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1ª EDIÇÃO
2021
OLIVER
3 ANOS ATRÁS
Liverpool, Inglaterra.
horas.
Ainda estava à espera, torcendo para que ela passasse por aquela porta,
Minha Isabella...
Foi ela que juntou meus cacos, e a decisão de pedi-la em casamento foi
algo natural. Nunca pensei que fosse conhecer alguém tão igual a mim, uma
Olhei para o meu lado direito, observando Fillipe. Se antes o seu rosto era
sereno, agora o notava um pouco mais preocupado, mas quando me viu tratou
de disfarçar. O grande problema nisso tudo era que fomos criados juntos, e
éramos melhores amigos, ou seja, sabia quando ele estava preocupado com
algo.
ficava nervoso em um piscar de olhos, mas hoje isso não poderia acontecer,
hoje era para ser um dia feliz...
As portas se abriram...
atravessou a porta não era minha Isabella, e sim um dos homens que contratei
para organizar o meu casamento.
aumentando cada vez mais, só que os meus sentimentos não mudavam o fato
principal...
EMILY
Hoje é o dia!
Alguns assuntos, por mais difíceis que fossem de dizer, deviam ser
Ele, sem dúvidas, era uma pessoa boa, e por vários momentos insistia em
dizer que estava mudando por minha causa. Sabia que tínhamos diferenças que
não seriam resolvidas, e ficava chateada de ele querer mudar certas questões
por minha causa. Era contra esse tipo de pensamento.
Hoje, relembrei as conversas que tive com Ashley, onde eu brincava com
ela dizendo que ficaria pra titia. Sempre falávamos abertamente sobre
relacionamentos, e há anos eu até procurei alguém que preenchesse esse vazio
em mim, mas não encontrei.
acabei esquecendo a minha vida social, até mesmo dos meus amigos mais
próximos. Podia contar nos dedos as vezes que fui à casa da Ashley conversar
com ela tranquilamente.
Sentia-me uma péssima amiga às vezes. Ela e July eram as pessoas mais
próximas a mim, e as negligenciei por um longo tempo. Só agora que estava
tentando recuperar meu tempo perdido, e pelo menos uma vez ao mês ia à
fazenda onde ela morava com Romeo e a sua filhinha, a Antonella.
— Oi, princesa.
— Olá, William... — disse, ainda receosa de como explicaria o
inexplicável.
Não sabia como nossa paixão foi acabando, ou se algum dia existiu uma
chama dentro do meu peito quando estava com ele. O erro foi meu em achar
que isso melhoraria com o tempo. Realmente, não entendia nada do amor...
— Que assunto é esse que não podia esperar, Emily? Estou projetando
um final de semana para nós...
sem rodeios.
— Eu sabia que tinha outro homem na jogada! — Ele bateu forte com uma
— Por qual motivo os homens acham que sempre tem outro na jogada,
hein?
Isso era algo que me irritava em William. Odiava quando ele tentava jogar
"verde", principalmente quando o que ele disse não tinha nada a ver com a
conversa. Eu estava expressando o que sentia, e em vez de tentar entender
pelo menos 1% do que estava falando ele pensava que estava o traindo.
— O seu ciúme não é saudável, e sim doentio. Você tem ciúmes até das
minhas amigas quando estão na minha casa! Pelo amor de Deus, William! Nos
últimos anos, em todos os momentos que tive um tempinho para ficar com elas,
— Emily... pode me falar. Quem é esse cara? Prometo que irei somente...
— Preste atenção no que está dizendo! — cortei a sua frase. — Você pelo
menos ouviu alguma palavra do que eu disse? Que estou infeliz?
— Eu falei que mudaria por você... — Seu timbre tornou-se baixo, não
estabelecendo contato visual agora.
Deus... Por favor, não quero saber de relacionamento tão cedo em minha
vida!
***
pessoalmente hoje. Tinha uma pequena ideia qual seria o assunto, uma vez que
eu aparentava estar levemente abatida quando conversávamos ao telefone.
Além de tudo, fazia alguns meses que não nos víamos.
Podia ser estranho eu falar que July era uma das minhas melhores
amigas, sendo que estava vindo falar comigo pessoalmente somente dois
meses após meu término, mas ela estava na residência dos seus pais, e eles
moravam em outro país.
— Desde que nos falamos por telefone fiquei preocupada, ainda mais
depois, sabendo que terminou o namoro. Você me parece um pouco "aérea".
— Por incrível que pareça esse ano não me envolvi em discussões, bom...
discussões mesmo só com o William. Acho que estou melhorando isso em mim
— respondi de forma sincera.
— Um pouco, não vou mentir. Sou humana, tenho sentimentos. Você sabe
que ficamos juntos por um tempo. Sinto falta dele, da sua amizade, do seu
companheirismo. Todos nós temos defeitos, só que sinto falta da "pessoa"
William. Independente disso, tomei a decisão certa em relação ao fim do
namoro, pois estava insustentável.
— É complicado falar, mas William nunca foi seguro de si. Não toma
decisões na vida, deixa várias coisas incompletas, desanima fácil e tem ciúmes
— O quê?
— Você não parece o tipo de pessoa que repara nos mínimos detalhes em
um relacionamento.
Sorri.
Era difícil para mim tentar mascarar o que sentia, mas conseguia fazer
isso muito bem. Todas as pessoas observam a Emily alegre a todo o momento,
só que por dentro enfrentava muitos obstáculos, e às vezes me pegava
pensando o que fazia de tão errado para não me sentir completa.
— Não magoou, você só está tentando me ajudar. E, sou forte, mais que
aparento.
— Sei que somos bastante diferentes em algumas coisas, mas saiba que
estou disposta a ajudar você.
— Sei que está tramando alguma coisa. Esse sorrisinho de canto aí não
me engana...
— Nem vem! Se for sair para alguma balada ou algo parecido nem me
chame, prefiro ficar abraçada com meus bichos de pelúcia — caçoei, mas ao
que tudo indicava era outra coisa.
— Claro que não! Ficaríamos lá por três meses, se aceitar. Você sabe que
minha família atualmente mora lá, e preciso voltar em alguns dias. Sei que você
sempre quis conhecer a cidade.
— July... muito obrigada pelo convite, de verdade, mas você tem a sua
família. Não quero dar trabalho, muito menos ser um fardo.
debochando de mim.
braços.
— Qual?
— Não aceito uma resposta negativa! Sei que tem economias guardadas,
e minha família tem uma casa de aluguel que foi recentemente desocupada,
então você acabou de aceitar o meu convite para ir. Fim de papo!
— July, eu acho...
— Você não acha nada! Você vai, ou nunca mais conversaremos uma
com a outra, era isso que queria ouvir?! É esse o tipo de amizade que quer
perder?! — Cruzou os braços, e foi engraçado ver a pose que ela fez e
Fingida!
Além de tudo, falei que um dos meus sonhos era viajar para fora do país,
até fiz meu passaporte há alguns anos, mas nunca o usei. Desde que me
entendia por gente fiquei presa em minha cidade, e raramente ia para outros
locais que não fossem os condados vizinhos.
— Tudo bem, eu vou! — disse após fechar meus olhos e respirar fundo.
promessa!
categoricamente que tinha mais amigos para visitar, claramente para me deixar
com ciúmes.
EMILY
uma gama de opções para seguir, e precisava de cautela para pensar sobre o
meu futuro. Não queria ingressar em uma área específica e me arrepender
depois, dava muito valor ao tempo que dediquei.
Ainda tinha que avisar minha família sobre esta viagem "surpresa", uma
vez que não tive muito tempo para pensar a respeito. Minha amiga insistiu com
Há algum tempo queria respirar novos ares, e por isso aceitei ficar os
próximos três meses em Liverpool.
pessoas próximas a mim. Minha mãe brincava que eu devia ter me formado em
psicologia, já que basicamente em certos momentos agia como uma psicóloga,
e ouvia atentamente o que cada um tinha a me dizer.
No momento estava em uma das várias praças da minha cidade. Ela tinha
uma grande extensão e além de tudo era um local tranquilo. Gostava daqui
exatamente por isso, já que quando precisava espairecer ficava bastante à
Morava com os meus pais, e isso foi uma opção minha. A família toda era
carente e não tinha culpa. Gostávamos de passar um bom tempo juntos, e por
enquanto resolvi ficar, pelo menos até decidir sobre o Doutorado.
Ao passar pela cozinha avistei a minha mãe. Não sabia bem qual seria a
reação dela ao saber que a sua única filha ficaria um tempo distante, mas
confesso que estava curiosa para ouvir sua opinião.
tinha os olhos verdes e cabelo curto, media 1,55m e era morena. Achava minha
mãe linda, com esse cabelo chanel então nem se fala, mas era suspeita, pois a
amo tanto que dificilmente iria notar defeitos nela.
Éramos parecidas já que era baixa também, meço 1,57m, era morena
clara, mas nem tanto. Podia dizer que era daquele tipo que se for à praia e
pegar um sol não iria ficar parecendo uma lagosta. Também possuía os olhos
verdes, mas meu cabelo era grande. Aliás, morria de ciúmes dele, em meu
corpo era uma das coisas que mais achava atraente, então... digamos que meu
cabelo é sagrado!
Minha mãe estava preparando o nosso almoço, e logo fui ao seu encontro
— Sim. — Assenti.
— A viagem é uma boa ideia, raramente você faz outra coisa além de
estudar e ler livros de romance e terror.
Era complicado irritar minha mãe. Por mais que em alguns momentos eu
— Como disse, acho uma boa ideia, Emily. É bom conhecer lugares
novos, pessoas diferentes...
cabeça.
— Mesmo assim, não mudaria nada em você, sei que é a melhor filha que
poderia ter pedido a Deus. Não tenho nada do que reclamar, só agradecer de tê-
la ao meu lado.
Ela falava de mim, mas seu quarto era repleto de livros, e em sua maioria
romances. Sabia o quanto ela chorava quando lia determinadas histórias, e
quando a via na sala com o rosto inchado era porque o livro a impactou
profundamente.
— Então como disse a senhora, vou ficar três meses fora, certo? —
reforcei a ela.
— Eu entendi, Emily.
— Isso! Me despacha!
— Preste bem atenção, Emily! — Minha mãe veio até mim e me deu um
abraço que as mães costumavam dar, um afago demorado, e logo depois disse:
— Te conheço bem e sei que está me provocando, outra coisa que tenho
certeza é que não me deixaria aqui por muito tempo, até porque eu vou te
buscar se passar mais de três meses lá. É isso que queria ouvir?
***
quantos quilômetros exatamente era da minha cidade até lá, mas pelas minhas
pesquisas em poucas horas chegaríamos.
Quando adentrei ao saguão fui surpreendida por July. Digamos que ela
não era muito boa no quesito pontualidade, por isso meu choque instantâneo.
— Logo você adiantada? — caçoei, ainda surpresa por ela ter chegado
antes de mim.
— Sempre fui, amiga! — Lançou-me uma piscadinha, desdenhando.
Dissimulada!
muito certo.
Ao entrar no avião uma nova etapa da minha vida começaria, sentia bem
no fundo do meu coração.
***
Após me instalar em uma das casas dos pais de July, e organizar meus
pertences resolvi sair um pouco, sairia para dar uma voltinha rápida, mas logo
estaria de volta. Como minha amiga estava enrolada em uma ligação, acabei
nem perguntando se ela queria vir comigo, pois já sabia a resposta.
— Bom dia. Está... tão na cara assim que não sou daqui? — questionei,
de certa forma espantada.
— Agora que ouvi seu sotaque, tenho certeza. — Esboçou outro sorriso.
— Não se assuste, é que eu conheço praticamente todas as pessoas que
frequentam a cafeteria, bem como o bairro, e vai por mim, guardo muito bem a
fisionomia das pessoas. A propósito, meu nome é Jessy. É um prazer conhecê-
— A passeio. Vou ficar aqui por três meses. Os pais da minha amiga
moram aqui, e estou meio que de férias, por assim dizer.
— Entendo.
Olhei para o meu lado direito, e logo em seguida fixei meus olhos nas
várias mesinhas charmosas com flores pequenas que as enfeitavam; nos
inúmeros quadros espalhados pelas paredes; na variedade de cores leves no
interior do ambiente. Confesso que achei bastante aconchegante o local.
também.
cafeteria. Na verdade, meu trabalho principal é a empresa, pois sou dona daqui
também.
Tinha absoluta certeza de que ela notou o quanto fiquei surpresa com
suas últimas palavras.
novas amizades, e mantenho contato com vários forasteiros que vieram turistar
em Liverpool. Amo aprender mais sobre outros países e culturas.
escuros, seus cabelos eram curtos de um tom claro, e reparei que levava
consigo uma pasta nas mãos. Depois que retirou seus óculos escuros notei que
além de tudo o infeliz possuía os olhos verdes. Em contraste a isso, sua barba
era cerrada e o maxilar...
Deus! Que perdição de homem é esse que foi enviado para o mesmo
nós.
Como Jessy havia dito, ela conhecia a maioria das pessoas que
até maior, só que nem tudo eram flores, notei outras nuances ao analisá-lo mais
de perto...
Observei que sua aparência revelava mais que beleza, havia preocupação
Os dois ficaram pelo menos uns cinco segundos sem dizer nada, e logo
— Fiz uma nova amiga — Jessy disse olhando diretamente para mim. —
Ela se chama Emily, e vai ficar na cidade por alguns meses.
para flertar, há anos eu não era assim, agora não sabia o que estava
acontecendo.
observando de soslaio, mas não sustentando seu olhar por um segundo sequer.
De novo.
— Meu irmão faz um grande sucesso aqui, por onde ele passa as
mulheres ficam eufóricas — disse após ele senta-se em uma das mesas, e em
pensamento eu só pude concordar. Um homem com trajes assim, olhos verdes
e esse tamanho...
— Imagino... — suspirei.
quer comer.
— Lógico que não atrapalhou! Espero de coração que volte mais vezes
para conversarmos.
***
variedade imensa de doces que nunca havia visto; acabei passeando por
algumas ruas bem charmosas; e por fim quase comi um homem com os olhos.
— Pra você falar duas vezes a mesma frase... a coisa foi feia. — Sorriu de
— Sim, tudo por causa de uma amiga nova. — Fitei o teto da sala. — Um
homem acenou pra ela, e eu na maior inocência perguntei quem era o Deus
grego... Era o irmão dela.
— Como você é uma pessoa bem pra frente, sei que já pegou o telefone
sarro.
divertiria tranquilamente.
homem, mas... sei lá, adorava uma mão grande. Minha bunda então...!
— Qual?
eu... sei lá, fico meio boba, atrapalhada da cabeça. Não tenho problemas em
conversar com um homem, me divertir, tirar um pequeno sarro, mas quando
começo a ter algum sentimento pela pessoa fico estranha. Sei que está
pensando que sou muito esquisita.
— Então acha que vou quebrar a cara muitas vezes? — Cruzei meus
braços, a encarando.
OLIVER
praticamente ao meu lado, ela achava que podia entrar em minha casa quando
bem entendesse.
provoquei.
Claro que ela iria fazer um gesto obsceno para mim com as mãos, mas o
fez com um largo sorriso no rosto. Em seguida, saiu da minha casa, indo para a
sua cafeteria.
nela.
com nossos pais ela era só sorrisos, e a todo o momento puxava assunto,
querendo compartilhar algo ou apenas ouvi-los. Outra coisa que me admirava
bastante era que a minha irmã não reclamava da vida, muito pelo contrário,
qualquer adversidade era motivo para aprendizado, e até mesmo com assuntos
sérios ela não perdia a compostura. Minha irmã parecia um monge...
não me sentia pronto para deixá-los. Achava que grande parte desse
pensamento se dava pela ausência da figura materna e paterna durante minha
infância e parte da adolescência, então agora que podia finalmente ter uma
família ao meu lado não queria perder essa oportunidade, e sim aproveitá-la.
vida. Tentei tirar isso da minha cabeça, e nada melhor do que trabalhar,
colocando a mente para funcionar. Mas antes...
Saí da sala e logo abri a porta do quarto da pessoa que daria minha
própria vida se fosse necessário. Reparei melhor na cama e não havia ninguém
lá.
Entendi...
— Onde será que essa pestinha se meteu? — falei um pouco mais alto. —
Nada.
Não precisei fazer mais nada e ouvi pequenas risadas perto de mim.
— Ainda tem um lugar que não procurei, espero que ela esteja aqui.
Emma, minha filha estava encolhida, com os olhos atentos quando abri o
seu pequeno guarda-roupas.
— Eu sei.
— Tá bom.
Graças a Deus não era um custo levá-la para escolinha. Algo também que
me ajudava bastante era que não precisava acordá-la, já que devido a nossa
brincadeira ela despertava mais cedo e se escondia, me esperando.
Levava-a para escola todos os dias. Quando tinha algum imprevisto minha
irmã cuidava disso, mas na maioria das vezes era eu quem cumpria essa tarefa.
Era o pai, então nada mais justo. Emma estava em primeiro lugar em relação a
tudo em minha vida.
Ainda não sabia o porquê ele gostava de conversar comigo sobre isso, era
péssimo para dar conselhos, principalmente recomendações amorosas. Na
realidade, sou a pior pessoa do mundo pra isso, meu histórico podia provar.
— Esqueci que um simples bom dia leva muito tempo. A culpa foi minha
— debochei.
— Tudo bem — suspirou — Oliver... bom dia, meu amigo, como você
— Acho que estou colhendo o que plantei, mas independente disso eu iria
mudar, ela é tão…
Fillipe falou por pelo menos dois minutos sobre as “mudanças” que ele
tivera. Não identifiquei nenhuma, mas achava que ele sabia o que iria dizer, era
sempre a mesma conversa, e não sabia por que todas as vezes tentava ajudá-
lo. Meu amigo se tornou um caso perdido... como eu.
mulheres, e acaba terminando com elas, só que com a Brunna foi diferente, ela
que enjoou de você, e terminou — falei o óbvio.
— Mas…
Por que Deus me fazia entender pelo menos um pouco a cabeça das
mulheres? Esse era um dos motivos do meu ódio mortal sobre o assunto
relacionamento...
— Na sua opinião, como acha que ela ficou? Você a trocou por peixe,
Fillipe. Peixe!
nisso antes!
— Cara... você é irônico demais! Não sei por que peço conselhos pra você
— desdenhou.
— Vou te falar o motivo: é porque eu sou seu amigo de verdade, e não
fico passando a mão na sua cabeça igual seus “outros” amigos. Posso pecar
pela minha sinceridade em excesso, mas nunca pela minha omissão.
muito boa, e a pessoal também. Você só precisa virar homem e mudar suas
atitudes, porque da forma que está agindo parece que fez 18 anos agora.
em mente um para o outro, e isso não ia mudar. Queria o bem dele, e se fosse
preciso ia abrir os seus olhos quantas vezes fosse necessário. Ele não sabia,
mas o considerava meu irmão mais novo.
— Bom... mudando de assunto, que tal sairmos? Nem precisa ser alguma
balada, muito menos pescar.
— Se tenho problemas com relacionamentos, você tem com sair com seus
— Não é isso, acho que sabe da tradição. Muita gente virá para a cidade,
Meu semblante mudou no mesmo segundo que ele proferiu tais palavras.
Sabia que ele falou sem pensar, principalmente entendendo uma parte do
meu passado, sabendo o motivo do tamanho desprezo que tinha por essa
enorme porcaria.
— Acho que sabe o que essa tradição significa para mim — pontuei,
irritado.
— Me desculpe, eu... acabei falando sem pensar.
encarei a realidade de frente quando tudo desmoronou bem diante dos meus
olhos.
— Oliver...
— Babaca! — sibilou.
Apesar de nossa conversa até então divertida, relembrar nem que fosse
por um mísero segundo o que ocorreu ainda me dói, contudo prometi seguir em
frente a partir do momento em que recebi aquela notícia...
“Quando menos esperamos o destino nos surpreende...”
EMILY
Liverpool”.
— July, por que todas essas pessoas estão em volta deste local fechado?
— questionei.
mesma. Acho que a maioria das mulheres vinham com essa qualidade de
fábrica. Nem considerava defeito, já que nós, mulheres, não tínhamos defeitos.
— Vou te dizer do que se trata. Queria lhe falar sobre o festival desde o
momento que colocou os pés na cidade, mas me segurei por um tempo. Foi
difícil, mas consegui.
— Festival?!
— A cidade tem uma tradição, e levam muito a sério. Tudo isso tem a ver
— Espera... você está complicando minha cabeça, não está falando nada
com nada.
Respirei fundo e segurei seus dois ombros, tentando fazer com que ela
recobrasse a “consciência”. Ela só me deixou mais confusa com essa
explicação.
— Antes de vir pra cá, ou melhor, alguns anos atrás, te disse que
Liverpool é a cidade dos amantes apaixonados, se lembra?
— Sim.
— Aqui temos vários casos de relacionamentos que tem por grande parte
a ajuda do próprio glamour da cidade. Então, muitos jovens apaixonados, ou até
mesmo pessoas com idade mais avançada colocam cartas em uma grande
tradição!
— Meu Deus! Pelo jeito terei que te contar a história desde o começo.
— Sim, eu prefiro.
turística, não é? Pois bem, lá pelos anos 2000, uma moça teve a ideia de
procurar um rapaz chamado Jeff por meio de uma carta. Como ela não teve
sucesso perguntando aos moradores daqui sobre esse homem específico, ela
tirou inúmeras cópias da carta e as pregou em vários locais pela cidade — fez
uma pequena pausa —, sabe aqueles papéis de procura de cachorros e gatos?
Então, bem parecido — complementou.
assim ajudar? Não são eles que estão necessitando de ajuda? Na verdade, tem
algo mágico nisso tudo. Muitos casais querem que suas histórias de vida sejam
impactadas na vida de quem segue as cartas. Elas querem ajudar, entreter ou
até mesmo mudar a vida de alguém.
— Sim, eles querem que a vida deles seja uma inspiração para quem se
dispor a entendê-las. Quando é época dessa tradição muita gente vem aqui
para participar, principalmente as mulheres. — Sorriu. — Para elas é um
máximo, pois além de turistarem pela cidade ainda vivenciam uma história de
amor, mesmo que não seja a delas.
— Não mesmo! — Ela me fuzilou, não dando brechas para uma resposta
negativa da minha parte.
— Sim.
Eu era a famosa nerd que vivia para estudar. Sempre fui uma aluna
aplicada na escola, e foquei em terminar meus estudos da melhor maneira
possível. Apesar de tamanho foco não deixei de me divertir com amigos, e volta
e meia estávamos juntos em algum canto da cidade, participando de alguma
festa ou até mesmo andando para ficarmos juntos.
Era bom relembrar esses acontecimentos. Tinha saudades dos anos que
se passaram, só que nossa vida era um emaranhado de eventos, e cabia a nós
extrair o melhor de cada acontecimento que vivenciamos.
tem uma condição: você a levará para sua casa, e só quando chegar pela noite
poderá ler.
— Por que posso ler só a noite? — Comecei a rir.
July me encarou e não falei nada por um tempo. Apesar de tudo, ainda
havia alguns questionamentos que eu precisava entender.
— Claro que não! Tem várias etapas para ter esse privilégio. — Seu
semblante sério deu lugar a algo mais leve.
— Privilégio?!
— Primeiro: você deve ser indicada por algum morador da cidade, isso é o
básico. Não é só vir aqui e falar que quer participar, os organizadores devem ter
uma confiança mínima na pessoa, até porque nunca a viram na maioria das
vezes. Depois de aceito é necessário mandar uma carta para uma bancada que
irá julgar se você está levando a sério a questão da tradição; depois, mas não
menos importante, é preciso fornecer seus dados para os organizadores. Após
tudo isso, um dia antes da tradição você fica sabendo se foi aprovada na
seleção.
— July, você é... — Cessei a fala, tentando encontrar alguma palavra que
a definisse nesse instante.
Analisei por mais alguns segundos o tanto de gente perto de nós. Havia
uma grande quantidade de pessoas do nosso lado esquerdo.
conheço bem você irá turistar, então boa sorte, e não se perca. — Deu uma
piscadela.
— Prometo.
Depois que nos despedimos fui andar pelo entorno do local fechado.
A cidade pelo que notei ficava eufórica por causa das festividades em
decorrência desta tradição, já que as pessoas pareciam deslumbradas com o
que viam.
Era uma pessoa muito positiva, e via o lado bom em tudo, até mesmo nas
situações ruins. O que achei bastante curioso era que eu percebia na face de
todos o quão felizes estavam em simplesmente admirar aquela enorme mesa, e
confesso que isso mexeu um pouco com a minha imaginação, pois eu ainda não
parte da natureza, sentindo o vento tocando meu rosto, tentando absorver todas
as sensações sob a minha pele.
OLIVER
Me tornar CEO não foi meu plano inicial, contudo, em minha vida
inúmeros acontecimentos transcorreram de forma rápida, e esse foi um deles.
Minha irmã ficava com ela no período da noite, pelo menos até que eu
chegasse.
— A Emma já está...?
Era uma frase bem estranha de se dizer, confesso. Por vários anos fui
aquele bebê pequenino pela primeira vez foi algo... único! Não havia palavras
para descrever o que aconteceu ao colocar meus olhos em Emma. Acho que
essa era a minha recordação favorita do passado, algo que nunca iria se apagar
da minha mente.
sentimento que já era forte aumentaria mais. Como minha irmã sempre dizia:
você se tornou um pai babão que faz de tudo e mais um pouco por Emma.
— Papai...
— Como você está, meu amor? — Passei meus dedos em seus longos
cabelos claros, a admirando.
— Tô cansada.
— Ah, é?
Cheguei mais perto e fiz cócegas pelo corpo da minha pequena, e logo ela
sorriu e se revirou na cama.
Cessei as cócegas pelo seu corpo, e deitei com ela por alguns instantes,
analisando seu rosto e fazendo carinho em seus cabelos. Ela adorava quando
fazia isso, e dormia até mais rápido.
Por alguns minutos não fechei meus olhos, somente contemplei o rosto da
minha princesa. Em pouco tempo em seu quarto ela já havia caído no sono, e
por mais que eu estivesse cansado, queria observar melhor seus traços e
aproveitar um pouco mais esse momento.
Infelizmente, não podia deixar de pensar sobre como estava lidando com
determinados assuntos se tratando da minha família. Ainda era falho em alguns
aspectos, já que meu trabalho me deixava distante de casa por muito tempo.
Tinha plena consciência que precisava mudar, e sabia que precisava organizar a
minha rotina...
***
— Vic...
— Bem que me falaram que você é um babaca como homem, mas pra ser
considerado um babaca você deve melhorar muito, seu imbecil! — gritou,
atraindo a atenção das várias pessoas ao nosso redor.
Não podia explicar que ela me mandou para um lugar nada agradável,
— Eba!
WhatsApp depois que saímos duas vezes. Por certos instantes me esquecia
que várias mulheres eram carentes de atenção, e não tinha tempo para esse
tipo de trivialidades.
Sim, esse era o apelido dela. As duas eram um grude uma com a outra, e
até mesmo eu, o próprio pai, ficava esquecido quando estavam brincando
juntas.
Brincar de casinha nunca foi meu forte, e digamos que tomar chá de
mentira ainda é complicado pra mim.
Por um minuto o ouvi falando e bufei quando a ligação foi encerrada. Tudo
o que eu precisava agora era de mais problemas...
Me admirava tanta gente vir para Liverpool por causa do festival. Não via
sentido algum em perseguir cartas, era até meio ridículo.
Havia ao menos 100 pessoas trabalhando para mim, e ali era o coração
dos meus estabelecimentos. No prédio os setores eram bem divididos em: RH,
publicidade e propaganda, setor comercial e operacional, financeiro e
administrativo. Paollo era o coordenador integrado geral. Tudo passava por ele,
e posteriormente a mim.
Minha sala ficava no último dos 5 andares, mas nem fiz questão de entrar,
fui direto em seu escritório, um andar abaixo.
Observei por pelo menos cinco segundos a sua face, enquanto ele engolia
em seco, me olhando com medo. Ainda não estava acreditando que o problema
mencionado ao telefone era esse, e sua frase só me irritou um pouco mais. Se é
que isso fosse possível, eu já estava possesso.
— Jacques, e...
— Demita! — o antecipei.
— Mas ele...
— Oliver... ele é o chef mais renomado dos seus restaurantes, acho que
seria bom acharmos um meio termo.
Ele não ficou tão assustado. Acho que Paollo sabia como ninguém como
era o meu temperamento quando se tratava dos meus negócios. Minha palavra
era a final, e era irredutível na maioria das vezes.
— Sim, senhor. E... não senhor, não precisa, e não sou o seu chefe.
— Excelente!
Não me dei ao trabalho de falar mais nada e virei minhas costas, saindo
do prédio comercial.
EMILY
início do festival.
aqueles enfeites.
quem havia feito a burrada, e por mais que eu não fosse tímida,
ficava parecendo a pessoa mais vergonhosa do mundo, falando
coisas idiotas, como essa última pergunta.
— Muito! — retrucou.
pensativo.
— É, eu sei — me cortou.
Quando dei dois passos para trás, ouvi a sua voz grave:
— Espera!
Depois que chegamos até o carro ele o abriu, mas depois foi
— Não. Eu odeio!
normalmente.
— Não vale a pena. Iríamos discutir, e hoje o meu dia tá
bastante complicado.
respondi, pesarosa.
— Oliver, me...
Acho que isso seria um favor pra você — falou, dessa vez me
olhando com um sorrisinho debochado.
Oliver era sexy, mas... me dá medo.
carro...
“E quando menos se espera o improvável acontece...”
EMILY
informações.
singelo crachá.
Tudo aqui parecia muito profissional. Observando tudo à minha volta notei
que o festival era algo sério, ainda mais quando vi vários fotógrafos tirando fotos
de nós.
já eu... bem, estava quieta, pois além de não conhecer ninguém, não sabia bem
o que viria em seguida.
60 segundos!
Novamente, olhei para as pessoas ao meu lado, e a forma com que elas
fixavam seus olhos nas cartas chegou a me assustar. Algumas estavam tão
compenetradas que nem conversavam mais entre si, somente focavam em um
ponto específico.
Ainda em devaneio, ouvi uma sirene, e foi nos dado o sinal para irmos até
a bancada.
os lados. Ao chegar mais perto e segurá-lo, contemplei uma frase escrita à mão:
— A carta impossível... — uma moça ruiva que estava ao meu lado disse,
sorrindo, já com uma carta em mãos.
Seus cabelos eram longos, e como a maioria das pessoas que conheci, seu
rosto transbordava simpatia.
Mas posso adiantar que será necessário paciência. — Sorriu, quando voltou sua
atenção ao meu rosto. — A propósito, meu nome é Maggie.
parar na metade.
— Então essa deve ser a sua escolha. Espero que consiga achar a
pessoa detentora das lindas palavras que estão escritas nas várias cartas que
irão vir no decorrer da sua corrida contra o tempo.
— Sim, e essa carta inicial irá te levar a muitas outras aventuras que nem
— Do jeito que fala até parece que tentou. — Soltei uma risada abafada,
analisando melhor as feições da mulher.
Olhei para Maggie, e logo em seguida para o tal envelope, parecia que
uma força me puxava até ele. Era bastante estranho falar desse jeito, eu sabia,
mas em determinados momentos me conectava com coisas materiais.
— Estou pensando em aceitar esse desafio — respondi, ainda olhando
fixamente para o envelope.
— Acho que está fazendo a escolha certa. Percebi pelo seu sotaque que
não é daqui. — Mudou de assunto.
— Sou dos EUA. Minha amiga tem familiares na cidade, estou tirando
férias forçadas... sem serem forçadas. Acho que me entende!
Começamos a rir.
Gostei dela. Assim como Jessy, percebi que Maggie estava fazendo de
tudo para eu ficar à vontade.
— Aqui é assim mesmo. Posso falar por todos, adoramos fazer novas
— Ah, sim.
— O prazer foi meu. Obrigado pela ajuda, farei o possível para chegar até
o fim.
Saí de onde o evento fora montado e voltei ao lugar inicial onde me foi
entregue o crachá. Fomos orientados a retornar aqui quando estivéssemos com
o papel em mãos.
— Boa sorte! — uma moça que trabalhava no evento falou após fazer
algumas anotações no computador. — Esse processo é para evitar perdas,
roubos ou similares. Somente conectamos seu nome com o número da carta em
questão. Se a carta que optou por escolher tiver continuidade saberemos pelo
sistema. E lembre-se: no último dia antes da tradição, precisaremos que traga
todas as que conseguiu obter.
— Entendi.
— Sei que parece um pouco confuso, mas dará tudo certo. Vi pelo sistema
que é de fora da cidade, espero que goste daqui, e que seja a primeira a chegar
ao final! — Sorriu, convidativa.
***
Ela disse que ficaria comigo hoje, mas que a partir de amanhã me daria
“espaço”. Era claro que ela estava fazendo drama, já até me acostumei com
isso.
— Como?!
Me alarmei. Seu rosto havia ficado sério de uma hora para outra, e me
preparei para o pior.
***
nossa cabeça, fica quase impossível não expressá-los de alguma forma, é por
isso que a partir de agora farei o que sempre tive vontade: contarei toda a
verdade!
Não me julgue, sou uma mulher sonhadora! Sempre fui. Em breve você
entenderá o que quero dizer com isso.
Quando virei a carta, uma etiqueta que estava pregada no verso, vi escrito
em letra de forma e de vermelho: "BELLA’S COFFEE, SEGUNDA MESA À SUA
ESQUERDA".
Esse era o local que eu havia frequentado logo nos primeiros dias que vim
para a cidade.
Após guardar a carta, me deitei.
EMILY
Fiz a minha higiene pessoal, e por volta das 8h fui ao Bella’s Coffee. Eu
tinha um encontro...
cadeira da mesa específica. Por um minuto fiquei pensando nos meus próximos
passos.
Pense Emily, pense um pouco! Por que eu tinha que me sentar nessa
mesa específica?
contrário ao da superfície.
1ª CARTA
Essa não é uma carta de amor!
Sim, eu o decepcionei.
Apesar disso, a história não é sobre ele, é de certa forma sobre mim.
Sobre o meu recomeço como pessoa.
Desejo que VOCÊ sinta na pele o que isso impactou em minha vida. Esse
é o meu objetivo principal a partir de agora...
Rua Penny Lane, 10.
Não percebi o momento que Jessy chegou ao meu lado. Por um segundo
não respondi nada, porém ela fixou os olhos na carta, e depois voltou-se a mim,
parecendo ter entendido algo.
— Geralmente várias cartas têm seu ponto de partida por aqui. Ano
passado 15 delas começaram no Bella’s Coffee.
— Sim. Você vai perceber como Liverpool ficará a partir de hoje. Várias
pessoas nas ruas estarão com suas cartas em mãos tentando saber qual será o
— Entendo.
— E, me desculpe por não ter atendido você minutos atrás. Estou com
alguns problemas... — falou, pesarosa.
— O que houve?
— Somos 4 pessoas aqui, mas Chloe está de férias, e no sábado que vem
termina o aviso da Nathalia. Tá tudo muito corrido, e ainda não contratei
ninguém para ficar aqui de manhã.
— Volto já.
Ali, bem isolado de todos, estava o homem que havia me ajudado ontem a
chegar a tempo ao festival.
Oliver...
Ele estava com cara de poucos amigos, ainda assim, parecia não se
importar muito com as pessoas à sua volta, e sim com o seu notebook. Durante
certo tempo o observei, contudo não o vi olhando ao redor nenhuma vez.
— Eu derramei o café que ele segurava, que por sinal estava quente, e
pra piorar... o molhei todo.
— Pedi desculpas várias vezes, falei que estava atrasada para o festival,
e não imaginei que ele fosse me dar uma carona. Mas eu entendi que era
porque seu irmão morava perto, do contrário, ele não me ajudaria.
— Sei que está ocupada, mas vi que no verso da carta tem uma data
marcada, mas daqui dez dias — falei, confusa.
— É isso mesmo!
— Você já participou?
— Claro, nos últimos dois anos. Gostei bastante. — Voltou sua atenção a
Ela parecia ser uma mulher bastante parecida comigo, pelo menos em
distanciando.
atenção mais do que pensei. Isso, somado a recepção das pessoas estava
fazendo com que eu me sentisse bem em um lugar tão diferente e
desconhecido.
problemas...
minha mesa.
respondeu nada.
no que falava e fazia, e sabia desse meu defeito. Há coisas que não
por fim.
nessa idade, Oliver. Você não é assim. Sei que não é mal-educado.
Vi que ignorou Emily um minuto atrás. Percebi o quanto ela ficou
— Não a vi.
— Sério?
— Que seja! Vim tomar meu café da manhã como faço todos
algo.
principal.
frente.
Eu amava minha irmã, só não conseguia demonstrar quando
queria. Ou precisava.
olhavam para nós, e quase sempre era com desprezo, como se não
fôssemos dignos de ser adotados.
o tempo.
Ainda me sentia traído pelos meus pais por ser jogado lá,
como se fosse um nada, e claramente isso influenciou meu ser,
quando enfim me tornei adulto. Tinha dificuldade em confiar nas
amar...
EMILY
descrito na carta.
Tudo junto.
Não pensei que essa aventura me proporcionaria algo assim, mas de
escape.
Era a virgem das cartas, e ainda estava apreensiva sobre o que tinha que
atendida.
Após mais algum tempo, a porta foi aberta lentamente. Bem lentamente.
Reparei em sua casa, que era muito humilde, mas impecável. Tudo estava
— Eu... não sei o que dizer. Foi a senhora que colocou a carta no festival?
— Não, mocinha. Nem imagino quem fez isso, mas agradeço a vida dessa
pessoa todos os dias, pois não me sinto mais sozinha. A propósito, meu nome é
Donna.
Confesso que eu fiquei mais emotiva a cada momento que passava. Tinha
consciência que a história de vida dessa senhora era muito bonita.
Neste momento tomei uma decisão importante. Por mais que eu não
— Não conte para ninguém que estou aqui. Eu gosto da minha casa, ter
contato com a natureza, e se descobrirem que uma velhinha que nem eu está
neste local, me mandarão para um asilo ou algo parecido. Eu sei que às vezes
contamos para uma pessoa de forma automática, sem má fé, mas eu tenho
muito medo de descobrirem que estou aqui.
Ela me falou muito dos seus três filhos: Albert, Alexandra e Bertie. Disse
que se tornou avó há alguns anos, mas que só viu os netos uma vez, já que
Percebi no modo que ela falava, o quanto seus filhos e netos estavam
fazendo falta em sua vida, e fiquei um pouco abalada, confesso.
Depois, Donna ficou longos minutos falando do seu marido, que havia
falecido anos atrás. Notei na forma que ela o mencionava o quanto o amor dela
Fiquei na casa dela por no mínimo duas horas, e no fim contei a ela um
pouco da minha história. Achei certo dividir com ela alguns assuntos, porque
Donna fez o mesmo comigo, sem ao menos me conhecer.
Depois que saí da pequena casinha olhei para o céu, e me senti mais
feliz.
coisas que acontecem em nosso cotidiano, mas tudo o que ela me falou me deu
um gás para seguir meus objetivos, me tornar uma pessoa melhor.
***
Fiz um gesto impensado, e quando chamei o Uber fui para a rua principal
da tradição, e agora estava na porta de outra pessoa que conheci no dia do
festival: Maggie.
Fui atendida pouco tempo depois, e ela não ficou nem um pouco surpresa.
— Não são bem dúvidas, mas... — Cessei a fala, tentando imaginar como
diria a ela.
— Pode falar.
— O problema é que ela tem bastante medo de descobrirem que ela está
lá. Sozinha.
Por mais que fosse só a primeira, sei que em breve terei contato com
pessoas diferentes, e isso me animava.
— O que quiser.
EMILY
Alguns podem pensar que estou indo pela comida, outros pela companhia
da Jessy, mas tinham aqueles que achavam que era para observar Oliver e toda
a sua seriedade costumeira.
Não tinha culpa se ele fazia o meu tipo. Na realidade, o tipo de todas, na
minha humilde opinião.
atender. O estabelecimento estava mais lotado que o habitual, mas não reparei
atestado durante essa semana. Não sei mais o que faço, estou ficando maluca!
— Emily...
mandar sua única atendente para o salão, ela me explicou por alguns minutos
um pouco sobre o trabalho.
— Como não vou conseguir te passar tudo, pode fazer o básico pra mim,
anotar o pedido, e passar para a Karen, que fica na bancada perto do caixa. O
trabalho dela é entregar às garçonetes todos os pedidos, e depois você serve a
pessoa.
***
Visualizei qual mesa ela falava, e para a minha surpresa era a do gostoso
mal-humorado!
— Oi.
acessórios.
Fiquei ali pelo menos uns cinco segundos, o observando, mas foi só
depois de um tempo que ele me olhou nos olhos.
— Preciso repetir?
— Não é necessário — respondi, rangendo os dentes. Odiava que me
cortassem no meio da minha fala, e esse cara fazia isso toda hora.
Após ouvir minhas palavras ele focou em sua frente, fosse lá o que
estivesse fazendo, e voltei ao balcão, pedindo o indicado. Após alguns minutos,
voltei, colocando em sua mesa o pedido.
Olhei bem no fundo dos seus olhos e comecei a rir. Ele sim devia ter se
confundido.
— Café decaf!
— Chá preto!
Quem esse cara tá pensando que é pra mexer com uma maluca que nem
eu?!
— Enfim... — respirou fundo. — Jessy, você pode pegar o meu chá preto?
Nós dois olhamos para ela, e a irmã de Oliver cruzou os braços, séria.
— Você não toma chá há mais de um ano, e algo me diz que não pediu
isso.
— Jessy...
Não mesmo!
Voltei para a bancada, e Jessy veio até mim, um pouco sem graça.
partir de hoje.
— Por mim tudo bem, e outra coisa. — Veio mais pertinho de mim. — O
trate como ele te tratar, e farei vista grossa. Ele precisa de alguém que revide
algumas provocações — completou com uma piscadinha, indo em direção a
uma das mesas.
OLIVER
Como se não bastasse derramar café em mim, ela retruca tudo que falo!
Pelo visto Emily ganhou uma importante aliada: minha querida irmã. Sabia
que Jessy era boazinha demais, mas sua nova funcionária parecia ser mais
estourada, e falava o que lhe convinha.
Era muito bom em esconder sentimentos e desejos, mas não sou de ferro,
e a sua boca só fodia com meus pensamentos. Foi justamente por isso que
evitava observá-la, sabia que ia fraquejar e focar em algo específico, e ela não
podia saber do meu ponto fraco.
— Tudo bem.
— Não é bem uma funcionária. É a nova amiga da minha irmã, e pelo que
entendi está ajudando a Jessy hoje. Uma das atendentes torceu o pé.
— Meu nome é Fillipe, e como falei pro meu amigo, adorei o seu sotaque,
é bem suave e gostoso.
— Como sabe?
— Me desculpe por meu amigo. Ele é rabugento, mas uma boa pessoa —
disse a ela, sem me observar.
— Que ele é rabugento eu sei, agora boa pessoa... ainda não descobri.
— Não tenho tempo pra isso, Fillipe. O que queria falar comigo?
— Sei lá, né... você sempre dá um jeito de fugir dos seus amigos, de
festas, mulheres...
Paollo não disse mais nada. Ele entendia que quando estava em dias
assim era melhor ficar calado, e resolver os problemas, do contrário era a
cabeça dele que ia rolar.
Após entrar na escola, fui para a sua sala, e somente ela e a professora
estavam lá dentro. Quando me viu, Emma veio correndo e me agachei,
recebendo o seu abraço, e permaneci conectado a ela por vários segundos.
— Qual?
De fato, esse foi o melhor momento do meu dia, a única vez que me
permiti sorrir.
— Muitão?
— Muitão!
família, mas acho que um dia minha vida dará um giro de 180°. Ainda assim,
provavelmente isso levará muito tempo...
"O nosso coração é engraçado, não?! Na hora que menos se
espera ele pulsa mais forte, e nesse momento entendemos que
estamos... ferrados"
OLIVER
Nos dias que passaram fui atendido sempre pela mesma pessoa: Emily.
Jessy me disse que na parte da manhã ela ficaria aqui, ao menos até
olhava na cara dela, mas a questão aqui era outra: sua felicidade.
Ela se parecia muito com a minha irmã, a diferença era que ultimamente
segundo.
— Senhor?!
estabelecimento.
— Qual?
— Olhe para sua frente... — indicou —, como pode ver, ali também é uma
cafeteria, então vá pra lá tomar o seu café da manhã em paz. Garanto que não
Emily era uma pessoa legal, eu que não era. Não tinha problema algum
com ela, mas em minha vida, ninguém ousou bater de frente comigo, e ela nem
Poucos minutos depois ela trouxe o pedido que não fiz, mas como pensei,
acertou em cheio o que eu queria. Dessa vez, Emily não se deu ao trabalho de
falar nada.
***
Já tinha dois anos que meus passos eram os mesmos de segunda a
sábado.
Vinha para a cafeteria, me sentava à mesa mais isolada, e ficava até por
O meu começo foi bem complicado. O Joe’s, meu primeiro restaurante, foi
erguido na base do suor. Cheguei a ter três empregos na época, 7 anos atrás,
para enfim conseguir realizar esse sonho.
Nos 5 anos seguintes abri mais vinte restaurantes, e dos mais variados
em prática. Meu dinheiro rendia bastante nessa época, e não titubeei e contratei
os melhores chefs para cada estabelecimento. Eu teria o retorno, tinha certeza,
e se não o tivesse, eu mudaria a peça que destoava das demais.
disso.
Muitos me julgavam por eu querer controlar tudo. Mas eu sou assim, nasci
assim.
Hoje, me irritei mais que o normal, já que a tarefa que eu tentava executar
em meu notebook não cabia a mim. Eu já estava no pico do meu stress, e as
duas horas que permaneci aqui não serviram de nada, já que o problema
persistia, e eu não conseguia arrumá-lo.
fazia, mas dessa vez não estava conseguindo ajeitar a porra de um arquivo no
Excel.
A culpa não era dela, mas ultimamente minha vida andava uma zona.
apanhar.
— Fórmula?
Emily chegou mais perto, ficando por detrás das minhas costas. Seu
— Bem complexo, entendi foi nada. Não sou boa em matemática, sabe?
— disse, sentida, mas nem reclamei.
— Me expulsou daqui. Disse que se não estou me sentindo bem, tem uma
cafeteria logo à frente.
— Faço das palavras delas as minhas. — Cruzou os braços.
— Duas malucas...
mesas ficavam lotadas pela manhã, e por mais que a minha irmã estivesse
sobrecarregada, percebia ela feliz, e vê-la assim para mim era uma alegria
tremenda.
Foi tudo muito rápido, e pude sentir novamente o seu cheiro, inundando a
minha mente.
— Veja pelo lado bom, pelo menos dessa vez não derramou nada quente
em mim.
— Recentemente?
depois. Meu irmão sempre foi um homem fechado, e por isso não é
convite.
— Que convite?
tratava...
“Conquistar é necessário, mas não podemos esquecer de tudo o
que passamos para chegar ao objetivo final...”
OLIVER
Hoje o dia estava tranquilo, e sem muitos ruídos, o que me deixou mais
Eu precisaria reformá-lo quase todo, é claro, mas a parte mais difícil havia
— Pegue!
— O que é isso?
Fiquei a observando, e ela não parecia estar brincando com a minha cara,
pelo contrário, falava sério demais.
Assenti, e fiz o que ela pediu. Na sequência, ele sentou-se do meu lado, e
foi inevitável não reparar melhor, principalmente o seu decote, aquela maldita
boca...
Foco, Oliver!
— Pronto.
— Abra o bloco de notas e copie a fórmula que está lá, depois, coloque na
sua planilha e... voilá!
— Sim, é verdade.
— Eu menti. Queria ver você quebrando a cabeça, mas tive dó, sabe? Eu
tenho um coração bom, e te observar todo nervosinho assim, às vezes me dá
pena.
Ainda não estava acreditando que ela resolveu isso tão fácil.
— Isso é muito complexo, até mesmo pra mim olhando a resposta à minha
frente.
minha cidade farei meu doutorado, então, de nada pela ajuda. Eu posso falar
muito, mas por detrás desse rostinho tem uma pessoa extremamente
inteligente. — Lançou-me uma piscadela.
Gostava da sua parte desbocada. Ela falava o que pensava, doa a quem doer.
Emily nem de longe parecia uma mulher comum, era exatamente isso que
estava chamando minha atenção a cada dia que passava...
***
— 5 + 5?
— 10, papai!
— Muito bem. 7 + 8?
Novamente ela fez o mesmo, mas recorreu aos seus pés, como ensinei.
Minha filha demorou um pouco, mas respondeu corretamente.
— 15!
Hoje, foi um dos poucos dias que consegui sair mais cedo do meu
trabalho.
Não estava sendo um pai presente, e queria tentar mudar isso. Por mais
que tivesse deixado muitos relatórios importantes acumulados em minha mesa,
na minha cabeça achava que fiz o certo voltando para casa.
De soslaio percebi Jessy entrando na minha casa, sem ao menos
anunciar, e já estava praticamente dentro da minha geladeira, à procura de algo.
— Por quê?
— Que seja...
— Que tipo de pergunta maluca é essa? Por que acha que farei besteira?
alegre, feliz...
— Ela que...
— Como vou saber? Meu próprio irmão nunca falou pra ninguém o que
estava escrito.
— Esqueça isso. Emma é o maior presente da sua vida, e por mais que
Isabella tenha feito aquilo, ela te deu uma filha, Oliver.
— E, pode muito bem voltar e pegá-la. Acha que não penso nisso todos
os dias?! Que vou perder minha filha para alguém que ficou tantos anos sem
sequer ligar pra saber dela?! Uma mulher que não vejo desde um dia antes do
meu casamento?! — Fiz esses questionamentos, irado.
Prometi não me irritar hoje, mas foi em vão. Joguei tudo para o alto.
— Eu sei que tem medo, e eu também. Não vou suportar ficar sem Emma
por perto, mas em meu coração acho que isso não vai acontecer. Isabella
seguiu a vida dela, e se preferiu assim, não podemos fazer nada.
— Oliver, esqueça isso e se arrume, porque você irá jantar sim com
nossos pais e a Emily, do contrário, eu me tornarei uma péssima irmã!
Olhei pra ela e sorri. Jessy e péssima na mesma frase não combinavam,
ela era muito zen.
Emma.
sorrindo.
mudaram um pouco.
Oliver ainda não tinha nos visto, mas reparei seu sorriso na
direção da filha, e ela fazia o mesmo. Emma era uma menininha de
— É ou não é, filha?
corpo, e claro, ele percebeu que corei, mas não falou nada.
EMILY
Meu sotaque também foi algo que entrou em pauta, e após conversarmos
sobre isso, entramos na parte da cultura do meu país. Acho que falei mais que a
falava. Sua filha também ficou um pouco retraída, porém até ela me fez algumas
perguntas.
sorriso.
— Desconfiei.
que gostaria.
Fiquei falando por algum tempo, e por incrível que pareça não fui
— Qual o motivo real de odiar tanto esse festival? Não preciso ser muito
esperta pra saber que sendo dono de tantos restaurantes seu lucro vai
aumentar bastante.
— Tenho meus motivos.
Acho que Oliver não gostou nada de ouvir isso, já que me fuzilou com
seus olhos verdes, como se fosse me comer.
vários terrenos vagos, mas que casa mesmo é só essa dos fundos.
— Significa que você não mora na rua do festival! E, você me falou no dia
que derramei café em você que morava lá, ou seja...
— Não, minha questão é você não admitir certas coisas. Mas é bom saber
que gosta de mim.
— Não gosto!
Isso não era verdade, mas já que a intenção era provocá-lo, farei com
maestria.
— Bem que notei que era maluca quando botei os olhos em você.
— Não... — Fui para mais perto, tocando uma parte da sua camisa, o
observando. — Eu sei como é, te entendo, eu exerço um poder muito forte em
alguns homens, eles não conseguem simplesmente me olhar, como você
nesses últimos dias.
— Emily...
— Pensei que era diferente, que toma pra si o que deseja, mas pelo jeito é
só fachada. Você tem medo de mim! — pontuei, levemente debochada, o
irritando um pouco mais.
O homem dava quase dois de mim, mas queria saber até onde ele ia.
O meu tempo de reação foi bem pequeno, já que suas duas mãos colaram
na minha nuca puxando-me contra si, sem ao menos me preparar ele tomou a
minha boca, e quando nossas línguas se conectaram...
Ter um homem desse tamanho te beijando e apalpando não era bom, era
excelente, ainda mais com essa mão grande percorrendo cada pedacinho de
mim...
— Oliver... — sibilei, e com força ele voltou a trilhar a minha boca com sua
língua quente e macia.
Ele parecia não responder por si, e estava quase arrancando meu vestido
à força. Observei em seus olhos que ele me desejava aqui e agora, e eu o
mesmo. Por mais que fosse rude, mau humorado e grosso na maior parte do
tempo, esse homem com toda a certeza faria um estrago comigo, porque com
essa pegada...
***
Ele não parecia querer conversar, mas estava bastante pensativo. Não
sabia o que se passava em sua cabeça sobre o nosso beijo, contudo, não ia
falar mais nada, ao menos hoje.
Após chegar em minha casa, ele só olhou para mim, e parecia procurar as
palavras certas:
— Obrigado por ir. Sei que não fui eu que te convidei, mas meus pais e
minha filha gostaram muito de te conhecer.
Não, eu não queria que ele entrasse, mas não ofereceria resistência
alguma se ele o fizesse...
OLIVER
Acho que foi um erro beijar Emily, mas o erro maior foi não beijá-la
novamente. Era bizarro ter esse tipo de pensamento, e estava me odiando por
não saber ao certo o que mais desejava.
Já fui abandonado demais por pessoas à minha volta, e não queria passar
por isso novamente. Cansei de ficar remoendo os motivos dos meus pais
biológicos e minhas ex-namoradas tiveram para simplesmente sumirem, me
deixando sozinho. Não queria que isso acontecesse, então precisava focar no
que realmente importava: minha filha e o meu legado.
— Sim — respondi.
— Ninguém mandou mentir, logo você, um homem tão sincero, como diz.
— Eu só queria ajudar.
baboseiras.
— Somos alegres! Alegres! — deu ênfase. — É isso que falta na sua vida,
seu mau humorado!
— E voltou a mentir... Mas você não me engana, eu sei que gosta dela.
Sei bem quando meu irmão está interessado em alguém.
— Não comece, Jessy. Meu foco é outro, e não quero nada com a Emily.
Dessa vez, não fui até ela, somente observei a minha linda filha. Sabia
que não estava sendo o melhor pai do mundo, mas esperava mudar. Emma era
tudo para mim, e desejava que ela tivesse um futuro brilhante, e não cometesse
os mesmos erros que eu.
Do fundo do meu coração esperava que minha filha encontrasse uma
pessoa que provasse todos os dias o quanto a amava, mas se isso não
acontecesse, que ela não se tornasse alguém como o pai, que remói todas as
escolhas erradas do passado...
“Precisamos nos controlar, do contrário, oportunidades serão
perdidas, e vidas serão magoadas...”
EMILY
Estou ansiosa!
— Sério que ele já foi assim alguma vez na vida? — perguntei, cruzando
— Sim, em um passado bem distante. Enfim... não posso mais fazer nada
Chequei o meu relógio, notei que essa era a hora que Oliver pedia a sua
O observei com cuidado, e ele não parecia estar brincando. Sabia que ele
não pediu, mas todos os dias o homem fazia a mesma refeição, sempre nos
mesmos horários. Oliver era metódico.
— Desde que trabalho aqui você me pede as mesmas coisas, e...
— Não quero comer nada, leve embora, por favor! — disse, e seu por
favor não amenizou em nada a sua grosseria. O tom que ele usou foi muito
ofensivo.
— É sério isso?!
amado.
— Algum problema?
— Tentei antecipar algumas coisas e levei o café da manhã que seu irmão
sempre toma, mas ele falou que não queria, e trouxe de volta.
— Não.
— Ele toma todos os dias a mesma coisa. Ah, mas eu vou lá...
Cerca de meia hora depois, Oliver me pediu um café preto, sim, o mesmo
café de todo dia, e meu sangue já subiu a cabeça, mas tentei relaxar, e levei
para ele.
— O café tá frio.
Não, tinha certeza de que não estava, porque quase queimei a minha mão
o trazendo.
— Só leve o café... te dar liberdade ontem foi a pior coisa que fiz.
— É sério isso?
— Pois eu também acho! — falou, ríspido. — Então, que tal fingirmos que
nada aconteceu?
— Você é um homem mal-humorado, grosso, estúpido e bipolar! — cuspi
as palavras, com os olhos ardendo de raiva.
— Emily...
— Mas vai! Você acha que é quem pra tratar as pessoas à sua volta
assim? Só porque é poderoso, tem empresas, é rico acha que pode falar como
quiser? Me poupe! Ah, mas eu sou o Oliver, um homem controlador, o dono da
porra toda na cidade — imitei a sua voz. — Eu não tô nem aí, ouviu?!
— Pois eu falo como eu quiser com pessoas imbecis que nem você! E,
tem mais: sabe qual é o seu problema? Você julga as pessoas sem se colocar
no lugar delas, me julga sem conhecer ao mínimo a mulher que eu sou, meus
medos, falhas e desejos! Então, não vou me humilhar ficando perto de alguém
assim. — Apontei para ele. — É você que não merece me conhecer melhor!
preocupado.
como um.
— Nem um pouco. Quem sabe agora meu irmão não repense as atitudes
dele perante às pessoas.
***
Não pensei que meu primeiro choro após anos fosse de raiva, mas o que
passei minutos atrás me desestabilizou completamente.
2ª CARTA
Enquanto pensarmos só em nós, a vida não florescerá da maneira correta.
É uma pequena frase, mas fez toda a diferença em minha vida. Muitas
pessoas têm dinheiro, fama, amigos e até mesmo se gabam de terem mais bens
materiais que as outras, só que isso não é o suficiente. Nunca foi.
Então arrisque!
Seja a melhor pessoa para si mesma, e tenho certeza de que sua vida vai
ser impactada, da mesma maneira que a minha anos atrás...
***
Enquanto meu Uber não chegava no endereço, refleti bastante sobre essa
carta.
Ela não foi longa, mas extremamente direta. Parecia me conhecer, falar
Era uma casa grande, de madeira, e notei que algumas árvores enormes
estavam dentro do ambiente, mesmo ainda estando no lado externo. Outra
coisa que me chamou bastante atenção foi a enorme placa ao lado do número:
“CASA DE PAZ”
Após alguns minutos, um homem de meia idade veio até mim, abaixando
a cabeça, me cumprimentando. Não soube o que fazer, mas ao que parecia ele
não se importou da forma desajeitada que me portei.
— Bem, eu... — Mostrei de longe a carta, sem saber o que falar. — Vim
por causa dela.
— Isso mesmo.
— Por aqui. — Indicou, e o segui.
— Emily, e eu vim...
Urman parecia um monge com a sua cabeça raspada, e até chutaria que
realmente era um.
Apesar de ainda estar assustada, eu aceitei esse desafio para ter novas
aventuras, viajar em busca de novos horizontes, então seguirei até o fim.
— Venha comigo. — Indicou, e saímos por outra porta, e foi aí que meus
olhos contemplaram algo que eu não esperava.
— Sim — respondi.
— Eu vou te ajudar.
— Eu fundei esse local há alguns anos, e meu primeiro cliente foi uma das
pessoas que perseguiu a carta que está em sua mão.
— Sim, desde então, todas essas pessoas que está vendo, são oriundas
dela. O festival tornou a casa de paz conhecida, e através de indicações temos
mais de 200 pessoas que frequentam o local.
— Nossa!
— Claro, acho que preciso ouvir alguém com uma perspectiva diferente da
minha.
O que posso te dizer é que pra tudo isso acontecer, o essencial é se amar, do
contrário, tudo será em vão.
— Eu gosto das pessoas que estão comigo. Tenho vários amigos, mas a
minha questão é que tento agradar a todos, e isso é errado. Eu sinto.
— E qual é?
Nunca alguém foi tão aberto comigo, e essa experiência estava sendo
— O que acha que preciso fazer para melhorar essa solidão que carrego
em meu peito? Sei que é uma pergunta bem ampla, mas... eu quero melhorar
comigo mesma, como mulher — desabafei, e ele me observou, olhando para o
— Emily, se acha que não está fazendo a vida de ninguém melhor, então
infelizmente você está perdendo tempo. Foi com esse intuito que criei esse
meditação podia ser feita em qualquer lugar, só era preciso paz e silêncio.
— Não cobramos, e quando quiser pode vir a esse espaço. Tenho vários
mentores, e eles te guiarão. Venha quando quiser a partir de amanhã. Primeiro,
pense em tudo o que te falei, e se aceitar, tenho certeza de que sua vida irá
melhorar. Eu garanto.
Urman se levantou, e fiz o mesmo.
Após sair do templo, refleti poucos minutos sobre tudo que estava
acontecendo comigo. Não estava dando valor ao que realmente importava, e me
EMILY
outro, melhorar como pessoa. Não tinha tempo para esses joguinhos.
feira. Jessy havia saído, e nenhuma das meninas estavam no salão, e por
Era estranho, mas eu gostava desse trabalho. Aprendi tantas coisas nas
E, por falar isso, a partir de amanhã vou turistar pela cidade. Meu horário
Oliver...
Bufei contrariada, não queria sequer vê-lo, quanto mais atender esse
grosso. Com muito pesar, fui até a sua mesa.
— Qual o seu pedido, senhor? Tenho várias mesas pra atender e não
Emily.
tão mal. O erro foi meu. Foi errado falar daquela maneira.
susto. Nunca pedi nada novo, desde quando ela começou a ajudar
Jessy, essa era a primeira vez. — Sempre é bom mudar, não é? —
— E, pra comer?
coisas.
corretamente.
Depois que Emily trouxe o meu pedido me preparei para
tentar conversar com ela, mas não funcionou. Ela simplesmente
dela.
todas as três estavam rindo bastante. Emily era uma mulher alegre,
***
contou o que faria há alguns minutos eu duvidei, mas pelo visto ela
cumpre a sua palavra quando fala alguma coisa.
— Não sei, mas acho que precisa aprender mais coisas com
ela do que pensa, irmão — falou, se afastando em seguida.
Emily podia ter vários medos e receios, até mesmo dores que
o tempo não iria apagar, como eu, mas, nesse momento, em seu
não me arrependia.
— Aonde iremos?
braços.
***
— Ah, sim...
— Por quê?
olhos dele estavam fixos nos meus. Eu ainda não entendia a força
que ele exercia sobre mim, mas não queria ficar relembrando
daquele momento na cozinha. Não podia.
— Na chuva, né?
Ele percebeu que ruborizei, tinha certeza, mas não falou nada.
Notei que não se preocupa com o que pensam sobre você, e isso é
isso se estressa com tudo e todos. Sei que tem várias propriedades,
inúmeros restaurantes, mas isso não é tudo, você precisa viver,
sabe?
— Não faço pelo dinheiro.
observando o teto.
aconteceu.
— Eu sei.
pensar.
simples palavras.
— Você pode achar que não, mas reparei como trata a Emma,
e dá pra ver nos seus olhos que ela é tudo pra você, então passe
mais tempo com ela. Tente esquecer suas responsabilidades ao
— Prazer, Oliver.
Eu te mato ou me demito!
— Verdade?
— Hoje, sim. Não gosto que chame a atenção igual fazia, sou
— Um pouco.
embora sozinho.
— Sim, vou.
Depois de nos despedirmos, ele continuou me fitando, em
seguida acenou, indo embora com o seu amigo...
“A verdade é dura, mas necessária...”
EMILY
Cheguei exausta em minha casa. July estava comigo, e disse que dormiria
aqui hoje.
Depois de retirar a minha maquiagem, fui para a sala. Minha amiga estava
assistindo televisão.
Oliver, mas já nos falamos. Minha aproximação com ele foi mais por causa do
Fillipe.
comigo algumas vezes, e acho que sabe o meu ódio por pessoas assim.
— Como assim?
Meus olhos quase saltaram para fora, e me preparei para falar algo, mas
ela foi mais rápida.
que seis meses depois eles apareceram casados. Após um tempo foi
descoberto que ambos se relacionavam há um ano.
— Meu Deus!
então namorada na cama com um dos seus amigos, e antigo sócio. Por incrível
que pareça ele não fez nada, só mandou a mulher sumir da casa dele. Foi
preciso muito autocontrole. Agora a terceira vez foi algo bem esquisito...
— No casamento?
— Sim. Oliver ficou um tempo sem se aproximar das mulheres depois
dessa segunda traição, e finalmente achou que havia encontrado a pessoa
certa. Ele pediu Isabella em casamento após alguns anos de namoro, já que a
sua filhinha tinha um ano de idade, a Emma. Acontece que no dia do casamento
ela não apareceu, e um dos organizadores entregou um bilhete enquanto ele a
esperava no altar.
fala que ele foi traído novamente, e que tem algo a ver com o festival, não sei
bem.
— Faz sentido. E, além de tudo, Isabella nunca mais fora vista, e nem fez
questão de ver a filha, simplesmente a deixando com Oliver, como se não se
importasse.
— A mãe do próprio Oliver fez, agora, pense como a cabeça dele ficou?
Ser abandonado pelos pais, a futura esposa o deixar plantado na igreja, ter que
criar a própria filha sozinho sem saber o que realmente aconteceu...
Depois que ela entrou no quarto fiquei remoendo tudo que fora falado.
Será que ele é tão arisco com as pessoas por causa disso?
Entendia um pouco agora a falta de confiança que ele tinha nas pessoas,
tanto amigos próximos, quanto na questão do seu trabalho. Oliver pelo visto foi
traído inúmeras vezes, e ao que tudo indicava não só em relacionamentos, já
que um dos seus amigos dormiu com sua ex-namorada...
***
Não sei mais o que faço sem você, Emily. Por favor, precisamos
conversar...
Nos últimos dias ele havia me mandando mensagens, mas não como
essa. Nossa história havia acabado, e ele precisava entender isso de uma vez
por todas. Como das últimas vezes, não respondi.
Cheguei cedo no trabalho hoje, mas confesso que estava com um pouco
de medo.
Oliver, ontem pela noite, foi uma excelente companhia, mas hoje podia
não ser a mesma coisa. Ainda havia o fato que prometi não atendê-lo mais.
Fiquei repensando alguns minutos sobre o que faria, mas tomei uma
decisão, me aproximando da sua mesa.
— Oi.
— Bom... não, mas obrigado por perguntar — falou, com um leve sorriso.
No fim eu estava com medo à toa, ele parecia estar tranquilo hoje.
— Não, nenhuma delas. Está sendo meu dia menos produtivo, mas... é
isso. Tenho que aceitar.
Hoje ele tinha tudo para estar mal-humorado, mas parecia que Deus tocou
no coração de gelo dele.
— O quê?
— Você conversar normalmente comigo, e me perguntar o que preciso. Se
eu me lembro bem, certa pessoa disse que não me atenderia mais.
— Farei o possível.
***
— Não sei. Pode ser algum peso na consciência. Não sei bem o que
— Que tal provocá-lo? Ver se essa mudança com você foi mesmo
verdadeira. É meu irmão, mas... quero entender se há arrependimento da parte
dele.
Depois que nos separamos para atender os clientes, Oliver pediu seu café
no mesmo horário, como de praxe, e pedi para Luanna que o deixasse no ponto.
— Seu café...
O café não estava frio, preciso destacar. Ele estava morno, mas sabia que
Oliver odiava isso.
Eu sabia...
— Algum problema?
— E então?
— Posso pensar?
Olhei para cima alguns segundos, depois sorri, parecendo estar lisonjeada
com seu pedido.
Acho que Oliver não acreditou muito que estava o negando, e coçou a
cabeça, um pouco desajeitado.
— Tudo bem, mas preciso te falar outra coisa. A culpa não é sua, mas o
café está um pouco frio. Você pode pegar outro?
— Eu...
— Quer saber, não precisa. Está tudo bem. Isso não vai me matar.
OLIVER
casinha...
— Papai.
eu quem o fazia.
Não posso prometer algo que não iria cumprir, mas hoje foi
Era bom inovar, e Emily tinha razão quando falava que estava
colocando meu trabalho acima de inúmeros assuntos importantes.
Ela conversava demais, mas era uma mulher sensitiva, e por mais
atenção.
— Promete?
— Prometo!
— Qual?
— Hã?
Correção: ficamos.
— Não ter nada pra fazer é um saco às vezes, né? — ela foi a primeira a
a desejar. Já estava aqui há quase um mês, só que ainda não conhecia muito
da cidade. Isso precisava mudar.
— Se falar pipoca mais uma vez nessa semana eu vou te agredir! — falei,
brava e ela caiu na gargalhada.
— Faz o teste pra ver! — disse, séria, mas não consegui manter a postura
e sorri. — Só acho que...
— Emily?
— Sim.
pedi nada.
fechei a porta.
Atte, Oliver
recusado.
— Não tenho culpa de ele ter sido tão grosso comigo, mas agora me
mandar comida já é golpe baixo!
Se ele tivesse aqui com certeza ganharia um beijo, porque agradar com
comida uma mulher é sacanagem...
“A surpresa faz parte do processo de crescimento...”
OLIVER
No momento meu dia estava tranquilo, mas quando uma pequena mulher
parou à minha frente com os braços cruzados pensei que isso acabaria.
— Com que direito você acha que pode mandar algo pra minha casa sem
avisar?
Pelo jeito errei novamente com Emily, mas dessa vez pensei estar fazendo
uma boa ação.
— Achei que gostaria da surpresa. — Virei-me, observando seus lindos
olhos. Para mim, estava sendo difícil disfarçar o quanto sua beleza me fascinava
— Que tipo de pergunta é essa? Aquele prato é uma delícia! July estava
comigo, e acabamos com tudo. Não sei nem o que te falar, só... muito obrigada.
— Você não quis sair comigo, mas eu já tinha planos, então resolvi
improvisar.
Acho que nem mesmo eu estava acreditando que tomei essa decisão,
mas era necessário. Ao menos hoje, farei algo fora da curva.
— Sério?
— Muito. Preciso descansar, ocupar minha mente com outra coisa. Ainda
vou decidir o que farei, mas definitivamente não é ir para o meu prédio resolver
problemas.
Emily me olhou bastante séria, mas em seguida abriu um largo sorriso.
Não entendi muito bem o significado do seu gesto.
3ª CARTA
caminhada.
carinho, que não sabe identificar bem os seus desejos, uma criança
que não entende o significado de amor verdadeiro.
precisava ir.
meu lado.
ser sincera:
— Sim.
— Algum problema?
***
Não queria ficar com pena dele, só que não estava sabendo
ajudá-los?
fez o mesmo.
— Oliver?!
vários momentos fiquei lá, sem ninguém por perto, jogando comigo
mesmo.
Provavelmente fui visto ao me aproximar, mas ele continuou
— Tony.
— Tenho 9.
certa surpresa.
— Como sabe disso?
— Sério?!
— Sim.
surpreenderam.
— Por quê?
eu não.
péssimo. Não lidava com muitas crianças no meu dia a dia, só com
Então, que tal jogarmos um contra o outro? Acho que vou ganhar de
lavada, mas você pode tentar.
EMILY
Entrei em uma sala à parte, e fui recebida por uma mulher sorridente. Nos
desanimaram muito por conta disso — respondeu com pesar, mas depois abriu
governo, trabalhávamos por nossa conta, tanto é que pouca gente em Liverpool
nos conhecia. Mas tudo mudou com a tradição, e gravamos até algumas
matérias, então as cidades vizinhas passaram a conhecer o orfanato, e graças a
Deus nossas crianças puderam ter um lar.
a fazer amizades, já que na ala dos meninos, muitos deles conversavam entre
si, e até mesmo brincavam.
orfanato, depois, fomos para o local externo, e Judith veio até nós.
Observei o campo que ela mencionou, bem como o local de lazer das
meninas.
— Tony encontrou um amigo ao que parece. Ele veio com você? — Nora
me perguntou, e pude visualizar Oliver distante, jogando basquete com uma
criança.
— Eu ganhei!
— Foi só por um ponto. Você ainda precisa treinar muito pra NBA.
— Entendo.
Ficamos conversando durante algum tempo, mas eu não parava de
observar Oliver. Ele estava muito feliz, e isso fazia com que meu coração se
enchesse de alegria...
***
conversamos bastante.
Oliver continuava com o seu jeitão sério, só que a maneira dele falar
estava diferente. Ele parecia orgulhoso de algo.
Minutos depois chegamos à minha casa. Para minha surpresa ele desceu
do carro, admirando o céu por alguns segundos, se recostando no carro, e fiz o
— Não há problema. Eu já fui assim. Foi por sonhar demais que construí o
meu império, então você está no caminho certo.
Gosto de homens enigmáticos, e Oliver fazia bem esse papel. Sabia que
ele possuía alguns segredos guardados, mas era isso que me fazia querer
desvendá-lo aos poucos.
por saber qual artimanha ele usaria para me convencer do contrário. Preciso
confessar que hoje ele ganhou pontos comigo, mas era preciso mais para me
fazer mudar de opinião sobre algo.
Sem aviso, ele tomou a minha boca, e ao sentir o contato da sua língua
me entreguei.
Sim, ainda pensava bastante no nosso beijo, e por mais que estivesse me
fazendo de difícil, queria prová-lo novamente.
Sabia que Oliver não costumava pedir, e jamais falarei não se temos o
mesmo desejo, então, obediente, fiz o que ele ordenou, e entramos.
O beijo continuou, e foi difícil até mostrar onde ficava o meu quarto, já que
o seu foco era a minha boca, e eu queria tudo ao mesmo tempo.
Após entrarmos em meu quarto, a porta foi batida com força, e ele
avançou em mim. O meu vestido foi tirado abruptamente, e observei
atentamente os olhos dele, que estavam famintos, me desejando.
Suas peças foram caindo uma a uma, com rapidez. Oliver ficou apenas
com a sua boxer, e depois ele foi por cima de mim, tomando a minha boca,
mordiscando os meus lábios.
Analisei o seu corpo cheio de tatuagens, e me permiti admirá-lo por algum
tempo, mas homens não olhavam, eles eram mais práticos, e o seu desejo era
me foder o quanto antes...
Sua boca então foi na região dos meus seios, de forma habilidosa, ele
retirou o meu sutiã, quando sua língua quente tocou a aréola dos meus seios
soltei um gemido estridente, e isso fez com que sua língua apressasse os
movimentos.
Isso me matava.
Sua boca agora estava pertinho da minha calcinha, e sem perder tempo
ele a retirou.
Sim, sou exagerada, mas dou tudo de mim quando estava fazendo algo, e
sua boca estava me fodendo.
Literalmente!
— Me fode!
Ele não gostava de nada lento, suas estocadas eram firmes e violentas, e
só eu sei o quanto gemi e gritei, isso só dava forças para que ele as
intensificasse cada vez mais, e praticamente desfaleci em seus braços após um
novo orgasmo.
Oliver retirou a camisinha, me jogou na cama, depois veio com seu pau
perto da região da minha boca, o resvalando entre os meus seios, me fazendo
chupar a sua glande. Enquanto o friccionava na região dos meus seios, segurei
a base dele, o puxando contra mim, e minha boca o envolveu.
Vi o exato momento que sua cabeça foi para trás, e o jato do seu gozo
inundou a minha boca. Não queria desperdiçar gota alguma, e o engoli,
obediente. Depois, sua boca tomou a minha, me beijando.
Adorei o fato dele não ter nojo algum de mim ou do seu próprio corpo, e
mesmo após o sexo, continuamos ali, nos beijando.
A pergunta que não queria calar era: como as suas ex-namoradas traíram
***
— Ou nem tanto.
Era uma mulher que guardava praticamente tudo em minha mente, desde
mágoas até momentos que me transmitiam uma sensação de alívio e paz, como
esse. Parecia que tudo era novo, só que na maior parte do tempo o medo
predominava em meus pensamentos.
— Como foi pra você retornar ao lugar que passou tantos anos?
— Sim — respondeu, e pela primeira vez sorriu. — Por mais que Jessy
ficasse comigo, havia um grande vazio no meu peito, e me irritava cada vez
mais.
— Minha irmã é a mulher que está acostumada a ver. Ela sempre foi
tranquila, calma e focada. Por mais que tenha sofrido como eu, soube lidar de
uma forma totalmente diferente. Ela aceitou que nossos pais nos abandonaram,
já eu... essa história nunca me desceu, e nem sei se irá algum dia.
falados da cidade me mudou bastante. Não aceitei bem, não aceito até hoje,
principalmente ser abandonado no altar da forma que aconteceu.
Oliver não estava bem com essa situação, vi em seus olhos que reviver
certas feridas não o ajudariam, muito pelo contrário.
— Que tal falarmos de outra coisa. — Dei fim ao assunto, e percebi seu
rosto mais aliviado.
— Ah, é...? — Beijei seus lábios, indo por cima dele. — Estranho... certa
pessoa adorou o que fiz com a boca há algumas horas.
mim.
— Sim, mais do que gostaria.
“Os detalhes fazem toda a diferença...”
OLIVER
mim.
conseguia me afeiçoar a alguém. Não lidava bem com a perda, e por tais
motivos não saía mais de uma vez com a mesma pessoa. Esse era um dos
fatores para as mulheres em geral me odiarem, já que não respondia nem as
bom nas pessoas quando não era preciso. Ninguém precisava saber que me
tornei um homem carente, mas antes ser carente do que nutrir sentimentos por
verdadeiras.
A alegria que ela transmitia era natural. Até mesmo eu, um homem que
não se permitia envolver, estava maravilhado pela pessoa que Emily era,
— Meu trabalho ocupa bastante o meu tempo. Não posso garantir nada.
Meu problema agora não era a tradição, longe disso. Passar mais tempo
com a Emily era a minha vontade, mas também não é. Se ficarmos juntos sabia
que algumas situações do meu passado iriam aparecer uma hora ou outra, e ia
botar tudo a perder. Sempre o fazia.
— Se cuida, Emily.
— Você também. E, tente seguir o seu coração mais vezes, sei que vai se
sentir melhor.
***
De certa forma não me arrependia dos meus atos, mas havia certa
alguém.
Ser uma pessoa solitária era ruim quando havia a oportunidade de ter
alguém em sua vida. Por longos anos só tive a minha irmã, ainda assim, me
sentia mal por não dar valor a pequenas atitudes em minha vida.
— Conta outra, Oliver! Sei que é porque está me vendo na sua frente!
Sorri. Emma, minha irmã e ela eram umas das poucas pessoas que me
— Acho que vou ficar sem te atender uma semana. Vamos ver o que
Era um homem com o coração de gelo. Prova disso, era não me envolver
com a mesma mulher mais de uma vez. Só que dessa vez, meus pensamentos
estavam diferentes, e queria aproveitar os dias que Emily ficará em Liverpool.
EMILY
Aos poucos Oliver estava se soltando, e via isso pela forma que ele
conversava comigo.
palavras.
Sabia que ainda era duro para ele revelar seus sentimentos, e para
muitos, Oliver podia até ser um homem frio, mas sabia que não era bem assim.
Suas duas mãos foram de encontro ao meu rosto, e a maneira com que
ele tomou meus lábios literalmente me fez perder o norte, ficando sem fôlego.
Foi preciso uma pequena faísca para que meu corpo automaticamente se
lembrasse do dele, e não conseguia parar. Não queria.
— Mas eu...
Oliver simplesmente saiu da sala, sem olhar para trás. Novamente, isso
não foi um pedido, e sim uma ordem.
***
Hoje resolvi colocar um vestido branco com pequenos detalhes floridos, e
amarrei o meu cabelo em um coque. Acho que perdi muito tempo o ajeitando,
mas me senti maravilhosa quando me olhei no espelho.
Nossa mesa ficava há alguns metros das outras, ainda assim conseguia
ver as pessoas da onde nos sentamos.
— Aqui é lindo.
Sorri.
— Oliver...
— E, deu pra ver que ela te ama no dia que jantei na casa de vocês.
— Sim, no começo foi difícil. Ela era muito novinha quando a mãe dela
desapareceu, mas fiz o possível pra ela não se sentir só. Naquela época, não
trabalhei muito, quis ficar presente, e...
Oliver parou de falar, mas não quis pressioná-lo. Era um assunto bastante
delicado.
— Não sou um homem que derrama lágrimas, raramente o faço, mas todo
o processo, a dor de ser abandonado novamente nos atingiu em cheio. Emma
chorava bastante e eu não sabia o que fazer.
Ele tinha imenso orgulho da filha, e por mais que parecesse durão na
maior parte do tempo, agora o via mais vulnerável, expressando o que sentia
em seu coração.
— Louco?!
— É maneira de falar, mas nos damos super bem. Conversamos toda
hora, nos implicamos, falamos que nos amamos, coisas do tipo. Meu pai se
— Sozinha, não. — Foi rápido. — Sei que fez várias amizades na cidade.
Sorri.
— Não acredito.
OLIVER
— Eu poderia ficar contando as vezes que foi babaca comigo, mas acho
Sorri, concordando.
não sou mais. Era um pensamento egoísta, e tinha vergonha de sentir isso.
Devo mudar meus sentimentos pelas pessoas ao meu redor, e Emily, estava me
fazendo repensar certas atitudes.
são frios, então em um primeiro momento não me importei de você ser tão...
— Olha, foi você quem falou. — Levantou as mãos, rendida. — Mas eu iria
dizer na sua, quieto. O problema foi quando vi as outras pessoas da cidade, e
percebi que você era exatamente o oposto delas. Não teve como te defender
Seu rosto agora estava um pouco mais sério que o normal, e evitou fazer
contato com os meus olhos. Observei bastante em dúvida se ela continuaria a
falar ou não.
— Eu... não sabia o que tinha passado. Julguei você sem ao menos
entender a sua história. Pensei que era um homem frio por natureza, mas só
depois descobri que antes de tudo acontecer você era alguém feliz, e... alegre.
— Nossa vida é assim, Emily. Altos e baixos. Por algumas vezes mais
baixos do que altos. O que aconteceu comigo é difícil de explicar, porque... nem
— Não precisa falar se não quiser — disse, tocando uma das minhas
mãos, prestando atenção em mim.
passam repetidas vezes na minha cabeça. Não por saudades, ou algo do tipo,
mas pra eu sentir... raiva. Às vezes eu tenho necessidade de sentir na pele esse
sentimento ruim para que de alguma forma meu corpo se preencha de fúria.
Não sei te explicar, Emily. É complexo até mesmo pra mim.
— O tempo não cura tudo, ele apenas cicatriza a dor mais profunda que
podemos sentir, de uma maneira lenta, e às vezes dolorosa. E, essa mensagem
acabou comigo, principalmente ao saber que Emma não seria cuidada pela
própria mãe.
Acho que bem no fundo essa era a maior irritação que sentia.
— Você é forte, Oliver. Nunca se esqueça disso. E por mais que eu não
entenda nem 1% do que passou, você pode contar comigo, para o que precisar!
EMILY
Saímos do restaurante.
estacionando em seguida.
— Muito pelo contrário, Emily. É justamente isso que me faz
de mim.
— Ótimo!
abruptamente.
— Tenho meus truques — falou, divertido, e, na sequência,
veio para cima de mim, distribuindo beijos em meu pescoço.
caralho.
minha boca.
Os homens adoravam quando começávamos o boquete
— Me fode gostoso!
imaginar o estrago que ele fazia. Minha bunda ardia, mas era
exatamente disso que eu precisava, sair do controle, deixar alguém
me mostrar como devia ser feito, e isso Oliver sabia muito bem.
— Vem cá!
ombros...
— Você é muito safada! — grunhiu.
— Me chupa gostoso!
Fiz o que me foi ordenado, e enquanto segurava a base do
seu pau, chupei suas bolas, fodendo com a língua sua glande, o
masturbando.
com satisfação.
chupou meus lábios. Nunca havia o visto assim, mas sabia que esse
***
semanas, mas ele teve alguns problemas, e marcou para esse fim
de semana. Que tal ir comigo?
— Não é um encontro.
— Você me provoca.
recuei.
— É pegar ou largar!
— Grande parte.
— Sim. Eu topo.
carta...
“Às vezes, o que mais necessitamos é de tempo para demonstrar
as nossas qualidades...”
EMILY
— Essa tradição está mexendo mesmo com você — Oliver falou, após eu
— Sim.
— Se controle. Ou tente.
— Faça por mim. Sei que está maluco pra passar um tempo a sós comigo
— provoquei.
Nessa semana que passou voltei aos dois locais das primeiras cartas,
repensar algumas das minhas atitudes, já que meu corpo parecia mais leve.
felicidade, gostava dos nossos momentos, que não eram muitos, ainda assim,
essenciais.
que está em nosso coração. Não me pergunte o porquê, mas creio que
nascemos predestinados, e por mais que erramos em determinadas situações,
isso é perfeitamente normal. No fim, somos todos iguais, passíveis de erros.
A próxima jornada pode ser difícil, mas faz parte de um processo que você
precisa entender. Acreditar nas pessoas é um dom, e não merece ser tratado
como obrigação...
Por incrível que pareça Oliver cumpriu a sua palavra e foi comigo.
Sabia que ele fazia alguns gestos para me agradar, mas gostava bastante
quando ele se permitia tentar algo novo, por mais que o machucasse relembrar
o festival.
— Algum problema?
— Só... lembranças.
— O que aconteceu?
— Evito ir a hospitais. Nas três últimas vezes que entrei em um, perdi
pessoas. Minhas duas avós e um amigo que tive na infância.
Caminhei com a mulher por alguns metros, e cheguei em uma sala, onde
havia uma menina novinha deitada na cama, e uma mulher sentada perto dela.
Ao me ver, veio até mim.
— Você veio por causa do festival, não é? Por aqui, só falam disso.
— Sim.
— Minha filha vai gostar de fazer novas amizades, seus colegas
receberam alta, e ela não tem com quem conversar.
— E, eu posso...?
Não só quem participava do festival era solícito com a tradição, mas até
— Oi...
— Oi.
— Sim.
— Como assim?
— Sério?!
— Muito sério.
— Que legal!
— Você parece com a minha irmã, Genevive. Eu tenho uma foto dela,
você quer ver?
Ela foi para o outro lado do quarto e abriu uma caixinha rosa. Depois me
trouxe uma fotografia de uma moça bem parecida com ela.
— Vou te contar outro segredo, Laura. Eu não moro aqui nesta cidade.
Estou aqui a passeio.
— Isso vai mudar, você vai ver — respondi, tentando não demonstrar que
suas palavras me abalaram.
Até pensei em falar que não tínhamos nada um com o outro, mas resolvi
não desmentir.
— Não, nenhuma função vital foi, graças a Deus. Mas Laura sofreu
algumas queimaduras de terceiro grau.
— Entendo.
— Sim. Ele me contou que você derrubou café nele, e que tava quente!
Olhei para Oliver que parecia não esperar esse tipo de pergunta, mas ele
foi o primeiro a assentir, em seguida fiz o mesmo.
EMILY
Emily, por favor, fale comigo! Me diga porque não podemos fazer dar
certo?!
respirei fundo. Odeio ter que explicar as mesmas coisas pra ele, e por isso
larguei de lado meu telefone, ainda mais agora que estou no meu intervalo.
E, por falar em intervalo, conforme os dias passavam, Oliver sempre me
— Você tem que parar com essa mania de me beijar enquanto estou
trabalhando...
Com muito custo dei um leve empurrão em seu peito, pedindo para que
ele se afastasse, mas o que eu queria de verdade era que nossos corpos
e o seu terno.
— Como assim?
— Eu vou cozinhar pra você. Te pego às 20h. E, não aceito não como
resposta.
olhou para trás, observando o irmão sair pelo mesmo local que ela havia
entrado.
Não consegui nem disfarçar. Minha boca estava molhada, meu cabelo
Nem consegui disfarçar, e por dentro não queria. Estava feliz com os
— Ah, mas você vai me contar tudo, e vai ser agora! — Puxou minha mão,
— Ele não queria ir. Vi que seu irmão ficou muito apreensivo, ainda assim,
me acompanhou. Ele reencontrou a Judith.
— Ela foi o nosso anjo da guarda. Nos ajudou bastante, e gostava muito
do Oliver.
— Acho que meu irmão está voltando aos poucos, e preciso agradecer
você.
— Não, Jessy. Eu só fui onde a carta me mandou, foi ele quem tomou a
iniciativa de conversar com o menino.
— Estou falando da alegria dele. Vejo meu irmão mais feliz, e sei que tem
parcela nisso. Agora, tenho certeza do que estou falando, principalmente
sabendo do encontro dos dois. — Soltou dois gritinhos, e comecei a rir junto
com ela.
— E teremos mais — falei, animada. — Oliver disse que vai cozinhar pra
mim hoje.
é, mas ele tinha um coração enorme, e queria fazer parte desse processo, e
achava que estava me apaixonando mais rápido do que o normal.
— Eu sei que Oliver é uma boa pessoa. Aos poucos, ele voltará a ser o
homem que ele era no passado, você vai ver.
***
— Sério?
— Uhum. Aí eu falei pra ele que você é bonita, e que vocês dois podiam
namorar.
— Tenho certeza de que o seu pai ainda vai arrumar uma namorada,
Emma.
Novamente fechei meus olhos, e me segurei pra não soltar outra risada.
— Quais os segredos que está revelando pra Emily, chicletinho? — Jessy
chegou na casa, e se sentou, nos observando.
— Pelo jeito estavam falando mal de mim — ele falou, trazendo o prato
até a mesa.
— Eu falei pra Emily que você tá ficando velho, e que precisa namorar
alguém.
Foi impossível não o observar por algum tempo, e fiquei sem graça pela
forma que ele me analisava.
Não sabia o que era isso que estava sentindo no meu peito, era algo
muito bom, mas junto trazia certo receio, e ainda não entendia.
— Ebaa!
Com toda a certeza Oliver não resolveu aprender culinária à toa, porque
esse prato está divino.
— Se eu soubesse que seu irmão cozinhava tão bem eu mesma teria
pedido pra vir mais vezes.
— Quando ele faz como amor fica assim — provocou, e ele não gostou
nada.
mais falava era o Oliver. Não conhecia esse lado dele, e mesmo se portando
como um homem sério, via uma alegria diferente no seu olhar.
***
Jessy levou Emma para a cama, e depois nos deixou a sós. Eu, como de
costume, iniciei o meu questionário, porque assim, eu gostava de falar, e ser
ouvida, lógico.
Sorri.
— Sim.
— Nenhuma.
nadinha?!
— Meu Deus...
— Às vezes minha mãe me liga, só que nos falamos mais pelo WhatsApp.
Ela está querendo que eu aproveite, e não manda muitas mensagens, só que
por dentro está sofrendo que a filha está longe. Eu sinto.
Oliver abriu um sorriso bonito, depois veio para mais perto, me abraçando.
Agora, estávamos no sofá, e gostava desses momentos onde ficávamos
tranquilos, nos olhando, tentando adivinhar o que o outro pensava. Adoro gestos
simples.
Entendia que o seu rancor ia durar um bom tempo, mas também sabia
que as pessoas mudavam uma hora ou outra, que dirá as opiniões, e não
desejava que Oliver sentisse tanta raiva.
Nossos beijos nunca eram calmos e serenos, muito pelo contrário, quando
nossos lábios se tocavam o incêndio já era iniciado, e suas mãos em minhas
nádegas já me provaram que ele estava como eu, faminto.
— Papai! Papai!
— Pode ir lá — indiquei.
— Não, nós vamos lá — retrucou, e fiquei receosa, mas entrei com ele no
quarto de Emma.
— O papai precisa levar ela meu amor, que tal ir com a gente e depois eu
te coloco pra dormir?
— Tá bom, papai!
Sabia que Emma havia crescido sem a mãe por perto, e ela era uma
criança que precisava de carinho e atenção, e quanto a isso, notava que Oliver
tinha de sobra para dar.
EMILY
Achava que a falta de noção do tempo era por causa do meu coração, e
tudo que aconteceu nos últimos dias agravaram esse estado.
Não me sentia tão bem sobre isso especificamente, e o motivo maior era a
distância. Prometi aproveitar intensamente meus três meses em Liverpool, e
estava fazendo isso, só que era exatamente esse o problema. Por me entregar
demais, podia me machucar no futuro.
Fillipe, e sim, estava mais aérea que o normal, pensando bastante em tudo e
nada ao mesmo tempo.
— Vamos?
— Sim.
— Por quê?
— Sei que deve estar sendo difícil aguentar esse mal-humorado. Então,
gargalhada.
— Obrigado por virem. Por mais que Oliver seja um homem sistemático, a
— Não.
— Você disfarça muito mal. Sei que gosta do nosso jeito atrapalhado e
desbocado, e você precisa de pessoas próximas desse jeitinho. Não negue, é
feio! — Pisquei, e ele abriu um pequeno sorriso.
Ficamos ali nos olhando, e essa sensação era boa demais para ser
ignorada. Oliver estava me fazendo uma mulher feliz, e nem precisava fazer
muito esforço.
— O que houve?
— Eu só preciso descansar.
OLIVER
precisasse?
Fiquei analisando minha irmã por um longo tempo, mas suas
— Do quê?
estranha.
— Olha aqui...
Com toda certeza ela gritaria comigo, mas agora ela tem
autocontrole.
bunda desse sofá, sair pra comprar alguma coisa, e deixar na porta
— Jessy, eu...
minha cabeça, tudo estava bem definido sobre nós dois, e não ia
cabeça.
responder.
Sei que fui dura falando assim, mas não ia negar o que sentia
em meu coração. Ele precisava ouvir a verdade.
— Emily...
Ficamos ali, nos olhando, e por mais que tivesse dito essas
palavras, ele estava visivelmente confuso, e um pouco irritado.
Não tive medo, e não achava que William faria mal algum
que eu estava bem decidida. O que vivemos foi bom, mas passou,
ficou pra trás.
minhas vistas...
OLIVER
Acho que há algum tempo não sentia tanta raiva como agora.
nunca fui assim. Nem mesmo quando fui traído na minha própria
cama.
EMILY
— O Oliver não veio hoje, e ele sempre está aqui pontualmente às 7h.
— Não sei o que pode ter acontecido, mas ele estava acordado quando
vim pra cá, e levou a Emma na escola. Deve ser algum problema nos
restaurantes.
— Entendo. — Assenti.
estaria aqui hoje. Como de praxe, um senhor de idade fez a mesma coisa que
das outras vezes, pregando a carta na mesa, e em seguida colocou mais uma
que a maioria dos autores das cartas evitam levá-las até o local.
Quando entrei no meu horário de descanso, fiz o mesmo ritual que das
5ª CARTA
Aprendi que eu basto em minha vida, e que sou melhor sozinha. Sim, eu
sei que pode ter pensado que sou uma mulher feliz e realizada, que tenho
marido e filhos, só que não é bem assim.
Decidi ajudar as pessoas que se encontram perdidas, e queria que
entendesse um pouco do que penso. Espero que as cartas estejam fazendo
de amor que está prestes a descobrir toque o seu coração, como tocou o meu...
A pessoa que escreveu parecia triste, e senti essa dor ao ler as frases
neste pequeno papel. Todos nós temos problemas mal resolvidos, e ninguém é
exceção à regra.
Quando saí do meu cantinho, avistei Oliver conversando com a irmã, mas
rapidamente se despediu dela, saindo da cafeteria.
Resolvi ir atrás dele, pois estava preocupada, e quando alcancei, ele foi
ríspido:
— Não tenho tempo, Emily.
— O que houve?
Fiquei olhando para ele sem entender nada. Seu rosto estava mais
nervoso do que nas primeiras vezes que discutimos, e não entendi o que estava
acontecendo.
— Emily, vou te falar só uma vez: não encha a porra do meu saco!
— Pensei que estava melhorando, mas de uma hora pra outra voltou a ser
um idiota — cuspi essas palavras, com raiva.
— Como é?! — Dei um passo à frente, irritada. — Quem você pensa que
é para...
— Oliver...
— Eu não preciso te ouvir, na verdade, não preciso nem te ver mais! Isso
que tivemos nunca foi verdadeiro. Eu sabia que não iria pra frente, você nem
mesmo mora aqui, eu fui um idiota em me permitir conhecer alguém que mora
em outro país!
— Como pode falar assim comigo?! Me julgar desse jeito?! Ele veio aqui
— Não aceitou e ficou abraçadinha com ele?! Eu fui traído três vezes,
Emily! Três vezes! Você acha que vou me envolver com alguém para me tornar
a segunda opção da pessoa?! Nunca!
Oliver não disse mais nada, e entrou no seu carro, indo embora cantando
pneu. Fiquei na calçada estática, não acreditando no que ele havia dito.
— Não quero conversar com ele! Oliver não pode tratar as pessoas como
bem entender! — respondi, alto, com raiva.
— Você tem razão, Emily. Isso não se faz, e acredito que não tinha
segundas intenções com seu ex. Te conheço há mais de um mês, só que parece
que faz anos. Sei quando alguém é sincero.
Era ansiosa, e precisava tratar isso. O que Oliver falou estava fresco na
minha cabeça, e não estava sabendo lidar com a maneira que ele gritou comigo.
pediu perdão. — Eu pensei que ele enviaria algo, nunca pensei que o seu ex
viesse parar logo aqui. Por favor, me desculpe, de verdade.
aconteceu. Se ele não acredita em mim, não há motivos para continuarmos nos
vendo.
***
Minha amiga disse que William disse que permaneceria na cidade por
essa semana, e que mesmo ouvindo tudo o que eu falei, me esperaria.
Não vou negar que uma das coisas mais fantásticas que estava
acontecendo comigo era participar do festival. Tive um choque de realidade em
todas as cartas, e por mais que pudessem parecer simples aos olhos de
algumas pessoas, para mim, era exatamente o contrário.
— Verdade?
— Terminamos o nosso ciclo deste ano. Joel escolheu uma carta de uma
moça que atualmente mora na França, e eu de uma conterrânea, mas que
atualmente mora em Manchester. Os casais mencionados nas duas cartas
estão juntos até hoje.
— Isso que não entendi muito bem. A minha carta não parece unir um
casal.
— Eu sei, mas de certa forma nos uniu mais ainda. — Observou o marido,
e fiquei sem entender o que ela quis dizer.
que o cercava. Tive certeza de que ele era a minha alma gêmea.
Nesse ano, Martha me disse que mais de 1500 cartas estavam dispostas
naquela enorme mesa, e vi o sucesso que o festival alcançou.
alguma pista de quem era a pessoa por detrás disso, principalmente pelos dois
serem citados, mas tanto Martha quanto Joel não tinham ideia.
— Acho que ficamos famosos na época por seguir essa tradição com
tanto afinco, e essa pessoa resolveu nos presentear de alguma forma colocando
em uma das cartas a nossa história de vida. É isso que penso — Joel falou, e
sua esposa concordou.
Eles me disseram também que esse foi um dos motivos para não pegarem
a carta, pois isso os ajudaria a conhecer pessoas novas, como eu.
Havia contado a ela sobre onde eu morava, e que estava a passeio aqui
na Inglaterra.
— Não, nós terminamos alguns meses antes. Eu não sentia aquilo, sabe?
— Sim, Emily. Mas você vai encontrar um novo amor, e quem sabe não
esteja em nossa cidade!
Sorri. É engraçado o que ela disse, principalmente porque foi isso que
pensei quando Oliver e eu estávamos nos dando tão bem. Talvez não fosse
para acontecer.
Vim para ficar poucos minutos, e saí da casa deles quase de noite,
prometendo que voltaria mais vezes, como fiz nos outros locais. Era incrível o
quanto um bom diálogo nos faz esquecer ao menos por algumas horas
determinados assuntos.
fariam de tudo um para o outro, e isso enchia o meu peito de alegria. Era bom
conhecer pessoas que experimentaram o amor verdadeiro, e sabia que um dia,
o meu coração provará essa mesma sensação...
“Precisamos de um amigo que abra nossos olhos em meio às
dificuldades...”
EMILY
emaranhado de acertos e erros, e não queria voltar atrás das minhas decisões.
— Eu queria te agradecer por tudo que fez por mim, mas no meu último
— Também — fui sincera —, não vou conseguir ficar aqui com seu irmão
— Não, Emily. Quem precisa te agradecer sou eu. Todas as pessoas que
conversaram comigo sobre você, te amaram. Nunca vi uma pessoa tão meiga e
— Não, sou eu a pessoa que precisa te agradecer. Você não tem noção
do quanto segurou as pontas aqui, sem você eu ficaria maluca, e vou sentir
— Eu também.
— Pois eu prometo!
Sentia raiva pelo que aconteceu, mas era uma porcaria não
sentir raiva dela. Não conseguia.
ela.
Você acha mesmo que ela ficaria aqui depois do que fez no fim de
semana?!
não sabia mais o que fazer para mudar a minha cabeça, muito
***
Meu humor já não era bom, e hoje então estava mais irritado
que o normal. Sabia que Fillipe iria potencializar isso, ele sempre
em breve.
frente, sorrindo.
— O que precisa?
amigo faz.
— Eu sei. Mas também sei que é ocupado, além de odiar
dela.
— É o que, então?
— Provavelmente.
interromper.
— Fillipe...
você já parou pra pensar que esse cara veio aqui pra tentar
reconquistá-la, e esse simples gesto pode ter sido a forma dela falar
— Como assim?
— Simples: você não merece a Emily se não confia nela,
desculpinhas!
— Não é desculpa!
olhava pra ela, e nunca tinha visto meu amigo assim com uma
que não me desce é ter falado isso pra ela por causa de um simples
abraço! Se fosse um beijo, tudo bem, mas um abraço ao
cumprimentar alguém?
— Eu posso ter exagerado um pouco.
— Um pouco?!
vai embora daqui e você ficará pior do que antes. É isso que vai
acontecer, porque conheço bem o amigo que tenho, e ele faz tudo,
Mas de algo tenho certeza: ela não se envolveria com você se não
permitisse. Sabia que a distância entre nós era muito grande, mas
Ainda há tempo...
“É especialmente nos erros que tiramos uma grande lição sobre a
vida”
OLIVER
Desde que ela pisou no carro até o momento que chegamos em casa ela
Era estranho a paciência que possuía com ela. Com as pessoas à minha
volta não era assim, gostava que elas fossem diretas e sucintas, e qualquer
aumento desnecessário em palavras me deixava irritado, mas quanto a ela,
Jessy e Emily...
Novamente essa mulher me veio à cabeça, e estava sendo inevitável não
Meu problema era que não dava chance para as pessoas me conhecerem
melhor. Emily me irritava no começo com a sua tagarelice, só que após dar
abertura, vi que ela era uma mulher maravilhosa, que enxergava o bem nas
pequenas coisas.
importava comigo.
— Papai...
Resolvi fazer a janta para nós dois. Estava precisando me manter na ativa,
já que cozinhar era uma das minhas paixões há alguns anos.
— Eu acho que ela não vem mais — respondi, com certo pesar.
Sorri. Minha filha literalmente ignorou a parte que nós dois brigamos.
— Não, acho que vou te deixar aqui com a titia. Dez anos depois eu volto
pra te buscar, amor.
— Nossa, papai... — Emma ficou triste, e fui até ela, a pegando no colo, e
abraçando.
— Promete?
— Claro que eu prometo! Nós dois vamos ficar juntos até o fim.
— E a Emily?
Por incrível que pareça estava vendo uma série aleatória na Netflix, algo
que nunca fazia, e de mansinho Jessy entrou em minha casa.
— Oi.
— Olá, irmã.
— Eu vim aqui mais cedo, mas a conversa entre vocês estava empolgada
— A questão não é essa. É algo maior. Posso ter falado várias coisas sem
fundamento algum para Emily, só que independentemente disso, a nossa
distância é sim um empecilho, e não posso correr esse risco.
— Rindo de mim?
— Três pessoas?!
— Sim. Você, Fillipe e Emma. Estou começando a achar que estou errado.
— Sei que não acha isso. Você tem certeza! — disse, agora sorrindo, e
sentou-se ao meu lado. — Deixa eu te falar algo: conversar com ela não quer
dizer que voltarão a se beijar, ou algo do tipo, mas que querem resolver a
situação de vocês.
— Isso é difícil pra mim, Jessy, você sabe bem como sou. A questão maior
aqui não é pedir desculpas, e sim falar a ela o que sentia quando estávamos
juntos.
— Conversar não arranca pedaço, e por mais que seja um homem bem
orgulhoso, isso precisa acontecer. Tenho certeza de que será pior se ela voltar
para os EUA e essa conversa não ocorrer. Sei que ambos ficarão mal.
Tentava resolver tudo que estava me abalando, por mais que determinadas
situações fugissem do meu controle.
— Emily?
— Surpresa, Ashley?
lembra?!
próxima o que estava vivendo aqui, e ela era uma das minhas
melhores amigas.
— Não sei...
— Amiga, isso não foi uma pergunta! O jeito que você fala
— Mas, sei que não vai pra frente. Como ele disse, somos de
nesses últimos dias e voltar bem para a nossa cidade. Foi um bom
aprendizado tudo o que passei, e fiz inúmeras amizades
EMILY
— Pode falar.
Não esperava que ela me revelasse isso, de forma alguma. Gostei muito
de conhecer a Emma, mas não pensei que ela pudesse falar de mim,
principalmente depois que tudo aconteceu.
— Claro, Jessy. E, você não sabe o quanto estou feliz em saber disso.
***
Sabia que Jessy levaria a Emma, mas só fui acreditar quando as vi juntas.
éramos amigas há um bom tempo. Ver o seu rostinho tão feliz me deixou
levemente desconcertada, mas adorei presenciar que ela realmente gostava de
mim.
— Oi, Emily.
— Olá, Emma. Como você está?
— O que eu disse pra você? — Jessy falou, vindo até mim, me abraçando.
— Como está tudo, Emily? Faz alguns dias que saiu da cafeteria.
— Eu falei pro meu papai fazer as pazes com você, ele fez? — perguntou,
interessada.
— Meu papai não gosta, mas eu finjo chorar, Emily. Aí ele brinca comigo,
não é, titia?
Eu não importava que Oliver fosse o centro das atenções, eu queria saber
de algumas histórias do seu passado, e ao que parece, ele fazia tudo,
festival.
— Sim. Estou tranquila, só curiosa pra saber o motivo dela ter esse nome.
Como hoje era domingo, ficamos à vontade, e todos os locais que Emma
desejou ir, a acompanhamos.
Ela estava muito feliz. Provavelmente ela tinha essas pequenas saídas
com a tia, mas eu nunca havia experimentado isso. Jamais saí com uma criança
e fiquei tanto tempo assim.
Sonhava em ser mãe algum dia, o problema mesmo foi não ter
encontrado a pessoa certa...
— E ele?
— Por incrível que pareça, sim. E, tem mais, ele sabe muito bem que a
própria filha fala muito de você.
Observei Emma, que estava entretida com algumas cartinhas que havia
comprado na banca. Depois de um tempo, me agachei, ficando do seu tamanho.
— Eu fiquei muito feliz que veio me ver — pontuei, sorrindo, e segurando
uma de suas mãos.
— Vamos sim!
— Promete?
— Ebaaa!
Dei um grande e longo abraço nela, e fiquei ali por vários segundos,
Nutria por ela um grande sentimento, e por mais que fosse algo recente, ia
que faltava algo quando estava aqui. Olhei ao redor e não a vi, e
isso me machucava.
pegou uma carta, depois foi até Jessy e deu um abraço na minha
irmã, conversando durante algum tempo.
que foram reais. Eu me apaixonei por ela, mas nunca tive coragem
de dizer.
— Oi, Oliver.
Fiquei a encarando por um longo tempo, não sabendo o que
falar. Na verdade, precisava dizer tanto, que não sabia bem como
me expressar.
lixo por não acreditar no que disse. Você e minha irmã são pessoas
vocês, aos poucos, estão devolvendo o brilho nos meus olhos que
ninguém.
sua pele poderia estar pior com tudo o que aconteceu no seu
passado, então eu me coloco pelo menos um pouco no seu lugar.
olhar em seus olhos. Fazia algum tempo que não sentia tanta
vergonha como agora.
Prometi que isso não aconteceria, e não sei o que pensar. Você está
na minha cabeça a todo o momento, e juro por Deus, estou tentando
me convencer de que isso não devia ter acontecido, mas, não, meu
estivesse aqui, mas não sabia que seria tão dolorosa minha partida,
porque sei que vou ficar mal em não ter vocês próximos de mim.
que sempre pedi a Deus. Pra mim é difícil, nenhum homem causou
tanta confusão em minha cabeça, a não ser você. Acredite quando
eu falo que essa decisão não é fácil pra mim, mas eu vou voltar. Eu
preciso...
jeito, nem que você traga seus pais com você — falei, sério, e abri
um sorriso. — Obrigado... por me falar toda a verdade, a partir de
Eu não queria que ela fosse embora, ainda mais quando meus
que fazer. Ela não abandonaria sua família, e no seu lugar faria o
mesmo...
“Na vida, não temos resposta para tudo, e é isso que a torna tão
interessante...”
EMILY
Ao chegar em minha casa, pensei bastante nas suas palavras. Ele foi
sincero, e verdadeiramente o perdoei. Ele travava suas próprias batalhas, e não
podia culpá-lo, só que não ia aceitar que ele as descontasse em mim, mas vi o
Um dia vai perceber que os olhares que trocamos eram mais que simples
olhares, que a paixão que flamejava dentro de nós era intensa, vívida e real;
Um dia vai perceber que nossos corpos eram como chamas vivas, que
quando em contato cintilava o ambiente de um modo surreal;
Um dia terá saudade dos momentos que nos abraçávamos, como dois
seres interligados que se conheciam há bastante tempo;
um para o outro;
Um dia terá saudade daquela velha cadeira onde sentava em seu colo e
dizia que eu era a mulher da sua vida;
***
procura de algo.
Fiz o que ela pediu, e em seguida me sentei. Não sabia bem por onde
começar.
— Eu li a última carta.
Não tinha uma opinião formada sobre tudo, mas precisava questionar
Maggie sobre algo.
— Na sua opinião, após essa carta, não há mais nada. Estou certa?
vinha pela frente, só que nunca pensei que fosse tão intenso. Passei a observar
a vida com outros olhos, e sei que você também.
Tornei-me uma mulher renovada após tudo o que aprendi, e por mais que
erre constantemente, sabia que tinha margem para melhorar, ainda assim,
Confesso que também me senti frustrada, mas levo comigo tudo que aprendi.
Isso vai te fazer sentir melhor.
***
minha casa.
repensei o que havia sido escrito na carta. Era bastante curiosa, e ficar sem
respostas sobre algo me desestabiliza de certa forma. Ainda assim, não pensei
em nada que me ajudasse.
Na verdade, não era bem alguém que eu conhecia, e sim o senhor que
colocava as cartas na mesa, para que eu, e mais pessoas as pegasse.
Acho que cheguei de forma abrupta, pois o assustei, uma vez que ele me
olhava com bastante curiosidade.
— Pois não?
— É... eu sou a Emily. Acho que é o senhor que colocou uma das cartas
que estou seguindo no festival.
Eu sabia que era ele, mas já que cheguei de forma abrupta, não quis
assustá-lo mais.
— Provavelmente, sim. Sou o responsável por levá-las aos locais
designados. Aconteceu algum problema?
Tentar não custa nada, e por mais que duvide que eu tivesse uma
resposta satisfatória, precisava esgotar todas as possibilidades, enquanto ainda
estava em Liverpool.
— Mas... você sabe sobre ela? Tem alguma pista ou algo do tipo?
***
Quando saí do parque resolvi ocupar minha mente com outros assuntos, e
como estava perto do hospital, resolvi fazer uma visitinha para a minha amiga.
Até pra mim era complicado falar isso, porque o que sentimos um pelo
— Mas ele parecia gostar de você, Emily. Você não gosta dele?
— Eu gosto. Muito — toquei o nariz da menina, e ela sorriu —, tenho
certeza de que ele vai te visitar em breve.
— Ahh, eu queria que casassem, sabia?! Até conversei com a minha mãe
— falou, triste.
— Por quê?
— Minha filha vai ter alta do hospital mês que vem — Jane falou,
orgulhosa. — Em breve, ela terá uma vida normal.
Na vida, nos preocupamos com tanta coisa à toa que não damos o devido
valor ao que realmente importa: viver. Ela ainda era pequena para saber que
podia ter algumas dificuldades pelo que aconteceu no seu corpo, mas o simples
fato de voltar a sua vida normal já era motivo de felicidade.
Aprendi muito com a tradição. Podia estar com raiva de não obter
respostas, mas uma das maiores vitórias que tive era observar a felicidade no
rosto das pessoas que conheci. Todas elas possuíam uma história de vida
incrível, e eram felizes.
Precisava aprender com esses gestos, e assim, me tornar uma melhor
versão de mim mesma...
“O momento da verdade se aproxima...”
EMILY
Eu, de certa forma, estava obcecada por não entender o fim da última
carta.
Oliver...
saudades de estar junto dele. Oliver, sem querer, fez com que eu mudasse
algumas atitudes, e agora, sentia falta dele.
minhas pretensões. Vinha pensando em uma ideia há vários dias, mas era muito
arriscado.
cansada.
— Preciso voltar para a casa dos meus pais. Eles vão dar uma pequena
— Tudo bem. E, relaxa, no tempo certo a verdade sobre essa carta vem à
tona.
— O quê?
— Falei com o William. Disse que não adianta insistir, ter viajado pra cá.
Abri um pequeno sorriso. Não foi culpa da minha amiga, e sei disso.
Não quero que ele fique mendigando atenção. Ele merece mais...
***
— Jessy!
— Não! Você me ajudou bastante e não recebeu quase nada, porque você
mesma pediu. Então, agora, será do meu jeito.
Sorri. Era inútil discutir com ela, e somente acenei positivamente com a
cabeça.
Era muito competitiva em tudo o que fazia, e ficar tantos dias em um local
e não obter respostas estava mexendo com a minha cabeça, e não de uma
— Cadeira ocupada?
— E, conseguiu?
— Sim. Estou mais presente com a Emma e com Jessy. Sei que elas
precisam de mim, e que o Oliver antigo faz falta.
— Não pense assim. Não existe isso de Oliver novo e Oliver antigo. Você
é a mesma pessoa de sempre, mas teve seus momentos ruins, como todos nós.
— Sei que está com problemas. Vejo em seus olhos. Não precisa me
Ele me pediu para que eu contasse um pouco mais sobre essa alcunha, e
expliquei que tal carta nunca fora descoberta, e citei também o que havia sido
escrito na última que peguei.
— Não. Eu conheço quem a trouxe para cá, mas ele não pode dar
informações. Estou de mãos atadas, e até pensei em algo, mas não quero ser
presa.
— No que pensou?
Respirei fundo, e observei Jessy vindo até nós. Depois que colocou o meu
prato na mesa, ela saiu, mas vi um sorriso radiante ao ver que seu irmão estava
aqui.
Apesar de ter tido essa ideia mirabolante, eu tinha medo. Não era boa em
burlar coisas, e me sentia mal.
— Se quiser, eu te ajudo. Quero compensar as burrices que fiz com você,
e assim podemos passar mais tempo juntos.
divertindo.
Havia momentos que ficava sem fala e reação quando ele soltava
determinadas frases. Sabia que Oliver gostava de mim, do seu jeito, meu desejo
era que ele se abrisse mais, e ao que parece, ele estava conseguindo.
***
Geralmente ele não fazia isso, e ia direto daqui até o prédio comercial da
sua empresa.
— Sim, mas...
— Relaxa. Se mudar de ideia, não faremos nada, mas vou te ajudar a
resolver esse quebra-cabeças... se quiser, óbvio.
A adrenalina em meu corpo estava a mil, e isso porque eu não havia feito
nada errado. Ainda.
— É essa! — indiquei.
Tirei algumas fotos do endereço delas. Não abriria, e não podia fazer isso,
mas pelo menos saber o endereço do remetente estava ao meu alcance, e por
isso fotografei.
Acho que levei dois minutos no máximo, e Oliver estava à espreita,
analisando ao redor. Como ele estava em minha frente, presumi que ninguém
que estivesse no parque havia me visto.
Meu coração estava acelerado, e não por ter feito isso, mas por
provavelmente ter a resposta que procurava.
Fiquei olhando para o nada, raciocinando se iria até o fim. Mas, essa
resposta era inevitável. Eu cheguei até aqui, e precisava finalizar o que comecei.
— Vou te explicar por que não foi preciso abrir nenhuma correspondência
— fixei meus olhos nos dele —, o senhor que mora nessa casa me falou que
entrega as cartas para cinco pessoas que participam do festival, e eu sou uma
delas.
— Certo. — Assentiu.
— Uma delas é de quem enviou as cartas pra ele! — Foi mais rápido.
— Sim. E, eu tirei fotos do endereço no cartão postal.
EMILY
perseguiu a sua carta, então as descartei. A terceira mulher, falou que ainda não
havia sido contatada, principalmente porque ainda faltavam três para que o ciclo
se completasse, ou seja, eu tinha dois endereços, e um deles seria a resposta
— Nada?
aproximar.
Esperei por alguns minutos, e nesse tempo de espera toquei mais três
Como na outra residência, a demora foi grande, mas dessa vez, quando
estava quase indo embora, uma mulher nos atendeu.
— Pois não?
— Eu... vim para conversar sobre o festival. Acho que estou perseguindo
uma das cartas que escreveu.
Ela ia fechando a porta, mas o homem que estava dentro não deixou, e
balançou a cabeça negativamente para ela.
de nós dois?
— Nós iremos responder o que deseja, mas preciso saber, como achou
nosso endereço?
Pensei que tomaria um belo sermão, ou algo do tipo, mas o homem abriu
um pequeno sorriso.
Ambos não falaram nada por um tempo, mas vi quando o rosto deles
mudou bruscamente, agora, havia tristeza estampada em seus olhos.
— Muito pelo contrário. Você fez o que estava escrito na última carta.
Quebrou paradigmas e seguiu o seu coração. Em nossa vida, não podemos nos
conter com respostas vazias, muito menos desistir no meio do caminho por
causa de uma adversidade, e foi o que fez. Você veio atrás de uma solução, e a
terá!
— Pode ir, eu espero aqui — disse, e fiquei na dúvida pela sua resposta.
— Vá, Emily. Esse é o seu momento de entender o que procura —
complementou.
Abri a pequena caixa com cuidado, e vi uma carta na mesma, bem como
um colar e uma foto virada para baixo. Resolvi ler a carta primeiro...
O templo da paz foi o local onde alinhei meus pensamentos. Fui uma
mulher perdida na minha adolescência, e isso me impactou profundamente.
Vivia com raiva a todo o momento, e mascarava isso para as pessoas próximas
a mim. Mas, após uma simples curiosidade, conheci um mundo novo, e Urman,
meu guia espiritual me ajudou a trilhar novos caminhos. Na época, eu não sabia,
mas precisaria tomar uma grande decisão...
Por fim, precisamos falar de Martha e Joel. Para mim, ambos são uma
lição de vida, e por mais que não os tenha conhecido pessoalmente, sei do
grande amor que um nutre pelo outro. Eles se casaram devido à tradição, e
como eu, são fiéis a ela. Ver o amor nascendo de uma forma tão diferente me
deu esperanças para seguir em frente, e assim, formar uma família...
Lutei para ficar viva durante muito tempo, lutei contra mim mesma, contra
as dores, contra as saudades, contra tudo que pode imaginar, mas chega um
momento que não aguentamos, e meu desejo era só descansar, e assim, o
câncer venceu mais uma batalha...
Eu fugi por causa dele. Essa foi uma das decisões que mais me
arrependo em toda a minha vida, só que não queria que a minha família me
visse definhando, e parti. Para nunca mais voltar...
Por fim, quero te desejar boa sorte em sua caminhada. Aprenda com os
seus erros, torne a carta impossível um pouco mais conhecida em Liverpool, e
sempre siga o seu coração. Vou repetir: siga o seu coração!
OLIVER
Ela chorava como uma criança pequena, e parecia estar segurando algo
em mãos. Volta e meia ela analisava um papel, e novamente caía no choro.
Estava ficando preocupado, mas não fui até ela, somente a deixei
coisas na pequena caixa que estava no gramado, e a pegou, vindo até nós.
O olhar dela mudou completamente ao chegar perto de mim, e novamente
a vi chorando.
estava lá dentro. Era uma carta, e julguei ser a resposta para o que ela tanto
procurava.
Novamente, ela me entregou o que pedi, mas quando pousei meus olhos
na mesma, meu coração parou durante um segundo.
Na fotografia em questão Emma ainda era um bebê, e acho que esse foi
um dos momentos mais felizes da minha vida, até ela partir...
— Você a conhecia?
Ao que parece, ela não revelou a verdade sobre o seu passado, e agora
entendia o motivo.
— Iríamos nos casar, e... temos uma filha, ela se chama Emma.
— Nós... sentimos muito. Isabella nunca nos disse sobre vocês — Eva
falou.
— Onde ela foi enterrada? — perguntei, não olhando diretamente para
eles.
Seus olhos estavam tristes, ela havia chorado bastante. Em seguida, ela
me abraçou, e retribuí o seu abraço.
Ela sabia que por anos me tornei um homem amargo por causa de
Por mais que ainda não estivesse acreditando, a minha ficha ia cair.
— Ela... desejava que fosse assim, esse foi o maior anseio enquanto ela
esteve viva.
***
Odiei Isabella por longos anos, e até tive medo de que ela levasse a
nossa filha, mas a realidade era totalmente diferente.
Eu poderia estar bravo por ela ser tão egoísta, mas de certa forma a
entendia. Tínhamos alguns pensamentos parecidos, e no seu lugar,
Aprendi com Emily que não devemos julgar sem nos colocar na pele das
pessoas, e Isabella tomou a sua própria decisão.
— Câncer no estômago. Ela lutou muito, e... o médico disse que ela viveu
um tempo maior que o normal.
Agora, eu tinha um local para visitar, e Emma ia saber que a sua mãe foi
uma inspiração para muitas outras pessoas por causa do festival, e ia lutar para
que ela fosse reconhecida por sua força...
EMILY
abandonou por outro homem, então sabia o quanto sua mente devia
estar confusa.
com ele até a casa de seus pais, e junto comigo, disse a eles e sua
irmã toda a história que descobrimos.
Nem preciso dizer como eles ficaram, mas Jessy parecia ter
sentido mais, e chorou por um bom tempo. Ao que parece, as duas
eram muito amigas no passado, mas ela própria evitava falar isso
tempo, mas sei que isso vai ajudar o meu irmão. Ele só precisa de
tempo.
o resultado final era a traição. Saber que Isabella não fez isso
significa muito para a sua caminhada. Acho que ainda não tem
dimensão do quanto o ajudou, nos ajudou — disse, segurando
entender o que te direi, mas só daqui uns dias que a ficha vai cair
aproximei.
Não imaginei que ele fosse segurar minhas duas mãos, mas
estou te agradecendo.
— Sei que vai embora, mas preciso que saiba de algo que
guardei em meu coração. — Oliver tocou o meu rosto com uma das
assim, sempre tive medo de ser uma mulher fria, sem sentimentos,
só que você me ensinou que às vezes, o coração fala mais alto que
a razão. Você me ensinou a amar, e sei que nunca amei antes, pois
nenhum desses sentimentos podem ser comparados ao que sinto
O amor é complexo.
forças!
EMILY
explicaram que fiz exatamente o que estava escrito na última carta: quebre
paradigmas, a resposta que você procura está em seu coração...
Depois que o festival teve o seu fim, me preparei para voltar para o meu
país.
conhecer em Liverpool, levei quase um dia para isso. Meu voo partiria amanhã,
— Ela vai voltar, filha. — Oliver foi mais rápido, vindo até nós. — Se for
preciso, eu busco ela.
Aprendi muito com essa cidade, e sabia que não era um adeus.
Não era uma pessoa que viajava com frequência, mas entendia a dor ao
deixarmos as pessoas.
— Emma! Vem cá falar tchau pra Emily. Ela vai embora amanhã!
Ela estava triste, e parecia chorosa. Não pensei que uma criança se
apegaria a mim, só que o problema era que me afeiçoei a ela também.
Essa, com certeza, seria a parte mais difícil do meu dia. Não queria deixá-
lo, mas precisava, ao menos por um tempo...
Sorri.
Fui sincera. Por mais que o meu desejo fosse ficar com ele, era
— Medo que não retorne. Cometi inúmeros erros com você, e acho que se
fizesse diferente, ficaríamos juntos agora.
Eu vou sentir tanta falta do seu toque, do seu beijo, do seu carinho...
***
— Me desculpe por não ter passado tanto tempo com você, amiga.
— Eu sabia que não ficaríamos grudadas, e isso foi bom, aprendi muito
aqui na cidade.
Quando vim pra cá não pensei que sentiria esse misto de emoções.
***
Levava comigo inúmeras lembranças, e sabia que nada foi em vão, muito
pelo contrário, uma vez que voltava renovada, pronta para novos desafios.
minha vida pessoal, e com eles lado a lado. O que revelava a minha mãe, dizia
ao meu pai. Quanto a isso não era de guardar segredos.
Provavelmente falei por horas como foi a minha estadia. É claro que fiz
algumas pausas nesse processo, e até ajudei a minha mãe em alguns afazeres,
mas tagarelamos bastante, e até meu pai se mostrou surpreso quando
mencionei a tradição.
— Nem eu, pai. July me falou quando cheguei, mas esse foi um dos meus
pontos altos em Liverpool. Melhorei o meu modo de enxergar a vida quando
percebi que nossos problemas são insignificantes se comparados às outras
pessoas. Que precisamos dar valor ao que temos, e que há muito mais pessoas
necessitadas de carinho e amor do que podemos imaginar.
Segurei por um tempinho, mas contei a eles sobre o Oliver, bem como a
sua família. Para mim era difícil falar especificamente sobre ele, principalmente
porque o meu coração ficava apertado, e a saudade me consumia.
Acho que durante uma hora só toquei no seu nome, e minha mãe soube
no exato momento que havia me apaixonado.
— Nos conhecemos por acaso, e não foi a distância que nos impediu de
ficarmos juntos, e você sabe. Na época, fazíamos faculdade a mais de 200 km
de distância um do outro e, mesmo assim, sua mãe e eu demos um jeito —
dessa vez foi o meu pai que falou.
— E, tem razão, mas só você sabe o que está sentindo. E, é bom seguir o
seu coração. Mas saiba que eu e seu pai vamos sofrer bastante no começo se
for, porque um pedaço de nós vai embora.
— Algo diferente?
Não duvido nada que eles se sairiam bem, e se isso não acontecesse,
seria fácil retornar para os EUA.
— Sim. Mãe, pai... — segurei a mão dos dois, os observando —, por mais
que eu ame Oliver, não deixaria vocês para trás. Vocês me deram tudo, e sou
grata pela mulher que me transformei. Então, meu objetivo é ter a minha família
por perto, mas não quero que façam isso por mim, e sim por vocês. Desejo que
se permitam conhecer Liverpool como ela é, e um dia, quem sabe, poderão
amar a cidade, como amam Denver...
“Algumas surpresas podem ser mais impactante do que
imaginamos”
EMILY
1 MÊS DEPOIS
Hoje, fui visitar a minha amiga, Ashley, e ver Antonella, sua filha.
maneira certa.
estivesse a mais de 2000 km, pensava nele diariamente, até porque o próprio
quando estava em meu quarto que ficava mais abalada com essa distância.
ponderou, e sorri.
sorrindo por um bom tempo, mas agora, o via mais calmo e tranquilo, e bem
mais amoroso. Acho que foi isso que me deixou mais encantada.
— Você é minha melhor amiga, e será difícil viver sem você. — Fez
charme, e a abracei novamente.
seguir o seu coração. Em alguns momentos é bom deixar a razão agir, mas se
eu, Ashley, tivesse feito isso, não teria essa linda criança comigo, muito menos
Romeo. Então... seguir seus instintos às vezes é a melhor solução.
Desde que voltei me tornei uma mulher muito pensativa sobre a vida, e
isso estava me transformando aos poucos. Agora, tentava enxergar a beleza
nas mais variadas situações.
— É claro.
— E que cuide da Antonella.
— Sim, é uma pena que gosta. — Lançou uma piscadela, e seu homem
— Não tenho culpa se amo o Romeo. Pensei que não poderia amá-lo com
mais intensidade, mas sou uma idiota.
Novamente, pensei sobre as suas palavras, e fechei meus olhos. Era tão
bom quando sentimos o vento tocar o nosso rosto. O pensamento se tornava
***
— Meu amigo?!
Fui correndo até a sala, e quase caí pra trás quando observei Oliver e
meu pai conversando, enquanto assistiam a um jogo de futebol na televisão.
Ele se levantou, e ficou parado perto do sofá com as mãos nos bolsos, me
olhando.
— Bom, eu vim te ver, mas, neste momento, estou convencendo seu pai
que os estádios na Inglaterra são mais bonitos, e que uma viagem faria bem pra
ele.
Fiquei olhando para os três, sem entender nada do que se passava, e ele
se aproximou.
— Eu queria te fazer uma visita surpresa, e pedi ajuda pra July. Ela me
deu o seu endereço, e cheguei aqui há algumas horas. Mas sua mãe disse que
estava com a sua amiga, e não quis atrapalhar.
— Mas eu o forcei a ficar! — minha mãe disse, sorrindo.
Não sei o que me deu, mas em seguida dei um abraço apertado nele,
literalmente pulando em seu colo.
— Gostou da surpresa?
— Estou ouvindo.
— Primeiro: não consigo ficar longe de você. Emma toca no seu nome
todos os dias, Jessy fala de você direto, meus pais perguntam como está, e isso
só me deixa mais louco. Segundo: sei que é egoísta da minha parte pedir que
more em Liverpool, então estou pensando seriamente em vir pra cá. Minha vida
sem você não tem sentido algum, e se for preciso, mudarei por você, eu te
amo...
Acho que meu gesto após ele terminar a frase foi o pior de todas as
declarações de amor, porque... comecei a rir.
— Mês que vem iremos para Liverpool. Nós três. Quero que eles
conheçam a cidade, e as pessoas, quem sabe eles não gostam e ficam por lá...
— respondi, arqueando as sobrancelhas.
— Não posso e nem quero deixá-los. Eles só têm a mim, mas os dois
sabem o quanto te amo, e querem me ver bem.
— Vou mostrar toda aquela cidade pra o seu pai. Eu te prometo que ele
vai gostar de lá! — falou, empolgado, me girando no ar. Comecei a rir, e em
seguida ficamos abraçadinhos, curtindo o momento.
OLIVER
2 MESES DEPOIS
Nesse meio tempo me dei férias, e em várias oportunidades fui com eles
principalmente na parte de investimentos, que era o seu trabalho. Acho que ele
estava mais empolgado em estar aqui por isso, e ensinei algumas coisas a ele.
Já Helen não ficou para trás. Minha outra especialidade era a culinária, e
em alguns dias ensinei para ela alguns pratos típicos ingleses, e ela se
— É impressão sua.
— Não é. Você anda muito pensativo. Agora, quero saber, ou vou ter que
adivinhar o que é? — Fez seu charme característico, e toquei seus lábios com
os meus.
— Sim, fiz algumas coisas enquanto estava nos EUA, e só agora consegui
terminar tudo.
Vi que o seu rosto se tornou preocupado, mas a intenção não era essa, e
sim o contrário.
— Há outra coisa: Tony foi adotado por uma família, e a primeira coisa que
ele disse para os novos pais é que ele seria um jogador de basquete. Fiquei feliz
em saber que fiz parte do seu processo, incentivando de alguma forma que ele
fazendo é parte de algo maior. Quero que todos refaçam os seus passos,
mesmo não participando da tradição. Melhor do que mostrar para uma pessoa
específica por ano, é revelar isso para todos, e tenho certeza de que esses
quatro locais serão conhecidos.
e acho que sabe que ela prefere receber visitas esporádicas. Ela tem muito
medo de ser descoberta.
Gostava da forma que ela demonstrava o seu amor, e isso me dava forças
para retribuir. Tenho absoluta certeza de que me tornei um homem diferente, e
queria que ela visse a minha mudança.
— Obrigada por tudo o que fez. Nunca vou me esquecer desse gesto,
agora tenho absoluta certeza de que seu coração é grande, e que sempre cabe
mais uma pessoa...
EMILY
— Quero ir no cinema!
— Ebaaaa!
Acho que estava mimando demais a filha dele, e acho que os dois terão
Jessy e Emma saíram de mãos dadas, e em seguida ele veio até mim.
— Qual?
— Emma gosta mais de você do que de mim, e estou com ciúmes, então
é melhor que saia da minha casa e nunca mais volte.
Ficamos ali, nos olhando, mas o problema era que tais coisas não
duravam muito tempo, porque quando nossas bocas se conectavam, o fogo era
instantâneo.
ele também.
Adorava o fato dele me dar prazer sem que eu pedisse. Oliver sempre me
colocava como prioridade, e não se cansava até que meu corpo desfalecesse
em sua boca...
Forcei sua cabeça contra o meu sexo, e quanto mais ele me chupava,
mais eu gemia, entregue ao homem da minha vida. Tive um orgasmo em pouco
tempo, mas precisava de mais, queria seu pau dentro de mim.
Enquanto me fodia, seus olhos estavam fixos nos meus, e ele dispunha
beijos na minha boca, pescoço, bochechas e na testa.
***
Ainda deitados, toquei seus cabelos, e Oliver abriu os olhos, sorrindo para
mim.
Amava quando ele fazia esse gesto. Provavelmente o sorriso dele era um
dos mais bonitos que já vi em toda a minha vida, e sim, estava perdidamente
apaixonada.
— O que quiser.
— Quero que a nossa história seja eternizada pela tradição, e pra isso,
colocaremos em palavras o que vivemos, e faremos parte da vida de uma
pessoa. Você aceita participar desse desafio comigo?
Oliver não esboçou reação alguma, e por alguns segundos pensei que ele
não aceitaria o meu convite, mas depois ele aninhou o seu corpo contra o meu,
beijando a minha testa, e passando o polegar sobre os meus lábios.
— Com toda a certeza. Minha maior alegria será mostrar as pessoas que
estamos juntos, e que ficaremos assim pra sempre...
“A vida é um ciclo, e quando o nosso está terminando, o de alguém
acaba de começar...”
EMILY
2 ANOS DEPOIS
— Um pouco.
Minha família se mudou para Liverpool, e meu pai e minha mãe moravam
perto da nossa casa, que compramos ao nos casar. Nem preciso dizer que eles
amaram a cidade, os dois.
Já a minha mãe...
outras coisas. Jessy deu essa liberdade, e por isso tivemos que ampliar a
cafeteria, já que as quitandas da minha mãe fizeram bastante sucesso.
Depois de quase uma hora, voltamos para nossa casa, e nem conseguia
expressar o quanto estava feliz por fazer parte da tradição.
Isso se tornou o meu sonho, e agora Oliver compartilha dele.
disse essa palavra. Chorei bastante, e ela não entendia que estava chorando de
felicidade.
— Sério?
— Uhum. Sua irmãzinha é agitada, que nem você. — Dei um beijo em seu
rosto, e ela saiu correndo alegre.
***
minha cama. Oliver se tornou mais carinhoso ainda quando descobriu que seria
pai novamente, e eu tinha o grave defeito de amar ser mimada, acho que sabem
onde isso vai dar...
Minha adaptação foi fácil, e estar cercada pelos meus pais ajudou
bastante. Eles levaram alguns meses para se estabelecerem completamente na
cidade, mas ao desfrutar de todas as maravilhas daqui não pensaram duas
vezes e permaneceram.
Emma me fez companhia, e Oliver viu alguns jogos com meu pai.
Estávamos fazendo um pequeno churrasco para comemorar a compra de mais
uma cafeteria.
Sempre quis ter dois filhos, e agora os tinha. Não sei se vou engravidar
novamente, mas nunca era uma palavra forte.
— Não sei. Quem sabe mais pra frente... — Pisquei, e ela se animou.
— Olá, sim, por favor. Não moro nesse país, estou um pouco perdida com
essas ruas.
Sorri.
— Sou do Brasil.
Vi que ela falava bem o inglês, mas mesmo não falando que era de fora
eu desconfiaria pelo seu sotaque.
Não contive a emoção ao observar em sua mão a minha carta, e ela abriu
um largo sorriso.
— Claro, obrigada.
Abri o portão da minha casa, e ela me acompanhou, feliz.
— Amanda, preciso te contar algumas coisas que vão deixar você maluca.
Mas vamos começar com a carta que persegui dois anos atrás, ela literalmente
mudou a minha vida...
FIM
GRUPO DO WHATSAPP
WATTPAD
Gabriel Almeida de Oliveira tem 28 anos de idade, nascido e criado em
Uberlândia, Minas Gerais. Leitor ávido de Romances, já leu mais de 300 livros
do gênero, e por uma simples ideia que amadureceu, resolveu começar a
publicar seus livros em plataformas gratuitas. Com o sucesso no wattpad, logo
migrou para a Amazon, onde já publicou mais de quinze romances
contemporâneos