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RESUMIDAS
CLÍNICA MÉDICA
Síndrome Nefrítica..............................................................................................................................................................4
Doença de Berger...............................................................................................................................................................10
Trombose Glomerular......................................................................................................................................................22
Urologia – Nefrolitíase.....................................................................................................................................................59
FISIOLOGIA RENAL
ASPECTOS DO GLOMÉRULO
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
➢ ANATOMIA DO RIM: O rim apresenta 11 cm a 12 cm de comprimento em seu maior eixo. Ressalta-se
que o conhecimento disso pode ser importante em uma questão para diferenciar doenças que cursam com
a redução no tamanho do órgão e doenças que cursam com o aumento dele, sendo essa última situação
menos frequente. De forma simplificada, o rim pode ser dividido em córtex e medula. Nesse sentido, o
córtex é a porção mais externa do órgão, ao passo que a medula se localiza mais internamente. Contudo,
a medula não é uma estrutura contínua como o córtex, sendo composta por várias pirâmides de Malpigh,
que, por sua vez, são separadas pelas colunas de bertin, pertencentes ao córtex. Ressalta-se ainda a o ângulo
inferior de uma pirâmide de Malpigh é a papila renal, por onde o filtrado glomerular sai do parênquima
renal para alcançar um cálice menor. Na sequência, a urina passa por um cálice maior, fruto da confluência
de aproximadamente 3 cálices menores e, por fim, chega à pelve renal, por onde a urina deixa o rim e
segue na via urinária através do ureter.
Tendo em vista o diferenciado sistema arterial dos rins, deve-se destacar que a nutrição e a
oxigenação do parênquima renal se iniciam no córtex e terminam na medula, que, portanto, é menos
vascularizada. Dessa forma, conclui-se que a papila renal é a porção menos irrigada do rim e,
portanto, mais sensível às alterações do fluxo sanguíneo renal, que ocorrem em doenças, como
Diabetes Mellitus e Anemia Falciforme, bem como a partir do uso de medicamentos, como AINES.
Ressalta-se que, nesses casos, a papila renal se torna propensa a sofrer processo de isquemia, seguido
por necrose e, por fim, pelo surgimento de um corpo estranho (papila necrosada) capaz de se
comportar como um cálculo obstrutivo, que, por sua vez, oferece um risco de infecção maior do que
o observado em casos usuais de litíase renal. Ressalta-se que nesses casos, a abordagem terapêutica
conta com a associação de tratamentos para nefrolitíase e pielonefrite.
➢ NÉFRON: O néfron é uma estrutura microscópica e representa a unidade funcional do rim. Nesse sentido,
a somatórias dos milhões de néfrons resulta no rim. Do ponto de vista estrutural, o néfron é composto pelo
Corpúsculo de Malpigh, sistema tubular e aparelho justaglomerular. Resumidamente, o filtrado renal é
formado nos glomérulos e, na sequência, alcança o sistema tubular, por onde passa por modificações
através dos processos de reabsorção e secreção feitos pelas células tubular. Ao longo desse percurso ocorre
a comunicação entre o filtrado que está sendo formado e o sangue que está alcançando os glomérulos,
papel desempenhado pelo aparelho justaglomerular e fundamental para a manutenção da homeostase. Por
fim, as ilustrações abaixo permitem a compreensão estrutural do néfron.
1. Corpúsculo de Bowman
Capilares glomerulares:
Formados por endotélio
com fenestrações
➢ O RIM RECEBE 20% A 25% DO DÉBITO CARDÍACO: Diante de infecções em outros locais do
organismo, como as vias áereas superiores, os produtos inflamatórios gerados, como células de defesa,
anticorpos e imunocoplexos, atingem a circulação sistêmcia e, consequentemente, o nível renal. Dessa
forma, é possível que esses produtos do sistema imunológico impactem na barreira de filtração,
promovendo um quadro inflamatório nos glomérulos. Nesses casos, a imunofluorescência glomerular
permite visualizar a lesão renal, bem como contribui para determinar o local específico de agressão dentro
da barreira de filtração. Isso é possível, tendo em vista que, quando positivo, a imunofluorescência pode
apresentar dois padrões, isto é, padrão linear e padrão granular. Dessa forma, diante do padrão granular é
possível concluir que a lesão acometeu uma área irregular da barreira de filtração, que pode ser o
glomérulo, devido às fenestrações dos capilares, ou o folheto interno da Cápsula de Bowman, devido aos
podócitos presentes no epitélio. Por outro lado, quando o padrão é linear, é possível afirmar que a lesão se
encontra na membrana basal, visto que é a única região contínua e regular da barreira de filtração e,
portanto, capaz de conferir um padrão linear na imunofluorescência.
Resultados de imunofluorescência glomerular com padrão linear são conclusivas para afirmar
acometimento da membrana basal da barreira de filtração.
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SÍNDROME NEFRÍTICA
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
− Síndrome nefrítica
− Alterações assintomáticas
− Glomerulonefrite rapidamente progressiva
− Síndrome nefrótica
− Trombose glomerular.
Na prática, cilindros hemáticos sugerem síndrome nefrítica, apesar dos túbulos, quando lesados,
também cursarem com o extravasamento de hemácias. Ressalta-se que a provável justificativa para
isso é a proporção entre hemácias e leucócitos no filtrado glomerular, que diverge nas condições em
questão. Nas lesões glomerulares a quantidade de hemácias que alcança o filtrado é muito maior
quando comparada à quantidade de leucócitos, resultando, dessa forma, nos cilindros hemáticos
como achado laboratorial. Já nas lesões tubulares a relação se inverte e, portanto, os cilindros
leucocitários são mais frequentes.
Na síndrome nefrítica, a proteinúria, quando presente, não é maciça, diferentemente do que ocorre
na síndrome nefrótica. Em valores laboratoriais, a síndrome nefrítica cursa com proteinúria de 150
mg a 3,5 g, ao passo que na Síndrome Nefrótica, valores de proteinúria superiores a 3,5 g são bem
sugestivos desse quadro.
GLOMÉRULO NEFRITE
PÓS-ESTREPTOCÓCICA (GNPE)
➢ EPIDEMIOLOGIA DA GNPE: Indivíduos de qualquer faixa etária podem manifestar GNPE, contudo,
a faixa etária mais susceptível se encontra entre 2 a 15 anos. Além disso, na ampla maioria dos casos, o
prognóstico da doença é favorável e auto resolutivo do ponto de vista etiológico.
➢ DIAGNÓSTICO DA GNPE: Apesar da ampla maioria dos casos de síndrome nefrítica serem causados
por glomerulonefrite pós estreptocócica, é fundamental a certificação de que o quadro se trata de fato dessa
doença, tendo em vista que as outras causas de síndrome nefrítica, no geral, não cursam com bom
prognóstico e, inclusive, podem levar o paciente à insuficiência renal. Portanto, deve-se adotar as etapas
investigativas abaixo em pacientes com diagnóstico clínico de síndrome nefrítica.
2. Verificar se o intervalo entre a infecção inicial na orofaringe ou pele e os sintomas renais é condizente
com a história natural na GNPE.
3. Documentar infecção estreptocócica através de cultura ou dosagem de anticorpos. Nesse sentido, nos
casos em que o paciente reporta infecção prévia de orofaringe, recomenda-se realizar a dosagem do
anticorpo anti-estreptolisina O (ASLO), que possui sensibilidade de 80% a 90%. Já quando o relato é
de infecção prévia na pele, a orientação é a realização do exame anti-DNAse, que, por sua vez, possui
sensibilidade de 60% a 70¨%.
4. Queda transitória do complemento. Tendo em vista que a maioria dos casos de infecção de orofaringe
é de origem viral e que as infecções cutâneas podem ter outros agentes, como os estafilococos, a
presença de ASLO ou anti-DNAse positivo não certifica o diagnóstico de GNPE, já que o paciente
pode ter tido a infecção prévia ao quadro renal causada por um agente etiológico diferente de um
estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Sendo assim, a verificação de queda transitória de C3,
principalmente, e de CH50 são conclusivos para o diagnóstico de GNPE, visto que a deposição de
imunocomplexos a nível glomerular tende a cursar com consumo de complemento pela via alternativa.
Caso uma questão de prova apresente caso clínico de síndrome nefrítica acompanhado de
dosagem de complemento em valores normais, deve-se descartar GNPE da investigação
etiológica.
1. Oligúria há mais de 7 dias: A oligúria deve ser o primeiro sintoma a ir em bora na GNPE, deixando
de se mostrar presente em cerca de 7 dias. Ressalta-se que o desaparecimento da oligúria deve ser
mensurado por uma redução na dosagem da creatinina, que, em quadros de retenção renal, se mantém
mais elevada.
3. Proteinúria acima de 3,5g por mais de 4 semanas: A proteinúria da síndrome nefrítica não costuma
ultrapassar a dosagem de 3,5g. Contudo, caso esteja nefrótica no início do quadro, deve-se,
primeiramente, acompanhar. Todavia, caso essa alteração atípica persista por mais de 4 semanas é
preciso ficar mais atento e repensar a conduta.
− Vasodilatadores diretos: Caso o paciente não responda bem ao diurético no tocante à hipertensão
arterial, é possível experimentar o uso desses fármacos.
− Terapia de substituição renal (Hemodiálise ou diálise peritoneal): A maioria dos casos não chega
a precisar dessa abordagem terapêutica. Contudo, caso o paciente se encontre em insuficiência renal
aguda, essa modalidade terapêutica costuma ser bem sucedida na resolução do quadro e, geralmente,
ocorre apenas durante o período de recuperação da função renal do paciente.
DOENÇA DE BERGER
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
➢ SÍNDROME NEFRÍTICA: Representa cerca de 10% dos casos de Doença de Berger, que, neste caso, é
um diagnóstico diferencial de GNPE. Dessa forma, a diferenciação entre as duas condições pode ser feita
na medida em a Nefropatia por IgA não cursa com hipocomplementemia, bem como não respeita o período
de incubação entres a manifestações clínicas da Síndrome Nefrítica e de uma infecção prévia em outro
sítio, como ocorre na GNPE.
➢ SÍNDROME NEFRÓTICA E GLOMERULONEFRITE RAPIDAMENTE PROGRESSIVA
(GNRP): A Síndrome Nefrótica também ocorre em 10% dos pacientes com Doença de Berger. Já a
Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva acomete cerca de 5% dos pacientes com a Nefropatia por IgA
e será abordada de forma mais complexa em outro material do módulo de nefrologia.
➢ BIÓPSIA: A avaliação histológica deve ser recomendada nos pacientes com suspeita de Doença de Berger
que cursam com Síndrome Nefrítica, proteinúria acima de 500 mg/dia e insuficiência renal. Ressalta-se
que, conforme dito no material de Síndrome Nefrótica, a suspeita de GNPE, principal etiologia desse
quadro sindrômico, não carece de biópsia inicialmente, porém, quando a apresentação clínica foge a regra,
como é o caso do achado laboratorial de complemento normal, deve-se solicitar a avaliação histológica.
GLOMÉRULO NEFRITE
RAPIDAMENTE PROGRESSIVA
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
➢ ACHADOS NA BIÓPSIA: O principal achado microscópico são as crescente em mais de 50% dos
glomérulos de rápida instalação, o que é conhecido a partir da associação entre interpretação do exame e
a história clínica. Ressalta-se que um glomérulo tomado por crescentes pode ser descrito como um
glomérulo associado ao extravasamento de monócitos e fibrina para o espaço glomerular, bem como
tomado por capilares esmagados por esses produtos inflamatórios.
➢ TIPOS DE GNRP: Os quadros de GNRP podem ser classificados em tipos I, II e III, sendo os dois últimos
mais frequentes dentro do espectro da doença, conforme será abordado abaixo.
→ GNRP do tipo I: Responde por 10% dos casos de GNRP, sendo a Síndrome de Goodpasture a
principal doença que cursa com essa manifestação de glomerulonefrite fulminante. Ademais, a
principal característica desses quadros são os depósitos de anticorpo anti-MBG.
→ GNRP do tipo II: Responsável por 45% dos casos de GNRP, é marcada por depósitos de
imunocomplexos. Dentre as causas bases que podem evoluir para esse tipo da destruição rápida dos
rins, destacam-se a Doença de Berger, Glomerulonefrite pós-estreptocócica, endocardite, hepatites
virais e Lúpus Eritematoso Sistêmico.
→ GNRP do tipo III: Também é responsável por 45% dos casos de GNRP e se diferencia das demais,
do ponto de vista propedêutico, por apresentar imunofluorescência escura, já que, diferentemente das
demais, não conta com a participação de anticorpos na mediação do seu processo fisiopatológico.
Dentre as etiologias dessa manifestação da GNRP, destaca-se a Doença de Wegner e as vasculites
ANCA +.
➢ SÍNDROME DE GOODPASTURE: Dentre as doenças de base que cursam com GNRP e de origem
renal, a Síndrome de Goodpasture foi a única não estudada até então no módulo de nefrologia. Nesse
sentido, essa síndrome acomete preferencialmente homens (6:1) entre 20 e 30 anos, possui o tabagismo
como importante fator de risco e, conforme já sugerido, tem sua patogênese marcada pelo depósito de
anticorpos anti-MBG nas membranas basais dos glomérulos e dos alvéolos pulmonares. Como
consequência disso ocorre a agressão desses locais e, clinicamente, o paciente pode cursar com uma
síndrome pulmão-rim, caracterizada por sintomas semelhantes os observados em uma GNRP clássica,
porém associados à manifestação de hemoptise. Do ponto de vista propedêutico, a dosagem de anti-MBG
pode sugerir o diagnóstico, entretanto, o diagnóstico conclusivo ocorre a partir de biópsia com
imunofluorescência de padrão linear e, em casos já mais avançados, com visualização de crescentes à
microscopia. Por fim, com relação ao tratamento, a primeira conduta a ser adotada deve ser o plasmaférese,
objetivando a “lavagem” dos anticorpos agressores presentes no sangue. Além dessa conduta, recomenda-
se corticoterapia associada a uso de imunossupressor (Azatioprina ou Ciclofosfamida).
SÍNDROME NEFRÓTICA
INTRODUÇÃO
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
DEFINIÇÃO
➢ O PAPEL DO EAS NA SÍNDROME NEFRÓTICA: A partir do exame de urina simples não é possível
dar o diagnóstico, mas a presença de proteinúria, principalmente quando associado a outros achados,
sugere investigação de síndrome nefrítica. Nesse sentido, ressalta-se que em questões de prova é preciso
estar atento ao entorno do paciente diante da informação de proteinúria no EAS, pois é possível que seja
o único exame indicativo de síndrome nefrótica.
→ Edema: Tendo em vista que a albumina é a principal atuante na determinação da pressão oncótica
sanguínea, a hipoalbuminemia cursa com a redução da pressão oncótica vascular e, por fim, edema.
→ Estado pró-trombótico: A antitrombina III, cofator para a ação da heparina, também é perdida
nesses quadros e, portanto, sua perda aumenta a predisposição à formação de trombos.
→ Trombose de veia renal (dor lombar, assimetria renal e hematúria): A obstrução dessa veia, em
ambos os lados e sexos, impede a drenagem do sangue venoso oriundo dos rins, que, por sua vez,
passa a se acumular no órgão. Consequentemente a isso, pode haver distensão da cápsula renal,
resultando em dor lombar e assimetria renal. Ademais, o aumento da pressão nos vasos renais devido
ao acúmulo de sangue pode favorecer o extravasamento de hemácias, o que se manifesta através de
hematúria.
o Varicocele e trombose de veia renal esquerda em homens: Deve-se ressaltar que, nos homens, a
veia gonadal (testicular) esquerda drena para a veia renal esquerda. Portanto, nos homens, a
trombose renal esquerda, além das manifestações clínicas já descritas, pode cursar também com
varicocele.
➢ PERITONITE BACTERIANA: Devido ao edema, consequente à hipoalbuminemia sérica da síndrome
nefrótica, é possível o surgimento de ascite. Tendo em vista também que esse líquido oriundo dos vasos
sanguíneos é pobre em IgG, perdido pelo rim, o peritônio se torna um sítio predisposto a ser acometido
por infecção bacteriana, especialmente pelo estreptococos pneumoniae (pneumococo).
SÍNDROME NEFRÓTICA
ETIOLOGIAS
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
4. Glomerulopatia membranosa
Depósitos de imunocomplexos na membrana basal; 50% dos casos cursa com trombose de
veia renal; proteinúria intensa.
➢ DOENÇA POR LESÃO MÍNIMA: Representa aproximadamente 85% dos casos de Síndrome Nefrótica
em crianças e, geralmente, cursa com bom prognóstico. Com relação à fisiopatologia, decorre de um
processo inflamatório que promove a fusão e retração dos processos podocitários com comprometimento
associado da membrana basal, que, por sua vez, perde seu caráter elétrico negativo. Do ponto de vista
clínico, a doença se manifesta por meio de uma síndrome nefrótica clássica intermitente, isto é, que
intercala períodos de atividade e remissão. Tendo em vista o bom prognóstico da doença e a necessidade
da microscopia eletrônica para uma melhor visualização histológica, o quadro, inicialmente, dispensa a
realização de biópsia, sendo a corticoterapia a conduta inicial. Por fim, seguem abaixo algumas
observações da doença por lesões mínimas que auxiliam na diferenciação entre as classificações
etiológicas da síndrome nefrótica
TÓPICOS IMPORTANTES DA DOENÇA POR LESÕES MÍNIMAS
Nas provas de residência, quando questionada q etiologia de uma síndrome nefrótica secundária, a
resposta sempre será GEFS, caso não haja nenhuma das doenças de base abaixo.
- Linfoma de Hodkin e uso de AINES: Associações mais frequentes na doença por lesões mínimas.
- Neoplasias, Lúpus Eritematoso Sistêmico, Hepatite B e uso de captopril, AINES, sais de ouro e D-
Penicilamina: Associações mais frequentes na Glomerulopatia Membranosa.
Situações de hipoperfusão renal e/ou de aumento da concentração de cloreto de sódio nas porções
distais dos túbulos renais ativam o sistema renina angiotensina aldosterona. Dentre os diversos
efeitos disso, a vasoconstrição promovida pela angiotensina II a nível glomerular ocorre em maior
intensidade na arteríola eferente, aumentando, dessa forma, a sobrecarga renal. Sendo assim,
fármacos que inibem a formação de angiotensina II, como os IECA e os BRA, possuem efeito
nefroprotetor e, portanto, podem ser considerados em alguns quadros de síndrome nefrótica, como na
GEFS.
MACETE PARA AS CAUSAS PRIMÁRIAS DE GEFS SECUNDÁRIA NAS PROVAS DE
RESIDÊNCIA MÉDICA
Nas provas de residência, quando questionada q etiologia de uma síndrome nefrótica secundária, a
resposta sempre será GEFS, caso não haja nenhuma das doenças de base abaixo.
- Linfoma de Hodkin e uso de AINES: Associações mais frequentes na doença por lesões mínimas.
- Neoplasias, Lúpus Eritematoso Sistêmico, Hepatite B e uso de captopril, AINES, sais de ouro e D-
Penicilamina: Associações mais frequentes na Glomerulopatia Membranosa.
Situações de hipoperfusão renal e/ou de aumento da concentração de cloreto de sódio nas porções
distais dos túbulos renais ativam o sistema renina angiotensina aldosterona. Dentre os diversos
efeitos disso, a vasoconstrição promovida pela angiotensina II a nível glomerular ocorre em maior
intensidade na arteríola eferente, aumentando, dessa forma, a sobrecarga renal. Sendo assim,
fármacos que inibem a formação de angiotensina II, como os IECA e os BRA, possuem efeito
nefroprotetor e, portanto, podem ser considerados em alguns quadros de síndrome nefrótica, como na
GEFS.
- É a classificação etiológica de síndrome nefrótica que mais cursa com trombose de veia renal (50%
dos casos) e, portanto, a anticoagulação deve ser avaliada na abordagem terapêutica.
- IECA e BRA, especialmente o Captopril, podem ser causa de Glomerulopatia Membranosa, contudo,
mesmo nesses casos o uso desses medicamentos com finalidade nefroprotetora pode ser considerado.
- Quando secundária, a glomerulopatia membranosa pode ter como doença de base, principalmente,
neoplasias, Lúpus Eritematoso Sistêmico, Hepatite B e uso de drogas, como sais de ouro, IECA,
AINES e D-Penicilamina.
- Idade jovem
- Sexo feminino
- É a única classificação etiológica de síndrome nefrótica que cursa com consumo de complemento
(hipocomplementemia).
- É a segunda causa de síndrome nefrótica que mais evolui com trombose de veia renal.
- Sua fisiopatologia é marcada pela formação de uma dupla camada entre a membrana basal e o
endotélio fenestrado.
- Quando secundária a uma causa base, a hepatite C é a mais frequentemente abordada nas provas.
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TROMBOSE GLOMERULAR
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
➢ EPIDEMIOLOGIA: A trombose glomerular consiste em um acometimento dos glomérulos que tem seus
casos com incidência, especialmente, em países subdesenvolvidos e/ou em crianças com idade entre 2 e 4
anos. Ressalta-se que esses fatores de risco se relacionam a duas características da trombose glomerular,
isto é, origem infecto-parasitária (países subdesenvolvidos) e transmissão por meio de água, alimentos ou
objetos contaminados por fezes (crianças).
FISIOLOGIA RENAL
➢ TÚBULO CONTORCIDO PROXIMAL: O túbulo contorcido proximal se destaca por realizar quase
toda a reabsorção da glicose e dos aminoácidos, bem como por ser o principal local de reabsorção do
bicarbonato. Ressalta-se que, em condições normais, praticamente toda a quantidade de glicose,
aminoácidos e bicarbonato presentes no filtrado glomerular é reabsorvida nos túbulos. Além disso, nesse
nível, ocorre também a reabsorção de frações de ureia, água, sódio, cloreto, bem como a secreção de
frações de hidrogênio, conforme será visto abaixo.
→ Reabsorção de sódio, glicose e aminoácidos: As células do túbulo contorcido proximal contam com
a bomba de sódio e potássio em sua porção que estabelece contato com o interstício (lado oposto ao
lúmen tubular). Dessa forma, o sódio do meio intracelular é direcionado para o interstício por
transporte ativo primário com consequente armazenamento de energia potencial. Do outro lado, a
porção das células epiteliais em contato com o lúmen tubular dispõem de proteínas transportadoras de
sódio e glicose, bem como de sódio e aminoácidos, que realizam transporte ativo secundário. Sendo
assim, o sódio se liga a essas proteínas e, ao seguir para o meio intracelular, por transporte passivo,
libera a energia potencial armazenada, que, por sua vez, é usada para o transporte da glicose ou do
aminoácido. Por fim, o sódio pode ser reabsorvido, passivamente, por outras proteínas que permitam
a sua passagem.
→ Reabsorção de água: O túbulo proximal é altamente permeável à água, que é reabsorvida por osmose,
principalmente, através das junções oclusivas.
→ Reabsorção de cloreto: Os íons cloreto pode ser reabsorvidos tanto por transporte ativo quanto por
transporte passivo. Com relação ao transporte passivo, as reabsorções de sódio e água determinam a
reabsorção de cloreto, tendo em vista a necessidade de alcançar o equilíbrio iônico e osmolar,
respectivamente.
→ Reabsorção de ureia: À medida em que a água vai sendo reabsorvida no túbulo contorcido proximal,
a contração luminal de ureia aumenta e, por transporte passivo, uma pequena porção dessa excreta
nitrogenada é reabsorvida no túbulo contorcido proximal.
→ Secreção de hidrogênio e reabsorção de bicarbonato: O CO2 que alcança, passivamente, o meio
intracelular do epitélio de revestimento do túbulo contorcido proximal reage com a água, por ação da
enzima anidrase carbônica, gerando ácido carbônico, que se dissocia em íons hidrogênio e bicarbonato.
Posteriormente, na porção do epitélio em contato com o lúmen tubular, existem proteínas que realizam
o contratransporte de sódio e hidrogênio. Nesse sentido, o sódio deixa o lúmen tubular por transporte
passivo, liberando a energia potencial armazenada pela atividade da bomba de sódio e potássio, o que
permite a secreção de hidrogênio contra o gradiente de concentração no lúmen tubular. Quanto ao
bicarbonato, a fração formada a partir da dissociação do ácido carbônico no meio intracelular segue
para o interstício por transporte passivo. Já o bicarbonato presente no filtrado que chega ao túbulo
contorcido proximal reage com íons hidrogênio no lúmen tubular, formando, dessa forma, o ácido
carbônico, que, na sequência se dissocia em H2O e CO2. Ainda, o dióxido de carbono, por transporte
passivo, segue para o meio intracelular.
➢ ALÇA DE HENLE: Pode ser subdividida em duas porções, denominadas porção descendente fina e
porção ascendente espeça. A porção descendente fina é responsável por reabsorver cerca de 20% da água
presente no filtrado renal, bem como alguns solutos que fluem contra o lúmen por osmose. Já a porção
ascendente espessa reabsorve quantidades significativas de diversos íons, contudo, deve-se chamar a
atenção para a reabsorção de sódio, cloreto e potássio que ocorre nessa porção do túbulo renal, através do
cotransportador 1-sódio, 2-cloreto, 1-potássio. Destaca-se também um mecanismo de contratransporte de
sódio e hidrogênio presente na porção ascendente espessa da alça de henle.
→ Cotransportador 1-sódio, 2-cloreto, 1 potássio: O sódio, por transporte passivo, segue para o meio
intracelular do epitélio tubular e, devido a isso, promove a liberação da energia potencial armazenada
a partir da atividade da bomba de sódio e potássio, conforme já discutido. Consequentemente, o
gradiente energético liberado permite o transporte ativo de potássio do lúmen tubular para o meio
intracelular do epitélio tubular contra o gradiente de concentração do íon. Por fim, devido à reabsorção
de duas cargas positivas, o cloro é reabsorvido, passivamente, no intuito de manter o equilíbrio iônico.
➢ TUBULO CONTORCIDO DISTAL INICIAL: O túbulo contorcido distal é dividido em porções inicial
e distal, que por sua vez apresentam diferentes características. Nesse sentido, a parte inicial do túbulo
contorcido distal abriga as células da mácula densa, que, de acordo com a concentração de cloreto de sódio
percebida, regulam o sistema renina-angiotensina-aldosterona. Ademais, essa porção tem como
característica o potencial de reabsorção da maioria dos íons e a impermeabilidade à água e à ureia.
→ Regulação ácido-base: Adjacente às células principais existem as células intercaladas, que podem ser
do tipo A ou do tipo B. À medida em que as células principais secretam íons de hidrogênio por ação
da aldosterona, o pH urinário vai reduzindo até chegar em um momento no qual o gradiente de
concentração do lúmen se torna muito superior ao do meio intracelular. Diante disso, a regulação dos
íons hidrogênio passa a ser feita pelas células intercalares do tipo A, que dispõem da proteína
hidrogênio-ATPase em sua porção apical (luminal). Além disso, deve-se ressaltar que os íons de
hidrogênio secretados são produzidos em uma reação que também libera íons de bicarbonato,
posteriormente direcionados de forma passiva para o meio extracelular, por meio de proteínas
denominadas Cl-bicarbonato, que, por sua vez, se localizam na porção basal das células intercalares
do tipo A. Por fim, as células intercalares do tipo B possuem essas mesmas proteínas de transporte,
porém em lados opostos e, dessa forma, são capazes de reter íons de hidrogênio e secretar íons de
bicarbonato em situações de alcalose metabólica.
➢ TÚBULO COLETOR MEDULAR: Nesta porção final do túbulo renal ocorre reabsorção de água por
ação do ADH, semelhantemente ao observado no túbulo coletor cortical e no túbulo contorcido distal final.
Além disso, é no túbulo coletor medular que ocorre a maior parte da reabsorção de ureia. Por fim, há
também a reabsorção de sódio, bem como a secreção de íons hidrogênio, o que, por sua vez, ocorre através
de transporte ativo.
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➢ DEFINIÇÃO E CAUSAS: Do ponto de vista histológico, a necrose tubular aguda consiste na perda de
epitélio tubular em diversos pontos do parênquima renal, o que pode decorrer de condições isquêmicas ou
da ação de toxinas. Posteriormente, ocorrem os eventos elencados no fluxograma abaixo.
ISQUEMIA TOXICINA
➢ CAUSAS: As situações que podem levar à isquemia e/ou intoxicação do epitélio tubular se encontram
descritas abaixo.
→ Choque: Nestes casos, o sistema nervoso simpático responde por meio de vasoconstrição periférica e,
consequentemente, o rim passa a conviver com hipoperfusão, resultando, dessa forma, em necrose.
→ Pós operatório: Nestes casos a NTA pode decorrer tanto da isquemia renal quanto da ação de toxinas.
Com relação à isquemia renal, pode ser resultante da depleção volêmica pré ou intraoperatória, bem
como do efeito de anestésicos e da hemotransfusão maciça, que, por sua vez, pode cursar com lise de
hemácias e consequente resposta inflamatória produtora de SIRS.
Ressalta-se que as três cirurgias com maior incidência de NTA são a cirurgia cardíaca, a ressecção de
aneurisma de aorta e a cirurgia hepatobiliar. Por fim, a NTA nos casos de cirurgia hepatobiliar é
causada pela ação da enterotoxina dos gram negativos entéricos, que não é degradada quando há
ausência de sais biliares, o que ocorre, por exemplo, nos pacientes com colestase.
→ Medicamentos: Dentre os medicamentos nefrotóxicos, os que podem causar NTA podem ser
classificados em dois grupos, de acordo com a presença ou não de oligúria na NTA em potencial.
− NTA sem oligúria: Nestes casos, a ação tóxica lesa diretamente o epitélio tubular, promovendo
uma queda na reabsorção renal que supera a redução da filtração glomerular que ocorre
concomitantemente. Os aminoglicosídeos são os fármacos com maior potencial de causar NTA
sem oligúria, porém outros medicamentos, como Anfotericina B, Aciclovir, Foscarnet, Indinavir,
Pentamidinina, Cisplatina, Carboplatina, Ifosfatida e Metotrexato também podem levar ao quadro
de NTA sem oligúria.
− NTA com oligúria: Por outro lado, existem fármacos capazes de lesar a microvasculatura renal,
promovendo, dessa forma, um quadro de NTA com oligúria, já que o déficit maior ocorre na taxa
de filtração glomerular. Ciclosporina, contraste iodado e tracolimus são os exemplos de fármacos
que podem cursar com a NTA oligúrica.
→ Rabdomiólise: A toxicidade que a mioglobina oferece aos túbulos renais associada à vasoconstrição
arteriolar consequente aos quadros de rabdomiólise justifica a NTA.
→ Hemólise: O pigmento hemoglobina, quando livre, é filtrado nos glomérulos e tóxico ao epitélio
tubular. As causas mais frequentes de hemólise que cursam com NTA são reação transfusional
hemolítica, deficiência de G6PD e malária causada pelo Plasmodium falciparum.
→ Envenenamento: Neste caso, deve-se destacar os envenenamentos pelo anticoagulante etilenoglicol,
pelas serpentes Botrophs jararaca e Crotalus durissimus, bem como pela aranha Loxosceles sp.
− Bothrops jararaca: O veneno dessa cobra cursa com efeito tóxico direto sobre o epitélio tubular,
bem como com hemólise intravascular e trombose glomerular consequente à coagulação
intravascular disseminada.
− Crotalus durissimus: O veneno possui efeito miotóxico e, portanto, o paciente cursa com
rabdomiólise.
➢ NTA OLIGÚRICA x NTA NÃO OLIGÚRICA: Conforme já mencionado, a NTA pode ser oligúrica
ou não oligúrica, sendo esse caráter determinado pela perturbação renal predominante. Nesse sentido,
quando a necrose tubular predomina sobre uma eventual lesão vascular na rede de vasos que conduz o
sangue aos glomérulos, ocorre a NTA não oligúrica. Nesses casos, a taxa de filtração glomerular pode ser
menor, porém a queda na reabsorção é mais importante e, portanto, a urina é mais diluída, podendo até se
manifestar por meio de poliúria. Ressalta-se que esses quadros de NTA não oligúrica costumam ser
decorrentes da exposição dos túbulos renais a nefrotoxinas. Já quando o comprometimento vascular é
predominante sobre a necrose tubular, a NTA é oligúrica, tendo em vista que a queda na taxa de filtração
glomerular é o principal componente fisiopatológico. Além disso, nesses casos, o filtrado reduzido
encontra um sistema tubular com maior potencial de reabsorção quando comparado ao presente nos casos
de NTA não oligúrica, intensificando ainda mais a redução no volume de urina excretado. Por fim, os
casos de NTA oligúrica costumam decorrer de etiologias isquêmicas.
→ Osmolaridade urinária: É menor na NTA (< 350 mOsm/L) quando comparada à IRA pré-renal (>
500 mOsm/L).
→ Densidade urinária: É maior na IRA pré-renal (> 1020) quando comparada à NTA (< 1015).
→ Relação creatinina urinária/creatinina sérica: É maior na IRA (> 40) quando comparado à NTA
(<20).
→ Relação ureia urinária/ureia sérica: É maior na IRA (> 8) quando comparada à NTA (<3).
→ Cilindros: Na IRA ocorre apenas a manifestação de cilindros hialinos, ao passo que na NTA os
cilindros granulosos pigmentares e/ou epiteliais se fazem presentes.
→ Fração excretória de ureia: Substituindo o sódio pela ureia, a FEureia é calculada da mesma forma
que a FENa.
➢ TRATAMENTO: Não há tratamento para o reestabelecimento da porção lesada do túbulo renal, tendo
em vista que é esperada a regeneração tubular em um prazo de 7 a 21 dias. Dessa forma, a conduta diante
dos quadros de necrose tubular aguda é retirar o fator agressor e, se necessário, submeter o paciente à
terapia de substituição renal (hemodiálise ou diálise peritoneal). Contudo, deve-se chamar a atenção para
o papel do médico na prevenção da necrose tubular aguda, quando em situações potencialmente
ameaçadoras à saúde tubular, mas preveníveis, conforme os exemplos abaixo.
→ Uso de contraste iodado: Conforme já mencionado, o contraste iodado é uma substância capaz de
lesar os túbulos renais. Portanto, diante da necessidade de uso desse fármaco, o médico deve optar
por um contraste hipo-osmolar, bem como aumentar o aporte hídrico do paciente, tendo em vista que
a hipervolemia cursa com a aceleração do processo de filtração glomerular e, consequentemente, com
menor contato entre o contraste e o epitélio tubular renal.
→ Paciente vítima de queimadura/choque elétrico: Tendo em vista que, nesses casos, ocorre uma
lesão muscular extensa, há uma circulação intensa de mioglobina na corrente sanguínea.
Considerando a toxicidade da mioglobina, deve-se, no atendimento, hidratar o paciente, bem como
realizar a administração de diurético osmótico (manitol), no intuito de acelerar a diurese e, dessa
forma, reduzir o contato da mioglobina com o epitélio tubular.
32
➢ DEFINIÇÃO E CAUSAS: A Nefrite Intersticial Aguda, também conhecida como Nefrite Intersticial
Alérgica, consiste na inflamação do interstício renal (tecido renal), que, por sua vez, é a região que
entremeia os milhões de néfrons microscópicos. A causa mais frequente desse quadro é a reação alérgica
a um determinado fármaco introduzido recentemente. Por fim, os principais fármacos envolvidos na
etiologia da Nefrite Intersticial Aguda, em ordem de incidência, se encontram abaixo.
➢ FISIOPATOLOGIA: O paciente, geralmente, inicia uma medicação que ativará o sistema imunológico,
dentro de um contexto de reação alérgica. Devido a isso, haverá uma resposta inflamatória no interstício
renal com o surgimento de edema, que, por sua vez, comprimirá os túbulos renais, podendo levar o
paciente a um quadro de injúria renal aguda oligúrica.
➢ TRATAMENTO: O tratamento padrão para a Nefrite Intersticial Aguda é afastar o paciente do agente
alergênico. Ademais, se o médico julgar necessário, é possível também o uso de antialérgicos. Por fim,
caso o quadro não melhore dentro de 7 dias, recomenda-se o uso de corticoide, tendo em vista a sua
eficiente ação anti-inflamatória.
34
➢ PAPILA RENAL: Consiste no local de término de todos os túbulos renais dentro de uma mesma pirâmide
de malpigh e, portanto, é o local por onde a urina é gotejada nos cálices menores para, posteriormente,
alcançar as porções mais distais do trato urinário. Além disso, tendo em vista que a irrigação da papila
renal, naturalmente, já é limitada, conclui-se que a necrose dessa estrutura possui uma incidência
significativa.
→ Pielonefrite: A inflamação do tecido renal cursa com edema regional, que, por sua vez, limita a
perfusão da papila.
→ Anemia falciforme: O formato de foice das hemácias possui potencial de obstruir os vasos que irrigam
a papila renal, levando-a a uma situação de isquemia.
→ Obstrução do trato urinário: A presença de cálculo renal obstrutivo ou de próstata com volume
aumentado pode causar a obstrução da via urinária. Consequentemente a isso pode ocorrer o aumento
da pressão no trato urinário, comprometendo a perfusão da papila renal.
→ Diabetes Mellitus: A vasculopatia consequente a essa doença pode comprometer a irrigação da papila,
levando-a a um quadro de isquemia.
→ Medicamentos: Analgésicos e AINES, por exemplo, promovem a vasoconstrição dos vasos que
irrigam a papila, limitando, dessa forma, a irrigação dessa estrutura renal, que já é limitada em
condições normais.
➢ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Com relação aos sintomas, é possível mencionar dor lombar, febre,
hematúria não dismórfica e proteinúria não nefrótica. Nesse contexto, o ponto chave para a compreensão
desses sintomas é a inflamação gerada no local de desprendimento da papila. Ressalta-se que a dor lombar
pode também decorrer da obstrução que a papila necrosada pode causar no trato urinário.
➢ DIAGNÓSTICO: O principal exame solicitado diante da suspeita de necrose da papila renal é a urografia
excretora. Este método propedêutico consiste na administração de contraste, que será filtrado por completo
e eliminado na urina. Diante disso, é possível ver o comportamento dele ao longo do percurso. Nesse
sentido, diante da presença de papilite necrosante haverá uma falha de enchimento no local de transição
entre o sistema tubular e o trato urinário, o que, no exame é visualizado por meio do achado de “sombras
em anel”. Ademais, pode ser observado também uma falha no enchimento do ureter, o que se deve, mais
uma vez, ao comportamento semelhante entre a papila necrosada e o cálculo renal.
➢ TRATAMENTO: Nesse sentido, o mais importante é a abordagem terapêutica da doença de base que
causou a necrose de papila renal.
36
DISTÚRBIOS TUBULARES
ESPECÍFICOS
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
Elementos-chave: Transportadores de
glicose e bicarbonato
→ Glicosúria Renal: Diante de um paciente com glicosúria no exame de urina, por exemplo, a principal
hipótese diagnóstica é a Diabetes Mellitus, tendo em vista que a hiperglicemia cursa com o aumento da
concentração de glicose no filtrado que alcança o túbulo proximal, que, dessa forma, não é capaz de
reabsorver toda a glicose. Contudo, caso o paciente apresente valores normais de glicemia de jejum
e/ou hemoglobina glicada, a glicosúria passa a ser explicada por um defeito hereditário que compromete
a reabsorção e glicose pelo túbulo proximal.
→ Acidose Tubular Renal do tipo II: O bicarbonato, em sua maior parte, é reabsorvido pelo túbulo
proximal. Nesse sentido, diante de um defeito no transportador que reabsorve o bicarbonato, o paciente
cursa com bicarbonatúria e acidose metabólica.
→ Síndrome de Fanconi: Diz respeito à perda de toda a função reabsortiva do túbulo proximal, o que
pode ocorrer, por exemplo, em quadros de mieloma múltiplo.
Elemento-chave: Transportador
Na+/K+/2Cl-
o Diuréticos tiazídicos e litíase renal obstrutiva de repetição: Tendo em vista que a maioria dos
cálculos renais possui o cálcio como principal constituinte, a adoção de diuréticos tiazídicos
em pacientes com quadros repetitivos de cálculo renal pode ser recomendada. Ressalta-se
que esses diuréticos terão como consequência o aumento da reabsorção de cálcio, que, dessa
forma, terá sua concentração reduzida na urina.
Elemento-chave: Transportador
aldosterona dependente
→ Acidose Tubular Renal do Tipo I: O paciente apresenta níveis fisiológicos de aldosterona, porém
um defeito na excreção de hidrogênio. Como consequência o potássio passa a ser excretado em maior
quantidade, levando o paciente a um quadro de hipocalemia. Paralelamente a isso, insta-se também
uma acidose metabólica resultante da retenção de íons hidrogênio.
→ Acidose Tubular Renal do Tipo IV: A causa base, nesse contexto, é a redução na secreção da
aldosterona (hipoaldosteronismo). Sendo assim, esse quadro consiste na única acidose tubular renal
que cursa também com hipercalemia.
Elemento-chave: Sensibilidade do
epitélio tubular ao ADH
➢ ETIOLOGIA: A maioria dos casos de estenose da artéria renal (2/3) decorre de aterosclerose, isto é, da
instalação de uma placa de ateroma na artéria renal, geralmente em uma porção próxima à sua origem na
artéria aorta. Estes casos ocorrem, preferencialmente, em pacientes com idade superior a 50 anos e/ou
portadores de fatores de risco para doença aterosclerótica. Já os outros 1/3 dos casos decorre de
fibrodisplasia, um quadro que acomete, preferencialmente, mulheres entre 15 e 40 anos sem a existência
de fatores de risco significativos além do etário.
➢ FISIOPATOLOGIA: A estenose de artéria renal cursa com a redução da perfusão sanguínea nos rins, o
que, teoricamente, levaria à redução na taxa de filtração glomerular. Contudo, os rins dispõem de um
mecanismo compensatório, isto, é do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Nesse sentido, a má
perfusão renal é percebida pelo componente vascular do aparelho justaglomerular, gerando, dessa forma,
um estímulo para a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Na sequência, por meio
especialmente da angiotensina II, haverá uma restauração da perfusão renal, contudo, é possível também
a instalação deum quadro de hipertensão arterial sistêmica secundária, conforme será visto abaixo.
➢ RASTREIO E DIAGNÓSTICO: O rastreio pode ser feito através da ultrassonografia com doppler, uma
vez que esse exame permitirá visualizar achados, que, quando presentes, sugerem a estenose de artéria
renal, como o turbilhonamento do fluxo local e/ou a redução do mesmo. Contudo, o diagnóstico só pode
ser feito diante da visualização direta da artéria renal e, nesse sentido, o padrão ouro é a arteriografia.
Todavia, devido ao caráter invasivo desse exame, sua indicação geralmente ocorre associada ao
estabelecimento da angioplastia como conduta terapêutica após uma confirmação diagnóstica, conforme
ainda será comentado, ou diante de dúvida. Nesse sentido, ressalta-se que exames menos invasivos, como
a angiotomografia e a ressonância magnética, permitem o diagnóstico, na maioria dos casos, e devem ser
considerados antes da arteriografia.
➢ TRATAMENTO: Os casos originados da fibrodisplasia devem ser tratados através da angioplastia sem
a colocação de stent. Já nos casos decorrentes de processo aterosclerótico, a indicação é de tratamento
medicamentoso com IECA ou BRA, desde que o paciente apresente o quadro vascular unilateral com o
outro rim em condições hígidas. Ressalta-se que a administração desses bloqueadores do sistema renina-
angiotensina-aldosterona em pacientes com estenose de artéria renal bilateralmente ou unilateralmente em
rim único é contraindicada, tendo em vista a supressão do mecanismo de adaptação dos rins e o risco de
evolução para injúria renal aguda e/ou doença renal crônica. Por fim, nesses casos, recomenda-se a
realização de angioplastia com a colocação de stent
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SÍNDROMES VASCULARES
ATEROEMBOLISMO
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
2. Levedo reticular: Áreas na pele que alternam regiões desgastadas por isquemia e regiões sadias.
3. Placas de Hollenhorst: Dizem respeito a êmbolos de colesterol que podem ser visualizados nos vasos
retinianos durante o exame de fundo de olho. Ressalta-se que esse achado é patognomônico de
ateroembolismo.
➢ LABORTATÓRIO: Tendo em vista a vasculite que pode ser desencadeada pela obstrução por êmbolos
de gordura, é possível o encontro de eosinofilia e eosinofilúria. Além disso, há também o consumo de
proteínas do complemento.
➢ BIÓPSIA RENAL: Caso a avaliação microscópica da histologia renal seja solicitada para confirmação
diagnóstica, será percebida a presença de fendas ou fissuras no meio da vasculatura renal, que sinalizam a
existência prévia de êmbolos de colesterol.
➢ TRATAMENTO: Do ponto de vista etiológico, deve-se aguardar a auto resolução do quadro. Contudo,
caso apareçam sinais e sintomas promotores de comprometimento do bem-estar ou com potencial para o
desencadeamento de complicações, deve-se abordá-los terapeuticamente
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DISTÚRBIOS DO SÓDIO
INTRODUÇÃO E HIPONATREMIA
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
5. Levedo reticular: Áreas na pele que alternam regiões desgastadas por isquemia e regiões sadias.
6. Placas de Hollenhorst: Dizem respeito a êmbolos de colesterol que podem ser visualizados nos vasos
retinianos durante o exame de fundo de olho. Ressalta-se que esse achado é patognomônico de
ateroembolismo.
➢ LABORTATÓRIO: Tendo em vista a vasculite que pode ser desencadeada pela obstrução por êmbolos
de gordura, é possível o encontro de eosinofilia e eosinofilúria. Além disso, há também o consumo de
proteínas do complemento.
➢ BIÓPSIA RENAL: Caso a avaliação microscópica da histologia renal seja solicitada para confirmação
diagnóstica, será percebida a presença de fendas ou fissuras no meio da vasculatura renal, que sinalizam a
existência prévia de êmbolos de colesterol.
➢ TRATAMENTO: Do ponto de vista etiológico, deve-se aguardar a auto resolução do quadro. Contudo,
caso apareçam sinais e sintomas promotores de comprometimento do bem-estar ou com potencial para o
desencadeamento de complicações, deve-se abordá-los terapeuticamente
➢ O PAPEL DO SÓDIO NA OSMOLARIDADE: O sódio é o principal cátion do meio extracelular e,
tendo em vista o fato de ser osmoticamente ativo, também é o principal determinante da osmolaridade
plasmática. Feitas essas considerações, abaixo se encontram a fórmula da osmolaridade plasmática e o
valor de referência desse parâmetro.
− Nitrogênio ureico sanguíneo (BUN): Pode ser utilizado para o cálculo da osmolaridade plasmática em
substituição à ureia, contudo, nesse caso, o BUN entra na fórmula da osmolaridade dividido por 2,8
(BUN/2,8).
− Hiponatremia normovolêmica: Nos casos em que a volemia se mantém normal, de modo geral, a
hiponatremia decorre da Síndrome da Antidiurese Inapropriada (SIAD), quadro marcado pela
secreção acentuada de ADH e, dessa forma, por poliúria. Nesse contexto, a elevação do ADH leva à
retenção exclusiva de água e à consequente redução da concentração extracelular de sódio, isto é,
hiponatremia. Entretanto, em um primeiro momento, a ação do ADH promove um estado de
hipervolemia transitória, marcado pelo aumento do retorno venoso e pela maior distensão da parede
atrial. Em resposta ao aumento da pressão exercida nos átrios, ocorre a secreção do peptídeo
natriurético atrial, que, por sua vez, promove a excreção de água e sódio, regularizando a volemia,
mas não a hiponatremia, que passa a existir em um estado de normovolemia. Por fim, nos casos de
hiponatremia normovolêmica pode haver também perda de ácido úrico e, portanto, do ponto de vista
laboratorial, esse distúrbio do sódio pode ser caracterizado por hiponatremia, normovolemia,
natriurese e hipouricemia.
− Hiponatremia hipervolêmica: Deve ser revertida com restrição hídrica e furosemida, desde o início.
47
DISTÚRBIOS DO SÓDIO
HIPERNATREMIA
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
− Déficit hídrico: É causado por uma limitação na hidratação, o que pode ser consequência da má
assistência de pacientes acamados em comportamento passivo ou de recém nascidos, por exemplo.
➢ TRATAMENTO: Caso o paciente apresente nível de consciência preservado, é possível uma reposição
oral de água. Já em casos graves ou de incapacidade da deglutição, recomenda-se o uso intravenoso de
solução hipertônica (soro glicosado a 5% ou solução salina 0,45%).
DISTÚRBIOS DO POTÁSSIO
INTRODUÇÃO E HIPOCALEMIA
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
VÔMITOS E HIPOCALEMIA
Os vômitos incoercíveis podem levar à perda de potássio tanto por um aumento do
armazenamento intracelular quanto pela eliminação renal. O excesso de eliminação do ácido
graxo alcaliniza o sangue, estimulando, portanto, o direcionamento do potássio para o interior
das células. Tendo em vista o estado de alcalose metabólica, os rins, a nível dos túbulos distal
e coletor poupam o hidrogênio e aumentam a excreção do potássio em troca do sódio
reabsorvido pela ação da aldosterona.
MEDICAMENTOS E HIPOCALEMIA
Fármacos, como os aminoglicosídeos e a anfotericina B, são nefrotóxicos e, diante de uma
insuficiência renal causada por eles, haverá uma redução na reabsorção do potássio, resultando
em uma insuficiência renal com hipocalemia. Ressalta-se que na grande maioria dos casos de
insuficiência renal há hipercalemia.
➢ CLÍNICA: O paciente com hipocalemia pode apresentar fraqueza na musculatura esquelética, cãibras e
íleo paralítico, devido à perda do peristaltismo muscular liso no intestino.
➢ MANIFESTAÇÕES NO ELETROCARDIOGRAMA: Os distúrbios do potássio interferem na onda T
de forma diretamente proporcional à amplitude da onda, ou seja, a hipocalemia cursará com um
achatamento da onda T. Consequentemente a isso haverá alargamento do intervalo QT, bem como poderá
haver o aparecimento de onda U (logo após a onda T) e uma elevação na onda P.
➢ TRATAMENTO: A hipocalemia leve pode ser abordada com xarope de KCl 6% 3 vezes ao dia. Já a
hipocalemia grave e/ou a intolerância oral, bem como a hipocalemia acompanhada por alterações
eletrocardiográficas podem ser abordadas através de intervenção intravenosa com KCl 13 mEq, infundido
10 – 20 mEq/h. Além disso, existem várias associações para a reposição de cloreto de potássio, como NaCl
0,45 (210) ml + KCl 10% (40ml), administrados continuamente de 4h/4h, sendo o paciente também
reavaliado com esses intervalos.
→ Evitar o soro fisiológico: Essa solução é mais osmolar que o plasma e, portanto, a sua administração
combinada ao cloreto de potássio poderá tornar o plasma ainda mais osmolar e, consequentemente,
promover flebite.
→ Evitar soro glicosado: Apesar de ser uma solução hipotônica, que, geralmente, é indicada na
reposição de potássio, a glicose estimula a secreção de insulina, que, por sua vez, orienta o fluxo de
potássio para o meio intracelular.
→ Infusão intravenosa de KCl > 20 mEq/h: Conforme mencionado, esse é o limite de fluxo na
administração intravenosa de KCl, tendo em vista que, acima desse valor a infusão do íon pode cursar
com severas consequências.
DISTÚRBIOS DO POTÁSSIO
HIPERCALEMIA
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
DISTÚRBIOS ÁCIDO-BASE
INTRODUÇÃO E ACIDOSE
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
➢ SISTEMA TAMPÃO: Os íons H+, ao alcançarem a corrente sanguínea, são neutralizados por uma reação
ácido-base com os íons HCO3-, gerando, dessa forma, H2CO3 (ácido carbônico). Este ácido, por sua vez,
se dissocia em CO2 (gás carbônico) e H2O (água).
− Acidose respiratória: Com a retenção de CO2 no sangue, devido a um quadro de dispneia, por
exemplo, ocorre o deslocamento da equação mostrada abaixo no sentido de formação do ácido
carbônico, que, por sua vez, se dissocia em água e H+ no meio aquoso. Dessa forma, a pCO2 é o
parâmetro adotado na gasometria arterial para inferir disponibilidade de íons de hidrogênio no
sangue.
− Acidose metabólica: Caso haja um déficit na reabsorção renal de bicarbonato ou caso o paciente
se encontre em um quadro de diarreia incoercível, por exemplo, haverá uma redução na
disponibilidade sérica de bicarbonato. Sendo assim, os íons hidrogênio fisiologicamente liberados
não serão neutralizados pelo HCO3- , o que levará à instalação de um estado de acidose.
Valores de referência
pCO2 = 35 a 45 mEq/L
HCO3 = 22 a 26 mEq/L
− Possíveis alterações de BBecf e BEecf na acidose: Esses parâmetros podem estar aumentados na
acidose respiratória crônica, que cursa com o aumento da pCO2 e com a retenção compensatória
de HCO3- pelos rins após 48h de instalação do distúrbio ácido-base primário. Por outro lado, nos
quadros de acidose metabólica há uma excreção aumentada de bicarbonato, como pode ser
observado na acidose tubular do tipo II. Dessa forma, nesses casos, o BBecf e o BEcef se
apresentarão reduzidos na gasometria arterial.
− Interpretações dessa avaliação: Um paciente com acidose metabólica que apresenta a pCO2 acima
do valor esperado possui também uma acidose respiratória, visto que ele não é capaz de ventilar o
necessário. Por outro lado, caso a pCO2 se encontre abaixo do valor esperado é possível afirmar
que o paciente está eliminado gás carbônico acima necessário e, portanto, que está sendo acometido
por uma alcalose respiratória associada. Nesse caso, deve-se atentar para o desgaste da musculatura
respiratória, considerando o risco de fadiga muscular, conforme comentado.
− Qual a importância de calcular o ânion gap: De forma objetiva, as causas de acidose podem ser
divididas entre as que cursam com a elevação do ânion gap e as que não cursam com o aumento
desse parâmetro. Para compreender isso, deve-se considerar que um ácido ao se dissociar no
plasma sanguíneo cursa com a formação de um íon hidrogênio (cátion) e de uma base (ânion).
Entendido isso, conclui-se que todas as causas de acidose cujo ácido envolvido cursa com a
formação de bicarbonato ou cloreto não cursaram com a elevação do ânion gap, ao passo que, nos
quadros em que o ácido dissociado cursa com a formação de outras bases, haverá o aumento do
ânion gap. Por fim, abaixo se encontram um exemplo de cada situação dessas.
ALCALOSE
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
pCO2 esperada
HCO3- + 15
NEFROLITÍASE
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
→ Impactação do cálculo na junção ureteropélvica: Dor irradiada para flanco e sinal de Giordano
positivo.
→ Impactação do cálculo no terço médio do ureter: Dor irradiada para ligamento inguinal e/ou
testículo (homens)/grandes lábios (mulheres).
1. Analgesia: Deve ser feita a partir da prescrição endovenosa de anti-inflamatório e/ou opioide.
2. Diagnóstico por exame de imagem: Conforme já dito, deve-se solicitar TC sem contraste de abdome
e pelve ou USG para o diagnóstico de nefrolitíase.
→ Cálculos de oxalato de cálcio: O principal fator de risco, nesse sentido, é a Hipercalciúria Idiopática.
Confirmado esse diagnóstico, a prevenção de episódios futuros de litíase renal pode ser feita a partir
da restrição da ingesta de sódio e proteínas, bem como por meio do uso de diuréticos tiazídicos.
Ressalta-se que os diuréticos tiazídicos bloqueiam a capacidade dos trocadores de Na+/Cl- do túbulo
contorcido distal em reabsorverem sódio e, portanto, esses canais passam a reabsorver cálcio,
reduzindo, portanto, a concentração desse íon na urina. Com esse mesmo raciocínio é possível
entender o impacto da restrição de sódio como profilaxia de cálculos compostos por oxalato de cálcio,
uma vez que, diante da presença de menores concentrações urinárias de sódio, os trocadores de
Na+/Cl- citados farão uma maior reabsorção do cálcio urinário. Por fim, deve-se chamar a atenção que
a restrição na ingesta de cálcio não consiste em um método de prevenção nesses casos.
→ Estruvita: A prevenção de casos recorrentes desse tipo de cálculo pode ser feita por meio do uso de
ácido acetohidroxâmico, que, por sua vez, reduz as concentrações de urease na urina.
→ Cálculos de ácido úrico: A profilaxia de episódios de nefrolitíase por esses cálculos pode ser feita a
partir da restrição do consumo de purinas, bem como por meio do uso de citrato de potássio, que, por
sua vez, alcaliniza a urina. Ademais, os casos refratários de nefrolitíase por cálculo de ácido úrico
podem contar com o Alupurinol, que, por sua vez, reduz a síntese de ácido úrico.
63
HIPERPLASIA PROSTÁTICA
Guilherme Augusto Turbino Ribeiro
→ Sintomas obstrutivos: Hesitância, jato fraco, intermitência, jato afilado e gotejamento terminal,
esvaziamento incompleto e gotejamento pós-miccional.
→ Retenção urinária aguda: Acomete 2% a 10% dos pacientes com HPB e pode ser predisposta pelo
uso de simpaticomiméticos ou anticolinérgicos, distensão aguda da bexiga, prostatite infecciosa
aguda, cálculo vesical ou infarto prostático.
→ Litíase vesical: Pode surgir como consequência da estase local ou da impossibilidade de expulsar
cálculos migrados dos rins. Diante da suspeita de litíase vesical, recomenda-se a realização de
ultrassonografia (USG) transretal.
→ Infecção urinária e prostatite: Acomete cerca de 5% dos pacientes com HPB e resultam da
colonização prostática ou da presença de urina residual.
→ Injúria renal aguda/Insuficiência renal: A topografia pós-renal responde por cerca de 5% dos casos
de injúria renal aguda, que, nesses casos, é causada por obstrução da via urinária, especialmente em
quadros de nefrolitíase e hiperplasia prostática. Como consequência dessa obstrução é possível a
instalação de hidronefrose e, nesse sentido, é importante destacar que metade dos quadros de HPB
que cursam com hidronefrose terão a instalação dessa complicação de forma assintomática,
favorecendo a não intervenção imediata e a instalação de doença renal crônica.
→ Hematúria: Quando decorrente da HPB, geralmente ocorre em dimensão macroscópica, decorrente
da ruptura de vasos submucosos locais e com resolução espontânea. Contudo, a presença de
hematúria, tanto microscópica quanto macroscópica, deve orientar a realização da investigação de
outras doenças urológicas, como neoplasias de rim e bexiga.
→ Exame de urina tipo I (EAS): A presença de piúria significativa orienta a pesquisa por bactérias
gram-positivas e, consequentemente, a investigação de infecção urinária ou prostatite. Já a presença
de hematúria de origem urológica (não dismórfica e sem cilindros hemáticos) sugere a realização de
urotomografia e cistoscopia no intuito de afastar diagnósticos de neoplasia renal ou do trato urinário.
→ Ureia e creatinina: Possuem a finalidade de avaliar a função renal, bem como de afastar a presença
de nefropatia obstrutiva, bem como de outras nefropatias. Diante da elevação da creatinina,
recomenda-se a realização de USG transretal.
➢ OUTROS EXAMES: Além dos exames rotineiros, outros exames podem ser solicitados em quadros de
HPB, de acordo com o quadro clínico e/ou a evolução apresentada pelo paciente. Nesse sentido, surge a
ultrassonografia (USG) transretal, a cistoscopia, o estudo urodinâmico e a urotomografia.
→ Ultrassonografia (USG) transretal: Permite a avaliação do trato urinário superior, bem como a
espessura da parede vesical, o peso da próstata e o volume de resido miccional, quando presente. O
USG sempre deverá ser solicitado diante da indicação cirúrgica, tendo em vista que o peso prostático
é um dos determinantes da modalidade de intervenção, contudo, esse exame também deve ser
solicitado diante da presença de elevação da creatinina, bem como da suspeita de litíase vesical e em
casos de hematúria.
→ Cistoscopia: Recomendada diante da suspeita de estenose de uretra, sugerida a partir da presença de
sintomas obstrutivos e da exclusão diagnóstica de doenças da próstata e cálculo renal. Além disso,
esse exame também é obrigatório quando há hematúria macroscópica de origem urológica.
→ Estudo urodinâmico: Permite mensurar o fluxo urinário, o volume vesical residual e as relações
pressão-volume. Portanto, esse método propedêutico deve ser recomendado quando o paciente
apresenta suspeita de distúrbio neurológico associado e/ou diante da manutenção dos sintomas
irritativos após tratamento cirúrgico.
→ Sintomas graves (IPSS 20 a 25): Nesses casos, incialmente, sugere-se a abordagem medicamentosa,
contudo, muitos pacientes acabarão seguindo para a abordagem cirúrgica. Ressalta-se que a não
resposta ao tratamento farmacológico é uma indicação cirúrgica clássica.
CÂNCER DE PRÓSTATA
➢ DOSAGEM DO PSA: O antígeno prostático específico consiste em uma proteína de produção exclusiva
da próstata e utilizado para rastreio do câncer nessa glândula. Conforme já visto na aula de hiperplasia, é
comum que os homens apresentem o aumento da próstata e, consequentemente, do PSA a partir dos 50
anos. Na maioria das vezes esse aumento será de responsabilidade de um aumento benigno, contudo, pode
também ter a contribuição de um processo neoplásico maligno. Sendo assim, existem aspectos que devem
ser avaliados no resultado do PSA, conforme exposto abaixo, para uma melhora na sensibilidade do exame
e, consequentemente, para indicações mais certas de biópsia.
REFINAMENTO DO PSA
→ Dosagem do PSA ≥ 4 ng/ml
→ Aumento superior a 0,75 ng/ml/ano no valor do PSA
→ Densidade (PSA/peso prostático) > 0,15
→ Fração livre de PSA < 25%
→ Dosagem do PSA: A interpretação desse resultado isoladamente deve levar em consideração a idade
do paciente. Nesse sentido, tendo em vista o aumento esperado do PSA com a idade, muitas referências
consideram normal um valor de PSA até 4 ng/ml nas faixas etárias mais avançadas. Contudo, nos
homens não idosos, dosagens de PSA superiores a 2,5 ng/ml já podem sugerir propedêutica adicional.
→ Aumento anual do PSA: As consultas de rastreio devem constituir um acompanhNenhuma entrada
de sumário foi encontrada.amento longitudinal, uma vez que a comparação entre o exame atual e o
anterior é fundamental. Nesse contexto, espera-se um aumento de 0,75 ng/ml no valor do PSA a cada
ano, portanto, um aumento superior a esse, mesmo em pacientes com valor de PSA normal pode sugerir
propedêutica adicional.
→ Fração livre de PSA: Ao alcançar a corrente sanguínea, o PSA pode circular de forma livre ou
associado a proteínas. Nesse sentido, percebeu-se que o PSA originado de células neoplásicas malignas
tende a circular junto a proteínas, diferentemente do PSA originado de células hiperplásicas, que tende
a circular livremente pelo sangue. Sendo assim, a fração livre de PSA, estimada a partir da relação
PSA livre/PSA total é sugestiva de câncer quando menor que 25%.
➢ DIAGNÓSTICO: O diagnóstico do câncer de próstata é feito por meio de biópsia, sendo os achados
histológicos classificados dentro do escore de Gleason. Neste contexto, os achados histológicos são
classificados de 1 a 5 de acordo com o grau de diferenciação das células e, por fim, as duas classificações
predominantes compõe o resultado do Gleason, que, portanto, varia de 2 a 10. Ressalta-se que a
apresentação desse resultado sempre é composta pelas duas classificações em ordem de prevalência, ou
seja, um Gleason 4 + 3 é diferente de um Gleason 3 + 4, uma vez que no primeiro exemplo a classificação
grau 4 foi a mais frequente, ao passo que no segundo exemplo o grau 3 foi o mais encontrado na histologia.
Por fim, a neoplasia pode ser classificada em baixo risco, risco intermediário e alto risco, conforme visto
abaixo.