Você está na página 1de 95

FISIOPATOLOGIA(PARTE 1) redução dos surtos de exacerbação e

prolongamento dos períodos de remissão 25


FISIOPATOLOGIA(PARTE 1) 1 metotrexato 25
ANEMIA DA DOENÇA CRÔNICA 5 antimaláricos 25
etiofisiopatologia 5 sulfassalazina 26
APENDICITE AGUDA 6 leflunomida 26
fisiopatologia 6 ciclosporina 26
quadro clínico 6 azatioprina e ciclofosfamida 27
diagnóstico 6 agentes biológicos 27
diagnóstico diferencial 6 contraindicação dos agentes biológicos 28
tratamento 7 estratégia terapêutica 28
ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL 7 ASMA 29
etiopatogenia 7 epidemiologia 29
manifestações clínicas 7 fisiopatologia 29
classificação 7 início da resposta alérgica 29
aij sistêmica 7 mecanismos inflamatórios 30
aij oligoarticular 8 mecanismos da exacerbação 31
aij poliarticular fr-positivo 9 alterações patológicas das vias aéreas na asma 31
aij poliarticular fr-negativo 9 classificação 31
artrite associada a entesite 9 asma extrínseca alérgica 31
artrite psoriásica 9 asma extrínseca não alérgica 31
artrites indiferenciadas 10 asma criptogênica (“intrínseca”) 31
exames 10 asma induzida por aspirina 31
laboratoriais 10 quadro clínico 32
imagem 10 diagnóstico 32
diagnóstico diferencial 11 diagnóstico diferencial 32
tratamento 11 tratamento 32
tratamento específico 12 CEFALÉIAS PRIMÁRIAS 33
ARTRITE REUMATÓIDE 14 enxaqueca 33
epidemiologia 14 epidemiologia 33
patologia 14 classificação 33
patogenia 15 fisiopatologia 33
papel das citocinas 15 hipótese neurovascular 33
linfócitos th17 15 hipótese vasculoneuronal 34
linfócitos b 16 hipótese da anormalidade
células treg 16 serotoninérgica 34
linha do tempo 16 teoria parassimpática 34
quadro clínico 17 neurobiologia 35
manifestações articulares e periarticulares 17 ativação do sistema trigeminal e inflamação
manifestações extra-articulares e neurogênica 35
acometimento sistêmico 21 hiperexcitabilidade neuronal 36
manifestações laboratoriais 22 sensibilização central e neuromodulação 36
exames de imagem 22 complicações 36
diagnóstico 23 quadro clínico 36
diagnóstico diferencial 24 fase de dor 36
tratamento 24 fase de resolução 37

1
fenômenos associados 37 com alteração da consciência 49
diagnóstico 37 evolução das crises focais em crises
tratamento 37 generalizadas 50
medidas gerais 37 crises epilépticas generalizadas 50
medicamentoso 37 crises de ausência típica 50
cefaleia tipo tensional 38 crises de ausência atípicas 50
epidemiologia 38 crises tônico-clônicas generalizadas 50
fisiopatologia 38 crises atônicas 51
quadro clínico 39 crises mioclônicas 51
tratamento 39 crises epilépticas atualmente não
classificadas 51
cafaleia em salvas 39
causas das crises e da epilepsia 51
epidemiologia 39
causas relacionadas a idade 52
fisiopatologia 39
mecanismos básicos 53
quadro clínico 40
mecanismos de início e propagação da crise
diagnóstico 40
epiléptica 53
tratamento 40
mecanismos de epileptogênese 54
neuralgia do trigêmeo 41
exames e diagnóstico 54
fisiopatologia 41
anamnese e exame físico 54
mecanismos periféricos 42
exames laboratoriais 55
mecanismos centrais 43
exames eletrofisiológicos 55
quadro clínico 43
avaliação neurorradiológia 55
diagnóstico 43
diagnóstico diferencial 56
tratamento 43
síncope 56
CHOQUE CIRCULATÓRIO 44
crises psicogênicas 56
choque hipovolêmico 44
tratamento 57
choque cardiogênico 44
tratamento dos distúrbios subjacentes 57
choque distributivo 44
exclusão dos fatores precipitantes 57
choque obstrutivo 44
tepapia farmacológica antiepiléptica 57
bases do sistema cardiovascular 44
quando iniciar 57
estruturação 44
seleção dos agentes antiepilépticos 57
como funciona o sistema 45
carbamazepina 58
microcirculação 45
clobazam 58
dinâmica do choque 45
clonazepam 58
alterações nos diferentes orgãos 46
levetiracetam 58
cérebro 46
etossuximida 58
pulmões 46
fenitoína 58
rins 47
fenobarbital 59
coração 47
gabapentina 59
choque hipovolêmico 47
topiramato 59
CIRROSE ALCOÓLICA 47
lamotrigina 59
metabolização do etanol 47
vigabatrina 59
patogênese 48
DENGUE 59
CRISE EPILÉPTICA E EPILEPSIA 49
fisiopatologia 59
classificação 49
forma grave 60
início focal 49
quadro clínico 60
sem alteração da consciência 49
2
FASE FEBRIL 60 stanford 75
fase crítica 61 debakey 75
fase de recuperação 61 svensson 75
diagnóstico 61 quadro clínico 76
diagnóstico diferencial 61 diagnóstico 76
tratamento 61 diagnósticos diferenciais 77
DERRAME PERICÁRDICO 62 manejo 77
fisiologia da febre 662 DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE 77
DIABETES MELLITUS 2 62 epidemiologia 77
epidemiologia 62 fisiopatologia 77
fisiopatologia 63 eventos celulares 77
resistência à insulina 63 eventos teciduais 78
secreção inadequada de insulina pelas células distrofina e snc 78
beta pancreáticas 66 complexo de proteínas associados à distrofina
resistência à ação e redução na secreção de (cpad) 79
incretinas gastrointestinais 67 expressão no snc 79
aumento na reabsorção tubular de glicose 67 expressão em dmd 79
mediadores imunoinflamatórios 67 dmd e cognição 79
complicações 68 cérebro e cerebelo 79
microvasculares 68 alfa-distroglicana 80
macrovasculares 69 funções e imunoexpressão 80
fatores de risco 71 alterações cardíacas 80
quadro clínico 71 quadro clínico 80
diagnóstico 71 DOENÇA CELÍACA 81
tratamento 71 epidemiologia 81
não medicamentoso 71 fisiopatologia 81
medicamentoso 72 quadro clínico 81
metas laboratoriais 72 diagnóstico 81
seguimento 72 diagnóstico diferencial 81
DIABETES MELLITUS TIPO 1 72 manejo 82
epidemiologia 72 DOENÇA DE ALZHEIMER 82
fisiopatologia 72 epidemiologia 82
suscetibilidade genética 72 fisiopatologia 82
fatores desencadeantes 73 mecanismo genético 82
fatores dietéticos 73 mecanismo ligado ao peptídeo beta-amilóide e
infecções virais 73 à proteína tau 82
auto-imunidade ativa 73 mecanismo mitocondrial 83
diabetes latente auto-imune do adulto (lada) 73 mecanismo oxidativo 83
quadro clínico 74 mecanismo inflamatório 84
diagnóstico 74 quadro clínico 84
tratamento 74 estágios 85
DISSECÇÃO DE AORTA 74 diagnóstico diferencial 85
epidemiologia 74 tratamento 86
fisiopatologia 74 inibidores da acetilcolinesterase 86
causas 75 critérios de inclusão 86
classificação 75 critérios de exclusão 86

3
esquema de administração 86
memantina 87
critérios de inclusão 87
combinada aos inibidores da
acetilcolinesterase 87
em monoterapia 87
critérios de exclusão 87
esquema de administração 87
DOENÇA DE CROHN 87
epidemiologia 87
fisiopatologia 88
fatores imunológicos 88
genética 89
fatores ambientais 89
tabagismo 89
alimentação 90
fármacos 90
infecções bacterianas 90
macroscópica 90
microscópica 91
problemas nutricionais 91
desnutrição proteico-energética 91
hidratos de carbono e lipídeos 91
déficit de fluídos e eletrólitos 91
déficit de macronutrientes 92
classificação 92
quadro clínico 92
manifestações extraintestinais 92
dermatológicas 92
reumatológicas 92
oculares 93
hepatobiliares 93
urológicas 93
distúrbios ósseos metabólicos 93
distúrbios tromboembólicos 93
outros distúrbios 93
diagnóstico 93
tratamento 94
aminossalicilatos 94
corticoesteroides 94
imunomodeladores 95
antibióticos 95
não farmacológico 96

ANEMIA DA DOENÇA CRÔNICA


4
• A própria limitação na disponibilidade do ferro, bem
• É uma anemia hipoproliferativa e hiporregenerativa, como outros mecanismos que envolvem a Eritropoietina
que surge associada à falência de produção dos (EPO) e outros fatores hematopoiéticos comprometem o
eritrócitos na medula óssea processo normal de eritropoiese
• É definida pela presença de uma doença crônica, • A meia-vida dos eritrócitos se encontra reduzida como
infecciosa (fúngicas, bacterianas e virais), inflamatória ou consequência do estresse oxidativo e da peroxidação
neoplásica, anemia e hipoferremia, apesar de abundante lipídica, promovendo a eritrofagocitose
quantidade de ferro nos macrófagos • Verifica-se, ainda, alteração da produção de EPO e
• Sua gravidade está muitas vezes relacionada ao grau de diminuição da resposta da medula óssea a este fator de
infecção crescimento dos eritrócitos
• A invasão por micro-organismos, a emergência de
células malignas ou a desregulação autoimune conduz à
ETIOFISIOPATOLOGIA
ativação das células T CD3+ e dos monócitos
• Surge no decurso de doença sistémica ou inflamatória, → estas células, por sua vez, ativam mecanismos
como resultado da ativação aguda ou crónica do sistema imunitários efetores mediante a produção de citocinas
imunitário como o INF-γ, TNF-α, IL-1, IL-6 e IL-1 (dos monócitos ou
→ neste processo estão implicadas diversas células macrófagos)
imunitárias, como linfócitos T e macrófagos, que estão • A IL-6 e os lipossacarídeos (LPS) estimulam a produção
envolvidos na produção de um conjunto variado de hepática da proteina de fase aguda – hepcidina, que
citocinas inflamatórias, proteínas de fase aguda e de inibe a absorção do ferro a nível do duodeno
radicais livres • O INF-γ, o LPS ou ambos, aumentam a expressão do
• A IL-6 é uma citocina que regula a resposta imune e transportador de metal divalente 1 – DMT1 nos
hepática de fase aguda, a inflamação e a hematopoiese macrófagos e estimulam a captação do ferro ferroso
→ é produzida por uma variedade de células em (Fe2+)
resposta a infecção, trauma ou alteração imunológica • A citocina anti-inflamatória IL-10 aumenta a expressão
→ no contexto de ADC, o aumento desta citocina induz do receptor da transferrina, aumentando a captação do
a síntese hepática de hepcidina ferro ligado à transferrina nos monócitos
→ a hepcidina é um hormônio peptídico de 25 • Os macrófagos ativados fagocitam e degradam os
aminoácidos que, após ser produzida e libertada no eritrócitos senescentes para a reciclagem do ferro, um
sangue, se liga à ferroportina, uma proteína envolvida na processo que é promovido pelo TNF-α mediante a
exportação do ferro destruição das membranas dos eritrócitos e estimulação
→ a hepcidina impede o transporte de ferro dos da fagocitose
enterócitos duodenais e das células do sistema retículo- • O INF-α e LPS diminuem a expressão do transportador
endotelial para o plasma, contribuindo para a diminuição de ferro do macrófago – ferroportina 1, impedindo a
dos níveis séricos de ferro saída do ferro dos macrófagos, um processo também
→ outras citocinas e proteínas de fase aguda estão afetado pela hepcidina
implicadas no desvio do transporte do ferro, que é • Ao mesmo tempo, o TNF-α, IL-1, IL-6 e IL-10,
armazenado pelo sistema reticuloendotelial, reduzindo, aumentam a expressão de ferritina e promovem o
assim, o ferro disponível para o normal processo da armazenamento e retenção do ferro nos macrófagos
eritropoiese • O TNF-α e o INF-γ inibem a produção de EPO no rim
• O TNF-α, INF-γ e IL-1 inibem diretamente a
diferenciação e proliferação das células precursoras
eritróides
• A disponibilidade limitada de ferro e a diminuição da
atividade biológica da EPO levam à inibição da
eritropoiese e desenvolvimento de anemia
• Além das alterações dos níveis séricos do ferro, ocorre
diminuição da proliferação e diferenciação das células
precursoras eritróides pela ação de proteínas de fase
aguda e citocinas, indutoras da apoptose, tais como o
INF-γ, INF-α, TNF-α e IL-1

5
bacteriana e a inflamação transmural com exsudação fibrinosa
da parede do apêndice
→ em seguida se observa ulceração da mucosa, trombose
arterial, gangrena e ruptura da parede
→ a consequência é o desenvolvimento de processo
inflamatório infeccioso bacteriano extensivo ao peritônio
parietal e vísceras adjacentes (íleo terminal, ceco e órgãos
pélvicos)
• Diferenciada em 5 fases
→ hiperêmica
→ edematosa
→ edema da parede
→ fibrinosa
→ extensão até a serosa
→ flegmonosa
→ coleção purulenta no lúmen
→ gangrenosa/perfurativa
→ trombose venosa, isquemia

QUADRO CLÍNICO
• A apresentação clínica clássica começa com um quadro de
anorexia seguido de dor abdominal mal definida,
eventualmente um desconforto, referida na região
mesogástrica ou periumbilical
→ não há melhora com a evacuação ou eliminação de flatos
• A partir de 6 a 12 horas do início dos sintomas a dor começa
APENDICITE AGUDA a migrar para QID
• Há anorexia, náusea e vômitos em mais de 80% dos casos
• O apêndice vermiforme é um pequeno órgão tubular de
• Pode ocorrer tanto constipação quanto diarreia, embora
fundo cego que se origina da parede póstero-medial do ceco,
esta seja menos comum no início do quadro
localizado a aproximadamente 2 cm abaixo da válvula
• Febre de até 38ºC e acima disso deve se desconfiar de
ileocecal, com comprimento entre 2 e a 20 cm
perfuração
→ mais comumente entre 5 e 10 cm
• Causa mais comum de dor abdominal aguda
DIAGNÓSTICO
EPIDEMIOLOGIA • O diagnóstico é em maior parte clínico, podendo ser
• Mais comum entre adolescentes e jovens adultos complementado com hemograma e exames de imagem
• O sexo masculino é discretamente mais atingido • Descompressão brusca positiva
• Risco de morte de 7% • Leucocitose moderada com desvio a esquerda
→ acima de 20.000/mm³ sugere-se perfuração
• USG com imagem em alvo
FISIOPATOLOGIA
• O principal mecanismo fisiopatológico relacionado à
apendicite aguda é a obstrução do lúmen, em geral, por um DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
fecalito e, raramente, por cálculo biliar, corpo estranho, • DIP
linfonodos, parasitas ou neoplasias • Gravidez ectópica
→ essa obstrução promove o acúmulo de secreções e • Diverticulite de Meckel
aumento da pressão intraluminal, que compromete o fluxo • Endometriose pélvica
venoso de saída • Litíase ureteral
• O retorno venoso torna-se comprometido quando ela • Orquiepididimite
excede a pressão de perfusão capilar, favorecendo o • Doença de Crohn
desenvolvimento de congestão, isquemia, a proliferação

6
TRATAMENTO • Estímulos ambientais, através de mecanismos
mediados pelo sistema imune, podem desencadear uma
• A maioria dos casos de apendicite é tratada com a remoção
cirúrgica imediata do apêndice, com altos índices de sucesso
resposta inflamatória em um indivíduo geneticamente
• Pacientes com apendicite aguda requerem hidratação suscetível, levando à destruição articular na AIJ
venosa, controle de distúrbios hidroeletrolíticos e antibióticos • A presença de células T CD4+ no líquido sinovial de
perioperatórios para a cobertura de flora colônica aeróbica e adultos com AR e crianças com AIJ comprova a
anaeróbica participação da imunidade celular nesta doença
• A apendicite não perfurada requer dose única pré-operatória → por outro lado, vários trabalhos demonstraram a
de antibióticos, o que reduz as infecções pós-operatórias da presença de altos níveis de citocinas pró-inflamatórias
ferida e a formação de abscesso intra-abdominal (IL-1, IL-6 e TNF-α) no líquido sinovial de crianças com AIJ
• Os antibióticos pós-operatórios não reduzem a incidência de → foi também observado que níveis de IL-6 estão
complicações, portanto, não estão indicados significativamente mais elevados em pacientes com AIJ
• Os pacientes com apendicite perfurada requerem de início sistêmico, quando comparados aos pacientes
antibioticoterapia venosa no pós-operatório até que o com AIJ oligoarticular e adultos com AR
paciente se torne afebril → estas citocinas têm papel fundamental na
• A retirada do apêndice pode ser feita por intermédio de inflamação crônica e destruição da articulação e
videolaparoscopia ou de cirurgia aberta constituem alvo de novas formas de tratamento
• Outras evidências da participação do sistema imune na
patogênese da AIJ são a presença de
hipergamaglobulinemia, anticorpos antinucleares, fator
reumatóide e imunocomplexos circulantes, também no
líquido sinovial
→ hipergamaglobulinemia, provavelmente
relacionada ao aumento de linfócitos B no sangue
periférico, ativação do complemento e presença de
autoanticorpos: fator reumatoide (FR), fator antinuclear
(FAN) e anticorpos antiproteínas citrulinadas (anti-CCP)
ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL • Déficit de atividade das células T supressoras

• Artrite idiopática juvenil (AIJ) é a denominação para um MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS


grupo de doenças distintas que ocorre em crianças com • A criança com AIJ pode apresentar, além da artrite
menos de 16 anos e se manifesta principalmente por crônica, manifestações extra-articulares variáveis,
artrite persistente, durante seis ou mais semanas, dependendo do tipo de início da doença
descartadas outras doenças que levam ao acometimento • Em qualquer tipo de início, os joelhos são as
articular articulações mais frequentemente acometidas
• O componente doloroso da artrite às vezes é pouco
intenso, o que pode dificultar o reconhecimento do
ETIOPATOGENIA
problema articular
• A multiplicidade das características clínicas, evolutivas,
imunológicas e imunogenéticas desta doença
CLASSIFICAÇÃO
heterogênea sugere que as diferentes formas clínicas
representem, na realidade, entidades clínicas distintas AIJ SISTÊMICA
com mecanismos etiopatogênicos próprios • Ocorre em 4 a 17% das crianças com AIJ, sem
• Os fatores ambientais possivelmente associados ao predomínio de sexo ou faixa etária, podendo inclusive
desenvolvimento de AIJ são os agentes infecciosos, manifestar-se no primeiro ano de vida
traumas físicos, fatores hormonais e psicológicos • É caracterizada pela presença de febre alta (>39°C),
• Entre os vírus implicados na etiologia da AIJ, estão o diária, que persiste por um período mínimo de 15 dias, e
Epstein-Barr, o parvovírus B19, os vírus influenza, da pode ser acompanhada de outras manifestações
rubéola e herpes simples, o vírus coxsackie e o sistêmicas
adenovírus → exantema eritematoso (95% dos casos)
→ linfadenomegalia (70%)

7
→ hepatoesplenomegalia (85%) → a outra metade costuma apresentar
→ pericardite (35%) comprometimento poliarticular progressivo e simétrico
→ pleurite (20%) de grandes e pequenas articulações e também da coluna
→ miocardite (20%) cervical; para essas crianças, a evolução geralmente é
• A febre pode preceder o aparecimento da artrite por menos benigna
dias, semanas, meses ou anos, constituindo uma das • Mialgias e artralgias podem preceder o quadro de
possíveis causas de febre de etiologia obscura na faixa artrite
etária pediátrica
→ a febre pode ocorrer a qualquer hora do dia, mas AIJ OLIGOARTICULAR
caracteristicamente aparece em um ou dois picos, um • Este termo se refere aos casos de AIJ com artrite que
matinal e o outro no final da tarde ou começo da noite, compromete uma a quatro articulações durante os 6
muitas vezes acompanhada do exantema reumatóide primeiros meses de doença
→ com o uso de antitérmicos a febre alta (>39°C) • Esta é a forma mais frequente de AIJ, representando
geralmente cede, e a temperatura fica abaixo de 37° C 26% a 56% de todos os casos, na maioria das casuísticas
→ em geral, na vigência da febre, a criança apresenta → incide preferencialmente em crianças pequenas do
comprometimento importante do estado geral, sexo feminino (mediana de idade de início de 5,2 anos)
irritabilidade, palidez e piora das manifestações • As articulações mais frequentemente acometidas são
articulares os joelhos e os tornozelos, geralmente de maneira
→ por outro lado, fora dos períodos de febre estas assimétrica
alterações costumam desaparecer • Em geral, as crianças com AIJ oligoarticular não se
• O exantema característico é constituído por lesões queixam de dores muito intensas, e algumas são trazidas
eritematosas maculares ou máculo-papulares pequenas ao médico porque foi notado edema articular
(2 a 5 mm), usualmente não-pruriginosas, que • Nesta forma, a criança permanece com ótimo estado
comprometem principalmente o tronco e a raiz de geral e não costuma apresentar outras queixas, além da
membros, mas podem estender-se para face, palmas e artrite
plantas • Anticorpos antinucleares (AAN) são encontrados em
→ na maioria das vezes é migratório e evanescente: as 40% a 50% dos casos e constituem um fator de risco para
lesões costumam desaparecer em algumas horas, sem o desenvolvimento de uveíte anterior crônica
deixar sequelas → esta complicação, que ocorre em até 20% das
• As crianças portadoras de AIJ sistêmica podem se crianças com esta forma de AIJ, é mais frequente durante
apresentar com estado geral muito comprometido os primeiros 5 anos de aparecimento da artrite, mas em
→ considerando que estas crianças apresentam cerca de 10% dos casos pode preceder o início do quadro
também febre alta, exantema, irritabilidade, articular
emagrecimento e palidez, hepatoesplenomegalia e → o início da uveíte é insidioso e assintomático na
adenomegalia, além da artrite, os diagnósticos grande maioria dos casos
diferenciais mais importantes para esta forma de início → quando presentes, as queixas mais comuns são
são os quadros infecciosos e as neoplasias, hiperemia, dor ocular, lacrimejamento, diminuição da
principalmente a leucose linfóide aguda acuidade visual, fotofobia e cefaléia
→ outras doenças importantes no diagnóstico • Quando a AIJ oligoarticular persiste acometendo até 4
diferencial da ARJ sistêmica são as vasculites e as articulações durante a sua evolução, é classificada como
doenças inflamatórias intestinais AIJ olgoarticular persistente
• Os pacientes com AIJ de início sistêmico → se após os seis primeiros meses de doença a criança
frequentemente apresentam alterações laboratoriais, passa a apresentar artrite em cinco ou mais articulações
tais como anemia, leucocitose com neutrofilia, ela será classificada como portadora de AIJ oligoarticular
plaquetose, elevação do VHS, da proteína C-reativa e da estendida, que pode acontecer em até 30% dos casos de
ferritina, hipoalbuminemia, e hipergamaglobulinemia AIJ oligoarticular, e tem um prognóstico pior quando
→ os anticorpos antinucleares e o fator reumatóide são comparada à forma oligoarticular persistente
negativos nestes casos → os fatores de risco para essa evolução são: artrite em
• Cerca de metade das crianças com esta forma de início punhos ou tornozelos, artrite acometendo articulações
apresenta comprometimento oligoarticular (até quatro das mãos; artrite simétrica; velocidade de
articulações) e pode evoluir para remissão da doença hemossedimentação elevada e presença de AAN
após períodos variáveis de atividade
8
• Em um estudo sobre a evolução em longo prazo (16,5 • A artrite em geral é simétrica, podendo comprometer
anos) da AIJ foi observada remissão da artrite em 75% qualquer articulação
dos pacientes com AIJ oligoarticular persistente e em → as articulações frequentemente envolvidas são os
apenas 12% daqueles portadores de AIJ oligorticular joelhos, tornozelos, punhos, carpos, tarsos e cotovelos
estendida → as interfalangeanas, metatarsofalangeanas e
metacarpofalangeanas podem também estar
AIJ POLIARTICULAR FR-POSITIVO comprometidas
• Definido pela presença de artrite em cinco ou mais • Estas crianças podem, eventualmente, apresentar
articulações durante os primeiros 6 meses de doença e febre baixa, adenomegalia e hepatoesplenomegalia
inclui a presença de FR da classe IgM em pelo menos discretas
duas ocasiões separadas por um período de 3 meses • Raramente se detectam anticorpos antinucleares
• Esta é a forma menos frequente e acomete, no • Em algumas crianças, esta forma pode evoluir para
máximo, 10% de todas as crianças portadoras de AIJ artrite erosiva, mas usualmente o prognóstico articular
• É muito mais frequente em meninas (90% dos casos) e deste tipo é mais favorável do que nos casos de AIJ
na maioria dos casos a doença tem início entre os 12 e os poliarticular FR-positivo
16 anos
• Sintomas sistêmicos tais como anorexia, perda de ARTRITE ASSOCIADA A ENTESITE
peso, febre baixa, adenomegalias, • Acomete principalmente meninos numa proporção de
hepatoesplenomegalia e serosites discretas podem estar 9:1, geralmente com idade superior a 6 anos
presentes • Há forte associação com presença de HLA-B27 (em 75%
→ além disso, algumas crianças podem apresentar dos casos) e por vezes há referência de
outras manifestações extra-articulares como nódulos espondiloartropatia na história familiar
subcutâneos, vasculite sistêmica ou restritas às polpas • Os locais mais frequentes de entesite (inflamação
digitais, síndrome de Felty e síndrome de Sjögren dolorosa nos pontos onde os tendões e ligamentos se
inserem nos ossos) são a área de inserção do tendão de
• A artrite em geral inicia-se pelas pequenas articulações Aquiles no calcanhar, na fáscia plantar, na área do tarso
das mãos e, a seguir, quaisquer outras articulações e periarticular no joelho
podem ser acometidas, principalmente os joelhos, • A artrite geralmente é assimétrica e aditiva,
tornozelos, cotovelos e coxofemorais comprometendo usualmente articulações periféricas
• As recorrências são frequentes e alguns pacientes dos membros inferiores, principalmente joelhos e
evoluem com atividade contínua tornozelos, e também os quadris
• Seu prognóstico é, em geral, desfavorável → ao contrário dos outros tipos de AIJ, a articulação do
→ observa-se a associação à presença de anticorpos quadril pode estar comprometida no início da
antinucleares e ao HLA-DR4 apresentação da artrite associada à entesite
• Esta forma de início da ARJ apresenta várias • Frequentemente esse tipo de AIJ compromete menos
semelhanças clínicas, imunogenéticas e evolutivas com a de quatro articulações e tem evolução benigna
artrite reumatóide (AR) do adulto • No entanto, uma parte destas crianças (50%, segundo
• A persistência da sinovite por meses ou anos é causa alguns autores) a artrite pode progredir e comprometer
de sequelas irreversíveis, como subluxações, fusões ou as articulações sacroilíacas e da coluna, caracterizando
destruições osteoarticulares, podendo evoluir para uma um quadro evolutivo para espondilite anquilosante
incapacidade funcional, com repercussões importantes
para a qualidade de vida do indivíduo e de seus familiares ARTRITE PSORIÁSICA
• O diagnóstico de artrite psoriásica pelos critérios da
AIJ POLIARTICULAR FR-NEGATIVO ILAR pressupõe a presença simultânea de artrite e
• Definida como artrite que compromete 5 ou mais manifestações cutâneas típicas da psoríase, ou, na
articulações durante os primeiros 6 meses de doença na ausência de lesões cutâneas, a presença de artrite
ausência de FR associada a pelo menos 2 dos seguintes critérios
• Acomete de 20% a 30% das crianças com AIJ, em → história familiar de psoríase em parentes de
qualquer idade, com dois picos de incidência: entre 2 e 3 primeiro grau (pai, mãe ou irmãos)
anos e por volta dos 10 anos de idade, com → dactilite (edema que se estende além dos limites
predominância do sexo feminino articulares em um ou mais dedos)

9
→ alterações ungueais (presença de sulcos ou → a contagem de leucócitos pode chegar a mais de
depressões) 50.000 células/mm3
• O quadro articular consiste no comprometimento → nas outras formas de início da doença, geralmente
assimétrico de grandes articulações (joelhos, tornozelos) não há leucocitose
e também de pequenas articulações dos dedos das mãos • Frequentemente, trombocitose reativa é vista tanto
e dos pés nas formas de início sistêmico quanto poliarticular
• Alguns pacientes podem desenvolver uveíte e → este é um achado que auxilia no diagnóstico
apresentar anticorpos antinucleares circulantes, a diferencial com a leucemia linfoblástica e com o lúpus
exemplo do que ocorre no tipo oligoarticular eritematoso sistêmico, que podem cursar com
• A artrite psoriásica é um diagnóstico difícil visto que as trombocitopenia
alterações cutâneas podem preceder o aparecimento da • As provas de fase aguda, como a velocidade de
artrite hemossedimentação (VHS) e a proteína C reativa (PCR),
estão quase sempre elevadas
ARTRITES INDIFERENCIADAS • Há aumento policlonal dos níveis de imunoglobulinas
• Nesse grupo devem ser classificados os pacientes que séricas
não preenchem os critérios de inclusão para nenhum dos • Não há variação, ou há elevação dos níveis plasmáticos
6 tipos anteriores ou aqueles que preenchem critérios de de C3 e CH50
inclusão para mais de um tipo de AIJ
• Os imunocomplexos solúveis podem ser detectados no
soro, particularmente nas formas de início sistêmico e
poliarticular
• A pesquisa para o fator reumatoide (FR IgM) é positiva
em 15% das crianças com AIJ
• Os testes para FAN são positivos em aproximadamente
40% dos casos
→ os padrões de fluorescência mais comuns são o
homogêneo e o pontilhado, em títulos baixos a
moderados
• O estudo do líquido sinovial é fundamental nos casos
monoarticulares, quando o diagnóstico diferencial com
artrite séptica é mandatório

IMAGEM
• Embora a radiologia convencional seja o método de
imagem mais comumente usado, a ultrassonografia, a
tomografia computadorizada (TC), a ressonância
magnética (RM) e a cintilografia óssea podem ser úteis
• As alterações radiográficas são mínimas nas fases
iniciais da doença e consistem de osteoporose justa-
articular, edema de partes moles, alargamento do
espaço articular e neoformação óssea periosteal
EXAMES (periostite), que ocorrem mais comumente nas falanges,
metacarpianos e metatarsianos
• As alterações radiográficas tardias como erosões
LABORATORIAIS marginais, cistos e redução do espaço articular,
• Não existe alteração laboratorial específica da AIJ geralmente não ocorrem antes de dois anos de atividade
• A anemia é comum em todas as formas de início da da doença
doença, porém é mais pronunciada na forma de início • Aqueles com doença grave, imobilidade prolongada e
sistêmico em uso crônico de corticosteroides podem apresentar
• Na forma de início sistêmico observa-se leucocitose, intensa osteopenia com consequente risco de fraturas
com predominância de polimorfonucleares

10
por compressão, localizadas, mais frequentemente, na → a análise do líquido sinovial, a biópsia da membrana
coluna vertebral e na região supracondilar do fêmur sinovial e exames de imagem são os meios utilizados com
• Especial ênfase deve ser dada ao acometimento da este final
coluna cervical, com alterações que predominam nos • A anemia falciforme, pelo envolvimento do periósteo e
segmentos cervicais superiores por microinfartos ósseos, pode levar à periostite,
→ a fusão das articulações apofisárias é frequente, simulando AIJ
principalmente ao nível de C2 e C3 → a eletroforese de hemoglobina define o diagnóstico
→ hipodesenvolvimento de alguns corpos vertebrais
pode ser identificado
TRATAMENTO
→ subluxação atlantoaxial é um achado comum e pode
ter graves consequências • O controle da AIJ é baseado no tratamento
→ seu diagnóstico é feito a partir do estudo da coluna farmacológico, nas terapias física e ocupacional e no
cervical na incidência lateral em flexão, medindo-se a suporte psicológico
distância entre o arco anterior do atlas e o processo → deve ser cuidadoso, de longo prazo, com
odontoide do axis monitorização periódica das medicações, da atividade da
→ na criança essa distância é de aproximadamente doença e dos possíveis danos causados por ela
4 mm • A fisioterapia e a terapia ocupacional são tão
→ distâncias maiores indicam o processo importantes quanto o tratamento medicamentoso
devendo ser iniciadas o mais precocemente possível
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Devemos estimular a utilização de órteses, quando
• Dentre as doenças que devem ser consideradas no necessárias, para prevenção de contraturas e para
diagnóstico diferencial podemos citar as infecciosas melhorar a amplitude do movimento e estimular a
como hepatites, rubéola e artrite séptica e pós- proteção aos danos articulares com medidas simples,
infecciosas como a febre reumática; malignidades e como utilização de adaptadores para aumentar o
doenças hematológicas como leucemias e a anemia diâmetro de ferramentas e objetos de uso diário (como
falciforme; doenças imunológicas como deficiência colheres, pentes, canetas, entre outros)
seletiva de IgA, deficiência heterozigótica de C2 e a • AINEs
agamaglobulinemia ligada ao sexo; além de doenças do → os AINH apresentam propriedades antipirética, anti-
tecido conjuntivo como o lúpus eritematoso sistêmico, inflamatória e analgésica e têm sua ação no alívio da dor
dermatomiosite e esclerodermia; vasculites e síndromes → em paciente assintomático não há necessidade de
autoinflamatórias uso
• A forma de início sistêmico, caracterizada pela
presença de febre e rash cutâneo, quando cursa sem
artrite, dificilmente é diferenciada de infecções e quando
cursa com artrite pode ser confundida com o lúpus
eritematoso sistêmico
→ culturas de materiais biológicos, a pesquisa do FAN
(na AIJ sistêmica sua positividade é muito baixa), a
contagem plaquetária (enquanto no lúpus pode haver
plaquetopenia na AIJ sistêmica há plaquetose)
contribuem para o diagnóstico diferencial
• A presença de anemia grave associada à plaquetopenia
chama a atenção para a possibilidade de leucose
• Linfadenomegalia volumosa sugere a presença de
linfoma, estando indicada a biópsia para o diagnóstico
diferencial • Corticosteroides
• Outra doença de diagnóstico diferencial difícil da AIJ → são administrados pelas vias local, sistêmica ou
sistêmica é a febre reumática aguda intra-articular
• Na presença de mono ou oligoartrites é imperativo → colírios de glicocorticoides são prescritos, por
afastar artrites sépticas, tuberculose, traumas ou oftalmologistas, para crianças com uveíte
tumores

11
→ infiltração articular com triancinolona hexacetonida → os principais efeitos adversos são: diarreia, anorexia,
(1 a 2 mg/kg por articulação) é frequentemente indicada dor abdominal, gastrite, aumento de transaminases,
em oligo ou monoartrites rash e reações alérgicas, alopecia e teratogenia
→ eventualmente, essa articulação pode ser → a dose é de 10 mg em dias alternados (para
novamente infiltrada por até três vezes com intervalo de pacientes até 20 kg), 20 mg em dias alternados (para
no mínimo um a dois meses pacientes de 20 a 40 kg) ou 20 mg/ dia (para pacientes
→ o uso oral do corticosteroide está formalmente com mais de 40 kg)
indicado apenas para os pacientes com AIJ sistêmica que • Os antimaláricos são cada vez menos utilizados em
apresentam anemia intensa, pericardite ou miocardite virtude de sua eficácia limitada
graves ou febre não responsiva aos AINH, casos de → a dose preconizada é de 5 a 7 mg/kg/ dia, em dose
síndrome de ativação macrofágica e uveíte anterior única diária da hidroxicloroquina, preferível ao difosfato
crônica não controlada com corticoterapia local de cloroquina, pela menor toxicidade ocular
→ nesses casos utiliza-se a prednisona ou a → avaliação oftalmológica deve ser realizada a cada
prednisolona na dose inicial de 1 a 2 mg/kg/dia, com seis meses (fundo de olho e avaliação de campo visual)
retirada lenta e progressiva • A sulfassalazina ainda encontra indicação nos casos de
→ quando a artrite é grave e incapacitante, e o artrite relacionada à entesite e na doença inflamatória
paciente tem muita dor na fase em que a droga intestinal, na dose de 40 a 60 mg/kg/dia (máximo de 2
modificadora de doença ainda não está agindo, os g), em duas tomadas diárias
corticosteroides sistêmicos estão indicados, porém em • A ciclosporina, na dose de 3 a 5 mg/kg/ dia, tem se
pequenas doses (0,1 a 0,2 mg/kg/dia) e pelo menor mostrado eficaz no controle das manifestações
período de tempo possível (até ocorrer a ação da droga sistêmicas resistentes a corticoterapia, nas uveítes em
antirreumática modificadora de doença) associação com o metotrexato e na síndrome de ativação
→ a pulsoterapia intravenosa com metilprednisolona é macrofágica
a terapêutica indicada para os casos graves ou que → hipertensão arterial, alteração da função renal,
necessitam de corticosteroide oral em doses altas, no hipertricose e hipertrofia gengival são importantes
sentido de poupar essas medicações e diminuir os efeitos adversos
efeitos adversos • Agentes biológicos
→ a metilprednisolona é usada na dose de 30 → tem sua indicação nos casos de envolvimento
mg/kg/dose por três dias a intervalos mensais poliarticular apesar de uso de doses máximas de
→ durante o período da infusão o monitoramento metotrexato (até 1 mg/kg/semana ou 40 mg/semana)
deve ser realizado com medida de pressão arterial durante pelo menos três meses, a menos que este seja
contraindicado ou não tolerado; nos casos de
TRATAMENTO ESPECÍFICO manifestações sistêmicas corticorresistentes ou
• Atualmente, a tendência é iniciar a terapia específica corticodependentes; nos casos de uveíte ativa resistente
mais precocemente a corticosteroides e a drogas modificadoras de doença; e
• O metotrexato (MTX) é considerado o agente de nos casos de comprometimento axial no subtipo artrite
segunda linha de primeira escolha para os pacientes com relacionada à entesite
artrite ativa, por sua efetividade e toxicidade aceitáveis • Anti TNF-α
• Os pacientes com os subtipos poliarticular e → as preocupações relacionadas à sua administração,
oligoarticular estendido apresentam boa resposta a esta principalmente na faixa etária pediátrica, estão
droga, entretanto a eficácia para o subtipo artrite relacionadas ao maior risco de infecções, como proceder
relacionada à entesite é menor em relação à imunização, os efeitos em longo prazo e a
→ a melhora costuma ocorrer em seis a oito semanas possibilidade do desenvolvimento de neoplasia ou
de dose efetiva, mas pode levar até seis meses desmielinização do sistema nervoso central
→ a dose estabelecida é de 0,4 a 1 mg/kg/semana → geralmente são usados em associação com o
(até no máximo de 40 mg), e pode ser administrada por metotrexato
via oral (de preferência em jejum) ou subcutânea → efeitos adversos são descritos: infecções como
• O leflunomide tem sido usado na AIJ poliarticular ou tuberculose, aparecimento de doenças autoimunes,
oligoarticular estendida nos casos de falha ou doença desmielinizante e neoplasias
intolerância ao metotrexato → todos os pacientes devem ser submetidos a uma
triagem para tuberculose
→ etanercepte
12
→ é um receptor solúvel que se liga ao TNF-α e quinzenais para a apresentação sistêmica e mensais para
impede a sua interação com os receptores da superfície a apresentação poliarticular
celular → pode ser usado em pacientes a partir dos 2 anos
→ é utilizado na dose de 0,4 mg/kg (máximo de 25 de idade
mg) por via subcutânea, duas vezes na semana (a cada • Anti-CD20
quatro dias) ou em dose única semanal de 0,8 → rituximabe
mg/kg/dose (máximo de 50 mg) → é um anticorpo monoclonal humanizado para o
→ tem se mostrado eficaz no tratamento da AIJ CD20, o principal marcador antigênico das células B
poliarticular, oligoarticular estendida e no maduras
comprometimento articular da AIJ sistêmica → a dose é de 750 mg/m2 (até 1 g), duas doses a
→ há também evidências de que ele retarda a intervalo quinzenal e depois a cada seis meses
progressão radiográfica da doença → seu uso se restringe a pacientes maiores de 18
→ os efeitos adversos mais frequentes são as reações anos e tem melhor resposta nos pacientes com AIJ com
locais e as infecções do trato respiratório superior positividade do FR
→ é liberado para crianças a partir dos 2 anos de • Bloqueador da coestimulação
idade → abatacepte (CTI A4 lg)
→ adalimumabe → é um modificador da resposta imune que atua
→ é um anticorpo monoclonal contra o TNF-α, como bloqueador da coestimulação, interferindo com a
totalmente humanizado, aplicado por via subcutânea a interação do CD28-CD80/86 nas células T ativadas
cada duas semanas, na dose de 24 mg/m2 (de meia até → é administrado mensalmente, por via endovenosa
uma ampola de 40 mg a cada duas semanas)
→ é indicada na AIJ poliarticular, oligoarticular
estendida, na artrite relacionada à entesite e nas uveítes
para pacientes a partir de 4 anos de idade
→ infliximabe
→ é um anticorpo monoclonal quimérico anti TNF-α,
que se liga ao TNF-α e bloqueia sua ligação aos
receptores da superfície celular
→ recomenda-se utilizá-lo por via endovenosa
→ seu uso está indicado nas AIJ poliarticulares e
oligoarticulares estendidas, na artrite relacionada à
entesite, nas uveítes e nas artrites associadas à doença
inflamatória intestinal
• Anti IL-1
→ anakinra
→ é um antagonista recombinante humano do
receptor da ILI, que bloqueia sua ação
→ essa ligação é reversível
→ a dose preconizada em crianças é de 1 a 2 mg/kg/
dia por via subcutânea
→ canakinumabe
→ é um anticorpo monoclonal humano contra a IL-1
→ também tem indicação na AIJ sistêmica e é usado
ARTRITE REUMATÓIDE
na dose de 2 a 4 mg/kg/ dose mensalmente por via
subcutânea
• Anti IL-6 • Doença inflamatória de etiologia desconhecida
→ tocilizumabe marcada por uma poliartrite simétrica periférica
→ é um anticorpo monoclonal humanizado anti IL-6 • Trata-se de doença em que há, desde a fase inicial pré-
recomendado na dose de 8 mg/kg/ dose (para pacientes articular, perda da autotolerância e consequente
com peso igual ou maior que 30 kg) ou I2 mg/kg/dose autoimunidade traduzidas por ativação linfocitária e
(para aqueles com peso menor que 30 kg) a intervalos produção de autoanticorpos

13
EPIDEMIOLOGIA • Nos locais onde a sinóvia e a cartilagem articular são
• Pode ocorrer em qualquer faixa etária, sendo mais contíguas, o tecido sinovial da artrite reumatóide
frequente na quarta década (chamado de pannus) invade e destrói a cartilagem, bem
• Prevalência de cerca de 0,5% a 1% como o tecido ósseo adjacente
• Sua incidência é maior no sexo feminino (2-3:1) → a inflamação crônica leva à hiperplasia da camada
• A existência de uma predisposição genética é sugerida sinovial e à formação do pannus
pela associação com antígenos de histocompatibilidade → uma membrana celular espessada de tecido
de classe II, o HLA-DR4 e DR-1 fibrovascular de coloração positiva para grânulos, que
• Os principais grupos étnicos identificados em estudos invade a cartilagem e o osso envolvidos
foram mestiços (indivíduos com ancestrais europeus e → o tipo celular mais prevalente no pannus é de
indígenas, 43%), caucasianos (31%), afro-latino- fibroblastos
americanos (indivíduos com pelo menos um ancestral • O infiltrado inflamatório é constituído de pelo menos
africano, 19%) e ameríndios (4%) seis tipos celulares
→ células T, células B, plasmócitos, células dendríticas,
mastócitos e alguns granulócitos
PATOLOGIA → as células T compreendem 30 a 50% do infiltrado,
• A sinóvia normal é composta de um revestimento com as outras células representando o restante
celular delgado (com espessura de uma a três camadas • Os fatores de crescimento secretados pelos
de células) e de um interstício subjacente que contém fibroblastos e macrófagos sinoviais promovem a
vasos sanguíneos, mas poucas células formação de novos vasos sanguíneos na endocamada
→ normalmente, a sinóvia fornece nutrientes e sinovial que supre as crescentes demandas de
lubrificação para a cartilagem articular oxigenação e nutrição dos leucócitos infiltrantes e do
→ na artrite reumatóide, diferentemente, a sinóvia é tecido sinovial em expansão
acentuadamente anormal, com uma camada de • A lesão estrutural à cartilagem mineralizada e ao osso
revestimento muito expandida (8 a 10 células de subcondral é mediada pelo osteoclasto
espessura), composta de células ativadas, e de um → eles surgem na interface pannus-osso onde
interstício altamente inflamatório, repleto de células B, eventualmente formam lacunas de reabsorção
células T e macrófagos, bem como com alterações → essas lesões se localizam onde a membrana
vasculares (como trombose e neovascularização) sinovial se insere na superfície do periósteo, nas margens
• A sinóvia consiste primariamente de dois tipos de ossos próximos à borda da cartilagem articular e nos
celulares sítios de adesão de ligamentos e bainhas tendinosas
→ sinoviócitos do tipo A (derivados de macrófagos) • Outra forma de perda óssea é a osteopenia
→ sinoviócitos do tipo B (derivados de fibroblastos) periarticular que ocorre nas articulações com inflamação
→ os fibroblastos sinoviais são os mais abundantes e ativa
produzem os componentes estruturais das articulações, → ela está associada a um afina- mento substancial das
incluindo colágeno, fibronectina e laminina, assim como trabéculas ósseas, ao longo das metáfises dos ossos e
outros constituintes extracelulares da matriz sinovial provavelmente resulta da inflamação da cavidade da
→ as camadas inferiores são constituídas de vasos medula óssea
sanguíneos e uma esparsa população de células
mononucleares dentro de uma frouxa rede de tecido
conectivo • As lesões de medula óssea observadas por RM estão
• O fluido sinovial, um ultrafiltrado de sangue, se difunde associadas a uma resposta óssea endosteal,
pelo tecido subsinovial através da membrana sinovial caracterizada pelo acúmulo de osteoblastos e deposição
para o interior da cavidade articular de osteoide
→ seus principais constituintes são • Uma terceira forma de perda óssea é a osteoporose
→ hialuronano generalizada, que leva ao afinamento do osso trabecular
→ glicosaminoglicano que contribui para a natureza em todo o corpo
viscosa do fluido sinovial • A cartilagem articular é um tecido avascular constituído
→ lubricina de uma matriz especializada de colágenos,
→ lubrifica a superfície da cartilagem articular proteoglicanos e outras proteínas
juntamente com o hialuronano → ela é organizada em quatro regiões distintas

14
→ zonas superficial, média, profunda e cartilaginosa quimiocinas como MCP-1 (CCL2) e IL-8, além de ativar
calcificada condrócitos por vias dependentes de MAP quinases
→ os condrócitos constituindo o único componente • O ativador do receptor do ligante do fator nuclear kB
celular dessas camadas (RANKL) é expresso pelas células estro- mais,
fibroblastos sinoviais e células T
→ quando ligado ao seu receptor RANK nos
PATOGENIA
progenitores dos osteoclastos, RANKL estimula a
• Os mecanismos patogênicos da inflamação sinovial são diferenciação dos osteoclastos e a reabsorção óssea
provavelmente resultantes de uma complexa interação → a atividade de RANKL é regulada pela
de fatores genéticos, ambientais e imunológicos que osteoprotegerina (OPG), um receptor ativador de RANKL
desregulam o sistema imune e levam a uma quebra da que bloqueia a formação de osteoclastos
autotolerância • O TNF-α promove a migração de leucócitos para o sítio
• O período positivo para autoanticorpos, porém inflamatório devido a sua capacidade de induzir o
assintomático, é agora definido operacionalmente como aumento da expressão de moléculas de adesão em
o período pré-clínico células do sistema imune e endoteliais, além de induzir
→ o quão assintomático se comporta o indivíduo aumento da permeabilidade vascular facilitando a saída
durante esse período não é claro de leucócitos da circulação
→ interrupção da autotolerância → também é importante na indução de outras
→ essa ideia é sustentada pelo achado de que citocinas pró-inflamatórias, como IL-1β, IL-6 e fatores
autoanticorpos, como o FR e os anticorpos anti-CCP, quimiotáticos por células presentes no foco inflamatório
podem ser encontrados no soro de pacientes muito • A IL-6 é uma citocina importante nos fenômenos de
antes do aparecimento da doença clínica lesão articular, sendo capaz de ativar macrófagos e
• Os alvos antigênicos dos anticorpos anti-CCP e do FR osteoclastos
não estão restritos à articulação e o seu papel na • O papel das citocinas não se restringe à lesão articular,
patogênese da doença permanece especulativo mas está também relacionado com o processo de
• O sistema imune é alertado para a presença de geração de resposta autoimune
infecções microbianas por meio dos receptores TRLs → o desequilíbrio de citocinas pró e anti-inflamatórias
→ TLR2, -3 e -4 são abundantemente expressos pelos tem um papel central no desencadeamento do
fibroblastos sinoviais na AR e, quando associados a seus fenômeno autoimune
ligantes, aumentam a produção de citocinas pró- • Dois tipos de linfócitos têm sido associados com este
inflamatórias balanço da resposta imune
• O aumento da perda óssea é apenas parte da história → linfócitos Th17 (pró-inflamatórios) e Treg
da AR, já que a redução da formação óssea desempenha (supressores)
um papel crucial no remodelamento do osso nos sítios
de inflamação LINFÓCITOS TH17
→ evidências recentes mostram que a inflamação • As células TCD4+ helper produtoras de IL-17
suprime a formação óssea constituem a principal população celular envolvida com
o desencadeamento da inflamação e quebra da
autotolerância da AR
• Altos níveis de IL-17 são encontrados na sinóvia de dos
PAPEL DAS CITOCINAS pacientes
• A AR é geralmente considerada como uma doença • A IL-17 pode aumentar e/ou sinergizar com os
controlada pelo macrófago, já que esse tipo celular é a mediadores inflamatórios presentes no local da
fonte predominante de citocinas pró-inflamatórias no inflamação, como IL-1β, IL-6 e TNF-α, pró-oxidantes
interior da articulação como ácido nítrico, além de promover a injúria da matriz
• Citocinas inflamatórias, como a TNF-α, IL-1β e IL-6, extracelular através da ativação de metaloproteinases
promovem a indução da expressão da expressão de (MMP) e da inibição dos componentes envolvidos no
outras citocinas, de quimiocinas e enzimas degradativas reparo tecidual como proteoglicanos e colágeno
responsáveis pelas lesões articulares verificadas na AR • A IL-17 também estimula fibroblastos, células
• A IL-1β promove a amplificação do processo endoteliais, células epiteliais e macrófagos a produzirem
inflamatório pela indução da produção de IL-6, RANKL e quimiocinas

15
• A IL-17 induz a expressão de RANKL, o qual é crucial suprimir a proliferação de células T efetoras presentes
para a diferenciação de osteoclastos funcionais no compartimento articular
resultando em reabsorção óssea • As células Treg falham em curar doenças autoimunes
bem estabelecidas, indicando que dentro de certas
LINFÓCITOS B condições inflamatórias crônicas as Treg são incapazes
• Os LB também desempenham um papel importante na de exercer sua função
iniciação e perpetuação do processo inflamatório
presente na AR LINHA DO TEMPO
• Na membrana sinovial inflamada há numerosas células • As células T CD4+ são ativadas pelas APCs através de
B, organizadas em pseudofolículos nodulares, similares a interações entre o receptor da célula T e o MHC II-
centros germinativos, envolvidas na apresentação de antígeno peptídico com coestimulação pela via de CD28-
antígenos para células T e com produção de anticorpos CD80, assim como por outras vias
contra autoantígenos, como anticorpos anti-CCP e o FR, • Em teoria, ligantes que interagem com os TLRs podem
que contribuem direta e indiretamente na patogênese posteriormente estimular a ativação das APCs no interior
da AR através da formação de imunocomplexos e fixação das articulações
do complemento na articulação • Células T sinoviais CD4+ se diferenciam em células Th1
e Th17, cada uma com seu perfil distinto de citocinas
CÉLULAS TREG • As células Th CD4+, por sua vez, ativam as células B,
• São células capazes de suprimir a resposta inflamatória algumas das quais são destinadas a se diferenciarem
• As Treg naturais constituem uma população plasmócitos produtores de anticorpos
homogênea derivada do timo, que necessitam da • Complexos imunes, possivelmente compreendidos por
ativação via TCR para se tornarem supressoras FRs e peptídeos citrulinados anticíclicos (CCp), podem se
→ uma vez ativadas, suas funções supressoras são formar no interior das articulações, ativando a via do
dependentes do contato célula-célula e/ou de fatores complemento e amplificando a inflamação
solúveis como TGF-β e IL-10 e independem do antígeno • As células T efetoras estimulam os macrófagos (M) e os
• As citocinas que compartilham o receptor α – IL-2, IL-4, fibroblastos sinoviais (FS) a secretar mediadores pró-
IL-7, IL-9, IL-15 –, são necessárias para o inflamatórios, entre os quais está o TNF-α
desenvolvimento tímico das Treg, sendo que a IL-2 é → o TNF-α regula positivamente as moléculas de
essencial para sua sobrevivência e manutenção nos sítios adesão das células endoteliais, promovendo o influxo de
periféricos leucócitos para a articulação
• A IL-6 inibe o desenvolvimento da Treg em detrimento → também estimula a produção de outros
de Th17, que por sua vez tem sua ação controlada mediadores inflamatórios, como a IL-1, IL-6 e o fator
negativamente por IL-25 e IL-27 estimulador de colônias de macrófagos e granulócitos
• Os outros subtipos de células com função reguladora (GM-CSF)
diferenciam-se a partir de células T convencionais e tem • O TNF-α possui uma função criticamente importante
características distintas das Treg naturais na regulação do equilíbrio entre a destruição e a
→ as Tr1 e Th3 são diferenciadas a partir de linfócitos formação óssea
T naìves e dependem de IL-10 e TGF-β, respectivamente → ele regula positivamente a expressão de dickkopf-1
• As Treg naturais também podem exercer suas (DKK-1) e que então poderá internalizar os receptores
atividades supressoras de modo indireto, induzida a Wnt dos precursores osteoblastos
diferenciação de células Treg específicas a um antígeno → o Wnt é um mediador solúvel que promove a
• A diferenciação de osteoclastos é significantemente osteoblastogênese e a formação óssea
reduzida na presença de células Treg → na AR, a formação óssea é inibida pela via do
→ a expressão de citocinas que são inibidoras da Wnt, provavelmente devido à ação de níveis elevados de
osteoclastogênese – IFN-γ, IL-5 e IL-10 apresentam DKK-1
valores elevados na presença de células Treg → DKK-1 é um importante inibidor da via de Wnt,
• Estão presentes na sinóvia inflamada de pacientes que age promovendo a diferenciação do osteoblasto e a
artríticos formação do osso
→ entretanto, alguns estudos demonstram que essas → além de inibir a formação óssea, o TNF-α estimula a
células apresentam um defeito na sua capacidade em osteoclastogênese

16
→ entretanto, somente ele não é suficiente para mialgia, fadiga, febre baixa, hiporexia, emagrecimento e
induzir a diferenciação de precursores de osteoclastos depressão
(Pre-OC) a osteoclastos ativados capazes de destruir os • Mais raramente, a AR apresenta-se em uma forma
ossos sistêmica (doença de Still do adulto)
→ a diferenciação de osteoclastos requer a → a maioria dos pacientes tem febre, habitualmente
presença do fator estimulador de colônias de >38,5ºC, com um padrão cotidiano de 1 a 2 picos diários
macrófagos (M-CSF) e do ligante do ativador do receptor → acompanhando os picos febris, geralmente ocorre
do fator nuclear kB (Capa), que se liga ao RANK na um eritema róseo de natureza evanescente
superfície dos Pre-OC → a coluna cervical é mais frequentemente acometida
→ no interior da articulação, o RANKL é derivado e as serosites são mais comuns que nas demais formas
principalmente de células estromais, fibroblastos iniciais da AR
sinoviais e células T → participam ainda do cortejo clínico a linfadenopatia
→ a osteoprotegerina (OPG) atua como um e a leucocitose
receptor chamariz para RANKL, dessa forma inibindo a → os estudos sorológicos para FR, anticorpos anti-CCP
osteoclastogênese e a perda óssea e anticorpos antinucleares são habitualmente negativos
e os pacientes geralmente não desenvolvem nódulos
subcutâneos
QUADRO CLÍNICO
→ muitos deles são submetidos a extensa
propedêutica clínica, sobretudo à procura de infecções
MANIFESTAÇÕES ARTICULARES E PERIARTICULARES ou neoplasias, pois o diagnóstico da doença de Still do
• Os sintomas iniciais podem ser articulares e/ou adulto permanece como de exclusão
sistêmicos • Outra forma menos frequente de apresentação da AR
• Em alguns pacientes, os sintomas iniciais consistem em é o padrão palindrômico
astenia, fadiga, mal-estar, febre baixa ou dores → a artrite é mono ou oligoarticular e o início dos
musculoesqueléticas vagas antes do início das queixas sintomas é súbito, habitualmente de forte intensidade e
articulares acompanhado por calor, edema e rubor
→ em outros pacientes, as queixas iniciais consistem → o quadro articular perdura, em média, de 12 horas
em uma poliartrite aditiva, simétrica, associada a edema a alguns dias e evolui por crises, com períodos de
e rigidez articular remissão variando de dias a vários meses
• Tipicamente, as articulações metacarpofalangianas → esse quadro pode ser semelhante à artrite
(MCFs) e interfalangianas proximais das mãos (IFPs), gotosa aguda
interfalangianas dos polegares, os punhos e as → cerca de 1/3 dos casos de reumatismo palindrômico
articulações metatarsofalangianas (MTFs) são as mais evolui para AR típica
frequentemente envolvidas na enfermidade precoce, e • A intensidade da dor depende, em parte, da fase
também os ombros e os joelhos evolutiva da doença, se muito ativa ou compensada; do
→ com a evolução da doença, outras articulações psiquismo do paciente; da gravidade do acometimento
costumam ser afetadas articular e da presença de instabilidades articulares e
→ os tornozelos, os cotovelos, as IFPs dos pés, a deformidades
coluna cervical, as esternoclaviculares, as → de modo geral, a dor é moderada e permite ao
temporomandibulares, as coxofemorais, as paciente realizar, pelo menos em parte, suas atividades
cricoaritenóideas e, de forma menos frequente, as da vida diária
articulações entre os ossículos dos ouvidos e as → caracteristicamente, a dor é de ritmo inflamatório
interfalangianas distais (IFDs) de mãos e pés (pior pela manhã e à noite) e, via de regra, o paciente se
• O acometimento articular se dá de maneira aditiva, queixa de rigidez articular ao levantar-se pela manhã e
sendo que a forma simétrica de acometimento é a regra após períodos de imobilização prolongada
na doença já estabelecida → a duração dessa rigidez matinal constitui um bom
• Em aproximadamente 15 a 30% dos pacientes o início parâmetro para se avaliar a atividade da enfermidade,
da doença se faz de forma aguda ou subaguda isto é, o grau de inflamação, e a eficácia do tratamento
→ os sintomas articulares clássicos da doença → em geral, quanto maior a duração, maior é a
desenvolvem-se em um período de poucos dias a atividade da doença
algumas semanas e não é infrequente a presença de → a rigidez matinal constitui também parâmetro
importante para o diagnóstico, já que são pouco
17
frequentes as moléstias reumáticas inflamatórias em
que este sintoma tenha duração > 60 minutos, como na
AR
• As alterações locais de inflamação articular são
frequentes, em especial com a presença de calor, edema
com ou sem efusão (derrame articular), rubor
(geralmente leve) e limitação de movimentos articulares
→ nos casos de evolução mais longa ou quando o
tratamento não se realizou de forma adequada, são
comuns as instabilidades articulares e as deformidades
• A doença articular resulta, em última análise, de
alterações locais e periarticulares, cujo aspecto é
bastante peculiar
→ nas mãos e punhos, pode-se observar tumefação
das articulações MCFs, em especial da segunda e
terceira, bem como tumefação dos punhos
→ essas alterações associam-se frequentemente a
→ dedos em pescoço de cisne:
uma hipotrofia dos músculos interósseos do dorso das
→ ocorrem pela hiperextensão das articulações IFPs
mãos
e flexão das IFDs
→ mãos em dorso de camelo
• Outra característica da mão reumatoide é a semiflexão
dos punhos, com saliência da cabeça da ulna e o desvio
ulnar dos dedos, ligado a um afrouxamento dos meios de
contenção das articulações MCFs
→ ocorre subluxação das articulações MCFs e dos
tendões extensores dos dedos nos espaços
intermetacarpianos

→ dedos em botoeira
→ caracterizados por uma flexão das articulações
IFPs e hiperextensão das IFDs

• Outras deformidades dos dedos que podem ser vistas


na AR estabelecida são
→ dedos em fuso
→ secundários à tumefação das articulações IFPs

18
→ dedos em martelo
→ formados pela flexão permanente das articulações
IFDs
→ o acometimento dos polegares ocorre em uma
→ podem ocorrer, ainda, hálux valgo e calos sobre as
posição em Z, secundária a flexão das articulações MCFs
articulações IFPs, que muitas vezes se encontram em
e hiperextensão das articulações interfalangianas
hiperflexão
→ o polegar em adução pela artrite
→ o acometimento dos tornozelos e das articulações
trapeziometacarpiana se deve à luxação para cima e para
subtalares pode levar à claudicação durante a marcha
dentro do primeiro metacarpiano
→ o acometimento da articulação subtalar leva a
• Os cotovelos, tumefeitos e dolorosos pela presença de
redução da inversão e eversão do pé, precedendo e
inflamação, podem apresentar-se em rigidez viciosa
ocorrendo de forma mais frequente que o
→ semiflexão com semipronação de antebraços
acometimento da articulação do tornozelo, responsável
• Os ombros tendem a uma posição de adução e rotação
pelos movimentos de flexoextensão do pé
interna, levando à dificuldade na execução de tarefas da
→ a sinovite das articulações subtalar e talonavicular
vida diária, como o uso do toalete, pentear os cabelos e
causa dor e rigidez
vestir-se
→ à medida que ocorrem perda da cartilagem e erosão
• Nos pés e tornozelos, são inicialmente acometidas as
óssea, aparece a deformidade em valgo com progressivo
articulações MTFs e as do tarso
achatamento do arco plantar longitudinal
→ a retificação, ou desabamento, do arco anterior
(metatarsiano) cria um pé plano anterior seguido por
calosidades localizadas nas regiões de apoio sob as
cabeças metatarsianas luxadas
→ essas alterações levam a queixa de dor ao pisar e
deambular, em que o paciente diz que se sente como
"andando sobre pedregulhos”

19
• O acometimento das coxofemorais (CXFs) ocorre de
forma mais rara na AR, mas essas articulações podem ser
afetadas tanto diretamente pela doença como
indiretamente, pelo aparecimento de osteoartrite
secundária
→ A artrite de CXFs tende a levar a uma atitude de
semiflexão e adução, muito incapacitante para a marcha,
para a relação sexual e para o parto
• O acometimento da coluna vertebral é, na maioria das
vezes, limitado à coluna cervical, particularmente à sua
porção superior
→ pode haver envolvimento da articulação sinovial
entre o ligamento transverso do atlas (Cl) e o aspecto
posterior do processo odontoide de C2
→ o ligamento transverso impede que ocorra o
deslizamento anterior de C 1 sobre C2 e a sinovite dessa
articulação pode comprometê-lo, levando ao
aparecimento de subluxação ou luxação
→ as manifestações clínicas dessas alterações são
dores cervicais altas, rigidez do pescoço e, às vezes, sinais
neurológicos de compressão medular
→ a compressão, dependendo do seu grau, pode ser
potencialmente fatal
• O acometimento das articulações
• Os joelhos são acometidos de forma precoce e quase temporomandibulares pode provocar dor local e
sempre apresentam efusões articulares de intensidade dificuldades na mastigação
variável → ocasionalmente, a articulação cricoaritenóidea pode
→ a posição de repouso e alívio da dor é a semiflexão, ser acometida, levando a rouquidão
tornando-se necessário impedi-la, por ser naturalmente • As manifestações periarticulares são resultantes da
incompatível com a marcha normal extensão do processo inflamatório articular para outras
• A artrite ativa e persistente dessas articulações, estruturas do tecido conjuntivo
somada às atitudes viciosas, podem resultar em → como consequência, podem ocorrer
relaxamento das formações ligamentotendinosas e em → tenossinovite estenosante estilorradial
deformidades do tipo valgo ou varo (tenossinovite de De Quervain): inflamação do tendão do
extensor curto e abdutor longo do polegar e de suas
respectivas bainhas
→ tenossinovite estenosante dos flexores dos dedos
das mãos ("dedos em gatilho")
→ síndrome do túnel do carpo e do tarso
→ rupturas tendinosas nas mãos, levando à
impotência na extensão dos dedos
→ bursites e cistos sinoviais
→ quando vistos na região posterior dos joelhos
(fossa poplítea), são denominados cistos de Baker
→ formam-se na porção medial dos músculos
gastrocnêmico e semimembranoso e podem se
comunicar com a articulação
→ sua ruptura leva a uma invasão dolorosa das
partes moles da panturrilha pelo líquido sinovial e, nesse
caso, impõe-se o diagnóstico diferencial com
tromboflebite ou trombose venosa profunda da
panturrilha
20
MANIFESTAÇÕES EXTRA-ARTICULARES E ACOMETIMENTO → pode haver ulceração cutânea, incluindo o
SISTÊMICO aparecimento de pioderma gangrenoso
• As complicações da AR podem, eventualmente, ser → a arterite visceral pode acometer coração, pulmões,
fatais intestinos, rins, fígado, baço, pâncreas, linfonodos e
→ em geral, a frequência e a gravidade das testículos
manifestações extra-articulares variam muito com a • A neuropatia periférica, secundária à vasculite dos
própria duração da doença e sua gravidade vasa-nervorum, varia de uma forma sensorial discreta a
• No início da enfermidade, são frequentemente uma neuropatia mista (mononeurite múltipla) de grave
encontrados sintomas e sinais sistêmicos como astenia, evolução
hiporexia, ansiedade, mialgia e emagrecimento leve • As formas de acometimento do sistema nervoso
→ pode haver também, mais raramente, incluem nódulos no SNC, mielopatia cervical e
linfadenopatia e febre baixa a moderada compressões nervosas periféricas
→ esses sintomas podem preceder ou acompanhar o • A pericardite e a miocardite habitualmente não
início das manifestações articulares provocam sintomatologia nos pacientes reumatoides
• A pele pode ser modificada por hipotrofias, eritemas, → no entanto, por meio da ecocardiografia, podem-se
alterações secundárias a vasculites e, de forma menos observar efusão e/ou espessamento pericárdico em até
frequente, fenômeno de Reynaud 30% dos pacientes
• As unhas podem se tornar quebradiças • Os eventos cardiovasculares isquêmicos ocorrem
• Os corticoides são responsáveis por atrofia cutânea e aproximadamente uma década mais cedo nos pacientes
pela presença de equimoses com AR, sugerindo que, assim como o diabetes mellitus,
• Os nódulos subcutâneos são, possivelmente, as essa doença é um fator de risco independente e
manifestações extra-articulares mais frequentes, significativo para doença arterial coronariana (DAC)
ocorrendo em 20 a 40% dos pacientes → a causa da aterosclerose precoce e acelerada não
→ eles ocorrem principalmente em pacientes que têm está completamente elucidada, mas é provável que a
o FR positivo e, mais raramente, nos soronegativos combinação de fatores de risco tradicionais e não
→ apresentam-se de tamanho variado, de alguns tradicionais para DAC, como a inflamação persistente,
milímetros a vários centímetros de diâmetro, são sejam importantes para o aparecimento e
indolores e muitas vezes móveis nos planos superficiais desenvolvimento da aterosclerose subclínica e
→ sua identificação reveste-se de especial importância, clinicamente manifesta nos pacientes
já que os pacientes nodulares apresentam comumente → além disso, pacientes com manifestações extra-
evolução mais tormentosa e maior índice de articulares, geralmente associadas a maior inflamação
manifestações extra-articulares viscerais sistêmica, apresentam maior mortalidade por DCV
→ seu aspecto histológico é considerado característico, • Variadas e frequentes, as manifestações pulmonares
apesar de não ser completamente patognomônico podem ser as iniciais da doença, sendo responsáveis por
→ pode ser identificado um foco de necrose 10% a 20% das mortes dos pacientes com AR
fibrinoide central circundado por fibroblastos → pode ocorrer o acometimento de qualquer um dos
→ acredita-se que seja o resultado de vasculite de componentes do trato respiratório, principalmente na
pequenos vasos forma de pleurite com ou sem derrame, nódulos
• Uma das alterações patológicas iniciais da AR inclui pulmonares, fibrose intersticial e pneumonite com ou
alterações inflamatórias em pequenos vasos sem vasculite
→ entretanto, no que se refere à vasculite manifesta → a pleurite e o derrame pleural são mais comuns em
como complicação, o foco é nas artérias ou arteríolas pacientes do sexo masculino, com FR em altos títulos e
que levam a ulceração cutânea, neuropatia periférica ou nódulos subcutâneos
acometimento de órgãos internos → derrame pleural assintomático pode estar
→ trata-se de manifestação menos comum e sua presente em até 70% dos pacientes, enquanto sintomas
presença geralmente está associada à AR grave, ativa e estão presentes somente em 5%
com anos de evolução → o derrame pleural da AR é um exsudato com pH
→ a arterite de pequenos e médios vasos varia desde a baixo (<7,3), glicose baixa (<50% do nível sérico),
formação de pequenos pontos hemorrágicos nos cantos desidrogenase lática elevada (> 700 UI/L) e dosagem do
das unhas até gangrena, osteólise digital e púrpura FR elevada
palpável • Os olhos são acometidos em cerca de 15% a 25% dos
casos de AR, sendo a ceratoconjuntivite seca a
21
manifestação mais comum, afetando cerca de 10% dos → individualmente, sua utilidade como teste
pacientes diagnóstico é limitado, já que 30% a 50% dos pacientes,
→ quando se associa a um comprometimento no início do quadro, podem ser soronegativos para esse
inflamatório das glândulas salivares, cuja tradução mais autoanticorpo
comum é a xerostomia, tem-se a síndrome de Sjögren → a negatividade do FR não exclui o diagnóstico de AR
secundária e sua positividade deve ser cuidadosamente
→ o quadro ocular é representado por diminuição da interpretada de acordo com os achados clínicos
secreção lacrimal, conjuntivite papilar crônica e • A família de autoanticorpos mais específica para AR é a
alterações corneanas representadas pelas ceratites direcionada contra proteínas citrulinadas, os ACPAs, os
→ o início é, habitualmente, insidioso e o quais constituem ferramenta diagnóstica importante
acometimento, em geral, bilateral para a AR, com sensibilidade semelhante e
• Frequentemente, encontram-se também especificidade superior à do FR, além de possível
ressecamento difuso das mucosas, evidências participação na fisiopatologia da doença
sorológicas de autorreatividade (positividade dos → entre os antígenos citrulinados reconhecidos por
anticorpos fator antinuclear [FAN], anti-SSA/Ro e anti- autoanticorpos na AR encontraram-se a profilagrina, a
SSB/La) e infiltração linfocitária tecidual ftlagrina e a vimentina
• A síndrome de Felty é definida como AR em → os testes sorológicos para detecção destes
combinação com esplenomegalia e leucopenia anticorpos foram otimizados mediante o uso de
→ esta síndrome ocorre caracteristicamente em peptídeos citrulinados cíclicos (CCP) detectados pelo
pacientes com doença de anos de evolução, com FR ELISA
positivo, nódulos e deformidades → esses anticorpos, chamados anticorpos anti-CCP,
demonstraram boa aplicabilidade clínica e podem ser
detectados em aproximadamente 70% a 80% dos soros
MANIFESTAÇÕES LABORATORIAIS
de pessoas com AR com especificidade de 90% a 98%
• Pode ser detectada no hemograma uma anemia • A presença desses anticorpos no paciente com AR não
moderada, que é normocítica e hipocrômica ou apresenta valor prognóstico
normocrô mica, encontrada nas formas mais ativas da → os casos que se associam à síndrome de Sjögren
doença, sendo seu mecanismo o habitual das doenças cursam, com maior frequência, com positividade para os
crônicas anticorpos antinucleares, inclusive com a presença dos
• A concentração sérica do ferro pode estar baixa, típicos marcadores imunológicos da síndrome: anti-SSA
enquanto a ferritina pode estar elevada por ser um, e anti-SSB
reagente de fase aguda • A análise do líquido sinovial pode revelar redução de
• É possível encontrar, leucocitose (correlação com sua viscosidade, aspecto turvo e presença de
atividade de doença, mas vasculite, infecção e/ou uso de leucocitose, à custa de neutrofilia e/ ou monocitose
corticosteroide podem também ser responsáveis),
eosinofilia (correlação positiva com soropositividade
para FR) e trombocitose (correlação positiva com EXAMES DE IMAGEM
atividade de doença e presença de manifestações • As alterações à radiografia convencional na AR
clínicas extra-articulares) repetem as características clínicas do acometimento
• As provas de atividade inflamatória, embora simétrico das articulações sinoviais e são clássicas da
desprovidas de especificidade, são os marcadores doença
laboratoriais mais utilizados para avaliar o grau de • As modificações estruturais nas pequenas articulações
atividade da AR e a evolução do processo inflamatório das mãos e dos pés são as mais precoces e mais
→ as mais usadas na prática são VHS e a dosagem PCR frequentes entre as do esqueleto apendicular
• Alguns anticorpos atuam como potenciais marcadores • Na prática clínica indica-se a realização de radiografias
de diagnóstico na AR, entre eles o FR e diversos de mãos/punhos e antepés como avaliação básica e,
anticorpos antiproteínas e peptídeos citrulinados depois do diagnóstico, 12 meses seria o período
(ACPA), incluindo os anti-CCPs recomendado para o acompanhamento radiográfico
• O FR é constituído por autoanticorpos de diferentes • Entre as manifestações radiográficas na AR citam-se
classes de imunoglobulinas (IgM, IgG e IgA) dirigidos → simetria: constitui importante critério diagnóstico
contra determinantes antigênicos do fragmento Fc das → osteopenia: alteração característica e precoce
IgGs
22
→ no início, é periarticular, e com a evolução torna- DIAGNÓSTICO
se mais difusa
• O diagnóstico da AR é basicamente clínico, não
→ aumento de partes moles: traduz acometimento
existindo exame complementar, seja laboratorial, de
periarticular ou efusões intra-articulares
imagem ou histopatológico, que isoladamente possa
→ é uma alteração precoce
confirmá-lo ou descartá-lo
→ redução do espaço articular: deve-se à destruição
• O diagnóstico é estabelecido considerando-se as
progressiva da cartilagem articular
manifestações clínicas e os exames complementares
→ erosões ósseas: indicam destruição da cartilagem
• Quando a AR se apresenta em sua forma bem definida,
articular e ocorrem em casos mais avançados da doença
com todos os achados típicos, o reconhecimento é
→ cistos ósseos ou geodas: são representados por
facilitado
áreas translúcidas subcondrais e se devem à invasão da
→ contudo, na fase inicial da doença, o diagnóstico
cartilagem e do osso pelo pannus reumatoide
pode ser difícil, já que as alterações sorológicas e
→ deformidades e instabilidades: relacionam-se com
radiográficas características muitas vezes estão ausentes
as lesões tendinosas, como frouxidão e rupturas, e às
vezes têm relação direta com destruição cartilaginosa ou
óssea, como a protrusão acetabular
• A US é um método não invasivo e de custo acessível
que tem capacidade de detectar sinovite, acúmulo de
fluido articular e erosão óssea na AR
→ os transdutores de US de alta frequência permitem
a avaliação de articulações pequenas e podem ser
usados para visualizar outras estruturas, como
cartilagem, superfície óssea, bainhas tendinosas e
proliferação sinovial
→ contudo, o diagnóstico por US não fornece
informações úteis sobre o acometimento intraósseo
(edema ósseo)
→ a utilização do Doppler colorido permite a avaliação
da vascularização sinovial, cujos achados podem ser
muito úteis no monitoramento terapêutico, visto que há
hiperfluxo durante fase ativa da doença
• A capacidade da RM para fornecer informações
adicionais e mais sensíveis que o exame clínico ou a
radiografia convencional é bem estabelecida, sendo mais
sensível que a radiografia simples para identificar
erosões cartilaginosas e ósseas
→ com a RM também é possível identificar e estimar o
volume de tecido sinovial hipertrofiado, que, por sua vez,
correlaciona-se com o desenvolvimento futuro de dano
cartilaginoso e erosões ósseas
→ preconiza-se a realização da RM em um lado
somente, uma vez que isso reduz tempo, custo e
desconforto para o paciente
→ o estudo do lado mais acometido é rotineiramente
usado e as áreas de interesse são punho, articulações
metacarpofalangianas e interfalangianas proximais
→ o uso do contraste intravenoso (gadolínio) é
necessário para estimar o grau de inflamação sinovial e
para auxiliar na diferenciação entre o aumento da
sinóvia e o edema dos tecidos ao redor da articulação

23
o curso da doença em longo prazo, o que pode resultar
em melhor controle da doença, com a possibilidade de
remissão sustentada
• O médico assistente deve ter a percepção suficiente
para indicar, no momento oportuno, auxílio
psicoterápico e/ou o uso de drogas antidepressivas
• O repouso é uma das medidas mais efetivas no
combate à dor e à inflamação, sendo particularmente
útil após o almoço e de duração variável, segundo a
atividade da doença
• A hospitalização é indicada para pacientes com
comprometimento mais acentuado do estado geral,
febre e complicações viscerais, ou quando suas
condições clínicas não permitam terapia física em regime
ambulatorial
• As articulações inflamadas devem ser deixadas em
repouso, evitando-se posições viciosas antiálgicas, o que
se consegue pelo uso de órteses, que, além de
melhorarem o quadro doloroso, atuam na redução do
→ pontuação maior ou igual a 6 é necessária para a espasmo muscular
classificação definitiva da enfermidade de um paciente • Para o combate à dor e à inflamação por via sistêmica
como AR são utilizados os medicamentos analgésicos e os AINEs
→ somente devem ser avaliados pelos critérios de 2010 de forma extremamente individualizada
os indivíduos que apresentem pelo menos uma → os analgésicos comuns e opioides podem ser
articulação com sinovite clínica definida (edema) que necessários para alguns pacientes, mas são
não seja mais bem explicada por outra doença administrados por curtos períodos
→ entre os AINEs convencionais para utilização em
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL pacientes com artrite reumatoide, entre outros, podem-
se citar: indometacina (100 mg a 150 mg/dia),
diclofenaco (100 mg a 150 mg/dia), naproxeno (1.000
mg/dia), cetoprofeno (100 mg a 150 mg/dia), piroxicam
e tenoxicam (20 mg/dia). Entre os inibidores seletivos
são usados a nimesulida (200 mg/dia) e o meloxicam (15
mg/ dia), e entre os inibidores específicos, o celecoxib
(200 mg/dia)
→ apresentando-se bem o paciente, com
enfermidade de baixa atividade, com o objetivo de
reduzir as possibilidades de paraefeitos, pode-se reduzir
o AINH para uma pequena dose de manutenção, como:
indometacina 50 mg/dia, diclofenaco 50 mg/dia,
naproxeno 500 mg/dia, cetoprofeno 50 mg/dia,
piroxicam e tenoxicam 10 mg/dia, nimesulida 100
mg/dia, meloxicam 7,5 mg/dia ou celecoxib 100 mg/ dia
• Na artrite reumatoide, os cortiFcoides estão
reservados para duas eventualidades principais

TRATAMENTO → na primeira, são associados aos AINHs em pacientes


• Os primeiros 12 meses da doença, considerada artrite que principiam o uso de drogas remissivas, até que essas
reumatoide inicial, são referidos como uma janela de realizem sua atividade terapêutica
oportunidade terapêutica → nesse caso, a dose da medicação não deve
→ é o momento em que a introdução de ultrapassar o equivalente a 15 mg/dia de prednisona
medicamentos de maneira rápida e efetiva pode mudar
24
→ a segunda eventualidade é a vigência de • Caso não se observe melhora ou controle da doença
manifestações sistêmicas extra-articulares da doença, com a dose inicial, deve-se aumentar progressivamente
como as vasculites e o envolvimento pulmonar, a dose, após cada 2 a 4 semanas de tratamento, até se
administrados em dose diária oral ou na forma de alcançar a dose máxima (20 mg a 30 mg)
pulsoterapia venosa de metilprednisolona → é administrado em 2 a 3 tomadas, com intervalos
→ os pacientes que usarão glicocorticoides por tempo aproximados de 12 horas
prolongado (mais de 3 meses) devem receber → as vias SC ou parenteral podem ser indicadas
suplementação de cálcio (1.500 mg/dia de cálcio àqueles com intolerância gastrointestinal ou resposta
elementar) e vitamina D3 (400 a 800 UI/ dia) e avaliados inadequada com a via oral
quanto à possibilidade de desenvolvimento de • Deve ser monitorado, principalmente, por sua
osteoporose toxicidade hepática, renal e hematológica, e seus efeitos
→ se necessário, o uso de agentes antirreabsortivos terapêuticos são esperados em 4 a 12 semanas
deve ser considerado • Contraindicado a pacientes hepatopatas ou
• As punções articulares de alívio devem ser realizadas alcoólatras, na presença de insuficiência renal e àqueles
sempre que indicado, e as infiltrações periarticulares e com supressão da medula óssea
intra-articulares de esteroides devem obedecer aos • Não deve ser administrado durante a gravidez, por ser
preceitos estabelecidos nessa modalidade de terapia teratogênico
• As infiltrações com glicocorticoides estão indicados → as mulheres em idade fértil devem, portanto,
para os casos de mono ou oligoartrites persistentes realizar anticoncepção
• Pacientes que referem astenia, fadiga ou outros
REDUÇÃO DOS SURTOS DE EXACERBAÇÃO E eventos adversos com o uso do MTX terão esses efeitos
PROLONGAMENTO DOS PERÍODOS DE REMISSÃO minimizados com o uso de ácido fólico, 1 mg a 2 mg/dia
• Esses objetivos são alcançados com o uso de DMCD, já ou 5 mg a 10 mg/semana, 24-48 horas após a
que necessitam de um período de latência para o seu administração
efeito
→ são usadas habitualmente em associação com os ANTIMALÁRICOS
AINEs e os corticoides • Têm seu uso recomendado como esquema inicial no
tratamento da AR associados aos AINHs e aos corticoides
METOTREXATO • Apresentam efeitos anti-inflamatórios com a inibição
• É um inibidor seletivo da enzima dihidrofolato redutase da síntese de IL-1, a proliferação de linfócitos e a
(DHFR) e de outras enzimas folato-dependentes, como a apresentação e o processamento de antígenos
AICAR transformilase (AICAR T'ase) • Os antimaláricos inibiriam a ação de determinadas
• O mecanismo de ação do MTX na artrite reumatoide enzimas proteolíticas pela alteração do pH do interior de
não é totalmente conhecido organelas lisossomais
→ a inibição das enzimas folato-dependentes, • As melhores respostas são obtidas nos pacientes em
principalmente da AICAR T'ase, reduziria a acumulação fase inicial da doença e cuja artrite é de leve intensidade,
de leucócitos nos sítios inflamatórios e interferiria na e os resultados são obtidos, em média, após 3 a 6 meses
síntese das interleucinas, principalmente IL-1 e IL-6, e do de uso
fator de necrose tumoral alfa (TNF-a) • A dose diária não deve ser > 4 mg/kg para o difosfato
• Agente modificador de doença de primeira escolha, de cloroquina (máximo de 250 mg/dia) nem> 6
principalmente nas ARs moderadas a graves mg/kg/dia para a hidroxicloroquina (máximo de 400
• O MTX é considerado atualmente a droga "âncora' para mg/dia)
a associação das demais DMCDs • Podem ser administrados por longo período,
→ ele é capaz de reduzir sinais e sintomas de atividade dependendo da tolerância, especialmente a ocular
da AR, melhorar o estado funcional, além de bloquear a • São contraindicados a pacientes que apresentem
progressão das lesões radiográficas alterações retinianas e de campo visual
• Pode ser usado isoladamente ou associado a outros → é obrigatória a avaliação ocular antes da introdução
medicamentos, como os antimaláricos, a sulfassalazina, dos antimaláricos e a cada 12 meses
a leflunomida e a ciclosporina A • Os efeitos colaterais mais frequentes consistem em
• Recomenda-se que a dose inicial seja de 10 mg a 15 náuseas, dor epigástrica e rash cutâneo
mg/ semana, por VO, SC ou IM • Embora cruzem a barreira placentária, parece não
haver efeitos colaterais para o feto
25
→ mesmo assim devem ser evitados na gravidez ou → A dose de 20 mg em dias alternados pode ser
usados com cautela indicada para aqueles que apresentam eventos adversos
→ não há contraindicação para a amamentação ou para a manutenção terapêutica
• Pode ser usada na AR moderada e/ ou grave,
SULFASSALAZINA isoladamente, naqueles pacientes que não respondem
• Medicamento de uso regular nas doenças inflamatórias ao tratamento com o MTX ou, mesmo, podem ser
intestinais utilizadas ambas as drogas em associação
• Tem importantes efeitos anti-inflamatórios e • Seus principais efeitos colaterais são rash cutâneo,
imunomoduladores, inibindo a síntese de IL-1α a e IL-1β alopecia reversível, náuseas, diarreia, hipertensão
e TNF-a, a proliferação de células B e a migração de arterial, neuropatia periférica (habitualmente
leucócitos reversível), leucopenia e elevação de enzimas hepáticas
• Menos eficaz que o MTX e quase tão eficaz quanto os • Quando associada ao MTX, a leflunomida pode
sais de ouro e a D penicilamina, e seus benefícios se potencializar os efeitos tóxicos dessa droga sobre a
fazem notar entre a 4ª e a 12ª semana do início de sua medula óssea, podendo levar à pancitopenia
utilização → portanto, quando essas drogas são utilizadas em
• A dose usada em pacientes com AR varia de 1-3 g/dia, associação, nos primeiros meses, seriam interessantes a
habitualmente em 2 tomadas diárias, após as principais realização de hemograma e a monitoração dos níveis de
refeições albumina e das enzimas séricas hepáticas a cada 1 ou 2
• Parece que os seus efeitos terapêuticos persistem meses
apenas enquanto a droga é utilizada, e os efeitos • Pode também potencializar o efeito anticoagulante da
colaterais gastrointestinais constituem um fator varfarina
limitante ao seu uso em doses adequadas, em especial • Absolutamente contraindicada na gravidez ou para
náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia mulheres com potencial de gravidez por sua
• Contraindicada a pacientes com história de teratogenicidade
hipersensibilidade a sulfas e salicilatos • Outras contraindicações ao uso da leflunomida seriam
• Pode também ser utilizada em associação ao MTX ou a insuficiência renal e as hepatopatias
aos antimaláricos, e estudos mostram que essa
associação tríplice apresenta melhores resultados do CICLOSPORINA
que quando as associações ocorrem isoladamente • Difunde-se pela membrana celular e, por mecanismos
• Embora não haja relatos de teratogenicidade com o de inibição enzimática, reduz a síntese de IL-2 e outras
uso de sulfassalazina, ela deve ser evitada durante a citocinas com redução da proliferação de linfócitos T e
gravidez da ativação de linfócitos B
• Pode ser usada no tratamento de pacientes
LEFLUNOMIDA reumatoides isoladamente ou em associação ao MTX
• Inibidor de síntese de pirimidina que reduz a • A posologia habitual é de 2,5 a 5 mg/kg/ dia, e a
proliferação de células T por meio do seu metabólito monitoração é cuidadosa para nefrotoxicidade e
ativo, a teriflunomida mielossupressão
• Bem absorvida por via oral, e a teriflunomida tem uma • Está contraindicada a pacientes com alteração da
meia-vida de aproximadamente 15 dias função renal, hipertensão não controlada e malignidade
• Devido à extensa recirculação enterohepática da → se houver o desenvolvimento de hipertensão e
teriflunomida, ela pode persistir em níveis plasmáticos > aumento de creatinina em 30% do valor basal, deve ser
0,02 mg/L por até 2 anos, razão pela qual as mulheres realizada redução de 25% a 50% da dose
com potencial para engravidar devem fazer uso de → persistindo hipertensão e aumento de creatinina,
contraceptivos por igual período o tratamento deve ser descontinuado
• Melhora a atividade de doença e a qualidade de vida e • É um medicamento de alto custo e com importante
reduz a progressão radiográfica potencial de efeitos colaterais, sendo utilizado como
• Pode ser administrada uma dose inicial de 100 mg/ dia droga de exceção em pacientes reumatoides
por 3 dias (não obrigatória) e, depois, uma dose de
manutenção de 20 mg/ dia

26
AZATIOPRINA E CICLOFOSFAMIDA → é um anticorpo monoclonal quimérico
• Indicadas para pacientes que não respondem aos camundongo/humano anti-TNF-alfa
tratamentos anteriores e para os que apresentam → deve ser administrado na dose de 3 mg/kg IV,
vasculite sistêmica ou doença pulmonar intersticial seguida da mesma dose na 2ª e 6ª semanas e, a seguir, a
• A azatioprina é convertida na 6-mercaptopurina (6MP), cada 8 semanas
seu princípio ativo. A 6-MP interfere na síntese do DNA, → deve, preferencialmente, ser utilizado com MTX
com redução da proliferação de linfócitos B e, talvez, (dose > 7,5mg/semana), podendo também ser associado
linfócitos T a leflunomida ou azatioprina quando houver
• É utilizada na dose de 1,5 mg a 2,5 mg/kg/dia e seus contraindicação ao uso de MTX
efeitos terapêuticos são observados em 2 a 3 meses → caso ocorra falha na resposta ou diminuição da
• Regularmente os pacientes devem ser avaliados para ação, a dose pode ser aumentada ou o período entre as
supressão da medula óssea, particularmente leucopenia aplicações pode ser diminuído
e neutropenia → certolizumabe
• Evitar seu uso durante a gestação → é um fragmento Fab de um anticorpo anti-TNF
• A ciclofosfamida é um agente alquilante que atua humanizado, com alta afinidade ao TNF, conjugado com
cindindo o DNA e afetando as células em todas as fases duas moléculas de polietilenoglicol
de seu ciclo de crescimento. Isso leva à redução dos → é prescrito para aplicação subcutânea na dose de
níveis circulantes de anticorpos e imunocomplexos 400 mg a cada 2 semanas, nas semanas 0, 2 e 4, e, após
• Pode ser usada VO na dose de 1 mg a 2 mg/kg/dia ou isso, na dose de 200 mg a cada 2 semanas ou 400 mg a
por via IV na dose de 500 mg a 1.000 mg/m2 cada 4 semanas
• Os paraefeitos mais comumente observados são → golimumabe
mielossupressão (particularmente neutropenia), → é um anticorpo monoclonal humano anti-TNF
disfunção gonadal (oligospermia e disfunção ovariana), → deve ser administrado mensalmente na dose de 50
hematúria, alopecia e intolerância gastrointestinal mg SC
(particularmente náuseas e vômitos) • Depletor de linfócito B
→ rituximabe
AGENTES BIOLÓGICOS → indicado a pacientes com AR em atividade
• Estão indicados para os pacientes que persistem com moderada a grave que tiveram falha terapêutica ao
atividade da doença apesar do tratamento com pelo agente anti-TNF
menos 2 dos esquemas propostos anteriormente, → é administrado na dose de 1.000 mg em 2 infusões
incluindo MTX endovenosas (EV) em um intervalo de 15 dias
• Os agentes biológicos devem ser utilizados em → utilizado preferencialmente em associação ao
associação a uma DMCD, preferencialmente com MTX MTX, podendo ser usado em monoterapia
• Bloqueadores de TNF → os pacientes com boa resposta ao tratamento
→ adalimumabe podem ser submetidos a novo curso de rituximabe, caso
→ é um anticorpo monoclonal humano anti TNF-alfa reativem a doença
→ administra-se por via SC, 1 vez a cada 2 semanas, → fazer rastreamento para hepatites B e C
na dose de 40 mg • Bloqueador da coestimulação do linfócito T
→ pode ser utilizado como monoterapia ou associado → abatacepte
ao MTX → age modulando seletivamente os sinais
→ o uso combinado com o MTX é seguro e propicia coestimulatórios do CD80 ou CD86-CD28 requeridos
rápido benefício no controle da atividade da doença para a ativação total das células T, diminuindo, portanto,
→ etanercepte a resposta imune relacionada com o linfócito T
→ é uma proteína de fusão recombinante de → é indicado para pacientes com AR em atividade
receptor solúvel de TNF-alfa, totalmente humana, ligada moderada a severa que tiveram falha terapêutica com as
à porção Fc da IgG1 humana DMCDs ou com os agentes anti-TNF
→ liga-se ao TNF em excesso, regulando a cascata → pode ser utilizado associado às DMCDs ou como
inflamatória monoterapia ou apresentar efeitos adversos como
→ pode ser administrado como monoterapia ou reações durante a infusão e infecções das vias aéreas
associado ao MTX superiores, geralmente de intensidade leve a moderada
→ é utilizado por via SC, 50 mg 1 vez por semana → é contraindicado durante a gravidez e não deve ser
→ infliximabe administrado concomitante ao agente anti-TNF, pois
27
essa associação apresenta mais infecções, incluindo as → caso o paciente tenha sido tratado há menos de 5
graves anos, o rituximabe é o biológico recomendado
→ deve ser administrado como infusão EV, durante → aos pacientes que tiveram melanoma de pele ou
30 minutos, na dose de 500 mg aos pacientes com menos doença linfoproliferativa, previamente tratados, o
de 60 kg; 750 mg àqueles entre 60 kg e 100 kg; e 1.000 rituximabe também é o biológico recomendado para o
mg aos com mais de 100 kg tratamento da AR
→ as doses seguintes devem ser administradas 2 e
4 semanas após a dose inicial e, depois, a cada 4 semanas ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA
• Bloqueador do receptor de IL-6 • As DMCDs sintéticas são as drogas consideradas de
→ tocilizumabe primeira linha e o MTX deve ser a DMCD de primeira
→ é um anticorpo monoclonal humanizado que se escolha
liga ao receptor de IL-6, inibindo o efeito da IL-6. Pode → sulfassalazina ou leflunomida podem ser utilizadas
ser usa, do em monoterapia, associado ao MTX ou a em caso de contraindicação ao MTX ou na sua falha
outras DMCDs → quando não ocorre resposta adequada ao MTX com
→ é administrado na dose de 8 mg/kg, IV, a cada 4 dose máxima, ou devido a eventos adversos, deve-se
semanas utilizar outra DMCD em monoterapia ou em combinação
→ estudos clínicos têm demonstrado que o → do ponto de vista prático, a associação de DMCD
tocilizumabe é efetivo em diminuir sinais e sintomas e deveria ser a escolha, pois se evita perda de tempo com
diminuir a progressão radiográfica da AR nos pacientes trocas que podem ser ineficazes
que falharam com outras DMCDs → quando se associa e o paciente melhora, pode-se
gradativamente diminuir até a suspensão do MTX,
CONTRAINDICAÇÃO DOS AGENTES BIOLÓGICOS ficando o paciente em monoterapia posteriormente
• Os agentes biológicos anti-TNF são contraindicados a → caso não melhore com a associação, já se pode
mulheres grávidas ou lactantes, insuficiência cardíaca partir para a utilização das DMCDs biológicas ou trocar
congestiva classes III e IV, na vigência de infecção ativa por outras DMCDs sintéticas
ou para pacientes com alto risco para o desenvolvimento → nessa situação a associação da leflunomida
de infecções (úlcera crônica de membros inferiores, com MTX é uma estratégia interessante, uma vez que
artrite séptica nos últimos 12 meses), infecções pode evitar, ou ao menos adiar, a necessidade de uso de
pulmonares recorrentes, esclerose múltipla e àqueles biológico
com doenças malignas atuais ou passadas (< 10 anos) → para definir ausência de resposta às DMCDs de
• Em pacientes com suscetibilidade ou história prévia de primeira linha deve-se aguardar um período de 6 meses
tuberculose, os agentes biológicos devem ser utilizados • As DMCDs biológicas são consideradas de segunda
com cautela, recomendando-se radiografia de tórax e linha e devem ser indicadas após a utilização de pelo
teste tuberculínico (PPD) antes do início da terapêutica menos 2 dos esquemas propostos na primeira linha de
→ o risco é maior para os pacientes que farão uso de tratamento
anti-TNF, em especial anticorpos monoclonais → os anti-TNFs são a primeira opção no Brasil entre os
→ aqueles que apresentem PPD maior ou igual a 5 mm, biológicos, entretanto outras drogas, como o abatacepte
ou alterações radiográficas compatíveis com tuberculose e o tocilizumabe, podem ser prescritas
prévia, ou que tiveram contato íntimo com indivíduos • É considerada de terceira linha a DMCD biológica
com tuberculose ativa, devem fazer tratamento utilizada após a falha do tratamento biológico inicial
profilático com isoniazida na dose de 5 mg a 10 → podem-se utilizar outro anti-TNF, abatacepte,
mg/kg/dia, até a dose máxima de 300 mg/dia, durante 6 rituximabe ou tocilizumabe
meses → a escolha da droga fica a critério médico
→ nesses pacientes o agente biológico pode ser
introduzido após 1 mês de uso de isoniazida
• É obrigatória a pesquisa de hepatites virais B e C, além
de HIV, antes do uso do agente biológico, devendo ser
evitado na presença dessas infecções virais
• Aos casos de doença maligna sólida ou câncer de pele
não melanoma (carcinoma epidermoide ou
escamocelular), recomenda-se qualquer um dos agentes
biológicos se o tratamento ocorreu há mais de 5 anos
28
FISIOPATOLOGIA

• A principal característica fisiopatogênica da asma é a


inflamação brônquica
• A resposta imune Th2 nas vias aéreas inferiores é a
anormalidade imunológica central na asma
• As células CD4+ Th2 se caracterizam por alta expressão dos
fatores de transcrição específicos das células T transatuantes
GATA-3 e por secreção de citocinas do tipo 2 (interleucina [IL]-
4, IL-5, IL-9 e IL-13)
• Um excesso de citocinas tipo 2 nas vias aéreas inferiores
ASMA promove hipersensibilidade mediada por IgE, ativa células
epiteliais, medeia influxo de células inflamatórias às vias
aéreas e causa reações de remodelação no epitélio e na matriz
subepitelial
• Doença inflamatória crônica, caracterizada por
→ essa cascata de eventos inflamatórios distais das citocinas
hiperresponsividade das vias aéreas inferiores e por
tipo 2 explica grande parte da patologia subjacente às
limitação variável ao fluxo aéreo, reversível características clínicas básicas da asma (hiper-reatividade das
espontaneamente ou com tratamento, manifestando-se vias aéreas, obstrução do fluxo de ar e secreção de muco)
clinicamente por episódios recorrentes de sibilância,
dispnéia, aperto no peito e tosse, particularmente à
INÍCIO DA RESPOSTA ALÉRGICA
noite e pela manhã ao despertar
• As células epiteliais das vias aéreas expressam múltiplos
• Resulta de uma interação entre genética, exposição
receptores de reconhecimento de padrão para detectar e
ambiental a alérgenos e irritantes, e outros fatores
reagir a sinais de perigo, como os padrões moleculares
específicos que levam ao desenvolvimento e
manutenção dos sintomas associados a patógenos (PAMP) nos micróbios ou padrões
moleculares associados a dano (DAMP) liberados por células
endógenas durante períodos de inflamação ou estresse celular
→ outros receptores de reconhecimento de padrões nas
EPIDEMIOLOGIA
células epiteliais das vias aéreas incluem receptores Toll-like e
• Anualmente ocorrem cerca de 350.000 internações por asma
receptores para alarminas, como o ácido úrico e a adenosina
no Brasil
trifosfato, que são moléculas endógenas que sinalizam dano.
→ quarta causa de hospitalizações pelo Sistema Único de
• A ativação dos receptores de reconhecimento de padrões
Saúde (2,3% do total) e sendo a terceira causa entre crianças
nas células epiteliais das vias aéreas pode desencadear a
e adultos jovens
liberação de várias citocinas, quimiocinas, peptídeos
• Dados da Organização Mundial da Saúde sugerem que
antimicrobianos, mediadores lipídicos, óxido nítrico e espécies
existam 250.000 óbitos relacionados com asma a cada ano no
reativas de oxigênio
mundo todo
• Esses mediadores inflamatórios têm múltiplas
consequências, inclusive o recrutamento de leucócitos
circulantes para as vias aéreas, regulação do tono das vias
aéreas, regulação das secreções das vias aéreas e promoção
de atividade antimicrobiana e antiviral
• A liberação de citocinas epiteliais, particularmente IL-25, IL-
33 e linfopoietina estromal tímica (TSLP), parece ser o evento
proximal básico que inicia as reações imunes tipo 2 e o
ambiente inflamatório alérgico na asma
29
→ especificamente, IL-25, IL-33 e TSLP liberadas das células → alguns também têm atividade de proteases que os
epiteliais por estímulos alergênicos têm como alvo as células capacita a entrarem nas barreiras de muco das vias aéreas
hematopoiéticas residentes para induzir o influxo de células → ainda outros têm propriedades de mimetismo molecular
inflamatórias e a ativação e mobilização de células dendríticas que desencadeiam receptores de reconhecimento de padrões
→ as DCs usam o sistema do MHC II para mediar as reações inatos nas células epiteliais das vias aéreas e em outras células
dos linfócitos auxiliares T a proteínas estranhas, como os apresentadoras de antígenos
aeroalérgenos → a quebra de tolerância também pode envolver um
→ também são necessárias para a diferenciação de comportamento patológico cooperativo entre células
linfócitos T naive em subgrupos T auxiliares, incluindo células epiteliais e dendríticas
Th2 • As DCs nem sempre reconhecem alérgenos inalatórios
• As células dendríticas imaturas da medula óssea se dirigem → ao invés disso, as células epiteliais ativadas usam uma
para as vias aéreas sob a influência de sinais de células molécula de reconhecimento de padrões, como a TRL4, para
epiteliais coletar amostra de alérgenos, e depois orquestrar reações de
→ uma vez na mucosa das vias aéreas, as projeções das DCs DCs (recrutamento, ativação, migração para os linfonodos)
interdigitam-se entre células epiteliais e formam junções • A tolerância normal das vias aéreas também pode ser
oclusivas com elas, mantendo a integridade da barreira quebrada porque a função da Treg está comprometida
epitelial → faltam evidências específicas para comprovar
→ nesse local, as DCs tomam amostra dos antígenos • A IL-33 é uma citocina de células epiteliais considerada um
inalados e os apresentam em sua superfície celular como parte mediador-chave das reações imunes tipo 2 na asma
do MHC II → se localiza principalmente nos núcleos das células
• Citocinas epiteliais, especialmente a TSLP, promovem epiteliais basais
mobilização das células dendríticas para linfonodos que → sua principal atividade de citocina da IL-33 é promover a
drenam localmente, onde ativam linfócitos T CD4+ naive a um inflamação Th2 por meio da liberação de citocinas Th2 pelas
estado competente para IL-4 células portadoras de ST2
→ esses linfócitos T competentes para IL-4 em linfonodos → ST2 se expressa em ampla variedade de células imunes
migram para zonas de linfócitos B, onde se diferenciam em inatas e adaptativas, incluindo os linfócitos T CD4+,
células T auxiliares foliculares (TFH) mastócitos, basófilos e células linfoides inatas tipo 2 (ILC2)
→ além disso, vão até a circulação para completar a
maturação como células Th2
MECANISMOS INFLAMATÓRIOS
→ conquanto as células TFH em desenvolvimento
secretoras de IL-4 nas áreas dos linfócitos B parafoliculares e • As células Th2 secretam citocinas que promovem uma
nos centros germinativos medeiam a troca de IgE nos linfócitos inflamação e estimulam a produção de IgE e outros anticorpos
B, as células Th2 que migram para o epitélio das vias aéreas e pelas células B
para a mucosa subepitelial secretam IL-5 e IL-13 para mediar → IL-4: estimula produção de IgE
as características patológicas da asma, incluindo inflamação → IL-5: ativa os eosinófilos recrutados localmente
eosinofílica e alterações de remodelação no epitélio e na → IL-9: promove hiperplasia de mastócitos
submucosa
→ IL-13: estimula secreção de muco pelas glândulas
submucosas brônquicas e também promove a produção de IgE
pelas células B
• As células T e células epiteliais secretam quimiocinas que
recrutam mais células T e eosinófilos, exacerbando a reação
• A IgE se liga aos receptores nos mastócitos submucosos, e a
exposição repetida ao alérgeno faz com que os mastócitos
liberem o conteúdo dos grânulos e produzam citocinas e
outros mediadores, que coletivamente induzem a reação de
fase inicial (hipersensibilidade imediata) e a reação de fase
tardia
→ a reação de fase inicial é dominada por broncoconstrição,
aumento da produção de muco, graus variáveis de
vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular
→ a broncoconstrição é desencadeada pelo estímulo direto
de receptores vagais subepteliais parassimpáticos através de
reflexos centrais e locais desencadeados por mediadores
• A ruptura da tolerância que tem lugar nas vias aéreas dos
produzidos por mastócitos e outras células
asmáticos ainda não foi completamente entendida
→ a reação de fase tardia é dominada pelo recrutamento de
→ alguns aeroalérgenos têm propriedades físicas que lhes
permitem ser aerossolizados e chegar às vias aéreas de leucócitos, notavelmente eosinófilos, neutrófilos e mais
condução células T
• Células Th17, produtoras de IL-17, recrutam neutrófilos
30
• Os leucotrienos C4, D4 e E4 causam broncoconstrição • Na asma leve a moderada, existe hiperplasia do músculo liso
prolongada, assim como aumento da permeabilidade vascular das vias aéreas (MLVR), o que se pensa ser importante
e aumento da secreção de muco mecanismo de hiper-reatividade brônquica
→ o MLVR sofre hipertrofia juntamente com hiperplasia nos
• A ACh, liberada dos nervos parassimpáticos
subtipos mais graves de asma
intrapulmonares, pode causar constrição da musculatura lisa • O número e o tamanho dos vasos brônquicos aumentam na
das vias aéreas pelo estímulo direto aos receptores asma, e esses vasos podem ter um papel importante em
muscarínicos regular o calibre das vias aéreas porque um aumento do
• Histamina é um potente broncoconstritor volume vascular pode edemaciar a mucosa e estreitar a luz das
• Prostaglandina D2 estimula broncoconstrição e vias aéreas
vasodilatação → muitos mediadores inflamatórios causam vasodilatação,
uma reação que pode ser acompanhada por aumento da
• Fator ativador de plaquetas causa agregação plaquetária e a
permeabilidade na vênula pós-capilar, extravasamento de
liberação de 5-HT de seus grânulos plasma e edema de mucosa das vias aéreas

MECANISMOS DA EXACERBAÇÃO
CLASSIFICAÇÃO
• As exacerbações da asma representam uma piora agudizada
da obstrução do fluxo aéreo que é consequência da piora da
contração da musculatura lisa das vias aéreas, edema da ASMA EXTRÍNSECA ALÉRGICA
parede das vias aéreas e obstrução luminal com muco • O fenômeno alérgico é o principal mecanismo
etiopatogênico na maioria dos casos
• As exacerbações da asma representam uma piora agudizada • Ácaros, baratas, cães e gatos, fungos, grãos de pólen
da obstrução do fluxo aéreo que é consequência da piora da
contração da musculatura lisa das vias aéreas, edema da ASMA EXTRÍNSECA NÃO ALÉRGICA
parede das vias aéreas e obstrução luminal com muco • Não envolve reação IgE mediada, mas sim uma irritação
• A suscetibilidade às reduções agudas do fluxo de ar nos direta da mucosa brônquica por substâncias tóxicas
asmáticos se relaciona com a remodelação da mucosa das vias • Agentes químicos, geralmente presentes nos processos
aéreas industriais, são frequentes causadores desse tipo de asma
→ alterações do epitélio que aumentam os depósitos de
mucina na musculatura lisa das vias aéreas, tornando-a mais
ASMA CRIPTOGÊNICA (“INTRÍNSECA”)
hiper-reativa, e nos vasos, tornando-os mais permeáveis,
• Uma minoria dos pacientes asmáticos (aproximadamente
levam muitos asmáticos a ser vulneráveis a reações
10%) apresenta uma resposta negativa a todos os testes
exageradas das vias aéreas a agressões ambientais inalatórias,
cutâneos, com níveis séricos de IgE normais, sendo
como vírus, alérgenos ou poluentes
denominados de asma criptogênica
• As vias aéreas dos asmáticos são hiper-reativas em mais de
• Mais comum quando a asma aparece na idade adulta
um modo
• A etiopatogenia não é bem conhecida, porém a
→ contração da musculatura lisa concêntrica por hiper-
imunopatologia de biópsias brônquicas e análises do escarro
reatividade é um elemento, mas o edema da mucosa por
são semelhantes à asma atópica, inclusive com infiltrado
permeabilidade vascular e o excesso de muco por
eosinofílico
hipersecreção de mucina são outros
→ parece haver uma hiperprodução local de IgE
nas vias aéreas
ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS DAS VIAS AÉREAS NA ASMA

• A asma se caracteriza por alterações estruturais no epitélio ASMA INDUZIDA POR ASPIRINA
e na submucosa • Responde por 2-3% dos casos de asma em adultos
→ essas alterações incluem deposição anormal de colágeno • É desencadeada pelo uso de aspirina ou outros AINE não
no subepitélio (fibrose subepitelial) e alterações das células seletivos, podendo persistir por vários anos mesmo após a
estruturais, como as células caliciformes, células das glândulas
suspensão dos mesmos
da submucosa, células musculares lisas e vasos
• As principais alterações das células epiteliais vistas na asma • Alguns pacientes já eram asmáticos previamente, apenas
são metaplasia e hiperplasia das células caliciformes, que têm apresentando um componente associado de AIA
o efeito de aumentar a quantidade de mucinas formadoras de • Acredita-se que um dos mecanismos etiopatogênicos seja o
gel armazenadas no epitélio das vias aéreas seguinte: com a inibição da ciclo-oxigenase-1 (COX-1) pela
• Aumento na quantidade de muco aspirina (ou AINE), o ácido aracdônico passa a ser
• Fibrose subepitelial
preferencialmente metabolizado pela lipo-oxigenase, a

31
enzima que gera leucotrienos - mediadores de grande → pico de fluxo expiratório
importância na reação inflamatória da asma → asma leve: > 80% do previsto
→ asma moderada: entre 60-80% do previsto
→ asma grave: < 60% do previsto
QUADRO CLÍNICO → capacidade vital forçada
→ na asma moderada a grave pode haver aprisionamento
• Dispneia
de ar nos pulmões, devido à obstrução significativa das vias
• Tosse
aéreas
→ seca ou mucoide
→ na expiração forçada, a pressão intratorácica no
• Sibilância
asmático fica bastante positiva, colabando algumas vias aéreas
• Sensação de aperto no peito ou desconforto torácico
terminais, impedindo assim a saída de parte do ar que
• Os sintomas são mais intensos à noite ou nas primeiras horas
normalmente seria expirado
da manhã → CVF encontrar-se-á reduzida
• Rinite alérgica e dermatite atópica são condições bastante → VEF1 / CVF
associadas à asma alérgica e devem ser questionadas na → o VEF1 pode estar reduzido nas doenças pulmonares
anamnese de todos os pacientes asmáticos restritivas
• Na crise asmática há taquipneia (geralmente > 25 ipm), com → porém, nestas patologias, a CVF reduz-se
tempo expiratório prolongado em relação ao tempo proporcionalmente ao VEF1, não ocorrendo alteração do
índice
inspiratório, o que caracteriza a dispneia por obstrução de
→ já nas doenças obstrutivas, o VEF1 se reduz muito mais
vias aéreas que a CVF
• Nos casos mais graves, podemos observar sinais de esforço → na asma, por definição, é < 75% (adultos) ou < 86%
ventilatório (crianças)
→ tiragem intercostal, tiragem supraclavicular, batimento de • Prova broncodilatadora positiva
asa do nariz, respiração abdominal → espirometria mostrando aumento do VEF1 ≥ 200 ml (valor
absoluto) e ≥ 12% do valor pré-broncodilatação ou ≥ 200 ml
→ o esforço é nitidamente maior na fase expiratória
(valor absoluto) e ≥ 7% do valor previsto
• Na crise asmática grave, que cursa com hipoxemia, pode
observar cianose do tipo central e o paciente pode ainda
apresentar pulso paradoxal (redução exagerada na pressão
sistólica durante a inspiração) e assumir a famosa posição de
tripé (posição sentada com os braços estendidos suportando o
tórax, a fim de melhorar a mecânica da musculatura acessória)

DIAGNÓSTICO

• Os exames laboratoriais fora da crise podem mostrar


eosinofilia e aumento da IgE sérica total
→ dependendo do caso, solicita-se a dosagem de IgE contra
antígenos específicos, para determinação de alergia a estes
• Radiografia de tórax pode ser solicitada, visando DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
basicamente afastar complicações (pneumonia, • Insuficiência cardíaca
pneumotórax)
• Tromboembolismo pulmonar
→ no asmático leve, a radiografia é totalmente normal
→ no asmático moderado a grave, pode-se observar sinais • Obstrução da laringe ou traqueia
de hiperinsuflação pulmonar • Traqueomalácia
→ padrão semelhante à DPOC • Corpo estranho
• O Exame de Escarro pode revelar alterações bastante • Esofagite de refluxo
sugestivas
→ cristais de Charcot-Leiden (precipitados cristalinos,
contendo eosinófilos degenerados) TRATAMENTO
→ espirais de Curschmann (cilindros de muco formados nos
bronquíolos, envoltos por fibrilas em forma de espiral)
→ corpúsculos de Creola (aglomerados de células
epiteliais descamadas)
• Espirometria
→ VEF1
→ está caracteristicamente reduzido na crise asmática e
frequentemente no período intercrítico
→ seu aumento após a prova broncodilatadora é um
critério diagnóstico de asma
32
→ síndrome clínica caracterizada por cefaleia com
características específicas e sintomas associados
→ é uma cefaleia recorrente manifestando-se em
crises que duram 4 a 72 horas
→ as características típicas da cefaleia são: localização
unilateral, caráter pulsátil, intensidade moderada ou
severa, exacerbação por atividade física de rotina e
associação com náusea e/ou fotofobia e fonofobia
→ subtipo mais comum
→ tem uma frequência de crises maior e geralmente é
mais incapacitante do que a com aura
• Enxaqueca com aura típica
→ caracterizada principalmente pelos sintomas
neurológicos focais que normalmente precedem ou, às
vezes, acompanham a cefaleia
→ é uma alteração recorrente que se manifesta na
forma de crises de sintomas neurológicos focais
reversíveis que em geral se desenvolvem gradualmente
em 5 a 20 minutos e duram menos de 60 minutos
→ a aura é o conjunto de sintomas neurológicos que
ocorre imediatamente antes ou no início da cefaleia
→ muitos doentes que têm crises com aura, também
CEFALÉIAS PRIMÁRIAS
apresentam, muitas vezes, crises sem aura
→ a aura geralmente se inicia no córtex visual do lobo
occipital
ENXAQUECA • Enxaqueca com aura prolongada
• → quando a aura dura mais de 60 minutos
• Enxaqueca hemiplégica familiar
EPIDEMIOLOGIA → refere-se à única das cefaleias primárias a
• Segunda causa mais comum de cefaleia e acomete apresentar mutações genéticas, na qual é perceptível
aproximadamente 15% das mulheres e 6% dos homens uma herança autossômica dominante
durante um período de um ano → nesta, ocorrem paralisia de um dos lados do corpo
• Tipicamente, começa por afetar adolescentes ou acompanhando a cefaleia
indivíduos na faixa etária dos 20 anos, com um pico de • Enxaqueca basilar
prevalência aos 40 anos de idade → os sintomas de aura são associados a disfunção do
→ em casos de enxaqueca após os 50 anos de idade, tronco cerebral ou da área cortical occipital
deve-se levantar a suspeita de cefaleia secundária como → o quadro clínico inclui auras como vertigem,
causa zumbido, diplopia, ataxia, paresias, parestesias e
• A prevalência da enxaqueca é de 5-25% em mulheres e alterações da consciência
de 2-10% em homens
→ ocorre também em 3 a 10% das crianças, afetando FISIOPATOLOGIA
igualmente ambos os gêneros antes da puberdade, mas • É considerada um estado de hiperexcitabilidade do
com predomínio no gênero feminino após essa fase cérebro e possui uma forte (até 50%) componente
• Migranosos possuem risco três vezes maior de sofrer genética, com uma provável hereditariedade
de depressão do que pacientes sem cefaleia multifatorial poligênica

HIPÓTESE NEUROVASCULAR
CLASSIFICAÇÃO
• Durante o ataque de enxaqueca, os eventos neuronais
• Enxaqueca sem aura
resultam numa depressão cortical alastrante (DCA) e
33
inflamação dos vasos sanguíneos, que por sua vez resulta • Anormalidades vasculares e alterações do FSC têm o
em dor, estimulação dos nervos e vasodilatação potencial de desencadear a DCA e, consequentemente,
• A dor proveniente da enxaqueca é compreendida como a enxaqueca
a combinação da percepção alterada (devido a → foi demonstrado que fatores endoteliais podem
sensibilização periférica ou central) dos estímulos que precipitar a DCA e que as alterações no calibre vascular
não são habitualmente de dor, assim como a ativação de são de grande importância na patogênese da enxaqueca
um mecanismo dilatador neurovascular de pré-controle • As alterações do FSC ocorrem na ESA ou ECA
na primeira divisão do nervo trigêmeo • DCA, o substrato presumível de ECA (ainda sob debate
→ a ativação de células no núcleo trigeminal resulta na na fisiopatologia da ESA), é um evento neuronal que
liberação de neuropeptídios vasoativos, como pode ser desencadeado devido a alterações no FSC ou
substância P e particularmente o peptídio relacionado através de despolarização do músculo liso ou células
com o gene da calcitocina (CGRP), nas terminações endoteliais via propagação de ondas de cálcio ao longo
vasculares do nervo trigêmeo e dentro do núcleo dos vasos sanguíneos
trigeminal
• A EA deve-se a uma DCA caracterizada por
despolarização de membranas neuronais e gliais
→ as alterações do fluxo sanguíneo cerebral (FSC) HIPÓTESE DA ANORMALIDADE SEROTONINÉRGICA
observadas são, simplesmente, um fenômeno passivo • Flutuação dos níveis plasmáticos e plaquetários de
que reflete a associação entre o metabolismo celular e o serotonina durante a crise de enxaqueca sugerem que
fluxo sanguíneo esta possa estar envolvida na sua patogênese
→ despolarização de membranas neurogliais durante a → quando as plaquetas são ativadas, agregam-se e
DCA está associada a um marcado, mas breve, aumento libertam serotonina, aumentando o nível plasmático
do FSC enquanto a hiperpolarização subsequente e desta substância
supressão das membranas neurogliais está associada a → um aumento súbito do nível de serotonina no
uma redução do FSC plasma pode causar a constrição dos vasos sanguíneos
→ a cefaleia que surge após a aura ocorre quando o cerebrais e uma redução no FSC
FSC ainda é reduzido e considera-se como o resultado da → posteriormente, há uma diminuição brusca dos
ativação do nociceptor trigeminal e das fibras níveis de serotonina durante o ataque de enxaqueca
parassimpáticas por substâncias nociceptivas (íons de → a subsequente depleção e queda nos níveis de
hidrogénio e de potássio, glutamato e NO) liberadas serotonina podem, então, conduzir a uma marcada
durante a DCA dilatação das artérias intra-cranianas, precipitando a dor
• Um ponto de vista alternativo considera como
TEORIA PARASSIMPÁTICA
processos paralelos a aura e a cefaleia e propõe que a
• Os neurônios hipotalâmicos encontram-se numa
causa primária da enxaqueca é uma disfunção episódica
posição possível de regular a estimulação dos neurônios
nos núcleos do tronco cerebral implicados no controle
pré-ganglionares parassimpáticos no núcleo salivar
central de nocicepção
superior (SSN) e dos neurônios pré-ganglionares
→ assim, ocorre a dilatação local dos vasos sanguíneos
simpáticos na coluna intermediolateral
intracranianos e extracerebrais e a consequente
• O SSN pode estimular a liberação de acetilcolina,
estimulação das vias nervosas trigeminais sensoriais de
peptídeo intestinal vasoativo e oxido nítrico dos
dor que rodeiam estes vasos
terminais meníngeos dos neurônios parassimpáticos no
→ o nervo trigêmeo ativo transporta informação
gânglio esfenopalatino (SPG), levando à dilatação dos
nociceptiva até aos neurônios centrais que se encontram
vasos sanguíneos intracranianos, extravasamento das
nos núcleos trigeminais sensoriais do tronco cerebral,
proteínas plasmáticas, liberação local de moléculas
que por sua vez, liberam os sinais de dor para os centros
inflamatórias capazes de ativar os nociceptores
superiores que ficam sensibilizados à medida que o
meníngeos
ataque de enxaqueca progride
• Os vasos sanguíneos nas meninges são densamente
HIPÓTESE VASCULONEURONAL inervados por fibras parassimpáticas

34
• A ativação dos neurônios no SSN pode modular a → quatro possíveis neurotransmissores foram
atividade dos neurónios trigéminovasculares no núcleo identificados dentro das fibras do sistema
trigeminal espinal (SpV) trigêminovascular, dentre eles, três estão
• A ativação dos nociceptores meníngeos parece potencialmente envolvidos na indução da inflamação
depender parcialmente da atividade no SPG neurogênica: as taquicininas, como a substância P (SP) e
• A atividade craniana parassimpática aumentada neurocinina A (NCA), o peptídeo relacionado com o gene
durante a enxaqueca é evidente através do lacrimejar e da calcitonina (CGRP), e o octapeptídeo colecistoquinina
da congestão nasal (CCK-8)
• Ao bloquear o SPG ocorre alívio total ou parcial da dor → a substância P e a neurocinina A têm a
na enxaqueca capacidade de relaxar os vasos sanguíneos e incrementar
a ligação proteica, portanto, são elementos que
NEUROBIOLOGIA
participam, em última análise, da vasodilatação e do
• A teoria vascular foi contestada, principalmente pelo extravasamento plasmático
fato de a vasodilatação, por si só, não ser capaz de → além disso, a SP está presente na resposta
produzir dor inflamatória que envolve as células sanguíneas:
→ fenômenos associados a migrânea, tais como degranulando os mastócitos e promovendo a liberação
sintomas premonitórios, o fato de a crise migranosa ser de histamina
desencadeada pelo estresse ou pela fome e, ainda, a → o CGRP parece estar envolvido na regulação do
presença de náuseas e vômitos, não podem ser fluxo sanguíneo cerebral
explicados por fenômenos vasculares puros → trata-se de um potente vasodilatador, capaz de
→ há, também, o fato de nem todos os agentes facilitar a neurotransmissão das taquicininas,
vasodilatadores serem capazes de desencadear principalmente da SP, pois aumenta a meia-vida desse
fenômenos nociceptivos peptídeo por bloqueio da endopeptidase inativadora das
• É importante ressaltar que os nitratos, conhecidos taquicininas
causadores de ataques de migrânea, também liberam
neuropeptídeos vasoativos, confirmando que outros ATIVAÇÃO DO SISTEMA TRIGEMINAL E INFLAMAÇÃO
mecanismos devem contribuir para a dor migranosa NEUROGÊNICA
• O fato de a crise de migrânea poder ser desencadeada • O processo doloroso resulta de uma interação
pelo estresse ou pela fome sugere um envolvimento do sequencial de fatores, entre os quais se destaca a
SNC nesse distúrbio ativação de nociceptores de estruturas intracranianas
• Há algumas inconsistências na definição da migrânea sensíveis à dor, concomitantemente com a provável
como fenômeno puramente neuronal, e elas residem, redução do funcionamento das vias endógenas de
principalmente, no fato de o cérebro não conter fibras controle do estado doloroso
sensitivas, presentes nas meninges e nos vasos • Após um estímulo endógeno ou exógeno (estresse,
sanguíneos intracranianos (grandes artérias e seios alimentos, álcool, hormônios), ocorreria a ativação de
venosos), estruturas que contêm os nociceptores dos um órgão gerador da crise migranosa no mesencéfalo o
fenômenos dolorosos ocorridos no segmento cefálico qual, através da ativação das fibras trigeminais,
• A 5-HT está associada aos fenômenos de hiperalgesia promoveria a liberação de neuropeptídeos vasoativos
que ocorrem nos processos inflamatórios e, finalmente, nas terminações nervosas sensoriais
a evidência de que algumas cefaléias primárias são → a liberação dessas substâncias causaria um aumento
tratadas adequadamente com a administração de do fluxo sanguíneo intra e extracraniano, dilatação dos
antiinflamatórios, tais como os corticosteróides, o ácido vasos sanguíneos durais e o consequente
acetilsalicílico e a indometacina extravazamento plasmático
→ o processo inflamatório perivascular seria mediado • Os neuropeptídeos vasoativos, envolvidos na
por estímulos neurogênicos, conduzidos pelo ramo inflamação neurogênica, não são capazes de produzir
oftálmico do nervo trigêmeo, estabelecendo um sistema dor nem têm propriedade de potencializar os efeitos
trigêmino-vascular responsável pela inflamação nociceptivos de substâncias reconhecidamente
neurogênica estéril algogênicas

35
→ outros agentes com propriedades vasoativas repetitiva do aferente primário, que leva à liberação
produzidos pelo endotélio – que podem exercer papel contínua de glutamato na sinapse com o neurônio de 2ª
fundamental no controle do tônus vascular e do fluxo ordem, o qual promove a remoção da molécula de Mg++
sanguíneo cerebral – têm sido estudados com o objetivo dos receptores NMDA permitindo a entrada de cálcio e
de melhor explicar os fenômenos nociceptivos que consequente alteração gênica dessa célula
ocorrem na migrânea • Durante o ataque de migrânea, uma rede de estruturas
→ o NO tem lugar de destaque, por ser considerado nociceptivas e antinociceptivas é ativada de maneira
molécula das mais importantes, com potente atividade anormal, causado por uma disfunção persistente ou
vasodilatadora e com demonstrado envolvimento nos episódica de alguns centros do tronco cerebral, o qual
processos nociceptivos pode ter importante papel na fisiopatologia da
→ assim como a bradicinina, agente de origem migrânea, como, por exemplo, a estimulação ou
endógena que possui grande potencial algogênico, modulação inadequada dos impulsos no sistema
participa, demonstradamente, dos processos trigeminal
inflamatórios e tem atividade vasodilatadora

HIPEREXCITABILIDADE NEURONAL COMPLICAÇÕES


• O limiar de excitabilidade neuronal parece determinar • Estado migranoso
a incidência dos ataques e essa parece ser a via final → cefaleia intensa que dura mais que 72 horas, com
comum do verdadeiro mecanismo da migrânea intervalos livres inferiores a 12 horas, à qual associam-se
• Evidências têm demonstrado que o córtex cerebral do náuseas e vômitos por horas seguidas, levando a
migranoso apresenta uma persistente ou transitória desidratação e as suas consequências, como a
hiperexcitabilidade, principalmente no lobo occipital necessidade de internação
• Estudos de espectroscopia durante a aura migranosa • Infarto migranoso
evidenciaram a existência de alterações no campo → é um ataque idêntico aos outros episódios, mas os
energético, sugerindo também uma disfunção sintomas da aura persistem por mais de 60 minutos e são
mitocondrial associados a um infarto demonstrado no exame de
→ interessantemente, alterações no metabolismo neuroimagem
energético neuronal produzem desequilíbrio da • Migrânea crônica
homeostase iônica, instabilidade de membrana e → é o aumento da frequência das crises até tornarem-
consequente vulnerabilidade aos fatores se diárias ou quase diárias (>15 dias por mês com dor por
desencadeantes dos ataques de migrânea mais de 3 meses)
• Os mecanismos que levam o cérebro do migranoso → são fatores de risco para cronificação: fatores
apresentar elevado nível de excitabilidade neuronal emocionais, estresse, doenças psiquiátricas e abuso de
parecem ser baseados, principalmente, em alterações do analgésicos
funcionamento dos canais iônicos, especialmente dos
canais de cálcio, em disfunções mitocondriais que
QUADRO CLÍNICO
alteram o metabolismo energético neuronal e,
finalmente, na constatação de que o cérebro do paciente FASE DE DOR
migranoso possui baixos níveis de Mg • A dor na crise migranosa é unilateral em dois terços dos
pacientes, podendo ser bilateral ou mesmo mudar de
SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL E NEUROMODULAÇÃO
lado dentro de uma mesma crise
• Quando a crise de migrânea se prolonga por muito
• É sentida atrás do globo ocular, no canto interno do
tempo, ocorre o aparecimento de alodinia, dor à
olho, na região frontal, porém mais frequentemente na
movimentação da cabeça e à compressão do couro
região temporal anterior
cabeludo
→ pode-se irradiar para nuca, pescoço ou mesmo para
→ esses sintomas correspondem ao aparecimento de
o ombro e, em raras circunstâncias, acomete somente a
sensibilização secundária do sistema trigeminal
face, envolvendo a região maxilar e o nariz
• A sensibilização do neurônio central do sistema
trigeminal acontece quando ocorre a estimulação
36
• Por vezes, pode começar como um incômodo na região • Em crianças, as crises podem durar de 1 a 72 horas
cervical antes de assumir seu clássico padrão de • A cefaleia da migrânea é geralmente bilateral em
pulsatilidade, isto é, piorar a cada batimento cardíaco crianças; padrão semelhante ao do adulto, de dor
• Tipicamente, sua intensidade é forte, ou seja, o unilateral, normalmente emerge ao final da adolescência
indivíduo tem que interromper suas atividades ou ou início da vida adulta
moderá-las • Presença ou não de aura
• A duração é de 4 a 72 horas quando não tratada, porém
na maioria das vezes é de 12 a 24 horas TRATAMENTO

FASE DE RESOLUÇÃO MEDIDAS GERAIS


• Gradualmente, a dor vai diminuindo, sobrevindo • Evitar os possíveis fatores desencadeantes ou
cansaço e sensação de exaustão, que podem agravantes das crises, que são: alterações nos hábitos de
permanecer por dias a fio sono (dormir pouco ou em excesso), jejum prolongado
→ outros sintomas dessa fase são irritabilidade, ou não se alimentar nos horários de costume, excesso de
lentidão de raciocínio e letargia exercícios físicos ou a falta deles, uso de bebidas
alcoólicas (principalmente vinho tinto), certos alimentos,
FENÔMENOS ASSOCIADOS
como chocolate, frutas cítricas, queijos amarelos,
• Sintomas gastrointestinais são muito comuns
defumados e embutidos, glutamato monossódico,
→ náuseas ocorrem em 90% das crises
cafeína em excesso, aspartame, entre outros
→ vômitos, em um terço dos casos
• Tratar doenças concomitantes: hipertensão arterial,
→ diarreia, em 16%; além de anorexia, que também é
depressão do humor, distúrbios ansiosos, glaucoma etc
bastante comum
• Uso de diário das crises deve ser encorajado pelo
• Aumento da percepção neurossensorial e estímulos
médico, visando conhecer a frequência e o horário das
em geral inócuos são percebidos como muito
crises, os tipos de dor, a localização e a intensidade da
desagradáveis, como luz (fotofobia) e sons (fonofobia)
dor, a frequência de uso dos analgésicos e quais são
• Sintomas menos relatados são: visão turva, obstrução
usados com eficácia na crise, fatores desencadeantes ou
nasal, palidez ou rubor de face
agravantes, se a dor se agrava no período menstrual ou
• Sintomas premonitórios acontecem de horas a 1 ou 2
é exclusiva deste período
dias antes de um ataque de migrânea (com ou sem aura).
• Orientar sobre o uso excessivo de analgésicos e sobre
Eles incluem várias combinações de fadiga, dificuldade
a automedicação, tão comum no nosso dia a dia e que
de concentração, rigidez no pescoço, foto ou fonofobia,
podem comprometer seriamente o tratamento,
náusea, visão turva, bocejamento repetido e palidez
diminuindo as chances de melhora clínica
→ importante salientar o uso de analgésicos no
DIAGNÓSTICO máximo duas vezes na semana para evitar a cronificação
• Pelo menos cinco ataques que preenchem os critérios da dor
→ cefaleia durando 4-72 horas (sem tratamento ou • Tratamentos não farmacológicos (acupuntura, técnicas
com tratamento ineficaz) de relaxamento, biofeedback, psicoterapia, terapia
→ cefaleia que preenche ao menos duas das seguintes cognitivo-comportamental) podem ser indicados,
características: entretanto não há evidências de eficácia clínica
→ localização unilateral comprovada por trabalhos
→ qualidade pulsátil
→ intensidade da dor moderada ou severa MEDICAMENTOSO
→ exacerbada por (fazendo que se evite) atividade • Analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais
física rotineira (por exemplo, caminhando ou subir • Derivados da ergotamina
degraus) → a dose adequada deve ser individualizada, sendo
→ durante a cefaleia, pelo menos um dos seguintes que se deve iniciar com 2 a 3 mg, se possível bem no
→ náuseas e/ou vômitos início da crise e, se necessário, aumentar a dose de 1 em
→ fotofobia e fonofobia 1 mg a cada hora, com dose máxima de 6 mg
• Não atribuída a outro transtorno
37
→ o uso de fármacos associados, como, por exemplo, → isquemia, estímulos mecânicos (como
associações de cafeína, paracetamol e derivados da apertamento dentário) e mediadores químicos como
ergotamina, que são largamente usados para o serotonina, bradicinina e íons K+ são alguns dos eventos
tratamento da cefaleia, é desaconselhado pelo possível desencadeadores de tal processo
somatório de efeitos colaterais e doses inadequadas que → já estudos com EMG demonstraram que, na
podem resultar em insucesso no tratamento da crise verdade, o que ocorreria não seria uma contração
aguda e cefaleia rebote, bem como cefaleia crônica pelo generalizada dos músculos, mas sim uma ativação
uso abusivo de analgésicos prolongada e contínua de algumas de suas unidades
• Triptanas motoras, capazes de acionar os nociceptores periféricos,
→ rizatriptana, naratriptana, zolmitriptana resultando em dor
• Uso de metoclopramida na migrânea, facilitando o • Os mecanismos centrais envolvem diversos fatores
esvaziamento gástrico, melhorando a absorção dos → o próprio elemento psicológico (estresse, depressão
fármacos utilizados e com concomitante maior sucesso e ansiedade) apresenta íntima relação com a CTT,
terapêutico embora não se compreenda totalmente sua forma de
• Domperidona ação
• Isometepteno • Outra possível explicação para o aparecimento deste
• Haloperidol tipo de cefaleia diz respeito ao limiar de detecção de dor
induzida por pressão e ao limiar de tolerância a dor
CEFALEIA TIPO TENSIONAL induzida por pressão, limites inferior e superior,
respectivamente, de sensação dolorosa como resposta a
• O nome cefaleia tensional implica que a dor decorre de
um estímulo de pressão
tensão nervosa, mas não há evidências claras da tensão
→ Julga-se que, na CTT episódica não haja alteração no
como etiologia
limiar de detecção da dor, enquanto que tem se
verificado, na CTT crônica, uma diminuição do mesmo,
EPIDEMIOLOGIA
juntamente com um limiar de tolerância a dor rebaixado,
• Considerada o tipo mais comum de cefaleia primária
o que leva a alodinia e a hiperalgesia
• Sua prevalência ao longo da vida na população geral
• Substâncias endógenas alteradas também são
varia de 14% a 78%
cogitadas como causadoras
→ níveis reduzidos de serotonina
FISIOPATOLOGIA
→ baixo nível de endorfina
• Por certo tempo, acreditava-se que a CTT era resultado • 50% dos casos de CTT correlacionam-se a um aumento
de contrações prolongadas da musculatura pericraniana, da pressão intracraniana do líquido cefalorraquidiano ou
que seriam respostas físicas a estímulos emocionais, do sistema do sistema venoso do encéfalo
psicológicos ou ambientais, razão pela qual também é • A sensibilidade das regiões da face e do crânio é
conhecida como “cefaleia de contração muscular” designada ao nervo trigêmeo, que recebe a informação
→ tal contração levaria a uma isquemia tecidual e, dolorosa, mas essa só é interpretada por estruturas
consequentemente, a um estímulo doloroso como gânglios da base, sistema límbico e núcleos da rafe
→ entretanto, atualmente é aceito que sua → assim, a cronicidade da cefaleia pode decorrer de
fisiopatologia, embora ainda não totalmente esclarecida, uma hipersensibilidade neuronal a diversos tipos de
envolva mecanismos complexos, tanto periféricos estímulos, facilitando a percepção da dor, de forma que
quanto centrais de vias de produção da dor incitações físicas, psicológicas ou mesmo contrações
• Mecanismos periféricos abrangem aumento da musculares tornam-se sensações álgicas
sensibilidade à palpação pericraniana e atividade • Outra teoria seria a de que a dor decorreria de uma
eletromiográfica (EMG) solicitação exagerada da membrana miofascial por
→ o primeiro é entendido como uma dor induzida por constante contração muscular, resultando na liberação
pressão, em que a palpação dos tecidos miofasciais de toxinas, que, se acumuladas, afetariam terminações
pericranianos, com consequente sensitização de fibras nervosas livres, gerando a dor
A-delta e C, responde com um aumento da sensibilidade

38
QUADRO CLÍNICO • Estímulos dolorosos que atinjam o núcleo do trigêmeo
• Desconforto bilateral, constritivo, em faixa ativam o núcleo salivar superior do nervo facial,
• A dor costuma desenvolver-se lentamente, oscilar em responsável pela ativação parassimpática
intensidade e pode persistir de maneira mais ou menos → esta ativação parassimpática leva ao aparecimento
contínua por muitos dias do lacrimejo, rinorreia, congestão nasal e à libertação de
• A cefaleia pode ser episódica ou crônica (presente por peptídeo intestinal vasoativo (VIP) e óxido nítrico, que
mais de 15 dias por mês) provocam vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo
• Não há manifestações associadas nas artérias meníngeas e extracranianas
→ como resultado dessas alterações arteriais
TRATAMENTO
(vasodilatação e edema) ao nível da parede da carótida,
• A dor da CT geralmente pode ser tratada com o plexo simpático pericarotídeo pode tornar-se
analgésicos simples como paracetamol, ácido disfuncional, produzindo ptose e miose
acetilsalicílico ou AINEs • A estimulação do nervo trigêmeo, através do reflexo
• Abordagens comportamentais, como relaxamento, trigemino-autonômico, causa uma ativação autonômica,
podem ser eficazes o que leva a uma resposta vasodilatadora cerebral, com
• Para a CT crônica, a amitriptilina é o único tratamento um aumento do fluxo sanguíneo cerebral
comprovado → este efeito vasodilatador é também mediado pela
• Não há evidências de eficácia da acupuntura ativação antidromica dos aferentes do trigémeo, com
• Estudos controlados com placebo da toxina libertação do peptídeo relacionado com o gene da
onabotulínica tipo A na CT crônica não mostraram calcitonina (PRGC)
benefício • Aceita-se pois, atualmente, que a Cefaleia em Salvas –
à semelhança da Enxaqueca – seja uma cefaleia
neurovascular com ativação do sistema trigemino-
CAFALEIA EM SALVAS
vascular, embora o local de ativação desse sistema seja
diferente do da Enxaqueca
EPIDEMIOLOGIA • O início do período de salva está relacionado com a
• É uma forma rara de cefaleia primária com frequência duração do fotoperíodo, sendo mais frequente em Julho
na população de aproximadamente 0,1 % e em Janeiro, ou seja, os períodos de salva têm início
• Muito mais comum em homens geralmente pouco tempo após o maior e o menor dia do
ano, respectivamente
FISIOPATOLOGIA • Nos humanos, o relógio biológico está localizado na
• Os acompanhamentos autonômicos podem surgir substância cinzenta hipotalâmica, numa área
isoladamente ou em associação entre si, tendo sido denominada núcleo supraquiasmático
identificados 3 grupos de sinais → o hipotálamo regula os sistemas endócrinos através
→ os mais frequentes são resultantes de ativação da modulação rítmica e fásica das hormonas hipofisárias
parassimpática (lacrimejo, injeção conjuntival e e da melatonina, de modo a manter a homeostase
rinorreia), depois os resultantes de defeito simpático • Ocorre diminuição dos níveis séricos de testosterona
(miose e ptose) e, por fim, os mediados pelo nos homens em período de salvas
parassimpático (congestão nasal, edema da pálpebra e → foram também observadas alterações no ritmo
sudorese da fronte) secretório circadiano do LH, cortisol e prolactina bem
• O resultado de diversos estudos sugere que as como respostas alteradas aos estímulos na secreção de
manifestações clínicas das Cefaleias Trigemino- - cortisol, LH, FSH, prolactina, hormônio do crescimento e
autonómicas resultam da ativação do sistema trigemino- TSH nos doentes com Cefaleia em Salvas
vascular e do reflexo trigemino-autonômico → também a produção de melatonina (dependente do
• As vias do reflexo trigemino-autonômico são controlo pelo núcleo supraquiasmático e da exposição à
constituídas pelas conexões entre o núcleo do trigêmeo luz) está diminuída; o pico de concentração noturna está
e as vias parassimpáticas do nervo facial, situadas ao reduzido e a acrofase (o tempo que medeia entre a meia-
nível do tronco cerebral noite e o pico de concentração) está atrasado

39
• A natureza da disfunção hipotalâmica não está ainda → dor severa ou muito severa, unilateral, orbitária,
esclarecida mas provavelmente o seu papel na gênese supra-orbitária e/ou temporal, durando de 15 a 180
das cefaleias tem a ver com a existência de conexões minutos, se não tratada
diretas entre o hipotálamo e o sistema do trigêmeo → a cefaleia acompanha-se de, pelo menos, um dos
assim como com o efeito modulador que o hipotálamo seguintes aspectos:
tem sobre as vias nociceptivas e vias autonômicas → hiperemia conjuntival e/ou lacrimejo, ipsilaterais
• Especificamente, é sugerido que, durante a salva, a → congestão nasal e/ou rinorreia ipsilaterais
atividade dos quimiorreceptores estaria alterada por → edema palpebral ipsilateral
inibição central do tônus vasomotor simpático e → sudorose frontal e facial ipsilateral
estimulação parassimpática → miose e/ou ptose ipsilateral
→ sensação de inquietude ou agitação
QUADRO CLÍNICO → as crises têm uma frequência de uma a cada dois
• A dor é profunda, em geral retro-orbital, dias a oito por dia
frequentemente de intensidade excruciante, não • Não atribuída a outra alteração
flutuante e de característica explosiva, acompanhada → crises preenchendo os critérios anteriores
por pelo menos um sinal ou sintoma autonômico → pelo menos dois períodos de Cefaleia em Salvas
ipsilateral: hiperemia conjuntival, lacrimejamento, durando de sete a 365 dias e separados por períodos de
congestão nasal, rinorreia, edema palpebral, sudorese remissão maior ou igual a 1 mês
facial, miose e ptose • Cefaleia em Salvas Crônica
• Uma característica fundamental da cefaleia em salvas → crises preenchendo os critérios anteriores
é a periodicidade → as crises recorrem por mais de um ano sem períodos
→ pelo menos uma das crises diárias de dor recorre de remissão ou com períodos de remissão durando
aproximadamente na mesma hora todo dia, ao longo do menos que um mês
episódio de salvas
• O paciente típico com cefaleia em salvas tem surtos TRATAMENTO
diários de uma ou duas crises de dor unilateral de • A Cefaleia em Salvas é uma das raras causas de suicídio
duração relativamente curta por 8-10 semanas por ano, por cefaleias
o que geralmente é acompanhado de um intervalo sem → caracteriza-se por dores excruciantes, que ocorrem
dor que dura em média um pouco menos de 1 ano sobretudo de noite, interrompendo o sono
→ a cefaleia em salvas caracteriza-se como crônica → a sua repetição provoca cansaço, ansiedade,
quando não há um período significativo de remissão depressão e conduz ao consumo exagerado de
continuado analgésicos
→ em geral os pacientes sentem-se perfeitamente bem • Crises agudas:
entre os episódios → muitos pacientes com cefaleia em salvas aguda
• O início é noturno em cerca de 50% dos pacientes, respondem muito bem à inalação de oxigênio
sendo os homens acometidos com frequência três vezes → este pode ser administrado como oxigênio a 100%
maior que as mulheres em 10-12 L/min por 15-20 minutos
• Os pacientes com cefaleia em salvas tendem a → parece que o fluxo alto e o alto conteúdo de
movimentar-se durante as crises, movendo oxigênio são importantes
ritmadamente, sacudindo ou friccionando a cabeça para → o sumatriptana, 6 mg se, tem início rápido e
obter alívio geralmente irá encurtar uma crise para 10-15 minutos
→ alguns podem mesmo ficar agressivos durante as → os sprays nasais de sumatriptana (20 mg) e
crises, o que é exatamente o contrário dos pacientes zolmitriptana (5 mg) são eficazes na cefaleia em salvas
com enxaqueca, que preferem ficar imóveis durante as aguda, oferecendo uma opção útil para pacientes que
crises podem não querer autoinjetar diariamente
• Tratamentos preventivos
DIAGNÓSTICO
• Pelo menos 5 crises preenchendo os critérios:

40
→ para pacientes com surtos relativamente curtos, → o ramo mandibular (V3) emerge pelo forame oval
ciclos limitados de glicocorticoides ou metissergida orais e permite a inervação sensitiva da fossa temporal,
podem ser muito úteis mento, mandíbula, porção anterior do pavilhão auricular
→ um ciclo de prednisona por 10 dias, começando (exceto lóbulo), porção anterosuperior do conduto
com 60 mg/dia durante 7 dias, seguidos de redução auditivo externo e membrana timpânica, inervando,
gradual rápida, interrompe o episódio de dor em muitos também, os dois terços anteriores da língua, soalho da
pacientes boca, mastóide, polpas dentárias inferiores, gengiva,
→ quando a ergotamina (1-2 mg) é usada, mostra-se articulação temporo-mandibular e dura-máter da fossa
mais eficaz ao ser administrada 1-2 h antes de uma crise posterior
esperada • Uma das hipóteses fisiopatológicas é a da
→ o lítio (600-900 mg todos os dias) parece ser convergência/projeção trigeminal
particularmente útil para a forma crônica do distúrbio → essa teoria propõe que as entradas nociceptivas
• Embora o verapamil seja comparável com o lítio na recorrentes da cabeça e do pescoço convergem para o
prática, alguns pacientes requerem doses maiores de núcleo espinhal do trigêmeo (subnúcleo caudal),
verapamil do que as administradas para cardiopatias acarretando a liberação de neurotransmissores e
• Neuromoduladores substâncias vasoativas
→ divalproato de sódio → esses mediadores diminuem o limiar de ativação
→ topiramato dos neurônios de segunda ordem, que também recebem
→ gabapentina impulsos de fibras não nociceptivas, gerando aumento
• Melatonina no fluxo de informação transmitida aos centros
• Bloqueio anestésico do nervo occipital maior superiores que interpretam a dor
• A teoria da biorressonância postula que a frequência
NEURALGIA DO TRIGÊMEO de vibração das estruturas que envolvem o nervo
trigêmeo pode lesar as fibras nervosas, levando à
transmissão anormal dos impulsos e geração de dor
FISIOPATOLOGIA
facial
• O nervo trigêmeo é considerado nervo misto, contendo
• Outra hipótese é a da ignição
fibras sensitivas (aferentes) e motoras (eferentes), sendo
→ essa sugere que lesões em aferentes trigeminais da
as primeiras de interesse ao quadro nevrálgico,
raiz ou do gânglio trigeminal geram hiperexcitabilidade
responsáveis pela sensibilidade propioceptiva (pressão
no axônio e/ou no corpo celular, originando paroxismos
profunda e cinestesia) além de exteroceptiva (tato, dor e
de dor em função de atividade neuronal exacerbada
temperatura) da face e parte do crânio, inervando,
• Além das hipóteses, a NT ainda pode ser induzida por
ainda, os músculos responsáveis pela mastigação
distrofia progressiva nos ramos periféricos do nervo
• Ao gânglio de Gasser, chegam as fibras sensitivas
trigêmeo, que, por sua vez, pode ser evocada por
relacionadas ao estiramento e à propriocepção
síndrome de compressão e/ou reações imunoalérgicas
→ tais fibras chegam ao gânglio a partir das três
• A lesão nervosa e tecidual decorrente desses processos
ramificações do nervo (maxilar, mandibular e oftálmico)
leva à liberação de mediadores que sensibilizam as
que possuem áreas específicas de inervação de cada lado
terminações nervosas periféricas (sensibilização
da face
periférica), acarretando alterações neuroquímicas e
→ o ramo oftálmico de Wills (V1) é acometido com
fenotípicas e aumento da excitabilidade dos neurônios
pouca frequência
aferentes do gânglio trigeminal e dos núcleos do
→ o ramo maxilar (V2) atravessa o forame redondo e
trigêmeo (sensibilização central)
carreia sensibilidade da pele e tecido subcutâneo do
→ além disso, ocorrem alterações nas vias de
lábio superior, asa do nariz, bochecha, pálpebra inferior,
modulação descendentes que alteram os limiares e a
região temporal, mucosa do véu do palato, abóbada
percepção da dor
palatina, amígdala, seio maxilar, fossa nasal, gengiva,
• Alguns estudos ainda sugerem que o aumento nos
polpas dentárias superiores, periósteo da órbita e dura-
níveis de IgE e de histamina, comum em certos processos
máter da fossa cerebral média
alérgicos, pode estar envolvido na origem da NT

41
→ nesses casos, o acúmulo de IgE em regiões próximas neuropeptídeo Y (NPY) no nervo trigêmeo e no gânglio
ao nervo trigêmeo pode promover a degranulação de trigemina
mastócitos com liberação de substâncias, como → o acúmulo de neuropeptídeos no local da lesão
histamina e serotonina, que parecem desempenhar um pode estar relacionado ao desenvolvimento de atividade
papel relevante na etiologia da NT neural ectópica e ao desenvolvimento e à modulação da
dor neuropática, apesar de correlações bem definidas
MECANISMOS PERIFÉRICOS
com o desenvolvimento da dor ao longo do tempo não
• Após a lesão de um ramo do nervo trigêmeo, assim terem sido ainda completamente evidenciadas
como ocorre em outros nervos, o processo inflamatório → além disso, as terminações nervosas lesadas
leva à liberação de citocinas pró-inflamatórias, fatores liberam neuropeptídeos vasoativos, perpetuando a
de crescimento, enzimas hidrolíticas e NO, com inflamação (inflamação neurogênica) e a sensibilização
consequente diminuição do limiar de ativação dos periférica
nociceptores e aumento da excitabilidade da fibra • Diversas condições dolorosas, incluindo as dores
nervosa neuropáticas, estão associadas à desregulação na
→ além da inflamação e da liberação de mediadores expressão de fatores neurotróficos
inflamatórios, neuropeptídeos e fatores neurotróficos, → foi observado aumento na expressão de fator de
alterações degenerativas das fibras nervosas crescimento nervoso (NGF) no nervo e nos núcleos
decorrentes do dano direto, como lesão axonal e trigeminais
desmienilização, também são mecanismos periféricos → a diminuição na produção de fatores neurotróficos,
relevantes dentre eles fator neurotrófico derivado da glia (GDNF),
• As citocinas TNF-α, IL-1β e IL-6 têm sido implicadas foi associada ao desenvolvimento de neuropatias
tanto na sensibilização central quanto periférica periféricas
→ o TNF-α é capaz de promover a hiperexcitabilidade → estudos mais recentes sugerem que o GDNF atua
neuronal, aumentar a transmissão excitatória e de maneira parácrina na hiperalgesia trigeminal,
promover inflamação em vários níveis do sistema podendo ser um alvo terapêutico em potência
nervoso, tornando-se um mediador importante da dor • Outro mecanismo fisiopatológico periférico descrito
neuropática crônica como relevante é a transmissão efática ou a excitação
→ a IL-1β produz inflamação sistêmica, induz a cruzada de fibras nervosas
produção de substância-P (SP) e NO, tendo importante → esse fenômeno envolve a transmissão de potenciais
função no desenvolvimento e na manutenção da dor de ação de fibras sensitivas periféricas aferentes lesadas
→ reforça a transmissão sináptica e a atividade e hiperexcitáveis para fibras sensitivas adjacentes não
neuronal em vários locais do sistema nervoso estimuladas ou lesadas, com expansão da área em que a
→ a IL-6 promove maturação e ativação de neutrófilos, dor é percebida
maturação de macrófagos e diferenciação de linfócitos- → o campo eletromagnético gerado em uma fibra
T citotóxicos e natural killer induz a despolarização de fibras vizinhas, provocando
→ é predominantemente pró-inflamatória na dor excitação cruzada, e contribui para alodinia e
neuropática, promovendo exacerbação da inflamação hiperalgesia
através da ativação de células da glia no sistema nervoso • Alguns estudos realizados em biópsias cirúrgicas de
central pacientes com NT observaram desmielinização
→ no entanto, no local da lesão, pode promover ação significativa de fibras sensitivas trigeminais
antinociceptiva, bem como promover a regeneração do → a desmielinização focal leva à aposição de axônios
axônio periférico desmielinizados com ausência de processos de células da
• Além dos mediadores inflamatórios, neuropeptídeos glia entre eles, com possibilidade de geração de impulsos
também têm sido associados ao estabelecimento da dor nervosos ectópicos ou espontâneos e transmissão
neuropática efática entre fibras, fortalecendo o papel da excitação
→ a lesão nervosa de alguns ramos do nervo trigêmeo cruzada como mecanismo patogenético relevante
acarretou alterações na expressão de neuropeptídeos
como SP, peptídeo relacionado ao gene da calcitonina MECANISMOS CENTRAIS
(CGRP), polipeptídeo vasoativo intestinal (VIP) e
42
• A sensibilização central consiste na ativação patológica → a ativação da área de inervação do trigêmeo por
e aumentada de neurônios nociceptivos centrais por estímulos não nociceptivos acarretou atividade
exacerbação de atividade de neurônios nociceptivos exacerbada em diversas dessas regiões centrais,
primários, reorganização anatômica (neuroplasticidade), demonstrando a manutenção de um estado de
alterações nas propriedades eletrofisiológicas com sensibilização do sistema nociceptivo trigeminal
desenvolvimento de hiperexcitabilidade e modificações → a redução do volume de substância cinzenta
nos controles modulatórios da dor observada no córtex somatossensorial primário e
• No sistema nervoso central, os mediadores secundário, tálamo e em outras estruturas centrais nos
inflamatórios que também participam da sensibilização pacientes com NT foi correlacionada à maior duração da
periférica, interferem e funções cognitivas, de memória doença, sugerindo adaptação e fenômenos
e humor do hipocampo e são capazes de sensibilizar de neuroplásticos em resposta à dor crônica na NT
forma exacerbada os neurônios nociceptivos através da
liberação excessiva de neurotransmissores
• As alterações moleculares e celulares levam à mudança QUADRO CLÍNICO
de fenótipo de neurônios de amplo espectro para • É uma algia da face severa, de início aguda, onde as
neurônios nociceptivos áreas de dor intensa são aquelas de distribuição do nervo
→ adicionalmente, ocorrem fenômenos de trigêmeo
neuroplasticidade com estabelecimento de novas • Tipicamente unilateral, e as divisões maxilar e
sinapses entre neurônios nociceptivos e neurônios não mandibular são mais afetadas
nociceptivos • A dor é intensa e paroxística, tem curta duração,
→ essas alterações levam à alodínia, pois alterações instala-se e desaparece subitamente, e reaparece em
nas vias de estímulos não nociceptivos passam a ativar a intervalos variados, manifestando-se como sensação de
via nociceptiva, desencadeando dor sucessivas facadas, queimação ou choques
→ além da alodínia mecânica, as alterações centrais • A dor é circunscrita e não irradia
levam às alterações nos controles modulatórios e
resultam na amplificação da dor, com aumento do DIAGNÓSTICO
campo em que ela é percebida, e no prolongamento da • Ataques paroxísticos de dor facial ou frontal com
resposta ao impulso doloroso duração de poucos segundos a menos do que 2 minutos
• Ocorre um estado de facilitação, potenciação e • A dor tem no mínimo quatro das seguintes
amplificação das respostas centrais com redução de vias características
inibitórias e ativação permanente de vias excitatórias, → distribuição ao longo de uma ou mais divisão do
mesmo na ausência de estímulo nociceptivo nervo trigêmeo
• A hiperexcitabilidade neuronal ocorre em resposta ao → súbito, intenso, agudo, superficial, pontada, ou
remodelamento de alguns canais iônicos queimação na qualidade da dor
transmembrana que estão envolvidos no início da → dor intensamente severa
geração de potenciais de ação, como os canais de sódio → precipitação da dor por “zonas-gatilho” ou por
→ na membrana neuronal da célula lesada, o aumento certas atividades cotidianas, como comer, lavar o rosto,
da densidade de canais de sódio, a diminuição da falar ou escovar os dentes
expressão de canais de potássio e o aumento na
expressão da subunidade auxiliar dos canais de cálcio
TRATAMENTO
voltagem-dependentes acarreta a despolarização da
• Na maior parte dos casos, consiste em terapia
membrana com consequente influxo de cálcio e geração
medicamentosa através de medicamentos
de potencial de ação
anticonvulsivantes, à base de carbamazepina
• Com relação à NT especificamente, o estímulo
• Alguns medicamentos alternativos também estão
doloroso em pacientes foi associado a aumento da
sendo avaliados, como é o caso da toxina botulínica
atividade no núcleo de trato espinhal do trigêmeo,
• O tratamento cirúrgico é indicado em alguns casos
tálamo, córtex somatossensorial primário e secundário,
quando à ineficácia do tratamento com
dentre outras áreas centrais
anticonvulsivantes ou a seus efeitos colaterais.

43
→ exemplo típico, embora não tão frequente, é
o choque anafilático, em que há liberação rápida de
histamina que provoca vasodilatação arteriolar, queda
rápida da pressão arterial, inundação do leito capilar e
diminuição do retorno venoso
• Nesse grupo está também o choque séptico, causado
por resposta sistêmica que o organismo monta contra
invasores biológicos (infecções) ou por lesões teciduais
causadas por agentes físicos ou químicos, cuja
patogênese é complexa e ainda mal compreendida

CHOQUE OBSTRUTIVO
CHOQUE CIRCULATÓRIO • Tem como mecanismo restrição no enchimento das
câmaras cardíacas esquerdas de instalação súbita
CHOQUE HIPOVOLÊMICO • As principais causas são embolia pulmonar maciça
• Quadro de hipoperfusão disseminada de tecidos e (bloqueio do fluxo sanguíneo nas artérias pulmonares) e
células devido a redução do volume sanguíneo que hidro ou hemopericárdio agudos (levam a restrição
resulta em metabolismo celular alterado, morte celular diastólica por preenchimento do espaço pericárdico por
e disfunção ou falha dos órgãos líquido de edema ou por sangue)
• Causado por redução aguda e intensa do volume
circulante, por perda de líquidos, devido a: BASES DO SISTEMA CARDIOVASCULAR
→ hemorragia grave, vômitos e diarreia
→ perda cutânea
→ queimaduras ESTRUTURAÇÃO
→ passagem rápida de líquido do meio intravascular • Do ponto de vista funcional, a circulação sistêmica - ou
para a MEC grande circulação -, pode ser compreendida levando-se
→ como na dengue, devido à perda de fluidos na em conta seus quatro principais componentes: a bomba
microcirculação cardíaca, o sistema arterial de resistência, o sistema
→ causas menos frequentes, como retenção de grande venoso de capacitância e a rede capilar
quantidade de líquido na luz intestinal devido a íleo → a bomba cardíaca no coração agindo como uma
paralítico bomba hidráulica que tem como função produzir pressão
para vencer a resistência imposta pelo atrito de
CHOQUE CARDIOGÊNICO escoamento, acelerando a coluna de sangue em direção
• Surge por insuficiência cardíaca aguda, especialmente aos tecidos
do ventrículo esquerdo, que resulta em incapacidade do → o sistema arterial de resistência, abriga cerca de 30%
coração em bombear o sangue para a circulação de todo o volume sanguíneo do organismo e trabalha
sistêmica produzindo pressão na coluna de sangue
• Para ocorrer choque cardiogênico, deve haver perda da → essa pressão é produzida em virtude do tônus
massa miocárdica de pelo menos 40% e redução da arterial, que é um estado de semicontração constante da
capacidade de ejeção ventricular acima de 80% musculatura lisa das artérias
• As principais causas são infarto agudo do miocárdio e → a rede capilar encontra-se distribuída em paralelo e
miocardites agudas; menos frequentemente, ruptura de é responsável, em última análise, pelo processo de troca
valvas cardíacas (p. ex., endocardite infecciosa) ou de de nutrientes e gases respiratórios com os tecidos –
músculo papilar processo conhecido como perfusão tecidual ou perfusão
tissular
→ circulação que ocorre nos capilares damos o nome
CHOQUE DISTRIBUTIVO
de microcirculação
• Deve-se a vasodilatação arteriolar periférica que
resulta em queda da resistência vascular periférica,
COMO FUNCIONA O SISTEMA
inundação de capilares e redução drástica do retorno
venoso • Três fatores determinam a função cardíaca
→ inotropismo
44
→ é a contração em si, ou seja, a força de contração • Ao baixar a pressão arterial os barorreceptores
– ou contratilidade - do VE localizados nos seios carotídeos e arco aórtico diminuem
→ pré-carga os estímulos aferentes ao sistema nervoso central
→ refere-se ao que ocorre imediatamente antes da • Em resposta á redução na atividade vagal eferente com
contração predomínio do tono simpático este induz taquicardia e
→ a pré-carga é a tensão na parede do VE no vasoconstrição que é mais acentuada na pele, músculo
momento imediatamente anterior à contração esquelético, rins e leito vascular esplâncnico que são
→ ela depende do volume sanguíneo circulante ricos em alfa receptores
(volemia) e da complacência ventricular (capacidade do → deste modo o sangue é dirigido para a circulação
VE de acomodar volume) central mantendo órgãos essenciais à sobrevivência
→ pós-carga imediata, como coração, sistema nervoso central e
→ refere-se ao que ocorre imediatamente após a pulmões
contração • Pressão arteriolar muito baixa estimula os
→ a pós-carga é a pressão que o VE tem que vencer quimioreceptores periféricos sensíveis a anóxia que se
parar ejetar o sangue no sistema arterial instala pela perfusão diminuída nos tecidos
→ ela é determinada, portanto, pela pressão na raiz → o estímulo desses receptores acentua a
da artéria aorta, que por sua vez é determinada pela vasoconstrição periférica e produz taquipneia
pressão arterial sistêmica → este estímulo respiratório melhora o retorno
venoso devido a ação bombeadora auxiliar determinada
MICROCIRCULAÇÃO pelo pulmão, durante a inspiração
• O VE ejeta a coluna de sangue conferindo a esta • Pressão sanguínea abaixo de 40 mmHg resulta em
energia potencial (pressão) e energia cinética isquemia do sistema nervoso central devido ao afluxo
(velocidade) inadequado de sangue e sobrevém descarga simpática
• Na medida em que o sangue flui em direção à rede mais intensa que a soma daquela desencadeada pelos
capilar, tanto sua pressão quanto sua velocidade vão receptores
decaindo, em virtude do atrito do sangue com a parede → essa descarga é acentuada ainda mais e aumenta a
das artérias e do atrito entre as próprias células que o contratilidade do miocárdio
compõem • Respondendo ao estímulo simpático a medula libera
→ assim, o sangue chega à rede capilar sob baixa catecolaminas em quantidades expressivas na tentativa
pressão e baixa velocidade de compensar a hipotensão persistente
→ é importante que isso ocorra, pois caso chegasse → as catecolaminas promovem contração esplênica,
sob alta pressão, os capilares se romperiam, já que a vasoconstrição periférica e têm estímulo crono e
parede capilar é extremamente delgada inotrópico sobre o miocárdio
→ paralelamente, caso chegasse a alta velocidade, • A baixa perfusão renal em pressões abaixo de 60 mmHg
não haveria tempo suficiente para que as trocas gasosas estimula a liberação de renina pelo aparelho
e de nutrientes ocorressem de forma satisfatória justaglomerular
→ chamamos essa pressão nos capilares de pressão → esta transforma o angiotensinogênio do plasma em
hidrostática ou pressão de enchimento capilar (PEC) e angiotensina que tem potente ação vasoconstritora
seu valor varia para cada tecido e também em função de → a angiotensina estimula também a secreção da
diferentes condições fisiológicas aldosterona que promove reabsorção de sódio e água
desde os túbulos renais
• A pressão baixa nos átrios e a nível dos barorreceptores
DINÂMICA DO CHOQUE promove a liberação de vasopressina e do hormônio
• Sempre que uma agressão interfere com o adrenocorticotrófico (ACTH) pelo lobo posterior da
funcionamento adequado do sistema circulatório hipófise
mecanismos homeostáticos são mobilizados com o → a vasopressina é um dos mais potentes
objetivo de restaurar a fisiologia do sistema vasoconstritores liberados no organismo e atua
→ são ativados mecanismos reflexos mediados por via controlando excreção renal de água
neural, mecanismos humorais e autorregulatórios → o ACTH estimula a secreção de corticosteróides
→ estes mecanismos compensatórios consistem na (aldosterona e hidrocortisona)
fase I do choque → a aldosterona auxilia a estabilizar o volume
plasmático aumentando a reabsorção de sódio pelos rins
45
→ os glicocorticóides potencializam o efeito das → esta expansão do leito vascular caracteriza a fase II
catecolaminas e estimulam a gliconeogênese do choque
• Quando a magnitude e a duração do insulto ultrapassa • A acidose resultante da hipóxia celular deprime
a capacidade de regulação homeostática instala-se um diretamente o miocárdio e diminui a resposta deste à
quadro de insuficiência circulatória aguda, denominado estimulação simpática das catecolaminas
choque • Este conjunto de eventos recrudesce a isquemia e
• A persistência da agressão pode permitir a evolução do favorece o aparecimento de lesões endoteliais, liberação
processo para a fase seguinte, progressiva e de tromboplastina e a agregação de hemácias , tornando
descompensada o sangue hipercoagulável iniciando a fase de coagulação
• Ocorre falência cardíaca por hipofluxo coronariano: a intravascular disseminada que caracteriza a fase III do
hipotensão diminui o fluxo de sangue para as artérias choque
coronárias, deprimindo a função cardíaca • A perda funcional da barreira epitelial do trato
→ está depressão do miocárdio agrava a pressão gastrintestinal permite a passagem de flora e toxinas
precariamente baixa, completando um ciclo que tende a para o meio circulante
tornar-se irreversível • Com a generalização e agravamento da hipóxia tissular
• A insuficiência micro circulatória isquêmica é as funções de órgãos vitais começam a deteriorar,
estabelecida pela constrição desencadeada através dos ocorrendo hemorragias por coagulopatia de consumo,
mecanismos compensatórios do choque ativação generalizada de plasminogênio com fibrinólise
→ inicialmente o sangue flui apenas pelas sistêmica , microinfartos , vasoplegia, necrose tubular
metarteríolas devido ao fechamento dos esfíncteres pré- aguda e finalmente falência múltipla de órgãos
capilares caracterizando a fase IV ou de choque irreversível
→ nesta fase há passagem de liquido intersticial para
a luz capilar, tentando repor a volemia
→ a medida que se acentua a constrição na arteríola
ALTERAÇÕES NOS DIFERENTES ORGÃOS
terminal o fluxo é desviado pelas comunicações artério-
venosas para as vênulas distais CÉREBRO
• Com a persistência da constrição sistêmica os tecidos • O cérebro é o órgão que menos sofre interferência das
entram em acidose devido à hipóxia tecidual variações sistêmicas da volemia, pois seu fluxo
→ este fenômeno intensifica a produção de fatores sanguíneo tem regulação local
vasotrópicos locais que relaxam os esfíncteres pré- • O tono vascular local não é regulado pelo sistema
capilares nervoso simpático, mas por agentes da circulação
→ o sangue flui então para o leito capilar que nesta fase → os principais são o oxigênio, dióxido de carbono e
está bastante ampliado prótons hidrogênio cujas concentrações ao serem
→ isto causa dois efeitos alteradas provocam vasodilatação nesta circulação
→ a quantidade de sangue que mesmo em regional durante o choque
condições de normovolemia seria insuficiente para
irrigar todo o leito capilar distendido é precariamente
PULMÕES
baixa e resulta em diminuição do retorno venoso, da
• Os pulmões são bastante resistentes à isquemia, sendo
pressão venosa central e do débito cardíaco
raramente afetados no choque hipovolêmico puro, mas
→ o fluxo capilar sofre estase e não supre as
quando o colapso vascular é causado por sepse ou
necessidades da célula que se torna anóxica
trauma alterações importantes podem ocorrer
→ esta fase é agravada pela constrição das
• Insuficiência pulmonar progressiva, também conhecida
arteríolas proximais e vênulas distais que estão sob
como Síndrome de adaptação respiratória do adulto
efeito dos fatores vasotrópicos sistêmicos
(SARA) ou “pulmão de choque” surge após trauma
→ em consequência a pressão hidrostática
severo, sepse, grande cirurgia, insuficiência renal aguda
sistêmica não é transmitida ao sangue estagnado e os
ou insuficiência cardíaca
catabólitos não retornam pela circulação venosa
→ embora apareça como consequência da evolução de
• A acentuada redução no fluxo periférico propicia o
choque severo seguido de recuperação pode ocorrer
acúmulo de fatores vasotrópicos locais que diminuem o
mesmo antes do estabelecimento do estado de choque
tono vascular periférico agravando ainda mais a
→ caracteriza-se por apresentar aumento do líquido
hipotensão
extravascular pulmonar em consequência do incremento

46
da permeabilidade endotelial, com edema intersticial • A fim de recuperar a perfusão tecidual o organismo
extravasamento de líquidos e proteínas plasmáticas para lança mão de estratégias fisiológicas como a ativação
os alvéolos e redução de surfactante devido à simpática
hipofunção dos pneumócitos tipo II, culminando com → essa ativação desencadeia três respostas principais
colabamento progressivo dos alvéolos → a primeira é a contração das arteríolas, que
aumenta a resistência vascular periférica
→ a segunda é a contração das veias, que aumenta o
• Apesar da estabilização hemodinâmica, o agravamento retorno venoso e, consequentemente a pré-carga
da dificuldade respiratória com hipercapnia e hipóxia, → e a terceira são os efeitos cardíacos diretos: o
pode evoluir para completa falência pulmonar e parada aumento da frequência cardíaca (efeito cronotrópico
cardíaca positivo) e o aumento da força de contração do coração
• Na fase final da evolução do choque podem ocorrer (efeito inotrópico positivo)
atelectasias, congestão alveolar, edema e hemorragia • Tais efeitos atuam em conjunto contribuindo para o
parenquimal aumento da pressão arterial (PA)
→ ao contrário da insuficiência progressiva estas → isso por que: PA= DC X RVP, ou seja, a PA é
alterações contribuem mas não são responsáveis pela diretamente proporcional ao débito cardíaco (DC) e a
evolução fatal resistência vascular periférica (RVP)
→ essa última foi aumentada com a contração
RINS arteriolar mediada pelo simpático
• Estes órgãos sofrem intensa isquemia durante o → o débito cardíaco, por sua vez; é dado por: DC = DS
choque por serem ricos em alfareceptores X FC, ou seja, o débito cardíaco é diretamente
• A vasoconstrição que se estabelece na fase adrenérgica proporcional ao débito sistólico (DS), que consiste no
é proporcional ao grau de hipotensão e diminui a volume de sangue ejetado pelo coração a cada
filtração glomerular agravando a acidose batimento cardíaco, e à frequência cardíaca (FC)
• A capacidade renal para utilização do lactato é pouco → esta última foi alterada pela ativação simpática
afetada pelo decréscimo gradual no fluxo renal, (efeito cronotrópico positivo)
entretanto, a hipotensão aguda prejudica sua irrigação e → o débito sistólico, por sua vez, sofre influência
diminui a metabolização do lactato tanto da contratilidade cardíaca (efeito inotrópico
• Em pressões abaixo de 50 mmHg há redistribuição do positivo, resultado da ativação simpática) quanto do
fluxo sanguíneo neste órgão retorno venoso (aumentado pela vasoconstrição
→ enquanto a medula é perfundida adequadamente o venosa).
córtex não é
• Para que ocorra insuficiência renal no choque há
necessidade de lesão dos túbulos renais, o que acontece
CIRROSE ALCOÓLICA
somente na hipoperfusão do órgão por mais de horas
→ em 24 horas ocorre necrose tubular aguda
• A hepatopatia alcoólica é provocada por uso abusivo e
prolongado de etanol, não necessariamente ligada à
CORAÇÃO
dependência ao etanol, mas relacionada a outros fatores
• A depressão da função cardíaca é devida à redução na predisponentes, genéticos e ambientais
tensão de oxigênio nas coronárias, acidose mista,
perfusão reduzida e a substâncias liberadas pelos tecidos
METABOLIZAÇÃO DO ETANOL
hipoperfundidos
• O etanol é metabolizado por duas vias nos hepatócitos
• É oxidado no citosol pela álcool desidrogenase (ADH),
CHOQUE HIPOVOLÊMICO gerando acetaldeído, que é convertido em acetil-CoA pela
acetaldeído desidrogenase e no retículo endoplasmático pelo
• O denominador comum de todos os tipos de choque é
CYP2E1 (citocromo P450), gerando radicais livres (radical
a redução da PEC
hidroxietil, superóxido e água oxigenada)
→ apesar da redução da PEC, o choque circulatório não
→ reage com ácidos graxos, formando ésteres
cursa necessariamente com hipotensão arterial e débito
• A ADH é o principal sistema responsável pelo metabolismo
cardíaco diminuído
do álcool em baixas concentrações, enquanto o CYP2E1 é
responsável pela metabolização em altas concentrações
47
• O sistema microssomal de oxidação do etanol, que envolve • As mitocôndrias são particularmente lesadas no hepatócito
o CYP2E1, é passível de indução e bastante amplificado com o por ação crônica do etanol
uso crônico do álcool, aumentando assim o estresse oxidativo → há modificações nas proteínas mitocondriais devido à
ação direta de radicais livres e da adição de acetaldeído e
PATOGÊNESE malondialdeído, o que, juntamente com acil etanol ésteres,
• Os mecanismos de agressão induzidos diretamente pelo modifica a permeabilidade transicional da membrana externa,
etanol estão relacionados ao estresse oxidativo e às favorecendo a saída de citocromo c e outros componentes
modificações da atividade de proteínas, causadas por adição mitocondriais desencadeadores de apoptose
de acetaldeído e aldeídos derivados da oxidação de lipídeos • Hipóxia relativa ocorre no uso crônico de álcool, devido ao
→ estão envolvidos nos processos de retenção de proteínas, aumento do consumo de oxigênio pelas células hepáticas,
esteatose, lesões mitocondriais, facilitação da apoptose, sobretudo na região centrolobular, onde se verifica maior
necrose, maior sensibilidade à hipóxia e alterações nos concentração do CYP2E1 e maior metabolização do etanol
mecanismos imunitários • A esteatose hepática induzida pelo etanol é uma das
• Estresse oxidativo é uma situação em que há um primeiras lesões a se desenvolver nos hepatócitos, tendo
desequilíbrio entre a quantidade de pró-oxidantes (geradores vários mecanismos envolvidos na sua patogênese
de radicais livres) e antioxidantes (removedores de radicais • A apoptose de hepatócitos é uma importante lesão na
livres) hepatopatia alcoólica
→ isso ocorre quando há maior produção de espécimes → o etanol induz apoptose por dois mecanismos básicos
reativas derivadas do oxigênio ou do nitrogênio ou menor → aumenta a expressão de receptores Fas e a de FasL nos
produção de antioxidantes como catalase, glutationa hepatócitos
peroxidase e tiorredoxina → desestabiliza a permeabilidade mitocondrial,
→ no alcoolismo crônico o estresse oxidativo tem três favorecendo a liberação de citocromo c e outras proteínas pró-
origens apoptóticas.
→ aumento da produção de radicais livres por meio do → além de induzir apoptose, o etanol modifica proteínas
metabolismo do etanol pelo CYP2E1 e pelas mitocôndrias intracelulares, tornando o hepatócito mais sensível a outros
lesadas estímulos para apoptose, inclusive a induzida pelo TNF
→ aumento da quantidade de NADH+ decorrente da • A necrose de hepatócitos e a inflamação representam um
oxidação do etanol e do acetaldeído passo importante na progressão da doença hepática alcoólica
→ redução de antioxidantes como glutationa (depletado → a necrose pode ser decorrente da agressão mitocondrial
especialmente na mitocôndria), carotenóides e vitamina E intensa pelos radicais livres e aldeídos reativos.
• Os radicais livres podem agredir o hepatócito por ação
direta, interagindo com o DNA ou com os componentes das → a inflamação, caracterizada pela exsudação de neutrófilos
membranas. No DNA, produz lesões nos nucleotídeos que, se e monócitos, é decorrente da produção de citocinas e
inadequadamente reparadas, podem ser fator de risco para quimiocinas por hepatócitos e células de Kupffer, ativados
agravar a doença hepática, inclusive aumentando a chance de pelos aldeídos reativos decorrentes do metabolismo do etanol
ocorrência do carcinoma hepatocelular e por endotoxinas
→ além da ação direta, alterando moléculas e produzindo • A absorção de endotoxinas tem papel patogenético
lesão celular, radicais livres produzem modificações funcionais importante na inflamação e fibrose na hepatopatia alcoólica
em proteínas, especialmente nas que transmitem sinais às → o uso crônico do etanol reduz a resposta imunitária,
células, ativando algumas vias e inibindo outras. aumenta o número bactérias no intestino e a permeabilidade
→ o hepatócito pode, por exemplo, tornar-se mais intestinal a grandes moléculas, favorecendo a absorção de
suscetível à apoptose ou à necrose, em razão de facilidade de endotoxinas bacterianas
ativação de vias que conduzem a esses processos → além disso, os alcoolistas têm capacidade diminuída de
• Diminui a síntese de hepicidina no hepatócito neutralizar endotoxinas
→ peptídeo que normalmente reduz a absorção de ferro nos → como consequência, a endotoxemia é elevada, com
enterócitos e a liberação de ferro nos macrófagos estímulo das células de Kupffer, que produzem citocinas,
→ desse modo há aumento da absorção de ferro, o que especialmente o TNF-α
pode aumentar sua quantidade no hepatócito, favorecendo o → este é ativador de células estreladas, ativador
estresse oxidativo autócrino das células de Kupffer e do endotélio e indutor de
• Há aumento do estresse do retículo endoplasmático, o que apoptose em hepatócitos
aumenta o acúmulo de proteínas alteradas, favorecendo a • A fibrose hepática induzida pelo etanol se deve mais à
ativação de rotas indutoras de apoptose produção aumentada de matriz extracelular do que à
substituição de hepatócitos

48
→ é uma consequência, sobretudo, da ativação de células • Em geral, esses movimentos são clônicos (isto é,
estreladas movimentos repetitivos de flexão/ extensão) em uma
→ quando ativadas, transformam-se em miofibroblastos, frequência de 2 a 3 Hz
produtores de colágeno do tipo I e outras proteínas da matriz → pode-se observar também uma postura tônica pura
extracelular, que se acumulam no espaço de Disse, iniciando a • Três características adicionais das crises motoras focais
fibrose pericelular, que progride como fibrose septal, levando → em alguns pacientes os movimentos motores
à cirrose hepática. anormais podem começar em uma região muito restrita,
CRISE EPILÉPTICA E EPILEPSIA como os dedos, e avançar gradualmente (em questão de
segundos a minutos) para incluir uma parcela maior do
• Resultado da disfunção fisiológica transitória do membro
cérebro, que é causada por uma descarga elétrica → marcha jacksoniana
hipersíncrona, autolimitada e anormal dos neurônios → representa a extensão da atividade epiléptica
corticais para uma região progressivamente maior do córtex
motor
→ os pacientes podem apresentar paresia localizada
CLASSIFICAÇÃO durante alguns minutos a muitas horas na região
acometida após a crise epiléptica
→ paralisia de Todd
→ em casos raros, a crise epiléptica persiste durante
horas ou dias
• Podem manifestar-se como alterações na sensibilidade
somática (parestesias), na visão (luzes piscando ou
alucinações constituídas), no equilíbrio (sensação de
queda ou vertigem), ou na função autonômica (rubor,
sudorese, piloereção)
• As crises focais oriundas do córtex frontal ou do
temporal podem causar alterações na audição, olfato, ou
função cortical superior (sintomas psíquicos)
→ estas incluem a sensação de odores incomuns e
intensos (p. ex., borracha queimando ou querosene) ou
INÍCIO FOCAL sons (grosseiros ou altamente complexos) ou uma
• Surgem a partir de uma rede neuronal localizada sensação epigástrica que ascende do estômago ou tórax
distintamente dentro de um hemisfério cerebral ou para a cabeça
distribuída mais amplamente, porém ainda situada • Alguns pacientes descrevem sentimentos singulares,
dentro do hemisfério como medo, sensação de mudança iminente,
• Podem evoluir em crises epilépticas generalizadas dissociação, despersonalização, déjà vu, ou ilusões de
que os objetos estão se tornando menores (micropsia)
SEM ALTERAÇÃO DA CONSCIÊNCIA ou maiores (macropsia)
→ aura
• As crises epilépticas focais podem causar sintomas
motores, sensoriais, autônomos ou psíquicos, sem
comprometimento da cognição COM ALTERAÇÃO DA CONSCIÊNCIA
→ um paciente que apresenta uma crise motora focal • Comprometimento transitório da capacidade do
oriunda do córtex motor primário direito próximo à paciente de manter contato normal com o ambiente
região que controla os movimentos da mão irá perceber • O paciente é incapaz de responder adequadamente a
o aparecimento de movimentos involuntários na mão comandos visuais ou verbais durante a crise e tem
esquerda contralateral memória ou percepção comprometidas da fase ictal
→ uma vez que a região cortical que controla o • As crises epilépticas frequentemente começam com
movimento da mão é imediatamente adjacente à da uma aura (isto é, crise focal sem distúrbio cognitivo)
expressão facial, a crise também pode causar estereotipada para cada paciente
movimentos anormais da face, sincrônicos aos • O início da fase ictal muitas vezes corresponde a uma
movimentos da mão parada comportamental brusca ou olhar vago e imóvel,

49
que assinala o começo do período de comprometimento descarga epiléptica, as crises de ausência em geral
da percepção consciente acompanham-se de sinais motores bilaterais sutis, como
• A parada do comportamento em geral acompanha-se rápido piscar de olhos, movimentos mastigatórios, ou
de automatismos, que são comportamentos movimentos clônicos de pequena amplitude das mãos
involuntários automáticos, com uma ampla variedade de • Estão associadas a um grupo de epilepsias
manifestações geneticamente determinadas, que começam
→ os automatismos podem consistir em habitualmente na infância (entre 4 e 8 anos) ou no início
comportamentos muito básicos, como mastigar, estalar da adolescência e são o principal tipo de crise em 15 a
os lábios, deglutir, ou movimentos de apanhar ou limpar 20% das crianças com epilepsia
com as mãos, ou comportamentos mais elaborados, • As crises podem ocorrer centenas de vezes durante o
como a expressão de emoção ou o ato de correr dia, mas a criança pode não ter consciência ou ser
• Em geral, o paciente está confuso após a crise incapaz de expressar sua ocorrência
epiléptica, e a transição até a recuperação plena da • A marca eletrofisiológica das crises de ausência típica é
consciência pode demorar de segundos até 1 h uma descarga em ponta-onda generalizada simétrica de
• O exame físico imediatamente após a crise pode 3 Hz, que começa e cessa bruscamente, sobre um EEG de
evidenciar amnésia anterógrada ou, nos casos base normal
envolvendo o hemisfério dominante, afasia pós-ictal → a hiperventilação tende a desencadear essas
descargas eletrográficas e até mesmo as próprias crises,
EVOLUÇÃO DAS CRISES FOCAIS EM CRISES e é uma manobra rotineira durante o registro do EEG
GENERALIZADAS
• As crises focais podem disseminar-se e comprometer CRISES DE AUSÊNCIA ATÍPICAS
ambos os hemisférios cerebrais, produzindo uma crise • A perda de consciência tem duração maior e início e
generalizada, em geral do tipo tônico-clônica fim menos abruptos, e a crise acompanha-se de sinais
→ essa evolução é observada com frequência após motores mais evidentes que podem incluir
crises focais, que surgem a partir de um foco no lobo características focais ou de lateralização
frontal, mas também pode associar-se a crises focais que • O EEG mostra um padrão lento e generalizado de
ocorrem em outras áreas do cérebro ponta-onda, com frequência< 2,5 por segundo, além de
• Muitas vezes, é difícil diferenciar uma crise focal, que outros tipos de atividade anormal
evolui em uma generalizada, de uma crise tônico-clônica • As crises de ausência atípica costumam associar-se a
primária de início generalizado, visto que os anormalidades estruturais difusas ou multifocais do
espectadores tendem a enfatizar a fase epiléptica cérebro e, portanto, podem acompanhar outros sinais de
generalizada, mais dramática da crise epiléptica, e omitir disfunção neurológica, como deficiência mental
os sintomas focais mais sutis presentes no início • Em comparação com as crises de ausência típica,
→ em alguns casos, o início focal da crise só fica apresentam pior resposta ao tratamento com
evidente quando uma anamnese minuciosa identifica anticonvulsivantes
uma aura prévia
CRISES TÔNICO-CLÔNICAS GENERALIZADAS
CRISES EPILÉPTICAS GENERALIZADAS • Principal tipo de crise em cerca de 10% de todas as
pessoas com epilepsia
• Acredita-se que as crises generalizadas tenham a sua
origem em algum ponto do cérebro, porém passam a → também são o tipo mais comum de crise nos
ocupar imediata e rapidamente redes neuronais em distúrbios metabólicos e, portanto, são frequentes em
ambos os hemisférios muitas situações clínicas diferentes
• A crise costuma iniciar-se bruscamente, sem aviso
prévio, porém alguns pacientes descrevem sintomas
CRISES DE AUSÊNCIA TÍPICA
premonitórios vagos nas horas que a antecedem
• Caracterizam-se por lapsos breves e súbitos da
→ este pródromo é distinto das auras estereotípicas
consciência, sem perda do controle postural
associadas a crises focais com generalização
• Em geral, a crise dura apenas alguns segundos, a
• A fase inicial da crise costuma ser de contração tônica
consciência retorna tão subitamente quanto foi perdida
dos músculos de todo o corpo, fato responsável por
e não há confusão pós-ictal
diversas características clássicas do evento
• Embora a breve perda da consciência possa não ser
evidente clinicamente ou ser a única manifestação da
50
→ a contração tônica dos músculos da expiração e da CRISES MIOCLÔNICAS
laringe no início da crise produz um lamento alto, ou • A mioclonia é uma contração muscular súbita e breve
"grito ictal" que pode comprometer uma parte ou todo o corpo
→ a respiração é prejudicada, as secreções acumulam- → uma forma fisiológica comum e normal de mioclonia
se na orofaringe e surge cianose é o movimento de abalo súbito observado ao adormecer
→ a contração dos músculos da mandíbula pode levar • A mioclonia patológica é mais comumente vista
o paciente a morder a língua. Um aumento acentuado do associada a distúrbios metabólicos, doenças
tônus simpático gera aumentos da frequência cardíaca, degenerativas do SNC, ou lesão cerebral anóxica
da pressão arterial e do tamanho das pupilas • Embora a distinção de outras formas de mioclonia seja
• Após 10 a 20 segundos, a fase tônica da crise epiléptica imprecisa, as crises mioclônicas são consideradas
evolui para a fase clônica, produzida pela superposição eventos epilépticos verdadeiros, pois são causadas por
de períodos de relaxamento muscular sobre a contração disfunção cortical (versus subcortical ou espinal)
muscular tônica • As crises mioclônicas costumam coexistir com outras
→ os períodos de relaxamento aumentam formas de crises epilépticas generalizadas, mas são a
progressivamente até o final da fase ictal, que não característica predominante da epilepsia mioclônica
costuma durar mais de 1 minuto juvenil
• A fase pós-ictal caracteriza-se por irresponsividade,
flacidez muscular e salivação excessiva, que pode causar CRISES EPILÉPTICAS ATUALMENTE NÃO CLASSIFICADAS
respiração estridulosa e obstrução parcial das vias • Nem todos os tipos de crises epilépticas podem ser
respiratórias designados como focais ou generalizados e, portanto,
→ nesse momento, podem ocorrer incontinência devem ser considerados como "não classificáveis" até
urinária ou fecal que evidências adicionais permitam uma classificação
• Os pacientes gradualmente recuperam a consciência válida
em alguns minutos ou horas e, durante essa transição, → os espasmos epilépticos são um exemplo
há um período de confusão pós-ictal → caracterizam-se por uma flexão ou extensão
→ posteriormente, os pacientes queixam-se de brevemente sustentada dos músculos
cefaleia, fadiga e mialgia, que podem durar muitas horas predominantemente proximais, incluindo os músculos
• A duração da alteração de consciência na fase pós-ictal do tronco
pode ser extremamente longa, ou seja, de muitas horas,
nos pacientes com crises prolongadas ou doenças
subjacentes do SNC, como atrofia cerebral alcoólica CAUSAS DAS CRISES E DA EPILEPSIA
• Existem diversas variantes da crise tônico-clônica • As crises epilépticas resultam de um desvio no
generalizada, incluindo crises tônicas puras e clônicas equilíbrio normal entre excitação e inibição no SNC
puras • Três observações clínicas importantes enfatizam como
→ vale a pena mencionar as crises tônicas breves, com diversos fatores determinam por que certas afecções
apenas alguns segundos de duração, pois costumam causam crises epilépticas ou epilepsia em um dado
associar-se a síndromes epilépticas específicas que paciente
apresentam fenótipos epilépticos mistos, como a → 1. o cérebro normal é capaz de apresentar uma crise
síndrome de Lennox-Gastaut epiléptica nas circunstâncias apropriadas, e existem
diferenças entre os indivíduos na suscetibilidade ou no
CRISES ATÔNICAS limiar para crises epilépticas
• Caracterizam-se por perda súbita do tônus postural → por exemplo, a febre alta pode induzir crises em
durante 1 a 2 segundos crianças sem outros problemas de saúde e que jamais
• Há breve perda da consciência, mas em geral não há apresentarão problemas neurológicos, incluindo
confusão pós-ictal epilepsia
• Uma crise muito breve pode gerar apenas queda rápida → entretanto, as crises febris ocorrem em
da cabeça ou movimento de inclinação da cabeça, proporção relativamente pequena das crianças
enquanto uma crise mais longa leva o paciente a cair → isso implica a existência de diversos fatores
endógenos subjacentes que influenciam o limiar para
uma crise
→ o desenvolvimento normal também
desempenha papel importante, pois o cérebro parece
51
apresentar limiares diferentes para crise epiléptica em • Durante o período neonatal e início da lactância, as
diferentes estágios de maturação causas em potencial incluem encefalopatia hipóxico-
→ 2. existem diversas afecções que apresentam isquêmica, traumatismo, infecção do SNC,
altíssima probabilidade de acarretar um distúrbio anormalidades congênitas do SNC e distúrbios
epiléptico crônico metabólicos
→ a alta propensão da lesão cerebral traumática → os recém-nascidos de mães que utilizaram drogas
grave de gerar epilepsia sugere que a lesão resulte em neurotóxicas como cocaína, heroína ou etanol, são
uma modificação patológica persistente no SNC que suscetíveis a crises por abstinência da droga nos
transforma uma rede neural presumivelmente normal primeiros dias de vida
em outra anormalmente hiperexcitável → hipoglicemia e hipocalcemia, que podem ocorrer
→ esse processo é conhecido como epileptogênese como complicações secundárias de lesão perinatal,
e as alterações específicas que resultam em diminuição também são causas de crises epilépticas logo após o
do limiar para crises epilépticas podem ser consideradas nascimento
fatores epileptogênicos → as crises epilépticas provocadas por erros inatos do
→ outros processos associados à epileptogênese metabolismo em geral manifestam-se quando a
incluem acidentes vasculares encefálicos, infecções e alimentação regular é iniciada, com 2 a 3 dias de vida
anormalidades do desenvolvimento do SNC → as crises febris simples não se associam a aumento
→ 3. as crises epilépticas são episódicas do risco de epilepsia, enquanto as crises febris
→ os pacientes com epilepsia têm crises de maneira complexas encerram risco de 2 a 5%
intermitente e, de acordo com a causa subjacente, → outros fatores de risco incluem a presença de
muitos permanecem completamente normais por meses déficits neurológicos prévios e história familiar de crises
ou até mesmo anos entre as crises afebris
→ isto sugere a existência de fatores • A infância assinala a época em que muitas síndromes
desencadeantes ou precipitantes importantes que epilépticas bem definidas se manifestam
induzem crises no paciente com epilepsia → algumas crianças, normais nos demais aspectos,
→ analogamente, fatores desencadeantes são desenvolvem crises tônico-clônicas generalizadas
responsáveis pela ocorrência da crise epiléptica única em idiopáticas sem outras características que se encaixem
indivíduos sem epilepsia em síndromes específicas
→ os elementos precipitantes incluem aqueles → a epilepsia do lobo temporal em geral manifesta-se
decorrentes de processos fisiológicos intrínsecos, como na infância e pode ter relação com a esclerose do lobo
estresse psicológico ou físico, privação do sono, ou temporal mesial (como parte da síndrome de ELTM) ou
alterações hormonais associadas ao ciclo menstrual; outras anormalidades focais, como disgenesia cortical
também incluem fatores exógenos como exposição a → outros tipos de crises focais, incluindo aquelas que
substâncias tóxicas e certos fármacos evoluem em crises generalizadas, podem ser uma
• Essas observações enfatizam o conceito de que muitas manifestação relativamente tardia de um distúrbio do
causas de crises epilépticas e epilepsia resultam de uma desenvolvimento, de uma lesão adquirida como
interação dinâmica entre fatores endógenos, fatores traumatismo craniano, de infecção do SNC
epileptogênicos e fatores desencadeantes (especialmente encefalite viral) ou, muito raramente, de
• A descoberta de uma lesão epileptogênica ajuda a tumor do SNC
estimar a recorrência das crises epilépticas e a duração • O período da adolescência e início da idade adulta é
da terapia uma fase de transição, durante a qual síndromes
→ a remoção ou modificação de um fator epilépticas de origem genética ou idiopática, como a
desencadeante pode ser um método eficaz e mais Epilepsia Mioclônica Juvenil e a epilepsia de ausência
seguro de prevenir novas crises epilépticas do que o uso juvenil, tornam-se menos comuns, enquanto as
proftlático de anticonvulsivantes epilepsias secundárias a lesões adquiridas do SNC
começam a predominar
CAUSAS RELACIONADAS A IDADE → as crises epilépticas que começam em pacientes
• A idade é um dos fatores mais importantes para dessa faixa etária podem estar associadas a traumatismo
determinar a incidência e a provável causa das crises ou craniano, infecções do SNC (incluindo parasitoses como
da epilepsia a cisticercose), tumores cerebrais, anormalidades
congênitas do SNC, uso de drogas ilícitas ou abstinência
de álcool
52
→ o traumatismo craniano é uma causa comum de
epilepsia em adolescentes e adultos
→ a lesão craniana pode ser causada por uma
variedade de mecanismos, e a probabilidade de
desenvolver epilepsia correlaciona-se fortemente com a
gravidade da lesão
→ crises epilépticas recorrentes costumam surgir
em 1 ano após o traumatismo craniano, embora já se
tenham descrito intervalos de cerca de 10 anos
• As causas de crises epilépticas em adultos mais velhos
incluem doença vascular cerebral, traumatismo
(incluindo hematoma subdural), tumores do SNC e
doenças degenerativas
→ a doença vascular cerebral possivelmente é a
responsável por cerca de 50% dos casos novos de
epilepsia em pacientes acima de 65 anos
→ as crises epilépticas agudas (ou seja, que ocorrem no
momento do acidente vascular encefálico) são vistas
com maior frequência no acidente vascular embólico do
que no hemorrágico ou trombótico
→ as crises epilépticas crônicas surgem de meses a MECANISMOS BÁSICOS
anos após o evento inicial e estão associadas a todas as
formas de acidente vascular encefálico MECANISMOS DE INÍCIO E PROPAGAÇÃO DA CRISE
• Distúrbios metabólicos como desequilíbrio eletrolítico, EPILÉPTICA
hipo ou hiperglicemia, insuficiência renal e insuficiência • A atividade epiléptica focal pode começar em uma
hepática podem causar crises epilépticas em qualquer região bastante restrita do córtex e, em seguida,
idade disseminar-se para regiões vizinhas
→ de modo semelhante, os distúrbios endócrinos, as → isto é, há uma fase de início da crise e uma fase de
doenças hematológicas, as vasculites e muitas outras propagação da crise
afecções sistêmicas podem causar crises epilépticas ao • A fase de iniciação caracteriza-se por dois eventos
longo de uma ampla faixa etária concomitantes em um agregado de neurônios:
• Uma extensa variedade de fármacos e substâncias de → salvas de potenciais de ação de alta frequência
uso abusivo sabidamente precipitam crises epilépticas → hipersincronização
• A atividade paroxística é causada por despolarização de
duração relativamente longa da membrana neuronal
decorrente do influxo de cálcio extracelular (Ca2+), o
qual leva à abertura dos canais de sódio (Na+)
dependentes da voltagem, influxo de Na+ e geração de
potenciais de ação repetitivos
→ isto é seguido de um pós-potencial hiperpolarizante
mediado por receptores do ácido γ-aminobutírico
(GABA) ou canais de potássio (K+), de acordo com o tipo
celular
• Normalmente, a propagação da atividade paroxística é
impedida pela hiperpolarização intacta e por uma região
de inibição "circundante” criada por neurônios
inibidores
→ com ativação suficiente, há recrutamento dos
neurônios circundantes por diversos mecanismos
sinápticos e não sinápticos, incluindo

53
→ aumento do K+ extracelular, que amortece a MECANISMOS DE EPILEPTOGÊNESE
hiperpolarização e despolariza neurônios vizinhos • Epileptogênese refere-se à transformação da rede
→ acúmulo de Ca2+ nas terminações pré-sinápticas, neuronal normal em uma rede que é cronicamente
levando a maior liberação de neurotransmissores hiperexcitável
→ ativação induzida pela despolarização do subtipo • Estudos patológicos do hipocampo de pacientes com
NMDA do receptor de aminoácidos excitatórios, que epilepsia do lobo temporal levaram à sugestão de que
causa influxo adicional de Ca2+ e ativação neuronal algumas formas de epileptogênese teriam relação com
→ interações efáticas relacionadas a alterações da alterações estruturais nas redes neuronais
osmolaridade tecidual e edema celular → por exemplo, muitos pacientes com ELTM sofrem
• O recrutamento de uma quantidade suficiente de perda altamente seletiva de neurônios, o que pode
neurônios leva à propagação da atividade epiléptica para contribuir para a inibição dos principais neurônios
áreas contíguas por conexões corticais locais, e para excitatórios contidos no giro denteado
áreas mais distantes por meio de vias comissurais longas • Há evidências de que, em resposta à perda de
como o corpo caloso neurônios, ocorre reorganização ou "brotamento'' dos
• Muitos fatores controlam a excitabilidade neuronal e, neurônios sobreviventes de uma maneira que afetaria a
desta maneira, existem muitos mecanismos em excitabilidade da rede
potencial para alterar a propensão do neurônio a • Uma lesão inicial como o traumatismo craniano pode
apresentar atividade paroxística gerar uma região focal de modificação estrutural que
→ os mecanismos intrínsecos ao neurônio incluem causa hiperexcitabilidade local
alterações na condutância dos canais iônicos, nas → a hiperexcitabilidade local origina novas alterações
características de resposta dos receptores da estruturais que evoluem ao longo do tempo, até que a
membrana, no tamponamento citoplasmático, nos lesão focal produz crises epilépticas clinicamente
sistemas de segundo mensageiro e na expressão de evidentes
proteínas determinada pela transcrição, tradução e → modelos semelhantes forneceram fortes sinais de
modificação pós-tradução dos genes alterações a longo prazo nas propriedades bioquímicas
→ os mecanismos extrínsecos ao neurônio abrangem intrínsecas das células contidas na rede, como alterações
modificações na quantidade ou no tipo de crônicas na função do receptor de glutamato ou GABA
neurotransmissores presentes na sinapse, modulação de • Pesquisas recentes sugeriram que a indução de
receptores por íons extracelulares e outras moléculas e cascatas inflamatórias também pode representar um
propriedades temporais espaciais dos impulsos fator crítico nesses processos
aferentes sinápticos e não sinápticos
→ a penicilina, capaz de reduzir o limiar para crises
epilépticas em seres humanos e um potente EXAMES E DIAGNÓSTICO
convulsivante em modelos experimentais, reduz a
inibição ao antagonizar os efeitos do GABA no seu
ANAMNESE E EXAME FÍSICO
receptor
• O primeiro objetivo é determinar se o evento de fato
→ os mecanismos básicos de outros fatores
foi uma crise epiléptica
desencadeantes de crises epilépticas, como privação do
• Uma anamnese minuciosa é essencial
sono, febre, abstinência alcoólica, hipóxia e infecção, são
→ em muitos casos, o diagnóstico de crise epiléptica se
menos bem compreendidos, mas presume-se que
baseia unicamente em critérios clínicos
envolvam perturbações análogas da excitabilidade
→ o exame físico e os testes laboratoriais costumam
neuronal
ser normais
• Sabe-se muito mais sobre a origem das descargas em
• As perguntas devem concentrar-se exatamente nos
ponta-onda generalizadas das crises de ausência
sintomas que ocorreram antes, durante e após o
→ estas parecem ter relação com os ritmos oscilatórios
episódio a fim de discriminar entre crise epiléptica e
normalmente gerados durante o sono por circuitos que
outros eventos paroxísticos
conectam o tálamo e o córtex
• As crises epilépticas com frequência ocorrem fora do
→ este comportamento oscilatório envolve uma
ambiente hospitalar e o paciente pode não ter
interação entre receptores GABA8, canais de Ca2+ do
consciência das fases ictal e pós-ictal imediata
tipo T e canais de K+ localizados dentro do tálamo
→ portanto, as testemunhas do evento devem ser
inquiridas cuidadosamente

54
• A anamnese deve concentrar-se nos fatores de risco e epilépticas, como anormalidades nos eletrólitos, glicose,
eventos predisponentes cálcio ou magnésio e doenças hepática ou renal
→ os indícios de predisposição a crises epilépticas → também se deve solicitar triagem para toxinas no
incluem história de crises febris, auras ou crises sangue e na urina de todos os pacientes que pertençam
epilépticas breves anteriores não reconhecidas como aos grupos de risco apropriados, principalmente se não
tais, e história familiar de crises epilépticas for identificado um fator de risco precipitante claro
→ fatores epileptogênicos como traumatismo craniano • A punção lombar é indicada se houver qualquer
anterior, acidente vascular encefálico, tumor ou infecção suspeita de meningite ou encefalite, e é obrigatória em
do sistema nervoso devem ser identificados todos os pacientes infectados pelo HIV, mesmo na
→ nas crianças, uma avaliação cuidadosa dos marcos ausência de sinais ou sintomas sugestivos de infecção
do desenvolvimento pode proporcionar evidências de
uma doença subjacente do SNC EXAMES ELETROFISIOLÓGICOS
→ também se devem identificar fatores • Todos os pacientes suspeitos de um distúrbio
desencadeantes como privação do sono, doenças epiléptico devem ser avaliados com EEG tão logo
sistêmicas, perturbações eletrolíticas ou metabólicas, possível
infecção aguda, fármacos que reduzem o limiar para • Na avaliação de um paciente suspeito de epilepsia, a
crises epilépticas ou uso de álcool ou drogas ilícitas presença de atividade epiléptica eletrográfica durante o
• O exame físico geral inclui uma pesquisa de sinais de evento clinicamente evidente - isto é, atividade rítmica
infecção ou enfermidade sistêmica repetitiva anormal com início e fim distintos - estabelece
→ um exame da pele cuidadoso pode revelar sinais dos o diagnóstico claramente
distúrbios neurocutâneos, como a esclerose tuberosa ou → contudo, a ausência de atividade epiléptica
neurofibromatose, ou de uma doença renal ou hepática eletrográfica não exclui um distúrbio epiléptico porque
crônica crises focais podem originar-se de uma região do córtex
→ a detecção de organomegalia pode indicar uma que não pode ser detectada por eletrodos no couro
doença metabólica de depósito, e assimetria dos cabeludo
membros fornece um indício de lesão cerebral no início • O EEG sempre é anormal durante crises tônico-clônicas
do desenvolvimento generalizadas
→ devem-se procurar por sinais de traumatismo • A telemetria com vídeo-EEG (monitorização >24h)
craniano e uso de álcool e drogas ilícitas atualmente é um exame rotineiro para o diagnóstico
→ a ausculta cardíaca e das artérias carótidas pode preciso de epilepsia em pacientes com eventos mal
evidenciar uma anormalidade que predisponha a doença caracterizados ou crises epilépticas de difícil controle
vascular cerebral • O EEG também é usado para classificar os distúrbios
• Todos os pacientes necessitam de exame neurológico epilépticos e ajudar na seleção de fármacos
completo, com ênfase especial na pesquisa de sinais de anticonvulsivantes
doença hemisférica cerebral • A magnetencefalografia (MEG) oferece outro modo
→ uma avaliação cuidadosa do estado mental não invasivo de avaliar a atividade cortical. Em vez de
(incluindo a memória, a função da linguagem e o medir a atividade elétrica do cérebro, mede os pequenos
pensamento abstrato) pode sugerir lesões nos lobos campos magnéticos que são gerados por essa atividade
frontal anterior, parietal ou temporal
→ o teste dos campos visuais ajuda na triagem de
AVALIAÇÃO NEURORRADIOLÓGICA
lesões das vias ópticas e dos lobos occipitais
• Quase todos os pacientes com crises epilépticas de
→ os testes de triagem da função motora, como o de
início recente devem ser submetidos a exames cerebrais
pronação-desvio, reflexos tendíneos profundos, marcha
de imagem, para determinar se existe uma
e coordenação, podem sugerir lesões do córtex motor
anormalidade estrutural responsável
(frontal), e testes da sensibilidade cortical (p. ex.,
• A RM é superior à TC na detecção de lesões cerebrais
estimulação simultânea dupla) podem detectar lesões
associadas à epilepsia
no córtex parietal
→ em alguns casos, a RM identifica lesões como
tumores, malformações vasculares e outras patologias
EXAMES LABORATORIAIS
que necessitam de tratamento imediato
• Exames sanguíneos de rotina estão indicados para
identificar as causas metabólicas mais comuns de crises

55
• No paciente suspeito de infecção do SNC ou lesão estão mais comumente associados a crises psicogênicas
expansiva, deve-se obter uma TC em regime de do que a crises epilépticas
emergência caso não se disponha imediatamente de RM • As crises psicogênicas muitas vezes duram mais do que
→ do contrário, é satisfatório obter uma RM alguns as crises epilépticas e podem ir e vir durante minutos a
dias após a avaliação inicial horas
• A medição dos níveis séricos de prolactina também
ajuda a discriminar entre crises orgânicas e psicogênicas,
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
já que a maioria das crises generalizadas e algumas crises
focais são acompanhadas de elevações da prolactina
SÍNCOPE sérica (durante os primeiros 30 minutos do período pós-
• As observações feitas pelo paciente e por expectadores ictal imediato), enquanto as crises psicogênicas não o
capazes de ajudar a discriminar entre síncope e crise são
epiléptica • O diagnóstico de crises psicogênicas não exclui um
• As características de uma crise epiléptica incluem a diagnóstico concomitante de epilepsia, pois os dois
presença de aura, cianose, inconsciência, manifestações muitas vezes coexistem
motoras durante mais de 15 segundos, desorientação
pós-ictal, dores musculares e sonolência
→ ao contrário, a probabilidade de um episódio de
síncope é maior se o acontecimento tiver sido provocado
por dor aguda ou ansiedade ou tiver ocorrido logo após
levantar-se da posição deitada ou sentada
• Pacientes com síncope costumam descrever uma
transição estereotipada da consciência para
inconsciência que inclui cansaço, sudorese, náuseas e
visão em túnel, e apresentam uma perda relativamente
breve da consciência
• Cefaleia ou incontinência geralmente sugerem uma
crise epiléptica, mas às vezes também ocorrem na
síncope
• Um breve período (ou seja, 1 a 10 segundos) de
atividade motora convulsiva é frequentemente
observado logo após o início de um episódio de síncope,
principalmente se o paciente permanecer em postura
ereta após desmaiar (p. ex., na cadeira de dentista) e,
portanto, tiver redução persistente da perfusão cerebral
• Raramente, um episódio de síncope induz uma crise
tônico-clônica plena
→ nesses casos, a avaliação deve concentrar-se na
causa do evento de síncope e na possibilidade de o
paciente ter propensão a crises recorrentes

CRISES PSICOGÊNICAS
• As crises psicogênicas são comportamentos não
epilépticos que se assemelham a crises epilépticas
→ com frequência, fazem parte de uma reação de
conversão precipitada por sofrimento psicológico
subjacente
• Certos comportamentos, como virar a cabeça de um
lado para o outro, movimentos de abalos assimétricos e
de grande amplitude dos membros, abalos dos quatro
membros sem perda de consciência e impulsos pélvicos,

56
preferência com uma única medicação no esquema
posológico que o paciente possa seguir com facilidade
TRATAMENTO
• O tratamento de um paciente com distúrbio epiléptico QUANDO INICIAR
quase sempre é multimodal e inclui o tratamento das • A terapia farmacológica deve ser iniciada em todo
afecções subjacentes que causem ou contribuam para as paciente com crises recorrentes de etiologia
crises epilépticas, exclusão de fatores precipitantes, desconhecida, ou com uma causa conhecida que seja
supressão das crises recorrentes por terapia profilática irreversível
com antiepilépticos ou cirurgia e discussão de diversas • A conduta de instituir tratamento em paciente após
questões psicológicas e sociais uma crise única é controversa
• Os fatores de risco geralmente aceitos em associação à
TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS SUBJACENTES recorrência das crises incluem
• Se a única causa da crise epiléptica for um distúrbio → exame neurológico anormal
metabólico, como anormalidade dos eletrólitos séricos → crises que se manifestam como estado de mal
ou da glicemia, o tratamento visa reverter o problema epiléptico
metabólico e prevenir sua recorrência → paralisia de Todd pós-ictal
→ a terapia com antiepilépticos em geral é → história familiar significativa de crises epilépticas
desnecessária, a menos que seja impossível corrigir → EEG anormal
prontamente o distúrbio metabólico e o paciente corra • Questões como o trabalho ou a condução de veículo
risco de apresentar novas crises também podem influenciar a decisão de iniciar a
• Se a causa aparente de uma crise tiver sido um fármaco medicação
(p. ex., teofilina) ou o uso de drogas ilícitas (p. ex., → por exemplo, um paciente com uma única crise
cocaína), o tratamento apropriado consiste em evitar a idiopática cujo trabalho depende da condução de
substância veículos pode preferir usar antiepilépticos em vez de
• As crises epilépticas causadas por lesões estruturais do arriscar-se a apresentar uma nova crise e perder a
SNC, como tumor cerebral, malformação vascular ou prerrogativa de conduzir veículos
abscesso cerebral, podem não recorrer após o
tratamento apropriado da lesão subjacente SELEÇÃO DOS AGENTES ANTIEPILÉPTICOS
→ entretanto, apesar da eliminação da lesão • No mundo todo, os mais antigos, como a fenitoína,
estrutural, existe o risco de permanecer um foco de crise ácido valproico, carbamazepina, fenobarbital e
epiléptica no tecido circundante ou de aparecer um novo etossuximida, costumam ser utilizados como tratamento
foco como resultado de gliose e outros processos de primeira linha na maioria dos distúrbios epilépticos,
induzidos por cirurgia, radiação ou outras terapias pois, no cômputo geral, são tão eficazes quanto os
→ portanto, a maioria dos pacientes é mantida com medicamentos mais modernos e significativamente mais
antiepilépticos por no mínimo 1 ano e só devem ser baratos
feitas tentativas de suspender a medicação se o paciente • Além da eficácia, os fatores que influenciam a escolha
estiver totalmente livre de crises epilépticas de uma medicação inicial incluem a conveniência da
→ se as crises forem refratárias à medicação, o posologia (p. ex., 1 versus 3 ou 4x/dia) e os efeitos
paciente pode beneficiar-se da remoção cirúrgica da colaterais em potencial
região epiléptica do cérebro • Quase todos os antiepilépticos comumente
empregados causam efeitos colaterais semelhantes
EXCLUSÃO DOS FATORES PRECIPITANTES dose-relacionados, como sedação, ataxia e diplopia
• Alguns são capazes de identificar situações particulares • O uso prolongado de alguns agentes em adultos,
que parecem reduzir o seu limiar para crises epilépticas particularmente no indivíduo idoso, pode levar à
→ essas situações devem ser evitadas osteoporose

TEPAPIA FARMACOLÓGICA ANTIEPILÉPTICA CARBAMAZEPINA


• Inibe as descargas neuronais corticais repetitivas,
• A administração de antiepilépticos é a base do
tratamento da maioria dos pacientes com epilepsia sustentadas e de alta frequência pelo bloqueio dos cana
• O objetivo global é prevenir completamente as crises is de sódio dependentede voltagem
sem causar quaisquer efeitos indesejáveis, de • Possui uma discreta ação anticolinérgica

57
• Indicações: adjuvante, no caso de falha terapêutica de outros
→ monoterapia ou terapia adjuvante de crises focais, antiepilépticos
com ou sem generalização
→ crises TCG em pacientes com mais de 1 ano de idade ETOSSUXIMIDA
• Apresenta um espectro de ação antiepiléptico bastante
CLOBAZAM restrito
• O principal sítio de ação dos benzodiazepínicos é um • Seu principal mecanismo de ação é o bloqueio dos
receptor pós‐sináptico do GABA canais de cálcio, com consequente inibição do circuito
• Ao ligar-se aos receptores GABA-A, como todos os tálamo-cortical, que está intimamente relacionado à
benzodiazepínicos, aumentar a frequência de aberturas geração de crises de ausência
destes receptores, aumentando, assim, as correntes • Indicações
inibitórias neuronais → tratamento de crises de ausência em pacientes com
ou mais de 3 anos de idade
→ atua como agonista, inibindo o SNC, devido ao → tratamento adjuvante de mioclonias negativas,
influxo do íon cloreto crises astáticas e certos tipos de epilepsias mioclônicas
• Indicações
→ terapia adjuvante de crises parciais e generalizadas FENITOÍNA
refratárias • Seu principal mecanismo de ação é o bloqueio dos
→ terapia intermitente canais de sódio dependentes de voltagem, o que lhe
confere grande eficácia contra crises epilépticas de início
CLONAZEPAM focal
• Bastante útil no tratamento de crises mioclônicas, • Indicações
podendo ser usado como monoterapia, mas mais → tratamento de crises TCG, focais complexas, ou
frequentemente é utilizado na terapia adjuvante combinação de ambas, em crianças, adolescentes e
• Indicações adultos
→ adultos e crianças → prevenção e tratamento de crises epilépticas
→ crises de ausência (incluindo ausências atípicas) durante ou após procedimento neurocirúrgico
→ crises TCG primárias ou secundárias → tratamento das crises tônicas, próprias da Síndrome
→ crises tônicas de Lennox-Gastaut
→ crises clônicas
→ crises focais FENOBARBITAL
→ crises mioclônicas • Seu principal mecanismo de ação é o prolongamento
→ mioclonias e movimentos anormais associados da abertura dos canais de cloro, dos receptoras GABA-A
e consequente hiperpolarização da membrana pós-
LEVETIRACETAM sináptica
• Acredita-se que o levetiracetam exerça suas • Também pode bloquear os canais de sódio e potássio,
propriedades antiepilépticas ligando-se especificamente reduzir o influxo de cálcio pré-sináptico e,
à proteína 2ª da vesícula sináptica, interferindo com a provavelmente, reduzir as correntes mediadas pelo
exocitose e liberação de neurotransmissor na fenda glutamato
sináptica • Indicação
• Indicações → tratamento de crises focais e generalizadas de
→ pacientes com epilepsia focal e epilepsia pacientes de qualquer idade, inclusive recém-nascidos
primariamente generalizada em adultos e crianças com
mais de 6 anos (12 anos para crises tônico-clônico GABAPENTINA
generalizadas) como terapia adjuvante em casos • Apresenta estrutura semelhante ao GABA
refratários à monoterapia com antiepiléptico de • Seu sítio de ligação é uma subunidade dos canais de
primeira linha cálcio dependentes de voltagem
→ crises mioclônicas em pacientes com EMJ, como • Indicação
terapia adjuvante e casos refratários → terapia adjuvante de crises focais com ou sem
→ tratamento de crises epilépticas em pacientes com generalização secundária em pacientes com mais de 3
microcefalia causada pelo vírus Zika, como terapia anos de idade

58
• Estima-se que 50 milhões de pessoas (dentre 100 países)
TOPIRAMATO contraiam a doença por ano
• Bloqueia os canais de sódio dependentes de voltagem, • Grande impacto na produtividade
modulação negativa dos canais de cálcio tipo-L, ativação • Taxa de mortalidade vem crescendo
da condutância do potássio, potencialização da ação • A chance de dengue grave é maior quando a segunda
infecção é pelo sorotipo 2
inibitória GABAérgica, antagonismo a receptores de
→ em termos de virulência, em ordem decrescente temos os
glutamato
sorotipos 2, 3, 4 e 1
• Indicações
→ monoterapia de crises focais ou primariamente do
tipo TCG em pacientes com mais de 10 anos de idade FISIOPATOLOGIA
com intolerância ou refratariedade a outros
medicamentos de primeira linha • Após a inoculação do vírus através da picada, este faz sua
→ terapia adjuvante de crises focais, primariamente replicação nos linfonodos locais, células musculares estriadas
generalizadas ou crises associadas com a Síndrome de e lisas, e fibroblastos
Lennox-Gastaut em pacientes com mais de 2 anos de → com essa replicação inicial se produz a viremia e se
idade dissemina o microorganismo pelo organismo todo, livre no
plasma ou no interior dos monócitos e macrófagos
LAMOTRIGINA → o vírus penetrar nos macrófagos é chamada de segunda
• Seu principal mecanismo de ação parece envolver a onda de replicação
inibição dos canais de sódio dependentes de voltagem, • O vírus da dengue tem tropismo por células fagocitárias
resultando em inibição dos potenciais elétricos pós- • A replicação viral estimula a produção de citocinas pelos
sinápticos macrófagos e, indiretamente, pelos linfócitos T helper
• Indicações específicos que interagem com o HMA classe II dessas células
→ monoterapia de crises focais com ou sem • A síndrome febril da dengue provavelmente depende da
generalização secundária em pacientes com mais de 12 liberação dessas substâncias, sendo as mais importantes o
anos de idade com intolerância ou refratariedade a FAE TNF-α e a IL-6
de primeira linha • Para prevenção e cura das infecções por dengue, tem
→ monoterapia de crises primariamente generalizadas importância a resposta humoral
→ os anticorpos, ligando-se principalmente a epítopos da
em pacientes com mais de 12 anos de idade com
proteína E, no envelope, produzem lise viral ou bloqueio dos
intolerância ou refratariedade a FAE de primeira linha
receptores, com consequente neutralização viral
→ terapia adjuvante de crises focais em pacientes com
• A infecção primária estimula a produção de IgM, detectáveis
mais de 2 anos de idade
a partir do 4º dia após início dos sintomas, atingindo níveis
→ terapia adjuvante de crises generalizadas da
mais elevados por volta do 7º ou 8º dia, declinando
síndrome de Lennox-Gastaut em pacientes com mais de
lentamente até não serem mais detectáveis após alguns meses
2 anos de idade
→ as IgG são detectáveis, em níveis baixos, a partir do 4º dia
após início dos sintomas, se elevam gradualmente atingindo o
VIGABATRINA pico em 2 semanas e são detectáveis por anos
• É análogo estrutural do GABA que inibe → conferindo assim, imunidade contra o sorotipo por toda
irreversivelmente a GABA-transaminase (GABA-T), a vida provavelmente
aumentando os níveis sinápticos de GABA no cérebro. • A resposta imunocelular citotóxica mediada por LT é descrita
sob estímulo das proteínas NS1, NS3 e E dos vírus da dengue
→ LTCD4 lisam células infectadas pelo vírus portando HMA
DENGUE II, produzem IFN-δ, IL-2 e o fator estimulador de colônias de
macrófragos e granulócitos
• Arbovirose → LTCD8 lisam células infectadas portando HMC I
• Transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti • A sintomatologia geral, como mialgia, febre e mal-estar, se
→ o vírus da dengue é do gênero Flavivirus, da família deve a níveis elevados de TNF-α, IL-6 e IFN
Flaviviridae → as mialgias se devem, em parte, à multiplicação viral no
→ 4 sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3, DENV-4 próprio tecido muscular
→ adquire o vírus se alimentando do sangue de um indivíduo
infectado na fase de viremia (um dia antes do aparecimento FORMA GRAVE
da febre e vai até o 6º dia de doença)
59
• Geralmente ocorre em pacientes que já se infectaram por sorotipos diferentes, sequência das infecções (DENV-2
algum sorotipo do vírus e, anos depois, voltam a se infectar secundário aos outros sorotipos), ampla circulação do vírus
por outro sorotipo • Um evento fisiopatológico adicional, recentemente descrito,
→ mas pode acontecer também em uma primeira infecção ajudou a esclarecer ainda mais os fenômenos observados na
→ a explicação mais provável para isso é a existência de dengue grave
predisposição genética → o antígeno NS1, secretado em grande quantidade durante
• Numa primeira infecção o sistema imune produz anticorpos a infecção, bem como as próprias partículas virais circulantes,
para aquele tipo específico de sorotipo são capazes de neutralizar moléculas do glicocálix (substâncias
→ anticorpos homólogos presentes na superfície das células endoteliais responsáveis
→ provavelmente perduram a vida toda pela “barreira de permeabilidade”)
→ também oferecem imunidade cruzada contra outros → tal processo potencializa o aumento da permeabilidade
sorotipos vascular induzido pelas citocinas pró-inflamatórias, agravando
→ porém por alguns meses a poucos anos o extravasamento de líquido, albumina e outras
→ para o novo sorotipo eles são considerados anticorpos macromoléculas plasmáticas para fora dos vasos sanguíneos
heterólogos
→ de caráter subneutralizante
QUADRO CLÍNICO
• Teoria de Halstead (principal teoria para dengue grave)
→ a ligação de anticorpos heterólogos ao novo sorotipo de
vírus da dengue (sem neutralizá-lo) facilitaria a penetração do FASE FEBRIL
vírus nos macrófagos, por mecanismo de opsonização • Febre alta de início súbito
→ uma quantidade muito maior de vírus ganharia o interior → >39ºC
dos fagócitos onde vão se proliferar em maior escala → principal manifestação
→ isso vai aumentar a viremia e estimular a produção de → duração entre 2-7 dias
uma “tempestade” de citocinas (TNF-alfa, IL-6), além de → acompanhada de adinamia, cefaleia, dor retrorbitária,
proteases ativadoras do sistema complemento e mialgia e artralgia
tromboplastina (fator pró-coagulante) • Queixas gastrointestinais são bem frequentes nessa fase
→ LTCD4+ específicos para o vírus secretam IFN-δ, que age → anorexia, náuseas, vômitos e diarreia
sobre os macrófagos infectados, potencializando a → branda e com fezes pastosas 3-4x ao dia
internalização viral e a expressão de moléculas do HMC II em • Exantema maculopapular
sua membrana que, por sua vez, ativa mais LTCD4+ específicos → desenvolvida por metade dos pacientes
– um mecanismo de retroalimentação positiva → pode ser ou não pruriginoso
• Teoria de Rosen → face, troncos e extremidades
→ o quadro seria causado exclusivamente por cepas mais → não poupa as palmas das mãos e plantas dos pés
virulentas do agente etiológico → costuma surgir durante e desfervescência e dura no
• Teoria da multicausalidade máximo 36-48h
→ integra a teoria de Halstead e Rosen e acrescenta outras • A maioria dos pacientes passa da fase febril direto para a fase
variáveis de recuperação
→ fatores individuais

→ menores de quinze anos e lactentes, sexo feminino, raça


branca, bom estado nutricional, presença de enfermidades
FASE CRÍTICA
crônicas (diabetes, hipertensão, asma brônquica, anemia
• Indivíduos que desenvolvem o fenômeno de extravasamento
falciforme), preexistência de anticorpos, intensidade da
plasmático
resposta imune anterior
• Se instala durante a defervescência
→ fatores virais
→ entre o 3° e o 7° dia após o início dos sintomas
→ sorotipos circulantes e virulência das cepas
• Suas manifestações são os sinais de alarme
→ fatores epidemiológicos
→ dor abdominal intensa e contínua
→ existência de população suscetível, circulação
→ referida ou à palpação
simultânea de dois ou mais sorotipos, presença de vetor
→ vômitos persistentes
eficiente, alta densidade vetorial, intervalo de tempo
→ hipotensão ortostática ou lipotimia
calculado de três meses a cinco anos entre duas infecções por
→ hepatomegalia
→ > 2cm do RC

60
→ sangramento de mucosas → um quadrado com 2,5 cm de lado deve ser desenhado no
→ letargia e/ou irritabilidade antebraço do paciente, e observaremos o surgimento de
→ acúmulo de líquido petéquias ou equimoses dentro dele
→ ascite, derrame pleural e/ou pericárdico → o surgimento de 20 ou mais petéquias no antebraço de
→ aumento progressivo do Ht um adulto, e 10 ou mais petéquias na criança, até o tempo
• O choque circulatório ocorre quando um volume crítico de máximo ou antes dele, define a positividade da “prova do laço”
plasma sai do espaço intravascular
→ resulta em hipovolemia e má perfusão tecidual DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
generalizada • Gripe
→ o intervalo de tempo entre o início do extravasamento → influenza
plasmático e a conflagração do estado de choque varia de 24 • Novas arboviroses que circulam em nosso território
a 48 horas → Zika e Chikungunya
→ sem tratamento, o choque leva o paciente ao óbito em • Leptospirose
questão de 12 a 24 horas, por falência múltipla de órgãos → forma anictérica
• Viroses exantemáticas
FASE DE RECUPERAÇÃO → sarampo, rubéola, mononucleose, enterovirose
• Pacientes que recebem terapia apropriada durante a fase • Hepatites virais
crítica atingem a fase de recuperação dentro de poucos dias, e • Infecções bacterianas agudas
o líquido extravasado para o espaço extravascular começa a → pielonefrite, pneumonia, colecistite, endocardite,
ser reabsorvido, com melhora gradual do estado clínico faringoamigdalite estreptocócica
→ neste momento é importante estar atento à possibilidade • A presença de leucocitose significativa, especialmente com
de complicações relacionadas à hiper-hidratação, como a “desvio à esquerda”, praticamente afasta o diagnóstico de
hipervolemia dengue e sugere uma doença bacteriana piogênica ou
→ HAS, edema agudo de pulmão leptospirose
→ o débito urinário pode ficar aumentado, e muitos
pacientes desenvolvem bradicardia
TRATAMENTO
• A terapia se baseia no alívio sintomático (analgésicos,
DIAGNÓSTICO antitérmicos, antieméticos e anti-pruriginosos), com ênfase na
hidratação (oral nos casos brandos, intravenosa nos casos
• A seleção do método laboratorial para confirmação graves)
diagnóstica da suspeita de dengue depende do intervalo de • Os salicilatos (AAS) e demais AINEs estão contraindicados na
tempo transcorrido desde o início dos sintomas suspeita de dengue, pelo risco de sangramento (inibição
• Até o 5º dia de doença somente métodos que identifiquem plaquetária)
diretamente o vírus e suas partículas podem ser usados
→ pesquisa de antígenos virais (dosagem do antígeno NS1
no sangue); isolamento viral (cultura); Teste de Amplificação
Gênica (RT-PCR); imunohistoquímica tecidual
→ a negatividade desses testes não descarta o diagnóstico
→ só poderá ser afastado em definitivo após
demonstração da ausência de anticorpos IgM antidengue
(sorologia negativa) a partir do sexto dia de doença
• Do 6º dia em diante o diagnóstico deve ser feito por meio da
sorologia, com pesquisa de anticorpos IgM antidengue pela
técnica ELISA
• A prova do laço deve ser feita em todos os casos suspeitos
de dengue que não apresentam sangramentos espontâneos, e DERRAME PERICÁRDICO
consiste na insuflação do manguito do esfigmomanômetro até
o valor médio da pressão arterial aferida • A formação de um derrame é um componente de um
→ fórmula (PAS +PAD)/2 processo inflamatório, infeccioso ou neoplásico que
→ por até 5 min no adulto e 3 min na criança acomete o pericárdio

61
• O pericárdio, normalmente, é cheio de uma pequena • O aumento da temperatura corporal é causado pelas
quantidade de líquido (30 a 50 mℓ), com uma pressão prostaglandinas que são produzidas nas células vasculares e
intrapericárdica que, em geral, é a mesma da intrapleural perivasculares do hipotálamo
• Com o acréscimo súbito de líquido, a pressão • Os produtos bacterianos como a LPS (pirógeno exógeno),
pericárdica pode aumentar às vezes ao nível das estimulam os leucócitos a liberarem citocinas como IL-1 E
pressões atrial e ventricular direitas TNF
→ a pressão de distensão transmural do ventrículo → eles vão aumentar as enzimas COX que convertem o AA
diminui e a câmara entra em colapso, impedindo o em prostaglandinas
enchimento adequado do coração pelo retorno venoso • No hipotálamo, as prostaglandinas, especialmente a PGE2,
estimulam a produção de NTs que reprogramam o ponto de
sistêmico
ajuste de temperatura para um nível mais alto
• Pode ocorrer em resposta a qualquer causa de
→ Alguns micro-organismos têm uma replicação mais lenta
pericardite, de modo que o paciente pode desenvolver
em temperaturas mais altas.
dor torácica ou atrito pericárdico
• Desenvolve-se lentamente, e pode ser assintomático
• Contudo, a ocupação súbita do espaço pericárdico por DIABETES MELLITUS 2
fluido pode ter consequências catastróficas, por limitar o
enchimento ventricular
• Distúrbio metabólico caracterizado por hiperglicemia
→ tamponamento pericárdico.
crônica e alterações do metabolismo de carboidratos,
proteínas e gorduras, decorrentes de defeitos da
secreção e/ou ação da insulina

EPIDEMIOLOGIA
• Uma das doenças mais prevalentes da atualidade
• Vem crescendo exponencialmente ao longo dos anos
→ enquanto no ano de 1985 a população mundial de
diabéticos se restringia a apenas 30 milhões de pessoas,
esse valor subiu para 135 milhões no ano de 1995 e para
250 milhões no ano de 2013

FISIOPATOLOGIA

RESISTÊNCIA À INSULINA
• Geralmente o fator fisiopatológico inicial no
desenvolvimento do diabetes melito tipo 2, muitas vezes
com início anos antes da consolidação da doença
• O receptor de insulina é um receptor de membrana do
tipo tirosinoquinase, formado por duas subunidades alfa
extracelulares e duas subunidades beta intracelulares
→ se encontra na superfície celular
• A ligação da insulina à subunidade alfa promove
mudanças conformacionais intracelulares, que ativam o
domínio de tirosinoquinase situado na própria
subunidade beta intracelular do receptor
→ uma vez ativado, esse domínio passa a fosforilar
resíduos de tirosina do próprio receptor e outros
FISIOLOGIA DA FEBRE resíduos de tirosina presentes em proteínas
intracelulares responsivas a esse receptor
• As substâncias que induzem a febre são chamadas de → como as proteínas do substrato de receptor de
pirógenos insulina (IRS) do tipo IRS1, IRS2, IRS3, IRS4, GAB-1 e Shc

62
→ tais proteínas, quando fosforiladas em tirosina, • As células do tecido adiposo visceral liberam grande
ativam uma série de reações enzimáticas intracelulares quantidade de ácidos graxos livres para a circulação
em cascata para a membrana plasmática, levando à portal, que alcança diretamente o fígado
captação de glicose pela célula → quanto maior a quantidade de AGL que chega ao
• A ação da insulina não se resume ao aumento de fígado, maior será sua resistência à insulina
transporte de glicose para o intracelular, mas há diversas → não apenas no fígado, mas em todos os órgãos
outras ações periféricos em que houver depósito de gordura ectópica,
→ efeito estimulador de glicogênese, proteogênese e haverá grande dificuldade da insulina em exercer a
lipogênese; aumento da reabsorção renal de sódio e de ativação adequada do seu receptor, uma vez que os AGL
ácido úrico; estímulo à produção de óxido nítrico, também são capazes de ativar enzimas estimuladoras
promovendo vasodilatação periférica; e ação pró- das serinoquinases, como a PCK
mitótica, ativando as vias de proliferação celular • A quantidade de AGL circulantes é um fator pró-
• Para a ação plena da insulina por meio da ligação ao inflamatório, estimulador da síntese de citocinas
seu receptor, a fosforilação dos resíduos de tirosina é inflamatórias pelo organismo
essencial • Quanto maior a quantidade de triglicerídios estocados
→ na ausência dessa adequada reação enzimática, no músculo (gordura intramiocelular), maior a
muitas das ações da insulina não se completam e a ação resistência insulínica deste tecido
hormonal é prejudicada • Quanto maior o grau de esteatose hepática, menor a
• A gordura visceral é um tecido que produz e aumenta sua capacidade de suprimir a gliconeogênese e a
a concentração sérica de citocinas inflamatórias glicogenólise
sistêmicas • Quanto maior a quantidade de gordura visceral, menor
→ TNF-alfa, INF-gama, IL-1, IL-6, entre outras será a produção de citocinas protetoras do ponto de
→ tais citocinas, ao se ligarem aos seus receptores vista metabólico, como a adiponectina
celulares, ativam cascatas de enzimas intracelulares com
propriedades serinoquinases
→ como a CPK Fatores que influenciam na
→ uma vez ativadas, passa a existir a fosforilação do resistência à insulina
receptor de insulina em resíduos de serina e treonina (e
não de tirosina), prejudicando a cascata de reações
enzimáticas e a adequada ação do hormônio • Idosos
• As citocinas inflamatórias elevadas no indivíduo com → dispõem de maior proporção de adiposidade
aumento de gordura visceral resultam em meia-vida visceral, mais proteínas inflamatórias circulantes e maior
mais curta dos receptores de insulina, sendo este um acúmulo celular de triglicerídios
mecanismo adicional para o aparecimento de resistência • Etnia
a esse hormônio → latinos, ameríndios e negros têm risco aumentado
→ após determinado período ativo, o receptor de frente à população branca nos EUA
insulina deve ser fisiologicamente internalizado e → no entanto, há grande variação na ocorrência de
submete-se a um processo de desfosforilação, realizado diabetes melito tipo 2 dentro da mesma etnia,
por enzimas tirosinofosfatases, que o inativam demonstrando a importância da herança genética,
→ citocinas inflamatórias, como TNF-alfa e IL-6, porém ressaltando a relevância das condições
aumentam a atividade das enzimas tirosinofosfatases, ambientais (hábitos de vida) no desenvolvimento da
inativando os receptores de insulina de maneira precoce resistência à insulina
• O tecido adiposo visceral é do tipo naturalmente muito • Genética
mais resistente à insulina do que o tecido adiposo → a captação muscular de glicose está reduzida em
subcutâneo 60% nos parentes de indivíduos com diabetes melito tipo
• As células de gordura visceral são mais ricas em 2, e há um aumento de 80% na gordura intramuscular
receptores adrenérgicos (a NE é um hormônio nessa população, mostrando reduzida capacidade de
contrarregulador da insulina), além de serem mais ricas oxidação de glicose e de AGL nesses indivíduos
em receptores de cortisol e na enzima 11-beta- → consequentemente, parentes em primeiro grau
hidroxiesteroide desidrogenase (11-beta-HSD) tipo 1, das pessoas com diabetes melito tipo 2 podem
que ativa localmente a cortisona em cortisol, que apresentar resistência à insulina, mesmo sem obesidade
também é um hormônio contrarregulador da insulina ou outros fatores de risco evidentes
63
• Excesso de ingestão calórica, gordura e carboidratos → aumentam muito a chance de desenvolvimento
→ o excesso de nutrientes é inicialmente estocado na de hiperglicemia em situação de pós-transplante
forma de triglicerídios nos adipócitos • Ativação do sistema imune
→ se a capacidade de estoque é excedida, os → quadros infecciosos causam liberação de cortisol,
triglicerídios adicionais são desviados para tecidos não epinefrina e outros hormônios contrarreguladores,
adiposos, como os do fígado, dos músculos e das células aumentando a resistência periférica à insulina e
vasculares, produzindo um estado inflamatório reduzindo a secreção pancreática, podendo piorar o
sistêmico e consequente resistência à insulina nível glicêmico

• Obesidade • Hormônio do crescimento (GH)


→ há adipócitos muito ricos em triglicerídios, que → atua como contrarregulador, aumentando a
produzem leptina, IL-6, IL-8, TNF-alfa, fatores de resistência à insulina
crescimento e citocinas inflamatórias, criando um • Prolactina e hormônio lactogênico placentário
ambiente inflamatório sistêmico favorável à resistência → hormônios contrarreguladores da insulina
à insulina • Restrição de sono
• Quantidade de gordura visceral → a redução na quantidade e qualidade do sono
→ tem associação direta com a disfunção metabólica provoca maior concentração de grelina, diminuição de
global – resistência à insulina, glicemia de jejum alterada, leptina e aumento de apetite, com consequente
hiperinsulinemia, aumento de triglicerídios, redução do aumento de peso e suas consequências
colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL-c) e
aumento de AGL
→ os adipócitos viscerais são mais lipolíticos, Consequências
tamponando menos os AGL da circulação e,
consequentemente, aumentando os AGL circulantes e
possibilitando a chegada de maior quantidade destes ao • Redução da formação de HDL-c e acúmulo de
fígado, além de também secretarem grande quantidade triglicerídeos
de adipocinas inflamatórias, como TNF-alfa, visfatina e → a insulina atua como fator ativador da enzima
resistina, responsáveis por piorar a resistência à insulina lipoproteína lipase (LPL), enzima endotelial responsável
• Atividade física pela metabolização de quilomícrons (QM) e VLDL
→ induz a maior capacidade de oxidação dos AGL pelos → consequentemente, na resistência à insulina, a
músculos, consequentemente reduzindo a concentração ação de tal enzima é prejudicada levando ao acúmulo
de AGL e a inflamação sistêmica plasmático de lipoproteínas ricas em triglicerídios (QM e
→ aumenta o transporte de GLUT para a membrana VLDL) e à redução da formação de HDL-c no plasma
plasmática das células musculares, independentemente • Hipertensão
da ação da insulina, melhorando a glicemia de forma → a insulina estimula a vasodilatação arterial por
insulinoindependente promover maior síntese de óxido nítrico
• Medicações → na resistência à sua ação, essa vasodilatação não
→ diversas medicações influenciam diretamente os ocorre, sendo um fator contribuinte para elevação da
fatores metabólicos pressão arterial nesses indivíduos
→ corticoides → além disso, a hiperinsulinemia promove maior
→ que aumentam adiposidade visceral, lipólise e reabsorção tubular renal de sódio, deixando os pacientes
produção de AGL, tendo ação direta na resistência à levemente hipervolêmicos, e também o aumento do
insulina nível sérico de diversas substâncias com ação
→ antirretrovirais usados no tratamento do HIV hipertensiva, como angiotensinogênio, homocisteína,
→ promovem redução em número e tamanho de fibrinogênio, inibidor do ativador do plasminogênio 1
mitocôndrias, diminuindo a capacidade oxidativa celular, (PAI-1), entre outras
provocando acúmulo de gordura intramuscular e dentro • Hiperuricemia
de outros tecidos e lipotoxicidade → a hiperinsulinemia compensatória do paciente
→ imunossupressores resistente à insulina reduz o clearance renal de ácido
→ principalmente o tacrolimo úrico, que pode se elevar nesses pacientes, sendo um

64
fator de risco adicional de hipertensão e de risco → aumenta a fome e reduz mecanismos de saciedade,
cardiovascular causando ganho de peso e, então, mais resistência
• Aumento do risco cardiovascular periférica
→ em parte explica-se esta relação em vista do tipo de • Hiperinsulinemia
dislipidemia aterogênica que ocorre nesses indivíduos: → gera down-regulation dos próprios receptores de
hipertrigliceridemia, HDL-c baixo, partículas de insulina, aumentando ainda mais a resistência à insulina,
lipoproteína de baixa intensidade (LDL) pequenas e como um ciclo vicioso
densas, que são mais aterogênicas
• Glicotoxicidade
→ a resistência à insulina associa-se a maior → hiperglicemia intracelular intensa limita a ação de
vasoconstrição, hipertensão arterial sistêmica (HAS), algumas enzimas intracelulares e ativa a ação de outras,
estado inflamatório sistêmico, estado pró-coagulante e ocorrendo o acúmulo de alguns precursores da via
obesidade visceral, que causa redução de adiponectina, glicolítica, como a glicose-6-fosfato (G6P)
uma proteína produzida pelos adipócitos que estimula a → o excesso da G6P acaba sendo desviado para a via
oxidação energética das mitocôndrias das hexosaminas, visando à formação de glicosaminas e
→ todos também são fatores de risco para maior outros derivados
incidência de doenças cardiovasculares → neste processo também são sintetizadas
• Redução no transporte de glicose do plasma para citocinas inflamatórias, como o fator de
dentro das células crescimento transformador beta (TGF-beta) e PAI-1, que
• Hiperglucagonemia somadas ao excesso de glicosaminas induzem a
→ sem ação direta da insulina, há menos supressão da alteração da fosforilação do receptor de insulina e, com
produção pancreática de glucagon, resultando em isso, aumentam a resistência periférica à insulina
excesso desse hormônio, o que, por sua vez, pode → dessa maneira, a própria hiperglicemia gerada
estimular maior glicogenólise e gliconeogênese hepática, por ação deficiente da insulina causa diretamente mais
acentuando a glicemia de jejum resistência à insulina, resultando em um ciclo vicioso,
• Resistência muscular que recebe o nome de glicotoxicidade
→ bastante precoce e caracteriza-se pela reduzida
capacidade de o músculo captar, metabolizar e estocar a SECREÇÃO INADEQUADA DE INSULINA PELAS CÉLULAS BETA
glicose, reduzindo a glicólise e a glicogênese PANCREÁTICAS
• Redução na capacidade oxidativa mitocondrial com • A síntese de insulina ocorre na célula beta pancreática,
aumento de radicais livres que incialmente produz a pró-insulina, pró-hormônio
→ as mitocôndrias ficam menores e menos eficientes, que é clivado em concentrações equimolares de insulina,
assim passam a ter menor capacidade oxidativa, gerando peptídio C e outros aminoácidos
menos adenosina trifosfato (ATP) e energia, → a pró-insulina acaba sendo secretada em pequena
consequentemente formando mais radicais livres pelo quantidade para a circulação, tendo reduzida ação
estresse oxidativo biológica, cerca de 10% da ação da insulina
• Resistência no tecido adiposo → o peptídio C, uma fração sem ação biológica
→ causa menor captação de glicose e aumento da esclarecida, pois ainda não se detectou nenhuma ação
lipólise do tecido adiposo, secundária à resistência à do peptídio C diretamente no metabolismo dos
ação inibitória da insulina sobre a ação da lipase carboidratos, é totalmente liberado para circulação
hormônio-sensível dos adipócitos, que se tornam bem periférica, sendo eliminado por via renal exclusiva
ativos e lipolíticos, liberando AGL para a circulação → se encontra em proporção suficiente para ser
• Aumento de AGL circulantes dosado na circulação e serve como marcador indireto da
→ causam inflamação sistêmica, promovendo síntese de insulina
resistência à insulina → de toda insulina secretada, apenas 40% chegam à
→ o excesso de AGL concentra-se principalmente no circulação periférica, e os outros 60% sintetizados e
fígado, piorando a resistência à insulina hepática e a secretados pelo pâncreas em última instância são retidos
utilização hepática de glicose localmente pelo fígado na circulação porta e não têm atuação efetiva
→ entende-se que o aumento de AGL circulante sirva periférica
como fator preditor da progressão de glicemia de jejum
alterada para diabetes melito tipo 2
• Resistência à insulina hipotalâmica
65
→ após aproximadamente 4 h, a insulinemia volta ao
Mecanismo de secreção pancreática seu nível basal
de insulina • A secreção insulínica depende também de outros
fatores diferentes da alimentação
→ há uma variação de acordo com o período do dia,
• A glicose entra na célula beta pancreática através dos com maior pico de produção pela manhã, após o café da
canais transportadores de glicose do tipo 2 (GLUT2) manhã, independentemente da ingestão de
• Ao entrar na célula, a glicose é fosforilada pela enzima carboidratos nessa refeição, refletindo maior resistência
glucoquinase, produzindo G6P, sendo esta a principal via periférica à insulina no período da manhã ou talvez
limitante da glicólise menor sensibilidade à variabilidade glicêmica das células
→ a G6P continua na via glicolítica, em todas suas beta no período da tarde e noite
etapas bioquímicas, e no final produzindo energia na • Os estímulos parassimpáticos e vagal também
forma de ATP estimulam a síntese e secreção de insulina
• O ATP, uma vez formado, promove o fechamento de → os estímulos simpáticos e adrenérgicos são capazes
canais de potássio (K) dependentes de ATP de inibir esse processo e aumentar a resistência
→ esses canais são conhecidos como SUR1/Kir6.2, periférica
assim denominados por serem formados por uma
porção extracelular (SUR, onde se ligam medicações
como as sulfonilureias e as glinidas) e uma porção Secreção inadequada no DM2
transmembrana (Kir 6.1 e 6.2, por onde passa o K do
extra para o intracelular)
→ este canal se fecha na presença de ATP (ou quando • Inicialmente há perda da secreção de primeira fase,
ativado pela ligação de medicações), despolarizando a com defeito na liberação dos grânulos pré-formados e,
célula beta pancreática, o que provoca a abertura dos evolutivamente, passa a ocorrer perda da secreção de
canais de cálcio da superfície celular segunda fase
→ o influxo de cálcio promove exocitose dos → como reflexo, há inicialmente grande incremento de
grânulos de insulina pré-formados (efeito agudo), além glicemia pós-prandial, manifestada como intolerância à
de estimular maior síntese de insulina pelas células beta glicose no TOTG, e somente depois há alteração da
pancreáticas (efeito crônico) glicemia nos outros horários, como nos pré-prandiais
• Pacientes diabéticos passam a secretar maior
proporção de insulina durante o estado basal, e menor
Dinâmica da secreção de insulina proporção no estado pós-prandial, já que perdem essa
secreção de primeira fase
• Pacientes sujeitos a alterações que determinem
• Cerca de 50% da insulina secretada durante o dia resistência à insulina, como obesidade, geralmente
ocorre de forma contínua (basal), enquanto os outros mostram aumento relativo na massa de células beta,
50% ocorrem sob a forma de picos pós-alimentares para compensar a resistência periférica com maior
• Após uma refeição, a secreção insulínica ocorre em secreção de insulina
duas fases → mecanismo aparentemente efetivo em um primeiro
→ a primeira, também conhecida como fase rápida, momento
tem um pico maior de concentração hormonal e menor • A exposição prolongada de células beta aos AGL leva à
duração disfunção no mecanismo de sensibilidade dessas células
→ ocorre um aumento de cerca de 5 vezes na à glicose, o que, a longo prazo, provoca secreção
produção de insulina, quando comparada ao nível basal, inadequada de insulina, inibindo o mecanismo de
com maior pico após 1 h da ingestão alimentar compensação pancreática à resistência à insulina
→ entende-se que essa fase seja o resultado da sistêmica, levando à alteração da glicemia de jejum e
liberação de grânulos pré-formados de insulina finalmente ao DM2
→ a segunda fase constitui-se em uma secreção menor
comparativamente, porém de duração mais prolongada
RESISTÊNCIA À AÇÃO E REDUÇÃO NA SECREÇÃO DE INCRETINAS
→ é reflexo da produção e secreção de insulina
GASTROINTESTINAIS
recém-formada

66
• As incretinas são hormônios produzidos no intestino,
principalmente no íleo distal, diante da chegada local de Adiposidade e processo
alimentos inflamatório
→ peptídio semelhante ao glucagon 1 (GLP-1), peptídio
semelhante ao glucagon 2 (GLP-2) e polipeptídio
inibitório gástrico (GIP) • O tecido conjuntivo adiposo é formado por três
espécies de adipócitos (brancos, beges e marrons), cada
um deles com papéis específicos, como
• Após sua liberação na corrente sanguínea, estes termorregulação, depósito energético-lipídico e função
hormônios ligam-se ao receptor na célula endócrina − esta última observada pela secreção de
betapancreática, promovendo a formação de AMPc fatores imunoinflamatórios, como citocinas pró-
intracelular inflamatórias, fatores de sensibilidade insulínica e
→ na presença de AMP cíclico e do ATP, formado pela metabolismo glicídico, apetite e balanço energético,
via glicolítica, ativada quando há glicose circulante, entre outros
ocorre síntese de insulina e liberação dos grânulos pré- • É importante destacar que a adiposidade, a hiperplasia
formados, descrita anteriormente e a hipertrofia de adipócitos estão intimamente ligadas
→ ou seja, hormônios incretínicos são incapazes, com aumento de mediadores inflamatórios, diminuição
isoladamente, de aumentar a secreção pancreática de de adiponectina, aumento da resistência à ação da
insulina, pois esta ação é dependente da presença de insulina, aumento da inflamação e hiperinsulinemia,
ATP no meio intracelular, que se forma quando há aumento do estresse oxidativo e metabolismo anormal
glicose no meio de lipídios
• Assim sendo, as incretinas são elementos • O desenvolvimento de DM tipo 2 relacionado à
colaboradores da secreção de insulina na vigência de obesidade tem como principal colaboradora a
hiperglicemia inflamação do tecido adiposo, o qual sofre modificações
• Em pacientes portadores de DM2 ou portadores de metabólicas, como aumento de lipólise, e elevação de
outras condições que aumentam a resistência à insulina, migração e/ou diferenciação de células imunitárias
a produção e a liberação de incretinas pelas células do inflamatórias residentes no tecido adiposo, entre as
íleo distal estão reduzidas, eliminando, portanto, esse quais destacam-se macrófagos, linfócitos T e B,
mecanismo complementar de secreção insulínica, o que neutrófilos, entre outras, que corroboram para síntese
contribui para a patogênese do DM2 de citocinas e adipocitocinas

AUMENTO NA REABSORÇÃO TUBULAR DE GLICOSE


Ação dos mediadores
• No rim, a glicose filtrada é reabsorvida através de imunoinflamatórios
canais de alta afinidade chamados de co-transportador
sódio-glicose (SGLT), sendo 90% da glicose filtrada
reabsorvida através do SGLT tipo 2 e os remanescentes • As adipocitocinas, advindas da inflamação crônica de
10% através do SGLT tipo 1 baixo grau do tecido adiposo, no quadro de obesidade,
• Nos pacientes portadores de diabetes melito 2, parece têm sido relacionadas diretamente a resistência à ação
haver uma resposta adaptativa desse sistema de da insulina e à base da SM, com vistas a disfunção
reabsorção renal de glicose após hiperglicemia mantida sistêmica e DM
a longo prazo → destacam-se o TNF-α, a resistina e a IL-6
→ neste caso, passa a existir maior ação dos canais • A adiponectina é considerada uma adipocina
transportadores, especificamente o SGLT-2, reguladora de efeito antagônico, associada a proteção
promovendo maior reabsorção da glicose filtrada pelos vascular, aumento da captação de glicose por aumento
rins, e consequentemente elevando a glicemia sistêmica da sensibilidade à insulina, diminuição da
gliconeogênese hepática e supressão de substâncias pró-
MEDIADORES IMUNOINFLAMATÓRIOS inflamatórias
• As citocinas imunoinflamatórias IL-6 e TNF-α são
secretadas em excesso na condição de hiperplasia dos
adipócitos e infiltração de macrófagos e linfócitos no
tecido adiposo

67
→ associação do sistema imunológico, atuando na → nos períodos de hiperglicemia plasmática, então,
redução da cadeia de sinalização insulínica e tem-se maior entrada de glicose, aumentando a glicemia
consequente translocação de glicose, bem como intracelular
alteração da homeostase energética e massa corporal, • Inicialmente, as lesões microvasculares são danos
contribuindo para desencadeamento do DM por endoteliais às células suscetíveis
resistência à ação da insulina
→ tais mediadores agem também sobre a regulação da • O endotélio lesionado perde a capacidade de sintetizar
síntese de PCR NO
→ importante marcador inflamatório relacionado a → além disso, passa a ter maior sensibilidade a fatores
lesão tecidual e eventos cardiovasculares vasoconstritores, como angiotensina II (ATII) e
• A hiperglicemia promove o aumento de mediadores endotelina-1
inflamatórios e a glicação de proteínas, gerando → com menor produção de NO e maior sensibilidade à
inativação funcional destas, bem como auto-oxidação ATII, há maior pressão no interior dos vasos acometidos,
das partículas de glicose, levando à formação de radicais aumentando a permeabilidade capilar e o
livres, que ocasionam a destruição e a disfunção de extravasamento de proteínas
células, como as β-pancreáticas → no início, essas alterações podem ser
→ forma-se, assim, uma importante alteração normalizadas, mas com o tempo elas se tornam
sistêmica, que não pode ser compensada pelo sistema irreversíveis
antioxidante, o qual elimina radicais livres do organismo • Há, então:
→ deste modo, temos a falha de processo, → queda de NO
denominada estresse oxidativo → maior sensibilidade à angiotensina II e endotelina-1
• Há uma importante contribuição da IL-1β, derivada de → aumento de vasoconstrição e pressão intracapilar
macrófagos, na inflamação pós-prandial aguda e → elevação da pressão na artéria eferente do
aumento da secreção de insulina pós-prandial através do glomérulo renal causando aumento de fluxo sanguíneo
intraglomerular, o que favorece o aumento da taxa de
receptor IL-1 das células β, sendo sua ação dependente
filtração glomerular inicialmente
de glicose e insulina
→ aumento de permeabilidade vascular
→ tanto a insulina quanto a IL-1β tem sido vistas como → extravasamento proteico
reguladoras das concentrações glicose, sendo a IL-1β • Com o passar do tempo, o extravasamento proteico e
estimuladora, preferencialmente, da absorção de glicose o dano endotelial contínuo levam ao estreitamento do
nas células imunitárias lúmen dos capilares
• Salienta-se também o papel da resistina, uma citocina → isso porque o acúmulo de proteínas na parede
imunoinflamatória responsável pela redução das endotelial estimula as células mesangiais a fabricarem
fosforilações dos IRs na interação com a insulina, por matriz extracelular e fatores de crescimento, que levarão
meio do aumento da expressão de TNF-α e IL-6, a mais fibrogênese e à síntese de colágeno e de outras
culminando em resistência à ação da insulina e processo fibras da matriz
pró-inflamatório, acabando por bloquear a translocação • A própria hiperglicemia intracelular induz à síntese de
de glicose, gerando o estado hiperglicêmico fatores de crescimento, de citocinas inflamatórias e de
componentes de matriz que contribuem para este
COMPLICAÇÕES fenômeno
• Sabe-se que as células mesangiais de indivíduos
hiperglicêmicos produzem muito mais colágeno tipo 1,
MICROVASCULARES tipo 4 e fibronectina que as células mesangiais de
• A principal ligação entre diabetes e complicações indivíduos normoglicêmicos
microvasculares é a hiperglicemia • O fluxo sanguíneo, que inicialmente estava aumentado
• A doença microvascular atinge principalmente as devido à vasoconstrição relativa, diminui pelo
células do endotélio da retina, dos glomérulos renais estreitamento do leito arterial
e vasa nervorum, mostrando a incapacidade dessas → ou seja, o hiperfluxo inicial provoca um dano
células de modular o transporte de glicose endotelial progressivo que, com o tempo, promove
→ esses subtipos celulares são incapazes de regular a lesões estruturais endoteliais definitivas e irreversíveis,
entrada de glicose no meio intracelular, ou seja, elas como o aumento da matriz extracelular, do colágeno e
permitem a entrada passiva de glicose, de maneira de proteínas em torno do endotélio, causando
dependente da glicemia plasmática
68
espessamento da membrana endotelial, estreitamento → na resistência à insulina ocorre maior síntese e
do lúmen vascular e, por fim, redução de fluxo sanguíneo menor degradação de apo B, que é a apolipoproteína
local mais relacionada com o LDL-c
• Evolutivamente, a redução do fluxo sanguíneo pode → diante de um mesmo valor de LDL-c, mas com
culminar com oclusão capilar, perfusão inadequada dos maior quantidade de apo B, o fígado passa a sintetizar
tecidos e isquemia tissular partículas de LDL menores e em maior quantidade, já
→ passa a haver indução de apoptose de vários tipos que deve haver apenas uma molécula de apo B por
celulares ao redor das células endoteliais e também das partícula de LDL
próprias células endoteliais → portanto, a quantidade de LDL-c passa a ser a
→ portanto, pode haver morte celular precoce das mesma, mas distribuída em partículas de LDL menores e
células envolvidas nesse mecanismo mais densas, que são muito mais aterogênicas
• A insulina também é essencial para o funcionamento
MACROVASCULARES da enzima lipase lipoproteica (LPL), que é uma enzima
• A presença de diabetes melito aumenta em pelo menos endotelial responsável pela metabolização das
2 vezes o risco de incidência de doenças lipoproteínas ricas em triglicerídios (quilomícrons e
macrovasculares, além de torná-las mais graves VLDL), liberando-os para a circulação, para serem
estocados em adipócitos ou captados por outras células
em atividade e que necessitem de energia
Dislipidemia diabética → na resistência à insulina, a LPL não atua
adequadamente, causando acúmulo das lipoproteínas
ricas em triglicerídios (quilomícrons e VLDL)
• A insulina tem importante papel nas vias de → como a produção de HDL-c depende da
metabolização e síntese lipídica, de modo que a metabolização das lipoproteínas ricas em triglicerídios, a
resistência à insulina ou o déficit de insulina circulante redução dessa metabolização culmina também em
têm papel importante em alterações lipídicas típicas de menor produção de moléculas de HDL
pacientes diabéticos, pois contribuem para danos • A insulina age modulando a ação da enzima CETP
vasculares nestes pacientes (proteína de transferência do colesterol esterificado)
• A insulina atua como fator de inibição da ação da → cujo papel é promover a troca de triglicerídios e
enzima lipase hormônio-sensível, presente nos colesterol entre partículas ricas em TG (VLDL e
adipócitos e responsável pela lipólise quilomícrons), as partículas ricas em colesterol (LDL) e as
→ na ausência ou na resistência à insulina, essa enzima pobres em ambos (HDL)
torna-se desinibida, ocasionando aumento da lipólise e → quando ocorre falta ou resistência à ação da
consequentemente maior liberação de AGL para a insulina, a atividade da CETP se torna maior,
circulação promovendo trocas exacerbadas entre as diferentes
→ esses AGL, por sua vez, promovem reação partículas, provocando alterações específicas
inflamatória sistêmica, além de serem desviados para o
fígado em grande quantidade, onde atuam como
“matéria-prima” para a lipogênese hepática de novo e a Endotélio vascular
síntese de lipoproteínas ricas em triglicerídios, como o
colesterol da VLDL-c, e do próprio LDL-c
• Outro papel de destaque da insulina é o de estímulo à • A insulina influencia diretamente o endotélio vascular
síntese de apolipoproteína B via hepática → parte dessa ação ocorre via sinalização específica da
→ na hiperinsulinemia secundária à resistência à PI3K
insulina, a síntese de apo B está aumentada → quando ativada após a ligação da insulina ao seu
→ por outro lado, a degradação da mesma apo B receptor, esta via leva à produção de NO e consequente
depende da ativação da via PI3K vasodilatação
→ esta via depende de insulina para funcionar e pode → na resistência à insulina e diminuição de insulina
sofrer resistência, de modo que, na resistência à insulina, circulante, essa sinalização não funciona plenamente,
a P13K se torna inativa e consequentemente há menor ocorrendo menor produção de NO e menor
degradação da apo B vasodilatação
• A insulina também ativa as vias RAS, RAF e MAPK
(proteinoquinase ativada por mitógeno)
69
→ na hiperinsulinemia relativa do DM2 essas vias formação de precursores de AGES, como glioxal,
ativadas promovem aumento de fatores, como o fator de metilglioxal e 3-deoxiglucosona
crescimento derivado de plaquetas (PDGF), células
musculares lisas vasculares (VSMC), inibidor do ativador • Ao se ligarem na porção aminoterminal de proteínas
do plasminogênio 1 (PAI-1), que são fatores que intracelulares, extracelulares ou plasmáticas, esses
aumentam a fibrogênese e a aterogênese, levando o precursores formam os AGES, que podem agir dentro da
indivíduo a um estado pró-coagulante própria célula ou extravasar para o plasma e agir em
outro tecido (existem receptores de AGES em vários
tecidos do organismo)
Hiperglicemia nas lesões vasculares • Existem vários sistemas enzimáticos para a remoção
dos AGES formados, mas eles não são suficientes para
lidar com os estados de hiperglicemia intensa
• A hiperglicemia é capaz de ativar diretamente a • Após serem formados, eles apresentarão inúmeros
formação de moléculas de adesão, como molécula de mecanismos deletérios
adesão intracelular (ICAM), molécula de adesão celular- → formação de VEGF
vascular (VCAM) e proteína quimiotática de monócitos → levando, por exemplo, a maior proliferação
(MCP-1), além de aumentar a atividade plaquetária e a vascular retiniana e edema macular
formação de colágeno e matriz, contribuindo para o → morte de pericitos na retina
estado pró-coagulante marcador de complicações → produção de MCP-1 gerando aumento de filtração
vasculares glomerular e microalbuminúria
• Em estados de hiperglicemia, as células sanguíneas → aumento da permeabilidade da membrana basal
circulantes pluripotenciais, que fisiologicamente podem glomerular à albumina
contribuir para várias funções, dentre elas a de → estímulo à apoptose de células mesangiais
neovascularização ao redor de tecidos isquêmicos, glomerulares
passam a ser depletadas → fibrose intersticial
→ dessa maneira, tecidos isquêmicos passam a ter → aumento da atividade de macrófagos
menor circulação colateral e eventos isquêmicos agudos → aumento de colágeno nos vasos levando à redução
são potencialmente mais graves nessa população na elasticidade vascular, piora na função endotelial e
• A hiperglicemia intracelular ativa quatro vias redução na produção de NO
metabólicas que geralmente não se encontram ativas → aumento da permeabilidade vascular
nas células não hiperglicêmicas → interação com receptores específicos para os AGES,
promovendo aumento de transcrição de citocinas
Via dos Polióis inflamatórias, fatores de crescimento e fatores pró-
• A captação de glicose pelo tecido retiniano é coagulantes
independente da insulina
→ os níveis de glicose neste tecido estão em equilíbrio Ativação da Proteinoquinase C
com a glicemia plasmática, e excesso desta ativa a via dos • A hiperglicemia intracelular ativa a PKC, levando a
polióis redução de NO, aumento de endotelina, apoptose de
• Converte glicose em sorbitol, através da aldose pericitos na retina, de matriz extracelular mesangial nos
redutase, e sorbitol em frutose, pela ação do sorbitol glomérulos, de permeabilidade vascular, de matriz
desidrogenase microvascular, de tecido conectivo, na fibrogênese
→ nesta reação há consumo de nicotinamida adenina cardíaca e de citocinas inflamatórias, redução de NADPH,
dinucleotídio fosfato reduzida (NADPH), um importante aumento de espécies reativas de oxigênio (ROS) e
cofator na regeneração da glutationa reduzida, que é um estresse oxidativo
antioxidante celular
→ aumenta o estresse oxidativo intracelular Via das hexosaminas
• O aumento intracelular de sorbitol na retina resulta em • Na via glicolítica, ocorre metabolização da glicose em
efeitos osmóticos adversos glicose-6-fosfato e, posteriormente, em frutose 6-
fostato (F6P)
Formação de AGES • Quando ocorre excesso de glicose intracelular, a F6P
• O excesso de glicose intracelular passa a ser desviado desvia-se da via glicolítica para a via das hexosaminas,
para determinadas vias de metabolização que levam à levando à formação de glicosamina e outras
70
hexosaminas, que, por sua vez, ativam a transcrição → restringir menos de 7% das calorias do dia
gênica de citocinas inflamatórias e fatores pró- compostas por gorduras saturadas
coagulantes, reduzem NO e expressão de genes → idealmente consumir zero de gordura trans na
associados à sensibilidade à insulina alimentação cotidiana
→ dessa maneira, a ativação da via das hexosaminas → idealmente consumir menos de 200 mg de
faz com que a própria hiperglicemia gere resistência à colesterol ao dia
→ trocar açúcar por adoçante
insulina, explicando um pouco a fisiopatologia da
→ evitar bebidas adoçadas
glicotoxicidade
→ preferir carboidratos complexos e de baixo índice
glicêmico
→ usuários de insulina prandial idealmente devem
FATORES DE RISCO
realizar a contagem de carboidratos ou, ao menos,
• História familiar da doença estimar a quantidade de carboidratos de cada alimento,
• Avançar da idade, obesidade buscando adequar a dose de insulina rápida em cada
• Sedentarismo refeição
• Diagnóstico prévio de pré-diabetes ou diabetes → restringir a ingestão de proteínas a 1 g/kg/dia (ou 0,8
mellitus gestacional (DMG) g/kg/dia, se portador de insuficiência renal crônica)
• Presença de componentes da síndrome metabólica → limitar a ingestão de álcool, tolerando no máximo
uma dose por dia em mulheres e duas doses por dia em
homens
QUADRO CLÍNICO → aumentar a ingestão de fibras: 14 g de fibras para
cada 1.000 kcal da dieta
• Com menos frequência, sintomas de franca
→ dieta rica em ômega-3
hiperglicemia podem ser referidos (poliúria, polidipsia), • Orientar a perda de peso, se o índice de massa corporal
sendo raríssimo o surgimento de cetoacidose diabética (IMC) for superior a 25 kg/m2: a perda de 5 a 10% do peso
(a produção endógena de insulina é insuficiente para já traz potencial benefício metabólico
evitar a cetogênese hepática) → manter a circunferência abdominal menor que 94
• Um importante sinal clínico é a acantose nigricans (ou cm em homens e menor que 80 cm em mulheres, meta
nigricante) estabelecida pela International Diabetes Federation
(IDF) para sul-americanos
• Cessar o tabagismo
DIAGNÓSTICO • Estimular a atividade física
→ preconiza-se atividade aeróbica mínima de 150
min por semana de exercício físico moderado, definido
por frequência cardíaca (FC) mantida entre 50 e 70% da
FC máxima; ou 75 min por semana de exercício físico
intenso, definido por FC superior a 70% da FC máxima.
→ além disso, recomendam-se exercícios físicos de
resistência ao menos 3 vezes por semana

MEDICAMENTOSO
• Biguanidas
• Tiazolidinedionas
• Sulfonilureias
• Meglitinidas
TRATAMENTO • Insulina

NÃO MEDICAMENTOSO
• Alimentação:
→ reduzir a ingestão calórica
→ manter uma alimentação balanceada: 15% de
proteínas, 25% de gorduras e 60% de carboidratos
→ reduzir a ingestão de gorduras
METAS LABORATORIAIS

71
FISIOPATOLOGIA
• A fase subclínica da doença caracteriza-se pela invasão
linfocitária específica das células-beta das ilhotas de
Langerhans, causando insulite linfocitária autoimune e
produção de auto-anticorpos contra várias proteínas das
ilhotas
→ esse processo acarreta destruição gradual e
progressiva das células-beta das ilhotas de Langerhans e
posterior falência da secreção pancreática de insulina,
determinando a dependência permanente de insulina
exógena para a homeostase glicêmica

SUSCETIBILIDADE GENÉTICA
• A região do sistema antígeno leucocitário humano
(HLA), localizada no complexo principal de
SEGUIMENTO histocompatibilidade (MHC), situa-se no braço curto do
• Anualmente cromossomo 6 (p21.3) e constitui o principal locus de
→ fundo de olho suscetibilidade para DM tipo 1, denominado locus
→ microalbuminúria IDDM1 (40-50% de risco para DM tipo 1)
→ dosagem de creatinina sérica • As moléculas HLA de classe II, especificamente as
→ exame dos pés codificadas nos loci HLA-DR3 e HLA-DR4 e,
→ dosagem de lipídeos principalmente, no locus HLA-DQ, são as mais associadas
→ ECG em repouso ao DM tipo 1 auto-imune
• A cada consulta • As moléculas de classe I e II estão envolvidas com a
→ dosagem de glicemia de jejum de hemoglobina resposta imune adaptativa pela apresentação de
glicada peptídeos patogênicos aos linfócitos T
→ avaliação de controles de glicemia capilar, quando → na região classe II, estão também localizados genes
indicado que codificam diversas proteínas citosólicas, associadas
→ aferição de PA nas posições em pé e sentado ao transporte e processamento de antígenos (TAP1 e
• Vacinação TAP2)
→ todo paciente diabético deve ser vacinado → entre as regiões classes I e II, encontra-se a região
anualmente para influenza denominada classe III, que também codifica proteínas
→ os pacientes diabéticos devem receber a vacina importantes na resposta imune: proteína do choque
Pneumo 23 e, caso tenham mais de 65 anos e a última térmico (HSP70) e do complemento (C2 e C4) e o TNF
dose tenha sido há mais de 5 anos, devem receber um • As moléculas de classe I do sistema HLA, expressas na
reforço dessa vacina. maioria das células somáticas, estão envolvidas no
processamento e na apresentação de antígenos
intracelulares
DIABETES MELLITUS TIPO 1
• As moléculas de classe II do sistema HLA são expressas
em um grupo de células do sistema imune, incluindo
• O DM1 é uma doença crônica na qual ocorre interação monócitos/macrófagos, células dendríticas, epiteliais
entre fatores genéticos e ambientais que induzem uma tímicas, linfócitos B e linfócitos T ativados, e atuam no
reação autoimune contra as células beta pancreáticas e processamento e na apresentação de proteínas
evolui com insulinopenia relativa ou absoluta, extracelulares
culminando com hiperglicemia • O mecanismo pelo qual o MHC atua na predisposição
do DM tipo 1 não está completamente elucidado, mas
possivelmente está envolvido no processo de deleção de
EPIDEMIOLOGIA
clones de linfócitos auto-reativos no timo
• Um caso para cada 1.430 crianças aos 5 anos de idade
• O segundo maior locus de suscetibilidade para o DM
e de um caso para cada 360 crianças aos 16 anos
tipo 1, denominado locus IDDM2, situa-se na região 5’ do
gene da insulina (INS), no cromossomo 11p15
72
→ compreende três classes de alelos de acordo com o • As células T-CD4 ativadas (CD4+) agem no processo da
seu tamanho, determinado pelo número de repetições insulite, determinando reações inflamatórias e secreção
→ os alelos de classe III condicionam, no timo, níveis de citocinas IL-1, IFN-gama e TNF-alfa culminando com a
mais elevados de RNAm da insulina (de 2 a 3 vezes) e da morte das células-beta (imunidade celular)
proteína pré-pró-insulina, a qual é um antígenochave na → também funcionam como células auxiliares
patogênese do diabetes tipo 1 ativadoras das células T-CD8 e linfócitos B produtores de
→ a maior transcrição tímica de insulina modulada anticorpos (imunidade humoral)
pelos alelos de classe III aumenta a probabilidade de • O período de auto-imunidade ativa, conhecido como
seleção negativa das células T tímicas auto-reativas, pré-diabético assintomático, precede o diabetes e pode
conferindo melhor tolerância imune nos indivíduos ter duração de vários anos, sendo evidenciado pela
portadores destes alelos presença de auto-anticorpos contra antígenos das
células-beta e pela perda progressiva da capacidade
FATORES DESENCADEANTES secretora de insulina
→ ao diagnóstico, restam apenas 10% das células-beta,
FATORES DIETÉTICOS
e, com o passar do tempo, estas tornam-se virtualmente
• Estudos epidemiológicos evidenciaram risco duas
ausentes
vezes maior do desenvolvimento do DM tipo 1
→ as demais células das ilhotas pancreáticas não são
condicionado à supressão do aleitamento materno antes
atingidas e persistem produzindo glucagon (células alfa)
de 3 a 4 meses de vida e sua substituição precoce pelo
e somatostatina (células delta)
leite de vaca, sugerindo efeitos deletérios da exposição
→ a secreção de glucagon aumenta pela perda do
precoce às proteínas do leite de vaca
efeito supressor da insulina
→ a ativação do sistema imune intestinal e a
• A deficiência de insulina pode causar certa atrofia do
permeabilidade intestinal elevada parecem alterar a
pâncreas exócrino e redução das enzimas pancreáticas
tolerância a certos antígenos (insulina bovina, proteínas
do leite de vaca – lactoglobulina e albumina),
favorecendo a produção de anticorpos que, por DIABETES LATENTE AUTO-IMUNE DO ADULTO (LADA)
mecanismos vários, inclusive de mimetismo molecular, • O diabetes latente auto-imune do adulto manifesta-se
se voltam contra os antígenos próprios mais tardiamente, após os 35 anos de idade, e é
• Também têm sido implicados na etiologia do DM tipo caracterizado por longo período prodrômico
1: a caseína, por sua similaridade com a proteína assintomático, ausência de sintomas agudos ou
transportadora de glicose (GLUT-2) na célula da ilhota cetonúria ao diagnóstico e preservação de função
pancreática12, a introdução precoce de cereais/glúten residual das células-beta, simulando muitas vezes o
na dieta, antes dos 3 meses de idade, o nitrato, presente diabetes tipo 2
nos vegetais e produtos de carne (especialmente salsicha → dados epidemiológicos demonstram que esse tipo
e linguiça) ou deficiência de antioxidantes de diabetes é responsável por 10% de todos os casos de
diabetes
INFECÇÕES VIRAIS
• Trata-se de forma lenta e progressiva de DM auto-
imune que evolui para dependência de insulina
• Vários agentes virais têm homologia funcional ou
decorridos até cinco anos do diagnóstico, em razão da
estrutural com antígenos da célula-beta, induzindo auto-
perda continuada das células-beta
imunidade por mecanismo de mimetismo molecular
• O diagnóstico é sugerido pelo quadro clínico: pacientes
→ reações imunológicas cruzadas contra antígenos da
adultos jovens, sem história familiar de diabetes tipo 2 e
célula-beta foram sugeridas para as proteínas virais
frequentemente sem os componentes da síndrome
derivadas do citomegalovírus, da rubéola, aminoácidos
plurimetabólica
da proteína P2C do enterovírus Coxsackie B e proteína
• É confirmado pela presença de auto-anticopos,
retroviral p73
principalmente o antiGAD65
• Alguns vírus se inserem no genoma de células,
favorecendo a expressão de suas proteínas na superfície
celular, desencadeando a auto-imunidade QUADRO CLÍNICO
• Há rápida e intensa perda da capacidade de secreção
AUTO-IMUNIDADE ATIVA de insulina
• O DM tipo 1 tem início quando ocorre um desequilíbrio • Em geral, são comuns os sintomas: perda de peso,
nos mecanismos de tolerância aos antígenos próprios poliúria, polidipsia, polifagia, fadiga, indisposição geral,
73
dificuldade visual, infecções de pele e mucosa, automonitorização glicêmica, orientação nutricional e
especialmente a genital, como balanopostite e exercício.
vulvovaginite por fungos
DISSECÇÃO DE AORTA
DIAGNÓSTICO
• Glicemia de jejum maior que 126 mg/dL em jejum ou • Conhecida também como aneurisma dissecante
ocasionais, maiores que 200 mg/dL • Delaminação das paredes da aorta por uma coluna de
• O diagnóstico etiológico pode ser determinado pela sangue, criando duas luzes: a falsa e a verdadeira
presença dos anticorpos
→ anticorpo antiilhotas de Langerhans citoplasmático EPIDEMIOLOGIA
(ICA) • É a patologia de maior mortalidade entre as síndromes
→ é um anticorpo da classe IgG, policlonal aórticas agudas com início súbito de dor torácica, sendo
→ o ICA não é dirigido contra um antígeno específico 1% por hora, nas primeiras 48 horas e 75% ao final da
das células-beta, mas a uma ou várias estruturas segunda semana
celulares ao mesmo tempo (GAD65, IA2 e outros • Menos de 10 % dos pacientes não tratados sobrevivem
antígenos) por um ano
→ está presente em cerca de 70-80% dos pacientes • Mais comum na faixa etária entre 40 e 60 anos e tem
diabéticos recém-diagnosticados, e sua frequência maior prevalência em homens do que em mulheres
declina após o diagnóstico – apenas 5-10% dos pacientes → 2/3 dos casos ocorrem no sexo masculino
permanecem com ICA positivo após dez anos de doença • Incidência é estimada em 2,6 a 3,5 casos por 100 mil
→ anticorpo antiinsulina (IAA) habitantes
→ parece ser o primeiro auto-anticorpo a surgir
durante a progressão da doença nas crianças,
FISIOPATOLOGIA
particularmente as do sexo masculino, sendo menos
frequente em adultos • Hemorragias na camada média originadas na vasa
→ é também positivo nos pacientes em uso de vasorum são os eventos precursores
insulina e nesses casos, não serve como marcador → esses sangramentos aumentariam o estresse
→ antienzima descarboxilase do ácido glutâmico 65 mecânico na íntima durante a diástole, favorecendo a
(antiGAD65) delaminação e a criação de um falso lúmen entre a
→ frequentemente associado a outras patologias íntima e a média
auto-imunes além do diabetes, e a sua presença não → o falso lúmen pode penetrar na adventícia e causar
necessariamente implica progressão rápida para a ruptura da aorta, geralmente resultando em óbito
doença → outra possibilidade é o falso lúmen acabar em
→ antiproteína de membrana com homologia às fundo cego, tornando-se trombótico
tirosino-fosfatases (anti-IA2) • Independentemente da ocorrência de comunicação
→ é mais comum entre indivíduos jovens (até 15 anos entre os lumens, o falso lúmen pode comprimir o lúmen
de idade) e indica rápida progressão para o diabetes verdadeiro, comprometendo os ramos da porção
manifesto acometida da aorta, o que resulta em isquemia dos
• Eventualmente a avaliação da capacidade secretória da respectivos territórios
ilhota pode ser feita pela medida dos valores de peptídeo → sistema nervoso central, rins, membros, trato
C (peptídeo conector, secretado pela célula-beta em gastrintestinal
proporções equimolares à insulina) • Mesmo em casos não complicados, a porção da parede
→ valores de peptídeo C em jejum menores que 0,7 da aorta lateral à dissecção tende a dilatar com o passar
ng/mL na vigência de glicemias entre 100 e 200 mg/dL do tempo e resultar na formação de um aneurisma
sugerem grande deficiência de insulina, compatível com • Na maioria das vezes o óbito resulta de isquemia
o diagnóstico de diabetes do tipo 1 miocárdica por comprometimento dos óstios das
coronárias ou de tamponamento cardíaco
• A progressão da dissecção curiosamente se faz de
TRATAMENTO maneira espiralada, acometendo ou não a saída dos
• A terapia do portador de diabetes tipo 1 baseia-se em vasos
quatro componentes principais: insulinoterapia,
74
• Em alguns casos, o hematoma parietal se estabiliza,
permitindo a sobrevida do paciente por períodos
CLASSIFICAÇÃO
variáveis
• Com o tempo, como a parede da luz falsa é frágil, pode
haver expansão da mesma e progressão proximal e distal STANFORD
da dissecção, sendo situação adquirida de difícil solução • Tipo A
cirúrgica → dissecção envolvendo a aorta ascendente
• Dois fatores etiopatogênicos associados precisam estar • Tipo B
presentes para a ocorrencia da dissecção → dissecção não envolvendo a aorta ascendente
→ o primeiro é a fraqueza da parede aórtica ou da
camada íntima, devido à aterosclerose, ou da média, por
DEBAKEY
necrose cística hereditária
• Tipo I
→ o segundo, é uma alta força de cisalhamento do
→ dissecção envolvendo toda a aorta ou se
sangue ejetado
estendendo pelo menos até o arco da aorta
→ entenda-se que esta força é o impacto tangencial
• Tipo II
do sangue, movido pela contração ventricular sistólica
→ dissecção envolvendo apenas a aorta ascendente
sobre a parede da aorta
• Tipo III
• A ruptura da aorta ascendente leva ao hemopericárdio,
→ com origem na aorta descendente
com tamponamento cardíaco quase sempre fatal
• Na aorta torácica a ruptura leva ao hemomediastino
com consequente choque obstrutivo (compressão da SVENSSON

cava), ou ao hemotórax com consequente choque • Classe I


hemorrágico → dissecção clássica com verdadeira e falsa luz
• Na aorta descendente abdominal, pode haver • Classe II
hemorragia digestiva franca, com ruptura para a luz → hematoma intramural ou hemorragia
intestinal, ou um hemoperitônio com choque • Classe III
hemorrágico fatal → dissecção sutil sem hematoma
• Classe IV
→ úlcera penetrante aterosclerótica
CAUSAS • Classe V
• Em pacientes jovens é importante estar atento para → dissecção traumática ou iatrogênica
doenças do tecido conectivo, como síndromes de
Marfan, Ehler-Danlos, Turner e Noonan, assim como
QUADRO CLÍNICO
arterite de células gigantes, que conferem maior risco à
dissecção aguda de aorta • Dor (dilacerante, lancinante ou sensação de estar
• Coarctação de aorta e valva aórtica bicúspide também sendo rasgado)
podem estar relacionadas à dissecção → dor no peito
• Gestantes, usuários de cocaína, pacientes submetidos → 72,7%
a cateterismo cardíaco, uso de balão intra-aórtico ou que → início súbito
apresentaram trauma torácico não penetrante → 84,8%
(principalmente envolvendo mecanismo de aceleração- → dor na região anterior do tórax
desaceleração) também estão mais suscetíveis à → 60,9%
dissecção aguda da aorta → dor na região posterior do tórax
• HAS → 35,9%
→ as aortas de pacientes hipertensos têm hipertrofia • Síncope
da camada média dos vasa vasorum associada com → 9,4%
alterações degenerativas, como a perda de células • Pressão arterial
musculares lisas da média e matriz extracelular → hipertensos (PAS > 150mmHg)
desorganizada, sugerindo a contribuição da lesão → 49%
isquêmica no processo → ocorre quando há dissecção aórtica distal
→ normotensos (PAS 100 – 149mmHg)
→ 34,6%
75
→ hipotensos (PAS < 100mmHg) • A Ressonância Magnética é o exame mais acurado,
→ 8% entretanto, não pode ser realizada em pacientes com
→ está associada à dissecção proximal, além de instabilidade hemodinâmica, devido ao longo período de
resultar de situações como tamponamento cardíaco, tempo para sua realização, e por ser método de menos
insuficiência aórtica grave, ruptura aórtica intrapleural/ disponibilidade
peritoneal • A aortografia é menos utilizada como exame inicial,
→ choque ou tamponamento (PAS < 80mmHg) requer equipe especializada para a sua realização e
→ 8,4% representa procedimento invasivo
• Sopro de insuficiência aórtica • A Tomografia Computadorizada é método acurado,
→ 31,6% rápido, disponível na maioria das unidades de
→ sopro diastólico, audível no foco aórtico e aórtico emergência, por isso mesmo, o mais usado como
acessório, com irradiação para o ictus primeira escolha
→ é possível ouvir sopro de regurgitação aórtica, → identifica o envolvimento ou não da aorta
podendo encontrar sinais de tamponamento cardíaco e ascendente e a presença de derrame pericárdico
derrame pleural • O Ecocardiograma Transesofágico pode ser o
• Déficit de pulsos procedimento de escolha nos casos em que insuficiência
→ 15,1% aórtica é suspeitada ou o paciente está instável, por ser
→ sugere compressão da luz vascular dessas artérias rápido, seguro, de baixo custo e bastante disponível
→ a pressão arterial medida em ambos os braços pode → identifica o local da fenda intimal e a presença de
apresentar diferença significativa pontos de reentrada
• AVC → confirma o diagnóstico final, além da vantagem de
→ 4,7% poder ser realizado em pacientes com instabilidade
→ quando há acometimento da artéria inominada ou hemodinâmica
carótida esquerda • O Ecocardiograma Transtorácico apresenta limitações
• Paraplegia ou paraparesia (acometimento da artéria para o diagnóstico, mas é útil na abordagem inicial, por
medular anterior) ser exame não-invasivo e de fácil execução
→ 3% → revela alterações sugestivas como dilatação da aorta
• Insuficiência cardíaca ascendente, insuficiência da valva aórtica e derrame
→ 6,6% pericárdico
• IAM por acometimento do óstio coronariano → 75% de sensibilidade
→ 1-2% • Eletrocardiograma pode mostrar sinais de hipertrofia
• Isquemia mesentérica ventricular esquerda decorrente da HAS crônica
→ 3-5% → pode ser normal
• Envolvimento da artéria renal → exclui IAM
→ 5-8%
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS

DIAGNÓSTICO
• Síndrome isquêmica miocárdica ou cerebral aguda
• Endocardite infecciosa com insuficiência aórtica aguda
• O diagnóstico depende, inicialmente, da suspeita • Aneurismas da aorta não dissecantes
clínica, seguida da confirmação por exame de imagem • Pericardites
acurado e rápido • TEP
• A radiografia de tórax e o eletrocardiograma devem ser • Pneumotórax hipertensivo
realizados, apesar da sua inespecificidade • Ruptura do esôfago
→ RX de tórax pode mostrar alargamento do • Tumor de mediastino
mediastino e da silhueta aórtica e separação da • IAM
calcificação intimal (sinal de cálcio) em mais de 1 cm do
contorno externo do botão aórtico
→ também é possível encontrar sinais de derrame
pericárdico e pleural
→ o exame normal não afasta o diagnóstico

76
MANEJO • A distrofia muscular Duchenne é definida como uma
desordem ligada ao cromossomo X, locus Xp21, e se
• O tratamento inicial da DAA tem como objetivo a
caracteriza por fraqueza muscular progressiva devida à
redução do estresse na parede da aorta atingido por
deficiência da proteína distrofina no músculo
meio do controle da frequência cardíaca e da pressão
esquelético
arterial, além do controle da dor
→ proteína essencial para proteger o sarcolema do
• O paciente deve ser internado em unidade de terapia
stress gerado pelas contrações musculares repetidas,
intensiva para monitorização hemodinâmica
tendo também funções no controle de moléculas de
• As medicações utilizadas são betabloqueador, na
sinalização intracelular
ausência de contraindicação, ou bloqueador de cálcio,
além do nitroprussiato de sódio
EVENTOS CELULARES
• Nas dissecções agudas, a menos que seja
contraindicado, deve-se administrar um bloqueador • De forma fisiológica, a contração muscular causa danos
beta-adrenérgico por via parenteral, como o nas fibras musculares, essas são regeneradas pelas
propranolol, metroprolol ou esmolol de ação curta, para células satélites que são células pluripotentes residentes
atingir uma FC aproximada de 60 bpm, o que deve ser no músculo
acompanhado pela infusão de nitroprussiato de sódio a → considerando que a distrofina estabiliza a
fim de reduzir a PA sistólica menor ou igual a 120 mmHg membrana muscular durante a contração, em sua
• Após a estabilização inicial do paciente, deve-se ausência na DMD, a membrana do músculo distrófico
realizar exame de imagem a fim de obter a confirmação fica mais suscetível às injúrias
diagnóstica para que seja implementada a estratégia → algumas colorações histológicas que avaliam
terapêutica adequada permeabilidade de membrana e necrose celular
• A dissecção em aorta ascendente tipo A é uma positivam em músculos de pacientes com DMD, isso
emergência cirúrgica, uma vez que pode desencadear mostra que a membrana perde sua integridade, o que
complicações fatais como regurgitação aórtica, contribui para a morte celular
tamponamento cardíaco ou IAM • A homeostase de cálcio na célula muscular é vital para
→ já as dissecções descendentes tipo B são tratadas manter sinalizações fisiológicas
clinicamente com suporte intensivo e controle de FC e → para isso, algumas organelas, proteínas
PA transportadoras, canais iônicos e algumas substâncias
• A cirurgia estará indicada nas síndromes de má tamponantes no citosol controlam o influxo, o
perfusão, progressão da dissecção, expansão do armazenamento e a saída de cálcio da célula
aneurisma e controle inadequado dos sintomas → em pacientes distróficos é possível observar o
aumento da concentração de cálcio no interior da célula,
o que aponta umas das possíveis causas do extenso dano
• Tipo A: dissecção envolvendo a aorta muscular
• O comprometimento da permeabilidade da membrana
que ocorre pela ausência da distrofina influencia na
atividade de alguns canais de membrana, como os de
cálcio
→ a elevada concentração de cálcio favorece a
atividade de proteases, enzimas que degradam
DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE proteínas, comprometendo, ainda mais, a integridade da
membrana
• O aumento da atividade de proteases no músculo
• É uma doença neuromuscular hereditária progressiva
distrófico fomenta o desenvolvimento da doença
que possui herança recessiva ligada ao cromossomo X
→ as enzimas lisossomais e as metaloproteases
apresentam importante papel na autofagia que é uma
EPIDEMIOLOGIA
digestão de organelas e estruturas da célula
• A incidência no sexo masculino é de aproximadamente • O aumento de cálcio no interior da célula favorece a
1:3000/3500 nascidos vivos ação das calpaínas e do proteossomo

FISIOPATOLOGIA

77
→ as calpaínas, proteases dependentes de cálcio, → deste modo, há um aumento da vasoconstrição,
degradam fatores de transcrição, quinases, estruturas do o que dificulta a microcirculação local e resulta em
citoesqueleto e proteínas sarcoplasmáticas hipóxia muscular
• As células musculares são mais sensíveis a indução de
apoptose comparadas às células musculares saudáveis DISTROFINA E SNC
• As espécies reativas de oxigênio (EROs) são moléculas • Tanto a distrofina como a utrofina, proteína homóloga
com alta reatividade, produto de uma redução à distrofina, e também localizada na região
univalente subsarcolemal, estão presentes não só na musculatura
→ o estresse oxidativo contribui para progressão da esquelética, como no cérebro
doença • A distrofina é um produto do gene da DMD, localizada
→ o aumento de enzimas antioxidantes para defesa na membrana pós-sináptica cortical e nos neurônios de
contra elevados níveis de EROs é observada em Purkinje
pacientes com DMD → estes achados sugerem que a distrofina tem um
→ a doença também apresenta alta oxidação lipídica e importante papel no cérebro onde deve estar envolvida
proteica na função e arquitetura sináptica
• O cerebelo expressa uma isoforma de distrofina,
EVENTOS TECIDUAIS diferindo em apenas poucos aminoácidos, a chamada P-
• Uma das principais características da DMD é a fibrose, distrofina, que se localiza após as células de Purkinje
esta diminui a mobilidade do paciente e dificulta o • A C-distrofina se expressa nas células piramidais do
tratamento córtex e no hipocampo, ao longo da membrana do corpo
→ diversos fatores contribuem para esse evento celular e dendritos
patológico, o fator transformador de crescimento-β
(TGF-β) que promove o aumento da produção de COMPLEXO DE PROTEÍNAS ASSOCIADOS À DISTROFINA (CPAD)
colágeno e fibronectina pelos fibroblastos • A distrofina se encontra na membrana plasmática na
• A baixa expressão de proteases na matriz extracelular fibra muscular e na membrana pós-sináptica de alguns
agrava a doença, pois aumenta a deposição de fibras neurônios do cérebro
• O infiltrado inflamatório também fomenta a fibrose → no músculo, a distrofina está associada à um
• A invasão de células inflamatórias no músculo complexo protéico oligomérico, o CPAD, cujo papel
distrófico fomenta a patogênese da DMD parece ser o de estabilizar a membrana muscular e
→ os perfis celulares mais encontrados são: linfócitos T protegê-la do stress mecânico da contração e do
auxiliares, linfócitos T citotóxicos, NK e eosinófilos relaxamento muscular
• O infiltrado de macrófagos contribui para a necrose de → a perda de distrofina coincide com a redução
células musculares secundária do CPAD
→ no entanto, existem dois tipos de macrófago: M1 e • O CPAD pode ser dividido em três sub-complexos
M2 → sarcoglicana, distroglicana e citoplasmático
→ o macrófago M1 tem perfil pró-inflamatório, então → o complexo distroglicana (DG) é sintetizado
invade os tecidos provocando dano agudo amplamente e é envolvido em vários processos celulares
→ o macrófago M2 migra para o músculo em estágios • Em relação à distribuição das proteínas do CPAD, as
mais tardios e favorece a regeneração e o crescimento proteínas se distribuem da região extracelular à
muscular intracelular
• Anormalidades vasculares também são observadas na → a α-distroglicana (α-DG) na superfície muscular
DMD → seis proteínas na região ao longo da membrana que
→ a causa central seria o comprometimento da são a β-distroglicana (β-DG), a α, a β, a γ e a δ
atividade da enzima óxido nítrico sintetase neuronal sarcoglicanas e sarcospan
(nNOS) que é um dos componentes do complexo → cinco na região intracelular que são as sintotrofinas,
distroglicano e tem sua função afetada pela ausência de as distrobrevinas, as rapsinas, o n-NOS e Grb2
distrofina • A α-DG é um componente da matriz extra-celular
→ isto causa uma baixa disponibilidade de óxido (MEC) e é também, um receptor celular
nítrico no músculo, fazendo com que o estímulo → ela se liga a diversos componentes da MEC incluindo
simpático predomine a laminina α-2 e a laminina 4 (junção neuromuscular), a

78
agrina (proteína que coordena a sinaptogênese) e o • Enquanto a distrofina está apenas expressa em
perlecan neurônios, diversos componentes do CPAD, como a
→ a β-DG se liga diretamente à distrofina e à α-DG distroglicana e a laminina-α2 estão associadas à
→ a laminina se liga à distroglicana na junção interface glial e à vascular
neuromuscular e facilita o agrupamento dos receptores • A utrofina e a β2- sintrofina, presentes na junção
de acetil-colina neuromuscular, estão associadas à microvasculatura
→ a β-DG se liga à uma outra proteína, a rapsina, que
liga a distrofina aos receptores de acetil-colina EXPRESSÃO EM DMD
• A distroglicana foi identificada como o componente • Em doenças decorrentes de mutações da distrofina
central do complexo distrofina-glicoproteína (CDG) (DMD/Becker) ou das sarcoglicanas (sarcoglicanopatias),
ocorre a ruptura das ligações entre as proteínas do
EXPRESSÃO NO SNC CPAD, e subsequente instabilidade da sarcolema e sua
• A distroglicana, a distrofina, as isoformas da distrofina lesão induzida pela contração muscular
Dp140 e Dp71, as distrobrevinas e as sintrofinas são → com a lesão, há o influxo de Cálcio que leva o
abundantes no cérebro, sendo que algumas proteínas músculo a estar mais suscetível à necrose
estão concentradas em frações pós-sinápticas • Marcante redução da expressão da β-DG e da α-DG
• O chamado complexo CPAD-like dentro dos neurônios
é composto pela distrofina, β-distrobrevina e sintrofina DMD E COGNIÇÃO
• A identificação da β-distrobrevina como componente
CÉREBRO E CEREBELO
de ligação a distrofina e a sua riqueza em densidades
• Apesar do cérebro de indivíduos com DMD pareça
pós-sinápticas (DPS), sugere que ambas sejam
normal, já foram encontradas alterações diversas como:
componentes das sinapses do sistema nervoso central
discreta atrofia cerebral, leve dilatação ventricular,
(SNC) e podem definir o CPAD neuronal
atrofia, maior incidência de perda neuronal e gliose
• As sintrofinas, outro componente do complexo
• Em cérebros de pacientes com DMD foram também
citoplasmático, podem se ligar às proteínas sinalizadoras
encontrados: desorganização da arquitetura cortical de
como óxido nítrico neuronal sintase (nNOS), canais de
predomínio em regiões frontotemporais, erros de
sódio, kinase-3 stress-ativados e microtúbulo-associado
migração neuronal (heterotopias) e orientação neuronal
serina/treonina kinase
anormal com atenuação das arborizações dos terminais
→ estas interações sugerem que o componente
dendríticos
citoplasmático do CPAD, composto pelas sintrofinas,
• Em camundongos mdx evidenciou-se uma marcante
distrobrevinas, rapsinas, n-NOS e Grb-2, pode estar
diminuição dos grupamentos de GABA-a, em cerebelo e
diretamente envolvido na ancoragem das proteínas
hipocampo, principalmente ao redor das células de
sinalizadoras, ao sarcolema, na proximidade com a
Purkinje
distrofina
→ se o mesmo ocorre com as crianças com DMD, a sua
→ esta interação coloca o nNOS próximo aos
habilidade de aprender e de executar tarefas poderia
receptores NMDA na membrana sináptica excitatória
estar prejudicada, visto que o cerebelo tem-se mostrado
pós-sináptica
como importante no papel do comportamento motor
• Os neurônios distrofina-deficientes poderiam ficar
como automação, aprendizado
mais suscetíveis aos insultos metabólicos e fisiológicos,
• O N-acetil aspartato (NA) é um marcador neuronal e
já que o oxido nítrico é importante nos processos de
diminui a sua concentração em situações de perda
neurotoxicidade cálcio-dependentes
neuronal ou perda da função mitocondrial, o que levaria
• A α-distrobrevina, se liga diretamente ao terminal
ao aumento da relação da colina e NA
carboxila da distrofina e às sintrofinas, e, parece também
• O aumento de colina no cérebro tem sido relatado em
estar envolvida na transmissão sináptica da junção
várias desordens de SNC como doenças demenciais,
neuromuscular
tumores e Alzheimer
→ ela se expressa em células granulares e axônios onde
→ nestes casos o aumento pode ser interpretado como
a distroglicana se expressa
um indicativo do aumento do turnover, da resposta
• A α-distrobrevina, como a distroglicana, laminina-α2, a
inflamatória, ou mesmo decorrente do aceleramento da
isoforma de distrofina Dp140, e a agrina, se encontram
divisão celular
em astrócitos perivasculares e na glia Bergmann no
• Papel do cerebelo na função visuo-motora é bem
cerebelo
estabelecido
79
→ tem sido também estabelecido um crescente papel • A α-distroglicana se expressa também ao redor de
do mesmo na função cognitiva, a partir da observação de vasos sanguíneos, processos gliais de Bergmann e na
que, lesões do cerebelo, se associam com o camada de células granulares
comprometimento da linguagem • A α-DG se liga à duas proteínas de superfície celular:
→ parte da explicação decorreria do fato de que a via agrina essencial para sinaptogênese, e a neurexina,
corticopontocerebelar é a principal responsável pela responsáveis pela especificidade na sinaptogênese
passagem de informação do córtex cerebral
• Pouco é sabido sobre o papel cognitivo do cerebelo, ALTERAÇÕES CARDÍACAS
esta estrutura subcortical que se liga ao córtex pré- • A DMD leva a alternância de áreas com hipertrofia de
frontal e motor, e aos gânglios basais miócitos, com necrose, fibrose ou substituição do
→ estudos, porém, mostram, que ele desempenha um miocárdio por tecido conjuntivo e gordura
papel ativo no aprendizado motor, aparentemente • Há adelgaçamento do epicárdio posterior, provocando
agindo juntamente com o córtex pré-frontal dilatação da cavidade do ventrículo esquerdo (VE)
• O neocerebelo, com um volume extenso em humanos, → concomitantemente, há fraqueza muscular
tem sido proposto como fazendo parte do papel generalizada
linguístico e cognitivo

ALFA-DISTROGLICANA QUADRO CLÍNICO

FUNÇÕES E IMUNOEXPRESSÃO • As manifestações clínicas normalmente começam na


• A distrofina, suas isoformas, o complexo distroglicana, infância, geralmente nos três primeiros anos de vida
parecem estar envolvidos na plasticidade neuronal → suspeitada na época em que a criança começa a
induzida por lesão, sendo possível que estes complexos andar.
possam participar em outras formas de plasticidade
como as relacionadas à memória, aprendizado e outras
funções comprometidas em pacientes com DMD
DOENÇA CELÍACA
• A α-DG é um componente periférico de membrana do
CDG, comum a vários tecidos incluindo músculo, nervo, • Também conhecida como espru celíaco
coração e cérebro • Enteropatia permanente mediada pelo sistema imunológico
→ no músculo funciona ligando a actina da fibra
muscular à matrix extra-celular (MEC), via distrofina e EPIDEMIOLOGIA
cadeia laminina α-2 da merosina • Possui uma incidência global de 0,6 a 1%
• A α-DG é uma proteína altamente glicosilada • Em adultos é mais comum entre 30 e 50 anos e 2x mais
incidente em mulheres
→ trata-se de uma proteína de ampla expressão, em
diferentes tecidos: musculatura esquelética,
musculatura cardíaca, e em cérebro e nervo periférico FISIOPATOLOGIA
→ no cerebelo ela se localiza nas células de Purkinje, • Desencadeada pela ingestão de glúten
corpo celular e dendritos • A fração solúvel em álcool do glúten, a gliadina, contém a
→ na retina está associada à uma rica camada maioria dos compostos que produzem a doença
sináptica plexiforme e aos vasos sanguíneos • O glúten é digerido pelas enzimas luminais e da boda em
• A β-DG, já se localiza no terminal astrocitário, que escova em aminoácidos e peptídeos, incluindo um peptídeo,
frequentemente envolve a membrana basal α-gliadina de 33 aminoácidos, que é resistente à degradação
parenquimatosa dos vasos sanguíneos pelas proteases gástricas, pancreáticas e do intestino delgado
• No córtex cerebral, a α-DG se expressa em corpos • Alguns peptídeos da gliadina podem induzir células epiteliais
celulares piramidais e dendritos da camada V a expressar IL-15
• Na substância cinzenta a α-distroglicana se concentra → ativa e prolifera os LTCD8 intraepiteliais
dentro de neurônios sensoriais e em motoneurônios nas → esses linfócitos expressam NKG2D
colunas ventrais e dorsais → marcador de células NK e receptor para MIC-A
• No cerebelo, está associada à membrana basal, na • Os enterócitos induzidos para expressar MIC-A na superfície,
interface glio-vascular em resposta ao estresse, são atacados pelos linfócitos
intraepiteliais expressando NKG2D

80
• Os danos epiteliais resultantes podem aumentar a passagem → especificamente, os testes baseados em IgG são úteis
de outros peptídeos de gliadina para a lâmina própria, onde para a detecção da doença celíaca em pacientes selecionados
são desamidados pela transaminase tecidual com deficiência de IgA
→ esses peptídeos de gliadina interagem com HLA-DQ2 ou
HLA-DQ8 nas APCs e podem estimular os LTCD4 a produzir DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
citocinas que contribuem para a lesão tecidual • Espru tropical
• As lesões podem causar atrofia das vilosidades intestinais e, • Enteropatia em AIDS
consequentemente, má absorção de nutrientes • Estados de imunodeficiência combinada
• Dano produzido por radiação
• Quimioterapia recente
QUADRO CLÍNICO
• Doença enxerto contra hospedeiro
• Em adultos com doença celíaca clássica: diarreia crônica
• Isquemia crônica
(antigamente era considerada o sintoma mais comum), perda
• Giardíase
de peso, anemia devido à má absorção, distensão abdominal,
• Doença de Crohn
lassitude e mal-estar, edema
• Gastroenterite eosinofílica
• Em crianças com doença celíaca clássica: retardo
• Síndrome de Zollinger–Ellison
pondoestatural, perda de peso, baixa estatura, vômitos,
• Enteropatia autoimune
diarreia, dor abdominal recorrente, atrofia muscular, intestino
• Linfoma de células T associado a enteropatia
irritável, hipoproteinemia, irritabilidade e desconforto
• Espru refratário
• Em adultos e crianças com doença celíaca não clássica, a
• Espru do colágeno
apresentação pode ser monossintomática ou
oligossintomática, ou com baixa intensidade: distensão
abdominal, dor abdominal, fadiga crônica, anemia
ferropênica, enxaqueca crônica, dermatite herpetiforme,
neuropatia periférica, deficiência de ácido fólico, redução na MANEJO
densidade óssea, infertilidade não explicada, menarca tardia, • O único tratamento para a doença celíaca é uma dieta
aborto não explicado estritamente livre de glúten por toda a vida
→ a eliminação completa do glúten da dieta dos pacientes
com doença celíaca leva à remissão sintomática, sorológica e
DIAGNÓSTICO
histológica na maioria dos pacientes
• Realizado pela clínica exibida pelo paciente e pelos exames
• Os pacientes com casos severos que requerem
laboratoriais e confirmado pela histologia da mucosa intestinal
hospitalização são descritos como tendo uma crise celíaca
• Os testes de provocação com glúten, nos quais se reintroduz
• Os pacientes devem ser encorajados a consumir alimentos
o agente agressor em paciente que está em dieta restrita,
naturais ricos em ferro e folatos, especialmente se houver
devem ser reservados para os pacientes que estão recebendo
deficiência documentada destes minerais
tratamento, mas que têm um diagnóstico duvidoso
→ devem consultar um nutricionista bem informado a
• No microscópio óptico, os achados histológicos mais
respeito das dietas livres de glúten.
característicos dos pacientes que estão recebendo uma dieta
contendo glúten são: vilosidades aplainadas ou atrofiadas,
hiperplasia das criptas, infiltrado mononuclear na lâmina DOENÇA DE ALZHEIMER
própria, alterações epiteliais, incluindo anomalias estruturais
nas células epiteliais, infiltração intraepitelial de linfócitos
EPIDEMIOLOGIA
• Na base dos antígenos alvo, os testes sorológicos para a
doença celíaca podem ser divididos em dois grupos: • Demência mais comum
→ autoanticorpos • Menos de 1% dos indivíduos com menos de 65 anos de
→ testes de anticorpos antiendomísio (EMA) e anti- idade são clinicamente afetados, enquanto cerca de 5%
transglutaminase tecidual (tTG) MA) são acometidos entre 65 e 75 anos, cerca de 20% entre
→ anticorpos dirigidos contra o agente agressor (gliadina) 75 e 85 anos e provavelmente mais de 50% com 85 anos
→ anticorpos antigliadina convencionais (AGA) (hoje de idade ou mais
considerados obsoletos para fins diagnósticos) • A duração média dos sintomas desde os primeiros
→ anticorpos contra os peptídeos de gliadina desamidados sintomas perceptíveis até a morte é tipicamente de 10 a
sintéticos (DGPs)
20 anos ou mais
→ todos esses anticorpos são baseados na IgA ou IgG

81
• Como as mulheres vivem por mais tempo, elas MECANISMO LIGADO AO PEPTÍDEO BETA-AMILÓIDE E À
representam cerca de dois terços dos pacientes com PROTEÍNA TAU
Alzheimer • A placa senil tem como constituinte principal uma
deposição de substância amilóide no espaço extracelular
FISIOPATOLOGIA e que a degeneração neurofibrilar ocorre por agregação
da proteína tau
→ o acúmulo de PS geralmente precede o início clínico
MECANISMO GENÉTICO
• Os fatores genéticos estão relacionados com a DA de da DA, enquanto que os ENF, perda neuronal e a perda
duas maneiras: como fator determinante, nas formas sináptica se relacionam com a progressão do declínio
autossômicas dominantes de início precoce em cognitivo
determinadas famílias, e como fator de risco para o • As PS decorrem da agregação e acúmulo do peptídeo
desenvolvimento da DA esporádica de início tardio beta-amilóide (PBA), seja por aumento de produção,
• Uma proporção de pacientes com DA de início precoce diminuição de sua degradação, ou redução de sua
com caráter autossômico dominante foram relacionados depuração através da barreira hematoencefálica (BHE)
→ na forma esporádica da DA, a doença parece ser
com genes no cromossomo 14 (pressenilina 1) e no
cromossomo 1 (pressenilina 2) causada não por superprodução do PBA, mas como uma
resposta a uma disfunção em sua degradação e
→ à exceção dessas famílias com características
depuração
autossômicas dominantes como doença de um único
gene, a maioria dos casos de DA parece ser um distúrbio • O PBA é um fragmento peptídico derivado da clivagem
complexo, que envolve a interação de vários genes de de uma proteína transmembrana neuronal, a proteína
precursora amiloide (PPA)
susceptibilidade e fatores ambientais diversos
• A clonagem do gene que codifica a proteína precursora → a PPA é clivada por secretases e, sob a ação da
secretase α, forma uma proteína não amiloidogênica que
amiloide no cromossomo 21 foi um avanço importante
tem funções protetoras neuronais
que permitiu que fossem mais bem estudados os
mecanismos de deposição do PBA no cérebro em → na clivagem pelas secretases γ e β forma-se um
algumas formas precoces e familiares de DA composto amiloidogênico, a PBA
→ esta se torna neurotóxica mediante uma
• Existe um locus no cromossomo 19 associado com a
reorganização estrutural, que constitui formas derivadas
doença onde foi identificado um gene que codifica a
apolipoproteina E (APOE) da PBA, oligômeros de dimensões diversas, como
monômeros, dímeros e trímeros, que se agregam,
→ esse gene encontra-se associado à lipoproteínas
plasmáticas e centrais e participa do metabolismo do formando a PS
colesterol e de outras lipoproteínas de baixa densidade → esses oligômeros são capazes de bloquear
• No cérebro, a APOE é produzida especialmente pelos rapidamente o mecanismo de formação de novas
astrócitos, menos expressivamente pela micróglia e, sob memórias, alterando a plasticidade sináptica significativa
certas condições, pelos neurônios no seu entorno
→ esse gene tem três alelos designados como APOE- • O comprometimento sináptico na DA, que se relaciona
Ɛ2, APOE- Ɛ3 e APOE- Ɛ4 com o déficit cognitivo, é outro componente que
→ a presença de uma cópia de APOE- Ɛ4 aumenta o contribui na fisiopatogenia da doença
risco de DA tardia em três vezes, enquanto a presença de → a perda sináptica e dendrítica e as alterações da
plasticidade neuronal se correlacionam melhor com o
duas cópias em cerca de doze vezes
declínio cognitivo do que a perda neuronal
→ entretanto, o gene da APOE- Ɛ4 explica apenas parte
do risco genético para DA • Estudos sugerem que os oligômeros possam causar
→ história familiar, de modo independente desse problemas cognitivos por interromperem a função
gene, pode aumentar o risco sináptica na ausência de neurodegeneração significativa
→ indivíduos com parente de primeiro grau com DA no seu entorno
tem um aumento de risco de 10-30% para desenvolver → a PBA e seus oligômeros alteram a estrutura e a
DA, sugerindo que poderiam existir outros fatores função sináptica e comprometem a transmissão por
genéticos ou ambientais ativos na presença do APOE- Ɛ4 comprometimento pós-sináptico

82
→ o distúrbio sináptico e dendrítico alteram redes proteínas, o que poderia estar relacionado como
neuronais corticais funcionais, levando a uma sub- mecanismo da DA esporádica de início tardio
regulação dessas redes e comprometendo • A PBA afeta as mitocôndrias funcionalmente e
anatomicamente e funcionalmente as áreas cerebrais estruturalmente
interconectadas → a própria disfunção mitocondrial promove
→ os oligômeros, além de comprometerem as amiloidose
funções sinápticas, modificam a atividade neuronal e • Existem também evidências de que o
promovem a liberação de mediadores neurotóxicos por comprometimento mitocondrial afeta a neurogênese
células gliais hipocampal, junto com o processo inflamatório
• A tau é uma proteína associada aos microtúbulos,
estabilizando-os em condições normais MECANISMO OXIDATIVO
→ quando ocorre hiperfosforilação da proteína tau ela • O comprometimento da cadeia respiratória
se dissocia dos microtúbulos e se agrega sob a forma de mitocondrial leva ao estresse oxidativo, com acúmulo de
filamentos helicoidais pareados insolúveis e estes nos ROS e outras alterações
emaranhados neurofibrilares (ENF) • O PBA interage com as proteínas mitocondriais a partir
• A APOE-Ɛ4 compromete a eliminação da PBA e do poro de transição de permeabilidade da membrana
favorece sua deposição → essa interatividade, além de alterar a membrana,
• Quando se expressa no interior dos neurônios contribui para reduzir a fosforilação oxidativa, aumenta
comprometidos, a APOE-Ɛ4 altera a fosforilação da tau, a vulnerabilidade a outros tóxicos, induz a mutações do
que leva a formação de ENF, causa ruptura da estrutura DNA/RNA, altera a homeostasia do cálcio, induz à
do citoesqueleto, desregula diversas vias de sinalização apoptose e perturba a dinâmica mitocondrial
e compromete a função mitocôndria • O aumento do PBA leva à morte celular nas áreas
• Os ENF, portanto, podem ser resultantes do excesso de afetadas
PBA, pela mobilização da micróglia, liberação de → esta morte celular se acompanha de estresse do
citocinas inflamatórias, desregulação do cálcio neuronal retículo endoplásmico (RE), que é uma organela cuja
e com hiperativação de cinases como a GSK3 função é facilitar a dobradura de proteínas
(glycogensynthase kinase-3), e com a hipoativação de → a exposição ao estresse resulta em perda da
uma fosforilase é desencadeada a hiperfosforilação da função e causa o estresse do ER
proteína tau → como a DA esporádica se caracteriza por
• Há a consequente degeneração de estruturas internas acúmulo de proteínas não-dobradas ou mal-dobradas,
neuronais e interrupção do fluxo axoplasmático, pode-se inferir a relação entre o estresse do RE e a
implicando na morte celular patogenia da DA
• A proteína tau pode ser liberada no espaço extracelular • A idade também leva à deposição de ions de metais
e espalhar-se para outras células, provocando alterações como o ferro, zinco e cobre no cérebro, cujo acúmulo
vasculares e ativação de células gliais pode contribuir para a patogenia da DA, pois o PBA
agrava a produção de ROS e de espécies reativas de
MECANISMO MITOCONDRIAL nitrogênio (RNS)
• Com a idade, as funções mitocondriais sofrem um → esse processo patológico é intensificado pela
declínio, até atingirem um limiar funcional presença dos ions metálicos que comprometem o
→ além desse limiar, ocorreriam as alterações processo metabólico de eliminação de ROS e RNS
mitocondriais referentes aos processos respiratórios,
estresse oxidativo e às trocas enzimáticas
→ esta seria a causa da DA ser mais frequente com o MECANISMO INFLAMATÓRIO
avanço da idade, um mecanismo epigenético com • Níveis elevados de PBA, formação de PS e ENF
mutações pontuais em decorrência do tempo de vida desencadeiam o processo inflamatório através da
• Ocorrem lesões oxidativas no DNA mitocondrial ativação de astrócitos e da micróglia, que mobilizam
(mDNA) com a idade, além de falhas na remoção de macrófagos e linfócitos através da BHE, com liberação de
citocinas, interleucinas, fator de necrose tumoral,

83
neurotransmissores, ROS e outros elementos, de modo • Nos estágios intermediários da DA, o paciente é
progressivo, comprometendo o tecido cerebral e incapaz de trabalhar bem como se perde e se confunde
acelerando o curso da doença com facilidade, exigindo supervisão diária
• A ativação microglial no processo inflamatório altera a • As boas-maneiras, o comportamento rotineiro e a
neurogênese hipocampal e interfere nas funções conversação superficial podem se mostrar
mitocondriais surpreendentemente preservados
• Os astrócitos se modificam sob o estresse e a injúria • A linguagem torna-se comprometida - primeiro a
neuronal, levando também à sobre-regulação de aminas denominação, depois a compreensão e por fim a fluência
inflamatórias, participando da patogenia da DA • Em alguns pacientes, a afasia é um aspecto precoce e
esporádica proeminente
• Estudos mostram que citocinas incluindo TNF-α + IFN- → a dificuldade de encontrar palavras e circunlocução
γ aumentam os níveis endógenos de BACE1, PPA, PBA e podem ser um problema, mesmo quando exames
estimulam o processo amiloidogênico nos astrócitos formais demonstram denominação e fluência intactas
→ como os astrócitos são muito mais numerosos que • A apraxia surge, e os pacientes têm problemas na
os neurônios, esta ativação pode representar uma via de execução de tarefas motoras sequenciais
formação da PBA por neuroinflamação • Os déficits visuoespaciais começam a interferir nos
• A PBA pode induzir à inflamação modificando a hábitos de vestir-se, comer ou mesmo andar e os
permeabilidade do canal de cálcio nas membranas dos pacientes não conseguem resolver adivinhações simples
neurônios e de células gliais, formando correntes e copiar figuras geométricas
aberrantes de íons e produzindo ROS • Realizar cálculos simples ou dizer que horas são torna-
se difícil em paralelo
QUADRO CLÍNICO • Nos estágios avançados da doença, algumas pessoas
mantêm-se ambulatoriais, mas vagam a esmo
• As alterações cognitivas da DA tendem a seguir um
• A perda do discernimento e do raciocínio cognitivo é
padrão típico, começando com deficiência de memória e
inevitável
expandindo-se para déficits visuoespaciais e da
→ delírios são comuns, em geral simples, com temas
linguagem
comuns de furto, infidelidade ou identificação
• Aproximadamente 20% dos pacientes com DA
equivocada
apresentam-se com queixas não relacionadas com a
→ cerca de 10% dos pacientes com DA manifestam a
memória, como dificuldade na escolha de palavras,
síndrome de Capgras, acreditando que um cuidador foi
organização ou navegação
substituído por um impostor
• Quando a perda de memória torna-se perceptível para
→ manifestação tardia
o paciente e cônjuge e cai 1,5 desvio-padrão abaixo do
• Perda das inibições e agressão podem ocorrer e
normal em testes de memória padronizados, aplica-se o
alternar-se com passividade e retraimento
termo deficiência cognitiva suave (DCS)
• Os padrões de sono-vigília são alterados, e o hábito de
→ aproximadamente 50% dos pacientes com DCS
vagar durante a noite perturba o domicílio
(quase 12% ao ano) evoluem para DA em 5 anos
• Alguns pacientes apresentam marcha arrastada, com
• Lentamente, os problemas cognitivos começam a
rigidez muscular generalizada associada à lentidão e
interferir nas atividades diárias, como manter as finanças
inadequação dos movimentos
sob controle, seguir instruções no emprego, conduzir
• Os pacientes com frequência parecem parkinsonianos,
veículos, fazer compras e manter o lar
mas raramente têm tremor em repouso, de alta
→ alguns pacientes não têm consciência dessas
amplitude e rítmico
dificuldades (anosognosia), enquanto outros
• Na DA avançada, os pacientes se tornam rígidos,
permanecem agudamente ajustados aos seus déficits
mudos, incontinentes e confinados ao leito
• Alterações no ambiente (como férias ou internações)
→ é necessária ajuda para alimentar-se, vestir-se e
podem desorientar o paciente, o qual pode perder-se ao
cuidar da higiene
caminhar ou dirigir
• Podem ocorrer reflexos tendíneos hiperativos e
espasmos mioclônicos (contrações bruscas breves de
vários músculos ou de todo o corpo) podem ocorrer
84
espontaneamente ou em resposta a estímulos físicos ou • Exames de imagem funcionais na DA revelam
auditivos hipoperfusão ou hipometabolismo no córtex temporal-
→ também podem ocorrer crises epilépticas parietal posterior
generalizadas • O EEG na DA é normal ou evidencia alentecimento
• Com frequência, a morte decorre de desnutrição, inespecífico
infecções secundárias, embolia pulmonar, cardiopatia • O exame de rotina do líquido cerebrospinal também é
ou, mais comumente, aspiração normal
• A duração típica da DA é de 8 a 10 anos, mas a evolução → os níveis de amiloide A42 no LCS se mostram
varia de 1 a 25 anos reduzidos, enquanto os níveis de proteína tau
→ por motivos desconhecidos, alguns pacientes com hiperfosforilada apresentam-se elevados, mas a
DA evidenciam um declínio constante da função, considerável superposição desses níveis com os da
enquanto outros têm platôs prolongados sem população idosa normal limita a utilidade de tais
deterioração importante medições no diagnóstico
• Genotipagem de ApoE no sangue
ESTÁGIOS • O diagnóstico clínico de DA, realizado após cuidadosa
• Nos estágios 1 e 2 há início de lesões no córtex avaliação, é confirmado à necropsia em 90% dos casos, e
entorrinal e no hipocampo, em dados clínicos podem os casos erroneamente diagnosticados em geral
aparecer os primeiros sintomas clínicos, como pequena representam um dos outros distúrbios clemenciais
redução da memória, sem redução das capacidades • Alteração precoce e proeminente da marcha com
normais perda de memória apenas leve sugere demência
• Nos estágios 3 e 4, há o envolvimento do lobo límbico vascular ou, raramente, HNB
e do neocórtex e evidências clínicas como redução da • Tremor em repouso com postura encurvada,
memória de longo prazo e outros processos cognitivos, bradicinesia e fácies em máscara fazem pensar em DP
há também pequena dificuldade em reconhecer pessoas → quando ocorre demência após um diagnóstico de
• Nos estágios 5 e 6 há completo envolvimento do DP, DDP geralmente é o diagnóstico correto
neocórtex, e perda total da sequência lógica da fala, • O surgimento precoce de características
déficit motor, alteração do ciclo de sono/vigília, parkinsonianas, alucinações visuais ou erro delirante de
irritabilidade e agitação, levando a dependência total de identificação sugere DCL
um cuidador que reflete a perda da capacidade de • O alcoolismo crônico deve suscitar a pesquisa de
tarefas rotineiras deficiências de vitaminas
• A perda de sensibilidade a estímulos proprioceptivos e
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
vibratórios, acompanhada de respostas de Babinski,
lembra deficiência de vitamina B12
• No início da evolução da doença, devem-se excluir as
• O início precoce de crise epiléptica focal sugere
outras etiologias da demência
neoplasia cerebral metastática ou primária
• Os exames de neuroimagem (TC e RM) não detectam
• História pregressa ou contínua de depressão levanta a
um padrão único específico de DA e podem ser normais
suspeita de prejuízo cognitivo relacionado com
no início da evolução da doença
depressão, embora DA possa caracterizar pródromo
→ à medida que a DA avança, a atrofia cortical mais
depressivo
distribuída mas em geral predominante na região
• Uma história de tratamento de insônia, ansiedade,
posterior, juntamente com atrofia das estruturas de
perturbação psiquiátrica ou epilepsia leva a pensar em
memória temporal medial
intoxicação medicamentosa crônica
• O principal objetivo da imagem é excluir outros
• Rápida progressão ao longo de algumas semanas ou
distúrbios, como neoplasias primárias e secundárias,
meses, associada a rigidez e mioclonia, sugere DCJ
demência vascular, doença difusa da substância branca
• Alterações comportamentais proeminentes com
e HNB
navegação íntegra e atrofia focal predominantemente
→ também ajudam a distinguir entre DA e outros
anterior nos exames de neuroimagem são típicas da DFT
distúrbios degenerativos com padrões radiológicos
• História familiar positiva de demência aponta para uma
distintivos, como a DFT ou DCJ
das formas familiares de DA ou um dos outros distúrbios
85
genéticos associados à demência, como a DH, DFT, • Escores no MEEM < 8 para sujeitos com escolaridade ≤
doença priônica ou ataxias hereditárias raras 4 anos de estudo
• Escores no MEEM < 12 para sujeitos com escolaridade
TRATAMENTO > 4 anos de estudo
• Os familiares devem promover as atividades
esquema de administração
prazerosas e limitam as desagradáveis
• Donepezila: iniciar com 5 mg/dia por via oral
• As cozinhas, banheiros, escadarias e quartos devem ser
→ a dose pode ser aumentada para 10 mg/dia após 4-
adaptados para segurança, e mais tarde os pacientes
6 semanas, devendo ser administrada ao deitar
devem parar de dirigir automóveis
→ os comprimidos podem ser ingeridos com ou sem
• A perda de independência e a mudança de ambiente
alimentos
podem agravar a confusão, agitação e raiva
• Galantamina: iniciar com 8 mg/dia, por via oral,
• A comunicação e tranquilização repetida são
durante 4 semanas
necessárias
→ a dose de manutenção é de 16 mg/dia por, no
mínimo, 12 meses
→ a dose máxima é de 24 mg/dia
INIBIDORES DA ACETILCOLINESTERASE
→ como se trata de cápsulas de liberação prolongada,
• Donepezila, Galantamina, Rivastigmina
devem ser administradas uma vez ao dia, pela manhã, de
preferência com alimentos
critérios de inclusão
→ em caso de insuficiência hepática ou renal
• Serão incluídos os pacientes que preencherem os
moderada, a dose deve ser ajustada considerando a dose
critérios:
máxima de 16 mg/dia
→ diagnóstico de DA provável, segundo os critérios do
• Rivastigmina: iniciar com 3 mg/dia por via oral
NIA-AA e ABN
→ a dose pode ser aumentada para 6 mg/dia após 2
→ MEEM com escore entre 12 e 24 para pacientes com
semanas
mais de 4 anos de escolaridade ou entre 8 e 21 para
→ aumentos subsequentes para 9 mg/dia e para 12
pacientes com até 4 anos de escolaridade
mg/dia devem ser feitos de acordo com a tolerabilidade
→ escala CDR = 1 ou 2 (demência leve ou moderada)
e após um intervalo de 2 semanas
→ TC ou RM do encéfalo e exames laboratoriais que
→ a dose máxima é de 12 mg/dia
afastem outras doenças frequentes nos idosos que
→ as doses devem ser divididas em duas
possam provocar disfunção cognitiva
administrações, junto às refeições
→ hemograma completo (anemia, sangramento por
→ é desnecessário realizar ajuste em casos de
plaquetopenia), avaliação bioquímica (dosagem alterada
insuficiência hepática ou renal, mas deve-se ter cautela
de sódio, potássio, cálcio, glicose, ALT/AST, creatinina),
em caso de insuficiência hepática (administrar as
avaliação de disfunção tiroidiana (dosagem de TSH),
menores doses possíveis)
sorologia para lues (VDRL) e HIV (em pacientes com
→ no uso de adesivos transdérmicos, inicia-se com a
menos de 60 anos) e nível sérico de vitamina B12 e ácido
apresentação de 5 cm2 e, se houver boa tolerância em
fólico
pelo menos 4 semanas de uso, a dose deve ser
aumentada para 10 cm2, que é a dose efetiva
critérios de exclusão
• Identificação de incapacidade de adesão ao
MEMANTINA
tratamento
• Evidência de lesão cerebral orgânica ou metabólica
critérios de inclusão
simultânea não compensada (conforme exames do item
Critérios de Inclusão) COMBINADA AOS INIBIDORES DA ACETILCOLINESTERASE
• Insuficiência ou arritmia cardíaca graves
• Serão incluídos os pacientes que preencherem os
•Hipersensibilidade ou intolerância aos medicamentos
critérios:
• Demência de Alzheimer grave (CDR = 3)
→ diagnóstico de DA provável, segundo os critérios do
NIA-AA, ABN
86
→ TC ou RM do encéfalo e exames laboratoriais que comprimido de 10mg duas vezes por dia) na quarta
afastem outras doenças frequentes nos idosos que semana e manter esta dose.
possam provocar disfunção cognitiva
→ hemograma completo (anemia, sangramento por DOENÇA DE CROHN
plaquetopenia), avaliação bioquímica (dosagem alterada
de sódio, potássio, cálcio, glicose, creatinina e
• É uma doença inflamatória transmural e recidivante
transferases hepáticas - ALT/TGP e AST/TGO), avaliação que pode acometer qualquer segmento do tubo
de disfunção tiroidiana (dosagem de TSH), sorologia para digestório, da boca ao ânus, caracterizada por
lues (VDRL) e HIV (em pacientes com menos de 60 anos) inflamação distintas descontínua dos segmentos
e nível sérico de vitamina B12 e ácido fólico digestivos acometidos, com formas de manifestações em
→ escore na escala CDR= 2 (demência moderada) cada indivíduo (luminal, penetrante ou fistulizante)
→ escores no MEEM entre 12 e 19, se escolaridade
maior que 4 anos, ou entre 8 e 15, se escolaridade menor EPIDEMIOLOGIA
ou igual a 4 anos • As manifestações clínicas da DC geralmente iniciam na
idade adulta jovem, entre a segunda e terceira décadas
EM MONOTERAPIA
de vida, ou tardiamente, em um segundo pico entre a
• Serão incluídos os pacientes que preencherem os quinta e sexta décadas de vida, embora possa ocorrer em
critérios: qualquer faixa etária
→ diagnóstico de DA provável, segundo os critérios do
NIA-AA, ABN
FISIOPATOLOGIA
→ TC ou RM do encéfalo e exames laboratoriais que
afastem outras doenças frequentes nos idosos que
possam provocar disfunção cognitiva FATORES IMUNOLÓGICOS
→ hemograma completo (anemia, sangramento por • Diferentes autores sugerem que um antígeno
plaquetopenia), avaliação bioquímica (dosagem alterada inespecífico associado a fatores ambientais e à flora
de sódio, potássio, cálcio, glicose, creatinina e microbiana intestinal ativam uma resposta inflamatória
transferases hepáticas - ALT/TGP e AST/TGO), avaliação e imune desregulada, em indivíduos geneticamente
de disfunção tiroidiana (dosagem de TSH), sorologia para susceptíveis ou não
lues (VDRL) e HIV (em pacientes com menos de 60 anos) → em um segundo estágio, esta resposta se
e nível sérico de vitamina B12 e ácido fólico amplificaria, envolvendo macrófagos, linfócitos e
neutrófilos
→ escore na escala CDR = 3 (demência grave)
• O equilíbrio imunológico baseia-se em grande parte no
→ MEEM com escore entre 5 e 11, para escolaridade
reconhecimento de moléculas associadas aos
maior que 4 anos, ou entre 3 e 7, quando escolaridade
microorganismos, através de receptores do TLR e
menor ou igual a 4 anos nucleotide oligomerization domain - domínio de
oligomerização nucleotídea (NOD), presentes em células
critérios de exclusão
de defesa como macrófagos, neutrófilos, linfócitos B e T,
• Demência de Alzheimer de gravidade leve (CDR = 1) células de Paneth (célula exócrina presente no intestino
• Escores no MEEM < 3 para sujeitos com escolaridade ≤ delgado) da e células epiteliais intestinais existentes na
4 anos de estudo mucosa intestinal
• Escores no MEEM < 5 para sujeitos com escolaridade > → dentre os receptores da família NOD, destacam-se
4 anos de estudo as proteínas NOD-1 e NOD-2, que são capazes de
• Incapacidade de adesão ao tratamento detectar componentes de bactérias Gram-positivas e
• Hipersensibilidade ao fármaco ou a componente da Gram-negativas, sendo que, uma vez alteradas, podem
fórmula influenciar na fisiopatologia, características e evolução
clínica da DC
esquema de administração • O sistema imune inato tem um importante papel no
• Memantina: iniciar com 5mg/dia por vía oral (1/2 controle da invasão das bactérias luminais e na
prevenção de respostas pró-inflamatórias de longa
comprimido), aumentar 5 mg/semana nas 3 semanas
duração
subsequentes até chegar à dose de 20 mg/dia (1
87
→ qualquer falha nestes mecanismos pode resultar na → estas células, têm entre outras funções, o aumento
origem da DC da expressão de moléculas MHC-II nas células
• A primeira linha de defesa é representada por apresentadora de antígeno (APC), a ativação de células T
polimorfonucleares, monócitos e macrófagos na mucosa citotóxicas (células T CD8+), ativação de macrófagos e a
intestinal produção de IgG pelos linfócitos B
• O macrófago é a primeira célula a receber o antígeno e • Além da resposta imunológica de Th1, tem se dado
o apresenta através das moléculas do complexo maior de ainda maior atenção as citocinas IL-23 e IL-17
histocompatibilidade (MHC) para as células T CD4+ → estas citocinas estão aumentadas nos tecidos de
→ os macrófagos ativados produzem citocinas pró indivíduos com DC
inflamatórias como fator de necrose tumoral alfa (TNF- → a IL-23, produzido pelas APC, tais como as células
α) e IL-12, induzindo a resposta Th1 da célula T CD4+ dentríticas e macrófagos, estimula a produção de IL-17,
→ células Th1 produzem grandes quantidades de TNF-α e IL-6 pelas células Th17
citocinas IL-2, TNF-α e INF-γ e perpetuam a resposta → embora se considere que a DC seja mediada por
inflamatória células Th1 devido aos elevados níveis de IL-12 e IFN-γ
• A continuidade do processo inflamatório na mucosa detectados, novos achados sugerem que a IL-23 é uma
intestinal leva à progressão da resposta Th1, citocina chave na inflamação intestinal
caracterizada por aumento significativo de IL-2, INF-γ e → a IL-17 tem uma potente atividade pró-inflamatória
de citocinas inflamatórias (IL-1, IL-8 e TNF-α). Nas lesões que induz a produção de citocinas que aumentam as
crônicas, INF-γ desempenha papel importante ao respostas Th1, quimiocinas e moléculas de adesão pelas
estimular o macrófago, que por sua vez irá estimular a células epiteliais, endoteliais e fibroblastos
produção de TNF-α
→ o TNF-α é um dos mediadores mais importantes GENÉTICA
nesta doença • O histórico familiar positivo para a DII é o fator mais
→ é produzido por vários tipos de células e tem entre importante considerando o aspecto genético
outras funções, a produção de moléculas de adesão e → a ocorrência da DC em vários membros de uma
citocinas inflamatórias, apoptose celular, recrutamento mesma família sugere uma predisposição genética,
de neutrófilos para os locais de inflamação, ativação da principalmente entre irmãos
coagulação e indução da formação de granulomas • Através de dados como incidência familiar e
→ vários estudos demonstraram um aumento do epidemiologia indica-se que, dependendo da
TNF-α no soro, fezes e mucosa intestinal de indivíduos constituição genética, a mesma causa ambiental poderia
com DC desencadear a DC
→ um desequilíbrio entre a secreção e a inibição do • Outra possibilidade seria que em indivíduos
TNF-α poderá estar implicado na patogênese da doença geneticamente predispostos e com lesão da mucosa
• Os macrófagos e as células dentríticas (CDs) não só intestinal desencadeada por agentes etiológicos
estão aumentados em número, como também diferentes, origina uma inflamação crônica e uma
expressam de forma acentuada TLR2 e TLR4, moléculas ativação contínua e excessiva das respostas imunitárias,
co-estimuladoras e produzem mais citocinas pró- porque há uma incapacidade de remover as bactérias ou
inflamatórias como IL-12 e IL-6, com a consequente outro fator ambiental e reparar os defeitos epiteliais
ativação de células Th1 • O lócus de suscetibilidade para DC, denominado IBD1
→ além disso, as CDs produzem menos IL-10, o que (Inflammatory Bowel Disease 1 – Doença Inflamatória
diminui as respostas reguladoras Intestinal 1), se localiza na região pericentromérica do
• Na DC, a mutação do gene NOD-2 diminui a produção cromossomo 16 (16q12)
das defensinas por estas células, o que reduz a • Posteriormente, foi descrita uma associação entre
resistência contra os microorganismos entéricos mutações no gene CARD15 (Caspase recruitment
• As moléculas de adesão, como ICAM-1 e as integrinas, domain-containing protein 15 - proteína 15 do domínio
são essenciais para a migração dos leucócitos para o foco de recrutamento da caspase), o qual codifica a proteína
inflamatório NOD-2 (nucleotide oligomerization domain 2 - domínio
→ a sua produção está aumentada na DC de oligomerização nucleotídea 2), com a ocorrência de
• No sistema imune adaptativo, uma resposta exagerada doenças inflamatórias intestinais, sendo este o gene
das células Th1 aos componentes da microflora intestinal mais estudado na DC
contribui para a inflamação na DC

88
→ o NOD-2/CARD15 é um receptor de reconhecimento a produção exagerada de células Th1 que produzem as
padrão citoplasmático do sistema imune inato, cujo citocinas que perpetuam a resposta inflamatória (TNF-α,
domínio LRR é responsável pelo reconhecimento IL-2 e INF-γ)
intracelular de produtos bacterianos, → além disso, nicotina tem um efeito inibitório nas
muramildipeptídeo (MDP), um derivado da degradação células Th2, que predominam na RCU, na qual se observa
de peptidoglicanos encontrado na parede celular de um efeito protetor para essa doença
bactérias gram-positivas e gram-negativas • Diminui a capacidade de vasodilatação dos vasos
→ a proteína CARD15 induz a apoptose e a ativação inflamados, originando uma isquemia e perpetuação da
da via de sinalização do fator de transcrição nuclear fibrose e ulceração; e, por último, aumenta o potencial
kappa beta (NF-κβ) trombótico associado com a lesão vascular, contribuindo
→ a ativação do NF-κB estimula a expressão de desta forma para a patogênese da DC
diversas moléculas relevantes para a patogênese da DC:
IL-1, IL-6, IL-8, IL-12, IL-23, TNF-α, moléculas de adesão e ALIMENTAÇÃO
moléculas coestimuladoras (CD40, CD80 e CD86) • A participação crescente na dieta do homem de
essenciais para a interação entre os vários elementos do alimentos industrializados contendo aditivos e
sistema imunitário, nomeadamente para ativação das preparados químicos diversos; o consumo excessivo de
células T carboidratos refinados, gorduras poli-saturadas, a baixa
→ o NFκβ desempenha função importante na ingestão de fibras e de leite; o desmame precoce, e a
manutenção da homeostasia da mucosa e também age presença de pesticidas em alimentos vegetais,
como mediador nas respostas específicas a patógenos associados a micro organismos, poderiam justificar o
→ a proteína CARD15 encontra-se nos macrófagos, aumento da incidência da DC nos últimos anos
neutrófilos, linfócitos B e T, células de Paneth e células • Embora não existam, ainda, evidências experimentais
epiteliais intestinais que comprovem a influência de fatores dietéticos na
→ em circunstâncias normais, o MDP é detectado na etiologia da DC, sugere-se que determinados antígenos
região RRL da proteína NOD-2, induzindo a via de da dieta possam ser impropriamente absorvidos devido
sinalização para a ativação do fator NF-κβ a algum defeito na permeabilidade das células da
• Estes achado demonstra a possível origem do mucosa, ou que ocorra um aumento da permeabilidade
desequilíbrio na resposta imunológica inata entre intestinal a macromoléculas e a alguns açúcares não-
bactérias/ hospedeiro observado na DC, uma vez que a absorvíveis em pacientes com DC e seus familiares
proteína NOD-2 tem por função a ativação de uma
resposta inflamatória moderada, a partir do FÁRMACOS
reconhecimento de um produto bacteriano específico • As drogas anti inflamatórias não esteroidais (AINES) e
→ as mutações em NOD-2 afetam a capacidade desta os contraceptivos orais são os mais comentados como a
proteína ativar adequadamente a expressão de NF-κβ, causa de DC
um fator necessário para manter uma adequada → as mulheres que tomam contraceptivos orais têm
homeostasia intestinal um risco duas vezes superior de desenvolver DC
→ embora não se encontre provada essa evidência
FATORES AMBIENTAIS → em relação aos antiinflamatórios não esteroidais
TABAGISMO (AINES), essas drogas inibem as prostaglandinas que
• O consumo de tabaco aumenta o risco de desenvolver regulam sua função no processo inflamatório e podem
DC, as complicações como estenoses ou fístulas, a causar atividade de DII
frequência dos surtos da doença, a necessidade de → é interessante notar que os outros medicamentos
cirurgia e consumo de corticoides e imunossupressores de inibidores seletivos da ciclooxigenase 2 (COX 2), que
• Alguns autores acreditam que a ação da nicotina do também diminuem ou inibem a síntese de
tabaco seja a de promover supressão da imunidade, prostaglandinas pelo intestino, podem provocar a DC
interferindo na formação de subprodutos da degradação
do ácido araquidônico, cujos metabólitos estão INFECÇÕES BACTERIANAS
altamente envolvidos na atividade das doenças • Uma das hipóteses etiológicas para o desenvolvimento
intestinais inflamatórias da DC considera que esta é causada pela infecção
• Outros autores afirmam que a nicotina afeta a persistente por um microorganismo específico
imunidade humoral e celular, podendo ou não estimular

89
• Embora todo o tubo digestivo seja amplamente • Encontra-se na superfície da alça intestinal, áreas de
colonizado por bactérias, existe entre seus diversos um exsudato cinza esbranquiçado espesso ou fibrose da
segmentos uma grande variedade na concentração serosa granular
destas • Conforme a doença progride, a parede intestinal torna-
• A presença de secreções ácidas e biliares no estômago se cada vez mais espessada, com luz do lúmen intestinal
e intestino delgado proximal, e a presença de um estreita (estenose) e a membrana mucosa com aspecto
trânsito mais acelerado, contribuem para uma redução emborrachada
da quantidade de bactérias nestes segmentos • O intestino proximal não envolvido pode estar dilatado
→ a colonização bacteriana aumenta de forma secundariamente à obstrução do segmento lesado
exponencial no intestino delgado distal, devido à • Os estreitamentos podem ocorrer no cólon, mas em
ausência das referidas secreções e pelo retardo de geral são menos intensos
trânsito pela ação da válvula ileocecal • Em muitos casos, o segmento intestinal envolvido se
→ no cólon há um aumento acentuado da flora apresenta com hiperemia (aumento da quantidade de
bacteriana sangue circulante num determinado local), com
• A microflora intestinal forma uma barreira de defesa deposição de fibrina, aderência entre as alças intestinais
natural e exerce numerosos efeitos protetores, adjacentes ou outras vísceras, inflamação descontínua
estruturais e metabólicos no epitélio intestinal, síntese na mucosa, espessamento submucoso, fibrose e úlceras
de aminoácidos e vitaminas (folatos, biotina, vitamina K → estas últimas inicialmente são pequenas, e tornam-
e vitaminas do complexo B), manutenção da integridade se mais extensas e profundas, muitas vezes sob forma de
do epitélio intestinal através da interação com os fissuras que podem causar fístulas ou abscessos
receptores TLR e NOD, produção de fatores • O mesentério do segmento envolvido em geral torna-
antimicrobianos, por exemplo ácido láctico, entre outros se espessado, fibrótico, com edema e grande quantidade
• Os micro organismos que constituem a flora intestinal de gordura, notando-se também linfonodos aumentados
podem ser responsáveis pelo desenvolvimento da DC em • Os gânglios mesentéricos costumam apresentar-se
indivíduos geneticamente predispostos e no contexto de aumentados, duros e unidos entre si
uma desregulação imunitária • O lúmen intestinal é estreitado pelo edema nos casos
• Estudos experimentais demonstram a impossibilidade iniciais e por uma combinação de edema e fibrose em
do desenvolvimento desta inflamação na ausência de casos mais avançados. O aspeto “pedra de calçada” é
micro organismos originário da tumefação nodular, da fibrose e ulceração
→ com esse achado, cada vez mais a infecção da mucosa e as clássicas “lesões em corda” resultam das
bacteriana intestinal tem sido considerada como um dos estenoses tão características desta patologia
mais importantes fatores no desenvolvimento da DC
• A maioria dos autores sugere que a perda do equilíbrio MICROSCÓPICA
entre as bactérias comensais e as bactérias patogênicas • Microscopicamente, um sinal característico da doença
poderia estimular o sistema imunológico no local, em fase inicial são as úlceras aftóides, puntiformes ou
levando a um aumento da secreção de TNF-α lineares mais profundas, edemas e perda de textura da
→ outros estudos sugerem que a resposta anormal da mucosa normal
bactéria comensal, com antígeno desconhecido, poderia • Os aspectos histológicos mais comuns encontrados na
ativar o sistema imunológico em indivíduos DC são: inflamação de mucosa, ulceração e presença de
geneticamente predispostos granulomas não-caseosos (sem caseificação)
• Os processos inflamatórios na DC são
MACROSCÓPICA caracteristicamente transmural, o que contrasta com a
• Na doença aguda encontram-se as alças intestinais RCU
róseo-acinzentadas ou vermelhas púrpuras escuras, com • O envolvimento de todas as camadas da parede
parede intestinal borrachuda e espessa, como resultado intestinal pelo processo inflamatório (transmural), que
do edema, inflamação, fibrose e hipertrofia da muscular pode estender-se até a gordura mesentérica e
própria linfonodos regionais, é responsável pela instalação de
• O mesentério do segmento pode ficar espessado ou fissuras, fístulas entre alças intestinais, órgãos vizinhos,
não parede abdominal e região perianal; abscesso, densas
aderências entre alças intestinais e áreas de estenose
intestinal

90
PROBLEMAS NUTRICIONAIS que no pós-operatório desenvolveram síndrome do
• A má nutrição característica da DC tem como principais intestino curto (SIC)
causas: diminuição da ingestão energética, presença de
inflamação ativa e perdas gastrointestinais de nutrientes DÉFICIT DE MACRONUTRIENTES
derivadas da absorção intestinal comprometida em • Ferro
ambas as fases da doença (ativa e remissiva) → cerca de 74% padecem de anemia crônica,
• A anorexia, consequência da diminuição da ingestão proveniente da deficiente captação de ferro
alimentar, pode resultar não só do receio do • Cálcio e vitamina D
aparecimento de sintomas como enjoos e desconforto → os doentes possuem um risco aumentado de 40% de
abdominal, mas também pelo aumento dos níveis de virem a desenvolver fraturas comparativamente com a
citocinas pró-inflamatórias e adipocinas do tecido população em geral, proveniente da deficiente ingestão
adiposo branco, com possíveis alterações nos níveis de ou má absorção de cálcio e vitamina D
serotonina a nível hipotalâmico → além da carência de cálcio e vitamina D, o
• A DC resulta uma desnutrição proteico-energética envelhecimento, perda de peso superior a 10%, IMC < 20
(DPE), responsável por uma imunodeficiência humoral e e uso de corticoides também contribuem para o
celular, agravando o risco de ocorrência de infeções por aparecimento de osteoporose
translocações bacterianas devido à perda de eficiência → a corticoterapia inibe a absorção intestinal de
da barreira mucosa e de alterações da funcionalidade da cálcio e atua a nível renal diminuindo a sua reabsorção
mucosa associada ao tecido linfoide tubular, induzindo o organismo a um estado de
• Na DC há uma predominância de hipoalbuminemia, resistência relativamente à vitamina D
perda proteica intestinal e balanço nitrogenado negativo → uma ingestão diminuída de produtos lácteos,
resultante de dietas restritivas em lactose, pode
DESNUTRIÇÃO PROTEICO-ENERGÉTICA potenciar esta deficiência
• O aumento das necessidades nutricionais em resposta • Vitamina B12
à febre, infeção, formação de abscesso e fístula, → este déficit pode estar presente em doentes
retratados na doença, podem aumentar o gasto submetidos a recessões do estômago ou do íleo distal e
energético, parecendo ser a atividade da doença o fator em indivíduos que não produzam fator intrínseco
determinante para o aparecimento de
hipermetabolismo energético e proteico CLASSIFICAÇÃO
• Ileal: envolvimento exclusivo no íleo, mas poderia
HIDRATOS DE CARBONO E LIPÍDEOS
incluir o envolvimento do trato gastrointestinal alto
• Os novos hábitos alimentares envolvem um elevado
• Colônica: envolvimento limitado ao cólon e raramente
consumo de açúcar e hidratos de carbono refinados
ao reto
→ estudos atuais confirmam que o alto consumo
• Ileocolônico: envolvimento do íleo e do cólon, mas
desses produtos é considerado fator de risco nas DII,
poderia incluir o envolvimento do trato gastrointestinal
nomeadamente na DC
alto
• Com frequência, ocorre má absorção de ácidos biliares
• Doença confinada somente ao trato gastrointestinal
quando o íleo terminal está extensamente irritado ou
alto; como boca, língua, esôfago, estômago e duodeno
face à recessão intestinal, podendo provocar por
• Envolvimento perianal: é considerada doença perianal
consequência uma absorção reduzida de gorduras e
os achados clínicos de fístula perianal, abcesso perianal,
vitaminas lipossolúveis
mas não fissuras ou plicomas (hipertrofia da pele em
→ a esteatorreia resulta desse défice absortivo,
resposta a um processo inflamatório crônico) perianal
encontrando-se a sua gravidade dependente do grau de
severidade da doença
QUADRO CLÍNICO
DÉFICIT DE FLUÍDOS E ELETRÓLITOS • A apresentação clínica da DC é extremamente variável
• Provém da sintomatologia da doença, • Os sintomas diferem conforme a localização
especificamente, da diarreia ou esteatorreia predominante das lesões e sua extensão, a presença ou
• Indivíduos submetidos a recessão cirúrgica encontram- não de manifestação sistêmicas e de complicações da
se mais susceptíveis a esta deficiência, principalmente os doença

91
→ íleo e ceco: a sintomatologia assemelha-se a uma REUMATOLÓGICAS
apendicite e aqui o diagnóstico da DC é feito • A artrite periférica se instala em 15 a 20% dos pacientes
ocasionalmente por uma cirurgia abdominal com DII, é mais comum na DC e piora com as
→ íleo: as principais manifestações clínicas são a dor, exacerbações da atividade intestinal
no quadrante inferior direito, diarreia e febre → assimétrica, poliarticular e migratória, bem como,
intermitentes, e o aparecimento de uma massa com demasiada frequência, afeta as grandes
hipersensível no quadrante inferior direito do abdômen articulações das extremidades superiores e inferiores
→ jejuno: as principais manifestações podem ser a má • A espondilite anquilosante (EA) ocorre em cerca de
absorção e a desnutrição 10% dos pacientes com D II, sendo mais comum na DC
• Os sintomas iniciais, em geral, são diarreia persistente, → não está relacionada com a atividade intestinal e
dor abdominal, febre moderada e perda de peso não cede com os glicocorticoides ou a colectomia
corporal, que, eventualmente, não são de intensidade → afeta mais comumente a coluna vertebral e pelve,
suficiente para merecer investigação mais detalhada, produzindo sintomas de lombalgia difusa, dor nas
resultando em atraso do diagnóstico por alguns anos nádegas e rigidez matinal
→ a evolução é contínua e progressiva, evoluindo para
MANIFESTAÇÕES EXTRAINTESTINAIS dano esquelético permanente e deformidade
• A sacroiliite é simétrica é assintomática com bastante
DERMATOLÓGICAS
frequência, não se correlaciona com a atividade
• O eritema nodoso (EN) ocorre em até 15% dos
intestinal e nem sempre progride para a EA
pacientes com DC
• Outras manifestações reumáticas incluem a
→ as crises se correlacionam habitualmente com a
osteoartropatia hipertrófica, osteomielite
atividade intestinal; as lesões cutâneas surgem após o
pélvica/femoral e policondrite recorrente
início dos sintomas intestinais, e os pacientes sofrem
com frequência de artrite periférica ativa concomitante
→ as lesões do EN são nódulos quentes, vermelhos e OCULARES
hipersensíveis que medem 1 a 5 cm de diâmetro, sendo • A incidência de complicações oculares nos pacientes
encontrados na superfície anterior das pernas, nos com DII é de 1 a 10%
tornozelos, nas panturrilhas, nas coxas e nos braços • As mais comuns são a conjuntivite, uveíte anterior/irite
• Piodermite vegetante e episclerite
→ ocorre nas áreas intertriginosas → a uveíte pode ser encontrada durante os períodos
• Pioestomatite vegetante de remissão e manifestar-se nos pacientes após
→ acomete as membranas mucosas ressecção intestinal
• Síndrome de Sweet → a episclerite é um distúrbio benigno que se
→ uma dermatose neutrofílica manifesta com sintomas de ligeira queimação ocular
• DC metastática
→ distúrbio raro definido pela formação de HEPATOBILIARES
granulomas cutâneos • A esteatose hepática pode ser identificada em cerca de
• A psoríase afeta 5 a 10% dos pacientes com D II e não metade das biópsias hepáticas anormais
está relacionada com a atividade intestinal em → os pacientes costumam se apresentar
concordância com a base imunogenética compartilhada habitualmente com hepatomegalia
potencial dessas doenças → resulta habitualmente de uma combinação de
• As proeminências cutâneas perianais são encontradas enfermidade debilitante crônica, má nutrição e uso de
em 75 a 80% dos pacientes com DC, especialmente os glicocorticoides
com acometimento colônico • A colelitíase ocorre em 10 a 35% dos pacientes com DC,
• As lesões mucosas orais, observadas com frequência na com ileíte ou ressecção ileal
DC e apenas raramente na RCU, incluem estomatite → é causada pela má absorção de ácidos biliares,
aftosa e lesões que se assemelham a calçamento da resultando em depleção do reservatório de sais biliares
mucosa bucal e na secreção de bile litogênica
• A colangite esclerosante primária (CEP) é um distúrbio
caracterizado por inflamação dos duetos tanto intra-
hepáticos quanto extra-hepáticos e fibrose, levando

92
frequentem ente ao desenvolvimento de cirrose biliar e DIAGNÓSTICO
insuficiência hepática
• O diagnóstico da DC é um processo extremamente
→ 50 a 75% dos pacientes com CEP sofrem de DII
complexo, que se inicia pela anamnese, que inclui toda a
sintomatologia, gravidade e duração da doença
UROLÓGICAS
• Uma vez que não existe um exame auxiliar de
• As complicações geniturinárias mais frequentes são os
diagnóstico (EAD) Gold Standard, recorre-se a um
cálculos, a obstrução ureteral e as fístulas vesicais ileais
conjunto de métodos para complementar a avaliação
→ a frequência mais alta de nefrolitíase (10 a 20%)
clínica: desde os exames endoscópicos, histológicos,
ocorre nos pacientes com DC após a ressecção do
radiológicos e bioquímicos
intestino delgado
• Raio-X contrastado
→ os cálculos de oxalato de cálcio são secundários à
→ permite detectar facilmente as clássicas “lesões em
hiperoxalúria, que resulta do aumento da absorção de
corda”, que constituem as estenoses tão características
oxalato dietético
na DC
• TC (tomografia computorizada)
DISTÚRBIOS ÓSSEOS METABÓLICOS • RMN (ressonância magnética nuclear)
• Uma massa óssea baixa é observada em 3 a 30% dos • Fistulografia (para estudar o trajeto das fistulas,
pacientes com DII, sendo o risco aumentado por quando necessário)
glicocorticoides, ciclosporina, metotrexato e nutrição • Das várias ferramentas endoscópicas, a colonoscopia é
parenteral total (NPT) a principal ferramenta de diagnóstico, sendo encarada
• Má absorção e inflamação mediadas por IL-1, IL-6, TNF como de primeira linha para a investigação em pacientes
e outros mediadores inflamatórios também contribuem com DC
para a densidade óssea mais baixa • As análises histológicas podem demonstrar
acometimento transmural, padrão segmentar e
DISTÚRBIOS TROMBOEMBÓLICOS presença de granulomas não caseosos
• Os pacientes com DII correm maior risco de trombose • As análises laboratoriais incluem o hemograma
tanto venosa quanto arterial mesmo quando a doença completo (para avaliar a leucocitose e a anemia), a
não é ativa velocidade de sedimentação, proteína C reativa (como
→ os fatores responsáveis pelo estado hipercoagulável marcadores de inflamação aguda), albumina sérica, e
consistem em anormalidades da interação plaquetário- ainda, um teste serológico de anticorpos, que auxilia na
endotelial, hiper-homocisteinemia, alterações na diferenciação ente a colite de Crohn e a colite ulcerosa.
cascata da coagulação, fibrinólise prejudicada, Este teste consiste num mecanismo combinado, que
acometimento das microvesículas responsáveis pela identifica anticorpos anti-Saccharomyces cerevisiae
produção do fator tecidual, ruptura do sistema normal (ASCA), habitualmente encontrados em doentes com DC
da coagulação pelos autoanticorpos, assim como e um marcador do anticorpo conexo
predisposição genética
• Foi também observado amplo espectro de vasculites
envolvendo vasos de pequeno, médio e grande calibre TRATAMENTO

OUTROS DISTÚRBIOS AMINOSSALICILATOS


• As manifestações cardiopulmonares mais comuns • Muito usado no tratamento da DC, leve a moderada,
incluem endocardite, miocardite, pleuropéricardite e devido à sua capacidade de manter a remissão da
doença pulmonar intersticial doença
• A amiloidose secundária ou reativa pode ocorrer nos → contudo têm um papel mais limitado em casos de
pacientes com DII de longa duração, especialmente nos recidiva aguda
com DC • O mecanismo de ação é muito semelhante aos AINE´s,
→ o material amiloide é depositado sistemicamente, ou seja, inibem as enzimas COX-1 e COX-2, inibindo assim
podendo causar diarreia, constipação e insuficiência a síntese de prostaglandinas inflamatórias
renal → inibem, também, a produção de citoquinas, ao
• Pancreatite bloquear o recetor NF-kB, responsável pela transcrição
genética nuclear de genes envolvidos na resposta
inflamatória
93
• Sulfassalazina • Potentes anti-inflamatórios e imunossupressores,
→ pode estar envolvido na redução da inflamação, por principalmente porque restringem a proliferação clonal
remover os metabolitos tóxicos do oxigénio, inibindo a das células Th através da diminuição da transcrição do
produção de prostaglandinas e leucotrienos e/ou por gene para IL2
diminuir a quimiotaxia dos neutrófilos e posterior • São também responsáveis pela diminuição da
formação de superóxidos transcrição de muitos outros genes de citocinas, como
→ os efeitos adversos associados são a diarreia, TNF-α, INFγ, IL-10, interleucinas), tanto na fase de
hipersensibilidade aos salicilatos e nefrite intersticial indução como na fase efetora da resposta imunológica
→ é degradada pela microbiota intestinal, • São fármacos úteis nas crises agudas da DC, mas não
principalmente no cego e cólon, no composto ativo 5- são eficazes no tratamento de manutenção e nem no
aminossalicilato (5- ASA) e sulfapiridina tratamento de fístulas
→ a nível intestinal, o 5-ASA não é absorvido, sendo • Não devem ser usados em tratamentos de longo prazo,
absorvida, só, a sulfapiridina, responsável pelo devido aos seus efeitos adversos
aparecimento de efeitos adversos, tais como náuseas, • Uma das medidas para reduzir a supressão adrenal é
distúrbios gastrointestinais, mal-estar e cefaleias conjugar o tratamento em dias alternados
→ pode ainda provocar determinadas reações • A sua dose, como o que acontece com outros
cutâneas e leucopenia, que são, contudo, reversíveis esteróides, deverá ser reduzida progressivamente ao
aquando a cessação da tomada do fármaco longo de semanas a meses (desmame), com o objetivo
→ afeta também a absorção de ácido fólico, ficando de terminar o uso de corticosteróides, mantendo a
esta muitas vezes comprometida remissão da doença
• Olsalazina • Devem, portanto, ser usados na indução da remissão
→ Dipentum® da DC e não no tratamento de manutenção
→ corresponde a 2 moléculas de 5-ASA ligadas por uma • Os corticosteróides mais usados na DC, são a
ponte diazo, hidrolisável por bactérias presentes no prednisolona, hidrocortisona e a budesonida
cólon
→ ação igual à da Mesalazina IMUNOMODELADORES
• Mesalazina • São o pilar do tratamento a longo prazo da DC, sendo
→ consiste no 5-ASA, cuja ação é idêntica à da particularmente úteis em indivíduos refratários aos
sulfasalalazina mas sem ação antibacteriana da glicocorticosteróides ou glicocorticosteróides-
sulfapiridina e com menos efeitos adversos devido a não dependente
possuir a sulfonamidas • São fármacos usados na manutenção de recorrências
→ é um fármaco formulado para ser libertado só no clínicas e cirúrgicas e no tratamento de fístulas
local de ação pretendido e por isso é ligado a • AZA (Azatioprina - Imuran®) e 6-MP (6-mercaptopurina
determinadas moléculas – Purinethol®)
→ Eudragil S (Asacol®) que faz com que a mesalazina → o mecanismo de ação destas tiopurinas, ainda, não
só se liberte a um pH superior a 7, sendo atingido só na foi bem elucidado mas sabe-se que possam influenciar as
porção terminal do íleo células T, diminuindo a proliferação de linfócitos e de IL-
→ Eudragil L (Salofalk®) que faz com que a mesalazina 2
se liberte a um pH superior a 6, permitindo uma → sabe-se também que os seus efeitos só são
libertação no íleo e cólon observáveis 4 a 6 meses após iniciar o tratamento, altura
→ Microgrânulos de etilcelulose (Pentasa®) que faz em que se atinge a concentração plasmática
com que a mesalazina se liberte desde o estômago até → certos investigadores sugerem que a AZA é mais
ao cólon eficaz que a 6-MP
• Balsalazida → contudo, na prática clínica são considerados
→ Colazal® igualmente eficazes, embora não tenha sido
→ um ácido 4-aminossalicilico, um pró-fármaco de 5- comprovado cientificamente
ASA ligada ao veículo por uma ligação A20, quebrada → atualmente, a AZA é o tratamento de primeira linha
pelas bactérias do cólon formando este composto em pacientes com DC moderada a grave e só é
substituída pela 6-MP se existirem efeitos secundários
CORTICOESTEROIDES ou outras complicações
• Metotrexato (Ledertrexato®)

94
→ é um antagonista do ácido fólico atuando como → tratamento para uma complicação específica na DC
inibidor da dihidrofolato redutase, contribuindo para a → em profilaxia em situações de pós-operatório
redução dos precursores da síntese de purinas e, • O antibiótico mais usado em DC é o metronidazol
portanto, com atividade citotóxica e imunossupressora
→ é usado em pacientes com DC, nas formas moderada NÃO FARMACOLÓGICO
a grave, quando estes são intolerantes à AZA e 6-MP ou • O suporte nutricional com nutrição entérica ou
quando o tratamento falha com as tiopurinas parentérica pode levar pelo menos à remissão da doença
→ este composto só pode ser administrado por via IM quando utilizado como única fonte de tratamento
ou SC • Para atingir a remissão clínica, não é necessário o
• Anticorpos monoclonais anti-TNF-α repouso total do intestino, utilizando a nutrição
→ a ligação do anticorpo ao TNF-α não permite a parentérica
reativação do sistema imunológico, não há lesão do • A nutrição entérica deve ser considerada a forma de
tecido saudável e não há formação da inflamação suporte nutricional de primeira linha
→ Infliximab e Adalimumab • A nutrição entérica tem potencial para reduzir alguns
→ ambos são usados nas formas moderada a grave elementos do processo inflamatório, serve como fonte
da DC de nutrientes, poupa o uso de esteróides e altera a flora
→ Infliximab (Remicad®) GI
→ este fármaco é um anticorpo monoclonal • A nutrição entérica é aconselhada em crianças, para
quimérico murino/humano (25% de proteína de rato e manter o seu crescimento e reduzir o uso de esteróides
75% de humano) contra o TNF-α • O doente deve ter consciência dos alimentos que
→ a sua função consiste em inibir a ação do TNF-α agravam os seus sintomas e evitar a sua ingestão,
→ é um fármaco administrado por via IV, em procurando alternativas para receber um suporte
intervalos de várias semanas a meses nutricional adequado.
→ sabe-se também que é muito útil na prevenção e
encerramento das fístulas associadas a esta patologia, e
a longo prazo é importante na manutenção da remissão
da doença
→ estudos recentes referem ser vantajosa a junção
de infliximab + AZA na terapêutica clínica, pois
proporcionam maiores taxas de remissão da doença sem
intervenção de esteróides e melhor cicatrização da
mucosa, do que quando usados em monoterapia
→ é capaz de se ligar ao recetor membranar do TNF-
α e é essa interação que conduz à lise celular por
mecanismos moleculares de reconhecimento anticorpo-
antígeno ou por mecanismos de toxicidade mediada por
células, como por exemplo células T, CD8+
→ totalmente contraindicado em pacientes que
padeçam de insuficiência cardíaca congestiva grave
→ Adalimumab (Humira)
→ semelhante ao infliximab que também se liga ao
TNF-α bloqueando a sua atividade e diminuindo a
inflamação
→ ao contrário do infliximab, este é um anticorpo
anti-TNF completamente humanizado e é administrado
por via SC e não por via IV, como é o caso do Infliximab

ANTIBIÓTICOS
• Podem ser usados como:
→ tratamento adjuvante, juntamente com outros
fármacos

95

Você também pode gostar