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ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO A GESTANTES: A IMPORTÂNCIA DO

CONHECIMENTO DA SAÚDE BUCAL


Eliana Cristina de OLIVEIRA1

João Marcel Oliveira LOPES2

Pedro Carlos Ferreira SANTOS3

Sérgio Ricardo MAGALHÃES4


1
Acadêmico do curso de Odontologia da UniversidadeVale do Rio Verde – UninCor, campus Belo Horizonte.
E-mail: elicrist.oli@hotmail.com
2
Acadêmico do curso de Odontologia da UniversidadeVale do Rio Verde – UninCor, campus Belo Horizonte.
E-mail: odontodoctomo@hotmail.com
3
Mestre Educação. Docente do curso de Odontologia da UniversidadeVale do Rio Verde – UninCor, campus Belo
Horizonte. E-mail: prof.pedro.carlos@unincor.edu.br
4
Doutor em Engenharia Biomédica. Docente do curso de Odontologia da UniversidadeVale do Rio Verde – UninCor,
campus Belo Horizonte. E-mail: sergio.magalhaes@unincor.br

RESUMO: A manutenção da saúde bucal durante a gestação é parte indissociável da saúde feminina. Porém, esta vem
sendo pouco abordada nas políticas de atenção à saúde das gestantes no Brasil. Grande parte da população não tem
acesso a informações ou desconhecem às alterações bucais características deste período. Estudos científicos apontam
que a atenção odontológica durante a gestação é indicada, pois, muitas mulheres apresentam perturbações orais
decorrentes das alterações hormonais. Existem fortes evidências da associação entre a doença periodontal e a
prematuridade e o baixo peso do bebê ao nascer. Para este estudo, realizamos uma pesquisa bibliográfica, de natureza
qualitativa em bases de dados Lilacs, Scielo, BBO e outras publicações relevantes, utilizando os descritores: saúde
bucal, gravidez, gestante, atenção odontológica no pré-natal e mulheres grávidas, visando compreender como a equipe
multiprofissional ligada à gestante, pode influenciar na oferta, procura e adesão a esse cuidado; bem como o grau de
conhecimento de gestantes quanto à prevenção, conseqüências e oportunidade de tratamento. Dessa forma, concluímos
que, persiste a necessidade de orientações frequentes sobre cuidados com saúde bucal às gestantes, visto que estes não
fazem parte da rotina na atenção pré-natal. Evidenciamos a necessidade do trabalho integrado com toda a equipe médica
e odontológica para melhor esclarecimento sobre a relevância do tratamento odontológico.
PALAVRAS CHAVE: Saúde bucal. Cuidados no pré-natal. Gravidez. Gestantes. Atenção odontológica no pré-natal.

DENTAL CARE TO PREGNANT: THE IMPORTANCE OF KNOWLEDGE


OF ORAL HEALTH
ABSTRACT: The maintenance of oral health during pregnancy is an inseparable part of women's health. However, this
has not been widely addressed in the policies of health care for pregnant women in Brazil. Much of the population has
no access to information or are unaware of the oral abnormalities characteristic of this period. Scientific studies indicate
that dental care during pregnancy is indicated because many women have oral disorders resulting from hormonal
changes. There is strong evidence of the association between periodontal disease and preterm birth and low birth weight
baby. For this study , we conducted a literature search , qualitative in nature the database of the Lilacs, SciELO , BBO
and other relevant publications using the keywords data: oral health , pregnancy , pregnant , dental care in prenatal and
pregnant women , aiming to understand how the multidisciplinary team linked to pregnant women, can influence the
supply, demand and adherence to such care ; and the degree of knowledge of pregnant women about prevention ,
consequences and treatment opportunities . Thus, we conclude that there remains a need for common guidelines on
caring for pregnant women dental health, as these are not part of routine prenatal care. We demonstrated the need for
integrated working with all medical and dental of pregnant women to better clarify the relevance of dental treatment.
KEYWORDS: Oral health. Pre natal care. Pregnancy. Pregnant women. Dental care in pre natal care.

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INTRODUÇÃO preocupações sobre o tratamento
odontológico, informar sobre a importância
O intuito deste estudo é esclarecer a
do controle do biofilme dentário e de uma
cerca dos mitos e verdades sobre o
dieta adequada.
atendimento odontológico da paciente
Atualmente o conhecimento científico
gestante. Percebe-se que nesta fase a paciente
comprova que qualquer tratamento
sofre várias alterações, tanto fisiológicas,
odontológico pode ser realizado durante a
como psicológicas, as quais levam à paciente
gravidez. Todavia, o atendimento exige que
temer o tratamento odontológico.
sejam selecionados os agentes mais seguros,
A resistência das pacientes gestantes
com limites de duração do tratamento e
ao acompanhamento odontológico no pré-
minimizando dosagens, a fim de se obter um
natal é uma realidade. As gestantes são
processo seguro.
inseguras, e têm em mente que o tratamento
Sabe-se que ainda são precários os
odontológico pode causar anormalidades
serviços especializados na atenção
congênitas, aborto ou pode influenciar
odontológica na gravidez; bem como, pouca
negativamente o curso da gestação e provocar
valorização entre os demais profissionais de
danos à mãe e ao bebê.
saúde e das pacientes, em relação a esse
Apesar de muitos profissionais da área
cuidado. Porém, torna-se imperioso que a
odontológica demonstrarem preocupação em
relação do trinômio médico/dentista/ paciente
desmistificar esta crença popular, ainda hoje
redefina os padrões de atendimento em um
bastante arraigada, de que mulheres grávidas
contato preventivo amplo, com vistas à
não podem receber assistência odontológica.
promoção da saúde da gestante. Visto que, a
Há indícios de que alguns odontólogos
equipe de médicos obstetras inclua em sua
compartilhem desta ideia e temor e se
anamnese questões referentes à saúde bucal,
recusam a prestar assistência odontológica as
que eles inspecionem a cavidade oral de suas
pacientes gestantes, fundamentados em
pacientes e as orientem a procurarem
controvérsias de opiniões e abordagem
cuidados odontológicos.
deficiente do assunto durante a formação
Este artigo tem por objetivo fazer uma
acadêmica.
revisão bibliográfica de natureza qualitativa
Todavia, esta é uma época oportuna
em bases de dados Lilacs, Scielo, BBO e
para desmistificar algumas crenças e
outras publicações relevantes, utilizando os
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descritores: saúde bucal, gravidez, gestante, sucedida, é indispensável que existam
atenção odontológica no pré-natal e mulheres conhecimento e responsabilidade profissional
grávidas, a fim de avaliar o conhecimento de da equipe de saúde. Segundo Ritzelet al.
gestantes quanto à prevenção, consequências (2008) e Silva (2006a), ressaltam a
e oportunidades de tratamentos odontológicos necessidade de instaurar um vínculo de
e possíveis alterações bucais desenvolvidas confiança recíproco entre o profissional
durante o período gestacional, de maneira a dentista e a gestante, que culmina na redução
fundamentar as condutas clínicas por meio do medo e do estresse das consultas.
das evidências científicas. A gestante requer uma atenção
odontológica especial com uma abordagem
REVISÃO DE LITERATURA diferenciada, devido às alterações inerentes ao
período. E embora seja um fenômeno
O período gestacional é um estado fisiológico, é necessário ao profissional certo
único e valioso no ciclo de vida da mulher. conhecimento sobre as singularidades deste
Ele é bastante favorável para o período. Ele deve procurar na anamnese se
desenvolvimento de ações visando à informar sobre a história médica anterior e
promoção de saúde bucal. Isto ocorre pela atual da gestante, para que se estabeleça um
oportunidade de um acompanhamento em plano de tratamento odontológico seguro e
conjunto com o pré-natal ou até mesmo individualizado para a paciente (SILVA;
porque é um momento que faz aflorar uma STUANI; QUEIROZ, 2006).
série de dúvidas, que podem funcionar como De acordo com Elias (1995), a
estímulo para que a gestante busque anamnese bem direcionada será capaz de
informações e adquira melhores práticas de apontar características fundamentais da
saúde (MAEDA, TOLEDO, PANDOLFI, paciente para que se estabeleça um plano de
2001). tratamento eficaz.

O medo de dentista da gestante


Atenção odontológica à gestante

O medo do tratamento odontológico, se


O atendimento odontológico durante a
já existe, só se agrava com a preocupação da
gestação pode e deve ser realizado. Contudo,
gestante em relação ao seu filho, o que muitas
para que se possa prestar uma atenção em
vezes dificulta esta terapêutica. A maioria dos
saúde bucal à gestante de maneira bem
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medos, embora sem suporte científico, O atendimento
contribuem para o afastamento da gestante da
atenção odontológica. O medo pode ser fruto O cirurgião dentista (CD) pode e deve
de alguma experiência desagradável anterior questionar durante a anamnese todas as
ou comentários negativos de familiares e pacientes de qualquer idade sobre a
também pode estar associado à antipatia com possibilidade de gravidez, pois muitas vezes
o profissional (COHEN, 1987, apud esta só é perceptível fisicamente após os
ALBUQUERQUE et al., 2004). primeiros dois meses, correndo-se o risco de
O medo é o sentimento mais evidente administrar procedimentos e medicamentos
que acompanha as gestantes quando se trata contra indicados no início deste período
de sua saúde oral. Talvez por existir uma (SCAVUZZI, 1999).
cultura desfavorável à imagem do dentista Altos níveis de ansiedade associados
associada à dor, elas só procuram o com a gravidez podem intensificar o estresse
atendimento quando estão sofrendo com dor com a consulta odontológica. Consultas
forte, e isto aumenta o medo ainda mais, com curtas, evitando prolongadas posições
a possibilidade do procedimento aumentar sua supinas, instrução de higiene oral e dieta, e
dor (ALBUQUERQUE, et al., 2004). uso judicioso de radiografias podem ser
Percebe-se que o medo mais comum é suficientes para facilitar o atendimento. A
do efeito do anestésico em relação ao bebê, cronometragem do tratamento dentário e
mas que também há uma grande negligência modificações no tratamento durante a
das gestantes quanto ao tratamento, gravidez são importantes. Agentes
preferindo a postergação do mesmo para farmacológicos, radiológicos e influências
depois da gravidez. Observa-se que o medo e ambientais, todas precisam ser avaliadas e
apreensão quanto as exodontias e ao Raio-X consideradas durante a gravidez
dentário nesse período não procede, pois a (SCAVUZZI, 1999).
partir do quinto mês, as probabilidades de As dúvidas sobre o atendimento
intercorrência são mínimas (BRASIL, odontológico durante o período gestacional
2006;ALBUQUERQUE, et al., 2004). podem estar relacionadas a dois pontos:

 Uma equipe médica odontológica mal


preparada, que se sente insegura
quanto à indicação dessa prática. Estas
equipes vêem na recusa por parte de
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alguns profissionais dentistas, uma comportamento apreendidos durante a
comprovação da não necessidade primeira infância, ações educativo preventivas
intervenção odontológica neste
com gestantes qualificam sua saúde e tornam-
momento (SILVA, 2006a).
se fundamentais para introduzir bons hábitos
 Revela também a baixa percepção de desde o início da vida da criança (BRASIL,
necessidades das gestantes, entre as
2006).
quais a falta de interesse, o
comodismo, o esquecimento aliado ao
fato de não gostar de dentista ou nem Alterações sistêmicas no organismo da
pensar em ir ao dentista durante a
gestante
gravidez, igualmente podem contribuir
nesse problema (ALBUQUERQUE,
ABEGG, RODRIGUES, 2004). Na gestação o organismo da mulher
sofre uma série de alterações, que têm como
Cabe ao profissional ser responsável
objetivo desenvolver o feto e preparar o corpo
pelo atendimento eficaz e seguro à gestante, e
da gestante para o parto e amamentação
mais, elaborar um protocolo preventivo, que
(TARSITANO; ROLLINGS, 1993 apud
crie condições de manutenção da saúde bucal
RIOS, 2006).
com suas principais alterações e qual a melhor
As mudanças fisiológicas que
forma de preveni-las. Deve ainda, preocupar-
ocorrem durante a gravidez incluem
se com a segurança do feto, de modo que
transformações vão atuar sobre todo o
tanto o odontólogo como a paciente sintam-se
organismo, inclusive sobre a cavidade bucal e
tranquilos com qualquer tratamento proposto
na fisiologia oral. Ocorrem aumento da
(BRASIL, 2006).
salivação, náuseas e enjôos, alterações sobre o
Queiroz (2005) recomenda que sejam
periodonto, ganho de peso exagerado,
realizados projetos de educação para saúde
hipotensão postural, aumento da urina,
bucal de gestantes. Estes devem ser iniciados
restrição da função respiratória, potencial de
com o levantamento de crenças e tabus sobre
hipoglicemia, diminuição ou aumento dos
a questão para que possam ser desmistificadas
batimentos cardíacos e síncopes. Tais
pela equipe médico odontológica,
alterações demonstram um desequilíbrio na
aumentando assim a adesão, a segurança e a
atividade metabólica decorrentes das taxas
motivação ao pré-natal odontológico.
hormonais, muitas vezes desconhecidos pela
Inclusive, se considerarmos que a mãe tem
Equipe de Saúde Bucal (MOORE, 1998;
um papel fundamental nos padrões de
SILVA et al., 2006).
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Ao contrário do que se pensa, durante biofilme dentário por meio de uma boa
a gravidez deve-se visitar o dentista com mais higiene bucal, ou profilaxia profissional
frequência. O atendimento nessa fase envolve mensal ou trimestral, dependendo da
desde procedimentos como profilaxia, necessidade de cada paciente (ROTHWELL
aplicação de flúor (de acordo com as et al., 1987; MILLER, 1995 apud RIOS,
necessidades da futura mamãe) e remoção de 2006; POZO, 2001).
irritações locais que possam estar agredindo a O tumor gravídico é uma lesão
gengiva, até o aconselhamento preventivo benigna, própria da gestação. Sua etiologia
para a saúde bucal da mãe e do bebê. está ligada a estímulos locais, como excesso
Existem três principais alterações de restaurações, impactação alimentar e
geralmente associadas à gravidez: a gengivite acúmulo de placa. Ocorre, principalmente,
gravídica, o tumor gravídico e a cárie dentária entre o terceiro e o oitavo mês de gestação
(TARSITANO e ROLLINGS, 1993; SINGLE, (SINGLE, 1997). É uma lesão com
1997; MILLER, 1995 apud RIOS, 2006; características semelhantes ao granuloma
ANDRADE, 2001). piogênico e aparece principalmente nos
A gengivite gravídica, geralmente espaços interdentários, na parte anterior da
começa no segundo mês de gestação e é maxila (MILLER, 1995; LIVINGSTON et
caracterizada por uma resposta exacerbada à al., 1998 apud RIOS, 2006). A remoção
presença de mínima quantidade de placa, cirúrgica é indicada em casos onde houver
devido às alterações hormonais (GIER e interferência na mastigação ou na execução
JANES, 1983; TARSITANO e ROLLINGS, da higiene bucal e em situações de ulceração;
1993 apud RIOS, 2006). Clinicamente, a caso contrário, os irritantes locais devem ser
gengiva apresenta coloração avermelhada, removidos e o tumor preservado até o pós-
edemaciada e com sangramento ao simples parto, quando normalmente ocorre sua
toque ou durante a escovação.Por isso, é redução espontânea (SINGLE, 1997).
necessário um controle adequado. Os A cárie dentária e sua maior incidência
cuidados são: limpeza diária dos dentes com na gestação não estão relacionadas às
escova e fio/fita dental, sendo a qualidade mudanças fisiológicas que ocorrem nesse
desta limpeza mais importante do que a período, mas está relacionada com mudanças
frequência (MENINO, 1995; MOREIRA et de hábitos de dieta e higiene bucal (MILLER,
al.; 2004, MOURA et al.; 2001). A gengivite 1995). Com o aumento do volume do útero,
pode ser prevenida mediante a remoção do há uma diminuição da capacidade estomacal,
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que faz com que a gestante diminua a Os hábitos alimentares e higiene bucal
quantidade de ingestão de alimentos durante precária
as refeições e aumente a freqüência,
resultando em um incremento de carboidratos, Os hábitos alimentares inadequados e
que, associado ao descuido com a higiene higiene bucal precária são fatores de risco
bucal, aumenta o risco de cárie (SINGLE, para o surgimento da cárie dentária e doença
1997; LIVINGSTON et al., 1998; POZO, periodontal. Melo et al. (2007), afirmam que
2001, MONTANDON et al. 2001 apud as mudanças na dieta (introdução de mais
RIOS et al., 2006) . carboidratos e/ou maior freqüência alimentar),
Outra alteração dentária é a erosão as mudanças na higiene oral (desatenção e/ou
dentária, que corresponde à perda de estrutura dificuldades na escovação devido a ânsias de
dentária superficial devido à ação química de vômito) e ainda a maior ocorrência de
ácidos, sem envolvimento de microrganismos vômitos podem desequilibrar o meio bucal,
(IMFELD, 1996 apud RIOS et al., 2006). aumentam do risco nas gestantes de
Pode ocorrer devido às regurgitações que desenvolver cáries. Esse desequilíbrio do
ocorrem, durante a gestação, principalmente meio bucal, se não for acompanhado de
no primeiro trimestre e no período da manhã cuidados especiais, pode, causar uma
(SCHEUTZEL, 1996). Estas regurgitações descalcificação da estrutura dental, que leva à
podem afetar as estruturas dos dentes, devido cárie, e explica a "perda de cálcio" conhecida
ao conteúdo ácido vindo do estômago popularmente. Porém, é errado pensar que
(ROTHWELL et al., 1987). essa perda de cálcio tenha relação com a
Ao estudar os motivos pelos quais formação dos dentinhos do bebê. Há um
ocorrem as alterações bucais nas gestantes, aumento do risco de cárie em função da placa
percebe-se que todas elas são passíveis de bacteriana e não a gravidez. Se houver um
prevenção, que é muito importante, pois a controle efetivo dessa película de bactérias
presença de doença periodontal em gestantes que gruda nos dentes, não haverá cáries
pode ter implicações na saúde do futuro bebê, (MENINO, 1995, MOREIRA et al., 2004,
devido à sua relação com a ocorrência de MOURA et al., 2001).
partos prematuros e bebês de baixo peso ao
nascimento (OFFENBACHER et al., 1996;
DAVENPORT et al., 1998 apud RIOS et al.,
2006).
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O período ideal para o tratamento cavidade bucal (MEDEIROS et al., 2000,
odontológico SCAVUZZI ,1999).
Durante a gravidez ocorrem alterações
O conhecimento científico atual emocionais, endócrinas e bucais. Muitos são
demonstra que o período ideal e mais seguro os fatores que podem propiciar as
para o tratamento odontológico é durante o manifestações de alterações bucais na
segundo trimestre da gestação (SILVA, 2006). gestação, destacando-se as alterações
Porém, qualquer tratamento odontológico hormonais (alto níveis de estrógenos e
pode ser realizado durante a gestação. progesterona) e a presença de placa
Entretanto, o atendimento supõe de pré- bacteriana, devido à higienização bucal
requisitos para que sejam selecionados os ineficiente (RODRIGUES, 2002;
agentes mais seguros, limitando a duração do SARTÓRIO, 2001).
tratamento e minimizando dosagens – isto é São várias as manifestações de
fundamental para uma terapia segura alterações bucais que podem ocorrer na
(LIVINGSTON et al., 1998). gestação, pois, ocorrem processos bucais já
Scavuzzi et al. (1999), explica que, iniciados tendem a se agravar (MEDEIROS et
instruções quanto à higiene bucal, limpeza al., 2000; RODRIGUES, 2002; SARTÓRIO,
dentária no consultório e a aplicação tópica de 2001). Com isto, pode haver uma exacerbação
flúor podem ser realizadas em qualquer época da gengivite pré-instalada, com maior
do período gestacional sem oferecer perigos vascularização do periodonto, levando a uma
ao feto. tendência a sangramentos. É comum o
aumento de salivação, náuseas, vômitos, a
DISCUSSÃO diminuição da escovação e maior incidência
de cáries.
A tendência atual na Odontologia é a De acordo com Medeiros et al.,
ênfase a um atendimento precoce centrado na (2000), a gengivite é a complicação bucal
construção da saúde e valorização do período mais comum na gravidez, afetando cerca de
pré-natal. O período gestacional deve ser alvo 100% das mulheres e pode ser identificada a
de atenção por parte dos profissionais de partir do segundo mês de gestação. Isto se
saúde, com vistas à promoção da saúde bucal deve aos altos níveis de progesterona, que
e prevenção de doenças que afetam a levam à maior permeabilidade dos vasos
sanguíneos gengivais, tornando a área mais
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sensível aos irritantes locais (BOSCO, São muitos os mitos e crenças sobre o
LUIZE, MURAKAWA, ESPER, 2004) atendimento odontológico e gestação. Codato
também, a presença de certas bactérias et al., (2008) defende a assistência
associadas ao processo de inflamação odontológica no pré-natal com a finalidade de
gengival e pela presença de irritantes locais garantir a saúde dos dentes e gengivas,
oriundos principalmente da placa dental. Esta preservar as funções mastigatórias e a
placa pode ser tratada mediante a eliminação nutrição adequada. Albuquerque, Abegg e
dos fatores pela higiene bucal cuidadosa e ao Rodrigues (2004) concluíram que é comum
controle odontológico periódico, e quando se entre as gestantes o medo de sentir dor, de o
necessário efetuará as raspagens coronárias . tratamento fazer mal ao bebê, além de
O odontólogo ministrará a instrução sobre o dúvidas relacionadas à anestesia dentária.
comportamento preventivo de higiene bucal: Costa (2000) assinala que os dentistas, dentre
escovação diária e após as refeições, uso de todos profissionais de saúde, são os mais
dentifrício fluoretado, uso do fio dental para preconceituosos em relação ao tratamento
prevenção da cárie dentária e remoção da odontológico às gestantes, havendo, portanto,
placa bacteriana interproximais (BARROS, e a necessidade de mudar esta postura a fim de
MOLITERMO, 2001). consolidar a atenção à saúde bucal na
Porém, é importante ressaltar que o gestação.
organismo da mulher grávida responde de Os autores Codato, Nakama e
forma exacerbada aos irritantes locais, mas Melchior (2008) referiram-se a crença de que
para que ocorra o desenvolvimento de no período da gestação existem restrições ao
problemas é necessário o fator primário que é tratamento odontológico. Tanto gestantes
a placa dentária (BARROS, e MOLITERMO, como os próprios odontólogos, não sabem
2001; BATISTELLA et al., 2006). quais tipos de intervenções são possíveis
Estudos demonstram uma relação nesse período. As gestantes inseguras
entre infecções periodontais pode ser um atribuem às exodontias o risco de hemorragias
possível fator de risco para o parto prematuro que podem prejudicar o bebê, (HANNA et
e/ou baixo peso ao nascer (OFFENBACHER al., 2007).
et al., 1996; FOWLER et al., 2001; O acompanhamento odontológico da
KONOPKA et al., 2003 apud DOMINGUES mulher na gravidez permite quebrar a crença
et al., 2010). de que há um aumento de cáries durante a
gestação. É imperativo explicar que o
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aumento de cárie é pertinente à mudança dos desde que corretamente realizados, não gera
hábitos alimentares e à falta de higienização quaisquer males ao feto, sobretudo quando
apropriada no período gestacional. Também executados no período gestacional ideal que
carece ser desfeito o mito de que a cada seria em torno do segundo trimestre.
gravidez a mulher perde um dente. Basta Entretanto, o atendimento supõe que
elucidar às gestantes que as perdas dentárias pré-requisitos sejam selecionados, como a
podem ser impedidas com uma dieta necessária formação de profissionais aptos a
saudável, evitando-se alimentos cariogênicos, prestar atendimento diferenciado à gestante,
ressaltando o controle da placa bacteriana e, incluindo ações preventivas e curativas, para
sobretudo, a importância e possibilidade de que se promova a saúde bucal da mãe e
tratamento dentário durante a gravidez. consequentemente, do bebê.

CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS

O atendimento odontológico de ALBUQUERQUE, O. R.; ABEGG, C.;


RODRIGUES, C. S. Percepção de gestantes
gestantes é um assunto bastante controverso,
do Programa Saúde da Família em relação a
sobretudo em função dos mitos que existem barreiras no atendimento odontológico em
Pernambuco, Brasil. Cad. Saúde Pública, v.
acerca do tratamento, tanto por parte das
20, n. 3, jun., 2004.
gestantes como por parte dos odontólogos que
não se sentem seguros em atendê-las, por isso ANDRADE, E. D. Terapêutica
Medicamentosa em Odontologia. São Paulo:
é sempre um desafio este atendimento. Artes Médicas, p. 54-62, 2001.
Muitos profissionais da área
BARROS, B.; MOLITERMO, L. Seria a
odontológica têm demonstrado preocupação doença periodontal um novo fator de risco
em desmistificar a crença ainda hoje bastante para o nascimento de bebês prematuros e de
baixo peso? Revista Brasileira de
arraigada, de que mulheres grávidas não Odontologia, v. 58, n. 4, jul- ago, p. 256- 260,
podem receber assistência odontológica. 2001.
Estudos científicos recentes evidenciam que BRASIL. Ministério da Saúde. Agência
qualquer tratamento odontológico pode ser Nacional de Vigilância Sanitária. Serviços
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realizado durante a gestação, período esse em riscos. Brasília, DF, 2006.
que acontecem numerosas alterações
BATISTELLA F. I. D, IMPARATO J. C. P,
fisiológicas. Há um consenso na literatura que RAGGIO D. P, CARVALHO A.S. Conheci
a maioria dos procedimentos odontológicos, mento das gestantes sobre saúde bucal; na
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rede pública e em consultórios particulares. risco clássicos, para o parto prematuro e/ou
Rev Gaúcha Odontol, v. 54, n. 1, p. 67-73, baixo peso ao nascer : Revisão de literatura.
jan./mar., 2006. R. Periodontia, v.20, n.2, p. 33-38, 2010.

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