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Copyright © 2024 Helen Melchior

Honra e Destino – A escolhida do Don – Série Honra Vol. 5


Capa: Helen Melchior
Diagramação: Helen Melchior
Revisão: Tatiane Costa
Revisão: Maria Alexandra Gonzaga
Ilustração: Nana_designer

Imagens: Canva – Leonardo AI


Todos os direitos reservados.
Proibido o armazenamento e/ou reprodução de qualquer parte dessa obra, sem a autorização prévia da autora. Plágio é
crime.
A violação autoral é crime, previsto na lei N.º 9610/98, com aplicação legal pelo artigo 184 do código penal.
Esta é uma obra de ficção, nomes, personagens, fatos, são da imaginação da autora. Qualquer semelhança com o mundo
real é mera coincidência.
Hierarquia da máfia Esposito
Nota da autora
Outras obras da autora
Dedicatória
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Epílogo
Agradecimentos
• Organizações fundamentam a pirâmide de poder na máfia de Don Leonel.

• As organizações têm as suas próprias regras, embora quando associadas,


também obedeçam às regras da máfia.

• Cada organização escolhe uma ou mais área para se especializar e combater.

• Dentre as organizações existem alguns tipos de acordos, entre eles:

• O Acordo de união: convivência matrimonial em todos os aspectos, com


validade pré-determinada.

• O Acordo de casamento: casamento dentre membros de organizações


diferentes, beneficiando as organizações envolvidas.

• Cada organização possui a sua própria pirâmide hierárquica. Posições essas


que podem ser hereditárias, ou transferidas para quem o chefe julgar apto a
assumir o cargo.

• Dívidas de honra são pagas com acordos ou sangue.

• Um trabalho aceito tem de ser cumprido, caso contrário uma vida se paga
com outra vida.

• Nunca se revela o nome do seu empregador, pois ao fazer isso você se


condena a morte

• Os Capos comandam províncias, dependendo do tamanho, mais de um Capo


é estabelecido naquele local.

• A família é a máfia e a boa convivência entre os membros deve ser mantida.

• Toda a ação de desonra tem uma penalidade, desde a punição moral, até a
morte, em caso de traição.

• Uma palavra pronunciada, não se volta atrás.


Se um membro da máfia tomar para si, a virgindade de uma mulher, seja ela, de dentro ou
de fora da família, ele tem o direito de proclamá-la sua, sem a necessidade de acordos pré-
estabelecidos.
Antes de começar a leitura, é bom ressaltar alguns pontos:

1 – Esse livro faz parte de uma série, alguns fatos aqui citados estarão em outros volumes.
Contém spoiler de obras anteriores, alguns personagens aqui mencionados terão, ou tiveram, as
suas histórias contadas em outros livros. O foco está no enredo do casal principal e pode ser lido
separadamente, mesmo assim, aconselho a ler os outros volumes para entender melhor o fato
central da trama, que se passa no fundo, de cada história dessa série, pois eles terminam em
Cliffhanger, tendo ganchos de um livro para o outro.

2 – O livro não é recomendado para menores de 18 anos, contém linguagem inapropriada e cenas
de sexo explícito, além de abordar temas que podem gerar gatilho.

3 – O conteúdo desse livro possui temas sensíveis como tortura, palavras de baixo calão,
agressão física e psicológica, assassinato, abuso físico, verbal e sexual, tentativa de estupro,
tortura, entre outros.

4 – Este livro faz parte de uma série, por isso apresenta novos personagens que transitam entre os
volumes. A trama se desenrola em sequência, com apenas alguns fatos importantes sendo
revisitados. A cada livro, uma parte da série se desvenda mais.

5 – A máfia Esposito e as organizações são criações da minha cabeça, assim como as regras e
acordos, que foram pensados por mim, qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera
coincidência.

6 – A autora não compactua com os temas aqui abordados, nem tem a intenção de romantizar
nenhum tipo de abuso. Preserve a sua saúde mental.

8 – Para conhecer melhor a autora e outras obras, sigam o Instagram.


HTTPS://instagram.com/helen.melchiorr
Série Honra:

Honra e Sangue: O Sicário da máfia vol. 1

https://a.co/d/edKH5zN

Honra e Fogo: O acordo entre as organizações vol. 2

https://amz.onl/0gMEDvw

Honra e Promessa: O dever do subchefe vol. 3

https://a.co/d/gld0SpH

Honra e Desejo: A tentação do consigliere vol. 4

https://a.co/d/7NDa7yd

Honra e Destino: A escolhida do Don vol.5

Livros únicos:

Um filho para Inácio: O herdeiro das esmeraldas

https://a.co/d/9gOTan0

O jardineiro da máfia: O amor que floresce na escuridão


https://amz.onl/0k3QAmJ
Dedico este livro a todos aqueles que mantêm seus compromissos por honra, mesmo com
o peito doendo, cumprem com todas as suas responsabilidades.

Dedico este livro para todos aqueles que com o coração machucado, decidem trilhar o
caminho do perdão, que abandonam o medo de sofrer em busca da própria felicidade.
Giulia sempre soube que seu destino estava entrelaçado com o do futuro Don, um
compromisso selado por honra, não por escolha. Flores diárias que chegavam até ela como a
única conexão silenciosa com o homem que ela ainda não conhecia, mas por quem já nutria
sentimentos. No entanto, quando o momento de declarar seu noivado chega, Luigi, o homem
prometido a ela, quebra sua promessa e desaparece sem deixar rastros.

Traída pelo silêncio e consumida pela mágoa, Giulia se transforma. Ela não é mais a flor
delicada que ele outrora conhecia, ela é uma sicária forjada no fogo da traição, pronta para
enfrentar quem quer que apareça, até mesmo seu marido prometido.

Luigi, por outro lado, sempre foi apaixonado por Giulia. Uma mentira cruel o fez
acreditar no impensável, que sua amada era uma traidora. Agora, com o coração pesado de ódio,
no limiar do prazo final que Giulia deu para encerrar o compromisso deles, ele retorna.
Determinado a reconquistar a confiança e o amor da mulher que sempre foi sua, mesmo ferido
com a desconfiança.

Será que Luigi pode provar seu valor e reconquistar o coração endurecido de Giulia? Ou
será que o destino os condenou a uma vida de guerra sob o mesmo teto?
Capítulo 1
A porta do carro abre para ela entrar, seu rosto me mostra nervosismo, porém, eu também
estou nos nervos, mas de ansiedade.

— Oi! — Giulia fala meio sem graça, enquanto meu coração parece sair pela boca.

— Oi!

— Eu não devia estar aqui. Se meu pai descobrir, vou ficar de castigo, Luigi.

— Não podíamos nos ver até você ter 18 anos, esse foi o combinado e eu aceitei. Agora
são duas da manhã, tecnicamente você já tem 18, por passar da meia-noite. — Respondo, o que,
no meu ponto de vista, é a mais pura verdade.

— Mesmo assim, o correto seria eu esperar por você para formalizar o pedido. — Toco
seu rosto pela primeira vez, quase explodindo por dentro.

— Na festa de aniversário do Don, daqui a dois dias, eu vou. Eu queria te ver antes, falar
com você, te dar um presente.

Ela me olha firme, e repuxa um sorriso, envergonhada. Giulia foi prometida a mim desde
os 14 anos, eu já tinha meus 21 anos, porém o Don, meu nono, lhe escolheu porque eu queria me
casar com ela. Cresci sabendo que uma das filhas do Senhor Telesca seria a minha moglie, com
isso, ainda na adolescência, comecei a investigar e a seguir as três ragazzas, para tentar descobrir
qual seria.
Entre uma vigia e outra que fazia com meu fratello, me encantei por Giulia, pelo seu jeito
diferente, mais sorridente e carinhosa. Roman sempre rindo de mim, falando que eu mais parecia
com um cachorro atrás do osso, mas foda-se, era quando poderia ficar um pouco perto dela,
mesmo de longe.

O Don me fez prometer que eu não me aproximaria de nenhuma das filhas do Senhor
Telesca, que era errado eu iludir uma delas para depois me casar com a que ele escolhesse. Na
minha rebeldia, disse que não me casaria com outra, que já tinha feito a minha escolha, e para
evitar mais brigas, voltei a morar com meu pai.

No final, ele escolheu quem eu já tinha escolhido, mesmo assim não pude me aproximar,
não até hoje.

— Está no banco de trás, vem, vou te mostrar. — Digo, passando para o banco traseiro e
logo ela faz o mesmo.

Giulia usa um vestido rosa-claro, até o joelho, de alças largas e seus cabelos vermelhos
alaranjados como o sol, estão presos em um coque alto. Seguro em suas mãos para lhe ajudar a
atravessar os bancos, ela se senta ao meu lado, soltando minhas mãos e arrumando o vestido que
levantou, me mostrando suas coxas.

Engulo seco olhando sua pele branca, com algumas sardas e essa visão me faz viajar e
pensar até onde ela tem sardas.

— Eu não posso demorar. Alessa me ajudou a sair, mas ela está do lado de fora me
esperando.

Sorrio e olho para trás, como se pudesse ver onde a sorella dela está. Estamos a cinco
quarteirões de sua casa, debaixo de uma árvore que deixa tudo de maneira mais oculta, e com
meu carro de vidros escuros, fica ainda mais difícil, alguém do lado de fora ver alguma coisa.

— Não vamos. — Respondo.

Pego a caixa que está sobre o banco e abro, mostrando a ela o colar de ouro com um
pingente de sol. Ela sorri animada e olha para mim.

— É lindo!

— É para você, Raggio di Sole. — Digo, pegando o colar em minhas mãos.

Abro o fecho e, com cuidado, coloco em seu pescoço. Ela segura no pingente com aquele
sorriso lindo que eu ansiava ver assim de perto. Não resisto e, com a mão em seu pescoço, a
puxo para um beijo, nosso primeiro beijo.

Giulia apoia as mãos em meu peito, receosa, mas quando mordo de leve seu lábio
inferior, ela abre a boca, dando passagem para a minha língua. Lentamente deslizo minha mão
para a sua cintura e a puxo para mais perto, sem soltar a sua boca, chupando, mordiscando com
cuidado. Até parece um sonho, finalmente tê-la assim, em meus braços.

Ela ainda está tímida e, como eu já sabia, não sabe beijar. Com paciência, vou mostrando
o ritmo, cada vez mais puxando seu corpo para perto do meu, até que esteja com as pernas
abertas, uma de cada lado, no meu colo.

— Luigi. — Ela reclama sem parar o beijo.

— Não para. — Peço, passando os dedos de forma mais firme na sua nuca e ela suspira.

Solto sua boca e vejo seus pelos ouriçados, sorrio ao descobrir seu ponto fraco. Nossos
olhos se fixam um no outro, aperto com força sua cintura e mordo seu queixo, depois beijo seu
pescoço, sentindo o calor dentro do carro aumentar.

— Luigi, não podemos continuar, é errado. — Me lembra de algo que eu não quero
lembrar.

— Não vou passar dos limites. Confie em mim. — Peço com a voz rouca.

Com a mão em sua nuca, a puxo para outro beijo e aproveito para massagear o local,
tirando um gemido que me arrepia e me motiva a continuar. Aperto sua coxa, começando a subir
pela sua pele, sentindo a quentura que ela me transmite, tão macia e gostosa. Ela segura em meu
rosto com as duas mãos, agora mais corajosa, com seus lábios beijando os meus, tornando o
ritmo mais rápido e voraz.

“Dio me ajude.”

— Só vou te tocar. — Digo com a boca na sua, quase explodindo por dentro.

Repuxo sua calcinha e toco sua boceta, sentindo a sua maciez e quentura, que parece me
queimar inteiro nesse momento. Olho em seus olhos azuis como o céu, no momento em que
esfrego seu clitóris. Ela parece segurar a respiração enquanto me olha.

— Já tinha imaginado minha mão tocando aqui, Raggio di Sole?

— Não. — Confessa, com a voz receosa.

— Eu já, muitas vezes, pensei em como seria o dia em que a tivesse finalmente para mim.
Fosse finalmente minha moglie. — Pego sua mão e coloco em cima do meu pau que lateja.

Movimento sua mão por cima da minha calça, enquanto esfrego seu clitóris devagar.
Quando solto sua mão, ela já movimenta sozinha. Abaixo, uma das alças do vestido, revelando
parcialmente um de seus seios que seguro com cuidado, com tamanho mediano, ele cabe
perfeitamente na minha palma da mão, como se fosse feito para estar ali. Levo para minha boca,
Giulia geme gostoso, quando sente minha língua circular seu mamilo.

Aumento a velocidade dos movimentos dos meus dedos na sua boceta, esfregando de
forma mais dura. Solto seu seio e aperto sua cintura. Giulia rebola em meu colo, me levando à
loucura.

— Luigi. — Sussurra tão baixo no momento em que sinto meus dedos ficarem úmidos.

Sem nenhum pingo de vergonha, levo o dedo que estava em seu clitóris à minha boca,
sentindo seu sabor, para me perder ainda mais nela. Tomo sua boca em um beijo agora mais forte
e necessitado, enquanto sinto sua mão ainda apertar meu pau de forma quase que involuntária.

— Giulia, eu preciso de você. — Confesso e ela se afasta, voltando à realidade,


espalmando as suas mãos em meu peito, deixando claro que ela entendeu.

— Não podemos. Sabe que tenho de me casar virgem.

— Você já é minha, ninguém vai te tirar de mim. — Digo firme.

— Não, Luigi, não podemos. — Ela se levanta do meu colo, me deixando ali, com o pau
duro e doido por ela.

— Giulia, hoje mesmo vou te pedir em casamento, se quiser, nós nos casamos amanhã.

— Tão rápido assim?

— Por que rápido? — Pergunto sem entender.

— Por nada, mas da forma que você disse, parece que vamos nos casar correndo. Eu não
quero me casar assim, quero uma festa bonita, um bolo branco cheio de flores, um tapete
vermelho. Precisa de tempo para organizar tudo, Luigi.

— Va bene. Mas venha aqui, me deixe te beijar outra vez? — Peço e ela sorri.

Giulia se inclina para mim, mas três batidas no vidro assustam minha ragazza e ela volta
para trás, vejo ser um ragazzo, um soldado. Abro a porta do meu lado e ele olha para Giulia, que
está vermelha de vergonha, e depois para mim.

— Oi, Romeo. — Ela fala, e ele me cumprimenta com a cabeça educadamente.

— Alessa pediu para te chamar. — Diz de forma cordial, sei exatamente quem Romeo é.
Ele é o filho mais velho de Tônia, empregada da casa.

— Até mais tarde. — Digo, vendo-a abrir a porta e segurando o pingente.

— Obrigada. É lindo. — Sorrio feito um idiota e a vejo fechar a porta, saindo


acompanhada do soldado em passos rápidos.

Volto para o volante, ligo o carro e saio feliz da vida.


Capítulo 2
— Você é louca! Se papai nos pegasse aqui, nos matava. — Alessa me recrimina. —
Vamos, temos de acordar cedo, amanhã temos uma missão. — Fala apressada, com medo de
sermos vistas, mesmo estando no escuro, em pleno breu.

— Eu sei. — Concordo, respondendo minha sorella no automático. — Ele me beijou. —


Sussurro, segurando o pingente, o escondendo entre meus dedos. — Me chamou de raio de sol.
— Penso alto, para ninguém ouvir, além de mim mesma.

Lembrando de tudo o que aconteceu no carro, sem medo, apenas felicidade por
finalmente poder conhecer meu noivo prometido, tocar em seu rosto, beijar seus lábios, sentir
que ele existe de verdade.

Isso não pode sair daqui, eu sei que meu pai não vai gostar de saber que desrespeitei a
regra de não ver Luigi, não antes de sua permissão e a do Don, que deverá ser dada na festa de
aniversário do Don Leonel. Alessa e Romeo também não dirão nada, ou estarão tão encrencados
quanto eu. Não posso contar nem a Kiara o que aconteceu, pois minha sorella é sempre a mais
responsável de nós e quando fazemos qualquer coisa errada ela dá um sermão.

Aperto o pingente com um sorriso no rosto, entro em casa e vou direto para o meu quarto,
me jogo na cama e fico olhando para o teto, lembrando de tudo, de todas as sensações que ele me
fez sentir. Eu sempre soube meu destino, quando papai me contou que eu havia sido escolhida
pelo Don, eu já sabia. Uma vez por mês, desde que fiz 14 anos, recebia uma flor, entregue por
alguma ragazza da escola, que sempre me dizia ser um ragazzo loiro de olhos azuis e o único que
podia ser era ele. Luigi, meu futuro marido, não demorou muito depois que recebi a primeira
flor, para meu pai avisar que eu fui a escolhida.

Fecho os olhos e sorrio, a ansiedade me consumindo para chegar o dia do aniversário do


Don e finalmente ter uma aliança em meu dedo com seu nome cravado ali. Luigi.

Abro meus olhos e vejo ser 06:30 da manhã, mal dormi, mas a ansiedade não deixa. Me
arrumo e desço para o café com um sorriso no rosto, com uma blusa de gola alta para ninguém
ver meu colar.

— Buongiorno. — Digo animada e minha mãe vem me abraçar e beijar minha testa.

— Dio ti benedica, filha. Parabéns.

— Obrigada. — Agradeço e logo recebo um abraço forte de meu pai.

— Dio ti benedica, filha minha. Parabéns. — Ele sorri, mas percebo não ser de animação.

Papai nunca escondeu que não gosta do meu compromisso com Luigi. Ele sempre disse
abertamente para mim e minhas sorellas, o que acontece por trás dos muros da máfia. Onde
apenas quem está dentro sabe, no caso, atrás dos muros da máfia da família Esposito.

Treino não apenas para ser uma ótima atiradora de elite, mas pelo legado da minha
família, quero ser a número 1 em tiro a distância. Uma atiradora de elite e a segunda filha do
dono da organização número 1 em assassinatos por aluguel, mas claro, matamos quem mereça
morrer e nunca inocentes. A organização atua principalmente contra o tráfico de bambinos e
ragazzos. Tenho muito orgulho da minha profissão, por mais que seja escondida, pois não vamos
sair pela Itália dizendo “Oi, eu sou uma sicária”.

Por esse motivo, a organização do meu pai tem a fachada de uma agência de segurança
particular, e às vezes até atuamos para valer, sair um pouco da rotina.

— Filha, sei que tinha uma missão com suas sorellas, mas eu quero que vá com Laura
hoje.

— Por que, pai? — Pergunto enquanto ele se afasta e se senta, esperando pelo café.

— Suas sorellas vão fazer um trabalho de reconhecimento hoje cedo, e como você sabe,
eles são demorados. Depois tem um trabalho em uma boate nova e você não poderá participar.
— Suspiro, pegando minha xícara de café.

— Va bene, eu sei.

Uma das regras do Don foi me manter longe da presença masculina desnecessária, tenho
de me casar virgem e intacta. Por isso, algumas missões, não posso participar junto de minhas
sorellas.

Algumas vezes, enquanto elas estão fazendo algo, eu fico em casa estudando e
aprendendo mais e mais sobre as regras e sobre a família da máfia. Papai é um associado, a base
da hierarquia, porém, com o meu casamento, nossa família tem a proteção do Don e algumas
outras regalias que as outras organizações não têm. É a primeira vez em toda a história da máfia
Esposito que um herdeiro vai se casar com a filha de um sicário, um associado. Mas a história da
minha família é tão longa, que teria de acompanhar desde o início para ver cada linha dela.

Seguro a arma entre meus dedos com força de cima de um prédio e consigo ver o alvo
que Laura me mostra. O vento toca meu rosto, fazendo minha franja dançar no seu ritmo e forço
meus olhos para não perder o foco. Ainda, sim, tendo alguns fios atrapalhando a minha visão, me
deixando frustrada.

Laura é muito rígida com o traje para as missões, roupa preta grossa composta por um
macacão de pernas e mangas compridas que devo usar estando calor ou no frio, precisamos estar
prontas para tudo. Cabelos amarrados em um rabo de cavalo que hoje está solto e bagunçado,
percebo a importância de estarem perfeitamente alinhados, podem atrapalhar minha mira.
Infelizmente, como está acontecendo agora.

Eu ainda estava insegura com aquela missão, não era o que eu esperava, mas confiava em
Laura e sabia que minha mentora não me pediria para fazer algo que não estivesse pronta, não
desse conta.

Não era uma simulação, o alvo era dela, naquele momento ela estava me cedendo muito
mais do que uma aula teórica, ela estava me ensinando na prática, como matar um alvo a longa
distância, com civis por perto, a luz do dia. Eu já matei vários alvos, mas sempre isolados, não
com pessoas inocentes ao redor, um erro e poderia matar um inocente. Sabia que Laura não
pegaria leve, ela nunca pega.

— Arrume a lente e sinta o vento. Não se esqueça Giulia, tudo em sua volta pode
influenciar em seu tiro. — Ela diz em voz de comando vendo minha posição.

Acho que por Laura ter sido salva pelo meu pai, uma história que já faz tempo e ficou no
passado. Ela se sente no dever de me ensinar e me fazer sempre buscar o melhor de mim.

— Meu pai sabe que a missão tem civis? Eu ainda não me sinto segura, Laura. — Digo
com receio.

— Preste atenção. — Ela segura em minha blusa e me faz olhar em seus olhos. — Sou a
sua professora porque seu pai confiou em mim, eu devo minha vida a ele. Devo tudo a
organização que me salvou, e por esse motivo treinei e me tornei a melhor. Agora vou passar
tudo a você e sua obrigação é ser ainda melhor do que eu. Seja em tiro a distância, ou no que
escolher se especializar. Entendeu?

Engulo seco e concordo, volto a olhar para frente contando mentalmente até 10 e minha
respiração fica mais calma.
— Tenha calma e precisão, apenas isso. — Laura sabe que sou boa, mas também
insegura.

Eu atirei, mas errei. Laura me puxou de forma rude, pegou a arma e atirou, dessa vez o
alvo que estava a 150 metros de distância não conseguiu fugir, estava morto, as pessoas correram
desesperadas de dentro do prédio onde ele estava em reunião. Sei que errei por medo de acertar
um civil e por isso, acabei acertando a parede ao lado do alvo.

— Sua família tem a fama de dar um tiro limpo, Giulia, sempre na cabeça e apenas lá.
Aprenda isso, um tiro limpo. Não erre, errar pode significar sua morte. — Laura fala enquanto
arruma o equipamento, se prontificando a sair o mais rápido dali.

— Quem era? — Pergunto e Laura sorri.

— Nosso trabalho é apenas matar, não perguntar o porquê, outra área é responsável em
certificar que não seja um inocente. Anda se levante desse chão, temos de ir embora rápido e tem
mais dois alvos para matar hoje.

Me levanto e ajudo Laura a recolher o equipamento, sabia que meu treinamento seria
difícil, estava ciente de minhas responsabilidades. Meu pai também me treinava em casa. E nas
horas vagas entre as missões, treinamentos e estudos, eu tinha a dança com minha mãe como
distração, para relaxar.

A tarde passou rápido, e no último alvo, Laura me deixou tentar outra vez. Mesmo com
civis, eu quis e acertei, em um tiro, apenas um. Laura se sentiu orgulhosa. Ela havia cumprido
com o que havia planejado, estava na hora de eu matar alvos em movimento entre os civis e não
apenas alvos parados em locais específicos. Eu havia subido mais um nível em meu treinamento.

Laura me deixou em casa e quando eu cheguei já escuro umas 20:00 horas, Victor o filho
do Subchefe e meu amigo estava lá parado no portão da entrada.

— Chegou tarde. — Ele diz e abre um sorriso.

— Trabalhando.

— Como cresceu, já está trabalhando até altas horas. — Diz em tom de brincadeira, ele
sabe como é a minha rotina de treinamentos.

Conheci Victor ainda na escola, mesmo ele sendo filho do Subchefe, ele estudou assim
como eu em escolas, como qualquer outra criança normal da Itália. Claro, sabíamos o que falar e
o que não falar, fomos criados desde o nascimento para isso. Ser invisível, enquanto está visível.
Ele é apenas dois anos mais velho do que eu, e com isso foi fácil fazer amizade. Mesmo que ele
sabia meu compromisso com Luigi, e me respeite.
— Está bonita hoje. — Fala e repuxa o sorriso.

— Apenas hoje?

— Sempre, digo, sempre bela.

— Hum, bom, o que faz aqui? — Pergunto enquanto abro o portão, não quero falar com
ele do lado de fora, ainda mais à noite, prefiro que seja perto de casa, onde há soldados à vista e
todos saibam o que estou fazendo.

— Vim te trazer um presente. — Diz caminhando junto comigo.

Paro e me viro, vendo uma caixa azul com uma fita branca, ele me entrega e quando abro
vejo uma pulseira. Sorrio feliz com meu presente.

— Obrigada.

— Vai ficar ainda mais bonito em você. — Fala, pegando a pulseira.

Estico minha mão em sua direção, e ele coloca a pulseira, quando vou abaixar o braço ele
segura minha mão. O encaro confusa, pois ele nunca havia feito isso.

— Victor. — Digo em tom de aviso.

— Não aceite o compromisso, ainda dá tempo de fazer algo.

— Do que você está falando? — Pergunto e tento puxar minha mão outra vez.

— Case comigo e não com Luigi. Eu te amo Giulia, desde o ensino fundamental, quando
te via na escola, eu sabia que queria você.

— Pare com isso, Victor, você, assim como eu, sempre soube do meu compromisso.

— Você não o conhece, mas conhece a mim. Vamos falar com o Don, e ficar juntos.

— Não. Eu gosto do Luigi, Victor. — Digo e ele me olha de forma estranha.

— Ele não te conhece como eu.

— Me solta, você sabe muito bem que não posso ficar próxima de outros homens, ainda
mais sozinha.

Aviso e puxo minha mão, porém sou surpreendida com ele me puxando de volta,
chocando seu corpo no meu, com a outra mão, segurando minha cabeça e então um beijo, um
beijo que eu nunca esperei receber. Apoio minhas mãos em seu peito, empurro mantendo minha
boca fechada, mas ele se mantém firme, forçando um contato que eu não quero. Sem opção,
acerto uma joelhada em seu saco que o faz ceder.

— Victor. — Digo, empurrando com força e acertando um tapa em seu rosto.

— Desculpe. — Fala com a mão no rosto, e eu vejo que o tapa que dei cortou seu lábio.
Coloco as mãos na cintura e olho para os lados, buscando por algum soldado que tenha
visto essa catástrofe, mas vejo minhas sorellas chegando e me encarando. Nessa posição do
jardim, pode parecer estarmos nos escondendo, já que estamos perto do corredor de arbustos da
minha mãe que chegam na altura do meu quadril, dando apenas uma visão parcial dos nossos
corpos.

— O que aconteceu? — Kiara pergunta, nos olhando.

— Eu conto ou você conta? — Pergunto a ele, de sobrancelha erguida.

— Giulia, tesouro mio. — Victor fala com a cara cínica e isso me irrita nele, ameaço
bater de novo, mas Kiara segura minha mão.

— O que aconteceu? — Ela pergunta novamente.

— Esse maledetto me beijou. — Ela olha para Victor assustada e Alessa até perde o
sorriso.

— Está maluco, Victor? Sabe que Giulia é prometida. — Kiara o repreende como uma
boa sorella mais velha.

— Eu só... — Ele nem responde, pois Alessa pula nas suas costas, dando uma gravata.

— Maledetto, figlio di puttana, quer desonrar minha sorella? — Puxo Alessa de cima
dele, enquanto Kiara olha para os lados.

— Parem. — Ela diz firme e Alessa o solta, mas chuta sua canela. — Victor, porque você
fez isso, sabe do compromisso de Giulia. Somos amigos, mas se alguém vê ou descobre isso,
você estará destruindo a honra da minha sorella. Então, eu serei obrigada a te matar. — Fala séria
e ele engole seco.

— Foi um impulso. Ela nem me correspondeu.

— Mas é claro que não, sei meus compromissos. — Digo, cruzando os braços, me
sentindo ofendida.

— Então, o assunto morreu aqui. Ouviram bem? E se você brincar de ser engraçado de
novo, Victor, pode ter certeza de que seu pai nunca terá um neto. Porque eu vou cortar seu
amigo. — Ele arregala o olho e sorri para Kiara.

— Já estou indo. — Ele se vira e sai, e ela se vira para mim, me encarando.

— Pelo menos, ele beija bem?

— Kiara. — Digo indignada e saio andando.

— Vamos jantar, que eu tenho planos para essa noite. — Alessa fala e tanto eu quanto
Kiara nos viramos para encará-la.

— Que planos? — Kiara pergunta curiosa, assim como eu.


— Oras, tenho 18 anos, agora posso entrar na boate mais badalada de Tivoli e beijar
muito, a noite toda.

Reviro os olhos, pois eu queria muito ir, mas sei que não posso e, depois do jantar,
provavelmente vou virar a noite vendo algum filme na TV.
Capítulo 3
Dentro do carro parado na frente da casa dela, observo a cena desenrolar na minha frente,
ela entrega a mão a Victor, eles conversam e então ele a beija. Nesse momento, a caixa preta com
a aliança em minha mão parece ter chumbo de tão pesada. Ela estava dentro da sua propriedade,
beijando outro.

— Vou matar aqueles dois maledettos. — Digo, abrindo a porta do carro, já jogando a
caixa da aliança em meu bolso, me preparando para pegar a arma.

— Está louco? — Roman diz, puxando a porta e trancando na tranca no automático.

— Abre essa Sporcizia, agora. — Digo com a arma em punho.

— Não, você não pode entrar lá assim.

— AGORA! — Grito com raiva.

Roman gira o volante e pelo carro ainda estar ligado, saímos com pressa, meu peito
doendo, imaginando desde quando isso pode estar acontecendo entre eles. Como pode, ela me
trair, assim, trair o nosso compromisso, por mais que ele ainda não esteja validado? Isso iria
acontecer hoje e depois isso acontecerá no aniversário do Don, publicamente. O acordo foi
firmado com o pai do Senhor Telesca, que seria uma das três, mas quando o Don escolheu
Giulia, não foi selado e sim apenas comunicado. Porém, eu respeitei nosso compromisso, mesmo
sendo apenas verbal.

— Porra, Roman, para essa merda. — Digo, puxando sua camisa e colocando a arma em
sua cabeça.

— Não, olhe para você. Está descontrolado, se entrar lá, é capaz de fazer uma chacina
nessa casa e o Don não vai gostar de perder o seu melhor sicário e toda a sua família dessa
forma.

— Ela está com outro, isso é traição. Merece morrer, os dois, todos merecem.

— O compromisso de vocês não foi selado ainda, você sabe bem disso, foi apenas um
comunicado que uma delas seria sua noiva, o conselho vai selar esse acordo no aniversário do
Don. Vocês podem conversar depois e resolver isso.

Fecho os olhos, tirando a arma da cabeça do meu fratello, pior que eu sei que é verdade.
Para mim, o nosso compromisso já é válido desde que fui comunicado, mas perante as leis, ele só
é firmado e realmente válido quando o conselho selar a união.

— Nosso pai está certo. — Digo em amargura.

— Sobre o quê?

— Elas só servem para gerar herdeiros e mais nada.

— Pare de pensar merda, Luigi. Onde você quer ir? — Roman pergunta calmo.

— Vai para o clube Botticelli. Quero beber.

— Hoje é dia de baile de máscaras. Vai querer uma?

— Eu só quero beber e esquecer a merda que eu vi. Quando eu estiver com a cabeça fria
o suficiente e não quiser mais matar aquela Maledetta, traidora, eu vou falar com ela.

— Vai cancelar o compromisso? Sabe que enquanto não for firmado, tem essa
possibilidade. — Ele pergunta, arqueando a sobrancelha.

— Não é um beijo que vai me fazer cancelar o que eu espero há anos. — Digo com a voz
amarga de raiva, eu esperava mais de Giulia, eu esperava seu compromisso comigo, assim como
eu me comprometi com ela, mas pelo visto eu vejo que não é assim.

Depois de algumas doses, eu decidi ir para casa, o local não estava propício para a raiva
que queimava dentro de mim, e qualquer um que falasse merda morreria naquele lugar. Deixei
Roman se divertindo e fui embora com um soldado, entrei em meu quarto, acendi um cigarro,
assim como meu fratello, só fumo quando a raiva não é controlável.

Único vício que herdamos do nosso pai.


Horas se passam e não consigo relaxar, como se algo dentro de mim estivesse prestes a
explodir. Caminho de um lado para o outro, saio até a varanda e aperto firme minhas mãos, me
corroendo de ódio. Caso a encontre, se eu a ver, vou acabar fazendo algo de que vou me
arrepender.

Depois de muito andar dentro do quarto, sem pregar o olho e de acabar com o maço de
cigarro, consigo controlar um pouco esse sentimento latente dentro de mim. Tomo um banho
para tirar minha feição de destruído, e desço para o café.

Sento-me em silêncio, meu pai nem me olha, sempre olhando para o jornal enquanto
toma seu café. Percebo que Roman não está, então provavelmente dormiu no seu apartamento no
centro de Tivoli.

— Algo aconteceu para estar com essa cara, Luigi? — Meu pai pergunta, sem nem
desviar os olhos do jornal.

— Não.

— Então desfaça essa cara. Já chega seu irmão que não dorme em casa, tenho de aturar
seu rosto de mau-humor. — Levanto-me sem terminar o café.

— Por isso não, já estou de saída. — Digo e ele nem responde.

Eu preciso tirar essa raiva de dentro de mim, preciso fazer algo até estar controlado para a
conversa que terei com aquela traidora. Boxe é uma boa opção, gosto do esporte, além de treinar,
desconto minha raiva no saco de areia.

Saio de casa e, quando estou prestes a entrar no carro, um dos soldados de meu pai se
aproxima, me chamando e entregando um envelope. Agradeço com um aceno e ele se retira.
Abro o envelope e vejo uma foto dessas de revelação instantânea, e quando olho para a foto,
sinto meu corpo todo tremer.

Na foto está Giulia, tenho certeza de que é ela. A foto está em preto e branco, o ambiente
está em penumbra, mas é ela. O cabelo caído parcialmente no rosto, seus seios à mostra, me
mostrando estar nua e em seu pescoço, o meu colar, o colar que eu dei a ela ontem mesmo.

Viro a foto vendo escrito em uma letra que não conheço, “Noite maravilhosa”, amasso a
foto em minha mão com tanta raiva, sentindo minha garganta arder. Não acredito que ela fez
isso, não acredito que ela deu a outro o que era meu, no mesmo dia em que eu a tive em meus
braços ela estava com outro, então foi por isso que ela não me quis, ela queria outro. Victor!

Chamo o soldado com um aceno e ele se aproxima.

— Leve Victor, agora, para o barracão. Não diga nada, apenas leve e deixe lá esperando
por mim.

— Sim, senhor.

Victor pode ser o filho do Subchefe, mas eu sou o futuro Don, e não vou deixar que ele
pense que pode fazer o que quiser, não, ele não vai. E Giulia, Giulia, o que vou fazer com você,
maledetta? Se eu te ver, se ouvir a sua voz, vou te matar da forma mais cruel que possa ter, por
decidir desonrar nosso compromisso, como se o que eu sinto não fosse nada.

— Primeiro, vou ter uma conversinha com Victor, depois vejo o que faço sobre você,
Giulia. — Digo, olhando aquela foto amassada, a prova de sua desonra.
Capítulo 4
Depois do jantar, esperei por Luigi já que ele disse que viria, porém, as horas foram
passando e eu entendi que não ia vir. Alessa veio pegar um dos meus vestidos para ir até o clube
Botticelli, ela queria algo diferente, pois pelo que entendi haveria uma festa de máscaras. Sempre
dividimos tudo, somos gêmeas idênticas, mas não tão idênticas assim.

Eu sou ruiva de olhos azuis e ela tem os cabelos castanhos acobreados e olhos castanhos,
mas nosso rosto tem o mesmo formato, as mesmas linhas e contornos. Pelo que nosso pai disse,
nosso caso é raro, mas não impossível, gêmeas idênticas com cabelos, olhos e às vezes até cor de
pele diferente, podem acontecer, pois é uma mutação somática ou genética, como falam. É
quando no desenvolvimento do embrião acontece alguma alteração aleatória no DNA e resulta
nessas pequenas diferenças. Raro, muito raro, mas acontece.

Somos gêmeas idênticas de rosto e corpo, porém com diferenças, a genética às vezes é
uma loucura.

Só que ela acabou pegando meu colar, que ganhei de Luigi, quando eu estava no
banheiro. Ela não fez por mal, afinal, ainda nem sabia que era um presente dele, mas agora estou
aqui, ansiosa, esperando que ela chegue logo, já que não dormiu em casa.

Escuto a porta de seu quarto abrir, são mais de 07:00h da manhã, vou até lá e a vejo
jogada na cama, o rosto aparenta cansaço, e quando ela me olha, eu tenho a impressão de que
está com dor. Será que perder a virgindade dói tanto assim?

— Está bene? — Pergunto, me aproximando.

— Sim, só um pouco dolorida e com a cabeça pesada. — Me sento ao seu lado da cama.
— Como foi? — Ela fecha os olhos.

— Não foi como imaginei. — Suspira.

— Quer conversar?

— Agora não, eu quero dormir um pouco. Mandei mensagem para nosso pai, pedindo
dois dias de afastamento. Papai sabe o que fui fazer no clube, então não reclamou.

— Nossos pais são bons para nós. — Digo e sorrio, ela também.

— É algo natural da vida sorella, não precisamos omitir por medo o que eles sabem que
vai acontecer. Somos responsáveis e sabemos nossas obrigações.

— Sim. — Digo e coloco a mão na sua perna. — Você pegou meu colar, é presente de
Luigi. — Ela abre os olhos e me encara.

— Desculpe, não sabia. – Tira o colar sem se levantar e me entrega.

— Descanse, se precisar de mim, é só chamar.

Levanto-me e saio vendo-a se encolher e abraçar o travesseiro, espero que quando eu


perder a minha virgindade não fique ruim. Não me lembro de Kiara sofrer, na verdade, nem me
lembro quando Kiara deixou de ser virgem.

— Buongiorno, filha. — Mamãe fala assim que chego na cozinha.

— Buongiorno.

— Vamos tomar o café, depois temos de ver os vestidos para a festa de aniversário do
Don, daqui a alguns dias.

— Sim.

Sorrio ansiosa, sim, a festa estava chegando e seria ali que Luigi ia colocar a aliança em
meu dedo, firmando nosso compromisso em público e marcando a data do casamento. Por mais
que já somos noivos há muito tempo, na festa eu poderia finalmente falar com ele em público,
não ser apenas um acordo entre nossos avôs como foi há anos atrás, e sim um acordo entre nós
dois prestes a ser realizado.
Capítulo 5
Estou furioso com o Victor, ele tinha mexido com a pessoa errada, e eu ia fazê-lo pagar
caro por isso. Entro no galpão, onde os meus soldados tinham o levado. Lá estava ele, amarrado
em uma cadeira, ainda com a roupa de dormir, havia uma marca em seu lábio, um corte, uma
mordida de prazer, não sei, mas estava levemente inchado e isso fez meu sangue ferver.

— Olá, Victor! — Digo, com um sorriso sarcástico. — Como vai à vida?

— Que merda é essa aqui, Luigi? Que ideia de idiota foi essa de mandar me pegar em
minha casa, como se eu fosse um rato? — Pergunta me encarando com raiva.

— Você sabe o que fez, Victor. Não venha com essa, que você sabe muito bem o que fez
ontem. — Digo e ele muda de raiva para surpreso.

— Hã, então você... — Não o deixei terminar a fala, não queria que os soldados
soubessem mais do que deveriam.

— Eu vi. E você vai se arrepender por ter feito aquilo.

— Vai se ferrar, Luigi.

— Não, não, não. Essa não é a maneira de falar comigo. Você se esqueceu de quem
manda aqui? Se esqueceu de que eu sou o futuro Don?

— Você não é o Don ainda, então não passa do filho de um capo.


— Ah, é mesmo? E o que você é, então? — Pergunto com raiva da ousadia desse
maledetto, ele se acha melhor do que eu, um vermezinho rastejante, um ragazzo que mal saiu das
fraldas.

— Eu sou melhor do que você, seu idiota. Eu sou mais esperto e vou ter a mulher que
quero, porque ela vai ser minha. — Travo o maxilar. Imaginando que ele está se referindo à
Giulia.

— É mesmo? Então me prove. Me mostre o quanto você é melhor do que eu.

Abro a bolsa de treino que trago comigo e pego um par de luvas de boxe que eu tinha
trazido.

— Pegue isso. — Digo. — Vamos resolver isso como homens.

— O quê? Você quer lutar comigo? Você está louco? — Se apavora no momento em que
coloco as luvas em seu colo.

— Não, eu estou com vontade de te dar uma surra. E você vai aceitar, ou vai ficar aí
chorando como uma ragazza? Porque, de uma forma ou outra, eu vou te bater, a diferença é que
estou te dando a opção de lutar feito homem.

— Você é um covarde, Luigi. Você sabe que eu não tenho chance, eu não luto boxe.

— Então, você admite que eu sou melhor do que você? — Digo, repuxando o sorriso e
vendo seu rosto se fechar.

— Não, eu não admito nada.

— Lute comigo. Ou você tem medo? — Pego na ferida.

— Vai se ferrar.

Percebo que ele hesita, mas o orgulho dele é maior do que o medo. Peço aos meus
soldados para desamarrá-lo e levá-lo até o centro do galpão. Victor pega as luvas e as coloca nas
mãos. Eu também coloco as minhas luvas e me preparo para a luta.

Sei que ele não sabe lutar, que ele é um fraco, um incompetente, um perdedor. Eu vou
acabar com ele em poucos minutos, mas o prazer de vê-lo tentar, e ver o medo em seus olhos é
melhor do que qualquer tortura.

— Vamos. — Digo com um sorriso.

A luta começa e eu logo tomo a iniciativa, avanço para cima dele, desferindo golpes
rápidos e precisos. Ele tenta se defender, mas é inútil, não tem técnica, nem força, nem
resistência, a única coisa que tem é medo.

Acerto seu rosto, corpo, queixo. Ele cambaleia, o sangue escorre de seu nariz e logo
depois de sua boca, geme a cada golpe que acerto em pontos precisos.
— Que merda, Luigi. Para! Eu não sei lutar essa merda. — Implora por misericórdia, mas
eu não tenho nenhuma. Eu queria vê-lo sofrer, queria vê-lo cair, queria vê-lo morto, sim, morto,
ia matá-lo.

Dou um uppercut que levantou seu queixo e o fez voar para trás. Ele cai no chão,
derrotado, humilhado. Levanto os meus braços, triunfante. Olho para ele ali no chão, cuspindo
sangue, sinto desprezo.

— Isso é o que você merece, Victor. Isso é o que acontece com quem me trai. Você é um
lixo, um verme, um rato. — Digo olhando em seus olhos e ele sorri, passando a mão na boca
onde tem a marca que vi logo que cheguei.

— Você sabe como é o sabor dos lábios dela?

Pergunta de forma cínica e eu saio de mim, vou para cima dele, ajoelhando em seu
estômago e metendo soco após soco, apenas em seu rosto, mas sou tirado de cima de Victor por
alguns soldados e escuto os gritos da mãe dele, me viro, vendo-a tremendo e chorando. E logo
Roman entra correndo no galpão, seu rosto é de surpresa e depois de curiosidade.

— O que faz aqui? — Pergunto à mãe de Victor, cresci a vendo acompanhar o Subchefe
nas festas e tenho respeito por ela.

— Por favor, não o mate. — Pede com as mãos trêmulas.

— Ele merece pelo que fez. — Digo com raiva.

— Eu imploro a você, como uma mãe implora pelo seu filho. Não mate ele, um filho vive
sem a mãe, mas a mãe morre quando perde um filho. — Hesito, olhando para ela e lembrando de
minha mãe.

Respiro fundo e olho para Victor, que tem a cara bem dura, levou tantos golpes e só tem
os olhos inchados e alguns hematomas.

— Sua sorte, é ela. — Digo com raiva e me levanto.

— Obrigada, muito obrigada. Mas me dê sua palavra que não vai matá-lo assim que ficar
sozinho com ele, por favor. — Ela me coloca em uma situação difícil, pois eu quero, sim, o
matar.

— Tem minha palavra de honra, que por minhas mãos ele não morre, mas isso não
significa que não o repreenderei. Se Victor procurar, vai encontrar. — Ela fica séria e concorda.

Saio do galpão tirando minhas luvas, passo por Roman, que segura em meu ombro e me
puxa.

— O que aconteceu?

— Vou te contar, porque confio em você. — Tiro a foto de meu bolso e mostro a ele. —
Ela me traiu, traiu nosso compromisso da pior forma possível.
— Acha que foi com Victor?

— Não tem outro, tenho certeza. — Afirmo e pego um cigarro.

— Vai acabar com o compromisso?

— Não. — Acendo o cigarro e o trago. — Não vou entregá-la de bandeja para ele, e eu
sei que ela não vai contar o que fez, pois seria uma desonra para sua família, ter uma filha que
não cumpre com os acordos.

— O que vai fazer então? — Ele pergunta o que eu estou tentando colocar em minha
cabeça, sei que não posso ver Giulia por um tempo, meu peito está repleto de amargura e posso
perder a cabeça, fazendo algo que não me perdoaria nunca.

— Preciso de tempo, para esfriar a minha cabeça e não matar aquela maledetta. Aí vou
ter uma conversinha com ela, e Giulia terá de me explicar tudo.

— Luigi, não seja como ele. — Roman pede e eu apago o cigarro.

— Não sou, mas também não sou um retardado mentale que vai aceitar o que ela fez.

Abro a porta do meu carro e entro, deixando Roman ali me olhando. Não sou como meu
pai, não vou fazer o que ele fez com nossa mãe, mas também não tenho sangue de barata. Ela foi
prometida a mim, e não há nada que me faça mudar isso, nem mesmo ela se entregar a outro.

Ligo o carro e saio ainda com raiva. Quebrar a cara do Victor não adiantou muito meu
humor, na verdade, acho que até piorou. Se não fosse a mãe dele aparecer a essa hora, eu estaria
vendo seu corpo, sem vida, ser arrastado para fora do barracão.

Aperto o volante, dando um soco. Por que aquela maledetta foi fazer isso?

Giro o volante para ir até sua casa, não, eu não podia esperar mais, mesmo com o sangue
fervendo, tenho de falar com ela.

Meu telefone toca, tento não ligar para o toque, porém percebo ser o toque do meu primo
Dastian. Se ele está me ligando, coisa boa não é.

Paro o carro e atendo o telefone, buscando soar calmo.

— Oi!?

— Estava matando alguém? — Repuxo o sorriso.

— Não, apenas tendo uma conversa.

— Hum...

— O que aconteceu para me ligar desse número? — Pergunto, pois sei ser uma linha
segura.

— Preciso que venha para a Rússia, hoje mesmo.


— Não posso. Sabe que daqui a alguns dias... — Não termino a fala.

— Nosso avô está internado. Sofremos um ataque, já está tudo resolvido. Mas você é o
primeiro neto, já que seu pai, o nosso avô, não aceita mais pôr os pés aqui. Como sucessor por
linhagem, tem de assumir a cadeira até ele se recuperar. — Respiro fundo alguns segundos
antes de falar.

— Quem vai herdar a cadeira é você, não sou eu.

— Para isso, você tem de abster. O que, no caso, ainda não fez. E nesse momento não
aconselho que faça. Precisamos de você aqui agora. Precisamos pôr as coisas no lugar e limpar
a bagunça.

— Tenho de resolver umas coisas antes, Dastian.

— Luigi, é caso de vida ou morte. Você acha mesmo que eu te ligaria, se não precisasse
com urgência?

Passo a mão em meu rosto, sporcizia eu sei que ele não ia ligar se não fosse urgente.

— Preciso desligar, Luigi, o médico acabou de me chamar. Nosso avô vai para a UTI.

— Estou indo. Chego em algumas horas.

— Agradeço e lembre-se, ninguém pode saber. Nem mesmo o Don. O que acontece na
Rússia, o que acontece na família, não sai da família.

— Eu sei.

Desligo o telefone e aperto o volante com força. Não tenho outra opção, vou ver meu
avô, ajudar Dastian até ele se recuperar, e depois volto para falar com Giulia e quando voltar,
será para a colocar em seu lugar.
Capítulo 6
Finalmente a festa de aniversário do Don chegou. Estou ansiosa, mais do que antes,
minhas mãos suam, enquanto uma bola parece se formar em minha barriga, me dando enjoo. É a
primeira vez que eu e minhas sorellas somos convidadas, apenas o alto escalão é convidado,
além do que, menores de idade não são permitidos, apenas membros diretos da família do Don.
Mas meu pai e minha mãe, vem todo ano.

Kiara, minha sorella mais velha, está em um vestido vermelho, ele é colado no corpo,
abre abaixo do quadril, de frente única. Eu estou com um vestido azul, romântico, gosto desse
modelo, mais solto, e Alessa um amarelo, tomara que caia, colado no corpo. Assim que
entramos, todos viram para nos ver. E isso me deixa ainda mais ansiosa, só que foco na
decoração e tento não pensar no resto.

— É lindo. — Falo abrindo um sorriso.

— Vamos, minhas princesas. Preciso encontrar o Don. — Papai fala, com um leve sorriso
no rosto.

Nosso pai vai à frente segurando o braço da nossa mãe, acho tão bonito ver como eles se
gostam e desejo que meu casamento seja assim. Não demora muito para entrarmos no círculo de
pessoas que Don Leonel está. Olho ansiosa, mas não digo nada. Meu coração falta sair de meu
peito, por mais que tenhamos ficado juntos àquele dia, e depois Luigi não ter aparecido mais, eu
me sinto ansiosa para vê-lo e poder segurar a sua mão, e talvez beijar seus lábios outra vez.

— Onde está Luigi? — Alessa pergunta tomando a frente e o Don fica sem palavras por
um tempo e depois pede licença para as outras pessoas ao nosso redor, que se retiram. Ele olha
do meu pai para mim antes de falar, e eu começo a pensar o pior, começo a pensar que ele não
gostou de mim, que eu não era o que ele esperava.

— Luigi foi para a Rússia. Não sei por que motivo, mas há dois dias recebi a notícia de
que ele estava embarcando. — Foi como esmagar meu coração, ele se foi assim, do nada?

— Então, nosso compromisso… — falo cabisbaixa, sem conseguir terminar a frase, e


Kiara coloca a mão em meu ombro.

— Ainda existe, ragazza. Ele só saiu em viagem, assim que retornar vamos realizar o
casamento. — O Don responde, abro um sorriso triste pensando que ele me deixou, porque eu
não era o que ele esperava, meu pai não esboça nenhuma reação.

Todas nós sabemos que nosso pai não gosta desse acordo, mas ele foi firmado pelo nosso
finado avô e por honra nosso pai mantém sua palavra.

— Vamos ao jardim, Giulia. Acho que Victor está lá. — Alessa fala.

— Sim, vão lá. — O Don fala.

Saímos pela porta de vidro da grande sala, logo o jardim aparece na nossa frente, desço as
escadas, pensativa, sem entender o que aconteceu e o porquê. Luigi parecia ansioso para esse dia
chegar e assim do nada ele vai para a Rússia. Suspiro e seguro meu colar com força, quando
percebo que Kiara tropeça e quase vai ao chão, mas um homem de máscara preta de ferro a
segura.

— Está bene, senhorita? — Pergunta a minha sorella que percebo ficar presa nos olhos
dele por alguns segundos.

— Hã, eu… — Ela responde conforme ele a solta.

— Sorella. — A chamo e ela se vira para mim. — Está bene?

— Sim, estou. — Fala e se vira, como se fosse procurar pelo homem que a amparou. —
Onde ele foi?

— O Falcão Negro? Ele já entrou. — Victor aparece com as mãos no bolso, um sorriso
fraco e alguns hematomas no rosto, ele havia me mandado uma mensagem falando que apanhou
feio no treinamento.

— Ah, sim… — Kiara responde meio no mundo da lua.

— Não acredito que você se interessou por ele. — Victor sorri. — Ele é um dos piores
assassinos de Napoli. O chefe da organização Falcão Negro. Dizem que é cruel. — Fala sobre o
homem que Kiara parece se interessar.
— Em nosso meio, Victor, quem não é cruel?

Victor sorri sem graça, Kiara olha para o salão e depois para mim.

— Vamos, Alessa já está andando em algum lugar.

— Ela foi para o jardim. — Victor fala.

— Até que seu rosto não está tão feio. — Digo e Kiara concorda, Victor coloca a mão na
boca e passa a língua nos lábios.

— Faz parte, acho que meu rival não era tão forte assim.

— Você não me disse se ele saiu machucado. — Falo e ele repuxa o sorriso.

— Claro que saiu, eu apanhei, mas ele também saiu bem machucado. Ou você pensa que
eu sou tão ruim assim?

— Hummm…

— Mas mudando de assunto, eu te liguei hoje e você não atendeu. Na verdade, seu
celular deu fora de área.

— Ah, eu esqueci na casa da Laura. Amanhã vou até lá buscar, já que ela está de folga.

— Não se preocupe com isso, eu levo o celular para você. Sei como é ruim esquecer.

Abro a boca para responder, quando vejo Romeo aparecer ao lado. Estranho, pois ele é
menor, é um ano mais novo do que eu, além de estar degraus abaixo da hierarquia para ser
permitido sua entrada.

— Romeo, o que faz aqui? — Pergunto.

— Senhora, estou aqui como seu guarda-costas. — Responde e eu começo a rir.

— Romeo, você nunca me chamou de senhora, o que foi agora?

— Ordens do Senhor Luigi. Ele mandou eu ser seu guarda-costas, enquanto ele estiver na
Rússia. Não posso sair do seu lado, fui informado há alguns minutos e vim direto. Seu pai e o
Don já foram avisados.

Fico pasma com aquilo, um guarda-costas, um segurança. Viro e vejo meu pai, e com
apenas um olhar ele confirma o que Romeo havia me dito.

— Va bene, pelo menos é você, Romeo. Você eu conheço desde bambino.

— Claro, Senhora, agora preciso pedir para se afastar do filho do Subchefe. — Ele pede e
o encaro sem entender. Victor está a uns 3 passos de mim.

— Como assim?
— Ordens, nenhum homem pode se aproximar mais de 10 passos da Senhora. Se fizer
isso, eu tenho autorização para atirar.

Victor se afasta e vejo um sorriso divertido em seu rosto. Encaro Romeo e minha vontade
é xingar Luigi, mas ele está cuidando de mim, mesmo de longe. Acabo ficando feliz, pois isso
significa que ele não me deixou, deve ter seus motivos para ir sem me avisar, e escolheu Romeo
para cuidar de mim.
Capítulo 7
Rússia
Não falei nada a ninguém antes de sair de Tivoli, além de Roman. Preferi fazer assim,
para evitar protestos e assuntos que me deixariam ainda com mais raiva. Aperto a caixa onde está
a nossa aliança com força, hoje era para ela estar no dedo de Giulia.

— Ei, muda essa cara, primo. Você está aqui para se divertir, depois de todo o trabalho
que tivemos esses dois dias. Nem parece um homem de 25 anos e sim um velho de 80. —
Dastian fala, rindo ao meu lado, agarrado a uma mulher.

Guardo a aliança em meu bolso e bebo uma dose de whisky, enquanto olho as mulheres
dançarem no clube que ele me trouxe. Dastian se levanta e vai para um dos quartos que tem
nesse local, mas antes de sair, pisca para mim.

Peço outra dose de Whisky e fico remoendo a raiva que me habita. Na foto, estava claro
que era ela, nem tinha como não ser. O colar estava lá em seu pescoço, o colar que eu havia
acabado de dar a ela e ela estava dormindo com outro, poucas horas depois.

Aperto o copo com força, o quebrando em minha mão, olho para os cacos de vidros e o
corte que sangra, mas é como se ele nem existisse, não sinto a dor da minha pele sendo rasgada,
mas sim do meu coração que agora tem uma ferida.

Quando cheguei, meu avô já estava no quarto, já havia saído da UTI. Logo que entrei,
percebi que seu estado é crítico. Como já perdeu o filho mais velho, fratello do meu pai, que é
pai do meu primo, Dastian, têm apenas meu primo Dastian como sucessor, já que tenho a Itália e
não irei assumir a Rússia, o que teria direito.

Ele ficou grato por eu ter vindo, disse querer falar comigo assim que melhorar, que tem
coisas importantes a me ensinar e eu vou aproveitar esse tempo ao seu lado para tentar esquecer
um pouco tudo que aconteceu. Mas logo que meu avô me viu, percebeu como eu estava e acabei
conversando com ele e contando os motivos de estar tão sério e fechado. Ele me escutou com
atenção e, no final, ainda me fez pensar, como eu pude confiar em uma foto sem provas, sem
investigar mais.

Foi um erro, eu sei, e ele me fez ver esse erro que, no calor da raiva, eu não percebi.
Além do que ele me disse, algo que me incomodou muito, que me tornei exatamente o que meu
pai queria, que sou uma pessoa fácil de manipular.

Não tenho mais 100% de certeza de que era ela, pode ser alguém parecido ou poderia até
ser a Alessa, já que são extremamente parecidas. Me incomoda acreditar que ela emprestaria o
cordão que dei, meu primeiro presente. Giulia não seria tão fria de não se importar a esse ponto,
não é a Giulia que esteve comigo dentro do meu carro.

É difícil pensar nesse assunto assim. Pensei em retornar, mas meu avô pediu para ficar,
pois Dastian precisa de mim também. Nosso avô quer que tenhamos um contato maior, para que
nossa aliança no futuro não seja abalada. Também disse que preciso de um treinamento mais
severo, que tenho de mudar minha cabeça e minhas ações, coisas que eu não havia pensado
antes, ensinamentos que ele quer me passar, ainda me lembro de suas palavras no hospital assim
que lhe contei tudo.

LEMBRANÇAS DE DOIS DIAS ANTES...

— Eu vou voltar! — Digo assim que termino de relatar todo o acontecido.

— Para quê?

— Matar aquele rato traidor! E mostrar à Giulia que ela foi prometida a mim e que não
vou deixar outro ficar com o que é meu. — Digo ainda com raiva.

— Como Luigi? Você não consegue enxergar um palmo na sua frente? É capaz de mais
ratos saírem do mesmo bueiro e você nem ver. Está agindo exatamente como seu pai espera,
como um idiota mimado.

— As coisas funcionam diferentes na Itália e na Rússia.

— Podem até funcionar, mas do jeito que você age, em cu de mundo nenhum, você
reinaria.

— Então, o que você sugere, grande Pakhan? — Digo com ironia, olhando em seus olhos
ali naquela cama de hospital.

— Venha aqui, mais perto. — Me chama, quando me aproximo, acerta um tapa na minha
cara. — Primeiro, que tenha respeito. Depois sugiro, ou melhor, o que eu sugiro, não. Você vai
ficar e vai aprender tudo o que lhe ensinar. Vou transformar você no homem que seu pai tentou
impedir que o Don Leonel lhe transformasse, vai ser digno de sentar na cadeira da Rússia ou da
Itália. Vai ser digno de respeito e aprender a tomá-lo para si. Entendeu?

— Sim, Senhor. Eu entendi.

FIM DA LEMBRANÇA.

Levanto-me e vou até o balcão, enrolando a mão em um lenço. Me sento no banco e peço
outra dose que logo chega. Me perco no tempo ali, bebendo e pensando em tudo, até uma morena
aparecer do nada e beijar a minha boca. Minha primeira reação foi aceitar o beijo, mas logo
depois empurro a mulher e me levanto irritado.

— O que pensa estar fazendo?

— Calma, eu só pensei que gostaria da minha companhia. — Olho para ela de cima para
baixo e vejo a roupa de dançarina.

— Pensou errado.

Digo e me afasto, por mais que em minha mente ainda tenha um lado me xingando de
idiota, que eu deva aceitar, o outro lado não deixa, o lado burro apaixonado.

Desde que Giulia foi escolhida, eu não tive outra mulher. Não sou mais virgem, claro que
não, mas quando o Don confirmou que era ela, eu esperei, me resguardei, pois eu a queria muito
e para mim, se eu ficasse com outra depois de saber que era Giulia, a escolhida do Don, eu a
estava traindo, traindo nosso compromisso.

Isso foi há 4 anos, e eu esperei. Talvez seja esse motivo da minha raiva ser maior ainda.
Saber que pensei nela desde o início e que ela não se importou com nosso compromisso, ou se
importa, não sei. Com essa dúvida, pego o celular e ligo para ela, mas ela não atende, tento outra
vez e vai para a caixa postal.

— Droga Luigi, está parecendo uma ragazza e não o homem que você é. — Digo a mim
mesmo, indo em direção ao carro e me trancando lá dentro, para esperar Dastian.

Estou com raiva e mesmo assim ligo para ela, sem nem saber o que dizer, sem saber a
verdade.

Mando uma mensagem ao soldado que designei para cuidar de Giulia, o único que tenho
certeza de que vai cuidar dela e a proteger de tudo. Romeo nasceu e cresceu naquela casa,
cuidará dela sem que tenha segundas intenções, afinal, foi criado como se fosse seu fratello mais
novo. Sem ninguém saber, mantive contato com Romeo para ter notícias de Giulia o máximo que
pude, e tudo o que eu sempre acompanhei deles, é exatamente assim que ele vê minha noiva e ela
a ele, como fratellos.

Mensagem...

Informe.
(Comuniquei a Donna Giulia que fui designado a fazer sua segurança, assim como ao
Senhor Telesca e ao Don. Agradeço a confiança em mim, Senhor Luigi, não irei desapontá-lo).

Sorrio.

Se me desapontar, será uma única vez, Romeo. Não terá outra oportunidade, quero que
me informe todos os passos de minha noiva, com quem conversa, o que faz, onde faz, até o que
come. Você será meus olhos e meus ouvidos, e se ela desconfiar ou descobrir o seu verdadeiro
trabalho, estará morto.

Envio a mensagem e ele demora um pouco para me responder.

(Sim, Senhor.)

Outra coisa, o telefone de Giulia está com algum defeito? Liguei para ela e nem chamou,
caiu direto na caixa postal.

(Quando me aproximei da Senhora Giulia, ela falava com Victor. Ele estava dizendo que
levaria o celular para ela, pois ela havia esquecido).

Não respondo à mensagem, jogo o aparelho no banco, pegando o meu cigarro, acendendo
imediatamente. A raiva se torna forte novamente, onde ela esqueceu aquele celular e por que
Victor vai levar? Será que ela estava com ele? Inferno, tantas dúvidas em minha cabeça.
Capítulo 8
3 ANOS E 3 MESES DEPOIS
Tivoli - Itália
Seguro a foto de Luigi em minhas mãos, tentando fingir que não me machuca, que já
superei, que já esqueci dele, mas sei que estou mentindo para mim mesma. Doeu fundo o dia em
que recebi essa foto das mãos de um soldado. A foto que Victor me enviou da Rússia, no dia em
que foi em uma reunião com o novo Pakhan, mostra que está na hora de eu agir e parar de
esperar por um compromisso que não existe mais.

Ele me abandonou, sem motivos.

Três meses se passaram desde que conversei com o Don e refiz o acordo de casamento.
Me lembro como se fosse hoje cada palavra trocada, na festa da organização Falcão Negro, na
apresentação de minha sobrinha Ayla, filha da minha sorella Kiara com o Falcão, uma longa
história que começa antes daqui.

LEMBRANÇAS DA FESTA...

— Senhorita Giulia. — Um soldado se aproxima.

— Sim.

— Para a Senhorita, o Senhor Victor enviou. — Me entrega um envelope.

— Obrigada.
Vou em direção ao banheiro, curiosa com o que Victor poderia ter enviado para mim. Já
que ele quase não envia nada e sim entrega diretamente para Romeo me entregar.

Assim que entro, vejo Maria, minha amiga. Ela está com a feição triste, porém tenta
esconder.

— Você está bene? — Pergunto, me aproximando.

— Estou sim. — Diz limpando o rosto.

— Não, não está. Estou vendo no seu rosto. Se quiser conversar, estou aqui. — Ela sorri
e olha para mim.

— Obrigada, mas estou bene sim.

— Va bene, mas sabe que pode falar para mim. — Digo com um sorriso no rosto e ela
olha para minhas mãos, já que estou segurando o envelope que recebi.

— O que é? — Pergunta e eu arqueio a sobrancelha fazendo graça, pois estou curiosa.

— Vou ver agora.

Abro o pequeno envelope e tiro uma fotografia, só que quando olho para a imagem ali
refletida, o sorriso em meu rosto se vai, ficando apenas uma dor em meu coração.

— O que aconteceu? — Maria pergunta e eu sorrio, um sorriso forçado, tentando


demonstrar que está tudo bem, mas não está.

— O que me faltava para ter coragem de pedir, o que vou pedir essa noite. Acabei de
receber esse bilhete de um soldado.

— Giulia, o que aconteceu? — Pergunta novamente, dessa vez o meu sorriso morre de
vez. Mas não vou deixá-lo me ferir, não assim.

— Estou cansada de esperar por Luigi, enquanto ele se diverte por aí. — Viro a foto
mostrando a ela, Luigi com uma mulher em seu colo. — Victor me enviou. — Pego um bilhete
dentro do envelope, leio e balanço a cabeça em negação. — Ele escreveu dizendo que foi no
primeiro dia de reunião na Rússia que ele os levou a essa boate, lá Victor tirou a foto de Luigi
com essa mulher. Enquanto eu, não posso nem dar um beijo em outro homem, Maria. Eu cansei.

Maria me abraça e nesse momento sinto o choro querer sair, mas não deixo, não vou
chorar por ele. Me afasto limpando o rosto.

— O que eu puder fazer, para ajudar, pode falar.

— Obrigada, mas agora vou voltar à mesa, chamar o meu pai e o Don para conversar e
contar a minha decisão. — Digo com um meio sorriso.

— Vou com você.


— Não precisa, obrigada, preciso ter essa conversa a sós com eles.

— Va bene. — Ela concorda e eu saio do banheiro.

Ando pensativa, tentando focar no que vou dizer, olho para a mesa e vejo minha mãe,
então provavelmente meu pai deve estar com o Don. Olho pelo salão até que os encontro. Sigo
para lá em passos firmes e com coragem para dizer o que preciso.

— Don, posso falar com o Senhor? — Digo indo em sua direção.

— Claro, vamos para um lugar mais privado. — Concordo, com o coração acelerado,
mas decidida.

Sigo para o canto leste da casa, atravessando a porta de vidro e saindo para o jardim,
onde há algumas pessoas, mas poucas, espalhadas e distantes do lugar onde paramos.

— Diga! — Ele manda em tom calmo.

Olho do Don para meu pai, tomando coragem para falar aquilo que já me machuca há
muito tempo.

— Sei que não deveria falar isso aqui, e nem diretamente com o Senhor. Mas... eu quero
cancelar meu compromisso com Luigi. — Meu pai tira o cigarro da boca e me encara.

— Esse não é o lugar para essa conversa, filha. — Me avisa com calma, mas eu estou tão
cansada.

— Eu sei, mas eu recebi essa foto do Victor, não acho certo eu ficar aqui, esperando por
ele, como um prêmio, sem poder fazer nada. Enquanto ele se diverte, com as puttanas russas! —
Falo e viro a foto dessas de revelação instantânea em direção ao Don, mostrando Luigi com
uma mulher em seu colo, enquanto ele bebe sua bebida.

Victor me enviou essa foto, e para mim foi a última gota.

— Ele é homem, é normal que antes do casamento... — O Don começa a dizer, porém, eu
o interrompo.

— Eu sou mulher. Por favor, Don, com todo o respeito que zelo pelo Senhor e carinho
que vejo ter por mim. Também estou viva, mas não é por isso que descumpro o nosso acordo.
Estou cansada, espero por ele desde os meus 14 anos, cresci e aprendi como ser uma boa moglie
para o futuro Don. Só que não vou perecer aqui, enquanto ele vive e se diverte em outro lugar
distante de quem deveria ser sua família. Estou pedindo para cancelar nosso compromisso, me
deixe livre das amarras que esse acordo me prende. — Imploro, com um nó na garganta, pois
não aguento mais.

— Giulia, exijo o devido respeito.

— Há punição maior do que esperar seu herdeiro? Não, Don, nenhuma tortura é pior,
então não há o que temer. De toda forma, não lhe faltei com o respeito.
— Três meses é o prazo que ele tem para voltar. Se ele não vier, podemos finalizar esse
compromisso, o que acha? — Ele me pergunta, olho para meu pai, esperando uma reação, mas
ele se mantém nulo, então volto a olhar para o Don, tomando minha decisão.

— Va bene, três meses. Nenhum dia a mais. Agora vou me retirar da festa, com licença.

Saio com a autorização de meu pai, sigo até meu carro estacionado, entro e, quando
fecho a porta, abraço meu corpo com meus braços, sentindo a bola em minha garganta arder
tanto. Não quero chorar, não quero, mas é inevitável.

FIM DA LEMBRANÇA.

Dessa vez, eu mesma havia decidido meu destino, após receber a foto dele com uma
mulher. O sentimento que tinha por Luigi foi sumindo assim como ele sumiu. Me abandonou
sem motivos, apenas se foi, não recebi mais nenhuma flor, nenhuma mensagem, nenhuma notícia
dele. Apenas as notícias que Victor me informava, quando Matheo, o Consigliere o levava para
algumas reuniões em que Luigi estava presente.

Por muito tempo me senti enganada, iludida, com uma dor em meu peito, toda vez que
segurava aquele pingente do colar e me lembrava de como me senti com ele, de como foi me
entregar aos seus braços e deixar que ele me tocasse. Para logo depois me abandonar.

Por muito tempo, pensei que ele não havia gostado de mim, que naquela noite ele havia
visto algo que o fizesse me rejeitar. Mas depois parei de pensar nisso, parei de sofrer por ele e
apenas quis deixar esse sentimento que tinha em meu peito morrer. Sofri, claro que sim, mas fui
ensinada a não abaixar a cabeça, sou uma Sicária e com os anos de treinamentos e missões me
tornei a número 1 em tiro a distância, superando até Laura, que se sente orgulhosa por mim.

Ainda uso o colar, uso para me lembrar de como ele me iludiu, uso para alimentar a raiva
que sinto dentro de mim, não por gostar dele como eu gostava e ansiava, não, eu não gosto mais.

— Já está pronta? — Alessa entra em meu quarto com um sorriso largo no rosto.

— Quase. — Ela me olha de cima para baixo e franze o cenho.

— Não, não. Essa roupa está muito comportada, sorella. É sua despedida de noivado, ou
melhor, sua entrada na vida livre de solteira sem compromisso. Finalmente, vai poder ser livre,
se divertir, beijar muito na boca e fazer sexo com quem você quiser. Está parecendo a Mirelle
com essa roupa comportada. — Repuxo o lábio ao ser comparada com a nossa amiga.

— Va bene.

Abro o guarda-roupa, pego um short de couro preto e um top da mesma cor, além de uma
jaqueta vinho. Mostro a Alessa que sorri animada. Me troco, solto os cabelos, passo um batom
vermelho e claro, o perfume.

Me olho no espelho e sorrio, essa noite eu vou estar livre desse compromisso que me
prendeu a vida toda, no momento que o relógio der meia-noite, tudo acaba. Tudo, e eu estarei
livre... estranho pensar assim, mas sim, anseio por estar livre.
Desço as escadas e encontro minha mãe com Kiara e Mirelle, que já está com uma
barriga bem saliente de quase 6 meses. Minha mãe segura Ayla, filha de Kiara e minha sobrinha,
meu pai aparece do escritório ao lado do Falcão e do N°2, marido de Mirelle, ambos estão com o
rosto fechado, nada feliz com a nossa saída.

Não foi ideia minha, e sim delas. Sei que é desrespeitoso comemorar o fim de meu
compromisso, mas na verdade, não me importo, passei anos esperando por ele, que agora que
chega ao fim, é como se eu não soubesse o que fazer depois.

— Filha, tesouro, está linda. — Meu pai fala, se aproximando e segurando em meu rosto
com carinho.

— Obrigada.

— Quero que se divirta essa noite, conversei com os donos do clube e suas sorellas
prepararam tudo para você e suas amigas. — Sorrio ao ver meu cunhado Falcão revirar os olhos,
pois ele tem muito ciúme de minha sorella.

— Vou, sim, pai.

— Só voltamos amanhã. — Alessa fala rindo.

— O quê? — N°2 pergunta com uma feição de desconforto e o Falcão acerta uma
cotovelada nele. — Mirelle está grávida, não pode passar a noite lá.

— Não se preocupe, eu cuido dela. — Kiara fala sorrindo.

— Esse é o perigo. — Falcão responde e meu pai tenta esconder a risada.

A campainha toca, Alessa abre a porta e Maria entra correndo pulando em meu pescoço,
logo atrás Fiorella tão recatada como Mirelle, em um vestido abaixo do joelho.

— AAAAH, vamos logo que eu quero dançar. — Maria fala animada.

— Não esqueça o que conversamos. — Matheo, o Consigliere do Don e seu marido, fala
e ela revira os olhos.

— Eu sei.

— Filha. — Mamãe me chama. — Depois da meia-noite, você é uma mulher livre, se


lembre disso. Quero te ver feliz.

— Eu sei, mãe, depois da meia-noite, sou livre para fazer o que quiser da minha vida.

Mamãe concorda, me despeço de todos, e todos se despedem de suas moglies. Romeo vai
conosco, mas ficará do lado de fora, já que ele ainda é meu guarda-costas, assim como alguns
soldados que vieram com minha sorella e vão ficar do lado de fora.

Meu coração parece não caber mais no peito, dois carros cheios de mulheres e uma vida
nova para começar, assim que as doze badaladas tocarem, encerrando esse dia, levando a prisão
desse noivado com elas.
Capítulo 9
Rússia
— Está pronto para retornar?

— Sim, chegou a hora.

— Não esqueça dos seus ensinamentos e nem do que foi dito. Você chegou como um
jovem imaturo, e agora se tornou um homem. Não cometa os erros de antes, não seja
manipulável como esperavam de você. É o futuro Don da Itália e meu neto primogênito. Mesmo
abstendo de ser o Pakhan por direito e passando ao seu primo.

— Não serei.

— Nesses três anos aqui, Luigi, eu vi um jovem, que foi criado para ser um mero peão, se
transformar em um homem capaz de tomar suas decisões. Seu pai pode ser meu filho, mas te
ensinou coisas erradas, enquanto o Don Leonel apenas tentou suprir a falta da sua mãe e não foi
firme o suficiente. Você está saindo da minha casa, está voltando para a Itália, como outro
homem.

— Sim, Senhor. Agradeço por todos os ensinamentos.

Aproximo-me de sua cama, abaixo o rosto e meu avô, André Karev, dá dois tapas de leve
em minha bochecha em forma de carinho.

— Boa viagem, meu neto, seja o que eu te ensinei a ser.


— Eu serei.

Digo e me levanto, o cumprimento e saio de seu quarto. Meu avô, antigo Pakhan, já está
de idade e sua saúde piorou depois de um atentado que sofreu, sendo esse um dos motivos que
me fez vir para cá, para a Rússia. E todos os anos que passei aqui, aprendi muitas coisas com ele.

Atravesso o corredor indo até meu quarto, porém, na porta, encontro meu primo,
oficialmente, o novo Pakhan da Rússia, Dastian.

— Então, vai embora mesmo?

— Eu preciso. Hoje é o último dia, e não vou deixar que se quebre o compromisso.

— Sabe bem o que está fazendo? Todos esses anos aqui e você ainda remói o passado.

— O que aconteceu, a gente nunca esquece.

— Você ainda a ama. Mesmo depois de tudo, então tenha cuidado com suas ações e
palavras.

— Vou tentar.

— Não é, vou tentar, Luigi. Controle o seu ciúme, ele te deixa cego e faz você falar e
fazer coisas que pode se arrepender depois.

— É mais fácil falar do que fazer Dastian. Ainda mais estando na minha pele. Porém,
Giulia é minha prometida, e não vou deixar que outro tenha o que foi destinado a mim.

Tivoli - Itália
Dentro do avião, fico olhando para a maledetta foto, anos se passaram, porém, a dúvida
ainda se faz presente. Não consigo, ou melhor, não quero acreditar que ela traiu o nosso
compromisso. Todavia, tomei a minha decisão e não volto atrás.

Assim que o avião pousa, guardo a foto no bolso da minha calça. Por mais que minha
vontade seja rasgar esse pedaço de papel, eu não consigo. Sinto que tem algo por trás dessa
fotografia, algo que eu desejo e, ao mesmo tempo, não quero saber.

Desço em passos firmes, após três anos longe da minha terra natal. O clima frio e
chuvoso me recebe, sinalizando que o inverno está chegando. O vento toca a minha face,
trazendo o aroma que há tanto tempo não sinto.

— Finalmente em casa. — Digo.

Caminho até o carro que me espera, e assim que me aproximo, percebo o motorista
preocupado.

— O que aconteceu, soldado? — Pergunto parando na sua frente.

— Senhor, estou com um problema com o carro. — Fala rápido, me mostrando estar
nervoso.

Olho para meu relógio e vejo as horas, não posso me atrasar, é quase meia-noite.

— Que sporcizia aconteceu? — Falo calmo, pois não posso deixar meu lado impulsivo
sair. Assim como meu avô, André me ensinou, por mais que seja difícil.

— Problema elétrico, Senhor. — Responde tenso.

— Já chamou por outro carro?

— Não, Senhor, eu…

Tudo bem, minha paciência não é tão grande assim.

Pego o soldado, pelo seu pescoço, puxando sua face para perto de mim, e falando bem
devagar, mas bem devagar para que ele entendesse cada palavra que eu pronunciaria.

— Ligue para minha casa. Peça para que tragam meu carro, que está na garagem. E quero
ele aqui em cinco minutos. Se passar disso, considere-se um homem morto.

Solto sua camisa e acerto um tapa leve em seu rosto, repuxando um sorriso.

— O tempo está passando. É bom andar logo. — Falo e o soldado se apressa para fazer o
que acabei de pedir.
Capítulo 10
Assim que passei pelas portas do clube Botticelli, fui envolvida pela melodia dançante, as
luzes coloridas rodavam no teto, enquanto algumas ragazzas dançavam em palcos
cuidadosamente espalhados. Havia ragazzas no pole dance, outras apenas dançando, não tinha
homens ali, apenas ragazzas, as que dançavam e algumas da organização, que Alessa e Kiara
convidaram.

— Que horas são? — Maria pergunta com um sorriso, ela e Fiorella são sorellas de Luigi,
mas Maria é filha bastarda e por isso ainda não conhece o fratello.

— 23:30, temos meia hora para beber, dançar e depois a festa realmente começará. —
Alessa fala, me puxando para o bar.

— 4 Negrone e 2 sucos de laranja. — Kiara pede ao barman, já que ela ainda está
amamentando e Mirelle está grávida.

— Eu não bebo. — Fiorella fala tímida.

— Hoje vai e vai por mim, as docinhas são as piores. — Maria diz com um sorriso, me
fazendo lembrar quando ela estava com Mirelle após o casamento dela.

— Ao meu último dia, como prometida daquele retardado mentale. — Digo levantando o
copo e elas fazem o mesmo, logo virando de uma vez.
Três doses de Negrone e alguns minutos de dança depois eu já estava me sentindo
diferente. O sorriso estava estampado em meu rosto, um sorriso feliz, alegre, mas não sentia isso
por dentro, na verdade, era como se ali eu estivesse terminando de matar algo que eu sonhei a
vida toda.

— Vem, está na hora. — Alessa me puxa do meio do salão.

Ela me leva até o palco, onde eu subo sozinha, olho para um relógio enorme, que foi
colocado no alto, redondo de madeira, desses que batem audivelmente as badaladas, e contaria
conosco as dozes badaladas que encerrariam esse ciclo. Lá embaixo, minhas sorellas e amigas
têm um copo na mão, para brindar comigo. Parece até que estou vivenciando uma virada do ano
fora de época.

— CINCO, QUATRO, TRÊS, DOIS, UM… MEIA-NOITEEEE. — Elas gritam e nesse


momento soa o primeiro badalar, mostrando ser meia-noite.

A música fica mais baixa e vários homens seminus saem das cortinas, me deixando
surpresa. Na segunda badalada, eles se aproximam de mim e começam a dançar na minha frente
de forma sensual. Olho para Alessa e Kiara, que piscam como se dissessem para eu escolher um
deles.

Na sétima badalada, eles se afastam e fica apenas um na minha frente, na oitava ele
segura na minha cintura, na hora eu percebo que ele vai me beijar, na décima sua mão toca meu
rosto, na décima primeira sinto meu coração disparar. Está chegando ao fim, sim, ele se
aproxima, e quando estou perto de saber como é beijar alguém depois de anos, escuto um tiro.
Todos olham para a entrada do clube, onde vejo Luigi, depois de todo esse tempo. E assim, com
o seu tiro, ouço a décima segunda badalada do relógio.

— Tire as mãos dela, se tem amor à vida, meu caro. — Fala calmo, mas consigo sentir a
tensão em sua voz.

— Ah, fala sério. — Alessa responde indignada, recebendo um olhar fulminante de


Luigi.

O dançarino me solta e se afasta, sinto uma raiva enorme em meu peito. Tanto tempo e
ele aparece agora, não, não, já era.

Luigi vem em minha direção como um leão, passos firmes e rosto fechado, calmo, bruto,
preciso, letal. Nada se parece com o Luigi que eu conhecia, os cabelos outrora medianos loiros,
agora estão curtos. Ele não usa terno como todos da família usam, e sim uma calça preta, camisa
preta e uma jaqueta de couro igualmente preta, deixando sua aparência mais sombria. Em seu
pescoço, mão e em seus dedos, vejo tatuagens, coisa que não tinha antes, e quatro anéis em cada
mão, um em cada dedo, menos no dedão. Além da barba, que não nego, caiu bem.
O conjunto compõe uma obra que, se eu não odiasse tanto, poderia admirar.

Atrás dele, entraram alguns soldados e Romeo logo aparece, no seu rosto eu via
preocupação.

Acompanhei seus passos sem desviar meus olhos dos seus, mantendo a minha cabeça
erguida, como se aquilo não me abalasse em nada. Por mais que dentro de mim, sinta uma
mistura de ódio e algum outro sentimento que me faz ficar com a garganta ardida, não vou me
submeter a ele, ou a esse teatro patético.

Luigi é bem mais alto que eu, na realidade, agora assim de pé, vejo que chego em seus
ombros, pois a bota que uso é de salto e nem assim igualamos nossa altura.

— Oi, Raggio di Sole. — Diz com a voz de ira, me fazendo lembrar aquele maledetto
apelido.

— O que faz aqui? — Pergunto em tom frio, como se aquilo não me importasse, por mais
que faça meu coração acelerar.

— Vim buscar o que é meu. — Sem desviar meus olhos dos seus, puxo o colar de meu
pescoço com raiva e bato com ele em seu peito.

— Está aqui, pode levar. — Ele repuxa o sorriso, segura a minha mão em seu peito com
força.

— Eu vim buscar a dona dele.

— Não! — Digo firme e tento puxar minha mão, mas ele segura.

Vejo minhas sorellas tentarem chegar até mim, mas os soldados entram na frente,
deixando o clima tenso.

— Diga a elas, para não se envolverem. Não vou impedir meus soldados de contê-las da
forma que for preciso.

Olho para elas e nego com a cabeça, pedindo que parem. Sei muito bem que a contenção
feita por um soldado pode deixar a pessoa hospitalizada, com ossos quebrados, pois eles são
treinados para proteger seu chefe e no caso, fariam isso.

— Você não tem o direito de estar aqui. Acabou o prazo, Luigi, nosso compromisso não
existe mais. — Digo e ele morde o lábio inferior, me encarando.

— Quem disse que acabou, Raggio Di Sole? Eu cheguei à Itália antes da meia-noite.
Então, cheguei dentro do prazo. — Fala como se estivesse debochando de mim.

Piso em seu pé com meu salto, fazendo-o me soltar, seus olhos agora queimam de raiva e
eu sorrio, pois sei estar doendo.

— Isso não importa, acabou. Eu sou livre e não existe mais nada entre nós. — Jogo o
colar no chão e faço menção de me virar em direção às minhas sorellas, mas ele me pega pelo
braço com força.

— Não acabou, só acaba se eu deixar que acabe e não vou deixar.

— Me solta, seu retardado mentale, idiota.

Peço, porém, ele sorri, desce do palco me levando pelo braço, passo por minhas sorellas e
minhas amigas e nego com a cabeça, pedindo para elas não se envolverem. Eu sabia o que
poderia acontecer com elas, sabia que estavam degraus abaixo de Luigi, o único que poderia falar
algo ou contestar seria o próprio Don, e nesse momento eu sentia a raiva de Luigi e não queria
que outra pessoa fosse atingida.

Eu fui treinada para ser a moglie dele, e sabia como agir nesses momentos e confrontá-lo,
em um lugar público, com várias pessoas importantes para mim, que poderiam ser alvo de sua
raiva, não é a decisão mais esperta.

— Peguem todos os aparelhos telefônicos, não quero ninguém se comunicando, e


tranquem todos aqui até segunda ordem. — Luigi fala a um soldado e eu paro no local puxando
meu braço.

— Você não pode fazer isso. — Ele aperta meu braço, olhando firme em meu rosto.

— Posso e vou, ninguém ali dentro vai falar com alguém lá fora. Vamos conversar e
resolver algumas coisas, Raggio di Sole, e só depois eu libero para eles saírem.

— Você não manda no clube. — Digo e ele sorri.

— Eu comprei esse clube há alguns dias, no momento que soube da sua festinha. Vamos
logo. — Ele comprou o clube? Não posso acreditar.

— Mirelle está grávida. Ela não pode ficar aqui. — Penso em minha amiga e olho para
trás, vendo Maria abraçada a ela.

Luigi olha para Mirelle, mas não vejo compaixão, seu olhar é frio e depois se vira para o
mesmo soldado.

— Dê à grávida o que ela precisar. — Se vira para minhas sorellas que o olham com
raiva. — Divirtam-se, meninas! As bebidas são por conta da casa, os quartos estão à disposição e
nem pensem em ligar esses rastreadores que eu sei terem, pois quando comprei esse lugar, pedi
para colocar bloqueador de sinal. — Ele sorri. — Um específico para bloquear sinal de
rastreador.

— Maledetto. — Digo e ele sorri.

— Vamos.

Saio quase arrastada, levada pelo braço até um carro, onde ele me coloca dentro e dá a
volta entrando. Percebo ser o mesmo carro onde demos nosso primeiro beijo, onde eu tive meu
primeiro orgasmo e onde eu fui iludida.
Luigi liga o carro, acionando as trancas. Olho para fora, pelo vidro, e vejo a quantidade
de soldados no local. Minha raiva aumenta e seguro com força meus dedos, contando até 10
mentalmente.

Escuto o toque do meu celular no momento que Luigi vira a esquina, pego o aparelho e
vejo ser Victor, atendo sabendo que ele deve saber de algo, claro que sabe.

— Oi? — Vejo o olhar de Luigi para mim.

— Aconteceu algo?

— Não, eu estou bene.

— Giulia, não minta para mim.

— Não estou mentindo, Victor…

Mal falo o nome do Victor, Luigi pega o celular da minha mão e joga pelo vidro do seu
lado. O encaro com raiva, e ele trava o maxilar.

— Por que fez isso? — Digo furiosa.

— Porque eu quis. — Responde sem nem me olhar.

Poderia gritar, xingar, bater boca, mas sabia que só iria me desgastar, então volto meu
olhar para o vidro, suspiro fundo, fazendo o que fui treinada para fazer. Não uma moglie troféu,
mas sim uma que sabe a hora de agir, e agora não é a melhor hora.
Capítulo 11
Eu queria voltar antes, mas meu avô não permitiu. Treinei muito, aprendi muitas coisas e
nem todas foram fáceis ou sequer gostei de aprender. Na verdade, agora percebo o que meu pai
me ensinou durante toda a minha vida, foi como ser submisso, seu empregado, pronto para
obedecê-lo. Enquanto o Don passava a mão em minha cabeça, para que eu não sofresse pela falta
de minha mãe, me protegendo do meu pai o quanto pode.

Realmente, a mão firme de que eu precisava não era a mão que me batia e me humilhava,
nem a que me dava tudo que eu queria, sem esforço. Era a mão que me dava a faca e o caminho,
se fizesse correto, eu ganhava, se não, tinha de refazer até ganhar.

Romeo me informou da festa de despedida de noivado, que as sorellas de Giulia estavam


fazendo para ela. Quando soube, a raiva tomou conta de mim, ela estava comemorando o fim do
nosso compromisso. Mas eu não ia deixar que acabasse, e com isso consegui chegar a tempo em
Tivoli. Assim que botei os pés nessa cidade, segui para o clube e a encontrei nos braços de outro,
exatamente como eu me lembrava de tê-la visto na última vez. Foi como reviver aquele
momento, o que, na verdade, nunca esqueci.

Mas o que me deixou com mais raiva foi Victor ligar. Agradeço a Dio por ela não falar
nada naquele momento, pois estou quase explodindo. Ainda me lembro da última vez que vi
aquele maledetto, e por muito eu tive de controlar a minha raiva, eu sei que tudo que ele fez foi
de propósito, como se esfregasse na minha cara o que eu tentava esquecer.

LEMBRANÇAS APÓS A REUNIÃO COM O PAKHAN NA RÚSSIA.


Depois que Matheo conversou e resolveu os trâmites com Dastian, meu primo pediu para
levá-los a uma boate, que raramente frequento. Frequento é uma palavra muito forte, já que não
sou tão fiel a esse lugar, nem sempre gosto de beber entre barulho e pessoas, prefiro estar
sozinho em casa, olhando para algumas fotos que Romeo me envia. A última é de Giulia
recebendo o presente que enviei, que ela acredita ter sido o Romeo quem comprou. Um fuzil As
Val, que soube como ela gostou do presente, me deixando mais alegre.

Tento não prestar atenção em Victor, enquanto ele se agarra a uma ruiva na minha
frente. Nesses três anos, nossos encontros foram poucos, e em todos, Victor faz algo que me
lembra o motivo de ter quase o matado.

Uma loira se esfrega em mim, buscando por atenção, coisa que não dou a nenhuma
delas, por mais que tentem, eu não vejo graça. São fáceis e vulgares, com o corpo quase todo à
mostra. Não é isso que eu quero. A loira me beija de surpresa e eu fico nervoso, por esse motivo
prefiro beber em casa, assim não preciso lidar com puttanas que não entendem que se não estou
dando bola é porque não estou a fim. A empurro com força no sofá.

— Não te dei autorização para tocar em mim. — Falo com a voz fria, sem sentimentos
nenhum por ela, e vejo a mulher se encolher.

— Não gostou da loira, Luigi? Acho que as ruivas são melhores. — Victor fala em
deboche, agarrando a mulher que agora beijava seu pescoço.

— Se vai transar, faça isso nos quartos privativos e não aqui. — Digo irritado, pegando
o copo de uísque da mesa e virando de uma vez só.

Victor se levanta, passando a mão na bunda da ruiva, e eu aperto o copo com vontade de
fazer isso em seu pescoço, mas me controlo, não posso arrumar confusão para meu primo e meu
avô. Uma das coisas que ele me ensinou é esperar o momento certo, e juro por Dio, que quando
o momento de quebrar a cara do Victor chegar, vou fazer com muito gosto.

Olho para Matheo, Consigliere do Don e meu futuro Consigliere, fomos criados juntos
como fratellos, mas esses anos afastados e as coisas que aconteceram me fizeram mudar um
pouco, inclusive por não poder contar nada, os motivos de me manter aqui, a ninguém da Itália.

— Quer falar algo? — Pergunta e eu faço sinal para a loira sair de perto.

— Estou bem.

— Não parece, é o terceiro copo que vira dessa forma. — Me indaga.

— Não suporto o Victor, apenas isso. — Encosto no encosto do sofá e peço outro copo
ao garçom que está passando.

— Ele é o filho do subchefe e assim como eu prezo por uma boa relação de trabalho e
convivência com você, sem discussões ou maus entendimentos, você deveria fazer o mesmo com
ele. — Me aconselha.

— Eu não desejo a sua moglie. — Digo bebendo o copo assim que o garçom o entrega e
peço outro.

Matheo me encara, levando as mãos ao queixo, cruzando os dedos e olhando meus


movimentos. Ele abre um sorriso e balança a cabeça em negação.

— Você tem Giulia como sua, mas não quer retornar! Não entendo esse seu pensamento.

— Ela foi prometida a mim, e isso já lhe faz minha. — Digo olhando para a luz do teto.

— Então por que continua aqui, invés de estar casado e ao lado dela?

— Tenho os meus motivos. — Sempre é isso que digo.

O celular de Matheo toca, ele levanta o dedo em sinal para que eu espere. Enquanto ele
conversa, eu presto atenção. Ele desliga e eu o encaro com os olhos atentos.

— O que aconteceu, para o Don ligar? — Pergunto.

— Vou ser direto com você, pois estávamos falando sobre isso agora. O Don ligou
informando, que você tem o prazo de três meses para retornar e cumprir com seu compromisso
de casamento, do contrário, ele será cancelado.

— O quê? — Digo, batendo a mão na mesa e o encarando nos olhos. — Não, ele não
pode fazer isso, esse acordo tem muito tempo e...

— Você foi avisado há três meses. — Nem espera eu terminar de falar.

— O que aconteceu para ele mudar de ideia assim? Que eu saiba, ele quer esse
casamento tanto quanto… Ele o quer há muito tempo. — Digo com o coração acelerado, sim, eu
a quero, a quero e nunca em nenhum minuto longe lhe esqueci ou deixei de sentir o que sinto por
ela.

— Giulia recebeu uma foto sua. Com uma mulher em seu colo há alguns minutos e foi
esse o motivo.

Victor… tenho certeza de que foi esse maledetto. Me levanto com a raiva fervendo dentro
de mim.

— Luigi, vamos conversar e...

— Não tente proteger seu amigo, sei que não posso matar aquele maledetto, ainda mais
em terras russas. Prometi à mãe dele que não o mataria, mesmo me arrependendo todo santo
dia. — Digo a mais pura verdade, por mim já teria arrancado a sua cabeça, pois tudo o que ele
faz ou fez até hoje é pedindo sua morte. Eu tenho provado a mim mesmo que estou conseguindo
controlar a minha paciência, coisa que antes não conseguia muito bem, porém, quando ela
acabar, não vai sobrar nada de Victor para contar história.

— A última vez que você bateu nele, Victor quase morreu. — Matheo diz e eu sorrio, me
lembrando.
— Ele sabe o que fez, ele sabe muito bem. — Digo com raiva.

Matheo me acompanha até o segundo andar, onde possui quartos privados, e em um


chute eu abro a porta, onde um dos soldados de meu primo informou que Victor estava. Invado o
quarto, pegando Victor pelado de cima da cama e o jogando no chão com um soco, pisando em
sua garganta com força o suficiente para ele ficar vermelho, asfixiando na mesma hora. Como
eu queria quebrar aquele pescoço.

— Maledetto, só não te mato porque estou nas terras do meu avô e não quero trazer
problemas para cá, do contrário ia adorar meter uma bala na sua cara. — Victor sorri e eu fico
com ódio.

— Mentira, não me mata, porque é um homem honrado e deu sua palavra à minha mãe.
— Diz, me causando ainda mais raiva.

— Maledetto, deveria ter lhe matado aquele dia. — Falo apertando ainda mais o pé no
pescoço dele.

— Ela viu a foto, tenho certeza de que seu compromisso com Giulia vai acabar em breve.
— Victor diz com dificuldade e com raiva, chuto seu rosto com força, voltando a pisar em sua
garganta.

— Só vai acabar quando eu deixar que acabe. Até lá, cuidado com os dedos, posso
arrancar um deles como aviso. Parece que já se esqueceu da nossa conversa civilizada. — Falo
olhando em seus olhos, tirando o pé e me virando para Matheo. — É melhor você partir logo,
antes que eu mude de ideia e você leve uma cabeça em um saco, para entregar ao Alessandro.

Victor se levanta tossindo, mas sorri, sinto meu sangue ferver, ele estava debochando de
mim, maledetto, já estava na porta, mas ao ver o sorriso no rosto de Victor, volto furioso e dou
um soco na cara dele, derrubando-o no chão outra vez. Chuto seu saco com força, fazendo
Victor ter ânsia e se encurvar de dor.

— Desista da minha mulher, Victor. Seu pai não vai poder te proteger para sempre se
continuar por esse caminho. Eu não posso te matar, mas nada impede de você morrer
acidentalmente em uma esquina, como um verme traidor. — Digo com raiva.

Saio em passos firmes com a cabeça pulsando. Preciso voltar, preciso que meu avô
permita que eu volte, para a minha moglie.

FIM DA LEMBRANÇA.

Pelo canto do olho, eu a observo, como pode estar como um short desse e um top, no frio
de final de ano de Tivoli, a temperatura está quase (8 °C), tudo bem que dentro do clube o
ambiente é climatizado, mas aqui fora não.

— Está com frio? — Pergunto, deixando um pouco minha raiva de lado.

— Não, estou bene.

— Se quiser, tem uma jaqueta mais quente no banco de trás.


— Para onde está me levando? — Pergunta sem me olhar, desviando do que eu estava
falando.

— Para nossa casa. — Digo e ela se vira, agora curiosa.

— O quê? Como assim nossa casa?

— Exatamente isso que você ouviu.

Digo, no momento em que chego no portão de ferro, dois soldados abrem, permitindo a
entrada. Ela olha curiosa, prestando atenção no trajeto até a escadaria da casa onde paro o carro.
Mesmo da Rússia, deixei tudo pronto para quando eu voltasse, e apenas hoje pedi para alguns
soldados fazerem a guarda, pois até esse momento, ninguém sabia dos meus planos.

Abro a porta e dou a volta, circulando o carro. Quando vou abrir a do seu lado, ela abre
sozinha, saindo na minha frente, em passos firmes e decididos, indo em direção à porta da
entrada, abrindo sem me esperar e parando na sala de estar.

— Estou aqui, diga o que quer falar comigo e me deixe livre de vez. — Fala firme, nada
parecido com aquela ragazza de 3 anos atrás. Meiga e delicada que eu conhecia.

— Não vou deixar você livre, Giulia. É minha prometida, e vai se casar comigo. — Digo,
fechando a porta.

— Não, eu não vou. — Sorrio e me aproximo dela, segurando seu queixo, erguendo-o
para olhar em seus lindos olhos azuis.

— Não tem essa de não. — Respondo firme e ela me empurra, se afastando.

— Não é justo. Eu te esperei todo esse tempo e você nem sequer ligou para mim, ou deu
um sinal de vida. Me abandonou dias antes de firmarmos o compromisso. — Fala, passando a
língua nos lábios e balançando a cabeça, volto a me aproximar devagar, não quero ela distante,
preciso conversar olhando em seus olhos.

— Agora estou de volta, e vamos nos casar. — Paro na sua frente.

— Não. Eu não quero mais você, já te esqueci. — Fala com tanta raiva que sinto seu
desprezo na voz.

— Giulia, eu não me importo de que você não tenha me esperado, que tenha entregado a
outro o que era meu. Não vamos tocar nesse assunto e deixar no passado. Vamos pensar no
agora, daqui para frente. — Ela me olha surpresa, acredito que não imaginava que eu já sabia.
Mas tomei essa decisão depois de pensar muito.

— O quê? Como assim? — Pergunta e eu decido dizer o que sei, assim falaremos com
mais clareza.

— Eu não me importo que você não seja mais virgem e... — Paro de falar com o tapa
forte que levo no rosto, tão forte que corta minha pele e eu vejo ser o anel que ela usa.
— Se eu não sou mais virgem, nem preciso estar aqui, afinal, você tem de se casar com
uma virgem pura. — Fala com raiva e passa por mim, indo em direção à porta.

— Aonde você vai? — Seguro seu braço.

— Embora. Me solta. — Puxa o braço, mas seguro forte, a mantendo no lugar.

— Você não entendeu, Giulia. Eu vou me casar com você, virgem ou não. Você é minha,
sempre foi e assim vai continuar sendo. Não me importo que tenha de esconder esse seu deslize,
esse erro que você cometeu, pois você é, e sempre vai ser, a minha prometida e não vou permitir
que outro tenha mais do que é meu. — Aviso com um tom firme, para que ela entenda que não
tem outra opção.

— EU NÃO QUERO MAIS ESSE COMPROMISSO, ME SOLTA, ME DEIXA IR


EMBORA, LUIGI. EU TE ODEIO, ODEIO. — Grita, tentando me empurrar e se desvencilhar
de mim, perdendo totalmente a calma que antes demonstrava.

— Pare com isso, já está decidido e não tem volta. Você é minha e não há nada que você
faça que vá mudar isso.

Ela sorri e chuta, acertando uma joelhada em meu saco, me fazendo soltar seu braço com
tamanha dor.

— Eu não sou sua. — Fala com raiva, virando de costas e indo para a porta.

A seguro pela cintura, ainda sentindo a dor que faz meu pau latejar.

— Você é sim. — Digo com raiva, pela dor que estou sentindo.

Jogo-a em minhas costas e a levo escada acima, mesmo ouvindo seus gritos histéricos de
como ela me odeia, de que quer se ver livre de mim. Mas eu não vou deixar isso acontecer.

Entro no quarto a lançando na cama, trancando a porta logo em seguida. Ela me olha com
raiva, mas apenas isso, não vejo outra emoção ali.

— Você vai dormir aqui, amanhã vamos direto para o conselho e vamos nos casar. Já
passou tempo demais para isso acontecer. — Digo, tirando a jaqueta e largando na cadeira ao
lado, assim como faço com minha camisa e logo depois ligo o aquecimento do quarto.

Ela me olha com atenção, percebo correr os olhos em meu peitoral antes de olhar para o
meu rosto e fingir, de uma forma descarada, que não gostou do que estava vendo.

— Você não pode me obrigar a isso. — Fala agora, demonstrando mágoa.

— Assim que o sol aparecer, Raggio di Sole, vamos nos casar. Aí eu deixo suas sorellas
saírem do clube, direto para a celebração. Não precisa de festa, afinal, você já comemorou.

Me aproximo dela, pegando sua mão, ela me fuzila com o olhar. Por saber que sim, vou
obrigá-la a se casar comigo. E para me precaver de qualquer coisa que ela tente até o amanhecer,
coloco uma algema em seu pulso e a outra no meu, nos algemando, um ao outro.
— Que merda é essa, Luigi? — Pergunta irritada enquanto me deito na cama, a levando
comigo.

— Não quero ter o trabalho de sair procurando por você logo de manhã. Assim que eu
acordar, vamos terminar com isso e você vai ser a minha moglie. Durma, pois vamos acordar
bem cedo, Raggio di Sole.

Abraço por trás, juntando seu corpo no meu, ela tenta me acertar uma cotovelada, porém
seguro seu braço. Forçando o meu corpo no seu, sentindo seu cheiro que não sai do meu nariz e a
quentura do seu corpo. É inevitável não desejá-la mais do que desejei por todo esse tempo. Mas
com toda a raiva que ela está de mim agora, por atrapalhar seus planos e toda sua festinha, nem
posso tentar nada.

— Durma, Raggio di Sole. — Sussurro, passando o nariz em sua nuca e a vejo se


arrepiar.
Capítulo 12
Raiva, eu estava cheia, repleta, preenchida, de tanta raiva dentro de mim. Depois de tanto
tempo, ele aparece como se não fosse nada, e simplesmente me prende nessa casa, nesse quarto,
com minhas sorellas e amigas presas no clube. Não, isso não vai ficar assim, e como eu disse,
aprendi muito bem a hora de agir e a hora é essa.

Devagar, tiro um grampo de cabelo e começo a mexer cuidadosamente na algema,


enquanto presto atenção na respiração de Luigi. Ele me aperta e esfrega o nariz hora ou outra em
meu cabelo, me arrepiando, porém, me concentro no que estou fazendo, até a algema se abrir e
eu sorrir vitoriosa.

Sempre fui a melhor das minhas sorellas em abrir algemas e andar em passos leves. Para
uma boa sicária isso é importante. E eu aprendi muito bem.

Com cuidado, tiro seu braço de cima de mim e me viro, olho para seu rosto. Não posso
negar que o maledetto está ainda mais lindo do que antes, além dos músculos tão definidos, a
tatuagem que agora tem em seu peitoral, típica dos russos, e essa barba rala, fazem uma
combinação tão atraente. Desço os olhos para o V da sua calça e engulo seco. Não, não, ele é um
maledetto que me abandonou sem motivos e agora vem com essa de eu não ser mais virgem, me
comparando a uma puttana, como se eu não respeitasse o nosso compromisso.

Algemo sua mão na cabeceira da cama, essas de madeira com grades redondas. Levanto-
me devagar e penso em como sair dali e uma ideia vem à minha cabeça, mas não ia deixar tão
fácil para ele.

Pego a faca que fica na sola da minha bota, sou uma sicária, mesmo que tenha treinado
tiro à distância, eu fiz todo o treinamento com minhas sorellas também. Não ando desarmada e,
principalmente, sei ser leve como uma pluma.

Passo a faca suavemente na sua calça, a rasgando desde o tornozelo até o cós, abrindo de
um lado ao outro e assim que ele se levantar, ela vai cair direto para o chão, me dando tempo de
sair daqui.

Pego sua jaqueta, pois vejo pela varanda onde o sol está nascendo que começou a chover,
e provavelmente deve estar uns 3 °C agora. Abro a porta e saio de fininho, sou recebida pelo frio
que me faz tremer no primeiro momento. Desço as escadas e saio direto pela porta da frente,
encontrando o carro dele. O tão lindo e precioso carro, que me devolve a lembrança do nosso
primeiro beijo, que está parado no mesmo lugar.

Não espero, entro de uma vez e faço ligação direta, ligando o carro e acelerando, uma,
duas, três vezes para ter certeza de que ele acordou e ouviu o ronco do motor. Giro o volante
com raiva e saio com tudo em direção ao portão fechado. Os soldados que ali estão correm para
o outro lado no momento em que percebem que não vou parar.

Bato o carro, com força, no portão, abrindo e passando por cima, arrastando um deles por
alguns metros e logo depois partindo em alta velocidade. Eu poderia até me casar com ele, mas
Luigi vai saber que não será fácil, como ele disse.

— Acho que vai ter de me procurar logo pela manhã, Luigi Esposito. — Digo, olhando
pelo retrovisor com um sorriso.

Acordo com o som do motor, quando abro os olhos, percebo que Giulia não está ao meu
lado, e que meu pulso está algemado à cabeceira da cama.
— Maledetta. — Puxo com força, quebrando a madeira no momento que escuto o
terceiro som do acelerador do meu carro, seu motor, os pneus que saem cantando ou gritando.

Me levanto e minha calça vai ao chão, fico pasmo com a habilidade dela e com sua cara
de pau. Vou para a varanda abrindo de uma vez, vendo o momento exato em que ela derruba o
portão da nossa casa e sai arrastando uma parte com meu carro.

O sol está nascendo entre os pingos de chuva, e não consigo evitar a risada baixa que sai
de mim, ao perceber que terei de fazer exatamente o que disse que não faria.

Desço correndo as escadas, apenas de cueca box preta, atravesso as portas com raiva da
minha situação, não vou deixar que ela fuja, muito menos que vá até o Don, dizer que cheguei
depois do prazo. Por mais que não adiante muito, pois tenho os soldados para dizer que estava
aqui antes.

— Vamos atrás dela. — Digo a um dos soldados que aparece com o carro.

Entro do lado do passageiro e ele sai correndo, logo atrás vem mais dois carros. Tento
não pensar que estou de cueca, num frio do cacete, perseguindo essa mulher.

— Pisa na sporcizia desse acelerador. — Vocifero ao soldado, começando a sentir o frio


da manhã que entra pelo vidro. — Inferno.

Quando estamos perto de terminar a pequena distância entre ela e nosso carro, vejo a
maledetta colocar a mão para fora e me mostrar o dedo do meio. Como se estivesse esperando
por nós, em um movimento brusco, ela freia e gira o volante, mudando a direção, fazendo meu
soldado passar reto.

— EEEEEIIII, FANCULO. — Bato a mão no painel do carro. — Atrás dela.

Ele gira o volante fazendo meia volta para começar a persegui-la outra vez, e vejo o
momento em que ela invade o cemitério municipal de Tivoli, atravessando os portões de ferro,
outra vez com o meu carro.

— Dio mio, ela vai acabar com meu carro. — Digo, levando a mão ao rosto e escuto o
soldado segurar o riso. — Se rir, morre.

— Sim, senhor.

Atravesso o que sobrou dos portões atrás daquela maledetta que está tirando toda a minha
paz. Ela segue em linha reta, em alta velocidade, em direção ao muro de pedra e agora meu
coração dispara. Será que ela seria capaz de acabar com a própria vida?

Vejo o momento exato em que ela pula, caindo no chão, rolando e o carro vai com tudo
na parede, destruindo o que sobrou dele. Mas nesse momento o carro é o de menos, o que me
preocupa é ela ali, no chão frio, chuvoso.

O soldado para o carro, eu desço correndo, recebendo a chuva em meu corpo desnudo.
Me ajoelho no chão, segurando-a com cuidado, vendo suas pernas raladas, assim como os braços
e a bochecha, a raiva se mistura com o medo.
— Por que você fez isso? Por que tentou se matar? — Pergunto, a pegando no colo.

— Eu não tentei me matar, seu idiota. Não sou burra para tentar contra a minha vida, só
queria destruir seu carro. — Responde baixo.

— Por quê? Me diga.

— Porque eu te odeio, odeio o que aquele carro significava e te odeio ainda mais. — Meu
peito se aperta.

— Giulia, não fale assim. — Peço e ela sorri, mas logo fecha os olhos, desmaiando.
Capítulo 13
Sentado na cadeira do hospital, espero ela acordar. Tive de ligar para o Senhor Telesca,
informando que a filha dele sofreu um acidente. Claro que ouvir a minha voz e dizer que estava
no hospital com Giulia não deve ter sido muito bom, pois ele não me respondeu. Apenas
desligou na minha cara.

Avisei também Roman e Matheo, e tive de informar que sua moglie estava presa no clube
quando ele me perguntou, como, onde e quando peguei Giulia. Esse foi outro que desligou na
minha cara.

Sinto que falhei, outra vez. Que meti os pés pelas mãos novamente e isso me irrita.

A porta do quarto se abre de uma vez, me dando a visão do Senhor Telesca com a moglie
dele ao lado. Ele me olha de cima embaixo e eu me levanto. Deixando que me veja, de cueca
com um sobretudo que peguei de um soldado e a algema em meu pulso. Essa não era a primeira
imagem que gostaria de passar depois de anos longe.

— O que fez com ela? — Senhora Laíz, mãe de Giulia, pergunta se aproximando da
cama onde ela ainda está desacordada.

— Eu não fiz nada, Senhora.

— Então ela veio para cá, sozinha? — Agora ela me pergunta com raiva.

— Ela roubou meu carro, e jogou ele em uma parede. — Respondo, porém, seu olhar
ainda é de raiva.
— Vai me dizer o que aconteceu, e o porquê ela fez isso, Luigi Esposito? — Senhor
Telesca se pronuncia, ainda me olhando com firmeza.

Eu não sou doido de dizer que brigamos, muito menos dizer da minha desconfiança da
sua virgindade. O que ontem ela deixou quase claro, que é realmente verdade. Afinal, seria dizer
isso e perder a mulher que sempre foi a dona do meu coração.

Mesmo enquanto eu a odiava.

— Cheguei no momento da festinha desonrosa que ela estava fazendo. A levei para nossa
casa e comuniquei que vamos nos casar hoje.

— O quê? Como assim hoje? — Pergunta abismado.

— Exatamente isso. Eu voltei e quero que esse casamento saia o mais rápido possível.

— Não é assim não, meu ragazzo. Vou falar com o Don. Minha filha não vai se casar
como uma fugitiva. — Diz fechando a porta e terminando de entrar no quarto.

— É exatamente assim que ela parece. Pois comuniquei que nos casaríamos hoje de
manhã e olha para ela. — Aponto para a cama. — Fugiu e eu não vou deixar que ela faça isso
novamente.

— Onde estão minhas filhas? Elas não deixariam a sorella sair assim. — Senhora Laiz
pergunta.

— No clube, as deixei lá para que não atrapalhassem a minha conversa com Giulia.

— Como assim, no clube? — Senhor Telesca.

— Exatamente assim. Elas passaram a noite no clube, da mesma forma que já passariam.
Mas com bebidas por conta da casa. Nesse momento Matheo já deve ter ido lá e liberado a saída
delas.

O silêncio predomina, juntamente com o olhar de morte que recebo de ambos os pais
dela. Me sinto intimidado, e o pior é que percebo que o olhar da mãe de Giulia é igual ao dela,
deve ter aprendido com a mãe ser assim.

Giulia resmunga, e geme um pouco, antes de abrir os olhos, ela sorri ao ver a mãe, mas
fecha o rosto quando seus olhos me veem.

— O que faz aqui? — Pergunta olhando fixamente em mim.

— Cumprindo com o meu dever. Cuidando da minha moglie.

— Eu não sou sua moglie, não quero mais esse compromisso. — Diz com raiva.

— E eu já disse que não tem escolha, vamos nos casar. — Respondo.

Antes de ela ou alguém dizer algo, o médico entra com as pranchetas na mão. Ele olha
em volta e engole seco, afinal aqui todos sabem quem eu sou e quem os Telescas são.

— Buongiorno. — Diz e se aproxima. — Vejo que acordou, que bom. — Fala para
Giulia.

— Como ela está doutor? — Pergunto antes de todos.

— Pelos exames ela sofreu apenas alguns ferimentos leves. O desmaio foi por conta de
uma pancada na cabeça, mas nada grave. Ela estará de alta em algumas horas.

— Obrigado. — Agradeço e ele sai.

— Vou conversar com o Don, e vamos resolver isso. — Senhor Telesca anuncia e meu
peito dispara.

— Não tem o que resolver. Ela foi prometida a mim e como não tem ferimentos graves,
vamos sair daqui direto para o conselho. Assinamos os documentos e pronto. Não precisa de
festa, ela já teve a festinha dela. — Digo ríspido, porém educado como meu avô André Karev me
ensinou.

— Sai daqui. — Giulia pede.

— Vamos conversar melhor, Giulia. — Digo e me aproximo, mas o pai dela entra na
minha frente.

— Ela pediu para você sair, você sai. Respeite esse momento dela. — Senhor Telesca
fala com o peito estufado me encarando.

Aperto meus dentes, e tento não fazer mais nenhuma merda.

— Va bene.

Saio e assim que fecho a porta respiro fundo.


Capítulo 14
No momento da raiva, eu fiz algo que não deveria fazer. Meu plano era apenas fugir e
largar o carro em qualquer lugar, mas quando olhei pelo retrovisor e o vi me perseguindo, meio
que quis mostrar a ele que, nesse jogo de quem pode mais, nós dois vamos brincar.

Da lá, toma cá. Simples.

Va bene, poderia ter me matado quando joguei o carro dele na parede, mas para bom
entendedor, meia ação basta. Joguei o carro que outrora nos trouxe prazer e juras de amor na
parede do cemitério onde existe apenas morte.

Agi sem pensar, mas ele me deixa assim. Fui paciente e pensei muito a minha vida toda,
mas quando tem Luigi no meio, parece que tudo vira fumaça e meus sentimentos não me ajudam.
A raiva que eu sentia por todos os eventos, batia em meu coração com tanta força, a raiva por ser
abandonada, por depois ser chamada de desonrada e ele achar que pode me algemar como uma
prisioneira, me fez perder a cabeça.

Eu o odeio, odeio, odeio.

Porém, eu sei o meu dever e não quero que o nome da minha família seja manchado por
ter acabado com o compromisso que existe há mais de vinte anos.

Todos em todo o mundo, praticamente, sabem quem sou e o que me foi prometido, não é
segredo no nosso mundo. Assim como não é segredo para nós quando outras famílias fazem
compromissos de anos, em nome da honra, eu sei minha obrigação e não posso fugir dela. No
aniversário do Don, quando eu completei os 18 anos, o conselho selou nosso compromisso na
frente de todos. Mesmo ele não estando lá, mesmo meu peito doendo ao ponto de faltar o ar. E
durante todo esse tempo eu estive aqui, esperando por ele, enquanto ele comia outras puttanas
por aí.

— Filha, está bene? — Minha mãe pergunta, passando a mão em meu cabelo.

— Dolorida, mas bene. — Repuxo o lábio.

— Quer me contar o que aconteceu? — Meu pai pergunta, se aproximando.

— Não foi nada, eu apenas quis mostrar a Luigi que nem tudo é como ele espera. Que
não sou uma ragazza que vai obedecê-lo. — Papai balança a cabeça sorrindo.

— Só isso? — Pergunta.

— Ele queria que eu ficasse na casa até amanhecer, para nos casarmos. Assim, evitaria
dele me procurar. Bom, ele teve de me procurar e não vamos nos casar de manhã. — Digo,
abrindo mais ainda o sorriso.

— Se você quiser, falo com o Don e encerramos o compromisso. Ele chegou no clube
depois do horário, posso alegar que o tempo havia acabado. — Seguro em sua mão, sei que meu
pai nunca quis essa união, mas foi necessária.

— Ele chegou antes da meia-noite. Está dentro do prazo do acordo que fiz com o Don, na
festa da organização. Eu só disse aquilo para ele, para o deixar com raiva. — Digo, em um meio
sorriso.

— Acho que está conseguindo. — Mamãe fala.

— Eu aprendi bene como me portar nesse casamento. Não se preocupem comigo, sei
minhas obrigações e vou cumpri-las. Ele não vai relar a mão em mim, pois se fizer isso, será
apenas uma vez.

— Aprendeu todos os chás de sua mãe? — Papai pergunta.

— E outros com a Maria. Ela gosta muito de ler e separou um caderno muito interessante,
de receitas e seus benefícios, de presente para mim.

Eles sorriem, mas o sorriso não chega aos olhos, e eu entendo as razões de ambos.
Entendo seus medos e os motivos de terem me treinado como fui treinada.
Ando pelo corredor de um lado para o outro, descalço, no chão gelado. O Don está vindo,
Matheo me ligou informando, e seu tom de voz não era nada bom. Ele está com raiva de mim
por ter mantido presa a sua moglie no clube.

Roman me informou que logo virá e vai trazer uma troca de roupa para mim. Nessas
horas, ter um fratello com o corpo parecido com o seu ajuda muito na troca de roupa.

Tenho 1.85, Roman 1.90, nossa diferença de altura é pouca, e esses anos na Rússia me
deram mais músculos, deixei de ser apenas o ragazzo alto, para ser o homem formado que
sempre deveria ter sido.

Pelo canto do olho, vejo Matheo se aproximar com o Don Leonel, meu nono está sério,
não sei se está feliz por me ver, já que a minha impressão não é a das melhores.

— Don. — Digo, assim que ele para em minha frente.

— Que ideia foi essa de prender as ragazzas no clube, Luigi? Prendeu suas sorellas,
prendeu Fiorella. Ela nunca havia ido a um clube na vida! — Diz com raiva, me olhando de cima
para baixo, vendo o meu estado nessa sporcizia de frio.

— Queria falar com Giulia a sós, sem ninguém para nos interromper. Elas já iriam passar
a noite lá, pelo que fiquei sabendo. Então, não mudou em nada os planos delas. — Me justifico
da melhor forma que posso.

— Mesmo assim, e se algo tivesse acontecido? Se alguma delas passasse mal? Fiquei
sabendo que havia uma gestante entre elas. — Respiro fundo antes de falar.
— Por esse motivo, deixei soldados na guarda, além de deixar ordens de que se alguém
precisasse de algo, ou se a gestante precisasse de algo, melhor dizendo, era para eles ajudarem.
Não fiz sem pensar, Don. Eu pensei e por isso o clube estava com bastante bebida, não apenas
alcoólica, como água e sucos, além das camas limpas para uma boa noite de sono e comidas
variadas com uma cozinheira disponível. Tudo limpo e desinfectado.

— Como assim, preparou o clube? — Matheo se pronuncia.

— Eu comprei o clube há alguns dias, quando soube da festa que as sorellas de Giulia
estavam organizando. Os fratellos Botticelli ainda cuidam do local, mas ele é meu, desde o dia
em que eles aceitaram a festa de despedida de noivado. — Digo e percebo um leve sorriso do
Don, ao perceber que nada foi de modo impulsivo. Errado, talvez, mas foi pensado em cada
detalhe.

— Va bene, mas por que Giulia está aqui? Está ferida? — O Don pergunta.

— Porque ela roubou meu carro e se jogou em uma parede, além de me algemar na cama.
— Digo e ambos olham para mim bem devagar.

— O que estavam fazendo? — Matheo pergunta.

— Dormindo, acredite. Depois que tirei minha noiva da festa, fui para nossa casa, a qual
comprei há alguns dias também. Expliquei que íamos nos casar hoje de manhã, e ela fez isso
enquanto eu dormia.

— Não vou perguntar da casa, pois pelo visto está alguns passos na minha frente. Mas
por que se casar assim? Com tanta pressa? — O Don pergunta dessa vez, aparentando mais
calmo.

— Porque já demoramos tempo demais. Quero me casar logo e seguir em frente com
meus compromissos perante a família. — O vejo sorrir, agora mais animado.

O Don sempre quis esse casamento, por isso, eu sei que ele está alegre com a minha
volta.

— O certo é fazer o casamento, em uma grande festa. Você é o futuro Don, todos têm de
estar aqui e prestigiar esse momento. — Matheo anuncia.

— O casamento no religioso pode demorar mais. Mas no civil, perante o conselho, pode
ser feito hoje mesmo. — Digo olhando para meu nono.

— Por que assim, Luigi? O que mudou para querer se casar dessa forma, já que se negava
a voltar? — O Don pergunta.

— Nada mudou, Don. Eu tinha meus compromissos com a família de meu pai.
Compromissos esses que apenas eu poderia cumprir. Mas Giulia é minha prometida, e ainda é a
mulher que eu escolhi. O senhor, como Don, sabe que o que acontece dentro da família fica
dentro da família, então peço que não me pergunte os motivos de ficar longe, na Rússia, todo
esse tempo, pois esses motivos cabem apenas a mim.
— Va bene. Matheo, Luigi casado, posso me abster de ser o Don, passando a ele o cargo,
sem o conselho se intrometer. Você sabe, eles adoram meter o dedo onde não são chamados. —
Fico ansioso, com o que meu nono diz, não esperava ser o Don tão cedo.

— Como assim, abster? Não sabia que o Don já estava querendo se abster do cargo.

— Há muita coisa que não sabe, Luigi. Desde que foi para a Rússia, muita coisa
aconteceu, mas assim como você não quis me contar sobre seus motivos de ficar por lá e eu
respeitei, eu decidi não contar o que se passava aqui. Agora que está de volta, será informado de
tudo e de todos os acordos ainda firmados. Todos têm de ser cumpridos.

— Va bene, mas sobre Giulia?

— Vou falar com Telesca e comunicar que haverá o casamento civil e depois o religioso
quando você já estiver no poder. Depois irei ao conselho pedir que se reúnam. Antes de
anoitecer, já estará tudo pronto. — Sorrio.

— Ótimo.

— Luigi, não me faça me arrepender dessa decisão. Giulia esperou por você, por muito
tempo. — Concordo devagar, mas o esperar dela não foi o mesmo que pensei que seria.

Vejo o Don se distanciar ao lado de Matheo e logo entrar no quarto onde Giulia está.
Suspiro aliviado, pois de hoje não passa, e logo ela será a minha moglie. Levanto os olhos,
olhando para frente do corredor, vendo Roman, com uma mochila nas costas.

Assim que se aproxima de mim, joga a mochila que pego no ar e me abraça, batendo em
minhas costas.

— Olha quem voltou. — Fala com um sorriso fraco, como sempre.

— Sentiu minha falta?

— Nenhum pouco. Mas já estou sabendo que anda fazendo muita coisa em apenas um dia
em Tivoli. — Coloca a mão em meu ombro, me guiando pelo corredor.

— Ah, é, quem contou?

— Um passarinho.

— Hum, passarinho fofoqueiro. — Digo e ele sorri.

— Sim, e muito. Mas agora se veste, pois você deve estar congelando. E depois vamos
ver nosso pai que está internado aqui. — Travo no lugar.

— Como assim? Você não me disse nada.

— Foi há poucos dias, Maria atirou nele, por pouco não morreu. Acho que nem a morte o
quer. Mas está se recuperando, saiu do coma induzido e está no quarto. — Concordo devagar,
pelo visto não fiquei sabendo de muita coisa também. Afinal, a única notícia que eu recebia de
Tivoli constantemente era sobre o que Giulia fazia. Pois era Romeo, me informava e o que me
importava.

Vou até o banheiro masculino, me visto, e sigo Roman até o quarto onde nosso pai está
dormindo. Vejo os aparelhos ligados nele, informando seu estado. Ele não se mexe, está
dormindo, porém, o olhando assim parece morto. Pode até ser errado, mas não sinto nada,
olhando para ele assim.

— O que os médicos disseram? — Pergunto sem entrar no quarto.

— O tiro acertou o peito, passou perto do coração. Ele teve uma grande hemorragia, além
de algumas paradas cardíacas, mas eles reverteram o caso. Agora está assim, seu estado vem
melhorando aos poucos. — Ele fala sem ânimo, Roman sempre fala assim de nosso pai e eu o
entendo.

Não sei ao certo como foi a criação de meu fratello enquanto eu morava com o Don, após
a morte de minha mãe. Mas raramente o via sorrir, ainda mais na presença de nosso pai. Roman
sempre se manteve sério, atento a tudo, como se precisasse sempre estar de vigia.

Porém, seu rosto mostra uma felicidade que não conheço nele, bom, não conhecia.
Percebi que algo mudou em meu fratello nesse tempo que fiquei longe, até nas ligações que, hora
ou outra, fazia, percebi que ele estava mais leve. Até pensei em uma mulher, mas logo foi
descartado quando ele me disse que não tinha nenhum envolvimento com a mesma mulher, mais
de uma vez. Foi Roman que me contou sobre Maria, nossa sorella que acabou de se casar com
Matheo. Pelo visto, muita coisa aconteceu aqui em Tivoli, enquanto eu estava fora.

— Vou falar com Giulia. Sabe o quarto onde ela está? Depois passe lá, se não for
demorar aqui. — Digo e ele repuxa o lábio.

— Minha presença aqui é apenas para saber o estado do nosso pai. Depois que o médico
me informar, vou lá.

— Vou me casar a noite. Apenas no conselho, espero por você. — Ele sorri e olha para
nosso pai antes de responder.

— Estarei lá.

Volto pelo corredor em passos lentos, passei muito tempo tentando odiar Giulia, mas não
consegui. Porém, pelo visto, ela conseguiu me odiar.

Paro na porta do quarto com a mão no trinco, quando escuto uma voz que reconheço
bem, fazendo a raiva percorrer todo o meu sangue.
Capítulo 15
MINUTOS ANTES…

A porta se abre e o Don entra junto do Consigliere. Recebo um cumprimento silencioso


em sinal de respeito e logo depois o Don caminha até meu pai.

— Como ela está? — Pergunta com o tom da voz leve, como se um peso fosse tirado de
suas costas.

Acredito que esse peso se chama Luigi.

— Bene. — Papai responde.

— Telesca, vim comunicar que estou indo até o conselho para avisar que o casamento
civil será realizado ao anoitecer. O religioso, vamos preparar com mais tempo depois. — Meu
peito dispara.

— Por quê? — Papai pergunta enquanto aperta os punhos. — Depois de anos longe,
Luigi volta e quer se casar do dia para a noite. Não é justo com a minha família, não é justo com
minha filha.

— Telesca… — O Don fala e se cala por alguns segundos. — Preciso que Luigi se case
logo, não é apenas por ele e por mim também. Não posso mais ser o Don por muito tempo.
Minha condição está piorando, os lapsos de memória estão cada vez mais frequentes. Não posso
arriscar ter um lapso desse, na frente de um amigo ou inimigo. Demonstra fraqueza e os fracos
são abatidos e seus reinos levados. — Papai fica sério olhando para o Don. — É o que a família
precisa, e como Don, a família sempre vem na frente, e você sabe disso.
Sei dos problemas de saúde que ele enfrenta, isso não foi escondido de mim, afinal, serei
família e meu pai sempre esteve ao lado do Don, principalmente quando ele descobriu sobre o
Alzheimer.

— Va bene, Don. — Papai responde cabisbaixo, mas sabe que a máfia vem em primeiro
lugar.

— Espero vocês no conselho ao anoitecer.

O Don diz com um sorriso no rosto e sai do quarto, no momento em que Alessa entra, nos
olhando curiosa.

— O que eu perdi? — Pergunta, se aproximando de mim.

— Já te conto. — Respondo.

— Alessa, filha, fique com Giulia. Eu vou com seu pai preparar um vestido para o
casamento. Ela pode se casar às pressas, mas se casará como uma noiva deve parecer. — Mamãe
fala, se afastando e indo até meu pai.

— Vai me contar tudo. — Alessa pega em minha mão.

— Logo estamos de volta, filha. Romeo deve estar na porta fazendo sua guarda. —
Repuxo o sorriso, Romeo já era um grande amigo antes, mas depois que virou meu soldado de
guarda, se tornou quase um fratello.

Vejo meus pais saírem e logo Alessa se senta na cama, devagar conto tudo a ela, que hora
ou outra ria, ou ficava nervosa com Luigi. A parte da desconfiança de eu não ser mais virgem,
me machucou. Me ofender daquela forma foi ofender a minha família, a minha honra.

Quando termino de contar, Alessa me entrega o colar que ganhei de Luigi.

— Achei que ia querer de volta. Estava no chão.

— Obrigada, esse colar é o que me faz lembrar todos os dias os motivos de odiá-lo. —
Digo e ela balança a cabeça, negando.

— Você pode até tentar, mas durante todos esses anos você nunca esqueceu seu noivo.

— Alessa. — Digo quando ela faz uma cara feia e corre para o banheiro.

Escuto-a passar mal, e colocar tudo para fora. Alguns minutos depois ela para na porta do
banheiro e me olha com o olhar cansado.

— Eu bebi demais ontem. Já que era por conta da casa, eu quis dar prejuízo para aquele
retardado mentale. — Diz e eu começo a rir.

A porta se abre por Romeo, que deixa Victor entrar. Ele me olha com atenção, vendo os
machucados e então se aproxima de mim. Romeo fecha a porta e entra junto, como sempre, 10
passos de distância. Regras de Luigi.
Alessa fica branca outra vez, e eu percebo que ela não está bene.

— Romeo, ajude Alessa. Ela vai pôr os bofes para fora hoje.

Mal digo e minha sorella corre de novo para o vaso, se jogando no chão com a porta
aberta. Romeo vai até lá, entra e fecha a porta, dando um pouco de privacidade a ela, nesse
momento constrangedor.

Alessa é ótima no trabalho, tem muita disciplina. Mas às vezes peca na bebida e isso ela
precisa melhorar.

— Como está? — Victor pergunta, se aproximando.

— Bene.

— Não parece. O que ele fez com você, Giulia? Mal apareceu e já quase te mata.

— A culpa foi minha, queria mostrar que não será tão fácil assim para ele no nosso
casamento. Talvez eu tenha sido um pouco imprudente, não pensei que me machucaria ao cair,
mas estava em alta velocidade.

— Ainda dá tempo de cancelar esse compromisso de vocês. Se você quiser, posso te


ajudar, é só pedir. — Diz, se aproximando mais do que deveria, ao ficar ao lado da cama.

— Vou me casar daqui a algumas horas no civil, Victor. — Digo firme, pois sei que
Victor sente algo por mim, porém ele sempre soube do meu compromisso com Luigi e eu sempre
deixei claro que não desonraria ele. Mesmo Luigi achando que sim, Victor, para mim, é apenas
um amigo.

— Por que assim, com tanta pressa?

— É necessário. Depois mais para frente, nos casaremos na igreja.

— Giulia, você pode ir comigo para New York. Luigi só tem poder na Itália e na Rússia.
Em New York, os novos sócios do meu pai podem nos ajudar. Só você dizer que sim, que vai
comigo, que eu dou um jeito.

— É traição. Não posso fazer isso e nem você, estaria se condenando à morte. Victor, eu
gosto de você e...

De forma abrupta, a porta se abre e Luigi entra, agora em um terno completo preto. Ele
olha fixamente para Victor e consigo sentir a sua raiva. Victor arruma o corpo, ficando ereto.

— O que faz aqui, Victor? — Pergunta sem demonstrar sentimentos, frio.

— Vim ver Giulia e saber o que aconteceu para ela estar no hospital. — Victor responde
e Luigi se aproxima, ficando na frente dele.

— O que acontece com a minha moglie, não cabe a você.


— Ela não é sua moglie. — Victor retruca e posso ver a veia do pescoço de Luigi pulsar,
porém ele mantém a calma.

— Isso, vamos resolver mais tarde. Mas agora ela é minha prometida. E eu não quero
você aqui. Saia.

— Giulia é minha amiga e... — E o controle se vai.

Luigi segura no pescoço de Victor com força e vocifera bem devagar, em um tom de voz
que me arrepia toda.

— Eu não perguntei, mandei você sair e você sai. Sem falar uma palavra. — Diz
apertando o pescoço de Victor, que começa a ficar vermelho.

— Vai me matar na frente dela? Ah, esqueci, você é um homem de palavra. — Victor
fala, me deixando confusa.

Luigi sorri, um sorriso que não mostra os dentes, um sorriso cruel. Aperta mais o pescoço
de Victor, que começa a tossir, seus olhos ficam vermelhos e ele fica nas pontas dos pés.

— Luigi, você vai matar ele. — Digo e recebo um olhar tão frio, como o que ele estava
dando a Victor.

— E você se importa? — Pergunta e eu não consigo responder.

Eu sabia que, se respondesse qualquer coisa que não fosse o que Luigi esperava, poderia
condenar Victor à morte. Victor é meu amigo, mas nesse exato momento foi um idiota.

Roman entra no quarto e para na porta ao ver a cena que está se desenrolando na minha
frente, porém seu olhar desvia de Luigi para a porta do banheiro que se abre e Alessa sai com os
cabelos molhados, pálida, segurando em Romeo.

— Romeo, tire Victor do hospital. Antes que eu o deixe aqui por um tempo considerável.
E depois quero falar com você, Romeo, por deixar a minha moglie sozinha. — Luigi fala,
empurrando Victor para o lado de Roman, que ainda se mantém calado. Enquanto olha para
Romeo, que fica sério.

— Sim, senhor. — Ele solta minha sorella que se apoia na parede.

— Romeo foi ajudar minha sorella, ela não estava bem. — Digo já sabendo o motivo da
conversa deles.

— O trabalho dele é você e não suas sorellas. Roman, ajude Alessa. Leve-a para tomar
um soro, se hidratar, pois pelo visto bebeu a noite toda. — Luigi fala e Alessa sorri.

— Eu queria te dar prejuízo, cunhadinho. — Diz e Roman a segura. Percebo que Alessa
se segura nele de uma forma diferente do que se segurou em Romeo.

— Vai acabar com seu fígado dessa forma, Alessa. — Roman diz a ela de forma fria,
como se estivesse recriminando uma bambina que acabou de fazer arte. Eles se olham de uma
forma intensa, parece que minha sorella não gostou do que ele disse.

— Leve-a daqui. — Luigi manda, me encarando e Roman sai.

Por alguns minutos, Luigi não fala nada, apenas me olha como se estivesse tentando ler
meus pensamentos.

— Então, você gosta do Victor, Raggio di Sole? — Pergunta e eu me sento na cama


devagar.

— Sim, ele é um bom amigo. — Não minto.

Luigi sorri, um sorriso amargo, abaixando a cabeça como se olhar em meus olhos fosse
demais.

— Amigos. Só amigos, não é? — Pergunta, levantando os olhos e me olhando, mas agora


um olhar vazio, frio que me faz engolir seco.

— Só.

— E seu amigo queria fugir com a minha moglie, minha noiva. — Diz sarcástico.

— Victor só queria me ajudar.

— A fugir de mim? A Giulia, acha que eu acredito nisso? Amigos?

— Se acredita ou não, é problema seu. — Respondo irritada com a sua desconfiança.

— Pelo visto, vou ter de ficar ao lado da minha noiva até a hora do casamento. Vai que
ela tenta fugir com o “Amigo”, não é mesmo.

Me levanto com tudo sem me importar com a camisola hospitalar, aquelas palavras,
aquela desconfiança, estavam ferindo o meu orgulho.

— Quer se casar logo, então vamos. Me caso com essa camisola mesmo, não me importo.
— Viro de costas, indo em direção à porta, dando a ele a visão da minha bunda pela fenda do
tecido.

— Mas que sporcizia pensa que está fazendo, querendo sair assim? Não tem vergonha?
— Pergunta, puxando meu braço.

— Não quer se casar? Então, vamos de uma vez. Não passa de um papel para mim
mesmo.

Ele me pega no colo e me põe na cama, depois anda de um lado para o outro, passando a
mão no cabelo, consigo ver a raiva estampada em sua face.

— Você me tira do sério, como pode, em tão pouco tempo? — Se vira para mim,
respirando fundo. — Não saia desse quarto, eu preciso fumar.

Sai batendo a porta, e logo Romeo entra com os olhos arregalados, mostrando estar
surpreso com a forma em que ele saiu do quarto, porém eu apenas me deito e fecho os olhos.
Capítulo 16
— Você não aprende mesmo, não é? — Roman fala nervoso, me levando pelo corredor
do hospital.

— Não é para tanto. — Digo me justificando, e o vejo respirar fundo.

— Você não tem juízo nessa cabeça passarinho. O que já falei com você? Encher a cara
não te leva a lugar nenhum. Nem mesmo em diversão. No final está aí, só passa mal.

— Sabia que você é pior que meu pai? Nossa, como você é chato às vezes. — Ele
suspira, abrindo a porta de um dos quartos.

— Não é sempre que você liga, que eu posso ir. — Fecha a porta e pega o celular
digitando algo. — Deixei claro para você logo de início, não ia passar de nada casual.

— Se é casual, porque você não me deixa ficar com outros, acha que eu não sei que você
afugenta todos de perto de mim? — Digo me soltando e o empurrando.

— Apenas cuido do meu passarinho, ele tem uma mania de se enfiar em problemas. —
Fala batendo o dedo no meio da minha testa.

Fico calada, logo a porta do quarto se abre e vejo o doutor Fernando. Ele me
cumprimenta e depois entrega um frasco para Roman. Doutor Fernando cuidou de mim quando
precisei, mas isso não vou contar agora, vou deixar para depois afinal não temos tempo para essa
história nesse momento.

Roman fecha a porta, trancando-a e me entrega o frasco que sei ser um remédio para
vômito. Bebo de uma vez, abro minha bolsa de mão, e pego minha mini escova e pasta de dente
que não ando sem.

— Como está seu pai? — Pergunto, sei como Karev é ruim, sei o que ele fez para a filha
do Don, como a pobrezinha sofreu nas mãos daquele monstro, assim como minhas sorellas
sabem. Por isso Giulia foi criada e treinada diferente, não apenas para ser a moglie de Luigi, mas
para não abaixar a cabeça.

— Melhorando.

— Como vai ser então?

— Depois que ele sair do hospital e tiver alta, vou começar tudo de novo. Ele não vai se
recuperar do câncer, isso o veneno já fez e não tem volta. Mas Dr. Fernando disse que ele ia ter
uma melhora por conta dos medicamentos e tudo o que dão no hospital, que acaba removendo as
substâncias do organismo.

— Nem o Diavolo quer seu pai, Roman. Eu pensei que até minha sorella se casar, ele já
estaria morto. Mas pelo visto está aí, vivinho. Nem o tiro que Maria deu foi capaz de levá-lo a
morte.

— Talvez, não seja a hora dele ainda, talvez, tenha de sofrer mais, pagar por tudo que fez.

— Sabe que se você me contar, eu posso ajudar a condená-lo pelos crimes. — Digo e
seguro em sua camisa, o dia que isso acontecer meu pai ficará feliz da vida.

— E você sabe que eu não vou trair a minha palavra. — Balanço a cabeça em negação.

— É difícil entender a sua cabeça, quer que ele pague pelos atos desonrosos que cometeu,
mas não pode falar nenhum deles.

— Primeiro… — fala e dá um peteleco em meu nariz. — Não deve desonrar seus pais,
por mais baixos e imundos que eles sejam, se eu disser o que sei, estarei fazendo isso. Segundo,
estou envolvido até o último fio do meu cabelo nas merdas dele, se eu abrir a boca, eu caio junto.

— Você pode pedir por abrigo ao Don. — Digo, ficando nas pontas dos pés.

— Estaria traindo a minha família, passarinho. Não deixa de ser traição.

— Va bene. — Digo, revirando os olhos.

Sigo para o banheiro, escovo meus dentes e quando saio Roman está em pé do lado da
cama hospitalar, com as mãos no bolso me olhando nitidamente.

— O que foi? — Pergunto e ele repuxa um sorriso.

— Eu estava com saudades.

Me aproximo devagar olhando fixamente para sua boca. Desde que o pai dele ficou
internado, não nos vimos mais.
— Eu também.

— Cama ou sofá? — Pergunta de forma tentadora.

— Sabe que eu gosto de sentar. — Digo.

Ele sorri e me pega no colo, sei que tem de ser rápido, mas sempre vale a pena.
Capítulo 17
Mamãe trouxe um vestido longo, branco, de mangas compridas com algumas pedras.
Simples e bonito, Kiara e Alessa ajudaram a arrumar o meu cabelo e me maquiar.

Não foi assim que imaginei meu casamento, mas não posso mudar. Não é de felicidade o
sorriso que se constrói em meus lábios, conforme entro no salão do conselho onde eles me
esperam. Luigi está usando um terno azul-marinho, com seu fratello ao lado, do outro lado,
minhas sorellas, que não esboçam sorriso nenhum.

Na verdade, o clima está mais para um funeral do que a celebração de um casamento


esperado por anos.

Meu buquê é de petúnias, foi mamãe quem fez e esse foi o único momento que me fez
sorrir. Meu pai caminha me segurando firme, sei que no momento em que eu assinar os
documentos, não haverá divórcio, não haverá volta, serei a moglie do futuro Don, e tenho de me
portar como tal.

Mesmo o futuro Don sendo um completo idiota.

Contrariado, meu pai entrega minha mão a Luigi, que repuxa um sorriso vitorioso para
mim. Eu era seu prêmio, mesmo depois de tantos anos longe, ele conseguiu o que queria.

Assim que paro diante do chefe do conselho, onde será celebrada a união civil, vejo os
papéis na minha frente, uma bola se forma em minha garganta. Lembro de um tempo em que
desejei tanto esse casamento, até sonhei com ele, mas hoje, agora, é apenas uma obrigação que
cumpro, para honrar o nome do meu avô.

— Bom, Senhores e Senhoras. — O chefe do conselho começa a falar. — O juramento de


sangue é feito apenas na união religiosa. Como não haverá essa união nesse momento, apenas
terão de assinar os documentos aqui expostos.

— Va bene. Onde assino? — Luigi pergunta com pressa e o chefe do conselho mostra a
ele.

Observo Luigi assinar o papel e depois me entregar a caneta que parece tão pesada. Como
se o mundo rodasse em minha volta, assino o documento. Então, o meu marido, agora, pega
minha mão e coloca uma aliança de ouro. Pego a outra aliança e coloco em seu dedo.

— Estão casados perante o conselho e perante a sociedade. — O chefe do conselho fala


com um sorriso.

Percebo que ele vai me beijar e viro o rosto, fazendo com que beije minha bochecha. Ele
não reclama, mas também eu não conseguiria fazer isso.

— Se despeça de seus pais. Vamos para nossa casa. — Luigi pede de modo gentil, e eu
faço.

Viro-me para meus pais e vejo o olhar de minha mãe, ela segura as lágrimas que não sei
ser de alegria ou de preocupação. Meu pai se mantém sério, como se estivesse em outro mundo,
minhas sorellas caladas. Enquanto me despeço deles, Luigi se despede do Don Leonel, do
Consigliere e do seu fratello.

Não tem volta, agora eu sou a moglie do futuro Don e sei minhas responsabilidades.

O caminho de volta para aquela casa que, hoje mesmo, eu fugi, foi feito em total silêncio.
Me sinto como uma prisioneira, indo direto para sua prisão. Porém, eu sei que não posso me
sentir assim, não posso deixar que esse sentimento ruim fique em meu peito, pois ele me torna
fraca. Só que nesse momento eu estou sendo fraca, pois tudo que um dia sonhei em viver com
Luigi, toda a esperança que, no fundo, ainda mantinha, ruiu, se tornou pó, no instante em que ele
desconfiou de mim. Anos longe e a primeira coisa que conversamos é sobre eu não ter respeitado
nosso compromisso.

Atravessamos os portões de ferro, e sorrio ao ver que são novos e mais fortes. Pelo visto,
ele tem receio de que eu faça o que fiz novamente. O carro para na escadaria e dessa vez não
desço correndo, muito menos com raiva. Espero que Luigi abra a porta e estenda a mão para
mim.

Seguro firme, e saio de cabeça erguida. Seguro o vestido e subo os degraus, um após o
outro, sem falhar e sem olhar para trás.
Paro diante da porta e uma senhora abre, nos recebendo, me surpreendo, pois não vi
nenhum empregado hoje de manhã.

— Seja bem-vinda, Senhora. — Fala de forma cordial.

— Obrigada.

Entro na casa e sigo direto para o nosso quarto, afinal, fugi dele logo cedo.

Abro a porta e vejo a cama, não é a mesma que algemei Luigi, mas uma com cabeceira
estofada azul-celeste, com lençóis brancos e azuis, nos pés um recamier da mesma cor que a
cabeceira.

Eu não havia parado para olhar o quarto quando Luigi me trouxe, na verdade, não olhei
nem a casa, estava com raiva e apenas queria sair daqui. Mas agora eu posso ver como é bonito,
em estilo provençal do século XVI, tão romântico que me faz suspirar, sempre amei esse estilo.

As paredes em tom marfim, o tapete branco como gelo felpudo no chão de madeira
escura. As cortinas brancas com fios dourados que levam à varanda, o lustre dourado com
lâmpadas que parecem velas acima do recamier.

Duas portas de madeira, uma tenho certeza de que leva ao banheiro e a outra que
desconfio que seja um quarto de vestir, como era chamado no século XVIII e não um closet
como é popularmente conhecido, hoje em dia.

Entro e me sento no recamier, e quando levanto a cabeça, vejo Luigi me encarando com
os olhos curiosos. Ele entra e fecha a porta, meu coração dispara. Eu esperei tanto esse momento,
mas agora, não quero.

— Gostou? — Pergunta, abrindo tirando o blazer.

— É bonito.

— Sei que você gosta desse estilo. Então, pedi para mobiliar a casa e decorar ao seu
gosto. — Franzo a sobrancelha.

— Como você sabe disso?

— Eu apenas cuido de você. Como sempre cuidei.

Ele se aproxima e eu me levanto de uma vez.

— Preciso ir ao banheiro.

Sigo para a porta do lado direito, a qual é o banheiro mesmo, então a da esquerda é o
closet, quarto de vestir, não sei, depois vejo como vou chamar.

Entro e tranco a porta, escorando nela e respirando fundo, de olhos fechados, mas quando
abro sou surpreendida com uma visão dos sonhos. O banheiro todo é branco, com uma banheira
enorme, um box de vidro, a prateleira com plantinhas decorativas, o gabinete da pia tem detalhes
em ouro, um espelho oval que vai até o teto circulado com lâmpadas de todos os lados, além do
lustre principal, que parece pontos de chuva.

— Nossa. — Digo admirada com os detalhes e penso em como ele sabia que era assim, o
que eu sempre quis, como sempre sonhei com a minha casa.

Balanço a cabeça acordando do meu devaneio, deve ter sido sorte.

Me olho no espelho e começo a remover a maquiagem. Dormir assim não faz bem à pele,
e quanto mais eu demorar, maior a chance dele não me esperar e dormir… Ah! Quem eu estou
tentando enganar?

Tiro o vestido, ficando apenas com a camisola branca que estava por baixo. Meu peito
acelera ao abrir a porta e lhe encontrar sentado na cama, sem camisa, olhando em minha direção.

Engulo seco, mas não vai ser assim tão fácil para ele, pois a mágoa ainda está forte em
meu peito. A sua desconfiança dói em mim.

Dou a volta na cama, pego um travesseiro e jogo para ele, que pega sem entender a minha
reação.

— Vou dormir sozinha. — Digo firme.

— O quê? — Pergunta sério.

— Exatamente o que você ouviu. Eu quero dormir, sozinha. — Ele sorri e repuxa o lábio.

— Temos de consumar o casamento, Raggio di Sole.

— Não. — Falo com a cabeça erguida e o coração acelerado.

— Como assim, não?

— Eu não quero. E se você quiser, terá de ser à força, pois não quero suas mãos em mim.
— Digo e ele fica sério. — Você tem duas opções, ou sai do quarto e dorme em outro lugar, ou
dorme no recamier. — Aponto para ele. — Acredito que ele seja macio.

— Está falando sério, Giulia?

— Muito sério. O que você pensou? Que ia voltar depois de anos longe, sem me dar uma
única satisfação, e eu ia correndo abrir minhas pernas para você? Se você pensou isso, está muito
enganado.

Ele me olha firme, percebo como respira fundo. Finjo não me importar, deito-me na cama
e puxo o lençol, me cobrindo.

— Apague a luz quando sair. — Digo.

Ele se afasta e, pelo canto do olho, vejo ele apagar a luz, porém não sai do quarto e se
deita no recamier com os braços cruzados.
Capítulo 18
Olho para o teto, vendo cada imperfeição. Já faz horas que estou assim, não consigo
fechar os olhos, sabendo que ela está tão perto, porém tão longe.

Sua respiração é calma, o que me mostra que o sono a abraçou. Levanto-me e vou até seu
lado. Com cuidado, puxo o lençol quadrado que está debaixo de seu corpo, ela nem percebeu ele
ali, mas eu sim e eu sei o motivo dele.

Pego a faca na gaveta da pequena mesa de cabeceira, fazendo um corte em meu pulso, e
deixando o sangue cair. Manchando o tecido, que logo esfrego com os dedos entre o tecido o
borrando.

Visto minha camisa e desço para o escritório. Não nego que eu pensei que teria seu corpo
essa noite, com cuidado claro, por conta de seus ferimentos, mas a teria para mim. Assim que
abro a porta, Matheo se levanta. Ele foi designado a buscar a prova de virgindade e de que
consumei o casamento.

Entrego a ele o pequeno lençol, que segura e depois olha para mim, repuxando um
sorriso.

— Cumpriu finalmente com sua obrigação. Agora só falta o herdeiro.

— Boa noite, Matheo. Preciso voltar para a minha moglie. — Digo me virando.

— Amanhã, não esqueça de pôr um curativo na ferida, caso ainda sangre, Luigi. — Viro
para ele sem dizer uma palavra, apenas pisco e ele devolve o sorriso.

Matheo cresceu comigo na casa do Don, nos afastamos quando fui para Rússia, mesmo
assim sua amizade é algo que carrego. Não como antes, porém ainda assim, gosto da sua
companhia.

Volto para o quarto, tiro a camisa e a calça, ficando apenas com cueca box branca. Olho
para Giulia e não resisto. Sei que deveria respeitar sua vontade, esse seria um bom passo para
nós. Só que eu sei, se eu me deitar naquele recamier, não vou pregar os olhos de novo.

Devagar, puxo o lençol e me deito, sinto o cheiro gostoso do seu cabelo e a abraço com
cuidado. Ela não estava reclamando dos ferimentos, pois ainda está medicada. Saiu do hospital
direto para o casamento, com isso, eu sei que amanhã, quando acordar, ela pode sentir algum
incômodo. Afinal, ela ralou as pernas, os braços e uma das bochechas.

— Me deixa, cuidar de você, Raggio di Sole. — Sussurro perto de seu ouvido.

Foram tantos anos querendo estar assim com ela, mesmo nos momentos de raiva, quando
Romeo me informava que ela estava em algum lugar com Victor. Em uma loja, no cinema,
alguma festa, ou em uma missão. Victor sempre estava presente, sempre rodeando, como uma
praga, um verme, rato. Só que como um amigo, e isso não podia proibir ela de ter, já que para o
Don, a boa relação entre a família, sempre foi importante, e Giulia mesmo ainda não sendo da
família de modo formal, era considerada assim. Então tinha de ter uma convivência com os
outros membros.

Meu erro, foi não ter matado Victor logo da primeira vez, por mais que hoje eu sinta
vergonha do ato desonroso que fiz, entrar no tatame com um verme que mal sabia dar um soco.

Eu recebia fotos e relatórios semanais. Por muitas vezes eu quis voltar, quis contar a
Giulia que não podia voltar, devido ao meu avô, mas eu sabia que, se fizesse isso, estaria
cometendo traição à minha família russa.

Ser neto de duas máfias não é fácil, por mais que sejam aliadas, elas nunca revelam seus
segredos uma à outra e no meu caso, tive de escolher me calar para ajudar meu avô, até Dastian
poder assumir o trono russo.

Passo o dedo em seu braço, fazendo um carinho. E fecho meus olhos, dormindo com um
sorriso no rosto, pois estava com ela, ao seu lado.

Já faz alguns minutos que estou acordado, porém, continuo com os olhos fechados,
aproveitando esse momento. Sinto Giulia acordar e devagar se virar para mim, mantenho minha
respiração calma e leve. Sua mão toca meu cabelo, que outrora era mais comprido, só que agora
não. Ela parece estar parada, me analisando minuciosamente. Seus dedos passam devagar,
explorando os fios, aguento o máximo que consigo, até não resistir mais.
— Vai me algemar como na noite anterior? — Brinco abrindo os olhos e vendo seu olhar
de surpresa.

Ela tenta se afastar de mim, como se tivesse tomado um choque, mas a seguro firme no
mesmo lugar. A prendendo contra o meu corpo.

— Me solta, Luigi. — Pede e eu engulo seco.

— Eu não vou te soltar nunca mais, Raggio di Sole.

— Me solta. — Empurra com os braços no meu peito, mas eu a puxo agora colando o que
faltava de seu corpo no meu, segurando a sua cabeça.

— Nunca.

Com a mão em sua nuca, a puxo para um beijo, sentindo seus lábios nos meus como há
muito tempo eu ansiava para ter outra vez. Ela tenta negar, mas eu peço passagem com minha
língua, enquanto esfrego o dedo em sua nuca, fazendo o carinho que eu sei que ela gosta. Ela
sede, permite que eu busque pela sua língua e eu faço.

Chupo-a com vontade e me lembro de cada movimento do nosso antigo beijo, não mudou
nada, ela ainda está tensa e parece não saber o que fazer direito no início, mas logo ganha um
ritmo gostoso. Mordo seu lábio inferior, enquanto meus dedos continuam ali, na sua nuca,
massageando conforme seus lábios grudam nos meus.

Passo a mão em sua cintura e desço, apertando sua bunda. Não evito gemer, eu estava
ansiando por esse momento. Porém, quando adentro minha mão na calcinha, para sentir a sua
pele, para sentir a mulher que tanto desejo. Ela me morde com força, me fazendo soltá-la e ela
aproveita para se afastar, levantando-se e ficando em pé, ao lado da cama.

— Eu disse para me soltar. — Fala ofegante, com as bochechas vermelhas.

Toco minha boca, sentindo o gosto de sangue, que logo mancha meus dedos. Respiro
fundo, mantendo a calma, não quero falar ou fazer alguma merda, estragando esse momento.

Ela vira para ir em direção ao banheiro, mas a perna falha, fazendo gemer de dor. Rápido,
eu giro sobre a cama para segurar seu corpo, porém ela estica o braço para não permitir meu
toque.

— Estou bene, não preciso da sua ajuda. — Diz ríspida.

— Você vai começar a sentir dor, porque está sem os medicamentos do hospital. Me
deixe te ajudar, passar a pomada e trocar os curativos. — Peço de modo gentil.

— Eu posso fazer isso muito bem sozinha. Não é a primeira vez que me machuco.

— Giulia, você sabia que é cientificamente comprovado que os ruivos aguentam menos
dor? — Apenas digo em forma de aviso, porém ela me olha com um olhar mortal.

— Para a sua informação, eu aguento muito bene a dor. Fui treinada para suportar, então
não me venha com essa história para tentar usar a seu favor. Eu sei cuidar de mim. — Diz
nervosa e eu me afasto, ficando em pé ao lado da cama.

Percebo o olhar dela correr em meu corpo e depois voltar para meu rosto.

— Eu só estava querendo ajudar a minha moglie.

— Eu não quero e não preciso da sua ajuda.

Ela arruma o corpo, ficando ereta, e vai em direção ao banheiro. Sei que está sentindo
dor, mas é teimosa demais para me deixar ajudar.
Capítulo 19
Troco os curativos dentro do banheiro, enquanto aquieto meu coração. Não posso deixar
que Luigi faça isso comigo, não depois de todo esse tempo que ele ficou longe de mim.

Não assim, tão fácil. Ele aparece depois de anos e eu dou a ele o que ele quer.

— Você não pode ceder fácil assim, Giulia. Não se esqueça de que ele te abandonou sem
motivos, que desconfia de você, que acha que você não é uma mulher de honra. — Digo a mim
mesma, olhando para o espelho.

Saio do banheiro e suspiro ao ver que estou sozinha. Me troco colocando um vestido
soltinho até o joelho e uma sapatilha confortável.

Procuro em minha mala os remédios que o doutor receitou, pego os comprimidos e desço,
para tomá-los.

Sei que provavelmente meu corpo vai ficar dolorido por alguns dias. Uma semana, talvez,
não é a primeira vez que me machuco e provavelmente não será a última.

Assim que chego na sala de jantar, Luigi está sentado à mesa, lendo um jornal. Percebo o
corte em sua boca, pela mordida e não me arrependo. Mas a imagem dele de cueca, com seu pau
fazendo um belo relevo no tecido, me faz engolir seco.

Mas sou forte e vou resistir a isso. Esperei por muito tempo e agora é a vez dele me
esperar.

Me sento e logo a empregada aparece com o café. Sorrio para ela de modo cordial, pego
um copo de água e tomo os medicamentos.
— Giulia. Essa é Nerina, Agnes indicou para ser nossa governanta. Hoje virão mais
algumas empregadas selecionadas por ela, para você escolher.

— Va bene. — Respondo e repuxo um sorriso para a senhora que aparenta ter uns 45
anos.

— Os soldados da guarda já foram escolhidos. Isso eu fiz pessoalmente, ontem.

— Quero que Romeo continue como meu guarda-costas. — Digo firme e ele me olha
arqueando a sobrancelha.

— Por quê?

— Porque confio nele, além do que ele já faz isso há muito tempo. Não quero outro que
não conheço, andando atrás de mim. — Ele repuxa o lábio em um fino sorriso.

— Va bene. Romeo é consciencioso. Mais algum pedido?

— O jardim. Quero um jardim grande, mamãe mandará as mudas que preciso, além
disso, o jardineiro eu mesma escolho. Não será qualquer um que vai botar a mão nas minhas
flores. — Digo e ele me encara com um olhar estranho.

Claro que minha mãe quer um lindo canteiro de petúnias vermelhas em meu jardim. O de
Kiara já tem. Fora que não é segredo entre os empregados que mamãe enterra as empregadas que
pensam ser espertas e flertam com meu pai ali, no quintal. Flertavam, né? Pois depois de
algumas, as outras ficaram bem-comportadas e mal olham na direção do meu pai.

— Va bene, mas é bom deixar claro ao jardineiro que se ele colocar a mão em outra flor
que não seja a plantada no jardim. A mão é a única coisa que vai sobrar dele. — Não gosto da
forma como ele fala.

— O que você está insinuando, Luigi?

— Não estou insinuando nada, Raggio di Sole. Estou comunicando que você tem de
escolher bem os empregados. Pois os soldados, eu sei e conversei com cada um deles. Se eu
perceber um olhar diferente, uma ação diferente, um respirar diferente do que eu espero deles.
Será a última vez. Então, escolha bem seu jardineiro, para o próprio bene dele.

Luigi fala sério, de uma forma que nunca pensei ouvi-lo falar. Autoritário e frio, tão frio
que faz meus cabelos do corpo se arrepiarem.

— Não se preocupe com isso. Pensei em Rian, fratello de Romeo. Ele ajuda o pai no
jardim de minha mãe.

— Já tem idade?

— Fez 19 há poucos meses. É jovem, mas tem experiência. Além de ser quase da família.

Luigi fecha o jornal, pega a xícara de café, bebendo um gole, se levantando logo em
seguida.
— Va bene, pode ser. Agora preciso sair para falar com Matheo, ele mandou uma
mensagem dizendo que precisa se reunir comigo. Talvez volte tarde.

Ele se aproxima e, quando faz menção de beijar a minha boca, viro o rosto. Luigi respira
fundo e então beija a minha testa, sinto meu estômago rodar de emoção. Falo para mim mesma,
em pensamento, que já o esqueci e que esse casamento será apenas para cumprir com meu dever
perante a família. Porém, ainda magoada com o passado, com suas ofensas e desconfianças,
ainda assim sinto meu coração bater mais rápido, principalmente depois do beijo que parece
ainda estar com o gosto em minha boca.
Capítulo 20
Olho para a quantidade de papéis em cima da mesa de Matheo, enquanto ele me olha com
as duas mãos apoiando o queixo e um sorriso idiota.

— Então, por onde quer que eu comece? — Pergunto.

— Primeiro, quero falar com você algo muito importante, cunhadinho.

— Você é um idiota, Matheo. Roman já me contou sobre Maria. — Respondo pegando


uma pasta.

— Roman estraga minhas brincadeiras. Bom, se você já sabe sobre a minha moglie, não
preciso mais lhe contar nada.

— Depois e eu preciso conversar com ela também, quero conhecer a minha sorella.
Roman me disse que ela tem o temperamento forte. — Matheo sorri concordando.

— Bom, mas não é esse o assunto que quero falar agora, e sim sobre o Don. — Fecho a
pasta e o encaro.

— Diga de uma vez.

— O Don tem Alzheimer. Há dois anos, ele começou a apresentar alguns sintomas que
foram confirmados. Às vezes, ele esquece os rostos e volta ao passado. As crises vêm se
tornando mais frequentes, com isso ele nunca fica sozinho. Quando não sou eu, o Senhor Telesca
ou a Dona Agnes, está com ele.
— Como assim? E eu não fui informado desse quadro por qual motivo? — Pergunto
irritado.

— Porque você foi embora sem avisar e tanto o Don quanto eu sabíamos que, para você
fazer isso, algo de importante aconteceu. O Don pediu o seu retorno e você negou todas às vezes,
até pedi autorização para contar sobre o seu estado de saúde, mas não foi permitido.

— Eu tinha meus motivos. — Respondo o de sempre.

— Eu sei. Mas isso não importa mais. Você já voltou e se casou. Agora precisamos dar
andamento para que assuma a cadeira da família. Se o conselho descobrir a doença do Don, vão
criar empecilhos nos acordos firmados anteriormente.

— Tem algum problema nos acordos?

— Não, nenhum foi feito sozinho e em nenhum deles o Don teve uma crise, mas não
podemos arriscar. Esses documentos aqui você vai ler, analisar e memorizar cada linha. Vamos
começar isso hoje, e depois quando tudo já estiver de acordo, é a hora de você assumir.

— Va bene, eu entendo essa parte.

Digo, voltando a abrir o documento, afinal, foi dessa mesma forma que eu ajudei Dastian
a se preparar para ser o Pakhan. A diferença é que meu avô André me queria lá para treinar, além
de ajudar meu primo.

Minhas costas doíam, e meus olhos ardiam no momento em que decidi que já bastava
pelo dia. Foi uma manhã, uma tarde e já estava noite quando finalmente Matheo concordou que
bastava.

Também aproveitei para ver minha sorella Maria, ela não me pareceu muito feliz com a
notícia de sermos fratellos. Pelo visto, ela é amiga de Giulia e não gosta muito de mim.

Chego em casa já passando das dez da noite, subo as escadas e entro no quarto, abrindo
minha camisa, exausto, destruído. Porém, sorri ao ver minha moglie dormindo enrolada na
coberta.

Sigo para o banho e me lavo por um bom tempo, deixando a água morna aliviar meus
músculos. Na verdade, estou tenso com a ideia de assumir a Itália. Cresci sabendo meu destino,
mas não o via com tanta clareza como vejo agora.

Saio enrolado em uma toalha e visto apenas uma cueca novamente. Puxo a coberta e me
deito com cuidado, abraçando Giulia e sentindo o cheiro do seu cabelo.

— Boa noite, Raggio di Sole. — Sussurro em seu ouvido e ela respira fundo, me
mostrando estar acordada. — Sei que está acordada.

Digo e passo a mão devagar em sua barriga.

— Pare com isso, senão vai dormir em outro quarto. — Sorrio e beijo seu pescoço.

— Não há nada nesse mundo, que me tire dessa cama, do seu lado. — Ela se afasta e eu
puxo, prendendo-a nos meus braços.

Giulia me acerta uma cotovelada e tenta se afastar, mas coloco minhas pernas em cima
das suas, mesmo com as costelas doendo pelo impacto de seu cotovelo, seguro firme suas mãos e
jogo o peso de meu corpo sobre ela.

— Luigi. — Fala nervosa.

— Calma. Não vou te forçar a nada, apenas quero dormir assim com você. Estou
cansado, revisei vários documentos hoje e eu também sei que você está com dor no corpo. — Ela
se cala e fica quieta no lugar.

— Enquanto eu disser não, você vai respeitar a minha vontade? — Sinto uma tensão ali,
talvez ela tenha receio de que eu descubra, que é verdade, que ela já foi para cama com outro.

Mas o que disse a ela é verdade, eu não me importo. Aconteceu, foi passado, e depois que
ela se entregar a mim, vou mostrar a ela que o que importa mesmo, somos nós dois, nosso
presente e futuro.

— Sim, só vou te tocar dessa forma, quando permitir. Mas saiba que anseio por esse dia,
Raggio di Sole. Anseio como um nômade no deserto, sedento por água.

— Eu não penso em saciar a sua sede agora, Luigi. Por mim, vai ficar na seca, no deserto,
por muito tempo. — Diz e eu beijo seu pescoço outra vez a fazendo se arrepiar.

— Você não vai mais escapar de mim.

Digo e ela não responde, então decido dormir, por mais que ficar assim com ela seja algo
tentador demais. Eu sei que não posso forçar algo.
Capítulo 21
Faz cinco dias que estou revendo e analisando os documentos que Matheo me enviou.
Passo a maior parte do dia em meu escritório, afundado até o pescoço em tantos acordos
firmados, além de números e planilhas, enquanto minha moglie, junto com Dona Agnes e a mãe
do Matheo, preparam a minha cerimônia de posse.

Giulia não deu trégua, posso dormir ao seu lado. Abraçado, ela até deixa, mas nem pensar
em mexer a mão do lugar, eu tentei e levei uma mordida que ficou a marca.

O problema é que eu sei que ela quer, pois me dá todos os sinais de que também me
deseja. Vejo seus olhos analisarem meu corpo todas as noites quando saio do banho, os arrepios
toda vez que toco na sua nuca, ou beijo seu pescoço. Mas não passa disso e eu já estou ficando
louco. Ter ela tão perto de mim e não poder fazer o que eu desejo com tanta vontade parece até
um castigo, uma tortura sem fim.

Viro a página de um dos documentos sobre as entradas e saídas de toda a Itália, todos os
negócios, lícitos e ilícitos, não somos santos. E olhando bem, percebo algo errado. Uma pequena
alteração em um número e uma adição errada que mexeu em todo o resultado da soma.

Abro a gaveta, pego um lápis e papel. Começo a rever os números um a um, entre linhas
e colunas. Até que chego à soma onde o desfalque é de quase € 124.500. Em apenas um dos
estabelecimentos que pagam pela nossa proteção.

Passo a mão no cabelo, não acreditando na merda à minha frente, e começo a rever tudo
com mais atenção, a cada número, a cada soma, a raiva aumenta.
Ligo para Matheo e, sem dizer nada sobre o assunto, pois aprendi que não devo falar
essas coisas pelos aparelhos telefônicos, somente frente a frente, com a voz bem irritada, mando
ele vir até minha casa.

Acendo um cigarro enquanto olho as outras pilhas, alguém está passando a mão nas
finanças da família e não é de hoje.

Menos de 10 minutos depois ele chega, entra e faço sinal para fechar a porta. Assim que
Matheo se senta, mostro o documento.

— Olha isso aqui e me diz se está certo. — Peço agora tentando ter calma.

Matheo olha por um tempo, analisando assim como eu fiz, até que arqueia a sobrancelha
e me olha de forma interrogativa.

— É o que estou pensando? — Pergunta e eu entrego a conta que fiz. Mostrando a ele o
valor do montante de um mês. — Mas que Sporcizia! Como um valor desse passou e não vimos?

— Eis a questão! Mas acredito que, por serem pequenos valores em pontos específicos,
de negócios que rendem montantes razoáveis, passaram despercebidos. Porém, isso não explica o
porquê do contador não ver. — Me sento apagando o cigarro.

— Precisamos investigar.

— Precisamos pegar o contador e arrancar seus dentes, até ele contar onde está a merda
do nosso dinheiro. — Digo com raiva.

— Luigi, só tem um probleminha. Se fizermos isso agora, o Don ainda está no comando e
vai atrasar a sua sucessão. Sabe como o conselho é, e ainda tem aquele ponto que eu falei.
Precisamos resolver isso logo. Assim que você estiver no comando, sendo o novo Don, faremos
isso o mais rápido possível.

Fecho os olhos e massageio a minha têmpora, sei que é verdade além do que vou assumir
daqui a dois dias, então podemos esperar, tenho de ter paciência e agir na hora certa.

— Va bene. Vamos esperar até eu assumir a família, mas o contador vai ser o primeiro da
lista que vou ter uma conversinha. — Digo e aponto para o caderno ao lado.

— Está anotando quem está devendo? — Matheo pergunta e eu sorrio.

— Estou anotando quem vai morrer. E acredite, a lista é bem grande.

— Como assim, Luigi?

— Uma coisa que aprendi na Rússia com meu avô André. Erros não são perdoados.
Dívidas se lavam com sangue, e quem tenta ser maior do que o Don, tem de ser executado. O
Don é um grande homem, não nego isso do meu nono. Mas desde que ele assumiu, não é o
mesmo que quando o pai dele era o Don. Depois que minha nona, moglie dele, faleceu, ele
mudou e, por tudo que vi, li e aprendi esses dias e esses anos, percebo que, se não tiver uma mão
mais enérgica, vamos ser motivo de chacota. Não são apenas números errados, Matheo, mas a
divisão de poder está errada. E quando eu assumir isso, isso vai mudar e cada um vai ficar no seu
devido lugar, quem reclamar já sabe. — Aponto para o caderno.

— Vai para a lista. — Ele fala, repuxando o sorriso.

— Exatamente. Eu tenho de pensar no bene da família.


Capítulo 22
— Eu não acredito nisso. — Alessa fala inconformada enquanto mostro a ela as cores das
toalhas.

— Sim, exatamente isso.

— Ah, não, Giulia! Vocês estão casados há 5 dias e nada! Olha, sério, você tem de
aproveitar, seus machucados já sararam.

— Não vou deixar tão fácil para ele, Alessa. Ele me magoou, me deixou aqui e não deu
notícias por anos. — Ela faz uma cara séria e então pega na minha mão.

— Sabe, sorella, você está apenas se privando de sentir prazer. Você já esperou por anos
e agora está casada, não dá para voltar atrás. Eu te aconselho a usá-lo e depois descartar, é bem
mais fácil e gostoso.

— Como assim? — Ela sorri.

— Deixa ele te chupar, se não quer fazer sexo, va bene, mas tenho certeza de que vai
gostar de ele fazer um oral em você. Depois que estiver satisfeita, vire de costas e vá dormir. No
outro dia, continua firme, com raiva dele. Mas use o marido que você tem, pois não é só ele que
está sendo privado, você também está se privando. Sorella, você já esperou anos por aquele
idiota, agora vai continuar aí, esperando. Se eu fosse você, abriria as pernas, deixava ele me
comer gostoso, e depois fingia que nada aconteceu.

— Alessa. — Falo rindo e ela dá dois tapas de leve na minha mão antes de soltar.

— Nem parece que somos sorellas. — Diz rindo. — Bom, agora eu preciso ir, vou à festa
da virada do ano, me divertir muito e transar muito, e você pense no que eu disse. Quem está
perdendo não é só ele, e sim você.

Me despeço de minha sorella e a vejo partir. Respiro fundo pensando no que ela disse,
talvez fosse verdade. Eu estou me privando de coisas que eu quero saber como é. E talvez, só
talvez na virada do ano, eu poderia permitir. Não ia sair mesmo para canto nenhum, e como
estou casada, o correto é passar com meu marido o último dia do ano, como muitos fazem.

Vou para a cozinha e me dou conta de que mal sei onde achar um copo aqui, já que ela
mais parece ter saído direto de um conto de fadas e em uma semana tive que arrumar a festa mais
importante da máfia. Aprendi muita coisa na última semana, algumas eu até sabia, pois estudei
muito para me tornar a mulher do futuro Don. Agora, depois de Don Leonel estar há anos no
poder, Luigi irá assumir seu lugar de direito. E eu sei que minhas responsabilidades perante a
família serão grandes.

Acho o copo de vidro que tem um fio dourado na boca, deixando-o charmoso e encho de
água. Tudo aqui tem detalhes, alguns em azul, outros turquesa, ou então dourado. Por muito
tempo, eu fiquei admirando os detalhes de cada cômodo da casa. E confesso que estou
apaixonada por ela.

Vou para o quarto tomar um banho, já está tarde e Luigi está trancado no escritório com o
Consigliere há bastante tempo. Como jantei com Alessa, não vou ficar esperando por ele.

Debaixo do chuveiro, sinto as gotas de água caírem em meu corpo, penso no que minha
sorella disse, e me lembro dos toques de Luigi no carro daquela vez. Meu corpo esquenta, aperto
meu seio, sentindo minha respiração pesada. Não vou negar que já me toquei pensando naqueles
momentos, porém, não senti o que senti naquele dia.

Começo a me tocar devagar, buscando pelo prazer. Uma mão apertando o seio e a outra
esfregando meu clitóris. Fecho os olhos buscando por aquelas lembranças.

Mas sou surpreendida com uma mão na minha cintura, me fazendo abrir os olhos e ver
Luigi na minha frente, de roupa e sapatos, debaixo do chuveiro, olhando intensamente para mim.

— Luigi. — Falo baixo, envergonhada por ter sido pega no flagra, na realidade nenhum
homem tinha me visto sem roupa, nem mesmo de biquíni, muito menos nua como estou, e esse
primeiro contato me causa um rubor, que faz meu peito acelerar.

— Deixa eu fazer isso para você, Raggio di Sole. — Pede e eu penso, “Por que não?”
realmente, estou me privando e já fui privada de muitas coisas todos esses anos.

— Então, faça. Me faça sentir prazer nas suas mãos, Luigi. — Mando, e ele engole seco,
me fazendo ver o seu pomo de adão subir e descer.
Tiro a mão da minha boceta e levo à boca dele, que chupa meu dedo olhando em meus
olhos. Quando tiro o dedo de sua boca, ele aperta a minha nuca, me fazendo suspirar. Não sei por
que, quando ele me toca nesse lugar, eu fico mole, e meus cabelos ficam ouriçados.

Luigi me beija, e eu aceito o beijo. Seus lábios tomam os meus devagar, como se
estivesse com receio. Passo a mão em seu rosto e depois seguro em seu pescoço. Só aí ele
aprofunda o beijo, buscando por minha língua e a chupando com vontade.

Sinto sua mão soltar minha cintura e deslizar pela minha pele, lentamente quase me
torturando pelo seu contato, até chegar na minha boceta. Ele afasta a boca da minha, alguns
milímetros e eu sinto-o soltar o ar, no momento em que toca meu clitóris. Abro os olhos, o vendo
com os olhos fechados e um leve sorriso nos lábios.

Ele estava tendo prazer em me tocar, e ver aquilo me deixou mais excitada.

Seu dedo começa a esfregar de uma forma gostosa, mas não quero apenas seu dedo, eu
quero saber como é sua boca.

— Luigi. — Chamo e ele abre os olhos, me fazendo ver como eles estavam brilhando. —
Quero sentir sua boca, não seus dedos. Eu quero que me chupe, bem gostoso. — Digo, olhando
em seus olhos, demonstrando o meu desejo.

Luigi beija meu pescoço, depois meu seio, chupando o bico com os olhos fechados,
seguro em seu cabelo, o empurrando para baixo. Ele beija minha barriga, então se ajoelha no
piso do banheiro, levanta a minha perna, a colocando em seu ombro, e sem dizer nada, passa a
língua de baixo, quase perto do meu ânus, até meu clitóris, que ele chupa no momento que chega
nele.

Quase grito com o susto, mas me seguro.

Apoio a mão em sua cabeça e fecho meus olhos, me entregando aquele momento.
Sentindo sua língua percorrer toda a pele da minha boceta. Como se ele estivesse me degustando.

Não consigo segurar o gemido alto, ao sentir sua língua entrar dentro da minha abertura,
enquanto seu dedo começou a roçar em meu clitóris, movimentos fortes.

— Luigi, Hummm… Isso, continua. — É inevitável chamar por ele, no momento em que
sinto meu corpo em brasa.

Ele levanta os olhos, me encarando, sem para de socar a língua em mim, muito menos
para de esfregar o dedo. Minha respiração oscila, aperto e puxo os fios de seus cabelos. Mordo
meus lábios, segurando o grito que aperta em minha garganta.

— Hummm… — É o único som que me permito fazer, no momento em que sinto o meu
corpo se libertar, me fazendo chegar ao orgasmo.

Luigi continua lambendo, tomando para ele o que acabou de sair de mim, com uma sede
grande demais, olhando em meus olhos. Eu estava sensível, conseguia sentir a sua língua me
invadir e puxar para fora o que estava lá dentro.
Ele se levanta e vem em direção à minha boca, me beija agora de uma forma mais
depravada, com força, pressionando seu corpo no meu. Sinto meu gosto, conforme ele chupa a
minha língua e aperta a minha nuca com uma das mãos. Eu cedo ao beijo e àquele momento
delicioso que estava acontecendo.

Com a outra mão, ele pega a minha, colocando por cima da sua calça molhada, me
fazendo sentir o volume do seu pau, que lateja.

— Me deixa ter você? — Pede sem parar o beijo.

— Não. — Respondo igualmente, apertando seu pau por cima da calça.

Não nego que a vontade de abrir o zíper e tirá-lo para fora, colocar em minha boca e
sentir estava grande dentro de mim.

— Sporcizia, Giulia, então me deixa gozar na sua boca. — Sinto como falar aquilo saiu
de uma forma dolorida, ele ofega a cada palavra.

— Não. — Digo e paro o beijo. — Eu disse a você que não seria fácil, te esperei por
muito tempo, agora você espera.

Falo com o peito acelerado e saio pegando a toalha, me enrolando. Escuto ele dar um
soco na parede, mas não me responde. Acabo abrindo um sorriso satisfeita, com as pernas moles
e o corpo tão leve, como nunca tinha conseguido me deixar antes. Realmente, o toque dele mexe
comigo, ver ele ali ajoelhado, me chupando enquanto me olhava foi incrível e eu estava mesmo
me privando de algo que eu mereço ter.

Fecho a porta do banheiro com ele lá dentro, parado no mesmo lugar, me troco rápido e
me deito na cama, com um sorriso no rosto e algo dentro de mim pulsando, mas não vou ceder
ainda. Demora alguns minutos para ele sair do banheiro. E dessa vez nem a cueca ele veste, me
dando a visão do seu pau pela primeira vez. Tento não esboçar nenhuma reação, contudo, vê-lo
ainda semiereto, o seu tamanho, além da grossura, das veias que fazem ondulações na pele, me
deixa com a garganta seca. “Aquilo não cabe dentro de mim!”

Luigi apenas puxa a coberta e se deita do meu lado, me puxando para perto de seu corpo,
me fazendo sentir seu pau roçar nas minhas costas e nesse momento minha boceta lateja outra
vez. Porém, sou forte, sou muito forte e não vou ceder. Ele cheira meu cabelo como faz todos os
dias, mas não fala nada. Engulo seco e fecho os olhos buscando pelo sono, que agora parece ter
sumido. Sporcizia, ele sabe como me atentar também.
Capítulo 23
Acordo com a sensação de uma mão passando lentamente em meu abdômen. Engulo
seco, sentindo as unhas dela arranharem a minha pele, mantenho os olhos fechados e a deixo
explorar meu corpo.

Sua mão segura firme meu pau, e logo sua mão dá lugar à sua boca que abocanha com
vontade, sendo inevitável não soltar um gemido rouco. Abro os olhos, tendo a visão de seu corpo
inclinado com a bunda do meu lado, a perna dobrada em um V enquanto me chupa com vontade.

Ela passa a língua e desce até as bolas, depois volta a chupar. Aproveito aquela posição e
coloco minha mão entre suas pernas, puxando a calcinha para esfregar seu clitóris.

Ela suspira ao sentir meu dedo ali, desenho seus contornos e logo introduzo a ponta do
meu dedo na sua boceta, sentindo como é apertada, faz tanto tempo que não toco uma mulher,
que tenho receio de a machucar, pois Giulia é pequena, então decido ir com calma, e ficar só no
comecinho da sua boceta quente e molhada. Ela aperta meu pau, dando uma pequena mordida na
cabeça e eu gemo alto.

— Sporcizia, Giulia. — Ela ri e parece até outra Giulia, não há de ontem que tinha o
Diavolo da tentação no corpo e nem há de anos atrás.

Ela não fala nada e continua a me chupar com maestria. Retiro o dedo e começo a
esfregar seu clitóris rápido e com força, indo e voltando acompanhando os gemidos dela, que
começam a ficar mais altos.
Giulia aperta a base do meu pau, sinto que seus dedos não fecham. Ela usa a força junto
com a língua, me deixando louco com aquilo. Seguro seu cabelo enrolado em minha mão, me
perco olhando para ela enquanto esfrego meu dedo em toda a sua boceta, dedilhando seus lábios
internos e beliscando seu clitóris.

— Raggio di Sole, se continuar assim, eu vou gozar na sua boca. — Digo rouco.

Ela não para, pelo contrário, engole de uma vez, me fazendo sentir a sua garganta envolta
de meu pau. Fecho meus olhos e urro alto, quando gozo forte na garganta dela. Ficando até sem
ar de tanto prazer.

Meus dedos ficam melados, me mostrando que ela também gozou, abro os olhos, vendo-a
me olhar e, com um dedo, limpar a boca.

— Queria saber o gosto. — Fala com um sorriso safado.

A puxo pelo cabelo, fazendo com que fique com o rosto na minha frente, tomando sua
boca em um beijo desesperado, esperei tanto tempo por isso. Que agora me sinto em êxtase.

Aperto sua nuca, esfregando os dedos no couro da sua cabeça, ela geme ao sentir.
Enquanto minha língua invade a sua boca, sinto meu próprio gosto.

A giro ficando por cima, aperto seu seio, conforme beijo seus lábios, seguro sua camisola
e começo a tirar. Ela não diz nada, me dando sinal que sim, ela me quer.

Tiro sua camisola, soltando sua boca apenas para passar o tecido, desço beijando seu
pescoço, seus seios, abdômen, seguro em sua calcinha e olho em seus olhos antes de remover
completamente. Recebo apenas uma mordida de lábios que eu entendo como “continue”.

Tiro sua calcinha toda melada, deito meu corpo sobre o seu, beijando-a novamente.
Giulia segura em meu pescoço, passando as unhas devagar, me arrepiando. Pincelo meu pau que
lateja pela sua boceta, louco para ter o que eu desejo há muito tempo, e meu celular toca.

Continuo beijando-a, e a merda do celular tocando. Giulia coloca a mão em meu peito,
me empurrando.

— Deixa tocar. — Digo ainda pincelando meu pau, ansioso para entrar.

— Deve ser importante. — Diz ofegante.

— Depois eu retorno à ligação. — Digo rouco, praguejando mentalmente quem está me


ligando.

— Luigi, você será o futuro Don. Não importa a hora e nem o momento, tem de atender à
ligação. Pode ser algo importante.

Ela fala e eu suspiro com ódio, ela me empurra, me deixando de joelhos e rola, saindo da
cama, pega meu celular na mesa de cabeceira e me joga.

— Vou me trocar, hoje vou passar o dia fora resolvendo algumas coisas da festa de
amanhã. Pode ser o primeiro dia do ano, mas o conselho não espera. — Fala, me fazendo
lembrar da data que o conselho escolheu. Ano novo, Don novo. Chega a ser irônico.

Ela sai rebolando aquela bunda, e eu mordo meus dentes olhando para meu pau, ali na
minha mão.

Pego o celular e retorno à ligação de Dastian, ele atende no segundo toque.

— O que foi? — Pergunto em mau-humor.

— Que isso, primo. Bom dia, e aí já saiu do 5 a 1?

— Vai se ferrar, Dastian. Me ligou para isso?

— Claro que não, mas sabe, eu queria saber. Por todos esses anos, você foi guerreiro.

— Fala o que você quer logo. — Vocifero.

— Nosso avô melhorou, mas não vai conseguir ir à sua cerimônia. A viagem é perigosa
nessa idade para ele, e eu não posso deixá-lo sozinho. Não confio em ninguém, você sabe.

— Va bene, eu entendo.

— Bom, agora preciso ir. Tenha um bom dia.

Ele desliga e eu me sento na cama. Giulia sai do banheiro já vestida em uma calça azul,
blusa branca de renda, e um lenço no pescoço. Linda de cabelo amarrado em um coque.

— Podemos continuar! — Digo na tentativa, ela me olha com atenção e sorri.

— Estou atrasada.

— Giulia. — Chamo e ela vai até a porta, abre e para me olhando, e abrindo um sorriso
safado, logo sai, fechando a porta atrás de si. — Sporcizia de mulher está fazendo de propósito.

Passo o dia relendo e anotando as últimas informações necessárias dos documentos. Meu
almoço e jantar foram servidos no escritório, onde Matheo me acompanhou nos últimos detalhes.

Quando finalmente fechei a última pasta, estava por dentro de tudo sobre a família e por
tudo o que o Don deve saber. Matheo se levanta pegando uma garrafa de Amaro, é a bebida
predileta do meu nono.

— Ainda bebe? — Matheo pergunta.

— Claro. Não é só de vinho e whisky que sobrevivo. — Pego um copo e ele me serve.
— Preparado para amanhã?

— Sempre soube que esse dia iria chegar, Matheo. Agora estou aqui, me preparando para
ele.

— Estarei ao seu lado, como sempre estive com o Don Leonel. Assim como meu pai e
meu nono, estiveram ao lado da família Esposito.

— Você sempre foi o braço direito do meu nono, até mesmo quando era um ragazzo,
perambulando pela casa, enquanto cuidava de Fiorella. — Matheo sorri.

— Sempre tive vocês como família, Luigi. Quando você foi embora sem me contar nada,
eu fiquei com raiva, confesso. — Diz virando o copo.

— Agora você será meu Consigliere, vai saber tudo que deve saber.

— Va bene. Preciso ir, minha moglie está me esperando.

Ele se despede, subo para meu quarto e, quando entro, vejo a minha moglie, Giulia,
dormindo abraçada ao travesseiro.

Sei que o dia de amanhã será um dia difícil e cansativo, então decido deixá-la dormir e
descansar. Mas depois no fim da cerimônia, vamos consumar esse casamento, e não vai ter
telefone que me faça parar.
Capítulo 24
Acordei logo cedo para me preparar, a festa será imensa e agora entendo o motivo da
casa ser tão grande com uma sala enorme. Serão aproximadamente 500 convidados, o alto
escalão e pessoas importantes, associados entre alguns outros chefes de outras Máfias aliadas.

Após aquele momento com Luigi no banheiro, eu fiquei pensando no que Alessa me
disse. Eu estava me privando de ter tudo que poderia. Na verdade, nesses dias, Luigi tem se
mostrado um homem interessado em mim, porém, me respeitando a todo momento. E por mais
que a sua desconfiança tenha me magoado, não posso passar o resto da vida evitando o
inevitável.

Então, decidi aproveitar o que eu tinha, e como foi bom aquele momento. Não nego que
tenho receio, ele é grande, mais do que pensei que seria quando vi na calça e semiereto. Vê-lo
duro, firme na minha mão, me fez aquecer por dentro e ter um pouco de medo, pois me lembro
de Alessa e de como ela ficou nos primeiros dias após se entregar ao seu primeiro.

Me olho no espelho, vendo o vestido de tom dourado com um pouco de transparência.


Ele é solto no corpo, o decote é em formato de coração, de alças largas. Meu cabelo está preso
em um coque alto bagunçado, deixando alguns cachos modelados caídos. A maquiagem realça
meus olhos e na boca um batom claro. É a primeira vez que me visto assim, tão sofisticada, mas
sei o que represento para a família.

Luigi abre a porta do quarto com uma caixa de veludo preta na mão, se aproxima de mim
com um sorriso, parando na minha frente.

— Está linda. — Não escondo o sorriso, na verdade, não quero mais esconder, afinal, até
quando vou rejeitar o que sempre esteve dentro de mim.
— Obrigada.

— Falta apenas uma coisa, para ficar ainda mais linda. Minha Donna.

Ele abre a caixa revelando um colar de ouro branco com pequenas pedras de diamante
que mais parecem flores esculpidas.

— É lindo. — Digo, suspirando.

— Quero que use na festa hoje. — Pede e eu retiro o colar que ele me deu anos atrás do
meu pescoço, nunca deixei de usá-lo, por maior que fosse a raiva que sentia, não conseguia ficar
sem, era como se fosse parte de mim, esse colar de pingente de sol.

Ele pega o colar, coloca a caixa na mesinha e eu me viro, deixando que ele coloque. Seus
olhos, olham os meus pelo espelho, e sinto meu coração acelerar. Sua não desce para minha
cintura, e sua boca repousa perto do meu ouvido.

— Linda, Raggio di Sole. — Sorrio e percebo que ele também. — Hoje é um dia
importante, mas o que me deixaria muito mais feliz, era terminá-lo em nossa cama, comigo
dentro de você. Fazendo-a minha moglie, por completo.

Me viro ficando de frente para ele, mesmo de salto alto, não chego ao seu queixo. Seguro
em seu pescoço e ele se curva, beijando a minha boca com vontade. Não posso mais negar o que
sinto, e ele sabe disso.

Ele se afasta com a boca borrada, mordo o lábio para não rir, com a ajuda de um lenço
limpo sua boca e depois a minha, passando o batom novamente.

— Vamos, Don Luigi? — Ele pega em minha cintura com força.

— Vamos, Donna Giulia.

Saímos para o corredor onde o som de música clássica já se faz presente no ambiente.
Segurando em meu braço, Luigi me guia descendo a escada com uma pose imponente. Vejo do
alto várias pessoas já circulando pelo local. Algumas conversando, outras com taças de
champanhe nas mãos, entre outras bebidas e comidas.

Logo avisto minhas sorellas, meu pai que tem um leve sorriso no rosto, minha mãe que
parece orgulhosa, Falcão, o marido de Kiara com Ayla nos braços, Mirelle com a barriga enorme
ao lado do marido.

— Onde estão Maria e Fiorella? — Pergunto baixo, para ninguém ouvir.

— Matheo foi buscar o Don. Eles virão todos juntos. — Fala igualmente baixo.

Ao fim do último degrau algumas pessoas já começam a vir nos cumprimentar, alguns eu
reconheço, outros não. Apenas faço o que fui ensinada a fazer. Sorrir e responder o mínimo
possível, pois nesse meio quanto menos souberem de nós, melhor.

A festa vai se estendendo, Luigi e eu cumprimentando várias e várias pessoas, fora as que
decidem conversar algo, falar ou se vangloriar sobre algo. Não longe vejo Roman chegar, ele não
se aproxima, mas sei que veio representando o pai deles, o capo de Tivoli, pois é assim, sempre
tem alguém que representa o capo da sua província, se ele não pode vir.

Quando finalmente consigo me aproximar de meus pais e sorellas sorrio, abraço todos e
pego Ayla no colo.

— Como está? — Mamãe pergunta.

— Cansada, e nem começou a celebração.

— Matheo está chegando, o Don Leonel não estava bem. Mas agora, já voltou da crise e
está vindo. — Meu pai fala e Luigi o olha com atenção.

— Está com um sorriso bonito... hein, sorella!? Acho que seguiu meus conselhos! —
Alessa fala e, diferente das minhas sorellas eu fico vermelha na frente de meus pais. Porém,
nenhum deles fala nada.

— Giulia, Raggio di Sole, precisamos continuar a cumprimentar os outros. — Luigi fala


e eu entrego Ayla a Kiara.

Me afasto deles com um meio sorriso, não feliz, e sim triste. Sei que depois que me casei,
meu status mudou e agora como a moglie do Don, mudará mais ainda.

Não demora para Matheo chegar com o Don Leonel, ele me abraça assim que me vê, seus
olhos têm uma alegria que não via há muito tempo. Na verdade, acho que nunca vi essa alegria
nos olhos dele.

Foram poucas palavras trocadas, até que o chefe do conselho nos chamou, era a hora de
iniciar a cerimônia e eu estava com o peito acelerado. Mesmo sabendo que é Luigi quem deve
ficar assim, eu também estou. Pois no momento que Luigi se tornar o Don, o homem mais
importante para a família, eu sei que vou me tornar não apenas a moglie dele e sim a mulher
mais importante da família, que minhas responsabilidades serão grandes e uma delas é sempre
pensar com sabedoria em cada ação que faça.
Capítulo 25
Vejo o conselho reunido no alto da escada, o Don sobe na minha frente em passos lentos,
enquanto eu subo de braço dado com Giulia, mostrando à família que somos um casal unido, e
isso é muito importante para eles.

Um bom casamento deixa a família mais forte.

Paro ao lado do chefe do conselho, um senhor de uns 50 anos ou mais, com os cabelos já
brancos e um olhar cansado. Ele me olha com atenção, analisando o homem que vai herdar esse
império e os seus inimigos. Pois claro, não vou herdar apenas coisas boas, as ruins vêm no
pacote.

Olho do alto, ao redor da sala, onde estão reunidos os meus homens de confiança, os
meus capos, o meu Consigliere e os meus aliados. Eles me cumprimentam silenciosamente com
um sorriso e reverência, declarando sua subordinação. Cada um deles me deve lealdade,
obediência e respeito, pois são a minha família, a minha máfia e estarão sobre o meu comando.

Eu vejo o padre entrar na sala, segurando uma Bíblia e uma ampola de ouro, sobe a
escada em passos lentos, parando na minha frente.

— Fili, hodie non tantum membrum Esposito mafia fies, sanguis, venis et caro omnium
fias. — Me diz algumas palavras em latim, e o que eu me tornarei de agora em diante.

Ele me unta com o óleo sagrado, que dizem ser o mesmo que o meu nono usou na sua
coroação, assim como o pai dele e assim por diante.
O padre se vira para Giulia, entregando a ela um anel. Nesse momento, meu coração se
aperta. Minha mãe deveria fazer essa parte da cerimônia e como ela já não se encontra em vida,
minha moglie vai fazer.

Giulia vem até mim, pega minha mão com cuidado, mantendo o semblante fechado.
Nessa hora, não há sorrisos e sim apenas a cerimônia. Olhando para todos abaixo da escada,
permito que ela coloque o anel de ferro em meu dedo mindinho. Assim que ela termina, Giulia se
afasta.

Logo depois Matheo se aproxima, me entregando uma arma antiga, com desenhos feitos
com ouro em formato de rosas.

— Essa arma simboliza o seu poder, o seu dever e a sua responsabilidade com a família.
— Me entrega a arma e me abraça, dando dois tapas leves em minhas costas.

Ele se afasta e então meu nono se aproxima, guardo a arma em meu paletó. Os olhos do
meu nono estão cheios de lágrimas, e um sorriso fino aparece em seus lábios. Sei que ele está
orgulhoso por esse dia, e eu me sinto assim também.

Então abre uma caixa de madeira, tirando uma faca pequena feita de osso, sim, osso
humano. O cabo é adornado com uma pedra vermelha, mas a faca toda é apenas osso. Meu nono,
agora antigo Don, a pega e me olha firme.

— Estenda a mão, Luigi Esposito.

Faço o que ele pede. Estendo minha mão, meu nono segura em meu dedo e corta a minha
carne, fazendo o sangue escorrer vívido.

— A partir de hoje, você tem de agir com honra e execução para a família, pois a máfia
Esposito sempre virá em primeiro lugar, por mais difícil que possa ser, por mais doloroso que
possa sangrar, sua palavra perante a família não volta atrás. Entrego-lhe o meu posto, fazendo de
você Luigi Esposito, Don da família. — Meu coração acelera com a responsabilidade que terei
de hoje em diante.

O chefe do conselho chega com um documento onde simboliza minhas


responsabilidades, minha vida perante a família. E eu deixo o sangue de meu dedo pingar no
papel, o manchando. Logo depois pego o isqueiro, seguro o papel e o queimo, deixando virar
cinzas.

Meu nono me entrega a faca e eu a coloco em minha cintura. Viro-me para todos os
membros que estão na sala, encarando um por um.

— Don Luigi. — O padre fala.

Eu ouço os aplausos, os gritos e os vivas dos meus homens, que celebram. Eles levantam
as suas taças de vinho ou de champanhe e brindam, brindam ao novo Don.
As pessoas me cercam no meio da sala, muitos comemorando, outros apenas para segurar
a minha mão e a beijar, demonstrando respeito.

Giulia me olha e faz sinal que vai se afastar. Eu aceno que Va bene, e continuo a
conversar com meus homens. Entre beijos na minha mão, no anel, e abraços de felicitações,
procuro por Giulia com o olhar. Vejo seus pais e não a vejo, me deixando inquieto.

Me desvencilho de forma educada e caminho pela sala, outro grupo se aproxima, parando
em minha frente e puxando conversa, sorrio e os cumprimento, ouvindo suas palavras. Porém, ao
olhar de relance na direção oposta, meu semblante muda. Nessa hora, sinto muita raiva dentro de
mim, ao ver com quem minha moglie estava conversando e a ver saindo da sala e indo em
direção ao jardim, acompanhada dele.

— Com licença. — Digo ao grupo que está se aproximando.

Com raiva, e o ciúme latente dentro de mim, sigo em direção ao caminho que ambos
estão fazendo.
Capítulo 26
Depois que a cerimônia foi feita e Luigi já foi coroado o novo Don. Eu segui o protocolo
de o deixar a sós com os membros da família, onde muitos agora juram sua lealdade, e é o
famoso puxa saco.

Não tive tempo de falar com as minhas sorellas o que aconteceu entre mim e Luigi, e
estava ansiosa para poder dividir esse momento com elas. Quando perguntei ao meu pai, ele
disse que elas estavam do lado de fora com Maria e Fiorella. Então, segui para o jardim, só que
quando cheguei na porta, Victor veio até mim.

Sei que tenho de tomar cuidado, principalmente agora que sou a moglie do Don, e
respeito e lealdade, é o que a família mais presa. Também sei dos sentimentos do Victor e não
acho certo, por mais que sejamos amigos, que eu o deixe se aproximar mais do que o devido.

— Giulia. — Victor fala de modo cordial e eu respondo com um acenar de cabeça.

— Oi, Victor.

— Está fugindo de mim? — Pergunta e eu continuo indo em direção ao jardim.

— Estou procurando minhas sorellas. Apenas isso. — Respondo sem nem o olhar.

— Na verdade, percebi que durante toda a festa você evitou se aproximar de mim,
mesmo com Luigi ao lado…

— Don Luigi. Tenha respeito, Victor. — O corrijo e ele morde o próprio lábio.

— Estou curioso, ainda vai trabalhar como sicária? — Pergunta e eu respiro fundo.
— Por enquanto, sim. Eu gosto e me distraio. Quando papai me informar de algum
trabalho em específico, eu irei fazer. Mas sei que logo terei de parar, afinal, sou a moglie do Don
e não posso sair, por aí, como antes.

— Verdade. — Responde com um meio sorriso.

Caminho devagar olhando em volta a procura de minhas sorellas, conforme ando


algumas pessoas me cumprimentam.

— Então vai ser assim, vai deixar de falar comigo? — Victor pergunta e eu respiro fundo
parando no lugar.

— Victor, agora sou uma mulher casada. Ainda somos amigos, só que não é o correto, eu
conversar com você a sós, ainda mais na festa de posse do meu marido. — Respondo de forma
educada.

— Conversar não faz mal a ninguém. — Responde e sorri.

Sinto uma mão firme puxar meu braço, e logo a voz de Luigi toma conta de meus
ouvidos.

— O que faz aqui, sozinha? — Pergunta, mas sinto o desconforto na sua voz.

— Estou procurando minhas sorellas. — Digo, olhando para ele que me olha fixamente.

— Estou vendo. — Fala, olhando de mim para Victor.

— Veio atrás da moglie, Don? Parece que depois de anos a abandonando, não pode ficar
mais longe. — Victor fala em um tom estranho.

— Vamos, Giulia, quero falar com você. — Se vira me puxando pelo braço, sem dar
atenção a Victor e eu agradeço por isso.

— Luigi, vá devagar. Meus saltos afundam na grama. — Peço mais, ele não responde.

Finjo estar tudo bene, conforme ele me guia entre as pessoas, mesmo o seu aperto em
meu braço sendo forte. Subo as escadas e quando entro em nosso quarto ele bate à porta com
força me encarando com raiva.

— O que você ainda tem com ele? — Pergunta com a voz elevada.

— Luigi, o que você está falando? — Não entendo sua acusação.

— Acha que eu não sei sobre vocês, Giulia? — Diz apertando as próprias mãos me
demostrando que está se segurando.

— Como assim? Luigi, você só me acusa e não me fala nada. Eu não sei do que está
falando. — Digo, e ele sorri, um sorriso sardônico.

— Por onde começar? Que tal pelo beijo de vocês no seu aniversário? — Olho para ele e
seguro a respiração, ele viu, ele estava lá.

— Luigi, não é o que você está pensando. Eu posso explicar. — Digo, sentindo um frio
em meu estômago. Ele viu, ele foi em casa aquele dia, como disse que iria.

— Eu sei que pode. Sabe, esse foi um dos motivos pelos quais eu quebrei a cara dele
quando descobri o que aconteceu entre vocês. Devia ter matado-o de tanto socar aquela cara,
antes de viajar. — Fico surpresa, mas me lembro do dia em que vi Victor na festa do Don, com o
rosto machucado.

— Foi você? — Pergunto no automático.

— Ele não te contou? Não contou que implorou para eu não bater nele, como um rato
maledetto que é. — Diz com raiva se aproximando de mim.

— Você não podia ter feito isso, Luigi. Não devia ter feito. Não significou nada para
mim.

— Nada? Nada e vocês ainda estão aí? Giulia, eu aceitei você não ser mais virgem, mas
aceitar que ainda fique conversando com outro homem, com ele... é pedir demais. — Diz na
minha frente me fazendo sentir sua respiração, porém a sua acusação me magoa.

Ele realmente acredita que eu me entreguei a outro.

— Eu não tenho nada com Victor, nunca tive. Ele é meu amigo, apenas isso.

— MENTIRA! — Grita. — Não precisa mais esconder de mim Giulia, eu sei, não seja
uma mentirosa porque eu vou descobrir isso mais cedo ou mais tarde.

— Não estou mentindo. — Digo o empurrando e ele segura meu pulso com um pouco
mais de força.

— Me diga, Giulia, se eu te jogar naquela cama agora. Te foder com força, vou ser o
primeiro ou vou saber que outro já fez isso?

Raiva, mágoa, tudo se mistura em mim. Pego a faca de osso em sua cintura e em um
movimento rápido, passo do lado do seu pescoço, não para matar, não sou burra, mas apenas
para ele ver quem eu sou.

Luigi me solta, passa a mão no corte que sangra, levanto o queixo o encarrando.

— Não me ameace, não levante a mão ou a voz para mim. Porque se fizer isso, eu juro
por Dio que ficarei viúva no mesmo dia. — Digo e ele me olha com espanto.

Ouço batidas na porta, e logo a voz de meu pai.

— Filha, está bene? — Não respondo de imediato. — Filha?

— Estou bene, pai, já estou descendo. — Tento não demonstrar em minha voz, que estou
falando a verdade, mesmo meu peito gritando que não.
Luigi continua me olhando como se não acreditasse no que fiz, coloco a faca na mesinha
e me viro de costas.

— Não demore, Don. A festa é para você, não é certo ficar no quarto.

Digo e saio fechando a porta atrás de mim, paro encostada com as costas na porta,
sentindo o peso das suas palavras. Luigi viu o beijo do Victor aquele dia, e apenas isso o faz
pensar que me entreguei a outro. Como uma mulher fácil, uma puttana sem honra nenhuma,
saber que ele pensa isso sobre mim dói.

Tudo que eu tive, foi com ele primeiro. Meu primeiro beijo, a primeira vez que alguém
me tocou de forma mais íntima, meu primeiro orgasmo… tudo foi ele, e a única vez que outro
tocou em mim, o faz pensar que sou uma mulher fácil e sem honra. Será que por ter deixado ele
me tocar aquela vez no carro, o fez pensar que sou fácil? Será que ele nunca percebeu que eu
sempre fui apaixonada por ele?

Passo a mão no rosto e limpo uma lágrima que teima em descer. Depois de todos esses
dias em que tivemos na nossa trégua, dos momentos que vivemos, ele volta com essa história
absurda que me machuca. Eu não vou chorar, não mais, se ele ainda não me conhece por dias
vivendo no mesmo teto que eu, ele não merece minhas lágrimas.
Capítulo 27
O final da cerimônia, para mim, foi um fiasco. Depois da discussão com Giulia, que me
rendeu um corte no pescoço, não tive mais ânimo para nada nem para ninguém. Mantive meu
semblante fechado, e apenas escutava as bajulações que me rondavam feito moscas.

O pior foi aturar os olhares, hora ou outra, para meu pescoço, com toda certeza eles se
perguntavam o que havia acontecido.

Não falei mais com Giulia o resto da noite, e quando todos se foram, subi direto para
nosso quarto. Eu estava exausto, louco por um banho e por uma noite de sono. Mas também
estava furioso com o desenrolar da noite, com ciúmes não nego isso. Eu sei que fui um idiota em
falar aquela última frase, claro que não faria aquilo, nunca a teria em meus braços contra a sua
vontade. Porém, na hora da raiva, falei o que não devia, não pude suportar ver aquele maledetto
do Victor se insinuando para ela, a cena do beijo deles nunca saiu da minha cabeça, o que ele
disse no hospital sobre ir embora para New York também não.

E o maledetto sabia bene, que eu evitaria arrumar qualquer confusão com um membro na
família, no dia da minha posse, com o conselho ali de olho em mim e em minhas atitudes.

Eu tinha jurado não matá-lo com as minhas próprias mãos, mas isso não me impedia de
mandar alguém fazer o serviço por mim, ou usar de outro método que não envolva minhas mãos
em sua pele, por mais que a sensação de quebrar aquele pescoço deve ser ótima. Eu só preciso de
um motivo, e ele está me dando vários. Só que esses ainda não são válidos para o conselho, não o
suficiente para não pegarem no meu pé, e como Don, tenho de ser o espelho para os outros.
Sei que todos os avanços que dei com Giulia se esvaíram e provavelmente ela não vai
querer falar comigo, todavia eu preciso que ela entenda, não a quero presente no mesmo lugar
que Victor esteja, pois para mim, isso é uma afronta.

Puxo a maçaneta do quarto, já impaciente, esperando encontrar a porta destrancada.


Porém, a porta não abre, me mostrando estar trancada. Passo a mão na cabeça, respiro fundo,
sentindo uma pontada no pescoço, a sporcizia do corte. Se antes ela me queria no recamier, pelo
visto agora nem no quarto me quer.

— Giulia. — Chamo, batendo na porta com as dobras dos dedos. — Giulia abre essa
porta. — Nada. — Giulia, eu só quero tomar um banho e dormir, va bene.

Digo cansado, tentando manter a calma. Ela abre a porta, mas antes que eu consiga dar
um passo, ela joga uma troca de roupa em mim e fecha a porta, batendo em minha cara.

Sinto o impacto da porta no meu nariz, me fazendo praguejar ainda mais o Victor, e vejo
as roupas caírem no chão. Fico parado, sem acreditar no que acabou de acontecer. Ela me tratou
como um estranho, como um indesejado. Sinto uma mistura de raiva, tristeza e humilhação,
percorrer meu corpo me forçando a abrir um sorriso incrédulo.

Respiro fundo, pegando as roupas, quem acha que a vida de um mafioso é só tiros e
porrada, desculpe, não é. Somos pessoas de carne e osso, e as mesmas merdas que os outros
passam nós passamos. A diferença é que um médico ou um empresário não correm perigo de ser
morto pela moglie durante o sono.

Vou para o quarto ao lado, sem dizer uma palavra. Tomo meu banho e me deito, sentindo
falta dos cabelos e da pele dela tão cheirosa. Sporcizia!

Olho para a mesa de jantar e lhe encontro em silêncio, o dia passou e Giulia continua com
o semblante fechado.

— Giulia, me passe a pasta. — Peço puxando assunto.

Ela olha para a travessa e depois para mim. Quando se levanta e vai pegar a travessa, uma
empregada a pega primeiro e, com um sorriso no rosto, me serve. Encaro a jovem morena de
olhos pretos, não a conheço, não a vi nos primeiros dias em que as empregadas foram
contratadas.

Meus olhos percorrem até os olhos de Giulia, que se senta e fica olhando fixamente para
a empregada.

— Agradeço, mas minha moglie ia fazer isso. É a obrigação dela. — Digo.

— Eu não sou obrigada a nada, Luigi. Faço se eu quiser. Agora, se der licença, perdi a
fome. — Fala se levantando.

Bato o garfo no prato, impaciente, porém me levanto e vou atrás dela, entrando no quarto
e a vendo com alguns livros de botânica na mão.

— Está estudando? — Pergunto me aproximando, só que ela nem me olha para


responder.

— Já comeu, ou vai comer? — Pergunta.

— Perdi a fome. — Me aproximo e quando ameacei sentar-me, ela se levanta, colocando


o livro em uma mesinha, pegando outro em seguida.

— Sua resposta não é válida.

— Estou fazendo um teste e nem estou sabendo? — Pergunto e ela me encara, porém,
não diz nada, então eu percebo que ela está com ciúmes da empregada e isso me faz sorrir.

Me levanto e a pego pelo braço, tirando o livro de sua mão.

— Me devolva. — Pede.

— Se me der um beijo, quem sabe.

— Então, fique com o livro para você. Até parece um bambino. — Puxa o braço e sai em
passos firmes em direção à porta.

Fico ali olhando ela sair, respiro fundo e decido tomar um banho para esfriar a minha
cabeça.
Capítulo 28
O céu de Tivoli está nublado, nenhuma estrela brilha ali. Tão triste, melancólico e frio
quanto eu. Luigi deixou claro a sua desconfiança de mim, e isso me atingiu em cheio, e agora na
minha frente, percebi a forma como a empregada tentou se insinuar para ele. Talvez meu jardim
vá receber seu primeiro adubo essa semana, uma boa distração para os meus dias e para a raiva
em meu peito.

— Donna, o que faz aqui essa hora? Está frio e úmido. — Rian, meu jardineiro, pergunta.

— Vendo minhas flores, e pensando onde vai ficar bom um canteiro de petúnias
vermelhas. — Digo, e olho para ele, que balança a cabeça em negação.

— Mas já? Achei que todos conhecessem a fama das Telescas. — Repuxa um sorriso
rindo.

— Acho que as mulheres da família… da máfia Esposito, ainda não.

Olho para frente e vejo minhas flores, cravos, crisântemos, lírios-do-vale e margaridas,
todas floridas em janeiro. Mesmo o clima frio, elas estão lindas.

— Gostei muito do seu trabalho, Rian. As mudas não sentiram a mudança de habitar.

— Aprendi certinho, Donna, como fazer o transplante de mudas com meu pai. —
Responde orgulhoso.

— É tão estranho te ouvir me chamar de Donna.

— Não sou louco de dizer outra coisa, o Don pode me matar. — Fala e eu começo a rir.
— Bom, agora vou entrar, acho que atrás dos crisântemos, um canteiro de petúnias vai
ficar muito bonito.

— Claro, irei preparar o local.

Saio do banheiro enrolado na toalha, olho em volta e vejo que Giulia ainda não voltou,
respiro fundo e vou até o closet que ela chama de quarto para se vestir. Até acho interessante ela
dizer que chama assim, por causa do estilo no qual a nossa casa foi mobilhada.

Abro a gaveta e escolho uma cueca, vou ser mais esperto que ela essa noite, e vou me
deitar na cama antes que ela apareça, assim Giulia não vai me expulsar do quarto outra vez.

Fecho a gaveta e sinto um par de mãos em minhas costas, sorrio ao perceber que meu
Raggio di Sole não está mais com raiva de mim. Sua mão desce para minha barriga e, quando
puxa a toalha, a jogando no chão, me viro, vendo a empregada que poucos minutos atrás estava
me servindo. O pior foi olhar para a porta aberta e ver Giulia nos olhando. Meu pau, que estava
semiereto morreu na mesma hora.

— Então, prefere realmente as puttana. — Giulia fala e só aí a empregada se vira a


vendo.

— Donna. — Ela fala assustada.

— Maledetta. — Digo, pegando em seu pescoço. — O que pensa que ia conseguir? — As


palavras saem carregadas de raiva, enquanto aperto o pescoço da empregada.

— Não se finja de inocente, Luigi. Eu vi, você ia comer essa puttana. — Giulia fala,
entrando no closet.

— Giulia, Raggio di Sole, eu não ia… — Tento a convencer, mas pela forma que ela fala,
lembro-me da frase que perguntou agora pouco “já comeu ou vai comer”, ela não se referia ao
jantar e sim à maledetta empregada.

— Eu não quero te ouvir.

Fala, puxando os cabelos da empregada e eu a solto. Giulia tira uma faca da cinta que usa
em sua calça, coloca no pescoço da mulher e aperta, causando um corte.

— Meu primeiro adubo. — Vejo um sorriso frio desenhar seus lábios.

Ela puxa a empregada pelo cabelo, porta afora, com a faca no pescoço. Visto a cueca
correndo, e saio enrolando a toalha em meu corpo, chegando no jardim a tempo de ver a
empregada de joelhos implorando por misericórdia.

— Por favor, Donna, não farei mais.

— Não fará mesmo. — Giulia fala cravando a faca na região submentoniana.

A empregada tenta falar, porém Giulia tira a faca e passa em seu pescoço sem
misericórdia, a jogando no chão logo depois.

— Pensei que teria de fazer o canteiro amanhã. — Rian, o jardineiro, fala com uma pá na
mão.

— Não deu para esperar, Rian. — Giulia responde limpando a faca na roupa da
empregada e se vira para mim, me olhando firme nos olhos.

— Giulia, eu pensei que fosse você. — Digo a verdade e ela sorri, mas um sorriso
raivoso.

— Até parece que vou acreditar em você. Vivia comendo puttana na Rússia. — Sua voz é
fria, porém triste.

Giulia fala e passa por mim, seguro seu braço para que ela me ouça, mas sou
surpreendido pela faca que vem em minha direção. Coloco minha mão na frente de meu peito,
recebendo a facada, que atravessa a minha mão, mostrando toda a raiva que ela sente por mim
neste momento.

— Giulia. — Digo e ela solta a faca andando na minha frente sem se importar com a
lâmina cravada no meio da minha mão.

— Agradeça por não ser uma arma, Don Luigi. — Diz sem se virar.
Capítulo 29
Raiva, eu estava com tanta raiva dentro de mim após matar aquela maledetta que nem
mesmo enfiar a faca na mão de Luigi me deixou feliz. Ainda não conseguia acreditar que ele ia
fazer isso em nosso quarto, não, ele não vai arrumar amantes, eu não vou permitir.

Vou à garagem, entro em meu carro e saio cantando pneu. O ódio dentro de mim está tão
grande que me sufoca. Pego meu celular e ligo para Alessa.

— O que está fazendo? — Pergunto conforme atravesso os portões.

— Vou sair em uma missão. Por quê?

— Posso ir com você?

— O que o maledetto fez? Você está com uma voz triste. — Suspiro.

— Eu o peguei com a empregada. — Digo e ela fica calada por um tempo.

— Matou ela?

— Claro.

— E ele?

— Não posso matar o Don, mas enfiei a faca na mão dele. — Digo e ela gargalha.

— Então vamos matá-lo de ódio. A missão é em um clube noturno clandestino. Eles


vendem adolescentes, vamos nos infiltrar como dançarinas de pole dance, e quando o leilão
começar… você já sabe.

— Nenhum deles sai vivo.

— Nenhum.

— Alessa, isso aqui parece uma calcinha. — Reclamo, puxando o micro short que não
esconde nada.

— Não reclama que o seu ainda é comprido. — Olho para ela e vejo que sim, ela está de
calcinha.

— Você não me disse que eu teria de usar isso. Estou me sentindo nua.

— Nua, vamos ficar na hora da dança. — Repuxo o sorriso incrédula com sua afirmação.

— Está louca, não posso fazer isso. Sou casada, esqueceu? — Digo, e ela começa a rir.

— Não se preocupe, o show vai acabar antes que te peçam para tirar a roupa. — Solto a
respiração.

— Vocês duas, parem de ficar batendo papo e terminem de se arrumar. — Laura fala,
pelo ponto em nosso ouvido.

— Eu nunca fiquei com tão pouca roupa na frente de outras pessoas, principalmente
homens. — Respondo, soltando o cabelo.

— Imagine ser, Luigi. — Reviro os olhos, quando minha sorella fala.

— Aí vou matar todos com mais raiva.

— Melhor ainda. Só não fique envergonhada, como se fosse uma virgem que nunca viu
um homem excitado antes. — Laura fala e eu me calo, ficando vermelha.

— Você ainda é virgem? — Alessa pergunta.

— Prefiro não tocar no assunto. — Digo.

— O pau dele é pequeno, ou ele é gay? — Laura pergunta e eu acabo rindo, negando
com a cabeça.

— Nenhum dos dois. Apenas não deu certo ainda.

— Não sei se acredito. — Alessa fala.

— Vamos mudar de assunto. Como estão as coisas, Laura? — Pergunto, mudando o foco
da conversa.

— O bar está calmo, o clube cheio de gente pervertida. Por mim, eu já começava a matar
esses nojentos agora mesmo. — Responde.

— Precisamos que o chefe apareça. Ele quem vai trazer as ragazzas para o leilão. —
Alessa responde.

— Eu sei, mas minha arma está coçando dentro da bota para meter uma bala neles. —
Laura completa.

— Então vamos. — Digo, respirando fundo e colocando a máscara da apresentação no


rosto.

Atravesso as cortinas vermelhas, sendo recebida pelos holofotes. Alessa e eu vamos


dividir o mesmo palco, composto por duas barras de ferro e um tecido aéreo fixos no local.

Mamãe nos ensinou a dançar, e isso ajuda muito. Com um sorriso no rosto, seguro o
ferro, Alessa faz o mesmo. E devagar, começamos a dançar.

Seguro o ferro de apoio com minha mão direita acima da minha cabeça, jogo meu corpo
para trás, inclinando-o. Depois olho para frente, vendo todos no salão, prestando atenção em
Alessa e em mim. Estendo minha perna direita, enrolando-a no ferro e impulsiono com a
esquerda, girando com uma mão para o alto, escorregando até o chão e me deitando de costas.

Giro, ficando de barriga para baixo, levanto devagar, encostando minhas costas no ferro,
segurando com as duas mãos acima da minha cabeça. Abro as pernas de frente para o público e
posso ver como todos se animam.

Mesmo morrendo de vergonha, continuo os passos.

Levanto-me e tomo um impulso, girando no ferro, segurando com uma mão e com os
joelhos. Quando olho para frente, vejo Luigi, Matheo e Roman. Não consigo evitar o sorriso.

A dança se torna mais sensual conforme encaro seus olhos azuis fixados nos meus.
Danço para ele, enquanto ele não tira os olhos de mim. Sim, ele estava com raiva e eu estava
gostando de deixá-lo assim.

Alessa deixa o ferro dela e vem até mim, me abraça ainda dançando, apenas para
sussurrar em meu ouvido.

— Ele vai ter um infarto. — Fala, puxando a minha blusa, me deixando com o micro
short e um top pequeno.

Os homens começaram a gritar, animados com a performance. E logo um homem entra


no palco onde estávamos com um microfone, ele é o nosso alvo.

— Vamos dar início ao leilão. E o primeiro lance será com essas duas jovens ragazzas. —
Fala apontando para nós.
Antes que Luigi consiga sacar a arma, o disparo é ouvido. Laura, do balcão, acerta o alvo.

Nesse momento, abaixamos e pegamos as armas com dois soldados que estavam na
frente do palco, infiltrados. A festa deu início, e o tumulto estava organizado.

As portas do clube foram fechadas, pelos soldados que estavam à espera. Só aí, Luigi
percebeu do que se tratava. Ainda com um sorriso no rosto, atirei no homem ao lado dele, um
tiro na testa certeiro, o fazendo cair morto nos pés de Luigi.

— A cara dele estava engraçada. — Alessa fala rindo.

Matheo, Roman e Luigi sacam as armas e começam a atirar nos porcos que estão
correndo feito baratas tontas. Alguns ainda tentavam lutar com os soldados, porém sem nenhum
sucesso; corro até o balcão onde Laura está lutando, está em uma luta corporal com um homem
grande. Pego a garrafa de vodca, bebo um gole antes de bater na cabeça dele. O deixando lento
para Laura aplicar uma gravata, sufocando até a morte.

— Pelo visto, o marido achou a donzela. — Fala rindo.

— De nada. — Falo pegando outra garrafa e virando.

Foi divertido, mas acabou rápido. Vários corpos em uma noite. Alessa foi com Laura
para os fundos e logo voltam com as ragazzas em roupas curtas, maquiadas como puttanas. Elas
choram de medo, e isso me dói.

— Vão ficar bene. Acabou. — Digo a uma, que me abraça.

— Obrigada. Muito obrigada! — Sorrio, passando a mão em seus cabelos.

— Vocês vão ser cuidadas. Não tenham medo.

Alessa guia as ragazzas pelo corredor, onde vão dizer quem são e se têm família.

Respiro fundo, tirando a máscara. Quando sinto um paletó ser colocado sobre meus
ombros. Me viro vendo Luigi, seus olhos ainda demonstram raiva.

— Não devia ter se exposto dessa forma, é minha moglie. — Fala baixo.

— Você não pensou assim, quando estava com a empregada em nosso quarto.

— Giulia, não é o que você estava pensando. Eu não ia fazer nada com ela.

— Não estou pensando Luigi, eu vi. E seu pau estava bem animadinho para comer ela. —
Tiro o paletó e jogo nele.
— Já disse, pensei que fosse você.

— Não sou uma puttana. — Digo com raiva.

— Está exatamente como uma agora. — Responde frio, me encarando.

Meu peito dói.

— É verdade. Uma puttana que não respeitou o nosso compromisso. Em vez de ficar
resguardada, sem sair de casa, sem se divertir, sem poder nem beijar um homem, enquanto o
noivo comia todas as puttanas russas. — Falo magoada e ele segura em meu braço.

— Eu disse a você que te aceitava. Que ia deixar isso no passado, mas parece que você
não quer deixar, não é? Me diga, ia sair daqui direto para a casa do Victor? Porque para mim
você não quer dar, já para ele… — Acerto um tapa forte em seu rosto.

— Você não tem capacidade nenhuma de ser um Don. Não sabe as merdas que fala. —
Puxo meu braço e o encaro com ódio. — Victor é apenas um amigo. E eu sei o lugar dele.

— Vai ser debaixo da terra em breve, se você continuar chamando-o de amigo. Ele só
não está morto ainda, devido aos protocolos da família que tenho de seguir. Eu até estou
aprendendo a ser paciente, Giulia, mas a minha paciência ainda tem limite e está prestes a acabar.

Me aproximo dele, ficando nas pontas dos pés, na mesma altura do seu olhar,
demonstrando que não tenho medo dele. Olho bem dentro de seus olhos, repuxo um sorriso e
sussurro lentamente em seu ouvido, para que ele entenda.

— A minha também, a minha também. Sabe Luigi, a minha paciência com a sua
desconfiança já chegou ao fim. Não vou ficar sentada e agir como uma estátua, ouvindo quieta o
que você fala, sem se importar se me magoa ou não.

Digo e saio andando, sem me importar com a roupa que estou usando, vou direto para
meu carro e sem esperar por ninguém, acelero pelas ruas de Tivoli, para que o vento da noite
esfrie um pouco a raiva que queima minha alma.
Capítulo 30
O relógio na parede marca as horas em um arrastar tão lento e agonizante, que a cada
movimento dos ponteiros, ele rouba um pouco mais de minha paciência, essa que está próxima à
escassez.

Quanto tempo dura a raiva de uma mulher?

Bom, Giulia não fala comigo, nem olha para minha cara, muito menos permite que eu
entre no quarto há sete dias. Sim, uma semana, faz uma semana que ela finge que eu não existo.
Me deixando mais puto de raiva ainda.

Tenho resolvido alguns imprevistos, feito reuniões com os sócios e outros chefes de
outros países. Para reafirmar nossa união, reler os documentos e refazer os acordos.

Depois que eu resolver isso, é a hora de fazer a limpa nas pessoas, aquela lista em meu
caderno. Isso me faz sorrir, irei acabar com todo o meu stress desses dias, com esses maledettos.

Penso muito no que fazer com Victor, aquele rato atrapalha a minha vida, mesmo quando
não está ali. Por mais que eu tenha aceitado o fato de Giulia ter se entregado a outro. Não posso
suportar aquele maledetto no mesmo local que ela. Perco a minha cabeça e acabo falando coisas
que me arrependo depois.

Porém, não encontro uma brecha dentro das leis da família para matá-lo sem nenhum tipo
de retaliação ou punição dos membros da máfia. Só posso fazer isso com uma acusação formal,
prova ou julgamento. Já que Victor é o futuro herdeiro do Subchefe, e sua família está a gerações
no comando.

Estou falhando como Don e como marido, Giulia está certa. E mesmo tentando controlar
toda a raiva que sinto quando o nome daquele rato é citado, não consigo.

A porta se abre e Matheo entra com o Chefe Americano, seu Subchefe e Conselheiro. É
interessante a forma que eles se dividem, afinal nos USA tem mais de um chefe de máfia, só que
isso não vem ao caso agora. Afinal, estamos na Itália.

— Don Luigi. — O chefe se aproxima, estendendo a mão e eu o cumprimento.

— Sentem-se, vamos começar a nossa reunião.

Peço de modo cortês e todos se sentam para darmos início a uma tarde de discussão. Sim,
uma tarde, várias horas, é raro uma reunião como essa ser curta, pois todos queremos ganhar.

Olho para os rostos na sala, e reconheço alguns deles. São os mesmos que estavam na
cerimônia, naquela noite fatídica. Lembro-me de como eles me olhavam, com curiosidade.

Lembro-me de como eles cochichavam, comentando sobre o meu corte. Sinto o ódio
crescer dentro de mim e me esforço para não perder a compostura. Eu não vou deixar que eles
me vejam como um fraco, como um tolo, ou um perdedor. Eu vou mostrar a eles quem sou, o
que posso fazer, o que vou fazer.

A primeira coisa a deixar claro, é a certeza absoluta de que Victor só irá para New York
se eu permitir, pois sem a minha permissão ele não vai à sporcizia de lugar nenhum.

A Itália manda, eles obedecem. Já que eles representam uma parte da Itália em outro
continente, me devem subserviência e subordinação. Victor não passa de nada, além do filho do
subchefe.

Porém, pensando bem, até que não seria uma má ideia enviar Victor para lá no resto da
sua vida medíocre.
Capítulo 31
Não sei se pode se chamar de gelo por eu estar sem falar com Luigi, simplesmente eu não
quero falar. Estou tão magoada com suas atitudes, tanto quanto com a sua desconfiança.

O pior disso tudo é não poder falar com as minhas sorellas sobre esse assunto, pois os
assuntos de dentro da máfia ficam dentro da máfia. No máximo, eu poderia me aconselhar com
Maria, que é moglie do Consigliere, mas por mais que sejamos amigas, não me sinto confortável
o suficiente para falar esse tipo de assunto com ela.

Ouço o bip do meu pager, me levanto e vou até a mesinha para pegá-lo. Por mais que já
estamos em 2000, o pager ainda é bem utilizado na organização do meu pai. Pois eles enviam
mensagens através de sinais de rádio VHF (semelhante aos programas de rádio FM), o que
significa que a recepção chega mais longe, precisa de menos transmissores e sofre com menos
interferência do que os sinais de telefonia celular.

É mais fácil receber uma mensagem de pager em uma área remota, por exemplo, do que
efetuar uma chamada de celular no mesmo local, onde muitas vezes nem mesmo é possível
captar um sinal. Por esse motivo, ele é ainda utilizado em equipes de resgate.

Apenas meu pai e minhas sorellas têm o número do meu pager, por ser por ele que
recebemos nossos trabalhos. Olho na tela e vejo uma mensagem do meu pai, um endereço e um
trabalho a ser feito.

Eu preciso muito disso e vou aliviar a mente matando algum maledetto.

Respondo que já estou a caminho, que espero por Alessa no local.


Me troco com uma calça jeans, camiseta regata preta, com uma jaqueta por cima. Nos
pés, uma bota e o cabelo, rabo de cavalo.

Desço as escadas em passos rápidos, com a bolsa de armas, sim, pesada, mas já me
acostumei. Sei que Luigi está em reunião no escritório, por isso acelero os passos, não quero que
ele saiba que estou saindo para fazer um serviço.

Na realidade, eu nem poderia, mas disse à Alessa depois da nossa última missão que
sempre que, ela tivesse alguma, e que fosse fazer sozinha, para me chamar. Assim, faço
companhia a ela enquanto me distraio da vontade de matar meu marido.

Do lado de fora, encontro Romeo, jogo a bolsa para ele que pega sem problemas, afinal,
já está acostumado.

— Trabalho? — Pergunta, abrindo o carro.

— Sim. Vamos. — Entro no banco do passageiro.

— Donna, pensei que agora não ia mais fazer isso. É a moglie do Don. — Romeo fala.

— Só dessa vez, va bene?

Ele coloca a mala na parte traseira e entra, me encarando.

— O Don Luigi sabe? — Liga o carro e me encara conforme pergunta.

— Não, e não vai. Eu preciso aliviar a minha cabeça, Romeo, e papai mandou um
trabalho. Agradeço por isso.

— Hummm, va bene.

Chegamos ao endereço que está no pager, um prédio em construção de oito andares, é


provavelmente o local onde tenho de me esconder e procurar pelo alvo. Romeo pega a bolsa e
começa a subir comigo em silêncio.

A cada degrau que eu subo daquela escada, um frio atinge a minha espinha, como se não
estivesse certo. Chegando no oitavo andar, vou na direção onde está no pager, um local aberto
como um estacionamento, ou o que seria de um, com cortinas de plástico protegendo o local.

— Giulia, tem certeza de que é aqui? — Romeo me pergunta, ao me entregar a bolsa.

— Tenho, esse é o endereço que meu pai me enviou.

— Tem algo errado, eu estou pressentindo. — Avisa com a expressão de preocupação,


enquanto olha para os lados.
— Romeo, apenas meu pai e minhas sorellas têm o número do pager. Talvez, seja apenas
a sua impressão. — Digo, pegando o aparelho e enviando uma mensagem que cheguei,
esperando pela localização do alvo.

— Seu pai nunca te enviou para uma missão sozinha, sempre que chegávamos alguém já
te esperava. — Fala.

— Sim. — Respondo, guardando o pager em minha calça, sentindo o desconforto


crescendo dentro de mim. — Romeo, talvez seja melhor ligar para meu pai, estou com a
impressão de que algo está errado, assim como você.

— Sim.

Romeo pega o celular, mas logo guarda. Pois à nossa frente e pelos lados, aparecem
vários homens armados, todos com um sorriso. Me mostrando ter caído em uma armadilha.

Como eu pude ser tão burra? Deveria saber que, depois de me tornar a moglie do Don,
um alvo pintado de vermelho estava marcado em minhas costas. Mas a raiva pelo que aconteceu
nos últimos dias não me deixou raciocinar direito e meti os pés pelas mãos.

— Droga! — Exclamo.

Sem pensar mais de uma vez, e com o sangue fervendo nas veias, saco a arma que
carrego em minha cintura, assim como Romeo. Os homens fazem o mesmo, porém, não atiram
em mim e sim, na direção de Romeo.

Atiro contra eles, enquanto Romeo se protege atrás de uma pilastra. Estava claro, o alvo
morto era ele, e o vivo seria eu.

Um braço forte acerta minha mão, me fazendo derrubar a arma. O homem à minha frente
vem no combate corpo a corpo, tentando acertar um soco em meu abdômen, que eu desvio. Sinto
a adrenalina correr em mim, enquanto seguro o seu pescoço, pulando em suas costas. Giro a sua
cabeça com um estalo, quebrando o seu pescoço. Antes que ele caia no chão, pulo, pegando a
minha arma e a dele, partindo para o próximo.

Vejo Romeo atirando em um grupo de inimigos, se protegendo entre as colunas de


cimento. Ele me olha com um sorriso confiante, e eu retribuo. Sei que ele está preocupado
comigo nesse momento, mas que também sabe o mesmo que eu, se sair de trás da pilastra, será
morto.

Corro na direção de outro homem, saltando em seu pescoço, prendendo as minhas pernas
em uma tesoura. Ele gira, tentando se livrar de mim, mas eu atiro nos soldados que se
aproximam, enquanto sinto o seu pescoço pulsar entre as minhas coxas, com a força que faço
para estrangular seu pescoço. Ele cai no chão com o impacto, batendo a cabeça, caio junto com
ele, porém me levanto rápido, atirando no homem que corre em nossa direção. Me viro e atiro no
que acabei de derrubar, um tiro bem no meio da sua testa, sem piedade.

Uma mão puxa minha perna, percebo ser um dos homens que já levou um tiro, porém o
infeliz ainda está vivo, acabo caindo, chuto sua cara com força, esmagando o seu nariz e atirando
na cabeça, agora ele morre de uma vez. Me levanto rápido, com três homens na minha frente,
aperto o gatilho, mas nada acontece, me mostrando que estou sem balas.

— Sporcizia. — Praguejo.

Eles sorriem e vêm em minha direção, jogo a arma na cara de um, acertando em cheio
seu olho, fazendo-o cambalear e o sangue escorrer, mostrando que cego ele já ficou, acerto um
soco no primeiro, um chute no segundo, que tenta abrir o olho, mas outro segura meus braços,
me imobilizando. Sinto o seu hálito fétido no meu ouvido, enquanto ele sussurra:

— Perdeu, gracinha. — Chuto seu saco com o calcanhar, e ele acerta um tapa em meu
rosto com força.

Romeo corre para me ajudar, mas como uma sombra, um homem aparece por detrás das
colunas, com uma câmera de vídeo na mão e uma arma na outra. Ele aponta para a barriga de
Romeo e atira. Eu grito, em pânico, enquanto vejo o sangue jorrar do seu corpo.

— NÃOOO!! — Grito, ao ver meu amigo parar no lugar e o sangue escorrer, enquanto o
homem apenas grava a agonia à minha frente.

Romeo dá dois passos para trás, se apoiando na coluna e escorregando para o chão,
deixando a marca de sangue na parede. Consigo sentir, através do seu olhar, a dor e a surpresa.

— Romeo, olhe para mim, olhe para mim. — Peço, me debatendo enquanto tento me
soltar para o ajudar, mesmo com dois homens me contendo e um com uma arma na minha
cabeça, enquanto vejo o olhar de meu amigo perdido no ambiente.

— Perdão, Donna. Não consegui te proteger.

Ele fala, fechando os olhos, continuo me debatendo agora em desespero, tentando pegar
uma arma, mas não consigo. O homem com a câmera se aproxima, chegando bem perto do meu
rosto, e sorri. Nesse momento, um dos homens que me segura amarra a minha boca com uma
mordaça de pano, e depois coloca uma venda em meus olhos, me deixando sem a opção de
enxergar.

— Está vendo, Don Luigi? Estamos com a sua mulher agora. Se fechar esse acordo com
meu rival. Essa é a última imagem que terá dela.

Escuto o homem dizer com um sotaque americano. E logo depois não escuto mais nada.
Capítulo 32
As pilhas de trabalhos em minha frente não me chamam atenção, penso em minha filha e
em como anda seu casamento. Na cerimônia do Don Luigi, eu percebi o clima que ficou entre
eles, só espero, do fundo do meu coração, que não tenha que passar por cima da minha honra, e
matar pela primeira vez um Don da máfia. Principalmente, da família Esposito, pois se ele a
maltratar, é exatamente isso que farei.

Não vou deixar que aconteça o mesmo com ela, o que aconteceu com Sofie.

Seguro o terço olhando para ele com tristeza, os anos passam e eu ainda não consegui
provas para matar aquele maledetto do Karev.

Meu celular toca, atendo e percebo ser Romeo, com a voz sôfrega, buscando por ar e isso
aperta meu peito.

— Senhor, código G01V. — Ele diz o código especial de Giulia em perigo.

— Onde vocês estão? — Pergunto olhando na tela do computador procurando o sinal do


rastreador dela.

— Romeo… Romeo… Romeo.

Droga, ele não responde.

Vejo o sinal de Romeo e Giulia em um prédio em construção, não entendo o porquê de


eles estarem lá. Saio quase correndo pelo corredor, entrando na sala de computação, onde Alessa
está com sua amiga Flávia.

— Giulia, está em perigo. Reúna a equipe.


Ordeno e ela pega o comunicador já se levantando.

Chego no prédio onde tem a localização do sinal, nem avisei o Don Luigi ainda. Não
parei para pensar nisso, e, na verdade, só lembrei disso já aqui.

Duas equipes de 6 homens sobem armados, eu vou com a primeira e Alessa com a
segunda. Assim que chegamos no topo, vejo apenas Romeo escorado em um pilar, com sangue
manchando a sua roupa, e uma poça começando a se formar ao chão.

Há mais manchas de sangue pelo local, porém nada de Giulia e isso aperta meu peito.

Caminho até Romeo, toco seu pescoço e vejo que ainda respira. Quando faço isso, ele
abre os olhos e me encara, seu olhar longe, perdido.

— O que aconteceu aqui, Romeo? — Pergunto devagar.

— Emboscada. — Diz fraco.

— Como assim, emboscada? O que faziam aqui?

— Giulia… Ela recebeu uma missão, então viemos e… e... — Ele não responde, apenas
fecha os olhos e desmaia.

— Pai. — Alessa me chama e eu me viro, vendo em suas mãos, os brincos e o anel de


Giulia.

Eles sabiam dos rastreadores e os removeram.

— Maledettos. Como sabiam, e como conseguiram clonar o sinal do pager?

— Como vamos encontrar a minha sorella? — Alessa pergunta com o olhar triste.

— Ligue para Kiara, peça a ela para vir com o marido e aquelas bugigangas que ele
inventa. Vou avisar ao Don Luigi.

Saio em passos firmes com raiva, enquanto ligo para ele. Toca várias vezes, porém, ele
não atende. Respiro fundo e ligo para o Consigliere, provavelmente o Don está em reunião.

— Consigliere. — Digo assim que atende, minha voz calma, que ele reconhece ser algo
errado.

— Sim, aconteceu algo, Senhor Telesca? — Pergunta e eu respiro fundo.

— Giulia foi sequestrada. — Silêncio.


— O quê? Como assim? Que eu saiba, ela está em casa. — Sorrio, mas de raiva.

— Vou explicar o que eu sei depois. Agora avise o Don.

Digo e desligo, respirando fundo, pelo visto Giulia saiu de casa sem ninguém ver. Mas
parece que já esperavam por ela. Minha filha se tornou um alvo após o casamento, e o pior é
saber que ela sabia muito bem disso. Porém, agiu da forma errada, mesmo sendo treinada por
tanto tempo.

Contudo, não posso culpá-la, somos humanos e humanos erram.


Capítulo 33
— Então, Aaron. Essa é a minha última proposta. — Digo olhando em seus olhos.

Após horas e mais horas discutindo esse acordo com Aaron, como chefe de uma das
máfias americana, quer uma parte da Itália para trabalhar e os portos para enviar e trazer algumas
encomendas de armas. Sei que Alessandro, o Subchefe, tem uma pequena boate no território
deles, graças a um casamento arranjado, mas agora eles querem vir para cá, querem espaço e,
sabe, a Itália não é tão grande assim.

Meu celular toca no momento que termino minha fala, não atendo, por ser falta de
educação em meio à reunião fazer isso. Porém, Matheo sai da sala, fica alguns minutos e depois
volta com o semblante sério.

— Don Luigi, eu… — Aaron vai falar, mas levanto o dedo pedindo um minuto.

— Matheo? — Pergunto.

— Don, pode me acompanhar?

Me levanto e vou até Matheo, que abre a porta. Assim que passo por ele, fecha a porta,
nos dando privacidade e eu pergunto.

— O que está acontecendo?

Matheo vai responder, só que um soldado atrapalha, ele traz um ragazzo franzido, que
segura uma caixa na mão.
— Soldado, estou ocupado.

— É importante, Don. Esse ragazzo disse que foi enviado por alguns homens e tem uma
fita dentro da caixa, destinada ao senhor.

— Don, pegue e vamos para a sala. Soldado, fique de olho no ragazzo. — Matheo
pronúncia com a voz preocupada.

Saio acompanhando Matheo, que não diz nada, apenas abre a caixa que está em minhas
mãos e pega a fita, colocando no vídeo cassete.

— Que sporcizia está acontecendo? — Pergunto irritado.

— Senhor Telesca ligou, está vindo para cá. — Ele respira fundo. — Giulia foi
sequestrada.

— O quê? — Pergunto, sem acreditar, como ela teria sido sequestrada sendo que estava
dentro de casa.

A fita começa com um homem de máscara no rosto, ele vira a câmera mostrando Giulia
chegar em um local e logo depois toda a cena desenrola na minha frente. Vejo como ela age,
como atira e se defende, até o momento que capturam minha moglie e meu peito fica pequeno.

Escuto as palavras dele enquanto olho para minha moglie sendo vendada e amordaçada,
depois a pancada que ela leva na cabeça que a faz desmaiar, então o homem vira a câmera para
ele e sorri. Consigo ver o sorriso por trás da máscara que esconde parte do seu rosto.

— Don Luigi. Bom, agora que sua mulher está tirando um cochilo, vamos conversar.
Sabe, nosso meio é complicado, e há sempre alguém querendo mais poder e, no meu caso, não
quero que Aaron tenha mais do que eu. Você me entende, não é mesmo? Afinal, a Itália tem
apenas um Don, diferente de EUA. Você nega esse acordo com Aaron, e faz comigo. Eu devolvo
a sua mulher em segurança, sem nenhum ou quase nenhum arranhão. E como você sabe, a
palavra de um Don não volta atrás, e uma das cláusulas de nosso acordo é você nunca levantar a
mão para mim ou minha família. Espero sua resposta, em breve terá mais notícias minhas e nem
tente achar a sua mulher, eu sei dos rastreadores e já removi. — Ele mostra os brincos e o anel de
Giulia. — É tão bom ter amigos, não é mesmo? Agora preciso ir, tenho de levar a minha linda
apólice de seguro para um lugar especial.

A imagem some e tudo fica preto, inclusive minha cabeça. Por segundos, parece que o
mundo à minha volta se esvai e depois eu acordo com raiva, apertando os punhos e ouvindo de
longe Matheo me chamar. Me viro com os dentes trincados, olhando para ele e para o Senhor
Telesca, que tem ao lado Alessa. Minha respiração está desregulada, saio em passos firmes até
meu escritório onde Aaron está. Assim que abro a porta, ele se levanta como os outros.

— Estamos com uma pequena controversa aqui. — Digo firme.

— Eu sei, acabei de ser comunicado. Parece que um dos meus rivais quer me prejudicar.
— Se lamenta de forma cordial.
— Exatamente. Só que eu não sou um homem de aceitar chantagens. Por isso, você e os
seus ficarão aqui, no meu escritório, sob o olhar dos meus soldados. Sem aparelhos telefônicos
ou de qualquer tipo que possa informar algo ou alguma coisa a alguém. Se eu desconfiar de algo
ou vocês agirem de má-fé enquanto eu estiver fora. Saiba que não sairão do meu território.

— Está nos ameaçando, Don Luigi? — O conselheiro dele pergunta.

— Não, eu apenas estou comunicando a vocês. Então, se sentem e aproveitem a estadia, o


bar está liberado e a cozinha também. Assim que eu voltar, iremos continuar de onde paramos.

Saio passando por Matheo e por meu sogro, que observam calados, faço sinal aos
soldados e dois entram para fazer o que falei. Respiro fundo e olho para o Senhor Telesca.

— A aliança de Giulia possui um mini rastreador. — Tiro minha aliança e entrego a


Alessa. Eu sei que rastrear é o trabalho dela. — Com a minha aliança, você encontra a dela.

— Vejo que aprendeu muita coisa. Estar um passo à frente pode salvar minha filha nesse
momento. — Meu sogro fala.

— Sim. Agora vamos começar a procurar por ela, preciso de minha moglie de volta e
quem sabe não consigo matar algum desses Maledettos.
Capítulo 34
Não sei onde estou, mas sinto o cheiro de mofo, coisa velha e suja. Sei que me encontro
deitada no que parece uma cama, pois sinto algo como um colchão de mola.

Tento puxar minhas mãos, porém nada, elas estão amarradas acima da minha cabeça.
Mexo minhas pernas, buscando por qualquer coisa que possa me ajudar, e percebo uma
superfície lisa larga, mas se abrir minhas pernas, consigo sentir onde acaba. Provavelmente, é
uma cama.

Estúpida, isso que fui. Como saio em uma missão, sem comunicar meu pai antes, ou
confirmar em uma ligação? Na verdade, isso nunca passaria na minha cabeça, afinal, foi do
número dele, a ordem saiu do nosso canal de comunicação direto. E eu nunca contrariei uma
ordem ou contestei.

Mas agora percebo que fui rastreada e o número dele clonado. Alguém próximo deve ter
feito isso, se não foi próximo, é alguém muito inteligente. E pelo que pude entender do sotaque,
são americanos, não os que o Don Leonel tinha uma aliança, pois esses eu sei que estão na minha
casa com Luigi. Mas outros que provavelmente estão atrás de mais poder.

Eu sabia que tinha de me proteger melhor, afinal sou a moglie do Don, mas na hora da
raiva e da vontade de descontar em alguém toda a minha frustração, não fui sensata e agora sei
como meu marido se sente. Pois pelo que percebi, ele é assim. Impulsivo, e age antes de pensar.

E Romeo, como ele deve estar? Dio, isso aperta meu peito de tal forma que parece que
vou sufocar, cresci com ele e Romeo é quase meu fratello. Se algo acontecer com ele, quem fez
isso vai pagar caro. Quando eu sair daqui, vão se arrepender de ter nascido e mexer comigo e
com Romeo, é uma promessa.
Escuto a porta se abrir e dois homens entram, ainda estou vendada e amordaçada, mas
escuto vários passos, sinalizando mais de uma pessoa.

— Ela está aqui, como o combinado. — O mesmo que estava com a câmera fala,
reconheço sua voz.

— Hummm… — O único som que o outro faz, nenhuma palavra, apenas o som da sua
garganta, como se estivesse satisfeito.

— O balde de água está ao lado da cama, depois que terminar, se quiser se limpar. Sabe,
sem digitais. — O outro diz e meu coração dispara, terminar o quê? Não, não pode ser.

Escuto a porta se fechar e logo depois os passos de alguém se aproximarem. Mantenho a


calma, pois nesse momento não adianta se desesperar, e sim tenho de esperar pelo momento
certo, para fazer algo e virar esse jogo. Respiro fundo sentindo o seu cheiro, não reconheço,
parece uma mistura de sabonete barato com loção de barbear que tem cheiro de tangerina.

Sinto a mão dele passar pelas minhas pernas, sobre a minha barriga, meu seio e chegar ao
meu rosto. Ele puxa a mordaça e beija a minha boca, enfiando a língua em minha garganta.
Mordo com força e cuspo o gosto de sangue e tangerina quando ele se afasta de mim. Aquele
cheiro que senti misturado com o sabonete é de bala, só que não me lembro de nenhuma bala
aqui na região que tenha esse cheiro.

— Maledetto, me solta. — Vocifero e ele volta a colocar a mordaça.

— Xiii. — Faz esse barulho maledetto como se fosse para eu me calar.

Sua mão volta a andar em meu corpo, sinto abrir minha calça e agora, sim, meu peito se
aperta, ele não vai fazer o que eu estou pensando. Por Dio, não quero perder a minha virgindade
assim.

Me debato tentando tirar sua mão de mim, se fosse para me torturar, que torturasse,
cortasse os meus dedos, minhas unhas, arrancasse meus dentes, mas não isso, não assim.

Apenas a ideia de ser violentada já me apavora de tal forma que não consigo raciocinar
direito.

Sem controlar, sinto uma lágrima escorrer dos meus olhos quando ele remove a minha
calça e a minha calcinha junto, me expondo. Chuto e acerto algum lugar, talvez seu abdômen,
isso o irrita, pois ele puxa uma das minhas pernas com força, tanta força que dói meus pulsos
presos pela corda, e sinto que ele amarra minha perna, uma de cada lado da cama. Estou
completamente imobilizada e aberta para que ele pudesse fazer o que quisesse comigo, sem
conseguir me defender. A impotência que isso me causa me desespera.

O homem não fala, mas sua respiração está pesada e eu sei que ele me observa, observa o
que apenas um homem até hoje tinha visto. Minha nudes.

Ele segura em minha blusa, puxando com vigor que a peça não resiste à violência e sede
machucando meus braços pela força que ele impõe, para rasgar o tecido. Depois sinto algo
gelado em minha pele, uma lâmina, uma faca, que logo corta meu sutiã, revelando meus seios.

— Hrr. — Solta aquele som, como se o que ele vê fosse satisfatório.

Aperto forte minhas mãos, tentando puxar, desatar o nó que me prende, mas não consigo.
Tento jogar meu corpo para cima e para baixo, me mover de alguma forma, tentando impedir o
que ele quer. Nenhum treinamento me preparou para isso, mas não vou desistir de lutar.

A ânsia sobe em meu estômago quando sinto a língua dele percorrer meu corpo,
começando pelo meu umbigo e subindo até meu seio. Me debato, agora em desespero, eu não
quero isso, não assim dessa forma.

Ele aperta meu seio com uma mão com tanta força, espreme o bico rodando e dói, logo
depois morde a lateral do meu seio, fazendo com que doa ainda mais.

— AAAAAAAH!. — Grito com a mordaça na boca.

Escuto o som dele rir, e logo ele desce mordendo minha barriga, da mesma forma. Eu
consigo sentir seus dentes cravados em minha pele uma e outra vez, sem parar, me rasgando,
pelo tamanho da força que ele faz.

Já não consigo controlar as lágrimas, elas escorrem pelo meu rosto, conforme suas mãos
nojentas alisam minha pele, e depois me morde, como se eu fosse um pedaço de carne suculento,
como se quisesse realmente tirar um pedaço de mim.

Seus dedos vão em direção à minha boceta, abrindo-a, tocando o meu clitóris. Eu tremo,
tremo com o toque dele. Nego várias vezes com a cabeça, pedindo mesmo com a mordaça em
minha boca. Nesse momento, esqueço todo meu treinamento e só me lembro do medo e de não
querer suas mãos em meu corpo. O desespero me consome.

— Por favor, não. Por favor. — Nem sei como o som sai, já que minha garganta está
ardendo de tanto chorar e gritar. Começo a implorar sem acreditar que ele realmente fosse
desistir de alguma coisa.

Ele começa a esfregar meu clitóris, e diferente do que já tinha sentido sozinha, ou com
Luigi, eu só sinto dor. Ele usa força, a sensação é de que esfrega areia em mim, me fazendo
queimar de dor. Como se ele estivesse me arranhando, me cortando, rasgando a alma, tirando
algo de mim que ninguém nunca poderia me devolver. Algo que eu sempre sonhei com o infeliz
do meu marido e, mesmo com raiva, nenhuma vez teria sido assim. Pois eu sei que, mesmo na
raiva, Luigi não me machucaria.

Sua língua nojenta lambe a minha perna, seus dentes mordem a minha coxa, e seu hálito
toca a minha pele íntima. Me tirando um soluço tão forte, que nem a mordaça consegue
esconder. Ele tomaria de mim, o que guardei para ser entregue por amor.

Cada vez mais perto dele conseguir o que quer, eu estou sem saída, não consigo me
desprender, não consigo me mexer, sem rastreador, como vou me safar dessa? Arrancaram meus
brincos, o anel de minhas sorellas, meus rastreadores, todos. Me sinto sozinha, sendo
despedaçada. Ele vai me quebrar de uma forma que nunca imaginei.
Tudo o que meu pai sempre lutou, de onde salvamos tantas crianças, como minha
instrutora Laura há anos atrás, se voltando para mim, como uma ironia do destino. Estou quase
sucumbindo, desligando de tudo o que vai me acontecer, é o melhor, não sentir.

A porta se abre de uma vez, e eu escuto a voz de outro homem, também com sotaque
americano.

— Estamos com problemas, melhor você partir. E não esqueça o acordo, espero as
mulheres que prometeu. — O homem fala exaltado.

O outro nojento, que estava entre as minhas pernas, se levanta. Sinto um alívio me tomar.
Ele se aproxima de mim, passa a mão em meu rosto e então segura o colar que Luigi me deu, o
qual eu voltei a usar, mesmo com raiva, pois para mim esse colar sempre foi importante, o
puxando com força de meu pescoço, me causando mais dor.

Ouço o barulho de algo de metal e depois me assunto com a água fria em contato com
meu corpo, me molhando inteira. Exposta, me sentindo suja, machucada e impotente, então outra
pancada na minha cabeça, me deixando inconsciente outra vez.
Capítulo 35
Alessa logo encontrou o sinal da aliança de Giulia. Meu sogro já havia trazido dois
grupos de soldados e, como eu ainda não conhecia bem os meus, deixei Matheo escolher alguns
de confiança. Eles já estavam na minha casa, fazendo a guarda dos americanos. Da minha casa,
eles não iam sair até eu encontrar a minha moglie.

Liguei para Roman, para informá-lo do acontecido, só que ele me atendeu do hospital.
Nosso pai havia tido uma parada cardíaca e meu fratello precisava estar lá com ele. Não posso
dizer que sofro por meu pai nessa situação, não sofro. Pois já sofri muito quando pequeno e cada
grito e tapa que foi me dado. Hoje percebo como corri atrás de algo que nunca tive e nunca vou
ter dele. Passei a minha vida quase toda, querendo algo que não existe em meu pai. Amor. Isso
ele não sabe o que é, e eu descobri na Rússia com meu avô. Lá eu soube que meu pai sempre foi
assim, nunca sentiu nada por ninguém, nem mesmo pelos pais, pela própria família, sangue do
seu sangue.

Enquanto esperávamos por Alessa, Kiara e seu marido Falcão, meu cunhado, junto com o
seu subchefe, Martino, chegaram com outro grupo. Eles vieram a pedido do meu sogro, por ser
meu concunhado e Giulia sua cunhada. Nossa força aumentou consideravelmente. Sabia como
ambas as organizações haviam crescido, depois do casamento de Kiara com Falcão, depois da
união das duas organizações, o poder delas estava maior.

Tínhamos pelo menos 35 carros à espera do meu sinal, e assim que Alessa nos passou as
coordenadas, partimos. Chegamos a um prédio abandonado em Roma, a uns 35 ou 40 minutos de
casa, cerca de 33 km.

O prédio tem uns três andares e fica em uma área isolada e decadente. Pelo rádio,
confirmei a posição de todos e em qual entrada iriam invadir.

Tudo havia sido planejado com a ajuda do meu sogro, assim que Alessa descobriu o
local.

Cada frente estava sob o comando de um chefe. Kiara e Alessa, minhas cunhadas,
ficaram comigo. Não sei se agradeço a preocupação com o seu Don, ou me ofendo por elas
acharem que eu não dou conta.

— Pronto, Don? — Alessa perguntou com sarcasmo, e Kiara lhe dá uma cotovelada.

— Vamos. — Dou o sinal, ignorando a provocação.

Nesse momento, as frentes invadem o prédio pelos quatro lados. Sem chance de escapar,
era isso que eu queria. A bomba de fumaça foi lançada, os soldados esperaram o tempo de ela
agir e entraram com as máscaras nos rostos, tomando a frente.

Os tiros ecoaram pelo prédio, rasgando o silêncio. Invado sem pensar duas vezes, subindo
as escadas, atirando em tudo que se mexe, sem piedade. Nada de reféns. Era hora de exterminar
esse tipo de escória.

Kiara vinha atrás de mim, e Alessa atrás dela. A cada curva, um de nós parava e olhava
ao redor. Um homem apareceu na minha frente, mas não teve chance. Assim que avistei, atirei
um tiro certeiro em seu pescoço, que o fez cair rolando pela escada.

— Rato maledetto. — Digo, passando por cima de seu corpo, subindo o


degrau.
No primeiro corredor, avistei algumas portas, quartos. Chutei uma, abrindo-a, mas Kiara
me arrastou para trás e me fuzilou com os olhos. Eu estava agindo por impulso, sem pensar na
equipe.

— Scuze. — Disse.

— O Don pedindo desculpas? Nunca vi isso. — Alessa fala, rindo, e entra no quarto para
investigar.

— Todos temos que saber quando erramos. E corrigir esses erros não é vergonhoso, e
sim, o correto. — Digo, quando ela sai.

— Limpo. Não tem nada aqui. — Fala com o rosto sério.

— Bom que pensa assim. — Kiara me respondeu.

Continuamos a seguir em frente, varrendo o corredor com nossas armas. Os corpos


deixam o rastro da nossa presença, assim como o sangue que está em todo o lugar. O cheiro de
pólvora e sangue invade nossas narinas. Ouvíamos gritos e tiros vindos dos outros andares. Não
sabemos quantos inimigos ainda restam, nem onde está Giulia.
Avanço pelo corredor, seguindo o som dos tiros. Estou cada vez mais perto de encontrar
minha moglie, eu posso sentir. Mas, ao virar em uma curva da escada, entrando no próximo
corredor, sou surpreendido por um chute na barriga, que me faz perder o equilíbrio e a arma.

Me apoio na parede, Kiara tenta passar na minha frente, mas não permito. Não posso
colocá-la em perigo. Sei que sou o Don e é normal outros darem a vida por mim, por serem
treinados para isso, mas nunca colocaria uma delas na minha frente, são família e família se
protege.

Olho para cima com a raiva latejando em mim, vejo um homem alto e musculoso, com
uma cicatriz no rosto e um sorriso cruel. Ele segura a minha arma, apontando-a para mim.

— Olha só o que temos aqui. Don Luigi, o grande chefe da família. Veio resgatar a sua
esposa? Que pena, ela já não está mais aqui. — Fala, com uma voz rouca e zombeteira, um
italiano bem ruim.

— Onde ela está? O que vocês fizeram com ela? — Pergunto, mesmo sabendo que é
mentira.

— Não se preocupe, ela está bem. Pelo menos, por enquanto. Mas, se você quiser vê-la
de novo, vai ter que passar por mim. E eu não vou facilitar para você. — Ele diz, jogando a arma
para o lado e assumindo uma postura de luta.

— Acha que pode me vencer no mano a mano? Você não sabe com quem está mexendo.
— Digo, me preparando para o combate.

— Eu sei muito bem quem você é. Você é o Don Luigi, o grande chefe da família. Mas,
você também é um boxeador amador, que gostava de se exibir nos ringues, não é mesmo? Eu
também sou um boxeador, mas profissional. E eu vou te mostrar a diferença entre nós dois. —
Ele diz, avançando para cima de mim.

O rato me ataca com uma sequência de socos rápidos e fortes, mirando o meu rosto e o
meu peito. Me defendo como posso, bloqueando alguns golpes e esquivando de outros. Mas ele é
mais rápido e mais forte do que eu, e logo me acerta um soco no queixo, que me fez cambalear
para trás.

— Como eu disse, um amador. — Debocha de mim.

Ele aproveita a minha fraqueza e me acerta outro soco no estômago, que me fez cuspir
sangue. Cambaleio, sentindo uma dor aguda na barriga. E me lembro da surra que dei em Victor.

— Adeus, Don Luigi. Foi um prazer te conhecer. — O homem diz, levantando o braço
para me acertar um golpe forte na cabeça.

Mas, antes que ele pudesse me atingir, eu reúno as minhas forças e dou um soco em seu
pescoço, fazendo-o urrar de dor. Ele se afasta, segurando onde acabei de deferir meu golpe,
baixando a guarda, o que aproveito para me levantar e dar um gancho de direita no seu queixo,
que o faz cair no chão tonto com o impacto.
Respiro fundo, sentindo o gosto de sangue na boca. Olho para o homem caído e sinto um
misto de raiva e alívio. Eu havia vencido, mas ainda não havia encontrado Giulia. Pego a minha
arma, que estava jogada no chão, e viro com um sorriso.

— Amador. — Digo apertando o gatilho, estourando os seus miolos.

— Olha, dessa vez fiquei surpresa. Você tem um belo soco. — Alessa me elogia.

— Pare com isso, não encha mais a bola dele. — Kiara fala passando por mim. —
Vamos, ainda falta um corredor, e pelo que presenciei, os soldados estão lá embaixo fazendo a
limpa, o que nos mostra que, ou esse corredor está vazio com nossa sorella, ou teremos mais uma
surpresa.

Meu coração se aperta.

— Não teremos surpresa. Vamos encontrar a minha moglie.

Corremos pelo corredor escuro, procurando pela porta certa. As outras estavam todas
vazias, o que nos levava a crer que era a última. Kiara se posicionou à esquerda da porta, Alessa
à direita, e eu fiquei ao centro.

Kiara girou a maçaneta devagar e empurrou a porta com cuidado. O que eu vi me fez
paralisar de horror.

Giulia estava deitada na cama, amarrada pelos pulsos e tornozelos, com uma venda nos
olhos, uma mordaça na boca, nua, ensopada e com marcas de sangue. Ao lado dela, um homem
alto e magro, segurando uma arma na têmpora dela e sorrindo para mim.

— Vejo que não aceitou a minha proposta, Don Luigi. — Ele diz com a voz que eu
reconheço do vídeo. É ele o chefe.

— Eu não negocio com covardes. E já que você me fez vir até aqui, me diga, quem é
você? — Pergunto, tentando manter a calma, mas sentindo o meu coração bater forte, louco para
abraçar a minha moglie e protegê-la.

— Eu tenho uma oferta melhor para você. Você manda os seus homens saírem daqui, me
deixa escapar, e eu vou embora. — Ele fala, fingindo um sorriso.

— E se eu não aceitar?

— Eu mato a sua mulher e depois me suicido. Aí você nunca vai saber quem planejou
tudo isso. — Sporcizia, me faz prestar atenção no que diz, tem outro.

— Do que você está falando? Explique-se. — Ordeno.

— Esse sequestro não foi ideia minha. Nem o lugar. Eu fui contratado para fazer tudo
isso. Me deram as instruções, o que era para fazer com ela e o que eu ganharia em troca, além do
que já tinha pedido a você, claro.

— Você é só um peão. — Eu concluí.


— Chame como quiser, eu sou apenas um homem de negócios. Mas se você me deixar ir,
eu te digo quem foi. E você me dá a sua palavra de honra que nunca vai me procurar, nem à
minha família.

Fico em dúvida. Eu quero muito matá-lo, mas se eu fizesse isso, eu não iria descobrir
quem estava por trás desse plano. Podia ser alguém da família, um infiltrado, ou um traidor. Era
uma decisão difícil. E olhando para esse homem na minha frente, eu sei os motivos de não passar
de um nada nos EUA.

— Decida-se, Don Luigi. A informação ou o cadáver da sua mulher.

— Eu…

Antes que eu pudesse responder, um tiro cortou o ar, quebrando o vidro da janela e
acertando o peito do homem. Ele solta a arma e se afasta de Giulia, cambaleando. Eu aproveito a
distração e agarro pelo pescoço.

— Quem mandou? Quem fez isso? — Vocifero.

— Vai ter de descobrir sozinho, Don. — Cospe sangue e então morre.

— Sporcizia. — Praguejo o soltando.

Olho para a janela, tentando manter a calma, enquanto Kiara e Alessa se aproximavam da
cama para soltar Giulia. Nesse momento, eu tinha de agir com a cabeça.

— Quem fez isso? — Pergunto pelo comunicador.

— Eu achei que você precisava de uma ajuda. — Ouço a voz de Roman.

— Como você sabia? Eu não te contei nada.

— Um passarinho me contou.

— Quem é esse passarinho? — Pergunto, e Roman fica em silêncio por alguns segundos.

— É assim que agradece ao seu irmão?

— Ele estava a mando de outro, Roman, agora perdemos a oportunidade de tirar algo
dele. Obrigado por dificultar as coisas. — Respondo com raiva.

Ele se cala.

Me viro para a cama e vejo Alessa cobrindo Giulia com a jaqueta que ela usava. Eu me
aproximo e tiro o meu blazer, e também a cubro, escondendo o seu corpo nu. Me abaixo e a pego
no colo. As sorellas dela não dizem nada, mas pelo olhar eu vi que elas suspeitam de algo.

Aperto minha moglie contra o meu corpo, sentindo o seu corpo frio e molhado. A minha
garganta queima, imaginando o pior, imaginando o que ela sofreu nas mãos desses monstros. A
minha vontade é de matar o maledetto que orquestrou isso, e eu vou.
Capítulo 36
Encostado na parede fria do hospital, penso em cada passo a seguir, meu sangue ferve em
minhas veias de tanta raiva em imaginar o que pode ter acontecido. Uma semana sendo o Don e
quase perco a minha moglie.

Como se não bastasse estar lotado até o pescoço com documentos, acordos e dívidas a
tratar, ainda tenho a incompetência da segurança dela, que pelo visto não sabe como fazer o
trabalho direito, pois Giulia saiu apenas com Romeo, outro coitado que eu soube estar passando
por uma cirurgia delicada.

Muita coisa tem de mudar, mais do que eu pensei que teria, tenho de mostrar a todos que
ninguém mexe com a minha família, que ninguém pode me desafiar e muito menos tentar me
obrigar a fazer algo. E quando eu descobrir quem fez isso, quem armou isso, vou fazê-lo sofrer
muito.

Me afasto da parede ao ver o médico, Dr Fernando, se aproximar com uma prancheta na


mão. Seu rosto sério me preocupa.

— Luigi, pode me acompanhar até minha sala. — Pede, e meu sogro vem junto com
minha sogra e minhas cunhadas, que também se aproximam de onde estou.

— Pode falar, doutor, somos todos família. Não tem o que esconder. — Meu sogro pede
e eu concordo. Ele é o pai, e sei como deve estar preocupado, afinal, eu estou.

— Me acompanhem.
Dr Fernando nos guia até sua sala. Assim que todos entramos, ele fecha a porta e segue
até sua cadeira onde se senta, fazendo menção para nos sentarmos, mas prefiro ficar de pé, e
apenas a minha sogra se senta.

— Pode começar, doutor. — Peço e ele começa a olhar os papéis.

— Bom, o estado de saúde de Giulia é estável. Os ferimentos são superficiais, as


mordidas cortaram a pele epiderme e não avançaram pela hipoderme. Colhemos o DNA das
mordidas em busca de saliva, e vieram colher as digitais como o senhor pediu. Todos os exames
ficarão prontos em algumas semanas, porém já vou deixar avisado que é difícil encontrar
qualquer DNA ou digital. Giulia foi encontrada molhada, e a umidade atrapalha na busca de
provas. A água pode lavar o DNA e manchar as digitais. Mas não é impossível. — Ele fala e
para. Percebo que respira fundo.

— Continue. — Ordeno.

— No corpo de delito, na busca de sêmen no canal vaginal, não conseguimos material


para coleta. — Meu coração parece querer sair pela boca nesse momento. — Também não foi
identificada violência sexual, o hímen continua intacto, sua moglie ainda é virgem, ela não foi
estuprada.

Dr Fernando fala, e eu sinto um alívio momentâneo até que a palavra virgem ecoa na
minha mente, “virgem” então ela nunca se entregou a ninguém, ela se guardou para mim, ela…
Sporcizia.

Todos na sala olham para mim nesse momento, o que eu ignoro completamente. Eu sinto
um incômodo em meu peito, falei algumas merdas para ela, e ela não havia se entregado a
ninguém, ela havia se guardado.

— Don, está bene? — Ouço a voz de Dr Fernando me chamar.

— Sim, estou.

— Como eu estava dizendo, no exame consta laceração na parte externa e interna do


órgão reprodutor. Embora o agressor não tenha consumado o ato, a pele na virilha de Giulia está
irritada de forma generalizada. Sinal de que ela foi tocada, contra a sua vontade, com força
aplicada.

Fecho meus olhos, apertando os punhos, tentando controlar a raiva que cresce em mim.
Ele havia tocado em minha moglie, além de marcar seu corpo com aquelas mordidas nojentas.
Ele iria abusar da minha moglie, merece morrer bem devagar.

— Quanto tempo ela vai ficar aqui, doutor? — Pergunto, tentando controlar o ódio
crescente no meu peito.

— Uma, duas noites no máximo. Como eu disse, o estado de saúde da sua moglie é
estável. Não há motivos físicos para mantê-la aqui. Vou esperar que ela acorde para ver como
está o seu emocional. Ela passou por um trauma muito grande e pode não estar apta a voltar às
suas atividades rotineiras de imediato, ou pode precisar de medicação para dormir, prefiro
observar esses dias de perto. — Confirmo devagar, assim como a família dela.

Sei que o trabalho da organização Telesca é combater pedófilos e estupradores. A máfia


Esposito pode ser uma máfia cruel, agir com coisas ilegais, mas minha família nunca apoiou
essas coisas. É por isso que, quando o nono de Giulia criou a organização, ele teve apoio do meu
nono Leonel. Agora eles estão aqui, vendo e ouvindo que a filha foi tocada, sei que todos estão
furiosos e sentidos. Lutar contra algo por anos, e quase ver isso acontecer em seu próprio sangue.

— Va bene. — Respondo, tentando soar calmo, mesmo não estando.

Saio em passos firmes, sigo até a parte de fora do hospital, acendo um cigarro e começo a
fumar, minhas mãos tremem de raiva, não só do maledetto que fez isso, mas também por saber
que fui enganado todo esse tempo. Que fui embora com raiva da minha Giulia, achando que ela
havia se entregado a outro, sendo que agora descubro que ela se guardou para mim.

Agora a pergunta fica em minha mente. Quem enviou aquela foto? Com toda certeza, era
quem estava com Alessa naquela noite. Pois sim, deve ser Alessa na foto, e todo esse tempo, eu
encarei aquela foto com raiva, sendo que, na verdade, eu via a minha cunhada e não a minha
noiva.

Mas não vou falar com Giulia ainda, ela está sensível e tenho de resolver outros assuntos.
Achar o maledetto que fez isso a ela, e depois conversar com minha moglie, explicar o que
aconteceu no passado e juntos descobrir o que houve.

Meu telefone toca, respiro fundo e atendo. Sei que, agora como Don, não posso deixar de
atender.

— Diga Matheo.

— Como sua moglie está?

— Bene, no possível. E como estão os Americanos?

— É sobre isso. O que pensa em fazer com eles?

— Não posso dar andamento na reunião com a cabeça assim. Então, avise a eles que
ficarão em um hotel, até que minha moglie saia do hospital. Só após ela ter alta, eu irei
continuar a reunião. E mantenha nossos soldados fazendo a escolta, além de colocá-los em um
hotel com escutas. Quero saber tudo e com quem falam. Ainda não posso confiar que eles não
têm nada a ver em relação ao que aconteceu hoje.

— Va bene, comunicarei eles.

Desligo o telefone e respiro fundo outra vez, agora pensando no que fazer. Vou pedir à
Telesca que comece a investigar os cadáveres e suas ligações com alguém daqui. Preciso fechar
o círculo de suspeitos e achar o maledetto que vou matar.
Capítulo 37
Abro os olhos devagar, me deparando com o teto branco, as luzes estão quase todas
apagadas, menos uma que ilumina a minha cama. Tento me levantar, mas sinto meu corpo
repuxar e uma dor me atingir. Olho em meus braços e, nesse momento, vejo meus pulsos
marcados, roxos.

Olho para os lados e encontro Luigi, sentado com os braços cruzados sobre o peito,
dormindo em uma poltrona do hospital.

Minha garganta arde ao olhar novamente para meus pulsos e então levantar o lençol,
vendo a roupa hospitalar e, logo que a ergo, vejo a marca em meu seio, me sinto suja. Eu não
consigo controlar o choro que vem, forte e dolorido.

É como se eu sentisse novamente as mãos daquele homem me tocando, como se a dor


dos seus toques brutos voltasse a me atingir. Esfrego um braço no outro, como se aquele ato
fosse limpar a sensação de sujeira de mim.

Luigi acorda com o som do meu choro e se levanta rápido, vindo em minha direção,
fazendo menção de me abraçar, porém, me afasto de modo brusco.

— Não. — Peço entre soluços.

— Sou eu, Luigi, seu marido. — Fala devagar.

— Eu sei quem é você. Mas eu estou suja, não toque em mim. Eu… Eu estou suja. —
Repito, o que ecoa em minha mente.

— Giulia, Raggio di Sole. Você não está suja, está tudo bene. — Fala e eu fecho os
olhos, negando.

— Ele me tocou. Ele tocou meu corpo, sua mão, sua boca… Eu estou suja, suja. —
Termino a frase entre um soluço, em um sussurro, que dói. Tudo dói, meu corpo, minha alma,
minha honra.

— Ele não abusou de você. — Ele faz uma pausa, como se fosse difícil para ele falar. —
Não… Não te estuprou. — Fala e sinto um alívio dentro de mim, mas ainda assim o sentimento
de sujeira está aqui.

— Ele me tocou sem meu consentimento. Isso é abuso, então ele abusou de mim. Pode
não ter consumado o ato, mas abusou quando me tocou, quando… — Paro de falar e começo a
chorar, me lembrando de tudo.

— Giulia, posso te abraçar? — Pergunta e um pouco mais racional, aceito.

Sinto os braços de meu marido me envolverem e me seguro neles. Minha garganta arde
tanto, queima de uma forma que dói demais. Ele passa a mão em minha nuca, fazendo aquele
carinho de que eu tanto gosto. E eu fecho os olhos, tentando me acalmar.

— Desculpa, a culpa foi minha, tudo foi culpa minha. — Confesso o que tenho em minha
cabeça.

— Não diga isso.

— Mas é verdade. Eu fui imprudente, saí sem segurança, levei apenas Romeo… Romeo,
Dio, onde ele está? — Digo, me afastando de seu peito, encarando seus olhos ao lembrar de meu
amigo.

— Ele está bene, fora de risco. Passou por uma cirurgia e já está em um dos quartos ao
lado, se recuperando.

— Fiquei com medo, medo dele ter morrido. Eu nunca me perdoaria, seria culpa minha.
— Abaixo o olhar para o chão, me sentindo derrotada.

— Não é culpa sua, pare de dizer isso.

— Eu sei que é. Eu estava com raiva e queria muito matar alguém para descontar a minha
raiva. Mesmo eu sabendo que a moglie do Don não pode sair por aí matando alvos, e muito
menos sem proteção. Eu errei, treinei anos para ser a moglie do Don, dia e noite estudando para,
na primeira semana, agir como uma ragazza impulsiva e fazer tudo errado. — Fecho os olhos e
suspiro.

— Não diga isso, você é perfeita. Perfeita para um Don. Perfeita para mim. — Abro meus
olhos, ainda com aquele sentimento de que sim, foi um erro idiota. Que eu não podia ter
cometido.

— Deita comigo. — Peço.

— Claro.
Ele sobe na cama do hospital, se posiciona na minha frente e me abraça. Fico com a
cabeça em seu peito, sentindo a sua respiração, seu cheiro. Finalmente me sinto em casa, segura,
posso fechar os olhos e tentar dormir outra vez.

Acordo sentindo o cheiro de Luigi, e sua mão passando em minhas costas de forma
carinhosa. Não quero pensar nos motivos que me fizeram sair de casa com raiva, por enquanto, é
melhor esquecer.

— Buongiorno. — Fala quando percebe que eu acordei.

— Buongiorno.

— Preciso me levantar. Logo alguma enfermeira vem te ver, além de Roman, que vai
trazer uma roupa para mim. Ainda estou com a mesma de ontem. Alessa também virá trazer uma
troca de roupa para você.

— Obrigada.

— Não precisa agradecer. — Sua mão passa com cuidado em meu rosto. — Pensei que ia
te perder, Raggio di Sole. — Mordo os lábios com vontade de chorar. — Não chore, não gosto
de ver seu rosto assim.

— Va bene. — Toco seu rosto. — Eu pensei em você, se eu fosse morrer ali, naquele
local, eu ia morrer pensando em você.

Ele não diz nada, mas vejo seus olhos ficarem tristes, ele beija a minha testa e me aperta
em seus braços.

— Giulia… — Começa a falar e eu o calo.

— Eu cansei de brigar, cansei de fingir que só sinto raiva de você. Foram tantos anos
tentando esquecer o gosto da sua boca, o seu toque, tentando deixar de te amar. Toda vez que eu
tentava, odiava você e a mim, odiava saber que você tinha me abandonado e ficava pensando que
tinha algo errado em mim, que você não tinha gostado de mim. — Confesso, aproveito que estou
aqui e estamos tão perto para dizer logo o que sinto. Prefiro que ele saiba de uma vez.

Ele segura em meu rosto, me fazendo olhar em seus olhos, me fazendo ver uma tristeza
ali. E quando ele vai falar algo, ouvimos batidas na porta e a voz de Roman.

— Luigi. — Ele chama.

Luigi se levanta e vai até lá. Abre a porta para Roman, que entra com uma bolsa de couro
na mão, onde provavelmente tem uma troca de roupa para meu marido. Antes que a porta se
feche, minha sorella entra correndo também com uma bolsa e um sorriso, mas logo que ela vê
Roman, muda seu sorriso para um mais ousado.

— Ia me deixar do lado de fora, é? — Pergunta, se aproximando de mim.

— Não vi você. — Luigi responde.

— Hummm… — Responde olhando para trás.

— Estou falando a verdade. — Luigi responde em um tom mais leve.

— Sorella, você consegue se levantar? Quer que eu te ajude a tomar um banho? —


Alessa me pergunta e eu estendo a mão a ela.

— Gostaria. — Olho para Luigi, que confirma.

— Roman, poderia ficar alguns minutos na porta. Preciso tomar um banho e ligar para
Matheo, preciso saber algumas coisas. — Luigi pede a Roman, conforme eu desço da cama, com
ajuda de Alessa.

— Claro.

Ambos saem, Luigi, antes de fechar a porta, sorri, um sorriso que acalenta meu coração.

Alessa me guia até o banheiro, me ajuda a tirar a roupa e, com cuidado, passa o sabão em
mim.

— Como está se sentindo? — Pergunta.

— Uma idiota e suja. — Não vou fingir que estou bem, é assim que me sinto.

— Sabe, depois se você quiser se consultar com um psicólogo, eu te acompanho. Na


organização tem alguns bons, você sabe. — Sorrio, ofereço um sorriso triste para ela.

Já acompanhei algumas ragazzas que entraram na organização após sofrerem ataques,


abusos ou violência sexual. Quando papai salva, algumas ainda são pequenas. Elas têm essa
opção, se não tiverem família ou não possam voltar, assim como aconteceu com Laura, minha
treinadora. Meu pai resgatou Laura antes de algo acontecer, mas nem sempre conseguimos
chegar a tempo, infelizmente.

— Vou pensar.

— Então, pense com carinho. Você passou por um momento traumático. Sei que pode ser
difícil para você, ainda mais nesse começo. Mas é muito bom ter alguém para conversar e contar
como está se sentindo.

Apenas concordo, eu sei disso, mas agora não quero pensar nisso. Alessa me ajuda a
vestir um vestido rosa até o joelho e pentear meus cabelos, depois me leva para a cama.

— Alessa, Romeo está bene? — Pergunto, receosa.

— Dona Tônia está aqui com ele. Ainda não o vi, mas posso ir atrás de notícias se quiser.
— Eu quero. Preciso saber como ele está para me sentir minimamente melhor.

— Va bene, vou ver onde é o quarto e conversar com Dona Tônia. Aí te trago notícias
dele.

— Obrigada.

Agradeço e me deito novamente na cama. Alessa sai e eu fico ali, olhando para o teto. Sei
que não posso ficar pensando no que quase aconteceu, sei que não posso continuar assim, como
se eu fosse fraca. Não sou, sou uma sicária, uma atiradora de elite, e a moglie do Don. Não posso
deixar que esse acontecimento me abale.

Limpo o rosto, como se estivesse limpando uma lágrima, e conto até 10 devagar. Eu não
ia mais chorar, não. Eu ia me vingar do maledetto que me fez isso, assim que Luigi descobrir
quem é.

— Tá tudo bene, você vai se vingar dele. Pare de pensar besteiras. De reviver o passado,
já passou Giulia. Já passou. — Digo a mim mesma, colocando em minha cabeça.

Respiro fundo, fecho meus olhos e repito várias vezes, até se tornar um mantra, onde o
que aconteceu vai ficar bem guardado dentro da minha cabeça e não vai mais me atormentar.
Não vai me destruir, porque eu não vou deixar.
Capítulo 38
Deixo Roman na porta do quarto de Giulia e sigo para um quarto onde Dr Fernando disse
que eu poderia usar o banheiro, para tomar um banho. Minha cabeça me chama de idiota, meu
peito aperta, me mostrando como fui burro.

Eu poderia ter pelo menos ligado alguma vez para ela, falado qualquer coisa, mesmo
sendo proibido contar o que acontece na outra máfia, para ela, eu poderia ter dito. Mas eu escolhi
não fazer isso.

Eu pensei que pudesse esquecê-la, que se esquecesse o amor que sinto por ela, seria mais
fácil. Mas dia após dia, isso se mostrou errado, quanto mais eu focasse em aprender, focasse em
tudo que meu avô André Karev me mandava fazer, reuniões, matar, estudar, torturar, negociar…
Tudo que fazia para ocupar a minha mente e esquecer Giulia, no final ela sempre ganhava e eu
me via com o celular na mão, lutando contra a minha vontade de ligar e nunca liguei.

Sempre que Romeo me informava que Victor havia estado com ela, mesmo que apenas
conversando. Me sentia em uma espiral de sentimentos negativos. Até que decidi que não
conseguiria mais lutar em vão, e não adiantava mais tentar. Coloquei em minha cabeça e em meu
coração que tudo bem ela ter sido de outro, porque no final, depois ela seria minha, apenas
minha.

Mas agora, tudo que pensei durante esses anos, veio como uma avalanche que quer sair,
explodir e me fazer gritar para os 4 ventos que o erro foi meu. Que eu deveria ter falado com ela
primeiro, e só depois ter ido para a Rússia ver meu avô.

Não posso voltar no tempo, o que me resta é me redimir, pois honra e redenção andam de
mãos dadas.

Tomo meu banho, me troco e ligo para Matheo.

— Alô.

— Sim, Don. — Repuxo o lábio, tenho de me acostumar a ser chamado assim e não pelo
nome.

— Nossos convidados?

— Instalados e à espera da reunião. Tudo foi feito como pediu.

— Certo, e sobre a investigação?

— Além do Senhor Telesca, que está fazendo a investigação, separei uma equipe de
soldados de confiança. Eles farão uma vigilância e vão apurar qualquer fato fora do comum.
Também selecionei uma equipe para acompanhar a senhora sua moglie, como sombras.

— Matheo, nossos soldados precisam de um treinamento mais rígido. Quero que prepare
uma prova de capacitação, quem não passar terá de refazer o treinamento.

— Claro.

Desligo e saio do quarto ainda pensativo. Passarei a Matheo algumas coisas que aprendi
nesses anos longe, e que eu quero que os soldados coloquem em prática. Giulia não sairá mais de
casa sem segurança reforçada e não vai mais trabalhar. Sua vida de sicária para a organização do
seu pai acabou. Agora ela será apenas a minha moglie.

Atravesso o corredor e, quando vou virar para a direção do quarto de Giulia, uma porta se
abre e vejo Alessa sair arrumando o vestido. Quando ela me vê, fica branca e sua respiração
oscila.

— O que faz aqui, Alessa? — Pergunto e ela sorri, mudando na mesma hora a expressão
de surpresa.

— O Don agora quer saber da minha vida? Nada de importante, apenas procurando o
quarto de Romeo. Giulia pediu para buscar por informações.

— Hummm… Conseguiu?

— Não, precisei dar uma paradinha. Tive de usar o banheiro, e prefiro usar os quartos
que são mais seguros. Não posso deixar que alguma ragazza veja minha arma ou minhas facas
enquanto estou… Bom, você sabe.

— Va bene. Já estou voltando para o quarto, quando tiver as informações que Giulia
quer, venha dar a ela. Sei que ficará feliz em saber notícias de Romeo.

— Sim, já estou indo.


Ela sai em passos rápidos. Espero ela virar o corredor, me aproximo da porta do quarto de
onde ela saiu, abro e olho ao redor. Não vejo nada. Balanço a cabeça negando. O que eu estou
pensando? Alessa não mentiria, muito menos faria algo errado no hospital, não com sua sorella
internada aqui.

Fecho a porta e vou em direção ao quarto de Giulia. Chegando na porta, não vejo Roman,
estranho, mas ele deve estar com minha moglie. Abro a porta e não é ele que eu vejo, e sim o
rato insuportável que quero exterminar.

Depois de alguns minutos que Alessa saiu, o café da manhã chegou. Me sentei com
cuidado e, devagar, comecei a me alimentar.

A porta se abre no momento em que estou colocando a bandeja na mesinha ao lado, e eu


vejo Victor entrar.

— Deixa que eu te ajudo. — Fala, vindo até mim, segurando a bandeja e colocando na
mesinha.

— Obrigada. — Agradeço sem fazer contato visual. — O que está fazendo aqui? —
Pergunto, deitando na cama e me cobrindo.

— Vim te ver. Fiquei sabendo do ocorrido e quis saber como você está? — Pergunta e se
aproxima, porém, estendo a mão.

— Não, Victor. Romeo não está aqui, mas para o seu bem é bom manter uma distância de
mim.

— Giulia. Isso são meras cordialidades. — Fala, repuxando o lábio.

— Sou casada, então peço que respeite a minha escolha. — Ele sorri, um sorriso sem
emoção e se afasta um passo.

— Va bene. E como está?

— Bene, não foi nada. Logo estarei em casa.

— Nada? — Pergunta surpreso.

— Sim, não foi nada. Por que a surpresa? — Indago.

— Por nada. — Desconversa e caminha até o sofá. — Tenho saudade da minha amiga.

— Victor, pare com isso. Chantagem emocional nunca foi o seu forte. — Ele repuxa o
lábio, pegando algo no bolso.

— Verdade. Eu descobri que gosto de outras coisas. — Vejo abrir uma bala. — Quer? —
Oferece e, mesmo a distância, consigo ver a embalagem de cor laranja e branca com uma letra
FI, de alguma palavra que eu não consigo ver.

— Não. — Digo firme, pegando a garrafinha de água ao meu lado.

Luigi abre a porta e encara Victor, um olhar mortal. Então se aproxima de mim, ficando
em minha frente quase como um escudo.

— O que faz aqui, Victor? — Pergunta a ele.

— Uma visita. Vim saber como Giulia está.

— Donna Giulia. Não permito que a trate como igual. — Victor repuxa o lábio e coloca
as mãos no bolso.

— Já tem alguma pista do que aconteceu?

— Isso não é do seu interesse. — Luigi responde apertando as mãos, percebo que está
perdendo a paciência.

— Hummm, certo, mas com todo respeito, Don Luigi. O que aconteceu com Giulia,
Donna Giulia. Só mostra como você não está preparado para ser um Don.

— Como eu disse, Victor, esse assunto não é do seu interesse. — Sinto a raiva de Luigi.

— Claro que é. Se o Don não consegue proteger a sua própria moglie, com apenas alguns
dias após ser proclamado Don. Quem dirá a família. — Victor responde.

— O erro foi meu, Victor. — Digo e Victor nega.

— Claro que não. O erro é ter um Don incapaz. Ficou por anos em outro país e volta para
assumir sem sequer saber como têm de ser as coisas. O correto era o conselho anular essa
proclamação e escolher outro. Um de fora da família Esposito.

Luigi aperta mais as mãos e sorri, um sorriso sardônico, sei que ele está quase perdendo o
controle de vez. Porém, Victor tem de aprender a respeitar o seu Don, afinal, ele será o Subchefe
um dia.

— A máfia está na minha família há gerações. Foi com o sangue Esposito que ela foi
originada, e você quer que eles tirem esse direito de mim? Ah, Victor, quem é você para falar
uma merda dessa? Não passa de um filho mimado do Subchefe. Um sangue substituível, e
confesso que estou pensando muito nisso. Tirar o seu sangue da linha de sucessão. — Victor
repuxa o sorriso.

— Por isso mesmo, o sangue Esposito está há tempo demais no poder. Talvez esteja na
hora de mudar. Já que em uma semana, Don, o responsável pela família, não deu conta de
proteger a sua própria moglie, e a deixou ser levada com a sua incompetência.

Luigi parte para cima de Victor, acertando um soco que o leva ao chão. Me levanto
rápido, sentindo uma pontada na barriga e, com isso, acabo gemendo de dor.

— Giulia, está bene? — Luigi pergunta, preocupado, parando no lugar.

— Pare com isso, Luigi, aqui não é lugar para isso. Estamos em um hospital. Victor, vá
embora. — Peço.

Victor se levanta, com a boca sangrando, e sai, batendo a porta. Luigi se aproxima de
mim, o rosto fechado me demonstra a raiva que sente.

— Não pode agir assim, Luigi. Não pode ser impulsivo desse jeito. Você é o Don agora.

— Ele fala aquelas merdas todas para mim, e não posso dar um soco? Giulia, dessa
forma, aquele rato vai se crescer e pensar que pode ser maior do que eu. Vou falar com o
conselho e dizer que quero Victor fora da Itália, que fique cuidando de algum dos nossos
investimentos em outro lugar. Porque, se ele continuar aqui, vou esquecer a merda da lei da
família e vou matar aquele rato. — Fala nervoso.

— Não estou dizendo isso. Mas que você tem de agir com razão e não apenas emoção. —
Suspiro, afinal, se estou nessa cama, é porque agi com a emoção e não com a razão. — Por um
lado, Victor está certo, você tem de mostrar ao conselho que é digno de ser um Don. Não agindo
a cada provocação do Victor. Mas em suas ações, deixando de ser impulsivo e sim mais
centrado, frio e calculista. Tem a hora certa de agir, Luigi. No momento, Victor é o menor dos
nossos problemas, e agora o conselho não vai aceitar o seu pedido, afinal acabou de se tornar o
Don. Eles precisam confiar em você. — Digo e concorda.

— Tem razão, Raggio di Sole. Ele me tira do sério, mas não posso deixar que aquele rato
me desestabilize. Tivemos uma conversa, apenas isso. Onde ele expôs seu ponto de vista. —
Fala, tentando soar verdadeiro.

— Quando eu fui levada… Havia outro homem que… Bom, a quem eu fui entregue. Pelo
que pude entender. — Tento soar calma.

— Sim. O maledetto que tentou negociar comigo, disse que havia sido pago. Mas ele
morreu antes de me dizer por quem. — Sinto um arrepio no meu corpo.
— Certo. Então desconfia de algo, ou alguém? Um possível traidor entre nós?

— Ainda não posso afirmar. Mas antes de tudo isso acontecer, eu estava analisando
alguns papéis e fiz uma lista de sócios, soldados e até capos que tem algo a me explicar. Além do
fato de ter achado um desfalque grande nas contas da família. — Ele fala e eu penso por alguns
segundos.

— Pode ser algum deles. Com a mudança de Don, alguém pode ter se sentido ameaçado.

— Sim, pensei nisso. Matheo selecionou um grupo de soldados de confiança, para fazer a
vigia dos homens que estão em minha lista. Além do seu pai, que está investigando possíveis
ligações com esse grupo que exterminamos.

Estendo os braços e ele me olha curioso, mas se aproxima ficando entre as minhas
pernas.

— Essa é a primeira crise em anos. Não se houve falar de um traidor na família há muito
tempo. Então, vamos agir devagar, deixe que eles, ou ele, pense que você desistiu. Enquanto
buscamos por provas.

Ele segura em minha cintura e sorri.

— Foi isso que você aprendeu? Para ser a moglie do Don?

— Isso aprendi com minha mãe. Ela pensa muito antes de agir. Acho que não puxei isso
dela. Mas sim, aprendi muitas coisas e uma delas é que a moglie do Don sempre tem de estar ao
lado dele. E agir com a cabeça sempre que for preciso dela intervir.

— Va bene, minha Consigliere, vamos agir devagar. E Victor, nesse momento, não vai
ser um problema. Se ele continuar me estressando, vou enviá-lo para New York, para tomar
conta dos empreendimentos de lá. Ou, quem sabe, para a Rússia. Meu primo ia adorar.

— Luigi. — Acabo rindo da cara que ele faz, quando pensa em mandar Victor para a
Rússia.
Capítulo 39
Após dois dias no hospital, Giulia recebeu alta e eu pude finalmente trazê-la para casa.
Dessa vez, nem que ela reclame ou ameace, não vai sair de casa sem segurança, segurança
reforçada.

Por Romeo estar internado, precisei de outra opção, alguém que estivesse ao seu lado a
todo momento, como Romeo estava. Então, optei por uma guarda feminina. Pedi para meu
sogro, uma pessoa que Giulia se sentisse bene, e que estivesse disposta a trabalhar para nós. E
logo ele me disse que a filha do chefe da guarda da organização Telesca estava disposta a
trabalhar para mim.

Deixo Giulia no quarto e desço até o escritório onde Matheo me espera, juntamente dos
americanos. A conversa é rápida, colocamos os pontos a serem esclarecidos e mantivemos o
acordo como já era.

Depois que eles partiram, pego uma dose de Amaro junto de Matheo, e me sento no sofá.

— Estou pensando em ficar alguns dias fora com Giulia. — Falo após beber um gole do
líquido.

— Não aconselho uma viagem. Você acabou de se tornar o Don e já temos problemas a
resolver. Não é bom você sair assim. — Indaga.

— Penso em ir para a fazenda de uvas da minha mãe. Faz muito tempo que não vou lá.
— Bom, Montepulciano fica a duas horas de distância. Não é longe, acredito que não terá
problemas. — Responde após analisar a minha resposta.

— Ótimo. Quero levá-la para esquecer um pouco o que aconteceu. Enquanto meu sogro
faz a investigação. E esperamos sair os resultados do DNA. Até lá, quero que você colha todas as
informações dos nomes que tem na minha lista. Vou deixá-los pensando que eu não descobri
nada e não farei nada.

— Certo, assim parece bom. Colhemos tudo que é necessário e quando chegar a hora,
faremos a limpa de uma vez.

— Exatamente, Matheo.

— Quando você pretende ir? — Pergunta, curioso.

— Amanhã mesmo. Quero aproveitar o fim de semana. — Respondo, girando o líquido


do copo, pensando.

— E a Giulia, ela sabe?

— Ainda não. Vou fazer uma surpresa para ela. Espero que ela goste.

— Ela vai adorar, tenho certeza. E será muito bom esse tempo para vocês se
aproximarem.

— É o que pretendo.

— Só não se esqueça de levar a guarda com você. Além dos seguranças, é bom para
Giulia ter alguém ao seu lado sempre. Ela já estava acostumada com Romeo.

— Pode deixar. Não vou arriscar a vida da minha moglie por nada. — Garanto, sério.

— Então está tudo bene. Boa viagem, Luigi, aproveite bastante. — Deseja, levantando-se
do sofá.

— Obrigado, Matheo. Até mais. — Me despeço.

Acompanho Matheo até a porta da frente e, quando ele se vai, eu subo as escadas e vou
até o meu quarto. Assim que entro, vejo Giulia, que está deitada na cama, lendo um livro que
Maria enviou para ela.

— Como foi a reunião? — Pergunta, colocando o livro de lado.

— Foi bene. Resolvemos tudo que tinha que ser resolvido. — Digo e me aproximo.

— Que bom, você parece cansado.

— Um pouco, mas estou bene.

— Vem cá, deita comigo. — Me convida, abrindo espaço para mim.


— Claro. — Aceito, me deitando ao seu lado.

Ela se aconchega em meus braços e eu a beijo na testa. Esses dois dias no hospital
serviram para nos aproximarmos. Pensei que, pelo fato do que aconteceu, ela poderia me repelir,
afastar por um tempo. Mas foi o contrário, ela me quer próximo.

— O que estava lendo? — Pergunto curioso.

— Um livro bem interessante que Maria acha que eu devo saber. — Fala, repuxando o
sorriso.

— Giulia, eu tenho uma coisa para te dizer. — Ela levanta os olhos e me encara.

— O que é? — Pergunta, curiosa.

— Eu quero te levar para um lugar especial, um lugar a que eu não vou há muito tempo.
Ele tem um significado importante para mim. — Explico, olhando em seus olhos.

— Que lugar é esse? — Ela indaga, intrigada.

— A fazenda de uvas da minha mãe. — Revelo, esperando a sua reação.

— Já ouvi falar sobre ela, sua família tem uma produção de vinho bem famosa.

— Quando minha mãe estava viva, eu ia com ela colher uvas. — Paro de falar por alguns
segundos e me lembro de minha mãe. — Ela gostava muito do suco natural, então, sempre que
dava, íamos colher as uvas para o suco dela.

— Vou adorar conhecer. Gosto muito de vinho, aprendi com meu pai a torturar quem
merece, com um bom vinho ao lado. Mas também gosto de suco.

— Ótimo, vamos amanhã mesmo. — Digo com um sorriso nos lábios, enquanto a
envolvo em meus braços.
Capítulo 40
— Eu estou bene, Julieta. — Digo à nova soldado que fará a minha guarda.

— A Donna não pode fazer esforço.

— Claro que posso. Os ferimentos já estão se curando, são todos superficiais. Não se
preocupe. — Digo, fechando a mala e a colocando no chão.

— Va bene. Mas eu posso levar para a Donna.

— Julieta, já nos conhecemos há algum tempo. Sei que você é muito prestativa, você me
conhece também, sabe que não gosto que mexam nas minhas coisas. Essa mala é pessoal, pode
levar as outras se quiser. Porém, essa não. — Digo e ela abaixa a cabeça, concordando.

Estou triste por Romeo ainda estar no hospital, mas eu sei que logo ele vai sair e se
recuperar. Também sei que não posso ficar sozinha e até gostei de meu pai ter escolhido Julieta
para fazer esse trabalho. Porém, a intimidade que eu tinha com Romeo, a ponto de ele ser quase
meu fratello, não consigo ter com outra pessoa, nem mesmo uma soldada que eu conheço há
bastante tempo, como Julieta. Não só por ter sido meu segurança por anos, e sim por termos
crescidos na mesma casa, brincando no mesmo quintal, sempre juntos.

Ainda me sinto culpada por Romeo estar como está. Agi na raiva, imprudente como
nunca fui. Eu sempre soube dos perigos que me cercariam após Luigi se tornar o Don, e mesmo
assim, agi como apenas uma sicária sem medos, sem preocupações e sem rivais. Coisa que não é
verdade, e esse também foi um dos motivos de eu sempre matar a longa distância e ter Romeo
como segurança.

Falha minha, culpa minha e ninguém vai poder dizer ao contrário, pois eu sei que é
mentira.

Desço as escadas devagar, meu corpo não dói mais, apenas as marcas ainda me
incomodam. São como lembranças do que aconteceu naquele dia, lembranças essas que eu quero
esquecer, porém, não consigo. Quando fecho meus olhos, parece que sinto o toque daquele
homem em minha pele, tão áspera, me causando dor.

Por esse motivo, durmo abraçada a Luigi, sempre que acordo em um sobressalto, o
abraço forte, pois sei que estou em casa, segura, e com ele.

No hospital, eu decidi que não ia mais brigar, deixei isso para trás. A única pessoa que
sofreria seria eu mesma, então o melhor é seguir em frente. E foi isso que eu fiz, e estou fazendo.
Temos tantos assuntos a resolver, e fico feliz dele me deixar a par de tudo o que está
acontecendo, mostrando que confia em mim. Sobre a empregada, ele falou novamente o que
aconteceu e dessa vez eu acreditei em suas palavras, mas estou de olhos abertos. Não vou mais
brigar, e as empregadas já sabem o que acontece com quem resolver tentar dar uma de
espertinha.

— Vamos ficar dois, no máximo três dias. — Luigi fala, olhando para a mala em minha
mão e para a outra que Julieta carrega enquanto eu chego no final da escada.

— Eu sei, mas tudo que estou levando é necessário. Roupas, sapatos, armas… — E a
mala em minha mão com as camisolas e lingerie que ganhei de minhas sorellas e de Maria. —
Tudo que necessito. — Para fazer o que estou decidida a fazer.

— Va bene. Vamos, Raggio di Sole.

O caminho até a fazenda é longo, e eu aproveito para mandar mensagem para minhas
sorellas e dizer como estou. Alessa fica me dando dicas e falando coisas que eu já sei, mas nunca
coloquei em prática. Já Kiara apenas pede para eu tomar cuidado e ficar de olho aberto.

Luigi vai ao meu lado no banco de trás, também mandando mensagem para Matheo. Sei
que vamos ficar longe alguns dias, mas que o celular não vai sair de sua mão, já que a casa está
começando a ser organizada. Como ele mesmo disse. Na frente estão o motorista e Julieta. Três
carros nos acompanham fazendo a escolta, e eu sei que na fazenda tem mais soldados nos
esperando.

Eu não sabia o que esperar quando Luigi me disse que iríamos para a fazenda de uvas da
mãe dele. Eu nunca tinha ido para Montepulciano, uma cidade histórica no sul da Toscana,
famosa pelos seus vinhos. Estava curiosa para conhecer o lugar que tinha um significado tão
importante para ele.

Assim que chegamos, fico encantada com a paisagem. A fazenda é cercada por colinas
verdes, cobertas por videiras carregadas de uvas. O sol brilha no céu azul, iluminando as casas de
pedra e os ciprestes que se erguiam pelo caminho, são as casas onde os empregados e alguns
soldados moram.

O ar é tão fresco e perfumado que conta um aroma de terra molhada e frutas deliciosas.

— Chegamos, Raggio di Sole. — Diz assim que o carro para.

— É lindo. — Exclamo ainda dentro do carro.

Luigi sai e dá a volta no carro, abrindo a porta e segurando na minha mão, como um
cavalheiro. Ele me leva para a casa principal, onde somos recebidos por uma senhora de idade,
cabelos brancos, olhos azuis tão claros, usando um vestido longo e um lenço na cabeça.

— Como é bom te ver, ragazzo. — Fala abraçando Luigi.

— Digo o mesmo, Dona Olga. — Diz, a soltando. — Essa é minha moglie, Giulia.

— Tão linda. — Me abraça e beija meu rosto. — Venham, o quarto de vocês está
arrumado.

Subimos uma escada feita de pedra e viramos em um corredor. Luigi tinha um sorriso
bonito conforme olhava para os detalhes, e eu sentia que ele se lembrava da mãe aqui, dos
momentos que tinha com ela. Dona Olga nos levou até nosso quarto, abriu a porta e saiu,
deixando Luigi me guiar para dentro. É uma suíte espaçosa e aconchegante, com uma cama de
casal, uma lareira e uma varanda com vista para o vinhedo.

— Perfeito. — Digo, suspirando, indo para a varanda admirar a vista de toda a


propriedade.

Luigi se aproxima de mim, e me abraça por trás. Sinto meu corpo todo se arrepiar.

— Quero te mostrar tudo, Raggio di Sole. Quero te levar para passear pelas vinhas, para
provar os vinhos, o suco também, claro, para conhecer as pessoas que trabalham aqui.

— Eu vou adorar, Luigi. — Digo com o coração acelerado.

— Que bom. Porque vamos começar agora mesmo. Vem!

Segura em minha mão e me puxa para fora do quarto animado. Como saímos de Tivoli
após o almoço, já estava na parte da tarde. O cheirinho do jantar já estava começando a invadir a
casa.

Luigi me levou até um barracão, onde pegou um carro, e seguiu pela estrada. Paramos
perto de um vinhedo, onde havia flores e uvas. Abri a porta do carro e, com a ajuda de uma
tesoura que estava no porta-luvas, eu colhi um cacho.

Provei a uva e estava tão doce e suculenta. Luigi pegou outro cacho e fez o mesmo. Perdi
as contas de quantas uvas eu comi, até que senti sua mão em minha cintura e ele sussurrar em
meu ouvido.
— A adega fica perto, quer ir lá agora. Ou quer deixar para amanhã? — Pergunta.

— Vamos, assim você já escolhe um vinho para o jantar. — Digo com o coração
acelerado, eu sabia o que aconteceria após o jantar. Bom, era o que eu estava planejando.

Luigi segurou em minha mão, e me guiando por entre as uvas, não consegui evitar o
sorriso, vendo-o na minha frente. Meu coração se encheu de todos os sentimentos que um dia eu
tentei matar.

Eu fiquei impressionada quando vi a adega, por mais que minha família goste muito de
vinho, eu nunca havia visto ou entrado em uma. A construção é de pedra, com um telhado de
telhas vermelhas e uma porta de madeira escura. Parece uma casa antiga, mas com um charme
rústico. Ela fica bem no meio do vinhedo, cercada por videiras e ciprestes. Eu consigo sentir o
cheiro de uva e de vinho no ar.

Luigi segura em minha mão e me leva para dentro da adega. Assim que atravesso a porta,
me deparo com um ambiente diferente. Um espaço amplo e escuro, com uma temperatura mais
baixa e uma umidade maior. Há vários barris de madeira empilhados nas paredes, onde os vinhos
são armazenados e envelhecidos. Há também prateleiras com garrafas de vidro, etiquetadas com
os nomes e as safras dos vinhos. E uma iluminação suave, que cria um clima aconchegante e
intimista.

— A adega é projetada para manter as condições ideais para a conservação dos vinhos. A
pedra e a madeira ajudam a isolar a luz e a temperatura, assim aqui dentro fica mais úmido, mas
é uma umidade controlada, evitando o ressecamento das rolhas, e a oxidação do vinho. Já os
barris, são escolhidos de acordo com o vinho e o tempo de envelhecimento. — Ele me explica
com certo orgulho.

— Interessante. — Digo fascinada com o local.

— Escolha um vinho da prateleira. Vamos levar para o jantar.

Sigo até a prateleira conforme ele pediu, olho os vinhos e um me chama a atenção, um
vinho tinto nobre e refinado, que tinha mais de 10 anos de envelhecimento. Segurei a garrafa e
me virei para Luigi, que repuxou o sorriso.

— Gostei desse. — Digo.

— Ótima escolha, esse é um vinho tradicional. É produzido a mais de cem anos pela
nossa família. É forte, mas doce ao mesmo tempo, assim como você, Raggio di Sole. — Luigi
fala olhando em meus olhos, e meu interior vibra ansioso.

— Então, será ele mesmo. — Confirmo.


— Vamos, acho que o jantar deve estar quase pronto. Estamos a bastante tempo andando
e o sol já está deixando o céu, dando lugar a lua.
Capítulo 41
Já faz muito tempo que não colocava os meus pés aqui na fazenda. Tivemos sorte por
encontrar alguns cachos de uvas ainda no pé, afinal, a época de colheita é entre setembro e
dezembro, e como estamos no início do ano, pensei que não teria mais. Contudo, me surpreendi
de forma positiva com algumas parreiras que estavam atrasadas.

Após o jantar, Giulia foi para o quarto, enquanto eu permaneci em um pequeno escritório,
falando com Matheo sobre a investigação. Fiquei curioso com o fato de, ano passado, a
organização Falcão Negro ter tido problemas com a Grécia. Não uma, mas duas vezes.

Desde então, meu sogro está de olho em todos os gregos que entram e saem da Itália. Não
somos inimigos do Héktor, o chefe da máfia grega, mas também não somos amigos. Temos um
acordo nulo, até o momento, e eu estou pensando em mudar isso. Evitar problemas futuros
fazendo uma aliança. O casamento é o melhor caminho, mas Héktor já é casado. Sei que ele tem
uma sorella, talvez me livre de Victor, casando-a com ele. É uma opção, se eu não matá-lo antes,
já que ele está fazendo de tudo para que isso aconteça.

Subo para o quarto e assim que abro a porta, me deparo com Giulia, de camisola branca
quase transparente, o pé apoiado na cama, passando um hidratante.

Olho com atenção, subindo e descendo o olhar, acompanhando seus movimentos, até que
ela percebe minha presença e olha em direção à porta, onde estou.

— Não vai entrar? — Pergunta de forma suave.

— Precisa de ajuda? — Rebato a pergunta com outra, conforme fecho a porta.


— Claro, vou precisar. — Me responde, parando de esfregar o creme.

Me aproximo devagar e me sento na beirada do colchão. Ela levanta a perna, colocando


em minha coxa, e eu começo a passar o creme devagar, sentindo a sua pele quente em minhas
mãos. Aperto e esfrego, conforme começo a subir, de sua panturrilha, para sua coxa até próximo
à sua virilha. Ela fecha os olhos e respira fundo, meu pau pulsa ansioso por vê-la assim na minha
frente…

Mas olhando para sua coxa, perto da virilha, vejo a marca da mordida do maledetto e isso
me faz recuar um pouco. Tenho receio de machucar a minha moglie ainda mais depois de tudo o
que ela passou.

— Aconteceu algo? — Pergunta, me olhando com curiosidade.

— Não, me dê a outra. — Peço e ela faz, colocando a outra perna na minha coxa.

Continuo passando o creme, me controlando a todo momento, desejo seu corpo com tanta
força, mas sei que, como tudo que aconteceu, ainda atormenta seus sonhos durante a noite, e sei
que ainda está vivo em suas lembranças. Não quero me aproximar e gerar gatilhos em sua mente,
não quero que ela tenha medo de mim ou de algo que eu faça. Por isso, pretendo ir devagar.

Aperto e solto sua pele, engulo seco e minha respiração fica descompassada. Conforme
sinto a sua maciez.

— Pronto. — Digo e ela olha em meus olhos, com os dela brilhando.

— Passa em minhas costas. — Pede, se virando e abaixando um pouco as alças.

Me levanto e começo a passar em suas costas, seus ombros, seu pescoço, ela suspira e eu
pareço que vou explodir. Devagar, ela desce mais as alças, me dando a visão do seu seio,
inclinando o corpo perto do meu, me fazendo roçar nele. Apalpo com cuidado, já nem existe
mais creme em minhas mãos, apenas minha pele na dela.

Porém, o receio de machucar a ela, de fazê-la recuar quando eu avançar, atinge meu ser.
Talvez eu estivesse pensando muito em mim e em minhas vontades, sendo que ela está ferida,
não apenas física, mas mentalmente também.

Recuo um passo, respirando fundo e ela se vira para mim, segurando a camisola nos
seios, olhando em meus olhos, com aquele olhar de dúvida.

— O que foi? — Pergunta.

— Nada. — Respondo, colocando minhas mãos no bolso da minha calça.

— Está com nojo de mim? É isso… Está com nojo pelo que aconteceu? — Sua voz agora
sai chorosa.

— Giulia, não é isso.

— Eu estou suja, não é? — Ela fecha os olhos e se afasta um passo.


— Não, eu só… Eu tenho receio de machucar você, Raggio di Sole, tenho receio de te
fazer lembrar de algo, de te magoar.

— Eu só quero esquecer os toques dele, Luigi. Não quero mais lembrar que é ele quem
me tocava e sim saber que é você. — Fala, abrindo os olhos e me encarando. — Eu quero sentir
você, e me lembrar apenas dos seus toques.

— Raggio di Sole. — Digo com o peito apertado.

— Quero esquecer, me ajuda a esquecer, me faz esquecer.

Me aproximo dela, a segurando pela cintura, com o peito faltando explodir. Uma das
minhas mãos vai para sua nuca, no local que ela gosta, e se arrepia ao meu toque. E trago sua
boca para minha em um beijo.

Toco seus lábios com os meus, de forma lenta, aumentando o ritmo aos poucos. Nosso
último beijo foi antes da cerimônia que me fez Don, e tanta coisa aconteceu depois.

Aperto sua cintura, trazendo para mais perto, ela solta a camisola, deixando-a cair no
chão e segura em meu pescoço. Me deixando aprofundar o beijo, sentindo cada contorno dos
seus lábios.

A impulsiono para o alto, fazendo com que Giulia prenda as pernas na minha cintura,
sem soltar as nossas bocas. Viro-me em direção à cama, deitando-a com delicadeza, me
posicionando sutilmente sobre seu corpo.

Enquanto a beijo, passo as pontas dos dedos em sua nuca e me esfrego contra seu corpo,
para que ela sinta como estou firme. Suas pernas continuam fixas em minhas costas, me puxando
contra seu corpo, enquanto ela ofega em minha boca.

Paro o beijo e me levanto, a vendo apenas de calcinha de renda branca. Em pé, ao lado da
cama, começo a abrir os botões da minha camisa, mas ela se ajoelha no colchão e segura em
minha mão, me fazendo parar.

Olhando em meus olhos, ela abre os botões da minha camisa, passando a mão sobre meu
abdômen, me arrepiando. Ela beija e começa a lamber a minha pele, até empurrar minha camisa,
deslizando em meus braços e a derrubar no chão.

Sou surpreendido com seus lábios em torno do bico do meu peito, enquanto suas mãos
abrem minha calça. Ela chupa e mordisca, me causando um choque gostoso. Então, começa a
descer os lábios pelo meu corpo no momento que puxa meu pau para fora, até chegar nele, o
engolindo de uma vez.

Solto a respiração, sentindo seus lábios em torno do meu pau, enquanto tenho a visão
dela de joelhos na minha frente. Minha calça vai para o chão e meu pau para a garganta dela.

— Sporcizia, Raggio di Sole. — Digo ofegante, sentindo meu pau bater no fundo da sua
garganta.

Seguro seu cabelo e começo a investir contra ela. Uma, duas, três vezes. E sinto sua mão
apertar minhas bolas, me fazendo trincar os dentes. Saio de uma vez, antes de gozar na sua boca.
E a vejo com os olhos brilhando.

— Minha vez. — Digo, a empurrando de forma cuidadosa para o centro da cama.

Giulia se deita e eu subo na cama outra vez, fico entre suas pernas, tiro lentamente a sua
calcinha, vendo seu clitóris inchado, louco para gozar, e como sua boceta já está úmida para me
receber.

Beijo sua barriga, beijo no mesmo local onde tem a marca que aquele maledetto deixou.
E ela arqueia o corpo, ficando um pouco mais rígida. Desço os lábios beijando sua pele, olhando
em seus olhos, que procuram pelos meus, como se ela precisasse ter certeza de que sou eu.

Passo a língua na sua pele íntima e adentro minha língua na sua boceta, apenas a ponta,
que movimento entrando e saindo. Seguro suas coxas e me perco ali, vendo-a me olhar enquanto
se apoia nos cotovelos. Subo meus lábios e chupo seu clitóris. Giulia abre a boca, buscando por
ar enquanto eu coloco um dedo dentro dela, massageando seu interior, sentindo a quentura e a
umidade.

Ela começa a se esfregar contra mim, me dando sinal de que está perto de gozar, tão perto
que seus cabelos ficam ouriçados. Me levanto e posiciono meu pau na sua boceta, passando-o
por toda a sua pele íntima, pegando a umidade que já escorre. Esfrego seu clitóris de forma
rápida, sem desviar nossos olhos um do outro. Me debruço sobre seu corpo, sentindo sua
respiração descompassada, ansiosa e desejosa.

Giulia abre mais as pernas, as prendendo em minhas costas, suas mãos em meu pescoço,
e quando ela geme alto, me apertando com as suas unhas, e melando meu pau com o seu
orgasmo, eu entro devagar, mas sem parar. Sentindo seu corpo se abrir e me receber, sentindo o
que sempre desejei há muito tempo, sentindo a minha moglie ser minha, a fazendo minha, da
forma mais carnal e devassa que sempre quis.

— Luigi. — Ela diz com a voz sôfrega quando ocupo todo seu interior.

Me abaixo e tomo sua boca em um beijo necessitado, urgente e quente, um beijo que faz
meu corpo se arrepiar. Mesmo parado dentro da sua boceta, meu pau lateja, me fazendo sentir
todas as suas paredes se moldando ao meu tamanho. Não consigo evitar o sorriso idiota em meu
rosto, o tamanho da felicidade que não cabe em meu peito. Eu estava com a mulher que amo, a
mulher que nunca esqueci nenhum minuto.

A mulher que nunca me esqueceu e se guardou inteira para mim.

— Só relaxa. — Peço, mordendo seu lábio inferior, enquanto esfrego meus dedos em sua
nuca.

Peço para ela relaxar, mas eu também estou tenso. Mesmo com tudo, ainda tenho receio
de machucá-la de alguma forma, afinal, ela é pequena e eu sou grande.

— Continua… — Pede, fechando os olhos, arqueando o corpo, como se pedisse por mais
contato.
Começo a me movimentar devagar, coloco meus braços por debaixo dos dela, e minhas
mãos, as duas, seguram a sua cabeça, uma na sua nuca, a outra no seu rosto. Não paro o beijo,
engulo seus gemidos conforme mudo a velocidade, entro, saio e jogo para o lado, fazendo um
movimento como a letra “O”.

— Raggio di Sole, se estiver doendo… — Não termino de falar.

— Não fala nada, só continua… continua, Luigi. — Me pede.

Suas unhas vão ao meu pescoço, descendo para minhas costas e eu sinto me arranhar
quando um gemido gostoso sai de sua boca. Suas pernas me puxam, me deixando mais excitado.
Enquanto nossos lábios se perdem em uma guerra de desejo.

— Luigi. — Sua voz é sôfrega.

Suas paredes me apertam mais forte, me dando o sinal de que ela vai gozar. Vou mais
rápido, sentindo o melado descer para minhas bolas e o som do choque dos nossos corpos ecoar.

Esperei tanto por esse dia, que me nego a gozar. Não, eu não quero.

Solto sua boca e desço para seu pescoço, beijo atrás da sua orelha e desço beijando seu
pescoço até seu ombro. Ouço seus gemidos mais e mais altos, me fazendo perder o controle e me
afundar com vontade dentro dela.

— Continua, Luigi, continua. — Geme alto, com a voz desejosa, uma mão arranhando as
minhas costas e a outra segurando em meu pescoço.

— Não vou parar, Raggio di Sole. Só quando eu gozar na sua boceta, a enchendo com a
minha porra. Vou deixá-la toda vermelha, para você se lembrar que eu estive aqui. — Digo a ela,
em seu ouvido.

Me afundo com vontade dentro dela, voltando a beijar sua boca gostosa. Ela tira os pés
das minhas costas e eu a puxo, abrindo suas pernas com meus joelhos. Solto sua boca e olho em
seu lindo rosto.

— Abre os olhos, Raggio di Sole. Quero gozar olhando para eles. — Peço e ela abre, me
encarando com o olhar tão profundo que me faz gozar no mesmo instante.

Aperto sua nuca, enquanto sinto meu pau pulsar, movimentando devagar, até parar de
vez. Olhando nos olhos dela, que brilham para mim.

— Eu te amo tanto, Raggio di Sole. Você nem imagina o quanto. — Digo a mais pura
verdade.

— Eu também te amo. Não deixei de te amar, nenhum dia sequer. — Confessa e eu sinto
meu peito quase explodir de felicidade. Volto a beijar sua boca, agora um beijo mais lento e
gostoso, sem sair de dentro dela.
Capítulo 42
Fico parada olhando para ele, que dorme com um sorriso no rosto e não consigo evitar
sorrir. Sempre me pegava imaginando como seria estar com ele, me entregar a ele. E hoje eu sei
como é a sensação.

Passo minha mão em seu peito nu, sentindo seus músculos, tão definidos, enquanto sinto
os poucos cabelos do seu peitoral. Luigi abre os olhos e me encara por meros segundos, logo
repuxando um sorriso bonito. Segura em meu rosto e me puxa para um beijo, segurando em
minha nuca, massageando-a de uma forma que me deixa mole em suas mãos.

Passo minha mão em seu rosto e monto em seu colo. Deslizando seu pau semiereto para
dentro de mim, sinto quando fica firme enquanto Luigi chupa minha língua de uma forma
sensual. Eu quero mais, quero sentir ele mais, anseio por seus toques há tanto tempo, que agora
eu quero a todo momento.

— Hummm, Raggio di Sole. Quer mais é? — Sussurra contra meus lábios, conforme me
sento e rebolo para colocá-lo de uma forma gostosa dentro de mim.

— Quero minha boceta vermelha, como você disse que ia deixar. — Sussurro, assim
como ele, mordiscando a sua boca.

Podia até dizer que ainda estava um pouco dolorida, foram duas vezes seguidas ontem.
Mas eu quero aproveitar e ter tudo que não tive, quero sentir tudo que ele pode me proporcionar,
quero me perder nesse sentimento que guardei por muito tempo.

Uma de suas mãos desce para meu quadril, enquanto ele eleva as pernas, apoiando os pés
no colchão, me mantendo inclinada para ele sem soltar meus lábios.

Sinto suas investidas contra mim, no começo lentas, só que com o tempo a velocidade vai
aumentando, ele solta minha boca conforme eu arqueio o corpo, sentindo-o fundo. Seu pau não
entra todo, é grande e mesmo assim o sinto tocar quase no colo do meu útero.

Luigi vai com cuidado, mas mesmo quando entra forte, eu só sinto prazer, não dor,
prazer, pois ele cuida de mim e do que eu sinto a todo momento. Meu seio vai para sua boca e
ele o chupa olhando em meus olhos, me fazendo ficar com a garganta seca e minha boceta
latejar, me dando um prazer tão grande que sinto meu ventre se contrair.

Passo a mão em seu cabelo e mordo meus lábios, deixando meu corpo sentir tudo de uma
forma tão profunda, que me sinto quase sem ar, me fazendo fechar os olhos e abrir a boca, me
levando longe, tão longe.

— Luigi, continua. — Peço, pois não quero que ele pare os movimentos.

E ele não para. Ele acelera e continua chupando o bico do meu seio, enquanto segura em
minha nuca. Meu coração se aperta e meu corpo treme. Abro os olhos e o encaro com a boca
aberta, ainda me encarando. Não consigo falar, só sentir, e logo sinto ele vibrando dentro de
mim, me preenchendo e eu só sei sorrir, quando me desmancho sob ele, sentindo aquele alívio
gostoso que só ele me faz sentir.

— Buongiorno. — Ele fala, soltando meu seio e esfregando a mão em minhas costas.

— Buongiorno. — Respondo ofegante, com um sorriso largo.

— Quer passear na fazenda, ou prefere passar o dia todo aqui? Eu não me importo. —
Pergunta e eu sorrio.

— Os dois, um pouco de cada.

— Que pena, eu não quero sair da cama. — Fala e gira o corpo, sem sair de dentro,
ficando por cima de mim. — A sua boceta ainda não está vermelha como eu quero.

— Luigi. — Começo a rir, sentindo ele voltar a se movimentar.

Dois dias na fazenda e não queria partir. Tudo bene, passamos a maior parte desses dois
dias na cama, e agora estou me sentindo um pouco dolorida. Mas uma dolorida feliz.

Assim que chegamos em casa, Luigi foi para o escritório, onde Matheo o esperava, pois
já tinham coisas para resolver. Enquanto eu fui direto para meu quarto e me joguei na cama.
Porém, logo a porta foi aberta e Maria entra com Alessa que corre e se joga na cama comigo.

— Então, sorella, novidades? — Pergunta sorrindo.


— Não, nada novo. — Digo e as duas franzem as sobrancelhas.

— Como assim, nada novo? — Maria pergunta e eu começo a rir.

— Va bene, então, não sou mais virgem. — Digo e elas se animam, Alessa bate palma e
Maria sorri.

— E então, como foi? — Alessa pergunta e Maria a olha de cara feia.

— Ah, não, isso não. Olha, Luigi é meu meio fratello e eu não quero saber isso não. —
Começo a rir.

— Va bene. Vou contar como foi na fazenda, e eu trouxe algumas uvas de lá se vocês
quiserem.

— Hummm, me deu água na boca. Eu quero. — Maria fala animada.

— Então, vamos para a cozinha, lá eu conto sobre a fazenda enquanto comemos uvas.

Me levanto e acabo repuxando uma perna, nisso Alessa começa a rir.

— Pelo visto, foi bom mesmo, até deixou as pernas moles. — Minha sorella fala rindo e
Maria revira os olhos.

— Dio, vou fingir que não ouvi isso. — Maria diz, colocando as mãos no ouvido.
Capítulo 43
Entro em meu escritório com um sorriso no rosto, posso estar cheio de problemas e coisas
a resolver, porém, nada vai tirar o que eu estou sentindo de dentro de mim.

— Percebo que o final de semana foi bom. — Matheo fala sentado na poltrona ao lado da
janela.

— Ótimo. — Respondo, repuxando o lábio.

— Só falta um herdeiro agora. Aí, sim, o conselho vai ficar muito feliz com o Don Luigi.
Além de fazer uma limpa nos ratos que estão entre nós.

— O Consigliere também precisa de um. — Falo de modo sarcástico, me sentando na


minha poltrona em frente à mesa.

— O meu já está a caminho. — Rebate, me olhando com um fino sorriso.

— Rápido.

— Ela ainda não percebeu, mas eu sim. — Arqueio a sobrancelha curioso.

— Como?

— Desejos. De todos os tipos, desde a comida até a cama. — Me arrependo da pergunta.

— Ela é minha sorella, essa parte não precisa contar.


— Mas foi você quem perguntou. Se não quer saber, não pergunte.

Pego a pilha de papéis sobre a mesa e começo a folhear, enquanto Matheo me observa.
Cada documento daquele mostra o que os soldados que estavam investigando descobriram e é
muita coisa.

— Como meu nono não percebeu? — Pergunto e Matheo se levanta, indo até a adega.

— A doença do seu nono, não é fácil, Luigi. Eu tinha de tomar a frente muitas vezes, para
que ninguém percebesse. Algumas decisões, Alessandro tomava como subchefe, mas outras eu
tive de decidir sozinho. Nesses últimos três anos que você ficou fora, eu fiquei sobrecarregado
nas minhas funções. Sei que muitos desses que estão aí passaram por mim e por Alessandro, que
também estava ocupado com a boate de New York. Também sei que não é desculpa, mas se você
estivesse aqui, ajudando como deveria ter sido, as coisas não estariam desse tamanho. — Fala,
enchendo o copo de Amaro e depois bebendo o líquido.

Me sinto falho com meu nono, todavia eu não podia voltar. Não antes de meu avô André
permitir, tinha de cumprir com as obrigações perante a família Rússia também.

— Entendo, vou terminar de reler todos os documentos e decidir, por onde irei começar.

— Pensei que seria pelo contador? — Matheo indaga.

— Conversei com Giulia, contei a ela o que está acontecendo. Não quero minha moglie
fora dos assuntos e sei que ela é capaz de me ajudar em algumas decisões. — Mal termino a frase
e Matheo começa a rir.

— Scuze, não resisti.

— Do que está rindo?

— Luigi, em certos assuntos as moglies não opinam.

— Isso vai mudar. Giulia foi treinada, não para ser apenas a minha moglie, mas como
uma sicária. Não vou tirar ou impedir que ela use suas habilidades, para ajudar a levantar e
limpar a família como deve ser limpa. — Digo firme.

— Vai permitir que sua moglie ainda trabalhe como sicária?

— Não, mas vou usar as suas habilidades para nos ajudar a ver as coisas de outro modo.
Além do que, já temos a organização do meu sogro para dar fim aos ratos que são necessários,
um trabalho mais sutil e em segredo, e temos o executor para os outros tipos de trabalho.

— Va bene, se quer assim. Agora vamos seguir com a reunião, antes que Maria entre no
escritório, me chamando para comprar algo para comer. — Ele mal fecha a boca e batem na
porta.

— Entre. — Digo e a porta se abre com Maria segurando uma vasilha com uvas.

— Com licença, Don. — Fala olhando para mim, e depois se vira para o marido. —
Matheo, olha que delícia, eu quero mais dessas. Até o cheiro delas é bom. — Diz e eu olho para
Matheo, que suspira.

— Minha pequena ouriço, a fazenda fica há duas horas daqui. — Ele a responde com
uma voz calma.

— Mas eu gostei tanto. — Maria faz uma cara de coitada que eu seguro o riso.

— Matheo, pode ir à fazenda. Busque quanto quiser, afinal, Maria é minha sorella. —
Digo e ela me olha com um olhar desconfiado.

Nós ainda não somos os melhores amigos, trocamos poucas palavras. Matheo disse que
ela é assim mesmo e, com o tempo, vai acabar se aproximando.

— Obrigada. — Responde educadamente.

Matheo sai com minha sorella que agora tem um sorriso grande nos lábios e assim que
ambos cruzam a porta, Giulia entra, fechando-a com o pé.

— Pelo sorriso de Maria, ela vai ganhar mais uvas. — Fala, se aproximando, enquanto
me sento na poltrona.

— Vai sim. Eu não quero que meu sobrinho nasça com cara de semente de uva. — Digo
e Giulia arregala os olhos.

— Sobrinho? Ela está grávida? Mas não me disse nada. — Diz pensativa.

— Bom, Matheo disse que desconfia. Na verdade, ele tem certeza, só que minha sorella
ainda não sabe. — Digo e bato a mão em minha coxa para ela se sentar.

Giulia sorri e vem em minha direção, se sentando me abraçando o pescoço.

— E como ele sabe?

— Ele disse que ela está tendo desejos, e ele percebeu não ser comum.

— Hummm… Interessante.

Ela para de falar e olha para a janela, olho para o mesmo local e não vejo nada.

— O que foi? — Pergunto, passando a mão devagar em suas costas e subindo até a nuca
onde ela gosta.

— Não é nada. Mas, sua janela tem uma vista exposta demais. Qualquer um, do lado de
fora, com uma boa arma, é capaz de atirar e acertar aqui dentro. — Diz sem se virar para mim,
como se estivesse vendo além das minhas vistas.

Volto a olhar para fora, analisando o que ela disse e vejo ser verdade.

— Vou plantar árvores, para impedir a visão. — Digo e passo a mão em seu rosto,
segurando em seu queixo e a trazendo para um selinho rápido.
— Sim, vai demorar um pouco para crescer e ficar do bom tamanho, ou compramos
mudas já maiores para acelerar o processo. Mas, enquanto isso, precisamos pelo menos blindar
essas janelas e evitar deixar os vidros abertos. — Aconselha.

— Farei isso, Raggio di Sole.

Puxo pela nuca, agora a beijando com vontade. É tão bom estar assim com ela, que
prefiro continuar sem perguntar sobre a foto, pois sei que quando eu revelar o que aconteceu, ela
vai ficar furiosa comigo. Confundi meu Raggio di Sole com a sorella dela, por mais que sejam
gêmeas, eu não devia ter feito tantas acusações. Mesmo que mentalmente, sendo que eu sabia
desde sempre que ela e Alessa eram gêmeas com apenas poucas diferenças genéticas.
Capítulo 44
O cheiro do hospital já está impregnando em mim, do tanto de vezes que tive de vir para
cá. Não gosto do cheiro, pois me lembra o cheiro de desinfetante que as empregadas usam para
limpar o quarto da minha mãe no dia que ela morreu.

Aquele quarto ainda se mantém fechado, lacrado como um túmulo e nunca mais eu
entrei, assim como mais ninguém depois que foi limpo. É como se eu quisesse preservar a sua
última lembrança, e não aquela que eu vi no dia que partiu.

Balanço a cabeça enterrando as lembranças que teimam em não sair da minha mente.
Aperto firme meus dedos, cravando a minha própria unha na palma da minha mão, ao ponto de
minha pele ficar branca. Uma pontada de dor que me distrai, mas não me faz esquecer.

Paro diante do consultório do Dr Fernando, bato na porta e logo ele abre, me encarando
com o olhar sério de sempre. Nunca imaginei que encontraria um amigo em um associado, na
pessoa que me ajudou no dia em que mais precisei, no dia em que eu quase enlouqueci. Além
dele, ninguém sabe, assim como ninguém sabe o grau de amizade que possuo com Henrique, o
jardineiro da máfia.

— Entre e sente-se, Roman. — Diz indicando o local.

— Diga logo. — Peço me sentando.

Fernando dá a volta na mesa, se senta e pega uma pasta. Sei ser a pasta de meu pai. Esse,
nem o Diavolo está querendo para ele, pois tudo que já aconteceu e vem acontecendo ele ainda
não morreu. Ou como muitos dizem, talvez não seja a hora dele.

— Roman, há dois dias começamos a retirar seu pai do coma induzido como você sabe.
Ontem à noite ele acordou, está estável, não teve sequelas. Ele ainda está um pouco lento,
precisará de uma fonoaudióloga por alguns dias, porém, ele está falando e se movimentando.

Devolvo a pasta sem abrir e encaro Dr Fernando.

— Mais alguma coisa?

— Eu evitei todos os exames de sangue, como você pediu. Mas eu fiz um apenas para
saber qual o grau do veneno. Infelizmente, com a dosagem de remédios, o veneno no corpo de
seu pai reduziu mais da metade. Fiz a comparação com o outro exame que fiz da última vez.

— Isso não é problema. Vou voltar a fazer o que fazia anteriormente. Meu pai não vai
parar de fumar, e quanto mais ele fizer isso, mais veneno vai colocar em seu organismo. —
Respondo.

— No outro exame, eu havia lhe dado um prazo de um ano. Nesse, pela contagem que
fiz, ele tem pouco mais de dois anos, três no máximo, se você continuar com a mesma dosagem.

— Ótimo. — Digo e me levanto. — Vou lá no quarto ver como ele está.

Saio em passos lentos, agora repensando como vou agir de hoje em diante. Mais alguns
anos, e eu não tenho pressa, só não posso colocar mais ninguém em perigo. Não posso deixar que
ele machuque mais ninguém que é importante para mim. Mais alguns anos e talvez seja tempo
demais para ter meu passarinho ao meu lado, já venho pensando nisso há algum tempo.

Talvez esteja na hora do meu passarinho abrir as asas e voar, antes que eu ou meu pai,
machuque suas asas. Antes que ela descubra o que eu fiz para a irmã dela, mas não estou
arrependido, nenhum pouco. Posso ter acompanhado todo o sofrimento de ambos, posso ter
observado calado por muito tempo. Mas não me arrependendo e talvez esse pensamento me faça
pior que meu pai.

Talvez, no final, eu seja como ele, no fundo, me pareça com ele, acredito que eu sou
como ele, sou seu filho.

Abro a porta do quarto e encontro Karev levemente sentado, com a cama erguida,
deixando seu corpo elevado. Ao ouvir o barulho da porta, ele se vira para mim, me olha com
aquele mesmo olhar que odeio.

— A-Ale-Alessandro. — Fala com dificuldade cortando as palavras.

— O que tem Alessandro? — Pergunto me aproximando.

— Aqui, ele, vem aqui. — Pede e eu pego o celular.

— Vou pedir para ele vir.

Me afasto e faço a ligação para Alessandro, sei que meu pai tem o subchefe em sua mão,
ou os dois tenham um ao outro não sei. Não sei todas as reuniões, não presenciei todas. Mas as
poucas que vi e ouvi me mostram que ele é outro que merece a morte.

— Já o comuniquei, quer algo mais? — Pergunto.

— Vá embora... Não preciso... Não preciso de você aqui.

— Ótimo, eu não queria mesmo. — Repuxo um sorriso sarcástico, fazendo o que ele
odeia.

Saio do quarto e respiro fundo, tenho de pensar nos passos que darei daqui para frente.

Ainda não acredito que estou em uma cama de hospital. Que quase morri por um tiro da
minha filha.

Ah, como ela é perfeita, minha cópia. Esplêndida!

Pena ser tão teimosa.


Deveria estar com raiva, deveria querer matá-la depois disso. Mas não, eu não quero e
sim a quero para moldá-la.

Roman não tinha mais necessidade de estar em meu quarto, por isso o mandei se retirar.
Alessandro vai me contar o que preciso saber, pois ele sempre fez isso muito bem.

As horas passam me deixando impaciente nesse quarto, até a porta ser aberta e ele entrar.
Parando em minha frente com as mãos nos bolsos.

— Pelo visto, nem a morte quer você. — Fala de modo sarcástico.

— Diga... Diga o... O que aconteceu? — Mando, a voz ainda está um pouco falha pelo
tempo que fiquei respirando com a ajuda de aparelhos.

Alessandro sorri, puxa uma cadeira e se senta, me mostrando que a conversa séria longa.

— Luigi voltou e se casou. Pena que estava aí, entre a vida e a morte, e não pode
testemunhar o que você tanto queria. — Diz com um sorriso.

Não evito sorrir, finalmente aquele filho maldito retornou e agora só esperar a hora de ter
um herdeiro para meu plano seguir em frente.

— Mais... Algo?

— Consegui colocar uma pessoa dentro da casa. Diferente de Matheo, Luigi não conhece
os empregados e a que está na casa dele, eu já conheço há muito tempo, será fácil de convencê-
la.

— Ótimo. Quero saber todos... Todos os passos daquele... daquele Maldito. — Começo a
tossir ao forçar para falar.

— Va bene. Agora vamos falar de coisas importantes, sócio. Afinal, eu vim aqui para
isso, pois enquanto você estava aí decidindo se morreria ou não, eu fiz o trabalho sozinho.

Faço sinal com a mão para ele continuar a conversa, afinal o que eu queria já estava ali.
Luigi estava de volta e logo eu derrubaria o Don Leonel.

— Ah! Outra coisa. Agora é Don Luigi. — Alessandro fala, roubando minha atenção
mais uma vez.

— Como assim?

— Exatamente isso, Leonel passou o cargo para Luigi.

Agora, sim, eu sorrio abertamente, pois quando colocar meu plano em ação, será tudo
perfeito. Luigi é uma mosca-morta, fácil de ser esmagada.

Que ele faça logo esse herdeiro.


Capítulo 45
UMA SEMANA DEPOIS.

Olho para a lista de papéis à minha frente, um a um estão sendo eliminados. Ratos que
acharam poder enganar a família para sempre. Apenas acharam, pois eu descobri tudo, cada um
deles.

De todos, um é especial, e por esse motivo não o levarei para o galpão, não, eu não vou,
vou, sim, ter uma boa conversa em meu escritório. Uma conversa demorada onde ele terá de me
explicar direitinho para onde está indo o dinheiro. Já que sua conta está normal, nada entrou lá
que já não fosse o esperado.

A porta se abre e Giulia entra, o vestido preto curto, com renda e alças finas, atiça minha
cabeça de tal forma que não consigo evitar olhar e não imaginar ela em cima de minha mesa.

— Luigi, vai demorar para chegar o rato? — Pergunta, fechando a porta.

— Matheo ligou, Roman já está com ele. Aproximadamente uma hora, uma hora e meia.
— Digo, já pensando nas coisas que quero fazer.

Fiquei muito tempo fora e agora que estou aqui, quero aproveitar cada segundo que
posso.

— Não sujem o tapete, gosto dele. — Fala olhando para o tapete bege.

— Se sujar, compro outro, mas agora, venha aqui. Eu quero ver esse vestido, mais de
perto. — Digo, repuxando um sorriso malicioso.
— Ganhei da minha sorella, mas não gosto muito desse estilo. É muito colado.

— Depois você troca de roupa, mas agora… — A puxo pelo braço e seguro em sua nuca.
— Quero foder você em cima da minha mesa. — Sussurro em seu ouvido e ela suspira.

— Eu também quero. — Responde ofegante.

Depois que voltamos da fazenda para casa, sempre e em qualquer lugar, a qualquer
momento, fazemos amor. É só ficarmos sozinhos que o fogo entre nós acende e, de todos os
lugares da casa, meu escritório ainda estava intacto. Até hoje.

Beijo sua boca conforme puxo seu vestido para cima. Giulia me abraça, roçando o corpo
no meu. A giro de forma abrupta, encerrando o beijo, deito seu tronco sobre a mesa, me
debruçando em seu corpo, abrindo suas pernas e puxando sua calcinha para o lado.

— Colocou o vestido de propósito, não foi? — Pergunto e ela joga a bunda de um lado
para o outro.

— Talvez tenha.

Pego sua perna e a levanto, colocando o joelho na mesa. Ergo seu vestido mais um pouco
e me ajoelho, vendo a sua boceta lisinha e rosada. Uma delícia que não sai da minha boca, sim,
não sai da minha boca. Todo dia é meu café da manhã e minha ceia antes de dormir e claro,
como eu disse antes, se tivermos oportunidade, no meio da tarde.

Seguro firme em seu quadril, enfiando minha língua com vontade dentro da sua boceta.
Ela rebola em meu rosto, me deixando louco, aos poucos Giulia vai se soltando cada vez mais, e
eu gosto muito disso.

— Isso, Luigi, isso. — Geme alto quando começo roçar forte seu clitóris.

Sinto que está próxima de gozar, então paro e me levanto, abro minha calça, tirando meu
pau que pulsa louco por ela.

Coloco a cabeça e entro devagar, alargando-a de acordo com o que entro. Seguro seu
cabelo, puxando seu corpo para mim conforme me movimento. Estocadas curtas e rápidas,
fazendo seu corpo pular e a mesa sair do lugar.

— Tão gostosa, Raggio di Sole. — Digo entrando o máximo que posso sem machucá-la.
Sou grande e sei que tenho de tomar cuidado.

— Não para, Luigi. Não para. — Pede com a voz carregada de luxúria, me fazendo sentir
a sua umidade escorrendo pela minha extensão.

— Não vou. Só quando eu deixar essa boceta cheinha. — Acerto um tapa leve na sua
bunda e ela traz o corpo em minha direção.

Minha mão desce para seu quadril, desce para o clitóris e esfrego rápido, com uma
pressão moderada, e ela solta um gemido alto, rebolando comigo, entrando e saindo.
— Ah, Luigi… Como é gostoso. — Sua voz sai em um fio.

— Segura na mesa, que agora vou entrar forte, para deixar essa boceta marcada.

Ela segura na mesa, enquanto eu abaixo sua perna e a abro, seguro com as duas mãos seu
quadril e agora, sim, entro forte, fazendo o eco do nosso corpo ser ouvido. O suor escorrer de
mim e cair na pele da sua bunda.

— Hummm… — Geme gostoso, me deixando louco.

Gozo no momento em que sinto ela gozar, que sinto a sua boceta me apertar e se entregar
a mim.

Fico parado um tempo, sentindo meu pau pulsar em seu interior, até ouvir batidas na
porta.

— Sporcizia. — Saio e arrumo minha roupa.

— Eles chegaram cedo. — Giulia fala, arrumando a própria roupa e indo até o sofá de
canto.

Olho em meu relógio de pulso e começo a rir.

— Não, Raggio di Sole. Nós que demoramos. Já passa de uma hora que Matheo me
informou estar vindo.

— Nem parece, estava tão gostoso. — Diz com uma voz safada enquanto me sento.

— Entre. — Mando, com a voz firme.

Matheo entra acompanhado de Roman e do contador, que me olha com receio. Matheo
franze o cenho, puxando o ar do ambiente com as narinas, e logo vejo um pequeno sorriso nos
lábios de meu fratello.

Sem dizer nada, Roman segue até a janela que eu mandei blindar, depois de minha
conversa com Giulia, e abre.

— Ar puro é sempre bom. — Fala de modo sarcástico.

— Ainda mais para tirar o cheiro de pós-sexo. — Matheo diz de forma sarcástica, até ver
Giulia encarando seus olhos. — Scuze, Donna.

— Va bene. Agora vou dizer o mesmo que disse a Luigi, não sujem meu tapete.

Quando Giulia fala isso, Matheo fecha a porta e o contador se dá conta de que sua vinda
aqui não é muito boa.

— O Don, gostaria de falar comigo? — Pergunta e eu vejo sua mão tremer.

— Sim, quero falar com você, sente-se.


Aponto para uma cadeira de madeira no canto, que Roman traz, colocando no centro do
escritório sobre o tapete de Giulia.

O contador se senta e eu sorrio animado, estou feliz, ainda mais após fazer um amor bem
gostoso.

— Vou conversar com você. Mas não agora, pois primeiro tem de saber que não pode
tentar me enganar. — Digo, me aproximando.

— Don, por favor. Vamos conversar, o senhor chegou há pouco tempo e tenho certeza de
que tem coisas a resolver que posso ajudar. — Fala tremendo.

Repuxo um sorriso e Roman vai até o contador, puxando suas mãos para trás e as
algemando com uma algema que tira do seu terno.

— Desde que cheguei, eu comecei a resolver algumas coisas. E você foi a primeira coisa
que eu percebi estar errada, mas te deixei por último. Agora, primeiro vou mostrar a você que
não se rouba da família e depois você vai me contar tudo.

— Don… — Ele vai dizer algo, porém Roman o amordaça.

— Primeiro, sua punição, depois a conversa. — Ele sussurra no ouvido do contador, mas
de uma forma que todos nós ouvimos.

Uma das coisas que meu fratello gosta e eu sempre soube, é usar as facas, assim como a
sorella de Giulia, Alessa, gosta. Por esse motivo, meu fratello vai fazer as cobranças. Matheo me
informou, e eu também soube que todos têm receio quando Roman chega para isso, pois sempre
alguém sai sem um pedaço.

Claro que eu, agora como Don, gostei muito do que meu fratello faz, e por isso hoje ele
vai cuidar do contador.

— Sabe, Contador. Eu sou muito bom em matemática, cresci aprendendo números e foi
fácil achar o erro na sua conta. Primeiro, meu fratello irá te punir pela sua ação, depois você vai
abrir essa boca e me contar aonde está indo esse dinheiro e depois eu decido se sua morte será
lenta ou rápida. Porque ratos são mortos.

Digo e me afasto, segurando na mesa, colocando no lugar certo, enquanto Matheo repuxa
o sorriso. Roman para na frente do contador, tira um bisturi de dentro do terno e sorri, um sorriso
sardônico. Posso ver o prazer que sente nesse momento.

O contador começa a tremer, em desespero. Morde a mordaça e começa a chorar. Viro


minha cabeça para o lado bem devagar, prestando atenção na cena à minha frente.

Roman segura na pálpebra direita do contador e, bem devagar, passa o bisturi, removendo
a pele que segura seu olho. Logo a camisa branca dele fica com sangue que escorre pelo seu
rosto, enquanto ele treme e grita com a mordaça na boca.

Assim que toda a pálpebra é retirada, o olho dele cai para frente, ficando preso pelas
córneas. Roman segura seu olho e passa o bisturi, cortando o que o segurava, e sem nenhum
pingo de sentimento, coloca o olho do contador sobre o joelho do próprio e enfia o bisturi de
uma vez, passando do olho até o joelho do contador, que treme agonizante.

Com o bisturi preso no joelho do Contador, Roman desamarra a boca dele e fala com
uma voz bem calma.

— Agora, pode contar. E aconselho falar a verdade, pois você ainda tem outro olho para
eu arrancar.

Me aproximo do contador, e Roman se afasta. Olho firme para o que sobrou dele e acabo
repuxando o lábio em um sorriso largo.

— Vai me dizer o que quero saber? — Pergunto.

— Sim, Don, sim. — Concorda, balançando a cabeça.

— Então, diga. — Ordeno.

— Eu apenas mexo nos números, sou obrigado a isso por…

Uma bala atravessa a minha janela aberta, acertando na garganta do contador.


Respingando sangue em minha roupa.

— Merda.

Todos pegamos nossas armas, Giulia se levanta rápido e se posiciona na lateral, enquanto
eu vejo o contador se afogar no próprio sangue. Matheo vai até a janela, abaixado, e Roman fica
na minha frente. Então, Giulia suspira, abaixando a arma.

— Eu disse que essa janela tinha uma visão aberta, Luigi. Sporcizia, alguém sabia e
limpou o rastro antes de sabermos de algo. — Ela fala irritada, fechando o vidro.

— Sporcizia, tem outro rato maior ainda para pegarmos. — Matheo fala.

— Vou rastrear o local de onde saiu o tiro e ver a distância. Talvez consiga encontrar
algo. — Giulia diz, e com todo o seu treinamento a respeito, não tenho nem como negar.

— Eu vou com você. — Digo firme.

— Também vamos. — Matheo fala e Roman concorda.

Quanto mais ratos eu extermínio, mais ratos aparecerem. Não importa, pois irei acabar
com cada um deles, matar um por um, até que não sobre mais ninguém.
Capítulo 46
Desde o primeiro momento que vi aquela janela, eu soube que era um ponto fraco na
casa. Luigi até a blindou como eu pedi, mesmo não sendo algo muito comum aqui na Itália. A
blindagem de vidros é mais corriqueira em outros lugares do mundo, principalmente no Brasil. Já
plantaram as árvores que pedi, e quando crescerem vão dificultar a visão de dentro do escritório.
Porém, isso vai demorar um pouco. Luigi não quis comprar as árvores já adultas, ele disse que
prefere ver crescer em nosso terreno, coisa da cabeça dele, então melhor deixar assim.

Sigo em direção a onde suspeito ter vindo o tiro. Calculando a distância e o formato da
bala que tiramos da garganta do contador, acredito que o atirador estava a pelo menos uns
100mts de distância.

Se a janela estivesse fechada, a bala não teria entrado, mas Roman abriu, para dispersar o
odor de sexo no ambiente.

— Encontrou algo? — Matheo me lança um olhar curioso ao me ver abaixar.

— Um rastro. Estamos perto. — Respondo olhando para o chão, onde percebo que foi
pisado de modo grosseiro, como se a pessoa estivesse com pressa.

Caminho em direção a um pequeno campo aberto, onde tem um pouco de grama, é um


terreno vazio que estou pensando em comprar. Por mais que minha propriedade seja grande,
quero que pelo menos a casa fique o mais distante possível de qualquer outra construção.

Olho ao redor, buscando um ponto, um local onde possivelmente o atirador poderia ter se
escondido. O sol já está caindo, deixando um tom laranja no céu e a noite aparecendo,
manchando o horizonte, e esse horário é muito ruim para ver as coisas. Suspiro fundo e olho em
direção à minha casa, para a janela e onde eu provavelmente estaria, para atirar naquela direção.
Me coloco no lugar do atirador, penso como provavelmente ele pensaria, para saber onde
ele poderia estar. Precisaria estar em um local alto, uma árvore é uma boa opção. O terreno
possui três árvores, mas das três apenas uma teria a altura desejada.

Vou até lá, olho e sim, é essa mesma.

— Ele atirou daqui. — Digo, olhando da árvore para a janela.

— Uma distância considerável, pode ser um atirador contratado. — Matheo indaga o que
eu estou pensando e analisando mentalmente.

— Não sei. Poucas organizações, ou pessoas em toda a Itália, aceitariam um trabalho


desse. — Luigi fala.

— Matar o Don, não é algo que as organizações aceitem. Muito menos invadir e matar
alguém que o Don está torturando. Acho que quem fez isso é de dentro da máfia. Da família. —
Digo firme, tendo certeza, sim, só alguém da família que está com o rabo preso faria isso.

Olho para o chão e vejo um papel de bala. Me abaixo e o pego, vendo a embalagem e as
letras FI, nesse momento o cheiro de tangerina entra no meu nariz, o cheiro era o cheiro do
homem que quase…

Não consigo pensar, nem dizer o que ele fez. Mas o papel de bala eu já vi com alguém, já
vi no dia que fui para o hospital. Victor, Victor estava com uma bala dessa.

Será quê? Não, não pode ser. Ele é meu amigo há tanto tempo, ele não faria isso, ou
faria?

Me ajoelho no chão sentindo falta de ar, olhando para aquele papel e sentindo o seu
cheiro. Tudo começa a girar, sinto um aperto forte e depois a sensação das mãos daquele homem
em mim, outra vez, como se eu estivesse revivendo aquele momento, aquelas mãos ásperas,
aqueles dentes em meu corpo, aquela língua que passava em minha pele.

Fico enjoada e meu estômago revira dentro de mim, enquanto as lembranças invadem a
minha cabeça, me fazendo sentir todo aquele medo, aquela dor, aquela sensação de impotência
que sentia antes. Como se aquilo tudo estivesse novamente acontecendo.

— Giulia, o que está acontecendo? Giulia?

Fecho os olhos contando até dez, ouço de longe a voz de Luigi me chamar, mas estou
presa dentro de um redemoinho de lembranças e sentimentos que, quando percebo, tudo fica
preto e eu desmaio.
Capítulo 47
Giulia começa a passar mal assim que pega naquele papel de bala. Penso que pode ter
algum tipo de veneno naquela embalagem, e que ela foi contaminada. Rápido, a pego no colo,
saindo correndo em direção ao meu carro, Roman e Matheo vêm logo atrás.

Meu fratello pega o volante e Matheo fica na parte da frente, enquanto eu fico atrás
segurando Giulia em meus braços com força, sentindo a sua respiração que está descompassada.

— O que acha que pode ter acontecido? — Matheo pergunta, segurando o papel de bala
com um lenço. Caso seja mesmo algum veneno, ter a origem pode ajudar e muito.

— Talvez, tenha veneno no papel, pode ter sido um chamariz. — Respondo irritado, pois
se foi isso, eu terei falhado novamente com a minha moglie e eu não me perdoarei se algo
acontecer a ela.

— Ela não aparenta estar envenenada, e sim, que teve uma crise de pânico. — Roman
fala firme, convicto, enquanto dirige.

— Tem certeza? Como sabe disso? — Pergunto, encarando pelo retrovisor.

— Porque eu sei como são. São gatilhos de algo que ficou guardado na mente, e mesmo
que a pessoa queira esquecer, quando algo a faz recordar… a crise vem. — Fala firme, olhando
para frente sem desviar.

Será que meu fratello já teve ou tem crise de pânico, e por isso ele sabe o que aconteceu
com Giulia? Me pergunto mentalmente. Pois Roman sempre foi um pouco mais fechado, tem o
jeito calmo e observador. Mas a vida dele particular é tão escondida que nem mesmo eu, sendo
seu fratello, ele conta.

Nada, nunca soube de uma mulher, de uma amante, de uma namorada ou qualquer coisa
do tipo. De homem, sei que ele não gosta, pois me lembro da nossa juventude, a única vez que o
vi com uma ragazza quando fui visitar meu pai, e tempos depois soube que ela foi embora da
casa. Nessa época, meu fratello ficou ainda mais calado e solitário. Talvez aquela ragazza tenha
sido a única que ele amou e por isso não o vejo com mais ninguém.

O caminho até o hospital foi tenso, a todo momento eu sentia a respiração da minha
moglie, para ter certeza de que ela estava bem. Quando chegamos ao hospital, desço correndo,
levando-a em meus braços.

Roman passou em minha frente e pediu para a enfermeira chamar por Dr Fernando. Pelo
que entendi, esse médico é de confiança do meu fratello, pois foi apenas ele quem cuidou de
nosso pai. Desde que descobriu o câncer, Roman me falou. Porém, desde que meu avô, André,
começou a me treinar, eu não me preocupei mais com a saúde de nosso pai, pois percebi que
nunca passei de um nada para ele.

Foi doloroso ter a certeza de algo que eu já desconfiava, mas em toda a minha ignorância
e cegueira em busca de afeto e aprovação do homem que é meu pai, eu não conseguia ver.

A enfermeira nos guiou até uma sala e logo o médico apareceu. Com cuidado, coloquei
Giulia na cama hospitalar e ele começou verificar seus sinais vitais. Roman narrava para ele, sem
muitas informações e sim apenas o necessário, o que havia acontecido.

Me sentia impaciente, mas controlava o meu lado impulsivo, pois todas às vezes que eu o
deixava sair, fazia algo de errado. Algo que depois me arrependia, a última vez foi no dia em que
virei Don e briguei com Giulia, uma briga de que me arrependo amargamente.

— Ela está bene. Teve uma crise de pânico e pode ser medicada com uma espécie de
calmante natural ou algo mais pesado para atenuar a sensação de pânico. Quando ela acordar,
podemos verificar se ela sente alguma dor ou se tem alguma outra queixa, mas fora, isso está
tudo normal. — Dr Fernando fala, guardando o estetoscópio que usou para ouvir os batimentos
de Giulia.

— Ela ficou assim após ver um papel de bala. — Digo.

— Algum gatilho foi acionado por alguma lembrança, algo que provavelmente a fez
reviver algum momento traumático, e isso gerou a crise. Preciso que entenda, Don Luigi. — Ele
fala com respeito ao dizer meu nome acompanhado pelo Don. Isso mostra que ele sabe
exatamente quem sou. — Sua moglie passou por um trauma grande, ela foi abusada, física e
psicologicamente. Isso não se esquece, pode passar o tempo que for, sempre terá um resquício da
lembrança. Esses resquícios podem trazer gatilhos para traumas que são difíceis de curar,
lembranças assim, são difíceis de esquecer completamente.

— Entendo, Dr. — Respondo firme.

— Quando ela acordar, converse com ela e, se sua moglie quiser te contar, va bene. Se
não quiser, espere o tempo dela. — Pede anotando algumas coisas em uma prancheta.

— Farei isso. E outra coisa, Dr Fernando. Os exames que foram pedidos já estão prontos?
— Pergunto ansioso, pois eles podem me levar direto para o rato que estou louco para destripar.

— Bom, sobre esse assunto, eu ia justamente pedir para vocês virem até meu consultório.
Os exames chegaram ontem, e como eu já suspeitava pela forma que Giulia chegou, toda
molhada, foi difícil encontrar qualquer DNA. Infelizmente, deu inconclusivo, não temos como
saber quem provocou tal ato. — Fala e sinto em sua voz, que está desapontado.

— Va bene. — Concordo, desanimado. — É melhor não fazer nenhuma medição, foi a


primeira vez que isso acontece, prefiro conversar com ela antes ou, pelo menos, esperar que ela
acorde.

— É o mais prudente, Don, pode aguardar no quarto até ela acordar, obviamente. Se me
dão licença, preciso verificar os outros pacientes. — Diz e todos concordamos.

Dr Fernando sai da sala, logo Roman e Matheo saem, enquanto eu me sento em uma
poltrona, velando novamente o sono da minha moglie em uma cama de hospital, novamente me
sento um fracasso.

Pouco mais de uma hora depois Giulia acorda e eu percebo que ela fica olhando para o
teto, como se estivesse pensando em algo. Logo depois vira o rosto para mim e eu abro um
sorriso tentando confortá-la, conforme me levanto e vou até seu lado. Desde que coloquei os pés
em Tivoli, visitar o hospital tem sido rotina, já estou cansado disso.

— Como se sente? — Pergunto, e ela tenta levantar, então a ajudo.

— Faz tempo que estou aqui? — Rebate a minha pergunta com a dela.

— Uma hora, ou um pouco mais. Mas agora me diga o que está sentindo? — Seguro em
sua mão, e ela suspira.

— Estou bene, só… Estou bene. — Responde em dúvida.

Passo a mão em seu cabelo, e desço, começando a fazer um carinho em sua nuca, que a
faz esticar o corpo em minha direção.

— Eu estou aqui, caso queira me contar o que está te incomodando. Mas se não se sentir
bene em me falar, irei entender e esperar seu tempo. — Falo olhando em seus olhos.

Giulia suspira, logo depois segura minha mão em seu rosto. Posso ver como seu olhar
está triste, quase melancólico.

— Não sei se o que estou pensando é verdade. Mas se for, ficarei muito triste. — Diz,
repuxando os lábios, demonstrando sua insatisfação.

— Diga. — Peço.

— O papel de bala. O cheiro de tangerina é o mesmo cheiro que o homem que me atacou
tinha, naquele momento. Quando ele tentou me beijar, eu pude sentir o gosto, o cheiro. — Raiva
quase me consome nesse momento, mas me controlo. — Eu senti o cheiro no papel, e era como
se eu estivesse sido puxada para lá com ele, outra vez. — Ela me explica dolorosamente.

— Mas não estava, nunca mais vai estar. Eu vou matar aquele maledetto.

— Mas não é só isso, no dia em que eu vim para o hospital, logo depois do ocorrido,
Victor veio me visitar. E antes de ele ir embora, ele abriu uma bala, eu vi as letras e tenho quase
certeza de que o papel era o mesmo.

Encaro seu rosto em confusão, se ela está dizendo o que eu estou pensando que está.

— Acha que Victor, fez aquilo com você? — Pergunto e ela solta minha mão.

— Eu não sei, eu só… Não quero pensar que meu amigo tenha feito isso comigo. Não
quero pensar que Victor seria capaz de tal tamanho violência.

Sei que esse não é o momento, sei que não devo tocar no assunto. Mas a dúvida sobre
aquela foto me remói por dentro. Quem poderia ter enviado, e por quê? Pois depois de tudo,
confio em minha moglie sei que ela não dormiu com outro, de forma nenhuma. Acredito nisso.

— Giulia, Victor nunca te viu como uma amiga e você sabe disso. — Digo e ela olha
para o lado.

— Mas ele sempre soube que nunca passaria disso para mim. — Responde firme.

— Ele nunca tentou nada, ou ensinou algo? — Pergunto e ela me encara.

— Não quero brigar com você, Luigi. Não hoje.

— Não vamos brigar, Giulia, o que eu mais quero é resolver as coisas. Estou louco de
vontade de sair daqui agora e bater naquele maledetto até a morte, porém aprendi com meu avô
André que não posso ser assim. Meu lado impulsivo é ruim, tenho de pensar muito bem antes de
agir, e por isso quero saber mais sobre vocês. — Digo firme. — Aconteceu algo, além do beijo
que eu presenciei no seu aniversário? — Falo com todas as palavras, tirando de dentro de mim
aquela amargura que carrego.

— Não, nunca mais houve nada, porque eu não deixei. — Responde, igualmente firme.

— Preciso te contar algo, talvez fosse melhor na nossa casa, e não aqui. Vou pedir que o
Dr Fernando te dê alta. Va bene?

— Sim.

Ela concorda, mesmo meu interior vibrando para sair e ir atrás de Victor, me controlo.
Agora preciso cuidar da minha moglie, terminar de tirar todas as dúvidas do passado.

Preciso esfriar a cabeça também, pois tenho de agir da forma certa. Da forma correta,
posso matar e torturar aquele rato sem ninguém reclamar ou contestar.
Capítulo 48
Chego em casa e Luigi me leva direto para o quarto. A sensação que tive ao me lembrar
daquele odor foi horrível, mas pensar que meu amigo possa ter algo com isso, me deixa
decepcionada. Sei exatamente o que irá acontecer caso ele seja culpado.

Anos de amizade, para tudo acabar assim. Mesmo não tendo certeza, algo dentro de mim,
diz que sim, eu estou certa em minhas suspeitas. E o que ele fez não tem perdão, eu mesma não
perdoo.

Assim que passo pelas portas do meu quarto, Luigi fecha e vai direto para o quarto de se
vestir, enquanto eu me sento na cama. Ele não demora para voltar com uma fotografia na mão e
para na minha frente com um suspiro pesado.

— Vou dizer tudo a você. Logo depois que vi o beijo entre você e Victor, eu quase fui até
lá e só não fui porque Roman me impediu, eu estava fora de mim e talvez… Talvez, não iria te
ouvir e era capaz de matar algumas pessoas que me incomodassem naquele dia. — Fala,
balançando a cabeça.

— Va bene. Continue… — Peço.

— Passei a noite pensando no que fazer, e mal preguei o olho pensando nisso. Quando o
dia amanheceu eu decidi que iria falar com você, mas no momento que estava chegando em meu
carro, recebi essa foto, na hora, eu vi você nela. E tive a certeza de que estava com outro e pela
mensagem no verso, o outro era o Victor.

Ele me entrega a foto, e quando vejo de primeiro momento parece ser eu, a foto em preto
e branco, dificulta um pouco a visão, mas o colar era o colar que Luigi havia me dado. Olho para
a foto e depois para ele, até que percebo que era Alessa, e não eu. Mas se até mesma eu fiquei
confusa assim que vi a imagem, quem dirá ele.

— Quem enviou isso? — Pergunto sem acreditar no que estou lendo no verso.

— Pensei que fosse Victor. Assim que recebi eu tinha certeza de que era ele. E por esse
motivo quase o matei. Bati nele aquele dia, com tanta raiva por imaginar que ele estava com
você, e que meu Raggio di Sole havia me trocado. — Sinto mágoa em sua voz.

— Você deveria ter vindo falar comigo.

— Eu ia, mas no meio do caminho meu primo ligou. Ele me disse que meu avô André
havia sofrido um atentando, e como até aquele momento eu ainda era herdeiro da Rússia, seria o
Pakhan, precisava ir para lá e não contar nada a ninguém. A família estava fragilizada e nem meu
nono Leonel poderia saber. — Fala me olhando nos olhos e vejo ser verdade.

— E você ficou lá três anos, sem nem me ligar ou me dar notícias. Dormindo com todas
as puttanas enquanto eu ficava aqui. — Agora é minha vez.

— Primeiro: eu quis te ligar algumas vezes. Mas toda vez que eu recebia informações de
você, e que você ainda estava falando com Victor, minha raiva aumentava. Eu queria largar tudo
e vir aqui, te tomar logo como minha moglie e te levar comigo, mas meu avô André não deixou.
Segundo: eu não fiquei comendo puttana, Giulia. Fiquei 7 anos esperando por você. Não minto
que até tentei no início, quando estava com muita raiva. Mas não suportava saber que não era
você, que aqueles toques não eram os seus. Nunca passou de toques, nunca beijei outra mulher
depois de você. Nunca levei uma mulher para cama depois que soube que era você quem se
casaria comigo. Passei 7 longos anos, esperando pela minha moglie.

— Eu recebi uma foto de você beijando outra, uma puttana russa, Luigi. Não minta! —
Digo firme.

— Mas não estou mentindo. Todas que tentaram me beijar, eu tirava de perto de mim e as
colocava em seus devidos lugares. Aquele dia Victor aproveitou do momento que uma das
mulheres fez aquilo, ela me beijou e depois eu a tirei do meu colo.

— Mesmo assim, você deixou que elas se sentassem em seu colo. — Digo com um pouco
de raiva.

— Porque é o trabalho delas. O clube aonde fomos, as mulheres ganham para entreter,
nem todas fazem sexo com os clientes, Giulia. Algumas só se sentam no colo, servem bebidas e
conversam. As que me conhecem sabem que se ficarem quietas, me servirem as bebidas, vão
receber por isso. Mas algumas passavam dos limites, e essas eu colocava na linha. Ninguém,
além de você, me beijou.

Suspiro tentando entender o que ele acaba de me contar.

— Está me dizendo, que ficou 7 anos, que ficou desde quando o nosso compromisso foi
comunicado, sem ter uma mulher? — Pergunto sem acreditar.

— Sim. Eu não conseguia pensar ou me ver com outra mulher que não fosse você,
Raggio di Sole.

— Isso não é possível. Você é homem, você… — Falo indignada, como ele ficou tanto
tempo sem ninguém.

— No meio da psicologia, sou considerado uma pessoa demixessual, porque só consigo


me envolver com a pessoa que eu desejo e que sinto atração sexual. Essa minha pessoa sempre
foi você. Eu esperei por você, porque sempre amei a minha prometida e por mais que eu tentasse,
não conseguia deixar de amar. — Fala olhando em meus olhos e nesse momento acabo sorrindo.

— Eu também te amo, você me fez te amar, antes mesmo de ter te beijado pela primeira
vez. — Digo.

Luigi se abaixa, passa a mão em meu rosto e beija meus lábios de forma calma. Quando
ele os solta, eu respiro fundo, voltando a tocar no assunto que estávamos falando.

— Você acredita que foi Victor quem enviou essa foto para você e depois fez o mesmo
comigo? Para tentar fazer com que o nosso compromisso acabasse? — Pergunto.

— Sim, eu acho.

— Mas se fosse isso, por que ele não levou essa foto ao conselho e disse que foi meu
primeiro? Eu negaria, claro, além do mais, teria a prova de que ainda era virgem.

— Bom, Victor não sabe muito bem as leis como Matheo, que se casou por fazer sexo
anal e proclamar a minha sorella como dele por isso. Victor também não é burro, acredito que
talvez não tenha falado nada, porque seria um ato de traição comigo, já que todos sempre
souberam do nosso compromisso. Mesmo que ainda não estivesse publicamente firmado na
época, ele já era válido. Ele sabia que eu não ia deixar assim tão fácil para ele, e por ser um ato
de traição, o conselho iria permitir que eu o matasse. Penso que ele acreditava que eu acabaria
com o compromisso e te deixaria livre para ele.

— E você realmente acreditava que eu tinha me entregado para ele? — Pergunto


magoada, mas olho para a foto, com o colar ali, naquela foto, até eu acreditaria.

— Lutei contra meus pensamentos e sentimentos por muito tempo, Giulia, até que eu
decidi que tudo bem. Não importava quem fosse o primeiro, você ainda era minha, e seria só
minha, que ninguém iria saber além de mim.

— Precisamos descobrir se foi Victor quem fez isso. E se foi ele que matou o contador,
pois se foi ele, tem mais coisas por trás. — Digo, repuxando um sorriso triste em pensar que a
pessoa que eu considerava um grande amigo pode estar há muito tempo me enganando e que foi
ele que me machucou daquela forma.

— Vou conversar com Matheo e decidir o que fazer de agora em diante. Mas quero que
descanse, Raggio di Sole, e o mais importante, que me perdoe por pensar tudo que pensei. Por
desconfiar de você, como desconfiei.

— Eu perdoo, perdoo porque até eu me confundo com essa foto. Mas vou falar com
Alessa e perguntar se ela se lembra de quem foi o primeiro homem dela. — Digo e Luigi me
encara sem entender. — A única vez que ela pegou meu colar foi no nosso aniversário de 18
anos. Ela saiu de casa e dormiu fora. Me lembro bem desse dia e talvez ela se lembre também.

— Va bene, agora descanse. E não se esqueça, eu estou aqui, e são meus toques em seu
corpo, apenas os meus. — Fala e se abaixa, beijando minha boca.

— Apenas os seus.
Capítulo 49
Desço as escadas pensando na conversa que tive com Giulia, precisávamos mesmo
resolver aqueles pontos que ficaram para trás. Mesmo que fosse parte do nosso passado, ainda
assim estavam presentes em minha mente. Como agora imaginava, era Alessa na foto. Se ela se
lembrar com quem estava aquele dia, vai ajudar muito a revelar quem queria me enganar… E
conseguiu, infelizmente.

Mas agora será muito útil essa informação, pois se for Victor, é um motivo a mais para eu
que eu possa torturá-lo bem devagar.

“Sangue-frio, Luigi, sangue-frio.”

Digo mentalmente, para me manter calmo e não ir até à casa daquele maledetto, para não
acabar com ele sem deixar nenhum pedacinho para contar a história.

Entro em meu escritório, onde Matheo me espera. Claro que ele estaria me esperando,
como o bom Consigliere que é. Sempre está disposto a ouvir, aconselhar e ajudar o Don, que
agora, no caso, sou eu. Fecho a porta e vou até o bar, pegando uma dose de amaro e me servindo.

— Como a moglie do Don está? — Pergunta de forma educada.

— Bene, e ela descobriu algo interessante. — Digo calmo, me sentando em minha


poltrona. — O papel de bala, tem cheiro de tangerina. O mesmo cheiro do maledetto que
machucou seu corpo, e para melhorar ainda mais, ela se lembrou que no hospital logo após
aquele incidente, Victor abriu uma bala, com a embalagem bastante parecida. — Arqueio a
sobrancelha, repuxo um sorriso e bebo minha dose.
— Está dizendo que Giulia desconfia de Victor? — Indaga receoso, afinal, eles são
amigos. Não muito amigos, afinal Matheo tomou para si a futura noiva de Victor, o que foi bem
melhor assim. Não queria ele como meu cunhado, na minha família.

— Exatamente isso. — Respondo o encarando firme.

— E por que está tão calmo? Luigi, você não é calmo assim. — Coloco os braços atrás da
minha cabeça e respiro fundo. Se Matheo, soubesse como estou me corroendo por dentro.

— Aprendi que ser impulsivo não é bom. Muito menos para um Don. Tenho de pensar
mais e agir com certeza, não com suposições. — Nem termino de falar e Matheo sorri, um
sorriso largo.

— Maravilha, vejo que não terei tanto trabalho então, afinal.

— Idiota. — Digo brincando. — Mas agora, eu preciso de provas, quero investigar Victor
e saber mais sobre isso. Afinal, Alessandro tem negócios em New York, e os ratos eram
americanos.

— Você sabe que acusar um Subchefe sem provas, ainda mais um que está há anos na
família, é algo muito complicado.

Matheo diz e uma coisa veio em minha mente, anos, Alessandro está há anos no poder,
assim como as dívidas que o contador escondia estavam há tantos anos ali. Será que Victor pode
ter matado o contador, para não delatar o pai? E como ele soube que o contador estava aqui?

— Como disse, agora preciso de provas. Desconfio que nosso Subchefe, não é tão
honrado como todos acham.

— E como pretende provar isso? Afinal, apenas palavras e suposições não provam nada.

— Eu sei. Por isso estou pensando em colocar câmeras na casa do Subchefe. E vigiar os
passos daquela família toda. — Digo abrindo um sorriso, gostando da minha ideia.

— Tem certeza de que essa é uma boa opção? — Matheo pergunta com aquele tom de
receio.

— Giulia me disse, que o cunhado, Falcão, tem alguns brinquedos interessantes e


modernos. Que ele inventa aparelhos e acho que essa nova tecnologia dos nossos associados será
uma boa opção. Quero vídeos com som e cor. Câmeras de vigilância bem pequenas. — Falo
animado agora. Provas era isso que eu precisava para matar Victor, e Alessandro pelo jeito veio
de brinde.

Pensando nisso, se eu matar os dois, a cadeira de subchefe ficará vazia e eu terei de


escolher alguém para a ocupar. Acho que meu fratello pode gostar de ter esse cargo. Seria muito
bom, ter Roman como meu subchefe.
Espero próximo à esquina da casa do pai de Victor, o meu subchefe, Alessandro. Até que
meu sogro chegue na calada da noite com o Falcão, e Martino, o subchefe da organização Falcão
Negro e mais dois ragazzos, que até onde sei, são os filhos adotivos dele.

Pedi para meu sogro, Luciano Telesca, o que precisava, e ele concordou de imediato, não
por ser um pedido meu como Don, mas por querer desvendar a desconfiança de Giulia sobre
Victor.

Abro a porta do carro e saio, acompanhado de Roman e Matheo, os seguranças de


confiança que meu Consigliere indicou estão fazendo a vigia, além de dar informações sobre o
território, pelas escutas.

— São criações suas? — Pergunto assim que recebo a caixa com uma câmera bem
pequena, do tamanho de uma moeda.

— Essa não. Ela é criação de Henrique, uma das primeiras que fez sozinho. — Fala
orgulhoso olhando para o filho.

Seguro a câmera com as pontas dos dedos, analisando o aparelho.

— Tem certeza de que está operante? Não podemos falhar. — Pergunto sério.

— Sim, senhor Don. Eu já testei e garanto que está operante. — Henrique se pronuncia e
percebo que Falcão estufa o peito com altivez.

— Sua vida depende de como esse aparelho vai funcionar. — Falo firme olhando nos
olhos dele, e o ragazzo não desvia o olhar, pelo contrário manter firme.

— Sim, senhor. Sei disso, senhor. — Responde.

— Ótimo. Agora precisamos pôr o aparelho.

Me viro para Matheo e Roman, que tem um pequeno mapa da propriedade do subchefe
Alessandro. Eu nem sabia que meu fratello tinha isso, mas descobri que esse também é um dos
seus passatempos. Ele memoriza lugares por onde passa e os desenha todos. Muito útil.

Roman abre o mapa em cima do porta-malas, meu sogro, Falcão e meu cunhado, se
aproximam para ver. O local que estamos é seguro, pois os seguranças estão fazendo nossa
guarda. Mesmo assim não podemos demorar e ninguém, nenhum soldado da casa do Alessandro
pode saber.

Estou agindo na encolha, como um soldado de organização e não como um Don. Porém,
eu quero muito participar e não ficar apenas nas ordens. Ter o sabor da satisfação de ver Victor
confessar algo para eu poder pegá-lo.
— Então, quem vai invadir e colocar a câmera? — Pergunto me virando para eles.

— Eu posso ir. — Meu sogro se pronuncia com um sorriso.

— Com todo respeito, você está velho. Vai cair da janela e quebrar um osso. — Seguro a
risada ao ouvir meu cunhado Falcão dizer.

— Nossa diferença de idade não é tão grande assim, se eu estou velho, você também está.
— Meu sogro responde.

— Eu nunca disse que estava novo. Por isso trouxe Martino, ele vai. — Aponta para o
subchefe dele.

— Eu ia, mas já foram no meu lugar. — Fala e todos nós nos viramos em direção à casa.

— Sporcizia. — Praguejo. — Espero que eles saibam bem o que estão fazendo.

Digo olhando os ragazzos do Falcão escalando uma árvore, e pulando para dentro da
propriedade de Alessandro. Como duas sombras, eles andam pelo jardim de árvores baixas me
fazendo pensar nas árvores da minha casa, e na segurança que tenho de melhorar. O mais velho
puxa o mais novo para o canto da parede assim que um soldado começa a andar fazendo a ronda,
e eles se escondem em um vão da construção que deve ser uma porta para algum lugar, não sei,
não consigo ver.

Assim que o soldado passa, o mais velho escora na parede e o mais novo sobe em seu
ombro. Então ele é impulsionado para cima, sendo jogado para a janela que o pequeno segura
firme. Vejo por um binóculo, a cena acontecer. O mais novo abre a janela, entra e joga uma
corda para o fratello que sobe em dois pulos.

Fico apreensivo com os dois lá dentro.

— Quantos anos eles têm? — Pergunto ao Falcão.

— Henrique tem 13, o pequeno Ettore está com 7. Mas é muito ágil e inteligente. —
Repuxo os lábios ao ouvir o tom de satisfação em sua voz.

Não demora mais de 5 minutos e os meninos pulam a janela, o mais velho primeiro e
depois ele recebe o mais novo nos braços. Da mesma forma que entraram, eles saem, na surdina.
Sem serem visto.

Assim que se aproximam de mim, Henrique o mais velho me entrega uma pequena caixa
com a câmera e um controle remoto. Ele tem um sorriso travesso no rosto, enquanto o pequeno
Ettore está ao seu lado.

— Conseguimos, senhor Don. — Ele diz com orgulho.

— Bom trabalho, ragazzo. Vocês são muito corajosos e habilidosos. — Elogio os


meninos que merecem, batendo de leve em seus ombros.

— Obrigado, senhor Don. Foi divertido. — Ettore diz com uma voz fina e inocente.
— Divertido? — Arqueio uma sobrancelha. — Vocês sabem que isso é perigoso, certo?
Se alguém os pegasse, vocês estariam em apuros.

— Nós sabemos, senhor Don. Mas nós confiamos no senhor Falcão. Ele nos ensinou tudo
o que precisamos saber para sermos bons espiões. — Henrique explica.

— Espiões? — Olho para meu cunhado, que tem um sorriso orgulhoso e culpado ao
mesmo tempo.

— Eles são os meus pupilos, Don Luigi. Eu os treino desde que os adotei. Eles têm um
talento natural para a espionagem. — Falcão diz.

— Acho que quem treina eles melhor é minha filha. Não é verdade, ragazzos? A minha
filha treina vocês bem melhor. — Meu sogro fala e os meninos começam a rir, como se aquele
tipo de conversa fosse algo normal entre eles.

— Eles serão como eu. — Falcão fala.

— Dio me livre. Eles serão melhores. — Meu sogro retruca.

Eu dou uma risada, vendo a cena familiar. Apesar de serem uma família de mafiosos, eles
têm um laço forte e amoroso. Eu admiro isso.

— Vamos ver se a câmera funciona. — Digo, ligando o controle remoto.

Uma tela pequena se acende, mostrando a imagem do escritório de Alessandro. Eu vejo o


sofá, a mesa de centro, uma estante de livros, e alguns quadros na parede. Tudo parece normal.

— Onde vocês colocaram a câmera? — Pergunto.

— Em cima da lareira, senhor Don. É um lugar discreto e tem uma boa visão da sala. —
Henrique diz.

— Boa escolha. Agora é só esperar que o Victor apareça. — Digo com um sorriso
repuxado.

— Quem é o Victor, senhor Don? — Ettore pergunta.

— Um bom espião não faz tantas perguntas. — Digo e ele concorda.

— Se alguém ver a câmera, é só apertar para se autodestruir e não vai sobrar nada. —
Henrique fala com um sorriso.

— Va bene. Se seu equipamento atingir o que preciso, será muito bem recompensado. —
Digo e o sorriso dele se torna maior ainda.

— Nosso trabalho aqui acabou. — Falcão fala dando sinal para os ragazzos entrarem no
carro.

— Minha moglie te convidou para almoçar conosco amanhã. — Meu sogro fala na porta
do carro.

— Diga a ela que irei. — Respondo, será bom visitar meus sogros. Desde que me tornei
Don, não falei mais com a família de Giulia. E eles ainda não gostam de mim.

— Cuidado com o que ela vá te servir. Principalmente chá, estou sabendo de algumas
coisas que Kiara me contou. — Falcão fala, fechando a porta e recebendo um olhar incriminador
do nosso sogro.

— Va bene, tomarei cuidado. — Preciso descobrir o porquê, espero que Giulia me conte
os motivos desse conselho.

Eles saem e eu entro em meu carro com Roman e Matheo. Suspiro firme, ansioso para
ligar essa câmera e ver o que a família de meu Subchefe faz em seu escritório. Percebi Roman,
sério conforme dirige, algo está incomodando meu fratello.

— Aconteceu algo? — Pergunto a ele.

— Nada de importante, apenas que nosso pai está se recuperando e logo terá alta. — Fala
sem sentimento nenhum.

— Tem certeza de que é só isso? — Pergunto novamente.

— O que mais seria? — Repuxa um sorriso.

— Verdade, o que mais meu fratello poderia esconder de mim, não é mesmo? — Falo e
ele volta a sorrir, mas não sei por que, não senti que foi um sorriso alegre.

Senti que era um sorriso triste.


Capítulo 50
Ainda me sinto mal, em pensar que Victor, pode ser o culpado pelo que aconteceu
comigo. Sempre deixei claro que éramos amigos, mantive a distância conforme pedida pelo Don.
As únicas vezes que ele se aproximava mais, era em festas, para ser meu par de dança. Mantendo
assim uma distância de qualquer outro homem. Pois eu confiava nele, como meu pai e o Don
confiavam.

— Ei, abra um sorriso nesse rostinho lindo. Senão, é capaz do seu pai pensar que está
assim por minha causa. — Luigi pede e eu acabo sorrindo.

— Melhor sorrir, então, pois é melhor você ter mais medo da minha mãe do que de meu
pai. — Digo e ele me encara.

— Giulia, já conversamos, Raggio di Sole. Você me disse que não tenho de me preocupar
com nada vindo de sua mãe. — Diz receoso.

— É só você ser bom para mim, que minha mãe não fara nada. Confia!

Abro a porta do carro e saio, Luigi sai logo em seguida ainda com um olhar de receio que
me faz sorrir. Assim que passamos pelos portões, meu pai aparece na porta com as mãos no
bolso e um leve sorriso nos lábios. Vou em sua direção em passos rápidos, e quando me
aproximo o abraço com força.

— Benção, pai.

— Dio te benedica, filha. — Fala dando um beijo em minha testa, porém percebo seu
olhar percorrer meu pescoço com atenção buscando por alguma marca.
— Estou bene, pai. Não se preocupe. — Fala baixo e ele me olha nos olhos. — Pode
confiar em mim. — Digo e ele repuxa um sorriso.

— Va bene. — Responde com um leve sorriso.

— Senhor Telesca. — Luigi se pronuncia ao meu lado estendendo a mão a meu pai.

Mesmo ele sendo o Don, e estar degraus acima da minha família, vejo o respeito que tem
por eles e isso me deixa lisonjeada.

— Bem-vindo, Don Luigi. Vamos entrar, sua mãe está com saudades. — Papai responde
de modo cortes.

Sei de todo o receio que meu pai tem, e teve sobre a minha união com Luigi, entendo seu
medo. Mas tenho de tranquilizar meu pai e dizer que estou bene e que eu tenho um bom marido.
Mesmo depois de tudo que aconteceu no passado, e que agora eu entendo. Ele é um bom homem.

Entro na casa de meus pais, e logo vejo Alessa no sofá brincando com Ayla, nossa
sobrinha, filha de Kiara. Pelo canto do olho vejo o olhar de Luigi, tenho de falar com a minha
sorella e perguntar a ela sobre a foto, porém eu sei que não pode ser assim em frente a família,
então vou esperar ficarmos sozinhas e pedir para que ela vá em minha casa. Então falamos sobre
esse assunto de forma tranquila.

— Sorella, como está bonita. — Fala vindo em minha direção, enquanto nossa sobrinha
puxa os cabelos dela. — Aí, Ayla. — Reclama.

— Estou a mesma de sempre, Alessa. — Digo pegando a minha sobrinha.

— Sei. Oi, cunhadinho, quer dizer, Don. É difícil te chamar de Don, já que me acostumei
com seu nono.

— Va bene, não se preocupe com isso. — Luigi responde de forma calma, conforme
entra na casa e para ao lado de meu pai.

— Onde está Kiara, mamãe e o Falcão? — Pergunto.

— No jardim, infelizmente, teremos de contratar outra empregada. — Alessa fala e


repuxa um sorriso.

Me viro para meu pai que leva a mão no rosto indignado.

— Ali está mais para cemitério em vez de jardim. Já perdi a conta de quantas empregadas
sua mãe enterrou. — Tento não rir, pois eu sei que é verdade, acredito que nem minha mãe
lembre mais.

— Vamos para a sala de jantar, logo eles estarão lá.

Alessa fala saindo na frente e logo depois meu pai, Luigi segura em minha cintura com o
semblante curioso enquanto eu brinco com Ayla, e finjo não perceber como ele está.
O decorrer do almoço acontece calmo, mas não inteiramente normal. Percebo como
minha família presta atenção em Luigi, sorrisos e olhares curiosos, fazem parte de toda a
refeição. Depois de um tempo me levanto, pois preciso ir ao banheiro.

— Com licença, já volto. — Digo, vou em direção ao banheiro.

Faço minhas necessidades e quando abro a porta me assusto com minha mãe, Kiara e
Alessa ali paradas me encarando.

— Aconteceu algo? — Pergunto, receosa.

— Como você está, filha? — Mamãe pergunta, fazendo o mesmo que meu pai, me
analisando.

— Bene, mamãe, não se preocupe.

— Pode dizer a verdade, sorella, não é porque ele é o Don que vamos aceitar que ele te
machuque. — Kiara sempre foi a protetora.

— Estou falando a verdade, Luigi e eu estamos bene. E ele não é louco de tentar levantar
a mão para mim. Já deixei claro, se que se fizer isso, eu corto fora. — Digo e minha mãe passa a
mão em meu cabelo.

— Sim, percebo que não tem mais os olhinhos tristes de quando ele te deixou aqui e foi
para a Rússia. Aliás, ele te disse o porquê fez isso? — Mamãe pergunta e eu sei que não posso
dizer toda a verdade, pois é algo da família de Luigi, e nem da italiana e sim da russa.

— Sim, ele me contou? — Digo apreensiva.

— Então, conte para nós! — Alessa pede e eu respiro fundo.

— Va bene, mas sabem que algumas coisas, não posso revelar por ser de família. — Digo
e elas concordam. — Enganaram Luigi, o fazendo pensar que eu tinha me entregado a outro no
dia do meu aniversário. Com isso e mais alguns motivos que não posso revelar, ele foi para a
Rússia, lá o avô dele, antigo Pakhan, não lhe deixou voltar e sim o fez treinar mais. Ele disse que
queria voltar, mas não podia até resolver as coisas da família.

— E você acredita nele? — Mamãe pergunta.

— Sim. Luigi me disse logo que chegou, quando ele me levou para a nossa casa no dia da
minha despedida de noivado, que me aceitava sendo virgem ou não. Ele não se importava com
isso.

Mamãe me olha de uma forma diferente, e depois passa a mão em meu rosto.
— Ele te aceitaria mesmo não sendo virgem? E quem sangrou no dia do casamento, pois
seu pai estava lá quando Matheo levou o lençol? Eu sei que não consumaram, pois no hospital,
soubemos que ainda não havia sido tocada.

— No outro dia, após o casamento, eu vi o corte que ele fez no pulso, mas não contei a
ele que havia visto. Nós só consumamos o casamento na viagem à fazenda de uvas. E foi porque
eu quis, depois de tudo que aconteceu, eu queria esquecer o que havia passado, ele ainda tinha
receio de me machucar, mas, no final, Luigi foi cuidadoso. — Confesso e minha mãe repuxa um
sorriso.

— Vou ter de trocar o chá. — Fala se afastando.

— Mãe, ele é o Don e a senhora queria matá-lo?

— Matar não, mas uma má digestão seria boa. Porém, agora estou com pena desse
maledetto. Ele está sendo bom para você, consigo ver em seus olhos.

Sorrio, mamãe se afasta e eu aproveito que ambas descem as escadas e sussurro para
Alessa.

— Que dia pode ir em minha casa, para conversarmos?

— É urgente? — Pergunta baixo, como eu.

— Talvez. Por quê?

— Vou para Napoli com Kiara hoje anoite. Ficarei lá por um mês, ou dois. Ela pediu para
eu ajudar a treinar uma frente de soldados para rastreamento.

Penso por um tempo, sim, era importante, mas a foto era apenas para descobrir se Victor
estava por trás dela. E nossa real preocupação agora era em ter provas de que Victor havia
tentado contra minha vida, e que seu pai é um traidor da família. A foto eu posso esperar um
pouco, pelo menos até ter provas e ter Victor no galpão, para poder perguntar os motivos de ter
feito isso.

— Va bene, quando voltar falamos. — Digo descendo as escadas.


Capítulo 51
Após o almoço, acompanhei meu sogro e meu cunhado até um solarium no meio do
jardim muito bonito. Me sento em uma cadeira enquanto observo um jardineiro já de idade
plantando flores vermelhas, acho que petúnias em um monte de terra recém-mexido.

— Já viu algo viável pelas câmeras? — Meu sogro pergunta acendendo um cigarro.

— Ainda não. Ontem, ninguém entrou no escritório, espero que eles façam reuniões
naquele lugar, senão, vamos ter de mudar a câmera para outro local. — Digo.

— Vigilância vem com paciência, Don Luigi. Eu aprendi isso da pior forma que você
pode imaginar. — Ele complementa.

— Vou ter, sim, aprendi que tenho de agir com mais cautela, principalmente agora que
sou o Don.

Ele repuxa um sorriso olhando por cima de meu ombro, e quando me viro, vejo Dona
Laíz minha sogra, com uma bandeja na mão e um fino sorriso nos lábios.

— Fiz um chá para vocês! — Fala com certa doçura na voz.

— Agradeço. — Digo, pegando a xícara.

Assim que levo em minha boca, vejo o rosto do meu cunhado Falcão de preocupação.
Não entendo o motivo, mas o chá está bom. Dona Laíz deixa a bandeja na mesa e sai, me
deixando com meu sogro e meu cunhado, que olham para as xícaras com certo receio.
— O que foi? Esta uma delícia, tem um toque azedo bem lá, no fundo, mas é bom. —
Digo e meu sogro tira o cigarro da boca me encarrando.

— Espero que já tenha feito um filho em minha filha. — Diz sério e não entendo.

— O quê?

— Se você morrer, pelo menos vai deixar um herdeiro. — Abaixo a xícara, colocando na
mesa.

— Como assim? — Pergunto já sentindo um calor em meu corpo, e meu sogro repuxa
um sorriso.

— Falcão disse para não tomar chá, não foi? Pelo menos estava avisado.

— A empregada que enterramos no canteiro que o jardineiro está acabando de plantar


flores, bebeu um chá antes de morrer. Pelo que Kiara me contou, o chá da Dona Laíz mata. —
Falcão fala e sinto meu corpo esquentar mais ainda.

Puxo a gravata sentindo um calor percorrer cada canto da minha pele, uma sensação
eletrizante e, ao mesmo tempo, gostosa. Será que ela tentou me envenenar.

— Você está bene? — Falcão pergunta no momento que me levanto rápido da cadeira.

— Não sei, só está quente aqui, não está? — Eles se olham.

— Sua moglie teria coragem de matar ele? — Falcão pergunta sério dessa vez.

— Não coloco minha mão no fogo. — Meu sogro responde.

Minha boca fica seca, e sinto os batimentos rápidos do meu coração, sporcizia, morrer
por um chá é ser idiota demais.

— Luigi, vamos para casa. — Escuto a voz de Giulia e me viro, vendo Giulia bebendo de
uma xícara também.

— Giulia… — Não termino de falar.

— Conversamos no carro. Tchau pai, tchau Falcão. — Diz se virando.

— Se eu fosse você, iria direto para o hospital. — Meu cunhado fala e engulo seco.

Dentro do carro o calor começou a piorar, sem conseguir controlar meu próprio corpo,
passo a mão em meu pau que começa a ficar firme, enquanto o suor escorre de mim. Já ouvi
dizer que alguns homens que morrem envenenados, morrem com o pau duro, pensar nisso me
preocupa.
Giro o volante para ir ao hospital, e Giulia se abaixa abrindo minha calça, tirando meu
pau para fora com tanta rapidez, que não tenho tempo de impedir qualquer coisa, apenas sentir
sua mão envolvê-lo com vontade, e começar a me masturbar.

— Giulia, preciso ir ao hospital, pare com isso. — Peço mesmo contra a vontade, ainda
não consigo acreditar que a família dela, seria capaz de tentar um ato contra a minha vida.

— Não precisa de hospital, isso nós resolvemos logo, logo.

— Giulia, acho que sua mãe me envenenou, estou sentindo meu corpo tão quente e
parece que tem choque percorrendo minhas veias.

— Vamos logo para casa, Luigi. Não precisa de hospital, minha mãe te deu apenas um
estimulante sexual, bem potente. Um mix de ervas de Ginseng e Damiana, sabe? Em dosagens
altas, Damiana tem efeito purgante, taquicardia, insônia, ele é tóxico para o aparelho respiratório,
entre outras coisas, mas na dosagem correta, como minha mãe fez… ele aumenta a libido, deixa
mais firme e potencializa a ereção. — Ela fala enquanto aperta meu pau.

— O quê?

— Exatamente isso. Eu disse que você é um bom marido, então ela trocou a dosagem do
chá que te daria uma boa dor de barriga, por outra dosagem melhor. Uma que vamos aproveitar
juntos.

— Giulia. — Trinco os dentes ao sentir sua boca envolver meu pau que agora está firme
como uma rocha.

Giro o volante outra vez, agora em direção a minha casa. Piso firme no acelerador
conforme a boca dela lambe bem devagar a cabecinha do meu pau e depois o engole. Giulia
judia, tirando e colocando na boca, enquanto sua mão aperta e movimenta rápido.

Suor escorre de mim, e pelo retrovisor vejo meu rosto começar a ficar vermelho. Giulia
troca a marcha sem eu precisar pedir, e sem parar de me chupar, uma sincronia perfeita, a boca
dela em meu pau, enquanto a outra fica na marcha. Eu dirijo com uma mão e a outra segura em
seu cabelo a ajudando nos movimentos.

— Sporcizia, Giulia. Você também tomou o chá não foi? — Pergunto pela animação dela
com meu pau.

— Sim. — Tira da boca apenas para falar e volta a chupar.

Passo pelos portões da minha casa em alta velocidade, quase nem dá tempo de os
soldados abrirem. Dirijo até a garagem e entro de uma vez, apertando o botão que fecha a porta
de ferro.

— Vai para o banco de trás. — Digo rouco.

Giulia pula para o banco de trás com rapidez, e eu a acompanho logo em seguida. Nem
espero ela se arrumar e já a puxo para meu colo, grudando sua boca na minha, conforme tiro sua
blusa.
— Luigi, entra logo dentro de mim. Eu estou queimando de vontade de ter você aqui. —
Pede soltando a minha boca para passar a blusa.

— Vou te chupar primeiro. Deixar essa boceta bem molhada e latejando por mim, assim
como estou por você.

A seguro pela cintura e a coloco deitada no banco do carro. Abro sua calça e a tiro
juntamente com sua calcinha. Tendo a visão linda da sua boceta já melada.

Abro os botões da minha camisa e a jogo no banco da frente, faço o mesmo com a minha
calça e minha cueca. Deixando-nos, ambos, nus, já que ela não usava sutiã.

— Luigi, entra em mim de uma vez. — Pede com a voz manhosa.

— Daqui a pouco.

Digo descendo minhas mãos em suas pernas, segurando firme em sua cintura, indo em
direção à sua boceta com tanta vontade que meu corpo dá espasmos.

— Luigi. — Ela grita quando chupo seu clitóris.

Não consigo parar, a vontade em mim é quase desesperadora, chupo e introduzo dois
dedos a tocando rápido, enquanto Giulia rebola e dá pequenos pulos, segurando em meus
cabelos.

Começo a me tocar, apertando firme meu pau que está dolorido, sensível de uma forma
que nunca havia ficado. Paro de chupar e a penetro, unindo nossos corpos suados.

— AHHHH, eu vou gozar só de entrar em você. — Confesso o tamanho do prazer que


estou sentindo.

— Não para, Luigi. Não para. Fottimi forte.

Passo a mão em seu cabelo, tirando-o de seu rosto e começo a estocar seco, meu corpo
parece queimar, se afundar em tanto prazer, enquanto o dela me aperta e se entrega aos meus
movimentos.

Volto a beijar sua boca, chupando a sua língua em uma guerra de quem pode mais, as
unhas de Giulia arranham as minhas costas, e eu sei que vão ficar marcas. Porém, está tão
gostoso, tão gostoso que não quero parar.

Gozo junto com ela, urrando de prazer, mas ao invés de parar, eu não consigo, continuo
ainda firme e quente. Continuo entrando forte conforme meu gozo sai, enquanto nossas bocas
brigam.

Passo a mão em sua bunda e me sento, a trazendo para meu colo, ela suspira ao me sentir
deslizar nessa posição. Sei que assim entro fundo.

— Se doer, me fala que eu paro. — Digo, puxando o seu cabelo para o lado e lambendo
seu pescoço.

— Só preciso me acostumar com ele assim. Eu quero sentir ele todo dentro de mim. —
Sussurra de olhos fechados.

— Não cabe ele todo em você, Giulia. — Digo e ela me olha com um sorriso safado. —
Gulosa.

Giulia lambe os lábios e começa a rebolar, trago seu corpo próximo ao meu, passo a
língua com cuidado no bico do seu seio, enquanto aperto a sua bunda e a guio nos movimentos
lentos.

— Ahh, Luigi, fottimi, fottimi forte. — Pede, me levando ao delírio.

Chupo seu seio de uma vez, mamando com vontade. Giulia começa a pular e meu pau
desliza fácil dentro dela. Ouço seus gemidos altos e sinto seu corpo se abrir ainda mais para
mim, alongando o seu canal vaginal de tanto prazer e me recebendo um pouco mais, a ponto de
sentir roçar meu pau na parede de seu útero.

Meu corpo se arrepia e ela só geme alto, de olhos fechados.

— Raggio di Sole. — Urro com a garganta seca, gozando forte, ainda mais forte do que a
outra vez.

— Hummm… — Choraminga, sentindo o seu próprio orgasmo, logo caindo sobre mim.

Fico parado, respirando pesado enquanto ela abraça meu pescoço, igualmente sem forças
para se mexer.

— Giulia. — A chamo com a voz baixa.

— Sim.

— Pede a receita desse chá para sua mãe, eu gostei dele.

Digo e ela sorri.

— Eu também gostei.
Capítulo 52
— Finalmente posso sentir o cheiro da minha casa e não daquele hospital. — Digo ao
entrar em casa.

— O médico disse para ter cuidado. Não é porque teve alta. Que pode fazer o que bem-
quiser. — Roman fala, me ajudando a sentar.

— Cale a boca, da minha vida cuido eu. Eu sei o que é bom para mim e não para você.
Agora me dê logo o meu cigarro, que não aguento mais ficar sem fumar.

Roman se afasta e vai até a mesinha, pega meu cigarro, acende e me entrega. Trago com
gosto, sentindo novamente aquele gosto que me fez falta.

— Acabou de sair do hospital e já está fumando. — Fala, me encarando.

— E o que você tem com isso? Nada, não tem nada com isso, Roman. — Respondo rude.

— Exatamente, não tenho nada. Não me importa. Fume! Se é isso que tanto quer. — Diz
de forma sarcástica.

— Quero que ligue para Alessandro. Peça para ele me encontrar no nosso ponto de
encontro. Quero saber das notícias, já que você é um filho ingrato e se nega a me contar sobre o
que seu irmão está fazendo.

Roman se vira e caminha até a mesinha, pega um dos meus cigarros e coloca na boca,
acendendo.

— Pai, acho que já está na hora de você perceber que não vai ganhar nada. Está velho,
morrendo com um câncer que te come aos poucos, como uma traça carnívora que se alimenta de
carne podre. Se por acaso ainda conseguir matar todos que deseja, antes de o filho de meu irmão
se tornar um Don, você estará caquético, rastejando, ou nem vivo vai estar. Viva o resto da sua
vida quieto, onde está que é melhor. — Fala e traga o cigarro, logo o jogando no cinzeiro.

— Só fui eu ficar alguns dias longe, que você quer abrir as asas, Roman? Não, eu não
vou parar, vou fazer o que eu planejo desde o início, desde que me casei com Sofie, aquela
maldita de sangue ruim. E vou conseguir, porque eu tenho visão e tenho contatos. Eu serei o
novo Don e vou ter toda a Itália aos meus pés. E depois que meu pai morrer, mato o novo
Pakhan, assim como dei um jeitinho do meu irmão morrer com a mulher dele. Era para aquela
peste ter morrido junto e ficado só Luigi para controlar tudo, mas não, meu pai não o deixou ir à
viagem e, bom, o resto você já sabe. Agora ele é o Pakhan.

— Você quer a Rússia também? — Roman fala rindo e me irrita.

— Do que está rindo?

— Você está morrendo. Não vê? Pare com isso, sei que não está fazendo nada por Daria.
Ela morreu por sua culpa, porque você a trouxe em vez de viver o seu casamento como tinha de
ser. — Fala irritado.

Me levanto com a ajuda da bengala que ganhei no hospital e bato com ela na perna de
Roman com força.

— Dária era minha, assim como você é meu. Eu nunca deixaria o que é meu para outro.
Porque eu não aceito que outro tenha o que me pertence. — Vocifero.

— Você não tem a ninguém. — Responde ríspido.

— CALA. A. BOCA. — Grito. — Você não aprende, não é mesmo? Ah, Roman! É
melhor você abaixar essas suas asinhas, antes que eu as quebre. Ou você acha que não sou capaz
de matar a filha do Sicário, para colocar você no seu devido lugar? Sua vida me pertence. —
Ameaço e ele respira fundo.

— Eu não me importo com ela. É só diversão e nada mais.

— Você mentia melhor. Acha que não percebi a forma que fica quando toco em um
assunto relacionado àquela puta? Eu percebi e é bom você entrar na linha, se não, a sua putinha
vai morrer, assim como eu matei aquela outra na sua frente. — Digo em tom sarcástico e ele
enrijece o corpo. — Sua vida é minha, Roman, assim como você e os filhos que um dia você terá
quando eu quiser que você tenha. — Estico minha mão, virando a palma para o alto e apagando o
meu cigarro nela. — Você é meu, e só está vivo até hoje porque eu quero. Não se esqueça de que
pontas soltas têm de ser aparadas.

— Vivo? Não, pai, eu não estou vivo, porque você matou a pessoa que existia dentro de
mim há muito tempo.

— Melhor assim, um zumbi sempre obedece melhor. Agora vá e faça o que eu mandei.

Me viro e vou em direção ao sofá, me sentando novamente e acendendo outro cigarro,


enquanto vejo Roman sair pela porta de cabeça baixa e passos firmes.
Capítulo 53
— Inferno. Já estou cansado disso. — Digo com raiva, me levantando e indo até o bar,
pegando uma dose de amaro.

— Tem de ter paciência. Não é assim do dia para a noite que descobre as coisas, Don. —
Matheo fala calmo, me estressando mais ainda.

— Um mês, já faz um mês que colocamos aquelas maledettas câmeras e até agora nada.
Alessandro mal fica no escritório, e Victor faz o mesmo. — Bato meus dedos em minha têmpora,
buscando por calma.

— Talvez ele tenha outro escritório. E a câmera está no lugar errado.

Me viro para Matheo, pensativo.

— Vou esperar apenas mais essa semana. Se depois disso, ainda não tiver nada, nenhuma
informação que preste. Vamos trocar a câmera de lugar.

— Va bene. — Concorda.

— Agora preciso ir, Giulia me espera. — Falo me levantando.

— Também vou. Maria está me esperando com mais uvas, agora só come uvas. — Fala,
balançando a cabeça com um sorriso no rosto.

— Sinal de que meu sobrinho, ou sobrinha, vai gostar de vinho.


Digo e ele ri, se levanta e saímos do escritório juntos. Depois da reunião com Matheo,
vou para meu quarto e encontro Giulia terminando de amarrar o cabelo. Ela me vê e se vira para
mim com um sorriso no rosto, tão lindo que suspiro.

— Está pronta? — Pergunto, me aproximando.

— Sim. — Abre um sorriso mais bonito.

— Então vamos. — Seguro em sua mão e a puxo para um beijo.

Hoje, Romeo terá alta, ele ficou um bom tempo no hospital sob os cuidados do Dr
Fernando. A cirurgia correu bem, assim como sua recuperação. Giulia, tem Julieta ao seu lado.
Mas sei que não é como Romeo, o soldado é quase como um fratello para ela. Ele ainda vai ficar
longe do trabalho alguns meses, porém Giulia está ansiosa para vê-lo.

Dois dias se passaram e eu estou aqui na frente do computador, para ver as últimas
gravações da câmera. Se hoje não ver nada, amanhã mesmo dou um jeito de cobrir aquela casa
toda com microcâmeras em cada canto. Minha paciência já está acabando.

Giulia está ao meu lado, assim como Matheo, ambos tão impacientes com essa situação
quanto eu. Ligo a câmera para ver as gravações e por alguns segundos nada. Adianto a gravação
e, quando já estou de saco cheio, quase desligando aquela porcaria, vejo a porta do escritório se
abrir e a família do meu subchefe entrar.

Alessandro se senta na poltrona, enquanto a mulher dele coloca algumas pastas na sua
frente e Victor se senta em um sofá de canto. A filha mais nova, que foi prometida a um dos
nossos sócios americanos, não está ali. Pelo que fiquei sabendo, ela está no convento desde que o
compromisso foi firmado.

Algo natural entre muitos dos nossos, quando a filha chega na idade de se casar, ou já
tem um pretendente, deixam a ragazza no convento. Giulia só não foi para lá, por ser uma sicária
e porque eu mesmo a vigiava… Nem gosto de me lembrar do passado.

— Finalmente temos um filme da sessão família. — Falo, abrindo um sorriso e Giulia se


aproxima, ficando ao meu lado.

— Aumente o som. — Pede e eu faço.

Ficamos em silêncio, ouvindo e vendo o que estava gravado ali.

— Está tudo aqui. O nome e a quantidade de cada contêiner. — A moglie de Alessandro


fala, abrindo a pasta.

— Victor vai lá conferir se o material realmente é bom. — Alessandro pega uma pasta e
a folheia, me deixando curioso com o que está acontecendo.

— Separarei as virgens. Elas valem mais para leilão. — Victor fala com um sorriso.

— Isso mesmo, meu sócio garantiu que essa remessa é de boa qualidade. Tem ragazzas
de 11 a 16 anos, todas saudáveis. — Alessandro fala.

— Eles estão traficando mulheres para a boate de New York!! — Giulia fala indignada,
se virando para mim.

— Isso não é o combinado. A boate é para mulheres ilegais que querem o visto. —
Matheo se pronuncia irritado.

— São crianças, eles estão traficando crianças. — Respiro fundo. — Vou matar
Alessandro, matar todos naquela casa. Uma família de ratos podres. Escória maledetta. — Trinco
os dentes.

— Agora que o contador morreu, pai, quem vai ajudar a mexer com os números? —
Victor pergunta.

— Não se preocupe com isso. Vou falar com o Don Luigi e indicar um novo contador.
Ele nunca vai desconfiar que o Subchefe dele, o homem que está na família há tanto tempo,
esteja fazendo algo. — Fala e sorri. — Fora que sou um homem de confiança.

— Tudo teria sido mais fácil, se tivessem conseguido matá-lo naquela emboscada. Eu
disse que aqueles soldados americanos eram destreinados. Mas não quiseram me ouvir. — A
moglie de Alessandro fala e eu aperto os punhos de raiva.

— O plano era fácil, mas não imaginávamos que Giulia tinha outro rastreador além dos
que eu já sabia, mãe. — Victor fala confirmando nossas suspeitas, eles estavam envolvidos.

— Sim, foi por isso que os soldados não tiveram tempo de se preparar. Além do que, ele
levou mais do que esperávamos. — Alessandro confirma.

— E vocês desistiram rápido. Luigi não merece estar lá. A família Esposito está no poder
há muito tempo. Já a nossa sempre esteve em segundo lugar, sempre sendo sub, ou capo. Nosso
filho tem potencial para ser um Don e não Luigi.

— Ah, sério? — Digo entre uma gargalhada.

Não acredito que eles planejavam ou planejam, ainda estou em dúvida. Colocar Victor no
meu lugar. São piores que ratos, são vermes traidores imundos.

— Bom, agora preciso ir resolver algumas coisas com meu sócio e depois vou te ligar,
Victor, e informar o local da entrega. — Alessandro fala, se levantando.

— Va bene. — Victor responde se esticando no sofá.

Alessandro sai com a moglie do escritório, enquanto Victor fica no sofá. Por um tempo,
fico observando Victor, que tem um sorriso no rosto, então ele tira algo do bolso e, quando eu
vejo, a raiva consome meu corpo.

— Meu colar. — Giulia sussurra.

— Eu sabia, foi ele. — Digo com raiva.

O decorrer da cena a seguir me deixa mais furioso ainda. Victor abre a calça tirando o
pau para fora e, usando a mão que segura o colar, ele envolve em seu pau e começa a se
masturbar. Aquilo me dá nojo e raiva. Ele estava se masturbando, enquanto pensava na minha
moglie.

Giulia vê aquela cena comigo, e quando ele goza no colar e depois lambe a própria porra,
chupa o pingente. Giulia segura o lixo do escritório e começa a vomitar.

— Raggio di Sole. — Chamo, percebendo como ela está mal.

— Que nojo. Ele é nojento. — Fala e volta a vomitar.

— Matheo. — Viro para ele, enquanto seguro os cabelos de minha moglie que não para
de vomitar no lixo.

— Vou levar essas informações até o conselho. A pena deles é a morte, com toda certeza.
E também vou procurar saber sobre o contêiner.

— Eu mesmo irei matar aquela família de vermes. — Digo e ele concorda.

— Passe as informações que conseguir sobre os contêineres que vão chegar ou que já
chegaram, por esses dias, a meu pai. Ele cuida das crianças. — Giulia fala, se recuperando.

— Farei isso. — Matheo fala se retirando.

Ajudo Giulia a ir até o banheiro, lavo seu rosto que está pálido. E passo a mão em sua
nuca fazendo um carinho.

— Vamos acabar logo com isso. Vou matar todos, bem devagar, Raggio di Sole. — Digo
e ela deita o rosto na minha mão.

— Vou ajudar. E Victor vai se arrepender de ter feito o que fez comigo. — Diz com
raiva.

— Vai sim. Vai se arrepender.


Capítulo
54
— Tem certeza sobre isso? — Pergunto à empregada.

— Sim, senhor. Eu ouvi toda a conversa pela escuta que coloquei no escritório.

— Uma câmera, no meu escritório! Sporcizia. Quando você ouviu essa conversa?

— Hoje de manhã. Sai assim que o Don subiu para o quarto com a moglie dele.

Olho para minha moglie e depois para Victor, sentados no sofá da minha sala. Ainda sem
acreditar no que Nerina, a empregada que pago muito bem para me dar informações, acabou de
me contar.

Respiro fundo, buscando pela calma. Uma câmera em meu escritório, ainda bem que
quase nem falo nada naquele local e sim tenho minhas reuniões com Karev ou outros, em lugares
diferentes, longe das vistas de todos. Mas não imaginava que, justo ontem, iria acontecer isso.

Inferno. Com toda certeza, nesse exato momento, Matheo deve estar pegando a
autorização de todos do conselho, pois do Luigi já tem. E depois virá aqui em minha casa, antes
mesmo de anoitecer, vão estar aqui.

Não posso fugir, não tenho para onde ir. Mas posso fazer uma coisa… Proteger Victor.

— Pode se retirar. — Digo à empregada.

— Quero meu pagamento. Melhor, quero o dobro da última vez. — Fala com um sorriso
largo.

— Minha família está condenada à morte e você acha que vou te pagar? Saia já daqui, e
suma, só não vou te matar porque me serviu bem. — Digo irritado.

— Se não me pagar, direi ao Don que planeja fugir. — Ameaça.


— Você mal vai fechar a boca e já vai estar morta. Ou pensa que ele vai te deixar viva?
Saia daqui, você não passa de uma mosca-morta.

Digo firme, ela me olha nos olhos, então se vira e sai em passos rápidos, para fora de
minha casa.

— Deveria ter matado Nerina. — Victor fala visivelmente nervoso.

— Preciso dela viva, melhor, você precisa. — Digo e minha moglie me olha com o olhar
cúmplice, ela sabe o que irei fazer.

— O que está falando, pai?

— Victor, filho. Eu e sua mãe não temos para onde fugir, mas você tem. Você é novo e
tem toda uma vida pela frente. — Digo indo até o armário.

Tiro uma chave do bolso, abro a gaveta e tiro a pasta preta que guardei com todo cuidado.
Volto e paro na frente de Victor, o encarando.

— Essa pasta contém todos os crimes que Iury Karev cometeu em mais de 20 anos.
Crimes esses que o condenam à morte, não só na Itália como na Rússia. Essas informações
garantiram nossa boa vida, proteção e tudo que temos até hoje.

— Karev é um capo. Como ele pode ter mais poder que você, pai? Você é o subchefe!

— Porque ele sabe os podres de muita gente. Ele é como o Diavolo, com sua lista da
morte. Ele fica lá embaixo vigiando e manipulando os que estão acima dele, assim tendo mais
poder do que os outros imaginam. — Digo e entrego a pasta a ele.

— O que farei então?

— Vai sair de casa agora. Vai para o endereço que está na primeira folha dessa pasta e,
depois que tudo estiver calmo, vai comunicar o Karev e pedir que ele te ajude a sumir da Itália e
te dê outra vida. — Digo firme e ele me olha nos olhos.

— Eu quero Giulia.

— Karev tem planos para o filho dele, planos esses que podem deixar Giulia viúva. —
Digo e ele sorri.

— Obrigado, pai.

Abraço meu filho, me despedindo enquanto explico para ele cada passo que deve seguir.
Meu filho não pode morrer, não hoje, não agora. Ele tem muito a fazer ainda.
Capítulo 55
Parado em frente à casa do Alessandro, sinto a adrenalina correr em meu corpo. Junto
comigo, estão apenas Matheo, Roman e dois soldados. Não preciso de muito, afinal aqui todos
me devem respeito, inclusive o rato do Subchefe.

Não planejo matar Victor nesse local, pelo contrário, ele, eu quero levar para o galpão e
ver sofrer por um bom tempo. Giulia está me esperando lá. Junto das sorellas por passar mal
novamente. Acho que a cena de Victor fazendo aquilo com o colar dela ainda não saiu de sua
mente.

Saio de meu carro com um sorriso no rosto, alinho meu terno, passando a mão bem
devagar. Pego minha arma, olho as balas, confirmo que está tudo certo. Paciência, sim, paciência
é uma coisa tão boa, eu deveria ter mais vezes essa paciência.

— Vamos. — Digo a Roman e Matheo.

Sigo para a porta da casa de Alessandro, os soldados da casa se afastam ao me ver. Chuto
a porta e invado a casa, caminho até a sala onde encontro Alessandro sentado no sofá ao lado da
moglie que tem os olhos vermelhos.

Será que foram avisados?

— Pelo visto, estavam me esperando? — Pergunto, me aproximando.

— Luigi… — Sua voz sai rouca e contida. — Eu sabia que viria.

— Interessante. — Falo indo até a poltrona que fica na frente do sofá, me sento e
continuo o encarando. — Como sabia?

— Eu sei da câmera.

— Não sabia até ontem de manhã. Então, quem lhe contou? — Pergunto novamente, já
em um tom de comando.

— Não importa. Meu informante já está morto. — Aponta para um soldado no chão que
não reconheço. — Não havia mais necessidade dele, afinal a informação chegou tarde.

— Quem é esse Matheo? — Pergunto.

Matheo vai até o corpo caído atrás do sofá, gira-o para olhar o rosto e depois vem até
mim.

— Um soldado de guarda. Ele fazia a ronda noturna. — Confirma ainda encarando


Alessandro.

— Bom, Alessandro, você sabe o porquê estou aqui. Você sabe que traiu a família, que
roubou o nosso dinheiro. Além de que, traficou mulheres e crianças para a prostituição. Você
sabe que isso é imperdoável, e que a família não aceita esses atos. — Digo calmo, olhando em
seus olhos.

— Eu sei, eu sei… — Ele balança a cabeça, como se quisesse se livrar de algo. — Mas
eu tinha os meus motivos, Luigi… — O interrompo.

— Don, Don Luigi.

— Scuze, é o costume. Mas eu tinha as minhas ambições, eu queria mais poder, mais
respeito, mais dinheiro. — Continua.

— E você pensou que a melhor forma de conseguir isso era se voltar contra mim? Contra
o Don da família? — Pergunto sarcástico.

— Eu não me voltei contra você. Eu só fiz o que achei que era melhor para mim. Para
mim, família.

— Tentar me matar, sequestrar e abusar da minha moglie também era o melhor para a sua
família, não era?

Alessandro não fala nada, já sua moglie começa a chorar de forma desesperada.

— Onde está Victor? — Pergunto frio.

— Você prometeu, prometeu que não o mataria. — A moglie de Alessandro fala entre
soluços.

— Prometi não matar com as minhas mãos, mas deixá-lo à beira da morte e depois dar
um empurrãozinho já é outra coisa. — Repuxo um sorriso sarcástico. — Onde está Victor? —
Pergunto novamente.
— Não vou dizer. — Alessandro responde.

— Va bene. Bom, farei você dizer de outra forma. Eu não mato mulheres, mas a
segurança de minha moglie, essa mata. Julieta, entre. — Chamo e ela vem.

Quando contei à Giulia o que aconteceria caso precisasse usar a força bruta contra a
moglie de Alessandro, ela me pediu para trazer Julieta.

Os olhos de Alessandro cravam na faca que Julieta tem nas mãos, enquanto se aproxima
da moglie dele. Sem dizer uma única palavra, a soldado pega a moglie do Subchefe pelo cabelo e
a puxa para o chão, a arrastando com força. Alessandro tenta levantar, mas se depara com a arma
de Roman e Matheo.

— Vou perguntar mais uma vez e é melhor me responder. Minha paciência é curta, e
Victor já está passando dos limites. Me diga, onde está o rato maledetto do seu filho?

— Não vou dizer. Terá de achá-lo sozinho e espero que ele te mate. — Alessandro fala
com um sorriso, mas um sorriso choroso nos lábios.

— Julieta. — Digo.

A faca na mão de Julieta corta o pescoço da moglie de Alessandro, como de um animal a


ser abatido. O sangue escorre por sua pele, manchando sua roupa e seu tapete. Enquanto ela se
debate por ar em desespero, segurando o próprio pescoço, tentando de todas as formas ficar viva,
mas apenas se afoga em seu próprio sangue. Na frente dos olhos de Alessandro, que não pisca os
olhos daquela cena, até a moglie dele parar de se mexer, perdendo a vida, enquanto olha nos
olhos dele.

— Você que quis assim, Alessandro. — Digo ao ver uma lágrima escorrer do rosto dele.

— MALEDETTO.

Grita, perdendo o controle, se levantando e vindo em minha direção. Saco minha arma,
atirando em seu joelho, fazendo com que ele caia no chão. Me levanto, pego a faca de Julieta e
vou até ele.

— Morrer degolado é algo muito bom para você. Merece sofrer, mas saiba que seu filho,
quando eu encontrar, vai sofrer mais ainda. — Digo, encarando sua face.

Dou a volta em seu corpo e passo a faca no tendão calcâneo. Impedindo que ele possa
andar. Cortando os dois, sem nenhuma piedade.

— AHHHH. — Ele grita conforme a faca faz o seu trabalho.

— Tire todos os empregados desse lugar. Não vou deixar nada aqui para contar história.

Sento-me novamente na poltrona, vendo Alessandro gemer de dor, se rastejando para o


corpo da sua moglie. A cena é de dar pena, mas pensar que poderia ser eu, poderia ser eu
chorando pelo corpo de Giulia naquele dia, me faz ter mais raiva ainda.
Os empregados saem correndo, muitos nem olham para mim, ou para a cena à sua frente.
Quando o último sai, eu me levanto. Dois soldados entram, cada um com um galão de
combustível.

Pego o galão e começo a jogar em cima de Alessandro, que não fala nada, apenas abraça
o corpo da moglie. Depois jogo no sofá, no tapete, nas cortinas. Enquanto o soldado faz o
mesmo, jogando pela casa.

Me afasto, olho para a cena ali, acendo um cigarro, trago com prazer e jogo no líquido,
que segue rápido seu caminho até os corpos dos ratos, os tornando uma bola de fogo.

Saio da casa ouvindo os gritos de Alessandro, passo pelos soldados que me olham com
medo. Entro no carro e fico observando a cena no conforto do ar-condicionado. As labaredas de
fogo a consumir todo aquele lugar, entre estalos e gritos agonizantes, que me fazem sorrir,
observando a casa virar cinzas, enquanto penso por onde andará Victor.
Capítulo 56
— Pelo visto não vai ter diversão. — Alessa fala girando a faca.

— Infelizmente. Pelo que Luigi me contou, Victor fugiu e ele matou o Subchefe com a
moglie torrados como carvão. — Conto desanimada.

— Que pena. — Kiara fala se levantando da cadeira. — Queria tanto arrancar a língua
daquele maledetto.

— Quando acharmos ele, vamos fazer picadinho. — Alessa fala sorrindo.

— Sim. Mas agora, já que não tem o que fazer. Querem ir para minha casa, nadar na
piscina nova? — Convido ambas.

— Bem que eu queria, mas não posso. Vim apenas para matar aquele maledetto, nem
trouxe muita coisa para Ayla, então não posso demorar. — Kiara fala triste.

— Eu vou! Fico um pouco lá com você, lembro que queria falar comigo e depois volto
para Napoli. Tudo bene por você, Kiara? — Alessa pergunta.

— Sim. Bom, já vou indo. Até breve.

Nos despedimos de Kiara e seguimos de carro até minha casa. É bom mesmo que Alessa
venha comigo, assim posso perguntar da foto, por mais que eu desconfie. Melhor tenha quase
certeza que seja Victor que a enviou.

Passamos pelos portões e percebo que cheguei primeiro que Luigi, melhor assim. Pois
posso conversar com minha sorella com mais calma.
— Vamos para meu quarto. — Peço.

— Claro.

Guio Alessa até meu quarto, entro e fecho a porta com a chave para ter mais privacidade.
Não quero que ela se acanhe se Luigi entrar. Eu sei que a sua primeira vez, não foi muito boa.
Tanto que ela nunca mais quis falar sobre o assunto, mas me lembro de como ficou dolorida nos
primeiros dias.

— Sente-se, vou pegar algo. — Digo, mostrando a cama.

— Você está tão misteriosa.

— É importante. — Digo, pegando a foto na gaveta e voltando para a cama.

Me sento ao seu lado, olho firme em seus olhos. Não sei como começar essa conversa,
talvez ela não quisesse se lembrar, ou não goste, porém, não tenho opção.

— Alessa, Luigi foi embora de Tivoli, por alguns motivos. Mas antes dele partir,
entregaram uma coisa a ele, e bom, eu preciso de sua ajuda agora. — Digo receosa.

— Então me conte, não precisa ficar enrolando.

Entrego a foto a ela, e vejo seu sorriso ficar menor, sem entender o que está acontecendo.

— Luigi recebeu essa foto, um dia depois do nosso aniversário de 18 anos Alessa. Na
mensagem no verso dá a entender que sou eu, que eu havia me entregado a outro, mas sabemos
que não sou eu, e sim você. — Digo e ela olha da foto para mim, e depois para o verso lendo os
dizeres.

— Eu, não… Eu não sabia dessa foto. — Confessa o que eu já desconfiava.

— Eu sei, mas preciso saber, quem estava com você nesse dia. Quem tirou sua
virgindade?

Ela fica séria, como se tentasse se lembrar de algo, então balança a cabeça várias vezes
com os olhos fechados.

— Scuze. Eu não me lembro, estava bêbada. — Fala se levantando.

— Tem certeza? — Tento outra vez.

— Sim. Não sei quem foi, só acordei na cama, sozinha e dolorida.

— Que pena, mas tudo bem. — Me levanto e a abraço. — Sei que você não gosta de
tocar nesse assunto, mas eu precisava perguntar.

— Va bene. Eu vou indo, melhor ir com Kiara para Napoli. — Abre um sorriso amarelo,
percebo que ficou mexida com a foto.

— Claro.
Talvez tenham acontecido mais coisas esse dia que ela não queria me contar, talvez só ela
saiba o que aconteceu e seja um segredo. Não vou insistir.

Saio do quarto e desço as escadas conversando outros assuntos, e ela me conta sobre o
treinamento dos soldados. Assim que pisamos no último degrau, Luigi entra com Matheo e
Roman. Não posso dizer que gosto de Roman, ainda não consigo ter esse afeto por ele.

Sei que é um bom fratello para Maria, ela sempre me fala muito bem de como é atencioso
com ela e até deu um ursinho de pelúcia para o bambino que ela espera. Mas meu pai disse e nos
ensinou a ter cuidado com ele, assim como devemos ter com o pai, meu sogro, que pretendo,
pela graça de Dio, nunca ver em minha casa.

Alessa para como uma estátua, encarando Roman, estranho a sua atitude.

— Alessa, aconteceu algo? — Pergunto e ela me encara.

— Não, eu estou bene.

— Certeza?

— Sim. Foi uma tontura, não comi direito. — Repuxa um sorriso.

— Quer que eu te leve?

— Não precisa se preocupar. Vou com Julieta, quero saber como foi o churrasquinho.

— Va bene. — A abraço.

Alessa sai em passos rápidos, olhando para baixo. Ainda sinto sua atitude estranha, mas
deve ser pelo fato da nossa conversa.

— Também vou indo. — Roman se despede e sai.

— Bom, podemos ir para o escritório. Preciso ligar para o chefe do conselho e informar o
acontecido, com a sua permissão Don. — Matheo como sempre, pensando no trabalho.

— Claro Matheo, vamos. — Luigi beija a minha testa e vai para o escritório.
Tamborilo os dedos na mesa, enquanto vejo e ouço Matheo falar ao telefone com o chefe
do conselho, informando que transformei em cinzas, tanto Alessandro, como a sua moglie.
Victor, como um rato, está escondido em algum lugar, porém da Itália ele não sai. Dei ordens
expressas a todos que, se eu souber que Victor saiu para outro país, os soldados que estiverem na
frente da fronteira de onde ele sair serão mortos da mesma forma que Alessandro foi.

A filha dele que está no convento vai continuar lá até o casamento, se ainda a quiserem.
Do contrário, eu mesmo arrumarei alguém para ela. Mesmo sendo filha de traidores, o seu
destino é prevalecer na família.

— Como aquele velho conversa. — Matheo reclama.

— Ainda bem que eu não tenho de falar com eles, e sim você.

— Muito engraçado, mas agora temos outro problema. — Suspiro massageando minha
têmpora.

— Qual mais?

— Você está sem subchefe. Precisamos escolher alguém para ocupar o lugar, já que a
família de Alessandro não sentará mais na cadeira.

— Quero Roman. — Digo firme.

— Luigi. Roman é bastardo e, além disso, está fazendo o trabalho de seu pai, já que ele
está doente.

— Só os mais íntimos sabem que Roman não é filho legítimo da minha mãe. Ele foi
criado como um herdeiro, possui o sobrenome Esposito assim como eu, então não vejo
problemas dele se tornar meu subchefe. Não contarei a ninguém que ele é bastardo, assim como
quem sabe, não vai contar… É segredo de família. — Digo.

— Não sei se Roman é apto a ser um subchefe.

— Estávamos há anos com um subchefe rato, que roubava a família, prostituía menores e
mulheres. Sendo que meu nono nunca foi a favor disso. Então, Matheo, acho que sim. Roman é
apto a assumir como meu subchefe, pois confio nele.

— A escolha é sua, Don. Vou comunicar ao conselho e esperar a votação.

— Ótimo, e outra coisa. Quero que sua mãe, junto da minha sogra e Agnes, para
preparem uma festa de casamento. Vou me casar com minha moglie, agora na igreja, como ela
merece e sempre sonhou. — Digo e ele sorri.

— Claro, será um prazer ajudar a preparar essa festa.

— Agora pode se retirar, que eu vou subir para meu quarto e pedir minha moglie em
casamento. — Sorrio abertamente e Matheo retribui.

Ele passa por mim, bate em meu ombro e sai sorrindo. Matheo é um bom amigo, às vezes
muito preocupado com as coisas corretas a serem feitas, mas eu acredito que meu fratello será
uma boa escolha para subchefe.

Subo os degraus com o coração batendo acelerado dentro de mim. Já somos casados, eu
sei, mas agora fazer o pedido formalmente é uma sensação diferente, maior até do que a primeira
vez que eu a beijei.

Abro a porta do quarto e assim que entro o vejo vazio, olho para os lados e logo ela sai do
banheiro, o rosto pálido me demonstrando que estava passando do mal outra vez.

— Raggio di Sole, está bene? — Pergunto, me aproximando e a segurando pela cintura.

— Estou.

— Não parece. Estava vomitando outra vez, não é? Pare de pensar naquela cena nojenta.
Toda vez que ela vem em sua mente, você…

Não termino de falar e ela corre para o banheiro. Vou com ela e seguro seu cabelo,
passando a mão em suas costas.

— Scuze, não deveria ter tocado no assunto.

— Va bene. — Fala assim que para de vomitar. — Mas não estava vomitando por isso,
acho que comi algo que me fez mal. Aí você me faz lembrar daquela cena e...

Outra vez… Espero pacientemente ela terminar a ânsia que dessa vez não sai nada, e
depois lavar o rosto e a boca, outra vez.
— Vem, vou à cozinha buscar um limão para você tomar o suco puro. Isso ajuda a
controlar o vômito. — Digo, a guiando para a cama.

Vou à cozinha, pego um limão, espremo e levo o caldo para ela. Giulia olha para o copo
para mim, mas toma todo o líquido. É ruim, porém é melhor do que ficar vomitando.

Me deito na cama e a puxo para meu peito. Passo a mão delicadamente em seu cabelo.

— Giulia. — A chamo.

— Oi?

— Casa comigo? — Peço de modo meio incomum.

Ela se levanta e me encara por alguns segundos.

— Já somos casados.

— Eu sei, mas apenas no civil. Eu quero me casar na igreja com a minha moglie vestida
de noiva, com um tapete vermelho, um bolo branco cheio de flores. Uma festa bonita, o que
acha? — Ela sorri.

— Você se lembra?

— Nunca esqueci. Eu te amo, Raggio di Sole, e nada foi capaz de destruir esse amor
dentro de mim.

— Sim, Luigi. Sim, eu me caso com você, e sim, eu te amo. Mesmo você sendo um
idiota, uma boa parte da nossa relação. Mesmo assim, eu te amo.

Abraço Giulia com força e beijo sua boca, um beijo calmo e cuidadoso.
Capítulo 57
Minhas mãos estão geladas, mesmo tentando não ficar ansiosa, ainda eu estou. Meu
vestido branco é como sempre sonhei, o buquê de noiva de rosas-brancas e vermelhas, mas claro
com algumas petúnias, pois mamãe não ia perder a oportunidade.

Há quase um mês, Luigi me pediu em casamento, mesmo já estando casados há mais de


dois meses. Para quem olha assim, pensa que nossa história começou em tão pouco tempo, que
mal imagina desde quando nosso amor começou. Talvez eu já o amasse antes mesmo de ter lhe
visto pela primeira vez.

— Está pronta? — Meu pai pergunta.

— Sim.

— Filha, ele… Realmente te faz feliz?

Seguro as mãos de meu pai, e o olho nos olhos. Sei todo o medo que habita em seu
coração, sei todos os receios que teve durante os anos que se aproximavam do meu casamento,
também sei como ele desejava acabar com esse compromisso.

Mas eu sabia minha obrigação, o dever que tinha de cumprir, e conforme fui crescendo e
aprendendo, fui me apaixonando pelo homem que se tornou minha ruína e minha paixão. O
homem que me fez sorrir por muitos anos e me fez chorar por muito tempo. O homem que
descobri sempre me amar, às vezes um idiota completo, às vezes um príncipe armado. Mas o
mais importante, o meu marido.

— Papai, não precisa ter medo. Eu estou feliz, Luigi é um bom marido. E ele não é louco
de levantar a voz para mim. Além de já ter deixado claro que não aceitaria isso, ele nunca faria
isso comigo. — Digo e meu pai repuxa um sorriso.

— Va bene. Não tenho escolhas mesmo. — Fala após um longo suspiro.

— Eu o amo, pai. E sei que ele me ama.

— Isso me deixa feliz. E acredito que Sofie, onde quer que ela esteja, também está feliz
por ver que o filho não é como o pai e sim como ela.

Percebo seus olhos úmidos, lembrar da sua amiga, falecida mãe de Luigi, ainda dói no
coração de meu pai.

— Obrigada, papa.

— Vamos, que o Don te espera.

Seguro firme o braço de meu pai, e com o coração quase saindo pela boca, entro na igreja
e caminho pelo tapete vermelho. Cada passo que dou, parece que vou perder o ar. As pessoas ao
meu redor sorriem felizes, tantas que muitas não conheço, mas sei que são a família, além de
convidados de outras máfias aliadas.

No altar, ele me espera, seu terno preto perfeitamente alinhado, a barba rala e os cabelos
loiros que estão um pouco maiores, fazem um conjunto bonito com seus olhos azuis-escuros.

Meu pai entrega minha mão e beija minha testa.

— Dio vi Benedica, filha minha.

— Amém, pai.

Espero meu pai sair, após cumprimentar Luigi com um aceno de cabeça respeitoso. E só
então nos viramos para o padre Fillipo.

— Don Luigi, Giulia, estamos aqui hoje, para celebrar a união de vocês…

O padre começa a falar e eu me perco nos olhos do meu marido. Sempre sonhei com o
meu casamento, sonhei que estaria apaixonada e ele também, que não seria apenas um acordo
firmado entre nossos nonos há mais de vinte anos, com o intuito de proteger a minha família.
Sonhei e hoje sinto-me realizada, pois eu amo esse maledetto idiota e eu sei que ele me ama.

— Os votos. — O padre continua.

— Giulia, eu te amo há tanto tempo, faz anos, e com o passar do tempo esse sentimento
só cresceu. Me perdoe por tudo que eu fiz que um dia te magoou, saiba que me arrependo e te
prometo fazer-te muito feliz. Você é o meu Raggio di Sole, é o calor que me aquece e que derrete
toda frieza que um dia eu possa ter tido em meu coração. Prometo te proteger, mesmo você
sendo ótima no que faz, prometo que estarei aqui sempre, serei seu escudo, sua retaguarda, sua
proteção, o seu Don. — Luigi termina de falar, limpando uma lágrima que escorre em meu rosto.
— Luigi, meu amor, eu esperei ansiosa por você. Quando tudo pareceu perdido, eu
desisti, mas você voltou para lutar por nós! Fico feliz que tenha vindo, que seja você e que esteja
ao meu lado. Prometo ser uma boa moglie, ser alguém que te apoie, que te ajude e prometo estar
ao seu lado em todos os dias. Vou te amar para sempre, meu amor, meu Don. — Digo
emocionada.

— Agora as alianças. — Padre Fellipe fala.

Olho confusa para Luigi, pois já usamos alianças, mas sou surpreendida com uma
caixinha que ele tira do bolso, e nela um par de alianças, um pouco mais finas do que as que
usamos. Com cuidado, ele pega minha mão e coloca a aliança, me fazendo ouvir um clique,
mostrando que as duas se fundiram e viraram uma. Como nós dois. Pego a outra aliança e coloco
em seu dedo, fazendo o mesmo processo até ouvir o clique.

O padre entrega a faca, não uma faca comum que é usada nos casamentos, mas a faca de
osso que Luigi ganhou do nono quando se tornou Don.

Sinto o corte em meu dedo, e depois marco o documento com a minha digital
ensanguentada, e ele faz o mesmo.

— Minha moglie. — Fala olhando em meus olhos.

— Meu marido. — Digo.

Suas mãos envolvem a minha cintura, me inclinando levemente para trás, e sua boca
toma a minha com fervor. Na frente de todos, ele me beija com amor.
Capítulo 58
A festa é em minha casa, meu jardim está repleto de mesas, enfeites e tudo que temos
direito de ter. Me aproximo da mesa do bolo, enorme, branco e com flores. Como eu queria.

— Vamos dançar? — Luigi me pergunta, com um sorriso bonito no rosto.

— Claro.

Sou guiada para o meio do jardim, onde há um palco improvisado para isso. A música
começa a ecoar no ambiente enquanto meus passos acompanham o dele, tão calmo e feliz.
Porém, ele para e enrijece o corpo, me viro vendo seu pai, com uma bengala de aproximar. Já
tinha até me esquecido de que ele estaria presente no casamento, pois querendo ou não, Luigi é
seu filho.

— Me dá a honra da dança? — Diz com um sorriso.

— Está andando com ajuda de uma muleta, pai. Acha que consegue dançar? — Luigi
pergunta.

— É a tradição, não é? O pai dança com a nora. — Karev pega a minha mão. — E você,
como Don, tem de seguir as tradições, tão correto como seu avô.

Ameaço puxar minha mão, pois sinto nojo dele. Porém, sei que é verdade, mesmo
contrariada, olho para Luigi e abro um sorriso amarelo.

— Só uma dança. Não fará mal nenhum. — Digo.

Luigi se afasta, olhando firme para mim. Sei que o fato do pai dele estar ao meu lado o
incomoda. Pois desde que voltou, ele não citou seu pai, muito menos foi o visitar.

Karev segura em minha cintura e, com um pouco de dificuldade, começa a valsar


comigo. Não consigo olhar para ele, olho ao redor, olho para os convidados e para as pessoas que
me conhecem.

— Tem medo de mim, Giulia? — Pergunta baixo.

— Claro que não. — Respondi firme.

— Você é como sua mãe. Pena que estou doente. — Fala, chamando minha atenção.

— Por qual motivo? — Me viro o encarando, e ele sorri.

— Uma pena que não consiga dançar e me movimentar como se deve. Ainda mais com
você.

— Uma pena. — Volto a olhar para longe.

Minha vontade era parar aquela dança.

— Com licença. — Ouço uma voz familiar e paro no mesmo lugar. — Posso dançar com
a noiva?

— Claro! — Digo sorrindo.

— A valsa ainda não acabou. — Karev continua.

— Para você, acabou. Está velho e doente, está na hora de descansar, e é bom tomar
cuidado, pois Maria está de olho em você. — Digo, apontando com o queixo para minha amiga
que está dançando com Matheo, mas com os olhos fixos aqui.

— Não é o certo, a dança não acabou. — Karev continua.

— Infelizmente, para você, ela acabou. — Digo, soltando sua mão.

Seguro na mão de Romeo, que sorri vitorioso. E antes mesmo de Karev sair, começo a
dançar com meu amigo, que ainda está se recuperando do tiro.

— Obrigada. — Agradeço.

— É o meu trabalho.

— Seu e de Julieta agora. — Ele revira os olhos.

— Não suporto essa mulher, você sabe disso.

— Mas ela é boa no trabalho.

— Va bene, não posso fazer nada.


Danço uma música com Romeo, e logo Luigi volta para perto de mim. Dançamos mais
algumas músicas, cortamos o bolo e tudo estava perfeito. Aos poucos, os convidados foram indo
embora, ficando apenas os mais íntimos.

— Então, é bambino ou bambina? — Alessa pergunta à Maria enquanto estamos sentadas


em uma mesa, tomando sorvete.

— Ainda não sei. — Maria responde com a mão no ventre.

— Você nem tem barriga ainda. — Mirelle fala. — Eu, com seu tempo gestacional, já
estava enorme.

— Martino é grande e alto. Matheo e eu não somos tão grandes assim. — Maria fala e eu
começo a rir.

— Verdade, Martino é alto, mas Luigi é maior. — Digo.

— Roman é maior que Luigi. — Alessa fala e eu a encaro curiosa.

— Alessa…

Não termino minha frase, pois Mirelle geme de dor.

— Aí.

— O que foi? — Pergunto.

— Vai nascer.

— O quê? — Maria e Alessa falam juntas, se levantando.

— Eu estou sentindo, tá saindo. — Mirelle fala, levantando-se com a ajuda de Maria.

— Não, não, como assim está saindo? Não tão rápido. — Maria fala em desespero.

— Está saindo, estou sentindo a cabeça. — Mirelle fala baixo.

— KIARAAA. — Alessa grita ao ver nossa sorella se aproximar.

— O que foi? — Kiara pergunta.

— Cadê o marido dela? — Agora sou eu.

— Com o Falcão, estão falando com nosso pai e com o senhor Leonel. — Kiara explica e
olha para Mirelle. — Vai nascer?
— Está nascendo. Ela está sentindo a cabeça sair. — Maria fala preocupada.

— Dio, não dá tempo de chegar no hospital, então. — Kiara fala olhando para os lados.
— Tem algum médico aqui?

— Dr Fernando, ele está com Roman. — Alessa fala e eu a encaro outra vez. — Vou
chamá-lo.

— Mirelle, vamos para um dos quartos de hóspedes que fica no térreo. — Digo,
segurando em seu braço.

Kiara sai à procura do marido de Mirelle, enquanto Alessa vai atrás do médico. Quando
chegamos à porta do quarto, Mirelle não consegue mais andar.

— Não consigo.

— Vamos, Mih. Mais alguns passos. — Maria pede.

— Não…

Martino aparece, pega Mirelle no colo e leva até a cama. Nesse momento, o médico
entra, com uma maleta que provavelmente estava no carro. Luigi e Roman param na porta, vejo o
olhar dos dois e logo se afastam.

— Vou dar privacidade a vocês. — Digo saindo.

Deixo só Maria, Martino e o doutor com Mirelle. Assim que fecho a porta, vejo Matheo,
vou até ele em passos rápidos.

— Onde está Luigi? — Pergunto.

— No escritório.

Não espero Matheo falar mais nada, vou até o escritório e assim que entro, vejo Luigi
andando de um lado para o outro, com um cigarro na boca e as mãos tremendo.

— Luigi. — O chamo, e ele se vira para mim. — O que aconteceu?

— Não foi nada. — Tenta sorrir.

— Não minta para mim. Está visivelmente nervoso, até está fumando.

Digo e ele suspira, apaga o cigarro e joga no lixo.

— É que ver aquela cena… Sabe, Giulia, tem certas coisas que, por mais que queremos
esquecer, não saem da nossa cabeça. — Fala e eu sinto o tom de voz abatido.

— Lembrou da sua mãe?

— Sim.
Ele fala, e eu entendo. É difícil pensar que ele presenciou o parto da mãe, estava lá
quando ela estava morrendo. Vou até ele e o abraço, sem dizer uma palavra, pois não sei o que
dizer. Luigi coloca a mão na minha nuca e faz um carinho, enquanto eu olho pela janela e vejo
uma cena que me deixa curiosa.

Alessa fala algo para Roman, que está de costas fumando, igual Luigi estava. Então,
minha sorella o abraça por trás e ele a solta. Fala algo e sai, deixando Alessa no mesmo lugar.

— Luigi, já volto. — Digo.

Saio e vou até a parte do jardim onde encontro Alessa, ela está de cabeça baixa.

— Sorella. — Chamo e ela se assusta.

— Giulia, vai me matar do coração.

— O que está fazendo aqui, melhor, por que abraçou Roman? — Pergunto e ela arregala
os olhos.

— Giulia, não foi nada, eu só…

— Eu vi. Estava no escritório e vi o momento em que você o abraçou. Por quê?

— Eu só achei que ele precisava de um abraço. — Responde sem graça.

— Só?

— Sim.

— Alessa não minta. — Suspiro fundo. — Eu e Kiara sempre desconfiamos que você
sente algo por ele. Porém, diferente de você, Roman nunca demonstrou isso e também nenhuma
de nós quis investigar. Mas hoje, agora nesse instante, você deixou claro que tem sentimentos
por ele.

— É engano seu, eu só… — a corto.

— Não tente mentir para mim, eu desconfiava e agora sei que é verdade. O meu conselho
a você é que esqueça Roman. Ele não é para você. Ele pode até não ser como o pai, ou talvez até
seja, mas não se iluda. — Digo o que eu acho.

— Por quê? Roman é filho de Karev assim como Luigi. Qual a diferença?

— Luigi foi criado pelo Don, aprendeu muito com o nono e depois com o avô na Rússia.
Já Roman foi criado apenas por Karev. Sabe se lá, Dio, o que o pai ensinou a ele.

— Sua explicação não tem fundamento, nem sempre estar em um ambiente ruim te faz
ruim. — Fala com raiva.

— No caso dele, tenho certeza de que sim. Ou você acha que um homem normal sentirá
prazer em arrancar partes de corpos e cobrar dívidas com pele como ele cobra?
— Luigi também mata, assim como nós, matamos e torturamos. Como eu disse, não tem
fundamento o que você está falando.

— Abra os olhos sorella, ele não é um homem bom.

— Ninguém é.

Ela me encara por um tempo e depois sai. Não gosto de brigar com minhas sorellas, mas
às vezes é necessário. Porém, não vou dizer nada a ninguém, não vou contar o que eu vi, ouvi e
desconfio. Sei que minha sorella vai entender que está errada. Roman não é bom, e nunca vai ser.
Capítulo 59
Após alguns longos minutos, a porta do escritório se abre e Giulia entra com um sorriso.

— Nasceu. — Fala, se aproximando de mim.

— Ótimo. — Respondo, repuxando o lábio.

Fico feliz pela amiga de minha moglie, mas não quero me aproximar. Digamos que essa
cena não é boa para minhas lembranças, que por mais que eu tente afundar e jogar para longe,
parece que ainda consigo ver e ouvir, além de sentir o cheiro de sangue da minha mãe. Momento
esse que ficou gravado em minha mente, assim como acredito ter ficado gravado na do meu
fratello.

— Luigi. — Fala com carinho.

— Estou bene, não se preocupe.

— Va bene. É uma menina linda, saudável e bem grande. Vou ver com Dr Fernando
quando Mirelle pode ir para casa dela.

Concordo, balançando a cabeça devagar.


DOIS DIAS DEPOIS.

Não podia ir para longe, por um tempo. Afinal, o rato do Victor ainda não havia sido
encontrado, nem vivo e nem morto. Preferência é encontrá-lo vivo, claro.

Itália estava toda em alerta, a espera daquele maledetto, ele com toda certeza estava em
algum buraco escondido. Mas logo iria sair, pois não pode ficar escondido para sempre.

Então decidi trazer Giulia para passar um final de semana na vinícola da minha mãe, que
agora é minha, mas mesmo assim não deixo de falar que é dela. Sei que estamos no final de
fevereiro, e o inverno já castigou as parreiras, deixando apenas os galhos. Porém, ainda tem os
vinhos e foi exatamente nesse lugar que eu preparei uma surpresa para ela.

— Luigi, para que tudo isso? — Pergunta conforme a guio até a adega com os olhos
vendados.

— É surpresa, Raggio di Sole. — Digo perto do seu ouvido.

Entramos na adega e eu fecho a porta, a guio para o local que desejo, tiro a venda de seu
rosto, mostrando a ela a mesa de madeira maciça, com a bandeja de queijos, azeite, torradas e
claro, o nosso vinho.

— Você preparou tudo isso sozinho? — Pergunta com um sorriso no rosto.

— Sim. Enquanto você estava no banho, eu organizei tudo.

— Então, é por isso que não quis tomar banho comigo!

— Um bom motivo. — Lhe entrego um buquê de lírios-brancos e ela suspira.

Os lírios-brancos significam tantas coisas, mas a principal é que ele significa amor
eterno. Um amor forte e duradouro. Giulia segura o buquê sentindo o aroma das flores, abrindo
um sorriso feliz.

— Infelizmente, não vou poder tomar o vinho, talvez um suco de uva. — Fala, chamando
minha atenção.

— Como assim? Você gosta tanto de vinho.

— Sim, eu gosto, mas não faz bem beber vinho na gravidez. — Fala olhando em meus
olhos, e por alguns segundos eu perco o ar.

— Você está me dizendo que…?

— Estou grávida, Luigi, vamos ter um bambino.

Meu coração acelera de tanta felicidade, não resisto em pegá-la no colo, rodando no ar.
Beijo seus lábios com vontade.

— Nós vamos ser pais?


— Sim, vamos.

— Eu te amo, Raggio di Sole, te amo muito. — Giulia passa a mão em meu rosto e então
apoia a testa na minha.

— Eu também te amo, mesmo você sendo um idiota às vezes.

— Ainda bem que minha moglie é treinada para estar ao meu lado.

— Exatamente.

Beijo seus lábios outra vez, sem pressa, pois ela é minha, e me faz o homem mais feliz
desse mundo.
Epílogo
Bato na porta sem parar, esperando que Roman abra. Já tem dois meses que não
conversamos direito. Não posso dizer que no casamento da minha sorella foi uma conversa, pois
ele não quis falar comigo.

Porém, tenho tentado desde o dia em que Giulia me mostrou a fotografia. Era eu, no dia
em que fiquei com ele, no dia em que ele cuidou de mim.

Mas desde esse dia, eu tenho tentado me comunicar, mas Roman não atende minhas
ligações, e o porteiro sempre me fala que ele não está no apartamento. Mas sei ser mentira, ele
não deixaria Tiramisu, nossa cachorra Mastim, sozinha.

— Abre, Roman, eu sei que está aí. — Digo já irritada.

A porta se abre e vejo ele, com o cigarro na mão, os olhos vermelhos me mostrando que
não dormiu direito.

— O que você quer? — Pergunta ríspido.

— Falar com você.

— Vamos conversar outro dia, estou cheio de coisas para fazer.

— Não, vamos falar agora mesmo. — Empurro a porta.

Ele me deixa entrar e logo sou recebida por Tiramisu, que pula em mim, me lambendo
como sempre faz.

— Cadê a minha ragazza linda? Cadê a minha ragazza linda? — Digo, fazendo carinho
em seu pescoço.

— Fora Tiramisu. — Roman manda e ela sai correndo. — Diga logo.

— O que aconteceu?

— Nada. — Fala tragando o cigarro.

— Você está mentindo. Você só fuma quando está nervoso, e não anda dormindo direito.
Me diga, eu posso ajudar.

— Não quero sua ajuda. — Fala e eu não o reconheço.

— Va bene. Eu quero falar com você, é importante.

— Diga.

Pego a foto no bolso da calça e respiro fundo. Sei que antes, logo que tudo aconteceu, ele
não era como é hoje.

— Giulia me entregou essa foto. Quero que me explique o porquê de ter enviado para
Luigi, como se fosse ela. — Entrego a foto a ele, que a olha por alguns segundos.

— Ah, então Luigi mostrou para Giulia? Vejo que meu irmão não sabe esconder as
coisas. — Seu tom é frio.

— Roman, o que quer dizer isso? Não estou entendendo.

— Era uma brincadeira, só isso. Nada de mais.

— Luigi ficou por anos longe, pensando que Giulia havia o traído e você fala que era
uma brincadeira? Não, Roman, você tem de contar a verdade, falar que foi você.

— Para quê? Ele já culpa Victor mesmo.

Fala e se vira, indo até a mesinha e colocando a foto lá em cima, e o cigarro no cinzeiro.

— Porque é o certo.

— Nem sempre o certo é o certo, Alessa. Entenda isso.

— Por que você está me tratando assim? O que eu fiz para você? — Pergunto e ele
suspira.

— Nada. Quer beber alguma coisa?

— Eu não posso beber. — Digo, repuxando o sorriso, e ele se vira para mim.
— Por quê?

— Porque estou grávida.

Continua...
Agradeço primeiramente a Deus por me trazer até aqui, para poder compartilhar essa
história com você. Agradeço a cada pessoa que me ajudou, de forma direta ou indireta com suas
palavras positivas. Só quem me acompanha diariamente sabe como cada livro é importante para
mim, cada um deles carrega um pouco dos meus sentimentos, sonhos, alegrias e tristezas.

A serie Honra está quase chegando ao fim, o próximo e ultimo livro será Roman, a
história dele vai ser um pouco mais demorada para mim escrever, pois existem vários pontos de
ligação com outros livros que terei de ver e analisar o quanto eu irei acrescentar ou folhear os
fatos passados. Também tem o ponto dele não ser um mocinho logo de início, e isso me pega um
pouco.

Costumo colocar em cada linha, o que sinto em meu coração e deixo meus personagens
criarem vida própria. Cada livro é um sonho, um projeto e um aprendizado. Cada um tem a sua
dificuldade, pois apenas quem está comigo e vivencia cada construção, sabe o quanto de mim,
cada linha carrega. Os sentimentos dos personagens, são baseados nos que eu carrego conforme
escrevo, suas dores, amores e medos. Eu transporto esses sentimentos para fora de mim, criando
um personagem que vai além do que eu planejava, pois só depois que termino uma história, eu
percebo como ele nasceu, como cresceu, e como ele se transformou no decorrer de cada livro.
Eles vivem os meus sentimentos e eu vivo os sentimentos deles. Choro, rio, amo, assim como
eles, e muitas vezes me pego chorando ou com uma dor no peito, conforme escrevo uma cena.

Obrigada a cada leitor que torna esse sonho possível, escrever é além de criar histórias, é
criar um mundo novo, é sonhar com algo que você sonha comigo.

Obrigada.
E não esqueça de avaliar o livro, sua opinião é muito importante para mim.

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