Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Glomerulopatias na Pediatria
As glomerulopatias, que em geral são O rim possui uma camada externa, o córtex, e
conhecidas como “glomerulonefrites”, são uma camada interna, a medula.
doenças que acometem os glomérulos,
estruturas constituídas por um tufo de capilares O conjunto de medulas forma as pirâmides
sanguíneos (delimitados por uma cápsula), renais; cada uma dessas é constituída por um
além de uma série de outros elementos (entre sistema com milhares de túbulos
eles, vários tipos de célula), responsáveis pela microscópicos: os néfrons, estruturas
ultrafiltração do plasma. funcionais dos rins. São esses corpúsculos
renais os responsáveis pela filtração do sangue
e produção da urina.
À medida que o sangue percorre os capilares Essas estruturas possuem funções primordiais
glomerulares, o plasma é filtrado através de na filtração:
suas paredes.
O ultrafiltrado, que é livre de células, contém - MBG: carga-seletividade; garante o
todas as substâncias do plasma (eletrólitos, ultrafiltrado do plasma. A carga da MBG é
glicose, fosfato, ureia, creatinina, peptídeos e negativa e a carga das proteínas também é. Essa
proteínas de baixo peso molecular), exceto característica garante que as proteínas sejam
proteínas contendo um peso molecular ≥68 kd repelidas (negativo repele negativo) e não
(como albumina e globulinas). sejam filtradas (impedindo que sejam
Após passar pelo processo de filtração, o eliminadas na urina (proteinúria).
filtrado é coletado no espaço de Bowman e
segue o caminho por outros ramos do néfrons - Células mesangiais (garantem a estrutura).
(onde sua composição é modificada de forma Responsável pela fagocitose e pela propriedade
muito bem elaborada pela reabsorção e contrátil regulando o fluxo sanguíneo nos
secreção de solutos e fluidos): túbulo capilares.
proximal, alça de Henle, túbulo distal,
túbulo coletor e ducto coletor, até, - Células endoteliais (fenestração dos
finalmente, ser excretado em forma de capilares). Regulam a passagem de
urina. macromoléculas.
É importante saber que existem algumas
estruturas no glomérulo que garantem que essa - Células epiteliais: (tanto as parietais e as
filtração seja eficaz. são elas: viscerais – viscerais são chamadas de podócitos
- Membrana basal glomerular (MBG) e regulam a fenestração). Responsável pela
- Células mesangiais pinocitose de proteínas (as poucas proteínas
- Células endoteliais que conseguem passar pela MBG sofrem
- Células epiteliais pinocitose pelas células epiteliais para não
o Necessidade de Biópsia
caso de hematúria isolada, além dessas é abundante na circulação. O fígado não dá conta
essencial que se disponha também de de sintetizar a quantidade adequada da proteína
microscopia eletrônica. para equilibrar a perda.
A síndrome nefrítica (SNi) é uma condição A SNi abrange um amplo espectro de condições
clínica caracterizada pela associação de edema, com comprometimento histológico
hipertensão arterial (HA) e hematúria. inflamatório e alterações variáveis do
sedimento urinário, envolvendo
Frequentemente, observa-se associação de glomerulopatias primárias e glomerulopatias
proteinúria e, em algumas situações, ocorre secundárias (Quadro 1).
perda da função renal. Correlaciona-se com
glomerulopatias, as quais podem estar
presentes em todas as faixas etárias, podendo-
se apresentar de forma aguda ou crônica,
quando podem se relacionar com falência
crônica dos rins.
o Avaliação e Diagnóstico
- Exantema facial e artrite em uma menina *As solicitações dos exames dependem da
podem sugerir lúpus eritematoso sistêmico. suspeita etiológica da glomerulopatia, das
- Dor abdominal, artralgia e lesões purpúricas manifestações clínicas e/ou da causa
em nádegas, membros inferiores e/ou secundária associada.
superiores podem estar relacionados com a
púrpura de Henoch-Schönlein. Exame de urina: hematúria, cilindros
hemáticos, hialinos, granulosos, leucocitários e
Laboratório: proteinúria. A microscopia urinária pode
- A investigação laboratorial é necessária em revelar a presença de hemácias crenadas,
todos os casos (ver Quadro 2). sugestivo de origem glomerular, juntamente
com o achado de cilindros hemáticos. A
avaliação da razão da proteína/creatinina em
amostra isolada de urina (U P/C) avalia o grau
de proteinúria, lembrando que, em situações de
hematúria macroscópica, a proteinúria pode se
elevar devido ao componente globina. Em
alguns casos, proteinúria nefrótica ou síndrome
nefrótica podem estar presentes.
- Prognóstico:
O prognóstico está relacionado à proporção de
crescentes, sua extensão (segmentar ou
circunferencial) e seu conteúdo (celular,
fibrocelular ou fibrosa). Além de formas
primárias, a glomerulonefrite crescêntica pode
estar associada a causas secundárias e doenças
sistêmicas, incluindo a associação com
infecção estreptocócica, síndrome de
Goodpasture (anticorpos antiMBG) e
vasculites com envolvimento renal, entre outras
patologias.
A glomerulonefrite crescêntica pode ser
classificada conforme os achados
histopatológicos e a deposição de
imunocomplexos. Depósitos lineares ao longo
da MBG são observados na síndrome de
o Introdução
o Classificação da SNI
A maioria das crianças com SN não tem 1 – SNI com lesão histológica mínima
indicação de biópsia renal (BR), já que 93% (LHM):
das crianças que apresentam boa resposta ao LHM é a forma mais comum de SNI em
CE apresentam lesão histológica mínima crianças, e nesse caso a análise do tecido renal
(LHM) como diagnóstico histológico e um bom por microscopia óptica é normal e apenas na
prognóstico. microscopia eletrônica aparecem fusões de
podócitos.
Concorre para esse fato a perda de cargas - 20-30% das crianças portadoras de SNCR
elétricas negativas da membrana basal apresentam mutação em um gene codificador
glomerular (MBG), mutações e alterações de de proteínas importantes na BUFG.
proteínas do podócito ou outras estruturas da
BUFG, disfunção podocitária (podocidopatia), - A SN monogênica é mais frequente nos casos
desorganização ou disfunção dos componentes em que o início da doença é mais precoce,
da fenda diafragmática, presença de quando há malformações associadas ou
autoanticorpos, fatores circulantes e diversas consanguinidade na família.
anormalidades imunológicas.
- Mais de 60 genes já foram identificados como
Alguns relatos realçam o papel dos linfócitos T causadores de SN, sendo mais frequentes na
ativados na fisiopatogênese da LHM com infância os genes NPHS1, NPHS2 e WT1.
estímulo direto sobre os podócitos por meio de
gatilhos (infecções virais ou bacterianas, - A pesquisa de mutação genética é indicada
alérgenos, citoquinas, os quais promovem para portadores de SNCR.
aumento da expressão de CD80 (coestimulador
de células T) e desorganização do - Crianças portadoras de SN monogênica em
citoesqueleto do podócito e proteinúria. geral não respondem ao tratamento com CE ou
imunossupressores, evoluem para falência
A hiperlipidemia é consequência do aumento crônica dos rins e não apresentam recidiva da
da síntese hepática de colesterol, doença após um transplante renal. O
triglicerídeos e lipoproteínas; redução no diagnóstico precoce evita que essas crianças
catabolismo das lipoproteínas devido ao sejam expostas ao uso prolongado de
aumento da atividade das lipases imunossupressores, e, nesse caso, as famílias
lipoproteicas; perda urinária de HDL e devem ser direcionadas para um
redução da atividade do receptor de LDL. aconselhamento genético e preparo para o
transplante renal individualizado.
- Mecanismos de formação do edema:
- Teoria do “hipofluxo”, considera que a o Quadro Clínico
proteinúria maciça e subsequente
hipoalbuminemia promovam uma diminuição - Edema:
da pressão oncótica plasmática. Esse fato, por - Principal manifestação clínica da SN, embora
sua vez, acarreta a passagem de fluido do sua presença não seja essencial para o
espaço intravascular para o interstício (edema), diagnóstico.
desencadeando hipovolemia, hipoperfusão
renal, ativação do sistema renina-angiotensina-
- Normotensão:
A pressão arterial na LHM geralmente é
normal, mas em alguns casos ocorre
hipertensão transitória. No caso de GESF, a
hipertensão arterial pode estar presente, sendo
necessário o uso de anti-hipertensivos.
OUTROS SINTOMAS:
- Distúrbios eletrolíticos:
(hipocalcemia, hipocalemia, hiponatremia etc.)
pode se manifestar por alterações clínicas como
cãibras, parestesias, síndrome convulsiva etc.
- Espuma na urina:
É relatada em crianças maiores com parte do - Náuseas, vômitos, cefaleia:
quadro clínico. Na GESF e nas outras glomerulopatias que não
a LHM, manifestações clínicas, como náuseas,
vômitos, cefaleia e alteração do sensório,
podem estar relacionadas com a uremia.
-Dor abdominal:
A dor abdominal também se manifesta nas
grandes descompensações e em situações de
hipovolemia ou associadas à peritonite
primária ou celulites de parede abdominal,
algumas vezes podendo confundir-se com
apendicite aguda. É possível observar sinais de