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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH REPORT / ARTÍCULO

Conhecimento do médico pediatra acerca da promoção da saúde


bucal na primeira infância em unidades básicas de saúde da família a

The pediatric doctor’s knowledge on oral health promotion in first infancy


in family health basic units
La promoción del conocimiento acerca de salud bucal del doctor pediátrico en la primera
infancia en unidades básicas de la salud de la familia

Sarita Savi Guisso*


Lorena Teresinha Consalter Geib**

RESUMO: Com o objetivo de descrever o conhecimento dos médicos pediatras de dois municípios do Rio Grande do Sul, acerca da saúde
bucal na primeira infância, realizou-se esta pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem qualitativa. Participaram cinco médicos
pediatras de dois municípios do Rio Grande do Sul, que atuam em Unidades Básicas de Saúde da Família. Realizou-se a coleta de da-
dos em julho de 2006, por meio de um questionário com perguntas abertas. Os conteúdos analisados foram agrupados nas seguintes
categorias: 1) conhecimento do médico pediatra acerca da saúde bucal das crianças; e 2) operacionalização das ações preventivas pelo
médico pediatra. Os participantes revelaram um nível básico de conhecimento em saúde bucal na infância, porém as condutas adotadas
nem sempre eram compatíveis com o mesmo, denotando algumas ações ineficazes. A inadequação da informação fornecida aos pais e
responsáveis pelas crianças sugere a necessidade de maior inter-relação com os profissionais da odontologia.
PALAVRAS-CHAVE: Educação em Saúde bucal. Práticas em saúde. Odontologia pediátrica.
ABSTRACT: Aiming to describe the knowledge pediatric doctors of two cities of Rio Grande do Sul State have concerning oral health in
first infancy, this exploratory-descriptive research was done which has a qualitative approach. It had as subjects five pediatric doctors
from two cities of Rio Grande do Sul State working in the Family Health Program. Data were collected in July 2006 by means of a
questionnaire with open questions. The analyzed contents were grouped in the following categories: 1) pediatric doctor’s knowledge
concerning children oral health and 2) implementation of recommended actions by the pediatric doctor. The participants showed a basic
level of knowledge on oral health in infancy, but the adopted behaviors not always were compatible with this knowledge, denoting
inefficacious actions. The inadequacy of information given to parents and children suggests the necessity of a greater interaction of
doctors with dental professionals.
KEYWORDS: Education in oral health knowledge. Practices for health. Pediatric dentistry.
RESUMEN: Para describir al conocimiento de los doctores pediátricos de dos ciudades de Río Grande del Sul referentes a la salud oral
en la primera infancia, esta investigación exploratorio-descriptiva fue hecha con un acercamiento cualitativo. Hubo como sujetos cinco
doctores pediátricos de dos ciudades de Río Grande del Sul que trabajan en el programa de la salud de la familia. Los datos fueron recogidos
en julio de 2006 por medio de un cuestionario con preguntas abiertas. El contenido analizado fue agrupado en las categorías siguientes:
1) conocimiento del doctor pediátrico referente a la salud oral de los niños y 2) puesta en práctica de acciones recomendadas por el
doctor pediátrico. Los participantes demostraron un nivel básico de conocimiento en salud oral en la infancia, pero los comportamientos
adoptados no siempre fueran compatibles con este conocimiento, denotando acciones ineficaces. La insuficiencia de la información dada
a los padres y a los niños sugiere la necesidad de una mayor interacción de los doctores con los profesionales dentales.
PALABRAS LLAVE: Educación en conocimiento de la salud oral. Prácticas para la salud. Odontologia pediátrica.

a
Artigo apresentado ao Curso de Especialização em Saúde da Família, do Instituto de Ciências Biológicas, da Universidade de Passo Fundo – UPF.
* Cirurgiã-Dentista. Aluna do Curso de Especialização em Saúde da Família, da UPF. Residente no município de Sananduva.
Profissional atuante no Programa Saúde da Família de Sananduva. E-mail: saritasg@bol.com.br
** Professora titular da Universidade de Passo Fundo. Doutora em Ciências da Saúde.

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CONHECIMENTO DO MÉDICO PEDIATRA ACERCA DA PROMOÇÃO
DA SAÚDE BUCAL NA PRIMEIRA INFÂNCIA EM UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Introdução a promoção de saúde na primeira desenvolvimento da voz, fala e


infância, que visem a promover e linguagem da criança devem ser
A infância é um momento fun- manter a saúde bucal dessas crian- cuidadas, assim como as altera-
damental para o desenvolvimento ças. Trabalhar a prevenção reduz ções no desenvolvimento das fun-
de ações positivas com relação à a incidência de doenças, porque ções musculares bucofaciais para
saúde bucal, especialmente a fai- desta forma as pessoas estão menos evitar desvios de crescimento do
xa de zero aos três anos, quando expostas às causas (Kuhn, 2006). músculo esquelético bucofacial. O
ocorre a formação de hábitos, den- Uma das fontes de preocupa- médico pediatra deve estar atento
tre os quais se incluem os hábitos ção com a saúde bucal na primeira à respiração da criança, que deve
higiênicos, que constituem fatores infância refere-se ao aleitamento ser nasal, para que haja um correto
determinantes na prevenção da cá- materno. A obtenção do leite ma- crescimento facial, evitando atresia
rie dentária. terno pela criança é feita por meio da maxila, mal oclusões, mordida
Nesse sentido, é fundamental da sucção, que é um padrão de cruzada posterior e outros (Corrêa,
que a prevenção possa ser desen- comportamento inato exibido pelo 1999).
volvida pelos pais ou responsáveis recém-nascido a partir da vigésima Na educação bucal, o ideal é que
sob a orientação do cirurgião-den- nona semana de vida intra-uteri- a mãe seja educada sobre a higie-
tista. Entretanto, observa-se que na (Peterson, Schneider, 1991). O nização bucal antes do nascimento
os pais procuram tardiamente esse reflexo da sucção está fortemente do bebê, tornando esse momento
profissional para o acompanha- ligado à elevada sensibilidade que o agradável, pois, além da função
mento das crianças. Uma alter- recém-nascido apresenta na região de limpeza, a escova deve ser uma
nativa seria a atuação efetiva do bucal (esterognosia), podendo ser imagem que estimule o lúdico. A
médico pediatra, uma vez que é estimulado ao aproximar a boca do cárie dental é uma doença transmis-
com esse profissional que as crian- bebê do peito da mãe ou mesmo de sível e a melhor maneira de evitar
ças menores de três anos mantêm uma chupeta (Douglas, 1994). a contaminação é a família manter
um vínculo maior, com revisões O aleitamento natural propor- bons hábitos de higiene bucal.
sistemáticas de saúde. Contudo, ciona o correto desenvolvimento Os prejuízos de mamadeiras
a implementação dessa estratégia dos reflexos do bebê e musculatura noturnas, hábitos de dormir sem
pode encontrar limitações no co- facial, sendo que a introdução do realizar a higiene adequada e a
nhecimento técnico dos médicos aleitamento artificial precoce pode cariogenicidade do leite materno
pediatras, tanto para a orientação levar ao desenvolvimento de hábi- devem ser relatados e ensinado aos
dos pais, quanto para o encami- tos bucais, os quais são represen- pais da criança.
nhamento de crianças pequenas tados na grande maioria das vezes A tendência atual na saúde é
aos cirurgiões-dentistas. pela sucção do dedo ou chupeta dar ênfase ao atendimento preco-
A prevenção passou a ocupar (Queluz, Adair, 2000). ce, iniciado antes do primeiro ano
posição de destaque na odontologia Os profissionais que atuam na de vida. Sugere-se que a primeira
moderna no decorrer dos últimos odontopediatria têm oportuni- consulta odontológica da criança
anos, em razão da alta prevalência dade de interferir precocemente, seja realizada por volta dos seis me-
da cárie dentária, que afeta priori- assegurando o desenvolvimento ses de idade, para que possam ser
tariamente as crianças e os adoles- adequado do sistema mastigatório, iniciadas ações educativas aos pais,
centes. Esse perfil epidemiológico estrutural e funcional, monitoran- objetivando a prevenção da insta-
tem sido atribuído à desinformação do a dinâmica do crescimento e lação das doenças bucais.
dos pais em relação à saúde bucal. desenvolvimento das estruturas É importante que os profissio-
A saúde bucal, como estado de anatômicas do sistema mastigató- nais da saúde, responsáveis pelo
harmonia, normalidade ou higidez rio (Corrêa, 1999). bem-estar geral da criança (médi-
da boca, só tem significado quando São muitas as conseqüências cos pediatras e odontopediatras),
acompanhada, em grau razoável, negativas na saúde bucal das crian- tenham conhecimento necessário
da saúde geral do indivíduo (Perei- ças a partir do uso de mamadeiras. sobre as características de uma ca-
ra et al, 2003). Analisando as produções consulta- vidade bucal considerada dentro
A alta prevalência de cárie em das, observa-se que nada substitui dos padrões de normalidade. De-
bebês, demonstrada em uma série o ato de mamar no peito. Nota-se, vem saber reconhecer e diagnos-
de estudos (Miller, 1995; Peterson, também, a importância do médi- ticar prováveis anomalias que se
Schneider, 1991), aponta a neces- co pediatra no processo de saúde apresentam, orientando, alertando
sidade de programas voltados para bucal, sendo que as alterações do e tranqüilizando pais ou responsá-

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veis e indicando o tratamento, ca- dico, um(a) enfermeiro(a), um ou primeiro é de 14.926 habitantes,
so necessário (Corrêa, 1999). O dois auxiliares de enfermagem e de sendo 8.417 na zona urbana. Suas
médico pediatra que acompanha quatro a seis agentes comunitários. principais atividades econômicas
o pós-natal do bebê deve observar Assim, surgiu o desafio do trabalho são a agricultura, a indústria de pe-
o estado pré-dentado, os rodetes em equipe multidisciplinar, com queno e médio porte e o comércio.
gengivais, padrões de crescimen- responsabilização sobre um terri- Na área da Saúde, este município
to e desenvolvimento dental, mal tório onde vive certo número de conta com quatro equipes de saúde
oclusões, dentes ectópicos, hábitos famílias. As definições de responsa- da família nos bairros da cidade.
de sucção artificial com chupetas bilidade territorial e de adscrição de Apenas uma conta com equipe de
e bicos de mamadeira, disfunções famílias (introduzidas no Programa saúde bucal. Além disso, conta com
na fase de dentição decídua, pa- de Agentes Comunitários de Saúde uma Unidade Central de Saúde
drão respiratório bucal, deglutição e ampliadas no PSF) conferem ao (Posto Central). O pronto atendi-
atípica, anomalias e problemas de programa uma característica espe- mento é realizado no único hospi-
articulação têmporo-madibular cial: a potencialidade para resgatar tal existente, com atendimento de
(Moreira, 1999). os vínculos de compromisso e de urgência e emergência 24 horas. A
Essas ações configuram a pro- co-responsabilidade entre os ser- UBSF atende a 10.742 habitantes,
moção da saúde definida como viços de saúde, os profissionais e a ou seja, 71,96% da população total.
fundamental para a melhoria das população (Alves, 2005). O segundo município conta com
condições de vida. Assim, a educa- Portanto, um dos princípios bá- uma população total de 29.833 ha-
ção prévia dos pais, determinando sicos do PSF, descritos por Alves bitantes e um Índice de Desenvol-
a não existência dos fatores de risco (2005), é o de educar para a saúde vimento Humano (IDH) de 0,755.
é, ao lado da idade inicial de aten- implicando ir além da assistência Sua economia está baseada na in-
dimento precoce, um dos fatores curativa. Isso significa dar priori- dústria moveleira, agricultura (com
mais importantes na prevenção da dade a intervenções preventivas e ênfase na fruticultura) e pecuária.
cárie dentária. Essa educação co- promocionais de saúde. Deste mo- Na área de Saúde, conta com cinco
aduna-se com a estratégia Saúde do, o desenvolvimento de práticas postos de atendimento básico em
da Família, que representa uma educativas no âmbito do PSF, seja saúde, sendo duas UBSF. Além dis-
concepção de saúde centrada na em espaços convencionais, a exem- so, há plantão 24h no hospital lo-
promoção da qualidade de vida, plo dos grupos educativos, ou em cal, com atendimento ambulatorial
na lógica de atenção à saúde, afir- espaços informais, como a consulta de urgência e emergência, conve-
mando a indissociabilidade entre o médica na residência das famílias niado ao Sistema Único de Saúde,
atendimento clínico e a promoção por ocasião da visita domiciliar, ex- e uma cobertura da UBSF a 7.000
da saúde. É plenamente sintoniza- pressa a assimilação do princípio pessoas, correspondendo a 25% da
da com os princípios da universali- da integralidade pelas equipes de população.
dade, eqüidade e integralidade das saúde da família, além de efetivar Para a realização do estudo,
ações, voltada à permanente defesa uma nova forma de promover a incluíram-se todos os médicos
da vida do cidadão. saúde, incluindo-se aí a saúde bucal pediatras de cada município, que
As ações do Programa Saúde da de crianças e a melhoria da quali- atuam nas UBSF, totalizando cin-
Família (PSF) transformaram a for-
1
dade de vida da população. co participantes. Realizou-se a
ma de cuidar da saúde no Brasil que coleta de dados no mês de julho
vem se consolidando como um im- de 2006 por meio de um questio-
Metodologia nário contendo questões relacio-
portante instrumento na promoção
do bem-estar da população, com Este estudo caracteriza-se como nadas com os seguintes aspectos
melhoria da saúde e da qualidade exploratório-descritivo, com abor- do conhecimento do médico pe-
de vida. No decorrer dessa trans- dagem qualitativa, e foi desenvol- diatra: métodos de prevenção da
formação, as unidades de Saúde vido no contexto das Unidades doença bucal; fatores etiológicos
da Família passaram a atuar com Básicas de Saúde da Família (UBSF) da cárie e doença periodontal;
equipes multiprofissionais, com- de dois municípios do interior do ações preventivas desenvolvidas
postas, minimamente, por um mé- Rio Grande do Sul. A população do na prática clínica com crianças

1. Através da Portaria nº 648, de 28 de março de 2006, do Ministério da Saúde, foi criada a Estratégia de Saúde da Família, que visa à reorganização da atenção básica
no país para o Programa o Programa de Saúde da Família (PSF) e o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Neste artigo, a denominação Programa Saúde da
Família será equivalente à Estratégia Saúde da Família.

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menores de três anos; conduta em equipes de Saúde da Família (ESF); formação da cárie. Observem-se as
relação ao encaminhamento das nos cursos de graduação ou pós-gra- transcrições a seguir:
crianças para avaliação da saúde duação ou especialização; congres- Cárie: higiene deficiente, dieta cario-
bucal. sos; livros e revistas; em orientações gênica, acúmulo de placa associada
O questionário de auto-preen- de cirurgiões-dentistas. a suscetibilidade (MP3).
chimento foi aplicado individu- É importante ressaltar que nas Doença Periodontal: acúmulo de
almente a cada participante para respostas dos médicos pediatras placa, tártaro, higiene deficiente e
ser respondido no consultório, em pode-se observar que o curso de dieta cariogênica (MP 3).
horário previamente agendado, graduação é uma fonte de conhe- [...] formato e características dos
sem interferir com a privacidade cimento pouco citada, uma vez que dentes e gengivas, uso de açúcares
do respondente, nem com as suas a maioria dos currículos dos cursos na alimentação e placa bacteriana
atividades profissionais. de medicina não tem disciplinas es- (MP 4).
Os dados e informações obti- pecíficas sobre saúde bucal. No estudo de Freire, Macêdo
das foram analisados qualitativa- Essas constatações são seme- e Silva (2000), os médicos pedia-
mente, e agrupados em categorias lhantes às observadas por Freire, tras de Goiânia – GO apresentaram
analíticas pré-definidas (Minayo, Macêdo e Silva (2000), em pes- informações sobre as causas e pre-
1996). quisa realizada com médicos pedia- venção da cárie pouco consistentes,
O projeto foi aprovado pelo tras de Goiânia. Embora a principal da mesma forma que ocorreu com
Comitê de Ética em Pesquisa da fonte de informação relatada pelos os médicos pediatras dos municí-
Universidade de Passo Fundo e participantes daquele estudo tenha pios analisados. De acordo com os
todos os participantes assinaram o sido o curso de graduação, este foi autores, em relação aos fatores etio-
Termo de Consentimento Livre e apontado por apenas 38,5% da lógicos da cárie, verificou-se que os
Esclarecido. amostra. Este dado sugere que, médicos têm conhecimento sobre
embora a cárie dental seja uma das os fatores biológicos, mas nenhum
Resultados e discussão doenças mais comuns na infância, mencionou os determinantes so-
pouca ênfase tem sido dada a esta ciais e econômicos que influenciam
Participaram cinco dos seis mé- área nos currículos de medicina. Es- a instalação e desenvolvimento da
dicos pediatras com atuação clínica te estudo, em concordância com o doença.
nos municípios estudados. Houve de Schulte et al. (1992), identificou Essa evidência também foi ob-
apenas uma recusa, cuja alegação como principais fontes primárias de servada no estudo realizado nos
foi a necessidade de realizar uma informação sobre o diagnóstico da dois municípios do Rio Grande
pesquisa bibliográfica para poder cárie entre pediatras a própria ex- do Sul, uma vez que nenhum dos
responder ao questionário, fato periência clínica pediátrica (46%), médicos pediatras participantes
esse que comprometeria o propósi- a residência em pediatria (30%) e, do estudo levantou os problemas
to do estudo de verificar o nível do em menor proporção, o curso de sociais e econômicos como deter-
conhecimento dos pediatras em re- medicina (17%). minantes do desenvolvimento de
lação à promoção da saúde bucal na Nessa perspectiva, observa-se a doenças bucais.
infância. Mesmo com essa recusa, o importância dos cursos de medici- Ao descreverem o que conhe-
número de participantes mostrou- na se adequar à realidade da saúde ciam sobre as ações preventivas da
se suficiente para a saturação dos das crianças e incluírem, na grade doença bucal, os médicos pediatras
dados, que serão apresentados na curricular, disciplinas específicas incluíram: a) ações higiênicas: hi-
seqüência, seguindo as categorias na área para ampliar o nível de co- giene bucal dos bebês, escovação
analíticas previamente definidas. nhecimento dos médicos pediatras freqüente e uso de fio dental a
a respeito da saúde bucal. partir dos seis meses; b) ações rela-
O conhecimento dos A maior parte dos médicos pe- cionadas à alimentação da criança:
médicos pediatras sobre ações de diatras destacou possuir conhe- aleitamento materno, proibição do
prevenção da doença cimento básico sobre: formato e uso de bicos e mamadeiras, dieta
bucal na infância características dos dentes e gengi- balanceada e com pouco açúcar; c)
Com relação às fontes de co- vas; necessidade de evitar açúcar ações de saúde pública: uso de água
nhecimento dos médicos pediatras na alimentação como ação preven- fluorada; d) exames odontológicos
quanto à saúde bucal, observa-se tiva da cárie; relação entre bacté- sistemáticos: visitas ao dentista a
que os mesmos receberam tais in- rias (placas) e cárie; relação entre partir dos três anos de idade, como
formações: nos treinamentos das cárie e higiene deficiente; dieta e ilustra a seguinte descrição:

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A prevenção é iniciada quando a mento fundamental da saúde geral pediatra (uma resposta); médico
criança é menor de um ano. De pre- da criança. Isso vem ao encontro do pediatra e dentista informando os
ferência a primeira profilaxia que que diz Petersen (2003), ressaltan- pais (duas respostas); somente da
a criança recebe deve ser o leite ma- do que a saúde bucal é parte inte- mãe e pai (uma resposta); pais e
terno, pois as mamadeiras são uma grante e inseparável da saúde geral médico pediatra (uma resposta).
agressão para os dentes das crian- do indivíduo. É preciso compreen- É fundamental considerar que
ças, principalmente as noturnas ou der que ter saúde bucal significa uma prática médica e odontológi-
antes de dormir, sem higiene após não apenas ter dentes e gengivas ca baseada na promoção de saúde
as mamadas. Quanto às crianças de sadias. Significa estar livre de dores pressupõe a interdisciplinaridade,
maior idade, a alimentação sadia é crônicas e outras doenças e agravos envolvendo outras áreas da Saúde.
sinônimo de dente sadio, sendo que que acometem o bem-estar físico Além disso, os pais ou responsáveis
deve ser incentivada a escovação geral. pela criança precisam estar cons-
com pastas especiais e escovas ma- Com relação à avaliação do co- cientes e bem informados a respei-
cias (MP 1). nhecimento sobre prevenção da to dos problemas que envolvem a
Percebe-se que os médicos pe- saúde bucal das crianças de zero saúde bucal, assim como dos as-
diatras possuem bom nível de co- a três anos, os médicos pediatras pectos relacionados à prevenção
nhecimento básico a respeito das destacam: da cárie e doenças gengivais. Sobre
ações de prevenção da doença bu- Excelente, faz parte da minha con- isso, Moreira, Chaves e Nóbrega
sulta (MP 4). (2004) ressaltam que é imperioso
cal na infância. Contudo, é impor-
Precário (MP 5). que a relação do trinômio médico-
tante analisar se esse conhecimento
Sei que a prevenção deve ser feita dentista-paciente (aqui também
é, realmente, repassado aos pais
desde o nascimento do bebê, fazendo se deve destacar a figura dos pais e
ou responsáveis, uma vez que a
higiene das gengivas ao menos uma responsáveis pelas crianças) redefi-
cárie e a doença bucal são doenças
vez ao dia e, após a erupção dentá- na os padrões de atendimento, em
que acometem grande número de
ria, usar escova, fio dental e evitar um contato preventivo amplo, com
crianças, segundo dados das UBSF
doces (MP 2). vistas à promoção da saúde. Para
dos municípios analisados.
Nota 5, numa escala de zero a 10 tanto, deve-se estabelecer o inter-
Todos os médicos pediatras opi-
câmbio de informações, buscando
naram a respeito da relação entre (MP 1).
desenvolver um atendimento de
saúde bucal e prevenção da saúde Possuo alguns conhecimentos, em
qualidade.
geral da criança. Segundo eles, a caso de dúvidas encaminho ao den-
De acordo com todos os médi-
saúde bucal é de vital importância tista (MP 3).
cos pediatras investigados, o exa-
para o pleno desenvolvimento in- Observa-se que os participantes me da boca, dentes e gengivas da
fantil, uma vez que a boca é porta do estudo apresentam um concei- criança de zero a três anos durante
de entrada de agentes infecciosos e to crítico a respeito de seu nível de a consulta médica é realizado sem-
o cuidado desde cedo é importante conhecimento. Ao admitirem que pre, de forma rotineira, em todas
para que isso se torne um hábito, possuem conhecimento restrito so- as consultas, mesmo que seja um
elevando a auto-estima da criança. bre a prevenção da saúde bucal, os exame superficial, como revelou
As falas a seguir retratam esse po- médicos pediatras destacam a pre- um deles.
sicionamento: cariedade do atendimento e a ne- O exame da saúde bucal deve
Importante porta de entrada de cessidade de maiores informações fazer parte da consulta pediátrica,
agentes infecciosos, na manutenção para que essas possam ser repassa- pois é um momento fundamental
de ingesta adequada de alimentos, das com maior autonomia aos pais para o diagnóstico de doenças bu-
auto-estima, etc. (MP 4). e responsáveis pelas crianças. cais e outras patologias que afetam
Muito importante, evitando cárie a criança. A partir do exame, os pe-
e doenças bucais, estaremos con- Operacionalização das diatras podem realizar o encami-
tribuindo para a saúde da criança ações preventivas dos nhamento ao cirurgião-dentista,
(MP 3). médicos pediatras orientando os pais e agilizando o
A saúde bucal é de vital importân- Sobre a responsabilidade pela processo de tratamento e recupe-
cia para o pleno desenvolvimento prevenção da cárie e doenças gen- ração da saúde bucal infantil.
da criança (MP 5). givais nos primeiros anos da vida Com relação à orientação dos
Os participantes do estudo do bebê, os participantes destacam pais ou responsáveis sobre as ações
consideram a saúde bucal um ele- ser a mesma: somente do médico de prevenção da cárie e das doenças

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de gengiva, todos os participantes é para que isso se estenda pelo me- Para orientar os pais a respei-
do estudo destacaram que realizam nos até os seis meses. to de higiene bucal e alimentação
“sempre” essa orientação, sendo Sim, em todos os recém-nascidos adequada às crianças, os médicos
que a freqüência varia de acordo (MP 1). pediatras precisam estar bem infor-
com a necessidade. Sim, a orientação é mensal até os mados e possuírem um bom nível
O processo de controle da cárie seis meses (MP 3). de conhecimento, uma vez que
e de doenças periodontais envol- Sousa (1997) ressalta que, quan- são informações que farão parte da
ve tanto os profissionais da saúde do a criança é amamentada, realiza rotina da criança e influenciarão
quanto os pais. Além da odontolo- um exercício físico importante para todo o seu desenvolvimento. Nes-
gia, a prevenção da cárie necessita o seu desenvolvimento ósseo e sa perspectiva, observa-se que os
de dieta adequada, balanceada e muscular. Ao nascer, o neonato tem médicos participantes deste estudo
variada, contendo os nutrientes ne- o maxilar inferior muito pequeno, procuram promover tais informa-
cessários para a formação e manu- ções, sendo que há aqueles que não
que terá seu crescimento estimula-
tenção de dentes saudáveis e uma se sentem preparados para desem-
do pela sucção no peito. Maxilares
reeducação materna e dos respon- penhar tal função.
melhor desenvolvidos propiciarão
sáveis pelas crianças, que ajudam O médico pediatra deveria for-
um melhor alinhamento da den-
na prevenção das doenças bucais. necer esclarecimentos básicos de
tição, diminuindo a necessidade
Além disso, o papel do médico orientação em relação aos hábitos
futura do uso de aparelhos ortodôn-
pediatra no encaminhamento e de higiene bucal, dieta, sucção, en-
ticos. Músculos firmes ajudarão
orientação dos pais torna-se funda- caminhamento ao cirurgião-den-
na fala. Durante a amamentação,
mental, pois é o primeiro profissio- tista, pois raramente a criança faz
aprende-se a respirar corretamen-
nal de saúde que entra em contato prevenção e procura o cirurgião-
te pelo nariz, evitando amigdalites,
com a criança e sua família. dentista por traumatismo ou doen-
pneumonias, entre outras doenças.
De acordo com Camargo (1998), ças de boca. Os conhecimentos
o campo de ação do odontopediatra Depois da amamentação, a masti-
científicos hoje asseguram a pos-
é vasto, dinâmico e muito abran- gação correta continuará a tarefa de sibilidade de se acompanhar uma
gente. Diz respeito à prevenção, ao exercitar ossos e músculos. A ama- criança desde o seu nascimento até
diagnóstico e ao tratamento inte- mentação prepara a criança para a a idade adulta de maneira que ela
gral da criança em todos os aspec- mastigação. Mastigação incorreta não passe por experiência de cárie
tos relacionados com a boca, nas pode levar também a problemas ou doença periodontal.
diferentes idades e fases de desen- gástricos e de obesidade. Além dis- O médico pediatra deveria
volvimento. Nesta linha de pensa- so, o aleitamento materno evita também sentir-se responsável pela
mento, educação e prevenção têm hábitos prejudiciais, como mama- saúde bucal da criança e encami-
papel fundamental. O atendimen- deira, chupeta, sucção digital, que nhá-la precocemente ao cirurgião-
to odontológico ao bebê tem como afetam o posicionamento. dentista para avaliação bucal.
ponto central o enfoque preventivo Sobre o repasse de informações Elvey e Hewie (1982) sugerem
para a manutenção da saúde, sendo aos pais acerca dos cuidados quanto maior inter-relacionamento entre
importante a educação dos pais e ao tipo de alimentação, horários e as áreas médica e odontológica,
responsáveis. Portanto, auxiliar os higienização bucal da criança de ze- pois hábitos viciosos (alimentação
pais na conscientização do seu pa- ro a três anos, a maior parte dos en- e sucção) podem ser adquiridos an-
pel educativo com relação à higiene trevistados destacou que realiza tal tes da erupção dental. O cirurgião-
bucal dos seus filhos é o primeiro orientação com freqüência. Apenas dentista auxilia o médico pediatra
passo para a obtenção de sucesso um dos participantes disse que não no diagnóstico de doenças sistêmi-
na construção de hábitos de higiene faz essa orientação por não se sentir cas que aparecem na boca, e o mé-
bucal na criança. devidamente habilitado. dico pediatra auxilia na prevenção
Também, com relação à orienta- Não, não me considero devidamente bucal, através do encaminhamento
ção quanto à importância da ama- habilitado (MP 1). precoce.
mentação para o desenvolvimento Sim procuro repassar informações Todos os médicos pediatras que
correto dos maxilares, preparando- com relação à alimentação, horá- participaram do estudo destacaram
os para a dentição, todos os médicos rios e higiene bucal, conforme a que realizam tais encaminhamen-
pediatras afirmaram que realizam idade, respeito as etapas do desen- tos. Dois pediatras afirmaram que
essa orientação. Geralmente isso volvimento da criança (MP 4). fazem estes encaminhamentos a
ocorre desde o parto e a orientação Sim, nas consultas de rotina (MP 3). partir dos dois anos de idade, ou-

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tros dois destacaram que isso é Sim, quando surgem dúvidas conhecimentos sobre saúde bucal
realizado com freqüência, e outro (MP 3). aos pais das crianças. Os outros três
ressalta que esta não é uma prática Sim, para os pacientes que precisam médicos destacam que essa não é
rotineira. de tratamento (MP 4) uma prática rotineira. Contudo,
É altamente positiva a conduta Esporadicamente (MP 2). na maioria das vezes, o tipo de co-
de encaminhar a criança para ava- Converso na medida do possível nhecimento repassado aos pais diz
liação da saúde bucal como desta- (MP 1). respeito: aos cuidados de higiene
caram os participantes. No entanto, Torna-se fundamental a intera- (dentes, língua e gengivas); às ma-
esse encaminhamento deverá ser ção entre médico pediatra e cirur- madas noturnas; ao cuidado com o
feito por volta dos seis meses de vi- gião-dentista. Sem essa interação açúcar; ao tipo de escova; à necessi-
da, pois esse é o momento propício não se pode desenvolver um bom dade de exemplo dos pais; às visitas
para a orientação dos pais acerca trabalho de prevenção e tratamen- ao cirurgião-dentista.
dos procedimentos de higiene, ob- to precoce das doenças bucais da Os médicos pesquisados pro-
jetivando a prevenção da instalação infância. curam informar os pais a respei-
das doenças bucais. Massao (1996) propõe, dentro to dos principais elementos que
Griffen e Goepferd (1991) reco- da filosofia de atenção odontológi- fazem parte da saúde bucal, mas
mendam que a criança seja levada ca antecipada ao paciente infantil, esse repasse de informações ainda
ao cirurgião-dentista entre os seis e uma integração multidisciplinar ou é precário.
12 meses de idade, após a erupção multiprofissional, bem como a co- A atenção à saúde bucal deve
do primeiro dente, para que sejam participação dos pais, numa relação ser iniciada em uma idade preco-
dadas orientações quanto à higiene. de cumplicidade entre o profissio- ce, preferencialmente no primeiro
Corroborando esta opinião, Esteves nal e os responsáveis. O cirurgião- ano de vida. Dessa forma, se os pais
et al. (1996) afirmam, também, que dentista é o profissional da área da forem informados dos prováveis
a época ideal para o início do aten- Saúde responsável e capacitado efeitos negativos da utilização da
dimento odontológico é por volta para estabelecer este enfoque edu- mamadeira noturna com líquidos
dos seis meses de idade, coincidin- cativo e preventivo. Contudo, tanto açucarados, concomitante à hi-
do, portanto, com o irrompimento o obstetra quanto o médico pedia- giene deficiente, da importância da
dos primeiros dentes decíduos. tra assumem um importante papel dieta equilibrada, do uso do flúor e
Em se tratando de médicos na prevenção de doenças bucais, dos cuidados quanto à higiene bu-
vinculados à Atenção Básica, ca- sugerindo que os mesmos devam cal, assim como da necessidade da
be uma reformulação de conduta ser capazes de fornecer esclareci- visita ao cirurgião-dentista quan-
para que as crianças possam ser mentos e orientações básicas em do do irrompimento dos primeiros
protegidas antes da instalação dos relação a hábitos de higiene bucal, dentes decíduos, tornar-se-á mais
problemas bucais. No âmbito da dieta e encaminhamento para con- fácil impedir o estabelecimento
Saúde da Família desses municí- sulta ao cirurgião-dentista. de maus hábitos (Bonecker et al,
pios, a ausência do odontopediatra Todos os médicos pediatras afir- 1997).
na Unidade Básica de Saúde pode maram ter realizado um ou mais De acordo com Moreira, Chaves
ser suprida pelo agendamento da encaminhamentos de crianças me- e Nóbrega (2004), muitos proble-
consulta nas próprias unidades, por nores de três anos de vida ao cirur- mas bucais podem ser prevenidos
meio do atendimento pediátrico, o gião-dentista. pela orientação do médico pediatra,
que levaria a uma atuação multi- Os encaminhamentos das crian- pois as crianças na primeira infân-
disciplinar entre médicos pediatras ças ao cirurgião-dentista, por meio cia não vão ao consultório odonto-
e cirurgiões-dentistas na Estratégia da ação do médico pediatra, se tor- lógico, a não ser que apresentem
Saúde da Família. nam fundamentais, não só por fa- evidências clínicas, as quais levam
Os participantes do estudo fo- vorecer a prevenção e diagnósticos os responsáveis a se preocuparem.
ram indagados sobre a realização precoces, mas pela possibilidade de Na busca de melhores condições de
de consultas (ligar ou conversar orientar os pais sobre os cuidados saúde bucal, torna-se cada vez mais
para se informar) com o cirurgião- essenciais com a saúde bucal da evidente a necessidade de atendi-
dentista sobre prevenção e higiene criança e encaminhar ao cirurgião- mento precoce, com a abordagem
bucal das crianças pequenas. Entre dentista de maneira mais eficaz. interdisciplinar e multiprofissional,
as respostas observou-se: Dois dos médicos pediatras res- além da importante atuação dos
Não, devido à indisponibilidade de saltaram que durante a consulta pais ou responsáveis. Nesse senti-
horários (MP 1). da criança costumam repassar seus do, o fato das crianças usualmente

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visitarem o médico antes do odon- na prática clínica com as crianças usuários das UBSF dos dois muni-
topediatra ou cirurgião-dentista, menores de três anos trouxe infor- cípios analisados.
assim como a influência que o pri- mações importantes e que podem No âmbito familiar, as ações
meiro exerce sobre os pais, faz com contribuir para a formulação de de saúde bucal também devem
que o médico pediatra desenvolva programas de fortalecimento téc- ser organizadas para o alcance da
um importante papel na saúde bu- nico desses profissionais. A consta- eficácia das orientações e da assis-
cal das crianças. tação de vácuos na referência das tência odontológica prestada a esse
Os resultados são claros e apon- crianças do atendimento pediátrico grupo populacional vulnerável aos
tam vieses importantes na cons- à avaliação odontológica sugere a agravos preveníveis. Dessa forma,
trução da política de saúde bucal: necessidade de reordenar a rede de abrem-se possibilidades para a bus-
a falta da interdisciplinaridade; o saúde local, facilitando o acesso e ca de novos saberes e práticas que
saber profissional que privilegia as intercâmbio de informações e ex- contribuam para o desenvolvimen-
ações de cura e reabilitação, rele- periências entre os odontólogos e to integral da primeira infância nos
gando a um segundo plano as ações médicos pediatras que atuam mais contextos político, socioeconômico
de promoção e prevenção; a defi- diretamente com a população in- e sanitário.
ciência das ações educativas para fantil. Essa relação interdisciplinar Assim, sugere-se reforçar a in-
os profissionais de saúde (educação poderá contribuir para a supera- teração interdisciplinar e multipro-
permanente), trazendo conseqü- ção de eventuais contradições e fissional nas Unidades Básicas de
ências para a educação em saúde de ações ineficazes detectadas na Saúde da Família, como forma de
bucal da própria população. orientação aos pais e responsáveis garantir a eqüidade, integralidade e
pelas crianças. universalidade das ações de saúde
Considerações finais No âmbito da gestão dos servi- no atendimento da população.
ços de Saúde, os resultados apon- A construção e fortalecimento
A avaliação do conhecimento tam alguns indicadores para a de uma rede promotora de saúde
dos médicos pediatras em atuação formulação de uma política vol- odontopediátrica, envolvendo a
nos dois municípios analisados so- tada à prevenção e promoção da Estratégia Saúde da Família, po-
bre os métodos de prevenção da saúde bucal na primeira infância. derá também tornar-se cenário de
doença bucal, os fatores etiológicos O impacto esperado de ações dessa formação de recursos humanos na
da cárie e da doença periodontal e natureza é a diminuição das ini- área de promoção da saúde e edu-
as ações preventivas desenvolvidas qüidades em saúde e educação de cação para a saúde.

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Recebido em 28 de março de 2007


Aprovado em 19 de abril de 2007

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