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Glomerulopatias na Pediatria

o Introdução o Fisiologia Renal

As glomerulopatias, que em geral são O rim possui uma camada externa, o córtex, e
conhecidas como “glomerulonefrites”, são uma camada interna, a medula.
doenças que acometem os glomérulos,
estruturas constituídas por um tufo de capilares O conjunto de medulas forma as pirâmides
sanguíneos (delimitados por uma cápsula), renais; cada uma dessas é constituída por um
além de uma série de outros elementos (entre sistema com milhares de túbulos
eles, vários tipos de célula), responsáveis pela microscópicos: os néfrons, estruturas
ultrafiltração do plasma. funcionais dos rins. São esses corpúsculos
renais os responsáveis pela filtração do sangue
e produção da urina.

Os rins estão situados no espaço


retroperitonial logo acima do nível da
cicatriz umbilical. Eles variam em
comprimento e peso, respectivamente, de
aproximadamente 6 cm e 24 g em um
recém-nascido a termo adequado para
idade gestacional a ≥12 cm e 150g em um
adulto.

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A filtração é um processo inespecífico e basal e a parede da cápsula de Bowman que


constitui a passagem do plasma do glomérulo recobre o glomérulo.
para a cápsula de Bowman. Os poros dos capilares permitem a passagem da
maioria dos componentes do plasma, menos
das células sanguíneas. Além disso, a fenda de
filtração localizada na lâmina basal do
glomérulo não permite a passagem de
proteínas.

A filtração glomerular é controlada por três


forças de pressão:

• Hidrostática: que é a força que o


sangue faz na parede do capilar, quanto
maior a pressão arterial maior será a
pressão hidrostática e maior também
será a taxa de filtração;
• Coloidosmótica: essa força gera um
gradiente de concentração, promovendo
a passagem de solvente do local menos
concentrado para o mais concentrado. A
força coloidosmótica favorece a volta
do líquido da cápsula de Bowman para
o capilar;
• À medida que o líquido atravessa os
capilares, entrando na cápsula de
Mais de 7,5 litros de plasma são filtrados por Bowman, esse pressiona as paredes da
hora nos néfrons. Entretanto, apenas 20% é cápsula se opondo a chegada de mais
filtrado e o restante segue para os capilares, e, líquido.
desses 20% que correspondem à fração de
filtração, apenas 1% é excretado. Logo, percebemos que a taxa de volume de
líquido que sai de dentro do capilar para a
Por ser um processo sem muita seletividade, cápsula (taxa de filtração glomerular) é
essa troca entre capilar e cápsula de Bowman definida tanto pela pressão sanguínea quanto
pelo coeficiente de filtração, sendo
apresenta uma barreira tripla: o próprio
endotélio do capilar, uma pequena lâmina relativamente constante.

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À medida que o sangue percorre os capilares Essas estruturas possuem funções primordiais
glomerulares, o plasma é filtrado através de na filtração:
suas paredes.
O ultrafiltrado, que é livre de células, contém - MBG: carga-seletividade; garante o
todas as substâncias do plasma (eletrólitos, ultrafiltrado do plasma. A carga da MBG é
glicose, fosfato, ureia, creatinina, peptídeos e negativa e a carga das proteínas também é. Essa
proteínas de baixo peso molecular), exceto característica garante que as proteínas sejam
proteínas contendo um peso molecular ≥68 kd repelidas (negativo repele negativo) e não
(como albumina e globulinas). sejam filtradas (impedindo que sejam
Após passar pelo processo de filtração, o eliminadas na urina (proteinúria).
filtrado é coletado no espaço de Bowman e
segue o caminho por outros ramos do néfrons - Células mesangiais (garantem a estrutura).
(onde sua composição é modificada de forma Responsável pela fagocitose e pela propriedade
muito bem elaborada pela reabsorção e contrátil regulando o fluxo sanguíneo nos
secreção de solutos e fluidos): túbulo capilares.
proximal, alça de Henle, túbulo distal,
túbulo coletor e ducto coletor, até, - Células endoteliais (fenestração dos
finalmente, ser excretado em forma de capilares). Regulam a passagem de
urina. macromoléculas.
É importante saber que existem algumas
estruturas no glomérulo que garantem que essa - Células epiteliais: (tanto as parietais e as
filtração seja eficaz. são elas: viscerais – viscerais são chamadas de podócitos
- Membrana basal glomerular (MBG) e regulam a fenestração). Responsável pela
- Células mesangiais pinocitose de proteínas (as poucas proteínas
- Células endoteliais que conseguem passar pela MBG sofrem
- Células epiteliais pinocitose pelas células epiteliais para não

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serem eliminadas) e polipeptídios, e participa morfológicas e imunopatológicas com


na síntese e trofismo da MBG (usa os glomerulonefrites imunomediadas
polipeptídios para sintetizar células epiteliais). experimentalmente; com a demonstração de
componentes imunes (imunoglobina,
complemento) nos glomérulos, com
anormalidades do complemento
sérico e pela presença de
autoanticorpos (anti-MBG) em
algumas dessas doenças.

Parecem haver dois mecanismos


principais de lesão imunológica:
depósito glomerular de
imunocomplexos antígeno-
anticorpo circulantes e interação
de anticorpo com antígeno local in
situ. Nesta última circunstância, o
antígeno pode ser um componente
normal do glomérulo (p. ex., o
domínio não- colagenoso [NC-1] do
colágeno tipo IV, o antígeno suposto
na nefrite anti-MBG humana) ou um
antígeno que tenha sido depositado
no glomérulo.
Qual alteração na estrutura do glomérulo pode
afetar na função renal e resultar na Existe uma teoria imunológica que explica que
filtração/eliminação errônea de substâncias. há envolvimento tanto dos linfócitos B quanto
dos linfócitos T.
o Fisiopatologia
- Os linfócitos B:
A lesão glomerular pode ser o resultado de (responsáveis pela produção de anticorpos).
alterações genéticas, imunológicas, Esses anticorpos se ligam a antígenos de duas
perfusionais ou de distúrbios da coagulação. formas:
- Ac + Ag in situ – os anticorpos se
Os distúrbios genéticos glomerulares resultam ligam a antígenos próprios da MBG,
de mutações nos éxons de DNA que codificam formando imunocomplexos, e
as proteínas presentes no glomérulo, no modificando a cardioseletividade e
interstício ou no epitélio tubular. Também estrutura da MBG.
podem ser decorrentes de mutações nos genes
reguladores da transcrição do DNA ou de - Ac + Ag circulantes – ou se ligam a
anormalidades pós-transcricionais do RNA ou antígenos circulantes no sangue,
de modificações na transcrição de proteínas. causando deposição glomerular de
imunocomplexos e ativação do
As lesões imunológicas do glomérulo podem complemento (a pós estreptocócica tem
resultar em glomerulonefrite, um termo fisiopatologia similar, pois ativa cascata
genérico utilizado para várias enfermidades do complemento).
que histopatologicamente significa
inflamação dos capilares glomerulares. As - Os linfócitos T:
evidências de que a glomerulonefrite é causada produção de polipeptídios (linfocinas), que
por lesão imunológica decorre de similaridades alteram a permeabilidade da MBG por

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interferência na síntese de seus constituintes


(alterando a carga seletividade e deixando
passar proteínas e outras substâncias).

o Necessidade de Biópsia

É importante diagnosticar a glomerulopatia e Para fechar o diagnóstico de uma


determinar o tipo de glomerulopatia, dentre os glomerulopatia é necessário que a biópsia tenha
diversos existentes, para fazer o tratamento três leituras:
adequado. Se ela não é diagnosticada - Microscopia óptica.
precocemente e/ou não é tratada - Microscopia eletrônica.
adequadamente pode progredir para - Microscopia com imunofluorescência.
insuficiência renal crônica terminal.
Deve-se deixar claro que ao indicar biópsia
Em muitas situações, o nefrologista precisa renal em glomerulopatias, deve-se programar o
lançar mão da BIÓPSIA RENAL para envio de material para análise pelo menos pelas
determinar o tipo de glomerulopatia com técnicas de microscopia óptica e de
precisão. imunofluorescência. Salientando-se que, em

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caso de hematúria isolada, além dessas é abundante na circulação. O fígado não dá conta
essencial que se disponha também de de sintetizar a quantidade adequada da proteína
microscopia eletrônica. para equilibrar a perda.

o Síndrome Nefrítica x Nefrótica A hiperlipidemia deve-se a uma maior síntese


de proteínas de muito baixa densidade
Primeiramente saiba que, síndrome (carreadoras de triglicérides) e de baixa
significa: conjunto de sinais e sintomas que densidade (carreadoras de colesterol). Além
caracterizam uma doença ou condição. disso, a hipoalbuminemia inibe a lipólise e
estimula o fígado a produzir essas novas
Síndrome Nefrítica proteínas.
A síndrome nefrítica é decorrente de uma
inflamação glomerular aguda. Esta inflamação Hematúria microscópica, hemácias dismórficas
dos glomérulos pode ocorrer de forma e cilindros hemáticos podem surgir, raramente,
idiopática, como doença primária dos rins, ou na síndrome nefrótica.
ser secundária a alguma doença sistêmica,
como infecções e colagenoses. SÍNDROME SÍNDROME
NEFRÍTICA NEFRÓTICA
A síndrome nefrítica clássica tem início Ocorre perda abrupta da Ocorre aumento da
repentino (dias/semanas) sendo que a principal superfície de filtração → permeabilidade do capilar
redução da excreção de glomerular à passagem de
causa é a glomerulonefrite pós-estreptocócica. líquidos, pequenos solutos, proteínas → proteinúria
Independente da origem, o quadro básico é eletrólitos. maciça.
caracterizado por hematúria, proteinúria leve
(não-nefrótica, ou seja, menor que 3,5g/24h) e o Tipos de Glomerulopatias na Infância
oligúria (400 ml/dia de urina).
• Síndrome nefrítica – principal:
A hematúria tem origem nos glomérulos Glomerulonefrite pós infecções: pós-
comprometidos, e é o sinal mais característico estreptocócica (GNPE).
e mais comum da síndrome nefrítica. As
hemácias são dismórficas, devido à migração • Síndrome nefrótica – complexo de alterações
através de "rupturas" ou "fendas" que surgem glomerulares:
nas alças capilares dos glomérulos inflamados. • Ausência de lesões à microscopia
óptica (alterações de lesões mínimas -
O EAS também revela piúria e cilindros LHM ou primária); geralmente bom
celulares (hemáticos e leucocitários). prognostico na infância.
• Lesões proliferativas mesangiais;
Lembre-se: quando aparecem cilindros na urina
• Glomeruloesclerose segmentar e focal
é um forte indício de que há lesão renal
(GESF); mais grave; história familiar;
(glomérulos ou túbulos). ligada a perda grave da função renal.
Síndrome Nefrótica
A síndrome nefrótica pode ser causada por
diversas doenças que acometem os rins. É
caracterizada por proteinúria maciça (superior
a 3,5g/ 24 horas), com tendência a edema,
hipoalbuminemia (albumina sérica inferior a
3,4g/dl) e hiperlipidemia.

A perda maciça de proteínas pela urina causa a


hipoalbuminemia já que a albumina é a mais

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Síndrome Nefrítica na Pediatria

o Introdução o Etiologia Da Síndrome Nefrítica Na Criança

A síndrome nefrítica (SNi) é uma condição A SNi abrange um amplo espectro de condições
clínica caracterizada pela associação de edema, com comprometimento histológico
hipertensão arterial (HA) e hematúria. inflamatório e alterações variáveis do
sedimento urinário, envolvendo
Frequentemente, observa-se associação de glomerulopatias primárias e glomerulopatias
proteinúria e, em algumas situações, ocorre secundárias (Quadro 1).
perda da função renal. Correlaciona-se com
glomerulopatias, as quais podem estar
presentes em todas as faixas etárias, podendo-
se apresentar de forma aguda ou crônica,
quando podem se relacionar com falência
crônica dos rins.

A apresentação clínica principal na infância é a


SNi aguda. Entretanto, outras formas de
apresentação incluem desde formas
subclínicas, como quadros de diferencial de
hematúria recorrente, uma síndrome com curso
clínico-laboratorial de perda rápida e
progressiva da função renal (glomerulonefrite
rapidamente progressiva – GNRP) e quadros de
SNi crônica.

A causa mais comum de síndrome nefrítica em


crianças é a GLOMERULONEFRITE
AGUDA PÓS-INFECCIOSA (GNDA-PI),
associada principalmente com a infecção
estreptocócica.

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Essas glomerulopatias podem se apresentar de perda da acuidade visual e alterações variáveis


várias formas, incluindo além da SNi, a do sensório, além de acidente vascular cerebral.
síndrome nefrótica (a qual se caracteriza por
proteinúria de caráter nefrótico, Manifestações urinárias:
hipoalbuminemia, edema e dislipidemia – Além da hematúria, observa-se também
próximo capítulo) ou com características de oligúria. A hematúria pode ser microscópica ou
ambas, também denominada síndrome mista. macroscópica e frequentemente acompanhada
de cilindros hemáticos e evidências de origem
o Aspectos Clínicos e Laboratoriais a Síndrome glomerular, realçando a presença de
Nefrítica dismorfismo eritrocitário.
A taxa de filtração glomerular (TFG) pode estar
Clínica da apresentação típica: reduzida na fase aguda, refletindo-se, na prática
Início súbito de hematúria, edema, clínica, no aumento de creatinina sérica ou de
proteinúria de grau variável, HA e azotemia outros biomarcadores da função glomerular.
(elevação sanguínea dos compostos Dependendo da etiologia da SNi, a TFG pode
nitrogenados em decorrência de alterações pré- ou não se normalizar, fato que ocorre na
renais, renais ou pós-renais). maioria dos casos de GNDA-PI.

Inicialmente: febre, cefaleia e dor abdominal. Apresentação atípica:


Progressivamente: edema, ganho de peso e Quadros isolados de oligúria e lesão renal
astenia. aguda (LRA) ou HA ou hematúria
Outras manifestações extrarrenais: depende macroscópica isolada ou proteinúria.
da doença de base e/ou patologias sistêmicas
eventualmente associadas. Exemplo: Nos casos de glomerulonefrite
difusa aguda pós-estreptocócica (GNDA-
O EDEMA É FREQUENTEMENTE PE), algumas vezes a apresentação é
MODERADO subclínica, sendo estabelecido o diagnóstico
por meio da investigação, por exemplo, de
familiares do caso índex. Em outras ocasiões,
ocorre perda rápida e progressiva da função
renal, condição conhecida como
glomerulonefrite rapidamente progressiva.

o Avaliação e Diagnóstico

- Coletar a história clínica, história familiar,


presença de sinais e sintomas extrarrenais e
realizar o exame físico: isso pode fornecer
evidências de doença sistêmica, grau de
comprometimento e potenciais complicações.
EDEMA e HA:
São secundários e relacionados basicamente à A glomerulonefrite pode ser isolada ao rim
expansão do volume extracelular. (síndrome nefrítica primária) ou pode ser um
componente de um distúrbio sistêmico
Complicações graves: (síndrome nefrítica secundária).
Edema agudo pulmonar, insuficiência cardíaca
e crise hipertensiva, habitualmente Exemplos de situações que ajudam no
estratificadas como urgência ou emergência diagnóstico:
hipertensiva (nesta há a presença de disfunção - Pródomo recente de infecção de pele ou
de órgãos-alvo); cefaleia, crises convulsivas, orofaringe pode sugerir GNDA-PE.

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- Exantema facial e artrite em uma menina *As solicitações dos exames dependem da
podem sugerir lúpus eritematoso sistêmico. suspeita etiológica da glomerulopatia, das
- Dor abdominal, artralgia e lesões purpúricas manifestações clínicas e/ou da causa
em nádegas, membros inferiores e/ou secundária associada.
superiores podem estar relacionados com a
púrpura de Henoch-Schönlein. Exame de urina: hematúria, cilindros
hemáticos, hialinos, granulosos, leucocitários e
Laboratório: proteinúria. A microscopia urinária pode
- A investigação laboratorial é necessária em revelar a presença de hemácias crenadas,
todos os casos (ver Quadro 2). sugestivo de origem glomerular, juntamente
com o achado de cilindros hemáticos. A
avaliação da razão da proteína/creatinina em
amostra isolada de urina (U P/C) avalia o grau
de proteinúria, lembrando que, em situações de
hematúria macroscópica, a proteinúria pode se
elevar devido ao componente globina. Em
alguns casos, proteinúria nefrótica ou síndrome
nefrótica podem estar presentes.

Exames séricos: avaliar a presença de


síndrome infecciosa associada (vírus, bactérias
e outros agentes), enfermidades de caráter
imunológico, potenciais processos
linfoproliferativos e o grau de atividade
inflamatória (p. ex., PCR, VHS)

Função Renal: por meio da análise da


creatinina sérica e da estimativa do clearance de
creatinina e o grau de azotemia (elevação da
ureia sérica).

Perfil eletrolítico: Nos casos de oligúria e


LRA é importante analisar o perfil eletrolítico
(distúrbios do Na, K, cloro, cálcio iônico,
fosfato, magnésio) e a presença de distúrbios
ácido-bases (análise gasométrica).

Exames de Imagem: Na avaliação diagnóstica


de determinadas enfermidades e nos casos de
hipervolemia ou de comprometimento cardíaco
de várias glomerulopatias ou vasculites,
podem-se realizar exames funcionais e/ou de
imagem, como o ecocardiograma, a radiografia
e/ou a tomografia de tórax (neste caso, evitar a
utilização de contraste radiológico).

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antígenos extraíveis nucleares (antiENA) são


Análise do complemento: fornece importantes no diagnóstico do lúpus
informações importantes para a classificação e eritematoso sistêmico e de outras doenças
acompanhamento da SNi aguda. Entre as autoimunes.
glomerulopatias hipocomplementêmicas temos
a GNDA-PE, a nefrite lúpica, a glomerulopatia Anca (anticorpo contra citoplasma de
do C3, a nefrite do shunt, a glomerulonefrite neutrófilos): principalmente na avaliação das
crioglobulinêmica, a glomerulonefrite vasculites. O Anca-c (padrão difuso
associada à endocardite bacteriana, entre citoplasmático) está associado com anticorpos
outras. antiproteinase 3, sendo um teste importante
para o diagnóstico de poliangeíte
Aslo e demais pra estreptococo: pode-se granulomatosa (Wegener). O Anca-p (padrão
estabelecer uma infecção estreptocócica perinuclear) está associado com inúmeros
pregressa por meio da análise da anticorpos, incluindo antimieloperoxidase,
antiestreptolisina O (Aslo) e/ou da antiDNAse podendo estar presentes na poliarterite nodosa
B (esta é mais específica). e em outras patologias renais, reumáticas e
sistêmicas.
FAN e anticorpos: A análise do fator
antinúcleo (FAN), antiDNA (dupla-hélice) e o Anticorpo antiPLA2R (receptor da
painel de anticorpos nucleares dirigidos contra fosfolipase A2): responde por grande parte dos

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casos de glomerulonefrite membranosa Na infância, a maioria das infecções associadas


primária (GMP). à GNPI é causada por infecções
estreptocócicas (GNDA-PE).
Imunoeletroforese sérica: Na nefropatia por
IgA pode-se observar aumento da IgA sérica, Quadro 3 Agentes infecciosos potencialmente associados
com glomerulonefrite pós-infecciosa
porém esse achado é pouco sensível e Fungos,
inespecífico. Bactérias Vírus protozoários e
helmintos
Spreptococcus beta- Hepatite B Candida sp
Sorologias para infecções virais: devem ser hemolítico do grupoA Hepatite C Histoplasma
realizadas para afastar causas secundárias (p. Streptococcus do grupo C Citomegalovírus capsulatum
ex., hepatite B, hepatite C, vírus Epstein-Barr, (S. zooepidemicus) Varicela vírus Criptococcus sp
Spreptococcus do grupo Parvovírus B19 Coccidiodes
HIV etc.) G Epstein-Barr immitus
Streptococcus viridans; S. Coxsackie B Plasmodium
Biópsia renal: pode ser necessária para o pneumoniae Vírus da rubéola malarie
Staphylococcus aureus; S. Vírus do sarampo Plasmodium
estabelecimento diagnóstico e a demonstração epidermidis Influenza A e B falciparum
da extensão do processo inflamatório Enterococcus sp Adenovírus Trypanosoma
glomerular, comprometimento túbulo- Neisseria meningitidis; N. Guillain-Barré cruzi; T. bruci
gonorrhoeae; N. flava Onconavírus Leishmania
intersticial eventual e para a presença e padrão Escherichia coli Enterovírus donovani
de depósitos imunes, imunocomplexos, além Pseudomonas sp ECHO vírus Toxoplasma
de anticorpos específicos. A presença de Acinetobacter baumanni HIV etc. gondii
Acinetobacter baumanni Toxocara canis
depósitos imunes na imunofluorescência ou na Klebsiella pneumoniae Strongyloides
microscopia eletrônica e sua especificidade Proteus mirabilis stercoralis
histológica frequentemente estabelecem o Enterobacter clocae Shistosoma
Haemophylus influenzae mansoni; S.
diagnóstico na nefrite lúpica, na nefropatia por Campylobacter sp japonicum
IgA e na GMP, por exemplo. Salmonella typhi; S. S. haematobium
paratyphi; S. typhimurium Wuchereria
Corynebaterium bancrofti
- Esses exames são necessários e importantes diphteriae; C. bovis Brugia malayi
para o diagnóstico precoce e a instituição da Micoplasma pneumoniae Loa
terapia, o que pode influenciar no prognóstico Treponema pallidum Onchocerca
Mycobacterium valvulus
em determinados casos. tuberculosis; M. leprae; Trichinella
M. avium spiralis etc.
- Resultados de exames laboratoriais dirigidos, Propionibacterium acnes
Brucella suis; B. abortus
principalmente da área imunológica e/ou a Listeria monocytogenes
análise histológica tecidual em casos Leptspira sp
selecionados, geralmente identificam a Actinobacillus sp
Yersinia enterocolitica
etiologia associada. Rickettsia rickettsii
Granulicatella adiacens
o Glomerulonefrite E Infecções: etc.

Glomerulonefrite Difusa Aguda Pós-


Estreptocócica o Epidemiologia da GNDA-PE

GNDA-PE: processo inflamatório glomerular


As glomerulonefrites pós-infecciosas (GNPI)
e difuso, relacionada a uma infecção pregressa
englobam um grande grupo de
pelo estreptococo, sendo considerada uma das
glomerulonefrites mediadas imunologicamente
complicações não supurativas por cepas
e associadas com diversos agentes
nefritogênicas do Streptococcus pyogenes
infecciosos, incluindo bactérias, vírus, fungos,
(principalmente Streptococcus beta-hemolítico
protozoários e helmintos (Quadro 3).
do grupo A).

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- A mais prevalente entre as glomerulonefrites proteinase catiônica (protease cisteínica)


agudas na infância; porém não se conhece sua extracelular.
real prevalência.
As evidências atuais sugerem que esses
- Estimativas anuais de 470 mil casos antígenos nefritogênicos seriam depositados
novos/ano e de 9,5-28,5 novos casos/100000 no rim (“antígenos plantados”) com a
pessoas-ano; formação posterior de imunecomplexos in
situ, resultantes da deposição secundária de
- Incidência é mais elevada em países anticorpos específicos. Alguns relatos
subdesenvolvidos, relacionada com fatores de demonstram a coparticipação e a habilidade de
risco tradicionais para infecção estreptocócica ligação desses antígenos à plasmina, a qual,
na comunidade. deixando de ser inativada, promoveria lesão
glomerular, juntamente com a ativação do
- Estima-se que, para cada caso índex, 3-4 casos sistema complemento pelos imunecomplexos
sejam assintomáticos. formados.

- Pode estar relacionada a surtos epidêmicos de Como isso acontece?


infecção estreptocócica na comunidade ou Após a liberação de NAPlr ou SpeB na
pode se apresentar de forma endêmica. circulação pelo estreptococo nefritogênico,
ocorreria a deposição de NAPlr (carga
- Ocorre mais em pré-escolares, escolares e aniônica) ou SpeB (carga catiônica) na face
adultos jovens, principalmente entre 5-15 anos endotelial e no espaço subepitelial da
de idade, sendo rara antes dos 2 anos. membrana basal glomerular (MBG) do capilar
glomerular, respectivamente. Nesse período, a
- Em relação às infecções estreptocócicas de resposta imune do hospedeiro promoveria a
vias aéreas, observa-se predominância no sexo formação de anticorpos Ac-NAPlr ou Ac-
masculino (2:1), com equivalência entre os SpeB. NAPlr e SpeB se ligariam à plasmina,
gêneros quando a infecção é de pele. prevenindo sua degradação nos tecidos
glomerulares, promovendo a indução de lesão
- Declínio em países desenvolvidos e inflamatória tecidual glomerular pela plasmina.
industrializados. Entre as múltiplas ações da plasmina,
destacam-se a ativação de metaloproteinases, o
o Fisiopatologia da GNDA-PE aumento do turnover e a degradação de
proteínas da matriz extracelular (fibronectina e
A etiofisiopatogenia da GNDA-PE não está laminina), fibrinólise, migração celular e
totalmente definida. angiogênese. Após a lesão inflamatória da
MBG, induzida pela plasmina, ocorreria a
As evidências sugerem um caráter migração de NAPlr para o espaço subepitelial.
imunológico associado através de um antígeno O anticorpo Ac-NaPlr se ligaria ao NAPlr com
estreptococo nefritogênico. posterior formação do imunecomplexo in situ.
Alternativamente, o complexo NAPlr-Ac-
Atualmente há dois principais antígenos NAPlr poderia ser pré-formado na face
estreptocócicos nefritogênicos candidatos: endotelial, migrando posteriormente para a área
subepitelial da barreira de ultrafiltração
- Receptor de plasmina estreptocócico glomerular (BUFG). Anticorpos Ac-SpeB
associado à nefrite (NAPlr): uma enzima cruzariam também a MBG danificada e se
glicolítica com atividade gliceraldeído-3- ligariam in situ ao Speb na região subepitelial
fosfato desidrogenase (GAPDH); formando também um imunecomplexo in situ.
- Exotoxina B pirogênica estreptocócica
(SpeB) e seu precursor (zSpeB): uma

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Figura 2 Etiofisiopatogenia da glomerulonefrite


difusa aguda pós-estreptocócica.

Figura 4 Sequência dos


mecanismos fisiopatológicos
estabelecidos na glomerulonefrite
difusa aguda pós-estreptocócica.

TFG: taxa de filtração glomerular; Kf:

coeficiente de ultrafiltração glomerular;

ICC: insuficiência cardíaca congestiva;

EAP: edema agudo pulmonar; LRA:

lesão renal aguda.

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o Aspectos Clínicos e Laboratoriais da Complicações graves:


GNDA-PE Os mesmos já descritos para síndrome nefrítica,
sendo a mais frequente a congestão
Período de incubação da GNDA-PE: cardiocirculatória. Síndrome da encefalopatia
Média de 2-3 semanas (máximo de 6 semanas) posterior reversível (manifestações
após uma infecção estreptocócica de vias neurológicas associadas ao cenário de GNDA-
aéreas ou de pele. PE. A lesão renal aguda (LRA) dialítica é a
menos comum das complicações.
Clínica:
- Alterações típicas de síndrome nefrítica: Laboratório:
edema, hipertensão arterial e hematúria, - Alteração da função renal por elevação da
associadas com oligúria. Pode ser creatinina sérica - 60% dos casos.
assintomática ou oligossintomática. - Proteinúria pode estar presente (raramente é
de caráter nefrótico (U P/C > 2 ou > 50
- Regular estado geral, mg/kg/dia).
- Edema periorbital, - Anticorpos: Aslo se eleva após 2 semanas da
- Queixas insidiosas e subjetivas de cefaleia, faringite estreptocócica, enquanto os títulos,
indisposição, lombalgia, inapetência, não se elevam após as infecções de pele. Entre
- Edema: (não muito intenso, evidenciado outros anticorpos que evidenciam infecção
apenas por queixas indiretas como “roupa estreptocócica pregressa, como a
apertada” e dificuldade em “calçar os sapatos”). antiestreptoquinase e a anti-hialuronidase, a
Pode ser mais generalizado e influenciado pela antiDNAse B se apresenta com maior acurácia.
postura. Em geral, o edema antecede a
hematúria. -Urina I: hematúria, além de leucocitúria e
proteinúria. Em geral a densidade e a
osmolalidade urinária encontram-se
preservadas, devido à capacidade preservada de
concentração urinária e à integridade tubular.

- Distúrbios eletrolíticos: podem estar


presentes, dependendo do grau de disfunção
renal e hipervolemia, destacando-se as
disnatremias, a hipercalemia, a hiperfosfatemia
e a acidose metabólica. Devido à hipervolemia
associada, a atividade da renina plasmática
encontra-se normal ou reduzida. Em geral,
devido à expansão do espaço extracelular,
- Hematúria: hematúria macroscópica (nas observa-se hiponatremia, embora a massa total
fases iniciais - “lavado de carne ou Coca-Cola”) de sódio encontre-se aumentada.
ocorre entre 25-60% dos casos, e micro e Hipernatremia pode estar presente, porém mais
macroscópica em torno de 95%. raramente. A fração de excreção de sódio é
reduzida, encontrando-se habitualmente <
- HA: A evidência de hipertensão arterial se 0,5%.
estabelece entre 50-97% dos casos, na grande
maioria dos casos de intensidade moderada, - Complemento: A avaliação da atividade do
podendo ser agravada pela ingestão de sistema complemento é muito importante, já
alimentos com elevado teor de sódio e nos que a GNDA-PE se comporta como uma
casos de redução importante da TFG. glomerulopatia hipocomplementêmicas (alto
consumo de complemento). A redução do C3
se estabelece como um marcador importante de

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atividade, entretanto pode estar normal em Evolução da GNDA-PE:


torno de 5-15% dos casos. Os níveis de C3 se Na infância, a GNDA-PE é uma glomerulopatia
normalizam em torno de 6-8 semanas da de evolução favorável.
instalação da doença. Os níveis de C4, em Na regressão desses sintomas, constata-se
geral, encontram-se normais, refletindo a inicialmente o desaparecimento do edema, em
ativação principalmente pela via alternativa do média 7-15 dias após o início da doença,
sistema complemento. acompanhado por crise de diurese, seguindo-se
a normalização dos níveis pressóricos,
- Exames de imagem, BNP, geralmente 2-3 dias após o desaparecimento do
eletrocardiograma, ecocardiograma: realizar edema. Nos casos não complicados, ao redor da
quando houver sinais de congestão terceira ou quarta semana após o início da
cardiocirculatória (complicação para ICC e/ou sintomatologia ocorre o restabelecimento
EAP). clínico geral da criança. Importante considerar
que a hematúria microscópica pode persistir
- Biópsia Renal (BR): Como na infância, a por 1-2 anos, sem necessariamente implicar um
GNDA-PE é uma glomerulopatia de evolução quadro de complicação.
favorável, não é indicada a execução de biópsia
renal (BR), a qual deve ser realizada apenas Figura 5 Curso clínico-laboratorial da
quando houver suspeita clínica de que o padrão glomerulonefrite difusa aguda pós-
anatomopatológico não seja de proliferação estreptocócica.
endotelial e mesangial ou de patologia
sistêmica secundária.
CRITÉRIOS GERAIS PARA
INDICAÇÃO DE BR
• Cenários de glomerulonefrite crescêntica
• (GNRP);
• HA;
• Hematúria macroscópica;
• Alteração da função renal persistentes por
mais de 3-4 semanas;
• Proteinúria significativa por mais de 6
semanas ou de caráter nefrótico por mais de
4 semanas;
• Hipocomplementemia persistente por mais
de 8 semanas.

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o Tratamento da GNDA-PE adequadamente individualizada, em casos de


necessidade de terapia dialítica.
- A base do tratamento consiste na terapia de
suporte. - Tratamento com antibióticos: após o início
- O tratamento deve ser dirigido conforme a da GNDA-PE não altera o curso da doença,
apresentação clínica e a presença ou não de entretanto tem o objetivo de erradicar o estado
complicações. de portador e a disseminação da cepa
- Na ausência de complicações, a maioria dos nefritogênica na comunidade. Em epidemias, a
casos pode ser acompanhada profilaxia antibiótica administrada a membros
ambulatorialmente, dependendo também das da família pode reduzir o risco de
condições socioculturais e econômicas. disseminação.
Crianças sem complicações hipervolêmicas Penicilina e derivados e a eritromicina são
(congestão cardiocirculatória, ICC, EAP), crise opções terapêuticas utilizadas.
hipertensiva, distúrbios eletrolíticos críticos, - Tratamento da HA: A hipertensão arterial é
oligúria grave ou disfunção renal significativa basicamente resultado da retenção de sódio e da
precisam apenas de acompanhamento expansão do volume extracelular (“volume
ambulatorial rigoroso. Os pacientes que dependente”). Portanto, o tratamento é
desenvolvem HA moderada a grave, LRA ou direcionado à restrição de sódio e terapia
hipercalemia geralmente requerem diurética, além de medicamentos anti-
hospitalização para monitorar o equilíbrio hipertensivos, se necessário. A combinação de
de fluidos e eletrólitos, controle da um diurético de alça (furosemida) associado ou
hipertensão e, eventualmente, terapia não a um tiazídico (hidroclorotiazida) e/ou um
dialítica. bloqueador dos canais de cálcio (amlodipino)
costuma ser eficaz. Deve-se ter cuidado com o
- Repouso: deve ser limitado pelo próprio uso de inibidores da enzima de conversão da
paciente e recomendado enquanto persistirem angiotensina (captopril, enalapril) ou
edema e HA ou em caso de complicações. bloqueadores do receptor da angiotensina
(losartana) devido ao risco de hipercalemia ou
- Restrição dietética: é importante para piora da TFG em pacientes já portadores de
redução do edema, controle da HA e atenuação lesão renal aguda.
das complicações. A restrição hídrica inicial
preconizada é de 20 mL/kg/dia ou 300-400 - Terapia Dialítica: Em todos os casos de
mL/m2/dia. Na regressão do edema, deve-se hipercalemia grave, LRA com uremia e sinais
acrescentar as perdas do dia anterior (diurese e de sobrecarga hídrica, emergência hipertensiva
outras). Recomenda-se dieta assódica (< 2 g de grave, especialmente se houver oligoanúria ou
NaCl/m2/dia) e a restrição hídrica enquanto oligúria não responsiva aos diuréticos, deve-se
também ocorrer oligúria, edema e hipertensão considerar a necessidade de terapia dialítica,
arterial. Em geral, após 3-7 dias do início da desde a diálise peritoneal, hemodiálise clássica
sintomatologia, ocorre aumento da diurese nos ou a hemodiafiltração venovenosa contínua.
casos não complicados, quando a restrição
hídrica deve ser individualizada para sua Em geral, o prognóstico da GNDA-PE em
liberação. Na sequência, após 2-5 dias, a pediatria é muito bom, com alguns relatos de
pressão arterial tende a se normalizar, quando evolução para falência crônica dos rins em <5%
se indica a dieta hipossódica. Persistindo boa dos casos. A mortalidade está associada com o
evolução após 2-3 dias, pode-se então liberar a diagnóstico tardio associado com complicações
dieta normossódica. A restrição de proteínas, graves, ausência de acesso ao serviço médico
potássio e fosfato deve ser individualizada, ou condições de abordagem terapêutica
principalmente nos casos de oligúria grave, inadequadas.
hipercalemia constatada, LRA grave, sendo

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o Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva Goodpasture (doença antiMBG), depósitos


granulares são observados na GNDA-PE, na
A glomerulonefrite rapidamente nefrite lúpica, na nefropatia por IgA e na
progressiva (GNRP) é uma entidade rara, glomerulonefrite membranosa com topografias
caracterizada por uma síndrome clínica e disposições específicas. Nas
decorrente da perda rápida da função renal em glomerulonefrites pauci-imunes não se
curto período (dias a semanas) associado à observam depósitos imunológicos.
proteinúria, hematúria micro ou macroscópica
com dismorfismo eritrocitário ou cilindros Pacientes com poucas crescentes na biopsia
hemáticos, e a formação de crescentes celulares renal (< 50% dos glomérulos afetados) podem
(glomeruonefrite crescêntica) nos glomérulos. apresentar evolução mais protraída, sem um
curso rápido e progressivo para falência crônica
Entre outras manifestações, pode-se dos rins. Não há evidências terapêuticas e
caracterizar por uma síndrome nefrítica diretrizes bem estabelecidas. Além do
subaguda com deterioração da função renal. tratamento de suporte e abordagem das
complicações, abordagens empíricas isoladas
As crescentes são compostas de monócitos e ou parcialmente associadas de pulsoterapia
células epiteliais parietais que se proliferam no com metilprednisolona, ciclofosfamida,
espaço de Bowman. A formação de crescentes plasmaférese e rituximabe são utilizadas na
é uma resposta não específica das células maioria dos casos, entretanto com benefícios
epiteliais a uma agressão grave à parede do isolados em alguns relatos.
capilar glomerular com formação de espaços
(gaps) na parede do capilar, resultando em Os casos de GNRP e glomerulonefrite
movimento de produtos do plasma ao espaço de crescêntica representam um desafio
Bowman, incluindo fibrinogênio e formação de terapêutico, dependendo da doença de base
fibrina, influxo de macrófagos e participação de e/ou da glomerulopatia associada, embora os
linfócitos T e diversos moduladores e casos de GNDA-PE revelem melhor
citoquinas pró-inflamatórias (p. ex., IL-1, TNF- prognóstico.
alfa). As crescentes podem ser segmentares ou
circunferenciais e, embora inicialmente
celulares, podem progredir rapidamente para
fibrose.

- Prognóstico:
O prognóstico está relacionado à proporção de
crescentes, sua extensão (segmentar ou
circunferencial) e seu conteúdo (celular,
fibrocelular ou fibrosa). Além de formas
primárias, a glomerulonefrite crescêntica pode
estar associada a causas secundárias e doenças
sistêmicas, incluindo a associação com
infecção estreptocócica, síndrome de
Goodpasture (anticorpos antiMBG) e
vasculites com envolvimento renal, entre outras
patologias.
A glomerulonefrite crescêntica pode ser
classificada conforme os achados
histopatológicos e a deposição de
imunocomplexos. Depósitos lineares ao longo
da MBG são observados na síndrome de

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Síndrome Nefrótica na Pediatria

o Introdução

A síndrome nefrótica (SN) é um conjunto de Classifica-se em:


manifestações clínicas que resulta do aumento à SN secundária
de permeabilidade da barreira de ultrafiltração Pode ser manifestação clínica de doenças
glomerular (BUFG) renal às proteínas. sistêmicas ou infecciosas ou do uso de drogas
(Quadro 1 próxima página).
É caracterizada por: à SN primária ou idiopática (SNI)
- Proteinúria Na faixa etária pediátrica, 80-90% dos casos de
- Hipoalbuminemia SN são primários ou idiopáticos (SNI).
- Edema
- Hiperlipidemia. o Epidemiologia da SNI
- A SNI é mais comum nas crianças de idade
pré-escolar (2 e 7 anos de idade)
- Meninos parecem ser mais afetados (2-3
vezes mais que meninas).
- A prevalência aproximada é de 16/100.000 e
incidência de 2-7 novos casos/100.000
crianças.

o Classificação da SNI

De acordo com a resposta do paciente ao


tratamento com corticoesteroide (CE).
Essencialmente o diagnóstico é feito pela: 1 - Síndrome nefrótica corticossensível
(SNCS):
à Presença de proteinúria maciça - 80-90% das crianças com SNI
(proteinúria de 24 horas ≥ 50 mg/kg/dia ou ≥ 40 - Apresentam remissão da síndrome em um
mg/m2/h ou relação urinária de período de 4 semanas de tratamento.
proteína/creatinina (U P/C) em amostra isolada - 80% dos casos apresentam recidivas da
> 2 mg/mg) doença, o que classifica esses pacientes em
portadores de SNCS recidivante-
à Hipoalbuminemia infrequentes, recidivante-frequentes e
(≤ 2,5 g/dL). córtico-dependentes.

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2 - Corticorresistentes (SNCR): Caso seja realizada a BR, a SNI também pode


- Pacientes que não apresentam resposta ao ser classificada, de acordo com o padrão
tratamento com CE. histológico, em 2 grupos principais:

A maioria das crianças com SN não tem 1 – SNI com lesão histológica mínima
indicação de biópsia renal (BR), já que 93% (LHM):
das crianças que apresentam boa resposta ao LHM é a forma mais comum de SNI em
CE apresentam lesão histológica mínima crianças, e nesse caso a análise do tecido renal
(LHM) como diagnóstico histológico e um bom por microscopia óptica é normal e apenas na
prognóstico. microscopia eletrônica aparecem fusões de
podócitos.

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2 - SNI com glomeruloesclerose segmentar e A importância dessas classificações é sua


focal (GESF): associação com o prognóstico da doença.
Parte dos glomérulos com esclerose segmentar.
LHM e GESF podem aparecer no mesmo *Nos casos de SNCR e/ou GESF há maior
paciente (mais de uma biópsia for realizada em probabilidade de evolução da doença para
tempos diferentes de evolução da doença). falência crônica dos rins e necessidade de
terapia renal substitutiva (diálise ou
transplante).

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o Etiofisiopatogenia aldosterona (SRAA) e retenção renal


secundária de sódio.
A grande maioria dos casos de SN apresenta - Teoria do “hiperfluxo”, propõe como fator
mecanismos etiofisiopatogênicos relacionados inicial na formação do edema a retenção
com fatores genéticos, disfunção podocitária primária intrarrenal de sódio e água. A
(podocidopatia), disfunção imunológica ou a resistência ao peptídeo natriurético atrial
presença de fatores circulantes. (ANP) associada à ativação dos canais
epiteliais de sódio (ENaC) por proteases (como
A excreção de grandes quantidades de proteína a plasmina) nos ductos coletores promove
através da BUFG seria decorrente de agravos retenção hídrica e salina, que contribui para a
diversos sobre seus componentes, formação do edema.
determinando aumento da permeabilidade às
proteínas plasmáticas. o Aspectos Genéticos

Concorre para esse fato a perda de cargas - 20-30% das crianças portadoras de SNCR
elétricas negativas da membrana basal apresentam mutação em um gene codificador
glomerular (MBG), mutações e alterações de de proteínas importantes na BUFG.
proteínas do podócito ou outras estruturas da
BUFG, disfunção podocitária (podocidopatia), - A SN monogênica é mais frequente nos casos
desorganização ou disfunção dos componentes em que o início da doença é mais precoce,
da fenda diafragmática, presença de quando há malformações associadas ou
autoanticorpos, fatores circulantes e diversas consanguinidade na família.
anormalidades imunológicas.
- Mais de 60 genes já foram identificados como
Alguns relatos realçam o papel dos linfócitos T causadores de SN, sendo mais frequentes na
ativados na fisiopatogênese da LHM com infância os genes NPHS1, NPHS2 e WT1.
estímulo direto sobre os podócitos por meio de
gatilhos (infecções virais ou bacterianas, - A pesquisa de mutação genética é indicada
alérgenos, citoquinas, os quais promovem para portadores de SNCR.
aumento da expressão de CD80 (coestimulador
de células T) e desorganização do - Crianças portadoras de SN monogênica em
citoesqueleto do podócito e proteinúria. geral não respondem ao tratamento com CE ou
imunossupressores, evoluem para falência
A hiperlipidemia é consequência do aumento crônica dos rins e não apresentam recidiva da
da síntese hepática de colesterol, doença após um transplante renal. O
triglicerídeos e lipoproteínas; redução no diagnóstico precoce evita que essas crianças
catabolismo das lipoproteínas devido ao sejam expostas ao uso prolongado de
aumento da atividade das lipases imunossupressores, e, nesse caso, as famílias
lipoproteicas; perda urinária de HDL e devem ser direcionadas para um
redução da atividade do receptor de LDL. aconselhamento genético e preparo para o
transplante renal individualizado.
- Mecanismos de formação do edema:
- Teoria do “hipofluxo”, considera que a o Quadro Clínico
proteinúria maciça e subsequente
hipoalbuminemia promovam uma diminuição - Edema:
da pressão oncótica plasmática. Esse fato, por - Principal manifestação clínica da SN, embora
sua vez, acarreta a passagem de fluido do sua presença não seja essencial para o
espaço intravascular para o interstício (edema), diagnóstico.
desencadeando hipovolemia, hipoperfusão
renal, ativação do sistema renina-angiotensina-

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- Em LHM geralmente é intenso, mole, frio,


depressível, sujeito à ação da gravidade, em
geral insidioso, podendo evoluir para anasarca.

- Normotensão:
A pressão arterial na LHM geralmente é
normal, mas em alguns casos ocorre
hipertensão transitória. No caso de GESF, a
hipertensão arterial pode estar presente, sendo
necessário o uso de anti-hipertensivos.

OUTROS SINTOMAS:

- Adinamia, ascite, derrame pleural, edema


de genitais, hepatomegalia, taquipneia:
A criança não tratada ou que não responde bem
à terapia apresenta-se adinâmica, evoluindo
com ascite, derrame pleural, edema dos genitais
e hepatomegalia. Taquipneia pode estar
presente devido à compressão torácica pela
ascite ou derrame pleural. A pele é seca e
friável com tendência à formação de estrias.

- Distúrbios eletrolíticos:
(hipocalcemia, hipocalemia, hiponatremia etc.)
pode se manifestar por alterações clínicas como
cãibras, parestesias, síndrome convulsiva etc.
- Espuma na urina:
É relatada em crianças maiores com parte do - Náuseas, vômitos, cefaleia:
quadro clínico. Na GESF e nas outras glomerulopatias que não
a LHM, manifestações clínicas, como náuseas,
vômitos, cefaleia e alteração do sensório,
podem estar relacionadas com a uremia.

-Dor abdominal:
A dor abdominal também se manifesta nas
grandes descompensações e em situações de
hipovolemia ou associadas à peritonite
primária ou celulites de parede abdominal,
algumas vezes podendo confundir-se com
apendicite aguda. É possível observar sinais de

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descalcificação óssea relacionada às alterações Complemento:


do metabolismo de vitamina D, cálcio e apresenta-se normal na LHM e na GESF; a
fósforo, particularmente naqueles casos de constatação de hipocomplementenemia é
longa duração e/ou resistência à terapia indicação formal para BR, podendo estar
imunossupressora e/ou uso de CE prolongado. presente, por exemplo, no lúpus eritematoso, na
Os pacientes nefróticos apresentam risco glomerulonefrite membranoproliferativa, na
elevado de deficiência de vitamina D. glomerulonefrite crescêntica e na nefrite do
shunt.
- Atopia: Ureia e creatinina:
A atopia é frequente, com prevalência de podem estar elevadas na instalação do edema
processos alérgicos das vias aéreas ou de pele. ou em situações de hipovolemia. O aumento
permanente pode aparecer na GESF, na
- Susceptibilidade a infecções: nefrotoxicidade ou devido à evolução e
Essas crianças são propensas à aquisição de progressão da doença.
processos infecciosos por vários motivos: baixa
produção e perda urinária de IgG com redução Para pesquisar causas secundárias:
de imunoglobulinas séricas (IgG), desnutrição, solicitação de reações sorológicas para HIV,
edema, hipoalbuminemia, perda urinária e hepatite A, B e C, toxoplasmose,
redução dos fatores B e D da via alternada do citomegalovírus, lues e mononucleose.
sistema complemento, hipogamaglobulinemia,
anticorpogênese inadequada, imunidade celular o Indicações de Biópsia Renal
mediada inadequada, disfunção dos linfócitos
T, redução da resposta aos estímulos - Crianças entre 1-10 anos com sintomatologia
mitogênicos, imunidade humoral anormal, exuberante e complemento sérico normal
redução da transferrina; hipozincemia, uso das devem ser consideradas e tratadas como
medicações imunossupressoras, déficit de portadoras de LHM.
opsonização (predisposição às bactérias
encapsuladas), entre outros fatores. - A BR fica indicada para casos em que o
quadro clínico e laboratorial seja diferente do
o Exames Laboratoriais quadro clássico esperado de SNI ou quando não
haja resposta ao tratamento com CE.
Sedimento urinário:
além de proteinúria, em 25% dos pacientes com
LHM há hematúria, geralmente microscópica.
Observa-se cilindrúria relacionada às perdas
proteicas e lipidúria.
Proteinúria:
acima de 50 mg/kg/dia ou 40 mg/m²/h ou > 2
mg/mg em amostra isolada de urina (U P/C) ou
> 3+ na fita reagente.
Eletroforese de proteínas plasmáticas:
são observados hipoalbuminemia (≤ 2,5 g/dL)
e aumento da fração alfa-2. IgG, especialmente
IgG1 e IgG2, apresenta-se muito baixa na
LHM, bem como a IgA. IgM encontra-se o Tratamento Inespecífico
elevada. IgE pode estar aumentada, e observa-
se hipogamablobulinemia na SNI. - Dieta hipossódica ou assódica:
Lípides: Durante as fases de edema ou quando houver
os níveis séricos do colesterol total, hipertensão.
triglicérides e lipoproteínas acham-se elevados.

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- Infusão de solução salina: conforme as medicações utilizadas. Todos os


Evidências de hipovolemia como taquicardia, pacientes com varicela devem receber aciclovir
pulsos fracos, extremidades frias, hipotensão e oral por 7 dias ou endovenoso de acordo com a
outros fatores como hemoconcentração, gravidade.
elevação desproporcional da ureia e baixa
fração de excreção de sódio (< 0,2-0,5%). o Complicações da SN
Nessa situação, pode-se realizar infusão de
solução salina 10-20 mL/kg por 20-30 minutos - “crise hipovolêmica”
e repetir se necessário, principalmente em - Distúrbios eletrolíticos e metabólicos
situações de perdas hidrossalinas comprovadas, - Lesão renal aguda
por exemplo, em situações de gastroenterite e - Infecções
desidratação. A infusão de albumina 20% (0,5- - Hipertensão arterial
1 g/kg) é útil para aqueles pacientes que não - Tromboembolismo.
respondem à expansão inicial.
o Tratamento específico da Síndrome Nefrótica
- Diuréticos: Corticossensível e Corticorresistente
Os diuréticos devem ser evitados, de forma
geral, pelo risco de piora da função renal, pois
KDIGO 2012 (Kidney disease: improving
muitos nefróticos apresentam redução do
global outcomes) como guia de tratamento:
volume sanguíneo efetivo. Na ausência de
hipovolemia e na presença de edema grave,
- Prednisona diária (60 mg/m2 ou 2
sintomático ou refratário, os diuréticos estão
mg/kg/dia; máximo de 60 mg/dia dose única)
indicados. Esses cenários são observados
durante 4-6 semanas. Caso tenha ocorrido
quando há mais de 15% de aumento de peso,
remissão, introduz-se 40 mg/m2 ou 1,5 mg/kg
associado com anasarca, edema escrotal ou de
em dias alternados em dose única pela manhã
vulva, derrame pleural significativo ou sinais
(máximo de 40 mg/dia) por mais 4-6 semanas,
clínicos de sobrecarga hídrica (p. ex.,
com diminuição lenta e progressiva da dose,
insuficiência cardíaca).
nos meses. Em caso de recidiva da doença no
período dos 6 meses iniciais de tratamento,
- Ingesta hídrica:
recomenda-se voltar a usar o esquema diário de
Na ausência de hipervolemia, a ingestão hídrica
CE até obter 3 dias consecutivos de nova
é livre.
remissão e, a seguir, reintroduzir o CE em dias
alternados.
- Repouso:
- Pulsoterapia: Se houver resistência ao
O repouso não deve ser imposto e não há
tratamento inicial, pode-se utilizar pulsoterapia
evidência de que traga benefícios para o
adicional com metilprednisolona 30
paciente. As atividades escolares e esportivas
mg/kg/dose (máximo de 1 g) em dias
podem ser retomadas após os períodos de
alternados, 3-6 doses, principalmente se houver
descompensação.
dúvida na aderência da família ao tratamento
proposto. Caso ocorra remissão completa,
- Tratamento antimicrobiano:
prossegue-se com a redução lenta e progressiva
Por causa das disfunções imunológicas citadas,
da corticoterapia.
da desnutrição, do edema e do uso de
medicações imunossupressoras, o nefrótico
*As infecções funcionam como gatilho
apresenta grande suscetibilidade às infecções:
para a descompensação da SN e devem
celulites, peritonites, infecções de vias aéreas
ser tratadas precocemente. Dessa
superiores, sinusites e pneumonias, que podem
forma, durante os processos infecciosos
evoluir para sepse. O tratamento
recomenda-se o uso de CE diário, na
antimicrobiano deve ser precoce e o risco de
mesma dose em que vinha sendo usado
nefrotoxicidade deve ser considerado,

Silmara Oliveira - Medicina 24


Clínica Integrada

em dias alternados, por 5-7 dias em - A dislipidemia relacionada aos períodos de


crianças com recidivas frequentes ou recidivas não merece tratamento específico.
córtico-dependentes para reduzir o
risco de recidivas. O tratamento das crianças portadoras de
SNCR deve ser acompanhado em conjunto
*Efeitos adversos: atraso no com o nefrologista pediátrico! Baixa reposta
crescimento, ganho de peso, aumento a terapia e grande risco de evolução para
de pressão arterial, alteração da falência crônica dos rins.
densidade mineral óssea, catarata,
entre outros. Muitas vezes se utiliza CE Pacientes portadores de SN monogênica não
em doses baixas ou outros se beneficiam do tratamento com
medicamentos para tentar reduzir o imunossupressores, requerendo tratamento
número de recidivas e, de suporte, inibidores de ECA quando
consequentemente, os efeitos colaterais possível e programação para transplante
dos CE. renal.

Imunossupressores tais como ciclofosfamida, o Evolução da SN


ciclosporina, tacrolimo, micofenolato mofetil e
levamisole (imunomodulador) são alternativas - Doença crônica com possíveis complicações
terapêuticas utilizadas nos pacientes com SN - Pode evoluir para perda da função renal
recidivante-frequentes ou córtico-dependentes. - Mortalidade por SNI após a introdução dos
CE e antibióticos diminuiu de 67 para 0,7%.
*Após a introdução de uma dessas - Principal causa de óbito: processos
drogas, sua retirada, em geral a partir infecciosos, os quais continuam sendo o grande
de 1 ano de uso, com exceção da risco na SN, pois desencadeiam e mantêm as
ciclofosfamida que é utilizada por crises, criando um círculo vicioso.
tempo determinado e respeitando dose - Sobrevida renal das crianças portadoras de
total/peso do paciente, pode estar SNI é de aproximadamente 60% em 10 anos
associada a recidivas da doença, de evolução da doença.
mesmo nos caso em que se tenha obtido
remissão parcial ou completa. - A resposta dos pacientes ao uso de CE, o
tempo para remissão da doença após o início do
- Rituximabe: Outra opção medicamentosa tratamento e a frequência das recidivas após a
para casos de SN de difícil tratamento é o terapia inicial são alguns fatores prognósticos
Rituximabe (RTX), anticorpo monoclonal de evolução.
antiCD20 que depleta células B. O KDIGO
sugere a utilização de RTX no tratamento de - GESF: Aproximadamente 15% das crianças
pacientes córtico-dependentes e recidivante- serão classificadas como portadoras de SNCR
frequentes que não apresentaram reposta a (GESF nesses casos é a lesão histológica mais
outras drogas. comum), e, nesse caso, a sobrevida renal em 10
anos é estimada em 94, 72 e 43% quando há
- Drogas antiproteinúricas: O uso de drogas remissão completa, parcial e refratária ao uso
de efeito antiproteinúrico como os inibidores da de imunossupressores, respectivamente.
enzima de conversão da angiotensina (Ieca) Portanto, atingir remissão da proteinúria é
e/ou os bloqueadores do receptor da essencial para o prognóstico em longo prazo.
angiotensina (BRA) está indicado no controle Em caso de falência crônica dos rins, existe
da proteinúria, se não houver hiperpotassemia aproximadamente 30% de chance de recidiva
ou insuficiência renal aguda. Os Ieca (p. ex., da SN após um primeiro transplante renal e
captopril e enalapril) e/ou os BRA (p. ex., 90% após um segundo transplante, caso tenha
losartan). havido recidiva no primeiro.

Silmara Oliveira - Medicina 25


Clínica Integrada

Figura 1 Fluxograma terapêutico nos casos de


síndrome nefrótica idiopática
* Período questionável na literatura. A prednisolona
pode ser alternativa à prednisona. A tendência atual
de redução de uso de prednisona deve prevalecer nos
futuros fluxogramas.

Ieca: inibidores da enzima de conversão da


angiotensina; BRA: bloqueadores do receptor da
angiotensina; MP: metilprednisolona.

Silmara Oliveira - Medicina 26

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