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ATENDIMENTO DE ARRITMIAS CARDÍACAS NOS


PROCEDIMENTOS DE HEMODINÂMICA

Marlene de Fátima dos Santos*


Rita de Cássia Fernandes Grassia**

1. Introdução

As arritmias são eventos adversos frequentes em Medicina Intensiva, e


contribui significativamente para morbidade e mortalidade. Sua ocorrência varia
de acordo com a patologia cardíaca, especificamente no caso de pacientes
submetidos aos procedimentos de hemodinâmica, sua prevalência e gravidade
estão relacionadas as condições clínicas prévias atuais e consequente
necessidade de abordagem terapêutica. (1)
As arritmias cardíacas ou ritmos anormais do coração são distúrbios
cardíacos ocasionados por alterações na formação e/ou condução do impulso
elétrico, através do tecido do miocárdio que podem causar sérios riscos à vida,
assim também modificar a origem e/ou a difusão fisiológica do estimulo elétrico
do coração, motivo pelo qual têm no eletrocardiograma o método de escolha
para seu estudo e diagnóstico. (2)
Os distúrbios cardíacos são caracterizados pela alteração da frequência
(3)
ou ritmo dos batimentos cardíacos e podem ocorrer por várias razões.
As unidades de hemodinâmica (UHDs) são recentes, tanto como um
serviço de apoio para diversas áreas da medicina, e também para a atuação do
enfermeiro. Além disso, são unidades em constante avanço científico e
tecnológico, o que tem contribuído para a complexidade dos processos de
trabalho nesse setor de saúde.

___________________________
*Enfermeira. Discente do Curso de Especialização em Enfermagem de Cardiologia e Hemodinâmica da
Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein (FEHIAE).

**Enfermeira. Doutorada na Escola de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).


Mestre de Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Docente da
FEHIAE.
2

Para atender as demandas dos serviços de hemodinâmica, tem se


exigido do enfermeiro um perfil motivado a aperfeiçoar conhecimentos e
habilidades para enfrentar constantes mudanças. (4)

O enfermeiro que trabalha em UHD desenvolve atividades assistenciais,


gerenciais, de ensino e de pesquisa. Faz parte de sua atuação o cuidado direto
ao paciente, sendo responsável pela assistência integral. Durante a realização
dos procedimentos, o enfermeiro deve estar atento a possíveis intercorrências.
Posteriormente às intervenções, fazem-se as orientações e o encaminhamento
dos pacientes para a recuperação. O enfermeiro desenvolve funções de
liderança, gerenciamento de recursos humanos e materiais, o que exige
tomada de decisões rápidas e precisas. (4)

Considerando-se as diferentes funções que são desenvolvidas em um


serviço de hemodinâmica e angiografia, exige-se do enfermeiro especialista em
hemodinâmica versatilidade para o desempenho de suas funções. À vista de
qualquer intercorrência, a qualquer momento do atendimento, a presença do
enfermeiro é indispensável. Dentre as funções desenvolvidas, algumas exigem
tomadas de decisão rápida e precisa. Espera-se que esse profissional seja um
líder, com capacidade gerencial de recursos humanos e materiais, além de
conhecimento técnico-científico. A responsabilidade do enfermeiro especialista
em hemodinâmica em gerenciar a equipe, muitas vezes não se limita somente
à enfermagem, mas também a outros profissionais como equipes da radiologia,
médica, secretárias, higiene e limpeza e da nutrição e dietética. Outro grande
desafio é como manter equipe motivada e atualizada e ao mesmo tempo
gerenciar os recursos materiais. Há necessidade de se conhecer os
equipamentos que são de alto custo e de alta complexidade operacional, e os
materiais que são igualmente de alto custo, de alta radioatividade, de modelos,
formas e tamanhos variados e que fazem parte do cotidiano desse profissional.
Existe a necessidade do enfermeiro, que atua em serviços de hemodinâmica e
angiografia ter conhecimento total para administrar esse setor de alta
(5)
complexidade e que se desenvolve rapidamente.
3

É determinante o papel da enfermagem que identifica fatores de risco,


realiza programas de educação em saúde efetivos, visando à promoção,
(6)
proteção e recuperação da saúde da população.

A monitorização do eletrocardiograma (ECG) é usada para monitorar a


frequência cardíaca de um paciente, avaliar os efeitos de uma doença ou lesão
sobre a função cardíaca, avaliar a função do marca-passo, avaliar a resposta a
medicações (como antiarrítmicos) e/ou obter um registro basal antes, durante e
(7)
depois de um procedimento médico.
Através da monitorização do ECG pode se proporcionar diversas
informações a respeito das condições do paciente como: a orientação do
coração no tórax, distúrbios de condução, efeitos elétricos de medicação e
(7)
eletrólitos, a massa do músculo cardíaco e a presença de dano isquêmico.

O enfermeiro através do monitoramento do traçado do ECG deverá ser


competente, para saber identificar os principais ritmos cardíacos anormais do
paciente na sala de procedimento, saber a história detalhada do paciente,
investigar prévias de débito cardíaco diminuído, como síncope, fadiga,
desconforto torácico, palpitações, dispnéia e sudorese. Cada sintoma dever ser
avaliado em relação à duração e intensidade. É importante monitorizar e anotar
os sinais vitais continuamente, principalmente o ritmo cardíaco, documentar
arritmias com o ECG de 12 derivações para rastrear a arritmia, administrar
antiarrítmicos como prescrito, auxiliar na cardioversão e desfibrilação elétrica,
fornecer oxigênio, monitorizar os pulsos periféricos, a cor e a temperatura das
extremidades.

2. Objetivo

Identificar as principais arritmias cardíacas durante os procedimentos de


hemodinâmica com base em dados na literatura.

3. Método

3.1. Tipo de estudo


4

Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo em perspectiva


quantitativa, realizado, através da revisão de literatura nacional.
A revisão bibliográfica de literatura ajuda nas fundações para um estudo
significativo para a enfermagem, sendo uma tarefa inicial crucial. A revisão de
literatura proporciona aos leitores os antecedentes para a compreensão do
conhecimento atual sobre um tópico e esclarece a importância do novo estudo.
(8)

As habilidades envolvidas na revisão de literatura de pesquisa e na


preparação de uma revisão por escrito, no entanto, são necessárias tanto para
os produtores quanto para os consumidores da pesquisa em relatórios de
pesquisa em enfermagem. (8)

3.2. Materiais

Foram incluídos periódicos publicados no período compreendido entre


2000 a 2011, nas Bases de Dados de Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF),
em livros de cardiologia nas Bibliotecas da Faculdade de enfermagem do
Hospital Israelita Albert Einstein (FEHIAE) e no Centro Latino-Americano e do
Caribe de informações em Ciências da Saúde (BIREME).
Os descritores utilizados foram: arritmias cardíacas, hemodinâmica,
eletrocardiograma, encontram-se Identificados nos Descritores em Ciências da
Saúde (Decs).

3.3. Instrumentos para coleta de dados

Foi elaborado um roteiro semi-estruturado pelos autores da pesquisa, a


saber: dados de identificação do artigo, instituição sede do estudo,
características metodológicas, amostra, resultados e conclusões (Anexo).
5

3.4. Operacionalização da coleta de dados

A coleta de dados ocorreu no decorrer do segundo semestre do ano


letivo após aprovação do projeto pela coordenação de enfermagem.
Após a identificação dos artigos na integra para verificar se atenderiam
aos objetivos do estudo, após a leitura dos artigos e decisão por inclusão no
estudo, foi preenchido o roteiro com os dados da pesquisa.

3.5. Tratamento e apresentação dos resultados

Os resultados de caracterização das publicações identificadas foram


apresentados por meio de estatística descritiva. Após a análise do material,
identificado as categorias temáticas.

4. Resultados e Discussão

Os resultados obtidos ao levantamento bibliográfico dos 14 periódicos


científicos encontrados no idioma de português publicados no período de 2000
a 2011 no banco de dados verificamos a relação das principais complicações
de arritmias que podem ocorrer durante os procedimentos de hemodinâmica.

Tipos de periódicos Nº de periódicos


Registro prospectivo / transversal 3
Artigo descritivo 1
Artigos de revisão e atualização 4
Estudo comparativo e analise 1
Diretrizes 2
Artigo para testes 1
Coleta de dados 2
Total 14
6

Os mecanismos eletrofisiológicos das arritmias cardíacas são


classicamente alinhados em três categorias: distúrbios da formação do
impulso; distúrbios da condução do impulso; e distúrbios simultâneos da
formação e da condução do impulso. (9)
Distúrbios da formação do impulso: essas arritmias podem se originar
em uma única célula ou pequeno grupo de células conectadas anatômica e
eletricamente. A manutenção dessas arritmias requer um foco gerador de
impulsos. A formação anormal do impulso pode ser causada por automatismo
ou por atividade deflagrada. (9)
Distúrbios da condução do impulso – reentrada: a reentrada é o mais
importante, frequente e bem estudado mecanismo causador de arritmias
ventriculares e supraventriculares. Existe reentrada quando o impulso cardíaco,
ao invés de se extinguir ao final da despolarização, encontra um caminho de
tecido excitável (fora do período refratário), que permite que o estímulo inicial
retorne e novamente despolarize o coração total ou parcialmente. (9)
Distúrbios simultâneos da formação e da condução do impulso: nessa
categoria alinham-se as parassístoles, que, em sua forma clássica, são focos
ectópicos/(extra-sístoles) que apresentam despolarização diastólica
(automatismo) e bloqueio de entrada, que protege o foco parassistólico da
supressão pelo ritmo dominante (geralmente sinusal). Contudo, na realidade, o
ritmo dominante é efetivamente capaz de aumentar ou reduzir a freqüência de
disparo do foco parassistólico, caracterizando a chamada parassístole
modulada. (9)
As complicações relacionadas aos procedimentos de hemodinâmica são
os principais limitantes da técnica diagnóstica e terapêutica, e podem variar
desde eventos adversos leves e transitórios até eventos graves, como infarto
do miocárdio (IAM) ou morte. As complicações foram classificadas em nove
categorias, que são: alérgica, isquêmica, vascular, arrítmica, vaso-vagal,
pirogênica, neurológica, embólica e congestiva. Em cada categoria, a
complicação foi graduada conforme sua gravidade:
• Grau leve: intercorrência na sala de exame prontamente resolvida;
• Grau moderado: necessitou observação ou tratamento medicamentoso sem
morbidade significativa e sem retardar a alta – resolvida em até 24 horas;
7

• Grau importante: necessitou internação ou intervenção exigindo tratamento


intensivo ou intervencionista, nem sempre reversível, ou retardou a alta com
morbi-mortalidade significativa ou causou sequela. (10)
As complicações relacionadas a arritmias possuem as seguintes
classificações de gravidades:
Grau leve: taquiarritimia supraventricular (TSV), extrassistolia ventricular
(ESV) ou bradicardia sinusal.
Grau moderado: taquicardia ventricular (TV) ou fibrilação ventricular
(FV), assistolia prolongada.
Grau importante: necessidade de cardioversão elétrica e/ou
marcapasso. (10)

Quanto a cada grau de gravidade foram relevantes as arritmias


estudadas:
As taquicardias supraventriculares apresentam, em geral, complexos
QRS estreitos (<120ms), bem definidos, regulares e semelhantes entre si. A
freqüência cardíaca, em média, encontra-se entre 140 e 180bpm, exceto em
crianças, nas quais a freqüência geralmente ultrapassa 200bpm. Às vezes, os
complexos QRS apresentam-se alargados (>110ms), obrigando o diagnóstico
diferencial com as taquicardias ventriculares. (11)
Na taquicardia por reentrada nodal, a taquicardia supraventricular mais
comum, o nó atrioventricular (AV) apresenta duas vias de condução com
características eletrofisiológicas diferentes. Comumente a taquicardia inicia-se
em decorrência de uma extra-sístole atrial, cujo estímulo é bloqueado na via
rápida e conduzido pela via lenta. A taquicardia se estabelece quando a via
rápida e a via lenta apresentam características funcionais, que permitem a
manutenção do movimento circular. No mecanismo mais comum a via lenta é o
componente anterógrado (condução para os ventrículos) e a via rápida o
retrógrado (condução para os átrios). Raramente, a reentrada no nó AV ocorre
em sentido inverso (incomum), sendo a via rápida responsável pela condução
anterógrada e a via lenta pela retrógrada. (11)
O outro mecanismo comum de taquicardia supraventricular usa pelo
menos uma via de condução atrioventricular acessória no circuito de reentrada.
8

Quando a via apresenta condução bidirecional pode ser facilmente identificada


ao ECG, durante ritmo sinusal, pelo intervalo PR curto e onda delta (síndrome
de Wolff-Parkinson-White). Mas, em torno de 35% dos pacientes, a via
acessória apresenta condução ventrículo-atrial exclusiva, não podendo ser
identificada durante o ritmo sinusal normal. (11)
O tratamento para TSV na reversão das crises pode ser: cardioversão
elétrica em pacientes com instabilidade hemodinâmica; manobras vagais;
adenosina ou verapamil se não houver contra indicação; procainamida,
amiodarona, propafenona, sotalol ou betabloqueadores; nos pacientes com
função ventricular comprometida: digital, amiodarona ou diltiazem; cardioversão
elétrica nos casos de taquicardia juncional automática, taquicardia atrial
automática ou multifocal. (11)
A extra-sístole ventricular apresenta-se como um batimento originado no
ventrículo, precocemente, com pausa pós-extra-sístolica, quando recicla o
intervalo RP. Caso não ocorra modificação no intervalo RR, é chamada de
extra-sístole interpolada. Se possuidora da mesma forma eletrocardiográfica,
deve ser denominada de monomórfica e, se tiver formas diversas, de
polimórfica. De acordo com sua freqüência, pode ser classificada em isolada,
pareada, em salva, bigeminada, trigeminada, quadrigeminada. (12)
A extrassistolia ventricular pode ser também um batimento prematuro de
QRS alargado, geralmente maior que o basal e de duração superior a 120ms.
Normalmente, não é precedido de onda P, porém pode apresentar onda P não
conduzida ou induzir onda P retrógrada menos. A onda T, geralmente, se
apresenta inversa à polaridade principal do QRS. Em sua forma clássica, a
ESV gera captação atrial induzindo pausa compensatória (o intervalo RR que
compreende a ESV é o dobro do anterior), característica nem sempre presente.
(12)

No pós-infarto agudo do miocárdio, a ocorrência de dez ou mais ESVs


em 1 minuto é marcador de risco para morte súbita, e seu valor preditivo é
proporcional à gravidade da cardiopatia subjacente, à função ventricular e à
classe funcional do paciente. (12)
As extra-sístoles podem ou não provocar sintomas. A manifestação de
pré-síncope, síncope ou palpitações taquicárdicas sugere a presença de outras
9

síndromes taquicárdicas associadas. As ES quase nunca merecem tratamento


medicamentoso, a não ser quando muito sintomáticas. Os fatores causais,
(11)
quando identificados, devem ser corrigidos.
O tratamento das ES, como em qualquer outra condição clínica, deve
considerar sempre a relação risco/benefício, devendo o médico procurar
mantê-la no nível mais baixo possível. O risco proveniente do agente
terapêutico potencialmente benéfico deve ser o primeiro ponto a ser
considerado, sendo a pró-arritmia o mais importante. (11)
As taquicardias ventriculares não sustentadas (TVNS) e extras sístoles
ventriculares ocorrem em até 60% dos IAM dentro das primeiras 24 horas. As
taquicardias ventriculares sustentadas são freqüentemente polimórficas nas
primeiras 48 horas e estão associadas a mortalidade de até 20%.
Precocemente, são relacionadas à isquemia, preditivo para recorrência de
arritmias. No entanto, tem associação com disfunção ventricular e pior
prognóstico. Se associadas à instabilidade hemodinâmica, devem ser
cardiovertidas eletricamente. Se estáveis, podem ser tratadas com amiodarona
ou lidocaína. (13)
A bradicardia sinusal tem sua etiologia relacionada a causas intrínsecas
como doença degenerativa do sistema de condução, colagenoses, doença de
Chagas e causas extrínsecas relacionadas, principalmente, ao uso de
medicamentos ou mediadas pelo sistema nervoso autônomo (síncope
neurocardiogênica, distúrbios situacionais). Em geral, a documentação da
relação dos sintomas com a bradicardia pela monitorização eletrocardiográfica
define a conduta na maioria dos casos. (11)
A bradicardia sinusal pode ocorrer principalmente em infartos inferiores,
por reflexo vagal ou mesmo por isquemia do nodo sinusal (irrigado pela
coronária direita em 60% dos casos e circunflexa em 40%). (13)
A principal causa de parada cardiorrespiratória (PCR) é a fibrilação
ventricular (FV). Esse distúrbio o ritmo cardíaco é ocasionado por mecanismo
de reentrada, ocasionando contrações desordenadas e inefetivas das células
cardíacas. É o distúrbio do ritmo cardíaco mais comum nos primeiros dois
minutos de PCR. Evolui, rapidamente, para assistolia, caso não sejam
10

estabelecidas medidas de reanimação rápidas. O único tratamento disponível


para o controle desse distúrbio do ritmo cardíaco é a desfibrilação. (14)
As taquicardias ventriculares (TV) podem ocasionar PCR e devem ser
tratadas como FV. Não existe base científica que comprove a eficácia de
qualquer medicação anti-arrítmica em reverter a FV. As medicações podem ser
utilizadas como auxiliares, facilitadoras para que o estímulo elétrico possa
reverter o ritmo para sinusal. Equivale a dizer que não se deve retardar a
aplicação de choque para a infusão de medicação. (14)
A FV/TV é a modalidade de PCR de melhor prognóstico e, em princípio,
os esforços de ressuscitação devem continuar até que o ritmo deixe de ser
FV/TV (ou porque reverteu para sinusal, ou porque evoluiu para um ritmo
terminal). (14)
A fibrilação ventricular, também está associada à isquemia aguda. Deve
ser tratada imediatamente com desfibrilação elétrica e antiarrítmicos. (13)
A morte súbita decorrente de arritmias malignas, fibrilação ventricular ou
taquicardia ventricular (FV/TV), é importante causa de morbimortalidade,
mesmo em ambiente hospitalar. A freqüência desses eventos, em cerca de 5%
de pacientes internados, levou à criação de unidades especiais e formas de
monitoração para pacientes de maior risco. (15)
Manter uma equipe treinada e preparada para essas situações, melhora
a taxa de sucesso nas tentativas de reversão da morte súbita. Outros fatores
também contribuem para o sucesso: etiologia e mecanismo da parada
cardiorrespiratória, local de ocorrência do evento, presença de testemunhas e
intervalo de tempo para início das manobras de ressuscitação cardiopulmonar.
Porém, a de maior impacto na evolução dos pacientes continua sendo a
desfibrilação precoce da FV/TV sem pulso, avaliada pelo intervalo de tempo
entre o início da FV/TV e o primeiro choque. Em ambiente hospitalar, o
intervalo de tempo entre o início da FV/TV e o primeiro choque é de 60s para
pacientes monitorados em unidades de cuidados intensivos e 300s para os não
monitorados. (15)
A fibrilação atrial e o flutter estão presentes em cerca de 15% e 20% dos
IAM e geralmente são transitórios. Podem estar associados ao infarto atrial,
pericardite e disfunção ventricular. (13)
11

A fibrilação atrial é uma taquiarritmia supraventricular caracterizada por


uma ativação atrial incoordenada. A ativação caótica do átrio tem como
conseqüência uma perda no enchimento do ventrículo, e isso pode ser
responsável por uma perda substancial de até 30 %. Ao eletrocardiograma as
ondas P são substituídas por ondas fibrilatórias, as ondas f, que variam em
amplitude, forma e duração. (16)
Pacientes com fibrilação atrial têm um risco aumentado para eventos
tromboembólicos devido à lentificação do fluxo sanguíneo nos átrios que induz
a formação de trombos. (16)
Bloqueio átrio-ventricular (BAV) pode ocorrer em 5%-15% dos infartos
inferiores, por reflexo vagal ou isquemia do nodo AV (irrigado em 90% dos
casos pela coronária direita e 10% pela circunflexa). Quando o BAV ocorre no
IAM anterior, geralmente, são infartos graves com extensa necrose do sistema
de condução e mortalidade de até 80%. Da mesma forma, bloqueio agudo do
ramo direito com ou sem bloqueio divisional ântero-superior são indicativos de
grande área necrosada, com até 30% de evolução para bloqueio átrio-
ventricular total (BAVT). Dessa maneira, no IAM sugere-se o implante de
marca-passo provisório nos seguintes casos: BAVT, BAV de segundo grau -
mobitz 2, bloqueio alternante de ramo, bloqueio de ramo novo, bloqueio de
ramo com bloqueio fascicular ou BAV1.(13)
A assistolia corresponde à ausência total de qualquer ritmo cardíaco. É a
situação terminal. Evidências cada vez mais contundentes apontam que a
identificação de assistolia deva corresponder ao término dos esforços. Frente
ao seu caráter sombrio, a instituição de manobras de ressuscitação, em
pacientes terminais, que apresentem PCR em assistolia, é, cada vez mais,
considerada fútil. (14)
A principal causa de assistolia é a hipóxia, o que justifica as ofertas de
oxigênio e ventilação efetivas, como prioritárias no atendimento. Existem outras
causas, comuns também para a situação de atividade elétrica sem pulso
(AESP) que devem ser procuradas e corrigidas, se identificadas. No entanto,
deve-se ter presente que, na situação de assistolia, mesmo a correção dessas
causas, geralmente, não implica em resolução da PCR. (14)
12

O suporte medicamentoso deve ser instituído, mesmo que as evidências


a favor não sejam de alto peso científico. Pode-se utilizar o marcapasso
transcutâneo. Só deve ser tentado no início do atendimento, quando se faz o
diagnóstico. Não deve ser utilizado como medida heróica, no decorrer do
atendimento, quando todas as outras medidas já foram instaladas. As
evidências sobre a efetividade do dispositivo, na situação de assistolia são
pobres. (14)
As complicações arrítmicas ocorreram em 0,8% dos casos, sendo que
em metade dos casos a complicação foi importante, necessitando de manobras
de ressuscitação ou cardioversão/desfibrilação elétrica. A disfunção ventricular
esquerda está associada ao aumento do risco de arritmias durante o
cateterismo cardíaco. Já, em outros casos, a incidência de arritmias variou de
0,30% a 1,4%. Embora tenha sido descrito que as bradiarritmias e os distúrbios
de condução aumentem pelo uso de contraste iônico, não foram identificada
incidência elevada desta complicação nos artigos levantados. (10)
Alguns fatores de risco estão associados ao desenvolvimento de
arritmias ou agravamento de sintomas, tais como: idade avançada, sexo
masculino, arritmia ou doenças cardiorrespiratórias prévias, infarto agudo do
miocárdio, cirurgia torácica e pós-operatório, ou transplante cardíaco. A
presença de dor, hipóxia, infecção, sangramento, hipotensão arterial, distúrbios
eletrolíticos e disfunção orgânica, achados estes comuns, acentuam o risco do
desenvolvimento de arritmias. (1)
A desfibrilação é constituída pela aplicação de corrente elétrica contínua,
no tórax, através do coração, em seu maior eixo, cuja finalidade é promover a
despolarização simultânea do maior número possível de células cardíacas.
Espera-se que, como o nó sinusal é o primeiro a se despolarizar, ele assuma o
(14)
comando, quando as células se repolarizarem após a desfibrilação.
Os antiarrítmicos devem ser utilizados como facilitadores, ou seja,
podem ser utilizados na PCR por FV/TV sem pulso, para potencializar o efeito
do desfibrilador. Como medicações isoladas, não há evidências de que sejam
capazes de converter o ritmo para sinusal. (14)
13

Há algumas complicações possíveis na cardioversão elétrica que são:


irritação da pele, queimadura local, bradicardia, taquicardia e fibrilação
ventricular, tromboembolia arterial e complicações relacionadas à anestesia. (16)
A monitorização precisa e a observação constante da resposta
eletrocardiográfica do paciente após a cardioversão elétrica permite a detecção
precoce de outras complicações arrítmicas e intervenção imediata. Além da
presença do anestesista, a providência de material e dispositivos ventilatórios
para o caso de uma intercorrência respiratória fazem parte dos cuidados
dispensados pelo enfermeiro. (16)

5. Conclusão

Foram identificados 14 periódicos científicos publicados no período de


2000 a 2011, nas Bases de Dados de Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF), e
no Centro Latino-Americano e do Caribe de informações em Ciências da Saúde
(BIREME).
As análises dos estudos evidenciaram que o enfermeiro precisa estar
preparado para identificar e interpretar alterações no traçado do exame de
ECG, com base na eletrofisiologia cardíaca, buscando priorizar e agilizar o
atendimento aos pacientes que apresentam qualquer tipo de arritmias na sala
de procedimentos hemodinâmicos.
A atenção e contribuição do enfermeiro dentro da sala de hemodinâmica
são primordiais para que sejam detectadas as arritmias precocemente e
tratadas com prioridade para que não tenham conseqüências irreversíveis ao
paciente e o procedimento termine com sucesso.
14

6. Referências

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Junho 2005 Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/abc/v84n6/a03v84n6.pdf.
16. Nery A, Santoro DC, Vanheusden LMS. Assistência de enfermagem a
paciente com fibrilação atrial. Revista de Enfermagem 2006 Abr; 10 (1):47-53.
16

7. Anexo

Instrumento de coleta de dados

Atendimento de arritmias cardíacas nos procedimentos de


hemodinâmica: revisão bibliográfica

Parte I – Identificação

Título do periódico _________________________________________

Área do periódico _________________________________________


(medicina/engenharia
clínica/farmácia) _________________________________________

Base de dados _________________________________________

Título do artigo
_________________________________________

Nome ___________________________________

_________________________________________

_________________________________________

Autores _________________________________________

Profissão ________________________________

_________________________________________

_________________________________________

País

Idioma

Ano de publicação
17

Parte II – Características metodológicas do estudo

( ) Abordagem quantitativa

( ) Abordagem qualitativa

( ) Abordagem mista

( ) Revisão sistemática de literatura

( ) Revisão narrativa de literatura


2. Tipo de
publicação ( ) Relato de experiência

( ) Relato de caso

( ) Pesquisa de campo descritivo exploratória

( ) Pesquisa de campo correlacional

( ) Outras ___________________________________________

Parte III – Amostra do estudo

3.1 Seleção

( ) Randômica

( ) Conveniência

( ) Outra _____________________________________________________

3.2 Tamanho (N) _______________________________________________

3. Amostra 3.3 Critérios de inclusão/exclusão dos sujeitos na pesquisa

______________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________
18

Parte IV – Resultados e Conclusões

Tratamento estatístico? ( ) Sim ( ) Não


4. Resultados
Qual (is)?

_________________________________________________

Implicações para a prática e recomendação dos autores:


5. Conclusões __________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________

6. Limitações

7. Nível de Evidência

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