pelas artérias umbilicais e retorna à placenta,
sistente, situações em que pode permanecer aberto
para reoxigenação. O restante suprirá as vísceras
por mais tempo. O oxigênio constitui o fator mais
e a metade inferior do corpo. Como os pulmões do
importante do controle do fechamento do canal
feto não são funcionantes, eles oferecem grande
arterial. Durante a vida fetal, a abertura do canal é
resistência à circulação proveniente do ventrículo
controlada pelo regime de hipóxia vigente e por meio
direito; desta forma, as paredes do ventrículo direito
da produção de prostaglandinas. Por esse motivo,
e esquerdo têm praticamente a mesma espessura.
220
Cardiopatias congênitas Cap. 11
alguns inibidores da síntese de prostaglandinas, nas primeiras horas de vida, não havendo, portanto,
como a indometacina e o ibuprofeno, são usados a presença da cianose. Com o passar das horas, a
para promover o fechamento farmacológico do canal cianose se instala quando o RN realiza esforços,
arterial. A oclusão da circulação placentária provoca como ocorre no choro e nas mamadas, em que há
queda imediata da pressão sanguínea na veia cava um aumento do consumo de oxigênio e uma redução
inferior e no átrio direito. Devido ao fluxo sanguíneo concomitante do fluxo pulmonar. Conforme o fluxo
pulmonar aumentado, a pressão no interior do átrio pulmonar ou a mistura sanguínea vão diminuindo,
esquerdo fica maior do que a do átrio direito, o que o grau de cianose aumenta, assim como aumenta
acarreta o fechamento funcional do forame oval. Já a taquipneia. O desconforto respiratório pode ser
o fechamento anatômico ocorre mais tardiamente. evidenciado através do aumento da frequência respi-
ratória, das retrações, dos gemidos e do aleteo nasal.
2. PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES
CLÍNICAS DIA A DIA MÉDICO
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parte das vezes, apresenta aspectos radiológicos As cardiopatias congênitas que se apresentam com
característicos, necessitando, muitas vezes, de baixo débito sistêmico, geralmente, são aquelas
suporte ventilatório invasivo. O RN com hipertensão relacionadas a lesões obstrutivas do lado esquerdo,
pulmonar, além da cianose, em geral apresenta em que o fluxo sistêmico é dependente do canal
desconforto respiratório discreto ou moderado arterial, como acontece na atresia aórtica. Os prin-
e, em grande parte das vezes, tem um quadro de cipais sinais clínicos de baixo débito sistêmico são:
asfixia perinatal ou de aspiração de mecônio asso- taquipneia, cansaço às mamadas, palidez cutânea,
ciados. Já a criança com cardiopatia congênita, sudorese acentuada, taquicardia, redução da ampli-
geralmente, tem história perinatal benigna, com tude dos pulsos centrais e periféricos e hipotensão
peso adequado ao nascimento e um bom score de arterial sistêmica. Os pacientes com cardiopatias
APGAR. As cardiopatias congênitas que apresentam com baixo débito sistêmico nascem bem e come-
cianose, também chamadas de cianogênicas, são çam a apresentar sinais de baixo débito a partir das
aquelas em que o fluxo pulmonar é dependente do primeiras 24 horas de vida, quando o fluxo sistêmico
canal arterial, como, por exemplo, o que ocorre na se reduz em consequência do fechamento do canal
atresia pulmonar. arterial ou quando ocorre grande desvio de fluxo
O canal arterial, também conhecido como ductus sistêmico para o território pulmonar, resultado da
arterioso, é um largo vaso que conecta a aorta redução da resistência vascular pulmonar após o
(que leva sangue ao corpo) à artéria pulmonar (que nascimento. Ocorre, portanto, hiperfluxo pulmonar
leva sangue aos pulmões). O fechamento do canal, e hipofluxo sistêmico.
normalmente, se dá em RNs a termo por volta de 24
a 48 horas de vida, com a finalidade de garantir a
circulação normal. O canal arterial assegura um bom
fluxo pulmonar e uma adequada mistura sanguínea
221
Cardiopatias congênitas Cardiologia Pediátrica
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Na ausência de cianose, taquipneia ou sinais de críticas, ou seja, aquelas que dependem do canal
baixo débito, a possibilidade de ser uma cardiopatia arterial. Veja o Fluxograma 1 a seguir.
Fluxograma 1. Fluxograma para o diagnóstico de cardiopatias congênitas críticas pelo teste do coraçãozinho.
Teste do coraçãozinho
Aferir oximetria de pulso em MSD e
MI entre 24 e 48 horas de vida
RN: recém-nascido; SatO2: saturação de oxigênio; MSD: membro superior direito; MI: membro inferior.
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria1.
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Cardiopatias congênitas Cap. 11
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terial comum, ventrículo único sem estenose prostaglandina E1 devido à ausência do ecocardio-
pulmonar, síndrome de hipoplasia do coração grama. Deve ser realizada a prova terapêutica com
esquerdo). a prostaglandina E1.
223
Cardiopatias congênitas Cardiologia Pediátrica
O quadro clínico depende da magnitude do shunt e a queda da pressão pulmonar, podem se associar
geralmente começa a se manifestar no final do 1º manifestações de insuficiência cardíaca, como
mês de vida, intensificando-se no 2º e no 3º mês dispneia, taquicardia, sudorese, dificuldade para
(vide Tabela 1). As manifestações iniciais podem mamar, infecções respiratórias e sibilância.
restringir-se a apenas um sopro holossistólico na
A radiografia de tórax (Figura 3) pode evidenciar área
borda esternal esquerda, acompanhado ou não
cardíaca aumentada (principalmente o ventrículo
de frêmito. De acordo com a dimensão da CIV e
esquerdo), além de aumento da trama vascular
224
Cardiopatias congênitas Cap. 11
• Normalmente, assintomáticos;
Figura 3. Radiografia de tórax da CIV: cardiomegalia
discreta a importante; aumento da trama vascular • Crescimento adequado;
pulmonar e abaulamento do arco pulmonar. Pequena • Frêmito sistólico pode estar pre-
sente e, em geral, é mais loca-
(diâmetro
lizado;
< 0,5 cm/m2SC)
• Sopro sistólico em borda ester-
nal esquerda desde a 1º sema-
na de vida.
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• Ganho ponderal deficiente;
(> 1 cm/m2SC)
• Pneumonias de repetição;
• Tórax com abaulamento precor-
dial;
Fonte: Acervo da autora. • Impulsões sistólicas visíveis.
Fonte: Elaborada pela autora.
A terapêutica medicamentosa está indicada para
pacientes que apresentam sinais de insuficiência
cardíaca. Quando necessário, utiliza-se drogas diuré- 4.2. COMUNICAÇÃO INTERATRIAL
ticas e vasodilatadores, com o objetivo de melhoria
do padrão congestivo. O fechamento espontâneo É uma cardiopatia caracterizada por um defeito no
ocorre em 70% dos casos, a maioria no 1º ano de septo, que separa os átrios, permitindo a ocorrência
vida, e acontece nas comunicações interventricu- de um shunt da esquerda para a direita, resultando
lares perimembranosas e musculares pequenas. em sobrecarga de volume das cavidades direitas e
A correção cirúrgica total está indicada, em qualquer aumento do fluxo pulmonar. Veja a Figura 4.
idade, para pacientes que apresentam insuficiência
cardíaca refratária ao tratamento clínico, retardo
225
Cardiopatias congênitas Cardiologia Pediátrica
Figura 4. Comunicação interatrial. relativamente grave na idade adulta, com maior frequência
após a 3ª e 4ª décadas de vida. Nesse período, podem
surgir insuficiência cardíaca, arritmias, eventos trombó-
ticos, hipertensão pulmonar e outros.
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Fonte: Acervo Sanar.
Figura 5. Radiografia de tórax da CIA: aumento
da área cardíaca; aumento da trama vascular
Na CIA, ocorre desvio do sangue do átrio esquerdo pulmonar; abaulamento do arco pulmonar.
para o átrio direito, devido à maior capacidade de
distensão das paredes do átrio direito, menor resis-
tência vascular pulmonar e maior complacência do
ventrículo direito. Em razão do shunt da esquerda
para a direita, pela CIA, há hiperfluxo pulmonar e um
retorno de sangue aumentado para o átrio esquerdo.
Diferentemente da comunicação interventricular, em
que o aumento de volume no átrio esquerdo eleva
as pressões dessa cavidade e do capilar pulmonar,
na CIA há esvaziamento para o átrio direito, e a pres-
são desse sistema não se eleva. Por esse motivo,
os pacientes não apresentam sinais de taquipneia,
dispneia aos esforços e interrupção às mamadas.
226
Cardiopatias congênitas Cap. 11
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condições em que o prematuro não possa receber
a droga. Em crianças a termo, o fechamento está
indicado em qualquer idade, quando desenvolveram
insuficiência cardíaca congestiva.
5. PRINCIPAIS CARDIOPATIAS
CONGÊNITAS CIANOGÊNICAS
227
Cardiopatias congênitas Cardiologia Pediátrica
insaturação do sangue arterial sistêmico e cianose Figura 7. Tetralogia de Fallot: estenose pulmonar,
central. Comunicação Interventricular (CIV), dextroposição ou
cavalgamento da aorta e hipertrofia do ventrículo direito.
Para haver cianose, devemos ter no mínimo 5 g/dL
de hemogloblina dessaturada. Por isso, crianças
anêmicas têm menor manifestação clínica de cia-
nose, mesmo quando dispneicas graves. Observe
que o grau de cianose depende da gravidade da
obstrução do fluxo pulmonar. O shunt direita-es-
querda pode ocorrer por obstrução ao fluxo pulmo-
nar associado à comunicação intercavitária, como
na Tetralogia de Fallot, pela completa mistura dos
retornos venosos, pulmonar e sistêmico, como na
drenagem anômala total das veias pulmonares, e
por um arranjo paralelo das circulações pulmonar e
sistêmica, como na transposição das grandes arté-
rias. Vamos analisar esses 3 exemplos: Tetralogia
de Fallot, drenagem anômala das veias pulmonares Fonte: Acervo Sanar.
e transposição das grandes artérias.
O quadro clínico depende do grau de obstrução ao
fluxo pulmonar, podendo variar de discreta cianose
5.1. TETRALOGIA DE FALLOT
em mucosas, lábios e leitos ungueais (eventualmente
visíveis apenas ao choro ou à mamada) e apresen-
A Tetralogia de Fallot (T4F) é a cardiopatia con-
tar-se com baqueteamento digital e hipodesenvolvi-
gênita cianogênica mais comum após o primeiro
mento físico, em casos mais expressivos. O exame
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ano de vida e está presente em 3 a 5% das crianças
físico pode evidenciar sopro sistólico ejetivo, 2ª
portadoras de cardiopatias congênitas. Não se
bulha única e frêmito. Também é comum o desen-
confunda: a cardiopatia congênita mais comum
volvimento de policitemia secundária à hipoxemia
no período neonatal é a Transposição das Grandes
crônica. Na infância, crises hipoxêmicas ocorrem
Artérias (TGA) e, após o primeiro ano de vida, é a
com piora súbita da cianose, hiperpneia, irritabilidade
T4F. É difícil um paciente com TGA viver além do
e choro prolongado, podendo ocasionar síncope,
1º ano de vida sem ser operado e, por isso, a T4F
convulsão e mesmo óbito.
é a cardiopatia cianogênica mais comum após
o 1º ano. Ela consiste em 4 achados resultantes
do desvio anterossuperior do septo infundibular:
DIA A DIA MÉDICO
estenose pulmonar, Comunicação Interventricular
(CIV), dextroposição ou cavalgamento da aorta e
As crises hipoxêmicas podem ocorrer quando há aumento
hipertrofia do ventrículo direito. Veja a Figura 7. da resistência ao fluxo de saída do ventrículo direito ou
A obstrução na via de saída do ventrículo direito leva diminuição da resistência sistêmica, pelo aumento do
shunt direita-esquerda e queda da oxigenação, ainda maior
a um aumento da pressão durante a sístole. Dessa
do que a existente de base. Diante de um quadro como
forma, na dependência do grau da obstrução, há esse, deve-se colocar o paciente em posição genupeitoral
shunt direito-esquerdo entre os ventrículos, com (posição de cócoras), administrar oxigênio, adequar a
hipofluxo pulmonar e hipoxemia severa. Frequente- volemia, corrigir distúrbios metabólicos/hidroeletrolíticos
mente, o fluxo pulmonar é adequado ao nascimento, e administrar medicações como fenilefrina, noradrena-
ocorrendo progressão da obstrução no decorrer das lina, morfina e metoprolol, que atuam, respectivamente,
aumentando a resistência vascular sistêmica e relaxando
primeiras semanas ou meses de vida, assim como
o infundíbulo.
aumento da cianose.
228
Cardiopatias congênitas Cap. 11
Para o diagnóstico, o ecocardiograma é o exame essa drenagem ocorre para a veia cava superior e
de eleição em virtude de sua facilidade e acurácia. ao fim, no átrio direito. Esse é o tipo supracardíaco.
A radiografia de tórax mostra área cardíaca normal A presença de uma CIA é necessária para sobre-
ou discretamente aumentada, vasculatura pulmonar vivência. O retorno venoso sistêmico e o retorno
reduzida e arco médio escavado pela hipoplasia da venoso pulmonar são misturados no AD, levando à
artéria pulmonar. A área cardíaca na radiografia saturação baixa. O nível da saturação arterial sistê-
de tórax é descrita como “o tamanco holandês” ou mica é proporcional à quantidade de fluxo sanguíneo
“em bota” (veja na Figura 8). O eletrocardiograma pulmonar. Quando ocorre obstrução da drenagem
(ECG) mostra sobrecarga ventricular direita com do retorno venoso (em qualquer ponto desde o
R dominantes em V1 e onda S dominante em V6. pulmão até o átrio direito), há enorme congestão
venosa, lembrando quadros de tromboembolismo
Figura 8. Radiografia de tórax da Tetralogia pulmonar (TEP).
de Fallot: presença do “tamanco holandês” ou
bota e trama vascular pulmonar diminuída. O RN que nasce com drenagem anômala total das
VVPP apresenta cianose grave, com desconforto
respiratório ao nascimento. A segunda bulha (B2) é
única. Há ritmo de galope e estertores pulmonares
devido ao ingurgitamento pulmonar. Na radiografia
de tórax, há área cardíaca normal, com congestão
venosa pulmonar. Na drenagem venosa supracar-
díaca, nota-se a presença de uma silhueta extra
na porção superior do coração, gerando a figura
de “boneco de neve”, como mostrado na Figura 9.
O tratamento cirúrgico é indicado para todos os
pacientes, que devem ser operados no diagnóstico,
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especialmente para casos obstrutivos. Medidas
anticongestivas, O2 e diuréticos devem ser admi-
nistrados, se houver edema pulmonar. Na Figura 10
são vistas as alterações que ocorrem na drenagem
anômala total das veias pulmonares.
Fonte: Acervo da autora.
Figura 9. Radiografia de tórax da drenagem anômala
Na maioria dos casos, a correção ocorre antes dos total das veias pulmonares: presença de cardiomegalia
12 meses de idade. Quando as artérias pulmonares por aumento das cavidades direitas; trama arterial
pulmonar aumentada e morfologia em “boneco de neve”.
são hipoplásicas, pode ser necessária a realização
de um shunt sistêmico-pulmonar (operação de
Blalock-Taussig), para aumentar fluxo pulmonar,
permitindo o crescimento das artérias e adiando a
cirurgia de correção total.
229
Cardiopatias congênitas Cardiologia Pediátrica
Figura 10. Esquema das alterações da drenagem Os marcos da TGA são a presença de cianose e
anômala total das veias pulmonares. sinais de insuficiência cardíaca, no recém-nascido.
Como não há mistura entre os 2 circuitos, a hipoxe-
mia não responde ao O2. A ausculta é pobre e, na
radiografia de tórax, há cardiomegalia e aumento da
área cardíaca em “forma de ovo deitado” (Figura 12).
O diagnóstico ecocardiográfico mostra os acha-
dos descritos anteriormente. A história natural e
o prognóstico dependem da anatomia. O manejo
clínico consiste em tratar agressivamente a acidose
metabólica, hipoglicemia e hipocalcemia. O objetivo
principal é manter algum nível de mistura através
do canal arterial. Portanto, a infusão de PGE1 é
imperativa. A abertura de uma comunicação inte-
ratrial (Rashkind) é indicada se houver mistura
Fonte: Acervo Sanar. atrial inadequada e/ou intervenção cirúrgica cor-
retiva imediata. A técnica cirúrgica mais utilizada
5.3. TRANSPOSIÇÃO DE no mundo é a Cirurgia de Jatene, desenvolvida pelo
GRANDES ARTÉRIAS brasileiro Prof. Dr. Adib Jatene. A cirurgia corretiva
é necessária antes da segunda semana de vida e
A Transposição das Grandes Artérias (TGA) aco- consiste na troca da aorta para o VE e da artéria
mete mais meninos do que meninas. Na TGA, pulmonar para o VD.
a aorta e a artéria pulmonar estão transpostas
Figura 12. Radiografia de tórax da TGA: circulação
(Figura 11). A aorta emerge anteriormente, do VD, e
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pulmonar aumentada; pedículo vascular estreito
a artéria pulmonar emerge posteriormente, do VE. e coração em forma de ovo deitado.
Há, portanto, separação dos 2 circuitos. Defeitos
de mistura como CIA, CIV e PCA são necessários
para a vida. Com mistura pobre entre os 2 circuitos,
ocorre hipoxemia, acidose e óbito, caso não existam
medidas de suporte adequadas.
230
Cardiopatias congênitas Cap. 11
6.3. PROSTAGLANDINA E1
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso da Prostaglandina E1 (PGE1) mudou o prog-
nóstico dos pacientes com cardiopatias congênitas,
6.1. OXIGENIOTERAPIA
garantindo uma estabilização clínica para o RN.
A partir do seu uso, pode-se ganhar tempo para a
Diante de uma suspeita de cardiopatia congênita,
confirmação diagnóstica, planejamento do trata-
algumas medidas devem ser adotadas para manter
mento definitivo e, até mesmo, transferência para
o paciente clínica e hemodinamicamente estável.
um outro centro, caso haja necessidade. A PGE1 tem
No que diz respeito ao suporte de oxigênio, deve-se
ação dilatadora sobre o tecido do canal arterial até
ter em mente que, em alguns tipos de cardiopatias,
o final da 4ª semana de vida. Após esse período, a
a oferta excessiva de oxigênio pode estar relacio-
sua ação é insatisfatória. Mesmo sem a confirmação
nada com a piora clínica secundária à redução do
diagnóstica, deve ser indicada a PGE1 para aqueles
débito sistêmico e o aumento exagerado do fluxo
pacientes que apresentem cianose acentuada não
pulmonar. Ao se ofertar oxigênio em grande quan-
responsiva ao uso de oxigênio (teste de hiperóxia
tidade, ocorre vasodilatação pulmonar, aumento
negativo) e para aqueles com quadro de choque
do fluxo pulmonar e redução do fluxo sistêmico,
sem boa resposta às medidas iniciais de tratamento.
agravando o quadro de débito sistêmico. Na maioria
dos pacientes com cardiopatias congênitas, a satu- As cardiopatias congênitas em que o uso da PGE1
ração periférica ideal de oxigênio gira em torno de está indicado são: aquelas com fluxo pulmonar
85% a 90%. Quando está acima de 95%, geralmente, ou fluxo sistêmico dependentes do canal arterial
relaciona-se com um desequilíbrio entre os fluxos e cardiopatias com circulação em paralelo, como
pulmonar e sistêmico. Os RNs com cardiopatias a transposição das grandes artérias. A PGE1 deve
com fluxo pulmonar dependente de canal arterial ou ser prescrita como infusão contínua, com dose
inicial de 0,01 μg/kg/min. Se não houver resposta
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com circulação em paralelo, com saturação menor
que 80%, devem receber oxigênio, normalmente adequada, a dose pode ser aumentada até 0,1 μg/
com frações de até 60%, sendo raro necessitarem kg/min. Uma melhora clínica é esperada em cerca
de frações mais elevadas. de 30 a 60 minutos após o início da infusão, com
melhora da cianose e dos sinais de baixo débito
sistêmico. A via de administração é endovenosa, a
6.2. VENTILAÇÃO MECÂNICA
partir de acesso venoso profundo, de preferência,
central. O acesso periférico não é indicado, devido ao
A ventilação mecânica está indicada em situações maior risco de perda do acesso e ocorrência de um
de hipoxemia acentuada, especialmente quando novo fechamento do canal arterial, sendo associado
a saturação periférica estiver abaixo de 60%. Os à piora clínica abrupta. Apneia e hipotensão são os
pacientes com quadro clínico com baixo débito principais efeitos colaterais, principalmente diante
sistêmico também necessitam de suporte ventila- de doses mais elevadas. Outros efeitos colaterais
tório invasivo, com a finalidade de reduzir o trabalho são: hipertermia, irritabilidade, edema de mãos e
respiratório e, consequentemente, o consumo de pés e erupção cutânea.
oxigênio. Os pacientes em ventilação mecânica
devem ter uma saturação periférica em torno de
ATENÇÃO! O risco de apneia é grande com o
85%, evitando-se parâmetros ventilatórios exage-
uso da PGE1; por isso, a equipe deve estar pre-
rados, que podem ser deletérios. As cardiopatias
parada para uma possível intubação orotraqueal
com shunt exclusivamente esquerda-direita, como
de urgência.
os defeitos septais, devem ter uma saturação alvo
mais elevada (maior que 92%).
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forma precoce. A prostaglandina E1 deve ser feita quando
indicada e o paciente deve ser transportado para um
centro especializado, para a definição diagnóstica e o
manejo adequado.
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Cardiopatias congênitas Cap. 11
Cardiopatias congênitas
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acompanhamento
de rotina
Se alterado: repetir o
exame com 1 hora. Se
permanecer alterado:
realizar ecocardiograma
em 24 horas
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Cardiopatias congênitas Cardiologia Pediátrica
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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diopatias congênitas cianóticas. Rio de Janeiro: SBP; 2003.
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Cardiopatias congênitas Cap. 11
QUESTÕES COMENTADAS
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⮧ A confirmação ocorrerá com a presença de atre- mistura.
sia intestinal. ⮩ Síndrome da hipoplasia do coração esquerdo.
⮨ Deverá ser investigada a presença de defeitos
cardíacos. Questão 3
⮩ É comum a presença de tetralogia de Fallot.
(HOSPITAL PEQUENO PRÍNCIPE – PR – 2021) Em qual cardio-
patia a Operação de Jatene está indicada?
Questão 2
⮦ Transposição das grandes artérias.
(HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE - RS – 2021) Re- ⮧ Atresia tricúspide.
cém-nascido com 6 horas de vida foi internado no
⮨ Comunicação interventricular.
Centro de Tratamento Intensivo Neonatal em regime
de emergência por cianose precoce e grave, com ⮩ Truncus arteriosus.
clínica sugestiva de acidose metabólica, pulsos
palpáveis nas quatro extremidades e saturação de
Questão 4
oxigênio de 80%. À ausculta, não foi identificado
sopro, apenas um estalido após a primeira e a se- (HOSPITAL UNIMED RIO – RJ – 2021) A tetralogia de Fallot é
gunda bulhas, sem desdobramento. Não apresen- uma cardiopatia congênita com as seguintes anor-
tava sinais congestivos. Durante a gestação, não malidades anatômicas:
houve intercorrências, embora a mãe tivesse rea-
lizado consultas irregulares de pré-natal e apenas ⮦ Obstrução da via de saída do ventrículo direito.
uma ultrassonografia obstétrica com 16 semanas, Defeito do septo interventricular. Dextroposição
mas nenhuma ecocardiografia fetal. Iniciou-se tra- da aorta que cavalga o septo. Hipertrofia do ven-
tamento com oxigênio, foi coletado sangue para trículo direito.
235
Cardiopatias congênitas Cardiologia Pediátrica
⮧ Obstrução da via de saída do ventrículo direito. ⮩ O ecocardiograma deve ser o escolhido na sus-
Defeito do septo interventricular. Dextroposição peita de cardiopatia congênita.
da aorta que cavalga o septo. Hipertrofia do ven-
trículo esquerdo.
Questão 7
⮨ Obstrução da via de saída do ventrículo esquer-
do. Defeito do septo interventricular. Dextropo- (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BARRA MANSA – RJ – 2021)
sição da aorta que cavalga o septo. Hipertrofia Qual o quadro clínico do paciente com coarctação
do ventrículo esquerdo. de aorta grave?
⮩ Obstrução da via de saída do ventrículo direito.
⮦ O neonato desenvolve clínica de insuficiência
Defeito do septo interatrial. Dextroposição da
cardíaca e, algumas vezes, choque cardiogênico,
aorta que cavalga o septo. Hipertrofia do ven-
na 2ª ou na 3ª semana de vida. Há ausência de
trículo direito.
pulsos em membros inferiores e normalmente
não se ouve sopro. O quadro clínico pode ser mais
Questão 5 precoce e mais intenso quando há associação
de comunicação interventricular.
(INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO
⮧ Crises hipoxêmicas que se iniciam a partir dos
ESTADUAL - SP – 2021) Os principais achados de insufi-
6 meses de vida.
ciência cardíaca no lactente são:
⮨ Durante as primeiras semanas de vida, a única
⮦ Taquicardia; hepatomegalia; e cardiomegalia. manifestação clínica é a cianose. Em torno de
⮧ Taquicardia; hepatomegalia; e edema de mem- 4 semanas de vida ocorre melhora da cianose;
bros inferiores. entretanto, surgem os sinais de hiperfluxo e de
congestão pulmonar: taquipneia, cansaço às
⮨ Cardiomegalia; estase jugular; e taquicardia.
mamadas, sudorese e palidez.
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⮩ Hepatomegalia; estase jugular; e edema de mem-
⮩ Os recém-nascidos exibem cianose intensa des-
bros inferiores.
de o nascimento e as crianças maiores podem
⮪ Edema facial; taquicardia; e hepatomegalia. apresentar baqueteamento digital e adotar a
posição de cócoras para melhora da hipóxia.
Questão 6
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Cardiopatias congênitas Cap. 11
Questão 10
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apresenta, repentinamente, piora da cianose, disp-
neia e agitação. A conduta a ser instituída para a
reversão do quadro é:
237
Cardiopatias congênitas Cardiologia Pediátrica
GABARITO E COMENTÁRIOS
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mas elas não confirmam o diagnóstico da síndrome. mais frequentes, constituindo cerca de 5% a 8% das
cardiopatias em geral, ocupando segundo as várias
Alternativa C: CORRETA. Logo ao nascimento, a crian-
estatísticas, o 6° ou 7° lugar entre os defeitos, pre-
ça precisa ser submetida a uma avaliação cardio-
dominando no sexo masculino sobre o feminino,
lógica, tendo em vista a associação da síndrome
numa proporção de 2 a 3:1. A alteração obstrutiva
com defeitos cardíacos, presentes em cerca de
localiza-se na união da croça com a aorta descen-
40% das crianças.
dente (região ístmica, entre a artéria subclávia es-
Alternativa D: INCORRETA. Dentre as cardiopatias querda e o ductus arteriosus ou seu remanescente),
congênitas a mais comum é o defeito do septo podendo envolver em maior ou menor extensão o
atrioventricular (presente em cerca de 43% dos pa- próprio arco aórtico. A CoAo pode se apresentar
cientes), a comunicação interventricular ocorre em como lesão isolada ou associada a outras anoma-
32%, a comunicação interatrial tipo fossa oval em lias, tais como a valva aórtica bivalvular, persistên-
10% e apenas 6% apresentam tetralogia de Fallot. cia do canal arterial, comunicação interventricular,
✔ resposta: C estenose aórtica valvar ou subvalvar, sendo ainda
a malformação cardiovascular mais frequente na
síndrome de Turner (20%). O reconhecimento clínico
Questão 2 dificuldade:
é relativamente simples, caracterizado pela ausên-
Y Dica do professor: Vamos às principais informações cia ou diminuição da amplitude dos pulsos arteriais
desse caso: recém-nascido com 6 horas de vida, com nos membros inferiores associado a presença de
cianose precoce, acidose metabólica, pulsos nos pulsos amplos e hipertensão arterial nos membros
quatros membros, hipoxemia, sem sopro, mas com superiores. A clínica é de baixo débito cardíaco e
estalido após B1, sem desdobramento, sem sinais não de hipofluxo pulmonar.
de congestão. ECG com sobrecarga atrial direita Alternativa C: INCORRETA. A transposição das gran-
e ventricular esquerda e radiografia de tórax sem des artérias (TGA) é uma cardiopatia congênita
238
Cardiopatias congênitas Cap. 11
cianótica, a qual classicamente se caracteriza pela Essa cardiopatia congênita é uma das cardiopatias
aorta anteriorizada e à direita da artéria pulmonar. mais comuns no período neonatal, sendo caracte-
A TGA clássica ou simples é assim denominada rizada por duas circulações em paralelo, em que
quando existe integridade do septo interventricular, em uma delas o sangue sistêmico chega ao átrio
ausência de obstrução na via de saída do ventrículo direito, vai ao ventrículo direito e volta para o cor-
esquerdo e, frequentemente, forame oval pérvio e po, enquanto na outra o sangue proveniente dos
persistência do canal arterial. Já a forma complexa pulmões chega ao átrio esquerdo, vai ao ventrículo
pode estar associada à comunicação interventri- esquerdo e volta ao pulmão. Nessa condição, não
cular (CIV), estenose pulmonar (30% dos casos) e há como sobreviver.
coarctação da aorta, o que dificulta o fluxo na saída
do ventrículo esquerdo. No caráter hemodinâmico ✔ resposta: A
ocorre uma completa separação das circulações
pulmonar e sistêmica, que se faz em paralelo. Isso
se dá, pois o sangue venoso retorna ao corpo atra- Questão 4 dificuldade:
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com B2 único. O diagnóstico é por ecocardiografia.
poplasia do coração esquerdo (SHCE) refere-se às O tratamento definitivo é correção cirúrgica.
características morfológicas da atresia mitral e da
atresia aórtica combinadas. Entretanto, o conceito ✔ resposta: A
de SHCE pode ser ampliado para os casos que te-
nham valvas mitral e aórtica, mas em que o hipode-
senvolvimento do ventrículo esquerdo o incapacite Questão 5 dificuldade:
de manter a circulação sistêmica. Nessa situação,
teremos um quadro de baixo débito, com redução Y Dica do professor: para avaliar a presença de insufi-
do volume circulante sistêmico - choque. ciência cardíaca na faixa etária pediátrica, devemos
avaliar se a criança apresenta os quatro sinais cardi-
✔ resposta: A nais de insuficiência cardíaca, que são: taquicardia,
taquipneia, cardiomegalia e hepatomegalia. Tendo
esses quatros sinais cardinais, podemos dizer que a
Questão 3 dificuldade: criança apresenta insuficiência cardíaca. A questão
coloca como resposta a LETRA A: cardiomegalia,
Y Dica do professor: A cirurgia de Jatene, ou desvio hepatomegalia e taquicardia. A rigor, a presença
arterial, é uma cirurgia cardíaca aberta que corri- da taquipneia também faria parte do espectro da
ge a destro transposição das grandes artérias. Foi insuficiência cardíaca pediátrica, porém a LETRA
pioneiramente imaginada pelo cirurgião cardíaco A continua sendo a resposta da questão. Edema
Willian Mustard e primeiramente realizada com de membros inferiores, edema facial e estase de
sucesso pelo brasileiro e cirurgião cardíaco Adib jugular não compõem os sinais cardinais da insu-
Jatene. Foi o primeiro procedimento que reparava ficiência cardíaca na infância.
a destro transposição das grandes artérias (d-TGA).
Vamos aproveitar a questão para relembrar a TGA. ✔ resposta: A
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Cardiopatias congênitas Cardiologia Pediátrica
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podendo evoluir com choque cardiogênico ainda
numa proporção de 2 a 3:1. A alteração obstrutiva
nas primeiras semanas de vida. Portanto, a alter-
localiza-se na união da croça com a aorta descen-
nativa que melhor responde à questão é a letra A.
dente (região ístmica entre a artéria subclávia es-
querda e o ductus arteriosus ou seu remanescente), ✔ resposta: A
podendo envolver em maior ou menor extensão o
próprio arco aórtico. A CoAo pode se apresentar
Questão 8 dificuldade:
como lesão isolada ou associada a outras anoma-
lias, tais como a valva aórtica bivalvular, persistên- Y Dica do professor: Vamos lá! Após o clampeamen-
cia do canal arterial, comunicação interventricular, to do cordão umbilical e consequente oxigenação
estenose aórtica valvar ou subvalvar, sendo ainda pulmonar no meio externo, não são mais necessá-
a malformação cardiovascular mais frequente na rios os shunts da circulação fetal. Fecham-se em
síndrome de Turner (20%). sequência o ducto venoso (por contração de seu
Alternativa C: CORRETA. Transposição das grandes esfíncter), ducto arterioso (por ação de mediadores
artérias (nesse caso, dextrotransposição) ocorre inflamatórios como a bradicinina) e forame oval (por
quando a aorta se origina diretamente do ventrículo mudança no regime pressórico do átrio esquerdo).
direito e a artéria pulmonar do ventrículo esquerdo, ✔ resposta: B
resultando em circulações pulmonares e sistêmi-
cas paralelas independentes; o sangue oxigena-
do não pode alcançar o corpo, exceto através de Questão 9 dificuldade:
aberturas conectando os lados direito e esquerdo
Y Dica do professor: A crise cianótica constitui-se
[p. ex., forame oval aberto, defeito do septo ventri-
numa emergência clínico-cirúrgica. É importante
cular (DSV)]. Os principais sintomas graves neona-
seu pronto reconhecimento por parte dos profissio-
tais são cianose e, ocasionalmente, insuficiência
nais das unidades de emergência, permitindo um
240
Cardiopatias congênitas Cap. 11
• Caso a crise persista, pode-se fazer uso de Y Dica do professor: A piora da cianose, associada à
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drogas vasoconstritoras como adrenalina ou
dispneia e à agitação em um lactente portador de
Cetamina, a fim de se aumentar a resistência
tetralogia de Fallot são indicativos de que a criança
vascular periférica e diminuir o “shunt” D>>E em
está passando por uma crise hipercianótica paro-
nível ventricular.
xística, muito comum nos primeiros dois anos de
• O uso de betabloqueadores adrenérgicos (pro- vida em portadores dessa cardiopatia congênita.
pranolol) na crise age diretamente como inotró- Para sua reversão, a conduta a ser tomada é man-
pico negativo, além do relaxamento, questioná- ter a criança em posição genupeitoral (aumenta a
vel, do espasmo infundibular. Seu uso crônico, resistência periférica, reduz o shunt), administrar
na profilaxia das crises, levaria ainda a uma oxigenioterapia, morfina (sedação, vasodilatação
estabilidade no leito vascular periférico, preve- dos leitos arterial e venoso), betabloqueador (pro-
nindo quedas súbitas da resistência vascular pranolol, promove relaxamento infundibular), bi-
periférica. carbonato (correção de acidose) e ketamina (ele-
• Medidas gerais como expansão de volume, va pressão arterial sistêmica e proporciona efeito
correção de anemia com concentrado de hemá- sedativo benéfico).
cias, tratamento da hipoglicemia e distúrbios
✔ resposta: B
hidroeletrolíticos são também muito importantes
na reversão do quadro.
• Em RN com cardiopatias ducto dependentes, o
uso de Prostaglandina reabre o ducto arterioso,
aumentando o fluxo pulmonar, permitindo uma
melhora dramática do quadro clínico. Como a
sua ação é de curta duração e dependente da
infusão contínua, sua administração é provisória,
241
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243
ONCOLOGIA
PEDIÁTRICA
Oncologia Pediátrica
Sumário
Prevalência/importância
12. Diagnóstico precoce e principais cânceres infantis . . . . .
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DIAGNÓSTICO PRECOCE E Capítulo
importância/prevalência
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) No Brasil, com o maior controle das doenças infec-
apontam que cerca de 150 mil crianças são diagnos- tocontagiosas e a diminuição das mortes por causas
ticadas com câncer, em todas as regiões do mundo. evitáveis, o câncer representa a primeira causa de
Na faixa etária pediátrica, há 2 picos de incidência: óbito por doença, entre crianças e adolescentes de
um na faixa de 4 a 5 anos e outro entre 16 e 18 1 a 19 anos. A importância do diagnóstico precoce
anos. Em comparação com os adultos, o câncer é essencial para o desfecho favorável da doença.
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pediátrico tende a apresentar menores períodos de A taxa de sobrevida, a qualidade de vida, assim como
latência, rápida velocidade de crescimento, caráter a relação efetividade/custo da doença, são maiores
mais invasivo; porém, apresenta melhor resposta quanto mais precoce for o diagnóstico. No Brasil,
aos quimioterápicos. Os tipos mais comuns de infelizmente, ainda há um atraso no diagnóstico e,
cânceres na faixa etária pediátrica são: as leuce- muitas vezes, os pacientes são encaminhados para
mias, os tumores do sistema nervoso central e os centros especializados de tratamento com a doença
linfomas. A etiologia dos cânceres é multifatorial, já em estadiamento avançado. Por conta disso, é
estando relacionada com uma multiplicidade de essencial que o médico generalista e o pediatra
causas, notadamente com uma susceptibilidade estejam atentos aos sinais de alerta para a suspeita
genética importante. A literatura descreve algumas de câncer na faixa etária pediátrica, promovendo
doenças raras que estão ligadas à instabilidade um reconhecimento mais rápido da doença, assim
cromossômica, ao defeito de replicação do DNA e como o início da terapêutica adequada.
apresentam maiores chances de desenvolvimento
A anamnese e o exame físico são os primeiros
de neoplasias ao longo da vida.
passos para o processo do diagnóstico do câncer.
Na história, é importante questionar a presença de
doenças genéticas, doenças constitucionais e neo-
BASES DA MEDICINA plasias na família. As leucemias são as neoplasias
mais comuns na infância, sendo a leucemia linfoide
Mutações e rearranjos secundários ao dano no DNA, aguda (75% a 80% dos casos) mais comum que a
que não foi corretamente reparado, podem resultar na leucemia mieloide aguda (155% a 20%).
ativação de um proto-oncogene ou na inativação de genes
supressores de tumor.
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Diagnóstico precoce e principais cânceres infantis Oncologia Pediátrica
O quadro clínico das leucemias depende do grau solicitados. Eles incluem: ureia, creatinina, eletróli-
de infiltração medular e da extensão da doença tos, ácido úrico, gasometria, enzimas hepáticas,
extramedular. A dor óssea é frequente e pode albumina, LDH (desidrogenase lática). A Leucemia
ser a queixa principal do paciente, normalmente, Linfoide Aguda (LLA) é mais comum entre os 2 e
ocorrendo em membros inferiores, de moderada a 4 anos. O diagnóstico é confirmado pelo mielo-
forte intensidade, impedindo, inclusive, a deambu- grama, se houver a presença ≥ 25% de linfoblastos
lação. A presença de dor em membros, associada em medula óssea. O subtipo L1 é o mais comum.
a alterações no hemograma, sugere a presença de Deve-se realizar, ainda, a imunofenotipagem (CD10
neoplasia maligna. A dor óssea, em muitos casos, apresenta bom prognóstico) e a citogenética (pes-
é confundida com artralgia ou artrite, e entram, quisa de alterações cromossômicas e indicadores
com frequência, como suspeitas diagnósticas, as de prognóstico) em todos os casos.
doenças reumatológicas, principalmente a artrite
idiopática juvenil. É importante estar atento ao uso A Leucemia Mieloide Aguda (LMA) é mais comum
racional de corticoesteroides, já que o uso desses em < 2 anos e > 10 anos. Pode cursar com com-
medicamentos pode mascarar o quadro clínico prometimento extramedular: hipertrofia gengival,
oncológico, selecionar células leucêmicas resis- alterações de pele e comprometimento do Sis-
tentes e piorar o prognóstico do paciente. tema Nervoso Central. O diagnóstico é confirmado
pelo mielograma, se houver a presença ≥ 20% de
No exame físico, podem ser vistos: fenômenos
mieloblastos em medula óssea. As crianças com
hemorrágicos, palidez, febre, linfonodomegalia
subtipo M3 podem ser tratadas com o Ácido Trans-
generalizada, hepatomegalia e esplenomegalia. Os
retinoico (ATRA), que promove a diferenciação dos
sinais e os sintomas decorrem da infiltração das
promielócitos e tem um bom prognóstico, com um
células leucêmicas na medula óssea (reduzindo
melhor desfecho associado. Apesar da evolução
a produção das células sanguíneas normais) e da
dos protocolos específicos de quimioterapia, o
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disseminação dessas células na corrente sanguínea
prognóstico desses pacientes ainda é reservado,
para outros órgãos.
com sobrevida, livre de eventos, variando de 25% a
Achados do hemograma incluem: 50%. O Fluxograma 1 sumariza a conduta que deve
ser realizada diante de uma suspeita de leucemia.
u Anemia normocrômica e normocítica.
u Redução de reticulócitos.
u Em geral, há leucocitose, com blastos em por- DIA A DIA MÉDICO
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Diagnóstico precoce e principais cânceres infantis Cap. 12
Não
Palidez e/ou Sim
Sim Sim
sangramentos e/ou
Hemograma Reavaliação
febre e/ou dor óssea Persistência Repetir o
(resultado Normal? clínica Normal? Acompanhamento
e/ou articular e/ou dos sinais? hemograma
em 24 h) (em 72 h)
hepatoesplenomogalia
e/ou linfonodomegalias Não Não
2 ou + alterações:
• Anemia
• Leucocitose ou
leucopenia
• Plaquetopenia
Encaminhamento
Emergência:
ao Oncologista
• Leucocitose > 50.000/mm 3
pediátrico ou
• Sangramento Hematologista
• Plaquetas < 20.000/mm3 pediátrico
• Anemia severa (hemoglobina < 6 g/dL)
Os tumores do Sistema Nervoso Central (SNC), que mais jovens adultos (acima dos 15 anos). Em apenas
acometem encéfalo e medula espinhal, representam cerca de 10% a 15%, ocorrem em menores de 16
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o segundo tipo de neoplasia maligna mais frequente anos. O crescimento de linfonodos, por mais de 2
na Pediatria. São os tumores sólidos mais comuns semanas, associado ou não a quadros inflamató-
em crianças, correspondendo a cerca de 20% das rios ou infecciosos, deve sempre chamar atenção
neoplasias em menores de 15 anos. A maior parte para a suspeita dessa neoplasia. Normalmente,
dos tumores se origina das células gliais. Cerca de as cadeias linfonodais acometidas são: cervicais,
50% desses tumores são infratentoriais (de fossa supraclaviculares e mediastinais. O acometimento
posterior), sendo cerca de 70% deles localizados extranodal é pouco frequente, assim como os sin-
no cerebelo e no IV ventrículo. Os tumores supra- tomas sistêmicos, como: febre, sudorese e perda
tentoriais predominam nos 2 primeiros anos de de peso. Quando presentes, estão relacionados à
vida, e os infratentoriais, após esse período. As maior agressividade da doença. Já o Linfoma não
manifestações clínicas são dependentes do local Hodgkin (LNH), na Pediatria, na maior parte dos
do tumor e da faixa etária do paciente, variando casos, está relacionado com alto grau de malig-
de sintomas inespecíficos até os relacionados à nidade e agressividade. Esse é um grupo diverso
hipertensão intracraniana e a doenças avançadas, de neoplasias linfoides que apresenta patologia,
como: cefaleia, convulsão, vômito, distúrbios de células de origem, história natural e resposta ao
marcha e de comportamento e alterações visuais. tratamento variadas. A idade de maior incidência
Os mais comuns são o meduloblastoma (maligno) varia conforme o tipo histológico do LNH, sendo,
e o astrocitoma pilocítico juvenil (benigno). por exemplo, o Linfoma de Burkitt, mais presente
em crianças com menos de 10 anos.
Os linfomas são a terceira causa de câncer na
Pediatria, sendo o Linfoma de Hodgkin e o não O Tumor de Wilms, também conhecido como nefro-
Hodgkin os mais comuns. O Linfoma de Hodgkin blastoma, é o tumor renal maligno mais frequente da
é raro antes dos 5 anos de vida e tende a acometer infância. Ocorre, mais frequentemente, em crianças
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Diagnóstico precoce e principais cânceres infantis Oncologia Pediátrica
entre 1 e 5 anos, e, na maioria dos casos, são oli- O retinoblastoma é a neoplasia intraocular mais
gossintomáticos ou assintomáticos, sendo, muitas comum em crianças, acometendo cerca de 1 em
vezes, descobertos pela família durante o banho cada 20.000 nascidos vivos. Normalmente, está
ou em brincadeiras com a criança. Como mani- relacionado com a faixa etária entre 2 e 3 anos,
festações clínicas, normalmente estão presentes: sendo mais raro após os 5 anos de vida. Normal-
massa palpável em loja renal, hipertensão arterial, mente, o reflexo ocular branco ou o sinal do “olho do
hematúria, dor abdominal e obstipação intestinal. gato”, mostrado na Figura 1, é a apresentação mais
comum. Outros sinais e sintomas são: eritema con-
O neuroblastoma é originado das células primordiais
juntival, diminuição da acuidade visual e estrabismo.
da crista neural que formam a medula adrenal e
O teste do reflexo vermelho, também conhecido
os gânglios simpáticos paraespinhais da região
como teste do olhinho, é um exame, realizado logo
cervical, do tórax, abdome e pelve. É o tumor sólido
após o nascimento, importante para a triagem do
extracraniano mais comum em crianças, normal-
retinoblastoma. Na presença da leucocoria (pupila
mente, diagnosticado nos primeiros anos de vida.
branca), o paciente deve ser encaminhado para o
As manifestações clínicas estão relacionadas com
oftalmologista, para seguimento da investigação
o local do tumor. O achado mais comum é de uma
diagnóstica com a fundoscopia. É importante lem-
massa palpável e de febre, que ocorre em cerca de
brar, entretanto, que o teste do olhinho normal não
37% dos casos.
exclui a possibilidade do diagnóstico de retinoblas-
toma. Sendo assim, é fundamental a realização de
oftalmoscopia binocular indireta, executada por
oftalmologista experiente nessa área, semestral-
mente, até 2 anos e meio, principalmente em casos
de história familiar positiva.
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Figura 1. Presença de leucocoria (pupila branca) em olho direito.
Os tumores ósseos primários são mais corriqueiros volume local, calor, rubor e febre, o que faz com que
na adolescência, e os mais comuns são: osteossar- a osteomielite entre como importante diagnóstico
coma e o Sarcoma de Ewing. O osteossarcoma tem diferencial.
um pico de incidência entre 10 e 19 anos e, normal-
Geralmente, quanto maior é o atraso do diagnóstico,
mente, o paciente apresenta dor óssea localizada,
mais avançada é a doença, menores são as chances
que não melhora com o repouso. Ocorre principal-
de cura e maiores serão as sequelas decorrentes do
mente nas metáfises dos ossos longos, como o
tratamento mais agressivo. O diagnóstico precoce
fêmur distal, a tíbia proximal, o úmero proximal e
é essencial para o encaminhamento do paciente
a fíbula. O Sarcoma de Ewing também acomete a
para um centro especializado em Oncologia Pediá-
mesma faixa etária; porém, envolve mais as diáfises
trica. O acompanhamento desses pacientes deve
dos ossos longos, podendo acometer, também,
ser realizado por uma equipe multiprofissional,
ossos chatos. Pode haver, além da dor, aumento de
compreendendo a necessidade das mais variadas
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Diagnóstico precoce e principais cânceres infantis Cap. 12
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u Grandes massas tumorais. gada, principalmente quando associada a outras
u Alta taxa de proliferação tumoral. comorbidades, como mucosite grave, linfopenia,
hipogamaglobulinemia e alterações da flora intes-
u Alta sensibilidade à quimioterapia: LLA, Linfoma
tinal. Em geral, o Nadir (tempo de maior ação da
de Burkitt, linfoma linfoblástico.
quimioterapia) ocorre após 5 a 10 dias do início do
u Comorbidades associadas do paciente. tratamento, e, nesse momento, há uma menor pro-
dução de células pela medula óssea. Considera-se
A tríade clássica corresponde à HIPERuricemia,
Neutropenia Febril a presença de FEBRE e contagem
HIPERfosfatemia e HIPERcalemia. A hipocalce-
absoluta de neutrófilos inferior a 500/mm3 ou a
mia pode ocorrer secundariamente à formação de
1.000/mm3 com previsão de queda em 48 horas.
fosfato de cálcio pela hiperfosfatemia. As conse-
quências são insuficiência renal aguda, arritmias,
convulsões e falência de múltiplos órgãos. Diante
DIA A DIA MÉDICO
de uma suspeita de SLT, devemos realizar algumas
medidas, que são:
As doenças infecciosas são as principais causas de mor-
u Prevenção da insuficiência renal aguda: talidade para esses pacientes, principalmente se tiverem
W Hiper-hidratação. outras comorbidades associadas. Os principais agentes
infecciosos relacionados com a NF são os gram-nega-
W NÃO alcalinizar a urina. tivos entéricos: Escherichia coli, Klebsiella, Enterobacter,
W Monitorar a diurese. Serratia, mas também Pseudomonas aeruginosa, Steno-
trophomonas maltophilia e os anaeróbios.
W Realizar hemodiálise precocemente, se hou-
ver indicação.
Deve-se sempre fazer um rastreio infeccioso e
solicitar hemograma, proteína C reativa, urina 1,
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Diagnóstico precoce e principais cânceres infantis Cap. 12
Tumores Manifestações
Causas Leucemias Linfomas
do SNC clínicas
Predisposição
Linfoide Hodgkin Massas palpáveis
genética
Alterações
cutâneas:
Equimoses e
petéquias
Dor óssea
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Linfonodos
de padrão não
reacional e em
maior quantidade
Febre prolongada
Complicações
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Diagnóstico precoce e principais cânceres infantis Oncologia Pediátrica
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Howard SC, Jones DP, Pui CH. The tumor lysis syndrome.
N Engl J Med. 2011; 364(19): 1844-54.
Howlader N, Noone AM, Krapcho M, Miller D, Bishop K, Kosary
CL, et al. (eds). SEER cancer statistics review, 1975-2014
[Internet]. Bethesda (MD): National Cancer Institute; 2017
[acesso em 07 mar 2023]. Disponível em: https://seer.cancer.
gov/archive/csr/1975_2014/.
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva
(BR). Diagnóstico precoce do câncer na criança e no adoles-
cente / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da
Silva, Instituto Ronald McDonald. 2. ed. rev. ampl. 3. reimp.
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Rio de Janeiro: INCA; 2014.
Siegel RL, Miller KD, Jemal A. Cancer statistics, 2017. CA
Cancer J Clin. 2017; 67(1):7-30.
Sociedade Brasileira de Pediatria. Atuação do pediatra: epi-
demiologia e diagnóstico precoce do câncer pediátrico.
Documento Científico. Rio de Janeiro: SBP; mar 2017.
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Diagnóstico precoce e principais cânceres infantis Cap. 12
QUESTÕES COMENTADAS
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Questão 4
Questão 2
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FAMEMA – SP - 2021) Com relação (INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES DO ESTADO DE
às neoplasias da infância, assinale a opção correta. MINAS GERAIS – MG – 2021) Leucemia é o câncer que
tem origem na medula óssea, onde são produzidas
⮦ As neoplasias da infância constituem a principal as células do sangue. Sobre a leucemia, assinale a
causa de morte por doença nas regiões Norte e alternativa INCORRETA:
Nordeste do Brasil.
⮧ As leucemias e os linfomas constituem os tipos ⮦ A leucemia mieloide crônica representa 75%
mais frequentes de neoplasias da infância no dos casos na faixa etária pediátrica e com pico
Brasil e no mundo. entre 2 e 5 anos.
⮨ A síndrome de lise tumoral pode manifestar-se ⮧ A anemia costuma ser mais intensa nos casos
antes do início do tratamento oncológico. de LMA, inclusive já manifestam com insuficiên-
⮩ O uso da solução de gluconato de cálcio é reco- cia cardíaca ao diagnóstico.
mendado durante a abordagem da síndrome de
⮨ A confirmação do diagnóstico ocorre pelo mie-
lise tumoral, para evitar hipocalcemia.
lograma, pela presença de mais de 20-30% de
blastos de morfologia homogênea.
Questão 3
⮩ O transplante de medula, com doador HLA com-
(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BELO HORIZONTE – MG – 2021) patível, é o tratamento de escolha na leucemia
Sobre as leucemias da infância e adolescência, é mieloide aguda após a indução de remissão
correto afirmar: inicial.
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urina da criança avermelhada nas últimas semanas.
Para esse caso, a primeira suspeita diagnóstica a Questão 8
ser investigada consiste em:
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – PI – 2021) Criança do
⮦ Tumor de Wilms. sexo feminino, pré-escolar, quatro anos, há cerca de
⮧ Linfoma não Hodgkin tipo Burkitt. 2 meses com dificuldade de deambular e dor prin-
⮨ Neuroblastoma. cipalmente nos membros inferiores. Nas últimas
semanas vem apresentando febre baixa, intermi-
⮩ Leucemia linfoide aguda.
te, piora das dores articulares, palidez e episódios
⮪ Meduloblastoma. de sangramento nasal. Exame físico: hipocorada;
equimoses difusas em membros; linfadenomegalia
Questão 7
cervical e inguinal; hepatoesplenomegalia. A hipóte-
se diagnóstica e o exame complementar indicados
(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP – 2021) Uma inicialmente são:
paciente de seis anos de idade, com diagnóstico de
leucemia, realizou a última quimioterapia há oito dias ⮦ Leucemia / hemograma completo.
e foi levada ao serviço de emergência com história ⮧ Purpura trombocitopênica idiopática / coagu-
de febre aferida e queda do estado geral há um dia. lograma.
Ao exame, encontrava-se em regular estado geral,
⮨ Neuroblastoma metastático / cintilografia óssea.
descorada, afebril, sonolenta, mas respondendo a
estímulo verbal, com MV presente bilateralmente, ⮩ Deficiência de vitamina C / dosagem de ácido
sem ruídos adventícios, FR de 38 ipm, sat. de O2 ascórbico.
de 96% em ar ambiente, BRNF em dois tempos, ⮪ Artrite reumatóide juvenil / pesquisa de anticor-
sem sopros, FC de 140 bpm, PA de 90 x 60 mmHg, po antinuclear.
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Diagnóstico precoce e principais cânceres infantis Cap. 12
Questão 9
⮦ Ceftriaxona.
⮧ Cefalexina.
⮨ Amoxicilina.
⮩ Sulfametoxazol+trimetoprima.
⮪ Piperacilina+tazobactam.
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Questão 10
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Diagnóstico precoce e principais cânceres infantis Oncologia Pediátrica
GABARITO E COMENTÁRIOS
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seu conteúdo na circulação. A tríade clássica dessa
Alternativa C: INCORRETA. As infecções de vias aé- síndrome inclui hiperuricemia, hiperfosfatemia e hi-
reas superiores normalmente são acompanhadas perpotassemia. As manifestações dessa síndrome
por adenopatia cervical, mas não apresentam he- geralmente aparecem 12 a 72 horas após o início
patoesplenomegalia em geral. da terapia citotóxica, embora possam ocorrer antes
Alternativa D: INCORRETA. Na doença da arranhadura do início do tratamento. É fundamental seu reco-
do gato a linfadenopatia é regional (e não genera- nhecimento, pois é uma condição prevenível, que
lizada). Os linfonodos aumentados aparecem pró- ocorre rapidamente e que pode levar o paciente a
ximos ao local da inoculação, cerca de duas sema- óbito. Ela ocorre principalmente em pacientes com
nas (variação de 7 a 60 dias) após o organismo ser tumores de alta fração de proliferação, naquelas
inoculado na pele. com massas volumosas ou muito disseminadas
e nos tumores sensíveis a terapia citotóxica. Os
✔ resposta: A sinais e sintomas da síndrome de lise tumoral in-
cluem dor abdominal, sensação de plenitude, dor
lombar, náusea, vômitos, diarreia, desidratação, te-
Questão 2 dificuldade:
tania, insuficiência cardíaca, disritmias cardíacas,
Alternativa A: INCORRETA. Na criança, o câncer com- letargia, hematúria, convulsões, alteração do nível
preende de 0,5 a 3% de todas as neoplasias ma- de consciência e possível morte súbita.
lignas, estimando-se, no mundo, incidência anual Alternativa D: INCORRETA. O melhor tratamento é a
de 200.000 casos. As regiões Sudeste e Nordeste prevenção, utilizando hidratação vigorosa e medi-
apresentam os maiores números de casos, segui- camentos que reduzam o nível de ácido úrico, além
das pelas regiões Sul, Centro-Oeste e Norte. da correção dos distúrbios metabólicos associados.
Alternativa B: INCORRETA. As leucemias são as neo- Embora o uso de bicarbonato de sódio para alcalini-
plasias mais comuns da infância, correspondendo zar a urina seja historicamente recomendado, não
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Diagnóstico precoce e principais cânceres infantis Cap. 12
há clara evidência demonstrando seu benefício. Não de ser importante para a diferenciação do tipo da
há qualquer menção ao uso do gluconato de cálcio. linhagem da leucemia, se mieloide (LMA) ou linfoi-
de (LLA), o diagnóstico é também de grande im-
✔ resposta: C
portância para identificar a leucemia bifenotípica
aguda (BAL). Questão pede a alternativa incorreta.
Questão 3 dificuldade:
Alternativa A: INCORRETA. As leucemias ocupam lu-
Y Dica do professor: As leucemias representam o gar de destaque na incidência de doenças malig-
tipo mais comum de câncer da criança e do ado- nas, sendo predominantemente aguda (95% a 98%).
lescente, sendo que as formas agudas da doença Entre essas, as linfoides respondem por 70% a 80%
correspondem a cerca de 97% dos casos. O tipo dos casos. Já nas leucemias crônicas, apenas a
mais comum de leucemia na criança e no adoles- mieloide se manifesta em crianças e adolescentes.
cente é a linfoide aguda. A leucemia mieloide aguda Alternativa B: CORRETA. Na LMA, a medula óssea e
é mais comum no adulto. o sangue periférico são principalmente caracteri-
Alternativa A: INCORRETA. A Leucemia Linfoide Aguda zados por leucocitose com predomínio de células
(LLA) corresponde à maioria dos casos de leucemia imaturas, mormente os blastos. Assim que as cé-
aguda na infância e adolescência. lulas imaturas se acumulam na medula óssea, elas
substituem as células hematopoiéticas normais,
Alternativa B: INCORRETA. Para a confirmação do
resultando numa insuficiência funcional da medula
diagnóstico, na maioria das vezes, deve ser reali-
óssea e, consequentemente, sangramento, anemia
zada pelo mielograma (exame muito importante).
e infecção.
Este exame permite a identificação correta do tipo
de leucemia pela análise da morfologia e citoquí- Alternativa C: CORRETA. Na leucemia mielomonocítica
mica das células, pelas características imunofeno- juvenil, o mielograma nunca será conclusivo para
típicas e moleculares. o diagnóstico. Apenas a associação dos achados
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Alternativa C: CORRETA. O diagnóstico da LLA fun- clínicos (principalmente a hepato/esplenomegalia
damenta-se na demonstração de mais de 25% de volumosa, a leucocitose com monocitose, e o desvio
linfoblastos na medula óssea. escalonado) juntamente com a medula hipercelular
com menos de 20% de blastos permitirá a hipótese
Alternativa D: INCORRETA. O líquor deve ser realizado e a complementação diagnóstica.
ao diagnóstico para avaliar infiltração do SNC pelas
células neoplásicas. Alternativa D: CORRETA. O uso de transplantes me-
dulares nas crianças com LMA estaria reservado
✔ resposta: C aos casos com recidiva ou àqueles sabidamente
portadores de pior prognóstico, geralmente definido
Questão 4 dificuldade: pela citogenética ao diagnóstico ou por verificação
de doença residual mínima, detectada por métodos
Y Dica do professor: As leucemias agudas caracte- imunológicos ou de biologia molecular, durante o
rizam-se pela proliferação clonal e pelo bloqueio seguimento do paciente.
maturativo das células hematopoéticas, com subs-
✔ resposta: A
tituição difusa da medula óssea por células neo-
plásicas. A leucemia mieloide aguda (LMA) é um
grupo heterogêneo de doenças clonais do tecido Questão 5 dificuldade:
hematopoético, que acomete predominantemente
idosos acima de 60 anos de idade. A LMA apresen- Y Dica do professor: A Síndrome de Lise Tumoral é
ta 8 subtipos distintos morfologicamente: LMA M0 caracterizada por manifestações clínicas resultantes
a M7. Os métodos diagnósticos para identificação da destruição maciça de células malignas. Geral-
da LMA e classificação dos subtipos são baseados mente ocorre após início da terapêutica com agen-
em critérios morfológicos, citoquímicos e de imuno- tes quimioterápicos citotóxicos, entretanto, pode
fenotipagem, acrescidos de análise genética. Além surgir espontaneamente. Essa síndrome acontece
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Diagnóstico precoce e principais cânceres infantis Oncologia Pediátrica
quando as células neoplásicas são destruídas e o permite a avaliação da veia cava inferior. Existem
seu conteúdo intracelular é liberado na circulação 2 abordagens terapêuticas possíveis para o Tumor
sanguínea, especialmente potássio, fósforo e áci- de Wilms: cirurgia seguida de quimioterapia, ou qui-
dos nucleicos. Essa condição caracteriza-se como mioterapia seguida de cirurgia.
emergência oncológica por promover sobrecarga de ✔ resposta: A
excreção podendo gerar lesão renal aguda de modo
a aumentar a morbimortalidade dos pacientes onco-
lógicos. A Síndrome de Lise Tumoral caracteriza-se Questão 7 dificuldade:
clinicamente por hiperfosfatemia, hipocalcemia,
hiperuricemia, hipercalemia e insuficiência renal Y Dica do professor: O paciente em questão é imuno-
aguda, frequentemente oligúrica. Seu diagnóstico comprometido e vem apresentando o que parece ser
é clínico-laboratorial. Na forma laboratorial, o diag- um quadro infeccioso com rápida piora do estado
nóstico é feito pelos Critérios de Cairo e Bishop. O geral. Pelas características clínicas do enunciado,
paciente deve ter pelo menos 2 dos seguintes cri- podemos deduzir que estamos diante de um quadro
térios: aumento de ácido úrico (> 8 mg/dL ou > 25% de sepse evoluindo para choque séptico. Já encon-
do valor basal), fósforo (> 4,5 mg/dL ou > 25% do tramos um rebaixamento do nível de consciência
valor basal ou > 6,5 mEq/L em crianças), potássio e taquicardia. É importante o reconhecimento do
(> 6 mEq/L ou > 25% do valor basal) ou queda do choque antes da hipotensão, para que seja reverti-
cálcio iônico (< 7 mg/dL ou < 25% do valo basal. do o mais rápido possível.
Na forma clínica ocorre também diminuição da Alternativa A: INCORRETA. Não devemos aguardar
depuração da creatinina, convulsão, hipocalcemia exames para agir, o paciente precisa ficar internado
sintomática, arritmia cardíaca ou morte. e receber cuidados o quanto antes.
Alternativa B: INCORRETA. O paciente necessita de
✔ resposta: C
expansão volêmica e não pode aguardar exames.
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Alternativa C: CORRETA. Antes que acabe a primeira
Questão 6 dificuldade: hora devemos realizar a expansão volêmica e iniciar
antibiótico de largo espectro.
Y Dica do professor: O Tumor de Wilms é frequente- Alternativa D: INCORRETA. Não devemos aguardar.
mente cobrado em provas de residência, por isso
Alternativa E: INCORRETA. Iniciamos as medidas de
fique atento a este diagnóstico. Ele é um tumor ori-
ressuscitação volêmica com 20 mL/kg.
ginado a partir dos tecidos embrionários do rim e
contém 3 elementos básicos: blastoma, epitélio e ✔ resposta: C
estroma. É a segunda neoplasia sólida abdominal
mais comum em crianças. Pode acometer um ou
Questão 8 dificuldade:
ambos os rins. A idade de maior incidência é entre
os 2 e 5 anos, sendo raro antes dos 6 meses e após Y Dica do professor: O tipo mais comum de leuce-
os 10 anos. Geralmente a criança se apresenta com mia na infância é a leucemia linfoblástica aguda. O
uma massa abdominal dura e que não atravessa a quadro clínico geralmente inclui febre, dor óssea,
linha média. Ela pode ser assintomática ou levar a sangramentos e presença de linfonodomegalias. No
sintomas como dor abdominal, mal-estar, hema- hemograma podemos observar anemia, plaqueto-
túria macroscópica e hipertensão. Muitas vezes, a penia e presença de blastos leucêmicos.
mãe percebe a massa durante o banho da criança.
Suspeita-se do diagnóstico pelo achado clínico de
✔ resposta: A
massa abdominal em uma criança, na maior parte
das vezes assintomática. Pode haver hematúria, Questão 9 dificuldade:
policitemia e trombocitose. A Ultrassonografia é
o exame inicial e demonstra a localização renal Y Dica do professor: Paciente pediátrico em tratamen-
do tumor, o que o diferencia do neuroblastoma e to quimioterápico para uma leucemia, apresenta-se
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Diagnóstico precoce e principais cânceres infantis Cap. 12
Questão 10 dificuldade:
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nas neoplasias malignas (como marcador do turno-
ver celular), miocardites, distrofia muscular, mono-
nucleose infecciosa, hepatopatias, pneumopatias,
anemia hemolítica, pancreatite, falência renal, uso
de determinados medicamentos (anestésicos, as-
pirina, fluoretos), entre outras causas.
✔ resposta: B
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Fixe seus conhecimentos!
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