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INTRODUÇÃO

As patologias cardiovasculares, dentre as quais a doença arterial coronária


(DAC), têm sido a principal causa de morbidade e mortalidade no Brasil e no
mundo. Conforme informações do DATASUS in Ribeiro et al 2005, representam as
principais causas de morte no Brasil e embora não tenham registros fidedignos
relacionados aos custos causados, oneram consideravelmente o Sistema Único de
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Saúde.
Alguns dos principais fatores de risco para as DACs são as doenças
hipertensivas, diabetes mellitus, tabagismo, hipercolesterolemia, sexo masculino e
história familiar. Pacientes com parentes em primeiro grau com doenças
coronarianas apresentam maiores chances de risco de desenvolver doença arterial
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coronariana.
Dentre as várias modalidades de tratamento para as DACs estão os
dispositivos utilizados em cardiologia intervencionista. A expansão desses
dispositivos tem propiciado múltiplas opções de tratamento para pacientes
portadores da DACs. É freqüente o aumento das intervenções percutâneas paralelas
ao avanço tecnológico e a invasão mínima o que tem propiciado taxas de sucesso
ampliadas e minimizado complicações. 3
A angioplastia coronária transluminal percutânea (ACTP) surgiu na década
de 1970, como uma das opções de tratamento minimamente invasivo para
pacientes com diagnóstico de doença arterial coronária (DAC). Sua meta é
remodelar a placa aterosclerótica de forma que a lesão que obstruía a luz do vaso
coronário se transforme em uma lesão não obstrutiva e estável, evitando dessa
forma uma angina ou infarto agudo do miocárdio (IAM) e prevenindo suas
consequências como a morte cardiovascular. A ACTP pode ser feita em caráter
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eletivo ou de emergência durante o evento de IAM ou angina.
A ACTP pode ser realizada por intermédio de um balão que tem como
mecanismo de ação o alargamento e a ruptura da placa na parede arterial e/ou
implantes de stents, que são próteses metálicas fixadas em um segmento da
artéria coronária onde a lesão se encontra. Existem no mercado dois tipos de
stents, os convencionais e os farmacológicos. A indicação da utilização dos stents
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depende da clínica de cada paciente.
A ACTP é realizada na Unidade de Hemodinâmica, que deve conter
equipamentos como desfibriladores, oxímetros, monitores, polígrafos, acessórios de
anestesia, catéteres e dispositivos; além de material para atendimentos a urgências
e emergências, que permitam uma assistência rápida e eficiente aos pacientes em
estado crítico. Devem compor essa unidade médico cardiologista e
hemodinamicista, enfermeiro especializado em cardiologia e hemodinâmica e
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técnico de enfermagem.
Devem possuir instalação adequada para os procedimentos diagnósticos e
terapêuticos. Nessa unidade os materiais e equipamentos necessários ao
procedimento devem estar em perfeito estado de conservação e funcionamento,
assegurando assim a qualidade da assistência e possibilitando o diagnóstico,
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tratamento e acompanhamento por parte da equipe.
A técnica para realização do procedimento de ACTP consiste na exposição
direta da artéria braquial ou radial, ou punção da artéria femoral por método
percutâneo, sob anestesia local e em alguns procedimentos a anestesia geral
poderá ser utilizada. A escolha da via de acesso a ser empregada deve ser
individualizada, levando-se em conta às características individuais do paciente. O
acesso arterial deve preencher diversos requisitos, entre os quais proporcionar
abordagem à circulação sanguínea de forma rápida, fácil, ser versátil para permitir
a utilização dos materiais e dispositivos utilizados e promover hemostasia eficaz, a
fim de minimizar as complicações neuromusculares. O procedimento ACTP implica
na necessidade constante de monitorização das funções respiratórias,
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cardiovasculares, alteração do nível de consciência, agitação ou dores intensas.
Para a realização do procedimento uma pequena incisão é feita na pele
sobre a artéria, e uma agulha é introduzida através da parede do vaso, um fio guia
é passado por ela, no mesmo vaso. A seguir a agulha é removida, e uma bainha
introdutora hemostática é colocada sobre um fio guia e inserida dentro do vaso. A
seguir o fio guia é retirado da bainha introdutora e o cateter é penetrado no local.
Os catéteres são trocados pela inserção de um fio guia dentro do catéter e pela
inserção do catéter com o fio guia através da bainha introdutora no sistema arterial
até que se atinja a aorta, e consequentemente a artéria coronária obstruída por
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trombos.
A introdução e progressão do cateter com um balão em sua extremidade é
passado sobre o fio guia até culminar exatamente no ponto da obstrução. Nesse
local o balão é insuflado sob pressão, por alguns segundos, esmagando a placa de
ateroma. O ato de inflar e desinflar o balão na artéria coronária pode ser repetido
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diversas vezes até que se obtenha um resultado satisfatório.
A utilização de endopróteses vasculares (stent) se tornou padrão para a
realização e sucesso das intervenções coronárias percutâneas. Os stents
coronarianos possuem um sistema moderno de fixação, que são implantados na
região da artéria obstruída, aumentando a luz da artéria coronária. Neste caso,
após uma ACTP, a internação hospitalar em Unidade de Terapia Intensiva é
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indicada, no intuito de monitorar possíveis complicações tardias.
Durante a ACTP e o implante do stent podem ocorrer complicações, tais
como: arritmias cardíacas, infartos do miocárdio, paradas cardiorrespiratórias,
rompimentos de artérias, reações alérgicas, reações vaso vagais e nefropatias
devido ao uso de contraste radiológico. Além disso, o paciente entra em contato
com novas situações como movimentos, sons e experiências, as quais podem ser
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interpretadas por ele como ameaçadoras a sua vida.
A complexidade descrita relacionada ao procedimento, junto ao avanço
tecnológico do setor e dos materiais utilizados, torna necessário a presença de um
enfermeiro líder, qualificado, que atue em equipe e que singularize junto a equipe
de enfermagem a assistência prestada no tratamento em ACTP.
Para tanto, este estudo buscou identificar junto à literatura estudos da
atuação da equipe de enfermagem que embasem cientificamente o cuidado na
Angioplastia Coronária Transluminal Percutânea.

METODOLOGIA

Estudo descritivo e exploratório realizado através da revisão integrativa da


literatura.
Para a seleção dos artigos preocupou-se em pesquisar a produção literária
relacionada entre a atuação de enfermagem nas unidades de hemodinâmica,
elaborando-se para tanto a seguinte questão norteadora do estudo: como se dá o
cuidado de enfermagem na Angioplastia Coronária Transluminal Percutânea?
A base de dados utilizada foi o Medical Literature Analysis and Retrieval
System on line (MEDLINE) e Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde (LILACS), sendo definidos para a busca, de acordo com o catálogo da
Bireme os seguintes descritores: Angioplastia Coronária Transluminal Percutânea e
Papel do Profissional de Enfermagem.
Como critérios de inclusão, definiu-se contemplar publicações no período de
1997 a 2009, nos idiomas inglês e português, que respondessem a pergunta da
pesquisa. Foram inclusos os artigos encontrados na íntegra.
Dos 20 artigos encontrados, após análise e leitura exaustiva dos títulos e
resumos, quatro responderam aos nossos critérios de inclusão, compondo nossa
amostra,
Os quatro artigos selecionados foram lidos na íntegra e analisados com o
auxílio de um instrumento de coleta de dados bibliográficos, proposto por Ursi em
2005, que contempla dados relacionados à identificação de autoria, ano e periódico
de publicação, delineamento metodológico, intervenção estudada, principais
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resultados e conclusões encontrados.
A análise da classificação das evidências do estudo, será fundamentada na
proposta de Stetler (1998), que classifica seis níveis de evidência, sendo: Nível I,
estudos relacionados a metanálise de múltiplos estudos controlados; Nível II
estudos experimentais individuais; Nível III, estudos quase-experimentais, como
ensaio clínico não randomizado, grupo único pré e pós teste, além de séries
temporais ou caso-controle; Nível IV, estudos não experimentais, como pesquisa
descritiva, correlaciona e comparativa, com abordagem qualitativa e estudos de
caso; Nível V, dados de avaliação de programas obtidos de forma sistemática e
Nível VI, opiniões de especialistas, relatos de experiência, consensos, regulamentos
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e legislações.
O detalhamento metodológico será fundamentado em Polit, Beck e Hungler
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(2004). A apresentação dos resultados será realizada de forma descritiva.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quadro 1 – Estudos selecionados sobre a atuação da equipe de enfermagem na


Angioplastia Coronáriana Transluminal Percutânea, segundo ano de publicação,
periódico, autoria, delineamento e nível de evidência do estudo, assunto abordado
e principais resultados.
Ano deAutoria doDelineamento/ Assunto abordado Principais
publicação artigo Nível de evidência resultados
2007 Schiks I, et al; Estudo Experimental Evolução do desempenhoHouve melhora
Nível III dos enfermeiros nasignificativa na
remoção da bainha arterialcapacitação da equipe
após protocolode enfermagem para
treinamento. a retirada da bainha
arterial, após
utilização do um
protocolo e
treinamento da equipe
e menor complicações
relacionadas aos
pacientes.
2007 Dumont CJP Estudo de caso-controle Protocolos de enfermagemPacientes que
para assistência aapresentam pressão
Nível I pacientes que apresentamarterial sistólica maior
aumento da pressão eque 160 mmhg e
riscos de complicaçõesrecebem heparina são
vasculares após amais propensos a
intervenção coronáriaapresentarem
percutânea. complicações
vasculares que os
pacientes hipertensos
que receberam
Angioseal para
homeostasia química.
2005 Amoroso G, et al Estudo descritivo Identificar fatoresExiste significativa
preditores das possíveisdiferença entre a
Nível IV cargas de trabalho dacarga de trabalho da
enfermagem, antes,enfermagem durante
durante e depois dasos procedimentos de
intervenções coronáriasIntervenção coronária
pelo acesso femural epercutânea, de acordo
radial. com a via de acesso
escolhida. O acesso
radial reduz a carga
de trabalho do
enfermeiro, minimiza
complicações e
diminui o tempo de
permanência nas
instituições
hospitalares.
2004 Kattainen E, Estudo descritivo Descrever as expectativasPacientes referem
Merilainen P, das orientações deimportância e a
Jokela V; Nível IV enfermagem dosnecessidade de
pacientes submetidos aorientações quanto à
revascularização dorecuperação e as
miocárdio e angioplastianecessidades sociais
coronariana. antes e apóso
procedimento, com
diferenças entre o
sexo masculino.
DISCUSSÃO

Os dados encontrados nos artigos tornaram possível realizar uma discussão


sobre como se dá a atenção da enfermagem com os pacientes que realizam
intervenções percutâneas, como a angioplastia coronária.
No primeiro estudo12 foi desenvolvido um protocolo, para os enfermeiros
responsáveis na remoção da bainha arterial, em intervenções coronárias
percutâneas, um treinamento, com um curso teórico e prático, de acordo com o
protocolo e, posteriormente, estes enfermeiros são avaliados de acordo com o
check list desenvolvido.
O check list consta três categorias e elementos:
Categoria 1: Condições
Elementos: Tempo de Coagulação Ativado, Urinário e Grupo de Risco;
Categoria 2: Performance
Elementos: Preparação, Controle, Informação, Posição, Remoção da Bainha,
Atadura e Instruções.
Foi avaliado o desempenho de 13 e 16 enfermeiros respectivamente, estes foram
observados de 2 a 5 vezes cada um, no período de Março e Abril de 1999 e Abril e
Maio de 2005 e as observações foram realizadas somente durante a remoção da
bainha. Observou-se que os enfermeiros têm um bom desempenho durante a
remoção da bainha arterial após ICP. È importante o treinamento, pois a retirada
da bainha introdutora possui riscos, como hemorragia devido ao posicionamento
dos dedos durante a compressão manual, diminuindo o tempo de imobilização e
aumentando o conforto e segurança dos pacientes. Sugere mais estudos na área
para validação de instrumentos.
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