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Nome da obra: CODINOME DO PERIGO – A Elite de Nova Iorque /

Livro 5
Revisão: Dani Smith Books
Diagramação: Mavlis
Capa: Mavlis
Nome do autor: Mari Cardoso
www.maricardoso.com.br

Copyright © 2022 por Mariana Cardoso

INFORMAÇÕES
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida
ou fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico
e mecânicos sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos
de citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais
permitidos na lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens,
alguns lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou
mortas, ou eventos reais é apenas espelho da realidade ou mera
coincidência.
Sumário
CARTA DA AUTORA
Prólogo | Dominic
Prólogo | Kate
Capítulo 1 | Dominic
Capítulo 2 | Kate
Capítulo 3 | Kate
Capítulo 4 | Dominic
Capítulo 5 | Kate
Capítulo 6 | Kate
Capítulo 7 | Dominic
Capítulo 8 | Kate
Capítulo 9 | Kate
Capítulo 10 | Dominic
Capítulo 11 | Kate
Capítulo 12 | Kate
Capítulo 13 | Dominic
Capítulo 14 | Kate
Capítulo 15 | Kate
Capítulo 16 | Dominic
Capítulo 17 | Kate
Capítulo 18 | Kate
Capítulo 19 | Dominic
Capítulo 20 | Kate
Capítulo 21 | Kate
Capítulo 22 | Dominic
Capítulo 23 | Kate
Capítulo 24 | Kate
Capítulo 25 | Dominic
Capítulo 26 | Kate
Capítulo 27 | Kate
Capítulo 28 | Dominic
Capítulo 29 | Kate
Capítulo 30 | Kate
Capítulo 31 | Dominic
Capítulo 32 | Kate
Capítulo 33 | Kate
Capítulo 34 | Dominic
Capítulo 35 | Kate
Capítulo 36 | Kate
Capítulo 37 | Dominic
Capítulo 38 | Kate
Capítulo 39 | Kate
Capítulo 40 | Dominic
Capítulo 41 | Kate
Capítulo 42 | Kate
Epílogo | Dominic
Epílogo | Kate
"A elite era um quebra cabeça
que dominava Nova Iorque, mas
Kate era a única peça que
encaixava em mim."

Dominic
SINOPSE

A Elite de Nova Iorque exibirá mais uma peça de seu jogo.

Dominic era jovem e inocente quando foi arrastado para uma teia
perigosa de conspiração. Herdeiro de um bilionário, só queria ser
jogador de futebol americano e um universitário playboy. Ao tentar
ajudar uma tia querida, precisou fazer uma promessa para salvar a
vida de outra pessoa inocente.
Katherine vivia como uma princesa. Ela sabia que o casamento dos
pais não era perfeito, mas era feliz com a vida que tinha e
principalmente com todo amor que recebia da mãe. Em uma noite
inesperada, a vida ficou de cabeça para baixo. Sofrendo na mão do
pai e sem alternativas, aprendeu a não ser notada e a observar o
ambiente para sobreviver.
Sem saber que havia alguém fazendo de tudo para protegê-la,
precisou esconder sua personalidade e o gênio indomável que
herdou da mãe.
Dominic aprendeu a ser o mais forte e letal para que Katherine
pudesse assumir seu papel: a herdeira de um reinado de sangue.
Eles eram jovens e indomáveis, encontraram um no outro a força
que precisavam, mas a vida criminosa tinha um preço muito alto.
Estariam dispostos a pagar e viver eternamente presos em um
codinome perigoso?
CARTA DA AUTORA
Estamos chegando ao fim dessa série! Só falta um livro:
Sienna e Adam (Kyra e Alex será lançado no box em ebook e em
físico). Quando comecei em 2020, sem saber o que esperar dessa
aventura, nunca imaginei o quanto vocês amariam fazer parte desse
universo. Isso deixa meu coração com aquele quentinho de que
pude proporcionar, até o momento, livros que vocês até se reúnem
para discutir, fazem teorias e criam suas linhas do tempo.
Obrigada por todo esse carinho. Sem vocês, nada seria
possível.
Falando sobre a história, gosto de contar algumas coisas para
que saibam o que esperar da leitura. É um romance intenso e
relativamente rápido, mas vão entender o quanto eles estão ligados
ao outro pelo destino. De uma maneira ou de outra, Dom e Kate
ficariam juntos. Eles são jovens e por isso, mergulham no que
sentem como todo primeiro amor avassalador que é impossível
controlar.
Eu sei que vão suspirar pelo Dominic, vão torcer pela Kate e
ainda mais, pular de feito pipoca com as cenas fofas que irão
protagonizar. Não esqueçam que apesar de não ser um romance
ambientado na máfia, aqui temos: crime organizado, cenas de
violência, palavrões e é bem distorcido quando se trata de certo e
errado. Esta história é recomendada para maiores de dezoito anos e
pode conter situações que causem gatilhos a quem não gosta da
temática.
Estamos torcendo por vilões e isso só vale nos livros, ok?
Se conhecer um assassino, por favor, corra.
Espero que gostem!
Com amor, Mari Cardoso
Prólogo | Dominic
Era um rio de sangue.
Nunca tinha visto mais do que umas gotas na vida e naquele
momento, minhas mãos estavam tomadas pelo líquido vermelho,
grudentas e escorregadias. Meus dedos tremiam enquanto
pressionava a ferida. Ela agarrou meu braço, tentando falar e cuspia
mais sangue. O desespero me consumia por dentro.
— Vocês não vão ajudar? Peçam ajuda! — gritei para os dois
homens parados a alguns metros de mim. — Ela está morrendo!
Ela cuspiu mais sangue.
— Kate… — A voz saiu fraca.
— Kate está bem, ela vai ficar bem.
— Cuida dela. Minha filha… — Michelle continuou
gorgolejando, tentando falar e passou a tremular ainda mais sob
minhas mãos. O que ele fez com ela?
— Por que vocês não me ajudam? — gritei, apavorado. — Me
ajudem!

Jack[1] inclinou a cabeça para o lado e saiu, os passos ecoando


no ambiente vazio. Enzo[2] parou ao meu lado, tocando meu ombro.
— Por que você não me ajuda? — pedi, lamentando.
— Ela tem que morrer ou o acordo será desfeito. — Enzo
agachou e olhou inexpressivo para a mulher que me viu crescer.
Michelle era uma tia que considerava com todo o meu coração. —
Se despeça, Dominic. — Ele tirou minhas mãos da ferida, que
passou a jorrar ainda mais sangue. — Diga adeus.
— Cuide… dela… — Michelle voltou a falar.
— Eu vou cuidar, eu prometo. — Segurei sua mão. — Eu vou
protegê-la pelo resto da minha vida.
Enzo tocou as pálpebras de Michelle, fechando seus olhos e
fez uma oração em italiano.
— Por que ela tinha que morrer?
— Ela provocou o caos em um equilíbrio delicado onde nossas
vidas são baseadas.
— Foi para proteger as filhas — balbuciei, olhando-a morta.
— Isso não importa. Ela buscou a sentença dela. Agora, tudo
que pode fazer é com que os culpados por isso também paguem por
pecados que cometeram. — Enzo me puxou pela camisa. — Temos
que sair. Eu disse que te traria de volta para se despedir, não para
ficarmos aqui muito tempo.
Meus pés pareciam pesados. Todo meu corpo. Era a primeira
vez que eu via alguém morrer. O dia teve sequestro, tiros, maridos
irritados e morte. Muita morte. Eu só estava em Los Angeles para
um passeio com meus amigos, visitar uma tia e de repente, estava
em uma armadilha para salvar a vida de Kate. Como voltaria e diria
que a mãe dela morreu?
E como a encararia sabendo quem a matou?
Em que tipo de vida doentia eu nasci?
— Você quer vomitar? — Enzo me parou antes de entrarmos
no carro. Olhei para minhas mãos cheias de sangue e de repente,
ele acertou minha nuca.
Acordei em uma cama, olhei para o teto e pulei para o chão.
— Acha que é fácil carregar seu peso até aqui? — Ele estava
fumando no canto, olhando para a cidade. — Vá tomar banho ou irá
passar mal de novo.
— Eu não passei mal, você me acertou!
— Sim, te livrei do constrangimento de desmaiar e vomitar. —
Enzo continuou entediado no canto. — Seu telefone tocou. Seus
pais estão te procurando, seu treinador também.
Fui para o banheiro me sentindo zonzo e tomei banho, evitando
olhar para a cor da água. Eu era mais alto que o vidro do box e
minha cabeça quase batia no chuveiro, além de não caber no
quadrado sem bater com meus cotovelos nas laterais, mas consegui
sair dali. Michelle estava morta, foi o pensamento que me invadiu
quando parei na frente do espelho.
E foi morta bem na minha frente. Nos cantos das minhas unhas
ainda havia sangue, marcando minha vida para sempre.
— Cadê ele? — Ouvi uma voz masculina com sotaque italiano.
— Chorando no banheiro — Enzo respondeu e eu quis dar-lhe
um soco. — O que houve?
— Temos que ir para o pacote canadense. Hora de sair.
— Certo. — Enzo chutou a porta do banheiro, abrindo-a por
completo. — Você está à própria sorte. Nos vemos em Nova Iorque.
— Ele sorriu e saiu.
Sozinho no quarto do hotel, me vesti com as roupas limpas
deixadas, peguei minhas coisas e desapareci dali, pelos fundos,
usando um instinto de fuga até então desconhecido. Andei pela
cidade, no meio da madrugada, me sentindo perdido e sem confiar
em absolutamente ninguém. Sem perceber, parei em frente à casa
de Michelle.
Senti uma mão tocar meu ombro.
[3]
— O que está fazendo aqui? — Kyra vociferou. — Tem que ir
embora agora.
— Cadê Kate?
— Sozinha, lá dentro. Tem alguma coisa sua lá? Robert ainda
não voltou, os homens de Michelle debandaram e deixaram a garota
sozinha.
— Então ela vai para Nova Iorque comigo. — Dei um passo à
frente e Kyra me impediu.
— Ele vai matá-la. Seu pai não vai protegê-la. Ele não se
importa com Kate.
Voltei a olhar para a casa. Kate atrapalharia os planos dos
meus pais. Ela precisava ficar viva e eu não poderia cuidar dela com
ele embaixo do mesmo teto. Eu não sabia o que fazer.
— Por que está me falando essas coisas? Você não joga no
time do meu pai?
— Eu jogo no meu time. — Ela sorriu de lado. — Entre, pegue
suas coisas. Ela vai ficar segura enquanto o pai achar que vale
algum dinheiro.
— Prometi que a manteria segura.
Kyra ficou em silêncio, olhando para o meu rosto por um tempo
e depois para a casa.
— Vá buscar suas coisas, eu sei o que fazer. Não demore, não
sei quanto tempo temos — ordenou e me sentindo tonto,
simplesmente obedeci. Entrei pelos fundos, agarrando minha
mochila que estava na cozinha e ouvi um barulho na escada. Virei e
me preparei para atacar.
Era Kate. Era quatro anos mais nova que eu, alta para a idade
e usava roupas de ginástica.
— O que está fazendo aqui, Dom? Mamãe está com você?
— Não. Ela saiu — menti, com o coração acelerado. — Volte
para a cama.
Kate me olhou desconfiada e voltou, acostumada a não discutir
ordens.
A mãe dela nunca voltaria e a culpa era do meu pai.
Eu precisava protegê-la.
Prólogo | Kate
— Papai? Pai? — chamei pelos corredores da nossa casa. —
Tem alguém em casa? — falei mais alto. Tudo parecia estranho. Os
seguranças não estavam na guarita, as funcionárias da cozinha
saíram antes de terminar o horário e ninguém conversou comigo
sobre nada. Subi o último lance de escadas e encontrei meu pai
parado de costas para umas caixas. — Papai?
— O que é, Katherine?
— O que aconteceu? — Dei um passinho à frente.
— Volte para o seu quarto e fique lá até o horário da escola.
Puxa vida. O que eu tinha feito?
— Sabe por que a mamãe não atende ao telefone?
Ele riu sombriamente e me olhou de uma maneira que deixou
os pelos dos meus braços arrepiados. Tocando meu rosto, apertou
meu queixo, me assustando. Papai costumava fingir que eu não
existia, sorria para mim só em público. Não estava acostumada com
os toques e muito menos que reconhecesse a minha presença.
— Tem sorte de parecer com a minha mãe — falou baixinho e
engoli seco. — Mesmo que ainda tenha traços latinos da vadia da
sua mãe. Esqueça a piranha. Ela não voltará mais.
— Pai? — Ofeguei.
— Vá para a porra do seu quarto e não saia de lá. — Soltou-
me bruscamente e me afastei, com medo. Virei ao ouvir o som de
passos. Uma mulher caminhava sensualmente em nossa direção,
ela me deu um olhar desprezível antes de beijar a boca do meu pai.
Fui recuando no corredor, tropeçando em meus pés e eu corri…
para bem longe.
Capítulo 1 | Dominic
Alguns anos depois
Los Angeles
— Você está pronto para a festa, querido? — Mamãe passou
por mim e analisou minhas roupas. — Sempre de preto. — Soltou
um suspiro.
— Algum problema com a cor?
— Deveria usar branco, vai te deixar com uma aparência mais
jovem. Você só está no começo dos seus vinte anos, Dominic.
Parece mais velho e sombrio. — Ela franziu o cenho e sorri quando
seu olhar mudou um pouco. — Dom, filho. Nossa aparência…
— Está com medo que pensem que sou mais que um jovem
jogador mimado? — provoquei. Mamãe ficou vermelha, limpou a
garganta e saiu. Meu pai abaixou o jornal e me encarou. Arqueei a
sobrancelha, desafiando-o a falar alguma coisa.
— Sabe que sua mãe não se envolve nos nossos negócios.
— Ela está casada com você. Como seria possível não estar
envolvida?
— Você resolveu abandonar a faculdade e o time de futebol só
para ser irritante, Dominic? Eu não tenho tempo para lidar com um
moleque mimado, agora. — Ele olhou em seu relógio. — Se vai para
a empresa comigo, estamos atrasados.
— Estou pronto.
— Usando preto com esse sol?
— Está usando terno e eu não estou criticando.
Ele apenas balançou a cabeça, pegando as coisas e decidindo
sair. Não íamos no mesmo carro, não queria continuar o assunto
sobre minhas roupas. Seguindo-o com meu carro esportivo de luxo,
recebi um alerta de mensagem no telefone e li rapidamente,
calculando o tempo disponível para fazer tudo que era necessário e
ainda estar presente na festa em duas horas.
— Robert está aqui — papai falou no elevador e ajeitou a
gravata.
— Eu sei. Ele trabalha aqui.
— Não faça nada. Sei que as coisas ficaram ruins entre vocês
depois que Michelle desapareceu, mas, ele é um membro
importante do nosso meio e merece respeito pela posição que
ocupa.
Eu quase ri. Meu pai usava o termo desaparecer como se ele
não soubesse que ela estava morta. Jack contou e de longe, eu o vi
olhar o corpo. Ele só não sabia que eu estava lá. Ele não sabia nada
sobre mim há muito tempo. Dei um sorriso e segui adiante, sem me
preocupar com Robert, afinal, os dias dele estavam contados.
Os homens levantaram quando meu pai entrou, afinal, a
presença do presidente em uma reunião era muito importante. Parei
nos fundos, com as mãos nos bolsos e alguns ficaram
desconfortáveis, porque era uma posição em que eu poderia atacá-
los a qualquer momento. Não estavam errados. Muitos não
conseguiam entender minha mudança, um dia eu fui um garoto bom
e bobo, um estudante que jogava futebol e ganhava dinheiro com
aquilo. Entrei para a Liga Universitária uma outra pessoa e com o
tempo, quem me tornei não cabia mais dentro de um campo.
Estava na hora de ser mais e se eles fossem espertos, que não
me levassem levianamente. Observei a reunião, pensando no
quanto eram hipócritas, sentados com seus ternos caros e ditando
como outras pessoas deveriam viver, sendo que eram mais sujos
que muitos dos alvos que tinham.
Robert foi o primeiro a levantar e me olhou. Ele ficava receoso
comigo, porque me viu no dia do sequestro de Levi[4], mas não sabia
que encontrei Michelle depois. Ele realmente acreditava que Enzo
me usou para fazê-lo recuar, preocupado com a fúria do meu pai em
me machucar em uma transação que eu sequer deveria estar
envolvido.
Eles não sabiam nada sobre aquele dia.
Muito menos sobre mim.
— Você está cada dia maior, rapaz. — Robert se aproximou e
apertou minha mão. Levou tudo de mim para não esmagar seus
dedos e empurrar meu punho em seu nariz. — Soube que deixou a
liga.
— Estou com planos mais ambiciosos do que uma carreira
pública. Interessado em novos negócios aqui. Talvez possamos
conversar, vou precisar de alguém aqui.
Eu precisava que ele acreditasse que eu era um garoto otário e
confiasse em mim.
— Com toda certeza. Passe no meu escritório quando estiver
pronto para falar. — Ele sorriu, arrogante e por dentro, me vi
matando-o repetidas vezes.
Saí antes do meu pai, por ter um compromisso particular. Ele
me ligou, ignorei, sabendo que mandaria seus homens me
seguirem. Parei em uma esquina, peguei Luke e entramos em um
shopping. Meu amigo seguiria rodando com meu carro rastreável
por aí. No estacionamento, peguei outro, saindo para a avenida e
acelerando em direção ao encontro.
Um homem em uma moto me esperava na beira da estrada.
Ele brincava com a arma porque ali era o local dele, seu território, e
nem mesmo a polícia ousava pisar naquele caminho. Era preciso
uma grande estratégia para derrubar Priest, mas ninguém estava
interessado porque desde que ele assumiu, não havia mais guerras.
Ainda não.
Aprendi que o equilíbrio da vida em que eu passei a fazer parte
dependia de uma corda muito fina. Ele me viu aproximar e
desmontou da motocicleta. Parei o carro e saí, seguro de que nosso
acordo o impedia de atirar em mim, mas se ele quisesse, não havia
nada que eu poderia fazer. Priest abriu a mochila, tirando os pacotes
de cocaína.
— São essas?
— Estão passando o tempo todo, com carros comuns. — Ele
rasgou um pacote e enfiou um pouco na boca. — Muito pura, como
as antigas. Algo que nem os italianos de Chicago enviam para a
região.
— E o que mais encontrou?
— Ox.
— Nada das balas de Vegas?
— Não. Eles não passam por aqui, por isso que eu disse que
não é nenhum dos nossos. — Ele me entregou mais para que
pudesse conferir. — Sabe de quem é?
— Não.
Fazia muito tempo que aquele tipo de cocaína não passava por
Las Vegas. Desde que Michelle havia morrido e seus homens
recuaram para a fronteira novamente. Santiago, líder de um cartel
inimigo ao que Michelle comandava, logo descobriria que havia
outra droga mexicana nas ruas e eu precisava acalmá-lo antes que
voltasse os olhos para Kate, a herdeira conhecida do cartel.
Robert deveria ter os dez malditos dedos envolvidos nessa
porra.
— Me dê alguns pacotes. Eu tenho uma festa hoje.
— Preciso de respostas. Se vai passar drogas por aqui, tem
que pagar.
— Eu sei.
Priest me deu um pacote, que enfiei debaixo do banco e segui
em alta velocidade de volta para a cidade, encontrando com Luke
no ponto certo. Antes dele ir, pedi que separasse meu presentinho
em pequenos pacotes. Estacionei na garagem dos meus pais com
música alta e óculos escuros, vendo minhas irmãs com as amigas
na varanda. Bess revirou os olhos, algumas deram risinhos e eu só
olhei para saber se Kate estava entre elas.
Não estava.
Entrei pela cozinha, encontrando Ollie.
— Ei, magricela. — Beijei sua bochecha, ela sorriu.
— Cadê meu noivo? — Procurou atrás de mim.
— Oi para você, também. — Arregalei os olhos, fazendo
drama.
Olívia era a irmã depois de mim, éramos próximos na idade.
Ela estava noiva do meu melhor amigo, a pessoa que eu mais
confiava. O relacionamento deles começou como um acordo entre
nossas famílias, os pais dele estavam desesperados para não pagar
pelo que Prince causou a minha irmã há alguns meses, porém, para
minha completa surpresa, Olívia não só aceitou o noivado como
demonstrou ser uma garota normal, que não havia sofrido abuso no
passado.
Luke tinha síndrome de Asperger, era uma pessoa difícil de
conviver. A fala robótica e tendência a expulsar quem o irritava fez
com que ninguém acreditasse que Olívia gostava dele. Mas ela o
adorava.
— Pare de me olhar assim — ralhou, engolindo seco.
— Olhando como?
— Como se se culpasse pelo que aconteceu. — Ela voltou a
lavar as frutas. — Aconteceu. Apenas isso. Não foi culpa de
ninguém. Apenas dele.
— Eu teria te protegido se não estivesse ocupado demais com
a minha vida.
— E eu deveria ter gritado, melhor ainda, nunca ter ido àquela
festa, mas eu fui e não gritei. — Ela soltou os morangos e virou-se
em minha direção. — Você chegou mais rápido que nossos pais.
Fez o que esperava que fizesse quando Adam o encontrou.
Encostei na geladeira.
— Não sei do que está falando. Prince desapareceu e iremos
encontrá-lo para que a justiça seja feita.
Olívia sorriu e ficou na ponta dos pés, me abraçando. Ela sabia
que eu o matei. Meus pais desconfiavam, mas não tinham certeza
se o fiz sozinho ou se pedi para Enzo fazer, dado a nossa
proximidade. Papai não falou nada, porque se eu não fizesse, ele
faria. Ele podia ser um babaca ambicioso que causou a morte de
outras pessoas, mas amava incondicionalmente minhas irmãs. O
que aconteceu com Ollie nos desgastou.
— Sei que algo aconteceu na sua vida e que nós nunca vamos
descobrir. Também sei que, no fundo, você não é mais meu doce e
protetor irmão mais velho. Eu vejo coisas nos seus olhos que me
fariam correr para longe. — Olívia segurou meu rosto. — Também
sei que o Dominic com quem cresci sempre tem um propósito.
Felizmente, não está mais na fase odioso e com raiva. Seja lá a
maneira que conseguiu lidar com o passado, te fez ser assim…
agora. Sempre vou te amar e principalmente, sempre serei grata por
levar o meu monstro para outra dimensão.
— Eu te amo, farei tudo por você e pelas meninas.
— Eu sei. Por que largou tudo, Dom? O que está havendo? —
Ela voltou para a pia, pegando uma faca e cortando as frutas.
— Você sabe que papai não é só um empresário. Eu sou o filho
mais velho, a faculdade e a liga seriam temporárias, tenho muito a
fazer.
Ollie pareceu frustrada.
— Sempre achei que seguiria um caminho diferente… — Ela
ergueu o olhar. — E sei que irá. Só toma cuidado, ok? Sei que você
anda com pessoas perigosas e parece que se tornou um homem a
ser temido, mas espero que saiba o que está fazendo.
— Eu sei. Não se preocupe comigo. — Beijei sua testa. — Por
que a filha de Hudson não sai com vocês? Ela já deve estar com a
idade da Bess.
— Sim, ela tem dezessete, mas o pai dela é um cuzão.
Arquivei a informação e disse que iria para o meu quarto.
Assim que subi a escada e fechei a porta, ouvi a mamãe agitada,
falando sobre todos estarem prontos para a festa. Tranquei a porta
e fechei a janela, pegando um telefone na gaveta para poder ler
parte do relatório do dia, ficando relativamente satisfeito.
— Falta pouco, Kate. Falta muito pouco.
Capítulo 2 | Kate
O entardecer na praia estava lindo. Parei de correr, só para
admirar o quão bonito estava o sol descendo no fim da faixa de
areia que se perdia no horizonte. Se eu corresse todo aquele
caminho, era bem provável que saísse da região de Malibu. Não
conhecia muito Los Angeles, por mais que morasse ali a minha vida
toda. Me aventurei um pouco mais quando aprendi a dirigir, mas até
a rota foi controlada pelo meu pai. Ele não me deixava fazer nada,
ainda não sabia como Kia sequer conseguiu que eu tirasse a
carteira de motorista.
Não entendia minha madrasta. Eu nem sabia se eles tinham
um relacionamento de fato, ou se ela gostava de apanhar e fazer
sexo bizarro com o lunático do meu pai. Kia chegou naquele dia e
nunca mais saiu. Muitas vezes, era tão má comigo quanto meu pai
era, mas nunca me bateu e sempre que o flagrava me agredindo,
fazia com que parasse. Sem trocar uma palavra, cuidava dos meus
ferimentos e saía.
Minha vida era um enorme ponto de interrogação pois perdi
tudo depois que minha mãe desapareceu. Por um tempo, papai
fingiu para os amigos ricos que estava desolado, sem entender o
motivo dela ter nos abandonado. Eu tinha certeza que a mulher que
me colocou no mundo nunca me deixaria, ela me levaria junto para
onde fosse, mesmo que isso significasse deixar meu pai. Vivemos
longe dele várias vezes. Sempre que estava em um novo lugar, ela
me levava junto.
Nasci em Los Angeles. Dois meses depois, ela me levou para a
Inglaterra e moramos lá sem ele por quatro anos. Eu não lembrava
direito, mas tinha algumas fotografias e a própria me contou sobre o
período.
Toda minha rotina e estabilidade desapareceram em uma única
noite. Estava com dezessete anos e contava os dias para ser
legalmente adulta, para poder sair de casa sem que meu pai
pudesse me arrastar de volta. Considerei fugir diversas vezes mas
além da segurança apertada na qual vivia, não conhecia nada no
mundo, mal sabia andar além das ruas de Malibu e não tinha
acesso a dinheiro para nada.
Meus gastos eram controlados. Tudo meu era controlado. Não
tinha dinheiro ou cartão de crédito, minha dieta era regulada, levava
lanche de casa para a escola, até mesmo meu almoço era
comprado por um segurança. Se precisasse de roupas ou calcinhas,
tinha que pedir a Kia, mas normalmente ela fazia a gentileza de
comprar várias coisas e colocar no meu armário sem que eu
precisasse me humilhar um pouco mais.
Não havia televisão na nossa casa, acesso a computador só na
escola, telefone celular monitorado e só tinha um para que pudesse
me comunicar com meu guarda-costas, receber as matérias da
escola e fazer parte de grupos de estudo. Meu pai não me deixou
participar de um mísero clube de leitura. O que poderia acontecer
com pessoas lendo livros?
— Você demorou demais. Vá se arrumar — Kia falou baixo, no
tom de voz sussurrante feito cobra. — Temos vinte minutos para
sair.
Não era como se eu pudesse usar muita coisa.
Kia deixou um vestido de grife na minha cama com sapatos
caros, mas era só para exibir por aí, depois eles pegariam de volta.
Comi uma banana e uma barra de cereal antes de tomar banho.
Sem poder usar maquiagem, o que eu adoraria, apenas escovei os
cabelos e dei um jeito na minha sobrancelha, para ficar com a
aparência agradável. O vestido ficou bonito e com os saltos, fiquei
parecendo um pouco mais velha.
A única coisa boa da minha vida era o fato de eu poder fazer
ginástica na escola. Praticava muito, competia, me apresentava, o
que acabou deixando meu corpo musculoso e torneado. Meu pai
nunca foi a nenhuma apresentação e eu não tinha autorização para
competir fora da cidade, mas os treinos mantinham a minha
sanidade. Eu adorava ficar o dia inteiro na escola, chegava em casa
para jantar sozinha na cozinha e logo depois dormir. Os dias que
não precisava encontrá-lo eram os mais felizes.
Pronta, saí do quarto e parei perto da escada ao ouvir a voz
estrondosa do meu pai:
— A remessa foi interceptada por aqueles ratos! — vociferou.
— Temos o suficiente para resolver o problema essa noite.
Amanhã falarei com meus contatos na fronteira. Precisamos mudar
a rota, querido. — Kia tocou o braço dele.
— Não me diga o que fazer. — Papai foi rude.
Fiz barulho de propósito para avisar que estava chegando,
desci a escada e esperei. Eles me ignoraram e eu segui para o
carro, quando meu guarda avisou que estava pronto para me levar à
festa. Por sorte, Kia se fazia de ciumenta e dizia que não gostava de
andar comigo porque eu era parecida com minha mãe. Eles sempre
brigavam por isso, até que papai decidiu me manter em um
transporte diferente do deles.
Eu parecia com minha mãe, não muito como Kia dizia. Meus
pais tinham olhos azuis, o cabelo liso e castanho, era herança da
minha avó paterna. Mamãe era de pele morena, de aparência latina,
um nariz mais proeminente e um corpo que muitas se matavam para
ter. Eu não tinha tantas curvas, talvez por não ter gordura o
suficiente. Papai dizia que eu era muito bonita e ele conseguiria um
excelente acordo de casamento, muito lucrativo para nossa família.
Por esse motivo, me mantinha trancafiada a sete chaves.
Não era só porque quando se drogava, gostava de me torturar
emocionalmente. Ele tinha planos que me aterrorizavam.
O meio que vivia era de homens muito ricos que tinham poder
o suficiente para fazer o que bem entendiam. Qualquer marido que
ele me arrumasse poderia ser mais um sádico cruel. Quem poderia
me proteger se eu não estava segura nem com meu próprio pai?
— Você está bem, srta. Hudson? — Brady questionou do
banco da frente.
— Estou ótima — menti, como fazia todos os dias. E ele sabia.
Brady começou a me proteger há dois anos, quando o meu
segurança anterior sumiu misteriosamente. Ele era mais gentil e um
tanto educado, sempre dizia bom dia ou boa tarde, nunca me
apressava e de vez em quando, me dava barras de cereal com
açúcar e com chocolate. Eu não dava abertura, porque não sabia se
ele queria se aproximar para conquistar minha confiança e acabar
contando algum possível segredo para o meu pai.
Como se a minha vida fosse interessante…
As festas da sra. King eram sempre cheias e muito refinadas.
Toda a alta sociedade da Califórnia comparecia, até aqueles que eu
não tinha certeza se podiam ser considerados boas pessoas. Nem
todo cidadão era de bem. Alguns me causavam arrepios.
Entrei sozinha, Brady foi para a lateral e Donatella entrou no
meu caminho, me cumprimentando com o carinho de sempre. Ela
era cheirosa e me causava a sensação de conforto.
— Separei um assento para que fique com as meninas. Já
convenci seu pai. — Ela esfregou meus braços. Elizabeth, a filha
dela, passou por nós, agitada. — Bess, querida?
— Kate! Oi! — Ela sorriu e segurou minha mão. — Vem! As
meninas estão lá!
Não procurei meu pai para pedir permissão, fingindo que a sra.
King tinha o poder de convencê-lo a fazer qualquer coisa. Talvez ele
estivesse querendo agradá-la, fingindo ser um homem gentil, tal
como fingiu que amava minha mãe, até assumir Kia publicamente.
— Você se lembra de Kim e Jane, certo? Olívia está com Luke,
mas logo virá sentar conosco. — Bess estava animada. Ela riu
baixinho ao dizer que podia conseguir bebidas batizadas se eu
quisesse, mas eu não podia ousar experimentar álcool. Meu pai me
mataria em público. — Refrigerante?
Outra coisa que eu não podia beber.
— Água com gás, se tiver.
— Vou fazer com que alguém traga para você. — Me deu um
sorriso e falou com um garçom.
Apesar de sentar diariamente com meu grupo de ginastas no
almoço, nunca fui próxima de ninguém, por não ser autorizada a sair
para formalizar uma amizade fora da escola. Eu não sabia direito o
que estavam falando. Assuntos sobre cantores, namorados, gente
famosa… Aquele tipo de entretenimento que eu não me inteirava
por ter um pai completamente contra o consumo da cultura pop.
Pedi licença para ir ao banheiro e por saber o caminho, disse
que não precisavam me acompanhar. Jane, a caçula dos King, que
era só uma menina, decidiu vir mesmo assim. Ela segurou meu
braço e puxou assunto, sendo agradável como todas eram. Talvez a
mãe educasse cada uma delas para que pudessem gerir futuros
eventos grandiosos, já que tendo o sobrenome King, elas não
precisavam de um marido rico para continuarem sendo importantes.
Era bem provável que casassem com homens igualmente
ricos.
Tomei cuidado no caminho e para desviar de um garçom
atarefado, mudei minha rota. Acabei batendo nas costas de um
homem realmente grande, cheguei a tombar para trás.
— Me desculpe, por favor, eu… — gaguejei ao falar,
percebendo a expressão furiosa do meu pai não muito longe. O
homem virou e me encarou sério, mas depois, seu olhar suavizou e
o vinco entre as sobrancelhas desapareceu.
— Olá, Katherine.
Dominic. Fazia muito tempo que eu não o via.
Dei apenas um meio sorriso, sem saber como reagir. Dominic
havia crescido muito, por todos os lados, se tornando
impressionante em constituição e beleza.
— Sinto muito — pedi mais uma vez.
— Não houve nenhum dano. — Sua voz era gostosa de ouvir.
Ele desceu o olhar e inclinou a cabeça para o lado. — Está
encantadora essa noite.
Meu rosto ficou quente e senti vontade de me abanar.
— Obrigada — falei baixo, tímida. Papai plantou-se ao meu
lado, tocando meu ombro e eu evitei encará-lo para não ver a
reprimenda ali.
— Aconteceu alguma coisa?
— Nada. Apenas estava cumprimentando uma das damas
mais bonitas da noite. — Dominic olhou para meu pai com o cenho
franzido, como se o desafiasse a retrucar. Pedi licença, sem querer
ficar entre eles e fui para o banheiro. Entrei rapidamente e encostei
na porta da cabine, respirei fundo e fechei os olhos.
Dominic foi a última pessoa que vi junto à minha mãe. Eu tinha
vontade de perguntar a ele o que havia acontecido naquela noite.
Tudo mudou muito… inclusive ele, que perdeu o sorriso e a
gentileza, o olhar tornou-se assustador e eu evitava ficar no
caminho dele, porque não era mais o garoto que eu conhecia e até
era um pouco afeiçoada.
Ele se transformou em alguém a ser temido.
Capítulo 3 | Kate
Não entendi porque meu pai ficou tão nervoso todas as vezes
que Dominic se aproximou de mim na festa.
Estava incomodada, queria tirar a roupa apertada e deitar em
minha cama, mas tinha que esperar meu pai para ir embora e
acabei ficando com as meninas, curiosa sobre o motivo pelo qual
Dominic e Oliver o chamaram para uma reunião. Kia se afastou da
festa uma única vez e vi uma breve troca de olhares com Brady,
mas não sabia ao certo o que estava acontecendo.
Jane era a mais nova das irmãs e a mais falante, estava na
fase de querer chamar a atenção por tudo e as outras pareciam não
ter muita paciência. Dei a atenção que ela precisava, porque era
muito gentil e só queria fazer parte de um grande evento. Comi um
pouco de salada, ainda atenta ao segundo andar e respirei um
pouco aliviada ao ver que os três homens saíram rindo da sala.
Teria sido um encontro amistoso?
Fui conduzida ao carro depois de mais alguns minutos e
seguimos para casa sem problemas. Cansada, tirei a roupa e Kia
passou para recolhê-la, dizendo que iria lavar. Depois de um bom
banho, já de pijama e pronta para dormir, fechei a porta do quarto,
apagando as luzes. Até pensei em ler, porém, meus olhos pesados
mal conseguiriam passar da segunda página.
Peguei no sono e saltei de susto com um estrondo no primeiro
andar. Sentei-me na cama e acendi a luz do abajur, ouvindo meu pai
bêbado gritar coisas desconexas. Ele deveria estar chapado
novamente. Com medo que resolvesse me pegar como alvo,
levantei de fininho, trancando a porta e colocando uma cadeira
prendendo a maçaneta. Verifiquei se as portas da varanda estavam
trancadas e fiquei sentada, tentando me manter alerta.
A noite mal dormida me deixou ainda mais exausta. Levantar
no dia seguinte foi muito difícil. Tinha que correr para manter meu
treino e por precisar estar fora de casa todo tempo possível. Vesti
minhas roupas de ginástica, espiei o corredor antes de sair e desci.
— Bom dia! — Genevieve me recebeu com alegria. — Bom
dia, flor do meu dia.
— Bom dia! — Abracei-a apertado. — Sinto tanto a sua falta
quando não está aqui no final de semana…
— Eu sei, menina. Eu sei. — Ela me deu uns tapinhas. —
Ficou tudo bem? Encontrei algumas coisas quebradas.
— Eu não sei em que momento ele saiu e voltou ruim, mas isso
aconteceu. Tranquei a minha porta — cochichei para não ser
ouvida.
— E o spray de pimenta?
— Não posso usar isso contra ele. No momento em que estiver
bom de novo, a situação ficará ainda pior. — Deitei minha cabeça
em seu ombro. — Mal vejo a hora de sair daqui e viver bem longe.
Mesmo que eu não tenha nada, quando for maior de idade, ele não
poderá me segurar.
— Isso vai acabar logo, menina. Eu prometo. — Ela beijou
minha testa.
Ginnie, como a chamava, era a governanta da nossa casa há
alguns anos e se tornou um anjo na minha vida. Ela supria a
angústia de me sentir sozinha no mundo, mas sempre que ia
embora, a solidão voltava novamente. Isolada como eu vivia, ela e
Brady eram as pessoas com quem mais falava. Com meu café
servido, comi rapidamente e encontrei com meu guarda já pronto, se
aquecendo. Saímos trotando, que era como eu gostava de iniciar o
exercício.
Chegamos à praia, me alonguei e então começamos a corrida
de verdade. Eu aguentava até a metade sem sentir as coxas
queimando, depois, era puro desafio continuar. Tentava me dedicar
ao máximo, sempre que estávamos correndo, era como se
estivesse livre. Pronta para fugir. Minha vontade era de chegar o
mais longe possível e nunca mais voltar.
Quando poderia viver em paz?
No meio do caminho, meus pensamentos me trouxeram
pânico. Atrapalhei meus passos e perdi o ritmo, respirando errado.
Parei, com as mãos apoiadas nas coxas e me inclinei, puxando o
ar.
— Acalme-se, Katherine. — Brady parou ao meu lado, sem me
tocar.
— Estou me acalmando. — Ergui o dedo. Sentei-me na areia,
secando o suor e pedindo por água.
Ouvi passos, mas como Brady não se alarmou, não me movi.
Se ele ficasse tenso, ficaria em pé no mesmo instante.
— Aconteceu alguma coisa, Kate?
Pulei ao ouvir a voz de Dominic, jogando um pouco de areia
longe e parte acertou nele.
— O que está fazendo aqui? Sua casa fica para o outro lado.
— Eu gosto de correr nessa praia. — Ele estava usando
apenas um calção e tênis.
Foi muito difícil não perder meu olhar no peitoral definido. Ergui
meu rosto e olhei em seus olhos, dando um aceno. Olhei para a
extensão de areia que faltava e me questionei se conseguiria. Olhei
para Brady, que estava mais distante e não entendi porque não se
aproximou, arisco e pronto para me enfiar em um carro o mais
rápido possível. Garotos não podiam se aproximar. Na escola, havia
meninos realmente bonitos que me interessavam e devido à
estupidez do meu pai, não podia falar com eles.
Todas as garotas do meu ano já haviam beijado. Algumas nem
eram virgens. Elas faziam de tudo e eram relativamente livres para
aproveitar as inconsequências da idade. Eu queria ser como elas,
ter experiências físicas, sentir meu corpo como o de alguém que
tinha o direito de viver.
— Quer correr mais um pouco com companhia?
— Acho que vou tentar. — Voltei a olhar para o trajeto.
— Defina seu ritmo. — Dominic gesticulou, engoli seco e virei.
Brady ficou mais distante, podia ouvir os passos dele e ver a
sombra, mas era a presença de Dominic que me tirava
completamente a concentração. Como uma pessoa suada correndo
no sol quente poderia estar cheirosa? Sentia seu firme e pesados
passos que afundavam na areia, o homem era um gigante.
Fizemos todo o trajeto e subimos para a calçada. Ele comprou
água para nós três.
— Você corre bem. — Dominic abriu a minha e me ofereceu. —
Está treinando faz tempo?
Desde o dia em que minha mãe desapareceu. Ela me levou no
primeiro treino e depois, saiu com ele, não voltando mais. Lembro
que Dominic chegou agitado, falando que precisava falar com ela
em particular e a conversa foi tensa no escritório. Em seguida,
minha mãe me levou na porta do ginásio, me dando um beijo. Foi o
último. Se eu soubesse, teria aproveitado mais.
— Já faz algum tempo. — Dei de ombros, mordendo o lábio.
— Faz parte da equipe atlética?
— Sim, estou competindo todo ano aqui na cidade.
Ele sorriu. Dominic era rude com todos. Ouvia as conversas e a
maioria reclamava que ele mudou tanto que se tornou difícil de lidar,
mas ele estava ali e sorrindo para mim. Meu interior parecia geleia
porque o sorriso dele também era impressionante.
— Obrigada pela companhia. — Coloquei meu cabelo molhado
de suor atrás da orelha.
Sem olhar para trás, fui caminhando na direção da minha casa.
Kia estava na cozinha falando com Ginnie e eu dei bom dia,
passando direto para tomar banho. Por ser sábado, eu tinha que
estudar e no final do dia, pretendia deitar e ler. Minha vida não era
muito emocionante.
— Katherine! — papai me chamou com a voz potente, me
deixando arrepiada. Nunca era um bom presságio quando ele me
chamava. Deixei meus cadernos e saí do quarto, indo até o
escritório. — Entre, sente-se.
Eu odiava o escritório dele. Apanhei dele tantas vezes ali que
meu estômago torcia.
Aguardei calada, porque não tinha permissão para falar.
— Sei que encontrou com Dominic na praia, hoje. Algo que eu
deva saber?
— Não, papai. Ele foi educado e respeitoso. — Mantive minhas
mãos unidas, olhando para seu rosto marcado pelo tempo e com a
barba para fazer.
— O pai dele me procurou para falar sobre um acordo de
casamento.
Engoli seco. Sério? Um casamento!?
— Dominic demonstrou interesse em firmar um noivado com
você, conforme nossas regras, mas ainda estou analisando a
proposta — ele informou e eu ainda estava em choque. Um
casamento?
— Ele fez uma proposta?
— Sei que você me ouviu! Ou é estúpida? — vociferou.
— Entendi, sim, papai. Me desculpe, apenas fiquei chocada.
— Não é bem uma novidade, sua mãe e Oliver falavam sobre
isso no passado. Como ela não está mais aqui, a decisão é minha,
agora. Quero ter a certeza de que será lucrativo, afinal, tiveram
outras.
Ainda bem que estava sentada. Desde que mamãe havia
desaparecido, senti que minha família perdeu um pouco de
prestígio, afinal, tudo aconteceu sem quaisquer explicações e meu
pai não era a pessoa mais agradável. Era nítido que a presença
dele era tolerada, não exatamente bem vinda. Limpei minha
garganta e usei o tom de voz mais suave que consegui:
— Quem seria o outro pretendente, posso saber?
— Perseu Knight.
Merda. Não. O irmão caçula do Prince? Eu não sabia o que de
fato havia acontecido com Prince, ele desapareceu, mas era uma
pessoa realmente ruim. Todas as vezes que estive perto, senti uma
vibração não muito boa. Além de ser desagradável, me comendo
com os olhos a cada oportunidade, mesmo que eu fosse muito mais
nova. Perseu era como o irmão. O único Knight que não me dava
vontade de me afastar era Luke, mas ele era na dele e nunca falava
muito.
— Terei alguma escolha, papai?
— Sua escolha será a proposta que pagar mais. No momento,
estou avaliando as vantagens. Tire de sua cabeça um romance e a
oportunidade de ser feliz, apenas entenda que farei o que se
encaixar no meu interesse. — Reuniu alguns papéis e ali eu soube
que estava dispensada.
Meu coração martelava no peito. De um jeito bom ou ruim,
estaria comprometida em um noivado. Dominic me atraía
fisicamente, mas era um homem assustador que eu não conhecia.
Ele podia ser um péssimo marido e me matar em um piscar de
olhos. Já Perseu… me torturaria até a morte. Todos os cenários
eram assustadores, me davam vontade de correr para a ponte mais
próxima e me jogar.
Capítulo 4 | Dominic
Kate era tudo que estava na minha cabeça nos últimos dias.
Ela dominava meus pensamentos desde a morte da mãe, com a
promessa que fiz que a manteria protegida. A única maneira que
podia fazer isso era sendo integralmente responsável por ela e na
linguagem do mundo em que fazíamos parte, significava casamento.
Foi Kyra quem me abriu os olhos para isso naquela noite e desde
então, todos os meus planos foram articulados para ser o marido
dela.
Aquilo não era exatamente um segredo, considerando que
precisei inserir essa ideia na mente da minha mãe para que ela
pudesse ajudar a manipular toda a situação a favor do que eu
queria. Eu tinha muitas variantes que precisava controlar ao mesmo
tempo: a ambição do meu pai pelos bilhões de dólares (e outra parte
em Euros) que Kate herdaria aos vinte e um, algo que não era
integralmente do conhecimento do pai dela ou ele nunca aceitaria
acordá-la em casamento, equilibrar o desejo de Jack em ter o
dinheiro da minha futura esposa e por fim, escondê-la dos inimigos
que sabiam que ela era a herdeira de Michelle Rodriguez.
Durante todo esse tempo, me tornei quem nunca achei que
seria por causa dela. De uma única promessa que lavou minha alma
com sangue e mudou minha vida. Kate se tornou meu objeto de
desejo — não exatamente sexual, embora estivesse se tornando
uma mulher de tirar o fôlego, mas sim, minha obsessão. Eu não iria
falhar. Ela teria a chance de sair das garras do pai e de toda uma
herança pecaminosa que nós não escolhemos ter.
Eu a queria.
Não ia negar.
Kate seria minha, teria meu sobrenome.
— Você o matou. — Kyra deu um soco no meu peito. — Eu te
disse para seguir e observar!
— Eu segui, observei e matei. — Dei de ombros.

Alex[5] ergueu o olhar do outro lado da sala e me deu um meio


sorriso sem que a esposa visse. Kyra continuou séria. Ela cruzou os
braços, me fazendo sentir um pouquinho, muito pouco mesmo, de
culpa por ter matado o fofoqueiro.
— Ele poderia contar a Robert que me viu com Priest, um risco
que não posso correr. Iria desequilibrar a guerra que estou
causando ao trazer as drogas do cartel de volta às ruas, sem que
Robert ganhe com isso.
— Robert já percebeu que não é o único oferecendo as drogas
puras.
— Eu já tenho uma ideia de como fazê-lo pensar que é de
outro cartel. Santiago tem crescido muito e se eu pagar, Priest irá
espalhar por toda a cidade.
— Cuidado, Dominic.
— Estou tomando cuidado — jurei e ela assentiu.
— Correu um risco desnecessário indo correr com ela…
— Sim e ao mesmo tempo, Robert precisa acreditar que estou
realmente interessado nela. Se ele cogitar que existe algo mais, isso
será um problema enorme.
— Talvez seja o momento ideal para lhe dizer que não é o
único. Recebemos a informação de que Perseu Knight também
enviou uma proposta de casamento e foi aceita para consideração.
— Kyra se preparou para um ataque devido à maneira na qual saí
da cadeira. — Calma, touro. Vou te colocar para dormir se fizer isso
de novo!
Alex me pressionou contra a parede.
— Dom, acalme-se. Lembre do que te falei: nenhuma
escuridão é maior do que nossos planos — ele falou baixo.
— Eu sei que te assusta a ideia de perdê-la, mas vamos tirá-lo
da jogada.
Meu corpo inteiro tremia.
— Prince abusou da minha irmã e agora Perseu quer Kate?
O único Knight que eu era capaz de deixar viver era Luke,
porque ele abriu mão da família para ser leal a mim. Era meu melhor
amigo desde as fraldas e mergulhou nessa vida distorcida para
vingar minha irmã, a mulher que amava, nunca questionando meus
motivos. Todos os outros, sonhava com o dia em que os empurraria
em uma vala.
— Encontrei mensagens de Perseu com os amigos. Ele está
incomodado com a demora de Robert em respondê-lo sobre o
casamento e compartilhou fotografias dela na última festa em que a
viu — Kyra continuou falando enquanto Alex me segurava no lugar.
Eu estava parado, só não conseguia controlar o ódio que
borbulhava dentro de mim.
— Ele a observa? Ele a segue pela cidade?
Brady teria muito a me explicar.
— Em vários momentos, inclusive, na escola. Parece que ele
está sempre na saída, dentro de um carro, conforme relatório que
recebemos. Brady preferiu contar a mim porque temeu a sua
atitude. Aparentemente, seu homem também se preocupa com seus
planos. — Ela sentou em uma mesa, cruzando as pernas. Alex me
soltou. Voltei a me sentar, inclinando o corpo para a frente.
— Tenho que tirá-lo da jogada sem que Robert perceba. Se
afrontar Perseu, ele pode falar e isso acenderá as desconfianças do
pai da Kate. Eu não posso correr nenhum risco. — Esfreguei minha
nuca, sentindo latejar.
— Eu farei isso. Perseu não será um problema — Alex
garantiu. Kyra o olhou, mas não falou nada.
— Consigo articular isso, posso me virar.
— Não é que eu tenha algo contra, mas entre você e ele para
perder a cabeça, não sei quem explode mais rápido. — Ela soltou
uma risadinha. — Eu vou cuidar disso. Faz tempo que não tenho
ninguém no meu porão para me divertir.
Jack chegou assobiando, com as mãos enfiadas nos bolsos e
dei-lhe um sorriso. Nossa relação era amigável, mas eu também
sabia que Michelle estava morta porque ele condenou a todos nós,
filhos, à mesma vida que nossos pais. Se eu estava nessa, foi
porque um dia Jack vendeu informações privilegiadas ao meu pai e
pior ainda, o viciou nisso.
Papai era ambicioso sem medidas e sempre teve muito ciúme
da sócia. Eu deveria ter ficado quieto naquela noite, ouvir demais e
confiar mais ainda me colocou nessa posição. Condenei Michelle a
uma morte que não teve escapatória, coloquei Kate na mira de
pessoas perigosas com a ausência da mãe e tinha que tomar
cuidado para que as ações das pessoas ao meu redor não
acordassem Levi da vidinha que levava bem longe dos olhos
públicos.
— Tenho que ir.
Apesar de não ter nada contra Jack, porque ele fazia o que era
pago, eu também sabia que era muito novo no meio, se comparado
a todos eles. Não queria ser enrolado.
Kyra me treinou para controlar o ódio. Pedi que ela me
ensinasse tudo que sabia para sobreviver. Nunca mais queria sentir
impotência e medo como naquela noite. Ela me humilhou, torturou,
machucou e massacrou. Alex me bateu tantas vezes que perdi as
contas, mas aprendi. Sabia tudo. Me tornei alguém que temiam… e
só assim fui respeitado. Até mesmo pelo meu pai.
À noite, depois de passar no meu apartamento, fui para uma
das minhas novas boates. Desde que completei vinte e um, pude
assumir para o mundo que estava abrindo alguns negócios adultos.
As garotas estavam preparadas para receber os convidados nos
camarotes, os garçons limpavam as mesas e eu fui para o meu
escritório. O gerente sempre queria me dizer algo e não fazia
porque morria de medo.
— Eu gosto do jeito que ele caga quando nos vê. — Enzo
surgiu na escuridão, me fazendo rir da maneira na qual o homem
saiu.
— Ainda quero saber como sua mulher está lidando com as
saidinhas noturnas.
— Ela quer me matar. — Ele sorriu, jogando-se ao meu lado.
— Vim aqui saber como andam as coisas sobre o noivado.
— Fiz outra proposta e sei que tem outro no páreo. Alex vai
lidar com isso, mas eu preciso tomar muito cuidado.
— Seu pai tem me enviado uma coca muito pura, isso é coisa
sua?
— Talvez.
— Interessante… — Enzo olhou para a boate. — Seu plano
está bem amarrado. O que precisa que eu faça agora?
— Irrite os moto clubes. Quero que Priest confie em mim e
acredite que estou do lado deles.
— Será um prazer do caralho. — Riu e o telefone dele apitou.
— Tenho que ir.
Depois que Enzo saiu sem falar mais nada, me concentrei no
que precisava fazer. Luke entrou no escritório depois de bater na
porta. Ele nunca chegava sem avisar, exceto se fosse uma situação
perigosa. Sentando à minha frente, organizou as folhas
metodicamente e abriu o notebook.
— Olívia quer que eu compre um novo apartamento para nossa
moradia.
— Mamãe vai surtar ao saber que ela não pretende morar com
eles depois do casamento. — Soltei uma risada, imaginando
Donatella lidando com o ninho vazio.
— Ela também quer saber se iremos nos casar antes ou depois
de você.
— Eu não sei se terei que me casar às pressas com Kate, mas
o noivado vai ter que acontecer até o próximo ano.
— Casarei antes. — Ele sorriu, ansioso para ser marido da
minha irmã e com isso, meu pai parar de regular o tempo que eles
tinham juntos. — Alguma objeção quanto a um casamento no fim do
ano?
— Estarei lá e serei o padrinho com muito orgulho.
Luke abriu um breve sorriso. As únicas coisas capazes de fazê-
lo sorrir eram minha irmã e a ideia de eles viverem felizes, juntos e
sem mais regras. Recostei na cadeira, pensando no quanto Robert
estava se sentindo com muito poder e por isso, se achava no direito
de ainda analisar minha proposta de casamento. Talvez, ele
devesse perder alguns dos negócios para a infelicidade do
destino…
Capítulo 5 | Kate

Encarei o teto do meu quarto com o coração acelerado. Um


casamento. Já fazia meses que eu não sabia o que meu pai havia
decidido sobre os acordos que recebeu e não encontrei mais
nenhum dos meus pretendentes, porque não saí de casa. Treinei na
esteira, usei a academia de casa e me concentrei nos estudos,
porque havia uma chama de esperança de um dia entrar para uma
boa universidade, ficando bem longe de tudo e todos.
Meu quarto se tornou a minha fortaleza. Era o lugar em que me
sentia segura. Tentei arduamente ficar um pouco animada com o
futuro, mas a incerteza me fazia paralisar. Na escola, usei a
biblioteca para planejar uma fuga, mas sem dinheiro e
conhecimento eu me sentia como alguém que estava lutando com
as mãos atadas.
Se é que estava lutando de fato…
— Ei, Kate! Quer sentar conosco hoje? — Evelyn, uma das
populares, acenou. Dei a ela um sorriso e disse que não, me
afastando com a desculpa de que iria para a biblioteca.
Não queria comer com nenhuma das meninas. A vida delas me
deixava um pouco deprimida. Se ainda estudasse com as filhas de
alguns dos sócios do meu pai, seria mais fácil ter amizades, afinal,
elas eram tão presas quanto eu em prol de um casamento vantajoso
no futuro. Comi em um canto, lendo livros da minha próxima aula e
fiz um rascunho no computador.
Era bem provável que me tornei uma das mulheres mais
inteligentes por obrigação. Não parava de consumir o material de
estudo, apenas para me manter ocupada. Ficar na escola o dia
inteiro me fazia chegar em casa tão cansada que mal comia, só
tomava banho e me jogava na cama. Sem me ver, meu pai parecia
não ter motivos para brigar comigo e era mais fácil fingirmos que o
outro não existia.
Kia era a única que controlava meus horários. Ela parecia se
sentir muito importante em reafirmar a presença em minha vida.
Longe do meu pai, não era grosseira, como também não era
simpática. Se não fosse Ginnie cuidando da minha vida, me fazendo
sentir preciosa e amada, viveria em um pesadelo. Ficava com inveja
sempre que ia embora para a família dela, porque queria receber o
mesmo amor que as filhas recebiam… como minha mãe me dava
antes de ir embora.
— Vai subir para treinar? — Brady me questionou ao
chegarmos em casa.
— Hoje não.
Sem muita paciência, fui direto para o meu quarto, mas parei
ao reconhecer Luke no corredor que dava para o escritório do meu
pai. Dentro, estavam Oliver e Dominic. Por algum motivo, odiei vê-
los ali. Parecia errado nutrir qualquer tipo de sentimento por Dominic
depois de tudo. Não o conhecia de fato e não lembrava mais o
garoto doce que sempre me dava um bombom quando visitava a
casa dele. Cresceu, era um homem muito assustador.
E fazia negócios com meu pai.
Boa pessoa definitivamente não parecia ser.
Não cumprimentei Luke, segui direto e me tranquei. Pelas
vozes, pude ouvir o momento em que foram embora. Desci para
jantar e não acendi as luzes, caminhando com tranquilidade até a
cozinha, que não estava desocupada.
— Como acha que ele descobriu? — Kia questionou. Não deu
para ouvir direito quem a respondeu. — Ele já percebeu que não é o
único vendendo as puras pelas ruas.
Kia saiu por um lado e eu entrei pelo outro, mas não consegui
ver a pessoa que estava com ela e saiu pela porta dos fundos. Era
escuro demais. Peguei meu jantar na geladeira, uma salada
elaborada com carne picadinha que Ginnie deixava pronta.
Esquentei com um molho, jogando tempero em cima das folhas
verdes e furei uma azeitona enquanto esperava.
— Está jantando muito tarde. — Kia voltou para a cozinha.
— Perdi a hora estudando — menti sem nenhuma culpa.
— Seu pai não está em casa, mas tome cuidado. Sabe que ele
não gosta de nada fora das regras — me alertou
desnecessariamente e saiu, com o nariz empinado. Dei a língua
para suas costas e comi, lavando a louça.
Ouvi meu pai entrar em alta velocidade. Pela maneira com que
freou, só podia estar chapado ou com raiva. Subi a escada correndo
com o coração acelerado. Senti medo que se me encontrasse,
descontasse toda a raiva em mim. Entrei no quarto e me tranquei,
respirando aliviada. Deitei na cama e chorei. Estava tão cansada…
Por um impulso idiota, fiquei no chão do quarto, arrumando
uma mochila com minhas coisas para que pudesse fugir. Não era
possível que minha vida estava tão entregue e fadada ao fracasso.
Como um ser humano poderia viver como refém do próprio pai sem
direito à liberdade? Mamãe era tão amorosa e me incentivava a
sonhar, por que ela foi embora e me deixou?
Deixei tudo dobrado, guardado em uma mochila e escondi
dentro de um armário. Voltei para a cama, com sono, sabendo que
seria mais uma noite de pesadelos. Queria me livrar do medo de um
dia ser esposa de Perseu. Aquele olhar cruel e sorriso horripilante
me causavam ânsia de vômito. Oliver não parecia ser um homem
ruim como marido, nem como pai, mas não colocava minha mão no
fogo quanto a ser apenas um homem de negócios. Havia alguma
esperança em relação a Dominic?
Meu apetite estava tão ruim que perdi um pouco de peso. Meu
treinador ficou preocupado, enviou um bilhete para o meu pai, que
amassei e joguei fora. Eu não precisava de mais dietas.
— Está pronta para irmos? — Brady pegou minha mochila.
— Podemos parar no restaurante vegano para pegar uma
salada de quinoa?
— Sim. — Ele abriu a porta para mim e entrei, segurando o riso
das meninas que ficavam observando-o. Elas não cansavam e
Brady não dava confiança. Não olhava para o lado e também nunca
deu em cima de mim. Acreditava que mantinha os casos dele com
extrema discrição, porque nunca o vi sendo um babaca lascivo com
nenhuma mulher, nem mesmo na praia.
Prendi o cinto e relaxei no banco, fechando meus olhos para
tirar um cochilo de vinte minutos. Acordei com uma derrapada e som
de motocicletas. Brady estava dirigindo em alta velocidade pelas
ruas da cidade e ao olhar para trás, avistei um grupo de motos nos
seguindo.
— Fique abaixada, Katherine. — Ele soou frio, concentrado.
Engoli seco, apertando o cinto. O que estava acontecendo?
Um frio de medo me dominou, mordi os cantinhos da unha, nervosa.
Brady entrou na propriedade da minha família, parando dentro da
garagem e fechando os portões. Os outros seguranças ficaram em
alerta, atiçados e eu fui conduzida para dentro de casa.
— Leve-a para cima — Brady falou com Ginnie.
— O que aconteceu? — Papai, que estava almoçando na
cozinha, saltou de pé.
— Fomos seguidos pelo padre — Brady o respondeu bem
sério.
— Eles seguiram minha filha. — Papai puxou a barba. — Oliver
estava certo, merda.
Sem entender o que papai murmurava, o vi correr para o
escritório e Ginnie me acompanhou. Fiquei curiosa. O que estavam
falando? Quem era padre? O que Oliver falou? Era sobre negócios
e queriam me machucar?
— Como foi a escola hoje?
— Foi tudo bem. Tudo estava normal e entediante até isso tudo
acontecer. — Joguei minha mochila na poltrona. — Entendeu
alguma coisa que foi falada?
— Não. Eu não sei dos negócios, só faço a comida e cuido de
você. Esse é o meu limite.
— Podia ser só um pouco fofoqueira. — Fiz um beicinho.
— Não ouça mais do que deve, Kate. É pela sua segurança. —
Ginnie me abraçou. — Vou preparar seu almoço e trarei aqui.
Papai não me permitiu sair do quarto o dia inteiro. Ele pediu
que minhas refeições fossem entregues e fui ordenada a estudar,
porque minhas provas estavam chegando. Pela janela, espiei a
entrada e saída de carros, visita de homens importantes e os
seguranças vigiando a rua. O portão, que raramente ficava fechado,
passou o dia inteiro, até com os alarmes ligados.
Quando a noite caiu, Ginnie foi embora. A casa ficou escura e
eu continuei deitada, lendo, até que a curiosidade me fez sair. De
meias e pijama, andei na ponta dos pés pelo corredor. Parei contra
a porta do escritório e ouvi papai falar.
— Ele ainda não sabe que eu estava vendendo a droga, mas
os venezuelanos não querem mais me passar nada. Por enquanto,
está tudo bem — falou baixo, parecia fumar charuto pelo cheiro
forte. — Santiago ganhou a culpa. Oliver ainda confia em mim, até
está me dando mais empresas para administrar. Farei dinheiro com
elas para que não desconfie das minhas transações e daqui um
tempo, voltarei com os negócios.
— Tome cuidado, querido — Kia falou, melodiosa. — Tentarei
contato com os venezuelanos para saber o que aconteceu, se vão
me dar um retorno, mas seu plano é perfeito. Oliver nunca
descobrirá que abriu uma concorrência contra ele. Continue
conversando sobre o casamento. Eles a querem de verdade.
— Sim, faça isso, entre em contato, por mais que Santiago
esteja disposto a trabalhar comigo, não quero perder todos os meus
clientes — papai falou e tossiu. — Ele deve estar chegando.
Corri para não ser pega, a luz acendeu e derrapei no fim do
corredor, virando rapidamente para entrar no quarto. Encostei a
porta com muito cuidado e girei a chave o mais silenciosamente
possível, puxando as cobertas. Deitei com a mente fervilhando.
Mamãe sempre disse que a sociedade com Oliver era dela, não do
meu pai, por mais que fossem casados. Então, papai estava traindo
Oliver vendendo drogas?
Imaginava que os King não eram honestos como todos
acreditavam. A rica família poderosa tinha dedos sujos e mãos em
muitos negócios ilícitos, mas vender drogas? Puxa vida. Para mim,
aquilo era coisa de traficante.
Meu coração gelou com a constatação…
Se mamãe era sócia dele… ela também vendia drogas?
Eu a conhecia de verdade?
Capítulo 6 | Kate
Papai passou por altos e baixos durante as semanas
seguintes. Ele me deixou angustiada e preocupada com meu futuro,
sem me dar chances de saber como seria minha vida. Agia como se
eu fosse sua boneca de cordas favorita, para me mover e controlar
da maneira que achava interessante, nem sempre a melhor para
mim.
Fomos convidados para o jantar de ação de graças que
Donatella organizou. Ele e Kia foram sozinhos. Jantei em casa,
curiosa, desejando ter um telefone celular ou computador para
poder olhar as fotos nas redes sociais. Com toda certeza, algum
convidado postaria sobre o evento ou até mesmo as meninas, que
podiam usar as redes com o controle das mães. Em alguns eventos,
Kim me mostrou o telefone, eram fotos bonitas, mas eu sequer
sabia mexer além do básico, porque meu pai não permitia.
A desculpa era que eu não podia perder meu tempo com
futilidades se esperava ter um bom futuro. Uma esposa adequada
não era vazia como as mulheres que postavam fotos. A opinião
machista me tirava do sério. Kia tinha um telefone, mas ele também
não permitia que ela se exibisse. A maneira como meu pai a
controlava era horrível de assistir. Mamãe nunca permitiria que um
homem lhe dissesse o que fazer.
Ela era uma mulher de negócios.
— Haverá o casamento de Olívia e Luke? — perguntei a Kia
quando eles chegaram.
— Donatella disse que será no próximo ano. Parece que Oliver
deu a eles uma grandiosa cobertura, que precisará de reformas e as
famílias querem oferecer um jantar de noivado para que possam
apagar de vez o que aconteceu.
Se todo mundo sabia que Prince agrediu Olívia, porque diabos
meu pai estava considerando um casamento com a versão mais
nova daquele monstro?
— Recebemos o convite. — Papai tirou o casaco e pendurou.
— Dessa vez, poderá ir.
— Entendi. Foi uma boa noite?
Eles trocaram um olhar.
— Melhor do que esperava.
Ainda assim, nenhuma resposta com relação a quem eu seria
entregue como um boi pronto para o abate. Desejei boa noite,
aproveitando que ambos pareciam estar em um excelente humor e
desapareci para o meu quarto. Não queria esperar que
começassem a se beijar de maneira nojenta ou brigar, quebrando a
casa. O relacionamento deles me confundia e era algo que não
desejava ter na vida.
Depois de um bom tempo, finalmente recebi autorização para
sair. O clima não estava bom, mas correr na rua era muito melhor do
que em casa. Brady disse que me levaria em uma pista legal e vazia
o suficiente para que meu pai não surtasse. Ele estava marcando
em cima, principalmente depois que fui seguida pelas motos. Não
que tenha se dado ao trabalho de me explicar o que aconteceu.
Apenas fingiram que eu não precisava saber de nada.
Era foda ser tratada como uma boneca.
— Quer um ritmo mais leve?
— Eu não conheço o chão aqui ainda. — Olhei ao redor,
curiosa. — Como conheceu esse lugar? Parece adorável. Cheio de
árvores…
— Busquei no Google.
— Obrigada.
Sabia que ele havia feito aquilo porque estava em casa feito
uma prisioneira. Fiz um alongamento rápido e me aqueci no lugar,
usando uma das cordas que ele mantinha no porta malas. Estava
quase começando a corrida quando ouvi sons de passos. Dominic
passou correndo, com fones de ouvidos e acenou, gesticulando
para acompanhá-lo. Olhei para Brady e o segui, conseguindo
alcançá-lo em poucas passadas.
— O que está fazendo aqui? — questionei, confusa sobre
encontrá-lo.
— Pedi ao seu guarda a oportunidade de vê-la. Já faz muito
tempo.
— Brady pode ser punido por isso. — Olhei para trás. Meu
guarda mantinha uma distância educada para não ouvir nossa
conversa.
— Ninguém nos verá aqui.
Não tinha certeza se aquilo era bom ou ruim. Quer dizer, se ele
quisesse desaparecer comigo, quem iria me procurar? Não era
muito diferente do meu pai decidir que eu era um estorvo. Ninguém
sentiria minha falta. O pensamento me deixou deprimida e me fez
correr com um nó na garganta, lutando contra a vontade de chorar.
Quis dizer a Dominic que sabia sobre seu pedido de
casamento, queria que ele me contasse alguma coisa, mas me senti
intimidada com a postura e tamanho, me fazendo sentir pequena e
indefesa. Ter medo dele não era bom para mim, mas pelo menos ele
não me fazia tremer como se fosse Perseu e a tendência sádica da
família dele.
— Você está bem, Kate?
O que eu deveria dizer?
— Dominic… — Parei e respirei fundo. — Você tem alguma
coisa para me dizer?
Ele parou também e ergui meu rosto, encarando-o. A pele
morena era linda, os olhos muito expressivos com cílios e
sobrancelhas grossas. A estrutura óssea já era a de um homem
adulto e ele ainda tinha vinte e um, embora a mídia divulgasse como
se fosse mais velho. Talvez o marketing da família achava o ideal
depois dele ter deixado a liga universitária para se tornar dono de
boates adultas, entre outros entretenimentos.
— Não ainda. Queria ver pessoalmente se estava bem.
Eu não me sentia bem há muito tempo.
— E por quê? O que isso muda?
— Não muda nada, mas ajudará a mudar depois. — Ele foi
enigmático e me irritou.
Dei as costas e voltei na direção do carro, não querendo mais
correr. Brady não entendeu minha frustração e fúria, minha vontade
era de gritar. Parei do nada, tomando fôlego e berrei com toda a
força que tinha. Minhas unhas cortaram as palmas das mãos de tão
apertado que fechei os punhos, batendo os pés no chão. Estava tão
farta de ter tantos homens decidindo a minha vida, absolutamente
ninguém se importava comigo… muito menos com os meus
sentimentos.
Brady não se aproximou. Dominic continuou do outro lado, dei
um olhar de ódio aos dois e entrei no carro, batendo a porta.
Fiquei quieta por todo o trajeto.
O carro parou em um sinal. Olhei para o lado e reparei em um
ônibus de viagem escrito ATLANTA. Lembrei da aula de geografia
em que o professor brincou que quem quisesse desaparecer, era só
entrar em um ônibus para lá. O estado tinha saída para qualquer
lugar do mundo. Olhei para o pequeno ponto de luz vermelha na
minha porta, sinal de que estava travada. Meu pai era tão psicótico
que as portas do carro não abriam por dentro.
Voltei a encarar o ônibus.
Só precisava de uma passagem e nada mais. Qualquer outra
coisa, como dinheiro e roupas, poderia encontrar no caminho. O
importante era saber como desaparecer.
Ao chegar, a casa estava vazia. Fui tomar banho e espalhei
meus cadernos na mesa de estudos, ainda com tanta raiva que as
lágrimas estavam acumuladas nos cantos dos meus olhos. Chorar
me fazia sentir fraca, uma menina boba e inocente que não tinha
controle de si mesma.
Concentrada e sem saco para tentar ouvir conversas, estudei, li
alguns livros e comi no quarto para que meu pai não encontrasse
nenhum motivo para brigar comigo.
Sentei-me na varanda, enrolada em um roupão e com meias,
lendo e observando a noite. Meu quarto era virado para lateral da
casa, um pouco mais discreto e não me permitia ver muita coisa
além do quintal amplo dos vizinhos, onde algumas crianças
brincavam entre as casas. Apenas quando minha mãe ainda morava
conosco que eu podia socializar como uma pessoa normal.
Quando deu meia-noite, desci para levar meu prato sujo e o
lavei silenciosamente.
— Que porra aconteceu lá? Como as contas estão vazias? —
papai gritou do escritório.
— Acalme-se, Robert.
— Eles não podem jurar lealdade a ela mesmo depois de
morta! — Ele bateu com o punho na mesa. — Aquela vadia infeliz!
Quem estava morta?
Eu me atrevi a continuar próximo à geladeira para continuar
ouvindo, apesar do medo de me mover, afinal, também sabia que o
tom arrastado e rouco significava que meu pai estava bêbado. Se
estava no escritório até aquele horário, os negócios deveriam estar
a todo vapor e ele não gostava que tivesse qualquer informação
sobre a vida dele.
Saltei de susto quando uma mão cobriu minha boca para que
eu não gritasse.
— Vá para seu quarto. Agora. — Brady sussurrou em meu
ouvido. — Não faça barulho. Seu pai está alterado, se ele te ver,
não será bom.
Assenti e ele me deu cobertura para subir correndo. Encostei a
porta, ainda pensando sobre de quem estava falando e que contas
eram aquelas. Outro dia, ouvi que Oliver estava confiante de que
papai poderia sair do fundo do poço financeiro, ao mesmo tempo,
havia conversas de que papai vendia drogas. Para onde estava indo
o dinheiro? O que ele estava fazendo? Era um jogo muito perigoso
que eu não conseguia acompanhar, ligar os pontos e definir o que
de fato estava acontecendo. Enquanto isso, eles bancavam os
homens importantes e me deixavam no limbo.
O encontro com Dominic me confundiu completamente.
Por que ele se importava se eu estava bem?
Por que era importante para o meu futuro?
De algum modo estúpido, a menina romântica e idiota que vivia
dentro de mim sentiu esperança de que haveria uma chance de ser
feliz. Tão feliz quanto possível na vida esquisita em que nasci. Será
que um dia teria as respostas?
Capítulo 7 | Dominic
Bati mais um pouco no saco de pancadas, ele trombou contra
a parede e voltou com força dobrada na minha direção. O impacto
fez barulho, mas sequer me movi, continuando meu ataque
impiedoso para descontar toda raiva e frustração. Os meses se
passaram e eu ainda não estava noivo. Kate ainda vivia reclusa,
sem poder sair muito, sendo exilada porque o pai era um lunático do
caralho e estava desconfiado.
Parte tinha a ver com o recente envolvimentos dele com
senadores de Nova Iorque que estavam provocando a máfia
italiana. Ele queria fazer dinheiro em cima desse grupinho, unido
pelas informações que foram vazadas por um antigo membro da
famiglia. Estava puto que por mais que meus planos tenham dado
certo, não havia contado com todas as variáveis. Agora, tinha que
lidar com Robert ganhando dinheiro de outra forma, para compensar
o quanto estava secando-o de um lado.
Chutei o saco de areia, ele caiu da parede e voou longe com
um estrondo alto. Luke entrou na academia com a arma em punho,
olhou ao redor preocupado e me viu sozinho, com areia por todo o
lado.
— Eu te disse que sua densidade era maior do que a
capacidade do saco — falou, de sua maneira robótica. — Teremos
que encomendar um reforçado para os seus treinos.
— O que aconteceu? — Ollie entrou por outra porta. — Já te
disse que não quero você usando essas coisas em casa, amor. —
Ela o reprimiu com carinho. — Estamos em família…
Se ela soubesse…
— Eu derrubei o saco, ele se assustou.
— Você vai limpar, certo? — Ela inclinou a cabeça para o lado,
com um sorriso.
— Dom? — papai me chamou. Ele apontou para o escritório,
como se eu ainda fosse uma criança birrenta. Olívia riu, divertida.
Parecia que iria tomar uma reprimenda por ter aprontado. — Sei que
está frustrado, mas por favor, não destrua nossa casa.
— Sinto muito, perdi o controle.
— Você cresceu muito e é forte, seu avô ficaria feliz de ver que
alguém na família o puxou. — Ele riu consigo mesmo, como se a
lembrança do pai lhe fizesse feliz. — Em todo caso, talvez o que
tenho a dizer te deixe ainda mais nervoso.
— Aconteceu alguma coisa na reunião hoje?
— Robert está desconfiado do desaparecimento de Perseu e
alega que por esse motivo, não nos deu uma resposta.
— E o que disse?
— Comentei como amigo que Luke acredita que o irmão esteja
festejando pela Europa, sem pressa para assumir acordos. É o
melhor que posso fazer sem demonstrar suas reais intenções, mas
é preciso pensar em outras alternativas. Ele não está caindo na
falência de suas empresas. — Papai me encarou. Ele nunca me
perguntou porque eu queria casar com Kate e não faria, porque
tinha os próprios objetivos. Ele também sabia que eu desapareci
com Perseu, assim como fiz com Prince. Também não se importava.
— Preciso saber o que fará a seguir, Dominic. Sei que tem seus
planos e me sinto perdido por não estar compartilhando-os comigo.
— É melhor assim, pai. Apenas um de nós terá direito à prisão
federal.
Saí do seu escritório ao ouvir o grunhido. Ele ficava com raiva
sempre que lembrava do destino de pessoas como nós. Sorte seria
ficar vivo para ir à cadeia. A maior parte de nós morria antes mesmo
de realizar alguns sonhos bobos, como ver um filho crescer, por
exemplo. Meu avô não cresceu no crime, ele se tornou um
criminoso por escolha, por ser ambicioso demais para se contentar
com toda a riqueza que já tinha.
Subi para o meu quarto, tomei banho e me preparei para sair.
Não avisei a ninguém, os seguranças ficavam fervendo, porque era
ordem do meu pai acompanhar cada um dos filhos, mas eu não
precisava de babá, muito menos de proteção. Dirigindo pela cidade,
acelerei nas ruas mais vazias e saí pela estrada estadual. Logo uma
moto começou a me acompanhar.
Parei em frente a um velho lugar, levantando areia
propositalmente.
— Está atrasado, porra. Acha que tenho o dia inteiro? — Priest
bateu as botas no chão.
— Você deveria ter vergonha de colocar um novato para me
seguir. — Apontei para o garoto. Priest apenas sorriu. — Ele está
conseguindo dinheiro em Nova Iorque, sujeira política e é por isso
que logo terá investimentos novos.
— Por que não o matamos logo?
— Qual seria a graça nisso?
Kate ainda estaria em perigo, talvez fosse pior, porque ela
descobriria sobre os direitos do cartel e os antigos inimigos da mãe
a matariam facilmente.
— Vou entrar nessa de novo, estou com um problema e quero
que seja meu novo fornecedor. Meus clientes adoraram a pura que
me ofereceu, melhor e mais alucinante que a do imbecil. — Ele
abriu uma cerveja e me ofereceu. Fechei a porta do carro e peguei a
garrafa, sentando ao lado.
— O que aconteceu com o antigo?
Priest apontou para trás, vi um de seus homens cavando uma
cova.
— Está entrando em contato com o criador. — Ele deu de
ombros, esticando as pernas à frente. — Eu tenho tolerância, mas
nem sempre perdoo.
— É justo. Se vamos fazer negócios, precisa saber algumas
das minhas regras mais importantes. — Deixei a garrafa em cima da
mesa. — Não importa quantos fiéis você tenha usando uma jaqueta
de couro e montados em uma moto, eu vou te matar se me trair.
Terá meu apoio e trabalharemos juntos por tanto tempo quanto for
necessário, mas se pisar no meu calo, tudo que conhece e ama vai
virar cinzas em um piscar de olhos.
Priest ergueu a garrafa e bateu na minha.
— É justo. Agora, quantos quilos tem para começarmos?
— Vai dar uma festa?
— Existe melhor maneira de esgotar um estoque? — Ele sorriu
de lado e nós começamos a falar de negócios.
Nunca pretendi vender drogas, nem passou pela minha cabeça
quando adolescente, ser mais do que um jogador de futebol.
Começou informalmente. Ao me tornar um moleque odioso sem
controle, batendo aleatoriamente em qualquer um que me irritasse e
precisando lidar com toda fúria que só crescia dentro de mim, fiz
uma viagem e acordos, passei a fornecer a alguns dos meus
colegas doses extras de anabolizantes e a cocaína foi somente uma
evolução dos meus planos.
Meu pai já fornecia como entretenimento nas boates dele, só
não sabia que era o próprio filho que estava ganhando o dinheiro.
Eu pagava um idiota para fingir ser o fornecedor no meu lugar.
Assim, ele repassava para os italianos, que produziam outro tipo de
droga, mas ainda preferiam a cocaína pura que eu tinha. Enzo sabia
que eu estava no comando, mas por amizade e lealdade, seguia o
jogo que determinei, comprando do meu pai.
A intenção não era mexer na cadeia de fornecimento que Jack
criou, para que ninguém desconfiasse. Eles sabiam parte do meu
plano. Não tudo. Seria estupidez contar para Jack, que poderia
vender meu segredo para quem pagasse mais na primeira
oportunidade que eu o irritasse. Enzo me aconselhou a calar a boca
e pela primeira vez na vida, entendi que era importante ouvir alguém
com um pouco mais de experiência.
Enviei uma mensagem para Luke no retorno para a cidade. Ele
deveria providenciar a entrega, porque já estava com o pagamento.
Priest era o demônio das estradas da Califórnia e muitos do meio
evitavam negociar com ele, dadas as maluquices religiosas. Eu não
me importava. A vida me ensinou que para sobreviver, era preciso
mover todas as pessoas ao meu redor como se fossem peças de
xadrez.
Parei perto do meu próximo compromisso, ia entrar pelos
fundos e trocar de roupa. Verifiquei o telefone e não havia o último
relatório do dia. Brady foi muito mais sucinto do que normalmente
era sobre Kate e não gostei do silêncio. Estava provocando Robert
de muitas maneiras nos últimos meses, para que a entregasse logo
em casamento.
Dirigi até a boate em que eu deveria fazer uma aparição como
álibi e entrei, indo para o escritório, onde tomei banho e me vesti.
Meu telefone continuou em um completo silêncio por quase uma
hora. A festa estava acontecendo ao meu redor sem que eu tivesse
qualquer participação animada. Algumas garotas sentaram no meu
colo e as retirei, indo para o bar quando senti o telefone vibrar.
Só recebi uma mensagem mal digitada e foi o suficiente.
Pulei algumas cadeiras, causando um pouco de correria e Luke
mal conseguiu me acompanhar, já que não tinha a mesma
desenvoltura para corrida que eu. Ele derrapou antes de bater no
carro, abrindo a porta.
— O que aconteceu, porra? — berrou comigo, preparando as
armas.
— Onde está minha irmã? — gritei de volta, preocupado que
fosse simultâneo.
— Em casa com seus pais! Estava no telefone com ela e tudo
parecia bem! O que aconteceu, caralho?
— Robert está sendo atacado por Santiago! Kate está em
perigo. — Ofeguei, acelerando pelas ruas. Os outros carros
pareciam apenas borrões de luzes em meu caminho. Dei uma
buzinada para um caminhão, cortando caminho por ruas menores e
menos movimentadas. Passei por um beco apertado, derrubando
lixeiras, depois lidaria com quaisquer consequências.
Eu ia chegar a tempo. Era tudo que rezava no meu íntimo.
Prometi a Michelle que Katherine ficaria segura e não podia
falhar.
Capítulo 8 | Kate
Faltavam seis semanas para eu completar dezoito anos e
estava ouvindo minhas amigas da escola fazerem grandes planos
para a universidade no próximo semestre. Não sabia ainda se havia
sido aprovada em alguma, mandei os formulários escondido do meu
pai, falsificando a assinatura dele em um ato de desespero. Todas
elas estavam empolgadas enquanto eu portava o meu sorriso
puramente falso.
Não tinha planos porque não sabia o que meu pai havia
decidido…
Apesar de nunca mais ter encontrado Perseu, ainda tinha
muitos motivos para me preocupar. Diferente das outras meninas do
meu meio, um casamento arranjado não era motivo para suspirar e
me transformar em uma sonhadora. Meu pai não era um homem
normal e considerando o quanto a paranoia dele estava ativa, mal vi
a luz do dia desde o Natal. Meu último evento foi a festa de ano
novo de um senador, na qual Kia ficou ao meu lado o tempo todo.
Nem pude fingir que eles não existiam por algumas horas e
aproveitar.
— Seu segurança bonitão chegou! — Melina riu, toda boba e
com as bochechas coradas.
Olhei para Brady, não conseguindo enxergar a atração que
fazia o fogo delas subirem.
— Falando em bonitão, viram que Dominic King está na cidade
para a inauguração da nova boate em algumas semanas? Ele está
confirmado em uma festa hoje e já estou implorando para minha
irmã me levar. Sou capaz de fazer de tudo para sentar no colo dele.
Já viu o tamanho do homem? — Ela riu e fiquei mordida. Reuni
minhas coisas rapidamente e me despedi, um tanto irritada e sem
saber o motivo exato.
Afinal, eu tinha muitos para ser uma pessoa intragável.
Brady abriu a porta do carro para mim e perguntou se eu queria
correr na praia antes do fim do dia. Eu disse que sim, afinal, era o
único momento em que eu podia ver outras pessoas além dos
moleques da escola. Como já havia comido, apenas troquei de
roupa e desci animada, querendo ouvir música. Minhas amigas
costumavam compartilhar seus fones comigo na escola e estava
aprendendo alguns ritmos que me faziam querer dançar.
— Algo mais forte? — Brady ofereceu, já no carro. — Ou
corrida leve?
— Leve com alguns obstáculos. Treinei muito na escola, hoje.
— Tudo bem, vamos para o fim da praia em Malibu — avisou e
dei-lhe um aceno.
Meu pai havia proibido meu guarda costas de me levar a outras
praias quando descobriu meus passeios de carro por aí. Ele não
ofereceu nenhuma desculpa, mas fiquei na dúvida se era para me
prender um pouco mais ou para não me ter passeando em território
inimigo. Vi no jornal que as vendas de drogas eram divididas por
territórios. Havia os empresários ricos, os latinos, motoqueiros e
demais traficantes.
Se papai vendia droga, como desconfiava, certamente Malibu
era o local dele. Nossa mansão ficava em frente à praia, era uma
bela visão, comparada a todas as outras milhares de casas
luxuosas na costa. Escolhi algumas pedras para treinar e me
esforcei além do normal para poder chegar em casa tão cansada
fisicamente que não me importaria com nada.
Esperei o fim do dia para observar o sol da praia, bebendo um
suco de beterraba com laranja e secando o suor com uma toalha.
Não havia ninguém em casa quando voltei, tomei banho e fiz meus
exercícios de casa, organizando umas notas de livros que fotografei
da biblioteca. Com isso, as horas se passaram sem que me
importasse com mais nada. Era só mais um dia na minha vidinha.
Deitei para dormir cedo e, com sono, não levei muito tempo
para deixar o livro cair das minhas mãos.
Acordei com o som de um estrondo. Parecia distante, mas
podia ser meu pai, alterado. Sentei na cama e acendi a luz do
abajur. Estava quase me levantando quando a porta foi aberta por
Kia. Ela me viu quase de pé e fez sinal para que ficasse em silêncio.
Abriu meu armário e pegou minha mochila, empurrando uma pasta
dentro. Era a mesma mochila que coloquei roupas para fugir um dia.
— O que está acontecendo?
— Fale baixo, Katherine — ela ordenou e me empurrou para a
varanda. — Calce seus tênis.
— Kia?
— Eu vou te ajudar a descer, corra para a praia. Se vir alguém,
se esconda, quando o telefone que está na sua bolsa tocar, atenda.
— Ela jogou os pares em mim e obedeci, sentindo a adrenalina me
dominar. — Vai, desce! Tem uma escada presa à parede, abaixo
das plantas. Está firme, vá para a praia. Eu não sei onde Brady está,
mas ele vai te encontrar.
Eu ia perguntar de novo, mas Kia me empurrou para a escada
e, desesperada, quase caí, escorregando. Agarrei a tempo e então
ouvi o que a assustou: alguém havia entrado no meu quarto e pelos
passos pesados, não parecia ser meu pai. Por instinto, me escondi
embaixo da sacada, ainda pendurada, sentindo os braços
queimando.
— Onde está a menina?
— Ela já foi.
Ouvi o som de um baque e um gemido. Ele estava batendo
nela! Sufoquei o grito quando tocaram minhas panturrilhas, olhei
para baixo e era Dominic. Seus braços esticados estavam prontos
para me pegar e eu me soltei. Sem dar uma palavra, me agarrou
apertado e puxou, pressionando-me contra a parede. Olhei para o
alto e vi homens nas varandas olhando para baixo, procurando por
qualquer movimentação no jardim.
Pela janela da sala, vi meu pai de joelhos. Um homem imenso
jogou Kia ao lado dele. Ela ergueu o rosto e moveu a cabeça
negativamente para Dominic, que fez um movimento de que ia até
lá. Tão apavorada quanto estava, meu corpo inteiro tremia. Olhei
para o lado e vi o homem grande socar o rosto do meu pai enquanto
outro apontava uma arma para a cabeça de Kia.
Ele atirou nela. Dominic apertou a palma em minha boca e me
segurou no lugar, mesmo que eu tenha enfiado as unhas em seus
braços. Ele me puxou em direção à praia, passando pelas
folhagens. Já cheios de arranhões, subimos pelas pedras até o
carro dele.
— Entre, Kate! — Correu para o outro lado e reparei que
estava armado.
— E Brady? — Segurei-me no assento. Dominic estava
dirigindo tão rápido que os prédios pareciam borrões.
— Ele está com Luke. Vou te levar daqui. — Continuou
acelerando e olhei para a arma em sua coxa. Dominic olhou para
trás antes de jogar o carro em uma avenida, ganhamos uma
buzinada de um caminhão, mas logo conseguimos nos afastar
bastante.
— Quem são eles? Quem invadiu minha casa? — Engoli em
seco.
— Eu não sei ainda, mas vou descobrir. Seu pai provocou
muitas pessoas.
— Ele está vivo?
— Não sei, Kate. Meu único foco é mantê-la segura. — Ele
desviou de alguns carros e reconheci o bairro. Piscando os faróis,
entrou na propriedade muito protegida de sua família e seguiu até a
casa, virando antes e parando em uma garagem. Escondeu a arma
na roupa, saiu do carro e deu a volta. — Você se machucou? Está
ferida?
— Não. Kia…
Caramba, Kia me salvou e estava morta.
Dominic segurou minha mão e me levou para o interior da
casa. Donatella estava na cozinha, lavando umas folhas verdes e
parou completamente ao nos ver. Ela franziu o cenho.
— A casa de Robert foi atacada. Eu a trouxe para ficar em
segurança. — Ele não deu nenhuma explicação além disso.
— Oh, querida! — Donatella me puxou para um abraço. —
Você está bem?
— Sim, foi tudo muito rápido.
Olívia e Oliver entraram na cozinha com copos de bebidas,
rindo um com o outro e pararam ao me ver com a aparência
assustada e roupa desgrenhada. Dominic contou brevemente o que
havia acontecido, logo ele e o pai saíram com rapidez, gritando
ordens aos homens que estavam do lado de fora. Ainda me
sentindo perdida, fui rodeada pelas meninas, todas querendo me
acudir ao mesmo tempo.
— Já chega, meninas! — Donatella falou mais alto. — Ollie, por
favor, leve Katherine para o quarto. Kim e Bess, providenciem
toalhas e tudo mais que for necessário para que ela fique à vontade.
Jane, me ajude com o jantar. Teremos notícias em breve.
— Vem, Kate. Vai ficar tudo bem. — Olívia segurou minha mão
e me puxou para fora da cozinha.
Não percebi que estava tremendo tanto até que ela me
abraçou apertado, me ajudando a subir a escada, porque minhas
pernas não respondiam aos meus comandos. No quarto, ela
colocou a mochila na poltrona e me sentei na ponta da cama,
sentindo fraqueza. Minha mente estava girando muito rápido, não
conseguia parar de lembrar de Kia levando um tiro e morrendo. Não
entendia o motivo de ter me ajudado a fugir. Ela e meu pai não se
importavam comigo.
Ou acreditavam que apenas eles podiam me fazer
mal.

Olívia me levou para o banheiro e percebi que estava com o


pijama rasgado, suja de areia e grama, com algumas folhas no
cabelo. Ela foi gentil e silenciosa, não fazendo nenhuma expressão
para as cicatrizes nas minhas costas, sem esboçar qualquer reação
adversa ao meu corpo repleto de marcas das surras sem motivo que
ganhei do meu pai.
— Você está segura aqui, Kate. Dominic cuidará de tudo — ela
prometeu.
Por que ele estava lá? Como descobriu que minha casa foi
atacada? Como sabia que Brady estava com Luke? Eram muitas
perguntas nas quais as respostas não pareciam óbvias para mim.
Eu tinha que saber o que de fato havia acontecido e como minha
vida mudaria a partir daquele momento, porque havia uma voz no
meu interior me dizendo para não confiar em ninguém.
Capítulo 9 | Kate
Sentei-me assustada na cama, saindo de um pesadelo em
que estava me afogando em sangue, olhando para o rosto sem vida
de Kia. Estava suada e dolorida, meus olhos se ajustaram à
escuridão e lembrei que não estava no meu quarto e sim, em um de
hóspedes na mansão dos King. Esfreguei a nuca, meu cabelo caiu
para o lado e percebi que não estava sozinha. No lugar em que
Olívia deitou mais cedo, estava Dominic.
Ele ocupava quase todo o sofá.
— Você está bem? — Inclinou-se para frente. — Precisa de
alguma coisa?
— O que está fazendo aqui?
— Olívia estava com muito sono e eu me ofereci para dormir
com você.
— Foi um pesadelo. — Soltei um suspiro. — Kia está
realmente morta?
— Infelizmente, sim.
Infelizmente? Ela foi monstruosa comigo a maior parte do
tempo, mas era um horror pensar que morreu depois de me
proteger e por causa do homem que ela escolheu para viver.
— Por que sente pesar?
— Não precisamos falar sobre isso agora — Dominic
desconversou.
— Por que sinto que é apenas mais um me controlando?
Ele se aproximou da cama e sentou na ponta, me movi para
poder olhar para seu rosto.
— Não quero te controlar, Katherine. Estou apenas fazendo o
que posso para te manter segura. Kia morreu, mas você está bem.
Isso é tudo o que importa. — Seus lábios crisparam e eu quis saber
mais, pensativa.
— Por que? Por causa do casamento? Em falar nisso, por que
quer casar comigo?
— Você não quer casar comigo?
— Como se eu fosse ter qualquer opção além disso. — Dei de
ombros, perdida. — Existe algum motivo além dos nossos
sobrenomes e a posição das nossas famílias?
— Existe.
E não acrescentou mais nada.
— Não vai me falar? — Agarrei o travesseiro, brincando com a
ponta da fronha.
— Não posso, ainda. Preciso que continue aparentando
inocência ou tudo dará errado, não chegamos até aqui para que
todos os planos escorram entre meus dedos. Preciso saber se vai
aceitar o noivado.
— A não ser que meu pai esteja morto, não tenho direito de
resposta. Ele irá escolher meu marido, pelo que sei, Perseu também
havia solicitado…
— Ele não será um problema. Seu pai dirá que sim. — Dominic
olhou em meus olhos.
— Estou cansada.
— Vou te deixar dormir.
— Não é isso, estou exausta de me sentir perdida, de não ter
nenhuma informação e não saber o que fazer. Por que devo confiar
em você? O que te faz diferente do meu pai?
A expressão dele se transformou completamente. Dominic
ficou assustador e me encolhi na cama, pensando que havia o
ofendido de verdade.
— Eu prometi a sua mãe que iria protegê-la e fiz o que pude
para que ficasse viva. Lamento as cicatrizes no seu corpo, lamento
que não pude segurar seu pai e matá-lo quando te feriu, mas nunca
me compare a ele. Eu tenho honra no que faço, sou um homem que
mantém a porra da palavra!
— Me desculpe, não quis te ofender, mas queria que
entendesse o quanto me sinto perdida e sozinha. Ninguém me fala
nada. Sequer me consideram um ser humano, capaz de pensar e
chegar a uma opinião sozinha. Não quero que me trate assim! —
Gesticulei e parei ao finalmente entender o que ele havia falado. —
Quando prometeu à minha mãe? Quando falou com ela?
— Já faz muito tempo — ele mais uma vez desconversou.
— Por que minha mãe pediria isso a você? Ela sabia… dessa
vida?
— Que vida, Kate?
— Eu não sei! Me diga você! — gritei, batendo nele com o
travesseiro. — Você também vende drogas? O que é tudo isso? Eu
só ouço conversas e junto peças!
Dominic jogou o travesseiro de lado e segurou minhas mãos,
me impedindo de avançar nele, porque minha vontade era de
agredir qualquer um que estivesse na minha frente. Imobilizou-me
com facilidade. Ofegante, olhei em seus olhos, as grossas
sobrancelhas franzidas e a aparência sombria fizeram meu
estômago revirar.
— Não me machuque, Dominic.
— Eu nunca vou te machucar — prometeu com fervor.
— Então… me conte a verdade. Estou ferida apenas por não
saber de nada.
— Sua mãe não está desaparecida, ela morreu naquela noite
devido a uma série de coisas que fez. Seu pai está envolvido na
morte dela e foi lá que prometi que cuidaria de você. Eu te
protegeria com a minha vida. — Dominic olhou em meus olhos e
comecei a tremer. Ele me puxou para o colo, me abraçando
apertado.
Minha mãe estava morta.
Era muito melhor pensar que ela estava por aí, sumida.
Preferível sonhar que um dia voltaria para me buscar com todas as
explicações que eu merecia.
Mamãe morreu e eu sequer pude me despedir.
Dominic estava com ela quando aconteceu e por algum motivo,
o abraço dele me fez sentir como se estivesse dizendo adeus. A dor
era dilacerante. Não conseguia respirar e cada soluço me fazia
pular, tremendo tanto que meus dentes batiam. Todas as emoções
confusas e o abandono que senti quando ela nunca mais voltou
desabaram de uma vez só.
Chorei tanto que senti que minha consciência foi se perdendo.
Dominic me colocou deitada e ficou próximo, com o cheiro e calor
dele, fechei meus olhos.
Acordei com uma claridade no rosto. Ele ainda estava ao meu
lado, me segurando e com um travesseiro entre nós. Virei um
pouco, com sede, fome e vontade de ir ao banheiro. Minha cabeça
estava doendo muito, latejando de uma maneira tão dolorosa que
mal conseguia manter meus olhos abertos sem que as lágrimas
escorressem pelo meu rosto.
Sentei-me na cama, prendendo o cabelo e sequei o rosto.
— Está bem? — Dominic tocou minhas costas.
— Cansada e com fome.
Magoada e de luto. Enquanto eu não sabia o que havia
acontecido, o sentimento era confuso. Como se navegasse em um
mar cheio de neblina, mas ao ter a confirmação da morte dela, uma
estaca foi enfiada no meu coração e estava doendo muito.
— Quando foi a última vez que comeu?
— Já nem lembro mais. O que vai acontecer comigo agora?
— Vai ficar aqui.
Era melhor que ficar com meu pai.
— Tudo bem.
— Eu vou descer para preparar seu café.
— Me espera?
Não queria andar sozinha pela casa. Dominic assentiu e eu fui
ao banheiro lavar o rosto. Usei o sanitário e escovei os dentes, não
me importando completamente com a minha aparência. Ajeitei a
camisetinha que usava e retornei para o quarto. Ele arrumou a
cama, jogando uma almofada por último. Dei uma olhada para a
camisa justa amassada e a calça de moletom que vestia.
— Vamos? — Segurou minha mão, entrelaçando nossos
dedos.
A casa estava silenciosa, era muito cedo, mal havia
amanhecido direito. Descemos a escada juntos e ele parou, abrindo
a porta.
— Bom dia, Ashley. — Soou firme, porém, gentil. — Essa é
Kate.
— Seja bem-vinda, Kate. — Ela sorriu de forma simpática. —
Gostariam de algo para comer?
— Eu preparo.
— Darei espaço ao senhor. — Ela manteve a perfeita postura e
saiu.
Dominic puxou um banquinho alto para mim, sentei e ele foi
para o outro lado do balcão, pegando frutas e ovos. Fiquei
assustada porque eu sabia exatamente o que comia pela manhã
todos os dias. O cardápio nunca mudava: ovos fritos na água,
morangos e metade de um avocado com um pouco de sal. Meu pai
sempre foi obcecado com minha alimentação, parte por ter o poder
de controlar tudo na minha vida e parte porque nasci prematura e
meus pais, de modo geral, eram cuidadosos com a minha saúde.
Dominic preparou meia torrada com geleia e café preto sem
açúcar para completar meu prato. Para si, encheu uma caneca de
café, duas bananas e uma mistura proteica que tinha cheiro de terra
molhada de chuva.
— Quer provar?
Aceitei por curiosidade e dei um golinho. Imaginava que aquele
era o real gosto de terra. Fiz uma careta e bebi meu café para
expulsar o gosto.
— Proteína faz bem. Sua dieta pode mudar agora, isso se
ainda quiser seguir uma.
— Eu não sei se me faria bem. Meu pai vai permitir que eu
fique aqui?
— Não é como se ele tivesse muitas opções, agora.
— E eu vou viver aqui até nos casarmos? — questionei
enquanto ele recolhia os copos.
— Quer viver em outro lugar?
— Você mora aqui?
— Em Nova Iorque tenho o meu próprio lugar, minha vida é lá,
eu fico aqui o tempo necessário para resolver algumas coisas. —
Limpou o balcão. A porta da cozinha, que dava para um pátio nos
fundos, foi aberta por uma funcionária que ruborizou quando o viu, e
seu olhar logo caiu em mim. Deu um sorriso contido, passando
diretamente, mas uma pessoa atrás dela me chamou a atenção.
Ginnie. Ela estava com Brady e usando roupas completamente
diferentes. Parecia uma militar, com botas e o cabelo preso. Eles
pareciam tristes, chateados e a porta foi fechada novamente.
— Você os colocou na minha casa?
— Eu precisava te proteger de alguma maneira. — Dominic
secou as mãos e não se desculpou por isso. Seu olhar encontrou o
meu. — Kia também estava lá para te proteger e colher informações
sobre os atos do seu pai. Poucas coisas que ele fez nos últimos
anos passaram batido por mim, não podia controlar tudo, mas podia
tentar fazê-lo parar com as agressões.
— Foi você o tempo todo? Fazendo com que ele…
— Eu nunca entendi porque seu pai resolveu… eu não sei,
Kate.
— Ele dizia que era porque a mamãe foi embora. — Empurrei
meu prato para frente. Dominic fechou as mãos em punhos. — Meu
pai sabe? Sempre soube que ela estava morta?
Dominic não precisou falar nada. Eu queria saber a verdade e
mais do que tudo, lutar por mim mesma e pela minha vida. Sendo
prisioneira do meu pai pelo resto da minha existência não era uma
opção, então, tinha que me arriscar com a nova oportunidade que
me foi apresentada. Não tinha outras chances para me erguer.
— Eu aceito o casamento, se você ainda quiser. Aceito que
pressione meu pai — falei baixo, um pouco sem coragem de
encará-lo. Dominic deu a volta e parou na minha frente, fazendo
com que erguesse meu rosto. — Ainda não sei os seus motivos e
não entendo, mas obrigada por me salvar. Obrigada por colocar
pessoas na minha casa para me proteger. Sei que tem muito mais
por trás e vou lhe dar esse voto de confiança, aceitando o
casamento para descobrir o que aconteceu com a minha mãe.
— Quando seu pai não for mais uma ameaça, eu lhe contarei
tudo. Prometo.
Assenti, um pouco confusa e ele tocou meus ombros. Deitei a
cabeça em seu peito, pensando no quanto ele era apenas jovem e
gentil quando minha mãe morreu. Lembrava dele sendo doce e
divertido, despreocupado, até mesmo na minha casa quando ia nos
visitar com os pais. Foi pela promessa que fez a ela que ele mudou?
Ou havia mais a ser descoberto?
Capítulo 10 | Dominic
Kate olhava para fora com um pouco de temor. Era a primeira
vez que veria o pai depois do ataque e de descobrir sobre a morte
da mãe. Estava nervosa, com os olhos azuis arregalados e a boca
entreaberta como se precisasse respirar melhor. Olívia segurou sua
mão e as demais meninas foram conduzidas para seus quartos
porque não sabíamos como Robert iria reagir.
— Katherine, querida! — Ele a pegou em um abraço e foi
preciso muito esforço para não sair do lugar e socá-lo até a morte.
— Sinto tanto, filha. Sinto muito por tudo que viu.
Um showzinho de merda.
— Estou bem, papai. — Ela soou fria, quase robótica,
reprimindo as emoções.
— Como conseguiu sair?
— Kia me acordou e pediu para que eu corresse para a praia,
desci pela sacada e obedeci. Não sabia para onde ir e em quem
confiar, então, procurei por Dominic no clube dele.
Parecia até verdade. Combinamos a história e ensaiamos
várias vezes, apenas não contei o quanto Katherine era subjugada
pelo pai. Não importa o quanto ela estivesse sentindo de verdade,
ele não se importava, por ser muito autocentrado na própria mentira.
Na frente dos meus pais e da minha irmã, bancou o pai preocupado
e zeloso, mas eu vi seu polegar apertar o cotovelo dela com tanta
força que estavam brancos.
— Kate aceitou meu pedido de casamento — anunciei
formalmente. Ele sabia que estava no limite conosco e no momento,
sem um forte aliado para correr. — Estou ansioso para me tornar
marido dela.
— Fico feliz que tenham protegido minha filha.
— Nós já a consideramos da família. — Mamãe deu um passo
à frente. — Ora, Robert. Sua constante recusa me faz pensar que
tem algo contra nós. Justamente você, a quem temos tanto amor e
estima. Algum problema com meu filho?
— Jamais, Donatella. Tenho certeza que Dominic será um
excelente marido para minha adorada Katherine. — Ele sorriu,
mostrando os dentes amarelados, já apodrecendo pelos vícios. Kate
olhou em minha direção, praticamente pedindo ajuda. — Posso ter
uma conversa em particular com minha filha? Depois nos
encontramos no escritório.
A contragosto, concordei. Papai foi na frente, garantindo que
todos os documentos estavam prontos. Katherine seria emancipada
para podermos casar sem problemas, embora ela fosse maior que a
idade de consentimento do estado de Nova Iorque. Não quis ficar
longe da sala onde Kate estava sozinha com o pai mas com muitos
seguranças por perto, ele não tentou bancar o imbecil.
— Foi tudo bem? — Ollie deu um passo à frente quando ela
saiu.
— Podemos ir para o quarto agora? — Kate estava ofegante.
— Claro, vamos descansar. Seus dias têm ficado muito
agitados — minha irmã sugeriu.
— Você vai se reunir com eles? — Kate me deu um olhar
caído. Ela estava emocionalmente exausta.
— Vá deitar, ok? Eu vou te encontrar quando tudo terminar —
prometi e ganhei um aceno mudo de volta. Mamãe se aproximou,
observando as meninas subirem e tocou meu braço.
— Precisará de muita paciência agora, Dominic.
— Não precisa me pedir isso. Você pode organizar o noivado?
— Será um prazer, meu filho. — Ela me deu um beijo e foi
adiante.
Antes de entrar no escritório, coloquei todo meu desejo de
matar em uma caixinha dentro da mente e empurrei para longe.
Ainda era preciso que ele assinasse. Mesmo que o acordo lhe
desse mais dinheiro, oportunidades de fuga e até de me foder, eu
estava preso a isso para conseguir ter Kate completamente. Ele
tinha que abrir mão dos direitos bancários dela até os vinte e um
anos. Havia um limite para a emancipação dela e no quesito
herança, era necessário que o pai saísse de cena completamente.
Sentei em uma das poltronas, ouvindo a ladainha mentirosa de
Robert de que o cartel inimigo aos nossos negócios descobriu que
Kate havia se tornado uma mulher adulta e poderia herdar a posição
da mãe. Eu tinha pleno conhecimento de que Robert não tinha
contato com os homens de Michelle que, reclusos no México desde
a morte da líder, estavam loucos para matar meu futuro sogro.
Meu pai conseguiu conduzir a reunião de uma maneira política.
Ele era carismático e muito bom com as mentiras. Robert
definitivamente não fazia ideia de que nós sabíamos da verdade. Foi
mais fácil fazê-lo pensar que éramos trouxas, até porque, fazia parte
do meu plano enganar algumas pessoas no caminho. Inclusive, os
dois homens que estavam na mesma sala que eu naquele
momento.
Pensei que nunca levaria jeito para ser ator, embora meus
amigos me chamassem de cínico. Consegui disfarçar bem o alívio
que senti ao vê-lo assinar tudo. Kate era minha. No mesmo instante
que os papéis foram assinados, o advogado os levou. Não havia
como dissolver. Não com Robert. Apertei a mão dele e ele percebeu
a mudança em meu olhar, mas não falou nada.
— Você deve ficar na casa segura até a noite do noivado.
Dominic vai conversar com Santoro… ele vai recuar ou, no mínimo,
conversar com seu primo para acalmar toda a situação — papai
falou suavemente. — Acho que precisa de uma bebida, meu velho
amigo.
Envenenada, de preferência.
Era importante fazê-lo se sentir acolhido. Troquei mensagens
com quem devia, avisando a data e o horário que todos deveriam
estar na cidade para encurralar meu adorado sogro e extrair
informações muito necessárias. Ele andou conversando e se aliando
a ratos que estavam causando problemas a pessoas importantes
para mim.
Antes do jantar, Robert foi conduzido para a casa segura e eu
subi as escadas para o quarto em que Katherine estava. Bati na
porta antes de entrar e minha irmã, Kim, abriu, me deixando passar.
Kate estava na cama, com Jane lhe fazendo tranças.
— Vamos ajudar a mamãe com o jantar? — Olívia reuniu
algumas roupas e colocou na poltrona. Jane fez um pequeno
beicinho.
— Gosto da Kate! Não posso ficar um pouco mais?
— Depois, Stitch. — Dei-lhe um beijo na testa.
Ela sorriu, exibindo os dentes e sorri de volta. Quando bebê,
Jane era fofa, loirinha de bochechas rosadas, o meu completo
oposto. Ela também tinha muitos dentes na boca, abria um sorrisão
sempre que via alguém que amava e acabamos apelidando-a como
o personagem do desenho animado. Minhas irmãs eram uma
mistura, elas tinham a pele mais clara, cabelos em variados tons
entre castanho escuro a loiro.
Puxei meu avô paterno, que era alto como um jogador de
basquete e negro. Meu pai saiu uma mistura mais clara, sendo
considerado branco devido à família materna. Minha mãe era
pequena e loira. Ninguém ficou realmente surpreso com meu
tamanho. Apenas se assustaram com a velocidade em que deixei
de ser um garoto para me tornar um homem, mesmo sendo novo.
— Suas irmãs são adoráveis. — Kate continuou sentada com
as pernas cruzadas no meio da cama. Ela usava outras roupas e
alguma coisa estava diferente em seu rosto.
— Tenho certeza de que irá mudar de ideia com a convivência.
— Eu não tenho irmãs, cresci sozinha, acho que irei adorar. —
Ela sorriu e parou, mordendo o lábio. — Como foi com meu pai?
— Quero saber o que ele lhe falou. — Segurei seu braço e
mesmo sem autorização, ergui a manga da blusa para olhar o
cotovelo, onde ele apertou. — Quem passou pomada?
— Olívia — ela murmurou e olhou para o hematoma que se
formava. — Tentou me intimidar, como sempre, mas eu realmente
não sabia do que ele estava falando. Estou tentando reunir tudo que
me contou para montar uma linha do tempo que faça sentido. Ele
aceitou o noivado?
— Sem muitas opções, aceitou sim. Os documentos já estão
com meus advogados.
Kate ficou brincando com os dedos. Eles eram finos e
compridos, delicados, as unhas eram curtas e não pintadas,
diferente das minhas irmãs.
— Nós vamos nos casar imediatamente?
— Temos que noivar imediatamente, o casamento pode levar
um pouco mais de tempo, porém, não uma eternidade.
— Enquanto isso vou viver com você? Como um casal? — Ela
me espiou, envergonhada, mas estava feliz que falar não era um
problema.
— Não precisamos ser um casal de verdade no privado,
podemos dar tempo ao tempo ou apenas seguir com o plano.
Publicamente, o ideal é mostrar que é verdadeiro para que ninguém
desconfie.
— Entendi. Vamos nos dividir entre Los Angeles e Nova
Iorque? Parte dos negócios do seu pai é aqui…
— Os dele sim e enquanto não assumir a posição, podemos ir
e vir conforme for conveniente. Eu tenho alguns contatos que
preciso manter ativos.
— Poderei terminar meus estudos?
— Claro que sim, Kate! Eu não sou seu captor. Você poderá
fazer o que quiser, contanto que permaneça segura. Sempre será
minha maior preocupação.
— Eu entendo. — Colocou o cabelo atrás da orelha. — Esses
homens que foram até minha casa para dar um recado ao meu pai,
foram realmente por minha causa? Por eu ter atingido uma idade
ideal para assumir os negócios?
— Pode ser que exista um desconforto em relação a isso, sim,
seriam idiotas se não se preparassem para uma ascensão, mas não
acredito que tenha sido diretamente. Seu pai incomodou muito mais
do que a proximidade dos seus dezoito anos. — Mudei de posição
na cama e tirei meu telefone do bolso, lendo as mensagens
rapidamente. — Seu pai provocou muitas pessoas. Parte é minha
culpa, eu o deixei propositalmente sem dinheiro e sequei algumas
fontes de renda, então, ele ficou sem controle ao sair se associando
com quem podia para se recuperar.
Kate respirou fundo, esfregando a nuca, como se ainda
sentisse dor.
— Usa drogas?
— Não. Eu as vendo. — Fui honesto.
— E isso…
— Unicamente para sobreviver nessa vida que nascemos.
Kate assentiu. Ela podia entender.
— Estou com medo — confessou baixinho, com os olhos
cheios de lágrimas novamente. — Medo de confiar em você e me
machucar ainda mais. Medo do que essa vida representa. Só sei
sentir medo.
— Eu sei, Kate. — Segurei sua mão e apertei seus dedos. Com
coragem, trouxe até meus lábios, dando um beijo suave. — Vou
continuar dando a minha vida para que fique segura.
Suspirando, tirou as almofadas entre nós e encostou a cabeça
no meu ombro, fechando os olhos. Entendendo o esgotamento dela,
fui nos deitando na cama e puxei a colcha para que pudesse dormir
um pouco mais enquanto protegida em meus braços.
Capítulo 11 | Kate
Mais uma vez, acordei nos braços de Dominic. Ele também
estava cochilando quando ouvimos uma suave batida na porta. Era
Bess e sua voz angelical avisando que a comida estava pronta. Meu
estômago roncou alto em resposta. Acostumada a comer nos
horários certos e com uma dieta rigorosa, precisaria me ajustar aos
novos horários da casa.
— Quer descer para jantar?
Ainda não tinha encontrado Oliver em um ambiente familiar e
estava nervosa, afinal, meu pai era um homem que o traiu e entrar
para a família dele através de um casamento, parecia algo dúbio
para mim. Estava com vergonha. Eu era tímida quase por
imposição.
— Em algum momento, precisarei sentar com toda a família.
Tenho certeza de que sua mãe preparou o jantar com todo carinho.
— Tirei a coberta de cima de mim.
A calça jeans que usava era de Olívia, nós tínhamos o mesmo
corpo, ela sendo um pouco mais alta e mais magra, mas por usar
roupas ligeiramente largas, algumas das peças deram em mim.
Ajeitei minha blusa e o cabelo. Dominic me deu uma olhada,
inclinando a cabeça para o lado em um movimento involuntário.
Minhas bochechas ficaram quentes, provavelmente muito
vermelhas.
— Não estou com minhas coisas aqui — comentei
casualmente, disfarçando meu embaraço.
— Eu sei. Vamos fazer compras durante a semana para que
possa se ambientar.
Descemos de mãos dadas. Eu estava com medo e preocupada
com o que viria a seguir, segurar a mão dele me trazia um pouco de
confiança. Dominic não parecia temer nada. Andava de cabeça
erguida e com as costas eretas, mostrando a todos confiança e
poder. Até mesmo os pais pareciam girar em torno da energia que
ele emanava.
Na sala de jantar, as irmãs já estavam na mesa. Oliver estava
de pé, servindo vinho para Donatella e Olívia. Bess beliscava
batatas fritas e Jane tagarelava sem parar com Kim. Dominic puxou
uma cadeira para mim e sentou-se ao lado.
— Vinho, Katherine? — Oliver me ofereceu.
— Não, obrigada. Eu nunca bebi.
— Gostaria de experimentar? — Donatella pegou uma taça e
aceitei um pouco.
Era azedo, esquisito e estranhamente bom. Eu entendia sobre
vinhos e com o que combinavam, mas nunca tinha bebido antes
porque meu pai não deixava. Felizmente, o jantar tinha tudo que eu
comia, legumes cozidos no vapor sem muito tempero, carne
grelhada e salada verde. Servi o que imaginava ser uns trezentos
gramas, jogando um fio de azeite por cima de tudo.
— Só isso? — Bess me deu um olhar engraçado. — E o
bacon? Batatas?
— Nunca comi bacon.
A expressão deles foi tão engraçada que me fez rir.
— Quer provar? Aqui, coma um pedaço. — Kim me ofereceu.
Dominic riu das irmãs tentando me fazer comer outras coisas,
mas eu não queria passar mal. Provei um pouco de tudo e me
concentrei na comida, logo ficando satisfeita. O vinho ornou muito
bem com o filé macio que era o prato principal. Não comi a
sobremesa porque não era muito chegada a doces, apenas
chocolate.
Fiquei quieta. A família agia como uma família mesmo, como
sempre imaginei que deveria ser uma. Eles falavam alto, ao mesmo
tempo, as irmãs provocavam umas às outras, os pais riam ou
apartavam uma possível briga. Dominic era a figura que elas
idolatravam. Ri um pouco, mesmo que retraída e depois que
terminamos, as irmãs pilhadas ficaram comigo até que peguei no
sono ouvindo-as falar sobre garotos da escola e Olívia bancar a
irmã mais velha conselheira.
Acordei assustada com um pesadelo. Com calor e mesmo com
tudo escuro, sabia que estava sozinha. Dominic não estava por
perto. Sedenta, prendi a massa de cabelo que grudou na nuca,
liguei o ar e cogitei tomar um banho, mas preferia pegar água antes.
Abri a porta do quarto, espiei o corredor e silenciosamente, fui em
direção às escadas.
Não estava tudo muito escuro, algumas luzes suaves brilhavam
nos cantos, virei em direção à cozinha e ao abrir a porta, me deparei
com tudo claro. Dominic estava perto do balcão, de jeans, sem
camisa e meias. Ele comia queijo e falava com Luke.
— Me desculpe. — Travei um pouco antes de virar, saindo
rapidamente.
— Kate? — Ele abriu a porta e segurou minha mão. — Ei, volta
aqui!
— Não quis atrapalhar. Só queria pegar água — expliquei e
olhei para o peitoral despido. Ele sorriu de lado ao perceber e limpei
minha garganta, desviando o olhar.
— Você pode vir. Acabamos de chegar com fome…
Segurando minha mão, fez com que eu me aproximasse. Senti
minhas bochechas quentes pela presença de Luke, mas ele até foi
ok. Não era simpático, nunca foi e era o jeito dele. Olívia entrou na
cozinha de pijama e se ofereceu para preparar um sanduíche.
Dominic pegou água para mim e me indicou o banquinho para que
eu me sentasse.
— Devemos combinar de sairmos com eles, Kate. — Ollie me
entregou um pote de salada de frutas, aceitei mesmo sem estar com
fome. — Os clubes aqui em Los Angeles são bem agitados e tem
muitas pessoas bonitas.
— Eu não sei dançar, nunca fui a um clube antes mas tenho
muita curiosidade.
— A festa de sábado será um excelente momento para a
primeira aparição como casal — Luke comentou de sua maneira
inexpressiva. — Podemos reforçar a segurança.
— Acredito que será uma boa maneira de começarmos o
nosso relacionamento publicamente — Dominic falou baixo bem
próximo a mim e fiz um esforço para não encarar o peito nu. Queria
tocar, era tão bonito que não parecia real. — Se estiver tudo bem
para você.
Ergui meu olhar e sorri. Estava tudo bem, eu ia fazer tudo que
era necessário para descobrir mais sobre a morte da minha mãe e a
verdade da vida do meu pai. Dominic segurou minha cintura e
apertou suavemente. Depois que eles comeram, Olívia foi se
despedir de Luke do lado de fora. Dominic e eu ficamos sozinhos.
Peguei mais uma garrafa de água para subir.
— Você estava no clube? — questionei a Dominic. Lembrei das
minhas amigas da escola falando sobre ele nas festas e uma
pontada inesperada de ciúme me deixou desconfortável.
— Apenas a trabalho. Sentiu minha falta?
— Eu não sei se vamos dormir juntos ou… — Mordi meu lábio.
Dominic inclinou-se para frente no balcão, para olhar em meus
olhos.
— Podemos fazer o que você quiser. Não se sente segura
dormindo sozinha aqui?
— Não. Nada contra sua casa ou seus pais, apenas me sinto
vulnerável não estando acompanhada. Mas eu não quero soar
invasiva ou grudenta. — Esfreguei minhas mãos juntas.
— Vamos dormir, Kate. — Ele sorriu e me tirou do lugar.
De mãos dadas, subimos a escada. Ele parou no meu quarto e
pediu para que eu reunisse minhas coisas. Peguei uma toalha, um
novo pijama, mais algumas peças para que eu pudesse sair do
quarto dele pela manhã e fomos para lá. Era maior do que o que
estava hospedada, os lençóis em preto e móveis mais escuros. Um
quarto masculino, que cheirava a ele. Fiquei impressionada com o
tamanho da cama. O ambiente estava climatizado e gostoso de
ficar.
— Eu suei enquanto dormia. Posso usar seu banheiro?
— Fique à vontade. — Ele desceu o olhar pelo meu corpo, me
fazendo rir e sentir certo prazer em ser apreciada. Eu tomei um
banho rápido, escovei o cabelo, belisquei as bochechas para ter um
pouco de cor e penteei as sobrancelhas.
Talvez devesse pedir que as meninas me levassem ao
shopping para me ajudar com roupas para sair e cuidar da minha
aparência. Ao abrir a porta, pensei no quão justo era aquele pijama
de short e camiseta, que deixava minhas pernas de fora, assim
como os braços. Dominic estava sem a calça, desfilando de cueca
com o telefone na mão.
Ele foi tomar banho sem se abalar com minha reação. Eu
deveria me acostumar, queria ficar por perto e ele tinha o direito de
ficar à vontade. Puxei as cobertas, me acomodando na cama e o
colchão era como um sonho. Desliguei o abajur do meu lado,
fechando os olhos para começar a dormir e não consegui,
consciente do cheiro dele, além da presença na cama. Era quente,
pesado e convidativo.
Soltei um suspiro, ele virou e ergueu um pouco da coberta,
tocando minha cintura e me puxando para perto. Ofeguei e segurei
seu braço. Ele beijou minha bochecha, subindo a mão pela minha
barriga e parou na cintura. Virei de lado para me acomodar melhor e
fechei os olhos, finalmente conseguindo dormir.
Acordei com um telefone tocando e virei, cobrindo minha
cabeça e resmungando. Dominic atendeu, falando baixo e logo
encerrou. Virando de lado, me abraçou, escondendo o rosto no meu
pescoço. Fiquei arrepiada ao ter seu corpo pressionando o meu em
todos os lugares certos. Era uma sensação nova que me fazia sentir
viva. Ficamos naquela posição até que a fome me fez sair.
Troquei de roupa, fazendo um alongamento no banheiro e me
deixando apresentável.
— Voltarei para a escola na segunda-feira? — Retornei para o
quarto. Dominic estava se preparando para treinar. — Sinto falta de
correr.
— Se é o que quer, sim. E quanto a se exercitar, ainda não
acho seguro que volte a correr na praia, pelo menos não em Malibu.
— Ele amarrou seu cadarço. — Temos uma academia completa em
casa. Dá para se exercitar perfeitamente, posso pedir que montem
um treino para você.
— Tudo bem. Faço ginástica olímpica na escola, mas era algo
que meu pai me obrigou a continuar e eu prefiro ter mais tempo
livre. Quero sair.
— Você pode fazer o que quiser. — Ele ficou de pé, olhei para
cima e sorri, encantada. Dominic beijou minha testa e a pontinha do
nariz. Minha boca formigou, querendo um beijo. Algo mais. Ele
olhou para os meus lábios com o mesmo desejo que eu. — Kate…
— O que foi? — Minha voz saiu em um sussurro tímido. Ele
arrastou o polegar pela minha bochecha, me olhando com
adoração, como se eu fosse o objeto de desejo dele. Depois de
tanto tempo cuidando de mim, tentando me proteger, eu podia
entender que os sentimentos eram confusos. Eu mesma me sentia
estranhamente ligada a ele, além de possessiva.
Era como se depois de tudo, eu tivesse o direito de ter algo. E
era ele.
Dominic segurou minha cintura, fiquei nas pontas dos pés e
ainda assim, faltava um pouco para alcançar. Ele me ergueu e
abracei sua cintura com as pernas. Ele segurou meu bumbum e
apertou, tomando minha boca. Nunca havia beijado antes, a língua
dele na minha acendeu tudo em mim, nasceu um calor que me fez
incendiar com rapidez. Beijei-o de volta, usando todo meu instinto
para devolver o que ele me fazia sentir.
— Caramba. — Suspirou com a testa encostada na minha. —
Puta merda.
— Foi o meu primeiro beijo — confessei desnecessariamente.
Ele sabia.
— Eu sei, baby. Foi incrível…
— Foi minha primeira vez, duvido muito que tenha sido incrível
para você.
— Foi sim, mas se duvida, podemos nos beijar muito, muito e
muito. — Ele me levou para a cama, me colocando deitada. —
Como agora…
— Você não ia treinar?
— Daqui a pouco. Tenho algo mais importante para fazer. —
Ele sorriu contra meus lábios, voltando a me beijar intensamente.
Capítulo 12 | Kate
Meus olhos estavam brilhando quando Olívia me encontrou
para irmos a um shopping de luxo fazer compras. Elas tinham uma
compradora pessoal que reuniu uma série de roupas, enviando-as
diretamente para casa, montando uma ordem de estilo, mas havia
outras coisas que só pessoalmente para escolher. Minhas cunhadas
estavam determinadas a me dar um armário completo.
Era a primeira vez que eu saía depois de tudo o que havia
acontecido e meu coração acelerou quando Brady ultrapassou os
portões. Apertei o banco, acalmando minha respiração e tentando
não parecer uma completa maluca enquanto Bess e Kim
tagarelavam sem parar. Olívia estava mexendo em seu telefone,
provavelmente falando com o noivo. Era o que ela mais fazia.
Minha mente me traiu diversas vezes durante a conversa. Eu
voltava para os beijos quentes na cama, as mãos firmes de Dominic
e a língua dele contra a minha. Foi intenso e finalmente entendi
porquê minhas amigas da escola pulavam nas cadeiras feito pipoca
quando ficavam com os meninos. Era excitante demais para ficar
parada. Queria contar a alguém, mas não tinha certeza se elas
queriam me ouvir dizer que o irmão era muito gostoso.
Chegamos ao shopping e junto a seis seguranças, passamos
por corredores vazios, já previamente vasculhados. Eles criaram um
caminho perfeito para não sermos vistas por ninguém.
— A primeira coisa necessária para uma garota não é
maquiagem, é independência, mesmo nessa vida muito presa que
levamos. — Olívia me arrastou para uma loja de equipamentos
eletrônicos. — É ele quem fornece para meu irmão. Celular,
computador, um tablet adequado e claro, um leitor digital porque
livros em qualquer formato nunca são demais.
— Somos autorizadas a usar isso?
— Sim, mas com moderação nas redes sociais — me explicou
que Dominic precisaria bloquear alguns aplicativos e acessos. — No
mais, está livre.
Brady carregou a bolsa de papel para mim. Andar com elas era
uma completa loucura. Tive um novo corte de cabelo, hidratação,
sobrancelhas feitas e uma limpeza de pele. Compramos
maquiagens e por quase duas horas, fiz uma aula com uma
profissional sobre como usá-las.
Nós voltamos para casa com muitas maquiagens e diversas
bolsas. O carro estava lotado. Para abafar o escândalo, Donatella
faria um jantar, convidando meu pai e outras famílias importantes.
Inclusive, os pais de Luke, mas não os tios, afinal, Perseu tentou
casar comigo.
Ashley me ajudou a guardar tudo no armário, que já estava
parcialmente organizado. Deixei separadas as bolsas com os
equipamentos para que Dominic bloqueasse os acessos antes que
eu começasse a usar. Como ia encontrar meu pai no jantar e seria
oficialmente informado o noivado para todos, quis usar algo
comportado. Era necessário manter minha antiga aparência sem
que ele percebesse que um novo mundo havia sido aberto para
mim. Dominic acreditava que deveria continuar do mesmo jeito,
afinal, meu pai era uma raposa velha.
— Olá? — Ginnie bateu na porta. — Posso entrar? — Ela
parecia preocupada com a minha reação. — Você quer me ver?
Meu coração se encheu de alegria por vê-la.
— Pensei que não iria mais falar comigo, agora que estou
aqui.
— Quis te dar um tempo para processar tudo.
— Era seu trabalho me proteger. Entendi isso e aceitei, não
estou magoada ou me sentindo traída, embora tenha passado muito
tempo acreditando que estava sozinha.
Sempre sentiria gratidão por tudo que fez por mim. Eu não me
importava que a história de marido e filhos fosse mentira. Ela cuidou
de mim.
— Você não estava, Kate. — Ela esfregou meus braços. — Só
era preciso um pouco mais de tempo para que conseguisse sair de
lá viva. Seu pai segue não fazendo ideia que Brady, Kia e eu
estávamos lá para te proteger.
— Obrigada, Ginnie. Agora você trabalha para os King?
— Não exatamente. — Ela me deu um sorriso enigmático. —
Espero de verdade que fique tudo bem e esse é meu número. Pode
me ligar sempre que precisar.
Peguei o cartão e dei-lhe um abraço. Ela fez o trabalho dela em
me proteger, mas também foi um anjo e uma excelente companhia
todas as vezes que precisei. Ginnie sorriu e saiu do quarto, ela era
rápida em desaparecer porque desceu as escadas sem fazer
barulho e sumiu de vista. Com o horário apertado, fui tomar banho.
Meu cabelo estava perfeito e eu não usei maquiagem para meu
pai não estranhar.
Dominic entrou no quarto todo suado, tirou a camisa, jogou no
cesto e entrou no banheiro se despindo. Desviei os olhos,
impressionada. A expressão dele não era das melhores, parecia
muito irritado e logo enfiou a cabeça debaixo do chuveiro. Fechei a
tampa do gloss clarinho que usava e virei, me apoiando na pia.
— Aconteceu alguma coisa na rua? Você está irritado.
— Estressado. — Esfregou a nuca com a mão cheia de sabão.
— Foi um dia ruim.
— Eu sinto muito. Posso ajudar em alguma coisa? É sobre o
jantar?
— Sim, um pouco. Mesmo depois de tudo, seu pai ainda está
tentando escorregar feito um sabonete e nesse ritmo, vai conseguir.
— Ele lavou o rosto e dei a ele uma toalha, para ajudar a tirar a
espuma. — Se ele se associar a um cartel inimigo, vai desaparecer,
porque sabe o quanto a corda está cada vez mais apertada no
pescoço dele.
— Meu pai sabe de alguma informação capaz de nos
prejudicar?
— Kate… — Dominic suspirou. — Sua mãe era líder de um
cartel. Ela era uma mulher temida e muito poderosa, tinha dinheiro e
só o nome dela deixava homens mijando de medo. Ela conseguiu
algo que seu pai sempre quis, poder e respeito. Mesmo que no fim
da vida tenha tomado algumas atitudes ruins que a levaram
diretamente para a morte, Michelle sempre sabia o que estava
fazendo.
— Meu pai não aceitava isso?
— Não muito, eu acho. Ele não conseguiu continuar no cartel.
Por mais burro e um tanto inconveniente que seja, vivo, pode causar
problemas e prejuízos. Além de ter informações que interessam
pessoas com quem trabalho.
— O que faremos se ele sumir?
Dominic ficou quieto, lavando o cabelo. Eu estava com um bolo
na garganta ao saber que minha doce e amorosa mãe liderava um
grupo de homens perigosos, assassinos. Eu vi jornal o suficiente
para saber o que acontecia. Ele tomou banho na minha frente e pela
primeira vez, não estava, de fato, prestando atenção nele no quesito
sexual. Era um momento em que minha mente estava virada do
avesso.
— Há muitas pessoas querendo matá-lo agora. Eu não sei o
que implica deixá-lo vivo ou adiantar a morte dele, em relação a
você…
— Sobre meus sentimentos, não sei se me importo com a vida
dele, não era como se ele tivesse se importado comigo. Ele nunca
me amou. Existe algo mais que deva saber? Sei que precisei de um
tempo, porque estava… na verdade, ainda estou cansada. — Engoli
seco e olhei em seus olhos. — Estou pronta para ouvir mais. Eu
quero saber de tudo.
Ele encerrou o banho, enrolando a toalha na cintura.
— São muitas coisas.
— E quais envolvem o possível desaparecimento do meu pai?
Ele não deveria achar que nosso casamento vai mantê-lo seguro?
— Recuei contra a pia. — Foi meu pai, não é? Você nunca me disse
quem matou a minha mãe, apenas que estava lá e eu prefiro
acreditar que não tenha sido você.
— Não sei se consegue confiar tanto. Ele sabe que estive com
sua mãe naquela noite, ele me viu lá e talvez… duvide que
realmente eu não saiba que foi ele.
O golpe foi duro no meu coração. Meu pai matou minha mãe.
Eles nunca foram um casal amoroso, nem dividiam o mesmo quarto,
raramente ficavam juntos na minha frente. Foram tão raros os
momentos, que não conseguia lembrar ao certo se, um dia,
tentaram ser um casal. Considerando tudo que ouvi nos últimos
dias, ele a matar não deveria ser uma surpresa, mas era horrível
saber mesmo assim.
Percebendo que estava perto de desfalecer, Dominic tocou
meu rosto e acariciou com o polegar. Deitei a cabeça em seu peito,
com a testa bem acima das batidas do seu coração. Ele esfregou
minhas costas.
— Preciso que me conte tudo, por mais difícil e doloroso que
seja. Eu quero saber de tudo. Não tente me proteger e não seja
mais um a me enrolar, sei que não sou a mais esperta e nesse jogo
perigoso, ainda sou inocente. — Ergui meu olhar. Ele beijou minha
testa. — Não seja mais um a me fazer de tola ou qualquer coisa que
estiver crescendo entre nós vai ser um completo fracasso.
— Eu vou te contar, mas não temos tempo, agora. Precisamos
descer e mostrar a todos que nossa união será forte, como
esperam. — Ele tocou meu cotovelo e viu que estava com base,
apesar do hematoma estar quase sumindo. — Não fique perto dele
ou vou perder minha cabeça.
— Tudo bem, ficarei perto de você. Vou terminar de me
arrumar.
Com o coração martelando, saí do banheiro, peguei meu
creme hidratante e os sapatos, sentando na ponta da cama.
Dominic ficou pronto rapidamente, cheiroso e usando roupas mais
casuais. Ele ainda não era adepto do estilo formal como o pai, era
mais de jaquetas de couro e uma aparência muito agradável de se
ver. A mãe não falou nada quando minhas coisas foram movidas
para o quarto dele, pensei que ouviríamos alguma coisa, afinal, eu
só tinha dezessete e completaria dezoito depois do verão.
Olívia era mais velha e não podia ficar sozinha com o
namorado. Talvez fosse apenas paranoia da minha cabeça, podia
ser algo completamente machista, aceitar que o filho tivesse a noiva
no quarto enquanto preservavam a pureza da filha até o último
segundo. Felizmente, o casamento dela estava se aproximando e
eles poderiam ter privacidade.
Descemos juntos e a sala estava perfeitamente decorada,
assim como o quintal. Era impressionante o quanto Donatella tinha o
dom.
— Esse vestido ficou divino em você. — Bess desceu a escada
erguendo os polegares.
— Você também está linda. Adoro seu estilo. — Ela rodopiou.
Dominic estava no telefone e ignorou a irmã. Bess limpou a
garganta, querendo um elogio e dei uma cotovelada nele. Logo as
irmãs se reuniram ao redor do irmão, falando ao mesmo tempo e eu
admirei a paciência e o carinho que ele teve.
Capítulo 13 | Dominic
Robert passou pela porta e minha mão automaticamente foi
para a cintura de Kate. Ela me deu um olhar sem entender,
conversando educadamente com uma senhora que não parava de
falar. Esfreguei suas costas para disfarçar meus movimentos
protetores. O pai dela se aproximou, dando-lhe um beijo na testa,
falando que estava com saudades e fingindo ser afetuoso. Kate
continuou ereta, com um olhar atento e sorriso inocente.
Eu o cumprimentei como sempre, preparado para o olhar altivo.
Como havia muita gente, logo se afastou para cumprimentar os
demais. No nosso meio, ela já não pertencia aos pais e era minha,
então, ninguém estranhou o afastamento. Não era como se eles
fossem próximos. Ninguém falou sobre Kia. Ela nunca foi importante
no quadro geral para os membros da organização, mas eu sentia
pesar pela morte dela, apesar de saber que foi uma escolha se
tornar uma agente.
Kate e eu fomos atribuídos à mesma mesa que Olívia e Luke.
Minhas irmãs mais novas ficaram com as amigas solteiras, perto da
piscina.
— Quer sentar com as meninas?
— Estou bem aqui. — Kate me deu um sorriso, falando baixo.
— Você quer que eu vá?
— Pareço querer? — Beijei sua bochecha.
— Ai que fofos! Quero apertar vocês dois! — Ollie se jogou em
Kate, dando um abraço apertado. — Irmão, te amo!
— Deixa de ser melosa, garota. — Fingi limpar seu beijo.
Eu estava feliz que Kate se dava bem com minhas irmãs. Ela
ainda era a mais quieta e ficava assustada quando as garotas se
comportavam de maneira selvagem, mas acreditava que era
questão de tempo para se soltar e ficar confortável. As irmãs King
nunca decepcionavam no quesito acolhimento e diversão. A noite
passou rápido, o evento acabou no horário e Robert, ignorando
completamente o fato de que a suposta esposa havia sido morta a
pouquíssimo tempo, foi com alguns homens para uma boate de
entretenimento adulto se divertir.
Ele passou a maior parte da noite se gabando por ter uma filha
tornando-se uma King e que os acordos foram excelentes, exibindo-
se como negociador. Tive muita vontade de rir. Além de enrolar por
meses, só aceitou minhas propostas porque não havia mais para
onde correr.
— Pensei que o jantar ia ser pior. Mais assustador — Kate
comentou na cozinha, comendo um pedaço de torta. Ela parecia
muito feliz com chocolate no prato. — Eu não deveria comer tanto
tão tarde, mas isso aqui é muito bom.
— A receita é da Bess, acredita? — Olívia sorriu, orgulhosa. —
Elizabeth sabe ser chata como ninguém, mas será uma excelente
confeiteira um dia.
— Terei minha própria rede de confeitarias. — Bess fez uma
dancinha.
— Eu não quero dormir! Não é justo que eu tenha um horário
para dormir e elas não! — Jane reclamou do corredor e entrou na
cozinha com o rosto vermelho de lágrimas. — Quero ser adulta!
— Own, bebê! Quer que eu deite com você? — Olívia foi até
ela e tentou erguê-la no colo. — Puta merda! Pare de crescer agora
mesmo!
— Só o Dom consegue me carregar agora, boba. — Jane
soltou risadas fofas, esquecendo do drama.
— Isso foi uma indireta, menina? — Peguei-a em meus braços
e a arremessei para o alto. Kate e minhas irmãs gritaram, mamãe
apenas levou a mão ao coração e depois tirou o sapato para bater
em mim, mas eu mal estava sentindo. Rindo, fugi da cozinha com
Jane em meus braços. Joguei-a em sua cama rosa de princesa
bruscamente, ela quicou e riu alto. — Boa noite, Stitch.
— Boa noite, irmão. — Ela foi para debaixo das cobertas. — Eu
adoro a Kate.
— Eu também — confessei baixinho.
Deixei Jane com Olívia, que se continuasse naquele ritmo,
seria terrivelmente mimada e uma adulta insuportável, mas nenhum
de nós parecia se importar. Ela era o bebê, mesmo já não sendo
uma. Segui para o meu quarto e encontrei Kate olhando para a
janela. Sempre que pensava que ninguém estava observando, não
escondia o olhar triste e distante.
Kyra me disse para respeitar o luto. Kate descobriu que a mãe
que muito amava estava morta, quando todos lhe disseram que
havia desaparecido, alimentando a esperança de que um dia
apareceria para dar explicações.
Percebendo minha presença, virou o rosto e sorriu brevemente.
Tirou as pulseiras, colocando-as em cima da mesinha e sentou-se
na cama. Quando ergueu a perna, o vestido subiu um pouco, pegou
um sapato pelo salto e o jogou no canto. Ela não fazia ideia do
quanto aquele movimento simples parecia uma dança erótica aos
meus olhos.
— Posso tomar banho primeiro? Derramei um pouco de suco
em mim e está colando.
Posso tomar banho com você? pedi mentalmente, mas só
balancei a cabeça. Assim que foi para o banheiro com suas coisas,
me joguei na cama e escondi o rosto no travesseiro, rezando todas
as orações que conhecia para manter minhas mãos, mente e
principalmente o pau, em controle. Kate voltou para o quarto com
um pijama tentador. Era um short curto, colado, enfiado entre as
bandas da bunda e uma camisetinha justa.
Ela foi para a cama sem perceber que estava me deixando
maluco. Kate não estava tentando me seduzir. Dormir comigo era
sobre sentir-se segura e não ainda sobre rolar nos lençóis, mas
chegaríamos àquilo antes que perdesse minha cabeça
completamente. Troquei minha roupa para dormir, era raro deitar
cedo, mas não conseguia passar muito tempo com ela e queria
aproveitar um pouco mais.
Não planejei nosso primeiro beijo e foi incrível pra caralho. Foi
simplesmente uma delícia e quase perdi o treino com Luke porque
não conseguia manter minha boca longe dela. Apaguei as luzes
principais, vendo-a com seu novo leitor digital, navegando pelas
páginas dos livros sem exatamente escolher um. Liguei a televisão.
Meu quarto era o único com aparelho no quarto, mas odiava os
programas que minhas irmãs assistiam.
Coloquei em um jogo gravado. Sentia falta do campo, mas
lidava bem com a consequência da minha escolha. Sempre que a
saudade ficava insuportável, reunia alguns dos meus amigos para
fazer um amistoso não tão leve assim. Era sobre porrada sem
regras no gramado só para extravasar a raiva. Kate olhou para a
tela sem interesse, relaxou mais na cama e ficou com a cabeça
próxima ao meu ombro.
Aos poucos, pude senti-la ainda mais perto. Diminuí o som e
virei-me na cama. Ela abriu os olhos, toquei sua cintura e ficamos
perto. Soltou um suspiro de satisfação.
— O que foi?
— Gosto do seu perfume — confessou com a voz suave e a
mão macia tocando meu pescoço. — É forte, de um jeito bom…
nunca senti igual.
— Hum… — cantarolei e me inclinei para a frente. — Posso
sentir o seu direto da fonte?
Com um sorrisinho nos lábios, ela pegou o cabelo e tirou do
meu caminho, esticando o rosto para me dar espaço. Sem
cerimônia, dei um beijo acima de sua pulsação e arrastei o nariz
pela pele arrepiada. Ela soltou um som baixo, muito parecido com
um gemido e agarrou meu braço. Toquei sua bochecha e olhei em
seus olhos antes de tomar-lhe a boca.
Ela brincou com a minha língua, movendo a perna para que
pudesse ficar ainda mais perto. Desci minha mão para sua bunda,
apertando e colocando minha perna entre as coxas macias. Kate se
esfregou em mim, voltando a me beijar intensamente, arranhando
minha nuca e me fazendo sentir tanto tesão que estava quase
perdendo o controle. Arrastei meu polegar por seu mamilo e ela
saltou.
— Desculpa. Sinto muito.
— O quê? — Kate pareceu desorientada. — Eu me assustei
com o que senti. Foi bom.
— Você está me fazendo perder a cabeça. — Mordi seu
queixo.
— Está excitado?
— É claro que sim… está com medo?
— Não. Estou curiosa. — Cobriu o rosto, envergonhada, o que
me fez rir. — Te vi nu lá no banheiro e achei interessante.
— Ah, sem confissões tímidas. Olhe para mim. — Segurei sua
mão e a beijei só para deixar claro que queria muito ouvi-la dizer
que era atraída por mim. — Fale mais…
— Está querendo ganhar elogios. Eu não vou alimentar seu
ego, bobo.
— Eu vou alimentar o seu — brinquei e voltei a apertar sua
bunda. — Gostosa.
— Ah… — Ela riu e desceu a mão para a minha bunda,
apertando também.
Kate rolou para cima de mim e sentou em minha cintura. Eu ia
avisá-la que havia algo ali que ela nunca sentiu antes e seu olhar foi
impagável. Colocando o cabelo atrás da orelha, me deu um beijo e
segurei seu quadril para mostrar que nossa brincadeira poderia ficar
ainda mais gostosa. Avistei a alça da camisetinha caindo, beijei o
ombro livre, descendo minha boca para tão perto do mamilo quanto
possível.
Ela se entregou deliciosamente ao nosso momento, mas não
empurrei além daquilo, foi apenas um amasso gostoso que me
deixou de pau muito duro e louco para gozar. Dormir de conchinha
nunca foi tão torturante quanto sentir a bunda dela a noite inteira e
não ter nenhum alívio até o dia seguinte no chuveiro. Gozei mirando
o ralo, dando um tapa na parede de tão forte que foi.
— DOMINIC! Eu vou me atrasar! Saia do banheiro! — ela
gritou do lado de fora.
— Desculpa, linda. Estava muito ocupado. Estou terminando
meu banho, pode entrar.
— Eu também preciso de um banho.
— Vai fazer o meu dia se tirar a roupa e entrar aqui.
Kate desceu o olhar para abaixo da minha cintura e mordeu o
lábio.
— Quer me ver nua?
Dei a ela um olhar óbvio, eu não era santo e estava disposto a
tudo que pudesse me dar. Ela entrou um pouco mais e tirou a
camiseta, revelando os peitos maravilhosos que encheram minha
boca de água. Respirando fundo, empurrou o short para baixo com
a calcinha. Seu corpo era perfeito. Queria cair de joelhos à sua
frente e lambê-la toda.
Ela pisou com cuidado na área do chuveiro, segurei sua cintura
e tomei-lhe a boca. Kate ficou na ponta dos pés, me beijando de
volta e com a água caindo entre nós, eu jamais poderia dizer que
meu dia não começou de uma excelente maneira.
Capítulo 14 | Kate
— Por que está vermelha? — Ollie me questionou enquanto
colocávamos a mesa da cozinha para o nosso café. — Está
distraída e atrapalhada. Aconteceu alguma coisa?
— Não sei se vai ficar chateada, mas não tenho ninguém para
falar. — Olhei para o corredor. — Fiquei nua na frente de Dominic.
Nós nos beijamos e ontem as coisas esquentaram um pouco mais
na cama…
— Só ontem? — Olívia sorriu. — Achei que já estava sentando
com tudo no meu irmão, ele falta deitar para você pisar!
Normalmente, homens só ficam assim depois de um bom chá.
— Chá de quê? — Parei de colocar as xícaras. Olívia me
explicou com uma risada. — Ah! Meu Deus! — Soltei uma
gargalhada e cobri a boca.
— Ei, tá liberado rir aqui, ok? — Ela esfregou meus braços. —
Embora seja horrível pensar no meu irmão nu, quero te fazer umas
perguntas bem importantes: você gostou e quer isso? Um avanço
mais íntimo?
— Eu não tinha considerado. Pensei que aconteceria por
obrigação, porque eu seria a esposa dele, mas Dominic é bonito e
me atrai muito. Ouvia as meninas da escola falando sobre, era
abstrato e muito difícil pensar que sentiria algo parecido. — Voltei a
colocar os pratos, ela serviu as frutas em uma bandeja e parou ao
meu lado. — Estou sendo atirada em fazer essas coisas com ele? É
cedo demais?
— Não acho que seja. Eu transei com Luke na primeira noite
do nosso noivado, porque ele foi incrível comigo em todos os meses
que estava me recuperando do ataque. Ele foi o meu herói em
milhares de momentos e me impediu de quebrar ao meio, me
protegendo dos olhares e julgamentos de todos ao nosso redor. —
Ela cruzou os braços e pensei no quão forte era por estar de pé
depois de ter passado por um abuso sexual de alguém que fazia
parte do nosso círculo. — O importante é o que você sente. Já
temos muitas regras. Por que não nos divertimos? Temos mil
etiquetas, só podemos falar com pessoas que fazem parte da
organização e nossos casamentos são programados como
antigamente.
— Sempre ouvi as meninas dizendo que quem é muito atirada
é dada como puta.
— Puta? Tenho certeza que meu irmão vai amar se você
bancar a puta com ele. — Olívia piscou, me fazendo rir. — A vida
não funciona igual para todo mundo. Apenas aproveite. Esse é o
meu conselho.
— Obrigada por me ouvir.
Dominic entrou na cozinha pronto para sair, cabelos molhados,
cheiroso e me deu um sorriso que fez com que meu ventre
revirasse. Ele parou na minha frente e me beijou, mesmo com a
irmã presente. Olívia riu e foi para o outro lado da cozinha, nos
dando um pouco de privacidade. Nosso banho foi tão bom. Não nos
tocamos, mas nossas partes se tocaram. Aquilo era simplesmente
incrível e mal via a hora de experimentar mais.
— Vai me levar na escola?
— Isso soou inocente e um tanto pervertido aos meus ouvidos.
Quer usar um uniforme colegial?
— Contenha-se, Dominic. — Dei um tapinha em seu peito.
— Eu vou tentar.
Oliver entrou na cozinha sem que eu tivesse ouvido sua
chegada e dei um salto para longe de Dominic. Ele nos olhou sem
entender nada, até porque, não estávamos em uma posição
comprometedora, mas eu sentia que era falta de respeito ficar de
agarração na frente dele. Também não confiava nele. Meus instintos
sempre me faziam ficar em alerta quando estava presente, até
porque, meu próprio noivo parecia não contar tudo ao pai.
Nós comemos com Jane, elétrica por voltar à escola. Naquele
ano especificamente, devido aos negócios de Oliver, as meninas
estudaram em Los Angeles, mas no ano seguinte, Bess estaria
formada como eu e ingressaria em NYU enquanto Kimberly estaria
no último do colegial. Jane levaria um bom tempo para se formar,
mas estava ansiosa para ir para a escola nova em Nova Iorque.
Eu estava pronta para sair de Los Angeles e conhecer outros
lugares. Dominic vivia viajando, conhecia vários países e eu queria
também, além de aprender um pouco mais sobre nossa vida. A vida
que sempre esconderam de mim. Envolver minha mente ao redor do
fato de que minha mãe, que beijava machucados, fazia cookies e
deitava comigo para assistir filmes, era uma assassina, aliciadora e
traficante era muito difícil.
E ainda muito mais coisas que eu sequer sabia.
Depois de terminarmos de comer, arrumei minha bolsa. Só
faltavam algumas provas finais para dar adeus ao lugar que passei
a maior parte do tempo nos últimos anos da minha vida. Dominic
escolheu um dos carros esportivos, ruidoso e muito chamativo para
me levar. Recusou-se a trocar, pois queria que todo mundo
soubesse que era ele chegando.
No caminho, apertei sua coxa.
— Um dia poderei dirigir um como esse?
— Meus carros? — Ele pareceu chocado. — Meus carros?
Quer dizer, você sabe que isso não é qualquer carro! É um…
— Dominic! — cortei, ele riu e percebeu que estava séria.
— Quando tiver muita prática.
— Como poderei ter prática sem experimentar?
— Vamos uma coisa por vez. Primeiro, que tal aprendermos a
dirigir e depois…
Revirei os olhos, pegando minha bolsa quando parou em frente
à escola. Virei no banco e ele me deu um beijo suave nos lábios,
sem se importar que eu estava fervendo para dirigir aquele carro.
Ganhei um aperto na bunda antes de Brady sair da moto e abrir
minha porta.
— Estarei por perto. Me ligue se precisar. Sou a discagem dois
do seu telefone — meu segurança informou com um aceno.
— Obrigada, Brady. — Sorri e entrei na escola.
Algumas pessoas perceberam que cheguei em um carro
diferente, até comentaram, mas não conseguiram ver quem estava
no volante. Dominic arrancou, fazendo um show com o ronco
potente. Entrei na sala e deixei minha mochila ao lado, sem precisar
pegar material no armário. O professor logo entrou.
— Você está diferente, Kate. Não sei o que aconteceu, mas sei
que está linda e parecendo mais leve — minha colega de laboratório
comentou e eu sorri de verdade. Estar fora da casa do meu pai tirou
o medo que pesava meus ombros.
— Obrigada.
O comentário dela me fez refletir sobre o quanto eu não era
normal. Minha vida nunca seria como daquelas meninas, que
podiam ir e vir e não estavam envolvidas em uma conspiração.
Minha existência estava marcada por herança. Eu não escolheria
ser como minha mãe, mas parecia que era uma opção fora do meu
alcance enquanto pensassem que eu podia ser um risco aos
negócios.
Até mesmo meu pai me via como uma ameaça. Isso era
insuperável. Ele deveria me amar e proteger. E para falar a verdade,
saber os motivos dele me causava um pouco de alívio. Não havia
nada de errado comigo. Eu não fiz nada para merecer ódio e rancor.
A culpa era dele. Carregar o peso de não ser amada e ainda sem
saber o porquê, me trouxe um sabor amargo de que estava
destinada a ser rejeitada.
Papai me odiava porque eu era uma herança da mulher que o
traiu.
Isso era um problema da mente doentia dele.
No final da aula, Brady estava encostado na parede, olhando
ao redor. Parei ao lado dele e encostei também, me sentindo um
pouco cansada. Minha mente trabalhou para acompanhar a matéria
e ao mesmo tempo fervilhou com os recentes acontecimentos.
— A sensação de estar sendo observada algum dia irá passar?
— Não sei. Acho que sempre terá alguém de olho em você se
depender do Dominic, até porque, não sabemos se sou o único por
perto. — Ele me ofereceu um sorriso de desculpas.
Dominic chegou com um carro um pouco maior. Ele saiu para
abrir a porta, algo que mais cedo pedi que não fizesse, e suspirei. A
escola inteira saberia sobre nós. Eu vi vários dos garotos do time da
escola reconhecendo-o e se cutucando. Como jogador da liga
estudantil, ele teve uma fama meteórica e vários times brigaram
para tê-lo. Não fazia ideia como ele gerenciava a outra vida sem ser
abertamente reconhecido ou o mundo do crime não se importava.
— O que eu disse sobre chamar atenção desnecessariamente?
— O que posso fazer se sou irresistível? — Ele sorriu e me deu
a mão para subir na caminhonete. Revirei os olhos abertamente,
para mostrar o quanto o comentário era desnecessário, mas acabei
rindo. — Não ganho nem um beijinho?
— Vou pensar. Para onde está me levando?
— Você disse que sente falta de correr ao ar livre. Estou nos
levando para uma praia mais distante, um pouco deserta, mas boa o
suficiente para corrermos.
— Obrigada. — Beijei sua bochecha e coloquei o cinto de
segurança. — É território de alguém?
— Divisa de um moto clube, estou fazendo negócios com ele
no momento e como já sabe do nosso envolvimento, não vai ser
perigoso que nos vejam juntos.
Empolgada com a curta viagem, ele me deixou colocar música.
Não sabia direito o que ouvir, então, selecionei uma lista de
reprodução com clima praiano. Dominic não dirigiu tão rápido
quanto pela manhã, chegamos lá com mais de uma hora de estrada
e ele parou na encosta. Desci do carro sem esperá-lo, admirada
com a paisagem.
— Trouxe algumas coisas. Mexi no seu armário.
Abri a bolsa, encontrando tênis, short e um top.
— Sem camiseta?
— Vamos correr.
— Eu fico com vergonha de exibir minha barriga.
Ele sorriu e tirou a camisa dele, abrindo a calça jeans sem
nenhum pudor. Virei de costas, protegida pela porta da
caminhonete, tirei minha camisa, abri o sutiã e cobri meus seios
com o braço. Vesti o top rapidamente. Tirei a calça e Dominic soltou
um assobio ao ver minha calcinha pequena. Olhei sobre meus
ombros, ele inclinou a cabeça para o lado e mordeu o lábio,
gostando do que estava vendo. Terminei de me vestir e para não
sujar meus pés com a terra escura, ele me colocou sentada na
caçamba, vestindo minhas meias e o tênis.
— Quer apostar uma corrida?
— Eu sei que tenho um pouco de orgulho guardado dentro de
mim em algum lugar, mas também sei que não vou conseguir
vencer um jogador profissional. — Passei meus braços por seus
ombros. Ele me puxou para si, me beijando. — A não ser que me
deixe ganhar.
— Hum… má perdedora?
Encolhi os ombros. Eu treinava desde nova, obviamente era
muito competitiva.
— Que vença o melhor. — Ele me colocou no chão.
Droga. Eu ia perder.
Capítulo 15 | Kate
Dominic estava muitos passos à minha frente, o carro parecia
um pontinho longe e eu, sentindo que iria desfalecer a qualquer
momento na areia. Ele não ia me deixar ganhar, então parei de
correr, ofegante, olhei para o mar e tirei meus tênis, as meias, o
short, correndo para a água. Era tudo que eu precisava, me
refrescar para acalmar minha pele, que parecia pegar fogo. Afundei
de novo, nadando um pouco e senti um par de mãos na minha
cintura.
— Você me assustou. — Dominic me ergueu quando uma onda
grande bateu em nós.
— Está muito quente, eu não aguentava mais. Você não ia me
deixar ganhar?
— Claro que não! — Ele riu e bati em seu ombro.
— Meu pai não permitia entrar no mar, como senti falta… —
Joguei-me para trás, aproveitando o tempo para mergulhar.
Nós voltamos na direção do carro pela beira da água, ele me
fez vestir seu short, andando de cueca preta até a porta. Usamos
algumas peças de roupas para nos secar e no caminho de volta
para casa, paramos em uma rede de fast food. Era a favorita das
meninas. Elas viviam falando em me levar para comer. Dominic me
olhou, esperando meu pedido.
— A última vez que comi um hambúrguer minha mãe estava
viva, escolha para mim. — Soltei, meio emburrada.
— Ok. — Ele recitou algo que tinha salada e bacon, com
batatas fritas. Ouvindo, parecia que iria gostar. — Estou na dúvida
se o que te deixou tão emburrada foi fazer coisas que não eram
permitidas antes, pensar na sua mãe ou por não ter vencido a
corrida.
— Eu disse que meu orgulho estava aqui dentro em algum
lugar. — Fiz um beicinho. — Eu sinto falta da minha mãe, saber que
ela está morta não muda a saudade, apenas me faz parar de ter
esperanças de que ela vá voltar. E quanto ao meu pai, agora eu
posso ser eu mesma de novo, não mais uma pessoa que tinha que
reprimir as emoções para não apanhar.
— Vou te deixar ganhar na próxima corrida.
— E quando vai ser?
— Do carro para o chuveiro, você está cheia de areia.
Bati em seu braço, rindo. Ele me puxou suavemente e mesmo
no estacionamento vazio, só me deu um beijinho. Voltou para a
posição alerta, o tempo todo verificando os espelhos do carro, sem
relaxar. Nosso lanche foi entregue e comemos voltando para a
cidade, pegamos um pouco de trânsito e eu estava cansada só de
pensar que precisaria acordar cedo no dia seguinte para a escola.
Queria me formar e tentar uma faculdade, como Bess. Olívia se
formaria no próximo ano em administração, então, significava que
as mulheres da família King podiam estudar.
Dominic estacionou o carro perto da porta, recolhemos nossas
coisas sujas e deixamos na lavanderia. Felizmente, não
encontramos ninguém no caminho. Nada contra a mãe dele e eu
amaria ver qualquer uma das suas irmãs, mas o meu futuro sogro
me deixava muito nervosa.
Fui direto para o banheiro, tirar areia e lavar a água salgada do
meu cabelo. Dominic tomou banho também, mas ficou no espaço
dele, saindo muito mais rápido do que eu. Minhas coxas estavam
ardendo. Eu era café com leite na corrida quando se tratava das
pernas ágeis dele. Chegava a ser irônico um homem tão grande
conseguir correr tanto, mas um passo dele, eram dois meus.
Injusto.
Vesti uma roupa fresca porque nada nesse mundo me
impediria de tirar um cochilo. Ele estava no quarto com uma calça
de moletom caída na cintura, sem camisa e os cabelos molhados,
bem bagunçados. Na mesa, havia alguns papéis.
— O que é isso tudo?
— Nosso casamento. Precisamos assinar e as folhas serão
enviadas de volta, para o processo legal.
— Sua mãe me disse que deveríamos fazer a festa daqui a um
ano ou mais, eu concordei, afinal, Olívia ainda precisa ter a grande
festa dela. E quanto às empresas?
— O processo será concluído em algumas semanas. Leva um
tempo para que a real natureza desses negócios não chame muita
atenção. — Ele me entregou uma caneta e crispei meus lábios. De
tudo que me irritava naquele acordo, o pior era meu pai ter ainda
mais dinheiro. Quantas coisas absurdas poderia cometer com
recursos o suficiente? — Se seu pai misteriosamente cair e bater
com a cabeça na parede, vindo a ter um derrame cerebral, eu
recupero meu investimento e você herdará todo o dinheiro.
Qualquer filha ficaria ofendida com uma insinuação daquelas,
mas não seria eu. Ele me espancou em todas as oportunidades que
teve quando estava drogado. Só de pensar que Kia apanhou no
meu lugar e eu a julguei por tanto tempo, minha garganta apertava.
A vida era tão distorcida por trás das portas luxuosas da alta
sociedade que eu tinha medo de descobrir o que viria por aí.
Assinei, porque era a minha alternativa no momento e devolvi a
caneta.
— O que são as outras folhas?
— Eu vou te contar uma coisa. Quero que confie em mim, mas
que também confie no meu plano. Estou arriscando tudo que fiz nos
últimos anos nesse momento, tudo que mudou na minha vida, mas
não posso te beijar e esconder isso de você. Sou podre em muitas
situações, deixei de ser bom há muito tempo, mas de todas as
merdas distorcidas que aconteceram comigo, aprendi muito sobre
lealdade. Quero ser leal a você, Kate. — Ele pegou os envelopes. —
Esse é o motivo pelo qual você está viva. Sua mãe lhe deixou
bilhões de dólares em contas clandestinas, em empresas de
investimentos e… há pessoas que sabem desse dinheiro e o
querem. Pessoas que vão querer que invistam ainda mais. Essa
grana sustentava o cartel e as pessoas envolvidas nele, não é
dinheiro limpo, é de droga e de morte, assim como meu dinheiro,
também.
Abri a boca para respirar melhor e me sentei na cadeira.
— Você sempre foi assim?
Eu não sabia como explicar, mas ele entendeu.
— Não. Tudo que queria era ser um jogador de futebol, mas na
noite em que sua mãe morreu, tudo mudou para mim. Mudou
quando ouvi quem meu pai era de verdade, quando descobri o que
significava ser um King no mundo e me tiraram todas as chances de
ser um homem normal. Então, se eu seria parte dessa vida, não
permitiria que me tratassem como uma peça de um jogo. — Ele
olhou em meus olhos, me deixando angustiada e arrepiada. — O
jogo é meu. Eu prometi para sua mãe que te deixaria segura.
Prometi que a protegeria, mas aos vinte e um, esse dinheiro é seu.
Somente seu e fará dele o que quiser, inclusive, atear fogo se não
for o que quer.
— Quem quer o dinheiro? Quem está jogando com a minha
vida?
Dominic inclinou a cabeça para o lado.
— O cartel, quando souber do dinheiro, será o principal
interessado. Sua mãe acabou morrendo como uma traidora,
entende? Secar toda fonte de dinheiro deixou os demais na merda e
bem expostos aqui. Eles tiveram que perder todo o território e recuar
para o México novamente.
— Eu não entendo porque ela fez isso se era algo que vivia
intensamente. Por que trair as pessoas dessa maneira?
— Não sei se foi para assegurar sua vida ou se foi para que
seu pai não tivesse nada dela. Só ela poderia explicar, Kate. A única
coisa que eu sei, é que em relação a sua herança, não podemos
confiar em ninguém. Todos querem um pedaço dela e existem
aqueles que podem ser ambiciosos o suficiente para trair uma
amizade de longa data só pela possibilidade de ter o dinheiro. — Ele
abaixou na minha frente. — Meu pai é um dos interessados. Essa
guerra com ele para mim é difícil, porque ele é meu pai e eu o amo.
Como pai, nunca me fez nada, mas como homem, fez coisas que
podem colocar a vida da minha mãe, irmãs e principalmente a sua,
em risco. Eu tenho que impedir.
— Tudo isso por dinheiro. E sinceramente? Eu nem preciso
dele. — Deixei as folhas em cima da mesa, como se elas pudessem
me contaminar com toda aquela maldade.
— Dinheiro move o mundo, é mais que luxo e idas ao
shopping. Dinheiro é poder. Quem tem, compra tudo e manda em
todos.
Toquei seu rosto com carinho. Ele deu a palavra e nunca
desistiu dela. Nunca desistiu de mim. E eu, inocente, sentindo medo
do homem que se tornou e foi tudo por minha causa.
— Sinto muito por tudo que passou e teve que mudar por
minha causa, por uma promessa à minha mãe, que provavelmente
era tão louca e disfuncional quanto seu pai e o meu. — Encostei
minha testa na dele. — Não sei o que fazer com o dinheiro, mas
prometo que nossos pais não o terão. Há tantos segredos nessa
vida…
Alguém bateu na porta e era Brady, solicitando as folhas do
nosso casamento para enviá-las o mais rápido possível. Dominic
entregou o envelope lacrado, fechou a porta e sentou no chão, na
minha frente.
— Você lembra da sua mãe grávida quando era pequena?
— Claro que não. Que pergunta maluca é essa, Dominic?
— Você tem uma irmã. — Ele soltou e avaliou minha reação. —
Eu não sei se ela é mais velha ou mais nova. Vocês parecem ter a
mesma altura e idade, então, imagino que sejam de idades bem
próximas.
— Como minha mãe teria uma filha e eu não saberia?
Uma irmã? Impossível!
— Helena. É o nome dela. Helena Eros, ela é filha de um
poderoso empresário do ramo de hotelaria. Vive entre Nova Iorque e
a Grécia, é muito rica e comentam que não é uma flor delicada,
apesar de jovem.
— Eros? Eu conheço esse nome… eu já ouvi falar lá em casa
quando era mais nova, mas não sei o motivo. Meus pais sempre
brigavam — comentei e voltei a olhar em seus olhos. — Sei que
parece que eu não conhecia minha mãe por não saber das
atividades extras, mas ela me amava muito. Sempre senti o amor e
devoção incondicional. Mamãe nunca foi menos que incrível, ela
jamais teria uma filha e ficaria longe sem que isso a rasgasse ao
meio.
— Ela teve que entregar a filha por causa do seu pai. Foi uma
traição, Kate. Michelle entregou Helena para conhecidos de
confiança e quando seu pai descobriu sobre ela, porque o meu
contou e inventou outras coisas desagradáveis, Robert
enlouqueceu. Ele sequestrou um magnata perigoso, tudo que fez de
besteira naquele dia, fez com que sua mãe precisasse se entregar
para morrer e assim proteger vocês duas — ele falou com a voz
embargada. — Em troca de famosas barras de ouro, Helena foi
entregue para a família paterna e você teve a vida assegurada por
dinheiro. Seu pai precisa morrer antes dos seus vinte e um. Ele está
tentando fazer com que esse dinheiro seja liberado antes, com o
nosso casamento e sua emancipação.
— E ele acredita que dará a ele?
— Duvido muito. Teria que ser muito estúpido, mas, nosso
casamento é uma das cartadas dele. Tenho certeza de que espera
conseguir desviar o dinheiro das contas ou do máximo que
conseguir. — Dominic bufou e percebeu minha expressão de
desespero. — Não fique assim. — Me deu um abraço e me movi
para estar em seu colo, acolhida entre os braços fortes.
Eu me sentia segura ali, mas me apavorava saber que se não
fosse Dominic, um alguém que nunca teve nada a ver comigo, só
estaria viva porque queriam um dinheiro que minha mãe deixou para
mim. Era questão de tempo para que eu deixasse de ter utilidade…
precisava reagir e logo.
Capítulo 16 | Dominic
Kate ficou encaixada no meu colo e riu quando consegui
levantar do chão do mesmo jeito. Agarrando-me ainda mais
apertado, não soltou nem mesmo quando a deitei na cama.
— Tenho que trabalhar.
— Hoje não. — Ela manteve as pernas agarradas em mim.
— Por que não?
— Dorme um pouco comigo?
— Tão manhosa…
— Você não me achou manhosa quando tirei minha roupa no
chuveiro. — Ela me deu um sorriso.
— Está me provocando?
— Talvez? — Encolheu os ombros, com um suave beicinho.
Mordi a pontinha de seu lábio, aprofundando o beijo em seguida.
Kate afrouxou o aperto com as pernas e seu vestido caiu um pouco
mais, liberando as coxas. Empurrei o tecido completamente para
fora do meu caminho. Voltando a beijá-la, arranhou minha nuca.
— Katherine King! — Olívia socou a porta. — Saia de cima do
meu irmão e vista uma roupa! Vamos sair?
— O quê? — Kate olhou para a porta com a boca inchada.
— Se ignorarmos ela vai embora — falei baixo, arrastando
meus lábios por seu pescoço, muito mais interessado em ficar nu
naquela cama e ter o que podia.
— DOMINIC! Deixa ela sair! — Olívia continuou batendo e não
parou mais. Kate e eu voltamos a nos beijar, as batidas não
paravam, mas eu estava tentando deixar de lado. Minha mulher,
porra sim, ela era minha mulher a partir daquele momento, voltou a
rir e ficou tímida.
— Sua irmã deve pensar que estamos transando.
— Eu adoraria, mas não ainda. — Dei-lhe um beijo. Kate
mordeu meu lábio, chupando minha língua como havia feito não
muito antes. Agarrei sua cintura para subirmos um pouco mais na
cama e de repente, um estrondo na porta. — Que porra, Ollie! O
que você quer? — gritei de volta.
— Quero a Kate. — Sua voz soou angelical. Demônio empata
foda. Rolei para o lado, com a mão no pau e suspirei.
— Vê o que ela quer, eu não posso aparecer assim na frente
da minha irmã.
Kate colocou um travesseiro no meu colo, cobrindo minha
ereção marcada na calça e saiu da cama, ajeitando a roupa. Ela
abriu a porta, minha irmã nos deu uma olhada e riu
descaradamente. A maldita estava me fazendo pagar por todas as
vezes que fiquei de vela e propositalmente atrapalhando seus
lances com Luke.
— Vista um sutiã, gostosa. Vamos sair. É muito importante.
Ergui minha cabeça.
— Vão sair?
— Não é da sua conta. — Olívia riu e Kate foi para o closet. —
Sofrendo, maninho?
— Vai se foder.
— Não fale assim com a sua irmã! — Kate gritou do closet, se
trocando rapidamente e pegou a bolsa. — Não sei onde ela vai me
levar, mas promete me avisar de tempos em tempos que está tudo
bem na rua? — Se aproximou com um olhar preocupado.
— Eu vou fazer isso se ganhar um beijo.
Olívia fez um som de vômito, arremessei uma almofada na
porta, ela saiu correndo e rindo. Kate sentou em meu colo para me
beijar e nos perdemos um no outro.
— É melhor estar nessa cama quando eu voltar da rua —
avisei.
— Humpf. — Foi tudo que me respondeu, saindo com um lindo
rebolar.
Katherine King iria me matar de tanto tesão.
Meu telefone tocou, lembrando que a vida lá fora não me
permitia ficar com o sangue concentrado no pau sem consequências
e como ela havia saído com minha irmã, me arrumei para trabalhar.
Eu tinha que estar na boate para fazer uma verificação e em
seguida, conferir as cargas enviadas para os meus clientes.
Entrei na garagem, arrematando a chave de um carro.
— Saindo de fininho. — Meu pai parou na porta da cozinha. —
Soube que Katherine acaba de se tornar uma King.
— É o normal ao se casar comigo.
— Eu sei. Certifique-se de manter o controle sobre as finanças
dela.
— Não esqueci do plano.
Meu pai acreditava fielmente que me casei com Katherine por
causa do dinheiro. Eu optei por contar a ela porque, além de não
querer mentiras entre nós, ela jamais poderia confiar no meu pai,
por mais legal que ele fosse. Quando ficasse com raiva por qualquer
atitude minha, poderia causar um grande veneno entre nós dois.
Não mentir foi uma boa escolha, mesmo que a inocência de Kate
pudesse me colocar em problemas se cometesse o deslize de falar
demais.
Ela não estava acostumada com o quanto podiam ser
traiçoeiros com um sorriso no rosto. Meu próprio pai dizia que
Michelle era a melhor amiga dele, que sem ela, seus negócios
nunca seriam tão prósperos e eles pareciam partilhar as decisões
em sintonia, até Jackson Bernard sinalizar que ele podia ser mais
sozinho. Eu não julgava Jack por oferecer, ele precisava salvar a
vida da filha e estava disposto a ir para o inferno por isso, mas eu
culpava meu pai por aceitar. Ele deveria ter sido leal. Ele não puxou
o gatilho, mas foi o principal responsável pela morte de Michelle.
Estava muito enganado ao cogitar que Kate seria sua mina de
dinheiro particular.
Sem querer falar mais nada, entrei no carro e dei partida.
Minha mãe ficava com raiva quando acelerava dentro da
propriedade e logo me ligaria com um sermão interminável. Ignorei a
chamada quando cheguei na boate, li a mensagem de Brady sobre
Kate estar segura e bem, mas não disse onde estavam, olhei a
localização e era um shopping.
Olívia tirou Kate da cama para fazer compras. Eu ia matar
minha irmã.
— Por que está irritado? — Luke questionou logo que entrei na
sala.
— Eu nem abri a boca.
— Você fica com um vinco entre as sobrancelhas quando está
irritado. — Ele me analisou com cuidado e bufei.
— Sabe todas as vezes que eu te impedi de ficar sozinho com
minha irmã? Ela está se vingando.
— Nesse caso, eu não lamento. — Abriu um breve sorriso. —
Robert segue tentando meios de sair do país. Desconfio que quer ir
diretamente em um dos bancos para tentar retirar o dinheiro. De
longe, vimos alguns papéis e tudo que conseguimos enxergar com o
zoom máximo foi o nome de Kate.
— Temos que matá-lo no dia seguinte ao jantar de noivado. Eu
dei minha palavra que Enzo poderia interrogá-lo e até o momento,
acho que dá para esperar.
— Ele não vai conseguir o dinheiro sem Kate. O que me
preocupa, é que ele pode tentar pegá-la e tirá-la do país. Ela poderá
assinar por si mesma, se tornou emancipada e dona das finanças…
— falou baixo e ignorei o arrepio que desceu pela minha espinha.
Eu imaginava que o plano de emancipar Kate poderia ter
consequências negativas, mas estava pronto para lidar com aquilo.
Sabendo sobre a existência do dinheiro, apenas se a vida estivesse
em risco ela o daria. Caso contrário, Kate não tinha carinho pelo pai
para fazer o que ele queria.
— Podemos cercá-lo no Canadá ou onde mais o magnata tiver
controle.
— Temos como podar na Europa, principalmente na Itália e
Inglaterra, mas os paraísos fiscais complicam nosso alcance em
termos territoriais. — Ele abriu a porta para um dos nossos homens
entregar uma remessa de dinheiro a ser colocada no cofre.
— Matarei Robert assim que Enzo terminar com ele. Ou meu
amigo adorará fazer a gentileza de limpar o lixo.
Puxei a cadeira para sentar e colocar os pés para o alto.
— Como é ser casado e noivo ao mesmo tempo?
— Eu me sinto mais casado do que noivo. O casamento é real,
o noivado mais longo é para que ninguém questione os motivos.
Vamos manter a mudança do sobrenome e os documentos dela em
sigilo até o próximo ano.
Luke e eu começamos a trabalhar, fiquei concentrado na
distribuição, mal vi a hora passar quando o telefone acendeu a tela.
Olívia me enviou uma foto de Kate na frente de um espelho com um
vestido bonito, avisando que estavam de volta e que eu deveria ser
um bom irmão, liberando Luke para que pudessem ficar juntos um
pouco enquanto nossos pais estavam em um jantar a dois.
Provavelmente iriam demorar.
Avisei a Luke que deveríamos voltar. O que precisávamos fazer
para manter o negócio funcionando já estava finalizado.
— Eu vou comprar o jantar favorito de Olívia — me avisou,
pegando o telefone.
— Kate ainda não sabe qual é a comida favorita fora da dieta
dela e está querendo experimentar novas coisas.
— Esse restaurante tem pratos legais. Olívia gosta, mas ela
não é referência, come tudo que vê pela frente. — Ele guardou o
telefone no bolso e começou a dirigir.
— Ainda bem que sabe que precisará comprar um mercado.
Fizemos os pedidos e não demorou muito. Bess estava na sala
de televisão com Kim, assistindo a um seriado meloso. Olívia
agarrou Luke e o levou para a piscina. Eles costumavam ficar juntos
na casa da piscina e ter um pouco de privacidade.
— Oi! Pensei que fosse demorar mais! — Kate me encontrou
na cozinha. — Estava com Jane. Ela fez um escândalo porque seus
pais saíram e prometi ver um filme com ela no tablet, mas dormiu
antes da primeira parte terminar. Só cantaram duas músicas.
— Essa casa precisa de mais homens — resmunguei baixinho,
apavorado com tantas coisas femininas. — Eu não aguento mais a
Disney.
— É fofo. Eu não podia ver e ainda estou me atualizando com
o que saiu nesses anos.
— Eu gosto de você, mas não o suficiente para isso.
— Ai que horror, Dominic! — Ela fez uma expressão furiosa,
me fazendo rir.
— Estou brincando, mas seria mais divertido se assistisse com
minhas irmãs.
Kate me deu um olhar que não entendi direito o significado,
mas se distraiu com a comida. Abri vinho para nós dois e descobri
que a intrometida da minha irmã a levou para fazer compras, assim
como ao médico, para fazer exames que eu sequer cogitei serem
necessários. Compraria chocolates para Ollie, em agradecimento.
Ela implicava, mas sempre fazia tudo de bom coração. Eu tinha
sorte de tê-la como irmã.
Capítulo 17 | Kate
Dominic foi para o banheiro depois do nosso jantar. A
intenção dele foi bem fofa em trazer algo gostoso da rua para que
eu pudesse experimentar. Apesar de ter amado a massa, fiquei
muito encantada com o molho cheio de carne, uma delícia. Comi
com pedaços de pão porque estava irresistível. Lavamos a louça
juntos e nos despedimos das meninas, afinal, eu tinha aula no dia
seguinte e não conseguia acordar bem se dormisse pouco.
Esperando-o, procurei como ligar a televisão e achei alguns
filmes da Disney só para implicar. A expressão consternada com as
minhas atitudes era engraçada. Ele nunca me tratou mal, apenas
ficava surpreso que eu era capaz de reagir. Entendia que sempre
me conheceu quieta, a menina obediente encolhida no canto, mas
nunca foi a minha real personalidade.
Ele não se incomodava mais em usar muitas roupas depois
que nos vimos nus. Usando uma cueca, olhou para a televisão e
soltou um gemido, sufoquei a vontade de rir olhando para a tela com
plenitude. Achei que fosse reclamar, mas julguei muito mal a
capacidade dele de me mimar. Deitando ao meu lado, apenas me
puxou para ficarmos perto e disse que em um romance, homens de
verdade não cantam.
— Se estiverem apaixonados, cantam, sim.
— Será? — Ele olhou meu cotovelo e talvez não parasse até o
hematoma sumir.
— Quero te perguntar uma coisa. Se você tem negócios com o
moto clubes e meu pai foi atacado por um cartel inimigo, foi você
quem planejou aquela noite?
— Eu nunca planejei nada que tirasse a vida da Kia, mesmo
que fosse para um bem maior. Também não foi nenhum dos meus
associados, acho que Santiago realmente não quis ouvir o primo. As
drogas na rua são uma reação em cadeia. — Ele sentou
brevemente, tentando desenhar na coberta como funcionava,
peguei um papel para entender. Desenhando os clientes, pontos de
coleta e territórios, entendi que meu pai dançou entre inimigos para
fornecer cocaína, depois de um tempo, quis fazer as entregas por
conta própria, “desobedecendo” a ordem das ruas. — Existe uma
regra: se vai invadir e tomar, tudo bem, mas não entre e venda ali
sem autorização. Quando a mula chegava com o pacote, já
encontrava o cliente cheirado e isso gera prejuízo. Sem contar que
quando a cocaína está muito pura, muitos que não estão
acostumados acabam tendo overdose e isso chama a atenção da
polícia.
— Você faz isso?
— Não. Eu forneço a obra prima e eles se viram com o
restante.
— E como consegue a cocaína, Dom?
— Um dia te conto. — Me deu um beijo e deitou. Fiquei
sentada, olhando para a folha e depois para ele. Se meu pai estava
vendendo uma droga venezuelana…
— Você assumiu o lugar da minha mãe — constatei.
— O quê? — Ele bancou o sonso.
— Se Santiago e Santoro brigam para ter o monopólio da
droga, significa que não são somente os moto clubes que estão na
sua folha de clientes. Eu posso não entender nada da cidade, mas
sei que seus negócios ficam nesse triângulo. — Circulei no papel. —
A terceira pessoa que começou a vender para causar o caos entre
Santiago e meu pai era você o tempo todo. Seu pai sabe que é o
verdadeiro fornecedor de tudo isso?
— Não sei do que está falando. Vamos dormir, baby.
Eu sabia que estava certa, apenas sorri de modo triunfante e
apaguei as luzes. Finalmente estava entendendo alguma coisa.
— O que vai acontecer quando meu pai descobrir quanto
dinheiro minha mãe realmente deixou para mim? Quer dizer, você
disse que ele enlouqueceu com o ouro e com a existência da minha
irmã, então… e se ele souber que é mais do que uma grana simples
e sim, bilhões?
— Eu prefiro que ele não descubra. Já está fazendo loucuras
ao somar o patrimônio que sua mãe tinha oficialmente quando
viva…
Era estranho pensar que minha mãe tinha uma vida tão
obscura e muito dinheiro.
— Se ele souber, com o casamento e emancipada… o que vai
fazer comigo?
— Ele não vai chegar perto de você depois do noivado.
Respirei fundo, aceitando e ainda assim, com um pouco de
medo. Se Oliver sequer considerasse que Dominic não estava
fazendo o que ele queria, poderia contar ao meu pai e os dois
dividirem o dinheiro? Eram tantas possibilidades que trouxeram um
arrepio ao constatar que com posse da grana, eu era inútil para
todos. Eles poderiam me eliminar em um piscar de olhos…
— Não fique com medo. — Dominic me abraçou.
— Estou, sim, mas prefiro confiar que vou ficar bem.
O filme continuou passando na tela, algumas cenas eram
bonitinhas e engraçadas o suficiente para rir. Dominic bufava a cada
vez, escondendo o rosto no meu pescoço, mas sem fazer nada.
Estar perto dele, me sentindo segura, também me fez sentir menos
solitária. Eu não precisava mais ficar no escuro do meu quarto com
medo da minha porta ser aberta a qualquer momento. Não havia
silêncio na casa dos King por causa das meninas, mas a minha
mente deixou de estar tão perturbada depois que o tive para
conversar.
Eu disse que ia dormir cedo, mas só paramos de falar e trocar
beijos, que não foram tão aquecidos, às três da manhã. Ele me
acordou no horário e quis dar-lhe um chute. Pela primeira vez, usei
um pouco de maquiagem para disfarçar a noite mal dormida, porém,
ao contrário de todas as vezes que não dormi de medo, estava feliz
pelo momento que tivemos sozinhos.
A casa estava uma loucura com todo mundo correndo para
comer e sair para seus compromissos. O único que não estava era
Oliver, que acordou atrasado depois do encontro com Donatella e foi
para o trabalho sem comer. Jane estava fazendo birra, Kim
reclamava do cabelo…
Ashley era uma santa em conseguir organizar o caos quando
Donatella não estava. Ela e Ollie saíram ao amanhecer com Luke
para ver coisas do casamento.
— Quando poderei dirigir sozinha? Eu sou habilitada. — Entrei
no carro de Dominic, querendo estar no banco do motorista.
— Tem alguma prática?
— Só quando tirei a habilitação, meu pai não me deixava dirigir
em hipótese alguma.
— Vamos treinar um pouco mais — ele disse e apertei sua
coxa. — O quê? Não custa nada um pouco de treino!
— Treino? Sério? Vai ficar me podando?
— Eu não disse que não vai dirigir, só que precisa treinar e de
preferência em um carro comum, não com os meus!
— Oh, pobre bebê! Menino grande com seus carrinhos! —
Debochei e olhei para o volante. — Aceito treinar em outros, mas
saiba que irei dirigir nossos carros. Eu sei ler e sei que tudo que
você tem agora é meu também!
Dominic abriu a boca, fechou e abriu de novo.
— O que aconteceu com você? Acordou com o chicote nas
mãos? — Ele arregalou os olhos. — Vamos comprar um carro para
você treinar. Sobre dirigir sozinha, faremos alguns importantes
testes sobre a sua segurança. Quanto a isso, não vai me vencer.
— Okay! — Dei-lhe um beijo na bochecha. — Sempre fui
assim, eu acho. Lembro de me divertir e poder falar o que pensava
com minha mãe. Meu pai não era punitivo, havia dias que nos
divertíamos juntos, ele jantava em casa muitas vezes, mas depois
eu acho que eles simplesmente decidiram que não valia a pena
fingir. Quando cresci, vi que dormiam separados. Foi piorando com
o tempo, sabe? Quando mamãe sumiu, meu pai me odiava demais
para que pudesse ser eu mesma e me reprimi.
— Você está liberada para ser quem você é, mas não vai
mandar em mim.
Soltei uma gargalhada alta e cobri minha boca ao fazer eco na
garagem. Dominic fez uma expressão divertida, ligando o carro.
Mais uma vez, ao chegar na escola, ele chamou a atenção.
Consegui chegar até meu armário para pegar meu material sem ser
rodeada pelas meninas, querendo saber porque Dominic King
estava sendo meu motorista particular.
Johanna foi a primeira a se empolgar.
— Nós nos conhecemos a vida toda… — comentei ao recolher
os livros. Não era mentira.
— Sério? Por que nunca falou nada? Ai, meu Deus, me
apresenta a ele!
Meu ciúme fez o sangue ferver. Dominic era a única coisa que
eu podia colocar um pronome possessivo na vida e ninguém iria me
tirar isso.
— Depende. Quer ser apresentada como fã? — Fechei meu
armário.
— O quê? Acha que não tenho chances com ele? — Ela
colocou a mão na cintura.
— Eu acho que chegou atrasada, Jô. Só há uma de nós
sentando no jogador e essa não é você. — Camille disse rindo e
minhas bochechas ficaram quentes. Todas elas caíram na
gargalhada. — Bem que disseram que as quietinhas são as piores.
Continuei rindo e não falei nada. O sinal tocou e seguimos para
a sala, eu já sabia que logo espalhariam para toda a escola sobre
nosso relacionamento e tinha que me acostumar com o interesse
das pessoas na vida de Dominic, mas também me preocupava
porque ele tinha negócios que a vida real e um tanto moral não
deveria saber.
No final da aula, encontrei Brady e ele me levou para o
estacionamento. Dominic parou o carro antes que terminasse de
descer as escadas. Quando saiu, parecia ainda mais bonito que
mais cedo, usando jeans, camisa branca e os cabelos alinhados.
Ele abriu a porta e sorriu, pronto para me levar para casa. Faltavam
só alguns dias, se pudesse, já abandonaria a escola, mas queria
terminar como toda pessoa da minha idade.
— Teremos mais dois jantares de noivado, um com a minha
família por insistência da minha mãe e irmãs e outro, com
convidados. São parceiros de negócios que moram em Nova Iorque
e virão para fazer perguntas ao seu pai — me informou e dei um
aceno, sentindo um frio na barriga. Esses associados de Dominic
eram perigosos e eu estava com medo de conhecê-los, mas queria
saber de tudo, fazer parte da vida dele e da que minha mãe deixou
para mim.
A única maneira de sobreviver com minha herança era
sabendo lidar com essas pessoas.
Capítulo 18 | Kate
Ajeitei a alça do meu vestido na frente do espelho, me
olhando de um lado ao outro. Parecia bom. Não era o melhor
vestido e segundo Bess, nem da atual temporada, mas era novo, do
tipo nunca usado, havia custado uma fortuna e para um jantar em
casa estava ótimo. Mesmo que esse evento fosse meu noivado.
Meus dedos tremiam só de pensar no que poderia acontecer.
Dominic já estava no primeiro andar porque alguns dos
convidados estavam na sala. Ele me disse mil vezes para não ficar
nervosa, mas estava acostumado a sentar com assassinos, eu não.
Fechei os olhos ao pensar que por mais que nunca tenha
admitido em voz alta, eu poderia estar dividindo a cama com um
assassino e não me importava. Talvez por confiar tanto nele que não
sentia medo. Mas os outros ainda eram uma incógnita para mim. E
se acontecesse alguma coisa e tudo se transformasse em um banho
de sangue?
Levei mais tempo que o normal para ficar pronta, tive que sair
quando Ashley insistiu nas batidas na porta. Desci a escada
tremendo de nervoso, com o estômago torcido e a bile na garganta.
Dominic segurou minha mão antes de entrarmos na sala, apertando
meus dedos suavemente e passando um pouco de segurança.
Fui apresentada a um casal de italianos, que seriam nossos
padrinhos de casamento. Eu não me opus pela maneira que
Dominic falou sobre eles. Também fui apresentada ao infame
Jackson Bernard, que eu não sabia o que pensar, apenas fui
educada e mantive a distância. Minha postura me fazia parecer
idiota, boba e pronta para correr, mas era como me sentia e não
tinha forças para disfarçar. A presença das meninas e Donatella
ajudou um pouco.
Quando papai saiu com os homens, pensei que fosse
desmaiar, mas a distração apresentada por Juliana Rafaelli acalmou
um pouco minha ânsia. Queria muito saber o que estava
acontecendo no escritório, ninguém falou nada sobre o jantar ser
servido sem os homens, acabou ficando uma roda agradável de
conversa e eu quase esqueci que havia um interrogatório há alguns
cômodos de distância.
Pedi licença para ir ao banheiro, virei no corredor e antes que
chegasse, ouvi as vozes alteradas. De fininho, parei perto da porta e
grudei meu ouvido.
Senti um corpo me pressionando e só relaxei, não gritando,
porque reconheci o perfume.
— Posso saber o que a curiosa da minha mulher está fazendo
aqui? — Dominic questionou e beijou a pontinha da minha orelha.
Ele me levou para longe, entramos em um lavabo de luzes
apagadas.
— Meu pai já foi embora?
— Ele não deu as respostas, escorregou feito sabonete. Com o
contrato assinado, precisei dar-lhe a última parte do acordo.
— Ele fez um showzinho na sala, fiquei com vergonha e,
infelizmente, com medo. — Encarei os botões da camisa dele. —
Em quanto tempo será capaz de receber o dinheiro desse último
acordo?
— Em duas semanas. Jack e os demais querem que eu espere
o casamento, ou será um escândalo, mas tenho medo que quanto
mais dinheiro ele tenha, mais consiga se reerguer novamente. —
Dominic me colocou sentada na pia e pude olhar em seus olhos. —
Eu vou seguir meu próprio plano e depois, me entendo com os
demais, o importante é meu pai não descobrir que fui eu.
— Ou ele pode achar que você não segue as ordens?
— Exatamente. Robert confessou que estava aliando-se a
Alonzo Rafaelli[6] para derrubar meu pai. Então, isso fará com que
fique desconfiado e arisco, não posso me arriscar.
Encostei no espelho, mordendo meu lábio inferior, pensativa.
Meu pai deve ter sentido medo de quem estava com ele para abrir a
boca, mas fazia sentido aliar-se ao cartel historicamente inimigo ao
da minha mãe, que fornecia drogas, enquanto Oliver lavava o
dinheiro e todos seguiam felizes, enriquecendo até a ambição falar
mais alto. Tomando o lugar de liderança, ele teria tudo.
— Ele desistiu porque seu amigo matou o senador e os demais
foram mortos, não é?
— Ele ficou sem apoio. — Dominic abriu um sorrisinho.
— E a herança? Foi mencionada?
— Ele sabe que vai receber um dinheiro, mas pelo que deu a
entender, não sabe o quanto. Não dei trela para falarmos muito,
afinal, tanto Jack quanto meu pai não podem ter isso alimentado.
Não por mim, de qualquer maneira.
Nós fomos encontrados por Donatella, que nos deu um olhar
sobre estarmos em um banheiro pequeno no escuro. Ela não
precisava dizer nada. A expressão de mãe furiosa foi o suficiente
para sairmos o mais rápido possível de volta ao noivado mais
singular da história. Dominic deslizou a aliança no meu dedo e eu
fiquei encantada com a beleza, mas nós não nos beijamos ou
fizemos nada íntimo na frente de todos.
Quando os convidados foram embora, soltei um bocejo,
cansada demais. Parecia que tinha lutado, mas só de não ficar perto
do meu pai e não precisar falar com ele mais do que a interação na
sala, me sentia aliviada. Enzo e Juliana eram muito divertidos,
acolhedores, não me intimidaram e acho que era graças a estreita
amizade que Dominic tinha com o mafioso italiano. No entanto,
percebi que ele não era bem aceito por Oliver.
Talvez meu futuro sogro não confiasse tanto assim no meu
noivo/marido.
Era por isso que Dominic sempre tomava muito cuidado com o
que era dito em casa, nosso tom de voz era sempre baixo no quarto
para coisas sérias e muitas das nossas conversas aconteciam bem
longe da residência. Oliver não podia provar muito sobre o filho, mas
deveria saber que não podia contar com ele completamente depois
da morte da minha mãe. A ideia de mentir que havia sido um
desaparecimento foi de Dominic, para que a organização não se
alarmasse, mas Oliver aceitou para disfarçar a traição que cometeu
e meu pai fingir que não fez nada.
Nós fomos para o quarto tarde da noite. Soube que Oliver foi
encontrar com meu pai, para aliviar a situação de tudo que
aconteceu no jantar e tentar fazer as pazes. A vida no nosso meio
era assim: desconfianças, perseguições, interrogatórios e depois,
todo mundo fingia estar bem, ia para uma boate cheia de mulheres
nuas e muita bebida.
— Sei que parece estúpido perguntar, mas você está bem? —
Dominic parou de escovar os dentes. — Está preocupada com
nossos pais juntos? Falei demais? Se quer que te conte tudo sem
os detalhes sensíveis, eu posso tentar.
— Eu não acredito nem por um segundo que Oliver irá
convencer meu pai depois de ter Enzo Rafaelli quase o degolando…
ele vai fugir, Dom. Mesmo que a fuga o impeça de ter mais dinheiro
e que os acordos sejam cancelados, ele vai fugir. — Apoiei minhas
mãos na pia. — Ele matou minha mãe. Se a fuga dele significasse
paz para mim, eu ficaria bem, mas não vai ser. Enquanto esse
dinheiro existir, enquanto depender de mim… se eu pudesse, eu
dava o dinheiro. Tudo para não viver com esse medo de que
qualquer um pode me matar para tê-lo.
— Robert matou sua mãe porque ela o traiu. Ele só fez isso por
causa do meu pai. — Dominic me abraçou e deitei a cabeça em seu
peito. — Ele não vai chegar perto. Ele não vai tocar em você, nem
por todo acordo e promessa que possa fazer a nossos inimigos.
— Não muda o fato de que minha mãe traiu o casamento
dela… podia ser estranho, mas era um casamento. E se meu pai
fosse a pessoa apaixonada e não correspondida? Só ambição não
causa tanto rancor — falei baixinho contra ele, ouvindo seu coração.
Ainda não entendia porque Dominic estava comigo, se havia um
interesse além da obsessão em me manter segura, mas eu o queria.
Ele era meu e de algum modo, existia uma chama crescendo no
fundo de todos os motivos.
— Se a sua teoria é verdadeira, então, meu pai também era
apaixonado por Michelle? O que ele fez com a pessoa que dizia ser
a melhor amiga no mundo, a que mais confiava e que não podia
viver sem, não tem perdão. — Ele beijou minha testa. — Kate…
— Éramos duas crianças. Por mais que seja mais velho, era
novo e inocente quando tudo isso aconteceu. Agora… estamos no
começo da vida. Como vamos vencer essa guerra?
— Somos jovens e é justamente isso que nos dará forças para
ganhar.
Cansada de pensar sobre o assunto, fui para cama. Depois de
um mês ali, já considerava aquele quarto como meu. Era a minha
nova vida. Antes de pegar no sono, voltei para minha pesquisa
sobre minha irmã, como ela vivia em Nova Iorque e me dava uma
coceira esquisita o relacionamento dela com o meio-irmão, o muito
bonito, porém, perigoso, Crica Eros.
Dominic deitou ao lado e apagou as luzes. Ficou virado para a
parede, provavelmente pensativo demais sobre os eventos da noite.
Rolei para o outro lado, ficamos de costas um para o outro mas
nossos pés acabaram se tocando e aos poucos, fomos mudando de
posição até estarmos embolados. Adormeci com a cabeça
explodindo e acordei assustada com um movimento brusco de
Dominic.
Ele sentou na cama, engatilhando a arma e olhou para a porta.
A luz do corredor era muito suave e com isso, pela fresta no
chão podíamos ver uma pessoa parada ali.
— Dom! Levanta! — Luke chamou. Ainda desconfiado, Dominic
saiu da cama e foi para a porta. Abriu um pouco, pronto para atirar.
Para meu alívio, era Luke e ele estava sozinho. Falaram muito
baixo.
— Volte a dormir, Kate. — Dom foi para o closet. Levantei e fui
atrás, cruzando os braços. Vestindo as roupas, pegou um casaco e
me deu um beijo suave nos lábios. — Não tenho tempo, desculpe.
Depois falamos.
Fiquei contra a parede, chateada por não saber o que havia
acontecido e precisando esperar.
Eu odiava esperar.
Capítulo 19 | Dominic
Agachei no asfalto, olhando as marcas dos pneus e a direção
em que o carro tombou. Meu pai tossia e cuspia, ainda sem fôlego
da porrada que o airbag deu nele na batida. Caminhei até o
motorista, que estava de cabeça para baixo e a garganta cortada.
Robert o atacou, causando o acidente e fugiu pela escuridão da
noite, mas segundo meu pai, havia outro carro aguardando-o. Ele
planejou uma fuga, mas estava disposto a morrer por isso, afinal, a
batida foi horrível.
Meu conhecido na polícia me deixou passar, embora o
depoimento do meu pai tenha sido comum: saiu para beber com um
amigo, pai de sua nora e ele o surpreendeu com um ataque. Foi
preciso planejar uma história de última hora, algo sobre um
desacordo com as finanças, mas nada que levasse a polícia a fuçar
mais sobre nossa vida.
Tive que deixar meu pai ir embora com a ambulância e impedi
que ligassem para minha mãe, ou ela teria um ataque. Eu não
queria que nenhuma delas saísse de casa sem antes saber o que
de fato estava acontecendo. De volta ao carro com Luke, seguimos
até o limite da cidade para encontrar Priest. Ele estava encostado
em sua moto, brincando com uma faca.
— Soube que o acidente foi feio.
— As notícias correm rápido. — Luke bufou.
— Não é minha culpa que eu tenho informantes em todo lugar.
— Priest deu de ombros. — Seu futuro sogro pagou a entrada para
os latinos e é tudo que sei. Ele prometeu entregar nossas rotas e os
pontos de venda de drogas dos italianos.
Maldito Alonzo.
Robert filho da puta.
— Vamos recalcular nossos passos.
— Sim, sim, relaxa, homem. Sabe com quem está falando?
Quanto a isso, estamos seguros, os latinos não vão ver o dia
amanhecer se ousarem. Eles sabem disso. Agora, sobre seu sogro,
ofereci tudo que tinha e não o consegui de volta. Soube que ele
prometeu ouro…
Senti um pouco de alívio. Robert só queria o ouro para tripudiar
da memória da mulher que lhe deu uns bons pares de chifres. Ele
ainda queria saber quem era a menina para ter certeza que Eros era
o amante de Michelle, mas com isso, ele nunca encontraria o ouro.
A pessoa que o pegou era mais esperta.
— É questão de tempo até Robert perder esses aliados e estar
morto. É só mais um episódio para dar dor de cabeça, mas,
mantenha os olhos abertos.
— Sempre.
Luke entregou a ele um pacote de dinheiro pela informação e a
tentativa de negociação, voltamos para o carro e fomos para o
hospital. Meu pai estava sendo submetido a exames e logo me
dariam informações, fiquei esperando na sala de visitas e meu
telefone vibrou com uma mensagem. Kate estava acordada e
preocupada, queria saber se estava tudo bem e foi a primeira vez
em minha vida que estava na rua e alguém queria saber de mim -
tirando Enzo, mas havia uma pequena parte de preocupação, ele
era mais fofoqueiro e controlador.
Eu me afastei muito da minha mãe e irmãs para que elas
sentissem que podiam perguntar. Kate era diferente. Era bizarro
pensar que eu tinha uma esposa sendo tão jovem. Ela tinha
dezessete. E por mais que nós não tivéssemos dado mais do que
alguns beijos, ela era minha esposa. Eu tinha uma mulher me
esperando chegar, com medo de que algo acontecesse.
— Você responde minha irmã quando ela te manda
mensagens?
— Não me bata pela honestidade, mas se eu quiser ter paz,
sim. Ela vai me infernizar por vários dias, jogar coisas absurdas na
minha cara e dizer que sou incapaz de pegar um telefone. — Ele
cruzou os braços, olhando para frente. Guardei meu telefone no
bolso. — Não vai responder?
— Quero ver a reação dela. Nós não nos conhecemos,
estamos aprendendo muito sobre o outro a cada novo dia. Kate não
é tímida e retraída, ela tem muita personalidade, que foi reprimida
nos últimos anos. Vamos viver juntos. — Dei de ombros, sentindo
meu aparelho vibrar repetidamente. — Quero que ela me conheça.
— Você tem noção de que um casamento é conhecer a pior
parte do outro e ainda assim escolher ficar junto? É sobre as partes
feias, aqueles momentos dolorosos…
Eu o olhei e finalmente entendi porque ele quis casar com
minha irmã. Luke se apaixonou pela Olívia sombria, que estava
sofrendo e com dor. Ele foi um protetor feroz, até mesmo contra mim
e depois, amou a Ollie que todos nós conhecíamos, que estava
voltando à luz graças ao companheirismo dele.
— Obrigado por amar minha irmã.
— Eu vou ignorar seu sentimentalismo e pegar um café. — Ele
se afastou, me fazendo rir.
Liguei para Enzo e discutimos possíveis locais que Robert
poderia ter passado nos últimos meses para rastrear o paradeiro de
Alonzo. Ele iria se reunir com Kyra para trabalharem nisso. Eu sabia
que em Los Angeles, o tio fantasma dele não estava, porque Priest
e todos os olheiros dele já teriam percebido a presença de alguém
diferente.
Luke recebeu a informação sobre os latinos estarem recuando
para seus clubes, evitando andar pela cidade, afrontando a divisa
dos territórios como faziam. Ou estavam com medo ou era um
movimento para atacar.
— Envie um alerta para que os nossos ambulantes fiquem
atentos. Se eles sumiram, é porque a polícia vai passar. Eu não
quero ninguém sendo pego hoje.
Luke deu um aceno e saiu. Verifiquei os negócios em Nova
Iorque e tive que parar quando meu pai saiu. Ele estava bem,
precisaria de repouso, o que poderia ser feito em casa. Era para
observar e voltar se ele sentisse fortes dores ou falta de ar. Ele
entrou no carro com dificuldade.
— Não vai dizer nada? — papai questionou no banco de trás.
— O que eu poderia dizer agora? Você nunca me ouve.
E não confiava em mim.
Aquilo não me ofendia.
— Eu estava tentando reverter a situação que você criou.
— Os associados são seus. Por que não poderiam estar
presentes no meu noivado? — Olhei-o pelo retrovisor. O velho
estava com dor e com muita disposição para brigar depois de um
acidente em que poderia ter morrido. Era impressionante o quanto
meu pai tirava forças das bolas para ser insuportável.
— Sua amizade unilateral com Enzo Rafaelli irá nos destruir.
Você abandonou a faculdade, não assume nossos negócios, abriu
casas noturnas… — Estalou a língua. — Quer uma vida de
playboy? Tudo bem! Apenas me avise para que possa preparar sua
irmã.
Luke fechou as mãos em punhos. A ideia da Olívia ser chefe
da organização me causava arrepios, porque minha irmã não era do
tipo violenta e manipuladora. Ela era doce e queria ser design de
interiores, mas meu pai a obrigou a fazer administração. Quando se
casasse com Luke, teria independência para trocar de curso.
Deixei meu pai falando sozinho. Não valia a pena o desgaste.
Dirigi para casa e minha mãe estava na cozinha, ela nunca dormia
quando meu pai estava fora. Saltando do banquinho, quase
derrubou a xícara de chá ao ver os hematomas e o braço pendurado
em uma tipoia.
— Oliver! O que aconteceu?
— Um pequeno contratempo. — Eles se abraçaram. — Estou
bem, só preciso deitar. Tudo poderá ser resolvido amanhã.
Esperei que saíssem e vigiei o corredor.
— Alguma notícia?
— Não. Eles sabem que é para eliminar assim que for
encontrado.
— Quero ver o corpo. Não vou acreditar que está morto apenas
com algumas informações.
Como meus pais estavam em casa, Luke não podia subir, ele
foi embora depois de algumas doses de bebida e eu fui para o meu
quarto. Abri a porta com cuidado, a televisão estava ligada e ela no
centro da cama, de braços cruzados. Quando me viu, saiu das
cobertas rapidamente e pulou em mim, aliviada.
— Graças a Deus! O que aconteceu?
— Está tudo bem. Meu pai sofreu um acidente e eu tive que
sair às pressas, mas seu pai fez o que esperávamos: fugiu.
— Santiago e Santoro? — Olhou em meus olhos.
— Sim. Ele prometeu algumas coisas que logo vão chutar a
bunda dele ao saber que não é verdade. Ou vai sair morto ou terá
que fugir deles, também.
— Entendi. Já prevíamos isso, qual a próxima parte do seu
plano?
Ela era esperta demais. Beijei a pontinha de seu nariz.
— Vamos viver um dia de cada vez, não dá para planejar tudo
por muito tempo. — Arrastei meus lábios nos dela. Kate apoiou as
mãos nos meus ombros e me olhou bem séria.
— Aconteceu alguma coisa com seu telefone, Dominic King?
— Não.
— Seus dedos vão cair se me responder quando visualizar a
mensagem?
— Então só sou obrigado a responder se ler?
Ela me surpreendeu com um beliscão doloroso no mamilo que
me fez contorcer no lugar. Fiquei todo arrepiado e não foi em um
bom sentido.
— Escuta aqui, Dominic! Eu fiquei preocupada! Essa vida é
completamente nova para mim e mesmo que um dia me acostume,
você vai me responder sempre que eu lhe mandar mensagens —
falou entredentes, me fazendo rir. Sua expressão de raiva era muito
bonitinha. Estava louco para jogá-la na cama e beijá-la muito, quem
sabe, tirar sua roupa.
— Ou o quê? Vai me torturar com esses dedinhos finos? —
provoquei, querendo irritá-la um pouco mais. Kate abriu a boca,
pronta para discutir e tomei sua boca, ela mordeu minha língua. —
Ai, porra!
— Vou voltar a te beijar, mas antes, vai dizer: eu, Dominic King,
irei responder todas as mensagens da minha esposa.
— Eu, Dominic King, irei responder todas as mensagens da
minha tirana esposa — prometi solenemente. Satisfeita por ouvir o
que queria, pegou na barra da minha camisa e ergueu um pouco. —
Quer que eu tire?
— Só se for tirar tudo.
Porra.
— E você vai tirar tudo, também? — Agarrei sua bunda.
— Depende. Vai valer a pena?
Provocadora.
— Vou te mostrar o quanto vai ser incrível cada vez que ficar
pelada comigo.
— Desafio aceito.
Linda, gostosa e minha.
Capítulo 20 | Kate
Dominic segurou a barra do meu pijama e ergueu. Levantei os
braços para deixá-lo tirar. Não era a primeira vez que via meus seios
nus, mas seria a primeira que o deixaria tocá-los completamente. Eu
queria experimentar algumas coisas novas, como qualquer garota
da minha idade. Queria me sentir humana, com direitos e liberdades
de uma mulher. Homens decidiram tudo na minha vida o tempo
inteiro, mas a decisão de ser íntima de Dominic era só minha.
Olhei de longe pessoas sendo felizes, beijando, namorando e
sofrendo, observei a vida como uma espectadora presa em uma
bolha. Cansei de sentir medo e permitir que me controlassem. Meu
casamento não seria mais uma prisão. Não foi essa vida que minha
mãe escolheu para mim e agarrada nessa atitude, beijei Dominic
com todo meu desejo. Ele parecia arder contra mim, ansioso em me
tocar por todo lado, demonstrando paixão pelas minhas curvas.
Com um sorriso safado, desceu com os lábios para minha
clavícula, provocando-me com a língua. Fomos deitando
lentamente. As cortinas estavam fechadas e só a luz amarelada e
suave acima da banheira no outro cômodo estava acesa. A
penumbra chegava a ser romântica e iluminava o suficiente meus
mamilos pequenos e atiçados, com minha auréola enrugada de
tesão.
Ele beijou bem perto, me fazendo suspirar de frustração, ainda
não era o que queria.
Com o indicador, circulou meu mamilo e sorriu.
— Você quer minha boca aqui?
— Sim — respondi sem hesitação.
Sua mão era grande e meu peito desaparecia, mas o aperto
era gostoso demais para ignorar as reações que provocou por todo
meu corpo. Apertei minhas coxas juntas, sentindo uma vontade
louca de ter fricção. Sem soltar meu peito, Dominic pressionou a
mão grande entre minhas pernas, por cima do meu short de dormir
e gemi alto. Sim, era aquilo que precisava.
— Não cubra a boca. Quero ouvir seus gemidos. — Ele
mordiscou meu pescoço, soltando o laço que prendia o short e
deslizou para baixo. Fiquei só de calcinha na cama e não
esquecendo da regra, ele também ficou de cueca. Era um
espetáculo a ser visto. Passei a mão por seu abdômen trincado e
desci até o cós da cueca.
Dominic soltou uma respiração mais pesada com a minha
exploração curiosa. Queria tocar sem a cueca e talvez fizesse isso
depois, mas sentir a extensão me fez questionar como caberia.
— Eu não quero alimentar o seu ego, mas ele fica muito maior
do que quando está tomando banho.
Ele soltou uma risada bonita.
— Boa parte do meu sangue está concentrado em um único
lugar agora.
— Estou latejando — assumi timidamente. — É normal?
Eu não queria que pensasse que era uma completa idiota, mas
só poderia falar sobre tanta intimidade com ele. Dominic assentiu e
me beijou, aparentemente, estar pulsando entre minhas pernas era
muito bom. Seu beijo me fazia perder a noção, me consumia, era
tudo que conseguia pensar, porém, quando chegou minha calcinha
para o lado, tocando meu clitóris… o que senti foi mágico. Dominic
olhou em meus olhos, querendo avaliar minha reação e achei o
cuidado que teve comigo fofo, tanto que lhe dei um beijo.
Desviei o olhar para a mão em minha boceta, fazendo
movimentos maravilhosos e gemi.
— Oh, por favor, não pare.
— Eu não vou parar…
Havia algo crescendo que não conseguia controlar. Dominic
gemeu.
— Você está tão molhada, porra. Eu preciso…
Ele me soltou e puxou minha calcinha pelas pernas, jogando-a
longe. Afastei meus joelhos, hipnotizada pela expressão de desejo
visceral que estava no rosto dele. Senti o poder daquele momento.
Era tão intenso que meu coração parecia que ia explodir no peito,
mas ninguém me avisou sobre a boca dele diretamente na minha
boceta, me fazendo sentir tanto prazer que apertei os lençóis para
não gemer mais alto do que as paredes poderiam suportar.
Ver Dominic ali já era uma emoção, o que a língua dele era
capaz de fazer da minha entrada cheia de nervos ao meu clitóris.
Agarrei seu cabelo, rebolando contra seu rosto por puro
instinto. Meu corpo estava sendo comandado por uma enorme onda
de prazer, que explodiu em tremores e gemidos. A boca de Dominic
brilhava.
— Eu nunca ia imaginar que isso seria tão bom. — Soltei uma
respiração pesada, olhando para o teto. — Nós vamos estabelecer a
regra que só poderemos dormir depois de uma sessão como essa.
Dominic riu e me puxou sentada, abracei-o, querendo sua boca
e não foi esquisito sentir meu gosto ali, porque eu queria
compartilhar tudo com ele. Até mesmo tamanha intimidade.
— Tira a sua cueca.
— Eu não tenho tanto autocontrole de sentir sua boceta
molhada e não querer meter.
— Hum… mas e se eu quiser sentir?
— Provocadora — gemeu baixinho com meu toque, mas tirou
rapidamente, voltei para seu colo, me acomodando, e um mísero
movimento fez com que gemêssemos com um arrepio. — Porra…
Eu queria aquilo e ele me deu. Começamos um movimento de
vai e vem, sem penetração, mas eu estava tão molhada que o pau
dele deslizava muito bem entre minhas dobras, fazendo com que
aquele sentimento crescesse muito e tremesse a cada novo toque
da cabeça no meu clitóris. Ficamos mais intensos e frenéticos,
desesperados. Ele agarrou minha cintura, tenso.
— Own, Kate!
Eu perdi completamente meu rumo com meu nome saindo da
boca com um timbre rouco. Fechei meus olhos, gozando novamente
e mordi-lhe o ombro. Dominic me beijou ferozmente, nós deitamos
na cama, olhando um para o outro. Ele parecia tão perdido em si
mesmo, numa nuvem de prazer que precisei beijá-lo e ficar ainda
mais agarradinha.
— Você que já fez isso outras vezes, é sempre tão bom? Ouvi
dizer que algumas mulheres podem ficar insatisfeitas — comentei e
Dominic ficou em silêncio. — O que foi? Eu não sou ciumenta com
seu passado. Provavelmente vou te esfolar vivo no asfalto se me
trair agora, mas antes eu não ligo.
— O quê? Maluca, eu não vou te trair! — Ele riu e acariciou
minha cintura. — Eu não fiz isso muitas vezes.
Ergui meu rosto.
— Como assim? Deixa de ser mentiroso!
— Não estou mentindo. Eu só fiz isso duas vezes antes. — Ele
franziu o cenho.
— Estou me sentindo uma completa idiota por estar tão curiosa
e insistente, precisa me dizer o porquê. Quer dizer, olhe para si
mesmo, é bonito, rico, jogador de futebol e as meninas da escola
ficam completamente malucas querendo sentar no seu colo.
— Isso é ridículo. — Ele riu e passou a mão no rosto. — Eu
não consegui fazer isso. Ser o cara que tem sexo casual enquanto
você ficava presa em casa. Em parte, era culpa minha você estar lá,
porque fui eu que contei tudo à sua mãe e o dia se desenrolou
daquela maneira. Talvez se eu não tivesse me metido, ela
conseguiria lidar com Robert ou teria fugido com você, como era o
plano dela o tempo todo.
— Ainda assim, não entendo como isso afetou sua vida íntima.
— Com o passar do tempo, tudo que estava na minha mente
era você. — Ele olhou em meus olhos. — Eu não conseguia fazer
nada com ninguém pensando em você e planejando estar aqui,
nessa cama, como seu marido. Se você não me quisesse, poderia
até seguir fazendo o que todo homem faz, mas ainda havia a
mínima possibilidade.
Lambi meu lábio, com a constatação do real motivo…
— Você esperou por mim.
— Eu esperei.
— Ah, Dominic! — Joguei-me nele, emocionada e feliz, porque
o tempo todo que estava sofrendo, ele pensava em mim e fazia de
tudo para que eu ficasse livre. — Não foi sua culpa. Você era
inocente e queria salvar uma pessoa que amava. Lembro que
nossas famílias eram como uma só, antes de tudo, eu chamava sua
mãe de tia e sei que seus pais me batizaram na igreja. E bem…
sobre nós, eu achei incrível. Acho que com a prática vamos alcançar
a perfeição.
— Prática?
— É, tipo… agora, eu vou subir em você e voltar a te beijar.
Está de acordo?
— Estou muito de acordo, baby. — Sorriu.
Nós voltamos a rolar na cama e nada do que me disseram
sobre a primeira vez faria jus à sensação. A invasão foi dolorosa,
mesmo que Dominic mal tenha se movido. Mas eu gostei, houve
uma sugestão de prazer me garantindo que assim que a dor
passasse, seria só diversão. Fiquei dolorida, inchada e
desconfortável nas horas seguintes e me recusei a colocar uma
calcinha depois do banho porque não queria nada tocando minhas
partes.
— Eu decidi colocar o DIU.
— Certo. Vai doer? É uma cirurgia? Desculpa, eu nunca parei
para prestar atenção nisso. — Dominic começou a trocar os lençóis,
eu não queria me mover e como a virgindade para o homem era só
sobre gozar em trinta segundos e não um cano grosso entrando em
um buraco que nunca havia passado uma agulha, ele podia se virar
sozinho.
— Interna para colocação e pode ter um desconforto, mas é
um processo rápido. Eu escolhi esse método por não confiar em
camisinhas e não confiar em mim mesma para tomar algum
contraceptivo oral. Também achei cedo para tomarmos alguma
atitude radical sobre filhos, que no momento e a longo prazo, eu não
quero. — Fui honesta. — Não quero ter filhos dessa maneira, com
medo de que possam me matar por causa de uma herança, mas
quando se tem sexo, aprendi na biologia, que o risco é um risco.
— Eu nasci de um risco, meus pais precisaram casar em duas
semanas. — Dominic riu. — Jane também. Foi uma viagem de nova
lua de mel que eles beberam demais.
— Cinco filhos, sua mãe correu muitos riscos — brinquei,
lembrando que quando mais nova, sonhava em casar e ter filhos. Já
estava casada aos dezessete anos, não precisava ser mãe.
Definitivamente, bebês não estavam nos planos de vida.
Capítulo 21 | Kate
Dominic beijou minha nuca tentando me acordar e eu
considerei bater nele. Nós não dormimos nada, meus olhos estavam
ardendo e eu queria continuar na cama. Ele insistiu, falando
baixinho alguma coisa que não entendi de primeira. Virei meu rosto,
confusa de sono e ganhei uma bitoca nos lábios. Dei-lhe um
soquinho, sério, quem podia estar feliz em acordar tão cedo depois
de dormir pouco?
— Eu sei que está feliz porque fez sexo, mas se quiser
continuar vivo, me deixe dormir — resmunguei, puxando o lençol e
ele não deixou. — Dominic!
— Você pode ficar brava, mas só estou querendo contar que foi
admitida na NYU.
Abri os olhos e virei tão bruscamente que bati com a testa no
queixo dele. Dominic gemeu, jogando a cabeça para trás e eu
esfreguei o local, agarrando o envelope. Minhas notas foram
incríveis em todos os exames, era mais inteligente do que me dei
crédito, não quis corrigir o cartão com minha turma devido à minha
mente dispersa. Meu pai havia desaparecido, casei, tive uma festa
de noivado esquisita e poderiam me sequestrar a qualquer momento
por causa da minha herança.
Fora os pesadelos, que apareciam sempre que minha mente
ficava confusa. Foram semanas muito bizarras para enfrentar as
provas finais. Não me cobrei muito. Se eu não passasse, iria aceitar,
afinal, minha vida não estava no melhor momento. Saber que passei
acima de tudo trouxe uma sensação incrível de dever cumprido, que
tudo que me esforcei nos últimos anos, mesmo que fosse para
reduzir meu tempo em casa, valeu a pena.
— Vai chorar? — Dominic se alarmou.
— Já estou chorando. — Abanei meu rosto.
— Você fica engraçada quando chora — ele disse e bati em
seu peito, me encolhendo em seus braços em seguida. —
Parabéns, universitária gostosa. Você vai usar uma aliança do
tamanho de um farol porque eu não vou dar mole.
— Deixa de ser bobo. — Beijei-o e voltei a encarar a folha. —
Nova Iorque, aí vamos nós!
— Sério, parabéns. Eu pensei que com sua mente tão cheia,
precisaria pagar a sua entrada.
— Ei! Eu não ia querer, isso não é justo.
Ele fez um beicinho.
Animada em contar a novidade para Olívia e Bess, troquei de
roupa, escovei os dentes mais rápido que o Flash e saí correndo.
Sem pensar direito, trombei em Oliver. Ele gemeu de dor e eu soltei
um gritinho, apavorada em tê-lo machucado.
— Me desculpa! Você está bem?
— Onde é o incêndio? — Ele tossiu e reparei nos hematomas.
Dominic e eu fizemos uma festinha de sexo enquanto o pai dele
estava todo arrebentado por culpa do meu. — Estou bem, foi só um
tranco para me deixar mais esperto.
— Eu passei na NYU e queria contar para as meninas!
— Sério? Parabéns, Katherine! — Ele sorriu e parecia tão feliz
por mim, deu um abraço que meu pai deveria me dar e comemorar,
mas eu não sabia se podia confiar nele. Não em relação ao meu
dinheiro, disfarcei com um sorriso e saí correndo novamente pela
escada.
Olívia gritou ao ver o envelope na minha mão e nós pulamos
juntas, Jane começou a dançar, mesmo sem entender nada.
— Temos que escolher o vestido mais incrível do mundo para
sua formatura! — Kim bateu palmas. — É emocionante ver os
chapéus voando. Acho que vou sentir alívio por terminar o colegial.
— É a única coisa que estou sentindo! Alívio!
— Temos que sair para fazer compras e comemorar, hoje. O
que acham? Uma festinha na boate nova do Dom? — Olívia sugeriu
e ignorou a careta da mãe, que preferia que as meninas não
saíssem até estarem casadas.
— O que tem a minha boate? — Dominic entrou na cozinha.
Jane gritou sobre a festa, empolgada. — Apenas quem senta na
cadeira e consegue colocar os pés no chão poderá ir.
— Isso é injusto! — ela gritou de novo. — Kim também é
baixinha!
— E ela não vai. Bess e Olívia, tudo bem. — Donatella entrou
no assunto. Kim olhou para Jane como se quisesse matá-la.
Dominic tinha trabalho a fazer na rua, ele nos deixou no
shopping e disse que buscaria Luke. Brady e mais dois seguranças,
que estavam de moto, andaram conosco com uma distância
aceitável, mas sem parecer que estávamos sozinhas. Dentro da
loja, estavam diversas meninas da minha escola, parecia ser o point
da alta sociedade. Fomos conduzidas para uma cabine privada,
porque as meninas King gastavam rios de dinheiro ali.
Para minha surpresa, fomos servidas com champanhe para
aguardar a compradora trazer os modelos para que eu pudesse
experimentar.
— Você está andando esquisito. Treinou errado na academia?
— Bess me olhou com interesse. Olívia pegou uma taça, rindo.
— Já ouviu a expressão: “Se Deus fez, é porque cabe”? Então,
cabe, com ressalvas no dia seguinte. — Encolhi os ombros quando
ela entendeu e ficou com as bochechas vermelhas.
Olívia caiu na gargalhada, cuspindo champanhe e eu acabei
acompanhando, pedindo desculpas a Bess por falar algo sobre o
irmão dela e eu. Ela me empurrou, me chamando de nojenta, mas
acabou rindo, também. Foi uma diversão experimentar vestidos ou
foi a bebida, em todo caso, fiquei sóbria o suficiente para conseguir
escolher um modelo. Depois, eu não podia prometer muita coisa,
apenas que estava vermelha e soltando risadinhas feito uma idiota.
Dominic nos buscou e me deu um olhar, avaliando meu estado.
Não ajudou muito que Olívia estivesse querendo se pendurar em
Luke.
Fiquei com as meninas no quarto, me arrumando para a festa à
noite. Preferi usar um macacão de short, preto brilhante e saltos
altos. Estava arrumada e relativamente discreta. Com meus cabelos
soltos, deixei que Olívia fizesse minha maquiagem, pronta, mal me
reconheci no espelho. Eu não sabia o quanto o rímel certo poderia
realçar meu olhar.
— Quando você se inclina para frente, aparece parte da sua
bunda — Kim comentou da cama. — É hoje que vamos descobrir se
Dominic é ciumento.
— Acho que ele não vai se importar. — Limpei um pouquinho
do batom.
— Eu acho que vai. — Bess saiu pronta do banheiro. — Ele é
um idiota conosco. Por que seria diferente com você?
— Ciúme de irmão é diferente de marido. Espero que Dominic
saiba que não estou interessada em mais ninguém.
— Esse é o ponto, amorzinho. Você saiu das garras do seu pai
direto para uma aliança no dedo. Ele sabe que tem outros peixes
igualmente bonitos nadando por aí. — Olívia deu uma piscadinha.
Era diferente. Não era simples sair por aí e beijar
desconhecidos, eu nunca saberia quem eram de verdade e poderia
acabar em uma armadilha. Além do mais, a confiança e conexão
que tinha com Dominic não era normal. Afinal, que homem esperaria
por mim? Ele tinha tudo para ser um galinha, mudando de cama em
cama, mas esperou por mim. Nenhum outro homem faria aquilo. Por
que desejar algo além da completa entrega e confiança que ele
depositava em mim?
Não fazia sentido.
Pensando nele e com um pouco de saudade, desci as
escadas. Ele estava pronto, colocando o relógio e nos apressando.
Oliver estava deitado na sala com Jane pintando suas unhas dos
pés. Aqueles momentos fofos com as filhas me confundiam.
Dominic também tinha um sentimento misto pelo pai e eu não
conseguia aceitar que dinheiro poderia ser mais importante do que
uma família.
— Você está gostoso. — Ajeitei a camisa do meu noivo/marido.
— Está gostosa. Não é um pouco curto? — Passou as mãos
na minha bunda.
— Não acho. Tenho um segurança particular, meu marido tem
quase dois metros e cento e trinta quilos. Acho que vou ficar bem.
— Dei um tapinha em seu peito e fui para a cozinha beber água.
Abri a geladeira, as garrafas estavam mais atrás e me inclinei.
Dominic assobiou, passando o indicador na curva do meu bumbum.
Com a presença das meninas, ele não falou nada. Luke levou
Olívia e Bess foi com o guarda-costas dela. Dominic e eu entramos
em um carro azul escuro, acelerando pelas ruas apinhadas com a
música alta, ainda assim, ele olhava pelos retrovisores o tempo
todo. Sempre em alerta, mesmo em um dia de comemoração.
Entramos pelos fundos, subindo escadas de ferro e passando por
salas, mas era possível ouvir o DJ incitando o público a dançar.
— Ei, é sério que está com ciúme da minha roupa? — Parei-o
antes de entrarmos no camarote.
— Sim. Você está linda e estou sendo um idiota, mas não
consigo controlar e é por isso que não estou falando nada.
— Eu sou ciumenta. Fiquei com ciúmes quando minhas
amigas da escola falaram sobre você e mais ainda, sobre a
possibilidade de outra mulher tocar o que é meu.
— Isso não vai acontecer — ele garantiu, me abraçando.
— Chegamos ao ponto certo. Ninguém vai tocar em mim —
falei contra seu pescoço. Ele apertou minha bunda novamente, me
fazendo rir e o beijei. Seus longos dedos tocaram parte do meu
centro, fiquei arrepiada. — Dominic…
— Vamos comemorar aqui. — Soltou um resmungo.
— E depois?
— Eu vou descobrir o quanto essa roupinha é flexível ao ser
empurrada para o lado.
— Gosto do rumo dessa conversa, mas antes, quero
espumante. — Fiquei na ponta dos pés, dando-lhe uma bitoquinha e
peguei sua mão, empurrando a porta fechada.
Apesar do segundo andar estar cheio, o camarote que
estávamos, era fechado para o público. Olívia já dançava, com os
braços erguidos e Luke estava perto, de braços cruzados. Bess
falava animadamente com um grupo de garotas, sempre simpática.
Dominic pediu bebidas a um garçom. Brady estava no outro canto,
sentado em um banco mais alto, sempre de olho na multidão.
Com uma taça de champanhe em mãos, fiquei no cantinho,
dançando sem sair do lugar, porque definitivamente não sabia se
tinha gingado para uma pista de dança. Uma coisa era fazer a
dança olímpica no tatame, ali era uma conversa totalmente
diferente. Dominic cumprimentou conhecidos, posou para fotos da
mídia, o que era comum, e eu fiquei encantada em como um lugar
escuro, fechado, com luzes de causar tontura, música de doer os
ouvidos e cheirando a cigarros, podia ser tão legal de estar.
— Você não colocou essa bunda de fora para se esconder no
escuro! Vem dançar! — Olívia entregou minha taça para o garçom
ao lado e me pegou pelas mãos, levando-nos para o centro da pista.
— Feche os olhos e deixe a música te guiar. Não tem ninguém aqui,
você está segura, apenas se divirta!
Capítulo 22 | Dominic
Kate estava na pista de dança, de olhos fechados e movendo
os quadris de maneira hipnotizante. Eu não sabia que ela era capaz
de rebolar daquela maneira, talvez nem ela soubesse, mas precisei
inclinar minha cabeça para o lado e babar a bunda dela
corretamente. Cansado de assistir, invadi o espaço e agarrei sua
cintura, ela riu e dançou contra mim. Tudo efeito do espumante ou
da personalidade livre, colocando as asas de fora.
Nós dançamos mais duas músicas juntos, ela estava vermelha,
suada e sorridente quando me agarrou e puxou para fora do
camarote, procurando dentre as portas qual era o meu escritório.
Parei de rir e indiquei o caminho antes que ficasse brava por
tripudiar de seu jeito excitado. Me empurrando contra a parede,
subiu no sofá que Luke costumava usar e me beijou. Agarrei sua
bunda, as pernas abraçaram minha cintura e a língua atrevida só
me atiçava.
Ela montou meu colo, mas nossa pegação precisou de um fim
quando Luke me chamou para ver um carregamento. Kate não quis
voltar para a festa.
— Por que não posso ir com você? — Cruzou os braços, faltou
bater o pé no chão.
— É uma coisa que não deve participar.
— Ainda não me disse o motivo. — Arqueou a sobrancelha.
— Katherine, eu não quero que aqueles homens te vejam ou
que por algum motivo, fique em risco. Você pode ficar aqui ou pode
voltar para a festa. — Apontei para a porta. Luke suspirou,
impaciente, esperando no corredor.
— Ou eu fico de longe observando. Lembra da comunhão de
bens?
— Sério? Vamos discutir isso agora? — Passei a mão na
cabeça. Por que ela era tão difícil? Estava mais divertido quando
ficamos nos amassando no sofá.
— Poderíamos não discutir se me levar junto. Qual é o
problema? Eu já sei o que vai fazer, posso observar de longe. Só
estou curiosa como funciona, não pretendo negociar no seu lugar.
— Dominic, pelo amor de Deus, ou leva junto ou tranca na
sala! — Luke soltou um grunhido. Ele estava perdendo
completamente a paciência.
— Não ouse me trancar nessa sala! — Apontou o dedo
indicador para o meu peito. — Eu vou gritar e quando voltar…
Furioso, agarrei sua mão e puxei-a pelo corredor, ela me
acompanhou com pressa e parou perto. Descemos para a rua,
atravessamos o beco e entramos em um velho centro de
treinamento que usávamos para encontrar os clientes com
privacidade. Levei Kate para um auditório, que tinha ampla visão de
onde estaria, mas ela não seria vista. Dessa vez, não discutiu e
sentou em uma mesa.
Desci as escadas sem dizer uma única palavra. Coloquei a
arma na cintura, carregada e esperei o carro parar para ser
verificado pelos meus homens. Luke se adiantou, para começar e
eu fiquei de longe, na escuridão, observando. Só iria intervir se a
coisa ficasse feia. Eu odiei que não consegui prestar atenção,
preocupado que ela fosse vista ou que, inquieta, saísse para olhar
mais de perto. Kate não fazia ideia do quanto era perigoso respirar
perto de homens comprando drogas.
Luke fez a transação com tranquilidade, mas ficou irritado
porque houve um atraso. Esperei que saíssem para buscar minha
esposa teimosa.
— Viu? Foi tudo bem. Eu só observei.
Não falei nada. Tudo poderia ter dado errado e ser uma
completa catástrofe. Era um risco muito grande, um que eu não
podia correr por capricho. Perder Kate me quebraria
completamente. Segurando sua mão, não voltei para a boate, enviei
uma mensagem para Brady pegar Bess com o segurança dela e
levá-la para casa.
Entramos no carro sem dizer uma única palavra. Dei a partida,
sentindo a fúria crescer só com as possibilidades. Os cenários sobre
ela fazer parte dessa vida distorcida eram horrorosos na minha
mente.
— Estamos sendo perseguidos? Por que está correndo tanto?
— Quero chegar em casa. — Troquei de faixa, acelerando para
a avenida que nos levaria direto para a mansão dos meus pais.
Kate ficou quieta, mas colocou a mão na minha coxa. Ela
sequer fazia ideia do porquê eu estava chateado, não conseguia
mensurar o perigo e por isso, se achava no direito de ser tão
teimosa. Se não me ouvisse, estaríamos com sérios problemas.
Estacionei na garagem, saindo e abri sua porta. Meus pais ainda
estavam acordados na sala, mamãe bebia vinho e meu pai estava
esticado, parecendo morrer de sono e ainda assim, se mantinha
acordado para ouvir.
— Minhas irmãs estão chegando, antes que perguntem.
— Eu sei, querido. — Mamãe me deu um sorriso. — Bess
ligou. Ela sabe que deve manter contato. Aconteceu alguma coisa?
Pensei que iriam amanhecer na rua.
— Está tudo bem. — Fui seco e virei para subir as escadas.
— Boa noite, até amanhã. — Kate foi mais educada e me
seguiu. — Você quer usar o banheiro primeiro, trocar de roupa ou
simplesmente discutir o elefante branco?
— Pode usar o banheiro primeiro.
Kate bufou e me chamou de idiota bem baixinho, pegando a
roupa. Só não bateu a porta porque estava tarde e era educada.
Meu telefone vibrou e pela hora, só podia ser Enzo. Eu podia ouvir
Juliana falando sem parar no fundo e ele pedindo um minuto de
silêncio, ela arremessou algo na direção dele, que fez um som alto.
— Brigando?
— Ela fica puta quando peço para que respire entre as frases.
— Enzo riu. Ele era tão idiota. — Preciso de uma remessa extra,
seu pai disse que não tem, então, vou ter que encurtar caminho.
— Eu posso mandar no primeiro voo amanhã. Alguma festa?
— Sim, várias.
— Não esqueça de batizar. — Olhei para a janela.
— Não ensine meu trabalho, moleque. — Ele continuou rindo.
— Eu te ensinei o jogo.
— Só não quero que meu pai se preocupe com a droga pura
chegando em Nova Iorque. Ninguém pode desconfiar, ainda mais
agora que Robert desapareceu.
— Estamos atentos. Ele vai sair da toca. Kyra tem observado
de perto e parece que não está com os homens do Santiago. Foi o
meio que teve de fugir. Sendo um lobo solitário e sem recursos, com
as contas bloqueadas, logo vai fazer uma besteira. — Enzo pareceu
sair da sala. — O que não está me dizendo, Dominic?
— Eu não sei, meu pai parou de agir estranho agora que Kate
está aqui. Odeio a sensação de que tanto ele quanto Jack estão
aliviados porque sentem que venceram.
— Puxe o tapete deles, deixe-os de bunda no chão e siga com
seu plano.
— Nos falamos amanhã.
— Amanhã, sim.
Joguei meu telefone na mesinha e tirei minha roupa, que
estava fedendo a boate. Kate ainda estava no banheiro com o
chuveiro ligado, entrei nu e abri a outra torneira, me lavando
rapidamente. Ela terminou primeiro, se enrolando no roupão e foi
escovar os dentes. Seu rosto estava sem maquiagem e seguia
atenta aos meus movimentos.
Vesti uma cueca e me deitei na cama.
— Você pode me explicar o cenário que não estou
enxergando? — Ela saiu do banheiro e pulou na cama. Ao invés de
sentar ao lado, subiu em mim, me obrigando a olhar em seus olhos.
— O que eu ignorei, insistindo em ir lá com você?
— O perigo não era o suficiente?
— Que perigo, Dominic? Você e Luke estavam lá!
— E isso não é o suficiente!
— Se é perigoso para mim, é para você, também. — Encolheu
os ombros.
— Eu não quero que se machuque, que acabe ferida porque eu
não conseguirei te proteger. Eu negocio com homens perigosos,
eles são voláteis e esperam qualquer informação para usar contra
mim. Sei que nosso relacionamento está bombando na mídia, mas
eles pensam que você faz parte da minha vida de fachada, vendo
você lá, vão pensar que faz parte do meio e com isso, está no jogo
para ser usada. — Segurei sua cintura, ela fez um pequeno beicinho
pensativo. — Tenho pavor de pensar que poderia ser ferida por
minha causa, sendo que eu entrei nessa só para te manter segura.
— O mesmo medo que tem de me ver ferida, eu sinto agora
toda vez que sai. É por isso que briguei com você sobre não me
responder.
— Você está sendo inserida na verdade agora, não pode
discutir comigo sobre tudo, pensando que quero te excluir.
— Eu vou tentar. Não ajuda muito ficar puto e se recusar a abrir
a boca. Como vou saber o que está acontecendo se não conversar
comigo?
— Prefere discutir?
— Já não fui silenciada o suficiente? — Me deu um olhar
intolerante, me fazendo rir. — Eu prefiro dizer o que me incomoda e
discutir até passar.
— Vou manter isso em mente. — Dei-lhe um beijo. Ela crispou
os lábios. — O que foi?
— Peça desculpas. Você foi um idiota. — Abriu um sorrisinho.
— Me desculpa por ter forçado a barra e não ter te ouvido. Agora é
a sua vez.
— Me desculpa por ter… — Fiquei sem palavras. Fiquei puto,
mas não sabia exatamente onde errei.
— Sido um idiota. — Ela completou com uma risada.
Segurando meu queixo, me deu um beijo. — Sei que vai fazer de
tudo para me manter segura.
— É o que espero, mas você tem que facilitar.
— Eu vou — prometeu e algo em seu olhar me fez rir. — É
sério. Prometo. Quer cruzar os dedinhos?
— Só faço promessas de dedinho com Jane. De você, quero
beijos.
Kate rolou para o lado e me puxou junto, entrelaçando nossas
pernas e me beijando para começarmos melhor a nossa noite.
Capítulo 23 | Kate
Donatella estava pacientemente fazendo cachos no meu
cabelo. Eu a olhei pelo espelho, pensando no quão gentil foi em
fazer parte do meu dia de formanda. Ia participar da cerimônia como
um importante rito de passagem e dentro de alguns dias, Dominic e
eu iríamos embora para Nova Iorque com Olívia e Luke. Bess queria
ir junto, ainda não sabia se havia sido autorizada. Donatella não
gostava de ficar longe das filhas.
Aquele momento especial era para ser vivido com minha mãe,
mas eu podia estar sozinha ou pior ainda, sequer podendo participar
da minha formatura, então, estava grata com o que tinha. Ela era
mãe do meu marido, tinha quatro filhas para cuidar, uma casa
imensa para administrar, um marido que sempre buscava sua
atenção e ainda assim, fez questão de me preparar para a formatura
como faria com as meninas.
— Seu cabelo tem um brilho lindo — Donatella comentou com
um sorriso suave. — Bom que é grosso o suficiente para enrolar.
Kim mataria por isso. O cabelo dela é fino, fica indefinido e ela sofre.
Já Bess tem aqueles cachos maravilhosos… amo quando o usa
solto.
— Você tem filhas lindas.
— Você está nessa lista. Agora é minha nova filha, mas
sempre esteve no meu coração. Te batizei com amor, não foi por um
relacionamento de negócios.
— Lembro de quando era pequena, você me pegava para
passear. Lembro de Dominic pequeno, ainda, jogando bola e
usando um boné para trás.
— Ele adorava você. A diferença não é muita, considerando
Oliver e eu, quase quinze anos. Vocês puderam crescer juntos.
Ficamos afastados por alguns anos, por imposição. Apesar de
ter bloqueado algumas memórias da minha infância com saudades
da minha mãe, lembrava dos King fazendo parte da minha vida.
Dominic e eu não éramos completos desconhecidos, embora, a
convivência íntima mostrasse que não era fácil viver com outra
pessoa e ao mesmo tempo, foi a melhor parte da minha vida. Talvez
por ter ficado tanto tempo sozinha, valorizava muito a companhia de
todos eles.
Pronta, tirei uma foto para que Dominic visse. Ele estava fora,
acompanhando o pai em uma série de reuniões importantes e ouvi
que Kyra estava na cidade para rastrear meu pai, que foi visto por
Priest — nome peculiar de um cliente do Dominic — em uma das
estradas ao sul. Toda a família iria para minha formatura e meu
marido chegaria um pouco atrasado.
Não chamava Dominic de noivo na minha cabeça, não fazia
sentido, meu sobrenome havia mudado para King e assinamos uma
tonelada de documentos que nos unia um ao outro, não só nas leis
dos homens, como financeiramente. Nossa vida era dinheiro.
Significava poder e eu estava aprendendo que não queria ser uma
mulher como Donatella. A admirava por ser tão mãe e amorosa,
mas jamais fecharia os olhos e deixaria meu marido gerir minha
vida.
Eu queria ser igual. Metade. Companheirismo. Estar por dentro
de tudo. Não conseguia me sentir confortável permitindo que
Dominic controlasse tudo. Não tinha vocação para ser a dona de
casa perfeita, no entanto, respeitava Donatella, que assumiu os
limites dela e não merecia ser diminuída pelas escolhas que teve.
Seguimos para o auditório da minha antiga escola. Estava
lotado de pais, alunos, um monte de seguranças e até a imprensa.
Brady me conduziu para os fundos, onde me apresentei, peguei
uma beca e chapéu, aguardando na fila por ordem de sobrenome.
Fiquei na letra K, mesmo que tivesse passado os anos estudando ali
como uma Hudson. Não que eu quisesse ser reconhecida com
qualquer coisa que me ligasse ao lunático do meu pai.
— Eles vão fazer com todas as turmas? — Brady olhou ao
redor. — Isso aqui está muito cheio. Eu não gosto disso.
— Está quente. Minha maquiagem deve estar uma bagunça.
— Acho que está tudo bem. — Brady fez uma careta. Eu ri. Ele
não podia me elogiar, mas não queria que ficasse preocupada com
minha aparência. Rasgou um pedaço de uma caixa, me entregando
a aba do papelão para me abanar.
Percebi que enviou diversas mensagens e pela minha visão
periférica, vi outros seguranças dos King se espalhando entre a
multidão de alunos para me vigiar. Agradeci internamente que eles
estavam sendo discretos. Já bastava que as meninas ao meu redor
não conseguiam calar a boca sobre Dominic, sorte que elas não se
tocaram que estava na fila com um sobrenome diferente.
A cerimônia durou uma eternidade, o discurso de uma
formanda foi bonito o suficiente para trazer lágrimas aos meus
olhos. Quando fui chamada, todos os King e Luke ficaram de pé,
batendo palmas. Dominic e Oliver assobiaram, eu ri, envergonhada
e acenei. Peguei meu canudo e agradeci aos professores, parando
para foto e pronto, oficialmente formada. Olhei para o canudo falso e
pensei no quão difícil foi não desistir da minha própria vida.
Estudar foi tudo que manteve minha cabeça sã.
— Parabéns… — Dominic me abraçou. — Você está gostosa.
— Obrigada! — Soltei uma risada, toda boba. — Finalmente
acabou, vamos embora?
— Sim, meus pais foram na frente, mamãe queria ter certeza
de que o jantar será perfeito.
— Eles convidaram alguém?
— Só Luke. Queria que chamasse outra pessoa? — Franziu o
cenho.
— Ele é mais da sua família que eu. — Soltei uma risada.
Dominic deu um beijinho na ponta do meu nariz e saímos do
local. Do lado de fora estava ainda mais confuso, mas ele
estacionou o carro no meio da rua, fechando o trânsito, para que eu
não precisasse andar muito de salto. Ignorei as buzinadas com o
rosto quente e quis matá-lo por fazer tal coisa, mas o bad boy que
morava dentro dele não se importava.
Com o Lamborghini potente, avançou pelas ruas e bati em sua
coxa por correr demais. Eu gostava da velocidade, mas era dia e
havia muitas pessoas na rua. Coloquei música para me distrair e vi
as fotos que Olívia tirou do momento em que peguei meu canudo.
— Por que está correndo de novo?
Ao invés de me responder, ele silenciou o aparelho de som do
carro e olhou pelo retrovisor. Constatando que eu estava bem presa
no cinto, acelerou ainda mais. Agarrei a lateral do banco, querendo
identificar o que nos perseguia, mas só ouvia os sons das motos.
Dominic entrou em um complexo de estacionamentos, subindo a
rampa.
— Tire os sapatos — pediu e obedeci imediatamente.
— O que está havendo?
— Vá com Brady. Ele conseguirá cortar o trânsito e te levar em
segurança.
Não tive tempo de responder, Brady abriu a porta, tirou o
capacete e colocou na minha cabeça. Ele subiu primeiro e com o
banco alto, enfiei meu vestido no meio das pernas do shortinho que
usava por baixo, subindo em seguida. Dominic mandou ir, ele ficou e
esperou pelo ataque. Gritei, agarrando os ombros de Brady ao ver
os carros escuros e sem placas encruzilhando meu marido.
Brady não conseguiu ir muito longe. Senti o impacto de um
carro na nossa traseira e voei contra a parede. A dor nas minhas
costas me deixou zonza. Com o capacete preso, através do visor
escuro, vi homens armados pularem de um carro. Eles me
alcançaram e me ergueram. Brady estava caído no chão e eu não
sabia se vivo ou morto.
A dor me impediu de reagir. Mal conseguia respirar.
— Ela está viva?
— Respiração ofegante. Deve ter fissurado as costelas.
Apaguei com um solavanco do carro. A dor foi tão forte que
parecia quebrada ao meio. Quando abri os olhos, estava no chão,
amarrada e havia um homem ao meu lado. Sentei com dificuldade,
gemendo e o encarei.
— Faça silêncio, filha. Eles vão nos soltar quando os King
pagarem pelo resgate — papai falou rápido e baixo. Era um
sequestro por dinheiro? Quem naquele universo ousaria sequestrar
um membro da família King na cidade que eles comandavam? — O
moto clube é implacável. Se ficarmos quietos, eles não irão nos
machucar.
Minha cabeça estava zonza, pesada, fiquei quieta tomando
fôlego e reunindo forças. Apesar de tudo que sentia e a lentidão dos
meus pensamentos, estiquei as pernas e vi que o problema era
mesmo nas costelas, não da cintura para baixo. Meus braços
estavam ralados e meu perfeito vestido rosa-chá, com brilhos e
flores da minha formatura, estava destruído.
Lambi meus lábios secos e olhei para meu pai. Ele
desapareceu todo esse tempo… por que Priest trairia Dominic em
troca de dinheiro de sequestro se ganhava muito mais com as
drogas?
Minha consciência ia e voltava, com a voz de Dominic me
contando coisas sobre a minha vida que eu desconhecia, então, eu
acordava e olhava meu pai ao lado. Ele não tentou ser amoroso,
nem fingir que se importava, mas o meu sexto sentido e senso de
preservação estavam gritando. Fingi um desmaio quando ouvi
passos se aproximando, eram botas pesadas.
— King aceitou o acordo. Logo estarão livres.
Hum… que acordo?
Acordei desamarrada, no meio de um galpão, sentindo frio e
olhei ao redor. Um carro foi entrando devagar. Dominic saiu de mãos
erguidas junto a Luke e Brady. Eles carregavam malas de dinheiro,
eu não vi as armas, mas ouvi o som delas. Na escuridão, não
conseguia identificar onde eles estavam.
— Eu trouxe o dinheiro para os dois. — Dominic arremessou as
malas, nenhuma delas pegou em mim.
— Pode pegá-la. — A voz masculina soou na escuridão.
— Eu quero Hudson, também. — Meu marido começou a
andar e jogou mais dinheiro.
— Bom… foi excelente negociar com você, King.
Dominic me ergueu do chão enquanto Brady e Luke lhe davam
cobertura. Foi confortador sentir o perfume dele, estar em seus
braços me aqueceu, mas eu podia andar. Parando próximo ao carro,
me colocou no banco de trás, trocamos um olhar rápido e observei
Luke carregar meu pai, jogando-o no porta malas antes de sairmos
dali rapidamente.
— Você precisa ir para o hospital? — Dominic olhou pelo
retrovisor.
— Eu posso esperar — respondi e ouvi o som de motos
pesadas passando por nós.
Dominic sabia que não era Priest o meu captor. Ele levou duas
pessoas, mas só queria resgatar uma.
Ele deu um aceno e seguiu adiante. Acordei com as portas
abrindo, percebendo que havia desmaiado novamente, dessa vez,
em cima de Luke. Eles saíram do carro e fui atrás, devagar. Dominic
me segurou, passou o braço por minha cintura e Brady tirou meu pai
do porta malas. Meu coração acelerou ao vê-lo, mas não era alívio.
Era ódio. Ele havia me usado de novo. Meu corpo gritava com
uma dor nunca sentida antes, mas todas as vezes que vi meu
próprio sangue, foi por causa dele.
— Ainda bem que pagou o resgate. Eles me pegaram desde o
dia do acidente…
Tirei a arma da cintura de Dominic e apontei. Papai ergueu as
mãos.
— Cale a porra da boca. Você armou um plano para obter
dinheiro rápido… você me bateu tanto nos últimos anos que
esqueceu que criou uma mulher muito observadora. — Lambi meu
lábio com uma crosta de sangue no canto. — Sua ambição te
deixou burro, papai. Te cegou ao ponto que você não sabia quem de
fato estava mandando nas ruas.
— Katherine…
Ergui meu dedo indicador para os lábios, silenciando-o. Com
Brady e Luke apontando suas armas, ele ficou quieto, se estivesse
sozinha, iria reagir. Dominic riu, mas não virei para ver a expressão
dele. Não desviaria os olhos do meu pai.
— Sabe quem fornece as drogas do Priest? Sabe quem te
deixou na merda? — Soltei uma risada. Ele olhou para Dominic. —
Cada plano que deu errado desde que matou minha mãe tem nome
e sobrenome. — Sorri para ele. — Você nunca mais vai me ferir
dessa maneira. Hoje acaba cada surra que me deu, cada plano que
fez com meu dinheiro ou para obtê-lo. Você vai ficar bem longe de
mim e do meu marido… para sempre. — Atirei duas vezes. Ele caiu
no primeiro impacto, levando a mão à barriga. Luke se aproximou
dele e Brady pegou a arma da minha mão. — Eu não quero que ele
sobreviva, mas deixe-o agonizando como ele fez com a minha mãe.
Cada vez que tentar respirar, vai sentir o que ela sentiu.
— Ele não sobreviverá, eu prometo. — Luke olhou para mim.
— Vamos para o hospital, baby. — Dominic me segurou. —
Estou aqui com você. Não vou te soltar.
Percebi que estava tremendo muito. Não conseguia controlar
minha mente traidora, que me levou para todas as vezes que meu
pai, o homem que deveria me amar e proteger, me bateu com o
cinto, criando cicatrizes pelo meu corpo e na minha alma.
Capítulo 24 | Kate
Donatella entrou no quarto mais uma vez, ajeitou minha
coberta desnecessariamente e serviu mais água no copinho de
isopor. Se bebesse mais uma gota, meu estômago ia explodir, mas
ela dizia: “Hidratar faz bem. Você vai ficar boa”. Eu não conseguia
dizer não para o cuidado maternal dela, porém, queria uma pausa.
Ficar sozinha. Sentada na cama do hospital, fiquei olhando pela
janela, pensando que havia matado meu pai… e não me arrependia.
Não senti medo, tristeza ou pesar. Nada. Talvez sentisse mais
se tivesse matado uma barata. O que isso fazia de mim? Uma
assassina. Matei uma pessoa sem hesitar, tomada por ódio e muito
rancor. Por muito tempo, ele me apavorava tanto que mal conseguia
respirar na frente dele, mas algo me libertou desse medo. Pode ter
sido a verdade: ele matou minha mãe, a esposa dele, e escolheu
esconder isso de mim. Ele me torturou por tanto tempo e ainda
ousou ser estúpido para me sequestrar.
— Quer comer alguma coisa agora?
— Não. Muita água.
— Eu vou ver que horas virá sua refeição. — Ela arrumou a
roupa e saiu.
Ollie passou pela porta e a trancou por dentro.
— Obrigada. — Suspirei, aliviada e meio culpada. Donatella só
queria cuidar de mim. — Como está seu irmão?
— Sentado no corredor, falando ao telefone e quase arrancando
os cabelos. Todo estressadinho. — Ela revirou os olhos. — Você
está de cama depois de um sequestro e preocupada com ele?
— Ele só tentou me encontrar por dois dias e depois recebeu a
notícia de que a esposa, tão jovem, estava com uma grave
hemorragia interna. Acho que ele tem o direito de estar irritado.
— Sempre defendendo-o. — Ela sentou na ponta da cama. —
Todo mundo deve estar te perguntando como está depois da
cirurgia. Quer conversar e parar de fingir que está bem?
— Eu matei meu pai, Ollie — confessei, mordendo o lábio. Ela
arregalou os olhos. — Ele estava lá agindo como um sequestrado,
amarrado, pedindo que eu ficasse quieta que eles logo nos
soltariam. Ele estava, de novo, me fazendo de idiota.
— Como você sabia?
— A roupa dele estava limpa. O lugar cheirava a mijo velho e
água podre, estava frio, mas ele usava um casaco. Quem deu um a
ele? Para que pudessem me pegar, quase me mataram, ele tinha
poucos hematomas para um homem daquele porte. — Olhei para a
janela novamente. — Ele me chamou de filha. Não de Katherine.
Filha era quando queria se mostrar um pai preocupado e amoroso
na frente dos outros. Em particular, nunca houve qualquer menção
carinhosa, nem mesmo quando minha mãe estava viva. Antes, ele
me chamava de Kate, também não era de abraços e beijos,
brincava um pouco e fazia o tipo ocupado demais para ser um pai
legal.
— Eu não sei como conseguiu reparar em tudo isso, eu entraria
em pânico.
— Havia uma parte que estava com medo, mas ela era
pequena comparada à dor e também… uma frieza, sabe? A vontade
que eu tinha era de levantar e matar todos eles.
— Ah, Kate…
— Eu sou uma pessoa ruim? Sou assassina como minha mãe?
— Eu não vejo como você pode se definir como ruim quando
esteve em uma situação de risco e mais ainda, com um homem que
marcou suas costas e as pernas com milhares de cicatrizes. Eu o
mataria por você. — Ela encolheu os ombros, sem graça. — Acho
que nós nascemos em famílias disfuncionais ao ponto de que o tipo
de certo e errado do mundo não é o nosso. — Olívia pegou minha
mão. — Não sei que tipo de vida meu irmão está levando agora, dei
espaço para que ele me contasse quando estivesse confortável,
tanto que nunca pressionei Luke. A amizade deles é fora do meu
relacionamento, sempre respeitei isso e agora, você é minha irmã.
O que me contar, Luke e Dominic não irão saber.
— Dominic fez muita coisa para me salvar. Ele me manteve
protegida da maneira que pôde…
Ela pareceu pensativa.
— Imaginei. Dom mudou em uma viagem, justamente quando
sua mãe sumiu e agora sei que está morta. Caramba… muita coisa
faz sentido.
Encostei na cama, cansada. Olívia pegou o controle e foi
abaixando a cama, mas não muito porque ficar ereta me deixava
enjoada. Culpa do medicamento forte. Fechei os olhos para dormir,
querendo ir para casa, mas eu mal havia acordado da cirurgia, os
pontos doíam e ouvi o médico dizer que reagir bem não significava
que estava fora de risco.
— Ela está dormindo muito. Vai perder o horário de comer. Se
não ficar alimentada, vai ficar fraca e não vai sair dessa cama. —
Ouvi Donatella falar.
— Mãe, se acalme — Dominic pediu com carinho e paciência.
Ouvi um suspiro e de repente, um choro.
— Ela podia ter morrido — Donatella falou, embargada. — A
mãe dela…
— Ei, mãe. Calma.
O som da cadeira rangendo me fez abrir os olhos para espiar.
Ele foi abraçá-la.
— Por que nunca me contou que Michelle estava morta? Eu
merecia saber. — Donatella pareceu muito magoada. — Você e seu
pai mentiram para mim. Quis tanto tirar Kate daquela casa. Nunca
me disse que ela estava sofrendo abuso. Eu achava que Robert era
apenas grosseiro e ruim, não violento. Também pensei que tudo era
um plano da Michelle. Ela sempre tinha uma carta na manga, desde
que éramos pequenas. Como ela pode ter morrido tão fácil na mão
dele?
Não considerei que Donatella sentisse falta da minha mãe.
Sabia que elas eram amigas, foi assim que a família da minha mãe
conheceu os King, através do relacionamento dos pais da minha
sogra com a organização. Elas eram amigas, de sair para jantar e
compras, ao ouvir a maneira com que falou da minha mãe, percebi
que Donatella sempre soube quem Michelle Rodriguez realmente
era e pelo visto, não se importava.
— Eu sinto muito, mãe. Me desculpe, mas era preciso guardar
esse segredo — Dominic falou baixo. — Vá para casa descansar.
Eu vou dormir aqui. Não sairei de perto da Kate.
— Voltarei amanhã cedo.
— Sei disso, obrigado por amá-la tanto.
— Não é um esforço amar um pedaço vivo de alguém que amei
como irmã a vida toda — ela respondeu, pegou a bolsa e eu fechei
os olhos para fingir que dormia. Donatella me deu um beijo na testa
e saiu, fechando a porta com um clique suave.
Dominic voltou a sentar, fiquei confabulando quanto tempo era
aceitável fingir que estava acordando.
— Você mexe os olhos excessivamente quanto finge que dorme
— ele falou e eu ri, cobrindo meu rosto. — Coisa feia, Katherine
King.
— Não quis que ela ficasse sem graça. Me ajuda a sentar?
Dom pegou o controle, alterando a posição da cama. Sentada,
respirei melhor e me ajeitei.
— Você está realmente bem?
— Quero seu colo. Deita aqui um pouco?
— Eu não sei se vou caber, mas farei o meu melhor. — Ele riu e
abaixou a grade, cheguei para o lado com cuidado e me refugiei em
seus braços, quentinha com a coberta e pelo calor do corpo dele.
Dominic beijou minha testa, a ponta do nariz e os lábios.
— Agora eu me sinto infinitamente melhor. Dominic King é a
cura — brinquei, com minha cabeça em seu peito. — Você não me
falou o que aconteceu depois que me pegou. Como entendeu que
Priest não era quem me sequestrou?
— Conheço a maneira dele agir. Além do mais, o dinheiro para
te pegar teria que ser muito bom e vitalício para valer a pena. — Ele
esfregou meus braços arrepiados. — E quem seria tão estúpido de
se revelar de primeira? Apesar de ser comum em casos de
sequestro, não é comum no meio em que vivemos. Há uma coisa
gostosa em brincar com o inimigo. Priest faria isso com prazer. Eu o
encontrei horas depois e armamos um plano. Todo meu foco era te
encontrar viva.
— Eles não me bateram, foi o acidente e o suficiente, porque
doeu muito.
— Sinto muito.
Levei minha mão para sua virilha e dei um beliscão nas bolas.
— Ai, que porra foi essa? — Tentou se defender.
— Para você não começar — falei em tom de alerta. Eu odiava
perder tempo com culpa desnecessária. — Você fez o melhor,
sempre faz e infelizmente fomos pegos por alguém que te conhecia.
Meu pai queria dinheiro. Ele precisava. Fugir foi um tiro no pé,
perdido e sem apoio, meteu os pés pelas mãos. Ele contou muito
com o plano de Alonzo. Seu amigo italiano matar os aliados dele…
a morte de Kia, bem ou mal, ela passava segurança de que ele
estava certo. Ela era um alicerce.
Dominic suspirou, cansado. Ele não dormia há quase uma
semana.
— Seu pai sempre foi muito inteligente, mas a traição da sua
mãe o cegou completamente e depois, eu consegui deixá-lo sem
rumo. Só lamento que ainda teve recursos para pagar aqueles
homens e te machucar mais uma vez.
— Acabou.
— Você o matou, Kate. Não quer falar sobre isso?
— Eu não sinto nada, Dominic. O único sentimento que tenho é
o medo de descobrir quem eu sou. A garota inocente reagindo ou a
garota que tem um monstro escondido no armário? — Engoli em
seco. — Não quero sair por aí matando pessoas, nem penso em
pegar em uma arma, mas sei que se for necessário, farei de novo e
de novo, e mais uma vez…
— Você acha que sou um monstro?
— Não para mim, mas em uma reação em cadeia, você é o
monstro de alguém. Eu não me importo. Você vai se importar?
— Não. Eu não vou, baby. Você sempre será linda, perfeita e
minha.
— Eu posso viver com isso. — Beijei seu peito e fechei os
olhos, querendo dormir novamente.
Capítulo 25 | Dominic
Kate dormia pacificamente na nossa cama, tombada por
medicação e por ficar com minhas irmãs, matando as saudades
depois de uma temporada no hospital. Ela comeu bem, riu, brincou
e até andou mais do que deveria. Avisei que chamaria o médico
para levá-la de volta, só assim sentou e ficou comportada. O
problema de uma paciente atlética, era que ao se sentir bem, queria
fazer tudo ao mesmo tempo.
Deixei-a dormindo e desci a escada, entrando no escritório do
meu pai. Ele ainda estava com o braço dolorido, na idade dele,
recuperar-se de um acidente era um processo lento. Sentei na
poltrona, já que a cadeira de visitante era muito pequena para mim.
— O que você está fazendo, Dominic?
— Muitas coisas.
Ele inclinou a cabeça para o lado.
— Você me traiu?
— Não como você traiu Michelle. — Soltei e ele exalou. — Eu
sei que foi você que contou a Robert sobre Helena, o dinheiro e o
ouro. Sei que alimentou a teoria de que o magnata[7] estava com a
verdadeira menina do ouro, porque no fundo, até Jack se meter,
você não tinha certeza de quem era. Ele não te vendeu essa
informação, não é?
— Ele vende para quem paga mais.
— Até mesmo as contas? As provas de que ela estava…
— Roubando? Michelle estava nos roubando!
— E você não faria o mesmo para salvar a vida das minhas
irmãs?
Esperava que ele dissesse que sim.
— Eu faria — assumiu depois de um tempo em silêncio.
— Você deveria ter apoiado. Sabia que Michelle estava
encurralada e perdendo força, ela precisava fugir com as filhas
depois que Ava foi encontrada. Você deveria proteger a sua
afilhada.
— Eu faria o melhor se soubesse…
— Soubesse do quê? — rebati, perdendo minha paciência. —
Não tem nada que diga agora que vai consertar suas atitudes e a
sede desmedida pelo dinheiro de Kate. Eu te conheço e sei que
existe uma parte sua que nos ama e eu espero, que no momento
certo, você nos escolha. Suas atitudes até agora não me fazem
confiar que minha mãe e as meninas ficarão seguras. A elite sabe
que você os traiu e ainda assim, eles decidiram manter a lealdade a
você por todos esses anos.
Papai riu sombriamente.
— Talvez eles tenham sido leais a você depois que eu não
impedi o sequestro de Ava, mesmo sabendo que Moore não estava
no caminho certo.
— Quanto a isso, acho que ninguém tem culpa. Foi Michelle
que fodeu com a vida de Ava e isso ficou claro, você só queria a
boate e os pontos de drogas. Eu acho que talvez faria o mesmo…
mas sua atitude com Michelle, contando a Robert o que não deveria,
isso foi uma falha grave. — Esfreguei minhas têmporas. — Eu não
sou perfeito, estou aprendendo a sobreviver nesse mundo e falhei
em proteger a minha esposa com poucas semanas de casamento.
Meu pai saiu de seu lugar.
— Você protegeu a sua esposa antes dela ser sua, você nunca
falhou com Katherine. Eu sim, Dom. Eu a batizei e prometi diante de
Deus que ela ficaria segura. — Papai apertou meu ombro. — Minha
palavra não vale nada para você agora, falhei dando um exemplo de
homem, mas espero que me dê uma chance para consertar o que
fiz.
— Você quer consertar por amor ou porque sabe quem sou
agora?
— É estranho pensar que meu filho me passou a perna com
muito menos da metade da minha idade. — Ele soltou uma risada.
— Robert estava certo e eu achei que estava delirando. Sério? Você
pegou o cartel? Dominic, você podia ter morrido!
— Nada novo sendo um King, pai. O fato de você não sujar
suas mãos de sangue, não quer dizer que nossas ordens não
causem isso.
— Eu me associei à Elite para não ter que matar ninguém.
— Não puxar o gatilho não nos torna menos assassinos. Não
estou recriminando, apenas trazendo fatos à mesa. — Peguei a mão
dele e apertei. — Lembre-se que a família King começa aqui dentro.
Se você esquecer isso de novo, eu não vou hesitar em sair por
aquela porta com as minhas irmãs. Não vou permitir que as
transforme em um alvo fácil como Moore fez com Ava e Robert com
Kate.
Eu tinha que sair e não esperei que ele refletisse para me dar
uma resposta. Era uma pergunta simples, com uma resposta mais
simples ainda. Se a família não fosse o mais importante, ele não nos
merecia. Luke me encontrou do lado de fora, iria pessoalmente fazer
o pagamento a Priest e agradecer por ter ido com seus homens em
peso no resgate de Kate.
O plano de Robert seria muito bem executado se eu não fosse
o verdadeiro fornecedor. Ele não sabia quem estava por trás de
tudo, acreditava que eu era apenas o filho de Oliver King. Robert
não tinha ideia que Priest e eu tínhamos negócios em comum. Caso
contrário, teria muito sucesso em me fazer acreditar que o moto
clube dominante na área havia sequestrado minha esposa e o pai
dela, em troca de uma quantia.
Viver nas sombras foi a minha maior vantagem e seguiria
assim, exceto que com o sequestro, precisei contar aos meus pais.
Tive que impedir que meu pai explodisse a sede do moto clube com
seus homens e aí sim, o caos seria muito pior. Não poderia lidar
com a crise mais importante em minhas mãos: resgatar Kate com
vida.
As horas longe dela foram as piores da minha existência.
O medo que senti foi forte o suficiente para ser paralisante.
Kate era mais forte do que todos imaginaram, era observadora
e capaz de se reunir dentro da própria mente sem demonstrar nada.
Caída e ferida, escolheu ficar quieta para não denunciar que havia
percebido tudo. Vê-la naquele chão frio e depois… pensei que ela
só apontaria a arma para assustar o pai.
Ela tinha mais da mãe dela do que imaginava.
A verdadeira herdeira do crime.
— Estou ficando cansado de olhar para sua cara feia. — Priest
me recebeu e coloquei a mala de dinheiro na mesa. — Retiro
completamente o que disse, venham me visitar sem motivos
novamente todos os dias. O que é isso? Normalmente sou eu que te
entrego a grana.
— Por ser leal.
Priest sorriu e pegou as notas, mostrando para seus irmãos.
Lealdade nunca terá um preço, mas poderá ter recompensa.
Luke riu da maneira que eles comemoraram e saímos de lá
sem problemas. Eu não queria ficar longe de casa. Meu prazo para
sair de Los Angeles estava extrapolando, mas Kate não podia viajar
ainda e meu sócio era chato, porém, compreensivo. Meus outros
negócios estavam sob controle e podia me dedicar a ficar em casa.
— Oi, amor! — Olívia pulou em Luke logo que passamos pela
cozinha. Nós tínhamos o hábito de entrar pelos fundos ou mamãe
ficaria louca com a sala suja.
— Oi, linda! Você está bem? — Ele soou carinhoso e fiz uma
careta só para zoar.
— Luke, você é muito bem-vindo em passar o dia conosco —
mamãe comentou e parou ao meu lado. — Sua esposa teimosa está
acordada e eu vou amarrá-la na cama se abrir os pontos.
— Eu vou dar um jeito nela, mãe. — Beijei-lhe a testa.
Subi a escada e ouvi minhas três irmãs brigando pelo controle.
Meu pai limpou a garganta para fazê-las parar e foi ignorado. Elas
eram piores que generais de guerra quando estavam interessadas
em dominar a televisão. Segui adiante para o último lance e entrei
no meu quarto. Kate estava desembaraçando o cabelo molhado,
usando short jeans e camiseta, descalça e não mais tão pálida
quanto nos primeiros dias.
— Você não deveria estar na cama?
— Estou bem, olha. — Ergueu a blusa e mostrou os pontos. —
Não estão inflamados.
— Não quer dizer que não possam ficar. — Parei atrás dela e
apoiei meu queixo em sua cabeça. — Que tal ser um pouco mais
obediente?
— Eu sou muito obediente. Só fui tomar banho. — Ela me
olhou pelo espelho. — Como foi na rua? Priest ficou feliz com o
presente?
— Muito. Talvez façam uma festa e gastem o dinheiro todo
comigo novamente. — Soltei uma risada e ela me acompanhou. —
Conversei com meu pai, também.
— Sério? Sem gritos?
— Minha família é você e eu vou fazer de tudo por nós, foi a
minha escolha há muito tempo, mas não posso dar as costas ao
perigo que minha mãe e irmãs vão correr se meu pai continuar cego
demais pelo poder.
— Eu não esperaria nada diferente do seu coração. — Kate
virou de frente e deu um beijo no meu peito. — Estou com você na
decisão que tomar… — falou e abriu um sorrisinho — mas será
legal se me colocar a par da situação antes.
— O que vou fazer com você se metendo, minha senhora?
— Sou muito jovem para ser chamada de senhora. — Revirou
os olhos.
Percebi que o quarto estava com flores e presentes.
— Seus amigos. Jack e Alice enviaram flores.
— Provavelmente foi Alice. Jack não deve ter tirado o nariz do
computador — comentei, lendo o bilhete gentil.
— Agradeceu Kyra por ajudar a me encontrar? — me
questionou de um jeito autoritário que foi engraçado. — Não ria, sei
que acha que seus amigos devem te ajudar sempre, mas tem que
ser educado. Juliana me enviou chocolates e me ligou, ela foi
adorável. Já seu sócio, enviou as flores com uma nota bem
peculiar.
Agarrei o envelope e tirei o cartão.
“Desejo melhoras. Todas as outras coisas só posso dizer
quando completar vinte e um”.
Enzo era um imbecil.
— Ele vai nos importunar sobre a nossa idade até quando? —
Kate pegou o cartão de volta e deixou perto das flores.
— Sempre será mais velho que nós, o que acha? — Peguei
sua mão e a levei para a cama. Sem discutir, voltou para seu lugar e
se cobriu. Fechei a porta do quarto, as cortinas e deixei tudo escuro
para que pudesse descansar. Dei um beijo em sua testa e ao tentar
me afastar, ela me impediu, segurando meu pulso.
— Ei, volte aqui. Eu não sou a única precisando de repouso e
como sou a paciente, exijo que deite ao meu lado e me faça
companhia. O mundo lá fora pode esperar.
Capítulo 26 | Kate
Finalmente, Nova Iorque. Eu estava encantada com a cidade.
Os prédios eram altos, diferente de Los Angeles, sem o ar de praia
e casas bonitas. Em Manhattan, era tudo cinza com painéis
coloridos, anúncios por todo lado, milhares de pessoas andando nas
ruas, cada um no seu mundinho e com pressa. Olívia agarrou minha
mão e puxou ao perceber que estava olhando ao redor feito uma
idiota, de boca aberta e querendo absorver tudo.
— Eu preciso da minha madrinha atenta à minha prova de
vestido e não com esses olhinhos de turista. Vem, Kate! — Ela riu e
me puxou mais bruscamente. Tropecei e ri. Dominic me ajudou,
passando o braço por meu ombro e entramos na butique de luxo. —
Acho melhor tirar suas medidas primeiro, depois vou para o meu
vestido.
Olívia estava no modo turbo da organização do casamento
dela, a reforma da cobertura que os pais lhe deram estava quase no
fim e a data se aproximando na velocidade da luz.
— Não saia daqui — pedi a Dominic e ele se sentou em um
sofá, pegando o telefone.
Depois do sequestro e da morte do meu pai, eu estava
tentando ser a garota corajosa, mas sentia certo pânico ao ficar
sozinha e longe da família. Ficar sem ele me causava um pouco de
taquicardia. Eu tinha que melhorar, porque na cidade que Dominic
realmente trabalhava, era muito diferente. Ali, ele não era um
fornecedor. Em Nova Iorque, era mais letal.
Ele tinha diversos negócios legais e mais alguns ilegais, estava
por todo lado, sem contar que a amizade singular com o casal
Bennington me preocupava. Dominic nunca mentiu sobre quem era
e muito menos, sobre o que fazia, mas sentir a mudança da energia
dele por estar o tempo todo em alerta, vigiando pessoas e
mergulhando na conspiração em que eles viviam, me assustou um
pouco. Era difícil acompanhar o ritmo.
Na noite anterior, ele saiu às três da manhã para vigiar o
carregamento de drogas de uma gangue rival que estava rondando
as boates que ele dividia com Enzo. Dominic voltou com fotos, meio
molhado de chuva e rotas. Eu mal consegui usar a cafeteira,
tentando ficar acordada, esperando-o com preocupação.
— Terra para Katherine! — Olívia estalou os dedos. — Que tal?
— Exibiu um vestido preto. As madrinhas dela usariam preto,
quebrando o mito que era de péssimo gosto. Achei lindo e bem
inovador, ainda mais um casamento no inverno, com quase um ano
de atraso da primeira data marcada. Dessa vez, não havia nada que
os impedisse, estavam loucos para casar.
— Acho incrível para ser sua madrinha! Espero que dê em
mim, eu não tenho isso tudo de busto e não dá tempo de uma
intervenção cirúrgica.
— Esse é da Kim, boba. Eu vou pedir mais um e será do seu
tamanho, todos os modelos são exclusivos do meu casamento. —
Ela abraçou o tecido, sonhadora. — Será o dia mais lindo do mundo
inteiro.
— Vai, sim. Pode apostar! — Ergui meus polegares porque não
podia me mover muito com duas mulheres fazendo as minhas
medidas. Ouvi risinhos na recepção e já sabia que era por Dominic.
Eu entendia a reação. Vivia afetada por ele.
Olívia era uma amiga incrível e somente por esse motivo
aguentei o dia todo as loucuras de noiva dela. Esperava não ficar
tão pentelha.
— Quando vamos nos livrar da minha irmã? — Dominic
questionou baixinho no meu ouvido.
— É o último compromisso, eu prometo.
Como negar um pedido da noiva sobre ensaiarmos a valsa
tradicional? Eu não sabia dançar e aproveitei a oportunidade para
aprender, assim não precisaríamos repetir no meu casamento.
Dominic já estava irritado que teria que usar um smoking cinza e
não preto, como gostava, os sapatos eram de uma marca que não
gostava e ainda, estava sendo obrigado a dançar. Ele me deu um
olhar muito rabugento, como se tivesse sido traído.
— Você é um homem enorme e foi jogador de futebol, pode
muito bem enfrentar o desafio de uma dança. O que achou que
faríamos no nosso casamento?
— Dois passos para lá, dois passos para cá e fim.
— Não mesmo. — Sorri e o chamei com indicador. — Vem
dançar comigo ou eu vou ensaiar com aquele gentil bailarino que
está adorando ajudar as senhoras.
Dominic olhou para o homem tocando a cintura de Bess e
bufou, me agarrando e seguindo os passos conforme a professora
orientava. Luke era o mais dedicado. Ele fazia tudo que Olívia
queria, mas dançar com meu teimoso marido foi divertido quando
deixou a birra de lado. Deitei minha cabeça em seu peito, ouvindo
seu coração, soltamos nossas mãos e só ficamos abraçados, indo
de um lado ao outro do jeito que ele queria inicialmente.
Quando finalmente fomos para casa, ele tinha uma reunião por
vídeo. Fiz um pequeno beicinho, querendo pular nele e fazer outras
coisas depois que finalmente fui liberada para o sexo. Mal comecei
a transar e fui logo colocada de cama, vida injusta e miserável.
Deixei minha bolsa no aparador, pegando meu telefone e fui para a
cozinha. A cobertura de Dominic era linda, espaçosa, bem arejada e
eu me vi desejando ter plantas na grande varanda e mais toques
femininos pela decoração. Encomendei algumas coisas pela
internet.
Tirei pacotes de postas de peixe congeladas, ingredientes para
molho e um pacote de arroz para Dominic cozinhar mais tarde,
porque eu não sabia fazer comida, ainda. Panquecas com a mistura
pronta, alguns ovos fritos e bacon não ficavam no ponto certo.
Aquela era uma das partes incríveis de morar em Nova Iorque,
ficávamos sozinhos, sem funcionários, apenas eu e ele.
Donatella ofereceu ficar com a família se eu me sentisse
pressionada a ficar completamente sozinha com Dominic, agradeci
e grudei nele.
— Você vai precisar sair hoje? — Parei na entrada do escritório
dele.
— Será rápido e eu prometo estar na cama com você.
Humm, eu não era a única com saudades.
— É melhor, mesmo.
— Vem aqui, baby — ele pediu e invadi seu espaço. Foi o
único cômodo que não mexi em tudo, respeitando a privacidade
dele. — Não comemoramos seu aniversário de dezoito anos. Quer
fazer alguma coisa?
— Eu gostei do nosso jantar.
— Foi na cama e comendo sopa porque estava com febre.
Aquilo não pode ser chamado de festa.
— Você me deu um presente, aferiu minha temperatura, me
chamou de teimosa e ainda assistiu filmes que não gosta. Foi um
aniversário e tanto para mim. — Dei-lhe um sorrisinho.
— Me deixar preocupado e me entediar até a morte é a sua
ideia de diversão? Puxa vida, obrigado. Eu espero que meu
aniversário seja mais divertido. — Ele me olhou com ironia. Abracei-
o, beijando uma bochecha, depois a outra e por fim, seus lábios.
Segurando-me mais apertado, aprofundou o beijo, cheio de saudade
e mudei de posição, montando em seu colo. — Kate…
— O que foi? Estou fazendo alguma coisa que não deva? —
Tentei tirar sua camisa.
— Nunca… — resmungou. Ele tinha que sair e estava dividido.
Mordi o lóbulo de sua orelha, arrastando meus lábios pelo pescoço
e chupei. Agarrou minha bunda e rebolei, sorrindo contra seus
lábios. — Ah, foda-se!
Colocou-me bruscamente em cima da mesa, o notebook foi
parar do outro lado, por sorte, caindo no assento da poltrona. Ops!
Tirei minha blusa e joguei no mesmo lugar, só para o computador
não se sentir sozinho. Ele abaixou meu sutiã, agarrando os meus
peitos e beliscando os mamilos.
Ergui minha saia, apoiando os pés dos braços da cadeira.
— Calcinha bonita, mas ela sairá do nosso caminho. — Ele
puxou as alças finas e arrebentou, estalou um pouco na minha pele,
como um belisco, mas não doeu.
— Homem das cavernas, eu gostava dela! — Puxei-o para um
beijo. Eu o queria tanto que não precisava esperar. Dominic abriu a
calça, comecei a bombear seu pau, ele gemeu o conduzi para
minha entrada. Ele meteu gostoso, meu corpo inteiro respondeu à
invasão. — Oh Deus, não pare!
— Sim, baby, sim!
A mesa estava fazendo barulho como se fosse desmontar com
a maneira que estávamos nos movendo. Eu gozei tão rápido que
fiquei surpresa e ele também.
— É isso que chamam de rapidinha? — Soltei com um ofego.
Dominic escondeu o rosto no meu pescoço, rindo. Abracei-o, bem
apertado. — Gostei. Alivia o desejo para mais tarde. E ainda tem o
adicional que poderá sair e manter sua promessa de voltar logo.
— Entre ficar na rua e em casa transando, qual acha que será
a minha opção? — Ele olhou para o meu rosto, uma bagunça por
causa dos cabelos que eu zoneei.
— Que bom, ainda tem o jantar para fazer. — Dei-lhe uma
bitoquinha.
— Isso foi tão doméstico.
Eu sorri e o beijei novamente. Saí da mesa, que fez um som de
que não aguentaria mais meu peso. Fomos ao banheiro e fiquei
seguindo-o pela casa enquanto se arrumava para sair e parei na
porta para digitar o alarme por dentro.
— Você está bonito, gostoso e cheiroso, se alguma mulher lhe
tocar, lembre-se que eu sou brava, ciumenta e mordo como um
cachorro de raça. — Encostei no batente.
Ele olhou para trás antes de chamar o elevador e riu, sem me
levar a sério. Mal sabia que eu era louca o suficiente para morder de
verdade quem ousasse tocar no meu homem. Eu não estava nem aí
se não era saudável ser possessiva, eu era e ponto final.
— Entre e tranque a porta. Já volto.
— Se cuida — pedi baixinho. Dominic voltou antes de entrar no
elevador, me deu um beijo e saiu rapidamente para que a porta não
fechasse. Fechei tudo, digitando o alarme e fui arrumar o restante
das minhas roupas que ainda precisavam se encaixar no closet.
Dez minutos depois, recebi um alerta da portaria que havia um
pacote para mim e que passou pela verificação. Brady informou que
desceria para buscar e voltou antes que eu terminasse de dobrar
uma calça de moletom. Ele entrou, avisando do seu jeito respeitador
e apareci.
— O que é? Não lembro de ter pedido nada nesse endereço.
— Não é uma bomba.
— Pode ser biológico. — Dei de ombros, pegando um estilete
no escritório de Dominic. Fiquei um pouco distante, rasgando o
durex de papel e abri. Era uma caixa pequena, do tipo feita em
casa. Brady ficou desconfiado e ele mesmo abriu. — O que é isso?
Uma caixa de música?
— Sim. Parece antiga.
— Tem uma nota no fundo. — Peguei o cartão, rasgando o
envelope.
“Talvez você deva ficar com isso. Era da sua mãe”.
— Diz alguma coisa? — Brady pareceu ansioso.
— Essa caixinha era da minha mãe. Foi a minha irmã que
enviou. — Entreguei para ele. — Está assinado como Helena Eros.
O que ela queria dizer com aquele gesto?
Capítulo 27 | Kate
— Ela só te enviou isso? — Olívia pegou a caixinha. — É
antiga. Parece um presente sentimental. Por que será que
devolveu?
— Eu não sei, nós nunca nos falamos e até pouco tempo, não
sabia da existência dela. Achei esquisito. Imagina se eu não
soubesse?
— Será que ela queria isso? Se revelar de algum modo?
— Não sei, Ollie. Pareceu mais como uma provocação do tipo
“tome isso aqui, eu não quero mais”. Mamãe teve que abrir mão
dela para que ficasse viva e aí, desfaz de uma memória
sentimental? Não é esquisito? — Peguei a caixinha de música e
guardei de volta. — Já me livrei de um pai ruim, agora minha irmã
pode ser a próxima vilã da minha história?
— Sei que ela estuda na mesma universidade que nós duas.
Podemos matar uma aula sem que nossos guardas percebam,
passear pelo campus e visitar o prédio que ela está.
— Pode ser. Não tem muita informação sobre ela no google e
pelo que li do homem com quem ela vive, é um relacionamento
esquisito. Eu não sei se ela é mais velha, acho que sim, porque se
já estuda lá, é um período avançado. — Recostei na cama com um
suspiro. — Não sei o que pensar e seu irmão está sendo um idiota
sobre isso. Ele não quer que eu conheça Helena. Quando chegou e
soube de tudo, pegou o telefone e ficou gritando com alguém.
Só podia ser Jackson, que lidava com a relação entre os
membros do grupo, mas eu não sabia se Olívia entendia como
funcionava e não queria ser uma linguaruda sobre as coisas que
Dominic me contava.
— Qualquer coisa que seja minimamente perigosa, ele vai ser
um idiota. — Ela riu e olhou para a porta. As meninas estavam
subindo. — Espero que tenha sal nessa pipoca!
— Então deveria ter descido para fazer — Bess resmungou
assim que entrou com uma bacia enorme. Kim seguiu logo atrás,
com bebidas e chocolates. — Dom sendo um idiota por algum
motivo especial?
Bess era irritada, mas estava um pouco além do normal.
— O que você tem hoje?
Olívia deu a ela um olhar compreensivo.
— Há um garoto da idade de vocês duas, que contou aos pais
que está interessado em Bess. Eles flertam nas festas, mas
Elizabeth King flerta com todo mundo. — Ollie começou a contar. —
Ela ouviu papai conversar com a mamãe que eles são uma boa
família e é uma excelente opção de casamento. Bess está
preocupada que surja um acordo e ela tenha que se casar sem
amor.
— Não quero que se ofenda, Kate. Eu não quero isso, pensei
que na minha vez, seria como Olívia e Luke. Eles se apaixonaram e
ficaram noivos, apesar dos pesares da nossa vida, é um refresco.
Eu não quero ter um marido sem amor. — Bess encolheu os
ombros.
— Não me ofende, mas, quem disse que não sou apaixonada
pelo seu irmão?
— Ah… você saiu da casa do seu pai e casou com ele. Como
sabe que está apaixonada?
— Eu não pensei nisso inicialmente, minha cabeça estava
cheia de outras coisas, mas…
— Mas?
— Dominic me protegeu quando ninguém mais fez, ele esperou
por mim e se entregou a muitas coisas assustadoras por minha
causa. Convivendo foi que eu percebi que meus sentimentos eram
mais pelas atitudes do que tudo aquilo. Foram as pequenas coisas
que me fizeram olhar para ele com meu coração. Ele corta minhas
frutas pela manhã, é bobo, mas sabe que eu não vou comer porque
não sinto fome logo que acordo, o que não é saudável, então, ele
deixa o meu café pronto. Gosto de preparar os ovos beneditinos que
ele adora comer com torrada. Ele sorri e só isso é o melhor
agradecimento do mundo. — Abracei um travesseiro. — Eu amo
sentir que não estou mais sozinha, poder falar tudo, somos
honestos e sem inibições. Como nunca nos relacionamos com
outras pessoas, somos crus em tudo e arriscamos aprender. É claro
que com isso, a gente briga bastante, tem algumas noites que eu
penso que ser jovem e solteira seria mais divertido, aí ele aparece
sem camisa na minha frente e eu esqueço tudo que estava
pensando.
Elas riram com meu relato.
— Eu não acredito que vocês são tão fofos! — Bess apertou
minha bochecha.
— Entendo ter medo de um casamento sem amor. Olívia e eu
encontramos pessoas que amamos, você também vai. Além do
mais, você pode sinalizar para seus pais que ainda não está pronta
e prefere conhecer seu noivo antes. Se eles não te ouvirem,
Dominic e eu vamos comprar sua briga.
— Obrigada, Kate. Você é a melhor irmã! — Bess me abraçou.
Kim e Olívia gritaram em protesto. — Estou brincando, eu amo
vocês.
— Meninas, só um minuto. — Dominic entrou no quarto, nós
nos assustamos porque não o ouvimos chegar em casa. Ele
segurou meu rosto e me deu um beijo simples, porém, muito
carinhoso. Ao julgar seu olhar, percebi que ele tinha ouvido minha
declaração. — Eu também, ok? — E saiu, me deixando louca para ir
atrás dele e me jogar em seus ombros.
As irmãs riram e fizeram um coro de fofura, jogando pipoca em
mim só porque fiquei com uma expressão afetada.
Minha rotina em Nova Iorque era agitada durante a semana. Eu
ia para a faculdade toda manhã, realmente interessada no meu
curso de administração porque pretendia trabalhar com essa parte
nos negócios de Dominic no futuro. As empresas reais que
pertenciam ao meu pai foram passadas para meu nome como
herança, mas o grupo administrativo dos King que gerenciava
enquanto eu não podia controlá-las. Sem experiência, contava com
a opinião de Dominic para tudo.
Nós conseguíamos nos entender na rotina, ele ainda tinha a
mania de olhar as mensagens e responder depois, saía sem dizer
ao certo o que estava fazendo e não era por querer controlar e sim
por ficar preocupada e sequer saber seu último paradeiro. O que me
confortava era que Luke sempre sinalizava para Olívia e assim eu
sabia que meu marido estava vivo.
— Ei, estudante! O que quer para o jantar hoje?
— Estamos atendendo a pedidos, senhor? — Abaixei a tela do
meu notebook.
— Não vou sair hoje. — Ele se inclinou e me deu um beijo.
— Folga ou por que está chovendo?
— Chuva deixa as coisas mais tranquilas na rua.
— Eu estava pensando em pedir pizza, mas não percebi que a
chuva estava tão forte. Queria comer alguma coisa na frente da
televisão… debaixo das cobertas.
— Eu sei o que eu vou comer. — Ele balançou as
sobrancelhas.
— Péssimo! Isso foi péssimo! — Bati em seu peito, segurando
a risada. — Tem massa congelada para pizza, que tal jogar molho e
queijo? Já vai ser o suficiente!
— Eu vou fazer, tirana. — Dominic me pegou e levantou,
abracei-o com as pernas e os braços. — Não vai demorar.
Para não deixar a cozinha uma completa zona, fui limpando
conforme ele preparava e deixei a louça toda lavada. Ele colocou
duas no forno e sentei no balcão, com uma taça de vinho. Não era a
minha bebida favorita, mas queria relaxar depois de estar com a
cabeça fritando com um encontro que queria ter com minha irmã.
Olívia e eu não conseguimos achar a grade de horários dela.
Dominic não concordava, aceitei a opinião dele e decidi vê-la
mesmo assim, só não estava compartilhando para não brigarmos.
Ele pegou uma maçã e uma faca, cortando os pedaços e comendo.
Era admirável que não bebia. Alguns goles ou pequenas doses, mas
definitivamente, não era de ficar bêbado e muito menos de perder
os sentidos.
— Você pode me ensinar a atirar melhor? Ter mais prática?
— Tudo bem, vou te levar em algum lugar amanhã.
Pensei que fosse dizer que não, ele era cheio de argumentos
quando se tratava da minha segurança, mas, seria muito ignorante
da minha parte não saber me defender.
— Quero aprender a lutar, também.
— Mais alguma coisa?
— Pare de me fazer sentir como uma garota má cheia de
exigências, só quero aprender tudo que posso tanto quanto
possível.
— Eu gosto do seu jeito mandão.
— Dominic! — choraminguei, ele riu e me abraçou. Mordi seu
peito enquanto ria.
— Você ainda não percebeu que pegar no seu pé é bem
divertido? Sei que está ansiosa e muito agitada, principalmente
vivendo aqui em Nova Iorque.
— Realmente acha que sou mandona?
— Você não tem problemas em dizer o que quer e isso é
admirável, também facilita muito a minha vida, eu vejo Luke
sofrendo para decifrar os beicinhos da minha irmã e nós não
passamos por isso. Já deve ter percebido que não sou o mais
atento. — Ele sorriu contra minha boca, subi minhas mãos por seu
peito, dentro da camisa e ele foi tirando-a. — Eu sempre entendo
essa linguagem.
— Será que a pizza vai queimar?
Ele diminuiu o forno e voltou, me beijando. Soltei um gritinho
quando me ergueu e levou-nos para o sofá. Dominic me deu um
beijo que me fazia sentir em brasa viva. Movi minha língua contra a
dele, perdida, ardendo de desejo. Ele fazia parecer que a minha
boca era dona de seu prazer, sempre gemia, entregue
intensamente. Agarrou meu quadril para me fazer senti-lo por
inteiro.
Minha boceta latejava. Se ela pudesse, gritava. Eu queria
gritar. Gememos um contra o outro. Empurrei-o para sentar no chão
e montei em seu colo. Dominic subiu as mãos pela minha cintura,
levantando o top que usava e espalmou as mãos nos meus seios,
olhando em meus olhos. Manipulou meus mamilos, subi minha saia
e mostrei o quanto minha calcinha de algodão estava molhada.
O que ele era capaz de fazer com meus seios me deixava
maluca…
— Você é tão gostosa, amor. — A voz rouca me deixou
arrepiada. Ele ergueu a cabeça. — Traga seus peitos aqui —
ordenou e eu os segurei, oferecendo. Dominic me chupou duro.
Gemi, olhando-o. — Esse olhar de safada é uma delícia.
Eu ia explodir. Soltei o laço da calça dele, puxando para baixo,
beijei o abdômen e fui lambendo até o cós da cueca. A ereção
marcava ali. Liberei o membro, bombeando e cuspi bem na cabeça.
— Posso te chupar?
A expressão dele se contorceu de prazer. Ele me queria como
todo meu ser era dele.
— Você deve, baby. — Dominic acariciou meu rosto,
arrastando o polegar nos meus lábios e parando no queixo. —
Chupa, agora.
Fechei minhas duas mãos em sua base, levando-o à boca
tanto quanto cabia. Tentei até a garganta, relaxando um pouco mais
para conseguir. Dominic encostou a cabeça no chão e ao levantar
de novo, agarrou meu cabelo, querendo me ver com o pau todo na
boca. Movi minha cabeça e lambi o pré-gozo vazando. Continuei o
trabalho e ele apertou meu cabelo, trincando os dentes.
— Eu vou gozar, baby. Eu quero ver na sua boca antes de
engolir.
Ele soltou um grunhido, gemendo, senti o gosto do seu
esperma e mostrei. Eu ainda estava aprendendo a arte do boquete,
mas meu marido parecia gostar. Voltamos a nos beijar, tirei minha
saia e a calcinha, ficando completamente nua. Dominic era grande e
musculoso o suficiente para me dominar, me pegando por trás,
mordiscou minha orelha.
— Empina mais essa bunda.
Ele começou a me foder deliciosamente, estocando e
construindo um prazer enquanto minhas unhas encontravam o
couro do sofá para afundar. Explodi em um orgasmo delicioso.
— Isso, goza no meu pau. — Dominic puxou meu cabelo. —
Estamos só começando.
No fim, a pizza queimou, mas valeu muito a pena.
Capítulo 28 | Dominic
Enzo assobiou ao ver o corpo caído na minha frente. Era
meio-dia e o sangue escorria pelo chão, no declive que dava
diretamente na calçada. Ele empurrou o portão fechado, impedindo
que fosse para a rua e me encarou divertido.
— Já tão cedo? — Conferiu o relógio. — Eu não cheguei
atrasado o suficiente para que tenha matado nosso batedor.
— Foi sem querer.
— Sem querer? Um acidente é sem querer. Um tiro no meio da
testa é muito por querer.
— Posso me explicar?
— Se existir uma explicação, sim. — Ele deu de ombros. —
Uma bala não voa do nada.
— Voou porque ele estava vendendo drogas dos russos no seu
ponto e levando para dentro da minha boate. Eu avisei que não era
assim que funcionava, ele riu, então, eu atirei. — Guardei a arma na
cintura. — Agora… chame alguém para limpar essa bagunça.
— Claro. Kyra vai querer sua bunda fatiada na mesa por ter
que lidar com isso antes do almoço. — Ele pegou o telefone e riu. —
Aqui é o amor da sua vida, bebê. Não, você perdeu a sua
oportunidade quando eu estava solteiro e não quis chutar Alex. Só
minha esposa merece ser chamada de amore. — Seguiu falando e
olhou para o meu rosto. — Dominic perdeu a cabeça.
— Filho da puta. Todo mundo espera que você perca a cabeça
— sibilei. Ele riu e seguiu atentando Kyra por telefone. Deixamos
Emerson no local e Luke nos conduziu para a boate, para fazer o
balanço e ouvir o que a equipe que gerenciava os eventos tinha a
oferecer para que pudéssemos fazer nossos planos. Quando eles
terminaram, Enzo virou para mim.
— Quase não tem ido para a boate.
— Ao contrário de você, eu quero ter uma lua de mel.
— Vai se foder. Você estava a maior parte do tempo em Los
Angeles, alguém tinha que olhar os negócios. — Brincou com uma
caneta, batendo na mesa.
— Até parece que foi por causa das nossas boates que você
ficava saindo. Basta assumir que é um maníaco por controle.
— Culpado.
— Falando nisso, vou para casa. Estou ensinando Kate a dirigir
e a atirar. Ela tem se divertindo muito.
— Você é maluco. Sabe que quando ela se irritar, você será o
alvo.
— Ela me ama.
— Juliana diz o mesmo. — Ele ergueu a camisa e mostrou o
hematoma na barriga.
— Nenhum homem é capaz de irritar uma mulher como você.
— Apontei e peguei minhas coisas, saindo para a garagem.
Era um dia relativamente tranquilo, cheguei em casa em menos
tempo do que em um dia de semana. Kate estava nos fundos, onde
montei uma pequena academia e tive que inclinar minha cabeça
para o lado tentando entender como era possível uma pessoa ficar
naquela posição sem quebrar a coluna. Depois, levantou a perna…
— Você pode fazer isso no quarto — falei e ela apenas ergueu
o dedo médio, sem perder a concentração. Quando empinou a
bunda, precisei entrar e parar atrás. Segurei seu quadril e fiquei
esperando terminar de se esticar.
— Dominic King!
— Tem certeza que quer que eu pare?
— Eu malhei a manhã inteira com sua irmã e ela saiu daqui
correndo porque esqueceu das provas de bolo. Se formos fazer
qualquer coisa, com minhas pernas tremendo do jeito que estão,
precisará fazer todo o esforço. — Ela riu quando a joguei sobre
meus ombros para subir a escada. — Você está cheirando a mofo e
umidade. Foi encontrar com algum batedor?
— Como sabe?
— É o cheiro que volta da rua quando vai fazer essas coisas.
— Bateu na minha bunda e a levei direto para o banheiro. Nós dois
precisávamos de um banho. Coloquei-a sentada no balcão da pia.
— Cuidado com as minhas maquiagens.
— Se elas ficassem no armário…
— Elas vão ficar onde eu possa lembrar a maldita ordem de
usá-las.
Kate ergueu os pés e fui tirando os sapatos, as meias e puxei a
calça. Eu era bom em fazê-la ficar nua com rapidez. Entramos no
chuveiro, inicialmente, cada um do seu lado, mas depois achei que
minha esposa não deveria se cansar passando sabonete em seu
corpo, explorando todas as partes da pele perfeita. Mesmo que
odiasse as marcas de cicatrizes e ficasse com vergonha de uma
delas, era linda e mais que incrível para mim.
A maioria das mulheres viam em mim o jogador de futebol,
porque na realidade, era a atração pelo uniforme, ou meu status de
vida, com sobrenome e empresário. Até poderiam me achar bonito,
mas Kate me enxergava. Ela sabia quem eu era de verdade, o que
fazia além dos olhos públicos, tinha uma paciência fenomenal nos
meus dias ruins e com aquele jeito decidido, era capaz de ter
clareza nos nossos projetos.
— Não íamos sair? — Ela ergueu a cabeça e sorri, deitado
para o lado oposto. — Está tudo bem aí?
— Não. Minha mulher montou em mim e meu cérebro virou
gosma.
— É engraçado quando me chama de sua mulher, todo mundo
na faculdade fica meio confuso sobre ser casada, a mídia não
noticiar isso com precisão e meu sobrenome ser King.
— Sienna meio que dita o que a imprensa vai falar aqui. Em
Los Angeles, eles têm muita gente para perseguir.
— Deixa de preguiça, vamos! — Ela levantou e deu um pulo da
cama. — Eu quero dirigir aquele carro azul potente. — Correu para
o banheiro.
— Você nem sabe a marca! — resmunguei, fechando os olhos.
Ela era meu pior pesadelo quando tocava nos meus carros.
— Eu não me importo, apenas quero ouvir o motor e de
preferência, comigo atrás do volante. — Ela rodopiou e pegou a
escova de dentes.
Kate esperou pacientemente sairmos da cidade para dirigir nas
estradas mais vazias. Ela pulou no banco, batendo palmas e mal me
esperou fechar a porta para dar a partida. Os pneus cantaram, pedi
que fosse devagar e ela ignorou, sorrindo e acelerando.
— Ah, tudo bem, se você quer correr, vamos aprender sobre
direção de fuga e defensiva. Entre no descampado, vamos começar
algumas manobras ali. — Apontei a direção.
— Okaaay!
Kate era um terremoto no controle do carro. Era pior ainda
treinando para atirar. Rápida para aprender todos os tipos de
pistolas, manuais e automáticas, trocava de pente mais rápido que
qualquer um que conheci. Kyra ficava muito orgulhosa. Eu não
podia definir nada. O talento de Kate para os negócios só podia
estar no sangue, porque ela não foi criada dessa maneira, apenas a
mãe fazia parte de um meio que muitos consideravam horripilante.
Nossa vida a dois não era tão ruim quanto imaginei que seria
ao estarmos casados na nossa idade. Kate era tranquila de conviver
— se eu lavasse a louça e não deixasse as roupas sujas
espalhadas, afinal, Ashley era governanta da minha mãe e nós só
contávamos com a limpeza alguns dias da semana para faxinar a
cobertura, sem funcionários fixos.
— Bom dia… — Kate entrou no quarto usando só um curto
casaco de moletom e uma calcinha. Estava frio lá fora, o tempo
mudando. — Seu café de aniversário! — Comemorou, me fazendo
rir. Sentei na cama e olhei. Era literalmente café preto, puro e em
uma caneca grande com meu nome. — A caneca é o seu presente,
caso esteja na dúvida.
— Uma caneca? — Arqueei a sobrancelha, dando um gole.
Pelo menos estava bom. Ela finalmente se entendeu com a
cafeteira.
— É uma coisa que vai usar todo dia. — Deu de ombros e
montou no meu colo.
— Se for o caso de ganhar algo para usar todo dia…
— Você já tem sexo quase todo dia. — Ela me cortou, rindo.
Deixei minha caneca em cima da mesinha ao lado e segurei sua
cintura.
— Ei, eu não ia pedir isso. Você já é minha da cabeça aos pés.
Ia falar que um novo relógio ia ser muito bom.
— Vou pensar sobre isso. — Ela jogou os braços nos meus
ombros. — Feliz aniversário, meu protetor, amigo, amor e marido.
Nosso primeiro aniversário juntos, como você gosta de comemorar e
não tem medo de ser o centro das atenções, vamos curtir muito.
— Vamos? O que tem preparado para o dia de hoje?
— O cronograma é: sexo, café da manhã, nos arrumar para
almoçar com seus pais, voltar para casa, dormir um pouquinho- e
sexo mais uma vez, depois, vestir nossas fantasias para a festa
mais tarde.
— Sexo duas vezes? É realmente meu aniversário. Não terei
um bolo?
— Eu ia fazer, mas devido às minhas habilidades na cozinha,
sua mãe achou melhor que seu bolo fosse a sobremesa do almoço.
— Ela sorriu e mordeu o lábio, parecendo hesitante. — Seus avós
estarão lá, também.
— Ah, Kate! Quem convidou?
— Eu tive que convidar! Sua avó fez um drama enorme, ela
tem quase noventa anos, me senti culpada! O que eu ia fazer?
— Desligar o telefone.
— Ah, baby. — Ela começou a me beijar. — Vai ficar tudo bem,
eu prometo.
— Não tente me distrair com beijos.
— Quer mesmo que eu pare, Dominic? — Sorriu torto. Droga,
ela sabia que não. — Estou louca para sentar no seu pau. Lembra
da ordem do cronograma?
— É a parte que estou mais ansiando. E a melhor parte? —
Puxei a colcha entre nós. — É que já estou completamente nu e
meu pau…
— Oh, delícia. — Voltou a me beijar, tocando uma punheta
gostosa.
Kate tirou o casaco. A calcinha era de amarrar nas laterais e
por mais simples que tenham sido seus movimentos, foi muito sexy
vê-la tirar. Inclinando-se para trás, apoiando as mãos nas minhas
coxas, fez um movimento de vai e vem delicioso com meu pau
aninhado em sua boceta. Era uma visão sexy. Equilibrando-se,
levou-me para dentro, começando a rebolar de verdade. Se aquilo
não era um presente de aniversário, não existiria nada melhor.
Capítulo 29 | Kate
Dominic olhou a mesa preparada com admiração. Ele puxou
uma cadeira para mim e depois se sentou. Era aniversário dele e eu
queria que tudo fosse perfeito. No meu, estava de cama e ainda
assim, ele se dedicou em me fazer feliz.
Inicialmente, quis ser egoísta e atrasar a comemoração com a
família dele para o final de semana. Ele saiu com Enzo na noite
anterior, foram fazer alguma coisa divertida e distorcida com Alex
em Nova Jérsei, mas minha sogra fez um beicinho sobre não estar
com ele no dia que deu à luz, depois de horas de trabalho de parto.
Eu era uma covarde quando se tratava do drama da família.
— Você preparou isso?
— Sua ingenuidade é um charme e me faz lembrar que está no
começo dos vinte anos, mas puta merda, eu mal sei fritar um ovo! —
Servi um pouco de café em nossas xícaras. A caneca bonita ainda
estava do lado da cama.
— Eu não queria ser grosseiro e perguntar onde comprou.
Achei que podíamos conduzir o assunto até sanar a minha
curiosidade.
— Ah, no hotel aqui da rua! Eles entregaram tudo para Brady,
ele entrou aqui de fininho e eu tirei das sacolas, colocando nas
louças lindas como se tivesse preparado. Seu café de aniversário.
— Obrigado, amor. — Ele me deu um beijo e começou a
comer.
— Sei que disse que a caneca era o seu presente, mas eu
ouço o que você fala e passou os últimos dias resmungando que
seu relógio quebrou o vidro ao “perseguir um idiota”. — Fiz um sinal
de aspas e lhe entreguei a caixa.
— Eu odeio quando tenho que resolver essas coisas
pessoalmente e pior ainda, quando eles correm. Era o meu relógio
favorito, porra.
Eu sabia. O coitado do relógio não tinha uma pausa do pulso
do meu marido e provavelmente sabia andar a cidade inteira
sozinho. Animado, Dominic puxou o laço e abriu. Descansando em
almofadas pretas de veludo, estava um relógio prata com visor de
fundo preto, do jeito que ele queria.
— Estou apaixonado, baby. Era o que eu queria. Muito
obrigado.
Vê-lo feliz me fazia feliz. Experimentar aquele tipo de
sentimento só era possível amando muito outra pessoa. O que
decidimos viver juntos era muito intenso e um pouco precipitado,
mas estávamos felizes com a decisão que tomamos.
Chegamos à mansão dos pais dele, que ficava fora da cidade.
Era uma das minhas primeiras vezes no local e ainda ficava
chocada com o tamanho e a beleza. Dominic havia crescido ali e o
quarto dele tinha fotografias antigas e alguns brinquedos que
Donatella havia guardado de recordação.
— Você era enorme e bochechudo. — Inclinei-me para olhar
algumas fotos. — Bem fofo.
— Não sei porque minha mãe exibe essas coisas aqui.
— A resposta é bem óbvia: você é o bebê dela. Um pouco
gigante, mas ainda assim, um neném.
Suas bochechas ficaram vermelhas, eu ri e me joguei nele.
Dominic me pegou no estilo noiva e me levou para a cama. Ainda
estava todo mundo ocupado, as meninas terminando de acordar,
Oliver fazendo fisioterapia no braço e minha sogra decorando a
sala. Subimos para deixar minha bolsa e dar privacidade a todos.
Soltei um bocejo ao ficar deitada e achei que o tempo seria
melhor aproveitado com um cochilo. Tiramos os sapatos e com o
quarto escuro, dormimos mais de uma hora, até que Jane entrou
com os olhos arregalados.
— Vovó chegou, Dom.
— O dia vai ser incrível... — Dominic cantarolou.
Eu não entendi inicialmente porque a Vovó era tão temida, mas
em dois minutos ao lado dela, fui insultada e elogiada, fiquei em um
misto de mortificação e gratidão, sem saber o que responder. A
senhorinha bebia mais uísque que Oliver. Apesar das situações
tensas provocadas por Eliza Armstrong, eu pude cantar parabéns e
ver meu marido todo sem jeito ao assoprar as velas.
Ele foi esmagado pelas irmãs quase ao mesmo tempo. Jane
ganhou o primeiro pedaço. Aquela menina nunca aceitaria menos
que devoção completa em um relacionamento no futuro, só pela
maneira incrível que Dominic a tratava. Tirei várias fotografias,
interessada em criar registros íntimos da minha vida. Percebi que a
última foto que tirei foi na manhã que minha vida mudou.
Os anos seguintes foram um completo hiato.
Voltamos para casa no final da tarde, ele foi guardar os
presentes que ganhou e eu olhei as correspondências entregues.
Abri as da faculdade quando vi que ele atendeu a ligação de um
aparelho celular que só ficava no escritório. Para minha surpresa,
falou em um espanhol perfeito.
Deixei os envelopes no balcão.
— Quem desapareceu? — questionei ao encerrar a chamada.
— Um dos chefes… ele sumiu depois de verificar o repasse
nas fronteiras, mas não foi visto onde deveria. Provavelmente foi
pego no caminho.
— Por que ele iria para a fronteira se você não transporta por
ali?
— Não é porque não uso que eles não achem pertinente ter um
controle sobre o local. O cartel não vai deixar de ganhar dinheiro
com a entrada ilegal no país, sabem que não podem usar ninguém
de mula, mas podem vender a entrada aqui. — Ele deixou o
aparelho na gaveta. — Seu primo Miguel vai ligar logo que tiver
notícias.
— Eles já sabem da morte do meu pai?
— Sim e comemoraram.
Dei um aceno e esfreguei as mãos, com frio e um tanto
ansiosa.
— É perigoso visitar? Tenho tantos tios e primos lá, lembro de
todos eles e não sei como estão. Saber que minha tia-avó morreu e
eu sequer pude estar com eles, como estaria se minha mãe fosse
viva, é bem ruim.
— Podemos organizar uma ida. Tem que ser cuidadoso, eu
entro e saio sem chamar a atenção. O casarão segue bem cuidado
e ativo, assim como todo o vilarejo em que sua mãe nasceu.
Meu avô materno foi governador de Sinaloa. Cresceu no cartel,
o que eu não sabia até Dominic me contar, mas a trajetória política
dele era motivo de orgulho para minha mãe. Eu não o conheci,
morreu poucos meses depois do casamento dos meus pais. Minha
mãe veio estudar e provavelmente assumiu algumas coisas do lado
de cá da fronteira.
Dominic me contou o que sabia da história obscura da minha
família, mas eu queria saber mais. Queria saber tudo. Estava
carregando nas costas, pecados de uma vida que nunca me foi
apresentada, era mais do que justo ter respostas.
— Vamos subir? Eu tenho uma surpresa para você!
— Mais? Pensei que fosse descansar para mais tarde. Não
que precisemos ficar muito tempo, podemos vir depois que der meia
noite.
— Isso é cedo para seus padrões de festa.
— Podemos ter outro tipo de festa depois. — Balançou as
sobrancelhas.
Eu ri da bobeira, demos as mãos e fomos para o quarto. Pedi
que esperasse voltar e não fosse me espiar. Ele sentou na beira da
cama, tirando as meias e eu corri para o quarto ao lado. Nosso
closet não tinha portas, assim ele veria a surpresa antes do tempo.
Tirei minha roupa, prendi meu cabelo e vesti apenas a camisa que
era o presente.
A outra caixa era um pouco maior.
— Estou me sentindo mimado e um tanto em desvantagem
com tantos presentes. Você não me deixou te dar nada. — Dominic
me recebeu com surpresa.
— Ano que vem vai ser diferente. Tudo que precisava esse ano
você me deu e foi muito mais valioso do que qualquer bem material.
Te prometo que irei aceitar as comemorações e presentes, tá bom?
— Coloquei a caixa em seu colo. — Abra!
— Dá uma voltinha — pediu com um olhar safado que aqueceu
tudo dentro de mim. Eu girei e ele só exalou.
— Sei que sente falta dos jogos, da faculdade e se tudo fosse
diferente, eu seria uma garota orgulhosamente usando seu nome
nas minhas costas. — Olhei-o sobre meus ombros. Dominic
colocou o presente ao lado e me puxou bruscamente, caí sentada
entre seus braços.
— As vezes eu gostaria que nossa vida não fosse assim, seria
um sonho viver normalmente… mas ter você já é um motivo de
felicidade.
— Eu sei. Você me trouxe tanta coisa, Dominic. A liberdade foi
a melhor delas. Caso contrário, ainda estaria com meu pai… sem
Kia e Ginnie para me proteger. Sem Brady. Talvez até sem vida, se
ele conseguisse o dinheiro. — Peguei a caixa. — Mas hoje não é dia
de assuntos tristes. Abra! Anda!
Dominic pegou o prêmio que ele receberia no final da
temporada. Ele deixou toda aquela vida por minha causa e por isso,
mandei fazer uma réplica porque enxergava os sacrifícios dele.
Também mandei fazer uma bola personalizada, para guardar. Um
dia ele ensinaria as nossas crianças a jogar.
— Alugou um estádio de treino?
— Um dia na semana, com agendamento prévio, você, Luke,
ou quem mais quiser, poderão jogar em um gramado de verdade
para matar as saudades. — Escorreguei para a cama, enquanto ele
continuou olhando para o papel com um sorriso. — Eu achei um
presente bem adequado. Todo homem casado de respeito tem um
dia só de homens, sendo irresponsável e irritando as esposas. Mas,
se eu fosse você, não chamaria nosso vizinho italiano. Ele tem as
piores ideias.
— Só porque você ficou irritada com as brincadeiras dele não
quer dizer que é má pessoa.
— Ele apoiou o cotovelo na minha cabeça!
Dominic soltou uma gargalhada.
— Essa é a maneira dele de gostar! Caso contrário, fingiria que
você não existe. Ele gosta de pegar no pé como eu faço com as
minhas irmãs.
— Tudo bem, mas se ele for, me avise. Eu sempre posso ligar
para Juliana e acabar com a festa.
Dominic guardou tudo na caixa e a colocou no chão, tirando a
camisa. Ele me puxou pelos tornozelos e gritei, cobrindo a boca
para conter a risada. A blusa embolou toda e fiquei com os seios de
fora, exatamente como ele queria. Com um beijo, nossa conversa
mudou completamente.
Capítulo 30 | Kate
Foi difícil entrar na minha fantasia de mulher gato. O material
imitava couro, mas o tecido apertado delineava minhas curvas e mal
me permitia respirar. Eu poderia matar Olívia por me convencer a
usar algo do tipo enquanto estava tomada de alegria induzida por
espumantes e em cima da hora, não tinha como mudar. Já bastava
Dominic se recusar a vestir-se de Batman e ele ainda disse que eu
tinha que ficar feliz em tê-lo todo de preto com a máscara no rosto.
Nada de roupas coladas e capas. Ele pegou a peça, riu e jogou
de volta na cama, indo até o closet e pegando o que iria usar de
verdade. Não briguei mais por ser aniversário dele, também por
estar sem fôlego e paciência. Tiramos uma foto na frente do
espelho, fiz várias poses engraçadas para revelar depois e montar
nosso álbum de família.
A boate estava lotada. Todos queriam cumprimentá-lo e
desejar feliz aniversário. Dominic tirou foto com conhecidos, me
apresentou a várias pessoas, inclusive, seus antigos colegas de
time e depois, subimos para a área vip, com convidados que não
podiam ser vistos em público. Era fechado, não estava tão cheio e
pude dançar com minhas cunhadas, aproveitando a noite de balada
como qualquer garota normal.
Eu bebi mimosas, não era um tipo de bebida noturna, mas uma
das poucas coisas que meu paladar aceitou que continha álcool.
Olívia gostava de drinques coloridos e Bess, mesmo com Dominic,
não era autorizada a beber. Ela se divertia tanto que nem parecia
precisar de ajuda para ficar desinibida como eu. Dominic ficou nos
cantos da pista, sem dançar, bebendo água e conversando com
seus convidados.
Quando precisei sentar, me ofereceu seu colo de bom grado e
cada vez era uma sessão de beijos aquecidos que me fizeram
entender porque ele disse que iríamos embora cedo. Pouco depois
da meia noite, estava explodindo de tesão, louca para tirar a roupa
apertada e ter uma festinha na minha própria cama.
— Diz para todo mundo que não estou me sentindo bem e
vamos embora. Pode jogar a culpa em mim.
Dominic gargalhou.
— Não precisamos inventar nada. É só irmos. — Ele me beijou,
atiçando um pouco mais o meu fogo. — Brady vai pegar o carro.
Vamos sair pelo beco lateral.
Mal me despedi das minhas cunhadas, saindo com Dominic de
mãos dadas pelo corredor de serviço. Roubei uma caixinha com
batatas fritas e fui comendo, um tanto elétrica. Deveria ser resultado
da música pulsante. Tirei a máscara, prendendo meu cabelo e só
não arranquei as botas porque estavam presas na calça apertada.
Dominic acelerou como sempre, ele estava com a Mercedes e
era bastante confortável, um dos meus carros favoritos de dirigir.
— Coloque o cinto e as pernas para baixo. — Ele olhou pelo
retrovisor.
— Estamos sendo seguidos?
— Sim. Brady e os outros irão lidar com isso, mas terei que ir
um pouco mais rápido nas próximas ruas e não quero que se
machuque — falou agitado. — Não olhe pelo retrovisor.
— Tá. Eu não vou olhar — prometi, segurando o cinto, um
pouco enjoada. Eu não queria que todas as mimosas batizassem o
tapete do carro.
Os vidros eram blindados, mas isso fazia com que o carro
ficasse um pouco mais pesado e cada nova curva era um pesadelo.
Ele seguiu por uma avenida que não conhecia, só entendi que
estava despistando para depois cortar caminho, atravessando um
estacionamento vinte e quatro horas e saindo do outro lado quando
por fim, entramos no nosso prédio pelos fundos, onde ficava o
grande portão de carga e descarga.
— Será que Brady vai ter um vislumbre de quem foi?
— Espero que sim. Eu quero respostas. — Ele saiu do carro e
deu a volta, abrindo a porta para mim, segurando minha mão.
Seguimos para o elevador. Estava tarde e não encontramos com
nenhum vizinho, digitando o código para abri-lo quando chegou ao
nosso andar.
— Alguém que sabia que estávamos na festa, esperou sair ou
nos observou lá dentro.
— Pode ter sido a imprensa, também, isso será o menor dos
meus problemas agora.
Ele tirou a camisa e me encarou, contorcendo-me para abrir o
zíper.
— Vai precisar de ajuda para sair dessa roupa?
— Não vai ser preciso pegar a tesoura — brinquei ao ficar nua.
— Na próxima festa, me lembre de não usar algo tão apertado. Eu
estava sexy, mas não vale a pena.
— Sexy?
— Eu não estava sexy, Dominic? — Arqueei a sobrancelha,
bancando a séria.
— Está muito tarde para que possa me comprometer.
Ele estava muito interessado em me irritar.
— Sério? Acha que se não responder vai ter alguma sorte? —
Coloquei as mãos na cintura e ele pareceu procurar uma resposta
que não lhe colocasse em problemas. — Azar o seu que com toda
corrida, meu estômago está tendo uma terrível conversa com as
mimosas que bebi. — Fiz uma careta.
Ele arregalou os olhos.
— Vai vomitar?
— Eu não sei. Quero deitar.
Deitei e para não passar mal, fechei os olhos para dormir.
Dominic ainda ficou acordado um tempo, falando no celular, mas
acordei assustada com sons de vozes que não conhecia na sala.
Saí da cama de fininho, deslizei entre a porta aberta para o corredor
e olhei para baixo sem que pudessem me ver.
Dominic entregou um copo de água para a mulher. Ela era
bonita, cabelos negros e olhos azuis, nariz proeminente e lábios
cheios. Olhou para cima, sentindo ser observada e seu rosto trouxe
uma emoção ao meu peito. Parecia minha mãe.
Meu marido olhou para o alto, também.
— Katherine?
Voltei para o quarto correndo e fui direto para o banheiro,
vomitar. Ele apareceu em seguida, segurando meu cabelo e
afagando minhas costas. Assim que toda ânsia terminou, fui para o
chuveiro. Ele preparou minha escova de dente, me olhando
preocupado.
— Sei que parece muito.
— Quem são?
— Lembra do Magnata? É ele e a esposa. Ela é sua parente.

Eu lembrava que Ava[8] era uma prima distante. Fiquei


levemente confusa que depois de toda comoção na mídia, alguns
meses depois, não lembrava ao certo quanto tempo, noticiaram que
ela e a melhor amiga haviam morrido em um acidente de avião na
França. As autoridades francesas disseram que a pequena
aeronave foi atingida por pássaros e explodiu no impacto com o
solo. Eu lembrava disso porque o rosto dela me fazia lembrar de
minha mãe, mais velha, se pareciam ainda mais.
Dominic me esperou vestir uma roupa e pentear o cabelo
molhado para descermos juntos. Levi e Ava ficaram de pé quando
me viram, mas só ela deu um passo à frente para me
cumprimentar.
— Oi, Katherine. Eu sou Ava Blackwood e estava muito
ansiosa para te conhecer. — Ela esticou a mão e eu peguei,
apertando de volta. — É engraçado ver as nossas semelhanças.
— Dominic me contou sobre vocês, mas achei que estivesse
morta.
— É uma longa história. Só apareço viva para aqueles que
importam. Há alguns anos, Dominic nos procurou e contou sobre o
que estava vivendo. Nós trabalhamos juntos desde então.
— Mesmo depois de tudo que minha mãe fez?
— Ela fez coisas ruins, todos nós fazemos e eu não quero que
meus filhos paguem pelos nossos pecados. Eu não te faria pagar
por isso.
Levi me cumprimentou à distância. Ele e Dominic foram para o
bar, Ava e eu sentamos juntas na sala, com bebidas não alcoólicas
ou eu passaria mal de novo. Eles estavam na cidade a negócios,
tinham uma reunião marcada com Dominic e seus homens foram
alertados da perseguição.
Recebemos ligações de Kyra, contando o que sabia até então.
Zoei Enzo por parecer preocupado, mas entendi que o que ligava
todos eles não era a sociedade.
Era lealdade.
Era isso que Oliver não entendia. Meu sogro sempre foi focado
demais em si mesmo para perceber que as relações não podiam ser
baseadas em interesse, mesmo em uma vida distorcida como a
nossa.
Ava era parte da minha família e nós duas não conhecíamos
nada sobre o passado dos nossos pais. Senti culpa, mesmo não
tendo nada a ver com tudo que ela sofreu por causa da minha mãe.
— Não sinta. Entendo a sua confusão, mas… se pensar assim,
sua mãe morreu porque eu fiz de tudo para salvar meu marido.
— Minha mãe morreu porque traiu meu pai.
— Acho que se ela só tivesse roubando dinheiro, ele a
perdoaria. Provavelmente se uniriam contra Oliver, mas foi o fato
dela ter uma filha que o pegou. — Ava tocou minha mão. — Na
noite do sequestro, ele parecia um lunático com isso.
Dominic e eu chegamos à conclusão que foi antes do meu
nascimento. Pouco tempo. Ela ficou oito meses no México.
Encontramos registros do avião da família King entrando no país
diversas vezes, mas meu pai não era bem-vindo. Oliver descobriu
depois, então, pode ter sido minha sogra.
Apostava que Donatella sabia sobre minha irmã e
provavelmente ajudou a levá-la para o esconderijo que Helena ficou
até ser entregue ao pai. Por lealdade a Jackson, Kyra não nos dava
informações concretas, como data de nascimento e horário. Os
registros de Helena foram adulterados para que o público nunca
soubesse de sua verdadeira origem. Ela era filha adotiva dos Eros e
vivia com o irmão mais velho, mas Dominic descobriu que ele não
era filho biológico. Aliviava um pouco o sentimento esquisito que
minha irmã poderia ter um relacionamento incestuoso, se minhas
suspeitas estavam corretas.
Eu queria muito conhecê-la, mas todos ao meu redor diziam
que não era o melhor para mim. Ava tentou me fazer desistir e
quanto mais negavam, mais a curiosidade sobre Helena crescia. Por
que não podíamos ser irmãs de verdade?
Capítulo 31 | Dominic
Algumas semanas depois…

Minha irmã estava deslumbrante vestida de noiva. O


casamento estava acontecendo do jeito que Olivia havia sonhado.
Kate estava ao meu lado muito emocionada, usando meu lenço para
secar o rosto molhado. Passei o braço por seus ombros, achando
graça e confortando-a. Em breve seria o nosso dia e eu queria muito
vê-la de branco caminhando em minha direção.
Meu melhor amigo parecia muito feliz em finalmente ter a
amada oficialmente como esposa. Sendo um dos padrinhos (e o
mais importante, porque os outros eram só para preencher o vazio),
estava muito feliz em fazer parte daquele momento especial para
nossa família. Todas as minhas irmãs estavam belas em seus
vestidos e penteados elegantes de madrinhas. Jane estava ainda
mais fofa com a saia bufante cheia de flores. A daminha mais linda.
Ela percebeu meu olhar e abriu o sorrisão que me fazia chamá-
la de Stitch. Kate fungou de novo, secando as lágrimas quando os
noivos foram declarados marido e mulher. Autorizados pela igreja,
se beijaram e nós aplaudimos. Mamãe estava uma zona vermelha,
se abanando e meu pai disfarçou a vontade de chorar fingindo ser
alergia às flores.
Fomos conduzidos para as fotos e depois, os noivos ficaram
sozinhos para que entrassem na festa sob aplausos dos
convidados. Cumprimentamos alguns, muitos membros da
organização e da minha família expressaram o quanto estavam
ansiosos para meu casamento religioso. Kate e eu trocamos
olhares, nós também estávamos, mas era só para passar por essa
fase logo porque a vida real de um casamento já havia começado.
— Foi tão lindo. — Kate sentou em seu lugar. — Você acha a
vida de casado tediosa?
— Ontem você estourou um saco de farinha na cozinha e eu
sou chutado toda noite, repetidamente, porque dorme grudada em
mim não importando o tamanho da cama. Eu diria que o casamento
é tudo, menos tedioso.
Kate fez uma expressão ultrajada e me deu a língua.
— Quando deito longe, você vira e me puxa. Mesmo quando
estamos brigados, você quer um beijo e dormir abraçado. Fico
acordada pensando se vou picar as suas bolas ou te matar
sufocado. — Ela cruzou os braços, me fazendo rir. — Essa noite eu
vou dormir bem longe.
— Ah, não vai não. — Puxei sua cadeira para bem perto de
mim. — Eu te amo, sua pentelha.
Ela se derramou por completo, me dando um abraço.
— Eu também te amo. — Segurou minha nuca, procurando
minha boca e o beijo, como sempre, me fez sentir como o homem
mais sortudo do mundo inteiro. — A parte boa de sermos tão jovens
para um casamento é que, definitivamente, teremos um felizes para
sempre. Vamos aproveitar tudo juntos. Nosso momento de amor
está acabando, sua avó está vindo.
Merda. Vovó podia ser extremamente desagradável e sem
esforço. Ela já estava com o copo de uísque na mão e sentou do
outro lado da mesa, nos observando com os olhos de águia velha.
— O que foi, monstro?
— Dominic! — Kate me deu uma cotovelada. Vovó riu.
— Ela sabe que é má.
— E vocês são obrigados a me amar — vovó retrucou depois
de dar um gole. — Estou aqui pensando, vocês casaram do nada,
foram morar juntos, mas até agora não apareceu uma criança.
Pensei que o casamento no civil repentino era para que ninguém
falasse que romperam nossos costumes antes do matrimônio.
— Eu não casei grávida! — Kate se ofendeu. — Foi isso que
todo mundo pensou?
— Comentaram em todos os lugares.
— Sinto informar, mas um bebê vai demorar muito pra chegar
aqui. Eu tenho dezoito anos, não era nem para estar casada!
— Katherine! — Entrei no assunto. Precisava desfazer do
nosso casamento?
— O que foi? — Ela me encarou, confusa e voltou para minha
avó, que resmungava sobre métodos contraceptivos falharem. —
Não vai falhar, vira essa boca. Quero terminar a faculdade primeiro.
— Ninguém quer me dar um bisneto.
— Você tem outros netos, inclusive, mais velhos que eu. Por
que não infernizar a vida deles?
— Boa ideia. — Ela saiu em direção à mesa dos meus primos,
me fazendo rir.
— Por que ficou chateado quando disse que não era nem para
estar casada? — Kate me cutucou. — Acha mesmo que você, não
tendo tudo que aconteceu no passado, olharia para mim? Você
estaria jogando na liga universitária, com milhares de mulheres
bonitas na sua frente e até poderia ter uma namorada fixa, gostosa,
mais velha… — ela falou, demonstrando uma insegurança
infundada.
— Você sabe que, independente de tudo, continuaria sendo um
King e nós não podemos namorar pessoas de fora da organização?
Antes da sua mãe morrer, nossos pais expressavam que um
casamento entre nós dois seria o ideal para unir as famílias.
Kate fez um beicinho. Ela odiava perder nos argumentos.
— Nossas mães deviam sonhar com isso.
— Eu sei. E eu acho que não importa o cenário, no fim, eu
terminaria casado com você. Sorte a minha, o destino nos quis
juntos, de um jeito ou de outro. — Beijei seu ombro. Ela cochichou
para puxá-la ainda mais perto. Sua cadeira ficou colada na minha,
não era o socialmente educado, mas até dividimos o mesmo prato.
Olívia e Luke voltaram para a festa, nós comemos, dançamos e
cumprimos as obrigações antes de voltarmos para a mesa, para o
jantar oficial. Luke sentou ao meu lado e nós batemos nossos
punhos ao ver os pedaços de filé sendo servidos pelas mesas, foi a
única coisa que vencemos entre tantos pratos que nossas mulheres
escolheram.
— Vocês dois são grude em um dia, no outro, nem parece que
são casados. — Kim riu da maneira que Kate estava pendurada em
mim.
— É simples entender, filha. Tem dias que seu irmão fala e faz
a coisa certa e dias que não — mamãe comentou, cortando a
comida de Jane. Kate riu, concordando e fiz uma careta. — É
normal com os homens, vá se acostumando.
— Querida? — Papai se manifestou.
— Hoje, por exemplo, é um dia que seu pai falou a coisa certa,
mas ontem não foi. Ele dormiu no sofá a maior parte da noite, com
medo de ficar no mesmo ambiente que eu.
Para minha surpresa, as orelhas do meu pai ficaram
vermelhas, minha gargalhada foi ouvida do outro lado da mesa. Era
muito raro que meus pais demonstrassem quaisquer desacordos
entre eles na nossa frente. Sempre demonstraram uma frente unida.
Foram poucas as vezes que ouvi os dois discutirem no quarto,
minha mãe tinha a regra de nunca gritar e isso valia para meu pai.
Talvez ele soubesse que ela o afogaria se gritasse e por isso,
mantinha a voz baixa, mesmo com raiva.
Kate costumava elevar a voz, ela era naturalmente autoritária,
com um ritmo de liderança. Diferente do tempo da escola, período
que por senso de preservação se fez quieta, na faculdade ela era
bem conhecida. Não se aproximava de ninguém porque a nossa
vida não permitia amigos externos. Pessoas inocentes poderiam se
ferir só de estarem próximas e não era o certo, além de não
conhecermos quem de fato estaria se aproximando.
— Vamos dançar de novo? — Kate ficou de pé e me abraçou
por trás. — O DJ vai começar a tocar músicas lentas. Agora é o
momento de ficar agarradinho.
— Eu não vou recusar uma oferta como essa.
Vários casais seguiram para o espaço, com as luzes propícias
para um bom romance. Abracei minha esposa e dancei de um lado
ao outro, do jeito que sabia. Nada da valsa maluca que Olívia nos
obrigou. Pensando em minha irmã, olhei-a dançar com o rosto no
peito de Luke e agradeci por termos superado o pesadelo. Ela
estava sendo, novamente, a Ollie que sempre foi. Merecia um conto
de fadas e estava orgulhoso de ter lutado para dar a ela aquele dia.
Kate ficou com a orelha no meu peito, acima do meu coração e
sorri.
— O que foi?
— Você sempre faz isso. Quando pensa que estou dormindo,
deita em cima de mim e fica ouvindo meu coração.
— É o som que me faz lembrar que não importa o que
aconteça, eu tenho você.
— A maior promessa que posso te fazer, é que serei seu e vou
te amar para sempre.
Ela ficou na ponta dos pés.
— Eu te amo, Dominic.
Meu telefone vibrou no bolso, assustando a nós dois e ao ver
quem era, não podia deixar para atender depois. Saímos da pista e
fomos para um lado vazio da festa, Kate olhou ao redor para ver se
não tinha convidados fumando do lado de fora e atendi. Miguel me
deu notícias tristes e um tanto preocupantes.
— O que aconteceu foi grave?
— Guero foi encontrado. Está morto. Foi torturado por muitas
semanas… ele não tinha preparo para isso, Kate. Alguns dos
nossos segredos podem ter sido revelados.
— Ele foi levado depois que a notícia da morte do meu pai se
espalhou junto à fofoca de que Oliver está à frente do cartel.
— Meu pai fez isso para nos proteger. Você estava ferida e de
cama.
— Eu sei, não estou questionando a atitude do seu pai. Apenas
ligando os fatos que quem pegou Guero, queria saber a verdade.
Ninguém pode saber que assumiu o cartel com a morte da minha
mãe, principalmente Jack, sabe que ele é paranoico. Vai ligar os
pontos que você tem negócios com Levi, alguém que ele teme
abertamente e fornece drogas para todos pelos bastidores — ela
falou, tocando meu peito, preocupada. — Jack e Sebastian Vaughn
[9]
podem achar que você, Enzo e Kyra estão traindo-os. Eles não
vão entender que foi um plano para me salvar e agora, precisa
sustentar.
Soltei uma risada irônica.

— Eu não me importo com Sebastian e se Vince[10] for esperto,


ele vai calar a boca do pai dele. Jack é paranoico, mas ele, mais do
que ninguém, sabe que é fácil desconhecer limites quando se trata
de salvar a vida de quem amamos.
— Não importa, agora. É melhor contar, vamos conversar com
seu pai e contaremos juntos. Se Jack descobrir por fora, vai ser
muito pior.
— Tudo bem, vamos conversar com meu pai.
De mãos dadas, voltamos para a festa, mas eu já não tinha
mais cabeça para comemorações.
Capítulo 32 | Kate
As semanas seguintes ao casamento foram bastante corridas.
Eu tinha muito trabalho a fazer além de comparecer às aulas,
quando queria ficar em casa dormindo. Tinha dias que queria
bancar a herdeira que eu era e dormir mais que a cama, também
tinha objetivos e não acreditava que só ter dinheiro me dava o
conhecimento necessário para comandar os negócios ao lado de
Dominic. Costumava brincar que ele seria os músculos e eu o
cérebro.
Olívia teve uma viagem de lua de mel um pouco curta, foram
para Aspen, para que pudessem viajar por duas semanas depois do
meu casamento. A loucura dela havia terminado para a minha
começar. Eu já tinha provas de vestido agendadas, mas sabia o que
queria para o bolo e para Dominic não chorar como uma criança, ele
poderia dar a opinião no cardápio.
Atravessei o pátio da universidade, deixando meu material em
cima de uma mesa e pedi um café com creme, Olívia chegou alguns
minutos depois. Ela estava terminando o curso e iria começar outro,
sendo dentro da área que sempre quis. Toda família acreditava que
engravidaria rápido como Donatella, mas, assim como eu, não tinha
planos de bebês tão cedo.
— Acabei de pedir o meu. Vai querer café puro?
— Sim, sem açúcar e aquele pedaço de torta de chocolate. —
Ela apontou e pegou seu telefone. — Você não me avisou que
morar com outra pessoa podia ser um porre completo.
— Você é muito hipócrita. Café sem açúcar e torta?
— Não me julgue.
— O que está acontecendo entre vocês dois? Sinto muito não
te avisar, ninguém me disse nada. Seu irmão é um bebê gigante,
muito mimado. Às vezes, penso em sufocá-lo no sono. — Dei a ela
um sorriso bobo. — Ainda assim, eu o amo com todo meu coração.
— Eu também. Luke é um idiota tão fofo! — Olívia abraçou o
telefone. — Olha a mensagem que me mandou por me irritar antes
de sairmos de casa. — Virou a tela e também suspirei, achando
muito bonitinha a maneira que ele se redimiu.
— Dominic não consegue pedir desculpas de imediato. Ele fica
fazendo as minhas vontades, cozinha meus pratos favoritos, faz
massagem e só no meio da noite fala bem baixinho.
— Sempre foi assim. Prefere perder um dedo do que dizer
desculpas, opa, merda. — Olívia ficou séria. — Olha discretamente
para trás.
Joguei meu cabelo para o lado e olhei ao redor antes de virar
um pouco.
Helena.
Minha irmã estava a poucos passos de mim. Acompanhada de
um segurança que poderia ser confundido com uma montanha,
usava um vestido rosa claro, bolsa bege lindíssima e saltos altos.
Seus cabelos eram perfeitos. Parecia uma boneca e nós tínhamos
muitas semelhanças. Conforme foi se aproximando, percebi que
nossa boca e nariz eram iguais, assim como o tom dos olhos da
nossa mãe. O que era diferente deveria ser do pai dela.
Fiquei de pé e ela me percebeu.
— Katherine. — Soou fria e um tanto nojenta.
— Olá, Helena.
Ela me olhou com desprezo e ia passar direto, mas não permiti,
ficando à sua frente.
— Por que me enviou a caixinha de música?
— Eu quis devolver o objeto para quem poderia se importar,
mas talvez, devesse ter jogado fora. Não era importante para mim.
— Não. Você queria dizer olá da sua maneira — rebati e ela
olhou em meus olhos. — Queria se apresentar e talvez, revelar a
sua existência para mim. E se quisesse jogar fora, teria feito há
muito tempo.
— O que você quer? — ela falou entredentes.
— Quero te conhecer…
— Não precisamos. Nós compartilhamos meio sangue e nada
mais.
Ela se afastou com o segurança e a acompanhei com o olhar
até sumir em um corredor. Voltei a sentar, sem entendê-la. Helena
quis se apresentar, ela não teria enviado se não fosse por isso. Será
que esperava que eu fizesse algo trágico? Devolvesse a caixinha?
Não conseguia entender e a frustração só aumentou, ficar sem
respostas não era meu estilo. Helena iria sentar na minha frente e
nós iríamos conversar como duas mulheres adultas.
Mamãe não estava viva para nos explicar suas razões e eu
imaginava que por ser casada com meu pai, não podia ter uma filha
bastarda. Meu pai nunca aceitaria. Ele mataria minha mãe e a
criança, assim como fez logo que descobriu que foi traído. Gostaria
de saber como foi a vida dela, quem a criou, se teve um lar amoroso
e se era feliz de verdade. Não precisávamos ser irmãs, mas essa
conversa era muito necessária.
Olívia e eu não comentamos sobre o que havia acontecido ali
porque tinha outras pessoas ao redor. Alguns pareciam bem
curiosos. Comemos nosso lanche e fomos para as aulas
separadamente. Luke foi buscá-la e Brady me levou para casa,
combinamos um jantar. Prometi que Dominic cozinharia ou seria
delivery, ela riu e fez um sinal exagerado de alívio. Eu não tinha
culpa que nem a minha própria mãe sabia cozinhar e não se deu ao
trabalho de me ensinar enquanto esteve viva.
— Cheguei! Marido! — gritei da sala, deixando minha mochila
no sofá. — Ollie e Luke virão hoje, já sei que Bess vai resmungar e
Kim provavelmente fará greve de fome. Se Jane souber, o céu vai
cair, mas será um jantar e você vai cozinhar.
Dominic abriu a porta do escritório.
— Eu vou cozinhar?
— Se puder, por favor. — Fiz uma voz doce e dei um impulso
para pular nele. Dominic me pegou e antes de tudo, me beijou do
jeito que eu amava ser recebida em casa.
— Você não vale nada.
— Só um jantar para sua irmã e seu melhor amigo, mas se
estiver sem saco, podemos pedir pizza e eles que fiquem felizes
com a nossa companhia. — Continuei em seu colo. — Está
desocupado?
— Estava trabalhando quando minha esposa chegou gritando,
parecendo que precisava muito da minha atenção. Por que?
— Pensei que podíamos subir e sei lá… transar a tarde toda?
— Foda-se o trabalho.
Ele subiu comigo ainda no colo. Amava a força do homem,
mesmo que tenha dito que eu estava ganhando peso. Dei um chute
em suas pernas e proibi de entrar no chuveiro comigo só por ter
falado dos quilinhos a mais que adquiri ao parar de praticar
exercícios excessivamente, mas ainda malhava alguns dias por
semana para não perder meu ritmo. Eu não podia ser sedentária.
Ao me secar, joguei a toalha no cesto e reparei que a camisa
de Dominic estava suja demais.
— Você saiu agora pela manhã?
— Fui encontrar com Alex. Ele estava observando algumas
pessoas e para isso precisávamos ficar deitados no chão de um
telhado.
— Hum… o que houve?
— Fui debater sobre contar ao Jack ou não. Kyra acha que não
devemos, ela o conhece em um nível mais pessoal e pode estar
certa. Enzo não se importa, ele acha que Jack tem que aceitar
porque temos um acordo mais importante que esses detalhes,
principalmente porque foi um plano válido. — Dominic colocou as
mãos atrás da cabeça.
Sequei meu cabelo com a toalha, pensativa.
— Se todos estão votando contra, talvez estejamos mais
preocupados do que deveríamos. — Dei de ombros e subi na cama.
— Ninguém achou absurdo seu pai estar no comando do cartel,
afinal, ele traiu minha mãe por dinheiro ou por amor?
— Acha mesmo que meu pai era apaixonado por sua mãe?
— Amor de amigo, gênio. Se Olívia começasse a roubar algo
que construímos juntos, eu ia ficar muito furiosa. Entende o que
quero dizer? Eu a amo. Minha mãe estava errada. Ela deveria ter
contado, quis ser egoísta e mais esperta que todos… mesmo que
fosse para fugir comigo e minha irmã. — Sentei ao seu lado. Ele
olhou para o teto, pensativo. — Falando nisso, eu finalmente vi
Helena hoje. Ela é tão bonita, chique, do tipo muito rica e caramba,
ela é gostosa. Achei tão linda.
— Vocês se parecem, Katherine. — Ele bufou, me fazendo rir.
— Por isso que a achei linda.
— Nós não conversamos sobre não se aproximar dela? —
Cruzou os braços. Íamos começar tudo de novo…
— Nós? Não. Você falou e eu fingi que aceitei, para ficar quieto
e mudarmos de assunto. Não adianta brigar comigo, também finge
me ouvir quando imploro para não guardar a caixa de leite vazia na
geladeira. — Estiquei minhas pernas e o encarei. — Por que não?
— O homem que vive com ela é bizarro. Eu não quero essas
pessoas perto da gente.
— Continua não fazendo sentido. Bizarro em que nível?
Comem pessoas?
— Ele gostava de espancar mulheres e parecem ter um
relacionamento sendo irmãos. De sangue ou não, são irmãos.
— Depende. Se eles nunca se consideraram como, não vejo
problema, não sabemos da história para julgar. Eu não gosto
quando nos julgam.
— Argumento válido que irei ignorar porque sou hipócrita.
Virei na cama e montei em seu colo. Ele suspirou, olhando para
meus seios nus e seu cérebro já havia deletado a conversa, focado
no que faríamos a seguir.
— Eu não estou dizendo que seremos melhores amigas, já
entendi que os Eros não têm escrúpulos ou lealdade, eles são
traiçoeiros, maldosos e podem nos prejudicar facilmente. — Apoiei
minhas mãos em seu peitoral. — Acho que sei me cuidar quanto a
isso. Estou sendo bem avisada e preparada. Pode confiar em mim?
Ele respirou fundo, pego na curva com meu argumento e quase
fez um beicinho.
— Eu posso.
— Obrigada! — Inclinei-me e parei com minha boca bem
pertinho da dele. — Eu te amo muito por confiar em mim. Agora,
podemos ter uma conversa mais interessante?
— Sou todo seu, meu amor. — Ele me beijou
apaixonadamente.
Ah, aquele beijo…
Capítulo 33 | Kate
— Você não está gostando da comida? — Olívia questionou
Dominic. — Gostei do meu frango. Está uma delícia. Quer trocar?
— O filé está bom. — Ele cutucou um pedaço pelo prato. —
Não se preocupe.
Olhei para meu marido, tentando entender o que havia de
errado com o humor dele. Dominic concordou em sair quando
passamos quase uma hora olhando os menus de delivery, sem
conseguir decidir o que iríamos pedir. Escolhemos um tranquilo
restaurante que tinha boas avaliações na internet e que rapidamente
liberou uma mesa na varanda fechada do segundo andar quando
souberam o sobrenome de quem estava tentando reservar em cima
da hora.
Olívia parecia feliz em sair. Luke não era de quebrar a rotina,
ele agia cuidadosamente com seus planos e era um dos motivos
pelos quais Dominic conseguia fazer muita coisa sozinho. Sem
planejamento, Luke tinha um colapso e eu ficava furiosa querendo
colocar um GPS na bunda do meu marido por sair sem dizer
exatamente o que foi fazer. Não era por mal. O cérebro de azeitona
dele funcionava diferente.
— Está tudo bem? — Inclinei-me para cochichar.
— Sim. Apenas me sentindo desconfortável e não sei
exatamente o motivo. — Ele me deu um beijo na bochecha. — Pode
comer tranquila, sua massa vai esfriar.
Por mais que dissesse para não me preocupar, a tensão dele
me deixou em alerta. Comi com um pouco de dificuldade, deixando
parte do meu prato, alegando estar satisfeita. Minha garganta
apertada e o estômago torcido rejeitou a comida que estava
deliciosa. Esperava que fosse apenas um momento de desconforto
e não que a nossa noite de encontro duplo terminasse em uma
tragédia. Dominic não era do tipo que ficava paranoico à toa. Eu,
sim.
Saímos do restaurante, já estava mais tarde e com um
ventinho gelado. Me encolhi agarrada no braço dele, esperando o
carro ser entregue. Quando Luke olhou para Dominic, eu soube.
Disfarçadamente, chamou por Brady, que saiu do beco ao lado
quando o carro parou. Abrindo a porta para mim, Brady colocou uma
pistola pequena entre minhas coxas para que o manobrista do lado
de fora, muito atento a nós, não visse.
— Estamos sendo observados. Eu não posso dizer quantos —
informou a Dominic.
— Eu percebi. Chame os outros, vamos fazer uma rota segura.
Não ajudava muito estarmos longe de casa e em um bairro
relativamente deserto perto do rio. Olívia colocou o cinto quando
Dominic saiu em alta velocidade e eu engatilhei as armas,
entregando uma para cada homem, restando uma. Fiquei com ela.
Minha cunhada não saberia o que fazer. Prendi o cinto porque não
queria voar pelo vidro se batêssemos com o carro na velocidade em
que ele dirigia, mas vi outro carro escuro nos perseguindo e não
eram nossos seguranças.
— Eles querem nos fazer bater.
— Sim, teremos mais chances a pé pelas ruas movimentadas
— Luke falou rapidamente. — Vá para aquele beco, lembra?
— Do depósito?
— Sim. Olívia e Kate poderão atravessar por ele e encontrar
com Brady.
— E vocês? — Ollie gritou, desesperada.
— Vamos encontrá-las depois.
Eu sabia que tentariam nos dar tempo de fugir. Dominic freou o
carro bruscamente e pulamos fora, literalmente deixando o veículo
para trás. Atravessei minha bolsa no peito e agarrei a mão dela,
rebocando-a para dentro do depósito. Um rato passou por nós e ela
gritou, cobri sua boca ao perceber o silêncio exagerado do lado de
fora.
Era para ter tiros e brigas. Sinalizei para encostar contra a
parede e subi uma escada de ferro, procurando uma pequena janela
para ter uma visão completa da rua.
Dominic e Luke foram rendidos. Eram muitos homens
encapuzados e armados. Eles foram levados para dentro de uma
van, alguns avançaram, tentando nos enxergar no escuro. Não
podiam nos ver dentro do armazém e não poderiam perder tempo
procurando um a um. Provavelmente deduziram que corremos até a
outra avenida, que tinha muitos carros passando em alta velocidade.
Não entendi a língua deles, mas não era inglês.
Nenhum carro com placa.
Merda, merda e merda.
Meu coração parecia que ia explodir pela boca. Voltei correndo
e encontrei minha cunhada ainda parada no mesmo lugar.
Brady passou fazendo o som de pássaro, abri a porta e o puxei
para dentro.
— Eles foram levados, tenho tempo de seguir os veículos.
Olívia não poderá ir conosco.
— O que vão fazer? — Ela se exaltou, tentando me impedir de
sair.
— Você não pode ir. — Brady me agarrou.
— Deixe-a em segurança e vá me encontrar. Eu não vou entrar
até que chegue, eu prometo. Não podemos perder o rastro. Vão,
agora! — ordenei e saí correndo, entrando no nosso carro
novamente, que estava atravessado em uma calçada. Eles foram
muito burros em não atirar nos pneus. Brady correu para o meio da
rua quando os carros de segurança da família King chegaram e eu
freei para que ele pudesse me alcançar depois de colocar Olívia em
segurança. — Eles vão para a residência?
— Sim. É o local seguro mais próximo. — Brady bateu a porta.
— Vamos.
Eu acelerei. Conseguia ver a van de longe, Brady abriu o mapa
no GPS do carro, tentando identificar os sinais e eu peguei um
vislumbre do relógio de Luke, que tinha um rastreador.
— Está fraco, se me afastar mais, iremos perdê-lo.
— Se nos virem chegar, vão matá-los. — Brady indicou virar
uma rua antes e andamos em paralelo, diminuí a velocidade e abri o
vidro. Não havia som de nada, além da água e carros a distância.
— Eles podem ter nos ouvido.
— Ou pararam. Vamos seguir a pé…
— Pelos telhados. Esconda o carro ali. — Indicou uma vaga
entre um caminhão grande e uma lixeira. Ele puxou uma escada de
ferro, de incêndio e fomos subindo tentando ser silenciosos. Ele me
ajudou a pular para um telhado, corremos e olhamos para baixo,
pulando de um a um até que ele viu a van entrar em um galpão
antigo, todo escuro e os homens rapidamente fecharem a porta.
— O que está fazendo? Fotografando?
— Você não vai entrar e eu preciso que o reforço saiba onde
estou.
— Eu não vim até aqui para deixar meu marido morrer lá
dentro.
— Ele vai morrer se acontecer alguma coisa com você. Fique
aqui — Brady ordenou, tomando minha arma com uma velocidade
impressionante e saiu correndo.
— Filho da puta!
Minha respiração estava tão alta que meu peito doía, meus
dedos tremiam e se continuasse quase em colapso de pânico,
provavelmente infartaria ou, no mínimo, faria xixi nas calças. Era
sobre Dominic. Ele estava em perigo. Fechei meus olhos, me
acalmando e lembrei de todas as vezes que Kyra me disse que se
eu ficasse nervosa, era preciso silenciar minha mente para
conseguir calar a boca do medo. Dominic costumava colocar as
mãos em meus ombros antes de me ensinar a atirar, ele cochichava
que ficar nervosa, mesmo com minha facilidade em aprender,
poderia me matar.
Silenciosamente, passei para o outro telhado e vi a maneira
que Brady conseguiu se esgueirar para dentro, por cima. Ele tinha
muita habilidade. Memorizei como moveu as pernas. Eu era menor,
conseguiria passar sem problemas. Arranquei minhas joias, prendi
meu cabelo bem apertado, mas nada que pudesse me machucar se
alguém me pegasse.
Havia olheiros na rua que quase me viram, recuei e encontrei
um cantinho que podia pular quando desviassem a atenção.
Ouvi o som de um disparo e me desesperei. Eles entraram
correndo e foi a minha oportunidade. Me joguei com tudo e caí,
batendo com meu ombro no chão. Rolei para o lado sentindo dor,
mordendo a boca para não gritar e levantei, com meu pé doendo.
Empurrei a entrada, parecia uma saída solar e entrei. Os disparos
ficavam cada vez mais altos, corri pela lateral até ver Dominic lutar
contra um homem corpo a corpo.
Meus pés derraparam ao vê-lo quebrar o pescoço do homem.
Foi tão… cru e o estalo trouxe um arrepio que me deu vontade
de vomitar. Ele estava encurralado de novo. Escorreguei entre duas
barras de ferro para uma escada que rangeu com o peso, ninguém
olhou para cima e eu fui me esgueirando até parar atrás de um
tanque que tinha cheiro de gasolina. Merda. Merda.
Encostei ali, tentando me ambientar e fui vista. Luke.
Seu olhar de desespero encontrou o meu.
Ele apontou para os fundos e gesticulou a saída com os lábios.
Assenti. Tirando uma arma do bolso, mostrou que iria deslizar e que
deveríamos levantar em três. Concordei novamente e me preparei,
ele jogou e levantamos, meus olhos embaçados do choro me deram
uma desvantagem, mas por Dominic, eu era capaz de fazer tudo.
Luke e eu atiramos e avançamos, peguei uma pistola no chão e sem
olhar para meu marido, joguei em sua direção.
Brady deslizou para nosso lado, eles estavam nos cercando.
Um homem sinalizou para que os homens parassem.
— Não abaixem as armas — falei baixinho.
— Eu reconheceria essa voz em qualquer lugar. Você cresceu,
princesa. — O líder tirou a máscara. Eu não lembrava dele. Não
fazia a mínima ideia de quem era. — Ficou bela como sua mãe.
— Guerrero. — Dominic rosnou. — A morte não lhe fez bem.
— Eu tive que morrer enquanto Michelle estava me caçando e
cometi o erro de permitir que ela se aproximasse demais. Agora que
voltei e tive informações o suficiente, não vou permitir que você
continue.
Ele sabia que Dominic estava liderando o cartel.
Isso significava que todos os inimigos declarados da minha
mãe sabiam que Dominic e por consequência, eu, estávamos em
ascensão. Uma coisa era brigar com um homem poderoso como
Oliver King. Outra coisa era derrubar dois jovens que podiam causar
muitos problemas. Nós não tínhamos muita política ao nosso lado.
Um movimento no segundo andar atraiu minha atenção, mas
só a ponta do cigarro foi o suficiente. Reforços. E do tipo muito bom.
Não eram os seguranças dos King. Brady chamou armamento
pesado.
— É uma pena que saiu das sombras para morrer de verdade,
agora. — Inclinei a cabeça para o lado.
— Estava rezando que não fosse como a mãe, afinal, ela
nunca quis essa vida para a única filha. Vocês estão em
desvantagem. Como acham que vão sair daqui?
Ele não sabia da minha irmã.
— Eu não diria isso, cazzo. Tive que sair de um jantar muito
importante para estar aqui. — Enzo foi descendo as escadas e,
lentamente, seus homens nos rodearam. — Pelo menos, foi
inteligente o suficiente em mandar parar o fogo. — Ele colocou a
arma bem na nuca de Guerrero. — Anos atrás, eu te avisei que
Nova Iorque nunca seria sua, nem da Michelle, sempre minha.
Ele atirou, me fazendo saltar com o sangue espirrando na
minha direção. Dominic, Luke e Brady ajudaram os outros a
executar os homens de preto e capuz. Foi tudo quase ao mesmo
tempo. Nenhum deles ficou vivo. Abaixei minha arma lentamente,
olhando o banho de sangue ao redor. Escorria como um rio,
formando uma grande poça.
— A limpeza vai ter que ser pesada. — Enzo suspirou. —
Fiquem aqui e impeçam qualquer curioso de se aproximar até que a
equipe chegue. Quero tudo cremado, sem rastros.
— Fui exposto — Dominic falou com Enzo.
— Alonzo. Só pode ter sido ele. — Enzo e Dominic se
aproximaram. — Alonzo não o matou como disse. Ele deu fuga a
Guerrero em D.C.
— Temos que sair daqui. — Dominic agarrou meu cotovelo. —
Não poderemos ir para casa agora. Terá que vir comigo.
Balancei a cabeça, sem conseguir falar direito. Brady me
ergueu no colo quando meus passos estavam lentos demais para
acompanhá-los. Eu não sabia de quem era o carro que estávamos,
apenas que Luke dirigia em alta velocidade. Enzo falava muito
rápido ou minha mente desconexa não entendia o que dizia.
Entramos em um subsolo, tudo ficou escuro, o carro parou e eles
saíram.
Brady foi na frente, digitando o código e eu tropecei em uma
linha de trem.
— Ei, baby. Vem. — Dominic me pegou.
— Que lugar é esse?
— Costumamos entrar por outro lado — me respondeu baixo.
Kyra estava do lado de fora do elevador e pelo olhar, brava. Eu
nunca tinha visto aquele lado. Entrava somente no estande onde
treinava tiro com ela e Dominic. Ali era uma sala ampla, com
computadores, pessoas trabalhando normalmente, usando fones e
pequenos microfones em suas roupas.
— Dominic e Kate foram expostos — Kyra disse assim que
entramos em uma sala. — Guerrero chegou em Nova Iorque da
maneira mais clandestina possível. Isso significa que veio com plano
pronto.
— Quem é Guerrero e por que ele é tão importante na história
de vocês?
Todos eles pararam de falar e me olharam.
— Ele foi um inimigo da sua mãe. Há alguns anos, fomos
traídos pelo pai da Kyra. Guerrero foi supostamente morto em um
confronto com meu tio — Enzo me explicou.
— Eu era muito novo. Não fazia parte, ainda. — Dominic
segurou minha mão e entrelacei nossos dedos. — Pelo que sei,
Guerrero matou muitos da sua família. Incluindo seus avós a sangue
frio, na frente da sua mãe, quando ela era nova.
— Você me falou de um líder de cartel que estava morto.
Ele assentiu.
— Nós achamos que estava e agora, temos que trabalhar com
a possibilidade de que muitos inimigos da sua mãe têm a certeza de
que você assumiu o cartel. Sem a barreira do meu pai, o alvo voltou
para as nossas testas. — Dominic olhou em meus olhos. Eu ignorei
a conversa baixa entre Kyra e Enzo sobre o tal do Alonzo, que era
um problema da família italiana.
— Não tem problema, Dom. Vamos lidar com isso juntos —
falei baixinho. Ele segurou meu rosto e beijou minha testa. —
Divulguem para todos que a herdeira de Michelle Rodriguez está no
comando. Só podemos lutar com aquilo que podemos enxergar e
que eles venham.
Se aquele era o meu destino, eu iria assumi-lo.
Capítulo 34 | Dominic
Kate estava de costas para mim no chuveiro. Seu ombro
estava tomado por um hematoma enorme e ela soltou um suspiro
choroso com a água batendo no local. Lavei a área com cuidado,
seguindo para as outras partes do corpo dela. Deixei o cabelo por
último e por fim, me lavei. O cheiro da gasolina que jogaram nas
minhas pernas para conter Luke parecia ser difícil de sair.
Eu queria gritar com Brady por permitir que ela fosse até lá.
Queria explodir com Kate por ser teimosa, mas ela já estava ferida e
preocupada demais para brigarmos. Do que adiantaria ficar com
raiva naquele momento?
— Guerrero era o tipo de inimigo que nunca consideramos.
Preocupados com meu pai, envolvidos na teia de dominação de
território aqui e em Los Angeles, aí do nada, ele aparece de
surpresa. Eu nem posso ficar com raiva que não previ isso porque
ele estava morto — ela falou baixo, olhando para parede. — Existe
uma lista de inimigos conhecidos da minha mãe para dar uma
olhadinha?
— Ele foi um dos inimigos que se levantaram quando houve a
união da máfia italiana com meu pai. Na época havia outra família
também e eles saíram por causa da tragédia.
— Ryan, certo?
— É. Ele foi morto com a esposa e o neto. É regra que quando
um pai sai, o herdeiro assume, mas nesse caso, Jack e os outros
abriram mão.
— Mataram uma criança? — Ela me olhou com pavor.
— Guerrero matou. Por isso Alonzo foi atrás dele, todos
estavam ocupados com os ataques.
— Me faz querer ter atirado na nuca dele no lugar de Enzo. —
Mordeu o lábio e pegou a esponja da minha mão, jogando no
suporte. — Eu achei que ia te perder! — Começou a chorar. — Meu
Deus, Dominic! Eu nunca senti tanto pânico! — Seu peito tremeu
com um soluço. — Sei que você fica com raiva quando me exponho
ao perigo, mas eu te vi sendo rendido e depois eles te levaram para
dentro de um galpão! Eu não podia ficar parada e saiba que nunca
ficarei.
— Kate…
— Não adianta me dizer que você sairia de lá.
— Enzo ia chegar a qualquer momento. É o nosso acordo,
somos o reforço um do outro quando não podemos contar com os
nossos. Nesses casos, sabe que a equipe fica focada em proteger a
família, era para ter ido para casa dos meus pais com Olívia.
— Eu não iria. Ficar sentada esperando notícias não é o meu
feitio.
— E se eu te perder?
— Que sentido tem essa conversa se estamos com medo de
perder um ao outro? Vamos ficar no impasse. — Ela me abraçou,
encostando a bochecha no meu peito. — Eu te vi quebrar o pescoço
de um deles com as mãos.
Porra.
— Eu nunca escondi que me tornei um assassino. — Toquei
seu ombro, querendo afastá-la para olhar em seus olhos. Me
mataria ver desprezo ali.
— Eu não tinha visto. É difícil associar o homem que é comigo
e dentro de casa com o que eu vi lá. Você é muito forte e letal, mas
se eu e Luke…
— Brady iria conseguir ajudar Luke.
— Os dois feridos? Eles estão no hospital se costurando agora!
Você podia ter morrido, Dominic! Se eu não entrasse lá, você estava
morto. Então, se não quiser agradecer, só me dê um beijo e vamos
seguir em frente — ela resmungou e fechei meus olhos. — Você
sempre lutou por mim. Eu vou lutar por você. Acho que isso deve
estar nos nossos votos de casamento.
— Você é a mulher mais teimosa do mundo.
— Eu sei.
Terminei nosso banho e a levei para a cama. Kate aceitou
tomar a medicação que a médica da agência passou. Ela ficaria
muito dolorida nos próximos dias, mas não tinha nada quebrado, só
alguns cortes leves e hematomas. Eu estava com uns mais
profundos, que precisaram de pontos, mas lidava com a dor muito
melhor do que ela, já estava um pouco acostumado. Desforrei a
cama e depois de eventos tão cheios de adrenalina, deitar parecia o
céu.
Kate ainda ficou falando baixinho, querendo alinhar seus
pensamentos e eu deixei, mas não consegui prestar atenção. Minha
mente estava focada em fazer novos planos e traçá-los
cuidadosamente.
— Estou ficando tonta.
— A medicação está fazendo efeito. — A cobri melhor. —
Descanse, eu não vou sair daqui.
— Nunca vi tanto sangue… — resmungou antes de adormecer.
Ela nunca viu pessoas sendo mortas ao mesmo tempo. Os
disparos foram ouvidos e a polícia chegou a ser acionada, mas
reportaram que não encontraram nada. Provavelmente ouviram e
perceberam que não deveriam se meter ou chegaram depois, por
ser uma área remota. Não cheguei a questionar Kyra se houve
alguma intervenção nas chamadas, eles costumavam desviar ou
alterar endereços dentro do sistema da polícia para não sermos
pegos.
Dormi pouco e muito mal porque ela teve pesadelos a maior
parte das horas que deitamos. Acordei com Olívia entrando na
minha casa com o código de acesso que tinha. Ela estava com
Luke. Meu amigo parecia bem, costurado como eu. Minha irmã, sem
maquiagem e abatida, era reflexo do medo que sentiu antes, mas
ela superaria.
— Kate está dopada de remédios, ainda.
— Eu vim preparar alguma comida para vocês. Ficamos
preocupados quando não quiseram ir para a casa dos nossos pais.
Lá teria um monte de gente para cuidar de vocês dois. — Olívia me
abraçou.
— Kate não está bem para ficar ao redor de muitas pessoas.
Eu só precisava descansar.
— Estamos aqui para cuidar de vocês.
— Poderiam ficar descansando. Luke se feriu.
— Ele não queria ficar longe, então, vou colocar meu marido
deitado na cama do quarto de hóspedes e mimarei as pessoas que
mais amo nessa vida. — Olívia pegou nossas mãos e nos levou
para a escada. Voltei a deitar. Realmente precisava e voltei a dormir
muito rápido.
Kate me acordou ao buscar meus braços, ainda sonolenta.
Ficamos de conchinha sentindo o cheiro incrível da comida que
minha irmã preparava. Minha esposa começou a rir com os barulhos
que a barriga dela produzia.
— Meu estômago acordou e está chutando furioso. Ela está
fazendo chili?
— Espero que tenha pão ou eu comerei a panela inteira. —
Tirei as cobertas de cima de nós.
Luke estava colocando os lugares na mesa e Olívia mexia a
grande panela. Kate pegou um pedaço de baguete, provando um
pouco e deu pulinhos no lugar de tão bom que estava. Eu ri e
peguei a vasilha, enchendo-a e cortei mais fatias. Estávamos tão
famintos que devoramos a comida primeiro, só depois falamos.
— Eu simplesmente amo que seu chili não é com feijão de lata.
— Kate limpou a boca.
— Mamãe nunca permitiu que comêssemos comida
processada. Eu nem sei qual é o gosto de comida de lata, embora
seja mais barato e acessível, ela sempre brigou por uma
alimentação saudável. — Olívia recolheu a louça suja. — Fico feliz
que tenham comido bem. Dormiram tanto que eu tirei vários
cochilos.
— Ainda me sinto sonolenta. — Kate deitou a cabeça na mesa.
— É o cansaço com efeito da medicação — Luke comentou. —
Como está seu ombro?
— Doendo.
— Tem que voltar a deitar.
— Vamos todos descansar mais um pouco agora que
comemos quase três quilos de chili. — Olívia riu ao levantar a
panela e mostrá-la vazia.
— Eu não comi isso tudo, Dominic ficou com a maior parte. —
Kate me cutucou. — Ainda bem que seus pais sempre foram ricos,
sustentar esse homem com comida não é fácil.
— Não é como se meu pai fosse pequeno. Ele só é magro, o
que disfarça um pouco. Meu avô tinha dois metros e pesava cento e
cinquenta quilos. — Segurei a mão dela. — Vamos para a cama de
novo. Tem que cuidar do corpo nas próximas horas.
Eu sabia que ela estava preocupada com a data do nosso
casamento se aproximando. Era possível que as coisas se
acalmassem, já que Kyra finalmente havia cedido em contar para
Jack e ele lidaria com as pontas soltas. Doido ou não, era uma parte
importante da nossa vida e muito bom no que fazia.
Kate e eu ficamos reclusos em casa por quase dois dias.
Tivemos uma reunião com Jack e aos poucos, voltamos para nossa
rotina com o trabalho, faculdade e a organização do nosso
casamento.
— Cheguei! Cadê meu marido? — Kate gritou da sala.
— Estou aqui. Acabei de chegar, fui guardar uns documentos
no cofre. — Saí do escritório. — Como foi a prova do vestido?
— Eu serei a noiva mais linda desse mundo. — Ela rodopiou.
— Ele é lindo!
— Reagir assim só me faz ficar ansioso para ver. Agora, vamos
falar sobre isso aqui: desde quando nosso casamento vai acontecer
no Alexandria? — Ergui o contrato que encontrei em cima da minha
mesa. — O que tem com o antigo espaço?
— Se reforçarmos a segurança, tudo vai ficar bem. O hotel é
lindo e é como um conto de fadas, de quebra, vou torcer a mente
manipuladora da minha irmã. — Ela sorriu, empolgada. — Ela está
me enviando flores e presentes porque acha que está brincando
comigo.
— Vocês duas têm uma mente forte, distorcida e são
manipuladoras. Essa guerra vai acabar quando?
— Ela não vai atacar nosso casamento, vai manchar a
reputação do negócio da sua família e eu quero mandar o recadinho
de que eu posso ser publicamente próxima. — Sentou no sofá e
colocou os pés para o alto.
— Eu vou calcular os riscos disso e depois, vamos conversar.
— Peguei o contrato. Kate e Helena estavam em uma guerra fria
que poderia acabar em caos. Eu não colocaria meu casamento no
meio daquilo.
— Tudo bem. Sabe, pareço inconsequente, mas não sou —
cantarolou, com um sorrisinho. Era bom vê-la feliz e somente as
saídas para organizar nosso grande dia estavam lhe dando motivos
para rir. Ela se aproximou e pulou nas minhas costas. — Tudo será
perfeito! Eu mal vejo a hora! Agora entendo porque as noivas ficam
ansiosas!
— Você parece uma pilha. — Eu ri do jeito que estava
repetindo todos os itens que faltavam para resolver. Ela fez uma
expressão engraçada.
— Ai, meu Deus! Temos que marcar as aulas de dança!
— Você prometeu que as de Olívia eram o suficiente!
Explodindo em uma gargalhada no meu ouvido, beijou minha
bochecha, dizendo que estava brincando. Voltando para o chão,
sentou na minha mesa. Ela me olhou com expectativa porque sabia
que eu tinha outras coisas para resolvermos juntos.
— Tivemos um problema com a entrada da droga em Atlanta.
Temos que reformular nosso plano de jogo para não ficarmos sem
material para fornecer.
Ela ficou brincando com o telefone.
— E se voltarmos a ter uma reserva que era destinada a entrar
pelos túneis? Só que vamos usar aviões. Os de pequeno porte e
particulares não são revistados se eles não pousarem em nenhum
estado de fronteira, certo?
Puxei minha cadeira para debatermos o assunto com mais
clareza e darmos um posicionamento a Miguel, que aguardava
novas ordens.
Capítulo 35 | Kate
O dia do meu casamento amanheceu lindo. Eu estava
acordada, deitada no peito de Dominic e olhando o céu colorido com
o rosa claro do amanhecer. Ele acariciava minhas costas, olhando
na mesma direção que eu e virei, beijando-o. Deveríamos ter
dormido separados e estarmos nos preparando para guardar o fogo
do amor para depois da cerimônia, mas a semana havia sido muito
complicada com alguns problemas nas boates, nos desentendemos
diversas vezes e nos vimos poucas.
Donatella viria me chamar para começar meu dia da noiva e eu
deveria descansar um pouco mais. Fechei meus olhos, tirando um
cochilo nos braços do amor da minha vida. Ele me acordou
suavemente, com beijos, carinhos e afagos, quando minha sogra
avisou que era o momento de levantar. Enrolada em um roupão, me
despedi dele com um beijo e fiz um beicinho de inveja ao ver que
ele poderia continuar dormindo enquanto eu precisava ser esticada
e puxada.
Não era à toa que a noiva era a estrela da festa. Deu muito
trabalho ficar montada. Massagem, cabelo, hidratação, maquiagem
e ainda bem que havia adiantado as unhas e depilação, ou nunca
sairia daquele quarto. Sorte a minha ter muitas cunhadas, elas me
distraíram quando o nervosismo começou a bater e eu quis chorar,
com saudades da minha mãe. Era para ser o nosso momento.
— Posso te ajudar com o vestido? Ganhei um pouco de prática
com o modelo complicado da Olívia. O seu são só alguns botões. —
Donatella parou atrás de mim. — Você está emocionada, querida.
Ainda bem que a maquiagem é a prova de lágrimas.
— Seu filho é um marido e tanto. Ele tem sido incrível para mim
e acho que preciso te agradecer por criá-lo sendo tão respeitador.
Nesse meio que vivemos, é comum um homem ser machista e
subjugar o desejo da mulher. — Toquei suas mãos, que estavam em
meus ombros.
— Eu não queria que minha futura nora e muito menos minhas
filhas tivessem que lutar tanto quanto eu lutei para ser respeitada.
Amo ser mãe e esposa, sei que muitos me veem como fútil por não
ter escolhido trabalhar fora e liderar publicamente ao lado de Oliver,
mas eu sei que a minha palavra tem peso e meu marido aprendeu
que eu não toleraria ser esmagada. — Ela chegou um pouco mais
perto. — Sua mãe estaria muito feliz em te ver tão linda como noiva.
Ela sonhava com o dia desse casamento. A gente brincava muito
sobre vocês dois e agora parece muito certo. Minha afilhada ser
minha filha pelo casamento.
— Você sente muita falta dela, não é?
— Eu nunca tive outra amiga. Não é fácil fazer amizade e
sendo a única menina entre irmãos, tive na sua mãe a irmã que
sonhava. Ela era minha melhor amiga.
— Então, você sabe sobre Helena.
Donatella quase chorou.
— Foi muito difícil, Kate. Não a julgue. — Sua voz saiu em um
sussurro emocionado. — O dia mais difícil da vida dela foi quando
levei Helena embora.
— Foi você?
— Não foi um casinho. Para sua mãe, foi um romance intenso.
Ela conheceu Eros na Grécia, ele a levou para um mundo de
romance apimentado que uma mulher como ela nunca pôde
experimentar. Era futura líder de um cartel, filha de governador,
cheia de planos e projetos, com casamento arranjado… Ele foi um
sopro de ar puro.
— Por que ela casou com meu pai?
— Ah, Kate. — Donatella olhou para baixo. — Por minha
causa. Para que seu avô fizesse parte da organização, ele só
investiria pesado se tivesse metade de tudo. Meu sogro concordou,
então, eles acharam justo um acordo de casamento. Oliver e
Michelle estavam noivos, mas ela me conhecia e sabia dos meus
sentimentos. Então, propôs que a gente trocasse os noivos. Ela
casaria com Robert e eu com Oliver.
— Você era noiva do meu pai? — Virei, completamente
chocada e precisei sentar. — E minha mãe com o Oliver?
— Eles eram muito amigos, muito mesmo e confiavam
cegamente um no outro. Achavam que o casamento daria certo
justamente por essa amizade ser tão forte, mas Oliver e eu
tínhamos mais do que uma amizade. Era paixão daquelas loucas e
intensas. — Donatella sentou na minha frente. — Ela aceitou casar
com Robert para que eu pudesse ficar com o homem que amava.
Ela não amava nenhum dos dois, não fazia diferença e não fez, até
que conheceu Eros. Eles viveram um romance alucinante na Grécia
enquanto Robert estava expandindo os negócios em Los Angeles.
Quando voltou, descobriu que estava grávida e foi aí que
precisamos agir. Com ajuda do Miguel, inventamos uma série de
problemas no México que ela precisava resolver. Até teve alguns
confrontos com um homem, Guerrero era um inimigo do cartel na
época. Eu fui e voltei várias vezes, Robert estava muito focado em
ganhar dinheiro e induzi Oliver a dar a ele mais trabalho para se
ocupar.
— Ele sabe que sempre soube da Helena?
— Hoje, sim, mas ele também escondeu que minha melhor
amiga estava morta e não falamos sobre isso. — Donatella ficou
séria e mordi o lábio, lembrei que estava de batom e parei. —
Quando Helena nasceu, ela amamentou por um mês, até que não
havia mais escapatória. Consideramos deixá-la em Sinaloa, para ser
criada pela família, mas era arriscado demais. Qualquer um poderia
contar que Helena era filha de Michelle.
— Para onde você a levou?
— Eu tenho uma tia distante que é freira. Ela a recebeu.
— Helena foi criada em uma escola como se não tivesse uma
família?
Fazia todo sentido ela me odiar.
— Era a única maneira de ficar segura — Donatella lamentou.
— Eu até considerei fingir que era minha filha, mas teria que
envolver o Oliver e nós achamos melhor não. Quando sua mãe
voltou, Robert quis ter filhos, ela diria não, mas sofrendo e deprimida
como estava, aceitou e engravidou rápido de você.
— Eu nasci com trinta e duas semanas. Foi por causa disso?
— Sua mãe não estava emocionalmente estável. Ela teve uma
gravidez complicada, seu parto prematuro foi a cereja do bolo, mas
você sempre foi uma lutadora. Venceu a UTI e a incubadora bem
rápido. Cresceu forte e nunca pareceu uma criança prematura, se
tornou a alegria da sua mãe. — Donatella entrelaçou nossos dedos.
— Sei que o passado é difícil e agora, você está caminhando para o
seu futuro. Tente não deixar que isso afete sua vida com Dominic.
Vocês têm uma história para construir e ninguém pode interferir.
— Obrigada por me contar. — Abracei-a apertado.
Donatella me vestiu com carinho e prendeu o véu no meu
cabelo. Estava nervosa e com medo de tropeçar e cair, ia entrar
sozinha, a saia era volumosa e meu buquê pesado. Respirei fundo
um par de vezes no caminho enquanto Brady me conduzia com uma
comitiva de seguranças. O salão estava cheio. Juliana e Olívia eram
minhas madrinhas, Bess e Kim damas de honra e Jane levaria as
alianças no momento certo.
Quando estava parada no tapete vermelho para entrar, a
música começou a tocar. Meu coração retumbava no peito e as
pessoas eram só um borrão enquanto focava na minha respiração e
nos passos. Dominic desceu alguns degraus para me esperar e
fiquei sem fôlego. Ele estava tão lindo! Abri um sorriso, ainda mais
emocionada e algumas lágrimas caíram quando me aproximei.
Entreguei meu buquê para Olívia.
— Você está mais que perfeita, baby. A noiva mais linda do
mundo.
— Eu te avisei — brinquei, com vontade de me abanar. — Você
está muito gostoso e eu falaria mais coisas, mas será pecado e o
teto pode cair na nossa cabeça — cochichei divertida, ele riu comigo
e colocou minha mão em seu braço para que pudesse começar a
nossa cerimônia.
Meu nervosismo foi diminuindo conforme éramos abençoados
em matrimônio, mas eu quase deixei a aliança cair. Cochichei que
parecia a roda de um ônibus e era impossível de perder. Dominic fez
sua clássica expressão exasperada com minhas piadas nada sutis
sobre a altura dele. Colocou a aliança no meu dedo, era linda e
delicada, combinando com a minha de noivado. Declarados marido
e mulher e me joguei nele, dando o beijo que estava louca para dar
desde o momento em que o vi parado me esperando.
— Esse é só o começo. Você está preparada? — perguntou
contra meus lábios.
— Estou mais do que pronta para viver tudo ao seu lado.
Fomos conduzidos para o carro e aguardamos em um dos
quartos do hotel para a festa. Helena mandou decorar e assinou o
cartão. Eu não sabia quanto tempo viveríamos daquele jeito, mas
não permitiria que brincasse comigo. Não era peça de um jogo. Se
ela tinha um problema em ter sido levada para um internato, teria
que ter resolvido com a nossa mãe.
Assim que olhei tudo no quarto, peguei um morango e dei a
garrafa para Dominic abrir. Ele pegou e beijou o colo dos meus
seios. Eu ri, com meus mamilos dizendo olá contra a renda.
— Esse decote está tentador. — Ele me beijou e colocou
sentada na mesa. — Tudo em você está muito tentador.
— E se eu disser que por baixo tem um corpete branco muito
lindo e uma calcinha pequena que não marca nada?
Dominic mordeu o lábio.
— Se você ficar bêbada e enjoada, eu vou te matar.
Soltei uma gargalhada ao ver a expressão dele, caindo na
minha provocação.
— Acha que dei a noite inteira ontem por qual motivo? Eu vou
aproveitar essa festa de casamento até desmaiar e amanhã, se eu
não acordar com ressaca, seremos felizes nas nossas núpcias.
Ele abriu o champanhe, eu gritei de alegria e ele encheu as
taças com cuidado para não sujar nossas roupas.
— Quer dizer alguma coisa?
— A nós dois. Que nunca nos falte amor e força para superar
todas as adversidades juntos. Eu te amo hoje mais do que ontem e
sei que vou te amar muito mais amanhã. — Bati minha taça
suavemente na dele. Antes de bebermos, ele segurou minha nuca e
me beijou.
— Eu te amo, Katherine.
— Eu te amo, meu marido.
Nosso casamento era baseado em um acordo, mas só nós dois
sabíamos o verdadeiro significado de tudo. Podia até ter começado
por um sonho de duas mães amigas, mas era por Dominic que
estávamos ali. Sua força, inteligência e muita estratégia para me
salvar. Eu estava viva porque ele se sacrificou. Muitos consideravam
o casamento como um tipo de prisão, mas a aliança em nossos
dedos significava liberdade.
Capítulo 36 | Kate
— É esquisito fingir para todas essas pessoas, até mesmo
para Enzo, que meu pai ainda está desaparecido. Sei que não
importa contar agora, mas eles acham que ele está vivo — comentei
com Donatella enquanto ela me ajudava com a troca do vestido. Eu
já havia dançado e rodado o salão com o outro, a barra estava
escura e molhada. Iria trocar para jogar o buquê e ir embora para a
lua de mel com meu marido.
— Todos concordamos que não era ideal divulgá-la como
assassina. Uma coisa é gerenciar o cartel, outra é ter matado o pai.
Eles podem te classificar como um tipo de mulher perigosa, que no
fundo, ainda não é.
— Ainda?
— Esse é o caminho, não é? Existe como desviar dele?
Eu me encarei através do espelho. Não. Não tinha como. Cedo
ou tarde, não haveria diferença entre minha mãe e eu. Brinquei com
o colar que foi colocado em mim para combinar com as novas joias.
Ganhei brincos da vovó, ela ainda me infernizava por um bisneto,
mas pelo menos gostava de mim e eu não estava fora do
testamento dela.
Pronta, fui tirar mais algumas fotos, peguei o buquê e subi no
pequeno palco para jogá-lo. Meio bêbada, precisei de apoio. Bebi
bastante champanhe, como havia avisado ao meu marido que faria.
Ele me segurou com um sorriso, ameacei várias vezes e quando
finalmente joguei, caiu no colo da Bess, que não parecia interessada
em ser a próxima a casar. Ela jogou em uma prima deles, que ficou
feliz e comemorou.
De volta ao chão, Dominic me abraçou e cochichou que já
estava bom de festa. Era hora de sairmos. De mãos dadas, nos
despedimos de todos na chuva de arroz. Brady iria viajar conosco.
Luke ficaria na cidade para cuidar dos negócios. Eu não fazia a
mínima ideia para onde meu marido estava me levando, era uma
viagem surpresa e segundo ele, não seria longa. Não de avião, pelo
menos.
Dormi a viagem inteira, induzida pelo álcool, acordei quando
pousamos no México.
— Você está me levando para ver minha família? — Desci as
escadas do avião com rapidez e pulei ao redor do carro, fazendo
Brady rir.
— Vamos para Los Cabos por uns dias e depois, visitar o
vilarejo.
— Ainda bem que coloquei vários biquínis na mala!
Para chegar em Los Cabos levou mais um tempo, mas valeu a
pena o tipo de translado, principalmente pela casa maravilhosa que
Dominic alugou. Nossos seguranças ficariam em uma outra não
muito longe e ao mesmo tempo, nos dando privacidade.
— Olha o mar! — Joguei minha bolsa em cima da cama. —
Nós vamos transar olhando para o oceano! Sinceramente, isso que
eu chamo de romance!
— Você é ridícula. — Dominic tirou o relógio e riu.
— Eu te faço rir o tempo todo e ainda assim me chama de
ridícula? — Subi na cama e comecei a pular, cheia de energia. — Vi
que tem uma banheira linda, que tal preparar um banho gostoso e
assim poderei mostrar o que tem por baixo dessa roupa?
— Já estou vendo pela maneira que está pulando. — Ele me
pegou pela cintura.
— Gostou da minha calcinha?
— Eu adoro todas elas, principalmente a parte em que você as
tira. Quer mais champanhe?
— Claro que sim! Esse casamento finalmente aconteceu!
Quero beber! — gritei em seus braços e ele me levou para o
banheiro.
Preparamos um ambiente bem romântico. Flores, frutas,
champanhe, a hidromassagem ligada e as mãos dele em mim. Usei
o primeiro modelo de biquíni que separei, não tinha noção de onde
ia, mas sabia que iria seduzir meu marido de todo jeito. Ele não se
preocupou com roupas. Nu na banheira, com a água batendo, me
observou aproximar com o cabelo preso no alto. Apoiei na borda e
não me dei o trabalho de sentar em outro lugar.
Acariciando minha bunda, ele me esperou me acomodar em
seu colo, com as mãos apoiadas em seus ombros. Molhei um pouco
com a água morna.
— Sua mãe me contou coisas interessantes. Não falei antes
porque não tivemos muito tempo sozinhos e com privacidade. —
Abracei-o e o atualizei de tudo. Dominic não ficou surpreso que a
mãe sabia sobre Helena, a relação delas era muito íntima, o que me
fez pensar que Donatella também sabia que minha mãe colocou
Ava na fogueira. — Talvez tenha sido ideia dela.
— Eu não duvido. Minha mãe faria aquilo sem pensar pelas
minhas irmãs.
— Se meu pai não tivesse sido tão impulsivo… Até se tivesse
conversado com minha mãe, a merda batendo no ventilador não
federia tanto. Jack parecia muito tenso no nosso casamento. Enzo
mal conseguiu ficar ao lado dele. O que eu não entendo sobre Levi
não se relacionar com Jack?
Dominic relaxou um pouco mais, deixando que os jatos
massageassem suas costas.
— Digamos que o magnata não precisa do Jack para fazer
suas relações. Pessoas vão até ele, nunca ao contrário. Ava só
pediu ajuda a Enzo porque precisava salvar o marido. Jack
conseguiu algo nunca feito antes, unir inimigos para ganhar dinheiro
juntos, com isso, ele ganha com todos. Levi não precisa pagar a ele
por nenhum serviço que presta a nós, é um ponto e o outro…
— Levi não aceita que Helena só tenha sido protegida em troca
do ouro — concluí, pensativa. — Não quer dizer que eu concorde,
porque não é muito ético, mas a vida que levamos é sobre dinheiro.
Nada do que fazemos é meramente de graça e Jack não era
próximo da minha mãe para fazer um favor. Ele ofereceu, ela
aceitou e fim do assunto.
— Nem todo mundo tem a mente prática e observadora como
você. A maneira que enxerga as ações é sempre como um jogo,
entende? Mas para outras pessoas, é diferente, como uma
conspiração. Se algo que elas não querem acontece, isso é motivo
para uma guerra. — Ele acariciou meu queixo. — Eu tive que me
tornar alguém frio e calculista para fazer parte de tudo. Foi cruel a
maneira que aprendi e ao contrário da geração anterior à nossa, tive
pessoas que me ensinaram muito e foram leais.
— Nossos pais nos ensinaram a como não ser.
— Nossos filhos serão ainda melhores. — Ele esfregou o nariz
no meu.
Cansada de conversar sobre coisas chatas, beijei-o para
mudar de assunto. Dominic apertou ambas as minhas nádegas,
puxando-me para si e senti o pau crescendo contra meu biquíni.
Rebolei um pouco mais, levando minha mão entre nós e
bombeando-o só para enrijecer e vê-lo gemer contra minha boca.
Eu podia gozar só com meu nome saindo pelos seus lábios em tom
de súplica. Era uma das experiências mais gostosas da minha vida.
Ele me pegou com força e colocou-me na borda da banheira.
Com os dentes, chegou a parte de cima do meu biquíni para o lado,
mamando meu peito. Cheguei a escorregar com o raio de excitação
que fez minha boceta apertar. Ele fez o mesmo no outro seio,
brincando em meus mamilos com dedos e língua.
— Cacete, Dominic! — gemi com o olhar intenso dele no meu.
— O que foi, baby?
— Eu amo essa chupada.
— Só essa? — Ele sorriu e foi puxando a parte de baixo do
meu biquíni. — Que delícia de boceta, amor. Eu sou louco por ela.
Eu o olhei maravilhada pela expressão faminta. Afastando bem
os meus joelhos, desceu a boca e lambeu meu clitóris sensível,
muito intumescido. Estava louca, apertando a borda ao ponto de
doer minhas unhas, a sensação da boca dele em mim era demais.
Ondulei meu corpo, agarrando seu cabelo e ele me olhou com meu
botão entre seus lábios.
Comecei a me contorcer, choramingando e pedindo pelo seu
pau sem nenhuma vergonha. Dominic não se compadeceu do meu
desespero, continuando a me chupar com fome. Mais que melada,
ele afastou a boca brilhando com meus líquidos. Introduziu o
indicador e joguei a cabeça para trás com as paredes da minha
vagina reagindo ao prazer. Gozei, soltando um som que seria
vergonhoso em qualquer outro momento, mas ali eu não me
importei.
Dominando minha boca, me beijou intensamente, ainda com
meu gosto.
— Você quer que eu comece a te foder aqui ou já te levo para
o quarto?
Minha mente estava dispersa. Eu era pura gosma.
— Aqui?
Foda-se o lugar, eu queria que me fodesse logo.
Dominic agarrou minha cintura e meteu com tudo. Gritei e
gemi, arranhando seu braço, indo de encontro a ele a cada nova
estocada. Enfiei minhas unhas em sua nuca, querendo mais de
tudo, da boca, do pau, com a sensação de estar viciada crescendo
cada vez mais.
— Goza de novo, baby. Goza no meu pau — ordenou,
estocando de um jeito tão gostoso que explodi em um orgasmo
arrebatador. Foi ainda mais forte e delicioso que o primeiro.
— Ah, que gostoso… — Ele mordeu o lóbulo da minha orelha,
segurando minhas coxas e apertando, encostando a testa na minha.
— Kate, porra. — Gozou com um gemido rouco, me beijando
profundamente.
— Que belíssimo começo de lua de mel. — Suspirei,
apaixonada. Nossa conexão era tão linda que me emocionava. —
Eu te amo.
Dominic me abraçou, escondendo o rosto no meu pescoço e
ficamos assim por bastante tempo até voltarmos para a água. Soltei
meu biquíni e peguei o champanhe, pedindo para ele abrir. Com um
estouro, serviu nas taças e eu bebi, adorando as bolhas estourando
na minha língua. Beijei-o só para compartilharmos o gostinho.
Saímos da banheira e enrolados no roupão, ele me
surpreendeu ao dizer que tinha um presente para mim.
— Você disse que não iríamos trocar presentes de casamento
— acusei ao pegar a caixinha.
— Eu trapaceei. — Sorriu sem nenhuma vergonha. — Queria
ser o único a te dar algo.
— Você é sujo, homem.
Ele riu e sentou-se atrás de mim. Abri a caixinha, olhando para
a pulseira linda sem saber o que falar. Era sofisticada e ao mesmo
tempo, delicada. As joias da avó dele eram todas verdadeiras e
lindas, aquilo era completamente perfeito. As pedrinhas uniam-se
umas às outras como um elo do infinito.
— É como nós dois. Entrelaçados, sem ter um começo ou um
fim — falou baixinho.
— Que droga, estou chorando. Satisfeito?
— Queria te deixar feliz, mas lágrimas de felicidade servem.
Tirei da caixinha e ele me ajudou a fechá-la no meu pulso,
passei a perna por sua coxa e o abracei apertado.
Nosso elo nunca teria um fim se dependesse de mim.
Capítulo 37 | Dominic
Kate estava correndo na minha frente, empolgada e foi para a
água, sem freio. Eu ri da sua alegria e mergulhei em seguida.
Ficamos no mar, brincando um com o outro por quase uma hora. Ao
sentirmos fome, recolhemos nossas coisas na areia e fomos para a
casa que aluguei para passarmos uns dias. Tomamos banho para
tirar a areia do corpo e na cozinha, ela abriu a geladeira, tirando
itens para preparar uma salada refrescante.
— Temos que fazer esses filés antes de irmos embora. Quer
assar na churrasqueira como um bom homem casado?
— O que tem a ver, maluca? — Peguei a bandeja com os bifes
grandes temperados.
— Ah, eu ficava observando os vizinhos quando era mais nova.
Sempre havia um casal recém-casado por perto, assando coisas em
churrasqueiras e compartilhando a refeição na varanda. É o que
vamos fazer agora. — Ela riu e subiu em um banco para cortar os
temperos. — Um pedacinho de normalidade na nossa vida.
— Quer que eu use um avental?
— Eu quero! — Kate riu e me deu um beijo. — Vou terminar a
salada e já te encontro lá fora.
A varanda gourmet da casa ficava em um canto discreto, virada
para a piscina e protegida dos olhos públicos. Nenhum vizinho
conseguiria nos ver ali, apesar do condomínio estar bem vazio. Era
um período de baixa temporada e as casas de alto padrão
afastavam a multidão de curiosos. Acendi a churrasqueira, limpei o
balcão e separei o que iria usar. Kate arrumou a mesa para dois,
preparou um drinque e colocou música, dançando entre os dois
cômodos.
Parei na frente dela e a acompanhei, fazendo uma dancinha
engraçada. Ela ficou tão surpresa que, ao rir, jogou as mangas para
o alto. Eu nunca dançava e reclamava todas as vezes que era
obrigado a fazê-lo. Eu era duro e sem gingado, ela era quem tinha o
balanço perfeito dos quadris.
— Agora eu sei porque você não dançava nem quando fazia
um touchdown.
Coloquei minha mão no coração, fingindo estar ofendido e
ganhei um abraço com tapinhas nas costas. O humor de Katherine
era para poucos. Ela podia estar brava em um segundo e enchendo
o saco no outro, era tolice pensar que não estava sempre
observando.
— Deixa de ser má. Quer aprender a grelhar carne?
— Não deve ser difícil. — Encolheu os ombros. Fritar ovos
também não era, mas ela conseguia queimar todos. Era mais fácil
com coisas para cozinhar. Parada na minha frente, ficou com o
grande pegador de metal e virava de tempos em tempos, muito
concentrada, como se ao piscar fosse transformar a carne em
carvão.
Terminei de organizar a mesa e quando tudo ficou pronto,
comemos compartilhando o drinque refrescante que inventou, com
limão, refrigerante e rum.
— Está pronta para reencontrar sua família materna?
— Um pouco nervosa. Não sei o que eles pensam de mim
depois de todo esse tempo. Tenho certeza que se alguém estiver
desconfiado ou magoado devido às atitudes da minha mãe, não vão
saber separar. Eu quero ser aceita porque quando eu não sabia
quem éramos de verdade, eles eram muito importantes para mim.
— Kate pegou minha mão. — Se não acontecer, eu conto com o
colo do meu marido e o avião pronto para sairmos daqui o mais
rápido possível.
— Terá tudo isso. — Aproveitei nossas mãos unidas para puxá-
la para o meu colo. Ela veio com um sorriso lindo. — Você está com
um cheiro tão bom. Mudou seu perfume?
— Decidi trocar. Eu só usava uma colônia pós banho e pensei
que estava na hora de me aventurar em outros aromas.
— Hum… deixe-me sentir mais — pedi e ela inclinou a cabeça,
me dando acesso total ao pescoço. Dei um beijo ali. — Onde mais
passou?
— Entre os seios e nos pulsos… dei uma leve borrifada entre
as coxas, também.
— Acho que tenho uma nova missão, que é conferir como ficou
em cada parte citada. No pescoço foi muito bem aprovado.
— Estou a seu dispor.
Eu a ergui no colo e levei para o quarto. Estávamos em lua de
mel, mal saímos de casa, nas poucas vezes, mergulhamos no mar
ou na piscina e em todas, ela ficou nua no final e voltamos para o
quarto fazer o que recém-casados faziam. Era difícil controlar o
tesão, ainda mais quando tínhamos tempo de sobra para transar.
Não saímos mais da cama. À noite, fui para a cozinha fazer
sanduíches, lavar a louça enquanto ela dormia e eu não tinha sono.
Joguei videogame metade da madrugada. Ela acordou com fome,
emburrada e só quando estávamos com as malas quase prontas
para sair que deu o primeiro sorriso. O humor de Kate nunca era
dos melhores logo que abria os olhos.
A viagem até o vilarejo não foi longa, só um pouco
desconfortável, mas chegamos ao amanhecer e Brady nos conduziu
direto para o casarão. Kate ficou olhando ao redor no caminho, era
cedo demais para ver qualquer um. Apenas Miguel sabia da nossa
chegada. Seria uma surpresa para todos os outros e como não
levaríamos muito tempo ali, foi o ideal para não sermos pegos
desprevenidos com algum ataque.
Não acontecia nada na região há muitos anos, porém, seria
descuido da minha parte não pensar em todos os cenários.
— A casa parece tão grande quanto lembrava. — Kate saiu do
carro e olhou para o alto. — Tão branca.
— Tenho certeza que Miguel mandou cuidar de tudo para sua
chegada.
— É claro que fiz isso. — Miguel abriu a porta da frente. —
Você cresceu tanto! Nossa Catarina chegou! Ah, sua mãe te exibiria
por aí feito um prêmio! — Ele a abraçou. — Sinto muito por ter te
deixado para trás. Nós tivemos que fugir, o vilarejo estava sendo
atacado na mesma noite e nunca mais voltamos.
— Eu sei. Dominic me contou tudo — Kate falou baixinho. —
Você tem o cheiro da minha mãe. — Ela começou a chorar no peito
dele e levou tudo de mim para não puxá-la dali e fazer a dor parar.
— Usa o óleo de rosas.
— É uma receita da família. Todos nós usamos como proteção.
Eu vou pedir que preparem um para você levar. Vem, vamos comer.
Tia Glória preparou um banquete!
Kate esticou a mão para pegar a minha. Imaginei que seria
difícil para ela entrar na casa da família com tantas fotos da mãe
espalhadas. Paramos em frente a um grande retrato, admirando e
ela olhou para mim, me abraçando apertado e agradecendo por
estar ali. Fomos comer e logo a sala de jantar estava muito cheia, os
homens queriam falar conosco sobre trabalho e as mulheres, tias e
primas, desejavam mimar Kate depois de tanto tempo.
Foram dois dias cheios, mal ficamos juntos, exceto na hora de
dormir. Por estar fora de casa, mesmo sendo aparentemente
seguro, eu não conseguia relaxar. Kate dormia e acordava o tempo
todo, preocupada comigo. Retornamos para casa com tranquilidade.
Nova Iorque estava do mesmo jeito que deixamos, exceto nosso
apartamento, tomado por flores, presentes e a geladeira com
docinhos e bolo do casamento.
— Eu amo a sua mãe! Ela guardou tudo que eu pedi! — Kate
fez uma dancinha, enfiando um doce na boca. — Que delícia! Você
comeu alguns?
— Eu não gosto de doces, mas achei o bolo gostoso.
— Eu sei, fui eu que escolhi. — Ela riu e bati em sua bunda,
pegando um docinho branco com um pozinho ao redor, cheirando
antes de comer. Não entendia como ela e minhas irmãs eram
simplesmente loucas por aquilo. — Algumas vezes eu detesto seus
pais por não terem te incentivado a comer doces.
— Nunca gostei, desde criança e minha mãe não insistiu.
— Bom que sobra mais. — Ela pegou mais alguns e foi para a
sala, jogando-se no sofá e colocando os pés para o alto. — Você
quer começar a abrir os presentes e assinar os cartões de
agradecimento?
— Não podemos pagar alguém para fazer isso? — Olhei para o
canto da sala, tomado de pacotes. — É muita coisa.
— Kim sempre pede mais dinheiro do que ganha na mesada
dela. — Balançou as sobrancelhas. — Vou pedir que ela venha aqui
depois da escola para assinar tudo.
Sentei ao lado da minha mulher, também esticando as pernas,
dormimos muito no voo e ela iria me importunar por comida antes
que precisasse sair para trabalhar. Liguei a televisão, ficando
confortável e meia hora depois, minha irmã ligou, avisando que não
queria saber se ainda estávamos querendo namorar. Ela estava
com os vestidos de Kate para um jantar importante, que nossos pais
organizavam todo ano: o aniversário de casamento deles.
Olívia também traria o jantar. Deixei Kate sozinha, ela estava
tão empolgada em fofocar que mal se despediu, querendo tomar
banho e ficar pronta para comer as coisas do casamento na frente
da televisão. Luke estava no escritório, mexendo em seu
computador e ergueu o olhar, sério.
— O que aconteceu?
— Nada realmente preocupante, mas, ainda não consegui
relaxar com a maneira que Jackson está agindo. Ele ficou muito
irritado com seu pai esses dias e eu estava lá, então, precisei me
meter para acalmar os ânimos. — Luke esfregou a nuca.
— Foram dias difíceis?
— Muitas coisas fora do planejado. Você lida melhor com isso
do que eu, mas nenhum problema. Esse é o ponto. Nunca tivemos
tanto silêncio por parte dos nossos inimigos, até Priest está
preocupado, embora, ele tenha dito "entediado". Levi também não
ouviu nada sobre nós desde o ataque do Guerrero e isso não é um
bom presságio.
— Significa que o que vem por aí é muito maior do que
imaginamos. Vamos nos preparar.
Luke assentiu com uma respiração funda e voltou a encarar a
tela. Eu sabia que o pensamento dele estava junto com o meu. Não
era mais sobre nós dois correndo risco e fazendo planos sozinhos,
era sobre nossas esposas e famílias podendo se machucar com as
escolhas que fizemos. E aquele medo era impossível de controlar.
Capítulo 38 | Kate
Dominic ergueu um peso e percebendo a maneira com que
eu estava admirando-o, deu uma piscadinha. Deitada, ri e soprei um
beijo, literalmente babando pelo quanto estava gostoso, todo suado,
sem camisa e com o short caído na cintura. Sorte a minha ter um
homem tão gostoso… Já disse gostoso? Sim, puta merda, gostoso!
Muito…
— Kate! — ele grunhiu, mordendo o lábio. — Pare de me olhar
assim!
— Por quê? Eu sou sua esposa! Tenho direito de te olhar o
quanto quiser.
— Está me desconcentrando.
— Não me importo — cantarolei, cruzando meus tornozelos e
colocando as mãos na cabeça. — Sua bunda está incrível, mas
suas panturrilhas estão excelentes. Todo seu treino tem dado muito
certo.
— Eu diria o mesmo das suas. Não te vi malhar. — Ele riu e
inclinei a cabeça para o lado, observando uma gota de suor
escorrer. Hum… eu ia montar nele como uma cowgirl.
Fiz minhas séries com muita preguiça, queria ter continuado na
cama ou devorado um pote enorme de cereal com muito açúcar na
frente da televisão. Estava viciada em um programa matinal que
falava de todas as coisas absurdas que aconteciam no mundo e
ninguém acreditaria se não fosse filmado.
Era difícil ter força de vontade de sair de casa quando a
preguiça ficava agarrada no meu pescoço. Dominic era cheio de
energia pela manhã, ele queria malhar, transar, comer, falava pelos
cotovelos enquanto eu ficava em tela azul, com os pensamentos
congelados. Nem sei quantas vezes transamos e voltei a dormir, já
ele, saiu da cama para correr na esteira.
— Terminou? — Sentei quando colocou o peso no chão. Não
deixei que respondesse, tirei meu top e fiquei com os peitos de fora.
— Estou pronta! Chuveiro?
— Aqui primeiro. — Ele agarrou minha calça e puxou para
baixo.
— Sexo suado? Parece sexy e proibido, gostei. — Ataquei-o
com um beijo. Dominic tirou o calção, chutando os tênis para longe.
Descobrimos que quando estávamos dispostos, podíamos
transar pela maior parte do nosso apartamento. Começamos na
academia, fomos para o chuveiro e terminamos na cama. Eu dormi,
claro. Não havia a mínima necessidade de fingir que queria ir cedo
para a faculdade naquele dia. Me arrumei quando venci o sono e fui
cumprir meu horário de estudo na biblioteca.
Espalhei os livros na mesa, fazendo as anotações que o
professor havia solicitado. Faltava pouco para me livrar daquilo por
um tempo e eu me dedicaria a cultivar o ócio por, pelo menos, uma
semana. Era necessário e ainda obrigaria meu marido a não sair de
casa, também. Seria como uma nova lua de mel, sem sair de casa.
Ouvi passos se aproximando. Eram leves, como se a pessoa
estivesse se esforçando para ser silenciosa. Eu não estava sozinha
e aquele horário ainda era bem movimentado. Ergui o rosto, olhando
ao redor e não parecia nada estranho. Sem que estivesse
preparada, a cadeira do outro lado foi puxada e a presença da
minha irmã me deixou surpresa.
— O que está fazendo?
— Você precisa ir. Agora. — Ela pegou um livro e deslizou
junto a ele a chave de um carro. — Esse é meu carro. Está
estacionado no final da rua.
— O que está acontecendo, Helena?
— Olhe para sua direita discretamente. — Ela pontuou baixinho
e eu peguei meu copo, dando um gole. Virando um pouco o rosto,
reparei no homem de preto fingindo procurar um título. — Eles estão
espalhados pelo campus. Eu sei que tem outros alunos peculiares
nessa universidade, mas só duas King por aqui. — Discretamente,
mostrou a tela do telefone. Era uma cobertura da mídia sobre a
prisão do meu sogro e foi impossível não reagir. — Eles vão
perceber que já sabe. Vai. Vou causar uma distração para te dar
tempo de sair.
— O que você…
Minha pergunta foi interrompida com os sprinklers da biblioteca
explodindo água por todo lado. A gritaria foi geral e os alunos
começaram a levantar. Agarrei as chaves e corri em meio à
confusão, usando o corredor dos fundos para sair na rua lateral.
Havia mensagens desesperadas de Olívia. Brady não estava em
nenhum lugar a ser visto e nem os outros seguranças. Estava
sozinha.
— Em que lugar? — Liguei para Olívia.
— Bess está comigo! Estamos correndo pelo campus! Nossos
seguranças sumiram!
Eu as vi de longe e destravei o carro, ele obedeceu e eu entrei,
acelerando e freando bruscamente perto das meninas. Elas se
assustaram por não reconhecer o carro mas entraram ao me ver.
— Alguém sabe que diabos aconteceu? Cadê Brady? E os
outros?
— Eu não sei! Um garoto entrou na minha sala e disse para
olhar meu telefone, estava cheio de mensagens de que papai foi
preso! — Bess gritou do banco de trás.
— Encontre Kim. Aquele homem na biblioteca era tudo, menos
um policial. Ele tinha uma tatuagem de gangue latina no pescoço —
falei com Olívia, dirigindo o mais rápido possível na potente
Mercedes de Helena, para a escola da Jane. Era mais perto. Parei
na frente, ela estava no parquinho com outras crianças. Olívia saiu
correndo e a pegou, deixando seu material escolar para trás.
— Kim está em frente ao MET.
— Diga a ela para ficar perto de pessoas e gritar se não
conseguirmos chegar a tempo. — avisei e peguei meu telefone,
ligando muito para Dominic e ele não respondia. Olívia me deu um
olhar aflito. Luke também não atendia. Onde eles estavam, porra?
A maneira na qual me aproximei do museu não foi muito
discreta, mas sabia que estava sendo seguida e precisava
desaparecer do radar. Bess segurava Jane com tanta força no
banco de trás que a menina estava pálida e com os olhos
arregalados. Olívia não parava de tentar localizar nossos maridos.
Kim entrou, jogando a bolsa no chão e eu parti.
— Vocês precisam me ouvir e fazer exatamente o que eu
disser. Seus pais foram presos, o que significa que fomos expostos
e estamos em perigo — falei com elas olhando pelo retrovisor. —
Temos que fugir. Não é a polícia que está atrás de nós para nos
proteger. Sem Dominic e Luke por perto, meu plano é colocá-las em
segurança. Nós vamos passar pelo rio e seus telefones irão parar
no fundo deles.
Elas não discutiram. Nos livramos dos aparelhos e eu imaginei
que o carro de Helena tinha um rastreador. Lembrei de todas as
vezes que Dominic me ensinou a como não ser vista pelas câmeras
de trânsito. Entrei no estacionamento particular, subindo as rampas
e estacionei em uma vaga de qualquer jeito. Segurando a mão de
Jane, corri até o carro reserva que ficava ali.
— De quem é? — Olívia estava nervosa, olhando ao redor.
— Nosso. É para fugir.
Deitei no chão para pegar a chave, conferi que havia a mala de
roupas e de dinheiro atrás, elas entraram e nós saímos com rapidez.
O carro era antigo, não tinha direção hidráulica e muito menos um
aparelho GPS. Eu não conhecia o lugar que iríamos, só tinha o
endereço memorizado e Ollie me ajudou com o mapa quando
saímos da cidade.
— Papai e mamãe estão bem? — Jane questionou baixinho.
— Eu imagino que sim, bebê. — Kim foi carinhosa com ela.
Elas brigavam o tempo todo, mas naquele momento, eram uma
força unida.
Antes de passarmos pelo primeiro posto da polícia rodoviária,
escondi a arma que estava no porta luvas no banco, em um
compartimento para o extintor de incêndio. Ainda restavam horas de
estrada, em um posto que parecia relativamente vazio e muito
remoto para que nos reconhecessem, Olívia ficou do lado de fora e
eu me escondi com um boné para entrar, fazer compras de comida
e sair.
Fui jogando as coisas no carrinho, mantimentos, biscoitos,
água, tudo que poderíamos precisar e passou pela minha cabeça
que seria útil. A menina no caixa parecia entediada, soprando uma
bola de chiclete, passando os produtos sem nenhuma pressa e eu
me privei de parecer ansiosa para não denunciar meu estado de
espírito e evitar que ela guardasse meu rosto na memória.
Olhei para a televisão e o jornal mostrava Oliver saindo
algemado, mas Donatella foi apenas conduzida, o que me deixava a
dúvida se eles foram presos ou se era um circo para desviar a
atenção da mídia de qualquer outra coisa muito séria que estava
acontecendo.
Joguei as coisas em sacos de papel, enchendo meus braços e
guardei.
As meninas dormiram no banco de trás. Olívia tocou minha
coxa e entrelaçamos nossos dedos.
— Dominic sempre sabe o que fazer e Luke é o melhor em
prever o caos. Tenho certeza que estão bem, mas preocupados
conosco e não sem poder se comunicar — falei baixinho.
— Como vamos saber a hora de voltar? Teremos uma vida
para voltar?
— Não pense assim, Ollie. Um passo de cada vez. Agora é o
momento de ficarmos seguras, entender o que está acontecendo
para podermos agir.
— Tudo bem. Eu não sei como consegue agir assim.
— Elas precisam de nós. Temos que ser fortes. Jane tem sete
anos, pelo amor de Deus, olha o que está passando!
— Ela é um bebê, ainda. — Olívia fungou.
— Vamos superar isso juntas. Somos uma família muito forte.
Fiquei repetindo esse mantra na minha cabeça, dirigindo sem
descanso, parando para esticar as pernas quando abastecíamos. O
carro aguentou muito bem. Meus olhos ardiam quando passamos
pela Carolina do Norte e nos aproximamos da floresta, onde a
cabana ficava situada. Eu a reconheci por foto. Dominic comprou
aquele local pensando em uma situação como aquela, por uma dica
de Luke, que estava sempre criando variáveis.
Conduzi o carro para o celeiro, parando dentro dele e pedi que
elas ficassem ali. Engatilhei a arma e fui andando, olhando ao redor.
Parecia silencioso demais, um tanto enervante, mas não havia
ninguém. O sol ia lentamente embora e estava mais frio do que em
Nova Iorque, a temperatura à noite devia cair drasticamente.
Descarregamos o carro, fechei o celeiro e vasculhamos a
cabana. Havia lenha velha cortada, mas seria o suficiente.
— Tem dois quartos, mas seria melhor dormirmos na sala. —
Tranquei a porta. Era horripilante não poder enxergar nada.
— Eu vou cozinhar. Kim e Bess, arrumem as camas. Jane…
fique no sofá. Vamos descobrir como tomar banho, ainda. — Olívia
tomou o controle e era a maneira como se sentia segura. Agindo um
pouco como a mãe dela.
Andei pela casa, procurando armadilhas, mas achei os
esconderijos. Armas, munições, dinheiro, telefones pré-pagos.
Rasguei as embalagens, carreguei os aparelhos e esperei para ligá-
los. Encostei minha cabeça no tampo de madeira do balcão. Meus
ombros estavam doendo, minha cabeça parecia pesada, os olhos
queimavam e o que eu mais queria era escorregar para o chão e
chorar com o medo que me sufocava.
— Seja forte, Kate. Seja forte, você consegue.
Dominic, por favor, esteja bem. Esteja vivo. Meu coração
clamava por ele, o pavor e a incerteza faziam com que minhas
pernas tremessem. Perdendo a batalha, caí de bunda no chão e
abracei minhas pernas.
Jane chorando baixinho me fez erguer o rosto. Ela estava
quieta, com os olhos banhados em lágrimas e o narizinho fungando.
Não queria incomodar, todas estavam ocupadas. Saí do chão e
sentei ao lado dela, mas a pequena subiu em mim sem convite e
escondeu o rosto no meu pescoço. Afaguei suas costas. Nós íamos
passar por aquilo e vencer o desconhecido.
Capítulo 39 | Kate
As horas eram uma longa tortura. O celular não nos dava
acesso à internet e até era perigoso, podíamos ser rastreadas.
Tirando alguns carros passando esporadicamente na estrada, não
parecia ser um local muito movimentado. Olívia e eu saímos para
buscar um mercado, deixando Bess atenta às janelas, observando a
floresta e não demoramos no pequeno centro comercial.
Paramos em uma lanchonete no horário de um noticiário a
nível nacional para ter informações do que estava acontecendo em
Nova Iorque, mas ninguém parecia se interessar. Compramos o
jornal e lemos que Oliver foi preso por lavagem de dinheiro e
conspiração política, mas o que me atraiu foi que a família Vaughn
também havia passado por problemas e a filha de Jackson Bernard
foi sequestrada por algumas horas, tendo o pai como negociante e
salvador.
Eles foram brevemente internados e saíram do hospital com
escolta dos seguranças da família.
— Não é coincidência, Ollie. É que os outros não são
conhecidos da mídia. Helena sabia, ela me ajudou a fugir, então ou
ela está envolvida ou aconteceu algo com eles, também.
— Por que sua irmã estaria envolvida em algo que expôs e
machucou a sociedade de vocês?
— Eu não sei, estou conjecturando. Dominic, Luke, Brady e os
nossos seguranças mais próximos desaparecerem não é
coincidência. — Dobrei o jornal e escondi para que as meninas mais
novas não vissem. — Eles podem ter sido sequestrados, mortos e
isso significa que estão nos observando há muito tempo.
— Com o papai preso e se… — Ela hesitou, com os olhos
marejados.
— Se aconteceu alguma coisa com eles, teremos que sair do
país. Eu vou pegar todo o dinheiro que temos nas contas reservas,
podemos ficar no México por um tempo, mas será um local óbvio
para nos procurarem. Não sei quanto a vocês, se vão parar com a
prisão do Oliver, mas sei que eu tenho que sumir até a poeira
abaixar e saber o que fazer. — Respirei fundo, prendendo meu
cabelo novamente. — Se eu for uma ameaça a vocês, precisaremos
nos afastar.
— Não posso fazer isso sozinha, Kate. Eu não sou estrategista
e atenta. Como vou proteger minhas irmãs e deixá-las seguras se
eu nem sei segurar em uma arma? Vamos ficar juntas, somos uma
família, se você estiver em perigo, todas nós estaremos. — Ela
agarrou minha mão e apertou. — Sempre soube que a nossa vida
era diferente, mas nunca pensei que passaríamos por isso.
— Olívia. Seu irmão e eu vendemos drogas para organizações
perigosas, que viciam outras, que assassinam quem invade seus
territórios, chefiamos um cartel que mata e alicia pessoas. Estou
bem com isso, mas não é o certo para o mundo. Seu pai lava
dinheiro. Não somos os mocinhos só porque nos amamos, temos
jantares de família e queremos proteger os nossos. — Coloquei
minha mão acima da dela. — Essa é a consequência. Em alguns
momentos, os vilões perdem e na história de muitos, é o que somos.
Imagina para a mãe que perdeu o filho viciado naquilo que
vendemos? Imagine para o policial que deseja ordem e justiça,
morreu em um confronto com um de nós? O mundo é corrupto e
sujo, nós enriquecemos assim.
— Você não escolheu isso.
— Nem a minha mãe, mas somos herdeiros desse pecado. Ou
morremos ou lutamos para sobreviver nesse mundo, nunca nos
deram a chance de não fazer parte dele. Dominic e eu falamos
sobre isso, se a vida fosse normal, ele estaria jogando futebol e eu
estudando em alguma faculdade renomada…
Olívia olhou para o alto, as lágrimas caíram de seus olhos e eu
quis abraçá-la, mas aquela conversa era necessária para que ela
saísse do mundo de arco-íris e entendesse o que a família
realmente era.
— Ao contrário disso, estamos aqui.
— Prefiro não sentir nada, não pensar para não carregar a
culpa e nem o desgosto. O que vai mudar? Nada. Até se eu morrer,
nada vai mudar, porque as drogas continuarão sendo vendidas. Se
eu cair, outro vai se levantar. Então, o que eu faço com seu irmão é
não cair e não permitir que passem por cima da gente.
Foi o que aconteceu com minha mãe. Ela lutou tanto para nos
proteger, ficou paranoica e com medo, no fim, morreu sozinha,
precisando da promessa de um adolescente para poder partir em
paz.
Ouvi o som de um carro se aproximando. Kim parou de ler para
Jane e me olhou. Sinalizei para que fossem para o quarto dos
fundos. Bess estava no banheiro e se juntou a elas. Olívia ficou no
mesmo lugar, respiramos fundo olhando uma para a outra, ela foi
para o lugar contra a parede que instruí e eu, para trás da porta,
movendo um pouco a cortina branca para olhar quem se
aproximava.
Brady estava ao volante. Ele olhou cuidadosamente ao redor
antes de seguir para o celeiro. Fui acompanhando pelas frestas e
esperei o sinal.
Parado contra o carro, ergueu as mãos e a camisa, abrindo a
porta de trás e ajudou Luke a sair. Ele estava muito ferido.
— Oh, Deus! Olívia! Vem! — Corri para os fundos, abrindo a
porta.
— Ele perdeu muito sangue, consegui atendimento em uma
clínica, fizeram uma rápida cirurgia, esperei que tomasse a
medicação e fugi antes que a polícia chegasse — Brady explicou
rapidamente. — Me diga onde colocá-lo.
Olívia apoiou Luke de um lado, beijando a bochecha do marido
e disse que tudo ficaria bem. Na cama, meu cunhado acordou um
pouco, delirante, mas sorriu ao ver a esposa.
— Não temos muita coisa. Terei que ir à cidade fazer compras
necessárias de farmácia. — falei com Brady. — O que aconteceu
com vocês?
— Tivemos que fugir com qualquer carro. Estávamos sem
muitos recursos. — Brady passou a mão no rosto. — Fui pego
saindo do banheiro da biblioteca. Desculpa, Kate.
Eu olhei para seu rosto, estava tenebroso de tantos cortes e
hematomas. Ele tinha um ferimento na barriga que precisaria de
cuidados antes que inflamasse.
— Acordei amarrado ao lado de Luke, fora da cidade, acho que
era quase em Boston, não tenho certeza. Fiquei muito zonzo, estava
nu e eles… — Brady fechou os olhos. Eu toquei seu ombro.
Caramba. Eu sentia muito. — Dominic está vivo — falou baixinho
contra a minha cabeça. — Nós o encontramos rapidamente. Ele nos
mandou vir para cá e disse que tinha algo a resolver.
Minhas pernas quase cederam de alívio. Meu marido estava
vivo.
— Ele estava muito ferido?
— Um pouco, mas andando e parecendo forte. Foi realmente
rápido, só gritou ordens e nos mandou sair. Sequer me deu tempo e
com Luke ferido, fiz o que ele mandou.
— Tudo bem, vai ficar tudo bem. Dominic sabe o que faz.
Eu tinha que confiar que ele estava seguindo o instinto. Se
mandou Brady para a cabana, era porque acreditava que consegui
fugir e não estava procurando por mim. Só esperava que não se
colocasse em risco, na mania maluca de me proteger. Eu mesma
não estava achando prudente sair e ir atrás dele.
Luke deu trabalho. Teve febre e convulsões, temi pela vida
dele, mas nós conseguimos administrar a medicação porque Kim foi
a única capaz de encontrar as veias. Percebi que ela não tinha nojo
ou medo, os movimentos eram calmos.
— Eu assisti todas as séries médicas que mamãe é viciada,
mas aprendi a fazer isso quando teve a semana das profissões na
escola. Treinei em um boneco, porém, a textura pareceu a mesma
— explicou baixinho. — Ele parou de tremer e está com a
temperatura normal.
— Ele vai ficar bem. Obrigada, minha heroína. — Olívia sorriu e
voltou a encarar Luke. — Sei que está ouvindo. Estamos aqui com
você, eu te amo.
Brady e Kim saíram.
— Conte a ele. Talvez ajude a ter mais forças para acordar.
— Contar?
— Eu sei que você está grávida.
Ela ficou com as bochechas vermelhas.
— Como? Eu não contei para ninguém, nem para a mamãe.
— Você franze o nariz sempre que sente um novo cheiro, estou
com inveja dos seus peitos e te ouvi vomitar de madrugada. O
truque de ligar a torneira não funciona comigo.
— Eu deveria ter colocado o DIU quando você foi — Olívia
choramingou. — Acabei de me casar. Como já posso estar grávida?
— Transando? — Soltei uma risada. — Conte ao seu marido
que ele será pai. E só para constar, estou muito empolgada para ser
a melhor tia que seu bebê merece ter.
— Ah, Kate! Obrigada por ser a melhor amiga do mundo! —
Olívia me abraçou apertado. Esfreguei suas costas para acalmar o
choro e ficamos tensas ao ouvirmos um carro se aproximar. Olhei
para o rosto dela e me afastei.
Brady estava contra a porta olhando e sorriu.
Eu soube quem era só pelo alívio dos ombros dele.
Dominic.
Parada no meio da sala, esperei-o passar pela porta. Ele
estava usando uma camisa branca, jaqueta de couro e calça jeans.
Suas botas molharam na grama cheia de orvalho. Ele olhou
diretamente em meus olhos, descendo com cuidado para ter a
certeza de que eu estava bem. O vinco entre suas sobrancelhas
sumiu ao constatar que não havia ferimentos, eu me joguei nele,
ouvindo um silvo de dor.
— Oh, amor. Desculpa.
— Graças a Deus vocês estão bem. — Ele encostou a testa na
minha.
— Luke está se recuperando.
— Ah, Kate. — Esfregou o nariz no meu. Seu tremor me fez
pensar no quanto estava se fazendo de forte. — Eu fui pego e
depois, acho que me drogaram. Acordei com Juliana me levando,
eles me machucaram, mas não sei ao certo o que fizeram.
— O importante é que está bem. Todo o restante vamos
consertar juntos.
— Eu não lembro de nada, mas eles podem ter recolhido
minhas digitais e acessado contas… meu telefone, eu quebrei
quando percebi que iam me pegar.
— O bloqueio das senhas será eficaz. Miguel deve ter
percebido. Vem, vamos sentar. A viagem deve ter sido longa.
Dominic mal se moveu quando a porta do quarto foi aberta.
Jane soltou um gritinho e correu, abrindo os braços. Ele pegou a
irmã no colo, abraçando e beijando, dando a ela o colo que estava
muito necessitada. Kim e Bess vieram em seguida, correndo para os
braços do irmão com saudades e amor. Ele deu um jeito de manter
todas ali, passando segurança depois de dias de pesadelo.
Capítulo 40 | Dominic
Acordei com o coração acelerado e segurei o pulso de quem
estava com a mão perto do meu rosto. Kate apenas suspirou e eu
soltei, beijando o local imediatamente. Sentei, confuso, com calor e
lembrei que estava na cabana, na cama e relativamente seguro.
Minha linda esposa segurava uma bandeja com alguns itens para
cuidar dos meus ferimentos.
— Eu te disse para dormir um pouco.
— Você me conhece o suficiente para saber que eu não te
obedeceria. — Ela apoiou as coisas na mesinha e fez o carinho na
minha cabeça, como iria anteriormente. — Como está se sentindo
agora?
— Vai soar muito clichê, mas eu me sinto muito melhor só por
estar aqui. Acho que a preocupação era o que fazia tudo doer. —
Entrelacei nossos dedos. — Obrigado por salvar nossas irmãs.
— Ainda bem que disse nossas. Sabe que eu as amo como se
fossem minhas de verdade.
— Temos que voltar a Nova Iorque. Seguranças, mídia, cuidar
dos advogados e criar um plano para tirar meu pai da cadeia. —
Sentei e minhas costelas doeram. — Kate…
— O que foi?
— Enzo está morto.
Ela soltou as gazes e me encarou, arregalando os olhos
conforme o que disse fazia sentido na mente dela. Franzindo o
cenho, olhou para meus ferimentos brevemente, mordendo o lábio e
fungou.
— Ele não pode estar morto. Juliana foi te salvar com o marido
morto?
— Sim. Eu não posso acreditar — falei com pesar. Enzo era
meu amigo de verdade. Quantas coisas passamos juntos? Quantas
vezes ele me salvou? Sem motivo algum, confiou no meu plano
para salvar Kate.
Ele era o único que nunca esteve interessado no dinheiro dela.
A única coisa que me pediu foi lealdade. Quando precisasse de
mim, que eu estivesse lá. Ele também encontrou um meio para
controlar a impulsividade do meu pai, estando perto de mim, sabia
que Oliver King encontraria um freio para não me ter morto.
— Temos que saber o que fazer. Vamos fretar um avião ou
pediremos o da King? Não podemos ficar expostos, nem muito
escondidos… e ver um lugar para Olívia ficar com Luke e as
meninas. — Kate disparou a falar e chegou a ficar ofegante. — Enzo
está morto…
Ela deitou a cabeça no meu peito, chorosa. Acariciei seu
cabelo, descendo para as costas. Estava tão cansada que as
piscadas eram longas e os olhos vermelhos. Teimosa, quis cuidar de
mim antes de dormir. Foi difícil fazer com que descansasse, mas
estava certa: precisávamos de um plano muito bom.
Primeiro era preciso colocar minha família em segurança.
Depois, eu e ela iríamos agir juntos. Não tínhamos a política e
naquele momento, ela era mais do que necessária para comprar a
saída do meu pai da cadeia.
Se ele fosse transferido para uma prisão federal, seria morto.
Meu pai tinha defeitos, errou comigo, com minha mãe, irmãs e
Kate diversas vezes. Isso não significava que permitiria que fosse
assassinado.
— Vamos para Los Angeles — Kate falou de olhos fechados.
— A mansão é segura e pagaremos Priest para fazer a segurança.
Ele vai ficar feliz com o dinheiro extra.
— É um bom plano. Nós dois voltaremos para Nova Iorque.
Preciso me reunir com Kyra e ouvir da minha mãe tudo que
aconteceu.
— Quem vamos matar e comprar para libertar seu pai?
— Ainda não sei, mas sei que Enzo e eu alimentamos o vício
de muita gente da alta sociedade. — Mudei de posição na cama, ela
rangeu e ouvi os passinhos de Jane, que deveria estar louca para
dormir comigo. — Com sexo e drogas, temos muito material em
vídeo. Está na hora de usar.
— Depois falamos. — Kate tocou meu peito. — Vem, bebê.
Jane estava segurando um urso que encontramos na cabana.
Seu pijama era para uma criança maior. Sorrindo, a chamei de
Stitch antes de acomodá-la no meio da gente. Aquele lugar não era
para minha irmã. Tão pequena, correu riscos e porra, ainda bem
que Kate foi tão ágil! Eu tinha muito orgulho da força da minha
mulher.
Podia chorar, ter medo, mas não se deixava abater.
— Por que me sinto sendo observada? — Kate resmungou de
olhos fechados, abraçada a Jane.
— Estou te observando porque te amo muito — retruquei e lhe
dei um beijo suave na testa, onde podia alcançar.
Kate sorriu, me olhou emocionada e fechou os olhos antes que
as lágrimas caíssem. Ela suspirou e vi os cílios molhados. Apertou
as pálpebras para conter o choro e não teve jeito. Passei meu
polegar na hora que caiu. Estávamos juntos. Poderia ter sido muito
pior.
Eu não conseguia lembrar de nada durante a minha captura.
Diferente de Brady, não fui abusado, mas estava com cortes na pele
que pareciam queimadura de cordas. No mais, a sensação era de
ter tomado muito relaxante muscular.
Atitudes assim me faziam deduzir que me pegaram e estavam
esperando ordens. Não podiam me manter acordado para não
reagir. Eu tinha a lembrança turva e confusa de lutar. Contra quem e
onde não fazia sentido. Juliana matou quem estava lá, focada em
me resgatar e não em obter respostas.
Eu precisava delas, mas estava muito mais grato por ter sido
resgatado com vida.
Eram muitas perguntas por milhares de coisas que não faziam
sentido.
Parado e esperando por elas que eu não ficaria.
A mídia noticiou que o avião da King estava na Carolina do
Norte para voar até Los Angeles. Eles não conseguiram ter um
vislumbre nosso, mas tentaram. Nossos seguranças foram liberados
depois de uma verificação do FBI e os bens dos meus pais estavam
bloqueados, os meus, da Kate e minhas irmãs, não. Eles não
conseguiram ligar qualquer rendimento delas e meus com a
lavagem de dinheiro e por isso, estavam de mãos atadas quanto a
nós.
A casa estava vazia quando chegamos. A maioria dos
funcionários morava em Nova Iorque conosco e a outra parte, eram
contratados em regime temporário. Olívia sabia como cuidar de
tudo. Minhas irmãs ficariam mais à vontade em um local que
conheciam. Brady estava se recuperando mais rápido do que Luke e
poderia ficar com elas.
Kate e eu tomaríamos conta um do outro. No quarto, na
madrugada em que iríamos sair, parei na frente do espelho para
ajeitar minha roupa.
— Está preparado para voltarmos? — Ela me abraçou por trás.
— Teremos que fazer algumas loucuras. — Acariciei suas
mãos.
Ela sorriu.
— Sabe que tenho um pouco de anjo, diabo e a dose certa de
loucura. — Piscou, me fazendo sorrir. — Temos que ir. Elas vão ficar
bem.
Kate pegou a bolsa e eu a mala com algumas roupas, não
iríamos para nosso apartamento. Era um local publicamente
conhecido e fui informado que as portas chegaram a ser lacradas
quando o FBI tentou nos encontrar. Passamos o voo inteiro
alinhando nossas estratégias e quando pousamos, Ginnie nos
aguardava dentro do carro e Kyra do lado de fora.
— Eu acabei de chegar de D.C. Precisei resolver questões com
os Vaughn — ela nos explicou. — Estou por todo lado e por isso não
vi sua ligação.
— Era para avisar o horário da chegada. — Kate colocou a
bolsa atrás. — Oi, Gi. Obrigada por vir tão rápido.
— Peguei o primeiro voo de Seattle. — Ginnie me deu um
aceno. — O que preciso fazer e onde preciso estar?
— Trouxe o que pedi, Kyra? — Virei para a mulher pequena,
que parecia abatida.
— Está na mala. É o melhor que o Magnata produziu, visor
amplo e laser claro.
— Vai servir para o propósito. — Passei meu braço por seu
ombro. — Ky…
— Ele está morto. Jack nos traiu. Meus filhos… só estou
cansada.
— Eu sei. Tem falado com Juliana?
— Acredite se quiser, ela é a chefe agora.
— Como isso é possível?
Kyra respirou fundo e acabou abrindo um sorriso.
— Nunca duvide da capacidade de uma mulher de colocar o
mundo de cabeça para baixo quando está ferida.
— Temos que ir. Vamos encontrar Juliana depois. — Kate foi
para o carro. Kyra só me deu um olhar, rindo da maneira autoritária
que minha esposa soou.
Ginnie nos levou para o centro de Nova Iorque. Paramos no
escritório que estava cuidando do caso do meu pai e eu soube que
podia fazer uma visita no final do dia, o que aliviou um pouco a
ansiedade de não saber como ele estava. Os advogados sabiam
quem eu era porque eram antigos sócios de Adam, um homem que
me ajudou a encontrar Prince quando abusou da minha irmã. Ele
era uma espécie de advogado investigador, muito bom em caçar
pessoas e envolvido com o submundo até o último fio do cabelo.
— Poderemos ter boas notícias a qualquer momento? —
Lorigan, o chefe do escritório, apertou minha mão quando
encerramos a reunião.
— Voltei a Nova Iorque para resolver isso. Fique atento ao
telefone.
Kate me enviou uma mensagem, pedindo para que
encontrasse com ela no escritório principal do grupo Alexandria.
Não era muito longe, mas cheguei ainda mais rápido porque a louca
da minha mulher estava com a outra irmã igualmente doida,
chantageando pessoas. Eu era jovem demais para morrer por um
ataque cardíaco.
A única pessoa que conseguiria esse feito, era a mesma que
eu jurei amar pelo resto da minha vida no altar.
Capítulo 41 | Kate
Dominic invadiu a sala de Helena com uma expressão feroz.
Ele não confiava nela, e a atitude dele fez com que ela começasse a
rir. Sentada na mesa, com as pernas cruzadas, parecendo
poderosa, arqueou a sobrancelha com um olhar zombeteiro.
— Pode relaxar, Hulk.
— Não implique com ele. — Cruzei meus braços. — Oi, baby.
Acho que precisa ser formalmente apresentado à minha irmã,
Helena Eros.
— Olá, Dominic King.
Helena foi sensual, querendo me irritar. Era a defesa dela.
Usava sensualidade como arma, algo que nunca parei para prestar
atenção sobre o quanto dava certo. Dominic ficou mortificado,
qualquer outro homem poderia babar um pouco.
— Posso saber o que está acontecendo aqui?
— Minha doce irmãzinha aceitou me receber para que eu
pudesse agradecer a ajuda na biblioteca. Soube que Crica teve um
acidente no dia anterior e é por isso que, ao ver o noticiário, Helena
acreditou que era um golpe contra todas as pessoas envolvidas com
Jackson Bernard — expliquei. Ele parou de encará-la para olhar em
meus olhos. — Quando começamos a conversar, descobrimos que
tínhamos alguns clientes importantes em comum.
— Clientes que gastam muito com coisas comprometedoras.
Usam sua mercadoria e os quartos dos meus hotéis e até mesmo
me pedem coisas, como meninas menores de idade. — Helena
pegou o tablet e mostrou o vídeo do Procurador Geral da Justiça na
cama com duas adolescentes.
— E poderemos usar isso?
— Já usamos. — Dei a ele um sorriso de desculpas. — O
tempo ruge, baby.
— Katherine… — Ele suspirou, pronto para explodir.
— Você sabe que eu jamais faria qualquer coisa para passar
por cima de você. Foi pelo timing. O assistente de Helena, por um
acaso, poderia enviar o recado de maneira mais eficaz. — Estiquei
minha mão e ele pegou, entrelaçando nossos dedos.
— Não se preocupe. Eles sabem que estarei fornecendo as
imagens.
— E por que está fazendo isso?
— Além de ter avisado que não deveriam confiar em mim? —
Helena riu sombriamente. — Eu faço o que quero e sei muito bem
com quem estou mexendo. Vão entender mais para frente.
— Eu tenho uma coisa para te dar. — Kate tirou da bolsa um
pequeno frasco. — É um óleo da nossa família. Era o cheiro dela,
sei que lembra.
Helena olhou para o vidro.
— Não quero nada disso.
— Você sabe que ela morreu tentando te proteger?
Ela pegou minha mão.
— Somos muito parecidas, parece até que fomos criadas
juntas, mas quanto a ela, eu não quero nada. Nossa brincadeira
com um pouco de traquinagem até foi bem divertida, me fez
enxergar que não é uma garota boba. — Ela saiu da mesa e não
aceitou o vidro. — Vamos nos falando. Liguem se precisarem… com
o preço de um favor — cantarolou com um sorrisinho.
— Cuidado. Eu sou uma King, não me confunda com qualquer
uma. — Sorri de volta, ameaçadora e lentamente, coloquei o frasco
na mesa dela. — Não ouse me devolver ou vamos começar tudo de
novo.
Ainda segurando a mão de Dominic, com o vídeo que
precisávamos em mãos, voltamos para o carro.
— Vocês duas com raiva uma da outra vão explodir a cidade.
— Ninguém mandou mamãe produzir duas bombas. — Dei de
ombros e dei play no vídeo. — O pau dele parece uma cenoura
murcha.
— Puta que pariu, Kate!
— É sério, olha só. — Mostrei, Dominic fez uma expressão de
nojo e saiu arrancando com o carro. Aparentemente, a
masculinidade dele o impedia de comentar sobre paus alheios, mas
eu podia. — Coitadas dessas meninas precisando enfrentar isso
para ter dinheiro. Pessoalmente vi um só e tirei a sorte grande.
— Continue me adulando para que eu não te mate por
começar a chantagear pessoas.
Ah, as delícias do casamento. Aguentar o humor do outro sem
mandar à merda. Ele queria um pedido de desculpas? Revirei os
olhos mentalmente.
— Eu te avisei que estava um pouco louca.
Naquele mesmo dia, me surpreendi ao afundar a cabeça de um
idiota na privada enquanto meu marido alegremente copiava e-mails
comprometedores para o tablet. Em cada lugar que passamos,
conseguimos um pouco mais de informações e quando ligamos para
Kyra com o sol se pondo, parados em frente ao píer, ela tinha
material o suficiente, podendo agir para livrarmos Oliver da cadeia.
Comprei água gelada e coloquei contra os nós dos dedos de
Dominic. Ele deu muitos socos e por ainda estar se recuperando,
aparentava cansaço. Não me diria nada, claro, a aura de machão
impedia de reclamar de dor. Sentei no capô do carro alto, comendo
o lanche rápido e depois, deitei minha cabeça em seu ombro.
O mundo parecia do avesso. Estava um completo caos. Mal
pudemos lamentar a morte de um amigo e digerir todas as coisas
ruins que aconteciam ao mesmo tempo. Estávamos juntos e sabia
que daquele jeito conseguiríamos atravessar a tempestade. Não
havia nada como nós dois e a força que dávamos um ao outro.
— Ollie está grávida.
— O quê? Porra! Sério? — Ele se afastou, me olhando com
alegria.
— Ela está assustada. Não foi planejado, então, temos que dar
muito apoio.
— Claro que sim. — Ele sorriu e seus olhos chegaram a criar
ruguinhas de felicidade. — Eu vou estragar essa criança
completamente.
— Eu também! — Rimos juntos. — Vamos ter filhos?
— Agora? — Ele arregalou os olhos e dei-lhe um tapa na nuca.
— Ei! Calma! Esqueci do DIU! No futuro, eu quero ter sim. Desistiu?
— Não. Só queria ter certeza de que estávamos na mesma
página. Eu não consigo me ver com um filho na barriga, mas quero
ter seus filhos. — Segurei seu rosto e beijei. — Te amo muito e sei
que iremos amar ainda mais nossos bebês.
— Você consegue ser um monstrinho em um minuto e no
outro, completamente fofa. Te amo justamente por isso.
Ficamos abraçados sem pressa de soltar até o nosso próximo
encontro chegar.
— É permitido essa demonstração de afeto? — Levi abaixou o
vidro.
— Aqui é permitido. — Dominic riu e foi ao encontro dele. —
Obrigado por vir. Sei que com a morte de Enzo, não é seguro estar
na cidade.
— Eu sequer posso me aproximar. A esposa dele não me
conhece, não imagino que Enzo tenha contado sobre mim e pelo
que ouvi nas ruas, ela está causando um banho de sangue se
alguém se atrever a espirrar na frente dela. — Levi saiu do carro. —
Eu avisei sobre o Jack.
— Eu sei. Ainda não parei para assimilar os motivos dele.
— E nem deve, mete uma bala na cabeça e acaba com a porra
do assunto. Vai esperar que ele faça mais o quê?
— Imagino que esteja pronto para apertar o gatilho, mas antes,
eu tenho minhas irmãs sendo protegidas por motoqueiros
sanguinários e minha mãe sob a mira de gente perigosa, enquanto
meu pai está preso e pode ser morto se for para a prisão federal.
Não tenho tempo para o Jack.
— Certo. — Levi foi até a mala. — Alex emprestou a dele para
um de vocês, eu trouxe outra, Lucas vai ficar posicionado no
contravento. Prontos?
— Sim.
Dominic iria visitar o pai e eu, negociar sozinha com um
homem mais velho, mais experiente e que pelo visto, foi colocado
na procuradoria por ser filho de alguém importante. Ele teria que ser
pior que todo DNA ruim que corria nas minhas veias para me
assustar. Seriam divulgadas fotografias minhas chegando sozinha
na casa dos meus sogros, onde Donatella estava e Dominic, filmado
ao visitar o pai.
Era o nosso álibi.
Helena me avisou por mensagem o horário em que ele chegou
e que esperava uma garota morena de olhos azuis, com um gingado
latino. Ela inventou a última parte, filha da puta. Troquei de roupa,
colocando um vestido curto, vermelho, com botas até o joelho. Quis
dar um tiro em um. Coloquei um short por baixo, pois não haveria
chance de ficar com a minha bunda de fora sem Dominic por perto.
Levi me viu e riu, eu quis bater nele também.
Fingindo ser meu motorista, me conduziu para o hotel. Fomos
orientados a seguir para os fundos, onde normalmente deviam
passar as garotas. O concierge me deu uma olhada lascívia, mas
não avançou como parecia querer. Era nojento um homem lamber
os lábios ao olhar para uma mulher.
Toquei a campainha sozinha. Levi sinalizou que estava na
saída de incêndio, dei-lhe um aceno e esperei ser atendida.
— Você é um pouco mais velha do que pedi.
Porra. Meu estômago chegou a doer.
— Ah, querido. — Me aproximei dele com um sorriso sensual.
— Sei que vamos nos divertir — falei em seu ouvido. Ele segurou
minha cintura e quis cheirar meu pescoço. Antes, lhe surpreendi
com uma joelhada nas bolas. Ele caiu no chão, segurando o saco.
— Deixa de ser dramático! A noite está só começando.
Passei por ele com meus saltos e deixei Levi entrar. Ele
agarrou o homem e o ergueu, jogando-o em uma cadeira.
— Quem é você, sua puta?
— Puta? Eu sou Katherine King. — Fui até a janela e comecei
a fechar parcialmente as persianas. Deixei aberto o suficiente e
recebi o sinal do laser no meu peito. — O clima está fresco lá fora,
mas as janelas precisarão ficar fechadas. — Seu nome é Joe,
melhor dizendo, Joseph. Um nome comum, americano, só que o
seu sobrenome não é tão comum e não tão desconhecido. Assim
como o meu. — Abri um sorriso.
— Você acha que tem alguma vantagem nesse momento?
Essa atitude só piora tudo, querida. Oliver já era.
— Esse é o seu erro número um. Eu não respondo por Oliver.
— Puxei uma cadeira e sentei na frente dele. — Vou repetir, meu
nome é Katherine King, sou esposa de Dominic King e filha de
Michelle Rodriguez, mas a partir de agora, só o meu nome vai ser o
suficiente.
Ele riu e ganhou o primeiro soco da noite. Cuspiu sangue, e
àquela altura, sabia que o ouvido devia estar zunindo. De pernas
cruzadas e encarando-o com fixação, esperei que resmungasse o
suficiente. Levi tirou o tablet do casaco e me entregou.
— Terminou? Agora, vamos conversar. Se for bonzinho, vou te
dar gelo, se for um babaca de novo, lembrarei que é um pedófilo
filho da puta e vou começar a te alimentar com seu próprio pau. E
aí, o que vai ser?
Ele me olhou com ódio e ainda assim, aceitou conversar.
Tomou a decisão certa.
Capítulo 42 | Kate
Eu nunca havia torturado alguém antes e me perguntei se era
cansativo para todo mundo. Quando Oliver foi solto, meu corpo doía
tanto que parecia que quem estava amarrada em uma cadeira era
eu. Joseph Michael Larsson provavelmente nunca esqueceria de
mim e colocaria um alvo na minha testa, mas era um problema no
qual lidaria depois. O FBI fez uma coletiva de imprensa alegando
que não havia sustentação legal para mantê-lo preso e seguiriam
com a investigação para esclarecer os fatos.
O próximo que ousasse, eu não manteria uma conversa
educada. Dominic estava pleno. Nem parecia que quebrou dedos e
foi um tanto assustador, até para mim. Até os músculos da minha
bunda doíam de tão tensa.
— Eu acho que um tiro no meio da testa economiza tempo —
falei baixinho.
— Cala a boca — Dominic cantarolou enquanto esperávamos
os advogados irem embora. Donatella andava de um lado ao outro,
ansiosa, querendo finalmente abraçar o marido sem a presença de
outras pessoas.
— Estou esgotada.
— Nós vamos dormir logo. — Ele passou o braço por minha
cintura. — Nunca mais use aquele vestido.
— Tudo bem, eu vou queimá-lo. — Suspirei e deitei minha
cabeça em seu peito, fechando os olhos. Ele me sacudiu quando
cochilei. — Se você não tirar eles daqui, eu vou começar a atirar.
Estou falando sério.
Meu marido levantou seu corpo grande do sofá, impondo
respeito. A maneira como ele olhava, fazia qualquer um se sentir um
rato. Os advogados não levaram mais dois minutos depois disso e
eu finalmente tirei meus sapatos.
Donatella e Oliver ficaram mais de dez minutos abraçados.
Eles se beijaram e choraram juntos, ligaram para as meninas e ao
ver aquela cena, constatei que não me arrependia de nada do que
fiz. Valeu a pena. Era a nossa família. Senti que havia perdoado
Oliver por sua atitude ao colaborar com a morte da minha mãe.
Assim como todos, ele tinha o direito de sentir a dor da traição e
reagiu.
Era doloroso engolir que minha mãe morreu pelos erros dela.
Eu tinha que aceitar e seguir em frente.
— Obrigado por tudo, minha filha. — Oliver agachou na minha
frente. — Você é uma pessoa muito melhor do que eu sequer um
dia fui e estou aprendendo com suas atitudes. Você abraçou essa
família mesmo depois de tudo que fiz.
— Eu não posso responder pelo seu relacionamento com
minha mãe. Fiz tudo isso pelo nosso vínculo e por tudo que ainda
vamos viver.
Para minha surpresa, Oliver me abraçou.
— Pai, eu sinto muito. Temos que nos reunir… há tanta coisa
para fazermos — Dominic falou logo atrás.
— Não, filho. Se não se incomodar, isso é com você. Eu
preciso de um tempo. Quero subir, tomar um banho, vestir minhas
roupas e dormir com a minha esposa. Não tenho mais idade para
isso. — Oliver ficou de pé, colocando a mão nas costas. — Aquela
cama pequena fodeu com seu velho pai.
— Tudo bem. Vá descansar. — Dominic deu-lhe um aceno.
Donatella se despediu para subir com o marido. Eu entendia a
vontade dela em ficar sozinha com ele. Parei perto da porta para vê-
los juntos. A casa ficaria completa quando as meninas pudessem
voltar e Olivia contasse a novidade. Seria um momento de muita
festa.
— Você vem comigo?
— Eu já tenho um cartel para gerenciar e não quero ter que
lidar com Jackson. Te espero na cama, tá? — Bati em seu peito
suavemente. — Não demora ou vou morrer de saudades.
— Dramática. Eu já volto. — Devolveu um tapa na minha
bunda.
Eu queria ter forças para formar pensamentos coerentes sobre
todas as coisas que haviam acontecido, mas estava tão cansada
que depois do banho quente, acertar o caminho da cama foi difícil.
Achei que fosse desmaiar, mas consegui deitar e fechar os olhos no
travesseiro macio.
— Bom dia, senhora. Vai dormir por uma semana?
— Que horas são?
— Não seria melhor perguntar quantos dias passaram? —
Dominic riu baixinho no meu ouvido.
Abri os olhos, assustada.
— Está brincando, certo? — Ergui o rosto.
— Um pouco. Já é noite do dia seguinte. Você comeu umas
frutas no modo zumbi, acho que não lembra e ficou brigando comigo
por ligar a luz, mas era o sol mesmo. — Ele acariciou minha barriga.
— Está com fome?
— Estou faminta e precisando de um banho.
— Sim, seu bafo não está dos melhores.
Cobri minha boca, ele riu e disse que estava mais ou menos
brincando. Dei-lhe uma cotovelada, fugindo da cama e fui para o
chuveiro. Necessitada de um bom banho e de escovar os dentes.
Ao me cuidar, me senti renovada. Dominic fez a barba e reclamou
que precisava cortar o cabelo, estava grande e enrolando perto das
orelhas.
— Outras partes também precisam de uma aparada. —
Apontei para a cintura dele.
— Aí também. — Ele apontou de volta, fiz uma expressão
ofendida e botei a língua para fora, nada madura. Dominic riu e me
agarrou, colocando-me sentada no balcão da pia. — Estou
brincando.
— Está?
— Estou. A única chata com isso é você.
— Será que herdei algum tipo de maluquice do meu pai?
— Por que pensa assim?
— Eu tomo banho excessivamente, parece até que moro em
um país tropical, detesto sujeira e não gosto de nada que pareça
estar sujo. Meu pai era cheio dessas manias idiotas.
— Por mais que seja irritante cozinhar com você limpando tudo
ao lado, foi criada por ele, a gente acaba pegando umas manias dos
nossos pais. Mesmo sem querer, não quer dizer que seja parecida
ou que tenha algum problema. Podemos começar a lidar com isso.
— Ele deu um beijinho na ponta do meu nariz. — Podemos começar
com eu não me depilar e você não reclamar.
Fiz uma expressão pensativa, decidindo por brincar com ele.
— Se você não se depilar, eu não vou te chupar. Podemos
começar com não ficar limpando a cozinha enquanto está
preparando a comida. — Arregalei meus olhos para dar ênfase. Ele
riu e pegou o aparelho, mostrando que faria a depilação naquele
instante. — Estou brincando. Já estava, antes. — Passei meus
braços por sua cintura. — Está tudo bem fora desse quarto?
— Tão bem quanto possa estar. Acredito que vá melhorar com
o tempo. — Ele beijou minha testa. Aquele gesto era simples e
carregava muito afeto. — Jack surtou, como você acreditou que
faria. Eu não sei o que dizer, nada do que fizemos deu esse direito a
ele.
— Eu entendo. Não aceito, mas entendo. Lembra do que
sempre falo sobre mocinhos e vilões? Nossas atitudes poderiam
colocar a família dele em risco e Jackson nunca escondeu que a
esposa e os filhos eram a prioridade dele, assim como nós somos a
prioridade um do outro. Afinal, tudo isso começou porque ele queria
salvar a filha. — Apoiei meu queixo no peito dele. — O que vai
acontecer? Helena me disse que Crica está tão furioso que não quer
falar sobre o assunto. Segundo ela, não é um bom presságio.
— Crica é muito influente, não sei se tanto quanto Jackson,
mas é, sim. Ele sabe do segredo sujo de muitas pessoas.
— Já se reuniram?
— O momento ainda não é favorável. As relações estão
delicadas e agora, temos que recolher nossas defesas e observar.
Quer voltar para nossa casa?
— Eu amo seus pais, mas sim, já estou descansada. Vamos
para nossa casa.
Dominic e eu tiramos uns dias para descansar e dar suporte a
Juliana. Eu devia muito a ela. A mulher estava como uma fortaleza,
renascendo das cinzas e sempre teria minha gratidão por salvar
meu marido. Enquanto tivesse fôlego de vida, ela podia contar
comigo para lutar as batalhas. O que fez por mim, pelo amor da
minha existência, merecia minha eterna gratidão.
Enquanto a nossa vida se ajustava, Dominic e Oliver tiveram
vários encontros, nos quais meu sogro decidiu que aquele era o
último ano em que ficaria na chefia. Ele sairia quase completamente
de cena, ainda dominaria algumas coisas, mas estava disposto a
passar tudo para nós. Com isso, a notícia do bebê de Olívia fez a
família inteira esquecer o pesadelo e focar na felicidade que
chegaria em alguns meses.
—Baby? Cheguei! — Dominic avisou da entrada. — Estava
ocupada?
— Mandando mensagens de texto para Juliana.
— Parece que vocês duas estão ainda mais próximas, agora.
— Só porque ela te viu nu. — Atirei de volta e ele ficou com as
bochechas vermelhas. — Amo essa reação.
— Para com isso, sempre acho que está querendo começar
uma briga — resmungou e ri mais ainda. —Está tudo refeito. Se os
homens do Santiago tentaram obter qualquer coisa com minhas
digitais, agora não conseguem mais.
— Não sei se conseguiram passar a informação adiante.
Juliana chegou matando todo mundo e no outro lugar, Brady não
deixou muita gente para contar história. — Deixei meu aparelho de
telefone no sofá. — Tem que ir para a boate hoje?
— Juliana pediu para deixar Emerson lidar com isso. Ele
precisa de uma distração, eu pedi que Luke limpasse as drogas.
— É bonito que cuide do irmão do seu amigo.
— Ele faria o mesmo por mim. Sempre fez. — Dominic colocou
uma almofada no meu colo. — Estou exausto.
— Eu sei. Vamos dormir?
— Só dormir? — Ele fez um beicinho.
— Não acabou de dizer que estava exausto? — Puxei-lhe o
cabelo e ele me deu um olhar safado, com o sorriso que só me
deixava ainda mais maluca para pular nele.
— Nunca para sexo. Cama?
— Cama.
Ele saiu do sofá e de supetão, me pegou no colo, subindo a
escada e fingindo ser um homem das cavernas. Eu ri e logo tive
minha boca tomada com um beijo avassalador. Tiramos nossas
roupas sem pressa. Com tanta correria na vida, sempre que
estávamos sozinhos era tudo sobre a importância de aproveitar
cada segundo que tínhamos juntos.
Eu esperava e lutaria muito para que tivéssemos nosso felizes
para sempre.
Epílogo | Dominic
Alguns meses depois…
— Para um homem que voltou dos mortos, você está muito
chato. — Abri minha cerveja. Enzo riu, o cabelo ainda estava
crescendo e ele ganhando peso. O jogo passava na televisão, mas
não estávamos assistindo. Kate estava na faculdade, fazendo um
trabalho em grupo e me enviando mensagens sobre o quanto seus
colegas eram estúpidos.
Detestei a universidade como aluno. Estava lá para jogar
futebol e pouco me fodendo para o curso. Kate era meu avesso
perfeito, ela nunca iria abandonar. Se começasse alguma coisa,
tinha que terminar. Era irritante em muitos momentos e ao mesmo
tempo, uma qualidade que me fazia amá-la ainda mais.
— Estou me recuperando. Está sendo relativamente fácil. Ir e
vir da Itália que tem sido cansativo, mas será assim até Alonzo ser
pego.
— Nós vamos matá-lo.
— Depois que você foi atacado pelo Guerrero, alguém que nós
não vimos se aproximar, eu fico pensando no quanto Alonzo possa
estar perto. — Ele deu um gole da cerveja. — Tenho uma filha agora
e outro bebê a caminho.
—Você está fazendo a coisa certa em protegê-las.
Aprendemos isso com Jack. — Fiz piada.
— Acha que ele vai aguentar ficar na fazenda? Eu duvido.
— Tem muita gente de olho para que ele ouse sair de lá. Pelo
menos por um tempo, para controlar o vício e a compulsão, ele
precisa estar fora. É para o bem de todos. — Estiquei minhas
pernas, chutei as dele e coloquei no lugar. Enzo riu e me chutou de
volta. Ergui minha garrafa. — Um brinde à sua nova vida e às
crianças.
— Vou ter que bancar a tia velha. Quando vocês terão filhos?
— Nem tão cedo. — Bufei. Estava bem em ser o tio da rodada.
— Kate está amando minha irmã grávida e correndo ao mesmo
tempo. Estou apavorado com as mudanças de humor. É ridículo.
Não quero passar por isso agora.
Enzo soltou uma gargalhada alta.
— Passe uns dias com Juliana e verá que não existe mais
louca, porra. Ela é insana. Grávida está sendo do caralho de
conviver.
Nós rimos e fazia tempo que não havia uma risada verdadeira
entre nós. A tensão ainda nos rodeava e mais do que nunca,
precisávamos estar atentos. A exposição nos trouxe alguns novos
clientes, novos contatos e novos inimigos declarados. Estava
lidando com uma mudança por vez, ajustando a maneira de lidar
com os negócios conforme o necessário. Com Kate segura, todo o
restante eu poderia lidar.
Enzo foi embora e esperei Kate chegar. Ela bateu a porta,
jogando a mochila e a bolsa de mão na poltrona.
— Odeio gente burra.
Eu ri e ganhei um olhar bravo.
— Por que continuar, minha herdeira de bilhões?
— Ainda não tenho o dinheiro, preciso estudar. — Ela fez um
beicinho fofo. Apertei sua bochecha e beijei a boca. Sentada no meu
colo, me abraçou e beijou meu pescoço. — Enzo se comportou?
— Sim. Ele está numa fase bem tranquila.
— Aham, até que pisem no calo dele. Vou comer e deitar, esse
dia precisa ter um fim.
Kate com um humor ruim me causava uma vontade de encher
o saco dela até que explodisse. Eu fui atrás dela, pegando em seu
pé por pequenas coisas até enfurecê-la. Do banheiro, arremessou a
escova em mim, que bateu nas minhas costas com um estalo alto e
caiu no chão. Joguei uma almofada de volta, um pouco mais forte
do que previ. Ela gritou, indignada, deixou a escova de dentes e
partiu para cima de mim com os punhos fechados.
Caímos na cama e a subjuguei.
— Se me beijar, vou morder sua língua.
— Vai mesmo?
— Eu vou arrancar fora — vociferou. Afastei seus joelhos, me
encaixando entre as pernas e ela tentou me chutar. — Dominic King!
— Um beijo para fazer as pazes? Desculpa por ter irritar.
— Sei que está tentando me enrolar mais um pouco e não me
soltar.
— Você me conhece tão bem. — Beijei-a. Ela ameaçou morder
minha língua, mas desistiu e me beijou de volta. Rolei para o lado,
liberando-a. Kate se aninhou em meus braços, do jeito que gostava
de dormir, como nas primeiras vezes.
Eu podia passar horas observando-a dormir, com o rosto
sereno e os lábios formando um beicinho. Ela se mexia muito,
chutava tanto que parecia lutar kickboxing. Toda noite dizia que iria
dormir longe e quando ficava, puxava para perto de mim. Beijei sua
testa e desejei baixinho que pudéssemos viver aquela tranquilidade
todos os dias até o fim das nossas vidas.
Alguns meses depois, precisei viajar com Kyra e Alex para dar
suporte a Enzo e o primo, Damon, líder da máfia de Chicago, na
caçada. Eles estavam muito perto de pegar Alonzo e eu fui por
lealdade, mas não queria ter saído de casa. Kate fez um monte de
beicinhos, ela entendia, só estava em uma fase muito mimada.
Sorte que o bebê perfeito da minha irmã lhe tomava muito tempo.
Vendo-a com meu sobrinho, dava para ver que seria uma mãe
incrível, mas ainda não era o nosso momento.
Estar longe de casa passou a me trazer um pouco de
ansiedade. Kate ficava bem sozinha e se eu fosse um homem
inseguro, poderia ser um gatilho. Ela tomava conta de tudo,
controlava, negociava e liderava. Eu tinha muito orgulho da
desenvoltura dela e o quanto crescia a cada novo desafio. Entre Los
Angeles e Nova Iorque, seu nome estava sendo conhecido e
temido. Não era mais sobre minha esposa ou a filha da infame
Michelle Rodriguez.
Era sobre ela.
Katherine King era o codinome do perigo.
Ao voltar para casa, ela estava ocupada e infelizmente, em um
encontro com a irmã. Detestava Helena, não confiava nela e preferia
que ficasse bem longe, mas Kate enxergava o que meu senso de
proteção era incapaz. A manipulação de Helena nos ajudou em
diversos momentos e a parceria era lucrativa em relação aos meus
produtos.
— O homem da minha vida está aqui? — Kate chegou e correu
para o escritório. — Porra! Que saudade! — Pulou em mim e me
abraçou apertado. — Senti tanta falta, amor.
— Eu também.
— Estou feliz que o filho da puta do Alonzo esteja morto. Você
viu que está morto mesmo, certo? Não precisamos de outro
Guerrero.
— Sim. Morto e bem matado.
— Que bom. — Ela me deu um sorriso. — Resolvi o problema
com Larsson. Logo deve estar nos noticiários.
— Fez a limpeza?
— Paguei Kyra para cuidar disso. Foi feita uma varredura, ele
não deixou resquícios. Sienna[11] vai cuidar de todo restante. Soube
que eles já possuem um possível substituto. — Esfregou o nariz no
meu, depois, o beijo que tanto queria. — Temos muita coisa a falar.
Detestei a experiência de viajar e me deixar sozinha. Sou uma
esposa grudenta, você precisa me levar pendurada nas suas costas
como uma mochilinha.
— Exatamente como está agora?
— Do jeito que estou agora é como gosto que me coma contra
a parede. — Soltou uma risadinha insolente. — Infelizmente, isso
vai ficar para mais tarde. Temos que visitar nosso bebê. Você vai
ficar maluco ao ver o quanto cresceu.
Phillip se tornou o centro da minha família. Meus pais,
aposentados, estavam gastando mais tempo cuidando de Jane em
casa e de vez em quando, fazendo viagens. Eu não acreditei que
meu pai realmente se aposentaria, mas ele fez e controlava uma
parte mínima da organização. Seria assim até sua morte. Ele foi
capaz de priorizar a família quando Kate e eu nos colocamos no
olho do furação de um Procurador Geral da Justiça para livrá-lo da
cadeia.
Não foi fácil tirar o homem furioso da nossa cola. Ele comia
pelas beiradas, causando ataques irritantes e sempre levantando
investigações, mas escorregava quando se tratava de assumir a
responsabilidade para ter uma retaliação. Kate decidiu que era o
momento de limparmos o caminho e tirá-lo de vez de circulação.
Minha mulher raramente decidia matar alguém. Não era do
feitio dela eliminar. Torturar, manipular, enlouquecer e causar
milhares de traumas que poderiam levar qualquer pessoa à morte
por estresse ou ataque cardíaco era mais o estilo dela. Brincava
com nossos inimigos como se fossem ratos de laboratório em
armadilhas.
Sempre que perdia a paciência, ela dizia para que eu
aguentasse um pouco mais. Eu era de socos e chutes, derrubava
tudo na frente, ela era sobre saber jogar bem as peças. Era por isso
que não existiria outra mulher tão perfeita para mim. A elite era um
quebra cabeça que dominava Nova Iorque, mas, em mim, Kate era
a única peça que encaixava.
Epílogo | Kate
Dez anos depois.
Ava saiu da casa com dois copos de suco e colocou-os na
minha frente. Eu esperava que fosse suco, porque não podia beber
nada alcoólico. Levi e Dominic estavam testando novos produtos e
aproveitamos para nos encontrar.
— Posso te fazer uma pergunta em um nível mais pessoal? —
Dei um gole do suco de laranja e estava uma delícia. Doce, fresco e
sem riscos para mim.
— Faça e eu verei se posso responder.
— Como é criar seus filhos fora do nosso mundo? Sem que
eles sejam conhecidos?
Ava pegou o copo, me analisando. Como mulher, ela entendeu
tudo.
— Foi uma decisão muito importante para nós dois morrer para
o mundo e dar a chance às nossas crianças de escolherem a vida
que querem ter no futuro. Mas isso só foi possível porque todos que
importavam para nós também não existiriam mais. — Ela bebeu
metade e sorriu, se abanando, com calor. — Você tem uma
numerosa família e pessoas que terá que abrir mão. Vai ser
doloroso e sacrificante não poder fazer parte da vida deles. Precisa
pensar se valerá a pena, mas se quiser, Levi e eu podemos ajudar.
— Obrigada. Eu vou pensar.
— Dominic já sabe? — Ela olhou na direção em que eles
estavam.
— Ainda não. Vou contar depois… em uma surpresa. É por
isso que estou evitando encontros, está meio difícil esconder das
mulheres. Ele não notou porque meu corpo não mudou e meu
humor já é ruim o suficiente sem os hormônios colaborando.
— Ele vai ficar feliz?
— Vai. Nós estamos juntos há dez anos, passamos por muita
coisa, tivemos medo de perder um ao outro e em várias situações,
quase perdemos. Nos últimos cinco anos encontramos um ponto de
equilíbrio na liderança dos nossos negócios, subimos para um nível
que eu sei que poderei ter esse bebê em paz.
— Ter laranjas e testas de ferro ajuda muito nesses casos. —
Ela riu e brindamos.
Dominic e Levi retornaram com uma caixa de madeira,
divertidos com a aventura em testar novos brinquedos. Tivemos um
jantar com um misto de amizade e negócios. Tratamos do
pagamento e depois de mais de uma hora de conversa boba, fomos
embora. Precisaríamos estar na casa de Olívia para o jantar.
Todos os membros da família eram vizinhos. Pareceu esquisito
no começo comprar um único condomínio, mas, foi a melhor
decisão que tomamos. Kim e o marido viviam ao nosso lado, do
outro, Olívia e Luke. Bess e seus cachorrinhos fofos na casa da
frente. As crianças adoravam brincar no pátio entre as casas. Oliver
e Donatella ficaram na primeira, com Jane em sua adolescência
tenebrosa.
Bess morou fora do país por muitos anos com o marido — o
garoto bonitinho que ela teve medo de fazer um acordo de
casamento, se tornou um homem lindo e o amor da vida dela. Eles
acabaram casando tão cedo quanto Dominic e eu, não pareciam
arrependidos e ainda não tinham filhos.
O problema do meu sono, era que estava incontrolável.
— Você quer dormir? — Ele me seguiu para o segundo andar.
— Os cachorros da Bess estão proibidos de entrar aqui. Tem xixi no
tapete.
— Deixa de ser bobo. — Revirei os olhos. Eu que era a
maníaca por limpeza e não me importava. — Vamos dormir só um
pouquinho? As festas da Olívia podem durar a noite toda.
— Pode ir deitar, eu vou jogar. — Ele me deu um beijo.
Tirei um cochilo que poderia ser considerado um sono de
respeito de uma noite. Levantei para me arrumar, Dominic fez em
menos tempo e logo voltou para jogar, dizendo que faltava pouco
para passar em uma fase. Aproveitei que estava sozinha no quarto,
peguei a pequena caixa de presente e deixei em cima da mesa.
Fiz a retirada do DIU há dois anos. Nós começamos a pensar
sobre bebês quando completamos oito anos de casados, nossa vida
estava relativamente mais calma, menos viagens, menos eventos
perigosos e mais dias em casa. Com todo dinheiro que recebi, fiz
investimentos nos negócios e claro, desapareci com boa parte se
acontecesse algo grave novamente.
A conversa foi surgindo depois de passarmos muito tempo com
nossos sobrinhos.
Olívia e Luke eram pais de três meninos que nós amávamos
incondicionalmente.
Donatella descobriu um nódulo no seio e todos nós nos
mobilizamos. Dom e eu decidimos esperar, usamos camisinhas, até
que passei a tomar pílulas. Com tudo tão calmo, esqueci de tomar o
anticoncepcional várias vezes e brincamos com a sorte. Olívia foi
quem percebeu o quanto estava mais sonolenta do que o normal,
me entregando um teste que mantinha guardado em casa para seus
dias de desconfiança.
Deu positivo e eu chorei uma tarde inteira, levada por um misto
de sentimentos; felicidade, um pouquinho de medo, insegurança e
as preocupações normais. Corri até a casa da frente, contei para a
minha sogra, ganhei colo, beijos, choro e pedi para que guardasse
segredo pois só contaria a Dominic depois que fosse ao médico.
Queria que fosse um momento especial. Dez anos juntos e
estávamos em uma nova fase.
— Ei, gostoso! Pode me ajudar aqui? — chamei da porta do
quarto. Ele parou o jogo no mesmo instante. Sua atenção e carinho
nunca mudaram. Não houve um mísero dia que Dominic não foi
entregue a nós, mesmo nas brigas. Apareceu menos de um minuto
depois. — Preciso de auxílio para colocar um pingente na minha
pulseira favorita. Minha unha não está me ajudando muito.
— Claro, baby. Ganho um beijo?
— Todos do mundo. — Sorri e ele ajoelhou na minha frente,
franzindo o olhar para segurar a pulseira com vários símbolos do
infinito. Coloquei na palma da mão dele o novo item a ser inserido.
Dominic pegou distraído e quando percebeu, parou. O olhar
lentamente encontrou o meu.
— É um sapatinho de bebê.
— É, sim.
— Olívia está grávida? Bess? Kim?
— Hum… não.
Ele olhou de novo para o pingente e depois para minha barriga.
— Oh, Deus. Nós estamos grávidos? — Ele me encarou com
expectativa.
Estiquei a mão e peguei a caixa, entregando a ele. Dominic
abriu tão rápido que a tampa voou longe. Ao pegar a pequena foto
polaroid em que colei o recorte da minha ultrassonografia com o
teste em positivo ao lado, ele só começou a rir.
— Vamos ter um bebê! — anunciei ao vê-lo tão eufórico.
— Porra! Porra! — ele gritou e me abraçou. — Caralho,
Katherine!
— Você vai me derrubar! Sossega! — Bati em seu ombro e o
abracei.
— Hoje é um dos dias mais felizes da minha vida — falou tão
baixinho que ficou clara a voz embargada. — Ah, Kate…
— Eu nunca pensei que fosse possível sentir tanto amor. —
Segurei seu rosto e ele passou os polegares nas minhas
bochechas, secando as lágrimas. — Chegou o nosso momento de
aumentar a família. Fomos muito felizes apenas eu e você, mas sei
que seremos ainda mais com nosso filho ou filha. Chegamos aqui
porque você nunca desistiu de mim.
— Foi a melhor decisão da minha vida. Eu faria tudo de novo,
repetidamente, por quantas vezes fosse necessário. Amar você
mudou tudo.
Nós nos beijamos, apaixonados com o bebê e eu não me
surpreendi com o quanto fui mimada e idolatrada por ele por toda a
gravidez. Decidimos não saber o sexo, mergulhando em uma nova
aventura não tão desconhecida. Nossos sobrinhos nos prepararam
para receber nosso bebê.
Decorei o quarto e gastei muito tempo em casa, apenas
aproveitando a gestação. Foi um momento lindo da minha vida, eu
me amei grávida e senti que teria mais filhos, mesmo depois do
longo parto doloroso. Dominic segurou minha mão e eu xinguei
tanto que Donatella disse que precisaria editar o vídeo que estava
gravado para nosso HD de memórias da família.
— Papai, vem segurar seu bebê — minha médica chamou pelo
meu marido. Ele foi instruído em como pegá-lo, com a manta nos
braços. O choro tomou conta do quarto.
Eu vi a expressão dele mudar completamente. Foi de
assustado para o de a maior devoção do mundo.
— É uma menina! Nossa menininha!
A médica e a enfermeira falavam com ele, houve o corte do
cordão e depois, a pesagem, com a pediatra. Dominic se aproximou
com ela.
— Oi, meu doce amor. — Ele a colocou em meus braços. —
Tão cabeluda! Olha essa boquinha.
Parecia que foi há muito tempo que eu era uma jovem
inocente, com medo do desconhecido, enfrentando pesadelos e
monstros que viviam debaixo do mesmo teto. Eu cresci à força,
entrei para uma vida que nunca havia imaginado fazer parte. Assumi
o sangue que corria nas minhas veias, transformei a minha história,
modifiquei o negócio que herdei, mas foi naquele primeiro segundo
com minha filha nos braços que entendi minha mãe.
Ela teve a filha tirada dos braços e só a dor de imaginar me
causou uma onda de choro. Depois, ela temeu por mim. Todo medo
e paranoia, todas as atitudes erráticas fizeram sentido porque não
havia absolutamente nada que eu não faria por aquela menina em
meus braços. Renasci no parto dando à luz a ela. Uma nova força
tomava conta de todas as fibras do meu ser.
Era um amor impossível de explicar e pelo olhar intenso do
meu marido, ele compartilhava do mesmo sentimento.
Dominic beijou minha testa, e mesmo eu não conseguindo
desviar dos olhos dela, virei o rosto para beijá-lo.
— Obrigado, amor. Você foi incrível trazendo-a para nossos
braços.
— Tudo bem. O próximo é com você.
Ele riu e beijou minha boca novamente.
— Como vamos chamá-la?
— Eu pensei em Jada Donatella King.
Minha sogra abaixou a câmera, levando a mão livre para os
lábios.
— Jada tem um significado bonito, traz confiança e criatividade.
E Donatella, para homenagear a mulher que escolheu se tornar
minha mãe quando perdi a minha. Eu sei que ela será uma avó
incrível para a primeira netinha.
— Ah, meu amor. Obrigada. — Donatella segurou minha mão e
apertou.
— O que acha, amor?
— Eu acho que você é incrível. — Ele me deu um beijo. —
Jada King. É um nome muito poderoso, assim como ela será no
futuro.
— Nossa herdeira.
Recebi flores de quase todas as pessoas que faziam parte do
nosso círculo. O buquê maior e mais exuberante, era da minha irmã.
Helena e eu éramos como água e corrente elétrica, nossa
combinação podia ser letal e ao longo dos anos chegamos a um
entendimento sobre como seríamos irmãs.
Jada continuou dormindo em meus braços, ainda sem se
importar com nada no mundo. Dominic e eu trocamos um olhar, sem
precisarmos dizer nada. Não existiria um felizes para sempre sem
ela.
E a nossa história, só estava começando.
SOBRE A AUTORA:

Mari Cardoso nasceu no início da década de noventa, na


região dos lagos do Rio de Janeiro. Incentivada pela mãe, que
lia histórias bíblicas e entre outras, sempre teve aguçado o
amor pelos livros.
Em 2008, passou a se aventurar no mundo das fanfics da
Saga Crepúsculo até que, anos mais tarde, resolveu começar
escrever originais. Em 2019, iniciou a carreira como autora
profissional e hoje tem duas séries em destaque: Elite de Nova
Iorque e Poder e Honra, dezessete livros publicados e algumas
milhares de leituras acumuladas.
Tornou-se autora best seller no ano de 2020 com o
romance Perigoso Amor – Poder & Honra.

Ela possui
Suas redes sociais:
www.instagram.com/autoramaricardoso
www.twitter.com/eumariautora
www.mcmaricardoso.com.br
Grupo do Facebook.
AGRADECIMENTOS

Este trabalho não seria possível com a incomparável ajuda


profissional da revisora Dani Smith, da betagem sensível da Paula
Guizi. Agradeço imensamente o apoio dessas mulheres no período
de construção da história. Não poderia deixar de fora a torcida das
minhas leitoras nos grupos de contato e o carinho excepcional (e
paciência) da minha amada mãe nos dias de muito trabalho.
Gratidão eterna.

[1]
Jackson Bernard – Curvas do Destino
[2]
Enzo Rafaelli – Perigoso Amor
[3]
Personagem recorrente da série, ainda sem livro lançado.
[4]
Levi Blackwood – O Desejo do Magnata
[5]
Personagem recorrente da série, ainda sem livro lançado.
[6]
Alonzo Rafaelli – inimigo em comum da série Elite de Nova Iorque,
principalmente do seu sobrinho, Enzo Rafaelli de Perigoso Amor
[7]
O Desejo do Magnata
[8]
Ava Blackwood – O Desejo do Magnata
[9]
Sebastian Vaughn é pai do Vince, protagonista de Realeza Selvagem
[10]
Vince Vaughn – Realeza Selvagem
[11]
Sienna Miller – Personagem recorrente, seu livro será o último da série.

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