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Guyton & Hall - Tratado de Fisiologia Médica

Capítulo 27 - Filtração Glomerular, Fluxo Sanguíneo Renal e seus


Respectivos Controles

FILTRAÇÃO GLOMERULAR:

A filtração glomerular é o primeiro passo na formação da urina, onde uma grande


quantidade de líquido passa dos capilares glomerulares para a cápsula de Bowman,
cerca de 180 litros por dia. A maior parte desse líquido filtrado é reabsorvida,
restando apenas cerca de 1 litro para ser excretado diariamente, embora essa taxa
possa variar dependendo da ingestão de líquidos. A alta taxa de filtração glomerular
depende do fluxo sanguíneo renal e das propriedades especiais das membranas
dos capilares glomerulares. Neste capítulo, discutiremos as forças físicas que
influenciam a taxa de filtração glomerular (TFG) e os mecanismos fisiológicos que a
regulam, bem como o fluxo sanguíneo renal.

COMPOSIÇÃO DO FILTRADO GLOMERULAR:

O filtrado glomerular é essencialmente livre de proteínas e elementos celulares,


incluindo hemácias, devido à relativa impermeabilidade dos capilares do glomérulo a
essas substâncias, semelhante à maioria dos capilares. A concentração dos outros
componentes do filtrado glomerular, como a maioria dos sais e moléculas orgânicas,
é semelhante às concentrações no plasma sanguíneo. Algumas substâncias de
baixo peso molecular, como cálcio e ácidos graxos, não são livremente filtradas
devido à sua ligação parcial a proteínas plasmáticas. Por exemplo, quase metade
do cálcio plasmático e a maioria dos ácidos graxos são ligados a proteínas, e essa
fração ligada não é filtrada nos capilares glomerulares.

A TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR CORRESPONDE A CERCA DE 20% DO


FLUXO SANGUÍNEO RENAL

Os capilares glomerulares, como outros capilares, filtram líquido devido a dois


principais fatores: (1) o equilíbrio entre as forças que empurram (forças
hidrostáticas) e as que puxam (forças coloidosmóticas) através das membranas
capilares; e (2) o coeficiente de filtração capilar (Kf), que depende da capacidade de
filtração e da área de superfície dos capilares. Os capilares glomerulares têm uma
taxa de filtração muito alta, devido à pressão hidrostática elevada no glomérulo e a
um alto valor de Kf. Em um adulto médio, a taxa de filtração glomerular (TFG) é
cerca de 125 mililitros por minuto, o que equivale a aproximadamente 180 litros por
dia. Cerca de 20% do plasma que passa pelos rins é filtrado nesses capilares, essa
fração é chamada de fração de filtração.
MEMBRANA GLOMERULAR:

A membrana capilar glomerular possui três camadas principais, em contraste com


as duas camadas típicas das membranas capilares comuns. Essas três camadas
são: (1) o revestimento interno dos capilares (endotélio); (2) uma camada
intermediária chamada de membrana basal; e (3) uma camada de células epiteliais
(chamadas podócitos) que circundam a parte externa da membrana basal do capilar
Juntas, essas camadas formam uma barreira de filtração que, embora tenha três
componentes, é capaz de filtrar muitas vezes mais água e solutos do que uma
membrana capilar comum. Mesmo com essa alta capacidade de filtração, a
membrana capilar glomerular normalmente permite que apenas uma pequena
quantidade de proteínas do sangue seja filtrada.

A alta taxa de filtração através da membrana capilar glomerular é, em parte, devida


às suas características especiais. O endotélio capilar possui inúmeros pequenos
orifícios, chamados fenestras, que se assemelham aos encontrados nos capilares
do fígado, embora sejam menores. Apesar dessas fenestras serem relativamente
maiores, as proteínas nas células endoteliais possuem uma carga negativa
significativa, o que dificulta a passagem das proteínas do sangue.

Além disso, a membrana basal ao redor do endotélio é composta por uma rede de
colágeno e proteoglicanos, com espaços amplos por onde passam grandes
quantidades de água e solutos de pequeno tamanho. No entanto, essa membrana
basal também dificulta muito a passagem de proteínas do sangue, em parte devido
às cargas negativas associadas aos proteoglicanos.
A parte final da membrana glomerular é composta por uma camada de células
epiteliais chamadas podócitos, que revestem o lado externo do glomérulo. Esses
podócitos não são contínuos, eles têm prolongamentos que se assemelham a pés
(daí o nome "podo") que cobrem a superfície externa dos capilares (veja Figura
27.2). Esses "pés" são separados por pequenas aberturas chamadas poros em
fenda, através das quais o filtrado glomerular flui. As células epiteliais também
possuem proteínas com carga negativa em sua estrutura, o que contribui para
impedir a passagem de proteínas do sangue. Portanto, todas as camadas do capilar
glomerular formam uma barreira que evita que as proteínas do sangue passem, mas
permitem a rápida passagem de água e da maioria dos solutos do sangue.

A filtrabilidade dos solutos é inversamente proporcional ao seu tamanho. A


membrana do capilar glomerular é mais espessa do que a de muitos outros
capilares, mas também é mais porosa, o que a torna capaz de filtrar líquidos em
uma taxa mais alta. Apesar dessa alta taxa de filtração, a barreira de filtração
glomerular é seletiva e determina quais moléculas serão filtradas com base em seu
tamanho e carga elétrica.

Um valor de filtrabilidade igual a 1,0 significa que a substância é filtrada tão


facilmente quanto a água, enquanto um valor de 0,75 significa que a substância é
filtrada a 75% da taxa da água. Observe que eletrólitos como sódio e pequenas
moléculas orgânicas, como a glicose, são facilmente filtrados. À medida que o peso
molecular se aproxima do peso da albumina, a filtrabilidade diminui rapidamente,
aproximando-se de zero.

➔ Nefropatia por lesão mínima e aumento da permeabilidade glomerular às


proteínas plasmáticas

Na nefropatia por lesão mínima, os glomérulos dos rins se tornam mais permeáveis
a proteínas do sangue, embora pareçam normais quando examinados em um
microscópio comum. No entanto, quando observados em alta ampliação com um
microscópio eletrônico, geralmente mostram células epiteliais (podócitos) achatadas
com prolongamentos que podem estar separados da camada de suporte dos
capilares (chamada de membrana basal glomerular).

As causas da nefropatia por lesão mínima não são totalmente conhecidas, mas
podem estar relacionadas, em parte, a uma resposta imunológica anormalmente
intensa, envolvendo a produção de substâncias inflamatórias pelas células T, que
acabam prejudicando os podócitos. Isso resulta em um aumento da permeabilidade
dos podócitos a algumas proteínas de baixo peso molecular, especialmente a
albumina. Essa maior permeabilidade permite que proteínas passem pelos capilares
glomerulares e sejam eliminadas na urina, o que é chamado de proteinúria ou
albuminúria. A nefropatia por lesão mínima é mais comum em crianças pequenas,
mas também pode ocorrer em adultos, especialmente em pessoas que têm outras
doenças autoimunes.

DETERMINANTES DA TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR

A taxa de filtração glomerular (TFG) é determinada por dois principais fatores: (1) a
combinação das forças que empurram e puxam na membrana glomerular, criando
uma pressão de filtração resultante; e (2) a eficiência da membrana glomerular em
permitir a passagem do filtrado (Kf glomerular). Matematicamente, a TFG é o
resultado da multiplicação entre o Kf e a pressão de filtração resultante:

TFG = Kf × Pressão de filtração resultante

A pressão de filtração resultante é a soma das forças hidrostáticas e


coloidosmóticas que promovem ou resistem à passagem de líquido pelos capilares
glomerulares. Essas forças incluem: (1) a pressão hidrostática no interior dos
capilares glomerulares (pressão hidrostática glomerular, PG), que promove a
filtração; (2) a pressão hidrostática na cápsula de Bowman (PB), que está fora dos
capilares e se opõe à filtração; (3) a pressão coloidosmótica das proteínas no
sangue dos capilares glomerulares (πG), que se opõe à filtração; e (4) a pressão
coloidosmótica das proteínas na cápsula de Bowman (πB), que promove a filtração.
Em condições normais, a concentração de proteínas no filtrado glomerular é tão
baixa que a pressão coloidosmótica do líquido na cápsula de Bowman é
considerada zero.

Portanto, a TFG pode ser calculada usando a seguinte fórmula:

TFG = Kf × (PG – PB – πG + πB)

Embora os valores exatos dos determinantes da TFG não tenham sido medidos
diretamente em seres humanos, estimativas foram obtidas em estudos com animais,
como cães e ratos. Com base nessas pesquisas com animais, acredita-se que as
forças aproximadas que promovem ou resistem à filtração glomerular em seres
humanos sejam as seguintes:

O AUMENTO DO COEFICIENTE DE FILTRAÇÃO CAPILAR GLOMERULAR ELEVA


A TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR
Em resumo, quando as pequenas artérias que entram no glomérulo ficam mais
estreitas, isso tende a diminuir a taxa de filtração glomerular (TFG). No entanto,
quando as artérias que saem do glomérulo ficam um pouco mais estreitas, a TFG
pode aumentar um pouco. A gravidade da constrição das artérias que saem do
glomérulo é importante. Se a constrição for muito forte, a TFG pode diminuir
significativamente. Isso acontece porque a constrição das artérias de saída leva a
um aumento rápido na pressão coloidosmótica devido a uma maior concentração de
proteínas no sangue, o que dificulta a filtração.

A constrição das artérias que entram no glomérulo geralmente reduz a TFG. A


constrição das artérias que saem do glomérulo pode aumentar um pouco a TFG,
mas apenas se não for muito intensa.

FLUXO SANGUÍNEO RENAL

Em um adulto de 70 kg, os rins, que representam apenas 0,4% do peso corporal,


recebem um fluxo sanguíneo significativamente maior do que a maioria dos outros
órgãos. O fluxo sanguíneo renal é responsável por fornecer nutrientes e remover
produtos de excreção dos rins. No entanto, esse fluxo sanguíneo adicional é
necessário para suportar a taxa de filtração glomerular elevada, que é essencial
para regular com precisão o volume e a concentração de solutos nos líquidos do
corpo. Portanto, os mecanismos que controlam o fluxo sanguíneo renal
desempenham um papel crucial na regulação da taxa de filtração glomerular e nas
funções renais.
Kf: coeficiente de filtração glomerular; PA: pressão arterial sistêmica; PB: pressão hidrostática da cápsula de
Bowman; πG: pressão coloidosmótica do capilar glomerular; PG: pressão hidrostática do capilar glomerular;
RA: resistência arteriolar aferente; RE: resistência arteriolar eferente; TFG: taxa de filtração glomerular.

FLUXO SANGUÍNEO E CONSUMO DE OXIGÊNIO RENAL

Os rins têm uma demanda de oxigênio que é aproximadamente o dobro do cérebro


por grama de peso. No entanto, eles recebem um suprimento de sangue muito maior
do que o cérebro, quase sete vezes mais. Isso significa que os rins recebem muito
mais oxigênio do que precisam para suas funções metabólicas. Isso se deve em
grande parte à alta taxa de reabsorção ativa de sódio nos túbulos renais.

Se o fluxo sanguíneo renal e a taxa de filtração glomerular (TFG) diminui, menos


sódio é filtrado, menos sódio é reabsorvido e, como resultado, menos oxigênio é
consumido. Portanto, o consumo de oxigênio pelos rins está diretamente
relacionado à quantidade de sódio que está sendo reabsorvido nos túbulos renais, o
que, por sua vez, depende da TFG e da quantidade de sódio filtrado. Se a TFG parar
completamente, a reabsorção de sódio também para, e o consumo de oxigênio cai
para cerca de um quarto do normal. Nesse ponto, o consumo de oxigênio reflete
apenas as necessidades metabólicas básicas das células renais.

DETERMINANTES DO FLUXO SANGUÍNEO RENAL

O FSR é calculado considerando o gradiente de pressão através dos vasos


sanguíneos dos rins (a diferença entre as pressões na artéria renal e na veia renal)
dividido pela resistência total dos vasos sanguíneos renais:
A pressão na artéria renal é quase igual à pressão arterial sistêmica, enquanto a
pressão na veia renal é geralmente baixa, cerca de 3 a 4 mmHg na maioria das
condições. A resistência vascular total dos rins é a soma das resistências nos
diferentes segmentos dos vasos sanguíneos, incluindo artérias, arteríolas, capilares
e veias.

A maior parte da resistência vascular dos rins está localizada em três segmentos
principais: artérias interlobulares, arteríolas aferentes e arteríolas eferentes. Esses
vasos são controlados pelo sistema nervoso simpático, vários hormônios e
mecanismos de controle interno dos rins.

O FLUXO SANGUÍNEO NOS VASOS RETOS DA MEDULA RENAL É BAIXO


COMPARADO AO FLUXO RENAL CORTICAL

A maior parte do sangue que flui através dos rins vai para a parte externa do rim,
chamada córtex. A parte interna do rim, chamada medula, recebe apenas uma
pequena quantidade de sangue, cerca de 1 a 2% do sangue renal total. O
suprimento de sangue para a medula é fornecido por vasos especiais chamados
vasos retos. Esses vasos descem pela medula ao longo das alças de Henle e
depois retornam à parte externa do rim, onde se conectam com o sistema venoso.

CONTROLE FISIOLÓGICO DA FILTRAÇÃO GLOMERULAR E FLUXO


SANGUÍNEO RENAL

A taxa de filtração glomerular (TFG), que é a taxa de filtração de fluido através dos
glomérulos nos rins, é principalmente influenciada pela pressão hidrostática nos
glomérulos. Essa pressão é controlada pelo sistema nervoso simpático, hormônios,
substâncias vasoativas liberadas nos rins (chamadas autacoides) e mecanismos de
feedback intrínsecos nos rins.

A ATIVAÇÃO INTENSA DO SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO REDUZ A TAXA DE


FILTRAÇÃO GLOMERULAR

Todos os vasos sanguíneos nos rins, incluindo as arteríolas aferentes e eferentes,


recebem um suprimento rico de fibras nervosas simpáticas. Quando esses nervos
são ativados intensamente, podem causar a constrição das arteríolas renais,
levando a uma redução no fluxo sanguíneo renal e na taxa de filtração glomerular
(TFG). No entanto, a ativação leve ou moderada do sistema nervoso simpático tem
pouco efeito sobre o fluxo sanguíneo renal ou a TFG. Por exemplo, quando a
pressão arterial cai moderadamente, o sistema nervoso simpático é ativado, mas
isso tem pouco impacto no fluxo sanguíneo renal ou na TFG.

No entanto, mesmo um aumento leve na atividade simpática nos rins pode estimular
a liberação de renina e aumentar a reabsorção de sódio nos túbulos renais, o que
leva à retenção de sódio e água.

Durante distúrbios agudos graves que ocorrem em questão de minutos a horas,


como uma reação de luta ou fuga, isquemia cerebral ou hemorragia grave, os
nervos simpáticos renais desempenham um papel importante na redução aguda da
TFG.

CONTROLE HORMONAL E PARÁCRINO DA CIRCULAÇÃO RENAL

Muitos hormônios e autacoides (moléculas que agem localmente) têm a capacidade


de afetar a taxa de filtração glomerular (TFG) e o fluxo sanguíneo renal.

A noradrenalina, a adrenalina e a endotelina causam constrição dos vasos


sanguíneos renais e diminuem a taxa de filtração glomerular.

Esses hormônios causam a constrição das arteríolas aferentes e eferentes, o que


diminui o fluxo sanguíneo renal e, consequentemente, a TFG.

Normalmente, os níveis desses hormônios no corpo estão alinhados com a


atividade do sistema nervoso simpático. Portanto, a noradrenalina e a adrenalina
têm pouco impacto na função renal, a menos que haja uma ativação intensa do
sistema nervoso simpático, como durante uma hemorragia grave.

Outra substância vasoconstritora, a endotelina, é um peptídeo liberado por células


endoteliais quando os vasos sanguíneos dos rins ou de outros tecidos estão
danificados. O papel exato da endotelina no funcionamento normal do corpo não é
completamente compreendido. No entanto, a endotelina desempenha um papel
importante na hemostasia (processo de prevenção da perda de sangue) quando
ocorre uma lesão nos vasos sanguíneos. Além disso, os níveis de endotelina no
sangue aumentam em várias doenças que envolvem lesões nos vasos sanguíneos,
como a toxemia da gravidez, insuficiência renal aguda e uremia crônica,
contribuindo para a constrição dos vasos renais e a redução da TFG em algumas
dessas condições de saúde.

A angiotensina II causa constrição preferencialmente das arteríolas eferentes


na maioria das condições fisiológicas.

A angiotensina II é um poderoso agente de constrição dos vasos sanguíneos nos


rins. Ela é considerada um hormônio circulante, produzido nos rins e presente na
corrente sanguínea, mas também age localmente como um autacoide ou sinalizador
parácrino.

Os receptores para a angiotensina II estão presentes em praticamente todos os


vasos sanguíneos dos rins. No entanto, os vasos pré-glomerulares, especialmente
as arteríolas aferentes (aquelas que conduzem o sangue para os glomérulos),
tendem a ser relativamente protegidos contra a constrição induzida pela
angiotensina II na maioria das condições fisiológicas. Isso ocorre devido à liberação
de vasodilatadores, como o óxido nítrico e as prostaglandinas, que agem contra os
efeitos vasoconstritores da angiotensina II nessas arteríolas.

Por outro lado, as arteríolas eferentes (que saem dos glomérulos) são altamente
sensíveis à ação da angiotensina II. A constrição dessas arteríolas leva a um
aumento da pressão hidrostática nos glomérulos, ao mesmo tempo em que reduz o
fluxo sanguíneo renal. Aumentos nos níveis de angiotensina II geralmente ocorrem
em situações em que a pressão arterial diminui ou há uma redução no volume de
sangue, ambas as quais podem resultar em uma diminuição na taxa de filtração
glomerular (TFG). Nesses casos, a constrição das arteríolas eferentes ajuda a
prevenir uma redução na pressão hidrostática glomerular e na TFG. Ao mesmo
tempo, a redução do fluxo sanguíneo renal causada pela constrição das arteríolas
eferentes aumenta a reabsorção de sódio e água nos túbulos renais.

Portanto, em situações como dietas com baixo teor de sódio ou depleção de


volume, a angiotensina II auxilia na manutenção da TFG e na excreção normal de
produtos de excreção do metabolismo, como ureia e creatinina, que dependem da
filtração glomerular para serem excretados. Ao mesmo tempo, a constrição das
arteríolas eferentes induzida pela angiotensina II ajuda na recuperação do volume
sanguíneo e da pressão arterial. Esse efeito auxilia na autorregulação da TFG e
será discutido com mais detalhes posteriormente.

O óxido nítrico derivado do endotélio reduz a resistência vascular renal e


aumenta a taxa de filtração glomerular.
O óxido nítrico é uma substância liberada pelas células do revestimento interno dos
vasos sanguíneos (endotélio) em todo o corpo. Ele atua como um sinalizador para
promover a dilatação dos vasos sanguíneos nos rins e é importante para manter o
funcionamento normal dos rins, incluindo a excreção adequada de sódio e água.

Em resumo, o óxido nítrico ajuda a manter os vasos sanguíneos renais dilatados, o


que permite um fluxo sanguíneo adequado nos rins. Isso é fundamental para a
filtração adequada do sangue e a excreção de substâncias, como o sódio, na urina.
Quando a produção de óxido nítrico é reduzida, seja devido a fatores como a
administração de certos medicamentos ou danos ao revestimento dos vasos
sanguíneos, a resistência nos vasos renais aumenta, o que pode levar a uma
diminuição na taxa de filtração glomerular, na excreção de sódio e, eventualmente, a
um aumento na pressão arterial. Isso pode ser relevante em casos de hipertensão
ou aterosclerose, onde a função normal do endotélio vascular pode ser prejudicada,
contribuindo para a pressão arterial elevada.

As prostaglandinas e a bradicinina reduzem a resistência vascular renal e


tendem a aumentar a taxa de filtração glomerular.

As prostaglandinas (PGE2 e PGI2) e a bradicinina são substâncias que têm a


capacidade de dilatar os vasos sanguíneos nos rins, o que resulta em um aumento
do fluxo de sangue nos rins e, consequentemente, uma maior taxa de filtração
glomerular (TFG). Embora essas substâncias possam não desempenhar um papel
principal na regulação normal do fluxo sanguíneo renal e da TFG, elas
desempenham um papel importante em situações em que ocorre estresse ou
desequilíbrio no organismo.

Essas substâncias são particularmente relevantes quando se trata de


contrabalançar os efeitos de substâncias que causam constrição dos vasos renais,
como os nervos simpáticos ou a angiotensina II, principalmente nos vasos que
trazem o sangue para dentro dos glomérulos (arteríolas aferentes).

Em resumo, as prostaglandinas e a bradicinina ajudam a evitar que os vasos renais


se contraiam em excesso, o que pode resultar em uma TFG muito baixa. Em
situações de estresse, como desidratação ou após uma cirurgia, a administração de
medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), como a aspirina, que
inibem a produção de prostaglandinas, pode levar a uma significativa redução na
TFG
AUTORREGULAÇÃO DA TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR E FLUXO
SANGUÍNEO RENAL

Os rins possuem mecanismos internos de autorregulação que geralmente mantêm o


fluxo sanguíneo renal e a taxa de filtração glomerular (TFG) em níveis relativamente
constantes, mesmo quando a pressão arterial muda consideravelmente. Esses
mecanismos continuam a funcionar mesmo quando os rins são isolados do resto do
corpo, o que mostra sua independência em relação às influências sistêmicas. Essa
capacidade de manter a TFG e o fluxo sanguíneo renal estável recebe o nome de
autorregulação.

Embora a autorregulação seja um mecanismo presente na maioria dos tecidos do


corpo, nos rins, sua principal função é manter a TFG constante e controlar de forma
precisa a eliminação de água e solutos, independentemente das variações na
pressão arterial. Isso é fundamental para a regulação dos volumes e concentrações
dos líquidos corporais.
A taxa de filtração glomerular (TFG) normalmente permanece constante, mesmo
quando a pressão arterial varia significativamente durante as atividades diárias.

Por exemplo, quedas na pressão arterial para níveis entre 70 e 75 mmHg ou


elevações para níveis entre 160 e 180 mmHg geralmente causam menos de 10% de
alteração na TFG. O fluxo sanguíneo nos rins também é regulado juntamente com a
TFG, embora esta última seja controlada de forma mais eficiente em algumas
situações.

Importância da autorregulação da taxa de filtração glomerular na prevenção de


alterações extremas da excreção renal

Os mecanismos de autorregulação nos rins, embora não sejam perfeitos,


conseguem evitar mudanças substanciais na Taxa de Filtração Glomerular (TFG) e
na excreção renal de água e solutos que poderiam ocorrer com variações na
pressão arterial. Podemos entender a importância quantitativa da autorregulação ao
observar a TFG, a reabsorção tubular e a excreção renal, bem como as mudanças
que ocorreriam na ausência dos mecanismos de autorregulação.

Normalmente, a TFG é cerca de 180 litros por dia, e a reabsorção tubular é de


aproximadamente 178,5 litros por dia, resultando em 1,5 litros por dia de líquido a
ser excretado na urina. Sem a autorregulação, uma pequena alteração na pressão
arterial (de 100 a 125 mmHg) levaria a um aumento semelhante de 25% na TFG (de
180 litros por dia para cerca de 225 litros por dia). Mantendo a reabsorção tubular
constante em 178,5 litros por dia, o fluxo de urina aumentaria para 46,5 litros por dia
(a diferença entre TFG e reabsorção tubular) - um aumento total na urina superior a
30 vezes. No entanto, como o volume plasmático é de apenas cerca de 3 litros,
essa mudança resultaria em rápida depleção de volume.

Na realidade, as mudanças na pressão arterial geralmente têm um efeito muito


menor no volume de urina por duas razões: (1) a autorregulação renal evita grandes
variações na TFG; e (2) existem mecanismos adaptativos adicionais nos túbulos
renais que aumentariam sua taxa de reabsorção após um aumento na TFG,
conhecido como balanço glomerulotubular. Apesar desses mecanismos de controle,
as mudanças na pressão arterial ainda afetam significativamente a excreção de
água e sódio pelos rins, desempenhando um papel crucial na regulação dos
volumes de líquidos corporais e da pressão arterial.

FEEDBACK TUBULOGLOMERULAR E AUTORREGULAÇÃO DA TAXA DE


FILTRAÇÃO GLOMERULAR

Os rins possuem um mecanismo de feedback especial que conecta as mudanças na


concentração de cloreto de sódio na mácula densa para controlar a resistência das
arteríolas renais e a autorregulação da Taxa de Filtração Glomerular (TFG). Esse
mecanismo ajuda a manter um fornecimento relativamente constante de cloreto de
sódio ao túbulo distal e evita flutuações prejudiciais na excreção renal. Em muitos
casos, o feedback regula simultaneamente o fluxo sanguíneo renal e a TFG. No
entanto, o mecanismo pode, em algumas situações, alterar a TFG em resposta às
mudanças primárias na reabsorção tubular de cloreto de sódio.

O mecanismo de feedback tubuloglomerular tem dois componentes que trabalham


juntos para controlar a TFG: (1) um mecanismo de feedback nas arteríolas
aferentes; e (2) um mecanismo de feedback nas arteríolas eferentes.

Esses mecanismos dependem da estrutura especial do aparelho justaglomerular,


que inclui a mácula densa, localizada no início do túbulo distal, e as células
justaglomerulares que revestem as paredes das arteríolas aferentes e eferentes. A
mácula densa é um conjunto de células epiteliais dos túbulos distais que estão
próximas das arteríolas aferentes e eferentes. Essas células contêm organelas
secretoras do complexo de Golgi, sugerindo que podem secretar substâncias que
afetam as arteríolas.

Uma redução nos níveis de cloreto de sódio na mácula densa leva à dilatação das
arteríolas aferentes e ao aumento na liberação de renina. As células da mácula
densa detectam as mudanças na concentração de cloreto de sódio no túbulo distal,
embora os sinais exatos desse processo ainda não sejam totalmente
compreendidos.

Estudos sugeriram que uma diminuição na Taxa de Filtração Glomerular (TFG)


torna o fluxo na alça de Henle mais lento, o que resulta em um aumento na
reabsorção de sódio e cloreto que é entregue à parte ascendente da alça. Isso, por
sua vez, reduz a concentração de cloreto de sódio que chega até as células da
mácula densa.

Essa diminuição no sódio na mácula densa desencadeia dois efeitos:

1. Dilatação das arteríolas aferentes, o que aumenta a pressão hidrostática


glomerular e ajuda a restaurar a TFG ao nível normal.
2. Aumento na liberação de renina pelas células justaglomerulares das
arteríolas aferentes e eferentes, que são os principais locais de
armazenamento de renina. A renina liberada funciona como uma enzima que
aumenta a formação de angiotensina I, que posteriormente é convertida em
angiotensina II. A angiotensina II causa a constrição das arteríolas eferentes,
elevando a pressão hidrostática glomerular e auxiliando no retorno da TFG
ao normal.

Esses dois componentes do mecanismo de feedback tubuloglomerular, que operam


juntos graças à estrutura anatômica especial do aparelho justaglomerular, fornecem
sinais de feedback para as arteríolas aferentes e eferentes. Isso permite a eficaz
autorregulação da TFG, garantindo que ela mude pouco, mesmo quando a pressão
arterial oscila dentro de certos limites (75 a 160 mmHg).
AUTORREGULAÇÃO MIOGÊNICA DO FLUXO SANGUÍNEO RENAL E TAXA DE
FILTRAÇÃO GLOMERULAR

Outro mecanismo que ajuda a manter o fluxo sanguíneo renal e a Taxa de Filtração
Glomerular (TFG) em níveis relativamente constantes é chamado de mecanismo
miogênico. Esse mecanismo se refere à capacidade dos vasos sanguíneos de
resistir ao estiramento quando a pressão arterial aumenta. Estudos realizados em
vasos individuais, especialmente em arteríolas pequenas em todo o corpo,
mostraram que esses vasos respondem ao aumento da tensão ou ao estiramento
de suas paredes contraindo o músculo liso vascular. O estiramento da parede do
vaso permite que mais íons de cálcio se movam das áreas externas das células
para o interior, o que causa a contração das células musculares lisas do vaso, como
já discutido em outro capítulo. Essa contração ajuda a evitar que o vaso se estire
em excesso e, ao mesmo tempo, aumenta a resistência vascular, prevenindo
aumentos excessivos do fluxo sanguíneo renal e da TFG quando a pressão arterial
está alta.

Embora o mecanismo miogênico possivelmente atue em muitas arteríolas em todo o


corpo, sua importância na autorregulação do fluxo sanguíneo renal e da TFG tem
sido debatida por alguns cientistas. Isso ocorre porque esse mecanismo sensível à
pressão não detecta diretamente alterações no fluxo sanguíneo renal ou na TFG.
No entanto, esse mecanismo pode ser mais relevante para proteger os rins contra
danos causados pela hipertensão. Quando a pressão arterial aumenta rapidamente,
a resposta miogênica constritora das arteríolas aferentes ocorre em questão de
segundos, reduzindo a transmissão do aumento da pressão arterial para os
capilares glomerulares.

CLÍNICAS:

Bloquear a formação de angiotensina II tem um efeito adicional de reduzir a


Taxa de Filtração Glomerular (TFG) durante situações em que o rim não recebe
um suprimento sanguíneo adequado.

Como mencionado, a angiotensina II tem a capacidade de contrair


preferencialmente as arteríolas eferentes, o que ajuda a evitar quedas significativas
na pressão hidrostática glomerular e na TFG quando a pressão sanguínea renal fica
abaixo do normal. No entanto, quando medicamentos que bloqueiam a formação de
angiotensina II (inibidores da enzima conversora de angiotensina) ou sua ação
(antagonistas dos receptores de angiotensina II) são administrados, isso pode
causar reduções mais acentuadas na TFG do que o esperado quando a pressão
arterial renal está abaixo do normal.

Portanto, uma complicação importante do uso desses medicamentos em pacientes


com hipertensão, especialmente aqueles com estenose da artéria renal (um
estreitamento parcial da artéria renal), é o risco de uma queda significativa na TFG,
que, em algumas situações, pode levar à insuficiência renal aguda. No entanto, é
importante observar que medicamentos que bloqueiam a angiotensina II são
valiosos para o tratamento de pacientes com hipertensão, insuficiência cardíaca
congestiva e outras condições, desde que esses pacientes sejam monitorados de
perto para evitar quedas graves na TFG.

A ingestão elevada de proteínas e níveis elevados de glicose no sangue


podem resultar em aumentos no fluxo sanguíneo renal e na taxa de filtração
glomerular.

Embora o fluxo sanguíneo renal e a TFG geralmente permaneçam estáveis na


maioria das situações, em algumas circunstâncias, esses fatores podem sofrer
variações significativas. Um exemplo disso ocorre quando uma dieta é rica em
proteínas, como uma dieta com alto teor de carne. No longo prazo, o aumento na
TFG e no fluxo sanguíneo renal se deve, em parte, ao crescimento dos rins induzido
pela alta ingestão de proteína. No entanto, logo após uma refeição rica em
proteínas, é observado um aumento de 20 a 30% na TFG e no fluxo sanguíneo
renal em 1 a 2 horas.

Uma possível explicação para esse aumento na TFG é que uma refeição rica em
proteínas libera aminoácidos na corrente sanguínea, que são absorvidos pelos
túbulos proximais dos rins. A reabsorção de aminoácidos e sódio ocorre em
conjunto nos túbulos proximais. O aumento na reabsorção de aminoácidos estimula
a reabsorção de sódio, o que, por sua vez, resulta em uma menor entrega de sódio
à mácula densa. Esse cenário desencadeia um mecanismo de feedback
tubuloglomerular que reduz a resistência das arteríolas aferentes, como mencionado
anteriormente. Essa diminuição na resistência arteriolar aferente resulta em um
aumento no fluxo sanguíneo renal e na TFG, permitindo que a excreção de sódio
permaneça próxima ao normal, ao mesmo tempo que ocorre um aumento na
excreção de produtos do metabolismo proteico, como a ureia.

O aumento notável nos níveis de glicose sanguínea em indivíduos com


diabetes não controlado pode também resultar em um significativo aumento
do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular.

Isso ocorre porque a glicose, da mesma forma que alguns aminoácidos, é


reabsorvida junto com o sódio nos túbulos proximais dos rins. O aumento na
reabsorção de glicose estimula a reabsorção excessiva de sódio, o que diminui a
concentração de cloreto de sódio na mácula densa, ativando o feedback
tubuloglomerular. Esse mecanismo resulta na dilatação das arteríolas aferentes,
levando a um aumento do fluxo sanguíneo renal e da TFG.

Esses exemplos ilustram que o fluxo sanguíneo renal e a TFG não são diretamente
controlados pelo mecanismo de feedback tubuloglomerular, mas, sim, o mecanismo
visa garantir um aporte constante de cloreto de sódio ao túbulo distal, onde ocorre a
etapa final do processamento da urina. Portanto, distúrbios que aumentam a
reabsorção de cloreto de sódio nas regiões tubulares antes da mácula densa
tendem a estimular o aumento do fluxo sanguíneo renal e da TFG. Isso auxilia na
normalização da concentração de cloreto de sódio no túbulo distal, assegurando
que as quantidades adequadas de sódio, água e outros solutos sejam excretadas
na urina.

Existem outros fatores que também afetam o fluxo sanguíneo renal e a TFG. Ao
nascer, essas variáveis são baixas e se aproximam dos valores de um adulto após
cerca de 2 anos de vida. Na ausência de doença renal, essas variáveis geralmente
permanecem relativamente constantes até por volta dos 40 anos de idade. Após
esse período, a TFG tende a diminuir aproximadamente 5 a 10% por década,
embora haja variações significativas entre indivíduos. Esse declínio da TFG é
associado a fatores como deficiência de óxido nítrico, maior estresse oxidativo,
perda de néfrons funcionais, pressão arterial elevada e outras condições que
resultam em lesões glomerulares ao longo do tempo.

Em termos de diferenças entre sexos, os homens tendem a ter um fluxo sanguíneo


renal e TFG maiores em comparação com as mulheres, mesmo após o ajuste para
a massa corporal. Entretanto, os homens também apresentam uma diminuição mais
acentuada da TFG com o envelhecimento do que as mulheres antes da menopausa.
Embora os mecanismos subjacentes a essas diferenças entre os sexos não sejam
completamente compreendidos, sugere-se que os efeitos benéficos dos estrogênios
e os efeitos prejudiciais dos androgênios nos rins podem desempenhar um papel
nessa discrepância.

Tabela: Algumas condições que influenciam o fluxo sanguíneo renal (FSR) e a taxa
de filtração glomerular (TFG).

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