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Terapia Cognitivo-

Comportamental e O DSM-5

Brasília-DF.
Elaboração

Luciana Raposo dos Santos Fernandes

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL................................................................... 11

CAPÍTULO 1
MODELO COGNITIVO............................................................................................................. 11

CAPÍTULO 2
MODELO COMPORTAMENTAL................................................................................................. 18

CAPÍTULO 3
MODELO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL.............................................................................. 24

UNIDADE II
TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES................................................. 30

CAPÍTULO 1
TCC E OS TRANSTORNOS DE HUMOR...................................................................................... 30

CAPÍTULO 2
TCC E OS TRANSTORNOS ALIMENTARES................................................................................... 42

CAPÍTULO 3
TRANSTORNOS DE COMPORTAMENTO DISRUPTIVO: MODELO DE
TREINAMENTO PARENTAL ...................................................................................................... 51

UNIDADE III
TCC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES..................................... 59

CAPÍTULO 1
APRENDIZADO E COGNIÇÃO.................................................................................................. 61

CAPÍTULO 2
INABILIDADES ESPECÍFICAS DE APRENDIZADO.......................................................................... 68

CAPÍTULO 3
A PRÁTICA DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NOS TRANSTORNOS
DA APRENDIZAGEM................................................................................................................ 75
UNIDADE IV
CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES........................................................................................................ 83

CAPÍTULO 1
CONCEITO DE NORMALIDADE E APOIOS................................................................................. 83

CAPÍTULO 2
EQUIPE E DIAGNÓSTICO......................................................................................................... 89

CAPÍTULO 3
A MELHORA GRADATIVA.......................................................................................................... 96

PARA (NÃO) FINALIZAR.................................................................................................................... 103

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 104
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
O primeiro país a pensar a necessidade de um censo das dificuldades psíquicas do ser
humano foram os Estados Unidos, que em 1840 iniciou esse estudo com a divisão em
duas categorias, ‘idiotia e loucura’, que ainda eram as ideias que se tinham sobre as
doenças e alterações do comportamento humano.

Com o avanço dos estudos e do censo, em 1880, já se usava o termo ‘transtornos


mentais’, ainda com um olhar e uma divisão simplista, porém, mais detalhada que a
anterior. Nessa época o censo já era dividido em sete categorias: mania, melancolia,
monomania, paresia, demência, dipsomania e epilepsia.

Os dois censos, de 1840 e de 1880, eram baseados, apenas, com objetivo estatístico.

Com o advento das Guerras Mundiais do século XX e buscando o melhor atendimento


dos veteranos dessas guerras, o exército norte-americano fomentou um estudo mais
profundo que originou, em 1948, uma complexa categorização dos transtornos mentais,
que levou a OMS (Organização Mundial da Saúde) inclui-la como uma sessão específica
sobre os Transtornos Mentais no CID – 6 (Classificação Internacional de Doenças, 6ª
edição).

A primeira edição publicada do DSM (Manual Estatístico e Diagnóstico de Transtornos


Mentais) ocorreu em 1953, pela APA (Associação Americana de Psiquiatria), desde
então, ele se tornou o principal instrumento de diagnóstico nas clínicas psiquiátricas e
psicológicas.

Mas foi em 1980, em sua terceira edição que as principais alterações em metodologia
e estrutura ocorreram, proporcionando avanços importantes tanto no diagnóstico
quanto nas pesquisas dos transtornos mentais.

Assim, em 1994, com o lançamento do DSM-IV, novos diagnósticos e critérios mais


claros, foram incluídos.

Hoje, já estamos na 5ª edição do manual, cada vez mais fundamental como ferramenta
para o diagnóstico clínico na área da saúde mental.

O DSM-5 traz uma descrição mais completa das principais características e sintomas
dos transtornos mentais, de maneira mais simples e mais clara.

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O objetivo do DSM-5 é auxiliar no diagnóstico, para que ele seja o mais preciso
possível, o que favorece um tratamento melhor e mais eficaz, prevenindo os erros e
procedimentos indevidos e desnecessários, bem como a prescrição mais efetiva de
medicamentos e processos terapêuticos.

No Brasil, o uso entre os profissionais de Psicologia não é comum, muitos ainda


desconhecem sua utilização e poucas universidades fornecem esse conhecimento.

Postulamos a necessidade, cada vez mais, da inserção do estudo do DSM-5 na


matriz curricular das graduações, pois os critérios diagnósticos inseridos no manual
auxiliam no dia a dia da clínica, proporcionando a maior compreensão dos pacientes
e melhoria no acompanhamento clínico, incluindo as indicações ao tratamento
psiquiátrico. Também favorece a melhoria na construção e leitura de relatórios
advindos da Psiquiatria e suas correlações com o CID (Código Internacional de
Doenças) referenciados.

Objetivos
» Conhecer o DSM-5 e sua aplicação em transtornos em crianças e
adolescentes.

» Conhecer os transtornos de humor e a aplicação da técnica de Terapia


Cognitivo-Comportamental em crianças e adolescentes.

» Conhecer os transtornos alimentares e a aplicação da técnica de Terapia


Cognitivo-Comportamental em crianças e adolescentes.

» Conhecer os transtornos de comportamento disruptivo e o modelo de


treinamento parental.

» Reconhecer inabilidades de aprendizado e técnicas para dar apoio na


escola e em casa.

» Criar meios de construção de possibilidades para a melhora do paciente.

» Reconhecer momentos de apoio concretos à família no auxílio ao


desenvolvimento do paciente.

» Ampliar redes de apoio com outros profissionais e reconhecer quais


médicos indicar.

9
Figura 1. Reconhecimento pessoal.

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/homem-pessoas-menina-mulher-2196323/.

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PERSPECTIVAS DA
TEORIA COGNITIVO- UNIDADE I
COMPORTAMENTAL

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), em sua prática, tem como base uma série
de teorias que estabelecem, juntas, os princípios fundamentais para incluir planos
terapêuticos que têm como objetivo orientar as ações determinadas pelo terapeuta.

É nosso objetivo, nesta unidade, permitir o acesso aos conceitos centrais que são
postulados na TCC e que influenciaram diversas outras técnicas terapêuticas existentes
e ampliar o conhecimento para outras técnicas existentes e a diferença entre elas.

CAPÍTULO 1
Modelo cognitivo

Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC) é um termo geral e que com muita frequência


é usado para tratar outras psicoterapias que tenham por base o modelo cognitivo.
Apenas a TCC se baseia na abordagem que combina o modelo cognitivo com modelos
de procedimentos comportamentais.

As principais diretrizes estabelecidas por Aaron Beck, o fundador da Terapia Cognitiva,


há 45 anos, visam construir uma teoria que leve a psicopatologia a dialogar com as
abordagens psicoterápicas e reduzir os sintomas dos transtornos psicopatológicos.

Todas as pesquisas se deram inicialmente para atenuar os sintomas e as recidivas dos


transtornos psiquiátricos, tais como a depressão, o suicídio, a ansiedade, as fobias, a
raiva, a agressividade e a violência.

Desde então, a TCC vem sendo aplicada em diversos transtornos em adultos e


adolescentes e, cada vez mais, atualmente, com crianças, dando origem a uma
classificação que engloba três divisões:

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UNIDADE I │ PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

» a que enfatiza o desenvolvimento de habilidades que permitam o paciente


a lidar com suas situações problemáticas;

» a que enfatiza o desenvolvimento de estratégias que permitam o paciente


a lidar com suas dificuldades pessoais;

» a que leve o paciente a compreender que suas questões emocionais são


consequências de distorções dos pensamentos e que o levem a reformular
sua relação com esses pensamentos negativos.

A origem da Terapia Cognitivo-


Comportamental
Desde a época dos grandes filósofos gregos, os princípios centrais da TCC foram
discutidos, com relação às reações dos homens aos estímulos que recebem do meio
onde convivem e com quais pessoas se relacionam.

Assim, a TCC postula dois princípios centrais:

» a cognição influencia e controla nossas emoções e nosso comportamento;

» nossas ações e comportamentos afetam nossos pensamentos e nossas


emoções.

O primeiro a desenvolver teorias e métodos da TCC em transtornos mentais foi Aaron T.


Beck (1996) que observou que seu trabalho influenciava o desenvolvimento do processo
de percepção da relação cognição x comportamento nas terapias dos transtornos
psiquiátricos.

Entre 1950 e 1960, alguns pesquisadores clínicos aplicaram as pesquisas de Pavlov,


Skinner e outros pesquisadores behavioristas em suas explorações e estudos com base na
abordagem comportamental para atuar na hipersensibilidade por objetos ou situações
de temor e no relaxamento, sem levar em conta a influência e a relação do cognitivo e do
comportamento, atuando na modelação do comportamento por meio dos reforçadores
como resposta positiva à exposição do paciente aos seus medos e conflitos.

A partir dos anos 1970, e na medida em que a terapia comportamental crescia, alguns
pesquisadores incorporaram técnicas e estratégias da terapia cognitiva em suas
abordagens terapêuticas e perceberam que essa perspectiva cognitiva acrescia de
contexto, profundidade e compreensão as suas abordagens comportamentais.

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PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL │ UNIDADE I

Mesmos com todos os estudos existentes, muitos terapeutas ainda utilizam abordagens
únicas, comportamentais ou cognitivas, em seu trabalho. Contudo, cada vez mais
especialistas vêm buscando a associação de ambas as abordagens e fortificando o uso
da TCC nos tratamentos dos transtornos mentais em todas as idades.

Esse modelo desenvolvido por Aaron Beck tem como objetivo a resolução dos problemas
do paciente por meio da modificação dos pensamentos e dos comportamentos
considerados disfuncionais. Beck postulava que determinados comportamentos eram
resultado das relações estabelecidas entre o paciente e seu meio, que poderiam fortalecer
ou enfraquecer o indivíduo, desencadeando comportamentos como resultado de um
reforço ou uma punição.

Tolman (1967), um dos criadores do modelo cognitivo da Psicologia Cognitiva


Moderna, acreditava que “todo comportamento era dirigido a um objetivo” e, a partir
dessa afirmação, desenvolveu todo o seu conceito do modelo cognitivo, que se baseia na
hipótese de que “as emoções e os comportamentos das pessoas são influenciados por
sua percepção e interpretação dos eventos”.

Assim, é possível afirmar que a maneira como o indivíduo sente e percebe está
diretamente relacionada ao modo como ele pensa e interpreta determinadas situações,
suas respostas emocionais são resultado de sua percepção. Esse fato é conhecido como
a crença que cada pessoa tem.

Figura 2. Exemplo da relação situações x percepção x resposta emocional.

EMOÇÃO –––– COGNIÇÃO

Processos Razão
somáticos PENSAMENTO superior e
relacinados EMOCIONAL pensamento
com o corpo racional

Fonte: adaptado de Wright e Basco, 2018.

Crenças são as percepções que o indivíduo tem a cerca de si mesmo, as pessoas e o


mundo. Elas são desenvolvidas desde a infância e é através delas que as crianças dão
sentido ao meio em que vivem, pois refletem a vivência. Essas percepções são tão
profundas que levam as pessoas a acreditarem que são definitivas e que não podem ser
mudadas.

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UNIDADE I │ PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

As crenças são desenvolvidas ao longa da vida, a partir de suas experiências, e são


peculiares a cada indivíduo. Não podem e nem devem ser comparadas às de outras
pessoas. Elas estão relacionadas com a construção do self, que está ligado à percepção
que eu tenho de mim, por meio do olhar do outro. Esse é concebido por meio de relações
emergentes, aos ambientes e ao desenvolvimento do futuro pessoal, é nesse espaço
temporal que as distorções cognitivas se constroem.

As distorções cognitivas são alterações do pensamento, construídas baseadas nos


erros de percepção que o indivíduo desenvolve a respeito de si mesmo, com base
em três aspectos, chamados Tríade Cognitiva (BECK, 1996), que desencadeiam os
chamados pensamentos automáticos. Na quadro abaixo é possível ver exemplo desses
pensamentos.

Quadro 1. Tríade cognitiva.

Situação Pensamentos automáticos Emoções


Minha mãe telefona e me pergunta o porquê de eu “Caramba! Fiz besteira! Não consigo agradar ela Tristeza e raiva
ter esquecido o aniversário da minha irmã. nunca!”
Pensamento em volta de um projeto que preciso “Tenho muito trabalho a fazer, não vou conseguir! Ansiedade
entregar no trabalho. Se isso acontecer, como vou encarar meu chefe?”
Há uma queixa do meu marido dizendo que estou “Por que alguém ia querer estar com uma pessoa Tristeza, ansiedade
irritada o tempo todo. como eu? Sou um fracasso de esposa!”

Fonte: adaptado de Beck, 1996.

Os pensamentos automáticos estão presentes na vida de todas as pessoas, mas


nem todos têm consciência de sua existência, porém, eles influenciam as respostas
emocionais, comportamentais e fisiológicas da grande maioria e surgem de maneira
espontânea e imprevisível, sem influência de pensamentos, reflexões ou baseados
em qualquer lógica.

A maior parte dos pensamentos automáticos é negativa e desencadeia emoções


e sentimentos a respeito de si próprio originada de um único pensamento. Esse
pensamento automático tem origem nas chamadas crenças centrais, que são ideias
centradas no self, em outras pessoas e no mundo, em conjunto com as chamadas
crenças intermediárias que são as ações, regras ou ideações que influenciam o
comportamento desse indivíduo.

Dessa forma, é correto dizer que as crenças centrais são globais, generalizadas
e absolutistas e levam o paciente a perceber informações distorcidas que não se
enquadram em suas crenças, podendo ser positivas ou negativas, e quando negativas
são ativadas em estado aflitivo e estão divididas em duas categorias: o pensamento
de desamparo e a sensação permanente de não ser amado.

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PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL │ UNIDADE I

Quanto às crenças intermediárias, podemos afirmar que elas são representadas


pelas atitudes, pelas regras e pelas suposições que permeiam a percepção de
uma determinada situação e o comportamento adotado por essa pessoa, e estão
diretamente relacionadas à crença central.

As crenças negativas são chamadas de disfuncionais e influenciam no comportamento


do indivíduo, causando os chamados comportamentos disfuncionais ou mal
adaptativos, e são reforçadores da crença negativa ou disfuncional que originou o
comportamento disfuncional, ou seja, um ciclo que impede o indivíduo de enxergar
posturas positivas e ver o lado qualitativo de suas ações.

Figura 3. Pensamentos pessoais.

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/d%C3%BAvida-sentimento-incerteza-1160744/.

Técnicas da Terapia Cognitiva


A TCC adota técnicas que tem por objetivo modificar pensamentos distorcidos, como:

» Questionamento socrático: é a técnica que consiste em de fazer


perguntas que induzam e estimulam o paciente no processo de
aprendizagem a respeito de si mesmo, que levem à compreensão
e localização de suas falhas de raciocínio e a identificação dos
pensamentos e comportamentos disfuncionais padrões.

» Flecha descendente: é uma técnica que leva o terapeuta a localizar os


pensamentos automáticos chave que estejam ligados à determinada
crença disfuncional levando ao questionamento do paciente sobre a

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UNIDADE I │ PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

veracidade dessa cognição e é repetida tantas vezes, até que o paciente


possa revelar a crença intermediária e que leve à compreensão do
significado da crença central.

» Diagrama de conceituação cognitiva: representado por uma ficha ou


quadro articulador entre as crenças centrais, as crenças intermediárias e os
pensamentos automáticos do paciente para dar acesso a um mapeamento
cognitivo do paciente com o objetivo de ajudar na organização dos dados
obtidos.

» Registro de pensamento diário: é um instrumento preenchido pelo


paciente fora do espaço terapêutico, preferencialmente em casa, e deve ser
entregue no dia subsequente ao atendimento. Nele o paciente reescreve
seus pensamentos automáticos percebidos durante uma semana e os
mesmos serão anotados e analisados.

Pessoas que não possuem transtornos emocionais também podem ter


pensamentos negativos e automáticos!

Ao reconhecer seus próprios pensamentos automáticos e empregar outros


processos cognitivo-comportamentais, os terapeutas podem aprimorar seu
entendimento de conceitos básicos, aumentar sua empatia com os pacientes
e aprofundar a consciência de seus padrões cognitivos e comportamentais que
poderiam influenciar a relação terapêutica.

Fonte: WRIGHT, J.H.; BASCO, M.R.; THASE, M.E. Aprendendo a


terapia cognitivo-comportamental - um guia ilustrado. Porto
Alegre: Artmed, 2018.

Princípios, técnicas e estratégias de


intervenção clínica
Para estabelecer uma intervenção adequada sobre a cognição, onde o paciente possa
reconhecer e modular suas emoções, é necessário que ele possa identificar essas
cognições inconscientes que representam suas emoções adversas. Esses pensamentos
automáticos não são contatados naturalmente quando o paciente desencadeia
suas emoções, é necessário que haja um treinamento contínuo para que o paciente
consiga identificar esses pensamentos automáticos, e que só é possível por meio do
questionamento contínuo e uma reconstrução mental dos acontecimentos que levem à
pergunta principal: “em que estava pensando, quais imagens e sentimentos estiveram
em sua mente quando a emoção surgiu?”.

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PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL │ UNIDADE I

A identificação da cognição e destes pensamentos, sensações e imagens mentais é


importante para que a intensidade da emoção sentida seja reconhecida e dimensionada
e que se tenha condições de avaliar a crença na cognição e a intensidade da emoção
associada à mesma, para assim levar à reflexão que possa produzir interpretações
contrárias aos sentimentos negativos e a sua modificação gradual.

Perguntas-chaves levam à ressignificação dos conteúdos e das crenças, e na reavaliação


do paciente a respeito de suas emoções e pensamentos originais com relação àquela
crença que o encoraje a redefinir seus comportamentos futuros. Esse é um processo
gradativo e deve ser registrado em formulários específicos para TCC.

É na fase intermediária da terapia que a intervenção sobre crenças disfuncionais


é focada, para que possa ressignificar a cognição do paciente, assim permitindo que
ele modifique suas reações e sentimentos, ampliando sua reflexão sobre rigidez de
comportamento, reações a emoções muito fortes, respostas excessivas, pensamentos
hipergeneralizados, extremos e irracionais.

Essa identificação de crenças requer um cuidado maior do que dos pensamentos


automáticos, pois, se abordarmos uma crença precocemente, poderemos ativar a
resistência do paciente, dificultando referências futuras à mesma crença. Necessitamos,
portanto, por meio de esforços consistentes de conceituação cognitiva, baseados em
toda a informação que conseguirmos coletar, refinar continuamente as nossas hipóteses
de crenças disfuncionais, abordando-as apenas quando já se tornaram evidentes para
o indivíduo.

A última fase, chamada de terminação, utiliza técnicas que promovam a generalização


das estratégias adquiridas durante o processo clínico e das novas formas de perceber
e responder ao real, reforçando-se o novo sistema de esquemas e crenças, em uma
tentativa de se prevenir recaídas e garantir a preservação de uma estrutura cognitiva
funcional.

Criando, dessa forma, um autoconceito sobre suas ações, autocrítica baseada em


evidências coletadas junto ao terapeuta e generalização de ações que o transformam
em um ser humano mais ativo e reflexivo sobre si mesmo e os demais.

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CAPÍTULO 2
Modelo comportamental

A terapia comportamental originou-se entre os anos 50 e 60 com o objetivo de


se separar da perspectiva da psicanálise com suas técnicas de condicionamento
tradicional, utilizadas nos tratamentos dos transtornos psiquiátricos e
comportamentais, e veio se aprimorando e avançando no escopo da psicologia
experimental, inovando as práticas clínicas.

O modelo existente postulava uma perspectiva hermética, onde os pacientes eram


vistos como resultados de suas bases genéticas, influenciados pelo meio, tornando-
se agentes influenciadores desse. Alguns pesquisadores que seguiam as teorias
behavioristas, um deles Skinner, não só não acreditavam como excluíam teorias de
autodeterminação e liberdade de escolha. Porém, o modelo comportamental atual veio
avançando e modificando procedimentos que tornam os sujeitos controladores de suas
vidas e escolhas, utilizando técnicas de modificação comportamental com o objetivo de
desenvolver as capacidades pessoais, dando ao paciente mais opções de resposta.

O Modelo Comportamental tornou o terapeuta um agente de auxílio ao paciente,


onde esse consiga, com recursos próprios, extinguir comportamentos disfuncionais,
modificando-os e substituindo-os por comportamentos positivos que permitam ao
sujeito atingir e manter o planejamento terapêutico pré-estabelecidos.

Segundo Wilson (2000), o papel do terapeuta é utilizar treinos e técnicas de modificação


de comportamento e participar como consultor, encorajador e facilitador de mudança.

A intervenção comportamental passa por uma avaliação inicial feita com


o intuito de identificar o comportamento ou comportamentos específicos
a alterar (WILSON, 1999), seguida da identificação e aplicação de técnicas
comportamentais mais apropriadas a cada caso. Durante o processo, alterações
poderão ser feitas no intuito de aumentar ou reduzir a frequência e intensidade
dos comportamentos em questão.

Análise do Comportamento Aplicada (ABA)


Segundo Carvalho Neto, Tourinho e Sério (2002; 2010), a nomenclatura Análise do
Comportamento Aplicada (do inglês, Applied Behavior Analysis – ABA) é utilizada
para definir dois campos distintos de atuação do analista do comportamento:

18
PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL │ UNIDADE I

» Uma pesquisa aplicada, a partir do analista, consistindo no uso


de princípios comportamentais básicos com o intuito de produzir
comportamentos sociais relevantes.

» Técnica baseada em evidências, tem como principal objetivo garantir


a generalização e o enganjamento do paciente em análise, ampliando
comportamentos sociais relevantes.

Assim, os critérios que uma pesquisa aplicada em análise do comportamento deve


atender são:

» Aplicada: os comportamentos envolvidos devem ser socialmente


relevantes e a análise deve levar em consideração as mudanças a curto e
longo prazos, tanto para o indivíduo quanto para o grupo social.

» Comportamental: a pesquisa deve estar comprometida com aquilo que


o indivíduo faz e não apenas com o que ele relata fazer; portanto, o
comportamento deve ser observado e medido em suas propriedades.

» Analítica: devem-se identificar as relações de dependência entre


as respostas do indivíduo, os contextos em que ocorrem (eventos
antecedentes) e seus efeitos no mundo (eventos consequentes), isto é,
devem-se identificar as variáveis que controlam determinado responder.

» Tecnológica: a aplicação deve ser operacionalizada, implementada e


descrita de forma clara e detalhada, permitindo que qualquer pesquisador
da área consiga replicá-la.

» Conceitual: os procedimentos de coleta e análise de dados devem estar


embasados nos pressupostos filosóficos do behaviorismo radical e nos
princípios teóricos e metodológicos da análise do comportamento.

» Eficaz: a aplicação deve alterar o comportamento para melhor, sendo


que são os participantes da intervenção e os membros da sociedade que
avaliam a mudança, e não o pesquisador.

» Generalizável: a mudança comportamental deve persistir ao longo do


tempo e em diversos ambientes, além de se estender para outras respostas
da mesma classe (a generalização não deve ser meramente esperada, mas
planejada).

19
UNIDADE I │ PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Princípios e técnicas comportamentais e suas


aplicações

As técnicas da Terapia Comportamental são baseadas nos princípios da aprendizagem,


objetivando a manutenção e a mudança de comportamentos utilizando os princípios de
condicionamento clássico, que são:

» Reforço positivo (Positive Reinforcement): adição de um reforço


positivo após uma resposta “esperada” de tal comportamento, utilizado
quando o paciente realiza um comportamento adaptativo desejado. É
uma das principais técnicas da Terapia Comportamental e pode tanto
ser utilizada sozinha como associada a um conjunto de outras técnicas
comportamentais que estimulem o comportamento adaptativo. O reforço
positivo pode ser verbal, físico ou material (motivação, privilégios
especiais, comida, dinheiro, elogios, contato físico).

» Barganha (Token Economies): é a aplicação do reforço positivo


condicionado (tokens - trocas por reforços primários que representem
objetos ou qualquer estímulo que seja desejado pelo paciente) em
resposta a um comportamento adaptativo. Caso o paciente apresente
comportamentos não adaptativos, ele “perde” o objeto do desejo por um
período específico de tempo.

» Retirada (Aversion Therapy): é uma técnica de condicionamento


que consiste em retirar o paciente do local onde o comportamento não
adaptativo acontece, por tempo determinado. O ‘Time-Out’ é uma variante
da ‘Aversion Therapy’ onde pacientes com comportamentos destrutivos
ou de extrema agressividade são isolados por tempo determinado, toda
vez que apresentem um comportamento não adaptativo e é repetido até
que seja extinto. É importante levar em conta as seguintes observações:

› O Time-Out deve ser aplicado imediatamente após realizar o


comportamento indesejado.

› O paciente tem que ser informado que recebeu o Time-Out por ter
apresentado o comportamento específico.

› O Time-Out deve ter tempo determinado entre cinco e dez minutos,


pois pode não surtir efeito adequado caso o paciente tenha restrições
cognitivas.

20
PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL │ UNIDADE I

› A duração de Time-Out deve ser acordada e estipulada entre o paciente


e o terapeuta.

› Ao atingir o tempo determinado, o paciente deve ser avisado que


voltará a receber Time-Out se o comportamento se repetir.

» Contrato de comportamento (Behavioral Contract): é um


contrato comportamental feito entre o terapeuta e o paciente, onde serão
estabelecidas metas de tratamento. Ele é um facilitador da mudança
comportamental e permite uma avaliação dos progressos atingidos
para chegar à obtenção das metas estabelecidas. Devem haver pontos
comuns a todos os contratos, com quaisquer pacientes, apesar das metas
e objetivos serem individuais. Nele devem constar:

› modalidade de tratamento (se a terapia será individual, de grupo,


vocacional ou outros modelos),

› frequência do tratamento (quanto tempo por semana),

› duração do tratamento (até quando valerá este contrato).

» Correção de práticas positivas e correção com restituição


(‘Overcorrection’ de práticas positivas e Overcorrection com
restituição): essa técnica é baseada em dois pontos fundamentais:

› Paciente é responsável pela restituição de comportamento indesejável


(Overcorrection com restituição), onde deve reparar, limpar ou
arranjar quaisquer alterações ambientais ou estragos provocados pelo
seu comportamento não adaptado.

› Paciente necessita corrigir de forma exaustiva o comportamento até


que esse se reduza ou não apareça mais (Overcorrection de práticas
positivas) por meio de consecutivos ensaios do comportamento
apropriado desejado (FOXX; AZRIN, 1973). É eficaz na terapia para
redução e extinção de comportamentos agressivos e disruptivos.

» Condicionamento (Covert Conditioning): é uma técnica que


combina elementos do condicionamento clássico e operante, onde os
pacientes aprendem a imaginar de maneira ativa as consequências
indesejáveis quando desejam ou pensam comportamentos não
adaptativos. É indicado no tratamento para dependentes químicos. A
percepção da imagem negativa (consequência) em relação ao pensamento

21
UNIDADE I │ PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

de realização do comportamento não adaptativo (antecedente) leva à


aversão com o objetivo de extinguir o comportamento indesejado e pode
ser utilizado também na associação de imagens positivas, com o desejo de
realizar comportamentos adaptados. Está internamente ligado à tríplice
contingência: antecedente – resposta – estímulo reforçador. É a base
para generalização de diversos comportamentos esperados.

» Relaxamento (Relaxation Training): é uma técnica de relaxamento


muito eficaz no controle e redução da ansiedade e está associada a
situações onde há deficiência ou dificuldades que impedem a participação
do paciente em alguma atividade. Indicada para pessoas que apresentam
pensamentos negativos que interferem na realização de atividades
diversas.

» Treino de Interações Pessoais (Social Skills Training): é uma


técnica de redução de ansiedade realizada por situações interpessoais,
onde são aplicadas e desenvolvidas técnicas de interação social e para
lidar (coping) com o objetivo de melhorar as interações do sujeito com
o meio, facilitando o controle dos comportamentos. Nessa situação, o
sujeito passa a lidar com as ações que interferem seu comportamento e
atua sobre elas junto a apoios sociais.

» Modelagem (Modeling): é uma técnica baseada na aprendizagem


por imitação, por observação do comportamento de outras pessoas e as
consequências desses comportamentos semelhantes que apresentem
sucesso e reconhecimento.

» Autocontrole comportamental (Behavioral Self Control): é


uma técnica que incentiva o paciente a ser capaz de regular seus próprios
comportamentos. Essa técnica implica uma série de manipulações
ambientais e técnicas comportamentais como:

› auto-observação sistemática (reconhecimento do outro e de mim),

› implementação de comportamentos alternativos aos comportamentos


não adaptativos indesejados (comportamentos que são esperados aos
que não são desejados),

› autorrecompensa por meio de reforço positivo cada vez que o


comportamento desejado é realizado (não necessariamente necessita
de alguém para recompensar, mas a minha própria percepção de

22
PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL │ UNIDADE I

reação pode ser um reforçamento, o reconhecimento de que fiz algo


bom é uma delas).

» Parada (Stopping): é uma técnica de extinção de pensamentos


indesejados que interferem no comportamento adequado do paciente
onde se utilizam estímulos aversivos ou o uso da palavra ‘pare’. Nessa
técnica, o paciente assume à responsabilidade da parada dos pensamentos
indesejados, usando autocomando de parada. A ideia principal da técnica
é rearranjar o ambiente para que o indivíduo crie comportamentos
“esperados” e os amplie por meio da generalização. Isso vai ampliar seu
poder de decisão, de trocas sociais mais esperadas e de auto-organização.

Figura 4. Mecanicidade ou atuação.

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/homem-muscular-rob%C3%B4-ciborgue-320276/.

23
CAPÍTULO 3
Modelo Cognitivo-Comportamental

A Terapia Cognitivo-Comportamental tem como base os estudos das teorias sobre o


comportamento, desenvolvidas no início do século XX e posteriormente na década
de 1950, quando ganhou espaço pelos estudos de Skinner. Seu desenvolvimento
proporcionou um amplo conhecimento sobre os conceitos gerais do comportamento,
facilitando sua compreensão e tornando-o ponto fundamental no qual a terapia
comportamental se baseia e se desenvolve na prática clínica.

Assim, é extremamente importante e fundamental o conhecimento dos termos e


conceitos relativos ao Modelo Cognitivo-Comportamental.

Na perspectiva da TCC, torna-se possível apontar dois tipos de comportamento: o


comportamento respondente que é a resposta a um estímulo específico e tem caráter
involuntário; e o comportamento operante que tem caráter voluntário e é aquele que
modifica o ambiente e está sujeito a alterações a partir das consequências de sua atuação
sobre o ambiente (SKINNER, 2006).

Também é fundamental ter o conhecimento sobre as formas de comportamento e


sobre o conceito de “condicionamento” que é um conceito central dentro da TCC. Ele
traz a ideia de que todo comportamento pode ser modificado se houver alterações nas
condições do meio onde o paciente convive e se relaciona. Essas mudanças e alterações
podem acontecer na presença de reforçadores ou de situações aversivas controladas
dentro do processo terapêutico. É um aprendizado efetivo em qualquer faixa etária e na
maioria dos transtornos mentais.

Figura 5. Modelo Cognitivo-Comportamental básico.

AVALIAÇÃO
COGNITIVA

EMOÇÃO
EVENTO

COMPORTAMENTO

Fonte: Wright, Basco e Thase, 2018.

24
PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL │ UNIDADE I

Na figura acima é possível observar um modelo básico dos elementos que compõem
o modelo cognitivo-comportamental onde a avaliação cognitiva é um ponto
central considerando que o indivíduo está em constante avaliação da relevância
de acontecimentos internos e meio que o circunda. Essa avaliação cognitiva está
relacionada às respostas emocionais. O meio favorece a ação de mudança de
comportamento, mas também pode se tornar um gatilho para ele, ou seja, há uma
grande relação entre comportamento indesejável a ambientes.

Se uma pessoa com transtorno de ansiedade apresenta pensamentos negativos


quando vai participar de um evento social em seu bairro, é possível afirmar que as
emoções e respostas psicológicas estimuladas por essas cognições desadaptativas
gerariam como resposta uma ansiedade severa, tensão física e excitação autonômica.
O que leva à sintomas físicos como suor, calafrio e boca seca. Essa resposta
comportamental desencadeia uma série de comportamentos sociais que interferem
em sua habilidade de interação, reforçando os pensamentos negativos em relação a
si mesmo, gerando um círculo vicioso de pensamentos, comportamentos e emoções.
Criando, inclusive, um impedimento de participação das atividades e reconhecimento
errôneo sobre si. A emoção passa a ser influenciada pelo comportamento e vice-
versa.

Quando um terapeuta de TCC se defronta com pacientes com esses comportamentos,


é indicado iniciar a terapia a partir de uma série de métodos voltados para todas
as três áreas de funcionamento patológico identificadas no modelo básico de TCC:
cognições, emoções e comportamentos. Assim, o paciente em questão, ao iniciar
a terapia, pode ser levado a reconhecer e mudar os pensamentos negativos e
recorrentes usando as técnicas de relaxamento ou de geração de imagens mentais
para minimizar os sintomas gerados pela ansiedade, passando pelo aprendizado de
dirigir seus pensamentos de forma positiva e assertiva.

Para compreender melhor o modelo acima e como ele pode ser utilizado na prática
da TCC, é preciso observar como ele está relacionado com conceitos mais amplos
da etiologia e do tratamento de transtornos mentais. O modelo básico de TCC é um
roteiro para ser usado auxiliando os terapeutas a conceituarem as questões clínicas
e a escolha de métodos da TCC específicos. Apesar da simplicidade, ele fornece uma
maior atenção para as relações entre pensamentos, emoções e comportamentos e
orienta sobre as intervenções de tratamento.

Diagrama de Conceitualização da TCC. Disponível em: https://www.youtube.


com/watch?v=JMjZuoQCPvs&t=104s.

25
UNIDADE I │ PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Figura 6. Olhar sobre mim.

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/indiv%C3%ADduo-pessoal-lupa-investiga%C3%A7%C3%A3o-5131427/.

Os terapeutas cognitivo-comportamentais reconhecem as interações complexas entre


processos biológicos (genético), neurotransmissores, estrutura cerebral e sistemas
neuroendócrinos, influências ambientais e interpessoais e elementos cognitivo-
comportamentais na complexidade do tratamento dos transtornos psiquiátricos,
observando que o modelo da TCC pressupõe que as mudanças cognitivas e
comportamentais são influenciadas pelos processos biológicos, medicações e outros
tratamentos que alterem os processos cognitivos.

Para entender como se constrói um padrão reforçador, é preciso compreender que o


padrão de reforçamento também é um fator que influencia na frequência em que ocorre
um comportamento operante, sendo o reforço contínuo, sempre após determinada
resposta, ou intermitente, de acordo com uma determinada periodicidade.

A Terapia Cognitivo-Comportamental se centra nos problemas que estão sendo


apresentados pelo paciente no momento em que ele procura a terapia, sendo que seu
principal objetivo é ajudá-lo a aprender novas estratégias para atuar no ambiente de
forma a promover mudanças necessárias a si mesmo.

A metodologia utilizada na terapia é de cooperação entre o terapeuta e o paciente de


forma que as estratégias para a superação de problemas concretos são planejadas e
colocadas em prática conjuntamente (LIMA; WIELENSKA, 1993).

Um dos objetivos da TCC é corrigir as distorções cognitivas que estão gerando


problemas ao indivíduo e fazer com que esse desenvolva meios eficazes para enfrentá-
los. Para tanto, são utilizadas técnicas cognitivas que buscam identificar os pensamentos
automáticos, testar esses pensamentos e substituir as distorções cognitivas. As técnicas
comportamentais são empregadas para modificar condutas inadequadas relacionadas

26
PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL │ UNIDADE I

ao transtorno psiquiátrico em questão e ampliar situações sociais mais adequadas e


positivas ao sujeito e ao meio em que está inserido.

Na Terapia Cognitivo-Comportamental, procura-se definir claramente os


objetivos, especificando-os de acordo com os problemas e questões trazidas pelo
paciente. O ponto de partida do tratamento é a fonte de sofrimento do cliente,
ou seja, a partir das distorções que estão ocorrendo na forma do sujeito avaliar
a si mesmo e ao mundo. Denominam-se “esquemas” a base para a avaliação
das experiências. As estruturas cognitivas organizam-se em níveis nos quais
os esquemas encontram-se no núcleo. Durante a terapia, procura-se explorar
cada um desses níveis de organização, partindo de pensamentos automáticos
até chegar ao sistema de crenças do sujeito. Então, as crenças são testadas a
partir de argumentos e propostas de exercícios que o paciente realizará durante
a terapia e em demais contextos (SHINOHARA, 1997).

27
UNIDADE I │ PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Figura 7. Olhar do terapeuta.

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/seguran%C3%A7a-inseguran%C3%A7a-856168/.

» Ao reconhecer as técnicas cognitivas comportamentais, nos


deparamos com as questões que envolvem reforçamento, contudo de
uma maneira cognitiva, ou seja, que envolve aprendizado.

» A TCC e a ABA são diferentes, porém, a base de ambas é o behaviorismo.

» Beck (1996) elucidou a TCC como uma prática constante de


modificação de comportamento e amplitude de novas interações e
melhora comportamental.

» Os modelos cognitivos pressupõem o uso de técnicas específicas que


vão auxiliar o terapeuta e o paciente na tomada de decisão diante das
necessidades desse paciente.

» É importante lembrar que cada técnica vai de encontro com as


necessidades específicas de cada um e que seu objetivo é minimizar
questões negativas do comportamento.

» O modelo cognitivo envolve emoção e comportamento, ambos estão


interligados e são complementares.

» Os pensamentos automáticos são normais ao ser humano e precisam


ser trabalhados em seu momento negativo, para que o sujeito se
reconheça capaz e amplie condutas positivas sobre si.

28
PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL │ UNIDADE I

» A construção do self é algo que está relacionado com a visão que o


outro tem de mim, que gera autorreflexão. Isso se dá a partir de um
modelo vivencial.

» O papel do terapeuta cognitivo comportamental é atuar diante das


necessidades específicas do paciente, elaborando junto a ele os
objetivos a alcançar.

» Comportamentos respondente é aquele que não se aprende, é


estimulado pelo ambiente ou reflexivo, como espirrar ao entrar algo
no nariz ou fechar o olho ao encontrar o sol.

» Comportamento operante é o que se aprende e está intimamente


ligado ao que o indivíduo vivencia e é estimulado, como aprender a
dançar, falar, entre outros.

» Um dos objetivos da TCC é corrigir as distorções cognitivas e minimizar


os problemas, criando mecanismos para que o sujeito consiga
enfrentá-los.

» O modelo básico de TCC é um roteiro que vai auxiliar o terapeuta a


instigar comportamentos a serem minimizados e a encaminhar novos
comportamentos positivos.

» A Tríade Cognitiva envolve o comportamento, pensamentos


automáticos e emoções. Um está interligado ao outro e cria um
movimento cíclico. A TCC vai oferecer aporte para que os pensamentos
automáticos não influenciem no pensamento para gerar emoções
mais positivas e minimizar a desistência e resistência.

Crenças Centrais e Crenças Intermediárias. Disponível em: https://www.youtube.


com/watch?v=9syveiB_w24&t=129s.

29
TCC E O DSM-5 E
OS TRANSTORNOS UNIDADE II
EM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES

O Manual dos Transtornos, mais conhecido como DSM-V, traz em seu texto assuntos
diversos da mente. Nele, encontramos todos os transtornos mentais possíveis e
conseguimos alinhá-los à Classificação Internacional de Doenças (CID). Em sua
versão de 2013, alinha a visão clínica a outros profissionais que atuam com o sujeito e,
principalmente, em sua atualização, entra o olhar clínico, apurado e validado diante de
diversas fontes, inclusive vídeos do dia a dia. Com essa inclusão, não cabe somente ao
médico o fechamento de um determinado diagnóstico, mas a todos que estão em volta
do sujeito em questão. Isso amplia a possibilidade de intervenção precoce e melhora de
qualidade de vida para crianças e adolescentes e traz à tona o olhar multidisciplinar.

Perpassaremos nesta unidade pelos transtornos que mais afetam o adolescente e a


criança em questões comportamentais e emocionais e trazer as dicas necessárias à luz
da TCC.

CAPÍTULO 1
TCC e os transtornos de humor

A Terapia Cognitiva (TC) foi desenvolvida a partir de estudos com pacientes deprimidos
e ansiosos. Porém, o campo de atuação do psicólogo cognitivo comportamental
ampliou-se enormemente e hoje já atua em diversas psicopatologias com embasamento
acadêmico-científico de amplo espectro terapêutico a partir de técnicas específicas. A
realização de psicoterapia de abordagem cognitivo-comportamental para pacientes
com transtorno do humor (TH) objetiva mudanças significativas. O terapeuta atua
como contestador de crenças, pensamentos e ações vivenciadas por esses indivíduos.
Assim, o propósito da TCC é educar os pacientes a partir do modelo cognitivo, de modo
que o paciente possa compreender a relação existente entre pensamentos, sentimentos
e ações.

30
CC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE II

Nesse momento, o terapeuta assume um papel mais interativo, levando o paciente a


avaliar, compreender e modificar os pensamentos distorcidos, ampliando soluções
alternativas para repensar suas questões e problemas.

Segundo Santos e Krieger (2014), o diagnóstico dos TH em crianças e adolescentes


possui características muito específicas, que devem ser analisadas com cuidado
durante a avaliação. Essa afirmação é de grande importância na diferenciação entre os
transtornos depressivos e o transtorno de humor bipolar, que constitui, atualmente,
um dos focos de maior estudo na área.

O tratamento das crianças e adolescentes dentro do TH incluem diversas abordagens


e métodos terapêuticos, como a psicopedagogia (que vai auxiliar na demanda da
aprendizagem e do vínculo com o ambiente escolar), a arteterapia (que vai ampliar a
criatividade do sujeito e auxiliá-lo a internalizar suas condutas artísticas para minimizar
comportamentos disruptivos), a terapia cognitivo-comportamental e a terapia
psiquiátrica com prescrição medicamentosa, mas, principalmente, deve incluir o apoio
familiar para auxiliar na intervenção e ampliar a melhora em diversos ambientes.

A escolha terapêutica mais adequada depende de uma avaliação profunda que permita
o diagnóstico detalhado com o intuito de proporcionar à criança e ao adolescente com
TH condições de desenvolvimento pessoal e sua integração na família e na escola.

Classificação e diagnóstico
Atualmente, o modelo adotado para classificação e diagnóstico dos transtornos de
humor é complexo e alvo de muitas críticas. Segundo Farias e Cordeiro (2011, p. 3):

Alguns autores consideram que os critérios normativos listados tanto


pela Classificação Internacional das Doenças (CID-10) como pelo
DSM-IV-TR são inadequados e limitados. Os transtornos psiquiátricos
resultam da interação de vários fatores, seus sintomas são múltiplos,
o que demanda um formato de classificação multiaxial. A utilização de
critérios baseados na presença e número fixo de sintomas pode influenciar
o profissional não familiarizado com esse formato de diagnóstico a
valorizar muito mais os critérios especificados do que o real impacto
do sintoma na vida do indivíduo avaliado. Às vezes, um único sintoma
pode ser mais impactante para um indivíduo do que todo o conjunto de
sintomas listados para uma determinada doença. Outro complicador é
estender esse formato para a população infantil, na qual os sintomas
oscilam com o desenvolvimento. Como utilizar critérios fixos, baseados

31
UNIDADE II │ TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

em sintomas fixos, para uma população em constante transformação?


Embora existam limitações, é importante enaltecer a importância da
utilização da CID-10 e do DSM-IV-TR como parâmetros normativos,
passíveis de serem constantemente aprimorados e essenciais para o
progresso científico. Todo esse contexto previamente discutido deve ser
considerado quando se avaliam crianças com suspeita de TH.

Os transtornos do humor ou sintomas afetivos têm como característica a oscilação


entre o estado deprimido e o estado eufórico. No DSM-5, vamos encontrar parâmetros
relacionados ao tipo, características, intensidade, tempo e quantidade de ocorrência
dos sintomas e suas classificações.

O DSM-5 classifica os episódios como:

Episódio maníaco

Tem como características:

» Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado,


expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade
dirigida a objetivos ou da energia, com duração mínima de uma semana
e presente na maior parte do dia, quase todos os dias.

» Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou


atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é
apenas irritável) estão presentes em grau significativo e representam
uma mudança notável do comportamento habitual:

› autoestima inflada ou grandiosidade,

› redução da necessidade de sono,

› mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando,

› fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão


acelerados,

› distração excessiva (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por


estímulos externos insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado
ou observado,

› aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no

32
CC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE II

trabalho ou escola) ou agitação psicomotora (atividade sem propósito,


não dirigida a objetivos),

› envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para


consequências dolorosas, sendo mais comum entre os adultos
(envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições
sexuais ou investimentos financeiros insensatos).

» A perturbação do humor é suficientemente grave, a ponto de causar


prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional. Pode-se
necessitar de hospitalização, a fim de prevenir dano a si mesmo ou a
outras pessoas. Existem características psicóticas.

» O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p.


ex.: droga de abuso, medicamento, outro tratamento) ou a outra condição
médica.

Figura 8. Autocontrole.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/guy-homem-pessoas-escuro-sombra-2617866/.

Episódio hipomaníaco

Tem como características:

» Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado,


expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade ou
energia, com duração mínima de quatro dias consecutivos e presente na
maior parte do dia, quase todos os dias.

» Durante o período de perturbação do humor e aumento de energia e


atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quadro se o humor é

33
UNIDADE II │ TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

apenas irritável) persistem, representam uma mudança notável em relação


ao comportamento habitual e estão presentes em grau significativo:

› autoestima inflada ou grandiosidade,

› redução da necessidade de sono (p. ex.: sente-se descansado com


apenas três horas de sono),

› mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando,

› fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão


acelerados,

› distração excessiva (a atenção é desviada muito facilmente por


estímulos externos insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado
ou observado,

› aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no


trabalho ou escola) ou agitação psicomotora,

› envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para


consequências dolorosas.

» O episódio está associado a uma mudança clara no funcionamento que


não é característica do indivíduo quando assintomático.

» A perturbação do humor e a mudança no funcionamento são observáveis


por outras pessoas.

» O episódio não é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo


acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar
de hospitalização. Existindo características psicóticas, por definição, o
episódio é maníaco.

» O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p.


ex.: droga de abuso, medicamento, outro tratamento).

Episódio depressivo maior

Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estão presentes durante o mesmo período de
duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior.
pelo menos um dos sintomas é:

34
CC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE II

» Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme


indicado por relato subjetivo (sente-se triste, vazio ou sem esperança)
ou por observação feita por outra pessoa (parece choroso). Nota: Em
crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.

» Acentuada diminuição de interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as


atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (conforme indicado
por relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa).

» Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex.:
mudança de mais de 5% do peso corporal em um mês) ou redução ou
aumento no apetite quase todos os dias. Nota: Em crianças, considerar o
insucesso em obter o ganho de peso esperado.

» Insônia ou hipersonia quase diária.

» Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por


outras pessoas, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou
de estar mais lento).

» Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.

» Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem


ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecriminação
ou culpa por estar doente).

» Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão quase


todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa).

» Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer),


ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio
ou plano específico para cometer suicídio.

Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento


social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição
médica.

Nota: Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias e a perda ou ganho
significativo de peso sem estar fazendo dieta representam um episódio depressivo
maior. Esse tipo de episódio é comum no transtorno bipolar tipo I, embora não seja
necessário para o diagnóstico desse transtorno.

35
UNIDADE II │ TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Para se obter um diagnóstico adequado, é necessário obter uma história clínica detalhada,
incluindo o desenvolvimento desde a gestação, dados familiares e antecedentes de
doenças pessoais e familiares, os relacionamentos familiares e sociais e os hábitos
de vida. Também é fundamental detalhar se há ocorrências de sintomas afetivos que
interfiram no desempenho acadêmico e social da criança/adolescente em avaliação.

De uma forma geral, a principal característica é a recorrência de episódios depressivos


não induzidos por substâncias químicas e não relacionados a uma condição médica
geral.

Segundo o DSM-IV, os sintomas devem ocorrer por um tempo mínimo


de 2 meses consecutivos, causando prejuízos em vários aspectos da vida
do portador. Caracteriza-se pela ocorrência de humor depressivo, que
se repercute na perda de interesse por atividades lúdicas, acadêmicas e
sociais.
(FARIAS; CORDEIRO, 2011, p. 6)

Em pré-escolares, os sintomas mais frequentes são: queixas somáticas como


cefaleia e dor abdominal, choro fácil, irritabilidade, surtos de agressividade,
redução ou aumento da atividade motora e comportamentos inadequados,
com objetivo de chamar a atenção dos pais ou professores.

Em escolares, os sintomas mais frequentes são desatenção ou falta de


concentração, desinteresse por atividades anteriormente prazerosas,
manifestação espontânea de preocupação ou desesperança em relação à vida,
queda do desempenho escolar e atitudes provocativas ou desafiadoras, incluindo
auto ou heteroagressividade. Essa diz respeito a qualquer conduta agressiva
direcionada ao mundo externo, outras pessoas ou elementos. Pode manifestar-
se em diferentes graus, desde expressões verbais até gestos agressivos e/ou
violência física. Pouco se fala sobre a heteroagressividade e como ela afeta as
pessoas, mas o tema é extremamente profícuo a pesquisas.

Em adolescentes, aos sintomas previamente descritos, podem associar-se


apatia, retraimento, raiva, desespero, desinteresse, ansiedade, baixa autoestima,
medo do futuro e, nos casos mais graves, ocorrência de comportamento suicida.
Em algumas situações, o adolescente pode iniciar-se na prática do abuso
de medicamentos, álcool ou drogas, pela percepção que essa prática alivia
seus sintomas depressivos. Nesse contexto, é muito importante que o clínico
investigue sempre a possibilidade de TDM em adolescentes usuários de álcool
ou drogas (DSM-5, 2013, p. 126)

36
CC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE II

Na criança, os comportamentos são oscilantes e diferentes de como são manifestados


em adultos, com isso, há uma percepção de comportamentos mais excessivos e que
destoam do sentimento em si, ou seja, se triste apresenta agitação e comportamento
opositor. Principalmente na infância, os sintomas maníacos apresentam características
bem definidas de irritabilidade, agressividade, explosões de raiva, agitação psicomotora,
grandiosidade, pouca necessidade de sono, diminuição do apetite e hipersexualidade.

Por outro lado, em crianças de menor idade, os episódios de hipersexualidade, podem


ser apresentados como a manifestação de um desejo precoce e romantizado pelo sexo
oposto. Apesar das grandes diferenças na forma das manifestações clínicas, é possível
utilizar os parâmetros estabelecidos para o diagnóstico em adultos no DSM-5, com
pequenas modificações, em crianças e adolescentes, o que não é consenso entre os
profissionais da área de saúde mental, pois não é específico a respeito de sintomas e
características do TH em crianças e adolescentes.

FARIAS, A.C.; CORDEIRO, M.L. Transtornos do humor em crianças e adolescentes:


atualização para pediatras. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 87, n. 5, 2011.

Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid


=S0021-75572011000500003.

É importante ressaltar que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o índice


de suicídio entre adolescentes entre 15 e 19 anos é muito grande, e vem crescendo
anualmente de maneira assustadora. Por isso, é fundamental que durante a anamnese
e avaliação inicial, a sondagem de riscos de suicídio seja feita de maneira criteriosa,
incluindo diferenças entre sexos (suicídios são maiores entre meninos do que entre
meninas); história familiar (pessoas com história familiar de suicídio possuem de duas
a quatro vezes mais possibilidades de também cometê-lo); e a presença de comorbidades
(é mais frequente quando há associação com transtornos da personalidade, transtornos
relacionados a substâncias, TDAH e transtorno de comportamento disruptivo).

ANGERAMI, V.A. Suicídio – uma alternativa à vida. Fragmentos de psicoterapia


existencial. Editora Artesã, 2017.

Um dos principais indícios observados em crianças e adolescentes que podem levar à


suspeita de pensamentos de suicídio é o comportamento autoagressivo e a automutilação.
Esses indivíduos, quando em situações de estresse, podem praticar cutting (cortar-
se), se queimar, arrancar pelos, cabelos e unhas que, embora não levem ao suicídio ou
tentativa por não serem conscientes e não levarem ao óbito, levam ao sofrimento. Uma

37
UNIDADE II │ TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

discussão recente pensou em incluir esse comportamento na categoria dos transtornos


diagnosticados pela primeira vez na infância e poderia estar incluído no transtorno da
autoinjúria não suicida (TIFS).

Autoinjúria não suicida – AINS.

Estigmatizado.

Difere de autoinjúrias permitidas socialmente como furar orelha e tatuagem.

É uma destruição ou transformação direta nos tecidos do corpo, de forma


deliberada, porque foi idealizada pelo indivíduo, sem intenção suicida.

É uma ação direta, sem etapas e entram nesses atos: cortar a pele com gilete,
arrancar um membro, furos grandes na orelha e rosto, automutilação, autodano,
autolesão e comportamento que conduz ao suicídio.

Figura 9. Ser humano.

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/bin%C3%A1ria-c%C3%B3digo-5137356/.

Santos, L.C.S.; FARO, A. Aspectos conceituais da conduta autolesiva: uma revisão


teórica. Psicol. pesq., Juiz de Fora, v. 12, n. 1, 2018.

Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid


=S1982-12472018000100002.

38
CC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE II

Diagnóstico diferencial
Quando se avalia uma criança com suspeita de TH, é importante não dar significado
a apenas uma ocorrência isolada e/ou episódica de um sintoma ou até estabelecer
uma associação a uma determinada doença. Episódios de agitação psicomotora,
impulsividade, irritabilidade, agressividade, desmotivação e reatividade emocional
apesar de característicos do TH, ocorrem igualmente em outros transtornos mentais,
como TDAH, esquizofrenia, transtornos disruptivos (transtorno de conduta, transtorno
desafiador de oposição), transtorno de abuso de substâncias, transtorno global do
desenvolvimento, transtorno da personalidade, e também consequentes a doenças
sistêmicas.

O diagnóstico central vai auxiliar no processo de apoio terapêutico e medicamentoso. Ele


é o caminho a seguir para trabalhar questões hipotéticas do comportamento, contudo
as comorbidades a esse diagnóstico diferencial vão induzir o apoio multidisciplinar e
assertivo na questão de melhora do quadro.

São diagnóstico diferenciais:

» transtorno depressivo maior;

» outros transtornos bipolares;

» transtorno de ansiedade generalizada – pânico, estresse pós-traumático,


outros tipos de transtornos da ansiedade;

» TDAH;

» transtorno da personalidade;

» transtorno da irritabilidade acentuada.

É de extrema importância que o terapeuta saiba diferenciar esses transtornos e não


oferecer hipóteses de comorbidades estre eles, mas de um diagnóstico único. Ou seja,
se há o transtorno bipolar não há o transtorno de ansiedade, ou um ou outro.

Tratamento
O tratamento deve ser o mais precoce possível, desde o aparecimento dos primeiros
sintomas e indícios a fim de prevenir comportamentos e situação mais graves como
o isolamento social, evasão escolar e ameaças de suicídio. De acordo com a Academia
Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência, é indicado o tratamento

39
UNIDADE II │ TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

multidisciplinar, associado à terapia medicamentosa e intervenção psicoterápica com


o objetivo de tratar tanto os sintomas disfuncionais como os fatores psicossociais que
estejam se apresentando ou que venham a se destacar no agravamento da doença.

Nessa perspectiva o tratamento psicológico com o modelo e as técnicas cognitivas


comportamentais devem envolver tanto a criança quanto a família e deve ter como foco
principal os comportamentos que originam e mantêm os sintomas depressivos.

Figura 10. Técnicas da TCC no atendimento à demanda de crianças e adolescentes.

Fonte: https://viviandennypsicologa.com/2018/09/08/a-psicoterapia-com-criancas-e-adolescentes/; https://blog.cognitivo.


com/como-aplicar-a-terapia-cognitivo-comportamental-em-casos-de-transtorno-alimentar/.

A TCC parece prevenir novos episódios, com uma redução de seis vezes no risco de
recorrência nos primeiros seis meses de tratamento. A psicoterapia psicodinâmica
também tem sido empregada, apesar da ausência de pesquisas empíricas avaliando
esse tipo de intervenção.

Apesar da literatura indicar tratamento medicamentoso associado à psicoterapia


como eficiente no tratamento de adultos, no que se refere ao tratamento de crianças e
adolescentes, o uso de antidepressivos e reguladores de humor ainda necessita de um
estudo mais aprofundado e cuidadoso.

Até o momento, a TCC tem contribuído de forma mais eficaz no tratamento de


transtorno e déficit de atenção e hiperatividade em crianças e adolescentes. Stark et
al. (1991) descrevem componentes da terapia com crianças e adolescentes que incluem
uma postura colaborativa entre paciente e terapeuta, onde eles são participantes ativos
do processo de avaliação e tratamento que permite compreender todo o processo e seus
fundamentos. Por meio do universo lúdico, é possível oportunizar a educação afetiva que
proporcionará o conhecimento acerca da relação entre comportamentos, sentimentos
e pensamentos que evoluem para o aprendizado do autocontrole, automonitorização,
autoavaliação e autorreforçamento por meio de procedimentos como role playing,

40
CC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE II

educação, feedback, modelação, reforçamento social, treino de habilidades sociais,


relaxamento e reestruturação cognitiva.

Não existe uma receita única de tratamento, mas há uma diversidade de apoios
que precisam ser agregados a esse sujeito para ampliar sua melhora.

Indicamos: esportes, artes, dança, entre outras atividades que possam auxiliar na
demanda comportamental e de controle inibitório.

41
CAPÍTULO 2
TCC e os transtornos alimentares

Segundo Gontijo, de Paula, Weffort e Pedrosa (2011), a infância é o período de vida


mais vulnerável do indivíduo. Nesse período, a nutrição saudável é fundamental para
proporcionar o crescimento e desenvolvimento adequados, bem como manter sua
saúde. Quando os nutrientes ofertados são inadequados, o processo de desenvolvimento
e crescimento da criança apresenta carências nutricionais que podem causar prejuízos
nesse processo, o que ocorre em 40% da população.

Comer é uma função que está diretamente relacionada aos fatores socioeconômicos
e culturais que determinam o desenvolvimento e as situações cruciais na saúde
de crianças e adolescentes. Em países em crescimento e desenvolvimento, como o
Brasil, os números relativos aos problemas nutricionais em crianças e adolescentes
são assustadores. Principalmente em crianças na faixa dos 2 aos 5 anos, o consumo
alimentar é um fator determinante. Nessa faixa etária, a dieta básica é constituída por
leite, farinha e açúcar, o que contribui para as carências nutricionais.

Assim, os transtornos alimentares aparecem em suas primeiras manifestações na


infância e na adolescência e podem ser divididos em dois grupos: no primeiro grupo
encontramos os transtornos infantis que se caracterizam por alterações na relação que
a criança estabelece com a alimentação. E no segundo grupo estão os transtornos na
adolescência e que são, efetivamente, os transtornos alimentares clássicos, sendo eles,
a anorexia nervosa e a bulimia nervosa.

O comportamento alimentar da criança é construído principalmente pela relação da


criança com os pais ou com a pessoa responsável pela sua alimentação, através deles a
criança recebe sua educação nutricional. Também com grande influência na construção
do comportamento alimentar encontra-se a interação da criança com o alimento,
seu desenvolvimento anatomofisiológico e os fatores emocionais, psicológicos,
socioeconômicos e culturais desde o momento de seu nascimento. É na infância e na
adolescência que se inicia o desenvolvimento dos transtornos da alimentação, e é nessa
época que várias alterações do apetite e perturbações da imagem corporal ocorrem,
sendo os casos clássicos de transtornos alimentares mais raros nessa idade.

Os transtornos de alimentação podem ser divididos em dois grupos.


O primeiro grupo são os distúrbios do comportamento alimentar, em
que não há a preocupação excessiva com o peso e/ou forma corporal,
mas podem interferir no desenvolvimento infantil. Os exemplos mais

42
CC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE II

comuns são a pica, o transtorno da alimentação da primeira infância e


o transtorno de ruminação.
(GONTIJO, DE PAULA, WEFFORT, PEDROSA, 2011, p. 21)

O transtorno alimentar pode acontecer, inicialmente, antes dos 6 anos de idade,


apresentando-se como uma dificuldade de alimentação e que leva, invariavelmente,
à perda de peso ou dificuldade em ganhar peso. Nem sempre os sintomas estão
associados a algum problema relacionado à saúde, a um transtorno mental ou à falta
de alimento. Por isso, o tratamento visa à melhoria nutricional da criança, mas requer,
principalmente, avaliar o ambiente familiar, os fatores psicossociais que possam estar
causando, desenvolvendo ou mantendo o problema.

Para melhor compreendermos os TA é necessário conhecer seus dois grupos: a


ruminação e a pica.

» A ruminação se caracteriza por episódios repetidos de regurgitação,


sem vinculação com qualquer alteração médica, que podem levar a
complicações como: desnutrição, perda de peso, alterações do equilíbrio
hidroeletrolítico, desidratação e morte. Seu tratamento deve ser baseado
em acompanhamento clínico, nutricional e tratamento comportamental.

» A pica tem como característica a ingestão recorrente de alimentos sem


valor nutricional, sem indicação para o desenvolvimento infantil ou que
não estejam na base alimentar comum socialmente. Elas podem ser:
terra, barro, cabelo, alimentos crus, cinzas de cigarro e fezes de animais.
Esses comportamentos são mais comuns em crianças com atrasos no
desenvolvimento e comprometimento cognitivo.

Já na adolescência, os dois grupos de TA apresentam as formas mais clássicas, a bulimia


nervosa (BN) e a anorexia nervosa (NA). A bulimia nervosa dificilmente aparece antes
dos 12 anos e acomete mais mulheres jovens e adolescentes. Estão ligadas a fatores
biopsicossociais relacionados à sua etiologia, podendo ser genética ou hereditária.

A bulimia nervosa tem como seu principal sintoma a compulsão alimentar e está
diretamente relacionada a dietas de emagrecimento. No decorrer do processo da
dieta um ciclo de compulsão alimentar versus purgação encontra-se instalado e
gera sentimentos como: frustração, tristeza, ansiedade, tédio e solidão. Em geral, o
adolescente costuma esconder seus sintomas quer seja por sentimentos de vergonha,
de culpa ou mesmo por desejos de autopunição.

A maioria dos casos leva à indução de vômito como forma de compensar o sentimento
de excesso alimentar, e isso acontece imediatamente após a ingestão excessiva
43
UNIDADE II │ TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

de alimentos, gerando um sentimento de alívio causado pelo desconforto físico e,


paralelamente, o medo do aumento no peso.

Há uma enorme incidência de casos que estejam relacionados ao ambiente e


comportamento familiar e que são fundamentais e determinantes para o desenvolvimento
desse comportamento e do transtorno alimentar, tanto em crianças, quanto em
adolescentes que apresentam grande insatisfação e preocupação com o corpo e o peso.

Além das questões familiares, o acesso ao modo de vida de influenciadores sociais e


aos meios de comunicação influenciam sobremaneira as distorções de percepção do
próprio corpo, seu peso e no comportamento alimentar que crianças e adolescentes
desenvolvem. Na verdade, os adolescentes têm uma necessidade excessiva de serem
aceitos, e os “padrões” da sociedade influenciam diretamente nesse desejo.

Tanto a bulimia nervosa quanto a anorexia nervosa são totalmente desconhecidas na


infância, sendo predominantemente femininas e desenvolvidas na adolescência e em
adultos jovens.

Figura 11. Transtornos alimentares na infância.

Fonte: http://www.giromt.com.br/2018/11/07/exemplo-dos-pais-e-fundamental-para-prevenir-transtornos-alimentares-como-
anorexia-e-bulimia/.

Foram encontrados poucos trabalhos nacionais sobre transtornos alimentares


(TA) na presente pesquisa. Considerando a importância do ambiente social
no desenvolvimento dos TA e as especificidades socioculturais nacionais, os
fatores de risco encontrados nos trabalhos discutidos podem não se aplicar à
realidade brasileira. Da mesma forma, os estudos que abordavam os transtornos
alimentares não especificados (TANE), sejam eles nacionais ou internacionais,
foram raros, o que pode ter limitado a discussão em torno do tema.

44
CC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE II

A anorexia também pode se desenvolver, principalmente, pelo desejo de magreza, o


que leva o indivíduo a adotar comportamentos alimentares distorcidos e ritualísticos
em busca da perda de peso excessivo. O DSM-5 estabelece que os critérios para o
diagnóstico da anorexia são:

» amenorreia;

» peso 85% menor que o mínimo esperado para a idade e altura;

» alterações na percepção corporal e não reconhecimento do próprio peso;

» intenso medo de aumento de peso.

OLIVEIRA, L.L.; DEIRO, C.P. Terapia Cognitivo-Comportamental para transtornos


alimentares: a visão de psicoterapeutas sobre o tratamento. Revista Brasileira
de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. XIV, n. 1, pp. 36-49, 2013.

Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbtcc/v15n1/v15n1a04.pdf.

A anorexia restringe e limita a ingestão alimentar energética e o consumo de carboidratos


e lipídios, podendo levar a episódios recorrentes de compulsão alimentar e purgação,
cujos métodos mais comuns são o uso de laxantes, diuréticos e enemas, técnica utilizada
para lavagem do colón e a indução do vômito (DSM-5, 2013).

Alguns estudos apontam relação entre BN e AN com depressão, transtorno bipolar,


ansiedade, fobias sociais, estresse pós-traumático, hiperatividade, défice de atenção e
transtornos de conduta.

A TCC nos transtornos alimentares

Considerando o histórico do paciente e sua idade e maturidade, a duração e a frequência


das sessões e intervenções deve ser estabelecida criteriosamente, levando em
consideração os adventos que desencadearam o transtorno alimentar. Assim, a terapia
cognitivo-comportamental é reconhecida como intervenção eficaz nesses casos, e deve
ter como objetivos diminuir as restrições alimentares buscando um comportamento
alimentar adequado e a promoção de um ambiente positivo nos períodos das refeições.

É necessário engajar no processo terapêutico não só os pais e familiares, mas todos os


adultos que estejam envolvidos em algum processo alimentar diário.

Assim, podem-se estabelecer ciclos terapêuticos com objetivos específicos, como:

» Construir uma relação terapêutica.

45
UNIDADE II │ TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

» Promover o conhecimento dos alimentos e sua ingestão e digestão.

» Trabalhar a diversidade alimentar: texturas, aromas, sabores e


consistências.

» Consolidar novas relações com alimentos e maneiras de alimentação.

É fundamental estabelecer relações entre o terapeuta, a família e o paciente, fortalecendo


a responsabilidade, o papel e o envolvimento de cada parte no contexto da construção
de uma nova relação com o alimento. Esse triângulo é fundamental para o sucesso da
terapia, considerando a complexidade da problemática que originou o transtorno, bem
como o recebimento e a execução das orientações de maneira positiva.

Muitas vezes, a rejeição de um alimento pela criança pode estar relacionada com o
conhecimento e experimentação que ela possui, assim, explorar os sentimentos e
sensações corporais, emocionais e cognitivas que os alimentos causam ao paciente não
só poderá prevenir uma rejeição, como permitir sua exposição e exploração.

Também é interessante ofertar o conhecimento dos processos digestivos e excretores,


desde a recepção dos alimentos pela boca, passando pela sua mastigação e deglutição
em diversas consistências, de maneira a levar o paciente a perceber todo o processo,
minimizando rejeições e medos inconscientes. Podem-se utilizar imagens, histórias
sociais, filmes, desenhos, músicas, e um conjunto de alimentos que despertem o desejo
e o interesse do indivíduo.

A relação com os alimentos deve ser trabalhada no setting terapêutico, aproveitando


para explorar as sensações sensoriais (o cheiro, o sabor, o toque), cognitivas e físicas.
Essa multiplicidade tem como objetivo estimular o interesse e o desejo em conhecer
novas possibilidades alimentares.

Essas atividades devem ser realizadas nos ambientes em que a criança ou o adolescente
vivenciam suas experiências alimentares no dia a dia, enfatizando a importância da
inserção de todos de seu convívio nessas atividades.

É possível realizar atividades fora do set terapêutico com a intenção de ampliar os


conhecimentos e construir as relações com novos alimentos, com visitas a lugares
distintos (hipermercado, lanchonetes, restaurantes), onde as relações sensoriais devem
ser exercidas.

As sugestões apresentadas aqui são baseadas no pensamento de White e Epston (1990),


que afirmam que se constrói mudança na medida em que se experimenta a expansão
dos resultados positivos e se estabelece uma nova relação com o objeto da repulsa. As

46
CC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE II

relações com o alimento precisam se tornar positivas para que o paciente não crie o
movimento de evitamento, mas um controle sobre o desejo de ingerir e não se “encher”.

Sobre os transtornos alimentares na adolescência, é fato que eles possuem relação


direta com a percepção sobre o próprio corpo e se apresentam como medo de engordar,
com a redução da quantidade e qualidade alimentar, ingestão alimentar seguida de
episódios de vômitos ou uso excessivo de laxantes e/ou diuréticos. Esses quadros são
considerados patologias graves e que trazem consequências e sequelas na maior parte
dos pacientes, tanto nos níveis altos de letalidade quanto nos aspectos biopsicossociais.

Os TA na adolescência mais comuns são dois: a anorexia nervosa e bulimia nervosa.

» A anorexia nervosa é uma patologia ligada ao comportamento alimentar


e tem como característica limitações dietéticas autoimpostas e padrões
incomuns de alimentação, com acentuada perda de peso autoinduzida
e mantida pelo paciente associada ao medo irracional de ganhar peso. É
um transtorno grave, que leva a limitações físicas, emocionais e sociais
(ABREU, 2002).

» Já a bulimia nervosa é caracterizada por grande ingestão alimentar


e que deixa a sensação de perda de controle do valor nutricional e de
alteração de peso e são episódios cíclicos. Esses episódios desencadeiam
o uso de métodos de compensação não convencionais para o controle
de peso que podem ser vômitos autoinduzidos, uso de medicações
como diuréticos, laxantes e inibidores de apetite sem indicação ou
controle médico, dietas sem apoio profissional e não convencionais,
exercícios físicos extremos em tempo e qualidade e/ou abuso de drogas
(ESPÍNDOLA; BLAY, 2006).

Esses transtornos já acontecem há anos, porém, com o acesso fácil e sem controle às
redes sociais e à TV, esses números vêm crescendo assustadoramente, principalmente
entre os jovens e adolescentes, e nos dias atuais, atingindo homens e mulheres e cada
vez mais jovens (atinge cerca de 1% da população com idade entre os 13 e 20 anos de
idade).

Ainda existe uma parcela de pessoas que, apesar de não preencherem todos os
critérios de diagnóstico, têm traços de TA, anoréxicos, bulímicos ou outros distúrbios
não específicos. Esses indivíduos estão inseridos nas chamadas síndromes parciais, e
atingem de 5% a 10% da população, segundo Abreu e Cangelli Filho (2005).

47
UNIDADE II │ TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Esses transtornos não têm etiologias totalmente conhecidas, assim as intervenções


terapêuticas seguem um modelo que engloba todos os fatores (individuais, genéticos,
sociais e familiares) e a atuação clínica vai se modificando e melhorando nas últimas
décadas. Há anos as terapias englobavam a indicação de repouso em leito, o uso de
medicamentos psiquiátricos de reposição nutricional associados à alimentação via
sonda nasogástrica, mas, nas últimas décadas, a adoção das terapias comportamentais
ganharam espaço significativo e as intervenções com finalidade de ganho de massa
corporal, apesar de serem efetivas no curto prazo, apresentavam taxas de recaída e os
sintomas e disfunções sobre alimentação e forma física continuavam presentes.

Assim, a TCC, focada nas perturbações cognitivas e comportamentais específicas


dos sintomas desses pacientes, tem aberto novos horizontes e caminhos efetivos no
tratamento desses transtornos graves.

A TCC é uma abordagem de intervenção semiestruturada, objetiva, que


busca identificar e corrigir as condições que favorecem o desenvolvimento e
manutenção das alterações cognitivas e comportamentais.

A principal abordagem da TCC tem como objetivo principal a utilização de técnicas


que reduzam a ansiedade, automanejo do comportamento e modificação de cognições
desadaptadas, auxiliando na redução do desejo de algo que pode não ser real e, assim,
minimizando a ansiedade sobre as emoções.

Figura 12. Anorexia e bulimia em crianças e adolescentes.

Fonte: http://gatda.com.br/index.php/2016/03/15/disturbios-alimentares-em-criancas/.

48
CC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE II

Estratégias da TCC para o tratamento dos


transtornos alimentares

Segundo Duchesne e Almeida (2002), os principais objetivos das intervenções da


TCC no tratamento dos TA visam à diminuição de restrição alimentar, da compulsão
alimentar, dos episódios bulímicos e da frequência de atividade física, a diminuição
do distúrbio da imagem corporal, a modificação do sistema disfuncional de crenças
associadas à aparência, peso x alimentação e o aumento da autoestima.

Pode ser aplicado em três etapas, onde cada uma terá oito entrevistas por semana que
estabeleçam como compromisso do paciente com a terapia levando aos objetivos e
reflexões sobre suas expectativas, suas intenções e sua esperança. É importante que
sejam construídas expectativas positivas sobre a terapia e sobre o papel de cada um no
processo, tanto do terapeuta quanto do paciente e resultados esperados.

Essa abordagem deve acontecer em 3 fases:

A primeira fase deve ter como objetivo o controle da ingestão que leve o paciente a
evitar um movimento oscilatório, entremeados de períodos de dieta restrita e episódios
bulímicos, assim, é indicado o acompanhamento nutricional com um programa
alimentar fixo, e técnicas de TCC que evitem situações de estresse, e reforço de hábitos
que levem à tentação e ao excesso na ingestão alimentar.

A segunda fase é focada na reestruturação cognitiva, e tem como objetivo modificar


as crenças irracionais que levam e reforçam os padrões disfuncionais onde podem ser
utilizados métodos alternativos que levem à solução dessas questões.

Segundo Fairburn (1991), para essas pessoas, os valores e crenças não são apenas
sintomáticos, mas essenciais para a manutenção desse transtorno. Dessa forma,
modificá-los é pré-requisito para a evolução e recuperação do paciente.

É fundamental que os portadores de TA compreendam e reflitam sobre seus


pensamentos, sentimentos e disfunções de comportamentos percebendo que o peso
não é o problema real, mas que existem questões mais profundas que levam e mantêm
o transtorno alimentar.

Na terceira fase, o objetivo é manter os resultados positivos das fases anteriores e


estruturar um plano de prevenção de recaídas, antecipando e preparando o paciente
para enfrentar situações de estresse que eram os gatilhos dos comportamentos e
padrões disfuncionais.

49
UNIDADE II │ TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A empatia na relação terapeuta e paciente é essencial para que crianças e adolescentes


sintam confiança e desejo de transformação e se sintam também respeitados em sua
dor.

Por isso, é importante o envolvimento de todo o ciclo social e familiar que possa
compreender o momento da criança/adolescente para que não haja desprezo pelos
sentimentos reais que os afligem, mas, principalmente, reafirmando a hierarquia
familiar adequada, com os pais no papel de fornecer cuidados básicos e afeto, apresentar
regras para o convívio social e como agentes facilitadores ao diálogo genuinamente
empático.

Também é fundamental que o terapeuta da abordagem cognitivo-comportamental


reconheça a necessidade de intervenções de uma equipe devido à possibilidade de
hospitalização, da urgência no ganho de peso, ao tratamento dos problemas físicos
causados pelas condutas e alterações alimentares. Portanto, a equipe de profissionais
deve ser composta por: educadores físicos, enfermeiros, dentistas, médicos clínicos,
nutricionistas, psicólogos e psiquiatras com o intuito de influenciar em todos os meios
que favorecem a melhora e ampliam a postura mais adequada em relação à alimentação.

50
CAPÍTULO 3
Transtornos de comportamento
disruptivo: modelo de treinamento
parental

Os transtornos na infância e na adolescência mais difíceis de se diagnosticar e mais


complexos de tratar são os transtornos disruptivos, já que esses indivíduos, durante
seu processo de desenvolvimento, apresentam comportamentos naturais, que podem
incluir os comportamentos desafiadores.

Apesar de estar presente no processo de construção do sujeito, comportamentos que


não sejam adequados socialmente e que não estejam ligados aos comportamentos
considerados dentro dos protocolos de educação e civilidade não são aceitos nas relações
familiares e educacionais.

Para Bordin e Offord (2000), comportamentos como mentir e fugir das aulas fazem
parte do desenvolvimento da criança e do adolescente, especialmente quando ocorrem
de forma isolada ou esporádica. Contudo, quando esses tipos de comportamento
apresentam padrões e constância, eles são enquadrados dentro do perfil dos transtornos
disruptivos.

Para a academia científica, os transtornos disruptivos são aqueles que estão relacionados
com comportamentos transgressores das regras, desafiadores e personalidade antissocial
que levam desconforto e incomodo às pessoas que convivem com o indivíduo e por
representar uma explosão de problemas e causar conflitos nos ambientes sociais com
resultados extremos, gerando repulsa e segregação, além de desencadear sentimentos
de raiva, medo e ansiedade.

Vale ressaltar que o termo “comportamento antissocial” é amplo, indicando


todo e qualquer tipo de comportamento de quebra de normas ou de ação
contra outras pessoas. Em geral, quando se aborda o transtorno, há ocorrência
conjunta de vários comportamentos. Assim, quando uma criança é agressiva,
provavelmente também apresentará comportamentos como roubo, vandalismo
e mentiras (KOCH; GROSS, 2005).

51
UNIDADE II │ TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Características dos transtornos disruptivos

O DSM-5 classifica os transtornos disruptivos como transtornos de controle de impulsos


e da conduta, englobando:

» transtorno de oposição desafiante (leve, moderada, grave);

» transtorno explosivo intermitente;

» transtorno da conduta (com início na infância, na adolescência ou com


início não especificado e especificamente com emoções pró-sociais
limitadas em gravidade leve, moderada, grave);

» transtorno da personalidade antissocial, piromania, cleptomania;

» outro transtorno disruptivo, do controle de impulsos ou da conduta


especificado, transtorno disruptivo, do controle de impulsos e da conduta
não especificado.

Caso haja pessoas com mais de 18 anos enquadradas nessa classificação, são consideradas
com transtorno da personalidade antissocial.

Para Koch e Gross (2005), o transtorno de conduta está relacionado a comportamentos


infantis e adolescentes que são considerados antissociais ou de difícil convivência pelas
pessoas com quem eles convivem e que causam prejuízos sociais e escolares às crianças
e adolescentes diagnosticados com o transtorno disruptivo.

Os comportamentos de agressividade, desafiadores e de hostilidade são frequentemente


relatados por aqueles adultos que convivem com a criança ou adolescente e que ocupam
papel de autoridade no relacionamento com esses indivíduos.

Esses comportamentos estão classificados em três categorias, que são:

» resposta tardia a uma demanda de um adulto;

» falta de respostas em solicitações secundárias, mesmo que tenha havido


uma resposta inicial;

» transgressão e desobediência às normas e regras.

Esses comportamentos são encontrados, regularmente, em adultos com dificuldades


sociais e com envolvimento em delitos e crimes graves.

52
CC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE II

Como é de difícil avaliação, não é raro que uma criança com TD seja diagnosticada
com ansiedade, depressão ou TDA/H, dificultando a identificação eficaz do transtorno
disruptivo e o tratamento adequado, levando às intervenções psicoterápicas tardias.

Características dos TD

Os TD são transtornos psiquiátricos encontrados na infância com maior frequência e


têm enorme impacto na adolescência e na vida adulta.

Contudo seu diagnóstico é facilmente errôneo por apresentar características semelhantes


com outros transtornos comportamentais da infância e da adolescência.

As dificuldades mais comuns estão relacionadas à:

» dificuldade com o diagnóstico diferencial, principalmente em relação à


ansiedade, à depressão e ao défice de atenção/hiperatividade;

» dificuldade em apontar quando o comportamento faz parte do ciclo


normal do desenvolvimento infantil;

» escassez de instrumentos e técnicas padronizadas para esse tipo de


atendimento.

Classificação dos transtornos disruptivos

Muitos autores e o próprio DSM-V classificam como transtornos disruptivos aqueles


que apresentam comportamentos característicos associados (transgressão de normas,
desafiadores e antissociais) que levam ao incômodo de quem os cercam e que causam
grandes problemas nos ambientes sociais que o indivíduo frequenta, causando
sentimentos de repulsa, raiva, frustração e ansiedade, não só na criança como naqueles
que convivem com ela.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da American


Psychiatric Association (APA, 2013), existem mais dois transtornos que compõem essa
classificação:

» Transtorno da conduta: que estão associados aos comportamentos


antissociais ou de difícil convivência que prejudique a criança ou
adolescente em sua vida escolar, social e familiar. É um transtorno
predominantemente masculino, que pode envolver agressão e
vandalismo. Em meninas, o comportamento varia desde mentiras e
fugas até a prostituição na adolescência. Os sintomas aparecem mais
53
UNIDADE II │ TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

comumente após os 10 anos de idade, mas há relatos de manifestação


dos sintomas mais cedo e podem continuar até a adolescência, quando o
indivíduo assume uma personalidade antissocial e introspectiva.

» Transtorno desafiador de oposição (TDO): atinge crianças e adolescentes,


e em pessoas com mais de 18 anos são consideradas portadores de
transtorno da personalidade antissocial. O TDO é caracterizado pela
desobediência, desafio e hostilidade frequentes em relação aos adultos que
representam um perfil de autoridade. Para o DSM-V, existem 8 critérios
para o diagnóstico e identificação do TDO e que devem ser constantes
pelo período mínimo de 6 meses e se apresentam em lugares diversos,
não só em casa ou na escola. Os sintomas mais comuns são: perder a
calma, discutir com adultos, desafiar ou negar-se a obedecer, emitir
comportamentos para incomodar as pessoas, deliberadamente culpar
terceiros por seus comportamentos, irritabilidade, estar enraivecido
constantemente, comportamentos vingativos e rancorosos.

Tanto o transtorno de conduta quanto o transtorno desafiador opositor, quando não


tratados adequadamente, evoluem e levam o adulto a relações criminais.

Por ser um transtorno grave e de difícil diagnóstico, é extremamente urgente identificar


as crianças que apresentem essas características e encaminhá-las ao tratamento
adequado.

Inicialmente, em qualquer transtorno e para qualquer paciente, o primeiro passo


é a realização de uma avaliação minuciosa que possa trazer dados consistentes
a fim de se traçar uma linha de base. Isto é, conhecer quem é a pessoa, qual
sua demanda, como foi sua história de aprendizagem e quais são as relações
estabelecidas com o contexto. A avaliação permite fazer um diagnóstico
topográfico e funcional, apontar diagnósticos diferenciais e escolher as técnicas
mais pertinentes e eficazes para serem utilizadas no processo terapêutico.

Modelo de treinamento parental

A grande característica da TCC é ser uma abordagem psicoterápica que engloba a


participação da família no processo terapêutico.

O papel do terapeuta é o de mediar e facilitar a participação dos pais com o uso de


práticas educativas adequadas às necessidades da criança e do adolescente. Quando
a família é inserida no processo a compreensão das dificuldades da criança favorece

54
CC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE II

os sentimentos de alívio e interação entre os pais e o indivíduo, levando ao fim do


sentimento de impotência, tão comum nessas relações, e tornando os pais mais
responsáveis no processo de assumir um comportamento mais ativo na educação e na
mudança das relações e suas consequências.

De acordo com esse pressuposto teórico, na TCC com crianças e adolescentes, os


pais estão regularmente envolvidos nos programas de tratamento (FRIEDBERG;
MCCLURE, 2004; REINECKE; DATTILIO; FREEMAN, 2006).

Há embasado suporte empírico de que a inclusão dos pais no tratamento


de crianças com problemas comportamentais e emocionais aumenta os
benefícios obtidos pelo tratamento (EYBERG; NELSON; BOGGS, 2008;
PEARL, 2009). Dessa forma, os pais podem participar da psicoterapia
de seus filhos de diferentes formas, seja no papel de consultores ou
de colaboradores no processo terapêutico. Como consultores, os pais
fornecem subsídios para a determinação da natureza do problema
da criança. Ao atuarem como colaboradores, envolvem-se na
implementação dos programas de tratamento. O envolvimento dos pais
e as subsequentes alterações no sistema familiar devem ser utilizadas
em conjunto com a natureza do tratamento e as necessidades da criança.
(KENDALL, 2006; LOCHMAN; POWELL; WHIDBY; FITZGERALD,
2006).

A participação dos pais é descrita como o melhor e mais eficaz método nos transtornos
disruptivos em crianças, principalmente nos transtornos de conduta e no transtorno
desafiador opositivo.

Nessa participação, os pais são orientados sobre técnicas de aprendizagem social, com
o objetivo de modificar o relacionamento entre eles e a criança/adolescente, bem como
diminuir comportamentos inadequados e incentivar os comportamentos positivos da
criança.

Essa técnica deve abranger sujeitos na faixa etária de 3 a 12 anos e na frequência entre
10 e 17 sessões, podendo ser ampliado no treinamento de outros familiares e contextos
sociais. O programa, ao controlar o comportamento típico do transtorno de conduta e
do transtorno desafiador opositor apresenta resultados significativos e permanentes.

Outro objetivo do treinamento de pais é a tentativa de substituir modelos de disciplina


permissivos, punitivos e incoerentes por modelos de manejo comportamental efetivos,
que sejam firmes e disciplinares associados a manifestações de aceitação e afeto
importantes nas interações entre os pais e a criança que estabeleçam relações de

55
UNIDADE II │ TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

afeto e não de poder. Comportamentos coercitivos são possíveis causas de problemas


de comportamento, uma vez que pais e filhos, adotam esses comportamentos como
reforçadores negativos e que acabam por incentivar comportamentos modelos de
agressividade.

Numa primeira fase de treinamento dos pais deve-se definir os problemas da criança
e determinar quais comportamentos são reforçadores ou punitivos que desencadeiam
os comportamentos e avaliar com que frequência, intensidade e duração o problema se
manifesta.

Os pais aprendem a utilizar o reforço positivo para estimular comportamentos


socialmente adequados, por meio de elogios e brincadeiras, levando a criança a elevar
a autoestima, a autovalorização e à obediência, que acaba se estendendo a outras
situações.

Treinamento Parental.

Disponível em: https://youtu.be/BW0Ri3q0lmk.

Segundo Friedberg e McClure (2004), o emprego de estratégias mais efetivas aos


pais para dar ordens e instruções diminui o número e a frequência das ordens, o que
aumenta as taxas de obediência das crianças. O Time-Out é uma técnica que remove a
criança de uma situação reforçadora, de maneira temporária e planejada, com o fim de
servir como um instrumento de aprendizagem. Técnicas como ignorar comportamentos
indesejáveis também são empregadas (KAZDIN, 2005).

A generalização dos manejos de comportamento dos pais aos outros filhos ocorre
igualmente e atua como forma de prevenção da ocorrência de problemas futuros na
própria criança e nos irmãos (HAUTMANN et al., 2010). Ainda, o treinamento de pais
apresenta boa relação custo-benefício, principalmente quando empregado em crianças
pequenas, à medida que previne o investimento em outros tratamentos futuros, porém,
não há estudos brasileiros que analisem esses custos.

A eficácia demonstrada nos estudos empregando o treinamento de pais em transtornos


disruptivos em crianças pequenas indica que o envolvimento parental nos programas
de tratamento não deve ser opcional (PEARL, 2009; SANDERS, 1999). Entretanto,
apesar da alta eficácia da abordagem, aproximadamente 35% das famílias não
melhoram significativamente (WHITE; MCNALLY; CARTWRIGHT-HATTON, 2003).
Um estudo de Reyno e McGrath (2006) que envolve a análise de principais preditores
que influenciam nos resultados do treino de pais, cita:

» renda familiar;
56
CC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE II

» baixa escolaridade dos pais e desemprego;

» depressão materna.

Outros fatores que vem a dificultar os resultados obtidos nesse modelo e que acabam
por influenciar na desistência são:

» desmotivação dos pais;

» estresse parental e materno;

» dificuldade em aplicar as técnicas;

» baixo desempenho cognitivo dos pais.

(WERBA; EYBERG; BOGGS; ALGINA, 2006; WHITE; MCNALLY; CARTWRIGHT-


HATTON, 2003)

É importante que a troca social entre pais e sujeito em tratamento seja qualitativa e
que eles estejam saudáveis emocional e fisicamente, pois a base precisa estar bem para
cuidar bem.

» Percebemos a importância da TCC nos transtornos comportamentais e


alimentares para a melhora do sujeito por meio de técnicas que podem
ser realizadas junto aos outros locais onde exerce sua socialização.

» Assintomático é a mesma coisa que sem sintoma.

» Os transtornos de humor podem atingir uma parcela grande de


crianças e adolescentes e esses vão afetar suas relações sociais e
afetivas.

» Os transtornos alimentares afetam a criança e o adolescente de forma


significativa e vai influenciar em sua ingestão alimentar.

» Para efetivar as técnicas cognitivas comportamentais, o treinamento


parental é de extrema urgência para afetar o sujeito em sua totalidade.

» Para realizar o treinamento parental, é preciso observar as necessidades


dos pais para auxiliá-los nas suas frustrações e que possam ficar bem e
ter um movimento qualitativo.

» Os TH precisam ter em seu diagnóstico diferencial o transtorno


principal e esse deve ser o que estará em seu diagnóstico.

57
UNIDADE II │ TCC E O DSM-5 E OS TRANSTORNOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

» Junto a esse diagnóstico, podemos encontrar as comorbidades que


vão estar junto ao diagnóstico central e que precisam ser cuidados.

» O diagnóstico precisa ser avaliado diante de observações específicas


que devem permanecer durante um tempo nas ações dos indivíduos
em diagnóstico.

» A etiologia dos TH e TA estão ligadas à hereditariedade e genética.

» O tratamento com os TH e TA devem ser multidisciplinar e trabalhar


em postos específicos para ampliar a melhora dos sujeitos e análise.

» O terapeuta cognitivo comportamental vai atuar em planejamentos


de redução dos comportamentos e vai ampliar suas metas para
ambientes sociais específicos como família e escola.

Figura 13. Olhar para si.

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/homem-face-express%C3%A3o-facial-corpo-845847/.

58
TCC E OS
TRANSTORNOS DE
APRENDIZAGEM UNIDADE III
EM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES

A TCC com crianças e adolescentes em nada se difere das práticas com adultos,
partindo-se do pressuposto que o comportamento é adaptativo e que há relação
e interação entre os pensamentos, sentimentos e comportamentos de qualquer
indivíduo.

A TCC com crianças e adolescentes é promissora no sentido de que


reconhece explicitamente a importância das variáveis cognitiva,
comportamental, afetiva e socioambiental na etiologia e manutenção
de transtornos emocionais.
(REINECKE; DATTILIO; FREEMAN, 1999, p. 22).

Os fatores biológicos, genéticos, interpessoais e ambientais exercem influências mútuas.


Da mesma forma, fatores interpessoais, cognitivos e sociais se interinfluenciam,
exercendo função protetora que diminuem riscos.

Para o terapeuta cognitivo-comportamental, o desafio é compreender de que maneira


esses fatores interagem na mediação do desenvolvimento da psicopatologia na infância.
Assim, ele deve usar estratégias de TCC com sessões estruturadas, intervenções
cognitivas e comportamentais que modifiquem comportamentos, pensamentos e
sentimentos.

Inicialmente, a aplicação da TCC em adolescentes tinha como foco os problemas que


traziam desconforto e incomodo aos adultos que o rodeavam e que se estendiam às
salas de aula, como problemas de comportamento, desatenção, hiperatividade.

Após alguns anos a TCC procurou focar nos processos internalizados do adolescente
que levam a comportamentos inadequados, como depressão e ansiedade,
compreendendo-se que quando as respostas comportamentais e emocionais de
uma criança ou adolescente não são funcionais, levam ao sofrimento e ao prejuízo
na sua adequação social e acadêmica, entendo que as habilidades comportamentais

59
UNIDADE III │ TCC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

encontram-se inadequadas, que existem conteúdos cognitivos disfuncionais e que a


capacidade de resolução de problemas está prejudicada.

O desenvolvimento cognitivo é uma sequência de procedimentos poderosos para


solução de problemas, em conjunto com estruturas conceituais de conhecimento.
Para que esse desenvolvimento aconteça, é fundamental que a criança passe pelos
sistemas de ensino e aprendizagem no qual pode sentir-se frustrada por transtornos do
neurodesenvolvimento que a impeçam de organizar esses padrões de cognição.

Nessas dificuldades, a TCC atua no estímulo desses processos, utilizando técnicas


e testes padrões adequados a cada caso, trabalhando os pensamentos, com base na
compreensão de cada paciente, suas crenças, e seus padrões de comportamentos,
procurando produzir mudanças cognitivas em pensamentos, emoções e
comportamentos.

O DDSM-V (2013) define as seguintes dificuldades de aprendizagem apresentadas


pelas crianças:

» Leitura de palavras de forma imprecisa ou lenta e com esforço (p. ex.:


lê palavras isoladas em voz alta, de forma incorreta ou lenta e hesitante,
frequentemente adivinha palavras, tem dificuldade de soletrá-las).

» Dificuldade para compreender o sentido do que é lido (p. ex.: pode ler
o texto com precisão, mas não compreende a sequência, as relações, as
inferências ou os sentidos mais profundos do que é lido).

» Dificuldades para ortografar (ou escrever ortograficamente) (p. ex.: pode


adicionar, omitir ou substituir vogais e consoantes).

» Dificuldades com a expressão escrita (p. ex.: comete múltiplos erros de


gramática ou pontuação nas frases; emprega organização inadequada de
parágrafos; expressão escrita das ideias sem clareza).

» Dificuldades para dominar o senso numérico, fatos numéricos ou


cálculo (p. ex.: entende números, sua magnitude e relações de forma
insatisfatória; conta com os dedos para adicionar números de um dígito
em vez de lembrar o fato aritmético, como fazem os colegas; perde-se no
meio de cálculos aritméticos e pode trocar as operações).

» Dificuldades no raciocínio (p. ex.: tem grave dificuldade em aplicar


conceitos, fatos ou operações matemáticas para solucionar problemas
quantitativos) (DSM-V, 2013).

60
CAPÍTULO 1
Aprendizado e cognição

Cognição
Refere-se a um conjunto de habilidades cerebrais/mentais necessárias para a obtenção
de conhecimento sobre o mundo. Tais habilidades envolvem pensamento, raciocínio,
abstração, linguagem, memória, atenção, criatividade e capacidade de resolução.
É a mudança de comportamento e atuação do sujeito sobre o mundo. Ampliação de
conhecimento e desenvolvimento de sua postura.

Desenvolvimento é diferente de cognição, contudo um depende do outro para acontecer.


É um processo pelo qual os indivíduos adquirem conhecimento sobre o mundo ao longo
da vida. O desenvolvimento cognitivo está diretamente relacionado à aprendizagem,
ou seja, um não ocorre sem o outro. Esse processo acontece em espiral crescente nos
dando a noção de avanços no desenvolvimento em contínuo crescimento.

Figura 14. Espiral cognição.

DESENVOLVIMENTO

ADAPTAÇÃO

APRENDIZAGEM

Fonte: elaborado pela autora.

Possui aspectos que são universais para a espécie humana.

61
UNIDADE III │ TCC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Quadro 2. Aspectos da espécie humana.

Percepção Aspectos como diferenciação figura x fundo, complementação de figuras e outros princípios guestálticos.
Andar, correr, nadar, reflexo de orientação e movimentos específicos (sorrir, chorar, rir) são basicamente
Padrões motores
similares em todas as culturas.
Responsividade a estímulos No bebê, sons altos, contato físico, perda de suporte, ser deixado sozinho; responsividade materna aos sinais
padrões do bebê.
Motivação Para comer, beber e comportar-se sexual e parentalmente. Motivações agressiva, assertiva, aquisitiva e social.
Processos cognitivos Forte influência sociocultural, com similaridade básica em todos os humanos.
Predisposição para aprender Disposições culturais, alguns indivíduos são mais aptos que outros.
Desenvolvimento da Alguns aspectos como o balbucio, a ordem de aparição dos subelementos dos fonemas e a ordem de
linguagem desenvolvimento das expressões vocais complexas.
Certos aspectos do
Formas como mãe/bebê e homem/mulher, entre outros.
relacionamento
Fonte: adaptado de Vygotsky, 2007.

O desenvolvimento cognitivo depende do envolvimento de várias outras funções e a


boa desenvoltura de outras funções que o alicerçam como a linguagem, a coordenação
motora e o suporte afetivo emocional. O desenvolvimento de uma criança pode e deve
ser medido e acompanhado normalmente como uma das estratégias de prevenção de
saúde, tanto na infância quanto na adolescência.

Podemos verificá-lo em vários eixos: motor, linguagem, social, afetivo, adaptativo e


cognitivo.

Figura 15. Construção da inteligência de acordo com Piaget.

Relação com objetos externos.

Agir e interagir Equilibração.


sobre o mundo. Aprendemos Mediação.
mais quando Condução a
participamos construir e não a
ativamente do repetir
processo. mecanicamente
um processo.

Fonte: adaptada de Piaget, 1998.

A evolução do pensamento da criança, na medida que consegue representar


mentalmente situações que não são vivenciadas por ela, vai se organizando a ponto
de criar mecanismos que vão influenciar em situação irreais. Esse movimento vai se
equilibrando de acordo com os apoios com o ambiente. Necessariamente o professor
se torna somente mediador desse conhecimento em torno das vivências abstratas,
concretas e vivenciais.

62
CC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE III

Figura 16. Desenvolvimento e funcionamento da mente.

Linguagem e pensamento
Dupla influencia são processos cognitivos
Desenvolvimento e que se completam em
funcionamento da mente. da linguagem e da
socialização. uma ação recíproca.

Fonte: adaptada de Vigotsky, 2007.

O desenvolvimento não se dá em círculo, mas em espiral, passando por um mesmo


ponto a cada nova revolução, enquanto avança para um nível superior (VYGOTSKY,
2007).

Figura 17. ZDP.

TRANSFORMAÇÕES

INTERNALIZAÇÃO

FUNÇÃO
AÇÃO intermomentos
Intra-estágio
OPERAÇÃO
interestágios

Fonte: adaptado de Vygotsky, 2007.

63
UNIDADE III │ TCC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A zona de desenvolvimento proximal vai ser aquele espaço entre uma aprendizagem
adquirida e a nova, que estar por vir. Estamos em constantes aprendizagens e a zona
de desenvolvimento proximal é algo vivo em nossa trajetória. Ela se dá em espiral, pois
não tem fim, com isso, uma continuidade infinita. Para ilustrar, colocamos em círculo.

Formas de intervenção em zona proximal, nos estágios relacionais:

» Corpo – ajuda corporal: uso da sensação para movimentar o corpo da


criança na execução da atividade.

» Outro – apoio corporal: uso da decodificação da sensação para fornecer


pontos de apoio no corpo para que a criança realize a atividade.

» Objeto – exploração proprioceptiva: uso da percepção como


identificação, síntese e individualização orientando a atividade da
criança passo a passo.

» Meio físico – modelo visual, “imagem orientadora”: uso da percepção


ampliada com categorização, classificação e generalização na
demonstração para a criança na execução integral da atividade.

» Meio social – ordem verbal, “palavra orientadora”: uso da integração


concreto-simbólico (nome evoca objeto ou ação) com orientação da
criança por meio da fala para os passos na realização das atividades.

SOUZA, V.L.T.; ANDRADA, P.C. Contribuições de Vigotski para a compreensão do


psiquismo. Estudos de Psicologia, Campinas, n. 30, v. 3, pp. 355-365, 2013.

Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/estpsi/v30n3/v30n3a05.pdf.

Quando um sujeito não alcança determinada cognição ou aprendizagem, entendemos


que ele possa ter determinada disfunção cognitiva. A OMS tem, de forma reiterada,
alertado a comunidade internacional no sentido de vigiar precocemente atrasos e
distúrbios de desenvolvimento infantil. Tais anormalidades estão associadas ao risco
elevado da criança evoluir para transtornos psiquiátricos, de desenvolvimento e
problemas de aprendizagem.

Transtorno X dificuldade de aprendizagem

Antes de se entrar em determinado assunto, a diferença entre ambos é de extrema


importância. Devemos entender que um está ligado às questões internas, e o outro às
questões externas.

64
CC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE III

Figura 18. Não saber.

Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/cr%C3%A2nio-cabe%C3%A7a-humano-pessoas-2028555/.

Figura 19. Transtornos x dificuldades.

•Englobam complicações primárias


decorrentes de alterações do SNC.
•São intrínsecos, de dentro pra fora.
Transtornos de
aprendizagem •São percebidos desde cedo.
•Não tem cura.

•Grupo heterogêneo que interfere na


aprendizagem.
•Não tem causa neurológica.
Dificuldade de
aprendizagem •São extrínsecos, de fora para dentro.
•Precisam ser tratados e tem
cura/melhora.

Fonte: elaborda pela autora.

De acordo com o DSM-V, o transtorno específico da aprendizagem é um transtorno


do neurodesenvolvimento, com uma origem biológica que é a base das anormalidades
no nível cognitivo, as quais são associadas com as manifestações comportamentais.
Segundo Fonseca (1995), o transtorno de aprendizagem está relacionado a um grupo
de dificuldades específicas e pontuais, caracterizadas pela presença de uma disfunção
neurológica. Ciasca e Rossini (2000) defendem que o transtorno de aprendizagem é um
défice específico da atividade acadêmica, enquanto o distúrbio de aprendizagem é uma
disfunção intrínseca da criança, podendo estar relacionada aos fatores neurológicos,

65
UNIDADE III │ TCC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

assim como a relação de aquisição e no uso discriminação auditiva, da fala, da leitura,


da escrita, do raciocínio ou habilidades matemáticas que se referem às disfunções do
sistema nervoso central. De acordo com o DSM-V (2013), são considerados Transtornos
Específicos da Aprendizagem:

» dislexia;

» discalculia;

» disgrafia;

» disortografia.

Os transtornos de aprendizagem podem ocorrer concomitantemente a outras situações


desfavoráveis, como: retardo mental, alteração sensorial, distúrbio emocional ou social,
ou por influências ambientais de qualquer natureza. Para um diagnóstico de TA, deve-
se distinguir prejuízo acadêmico causado por outros fatores, tais como emocionais ou
psicossociais.

» Variáveis orgânicas: ligadas à questão do corpo, físico e biológico.


Como questões oftalmológicas, audiométricas e de alimentação.

» Variáveis neurodesenvolvimentais: ligado ao desenvolvimento e


sua ligação com o cérebro.

» Variáveis comportamentais e emocionais: o comportamento pode


afetar tanto como questões emocionais adversas.

» Variáveis familiares, escolares, sociais e culturais: como essa


família lida com questões escolares e de aprendizagem, nível social,
cultural e aquisitivo também podem influenciar.

A prevalência desses transtornos é maior em


meninos

Pessoas com TA possuem défices em processos cognitivos, principalmente em


habilidades meta-fonológicas, memória operacional, nomeação rápida e decodificação.

De acordo com o DSM-V (2013), os transtornos de aprendizagem passaram a ter um


nível de severidade.

66
CC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE III

Quadro 3. Classificação qualitativa dos níveis de severidade.

Leve Moderado Grave


Algumas dificuldades leves em um Dificuldades severas nos domínios acadêmicos de
Dificuldades consideráveis em um ou mais domínios
ou dois domínios que possibilitam modo que o indivíduo não aprenda tais habilidades
de modo que o indivíduo não se torne proficiente
ao indivíduo compensar ou funcionar sem intervenções intensivas contínuas e ensino
sem intervenções intensivas periódicas e ensino
bem quando providas as devidas educacional especializado na maior parte dos anos
educacional especializado nos anos escolares.
acomodações ou serviços de suporte escolares. Mesmo com acomodações e suportes
Acomodações e suportes devem ser oferecidos ao
nos anos escolares. apropriados na escola/trabalho e em casa, o
mínimo em parte do dia escolar/trabalho ou em casa
indivíduo pode não ser capaz de completar as tarefas
de modo a realizar as tarefas eficientemente.
eficientemente.

Fonte: adaptado de DSM-V, 2013.

67
CAPÍTULO 2
Inabilidades específicas de
aprendizado

Inabilidades específicas para à escrita e


leitura e da matemática
Nas últimas décadas o surgimento das dificuldades de aprendizagens aumentou a
demanda multidisciplinar, que contribuiu com os estudos nas áreas de ciências
médicas que atuassem diretamente nessas dificuldades e transtornos.

Foi o psicólogo Samuel Kirk que já atuava sobre os défices intelectuais na escrita e
leitura, que designou que tais défices tinham relação com as questões ambientais,
familiares e educativas, onde tais indivíduos exigiam um modelo de atendimento
diferenciado (BARBOSA, 2015).

O DSM-V (2013) classifica os transtornos específicos de aprendizagem como transtornos


do neurodesenvolvimento de origem biológica, onde os mesmos transtornos podem se
manifestar por influências ambientais, sejam elas de cunho familiar ou escolar, lesões
cerebrais ou ainda por desequilíbrio químico. A anunciação de um desses fatores,
expressa uma certa incapacidade do cérebro perceber e processar as informações,
sejam elas verbais ou não verbais (BARBOSA, 2015).

As dificuldades de escrita, geralmente, vêm associada à dificuldade de leitura, e


podem vir acompanhadas por outros distúrbios específicos como o reconhecimento
das palavras, a inversão de letras, alterações na memória imediata e operacional,
desorganização e desorientação espacial e temporal, alteração na diferenciação de
sons.

A disortografia é um dos sintomas da dislexia e a conectividade entre os dois


transtornos pode levar a um diagnóstico errado se o profissional não perceber que a
criança avaliada não apresenta dificuldades na leitura, deixando de avaliar a dislexia
em seu sintoma específico, relacionado a questões ortográficas.

Alguns terapeutas consideram a correção dos erros ortográficos um processo


futuro onde a criança estará mais familiarizada com os processos envolvidos no
desenvolvimento da escrita, deixando de oferecer tratamento adequado.

68
CC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE III

Emília Ferreiro e Teberosky estudaram a psicogênese da escrita e a nivelaram em


quatro estágios:

» Pré-silábico: quando a criança ainda produz rabiscos e traduz como


escrita. Minhoquinhas são nomes, por exemplo.

» Silábico: quando para cada som ouvido há uma letra ou mais. OIA –
sugere a palavra FORMIGA ou TTTTTTTTTEEEEEEEE – para TREM, pois
é um objeto grande e seu nome condiz com seu tamanho.

» Silábico alfabético: quando já se inicia o reconhecimento de fonema


e grafema, mas ainda está em desenvolvimento. DDO – é sugerido
como a palavra DEDO.

» Alfabético: quando sua alfabetização está quase que completa e


algumas sílabas complexas estão em desenvolvimento. Um exemplo
disso é ninio – que significa NINHO.

» Ortográfico: é o último estágio de desenvolvimento da escrita e nesse


já se encontra totalmente alfabetizado e com interpretação do que foi
lido.

Nesse sentido, cabe entender qual a questão envolvida na escrita – processo


de aprendizagem, desnivelamento ou transtorno? O ideal é encaminhar a um
psicopedagogo.

Figura 20. Estudando.

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/crian%C3%A7a-eu-sou-um-estudante-livro-3326960/.

69
UNIDADE III │ TCC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

O manual DSM-V (2013) descreve a disortografia acatando agravos na ortografia,


conveniência na gramática, pontuação e discernimento quanto à organização da
expressão escrita.

É importante frisar que transtorno não é desleixo ou preguiça da criança ou


adolescente, mas um atraso cognitivo real que leva à angústia, à ansiedade e à
depressão e aparece na dificuldade de organizar textos coesos e coerentes, no
grande número de erros gramaticais e ortográficos, levando também à recusa
de executar as tarefas escolares, à dificuldade em concentrar-se na hora do
estudo, apresentação de cadernos e atividades incompletas e nem sempre está
associada às alterações da grafia, chamada de disgrafia.

A dislexia foi descrita pela primeira vez pelo oftalmologista alemão Rudolf Berlin, no
século XIX, e foi difundida em 1896 pelo físico britânico Pringle Morgan como cegueira
verbal congênita (ROTTA et al., 2016).

O DSM- V (2013) descreve a dislexia “como um termo alternativo para referência aos
padrões de dificuldade de aprendizagem, caracterizado por problema no reconhecimento
preciso ou fluente de palavras, problemas de decodificação e dificuldades de ortografia
(precisão na leitura de palavras, velocidade ou fluência da leitura compreensão da
leitura), também é importante ressaltar quaisquer dificuldades que estejam presentes
como na compreensão da leitura ou no raciocínio matemático”.

Uma criança com inabilidades de leitura e/ou escrita demonstra uma enorme disposição
e uma infinita vontade de aprender, contudo se sente incapaz. Por esse motivo, o
terapeuta, na TCC, trabalha a amplificação da autoestima, uma modificação positiva da
autoimagem a partir de uma reflexão consciente de seus pensamentos. Atua junto com
a criança na administração das rotinas de vida diária (agendas, tarefas e lembretes),
levando a criança a criar regras e a ensinando a traduzir os conceitos abstratos, utilizando
exemplos que envolvem esse dia a dia e simplificando esses conceitos.

Na terapia, o terapeuta deve estar integrado em equipe interdisciplinar, com


fonoaudiólogos, psicopedagogos e acompanhamento médico geral. Em alguns casos, é
considerado qualitativa a inclusão de uma alfabetizadora para auxiliar no processo de
aquisição da leitura e escrita.

A dislexia em crianças se apresenta com erros ortográficos de caráter linguístico-


perceptivo, visuoespacial e visuoanalítico e por isso não se deve utilizar apenas um
modelo terapêutico concreto, mas utilizar diversas técnicas que contemplem a correção
dos erros ortográficos, a percepção auditiva, visual e espaço-temporal junto ao processo
de memória auditiva e visual.

70
CC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE III

Uma das definições de transtorno da leitura é que ela é caracterizada por uma
dificuldade específica em compreender palavras escritas. E seu diagnóstico só deverá
ser confirmado após eliminar todas as outras causas. Deve estar presente antes da
alfabetização, contudo só pode ser diagnosticada a partir dos 6 anos de idade.

O DSM-V classifica como critérios diagnósticos para o transtorno da leitura:

» Rendimento da capacidade de leitura, como correção, velocidade ou


compreensão da leitura, significativamente inferior à média para a idade
cronológica, capacidade intelectual e nível de escolaridade do indivíduo.

» A dificuldade de leitura apresentada pelo indivíduo interfere de modo


significativo nas atividades cotidianas que requeiram habilidades de
leitura.

» Sob a presença de algum défice sensorial, as dificuldades de leitura


excedem aquelas habitualmente a essas associadas.

» A leitura oral se caracteriza por distorções, substituições ou omissões, e


junto com a leitura silenciosa vem acompanhada por lentidão e erros na
compreensão do texto.

Sobre o transtorno da expressão escrita, sua definição e características afirmam que ele
se refere apenas à ortografia com ausência de outras dificuldades da expressão escrita.
E possui estreita relação com as dificuldades na capacidade de compor textos escritos,
evidenciada por erros de gramática e pontuação dentro das frases, má organização dos
parágrafos, múltiplos erros ortográficos, na ausência de outros prejuízos na expressão
escrita.

Falha na aquisição da escrita implica em uma inabilidade ou diminuição no


desenvolvimento da escrita.

A criança lê bem e pode não escrever de forma correta.

O entendimento do texto também fica alterado.

De acordo com o DSM-V, os critérios para o diagnóstico do transtorno da expressão


escrita são:

» As habilidades de expressão escrita se encontram significativamente


inferiores à média para a idade cronológica, capacidade intelectual e
nível de escolaridade do indivíduo.

71
UNIDADE III │ TCC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

» A dificuldade na expressão escrita apresentada pelo indivíduo interfere de


modo significativo nas atividades cotidianas que requeiram habilidades
de escrita, como escrever frases gramaticalmente corretas e parágrafos
organizados.

» Na presença de algum défice sensorial, as dificuldades de escrita excedem


aquelas habitualmente a esse associadas.

» O problema se caracteriza por dificuldades na composição de textos,


erros de gramática e pontuação, má organização dos parágrafos, erros
frequentes de ortografia e caligrafia precária.

A disgrafia é a alteração do desenvolvimento da motricidade fina que vai atingir a escrita


e alterar a sua produção. Nesse transtorno, não aparecem muitos erros ortográficos,
mas uma letra ilegível que impede, na maioria das vezes, a interpretação até mesmo do
escrevente. Pode estar associada à dislexia ou não. Muitas vezes, as crianças têm acesso
à escrita cedo e ainda estão em desenvolvimento da motricidade fina, seu processo ainda
está se organizando e há uma cobrança do uso de lápis, escrita, entre outros. Por esse
motivo, pode ser que uma criança se torne disgráfica, que não tenha esse transtorno,
mas o adquire.

Figura 21. Escrita.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/crian%C3%A7a-jogar-estudo-cor-aprender-865116/.

Inabilidade específica para à matemática


A matemática é uma ação cerebral complexa que exige uma grande rede de mecanismos
cognitivos que ativem processos gráficos, simbólicos e verbais. Para que essa tão
habitual e simples ação aconteça, o cérebro usa os conhecimentos relacionados ao

72
CC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE III

reconhecimento numérico, à representação simbólica, à coordenação visuoespacial e o


estímulo das memórias de trabalho, curto e longo prazos.

Qualquer dificuldade relacionada a essas ações são chamadas de discalculia, que em


uma definição mais acadêmica se caracteriza pela dificuldade no raciocínio e precisão
do senso numérico, memorização de fatos aritméticos, fluências de cálculos (DSM-V,
2013).

Segundo Tisser et al. (2018):

O transtorno não pode ser moldado unicamente com base em uma


escolaridade grosseiramente inadequada ou deficiências intelectuais
(CID – 10, 2011), e não pode ser confundida com inabilidade dos
conceitos matemáticos básicos, como a contagem, a obstrução surge
quando a criança falha em interpretar dados numéricos.

Essas inabilidades são originadas pelo comprometimento neurológico no lobo esquerdo


que interfere no processamento de numerais verbais e nas áreas temporo-parieto-
occipitais que são responsáveis pelo processamento de numerais arábicos (SANTOS et
al., 2015).

Esses comprometimentos atingem a ordenação e espaçamento inapropriado dos


números em multiplicações e divisões, a transposição dos números durante a realização
de cálculos, a leitura de números, o reconhecimento dos signos e símbolos matemáticos
e musicais, a separação linear e a dificuldade de memorização para fatos numéricos
(ROTTA et al., 2016).

Os professores da área, ao se depararem com crianças e adolescentes com essas


inabilidades, apresentam falta de conhecimento técnico e grande dificuldade em
reconhecer os sinais para encaminhá-los adequadamente à terapia, e podem entender
que a dificuldade não é cognitiva, mas acadêmica. Assim, a criança ou adolescente
que apresente discalculia, pela falta de conhecimento da escola e de seus professores,
acabam desencadeando reações em diversas áreas, como emocionais, cognitivas e
neurológicas, causando grandes prejuízos em seu desempenho escolar ao longo de seu
desenvolvimento até a vida adulta.

Cada criança possui uma maneira de aprender própria e única, contudo, a grande
parte das escolas insistem em produzir estudantes focados nos resultados futuros que
comprometem seu desempenho durante o processo da construção do saber.

Para chegarem nas expectativas das escolas, elas partem do pressuposto que toda
criança domina os conceitos elementares que são bases para aprendizagem.

73
UNIDADE III │ TCC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Assim também acontece na formação dos professores que se graduam sem conhecimento
dos transtornos específicos de aprendizagem, sem compreender quais são, suas
características e como trabalhar com esses transtornos. Em resumo, um professor de
matemática lecionará desconhecendo o que é discalculia.

Quando uma criança, ou adolescente, apresenta dificuldade na área matemática,


é preciso também avaliar o entorno desse sujeito e observar as condutas
emocionais e afetivas. A matemática e a afetividade caminham lado a lado e isso
precisa ser respeitado.

A discalculia apresenta características ligadas à alteração da atenção, memória,


autoestima e habilidades sociais, deixando clara a necessidade de uma investigação
diagnóstica profunda, pois afeta a consolidação de memórias ligadas a horários e
números e/ou a coordenação motora fina.

Na discalculia, a TCC também deve envolver uma equipe interdisciplinar, focando na


reabilitação e comprometimentos aritméticos, potencializando as habilidades intactas.

Segundo Rotta et al. (2016), a discalculia compromete diretamente a percepção


visuoespacial, em quantidade, ordem e tamanho, o conjunto das percepções se
assemelha às dificuldades de associar fatos corriqueiros, como o trabalho com números,
letras e figuras.

A TCC irá atuar estabelecendo objetivos e relação colaborativa, uma vez que os
pensamentos disfuncionais e suas crenças dificultam e interferem nas dificuldades
pessoais e interpessoais.

74
CAPÍTULO 3
A prática da Terapia Cognitivo-
Comportamental nos transtornos da
aprendizagem

A TCC também pode conduzir técnicas e abordagens com caráter preventivo em


sua atuação no contexto do ambiente escolar e é de grande auxílio às crianças e aos
adolescentes com inabilidade educacionais específicas.

Existem duas vertentes da TCC que podem ser aplicadas nas dificuldades aprendizagem:

» Atuando no controle de antecedentes, onde a intervenção é anterior à


manifestação das alterações do comportamento acadêmico e tem ênfase
nos fatos cognitivos que precedem a dificuldade comportamental. É
usado o treino de autoinstrução, onde o paciente aprende a verbalizar
para si mesmo, em silêncio, as perguntas, informações e julgamentos que
comprometem seu desempenho e o treino de estratégias preventivas,
onde o paciente aprende a encontrar a resolução positiva de problemas e
que necessita de ajuste social e no desempenho acadêmico.

» Atuando no controle das consequências onde a abordagem acontece


depois da ocorrência de uma conduta e tem ênfase na análise e na resposta
do problema escolar, utilizando o automonitoramento da conduta
e/ou autoavaliação como estratégias terapêuticas, onde o paciente
aprende a observar-se nas atividades acadêmicas e, consequentemente,
apresentando melhorias na atenção e na produtividade.

Memória, atenção e a metacognição são as principais áreas afetadas em crianças e


adolescentes que apresentam transtornos de aprendizagem. Nesses transtornos a TCC
trabalha com o estímulo dessas habilidades e ajuda-lhes a desenvolver de forma mais
eficiente as tarefas escolares.

Além das alterações específicas de atenção, memória e metacognição, crianças e


adolescentes apresentam crenças enraizadas de que todo esforço é inútil e que não
levará a nenhum resultado diferente do fracasso e muito comumente, acabam por
desenvolver reações psicológicas, assim relatadas por Condemarin (1986):

» Atitude depressiva diante de suas dificuldades. O sujeito mostra-se


deprimido, triste e culpado. Recusa-se a vivenciar situações que exijam um

75
UNIDADE III │ TCC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

rendimento sistemático e ativo. Diante do temor de sentir-se fracassado


novamente retira-se e não compete.

» Atitude agressiva e pejorativa diante de seus superiores e iguais, revelando


negativismo, franca hostilidade com seu professor e seus colegas de sala.

» Suas dificuldades produzem uma sensação de antipatia com relação à


leitura, à escrita ou aos cálculos, que resulta em maiores complicações
em função do escasso contato com o material didático.

Como resultado desses sintomas, a criança ou adolescente apresentam baixa autoestima,


o que acaba culminando no seu afastamento da escola ou de qualquer atividade que lhe
parece desafiadora. Nesses casos a TCC pode adotar técnicas que auxiliem a mudança
de olhar para si mesmo, tal como:

» Fazer com a que a criança foque sempre nas próprias habilidades,


encorajando-a a fazê-lo.

» Sempre elogiar a criança ou adolescente quando ela conseguir fazer algo


difícil para que ele não desista facilmente.

» Dar ênfase, sempre, às respostas corretas e nunca às erradas, dando valor


aos acertos.

» Deixar a criança ou adolescente o mais tranquilo possível, reforçando sua


inteligência e esperteza.

» Fazer com que a criança ou adolescente se sinta valorizado em todas as


áreas da vida, não apenas na escolar.

» Ensinar a criança ou adolescente a falar sobre seus sentimentos e


dificuldades sem medo de críticas.

Rotta (2006) recomenda uma série de normas que otimizam o rendimento escolar do
disléxico e ao mesmo tempo tenta evitar que os problemas emocionais, de frustração e
baixa autoestima aumentem, tais como:

» Atitudes:

› É importante que a criança ou adolescente saiba que sua dificuldade é


conhecida e que ocorre com outras pessoas.

› Dar realce aos seus sucessos em todas as atividades realizadas, sem


forçá-la a repetir a tarefa se apresentar dificuldade ou erro.

76
CC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE III

› Evitar que a criança realize suas tarefas escolares em público, para


evitar constrangimento e fracassos.

› Utilizar sempre material compatível com seu nível de habilidade.

› Não chamar a atenção nos momentos de distração ou que exijam


esforço para realizar as tarefas.

› Jamais diminuir a criança ou permitir bullying.

Um sujeito com dificuldade de aprendizagem tem habilidades inatas e deve


ser influenciado a buscá-las, assim como a estimulá-las. Muitos disléxicos são
manuais e podem ter grande capacidade de montar e desmontar brinquedos e
guardar todo o processo em sua mente.

Por esse motivo, não podemos deixar que o sujeito vire um transtorno, mas
devemos influenciar sempre para a qualidade de ações, para que se sinta
motivado e crie manejos próprios para seu desempenho.

Figura 22. Estimulação e automotivação.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/menina-branco-divers%C3%A3o-crian%C3%A7a-3038974/.

Grandes mentes e artistas foram levados a acreditar, quando em fase de


alfabetização, que não eram pessoas capazes de se manter na escola por serem
disléxicos ou apresentar alguma dificuldade de aprendizagem, contudo esses se
tornaram gênios e conhecidos nos meios sociais e quebraram paradigmas.

Entre estes estão Tom Cruise, Albert Einstein, Vincent Van Gogh, Will Smith, Woop
Goldberg, Keanu Reeves, entre outros.

77
UNIDADE III │ TCC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

» Ações pedagógicas:

› Dislexia:

· provas adaptadas,

· ditado adaptado,

· leitura anterior a prova individual,

· validação das respostas orais,

· não acumular correção de erros ortográficos,

· em alguns casos pode haver redução dos conteúdos,

· o tempo na alfabetização poderá ser maior.

» Discalculia:

› Exercitar com jogos, de forma lúdica.

› Marcar a prova com iluminador.

› Realizar ditados e cópias de números.

› Abordar problemas com casos práticos.

› Trabalhar orientação espacial e a organização temporal.

› Aceitar o uso de materiais concretos e a calculadora.

» Disortografia:

› Facilitar ao aluno a aprendizagem da escrita correta de uma palavra e


sua utilidade social.

› Proporcionar métodos e técnicas para o estudo de novas palavras.

› Habituar o uso de dicionário.

› Ampliar e enriquecer seu vocabulário gráfico.

» Disgrafia:

› Reconhecimento rápido das palavras. A criança associa novas palavras


às que já fazem parte de seu vocabulário.

78
CC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE III

› Amadurecer sua consciência e perceber que as palavras são sequências


que devem ser decoradas, atribuindo-lhes significado.

› Exercícios de coordenação motora fina, trabalhando coordenação


óculo – manual.

› Incluir atividades palavra por palavra para que perceba que a frase é
um conjunto delas.

› Incluir atividades lúdicas que vão ampliar a motricidade fina.

› Se possível, só incluir letra cursiva no meado da alfabetização.

» Avaliação escolar:

› Sempre realizar avaliações orais ou com auxílio de ledor.

› Oferecer tempo na realização das avaliações.

› Evitar a utilização de questões grandes, de múltipla escolha ou


contextualizadas.

› Avaliar as provas ou trabalhos pelo conteúdo e resultados.

› Oferecer uma sala individual e mais tranquila para as avaliações.

› Repensar a retenção caso seja provável, pois pode ser que o aluno
seja aprovado com alguma matéria ainda em desenvolvimento de
aprendizagem.

As intervenções da TCC nesses casos, devem procurar criar uma abordagem de regras
e autorregras que permitam a aquisição do conhecimento e a resolução dos problemas.
Essas devem ser abordagens ao alcance do desenvolvimento cognitivo da criança ou
adolescente, e se trona um grande desafio para o terapeuta que deve traduzir conceitos
abstratos para aplicação nos cotidianos simples e concretos e com os quais a criança ou
adolescente poderá se relacionar.

O apoio ao professor no auxílio ao processo de aprendizagem vai ampliar os saberes e


não os minimizar, sendo de grande valia para o desempenho acadêmico e a motivação
desse aluno incluído em classes regulares.

79
UNIDADE III │ TCC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Figura 23. Singularidade e aprendizagem.

Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/crian%C3%A7as-aprender-educa%C3%A7%C3%A3o-prim%C3%A1rio-1973917/.

» Inabilidade na área de aprendizagem significa a falta de


desenvolvimento dessa, com uma carga emocional envolvida que
afeta a visão de si em relação à autoestima e motivação.

» Os professores precisam de um mínimo de conhecimento sobre os


transtornos para que não solidifiquem um diagnóstico mesmo antes
de ir ao médico.

» O terapeuta TCC vai oferecer suporte após o fechamento de diagnóstico


e vai ampliar possibilidades de atuação mais concreta do sujeito.

» Também vai apoiar o professor na demanda em volta do aluno,


ampliando possibilidades para a sua melhora.

» As inabilidades de aprendizagem devem ser diferenciadas de


dificuldades, pois uma pode ser de acordo com o que acontece no
exterior e outra no interior do sujeito.

» Os transtornos são algo intrínseco, ou seja, de dentro para fora, e


precisam de tratamento terapêutico e, por vezes, até medicamentoso.

» As dificuldades são algo extrínseco, ou seja, de fora para dentro e


precisa ser avaliado o quanto esse exterior afeta o sujeito a ponto de
se tornar um sujeito com dificuldade.

A cognição é um processo superior e se diferencia de aprendizagem e


desenvolvimento:

» Desenvolvimento é o processo em que o sujeito passa durante o seu


crescimento.

» Aprendizagem é a mudança de comportamento após novas cognições


serem alcançadas.

80
CC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE III

Um sujeito precisa do outro e do ambiente para aprender e isso influencia


diretamente na sua mudança de comportamento e desenvolvimento.

Os TA têm níveis de severidade e cada um deles é singular, ou seja, de acordo


com a necessidade de cada sujeito.

Os níveis de severidade dos TA são: leve, moderado e severo. Esses vão influenciar
nas dificuldades do sujeito e aumentar o grau de dificuldade frente a novos
aprendizados e até mesmo na alfabetização.

A inabilidade de aprender a ler e escrever, é conhecida como dislexia. Essa vai


afetar no processo de alfabetização, na aprendizagem de novas palavras, na
leitura e na interpretação. Há dificuldades associadas a manter o foco e atenção,
memória de trabalho e percepção, lateralidade e seguir instruções verbais mais
longas.

A inabilidade de escrever corretamente, respeitando a ortografia, é conhecida


como disortografia. Essa pode estar associada à dislexia, contudo pode ser
produto de uma má alfabetização e é advinda de uma produção pobre de
vocabulário e escrita, que apresentam erros ortográficos. Um disortográfico
pode ler bem e não escrever de forma correta. Também é preciso validar os
níveis da escrita, para perceber desnivelamento desses.

A inabilidade na área da escrita é conhecida como disgrafia. Essa dificuldade


está intimamente ligada a questões voltadas ao tônus muscular e à produção
escrita. A criança pode não apresentar dificuldades específicas de aprendizado,
mas uma letra ilegível e que até mesmo o escrevente não consegue entender.
Pode estar associada à dislexia.

A inabilidade na área da matemática, é conhecida como discalculia. Essa


dificuldade não está somente atrelada a questões numéricas, mas à forma de
interpretá-las e de como realizar os cálculos, seja de forma concreta ou mental.
A discalculia pode estar associada à dislexia e, nesse caso, a dificuldade em
interpretar os comandos das atividades e de problemas de cálculos se amplia. A
discalculia pode ser dividida em:

» Discalculia verbal: dificuldade em compreender e nomear conceitos


matemáticos, inclusive numerais.

» Discalculia practognóstica: dificuldade em transferir um conceito


matemático mentalmente para o concreto.

81
UNIDADE III │ TCC E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

» Discalculia léxica: dificuldade em entender e ler símbolos matemáticos.

» Discalculia gráfica: dificuldade em escrever símbolos matemáticos.

» Discalculia ideognóstica: dificuldade para realizar cálculos mentais


sem o uso de materiais concretos.

» Discalculia operacional: dificuldade em compreender e finalizar


cálculos matemáticos de forma escrita e verbal.

As DA, assim como os TA podem estar relacionadas a fatores variáveis que afetam
a estrutura do sujeito. Podem ser:

» variáveis socioculturais;

» variáveis orgânicas;

» variáveis neurodesenvolvimentais;

» variáveis comportamentais e emocionais;

» variáveis familiares, escolares, sociais e culturais.

Para Fonseca (2015), as DA são influenciadas por fatores etiológicos e por diversos
meios em que a criança se encontra e que podem afetá-la, como: organismo,
meio, hereditariedade, meio educacional, biologia do ser etc.

Já existem estudos que comprovam que a etiologia das inabilidades educacionais,


como a dislexia, é hereditária. Ou seja, uma pessoa na família, próxima ao sujeito,
tem a mesma dificuldade que esse apresenta.

Grande parte da evasão escolar está diretamente relacionada aos transtornos


de aprendizagem, pois o sujeito somente é visto pelo que não produz. Suas
habilidades são deixadas em segundo plano.

É importante tratar as dificuldades de aprendizagem para que não se tornem


um transtorno maior.

É de extrema urgência tratar os transtornos de aprendizagem, sabendo que esses


não serão “curados”, mas minimizados a ponto de não interferir nas relações do
sujeito com o ambiente e principalmente, ampliar suas habilidades a ponto de
sua motivação e autoestima o levar ao lugar que quiser estar.

82
CONSTRUÇÃO DE UNIDADE IV
POSSIBILIDADES
Nesta unidade, discutiremos a construção de possibilidades para o sujeito que se
encaixa dentro dos transtornos citados acima e quais parceiros vão auxiliar nesse
trabalho junto à família. O reconhecimento do que é ser normal e anormal, para que
possamos refletir sobre a ideia que temos sobre o outro e de que forma podemos
modificar essa estrutura e ampliar possibilidades e qualidade de vida.

Pensar em construção de possibilidades é ver o outro a partir de suas capacidades e


poder oferecer a ele, o apoio necessário e o reconhecimento de suas potencialidades e
habilidades.

Trabalhar os suportes com a família e respeitar seus limites, sem se fixar neles, mas
oferecer a melhor estrutura de apoio para a melhora do quadro parental.

CAPÍTULO 1
Conceito de normalidade e apoios

Uma breve reflexão sobre a constituição da personalidade...

Entre os dois e os sete anos de idade:

» Influenciada por fatores genéticos e socioculturais – sujeito ainda em


construção e espelhado à sua família e ao ambiente onde vive.

» Período do conhecimento e da valoração de si mesmo – reconhecimento


das suas peculiaridades e singularidades. Valor a si mesmo, sem a
presença do outro.

Conhecimento e valoração de si mesmo:

É a imagem que temos de nós mesmos e se refere ao conjunto de características ou de


atributos que utilizamos para nos definir como indivíduos e para nos diferenciar dos
demais.

83
UNIDADE IV │ CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES

» Em um primeiro momento uma diferenciação física.

» Desenvolvimento emocional, onde o adulto significa o mundo.

» Desenvolvimento da linguagem que me ajuda a expressar emoções.

As emoções vão influenciar na formação de valores morais e na conduta e vão formar o


cidadão dentro dos padrões “esperados” pela sociedade em que está inserido. O adulto
favorece essa construção, estando junto ou não, há uma ligação que faz esse sujeito em
formação reconhecer as habilidades e desejar ser como esse adulto.

Quadro 4. Emoções.

Percepção em
Percepção de si Tendência de Manifestações
Emoção Objetivo relação aos Função adaptativa
mesmo ação fisiológicas
demais
Para se comportar de
Afeto com os demais Debilitação da Ritmo cardíaco
Percebem que Retrair-se e evitar maneira mais esperada,
Vergonha e preservação da autoestima: não sou desacelera, rubor e voz
valho pouco. os demais. se submete aos demais e
autoestima. digno! baixa.
às regras sociais.
Autoestima se Para se comportar de Ritmo cardíaco acelerado,
Afeto de si e dos Todos percebem o
Orgulho fortalece: sou Exibição. maneira mais esperada: voz em timbre alto, certa
demais. quanto valho.
competente! se adapta às regras. tensão.
Ajuste aos próprios Culpabilização por ter Ritmo cardíaco acelerado,
Aproxima-se para Comportamento pró-
Culpa valores e normas ido contra as próprias Sofre por outro. tensão e respiração
o reparo do dano. social, boas intenções.
interiores. regras. irregular.

Fonte: elaborado pela autora.

A formação da personalidade se dá diante da família que reflete suas ações para esse
sujeito. O meio favorece sua modificação e seu crescimento. A criança que está em
desenvolvimento, se apoia nas ações, culturas e crenças familiares e cria mecanismos
pessoais de ver o mundo e vivenciá-lo. A família é o primeiro núcleo social e principal
contexto de socialização, que vai dar a esse sujeito, a maneira como estabelecer interação
com o ambiente externo. Portanto, se a família tem comportamentos “esperados”
em uma sociedade e crenças mais positivas, vai desenvolver nessa criança esse
comportamento positivo. Se é ao contrário, percebemos condutas não adequadas na
criança, que acredita que aquela forma de agir e pensar é correta, pois é a que vivencia
e recebe.

Em um segundo momento, a criança terá contato com outras pessoas e crianças, no


seu 2º meio social, que é a escola. A base dessa criança em relação ao conhecimento de
trocas foi influenciada primeiramente pela família. Agora, ela vai trabalhar as trocas na
prática e as funções sociais que a escola vai incutir nela. Essas funções estão ligadas a:

84
CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES │ UNIDADE IV

» integração com os pares (integrar-se ao grupo de sua idade e reconhecer


movimentos intrínsecos entre ambos);

» relações de amizade (criar vínculos);

» desenvolvimento de competências sociais (é na escola que a criança


aprende na prática como se defender, conversar, brincar e ser sujeito
mais ativo);

» influência da trajetória de vida (esse processo de trocas ambíguas vai


influenciar em sua trajetória de vida e modificar comportamentos).

Para um desenvolvimento saudável e de trocas qualitativas, é importante que a atuação


do trabalho se dê em três pontos basilares:

Figura 24. Pontos basilares.

SUJEITO

ESCOLA FAMÍLIA

Fonte: elaborada pela autora.

Família
Local onde o sujeito se completa e que detém as crenças principais e o controle sobre
o sujeito. Essa família precisa ser acolhida e trabalhada na aceitação de possível
diagnóstico ou até de mudança para melhora do sujeito.

Faltava ar dentro de casa. Estávamos sufocando um ao outro, em


silêncios. Eu tinha muitos medos, que o Diogo alimentava. Achava que
não ia dar conta, que não teria capacidade física para tanto, achava que
não era suficientemente forte sozinha. Segurei mais do que devia. Me
sentia presa a um destino em que não cabia mais. Não foi fácil, mas
quando consegui, foi o início de um momento muito melhor, para
todos, mesmo que por motivos diferentes.
(Láu Patron, 71 Leões)

85
UNIDADE IV │ CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES

O que é a família?

É uma unidade social significativa, parte de uma unidade social maior, a comunidade
imediata e a sociedade. Lugar de formação do “EU”. A família se constitui quando há
um filho entre o casal. Cada família tem suas regras e padrões estabelecidos e papéis
definidos. Quando a mulher engravida, ela cria expectativas com relação ao bebê e sua
imaginação fica envolvida com o filho idealizado por ela e sua família.

A chegada de um diagnóstico gera um sentimento de culpa e desespero, pois a primeira


ideia é que foi falta de algo que a família deixou de fazer para auxiliar esse sujeito. Faz-
se necessária a modificação de papéis, atitudes e valores, pois, nesse momento, pode
não ser viável manter a estrutura inicial convencional. Pode ser que haja suspensão de
algum componente do ciclo familiar como a mãe que se torna mãe integral e deixa de
ser esposa e mulher, o irmão mais velho ou mais novo que passa a ter a “missão” de se
tornar o defensor e cuidador direto. O filho diagnosticado passa a exercer o lugar social
eterno de “filho mais novo” e isso pode afetar o desenvolvimento da independência e
autonomia.

Essa família passa a ter comportamento não antes vistos em sua relação, e são
tendenciosos a comportamentos mais entristecidos e dificuldade em lidar com o novo.

» Encarar o problema de um modo realista e negação da realidade da


deficiência – tende a desenvolver crenças em torno do sujeito.

» Lamentações dos pais com sua própria sorte – passam a ser vistos
lamentando sobre o que não fizeram ou não conseguem fazer.

» Falta de apoio: a conduta dos pais se baseada basicamente em ensaio e


erro – é muito comum ver parentes se afastando, pais se separando, há
uma dificuldade em rede de apoio.

» Ambivalência com relação à criança – dificuldade em lidar com limites


e impor regras à criança com diagnóstico, criando um movimento de
coleguismo.

» Preocupação com o futuro – isso é eminente e há uma necessidade de se


ter outro filho, se esse for único, para cuidar dele quando morrerem.

» Rejeição e projeção de si mesmo – há demasiada rejeição de si em relação


ao filho. Em alguns casos, há um impedimento emocional de se manter a
família, ter outros filhos ou criar novos vínculos.

86
CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES │ UNIDADE IV

» Mútua dependência – passa a existir uma relação de dependência ao invés


de se manter a relação anterior, há uma necessidade de dependência
financeira e não emocional.

Reações mais frequentes ao receber um


diagnóstico

» Fase de choque: bloqueio, atordoamento geral que pode inclusive


impedir a compreensão das mensagens que estão sendo recebidas. Pode
durar minutos ou dias. Quando a família suspeita de alguma coisa, essa
fase tende a não ocorrer ou ocorre de forma mais leve.
» Fase de negação: a reação de “esquecer” ou ignorar o problema, agindo
como se nada tivesse acontecido ou questionar de forma contundente o
diagnóstico. É um movimento adaptativo. Essa fase pode ter um efeito
paralisante na família.
» Fase de reação: sentimentos desajustados, mas são os primeiros passos
para a adaptação: irritação, culpa e depressão.
» Fase de adaptação e orientação: uma fase de maior calma emocional,
que permite maior possibilidade de orientação e reorganização de
conduta.

As fases podem ser cíclicas. Aceitar o filho como é, não significa estar conformado
com a doença.

Todas essas reações são comuns diante de frustrações e conflitos. Também


podem aparecer em filhos sem necessidades especiais.

Escola
Local onde o sujeito se abstrai de regras implícitas familiares e passa a ser ele
mesmo, com o apoio de outro adulto, mas menos impositivo. A escola precisa estar
preparada para lidar com qualquer necessidade de apoio que esse sujeito venha a
precisar.

Para que isso seja minimizado e haja uma ampliação de contextos comportamentais
fora da linha de regra, pois pode ser um momento, uma ação impensada e uma
necessidade pontual do sujeito, precisamos:

» pensar possibilidades;

87
UNIDADE IV │ CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES

» modificar nosso pensamento;

» mudar o olhar, a rotina...

Sujeito
É a pessoa em intervenção, que apresenta necessidades específicas e singulares, que
anseia por ser “normal”. Diante dessas colocações, pergunto: o que é ser normal?

Antes do “normal” e do “anormal” vem a norma ou seja, um modelo.

Na verdade, a busca de ser normal é da sociedade, da cultura e de crenças sociais


impostas aos cidadãos. Acreditamos, como diz o ditado popular, que de médico e louco,
todo mundo tem um pouco. Mas, brincadeiras à parte, a necessidade de ser normal
pode deixar clara a sua anormalidade, o próprio perfeccionismo vai atuar diante de
uma loucura incessante de deixar tudo perfeito, que na verdade não o é.

Ser normal é estar encaixado em padrões específicos da sociedade e da família. Na


escola, temos a ideia de normalidade a partir de uma aceitação do que é anormal.
Ou seja, devido à influência do que é ser anormal, há um encaixe nesses padrões dos
sujeitos que deslizam em determinadas regras:

» o ambiente escolar é um ambiente de regras;

» ambiente que uniformiza;

» ambiente que apaga as singularidades;

» uma criança com necessidades especiais faz a “quebra de regras”.

Quanto ao diagnóstico:

» Serve para conduzir um tratamento – ou seja, não é a identidade do


sujeito, é como ele se encontra e que vai ser trabalhado para possível
melhora.

» É multidisciplinar – necessita de uma equipe para ser finalizado e


trabalhar nessa melhora.

» Pode ter comorbidades – pode ser que o sujeito, além deste diagnóstico
central, possua outros que vêm em menor escala, mas que precisam ser
tratados.

88
CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES │ UNIDADE IV

» Muito delicado de ser concluído na infância – alguns diagnósticos


precisam de uma avalição e apoio mais longo, pois pode ser influência do
meio sobre esse sujeito.

Os dispositivos disciplinares “são estratégias que emergem no decorrer do século XVIII


para controlar e disciplinar os corpos” (LOCKMANN, 2013, p. 135), tratando-se “muito
mais de uma normação do que de uma normalização” (FOUCAULT, 2008, p. 75).

Independente do transtorno/diagnóstico:

» Somos seres únicos dentro de cada quadro de sintomas.

» O respeito à individualidade independente da idade precisa acontecer.

As diferenças entre os laudos médicos

As diferenças entre os laudos médicos são:

» Diagnóstico: conjunto de sintomas que vai caracterizar a natureza de


uma doença.

» Laudo: parecer técnico sobre um determinado assunto.

» Parecer: pronunciamento por escrito sobre determinada situação.

Entendemos, então, que independente de um diagnóstico clínico, há um sujeito que


precisa ser enxergado em sua integralidade e que necessita de cuidados para sua
melhora. Não há um transtorno que se sobreponha a um sujeito. Temos em nossa
cultura a ideia de que o sujeito é o que ele tem, mas há outras singularidades que o
fazem um sujeito único, independente de um quadro clínico. Na luta antimanicomial,
há a busca incessante desse olhar diferenciado para sujeitos tratados como loucos,
muitos deles são profissionais qualificados, com uma conduta ilibada quando não estão
em crise, ou antes dessa. A questão é tratar e não julgar.

Com esse trabalho alinhado entre escola, família, sujeito e terapeuta, há a construção
de possibilidades, que é baseada no reconhecimento do sujeito em si, não de seu
diagnóstico.

89
CAPÍTULO 2
Equipe e diagnóstico

Um diagnóstico gera um peso na família, como dito anteriormente. Contudo, após essa
fase inicial, há a fase de orientação, que é quando a família sai em busca de apoios e
tratamentos. Nesse momento, é primordial que ela receba o acolhimento necessário e
que o profissional seja preparado para tal atendimento. Essa família e esse sujeito se
encontram em baixa emocional, com dúvidas quanto à melhora e com necessidade de
apoio.

Para fechamento de um diagnóstico, é necessário um olhar de uma equipe


multidisciplinar, mas quem o finaliza é o médico, podendo ser o neurologista ou o
psiquiatra, dependendo da necessidade do sujeito. Vamos exemplificar o apoio dos dois
profissionais e ampliar o leque de informações quanto ao trabalho dos profissionais
envolvidos.

Psiquiatra
É o profissional formado em Medicina e responsável pelo diagnóstico final. É responsável
por avaliar questões mais relacionadas aos transtornos mentais e de comportamento,
sua prática está pautada em questões relacionadas ao sistema funcional do cérebro.

Quando o sujeito é submetido à avaliação psiquiátrica, terá que realizar o exame do


estado mental e o médico estará analisando a história clínica desse paciente. No exame
de estado mental, são utilizados testes diversos, como testes psicológicos, neurológicos,
neuropsicológicos e exames de imagem, que agem como auxiliares na avaliação,
assim como exames físicos e laboratoriais. Os diagnósticos se baseiam nas áreas das
psicopatologias e estão de acordo com o CID-10 e com o DSM-V.

Avaliação psiquiátrica

Qualquer que tenha sido o motivo da consulta, o psiquiatra primeiro avalia a condição
física e mental do paciente. Para tal, é realizada uma entrevista psiquiátrica para
obter informação e, se necessário, outras fontes são consultadas, como familiares,
profissionais de saúde, assistentes sociais, policiais, relatórios judiciais e escalas de
avaliação psiquiátrica.

90
CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES │ UNIDADE IV

Exame físico

O exame físico é realizado para excluir ou confirmar a existência de doenças orgânicas


como tumores cerebrais, doenças da tireoide, ou identificar sinais de autoagressividade.
O exame pode ser realizado por outros médicos, exame de sangue ou diagnóstico por
imagem podem ser necessários.

Exame do estado mental

É parte fundamental da consulta e é por meio dele que se define o quadro e a capacidade
do médico julgar a realidade.

Tratamento psiquiátrico

O tratamento evoluiu muito nos últimos tempos e pode dar-se de três maneiras:

» Atendimento ambulatorial: atendimento clínico voltado para queixas


e tratamento medicamentoso, podendo ser reavaliado a cada dois meses,
no mínimo.

No Brasil, o sujeito em atendimento em hospital psiquiátrico pode ser submetido


a tratamento privativo e não receber visitas ou ao contrário.

Quando não necessita de internação, pode ser acompanhado pelo CAPS – para
adultos e CAPS i – para crianças e adolescentes.

Nesse local, recebem apoio de equipe multidisciplinar e terapêutica.

» Internação voluntária: quando o paciente se encontra em grau


moderado a severo de seus problemas mentais e necessita de internação,
solicitando ou até mesmo aceitando-a. Quando internados, os pacientes
são avaliados, monitorados e medicados por uma equipe multidisciplinar,
que inclui enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, médicos e outros
profissionais de saúde.

» Internação compulsiva: pode acontecer em casos mais sérios, delitos


ou até mesmo dependendo da severidade do sujeito. Esse se nega a
internar-se, podendo ser feita por meio de ação judicial. Os critérios para
a internação compulsiva variam de país para país, mas, em geral, visam
detectar a presença de transtorno mental que coloque em risco imediato
a saúde do próprio ou de terceiros, ou a propriedade.

91
UNIDADE IV │ CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES

Nise da Silveira foi uma médica que lutou para a humanização dos atendimentos
em espaços manicomiais – antigo nome dado à internação compulsória para
pessoas com problemas mentais naquela época. Criou um movimento que, por
meio da arte, auxiliou os internos e minimizou problemas de comportamentos
agressivos.

Trouxe à tona o olhar na habilidade e não só no diagnóstico, mostrando que um


sujeito, mesmo com questões mentais alteradas, pode ter habilidade e sucesso
em algo.

Filme: Nise da Silveira – O coração da loucura.

Trailer disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UeAUNvcM_xk.

Trabalho multidisciplinar

É comum e bastante recomendado que o médico psiquiatra realize trabalho em


conjunto com equipes multidisciplinares, como psicólogos, médicos neurologistas,
fonoaudiólogos e outras especialidades dependendo do diagnóstico.

Em quadros de depressão, por exemplo, o médico psiquiatra será o responsável por


prescrever medicamentos para aliviar os sintomas do paciente, enquanto o psicólogo
será o profissional responsável por ajudar o indivíduo a compreender e enfrentar os
problemas. Os dois profissionais, psicólogo e psiquiatra, trabalharão em conjunto
até que o paciente possa deixar de fazer uso dos medicamentos e possa aprender a
lidar sozinho com seus problemas, de modo independente, levando uma vida mais
equilibrada.

Psicólogo
O psicólogo que deseja atender pacientes em consultório é chamado de psicólogo clínico.
Para atuar nessa área, esse profissional deve ter passado por estágios supervisionados
em uma clínica-escola, durante o período de graduação. Durante esse período eles
também são preparados e habilitados para aplicação de testes.

Neurologista
É a especialidade médica que trata dos distúrbios estruturais do sistema nervoso.

92
CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES │ UNIDADE IV

Especificamente, ela lida com o diagnóstico e tratamento de todas as categorias


de doenças que envolvem os sistemas nervoso central, periférico e autônomo,
parassimpático e simpático incluindo os seus revestimentos, vasos sanguíneos, e todos
os tecidos efetores, como os músculos.

O correspondente cirúrgico da especialidade é a neurocirurgia. O neurologista, médico


que se especializou em neurologia, é treinado para investigar, diagnosticar e tratar
distúrbios neurológicos.

Neurologistas também podem estar envolvidos na pesquisa clínica, ensaios clínicos,


bem como em pesquisa de ciências básicas da medicina.

Willian Dunninghan compara a cabeça a um computador e mostra a diferença entre


neurologista e psiquiatra.

Quadro 5. Diferença entre neurologista e psiquiatra.

O psiquiatra trabalha a lógica do sistema (software). Enquanto o neurologista acompanha “falhas da mecânica”, ou seja, a parte física (hardware).

Fonte: adaptada de Dunninghan, s.d.

Figura 25. Facetas do cérebro.

Fonte: https://www.gratispng.com/png-3xs9t0/download.html.

O neurologista é recomendado em casos de dores de cabeça e problemas


sem origem definida que levem à dificuldade de caminhar ou movimentar-se,
tremores, convulsões, transtornos da memória e raciocínio. As manifestações de

93
UNIDADE IV │ CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES

doenças neurológicas são claramente físicas: dor de cabeça, paralisias, perda de


força muscular, tontura, dificuldades repentinas na fala e na visão etc.

Quando não encontra causas físicas, o neurologista encaminha para o psiquiatra,


pois pode tratar-se de um transtorno de somatização, por exemplo, avalia Fábio
Martins Fonseca, psiquiatra clínico e psicoterapeuta. Por somatização, entende-
se doenças de origem psicológica, aquelas em que as emoções alteram o estado
físico.

O psiquiatra, por exemplo, é o médico indicado para diagnosticar e tratar


doenças emocionais e comportamentais. Drusus Perez, professor de pós-
graduação em Neurologia dá exemplos: “deve ser procurado para avaliação de
doenças mais comuns na psiquiatria como depressão, ansiedade e dependência
química. Outras doenças afetivas com alterações comportamentais e que devem
ser abordadas pelo psiquiatra são esquizofrenia, bulimia, transtorno obsessivo
compulsivo ou bipolar.

Psicofármacos
Para falar de psicofarmacologia, teríamos uma unidade só para isso. Contudo, é
importante citar aqui, antes de tudo, que quem medica é o médico! Não há nenhum
outro profissional que possa fazer isso. Há uma avaliação antes de qualquer indicação
de tratamento medicamentosos, que deve viabilizar a melhora de quadros internos para
que comportamentos externos sejam modificados. Na maioria dos casos, há necessidade
de apoio terapêutico para melhora intensiva do paciente.

Mecanismos de ação dos psicofármacos:

» Agonistas: potencializam os efeitos de um determinado neurotransmissor


nas células pós-sinápticas.

» Antagonistas: inibem esses efeitos.

» GABA: aprendizagem e memorização ocorrem via neurônios que


secretam esses neurotransmissores inibitórios.

» Glutamato: idem ao GABA, só que excitatório.

» Acetilcolina: ativa o córtex cerebral e facilita a aprendizagem.

» Dopamina: participa de dois sistemas relacionados à aprendizagem, o


sistema de recompensa e do prazer.

94
CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES │ UNIDADE IV

» Metilfenidato: inibidor da recaptação de dopamina.

» Serotonina: regulação dos comportamentos motivados.

» Fluoxetina: inibidora da recaptação de serotonina.

CORDIOLI, A.V. Psicofármacos: consulta rápida. Porto Alegre: Artmed, 2015.

Esse livro é objetivo e de fácil manuseio.

Figura 26. Medicamento.

Fonte: https://pngtree.com/so/cápsula’>cápsula png from pngtree.com</a>.

Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF)

A CIF também auxilia em determinados diagnósticos, pois tem, como objetivo


principal, trazer uma linguagem única do sistema de descrição da saúde e de
estados relacionados ela.

Disponível em: http://biblioteca.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/


cif_portugues.pdf.

95
CAPÍTULO 3
A melhora gradativa

Vimos até aqui, que não há cura para os transtornos, mas há a melhora do quadro,
o que para os que estão próximos dá a ideia de que o sujeito está “curado” de seu
“problema”. Esse sujeito cria manejos próprios para sua vida no cotidiano e passa a agir
com mais autonomia diante de situações que antes só conseguia resolver sem o apoio
de um profissional. Esse movimento é o que se espera de todos em tratamento, que
gradativamente possam retomar suas vidas com independência e se tornarem parte
daquilo que desejarem ser.

Para uma ampla melhora, é necessário que o indivíduo, após receber diagnóstico, receba
apoio multidisciplinar terapêutico junto ao seu médico, tratamento medicamentoso, se
houver, e inclusão dentro dos espaços que participa. Há uma demanda muito grande de
linhas de apoio, e o profissional de TCC vai atuar junto com outros profissionais que vão
aderir à sua linha e trabalhar alinhados pela melhora do sujeito em atendimento. Sua
família faz parte desse apoio, e é importante que a ela receba o cuidado necessário para
que não haja ruptura nas ações dos terapeutas. A escola também emana cuidados e é
necessário que ela receba apoio do profissional de TCC e atue sob as técnicas enviadas
por ele.

Aqui, vamos discutir algumas técnicas de TCC para ativação de melhora do sujeito
com os transtornos citados de acordo com Teixeira (2014), que traz em sua bibliografia
técnicas parentais e escolares que auxiliam no apoio ao sujeito com transtornos
comportamentais.

A primeira de todas elas é instruir a família no que condiz à estruturação de postura


diante do sujeito em atendimento. Para iniciar a fase de cuidados, oferecemos a ambos
um “contrato” que vai embasar todos os “acordos” entre família e paciente e que não
pode ser “burlado” para que técnicas posteriores possam ser realizadas.

Modelo de Contrato de Teixeira (2014)

Contrato pais – filho

Eu, _____________________________________, concordo em: manter meu


quarto arrumado, livros na estante, roupas e brinquedos guardados no armário.

96
CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES │ UNIDADE IV

Nós, pai e mãe, concordamos em: permitir que ________________________


brinque no computador diariamente até às 19 horas.

Caso ________________________________ não cumpra sua obrigação, estará


proibido de brincar no computador até que cumpra o que foi combinado.

Data:

Contrato termina em_____________, podendo ser renovado.

Assinaturas:

Esse contrato é para a família, não há uma proposta para a escola, pois é uma questão
parental, que define os papéis de comando e de respeito às regras. A escola poderá indicar
as posturas para que a família possa conduzir as outras técnicas. Pode ser também que
seja incluído, entre família e escola, uma lista de atitudes positivas e negativas, para
ampliar a conduta de troca de informações e demonstrar ao paciente que ele tem apoio
em todos os ambientes.

Teixeira (2014) também nos traz a ideia de um “diário escolar de comportamento”.


Nele estarão informações pertinentes a comportamentos que precisam ser modificados
e ampliados, como, por exemplo, respeito às regras em sala de aula e a qualidade do
dever de casa. Deve haver um espaço para as notas atribuídas ao ele durante a semana,
uma legenda de valores atribuídos a seus comportamentos com dicas orais de Excelente,
Bom, Regular e Insuficiente, que serão somados ao final da semana e associados a um
“prêmio” .

Outra técnica muito importante no TCC é a “Tabela de economia de fichas”, de Teixeira


(2014), que se baseia em juntar fichas – de acordo com a ação realizada, cada uma
tem um determinado número de fichas. A quantidade de fichas estão atreladas a
comportamentos positivos e negativos. Ao final da semana, tem uma pontuação
necessária e um prêmio associado.

Modelo de tabela de economia de fichas, de Teixeira (2014)

Exemplos de tipos de comportamento:

Manter o quarto arrumado: 1 ponto

Comer toda a salada no almoço: 1 ponto

Realizar os deveres de casa às 15 horas: 1 ponto

97
UNIDADE IV │ CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES

Comportamento positivo: 1 ponto

Comportamento negativo: 0 ponto

Pontos necessários para o prêmio semanal + 1 ficha = 25 pontos

Prêmio desta semana: _______________________________________

Para manter a atuação positiva diante da tabela de economia de fichas, há um “menu de


recompensas” que estará relacionado aos prêmios indicados anteriormente. Nele podem
ser incluídos prêmios a longo, curto e médio prazo, com indicações de quantidade de
fichas para alcançá-los. Por exemplo: ir ao Mc Donald’s – vale 5 fichas. Caso o sujeito
não consiga alcançar o prêmio final ao final da semana, as fichas que ganhou, ficam
armazenadas em um pote e ele pode trocar por premiações menores. A ideia é não
perder a motivação e manter o progresso do sujeito, para que ele se torne autônomo e
sua autoestima elabore suas qualidades e condições de manter a independência.

Dicas de antibullying

Teixeira (2014) também publicou um manual antibullying, que traz ideias para os
ambientes em que o sujeito participa, principalmente na escola. O bullying aumenta a
probabilidade de violência e comportamentos inadequados. Faz o sujeito acreditar em
sua incapacidade de melhora e amplia interações não saudáveis.

O bullying pode ser definido como o comportamento agressivo entre


estudantes. São atos de agressão física, verbal, moral ou psicológica que
ocorrem de modo repetitivo, sem motivação evidente, praticados por
vários estudantes contra outro indivíduo, em relação desigual de poder,
normalmente dentro da escola.

Quando falamos de inclusão, pensamos em apoios, e esses podem vir até mesmo
dos colegas, o que chamamos de apoio colaborativo. O aluno incluído apresenta
comportamentos inadequados e necessita de indução comportamental direta de um
adulto, mas, por vezes, ele se recusa a lidar com esses comandos. É de suma importância
que os colegas colaborem com essas induções e deem apoio direto ao colega.

Teixeira (2014), criou um “Programa Antibullying” que é indicado para alunos até o
Ensino Médio:

» Psicoeducação: apoio às famílias e à escola no que tange à inclusão e


redes de apoio ao aluno e suas peculiaridades.

98
CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES │ UNIDADE IV

» Palestra inicial aos pais e professores: treinamento e supervisão dos


casos.

» Palestra inicial aos alunos: para ampliar a rede colaborativa, os alunos


precisam estar incluídos nesse processo.

» Projeto mentor: a ideia de auxiliar no processo de inclusão e redução do


bullying pode estar direcionado a um grupo de alunos ou professores que
realiza mentoria com os demais.

» Reunião de professores e coordenação: nesse encontro, alinham-se as


demandas emergenciais e criam-se os objetivos para atuar e minimizar
questões negativas que influenciam o bullying.

» Disciplina de ética e problemas sociais: é importante que não haja


somente explanação de um líder, que pode ser o terapeuta ou algum
professor, mas que haja a liberdade de expressão entre os alunos. Com
essas disciplinas extras é ideal a montagem de atividades práticas e ações
que vão conduzir a melhora comportamental entre os diversos ambientes
da escola.

» Caixa de recados: alguns alunos não conseguem expressar verbalmente


as suas necessidades, essa caixa vai ampliar a comunicação e oferecer
apoio indireto aos que preferem o anonimato.

» Constituição antibullying: criar um documento com regras, direitos e


punições agregadas a atitudes não desejadas.

» Elogios e punições: é importante que tanto ser elogiado, como ser punido
são de extrema importância em práticas de TCC. O agressor precisa
também ser induzido ao acerto, então, se acontece um, mesmo que
mínimo, precisa ser elogiado, para que se amplie sua prática.

» Role playing: a troca diante de atitudes intrínsecas de forma externada


sem a aprovação de um adulto, como uma aula de teatro livre, vai auxiliar
na demanda interna de cada um, o olhar para dentro e se reconhecer
auxilia nesta jornada;

» Trabalhos de grupo: é importante que os grupos se apoiem e se conheçam,


é muito provável que os grupos sejam os mesmos do início ao final do
ano, por isso é de extrema importância que o professor promova a troca
desses.

99
UNIDADE IV │ CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES

» Atividades extracurriculares: ampliar as atividades para fora dos muros


da escola gera discussão mais rica baseada em outros olhares.

» Prevenção ao cyberbullying: quando não há a opção de realizar as


condutas dentro do espaço escolar, pode ser que ela se estenda a outros
ambientes, inclusive os virtuais. O cyberbullying é crime e precisa de
explanação sobre o assunto. É importante que a escola possa trazer
conselheiros tutelares, policiais civis até à escola para exemplificarem as
ações e sanções que são realizadas diante desse.

» Conversa com o agressor e a vítima: colocar ambos frente a frente inibe


próximas ações e faz com que a vítima se sinta fortalecida.

» Separação dos bullies: as pessoas que praticam o bullying também são


vítimas da ação, mas separá-los pode reduzir as ações, assim como
reconhecer o líder e o provocador.

» Encaminhamento dos casos graves: como o bullying é considerado


crime, é importante que os agressores que, mesmo após sanções internas,
conversas e suspensões, mantenham esse hábito, sejam encaminhados às
autoridades para punição mais severa.

» Treinamento em habilidades sociais: na maioria dos casos de bullying,


o agressor não apresenta condutas sociais adequadas e usa da força
para manter pessoas ao seu redor, chamamos de liderança negativa. Ele
mesmo, em alguns casos, precisa de apoio e treinamento nas habilidades
sociais para aprender a empenhar sua liderança de forma positiva e
menos coercitiva.

A ideia de se manter os apoios e as ações em pessoas associadas ao sujeito com


transtorno, amplia a melhora do quadro e sua autonomia diante das questões em
que está envolvido. Quando você só recebe críticas, acredita que é ruim e que não vai
melhorar. Quando em seu entorno as coisas passam a se encaixar e você percebe que
o meio amplia sua dificuldade e que há possível melhora mudando algumas posturas,
passa a acreditar em sua condição de melhora e de atitude positiva. Mantenha sempre
a ação positiva sobre os outros e amplie melhoras e ações adequadas!

Nesta unidade, ampliamos o conhecimento quanto à construção de


possibilidades e o aumento da melhora, ação de profissionais da medicina e de
atitudes mais assertivas para a indução de comportamentos mais adequados e
técnicas que apoiam nessa jornada.

100
CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES │ UNIDADE IV

Fica claro que cada sujeito possui condições, mesmo diagnosticado, de melhorar
suas atitudes e ampliar ações adequadas no ambiente.

Que sua família necessita de apoio para dar apoio.

Que as fases de aceitação são cíclicas, ou seja, podem retornar, mas que são
necessárias. Contudo, se ampliadas precisam de apoio terapêutico.

Os psicofármacos auxiliam na melhora, mas é necessário intervenção terapêutica.

A ação do psiquiatra é baseada na questão mental, se o cérebro fosse comparado


a um computador, no software.

A ação do neurologista vai se basear na função do desenvolvimento, mais físico,


se em um computador, no hardware.

Na maioria dos casos, é importante a ação de uma equipe multidisciplinar.

O terapeuta cognitivo comportamental pode supervisionar as ações junto aos


outros terapeutas, à família e à escola.

Técnicas de TCC podem ser ampliadas para a escola a ponto de reduzir o bullying.

Que as ações que promovem a diminuição do bullying vão auxiliar tanto a vítima
quanto a outros alunos da escola.

O termo normal está relacionado com padrões e culturas impostas pela


sociedade.

O ambiente da escola uniformiza e é fácil de encontrar dentro dele os que “não


se encaixam”.

Não existe cura para os transtornos, mas há uma possível melhora que vai ampliar
a capacidade de se estar próximo à normalidade, pareando com as pessoas à sua
volta a nível de atitudes e comportamentos.

101
UNIDADE IV │ CONSTRUÇÃO DE POSSIBILIDADES

Figura 27. Possibilidades.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/dist%C3%A2ncia-pista-natureza-paisagem-3101302/.

102
Para (Não) Finalizar

O terapeuta cognitivo-comportamental atua na questão de minimizar comportamentos


inesperados diante de uma ação cognitiva, por meio de técnicas que são implementadas
nos locais onde o sujeito vivencia suas relações.

Essas técnicas podem influenciar os comportamentos e transmitir ao paciente uma


mensagem de motivação e de melhora de suas ações. Essas também ampliam a
autoestima e favorecem as habilidades sociais em diversos ambientes.

A terapia cognitivo comportamental é assertiva, e possui uma série de apoios que vão
favorecer também a família do indivíduo em análise, e despertar condutas também
adequadas em ambos, em uma troca positiva e ampliada, a fim de favorecer a socialização
de todos.

O DSM-V traz o olhar clínico à tona e amplia possibilidades de expressão em um


fechamento de diagnóstico, assim como a escola, os terapeutas e a família são ouvidos.
Assim, o médico se calça de variadas hipóteses que vão facilitar sua atuação.

Lembre-se de que um profissional alinhado com os demais que atuam sobre o paciente
está muito mais próximo ao sucesso do que aquele que é detentor de conhecimento acima
de todos. Nenhum profissional se encontra totalmente pronto para as adversidades dos
atendimentos, é necessário apoio, troca e, acima de tudo, humildade.

Há uma série de materiais que auxiliam na ação do TCC, uma que indico é a série de
histórias que vão ampliar o apoio à crianças e adolescentes, por meio de uma ação lúdica
e visual. São histórias que ampliam determinados sofrimentos e comportamentos para
outros seres e faz com que o indivíduo reconheça suas ações e as trabalhe junto ao
protagonista da história.

Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF).

Disponível em: http://biblioteca.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/


cif_portugues.pdf

E para não finalizar, estude, alce voos mais altos e crie um networking com médicos,
terapeutas de outras linhas e profissionais de fora da clínica. Conhecimento nunca é
demais!!!

103
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Figura 9. https://pixabay.com/pt/illustrations/bin%C3%A1ria-c%C3%B3digo-5137356

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Figura 11. http://www.giromt.com.br/2018/11/07/exemplo-dos-pais-e-fundamental-


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Figura 14. Espiral cognição. Elaborada pela autora.

Figura 15. Construção da inteligência de acordo com PIAGET. Adaptado de Piaget, 1998.

Figura 16. Desenvolvimento e funcionamento da mente. Adaptado de Vigotsky, 2007.

Figura 17. ZDP. Adaptado de Vigotsky, 2007.

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Figura 19. Transtornos X Dificuldades. Elaborada pela autora.

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Figura 22. https://pixabay.com/pt/photos/menina-branco-divers%C3%A3o-


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Figura 23. htt ps ://pi xabay.c om/p t/vec tors/c rian%C3% A7as-ap rend er -
educa % C3 %A 7%C3 %A 3 o -pr i m% C3%A1rio-19 739 17/

Figura 24. Pontos basilares. Elaborada pela autora.

Figura 25. https://www.gratispng.com/png-3xs9t0/download.html

Figura 26. https://pngtree.com/so/cápsula’>cápsula png from pngtree.com</a>

Figura 27. https://pixabay.com/pt/photos/dist%C3%A2ncia-pista-natureza-


paisagem-3101302

Quadros
Quadro 1. Adaptado de Beck, 1996.

Quadro 2. Aspectos da Espécie Humana. Adaptado de Vigotsky, 2007.

Quadro 3. Classificação qualitativa dos níveis de severidade. Adaptado de DSM-V, 2013.

Quadro 4. Emoções. Elaborada pela autora.

Quadro 5. Diferença entre neurologista e psiquiatra. Adaptado de Dunningan, s.d.

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