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UNIDADE 2

PACIENTES COM
NECESSIDADES ESPECIAIS
E ODONTOGERIATRIA

ODONTOLOGIA PARA PACIENTES GESTANTES:


PROTOCOLOS DE ATENDIMENTOS E CUIDADOS QUE DEVEM
SER OBSERVADOS DURANTE O CUIDADO ODONTOLÓGICO À
PACIENTES GESTANTES.

AUTORA
TATIANE MACIEL DE CARVALHO
REVISORA
MÔNICA GUIMARÃES MACAU LOPES
APRESENTAÇÃO
Sejam Bem vindos!

Nessa Unidade abordaremos protocolos de atendimentos e cuidados que devem


ser observados durante o tratamento odontológico à pacientes gestantes.

Serão trabalhadas a partir de agora,

Gestação: mudanças psicológicas, físicas e hormonais.


Construindo uma Linha de Cuidado.
Ciclo gravídico e adaptações fisiológicas
Atendimento Odontológico às gestantes.
Promoção da Saúde Bucal da Futura mamãe e do bebê.

O objetivo desta unidade é, portanto, contribuir para a formação do Cirurgião-


Dentista capacitando-o a conhecer e desmitificar o atendimento e contribuir
para a promoção de saúde às pacientes gestantes.

Ao final desta Unidade, obter os seguintes aprendizados:

Conhecimentos técnicos científicos a respeito da complexidade dos pacientes


especiais;
Compreensão das diferenças e limitações que esses indivíduos possam
apresentar;
Respeito às diferenças e a diversidade humana a fim de se preparar a realizar
o diagnóstico, planejamento e promoção da saúde odontológica de maneira
mais humanitária, ética e integral, respeitando as limitações de cada indivíduo.

01
CONHEÇA O
CONTEUDISTA
Tatiane Maciel de Carvalho
Sou Tatiane Maciel de Carvalho, professora
da Faculdade ICESP de 2019 a 2021. Tenho
mestrado em Disfunção
Temporomandibular pela São Leopoldo
Mandic- Campinas (SP), especialização em
Ortodontia pela ABO Taguatinga - DF,
graduação em Odontologia pela
Universidade Paulista de Brasília- DF, Pós -
graduação em Pacientes com
Necessidades Especiais (São Leopoldo
Mandic – SP) e Odontologia do Sono
(Albert Einstein).

Atualmente sou Segundo Tenente do Exército Brasileiro atuando especialmente


em DTM, atuo como cirurgiã dentista na SPECIAL ODONTOLOGIA LTDA, clínica
odontológica especializada em atendimento às pessoas com deficiência, grupos
especiais e alta complexidade sistêmica. professora de pós-graduação em
Síndrome de Down, ministrando a disciplina de Síndrome de Down e
odontologia na Faculdade INESP e professora da graduação em Odontologia da
Faculdade ICESP nas disciplinas de Paciente com Necessidades Especiais e
Disfunção Temporomandibular.

Possuo experiência na área de Odontologia, com ênfase em Disfunção


Temporomandibular e Dor Orofacial, atuando principalmente nos seguintes
temas: disfunção temporomandibular, multidisciplinariedade, síndrome de
Down, anomalias craniofaciais, ortodontia e dor orofacial.

Endereço para acessar o CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/4691681245291473

03
CONHEÇA A
REVISORA
Mônica Guimarães Macau Lopes.
Meu nome é Mônica Guimarães Macau Lopes.
Sou formada pela Universidade Federal de
Pernambuco. Sou especialista, mestre e
doutoranda em Saúde Coletiva (UNIGRANRIO,
UERJ e UnB, respectivamente). Possuo
especialidades, também, em Administração
Pública (UERJ), Gestão de Redes de Atenção
(FIOCRUZ/Brasília) e Docência Superior
(UCAM- RJ). Sou professora do Centro
Universitário ICESP desde 2018, nas
disciplinas de Saúde Pública, Odontologia
Social e Preventiva, Odontopediatria com
ênfase em Gestantes e bebês.

Sou professora do Centro Universitário ICESP desde 2018, nas disciplinas de


Saúde Pública, Odontologia Social e Preventiva, Odontopediatria com ênfase
em Gestantes e bebês. E, servidora pública desde 1994, atuando na Atenção
Primária à Saúde, desde o nível local, na UBS, até à gestão estadual e federal.
Hoje, como Tecnologista em Gestão de Políticas Públicas em Saúde, no
Ministério da Saúde.

Tenho experiência na área de Odontologia, com ênfase em Saúde Bucal


Coletiva, Clínica-geral, Odontopediatria, Pacientes com Necessidades Especiais
e Saúde Bucal Coletiva.

Endereço para acessar o CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/6495549321986465

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UNIDADE 2
GESTAÇÃO: MUDANÇAS PSICOLÓGICAS, FÍSICAS E HORMONAIS
O período de gestação é um momento bastante peculiar na vida da mulher.
Caracteriza-se por intensas mudanças, tanto fisiológicas (alterações físicas e
hormonais) quanto psicológicas e emocionais. Exemplos dessas mudanças são a
postura e o ganho de peso, além de possíveis ocorrências de síncopes e enjoos.
Além das alterações físicas e hormonais, decorrentes do novo ser que está em
formação dentro do seu corpo, existem ainda os medos e a ansiedade típicos que
cercam esse período. É, portanto, uma fase de grande transformação na vida da
mãe e costuma se estender a toda a família.

Dentre as mudanças experimentadas pelas mulheres no período gestacional, as


hormonais, notadamente, podem provocar alterações bucais merecedoras da
atenção dos cirurgiões-dentistas.

Enjoos matinais, que podem ou não persistir durante toda a gravidez, dificultando
a escovação dos dentes nos primeiros momentos da manhã. As causas para o
enjoo matinal são variadas, porém os mais citados são: fatores psicológicos,
alterações hormonais, atraso na motilidade do estômago na digestão, odores
fortes, sensação de insegurança e fragilidade, e rejeição ao bebê. De um modo
geral, as mulheres nessa fase são mais emotivas e apresentam certo grau de
ansiedade.

É importante destacar que nem toda a gestação é plena, feliz. A maioria das
mulheres não programa a sua primeira gestação, sendo necessário ouvir sua
história antes de proceder uma anamnese. A escuta qualificada traz qualidade ao
atendimento que será efetuado.

Quanto à hiperêmese gravídica, é uma situação mais grave que afeta 2% das
gestantes. Os episódios de vômito trazem ao meio bucal a acidez que contribuem
para a desmineralização dos dentes. Somando a esses fatores, qualidade de
tampão da saliva é modificada e o acúmulo de biofilme.

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Apesar da identificação desses fatores, que culminam na necessidade de


atendimento, muitos cirurgiões- dentistas não se sentem seguros e relutam em
ter nas suas cadeiras mulheres grávidas.

Vale lembrar que, na gestação e no puerpério, a mulher costuma absorver com


maior facilidade informações que podem favorecer a sua saúde e de seu bebê.
Dessa forma, profissionais da saúde, entre eles os cirurgiões-dentistas,
contribuem de forma significativa para a propagação de comportamentos
preventivos, colaborando assim para a promoção da saúde.

CONSTRUINDO UMA LINHA DE CUIDADO

Para início de conversa:

Os profissionais que interagem com a gestante e suas famílias devem conhecer


seus valores, seus mitos por meio de um relacionamento profissional-paciente
baseado na Integralidade do Cuidado.

É preciso se despir de preconceitos, valores próprios, sem abrir mão do


conhecimento em Saúde e da ética. E, também saber estimular a participação da
paciente gestante na escolha de melhores hábitos, de novas atitudes,
reconhecendo nas escolhas, riscos e benefícios.

Mitos do tratamento odontológico...Por quê?


Os profissionais envolvidos no atendimento durante o período pré-natal devem
saber ouvir e esclarecer sobre algumas crendices e mitos que são passados por
gerações e, que podem gerar medos e aflições. Em geral, o medo advém do
desconhecimento de que as gestantes podem fazer um pré-natal e que é seguro.
Situação vivida por muitos profissionais e que levam a recusa do atendimento e
tratamento.

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Mito “é uma narrativa de significação simbólica, transmitida de geração em


geração e considerada verdadeira ou autêntica dentro de um grupo.” (Mitólogo
Mircea Eliade, em Aspectos do Mito (1963, p.12,13).

Por outro lado, observam-se crendices ligadas à gestação. Crendices são


geralmente motivadas por algum tipo de superstição, não se pauta em preceitos
religiosos. Não possuem qualquer comprovação científica e por isso não devem
ser levadas em consideração.

CICLO GRAVÍDICO E ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS

Os profissionais da área da saúde devem estar preparados para oferecer um


tratamento adequado e de qualidade. Dessa forma, fica clara a importância de
conhecer a pessoa com deficiência que irá receber cuidado para que o
tratamento odontológico transcorra sem intercorrências.

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Os hormônios são de grande importância durante a gestação, os


principais são:
Progesterona - O principal papel é relaxar a musculatura do útero,
crescimento das mamas.

Gonadotropina Coriônica Humana (HCG) - progesterona e estrogênio


suficiente para o desenvolvimento do feto.

Estrogênio- função de promover o aumento na elasticidade da parede do


útero e do canal cervical, participa no metabolismo do ácido fólico e na
mamogênese.

Lactogênio Placentário Humano (HPL) - principal função é no processo de


iniciação de produção do leite, conhecida como lactogênese.

Somatomamotropina Coriônica Humana- participa na nutrição adequada do


feto e também tem a função de ajudar em seu crescimento.

ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO ÀS GESTANTES


O pré-natal odontológico é um acompanhamento que a gestante faz com o
dentista para evitar que problemas de saúde bucal já instalados, venham a se
agravar. Essa assistência serve como medida preventiva ao aparecimento de
outras doenças, embora o primeiro contato às vezes ocorra por uma urgência.
Este acompanhamento, também serve para o dentista orientar a futura mamãe
sobre os cuidados com a amamentação e com a saúde bucal de seu bebê.
Pretende-se, por meio de mudanças de hábitos e comportamentos mais
saudáveis, contribuir para a saúde da Gestante e do bebê, e por fim, de toda a
família. O Pré-Natal Odontológico é motivado pelo Ministério da Saúde, podendo
ocorrer numa UBS ou mesmo, no consultório (Quadro 1):

Quadro 1: Locais e ações para a atenção odontológica no Pré-Natal

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A vantagem do Pré-Natal Odontológico no SUS, é que ele ocorre de maneira integrada


com os demais profissionais envolvidos, constituindo-se em um Projeto Terapêutico
Singular (PTS).

Porém, mesmo no consultório, é possível fazer um canal de comunicação com o


obstetra que acompanha a paciente gestante.

A gravidez é o período ideal para esclarecimentos sobre saúde bucal da mãe e do


bebê. No entanto, a maioria das gestantes não recebe nenhuma instrução sobre
saúde bucal.

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O Pré-Natal Odontológico deve ser conduzido pela compreensão das


alterações na gestação, de maneira a:

Escutar de forma qualificada e criando vínculo.


Realizar uma anamnese criteriosa (diferente da anamnese comum).
Identificar problemas bucais e estabelecer um planejamento.
Observar a postura da paciente na cadeira odontológica.
Instituir no PTS, consultas regulares.
Sempre dar conforto à paciente.
E conhecer a farmacologia específica para o momento - anestésicos e
prescrição terapêutica para dor, inflamação e infecção.

O cirurgião-dentista deve orientar, ainda na 1ª consulta, quanto à qualidade da


dieta, devendo esta, ser balanceada e rica em vitaminas, proteínas, minerais, além
de equilibrada em carboidratos e gorduras.

Mas o que esperar a cada trimestre?


O melhor período do dia para o atendimento odontológico é o que melhor se
apresenta para a gestante, pois varia conforme sua disposição. No caso de enjoos
matinais, as consultas deverão ser agendadas para o período da tarde ou noite

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Mudanças na gestação:

Numa gestação normal se espera hipoglicemia leve no jejum, hiperglicemia pós-


prandial e hiperinsulinemia.

O gerador de tais mudanças é a placenta e sua ação de sustentação da vida do


feto. A placenta sintetiza diferentes de hormônios:

Peptídicos:HormônioGonadotropinaCoriônica (HCG),
Hormônio Somatotropina Placentária e Tireotropina Placentária

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Funções:

Estimular e auxiliar na manutenção da integridade anatomofuncional do


corpo lúteo, responsável pela produção de estrógeno e progesterona.
Impedir a rejeição do tecido fetal.
Promover o crescimento fetal.
Agir sobre o metabolismo de glicose e gordura da mãe-desviando a glicose
para o feto, e aumentando a mobilização de ácidos graxos maternos, para que
a mãe possa utilizá-los como forma de energia ao invés da glicose.

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2º e 3 ª Trimestres

Hipotensão quando posicionada numa posição supina.


Frequência para urinar.
Restrição da função respiratória.
Potencial de hipoglicemia.
Diminuição dos batimentos cardíacos.

A síndrome hipotensiva, pela compressão da veia cava inferior e da aorta pelo


útero gravídico. Essa síndrome, se caracteriza por diminuição do débito cardíaco
da pressão sanguínea, seguida de hipotensão, bradicardia e síncope, podendo
estar acompanhada de tontura e náuseas.

Observe que na gravura que se segue, a posição ideal para a paciente gestante
ficar durante o atendimento é de decúbito lateral para esquerda, em um ângulo
de aproximadamente 15º graus. O cirurgião dentista deve inclinar ligeiramente o
encosto da cadeira e pedir para a gestante se virar sobre o braço esquerdo.

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Caderneta da Gestante

O cirurgião-dentista deverá fazer anotações na página destinada à consulta


odontológica. Se necessário, encaminhar a paciente para atendimento
especializado (endodontia, periodontia, cirurgia).

Doença Cárie

A doença cárie é bastante prevalente em pacientes gestantes, podendo estar


relacionada a fatores comportamentais como dificuldade de manter uma boa
higiene bucal, o aumento do consumo de açúcar, levando a maior acúmulo de
biofilme dentário e fatores hormonais imunológicos e metabólitos.

Recomenda-se orientar a gestante a correta higienização com dentifrícios


fluoretados e pensar na aplicação de flúor tópico. As medidas de promoção e
prevenção auxiliam não só no controle da doença cárie mas também na
incidência da doença periodontal.

Doenças Periodontais (DP)

As mudanças no sistema imunológico, especialmente a supressão de neutrófilos,


podem estar associadas à doença periodontal e ser as principais causas da
exacerbação da doença periodontal e do acúmulo de biofilme na indução da
inflamação gengival.

As mudanças gengivais podem ocorrer entre o 3o e o 8o mês de gestação e


diminuem após a realização do parto. Os hormônios sexuais também podem
afetar a gengiva, por facilitarem o acúmulo e a proliferação de bactérias gram
negativas. Tanto a gengivite quanto a periodontite são condições clínicas
concomitantes relativamente comuns entre mulheres grávidas, embora as
estimativas de prevalência durante a gravidez variem consideravelmente. Porém,
deve-se entender que a doença periodontal é uma infecção crônica que deve ser
tratada em qualquer indivíduo, não devendo ser essa conduta diferente em
gestante.

A gengivite representa uma resposta inflamatória à presença de placa bacteriana,


que pode ser modificada pela elevação das taxas dos hormônios femininos,
irritantes locais e certas bactérias orais, como P. intermedia (que metaboliza o
estradiol), sendo denominada gengivite gravídica. Porém, ela se desenvolverá
apenas se não houver controle de placa adequado.

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Existe associação entre Doença Periodontal e


Parto Prematuro e Bebê de Baixo Peso?

Não!
Apesar do corpo da literatura sugerir uma associação entre DP e resultados
adversos da gravidez em populações urbanas, este grande estudo prospectivo
não conseguiu demonstrar uma associação (29º Reunião Anual da Sociedade de
Medicina Materno-Fetal, San Diego, CA, de 27 a 30 de janeiro de 2009). .

A gengivite pode progredir localmente, em Prevenção presença de fatores


locais, evoluindo para um granuloma piogênico ou granuloma gravídico
ou cisto gravídico.

Caracteriza-se por uma lesão benigna de rápido crescimento, que ocorre


comumente ocorre no 1º trimestre da gestação e poderá se estender até o 3º
trimestre e tende a regredir após o parto.

Localiza-se predominantemente na gengiva, na face vestibular, podendo envolver


também língua e palato.

Erosão dentária

Os episódios de vômitos ou náuseas são muito comuns entre as gestantes entre


70% a 85%. Tornam o meio bucal ácido, aumentando a desmineralização do
esmalte dental por erosão. A hiperemese pode levar a erosão dentária das faces
palatinas e lingual e consequentemente a sensibilidade dentinária. Para reduzir o
dano ou evitar. As grávidas devem ser orientadas, que após o vômito não se deve
escovar os dentes, é mais adequado realizar bochecho com colutório fluoretado
ou bicarbonato de sódio para neutralizar os ácidos.

O enjoo matinal é um sintoma típico do começo da gravidez, principalmente na 1ª


gestação. Nem sempre presente, mas um indicativo de que o agendamento das
consultas não poderá ser realizado neste período.

As causas para o enjoo matinal são variadas:

Fatores psicológicos.

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Alterações hormonais
Atraso na motilidade do estômago na digestão.

Odores fortes podem provocar enjoo. A hiperêmese gravídica é uma situação


mais grave que afeta 2% das gestantes.

Odontalgia:

De acordo com a Associação Americana de Gravidez (APA), as mudanças


hormonais podem provocar odontalgia como resposta à cárie, à infecção pulpar e
infecção periodontal, mas também, em razão do fluxo sanguíneo aumentado, em
gengiva sensíveis e edemaciadas, sensíveis ao toque.

Portanto, alimentos quentes e frios podem desencadear essa sensibilidade,


mesmo que a gestante nunca tenha passado por essa experiência.

E se precisar de medicamento?

A gestante está sendo acompanhada por um obstetra, procurando saber quais


são os medicamentos que está utilizando. Os fármacos mais comumente
utilizados na gestação são antieméticos, antiácidos, anti-histamínicos, analgésicos,
antimicrobianos.
Prescrição medicamentosa à gestante e à puérpera

Uma das principais preocupações do cirurgião-dentista em relação ao


atendimento a gestantes refere- se à segurança na utilização de medicamentos
anestésicos, analgésicos, antibióticos entre outros. O principal receio é transferir
parte da medicação ao feto. Realmente essa preocupação é relevante, e o
profissional que atende gestantes deve conhecer os mecanismos de ação desses
fármacos de forma a realizar uma análise crítica dos riscos versus benefícios.

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Os fármacos comuns ao atendimento odontológico, como anestésicos,


ansiolíticos, analgésicos, anti-inflamatórios são passados com certa facilidade da
mãe para o feto, por serem moléculas de baixo peso molecular e lipossolúveis.
Assim, a atenção deve ser tomada com as devidas precauções, uma vez que, um
fármaco para uma gestante pode ter efeito terapêutico, para o feto, no entanto,
pode ter efeito tóxico.

Relembrando que a gravidez causa mudanças fisiológicas na farmacocinética que


podem influenciar, consideravelmente, a distribuição e o metabolismo do fármaco
na mãe e no feto. É uma fase em que ocorre um alto volume de distribuição da
droga, declínio na concentração plasmática, menor tempo de meia vida, aumento
da solubilidade lipídica e na taxa de depuração da droga.

Analgésicos

A partir do momento que julgamos necessário a prescrição de medicação oral,


supomos que os benefícios superem os riscos. No entanto, devemos lembrar que
o tratamento medicamento das infecções odontogênicas é coadjuvante e não
resolve o problema. Portanto, a indicação para qualquer odontologia é o
tratamento local.

Ao lado estão os principais analgésicos utilizados no pós-operatório, suas


características e indicações para controle da dor em gestantes.

O anestésico local pode afetar o feto de duas maneiras:

diretamente (quando ocorrem altas concentrações na circulação fetal) e


indiretamente (alterando o tônus muscular uterino ou deprimindo os sistemas
cardiovascular e respiratório da mãe).

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Os anestésicos locais são lipossolúveis e atravessam facilmente a barreira


placentária. Assim, sempre que possível, as soluções anestésicas devem conter
um vasoconstrictor. Todavia, o uso dos vasoconstrictores retardam a absorção do
sal anestésico para a corrente sanguínea, aumentando o tempo de anestesia do
tecido, reduzindo a toxicidade medicamentosa e ainda tem ação hemostática.

A administração do anestésico local deve ser feita por meio de uma injeção lenta
da solução, com aspiração prévia, para evitar a injeção intravascular e com a
técnica anestésica adequada, para evitar a necessidades de repetições, não
devendo exceder 2 tubetes por sessão.

Antiinflamatórios

Embora entre os antiinflamatórios, a substância padrão é o AAS, na gestação é


contra indicado, assim como os demais AINES, principalmente no último trimestre
pelo risco de hemorragia na mãe e no feto, contração insuficiente na hora do
parto e fechamento prematuro dos canais arteriais do feto.

O paracetamol (Dôrico®, Tylenol®) é o analgésico de escolha durante a gravidez,


evitando-se sempre o uso de altas doses, pelo potencial hepatotóxico. A dipirona
sódica (Novalgina®) é o analgésico de segunda escolha, pois pode provocar
agranulocitose, ou seja, a redução do número de granulócitos no sangue
periférico (neutropenia), podendo predispor o indivíduo às infecções.

Os anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs) são representados por um grande


número de fármacos, dentre estes, o ácido acetilsalicílico, diclofenaco,
ibuprofeno, naproxeno, indometacina, rofecoxib, que são prescritos com
frequência pelo cirurgião-dentista.

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Antibióticos
Em casos de infecções bacterianas, o principal tratamento consiste na remoção
da causa, como a drenagem de um abscesso periodontal e endodôntico. Se as
infecções apresentarem sinais de disseminação e manifestação sistêmica (febre
e mal estar geral), deve-se prescrever antibióticos, com segurança.

Nas infecções mais avançadas, pode associar a penicilina ao metronidazol ou ao


clavulanato de potássio. Se a paciente for alérgica à penicilina optar pela
clindamicina.

fonte: TelessaúdeRS-UFRGS (2022), adaptado de Andrade (2014) [2].

A primeira opção em solução anestésica é a lidocaína 2% com epinefrina


(1:100.000). A lidocaína, há mais de 50 anos, é o anestésico padrão de
comparação para todos os anestésicos locais. Apresenta um início de ação
(tempo de latência) rápido, em torno de 2 a 3 minutos. Porém, devido a sua ação
vasodilatadora, a duração da anestesia pulpar é limitada a 5 a 10 minutos. Por
este motivo, praticamente não há indicação de lidocaína 2% sem vasoconstritor
em Odontologia.

Atenção!!!

As tetraciclinas são contra-indicadas, pois atravessam a membrana placentária e


são capazes de se ligar à hidroxiapatita provocando manchamento nos dentes do
feto. Essas drogas podem se ligar ao tecido ósseo do feto, causando baixo
desenvolvimento ósseo, anemia e até icterícia.

É importante também, fortalecer que a automedicação não deve ser feita sob
hipótese alguma. O risco de teratogênese fetal pode superar fatores genéticos. E,
segundo a OMS, 90% das gestantes tomam medicação prescritas ou não pelo seu
obstetra. Os fármacos são responsáveis por 2 a 3% de todas as anomalias
congênitas.

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Orientações por meio da Promoção do Aleitamento materno

O leite materno é o único alimento que fornece nutrientes importantes para o


desenvolvimento do bebê em seu início de vida, combatendo infecções,
protegendo a criança contra bactérias e vírus, e evita diarréias. Orienta-se que
nos primeiros seis meses, o bebê receba exclusivamente o leite materno com
livre demanda, ou seja, de acordo com a necessidade da criança.

Ao promover o aleitamento materno, se faz necessário discutir não apenas a sua


importância como geradora de benefícios à saúde geral, mas também voltar a
atenção para a saúde bucal, uma vez que a amamentação amadurece as funções
orais e cognitivas, protegendo o bebê de vir a desenvolver hábitos deletérios que
podem, através das alteração morfofisiológicas e psicológicas, comprometer a sua
vida adulta.

Os hábitos deletérios (nocivos) de sucção alteram o padrão de crescimento


normal da dentição e da estrutura facial bebê. Eles prejudicam a relação do arco
superior e inferior (oclusão), desequilibram as forças musculares (o músculo da
bochecha, por exemplo) e alteram a posição dos dentes. As suas consequências
dependem da frequência, duração e intensidade dos maus hábitos orais. Nesse
texto, vamos abordar os principais. São eles:

1) Uso da chupeta;
2) Chupar o dedo;
3) Uso da mamadeira; e,
4) Respirar pela boca.

O período gestacional é a fase em que as mulheres se encontram mais receptivas


às informações relacionadas aos cuidados com o futuro bebê. Nesse momento o
cirurgião-dentista tem um papel fundamental ao orientar a ordenha e apontar o
desmame precoce como indutor desses hábitos, de modo a, também, prevenir
doenças bucais como cárie, bem como estimular o desenvolvimento do aparelho
estomatognático pela amamentação.

Falar em aleitamento materno, é indispensável pela importância desta prática


como geradora de benefícios à saúde geral da puérpera e à saúde geral e bucal
do lactente, como também desenvolver o vínculo e a responsabilização com o
bebê.

De modo que, cuidados relacionados à gestação, parto e nascimento, assim como


a primeira infância são temas que são desenvolvidos no pré-natal visando
principalmente, qualidade de vida da família.

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PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS
E ODONTOGERIATRIA

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PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS
E ODONTOGERIATRIA

CONCLUINDO A UNIDADE

O tratamento odontológico pode e deve acontecer em qualquer


momento da gestação. É muito mais prejudicial à mulher permanecer
com disseminação de uma infecção oral, do que realizar qualquer tipo
de tratamento odontológico. O Pré-Natal Odontológico deve se basear
em cuidados, na prevenção de doenças e agravos bucais na futura
mamãe e seu bebê, por meio de ações orientações de aleitamento
materno e instrução de higiene bucal. É preciso conhecer os riscos em
relação aos medicamentos e anestésicos. A gestante deve estar
tranquila e confortável durante o tratamento, tendo suas dúvidas
sanadas a qualquer momento.

O Ministério da Saúde orienta que todas as gestantes devem realizar


pelo menos uma consulta odontológica durante o pré-natal (BRASIL,
2016). E, quando necessário, proceder o tratamento adequado.

22
DICA DO
PROFESSOR
Assista este vídeo para mais detalhes da conduta do cirurgião-dentista .

MANEJO ODONTOLÓGICO DA GESTANTE E LACTANTE


https://www.youtube.com/watch?v=_gTh8olQR0k

23
SAIBA MAIS
BASTIANI, C. COTA, ALS.PROVENSANO, MGA et al. Conhecimento das gestantes
sobre alterações bucais e tratamento odontológico durante a gravidez. Odontol.
Clín.-Cient. (Online) vol.9 no.2 Recife Abr./Jun. 2010. Disponível em:
http://revodonto.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1677-
38882010000200013&script=sci_arttext

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EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
Questão 1: Paciente com 25 anos de idade, sexo feminino, relata estar na 11a
semana de gestação. Durante a consulta, apresenta queixa de sensibilidade nos
dentes 15 e 35, que é aumentada com a ingestão de alimentos frios e quentes.
Diante do caso exposto julgue os itens a seguir:

I. Essa sensibilidade pode ser decorrente do aumento dos níveis hormonais.


II. A gestação por si só é um fator predisponente ao aumento de cárie dentária.
III. Os episódios de vômitos e náuseas resultam na queda do pH da cavidade
bucal, aumentando a susceptibilidade de erosão e a sensibilidade dentária.
IV. Todas as gestantes têm o direito à orientação adequada quanto ao controle
efetivo do biofilme dentário e dieta.
V. Na 11a semana de gestação não é proibida a intervenção odontológicas
gestantes, orientando a mesma, em condutas preventivas para o agendamento da
consulta no segundo trimestre.

A) I, III e V
B) II, IV e V
C) III, IV e V
D) II e V.
E) I,III e IV.

SEU GABARITO

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EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
Questão 2: Paciente de 28 anos, apresentando gestação Classe B de 33 semanas,
discreto sangramento vaginal e indicação médica de repouso absoluto. A paciente
sente fortes dores no dente 16 associadas a quadro de abscesso crônico e ponto
de flutuação. Mediante o quadro, o dentista responsável aconselha o tratamento
com a seguinte medicação.

I. Tetraciclina;
II. Paracetamol;
III. Penicilina;
IV. Cefalosporina.

Constitui medicação permitida para essa paciente o indicado em

A) I e IV, apenas.
B) II e III, apenas.
C) I, III e IV, apenas.
D) II e IV, apenas.
E) II, III e IV.

SEU GABARITO

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EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
Questão 3: Uma gestante, com 4 semanas de gestação, chega na UPA às 2 horas
da manhã, com dor aguda, contínua no dia 25. Apresenta com cárie profunda na
oclusal, com suspeita de pulpite irreversível; relata na anamnese, histórico de
alergia à Penicilina e à Dipirona. Qual a conduta? Aponte a questão que traz a
conduta de maneira objetiva.

a) Exodontia e prescrição de paracetamol, de 6 em 6 horas VO, enquanto houver


dor.
b) Remoção da cárie, curativo com hidróxido de cálcio e IOV. Fazer a prescrição de
Betametasona 2 mg, em dose única, VO. Retornar após o parto.
c) Exodontia, sem prescrição de qualquer medicamento por ela estar no 1º
trimestre de gestação.
d) Caso seja confirmada a pulpite, proceder à remoção da cárie e fazer o acesso,
instrumentação e irrigação do canal, dente aberto nas 24 horas e prescrição de
paracetamol, de 6 em 6 horas VO, enquanto houver dor.
e) Caso seja confirmada a pulpite, proceder à remoção da cárie e fazer o acesso.
Instrumentar e irrigar o canal. Secar e introduzir a medicação intracanal,
selamento provisório com cimento à base de óxido de zinco e eugenol. Aguardar 3
a 5 dias para a complementação terapêutica. Prescrição de analgésico em caso de
dor.

SEU GABARITO

27
EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
Questão 4: Em caso de anestesia, qual o anestésico de escolha para gestantes?

a) Novacaína.
b) Mepicaína.
c) Lidocaína.
d) Felipressina.
e) Benzocaína.

SEU GABARITO

28
EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
Questão 5: Qual dos anéstesicos abaixo pode dificultar a circulação placentária,
além de provocar metahemoglobinemia?

a) Prilocaína.
b) Novocaína.
c) Bupivacaína
d) Lidocaína.
e) Felipressina.

SEU GABARITO

29
ANOTAÇÕES

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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
AMADEI et al. Medicamentos para grávidas e lactantes. RGO - Rev Gaúcha Odontol., Porto
Alegre, v.59, suplemento 0, p. 31-37, jan./jun., 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Cadernos de atenção básica: Atenção ao pré-natal de baixo risco – 1 ed. rev.
Brasília : Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica, 2013.

FONSECA NETO, B. SILVA, GG. LIRA, KBF. Abordagem farmacológica em pacientes gestantes
na odontologia: revisão dos conceitos atuais. Revista Ciências e odontologia. Disponível
em: http://revistas.icesp.br/index.php/RCO/article/view/716

LOPES, M. G. M. Inovações na Saúde Bucal - Apresentação de uma experiência pautada na


Integralidade, Transversalidade e no interagir no cotidiano. Do viver sujeitado ao sujeito
das mudanças.. In: MACAU, MÔNICA. (Org.). Saúde Bucal Coletiva implementando
ideias...concebendo integralidade.. 1ed.Rio de Janeiro: Rúbio, 2008, v. 1, p. 191-207.

TORRES, D. R. ; LOPES, M. G. M. . Saúde Bucal no Pré-Natal: Integralidade sem restrições.


In: DIAS, PRV; RENDEIRO, MMP; COSTA, MH. (Org.). Intervenções possíveis no território:
práticas em Saúde da Família no SUS. 1ed.Rio de Janeiro: Ed UERJ, 2015, v. , p. 1-292.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. UNA-SUS/UFMA. Saúde Bucal da Gestante:


Acompanhamento Integral em Saúde da Gestante e da Puérpera/ Ana Emilia Figueiredo de
Oliveira; Ana Estela Haddad (Org.). - São Luís: EDUFMA, 2018. 117 f.: il. ISBN: 978-85-
7862-779-9 1. Saúde Bucal. 2. Gestante. 3. Políticas públicas de saúde.

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GABARITOS
1) Gabarito: E
Justificativa: a dor pode estar ligada às mudanças hormonais. É precsio investigar a
causa e orientar quanto ao controle do biofilme e da dieta.

2) Gabarito: E
Justificativa: rever as indicações e contraindicações em realção aos medicamentos
permitidos.

3) Gabarito: E
Justificativa: usa-se o mesmo procedimento em condições normais.

4) Gabarito: C
Justificativa: é o anestésico padrão de comparação para todos os anestésicos locais.
Apresenta um início de ação rápido. É aliado à epinefrina.

5) Gabarito: A
Justificativa: Prilocaína e articaína não devem ser usadas por poderem levar à
metahemoglobinemia, tanto na mãe quanto no feto (Malamed, 2004)

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