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Os filhos da máfia

Série Os mafiosos – Livro 2


Manuele Cruz

Copyright © 2016 Manuele Cruz


1° Edição – 2016
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos
da imaginação da autora. Qualquer semelhança
com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
Todos os direitos reservados. Proibida a
reprodução no todo ou em parte, por quaisquer
meios, sem a autorização da autora.

Capa: Hadassa M. Vaz


Revisão e diagramação: Manuele Cruz
Nota da autora:
É necessária a leitura do primeiro livro
(Atraída por um mafioso), para que a
série faça sentido.
Esse é o segundo livro da série Os
mafiosos, que conta a história de Giulia
(filha mais velha de Fernando e Sara) e
de Leonardo (filho mais velho de Marco e
Isabella).
Esse livro é do gênero romance, porém,
contém algumas cenas de violência. O
livro não tem qualquer conteúdo
''sexual''.
Agradecimentos
Primeiramente eu agradeço a Deus, por ter me
dado inúmeros avisos e um sonho, para que eu
iniciasse a série e conseguisse concluir.
Aos meus pais por me apoiarem e me ajudarem
sempre que possível.
A Aline Pádua e Aline Lima, por escutarem
aqueles áudios imensos, onde vocês me ajudaram
com a minha decisão. Se essa história existe, é
por causa da opinião e da paciência de vocês
duas.
Aos meus leitores do Wattpad, que me apoiaram
no momento em que eu falei que recomeçaria a
história do zero. Obrigada por não me virarem as
costas e, principalmente, obrigada pelas palavras
de carinho e por me apoiarem.
Obrigada também as minhas leitoras da Amazon,
que, após a leitura do primeiro livro, foram atrás
de mim e perguntaram mais sobre a série,
pedindo logo o início do livro de Giulia.
Obrigada a todos, esse livro é para vocês.
Manuele Cruz.
Sinopse
Segundo livro da série ''Os mafiosos''. História de Giulia
e Leonardo.
Após engravidar, Giulia Bertollini acabou sendo enganada
e, também, assinou um acordo de casamento. Agora ela é
casada com Leonardo Vesentini, que, anteriormente, era
apenas o seu namorado.
Mesmo sabendo que foi enganada, Giulia o perdoa e
decide continuar com o casamento. Mas, o que antes era
um casamento feliz, se transformou em caos e sofrimento.
Leonardo Vesentini queria Giulia ao seu lado, graças a
isso, ele fez coisas das quais não se orgulha nem um
pouco. Agora, depois de anos, Leonardo ainda sonha com
o perdão da sua mulher.
Leonardo sumiu por um motivo e achava que já tinha sido
resolvido. O que ele não esperava era que, depois de
anos, o passado voltaria a sua vida. Voltaria disposto a
acabar com toda a sua família.
Prólogo
Giulia
13 anos após os fatos ocorridos em Atraída por
um mafioso

Meu pai, Fernando Bertollini, simplesmente me


vendeu, ou melhor, me deu para esse canalha. Agora
entendo o motivo dele não me querer com nenhum cara,
ele já tinha tudo planejado.
Olho para Leonardo, que está a minha frente. Ele
acabou de dizer que estamos casados, que assinei o
contrato de casamento e que só falta a aliança.
Sinto enjoo por isso, talvez nem tanto pela
gravidez, e sim por ter nojo de mim mesma. Nojo de saber
que ainda amo o cara que me enganou. Não apenas ele,
mas o meu pai e meu irmão.
— Eu não lembro em ter assinado o contrato. —
controlo minhas lágrimas, não preciso chorar agora,
preciso ser forte.
— O contrato é verdadeiro. — Leonardo levanta
os papéis em suas mãos. — Você assinou todos eles.
Lembro-me de ter assinado esses papéis. Estava
no hospital e Daniel me entregou, ele disse que eram
coisas da escola de dança da minha mãe e burocracias do
banco, que meu pai havia feito uma poupança para meu
filho... Eu deveria saber que meu pai não faria algo assim,
sendo que eu ainda nem estou grávida de quatro meses.
— Eu fui enganada! — levo as mãos para o meu
rosto. — Eu fui enganada! — sussurro para mim mesma.
Sento no chão, encolhendo-me.
Eu nunca me apaixonei, nem ao menos pensava
nessa possibilidade, ainda mais com Leonardo. Daniel
sempre foi um empecilho na hora que um cara se
aproximava de mim. Na época em que estudávamos
próximos, meu irmão sempre aparecia para deixar claro
que nenhum cara poderia se aproximar de mim. Eu,
realmente, ficava irritada com aquilo, mas nunca levei a
sério, sendo sincera, eu não queria nenhum daqueles
meninos.
Mas Leonardo era diferente. Passamos a nossa
infância nos odiando e jurando espancamentos um ao
outro. Com o tempo Leonardo cresceu, só foi mudar o seu
jeito de ser há pouco tempo. Ele apareceu diferente, de
início eu não era tão receptiva com a sua simpatia, mas,
com o tempo, eu acreditei que ele havia mudado.
Deveria ter desconfiado quando Daniel soube da
minha aproximação com Leonardo, meu irmão que sempre
foi ''briguento'', acabou aceitando bem o meu
relacionamento com Leonardo.
Talvez tudo tenha sido um plano para me juntar.
Para que a família Bertollini e Vesentini, ficassem ligadas
para sempre.
Mesmo sem casamento, nossas famílias já estão
ligadas, eu estou grávida de Leonardo.
— Giulia. — sinto o toque de Leonardo em meu
rosto. Dou um tapa em sua mão, mas ele não se afasta. —
Por favor, escute-me.
— Escutar? Você escutou alguma resposta minha?
Você perguntou se eu queria me casar com você?
Levanto do chão, mas fico um pouco tonta.
Leonardo segura a minha mão, mas eu me afasto dele.
— Você, meu pai e Daniel. Todos vocês armaram
contra mim!
— Eu te amo, Giulia! — ele grita, talvez ache que
eu vá mudar de opinião. —Nós teremos um filho, nos
casaremos de qualquer maneira...
— Não! Teria que ter o pedido primeiro...
— Giulia, eu te amo! Ok? Eu te amo! — ele grita.
— Eu...
— Você quer a Nostra Ancoma...
— Não, eu não quero! — ele grita essas palavras
na minha cara. — Eu não quero a Nostra Ancoma, ela já é
de Daniel que é mil vezes melhor que eu.
— Então, por que me fez assinar o contrato? Já
que não é pela Nostra Ancoma?—encaro-o.
— É porque eu te amo. — ele abaixa o tom de
voz, mas continua olhando para mim, como se quisesse me
convencer com suas palavras.
— E meu pai e Daniel, por que me enganaram? Se
você me ama, não vejo motivos para eles terem me
enganado.
— Você conhece seu pai, ele sempre tem que fazer
algo para conseguir o que quer e Daniel faz o que o pai
manda.
— Todos você me enganaram. — viro de costas
para Leonardo.
— Giulia, eu te amo, acredite em mim! — toca o
meu ombro, mas saio de perto do seu toque.
— Já que sou obrigada a ficar com você. — olho
em seus olhos, já que Leonardo correu e ficou em minha
frente. — Você terá todos esses anos para provar o seu
amor por mim. — rio com deboche.
— Você vai aprontar algo, fugir de mim?
— Não, não vou fugir. Eu apenas não quero olhar
para as pessoas que me enganaram. — empurro Leonardo
para o lado. — Eu preciso sair daqui.
— Para onde vai? Estamos em sua casa.
— Meu pai e Daniel não estão aqui e nem quero
olhar para eles quando chegarem. Eu estou indo por aí.
Pensarei um pouco sobre como a minha vida mudou há
alguns segundos.
Capítulo 1
Giulia
Quase quatro anos depois...

— Felipe! Felipe! Felipe! — grito. — Felipe!


Onde esse garoto está?
Ando até a sala de jogos e não o encontro. Subo as
escadas, indo até o seu quarto, mas ele também não está
aqui. Vejo o seu guarda-roupa e penso na hipótese dele
estar escondido ali dentro, já que ele ama brincar de se
esconder. Aproximo-me e abro a porta, ele não está aqui.
— Ele não pode ter saído, os seguranças do portão
não deixariam que isso acontecesse e eles me visariam se
vissem Felipe fora de casa. — penso alto.
Meu coração já está muito acelerado e sinto
pânico pelo o que está acontecendo. Ando até o meu
quarto e não o encontro.
Depois de vasculhar todo o andar de cima e não
encontra-lo, desço as escadas e verifico novamente,
sempre gritando pelo seu nome. Não obtive nenhum
sucesso. Ando até a área da piscina e fico aliviada em ver
que ela está coberta.
Pelo menos, uma vez na vida, Leonardo me
escutou.
— Felipe! — grito novamente.
Deus, onde esse menino foi parar?
Lembro-me da parte da garagem. Parece até uma
burrice, mas, dificilmente, eu vou até essa parte. Ali é a
área de Leonardo, onde ele guarda as suas motos e seus
carros.
Mas não é possível que eles estejam ali. Estou
gritando como uma louca e eles me escutariam.
Ando até a garagem e não vejo nada de mais. A
quadra de basquete, que fica ali próximo, está vazia
também. Quando me viro para sair e ligar para alguém me
ajudar, começo a escutar risos.
Ando em direção ao som e ele fica mais alto
quando me aproximo do último carro.
O vidro escuro me impede de ver o que tem
dentro, mas sei que tem duas pessoas se divertindo muito.
Abro a porta e escuto o grito de surpresa de
Leonardo e Felipe.
— Estou que nem louca atrás do Felipe e os dois
estão escondidos no carro? — esbravejo.
— Não estamos escondidos. — Leonardo diz, me
olhando como se eu fosse uma louca. — Estou mostrando
o carro para o Felipe.
— Mostrando o carro? — cruzo os braços e minha
fúria aumenta quando percebo que Leonardo está escondo
o rosto de Felipe. — Felipe, vire-se para mim.
— Ele está assustado por causa dos seus gritos!
— Assustado? Estou sentindo o cheiro de
chocolate. Felipe, vire-se para mim, estou mandando!
Escuto o suspiro de Leonardo e ele vira Felipe
para mim. Noto a sua boca suja de chocolate.
— Leonardo, eu não acredito nisso.
Viro-me e saio da garagem, caminhando de volta
para dentro de casa.
Eu sempre quis ser mãe. Nunca fui daquele tipo
que pensa que criança é um brinquedo, muito pelo
contrário, sei que ser mãe requer responsabilidade.
Cuidei das crianças do orfanato e sou ciente da
importância do amor e da educação. Eu tento educar o
Felipe e dar amor ao mesmo tempo, no entanto, eu sei que
ele prefere o pai.
Leonardo é aquele tipo de cara que parece que não
cresceu. Felizmente a sua imbecilidade não existe mais,
mas as suas brincadeiras e despreocupação com o mundo
ainda existe.
Enquanto eu tento colocar ordem na casa e educar
o Felipe, Leonardo vai lá e faz tudo ao contrário.
Se eu mando Felipe treinar um pouco a leitura e a
escrita, Leonardo vai lá e começa a brincar. Se eu mando
Felipe ser mais organizado e peço para que ele pare de
espalhar brinquedo pela casa, Leonardo vai lá e diz ''é
coisa de criança, eles precisam bagunçar um pouco''. Se
eu peço para que Felipe coma verduras, Leonardo vai lá e
entrega doces.
Claro que eu pareço à megera da história.
Leonardo tem autoridade na casa, apesar de
sempre ir contra as minhas ordens. Lembro uma vez que
Felipe fez menção de fazer birra porque queria um
carrinho, mas Leonardo sabia que se desse, Felipe faria
birra para conseguir tudo. Foi à única vez que vi
Leonardo reclamar com o filho. E, para a minha surpresa,
Felipe entendeu o recado e nunca mais fez nada do tipo.
E é isso o que me irrita!
É claro que é lindo ver o amor que existe entre os
dois, mas, droga! Eu só queria que a minha palavra fosse
levada a sério uma vez na vida. Eu sei que Felipe me vê
como uma mãe chata que vive reclamando, mas temos que
impor certos limites.
— Qual o problema? — Leonardo segura o meu
braço.
— Você está falando sério? — saio do seu aperto.
— Estou cansada de ver as minhas ordens sendo
descumpridas por sua causa. Você estava naquele carro
dando chocolate ao Felipe. Se fosse só isso, tudo bem,
mas sabemos que você fez isso porque ele não quer
almoçar.
— Você é uma pessoa muito estressada, tem que se
acalmar um pouco. Felipe ainda vai fazer quatro anos, ele
é apenas uma criança.
— Eu aprendi a andar e a falar antes de ter um
ano. Com dois anos eu sabia muita coisa, tudo porque meu
pai me ensinou desde cedo. Aqui estou eu, viva! Vivendo
em um casamento infeliz e tendo um idiota como marido,
mas ok.
— Vou ignorar a última parte porque sei que tudo
isso é uma birra que você não quer deixar para trás. Mas
você precisa parar de pensar e ficar tão estressada.
— Não é estresse por coisa pouca, seria tudo
normal se você não colocasse Felipe contra mim!
— Eu não coloco o nosso filho contra você! —
grita. — Me acuse de tudo, menos disso.
— Como não? Felipe sabe que é só ir até você que
ele será protegido.
— Não é ser protegido, é apenas... Esquece.
— Fale o que você ia falar.
— Divirta-se, Giulia. Você precisa sair mais, pare
de se preocupar com a casa e com o Felipe. Ele é uma
criança saudável, inteligente e educado. Você está fazendo
um bom papel sendo mãe, assim como as nossas mães
fizeram.
— Eu estava louca atrás de Felipe e ele estava
comendo chocolate escondido. Ele estava quebrando as
regras com a sua ajuda. Ele estava mentindo para a
própria mãe.
— Giulia...
— Olhe, eu não gosto de você, ok? Felipe foi algo
que simplesmente aconteceu. — tento não chorar, mas sei
que estou falhando. — Eu passei nove meses grávida,
estava depressiva e ainda fiquei no hospital por um bom
tempo. Aí meu filho cresce e ele ama mais o pai? É lindo
ver vocês juntos, mas... Mas ele te ama mais porque eu
sou a mãe chata e implicante. Eu tento mudar, mas eu sei
que preciso educar e você não me ajuda em nada.
— Você nunca falou sobre isso. Se você tivesse
falado isso antes...
— O que adiantaria?
— Quando vai entender que eu realmente te amo?
Quando vai entender que eu faço de tudo por você? Nunca
temos um diálogo! Ok, eu posso ter induzido o Felipe a
quebrar regras, mas é que ele é uma criança e eu sou
idiota, como você sabe. Mas se tivesse conversado
comigo...
— Eu tentei conversar com você há três anos e
tudo o que ganhei foi um filho, uma casa e um casamento
infeliz.
Viro-me e corro para o meu quarto, trancando a
porta atrás de mim. Deito-me na cama e deixo as lágrimas
caírem livremente.

(...)

Sinto alguém andando pela cama e depois sinto


mãos em meus cabelos.
— Leonardo, pare com isso! — grito.
— Mãe, sou eu.
— Oh, desculpe. Pensei que fosse o seu pai.
Acendo a luz e viro-me para o meu filho. Ele está
com um semblante de tristeza e isso me preocupa.
— Ei, por que está triste? — pergunto.
— Porque você brigou com meu pai porque comi
chocolate escondido.
— O que os dois estavam fazendo foi algo muito
feio.
— Desculpa. — abaixa a cabeça.
— Promete que não vai fazer mais isso?
— Prometo. — sorri. — Meu pai saiu e me pediu
para cuidar de você.
— Cuidar de mim? — reviro os olhos. — Seu pai
está louco, eu que devo cuidar de você.
— Ele disse que é para eu cuidar da garota que ele
mais ama no mundo.
— Seu pai está jogando baixo te mandando aqui
para dizer isso. — tento não sorrir.
— Mãe, por que você e o meu pai vivem
brigando?
Olho para o meu filho e sei que, um dia, a minha
mentira vai ser descoberta e ele saberá por que estou
casada com o seu pai.
— Por que estou cansada, apenas isso.
— Meu pai te ama muito, muito mesmo. — abre os
braços como se estivesse medindo o ''amor'' do seu pai
por mim.
— Ele te ensinou bem. — aperto o seu nariz e ele
ri com o que cabei de fazer.
— Eu também te amo muito. — se joga em cima
de mim e me aperta.
— Ele te obrigou a isso? — abraço-o apertado.
Balança a cabeça negando.
— A única coisa que ele pediu foi para vir até
aqui, ficar quieto, obedecer e ficar falando que ele te ama
muito, muito, muito...
Felipe começa a repetir as palavras sem parar.
Acho que se eu e Leonardo tivéssemos tido um
relacionamento normal, nada disso estaria acontecendo...
Eu apenas não consigo me abrir com Leonardo depois do
que aconteceu naquele dia... Quer dizer, eu sei que em
alguns momentos eu gosto dele, mas o passado sempre
estará aqui para lembrar quem ele é de verdade.
Capítulo 2
Giulia

— Não sei o motivo de estar aqui. — murmuro


com irritação, não é como se eu gostasse de Leonardo.
— Porque Leonardo estava na Itália e agora
voltou. — minha mãe responde o óbvio.
— Eu sei, mas eu não gosto nem um pouco de
Leonardo. Não vejo motivos de estar aqui, na sua festa
de boas vindas.
— Giulia, Leonardo passou três anos longe
daqui, ele deve ter mudado. E, vamos combinar, ele já
saiu daqui diferente.
— Sim, saiu mais idiota que antes.
Minha mãe revira os olhos e se afasta, andando
na direção da minha tia, Isabella, a mãe ''adotiva'' de
Leonardo.
Eu e Leonardo nunca nos demos bem. Não lembro
claramente o que aconteceu, mas Nancy, a antiga
governanta da casa, me contou. Quando eu era uma
criança, quis brincar com Leonardo, mas ele disse que
garotos não brincam com garotas e eu deveria sair.
Nancy falou que eu fiquei muito irritada, fui até a caixa
de areia, enchi meu balde de brinquedo com ela e joguei
em Leonardo. Ao que tudo indica, todos ficaram
surpresos com a minha reação, já que eu sempre fui
calma.
A partir daquele dia, o ódio cresceu.
Leonardo vivia implicando com o meu peso e,
segundo ele, sou esquisita demais.
Ele foi embora da cidade há dois anos. Foi
completar os estudos na Itália, morando com os avós
paternos. Leonardo sempre foi uma pessoa irritada e
vivia entrando em confusões. Lembro que o tio Marco,
que é o pai de Leonardo, deu um ultimato a ele. Se não
parar de entrar em confusão, vai morar com seus avós.
Óbvio que Leonardo não cumpriria o trato.
Agora, dois anos depois, Leonardo está voltando.
Leonardo está com dezessete anos e eu vou fazer
quinze. Queria que ele tivesse amadurecido por causa da
idade, mas, pelo o que Marco falou, nada disso está
acontecendo. Leonardo vai para festas, bebe e fuma,
coisa que Marco não gostou nada de saber.
Não sei ao certo, mas acho que Leonardo voltou
por causa da Nostra Ancoma. Essa é uma máfia que,
infelizmente ou felizmente, o meu pai é o ''poderoso
chefão''. Creio que Leonardo voltou para participar dos
negócios e para ver se toma juízo de alguma maneira.
Sento na cadeira que está afastada de todas as
pessoas que esperam por Leonardo. Aqui temos os seus
familiares, os meus pais e irmãos, e os amigos de
Leonardo, que, por sinal, eu os odeio, já que são como o
anfitrião da festa.
— Uau, não imaginei que Leonardo fosse tão
querido. — Jasmine senta ao meu lado.
— Nem eu imaginei que o mundo tivesse tantos
idiotas.
— Eles nem devem lembrar a sua existência, já
saíram do colégio há um tempo.
Quando Leonardo me irritava, essas pessoas
estavam lá, ao seu lado e rindo de mim. Eles nem se
importavam sobre o meu pai ser um mafioso. Na
verdade, meu pai sempre achou que fosse uma birra
infantil.
— Não sei por que estou aqui, já que eu odeio
esse cara.
— Giulia, ele pode ter mudado. — Jasmine dá de
ombros. — Pode ter tomado juízo.
— Ou pode ter ficado pior, acredito mais nessa
hipótese.
— Isso é o que saberemos agora.
Jasmine faz sinal para que eu olhe para frente.
Quando faço isso, vejo Leonardo caminhando pelo
enorme jardim e abraçando os seus pais e a sua irmã
mais nova, Katherine.
Olho um pouco para Leonardo e reparo o quanto
ele mudou. Quando saiu daqui ele era um garoto magro,
alto demais para a idade, com o rosto livre de pelos e o
cabelo que sempre andava bagunçado. Agora, ele está
forte — o que me faz pensar que está fazendo
musculação —, noto que ele deve ter deixado a barba
crescer um pouco e o cabelo está mais curto e arrumado.
— Ele vai estar mais metido que o normal.
— Por quê? — Jasmine olha para mim com um
sorriso. — Por que ele está mais bonito que antes?
— Ele já era metido quando era um magricelo,
agora ele vai se achar melhor que todos. E, para piorar,
eu não mudei nada, continuo fora do peso.
— Ele tem dezessete anos, está na hora de parar
com o Bullying.
— Jasmine, estamos falando de Leonardo
Vesentini, ele nunca vai parar de ser idiota.
— Então é bom preparar as armas, porque
Leonardo está vindo para cá.
Viro rapidamente a minha cabeça e vejo
Leonardo andando na nossa direção. Ele está sorrindo e
me preparo mentalmente para a batalha verbal que está
prestes a acontecer.
— Jasmine. — ela levanta da cadeira e abraça
Leonardo, os dois sempre se deram bem, o que sempre
me irritou. — Giulia.
Leonardo estende a mão para mim e eu fico o
encarando.
— Tudo bem com você? — pergunta.
— Isso importa? — não o cumprimento de volta.
— Ok. Dois anos se passaram, não quero brigas.
Eu voltei disposto a uma trégua.
— Por quê?
— Porque está na hora de crescermos. Trégua,
apenas isso.
Leonardo estende a mão para mim novamente.
— O que está aprontando? — arqueio a
sobrancelha. Leonardo nunca pediria trégua a troco de
nada. — Ah, já sei! Tem algo a ver com a Nostra
Ancoma? Quer puxar o saco do meu pai e mostrar que
eu e você não temos mais nenhuma desavença?
— Não, quero apenas a trégua.
— Sem piadas sobre o meu peso?
— Não tem nada de errado com o seu peso. Eu
cresci, entenda isso.
O que eu vou perder com isso? Mesmo que seja
tudo mentira, é apenas evitar Leonardo e pronto.
— Ok. — aperto a sua mão. — Trégua aceita.

— Não aguento mais ser tratada como... Sei lá.


Mas sinto que não posso colocar ordem na minha própria
casa e nem com o meu filho.
— Faz o seguinte, chame Felipe até aqui e peça
para que ele compre pipoca. — Jasmine diz e eu a
observo sem entender o motivo disso. — Ele está
brincando, se você não tiver autoridade sobre ele, ele vai
até fingir que você não existe.
Olho para o meu filho, que está brincando no
parque com as outras crianças. Chamo pelo seu nome e
peço para que ele venha até aqui. Resmunga uma vez e diz
que daqui a pouco vem, mas, na segunda chamada, ele já
está parado na minha frente.
— Você tem autoridade sobre ele. — Jasmine diz,
depois que Felipe foi comprar a pipoca. — Então pare de
se preocupar com isso.
— Não é apenas isso, o problema é Leonardo que
nunca me deixa educar o Felipe. Ele sempre vai contra
tudo e...
— E conversa resolveria tudo. — Jasmine me
interrompe. — Se você mantivesse um diálogo com
Leonardo, metade dos seus problemas estariam
resolvidos. A começar por esse problema aqui. — aponta
para o meu peito. — Sabemos que está sofrendo por
Leonardo. Quando conversa comigo sobre ele, você
sempre reclama sobre o passado e sobre a sua falta de
organização em casa, mas sempre o elogia como um pai.
O jeito que você fala dele... — dá de ombros. —
Converse com ele.
— Sabe o que é engraçado? Você fala isso
comigo, mas não conversa com meu irmão. Diálogo entre
vocês dois também resolveria tudo.
Felipe volta com as nossas pipocas e depois volta
a brincar.
— No meu caso, diálogo não resolverá em nada.
— Jasmine volta a falar. — O que adiantaria? Daniel não
gosta de mim e isso não mudará, conversar só vai me
fazer ficar humilhada e envergonhada. Seu irmão ama
Nicole. Agora, não mude de assunto, estamos falando de
você e Leo.
— Não quero conversar com ele. Eu apenas... É
difícil. Você sabe tudo o que passei. Jasmine, se não fosse
por você e Leila eu não estaria aqui, Felipe nem existiria.
Onde Leonardo estava quando precisei dele? Sabemos
muito bem a resposta para isso. — as lágrimas começam a
descer e eu não preocupo em enxuga-las.
— Sabe que eu não consigo acreditar naquela
história. Leonardo estava sendo tão legal e continua
sendo. Ele não teria motivos para continuar sendo legal se
ele já conseguiu o casamento. Giulia, eu vi o sofrimento
de Leonardo quando você estava em coma e a beira da
morte. Ele nem teve coragem de chegar perto de Felipe
porque ele estava culpando o próprio filho pelo seu
sofrimento. Ele teve inúmeras conversas com Isabella e
com Marco, porque eles estavam tentando ajudar
Leonardo, que não conseguia chegar perto do próprio
filho.
— Ele demorou dois dias para chegar ao hospital!
— as minhas lágrimas descem incontrolavelmente. —
Dois dias para chegar ao hospital? Ele sabia sobre a
gravidez de risco e ele simplesmente sumiu.
— Você não conversou com ele sobre nada disso.
— Nem ele falou comigo sobre tal coisa. Jasmine,
você também não me contaria nada...
— Porque eu vi que Leo estava sofrendo, ele pode
ter sumido...
— Por causa da Nostra Ancoma. Jasmine, Leo não
me abandonou uma vez, você sabe o que ele fez
anteriormente comigo. Eu só soube que ele apareceu dois
dias depois no hospital, porque escutei uma conversa dele
com o meu pai. Ninguém nunca mencionou nada comigo.
Porque todos só se importam com essa máfia!
— Giulia...
— Não dá, ok? Leo já me fez tanto mal que eu não
consigo pensar em perdoa-lo. Eu posso até gostar de
quando o vejo com Felipe, mas eu não consigo parar de
lembrar que ele nunca esteve ao meu lado de verdade. —
enxugo as minhas lágrimas com força. — Isso não se trata
de amor ou algo do tipo, isso é apenas sobre a Nostra
Ancoma e nada mais. Jasmine, nem pense em defendê-lo,
eu sou a prova viva que Leonardo não se importa comigo.
Na verdade, se eu fosse depender de Leonardo, nem viva
eu estaria.
Capítulo 3
Leonardo

— Giulia está diferente, está mais bonita.


Daniel olha para mim como se eu fosse um louco.
— Você está bem? — pergunta. — Você nunca
elogiou a minha irmã.
— Porque ela era uma criança irritante.
— Você a irritava.
Ignoro as palavras de Daniel e volto a minha
atenção para Giulia.
Giulia... Quem diria que eu voltaria para esse
lugar destinado a ter algo com ela? Depois de todas as
fotos que eu vi dela, a minha vontade e curiosidade de
voltar aumentou.
As fotos de festas de família e da escola me
fizeram ficar curioso sobre ''a nova Giulia''. Daniel
também conversava comigo. Ele falou sobre ela estar
fazendo aulas de danças e que, futuramente, ela
pretende ensinar. Não é como se eu gostasse da última
informação.
Meu pai me mandou voltar porque está na hora
de me tornar um homem e assumir os negócios. Não
apenas na Nostra Ancoma, mas, também, em sua
construtora. Já que eu não quero ir para a faculdade,
terei que aprender com o dono daquilo tudo, o meu pai.
— Pare de olhar para a irmã como se fosse
comê-la!
— Eu poderia estar olhando para Jasmine, já
que ela está do lado da sua irmã.
— Não olhe para nenhuma das duas.
Rio com seu ciúme repentino. Não é como se ele
gostasse de Jasmine.
— Acha que Giulia vai me perdoar?
— Pelos anos de irritação? Acho que sim. Giulia
é boazinha e a favor do perdão, ela vai te perdoar. Mas,
por que quer isso?
Daniel me encara como se fosse me matar, eu
apenas sorrio para ele.
— Porque eu quero me redimir dos meus
pecados. — Daniel balança a cabeça, claramente não
acredita em mim. — Agora, eu preciso ir ali.
— Tem pessoas querendo te ver.
— Não é como se eu gostasse dessas pessoas. O
tempo do colégio já passou e você sabe que é o único
amigo que tenho. Agora, preciso ir ali.
— Isabella não vai gostar nada disso.
Daniel olha para a minha mão, onde eu seguro
um isqueiro.
— Ela não precisa saber disso.
Saio da área da garagem e ando até a área
arborizada. Fumar lá dentro, com certeza, me traria
problemas. Mas isso será resolvido, já comprei um lugar
só para mim.
Fumar foi algo que me trouxe alívio quando eu
era estressado pelos meus avós. Parece estranho, mas eu
prefiro os pais de Isabella — que não são meus parentes
de sangue — do que os do meu pai. A cada dia era uma
irritação diferente.
Eu sei que meu pai me mandou para aquele lugar
como um castigo. Poderia sair, mas não faria aquilo.
Caso fizesse, adeus Nostra Ancoma. Passei anos da
minha vida sonhando com o grande dia, o dia em que eu
conseguiria ser, pelo menos, o braço direito de Daniel.
Não me importo em dividir, Daniel é o irmão que nunca
tive... Mas jamais vou considerar Giulia como uma irmã.
Irmãos não podem se relacionar da maneira que eu
quero fazer com ela.
— Seu pulmão vai apodrecer e você vai morrer!
Assusto-me com essas palavras. Viro-me e dou de
cara com Kat, minha irmã mais nova.
— Que susto! — resmungo e apago meu cigarro.
— Você disse que tinha parado de fumar. —
cruza os braços. — Você é um mentiroso.
— E você é uma boa irmã que ficará quietinha
sobre isso, estou certo?
— Talvez. — dá de ombros.
— O que quer em troca?
— Eu? Nada! Só queria sair dali. — aponta para
onde Gabriel está sentado com uns amigos.
— Gabriel te fez algo? Não me importo de quem
ele é filho, eu vou lá e bato nele.
— Eu sei que não se importa com Fernando,
afinal, você sempre foi mau com Giulia.
— Mau?
— Sim. Giulia é muito legal e você sempre foi
idiota com ela. Você é corajoso, ninguém chama a filha
de um mafioso de gorda e sai vivo.
— Mas Giulia era gorda.
— Você é um idiota... Espera um pouco, você
disse que Giulia era gorda? No passado?
— Ela continua sendo, mas eu a vejo com outros
olhos.
— Com os olhos do amor? — Kat me olha como
quem dissesse ''hum... Eu sei o que está pensando''. —
Você ama Giulia! Eu sabia que isso aconteceria! Meu
Deus! Vocês vão se casar!
— Garota, do que está falando? Eu só falei que
eu a vejo com outros olhos.
— Promete que vai guardar segredo? —
confirmo. — Dedinho.
Reviro os olhos e fazemos o ''juramento do
dedinho''.
— Foi assim. — senta ao meu lado. — Eu deveria
estar dormindo, mas estava com fome e decidi descer
para procurar algo para comer. Estava na casa do vô
Sergio. Ele, meu pai, Fernando e o nosso vô, estavam no
escritório conversando. Eu escutei o nome ''Giulia'' e o
seu. Sou curiosa e me aproximei para escutar. Eles
falaram sobre um possível casamento entre você e
Giulia. Fernando não concordou e notei que a conversa
passou de amigável para um acordo.
— E... — peço para que ela continue.
— Não sei. Eles mudaram de assunto e
começaram a falar sobre um tal de Jason. Não me
interessava e voltei para a cozinha.
— Casamento entre mim e Giulia? — olho na
direção em que a minha possível ''noiva'' está sentada.
— Obrigado pela notícia.
— Gostou? Eu sabia que estava gostando dela.
Você me fazia muitas perguntas sobre ela.
— Agora só falta saber se ela tem algum
interesse por mim.

— Onde está Tyler? — pergunto a Daniel.


— Já não sabe? Atrás de algo que não faço a
menor ideia do que seja. — responde claramente exausto
sobre essa conversa. — Eu odeio ter que esperar por
esses documentos.
— Você poderia fazer...
— Não, precisamos de Tyler para isso. O
casamento foi adiado, sendo que deveria ter acontecido há
uns quatro anos.
— Tyler sumiu há tanto tempo? A mãe de Jasmine
não sabe sobre o paradeiro do marido?
— Se sabe não conta. O pior é que Jasmine está
preocupada sobre isso. Tyler não é a melhor pessoa do
mundo, a família dele o ama mesmo assim. — dá de
ombros. — E Giulia, como está?
— Mesma coisa de sempre. Uma mãe preocupada
e acha que eu estou desviando o garoto do bom caminho.
— Conversaram?
— Sua irmã só faz gritar e reclamar. Eu a amo,
porque se não fosse por isso, eu nem estaria mais ao lado
dela.
— Você estava ao lado dela quando mais precisou.
— Não me lembre daquele dia. Foi o pior dia da
minha vida. — fecho os olhos.
Levanto da minha cadeira e caminho para fora da
sala junto com Daniel. Afrouxo o nó da gravata e tiro o
paletó.
— Sabe algo sobre Gabriel? — pergunto a Daniel.
— Não aguento mais olhar para a cara de tristeza de Kat.
— Gabriel está por aí, curtindo a vida. Kat se
apaixonou pelo cara errado.
— A coitada tinha esperança de ter um contrato de
casamento, mas não acontecerá.
Eu também pensei que Fernando fosse fazer um
contrato de casamento, mas ele nunca quis obrigar a filha
a casar, já bastava Daniel...
Entramos no elevador, que vai nos levar até a
garagem.
— Talvez seja bom assim. Olhe para nós dois.
Casamento arranjado e temos problemas com as nossas
''parceiras''.
— O meu casamento com Giulia nem foi
arranjado.
— Realmente, foi obrigado, já que você a
engravidou. — Daniel me olha com raiva. Eu sei que ele
ainda tem essa história entalada na garganta.
— Eu sou um bom marido, a sua irmã que se faz
de difícil.
Saímos do elevador e caminhamos até os carros.
— Faça a minha irmã feliz. — Daniel abre a porta
do seu carro.
— E você. — grito. — Decida logo entre Nicole e
Jasmine. Mas saiba, todos torcem e preferem Jasmine.

(...)

Entro em casa e sou recebido pelos risos de Giulia


e Felipe. Caminho até o som e encontro os dois assistindo
TV.
Olho para as duas pessoas que mais amo e sorrio.
Isso logo termina quando penso na merda que fiz para
obter essa família. Giulia já não gosta de mim, se ela
soubesse tudo o que fiz... Talvez ela nunca descubra, caso
isso aconteça, eu quero que, pelo menos, ela saiba que eu
a amo verdadeiramente. Eu só cometi o erro para tê-la ao
meu lado.
— Pai! — Felipe grita e Giulia me olha sem
demonstrar nenhuma reação. — Vem assistir TV!
Coloco toda a papelada que trouxe do trabalho em
cima da mesa e caminho na direção dos dois.
Felipe tem a cabeça no colo de Giulia e ela está
praticamente deitada no sofá.
O filme que está passando é um desenho que
envolve animais falantes. Percebo que, a todo momento,
Giulia e Felipe dão risadas. Ela sempre foi uma grande fã
de desenhos. No passado, eu nunca imaginei que me
apaixonaria por ela e, muito menos, que teríamos um filho
juntos.
— Como foi o dia? — pergunto quando começam
os comerciais. Felipe foi até a cozinha pedir um copo de
água para a Tiffany, a empregada da casa.
— Foi bem. Saímos com Jasmine.
— Felipe deu o recado?
Percebo as suas bochechas corando. É por essas
reações que eu não desisto desse casamento. Percebo as
reações da minha mulher e sei que se eu tentar mais, ela
vai ceder.
— Será que fica melhor se eu te falar
pessoalmente? — inclino o meu corpo em direção ao seu
e dou um beijo em seu ombro. — Eu te amo.
— Leonardo...
— Apenas uma chance. — continuo beijando o seu
ombro. — Uma chance para te mostrar que sou o mesmo
de anos atrás. Eu não mudei em nada.
Com essas palavras, Giulia levanta rapidamente
do sofá.
— O passado foi uma grande mentira. — ela diz.
— Não foi. Parece que foi, mas...
— Não quero falar disso agora, ok?
Conversaremos sobre isso depois.
— Sempre essa história de ''depois'', por que não
''agora''?
— Porque dói, dói muito relembrar sobre tudo.
— Mas eu estou dizendo que nada daquilo foi
mentira. Eu te amo e...
— É exatamente por isso, você fala que foi
verdadeiro, mas eu tenho certeza que foi mentira. Depois
conversaremos sobre isso.
Ela vai até a cozinha.
O que mais eu tenho que fazer para mostrar que
a amo de verdade?
Capítulo 4
Giulia

Abro os meus olhos e encontro Leonardo


dormindo ao meu lado. Ou melhor, o seu braço está sobre
o meu corpo, como um abraço. Adoraria ter tido a força
de vontade de tira-lo do meu quarto aos chutes, mas, mais
uma vez, eu apenas deixei que ele ficasse aqui.
Isso sempre acontece. No meio da noite, Leonardo
sai do seu quarto e vem até o meu. Eu até dormia com a
porta trancada no início, porém, uma vez, Felipe não
estava passando nada bem e veio até aqui, ele bateu na
porta, mas como tenho um sono pesado, eu não o escutei.
Ele foi até o seu pai e decidi que deveria dormir com a
porta destrancada.
Depois que Leonardo soube dessa novidade, ele
sempre vem fazer essas visitas noturnas.
Olho para Leonardo, que está dormindo
pacificamente ao meu lado. Gostaria de sentir o mesmo
nojo que antes. Hoje em dia eu acho que sinto mais
remorso, mas não a raiva de antes. Acho que a
convivência me fez o conhecer melhor, então vem o
passado...
A única pessoa que sabe sobre isso é Jasmine e
Leila, afinal, elas foram as únicas que estavam ao meu
lado. Não culpo as outras pessoas... Quer dizer, eu culpo
o meu pai por isso.
Minha mãe, Sara, sempre ficou ao meu lado, mas
eu não queria. Eu não queria aproximação com ninguém.
Jasmine e Leila só sonseguiram se aproximar porque no
dia que elas me procuraram, eu estava fraca demais para
lutar.
Se hoje eu estou viva, é graças a elas, se fosse
depender de Leonardo...
E quando lembro isso, pego o braço de Leonardo e
começo a tira-lo de mim.
— Qual o seu problema? Até a alguns segundos
atrás, você não estava se importando com isso. —
Leonardo diz e percebo que a sua voz não está sonolenta,
ele já estava acordado.
— Estava pensando se deveria te acordar, mas já
chega dessa aproximação. — aperto o seu braço e sei que
a minha unha pode rasgar a sua pele, mas isso não importa
para ele.
— Pare de ser tão... Tão...
— Fale, Leonardo! — rosno e continuo na minha
tentativa estúpida de me livrar dele.
Com uma rapidez que me causou surpresa,
Leonardo já está sobre o meu corpo. Ele consegue pegar
os meus dois braços e faz com que eles fiquem sobre a
minha cabeça. Sendo assim, estou presa a ele. Quando
penso que posso mover as minhas pernas, ele vai lá e fica
no meio, o alvo que eu tinha no meio das suas pernas não
existe mais.
— Vamos parar de brigas! — Leonardo grunhe, o
que me faz sentir mais impotente em relação a ele. —
Você gosta quando durmo aqui, você gosta quando te
abraço e quando digo que te amo. Não finja, eu sei que
quando entro aqui no quarto, você está acordada e, mesmo
assim, não briga, muito pelo contrário.
— Eu não...
— Não minta para mim. Eu te conheço muito bem.
Leonardo aproxima o rosto do meu, mas sou mais
rápida que ele. Desvio o meu rosto. Escuto o seu rosnado
e, logo após, ele morde o lóbulo da minha orelha, o que
me faz senti arrepios pelo corpo.
— Eu não desistirei. — ele me solta e sai de cima
do meu corpo.
Levanto da cama e respiro fundo. Quando olho
para frente, vejo Leonardo retirando a calça.
— O que pensa que está fazendo? — pergunto,
tentando soar com firmeza, mas sei que falhei.
— Tirando a roupa para tomar banho? — fala
como se eu fosse uma tonta.
— Você tem seu próprio banheiro, quarto e...
— E eu quero estar aqui, com você. Pare de ser
assim, aceite que eu te amo.
— E devo aceitar e esquecer que fui enganada?
Que assinei aquela droga de contrato sem saber? Que
estou presa nesse casamento até que Felipe faça vinte e
um anos?
Leonardo se aproxima de mim. Segura o meu
queixo e faz com que eu olhe para ele.
— Você não reagiu dessa maneira quando
descobriu o casamento, porque isso agora?
Engulo em seco com essa pergunta.
Primeiramente eu soube da gravidez. Fiquei
assustada, mas isso durou pouco tempo. Depois... Bem,
depois veio à armação. Eu era tola e pensei ''eu amo
Leonardo e eu sei que ele sente o mesmo por mim''. Logo
após veio à verdade que só me fez odiar Leonardo.
— Porque eu era uma tola apaixonada. — dou um
tapa em sua mão e levanto da cama. — Porque eu
acreditava no amor e acreditei na sua mudança. Hoje não
mais, Leonardo. Não sou mais a adolescente apaixonada
de antes.
— Eu sei que mudou, só queria tê-la novamente ao
meu lado.
— Infelizmente, você me terá ao seu lado por mais
uns dezessete anos.
— Mas não é do jeito que eu quero.
— Mas é assim que será.

(...)

— Mas eu não quero ir. — Felipe reclama quando


sai do carro e começamos a caminhar até a Diosa, a
escola de dança da minha mãe e da minha tia Isabella. —
Eu não gosto de ir, é chato.
— Eu sei, mas você pode brincar com a Karen.
— Ela veio?
— Sim, ela veio.
Com isso, Felipe abre um enorme sorriso e eu faço
o mesmo. Agora Felipe ficará distraído enquanto eu dou
aulas de dança.
Entro na recepção e vou atrás de minha mãe.
Encontro-a conversando com Karen.
— Ei!
Chamo a atenção das duas. Minha mãe sorri
quando me vê e vem correndo em minha direção para me
abraçar.
— E como está o meu garoto?
Felipe se joga nos braços da sua avó. É estranho
ver a minha mãe sendo chamada de avó.
— E você? — acaricio os cabelos da minha irmã.
— Por que está tão quieta?
— Já não sabe como é a sua irmã? — minha mãe
sorri para mim. — Queria ficar em casa, mas Fernando
ordenou que ela viesse comigo.
— Eu queria estar assistindo TV, não aqui! —
minha irmã caçula resmunga.
— Algum problema?
Minha mãe faz sinal para que eu espere um pouco.
Ela fala com as crianças e avisa para que elas
fiquem no lado de fora. Karen tem catorze anos, mas ama
brincar com o meu filho e ele ama ficar com a tia.
— Seu pai está muito tenso. — minha mãe começa
a contar. — Ele sempre manda seguranças comigo e
quando não estou em casa, Karen também tem que estar
fora. O que é muito estranho, mas nem posso perguntar,
porque receberei um enorme ''nada que eu possa contar a
você''.
— Leonardo está normal.
— Certeza? — confirmo. — Então, qual o
problema do seu pai?
— Nem pense na possibilidade de traição,
sabemos que ele te ama desde sempre.
— Então porque ele fica sozinho naquela casa?
Isso está me preocupando muito. E sabe o que mais me
preocupa? Esse seu afastamento.
— Mãe...
— Você estava tão bem no início e agora nem
pode mais passar muito tempo perto de Daniel e do seu
pai. Entendo a sua recusa por Leonardo, mas o seu pai e o
seu irmão, eu não entendo.
Apesar de ter odiado o que meu pai fez, eu não
quero contar isso a minha mãe. Eu sei que os dois se
amam, isso só causaria discórdia. E o mais canalha foi
Leonardo.
— Posso ir? A aula de Isabella deve ter
começado. – tento me afastar dessa conversa.
— Ok. — minha mãe dá um meio sorriso. — Pode
ir.
Caminho até a sala de Isabella. Hoje ela não pôde
vir e fui chamada para substitui-la. Agora é tentar me
distrair de toda essa história e continuar seguindo em
frente.

(...)

O segurança do condomínio onde moro — e que


meu pai é o dono — pede para que eu pare o carro. Faço
o que é pedido.
— Boa tarde, senhora Vesentini. — ele me
cumprimenta. — Uma senhorita veio até aqui a procura do
senhor Vesentini.
— Leonardo? — questiono, já que Marco, o meu
sogro, também mora aqui.
— Sim, Leonardo.
Aperto o volante com força e seguro a vontade de
chorar e gritar.
— Qual o nome dela? — pergunto.
— Ela não informou. Mas eu tenho imagens da
câmera de segurança.
— Eu quero ver.
Ele confirma com a cabeça.
Estaciono o carro e peço para que Felipe fique
dentro e quieto. Ando até a sala onde ficam algumas
televisões. Depois de alguns segundos, vejo a imagem da
mulher. Infelizmente, não consigo ver seu rosto com
nitidez.
A minha raiva cresce quando o segurança fala que
ela tem em torno de trinta anos...
É isso, a história está se repetindo.
Agradeço ao segurança e volto ao carro.
— Aconteceu alguma coisa? — Felipe pergunta.
— Não. — uma lágrima cai. — Mas acontecerá
em breve.
No passado, Leonardo jurou o seu amor por mim e
aconteceu tudo aquilo. Agora, no presente, ele faz o
mesmo e vejo que está tudo se repetindo.
Talvez seja o momento de parar de ser covarde e
seguir em frente na minha vida.
Capítulo 5
Giulia

Espero o sinal tocar e meu irmão, Gabriel, sair


da sala. Hoje é sexta-feira, isso significa que não vou
voltar para a escola por dois dias. Significa também
que, provavelmente, terei que ir à casa da tia Isabella.
Eu sempre amei ir para lá, mas isso foi antes de
Leonardo resolver ficar naquela casa.
Antigamente, Leonardo apenas dava um ''oi'' e
saía, agora ele sempre fica, o que é pior, ele tenta
conversar comigo. Não é como se eu gostasse disso.
Trégua não significa iniciar uma amizade, significa ser
neutro e não olhar para ele.
— Lia, qual o problema com o meu irmão? —
Katherine cruza os braços, me encarando com
desconfiança.
— Você sabe muito bem sobre isso.
— Mas ele voltou diferente e quer sua amizade.
— Por quê? Desculpe, mas quando se trata do
seu irmão, eu desconfio de tudo, até da sua gentileza.
Lembro os momentos em que ele está sendo uma
pessoa educada. Ele até puxou a cadeira para que me
sentasse, eu fiz, mas com receio dele puxar ainda mais e
eu cair sentada no chão, porém, ele não fez nada disso.
— Lia, podemos conversar sobre isso?
Lembro também que Katherine é uma romântica,
apesar da pouca idade. Assim como eu, ela quer ver todo
mundo casado e feliz. Só que Katherine me quer casada
com o seu irmão, já que, na cabeça dela, os opostos se
atraem, formam uma linda família e vivem felizes até o
fim.
— Kat, eu te amo, mas...
— Quero que você seja minha cunhada!
— Você será minha cunhada quando se casar
com Gabriel, fora isso, não será possível.
— Sabe o que eu acho? Que ódio se transforma
em amor.
— Ou em assassinato.
— Credo, Giulia.
— Kat, somos românticas, mas temos que ser
realistas. Eu e Leo não nos damos bem, não é porque ele
mudou que eu vou me apaixonar. Eu nunca gostei dele e
não vai mudar.
— Giulia, meu irmão gosta de você. Jura que não
conta nada a ninguém?
— Juro.
Katherine levanta o dedo mindinho e eu tenho
que ''entrelaçar'' o meu com o dela. O tal ''juramento do
dedinho'' que não pode ser quebrado sobre nenhuma
hipótese.
— Meu irmão disse que gosta muito de você, e
um dos motivos dele ter voltado foi para se redimir e te
conquistar. Ele disse que sempre via suas fotos e
escutava falar de você. Com o tempo ele amadureceu e
viu que era hora de parar de ser um moleque e começar
agir corretamente com você.
— Por que isso me parece um discurso pronto?
— pergunto e rio porque, obviamente, ela treinou essa
fala.
— Eu escutei Leo falando isso mais de seis vezes.
Lembra a festa de boas vindas? — confirmo. — Então,
Leo conversou comigo naquele dia.
A festa aconteceu há mais de duas semanas e,
daquele dia até hoje, Leonardo vem tentando a
aproximação e sendo legal comigo.
Leonardo não pode estar gostando de mim. Ele é
mais velho, bonito, já terminou o colegial e trabalha na
empresa da família, tem toda essa coisa de ''bad boy'' e
namorava as vadias. Ele nunca vai querer nada
comigo... Ou quer?
— Kat, por favor, vamos mudar de assunto.
— Ficou balançada. — Katherine me empurra.
— Eu sei disso. — pisca um olho e sorri com pretensão.
Gabriel, apareça logo para me livrar dessa
conversa!
Cinco minutos depois, o sinal toca e os alunos
começam a sair da escola.
Eu e Katherine estudamos em outra escola. Nós
saímos da antiga por causa das constantes fofocas e
irritação que sofríamos. Apesar de não termos qualquer
parentesco, somos parecidas em vários aspectos, isso
inclui ser excluída da sociedade.
Um dos motivos de eu ter saído da antiga escola
foi Leonardo. Ele, realmente, fez da minha vida escolar
um inferno.
Gabriel vem andando com dois amigos e depois
se despede deles, vindo a minha direção.
— Kat. — sorri para minha irmã e ela falta se
derreter com isso.
Apesar da pouca idade, Katherine criou a
fantasia que eles vão se casar no futuro e só eu sei disso.
— Gabriel, tudo bem?
— Tenho novidades. — ele abre a mochila e
esquece que eu estou aqui, já que nem falou comigo. —
Olha isso.
Os dois começam a olhar uma revista e
murmuram coisas como ''Meu Deus!'', ''Sério?'',
''Quando será lançado?''.
— Do que estão falando? — pergunto, não
aguentando mais de curiosidade.
— A sequência do melhor jogo criado. — Gabriel
responde e vejo brilho nos seus olhos.
Ele mostra a revista e eu vejo alguns desenhos
estranhos. Não entendo nada sobre jogo, diferente
desses dois a minha frente.
— Ok. Podem falar sobre isso no caminho. —
atrapalho a conversa. — Precisamos ir para casa, estou
com fome.
Gabriel e Kat concordam. Saímos da escola e
eles vão conversando sobre uma nova técnica no jogo.
Eu apenas ando e penso no que Kat falou sobre
Leonardo.
Não é possível que ele goste de mim.
Os meus pensamentos terminam quando um carro
para ao meu lado. O vidro desce e vejo Leonardo.
— Espero não estar atrasado. — ele diz com um
sorriso.
— Não, chegou em cima da hora. — Katherine
responde e depois olha para mim.
— Vamos, tem um lugar novo na cidade que faz
um hambúrguer maravilhoso. — Leonardo continua. —
Eu já experimentei e achei fantástico.
Katherine corre e entra na parte de trás do
carro, Gabriel faz o mesmo.
— Giulia, pode ser rápida com isso?
— Rápida com o quê? — grito com Leonardo.
— Entrando no carro.
— Mas eu não vou.
— Mas é hambúrguer. Você gosta de hambúrguer.
— Eu gosto de hambúrguer, mas não gosto de
você.
Arrependo-me quando essas palavras saem da
minha boca.
— Estou magoado. — coloca a mão no peito.
— Desculpe-me.
— Só desculpo se você entrar no carro e for
comer conosco. Eu juro, é o melhor hambúrguer que
você vai comer na vida, perdendo apenas para o meu.
— Você sabe cozinhar? — pergunto como se
fosse uma piada. Por que um garoto mimado cozinharia?
— Giulia, tem tata coisa sobre mim que você não
sabe, mas farei questão que descubra.
— Hum... Eu não negaria essa proposta. — olho
para Katherine e ela continua com o sorriso
pretencioso.
— Você é muito nova para entender dessas
coisas. — Leonardo repreende a irmã.
— Eu vou fazer onze anos, sou uma quase
mocinha.
— Eu não gosto de você fazendo isso com minha
irmã. — Gabriel me defende. — Meu pai e Daniel
saberão disso.
— Saberão sobre?
— Sobre você estar dando em cima da minha
irmã.
— Eu só a chamei para comer um hambúrguer.
— Estou de olho.
Leonardo ri como se fosse tudo muito engraçado,
enquanto é tudo embaraçoso pra mim.
— Giulia, entre no carro. — Leonardo insiste.
— Ao lado do meu irmão. — Kat sorri.
Reviro os olhos e entro no carro, sentando do
banco da frente.
Eles conversam sobre o novo jogo.
Aparentemente, eu sou a única pessoa que não conhece
tal coisa.
— Diga-me, como está na escola? — Leonardo
me pergunta, depois de Kat e Gabriel iniciarem uma
conversa sobre algum filme.
— Está bem.
— Apenas isso? Não tem dúvida em alguma
matéria?
Pensando que Leonardo está sendo legal comigo,
decido responder sua pergunta:
— Somente química, odeio essa matéria.
— Sério? Eu sou bom em química. — olho para
Leonardo e acho graça. Eu sei que Isabella e Marco
viviam reclamando sobre o seu péssimo desempenho no
colégio. — Eu era o aluno bagunceiro e, por isso,
minhas notas eram baixas. Mas eu sempre tirava as
notas máximas nas provas, entretanto, eu não fazia
apresentações, trabalhos e adorava conversar durante
as aulas.
— Disso eu não sabia.
— Claro, eu nunca fui elogiado pela inteligência.
Eu não sou apenas um rostinho bonito, com uma barriga
tanquinho e uma conta bancária de dar inveja.
— Realmente, você também é um idiota com
muita modéstia.
Leonardo abre a boca para falar, mas quando ele
nota o meu sorriso, ele apenas sorri de volta.
— Você sorriu para mim? Meu Deus, estou
sonhando. Giulia Bertollini está sorrindo e não quer me
matar?
— Continue sendo legal, que isso. — mostro o
meu sorriso. — Não sairá daqui.
— Eu não pretendo voltar ao que era antes. Só
quero uma chance de tentar.
— Tentar o quê?
— Tentar... — suspira. — Você saberá.

(...)

— Ah, não sei, não consigo gostar disso. — falo


sobre os jogos que Leonardo tanto conversa.
— Como não? — ele arregala os olhos.
— Giulia é chata com isso.
— Não é isso, Gabriel. Apenas não me vejo
sentada olhando para uma tela e jogando algo. — dou
de ombros. — Não sou boa com isso.
— Mas é boa na dança. — Leonardo sorri.
— Como sabe disso?
Lembro-me do que Katherine falou. Leonardo
começou a gostar de mim porque escutava conversas
sobre mim, por conta disso ele ficou interessado.
— Minha mãe me contou. Ela te ama e sempre
fala de você.
— E como estão os seus avós? — mudo de
assunto.
Leonardo olha para Kat, mas ela presta atenção
em Gabriel. Depois Leonardo volta a sua atenção para
mim.
— Eu sabia que meus avós são autoritários, mas
não imaginei que fosse tão... Ignorantes.
— Do que está falando?
— Quando meu pai me colocou de castigo e me
mandou para a casa dos meus avós, eu não esperei que
fosse algo fácil, mas não pensei que fosse tão estranho.
Meus avós são pessoas ignorantes. Eu andava na linha,
fazia tudo certo, mas eles sempre gritavam e me
mandavam fazer algo.
— Como assim?
— Podemos dizer que eu dormia três horas por
dia. Eu estudava e ainda tinha que trabalhar na fazenda,
fazendo o trabalho dos outros. Fora os tapas que levei
do meu avô.
— E Marco?
— Meu pai... Eu não queria decepciona-lo,
continuei naquele lugar para provar que eu mudaria.
— Mas tio Marco sabia sobre os pais?
— Não, nem quis falar nada. Eu apanhei porque
meu avô xingou minha mãe, a Isabella. Eu fui defendê-la
e me dei mal. Não contei para o meu pai para não
causar discórdia. — dá de ombros. — Achei melhor
assim. Vamos mudar de assunto?
Mudamos de assunto e, para a minha surpresa,
conversamos muito. Depois de algumas horas voltamos
para casa.
— Espero que tenha entendido que mudei. —
Leonardo segura a minha mão, me impedindo de sair do
carro.
— Sim, entendi.
— Somos amigos a partir de hoje? Eu sou legal,
eu juro.
Rio com por conta da sua insistência.
— Ok, Leonardo. Somos amigos a partir de hoje.
— Juro que nunca mais vou te chatear, serei o
melhor homem do mundo para você.
Mesmo não sabendo o que isso significa, eu
balanço a cabeça em concordância e sorrio para
Leonardo.
Capítulo 6
Giulia

Sufoco as lágrimas que insistem em cair. Não é


possível que essa situação esteja se repetindo.
Eu era uma garota iludida que pensava que era
apenas uma fase. Que Leonardo estava cansado do
trabalho e estava apenas passando um tempo com os
amigos, eu não via problemas naquilo, afinal, eu também
passava o meu tempo com Jasmine e Leila.
Mas, infelizmente, ele passava o seu tempo com
outra mulher.
Enquanto eu estava passando mal, Leonardo estava
se divertindo.
Estúpida! Estúpida! Estúpida!
Eu me iludi, era sonhadora e pensava que era
apenas uma fase. Deveria ter fugido quando descobri o
contrato de casamento. Não deveria ter acreditado que
Leonardo cuidaria de mim, era apenas pela Nostra
Ancoma, sempre foi.
Eu me vi grávida. Dezesseis anos e grávida. Como
uma covarde que fui, aceitei ir morar com Leonardo. Meu
pai estava decepcionado comigo, mas eu também estava e
ainda estou irritada com ele. O que me restou foi
Leonardo e suas promessas que se cumpriram no início,
mas, nesse momento, só me machucam.
Por que insistir nisso?
Eu apenas não conseguia sair. Tinha algo me
prendendo a ele e não é Felipe. Talvez seja por eu ser uma
tola que não quer conversar para entender tudo, talvez
seja o meu medo de perdê-lo... Talvez seja o fato de, lá no
fundo, eu acreditar que Leonardo pudesse estar falando a
verdade. Que ele me ama.
Mas, agora, eu não acredito mais nisso. Leonardo
está me traindo novamente.
Estaciono o carro e enxugo as lágrimas que
caíram. Felipe está olhando para o lado de fora e nem
desconfia que eu estava chorando. Assim que as lágrimas
cessam, desço do carro e tiro Felipe da sua cadeirinha.
— Está bem? — ele pergunta, tocando o meu
rosto. — Seus olhos estão vermelhos.
— É o tempo. — sorrio para ele. — Agora, corra
para dentro para tomar banho.
Felipe me encara como se não acreditasse nas
minhas palavras, mas, logo após, ele corre para dentro.
Fico alguns instantes me controlando e respirando
fundo.
Esse não é o momento de chorar. Esse é o
momento de continuar com a minha decisão e sair dessa
casa antes que Leonardo chegue e impeça a minha ida.
Sinto uma mão cutucando o meu ombro. Quando
me viro, vejo Tiffany, a empregada da casa.
— Giulia, Isabella está na sala te esperando. Você
está bem?
— Não. — respondo com sinceridade. — Mas não
precisa se preocupar.
Entro em casa e caminho até a sala. Encontro
Isabella brincando um pouco Felipe.
— Ei, será que poderia nos deixar a sós? Eu tenho
que ter uma conversa com a sua mãe.
— Vó, a mãe tava chorando. — Felipe sussurra,
mas eu escuto tudo. — Ela disse que era do tempo.
— Eu vou conversar com ela sobre isso. Agora,
vá brincar um pouco.
Felipe sai correndo para a área onde ficam os seus
brinquedos. Caminho em direção a Isabella e ela me dá
um sorriso fraco.
— Aconteceu algo?
— O tempo, como Felipe disse.
Isabella apenas concorda, balançando a cabeça.
Isso me faz estranhar, afinal, ela nunca acredita nessas
coisas e sempre insiste até obter a verdade.
— Eu vim aqui para conversar com Leonardo, mas
Tiffany disse que ele ainda está no trabalho e perguntou se
eu queria esperar. — dá de ombros. — Acabei aceitando.
— Sem problemas. Daqui a pouco Leonardo
chegará.
— Tinha alguém lá fora?
— Lá fora onde?
— No condomínio.
— Como assim?
Isabella suspira e leva as mãos a cabeça.
— A mãe de Leonardo ressurgiu.
— Do que está falando? — sento-me ao seu lado e
uma esperança cresce em mim.
— Isso que você escutou. A mulher que teve Leo
apareceu aqui mais cedo à procura dele.
— Estava trazendo Kat para casa e vi a mulher
saindo do condomínio. Os seguranças falaram que ela
estava à procura de Leo.
Leo não me traiu! Pelo menos não no presente...
— Eu pensei que ela estivesse morta. — começo a
conversar com mais calma. É como se um peso tivesse
sido tirado da minha consciência.
— Não. A única que morreu foi a sua mãe. — ela
se refere à prostituta que engravidou do meu pai e sumiu,
me deixando com ele, mas depois ela morreu por uma
gangue. — A de Leo estava desaparecida, sumiu no mundo
e apareceu agora. Quer dizer, ela não apareceu, Marco foi
atrás daquela vadia.
Meu tio foi atrás dessa mulher? Oi?
— Tio Marco foi atrás dela? Mas... Espera. Isso
não faz sentido.
— Nada faz sentido na minha vida.
— Eu pensei que você...
— Giulia, desculpe, mas eu não quero falar sobre
isso. — levanta do sofá. — Eu vim apenas falar sobre
isso, já que Leonardo pode acabar descobrindo sobre essa
mulher de outra maneira. Eu bloqueei a entrada dela no
condomínio, mas nunca se sabe onde ela vai aparecer.
— Tia...
— Giulia, não se preocupe com isso.
Ela me abraça e depois vai embora.
Uma parte de mim fica aliviada por aquela mulher
não ser outra amante de Leonardo, mas a outra está
desconfiada pela procura de Marco por essa mulher.
Talvez Marco e Leonardo sejam parecidos em
alguns aspectos...
Capítulo 7
Giulia

Apesar de ter ficado aliviada em saber que aquela


mulher não é uma amante de Leonardo, eu fiquei
preocupada em saber que Marco foi atrás dela.
Não posso acreditar na possibilidade dele trair
Isabella.
Ligo para Leonardo, para contar sobre essa
mulher, mas o celular está dando desligado. Ligo para a
empresa e a recepcionista avisa sobre ele estar em
reunião. Peço para que ela avise que eu liguei, e que
Leonardo precisa me retornar assim que possível.
Não vou deixar que essa mulher se aproxime, nem
a conheço, mas já não gosto dela.
Apesar de ser um tanto quanto tola com certas
pessoas, eu acabo não gostando de muitas delas. Lembro
sobre Milla, uma babá insuportável que eu tinha quando
criança. Não lembro muito do seu rosto, mas sei que eu a
odiava. Ela era insuportável e lembro que ela queria o
meu pai. Graças a Deus, ele ficou com minha mãe, a Sara.
Depois teve Nicole, também não vou com a cara
dela desde sempre. Ela quer roubar Daniel de Jasmine.
Basta ela dar um telefonema, que o idiota corre atrás da
loira azeda. Foi isso que Jasmine me contou.
Ainda tem Leila, apesar de andarmos juntas, sou
meio fria com ela. Essa garota é amiga de Jasmine. Talvez
seja ciúme de melhor amiga, mas não gosto muito dessa
garota. Ok, ela ficou comigo quando precisei, mas algo
nela me incomoda...
O mesmo acontece com a mãe de sangue de
Leonardo. Ela teve mais de vinte anos para vir atrás do
filho, agora ela aparece do nada a sua procura? Se bem
que, pensando melhor, Marco estava a sua procura... Mas
ela veio atrás de Leonardo. Tem algo de errado nessa
história.
Minha mente começa a vagar por todos os anos
que passei perto da família de Leonardo, não lembro
ninguém mencionando sobre essa mulher.
Leonardo, uma vez, falou sobre ela, mas nada de
muito importante. Era aniversário de Isabella e ele
resolveu que deveria fazer um discurso. No seu discurso,
ele deixou bem claro o seu amor pela mãe adotiva e disse
que nunca a trocaria por ninguém, também agradeceu por
conhecer Isabella e até brincou, agradecendo sobre o
abandono da sua mãe de sangue.
Tento lembrar quem é a mãe de sangue de
Leonardo. Uma rápida lembrança aparece. Acho que já
escutei algo sobre ela.
A minha mãe de sangue era uma prostituta. Meu
pai se recusa a falar dela, já que ele odeia relembrar
algumas coisas do passado. Minha mãe respondeu as
minhas dúvidas, já que ela, assim como eu, também
pensava nisso no passado.
Ashley era uma prostituta que acabou ficando com
o meu pai e engravidou. Ela exigiu uma quantia em troca
de continuar com a gravidez. Assim que ela pegou o
dinheiro, ela sumiu no mundo, deixando-me com o meu
pai. Depois, ele recebeu a notícia que ela havia morrido
por uma gangue. Não é como se eu me importasse com
isso.
Tento recordar sobre a mãe de Leonardo. Sempre
pensei que ela havia sido uma prostituta, porque meu pai e
o de Leonardo sempre andaram juntos e acabaram com
bebês para cuidarem sozinhos. Mas ela não era isso.
Recosto-me no sofá e tento me lembrar de algo, eu
sei que tem algo de muito importante para ser lembrado.
Lembrei! Uma vez, eu escutei uma conversa sobre
ela, mas nada de muito relevante e foi por isso que acabei
não guardando essa parte em minha mente.
Depois de alguns minutos forçando a lembrança,
eu logo revivo o momento.
Meu pai e Marco estavam discutindo sobre algo.
Eu tinha uns nove anos naquela época e nem fazia ideia
que eles eram mafiosos e perigosos.
Meu pai estava um pouco irritado e Marco parecia
estar chateado com algo.
— O que tínhamos na cabeça por ficarmos com
Milla e Olívia? — meu pai parece muito irritado com a
história.
Marco apenas olha para baixo, como se tivesse
irritado com algo.
— Cara, desculpe, eu sei que fiz merda, mas...
— Eu fiz coisa pior. — meu pai diz, como se
também se desculpasse.
Minha curiosidade aumenta e decido me
aproximar mais da porta. Minha mãe saiu para levar
Daniel ao médico, como não queria ir, fiquei em casa.
Mas meu pai não sabe disso, já que decidi de última
hora.
— Explique como conheceu Olívia. — meu pai
pede.
Marco levanta da cadeira e eu me afasto um
pouco da porta, para não ser notada.
— Olívia era amiga de Milla. Estava a sua
espera, aqui mesmo na sua casa. Milla estava de férias
na faculdade e veio visitar Nancy, ela foi até a casa dela
sozinha e eu fiquei sozinho com Olívia. Bem, ela me
chamou atenção e decidi chama-la para sair. Ela era
muito tímida. Então, falei com Milla e consegui o seu
contato. Depois de um tempo, ficamos juntos. — ele fica
em silêncio. — Ela engravidou de Leonardo. Meus pais
a odiavam, ela acabou falando algo sobre eu ter que
decidir entre ela e os meus pais. Nunca amei Olívia,
obviamente, escolhi a minha vida de sempre. Ela
ameaçou abortar, dizendo que se eu não ficasse com ela,
não teria sentido ter o bebê.
— Eu lembro essa parte. — meu pai diz. — Você
negociou e ganhou Leonardo.
— Sim. Não pensei muito no assunto. Ela sumiu
por tanto tempo que, confesso, acabei esquecendo a sua
existência. Mas, depois, eu tive que procura-la e ainda
procuro.
Escuto passos se aproximando e vejo Raul. Corro
para longe da sala e volto para o meu quarto.
Olívia, esse é o nome da mãe de Leonardo. Meu
pai estava interessado pelo seu paradeiro e ela é amiga de
Milla. Se não me engano, Milla morreu, mas não sei
como, as pessoas sempre me escondem as coisas.
Ok, talvez seja a hora de obter algumas respostas.
Não estou gostando muito de toda essa história.

(...)

Fui até a casa de Nancy, já que ela é mãe adotiva


de Milla, mas ela não estava lá. Decidi voltar depois. Sei
que não vou obter respostas com os meus pais e nem com
Leonardo.
Leonardo me ligou mais cedo e falei sobre Olívia,
ele ficou surpreso, já que pensava que ela estava morta.
Mas não se importou com a notícia e disse que, se ela
aparecer, é para expulsa-la de lá.
Caminho até a pequena loja que fica a alguns
quilômetros da minha casa. Felipe insistiu em querer
comer salgadinhos. O que tinha em casa terminou, como
não tenho muito o que fazer, resolvi vir comprar.
Entro na loja e procuro por algum salgadinho ou
biscoitos.
— Quero de bacon. — Felipe avisa.
— Certo. Vamos lá, a procura do bacon.
Felipe só falta pular com tanta felicidade.
Vou até a prateleira dos salgadinhos e fico
instantaneamente irritada ao constatar que só tem sabor
queijo. Nada de bacon, apenas queijo.
— Acho que não temos bacon. — falo para Felipe
e seu semblante muda de alegre para triste.
— Mas eu quero bacon, não gosto de queijo.
— Vamos continuar a procura.
Vou ao outro lado à procura de biscoitos de
chocolates, pego três pacotes e encontro um canto com
outros salgadinhos. Fico feliz ao notar que aqui tem
sabores variados.
— Pronto, bacon! — entrego o salgadinho para
Felipe e ele logo abre o sorriso novamente.
— Mas eu quero esse biscoito.
— Morena, pelo amor de Deus, por que alguém
demora tanto para comprar biscoito? — olho para o lado
e vejo um casal. Ele parece impaciente e a mulher parece
alheia a tudo.
— Porque Nathan é alérgico a amendoim e alguns
biscoitos contém esse veneno. Então, eu estou salvando o
nosso filho de uma possível ida ao hospital. — sorrio ao
ver a discussão do casal. Leonardo também detesta essas
procuras no mercado.
Continuo pegando alguns biscoitos e salgadinhos
quando escuto sons de tiros. Jogo-me no chão e fico por
cima de Felipe, protegendo-o. Ele grita por baixo de mim
e sei que ele está assustado. Sinto um peso sobre mim.
Escuto algo como ''Estou te protegendo'', mas não sei se é
isso mesmo. Os sons estão mais altos e o caos já está
feito.
Parece uma eternidade, até que, finalmente, tudo
fica em silêncio.
— Era um assalto! — escuto alguém gritando.
— Está tudo bem? — o peso sai de cima de mim.
Tento me acalmar e começo a verificar Felipe, que
chora em meus braços. O abraço e começo a repetir que
está tudo bem.
Olho para o lado e vejo alguns motoqueiros me
encarando. Atrás de mim está um deles, só que mais novo.
Acho que foi ele que estava em cima de mim, mas, agora,
ele não me olha como quem quisesse me proteger...
Merda! Preciso sair daqui.
— Parece que foi um assalto. Quem quer que seja,
conseguiu fugir.
O homem que estava conversando com a mulher há
poucos instantes, me encara de maneira estranha.
Viro-me e começo a correr pela loja até a saída. É
um pouco difícil, já que estou com Felipe em meus
braços.
— Ei, por que está correndo? Você está bem? —
um homem me pergunta, ele também é um motoqueiro,
como todos os outros.
Talvez não exista perigo neles, mas a forma como
eles me encaram, não é nada amigável. Eu sou filha e
esposa de mafiosos. Sei que alguns motoqueiros não são
boas pessoas, sei disso.
— Nós já nos vimos antes? — ele pergunta, me
estudando minunciosamente.
— Ei, pare de correr! — olho para trás e vejo o
homem que estava me encarando há poucos instantes. Vejo
na sua jaqueta o nome ''Jason'', ''Presidente'' e ''Avengers
MC''. Ele é o chefe de tudo.
Ele se aproxima de mim e sorri. Um sorriso nada
amigável.
— Não farei mal a você, Giulia Bertollini
Vesentini. — Jason diz. — E nem ao filho de Leonardo
Vesentini e neto de Fernando Bertollini. — não dá para
não notar a raiva no modo que ele disse esses nomes.
Eu sei que isso não é bom! Isso não é nada bom!
Esses motoqueiros são personagens do meu
livro: O amor cura tudo.
Bônus 1
— Como assim não conseguiram nada? — Grito
com os dois homens a minha frente.
— O Avengers estavam lá.
— Quem são esses?
— Um moto clube. Nós atiramos, a garota estava
na mira, mas um dos motoqueiros atirou contra nós...
Tivemos que fugir. Fomos perseguidos, mas escapamos.
— Um moto clube na cidade? — reprimo a minha
vontade de gritar. — E a Nostra Ancoma? Eles não
deixariam um moto clube se instalar nessa cidade.
— Eles podem estar de passagem, não sabemos.
Só sabemos que eles reagiram.
— O que está acontecendo aqui?
Hugo entra na casa gritando como um louco. Eu
juro que ainda me livrarei dele.
— São meus amigos. — respondo. — Não posso
receber visitas?
— Essa casa é minha. — ele rosna. — Eu não
gosto de você. Quer ver os seus amigos? Vá a qualquer
lugar, mas não na minha casa!
— Eu também moro aqui! — grito de volta.
— Por causa de Rachel e seu bom coração. Você
sabe que se for depender de mim, eu te colocaria para
fora aos chutes.
— Você não faria...
— Eu já fiz coisa muito pior na minha vida.
Olho para Hugo e vejo algo sombrio nele. Desvio
o olhar para os outros dois homens.
— Depois conversaremos.
Eles assentem e saem da casa.
— Planejando roubar um banco? — Hugo
provoca.
— Talvez a sua morte. — retruco.
— Não se eu for mais rápido. — se aproxima,
retira uma faca de sei lá onde e pressiona no meu
pescoço, mas não me machuca. — Não brinque comigo.
Um deslize e você nunca mais pisará nessa casa... Não
estou falando de expulsão, estou falando da morte.
Ele retira a faca e se afasta.
Seguro a minha vontade de discutir com ele, mas
não posso. Sempre tive pavor desse homem, apesar dele
amar Rachel, eu sei que ele não é bom com todos como é
com ela...
Esquecerei Hugo, o meu objetivo são outras
pessoas.
Agora que Leonardo está ocupado com a empresa
e Giulia está saindo mais, eu poderei fazer algo. As
minhas tentativas estão sendo falhas. Leonardo já matou o
meu comparsa, entretanto, eu sei que conseguirei o meu
objetivo.
Vou começar a atacar de maneira mais apressada,
não aguento mais essa demora. Já chega de ter paciência.
Se não conseguir Giulia, tentarei com Felipe. Sara,
infelizmente, será mais difícil de conseguir.
Giulia, no entanto, odeia Leonardo e não aceitará
nada vindo dele, até ajuda. Eu só preciso separa-los ainda
mais, porque, infelizmente, aquele idiota ama a mulher e
não deixará o caminho livre...
Já sei! É isso!
Se a primeira traição não funcionou, a segunda vai
ter que funcionar. Eu sei que ele já quis algo com aquela
vadia, se tiver sorte, ele não escapará.
Já estou ligando para Leila, ela terá que seduzir
Leonardo, para que, assim, Giulia esteja mais vulnerável
ao ataque.
Não pode demorar mais, já estou cansada de tanta
espera. Eu conseguirei a minha vingança contra Sara e
toda a Nostra Ancoma.
Capítulo 8
Giulia

Jason me encara como se fosse me matar. Ele


sorri, mas é algo sombrio, como se ele tivesse segundas
intenções...
— Vocês estão muito machucados. — a mulher,
que eu sei que está com Jason, pergunta. Assusto-me com
o tom preocupado de sua voz.
Felipe está mais calmo, mas eu não.
— Eu sou médica. — a mulher informa com um
sorriso. — Neurologista, mas posso fazer um curativo se
quiser. Sente alguma dor?
— Está bem? — pergunto ao Felipe e ele balança
a cabeça confirmando. — Estamos bem. — informo. —
Precisamos ir
Viro-me para sair, mas o homem a minha frente
ainda impede a minha passagem.
— Pode me deixar passar? — ele nega,
balançando a cabeça.
— Kahl foi falar com o dono. — o cara que se
jogou em cima de mim na hora dos tiros, fala com Jason.
— Por causa das filmagens, mas acho que não teremos
problemas. Chester atirou do lado de fora e,
aparentemente, lá não tem câmera.
— Então está tudo certo?
— Sim. Tudo certo. E a propósito. — ele me
encara. — De nada. Salvei a sua vida.
— Do que está falando? — pergunto com medo da
resposta.
— Os tiros pegariam em você, mas te salvei. De
nada. — ele fala com sarcasmo, acho que não gostou nada
disso.
Giulia, eles são motoqueiros que atiram em
pessoas.
Aproveito que a família está conversando e, aos
poucos, começo a dar passos para trás.
Quando viro para sair, sinto uma mão ao redor do
meu pescoço.
— Giulia Vesentini, pare de correr. — Nicholas
vira-me para a sua direção. — Nada te acontecerá.
Preciso falar com você.
— Eu não quero.
— Não perguntei isso. — sorri.
— Eu vou falar para o meu pai que você está
mandando em minha mãe! — Felipe grita. — Ele vai te
dar uma surra e eu vou ajudar!
— Felipe, pare com isso. — não deixe a situação
pior.
— Meu pai disse que eu devo te proteger, e que
ninguém machuca a minha mãe! — quando vou repreendê-
lo, ele fecha a mão e bate no rosto do homem a minha
frente.
— Oh meu Deus, Felipe! — grito.
Não estou preocupada com o rosto do homem,
estou apenas com medo do que ele fará depois disso. Mas,
para a minha surpresa, ele e os outros estão rindo de tudo.
— Leonardo vai gostar de saber que o filho é
protetor. — ele aperta o olho, que foi onde Felipe o
acertou. — Eu só quero conversar.
— Minha mãe não pode conversar com homem.
Como Leonardo ensina essas coisas para a
criança?
— Giulia, por favor, eu não te farei nenhum mal.
— Mas esses homens...
— É para o seu bem.
Nicholas me leva até a saída. Não estou indo por
vontade própria, mas as motos que estão paradas com
esses homens... É melhor eu ir sem reclamar.
— Realmente foi um assalto. — ele me encara. —
Um assalto no qual só atiraram e não levaram nada?
Por que esse cara me encara tanto?
— O que eu tenho a ver com isso?
— Felipe, deixe-me a sós...
— Não! — grita. — Meu pai vai saber de tudo,
Nicholas.
Olho para o meu filho e tento entender porque ele
falou esse nome, mas, então, eu vejo que o nome desse
cara também está no colete dos ''Avengers''.
Coloco Felipe no chão e ele fica ao meu ado.
Claro que eu poderia reclamar por causa da sua falta de
educação, mas nem sou louca de ficar a sós com esse cara
e nem deixarei meu filho no meio dessas pessoas
desconhecidas e com aspecto perigoso.
Nicholas suspira com cansaço e continua falando.
— Não me importo com o seu pai e nem com
Leonardo, mas o que aconteceu com você me lembrou
algo... — percebo raiva em seu olhar e estremeço com
medo do que ele poderá fazer. — Isso não foi um assalto.
Esses tiros foram para mim ou para você. — olha para
Felipe, mas eu acredito que ele ainda não sabe muito
sobre isso. Mas, Leonardo ensinou tanta coisa, que eu não
duvido que Felipe saiba até sobre a máfia. — Não me
importo o que vai acontecer, mas... Não importa, apenas
tome cuidado com tudo e todos a sua volta.
Ele sai, deixando-me para trás.
Agora estou paranoica com tudo.
E se os tiros tivessem sido para mim?
Pego Felipe em meus braços e corro para o meu
carro.
— O que aquele homem queria? Eu não entendi
nada. E o que aconteceu na loja?
Felipe me enche de perguntas, mas não respondo
nada e nem presto atenção. Só me pergunto sobre esses
tiros. Meu pai e Leonardo tem inimigos, isso é óbvio.
Infelizmente, sempre fui mantida alheia à situação. Regra
deles, o que acontece na Nostra Ancoma, fica na Nostra
Ancoma.
Mas agora é diferente, eu posso estar correndo
risco de vida.
Uma coisa passa por minha cabeça.
Se esses tiros foram para mim, isso significa que
eles me seguiram? Afinal de contas, eu decidi sair de
casa para comprar sem avisar a ninguém. Merda!
Continuo dirigindo e sempre olhando para trás,
certificando-me que não tem ninguém me seguindo.
Chego a minha casa e fico instantaneamente
aliviada, acredito que estou segura aqui.
Tiro Felipe do carro e ele sai correndo, entrando
em casa. Vou logo atrás e escuto Felipe contando tudo o
que aconteceu para o pai, não é tudo, é apenas a parte de
Nicholas falando comigo.
— Nicholas? O que ele fez com sua mãe? — noto
a raiva na voz de Leonardo.
— Ele quis conversar com ela a sós, mas eu dei
um soco no olho dele.
— Esse é o meu garoto. — de onde estou não dá
para ver os dois, mas escuto um som como se eles
tivessem comemorando o feito de Felipe. — Nenhum
homem pode chegar perto da sua mãe.
— Isso é tão machista.
Quanto escuto essa voz, saio de onde estou e vou
até eles. Assim que chego à cozinha, encontro Leila
sentada em um banquinho.
Olho para Leila com a sobrancelha arqueada.
O que ela faz aqui?
— Leila, o que faz aqui? — pergunto.
Ela me encara com espanto.
— Você nunca mais saiu comigo e com Jasmine,
resolvi vir até aqui para saber como está. — sorri.
Eu não gosto muito dela. Algo em mim alerta
falsidade em relação a essa garota. Ok, talvez o fato dela
já ter dado em cima de Leonardo não ajuda muito a
melhorar a situação.
— Leonardo, eu não posso me aproximar de
homem, mas você pode se aproximar de uma mulher? —
cruzo os braços e tento não soar como uma mulher
ciumenta, mas sei que falhei.
— Ciúmes? — Leonardo ri. — Eu não estava
perto de Leila, ela estava na sala a sua espera e eu estava
aqui na cozinha, preparando algo para eu comer. — ele se
aproxima de mim e segura o meu queixo. — Fale com sua
amiga, depois teremos uma conversa sobre esse tal de
Nicholas.
Leonardo pega Felipe e o coloca de cabeça para
baixo, levando-o para a área da piscina.
— Giulia, desculpe, não queria causar um
desconforto entre você e Leonardo.
— Leila, não se preocupe. — sorrio. — Isso não
me afeta, só quis provocar Leonardo, ele me irrita, você
sabe disso.
— Não acredito que não sente nada por ele.
Caminho até a geladeira e pego uma garrafinha
com água, ofereço a Leila e ela recusa.
— Leila, eu odeio Leonardo, sabe disso. — a
única pessoa que sabe que eu sinto algo por Leonardo, é
Jasmine. — Por que mudaria?
— Não sei, o jeito que você falou... Você meio que
sentiu ciúmes de mim, aqui com Leonardo.
— Leonardo estava comemorando porque Felipe
deu um soco em um cara que só queria conversar comigo,
e quando chego em casa, ele estava com uma mulher. Não
é ciúme, isso sou eu tentando mostrar que Leonardo é um
hipócrita.
— Só não queria causar um desconforto.
— Não causou. Agora, o que veio fazer aqui?
— Aí, olha como está me tratando. Você está
chateada comigo!
Céus, o que fiz para merecer esse dia?
— Leila, realmente, estou irritada, mas não com
você. Estou irritada por viver com Leonardo, ok? Você
sabe que odeio isso.
— Quer conversar?
Calma, Giulia, ela está sendo educada. Você que
está com raiva porque ela estava sozinha com seu
marido... Leonardo não é bem o meu marido.
— Quero ficar sozinha e pensar na vida.
— Está tramando algo?
— Se eu tiver, garanto que vai ser a primeira a
saber. Agora, pode me deixar a sós? Só quero pensar na
vida.
— Certo. Desculpe-me por qualquer coisa. — ela
anda em minha direção e me abraça. — Estarei sempre ao
seu lado.
— Obrigada. — retribuo o abraço sem muito
entusiasmo.
Leila se despede de mim e sai da minha casa.
Bebo o restante da minha água e tento processar o
dia de hoje. A mãe de Leonardo apareceu e pensei que
fosse a sua amante; fui atrás de respostas sobre essa
mulher; quase levei vários tiros; encontrei um moto clube
que parecia querer me matar, mas um deles me alertou
sobre o perigo; posso estar sendo ameaçada por alguém e
Leila estava na minha casa com Leonardo.
Leila, aquela que queria Leonardo no passado...
Ou quer no presente e no futuro?
— Quem é Nicholas?
Levanto a minha cabeça e vejo Leonardo, com os
braços cruzados, me olhando completamente irritado.
— Você desconfia de mim? Por isso tanta raiva?
— Um homem queria conversar a sós com a minha
mulher. Giulia, não me irrite e responda de uma vez. Hoje
eu tive um dia péssimo.
— E eu? Acha que foi bom?
— O que aconteceu? — Leonardo muda de
irritado para preocupado. Ele se aproxima de mim e
segura as minhas mãos.
— Foi tudo horrível. Sua mãe apareceu aqui, e
pensei que fosse sua amante...
— Por que pensou que ela fosse minha amante?
— Leonardo. — afasto-me dele. — Eu fui
chamada pelo segurança... Bem, a mulher que estava a sua
procura é linda e...
— E eu te amo, por que te trairia?
Porque você já fez isso antes...
— E depois eu saí de casa. — ignoro o que ele
acabou de dizer. — E atiraram em mim.
— O quê?
— Nicholas disse que os tiros eram para mim.
— Quem é Nicolas? — grita.
— Eu não sei. Ele estava com o colete de um moto
clube, Avengers...
— Avengers? Eles te fizeram algum mal?
— Nicholas me salvou junto com Felipe.
— Salvou? — ri sem humor. — Estou indo tirar
essa história a limpo.
— Do que está falando? — seguro o seu braço,
impedindo a sua ida.
— Se atiraram em você e Nicholas queria
conversar a sós, eu quero saber dessa história
corretamente.
Vejo algo sombrio em suas feições e no seu modo
de falar.
— O que vai fazer? — pergunto e tenho medo da
resposta.
— Já matei algumas vezes, não me preocupo em
fazer isso novamente.
Capítulo 9
Leonardo

Desço do meu carro e caminho em direção a


Nicholas.
— O que quer comigo? — pergunta.
Dou um soco em seu rosto e ele acaba caindo no
chão. Fico em cima dele e o seguro pelo seu colete do
moto clube.
— Qual o seu problema? Primeiro o seu filho e
agora você? — ele grita. — Eu salvei a sua mulher e seu
filho!
— Salvou? — puxo pela a sua camisa e o
aproximo de mim. — Aqueles tiros...
— Quase atingiram a sua mulher e seu filho!
— Como pode ter tanta certeza que foi um
atentado contra ela? — grito todas essas palavras.
É muita coincidência o moto clube estar no mesmo
lugar onde minha mulher estava, aí depois tem um
tiroteio? Muita coincidência...
— Acredita na hipótese de assalto? Cara, o caixa
estava lá na entrada da loja e os caras foram justamente
para onde sua mulher e filho estavam? Não foi para o MC,
nessa cidade só temos um inimigo e ele é a sua máfia.
Vocês nos atacaram? — nego. — Então, tentaram matar a
sua família.
Saio de cima de Nicholas e o ajudo a levantar. Ele
coloca a mão no rosto e noto um leve tom vermelho em
seu olho. Felipe fez um bom trabalho.
— Eu aceitei vir até aqui porque sabia que seria
sobre Giulia. — continua falando. — Estamos aqui de
passagem, não vou fazer mal a sua mulher.
— Pode falar sobre o que aconteceu?
Nicholas aponta para uma pedra, que fica próximo
ali.
Marquei de encontra-lo em uma pequena rodovia
que está desativada, pelo menos, os carros não passam,
mas as motos são fáceis para passar.
Sento no lugar indicado e Nicholas começa a falar.
— Estávamos indo para a outra cidade,
resolvemos parar para comprar algo para comer. Eu
estava próximo a Giulia, mas nem notei. Só percebi
quando o seu garoto falou algo sobre querer bacon,
reconheci os dois, mas não alertei sobre eles estarem ali,
tão próximo de nós. Foi então, quando olhei para frente,
que vi, pelo menos, umas três pessoas armadas. Giulia
estava atrás de uma prateleira, mas não era tão alto a
ponto de ser uma barreira. O primeiro tiro foi dado para o
alto, mas, eu posso afirmar, o outro tiro seria na cabeça da
sua mulher. Quando percebi isso, foi instintivo, corri em
direção a Giulia e a derrubei no chão.
O medo do que poderia acontecer a Giulia toma
conta de mim. Eu quase a perdi... Perderia a minha mulher
e o meu filho.
— O moto clube acabou revidando e teve troca de
tiros. Não foi assalto. A polícia foi chamada, mas já não
estávamos mais lá e o dono do mercado acabou mentindo,
dizendo que a câmera estava quebrada ou algo assim. Eu
chamei a sua mulher para conversar, para ela ficar ciente
sobre o risco que corre.
Ficamos em silêncio por alguns instantes.
Está tudo acontecendo novamente e, tenho
certeza, é minha culpa.
— Meu pai até perguntou o motivo dos tiros terem
sido para Giulia.
— Jason não quis fazer mal a Giulia?
— Mal? — ele ri. — Meu pai não faria mal a
Giulia, talvez um sequestro para dar um susto. Porém, ele
não fez nada. Minha mãe estava conosco, ele não quer que
minha mãe veja a maldade em suas ações.
É isso o que fazemos. Nunca queremos que a nossa
família saiba desse nosso lado ruim.
— Estou aqui apenas porque você me ajudou uma
vez. — Nicholas olha para mim. — A julgar pela sua
cara, eu acho que você sabe de algo.
Levanto-me da pedra e começo a andar de um lado
para o outro.
A minha cabeça pesa porque eu sei que a culpa é
minha. Se Giulia descobrisse tudo o que fiz, ela me
amaria ou me odiaria ainda mais?
Tudo que fiz foi para tê-la ao meu lado. Ela
sempre me amou, sei disso. Infelizmente, as minhas
constantes viagens atrapalharam tudo... A quem eu quero
enganar? Eu estraguei tudo quando inventei desculpas e
mentiras sobre os meus atos.
Giulia sempre foi muito boa, sempre reclamei da
sua bondade. Pelo amor de Deus, como ela pode ser
amiga de Leila? Giulia é tão boa que não enxerga que
aquela garota tem algo estranho... Giulia acredita na
bondade de todos, eu tinha que protegê-la de tudo, e, para
isso, acabei me afundando em mentiras... Mentiras para
tê-la ao meu lado e para protegê-la do mundo.
— Por que eu acho que você sabe quem são os
culpados? — olho para Nicholas. — Ok, Leonardo.
Vamos lá, você já me ajudou, certo? Chegou a hora de te
ajudar.
— Por que isso?
— Porque você salvou a vida de uma pessoa,
agora eu acho que precisa de ajuda. Não somos amigos,
mas sei que temos uma divida. Pelo seu olhar, acho que
você não sabe o que fazer. A Nostra Ancoma não poderá
ajudar?
Suspiro e resolvo contar a Nicholas.
Não somos amigos, longe disso, mas acabei
salvando a vida de uma garota, a garota que Nicholas
ama. Naqueles dias, eu e ele acabamos conversando. Ele
me confessou muita coisa, entre elas, falou sobre estar
apaixonado pela garota que salvei. Mas era amor
proibido, já que ela é filha de Carlos e neta de Juan,
ambos do cartel. Eles são inimigos de Jason, que é o pai
de Nicholas, e do seu avô, González.
Com essa informação eu posso acabar com a vida
de Nicholas. Por isso, eu não vejo problemas em contar a
minha situação. E, para ser sincero, eu preciso de ajuda,
já que ninguém da Nostra Ancoma me ajudará... Eles até
podem me ajudar, mas sei que sofrerei as consequências.
— Deve ter acontecido há, mais ou menos, uns
quatro anos. — começo a falar. — Estava namorando
Giulia, até que ela quase foi atropelada. O carro foi
embora e, depois de algumas semanas, aconteceu o mesmo
com Sara, mas ela saiu ferida desse acidente. Giulia não
tinha mencionado nada disso com o pai, porque eu e ela
estávamos namorando escondido, então, se contasse,
poderíamos nos dar mal. Claro que eu desconfiei de tudo.
Fernando estava irritado pelo o que havia ocorrido a sua
mulher, aproveitei a situação e disse que iria atrás da
pessoa que atropelou Sara.
Olho para o céu, logo me arrependendo de tudo o
que fiz.
— Foi aí que aconteceu de recebermos uma carta
anônima, falando que matariam Giulia. Fui atrás dessa
pessoa e não a encontrei. Giulia estava grávida e
Fernando estava irritado comigo e com ela. Podemos
dizer que eu, idiota do jeito que sou, falei que era homem
suficiente para Giulia. Fernando queria me tirar da Nostra
Ancoma, já que eu quebrei a confiança dele. Então eu
jurei que eu encontraria a pessoa que ameaçou Giulia e
Sara.
Se só com essas mentiras eu já me acho um idiota,
imagine com as outras.
— Giulia já estava morando comigo e estávamos
de casamento marcado, foi então que eu estava a seguindo
e vi um carro atrás dela. Quem dirigia o carro percebeu e
conseguiu fugir. Eu fiquei um bom tempo fora de casa,
precisava encontrar os culpados, mas foi em vão, não
encontrei nada. Depois de um tempo, aconteceu
novamente, Giulia foi parar no hospital e tivemos suspeita
de envenenamento, ela não sabe disso, porque preferimos
não assusta-la com o resultado do seu exame. Bem, todos
me culparam, porque eu tinha sido um idiota que achou eu
conseguiria algo. Fui afastado dos negócios.
— Eu acho que tenho medo de onde essa conversa
vai chegar.
— Bem, eu jurei que conseguiria o respeito de
todos novamente, incluindo o de Giulia. Eu ficava fora de
casa, mas não poderia contar nada a Giulia, ou poderia
dar tudo errado, mas isso não vem ao caso. Tinha outro
carro vigiando o orfanato, eu o segui e consegui matar a
pessoa. Era um cara desconhecido.
— E... — Nicholas pede para que eu continue.
— Eu posso ter inventado uma mentira para dizer
que matei o nosso inimigo e disse que existia perigo.
— Eu imaginei tudo, menos isso.
— Cara, eu estava desesperado. Se Fernando não
me aceitasse ele poderia... Ele poderia estragar o meu
casamento com Giulia.
— Mas se vocês já estavam casados, como
poderia estragar algo?
— Podemos dizer que eu menti sobre o contrato de
casamento e envolvi o nome de Fernando e Daniel nisso.
— Cara, qual o seu problema? Tem que mentir
para tudo e para todos?
— Nicholas, não me julgue. Eu sei que você faz a
mesma coisa com Mary, não me venha om isso.
— Ok. Eu posso morrer pela minha mentira, mas
você e Giulia... Você mentiu muito e agora sabe que o
inimigo do passado pode estar de volta. Agora, como vai
sair dessa? Quando você matou o cara, ele não deu
qualquer resposta?
— Ele atirou em mim e revidei. Matei sem obter
qualquer informação.
— E Fernando aceitou isso?
— Eu inventei tanta coisa sobre aquele cara que
eu merecia um Oscar pela encenação e roteiro.
Nicholas vem em minha direção.
— Você sabe muita coisa de mim e sei muita coisa
sobre você. Não somos amigos e nossos pais são
inimigos, mas você salvou Mary e te devo uma. Como
você não tem um ''parceiro'' para te ajudar, eu ofereço a
minha ajuda.
— E Jason?
— Ele está levando minha mãe e o outro Estado,
ela está indo como voluntária em um hospital. E os
homens, bem, negócio deles. Eu não terei muita serventia,
então posso ficar aqui e dar a desculpa que quero
descansar da viagem.
— Jason não vai desconfiar?
— Como meu pai vai imaginar que estou do lado
do inimigo? Ele nunca vai pensar nisso. Vai querer a
minha ajuda?
— Sim. Eu quero a sua ajuda.
— Agora eu preciso saber de uma coisa, por onde
começo a procura?
— Cara, não faço a menor ideia. Eu nem ao menos
sei quantas pessoas estão envolvidas nisso.

Giulia

Leonardo, onde você está?


Ando de um lado para o outro com o celular em
minha mão. Não sei o que fazer nesse momento. Leonardo
pode estar matando uma pessoa e, enquanto isso, a sua
irmã está à beira da insanidade.
Infelizmente, não posso ligar para os meus sogros,
Kat pode se dar mal, a minha mãe está em um jantar com o
meu pai, Jasmine está com a mãe, Daniel está em algum
lugar que não me atende e Gabriel não me ajudará em
nada no momento.
Meu celular toca e vejo o nome de Daniel na tela.
— Giulia, algum problema?
— Sim, mas não é comigo, é com a Kat.
— O que aconteceu?
— Patrícia, uma das amigas de Kat, me ligou.
Parece que Kat está em um bar e bebeu muito... Ela está
bêbada e não quer voltar para a casa.
— E qual a urgência nisso?
— Não posso pedir para que outra pessoa pegue
Kat porque ela pode ser dedurada, as amigas dela não
podem trazê-la para cá porque não sabem dirigir e parece
que Kat está bem louca...
— Passe o endereço do lugar que estarei indo
para lá, vai junto comigo?
— Sim, estarei indo com você.

(...)

As pessoas dançam se esfregando uma na outra.


Desde que entrei aqui, as mulheres se atiram em Daniel.
Posso dizer que fico feliz em vê-lo rejeitar todas essas
garotas.
Caminho até o bar, onde Kat, Patrícia e Cassandra
estão.
Vejo Cassandra abraçando Kat.
— O que está acontecendo? — pergunto.
Kat levanta a cabeça e noto que está chorando.
— Giulia! — ela se joga em meus braços. — Ele
disse que sou a sua irmã.
— Do que está falando? — pergunto e acaricio os
seus cabelos.
— Gabriel! — grita e continua chorando. — Disse
que sou a sua irmã. Ele não gosta de mim!
— Ela está bêbada?
Patrícia e Cassandra me olham com um olhar de
''desculpa''.
— Anda, Katherine! — Daniel grita. — Não
perderei a minha noite consolando adolescentes bêbadas.
— Você é outro! — ela grita. — Dão esperanças e
jogam na zona da amizade. Por isso são irmãos! Não,
espera, você não tem o mesmo sangue que o cretino do
Gabriel. Eles poderiam ser como Fernando! Eu me odeio!
— O que essa criança bebeu? — Daniel olha para
as duas garotas, que não respondem a sua pergunta.
Kat levanta do banco e bebe um copo com água,
quando vai sentar, acaba caindo no chão.
— Nem o banco gosta de mim! — grita e volta a
chorar.
— Já chega disso.
Daniel levanta Kat e carrega em suas costas. Ela
grita, implorando para ser colocada no chão. Para a sua
sorte, ninguém do lugar está se importando com o seu
show.
Daniel joga Kat no banco de trás do carro e as
amigas dela entram logo atrás.
Entro na frente com Daniel, que começa a dirigir.
— Onde Leonardo está? — Daniel me pergunta.
— Um cara quis conversar comigo e...
— Abra a janela, estou sem ar! — Kat grita. —
Abre a janela!
Olho para trás e me assusto com o que vejo. Kat
está em busca de ar, é como se ela estivesse lutando para
respirar.
— Daniel, temos que ir para o hospital! — grito.
Eu e as meninas tentamos acalmar Kat, mas é
como se ela já estivesse sufocando, o seu rosto já está
completamente vermelho...
Isso me lembra alguns anos atrás, quando eu
estava nessa mesma situação e só não morri porque
Jasmine e Leila estavam por perto.
Capítulo 10
Giulia

Caminho de um lado para o outro no corredor no


hospital, a espera de notícias sobre Kat.
Ela estava praticamente sufocando. Só de lembrar
a cena, estremeço e um calafrio toma conta de mim.
Graças a Deus, chegamos a tempo no hospital.
As meninas que estavam com Kat, garantiram que
ela não tomou nada de diferente, todas tomaram a mesma
bebida. Agora, estamos esperando alguma notícia.
Isabella está sendo consolada por minha mãe,
Marco está conversando com meu pai, Gabriel sussurra
algo com Daniel e eu estou longe de todos, apenas
pensando em tudo o que aconteceu.
Primeiro os tiros que, aparentemente, seriam para
mim; depois Kat sufocando. Isso faz com que eu lembre o
que aconteceu comigo no passado...
— Sério, Giulia? Como assim sem chá de bebê?
Olho para Leila e Jasmine, que me encaram com
tristeza e pena.
Por que eu faria um chá de bebê? Só para a
minha mãe, Isabella, Kat, Karen, Leila e Jasmine? Não é
como se eu tivesse muitos convidados e quisesse fazer
uma grande festa.
Acaricio a minha barriga, que já está grande,
graças aos oito meses de gestação. Não vejo a hora de
tê-lo em meus braços, meu pequeno Felipe.
Paro os meus pensamentos sobre Felipe em meus
braços e logo surge uma dúvida: Leonardo será um bom
pai?
Agora eu penso que seria bom Felipe ficar dentro
da minha barriga, longe de todo o mal e de toda
exclusão de Leonardo.
Leonardo não fica em casa. Além da sua traição,
ele não aparece muito por aqui. Fui obrigada a casar
com ele, graças aquela merda de contrato. Eu, tonta,
acreditei quando ele disse que me amava, mas, que tipo
de amor é esse que deixa a mulher grávida para trás?
Leonardo sai sem avisar e, quando volta, quer que eu
seja a esposa perfeita.
Pergunto-me se ele também agirá dessa maneira
com o filho, se também vai ignora-lo como ele faz
comigo.
— Não quero festas. — falo mais uma vez. —
Quero apenas ficar em casa, descansando.
Levanto-me da cama e caminho até o criado
mudo, onde meu celular está carregando a bateria. Pela
milésima vez, verifico se Leonardo ligou ou mandou
alguma mensagem. Mais uma vez, nada de diferente está
aqui.
— Lia, pode ser coisa da Nostra Ancoma. —
Jasmine faz o de sempre, tenta defender Leonardo. Ela
acredita que ele está fora por algum motivo importante
que não pode me contar, mas ela não sabe explicar a
traição...
— Ou pode ser um encontro com a amante. —
retruco.
— Eu...
— Jas, por favor, não defenda aquele cara. —
olho para Leila. — Leonardo não merece Giulia, aquele
contrato já mostra que ele só se importa com os
negócios, nada mais.
Não gosto de Leila e detesto mais ainda escutar
essas palavras saindo de sua boca, mas, infelizmente,
ela está certa.
— Vou pegar um pouco de suco, querem? —
ofereço apenas para sair dessa conversa, ela não me
fará bem.
— Não. Obrigada.
Saio do quarto e logo sinto um mal estar. Sinto
um aperto no peito seguido como algo que pode ser
palpitação.
Acalme-se, Giulia. Sua pressão não precisa subir
nesse momento.
Desço o outro degrau e sinto como se o ar tivesse
saindo dos meus pulmões.
Agarro o corrimão da escada e grito por ajuda,
mas meu grito é sufocado porque tento buscar o ar para
respirar.
Meu corpo cai para frente e continuo lutando
para respirar. Quando tento levantar meu corpo para
tentar correr e buscar por ajuda, não vejo mais nada.

O médico informa que Kat está bem. Eles fizeram


algum procedimento e ela está sedada no quarto. Na
verdade, não prestei atenção em suas palavras, só consigo
pensar na ''coincidência'' das duas ocasiões.
Nesse momento, percebo que Leonardo está
conversando com Daniel e Gabriel. Isabella, Marco e
minha mãe não estão aqui, o que me surpreende, já que eu
nem percebi que eles haviam saído.
— Giulia, precisamos ter uma conversa.
Olho para trás e vejo os olhos azuis do meu pai,
que me encaram com medo. O que é uma surpresa, nunca
vi Fernando Bertollini com medo.
— Sim. Precisamos ter uma conversa.
Afastamo-nos das outras pessoas e vamos até uma
área reservada do hospital. Sentamo-nos nas cadeiras e
começo a questionar:
— Pai, preciso saber ao certo o que aconteceu
comigo no dia em que Felipe nasceu.
— Era sobre isso mesmo que eu quero falar. —
ele suspira. — Eu, Leonardo, Marco e Daniel preferimos
esconder a verdade de você.
— Do que está falando?
— Não foi problema da sua saúde que ocasionou
o seu desmaio e a queda da escada, foi veneno.
— Eu fui envenenada?
— Sim. Nos exames constataram a presença de
veneno em seu organismo. Não sabemos como isso foi
ingerido.
Lembro-me que, quando acordei, me perguntaram
se eu tinha comido algo e falei que não.
— Não lembro de ter comido alguma coisa. —
falo. — Até porque, Jasmine e Leila estavam comigo.
— A questão é que você foi envenenada e
preferimos não falar para não te assustar.
— Então o que aconteceu com Kat...
— Pode ser mais do mesmo.
— Hoje aconteceu algo. — conto o que aconteceu
mais cedo, o ''tiroteio'' na loja. — Os tiros eram para
mim.
— Por que não contou nada? — meu pai levanta
da cadeira e me encara com fúria. — Você quase morreu e
não menciona nada?
— Eu falei com Leonardo.
— Ele não falou nada comigo.
Ele sumiu o dia todo. Ao invés de ir atrás de
quem atirou em mim, ele foi atrás do homem que queria
falar a sós comigo...
— Giulia, eu sei que até hoje você está chateada
comigo, mas eu sempre estarei aqui para você. — segura
a minha mão. — Eu te amo mais do que tudo.
— Eu também te amo.
Uma lágrima cai. Pela primeira vez em quatro
anos, eu estou próxima do meu pai. Nunca mais
conversamos.
— Você foi tão duro comigo.
— Eu fiz de tudo por você, pensei que fossemos
próximos e, do nada, você apareceu grávida de Leonardo.
O que queria que eu fizesse? Eu tinha que ver a minha
filha casada com o pai do seu filho.
— E para isso precisava ter feito a merda do
contrato? — grito. — Precisa ter sido tão... Tão... — dou
um rosnado de raiva. — Tão tosco me fazendo assinar
aquilo? Eu tinha acabado de passar mal e fui enganada por
todos!
— Quê?
Afasto-me do meu pai.
— Não me venha com a história que eu tinha que
casar, eu sei muito bem disso, mas não precisava daquilo.
Eu fui enganada, humilhada e... Esquece, já foi feito.
Agora precisamos seguir em frente e ver sobre essa coisa
de quem quer nos matar.
Meu pai vira as costas para mim, prestes a sair da
sala reservada.
— Não vai rebater as minhas palavras?
Meu pai olha para mim. Seus olhos que antes
demonstravam medo, agora demonstram raiva.
— Sei que está com raiva de mim e darei o seu
tempo. Agora, eu estou indo falar com Leonardo, preciso
saber mais sobre esse inimigo.
Ele sai da sala reservada, deixando-me sozinha.
Saio pela outra direção. Pegarei um táxi e vou
para casa.
Pois é, mais uma vez estou sendo trocada pela
Nostra Ancoma e, por causa dela, também estou
correndo perigo.

Leonardo

Assim que cheguei ao hospital, já soube que


Katherine está bem. Não pude chegar mais cedo, já que
estava à procura de alguma pista sobre esse inimigo, mas
eu e Nicholas não encontramos nada. Na verdade, nem
sabemos por onde começar.
Agora, depois dessa notícia sobre Kat... A
situação está piorando ainda mais.
A história se repete novamente...

Sento na cadeira, a espera de informações sobre


a minha mulher. Meu filho está bem, foi salvo, mas
Giulia... Ela está em coma induzido.
Não estava lá para salva-la, estava tentando
salva-la de outra maneira. Tentando encontrar a pessoa
que quer a morte da minha mulher.
— Felipe, ele está...
— Mãe, por favor. — peço.
Felipe não tem culpa de nada, mas eu não
consigo olhar para o meu filho. Segura-lo em meus
braços. Sei que a culpa é minha, mas... Mas eu não
consigo. Eu apenas não consigo.
Isso faz duas semanas. De início eu ulpei meu
próprio filho, nem sei o motivo de ter feito isso. Talvez
por o único culpado ter sido eu mesmo. Porque eu
deveria proteger Giulia, mas não o fiz.
— Vamos, venha ver o seu filho.
Giulia foi envenenada. Enquanto ela sofria, eu
tentava corrigir o meu erro. Giulia já tinha sofrido uma
tentativa de homicídio, eu matei o cara, mas tinha
outras pessoas com ele. Eu disse que não tinha, então a
Nostra Ancoma parou de procurar.
A culpa é minha também.
Aceito o pedido da minha mãe e vou até Felipe,
que está na incubadora.
Felipe é tão pequeno e frágil.
Eu jamais deveria culpa-lo por algo.
— Não pense nisso. — minha mãe me abraça. —
Só pense que ele está vivo, que ele está aí por você.
— E Giulia? Ela pode...
— Ela não vai. Giulia está bem, daqui a pouco
ela estará aí com você.
Mas a culpa é toda minha, eu deveria ter ido
atrás das respostas, mas não, eu preferi enganar a todos
apenas para ficar com Giulia. Agora ela paga o preço
por isso.
Um soluço escapa e logo minha mãe me abraça
mais apertado.
Eu não posso perder Giulia. Deveria ser eu ali,
não ela.

— Esse inimigo é o mesmo de antes? — Daniel


pergunta, me encarando como se fosse me matar.
— Talvez.
Daniel acabou descobrindo algo há uns tempos.
Giulia receberia uma carta de ameaça, mas Daniel acabou
pegando antes dela. Claro que eu inventei a existência de
outro inimigo, para me livrar da mentira, mas acabo de ser
descoberto.
— Você falou que havia acabado com o cara. —
Gabriel rosna. — Qual a merda do seu problema?
— Mas eu acabei, vocês viram o corpo.
— Sério? Leonardo, nós estamos vendo o que
aconteceu com a Kat. Foi à mesma pessoa, usou a mesma
tática novamente. Você mentiu apenas para não se ferrar
com a Nostra Ancoma. — Daniel começa a juntar as
peças. — Você engravidou Giulia e quis mostrar para o
meu pai que não era tão idiota e decidiu ser o herói da
história, mas deu merda porque a pessoa que deveria estar
morta não morreu.
— Isso é você quem está dizendo. — tento parecer
tranquilo diante das acusações verdadeiras. — Pode ser
outra pessoa.
— Explique isso para o meu pai, que está vindo
até aqui como se quisesse te matar. — Daniel avisa.
— Leonardo. — escuto a voz de Fernando. Sei
que ele também já juntou as peças. — Quer dizer que você
nos enganou, disse que não havia perigo apenas para nos
impressionar...
— Seus filhos já me acusaram disso, mas pode ser
outro inimigo. — tento não parecer o culpado.
— Se não bastasse tudo isso. — parece que ele
não me escutou, ou não acreditou em mim. Acredito mais
na segunda hipótese. — Eu descubro que a minha filha
assinou um contrato de casamento, pior, ela me odeia por
causa de um contrato que eu nunca escutei falar, mas, ao
que tudo indica, eu sou o cara que armou tudo isso.
Arregalo meus olhos com essas palavras.
Merda! Ele descobriu! O que mais falta para
ferrar com a minha vida?
— Espera um pouco. — Daniel faz com que eu me
vire para ele. — Contrato de casamento? Meu contrato de
casamento com Jasmine sumiu há uns quatro anos, por
causa disso, nós nunca nos casamos. E nesses papéis
consta o nome de Fernando Bertollini.
— Então se não bastasse mentir sobre algo que
prejudica a vida da minha família. — Fernando aperta o
meu pescoço. — Você ainda inventou mentiras fazendo
com que a minha filha me odiasse?
Fernando aperta ainda mais o meu pescoço. Tento
lutar para sair do seu aperto, mas é tudo em vão.
Quando penso que vou desmaiar, o aperto sai do
meu pescoço.
Caio no chão e começo a tossir em busca de ar.
Quando olho para a cena a minha frente, vejo meu pai,
Daniel e Marco segurando Fernando, enquanto minha mãe
e Sara me ajudam a levantar.
— Qual o seu problema? Quer matar o meu filho?
— meu pai grita.
— Quero! O seu filho apenas fez merda atrás de
merda e agora que descobri tudo, ele vai pagar caro por
tudo.
— Do que está falando? — meu pai encara
Fernando.
— Você. — Fernando aponta para Gabriel. — E
Leonardo, estão fora da Nostra Ancoma. Vocês não tem
mais nenhuma relação conosco. Saiam do meu condomínio
e não levem nada que foi comprado com o dinheiro dos
negócios. E eu juro, se algum dos dois for contra as
minhas regras novamente, eu não responderei pelos meus
atos.
Bônus 2
— Rachel, algum problema? — Hugo pergunta
com a voz tão melosa que chama a minha atenção. — Você
não parece nada bem.
Rachel olha para Hugo e noto o cansaço em seu
rosto.
— Não gosto daqui. — ela responde. — Não
tenho amigos.
— Mas tem a mim. — Hugo aperta a mão de
Rachel.
— E a mim. — complemento.
— Não é como se valesse muita coisa.
— Hugo, eu amo a Rachel e ela sempre poderá
contar comigo.
Não é uma mentira. Eu devo a minha vida a
Rachel.
— Obrigada aos dois, mas... — Rachel suspira. —
É que eu me sinto só. Você. — aponta para Hugo. — Está
no trabalho e você. — aponta para mim. — Sempre está
fora. Fico em casa sozinha, sem nada para fazer. Nem ao
menos consegui um emprego.
— E aquele bar que estava contratando?
— Que bar? — indago.
— O bar que fica aqui perto, aquele que também
funciona como casa de shows. — Rachel responde.
Espera um pouco, esse não é o bar frequentado
por Daniel e Gabriel?
— Rachel, você foi até lá? — continuo indagando.
— Sim. Eles disseram que se me quiserem para o
cargo, eles me ligarão.
— E você deixou assim? Deve ir atrás do emprego
e não espera-lo vir até você.
— Qual o seu interesse nisso? — Hugo me encara.
— Quer a casa vazia para planejar o seu roubo? Ou seria
um atentado?
— Hugo, do que está falando?
— Rachel, ele me odeia, sabe disso.
Levanto-me do sofá.
— Estou de olho em você! — Hugo grita.
Subo as escadas indo em direção ao meu quarto.
Tranco a porta e ligo para Leila. Ontem recebi a péssima
notícia que Katherine está viva, para estragar o meu
plano, obviamente, Fernando já deve ter juntado às peças
do quebra cabeça.
Da primeira vez eu envenenei Giulia. Nada melhor
que matar a filha de Fernando e levar o neto junto, mas
ambos sobreviveram, Leila ainda teve que ajudar Giulia.
Agora, Katherine também sobreviveu.
Não me interesso muito pela família de Marco,
mas já que não consegui nada com Giulia e com Sara,
começarei com os menos importantes.
— Então, não encontraram nenhuma substância
em Katherine. — Leila me avisa. — Parece que ela
bebeu muito e o seu mal estar foi ocasionado pelo
álcool.
Respiro com alívio por essa informação. O homem
que me vendeu avisou que esse veneno poderia ser
facilmente absorvido pelo organismo, sendo assim, um
exame poderia não detecta-lo.
Será que a Nostra Ancoma vai desconfiar?
— E mais uma ótima notícia. Leonardo foi
embora de casa.
— Como assim?
— Não sei o que aconteceu, mas ele foi embora.
Giulia e Felipe ficaram na casa. O que faremos agora?
— Acho melhor nada. A Nostra Ancoma deve
estar preparada para o ataque, principalmente se Giulia
tiver falado algo sobre os tiros. Acho que devemos
continuar com o plano de seduzir Leonardo.
— Gabriel também está fora.
— O que ele fez?
— Não sei. Só sei que está fora de qualquer coisa
relacionada a essa máfia.
— Acho que tentarei empurrar Rachel para ele
— Mas Rachel não é boazinha?
— Por isso mesmo. Rachel é tão boazinha que vai
ser fácil manipula-la ao meu favor. Agora, vá em frente
com o plano e seduza Leonardo.
— Mas Giulia não ama Leonardo.
— Isso é o que ela diz. — termino a ligação.
Menos dois na Nostra Ancoma. Mais duas pessoas
para eu acabar com a vida.
Olho para o celular e vejo o número na tela.
Talvez não seja o momento de chama-los. Por enquanto,
continuarei com o meu plano, se não der certo, passarei
para o outro, que será chamar os irmãos de Jasmine... De
algum modo, eu terei que acabar com Fernando.
Capítulo 11
Leonardo

Caminho a passos largos para fora do hospital.


Ignorei todos os gritos de minha mãe e Sara, as duas
estavam implorando para conversar comigo. Pergunto-me
se elas continuariam assim se soubessem o motivo do meu
quase estrangulamento.
Claro que eu sempre tive medo do meu plano ser
descoberto, mas nunca imaginei que isso aconteceria hoje.
Talvez, se eu tivesse mentido apenas sobre o
inimigo, Fernando não teria aquela reação. Afinal, eu fiz
aquilo apenas para provar que amo Giulia, uma mentira
que custou a vida dela e de Kat... É, continua sendo uma
mentira idiota.
Agora, o contrato... Se não bastasse Fernando,
agora tem Daniel. Eu vi e lembro como ele ficou doido
quando descobriu o desaparecimento do seu contrato de
casamento. E eu, como bom amigo que sou, ainda o ajudei
a procurar. Daniel não vai mais olhar na minha cara.
Pior que eles não me olharem, será se Giulia não
me perdoar. Ela já não gosta muito de aproximação,
depois que Fernando contar... Adeus, casamento.
Claro que fiquei triste em ver Giulia e Fernando
tão afastados, sei que os dois se amam, mas eu também
amo Giulia.
Eu só faço merda na minha vida!
— Ei, está indo para casa? — olho para Gabriel,
que me fez essa pergunta.
— Você quer dizer, para a minha antiga casa. —
corrijo-o.
— Vai deixar Giulia para trás?
— Cara, pela merda que eu fiz, ela nem vai querer
olhar mais para mim. Sim, estou indo pegar as minhas
coisas.
— Uma carona? Vim com um amigo, mas ele já foi
e preciso pegar minhas coisas daquela casa.
— O que fez de tão grave para ser expulso?
— Podemos ir? Meu pai pode aparecer e querer
nos matar.
Caminhamos até o meu carro e entramos. Começo
a dirigir até a minha casa — que vai virar antiga — e
penso em Giulia. Ela já deve estar sabendo de tudo e me
odiando. Ela não vai mais querer olhar para mim. Ela vai
me odiar eternamente e não me deixará explicar e, se
deixar, vai continuar me odiando.
— Respondendo a sua pergunta. — Gabriel chama
a minha atenção. — Posso dizer que me envolvi em uma
briga que não era minha e fiz uma merda aqui, outra ali...
— Explique melhor. — peço.
— Meu avô, Yankee, brigou com a minha avó. Eu
amo minha avó e acabei me intrometendo na briga e dei o
meu apartamento para ela morar. Meu pai disse que não
deveria me intrometer nessa história e não deveria ter
dado abrigo a minha avó, Yankee disse o mesmo, mas não
voltei atrás da minha decisão. Graças a isso, meu avô não
quer falar comigo e meu pai ficou irritado. Depois, eu
acabei não indo a algumas reuniões, fui a umas festas,
andei com certas pessoas, peguei a filha de um cara que
não deveria ter sido tocada.
— Oh, cara! — olho para Gabriel. — Não me
diga que você pegou uma garota que já estava prometida?
— Para a minha defesa, ela é uma vadia que
estava se esfregando em mim.
— E você não conseguiu se controlar, é isso?
— Quem deve fidelidade é ela, não eu. Eu nem
sabia que ela era prometida de alguém, aquela vadia não
mencionou nada. No outro dia veio com conversa que eu
tirei a sua virgindade e deveríamos nos casar.
— E você?
— Eu posso tê-la xingado, brigado com o pai dela,
discutido com o meu pai, mirei a arma em pessoas que
não devia, quebrei o nariz do irmão da vadia... É, eu fiz
muita merda.
— O que você tem na cabeça?
— Meu pai disse que nada.
— Como eu não soube de nada disso?
— Você nunca mais entrou em contato, acho que
foi isso. Agora, sobre você. Que merda você fez? Giulia
vai te matar.
— Obrigado, Gabriel.
— Você a ama ou fez isso pela Nostra Ancoma?
— Claro que foi por amor.
— Então, por que fez aquilo com o contrato? Não
seria mais fácil conquista-la?
— Giulia estava um tanto chateada comigo. Eu vi
a oportunidade e peguei, não pensei muito nas
consequências.
— Esse é o nosso problema, nunca pensamos,
apenas fazemos e nos arrependemos depois.
Penso no que Gabriel disse. Eu não pensei nas
merdas que fiz, eu apenas agi. Acho que se eu pudesse
voltar no tempo... Não, eu continuaria fazendo a mesma
merda.
Estaciono o carro em frente a minha casa e
Gabriel vai até a sua para buscar as suas coisas. Ele não
poderá levar o carro, já que foi comprado com o dinheiro
do pai. Então ele virá comigo, para um dos meus
apartamentos, já que tudo o que Gabriel tem, foi
comprado com o dinheiro do pai ou da Nostra Ancoma. E
o único apartamento que ele poderá ir, é o que sua avó
está morando, mas ele não quer ficar com ela. Apesar de
ama-la, ele sabe que existirão regras na casa.
Abro a porta do meu quarto e começo a guardar as
minhas roupas. Depois que termino, caminho até o quarto
de Felipe e não o encontro. Para a minha surpresa, Giulia
está no quarto dela dormindo e Felipe está junto.
Giulia ainda não sabe das merdas que fiz.
Sento-me na cama e olho para os dois. Meus olhos
queimam com as lágrimas que teimam em cair. Só de
pensar que fiz de tudo por ela e vou perdê-la. Amanhã,
quando ela acordar, já saberá de tudo. Talvez ela nem me
procure para tirar satisfações, talvez ela apenas fique feliz
por estar livre de mim. Talvez ela comemore a
separação...
Acaricio o seu cabelo e sorrio com a lembrança
do nosso primeiro beijo. Ela me empurrou e distribuiu
tapas em meu rosto, eu apenas conseguia rir, porque sabia
que ela tinha gostado e estava sendo marrenta.
Sorrio ao lembrar todos os nossos momentos
juntos. Porém, todos aconteceram em um passado distante,
onde eu era despreocupado com a vida. Depois, eu mal
poderia ficar em casa, tinha que resolver as merdas que
havia feito. Então, quando pensei que já estava tudo
calmo, Giulia já estava me odiando e não conseguia mais
a aproximação.
Como sei que Giulia tem o sono pesado,
aproximo-me dela e dou um leve beijo em seus lábios. Ela
nem ao menos se mexe.
Caminho até o criado mudo e pego uma caneta e
um papel. Escrevo minha despedida. Como sei que não
terei a chance de vê-la pessoalmente para me explicar,
tentarei, pelo menos, escrever.

Espero que entenda o que quero dizer nesse


bilhete, mesmo com a minha caligrafia de merda.
Eu fiz muita merda no passado. Por isso, acabei
perdendo muita coisa, entre elas, perdi o seu amor (que
nem sei se um dia eu tive). Sei que não vai querer mais
olhar na minha cara depois disso, por isso escrevo esse
bilhete de despedida.
Não pense que está sendo fácil, nunca foi fácil.
Optei pela maneira mais covarde, mas é isso o que
sempre fui. Estou saindo de casa e do casamento. Como
sabe, só eu posso entrar com o processo de divórcio, e é
isso o que farei. Estou deixando seu caminho livre, como
você sempre mencionou. Não adianta mais lutar por isso
aqui. Espero que seja feliz daqui para frente, mesmo que
eu queira que a sua felicidade seja ao meu lado.
Te amarei para todo o sempre.
Leonardo, aquele que sempre vai te amar.

Enxugo o meu rosto, que está encharcado de


lágrimas e deixo o bilhete ao lado da cama. Olho pela
última vez para Giulia, porque sei que depois disso, não a
verei mais. Quando eu ver Felipe, sei que Giulia não vai
acompanhar o filho nas visitas.
Fecho os olhos com força, respiro fundo e saio do
quarto.
É, Leonardo, você só está colhendo tudo o que
plantou.
Saio de casa com minhas malas e as coloco no
carro. Enquanto espero por Gabriel, eu olho para o meu
celular, as minhas fotos com Giulia. A época em que eu
sei que éramos felizes.
Sorrio quando vejo a nossa foto com Gabriel, Kat,
Daniel e Jasmine. Foi uma feira daqui da cidade, onde
tinha um parque de diversões. Todos nós fomos juntos e
foi a primeira vez que realmente saímos como namorados,
assumimos para os nossos irmãos e Jasmine. Para selar o
grande dia, Jasmine e Katherine nos fizeram tirar essa
foto.
— Eu lembro esse dia. — olho para Gabriel. —
Você e Giulia assumiram o namoro, depois de alguns
meses, veio à gravidez. Você é muito rápido, senhor
Vesentini.
Reviro os olhos para Gabriel.
— Já está tudo pronto? — quando olho fixamente
para Gabriel, noto a quantidade de bagagens que ele
trouxe com a ajuda de um segurança.
— Eu já tinha ligado para Karen e ela ajudou a
arrumar minhas malas. A garota está feliz em se livrar do
irmão do meio. Você perdeu a cara dela de felicidade e
alivio, só faltou cantar e pular com a minha ida. — ele
sorri.
— Gosta disso?
— O que posso fazer? Alguém tem que ser o irmão
implicante e chato da história. Sei que Karen me ama,
assim como Giulia.
— E Katherine. Minha irmã merece coisa melhor,
mas...
— Mas eu não quero Katherine. Pelo amor de
Deus, nós somos quase como irmãos. Não quero nada com
ela.
— Kat não pensa assim.
— Ela não falou nada comigo. — arqueia a
sobrancelha. — Amanhã eu terei uma conversa com ela.
Ela não pode ficar bêbada por aí.
Guardamos as bagagens no carro e dirijo para fora
do condomínio.
— E então, como será com Giulia?
— Ela não vai olhar para a minha cara. Eu deixei
um bilhete no quarto, para quando ela acordar, mas sei
que não adiantará nada.
— Giulia pode te perdoar.
— Cara, ela nem olha para mim.
Chegamos ao apartamento e permanecemos em
silêncio durante a arrumação. Ficamos até o amanhecer
com a TV ligada. Cada um com os seus pensamentos e
problemas.
Durante esse tempo, várias ideias absurdas
passaram por minha cabeça, desde um sequestro até eu
contar toda a verdade antes de Fernando. Ao invés disso,
eu permaneci sentado no sofá, me insultando mentalmente
pelas merdas feitas no passado.
Começo escutar batidas na porta seguidas por
gritos que, para a minha surpresa, são de Giulia.
— Abra essa porta! Eu sei que está aí dentro,
Leonardo!
— Acho que ela veio te procurar. — Gabriel
sorri.
— Deve estar querendo me matar.
— Abra logo essa porta! Ou eu farei um escândalo
enorme.
Levanto-me do sofá, já preparado para as brigas
que estão por vir. Quando abro a porta, Felipe agarra
minha perna.
— Pai! A mãe estava doida a sua procura. —
carrego Felipe. Sei que Giulia não vai me agredir com o
nosso filho a frente.
— Qual o seu problema? — Giulia grita. —
Felipe, vá ficar com o seu tio.
Coloco Felipe no chão e ele vai até Gabriel.
— Giulia, eu...
— Qual a merda do seu problema? Acordei e tinha
um bilhete de despedida na cama, que custou a entender o
que você estava tentando me dizer, mas quando entendi...
Fui atrás do meu pai e ele disse que você saiu da Nostra
Ancoma, fui a todos os seus apartamentos e te encontro
aqui.
— Você falou com Fernando? — ele não contou
nada a ela? Porque ele não fez isso?
Meu peito começa a encher de esperança. Eu
ainda posso ter Giulia ao meu lado.
— Eu sabia que suas juras de amor eram falsas.
Bastou você ser expulso da máfia que você fugiu de mim.
''Te amarei para sempre'', muito lindo as suas falsas
promessas. — começa a chorar. — E eu, tonta, ainda
chorei e continuo chorando.
— Espera, você não me odeia?
— Claro que te odeio! Você me abandonou e eu
ainda vim atrás de você.
— Fica comigo.
— Do que está falando? Foi você quem foi
embora e falou em separação!
— Giulia, eu te amo e não minto quando estou
dizendo isso. Eu fugi porque o condomínio é de Fernando
e ele não me quer lá, eu pensei que você me odiasse e
preferi ir embora durante a noite, para evitar discussões.
Mas, agora, você está aqui. Eu posso te deixar livre desse
casamento se você quiser. Claro que vou odiar fazer isso,
mas se você estiver feliz... Mas, também, podemos ficar
juntos nesse apartamento e começar tudo novamente. Eu
sei que você não acredita no que sinto por você, mas estou
fora da Nostra Ancoma e, mesmo assim, quero
permanecer ao seu lado. — ajoelho-me aos seus pés e
seguro a sua mão. — Poderia nos dar uma nova chance?
Capítulo 12
Giulia

Encaro Leonardo por um instante. Seus olhos estão


brilhando e sei que são de lágrimas não derramadas. Ele
está ajoelhado no chão e me olha com esperança.
Esperança que eu aceite o seu pedido.
Quando acordei essa manhã, eu estava atarefada
com Felipe. Tive que fazer o seu café — já que ele só
gosta do meu — e tive que arruma-lo para ir à escola.
Nem me dei conta que Leonardo tinha ido embora, pensei
que ele só tivesse saído para trabalhar. Quando sentei na
cama para calçar o tênis de Felipe, eu vi o bilhete.
Demorei um pouco para entender o que ele estava
tentando dizer com aquilo, mas, quando entendi a sua
despedida, fiquei louca e vim atrás dele.
Fui à casa do meu pai e ele apenas disse que eles
tiveram um desentendimento, Leonardo está fora da
Nostra Ancoma. Naquele momento o meu mundo desabou.
Me dei conta que, se Leonardo não está na Nostra
Ancoma, ele também não estará comigo, afinal, ele foi
embora somente por isso.
Eu fui atrás dele. Em cada apartamento que
pertence a ele, no seu trabalho e, por fim, vim para cá.
Vim apenas para jogar na cara dele todas as mentiras
sobre me amar, para espanca-lo e distribuir toda a minha
raiva nele. Não era para Felipe vir, mas ele acabou
escutando as minhas lamentações e veio atrás de mim,
com medo do pai ter ido embora.
Agora, sou pega de surpresa com esse pedido de
mais uma chance.
Essa seria a terceira chance? Talvez a quarta?
— Não vai responder? — Leonardo abaixa a
cabeça, claramente triste pela minha demora a responder.
Levanto o seu queixo e faço com que ele olhe para
mim.
— Você realmente me ama?
— Eu sempre falei isso. Eu te amo mais que tudo.
— Então, por que me abandonaria apenas por sair
da Nostra Ancoma?
Leonardo olha para trás e faz sinal para que
Gabriel saia da sala com Felipe.
Leonardo levanta do chão e vai até o sofá, sento
ao seu lado e percebo que ele está muito nervoso. Mexe
as mãos incontrolavelmente.
— Eu fiz merda na Nostra Ancoma. — começa a
falar, mas ele não olha para mim. — Seu pai me expulsou.
— Qual seria o motivo? Posso saber?
Leonardo levanta do sofá e vai até a varanda. Vou
atrás dele e o encontro olhando para a paisagem a sua
frente.
Qual o problema com ele?
— Leonardo, o que você fez?
— Merda, o que sempre faço. — ele dá um soco
na parece, deixando uma marca nela. — Mas eu fiz para
que Fernando gostasse de mim.
— Do que está falando? — paro a sua frente e
faço com que ele olhe para mim. — Eu passei a manhã te
procurando, agora eu quero saber o motivo de ter me
deixado para trás. Meu pai não mencionou quase nada,
agora você está assim. Eu estou aqui, pensei que fosse
ficar feliz.
— E estou feliz. — aperta a minha mão. — Mas é
que eu não me orgulho da merda que fiz, por causa disso,
todos correm perigo.
— Conte-me a verdade, Leonardo. Eu não sou meu
pai, nem da Nostra Ancoma eu faço parte. Talvez eu possa
entender o seu lado. Confie em mim.
Leonardo sorri.
— O que foi?
— Lia, você está sendo amável comigo. Senti falta
disso.
— Então, converse comigo. Você me pediu uma
chance, eu peço uma conversa. Acho que está na hora de
falarmos tudo.
— Sim, você está certa sobre isso.
Leonardo aponta para a cadeira que está logo ali.
Quero gritar e manda-lo falar logo, mas decido ser
paciente e esperar pelo seu momento.
— Lembra as minhas viagens? Logo após nosso
casamento? — meu peito aperta com a lembrança. —
Então, lembra que você quase foi atropelada e sua mãe,
logo após, sofreu um acidente? — balanço a cabeça
confirmando. — Então, investigamos e acabamos ligando
uma coisa à outra. Seu pai estava me odiando por ter te
engravidado, então eu disse que descobriria o culpado.
Claro que ele não acreditou em mim, então resolvi fazer
tudo por conta própria. Eu acabei seguindo um carro
suspeito e cheguei a outro lugar. Fiquei muito tempo
tentando encontra-lo, quando o encontrei, eu o matei. Bem,
eu não investiguei mais, só queria voltar para casa e para
você. Eu inventei milhares de mentiras, claro que
Fernando não acreditou, mas os inimigos não apareceram
mais. Eu havia ganhado o respeito dele novamente.
Leonardo não me traiu!
— Depois eu acabei atrapalhando uma tentativa de
atentado. Eu fiz de tudo para acabar com essa pessoa,
viajei novamente e não obtive qualquer resposta. Por
causa disso, eu acabei não contando a Fernando. Eu
escondi tudo para não decepcionar Fernando e te perder.
Só que aconteceu novamente, Kat foi envenenada e...
— Eu fui envenenada, não foi?
— Sim, foi. Desculpa, mas não queríamos te
assustar.
— Você não me contou nada da viajem, por que fez
isso?
— Para te poupar. Você estava grávida e poderia
ficar assustada, eu não quis te preocupar.
— Leonardo, sabe por que eu disse que te odiava?
— Por causa do casamento forçado?
— Leonardo, eu superei isso no momento e que
você disse me amar, mas aí vieram às viagens, claro que
eu sabia que tinha ligação com a Nostra Ancoma, mas uma
mulher apareceu na nossa casa. Lembra que não
morávamos no condomínio? Essa mulher apareceu e disse
ser a sua amante.

''Eu te amo, Giulia. Juro que nunca vou te


abandonar. Esse casamento não foi feito para que eu
fique na Nostra Ancoma, foi feito para que eu te ame e
para que tenhamos a nossa família''.
Idiota! Cretino! Canalha! Babaca!
Leonardo, eu te odeio!
Ele apenas viajou para sei lá aonde e me deixou
grávida e, ainda por cima, sozinha nessa casa.
Por que eu tenho que ama-lo? Por que eu tenho
que ser tão tola?
Talvez ele esteja muito ocupado para ligar... Ele
disse que me ama, deveria dar um jeito de manter o
contato.
Idiota, pare de procurar desculpas para defendê-
lo.
Escuto batidas na porta e levanto do sofá.
Quando abro, encontro uma mulher parada, me olhando
assustada.
— Aqui é a casa de Leonardo? — ela pergunta
com a voz trêmula.
— Quem é você? — pergunto sem qualquer
educação.
— Eu? Sou a namorada de Leonardo. É que ele
sumiu esses dias e estou preocupada com ele. Você é a
irmã dele? Eu ainda não conheci a sua família...
Leonardo tem uma namorada? Quê?
Meus olhos começam a encher de lágrimas. Deve
ser por isso que ele não está em casa, ele deve ter outras
por aí. Leonardo sempre foi um cafajeste, sempre teve
inúmeras mulheres. E eu aqui, pensando que ele se
contentaria comigo.
— Leonardo deve estar com uma amante. — bato
a porta na sua cara e volto para o sofá.
Pois é, Giulia, está na hora de viver a sua vida e
ignorar a existência de Leonardo.

— Giulia, eu nunca te traí! — Leonardo levanta da


cadeira e ela cai, fazendo um grande estrondo.
— Eu pensei que tivesse me traído, que estava
fora com outra pessoa. Pense bem, tudo levava a crer que
a aquela mulher falava a verdade.
— Por que não falou comigo?
— Você mal parava em casa e eu já estava farta de
chorar por você, decidi te esquecer.
— Depois disso veio o envenenamento. —
começa a andar de um lado para o outro. — Essa pessoa
quer nos separar, inventou uma amante para que você se
afastasse de mim, depois te envenenou para te matar.
— Mas como eu ingeri esse veneno?
— Nós vasculhamos tudo na casa, mas não
encontramos nada, entretanto, os exames diagnosticaram o
veneno. No exame de Kat encontraram álcool, mas podem
ter utilizado algo que não é encontrado nos exames.
— Tudo não passou de uma grande confusão.
— Causada por mim. — Leonardo esfrega as
têmporas. — Tudo por minha culpa. Tudo porque eu
queria parar de ser um idiota e ganhar o respeito de todos.
Leonardo abaixa a cabeça e senta no chão. Não
posso negar que estou aliviada de saber que não fui traída,
esse sempre foi o meu maior medo. Sempre tive medo de
perguntar sobre aquela mulher, agora que sei a verdade, é
como se um peso tivesse sido tirado de mim.
Um peso foi retirado dando lugar a outro.
Quem está tentando nos matar?
Deixo a minha duvida de lado e sento no chão, ao
lado de Leonardo. Coloco meu braço em volta do seu
ombro e o abraço.
— Ei, calma. Você sempre foi um tanto quanto
idiota nas atitudes.
— Obrigado, Giulia.
— Estou falando sério. — ele olha para mim. —
Você nunca pensou antes de fazer. Você achou que aquilo
era o certo e fez.
— Por isso eu te escondi tudo. Você é boa e muito
ingênua, não queria te assustar.
— Eu apenas entendo a sua reação. Ok, confesso,
saber que você não me traiu melhorou o meu pensamento
sobre você.
— Foi por isso que eu fui embora. Pensei que me
odiasse, pediria o divórcio e você estaria livre para viver
a sua vida.
— Eu sempre senti algo por você, mesmo quando
era para estar odiando. Por isso eu me odiava, por ser tola
o suficiente e continuar sentindo algo por você.
— Você me ama? — dou um meio sorriso. — Eu
te amo. Eu estava morrendo de medo de te perder.
Levanto do chão.
— O que aconteceu? — ele pergunta, me olhando
espantando.
— Você me pediu uma chance, mas não pode
voltar a nossa casa. Pois bem, estou indo para casa pegar
as minhas coisas e as de Felipe.
— Vai vir morar comigo? — ele não aprece
acreditar em minhas palavras.
— Mais uma chance, é isso o que nós teremos.
Leonardo levanta rapidamente e me agarra,
abraçando-me e me tirando do chão.
— Eu te amo, Lia.
Sorrio para as suas palavras. Nesse momento eu
me sinto liberta. Liberta de uma mentira que acreditei.
Sem pensar muito, as palavras escapam da minha
boca:
— Eu também te amo.
— Senti saudade dessas palavras. — ele me
coloca no chão e me encara. Vejo o brilho nos seus olhos
e não me arrependo por minhas palavras.
— E eu me arrependo de nunca ter falado nada.
Perdemos tantos anos...
— Mas recompensaremos todos eles.
Leonardo beija a minha boca e eu a abro, dando
passagem para as nossas línguas se encontrarem.
Entrelaço as minhas pernas em seu corpo e ele me segura
firmemente, prendendo-me a ele. Minhas mãos passam
pelo seu cabelo e suas costas. Leonardo afasta as nossas
bocas e dá uma leve mordida em meu queixo.
— Eu te amo mais que tudo, Lia. Eu juro que
nunca mais vou te decepcionar.
Capítulo 13
Leonardo

Nem consigo acreditar que Giulia voltou para


mim. Ainda não acordei para a realidade. Toco os meus
lábios. Depois de tanto tempo, finalmente nos beijamos.
— Acho que alguém não contou toda a verdade
para a amada esposa. — vejo Gabriel entrando na sala. —
Escutei toda a conversa, você disse uma meia verdade.
Não contou sobre ter feito Giulia assinar um contrato
falso.
— Não é falso!
— Claro que não. Você apenas roubou o contrato
de casamento de Daniel e Jasmine, inventou que meu pai
foi o responsável por isso, aproveitou da fragilidade de
Giulia, colocou Daniel no meio da história e fez com que
ela assinasse os papéis sem saber. Realmente, falsificar é
o de menos nessa história.
— Qual o seu problema?
Gabriel senta no sofá, de frente para mim.
— Você não pensa? Por algum motivo meu pai não
falou a verdade para Giulia, mas você deveria ter feito
isso. Ela está feliz, dá para ver pelo olhar dela, mas e se
Giulia descobrir sobre todas essas mentiras? Cara, ela
sempre foi louca pelo pai e do nada perdeu o contato com
ele, tudo por sua causa. Tem noção do que fez? Você
deveria ter falado a verdade.
— E perdê-la de vez?
— Você se enrola cada vez mais.
— Giulia só vai descobrir se você contar. Se nem
Fernando contou, eu nem deveria me preocupar com isso.
— Quer ter um casamento baseado em mentiras?
— Lia me ama, ela admitiu isso. Se eu contar isso
agora, perderei tudo. Eu não consegui fechar os olhos só
imaginando que eu havia perdido a minha mulher, eu não
quero passar por isso novamente.
Talvez, um dia, eu conte a verdade. Mas eu sei
que, se eu contar tudo agora, perderei tudo... Passei por
essa sensação ontem e não quero isso novamente.
Sei que contar a verdade é o certo, mas, mesmo
assim, não tenho coragem suficiente para fazê-lo.
— Ok, já que não vai contar a verdade, creio que
você deve justificativa a uma pessoa.
Olho para Gabriel, já sabendo de quem ele está
falando.
Levanto-me do sofá e vou ao banheiro tomar
banho. Depois de terminado, visto a minha roupa de
maneira demorada, talvez tentando retardar o meu
encontro com Daniel.
Verifico as minhas ligações e vejo centenas de
Giulia, ela havia me ligado antes de me encontrar aqui.
Sorrio ao ver isso.
Agora, eu tenho que falar com Nicholas. Se pelo
menos conseguíssemos encontrar a tal amante... Mas, pelo
o que Giulia contou, será impossível encontrar. A mulher
aparentava ter uns vinte e cinco anos, é branca, tinha os
cabelos escuros e curtos, apenas isso. Giulia disse que
ficou tão irritada que não prestou atenção em mais nada.
Sei que estou longe da Nostra Ancoma, mas tudo
isso está acontecendo por minha culpa. Tenho Nicholas e
Gabriel ao meu lado, é pouco, mas posso tentar descobrir
alguma coisa. O difícil será por onde começar.
Saio do quarto e encontro Gabriel já me
esperando.
— Podemos ir? — ele pergunta.
Respiro fundo.
— Podemos.

(...)

Daniel sai pelo enorme portão do condomínio e


caminha na direção do meu carro.
— O que quer? — ele pergunta.
— Conversar. — respondo.
— Sobre?
— Você sabe sobre o que é.
Daniel dá a volta no carro e tira Gabriel do meu
lado, sentando no banco logo após.
— Não preciso escutar a sua explicação, eu já
entendi que foi desespero e uma maneira de casar com
Giulia. Não preciso escutar mais que isso.
— Você me perdoa?
Daniel olha para mim com a sobrancelha
arqueada.
— Giulia te perdoou?
Olho para Gabriel, que dá de ombros.
— Não contou, não é?
— Não tive coragem.
— Meu pai também não. Minha mãe o convenceu a
não contar a verdade. Ao que tudo indica, ela fez o
clássico ''você me sequestrou porque me ama, Leo fez
merda pelo mesmo motivo''. Mas isso não significa que
eles ficarão calados para sempre, eles estão te dando
tempo para resolver tudo com minha irmã.
— Eu não quero perdê-la.
— Você que causou isso.
— Está irritado comigo?
— Claro que sim. Você me colocou contra Giulia,
agora eu entendo porque ela passou um bom tempo sem
me ver. Giulia acredita que coloquei aqueles papéis para
que ela assinasse, sendo que, na verdade, foi você quem
armou tudo.
— Eu não vi outra saída. Eu engravidei a sua irmã,
ela estava um pouco chateada comigo e Fernando queria
me matar. Eu apenas fiz o que veio na minha cabeça.
— Roubou meu contrato de casamento, belo plano.
— Você nem ama Jasmine.
Daniel me encara como se fosse me matar.
— Isso não te dá o direito de roubar algo que me
pertence. Quando se tornou um idiota?
— Quando me apaixonei por sua irmã.
— Pelo amor de Deus, Leonardo. Você já é pai,
pare de ser um imbecil e vire homem. Conte a verdade,
Giulia precisa saber disso. Ela tem mágoa pelo próprio
pai, você acha isso certo?
— Não, mas...
— Pense nisso, apenas pense e faça o que sua
consciência achar melhor. Mas saiba, não deixaremos
Giulia ser enganada. Um dia ela saberá de tudo, seja pelos
meus pais ou por você.
Escuto as palavras de Daniel, mas sei que é a mais
pura verdade.
— Como está a Nostra Ancoma? — mudo de
assunto.
Daniel me olha como se eu tivesse feito algo
estúpido.
— Não posso falar sobre isso.
— Alguma pista?
— Não.
— Daniel, eu estou investigando por conta
própria...
— Vai inventar, mais uma vez, que pegou os
culpados?
— Não. Dessa vez eu farei certo. Foi Giulia e
agora foi a minha irmã...
— Isso não tem nada a ver com você? Ok, minha
mãe foi atacada, mas depois disso nada aconteceu.
Sempre foi Giulia e agora Kat. Tem certeza que não fez
nenhuma grande merda no seu passado?
A grande merda que fiz foi com o contrato de
casamento, fora isso, nada que fiz exigiria uma vingança
como essa.
— Não. Tudo o que fiz foi para a Nostra Ancoma.
Não tenho um inimigo direto.
— Como pretende investigar?
— Com a ajuda de Gabriel e Nicholas.
— Quem é Nicholas?
— O filho de Jason Carter.
— Quantas merdas precisam ser feitas para que
você pare de ser tão idiota?
— Ele me deve favores.
— Que favores?
— Não vem ao caso agora, mas Nicholas está ao
meu lado e investiga tudo.
— Por que eu deveria ir para o seu lado?
— Por que a Nostra Ancoma está em crise. Meu
pai mal fica nas reuniões, Fernando está passando por
problemas em casa, os outros estão irritados com tudo,
Yankee está atrás da mulher e só você está calmo. Junte-se
a mim, não terá nada a perder. Também mostrará que você
será um bom líder.
— Não quer a liderança?
— Nunca foi sobre a Nostra Ancoma.
— Ok, talvez eu possa te ajudar.

(...)

— Mãe? O que faz aqui?


— Vim te ver, meio óbvio. — minha mãe me
empurra e entra em meu apartamento. — Precisamos
conversar. O idiota do seu pai não veio te ver?
— Não. — nego, balançando a cabeça.
— Deve estar muito ocupado com alguma vadia.
— Mãe, eu não acredito que meu pai te trai.
— Isso nós saberemos em breve. — senta no sofá.
— Não vim falar sobre ele. Kat já está bem, ou melhor,
está sofrendo por Gabriel chama-la de irmã. Mas
precisamos falar de Giulia e suas inúmeras mentiras.
— Mãe...
— Leonardo, como você pode mentir tanto e
envolver outras pessoas nisso?
— Eu estava perdido...
— E o melhor caminho foi à mentira? Essa é a sua
desculpa? Giulia excluiu Fernando da sua vida. Você
colocou pai e filha um contra o outro. Se sente bem com
isso? Se sente bem em saber que trouxe tristeza para uma
família? Que fez a sua mulher infeliz?
Escuto as suas palavras e sei que fiz tudo errado.
Eu sei de todo mal que fiz, mesmo assim, não consigo ter
forças o suficiente para abrir mão de Giulia.
— Você é como o seu pai. Um grande mentiroso.
— levanta do sofá. — Só espero que um dia você mude,
porque Giulia não merece você.
— Vai me tratar assim? — seguro o seu braço,
impedindo a sua saída.
— Como você quer que eu te trate? Você cometeu
um erro e parece não estar arrependido. Já estou indo.
Pense bem nas merdas que anda fazendo, pois, quanto
mais você demorar com elas em sua vida, mais grave será
as consequências. Só tenho isso a dizer.
Ela sai do meu apartamento. Deixando-me sozinho
com os meus pensamentos.
Todos falam que devo contar a verdade, mas sei
que essa é a pior decisão. Essa é aquela que me fará
perder Giulia para sempre.
Deito no sofá e fecho os meus olhos, tentando
fazer com que os pensamentos ruins parem. Durante muito
tempo eu fiquei arrependido por essa mentira, mas depois
parou, eu tinha tanta coisa na cabeça que acabei me
esquecendo disso. Agora, eu estou bem com Giulia, a
garota que sempre amei. Vale a pena perder tudo para
contar a verdade?
Daniel me odeia, a minha própria mãe já não
suporta as minhas mentiras. Imagine Giulia...
— Estava lá embaixo e Gabriel arrastou Felipe
para a lanchonete. — Giulia entra no apartamento com
mais uma mochila. Ela passou o dia trazendo as mudanças
para cá. — Última mochila. — joga no chão. — Estou
morta.
— Queria ter te ajudado, mas...
— Entendo, não se preocupe. Daniel falou comigo,
disse que vocês conversaram.
— Pedi para ele ficar ao meu lado, para
investigarmos juntos.
— E tem como fazer isso? Nem sabemos quem são
essas pessoas.
— Daremos um jeito de descobrir.
— Como?
— Ainda não sei.
Instantes de silêncio até que Giulia vai ao
banheiro tomar banho. Tento controlar a minha vontade de
ir atrás dela, mas, quando dou por mim, já estou retirando
a minha roupa e entrando debaixo do chuveiro junto com
ela.
— Que susto! — Giulia dá um grito e dá um leve
tapa no meu peito.
— Não era a minha intenção.
— E qual a sua intenção?
— Pensei que fosse óbvio.
Giulia olha para baixo e ruboriza ao notar a minha
nudez.
— Oh! É que... Bem... Como posso dizer...
— Um bom tempo sem sexo, eu sei disso.
— E você?
— Eu o quê?
— Também está sem sexo ou...
— Quando eu digo que te amo, eu realmente te
amo.
— Mas, geralmente, os homens...
— Não são fiéis e não aguentam ficar sem sexo?
Eu não sou um infiel, cafajeste e reticencias. Eu sou
Leonardo, não traio e jamais faria qualquer coisa contra
você. Tem outros meios de matar a minha necessidade.
Foi difícil? Foi, mas era em você que estavam os meus
pensamentos.
— Eu...
Antes que Giulia fale mais alguma coisa, eu a
levanto do chão, para que ela fique da minha altura.
Encosto as suas costas na parede e beijo a sua boca com
muita intensidade e volúpia.
Aperto a sua bunda com força, fazendo com o que
o seu corpo fique mais colado ao meu. Saio do banheiro e
Giulia desgruda a sua boca da minha.
— Para onde estamos indo?
— Eu não transaria com você no banheiro.
— Nós já fizemos isso antes.
— Mas eu quero na cama, Giulia.
Giulia sorri e revira os olhos. Jogo-a na cama e
observo extasiado o seu corpo nu sobre o lençol.
Giulia é incrivelmente perfeita. Ela tinha vergonha
de ficar nua na minha frente, lembrava o babaca que eu
era no passado, quando eu a chamava de gorda. Eu apenas
era um idiota que não enxergava o quanto ela é perfeita.
Perfeita para mim.
— Por favor, pare de me olhar ou eu vou me
cobrir. — Giulia está com os olhos fechados.
— Não deve ter vergonha do seu marido. — fico
por cima dela, enquanto passo a mão pelo seu corpo.
— É que o seu olhar sempre me deixou assim...
— Assim como?
— Assim, envergonhada. — aperta os olhos com
força. — Faz com que eu sinta mais por você.
— Mais o quê?
Lia abre os olhos. Seus olhos azuis me encaram
com o brilho que sempre senti falta.
— Mais amor.
— Não tenha vergonha. — sussurro em seu
ouvido. — Você faz o mesmo comigo. — passo a língua
até chegar a sua boca. — Eu me sinto dessa mesma forma,
Lia. Tenha certeza disso.
Bônus 3
Nicholas

Desço da minha moto e caminho a passos largos,


de encontro a Mary, que está me esperando. Por sorte, ela
está de passagem pela cidade e ligou para mim, marcamos
de nos encontrar nesse bar.
Escuto risos e aperto as minhas mãos, tentando
controlar a minha raiva. Eu conheço esse riso, só preciso
saber quem é o motivo dele.
Ando mais apressadamente até chegar ao outro
lado do estacionamento. Encontro Mary sendo carregada
por um cara. Um cara tatuado, loiro e que eu vou matar.
— Mary! — grito o seu nome.
Os dois param com a brincadeira e ele a coloca no
chão.
— O que pensa que faz carregando a minha
garota?
— Do que está falando? Fumou alguma coisa? —
o cara diz, claramente se divertindo com a situação.
— Nicholas... — Mary fala o meu nome com
reprovação.
— Está pensando que estou de brincadeira?
Ele se aproxima de mim.
— Não estou brincando, cara.
Fecho as minhas mãos com força e antes que ele
fale mais alguma coisa, eu acerto um soco em seu rosto.
— Nicholas! — Mary grita pelo o meu nome.
O cara vem para cima de mim e acerta um soco do
lado esquerdo do meu rosto. Tento tira-lo de cima de mim,
mas só consigo soca-lo nas costelas e ele continua
fazendo o mesmo comigo.
Sinto o peso saindo de cima de mim e vejo os dois
seguranças. Ambos seguram os nossos braços.
— O que está acontecendo aqui? — um deles
pergunta.
— Nada. — respondo. Não preciso de um
problema agora.
O outro cara confirma a minha resposta. Ganhamos
um sermão e somos proibidos de voltar a esse local.
Quando eles saem, olho para Mary, que está nitidamente
preocupada com o outro cara.
— Eu não posso sair nem por um minuto e essa
merda acontece? — uma garota loira aparece e começa a
gritar.
— Calma, Dulce! — Mary grita.
— Não! Drew tem que parar de fazer merda atrás
de outra merda!
— Ele não teve culpa! — Mary me olha com raiva
e depois volta a sua atenção para o tal de Drew.
Olho para Mary mais uma vez, mas ela está muito
ocupada com o cara e a garota. Percebo que ela pega o
seu casaco e limpa o sangue no rosto do outro cara.
Afasto-me deles e volto para a minha moto. Sinto
o sangue escorrendo pelo meu rosto, mas não me importo.
Hematomas não são nada, comparados a ver sua
garota cuidando de outro cara.
— Você precisa de cuidados. — olho para o lado
e vejo uma mulher. Ela me observa com preocupação. —
Eu posso cuidar se quiser. — ela levanta as mãos, como
se fosse me tocar, mas eu desvio. — Não se preocupe, não
vou te machucar. Eu presenciei a briga, só queria saber se
está bem.
— Por que se importa?
— Porque eu fiquei interessada em você desde
que te vi descendo dessa moto. — ela passa a mão na
minha moto até chegar a minha perna. — Poderia me dar
uma carona?
Olho para a morena a minha frente. Ela, com
certeza, é muito mais velha que eu. Talvez uns trinta e
cinco anos. Ela tem o mesmo jeito das prostitutas que
frequentam o clube.
— Nick, precisamos conversar. — Mary aparece
na minha frente. — Por que bateu nele?
Encaro Mary.
Eu estou sangrando e ela está preocupada com o
outro cara?
— Suba! — falo com a mulher, que sobe
rapidamente na minha moto. — Adeus, Mary Anne.
Saio pilotando a minha moto e deixo Mary para
trás.
— Gostei do seu apelido, Nick. — a mulher
sussurra em meu ouvido. — Qual seria o seu nome
verdadeiro?
— Sem nomes. — corto o assunto rispidamente.
Não é como se eu me importasse com essa mulher.
Ela é apenas mais uma vadia, nada mais.
Capítulo 14
Leonardo

Sinto alguém apertando o meu braço. Abro os


olhos e noto que é Felipe.
— O que aconteceu? — pergunto para o meu filho.
— Está na hora de ir para a escola.
Olho para a janela e noto que já é manhã. Olho
para Giulia, que está dormindo ao meu lado, e sorrio ao
lembrar a nossa noite juntos.
— Vamos, eu vou te colocar no banho e preparar o
café.
— Tio Gabriel já está fazendo o café.
— Então, menos trabalho para mim.
Levanto da cama e dou o banho em Felipe, depois
o ajudo com a roupa e com a mochila. Vou até a cozinha,
onde Gabriel já está terminando o café.
— Não sabia que consegue cozinhar, só espero
que esteja bom.
— Bom dia para você também. — Gabriel
responde com um sorriso. — Minha mãe me obrigou a
isso.
— Às vezes eu acho que, realmente, Sara é a mãe
verdadeira de Giulia. Elas têm essa coisa de "Você
precisa aprender".
— E você deveria agradecer a isso.
Viro-me e vejo Giulia com os braços cruzados.
— Acordada há muito tempo?
— Desde que Felipe entrou no quarto, mas decidi
não levantar, você tem que ter trabalho com o seu filho.
— Voltaremos a esse assunto?
— Hoje não.
— As pessoas, a cada dia que passa, estão mais
educadas, elas falam até "bom dia" com mais felicidade.
— noto o tom irônico de Gabriel.
— Bom dia, Gabriel. — Giulia revira os olhos
para o irmão.
— Bom dia, mãe. — Giulia abraça Felipe.
— Bom dia, meu amor. — ela olha para Felipe. —
Leonardo, qual a dificuldade de desamassar uma roupa?
— Muita. Eu não entendi muito bem como se faz.
Ele é criança, ninguém se importará com isso. Podemos
dizer que ele se mexeu muito e a roupa ficou amassada.
— Já pensaram em contratar uma pessoa? Não
quero cozinhar para vocês.
— Gabriel, eu estou te dando um lar, nada mais
justo que você cozinhe.
— Leonardo, pare de ser um aproveitador. —
Giulia bate em meu braço. — Contrate uma pessoa,
também não serei sua empregada.
— Pode ser depois? Tenho umas coisas que
precisam ser resolvidas.
— Como o quê? — Giulia pergunta, depois de
colocar o café para Felipe.
— Preciso encontrar quem está tentando matar a
todos que eu amo, preciso resolver esse problema.
— E como conseguirá isso? Você está fora da
Nostra Ancoma.
— Com a minha ajuda. — Gabriel sorri com
orgulho.
— Você só tem dezessete anos, como fará algo?
— Giulia, eu já ameacei e bati em um cara da
Nostra Ancoma. Por favor, não duvide da minha
capacidade.
— Sério que a sua ajuda é Gabriel?
— Daniel e Nicholas.
— Nicholas?
— O cara que Felipe deu um soco, aquele que te
salvou dos tiros.
— Mas ele não é inimigo?
— Inimigos da Nostra Ancoma. Se não estou mais
lá, não tenho qualquer rivalidade com ele.
— E qual o plano?
— Ainda nenhum, mas, em breve, estaremos com
tudo pronto.
— Espero que, dessa vez, você consiga algo.
— Eu já consegui você. — beijo os seus lábios.
— O resto será fácil.
— Não se ache muito, sabemos o que aconteceu na
primeira vez.

(...)

Nicholas abre a porta do apartamento, onde ele


está hospedado.
— Precisamos avançar com a procura. — entro no
apartamento. — As coisas estão se complicando e...
— Eu sei disso, todos sabem. O problema é fazer
algo para conseguir o objetivo. — ele faz sinal, como se
pedisse "silêncio".
Nicholas entra em uma porta e, instantes depois,
uma mulher sai.
— Bom dia. — ela sorri para mim.
— Bom dia.
Encaro a mulher por alguns instantes. Ela é
morena, mas tem o cabelo com um tom meio ruivo, tem os
olhos verdes e noto que é muito magra. Muito magra
mesmo. Olho novamente para o seu rosto.
— Nos conhecemos? — questiono, já que tenho a
impressão de já tê-la visto em algum lugar, mas não
lembro onde.
— Talvez sim, sempre estou por aí.
— Por aí aonde?
— Por aí. — pisca um olho e se aproxima de mim.
— Se quiser, podemos...
Retiro a sua mão de mim.
— Não podemos nada. — corto o assunto de
maneira ríspida. Não gosto dessa mulher me tocando, só
gosto de Giulia.
— Isso é o que você pensa...
— Pare! — Nicholas grita. — Ele tem uma esposa
e não perderá isso por sua causa.
— Nick...
— Saia! — Nicholas a pega pelo braço e coloca
para fora do apartamento.
— Você é um cafajeste. — acuso-o, lembrando
que ele ama Mary Anne.
— Direto ao assunto.
— Qual o nome dela?
— Qual o seu interesse nela? Pensei que gostasse
de Giulia.
— Eu a amo, mas essa mulher me pareceu
estranhamente familiar.
— Não poderei responder a essa pergunta. Eu
apenas a encontrei no bar e a trouxe para cá. Sem nomes,
eu não perguntei.
— Certo. — decido esquecer o assunto. — Então,
precisamos falar sobre o plano para pegar quem está
tentando matar a minha família.
— Alguma pista? Apareceram novamente?
— Nada. É que fui expulso da Nostra Ancoma e
agora quero pegar os culpados.
— Afinal, a culpa é toda sua.
— Obrigado, Nicholas.
A campainha toca.
— Espero que não seja aquela mulher novamente.
— rosna.
— Não é tão boa quanto Mary? — provoco.
Nicholas vai atender a porta, ignorando minhas
provocações.
— O que fazem aqui? — escuto a surpresa na voz
de Nicholas.
— Viemos te ver. Pare de ser um chato e nos
abrace.
— Entrem.
Nicholas abre a porta e vejo Dean e Mary Anne.
— Mary! — olho para ela. — Há quanto tempo
não nos...
— Sou Brittany, gêmea de Mary Anne. — ela fica
nitidamente sem graça.
— Desculpe. — fico mais sem graça que ela. — É
que são idênticas, acabei confundindo.
— Normal, todos confundem. — seu tom saiu
carregado de desprezo.
— Eu sou o Dean, irmão mais novo de Nick. —
olho para ele. — Nos conhecemos?
Dean não tem qualquer relação com o MC, ele
ainda é novo para fazer parte de algo tão perigoso. Por
isso eu olho para Nicholas, não sei se seu irmão pode
saber sobre tudo.
Nicholas está muito ocupado abraçando Brittany.
Dean continua em busca de resposta, mas não falo nada.
— Então, o que fazem aqui? — Nicholas pergunta
para o irmão e para Brittany.
— O colégio está em recesso, então não tínhamos
nada para fazer. — Brittany responde. — Meus pais estão
viajando, meus primos estão por aí, Amanda está fazendo
a aula de teatro e está muito ocupada, eu só tenho Dean e
você.
— E como nossos pais estão fora de casa,
resolvemos vir atrás de você. — Dean complementa, mas
ainda me encara.
— Como souberam que estou aqui?
— Liguei para o meu pai e ele disse que você
havia ficado nessa cidade. Não foi fácil te achar, mas
sabíamos que você estaria em algum lugar afastado.
Chegamos ao hotel e te achamos. A recepção poderia ter
sido melhor, não esperávamos flores, mas um sorriso
cairia bem.
— Se não gostou, poderemos voltar.
— Anny, não é isso. — o tom de Nicholas sai de
maneira mais... Sentimental. — Não é um bom momento
para visitas.
— Encontrou amigos novos? — Brittany me olha
com raiva.
— Não somos amigos! — Nicholas fala
imediatamente.
— Isso partiu meu coração. Pensei que estávamos
em processo de construção de uma linda amizade.
— Cale a boca, Leonardo!
— Lembrei! — Dean grita. — Você é o Leonardo
Vesentini. Já ouvi muito sobre você. Nick, o que faz com o
inimigo?
— Dean, cale a boca!
— Calar a boca? É você quem está com o inimigo.
— Dean me encara como se fosse me matar.
— Eu devo favores a Leonardo, ok? Apenas isso.
— Qual favor deve?
— Não vem ao caso agora. Estou ajudando
Leonardo com um assunto, não tenho tempo para férias.
— Que assunto?
— Dean...
— Sabe mexer com armas? — pergunto a Dean.
Talvez essa visita possa me ajudar.
— Sei, apesar de não fazer parte do MC.
— Você poderá ajudar.
— Por que eu te ajudaria? — Dean me esnoba.
— Porque estamos sem pessoas para isso. —
Nicholas responde.
— Também quero. — olho para Brittany. — Meu
pai me ensinou a mexer com armas.
— Esqueci que é filha de Carlos.
— Sabe muito sobre minha vida, ou seria a vida
de Mary? — isso soou como uma acusação. — Sim, meu
pai me ensinou muito e poderei ajudar.
— Não! Você não vai ajudar! — Nicholas grita.
— Nicholas, nem tente me impedir, você não
manda em mim.
— Anny é melhor que você.
— Obrigada, Dean. — Brittany agradece.
— Nicholas, deixe-a nos ajudar, precisamos disso.
— tento convencer Nicholas. — Por favor.
— Eu sei o que faço. — Brittany fala rapidamente.
— Se digo que vou ajudar, é isso o que farei. E, Nicholas,
nem pense que vai me impedir.

(...)
Entro em casa e logo encontro Giulia com Felipe,
os dois conversam algo sobre o alfabeto.
— Ei! — chamo a atenção dos dois. — O que
estão fazendo?
— Ensinando um pouco do alfabeto. Daniel e
Gabriel estão no quarto conversando.
— Felipe, vá até o seu quarto.
— Leonardo...
— Giulia, teremos uma conversa muito séria.
Felipe pega o caderno e vai para o quarto. Sento
ao lado de Giulia. Inclino-me em sua direção, mas ela se
afasta. Opto por começar a falar:
— Eu consegui mais dois aliados para me ajudar.
— Isso é bom, mas como vão conseguir algo?
— Então, tiveram uma ideia, na verdade, é a
melhor de todas.
— E que ideia genial é essa?
— Lembra as minhas viagens? Quando fui atrás
dos culpados? Teremos que voltar até esse local.
— Como se eles fossem continuar lá. — zomba.
— Você não estava lá, aquele lugar é estranho.
Pensando bem, eu deveria ter continuado por lá, não
deveria ter voltado e mentido para todos.
— Do que está falando?
— Relembrando aquele dia, eu percebi que
poderia ter encontrado mais pistas, mas não fiz. —
arrependo-me por não ter investigado mais, mas não foi
culpa minha, Giulia estava no hospital e não pude ficar
longe dela. — Estarei voltando até lá, até o local onde
tudo aconteceu.
— Eu vou com você!
— Não, Giulia! — esbravejo. — É perigoso!
— Se Brittany vai, sua mulher também vai. —
olho para trás e vejo Nicholas. — O que foi? Se Brittany
pode correr perigo, a sua mulher também pode.
— Leo, eu fui obrigada a aprender a me defender.
— Giulia diz, tentando me convencer dessa ideia
estúpida. — Você sabe disso. Você precisará de ajuda e
eu poderei fazer isso.
— Giulia, eu não te deixarei ir! Eu não vou deixar
que você corra perigo, não deixarei que você saia atrás de
um inimigo que nem sei quem é.
— Eu e sua irmã fomos envenenadas. Quando
aconteceu comigo eu estava dentro da minha própria casa.
Leonardo, eu penso mais que você. Talvez o inimigo
esteja mais perto do que pensamos. Ficar ou ir, eu corro
perigo de qualquer maneira. Mandarei Felipe para os
meus pais, estarei indo com vocês.
Não, não vou deixa-la ir comigo. Já tive a
sensação de quase perdê-la, não sentirei isso
novamente.
Capítulo 15
Giulia

Depois de muito insistir, Leonardo, finalmente,


deixou-me ir a essa viagem. Ele falou sobre todos os
perigos que poderão aparecer, mas não foi o suficiente
para tirar a ideia da minha cabeça.
Leonardo só está contando com a ajuda de Daniel,
Nicholas, Gabriel, Dean e Brittany, e esses três últimos
não devem nem ter dezoito anos.
Eu sei atirar, meu pai me deu essa aula. Confesso
que nunca estava interessada, mas prestava atenção
apenas para deixar meu pai feliz. Felizmente eu aprendi e
ainda lembro sobre tudo.
Agora eu estou preparando a minha mala.
Leonardo mandou que eu fizesse isso, já que a viagem é
longa e poderemos parar no meio do caminho, porém, não
é como se fosse uma viagem a passeio, mas Leonardo
insistiu para que as malas fossem feitas.
— Mas mãe, eu quero ir.
Paro a minha arrumação e olho para Felipe, que
insiste em ir conosco a essa viagem.
— Não é uma viagem para diversão, é para
trabalho.
— Mas eu gosto de ver os prédios.
Felipe sabe que o pai trabalha em uma construtora,
mas não tem noção de seu outro trabalho.
— Faremos assim. — ajoelho-me para ficar na sua
altura. — Na próxima viagem você vai conosco.
Felipe cruza os braços e faz beicinho. Essa
imagem amolece o meu coração, mas, infelizmente, eu
nem ao menos sei se voltaremos bem dessa viagem. Rezo
para que sim.
— Vá falar com o seu pai.
Felipe sai do quarto e eu volto para a arrumação.
— Mãe. — olho para Felipe. — Meu pai não está
aqui.
— Ele deve estar lá embaixo. Gabriel, Daniel,
Nicholas...
— Não tem ninguém aqui. Eu já procurei em todos
os lugares.
Leonardo não pode ter feito o que eu estou
pensando que ele fez!
Saio rapidamente do quarto e vou até o telefone.
Ligo para Leonardo, mas ele não me atende. Tento ligar
para Daniel e Gabriel, mas está dando ''telefone
desligado''.
Por fim, descido ligar para a recepcionista, ela
pode ter visto Leonardo sair. Talvez ele não tenha ido
sem mim...
A recepcionista pede um instante, logo após ela
volta com a resposta para a minha pergunta.
— O senhor Vesentini saiu com o os irmãos da
senhora e mais três outras pessoas.
Ele realmente fez isso!
— Sem informação para onde ele foi? — claro
que Leonardo não falaria nada para os funcionários.
— Ele apenas pediu para que a senhora fique
com os seus pais ou volte para casa. Apenas isso.
Agradeço à senhora e desligo o telefone.
O que farei agora?
Talvez eu não fosse de grande serventia, mas eu
sei me defender, seria mais uma pessoa para ajudar.
Respiro fundo e penso que Leonardo fez o certo.
Sei que ele não quer me ver correndo perigo e nem
machucada. Ele foi sem mim apenas para me livrar de
algo ruim. Entretanto, eles correm perigo.
Levanto do sofá e volto para o quarto.
— Ei! — chamo Felipe. — Mudança de planos,
estamos voltando para casa.
— Por quê? — Felipe pergunta, tirando os olhos
da TV e me encarando.
— Bem, seu pai foi sem mim, ele é muito
apressado e não aguentou me esperar.
Felipe ri com isso, mas se ele soubesse a verdade,
ele estaria preocupado como eu.
O plano de Leonardo consiste em voltar à cena do
crime. Bem, ao que tudo indica, o cara que ele matou
estava hospedado em um hotel, com isso ele pretende
obter informações e tentar encontrar os outros culpados.
Não sei se isso dará certo, as chances são mínimas, mas é
a única coisa que eles têm. Talvez eles nem estejam
correndo perigo, duvido que os outros culpados estejam
lá, mas eu continuo temendo.
Arrumo as malas de Felipe e preparo-me para sair
do apartamento. No mesmo momento em que estou
abrindo a porta, escuto o telefone tocar.
— Espere um pouco. — peço a Felipe, que já está
impaciente com minha demora e arrumação.
Atendo o telefone e a recepcionista me avisa que a
mãe de Leonardo está querendo falar com ele. Peço para
que ela deixe Isabella subir.
— Espere um pouco, Felipe. Sua avó está vindo
para cá.
— Então eu vou assistir desenho.
— Ok, pode ir.
Abro a porta antes mesmo de Isabella entrar. Volto
para o sofá e fico esperando por ela.
Tento ligar para Leonardo mais uma vez e ele não
me atende.
— Leonardo?
Assusto-me quando escuto essa voz. Essa não é
Isabella.
Levanto-me do sofá e caminho até a porta, dando
de cara com uma mulher loira.
— Quem é você? — pergunto. Confesso, eu estou
com medo.
— Eu sou a Olívia, mãe de Leonardo.
Olho para a mulher a minha frente. É a mulher que
foi aquele dia ao condomínio.
— Você não é a mãe de Leonardo. Saia da minha
casa!
— A casa não é sua, é do meu filho.
Sério que essa mulher quer ser superior?
— Que eu saiba, a mãe de Leonardo é a Isabella,
não você.
— Isabella não é nada dele, ela nem ao menos
pode ser considerada a esposa de Marco.
— O que quer dizer com isso?
A mulher sorri como se fosse uma vitoriosa. Ela é
linda, muito linda mesmo. Talvez sejam as plásticas.
Percebo sua boca não deve ser natural, assim como os
seus seios. Seus olhos são azuis claros, o cabelo longo e
loiro aparenta ter sido muito bem tratado, assim como a
roupa e seus sapatos. Ela aparenta ser como uma modelo,
uma modelo ideal, daquelas que fariam fortuna com a
imagem. Olho para a sua bolsa, aposto que é de alguma
grife.
Como ela conseguiu dinheiro para tanto?
Eu nunca escutei falar que essa mulher é rica.
Leonardo até pensava que ela fosse uma prostituta
qualquer. E se Marco estiver pagando por tudo isso? Da
maneira que ela falou... Não quero nem pensar nessa
possibilidade.
— Marco não tem nada a ver com isso. — sua voz
aumenta. — Quero ver meu filho.
— Saia daqui! — rosno. — Antes que eu chame os
seguranças. Eu sou casada com Leonardo, esse prédio é
meu e você não tem direito algum sobre ele.
— Já vi que meu filho e Marco tem um péssimo
gosto. — ela olha a casa ao redor. — Pode deixar,
Bertollini. Eu darei meu jeito de falar com o meu filho.
— O que quer com isso?
— O que eu quero? — sorri. — Olhe para mim,
acha que eu quero o quê? Adeus, querida.
Ela sai do apartamento.
Respiro fundo, tentando controlar a minha raiva. A
vontade que tenho é ir atrás dessa mulher e agredi-la, mas
opto por não fazer isso.
Chamo Felipe para irmos embora.
Saio do elevador e vou até a recepção.
Como podem ter anunciado aquela mulher como
mãe de Leonardo?
— Boa tarde. — cumprimento a recepcionista. —
Só quero saber por que falaram que aquela mulher é a mãe
de Leonardo?
Isabella é conhecida, ela é mulher do dono da
construtora. O prédio pode pertencer a Leonardo, mas,
antes isso, pertenceu a Isabella.
— Aquela senhora disse que é Isabella Vesentini.
— a recepcionista diz com a voz trêmula.
— Algum problema? — uma senhora aparece,
reconheço-a como a outra recepcionista.
Conto o problema e ela pede desculpas. A
recepcionista que acreditou em Olívia é nova e nem ao
menos sabia que Leonardo havia saído, mais cedo eu
havia falado com outra pessoa.
Depois de resolvido a confusão, peço para que
barrem a entrada de Olívia no prédio.
Entro no carro e dirijo até a minha antiga casa. Sei
que ali é o lugar mais seguro para mim e para Felipe.

(...)
Em casa não havia nada para ser feito. Meus pais
nem ao menos estão aqui. Decido ir até a casa de Jasmine,
para conversarmos um pouco. Deixei Felipe com Karen,
ela é a única que está em casa e ficou feliz com a
companhia do sobrinho.
Desço do carro e logo alguns homens mal
encarados me encaram, mas logo eles ficam tranquilizados
quando percebem que sou eu. O pai de Jasmine, o Tyler, é
um gangster, logo esse lugar é protegido por ele e seus
parceiros. E quando um carro diferente entra, eles logo
olham com desconfiança, mas eles sabem quem eu sou e
não impedem a minha entrada.
Estaciono o meu carro um pouco distante da casa
de Jasmine, já que na frente tem algumas crianças
brincando e não quero bloquear a rua com meu carro.
Toco a campainha da casa de Jasmine.
— Giulia. — Jasmine abre a porta. — Que bela
surpresa.
— Oi. Realmente, faz um tempo que não nos
vimos.
— Sim. Daniel falou que você e Leonardo
voltaram. — ela se encosta a porta.
— Ei, Giulia! — Leila aparece atrás de Jasmine e
sorri para mim.
— Oi, Leila.
— Então, sabe o que acho muito legal sobre isso?
— Jasmine fala, o seu tom de voz sai carregado de raiva.
— Que eu sempre estive ao seu lado nos momentos
críticos da sua vida, quando precisava desabafar e falar
mal de Leonardo, mas quando está tudo bem, eu não servi
para a senhorita. Agora, que Leonardo viajou, você veio
atrás de mim apenas para se lamentar?
— Jasmine, tem noção do que passei nesses dias?
Kat foi parar no hospital...
— Viu, só lamentações. Giulia, você me esqueceu
no momento em que voltou para Leonardo.
— Mas isso aconteceu ontem! Aconteceu tudo de
maneira rápida.
— Poupe-me, Giulia! — Jasmine grita. — Não
volte aqui, não quero saber de você. Você é aquele tipo de
pessoa que só está ao seu lado quando precisa, depois
quando está tudo bem, nada disso importa.
— Jasmine...
— Adeus, Giulia! — Jasmine bate a porta com
força em minha cara.
Olho para a porta fechada e fico me perguntando o
que aconteceu para Jasmine estar me tratando dessa
maneira. Sempre fomos amigas, desde criança quando ela
começou a frequentar a minha casa. Claro que eu sempre
desabafei com ela, mas a minha reconciliação com
Leonardo aconteceu ontem e hoje eu vim até aqui.
Paro de pensar nisso e volto para o meu carro.
Não adianta tentar encontrar resposta para algo que não
tem sentido.
Aproximo-me do carro e noto um papel preso ao
limpador do para-brisa.
Não é possível que nesse bairro tenham guardas
para me multar.
Retiro o papel e percebo que ele está dobrado e é
folha de caderno.
Desdobro o papel somente para notar que é um
bilhete anônimo, com palavras recortadas de revistas e
jornais:

''Giulia, cuidado com quem está ao seu lado,


algumas querem vingança.
Talvez o seu marido tenha roubado um contrato
de casamento e casou com você. Talvez uma pessoa
queira ser a primeira dama da máfia, mas não conseguiu
porque você tomou a frente. Talvez essa pessoa esteja
por trás de tudo isso. Pense nisso''.

Ele está falando de Jasmine?


Espera um pouco... Eu fui enganada por Leonardo
e não por meu pai e Daniel?
Capítulo 16
Giulia

Fecho os olhos na intenção de esquecer esses


últimos dias. Passei mal de uma maneira tão grave que
estou internada no hospital, o pior é que ninguém nem
ao menos sabe o motivo disso. Falam de gravidez de
risco, mas não sabem ao certo o que causa isso. Já
mencionaram sobre eu, talvez, estar sofrendo por algo e
isso estar afetando o bebê. Talvez eles estejam certos.
Estou aqui no hospital e Leonardo nem sabe
disso. Saiu por aí e deixou-me sozinha, logo após eu
descobrir sobre a gravidez.
— Ei, Giulia! — Jasmine me dá um meio sorriso.
— Daniel está aí, quer falar com você.
— Eu não quero que...
— Não se preocupe, falei que você passou mal,
apenas isso.
Não quero ficar mencionando tudo o que
acontece comigo na gravidez. Meu pai deve me odiar
por conta disso e não quero enche-lo com meus
problemas, afinal, a culpa foi minha e de Leonardo, mas
o culpado nem aqui está.
— Peça para ele entrar. — falo com Jasmine que
sai, dando lugar a Daniel.
— Como está? — meu irmão pergunta. — Soube
que passou mal.
— Gravidez tem dessas coisas. — falo, sem dar
tanta importância ao assunto. — Mas posso dizer que
estou um pouco melhor.
— Sei que não é o momento certo para isso, mas
você precisa assinar alguns papéis. — Daniel me
entrega os papéis.
— O que é tudo isso?
— Burocracias do banco, já que está grávida,
nosso pai acabou criando outra poupança para o neto.
Vamos combinar, ele pode querer matar Leonardo, mas
sabemos que ele já ama o neto. Aqui também tem os
papéis sobre a academia de dança, já que não trabalha
mais lá, minha mãe acabou fazendo algo para pagar os
seus direitos trabalhistas. Acho que apenas isso. Eu
estava indo a sua casa exatamente para que assinasse
esses papéis, na verdade, estou tentando entrar em
contato com você há um tempo e só agora me atendeu.
— Desculpe, você sabe que não estou muito bem
com essas coisas.
— Entendo, mas pode assinar em outro momento.
— Não, sem problemas. É apenas enjoo, posso
assinar esses papéis.
Assino todos os papéis e entrego a Daniel.
— E Leonardo? — pergunto, mas sei que não vou
obter respostas.
— Giulia, não posso...
— Entendi, não pode me responder, é coisa da
Nostra Ancoma.
É sempre para essa máfia...
Estaciono o meu carro em frente à casa do meu
pai. Minhas mãos estão trêmulas graças ao meu nervoso,
tudo por causa daquele bilhete.
Primeiro de tudo, eu jamais vou acreditar que
Jasmine é culpada por algo. Eu confio nela, sempre fomos
muito amigas. Eu sei que ela quer casar com Daniel, mas
nada tem a ver com o dinheiro. Ela sempre foi apaixonada
por meu irmão, antes mesmo de descobrir sobre o acordo
de casamento. Jasmine é uma pessoa boa, duvido que ela
esteja por trás disso.
Agora em relação a Leonardo... Talvez seja
verdade.
Passei anos evitando o meu pai. Eu até posso amar
Leonardo, não nego que sinto isso por ele, mas tinha raiva
do meu pai e de Daniel. Porque eu sabia que eu havia sido
enganada naquele dia do hospital, foi o único momento em
que assinei algo. Senti-me traída. Pensei que eles
poderiam ter falado diretamente comigo, mas preferiram
armar para que eu me casasse.
Será que Leonardo foi expulso da Nostra Ancoma
por conta disso?
Minha cabeça, que antes estava doendo, piora
quando penso em tudo isso. Decido parar meus
pensamentos e entro na casa dos meus pais.
Assim que entro, vejo Karen e Kat conversando.
— Oi, Kat. Como está? — pergunto apenas para
não parecer grossa, minha cabeça está cheia de perguntas,
a única coisa que quero é dormir e acordar desse
pesadelo.
— Pode-se dizer que mais ou menos. — dá um
meio sorriso. — Meus pais não me escutam, acho que me
culpam pelo o que aconteceu, mas eu juro que não bebi
nada alcóolico. Pensando bem, eles não estão muito
interessados nisso, só vivem brigando.
Minha cabeça dói ainda mais quando lembro sobre
Olívia. Será que aquela mulher é a amante de Marco?
— Está melhor de saúde? — tento mudar o
assunto. Sei que ela foi envenenada, mas não sei se posso
falar disso com ela. Kat é muito nova para saber que já
está sendo um alvo.
— Sim, bem melhor de saúde, mas em outros
termos... Lá em casa está tudo um caos, meus pais brigam
e Leonardo não presta atenção em meus problemas, todos
estão sempre muito ocupados. Acho que com você será
mais fácil. Mas olhando para você, vejo que também não
está bem.
— Kat está certa. — Karen concorda. — Eu acho
que Giulia não está bem. Felipe está lá dentro assistindo
TV. Aconteceu algo?
— Não, não foi nada. Kat, pode falar.
— Foi algo com o meu irmão? Porque eu juro, se
ele fez algo para te deixar assim... — grunhe. — Leonardo
é muito burro mesmo! Passou anos dizendo que ficaria
com você, aí quando consegue faz merda. Eu liguei para
ele ontem e ele só sabia falar de você. O escutei para
esquecer meus problemas, ele disse que estava muito feliz
e agora você está com essa cara?
— Kat, Leonardo sempre gostou de mim?
— Não sei na época da adolescência, mas quando
ele voltou de viagem, estava louco por você. Lembra a
festa de boas-vindas? Eu e meu irmão conversamos, ele
confessou gostar de você. Eu sempre falava de você em
minhas ligações, acho que isso influenciou no coração do
meu irmão.
— E o casamento? — Kat é uma pessoa que fala
muito. Duvido que ela saiba sobre o que o irmão fez, mas,
nesse momento, eu só preciso escutar da boca de outra
pessoa o que Leonardo sente por mim.
Eu sei que ele pode ter me enganado, na verdade,
tenho certeza disso, mas, bem lá no fundo... Talvez eu
continue sendo a tola apaixonada. Aquela tola que mesmo
grávida e ''abandonada'', continuava amando o marido e
inventava desculpas para não sair de casa.
Se bem que, ele estava fora para me salvar e a
amante nunca existiu, tudo uma armação de... Jasmine?
Oh, céus! Adoraria ter uma vida normal.
— Lembro que Leonardo ficou estático com a
notícia da gravidez, mas, logo após, ele era o cara mais
feliz do mundo, falava até que queria um menino. Depois
você estava preocupada e ele ficou triste, depois veio o
casamento e a felicidade voltou a reinar.
Foi o próprio Leonardo que falou sobre o contrato
que eu havia assinado. Foi tudo tão caótico que eu acabei
nem mencionando isso para o meu pai. Eu apenas aceitei
aquilo calada, depois de algumas semanas eu já estava
acreditando que aquilo era o certo, afinal, mesmo com
aquela traição, eu amava Leonardo e acreditei que
teríamos uma vida feliz juntos.
— Ele me ama, certo?
— Giulia, claro que ele te ama. Nem quero
lembrar como ele ficou quando você estava em coma.
Detesto falar sobre isso, mas Leonardo estava tão louco
em te ver quase morta, que ele culpou Felipe por aquilo.
Ele tinha até um certo medo de se aproximar de Felipe.
Com o tempo isso foi passando e ele já estava amando o
filho, mas você ainda estava internada e a tristeza dele
não melhorou em nada. Leo te ama muito, muito mesmo.
— Obrigada. Era só isso que precisava escutar.
(...)

Já é madrugada e eu estou na casa dos meus pais.


Minha mãe está com Isabella, já que ela está muito mal;
meu pai está em alguma reunião; Felipe está dormindo e
Kat e Karen devem estar assistindo a alguma série na TV.
Eu estou no lado de fora da casa, olhando para a lua e
pensando na minha vida.
Pensei em inúmeras possibilidades e uma delas
está fixa na minha mente: O inimigo está muito próximo de
nós.
Quando eu estava grávida, Leonardo estava
afastado justamente para pegar o inimigo e eu sempre era
atacada de uma maneira sútil. Quando eu estou de bem
com Leonardo, acontece tudo novamente e nos afastamos,
agora tem mais essa intriga. Intriga um tanto quanto falha.
Porque se eu for pensar bem, porque um bilhete contando
a suposta verdade, seria colocado em meu carro
justamente na hora em que fui visitar Jasmine? Está bem
claro que isso foi feito para nos separar. Jasmine é ótima
em luta e tem toda a M-Unit ao seu lado, nos separando
significa que perderemos esse laço. Me separando de
Leonardo, significa que perderei a sua proteção.
Aparentemente a Nostra Ancoma está crise, logo está
desestabilizada.
Eu tenho dois palpites: Leila e Olívia.
Só tem uma pessoa capaz de conversar com
Jasmine, e esse alguém é Leila. E teve aquele dia que ela
foi a minha casa do nada, no objetivo claro de causar
alguma discussão entre mim e Leonardo.
Por isso eu acho o plano dessa pessoa muito falho.
Se analisar com clareza, dá para perceber vários furos.
Meu celular toca, tirando-me dos meus
pensamentos. Olho para a tela e vejo que é Leonardo.
Meu coração acelera com isso. Atendo o telefone
e escuto a sua voz do outro lado.
— Sei que está me odiando nesse momento, mas
eu jamais deixaria que você viesse comigo. — a sua voz
sai carregada de humor.
— Entendo. Como estão as coisas?
— Estamos tentando.
— Entendo.
— Giulia, você está bem? Não fique chateada
com o que fiz, eu te amo e jamais suportaria a ideia de
te ver correndo perigo. Está chateada comigo?
— Não.
— Por que está monossilábica?
— Estou na casa dos meus pais. Bem, está tudo um
caos e estou cansada.
— Desculpe, é madrugada, mas só agora eu
consegui te ligar. Pode voltar a dormir. Ah, eu te amo.
— Também te amo. — não é uma mentira.
Desligo o telefone e abaixo a cabeça. Eu poderia
ter mencionado algo sobre Leila, mas eu não sei o que
está acontecendo. Ela sabe muita coisa sobre o que
acontece na minha vida, talvez tenha escutas ou algo do
tipo, não sei, mas não quero dar qualquer informação.
Na verdade, eu nem tenho ideia do que fazer.
Meu celular toca avisando de uma nova
mensagem. Olho para a tela e vejo que é uma mensagem
de Jasmine:

Desculpe-me pelo o que aconteceu hoje, Giulia.


Eu juro que não queria ter feito aquilo, mas foi
necessário. Leila está por trás disso, tenho certeza. Não
dá para falar tudo por aqui, mas confie em mim, por
favor. Eu estou fingindo te odiar, apenas para ver até
onde ela vai e, assim, ver quem está por trás disso.
Confie em mim.
Capítulo 17
Leonardo

Enganar Giulia foi à única coisa que pensei. A


última coisa que eu quero é vê-la correndo perigo.
Inventei que ela tinha que arrumar as malas, nesse
tempo, enquanto ela estava ocupada, eu saí do
apartamento e fui para o carro, onde todos os outros já
estavam me esperando.
Nicholas fez o mesmo, ele enganou Brittany e
Dean e eles não vieram conosco.
Olho para o celular, onde tem chamadas perdidas
de Giulia. Opto por não retornar a ligação, ela poderá
ficar irritada e, no momento, eu não preciso desse drama
na minha vida.
— Já pensou que pedindo para sua mulher ficar
com os pais, ela poderá descobrir sobre a sua mentira?
Olho para Nicholas, que está dirigindo o carro.
Eu conversei com Daniel, ele falou que Fernando
não vai contar sobre o que fiz, pelo menos, não por
enquanto. Acredito que ele não conte por agora, o que não
posso é demorar nessa viagem. Se for para Giulia estar à
salva e descobrir a verdade, que seja assim.
Não tenho homens suficientes ao meu lado, apenas
os seguranças do prédio. Pela lei desse país (lembrando
que é tudo criado pela autora, inclusive o país) os
seguranças são proibidos de estarem armados. Então é
melhor que Giulia e meu filho fiquem ao lado de Fernando
e da Nostra Ancoma.
— Meu pai disse que não contará nada, pelo
menos, por enquanto, ele ficará calado. — Daniel
responde por mim, já que estava ocupado em meus
pensamentos.
— E já sabe como contar a verdade? — Nicholas
pergunta.
— Sabe o que acho legal? — olho para trás, onde
Daniel está sentado. — Ele sabe mais que eu, que sou
padrinho do seu filho.
— Cara...
— Leonardo, quando começou essa amizade?
— Não somos amigos! — Nicholas rosna.
— Eu o ajudei com a namorada dele, então temos
uma divida. — respondo. — Ele não soube sobre o
contrato primeiro, eu tive que dizer para ajudar na
investigação, já que eu entendi que o inimigo quer pegar
Giulia. — minto, Nicholas soube sobre a minha mentira
primeiro, mas não quero que Daniel saiba disso. — Por
falar na minha mentira, Daniel...
— Não peça desculpas, você prejudicou meu
casamento!
— Mas você não quer Jasmine, só se isso for pela
Nostra Ancoma e a M-Unit, já que Tyler está sumido... —
paro um pouco e penso. A verdade está aparecendo com
clareza para mim. — É isso! Você quer o casamento
porque Tyler está sumido, casando com Jasmine, você fica
na frente da gangue. E eu pensando que fosse por amor.
— Por isso Leonardo foi descoberto por meu pai,
ele é muito lento.
— Gabriel, do que está falando?
— Leo, é óbvio que esse é o motivo do meu irmão
estar irritado com o atraso do casamento, você demorou a
perceber isso.
— É que eu não tinha tempo para juntar uma coisa
com a outra. — olho para Daniel. — É só casar, simples.
— Sem a assinatura de Tyler?
— Leonardo, você não tem nenhuma cópia do
contrato? — Nicholas pergunta. — É só pegar e fazer um,
já que o original foi para o seu casamento com Giulia.
— Não tenho nem nada do contrato de Daniel.
Pensei que o destruindo, ninguém ligaria as clausulas.
Mas será que não tem nada com a assinatura de Tyler?
Porque é só fazer o contrato normal e falsificar a
assinatura dele, o que mais conhecemos são pessoas que
fazem isso. Como todos sabem sobre esse casamento terá
que existir, você não terá problemas.
— Não, só terei problemas quando Tyler aparecer
e souber que a filha casou sem o pai. Tyler sempre quis
entrar na igreja com ela. Se ele estiver vivo e souber do
casamento, ele junta todos e adeus trégua.
— Eu não sabia dessa parte do acordo. —
defendo-me.
— Essa parte foi feita verbalmente, talvez ele
soubesse que ficaria fora por um tempo e tratou de falar
para que a filha não case sem ele.
— Então eu não cometi um grande crime.
— Leonardo, eu vou ignorar isso.
— Então, nada de Tyler? — Gabriel pergunta.
— Não tem nada sobre ele, não sabemos nem se
ele está vivo.
A viagem prossegue em silêncio, depois de sete
horas, chegamos ao hotel onde encontrei o cara que estava
seguindo Giulia.
— Sabe o mais legal disso? — Gabriel se
aproxima de mim. — Você sabe sobre o hotel onde o cara
estava, mas nunca voltou para saber o seu nome.
— Eu estava ocupado, Giulia estava mal.
— Muito prático, não? Você matou o cara e, logo
após, Giulia foi envenenada. Nada que não tirasse a
atenção dos inimigos.
— A culpa foi minha, eu havia falado que peguei o
culpado.
— Sabe o que acho interessante? Ok, você estava
mal por Giulia, lembro isso. Mas meu pai é inteligente,
ele junta as coisas facilmente. Se você matou o cara do
outro lado da cidade, quem envenenaria minha irmã? Meu
pai deve ter pensado nisso.
— Você acha que...
— Meu pai sempre soube que você não matou o
verdadeiro o culpado, deixou você se livrar dessa mentira
em respeito à Giulia e a Marco, talvez o seu pai também
saiba sobre isso. Eles devem continuar investigando,
talvez seja por isso que a Nostra Ancoma está um caos.
Afinal, o inimigo está perto e nossos pais devem
desconfiar de todos. Nós estamos investigando agora, mas
tenho certeza que nossos pais já fazem isso há um bom
tempo.
Essa possibilidade não é absurda. Fernando e meu
pai não são conhecidos por serem enganados facilmente.
Será que eles já estavam investigando sobre isso?
— Meu pai estava fora, diz ele que estava tratando
de negócios. Minha mãe até discutiu com ele e ele foi
obrigado a leva-la em uma viagem. Viagem essa que
minha mãe voltou revoltada, porque ela e Karen ficaram
sozinhas, enquanto meu pai resolvia algo no hotel, hotel
do outro lado da cidade. — Gabriel termina de falar.
Meu pai... Há um bom tempo eu não vou a casa
dele, mas minha mãe estava irritada com ele, nunca falou
o motivo disso. Talvez seja o mesmo de Sara. Meu pai
pode estar saindo e não informa para onde. Duvido sobre
traição, eles jamais trairiam as mulheres deles.
Até que Gabriel é inteligente para alguém que
acabou de sair do ensino médio e não teve tanto contato
com a Nostra Ancoma.
Entramos no hotel, que fica a beira da estrada. Eu
havia seguido o homem até aqui, fiquei no mesmo hotel
que ele, acho que ele nunca me viu. Na primeira saída que
ele deu, eu o peguei. A estrada por onde ele foi é deserta,
então foi fácil. Na época eu até pensei que fosse uma
armadilha, mas foi burrice mesmo.
O homem na recepção nos olha com um largo
sorriso e faz as ''boas-vindas''.
— Precisamos saber informações sobre um
homem. — Daniel se aproxima do balcão. — Ele se
hospedou aqui há uns quatro anos.
— Não podemos...
— Aqui está. — Daniel coloca o envelope do
dinheiro em cima do balcão. — Foi no mês de março.
— Foi um homem? — o recepcionista pergunta,
guardando o envelope.
— Sim, um homem.
— Podem ter vários...
— Então nos entregue o nome de todos eles, já que
não temos fotos e nem sabemos os nomes, queremos a
lista dos nomes.

(...)
Óbvio que os inimigos não estariam nesse hotel,
ainda mais depois de tantos anos, mas todo cuidado é
pouco.
O recepcionista nos deu a lista com os nomes,
agora o amigo de Nicholas está procurando sobre todos
eles. Não sei como esse cara conseguirá algo, mas
Nicholas disse que consegue tudo.
Acabei de falar com Giulia. É madrugada e ela
ainda estava acordada, mas estava estranha, muito
monossilábica. Talvez esteja chateada por eu tê-la
deixado para trás, mas foi preciso, eu não sabia o que me
esperava aqui.
Volto para o quarto onde estou dividindo com os
outros caras. Assim que entro, encontro todos eles
olhando para os notebooks que estão em cima da cama.
— Alguma novidade? — pergunto.
O amigo de Nicholas enviou a ficha de todos os
homens que estavam na lista, saí e os deixei aqui no
quarto terminando a procura. Enquanto isso, eu estava do
lado de fora o hotel, tentando encontrar uma maneira de
falar com Giulia, já que o celular estava sem sinal.
— Ainda nada. — Daniel responde.
Continuamos a procura. Quando não temos mais
nada para fazer, decidimos dormir, admitindo a derrota.

(...)

— Leonardo! Acorda!
Escuto os gritos de Daniel e levanto da cama em
estado de alerta.
— O que foi? — pergunto.
— Encontramos algo muito importante. — ele
aponta para a sua cama, que está com o notebook aberto.
— Ontem um nome havia me chamado a atenção nas
fichas que o amigo de Nicholas enviou, não falei sobre
isso com você para não dar falsas esperanças, mas, hoje
cedo, o amigo de Nicholas trouxe as respostas.
Ando até a cama de Daniel, onde tem inúmeros
papéis com fotos de pessoas.
— Encontramos algo muito importante. — Daniel
pede para que eu me aproxime. — Esse cara aqui. —
aponta para um papel, onde tem uma imagem de um
senhor, mas isso parece ser uma imagem do século
passado. — Ele se chama Giuseppe Baptista, na ficha
consta que ele estava hospedado aqui no dia sete de
março, mas, na verdade, ele morreu no ano de 1964.
— Poder ser coincidência, afinal, podem ter
vários homens com esse nome. — falo.
— Não com a mesma nacionalidade. — Gabriel
diz. — Na ficha tem as informações dele, a única coisa
diferente é a data de nascimento, fora isso, não mudou
nada. E tem mais uma coisa, ele nunca voltou para o hotel,
saiu e deixou suas coisas para trás. Só tem a informação
de quando ele entrou, mas já é grande coisa saber que o
cara nunca voltou.
— Por isso eu pedi para que o amigo de Nicholas
puxasse a árvore genealógica desse homem, descobrimos
que ele é de uma família muito tradicional lá na
cidadezinha italiana, então foi fácil fazer isso. — Daniel
continua. — Conseguimos até algumas imagens dos
parentes mais conhecidos, imprimimos tudo.
Daniel me entrega as imagens, logo eu reconheço o
cara que assassinei.
— Foi ele. — aponto para a imagem.
— Francesco, ele é bisneto desse homem e já
cumpriu pena por tráfico de drogas. Imaginei que pudesse
ser esse cara, já que ele é a terceira pessoa que já
cometeu crime na família, a outra também já morreu,
restando apenas uma. Agora, mude a folha.
Viro a página e encontro Antonieta Baptista.
Não pode ser...
— Ela é a bisneta de Giuseppe, irmã de Francesco
e já foi presa por suspeita de tráfico de drogas. — olho
para Daniel, que continua falando. — Mas nós a
conhecemos apenas como Leila, a amiga de Giulia e
Jasmine.
Capítulo 18
Giulia

Leila é a culpada por tudo.


Ela se aproximou de Jasmine na adolescência,
quando elas eram colegas de sala na escola. Lembro-me
de Jasmine mudar de sala e Leila ir atrás, indo estudar na
mesma sala que eu.
Tudo já estava planejado.
Mas tudo foi planejado por Leila? Não lembro de
termos tido qualquer tipo de desavença... Mas Leo contou
que já estavam atrás de mim e da minha mãe, desde a
minha época de adolescência. Só se Leila trabalha para
outra pessoa ou, então, ela é mais velha do que eu.
Olho a mensagem de Jasmine novamente, a
confirmação que não é ela quem está armando contra mim.
Eu nunca duvidei dela, principalmente por ela ser
apaixonada por Daniel.
Ainda é madrugada e daqui a pouco vai
amanhecer. Meus pais não estão em casa, tentei falar com
eles mais cedo, mas não consegui. Karen e Kat disseram
que é assim que está a família Bertollini e Vesentini.
Pergunto-me se meu pai e Marco sabem de algo e se esse
é o motivo deles ficarem tão longe das suas famílias,
prefiro que o motivo seja Leila do que Olívia.
Agora que penso em Olívia, isso significa que ela
não está no plano? Ou pode está, ela pode estar ligada
com Leila. Talvez Olívia arquitetou tudo e convidou Leila,
isso faz mais sentido do que Leila ter trabalhado sozinha.
Verifico o meu celular mais uma vez. Tento ligar
para Leonardo, para avisar que achei a culpada por tudo,
mas, nesse momento, o seu celular está sem sinal. Assim
como o de Daniel e o de Gabriel. Não tenho ideia para
qual lugar eles foram, só sei que Leonardo mencionou não
ter sinal ali, para encontrar é preciso procurar e ter
paciência.
Lembro-me que foi exatamente por isso que eu
briguei e decidi me afastar de Leonardo. Estava grávida e
ele nem ao menos ligava para mim. Sendo que a realidade
era outra. Leonardo estava atrás da pessoa que tentou me
matar, e ele não poderia manter contato comigo. Todas as
vezes que Leonardo sumiu, era isso o que ele estava
fazendo tentando salvar a minha vida.
Agora eu lembro sobre Leonardo ter me enganado
com o contrato de casamento. Não vi Leonardo tão
irritado por ter sido afastado da Nostra Ancoma, muito
pelo contrário, ele pareceu ter ficado mais preocupado
por ter ido embora e por ter pensado que eu o
abandonaria. Ou Leonardo é um ótimo ator, ou ele me
ama.
Eu sei que eu o amo. A tola aqui nunca esqueceu
Leonardo, nem na época em que eu jurava que era traída...
Quando ele não me ligava, a cada dia que se passava, eu
chorava de raiva de mim mesma. Raiva por ama-lo,
mesmo que ele não merecesse aquilo.
O contrato de casamento me irritou no início,
então Leonardo conversou comigo e acabei aceitando.
Aceitei porque eu, realmente, queria me casar com
Leonardo. Eu já estava grávida e completamente
apaixonada por ele.
Eu não fui firme. Cheguei à casa de Jasmine e
desabei em choro. Ela queria tirar satisfações com Daniel,
mas nunca deixei que aquilo acontecesse. Se tivesse
deixado, tudo teria sido explicado.
Leonardo continuou me procurando, ele sabia que
eu estava com Jasmine, afinal, ela sempre foi a minha
única amiga.
Meu pai também me procurou e acabamos
discutindo. Agora eu entendo o porquê do meu pai nunca
ter entendido minhas acusações sobre ele ter me
enganado. Eu nunca falei o motivo, pensei que Fernando
Bertollini estava se fazendo de sonso, mas ele apenas não
fez parte do plano idiota de Leonardo. Daniel foi
diferente, ele se afastou de mim, mas quando Felipe
nasceu, ele voltou correndo e acabei o aceitando em
minha vida. Para falar a verdade, Daniel nunca se
defendeu das acusações, ele apenas escutou calado, acho
que foi por isso que não nos afastamos de vez, assim
como a minha mãe. Minha mãe aceitou as minhas palavras
caladas e depois colocou a culpa nos hormônios da
gravidez, mais uma vez, eu não contei o motivo da minha
raiva.
Acho que um dos motivos para eu nunca ter
contado nada, foi por causa da minha raiva. Toda vez que
eu pensava naquele contrato, eu sentia vontade de chorar e
acabava travando. Fora que, no início, eu ainda aceitei,
acreditei que Leonardo me amava, mas quando ele
começou a sumir... Eu culpei Leonardo pelo meu
sofrimento, não só ele, mas como toda a minha família.
Meu pai sempre teve um gênio forte. Quando eu o
acusava de algo, ele me acusava de ter enganado a todos.
Eu namorava e ainda engravidei de Leonardo, tudo isso
escondido dele. Outra coisa causada por Leonardo. Ele
disse que não deveríamos contar ao meu pai sobre o nosso
relacionamento, eu era muito nova e meu pai não gostaria
nada disso. A tola apaixonada acreditou e fez o que era
dito.
Tento ligar para todos novamente, mas nada
acontece.
Vejo uma luz forte na garagem e depois ela se
apaga. Meus pais devem ter chegado em casa.
Caminho até a garagem e vejo a minha descendo
do carro. Se ela estava dirigindo, é sinal que aconteceu
algo. Minha mãe dificilmente dirige, ela não gosta nada
disso e só faz quando necessário.
— Algum problema? — pergunto.
Minha mãe vira rapidamente para mim e vejo que
colocou a mão no peito, acho que eu a assustei.
— Porque estava dirigindo, não é?
— Se eu bem me lembro, você odeia carros e toda
a coisa de olhar para os lados e prestar atenção em todos
a sua volta.
Meu pai e meu avô colocaram na cabeça que
minha mãe devia aprender a dirigir. Minha mãe foi tão
pressionada que decidiu tentar. Ela passou de primeira,
mas quando chegou à rua... Posso dizer que ela quase
gritou quando um caminhão praticamente se jogou na
frente do seu carro. Minha mãe não gostou nada aquilo.
Fora as motos, bicicletas, pedestres, ônibus, carros...
— Odeio, mas acho que odeio mais o seu pai. Eu
vou mata-lo! — ela arremessa a bolsa na porta do carro,
fazendo barulho. Depois ela faz isso incontáveis vezes.
— Ok, mãe. Acho que o carro não tem culpa por
sua raiva.
— Não, não tem. — ela para de bater no carro. —
Eu quero descontar a minha raiva em algo, ou melhor, em
alguém. Seu pai vai me pagar!
— O que ele fez?
— O que ele fez? Oh, querida. Seu pai está me
saindo um grande imbecil! Nunca mais o vi assim, a
última vez foi quando ele não quis demitir Milla, pelo
menos ele a levou para longe e ela morreu.
— Como assim ele levou Milla para longe e ela
morreu?
Como se minha mãe percebesse que falou muito,
ela logo tenta mudar o assunto.
— Então, voltando a minha raiva pelo seu pai.
Marco e Fernando acharam legal essa coisa de enganar as
esposas. Está tudo um caos e, do nada, eles resolvem sair
para jantar? Seu pai sempre me leva, mas decidiu que não
é mais legal me levar. O que eu fiz? Fui junto. Bem, eu
acreditei que era realmente um jantar quando cheguei ao
restaurante. Mas comecei a achar estranho porque seu pai
falou que ia ao banheiro. — para de falar.
— O que tem de estranho nisso?
— Seu pai indo ao banheiro sem me chamar?
— E porque você iria ao banheiro com ele?
— Querida Giulia, você já é velha para entender
esses assuntos, não é mesmo?
— Você e meu pai... Oh Deus! Não precisa dizer,
já entendi.
— Bem, ele não me chamou, e quando eu disse
que iria com ele... Bem, seu pai foi contra. Ele deu mil e
uma desculpas para me despistar, mas fui atrás. Ele entrou
no banheiro e demorou muito, claro que eu entrei. E
acredite, não tinha ninguém lá dentro. Sabe o que é
melhor? Seu pai deixou um motorista a minha espera, mas
eu vim sem ele.
— O que acha que aconteceu?
— Não sei, apesar do seu pai nunca me falar nada
sobre a Nostra Ancoma, ele diz se vai resolver algo
relacionado a isso. Dessa vez ele inventou desculpas e
ainda fugiu. Não sei o que pode ter acontecido.
— Eu tentei ligar para ele, mas deu que está sem
sinal. O seu deu desligado.
— Esqueci de mencionar, eu joguei o meu celular
em seu pai, mas o idiota desviou e meu celular bateu na
parede com tanta força que quebrou.
— Você está muito irritada.
— Imagine ser casada há duas décadas e seu
marido começar a mentir do nada.
— Eu imagino, porque estou casada há quase
cinco anos e já sinto isso.
— Do que está falando?
— Nem percebeu que estou de volta em casa, não
é?
Minha mãe arregala os olhos.
— Desculpe, seu pai me irritou de muitas
maneiras diferentes.
— Eu entendo. — sorrio. — Mas meu pai te ama
mais que tudo, todos sabem disso.
— Não vou falar sobre o amor do seu pai. Fale
sobre você e Leonardo.
— Na verdade, é sobre Leila também.
— Não me diga que aquele idiota te traiu com a
sonsa da Leila! Eu sempre soube que aquela garota não
prestava. Sinto cheiro de vadia de longe, mas ninguém
nunca me escutou.
— É pior que isso. Leonardo não me traiu, mas
Leila sim. Leila é a inimiga.
Capítulo 19
Giulia

— Não posso acreditar que aquela garota seja a


inimiga. Ela tem o que? Vinte e dois anos? Ela armou isso
desde sempre? Não faz sentido.
Minha mãe me leva até a sala, para podermos
conversar melhor.
— Não faz, mas se pensarmos bem... Quer dizer,
você e meu pai nem poderiam pensar nela, já que Leila
sempre conviveu mais comigo e com Jasmine. Eu sei que
fui envenenada e adivinha só, Leila estava ao meu lado.
Na verdade ela estava com Jasmine. Hoje mais cedo fui
procurar por Jasmine, mas Leila estava lá na casa dela.
Bem, Jasmine me tratou mal e disse que não queria mais
me ver. Quando saí de lá e fui até o meu carro, tinha um
bilhete dizendo que Jasmine é a traidora. Agora, se
formos pensar, tudo o que aconteceu comigo, Jasmine
estava presente. Logo eu a culparia por tudo, afinal, ela é
noiva do meu irmão...
— E você é casada com Leonardo, então
poderíamos dizer que Jasmine tem raiva por você ter
casado primeiro?
— Mais complexo que isso. — olho para as
minhas mãos. — Leonardo roubou o contrato de Jasmine e
Daniel, não é? Por isso eles nunca se casaram.
— Leonardo te contou?
— Não, o bilhete fez isso por ele. Você sabia
disso?
— Soubemos há pouco tempo. Seu pai ficou
irritado, parece que na conversa que vocês tiveram no
hospital, ele entendeu o motivo de você estar tão irritada
com ele. Ele foi tirar satisfações com Leonardo, por isso
ele foi afastado da Nostra Ancoma.
Paro de escutar a minha mãe e penso em algo:
Como Leila soube sobre o contrato roubado? Se ela
soubesse disso antes, ela já teria jogado isso na minha
vida. Pensando bem, essa história do contrato só apareceu
depois que Kat foi envenenada e Leonardo saiu da Nostra
Ancoma...
— Meu pai falou disso com mais alguém? —
pergunto a minha mãe.
— Sobre o contrato roubado? Não. Fernando
deixou isso entre família, ele apenas disse que Leonardo
foi afastado por causa da mentira sobre pegar o inimigo.
Conto sobre o que acabei de pensar e minha mãe
concorda comigo, mas, assim como eu, ela não tem
qualquer resposta para essa dúvida.
— Agora tudo faz sentido. — falo, após pensar no
afastamento de Leonardo da Nostra Ancoma. — Não foi
apenas por ele ter mentido sobre a pessoa que ele matou,
foi por ele ter acabado com o relacionamento entre pai e
filha.
— Fernando não tinha noção do contrato. Sempre
soubemos do casamento, mas achamos que era algo que
você queria. O contrato de casamento havia sumido, até
pensamos que fosse Daniel tentando impedir o casamento,
porém, foi Leonardo quem havia roubado.
— E meu pai soube disso e não me contou? Ele
apenas deixou que Leonardo ganhasse?
— Fernando deu um prazo a ele mesmo. Caso
Leonardo não contasse em alguns dias, ele mesmo o faria.
Bem, eu pedi para seu pai não te contar nada.
— Por que não? Preferiu me ver sendo enganada?
Minha mãe suspira com cansaço e me encara,
certamente está cansada de toda essa história.
— É um fato que Leonardo é retardado, todos
sabem disso. Ele fez de maneira simples algo que te
prendesse a ele. Olhe bem, seu pai fez uma grande merda
comigo no passado, você era pequena e nem tem noção de
como nos conhecemos.
— Claro que tenho. Você era conhecida do meu
pai, filha de Yankee que é aliado...
— Essa é a história bonitinha, a verdade é outra.
Eu estava voltando para casa após o trabalho vi seu tio
Marco, eu nem o conhecia naquela época, e mais dois
homens matando uma pessoa. Eu tentei me esconder, mas
deu errado e eles me encontraram. Eles poderiam ter me
matado, mas não o fizeram. Fui levada até Fernando,
nesse mesmo jardim eu estava ajoelhada, chorando e
rezando por minha vida, enquanto seu pai me ameaçava
para não chamar a polícia. Logo após eu fui levada para
aquela casa com prostitutas.
— Morou com prostitutas?
— E não? Eu não fui prostituta, mas convivi com
todas elas. De início eu jurava ser um sequestro, mas eu
era bem tratada, principalmente por Dianna. Foi estranho,
porque eu era muito próxima de você e do seu pai, logo já
estávamos fazendo viagens. Resumindo, eu fui
praticamente sequestrada para ficar com Fernando. Ele e
o meu pai sempre tiveram um acordo dizendo que eu
casaria com o chefe da Nostra Ancoma. Fernando não
queria me forçar, então achou inteligente me prender. —
revira os olhos. — Mas não foi tão ruim.
— Eu lembro algo. Eu sentada no colo do meu pai,
acho que vi uma foto sua e ele disse que era a minha mãe.
— Sim, Fernando já acreditava que eu me
apaixonaria por ele. Por isso você sempre me aceitou tão
bem.
— Você sempre foi a melhor de todas. — lembro
um pouco a minha infância. — Você falou de Milla, mas
eu lembro vagamente dela. Lembro que ela gritava e
brigava comigo, eu fazia o mesmo com ela. Mas não
lembro tanto da fisionomia.
— Aquela vadia era linda, não nego. Mas sempre
foi uma cobra.
— Não entendo como Nancy é mãe dela...
— Milla era adotada. — minha mãe me
interrompe. — Parece que a mãe de Milla não valia nada
e Nancy era a vizinha que queria ajudar a família. Acho
que a mãe de Milla se mandou e a deixou com Nancy.
Posso dizer que Raul sempre odiou Milla.
— Odiar... Mas eles não conviviam como uma
família?
— Ao que tudo indica não. Nancy era a boazinha
que queria ajudar, Milla era a filha desprezível que só
faltava bater na mãe e Raul era o que queria mandar Milla
para um internato. — minha mãe dá de ombros. — Não
sei muito do assunto, Nancy acabou se mudando logo após
a morte de Milla, foi viver com Raul.
— E como Milla morreu?
Minha mãe olha para os lados, depois para as suas
mãos.
— Você sabe o que seu pai faz da vida. Ele é bom
com quem ele gosta, mas quem é contra...
— Milla fez algo de grave?
Lembro vagamente da minha babá, mas lembro que
um dia ela estava em casa e no outro não... Pensando bem,
lembro de uma alergia que minha mãe teve e a deixou
roxa.
Tento relembrar toda a cena. Daniel estava
comigo... Minha mãe e Isabella estavam roxas... Pedido
de casamento... Gravidez...
— Milla se juntou com meu ex-namorado e
planejaram meu sequestro e estupro. Isabella me salvou e,
por pouco, quase perdi Gabriel, já que eu estava grávida
quando sofri as agressões.
— Eu lembro que não gostava dela, mas Milla foi
tão ruim assim?
Fico assustada com isso. Milla era tão ruim a
esse ponto?
— Muito ruim. Podemos dizer que o seu pai a
mandou para longe e ela morreu.
— Nancy sabe disso? Raul?
— Raul está envolvido. — dá de ombros. — Ele
realmente a odiava. Nancy é boa e sofreu com a morte de
Milla, mas eu acho que ela nem sabe sobre tudo o que
aconteceu.
— Uau! Eu, realmente, não sabia sobre nada disso.
Então meu pai sempre te amou?
Tento não pensar mais em Milla e sua morte.
— Sim, fez tudo aquilo porque já me amava. Eu o
convenci a não fazer merda, não queria que ele estragasse
seu casamento com Leonardo. Eu o conheço bem, ele pode
ser um idiota em diversos momentos, mas é nítido que ele
te ama. Te ama muito. Assim como Fernando, Leonardo
fez outra coisa para ficar com você. Ele merece uns bons
puxões de orelha e sermões, mas ele te ama, isso ninguém
pode negar.
— Eu também o amo.
— Vai perdoa-lo?
Dou de ombros como resposta.
— E agora, sobre Leila? — minha mãe muda de
assunto. — Acho melhor falarmos com Marco, ele...
— Ele não está em casa, assim como a tia
Isabella. Kat está aqui.
— Ela não falou nada sobre sair. Precisamos falar
com alguém sobre Leila.
— Jasmine que me alertou, ela está fingindo
confiar em Leila e me odiar.
— Jasmine pode ser boa, mas ela não conseguirá
sozinha.
— Ela pode chamar os comparsas do pai dela. —
Tyler é o líder da M-Unit e Jasmine, como sua filha, têm
todos esses homens para protegê-la.
— Sim, mas...
O som da campainha tocando interrompe a nossa
conversa. Minha mãe levanta e vai até a porta, quando
abre, escuto a voz da minha tia Isabella.
— Ah, Giulia! — Isabella fica sem graça ao me
ver. — Não sabia que estava aqui.
— Foi coisa de última hora. Veio pegar Kat?
— Kat está aqui?
— Sim, desde cedo.
Isabella franze o cenho e se joga no sofá.
— Algum problema? — minha mãe pergunta.
— Os mesmos de sempre. — Isabella dá de
ombros. — Então, o que aconteceu?
Contamos resumidamente o que aconteceu e
Isabella fala que devemos avisar aos seguranças para
proibir a entrada de Leila aqui.
— Podemos tentar chegar a Nostra Ancoma,
alguns deles moram aqui ao lado, mas não sei se devemos
ir até eles. — Isabella diz. — O mais certo é chamar os
nossos pais.
— Colocar a Sangre Latino no meio disso?
— Sara, se nossos maridos estão longe,
precisamos de outras pessoas. Pelo menos sabemos que
os nossos pais estarão aqui para tudo o que precisarmos.
Minha mãe pega o celular de Isabella.
— Ok. — coloca o celular no ouvido. — Estamos
chamando a Sangre Latino.
Bônus 4
Jasmine

Desligo o celular, quando, pela centésima vez,


tento ligar para Daniel.
Sou tão idiota. Se preciso de ajuda, logo ligo para
ele. Daniel sempre atende os chamados de Nicole
rapidamente.
Mas, agora, eu não estou ligando para Daniel no
intuito de chorar sobre o sumiço do meu pai, é para falar
sobre Leila.
Leila chegou aqui contando uma história esquisita,
tentando me deixar contra Giulia. Disse que Giulia estava
bem com Leonardo, que ela havia ido até a casa deles e o
segurança havia dito que eles se mudaram. Ela logo veio
com a história ''Giulia nem te contou nada, mas sempre te
procura para dos seus problemas''.
A primeira regra de Fernando Bertollini é que
nenhum segurança pode contar a vida de um morador. Só
se quem perguntar for ligado aos Bertollini ou Vesentini,
fora isso é proibido. Duvido que alguém tenha dado essa
informação a Leila.
Eu percebi que Leila estava tentando infernizar a
minha amizade com Giulia. E o mais interessante é que ela
fez isso justamente quando todos estão loucos, Daniel, por
exemplo, saiu à procura dos culpados, de quem quer matar
Giulia e todos os outros.
Meu pai me ensinou a identificar pessoas,
principalmente pessoas com segundas intenções.
Checo a mensagem no celular. Um dos amigos do
meu pai avisa sobre Leila. Que ela está na biblioteca
estadual.
Pedi para que ele a seguisse e a pegasse na
primeira oportunidade. Ele viu o momento em que Leila
pediu para que uma criança da minha rua colocasse o
bilhete no carro de Giulia. Sinceramente, Leila é burra.
Agora eu preciso entender o motivo dela ter feito
isso.
Escuto o som de batidas na porta. Ando até lá, mas
não é preciso que eu abra, Gregory já fez isso.
Gregory é outro amigo do meu pai. Ele tem acesso
a minha casa, já que ele ficou para tomar conta de mim e
da minha mãe.
Em um instante meu pai estava em casa e no outro
não. Saiu por aí e deixou uma gangue para tomar conta de
mim e da minha mãe.
Meu peito aperta quando penso nele.
Será que ele está bem?
— Oi, Gregory. — cumprimento-o e volto para a
sala. — Alguma informação sobre Leila?
— Talvez, se olhasse para cima, perceberia que
tem coisa melhor aqui.
Essa voz...
Viro-me para trás. Meu coração bate mais rápido e
as lágrimas aparecem em meus olhos.
— Pai! — grito e me jogo em seus braços.
Meu pai me segura e me abraça apertado, enquanto
beija a minha cabeça.
— Eu senti tanto a sua falta. — falo entre soluços.
— Eu tinha medo que...
— Calma, minha pequena, estou aqui. — ele passa
a mão em minhas costas. — Eu estou aqui agora e não
sairei de perto de você.
— Por que foi embora? — afasto-me dele, e olho
em seus olhos.
Meu pai fecha os olhos, como se não pudesse
olhar para mim.
Levanto o olhar e vejo dois caras parados em
minha sala.
— Acho que somos o motivo dele ter ido embora.
— um deles diz, com um sorriso cínico.
Olho para os dois caras e para o meu pai.
— Pai, o que está acontecendo?
— Jas, eu...
— Pai, o que esses dois têm a ver com o seu
sumiço?
— Já que o papai não vai dizer, eu digo.
Olho para os dois caras novamente.
— Papai? — repito as suas palavras.
— Eu sou o Allan e ele é o Alex. — os dois
sorriem para mim. — Prazer em conhecê-la, irmã.
Capítulo 20
Giulia

Minha mãe pede silêncio e começa a falar no


celular.
— Não, sou eu, Sara. — ela sorri para que o seu
pai diz.
Isabella teve a ideia de chamar a Sangre Latino
para nos ajudar. A Nostra Ancoma está muito ocupada e,
tenho certeza, Isabella não quer envolve-los nisso por
conta de Marco.
Sangre Latino é a gangue comandada por meu avô.
Juro que eu jamais pensaria isso dele e nem do pai da tia
Isa. Os dois parecem com homens bonzinhos e são os
melhores avôs — junto com o pai do meu pai, mas Victor
Bertollini tem um ar de ''chefão da máfia italiana''.
— Então, é que precisamos da sua ajuda. — minha
mãe volta a falar e explica o ocorrido. — Leila, ela é, ou
melhor, fingia ser amiga de Giulia e Jasmine... Não, o
senhor nunca a viu porque ela não vinha muito aqui em
casa, era mais com Jasmine... Talvez seja mais velha.
Minha mãe senta no sofá, mexe na tela do celular
e, instantes depois, todas nós estamos escutando meu avô
falando.
— Eu não posso acreditar que uma garota tenha
feito isso. Ela deve ter o quê? Uns vinte e dois anos?
Qual motivo ela teria para isso? Sem contar que você,
Sara, já sofreu quase um atentado. Uma garota não faria
isso sozinha.
— Claro que tem alguém por trás disso. —
Isabella diz.
— Estarei enviando alguns homens...
— Alguns homens? — minha mãe olha para
Isabella. — Por que não o senhor? Pensei que sempre
estivesse ao meu lado e dos...
— Estou ocupado, Sara.
— Há uma grande chance de termos encontrado os
culpados e você está ocupado? É isso?
— Sara...
— Marco e Fernando estão envolvidos nisso? —
Isabella questiona, sua voz sai carregada de esperança.
Olho para as suas mãos, ela aperta a bolsa com muita
força. Ela, com certeza, deve achar que o tio Marco está
com uma amante, a mãe de Leonardo.
— Eu não vou falar dos meus negócios com
vocês. — meu avô diz, rispidamente. Ele é tão grosseiro
com as suas palavras, que nós três olhamos para o celular
com uma carranca. — Aceitem minha ajuda e...
— Tchau! — minha mãe desliga o celular e olha
para mim e Isabella. — De ignorante basta Fernando, e
nem ele eu estou aturando.
— Eu não sei o que pensar sobre tudo isso.
— Quem sabe eles têm as pistas dos culpados e
querem apenas nos prevenir de algo. — tento argumentar,
para que elas não fiquem tão tristes.
— Não sei, mas eles nem ao menos atendem
nossas ligações, nos enganam e nem se importaram com as
nossas informações.
— Eu pensei em algo, não sei se tem muito a ver,
mas...
— Isabella, pode falar.
Minha tia levanta o olhar e eu vejo as lágrimas não
derramadas.
— Olívia, a mãe de Leonardo. — abaixa a cabeça.
— Eu peguei Marco tendo uma conversa com essa mulher,
pelo telefone, eu também já atendi algumas chamadas
dela, mas claro que ela apenas me provocou e desligou.
Então, eu também acho que Leila não faria nada disso
sozinha, acho que ela não tem motivos para isso, já
Olivia...
— Eu nunca entendi direito a história dela. —
minha mãe aperta a mão da tia Isa.
— É uma história relativamente chata,
principalmente se contarmos a parte onde eu sou a trouxa
da história.
— Como assim?
— Vamos do início. Bem, eu não soube dessa
história por Marco, eu soube por Olívia, em uma das suas
provocações, ela falou sobre isso e Marco confirmou toda
a história. Olívia era a melhor amiga de Milla, aquela
vadia. Como Milla visitava Nancy na casa de Fernando,
ela levou a amiga junto. Ela conheceu Marco e eles
tiveram um caso. Aparentemente, Olívia não queria nada
com ele, mas Marco se apaixonou. Ela engravidou e não
quis o filho, então Marco pegou Leo e o criou sozinho, ela
foi embora. Depois de anos retornou. Não sei sobre essa
parte da história, Marco não seria idiota de contar. Só sei
que ela ligou contando tudo isso e disse mais, falou que
pegaria o que é dela.
— Então pode ser Olívia?
— Sim, do jeito que ela falou pode ser, mas não
tem tanta lógica. Eu não acredito na história que Kat foi
parar no hospital por conta da bebida alcóolica. E se
fosse para me atacar, Olívia teria feito isso antes, porém,
quem era atacada era você e Giulia.
— Teve a história da amante de Leonardo. —
lembro esse fato e relato o que aconteceu.
— Pode ter mais pessoas nisso. — minha mãe
olha para nós duas. — Mas eu acho que está bem na cara
que Olívia faz parte disso, você já viu essa mulher?
— Eu já vi. — elas olham para mim. — Ela foi ao
apartamento de Leonardo, bem no dia em que ele viajou
para encontrar as pistas do culpado.
— Então, eu acho que isso pode ser uma
confirmação que ela está metida nisso.
— Eu sei onde posso encontra-la. — olho para tia
Isa.
— Como? — pergunto.
— Venham comigo.

(...)

Entro na casa da família Vesentini. O silêncio


reina no ambiente. Antes tínhamos Katherine escutando
suas músicas esquisitas no último volume, Isabella
gritando que não quer uma filha esquisita, Marco
resmungando dizendo que é melhor ter uma filha esquisita
do que vadia e Leonardo apenas rindo e implicando com
Katherine. Mas, ao que tudo indica, essa casa não tem
mais isso há muito tempo. Reparo mais e vejo que não tem
nem uma foto de Marco aqui, nem uma.
Subo as escadas, indo a um quarto. O quarto de
hóspedes.
— Tem alguém aqui? — minha mãe pergunta,
observando as roupas em cima da cama.
— Marco, ele dorme aqui e acho que ainda não
conheceu o closet. — tia Isa olha para as roupas com
nojo.
— Há quanto tempo vive assim?
— Sara, eu não gosto de levar meus problemas
para as pessoas.
— Mas não seria mais fácil se separar?
— Não, não seria. — levanta a mão. — Sara, por
favor, não insista.
Isabella anda até a cama e se ajoelha, logo após
ela aparece com um notebook em mãos.
— Eu... Bem, eu posso ter contratado uma pessoa
para descobrir senhas. — dá de ombros. — Não precisei
usa-las porque a verdade me ligou. Mas aqui deve ter
mensagens trocadas ou algo assim.
Tia Isa mexe no notebook e entrega a minha mãe.
— Eu não preciso ler essas mensagens, não mais.
— Isabella vai até a janela e fica lá, parada.
Ando em sua direção, mas minha mãe me impede,
dizendo que é melhor não insistir na conversa.
Depois de alguns minutos, minha mãe avisa que
encontrou algo muito importante.
— Aqui tem os gastos do hotel. Bem, eu acho
que... — minha mãe olha para Isabella.
— Não tem motivos para que Marco receba os
gastos do hotel, só se ele estiver pagando a estadia de
alguém. Ou melhor, ele está deixando uma pessoa se
hospedar no hotel dele. — Isabella ri e balança a cabeça.
— No nosso hotel, já que sou casada com ele.
— Não tem o nome da pessoa.
— Mas sabemos que é Olívia. Então, vamos até lá
para descobrirmos o que essa vadia quer.
— Isa, se não quiser...
— Ela já tem Marco, isso eu até posso aceitar,
mas ela quer meu filho. Eu sempre estive ao lado de
Leonardo, não vou perdê-lo tão fácil assim.
— Você já aceitou perder Marco?
— Sara, nós nunca pertencemos um ao outro.

(...)

A moça que está na recepção libera a nossa


entrada após Isabella avisar que estamos aqui para dar
uma ''olhada'' no local. Acho que a moça pode ter ficado
um pouco cética quanto a isso, afinal, o dia ainda está
nascendo e já estamos fiscalizando. Mas, obviamente, ela
não barrou a nossa entrada.
No elevador, minha mãe olha para Isabella com
um ar de pena, mas ela apenas balança a cabeça, não
querendo qualquer tipo de contato e nem conversa.
Saímos do elevador. Caminhamos a passos largos
até o quarto. O quarto no qual Marco recebe todos os
gastos por e-mail.
— Isabella...
Isabella bate na porta, ignorando minha mãe. Ela
bate inúmeras vezes na porta, acho até que pode quebra-
la. Mas, é nesse momento que a porta se abre. Meu
coração para de bater por longos instantes e meus olhos
enchem de lágrimas.
— O que faz aqui?
Isabella empurra Marco para fora do caminho e
entra no quarto. Entro logo atrás. Ver o tio Marco aqui já é
muito, isso se torna pior quando vejo Olívia nua na cama,
com um sorriso vitorioso enquanto toma uma garrafa de
champanhe.
— Olá, queridas. — Olívia sorri mais amplamente
para mim. — Olá, filho.
Olho para trás e dou de cara com Leonardo, ele
está junto de Daniel e Gabriel.
— Pai, o que... — Leonardo olha para o pai, vejo
nojo em seu olhar. — Marco...
Marco não diz nada, ele apenas olha para Isabella,
que está encarando as suas mãos. O dedo onde está o seu
anel... Nesse momento, tia Isabella retira a aliança e joga
em Olívia com força, batendo em sua testa e ela geme de
dor.
Isabella sai do quarto, sem dizer uma palavra.
Ando na direção da saída, já que todos os outros já saíram
do quarto. Ando na direção de Marco, com uma pergunta
entalada na minha garganta.
— Meu pai, onde ele está?
Marco me encara, não vejo nada em seu olhar.
— Pergunte a ele, não a mim.
— São anos casado com aquela vadia, ele deve ter
encontrado algo melhor.
Olho para Olívia, que voltou a beber seu
champanhe.
— Você está falando da minha mãe?
— Tem outra vadia casada com Fernando? Aquela
pequena vadia. Acha mesmo que Fernando aguentaria para
a vida toda? Enquanto a idiota está cuidando dos filhos,
Fernando está com outras. A vadia não é tão boa a ponto...
Ok, xingue a mim. Me chame de qualquer coisa,
mas não a minha mãe!
Quando faço menção de ir para cima dela, minha
mãe aparece no quarto novamente.
— Acha mesmo que vai inventar mentiras sobre
Fernando? Meu marido não é como Marco.
— Isabella também pensava que Marco a amava, e
olha só. — Olívia aponta para si mesma. — Eu que estava
com Marco durante a noite toda, e onde está o seu
marido?
— Ele eu nem me importo, mas você. — minha
mãe sorri. — Você estará debaixo da terra em um terreno
abandonado.
Minha mãe corre na direção de Olívia e agarra os
seus cabelos. Olívia levanta a garrafa de champanhe.
Corro na direção das duas para impedir que Olívia
machuque a minha mãe. A garrafa bate em minha mão,
causando uma dor pulsante, mas não me importo. Tento
retirar a garrafa da sua mão e rezo para que isso não cause
um terrível acidente.
A garrafa quebra, enquanto eu tento retira-la e
acaba cortando a minha mão. Sinto duas mãos segurando a
minha cintura, mas não faço ideia de quem seja. Me
debato para sair do aperto, enquanto minha mãe e Olívia
continuam distribuindo agressões verbais e físicas.
Sou retirada de cima das duas.
— Sara!
Começo a escutar Isabella gritando minha mãe.
Quando paro e presto atenção na cena, vejo minha tia
jogando um grande vaso na cabeça de Olívia, enquanto
minha mãe é segurada por Daniel e Gabriel.
Marco corre na direção da mulher. Olho para o
quarto, que agora — além de ter meu marido, minha mãe,
tia Isa e meus irmãos — tem mais algumas outras pessoas
estranhas.
— Precisamos chamar o hospital! — uma pessoa
grita, enquanto está com o celular.
Olho para Olívia novamente, sua cabeça está
ensanguentada e ela está desacordada.
Oh, merda! Isabella pode ter matado uma pessoa
e existem testemunhas...
Oh Deus, eu e minha mãe seremos cumplices do
crime!
Bônus 5
Isabella

As pessoas gritam ao meu redor. Os policiais


pedem silêncio, mas não adianta.
A ambulância havia chegado e os policiais
também. Algum morador filho da mãe chamou os
policiais, e ainda tiveram a coragem de falar quem foram
os culpados.
E agora estamos na delegacia, o policial quer nos
escutar. Mas escutar o quê? Que eu queria matar a amante
do meu ex-marido? Que eu também quero mata-lo
lentamente?
— Levem para dentro!
O xerife grita. Para falar a verdade, eu nem me
importo com isso.
Levanto da cadeira e um policial segura o meu
braço.
— Frank! — Marco grita. — Qual é? É minha
esposa, minha nora e a mulher de Fernando Bertollini.
Sério que elas serão presas?
— Oh, querido. — digo com ironia. — Não se
preocupe, comigo presa, será mais fácil para você ficar
com a amante.
— Isabella! — Marco grita.
— Policial, me leve para a cela. — peço e o
homem me olha com espanto.
— Desculpe, mas a senhorita prestou queixa. — o
xerife olha para Marco, como quem pedisse desculpas. —
Ela precisa retirar a queixa ou...
— Olívia usa drogas...
— Vesentini, têm testemunhas, eu não posso... —
ele suspira. — Você sabe como são as leis daqui. Pode
pagar a fiança, mas elas ainda terão que passar algumas
horas aqui. — dá de ombros. — E tem...
— Entendi! — Marco grita. — Só me deixe falar
com a minha mulher.
— Ex-mulher! — grito.
— Certo então. Deixarei vocês a sós...
— Marco. — Leonardo segura o braço do pai —
Deixe a minha mãe...
— Marco? — ele olha para o filho com raiva.
— Você me ensinou a ser leal e a não trair, mas
vejo que é um hipócrita que faz a minha mãe sofrer.
Deixe-a ir.
— Saia, Leonardo!
— Marco!
— Saia! — ele grita.
— Leonardo, pode ir. — falo calmamente. —
Ficarei bem, não se preocupe.
Leonardo olha para mim e para Marco, logo após
sai da sala junto com todos os outros.
— Olha só, Marco consegue tirar o próprio xerife
da sua sala. — sento na cadeira. — Fale para ele que
quero a melhor cela.
— Isabella, por que foi àquele hotel?
Olho para a cara cínica do homem que já chamei
de marido. Ok, demorou anos para que eu o chamasse
assim, mas éramos casados de qualquer maneira.
— Uma hora precisamos acordar para a vida.
Quando estou sozinha, eu choro de raiva. Quando
estou com Marco, eu apenas sou tão ríspida quanto ele.
— Estava com ciúme de mim. — ele sorri.
Sério que ele está sorrindo?
— Eu não tenho ciúme de você. Marco, você sabe
que nunca te amei. — aproximo-me dele. — Eu nunca te
amei, assim como você nunca me amou.
— Então porque fez aquela merda com Olívia?
— Porque eu estou apenas me preparando para
quando eu fizer com você.
— Você me ama, qual o problema de admitir isso?
— E você? Você me ama?
Passei anos odiando Marco e só depois aquilo se
transformou em amor, porém, logo após, tudo se
transformou em ódio novamente. Claro que só nós dois
sabemos essa versão dos fatos.
— Não posso amar alguém que ama outro. — ele
aperta o meu rosto. — Outro que está casado com a sua
ex-colega de trabalho. — beija o meu rosto. — Conviva
com essa verdade, Isabella. Adam está com outra e você
está presa. Presa a mim.
— Maldita a hora em que eu abandonei Adam para
ficar com você. Mas, talvez, não esteja tão tarde para um
recomeço.
— Depois de dezesseis anos de casados? — ele
sorri. — Fique quieta no seu canto e pare de fazer merda.
Afinal, você não me ama.
— Por que age como se eu fosse à culpada por
tudo? Foi você quem traiu.
— Não, Isabella. Enquanto eu estava tentando
salvar a sua vida, você estava com outro.
Fecho os olhos, eu me arrependo amargamente
daquele dia. Eu não fui à culpada por Adam ter me
beijado, mas eu fui à culpada por ter jogado coisas
absurdas na cara de Marco.
— Você sabe que não sou como você.
— Não, Isabella. Somos iguais, até na hora de
fazer coisas absurdas para enganar o outro.
— Mas eu menti...
— Cuide-se. — ele beija os meus lábios. —
Isabella.
— Você me traiu? — grito. Ele para de andar e
olha para mim.
— Quer a verdade ou a mentira? Vou optar pelo
mais fácil. Eu te traí.
Marco sai da sala sem olhar para trás.
Estou tendo um déjà vu, onde eu era a pessoa que
enganava Marco... Enganava Marco para que ele não se
aproximasse de mim...

Karen

Olho para os lados. Estou muito envergonhada de


estar em uma sala com tantos homens.
— Tia, o que estamos fazendo aqui? Quero ir para
casa. — Felipe encosta a cabeça em meu colo e eu o
abraço.
— Esperando Jasmine chegar. — respondo.
— Estou me sentindo estranha com tanto homem
ao meu redor. — Katherine sussurra. — Jasmine vai
demorar muito?
Meus pais sumiram. Os pais de Kat também.
Giulia, Leo, Daniel e Gabriel... Todos sumidos.
Viemos à casa de Jasmine, já que ela é uma das
poucas pessoas que conhecemos. Mas, no entanto, ela saiu
e não sabemos onde ela está.
— Quero ir ao banheiro. — Felipe avisa.
— Ok. — concordo e levanto do sofá. Todos os
homens olham para mim. — Ele precisar ir ao banheiro.
— Podem ir.
Em um pulo, Katherine está ao meu lado.
— Eu também vou. — aperta a minha mão.
Subimos as escadas em direção ao banheiro.
— Jamais ficaria sozinha com tanta gente estranha.
— Katherine sussurra. — Ok, eles podem ser aliados dos
nossos pais, mas eles estão armados e nos vigiando.
— Regras de Tyler. — dou de ombros. — E
Jasmine jamais permitiria que algo acontecesse conosco,
principalmente com o afilhado dela aqui.
Caminhamos até o banheiro, mas quando abro a
porta... Oh Deus!
— Olá. — o cara se apoia na porta. Ele está
usando apenas cueca. — Que boa recepção eu ganhei.
— Desculpe. — peço. — Estava à procura do
banheiro...
— Procurou o banheiro e veio para o meu quarto?
Pelo menos me encontrou. Se quiser podemos... — ele
aperta... Oh cara!
— Alex! Que merda está fazendo?
Olho para a voz que disse isso. E, cara! Eu me
sinto como minhas colegas idiotas da escola. Ele é apenas
o cara mais lindo que eu poderia encontrar.
Ele olha para mim e sorri. O seu sorriso mostra
covinhas nas bochechas. Ele é fofo, assim como o seu
sorriso. Mas o seu semblante muda quando olha para o
outro cara... Alex?
— Elas devem ser crianças.
— Allan, olhe bem para elas. Você não viu o olhar
que elas tinham dirigido para mim.
— Tia! — Felipe puxa a minha mão. — Preciso ir
ao banheiro.
— Eu poderia fazer coisas...
— Desculpem pelo meu irmão. — empurra Alex
para trás, tomando a frente da porta. — Eu sou o Allan. —
ele sorri.
— Anda, Karen! — Katherine puxa o meu braço.
— Precisamos ir.
— Karen, bonito nome. Ficaria mais bonito...
— Alex, sem piadas!
Katherine puxa o meu braço, me arrastando para o
andar de baixo.
— Prazer em conhecê-la, Karen.
Olho para trás, para ver Allan sorrindo para mim.
No entanto, preciso voltar a minha atenção para frente, já
que estou descendo as escadas.
— Diga para Jasmine que voltaremos em outra
hora. — Katherine grita e Felipe insiste em querer ir ao
banheiro.
Eu só consigo pensar em Allan... Allan. Meu Deus,
ele é tão lindo, e a maneira como ele sorriu para mim?
Não posso pensar nisso, ainda farei quinze anos, e ele
deve ter quantos? Vinte e cinco?
Isso é errado em todos os sentidos.
Vou caminhando sem prestar atenção em nada.
Apenas penso em Allan. Minha primeira paixão
adolescente? Minhas colegas sempre falaram sobre isso.
— Vamos ter que descobrir algo sobre todos que
estão sumidos. — volto à realidade.
— Acho que nem deveríamos ter despistado os
seguranças.
Eu e Katherine achamos genial o plano de
despistar os seguranças. Uma tentativa patética de chamar
a atenção dos nossos pais, mas acho que não conseguimos
nada.
— Quem devem ser aqueles caras?
— Que caras? — Katherine para de andar e me
encara. — Karen Bertollini, não me diga que está tendo
sua primeira paixão.
— Não! — reviro os olhos.
— Karen está apaixonada! Karen está apaixonada!
— Felipe começa a bater palma. — E eu quero ir ao
banheiro.
— Que bela mudança de assunto. — Kat sorri para
Felipe. — Vamos encontrar algum banheiro para você.
Estamos no centro da cidade, prestes a atravessar
a rua para ir ao shopping, quando um carro para a nossa
frente.
Os vidros descem e sorrio ao constatar que não é
nenhum estranho.
— Ei, meninos. O que fazem aqui?
— Viemos ver Jasmine. — respondo. — Mas ela
não está em casa.
— Sim, eu acabei de saber sobre isso. Um dos
"capangas" de Tyler me avisou. Querem uma carona?
— Eu quero ir ao banheiro! — Felipe resmunga.
— Sim, querido. Eu vou parar em algum lugar
para que você possa ir ao banheiro. Agora, entrem.
Entramos no carro. Nós três sentamos atrás.
— Onde estão seus pais? Eles deixam vocês
saírem sozinhos?
— Não. Isso foi uma tentativa falha de chamar a
atenção deles. — Kat dá de ombros. — Acho que eles
nem ao menos chegaram em casa.
— E vocês já estão indo para casa?
Kat sorri.
— Ah, somos mal educadas. — lembro os bons
modos. — Obrigada pela carona, Leila.
Capítulo 21
Giulia

Sento na coisa fria de cimento que os policiais


chamaram de cama. Ali perto tem colchões, mas, entre
deitar no cimento ou em colchões que estavam om outras
pessoas, eu prefiro o gelo do cimento.
Minha mãe está em pé, andando de um lado ara o
outro. Eu estou apenas olhando para o teto, tentando
ignorar o olhar das outras pessoas que estão na cela à
frente. Nessa aqui só tem eu, minha mãe e Isabella.
Tia Isabella já mostrou que ela não está nada bem,
claro que não estaria. Uma outra mulher — que também
está presa, detida ou sei lá o quê — fez uma piada sobre a
minha tia estar bem vestida e estar presa. Minha tia
Isabella apenas deu um chute na grade da cela da mulher e
a xingou. O mais legal foi ver os policiais não fazendo
nada com minha tia.
— Eu nunca imaginei ser presa. — minha mãe
murmura, sentando no chão, mas depois levanta
rapidamente. — Eu não gosto de estar aqui. Quero ir para
casa.
— Só amanhã, aparentemente, as leis daqui dizem
que mesmo com a fiança paga, devemos ficar algumas
horas. — olho para a minha mãe, que joga a cabeça para
trás com cansaço. — Pelo menos Olívia está viva.
— Eu não me importaria de pegar a perpétua. —
tia Isa diz, com um sorriso. — Mas eu teria que levar
Marco junto comigo. Não falo leva-lo para a cadeia, e sim
leva-lo para o mesmo lugar de Olívia.
— Isabella, você pode estar sendo ouvida.
— Sara, eu não me importo com isso.
— O que Marco queria? Ele pediu desculpas? Se
defendeu?
— Não, Marco apenas disse que sairíamos daqui.
Agora, vamos mudar de assunto.
— Por que você não parece incomodada com
isso?
Minha tia Isabella olha para a minha mãe, que a
encara com ceticismo.
Eu a vi desesperada quando foi a minha casa e
falou sobre o aparecimento da mãe de sangue de
Leonardo, Kat já mencionou a crise que existe entre os
seus pais e na sua casa. Agora, do nada, Isabella diz que
não se importa? Na verdade, ela parece não estar ligando
para isso.
— Bem, eu posso retirar umas coisas de casa e
vender. — tia Isa sorri. — Pelo menos não vou sair pobre
dessa história. — joga o cabelo para trás. — Agora,
vamos falar sobre Fernando. Onde está o senhor
Bertollini?
— Fernando Bertollini te colocou na cadeia?
A mulher da cela da frente, pergunta. Ela parece
muito interessada no assunto. Um dos seus braços está
entre as grades, sua cabeça inclinada para trás e o seu
outro braço, está apoiado no ombro de outra mulher, que é
muito mais baixa que ela.
A mulher que perguntou parece ser mais nova que
a outra, mas elas têm o mesmo estilo. Diria que elas se
parecem com prostitutas de beira de estrada. Com os seus
tops apertados, espremendo os seus seios; a barriga
aparecendo e seus shorts curtos. Shorts? Isso parece mais
uma calcinha jeans. Seus cabelos são curtos e coloridos.
Elas têm um sorriso presunçoso.
— O que tem a ver com Fernando Bertollini? —
minha mãe vai até a grade.
— Podemos ter mais informações. — a mulher
mais baixa sorri mais amplamente. — São inimigas dele?
— Isso não interessa. — é a vez da minha tia falar.
— Bem, eu poderia ser legal com vocês e dar
informações.
— Vocês parecem com vadias de beira de estrada.
— minha tia Isa sorri. — Qual o preço de vocês?
— Advogado, fiança... — dá de ombros. — Sabe,
precisamos de ajuda.
— Então são vadias de beira de estrada? — minha
mãe olha para elas com nojo.
— De bares, cassinos e não da estrada. — elas
continuam sorrindo. — Mas tem coisinhas que não
fazemos, uma delas é mexer com certas pessoas.
— Vocês deveriam mexer com Fernando
Bertollini? — minha mãe pergunta.
As duas sorriem e andam para trás, deitando na
''cama'' e ignorando as perguntas da minha mãe e da minha
tia.
— O que elas estão falando? — minha mãe olha
para trás.
— Eu entendi como se elas precisassem fazer algo
contra o meu pai, mas elas não fizeram por saberem quem
ele é. — falo e olho para a cela a frente, onde elas estão
deitadas e conversam com as outras presas. — Elas
afirmaram ser prostitutas de bares e cassinos, mas elas
não nos conhecem. Então eu acho que ela não tem relação
com os negócios do meu pai.
— Alguém pode ter pagado algo para elas. Olívia.
Ela parece ser uma prostituta e ela pode ter pagado essas
garotas para fazer algo com Fernando. Sara, pense bem.
Marco foi pego com Olívia, mas Fernando sumiu. Olívia
pode estar fazendo de tudo para nos separar dos nossos
maridos.
— Amanhã eu falarei com Fernando. — minha
mãe diz. — Isso se ele aparecer aqui.

(...)

Finalmente somos liberadas da cela. Alongamos o


nosso corpo, já que dormir em cima de uma ''caixa'' de
cimento não é nada bom para a coluna.
Estamos saindo da nossa cela quando as duas
presas do dia anterior, correm até a grade de suas celas.
— Ei. — a mais alta chama. — Não vai querer
saber sobre Fernando Bertollini?
— Não. — minha mãe responde.
O policial dá um leve empurrão em minha mãe,
para que ela ande mais rápido e pare de conversar. Com
certeza ele é outro que é pago pelo meu pai, por isso ele
está sendo ''gentil'' conosco.
Andamos até a saída e encontramos os carros
parados. A frente deles estão os meus irmãos, Leonardo,
Marco e meu pai.
Leonardo corre em minha direção e me abraça, o
abraço de volta.
— Foi muito ruim aí dentro? — ele pergunta,
enquanto dá um beijo em minha testa.
— Se pensarmos que não tomei banho, me
ofereceram comida e era uma porcaria, não escovei os
dentes e dormi em cima de um cimento. — sorrio. — Não
foi tão ruim.
— Vocês também foram loucas, quase mataram
Olívia.
— Não deixe que Isabella te escute dizendo isso.
— empurro o seu ombro. — Ela não gostará de saber que
se preocupa com Olívia.
— Eu não me preocupo. — leva as mãos ao ar. —
Mas se quisessem matar uma pessoa, matassem sem haver
testemunhas.
Reviro os olhos e ele ri.
— Por falar em morte. — Gabriel fica ao meu
lado. — Acho que podemos presenciar a morte de Marco
e Fernando.
— Credo, Gabriel! — bato em sua cabeça.
Olho para frente, onde minha mãe está
conversando com meu pai... Conversando? Minha mãe
parece que vai matar o meu pai, mas, por fim, ele a abraça
e minha mãe retribui. Mas com tia Isabella nada disso
acontece, ela apenas evita Marco, que tem um sorriso...
Que tipo de sorriso seria esse? Orgulhoso? Vitorioso?
Amoroso?
— Marco é estranho. — Leo diz. — Ele está
sorrindo para a minha mãe depois da merda que ele fez?
— Vai ver ele é idiota como o filho. — isso partiu
de Daniel, que está atento em seu celular.
— Eu não traio pessoas. — Leo rebate, mas vejo o
seu olhar furioso dirigido ao meu irmão.
— Que seja. — Daniel dá de ombros.
— Vai mesmo continuar chamando Marco assim?
— pergunto e Leo olha para o seu pai.
— Ele traiu a minha mãe. Não gosto de traidores,
principalmente traidores da família.
Quero falar sobre o contrato de casamento, mas
opto por deixar pra lá. Claro que falarei sobre isso, mas,
nesse momento, já tem muitos dramas acontecendo.
— Não vamos falar de traições. — Gabriel sorri
para mim. Sorri de um modo que eu conheço. Meu irmão
mais novo pode ser um imbecil em diversos momentos. —
No momento, devemos falar sobre higiene. Giulia, você
está fedendo.
Leonardo dá um soco no estômago de Gabriel, mas
meu irmão ri, enquanto se inclina por conta da dor.
— Não fale merda para a minha mulher.
— Se o marido não diz, o irmão mais novo tem
que dizer. — ele continua rindo.
— Gabriel, experimente ficar em uma cela sem
ventilação, aí você poderá falar algo. — levanto o meu
braço e cheiro a minha axila. — Idiota! — dou um tapa
em sua cabeça. — Eu não estou fedendo.
— Esses desodorantes vinte e quatro horas devem
servir para isso.
— Deve ser por isso que Gabriel tem inúmeros
problemas. — Daniel levanta o seu olhar, deixando o
celular de lado. — Todos batem em sua cabeça.
— Vou começar a chutar certas coisas dele. —
digo.
— Paramos a brincadeira por aqui. — ele fica
sério. — Daniel, o que faz no celular?
— Oh! — tia Isabella finge surpresa. —
Encontramos um ponto fraco de Gabriel. Agora é só
ameaçarmos dessa maneira que ele vai calar a boca.
— Tia, você sabe. Se chutarem nesse local, você
poderá ficar sem netos.
— Não coloque minha irmã nessa história.
— Encontrei outro ponto fraco de Leonardo.
Da maneira como Leonardo olha para o meu
irmão, eu já sei qual é o outro ponto fraco dele. A verdade
sobre o contrato de casamento.
— E então, Daniel. — chamo o meu irmão, que
voltou a atenção para o seu celular. — O que tanto faz no
celular? Você nunca foi disso.
— Jasmine, ela não te ligou? — nego, balançando
a cabeça. — Dois filhos de Tyler apareceram. Ao que
tudo indica, ele sumiu por conta disso. A mãe de Jasmine
não está reagindo bem a essa notícia.
— Tyler traiu Sara? — não é possível que todos
esses homens traiam as suas mulheres. Eles sempre
parecem amáveis com a família.
— Não. — Daniel responde rapidamente. — Eles
são mais velhos que Jasmine, mas não deve ser fácil ver
seu marido sumir e depois aparecer com dois filhos. Por
falar nisso, tenho que ir vê-la. Jasmine precisa de mim.
Despedimo-nos de Daniel e andamos até o carro,
para irmos para casa.
Tia Isabella vem conosco e Marco vai em seu
carro sozinho. Gabriel também está no carro de Leonardo.
— Então, já que tudo acabou bem...
— Não, eu tenho uma ficha na polícia agora.
— Bem-vinda ao time. — Leo sorri para mim. —
Precisamos falar de Leila.
Nós dois contamos o que sabemos sobre ela e eu
fico estática ao saber sobre a verdadeira ''Antonieta''. Ela
tem trinta e um anos, mas não tem a aparência de uma
pessoa velha. Essa informação explica muita coisa,
principalmente o nosso eterno questionamento de ''como
uma garota armaria contra a Nostra Ancoma?''. O homem
que Leonardo matou, é parente dela.
Continuamos achando que a culpada é Olívia, mas,
infelizmente, ela já saiu do hospital e está em algum lugar
por aí.
Saio do carro, para pegar Felipe na casa da minha
mãe. Leonardo e Gabriel não entram, já que estão fora da
Nostra Ancoma. Isabella fica dentro do carro e liga para
Katherine, para conversar com ela do lado de fora.
Entro em casa e encontro meu pai falando com um
segurança. Ignoro a conversa e corro para cima, para
chamar Felipe. Mas, ao invés de encontra-lo, eu vejo
minha mãe chorando.
Meu coração aperta com isso. Na casa só tem os
gritos do meu pai, nada mais. Nenhum som de Felipe,
Karen e Katherine.
— Mãe... — não consigo completar a frase, eu
choro junto com ela.
— Eles sumiram. — ela diz entre lágrimas. —
Eles não estão em casa.
Capítulo 22
Giulia

Meu peito parece que vai explodir com tanta dor


que sinto. Meu filho, minha irmã e minha cunhada
sumiram. Katherine sempre some, mas agora é diferente.
Eles sumiram quando temos inimigos por aí. Inimigos que,
realmente, estão atrás dos filhos de Fernando Bertollini e
Marco Vesentini.
O telefone de Katherine e de Karen não são
atendidos. Meu pai já falou com os seguranças e eles
disseram que não viram ninguém saindo do condomínio.
Aparentemente, Katherine conhece alguma passagem
secreta, por isso ela sempre some sem que ninguém saiba.
Estou sentada no sofá, consolando minha mãe e ela
tenta fazer o mesmo comigo, mas não dá certo, somos duas
pessoas chorando pelo sumiço dos filhos. Isabella está
falando com Marco; meu pai, Leo e Gabriel estão juntos,
tentando encontrar alguma resposta para isso.
Ninguém fala uma palavra, mas sabemos que Leila
está por trás disso. Leila e Olívia. Por isso estamos tão
desesperadas.
Mas, então, é nesse momento que a porta abre e
vemos Karen, Katherine e Felipe entrando. Todos
parecem exaustos.
Corro na direção deles e toco, para ver se são eles
mesmos. Quando percebo que são eles, abraço todos
apertado.
— Ei! Eles notaram que sumimos. — Karen diz,
enquanto minha mãe a aperta.
— Pelo menos a sua irmã e mãe notaram. —
Katherine sussurra.
— Mãe, eu vi um monte de bichos. — Felipe diz
com animação, enquanto eu o aperto em meus braços. —
Uma zebra, cavalos...
Olho para o meu filho e beijo todo o seu rosto, ele
ri com a minha reação e continua falando dos bichos que
viu.
Segundos depois, todos estão na sala. Abraçando
seus filhos e suas irmãs.
— Ei, garotão. — Leonardo abraça Felipe. —
Você não pode andar com essas duas doidas.
— Mas eu gosto delas.
— Alguém na família tinha que gostar. — Karen
diz, com a voz carregada de acusação.
— Karen, você só vai sair de casa quando estiver
casada, fora isso, sem saídas.
— Pai...
— Sem saídas! — ele grita.
— Não me importo, eu não saio mesmo. — ela dá
de ombros, com muita petulância.
— Karen!
— Katherine, porque saiu? — tia Isabella
pergunta.
— Por que eu saí? Por que todos vocês sumiram?
Não tinha ninguém em casa e ninguém atendia as nossas
chamadas. Ninguém se importa conosco, somos sempre
colocados de lado enquanto vocês estão fora, em
restaurantes, cassinos e afins.
— Não estávamos nisso, Katherine.
— Marco, realmente, você estava em outro lugar.
— Isabella rosna. — Estávamos resolvendo coisas
importantes e vocês sumiram. Tem noção do quanto
estávamos preocupados? Te ligamos e nem isso vocês
atenderam? Querem pagar na mesma moeda?
— Não, não atendemos porque o nosso celular
ficou com Leila. Ela não avisou sobre isso?
— Leila? — olho para Katherine. — O que ela
tem a ver com isso?
Katherine começa a contar toda a história.
Começando pela parte onde ela foi ver Jasmine e não a
encontrou em casa. Na saída, ou melhor, no centro da
cidade, Leila encontrou todos eles e ofereceu carona.
— Felipe já estava irritando pedindo para ir ao
banheiro, por conta disso, Leila parou o carro no parque,
onde tem um banheiro publico. Ela ficou nos esperando,
mas acho que foi atender a alguma ligação. O parque está
lotado, está tendo exposições de animais. Felipe estava
louco para ver, por isso ele saiu correndo até lá. Bem,
ficamos vendo os bichos por algum tempo e, quando
voltamos para o estacionamento, Leila e nem o carro
estavam por lá. E os nossos celulares não estão conosco,
como estávamos com eles em mãos, acabamos deixando
no banco do carro. Pegamos um ônibus e andamos o resto
do caminho.
— E Leila não seguiu vocês? — pergunto.
— O ônibus veio por outro caminho e paramos
naquela rua onde tem a estação do trem desativada. Quase
nos perdemos no meio do caminho, já que precisamos
entrar em becos para chegar até aqui. Acho que Leila não
adivinharia que estávamos fazendo esse caminho para
chegar em casa. — Karen encolhe os ombros. —
Gastamos o dinheiro com a comida no parque, estávamos
com fome e não pensamos em transporte. Tínhamos algum
trocado sobrando para o ônibus, mas ele parou porque já
tinha chegado ao seu destino, não tinha táxi passando por
aquela região. Leila não ligou para avisar?
— Talvez tenha ficado com medo da reação dos
nossos pais. — Kat supõe.
— Leila não é uma boa pessoa. — meu pai diz. —
Não quero que nenhum de vocês fiquem perto dela, ok? Se
virem essa garota na rua, tratem de dar meia volta e nos
ligue! Não, esqueça essa parte, ninguém sairá de casa,
estão de castigo.
— Você não é meu pai.
— Mas eu sou e o castigo vale para você também.
— Marco esbraveja.
— Mas, pai...
— Katherine, toda vez que você sai alguma merda
acontece!
— Gabriel, nós não fizemos nada.
— Olhe ao redor, Katherine. — Leonardo grunhe.
— Todos estão reunidos para procurar por vocês.
— E o que Leila tem a ver com isso?
Levo Felipe para longe, ele não precisa escutar
essa conversa de ''gente grande''.
— Mãe. — Felipe chama. — Eu posso ter uma
cobra?
Sorrio para o meu filho, enquanto acaricio o seu
cabelo loiro. Os seus olhos azuis me encaram com o
pedido de ''por favor, mãe''.
— Felipe, sem cobras.
— Mas, mãe. Tinha uma cobra branca, desse
tamanho aqui. — ele abre os braços, mostrando o tamanho
da cobra. — E uma verde, outra preta. Eu quero uma
cobra.
— Felipe, eu não terei uma coisa venenosa na
minha casa.
Ele faz beicinho e cruza os braços, mas ele logo
muda quando lembra de algo.
— Sabe quem está apaixonada? Karen!
— Ele está fofocando sobre mim? — minha irmã
entra no quarto e mostra a língua para o sobrinho.
— Por quem? Pensei que a princesinha nunca
fosse se apaixonar na adolescência.
— Você se apaixonou?
— Minha mãe ama o meu pai. — Felipe cruza os
braços.
Sorrio para ele. Ok, eu fiquei interessada em
alguns meninos, mas nada que algumas horas não me
fizessem esquecê-lo. Nessa fase da minha vida, eu nunca
tinha tido uma paixãozinha, nem mesmo por Leonardo.
— Felipe, por favor, não fale isso na frente do seu
avô. — Karen pede.
— Eu quero sorvete.
— Esse menino é chantagista. — Karen olha para
mim.
— Não muito diferente de mim. Meu pai comprava
o meu silêncio por chocolate, sempre que ele ia fazer uma
surpresa para minha mãe e eu Daniel sabíamos, ele tinha
que comprar algo para calar a nossa boca.
Pensando em tudo o que meu pai fez por minha
mãe, eu chego à conclusão que é impossível que ele tenha
a traído.
— Allan. — Karen diz. — O irmão de Jasmine.
— Já se conhecem?
— Eu fui a casa dela, mas ela não estava lá.
Conheci os dois irmãos dela, Allan e Alex. Alex é idiota,
mas Allan... Ele é diferente.
— Acho que Jasmine e Sara não estão reagindo
bem com essa notícia. — digo. — Sabe de onde esses
dois saíram?
— Não. — arregala os olhos. — Mas não se
preocupe, não vai à frente. Ele é bem mais velho que eu.
Esquece isso. Vocês dois, esqueçam isso.
Karen dá um sorriso fraco e senta na cama.
— Eu não posso acreditar que Leila faria aquilo.
Fomos salvos pela insistência de Felipe em querer ver
aqueles animais.
— Eu quero uma cobra. — Felipe diz.
— Não vai ter cobra. Nem um cachorro. — eu me
traumatizei com a morte de Bella, minha cachorrinha.
Estávamos na rua e um idiota a atropelou, eu chorei tanto
que decidi não querer ter mais animais.
— Ei, crianças. — Leonardo entra no quarto. —
Podem dar licença?
— Claro. Venha comigo, Felipe. Vamos brincar um
pouco.
— Meu vô te colocou de castigo, até quando você
se casar.
— Eu não poderei sair de casa, mas posso ir ali
no jardim, para brincarmos juntos.
Felipe sorri e corre na frente, fazendo com que
Karen corra atrás dele.
— Eu quase morri quando soube do sumiço de
Felipe. — Leonardo segura a minha mão. — Não suporto
mais toda hora ficar nessa coisa de perder quem amo.
— Não superou o meu coma?
— Superar? Agora estou mais irritado. Foi Leila
quem armou aquilo e quase te matou. Eu nunca vou
esquecer você ali, deitada naquela cama de hospital e
ligada a aparelhos. E o nosso filho na incubadora.
— Não pense nisso.
— Eu adoraria esquecer, mas toda vez que te vejo
em perigo, eu lembro aquela cena. Da minha dor em te
perder. E agora eu senti novamente, com o Felipe. Eu me
odeio por tê-lo rejeitado.
— Ei. — coloco meu dedo em sua boca, calando-
o. — Foi coisa do momento, você estava triste e logo se
arrependeu.
Leo colocou a culpa da minha situação em Felipe,
foi algo de momento, da sua raiva. Ele meio que colocou a
culpa do meu coma na minha gravidez, nas complicações
causadas, mas não foi isso e ele soube logo após. Mas,
pelo menos, ele se arrependeu disso.
— Eu sei, mas...
— Não se preocupe com isso. — sorrio.
— Eu te amo. — ele me dá um beijo delicado, mas
eu me afasto.
— Eu preciso de um banho, escova de dente...
— Giulia, eu... Precisamos ter uma conversa, mas
isso será quando eu voltar.
— Vai sair novamente?
— Uma reunião. — dá de ombros. — Fernando
me chamou, junto com Gabriel e Daniel, temos
informações e isso precisa ser compartilhado.
— E Nicholas, Dean e Brittany?
— Bem, Dean e Brittany saíram antes mesmo de
entrarem no carro e Nicholas... Nicholas não poderia ficar
a vida toda nos ajudando. Aparentemente, ele teve que
voltar para casa, mas ele nos ajudou muito falando sobre
Leila.
— Sim, devemos muito a ele.
— Mas, não se preocupe. Quando a reunião
terminar, eu voltarei para conversarmos seriamente.
Será que é sobre o contrato de casamento? Será
que ele vai me contar a verdade? Eu adoraria que ele
fizesse isso, que me conte por conta própria, para que eu
não precise tocar nesse assunto primeiro.
Eu até entendo que ele não tenha me contado por
conta do seu medo de me perder, mas já que eu estou aqui,
ele precisa contar por conta própria. Certo?
Leo levanta da cama e vai até a porta, mas para
antes mesmo de abri-la.
— Giulia, você me ama?
Ele parece ansioso pela minha resposta.
— Sim. — sorrio. — Eu te amo.
— Me ama mesmo?
— Sim, Leonardo. Eu te amo, ou eu nem estaria
mais aqui ao seu lado.
Ele sorri, como se tivesse aliviado com a minha
resposta. Fecha os olhos e diz:
— Eu também te amo. Amo tanto que... Esquece,
mais tarde conversaremos sobre isso.
Mais tarde... Mais tarde será o momento em que
ele me contará tudo? Eu espero que sim.
Capítulo 23
Leonardo

Foi uma grande surpresa quando cheguei à porta


do condomínio e vi que Isabella, Sara e Giulia estavam
saindo apressadamente de casa. Eu, Gabriel e Daniel
seguimos, apenas para encontrar meu pai traindo a minha
mãe.
Meu pai sempre falou sobre lealdade,
principalmente por causa do meio em que vivemos. Na
construtora, temos que ser falsos com muitas pessoas.
Temos que sorrir, mesmo querendo mata-los. Também
temos que ver qual o melhor negócio, muitas vezes
''traindo'' certos investidores, quando estamos quase
fechando negócio com um, voltamos atrás e vamos para a
melhor opção.
Mas na Nostra Ancoma não. Não se deve trair as
pessoas que ali estão. Traição, muitas vezes, pode ser
cobrado com a morte, no entanto, eu nunca soube sobre um
caso desse.
Na família temos o mesmo código de conduta. Não
digo por outras famílias que estão ligadas a Nostra
Ancoma, digo por minha família e a de Giulia. Meu pai
me ensinou a não trair a confiança de quem amamos, para
que, agora, ele esteja traindo a minha mãe com Olívia.
Eu sei que eles não estavam indo bem no
casamento, mas eles sempre pareceram felizes, pelo
menos, era isso que pensava quando via os dois juntos.
Não conheço Olívia. Logo na primeira vez que a
vi, ela tinha que estar nua com o meu pai?
Na infância eu tive curiosidade sobre ela, mas isso
logo cessou quando entendi que ela não voltaria. Então
conheci Isabella. Ela tem um jeito peculiar para cuidar de
uma família. É engraçado, porque ela sempre é um tanto
quanto louca em relação às coisas. Só nisso eu via que ela
discordava do meu pai.
Isabella sempre foi a melhor mãe para mim. Ela é
tão maravilhosa que, entre ela e meu pai, eu escolho ela.
Pelo menos minha mãe nunca traiu a confiança de alguém.
Na sala, Katherine discute com Gabriel. Eu
detesto pensar que ela gosta dele, ou ama... Sei lá,
Katherine tem umas ideias esquisitas na grande maioria
das vezes.
Apesar da pouca idade, Gabriel já aprontou o
bastante. Junte o gene de Fernando, Yankee, Victor
Bertollini e Sara — que descobri que é boa em briga — o
garoto, realmente, tinha que sair encrenqueiro e briguento.
No momento, eu tenho que concordar com Gabriel,
ele está certo em acusar Kat das burradas que ela faz na
vida. Fugir de casa sempre foi o habito da pirralha, mas
nunca foi algo extraordinário, ela ia até a esquina e
voltava correndo quando via alguma pessoa suspeita e
ficava com medo. A sua saída mais dramática tem relação
com o seu ''envenenamento'' que foi mascarado graças à
bebida ''alcóolica''.
Deixo os dois ali, discutindo as merdas da minha
irmã, e vou até o escritório de Fernando Bertollini.
Fernando me deu um prazo. Se eu não contar a
verdade sobre o contrato de casamento, ele fará isso no
meu lugar.
Estou disposto a ser verdadeiro com Giulia, eu a
amo mais que tudo e sempre a amei. Se depois da verdade
ela não quiser nada comigo... Não consigo pensar nessa
possibilidade. Não sei o que fazer sem ela em minha vida.
Encontro meu pai mexendo no celular. Ele está
distraído demais para notar a minha presença.
— Marcando um encontro com a sua vadia?
Ele olha para cima e tem um olhar de poucos
amigos.
— Não lembro de ter perdido o registro onde diz
que você é meu filho. Mais respeito significa menos
problemas para o seu lado.
— Eu não traí minha esposa.
— Mas a enganou e roubou o contrato de
casamento do seu melhor amigo. — arqueia a
sobrancelha. — Vai continuar me acusando?
— Você realmente traiu a minha mãe? — volto ao
assunto principal dessa conversa.
— Você viu, não é mesmo? Por que continua
perguntando?
— O que vai fazer com Kat? Ela sempre foi a sua
favorita e sabemos que o mesmo acontece com ela. Vai
contar que traiu a mãe dela? Vai continuar sorrindo
presunçosamente quando falar com ela?
Meu pai perde o sorriso. Ele ama Kat e sabe que
será difícil ter essa conversa com ela.
— Por que parou de sorrir? Sabe o que acho
estranho? Por que sorri quando falamos disso? Parece que
gosta de provocar. — aproximo-me dele. — Você nunca
foi disso, Marco.
— Você não me tirou do título de pai? Por que se
importa?
— Por que está sendo tão idiota?
— Porque é preciso ser idiota. É apenas preciso.
Ele sai, sem me dar chance de continuar a
conversa.
''É preciso ser idiota''? O que ele quer dizer com
isso?
Com essa questão em minha cabeça, entro no
escritório de Fernando Bertollini. Ele está sentado
enquanto digita rapidamente em seu notebook, mas para
quando me vê.
Ele aponta para a cadeira em frente a sua mesa.
Sento-me no local indicado e espero ele falar algo.
Fernando Bertollini, além de meu sogro, é meu
padrinho. Ele é amigo do meu pai, o único amigo, para
falar a verdade. Acho que nenhum de nós é bom com essa
coisa de fazer amizade.
Eu nunca tive medo de Fernando. Era engraçado,
quando ele ia buscar Daniel no colégio e me levava junto,
todos os nossos colegas tremiam de medo, até mesmo os
professores temiam. Mas eu não, eu sempre achei um
máximo ser afilhado de alguém como Fernando Bertollini.
Claro que existem os boatos, mas ninguém tem
coragem de apontar e acusar Fernando de algo, mas o cara
já impõe medo apenas com o olhar.
E, pela primeira vez em minha vida, eu estou com
medo de Fernando Bertollini.
— E então? — pergunto, quando o silencio já está
me apavorando.
— Devo admitir, Sara está certa. — Fernando dá
um meio sorriso. — Você é como eu.
— Isso é bom?
Fernando inclina a cabeça para o lado, o sorriso já
sumiu do seu rosto.
— Estou brincando, é bom ser como o senhor,
padrinho.
— Lembrar que sou o seu padrinho não é bom
nesse momento, se é que pensou nisso.
— Sou o pai do seu neto, fica melhor assim?
— O que minha filha vê em você?
— Eu poderia listar o que tenho de bom.
Leonardo, você poderia calar a boca e deixar de
ser idiota?
— Voltando a falar sobre Sara. — ele fala mais
alto. — Ela estava certa. Eu a amo desde sempre e fiz
merdas para ela estar comigo.
— Eu sei dessa história.
— Como sabe disso?
— Somos iguais, esqueceu? — Fernando me olha
como quem quisesse me matar. — Ok. Eu escutei uma
conversa sua com Yankee.
— Então, já que sabe o que fiz, isso poupará o
meu tempo. Você fez uma grande merda para manter Giulia
ao seu lado, mas eu vejo que ela te ama e você também a
ama.
— Sim. Eu a amo mais que tudo na minha vida.
— Eu nunca duvidei disso. Eu te vi no hospital
naquele dia, sei que a ama, mas eu não vou esquecer o seu
roubo.
— Você está me desculpando?
— Vai contar a verdade para Giulia?
— Claro que sim. Hoje mesmo eu farei.
— Por que está tão determinado?
— Eu fiz merda? Fiz, mas foi por amor. Eu sempre
acreditei no amor de Giulia por mim, mas ela estava
chateada comigo naquela época. Eu fui idiota e fiz aquilo,
para que ela ficasse comigo e, com a convivência, ela
voltasse a me amar. Não foi sobre fazer parte da família
Bertolini, foi sobre formar minha família com Giulia. Ela
me ama, eu preciso contar a verdade para ela.
— E se ela te recusar?
— Terei que conviver com isso... Não, a quem eu
quero enganar? Eu não desistiria de Giulia.
— Contanto que não vire um perseguidor. —
Fernando dá de ombros. — Eu te entendo.
— Posso fazer uma pergunta?
— Faça e eu decido se responderei.
— Você é como meu pai?
Fernando olha para o teto e depois para a tela do
seu notebook.
— Com o tempo, você saberá. — ele aponta para
a porta, não falando mais nada.
Ok, até que foi fácil e rápido a nossa conversa.
Antes que eu saia, escuto a sua voz de Fernando
me chamando.
— Chame Marco, Gabriel e Daniel.
— Daniel não está aqui. — digo. — Acho que foi
ver Jasmine.
— Alguma possibilidade dela estar com Tyler?
Penso um pouco.
— Talvez, eu não sei.
— Tente ligar para Daniel e Jasmine. — Fernando
pega o telefone.
— O que está acontecendo? — ele pergunta para
quem quer que seja na ligação. — olha para mim. Escuto
uma voz desesperada no outro lado do telefone. — A
nossa salvação ou perdemos uma resposta.
— Daniel e Jasmine...
— Prepare o carro e chame Franco. — Fernando
corta minhas palavras. — Precisamos esconder as provas
de um crime.
Bônus 6
— Como assim você perdeu três crianças de
vista?
Eu sabia que jamais deveria ter colocado Leila
nessa história, mas foi à única coisa que tinha. Falando a
verdade, ela parecia perfeita para o plano. Já vinha com
documentos falsos e tudo.
— Aquela criança estava insistindo para ir ao
banheiro e já estava irritando a todos. Eu poderia seguir
em frente, mas Karen e Katherine poderiam desconfiar
da minha atitude.
— Por causa de uma criança de quatro anos, eu
perdi meus reféns...
— O celular delas está no carro, mas... Mas tem
senha.
Respiro fundo, tentando controlar a minha raiva
nesse momento.
Ao que tudo indica, Leila estava no parque e me
ligou para falar sobre o andamento do ''sequestro''.
Quando voltou, eles não estavam mais lá. Ela disse que
procurou e não os encontrou.
— Pelo menos eu tenho um plano B. — digo. —
Jasmine, ela está sozinha nesse momento. — dou o
endereço. — Vá até lá e faça algo que cubra os seus erros.
— Mas Jasmine pode revidar e...
— Ela confia em você. Vá até lá e mate a garota,
simples assim. Se não fizer, eu farei, mas será você a
vítima.
— Ok. Estou indo até lá.
Termino a ligação e verifico tudo a minha volta.
Nem Hugo e nem Rachel estão por aqui. Aproveito o
momento e ligo para meu outro ''aliado''.
— Mais alguma coisa?
— Allan, é assim que fala comigo?
— O que quer? Eu já dei informações sobre onde
Jasmine está, ficar me ligando a todo momento não me
ajudará a ficar nessa casa sem que Tyler desconfie.
— Só liguei para avisar que...
A porta da frente abre e Hugo me encara.
— Depois eu te ligo. — termino a ligação.
— Mais segredos? — Hugo provoca.
É isso, acabarei com todos eles e ainda terei
tempo para acabar com Hugo.
— Onde estava? Aparentemente, você tem mais
segredos que eu. — provoco, tentando desviar do assunto.
— Continue desviando o assunto, mas um dia eu
descobrirei e terei motivos para te expulsar daqui sem que
Rachel sinta pena de você. Ou melhor, eu poderei te matar
sem que Rachel sinta a sua falta.
Sorrio para ele.
Não me importo com suas ameaças e nem com o
seu jeito estranho de ser. Jasmine, daqui a pouco, estará
morta e, junto com ela, Daniel e Tyler ficarão tristes e
assim por diante.
Talvez o plano b não seja tão ruim quanto pensei.
Jasmine

Daniel me abraça, depois que eu enchi os seus


ouvidos com minhas lamentações.
— Eles são ruins? — Daniel pergunta.
— Não sei, nem ao menos conversamos. Quer
dizer, aqueles dois ficam provocando, me chamando de
irmã o tempo todo.
Saí de casa com minha mãe. Viemos para a outra
casa, longe de meu pai. Como Leila está por aí,
resolvemos vir para outro território comandado pela M-
Unit, pelo menos teremos proteção.
— Tyler traiu a sua mãe?
— Não. Allan e Alex são mais velhos que eu e até
mesmo do casamento dos meus pais. Mas a minha mãe
está irritada porque meu pai sumiu e do nada voltou com
dois filhos para dentro de casa.
— Vamos combinar que ela tem razão.
— Sim, ela tem razão. Por isso eu também estou
irritada com o meu pai. — suspiro. — Pronto, já te enchi
com meus problemas.
Minha mãe saiu para trabalhar e eu fiquei sozinha.
Fiz mais uma tentativa enviando mensagem para Daniel e
ele me correspondeu. Prontamente ele já estava na minha
porta.
— Obrigada por me escutar.
— Minnie, eu sempre estarei aqui com você,
desculpe não ter aparecido antes. Acredita que Leila...
— Giulia já te contou sobre ela?
— O que exatamente?
Nesse momento, contamos o que sabemos sobre
ela. Ok, estou chocada com a parte onde escuto que Leila
é muito mais velha que eu.
Nos aproximamos no colégio e eu acabei gostando
dela... Eu sou uma tola.
— O que faremos agora? — pergunto. — Eu pedi
para que um amigo do meu pai a seguisse, mas ela foi
perdida de vista.
Levanto do sofá, indo até a cozinha desligar o fogo
que está cozinhando o macarrão.
Na cozinha tem uma enorme janela de vidro, de
onde eu vejo Leila saindo do carro.
— Daniel. — falo baixo, já que ele está perto de
mim. — Leila está aí fora.
— Ela pensa que vocês são amigas, certo? —
confirmo. — Então continue o seu teatro. Estarei com ela
em minha mira, depois você já sabe o que acontecerá.
— Simples assim? — belo plano.
— Simples assim!
No segundo em que Leila olha para frente, ela está
caída no chão.
Dou um passo para trás, com o susto que acabei de
tomar, mas acabo colidindo com o corpo de Daniel.
— Mas que...
Daniel não completa a sua frase, porque, nesse
exato momento, vemos o motivo da ''queda'' de Leila. Meu
pai está correndo na direção dela e grita algo que não
entendo, porque outros homens estão ali. Meu pai para em
cima de Leila e vejo o momento em que a arma é mirada e
meu pai atira... Atira muitas vezes.
Não tem qualquer som da arma, apenas os homens
gritando.
Aqui não tem muitas casas ao redor, na verdade,
aqui é outro território do meu pai. Como aqui é uma de
suas casas, ela tem uma grande área sem nada ao redor.
Daniel me move para o lado, longe daquela cena.
Não estou surpresa, eu sempre soube sobre o que
meu pai faz. Ele até me ensinou sobre armas e auto defesa.
Ele me defendeu. Ele salvou a minha vida.
O som de uma pessoa batendo na porta me assusta.
Meu pai abre a porta, mostrando o seu sorriso e a
arma.
— O que aconteceu? — pergunto, vendo mais dois
homens atrás dele.
— Pode me chamar do que quiser, mas não diga
que não te amo. Aquela garota que você chamava de
amiga estava aí fora, com a arma na mão e,
provavelmente, te mataria. Fui mais rápido que ela e
bem... Já pode imaginar o que aconteceu. — meu pai
sorri. — Eu salvei a sua vida, mas Fernando pode estar
irritado comigo.
— Do que está falando? — Daniel pergunta.
Confesso, estou aliviada com a morte de Leila.
Juro que não esperei que acontecesse de uma maneira tão
rápida. Na verdade, ninguém aqui está agindo como se lá
fora estivesse acabado de acontecer um assassinato.
— Pense comigo, Daniel. Leila não está
trabalhando sozinha, mas eu matei a garota, então ficamos
sem respostas. Seu pai ficará irritado, mas eu não pagaria
para ver o que aquela garota faria com a minha filha.
— Chegaram rápido até aqui. — falo.
— Acha mesmo que eu deixei você e sua mãe
sozinha? Estou a duas casas daqui e fui avisado sobre
Leila ter entrado. Fui rápido e cheguei a tempo.
— Sabe de Leila desde sempre?
— Tem certas coisas que não devemos falar.
Agora, fique aí dentro que eu preciso esconder o corpo e
ver se tem alguma testemunha do que aconteceu lá fora.
Com essas palavras, meu pai sai de casa
juntamente com os seus capangas.
— Eu sou um alvo, não sou? Por isso meu pai está
envolvido nisso.
Se Leila se aproximou de mim desde o início, isso
quer dizer que sou um alvo. A Nostra Ancoma e M-Unit
tem um inimigo em comum. Um inimigo que quer matar a
família de cada um.
Daniel me abraça, guardando a sua arma.
— Provavelmente o alvo sou eu. Eles sabem que
te atingindo, eu também sairei machucado. Ou melhor, eu
saio mais machucado se te ferirem do que se ferirem a
mim.
— Do que está falando?
— Que eu te amo e estarei aqui para te proteger.
Não é o tipo de amor que quero, mas, o que posso
fazer? Não posso mandar em seu coração, pior, eu nem ao
menos consigo mandar no meu.
Capítulo 24
Leonardo

Saio do carro juntamente com Fernando e Franco.


Logo a frente da casa de Tyler, vejo Daniel e Jasmine.
— Ei. — aproximo-me deles. — Como estão?
Fernando ligou para Tyler. Não entendi como
Fernando conseguiu captar que Tyler tinha matado Leila,
melhor, Antonieta. Eles podem trabalhar juntos e perguntei
a ele se essa suposição está correta, Fernando apenas
disse ''Não, Leonardo. Não trabalhamos juntos''. Mas que
é estranho, isso é.
— Estamos bem. — Daniel sorri.
Jasmine sempre foi uma garota que aprendeu tudo
com Tyler, isso inclui ser forte e entender tudo o que
ocorre em sua gangue. E, tenho certeza, ela também está
aliviada sobre a morte de Antonieta.
Vamos até o local que Daniel nos indica e
encontro Tyler e mais quatro homens. Esse local é distante
da casa e distante do bairro.
— E testemunhas? — Fernando pergunta.
— Já me certifiquei de não contarem nada. —
Tyler responde. — Alguns homens já estão circulando,
para espalhar os ''avisos''.
Ando para o canto e vejo o corpo de Leila
coberto. Tiro o lençol de cima e vejo Leila, ela está
ensanguentada e o rosto... Nem tem como dizer que é
Leila.
— Ela estava com uma arma. — Tyler começa a
falar. — Vi o momento exato que ela saiu do carro e
colocou a mão nas costas, onde estava a sua arma. Eu não
poderia vacilar. Ela poderia entrar na casa e matar a
minha filha, sem que Jasmine tivesse a chance de defesa.
— Eu entendo. — Fernando balança a cabeça em
concordância. — Eu faria o mesmo. Agora o que nos resta
é continuar investigando e ver quem está por trás disso.
— Eu só tenho uma dúvida. — falo. — Leila não
sabia que essa é a sua área? Ela veio aqui para matar
Jasmine?
— Não sabemos o que está por trás disso. Uma
ameaça, talvez? Quem está por trás disso pode ter
ameaçado Leila de outra maneira.
— Nem a M-Unit e nem a Nostra Ancoma tem
problemas com a família de Antonieta Baptista?
— Não, Leonardo. Não temos quaisquer
problemas.
Olho para Fernando e Tyler. A família de Leila é
da Itália. A Nostra Ancoma também tem negócios no país,
mas se ambos dizem que não tem problemas... Não sei se
devo acreditar nisso.
— E Olívia? — questiono. — Ela, obviamente,
tem algo a ver com isso.
— Por que acha isso?
Fernando olha para mim, como se eu tivesse
falado alguma besteira.
Isso é sério? Fernando é inteligente e não
suspeita de Olívia?
— Porque ela apareceu do nada, tem cara de quem
quer dinheiro...
— Ela desapareceu. — Fernando me interrompe.
— Estava no hospital e agora não mais. Então, se ela for
suspeita, a encontraremos.
Fernando está calmo... Muito calmo.
— Então. — olho para trás, para ver Franco
entrando. — Onde está o corpo?
Franco é o homem que sempre chamamos para
esconder os crimes. Ele é o único que não se incomoda
muito de enterrar ou desenterrar um corpo. Claro que isso
não é lá grande coisa, mas tem certos corpos, que até
Fernando se recusa a ir ver, porque só o cheiro te fará
passar mal por horas. Mas com Franco não tem isso.
Franco olha o corpo de Leila e logo diz que já viu
um local para enterra-la. Não será difícil esconder, ela
não tem família, como pensávamos que tinha. Ou melhor,
acho que ela nunca falou sobre isso.
Eu nunca achei nada de Leila. Nem achava boa e
nem ruim, muito menos sabia sobre a sua vida. Ao que
tudo indica, ou ela mentia, ou nunca perguntaram sobre
isso.
Franco e Tyler foram enterrar o corpo. Eu e
Fernando saímos para a casa de Tyler.
Batemos na porta e Daniel abre.
— Você já vai? — pergunto.
— Ficarei com Jasmine.
— Apaixonadinho?
— Eu perguntei a Jasmine sobre a família de
Leila. — Daniel me ignora. — Ela disse que Leila nunca
mencionou nada, na verdade, acho que ela dizia que a sua
família era de fora.
— Uma mentira clara.
Olho para Fernando.
— Não corre risco de Leila ter parentes por aqui?
— Leonardo, se tiver, nós descobriremos.

(...)
Entro na casa de Fernando e encontro Karen e
Katherine sentadas no sofá.
— Olá, crianças.
— Vai à merda. — obviamente isso partiu de
Katherine.
Sento no meio, entre Karen e minha irmã
rabugenta.
— Sabia que essa coisa gótica saiu da moda há
anos?
Katherine olha para mim. Ela tem uma maquiagem
muito escura nos olhos, que destaca o tom azul que eles
têm, a sua boca tem um batom preto. Minha mãe nem é
contra essa maquiagem, mas sim as suas roupas. Katherine
decidiu que seria gótica na adolescência, antes disso a
garota foi emo. Suas músicas se resumem a guitarras,
pessoas gritando como se tivessem morrendo e muitas
músicas que parecem ópera, e do nada começa a gritaria
novamente. Eu curto rock, mas essa garota curte um rock
estranho, muito estranho.
— Por isso é bom ser gótica, ninguém mais é. Sou
a única no meio dessas pessoas desprezíveis, ridículas,
mesquinhas, pobres de espírito. — olha para mim. — Já
disse que não gosto de pessoas?
— Deixe a tia Isabella escutar isso.
— Não tenho culpa se ela acha legal ser feminina
e eu prefiro ser assim, sombria.
— Falou à garota que sofre de amores por mim. —
Gabriel se joga no sofá.
— Por isso as pessoas são tão desprezíveis, por
atitudes como essa.
Katherine se inclina e pega duas botas debaixo do
sofá e calça. Ela levanta e tenho um vislumbre da sua
roupa preta e o sobretudo da mesma cor.
— Katherine... — Karen franze o cenho. — Que
tipo de roupa é essa? Está calor.
— Góticos não sentem calor. — rio.
— Você. — Kat aponta para mim. — O que faz no
meio dos jovens da casa? Você quase nunca fala conosco.
— Essa acusação é falsa.
— Não, não é. — Gabriel levanta a mão. —
Sempre é você, Giulia, Daniel e Jasmine, quase nunca
somos inclusos em nada desse ''quarteto''.
— É, não se intrometa no nosso trio. — Katherine
cruza os braços. — O que quer conosco?
Reviro os olhos.
— Preciso ter uma conversa com Giulia e, bem...
Eu estou tentando retardar essa hora.
— Fez merda?
— Pode ser que sim, Katherine.
— Você traiu Giulia? Não se pode trair ninguém,
principalmente a esposa. Se você traiu Giulia, eu não
olharei mais na sua cara.
— Kat, acha mesmo que eu trairia Giulia?
Ela diz que ''não''.
— Você é idiota, mas ama Giulia. Então, o que
você fez dessa vez?
Olho para Karen. Ela tem a sobrancelha arqueada
e parece que poderá me matar a qualquer momento.
Gabriel tem um sorriso e Kat continua me encarando com
raiva.
— Boa noite, crianças. — Fernando entra na sua
casa. Ele havia ficado para trás para resolver algo.
— Vai, Katherine. Diz o mesmo que você falou
comigo para Fernando. — provoco.
— Eu não gosto de gente, mas isso não significa
que eu queira me retirar desse planeta.
— Que roupa é essa?
Fernando encara Katherine.
— Outro que quer falar de moda?
Fernando apenas revira os olhos para a minha
irmã.
— Onde Sara está?
— No quarto.
— No quarto onde a senhorita também deveria
estar. — Fernando sorri para Karen. — Qual a parte do
castigo não entendeu?
— Mas estou em casa.
— Karen, pode ir para o seu quarto. Você fugiu de
casa, então ficará presa a ela e no seu quarto.
— Pai...
— Karen, suba!
Karen resmunga e, por fim, sobe para o quarto.
— Katherine.
— O que é? — ela se encolhe quando vê o olhar
que Fernando dá a ela. — O que o senhor deseja?
— Para o quarto.
— Você não é o meu pai.
— Wow! — grito. — Katherine está perdendo o
amor à vida.
— Certo, ok. — levanta as mãos. — Já estou indo
para a minha casa.
— Não, você ficará aqui. Marco ligou e me avisou
sobre isso.
— Tio, posso dormir no quarto de Karen? — sua
voz sai melosa, como sempre ela faz quando quer algo.
— Não. — Fernando sorri com sarcasmo.
Katherine rosna e sobe as escadas.
— Gabriel!
— Já sei e já estou indo.
Gabriel levanta do sofá e anda para a porta da
saída.
— Para onde vai? — Fernando grita.
— Vou embora.
— Você fica.
— Mas...
— Você fica! Seu quarto está aí. Mas, eu te aviso,
cometa um erro novamente e você está fora de casa e da
Nostra...
— Eu estou dentro de tudo novamente?
— Vocês dois. — Fernando olha para mim. —
Estava fora resolvendo isso. Leonardo, você escondeu e
mentiu sobre a morte daquele homem, mas dei um jeito e
consegui convencer a todos que você não vai fazer mais
nada de errado. Então é isso, se um dois cometer um erro
novamente, estarão fora.
— Eu não vou errar novamente. — falo. —
Obrigado.
— Já falou com a minha filha? — nego. — O que
está esperando.
A coragem, finalmente, aparecer...
Capítulo 25
Giulia

Escuto as vozes na sala e vejo que Leonardo


chegou em casa.
Fico ansiosa para saber se teremos a conversa.
Leonardo até mencionou isso para os meus irmãos, mas
não diz o motivo dela, só deixa claro que não me traiu.
Como eu pude acreditar nisso? Mais uma coisa
que foi planejada por Leila.
Meu pai chega em casa e começa a conversar com
Leonardo e Gabriel. O assunto muda e, nesse momento,
eles falam sobre Olívia. Mais uma vez, Leonardo deixa
claro que não quer ver nem a sombra dessa mulher.
Saio do meu ''esconderijo'' e vou para o quarto da
minha mãe.
Ela está penteando o cabelo enquanto Karen e
Katherine resmungam sobre o castigo dado a elas.
— Que crianças rebeldes temos nessa casa.
— Giulia, não fizemos nada de mais.
— Katherine, só não foi nada de mais porque
Leila não sequestrou vocês.
— Mais isso é culpa de vocês. — Karen cruza os
braços. — Vocês nunca falaram nada sobre Leila, muito
pelo contrário, saíram sem nem ao menos nos avisar.
— E ainda foram presas por agredir uma mulher.
Katherine não sabe sobre Olívia e Marco. Tia
Isabella saiu e Marco foi atrás para conversarem, não
tenho ideia do que será resolvido com essa conversa.
— Mas enquanto estávamos presas, Karen estava
conhecendo a paixãozinha dela. — falo isso apenas para
desviar do assunto.
— Karen está apaixonada? — minha mãe vira
para nós três. — Quem é essa pessoa?
— Não é nada de tão importante.
— Karen, eu sou sua mãe e amiga, deve confiar e
me contar tudo. Ou o castigo aumentará.
— Aumentar? Estou de castigo até que me case.
— Fale de uma vez. — empurro o seu braço.
— Não é nada de mais, já disse.
— É o irmão de Jasmine. — Katherine bate
palmas. — Ele é bonito e é menos idiota que o outro
irmão.
— O menino mal chegou e já tem admiradora?
— Não, mãe. Eu não sou admiradora dele e ele
não é um garoto, ele é mais velho.
— Ouvi dizer que são os melhores. — Kat dá de
ombros.
Kat e Karen voltam a ter a discussão e fico
aliviada do assunto ter mudado. Kat é uma pessoa
apegada a Marco e eu escutei a conversa dela com
Leonardo. Ela disse que se Leo tivesse me traído, ela não
olharia em sua cara... Imagine Marco.
— Seu pai já está subindo?
— Sim, está conversando com Leo e Gabriel. Os
dois voltaram para a Nostra Ancoma e Gabriel está de
volta em casa.
Minha mãe olha para mim.
— Não sei de onde saiu tanta rebeldia de Gabriel.
— Mãe, ele deixou claro que não sabia que aquela
garota é comprometida. A culpa também é dela, não
apenas do meu irmão. Todas as brigas foram por culpa
dela.
— Para início de conversa, eu nem sei por que seu
irmão quer tanto entrar nessa coisa de máfia.
— Meu pai sempre foi um exemplo a ser seguido,
deve ser isso.
Minha mãe não diz nada. Ela nunca foi uma grande
fã da máfia, principalmente depois dos seus dois filhos
entrarem nisso. Daniel foi praticamente inserido nesse
mundo quando era criança, graças a um acordo feito com
Tyler. Gabriel sempre quis isso e meu pai nunca o
impediu.
— Mãe. — chamo. — O que meu pai te falou mais
cedo, quando saímos da cadeia?
— Que me ama e estava atrás de Leila. Pediu para
que eu confiasse nele.
— E você?
— Eu não acredito que ele esteja me traindo, mas
sei que ele me esconde algo. Giulia, se eu tiver um
resfriado, seu pai virá correndo para me ver. Eu fui presa
e ele só soube pela manhã?
— Eu acho que ele está atrás dos culpados e acho
que ele está escondendo isso de todos porque essa pessoa
é muito perigosa, ele não quer nos preocupar.
— E acho que isso está entre Marco e Fernando,
porque são os dois que ficam de segredinhos um com o
outro.
Somos interrompidas quando meu pai entra no
quarto e manda Katherine e Karen irem para o quarto.
— Giulia. — meu pai sorri para mim. —
Leonardo já chegou e...
Não deixo que ele termine de falar. Corro em sua
direção e o abraço. Meu pai logo me abraça e beija a
minha cabeça.
— Aconteceu algo? — ele pergunta com a voz
calma.
— Perdoe-me por ter sido tão ruim com você.
— Não foi culpa sua.
— Não, não foi, mas a maneira como te tratei...
— Nos tratamos mal, Giulia. Eu não fui a melhor
pessoa quando descobri a sua gravidez.
— Mas estava certo. — afasto-me dele e o encaro.
— Eu menti para o senhor, mereci aquele tratamento. Mas
o que aconteceu depois...
— Não precisamos falar disso. Estamos
perdoados, isso já basta. Temos todo o tempo do mundo
para compensarmos o passado.
— Obrigada por ser tão compreensivo.
— Podemos dizer que eu entendo tudo o que
aconteceu. — ele olha para a minha mãe, que enxuga o
rosto que está molhado com suas lágrimas. — Fazemos
algumas besteiras por amor. Entre elas, causar discórdia
com os sogros.
Lembro-me quando minha mãe falou sobre Yankee
ter ameaçado meu pai e olha que ele nem sabe sobre o
''sequestro''.
— Eu te amo. — fico na ponta dos pés para beijar
o seu rosto, como meu pai é muito alto, ele se abaixa e
consigo beija-lo.
— Também te amo.
— Eu pensei que fosse demorar a ver essa cena.
— minha mãe diz.
— Venha aqui. — meu pai chama a minha mãe. —
Vocês duas, Gabriel, Daniel, Karen e Felipe, são as
pessoas mais importantes da minha vida. Eu posso ser
grosso e rígido em alguns momentos, mas eu amo vocês.
— Nós amamos você dessa maneira. — minha
mãe nos abraça.
— Pode ter certeza disso, pai.

(...)

Entro no quarto que pertencia a mim no passado.


Felipe está deitado na cama enquanto Leonardo assiste
televisão, porém, ele desliga quando eu me aproximo.
— Acho que está na hora da nossa conversa. —
ele diz.
Minha ansiedade aumenta nesse momento.
Eu fico em pé, parada, esperando o início da
conversa. Leonardo abaixa a cabeça e começa a falar.
— Eu fui expulso da Nostra Ancoma porque eu
menti. Não menti apenas sobre o cara que matei, eu roubei
o contrato de casamento de Daniel para usar com você. Eu
te enganei. Daniel e Fernando não tiveram culpa de nada
daquilo. Eu roubei o contrato de Daniel, retirei qualquer
coisa relacionada a ele, Jasmine e Tyler, e coloquei meu
nome, a assinatura de Fernando ajudou no meu plano.
Giulia, eu juro, fiz aquilo apenas por te amar. Sei que fiz
tudo errado, mas... Mas você não me queria e estava
grávida, eu tinha medo de te perder para sempre. Tinha
medo de voltarmos ao passado, onde você me odiava e
nem olhava para mim. Eu fiz aquilo por impulso, apenas
para não te perder. Eu te amo e não pensei nas
consequências. Eu errei, mas eu juro que te amo.
Ele me contou a verdade. Contou a verdade e
disse que me ama.
Sinto uma lágrima descendo no meu rosto.
Leonardo levanta rapidamente da cama e corre em
minha direção.
— Giulia, me perdoe, por favor. Eu... — ele
levanta a mão, como se fosse me tocar, mas não o faz.
Leonardo apenas olha para baixo.
— Eu te perdoo.
— Mas eu te enganei... — não fala mais. Ele me
olha com surpresa e vejo a dor em seus olhos.
— Passamos quatro anos distantes. Quatro anos
em que eu te amava e me recusava a me aproximar. Você
sempre tentou chegar em mim e eu me fechei, me fechei
por acreditar naquela mentira da traição. Acho que não
preciso ficar voltando ao passado e te culpando por tudo.
Eu te amo, não quero que nada nos atrapalhe. Eu meio que
entendo o que fez, você sempre teve ideias idiotas. Eu te
amo muito e mesmo que tenhamos passado pouco tempo
juntos, verdadeiramente juntos, eu amei cada segundo.
— Você me ama? — ele ri, um riso de alívio.
— Eu te amo. — confirmo.
Dou um grito quando Leonardo me carrega. Rimos
juntos e eu olho para Felipe, que está olhando para mim e
Leonardo, ele também está rindo, achando a situação
divertida.
— Eu também te amo, Giulia. — volto a minha
atenção para Leonardo. — Agora somos eu, você e
Felipe. Seremos uma verdadeira família.
Bônus 7
Desligo o celular e o aperto em meu peito. É isso.
Jasmine continua viva e Leila não me ligou. Tratei logo de
destruir qualquer coisa do meu antigo número, não preciso
que me rastreiem.
Alex acabou de dizer que Tyler chegou a sua casa
e comentou sobre estar triste com Jasmine, ela ainda não
quer voltar para casa. Isso significa duas coisas: Jasmine
está viva e, provavelmente, Tyler pode ter ido até ela e fez
algo com Leila.
Agora o problema piorou. Como conseguir me
aproximar deles?
Nicholas, provavelmente, foi embora. Antes da
sua viagem com Leonardo eu o encontrei no bar e
consegui fazer com que ele me levasse para cama, porém,
não obtive nenhum sucesso. Vi Leonardo no hotel e
coloquei uma escuta no quarto, mas não foi uma grande
coisa... Até nisso estou em desvantagem.
Mas isso não importa, ainda tem Allan e Alex.
Olívia também poderá fazer algo, já que ela está com
Marco e ele continua carente, ninguém da sua família quer
aproximação.
Agora é respirar fundo, seguir em frente e esperar
o melhor momento para atacar e acabar com todos.
Capítulo 26
Giulia

— A minha mãe disse que te ama. — abro os


olhos e vejo Felipe conversando com Leonardo. — Ela
disse isso para Karen.
— Sim, Felipe. Sua mãe sempre me amou, desde
que ela tinha a sua idade.
— Isso é uma grande mentira.
Os dois olham para mim. Felipe sorri e Leonardo
me encara com uma carranca.
— Deixe-me sonhar, Giulia!
— Não gostava do meu pai? — Felipe inclina a
cabeça para o lado, ele está sério nesse momento.
— Seu pai é idiota e vivia me enchendo o saco,
me chamando de gorda e me proibindo de brincar com
ele. Acho que não dá para gostar de uma pessoa assim.
— Para a minha defesa, eu era uma criança.
Sorrio para Leonardo.
— Isso mudou quando seu pai voltou diferente.
Ele estava mais gentil e menos idiota, só um pouquinho
menos.
— E então você ama o meu pai?
— Sim, eu amo o seu pai.
— E você, como gostou da minha mãe?
Leonardo olha para mim, não desvia a sua atenção
em nenhum momento.
— Quando eu notei que, por debaixo de toda
aquela gordura, existe uma pessoa adorável.
Pego o travesseiro e arremesso em sua direção.
— Ontem você estava um amor!
— É brincadeira. Mas a parte de descobrir que
você é adorável é a mais pura verdade.
— Você também é adorável, pelo menos, em
alguns momentos.
— Levante da cama, temos uma mudança que
necessita ser feita.
— Voltaremos para a nossa casa?
— Voltei para a Nostra Ancoma. Fernando
entendeu que tudo o que fiz foi por te amar. Ele me deixou
entrar novamente, mas se eu cometer um erro, estarei fora.
— Chega de erros, certo?
— Tudo bem, senhora Vesentini.
Levanto da cama para tomar banho, trocar de
roupa e escovar os dentes. Após terminar, saio do quarto e
desço a escada. Sou informada que a família está no
jardim, tomando café. Vou até lá e encontro todos
reunidos, como uma grande família feliz.
— É melhor que Felipe seja inteligente como o
meu pai e tio Fernando, do que ser idiota como você. —
Katherine joga um pedaço de pão em Leonardo.
— Eu sou tão inteligente quanto meu pai e
Fernando.
— Vai sonhando. — meu pai zomba.
Felipe está sentado no colo do meu pai, enquanto
minha mãe reclama com ele sobre falar de boca cheia;
Gabriel e Karen tem uma eterna discussão sobre ''esse
pedaço do bolo é meu'', Daniel tenta apartar a briga
dizendo que é mais fácil que ele coma ao invés de haver
discussões; tia Isabella está ignorando tio Marco, que
tenta conversar — nem sei por que os dois estão sentados
juntos — e Jasmine está com o pensamento distante. Acho
que ninguém notou que estou aqui.
— Jas. — chamo e ela olha para mim. —
Podemos conversar?
Jasmine assente e levanta da cadeira. Andamos até
a piscina e sentamos nas cadeiras que tem ali.
— Nem conversamos depois de toda essa
confusão. — falo.
— Minha vida está um caos. Meus dois irmãos
surgiram do nada, mas não vem ao caso agora. Leila está
morta, menos um problema.
— Ela tentou me jogar contra você, mas nunca
acreditei nela.
— Ela tentou fazer o mesmo comigo, mas, sabe
como é, eu jamais duvidaria da lealdade de Giulia
Vesentini.
— E nem eu duvidaria da futura senhora
Bertollini.
— Ah, Giulia. — ela coloca a cabeça em meu
colo. — Estou na minha eterna duvida sobre Daniel.
— O que ele fez? Continua fazendo você se
apaixonar mais?
Ela coloca a mão no rosto.
— Ele passou a noite lá em casa, não aconteceu
nada, apenas dormimos juntos e foi tão... Ah, sei lá. Eu
amei a sensação e me culpei.
— Por que se culpou? Vocês são noivos.
— Me culpei por ter gostado daquilo. Daniel não
me ama e sei disso, mesmo assim eu só me apaixono. Eu
amo estar com ele e sempre vou atrás, eu tenho que parar
com isso, tenho que afasta-lo de mim.
— Jasmine, vai afastar Daniel sendo que ele te
ama?
— Ele me ama como amiga, apenas isso. Ele ama
Nicole.
— Se eu fosse você eu ia atrás dele e dessa
Nicole. Já reparou que desde a época do colégio ela
sumiu? Só Daniel sabe onde ela está e ele nunca fala
abertamente sobre ela, eu até duvido que meu irmão a
ame.
— Do que está falando?
Jasmine levanta e olha para mim.
— Eu nunca escutei nada sobre os dois
namorarem, apenas sobre a amizade deles. Não sei, acho
estranho tudo isso. Eu não acho que meu irmão seja capaz
de enganar duas pessoas. Ele não seria seu noivo e estaria
se encontrando com outra.
— Minnie. — Daniel aparece na nossa frente,
fazendo com que eu pare de falar. — Vamos?
— Vão para onde? — pergunto.
— Seu irmão acha que estou traumatizada por ver
Leila morrendo. Ele acha que um passeio vai tirar o meu
suposto trauma. — revira os olhos. — Porém, ele não
entende que sou filha de Tyler.
— Estou tentando ser legal e você reclama
comigo? Venha logo, antes que mude de ideia. — ele sorri
para Jasmine.
Eu não acredito que ele ame Nicole! Se ele amar
Nicole... Eu não falarei mais com ele. Porque do jeito que
Daniel olha para Jasmine, é um olhar para se apaixonar.
Os dois se despedem de mim e saem de casa. Logo
atrás, Leonardo e Felipe andam em minha direção. Felipe,
como sempre, não entende que correr depois de comer
pode ser uma péssima combinação.
— Mãe, eu quero entrar na piscina. — ele senta no
meu colo.
— Você acabou de tomar café. — arrumo o seu
cabelo, que está bagunçado graças a Daniel. — Tem que
esperar um pouco.
— Depois você fica o tempo que quiser.
Olho para Leonardo. Voltamos ao início de tudo.
— Leonardo.
— Sim, senhora Vesentini.
— Felipe precisa fazer as atividades, ele ficou
afastado disso.
— Ele é uma criança.
— Criança também estuda.
— Felipe, nos dê licença.
Felipe corre para dentro de casa, ignorando os
meus avisos. Agora eu fico a sós com Leonardo.
— Voltamos ao problema principal, à educação de
Felipe? — Leo cruza os braços.
— Não, não voltaremos a esse problema.
— Obrigado. — ele sorri.
— Eu tenho uma pergunta, é sobre os outros
inimigos. Óbvio que tem mais gente por trás disso.
Não comentamos sobre isso na noite passada, mas
eu não me esqueci. Leila não estava sozinha. Ainda
corremos perigo.
— Têm mais pessoas. Eles estão por aí e cada um
de nós vai lutar para proteger a família. Assim como te
protegi no passado, eu te protegerei agora.
— Espero que seja de maneira diferente.
Leo sorri e coloca o braço em volta do meu
ombro, me puxando para mais perto. Nossas bocas se
aproximam e começamos a nos beijar lentamente.
— Será diferente. — nos afastamos. — Eu sei
como é ruim te perder, agora que eu tenho você, não
deixarei escapar. E tem mais uma coisa.
— O que é? — minha curiosidade já está alta e só
piora.
— Quer casar comigo?
Sorrio.
— Já somos casados.
— Não do jeito certo. Casamos por obrigação do
contrato, agora eu quero um verdadeiro casamento. Onde,
realmente, queremos nos casar por nos amarmos.
— Eu posso pensar um pouco? Fui pega de
surpresa.
Leonardo olha para mim com tristeza, mas logo
sorri quando percebe que estou brincando.
— Óbvio que aceito me casar com você. Seria
louca se não aceitasse.
— Querida, você já é louca por ter aceitado.
— Dizer que sou louca por você é brega e clichê?
— Não, acho que não. Até porque, eu também sou
loucamente apaixonado por você.
— Somos bregas. — rio, enquanto Leonardo tenta
me beijar.
— Somos loucamente apaixonados um pelo outro
e bregas.
— Essa é a melhor definição para nós dois.
— Sim, a melhor definição para o que sentimos
um pelo outro. Você vai me matar se eu voltar a te chamar
de ''gordinha''?
— Provavelmente sim...
— Mas estou sendo verdadeiro.
— Leonardo! — grito.
— Eu amo você, é serio. — ele sussurra. —
Minha gordinha.
Dou um tapa em seu peito e ele ri.
— Também te amo, meu imbecil.
Por anos eu neguei esse sentimento. Neguei por ter
acreditado em uma mentira. Leonardo não me traiu. O
contrato de casamento foi feito para que eu ficasse ao seu
lado, já que ele acreditava — e acredita — que eu
também o amo.
Não vou negar esse sentimento novamente. Não me
importo se ele me enganou. Daniel e Fernando o
perdoaram, acho que ambos também entenderam o lado de
Leonardo. Ele fez uma besteira por amor. Assim como eu,
quando o afastei... Eu afastei Leonardo por ama-lo
demais. Eu pensei que, o afastando, eu o esqueceria de
vez. Mas não, era apenas mais discussões e sofrimento
para mim.
Leonardo sempre quis se aproximar e sempre
disse que me ama. Não vou negar mais os nossos
sentimentos. Não mais.
Foram quatro anos... Agora será a vida toda ao
lado de Leonardo, mas, dessa vez, tudo será diferente.

Fim do livro de Giulia e Leonardo.


Só mais uma chance
Série Os mafiosos – Livro 3
(Livro de Jasmine e Daniel)
Prólogo
Jasmine

— Tem o que para jantar? — Daniel pergunta,


abrindo a minha geladeira.
Acabamos de chagar da rua. Daniel me levou a
todos os pontos turísticos existentes nessa cidade. Falando
a mais pura verdade, eu não prestei atenção em nada,
apenas em Daniel. Na maneira fofa como ele fala comigo
e pergunta se estou bem.
— Pizza. — respondo, abrindo a porta da outra
geladeira e retirando a caixa de lá. — Minha mãe tomou
um calmante e não acorda. Ela não queria sair sozinha
para fazer compras, por isso pediu pizza. Está fria, algum
problema? Mas tem outras coisinhas, se quiser cozinhar...
Daniel não sabe cozinhar. Lembro o dia que
Fernando e Sara saíram de casa para uma viagem. Daniel
ficou com os irmãos e a cozinheira que trabalha para a sua
família deixou as comidas congeladas. Ele me ligou para
saber como se ligava o fogo e descongelava uma comida.
Ele não obteve sucesso nas aulas gastronômicas de Sara,
diferente de Gabriel, Giulia e Karen.
— A pizza está ótima. Não precisa nem esquentar.
— É um homem de negócios, mas não sabe fritar
um ovo? — como um pedaço da pizza. — Você deveria
sentir vergonha.
— Você também. Onde já se viu uma dama falar de
boca cheia? — sorri.
Abro a minha boca e mostro a pizza não
mastigada.
— Aconteceram tantas coisas nesses últimos
tempos. — ele pega o outro pedaço da pizza. — Senti
falta dessa ogra.
— Senti falta da sua gula, por isso é melhor
pedirmos mais. Você come duas caixas sozinho.
— E você sempre come as outras duas. Nós somos
iguais.
— Dois ogros juntos.
— Sempre nos combinamos, todos sabem disso.
Daniel me olha de uma maneira estranha, mas
decido ignorar.
Inclino-me no balcão, para pegar outra fatia de
pizza.
— Minnie. — Daniel me pega por trás e puxa o
meu cabelo, para que eu olhe para ele. — Eu te amo,
saiba disso.
Abro a boca e fecho. Não sei o que falar, apenas o
observo.
Daniel deve estar dizendo no sentido de amizade,
mas a posição que estamos não me ajuda a pensar muito.
Passamos alguns segundos nos encarando. Depois
de algum tempo, Daniel puxa mais o meu cabelo e
aproxima o seu rosto do meu. Ele encosta a nossa boca,
até que sinto a sua língua no meu lábio inferior. Abro a
minha boca, dando passagem para a sua língua e o nosso
primeiro beijo acontece.
Um beijo real, não como o de todos os meus
sonhos. Eu estou beijando Daniel pela primeira vez.
Sinto um frio na barriga e meu corpo está
arrepiado, tudo graças ao nosso primeiro contato.
A mão de Daniel está no meu pescoço e a outra
continua em meu cabelo. Eu me apoio na bancada, para
que eu não perca o equilíbrio.
— Senti a sua falta. — Daniel se afasta e beija o
meu ombro. — Eu sempre quis fazer isso.
— Também senti a sua falta. — e sempre quis te
beijar.
— Existe uma grande possibilidade de sua mãe
acordar e nos ver nessa situação.
Olho para baixo, envergonhada. Daniel não solta a
minha mão.
— Podemos ir para um lugar mais reservado? —
beija a minha boca suavemente. — Eu quero você há
muitos anos, mas se não quiser, não tem problema.
Eu passei anos dando conselhos sentimentais.
Alguns momentos eu recebia perguntas sobre sexo, nunca
soube responder. Tinham algumas que a garota perguntava
qual era o melhor momento para perder a virgindade, eu
sempre pensei em ser com aquela pessoa que faz seu
coração bater mais forte, te faz ter aquele frio na barriga,
e aquela pessoa que você sabe que não poderá ficar
afastada por algumas horas e você já se sentirá
incompleta.
Eu sempre sonhei isso com Daniel, sempre achei
que ele é a pessoa certa para mim.
Então sim, eu estou preparada para isso.
A minha resposta não vem com palavras. Eu o
beijo e sinto que Daniel sorri. Ele me carrega em seu
colo, enquanto nos beijamos.
Subimos as escadas, nos agarrando a todo
momento. Alguns momentos paramos e rimos, pela nossa
tentativa de não fazer barulho e acordar a minha mãe.
Chegamos ao meu quarto. Daniel abre a porta e me
coloca na cama.
Nem tenho tempo para pensar muito. Daniel já está
me beijando com tanto desejo que só posso retribuir.
O nosso beijo é tão ardente que me entrego as suas
carícias. Quando percebo, já estou envolvida nos seus
toques mais íntimos, que fazem o meu corpo arder, quase
como se estivesse em chamas.
A sua mão vai acariciando o meu corpo e a outra
vai tirando a minha blusa. Daniel beija todo o meu corpo,
me deixando toda arrepiada.
Quando Daniel olha para mim e sorri, enquanto
coloca o preservativo.
Eu sei que falhei na minha tentativa de não me
apaixonar mais por ele.
Mas, nesse momento, eu apenas me entrego a
Daniel e rezo para que ele seja apaixonado por mim da
mesma maneira que eu sou por ele.

(...)

Sinto a cama se mexer ao meu lado.


Abro os meus olhos e vejo Daniel abrindo a porta
e saindo do quarto.
Levanto da cama.
Talvez ele tenha ido à sala, cozinha...
Todas essas possiblidades se esvaem quando
escuto o som de um carro se distanciando. Corro até a
janela e vejo que Daniel já se foi.
Ao lado da cama eu vejo um bilhete:

''Tive que resolver um problema. Mais tarde eu


passarei aí.
Te amo''.

Amasso o papel.
Pois é, Jasmine, está na hora de acordar para a
vida.

Em breve na Amazon.
Livros da série Os
mafiosos:
Livro 1: Atraída por um mafioso (Sara e
Fernando)

Livro 2: Os filhos da máfia (Giulia e Leonardo)

Livro 3: Só mais uma chance (Jasmine e Daniel)

Livro 4: Por nosso passado (Isabella e Marco)

Livro 5: Resgata-me (Katherine e Gabriel)

Livro 6: Por toda a nossa história (Karen e Alex)


Contos da série Os mafiosos: (Isis/Sergio;
Alice/Victor/; Dianna/Arthur e Nancy/Raul).
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