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SUMÁRIO
Introdução ao Estudo dos Núcleos Cinzentos da Base
Aspectos Anatómicos
Constituição
Ligações
Trajecto da Informação
Aspectos Funcionais dos Núcleos Cinzentos da Base
A Hipótese Travão
A Hipótese Formação de Sequência do Movimento
A Hipótese Compressor de Dados
Sinergia de Funcionamento dos Circuitos Subcorticais
Psicofisiologia
P S I C O F I S I O L O G I A
Objectivos
Hierarquia Sistemas
Se formos para o modelo de Littel, eles situam-se na fase de determinar estratégias,
um nível médio onde estão igualmente o cerebelo e as estruturas corticais com
Motores
maior somatotopia, isto é, de entrada ou saída de dados. Esta situação é
representativa dos tais circuitos subcorticais que há pouco falava.
Vejamos os aspectos anatómicos que suportam estas funções.
Aspectos Anatómicos
Os NCB são cinco núcleos interligados entre si: (1) Núcleo Caudado; (2) Núcleo
Putamen; (3) Globo Pálido; (4) Núcleo Subtalâmico; e (5) Substância Negra,
existindo alguns autores (e.g., Kandel, et al.., 2000) que sugeriram a inclusão de
outros núcleos, como a amígdala e estruturas como o claustro.
Anatomia NCB Os núcleos Caudado e o Putamen constituem o que se denomina de neoestriado
(ou ainda striatum ou neostriatum), e são os núcleos aferentes dos NCB. As
informações que recebem provêm maioritariamente do córtex e a maior parte das
suas eferências projectam-se no Globo Pálido.
A Substância Negra consiste em duas partes: (1) SN compacta que está ligada a
outros NCB e produz o neuromediador dopamina (a sua lesão está implicada no
Síndroma de Parkinson); e (2) SN reticulada que se projecta maioritariamente no
tálamo, sendo, por isso, outra das principais eferências dos NCB.
O Globo Pálido é a principal eferência dos NCB: ele recebe informação dos
núcleos Caudado e Putamen, participando noutros circuitos que envolvem
componentes dos NCB e projecta o resultado deste processamento no tálamo e,
através deste, no córtex motor e pré-motor (também existem umas ligações
directas nalguns núcleos do tronco cerebral, embora com pouca
representatividade). É composto por duas porções, interna e externa, sendo esta o
local onde recebe a maior parte da informação dos outros NCB e a interna o local
de saída para o tálamo.
O Núcleo Subtalâmico tem ligações com o Globo Pálido e a sua lesão provoca
hemibalismo (movimentos descontrolados dos membros).
As principais ligações que os NCB têm entre si e outras estruturas do SNC podem
ser sintetizadas na figura 2. Reparem que a maioria da informação (na figura não
estão representadas todas as ligações, para melhor compreensão) que chega aos
NCB “entra” pelos núcleos Caudado e Putamen. Neste é feita uma primeira parte
do processamento, essencialmente relacionado com a filtragem da informação,
decidindo-se qual é a informação que passa e qual é a que não é pertinente.
A partir daqui a informação parte para quase todos os restantes núcleos, como que
num conjunto de “pedidos de conselho interno”, sendo a resposta recebida pelo
globo pálido, que faz uma última “consultoria” junto do núcleo subtalâmico, antes
Córtex Primário de projectar o resultado
Córtex Pré-Motor Córtex Motor de todo este
Somatosensorial
processamento no tálamo
Córtex Sec. e Terc. e alguns núcleos do
Somatosensorial tronco cerebral.
Poderão ver nas
referências bibliográficas
a divisão das ligações
internas dos NCB em
circuito directo e circuito
indirecto. Esta divisão é
um pouco mais
complicada e não é de
grande importância para a
profundidade da nossa
Tálamo Globo Pálido análise. Parece que o
Externo circuito directo facilita a
produção do movimento,
Globo Pálido
enquanto que o indirecto
Interno
tem o efeito contrário.
Caudado
Eles são mediados por
neurotransmissores
diferentes, resultando
Putamen num medir de forças ao
N. Subtalâmico nível do tálamo que
origina a resposta
SN Compacta vencedora.
O que se sabe, e aqui já é
SN Reticulada mais importante para nós,
Adaptado de Carlson (1998), pp. 244
é que existe uma acção da
dopamina (produzida
Para os Núcleos Ligações excitatórias pela SN compacta) sobre
Motores do os dois circuitos que
Ligações inibitórias origina a facilitação do
Tronco Cerebral
Ligações excitatórias movimento. É por isso
e inibitórias que o Síndroma de
Parkinson é caracterizado
Figura 2 - Ligações dos NCB (adaptado de Carlson, 1998)
por tremores e
dificuldades em iniciar o
movimento (além de outros sintomas).
Verificam-se de novos os quatro princípios de organização dos sistemas funcionais
do SN, pois existem as tais sinapses de revezamento, o tálamo assume mais uma
vez este papel, funcionando como o elo de ligação entre os NCB e a maior parte
das suas eferências, nomeadamente para aquelas que se dirigem para o córtex.
Existem vias diferenciadas para o tratamento dos vários tipos de informação que
são processados pelos NCB. Por exemplo, parece que o núcleo putamen tem um
papel na regulação das tarefas que implicam um seguimento visual (por exemplo,
apanhar uma bola em trajectória aérea), tendo para isso um conjunto de vias
específicas que resultam das áreas sensoriais visuais que lhe permitem aferir a
direcção que os membros corporais estão a tomar (Côté & Crutcher, 2000).
A existência de quatro circuitos dentro dos NCB que utilizam outros tantos
conjuntos de vias diferenciados, completa a ideia da organização topográfica. Entre
estes salientarei o circuito óculomotor que está relacionado com o exemplo do apanhar
a bola que acabei de apresentar; e o circuito motor que é aquele que mais nos interessa
por agora, pois está relacionado com a regulação e planeamento das actividades
motoras.
Os NCB também estão organizados de forma somatotópica, correspondendo
maiores áreas de processamento às funções mais complexas. Por exemplo, se o
pedi4do de conselho que é lançado pelo córtex está relacionado com algum
movimento preciso da mão, esta informação vai “caminhar” por um conjunto de
locais nos NCB que estão relacionados com a mão, de forma separada de
conselhos de outras zonas corporais que possam estar a ser processados, sendo
aqueles locais de maior dimensão do que, por exemplo, os dedicados à coxa.
Ao contrário do cerebelo (que tem características ipsilaterais, sendo uma excepção
ao princípio da contralateralidade), os NCB controlam a informação das estruturas
do lado contrário onde estão localizados, pois a informação que lhes chega do
córtex já foi “cruzada”.
Esta inibição ocorre igualmente ao nível do planeamento motor, pois parece que os
NCB ajudam o córtex a decidir, dentro do nosso reportório motor, qual o
movimento a executar e depois impedem que as restantes hipóteses de movimento
compitam com a vencedora, tornando, desta forma a actividade mais fluída.
Associadas a esta hipótese surgem as ideias de que: (1) os NCB desinibem áreas do
sistema motor (e.g., córtex motor) permitindo a produção de movimento; ou (2)
que os NCB “desligam” a actividade postural permitindo a produção de
movimento.
Outra hipótese relacionada com a função dos NCB, aponta para o seu
Formação Movimento
envolvimento na formação de sequências dos fragmentos dos movimentos ou
de vários movimentos, portanto com um papel mais importante ao nível do
planeamento e programação motora e não tanto do controlo do movimento em si.
Esta hipótese é apoiada pelo facto das informações provenientes dos NCB se
dirigirem, não só para o córtex motor, mas também para o pré-motor, onde se
pensa que este tipo de processamento ocorre.
Compressor de Dados Uma última e mais recente hipótese resulta dos trabalhos de Bar-Gad et al., (1999,
in Spinney, 1999), que nos indica que os NCB comprimem os dados que resultam
do processamento do córtex, pois estes contêm muitas redundâncias, devolvendo
estas informações sob um formato comprimido (tipo um ficheiro zip dos
computadores) que são mais facilmente processadas e distribuídas pelas áreas de
decisão.
Esta teoria é muito recente, mas parece já ter um conjunto de experiências que a
suportam, pelo que provavelmente, e num prazo curto, ela venha a ser aceite como
uma das hipóteses mais válidas.
Resumindo, as teorias de funcionamento dos NCB são as seguintes:
1) Hipótese Travão, da qual derivam as de;
a) os NCB desinibem áreas do sistema motor (p.e., córtex motor) permitindo
a produção de movimento,
b) que os NCB “desligam” a actividade postural permitindo a produção de
movimento.
2) Planeamento e Programação, ao nível da formação de sequências dos
fragmentos dos movimentos ou de vários movimentos.
3) Hipótese Compressor de Dados.
senhor Luria e vejamos uma situação de voleibol (um dos craques destes sistemas
subcorticais é o professor japonês Ito...).
Situamo-nos como se fossemos o distribuidor, na posição 3 (para facilitar as coisas)
e com a sua equipa em situação de recepção ao serviço. Neste momento ele está
atento à disposição da equipa adversária cruzando-a com a informação que tem
disponível do valor dos adversários e colegas, para poder escolher melhor o local
onde vai ser realizado o ataque. Está, ainda, atento ao serviço, de forma a antecipar
um deslocamento no sentido de melhor execução do segundo toque.
Durante estes momentos, os seus sistemas subcorticais estão a comandar a maior
parte das operações no que respeita à manutenção da postura e deslocamentos que
ele possa estar a executar, pois, se assim não fosse, ele não teria o córtex disponível
para processar os restantes dados.
Após o serviço ter sido realizado ele procura a trajectória da bola, seguindo-a
através da visão. Este seguimento é regulado pelo arqueo-cerebelo e neoestriado,
controlando, respectivamente, os movimentos coordenados dos olhos e cabeça e
os movimentos sacádicos (são aqueles movimentos oculares muito rápidos, que
nos permitem aferir rapidamente as distâncias e também não perder o equilíbrio).
A partir da previsão do local de recepção (feito com base nas informações
provenientes destas estruturas em conjunto com o córtex), são desencadeadas um
conjunto de possibilidades de respostas, por exemplo: “faço o passe em
manchete”; “em passe por cima”; “para a posição 4”; “para a posição 2”, etc.. Estas
possibilidades derivam do trabalho conjunto entre:
A 2ª UF que recolheu e sintetizou a informação, e tem armazenadas
situações semelhantes em memória,
E a 3ª UF, especialmente a área terciária, que é o palco de uma competição
entre as várias hipóteses de acção, registando as consequências de cada
uma delas, e pedindo mais informações para melhor decidir até que só a
mais forte das hipótese seguirá para ser executada (não com o sentido de
penalização legal, como é óbvio).
Escolhida a acção a tomar, entramos na fase de programação, de elaboração de um
conjunto íntegro de impulsos motores a enviar para a periferia. Vejamos o que se
passa no nosso exemplo onde a acção escolhida foi o passe para a entrada da rede:
A decisão segue da área terciária da 3ª UF para a área secundária, onde
começa a ser feita a programação do movimento, de novo através de uma
competição de estímulos que apresentam várias hipóteses de efecção do
gesto;
Os NCB, recebem este conjunto de hipóteses, cruzando-as com
informações provenientes de todo o córtex, nomeadamente aspectos
cognitivos (vou fazer o passe tenso porque o bloco da outra equipa é lento)
e emocionais (boa recepção, agora tem de correr tudo bem para ir felicitar
o líbero). Além disso, quando a decisão está tomada eles “travam” as
hipóteses perdedoras para que elas não perturbem a execução do
movimento vencedor;
Figura 3 - Síntese da Sinergia entre os Sistemas Motores do SN (adaptado de Thach, 1998). Legenda: Córtex Cerebeloso; Dent - Núcleo Dentado; Int - Núcleo Intermédio; Tecto -
Núcleo do Tecto; Neo - Neocerebelo; Paleo - Paleocerebelo; Arq - Arqueocerebelo. Estruturas relacionadas com os NCB: G. P. Interno - Globo Pálido Interno; Sub - Núcleo
Subtalâmico; SN c - Substância Negra Compacta; SN r - Substância Negra Reticulada. Outras Estruturas: Sub. Ret. - Substância Reticulada; N. Rub. - Núcleo Rubro ou Vermelho; N.
Vest. - Núcleo Vestibular; IN - Interneurónio Medular. (Adaptado de Thach, 1998)
Na próxima aula
Referências Bibliográficas
Essenciais
Côté, L.; Crutcher, M. (2000). The Basal Ganglia. In E. Kandel; J. Schwartz; T.
Jessel (Eds.) Principles of Neuroscience (4rd Ed.). Norwalk, Conneticut: Appleton &
Lange. (pp. 647-658)
Latash, M. (1998). Neurophysiological Basis of Movement. Champaign, IL: Human
Kinetics (pp.139-144)
Em Português
Thompson, R.F. (1984). Introdução à Psicofisiologia. Lisboa: Ed. Portuguesa de Livros
Técnicos e Científicos. (pp. 120 e 282). Bastante incompleto, infelizmente.
Complementares
Thach, W. (1998). What is the role of the cerebellum in motor learning and
cognition?. Trends in Cognitive Sciences, vol. 2, nº 9::331-337
Web
http://thalamus.wustl.edu/course/cerebell.html
Sundsten, John W.; Mulligan, Kathleen A. (Março, 1999). Neuroanatomy
Interactive Syllabus. Universidade de Washington
Curso de Neuroanatomia da Universidade de Washington. Bastante acessível em
termos do conteúdo.
http://www.umanitoba.ca/faculties/medicine/anatomy/bgmenjb.htm
Tutorial sobre os NCB. Algo complicado de navegar..
http://www.biomednet.com/hmsbeagle/59/notes/meeting.htm
Spinney, L. (Agosto, 1999). New models of Parkinson’s.
Artigo sobre a hipótese compressor de dados.
http://www.umanitoba.ca/faculties/medicine/anatomy/bgmenjb.htm
Sigam a ligação “The Basal Ganglia”.