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¹ Discente do Curso de Medicina, Pró Reitoria de Ciências Médicas, Universidade de Vassouras, Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. ORCID https://orcid.org/0000-0002-4060-7566.
² Docente do Curso de Medicina, Pró Reitoria de Ciências Médicas, Universidade de Vassouras, Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. ORCID https://orcid.org/0000-0001-6089-8500.
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Costa & Tonzar, 2021. DOI 10.21727/rs.v12i3.2532
pelo mundo.2 alterações no exame e informou aos pais, mas esses não
O objetivo desse artigo foi conscientizar os compreenderam, decidindo procurar outro médico para
profissionais de saúde sobre a Síndrome de Phelan- melhor elucidação das alterações.
McDermid a partir de um relato de caso, cuja finalidade Aos 9 meses de idade, foi consultada por outra
é de ajudar a reduzir o número de subdiagnósticos neuropediatra que, após avalição dos exames, constatou
e garantir aos pacientes portadores da doença uma uma alteração cerebral, além das repercussões da
melhora na qualidade de vida. hipóxia, e aventou a possibilidade de uma doença
genética. Diante desta suspeita, encaminhou a paciente
Descrição do caso para avaliação de especialistas, tais como, avaliação
oftalmológica com fundo de olho, avaliação genética,
terapeuta ocupacional e fonoaudiologia. Essas avaliações
MCPP, sexo feminino, branca, nasceu no dia
demonstraram haver dismorfias faciais, dimple sacral,
18/03/2017 na cidade de Vassouras no estado do Rio
sulco interglúteo em Y, macrocrania relativa, atraso
de Janeiro. Na gestação da paciente, foi relatado que
global do desenvolvimento, hipotonia e na RNM de
durante a gravidez, a mãe apresentou ITU e leucorreia
crânio demonstrou atrofia parenquimatosa e atraso de
próxima ao parto, não tratada. O parto foi normal
mielinização.
espontâneo com 38 semanas e 6 dias, APGAR 8/8,
Os resultados dos exames oftalmológicos
Ballard de 30 semanas, tempo de bolsa rota de 2 dias,
revelaram atraso visual de causa neurológica, sendo
peso de 1800g, tipagem sanguínea isogrupo com a mãe
indicado uso de óculos para estimulação visual. A mesma
(O+) e oligodramnia.
iniciou reabilitação com fisioterapia, fonoaudiologia e
A recém-nascida (RN) teve que ser transferida
terapia ocupacional. Na avaliação genética, o cariótipo
para UTI devido a quadro de desconforto respiratório
da paciente foi normal (46, XX).
grave, necessitando intubação orotraqueal. Na UTI, foi
Foi encaminhada para um geneticista clínico,
iniciada terapia antibiótica para sepse neonatal precoce
que mesmo com o resultado do cariótipo, pediu um
suspeita. Além disso, apresentou icterícia nas primeiras
exame de Hibridização Genômica por Microarray, que
48 horas de vida, sendo tratada com fototerapia por 8
permitiu avaliar mais detalhadamente os cromossomos
dias. Houve piora do quadro infeccioso da paciente
da paciente. No dia 19/03/2018, foi obtido o resultado de
com queda de saturação e bradicardia, até o dia
microdeleção do 22q13. Associado a isso, foi confirmado
11/04/2017, sendo iniciado Meropenem 40 mg/Kg/dia e
por Amplificação Multiplex de Sondas Dependente de
Vancomicina 15 mg/Kg/dia, que permaneceram por 19
Ligação (MLPA) que tal deleção também incluiu o gene
dias. Neste período precisou ser reintubada e colocada
SHANK3. Sendo assim, a paciente foi diagnosticada
em ventilação mecânica. Devido a piora do quadro, foi
com Síndrome de Phelan-McDermid.
associado ao esquema de antibiótico, um antifúngico
(Anforetericina B -1 mg/Kg/dia), que permaneceu por
14 dias. No dia 14/04/2017, a paciente foi extubada e Discussão
colocada em ventilação não invasiva (VNI) com pronga
nasal. Em 20/04/2017, a RN iniciou um quadro de
Importante ressaltar que a primeira suspeita
taquicardia 260 bpm, que não respondeu a manobra
clínica da doença costuma ser a hipotonia neonatal,
vagal com bolsa de gelo, sendo prescrito Amiodarona (5
que pode contribuir para má alimentação, dificuldade
mg/Kg/dia). A Amiodarona foi passada para via oral no
de fala, reflexos reduzidos e atrasos motores. Além
dia 26/04/2017 e no dia 05/05/2017 teve alta da da UTI.
disso, na fase pré-escolar, a criança tem um vocabulário
Entretanto, dois dias depois, apresentou novamente
limitado. Os pacientes com deleção do 22q13.3, podem
arritmia, retornando para Amiodarona venosa, associada
ter sintomas compatíveis com o autismo, resultado da
a prednisolona devido a risco de pericardite fúngica.
carência do gene SHANK3.3
A paciente recebeu alta no dia 11/05/2017,
Na ectoscopia, a cabeça tende a ser longa
sendo encaminhada para um cardiologista com quadro
ou dolicocéfala, apresenta sobrancelha larga, olhos
de taquicardia supraventricular que foi revertida com
profundos, pálpebras inchadas, nariz bulboso e cílios
amiodarona. No dia 19/05/2017 paciente foi novamente
longos e grossos. A face intermediária pode ser plana
avaliada pelo cardiologista que concluiu que tal arritmia
com uma ponte nasal larga e bochechas inchadas, o
tinha evolução benigna, podendo desaparecer após 1 ano
queixo é frequentemente pontudo e pode se tornar
de vida, e foi liberada com a prescrição de Amiodarona
proeminente com a idade, orelhas são tipicamente
via oral.
grandes e podem ser proeminentes ou malformadas.
Aos 6 meses de idade, a mãe da paciente percebeu
Apresentam mãos carnudas, unhas dos pés displásicas,
que a lactente não conseguia sustentar a cabeça e
linfedema e diminuição da percepção da dor.4
procurou uma neuropediatra, sendo solicitado uma
Pacientes com a Síndrome de Phelan-McDermid
Ressonância Magnética (RNM). A médica visualizou
podem apresentar transtorno bipolar e perda de
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Considerações finais
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