Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
para provas
Cardiologia vol. 1
SIC CLÍNICA
MÉDICA
Autoria e colaboração
3
Este capítulo aborda o tratamento da hipertensão arte-
rial sistêmica. Os valores pressóricos, a presença de
lesão em órgãos-alvo e os fatores de risco associados a
doenças cardiovasculares são fundamentais na decisão
da melhor terapêutica. Medidas não medicamentosas
devem ser inicialmente estimuladas nesses pacientes;
entre elas, restrição de sal, controle do peso, restrição de
álcool, restrição ao tabagismo e atividade física. É preciso
atentar-se sempre aos estágios da hipertensão arterial
Hipertensão
sistêmica. Para o estágio 1 com risco cardiovascular baixo
ou moderado, inicia-se monoterapia, sendo boas opções
os diuréticos tiazídicos, os inibidores da enzima conver-
arterial sistêmica
sora da angiotensina e os bloqueadores dos canais de
cálcio. Para o estágio 1 com risco cardiovascular alto e
estágios 2 e 3, tem-se preconizado a associação de 2 dro-
– tratamento
gas de classes diferentes e em baixas doses. A associação
de anti-hipertensivos deve seguir a lógica de não com-
binar medicamentos com mecanismos de ação similares,
exceto a associação de diuréticos tiazídicos ou de alça a
diuréticos poupadores de potássio. Aqueles que aderem
ao tratamento com esquema de 3 drogas otimizadas sem
controle constituem hipertensão resistente. A 4ª droga
acrescentada para esses casos deve ser espironolactona
seguida de simpatolíticos centrais e betabloqueadores.
46 sic cardiologia
1. Tratamento
Na prática clínica, a estratificação do risco cardiovascular (CV) no pa-
ciente hipertenso pode basear-se em 2 estratégias diferentes. Na pri-
meira, o objetivo da avaliação é determinar o risco global diretamente
relacionado à hipertensão. Nesse caso, a classificação do risco depende
dos níveis da Pressão Arterial (PA), dos fatores de risco associados, das
lesões em órgãos-alvo e da presença de doença cardiovascular (DCV)
ou doença renal. Na 2ª estratégia, o objetivo é determinar o risco de
um indivíduo desenvolver DCV em geral nos próximos 10 anos. Embora
essa forma de avaliação não seja específica para o paciente hipertenso,
pois pode ser realizada em qualquer indivíduo entre 30 e 74 anos, vale
ressaltar que a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é o principal fa-
tor de risco CV. A partir da avaliação do risco CV, adotam-se estraté-
gias terapêuticas e metas pressóricas diferentes para cada paciente,
de acordo com seu risco individualizado, como descrito na Tabela 1 e na
Figura 1. Ainda não existe uma forma validada no Brasil de avaliação
do risco CV. Além disso, algumas mulheres jovens tendem a uma esti-
mativa de risco mais baixa do que a real, e homens mais idosos são ge-
ralmente identificados como de alto risco, mesmo sem fatores de risco
relevantes. Assim, a utilização de mais de 1 forma de classificação per-
mite uma melhor compreensão do risco CV no paciente hipertenso.
Inicia-se sempre o tratamento com medidas não farmacológicas, como
orientação dietética (dieta DASH – Dietary Approaches to Stop Hyper-
tension) e estímulo à atividade física. Essas modificações nos hábitos
de vida são mais eficientes em se tratando de casos leves e moderados.
O objetivo do tratamento farmacológico da HAS é, prioritariamente,
reduzir a morbidade e a mortalidade por DCVs, quando as medidas não
farmacológicas não surtem efeito ou quando o uso de medicação se faz
necessário desde o início do diagnóstico.
HAS HAS
HAS
PAS = 130 estágio 1 estágio 2
estágio 3
a 139 ou PAS = 140 PAS = 160
PAS ≥180
PAD = 85 a 159 ou a 179 ou
ou PAD
a 89 PAD = 90 PAD = 100
≥110
a 99 a 109
Sem fator Sem risco Risco mode-
Risco baixo Risco alto
de risco adicional rado
Presença de
LOA, DCV, Risco alto Risco alto Risco alto Risco alto
DRC ou DM
Tabela 2 - Recomendações para início de terapia anti-hipertensiva: intervenções no estilo de vida e terapia farmacológica
Abrangências Níveis de
Situações Recomendações Classes
(medida casual) evidência
Aguardar 3 a 6 meses,
Hipertensos estágio 1 e risco
pelo efeito de interven- IIa B
CV moderado ou baixo
ções no estilo de vida
- Insuficiência cardíaca;
- Nefropatia;
- Retinopatia hipertensiva;
4
Este capítulo trata das emergências hipertensivas. É pri-
mordial, aqui, ter bem clara a diferença entre urgência
e emergência hipertensiva. As urgências hipertensivas
caracterizam-se por níveis pressóricos elevados (PAS
>200mmHg e/ou PAD >120mmHg), sem sinais de lesão de
órgãos-alvo ou piora de lesão prévia. Drogas orais podem
ser realizadas, como os benzodiazepínicos e analgésicos
para controle de fatores desencadeantes da elevação da
pressão arterial, como ansiedade ou dor, ou anti-hiper-
tensivos, como os inibidores da enzima conversora da
Emergências
angiotensina caso a pressão arterial se mantenha ele-
vada. Já nas emergências, é obrigatória a presença de
sofrimento tecidual de órgãos-alvo, com risco iminente
hipertensivas
de vida, não obrigatoriamente associado a altos níveis
pressóricos. O tratamento indicado é a infusão de drogas
intravenosas, como o nitroprussiato de sódio. Torna-se
fundamental, aqui, que o médico consiga diferenciar as
principais causas de emergência hipertensiva, ficando
atento aos seguintes achados, rotineiros em provas de
concursos médicos: alterações da consciência, déficits
neurológicos e papiledema indicativos de encefalopa-
tia hipertensiva; presença de papiledema e hemorragias
isoladas indicativas de hipertensão acelerada maligna;
dor isquêmica com alterações no eletrocardiograma que
sugiram síndrome coronariana aguda; dor torácica dor-
sal, assimetria de pulsos e alargamentos do mediastino
indicativos de dissecção aórtica; ou congestão pulmonar,
B3 e hipóxia sugestivos de edema agudo de pulmão. Uma
vez diagnosticada a causa, a conduta dirigida deverá
ser feita, porém isso será visto com mais detalhes nos
capítulos em que cada uma dessas doenças aparece
separadamente.
66 sic cardiologia
1. Definição
As emergências caracterizam-se pela presença de sofrimento tecidual
de órgãos-alvo, com risco iminente de vida em geral, mas não neces-
sariamente associado a altos níveis pressóricos. Frequentemente, os
valores pressóricos encontrados são significativamente elevados, mas
não são eles que definem a condição de emergência, e sim a lesão em
órgão-alvo e o risco iminente de vida. É o caso da encefalopatia hiper-
tensiva, da cardiopatia isquêmica, do edema agudo de pulmão, da dis-
secção de aorta e do Acidente Vascular Encefálico (AVE), situações de
gravidade clínica acentuada. O tratamento deve ocorrer no ambiente
da sala de emergência ou da terapia intensiva, com a infusão de drogas
intravenosas, como o nitroprussiato de sódio.
Emergências hipertensivas
Neurológicas
- Encefalopatia hipertensiva;
- Hemorragia intraparenquimatosa;
- Hemorragia subaracnóidea.
Cardiovasculares
- Dissecção aguda de aorta;
Associadas a gestação
- Eclâmpsia;
Urgências hipertensivas
Hipertensão associada a
- Insuficiência coronariana crônica;
- Insuficiência cardíaca;
- Aneurisma de aorta;
- Glomerulonefrites agudas;
- Pré-eclâmpsia.
sintomáticos com hipertensão grave (PAS ≥180 e/ou PAD ≥120), muitas
vezes com cefaleia, mas sem lesão de órgão-alvo aguda. As drogas po- Pergunta
dem ser administradas pela via oral, e utilizam-se benzodiazepínicos
para ansiedade e analgésicos para dor. Caso não haja controle da PA
2015 - UERJ
com essas medidas, podem-se utilizar bloqueadores dos canais de cál-
1. João, de 72 anos, hipertenso de
cio, betabloqueadores, diuréticos de alça e inibidores da enzima con-
longa data, em uso irregular de
versora de angiotensina.
medicação, traz seu amigo Car-
A seguir, um breve relato a respeito de algumas patologias que carac- los à unidade de Saúde da Família
terizam as emergências hipertensivas. onde é cadastrado. Carlos, de 70
anos, apresenta náuseas, tonturas,
2. Dissecção aguda de aorta cefaleia intensa, dificuldade de
fala, fraqueza no dimídio direito
A dissecção de aorta é classificada (Stanford) em tipo A, se envolve a e PA = 170x160mmHg. Enquanto
aorta ascendente, e tipo B, se não a envolve. Existe outra classificação Carlos é consultado, a enfermeira
(DeBakey), que considera o acometimento da aorta ascendente e des- avalia João. Ela relata ao médico
cendente (tipo I), ascendente (tipo II) e exclusivamente da descendente que ele está assintomático, ape-
(tipo III). Em geral, as dissecções proximais (tipo A) acontecem em in- sar da PA = 180x110mmHg. Sobre
divíduos com anormalidades do colágeno (por exemplo, síndrome de as impressões diagnósticas e a
Marfan), e as dissecções distais (tipo B), naqueles com Hipertensão Ar- conduta relacionada a esses pa-
terial Sistêmica (HAS) de longa data. As dissecções tipo A respondem cientes, é correto afirmar que:
melhor ao tratamento cirúrgico, enquanto as do tipo B, ao tratamento
clínico, embora ambas devam ser estabilizadas com tratamento clínico a) João apresenta elevação da PA, e
emergencial. Carlos uma emergência hiperten-
siva: João deverá ser submetido a
redução rápida da PA
b) Carlos e João apresentam emer-
gência hipertensiva e devem ser
acompanhados na própria uni-
dade com anti-hipertensivos orais
c) João apresenta elevação da PA, e
Carlos, emergência hipertensiva,
devendo ser transferido rapida-
mente para Unidade de Pronto
Atendimento
d) Carlos e João apresentam emer-
gência hipertensiva e devem ser
transferidos para Unidade de
Pronto Atendimento, além de me-
Figura 1 - Classificação de Stanford: (A) ascendente e (B) descendente; classificação
dicados com drogas parenterais
de DeBakey: tipos I, II e III Resposta no final do capítulo
QUESTÕES E COMENTÁRIOS
Questões
Cardiologia - R3 Questões
Cardiologia
Cardiologia - R3 Comentários
Cardiologia