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EESMO

LIVRO
DE
BOLSO
Enfermeiros Especialistas em Saúde
Materna e Obstétrica / Parteiras
EESM
O
LIVRO DE BOLSO
ENFERMEIROS
ESPECIALISTAS EM
SAÚDE MATERNA
E OBSTÉTRICA/
PARTEIRAS
EESMO

ÍNDICE

Mensagem de Boas-Vindas do Bastonário da Ordem dos Enfermeiros

Filosofia de Definição Internacional Esfera de ação do


Cuidados em Saúde de Parteira pela Enfermeiro Especialista
Materna e Obstétrica Confederação em EESMO/Parteira
Internacional de
Parteiras

Competências dos Princípios éticos e Padrões Assistenciais do


EESMO– Da definição à deontológicos do EESMO EESMO
apropriação

Pontos de atenção à Pontos-chave na Pontos-chave na


Mulher antes da gravidez prestação de cuidados assistência da parteira
à Mulher durante a
gravidez

Pontos-chave na Circuito de Orientações Parecer sobre


prestação de cuidados à para Referência obrigatoriedade de
Mulher após a gravidez resposta a reclamações

03
EESMO

LIVRO DE BOLSO
ENFERMEIROS
ESPECIALISTAS EM
SAÚDE MATERNA
E OBSTÉTRICA/
PARTEIRAS

FICHA TÉCNICA
AUTORES
Aida Barradas
Ana Lúcia Torgal
Ana Paula Gaudêncio
Antónia Prates
Cristina Madruga
Elisa Clara
Elisabete Santos
Elsa Salgueiro
Joana Varela
Lúcia Leite
Madalena Fernandes
Manuela Ferreira
Sofia Rodrigues
Susana Santos
Vítor Rocha
Vítor Varela

DATA DE PUBLICAÇÃO
2015

COORDENAÇÃO
E GRAFISMO
Goody S.A.

COORDENAÇÃO
Iolanda Veríssimo

PROJETO GRÁFICO
E PAGINAÇÃO
Joana Nunes
EESMO

MENSAGEM DE
BOAS-VINDAS

Um fio condutor para a prática


dos EESMO
Mensagem de boas-vindas

POR: GERMANO COUTO BASTONÁRIO DA ORDEM DOS ENFERMEIROS

Caros colegas, da profissão, o seu campo de ação, a sua


É com grande satisfação que felicito a Mesa filosofia de cuidados, os seus padrões
do Colégio da Especialidade de Enfermagem assistenciais e as suas questões éticas. Os
de Saúde Materna e Obstétrica enfermeiros especialistas em Enfermagem
(MCEESMO), bem como a sua Comissão de de Saúde Materna e Obstétrica poderão
Apoio, pela iniciativa de criar um igualmente consultar os pontos-chave da
documento com as características da sua ação, os seus referenciais e respostas às
presente obra. eventuais queixas dos utentes.
Sendo especialista em Enfermagem de Em suma, estamos perante um documento
Saúde Materna e Obstétrica, tenho a perfeita completo mas de consulta fácil, que ajudará
noção de que nem sempre é fácil saber onde cada membro deste Colégio a desenvolver o
encontrar informação especificamente seu trabalho de forma homogénea e de
dirigida à especialidade, não obstante os qualidade.
diversos documentos disponibilizados no Este é mais um passo para empoderar os
site da Ordem dos Enfermeiros. enfermeiros especialistas em Enfermagem
Daí que esta obra venha preencher uma de Saúde Materna e Obstétrica no sistema de
lacuna importante. Ao criar este livro, a saúde português.
MCEESMO vai reunir, numa única obra,
informação tão importante como a definição Votos de excelente trabalho.

05
06
EESMO

Filosofia de Cuidados em Saúde


Materna e Obstétrica
Empowerment

N
a prestação de cuidados de enraizadas? A resposta surge em dois passos:
Enfermagem em Saúde Materna e o recurso à evidência e o empoderamento da
Obstétrica (EESMO) surgem, profissão.
frequentemente, dúvidas e questões A Parteira Mavis Kirkham, no seu
aparentemente problemáticas. A primeira brilhante discurso na 6.ª conferência anual
premissa para sanar estas questões, da da Association of Radical Midwives (23
forma mais eficaz e eticamente correta, Novembro 2012), deixou-nos algumas
baseia-se no recurso à evidência. A prática estratégias passíveis de recurso pelos
baseada na evidência é a mais amplamente EESMO/Parteiras, face às contradições e
aceite e deverá ser a (realmente) praticada. medos gerados no confronto com o modelo
Walsh1 advoga que todas as unidades
obstétricas deveriam proceder à subscrição
de periódicos relevantes na área da “A filosofia de cuidados em Saúde
Obstetrícia, de forma a todos os Materna e Obstétrica, na sua
profissionais dessas unidades poderem ter essência, é fortemente enraizada
acesso a jornais/revistas eletrónicos.
num modelo de assistência em
O paradigma da prestação de cuidados de
Saúde Materna difere, consoante os fatores
que o EESMO/Parteira trabalha em
contextuais existentes. No entanto, e de parceria com a Mulher”
uma forma geral, os EESMO/Parteiras
deparam-se com o mesmo tipo de questões,
biomédico, de forma a fortalecer-nos
independentemente do país em que se
enquanto profissão. Destas estratégias,
encontrem. Em grande parte, estas
passamos a destacar a importância de nutrir/
incertezas e medos provêm do modelo (bio)
estimular ou empoderar os EESMO/
médico que durante tanto tempo veio
Parteiras, encorajar a diversidade, o
enraizando os seus princípios na prática
desenvolvimento do sentimento de
tradicional das parteiras, produzindo
solidariedade entre pares e o
subversão e adulteração da mesma.
desenvolvimento de estratégias políticas.
Perante esta certeza, surge uma questão,
Relativamente ao empoderamento dos
universal: como encorajar as EESMO/
EESMO/Parteiras, aspeto crucial na
Parteiras a alterar práticas que estão tão
construção da nossa identidade profissional,

0
EESMO este deverá ser um cariz a nutrir e continuidade de cuidados, a qual melhora e
desenvolver diariamente, entre colegas. protege o processo normal de parir e nascer.
Para isso, devemos desenvolver e fortificar O modelo de cuidados centrados na
modelos de cuidados de EESMO/Parteiras, Mulher implica uma adequação dos mesmos
FILOSOFIA DE
atribuir louvores, criar redes de apoio, às suas reais necessidades, que estes sejam
CUIDADOS EM
cuidar “umas das outras”, evitar “apontar o sensíveis às necessidades individuais das
SAÚDE MATERNA
E OBSTÉTRICA dedo da culpa”, suportar-nos mutuamente mulheres, e que haja lugar a escolhas
para desenvolver estratégias de mudança e informadas sobre todos os aspetos relativos
superar contextos destrutivos, assim como à prestação de cuidados3. Pressupõe ainda
desenvolver estratégias de coping a curto que seja enfatizado o empoderamento
prazo. No que concerne às estratégicas (empowerment)/capacitação das mulheres,
políticas a desenvolver, estas passam pelo afirmando a sua própria força e
valorizar os relacionamentos, desenvolver competências pessoais, assim como um
compromisso com a promoção do trabalho
de parto e parto fisiológicos.
“No cuidado centrado na Mulher, o
Políticas de saúde centradas na Mulher
EESMO/Parteira assume o papel de garantem a escolha no acesso ao tipo de
seu defensor, permitindo-lhe tomar cuidados na assistência pré e pós-natal e ao
as suas próprias decisões” local de parto. Esta filosofia enfatiza
também o desenvolvimento de
solidariedade e apoiar as colegas em competências dos EESMO/Parteiras, assim
situações de opressão (“caça à bruxa”), como de um forte sentido de liderança, e o
realçar os benefícios a longo prazo das boas seu próprio empoderamento, enquanto
experiências de parto, analisar os profissão/categoria, detentora de uma
contributos dos cuidados e quebrar identidade profissional.
barreiras através de uma “escala humana de O “cuidado centrado na Mulher”4 é o
trabalho”. termo que descreve uma filosofia de
As questões centrais no empoderamento cuidados de Saúde Materna e Obstétrica que
dos EESMO/Parteiras, devem ser do nosso dá prioridade aos desejos e necessidades das
conhecimento, e têm como aspetos mulheres, enfatiza a importância da escolha
basilares: a continuidade de cuidados, o informada, a continuidade dos cuidados, o
nutrir e preservar os relacionamentos entre envolvimento das utentes, a eficácia clínica,
pares assim como o sentido de lealdade, a capacidade de resposta e acessibilidade.
análise de situações e o privilegiar relações Os princípios fundamentais do cuidado
de atenção e carinho quer com mães/utentes, centrado na Mulher asseguram4:
quer entre EESMO/Parteiras. • Um enfoque na gravidez e parto como o
O objetivo máximo de todas as Parteiras/ início da vida em família, e não apenas como
EESMO deverá contribuir para a construção episódios clínicos isolados, que tem em
de “(...)um mundo onde todas as conta e valoriza os significados individuais
parturientes têm acesso aos cuidados de que cada Mulher traz, na sua experiência de
uma parteira para si e para o seu recém- maternidade;
nascido”2. • As mulheres são parceiros igualitários
Pelo que a filosofia de cuidados em Saúde no planeamento e prestação de cuidados;
Materna e Obstétrica, na sua essência, é • É dada oportunidade de escolha
fortemente enraizada num modelo de informada às mulheres, em termos das
assistência em que o EESMO/Parteira opções disponíveis durante a gravidez, o
trabalha em parceria com a Mulher, parto e o período pós-natal – tais como o
colocando-a no lugar central durante o ciclo local de nascimento e quem lhes presta
reprodutivo. Esta filosofia garante uma assistência;

0
• As mulheres têm controlo sobre as
principais decisões relativas ao conteúdo e
recém-nascidos, e não foram identificados EESMO
quaisquer efeitos adversos. As principais
modo de prestação dos seus cuidados, e são
vantagens identificadas foram a redução do
apoiadas para ter uma gravidez e parto
uso de analgesia regional, menor número de
normais; FILOSOFIA DE
episiotomias e de partos instrumentados.
• As mulheres têm continuidade de CUIDADOS EM
Este modelo propiciou à Mulher a SAÚDE MATERNA
cuidados, de modo a que possam
oportunidade de se sentir no controlo E OBSTÉTRICA
desenvolver relações de confiança com
durante o parto, de ter um parto vaginal
os seus cuidadores.
espontâneo e de iniciar o aleitamento
No cuidado centrado na Mulher, o
materno; além disto, os recém-nascidos de
EESMO/Parteira assume o papel de seu
mulheres que foram randomizadas para
defensor, permitindo-lhe tomar as suas
receber cuidados por parteiras, tiveram um
próprias decisões, apoiando-a nas suas
menor tempo de permanência hospitalar.
escolhas informadas, incentivando a sua
Esta revisão concluiu que a maioria das
autoeficácia, e oferecendo um leque de
mulheres deve ser encaminhada para este
informação imparcial que abrange as suas
modelo de assistência.
crenças e valores, isenta de julgamentos.
O escopo de atuação do EESMO/Parteira
O cuidado prestado por EESMO/Parteira
é a promoção do parto normal, com grande
é, naturalmente, holístico pois atende à
enfoque no parto natural. O EESMO/
compreensão da Mulher nas suas
Parteira é o profissional de referência, e o
dimensões social, emocional, cultural,
mais especializado em atendimento ao parto
espiritual, psicológica e física/biológica, no
natural. Também neste aspeto a evidência
seu ciclo reprodutivo, considerando-a no seu
todo –
incluindo sempre os seus sentimentos e “Políticas de saúde centradas na
expetativas, promovendo e protegendo
mulher garantem a escolha no
ativamente o seu bem-estar, promovendo
uma consciência de saúde dos seus acesso ao tipo de cuidados na
semelhantes, tal como do estado de saúde do assistência pré e pós-natal e ao
feto, no decurso da gravidez3,5. local de parto”
As mulheres que são atendidas por
parteiras tendem a apresentar menores científica nos revela que uma maior
taxas de intervenção, tais como: realização satisfação da Mulher com a sua experiência
de ecografias, recurso a analgesia epidural, de parto está, efetivamente, associada ao
uso de monitorização cardíaca fetal parto natural e, sobretudo, ao tipo de
contínua, realização de cesarianas e de assistência que lhe é prestada. Um estudo
induções do trabalho de parto 6,7. Vários canadiano12 concluiu que as mulheres
estudos demonstram consistentemente os atendidas por parteiras tendem a apresentar
resultados clínicos da assistência prestada níveis de satisfação mais elevados em todas
por parteira: as mulheres atendidas por as suas dimensões, e a metodologia de parto
parteiras apresentam menos complicações natural apresenta elevada correlação com os
no parto7,8 e níveis elevados de satisfação seus níveis de satisfação.
relativamente aos cuidados e à forma como A filosofia subjacente à prestação de
estes lhes foram prestados7,8,9,10. cuidados por EESMO/Parteiras consiste na
Uma revisão da Cochrane11 evidenciou normalidade, na continuidade de cuidados e
robustos resultados do modelo assistencial no estabelecimento de uma forte relação de
prestado por EESMO/Parteira, identificando confiança com a Mulher.
11 estudos e uma amostra global de 12.276 Os cuidados prestados pelos EESMO/
mulheres. A assistência por parteira foi Parteiras devem ser flexíveis, criativos, de
associada a vários benefícios para mães e capacitação/empoderamento e de suporte às
0
EESMO mulheres. Aos EESMO/Parteiras cabe ouvir preocupação com a promoção da saúde da
e apoiar a Mulher nas suas escolhas, sem Mulher, centra-se nas vertentes da
juízos de valor, com a consciência de que as sexualidade e da reprodução,
crenças e valores das mulheres sobre a compreendendo-a como indivíduo saudável,
FILOSOFIA DE
gravidez e o parto são mais elaborados do no decurso do ciclo vital.
CUIDADOS EM
SAÚDE MATERNA que uma superficial dicotomia entre Os resultados da prestação de cuidados
E OBSTÉTRICA “natural” e “medicalizado”. As escolhas que por EESMO/Parteiras são medidos/
as mulheres fazem dependem de vários avaliados pelos ganhos em saúde para a
fatores, principalmente das normas Mulher e, a autonomia dos EESMO/
culturais e sociais do meio onde estão Parteiras, no desenvolvimento das suas
inseridas, mas também do tipo de cuidados competências, traduz-se em ganhos em
que lhes é oferecido e disponibilizado – cabe saúde para as mulheres, crianças e famílias.
ao EESMO/Parteira a oferta de um modelo A tomada de decisão que orienta o
assistencial adequado e holístico. exercício autónomo dos EESMO/Parteiras
A filosofia de cuidados em Saúde Materna integra os resultados da evidência científica
e Obstétrica é dinâmica na sua abordagem, e o respeito pelas características individuais
baseia-se na integração do conhecimento de cada Mulher, fortalecendo o exercício da
derivado das artes e das ciências, fortalecida obstetrícia centrada na Mulher.
pela experiência e pesquisa, e cooperativa
com outros profissionais de saúde.
A profissão de EESMO/Parteira implica

1
Walsh D. (2007). Evidence-based care for normal labour and birth: a guide for midwives. Oxon:
Routledge. 2 Day-Stirk F. (2012). Standard ICM Competency-Based List for Basic Skills Training in
Midwifery Schools. International Confederation of Midwives. Disponível em:
http://www.k4health.org/sites/default/files/WEBSITE%20VERSION%20ACCESSED%20Skills%20 List
%20FINAL%20-%2013%20November%202012.pdf
3
New Zealand College of Midwives (2008). Midwives Handbook for practice. Chistchurch: New Zealand.
ISBN 978-0-473-12992-7.
4
The Royal College of Midwives (2011). Woman centred care: position statement. Disponível em:
http://www.rcm.org.uk/EasysiteWeb/getresource.axd?AssetID=121546
5
Howell-White S. (1997). Choosing a birth attendant: the influence of a woman’s childbirth definition.
Social Science & Medicine, 45 (6), 925-936.
6
Callister L. (1995). Beliefs and perceptions of childbearing women choosing different primary healthcare
providers. Clinical Nursing Research, 4, 168-180.
7
Turnbull D., Holmes A., Shields N., Cheyene H., Twaddle S., Gilmour W. et al. (1996). Randomized,
controlled trial of efficacy of midwife-managed care. Lancet, 348, 213-218.
8
Oakley, D., Murray, M., Murtland, T., Hayashi, R., Andersen, H., Mayes, F. et al (1996). Comparisons of
outcomes of maternity care by obstetricians and certified nurse-midwives. Obstetrics & Gynecology,
88, 823-829.
9
De Koninck, M., Blais, R., Joubert, P., & Gagnon, C. (2001). Comparing women’s assessment of midwifery
and medical care in Québec, Canada. Journal of Midwifery &Women’s Health, 46(2), 60–67.
10
Harvey, S., Rach, D., Stainton, M.C., Jarrell, J., & Brant, R. (2002). Evaluation of satisfaction with
midwifery care. Midwifery, 18(4), 260–267.
11
Hatem M., Sandall J., Devane D., Soltani H., Gates S. Midwife-led versus other models of care for
childbearing women. Cochrane Database of Systematic Reviews 2008, Issue 4. Art. No.: CD004667. DOI:
10.1002/14651858.CD004667.pub2.
12
Wilson, K., Sirois, F. (2010). Birth attendant choice and satisfaction with antenatal care: the role of birth
philosophy, relational style, and health self-efficacy. Journal of Reproductive and Infant Psychology, 28
(1), 69-83.

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1
EESMO

Definição internacional de
parteira pela Confederação
Internacional de Parteiras (ICM)

U
ma parteira é alguém que emergência.
conseguiu completar um programa A parteira desempenha um papel
de formação de parteiras importante como conselheira na área da
devidamente reconhecido no seu país e saúde e da educação, não apenas para as
baseado nas Competências Essenciais para a mulheres, como para a família e para a
Prática Básica da Profissão de Parteira da comunidade. O trabalho da parteira deve
ICM, bem como no quadro dos Padrões envolver educação pré-natal e preparação
Globais para a Educação da Parteira da ICM; para a parentalidade, podendo ainda
que adquiriu as qualificações necessárias estender-se à saúde sexual ou reprodutiva da
para ser registada e/ou ter o direito de Mulher e aos cuidados da criança.
exercer legalmente a profissão de parteira e
A profissão de parteira pode ser exercida
de utilizar o título de ‘parteira’; e que
em qualquer lugar, incluindo o lar, a
demonstra competências para a prática da comunidade, os hospitais, clínicas ou
profissão de parteira. unidades de saúde.

ÂMBITO DA PRÁTICA DA PROFISSÃO


A parteira é reconhecida como um “A parteira desempenha um papel
profissional e responsável, que trabalha em importante como conselheira na
conjunto com as mulheres para lhes dar o
apoio necessário e os conselhos e cuidados
área da saúde e da educação, não
essenciais durante a gravidez, parto e apenas para as mulheres, como
período pós-parto. A parteira deve ser capaz para a família e para a
de assumir toda a responsabilidade no comunidade”
momento do parto e de fornecer os
CONFEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE PARTEIRAS
cuidados necessários ao recém-nascido e ao
bebé.
Estes cuidados incluem medidas
preventivas, a promoção do parto normal, a
deteção de possíveis complicações na mãe
ou no bebé, o recurso a assistência médica ou
a outro tipo de assistência adequada à
necessidade, e a realização de medidas de
EESMO

Esfera de ação do Enfermeiro


Especialista em Enfermagem
de Saúde Materna e Obstétrica/
Parteira

O
enfermeiro especialista em obstétrica cuida da Mulher no âmbito do
enfermagem de saúde materna, planeamento familiar e durante o período
obstétrica e ginecológica tem como preconcecional, estabelecendo e
foco dos seus cuidados a “Mulher no âmbito implementando programas de intervenção e
do ciclo reprodutivo (...) tendo subjacente o de educação para a saúde de forma a
pressuposto de que a pessoa, como ser promover famílias saudáveis, gravidezes e
sociável e agente intencional de vivencias positivas da sexualidade e de
comportamentos é um ser único, com
parentalidade.
dignidade própria e direito a
autodeterminar- se.” A Mulher alvo dos
2 – Gravidez, o enfermeiro especialista em
cuidados do enfermeiro especialista em
saúde materna e obstétrica cuida da Mulher
saúde materna e obstétrica deverá ser
durante o período pré-natal, de forma a
entendida como uma pessoa no seu todo,
potenciar a sua saúde, a detetar e a tratar
considerando sempre as relações
precocemente complicações, promovendo
interpessoais com os seus significantes, com
o bem-estar materno-fetal.
o ambiente em que se insere e se desenvolve
e também numa perspetiva coletiva como
grupo alvo entendido como o conjunto das “O EESMO presta assistência às
Mulheres em idade fértil ligadas pela mulheres em idade fértil, atuando
partilha de condições e interesses comuns. no ambiente em que vivem e se
O enfermeiro especialista em saúde
desenvolvem”
materna e obstétrica é responsável pelo
exercício em diversas áreas de atividade,
presta cuidados à Mulher que está inserida na
3– Parto, o enfermeiro especialista em saúde
família e comunidade em diferentes estádios
materna e obstétrica cuida a Mulher
da sua vida, descritos de seguida:
durante o trabalho de parto, efetuando o
parto em ambiente seguro, no sentido de
1– Planeamento familiar e preconcecional, otimizar a saúde da parturiente e do recém-
o enfermeiro especialista em saúde materna nascido na sua adaptação à vida
e extrauterina.

13
EESMO 4 – Puerpério, o enfermeiro especialista em materna, obstétrica e ginecológica, é
saúde materna e obstétrica cuida a Mulher responsável no seu exercício profissional por
durante o período pós-natal, no sentido intervenções autónomas em todas as
de potenciar a saúde da puérpera e do situações de baixo risco, ou seja, a Mulher que
ESFERA DE AÇÃO
DO ENFERMEIRO recém- nascido, apoiando o processo de está envolvida em processos fisiológicos e
ESPECIALISTA EM transição e adaptação à parentalidade. processos de vida normais no ciclo
ENFERMAGEM DE reprodutivo. O enfermeiro especialista
SAUDE MATERNA 5– Climatério, o enfermeiro especialista em participa ainda em intervenções autónomas
E OBSTÉTRICA/ saúde materna e obstétrica cuida a Mulher e interdependentes em todas as situações de
PARTEIRA durante o período do climatério, no médio e alto risco, ou seja, nas mulheres que
sentido de potenciar a saúde, apoiando o estão envolvidas em processos patológicos e
processo de transição e adaptação à processos de vida disfuncionais no ciclo
menopausa. reprodutivo da Mulher.

6 – Ginecologia, o enfermeiro especialista


em saúde materna e obstétrica cuida a
Mulher a vivenciar processos de saúde/
doença ginecológica no sentido de potenciar
a saúde.

“O EESMO é responsável pelo


exercício em diversas áreas de
atividade, presta cuidados à Mulher
que está inserida na família e
comunidade em diferentes estádios
da sua vida”

7 – Comunidade, o enfermeiro especialista


em saúde materna e obstétrica presta
assistência às mulheres em idade fértil,
atuando no ambiente em que vivem e se
desenvolvem, no sentido de promover a
saúde sexual e reprodutiva e prevenir
processos de doença.
O enfermeiro especialista em saúde

Regulamento das Competências Especificas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde


Materna, Obstétrica e Ginecológica. Disponível internet:
http://www.ordemenfermeiros.pt/legislacao/Documents/LegislacaoOE/Regulamento122_2011_
CompetenciasComunsEnfEspecialista.pdf

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1
EESMO

Competências dos Enfermeiros


Especialistas em Enfermagem
de Saúde Materna e Obstétrica
Da definição à apropriação

A
Ordem dos Enfermeiros publicou usufruir em pleno das competências destes
em Diário da República a 18 de enfermeiros especialistas? Por que razão os
fevereiro de 2011, em forma de serviços não estão organizados no sentido
regulamento o perfil de competências de rentabilizar as mais-valias dos cuidados
comuns1 a todos os enfermeiros especializados? O que justifica que os
especialistas e o perfil de competências do enfermeiros especialistas não se afirmem no
Enfermeiro Especialista em Enfermagem de seu espaço de atuação?
Saúde Materna e Obstétrica2. Estes A resposta não é simples! Podemos
documentos legais são o resultado do começar por identificar como primeira
trabalho desenvolvido desde 2005, dificuldade o facto de a sociedade e os
envolvendo um grupo alargado de peritos, enfermeiros terem uma perceção incorreta e
auscultados todos os enfermeiros e desconhecerem efetivamente o papel de
aprovado na Assembleia Geral de 29 de uma Associação Publica Profissional como é
maio de 2010.
Portanto, desde esta data que a sociedade
e os profissionais sabem o que podem “Compete exclusivamente aos
esperar de um Enfermeiro Especialista de enfermeiros, através da sua Ordem,
Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica. definir o espaço de atuação de cada
Contudo, verificamos que em muitos
profissional de enfermagem”
aspetos o paradigma anterior se tem
perpetuado e que, em alguns contextos, se
a Ordem dos Enfermeiros.
tem até agravado a evidência de
Comecemos então por esclarecer que a
comportamentos e atitudes profissionais
Ordem dos Enfermeiros é o organismo
submissas a poderes e organizações
regulador do exercício profissional dos
institucionais adversos ao exercício pleno do
Enfermeiros e Enfermeiros Especialistas
espaço de atuação profissional destes
desde 1998, ano em que o Estado Português
especialistas.
delegou esta missão aos enfermeiros e lhes
Colocam-se assim várias questões:
confiou o poder de regulamentar e controlar
porque é que os cidadãos não estão a
o exercício profissional. Assim, importa

1
Diário da Republica, 2ª Serie, nº 35 de 18 de fevereiro 2011- Regulamento n.º 122/2011 - Regulamento das Competências Comuns do Enfermeiro Especialista
2
Diário da Republica, 2ª Serie, nº 35 de 18 de fevereiro 2011- Regulamento n.º 127/2011 - Regulamento das Competências Específicas do Enfermeiro Especial-
ista em Enfermagem de Saúde Materna, Obstétrica e Ginecológica 15
EESMO reforçar que compete exclusivamente aos podemos desprezar que estamos perante
enfermeiros, através da sua Ordem, definir o mais do que uma especialidade em
espaço de atuação de cada profissional de enfermagem – uma profissão com espaço
enfermagem, suportado num perfil de próprio de atuação, registada na
COMPETÊNCIAS
competências aprovado, publicado e Classificação Nacional da Profissões e
DOS
ENFERMEIROS legitimado pela atribuição de um título referência específica na Classificação
ESPECIALISTAS EM profissional que assegure ao cidadão uma Portuguesa de Atividades Económicas para
ENFERMAGEM DE conduta ética e de excelência, garantindo efeitos fiscais.
SAÚDE MATERNA E por essa via qualidade dos cuidados de No site oficial da Comissão Europeia
OBSTÉTRICA enfermagem. podem ser consultadas a profissões
Logo, nenhuma outra entidade pública ou reguladas no espaço europeu, sendo que
profissão de Midwife, conforme é designada
“O desanimo instalado entre os internacionalmente, é regulada em 32 países
enfermeiros requer um redobrado ao abrigo do artigo 40º da Diretiva 2005/36/
EC. No mesmo site pode ler-se que, em
esforço de envolvimento e
Portugal, esta profissão é exercida pelo
determinação dos mesmos para “Enfermeiro Especialista em Enfermagem
afirmar independência, direitos e de Saúde Materna e Obstétrica (Parteira)”
liberdade de estabelecimento” que “é detentor de formação legalmente
reconhecida e de título profissional. Está
privada pode expandir ou limitar, legitimar habilitado para exercer as atividades de
ou impossibilitar o exercício das diagnosticar a gravidez; vigiar a gravidez
competências reconhecidas pela atribuição normal e efetuar os exames necessários;
de um título profissional emitido pela prescrever / aconselhar os exames para o
Ordem dos Enfermeiros. A falta de diagnóstico da gravidez de risco; estabelecer
consciência desta realidade leva muitas programas de preparação para a paternidade
vezes políticos, dirigentes, gestores e mesmo e para o parto; assistir a parturiente durante
alguns enfermeiros a desconsiderar os o trabalho de parto e vigiar o estado do feto
referenciais publicados desenvolvendo in útero; fazer o parto normal em caso de
políticas, emitindo diretrizes apresentação de cabeça, incluindo, se
organizacionais ou mesmo subvalorizando o necessário, a episiotomia, e o parto em caso
papel dos enfermeiros. Para agravar a de apresentação pélvica; cuidar da
situação podemos ainda verificar que um parturiente; vigiar o puerpério e dar todos
número elevado de enfermeiros os conselhos necessários para tratar do
desconhecem eles próprios o recém nascido, assegurando as melhores
enquadramento legal do seu exercício condições de evolução (art.42º, da Diretiva
profissional, o que contribui para 2005/36/EC). Estes profissionais regem-se
manutenção do pouco reconhecimento por um código deontológico inserido no
social. Estatuto da Ordem dos Enfermeiros (Anexo
Temos ainda que considerar que a Ordem da Lei n. 111/2009 de 16 de Setembro de
dos Enfermeiros, à luz do enquadramento 2009)” 4.
regulador da mobilidade dos profissionais Assim, competindo à Ordem dos
no espaço europeu, controla em Portugal o Enfermeiros reconhecer a habilitação para o
exercício de duas profissões – Enfermeiro e exercício e autorizar o mesmo, no território
Parteira. Embora o exercício profissional da nacional, aos profissionais que detêm uma
Parteira3 no nosso país seja assegurado pelos formação que cumpre os requisitos
Enfermeiros Especialistas em Enfermagem obrigatórios definidos pela diretiva europeia
de Saúde Materna e Obstétrica, não das qualificações profissionais, as Parteiras
3
Parteira como tradução de Midwife e não como relativo às antigas profissionais formadas nas faculdades de medicina até 1985, deve assim ser
entendido como um título sinónimo a Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica

1
oriundas do espaço europeu, não sendo
enfermeiras, após emissão de cédula
corpo de competências gerais que não estão EESMO
ao alcance das Parteiras, conferindo-lhes
profissional ficam autorizadas a exercer a
uma capacidade de intervenção diferenciada
atividade, no respeito pelo espaço de
sobretudo no que se relaciona com as
atuação autorizado para os Enfermeiros COMPETÊNCIAS
intervenções na presença de situações
Especialistas em Enfermagem de Saúde DOS
patológicas ou de doença concomitante com ENFERMEIROS
Materna e Obstétrica portugueses e pelo
a gravidez. ESPECIALISTAS EM
código deontológico dos enfermeiros.
Esclarecido o quadro legal e ENFERMAGEM DE
Daqui resulta que, em Portugal o Enfermeiro
regulamentar, voltamos às questões iniciais SAÚDE MATERNA E
Especialista em Enfermagem de Saúde
colocadas noutra perspetiva: o que falta para OBSTÉTRICA
Materna e Obstétrica e a Parteira têm um
que os enfermeiros assumam em pleno e
campo de intervenção definido nos termos
com independência as suas competências
do art.42º, da Diretiva 2005/36/EC
próprias e o seu espaço de atuação
conjugado com o Regulamento n.º 127/2011
autónomo? Os constrangimentos
onde se explicita que, “assume a
organizacionais ou das políticas de saúde
responsabilidade pelo exercício das
são em si mesmos justificação para que os
seguintes áreas de atividade de intervenção:
enfermeiros abdiquem ou justifiquem a
1.Planeamento familiar e preconcecional
passividade na assunção das suas áreas de
— assistência à Mulher a vivenciar
atuação?
processos de saúde/doença no âmbito da
Reconhecemos que a situação de crise
sexualidade, do planeamento da família e
como o que se vive atualmente no nosso país
do período preconcecional;
determina contextos adversos e potencia a
2. Gravidez — assistência à Mulher a
degradação das condições em que os
vivenciar processos de saúde/doença
enfermeiros exercem nos serviços públicos,
durante o período pré-natal;
mas também privados e sociais.
3. Parto — assistência à Mulher a
Reconhecemos ainda, que o desanimo
vivenciar processos de saúde/doença
instalado entre os enfermeiros requer um
durante o trabalho de parto e parto;
redobrado esforço de envolvimento e
4. Puerpério — assistência à Mulher a
determinação dos mesmos para afirmar
vivenciar processos de saúde/doença
independência, direitos e liberdade de
durante o período pós-natal;
estabelecimento.
5.Climatério — assistência à Mulher a
Contudo, não nos parece que exista outro
vivenciar processos de saúde/doença
durante o período peri-menopáusico; “Os enfermeiros especialistas em
6. Ginecologia — assistência à Mulher
enfermagem de saúde materna
a vivenciar processos de saúde/doença
ginecológica;
e obstétrica estão autorizados
7.Comunidade — assistência às e legitimados a exercer a sua
mulheres em idade fértil, atuando no atividade autónoma”
ambiente em que vivem e se
desenvolvem, no sentido de promover a caminho que não a ação concertada dos
saúde sexual e reprodutiva e prevenir Enfermeiros Especialistas em Enfermagem
processos de doença” de Saúde Materna e Obstétrica, com apoio
das suas associações profissionais, mas
Contudo, importa não esquecer que, no agindo proativamente junto do poder
nosso país, todos os enfermeiros politico, das administrações, das direções de
especialistas detêm o Título de Enfermeiro serviço, dos colegas e dos cidadãos. É
o que lhes confere reconhecimento de um imperioso que cada um se aproprie do

4
http://ec.europa.eu/internal_market/qualifications/regprof/index.cfm?action=regprof&id_regprof=8067&id_profession=12404&tab=countries&quid
=2&mode=asc&pagenum=2

1
EESMO quadro regulador, que se envolva na reflexão
sobre as práticas individuais à luz dos
referenciais definidos, que promova a
reflexão sobre as práticas clinicas do serviço
COMPETÊNCIAS
DOS onde exerce com os colegas, que ponderem
ENFERMEIROS se a filosofia assistencial instituída respeita a
ESPECIALISTAS EM deontologia profissional e os padrões de
ENFERMAGEM DE qualidade traçados para esta área de
SAÚDE MATERNA E exercício.
OBSTÉTRICA Definido o perfil de competências
importa contribuir para a
consciencialização coletiva e apropriação
individual, mas também assumir atitudes e
comportamentos profissionais diários que
revelem independência, responsabilidade,
conhecimento, respeito e dignidade
profissional.
Os enfermeiros especialistas em

“Em Portugal o EESMO e a Parteira


têm um campo de intervenção
definido nos termos do art.42º, da
Diretiva 2005/36/EC conjugado
com o Regulamento n.º 127/2011”

enfermagem de saúde materna e obstétrica


estão autorizados e legitimados a exercer a
sua atividade autónoma. A afirmação deste
espaço de atuação depende de todos e de
cada um de nós!

1
Diário da Republica, 2ª Serie, nº 35 de 18 de fevereiro 2011- Regulamento n.º 122/2011 - Regulamento das
Competências Comuns do Enfermeiro Especialista
2
Diário da Republica, 2ª Serie, nº 35 de 18 de fevereiro 2011- Regulamento n.º 127/2011 - Regulamento das
Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna, Obstétrica e
Ginecológica
3
Parteira como tradução de Midwife e não como relativo às antigas profissionais formadas nas
faculdades de medicina até 1985, deve assim ser entendido como um título sinónimo a Enfermeiro
Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica
4
http://ec.europa.eu/internal_market/qualifications/regprof/index.cfm?action=regprof&id_
regprof=8067&id_profession=12404&tab=countries&quid=2&mode=asc&pagenum=2

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1
EESMO

Princípios éticos e
deontológicos do Enfermeiro
Especialista em Saúde Materna
e Obstétrica
“Teu Dever é Lutar pelo
Direito, Mas se um Dia Encontrares o Direito em Conflito com
a Justiça,
Luta pela Justiça.”
Eduardo Juan Couture

C
om o continuum do nosso 6) Direito à Vida
desenvolvimento Humano, novas
realidades de vivências e
consequentemente novas necessidades
emergem.
No que respeita às vivencias profissionais
na saúde e, em concreto, na promoção da
prática assistencial de Enfermagem em
Saúde Materna e Obstétrica e Ginecologia,
as mesmas também se fazem sentir.
Assim sendo, e considerando a nova
consciencialização dos casais, em todo o
Mundo, face à sua participação mais ativa e
personalizada no processo de vivência da
gravidez, trabalho de parto e parto, assente
nos célebres Direitos Humanos, emergiu
uma derivação nesta área, Direitos Humanos
da Grávida e Direitos Humanos Universais
do Nascimento, 1 em Hague em 2012, e em
2013 nos E.U.A. e na Bélgica.
Têm seis pressupostos básicos:
1)Direito ao consentimento informado;
2) Direito à recusa do tratamento médico;
3) Direito à saúde;
4) Direito ao tratamento igualitário;
5) Direito à privacidade;

1
Os princípios jurídicos, “(...) orientação e preparação
proclamados pela
Organização das
Nações Unidas, que
sustentam o garante da
exequibilidade destes
direitos, pretendem
salvaguardar a
Dignidade de toda e
qualquer pessoa em
todas as circunstâncias
e dimensões.
A Organização Mundial de Saúde
promove esta vivência
dos Direitos Humanos
da Grávida e dos
Direitos Humanos
Universais do
Nascimento ao fomentar
a centralização da
grávida/casal grávido na
Equipa clínica que lhe
prestará a assistência
personalizada através da
efetivação do paradigma
da Autonomia em
detrimento do
paradigma Paternalista 2.
Desta forma, o
Enfermeiro
Especialista em Saúde
Materna e Obstétrica
(EESMO) tem o dever
de:
1)Trabalhar em
parceria com as
mulheres/ casais
grávidos;

2) Promover a
Capacitação/
Empoderamento das
mulheres/casais
grávidos face às
tomadas de decisões
inerentes tanto ao
planeamento familiar,
como gravidez,
trabalho de parto e
parto, através da :

2
EESMO básica para o trabalho de parto, parto e
maternidade” 3 para o que o EESMO/ 8) Não interferir na vivência da gravidez,
Parteira é competente, efetivando assim a trabalho de parto e parto;
Cidadania ativa;
PRINCÍPIOS
ÉTICOS E 9) Oferecer à Mulher durante a gravidez e
DEONTOLÓGICOS 3) Verificar se o consentimento informado parto assistência que integre respeito do
DO ENFERMEIRO foi efetivado pelo Obstetra, aquando do exercício do seu direito à integridade física, à
ESPECIALISTA EM internamento; autodeterminação e à privacidade. 5, 6
SAÚDE MATERNA
E OBSTÉTRICA 4) Legitimar a informação que a Mulher 10) Promover um modelo assistencial
grávida/casal grávido detêm face à gravidez, Holístico, o qual atende às dimensões
trabalho de parto e parto; biopsicossociais da grávida, considerando a
Mulher no seu todo, incluindo os seus
5) Esclarecer personalizadamente as sentimentos e expetativas, sem exercer
dúvidas identificadas inerentes aos juízos de valor. 7
processos vivenciais de gravidez, trabalho
de parto e parto; 11)Assistir a parturiente durante o trabalho
de parto e vigiar o estado do feto in útero
pelos meios clínicos e técnicos apropriados a
“Desenvolver e integrar projetos
cada momento (e em consonância com o
que promovam criação do valor Plano de parto); 8
Saúde no âmbito da saúde da
Mulher, criança e família” 12)Promover a saúde da Mulher durante o
trabalho de parto e otimizar a adaptação do
recém- nascido à vida extrauterina. Ou seja,
6) “Discutir “ o plano de parto da Mulher/ “atuar de acordo com o plano de parto
casal grávidos, com a equipa clinica estabelecido com a Mulher, garantindo
assistencial, onde a Mulher/casal grávido se intervenções de qualidade e risco
encontram no centro, esteja ele controlado” e “garantir um ambiente seguro
materializado de alguma forma física ou não: durante o trabalho de parto e parto”. 9
papel, cd, etc;
13) Fazer o parto normal em caso de
7) Garantir a efetivação de estratégias a apresentação de cabeça, incluindo, se
implementar concordantes com o plano de necessário, a episiotomia, e o parto em caso
partos apresentado, de forma a que o de apresentação pélvica, em situação de
nascimento do seu/deles bebé, se verifique urgência; 10
com o máximo de segurança, dignidade e
integridade humanas possível, em 14)Detetar na mãe ou no filho sinais
consonância com as legis Artis e as reveladores de anomalias que exijam a
guidelines conhecidas para o efeito da OMS intervenção do médico, e auxiliar este, em
– transmitindo sempre que necessário caso de intervenção; tomar as medidas de
informação sobre a sua (e do feto) situação urgência que se imponham na ausência do
de saúde, com transparência – 6º Direito do médico, designadamente a extração manual
Doente 4; Informar sobre os recursos a que a da placenta, eventualmente seguida de
pessoa pode ter acesso, bem como sobre a revisão uterina manual; 11
maneira de os obter.” (pontos b, c e d, artigo
84o do Código Deontológico do Enfermeiro 15) “Responsabilizar-se pelas decisões
- CDE) que toma e pelos atos que pratica ou
delega”

2
(ponto b, artigo 79º CDE) 12
21)Sedimentar a sua prática profissional EESMO
com atualização científica sedimentada;
16) “Orientar o indivíduo para outro
profissional de saúde mais bem
22) Avaliar com frequência a evidência
colocado para responder ao problema, PRINCÍPIOS
científica dos seu trabalho; ÉTICOS E
quando o pedido ultrapasse a sua
DEONTOLÓGICOS
competência” (ponto b, artigo 83ºCDE)
13
23) Participar na formação de colegas que DO ENFERMEIRO
estejam a realizar a formação específica em ESPECIALISTA EM
Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica; SAÚDE MATERNA
17)“Diagnostica precocemente e previne E OBSTÉTRICA
complicações para a saúde da Mulher e do
24) Desenvolver e integrar projetos que
recém-nascido.” ou seja, “identifica e
promovam criação do valor Saúde no âmbito
monitoriza trabalho de parto; identifica e
da saúde da Mulher, Criança e família;
monitoriza o risco materno-fetal durante o
trabalho de parto e parto, referenciando as
25) Integrar centros de decisão nos Serviços/
situações que estão para além da sua área de
Hospitais/e Direção Geral da Saúde, com o
atuação; identifica e monitoriza desvios ao
objetivo de majorar a criação do Valor Saúde
padrão normal de evolução do trabalho de
no âmbito da saúde da Mulher, Criança e
parto, referenciando as situações que estão
Família;
para além da sua área de atuação; avalia e
determina a adequação da estrutura pélvica
26) Denunciar más práticas profissionais da
em relação ao feto durante o trabalho de
equipa clinica de saúde, que presta
parto; concebe, planeia, implementa e avalia
assistência a grávidas/parturientes,
intervenções adequadas à evolução do
puérperas – Responsabilizarmo-nos pela
trabalho de parto, otimizando as condições
Mulher
de saúde da mãe e do feto; aplica as técnicas
adequadas na execução do parto de
apresentação cefálica e, em caso de urgência,
do parto de apresentação pélvica; assegura a “Promover a saúde da Mulher
avaliação imediata do recém-nascido
implementando medidas de suporte na
durante o trabalho de parto e
adaptação à vida extrauterina; assegura otimizar a adaptação do recém-
reanimação do recém-nascido em situação -nascido à vida extrauterina”
de emergência.” 14

18)Examinar e assistir o recém-nascido;


tomar todas as iniciativas que se imponham
em caso de necessidade e praticar, se for
caso disso, a reanimação imediata;
19)Cuidar da parturiente, vigiar o puerpério
e dar todos os conselhos necessários para
tratar do recém - nascido, assegurando -lhe
as melhores condições de evolução;

20) Suportar-se nas suas dificuldades e


desafios profissionais, entre pares, de forma a
garantir o seu crescimento profissional
devidamente sedimentado, com uma postura
de proatividade face ao Burnout; 15

2
1
Disponível para consulta on line em:
http://humanrightsinchildbirth.com/universal-rights/ 2
Disponível para consulta on line em:
http://www.forumenfermagem.org/dossier-tecnico/artigos-de-autor/item/3630-a-efectivacao-da-
mudanca-do-paradigma-paternalista-para-o-paradigma-da-autonomia
3
Disponível para consulta on line em:
http://www.internationalmidwives.org
Competências Essenciais para o Exercício Básico da Profissão da Parteira 2010 – Competência 3 ; pág 10
4
Disponível para consulta on line em
http://www.dgs.pt/default.aspx?cn=55065716AAAAAAAAAAAAAAAA
Carta dos Direitos e Deveres dos doentes
5
Disponível para consulta online em:
http://www.ordemenfermeiros.pt/documentos/Documents/MCEESMO_Parecer_51_2014_Parto_Agua_
site_proteg.pdf
Parecer parto na água – Parecer MCEESMO nº51/2014, P.2
6
Disponível para consulta on line em:
http://hudoc.echr.coe.int/sites/eng/pages/search.aspx?i=001-102
Tribunal Europeu dos direitos Humanos
7
Howell-White, S. (1997). Choosing a birth attendant: the influence of a woman’s childbirth definition.
Social Science & Medicine, 45 (6), 925-936
8
Disponível para consulta on line em:
http://dre.pt/pdf1s/2009/03/04400/0146601530.pdf
Lei 9/2009 de 4 de Março, artigo 39º
9
Disponível para consulta on line em:
http://www.ordemenfermeiros.pt/legislacao/Documents/LegislacaoOE/Regulamento%20127_2011_
CompetenciasEspecifEnfSMObst_Ginecologica.pdf
10
Disponível para consulta on line em:
http://dre.pt/pdf1s/2009/03/04400/0146601530.pdf
Lei 9/2009 de 4 de Março, artigo 39º
11
Ibiden
12
Disponivel para consulta on line em:
http://www.ordemenfermeiros.pt/legislacao/Documents/LegislacaoOE/CodigoDeontologico.pdf
13
Ibiden
14
Disponível para consulta on line em:
http://www.ordemenfermeiros.pt/legislacao/Documents/LegislacaoOE/Regulamento%20127_2011_
CompetenciasEspecifEnfSMObst_Ginecologica.pdf
15
http://www.midwife.org.nz
Midwives Handbook for Practice – New Zealand College of Midwives (INC) - Updated Version Published
by the New Zealand College of Midwives - 2008 Christchurch – ISBN 978-0-473-12992-7

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2
EESMO

Padrões Assistenciais do
Enfermeiro Especialista em
Saúde Materna e Obstétrica

A
excelência dos cuidados prestados utentes, os ganhos em saúde, a autonomia
deve ser o objetivo primeiro de profissional, a implicação esclarecida das
todos os EESMO, ao longo de todo utentes na sua saúde e nas decisões sobre os
o cuidados a lhes serem prestados.
seu percurso profissional, e em todas as áreas
englobadas na sua esfera de competências. O CONCEITO DE UTENTE DO EESMO
Uma das condições fundamentais desta A delimitação das potenciais utentes dos
excelência de cuidados é a atualização cuidados a prestar é importante em todas as
contínua de conhecimentos, condição essa áreas, incluindo em saúde materna e
que, por sua vez, implica uma evolução obstétrica. Assim, é importante que
positiva dos padrões de qualidade na tenhamos em mente que o alvo de ação dos
assistência promovida pelos EESMO. EESMO é legalmente apenas um único:
Assim, os padrões que a seguir apresentamos
não devem ser entendidos como um fim em
si próprios mas como uma matriz ou um fio “Uma das condições fundamentais
condutor a observar no dia-a-dia de cada da excelência de cuidados
EESMO, com características evolutivas e de é a atualização contínua de
adaptação aos novos conhecimentos conhecimentos”
científicos que são produzidos em contínuo.
A prestação de cuidados de qualidade por “Em concordância com o conceito alvo de
parte de cada EESMO é imprescindível para intervenção, definido e assente na premissa
que seja considerado como o profissional de que os cuidados de enfermagem tomam por
referência para todas as suas utentes, no que foco de atenção a promoção dos projetos de
concerne a manutenção/melhoria da sua saúde que cada pessoa vive e persegue”,
saúde ginecológica sexual e reprodutiva, em define-se a Mulher no âmbito do ciclo
qualquer contexto de trabalho ou nível de reprodutivo como a entidade beneficiária de
cuidados (primários, secundários ou
cuidados de enfermagem desta
terciários); é de suma importância que se
especialidade.” 1
observe no seu quotidiano laboral a
Cabe ao EESMO focar os seus cuidados a
acessibilidade aos cuidados, a satisfação das

2
1
Regulamento 127/2011 de 18 de fevereiro, in DR 2ª série, nº 35

2
EESMO este alvo às áreas da ginecologia e seguintes focos de atenção: planeamento
obstetrícia, no sentido de promover uma familiar e autocontrolo infeção, autocuidado
sexualidade saudável e responsável e um durante a gravidez, pós-parto e climatério;
processo de maternidade otimizado. autocontrolo trabalho de parto; ligação mãe/
PADRÕES
Mesmo se as suas utentes são as mulheres, pai-filho; adaptação à parentalidade,
ASSISTENCIAIS
DO ENFERMEIRO os EESMO devem ter sempre em amamentação; luto perinatal. […] deteção
ESPECIALISTA EM consideração que estas não existem isoladas; precoce de complicações e referenciação
SAÚDE MATERNA assim, o envolvimento de outros alvos atempada para o profissional competente,
E OBSTÉTRICA laterais não deve ser menosprezado. Por nomeadamente no que se refere a
exemplo, os cuidados dos EESMO envolvem complicações da gravidez, do trabalho de
automática e diretamente o produto da parto e do pós-parto, complicações
conceção/recém-nascido (com o objetivo de ginecológicas, entre outras”.3
promover um normal desenvolvimento fetal,
uma boa adaptação à vida extrauterina, e a DESCRIÇÃO DOS PADRÕES DE
promoção da amamentação). QUALIDADE EM EESMO
Numa esfera mais abrangente, as Vamos dividir os padrões de qualidade em
mulheres estão inseridas numa família e seis categorias de enunciados descritivos:
numa comunidade que interage em contínuo
com elas pelo que outros profissionais 1) SATISFAÇÃO DA UTENTE
(enfermeiro de família, etc…) podem/devem Os cuidados prestados pelos EESMO só
ser encarados como parceiros de cuidados podem ser considerados excelentes se
com naturalidade, para se atingir uma esfera observarem, no mínimo, os seguintes
mais lata, e não menos importante, de parâmetros:
utentes colaterais. • A ética e a deontologia para com a utente,
ou seja, a aplicação contínua do código
“Os cuidados prestados pelos deontológico4 dos enfermeiros, na prática
diária de cada EESMO, tendo em atenção o
EESMO devem incluir a capacitação respeito pelas capacidades, crenças, valores
da cliente para a posterior tomada da utente;
de decisão e ação devidamente • O estabelecimento de uma relação
esclarecida” terapêutica com a utente;
• O respeito pelas expetativas/desejos
relacionados com as diferentes fases e
O CONCEITO DE CUIDADO DE EESMO eventos da sua vida sexual e reprodutiva
Segundo o REPE2, o EESMO, sendo um como o trabalho de parto, o projeto de
enfermeiro especialista, está “[…] habilitado maternidade e o climatério;
com um curso de especialização em • A capacitação da utente para a sua posterior
enfermagem ou com um curso de estudos tomada de decisão e ação devidamente
superiores especializados em enfermagem, a esclarecida, estabelecendo com ela uma
quem foi atribuído um título profissional parceria de cuidados efetiva;
que lhe reconhece competência científica, • O envolvimento dos conviventes
técnica e humana para prestar, além de significativos no processo de cuidados;
cuidados de enfermagem gerais, cuidados de • A criação de condições ambientais
enfermagem especializados […]” na área da favoráveis e acolhedoras ao longo de todo o
saúde materna e obstétrica. processo assistencial da utente.
O EESMO assume, na sua prática
profissional, “a responsabilidade pelo 2) PROMOÇÃO DA SAÚDE
diagnóstico diferencial no âmbito dos É dever de todo o EESMO ajudar a utente a
2
Regulamento do Exercício Profissional do Enfermeiro: Decreto-Lei n.º 161/96, de 4 de Setembro (Com as alterações introduzidas pelo Decreto-lei nº
104/98 de 21 de Abril)
24 3
In Padrões de Qualidade dos cuidados de enfermagem especializados em enfermagem de saúde materna, obstétrica e ginecológica - http://www.ordemen-
fermeiros.pt/colegios/Documents/PQCEESaudeMaternaObstetricaGinecologica.pdf
maximizar o seu potencial de saúde.
Destacam-se, para o parâmetro “Promoção
- Gravidez, parto e puerpério (incluindo o EESMO
bem-estar do feto/recém-nascido nestes
da saúde”, os seguintes aspetos:
períodos);
• A avaliação da utente no seu todo,
• Prescrição das intervenções de
no sentido de se estabelecer os PADRÕES
enfermagem face aos problemas potenciais ASSISTENCIAIS
respetivos diagnóstico(s) de
identificados; DO ENFERMEIRO
enfermagem, a identificação dos
• Rigor técnico e científico dos cuidados de ESPECIALISTA EM
recursos necessários disponíveis e o
enfermagem implementados pelo EESMO e/ SAÚDE MATERNA
plano de cuidados de cuidados de
ou a delegados a outros profissionais; E OBSTÉTRICA
enfermagem adequado;
• Aplicação da deontologia e ética
• A criação/aproveitamento de
profissional na responsabilidade dos
oportunidades para promover estilos de vida
cuidados prescritos, realizados e delegados;
saudáveis nos períodos preconcecional,
• Referenciação para outros enfermeiros
gravidez e puerpério assim como de todas as
especialistas/outros profissionais
fases do ciclo vital da utente, em termos
competentes, para áreas de intervenção que
sexuais e reprodutivos, em geral;
saiam do âmbito da Saúde Materna e
• A promoção do potencial de saúde de
Obstétrica;
cada utente através de programas, projetos
e intervenções no âmbito da:
- saúde ginecológica, sexual e reprodutiva
- saúde mental durante a gravidez, puerpério “É dever de todo o EESMO ajudar
e perimenopausa; a cliente a maximizar o seu
- preparação para o nascimento5/recuperação potencial de saúde”
pós-parto;
- amamentação.
• A realização/implementação de programas, 4) AUTOCUIDADO, AUTOCONTROLO E
projetos e intervenções específicas a MESTRIA DA UTENTE
comunidades vulneráveis e/ou condições A otimização da qualidade das atividades dos
sociais complexas em todas as fases do ciclo EESMO depende, por um lado, dos cuidados
vital da utente, no âmbito da saúde sexual e que este profissional presta às suas utentes e,
reprodutiva. por outro, das capacidades que estas têm e
• A promoção da partilha de informação com adquirem em gerir o seu estado de saúde/
as utentes no sentido de se otimizar a sua doença. Para isso, alguns elementos devem
aprendizagem cognitiva, de criar novas constar de forma contínua no desempenho
capacidades de autocuidado, profissional dos EESMO.
autodeterminação e participação ativa no São elementos importantes face ao
seu plano de cuidados, assim como a autocuidado, autocontrolo e mestria da
obtenção de planos de parto esclarecidos, utente, entre outros:
viáveis mantendo um ambiente seguro; • A identificação das necessidades em
cuidados e informações, relacionadas
3) PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES com:
No desempenho das suas funções, o EESMO, - o autocuidado, ao nível da saúde
ao visar a excelência de cuidados, também ginecológica, sexual e reprodutiva; o
procura prevenir as potenciais complicações autocontrolo, no âmbito do trabalho de
tendo em conta os seguintes parâmetros: parto e da saúde sexual e reprodutiva;
• Identificação dos problemas potenciais - os conhecimentos e as habilidades para o
da utente, no âmbito da ginecologia e exercício do papel parental e a
obstetrícia ou seja, em termos de: disponibilidade para aprender
- Sexualidade e reprodução; (consciencialização, envolvimento e
4
Lei 111/2009 de 16 de setembro, capítulo VI, DR 2ª série, Nº. 180

2
motivação);
EESMO • A prescrição, a implementação e a recursos comunitários, através da sua
avaliação das intervenções de enfermagem, formação (informação dada);
baseadas na evidência científica, face aos
diagnósticos identificados pelos EESMO ORGANIZAÇÃO DOS CUIDADOS
PADRÕES
ASSISTENCIAIS tanto em termos individuais como ESPECIALIZADOS EM EESMO
DO ENFERMEIRO comunitários, implicando atividades A máxima eficiência e a eficácia dos
ESPECIALISTA EM personalizadas ou de do âmbito de grupo; cuidados prestados pelos EESMO
SAÚDE MATERNA • O envolvimento de outros enfermeiros contribuem para a excelência dos cuidados.
E OBSTÉTRICA especialistas de outras áreas, ou outros Para isso, destacam-se os seguintes
profissionais cujas competências específicas elementos face à organização dos cuidados
sejam uma mais mais-valia inequívoca para a especializados:
promoção e consolidação da capacidade de • A existência de um quadro de referências
autocontrolo, autocuidado por parte da para o exercício profissional de
utente, na sua vida sexual e reprodutiva; enfermagem especializada em SMO;
• A existência de um sistema de melhoria
5) READAPTAÇÃO À NOVA CONDIÇÃO contínua da qualidade do exercício
DE SAÚDE profissional dos enfermeiros ESMO assim
Ao longo do seu ciclo vital e das várias fases como de um sistema de registos de
da sua vida sexual e reprodutiva, cada enfermagem que incorpore
Mulher vive em constante mutação de sistematicamente, no mínimo, as
condições de vida – por ex, passando de necessidades de cuidados de enfermagem da
Mulher sem filho a mãe, passando de uma utente, as intervenções de enfermagem e os
fase fértil ao climatério, etc… resultados esperados/obtidos, avaliação e
• Essa readaptação contínua da Mulher deve eventual modificação de estratégias a
implementar;
• A adaptação das atividades dos EESMO aos
“Os indicadores de qualidade recursos comunitários existentes, tendo em
conta as necessidades das utentes.
têm sido cada vez mais utilizados
Uma política de formação contínua dos
na Saúde como garante de um enfermeiros, promotora de desenvolvimento
processo de melhoria contínua dos profissional e da qualidade dos cuidados,
cuidados de enfermagem” verdadeiramente adaptada às necessidades
sentidas pela equipe;
ser observada nos cuidados prestados pelo • A utilização de metodologias organizativas
EESMO, rumo à excelência de cuidados. dos cuidados de enfermagem promotoras da
São elementos importantes face à qualidade.
readaptação às novas condições de saúde, A satisfação profissional dos EESMO;
entre outros: Uma dotação segura de EESMO face às
• A preparação da utente à sua nova fase de necessidades das utentes.
vida, seja em termos sexuais e reprodutivos,
seja com a alta hospitalar, seja num novo AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS
papel familiar (mãe), de acordo com as CUIDADOS PRESTADOS
necessidades identificadas e os recursos da A monitorização e a avaliação contínuas dos
comunidade existentes; cuidados prestados ao nosso alvo é
• A garantia da continuidade dos cuidados de fundamental para poder quantificar a sua
enfermagem, maximizando os recursos qualidade, os seus pontos fortes e os fracos,
comunitários disponíveis e necessários; assim como para promover o debate, e a
• A otimização das capacidades da utente implementação de novas formas de cuidar,
para gerir o regime terapêutico prescrito e os potencialmente mais adequadas e eficazes
4
Lei 111/2009 de 16 de setembro, capítulo VI, DR 2ª série, Nº. 180

2
26
6
Regulamento dos padrões de qualidade dos cuidados especializados em enfermagem de saúde materna , obstétrica e ginecológica, in: http://www.orde-
menfermeiros.pt/colegios/Documents/PQCEESaudeMaternaObstetricaGinecologica.pdf
sujeitas, elas próprias, a uma avaliação
posterior.
ilustrar no exemplo seguinte6: EESMO
• O mesmo indicador pode apresentar
Para isso, a utilização de certas
resultados de valores diferentes consoante o
ferramentas de avaliação de desempenho -
local e o momento da sua avaliação. Por
Os indicadores de qualidade - são PADRÕES
exemplo, o mesmo indicador aplicado, numa ASSISTENCIAIS
necessárias. Eles têm sido cada vez mais
USF, antes de uma hospitalização avaliará os DO ENFERMEIRO
utilizados na Saúde como garante de um
cuidados prestados nos cuidados de saúde ESPECIALISTA EM
processo de melhoria contínua dos cuidados
primários, mas se for aplicado no regresso SAÚDE MATERNA
de enfermagem, e a sua construção permite
pós-alta, mesmo que na mesma USF, estará a E OBSTÉTRICA
que se reflita sobre os efetivos contributos
avaliar os cuidados prestados
dos enfermeiros, nos diferentes níveis de
essencialmente durante a hospitalização. No
cuidados, em diversos contextos de trabalho
primeiro caso, verifica-se a qualidade dos
e em contextos comunitários desiguais
cuidados prestados na USF, no segundo, os
desenvolvendo-se, paralela e
cuidados prestados em meio hospitalar são
consequentemente, um motor para o
os mais avaliados e são um ponto de partida
desenvolvimento da disciplina.
para as atividades de enfermagem a realizar
Estes indicadores devem ter como
no âmbito da continuação de cuidados
característica fundamental a sua
hospital – USF.
sensibilidade, isto é, não devem produzir
• Tendo em conta que o corpo de
dados vagos, de interpretação variável.
competências dos EESMO é específico à sua
Devem ser o ponto de partida para a
especialidade, a interpretação do indicador
obtenção de dados concretos, mensuráveis e
deverá ter em consideração qual o
fidedignos.
profissional que procedeu ao diagnóstico
Devemos considerar, ao construir-se
(s) a ele associado.
indicadores de qualidade que:
É impossível fazer-se aqui uma lista
• Alguns dos indicadores definidos podem
exaustiva de todos os indicadores
ser utilizados por enfermeiros não EESMO,
potencialmente utilizáveis em todos os
se se centram no mesmo foco de atenção, e,
contextos de trabalho dos EESMO. Contudo,
inclusivamente, serem usados para comparar
apresenta-se de seguida alguns exemplos:
a efetividade do desempenho e dos ganhos
em saúde prestados por enfermeiros de
DIAGNÓSTICO
diferentes categorias profissionais: os
Conhecimento sobre sinais de boa pega
resultados obtidos podem contribuir para o
demonstrado/não demonstrado
nascimento de um novo paradigma de
cuidados, onde a contribuição dos EESMO é
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO
inequívoca e insubstituível.
1.Demonstrado se verbaliza:
- a comparação deste resultados só é possível 2. Boca da criança bem aberta, com
se houver uma uniformização nos lábios voltados para fora,
indicadores, ou seja, “a cada foco de atenção abocanhando a maior parte da aréola
deverão ser associados os critérios de mamária;
diagnóstico para que face à mesma condição 3. Bochechas da criança
de saúde diferentes enfermeiros enunciem o arredondadas durante a sucção;
mesmo diagnóstico, por exemplo, tomando
GRAVIDEZ E PERI-PARTO
por foco de atenção a amamentação,
• Ganhos em conhecimento sobre prevenção
especificamente o conhecimento sobre
de infeção urinária durante a gravidez
sinais de boa pega importa definir quando se
Avalia os conhecimentos adquiridos pela
considera que o conhecimento está
grávida para o seu autocontrolo infeção
demonstrado, ou não, como se procura
• Taxa de efetividade na prevenção de

7
Regulamento dos padrões de qualidade dos cuidados especializados em enfermagem de saúde materna , obstétrica e ginecológica, in: http://www.orde- 27
menfermeiros.pt/colegios/Documents/PQCEESaudeMaternaObstetricaGinecologica.pdf
EESMO
PADRÕES
ASSISTENCIAIS
infeção urinária durante a gravidez realizarem autonomamente e nos
Mede a percentagem de grávidas momentos corretos a autoavaliação da
DO ENFERMEIRO
ESPECIALISTA EM que mama
SAÚDE MATERNA efetivamente não apresentaram infeções • Taxa de adesão ao rastreio do cancro do
E OBSTÉTRICA urinárias durante a gravidez colo do útero
• Ganhos em conhecimento sobre sinais de Avalia a percentagem de mulheres que
trabalho de parto aderiram a este tipo de rastreio.
Avalia os conhecimentos da grávida
quanto aos sinais de trabalho de
parto
• Taxa de parturientes admitidas em fase
ativa
Avalia a capacidade das utentes em gerir
a fase latente do trabalho de parto, fora
do hospital
• Taxa de episiotomia em partos eutócicos
acompanhados por EESMO
• Taxa de períneos íntegros após o parto
eutócico acompanhado por enfermeiro
ESMO
Podem ser excelentes indicadores
diferenciadores entre cuidados EESMO/
cuidados por outro profissional

PRECONCECIONAL, PLANEAMENTO
FAMILIAR, GINECOLOGIA E
CLIMATÉRIO
• Ganhos em conhecimento sobre
planeamento familiar
Avalia os conhecimentos das mulheres
em termos de conhecimentos sobre
os diferentes tipos de métodos
contracetivos
• Ganhos em capacidades sobre
autovigilância da mama
Avalia a capacidade das mulheres em

Cardoso, A. (2003). Representação dos Conceitos Centrais da Enfermagem: num contexto da Saúde
Materna e Obstetrícia. Tese de Mestrado, ICBAS, Universidade do Porto, Porto.
Cardoso, A., & Paiva e Silva, A. (2010). Representing nursing knowledge on maternal and neonatal health:
a study on the cultural suitability of ICNP. International Nursing Review.
Lei 111/2009 de 16 de setembro, capítulo VI, DR 2ª série, Nº. 180
Ordem dos Enfermeiros. (2002). Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem. Lisboa: Ordem dos
Enfermeiros.

2
Ordem dos Enfermeiros. (2007). Resumo Mínimo de Dados e Core de Indicadores de Enfermagem para o
Repositório Central de Dados de Saúde. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros.
Regulamento n.º 122/2011.D.R. 2ª Série. N.º 35 de 18 de Fevereiro 2011.
Regulamento n.º 127/2011. D.R. 2ª Série. N.º 35 de 18 de Fevereiro 2011
Decreto-Lei n.º 161/96, de 4 de Setembro (Com as alterações introduzidas pelo Decreto-lei nº 104/98 de 21 de
Abril)

2
EESMO

Pontos de atenção à Mulher


antes da gravidez
Consulta Preconcecional

O
s principais pontos de atenção à avançada, doenças genéticas na família,
Mulher antes da gravidez, que malformações, uso crónico de medicação
devem ser considerados no âmbito potencialmente teratogénica,
da consulta preconcecional, são os consanguinidade, abortamentos de
seguintes: repetição e orientar para aconselhamento
genético;
DOENÇAS PREEXISTENTES
• Determinar as condições médicas ANTECEDENTES FAMILIARES
existentes e antever os possíveis efeitos da • Identificar situações de diabetes mellitus,
gravidez de modo a orientar e aconselhar de hipertensão arterial, doenças da tiroide,
acordo com os riscos; doenças autoimunes, epilepsia, história de
• Ajudar na gestão e controle de situações malformações, quer na família materna,
como diabetes mellitus, hipertensão quer na paterna;
arterial, doenças da tiroide, doenças
autoimunes, epilepsia; ESTADO IMUNOLÓGICO
• Verificar imunidade à toxoplasmose e, em
HISTÓRIA GINECOLÓGICA E caso negativo, ensinar medidas preventivas
OBSTÉTRICA e à rubéola, aconselhando e procedendo à
• Determinar características do ciclo vacinação, se necessário;
menstrual, informar sobre período fértil e • Determinar estado de portador de
orientar sobre interrupção do uso hepatite B, aconselhando e procedendo à
contracetivos e altura mais favorável para vacinação, se necessário (situações de risco).
relações sexuais; Verificar vacinação antitetânica e
• Identificar número de gestações, tipo de atualizá-la, se necessário;
partos, peso ao nascer e eventuais
complicações na gravidez e/ou parto. ESTADO NUTRICIONAL
• Aconselhar sobre espaçamento entre • Determinar índice de massa corporal
nascimentos; (IMC). Se aumentado, informar sobre riscos
(diabetes, pré-eclampsia, maior taxa de
RISCO GENÉTICO cesariana) e aconselhar perda de peso,
• Determinar situações de risco como idade referenciando se necessário para nutrição.

3
EESMO Se apresenta baixo IMC, informar sobre EXAME FÍSICO
riscos (anemia, prematuridade, recém- • Avaliar o estado geral, peso e altura e
nascidos de baixo peso) e aconselhar tensão arterial.
controle de peso, referenciando se • Realizar exame da mama, incentivando e
PONTOS DE
necessário para nutrição; orientando para autoexame regular.
ATENÇÃO À
MULHER ANTES • Aconselhar uso de ácido fólico.
DA GRAVIDEZ CONVERSAR SOBRE:
HÁBITOS E ESTILO DE VIDA • A importância da vigilância da gravidez;
• Determinar hábitos como tabagismo, ativo • Aspetos psicológicos, familiares e
ou passivo, informar sobre riscos associados financeiros na transição para a
(influência no crescimento fetal, parentalidade;
abortamento, prematuridade, descolamento • Vantagens da preparação para parto e
de placenta) e aconselhar para a sua cessação parentalidade.
ou diminuição de acordo com a situação
pessoal;

“Ajudar na gestão e controle de


situações como diabetes mellitus,
hipertensão arterial, doenças
da tiroide, doenças autoimunes,
epilepsia”
• Verificar situações de uso de álcool e
drogas e aconselhar cessação no período
pré-concecional, referenciando se
necessário para outros profissionais;
• Avaliar condições de trabalho e alertar
sobre exposição a tóxicos ambientais
(radiação, pesticidas, solventes e outros);
• Avaliar capacidade de gestão de stress,
quer na vida profissional, quer na vida
pessoal e ajudar a procurar recursos
internos para otimizar essa gestão;

3
EESMO

Pontos-chave na prestação de
cuidados à Mulher durante a
gravidez

I
NTRODUÇÃO prevenir problemas de saúde que possam
A gravidez é um processo natural que se interferir com a saúde da mãe e da criança.
caracteriza pela capacidade de gerar e Permitem preparar a mãe para o parto e a
abrigar um novo ser. Comporta mudanças maternidade e diminuir a
físicas e emocionais que cada Mulher morbimortalidade da criança e da mãe.
vivencia de forma distinta. As intervenções Implicam, também, promover a
oferecidas no âmbito dos cuidados amamentação, estimular os laços afetivos
pré-natais devem ter benefícios pais-criança e promover a autoestima da
comprovados e ser aceites pelas grávidas/ mãe” 3.
casais. “Os cuidados pré-natais são sempre
A assistência pré-natal deve ser acessível, cuidados partilhados entre diferentes
centrada na Mulher e realizada por profissionais: enfermeiros (as), médicos (as)
profissionais qualificados. A grávida/casal
de família, obstetras e, eventualmente,
deve receber informação suficiente e outros” 3.
objetiva dos profissionais e ter a
possibilidade de tomar decisões
“A grávida/casal deve receber
esclarecidas.
“Considera-se gravidez de baixo risco
informação suficiente e objetiva
aquela em que não é possível identificar, dos profissionais e ter a
após avaliação clínica de acordo com a possibilidade de tomar decisões
avaliação do risco pré-natal baseada na esclarecidas”
escala de Goodwin modificada, nenhum
fator acrescido de morbilidade materna, A OMS (1996) avalia que pelas
fetal e /ou neonatal” 1. características menos intervencionistas da
“A avaliação do risco permite determinar sua prática clinica, a parteira/enfermeira
o local de vigilância (…) Toda a grávida de obstetra é o profissional mais indicado para
baixo risco deverá ser vigiada no Centro de prestar assistência à Mulher durante a
Saúde e enviada a consulta de referência gravidez e o parto4, essa opinião é também
hospitalar entre a 36ª e a 40ª semana de expressa pelo grupo de peritos no consenso
gestação” 2. “Pelo Direito ao Parto Normal” - Uma visão
“O objetivo dos cuidados pré-natais é de partilhada”, 5 estando consagrada em Diário

3
EESMO da República, no Regulamento nº 127/20116 redução significativa das induções do
em conformidade com a Lei nº 9 de 2009 de trabalho de parto por gravidez pós termo8.
4 de Março7. “Nas grávidas de baixo risco, com ciclos
regulares, sem história de hemorragia
PONTOS-CHAVE
NA PRESTAÇÃO ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL vaginal, que pararam os estro-progestativos
DE CUIDADOS À As recomendações que se seguem, de acordo dois meses antes da conceção e que
MULHER DURANTE com as orientações técnicas da Direção- iniciaram a vigilância no 1º trimestre, a data
A GRAVIDEZ Geral da Saúde, são a base dos cuidados do 1º dia da última menstruação permite
pré-natais para todas as grávidas calcular a idade gestacional e a data
classificadas de baixo risco, não provável para o parto (+ 9 meses + 7 dias)
contemplando os cuidados adicionais que com uma margem de erro de 14 dias”3. Nas
algumas grávidas necessitam. situações em que a avaliação clínica não
permite determinar a idade gestacional, a
INFORMAÇÃO/ACONSELHAMENTO gravidez deve ser datada por ecografia
Na vigilância pré-natal deve ser fornecida à realizada entre as 8 e as 13s,3 através do
grávida/casal informação/aconselhamento comprimento craniocaudal (ccc).
baseada na evidência, promotora do
autocuidado no processo de gestação e CALENDARIZAÇÃO DAS CONSULTAS
nascimento, complementada com A Direção-Geral da Saúde recomenda a
informação escrita que suporte a que foi realização de dez consultas de vigilância
transmitida oralmente sobre: pré-natal com a seguinte periodicidade:
• Adaptações fisiológicas do organismo • 1ª consulta antes das 12 semanas
materno à gravidez • A cada 4-6 semanas até às 30 semanas
• Esquema de vigilância pré-natal • A cada 2-3 semanas entre as 30 e as
(periodicidade e objetivos das consultas, 36 semanas
exames ecográficos e analíticos) • A cada 1-2 semanas após as 36 semanas
• Hábitos e estilos de vida (cessação até ao parto
tabágica, álcool e drogas ilícitas) (No mínimo seis consultas)
Todas as grávidas devem ter acesso a uma

“A Direção-Geral da Saúde consulta peri-parto entre as 36 e as 40


semanas no hospital de referência, de
recomenda a realização de dez
acordo com o processo de interligação de
consultas de vigilância pré-natal” cada UCF.

• Atividade laboral e atividade física BOLETIM DE SAÚDE DA GRÁVIDA


• Prevenção primária da toxoplasmose O Boletim de Saúde da Grávida deve ser
• Sinais e sintomas de desvios à gravidez preenchido na 1ª consulta e estar
normal permanentemente atualizado. “Assegura a
• Apoio social (proteção contra ameaças e transmissão dos dados clínicos relativos à
agressões) saúde da grávida e do feto, contribuindo
• Expetativas face à gravidez e Nascimento para a articulação e interligação entre os
• Capacidade para a tomada de decisão cuidados de saúde primários e os cuidados
• Plano de parto de saúde Hospitalares” 9.

DATAÇÃO DA GRAVIDEZ SUPLEMENTAÇÃO


A datação correta da gravidez é É recomendada a suplementação com Ácido
determinante para a qualidade dos cuidados Fólico (400 microgramas/dia) a todas as
pré-natais, estando demonstrada uma mulheres na preconceção e até às 12

3
semanas de gestação. As grávidas que ainda
não tiverem iniciado Ácido Fólico devem
gestacional deve ser pedida uma glicémia EESMO
plasmática em jejum a todas as grávidas, na
iniciar na 1ª consulta 3.
primeira consulta. Um valor obtido < 92mg/
As mulheres em preconceção, grávidas ou
dl implica a realização da prova de
a amamentar devem receber um suplemento PONTOS-CHAVE
tolerância à glicose (PTGO) com sobrecarga NA PRESTAÇÃO
de iodo sob a forma de iodeto de
de 75 gr.de glicose entre as 24 -28 semanas DE CUIDADOS À
potássio-150 a 200 microgramas/dia, desde
de gestação, um valor obtido  92mg/dl MULHER DURANTE
o período preconcecional, durante a
confere o diagnóstico de diabetes A GRAVIDEZ
gravidez e enquanto durar o aleitamento
gestacional, não sendo necessário a PTGO
materno exclusivo 10.
às 24-28 semanas 14.
A suplementação com ferro está
recomendada após o 1º trimestre nas
RASTREIO DE CROMOSSOMOPATIAS
grávidas com valores de hemoglobina < 11g/
O estudo dos marcadores bioquímicos na
dl, em caso de gravidez gemelar ou
vigilância pré-natal para identificar
obesidade 3, 11.
grávidas de risco cromossómico não é
Devem ser suplementadas com vitamina
oferecido por rotina, nos estabelecimentos
D (10 microgramas/dia) as grávidas com
de saúde da rede oficial 15.
ingestão insuficiente em Vitamina D ou com
Após os 35 anos é recomendada a
risco aumentado de carência de vitamina
realização de amniocentese entre a 14ª e 16ª
D 3.
semana de gestação, para rastreio/
diagnóstico de cromossomopatias.
RASTREIO DE DOENÇAS INFECIOSAS
Durante a gravidez recomenda-se a
realização dos rastreios de bacteriúria “É recomendada a suplementação
assintomática, rubéola, sífilis,
toxoplasmose, VIH 1 e 2, hepatite B e
com Ácido Fólico (400
estreptococos do grupo B3. microgramas/ dia) a todas as
Não se recomenda a realização, por mulheres na preconceção e até às
rotina, dos rastreios de infeção por 12 semanas de gestação”
citomegalovírus, hepatite c e clamidia.

RASTREIO DE PATOLOGIAS AVALIAÇÃO FETAL


ASSOCIADAS À GRAVIDEZ O estado fetal pode ser avaliado pela
A DGS recomenda o rastreio das auscultação dos batimentos cardíacos fetais
hemoglobinopatias às mulheres com risco. com Doppler a partir das 11 semanas e pela
Se rastreio positivo, o estudo deve ser medição da altura do fundo uterino a partir
realizado ao outro progenitor e ser feita das 24 semanas.
referenciação para consulta de Não está demonstrado benefício para a
aconselhamento genético 1,12. realização de cardiotocografia anteparto na
A determinação do grupo de sangue, do gravidez de baixo risco 11.
fator Rh e a pesquisa de aglutininas
irregulares assumem particular PLANO ASSISTENCIAL
importância na Mulher grávida pela As intervenções propostas na vigilância
possibilidade de prevenir a isoimunização pré-natal devem contemplar o
Rh. Todas as grávidas Rh- não envolvimento da Mulher/casal na tomada de
sensibilizadas devem fazer Imunoglobulina decisão.
anti-D, às 28 semanas de gestação 13.
Para rastreio/diagnóstico de diabetes 1ª CONSULTA (ANTES DAS 12 SEMANAS)

3
EESMO • Entrevista: identificação, história pessoal trabalho de parto às 41 semanas;
e familiar, hábitos, cálculo da IG e DPP;
• Exame físico: geral, ginecológico e EXAMES ECOGRÁFICOS
obstétrico; • Às 11-13 semanas e 6 dias: confirmação da
PONTOS-CHAVE
NA PRESTAÇÃO • Exames laboratoriais; viabilidade fetal, datação correta da
DE CUIDADOS À • Avaliação do risco (referenciação para gravidez, avaliação do risco de anaploidia,
MULHER DURANTE cuidados adicionais); diagnóstico de malformações major,
A GRAVIDEZ • Suplementação com Ácido fólico e Iodo; determinação do número de fetos e
• Aconselhamento/Informações gerais corionicidade;
suportadas por informação escrita; • Às 20-22 semanas: estudo morfológico do
• Preenchimento do BSG; feto, para diagnóstico de malformações;
• Às 30-32 semanas: avaliação do
desenvolvimento fetal e diagnóstico de
“A DGS recomenda o rastreio das malformações tardias;
hemoglobinopatias às mulheres
com risco” AVALIAÇÃO ANALÍTICA
Até às 14 semanas:
• Hemograma e contagem de plaquetas;
AVALIAÇÃO EM CADA CONSULTA DE • Glicémia em jejum;
SEGUIMENTO • Grupo de sangue, fator Rh e pesquisa de
Estado fetal: aglutininas irregulares;
• Frequência cardíaca fetal (com Dopller), a • Serologia da toxoplasmose, rubéola,
partir da 11 semanas; VDRL, VIH 1 e 2, hepatite B;
• Movimentos fetais, a partir das 20 • Rastreio das hemoglobinopatias se
semanas; aplicável;
• Altura do fundo do útero, às 24 semanas; • Exame bacteriológico de urina;

Condição materna: Às 24-26 semanas


• Sinais ou sintomas de desvio à gravidez • Hemograma e contagem de plaquetas;
normal ou de inadaptação à gravidez que • Pesquisa de aglutininas irregulares;
possam afetar a mãe e o feto; • Serologia da toxoplasmose (se IgG
• Pressão arterial (sentada, braço direito negativa na determinação anterior);
apoiado); • Exame bacteriológico de urina;
• Peso e variação ponderal; • PTGO com 75gr (0, 60 e 120 min);
• Exame sumário de urina com fita-teste;
PONTOS CHAVE
• Necessidades educativas sobre Às 32-34 semanas
Os cuidados pré-natais comportamentos saudáveis • Hemograma e contagem de plaquetas
destinam-se a detetar
problemas existentes ou VDRL, VIH 1 e 2, hepatite B e toxoplasmose
que possam vir a surgir OUTRAS INTERVENÇÕES (se IgG negativa na determinação anterior);
Os cuidados pré-natais
• Administração de Imunoglobulina anti-D • Exame bacteriológico de urina;
para grávidas sem às grávidas Rh- às 28s, de acordo com a
fatores de risco podem
norma da DGS;
ter lugar na comuni-
dade, com apoio de • Pesquisa de Streptococos do grupo B entre
enfermeiras-parteiras e as 35-37 semanas, de acordo com a norma da
clínicos gerais
DGS;
Grávidas com problemas • Avaliação da situação e apresentação fetal
específicos devem ser
seguidas em consulta entre as 36-37 semanas;
especializada. • Orientação da grávida para indução do

3
PLANO ASSISTENCIAL DE CUIDADOS PRÉ-NATAIS
PARA A GRAVIDEZ DE BAIXO RISCO

TEMPO DE COLHEITA DE DADOS INFORMAÇÃO


INTERVENÇÕES
GESTAÇÃO OBSERVAÇÃO/AVALIAÇÃO E DISCUSSÃO

1ª consulta - Entrevista: identificação, - Peso e P Al -Importância da vigilância


história clinica pessoal e - Observação genital da gravidez: periodicidade
6–8 familiar, hábitos e mamária e objetivos das consultas e
semanas - Exame físico: peso, - Exame sumário de exames
altura, Índice de Massa urina: bacteriúria e - Alterações fisiológicas
Corporal (IMC) antes da proteinúria e emocionais na gravidez
gravidez e atual, pressão - Referenciação das grávidas -Fisiologia da gravidez
arterial (PA), edemas, com potencial risco de (desconfortos do 1º
coloração da pele, hemoglobinopatias para trimestre)
mucosas e extremidades rastreio - Alimentação, postura,
- Cálculo da IG e DPP - Referenciação das higiene, atividade
-Exame ginecológico grávidas com necessidade física, atividade laboral,
- Avaliação de fatores de cuidados obstétricos sexualidade
de risco pré-natal: adicionais - Efeitos do tabaco e
clínicos, psicológicos e -Referenciação para outras drogas ilícitas
sociais consulta de cessação -Prevenção de infeções;
- Avaliação da motivação e tabágica - Suplementação de Ácido
adaptação pessoal e familiar - Referenciação para fólico e Iodo
à gravidez consulta de nutrição -Sinais de alerta para aborto;
- Avaliação de sinais - Referenciação para Equipa - Exames a realizar no
violência familiar de Apoio à Violência em 1º Trimestre
- Avaliação do histórico Adultos - Papel da Enfermeira
vacinal - Suporte emocional e Especialista de
empoderamento do casal Saúde Materna
- Atividades de Educação - Próxima consulta
para a Saúde
- Preenchimento do boletim
de saúde da grávida

2º consulta - Observação dos - Observação genital -Resultados dos exames do


exames realizados e mamária 1º trimestre
14-16 - Confirmação da IG e - Exame sumário de urina -Desconfortos do 2º
semanas correção da DPP pela - Peso e PA trimestre
eco -Auscultação dos - Comportamentos
- Avaliação materna: batimentos cardíacos fetais saudáveis
Peso (aumento ponderal) com Doppler - Sinais de aborto
PA - Medição A F U - Exames a realizar no
Edemas - Referenciação das 2º trimestre
Genitais externos grávidas com fatores de - Crescimento dos
Estado emocional risco identificados (rastreio movimentos fetais
- Avaliação fetal: das hemoglobinopatias - Vestuário, profilaxia
Auscultação fetal positivo, rastreio de da insuficiência venosa
Altura de fundo do útero cromossomopatias positivo) periférica, cuidados com a
(AFU) - Sinalização das grávidas pele, atividade sexual
Avaliação de fatores de com necessidade de - Necessidade de
risco pré-clínicos: suplementação de ferro suplementação de
psicológicos e sociais - Apoio à grávida/casal Ferro.
- Avaliação de sinais de proposta para diagnóstico - Legislação de proteção
inadaptação pessoal ou pré-natal à grávida
familiar à gravidez - Referenciação da grávida (direitos laborais, subsídio
com sinais de inadaptação á pré-natal)
gravidez - Discutir com a grávida/
- Atualização do BSG casal a necessidade de
apoio psicológico ou social
- Importância do
curso de preparação
para o nascimento

3
TEMPO DE COLHEITA DE DADOS INFORMAÇÃO
INTERVENÇÕES
GESTAÇÃO OBSERVAÇÃO/AVALIAÇÃO E DISCUSSÃO

3ª consulta - Observação dos -Peso e PA - Exames realizados (


exames realizados - Exame sumário de urina desenvolvimento fetal)
22-24 Eco morfológica - A.F.U. - Vestuário e calçado
semanas - Avaliação materna: - Auscultação fetal adequados
Peso (aumento ponderal) - Vacinação anti tétano/ - Atividade / Repouso
PA diftérica se ultimo reforço - Revisão das condições de
Edemas > 10 anos trabalho
Genitais externos - Confirmação do fator -Segurança e uso de cinto de
Estado emocional Rh- das grávidas e do segurança
-Avaliação fetal: cônjuge - Desconfortos da
Batimentos cardíacos - Atualização do BSG gravidez Varizes /
fetais Edemas Obstipação
Movimentos fetais Hemorróidas
AFU - Movimentos Fetais e sua
- Avaliação de fatores importância
de risco - Profilaxia da isoimunização

4ª consulta - Observação dos -Peso e PA - Anatomia da mama


exames realizados: - Exame sumário de urina e Fisiologia da
27-30 Teste de coombs - Observação genital lactação
Semanas - Avaliação materna: e mamária - Vantagens do
Peso (aumento ponderal) - A.F.U. aleitamento materno
PA - Auscultação fetal - Cuidados especiais às
Edemas (maléolos, - Medição do perímetro mamas (observação
mãos e face) abdominal mamilo, hidratação )
Genitais externos - Vacinação anti tétano/ - Sinais de alerta e de
Estado emocional diftérica (2º dose se parto pré-termo
-Avaliação fetal: aplicável) - Exames a realizar no
Batimentos cardíacos - Orientação para a 3º trimestre
fetais profilaxia da Isoimunização - Vinculação e comunicação
Movimentos fetais - Entrega do folheto intrauterina
AFU sobre aleitamento - Características do R.N.
Perimetro abdominal materno
- Avaliação de fatores - Inicio do curso
de risco de preparação
para o nascimento
- Atualização do BSG

5ª consulta Observação dos exames - Peso e PA - Incentivo para


realizados: - Exame sumário de urina amamentação
34-35 Eco do 3º trimestre - Observação genital - Importância do registo dos
Semanas - Avaliação materna: e mamária movimentos fetais no
Peso (aumento ponderal) - A.F.U. Cardiff
PA - Auscultação fetal - Cuidados ao R.N.
Edemas (maléolos, - Medição do perímetro Enxoval / Preparação
mãos e face) abdominal da mala p/ a
Genitais externos - Entrega do folheto sobre maternidade
Estado emocional o que levar p/ a - Plano para alta hospitalar
- Avaliação fetal: maternidade - Apois disponíveis no pós-
Batimentos cardíacos - Orientação para registo -parto
fetais dos movimentos fetais no
Movimentos fetais Cardiff a partir das 35
AFU semanas
Perimetro abdominal - Orientação para a
- Relação entre o pesquisa de Strepto B
aumento de peso e - Marcação de consulta de
alimentação referência no hospital.
- Avaliação da capacidade de - Marcação da visita à
integrar um novo elemento maternidade
na família - Atualização do BSG

3
TEMPO DE COLHEITA DE DADOS INFORMAÇÃO
INTERVENÇÕES
GESTAÇÃO OBSERVAÇÃO/AVALIAÇÃO E DISCUSSÃO

6ª consulta - Avaliação materna: -Peso e PA - Sinais de início de trabalho


Peso (aumento ponderal) - Exame sumário de urina de parto
36 -38 PA - Observação genital - Sinais de alarme
Semanas Edemas (maléolos, e mamária - Plano de parto
mãos e face) - Manobras de Leopold -Diagnóstico precoce
Genitais externos para avaliação da estática -Importância da vigilância
Estado emocional fetal da saúde Infantil
-Avaliação fetal: - Auscultação fetal - Recursos na comunidade (
Batimentos cardíacos - Medição do perímetro cantinhos de amamentação,
fetais abdominal linhas telefónicas e sites de
Movimentos fetais - Sessão educativa sobre apoio
AFU trabalho de parto e - Alterações fisiológicas
Perimetro abdominal parto no puerpério
Posição e situação fetal - Apoio ao casal na -Revisão de parto
Avaliação do risco pré-natal elaboração do Plano - Contraceção pós-parto
de Parto

7ª consulta Avaliação materna: -Peso e PA - Sinais de alerta


Peso - Exame sumário de urina - Sinais de início de TP
Após as 40 PA - Observação genital - Medidas promotoras do
Semanas Edemas (maléolos, e mamária parto normal
mãos e face) - Manobras de Leopold - Métodos de alívio da
Estado emocional para avaliação da estática dor durante o TP
-Avaliação fetal: fetal -Posições de alívio durante
Batimentos cardíacos - Medição do perímetro o TP
fetais abdominal Ingesta durante o Trabalho
Movimentos fetais - Auscultação fetal de parto
AFU -Cardiotocografia se - Reforço da informação
Perimetro abdominal aplicável sobre a necessidade de se
Posição e situação fetal - Avaliação do Indice deslocar à urg. obstétrica
Avaliação do risco pré- de bishop às 41semanas
natal - Descolamento de - Indicações para indução
menbranas se aplicável do trabalho de parto
- Encaminhamento para - Participação ativa do
a urgência obstétrica às casal no trabalho de parto
41 semanas e parto
- Consentimento informado

3
3
EESMO

Pontos-chave na assistência da
parteira

“Teu Dever é Lutar pelo


Direito, Mas se um Dia Encontrares o Direito em Conflito com
a Justiça,
Luta pela Justiça.”
Eduardo Juan Couture

E
ste capítulo pretende evidenciar os fora do hospital, quando o plano é um parto
pontos-chave da assistência durante hospitalar. Nesta fase poderão ter lugar
o trabalho de parto e parto, tendo vários contactos telefónicos com a parteira.
como pilares o cuidado centrado na Mulher Habitualmente é a própria Mulher que
e baseado em evidência científica. As diagnostica o início do trabalho de parto, e
situações abordadas estão relacionadas com tem frequentemente receio de que tudo se
trabalho de parto e parto fisiológico e de desencadeie muito rapidamente e que daí
baixo risco, as complicações obstétricas não resulte um parto não assistido1 , por outro
são aqui abordadas. lado há receios que a Mulher tem e que deve
Arte e ciência. É no balanço positivo entre ser apoiada a gerir.
estas duas dimensões que reside o “segredo” A Mulher que tem uma gravidez normal e
das competências das parteiras. A que está em fase latente de trabalho de parto
assistência e o apoio dados pela parteira têm
um resultado direto na forma como a Mulher “Quando a Mulher não apresenta
encara e desenvolve o seu trabalho de parto
e parto. As parteiras nunca esquecem que
plano de parto deve ser encorajada
num cenário de parto está uma pessoa real, a pronunciar-se sobre as suas
trazendo ao mundo outra pessoa também preferências e sentir que estas
real.1 serão suportadas”
FASE LATENTE E PRIMEIRO ESTADIO deve ser aconselhada a permanecer no
DO TRABALHO DE PARTO conforto do seu ambiente, com as pessoas
A Mulher pode sentir-se excitada ou ansiosa. que escolher, a manter as suas atividades
Necessita que a parteira lhe transmita normais, a comer/beber, a manter-se ativa e
segurança, calma e informação explícita em movimento, preferencialmente em
sobre o que está a acontecer. Deve ser posições verticais. É importante que se
apoiada a gerir esta fase do trabalho de parto mantenha distraída, sem se

3
EESMO focalizar demasiado naquilo que está a prescrição se tratasse. Informar sobre as
acontecer, assim todo o processo poderá vantagens pode apoiar a decisão positiva,
mais tarde não parecer tão longo. mas a Mulher é que decide o que quer ou
Idealmente a Mulher deve conhecer a sua não fazer.
PONTOS-CHAVE
parteira e deve poder contactá-la quando o A Mulher deve sentir-se com o controle da
NA ASSISTÊNCIA
DA PARTEIRA trabalho de parto se iniciar. No entanto, situação, sem se sentir pressionada, deve
quando a Mulher escolhe um parto sentir-se apoiada e não substituída ou
hospitalar, o atendimento no serviço de tratada, no sentido biomédico da palavra.
urgência é crucial. A Mulher pode sentir-se O plano de parto é uma ferramenta
vulnerável e assim menos confiante, o valiosa para a parteira, particularmente
atendimento deve ser afetuoso e quando esta não conhece antecipadamente a
hospitaleiro. A Mulher deve sentir-se Mulher/casal que está a assistir; nele estão as
parceira e experienciar sentimentos de intenções e expetativas do casal para com o
respeito mútuo, que permitem que a Mulher trabalho da parteira. O plano de parto
relaxe e responda positivamente às forças facilita a assistência individualizada e o
espantosas do trabalho de parto 1. envolvimento do acompanhante.
Quando a Mulher não apresenta plano de
“As palavras selecionadas para parto deve ser encorajada a pronunciar-se
abordar uma Mulher em trabalho sobre as suas preferências e sentir que estas
serão suportadas: escolha do acompanhante,
de parto podem ser facilitadoras
monitorização fetal, estratégias de gestão da
ou dificultadoras de todo o dor, posições para o trabalho de parto e
processo” parto, corte do cordão umbilical, contacto
pele a pele, aleitamento materno,… tendo
Caso haja dúvidas relativamente à oportunidade de discutir estas e outras
integridade da bolsa amniótica deve ser questões abre-se espaço para o início de uma
realizada uma observação com espéculo e relação de confiança entre o casal e a
não proceder a toques vaginais antes que o parteira, e que a Mulher se sente valorizada e
trabalho de parto se inicie, reduzindo o risco envolvida na tomada de decisão sobre si
de infeção ascendente e melhorando a própria e o seu parto. Hodnett et al (2012)
satisfação da grávida.1,2 afirmam que há um poderoso efeito na
A comunicação e a linguagem utilizadas satisfação da Mulher e no progresso do
são peças fundamentais na assistência da trabalho de parto, quando a Mulher se sente
parteira. As palavras selecionadas para em controle e envolvida nas tomadas de
abordar uma Mulher em trabalho de parto decisão.3 As questões abordadas devem ser
podem ser facilitadoras ou dificultadoras de registadas no processo clínico.
todo o processo. Dor e contração são O acompanhamento por pessoa
associadas a algo negativo, falar em onda ou significativa é um direito da Mulher em
desconforto pode ajudar a Mulher a tolerar trabalho de parto e está legislado em
Portugal. Quando a Mulher é admitida no
melhor as sensações físicas. Alívio da dor
hospital pode experimentar uma série de
pode substituir-se por gerir ou lidar com. A
emoções e sentimentos negativos, no
evolução do trabalho de parto também pode
mínimo sente-se vulnerável fora do seu
ser transmitida de forma positiva: está no
ambiente, ainda que esta tenha sido a sua
início do trabalho de parto é mais agradável
opção relativamente ao local do parto. O
de ouvir do que está ainda muito atrasada. A
suporte, apoio e companhia de alguém
linguagem não deve ser prescritiva, mas sim
emocionalmente significativo para a Mulher
sugestiva. A Mulher deve experimentar a
é segurizante e tranquilizador. O
bola de Pilates ou o duche, e não sentir-se
obrigada a fazê-lo como se de uma

4
acompanhante deve ser encarado pela
parteira como um parceiro, para a Mulher e
fetal contínua e/ou interna. EESMO
A bolsa amniótica deve permanecer
para ela própria – um membro da equipa, que
intacta até que haja evidência de um critério
pretende ajudar, ainda que também possa
clínico rigoroso para a sua rotura,
sentir-se ansioso. Deve ser envolvido no PONTOS-CHAVE
contrabalançado com as vantagens das suas
apoio à grávida e as suas atividades podem NA ASSISTÊNCIA
funções protectoras.1,7 A amniotomia deve DA PARTEIRA
incluir massagens, disponibilizar bebidas,
ser sempre encarada como uma intervenção
apoiar na respiração e relaxamento, nos
irreversível, e por isso carece de avaliação
movimentos, no duche ou imersão e apoiar
rigorosa prévia ao procedimento e a Mulher
nas decisões tomadas pela Mulher.
deve participar na tomada de decisão.
O acompanhamento contínuo da parteira
O exame inicial da parteira inclui
durante o trabalho de parto é outro aspeto
entrevista e observação física e obstétrica.
fundamental. Há evidência de que a
Na entrevista inicial devem abordar-se
presença da parteira, em assistência one to
aspetos como: sinais iniciais, sinais de
one, está associada a maior satisfação das
rotura da bolsa amniótica, frequência e
mulheres 1. A presença e o apoio da parteira
duração das contrações, movimentos fetais,
aumentam a confiança da Mulher e a sua
índice obstétrico, idade gestacional, história
capacidade de coping4. Existem ainda outras
obstétrica anterior, história ginecológica,
importantes vantagens: trabalhos de partos
grupo de sangue, antecedentes pessoais
mais curtos, menos intervenções durante o
relevantes e alergias, vigilância da gravidez
trabalho de parto, menos recurso a analgesia
atual, intercorrências e exames pré-natais,
epidural e outras medidas farmacológicas,
escolha do acompanhante, existência de
menos partos instrumentados e cesarianas.5
plano de parto. Com os dados recolhidos
Em 2013 estes resultados foram reforçados
deve proceder-se à avaliação do grau de risco
por Sandall et al, num estudo que reuniu
para o trabalho de parto e parto.
16242 mulheres. Concluiu-se que as
A observação física e obstétrica pressupõe
mulheres assistidas exclusivamente por
sempre o consentimento da Mulher. Esta
parteiras tiveram menos partos prematuros
inclui a observação do estado geral,
e menos intervenção durante o trabalho de
avaliação de sinais vitais maternos, pesquisa
parto e parto. Os autores concluem que a
de edemas (não fisiológicos), avaliação da
assistência exclusiva por parteiras deve ser
altura de fundo uterino, manobras de
oferecida a todas as mulheres, a menos que
Leopold, determinação da melhor posição
estas tenham sérias complicações médicas
para a auscultação dos batimentos cardíacos
ou obstétricas, e afirmam ainda que as
fetais e auscultação ou cardiotocografia de
mulheres devem ser encorajadas a tomar
esta opção.6
“O acompanhante deve ser
A essência da assistência da parteira, a
arte de que se fala no início do capítulo, é o
encarado pela parteira como um
estar com a Mulher. A Mulher tem que estar parceiro, um membro da
suportada e apoiada. equipa, para a Mulher e para ela
A primeira preocupação da parteira é não própria”
prejudicar a Mulher.
Todos os procedimentos clínicos e acordo com critérios clínicos determinados
invasivos devem ter uma indicação seletiva e pela parteira. O exame vaginal pode também
não rotineira: administração de enemas, ser usado para determinar o início do
tricotomia, administração de fluídos ou trabalho de parto/ dilatação cervical,
fármacos intravenosos, exames vaginais mediante as queixas e comportamento da
repetidos, analgesia epidural, monitorização Mulher, no entanto este procedimento deve
ser encarado como invasivo, desconfortável

4
EESMO e com risco aumentado de infecção.1 posições à Mulher em trabalho de parto. As
Os registos clínicos da parteira são parte posturas verticais apresentam vantagens
integrante do processo clínico da grávida e particulares: trabalhos de parto mais curtos
constituem um documento legal, devem ser e redução da necessidade de analgesia8,
PONTOS-CHAVE
rigorosamente redigidos. Neles devem estar menos episiotomias e alterações anormais
NA ASSISTÊNCIA
registados todos os acontecimentos, da frequência cardíaca fetal9 e maior
DA PARTEIRA
interações, avaliações e decisões tomadas sensação de controle1. Por outro lado, estar
por todos os intervenientes. deitada tem muitas desvantagens e
O partograma é uma ferramenta interfere com a fisiologia do trabalho de
parto: risco de compressão da aorta
abdominal, redução
“A avaliação do bem-estar materno do diâmetro inter-espinhal da bacia,
aumento da dor e descida mais lenta da
inclui: vigilância do estado
apresentação fetal1. Mesmo perante a
geral e de sinais vitais, fluídos necessidade de monitorização fetal
administrados, eliminação vesical, contínua, é possível fazê-lo em posição
hidratação oral e comportamento” vertical. A Mulher pode querer estar deitada
e descansar e isso deve ser respeitado, ou
absolutamente essencial no trabalho de pode ser necessário que esteja deitada por
parto, não é apenas um documento de um período definido após a administração
registo, é também um instrumento de de analgesia epidural, mas é importante que
diagnóstico. nos intervalos as posições verticais sejam
A avaliação da evolução do trabalho de estimuladas. É ainda importante que a
parto e a sua condução são um aspeto parteira tenha em consideração as raízes
fundamental da assistência da parteira, com culturais da Mulher, encorajando-a e
interferência direta nos resultados maternos mostrando-lhe como pode facilitar o seu
e neonatais. trabalho de parto e simultaneamente
Apesar de todas as desvantagens melhorar o seu conforto.
conhecidas da observação vaginal, esta Não há evidência que recomende a
continua a ser a forma mais usada para utilização de enemas ou tricotomia
avaliar a evolução do trabalho de parto. A rotineiros, a Organização Mundial de Saúde
parteira deve desenvolver competências, e considera mesmo esta prática como
aplicá-las na prática clínica, na avaliação não “claramente prejudicial ou ineficaz e que
invasiva do trabalho de parto1,2: visualização deve ser eliminada” 10. No entanto, a Mulher
da linha púrpura, observação do triângulo pode optar por estes procedimentos, e
de Michaelis, descida da melhor posição para quando isso acontece habitualmente realiza-
auscultação fetal, alteração do padrão os ainda em casa.
respiratório materno, comportamento, O recurso a duche ou imersão deve ser
postura e vocalizações maternas, frequência oferecido à Mulher para relaxamento e
e duração das contrações. hidroterapia.
A avaliação do bem-estar materno inclui: A Mulher deve poder optar por usar a sua
vigilância do estado geral e de sinais vitais, própria roupa. Sempre que necessário deve
fluídos administrados, eliminação vesical, ser-lhe fornecida roupa limpa e seca.
hidratação oral e comportamento. A ingestão durante o trabalho de parto,
Muitas outras medidas devem ser embora ainda controversa nalguns cenários,
desenvolvidas para melhorar a forma como a deve ser defendida pela parteira pois é
Mulher se sente ao longo do trabalho de essencial para o bem-estar da Mulher em
parto. trabalho de parto. Negá-la pode ser um ato
Deve ser dada liberdade de movimentos e de violência. As mulheres são privadas de

4
ingerir alimentos e líquidos pelo risco de
aspiração do conteúdo gástrico, questão que
momento for detetada uma anomalia na EESMO
frequência cardíaca do feto, ou suspeita de
à luz do conhecimento atual deveria estar
comprometimento do bem-estar do bebé
perfeitamente ultrapassada pois a sua
ou aparecimento de mecónio no líquido
incidência é extremamente baixa1,2 e todas PONTOS-CHAVE
amniótico, deve ser iniciada monitorização NA ASSISTÊNCIA
as grávidas que necessitam de anestesia
contínua. Esta decisão deve ser discutida DA PARTEIRA
devem responder a um protocolo de
com a grávida e acompanhante. A
prevenção da aspiração do conteúdo
monitorização contínua está ainda indicada
gástrico, de acordo com a norma de
nas situações em que o bem-estar fetal pode
procedimento estabelecida na instituição,
ser comprometido: indução de trabalho de
independentemente da hora da última
parto, aceleração do trabalho de parto com
ingestão alimentar. Por outro lado, a
ocitocina e após a administração de
privação de alimentos e líquidos pode ser
analgesia epidural.
sentida como intimidação11 ou até violência.
Nos registos clínicos, para além das
Para a maioria das mulheres com trabalho de
avaliações efetuadas deve também ser
parto normal, é apropriado oferecer água,
registada a forma como a vigilância fetal está
chá, sumos sem resíduos e alimentos com
a ser conduzida.
poucos resíduos e gordura1,2,11; a gelatina
A cardiotocografia no momento da
pode ser também uma boa opção. É comum
admissão não está recomendada para
no início do trabalho de parto a Mulher
trabalhos de parto de baixo risco7. A sua
querer ingerir alimentos, mas essa vontade
realização não tem benefícios na redução da
vai desaparecendo ao longo do trabalho de
morbilidade e mortalidade perinatais e está
parto. A ingestão de líquidos deve ser
relacionada com aumento da taxa de
estimulada mas a Mulher não deve ser
cesarianas e de partos instrumentados12,13.
forçada a ingerir.
A interpretação da cardiotocografia deve
A vigilância do bem-estar fetal durante o
ser baseada nas orientações da FIGO e
trabalho de parto tem como objetivo manter
adotada por todos os profissionais.
o bem-estar do feto, detetar a hipoxia e
A gestão da dor durante o trabalho de
iniciar manobras de reanimação intra-
parto deve ser centrada na Mulher, e não
uterina antes que se instale a asfixia e que
orientada medicamente. A parteira deve ter
possam ocorrer lesões neurológicas1. Em
conhecimento profundo acerca da fisiologia
trabalhos de parto de baixo risco deve
da dor do trabalho de parto e deve conseguir
optar-se pela auscultação intermitente dos
batimentos cardíacos fetais7. A parteira deve
discutir com a Mulher esta opção. Esta
“A ingestão durante o trabalho de
auscultação pode ser feita com um parto, embora ainda controversa
estestoscópio de Pinard ou Doppler portátil, nalguns cenários, deve ser
este último tem a vantagem de os defendida pela parteira, pois é
batimentos cardíacos e os sons resultantes
essencial para o bem-estar da
dos movimentos fetais poderem ser ouvidos
também pela mãe e acompanhante.
Mulher”
A auscultação intermitente no 1º estadio
do trabalho de parto deve ser realizada de 15 ela própria dissociá-la do conceito clássico/
em 15 minutos, durante um minuto, cultural de dor que precisa de tratamento. A
imediatamente a seguir a uma contração. A dor do trabalho de parto não pretende
frequência cardíaca fetal deve situar-se alertar para algo que está a correr mal ou
entre os 110-160 bpm e não devem ser para uma agressão que o organismo sofreu.
audíveis desacelerações7. Se a qualquer É importante que a parteira reconheça que

4
EESMO durante o trabalho de parto todas as dilatação completa não significa o início do
mulheres vão experimentar algum nível de período expulsivo.
dor (fisiológica) nalgum momento e deve Esta fase é denominada por alguns
saber mobilizar todos os recursos autores como fase de descanso1. O
PONTOS-CHAVE
fisiológicos da Mulher para lidar com ela. A comportamento da Mulher caracteriza-se
NA ASSISTÊNCIA
dor do trabalho de parto é positiva e tem um por: parece ausente nos períodos entre
DA PARTEIRA
propósito, a Mulher tem que confiar no seu contrações, sente-se desconfortável, deseja
corpo e na sua capacidade para parir. À alívio da dor, sente que o processo nunca
parteira cabe dar-lhe as melhores condições mais acaba e quer que tudo termine, pode
para expressar as suas sensações físicas sem verbalizar que se sente incapaz.
constrangimentos ou restrições. A parteira As contrações são habitualmente mais
fortes e duradouras mas menos frequentes,
“A parteira deverá saber o que favorece o descanso da Mulher entre
contrações.
gerir com a Mulher tanto
O reflexo de Ferguson instala-se (descida
medidas farmacológicas da apresentação pressiona os nervos
como não recetores do pavimento pélvico) e a Mulher
farmacológicas ou a associação de sente necessidade de expulsar. Inicialmente
ambas” este reflexo pode ser controlado mas
torna-se progressivamente compulsivo,
deve ter em conta não só o nível de dor mas desconcertante e involuntário1.
também o estado emocional da Mulher, Os esforços expulsivos dirigidos antes
experiências anteriores que esta verbaliza, que a Mulher sinta essa necessidade e/ou a
falta de alimentos, falta de sono e descanso manobra de Valsava estão desaconselhados1.
– todos este s elementos influenciam A Mulher deve ser encorajada a agir
a perceção da dor. instintivamente. Poucas mulheres
Se para algumas mulheres a dor do necessitam de orientação a menos que
trabalho de parto é encarada como estejam sob o efeito de analgesia epidural.
sofrimento e memória negativa, para outras A posição de litotomia reduz a perfusão
é vista como algo que as empoderou1, placentar e consequentemente reduz a
tornando-as poderosas e triunfantes. À oxigenação do feto e também a qualidade da
parteira cabe aceitar ambas com a mesma dinâmica uterina, pelo que esta deve ser a
abertura e empenho. Deverá saber gerir com última opção1,2. A posição deitada de lado
a Mulher tanto medidas farmacológicas pode ajudar na rotação fetal principalmente
como não farmacológicas ou a associação de em mulheres com analgesia epidural14.
ambas. Deve ainda saber informar a Mulher A maioria dos estudos reconhece
sobre as vantagens, desvantagens e vantagens a todas as posições não
procedimentos para cada opção. Também as horizontais: redução da duração do 2º
mudanças de atitude ou escolhas da Mulher estadio, menos partos instrumentados,
devem ser apoiadas pela parteira. menos episiotomias, menor dor e menor
ocorrência de alterações da frequência
SEGUNDO ESTADIO DO TRABALHO DE cardíaca do feto1,2. Estas estão no entanto
PARTO relacionadas com maior úmero de
Embora envolvida nalguma controvérsia lacerações perineais, o que se entende se
atual, a definição tradicional de 2ºestadio de reduz a realização de episiotomia e também
trabalho de parto refere-se ao período entre com perda hemática >500 ml.
a dilatação completa e o nascimento do bebé. A Mulher deve ser encorajada a mudar de
Mas a grande questão para as parteiras posição e adotar a que melhor a faz sentir.
reside no facto de reconhecerem que a

4
Quando os esforços expulsivos se iniciam, a
parteira deve preparar-se para assistir ao
A promoção da integridade perineal EESMO
consegue-se através de: não manipulação do
parto. Neste momento a Mulher e
períneo no 2º estadio, episiotomia seletiva,
acompanhante já se aperceberam de que o
verticalidade no parto, esforços expulsivos
parto está iminente e os seus sentimentos PONTOS-CHAVE
espontâneos e não dirigidos. Pode também NA ASSISTÊNCIA
podem variar desde a excitação ao medo. A
aplicar-se calor no períneo durante o DA PARTEIRA
abordagem calma da parteira que informa
período expulsivo1,2.
sobre o que está a acontecer ajuda a Mulher
a manter-se confiante. É fundamental
TERCEIRO ESTADIO DO TRABALHO DE
manter a privacidade e a dignidade da
PARTO
Mulher, o apoio do acompanhante é
A dequitadura pode ter condução expectante
fundamental neste momento e deve
(fisiológica) ou ativa. A parteira deve ter em
transmitir-lhe confiança e coragem.
consideração a opção da Mulher declarada
As desacelerações precoces de rápida
no plano de parto ou verbalizada na altura.
recuperação, com variabilidade mantida
Na condução expectante (ou fisiológica) 1,2 é
entre contrações, são fisiológicas no período
necessário manter o ambiente calmo, mãe e
expulsivo. A parteira deve reconhecer o
bebé devem estar em contacto pele a pele,
padrão fisiológico para evitar intervenções
cobertos por lençóis aquecidos. Este
desnecessárias. São sinais de alerta e
contacto íntimo favorece o início da
preocupação as desacelerações tardias ou de
amamentação que estimulará a libertação de
recuperação lenta e as bradicardias ocitocina. A Mulher deve estar confortável e
mantidas. Nesta situação deve considerar-se com elevação de no mínimo 450, para
a realização de episiotomia. favorecer o descolamento da placenta
Para a expulsão da cabeça fetal podem ser através do seu peso. Este é o momento para a
necessárias duas ou três contrações, onde o parteira se sentar e descansar um pouco
períneo não deve ser manipulado. Após a mantendo apenas a observação atenta,
expulsão da cabeça, a parteira deve interferindo o mínimo possível. Deve
pesquisar a existência de circular cervical e aguardar pelos sinais de descolamento da
decidir a condução clínica a realizar se a placenta, apoiar a sua expulsão e vigiar a
detetar. A maioria das circulares pode ser perda de sangue. A grávida pode ser
reduzida passando o cordão através da incentivada a levantar-se para favorecer a
cabeça do bebé. Caso não seja possível, tem expulsão da placenta.
de optar entre o clampeamento/corte do A expulsão da placenta deve ser
cordão e a manobra de Somersault. Esta gentilmente apoiada usando o seu próprio
última tem a vantagem de manter o cordão peso e movimentos circulares, para auxiliar
intacto permitindo o seu corte apenas
quando parar de pulsar, permitindo “A abordagem calma da parteira
aumentar o volume de sangue recebido pelo
bebé. Caso se opte pelo clampeamento/corte
que informa sobre o que está a
o bebé tem que nascer logo de seguida, pelo acontecer ajuda a Mulher a manter-
que esta deve ser a última opção e não a de se confiante”
primeira escolha.
O nascimento do corpo fetal pode ser a saída completas das membranas sem
apoiado pela mãe caso esta o deseje. A mãe movimentos rápidos ou intempestivos.
ajuda o bebé a nascer e inicia de imediato o Pode ser administrado um uterotónico para
contacto pele a pele se esta for a sua vontade. melhorar o tónus uterino após a expulsão da
O cordão umbilical será então cortado por placenta ou em qualquer altura em que seja
quem a mãe decidir e após parar de pulsar. necessário controlar a hemorragia, mas

4
EESMO sempre preferencialmente após a A Mulher deve estar confortável e
dequitadura para evitar a retenção convenientemente anestesiada, caso não
placentar. esteja sob o efeito de analgesia epidural deve
Este processo espontâneo acontece em 10 proceder-se a uma correta anestesia local do
PONTOS-CHAVE
minutos a 1 hora, com uma média de 13 períneo.
NA ASSISTÊNCIA
DA PARTEIRA minutos15. Preferencialmente, a sutura perineal deve
As orientações para a condução ativa da ser realizada por quem assistiu ao parto e
dequitadura1,2 incluem a administração logo após a dequitadura, reduzindo a perda
rotineira de uterotómicos com vista a de sangue e o risco de exposição à infeção.
reduzir o risco de hemorragia. Esta decisão
pode ser tomada de acordo com o grau de QUARTO ESTADIO DO TRABALHO DE
risco que a Mulher apresenta, para isso é PARTO
necessário proceder ao clampeamento É aconselhável que a puérpera e recém-
precoce do cordão umbilical e à tração nascido fiquem sob vigilância da parteira
controlada do cordão. São ainda durante um período mínimo de 1 hora após o
consideradas manobras de condução ativa a parto1,2. Durante este período os sinais vitais
administração de perfusão de uterotómicos maternos devem ser vigiados, com
pós o parto e/ou a massagem uterina após particular atenção para o pulso, um ligeiro
aumento da temperatura é também
“É aconselhável que a puérpera fisiológico.
A Mulher deve ser apoiada no aleitamento
e o recém-nascido fiquem sob materno, favorecido pelo contacto pele a
vigilância da parteira durante no pele que deve manter-se por um período
mínimo uma hora após o parto” superior a uma hora.
Este é também o momento para vigiar o
expulsão da placenta. tónus uterino, as perdas hemáticas e
Após a dequitadura, a parteira deve estimular o esvaziamento vesical. O períneo
verificar a contração do útero e verificar a deve voltar a ser observado.
quantidade de sangue perdido. A placenta e A puérpera deve nesta altura alimentar-
as membranas devem ser rigorosamente se, se tiver vontade, o que habitualmente
observadas para garantir que todas as acontece.
estruturas estão completas e que nada ficou Cateteres venosos ou epidurais devem ser
dentro do útero. removidos, se não existir contraindicação.
De seguida a parteira deve observar Após todos estes cuidados a parteira decide
criteriosamente o períneo e diagnosticar as a transferência para a enfermaria, caso se
lesões perineais existentes. A incidência de trate de um parto domiciliar esta será
lesão perineal após o parto não está altura em que a parteira sai combinando com
estudada em Portugal, mas grande parte das a Mulher os contactos subsequentes.
mulheres sofrem algum tipo de trauma
perineal. A parteira deve ter competência
para proceder à reparação do períneo por
forma a melhorar a condição pós-parto da
Mulher e prevenir problemas físicos,
psicológicos, sexuais, sociais e de cuidados
ao bebé. A parteira deve ainda ter em
consideração que a sutura perineal é um
momento que preocupa a Mulher e que pode
ser traumático.

4
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14
Downe S. (2004) The concept of normality in the maternity services: application and consequences. In:
Frith L (ed) Ethics and midwifery: issues in contemporary practice, 2nd edn. Butterworth Heinemann,
Oxford.
15
Begley C M (1990) A comparison of active and physiological management of the third stage of labour.
Midwifery 6: 3-17

4
EESMO

Pontos-chave na prestação
de cuidados à Mulher após a
gravidez

I
NTRODUÇÃO O EESMO é o membro da equipa
Designa-se por Puerpério (vulgo multidisciplinar que potencia a saúde da
pós-parto) “o período de seis semanas puérpera e do RN, apoiando o processo de
após o parto, no qual ocorre uma regressão transição e adaptação à parentalidade 5, e é o
das alterações anatómicas e fisiológicas mais presente, para avaliar o bem-estar do
inerentes à gravidez”1. Divide-se em três binómio mãe/RN, pois existe uma grande
períodos: puerpério imediato (primeiras aproximação com as utentes e estas estão
duas horas), puerpério precoce (até ao final também mais recetivas ao seu cuidar 2 3 4.
da primeira semana) e puerpério tardio (até
ao final da sexta semana)1. Há quem lhe PRESTAÇÃO DE CUIDADOS À
chame também o quarto trimestre, o que por PUÉRPERA NO INTERNAMENTO
si só pressupõe uma fase de continuidade dos Em seguida, são enunciados os aspetos que
três trimestres de gravidez, fundamental para devem ser tidos em conta na observação geral
a saúde materna e neonatal 2. da puérpera, na orientação da puérpera para o
É um período bastante vulnerável à autocuidado, na promoção da amamentação e
ocorrência de crise, devido às profundas na preparação para a alta clínica:
transformações intra e inter pessoais que
ocorrem na Mulher/família, face à OBSERVAÇÃO GERAL DA PUÉRPERA:
“delimitação entre o perdido – gravidez – e o • Avaliação da involução uterina através
adquirido – o filho”3. Sendo um período da massagem uterina;
sobretudo de «ajustamento», “o apoio dado à • Avaliação dos lóquios quanto às suas
Mulher/família pelos técnicos de saúde,
nomeadamente os enfermeiros, é importante
“O EESMO é o membro da equipa
nesta fase da vida, com vista à prevenção de
desajustes a nível familiar, tendo em vista a
multidisciplinar que potencia
promoção da saúde e do bem-estar de toda a a saúde da puérpera e do RN,
família, com repercussões positivas também apoiando o processo de transição e
para a sociedade”4. adaptação à parentalidade”

4
EESMO características (quantidade, cor, cheiro); lavagem do períneo com água tépida, limpeza
• Inspeção do períneo para rastreio de sinais perineal no sentido ântero-posterior após
inflamatórios ao nível da episiorrafia e/ou cada ida à casa de banho);
sutura perineal, presença de hematoma e de • Ensino sobre a higiene das mamas
PONTOS-CHAVE
hemorroidal; e mamilos.
NA PRESTAÇÃO
DE CUIDADOS À • Verificação do penso da sutura
MULHER APÓS A operatória, no caso de cesariana e realizá- PROMOÇÃO DA AMAMENTAÇÃO:
GRAVIDEZ lo segundo a prescrição médica; • Verificando a presença ou não de desejo da
• Avaliação de Sinais Vitais para mãe em amamentar;
deteção precoce de complicações (ex: • Avaliando as características dos mamilos
infeção, hipertensão, hemorragia); e drenagem de colostro;
• Observação dos membros inferiores • Explicando as vantagens do aleitamento
sobretudo nas puérperas com fatores de risco materno;
para tromboembolismo; • Ensino, instrução e treino da amamentação
• Palpação mamária (despiste de (posição do RN, adaptação à mama,
ingurgitamento mamário), observação dos presença de reflexos de sucção e deglutição
mamilos e verificar a presença de do RN, horários e frequências das mamadas,
colostro; condutas na prevenção de complicações,
• Avaliação do retorno das eliminações como o ingurgitamento mamário, fissuras
vesical e intestinal; ou mastite);
• Avaliação da presença de desconfortos • Esclarecendo sobre a perda ponderal
(ex: presença de contração uterina durante fisiológica do RN (até 10% do peso à
a amamentação, episiotomia/sutura nascença) nos primeiros dias de vida;
perineal, sutura operatória, ingurgitamento • Mostrando disponibilidade da equipa para a
mamário ou patologia hemorroidária) e ajudar mesmo após a alta da maternidade ou
atuar em conformidade; referenciar para «cantinhos de
“Entre os aspetos a ter em conta amamentação» na comunidade.

na preparação para a alta clínica, PREPARAÇÃO PARA A ALTA CLÍNICA


está o reinício da atividade sexual e • Reconhecimento de sinais e sintomas
contraceção” habituais de problemas físicos e/ou
psicológicos maternos no pós-parto;
• Interpretação dos valores laboratoriais para • Cuidados perineais;
deteção de complicações; • Amamentação;
• Administração de terapêutica prescrita • Reinício da atividade sexual e contraceção;
(especial atenção à necessidade de • Alimentação, exercício e repouso;
administrar imunoglobulina anti-D, antes • Consulta de revisão do puerpério (entre a
das 72 horas pós-parto, à puérpera Rh 6ª e 8ª semana de pós-parto);
negativa com RN Rh positivo) 6. • Referenciação em caso de situações
potenciais ou existenciais de risco (ex: deficit
ORIENTAÇÃO DA PUÉRPERA PARA O socioeconómico, deficit cognitivo,
AUTOCUIDADO: problemas parentais, violência).
• Ajuda e/ou incentivo aos cuidados
de higiene geral; PRESTAÇAO DE CUIDADOS AO RECÉM
• Ensino da lavagem das mãos antes e após NASCIDO DE MÉDIO E BAIXO RISCO
a realização de autocuidados e ao RN; DURANTE O INTERNAMENTO
• Ensino sobre os cuidados perineais
(mudança regular do penso higiénico Na observação geral do RN e na preparação

5
para a alta clínica, devem ser tidos • Realização do rastreio auditivo;
PRESTAÇÃO
em consideração os fatores que • Registo do nascimento11.
DE
abaixo se mencionam.
CUIDADOS À
PUÉRPERA
OBSERVAÇÃO GERAL AO RN:
NA
• Avaliação e registo do peso e medições
COMUNIDAD
antropométricas (perímetro cefálico e
E
comprimento);
No contexto da
• Ensino, instrução e treino do banho diário e
prestação de
da mudança da fralda com a mãe/família
cuidados na
com avaliação:
comunidade,
• da pele e mucosas;
são importantes
• do coto umbilical;
as seguintes
• do choro;
medidas:
• da eliminação vesical e intestinal.
• Avaliação
• Avaliação conjunta com a
com a puérpera
puérpera/família das mamadas e/ou
do seu estado
aleitamento artificial (ex: capacidade de
físico e
pega, reflexos de sucção e deglutição,
psicológico e
eructação);
processo de
• Vacinação da BCG e VHB (e imunoglobulina
recuperação de
anti-hepatite B para as situações de má
parto,
vigilância materna).
incluindo
• Promoção da relação de apego,
exame
estimulando os pais a prestar os cuidados ao
mamário e
RN7;
perineal (se
• Esclarecimento das dúvidas e dar suporte
apropriado);
emocional aos pais em caso de desvios ou
• Avaliação do
complicações com o RN, que requeira
processo
internamento em neonatologia.
cicatricial do
períneo ou
PREPARAÇÃO PARA A ALTA CLÍNICA:
abdómen e
• Realização de ensinos para a saúde:
remoção de
teste de diagnóstico precoce entre o 3º e 6º
material de
dia de vida do RN8;
sutura (caso
• cumprimento do programa nacional de
exista);
vacinação9;
• Consulta
• situações de risco (asfixia,
de revisão
posicionamento no berço, acidentes
do parto
domésticos e rodoviários);
(com exame
• aconselhamento sobre amamentação/
mamário,
lactação;
perineal e
• consulta de saúde infantil a partir dos
citologia);
15 dias de vida;
• Aconselhame
• avaliação ponderal semanal no 1º mês
nto
• transporte seguro desde a
contracetivo e
maternidade com Sistema de Retenção
ou início de
de Crianças – Projeto de Promoção da
contracepção12
Alta Segura10.
;

5
• Despiste de problemas físicos e/ou mentais
e fazer o seu encaminhamento para outros
EESMO
profissionais ou instituições de cuidados.

PRESTAÇÃO DE CUIDADOS AO RN PONTOS-CHAVE NA PRESTAÇÃO DE CUIDADOS À MULHER


NA COMUNIDADE APÓS A GRAVIDEZ
Quanto ao RN, devem ser promovidos os
seguintes cuidados no âmbito da
comunidade:
• Avaliação e registo do peso e medições
antropométricas (perímetro cefálico e
comprimento);
• Realização do teste de diagnóstico precoce;
• Cumprimento do programa de vacinação;
• Consulta de saúde infantil;
• Despiste de problemas com a amamentação
e/ou outras complicações (ex: icterícia,
infeção do coto umbilical) e fazer o devido
encaminhamento.

PONTOS CHAVE

Promover o bem-estar físico e emocional da Mulher e do RN.

Orientar e apoiar a família para a amamentação.

Orientar os cuidados básicos com o RN.

Identificar situação de risco ou intercorrências e referenciá-las.

Orientar o planeamento familiar. 13

5
1
GRAÇA, L. Medicina materno-fetal. 3ª ed. Lisboa: Lidel Edições Técnicas, Lda., 2005.
2
BOBAK, I.; LOWDERMILK, D.; JENSEN, M. Enfermagem na Maternidade. 4ª ed. Loures: Lusociência,
1999, 1017p.
3
SOIFER, R. Psicologia da gravidez, parto e puerpério. 5ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
4
AFONSO, E. Relações familiares no pós-parto. In Enfermagem em Foco. SEP. Ano IX, nº 38 (Fevereiro/
Abril 2000), p. 35-38.
5
Diário da República, 2.ª série, N.º 3,18 de Fevereiro de 2011.
6
Direção Geral da Saúde. Profilxia da Isoimunização Rh, Circular Normativa Nº 02/DSMIA de
15/01/2007 7 BRAZELTON, T. A relação mais precoce: os pais, os bebés e a interacção precoce. Lisboa:
Terramar, 1989. 8 Diário da República, 2.ª série, N.º 7, 12 de Janeiro de 2010.
9
Direção Geral da Saúde. Programa Nacional de Vacinação 2012. Norma n.º 040/2011 de 21/12/2011, 26 de
janeiro de 2012
10
Direção Geral da Saúde. Orientação 005/2013 de 10 de Abril de 2013.
11
Projeto «Nascer Cidadão» . Portal da Saúde. 2007 in
http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/a+saude+em+portugal/noticias/arquivo/2007/3/
nascer+cidadao.htm
12
Direção Geral da Saúde. Saúde Reprodutiva/Planeamento Familiar. Orientações Clínicas da Direcção-
Geral da Saúde, 2008.
13
WHO. Essencial Antenatal, Perinatal and Postpartum Care. WHO Regional Office for Europe. 2002
in http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0013/131521/E79235.pdf

CLIQUE NOS LINKS

5
EESMO

Circuito de Orientações para


Referência

O
primeiro contacto com uma standard e acesso a cuidados de saúde.
Mulher no período pré-natal é Colaboração com respeito mútuo depende da
pautado pelo início de cuidados comunicação, consultoria e tomada de
que pode ser quando ela frequenta os decisão conjunta dentro de uma estrutura
cuidados de saúde primários para de gestão de risco, para permitir
confirmação da gravidez. As mulheres encaminhamento adequado e assegurar
começam os cuidados pré-natais neste cuidados de saúde eficazes, eficientes e
momento ou são encaminhadas para um seguros1. O encaminhamento é a
prestador ou um serviço de cuidados transferência da responsabilidade dos
maternos (i.e. o hospital local, parteira, cuidados de saúde primários para um outro
obstetra, médico de clínica geral). As prestador/profissional de saúde qualificado.
mulheres que tencionam ter o bebé no Contudo, a parteira que faz o
hospital deverão participar numa visita encaminhamento do consumidor para outro
pré-agendada. Esta pode ser a sua primeira profissional ou serviço poderá necessitar de
visita ao hospital caso estejam a ser seguidas continuar a prestar os seus serviços
através deste serviço ou mais tarde na profissionais de forma colaborativa durante
gravidez, caso estejam a ser seguidas com este período2.
um prestador privado. A primeira visita pré- A segurança e eficácia de cuidados maternos
natal deve ser mais longa que a maioria das primários é sustentada por uma estrutura
visitas devido ao grande volume de partilha de serviços colaborativos para prestadores de
de informação necessária no início da cuidados que assegura uma avaliação
gravidez. adequada, encaminhamento atempado e
A procura de aconselhamento profissional acesso a serviços secundários e/ou
de uma fonte qualificada e competente para terciários3.
tomar decisões sobre responsabilidades Os cuidados maternos primários é quando a
partilhadas na prestação de cuidados é responsabilidade de cuidados maternos se
denominada de consulta, a qual está faz com o prestador de cuidados de saúde
dependente da existência de relações materna de nível primário (neste caso, a
colaborativas e de comunicação aberta com parteira)4.
outros elementos da equipa de saúde Quando a responsabilidade para cuidados
multidisciplinar. Colaboração refere-se a maternos se faz com o médico (tal como um
todos os membros da equipa de saúde que médico de clínica geral com qualificação
trabalham em parceria com consumidores e obstétrica, um obstetra, ou a equipa médica
entre si, para fornecer o mais elevado

5
EESMO de serviço no hospital de referência) para facilitar a tomada de decisão informada
trabalhando em colaboração com uma e reconhecendo o papel ativo que cada um
parteira ou parteiras que continuam a tem nos cuidados maternos. Os cuidados
prestar cuidados é considerado cuidados obstétricos devem ser prestados de acordo
CIRCUITO DE
ORIENTAÇÕES maternos secundários. A responsabilidade com o princípio de consentimento
PARA REFERÊNCIA para cuidados maternos terciários é quando informado. A parteira deve fornecer à Mulher
se faz com um prestador de cuidados que está informação suficiente para informar o
num hospital especializado em cuidados consentimento da Mulher para qualquer
maternos. Este prestador habitualmente procedimento e deve dar oportunidade à
trabalha com uma equipa que pode incluir Mulher de considerar o aconselhamento
um obstetra, um neonatalogista, uma oferecido. A Mulher é livre para aceitar ou
parteira ou outros serviços especializados. recusar qualquer procedimento ou conselho.
Partindo da premissa de que a gravidez e o Caso ocorram problemas durante a gravidez,
parto são acontecimentos normais, os parto ou puerpério, a parteira pode decidir
cuidados maternos têm que se basear na consultar os seus colegas na primeira
consciencialização e/ou avaliação dos instância; ou consultar diretamente um
aspetos físicos, emocionais, sociais, prestador de cuidados secundário ou
culturais e espirituais de bem-estar tanto da terciário e encaminhar quando apropriado. A
Mulher como da sua criança. A parteira é a parteira deve fornecer uma carta de
profissional responsável pela planificação, referenciação explicitando as razões para o
organização e previsão na atenção à Mulher encaminhamento.
desde a 1ª consulta pré natal até ao puerpério. Os cuidados de obstetrícia podem
As parteiras são as prestadoras primárias na continuar mesmo quando um prestador de
atenção à saúde para as mulheres em idade cuidados secundário ou terciário é
fértil em quase todo o mundo. Como necessário (isto é, a parteira continua a
cuidadores primários, as parteiras são prestar cuidados à Mulher). O prestador de
responsáveis pela tomada de decisões acerca cuidados de nível secundário ou terciário
da Mulher sob os seus cuidados e, se a poderá assumir responsabilidade clínica
mesma, necessita de cuidados médicos contínua, e o papel da parteira será
durante a gravidez, o trabalho de parto, o concordado entre o especialista, a parteira e
parto ou o puerpério (6 semanas depois do a Mulher. Esta transferência de
nascimento do bebé). responsabilidade clínica incluirá uma
discussão acerca da calendarização de
“Os cuidados obstétricos devem transferência para a parteira quando a(s)
condição(ões) permitirem. A concretização
ser prestados de acordo com
de colaboração e cooperação entre os grupos
o princípio de consentimento profissionais envolvidos em cuidados
informado” maternos é de grande importância para a
excelência de cuidados5. Isto envolve o
Quando uma Mulher escolhe uma parteira reconhecimento de competências
para lhe prestar os seus cuidados, qualquer específicas encontradas dentro dos vários
referenciação para cuidados maternos de grupos de prestadores de cuidados.
nível secundário ou terciário é realizada pela A responsabilidade pelos cuidados
parteira (prestador de cuidados primários). maternos contínuos irá depender da situação
A Mulher e a parteira devem trabalhar em clínica e dos desejos e necessidades da
conjunto durante toda a experiência Mulher. Após a consulta com o médico, deve
materna, construindo uma relação de ser claramente estabelecido se os cuidados
confiança mútua, partilhando informação maternos e a responsabilidade:

5
a) Continua com a parteira
(cuidados primários), ou
incluirá uma discussão sobre o tempo EESMO
apropriado da transferência de
b) São referenciados para o médico
responsabilidade clínica novamente para a
(cuidados secundários ou terciários).
parteira quando a(s) condição(ões)
Áreas de discussão e envolvimento têm que CIRCUITO DE
permitir(em). Quando os cuidados ORIENTAÇÕES
ser acordadas e claramente documentadas.
maternos são referenciados para um médico PARA REFERÊNCIA
Uma boa comunicação entre os prestadores
assistente, a parteira poderá continuar a
de cuidados é essencial para a prestação de
prestar cuidados dentro do âmbito da
cuidados maternos seguros e eficazes.
prática da parteira, em colaboração com o
Numa emergência, a responsabilidade clínica
é imediatamente transferida para o médico assistente.

prestador mais apropriado disponível. Os “A decisão sobre os papéis clínicos


papéis clínicos e as responsabilidades dos
prestadores assistentes são ditadas pelas
em curso e a responsabilidade tem
necessidades da mãe e do bebé e das que envolver uma discussão entre o
competências e habilidades dos prestadores médico ou o prestador de saúde, a
disponíveis. Depois da consulta ou parteira e a Mulher”
referenciação, é esperado que a parteira
receba comunicação de retorno. Contudo, é
As áreas de discussão, responsabilidade e
da responsabilidade da parteira pedir
envolvimento devem ser acordadas e
confirmação do prestador de saúde do plano
claramente documentadas e comunicadas à
de cuidados contínuos, incluindo os papéis
Mulher. Independentemente da natureza
acordados da parteira e do prestador de
ou nível da discussão, consulta ou
saúde.
encaminhamento, a comunicação entre os
Quando acontece uma consulta, a decisão
prestadores acerca da mudança de planos de
sobre os papéis clínicos em curso e a
gestão deve incluir o envolvimento da
responsabilidade tem que envolver uma
Mulher e deve estar claramente
discussão entre o médico ou o prestador de
documentado e comunicado a todas a
saúde, a parteira e a Mulher. Procurar uma
pessoas envolvidas.
consulta não transfere a responsabilidade
Os princípios éticos e legais que
dos cuidados. Caso o médico ou o prestador
sustentam a saúde e a lei da saúde enfatizam
de cuidados recomende uma mudança na
a importância de respeitar a autonomia e
responsabilidade dos mesmos tem que ser
direitos dos indivíduos para ponderar os
claramente comunicado à parteira e à Mulher
riscos e benefícios de acordo com as suas
envolvida.
necessidades pessoais e valores e tomar
Quando os cuidados maternos são
decisões de forma independente. Quando
encaminhados (tanto permanente como
uma variação do normal é identificada
temporariamente) da parteira para o
durante os cuidados à Mulher, recomenda-se
médico, esse médico assistente, em consulta
que a parteira realize um ou mais de três
com a Mulher e a parteira, assume toda a
passos:
responsabilidade pelos cuidados maternos
A.Discutir a situação com um colega
(secundários ou terciários). A Mulher tem
(parteira), e/ou clínico geral, e/ou outro
que fornecer consentimento informado
profissional de saúde; e/ou
antes de uma transferência. O obstetra (ou
B.Consultar com um médico de clínica
outro especialista médico) irá assumir uma
geral ou outro profissional de saúde; e/ou
responsabilidade clínica contínua e o papel
C. Encaminhar uma Mulher ou o seu bebé
da parteira será acordado entre o
para um médico de clínica geral para
especialista, a parteira e a Mulher. Isto
cuidados Secundários ou Terciários.
10
Regulamento dos padrões de qualidade dos cuidados especializados em enfermagem de saúde materna , obstétrica e ginecológica, in: http://www.orde-

5
menfermeiros.pt/colegios/Documents/PQCEESaudeMaternaObstetricaGinecologica.pdf

5
NÍVEL DE INDICAÇÃO/CONDIÇÃO IDENTIFICADA
A B C
DISCUTIR CONSULTAR ENCAMINHAR

Seguindo estas ações, a responsabilidade dos cuidados permanecerá com os


seguintes:

PRESTADOR COM
CÓDIGO DESCRIÇÃO RESPONSABILIDADE
PRIMÁRIA

A DISCUTIR Parteira e/ou médico


Uma discussão será assistente ou outros
iniciada com outro profissionais de saúde.
profissional de saúde para
planear cuidados.

B CONSULTAR Parteira e/ou médico


Avaliação envolvendo assistente ou outros
tanto necessidades de profissionais de saúde
cuidados primários e
secundários. A situação
individual da mulher será
avaliada e acordos
acerca da
responsabilidade por
cuidados maternos serão
realizados.

C ENCAMINHAR Médico Assistente (para


Isto é uma situação que cuidados secundários ou
requer cuidados médicos terciários).
a nível secundário ou Quando adequado a
terciário enquanto a parteira continua a
situação existir. O prestar cuidados.
pedido para
encaminhamento será
feito por escrito.
Alterações nos cuidados
serão comunicadas por
escrito à parteira.

5
Australian Health Ministers’ Advisory Council. (2008). Primary maternity services in Australia- a
framework for implementation
Australian Nursing and Midwifery Council. (2007). National framework for the development of
decision-making tools for nursing and midwifery practice.
ICM. Essential Competencies for Midwifery Practice 2002.
Declaración de postura de la ICM. 2011. Servicios de maternidad apropiados para un embarazo, parto y
puerperio normales.
Declaración de postura de la ICM. 2011. El parto en casa.
Diário da República, 2.ª série — N.º 35 — 18 de Fevereiro de 2011; Regulamento n.º 127/2011; Regulamento das
Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna, Obstétrica e
Ginecológica
National Health and Medical Research Council. (2010). National Guidance on Collaborative Maternity Care
National Midwifery Guidelines for Consultation and Referral. (2013). Australian College of Midwives

5
EESMO

Parecer sobre obrigatoriedade


de resposta a reclamações

P
or resolução do Conselho de objetivamente, dando oportunidade às
Ministros n.º 189/96, foi normalizada partes de serem ouvidas e poderem exercer a
a obrigatoriedade da existência de sua defesa se for esse o caso.
livro de reclamações em todos os No caso em apreço, o membro relata que
organismos da Adminstração Pública. lhe foi solicitada esclarecimento pelo
O Livro de Reclamações foi posteriormente superior hierárquico direto sobre os factos
criado e regulamentado pela Portaria nº. ocorridos. A ser assim e conforme artigo 79º
355/97, de 28 de Maio. do Estatuto da Ordem dos Enfermeiros
O seu âmbito abrange todas as unidades (Código Deontológico), o enfermeiro
de saúde tuteladas pelo Ministério da Saúde “responsabiliza-se pelas decisões que toma e
e deve estar disponível em todos os locais pelos atos que pratica ou delega”. Embora
onde seja efetuado atendimento público.
Desta forma, qualquer utente das unidades
prestadoras de cuidados que durante o seu
“O enfermeiro deverá participar
processo de atendimento, se sinta nos procedimentos que tenham por
prejudicado ou descontente com alguma objetivo analisar reclamações das
situação ocorrida, tem a possibilidade de o pessoas”
registar formalmente, dirigindo essa
comunicação escrita às entidades não diretamente relacionado com a pratica
competentes. de cuidados, todas as decisões que são
Após receção da participação escrita, tomadas pelo profissional no âmbito do seu
deverá a mesma ser analisada pelo instrutor
exercício estão sujeitas à sua
responsável nomeado pela Instituição. Este,
responsabilidade e responsabilização. Logo
poderá caso a caso remeter para os
o pedido de esclarecimento por parte da
responsáveis hierárquicos dos sujeitos alvo
superior hierárquica deverá ser entendido
de participação, a fim de esclarecerem o como parte do processo de audição que se
facto relatado elaborando a devida resposta. vai desenvolver.
Pretende-se que a situação seja analisada O enfermeiro deverá participar nos

5
EESMO procedimentos que tenham por objetivo
analisar reclamações das pessoas,
nomeadamente quando está em causa a
proteção dos seus direitos. Todavia, deverá
PARECER SOBRE
OBRIGATORIEDADE ponderar a informação a fornecer, no
DE RESPOSTA A sentido de manter o sigilo profissional, nos
RECLAMAÇÕES termos do artigo 85º do Estatuto da Ordem
dos Enfermeiros (Código Deontológico).
Mas essa solicitação escrita ao interveniente
não deve ser assumida como a resposta
definitiva ao ocorrido. Na verdade, impõe-se
por respeito a quem elabora a reclamação e
fundamentalmente pela procura da verdade
dos factos, que o auditor seja neutro e esteja
acima de qualquer envolvimento no
processo. Ora não parece crível, que o
membro envolvido direta ou indiretamente
no episódio relatado, seja ele mesmo o
responsável pela resposta à reclamação.

“O enfermeiro assume o dever de


colaborar nos procedimentos que
visem apurar responsabilidades
individuais e institucionais face à
proteção dos direitos das pessoas”

CONCLUSÃO
Tendo em atenção o exposto, o Conselho
Jurisdicional considera que: as Unidades de
Saúde abrangidas pela obrigatoriedade de
possuírem livro de reclamações, deverão
atempadamente normalizar procedimentos
relativamente ao processo de audição de
factos tendentes ao apuramento de
responsabilidades, ao nível de quem está
habilitado e é responsável pelo apuramento
dos mesmos.
O enfermeiro assume o dever de colaborar
nos procedimentos que visem apurar
responsabilidades individuais e
institucionais face à proteção dos direitos
das pessoas, devendo contudo manter o
sigilo a que está obrigado.

60

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