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Biologia PROFESSOR FLÁVIO LANDIM

SISTEMA EXCRETÓRIO
PARTE 2

RINS E PRODUÇÃO DE
URINA (DIURESE)

Os rins humanos são órgãos duplos, situados bi-


lateralmente na região retroperitoneal do abdome
(região mais dorsal), protegidos por uma camada de
gordura e associados a glândulas adrenais. Estes órgãos
têm cor vermelho-escura, forma de caroços de feijão
achatados e cada um deles mede pouco mais de 10 cm
de comprimento.
O rim humano é envolvido por uma cápsula fibrosa
ASSUNTOS DA AULA. formada por tecido conjuntivo. O rim propriamente dito
Clique no assunto desejado e seja direcionado para o tema. é formado por duas regiões: o córtex, mais externo, e a
medula, mais interna. Na região do córtex situa-se a
maior parte da estrutura dos cerca de um milhão de
• Anatomia macroscópica do rim
néfrons que formam cada rim. Na região da medula
situa-se uma pequena porção da estrutura dos né-
• Controle da função renal
frons correspondente às alças de Henle e aos ductos
coletores de urina.
• Distúrbios e doenças do sistema excretor

• Leitura - A economia de água do rato-canguru


NÉFRON: ESTRUTURA
ANATÔMICA

O néfron é a unidade morfofisiológica do rim. Cada


néfron é formado por estruturas vasculares e estruturas
tubulares.
As estruturas vasculares correspondem a arteríola
aferente, glomérulo de Malpighi, arteríola eferente e
rede de capilares peritubulares. As estruturas tubulares
correspondem a cápsula renal ou de Bowman, túbu-
lo contorcido ou contornado proximal, alça de Henle
(dividida em ramo ascendente e ramo descendente),
túbulo contorcido ou contornado distal e ducto cole-
tor de urina. O conjunto de cápsula renal e glomérulo
de Malpighi é chamado de corpúsculo renal. O conjunto
de túbulos é denominado túbulos renais.
2 B I O LO G I A

Estrutura do néfron.

As artérias renais que che- capilares peritubulares envolve (1) Corpúsculo renal: filtração
gam a cada rim (uma para cada todo este sistema de túbulos, glomerular no néfron
rim) se dividem em aproxima- para depois serem recolhidos pe- O sangue proveniente da
damente um milhão de ra- las veias renais (uma para cada artéria renal passa à arteríola
mos cada, sendo cada ramo rim), que saem dos rins. aferente e desta para o gloméru-
denominado arteríola aferente. lo de Malpighi. Como o gloméru-
Esta arteríola aferente se divide NÉFRON: lo de Malpighi corresponde a um
em um enovelado de capilares FUNCIONAMENTO enovelado de capilares sanguí-
para formar o chamado gloméru- A função básica do néfron é neos, a pressão sanguínea au-
lo de Malpighi, situado no interior a de filtrar ou depurar o plas- menta muito, atingindo valores
de uma cápsula de Bowman. Da ma sanguíneo, dele retirando as da ordem de 60 mmHg (con-
cápsula de Bowman, sai uma ar- substâncias indesejáveis duran- tra valores da ordem de 15 a 20
teríola eferente, que origina por te sua passagem pelo rim, ao mmHg nos demais capilares do
sua vez uma rede de capilares mesmo tempo em que retém no corpo). Devido a essa pressão
que envolve os túbulos renais. sangue todas as substâncias que muito elevada, denominada
Os túbulos renais são origina- ainda são necessárias ao corpo. pressão de filtração, ocorre
dos a partir da cápsula de Bow- Por exemplo, os produtos finais passagem contínua do líquido
man e se dividem nas seguintes do metabolismo como a ureia capilar (plasma sanguíneo) para
regiões: túbulo contorcido proxi- são eliminados quase que inte- o interior da cápsula de Bowman.
mal (mais próximo da cápsula de gralmente, e íons como sódio e A passagem do plasma do
Bowman), ramo descendente da outros são eliminados quando glomérulo para a cápsula é pos-
alça de Henle, ramo ascendente presentes em quantidades ex- sível porque os capilares do
da alça de Henle, túbulo contor- cessivas. glomérulo possuem grandes po-
cido distal (mais distante da cáp- O néfron atua na filtração do ros entre as células endoteliais
sula de Bowman) e ducto coletor sangue a partir do corpúsculo por onde o sangue passa. Esses
de urina. Como já dito, a rede de renal. poros são chamados de poros

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em fendas ou fenestras, e daí os para 0,03% no filtrado glomeru- são dotados de uma borda em
capilares que formam o gloméru- lar, cerca de 200 vezes menor. escova (dotada de microvilo-
lo são chamados de capilares sidades) na face luminal (em
fenestrados. Por outro lado, as (2) Túbulo contorcido proxi- contato com a luz do TCP), para
células epiteliais que formam a mal: reabsorção ativa aumentar a área de reabsorção
estrutura da cápsula também Uma vez que o filtrado de substâncias. Além disso, es-
apresentam poros entre elas, por glomerular é formado, ele se tas células epiteliais apresentam
onde o plasma que abandona encontra no túbulo contorcido enorme quantidade de mitocôn-
os capilares passa para o interi- proximal (TCP). Nele, começa a drias para fornecer energia para
or dos túbulos néfricos. Dá-se o haver a reabsorção de substân- a reabsorção ativa.
nome de membrana glomeru- cias úteis presentes no filtrado. Substâncias não necessárias
lar ao conjunto formado pelas Assim, 65% das substâncias são como ureia, amônia e ácido úrico
células endoteliais dos capilares reabsorvidas pelo sangue: toda não são reabsorvidas ou, se o são,
do glomérulo, pela membrana a glicose, todos os aminoácidos, isso ocorre em grau mínimo. Isso
basal conjuntiva dos capilares e todas as vitaminas, parte dos ocorre porque as células do TCP
pela camada de células epiteliais sais (como o NaCl) e outras. To- são praticamente impermeáveis
da cápsula. das estas substâncias reabsorvi- a estas substâncias, além de não
Devido às pequenas di- das voltam ao sangue presente haver mecanismos carreadores
mensões dos poros, o plasma e nos capilares peritubulares que ativos para transportá-las.
moléculas pequenas podem sair envolvem os túbulos néfricos. À
dos capilares do glomérulo para medida que estas substâncias (3) Alça de Henle: reabsorção
os túbulos, mas células e molécu- vão sendo reabsorvidas, a con- de água e mecanismo contra-
las maiores como proteínas nor- centração no TCP vai caindo e a corrente
malmente não podem sair. Dá-se do sangue nos capilares peritu- Do TCP o filtrado glomerular
o nome de filtrado glomerular bulares vai aumentando. Como passa à alça de Henle, primeiro
ao líquido que sai do sangue e resultado há também intensa pelo seu ramo descendente e
passa aos túbulos néfricos. Como reabsorção de água por osmose, depois pelo seu ramo ascenden-
se deve ser notado, este filtrado uma vez que o TCP é altamente te. Nessa região existe um íntimo
é formado pela mesma com- permeável à água. relacionamento entre os pro-
posição do sangue, com exceção O processo de reabsorção cessos que ocorrem nos ramos
de células e proteínas. de substâncias no TCP dá-se descendente e ascendente.
O filtrado glomerular possui por mecanismo de transporte O ramo descendente, assim
água, íons (Na+, Cl-, Ca++), amino- ativo. Isso porque, se o filtrado como o TCP, é permeável à água
ácidos, glicose, ureia, amônia, glomerular tem praticamente a e, como ele percorre regiões do
ácido úrico e outras substâncias. mesma concentração do plasma, rim em que a concentração de
A presença de células san- não há diferença significativa de solutos no sangue é crescente,
guíneas e proteínas no filtrado concentração para haver sim- a água retorna para os capilares
glomerular e consequentemente plesmente difusão. Além disso, peritubulares por osmose.
na urina denota algum problema mesmo que a glicose, por exemp- O ramo ascendente é normal-
ocorrendo em nível de néfron, lo, esteja presente no filtrado em mente impermeável à água (esta
provavelmente sua destruição concentração muitíssimo baixa, permeabilidade pode ser al-
parcial. Isso porque normal- é de interesse de o organismo terada pelo hormônio ADH; veja
mente não há como células san- reabsorver esta pouca glicose, mais à frente); assim não há saí-
guíneas ou proteínas ultrapas- não eliminando substâncias úteis da de água para o sangue neste
sarem a membrana glomerular. na urina. Para isso acontecer, en- segmento do néfron. O que
Assim, a concentração de proteí- tão, deve ocorrer transporte ati- acontece de muito importante
na no sangue que é de 7% cai vo. As células epiteliais do TCP no ramo ascendente da alça de

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Henle é o transporte ativo de sódio para os tecidos adjacentes. A saída de sódio atrai o cloreto (eletrica-
mente) para esses tecidos. O NaCl passa agora por difusão para o interior do ramo descendente da alça
de Henle. Quando o líquido tubular atinge o ramo ascendente, o NaCl é novamente removido ativamente
e passa outra vez para o ramo descendente. Esse processo de transporte de NaCl se repete várias vezes
durante a passagem do líquido tubular, ocasionando grande retenção desse sal nessa região do nefro e,
consequentemente, determina a formação de uma região muito concentrada no rim. Gradualmente, parte
desse NaCl vai sendo transferida para os capilares peritubulares, retornando para o sangue.
A remoção de NaCl dos túbulos néfricos é muito importante para o equilíbrio eletrolítico do organismo,
uma vez que os íons de sódio correspondem a 90% de todos os cátions do organismo humano, e os íons
de cloreto correspondem a 90% dos ânions do organismo humano. Assim, o controle dessas substâncias
corresponde ao controle da imensa maioria dos íons do organismo.
Esse mecanismo de passagem do NaCl do ramo ascendente para o descendente de maneira cíclica é
conhecido como mecanismo de contracorrente, e está envolvido no controle da perda e retenção de água
nos rins, mediado por hormônios como a aldosterona e o ADH, que serão estudados a seguir.

(4) Túbulo contorcido distal: secreção ativa


O líquido tubular continua o seu percurso no ramo ascendente da alça de Henle chegando ao túbulo
contorcido distal (TCD). Da mesma maneira que o ramo ascendente da alça de Henle, o TCD é impermeável
à água; portanto, esta não sai do seu interior. Ao mesmo tempo, esse ramo remove ativamente o NaCl.
Assim, à medida que o líquido tubular aproxima-se do TCD, a concentração desse líquido vai diminuindo,
pois acaba ficando com mais água e menos sal.
O TCD é morfologicamente dividido em duas regiões.
A região mais próxima do ramo ascendente da alça de Henle é impermeável à água e promove a reab-
sorção ativa do sódio, que atrai o cloreto. Há, assim, passagem do NaCl para o sangue. Nessa região, ocorre
a secreção tubular por transporte ativo de algumas substâncias para a urina, como:

- potássio (que também é um íon positivo como o sódio: a secreção de potássio visa balancear as
concentrações de cátions no sangue, eliminando potássio quando o sódio é muito reabsorvido ou
deixando de eliminar potássio quando o sódio é pouco reabsorvido);
- íons hidrogênio (para reduzir a acidez do sangue quando esta estiver alta, auxiliando os pul-
mões nesse papel – para entender melhor, volte ao seu estudo sobre sistema respiratório);
- amônia (que por ser tóxica deve ser eliminada da maneira mais eficiente possível, ou seja, tanto
por filtração glomerular como por secreção tubular) e;
- algumas drogas.

A região mais distante do ramo ascendente da alça de Henle e mais próxima do ducto coletor
de urina é permeável à água, que é reabsorvida e volta ao sangue.

(5) Ducto coletor de urina: formação da urina


A seguir, o líquido tubular derivado do filtrado glomerular, após sofrer reabsorções e secreções, passa
para o ducto coletor, permeável à água e um pouco permeável à ureia. Com isso, tanto a água quanto a
ureia podem sair do ducto coletor. A água retorna para o sangue. A ureia retorna para o ramo descendente
da alça de Henle e, quando chega ao ducto coletor, sai novamente. Esse processo ocorre várias vezes, mas,
apesar disso, a maior parte da ureia é eliminada através da urina. A urina tem a cor amarelada devido a um
pigmento chamado de ureócromo (ou urobilina, derivada da bilirrubina produzida a partir do metabolismo
da hemoglobina). Outros pigmentos, entretanto, podem estar presentes.

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A reciclagem da ureia nessa região do néfron e a reciclagem do NaCl entre os ramos descendente e as-
cendente da alça de Henle são os responsáveis pela formação de uma região de alta concentração nos flui-
dos que circulam os túbulos renais nessa região do rim. Todo esse processo está relacionado com a criação
de um meio de atração de água, favorecendo sua reabsorção para o sangue.

Resumidamente:
- porções permeáveis à água nos túbulos néfricos: TCP, ramo descendente
da alça de Henle, porção final do TCD e ducto coletor de urina.
- porções normalmente impermeáveis à água nos túbulos néfricos: ramo
ascendente da alça de Henle e porção inicial do TCD.

ANATOMIA MACROSCÓPICA DO RIM

Como já mencionado anteriormente, os néfrons distribuem-se no rim de tal maneira que a maior parte
de sua estrutura situa-se no córtex renal e apenas a alça de Henle e os ductos coletores de urina situam-se
na medula renal.

Estrutura do rim humano

(A) Rim humano em corte. (B) Detalhe de um corte da porção periférica do


rim, mostrando o limite entre o córtex e a medula. (C) Detalhe de um néfron
NÉFRON: e sua relação com os vasos sanguíneos. (D) Cápsula de Bowman em corte,

FUNCIONAMENTO mostrando a organização do glomérulo de Malpighi.

Dá-se o nome de vias urinárias ao conjunto de órgãos envolvidos no transporte da urina até o meio exter-
no onde ela é eliminada. As vias urinárias consistem de cálices renais, pelves renais ou bacinetes, ureteres,
bexiga urinária e uretra.
Todos os ductos coletores de urina convergem para regiões denominadas cálices renais (cada rim possui
entre 8 e 9 cálices). Essa convergência dos ductos coletores faz com que eles se disponham como pirâmides
cujo vértice é exatamente o início dos cálices. Estas pirâmides de ductos coletores situadas na medula (sen-
do pois parte da estrutura do próprio rim) são chamadas pirâmides renais ou de Malpighi. Os cálices, por

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sua vez, reúnem-se em estruturas denominadas o local são favoráveis à micção, a musculatura ab-
pelves renais ou bacinetes (cada rim possui uma dominal é contraída e o esfíncter uretral externo
pelve renal). As pelves renais por sua vez originam é relaxado, de maneira voluntária, resultando na
canais denominados ureteres (cada pelve origina micção.
um ureter), que conduzem a urina até a bexiga Certos peixes e todos os anfíbios, répteis e aves
urinária. não possuem bexiga urinária, mas cloaca, uma es-
A bexiga urinária é uma bolsa de parede elástica, pécie de bolsa onde se abrem os sistemas digesti-
dotada de musculatura lisa, cuja função é acumu- vo, reprodutor e urinário. Essa bolsa se comunica
lar a urina produzida nos rins até que a quantidade com o exterior por um orifício único. Muitas vezes
seja suficiente para que seja eliminada (convenha- ela acumula a urina, fazendo o papel de bexiga.
mos: se a gente fosse eliminar a urina no exato mo-
mento em que ela fosse produzida, iríamos passar
CONTROLE DA
a vida no banheiro, uma vez que a urina é formada
continuamente...). Quando cheia, a bexiga pode
FUNÇÃO RENAL
conter de 200 a 400 mL de urina. Esta é eliminada
periodicamente pela uretra. Estima-se que cerca de 1.800 litros de sangue,
A uretra é um tubo que parte da bexiga e ter- correspondentes a cerca de 900 litros de plasma,
mina, na mulher, na região vulvar logo acima da circulem pelos rins a cada dia. Desse volume de
abertura da vagina e, no homem, na extremidade plasma, aproximadamente 1/5 é filtrado pelos né-
do pênis. Sua comunicação com a bexiga dá-se frons formando cerca de 180 litros de filtrado glo-
por dois anéis musculares (esfíncteres): o esfíncter merular a cada dia. Considerando que o volume
uretral interno e o esfíncter uretral externo ou óstio médio de sangue de uma pessoa é de cerca de 5
da uretra. litros, é óbvio que a imensa maioria da água do fil-
trado glomerular é reabsorvido junto aos túbulos
néfricos. Assim, cerca de 99% do filtrado glomeru-
lar é reabsorvido, formando-se em média 1,5 litros
de urina por dia.
A quantidade de urina produzida é dependente
da necessidade do organismo de reter ou eliminar
água e sais. Assim, por exemplo, em dias quentes,
em que a sudorese é intensa para controlar a tem-
peratura do organismo, a intensa perda de água
no suor deve ser compensada pela diminuição na
produção de urina. Em dias frios, a sudorese é bem
reduzida, não há grandes perdas de água pela pele
e ocorre aumento na produção de urina.
Além de poder-se alterar a eliminação de urina
como um todo, deve-se poder controlar a con-
centração em que a urina é eliminada. Havendo
Micção ou diurese necessidade de reter água no interior do corpo, a
Quando a bexiga está demasiadamente cheia, a urina fica mais concentrada em função da maior
parede elástica da mesma distende-se. Isso acio- reabsorção de água; havendo excesso de água no
na receptores nervosos que ativam o chamado corpo, a urina fica menos concentrada, em função
reflexo da micção. Através do SNA parassimpático, da menor reabsorção de água.
a parede da bexiga contrai-se e o esfíncter ure- A seguir, serão discutidos vários mecanismos
tral interno relaxa-se, de maneira involuntária, que controlam os volumes e a concentração da
desencadeando o desejo de urinar. Se a hora e urina.

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SEDE de Henle, esta permeabilidade leva a uma maior


reabsorção e conseguintemente maior retenção
O mecanismo básico para o controle dos teores
de água no corpo através de uma pequena
de água no organismo é a sede, a percepção da ne-
quantidade de urina produzida. Esta urina irá se
cessidade de ingestão de água. Como ocorre perda
apresentar bastante concentrada, devido ao baixo
constante de água devido ao suor e à urina, deve
teor de água.
haver um meio de repor a água perdida. Isso ocorre
O hormônio ADH é um polipeptídio e parece
pela estimulação do centro da sede, localizado no
atuar aumentando o número de poros para a pas-
hipotálamo, o que ocorre exatamente quando os
sagem de água nas regiões por ele afetadas.
teores de água no organismo reduzem-se muito.
A não ingestão de água pode levar a uma de- HORMÔNIO ALDOSTERONA
sidratação e uma série de consequências nega-
Outro hormônio que participa do equilíbrio de
tivas. Considerando a perda de água em nível de
água e sais no corpo do homem é a aldosterona,
suor e urina em cerca de 2 litros de água por dia
um esteroide produzido no córtex da glândula su-
em média, é exatamente esta quantidade de água
pra-renal. A aldosterona atua no controle das con-
que deve ser ingerida diariamente. Ao contrário da
centrações de sódio e potássio no organismo.
fome, onde o indivíduo pode passar semanas sem
A aldosterona vai atuar na porção inicial do
se alimentar, não se pode passar mais do que 24
túbulo contorcido distal, aumentando a taxa de
horas sem se beber água: a desidratação severa
reabsorção ativa de sódio nessa região, corrigindo,
neste caso pode levar à morte.
assim, o baixo nível de sódio no sangue. A saída de
sódio para o sangue promove também a saída de

HORMÔNIO ANTI-DIURÉTICO OU ADH água por osmose, corrigindo a quantidade de água


no sangue. Assim, normalizam-se os teores de Na+
Um dos principais mecanismos reguladores do e água no sangue.
equilíbrio hídrico no corpo humano é o hormônio A aldosterona também vai atuar na porção ini-
ADH ou anti-diurético (do inglês anti-diuretic hor- cial do túbulo contorcido distal aumentando a
mone), produzido no hipotálamo e armazenado na taxa de secreção ativa de potássio, corrigindo as-
neurohipófise. A concentração de água no plasma sim altos níveis de potássio no sangue, passando-o
sanguíneo é detectada por receptores osmóticos para a urina.
no hipotálamo.
Havendo pouca água, como por exemplo em
dias quentes em que há intensa sudorese, esses AUTO-REGULAÇÃO DA FILTRAÇÃO
receptores osmóticos estimulam a produção de GLOMERULAR
ADH. Esse hormônio passa para o sangue, indo
atuar sobre os túbulos contorcidos distais e so- A reabsorção de água, de sais e de outras
bre os ductos coletores de urina em nível de substâncias pelos túbulos é muito dependente da
néfrons (lembre-se que os TCD são impermeáveis intensidade com que o filtrado glomerular flui para
à água normalmente na sua região mais próxima o sistema tubular.
à alça de Henle, passando a ser permeável na pre- Se essa intensidade for muito grande, nenhum
sença de ADH; na região mais distante da alça de de seus constituintes é reabsorvido de maneira
Henle em relação ao TCD e no ducto coletor de adequada, antes que o líquido seja perdido, como
urina, que já são permeáveis, a permeabilidade urina, na outra extremidade do sistema tubular.
aumenta na presença de ADH), tornando as célu- Por outro lado, quando apenas pequenas
las dos túbulos mais permeáveis à água. Devido quantidades de filtrado glomerular são forma-
à presença daquela região altamente concen- das a cada minuto, praticamente todo o filtra-
trada em sal (derivada do mecanismo de con- do é reabsorvido, inclusive a água do filtrado, a
tracorrente) e ureia nas proximidades da alça ureia e todos os outros solutos.

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Portanto, para a eficácia ótima da reabsorção de grânulos: essas células granulares são as células
água e de sais, sem que, ao mesmo tempo, ocor- justaglomerulares. Esses grânulos contêm um
ra reabsorção significativa de ureia e outros pro- precursor do hormônio renina, que desempenha
dutos finais do metabolismo, a fração de filtração papel muito importante na constrição da arteríola
glomerular deve ser precisamente controlada em eferente, durante o processo de auto-regulação da
cada néfron. Esse é o processo de auto-regulação filtração glomerular, como veremos adiante
da filtração glomerular. E a necessidade para
uma auto-regulação muito precisa da filtração
glomerular é tão importante que existem dois Tome nota:
mecanismos distintos para o controle da fração
de filtração glomerular. Esses mecanismos são (1)
feedback vasoconstritor para a arteríola aferente,
para reduzir a filtração quando está muito inten-
sa e (2) feedback vasoconstritor para a arteríola
eferente, para aumentar a filtração quando está
muito reduzida. Entretanto, antes que possamos
explicar esse mecanismo, é necessário que se dis-
cuta em maior detalhe uma estrutura especializa-
da do néfron, o aparelho justaglomerular.
O túbulo contorcido distal passa entre as arterío-
las aferente e eferente, onde estas entram e saem
do glomérulo. Essa região do néfron, o aparelho
justaglomerular, é mostrada em maior detalhe a
seguir, onde aparece o túbulo distal em contato ín-
timo com as duas arteríolas, tanto a aferente quan-
to a eferente.

Estrutura do aparelho justaglomerular

Onde existe o contato do túbulo distal com as


arteríolas, as células epiteliais do túbulo distal são
densas e em maior número. Por isso, essa parte do
túbulo distal é chamada macula densa. Algumas
das células musculares lisas da arteríola aferente e,
em menor número, da arteríola eferente, contêm

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MECANISMO VASOCONSTRITOR DA que provoca a constrição da arteríola eferente, o

ARTERÍOLA AFERENTE que aumenta a intensidade de formação do filtra-


do glomerular, fazendo com que o fluxo de líquido

Quando a intensidade da formação do filtrado pelo sistema tubular cresça até seu valor normal.

glomerular é muito grande, o líquido flui com mui-


ta rapidez pelo sistema tubular, o que não permite FATOR NATRIURÉTICO ATRIAL
que seja adequadamente processado no túbulo
Recentemente descobriu-se que, quando au-
proximal e alça de Henle. Como resultado, a con-
menta a pressão do sangue nos átrios, eles secre-
centração de íons cloreto no líquido que passa da
tam um hormônio, o fator natriurético atrial (FNA),
alça de Henle para o túbulo distal fica muito au-
que, entre outros efeitos, provoca vasodilatação
mentada. Esses íons cloreto, por algum mecanis-
das arteríolas aferentes dos néfrons, determinando
mo que ainda não foi identificado, fazem com que
considerável aumento da pressão do sangue nos
a arteríola aferente contraia, reduzindo o fluxo
capilares dos glomérulos e, consequentemente, da
de sangue para o glomérulo, o que reduz a inten-
pressão de filtração. Assim, aumentam o volume
sidade da filtração glomerular até o normal e, ao
filtrado no glomérulo e o da urina produzida. A
mesmo tempo, diminuindo a concentração dos
maior perda de água pela urina diminui a pressão
íons cloreto, em nível da macula densa, também
arterial. Além disso, o FNA atua aumentando a per-
para valores normais. Assim, esse mecanismo va-
da de sódio e de água pela urina. Novamente, au-
soconstritor aferente limita, de forma automáti-
menta o volume urinário e diminui a pressão san-
ca, a intensidade com que é formado o filtrado
guínea.
glomerular, de modo a permitir o processamento
adequado do líquido pelo sistema tubular.

SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-
MECANISMO VASOCONSTRITOR DA ALDOSTERONA
ARTERÍOLA EFERENTE
Caso a pressão sanguínea esteja reduzida, a
A constrição das arteríolas eferentes produz pressão glomerular também estará reduzida, o
efeito exatamente oposto sobre a intensidade de que resulta em uma menor produção de filtrado
formação do filtrado glomerular que a vasocon- glomerular.
strição das arteríolas aferentes. Isto é, a Constrição A macula densa percebe a menor produção
eferente impede o fácil escapamento de sangue do de filtrado e, como já descrito anteriormente, isso
glomérulo e, por conseguinte, aumenta a pressão resulta na liberação de renina pelas células justa-
glomerular e a intensidade da filtração glomeru- glomerulares. Esta renina age sobre o angioten-
lar. Quando a filtração glomerular para os tubos sinogênio no sangue (este angiotensinogênio é
fica muito reduzida, um mecanismo automático produzido no fígado e é umas das proteínas nor-
faz com que as arteríolas eferentes contraiam, o malmente constituintes do sangue), o que resulta
que aumenta a intensidade da formação do filtra- na produção de angiotensina I. Esta angiotensina I
do glomerular até o normal. Esse mecanismo é o circula pelo sangue até chegar aos pulmões, onde,
seguinte: o fluxo lento de líquido da alça de Henle sob o intermédio da enzima conversora de angio-
para a macula densa do túbulo distal, por razões tensina (ECA), transforma-se em angiotensina II.
que ainda não são conhecidas, faz com que as A angiotensina II tem dois efeitos: promove
células justaglomerulares nas arteríolas aferente e a constricção da arteríola eferente e tem um
eferente secretem renina. Essa renina atua então efeito sobre o córtex das glândulas supra-renais
sobre o angiotensinogênio no sangue circundan- promovendo a liberação de aldosterona.
te dos rins, para formar angiotensina II (veja este A aldosterona age nos rins promovendo a re-
processo na seção seguinte). É essa angiotensina II absorção de sódio por processos ativos e, conse-

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quentemente, de água por osmose. O aumento no podem lesar mais néfrons a cada vez, de maneira
volume de água no sangue aumenta a pressão crônica. Com a dificuldade de drenagem das ex-
arterial, revertendo o quadro anteriormente cretas e eliminação da urina, a doença em poucos
presente de pressão arterial reduzida. ou muitos anos pode evoluir para edema (retenção
de líquidos pela não eliminação de urina), coma e
morte.
DISTÚRBIOS E DOENÇAS
DO SISTEMA EXCRETOR O rim artificial
A progressiva destruição de néfrons pela
glomerulonefrite pode levar a uma situação de
Das doenças que atingem as populações dos insuficiência renal, em que não há uma adequada
países desenvolvidos, os distúrbios renais ocupam filtração do sangue. Nesses casos, torna-se preciso
o quarto lugar. Muitas são as causas das doenças re- tratar a pessoa com um aparelho denominado rim
nais, dentro eles infecções, envenenamento (como artificial.
o mercúrio e o tetracloreto de carbono, por exem- O rim artificial é uma máquina que realiza he-
plo), lesões, tumores, formação de cálculos ou “pe- modiálise, ou seja, filtra artificialmente o sangue.
dras” (normalmente de oxalato de cálcio, formados O sangue do paciente passa a circular por tubos
pelo excesso de cálcio no sangue e alterações de de paredes semipermeáveis da máquina de he-
pH resultando na precipitação do cálcio formando modiálise, os quais estão mergulhados em uma
grânulos) e problemas circulatórios. solução constituída por substâncias normalmente
presentes no plasma sanguíneo.
Glomerulonefrite As excretas tendem a se difundir através dos
Uma doença renal muito comum é a glomeru- finíssimos poros das membranas semipermeáveis,
lonefrite. É uma doença inflamatória que pode ter abandonando o sangue. Com a repetida circulação
duas origens possíveis. do sangue pela máquina, a maior parte das excre-
A glomerulonefrite pode ser produzida pelas tas deixa o sangue, difundindo-se para o líquido de
toxinas de determinadas bactérias, os estreptoco- hemodiálise.
cos, ou pela ação de leucócitos contra os próprios Cada sessão de hemodiálise dura entre 4 e 6
glomérulos (por motivos ainda não totalmente es- horas e deve ser repetida 2 ou 3 vezes por semana. O
clarecidos, os leucócitos começam a produzir anti- método é eficiente e remove ureia do sangue mais
corpos contra os próprios glomérulos). Neste último rápido que um rim normal. No entanto, além de não
caso, como o próprio sistema imune volta-se contra realizar todas as funções renais, a hemodiálise é um
o organismo, fala-se que esta é uma doença auto- processo caro, incômodo para o paciente e pode
imune. trazer diversos efeitos colaterais (por exemplo, o
Em ambos os casos, os glomérulos apresentam sangue deve ser tornado incoagulável durante o uso
inflamação aguda, o que obstrui o fluxo sanguíneo. do rim artificial). O rim artificial não cura o proble-
O pouco sangue que passa encontra uma mem- ma renal mas garante uma sobrevida de cerca de
brana glomerular muito porosa, o que permite a 10 anos ou mais, enquanto uma solução definitiva
passagem de hemácias e proteínas para os túbulos como o transplante renal não pode ser tomada.
néfricos. Pode haver bloqueio da produção de urina
pela obstrução do fluxo de sangue pelo glomérulo
e, se esta se formar, se apresentará com grandes
quantidades de hemácias e proteínas.
A glomerulonefrite pode apresentar crises agu-
das de tempos em tempos, em que grande número
de glomérulos são destruídos, de maneira perma-
nente. Crises periódicas de pequena intensidade

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pr o f e s s o r l a n d i m 11

LEITURA – A ECONOMIA DE ÁGUA DO RATO-CANGURU

Alguns pequenos roedores que vivem no deserto, como o rato-canguru, nunca bebem água, ob-
tendo praticamente toda água de que necessitam pela oxidação de carboidratos, além de uma
pequeníssima quantidade de água livre presente no alimento muito seco que ingerem.
O fisiólogo americano Schmidt-Nielsen calculou que, se o rato-canguru (Dipodomys merriani)
comer 100 gramas de cevada seca, conseguirá obter cerca de 53,7 gramas de água como resul-
tado da reação respiratória. Essa reação consumirá 8,14 litros de gás oxigênio e, para obtê-lo, o
animal perderá 43,9 gramas de água por evaporação nas vias respiratórias.
As proteínas contidas em 100 gramas de cevada produzirão 3,17 gramas de ureia, o que torna
necessária a perda de cerca de 13,5 gramas de água para sua excreção na urina. As fezes resul-
tantes da ingestão de 100 gramas de cevada contêm 2,5 gramas de água. Somando tudo, calcu-
la-se que o rato-canguru terá uma perda total obrigatória de 59,9 gramas de água para as 100
gramas de alimento seco consumido, valor cerca de 6 gramas maior que a quantidade de água
proveniente da combustão da glicose.
No entanto, se os 100 gramas de cevada seca tivessem sido conservados em um ambiente de
umidade relativa da ordem de 20%, conteriam cerca de 6% de água livre. Assim, é provável que o
rato-canguru dependa dos efeitos da umidade atmosférica para a sua economia de água.
Poucos animais conseguem sobreviver com água tão escassa. É graças a uma redução extrema
da perda de água nas fezes, na urina e por evaporação que o rato-canguru consegue controlar seu
precário equilíbrio hídrico.
Extraído de Biologia dos Organismos – Amabis & Martho – volume 2

Tome nota:

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