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Tratamento
INTRODUÇÃO
A sarcoidose é uma doença sistêmica de etiologia desconhecida,
caracterizada pela formação de granulomas não caseosos em
diversos órgãos, principalmente o pulmão e linfonodos,
podendo levar a sua alteração estrutural e funcional. A doença
Figura 1
ocorre no mundo todo, com maior incidência antes dos 50 anos
QUADRO DE RESUMO (pico entre 20 e 39 anos), principalmente em mulheres. Alguns
dados específicos mostram importância maior entre negros nos
EUA e na Irlanda e países nórdicos. A forma familiar da doença é
Definição
descrita, com taxas que variam de 1 a 10%, a depender da região
estudada.
Doença sistêmica de etiologia desconhecida, caracterizada
pela formação de granulomas não caseosos em diversos
órgãos, principalmente o pulmão e linfonodos, podendo levar
a sua alteração estrutural e funcional. FISIOPATOLOGIA
A etiologia da sarcoidose ainda não está definida, mas parece
Epidemiologia
resultar de uma resposta imunológica anormal a alguns tipos de
agentes infecciosos ou não infecciosos dispersos no ar. O
Maior incidência antes dos 50 anos (pico entre 20 e 39 anos), processo se inicia com o processamento de antígenos mediado
principalmente em mulheres. pelo HLA (HLA-DQB1 e HLA-DRB1) com a ativação de linfócitos T
(resposta Th1) e produção de IL-2 e interferon gama, tendo como
Quadro clínico base da doença a formação dos granulomas não caseosos. Esses
granulomas têm uma coleção central rica em macrófagos,
Existem três formas principais de apresentação – envolta por linfócitos e células epiteliais e podem distorcer a
assintomática (apenas alterações em exames arquitetura normal dos tecidos, alterando suas funções. Os
complementares), aguda e crônica (insidiosa). macrófagos da região central do granuloma apresentam
FORMA ASSINTOMÁTICA
Costuma ser um achado ocasional na radiografia de tórax,
quando observamos a típica adenopatia hilar bilateral simétrica,
com ou sem infiltrado pulmonar. Cerca de 30-50% dos pacientes
não apresentam qualquer sintoma no momento do diagnóstico.
FORMA AGUDA
Apresenta instalação ao longo de poucas semanas, com a
presença de sintomas constitucionais como febre, astenia e
anorexia, que podem ser leves ou mais importantes.
Manifestações pulmonares, como tosse, dispneia e desconforto
retroesternal, também são frequentes. Existem duas síndromes
características:
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FORMA CRÔNICA
É a forma insidiosa, que se desenvolve ao longo de meses e que
mais progride com lesão visceral permanente. As queixas
respiratórias mais comuns são tosse seca e dispneia,
normalmente sem sintomas sistêmicos – apenas 10% dos casos
apresentam sintomas relacionados a outros órgãos. Vamos
destacar os principais achados nessa forma:
Sistema respiratório
aminotransferase ou fosfatase alcalina. Contudo, sintomas em terapia renal substitutiva, anasarca e dispneia incapacitante,
devido à doença hepática são incomuns. O envolvimento do com queda do estado geral há 30 dias. Também encontra-se
ictérico, com torpor e sinais de infecção e secreção purulenta pelo
fígado é duas vezes mais comum em americanos negros do que
local de inserção do Shilley de hemodiálise. Aos exames:
em americanos brancos. A sarcoidose raramente (< 1%) pode
causar doença hepática progressiva com hipertensão porta e leucócitos = 33.000 mm³/L (VR 10.000 mm³), segmentados = 78,
com bastonetes = 10, e metamielócitos = 1; plaquetas = 111.000
sangramento por varizes. Outra complicação possível seria a
mm³ (VR > 150.000mm³); ureia 88 mg/dL (VR < 40 mg/dL);
síndrome hepatopulmonar.
creatinina = 2,33 mg/dL (VR = 1,40 mg/dL); bilirrubina total 4,10
mg/dL (VR – 1,2 mg/dL); bilirrubina direta = 2,88 mg/dL (VR =
O acometimento de nervos periféricos pode resultar em perda
0,20mg/dL). Acerca desse caso clínico e dos conhecimentos
sensorial, parestesias ou fraqueza motora com quadros de mono
médicos correlatos, julgue o item a seguir. Insuficiência cardíaca,
ou polineuropatia – o par craniano mais acometido é o facial. A
amiloidose e sarcoidose são exemplos de doenças sistêmicas que,
sarcoidose pode acometer também o sistema nervoso central,
além da sepse, podem cursar com hiperbilirrubinemia conjugada.
levando a um quadro de meningite asséptica de instalação lenta
e oligossintomática (meningite sarcoide). Este quadro faz
R. A elevação da bilirrubina e consequente icterícia são um sinal
diagnóstico diferencial com a meningite tuberculosa. Outros
laboratorial e clínico que podem refletir uma ampla gama de
sintomas podem ser decorrentes de granulomas no parênquima
cerebral, acarretando cefaleia associada a convulsões ou sinais diagnósticos. O aumento da fração direta ou conjugada da
bilirrubina pode ou não vir acompanhado da elevação de
focais. Neurossarcoidose também pode levar ao acometimento
marcadores colestáticos, como a gama GT ou fosfatase alcalina.
do eixo hipotálamo-hipofisário, cuja principal manifestação é o
O defeito pode ocorrer no nível extra-hepático como nos quadros
diabetes insipidus. Vale destacar que os achados neurológicos
de coledocolitíase, colangite esclerosante e algumas parasitoses;
podem ser a única manifestação da doença, precedendo o
ou intra-hepático, visto nas hepatites por álcool, vírus e doenças
diagnóstico em até 75% dos pacientes!
infiltrativas como sarcoidose, amiloidose, linfoma, tuberculose. A
insuficiência cardíaca direita leva à congestão dos sinusoides
No coração, podem se formar granulomas que, embora
hepáticos e também eleva os níveis de bilirrubina. Afirmativa
presentes em cerca de 25% dos achados de autópsia, aparecem
CORRETA.
em menos de 5% dos casos a partir da suspeita clínica. Eles
costumam infiltrar a parede livre do ventrículo esquerdo e o
septo interventricular. Com isso, dentre as manifestações
possíveis, podemos ter bloqueios, arritmias, aneurisma, angina, DIAGNÓSTICO
derrame pericárdico e insuficiência cardíaca. Nos pacientes que
evoluem com fibrose pulmonar avançada, pode haver cor Os dados clínicos e laboratoriais isoladamente não costumam
pulmonale, porém trata-se de apresentação pouco comum. No ser suficientes para o diagnóstico, já que a sarcoidose pode
rim, os granulomas são pouco comuns (< 1%), mas a acometer qualquer órgão e os achados podem ser sutis. Dentre
hipercalcemia induzida pela sarcoidose pode gerar lesões renais, os achados principais, podemos encontrar: VHS aumentada (em
por meio de nefrocalcinose e nefrolitíase. geral apenas na síndrome de Löfgren); linfopenia e
hiperglobulinemia; hipercalcemia; aumento de proteína e
O acometimento ósseo ocorre principalmente nas falanges, pleocitose inespecífica no liquor (meningite asséptica). Aumento
metacarpos e metatarsos, em geral se apresentando como da Enzima Conversora de Angiotensina* (ECA) pode ser
distrofia ungueal e deformação dos dedos, podendo também observado em 60% dos pacientes com doença aguda e 20%
haver a formação de cistos ósseos e osteoporose. Pode haver daqueles com doença crônica. Supõe-se que seja produzida pelo
artrite aguda, em geral uma poliartrite de grandes articulações granuloma e que atuaria na quimiotaxia de macrófagos. A
como tornozelos, punhos, joelhos e cotovelo. Este quadro pode lisozima também se eleva na sarcoidose, mas é ainda menos
ser migratório e costuma se resolver com o tratamento, sem específica que a ECA.
deixar sequelas ou deformidades. Como os granulomas
disseminados da sarcoidose apresentam alta produção de A radiografia de tórax também não pode ser isoladamente
purinas, podemos ter também aumento da produção de ácido utilizada para o diagnóstico, já que as alterações podem estar
úrico e gota. presentes em várias outras doenças, como linfoma, tuberculose,
micoses pulmonares, beriliose e carcinoma broncogênico. A TC
Caso exista acometimento cutâneo, a pele passa a ser o local de Mulher de 35 anos, hígida, tem história de febre ocasional,
preferência para a obtenção de material (com exceção do astenia, emagrecimento de 3kg em 30 dias, tosse e dispneia a
eritema nodoso que costuma ser inespecífico)! Outras grandes esforços. Apresenta nódulos dolorosos avermelhados na
possibilidades de sítio de biópsia com pouca invasão seriam a superfície anterior da tíbia, evoluindo em surtos, com
conjuntiva, linfonodos periféricos e glândulas lacrimais. No desaparecimento espontâneo e artralgia dos tornozelos. O exame
entanto, a biópsia sem acometimento visível dessas estruturas do aparelho respiratório mostra crepitações esparsas em terço
costuma ter rendimento baixo. Nesse caso, pode ser necessária médio, hepatimetria de 15cm e ponta de baço palpável na
a obtenção de material intratorácico. O procedimento de manobra de Schuster. O PPD é não reator e a TC de tórax mostra
preferência atualmente tem sido a biópsia por agulha fina de infiltrado intersticial com múltiplos micronódulos, com
linfonodos aumentados, guiada por USG endobrônquica predomínio em terço médio e superior, espessamento do feixe
(rendimento de pelo menos 80%). A biópsia por via peribroncovascular e linfadenopatia hilar bilateral. São achados
transbrônquica (através de broncoscopia com fibra óptica) seria muito raros em pacientes com esse quadro:
outra opção, além da mediastinoscopia ou da bióspia cirúrgica
guiada por toracoscopia. O procedimento pode ser repetido caso a) Olho seco e hipercalciúria.
este seja negativo e ainda exista forte suspeita clínica.
b) Nódulos pulmonares cavitados e derrame pleural.
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R. Temos uma paciente jovem e sem doenças relatadas
Outros exames que podem ser realizados nos pacientes com
apresentando lesões nodulares compatíveis com eritema nodoso,
sarcoidose, embora não sejam específicos para o diagnóstico:
além de artrite e estertores pulmonares. Assim, devemos suspeitar
de uma doença de acometimento sistêmico, sendo a principal
➤ Lavado Broncoalveolar (LBA): amostra revela aumento da hipótese de sarcoidose. O diagnóstico será estabelecido com base
contagem de linfócitos e da relação entre as células CD4/CD8 em três elementos: manifestações clínicas e radiológicas
(> 3,5). Cabe destacar que esses achados, além de não serem compatíveis, exclusão de diagnósticos diferenciais e
diagnósticos, ainda não foram comprovados como úteis para histopatológico com identificação de reação inflamatória crônica
definição de prognóstico ou responsividade à terapia com com granulomas não caseosos. Dentre os achados colocados, a
corticoide; letra B é aquela que menos se encaixa, quando outras doenças
➤ Espirometria: o resultado é variável e cerca de 1/3 dos deveriam ser pensadas, a exemplo da tuberculose, neoplasias e
pacientes apresenta exame normal. A primeira alteração doenças fúngicas.
costuma ser no teste de difusão do monóxido de carbono
(DLCO) e também a última a se normalizar com a remissão da
doença. Os volumes pulmonares geralmente estão reduzidos,
SAIBA MAIS
caracterizando doença restritiva, mas cerca de 50% dos
pacientes também apresentam doença obstrutiva associada, Teste de Kveim-Siltzbach
caracterizada pela redução maior do VEF1 em relação à CVF.
Hiper-reatividade das vias aéreas pode ser encontrada em até
Esse é um teste mais de importância histórica, já que raramente
83% dos pacientes;
é utilizado devido à dificuldade técnica para obtenção de seu
➤ Lâmpada de fenda, fundoscopia: devido ao acometimento material. A ideia é obter uma reação inflamatória tardia, que
comum dos olhos e o risco de perda visual, são exames ocorre após a inoculação intradérmica de extrato
homogeneizado de tecido (obtido do baço de um portador de
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sarcoidose). No paciente com suspeita da doença, a região é redução de lesões cardíacas ou cerebrais detectáveis. Se houver
biopsiada após 4-6 semanas e a observação de granulomas não resposta com três meses de tratamento, a prednisona deve ter a
caseosos no material de biópsia é fortemente sugestiva. A sua dose reduzida gradualmente para 10 a 15 mg por dia, por
resposta de anticorpos à inoculação pode ser intensa a ponto de mais seis a nove meses. A falta de resposta sugere não adesão à
haver fator reumatoide circulante, anticorpos antinucleares e terapia, uma dose inadequada de prednisona, ou doença
autoanticorpos contra linfócitos T. fibrótica irreversível. Ocorre recaída em 25% dos pacientes, tanto
após a redução da dose quanto após o término do tratamento.
Por isso, os pacientes devem ser seguidos de perto durante um a
TRATAMENTO dois anos após a interrupção do tratamento.
Como se trata de uma doença de origem não esclarecida, não Nos pacientes que não respondem à corticoterapia ou que não
dispomos de prevenção nem tratamento específico para a podem tolerá-la, drogas citotóxicas e imunossupressoras podem
doença. Assim, a base do tratamento é a corticoterapia, com a ser utilizadas, como o metotrexato e a azatioprina. Em pacientes
utilização inicialmente de prednisona 20 a 40 mg, uma vez por que são dependentes de esteroides, mas têm doença
dia, por três meses. Corticoides inalatórios devem ser usados extrapulmonar em curso, a adição de infliximabe (anti-TNF), 3 a 5
apenas em pacientes com hiper-reatividade brônquica ou tosse mg/kg por 24 semanas, pode ser eficaz. Outras opções incluem o
persistente. O envolvimento do SNC geralmente requer bosentano nos casos de hipertensão pulmonar (embora não
pulsoterapia. A ideia é a de que os glicocorticoides agem no tenha demonstrado melhorar a tolerância ao exercício) e o
núcleo dos fagócitos mononucleares e dos linfócitos T, inibindo a adalimumabe (anti-TNF) no tratamento de lesões da pele.
produção de citocinas por estas células. Com isso, suprimem a
resposta inflamatória, reduzem a velocidade de crescimento dos
O transplante (pulmonar, cardíaco ou hepático) pode ser
granulomas e previnem a formação de fibrose. Desta forma, são
considerado em alguns casos e as taxas de sobrevida do enxerto
capazes de melhorar os sintomas e reduzir a disfunção causada
de um e cinco anos em pacientes com sarcoidose tem bons
pela doença.
resultados, quando comparados com o transplante em outras
situações. Contudo, deve-se reconhecer o fato de que os
Pacientes com doença assintomática ou que não apresentem granulomas podem voltar a se formar nos novos órgãos
limitações pela doença (a maioria) não precisam ser tratados, a transplantados.
menos que mostrem piora significativa na espirometria, que às
vezes é acompanhada de alterações progressivas na imagem
torácica. Detecção de inflamação granulomatosa no exame Atenção!
físico, biópsia ou imagem, ou a presença de um nível sérico
elevado da ECA não são indicações mandatórias para iniciar o Doses moderadas de corticosteroides (15 a 20 mg de
tratamento. A terapia deve ser voltada para aqueles em que a prednisona) são capazes de reduzir o cálcio sérico e urinário
função do órgão está ameaçada ou quando os sintomas são dentro de poucos dias. A falha na normalização dentro de
graves. As principais indicações para tratamento são: duas semanas deve alertar sobre a possibilidade de outro
motivo para a hipercalcemia, como o hiperparatireoidismo
➤ Sintomas constitucionais intensos; ou uma malignidade.
➤ Sintomas respiratórios ou prova de função pulmonar com
alteração significativa;
➤ Envolvimento ocular;
➤ Envolvimento do SNC e neuropatia;
➤ Envolvimento cardíaco;
➤ Acometimento ósseo, articular ou muscular;
Em pacientes com a síndrome de Löfgren (forma aguda), o Quadro clínico: a gravidade da doença varia bastante,
prognóstico é bom, com resolução espontânea na maioria dos dependendo em grande parte da intensidade das mutações
casos. Nos demais, a remissão espontânea com pouca ou genéticas presentes. As manifestações geralmente se iniciam na
nenhuma consequência também ocorre em mais de 50% dos infância, mas podem surgir em qualquer momento ao longo da
doentes com três anos de diagnóstico e em dois terços dos vida. Inclusive, 5% dos pacientes são diagnosticados já na idade
pacientes dentro de uma década. Depois de um ano ou mais de adulta. Os principais locais acometidos são o sistema
remissão sem tratamento, a chance de recorrência se torna respiratório e o digestivo. Vamos conferir os pontos principais!
muito baixa (< 5%). Até um terço dos pacientes tem doença
grave que leva a comprometimento significativo dos órgãos, ➤ Sistema respiratório: está relacionado às manifestações mais
embora a mortalidade seja baixa (< 5%). Pacientes com importantes da doença!!! Nesses pacientes, a colonização
envolvimento neurológico e cardíaco têm pior prognóstico, crônica das vias aéreas predispõe a infecções que agravam
assim como os negros americanos, que apresentam maior ainda mais a inflamação nas vias aéreas, a fibrose e a perda da
tendência para doença crônica e com mais envolvimento função mucociliar. As principais bactérias envolvidas são
extratorácico. Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus, Haemophilus
influenzae e Burkholderia cepacia.
Os pacientes podem apresentar desde sinusite e bronquites,
FIBROSE CÍSTICA até pneumonias de repetição e bronquiectasias (fase
avançada), com um curso marcado por exacerbações
(2) Teste do suor com cloro > 60-70 mEq/L em pelo menos Os alvos principais são a Pseudomonas aeruginosa e o
duas ocasiões + pesquisa das mutações no gene da CFTR Staphylococcus aureus. Existem muitas combinações possíveis
(pelo menos duas mutações) ou alteração da diferença de como quinolona oral + aminoglicosídeo inalatório, sendo comum
potencial transepitelial nasal. o uso do ciprofloxacino oral associado à tobramicina inalatória, o
que pode ser realizado em ciclos mensais, para controle de
colonização e infecção pela Pseudomonas. A azitromicina em
*A medida da tripsina imunorreativa (IRT) em sangue seco, feito doses mensais ou semanais também vem sendo avaliada com
através do "teste do pezinho", é a melhor forma de teste para bons resultados, embora geralmente não seja efetiva contra a
triagem neonatal da fibrose cística. A IRT é um exame que se Pseudomonas. Nos pacientes com exacerbação pulmonar aguda,
apresenta elevado em várias circunstâncias, que não propriamente a podem ser prescritos imipenem, oxacilina, vancomicina (para
doença, tais como na prematuridade e presença de infecções, com MRSA), além de cefepime ou ceftazidime (cefalosporinas com
alta taxa de resultados falso-positivos. cobertura para Pseudomonas).
Tratamento: embora ainda não haja cura para a fibrose cística, ➤ Moduladores do CFTR: são drogas que atuam melhorando a
com o tratamento atual mais de 40% dos pacientes função das proteínas reguladoras do transporte iônico
diagnosticados durante a infância chegam à idade adulta. Para a transmembrana, sendo representadas pelo ivacaftor,
doença gastrointestinal, o objetivo é a detecção e correção lumacaftor e tezacaftor. Sua utilização se faz de acordo com o
precoce de quaisquer deficiências nutricionais. Com a instalação genótipo do paciente e nenhuma das drogas isoladamente
da insuficiência pancreática, é necessário iniciar a terapia de mostrou benefício, apenas a combinação. A mais conhecida é
reposição de enzimas pancreáticas e vitaminas lipossolúveis. O entre lumacaftor e ivacaftor para os pacientes homozigotos
diabetes mellitus é outra manifestação comum em pacientes mais para o gene delta F508 (DF508 ou F508del), mutação mais
velhos, requerendo uso de insulina. A terapia para a doença comum. Um estudo mais recente publicado na New England
pulmonar inclui a eliminação do muco e a utilização rotineira de Journal of Medicine também mostrou benefício com a
antibióticos, de uma forma um pouco mais elaborada. Vamos associação de ivacaftor e tezacaftor.
conferir mais detalhes sobre essa terapia! ➤ Outros tratamentos: incluem a oxigenoterapia para os
pacientes francamente hipoxêmicos, com as mesmas
➤ Eliminação do muco: além de exercícios respiratórios e indicações da DPOC. Os corticoides inalatórios e sistêmicos já
tapotagem, podemos fazer uso da inalação de salina foram testados com benefício muito pequeno, não sendo
hipertônica. Um cuidado a ser tomado é a possibilidade de recomendados de rotina (exceto pelos casos associados à
induzir broncoespasmo (o uso deve ser limitado aos períodos asma). Os broncodilatadores inalatórios também não
de exacerbação dos sintomas). Além disso, o uso contínuo demonstram benefício significativo.
também favorece o acúmulo de sal nas vias aéreas,
comprometendo os mecanismos de defesa e facilitando a
proliferação bacteriana. O uso inalatório da
desoxirribonuclease humana recombinante (DNase ou dornase
alfa) está sendo estudado e difundido e seu efeito consiste
numa melhora do clearance do muco por redução na sua
viscosidade. Isso se faz pela clivagem das longas cadeias de
DNA desnaturado que acabam sendo liberadas pelos
neutrófilos na árvore respiratória. É descrita a melhora da
prova de função pulmonar, além da melhora da sintomatologia
e redução da frequência de exacerbações. Apesar disso, a
resposta varia entre os pacientes, de modo que nem todos se
beneficiam. Ao contrário do que muitos pensam, a N-
acetilcisteína deve ser evitada nesses pacientes, uma vez que
pode ser tóxica para o epitélio ciliar.
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BRONQUIECTASIAS
Definição: as bronquiectasias constituem dilatações irreversíveis
dos brônquios, resultantes de inflamações significativas das vias
aéreas, persistentes e repetidas, que levam a um dano Figura 9. Aspecto em "trilho de trem" na bronquiectasia.
progressivo dos componentes elástico e muscular da sua
parede. Os brônquios se tornam dilatados e císticos, o que
provoca pior depuração do muco, levando ao acúmulo de
secreção e a infecções do trato respiratório inferior. Como
resultado, temos piora acentuada da inflamação das vias aéreas
e mais destruição brônquica.
e) Aproximadamente 80% das bronquiectasias são curadas com Abordagem: a hemoptise é uma verdadeira emergência médica.
o uso de antibioticoterapia. A mortalidade nesses casos situa-se em torno de 13% e é devida
a um verdadeiro afogamento e não exsanguinação!!!
R. As bronquiectasias são dilatações irreversíveis dos brônquios, Inicialmente, o paciente será submetido a intubação orotraqueal
resultantes de inflamações das vias aéreas persistentes e e ventilação mecânica. O próximo passo é a identificação do local
repetidas. Em até um terço dos casos, a causa não é identificada de sangramento, utilizando radiografia de tórax e broncoscopia
(A errada). A tosse é o principal sintoma (B errada) e o diagnóstico (principalmente rígida – a broncoscopia flexível não costuma ser
confirmado por TC de tórax de alta resolução que pode mostrar tão boa). Em seguida, deve-se isolar o sangramento, protegendo
opacidades, sinal do anel de sinete e espessamento da parede o pulmão que não está sangrando. Para isso, o paciente deve
brônquica (C errada). O tratamento é direcionado para controle deitar com o pulmão "sangrante" para baixo e receber intubação
de infecções com o uso de antibióticos nas exacerbações seletiva para o pulmão preservado. Se possível, utilizar tubo de
(principalmente H. influenzae e P. aeruginosa), e higiene duplo lúmen ou bloquear o brônquio que origina o sangue com
brônquica. Nos casos refratários está indicado cirurgia (E errada). balão do cateter de Fogarty ou um cateter de bloqueio
DOENÇAS VASCULARES
PULMONARES
TROMBOEMBOLISMO
PULMONAR
Quadro clínico
Exames complementares
TEP prévio; idade avançada; obesidade; sedentarismo; ➤ Exame de triagem: d-dímero – se alterado (≥ 500 ng/dl),
tabagismo; gravidez; uso de contraceptivos orais e Terapia de encaminhar para método de imagem. Pacientes internados
Reposição Hormonal (TRH); imobilização e viagens ou com alta probabilidade clínica de TEP não devem ser
prolongadas; cirurgia recente (últimos três meses); trauma; triados por este exame.
câncer; doenças clínicas, como DPOC e cardiopatias;
trombofilias, incluindo a síndrome do anticorpo ➤ Principal exame confirmatório: angio-TC de tórax.
antifosfolipídeo (SAF); cateteres venosos profundos.
➤ Padrão-ouro: arteriografia.
Fisiopatologia
➤ Outras opções: cintilografia ventilação-perfusão, duplex-
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scan de membros inferiores, angiorresonância, depender essencialmente da extensão da embolia e da presença
ecocardiograma. ou não de doenças subjacentes, com mortalidade que pode
ultrapassar 20%!!!
➤ Estratificação: escore PESI (classes I e II – tratamento
domiciliar ou alta precoce). Critérios HESTIA também podem
ajudar na decisão. FISIOPATOLOGIA
Mais de 90% dos êmbolos pulmonares têm origem nas veias
Tratamento
profundas dos membros inferiores e pélvicas, sendo a topografia
de maior risco a iliofemoral. Geralmente, eles se localizam na
➤ Trombólise: indicada na instabilidade hemodinâmica
face interna de uma valva venosa e seguem até a circulação
atribuída ao TEP. Podem ser utilizados rtPA, estreptoquinase
pulmonar. Cerca de 50% dos pacientes com trombose nesses
ou uroquinase.
sítios acaba desenvolvendo embolia pulmonar (a maioria
assintomática). Também podemos ter um êmbolo de grandes
➤ Anticoagulação: representa a base do tratamento, iniciada dimensões que se aloje na bifurcação da artéria pulmonar
imediatamente, quando a suspeita clínica for elevada. (êmbolo "em sela" ou "a cavaleiro"), sendo comum a oclusão de
■ Uso agudo (primeiros dias): Heparina de Baixo Peso um vaso pulmonar de maior calibre, com repercussão clínica
Molecular (HBPM, via SC); Heparina Não Fracionada (HNF, mais exuberante.
via IV); fondaparinux (via SC); rivaroxabana (via oral) e
apixabana (via oral). Caso o paciente se encontre estável, A trombose venosa na panturrilha, por si só, não impõe um
a preferência é pela de baixo peso molecular; caso grande risco de embolia, porém essa condição deve ser tratada
instável ou com insuficiência renal, deve ser prescrita devido à propagação ascendente do trombo até os vasos da coxa
preferencialmente a heparina não fracionada. (estes sim um grande risco para os pulmões!). Além disso, a
Uso crônico: dabigatrana, rivaroxabana, apixabana, trombose da panturrilha é a principal causa de embolia
■
edoxabana, warfarin, HBPM. paradoxal. Este quadro pode acontecer simultaneamente ao TEP
e ocorre na presença de um forame oval patente, quando o
êmbolo que chega às câmaras direitas pode passar para o lado
Como monitorar a anticoagulação?
esquerdo do coração e, assim, atingir a circulação arterial
sistêmica.
➤ HBPM: não há necessidade, exceto em gestantes, obesos e
portadores de insuficiência renal (dosar fator Xa).
Os principais fatores de risco para Trombose Venosa Profunda
➤ HNF: manter o PTTa cerca de 1,5 a 2,5 vezes o controle. (TVP) de membros inferiores e, portanto, para o TEP incluem:
➤ Warfarin: manter o INR entre 2 e 3.
➤ TEP prévio;
➤ Demais drogas: não é necessário.
➤ Doenças clínicas, como DPOC e cardiopatias (FA, IC
E como alternativa à anticoagulação crônica? descompensada, IAM até três meses);
➤ Obesidade;
O Tromboembolismo Pulmonar (TEP) é um distúrbio causado
pela obstrução, em graus variados, dos vasos da circulação ➤ Sedentarismo;
pulmonar por fragmentos ("êmbolos"), originários normalmente ➤ Tabagismo;
de trombos em veias profundas dos membros superiores e
➤ Gravidez;
inferiores. O TEP faz parte de um conceito mais amplo que é o da
embolia pulmonar, que inclui a obstrução por qualquer tipo de ➤ Uso de contraceptivos orais e Terapia de Reposição Hormonal
êmbolo que tenha caminhado pela circulação sanguínea até (TRH);
chegar aos pulmões. Entre os materiais não trombóticos,
➤ Imobilização e viagens prolongadas;
incluem-se gás, gordura, êmbolos sépticos, líquido amniótico e
até mesmo material não endógeno, como o silicone. ➤ Doenças autoimunes e trombofilias, incluindo a síndrome do
anticorpo antifosfolipídeo (SAF);
Síndrome de Paget-Schroetter
Infarto pulmonar: ocorre em apenas 5-7% dos pacientes, O TEP deve sempre constar no diagnóstico diferencial dos
uma vez que o tecido pulmonar está mais "protegido" por portadores de doenças cardiopulmonares que "descompensam"
ter circulação dupla – artérias pulmonares + artérias sem causa aparente.
brônquicas (ramos da aorta). Além disso, o oxigênio chega
mais rápido, atravessando os septos alveolares vindo
diretamente do ar inspirado. Os pacientes com baixa pO2 Sempre que for uma possibilidade, o diagnóstico de TEP deve ser
perseguido incansavelmente! Vamos identificar os principais
E o infarto pulmonar?
EMBOLIA PULMONAR
Este seria considerado uma embolia pulmonar pequena. Nesta
A tríade clásssica do TEP é reconhecida como dispneia, dor situação, o êmbolo se aloja na árvore arterial distal, próximo à
torácica tipo pleurítica e hemoptise. Contudo, não são superfície pleural e de sua inervação. Os achados clínicos mais
necessariamente os achados mais prevalentes. Entre os sinais e frequentes são dor torácica contínua e, eventualmente,
sintomas mais comuns no TEP, os principais são taquipneia e hemoptise, somados a febre e leucocitose.
dispneia. Observe a tabela abaixo que mostra a frequência
desses achados segundo o famoso estudo PIOPED (Prospective
Investigation of Pulmonary Embolism Diagnosis).
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EXAMES DE IMAGEM
Radiografia de tórax
o mais recomendado para a abordagem na emergência, se apresenta sobre o diafragma e representa o infarto pulmonar.
compondo um teste de elevada sensibilidade para a triagem de Uma pequena dilatação da artéria pulmonar descendente, à
pacientes com suspeita de TEP. Quando encontramos níveis ≥ direita, pode ser encontrada. Esse vaso tende a se afilar logo
500 ng/ml, a sensibilidade se aproxima de 96,4% para o após a porção dilatada. Temos ainda o sinal de Palla, que
diagnóstico de TEP. Por conseguinte, o Valor Preditivo Negativo corresponde a uma artéria pulmonar direita descendente
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Figura 4. Exame de ALTA PROBABILIDADE – a cintilografia de
perfusão evidencia diversas áreas segmentares com defeitos
de perfusão. A cintilografia de ventilação demonstra ambos os
pulmões bem ventilados.
Duplex-scan de membros inferiores
EXAMES INVASIVOS
Arteriografia (angiografia) pulmonar
b) ERRADO.
Desconforto localizado ao 01
longo do trajeto do sistema
R. O principal achado eletrocardiográfico no TEP costuma ser a
venoso profundo.
taquicardia sinusal. A segunda alteração mais encontrada são os
sinais de sobrecarga aguda do ventrículo direito, em que se inclui
inversão da onda T em D3 e aVL ou de V1 a V4. Lembre-se de que Edema da perna ao joelho. 01
a alteração mais clássica (a famosa "síndrome S1Q3T3") é
relativamente incomum, aparecendo numa minoria dos casos. Diâmetro da perna 01
Assertiva CERTA. edemaciada pelo menos 3
cm superior ao da perna
No que tange ao caso clínico supracitado, julgue os itens a seguir. assintomática.
Corcova de Hampton é um achado corroborado pelo radiograma
de tórax.
Edema com sinal de Godet 01
confinado à perna
a) CERTO. sintomática.
b) ERRADO.
Veias superficiais colaterais 01
R. Como vimos, a radiografia de tórax do paciente com TEP (não varicosas).
costuma apresentar alterações inespecíficas (ex.: discreta lâmina
de atelectasia, pequeno derrame pleural ou tênue infiltrado) ou TVP prévia documentada. 01
ser completamente normal. No entanto, existem raras alterações
que possuem elevado valor preditivo positivo, como a corcova de
Um diagnóstico alternativo é -02
Hampton (infiltrado piramidal periférico com base voltada para a
tão provável como a TVP.
pleura), que significa infarto pulmonar. Outros achados clássicos
são a oligoemia focal (sinal de Westermark) e o sinal de Palla Probabilidade pré-teste de TVP: acima de zero (moderada/alta);
(dilatação do tronco da artéria pulmonar direita). Assertiva abaixo ou igual a zero (baixa).
CERTA.
Características Pontos
Fatores de risco
Saturação arterial de O2 < 20 Com relação à terapia específica do TEP, podemos dividí-la em
Resumindo
TERAPIA PRIMÁRIA 40% nas mãos de cirurgiões experientes. Vale ressaltar que esta
é uma cirurgia "heroica" e que se entende que, sem ela, o
paciente morreria em praticamente 100% dos casos!
TROMBÓLISE
A trombólise busca reduzir a maior parte dos trombos que estão Hemodinamicistas experientes também são capazes de
ocasionando a obstrução anatômica da árvore arterial pulmonar reconhecer o(s) ponto(s) de obstrução por trombo no leito
e prevenir a liberação continuada de serotonina (mediador arterial pulmonar e, em alguns casos, desfazer a obstrução
responsável também pela hipertensão pulmonar). Ela "dissolve" utilizando técnicas como trombolítico intra-arterial,
também os trombos dos membros inferiores e veias pélvicas embolectomia succional e embolectomia por fragmentação. No
evitando, dessa forma, novos episódios embólicos. entanto, a terapia por angioplastia na embolia pulmonar ainda
não é tão disseminada quanto a modalidade cirúrgica.
Bem diferente do que se observa no IAM com supra de ST,
quando os trombolíticos estão indicados apenas até 12h após o
início da dor, no TEP é possível empregá-los até 14 dias após o RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2018
início dos sintomas (embora o maior benefício seja nas primeiras SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – DISTRITO
48h de apresentação)! Como explicar isso? Provavelmente pelo FEDERAL – SES-DF
fato de os pulmões contarem com uma rica circulação colateral
pelas artérias brônquicas. Jovem de 35 anos de idade, do sexo masculino, foi submetido a
uma cirurgia de quadril, após acidente de motocicleta. Depois de
48 horas do pós-operatório, apresentou hipotensão importante,
A única indicação absoluta para o uso de trombolítico é a
dispneia súbita e mal-estar. Foi realizada uma angiotomografia
presença de instabilidade hemodinâmica. Outras possibilidades
de tórax, que evidenciou um importante trombo na artéria
(não consensuais) seriam TVP extensa; envolvimento extenso
pulmonar direita. No que tange ao caso clínico supracitado,
(múltiplos segmentos ou um lobo inteiro); hipoxemia grave e
julgue o item a seguir. Salvo contraindicações, uma trombólise
disfunção de VD evidente no ecocardiograma (principalmente se
deve ser realizada com alteplase na dose de 50 mg em bolus.
associada a um aumento dos níveis de troponina). O trombolítico
de escolha é o ativador do plasminogênio tecidual recombinante
(rtPA – alteplase), na dose de 100 mg a ser infundida em duas a) CERTO.
horas, em veia periférica. Outras opções seriam a uroquinase b) ERRADO.
(UK) prescrita com dose de ataque 4.400 UI em 10min, seguida
de 4.400 UI/kg/h por 12-24h ou, mais frequente no nosso meio, a
R. Repare na maldade da questão!!! A dose de alteplase (rTPA)
estreptoquinase (SK), prescrita com 250.000U IV infundidas em
para tratamento agudo do tromboembolismo pulmonar com
30min e, depois, 100.000 U/h durante 24h.
instabilidade hemodinâmica é de 100 mg IV em 2h – o dobro do
que foi colocado no enunciado. Assertiva ERRADA.
Algumas das principais contraindicações aos trombolíticos são:
d) Terapia trombolítica deve ser instituída nos pacientes com TEP a) Manter por tempo indeterminado.
sem choque ou hipotensão, porém de alto risco de
b) Suspender nesta consulta.
deterioração.
c) Decidir após pesquisa de trombofilia.
e) Os novos anticoagulantes não têm indicação nesta situação
clínica. d) Completar 6 meses e suspender.
R. São feitas cinco afirmativas a respeito do tromboembolismo R. A conduta frente a um paciente com história de TEP
venoso. Vamos analisá-las: ocasionando hipertensão arterial pulmonar, sem que seja
A incorreta – o tratamento de escolha para pacientes com TEP e claramente estabelecido e corrigido o fator de risco para o
instabilidade hemodinâmica é a trombólise IV, e não a terapia desenvolvimento de evento trombótico, como imobilização pós-
percutânea; operatória, neoplasia, etc., é a anticoagulação por tempo
C incorreta – apesar de complicações associadas à inserção, o indeterminado. A pesquisa de trombofilia negativa não elimina o
filtro de veia cava não é de indicação "limitada" por este motivo, risco de novo evento trombótico, considerando que a própria
podendo ser utilizado em localizações diferentes como supra, anticoagulação pode impedir a identificação de algumas
infrarrenais ou veia cava superior; trombofilias e devemos considerar que existem distúrbios ainda
D incorreta – o uso de terapia trombolítica em pacientes com TEP não conhecidos. Por esta razão, está indicada a anticoagulação
e marcadores de mau prognóstico (ex.: disfunção ventricular por tempo indeterminado. Resposta: letra A.
direita, elevação nas troponinas cardíacas, elevação no BNP),
porém SEM instabilidade hemodinâmica é controverso e deve ser
individualizado. Não se trata de uma indicação absoluta;
E incorreta – os novos anticoagulantes orais, incluindo inibidores
do fator Xa (rivaroxana, apixabana, edoxabana) e inibidores
diretos da trombina (dabigatrana) já são validados como opções
iniciais de tratamento da TVP e do TEP.
Ficamos então com a letra B! Esta é a exata indicação de
embolectomia nos pacientes com TEP, isto é, naqueles com TEP e
instabilidade hemodinâmica que possuem contraindicação ou
falha à terapia fibrinolítica; a embolectomia pode ser realizada
cirurgicamente ou guiada por cateter.
➤ Elevação da troponina sérica: a troponina sérica também 1.3 Induzida por drogas (principalmente anorexígenos) e
pode estar elevada no TEP, em particular nos casos associados toxinas.
à sobrecarga de VD. Assim, também é natural estabelecer a
1.4 Associada a: doenças do tecido conjuntivo, hipertensão
relação entre troponina elevada e prognóstico ruim em
portal, infecção por HIV, doenças cardíacas congênitas,
pacientes com TEP.
esquistossomose.
Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech
1.5 Responsiva a bloqueadores de canal de cálcio.
RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2016
1.6 Associada a envolvimento significativo capilar ou venoso:
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP –
doença venoclusiva pulmonar e hemangiomatose capilar
pulmonar.
UNICAMP
1.7 HAP persistente do RN. Mulher, 65 anos, hipertensa e com diabetes do tipo 2, há cerca de
15 anos, relata cansaço aos moderados esforços. Está tomando:
GRUPO 2: HIPERTENSÃO PULMONAR (HP) POR DOENÇA losartana, hidroclorotiazida e hipoglicemiantes orais. Exame
CARDÍACA ESQUERDA físico: IMC = 29 kg/m². Exames laboratoriais: SaO2 = 95% (ar
ambiente). O ecocardiograma transtorácico estimou a PSAP = 50
2.1 Insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada. mmHg, átrio esquerdo de 45 mm, fração de ejeção de ventrículo
esquerdo de 65%, com aumento da massa ventricular esquerda.
2.2 Insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida.
Qual a provável causa da hipertensão pulmonar nesta paciente?
2.3 Doença valvar.
2.4 Condições cardiovasculares congênitas/adquiridas com a) Hipertensão pulmonar pós-capilar, grupo 2 da classificação de
HP pós-capilar. Hipertensão Pulmonar (OMS).
Classe I ➤ RX de tórax:
HP sem limitação das atividades físicas. Atividades físicas ■ Dilatação > 16 mm na artéria pulmonar direita;
habituais não causam dispneia ou fadiga excessiva, dor
■ Redução da vascularização pulmonar periférica;
torácica ou pré-síncope. Os sintomas só aparecem aos
grandes esforços. ■ Casos avançados: aumento do AD (1º arco cardíaco à
direita) e do VD (diminuição do espaço retroesternal e
"coração em bota");
Classe II
HP que resulta em discreta limitação das atividades físicas. ■ Abaulamento do 2º arco da silhueta cardíaca à esquerda
Estes pacientes estão confortáveis ao repouso, mas atividades (tronco pulmonar).
físicas habituais (médios esforços) causam dispneia ou fadiga
excessiva, dor torácica ou pré-síncope.
Classe III
HP que resulta em relevante limitação das atividades físicas.
Estes pacientes estão confortáveis ao repouso, mas esforços
menores que as atividades físicas habituais (pequenos
esforços) causam dispneia ou fadiga excessiva, dor torácica
ou pré-síncope.
Classe IV
HP que resulta em incapacidade para realizar qualquer
atividade física sem sintomas. Estes pacientes manifestam
sinais de falência ventricular direita. Dispneia ou fadiga
podem estar presentes ao repouso, e o desconforto aumenta
com qualquer esforço feito.
A hiperfonese de P2 (componente pulmonar da 2ª bulha) é ■ Sobrecarga de VD: desvio do eixo para a direita, relação R/S
característica devido ao fechamento valvar contra a pressão > 1 em V1, bloqueio de ramo direito;
aumentada nas artérias pulmonares. Essa bulha também pode
■ Aumento de AD: onda P alta e apiculada em DII.
ter um componente palpável ao exame físico (choque valvar) à
medida que a HP progride. ➤ Ecocardiograma-Doppler: estima a pressão arterial pulmonar
sistólica e avalia causas de hipertensão pulmonar.
(1) Pacientes com teste da vasorreatividade aguda positivo meses evoluiu para risco alto de mortalidade. A conduta
a) Clopidogrel.
b) Sildenafila.
c) Losartana.
d) Diltiazem.
Formas atípicas de um derrame pleural incluem a apresentação pleuropulmonares, enquanto os transudatos são causados por
infrapulmonar (subpulmonar), mantendo-se sob os pulmões e doenças sistêmicas congestivas, que cursam com aumento da
sem se estender para o seio costofrênico ou para as porções pressão hidrostática, diminuição da pressão oncótica, diminuição
laterais do espaço pleural; loculado ou septado (líquido pleural da pressão no espaço pleural ou comunicação com a cavidade
encapsulado típico do empiema e hemotórax); e fantasma peritoneal. Além disso, os exsudatos mais comumente são
(loculado entre as cissuras horizontal ou oblíqua), formando uma unilaterais, enquanto os transudatos tendem a ser bilaterais.
➤ Retenção/sobrecarga de fluidos.
pH < 7,2 Infecções (empiema),
➤ Embolia pulmonar (20% dos casos). neoplasia, rotura de
➤ Colapso lobar. esôfago; artrite reumatoide
e colagenoses
Exsudatos
Glicose (< 60 mg/dl) Infecções (empiema),
➤ Neoplasias malignas: carcinoma broncogênico, carcinoma neoplasia, colagenoses e na
metastático, linfoma, mesotelioma. artrite reumatoide
➤ Outras: embolia pulmonar (80% dos casos); quilotórax, Complemento (reduzido) Lúpus, artrite reumatoide
uremia, sarcoidose, trauma, pós-irradiação.
Hemácias (5.000/mm³) Trauma, câncer, embolia
pulmonar
Essa divisão inicial se faz a partir da avaliação dos níveis de
proteína e LDH comparados ao sérico, a partir dos critérios de
Derrame quiloso Tuberculose, lesão do ducto
Light. Se pelo menos um deles estiver presente, trata-se de um
(triglicerídeos > 110 mg/dl) torácico (trauma, invasão
exsudato:
neoplásica)
ATENÇÃO
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PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO
Este é o pneumotórax que se instala quando o ar penetra na
cavidade pleural de forma contínua e um mecanismo valvular o
impede de sair. Pode ser causado por traumatismo torácico
penetrante, trauma fechado com fratura de costelas e
consequente lesão pulmonar ou pelo emprego de ventilação
com pressão positiva em pacientes com lesões
pleuropulmonares – esta última é a causa mais comum segundo
o ATLS. Dessa forma, o ar se acumula na cavidade pleural sob
pressão, causando insuficiência respiratória (por compressão
pulmonar), hipotensão arterial e turgência jugular (pela redução
do retorno venoso), além de desvio da traqueia e do mediastino
Figura 2. Pneumotórax espontâneo primário à direita.
para o hemitórax contralateral.
b) Pleurodínia por coxsackie. No pneumotórax aberto, temos uma lesão na parede do tórax
R. O quadro é clássico da apresentação do pneumotórax gaze fixada apenas em três de seus lados (curativo de três
espontâneo, quando teremos dor tipo pleurítica súbita em pontas). Isso gera um mecanismo valvular, pois impede que o ar
pacientes jovens, homens e sem comorbidades. Resposta: letra D. entre pela inspiração e permite sua saída na expiração – sua
oclusão completa pode transformar um pneumotórax aberto em
hipertensivo! O tratamento definitivo envolve o fechamento
cirúrgico do pneumotórax apenas após a drenagem torácica em
PNEUMOTÓRAX SECUNDÁRIO selo d’água (toracostomia).
ATENÇÃO
causa de óbito mais comum são as complicações da refere dispneia, geralmente desproporcional ao volume do
disseminação local. Os pacientes apresentam dificuldade derrame.
respiratória e dor torácica crescente à medida que o tumor
cresce, obliterando o espaço pleural, substituindo o derrame e O derrame pleural geralmente é classificado como exsudato,
formando uma "couraça" que limita a expansão pulmonar. sendo rico em células mesoteliais. Na maioria dos carcinomas, o
Depois, instala-se hipoxemia por shunt no pulmão acometido, diagnóstico é firmado pelo exame citopatológico do líquido
que é refratária à oxigenoterapia. ascítico. Já nos linfomas a positividade deste exame é mais baixa.
É interessante lembrarmos sempre que existem outras causas de
Tratamento: o manejo dos cerca de 20% dos pacientes com derrame pleural em pacientes com câncer de pulmão
doença potencialmente ressecável e limitada a um hemitórax é (atelectasia, pneumonia, obstrução linfática, etc.). Como a
motivo de controvérsia. Muitos especialistas recomendam uma presença de células neoplásicas no líquido pleural caracteriza
abordagem trimodal, com cirurgia seguida por quimioterapia e esses pacientes como inoperáveis (estágio IV), pelo menos o
radioterapia. A cirurgia pode ser uma pneumectomia exame citopatológico deve ser realizado de rotina. Quanto maior
extrapleural (ressecção do pulmão e da pleura) ou apenas uma a quantidade de líquido e o número de toracocenteses, maior a
pleurectomia, na dependência da extensão da doença e da sensibilidade do exame citopatológico!
presença de comorbidades ou limitação funcional pulmonar. A
radioterapia pós-operatória melhora o controle local da doença, O líquido coletado pode ser centrifugado e incluído em bloco de
enquanto a quimioterapia reduz o risco de metástases à parafina (cell block), sendo posteriormente cortado em lâminas
distância. A questão é que poucos pacientes conseguem para análise microscópica. Quando o sítio primário da neoplasia
completar o tratamento, considerando a sua toxicidade. Em não é conhecido, o exame de imuno-histoquímica é útil não só
pacientes não candidatos ao tratamento potencialmente para determinar o provável tumor primário como ainda para
curativo, o manejo do derrame pleural pode ser realizado com fazer o diagnóstico diferencial com mesotelioma. Com exceção
pleurodese ou pleurectomia por vídeo (poupando o paciente de dos linfomas, a grande maioria dos portadores de metástases
múltiplas toracocenteses de alívio), enquanto radio e pleurais possui doença incurável. Quando o diagnóstico de
quimioterapia paliativas apresentam eficácia limitada. metástase pleural já é conhecido, as toracocenteses devem ser
realizadas nos pacientes com dispneia apenas para alívio
Prognóstico: a sobrevida média dos portadores de mesotelioma sintomático. Nos pacientes que evoluem com necessidade de
pleural é baixa, não passando de um ano após o diagnóstico. múltiplas toracocenteses e ainda possuem expectativa de vida
Dois grandes estudos foram realizados para analisar os fatores superior a três meses, o manejo do derrame pleural pode ser
de mau prognóstico nesses pacientes, um pelo Cancer and realizado com pleurodese (infusão de substância esclerosante na
Leukemia Group B (CALGB) e outro pela European Organisation for cavidade pleural, como talco ou doxiciclina) ou inserção de
Research and Treatment of Cancer (EORTC). Entre os principais cateter fino de longa permanência. A pleurectomia (ressecção da
fatores apontados como adversos pela CALGB, encontramos: pleura) não costuma ser indicada, sendo geralmente restrita ao
mesotelioma pleural. Radio e quimioterapia paliativas
apresentam eficácia limitada na maioria dos casos.
➤ Envolvimento pleural (em detrimento de pericárdico ou
peritoneal);
Os sintomas variam de acordo com a localização: os tumores de Alguns autores ainda acrescentam um quinto "T" relacionado ao
mediastino anterior e médio podem comprimir o coração, aneurima de aorta ascendente (Thoracic aorta).
grandes vasos e as vias aéreas, enquanto os posteriores
comprimem o esôfago ou mesmo a medula espinhal. Dor
torácica, febre, tosse e dispneia também são encontrados com
frequência. Contudo, até 40% dos pacientes são assintomáticos,
MEDIASTINO MÉDIO
sendo "achados" de massas mediastinais nos exames de A maioria das massas contidas no mediastino médio são cistos –
imagem, realizados por outros motivos. O mediastino médio, por broncogênicos, pericárdicos ou resultantes de falhas no
conter a traqueia, os brônquios, o coração e a maioria dos desenvolvimento embriológico do intestino anterior. Aneurismas
grandes vasos, é a principal sede de tumores que podem cursar da aorta também entram no diagnóstico diferencial. O
com dispneia, embora o crescimento de tumores a partir de tratamento dessas condições é cirúrgico.
outras porções do mediastino também possa cursar com invasão
de sua porção média.
Dentre as neoplasias contidas no mediastino médio, destacam-
se os linfomas, mas vale ressaltar que frequentemente o câncer
Antes de passarmos para o estudo específico sobre eles, vamos de pulmão (ou o tumor primário, ou os linfonodos acometidos
marcar alguns conceitos básicos: pela doença) são também causa de massa mediastinal. Devemos
PNEUMOMEDIASTINO
O diagnóstico é simples, através da clínica e radiografia de tórax.
O pneumomediastino, como o próprio nome já diz, é Geralmente a aspiração do ar com agulha é reservada para os
caracterizado pela presença de gás no mediastino (pneuma = ar, pacientes com sintomas compressivos. Nos demais, o ar no
em grego). As três causas principais são: mediastino é absorvido espontaneamente – podemos acelerar
um pouco o processo deixando o paciente em oxigenoterapia. A
(1) Ruptura alveolar com dissecção de gás para dentro do mortalidade do pneumomediastino, quando ocorre