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Box Trilogia

Soares
Aline Pádua
Copyright 2017 © Aline Pádua
1° edição – fevereiro 2017

Todo o enredo é de total domínio


da autora, sendo todos os direitos
reservados. Proibida qualquer forma de
reprodução total ou parcial da obra, sem
autorização prévia e expressa da autora.

Qualquer semelhança com a


realidade é mera coincidência.
Ilustradora: Queen Designer
Revisão: Aline Pádua
Diagramação: Aline Pádua
Sumário
Box Trilogia Soares
Sumário
O homem que não amei
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Bônus
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Bônus
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Bônus
Capítulo 28
Capítulo 29
Bônus
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Epílogo
A mulher que amei
Sinopse
Parte I
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Parte II
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Bônus
Capítulo 28
Bônus
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Bônus especial
Anexo I
A quem amei para sempre
Sinopse
Parte I
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Parte II
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Bônus
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Epílogo
Anexo II
Nota da autora
Sempre fui criativa. Amava passar horas
brincando com apenas uma pedra. Mal sabem
aqueles que olharam por fora, que aquela pedra
transformava-se em segundos, seja num
castelo, numa espada, num cavalo, até mesmo
um príncipe. Nunca tive limites a respeito de
meus sonhos, algo que, acredito eu, pode estar
fortemente relacionado a algo incerto sobre
mim mesma. Muitas vezes olho pra trás e
penso se as lembranças que tenho não são
apenas pura criação de minha mente, a qual
muitas vezes, existe apens para embaralhar meu
ser. Hoje, com a criatividade de sempre, mas
agora em forma de palavras, passo aquilo que
creio, amo e sim, é real pra mim.

A Deus, pela fé e força incumbidas a mim. E


ao dom, que nessa vida, permitiu-me
mostrar.
O homem
que não amei
Trilogia Soares – Livro
I
Sinopse
Um casamento baseado em um acordo e
um passado não revelado.
Victória Fontana passou por cima de
tudo por um único e exclusivo amor, sua filha
Luna. Chegando a ponto de conviver sob o
mesmo teto que o homem que mais repudia, o
qual a traiu inúmeras vezes e trocou míseras
palavras com ela durante os vinte anos de
casados. Porém, o tempo passa e agora sua
filha irá se casar. Essa seria finalmente a
liberdade que Victória sempre sonhou, no auge
dos seus quarenta anos, tudo o que deseja é
encontrar um verdadeiro amor e se afastar de
vez do atual marido.
Caleb Soares é um homem reservado e
completamente fechado. Ele guarda segredos
que envolvem não só seu passado, mas de toda
sua família. Sua prioridade sempre se baseou
em cuidar de sua filha, e em hipótese alguma
revelar algo a Victória. Vinte anos vivendo ao
lado da mulher que ama, não foram o suficiente
para ele se declarar... Um erro do passado fez
com que Caleb trancafiasse seu amor e
deixasse com que ela o odiasse. Quando
Victória pede o divórcio, ele finalmente se dá
conta de que seu amor por ela, não passou com
o tempo.
Será ele capaz de abrir seu coração?
Será ela capaz de acreditar em seus
sentimentos?
Caleb tem uma chance de conquistar sua
esposa, e caso não consiga, a perderá para
sempre.
Prólogo

Victória

Em um vestido branco tomara


que caia, o colar e brincos de diamantes
com o qual foi presenteada e a pulseira
a qual nunca usei mas sempre quis que
fosse dela. Ali está minha filha, meu
orgulho. Trocando votos sinceros de
amor com seu, em alguns minutos,
marido. Lucas é um garoto adorável, ou
melhor, o homem que a completa
perfeitamente. Ele remete a mim, a
definição de tudo o que eu buscava antes
de me casar com Caleb. E eu apenas
quero que minha filha seja feliz, do
modo que eu ainda não fui.
A festa do casamento está
animada e linda, e nesse momento minha
pequena dança com o pai no meio do
salão. Lágrimas vem aos meus olhos ao
ver que de fato nunca cheguei a amar
esse homem. Mesmo depois de mais de
duas décadas juntos, eu não consegui
sentir as famosas “borboletas no
estômago”. Não posso negar que Caleb
é um homem lindo, os olhos azuis e
cabelos negros são de tirar o fôlego.
Mesmo com quarenta anos, ele exala
masculinidade e virilidade por onde
passa, e a verdade é que ele sempre
chama atenção de todos ao redor.
Porém, nem sua extrema beleza, me fez
sentir de fato apaixonada.
Mal percebo e sua mão toca a
minha. Lá vamos nós. Bancar um
casamento já falido, ou melhor, que
nunca vingou. Ele rodopia comigo pelo
salão e eu evito encará-lo. O conheço
bem, sei que estava com uma das suas
amantes há alguns minutos atrás, o
cheiro de perfume feminino doce o
entrega. Pior é que não me machuca
saber disso, nem um pouco.
— Não vou pra casa hoje, não
me espere. — sua voz se faz presente e
eu lhe dou um sorriso cínico.
— Jamais esperei por você
Caleb, hoje não será uma exceção. —
respondo e ele fecha sua expressão. Se
tem uma coisa que odeia é ser
desafiado.
A noite passa e tudo é perfeito.
Fiquei um bom tempo conversando com
Lúcia, a mãe de Lucas. Eles são uma
família rica porém muito humilde e
amável. Ao contrário de várias pessoa
que conheci durante toda a minha vida, a
riqueza parece não lhes subir à cabeça.
— Então, hoje a casa está
liberada? — Lúcia insinua
maliciosamente e eu apenas assinto.
Está liberada para minhas
séries e livros, muitas besteiras
e refri...
Nossos filhos se aproximam pra
se despedir e eu decido levar Luna para
um lugar mais afastado, preciso lhe
contar sobre minha decisão. Ela sabe
bem da minha situação com o pai, e
tenho quase certeza que não ficará
magoada. Se eu aguentei todos esses
anos ao lado de um homem que não amo,
foi por ela.
— Pequena, estou muito feliz por
você! — a abraço com força.
— Obrigada por tudo mãe, sem
você nada disso aconteceria. Eu teria
desistido de Lucas no primeiro ataque
de nervos que ele me causou. —
responde em lágrimas e eu sorrio.
Mesmo não tendo muita
experiência, eu a aconselhei durante
toda a relação. E segundo os livros e
séries, paciência é o segredo. No caso
dela e de Lucas, realmente funcionou.
— Preciso te contar algo. —
digo e ela arqueia a sobrancelha direita,
igualzinha ao pai.
— É sobre o papai, não é? —
esperta até demais!
— Sim, Luna. — suspiro
cansada. — Eu tomei uma decisão e
espero que...
— Mamãe, eu quero sua
felicidade. Já abriu mão dela por muito
tempo, ficando com o papai apenas por
minha causa.
— Luna, você jamais foi um
fardo pra mim. Não me arrependo sobre
minhas escolhas, mas...
— Está na hora de buscar a sua
felicidade. Seja ao lado do papai ou
não. — complementa, como se lesse
meus pensamentos.
— Sim pequena, logo vou sair
de casa.
— O que? — meu corpo
estremece ao ouvir o grito de Caleb e
apenas continuo encarando Luna.
— Vá encontrar Lucas. Ele deve
estar te esperando para pegarem o voo.
— Luna me encara insegura, porém
pisco para ela e a abraço. — Não pode
se atrasar.
Ela então entende meu recado,
sabe que agora terei que enfrentar seu
pai sozinha. Não é do modo como
imaginei, na verdade nem contaria a
Caleb sobre minha decisão. Iria sair
sem falar nada, não queria já falar sobre
os papéis do divórcio. Mandaria o
advogado pra isso. Porém, já é tarde.
Assisto Luna passar por ele e o
abraçar com força. E essa é a única
coisa que jamais poderei falar algo
sobre Caleb, pois quando se trata de
Luna, ele sempre foi o melhor pai. O que
não é como marido, ele é como pai.
— O que você disse? — ele
pergunta assim que Luna some do nosso
campo de visão.
Sua aproximação me faz soltar
um suspiro frustrado. Não queria em
momento algum ter de discutir nossa
situação e o destino dela, mas não tenho
outro alternativa no momento.
— Você ouviu muito bem, mas
como a idade não deve estar ajudando
você, vou repetir. Vou sair de casa. —
seu maxilar endurece e ele me encara
raivoso.
— Mas não vai mesmo, pra que
isso?
— Quero o divórcio. — digo e
ele fecha os olhos com força. O que está
havendo com ele?
— Quem disse que vou te dar o
divórcio? — devolve e eu o encaro
incrédula.
— Vamos ser honestos pelo
menos uma vez Caleb, não temos mais
porque ficar juntos. Luna já está casada
e feliz, vai morar com o marido e eu não
tenho mais porque continuar sendo sua
mulher. — explico o óbvio.
— Então todo esse tempo ficou
comigo por causa de Luna? — pergunta
aparentemente surpreso.
— Sim, por que mais poderia
ser? — pergunto ironicamente.
— Pensei que me amasse. —
confessa baixo e penso até que não quis
dizer isso em voz alta. Não consigo
segurar a gargalhada e ele me encara
estupefato.
— Tenho vários sentimentos por
você Caleb, mas tenha certeza que
nenhum deles se assemelha a amor.
Nem espero sua resposta e saio
dali rapidamente. Peço ao motorista pra
que me deixe em casa e quando chego já
me jogo no sofá. Liberdade, a palavra
que ronda minha mente. Finalmente irei
buscar o homem da minha vida. E com
esse pensamento acabo dormindo ali
mesmo.

***

Acordo lentamente e percebo


que estou no colo de alguém. Forço a
visão e percebo que estou nos braços de
Caleb, essa é com certeza a maior
aproximação que já houve entre nós.
Percebo então o que está acontecendo e
pulo do seu colo, assim caminho até o
meu quarto. Isso mesmo, só meu. Jamais
dormimos juntos e agradeço aos céus
por isso.
Quando deito na cama e estou
quase pegando no sono, escuto batidas
na porta. Droga!
— O que é? — pergunto irritada.
Caleb entra no quarto e eu fico
atônita. Ele endoideceu?
— Quero dormir Caleb, fala
logo. — exclamo mais irritada ainda e
ele me encara de modo estranho. Ele
parece perdido.
— Vim te avisar que não vou lhe
dar o divórcio.
— O que? Por que? — minhas
perguntas saem em um grito e me levanto
indo em sua direção. Levanto meu rosto
para encará-lo e tudo o que tenho
vontade é gritar ainda mais. —
Enlouqueceu?
— Porque você é minha mulher,
simples assim. E até quando quiser que
seja, você continuará sendo. — afirma
como se você a coisa mais normal do
mundo.
— Querido marido, não sou sua
posse e muito menos sou de fato sua
mulher. Então tenho duas coisas pra
dizer: ou você me dá o divórcio
amigavelmente ou eu vou tê-lo e ainda
sujarei sua imagem. — ele arqueia a
sobrancelha direita e abre um sorri de
lado.
Seu charme não funciona comigo
e continuo encarando-o do mesmo modo.
— Como poderia fazer isso
Victória, eu sou um dos melhores
advogados do país. — zomba e eu abro
um sorriso malicioso.
Vou até o criado mudo e lhe
entrego uma pasta preta. Ali estão
minhas provas contra ele.
— Bom, como você se diz o
"senhor melhor advogado", deve saber
que em nosso contrato de casamento
consta que adultério de qualquer uma
das partes acarreta a parte traída o
divórcio imediato, caso queira.
Assisto-o ficar de boca aberta,
há várias fotos dele e das diferentes
amantes, todas com as datas.
— Como você fez isso? —
pergunta gritando.
— Simples, não sou burra a
ponto de não saber com quem me casei.
— Isso está apenas começando,
pode apostar, não irá me deixar. —
afirma convicto e sai do quarto.
— Ao contrário querido, isso
está pra a acabar. — grito e torço que
ele tenha ouvido.
A única coisa que me interessa
nesse momento, ainda mais, é estar
longe dele o mais rápido possível.
Capítulo 1

Victória

Acordei cedo com uma baita


enxaqueca, e pior é que nem bebi muito
na noite passada. Pego meu celular no
criado mudo, noto que ainda é cedo e
vejo também que há uma mensagem de
Luna.

“Rainha, chegamos no Havaí!


Não tem noção como o lugar é lindo!!!
Eu não poderia estar mais feliz, agora
é sua vez mamãe. Eu sempre te apoiarei
seja qual for a decisão. Amo você!”

Rio sozinha da mensagem. Como


pode ter apenas vinte anos e ser tão
esperta? Mas não me canso de ficar feliz
por ela, realmente não poderia ter
escolhido homem melhor. Resolvo
então, com o gás a mais que a mensagem
me deu começar a arrumar minhas
malas.
Quando a primeira mala já está
praticamente pronta, decido tomar um
banho. Ainda são 6:49 da manhã de
sábado, tenho um bom tempo antes de
Caleb acordar. Assim poderei sair sem
dar mais nenhuma explicação.
O jato quente de água cai sobre
meu corpo e me faz sentir viva. Pego o
shampoo e o uso como microfone, não
resisto em dar um show particular para
meu chuveiro.
“Ando por aí querendo te
encontrar
Em cada esquina, paro em cada
olhar Deixo a tristeza e trago a
esperança em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre
viva, minha dádiva
Quero poder jurar que essa
paixão jamais será
Palavras,
apenas palavras
pequenas palavras...”
(Palavras ao vento – Cássia
Eller)

Essa música marcou o melhor e


mais feliz momento de toda minha vida.
O único homem o qual me fez conhecer
verdadeiramente o que é o amor, o que é
se sentir desejada, o que é ser cuidada –
Tomás. Não há um dia que eu não sinta a
falta dele, que não pergunto aos céus
onde foi que ele se meteu.
O conheci a cinco anos atrás e
foi impossível não nos envolver. Eu me
apaixonei perdidamente e não pude
negar o que sentia. E se alguém me
perguntar se me arrependo? Não, nem
um pouco. Meu casamento nunca passou
de uma fachada e Tomás sabia disso. Na
verdade ele convivia com tudo isso.
Ele era o jardineiro da casa, um
homem simples e trabalhador. O mais
encantador e lindo pra mim. Quando o vi
pela primeira vez foi como se o mundo
parasse alguns instantes e nada me
preparou ao saber que ele sentiu o
mesmo. Quando contei a ele toda a
verdade que rodeia essa família, ele
ficou claramente chocado e ao mesmo
tempo feliz. E eu me lembro muito bem
daquele dia.
— Então ele jamais tocou em
você? — perguntou e eu tenho certeza
que fiquei rubra.
— É, sim, eu ainda sou... —
engasguei com minhas próprias
palavras.
— Virgem. — Ele afirma e eu
abaixo a cabeça com vergonha.
— Ei linda, não precisa ficar
com vergonha. Nada me faria homem
mais feliz do que ser o seu primeiro... e
único. — diz e sorri, não consigo me
conter e me jogo em seus braços.
— Nada me faria mais feliz
também. — afirmo e ele me beija.
Tudo o que queria hoje era estar
com ele, termos nossa família. Podem
pensar que eu tenha sido uma vadia ou
algo do tipo, mas uma coisa que nunca
tive do meu marido foi respeito, ele me
traiu com todas as mulheres possíveis.
Porém, eu jamais faria isso senão fosse
o amor que senti por Tomás, que até hoje
parece estar impregnado em mim.
Nunca entendi ao certo o porquê
de sua partida, na verdade ele apenas
disse que iria estudar e um dia voltaria
para mim. Cinco anos depois e aqui
estou, sem uma notícia sequer dele.
Porém, minha meta ao sair dessa casa
será descobrir onde Tomás de fato está e
se ele é mesmo o homem que sempre
sonhei.
Com os pensamentos a mil nem
percebo quando alguém entra no
banheiro. Logo vejo Caleb com apenas
sua boxer me encarando como um
predador. O tecido branco fino não
esconde o real interesse que ele tem ao
estar aqui, mas apenas sinto nojo ao
encará-lo. Não posso negar, ele é um
cara lindo, com cada músculo no devido
lugar. Porém, quantas mulheres já
tiveram ele assim? Muitas, tenho
certeza. E eu apenas fui de um único
homem que ainda espero reencontrar.
Ser de Caleb é algo fora de cogitação.
— O que quer aqui, Caleb? —
pergunto já pegando meu roupão e me
cobrindo.
— Vim cobrar o que é meu por
direito. — diz e eu gargalho. Como ele
consegue ser tão infantil?
— Cresça Caleb, você já passou
dos quarenta. — digo e passo por ele.
Com certeza está furioso.
Sinto sua presença atrás de mim
e apenas ignoro. Ele endoideceu? Só
pode. Nunca nem me beijou a não ser no
dia do casamento e agora quer transar
comigo? Me poupe.
— Saia do meu quarto, Caleb!
— exclamo.
Ele me pega pelos ombros e joga
na cama. Seguro o roupão com força em
volta do corpo. Tudo que quero agora é
chorar.
— Pare Caleb, por favor! —
peço com lágrimas nos olhos e ele roça
o nariz no meu pescoço.
— Por que? Han? Não quer que
eu seja seu primeiro? Diga a verdade
pra mim Victória, sempre esperou por
esse momento. — diz convencido e eu
simplesmente gargalho.
— Não entendi qual foi a piada?
— franze o cenho ao me encarar.
— Você! — respondo e ele
parece ainda mais confuso.
— Eu não sou mais virgem
querido, me poupe. — confesso e pouco
me importo com sua reação. Dane-se
também.
Ele levanta da cama furioso e
começa a passar as mãos nos cabelos
negros com força. Deve estar tentando
saber quando aconteceu.
— A maldita da sua mãe me
disse que você era virgem antes de nos
casarmos! Por que diabos ela mentiu?
— pergunta furioso.
— Ela não mentiu. — sua boca
cai e seus olhos abrem espantosos.
— Você me traiu? — pergunta
cauteloso e baixo. Acho que não está
acreditando.
— Sim. — digo simplesmente.
— E ainda tem a cara de pau de
me julgar? Não passa de uma...
— Alto lá babaca, eu te traí sim,
mas olhe só esse casamento. — indico
nós dois. — Sempre fomos uma fachada.
Mas não sou como você que vai pra
cama com qualquer uma. Eu apenas fui
de um único homem, o qual amei
intensamente. — seu semblante se torna
indecifrável. Sinto um pouco de medo
pelo olhar duro que ele me dá.
— Você não me conhece
Victória, não sabe nada de mim. — olha
para o chão. — Quem é esse bastardo?
— pergunta ao me encarar.
— Não o chame assim, ele tem
nome. O único bastardo aqui é você. —
retruco com raiva.
— Quem é ele? — grita e me
segura pelos pulsos.
— Tomás. — ele então me solta
e parece ter levado um tapa na cara. O
olhar duro desaparece e o que vejo em
seus olhos azuis é indescritível.
Eu nunca o vi de tal forma.
— O jardineiro? — pergunta
baixo.
— Sim. — confirmo.
— Você me trocou por um zé
ninguém?
— Primeiro que você nunca foi
meu pra eu poder te trocar e segundo,
ele não é um zé ninguém. — lágrimas
descem ao me lembrar de Tomás. — Eu
ainda o amo.
— Você com certeza não sabe do
que está falando. — leva as mãos à
cabeça e balança a cabeça
negativamente. — Onde está seu amor
então? Ele te amava tanto que
simplesmente te deixou?
Dói ouvi-lo me atacar dessa
forma, não por ser ele quem diz, mas
porque nunca ninguém me perguntou a
respeito de Tomás, além de que ninguém
sabe a respeito do que vivemos. Doí não
saber o que o afastou de mim.
— Mesmo assim, eu continuo
sendo apenas dele. — digo e Caleb
apenas sai do quarto.
Corro para o closet e coloco a
primeira roupa que encontro. Pego a
mala já pronta e decido levar apenas
essa por enquanto. Meus documentos e
dinheiro estão na bolsa. Então ok! Estou
pronta.
Quando estou descendo as
escadas sinto uma mão me puxar. Droga!
— Quer mesmo me deixar? Quer
mesmo o divórcio?
— É tudo o que sempre quis. —
afirmo e sinto que ele estremece um
pouco.
— Ótimo, eu lhe darei. — solto
o ar aliviada. — Mas tenha certeza que
Luna saberá a verdade.
— Você não ousaria! — grito e
ele sorri abertamente.
— Ah, pode ter a certeza de que
sim. — diz calmo e frio.
— O que diabos quer de mim
Caleb? Por que insiste tanto para que eu
fique? — pergunto já angustiada.
— Não interessa, só saiba que se
sair por aquela porta Luna saberá da
verdade.
— Seu covarde! — grito e parto
pra cima dele dando socos que parecem
nem incomodar.
— Chega Victória! — imobiliza
meus braços. — Você decide. — diz e
sobe as escadas.
Como ele pode fazer isso agora?
Por que não me deixa ir em paz? Não
posso deixar Luna saber sobre isso, ela
irá me odiar. Sempre disse a ela que
omitir e mentir algo não deve ser feito.
Como ela reagiria a saber que menti a
vida toda pra ela?
Sem nenhuma resposta, choro
sozinha sentada em um degrau das
escadas. Eu só quero me livrar desse
casamento e a única coisa que Caleb
consegue fazer é me deixar com mais
ódio dele. Limpo as lágrimas com raiva
e penso comigo: “É guerra que ele quer,
então é guerra que ele vai ter!”
Capítulo 2

Victória

“Como pôde mam... ou devo


dizer Victória?
Você mentiu pra mim a vida
toda?
Como pode mentir assim?
Eu odeio você, odeio!”

Acordo sobressaltada e percebo


que foi apenas mais um pesadelo.
Droga! Pareceu tão real. É como se
Luna realmente estivesse aqui me
dizendo essas coisas.
Tento me levantar porém minhas
costas doem. Olho ao meu redor e me
assusto ao notar onde estou. Eu
adormeci na escada? Olho ao lado e
minha mala continua ali, nenhum sinal de
Caleb ou de alguém. Ótimo, agora sim
não sei o que fazer.
Não quero continuar nessa casa
nem mais um segundo, porém não tenho
escolha. Se tivesse lhe entregado a carta
que escrevi quando ela nasceu, talvez
ela não me odiasse agora. Mas não
passo de uma covarde.
Levanto do degrau e caminho
novamente para o meu quarto. Deixo a
mala encostada na porta e vou em
direção ao que até então era o quarto da
minha princesa. O ar de adolescente
ainda permanece ali, com um papel de
parede cinza e lilás. Mas me lembro
bem como era lindo e clean antes, em
tom rosa bebê, o qual havia escolhido.
Fiz de tudo o que pude para criá-la
como a princesa que é. Como se ela
tivesse saído do meu ventre, o que
infelizmente não ocorreu.
Um forte barulho vindo do
quarto ao lado me assusta - quarto de
Caleb. Bato várias vezes na porta,
porém em vão, não consigo resposta
alguma. Resolvo então entrar pela
primeira vez naquele cômodo.
Assim as paredes em um tom
azul grosseiro mostram que é um homem
que dorme aqui, sem o mínimo toque
feminino, já que ele nunca me permitiu
entrar em seu quarto. Como ele mesmo
diz "é um local proibido pra mim". O
por que? De fato nunca soube.
Ouço um som de vômito vindo
do banheiro e me encaminho até lá.
Observando tudo ao me redor, viro-me
em direção a parede em frente a cama e
quase caio dura no chão. Fico estática.
Ali na parede, há várias fotos minhas e
de Luna, emolduradas em um tamanho
gigante. A parede é coberta por elas.
Que Luna estivesse ali eu entendo, mas
por que eu?
Resolvo deixar minha dúvida
sobre isso pra depois, pois novamente
ouço um barulho alto vir do banheiro.
Abro a porta e fico estática com a cena
que encontro. Caleb está jogado no chão
feito uma criança indefesa e quase
engasga com o próprio vômito. Não
posso mentir que sinto um nojo absurdo
da cena, porém mesmo assim o ajudo.
Levanto-o do chão e começo a
tirar suas roupas sujas. Abro o box e
coloco o chuveiro no modo mais gelado,
deixando com que a ducha fria caia
sobre ele. Acabo me molhando junto,
pois ele sequer consegue ficar sozinho
em pé. Deve ter bebido umas três
garrafas de uísque ou misturado alguma
bebida. Já o vi beber muito antes e não
ficar nesse estado, com certeza passou
da conta. Termino de lhe dar banho e o
enrolo em uma toalha, ele protesta um
pouco, mas por fim acaba aceitando que
o enrole no roupão.
Já dentro do quarto o deixo
deitado na cama e tento achar uma cueca
limpa no closet. Abro várias gavetas e
nada. Puxo uma com força, porém essa
parece emperrada, forço mais um pouco
e ela se abre com força, caindo no chão.
Vários papéis caem e eu os analiso meio
receosa, me sentindo um pouco culpada
por estar bisbilhotando. Junto todos os
envelopes lacrados e arrisco ler a quem
são endereçados. Minha surpresa não
poderia ser maior, pois todos os
envelopes estão endereçados a mim.
Analiso mais um pouco e finalmente
constato que são cartas. Por que Caleb
escreveu cartas pra mim? Espera aí, ele
escreve cartas?
Sem saber o que pensar sobre
essa descoberta, coloco as cartas de
volta no lugar, porém aproveito pra
levar a de data mais antiga comigo.
Talvez ele não dê falta em apenas uma
depois, e poderei matar minha
curiosidade. Nesse momento sei que ele
não dará falta de nada, no estado de
quase óbito em que se encontra.
Vasculho mais algumas gavetas e
finalmente encontro as cuecas, pego uma
branca que está por cima e vou em
direção a ele. O encontro dormindo
serenamente como se não tivesse
colocado as tripas pra fora cinco
minutos atrás. Resolvo ficar por alguns
instantes ali velando o seu sono, com
medo dele acordar e acabar passando
mal novamente e correr o risco de
engasgar com o vômito de alguma forma.
Deito ao seu lado na cama, e acabo
adormecendo sem perceber.

***

Acordo com um telefone que


toca insistentemente. Percebo que não é
o meu, pois nem de longe meu toque é
Highway to Hell. Acho que meu toque
de hoje é Just the way you are, cafona,
porém lindo. Olho para o lado e Caleb
dorme feito pedra. O telefone continua
tocando e eu não resisto em atender.
— Alô.
— Caleb? Espera aí, quem é
você sua vaca? Por que está com o
celular do meu homem?
Mais uma de suas amantes sem
noção. Bufo sozinha, enquanto ela
continua dizendo um monte de
atrocidades pelo telefone. Ah, ela me
tirou de um sono gostoso, agora vai
ouvir umas boas mentiras.
— Em primeiro lugar, cale a
boca que você não está falando com
alguém do seu nível. Segundo, eu sou
Victória Soares, a mulher do babaca
para o qual você ligou atrás de uma
foda... Por que é isso que ele dá a você,
não é? E em terceiro lugar, pode tirar
essa ideia da cabeça, pois ele está
exausto aqui do meu lado de tanto que
fizemos amor. Isso mesmo queridinha,
nós fizemos amor. Beijos e vá a merda!
— grito a última frase e desligo o
telefone.
Quem essa aí acha que eu sou?
Ouço uma gargalhada ao meu
lado e encontro o babaca do meu marido
rindo. Mas é agora que vou matá-lo.
— Do que está rindo, idiota? —
pergunto e ele muda o semblante na
hora.
— Não me chame assim. —
praticamente rosna.
— Chamo do jeito que eu quiser.
— retruco com ainda mais raiva. — E,
aqui está seu celular. A foda de hoje
deve estar muito mais puta que o normal
com você, pelas mentiras que falei pra
ela.
— Mentiras que poderiam ser
verdade, não acha? — pergunta e eu fico
ainda mais nervosa. Busco ironia em
seus olhos ou até mesmo deboche.
Ele não está falando sério, não
é?
— Não acho nada, quero mesmo
é que você não cometa suicídio nesse
quarto quando não estiver aqui. E, de
nada! — digo e me levanto da cama,
com a intenção de sair dali. Dou de cara
novamente com a parede repleta de fotos
e paraliso no meio do caminho.
— Pode perguntar. — sinto seu
corpo próximo ao meu.
O que aconteceu com Caleb
hoje? Ele nunca ficou tão próximo a
mim, e de repente parece querer estar
por perto a cada segundo.
— Melhor não.
— Por que? — sinto sua
respiração no meu pescoço e seus
braços me envolverem.
— Pra quê mais mentiras,
Caleb? Já tenho o suficiente. Agora sou
uma refém nessa casa. — tiro seus
braços de mim e me viro para encará-lo.
— O que quer de mim? — seus olhos
desviam dos meus e ele apenas encara o
chão.
— Não vou deixar você ir! —
diz ainda sem me encarar, porém seu
tom é sério e decidido. Ele
enlouqueceu, tenho certeza.
— Por que diabos você sempre
repete isso? Pensei que daria aleluia
para quando eu fosse embora. Pra você
sempre fui interesseira e fútil, não é? —
pergunto já transtornada com toda essa
situação.
— Não interessa, já disse que
não irá. — me encara ainda mais
determinado.
— Ok. — ele me olha
desconfiado e aproveito para sair do
quarto, porém paro na porta. — Mas
então, terei que descobrir por mim
mesma. — digo e lhe mostro a carta que
guardei no bolso.
Ele me encara assustado e sei
que virá até mim, aproveito e saio
correndo pro meu quarto. Tranco a porta
e abro a carta. Ouço seus gritos e socos
na porta, porém ignoro. Começo a ler e
não consigo acreditar.
Não pode ser verdade!
Capítulo 3

Caleb

Começo a bater com mais força


na porta do seu quarto, porém não
obtenho nenhuma resposta. Não sei
denominar o tamanho do pânico que se
instalou em mim quando a vi com a
carta, justo essa carta. Merda!
Lembro como se fosse hoje,
nesse exato momento quando a escrevi.
Não faz muito tempo, ou melhor, faz sim.
Acho que uma década na verdade. Foi
quando comecei a escrever cartas pra
ela, pois não tinha ideia de quanto tempo
de vida ainda me restara. Não que eu
tivesse uma doença incurável ou
maligna, mas tinha medo como todo ser
humano de morrer e não poder me
explicar. Explicar o porquê de minhas
atitudes.
Eu contava a princípio como se
o papel fosse um amigo íntimo e foi a
única maneira de conseguir me abrir de
fato. Eu sou um homem quebrado de
várias maneiras e sabia que talvez
assim, por meio de cartas, Victória me
entendesse. Mas não era pra ser agora,
não agora.

Primeira carta

Conheço Victória desde muito


novo, acho que tinha uns 12 anos na
época. Ela era linda como hoje, os
cabelos morenos em contraste com a
pele clara e olhos azuis como o mar.
Era uma menina doce com todos e
sempre foi muito receptiva comigo.
Nossos pais eram amigos íntimos e de
negócios na época, então era fácil vê-
la toda vez que havia um almoço ou
jantar. Eu aguardava feito um tolo tais
momentos.
E foi em uma dessas
comemorações que tudo mudou... Eu
havia completado 16 anos e mesmo
depois desse tempo ainda tinha
sentimentos, os quais não sabia ao
certo denominar em relação a Victória.
Ou como eu a chamava secretamente,
apenas Vic. Nunca tivemos nenhum tipo
de liberdade, mas eu estava decidido
que naquela noite iria me declarar pra
ela de alguma forma.
Eu subi os degraus
vagarosamente e notei que a porta de
um dos quartos estava entreaberta. Ao
olhar pelo vão vi a cena que jamais
consegui esquecer, Castiel, meu irmão
mais velho, estava a beijando na boca.
Não! Eu é quem deveria estar aí.
Depois disso acabei me
rebelando, com raiva e coração
quebrado, me tornei o bad boy e como
me chamavam - o gostosão da turma e
Victória acabou se afastando ainda
mais. Se antes achava que tínhamos o
mínimo de aproximação, agora sabia
que não tínhamos absolutamente nada.
Nem o mínimo de cortesia eu fazia
questão de lhe prestar. Com tudo o que
ocorria meu pai acabou me mandando
para fazer faculdade fora do país, o
que não fiz qualquer objeção. Ficar
longe seria a melhor coisa, e assim a
tiraria finalmente do meu sistema. Três
anos longe de casa infelizmente não
foram o suficiente para esquece-la, não
sabia ao certo, mas com certeza ela me
lançou algum tipo de feitiço. Porém,
tudo acabou mudando com a minha
volta. E eu jamais imaginei que isso
terminaria em um casamento com
Victória.
Quando finalmente cheguei em
casa, não estranhei não ter ninguém
por ali, já que queria fazer uma
surpresa. Ouvi alguns gritos e um som
de choro vindo da cozinha, e fui nessa
direção. Deparei-me com o que
pensava ser a empregada e Castiel
discutindo sobre gravidez. Ao me notar
a moça ficou pálida ao extremo e meu
irmão não sabia o que dizer. Mas era
fácil entender. Tinha quase certeza que
ele havia a engravidado e não iria
assumir o bebê, e mais, aposto que deu
dinheiro para que ela tirasse.
Após esse episódio encurralei a
tal empregada, Annie, que acabou
confirmando todas as suposições. Meu
irmão era um verdadeiro irresponsável
e canalha. Acabou que nos tornamos
bons amigos e invés de voltar pra
faculdade fora, decidi continuar aqui
mesmo no Brasil. Eu iria assumir a
menininha que Annie carregava e a
criaria como minha.
Quando Annie completou
aproximadamente quatro meses a fiz
pedir as contas, de forma que meu
irmão não interferisse e não soubesse
de nada. Sei que ele iria fazer de tudo
para não ter a bebê. Ela no começo
ficou receosa, porém acabou aceitando.
Nesse meio tempo, estava dividido
entre Annie e a faculdade, mas o
destino guardou a cereja do bolo para
o final.
Meus pais estavam falindo,
devido ao uso abusivo e descontrolado
do dinheiro que tinham. A solução pra
eles era fácil e óbvia, casar um dos
filhos com alguma "herdeira" de um
império. E adivinha só? Sim, eu fui o
escolhido. E quem mais? Victória. E
esse foi apenas o começo do fim.

- Se você está lendo isso agora


Vic, é porque finalmente fui homem o
bastante pra te contar sobre o que
realmente senti naquela época. Como
foi difícil perder Annie naquele dia
trágico e como não conseguia encarar
Luna a princípio.
E por que escrevi uma carta?
Porque eu sempre fui um homem
romântico, acredite se quiser. O que me
quebrou naquela época pode parecer
bobo pra você, mas foi aquele beijo.
Espero que um dia entenda. -
Pra sempre seu, C.

Passam-se alguns minutos e
nenhum sinal de vida dentro daquele
quarto, com certeza ela está tentando
digerir tudo o que leu.
Respiro fundo e desabo
derrotado no chão, levando as mãos à
cabeça. Como posso explicar tudo
agora?
Ouço a chave girar na fechadura
e apenas levanto o rosto em sua direção.
Victória sai com a carta encostada no
peito e os olhos vermelhos, com certeza
estava chorando.
Decido que o melhor é lhe dar
um tempo pra absorver tudo isso, nem eu
mesmo acredito que passei anos da
minha vida apaixonado por uma mulher
que nunca me amou. E ainda a enganei
fazendo achar que assumiu uma filha que
supostamente é fruto do amor meu e de
Annie.
Levanto-me e resolvo sair dali,
porém logo sinto sua mão me puxar de
leve.
— Você fez tudo isso apenas pra
proteger Luna? — pergunta e noto que
lágrimas descem por seu rosto corado.
— Não. — digo e ela me encara
confusa, então resolvo confessar de uma
vez. — Fiz por você também.
— Eu? Como assim? — indaga
incrédula.
— Eu queria que me amasse. —
confesso. — Porém, sei que não me
aceitaria por estar sendo obrigada a se
casar comigo. — ela fica pálida e
parece que vai desmaiar. Meu coração
para por alguns instantes, mas sua voz
doce e fraca me acalma.
— Como pretendia fazer isso
Caleb? Você me traiu, omitiu e mentiu
todos esses anos. Como poderia te
amar? — pergunta e seu semblante
mostra raiva nesse momento.
— Nunca mais fui o mesmo
Victória, usei de todos os artifícios
possíveis para que você sentisse ciúmes
de mim. Eu nunca soube lidar com essas
coisas do coração, não uma vez que... —
lembranças fortes vem em minha mente e
balanço a cabeça tentando empurrá-las
para longe. — Esqueça isso!
— Eu sinto muito Caleb, por
você ter visto eu e Cas...
— Faz muito tempo, não faz mais
diferença. Melhor esquecermos isso. —
digo e tento sair dali, porém ela me
impede novamente.
— Não! Eu não posso esquecer.
— agora sou eu que a encaro
completamente confuso.
— Me diga, você ainda...
— Sim, eu ainda te amo! —
dizer isso finalmente em voz alta, parece
ainda mais vergonhoso do que imaginei.
— Satisfeita? — grito e ela se retrai um
pouco.
— Por que? — ela grita e
começa a socar meu peitoral. — Por que
não tentou me conquistar? Por que não
foi aquele cara doce de antes, ou
simplesmente o cara romântico que
escreve cartas?
— Isso mudaria algo? Claro que
não Victória! Olhe só pra nós, nunca
funcionamos juntos, sequer dormimos na
mesma cama. — explodo. — Eu
desisto. — digo e seguro as lágrimas
que queimam pra descer.
— O que quer dizer com isso?
— sua voz sai nitidamente temerosa.
— Você está livre Victória, vá
atrás do seu homem amado! — engulo
em seco. — Vá atrás de Tomás! — grito.
— Não precisa se incomodar de sair
dessa casa, eu saio. — digo.
Pego as chaves do carro e a
carteira em cima da mesinha de centro
na sala e ignoro seus gritos. Entro no
carro e assim que passo pelo portão
encaro aquela casa que muitas vezes
pensei que seria o local da minha
felicidade, da minha família. E o pior é
saber que nunca será, que simplesmente
acabou.
Capítulo 4

Victória

Vejo seu carro sair pelo portão e


minha vontade é segui-lo. O obrigar a
me dizer todas a verdades, o que fiz
para que ele fosse tão rude assim. Ele
não pode ter feito tudo isso apenas por
conta daquele beijo, sinto que não. Há
algo mais nessa história, muito mais.
Porém, não consigo parar de pensar na
noite em que Castiel roubou aquele
beijo de mim. Pois é, ele roubou.
— Castiel, por favor, eu não
quero.
— Ah qual é Vic, eu sou bem
mais bonito que o Caleb, pode admitir.
— diz e abre um sorriso cínico.
— Primeiro, não me chame de
Vic e segundo, eu não quero. —
reafirmo minha posição, porém ele não
me dá escapatória. Meu primeiro beijo
é tomado a força.
Tento me afastar, porém Castiel
é bem maior e consegue me manter em
seus braços. Finjo ceder e ele afrouxa
um pouco o aperto, aproveito e o
empurro com força lhe dando um tapa
no rosto em seguida.
— Você ficou maluca? — grita
transtornado.
— Fique longe de mim! — grito
ainda mais alto e tento passar por ele.
— Não me importo com você
garota, só queria provar meu ponto. —
diz sarcasticamente.
— Como assim? — pergunto
confusa e ele simplesmente abre outro
sorriso cínico, e vai embora.
Lembrando disso agora percebo
qual o ponto ele estava falando. Ele me
beijou apenas pra jogar na cara do
irmão mais novo. Com certeza sabia que
Caleb gostava de mim. Parece que todos
sabiam, menos eu.
Não sei o que pensar nesse
momento, tudo o que mais queria era o
divórcio. Mas eu queria me divorciar do
homem que me usou apenas pra ter uma
mãe para filha, que nunca me tocou e
apenas usava as mulheres para o próprio
prazer, o homem que nunca me amou.
Mas, o homem que saiu daqui, não me
parece com esse. Ele assumiu a filha do
irmão mais velho inconsequente, ele
escreve cartas de amor para mim, ele...
Deus, ele me ama!
Como posso digerir tudo isso? E
por que estou me importando tanto? Fico
divagando sozinha sobre tudo, porém
não obtenho nenhuma resposta. Respiro
fundo e decido dar um tempo tanto pra
mim, como pra ele. A separação talvez
seja a melhor coisa, mesmo sabendo
disso, nada muda o fato de que nós
nunca nos demos bem. Não faz sentido
pensar que funcionaríamos, tivemos
vinte anos para isso.
Isso que dá ser uma romântica
incurável!
Decido ir até a cozinha beber
algo, algum remédio que me acalme ou
simplesmente um que me faça dormir.
Tomo um calmante natural e volto para
seu quarto. Pego as outras cartas
cautelosamente e começo a ler. Fico
estática ao ler cada linha de uma delas.
Eu sempre achei que conhecia
tudo sobre Caleb, mas agora percebi que
de fato nunca o conheci de verdade.

Caleb

Hospedo-me em um hotel
qualquer e assim que entro no quarto,
vou ao banheiro. Entro debaixo da ducha
fria e encosto minha cabeça no azulejo
frio. Talvez a água leve essas aflições
embora. E por fim faço algo que há
muito tempo não fazia, choro. Choro
feito um menino de doze anos que teve
pela primeira vez seu coração partido.
Volto a alguns anos atrás, quando
percebi que Victória jamais seria minha.
Eu via os olhares que ela e Tomás
davam um para o outro, aquilo me
corroía por dentro. Contudo, resolvi
ignorar, pensei que talvez ela quisesse
me fazer ciúmes. Infelizmente hoje sei
que estava totalmente enganado.
Mas naquela época eu via que
eles se gostavam de alguma forma,
talvez fossem apenas amigos, ou sei lá.
E como dizem por aí: “O maior cego é
aquele que não quer ver”. Quando ela
me contou que perdeu a virgindade com
ele... Merda! Eu sabia que eles eram
próximos, tinha a suspeita de que ela já
havia dormindo com ele, mas nunca quis
ouvir toda a verdade... Era pra ter sido
eu, o único homem dela. Por Deus! Eu
amo essa mulher e a perdi mesmo ela
estando casada comigo.
Assim que saio do box, fico um
tempo encarando o espelho, me
perguntando quem de fato sou. Penso em
como poderia contar a verdade pra
Luna, mas isso apenas faz com que chore
ainda mais. Eu a amo tanto, como se
realmente fosse minha.
Enrolo-me em um roupão e vou
em direção ao quarto. Ligo para
recepção e peço duas garrafas de
uísque. Só a bebida pra levar um pouco
dessa raiva e frustração embora.

***

Quando estou levando o segundo


copo de uísque a boca ouço batidas na
porta. Mas quem poderia ser? A portaria
não anunciou ninguém.
Abro a porta com raiva e o
sorriso cínico que encontro em minha
frente me causa um arrepio. Ódio sobe a
minha cabeça e fecho os olhos tentando
manter o controle. Abro os olhos e seu
sorriso está ainda mais aberto, cerro os
punhos e o pego pelo colarinho jogando-
o contra a parede.
— O que faz aqui? —pergunto
furioso e ele me lança um olhar de falsa
indignação.
— Olá irmãozinho, quanto tempo
não?
Capítulo 5

Victória

Termino de ler mais uma das


cartas e meu coração parece sangrar.
Caleb fala de Luna, Annie, Dani, de
mim... Com tanto amor, que
simplesmente, fico encantada.
Carta

Eu posso nunca ser o homem
certo para Victória, mas poder
observá-la de longe, se tornou meu
hobbie favorito. Observar ela e... Bom,
nossa filha – Luna. Eu jamais pensei
que Victória a aceitaria, pois no
começo, nem eu mesmo a aceitei.
Fiquei tão transtornado com a morte
de Annie, que tudo ao meu redor
parecia errado naquele momento.
Parecia errado o fato de que
tudo se encaixou perfeitamente para
Victória ser minha mulher. O falimento
de meus pais, a necessidade de seus
pais de ter um novo presidente na
advocacia, o meu amor por ela e... A
morte de Annie. Eu nunca consegui
superar isso, pois Annie chegou até
meu coração, assim como sua irmã,
Danielle. E quando ela se foi, tudo o
que pude fazer, foi me agarrar ao
sofrimento junto a Dani e trazê-la para
minha vida. Ela se tornou uma irmã
para mim, assim como Annie foi.
Mas eu não consegui me sentir
menos culpado. Eu tinha uma mansão,
a mulher que amo, dinheiro mais do
que suficiente, uma filha recém-nascida
e uma nova irmã. Eu tinha tudo,
enquanto Annie havia perdido sua vida.
Porém, o dia em que Victória aceitou
Luna, mudou tudo para mim.
Ela acabou por me aceitar, pelo
fato de ter Luna ali. Nossa pequena e
indefesa princesa. Ela aceitou Danielle
em “nossa” mais nova mansão, e
sequer fez perguntas. Agora, me diga,
como poderia não amar essa mulher? E
foi aí, que ela se tornou meu tudo.
E agora, sentado na poltrona de
meu escritório e assistindo a cena de
Victória e Luna adormecidas na rede
do jardim... Nada no mundo vale mais a
pena do que isso. E não me importo
mais se não terei o amor dela, apenas
quero poder observá-la. Ver seu sorriso
e a luz que traz em seus olhos azuis.
Olhos que me fascinam.
E eu me descobri sendo apenas
de Annie, Dani e Luna. Porém, Victória
sempre será a mulher de minha vida.
Mesmo que seja apenas a metros de
distância.
Pra sempre seu, C.

As lágrimas banham meu rosto.


Eu não consigo acreditar que ele sentiu,
ou sente mesmo tudo isso. Ele então
sempre esteve lá, me olhando. Como ele
mesmo diz, me observando de longe.
Eu mal posso acreditar que
Danielle, a menininha loira que ele
trouxe pra morar conosco há muitos
anos, seja simplesmente a tia de Luna.
Eles nunca tocaram no assunto, e mesmo
tendo me tornado amiga de Dani, nunca
perguntei sobre nada, pois sei que
jamais me diria. Tudo o que Caleb me
disse foi que tirou Dani das ruas,
apenas. Por que ele simplesmente não
me contou?
Estou perdida em pensamentos
quando ouço o soar da campainha. Pego
o copo d’água a minha frente na bancada
da cozinha, não consegui ficar muito
tempo no quarto. Resolvo simplesmente
ignorar, seja lá quem for que a segurança
deixou entrar, não quero ter de encarar.
Não agora.
Dani aparece de repente e me
encara assustada.
— Me desculpe a demora Vic,
acabei apagando na rede do jardim e só
acordei quando um dos seguranças
praticamente me jogou dela. —
Exagerada como sempre.
Pelo menos ela não presenciou a
cena que eu e Caleb fizemos. Agora que
sei o quanto ela já foi quebrada, não
quero que ela veja Caleb, o qual sei que
ela considera o irmão, brigando tão
rudemente comigo.
— Não sei porque está se
desculpando. — zombo. — Já disse que
não é a governanta dessa casa, você
trabalha fora há tempos Dani, não
precisa ficar...
— É o mínimo que posso fazer
por ainda atormentar você e Caleb. — é
direta. — Porém, com o dinheiro que
estou guardando logo consigo comprar
meu apartamento e...
— Você sabe muito bem que
nunca atrapalhou nada, aliás, precisamos
conversar. — a corto e respiro fundo. —
Eu acabei de saber que... — a
campainha soa novamente.
— Um minuto! — grita e corre
em direção a sala.
Quem estaria aqui agora? O que
era tão importante assim?
Dani volta em minha direção
com um olhar nada agradável.
— Pela sua cara, alguém não
muito bonito está ali. — brinco, porém
ela me encara brava. — Quem está aí?
— O irmão de Caleb. — diz e
seu rosto se retorce.
—O que Chris fez para odiá-lo
tanto assim e não o deixar entrar? —
pergunto sem entender sua reação.
— Não é Chris. — a encaro
perdida. — É um tal de Castiel.
— O que? — praticamente grito.
Por que ele voltaria agora de Londres?
— Não entendi muito bem, nunca
ouvi falar nele. Porém, um dos
seguranças me assegurou que ele
mostrou a identidade e como Caleb
deixou livre a entrada dos irmãos...
— Vamos lá! — bufo sozinha e
ela me segue até a porta. — Dani! — ela
volta seu olhar pra mim. — Fique longe
dele, ok?
— Ok, mamãe. — zomba e abre
a porta.
Então, encontro Castiel Soares
com o semblante já bem diferente do que
me lembro, só que sem deixar de ser
bonito. Ele deveria estar em seus 42
anos, já que era o mais velho dos
irmãos. Porém, a grande diferença entre
os três não era a idade, e sim que
Castiel tem olhos verdes.
Dani revira os olhos quando ele
a encara, porém como sempre o sorriso
cínico está em seus lábios e ele pisca
em sua direção.
— O que quer aqui, Castiel? —
pergunto.
Sinto vontade de socá-lo por ter
tido coragem de mandar tirar Luna, por
ter abandonado Annie...
Encaro Dani ao meu lado e ela
me olha desconfiada. Então, Caleb
nunca contou a ela sobre Castiel ser o
pai de Luna? E com certeza, ele fez isso
para protege-la. Duvido que o próprio
Castiel saiba que está diante da irmã da
mulher que ele abandonou grávida.
— Por que essa agressividade
morena? Meu irmão não está fazendo o
serviço direito, estou por aqui agora
caso...
— Direto ao ponto Castiel!
— Bom, vim fazer uma visitinha
ao meu querido e amado irmão mais
novo. Ele está? — pergunta.
Penso no que responder, mentir
talvez, mas sei que Castiel tem como
descobrir onde Caleb está. E assim que
ele descobrir, vou junto.
— Eu não sei.
— Como assim? — arqueia a
sobrancelha e me olha zombeteiro.
— Sei que você tem meios de
descobrir, se já não sabe e veio aqui
apenas para se mostrar.
— Tão esperta, cunhadinha. —
reviro os olhos. — O papo está ótimo
mas tenho assuntos inacabados pra
resolver. Não sinta minha falta porque
logo logo voltarei. — vai andando em
direção a saída.
— Ele é mesmo irmão de Caleb?
— Dani pergunta e eu assinto. — Ele é
um idiota.
— Pode ter certeza que sim.
Vejo seu táxi chegar e logo sair,
então vou até um dos seguranças que vi
o olhando de perto. Com certeza ele
ouviu para onde Castiel vai. E assim,
consigo descobrir meu novo destino.
— Onde está indo, Vic? — Dani
pergunta sem entender, e eu
simplesmente lhe mando beijos.
Entro no táxi que pedi e logo
mais ele para em frente a um hotel. Com
certa facilidade, consigo subir sem que
o porteiro precise interfonar.
A família de Caleb é conhecida
por ser uma das maiores empresas de
publicidade da América Latina e a
minha, pela Advocacia Fontana, uma das
melhores do Brasil, onde ele é
presidente. Duvido muito que o porteiro
me negasse de ir até ele, o qual fez até
questão de me passar o andar e número
do quarto, antes mesmo de eu pedir.
Bom, o porteiro na realidade é um
ingênuo rapaz, de no máximo uns 24
anos. As pessoas realmente acreditam
no que a mídia e fofocas dizem. Onde
todos acham que eu e Caleb somos o
casal com final feliz. Doce ilusão.
Fora que as pessoas sentadas na
recepção me remetem aos seguranças
particulares de Caleb, que sempre
andam disfarçados. Eles não me
proibiriam de subir.
Quando o elevador finalmente se
abre, assusto-me com a cena que me
recebe. Vejo Caleb com as mãos no
pescoço de Castiel, praticamente o
sufocando contra a parede do corredor.
— Olhe só, quem veio participar
da festa. — Castiel diz e só assim Caleb
nota minha presença.
— O que faz aqui, Victória? —
Caleb pergunta ao soltar o pescoço do
irmão e me encara com raiva.
— Queria saber o que fez
Castiel voltar de Londres. — dou de
ombros.
— Responda logo o que quer
Castiel, ou eu mesmo te coloco no
próximo voo pro Alasca. — Caleb
praticamente rosna.
Noto os punhos de Caleb
fechados e em poucos segundos, ele
acerta o irmão no rosto.
— Por Deus Caleb, não faça
isso. É isso que ele quer.
— Ah então agora você defende
o maridinho querida cunhada, sabe tudo
o que ele esconde ou quer que eu conte?
— Eu apenas sei que você é um
ser humano miserável que teve coragem
de querer matar a própria filha! — grito
com raiva e vou pra cima dele, porém
Caleb me segura pela cintura.
Castiel começa a bater palmas e
diz com desdém:
— Nossa, que lindos, o casal
perfeito! Mas finalmente chegamos ao
ponto que eu queria.
— Qual? — Caleb grita, ainda
me segurando pela cintura, e eu confesso
que nunca me senti tão segura antes.
— Luna.
— O que quer com nossa filha?
— pergunto gritando e o semblante de
Castiel se fecha.
— Minha filha. — responde
simplesmente.
— Ficou louco? — Caleb
pergunta e solta minha cintura, quando
menos espero ele dá outro soco no
irmão, que mesmo assim não se
intimida.
— Não irmãozinho, apenas
voltei para pegar o que é meu.
Capítulo 6

Caleb

Não me seguro e começo a socá-


lo com ainda mais força.
— Caleb! Para! Para! — ouço os
gritos de Victória e simplesmente a
ignoro.
Não quero ouvir a voz dela, não
quero saber que ela está aqui pelas
cartas. A conheço bem, nesse momento
deve estar se sentindo culpada. Mas
culpa nunca foi algo que esperei dela. E
nunca será.
Vencido pelo cansaço pego
Castiel pelo colarinho e o empurro
contra a parede.
— Que fique bem claro. Fique
longe da minha filha! — grito, e como
sempre meu irmão abre um sorriso
cínico.
Encaro seu rosto todo
machucado e sangrando, e não tenho
mais coragem de bater. Porém preciso
me esvair dessa raiva e ódio.
Ele não vai, ele não vai tirar
Luna de mim.
Com isso, soco a primeira coisa
que vejo na frente. Meu punho arde pelo
impacto com a parede e meu irmão
arregala os olhos por perceber o quão
perto do seu rosto o soco passou. Com
certeza, ele iria apagar.
— Ouviu bem? — pergunto já o
soltando e volto para meu quarto.
Poucos segundos depois Victória
entra com um semblante nada satisfeito e
eu tenho vontade de descontar toda
minha raiva nela. Não fisicamente, claro
que não. Não sei, talvez gritar com ela
algo do tipo: Por que nunca foi capaz
de me amar? Porém me contenho e vou
ao banheiro.
Entro novamente debaixo da
ducha fria e deixo que ela caia
principalmente sobre minha mão que
lateja de dor.
— Merda! — grito de dor,
quando sem querer derrubo o shampoo
em cima da mão machucada.
— Você está bem? — olho para
o lado de fora do box, e sinto-me ainda
mais diminuído.
Lembro da noite em que ela me
destruiu com palavras. Tenho certeza de
que ela não sabe que eu as ouvi, mas eu
me lembro de cada uma delas.
— Quem Caleb acha que é? Só
porque todas as mulheres o querem,
não quer dizer que eu o quero! Eu o
odeio! — seu grito quebra meu
coração.
Sento-me do lado da porta e
continuo ouvindo.
— Vic, se acalma! — Dani pede
e ouço a gargalhada de Victória.
— Acha mesmo que sinto
vontade de dormir com aquele traste?
Ele é ridículo! — grita alto. — Eu sinto
nojo dele, nojo de tê-lo beijado hoje.
Mas isso felizmente foi apenas
encenação após dizermos sim.
— Vic...
— Eu nunca vou amá-lo, ouviu
bem? Eu perdi tudo quando me casei
com ele hoje...
Nunca chorei tanto em minha
vida, como chorei naquela noite.
— Caleb? — sua pergunta me
traz de volta a realidade e eu apenas
assinto. — Está tudo bem?
— Estou. Por favor, vá pra casa
Victória. Preciso ficar sozinho. — digo
sem encará-la e sem ao menos me secar,
envolvo a toalha em meu quadril. — Por
favor, Victória.
— Apenas quero conversar. —
diz e seus olhos azuis parecem frágeis.
Mesmo com medo de que negue
meu toque, eu a puxo para um abraço.
Seu pequeno corpo envolve o meu com
perfeição e ela chora em meu peito. Ela
está com medo. Medo de perder Luna.
— Eu não posso perde-la,
Caleb. — me encara e limpo suas
lágrimas vagarosamente, esperando que
ela tire minhas mãos dali. Porém, ela
não o faz. — Não podemos.
— Não iremos, Victória. —
beijo sua testa e só assim noto que
estamos perto demais. Como jamais
estivemos antes. — Me desculpe por
isso.
— Está tudo bem. — diz e força
um sorriso amigável.
Tento passar por ela, porém ela
impede minha passagem.
— O que foi? — pergunto sem
entender.
— Quero tentar algo. — toca
meus lábios com os dedos.
— Victória...
— Eu apenas...
— Está confusa com tudo que
está acontecendo. — suspiro frustrado.
— Não estou, apenas...
— Quer ter certeza de que ainda
tem nojo de mim? — pergunto baixo,
segurando as lágrimas. Por que eu tenho
que ser tão fraco frente a ela?
— O que? — pergunta sem
entender.
— Esqueça. — digo e a tiro com
cuidado de minha frente.
— Por que sempre me manda
esquecer? Você sempre começa a dizer
algo e para. O que fiz pra você, Caleb?
— pergunta vindo atrás de mim.
— Eu sei o que sente por mim
Victória. — confesso já derrotado. —
Sei que está aqui porque se sente
culpada após ler as cartas. Porque pensa
que sou outro homem e não o que forcei
ser para te afastar. Mas acabou,
simplesmente acabou. Não temos que
falar do passado. Não mais.
— Eu quero saber. — insiste.
— Eu ouvi quando disse que
sentia nojo de mim, horas depois de nos
casarmos. — confesso e seus olhos se
arregalam. — Eu sei que jamais me
olharia com desejo e que simplesmente
me odeia. Hoje eu tenho a certeza de que
realmente ouvi tudo isso naquela noite,
anos atrás, quando confessou isso a
Danielle.
— Mas...
— Eu acabei passando um mês
fora após isso, eu precisei respirar. —
suspiro fundo. — Tive várias amantes a
partir daí, eu não a tocaria contra sua
vontade e quis provar a mim mesmo de
que não era tão insignificante como você
disse. Eu...
— Eu sinto muito que tenha
ouvido tudo aquilo. — diz e lágrimas
correm por seu rosto. — Era imatura
demais Caleb, e jamais diria aquelas
palavras pra você. Pois elas nunca
foram verdade.
— Não precisa mentir para que
eu me sinta melhor. — a corto.
— Eu estava com ciúmes... E um
pouco bêbada — eu a encaro perplexo.
— Eu vi o jeito que falava e dançava
com várias mulheres em nosso
casamento e... Sei que foi infantil, mas
eu estava fora de mim. Acho que
comecei a gostar de você na época,
mas...
— Eu estraguei tudo. —
complemento e ela assente.
— Isso é tão constrangedor. —
diz. — Nós finalmente estamos
conversando, e não fizemos isso antes
por pura burrice.
— Talvez não seja apenas eu o
burro nesse casamento. — brinco pela
primeira vez com ela, que sorri
lindamente.
— Poderia ter funcionado, não
é? — se aproxima. — Quer dizer, nós
dois poderíamos...
— Eu sempre te amei, Vic. —
seu apelido sai livremente de minha
boca. — Sinto tanto que seja tarde
demais, que ainda exista tanto no
passado que nos torna incompatíveis.
— Apenas um beijo. — diz de
repente. Seus olhos azuis percorrem meu
corpo apenas tampado pela toalha e ela
cora.
— Vic. — ela coloca as mãos
com cuidado em meu peito. — Você
sente isso? — coloco sua mão sobre
meu coração. — É seu. — me rendo por
completo.
— Eu sinto tanto. — diz e puxa
minha boca contra a sua.
Nossos lábios se tocam por
alguns segundos, como se estivessem
finalmente se conhecendo e
descobrindo. Ela abre a boca e
aprofundo o beijo, entrelaçando nossas
línguas. Sento-me na cama atrás de mim
e Vic sobe em meu colo.
Então esse é o seu gosto, doce e
picante ao mesmo tempo. O modo como
seu corpo se prende ao meu faz com que
eu tenha esperanças de um futuro... O
qual sei que não irá acontecer.
Quando nos separamos
ofegantes, ela passa a mão delicada
sobre minha barba.
— Eu nunca imaginei que seria
assim. — confessa.
— Sempre soube. — digo e ela
bate de leve em meu ombro direito.
— E agora? — pergunta
temerosa.
— Eu não vou me opor a você,
Vic. — respiro fundo. — Farei os
papéis do divórcio e poderá ser feliz.
— Eu sinto muito. — sai do meu
colo. — Não queria que tudo entre nós...
— Nunca existiu nós, então... —
dou de ombros.
— Volte pra casa comigo, Caleb.
— pede. — Me sinto segura com você,
não sei explicar, apenas tenho medo de
Castiel aparecer e...
— Eu vou. — digo e ela assente.
— Vou te esperar lá fora.
Ela sai do quarto e jogo minhas
costas contra o colchão. Fecho meus
olhos e consigo sentir novamente seu
corpo sobre o meu, seus lábios... Depois
de ter isso, como poderei seguir em
frente sem ela?
Tenho um plano em mente, me
manterei longe e apenas mostrarei a ela
quem eu sou. Mesmo que isso me custe
ter de assinar o divórcio. Darei a ela ao
menos uma vez, a melhor parte de mim.
A parte que a ama.
Capítulo 7

Victória

Durante o trajeto de volta para


nossa casa, meu estômago ronca alto e
Caleb gargalha. É estranho e ao mesmo
tempo belo me sentir bem com toda essa
situação.
— Vamos alimentar o monstro
que você esconde aí dentro. — aponta
para minha barriga e eu bufo. — O
restaurante de meu primo é logo ali na
frente.
— Eu adoro comer lá. — digo e
ele sorri.
Em menos de dois minutos,
Caleb estaciona o carro e entramos no
restaurante. O lugar como sempre, está
lindo e aconchegante, mas devido ao
horário, praticamente vazio.
Pedro, seu primo, mesmo sendo
da idade do irmão caçula de Caleb, já
era dono desse lugar há muito tempo. E
com toda certeza, os Soares tem bom
gosto e talento.
Vou em direção a uma mesa mais
afastada e Caleb vai falar com alguém
no balcão. Com certeza está à procura
de Pedro.
— Olá, senhora. Gostaria de
pedir a entrada? — eu não esqueceria
essa voz nem em um milhão de anos.
Levanto meu olhar e constato que
meus ouvidos não me enganam. Isso só
pode ser uma brincadeira de mal gosto
do destino. Não pode estar acontecendo.
— Desculpe, senhora. — diz e
tenta sair. Em um impulso, me levanto e
puxo de leve seu braço.
— Não fuja de mim. — peço. —
Não fuja mais de mim, Tomás!
Seus olhos castanhos se voltam
pra mim e ele respira fundo. Analiso-o
por completo e logo noto a aliança
dourada em seu dedo anelar esquerdo.
— Meu Deus, você...
— Estou no trabalho, não posso
falar sobre isso aqui. — diz
rapidamente.
— Vic, você está pálida,
aconteceu algo? — ouço a voz de Caleb,
porém o ignoro. — Victória. — me
chama novamente e sinto sua mão em
meu braço, e de reflexo tiro-a
rapidamente.
— Senhor Soares, eu juro que
não tive a intenção...
— Tomás. — Caleb finalmente
percebe. — Então é por isso que está
assim.
— Eu comecei a trabalhar aqui
essa semana e...
— Não preciso ouvir nada,
Tomás. — Caleb o corta e fico
completamente perdida nessa situação.
— Você se casou? — pergunto
quando finalmente as palavras saem de
minha boca.
— Senhora Soares, por favor.
— Preciso falar com você,
Tomás. — digo rudemente. — Agora!
— Victória. — Caleb
praticamente ruge.
— Depois Caleb, depois...
— Eu cansei dessa merda. —
Caleb grita e em poucos segundos vejo
Tomás cair no chão, devido ao soco que
ele o dá. — É esse traste que você ama?
Então fique com ele, ou melhor,
aproveite pra ver se ele vai quere-la.
— Por que sempre trata as
pessoas baseado no que elas trabalham?
— grito.
— Acha mesmo que eu
desmereço o serviço digno que ele faz
aqui? — seu semblante é frio. — Eu
conheço ele, assim como o conhecia na
época que descobri que eram amantes.
Mas quer saber, não vale a pena lhe
dizer nada.
— E precisa bater nele por isso?
— ajudo Tomás a levantar.
— Preciso pela última vez fazê-
lo sofrer pelo que fez com você. — se
vira e sai do restaurante.
Encaro a porta de saída perplexa
e felizmente noto que não havia ninguém
ainda, fora os funcionários do
restaurante. Pedro surge e apenas acena
com a cabeça, distraindo todos a
respeito do ocorrido.
— Me solte, Victória. — Tomás
se afasta. — Venha comigo!
O sigo ainda sem entender nada
e logo estamos do lado de fora do
restaurante. Sua face está vermelha
devido ao soco, porém não há nenhum
corte.
— Por que foi embora? —
pergunto subitamente.
— Eu nunca fui o homem certo
pra você, Victória. — dá de ombros. —
Vou ser sincero com você, o que fiz na
época em que estivemos juntos, fiz
várias vezes com outras mulheres
casadas como você.
— O que? — fico sem fôlego.
— Era o meu modo de ganhar
dinheiro na época. Usava mulheres ricas
e obrigava os maridos a me pagarem
para que sumisse de suas vidas.
— Caleb pagou você? —
pergunto perplexa.
— Ele fez muito mais. — suspira
fundo. — Mas não cabe a mim contar.
— O que está dizendo?
Consegue se ouvir? — grito. — Tudo o
que vivemos foi uma mentira? É isso?
— Eu sinto muito. — diz sem
jeito. — Eu pago até hoje pelos erros
que cometi no passado, mas sei que
nunca será o suficiente.
— Seu cretino. — bato com
força em seu rosto. — Tenho pena de
sua esposa, que não sabe o quão canalha
é o marido que tem.
— Bom, ela sabe. — confessa.
— E como ela consegue
conviver com homem feito você? —
grito.
— Perdão. — diz simplesmente.
— Essa é a palavra que mudou minha
vida. E eu gostaria de pedir perdão a
você por tudo.
— Nunca. — grito. — Nunca
vou te perdoar por ter me feito te amar,
por ter me feito acreditar que um dia
conheci o amor... Eu te odeio, Tomás! —
parto pra cima dele, porém logo sinto
braços me puxando com força.
Penso ser Caleb, porém me
espanto ao encontrar Levi me segurando.
— Se acalma, Vic. — pede
baixinho. — Vamos sair daqui. — ele
me leva até seu carro e coloca o cinto ao
meu redor.
Encaro pela janela, Tomás
desaparecer de meu campo de visão.
Encaro o homem que amei, sumir. Choro
encostada no vidro, por todas as belas
palavras, os beijos, seus toques, nossas
noites... Tudo foi uma mentira. E Caleb
sempre pôde jogar isso em minha cara,
mas não o fez.
Por quê?
— Se sente bem, Vic? — Levi
pergunta e eu assinto. — Quer
conversar?
— Eu apenas estou tentando
entender o porquê de minha vida ter se
tornado uma bagunça de repente. —
encaro seus olhos verdes, a sua marca
registrada, e ele abre um sorriso com
covinhas.
— Luna se casou. — esclarece o
óbvio. — Aposto que você quis deixar
Caleb e ele não aceitou bem.
— Você lê pensamentos por um
acaso? — pergunto surpresa.
— Apenas conheço o amigo que
tenho. — e isso é verdade.
Levi Gutterman é amigo de
Caleb desde a época de faculdade, o que
faz com que tenham duas décadas de
amizade. Na verdade, eles sempre foram
um quarteto, Caleb, Levi, Gustavo e
Daniel, mas com o tempo e alguns
problemas, suas visitas e saídas
deixaram de ser constantes. Todos têm
uma família de certa forma, a única
diferença deles para Caleb, é que eles
são imensamente felizes em seus
casamentos.
— Quem era aquele cara, com
você, no estacionamento? — pergunta e
estaciona o carro de repente. — Sei que
precisa falar, Vic. Se conheço Caleb,
pode ter certeza que conheço você.
— Ok, sabe tudo. — reviro os
olhos. — Aquele é Tomás...
— Não acredito que depois de
tantos anos ele apareceu. — seu olhar se
torna furioso. — Fique longe dele, Vic!
Caleb pode ser um idiota, mas esse
Tomás não te merece.
— Eu sei. — sussurro. — Caleb
te contou sobre isso? — pergunto.
— Certa parte. — respira fundo.
— Mesmo sendo melhores amigos, há
coisas que doem demais dizer em voz
alta.
— Isso faria você escrever
cartas? — as palavras saem facilmente e
me assusto com minha própria pergunta.
— Talvez. — meneia a cabeça.
— Não, isso é mais a cara de Caleb. —
zomba e eu rio sem jeito. — Merda, ele
fez isso? Ele escreveu cartas pra você?
— Sim. Isso deve fazer parte das
“coisas que doem dizer em voz alta”. —
fecho aspas com as mãos e ele assente.
— Eu nunca vou ser capaz de entendê-
lo.
— Eu não entendo você. — diz
de repente. — Estava chorando minutos
atrás e agora, invés de me perguntar a
respeito de Tomás, você pergunta sobre
Caleb.
— Eu... Não entendo o que está
acontecendo comigo. — sorrio sem
graça.
— Descobriu tudo sobre Tomás?
— assinto. — Bom, então acho que o
que está acontecendo com você, foi o
mesmo que houve comigo.
— Como assim? — pergunto
interessada.
— Eu me senti perdido desse
modo, quando finalmente percebi depois
de uma década casado com Melissa, que
a amava loucamente. — confessa
envergonhado.
— Espera, você está dizendo
que eu amo Caleb e não sei? — nego
com a cabeça. — Levi, eu sei que não o
amo.
— Mas se sente confusa a
respeito dele, não é? — pergunta.
— De certo modo sim. — fecho
os olhos. — Eu nunca imaginei que
Caleb fosse assim, diferente.
— Já disse a você que ele é um
idiota. Eu sempre o avisei sobre tudo,
porém somos burros. Bom, somos
homens, não é? — brinca e eu sorrio.
— Como Melissa está? —
pergunto, e seus olhos se iluminam no
mesmo instante.
— Continua linda como sempre.
— suspira.
— Eu imagino. Espero um dia
ter um amor como o de vocês. — sou
sincera.
— Basta buscar esse amor. — se
encosta no banco. — Muitas vezes
achamos que nossa vida está perfeita,
dentro dos conformes, mas perfeição
nunca foi sinônimo de felicidade.
Imperfeição é tudo!
— Não entendi.
— Bom, antes de tudo entre eu e
minha menina desmoronar, eu jamais dei
valor ao que tinha. Pois achava que a
perfeição estava fora do casamento,
longe da mulher que era casada comigo.
Eu buscava essa “perfeição”, sem saber
que ela não existe. Quando me dei a
chance, e Melissa me permitiu estar
perto, foi que percebi o quanto tinha
perdido tempo com isso. Amor as vezes
não precisa ser dado, basta buscar.
— Uau, eu nunca imaginei ouvir
isso de você. — brinco, porém minha
cabeça não para de martelar a respeito
de tudo que ele disse. — Como
aprendeu isso?
— Perdendo a mulher que amo.
— responde. — Eu nunca vou me
perdoar pelo que fiz com ela naquela
época, mas hoje sei que não teria nada
sem minha menina. E mostro isso a ela
todos os dias.
— Vocês nasceram um pro outro,
Levi. — suspiro sonhadora. — É lindo
vê-los juntos.
— Obrigado. — diz sem jeito.
— Apenas pense no que te disse.
— Vou pensar. — o encaro. —
Pode me levar até Caleb? — pergunto
sem jeito.
— E ainda diz que não o ama. —
bato em seu braço. — Ei, estou
brincando!
— Acho que ele voltou para o
hotel em que estava hospedado. — dou
de ombros. — Ligue pra ele, Levi!
Invente alguma coisa e descubra.
— Meu Deus, você está pior que
Melissa. — pega o celular e disca algo.
— Estou ligando.
— Como vai, florzinha? — fica
quieto por alguns instantes e logo
gargalha. — Vamos direto ao ponto, está
na sua casa? — ele pisca pra mim.
Debochado. — Não, tudo bem, me
passa o endereço do hotel que eu o
encontro. — sabia! — Caleb, deixa de
ser fresco, preciso falar com você. Ok,
tchau!
— Sabe o endereço do hotel que
ele estava? — pergunta e eu assinto.
— Ele não te passou? —
pergunto gargalhando e ele nega com a
cabeça.
— Caleb não me pareceu bem no
telefone Vic, não vá até ele se for pra...
— minha gargalhada cessa e sinto pesar
em meus ombros.
— Não quero magoá-lo, apenas
iremos conversar. — respiro fundo. —
Não o tratei muito bem quando vi
Tomás.
— Imagino que não.
— Mesmo não sabendo porque,
acho que devo falar a ele que não
iremos nos separar por conta de Tomás.
— confesso.
— Vai mesmo insistir no
divórcio?
— Não há outra alternativa.
— Sempre há. — deixo suas
palavras morrerem no ar e ele sai com o
carro.
Mesmo sem entender a confusão
que se passa dentro de mim, eu não
poderia fingir que meu casamento com
Caleb é real. Está na hora de encerrar
esse capítulo de nossas vidas, sei disso.
Capítulo 8

Caleb

Esse dia simplesmente parece


interminável. Sento-me na cama,
encostado na cabeceira e fecho meus
olhos. Como ela me pede um beijo, faz
com que aconteça e consegue esquecer?
E isso porque ela apenas o viu.
Eu nunca entendi ao certo o que
Tomás fez para enfeitiçá-la assim, mas
daria tudo para saber. Talvez eu não seja
mesmo o suficiente, pois ela sequer
deixou que a tocasse com ele a sua
frente.
Seleciono nas músicas de meu
celular, When I man loves woman de
Michael Bolton, e deixo que a música
me embale um pouco. Mesmo que nunca
tenha sido tão bom quanto Castiel nessa
parte, gosto de cantar. Sempre me fez
esquecer um pouco de tudo.
“Quando um homem ama uma
mulher
Não consegue manter sua mente
em nada mais
Ele trocaria o mundo
Por uma coisa boa que ele
achou

Se ela for má, ele não pode ver


Ela não pode errar
Vire as costas para seu melhor
amigo
Se ele coloca-a para baixo
Quando um homem ama uma
mulher
Gasta seu último centavo
Tentando manter o que ele
precisa
Ele havia desistido de todos os
seus confortos
E dormiria lá fora na chuva
Se ela disse que é o caminho
Deve ser

Quando um homem ama uma


mulher
Eu lhe dou tudo que tenho (sim)
Tentando manter seu precioso
amor
Baby, baby por favor não me
trate mal

Quando um homem ama uma


mulher
Bem no fundo de sua alma
Ela pode lhe trazer tal miséria
Se ela está brincando com ele
de bobo
Ele é o último a saber
Olhos apaixonados nunca
podem ver”
(When I was your man –
Michael Bolton)

Batidas fortes na porta, fazem-


me levantar, deve ser o serviço de
quarto, já que pedi algo para comer há
poucos minutos.
Minha surpresa parece evidente
quando abro a porta, e me deparo com
Victória.
— Antes que me mande embora,
saiba que trouxe seu lanche favorito. —
levanta uma sacola grande de fast-food.
— Bom, Levi me contou a respeito. —
ela entra sem cerimônia alguma.
— O que faz aqui, Victória? —
pergunto sem deixar meu tom frio de
fora. Talvez seja melhor assim.
— Bom, esse lanche é um
pedido de desculpas por ter sido uma
idiota há minutos atrás. — dá de
ombros. — E antes que pergunte sobre
Levi, ele foi quem me tirou de cima de
Tomás enquanto eu tentava matá-lo. — ri
sem vontade.
— Entendo. — mantenho a porta
aberta. — Aceito suas desculpas, mas
quero ficar sozinho hoje. — digo sem
rodeios e seus ombros caem.
— Eu pensei que...
— Que poderia ficar com sua
segunda opção? — pergunto
desdenhoso. — Posso te amar Victória,
mas sei que não é aqui que quer estar.
— Se quisesse estar com Tomás,
não estaria aqui.
— Ainda mais porque ele é
casado. — digo com raiva. — Ele não te
quer Victória, do mesmo modo que você
não me quer. Engraçado, não?
— Não seja cínico, Caleb. Não
combina com você. — diz brava.
— Mal sabe quem sou, Victória.
— rio. — Acha mesmo que sabe o que
combina comigo?
— Bom, preto fica bom em você.
— zomba.
— Isso, porque eu sempre uso
preto. — abro os braços cansado. —
Poderia parar de ser uma mula teimosa e
sair do meu quarto?
— Está me mandando embora?
— pergunta e noto raiva em seus olhos.
Ótimo, vamos brigar!
— Por acaso preciso desenhar?
— Idiota. — grita com raiva. —
Não sei porque vim aqui.
— Porque Tomás disse a
verdade a você.
— Porque sou uma idiota na
verdade. Não sei porque dei ouvidos a
Levi. — xinga baixinho.
— Seguindo ordens agora? —
zombo e seu rosto está corado de tanta
raiva.
— Como acha que um dia
poderia me apaixonar por você? — fico
sem palavras. — Olhe só a maneira que
me trata, olhe só como lidamos um com
o outro...
— Se vai começar seu
discursinho barato de que não sou um
homem bom e blá blá blá, talvez seja
melhor interná-la. Pois minutos atrás
estava se derretendo nos meus braços.
Não seja tão bipolar! — digo
enfurecido.
— Me derretendo? — questiona
com desdém. — Pode ter certeza que
não senti nada com aquele beijo, não
significou nada pra mim. — revida.
— Então por que está aqui? —
pergunto e me aproximo dela. — Ficou
muda agora?
— Estou aqui porque pensei que
tivesse magoado você, mas vejo que
continua no modo babaca de sempre. —
grita.
— Então vá embora! — grito de
volta. — Ou será que está esperando
mais um beijo meu? — zombo.
— Sinto nojo de você. — diz e
invés de sentir dor em meu peito, encaro
isso como desafio.
— Prove. — digo e choco meus
lábios nos dela.
Victória soca meu peitoral com
força, porém aos poucos se rende.
Levanto seu corpo em minha cintura e
ela entrelaça suas pernas. Minha mão
machucada protesta, porém nada me
impedirá agora.
— Diz que ainda sente nojo de
mim. — rosno em seu pescoço e mordo
de leve sua pele.
— Cale a boca e me beija. —
praticamente implora e eu não nego.
Quando percebo estou por cima
de Vic e meu corpo já clama pelo seu.
Ela não me nega em momento algum,
mas sei que se deixar isso continuar, que
ela irá se arrepender.
— Não podemos. — beijo
carinhosamente seus lábios. — Antes
que me xingue com sua boca atrevida, só
quero dormir e conversar sobre tudo
amanhã.
— Ok. — sussurra, parecendo
um pouco confusa.
Levanto-me da cama e
finalmente fecho a porta. Apago a luz do
quarto e retiro minhas roupas, ficando
apenas numa boxer.
Deito-me ao seu lado e mesmo
sem saber como prosseguir, meus braços
automaticamente a rodeiam.
— Boa noite, Caleb. — diz
baixinho.
— Boa noite, minha rainha. —
sussurro em seu ouvido e fecho os olhos.
Nós não fazemos sentido algum.
Em um momento nos odiamos e no outro
praticamente entramos em combustão.
Porém, sei nesse instante que não
conseguirei desistir dela... De nós.
Jamais.
Bônus

Caleb

Dia do casamento – 20 anos atrás

Eu nunca estive tão ansioso em


toda minha vida, o sangue parece ser
drenado para fora de mim. Minhas mãos
suam demais e sinto meu interior
rodopiar feito um redemoinho. Tais
sensações poderiam se dever ao fato de
que em poucos minutos estarei me
casando com a mulher que amo, que ela
finalmente será minha. Porém, ao invés
disso, meu coração está quebrado. Há
poucos dias perdi uma grande amiga, no
parto de sua filha, a qual agora havia se
tornado... minha filha. Tudo em minha
cabeça gira em torno disso, e no fato de
Victória finalmente ter aceitado se casar
após conhecer Luna.
Claro que iríamos manter em
sigilo o fato de Luna ser uma recém-
nascida, não precisávamos de nossos
pais e a imprensa supondo coisas a
nosso respeito. Mas isso ainda parece
difícil demais, difícil de ser realidade.
Um ano atrás, eu estaria em Londres,
fazendo minha faculdade e tentando
retirar de meu peito o sentimento que já
sustentava por Victória. Hoje, estou me
prendendo a ela de vez, mas não consigo
ao menos ficar feliz com isso. Sei bem
que não é por nós esse casamento.
— Ela chegou, filho. — meu pai
diz e arruma minha gravata com
perfeição. — Sabe que jamais o
sujeitaria a esse casamento, se não
soubesse o quanto Victória é importante
pra você.
— Eu entendo, pai. — respiro
fundo, e finalmente Victória chega.
Estávamos apenas nós, no
cartório fechado, oficializando nossa
união. Assim como Victória, eu me
neguei a ter um casamento pomposo e
muito menos na igreja. Eles teriam que
se contentar com apenas isso. Porém,
isso não impediu Julianne, mãe de
Victória, de nos obrigar a vestir como se
realmente estivéssemos num altar. Ela
sempre foi apavorante.
— Olá, Caleb. — Victória me
aborda com deboche e eu apenas bufo.
Nós realmente somos incompatíveis.
— Como vai, futura senhora
Soares? — zombo e seu semblante se
fecha.
— Vamos logo com isso, mãe.
— reclama e logo assinamos os papéis.
— Agora, o beijo dos recém-
casados! — Julianne grita animada.
Victória a encara tão estupefata
quanto eu, em momento algum falamos
sobre isso. Meus pais apenas dão de
ombros e resolvem não intervir, os dois
tinham paciência demais com Julianne,
pois desde a morte de Paulo, seu
marido, ela não tinha sido a mesma. Isso
faz cerca de um ano, e vi o quanto
Victória sofre com isso, mesmo que seja
em silêncio.
— Por favor, filha. — ela
insiste. — Seu pai ficaria orgulhoso. —
a facada final.
Victória me encara com lágrimas
nos olhos e eu simplesmente dou de
ombros. Puxo-a pela cintura e desço
meus lábios aos seus. Seu gosto me
embriaga, porém a solto rapidamente,
tendo ficado apenas o tempo necessário
para Julianne tirar uma foto.
— Lindos. — diz ainda mais
animada.
— Podemos ir? — Victória
pergunta ao meu lado e eu assinto.
— Preciso fazer algo antes. —
sussurro em seu ouvido. — Preciso
pegar Luna e Danielle.
— Quem é Danielle? — indaga
baixinho.
— Você irá conhece-la, venha.
— ela pega minha mão e vem em minha
direção.
— Ah, antes que saiam, preparei
uma festa para comemorar o casamento
de vocês. — Julianne diz e todos a
encaramos assustados. — Acharam
mesmo que iriam esconder esse
casamento? Convidei toda a elite
carioca e muito mais, não podem me
negar isso.
— Ok mamãe. — Victória
suspira cansada. — Me mande o
endereço e o horário, estaremos lá.
— Obrigada, filha querida. —
vem até ela e abraça. — Sinto tanto
orgulho de você, tenho certeza de que
Paulo também.
— Até mais tarde então. — digo
friamente e tiro Victória dali.
Assim que entramos no carro,
ela me encara sem jeito e solta vários
suspiros.
— Teremos que ir mesmo nessa
festa, não é? — pergunto angustiado.
— Infelizmente. — dá de
ombros. — Sabia que o fato de não
termos aceitado nos casar publicamente
faria com que minha mãe tivesse outra
ideia do tipo. Ela ama exibição.
— Percebi. — apenas encaro o
caminho a minha frente. — Preciso
contar algo a respeito de Danielle pra
você.
— Diga.
— Bom, eu a salvei das ruas há
um tempo. — minto. — E ela irá morar
conosco.
— Quantos anos ela tem? —
pergunta curiosa.
— Quinze anos, e antes que me
pergunte, ela não tem mais ninguém. — a
olho. — Sei que isso tudo está uma
confusão, mas ela é como uma irmã pra
mim e...
— Tudo bem, Caleb. — seus
olhos azuis demonstram compreensão.
— Irá mesmo aceitar Luna? —
pergunto receoso.
— Ela é apaixonante. — sorri.
— Sei que deve estar sofrendo por
perder sua namorada, ainda mais ser
obrigado se casar comigo assim... Nunca
quis estragar sua vida, Caleb. Saiba
disso.
Mal sabe ela que nunca existiu
um relacionamento entre mim e Annie,
e que muito menos Luna é minha filha
biológica. Porém, isso não importa.
— Também nunca quis.

***

Assim que adentramos o


apartamento que deixei Luna e Danielle,
Jô nos cumprimenta com carinho. Ela foi
minha babá desde a infância, e
praticamente a roubei para mim, pois ela
tem toda minha confiança.
— Saiu tudo certo, querido? —
pergunta cautelosa.
— Na medida do possível. —
deixo meus ombros caírem. — O que
posso dizer? Acabei de me casar, aos
vinte e um anos, recém-formado em
direito, e detalhe, já sou pai.
— Você se sairá incrivelmente
bem, menino. — sorri sincera. —
Estarei aqui pra ajudá-lo, assim como
Victória.
— Bom, ela veio. — o rosto de
Jô se ilumina. — Ela veio ver Luna. —
esclareço.
— Sei. — brinca. — Onde ela
está?
— Disse que iria ao banheiro.
— dou de ombros e sento-me no sofá.
— As meninas estão bem?
— Dormindo feito anjos. Mas
me diga, não vão comemorar de jeito
nenhum seu casamento?
— Julianne nos informou sobre
nossa própria festa de casamento hoje,
infelizmente terei que participar dessa
merda.
— Olha a boca, guri. — adverte.
— Desculpe. — sorrio e ela
desfranze a testa. — Apenas estou
cansado.
— Quer que eu já organize tudo
para levar pra mansão que ganharam? —
pergunta baixinho.
— A festa será lá, então fica
impossível levar as meninas. — suspiro
frustrado. — Mas sabe que irá morar lá
comigo, não é?
— Menino abusado. — sorri e a
abraço com carinho.
— Obrigado pela ajuda, Jô.
— Sabe que seus pais iriam
ajudá-lo caso contasse...
— Eles me obrigaram a casar,
Jô. — a corto.
— Isso, porque sabem que você
ama Victória e...
— Demorei? — Vic aparece de
repente e Jô se cala no mesmo instante.
— Como vai, Jô?
— Eu vou... — gagueja. — Já
volto. — sai praticamente correndo dali,
achando que Victória ouviu algo que
disse. O que duvido muito.
— Ela está bem? — Vic
pergunta ao se aproximar.
— Apenas Jô, sendo Jô. — ela
sorri.
— Gostaria de ver as meninas,
posso? — pergunta cautelosa.
— Claro, vou levá-la até o
quarto. — levanto e a direciono até lá.
Abro a porta e nos deparamos
com o quarto a meia luz. Na cama de
casal, Danielle dorme serenamente,
enrolada a um grande travesseiro. No
berço, Luna está praticamente imóvel e
dorme tranquilamente.
— Ela é tão linda. — Vic diz ao
chegar próxima do berço. — Me
apaixonei por ela, no momento que a vi.
— Eu também. — confesso.
Doía muito olhar para Luna, pois
ela me lembra claramente Annie. Não
consegui ainda aceitar sua partida.
— Não acredito até hoje que
minha mãe armou para que que
descobrisse que Luna é sua filha. —
sorri desdenhosa. — Ela sabia, com
certeza, que eu iria me apaixonar.
— Julianne é imprevisível. —
sento-me na beira da cama. — Não
imaginei que ela soubesse sobre Luna,
muito menos que armaria um encontro
em meu nome, para que você
encontrasse com Luna ainda no berçário
do hospital.
— Ela sempre sabe de tudo...
Infelizmente. — me olha sem jeito. —
Temos que nos arrumar para a festa.
— Ok, vamos lá. — digo e já me
levanto.
— Fique bem, princesa. Mamãe
já te ama muito. — Victória sussurra
para Luna, porém consigo ouvir as
palavras perfeitamente.
Ela não é a mãe de Luna.
Fecho meus punhos com força e
saio do quarto desnorteado. Ela não
pode simplesmente chegar e ocupar o
lugar de Annie. Não depois de tudo o
que ela passou para ter a filha.
— Está tudo bem, Caleb? —
pergunta ao se aproximar.
— Vamos logo para essa
porcaria. — digo e saio do apartamento,
sem ao menos me despedir de Jô.
Victória até tentou falar comigo
em alguns momentos, porém tudo o que
conseguiu de mim foi o silêncio. Eu
ainda sinto raiva por ter de ouvi-la dizer
aquilo a Luna. Eu nunca planejei isso.
Sinto raiva por Victória parecer
ainda mais perfeita a cada dia, por não
conseguir odiá-la nem por um instante
sequer...
Assim que chegamos a frente da
mansão que Paulo deixou de herança
para Victória, ela desce rapidamente do
carro e quase quebra a porta ao
empurrá-la.
— Ei. — grito transtornado e ela
ignora.
Ao entramos na casa, Julianne
aparece no topo da escada e corre até a
filha.
— Já separei a roupa de vocês.
— diz contente. — Agora só esperar a
festa começar.
— Ok. — digo e subo os degraus
sem ao menos lhe dar atenção.
Vou até o cômodo onde sei que
Paulo construiu um escritório, e tem um
mini bar. Abro a primeira garrafa de
uísque que encontro e levo ela a boca.
Só a bebida pode me preparar para essa
festa, e quem sabe, para uma vida infeliz
ao lado da mulher que amo.
Capítulo 9

Victória

Sinto braços fortes me


envolvendo e abro os olhos assustada.
Assim que encaro o rosto sereno de
Caleb, consigo me lembrar de tudo.
Passo a mão de leve em seu rosto e tento
buscar discernimento no porquê ter
vindo até ele.
Eu deveria estar chorando por
Tomás, pelo homem que me enganou e
me usou apenas por dinheiro. Mas
apenas consigo ficar aqui, admirando
Caleb. Eu não consigo acreditar que
estou admirando-o.
Sei que há algo a mais nessa
história de Tomás, como ele mesmo
disse “não cabe a ele contar”, mas será
que Caleb me contará a respeito? Será
que não há uma carta sobre isso?
Suspiro frustrada.
Levanto-me da cama com
cuidado para não acordá-lo e vou em
direção ao banheiro. Tomo um banho
rápido e me enrolo em um roupão seco
pendurado ali. Não tinha trazido outra
roupa sequer, então, enquanto não fosse
embora, ficaria assim.
Ouço a campainha tocar e enrolo
meu cabelo com outra toalha
rapidamente. Assim que saio do
banheiro, a cena que me aguarda é sem
dúvida alguma revoltante. Uma mulher
loira se pendura no pescoço de Caleb
que está apenas de boxer, e pior ela está
tentando beijá-lo.
— Pare com isso, Paula! —
adverte furioso. — Não sei como me
achou aqui, e muito menos como te
deixaram subir, mas vá embora!
— Pensei que talvez quisesse
repetir nossa noite. — diz melosa e sinto
sangue subir a minha cabeça. — Eu
pensei...
— Não passou de uma noite,
Paula. — grita e tira os braços dela de
seu pescoço. — Vá embora e esqueça
essa obsessão por mim!
— Eu posso muito bem mandar
as fotos que tenho de nós para sua
esposa e...
— Eu estou bem aqui, querida.
— debocho e vou até eles.
Caleb me encara atordoado e o
sorrio de Paula que murcha no mesmo
instante.
— Dormiu bem, querido? —
pergunto e beijo de leve os lábios de
Caleb. Ele instantaneamente coloca as
mãos em minha cintura. — O que ainda
faz aqui?
Ela é jovem, deve ter no máximo
vinte anos, de cabelos loiros e olhos
verdes... Será essa a preferência de
Caleb?
Foco!
— Você é meu, Caleb! — diz e
força lágrimas. Atriz de quinta.
— Fique longe do meu homem.
— grito e a pego pelos cabelos. — Saia
daqui e não volte nunca mais. — a jogo
pra fora e fecho a porta com força.
Assim que respiro fundo
repetida vezes, finalmente me toco do
que fiz. Eu estou com ciúmes de Caleb.
— Vic. — ele me chama e
simplesmente ignoro.
— Me desculpe por isso, não sei
o que deu em mim. — me viro pra ele e
noto decepção em seus olhos.
— Tudo bem, eu sinto muito por
isso também. — senta na cama. — Não
queria que visse ela e...
— Não se preocupe. — digo
sem jeito.
— Vou ao banheiro e depois
buscar minhas coisas na mansão. Bom,
amanhã já é segunda, então tenho que ir
pro trabalho. — diz e eu apenas meneio
a cabeça.
Não consegui conversar com ele
a respeito de nada. Tudo parece confuso
demais, perdido demais. Como se
estivéssemos tentando esquecer o
passado e ao mesmo tempo, esquecer o
que houve nesse quarto.
Eu o queria tanto, do modo que
nunca desejei tanto um homem. Do modo
como nunca desejei Tomás. Preciso de
um tempo para pensar sobre isso, tentar
buscar razão em meus atos. Não quero
nos magoar ainda mais.
Caleb

Quando finalmente chegamos a


mansão, sinto-me pior do que antes.
Nunca soube o porquê, mas sempre
odiei essa casa imensa. Apenas vim
morar aqui, porque foi o presente do pai
de Victória, e sei o quão foi difícil para
ela a morte dele.
— Eu vou ver se Danielle está
em casa. — Vic diz cautelosa. — Queria
te pedir para falar com a segurança,
Castiel conseguiu entrar sem ser
anunciado, então...
— Resolverei isso. — digo e
estaciono o carro na garagem.
Assim que avisto um dos
seguranças no jardim, chamo-o para
conversar. Eu poderia até ser exagerado
com segurança, porém é necessário. Ser
dono e advogado de uma das maiores
advocacias do país, tem seu preço.
Acumulei inimigos ao longo dos anos, e
não poderia deixar ninguém ao meu
redor pagar por isso.
E isso me faz lembrar de um fato
que simplesmente ignorei durante o
caminho até aqui. Como Paula me
encontrou naquele hotel? Mais tarde
ligaria para Isaac, o único que sei que
poderá descobrir algo pra mim.
Descobrirei o que essa Paula realmente
quer.
— Quero que a partir de agora,
Castiel, meu irmão, tenha de ser
anunciado antes de entrar, ok? — digo a
um dos seguranças e ele assente. —
Depois me mande os relatórios do que
houve no tempo que eu e Victória
estivemos ausentes.
— Sim, senhor Soares. — diz e
sai rapidamente.
Eles são profissionais muito bem
treinados, tanto que vieram da melhor
turma que Joaquim Morgan teve.
Joaquim, na verdade sempre foi como
um segundo pai para mim e meus
irmãos, assim como Isaac, seu filho, é
como um irmão para nós. Ele e meu pai,
Rodrigo, tem uma relação de amizade de
muitos anos, e na questão segurança,
eles sempre foram rigorosos.
Adentro a casa e noto-a
silenciosa. Como sempre parece que
conseguirei me perder nesse ambiente.
Pelo menos meu divórcio terá um lado
bom, não moraria mais aqui.
Subo as escadas em direção ao
meu quarto, porém acabo estacando em
frente ao quarto de Victória. Ela está
sentada no tapete felpudo, e em suas
mãos tem uma carta. Mais uma de
minhas cartas.
Paro na beirada da porta e
analiso o modo atento e as expressões
de surpresa com que lê cada palavra.
Pois é, você não me conhece.
— Sei que está aí, Caleb. Seu
perfume te entrega. — diz sem desviar
os olhos da carta. — Eu sabia que tinha
algo mais sobre Tomás que não tinha me
contado. Você não iria me contar, não é?
— Vic...
— “Eu paguei a ele todo o
dinheiro que exigiu e muito mais. Não
apenas porque queria que ele sumisse
da vida de Victória, mas porque tinha
certeza de que ele era mais um garoto
perdido. Anos depois, eu continuava o
monitorando de longe e foi em um
desses relatórios que meus seguranças
me mandam, que descobri o quão a
vida acabou cobrando dele. Tomás
havia se casado e já era pai, só que sua
filha de apenas cinco anos, tinha uma
doença rara mas curável. Porém, nem
ele, nem sua mulher, tinham condições
de pagar o tratamento.
E foi aí que resolvi ajudar, eu
não poderia deixar aquela menininha
sofrer, tendo o dinheiro que tenho. Isso
vai além de todas as doações que faço
a cada mês a várias instituições
privadas e públicas, muito além dos
dias que vou visitar crianças em
orfanatos... Eu sabia que como
realmente ajudar. E o fiz.
Abordei Tomás em um dia
qualquer e lhe fiz uma proposta, eu
perguntei a ele se havia contado a sua
mulher sobre seu passado, e como
imaginei, ele não havia feito. Então, fiz
o seguinte: Dei a ele uma escolha, se
contasse a mulher toda a verdade, eu
lhe daria o dinheiro necessário para o
tratamento de sua filha e assim ele
poderia resgatar seu casamento. Senão,
nada feito. E como não esperava,
Tomás aceitou de imediato, mesmo com
medo de perder sua mulher, Solange.
Quando conheci sua filha e sua
mulher, soube naquele instante o
grande medo de Tomás. Solange era
uma boa moça, que os olhos brilhavam
só de olhá-lo. Do mesmo modo que os
olhos de Victória, brilhavam por ele...”
— Vic.
— Eu não consigo acreditar que
sempre soube e não me disse nada. —
diz triste.
— Eu peço desculpas no fim da
carta por isso. — encaro o chão. —
Pode achar que não lhe contei para que
ficasse iludida por Tomás, mas o fiz
para que não soubesse a verdade e se
machucasse ainda mais.
— Jamais te julgaria por não ter
me contado a verdade, Caleb. — a
encaro surpreso. — Você é um bom
homem, essa é a realidade.
— Não precisa ficar assim,
apenas pelo que leu e...
— Não é por isso. — me corta.
— É por tudo. Todos os dias em que
simplesmente deixou o trabalho e correu
pra casa, simplesmente porque Luna
queria seu colo. Todas as vezes que
fiquei doente e você disse que não tinha
trabalho... Sei agora que não ia por mim,
não é?
— Eu tenho medo, caso precise
de mim e não esteja. — confesso
envergonhado.
— Você é maravilhoso. — diz e
se levanta vindo em minha direção.
— Eu... — faltam-me palavras,
pelo modo terno com que me olha.
— Nunca mais se desmereça,
Caleb. — diz e beija de leve meu rosto.
— Vou buscar algo pra tomar, já volto.
Ela desce as escadas e fico
estático ali no quarto. O modo com que
me olha e fala, é tão diferente de anos
atrás...
— Ei, bonitão. — brinca e eu
sorrio envergonhado. — Venha até a
sala, vamos assistir um filme.
Um homem de quase 41 anos
corando porque a sua esposa o chamou
de “bonitão”. Pareço mais um idiota.
— Ok. — a sigo.
Victória se joga no meio de
almofadas que estão no tapete e coloca o
filme para rodar. Logo noto que na
verdade é um filme de terror, o qual já
assisti várias vezes. Porém, apenas me
aquieto, sentando ao seu lado e presto
atenção no filme.
— Meu Deus! — ela grita
minutos depois assustada e eu gargalho.
— Não ria! Isso foi assustador.
— Não foi. — digo e ela me
olha brava.
— Se eu tivesse quase dois
metros e toda a massa muscular que
você, óbvio que não teria medo de
assassinos. — me adverte. — Não ria!
— Não estou rindo! — digo e
mordo o lábio inferior para não
gargalhar de sua cara.
— Idiota. — joga a almofada em
mim.
— Nervosinha. — lhe jogo a
almofada de volta e ela cai pra trás. —
Vic! — a chamo, porém ela continua em
silêncio debaixo da almofada.
Droga, a machuquei!
Retiro a almofada de seu rosto e
vejo seus olhos fechados.
— Vic. — insisto e a balanço
com cuidado. — Merda!
— Te peguei! — grita de
repente, acertando-me com força com
uma almofada.
Não percebo, mas logo caio de
costas no tapete e Victória se esgueira
sobre mim, gargalhando.
— Talvez ter dois metros não te
ajude em nada. — debocha.
— Talvez. — digo e levo o
braço acima de meus olhos.
Sorrio sozinho de nossa
aproximação, do modo que tanto desejei
durante todos esses anos. Do modo que
sempre sonhei.
Assim que retiro o braço de
cima de meus olhos, noto o rosto dela
bem próximo ao meu. Sua mão direita
toca com cuidado meu rosto e arrepios
percorrem meu corpo.
— Me faz sua. — pede e meu
mundo para.
Puxo seu corpo contra o meu e
ela vem de bom grado. Nossas línguas
duelam, enquanto minhas mãos
desvendam seu corpo. A toco com
leveza, reconhecendo-a como minha.
Minha mão ainda machucada, reclama
da dor, porém não me importo.
— Dani não vai voltar tão cedo.
— informa e eu assinto, beijando-a
novamente.
Em meio aos gritos altos do
filme, o calor do verão do Rio e os
instantes mais eternos de minha vida.
Victória finalmente se torna minha.
Seu corpo se une ao meu com
perfeição, nossos corpos parecem ter
esperado por várias vidas por isso. Seus
olhos azuis me encaram com desejo,
paixão, luxúria... Busco amor, porém
não quero me iludir. Então a beijo com
devoção, enquanto seu pequeno corpo
me recebe ávido pelo prazer.
— Eu te amo, minha rainha. —
sussurro em sua pele, por diversas
vezes.
Temo pelo momento que nosso
contato acabe, mas eu não me permitiria
não ser mais dela. Depois de tê-la, eu
sei que jamais serei o mesmo. Então
aproveitarei desse momento, sendo dono
de sua alma, corpo e quem sabe, seu
coração.
Capítulo 10

Victória

Não sei quanto tempo se passa,


mas ao acordar me assusto ao ver que o
relógio marca oito da noite. Tenho a
certeza de que passei horas sendo
levada ao paraíso pelo homem que
dorme serenamente ao meu lado.
Nunca antes tinha sido assim, tão
selvagem, carinhoso e desejoso. Nunca
pensei que me sentiria tão amada ao me
entregar a alguém. Mas Caleb o fez.
Esse homem não para de me
surpreender.
Meu corpo dolorido demonstra a
força que ele tem sobre mim,
espreguiço-me cansada e apenas estico
as mãos até o sofá, para pegar meu
celular. Há mensagens de nossa filha e
também de Dani.

Não vou pra casa hoje, mas não


se preocupe.
Beijos!

Direta como sempre. Apenas


peço para que tenha juízo e deixo-a
curtir com seja lá quem for. Dani passa
muito tempo dedicada apenas ao
trabalho e especializações. Está mais do
que na hora de buscar se divertir.
Volto minha atenção para Caleb,
e ele finalmente abre seus olhos azuis.
Um sorriso sem graça passa por seu
rosto e seguro a vontade de rir. Nunca,
em tão pouco tempo, vi Caleb ficar
tantas vezes envergonhado. E o ver
assim por minha causa, me faz sentir a
mulher mais sortuda do mundo.
O que é que eu estou pensando?
— Eu vou arrumar uma pequena
mala. — diz ao olhar as horas no relógio
da tv. — Vou te dar espaço para pensar
sobre tudo o que houve.
— Acho que preciso disso. —
digo sem jeito.
— Eu sei que precisa, eu
também. — sela nossos lábios. — Eu
nunca vou esquecer o fizemos aqui Vic,
sabe muito bem porquê.
— Eu sei. — toco sua barba por
fazer. — Podemos nos ver durante a
semana, ao menos conversar? — sugiro.
— Claro que sim. — responde
surpreso. — Vou procurar um outro hotel
e te mando o endereço por mensagem,
ok?
— Ok. — digo simplesmente e
ele se levanta.
Admiro sua nudez, enquanto ele
coloca as roupas rapidamente. Tão
lindo!
Ele sobe as escadas e em poucos
minutos, volta com uma pequena mala de
rodinhas.
— Até breve, minha rainha. —
sussurra em meu ouvido e beija meu
rosto.
— Até, bonitão! — brinco e ele
gargalha.
Ele fica tão lindo quando
gargalha assim, me lembra quando
éramos apenas adolescentes.
— Me ligue caso aconteça algo.
— pede.
— Pode deixar. — ele logo sai
da casa.
Fico encarando a porta se fechar
e meu coração dá voltas no peito. Caleb
realmente está me dando, ou melhor, nos
dando o espaço que necessitamos para
entender o que acontece conosco.
Mas ainda é difícil entender,
pois nunca me senti assim antes. E
jamais pensei que poderia. Fecho os
olhos em busca de respostas, e apenas
encontro seus olhos azuis me encarando
intensamente.
E talvez essa seja minha
resposta. Talvez eu tenha me apaixonado
por Caleb.

Caleb

Dirijo meu carro até um hotel


que fica próximo à advocacia, e os
momentos junto a Victória parecem
cravados em minha pele. Como podia
tudo mudar em apenas alguns dias?
Mesmo sem querer ser
esperançoso demais, não posso negar
que meu íntimo está exultante. Posso até
quebrar a cara, mas não irei me negar
estar feliz por agora. Eu preciso, ao
menos, curtir esse momento. Pois nunca
pensei que um dia aconteceria.
Deixando de lado a volta de
Castiel e todas as preocupações com o
trabalho. Poderia resolver isso depois, e
quem sabe confrontar meu irmão. Sei
que Castiel pode se fazer de monstro,
assim como eu próprio já me fiz, mas
éramos unidos antes, ou melhor,
melhores amigos. Isso não pode ter
ficado tão para trás, pois eu ainda sinto
falta do meu irmão mais velho.
Divago sozinho ao volante,
tentando focar meus pensamentos apenas
na estrada. Percorro mais algumas ruas e
finalmente chego ao hotel. Consigo um
quarto e deixo liberada a entrada de
Victória, Babi e Dani. Bom, aí estava
mais um dos segredos que guardo de
Vic. Mais um dos motivos pelos quais
não fiquei em casa hoje com ela. Pois
ainda não lhe contei toda a verdade.
Tenho dúvidas se ela vai
entender o que Babi representa pra mim
e tudo o que fiz pela minha pequena.
Talvez ela me ache doido e até insano,
mas assim que a encontrasse essa
semana, abriria o jogo. Lhe contaria
sobre tudo e deixaria com que decidisse
se realmente quer estar comigo.
Deito-me na cama e pego meu
celular. Disco o número de Babi e em
poucos segundos ela atende.
— Oi pequena.
— Oi. — diz baixinho. — Jô
está dormindo, então não quero
acordá-la.
— Desculpe. — suspiro fundo.
— Ela está melhor? — pergunto
preocupado.
— Bom, os médicos disseram
que sua melhora foi grande. Que talvez
daqui uns quinze dias, ela possa voltar
pra casa. — diz um pouco mais
animada.
— Ela vai, pequena. Sei que vai.
E você, como está?
— Estou bem, apesar de tudo.
— ouço seu longo suspiro. — Estou
apenas com algumas dúvidas em
matemática, nada demais.
— Posso te ajudar com isso essa
semana, o que acha? — pergunto.
— Não sei, não quero deixar Jô
sozinha e...
— Você não pode viver nesse
hospital. — chamo sua atenção.
— Eu sei.
— Não fique assim, ela logo
ficará boa. — ela tem que ficar.
— Está bem. — diz por fim. —
Te ligo amanhã então, pode ser?
— Claro, pequena. Tenha uma
boa noite, te amo!
— Também te amo, papai.
Desligo o telefone e sinto medo
me invadir. Não poderíamos perder Jô,
ela é importante demais para mim e
Babi. Precisava falar com alguém a
respeito disso. E esse alguém, só pode
ser Victória.
Ela poderia descobrir através de
uma carta que escrevi há alguns anos,
quando encontrei Babi. Porém, quando
fiz minha mala, fiz questão de pegar essa
carta e a trazer comigo. Dessa vez, eu
mesmo contarei algo sobre minha vida,
sem intermédio algum.
Capítulo 11

Caleb

Termino de me arrumar de frente


para o grande espelho. Mesmo me
sentindo por muitas vezes sufocado pela
gravata, nunca me imaginei em outra
profissão. Ser advogado sempre foi meu
sonho, e reger a Advocacia Fontana, fez
isso se tornar muito mais que uma
realização.
Estava na hora de começar uma
nova semana, mesmo que minha cabeça
estivesse fervilhando ao pensar em tudo
o que houve. Não sei quantas vezes já
olhei meu celular em busca de uma
mensagem de Victória. Mas tinha que me
acalmar, não posso ter tantas esperanças
assim.
Não pareça um adolescente
ansioso!
Pego meu celular novamente e
respiro fundo. Digito rapidamente e
envio sem ao menos reler a mensagem.
Se relesse, não teria coragem.

Bom dia, minha rainha.


Espero que tenha tido uma
ótima noite de sono!

Ok, talvez chamá-la de “minha


rainha” tenha sido invasivo demais.
Droga, ela não vai sequer responder.

Bom dia, bonitão.


Então, adepto a tecnologia
numa segunda de manhã?
Quem é você e o que fez com
Caleb Soares?
Obs: Nunca dormi tão bem em
toda minha vida.

Rio de seu deboche a respeito de


mandar mensagens, pois com certeza ela
está comparando com as cartas.

Resolvi parar de usar tinta e


papel.
Não gosta disso?
Obs: Também dormi
maravilhosamente bem, obrigado por
perguntar.

Espero alguns minutos por sua


resposta, porém ela não vem. Sinto-me
um pouco decepcionado, mas já era de
se esperar. Victória não levaria esse
joguinho a diante.
Coloco meu celular no bolso e
pego minha pasta. Olho em meu relógio
e já são 7:30, quase na hora de iniciar o
dia.
Assim que entro no elevador,
ouço meu celular tocar e levo
diretamente ao ouvido. Só pode ser
Herrera.
— Soares.
— Oi, bonitão.
— Vic? — pergunto surpreso.
— Quem mais seria? — brinca.
— Desculpe tê-lo ignorado, mas queria
ver se isso infringiria no seu humor.
— Por que?
— Porque quero te conhecer,
Soares. — debocha.
— Por que ligou, Vic? —
pergunto já com a voz mais leve.
— Para te repreender, não ouse
parar de escrever cartas. — adverte. —
Elas são lindas e...
— E?
— Eu adoro. — confessa.
— Já que insiste.
— Metido.
— Não revire os olhos. —
chamo sua atenção, mas tenho certeza de
que ela o fez.
— Como sabe?
— Conheço você, Vic.
— E eu vou conhecê-lo. — diz
animada. — Posso te ver essa noite?
— Claro, tenho que conversar
com você a respeito de uma coisa. –
lembro-me de Babi.
— Parece sério.
— E é.
— Ok então, deixarei você
trabalhar e voltarei para minhas
vendas. — suspira fundo. — Tenha um
bom dia, querido.
— Você também, Vic. Até mais.
— e eu te amo, me seguro para não
dizer.
— Até, bonitão.
Ela desfaz a chamada e fico
encarando o celular, sorrindo feito um
adolescente. Cogitando a simples ideia
de levá-la a um encontro. Cafona,
talvez?
Mas isso nos foi tirado há tantos
anos, não tinha porque não tentar. Talvez
sempre foi isso que precisamos.
Conversar abertamente, sermos
sinceros, sair de nossa zona de conforto.
E dessa vez, eu faria dar certo.
***

— Bom dia, Herrera. —


cumprimento-o assim que chego a minha
sala.
— Olhe só, Soares está de bom
humor. — debocha. — O que houve com
sua mão?
Por mais que não quisesse
colocar nada em minha mão, a dor
constante que sinto me obrigou a
enfaixá-la. Isso só acarretaria
curiosidade e Herrera não me deixaria
em paz.
— Não força. — o corto. — E
então, algum caso especial nessa manhã?
— Nada muito agressivo para
nossa manhã de segunda, felizmente. —
sorri. — Mas, me diga, a quem devo
agradecer pelo seu bom humor?
— Você não vai parar, não é? —
ele nega e se senta a minha frente. —
Porém, não vou dizer.
— Qual é, Caleb?
— Pare de querer tricotar e vá
trabalhar!
— Ok, mas no fim do
expediente, quero saber. — sorri
abertamente. — Isso tem cara de mulher.
— Me deixe em paz. — digo e
ele sai gargalhando. Babaca.
Perco-me em meio a vários
papéis em minha mesa e xingo a mim
mesmo por não ter uma secretária. Qual
é meu problema, afinal? Coloco os
óculos de descanso, porque senão, nada
aqui vai para frente. Vamos lá!
As horas passam rapidamente,
enquanto me afundo na burocracia que
tenho que assinar. Ser o sócio com
maior número de ações, e portanto,
quem dá a palavra final, tem seu custo.
Mesmo sendo maçante essa parte, não
posso reclamar dos dias em que encaro
o tribunal.
Olho meu relógio em cima da
mesa, e já passa do meio-dia. Meu
estômago reclama um pouco, pois não
comi nada cedo. Termino de assinar
mais alguns papéis, e assim organizo-os
em cima da mesa.
Ouço batidas na porta e digo um
simples “entra”. Sento-me cansado e
aperto minhas têmporas. Mesmo com o
ar condicionado ligado e tendo tirado o
terno, sinto um enorme calor.
— Tudo bem, senhor Soares? —
a sua voz doce me faz despertar e a
encaro estupefato.
— Pensei que nos veríamos a
noite. — Victória sorri envergonhada.
— Bom, trouxe o almoço. —
coloca as sacolas em cima da mesa. —
Não ouse me mandar embora.
— Eu não vou. — sorrio de
lado.
— Ok então, pois da última vez
que te levei comida, acabamos
dormindo... E bom, não podemos
desperdiçar mais nada. — abre uma das
sacolas e coloca em cima mesa. —
Espero que goste.
— É bom ter acertado, estou
morto de fome. — faço menção de tirar
os óculos, porém ela me impede.
— Fique com eles, combinam
com você.
— Flertando comigo, senhora
Soares? — brinco. — Saiba que tenho
uma esposa, e ela pode ser ciumenta.
— Pode ter certeza, ela é muito
ciumenta. — entra em meu jogo. — Mas
eu não me importo. — pisca.
— Acertou em cheio. — digo ao
ver o que tem na sacola.
— Um lanche com triplo de
bacon, hambúrguer e muito cheddar... —
revira os olhos. — Como poderia ter
errado?
— Sou tão previsível assim? —
pergunto indignado.
— Até que não. — ela pega dois
grandes copos de refrigerante. — Mas,
eu comprei coca-cola. Nada daqueles
sucos industrializados que você insiste
em encher a geladeira.
— Ei, eu gosto. — protesto.
— São horríveis. — revida e
sorri. — Beba logo a coca, senão ficará
sem nada.
— Ok, atrevida. — ela ri e come
batatas fritas. — Não comprou nenhum
lanche pra você?
— Não. — dá de ombros. —
Comprei batatas e massa.
— Então, bom apetite.

***

Sorrir e conversar durante um


almoço em minha sala, nunca foi algo
planejado para que fizesse com Victória.
Ou melhor, nunca nem cogitei tal ideia.
Sempre pensei em levá-la ao cinema e
pra fazer compras, coisas comuns, mas
nunca tinha chegado a esse pensamento.
— Parece pensativo. — diz
assim que termina seu prato.
— Nada demais.
— Quer falar agora? — pergunta
curiosa.
Bom, eu ainda não sabia como
contar a ela sobre Babi. Mas com Jô
doente, não demoraria muito para que
elas se conhecessem. Babi teria de
aceitar que faz parte de minha família, e
acho que da família de Victória também.
— É um assunto complicado e...
— Li suas cartas ontem, várias
delas. — me olha inquisitiva. — Não
achei nada fora do comum.
— Eu acabei levando uma carta
comigo. — encosto as costas na cadeira.
— Ela conta a história de Babi e...
— Quem é Babi? — pergunta e
seu rosto se retorce.
— Ela é minha filha. —
confesso.
— O que? — se levanta de
repente — Você teve a coragem de ter
uma filha fora do casamento? — grita.
— Não, Victória. — falo em tom
neutro. — Não foi bem assim.
— Me diga como foi então. — ri
sem humor. — Colocou sua sementinha
na barriga de outra mulher e...
— Um dia quando estava
voltando tarde do trabalho, eu a
encontrei escondida em um ponto de
ônibus em meio a chuva que caía. Desci
correndo do carro e olhei se ela estava
bem. Não havia sinas de machucados,
mas ela chorava sem parar. Peguei-a no
colo e levei para meu apartamento no
centro. — respiro fundo. — Foi naquele
dia que conheci Antonella, ou como
particularmente eu e Jô a chamamos,
Babi.
— Você a adotou? — sua mão
tampa sua boca. — Por que nunca me
disse nada a respeito?
— Babi não quis. — suspiro
frustrado. — Ela sempre ameaçou ir
embora se a levasse para morar em
minha casa, mesmo sendo apenas uma
menina de dez anos na época.
— Quantos anos ela tem hoje?
— Dezoito.
— E o que mudou? Por que está
me contando sobre ela? — seu
semblante parece ferido.
— Porque quero ser sincero com
você. Não quero mais ser o mesmo
idiota de sempre. Esse sou eu,Vic... Sem
máscara alguma.
— Babi sabe que me contou
sobre ela?
— Ainda não, falarei com ela
hoje. Jô tem estado muito doente nos
últimos meses e Babi se nega a vir
morar comigo. Ela tem Jô como uma
mãe. Porém, quero que você ao menos a
conheça. — sorrio orgulhoso. — Ela
lembra nossa Luna.
— Tem alguma foto dela?
— Tenho. — pego o celular no
bolso e busco uma foto nossa. Entrego a
Victória e ela parece emocionada.
— Ela é linda. — sorri e limpa
algumas lágrimas que descem. — Não
acredito que passou por tudo isso e
sempre se mostrou impenetrável.
— Talvez seja um bom ator. —
sorrio fraco.
— Não, seus olhos não enganam.
— passa pela mesa e vem até mim. —
Talvez eu que não quisesse enxergar.
— O que? — pergunto em um
sussurro e lhe dou espaço para sentar em
meu colo.
— Que o homem imperfeito
sempre esteve ao meu lado. — fico
ainda mais confuso com sua declaração.
— Te explico depois.
— Ok.
— Eu vou te beijar, senhor
Soares. — diz com os lábios próximos
aos meus.
— Sem objeções, minha rainha.
— e ela o faz.
***

Depois de um longo momento


com Vic em meus braços, ela se foi.
Tinha alguns problemas para resolver
com sua loja online. Acabei então,
entrando de cabeça no trabalho e mal vi
as horas passarem.
Assim que o relógio marca
18:00, mesmo tendo muita coisa para
fazer, resolvo deixar para amanhã.
Preciso falar com Babi e se tudo correr
bem, apresentar-lhe finalmente a
Victória.
Pego meu celular e disco seu
número.
— Oi papai.
— Oi pequena, tudo bem?
— Sim, apenas estava
esperando sua ligação.
— E como Jô está? Pensei em ir
vê-la hoje as sete, no horário de visitas.
— Hoje cedo, tudo estava bem.
— respira fundo. — Mas podemos ir
vê-la, ficaria muito feliz.
— Ok, pequena. — desligo as
luzes de minha sala. — Onde está?
— No apartamento, por que?
— Em poucos minutos estarei aí.
Preciso falar com você.
— Parece sério. — fica em
silêncio. — Estarei te esperando.
— Até daqui a pouco, então.
— Até. — desliga.
Não sei como Babi reagirá, mas
eu necessito que ela conheça Victória.
Sempre sonhei com esse momento.
Claro, que se ela se opuser como fez a
anos atrás, eu não a forçarei. Mas
espero que dessa vez, ela entenda, que
jamais foi um estorvo pra mim. Que
sempre quis que todos soubessem que
ela é uma Soares.
Capítulo 12

Victória

Fico perdida em pensamentos,


enquanto resolvo alguns problemas do
site da loja em que sou dona. Sempre fui
fanática por livros, e isso me levou a
criar uma livraria online. Trazendo para
o Brasil, em primeira mão, os livros que
geralmente demoram meses para chegar.
Sei bem como uma leitora se sente com
isso, então, resolvi juntar minha paixão
com minha profissão.
Como sou formada em
engenharia de software, fazer todo o site
e deixá-lo de modo explicativo e fácil,
foi algo gratificante. Claro, que pedi
auxílio a um professor de minha antiga
faculdade, e ele me deu as orientações
necessárias. Ele, mais do que ninguém,
sabe o quanto lutei para terminar em
tempo recorde a faculdade. Pois queria
muito me dedicar apenas a Luna.
Agora, depois de alguns anos no
ar, o site me rende um bom dinheiro e
felizmente, quem acompanha está
contente com o que é disponibilizado.
Mas desde o momento em que pus na
cabeça que quero fazer um aplicativo,
comecei a pirar. Porém, meu tempo
praticamente voa enquanto estou de
frente para a tela.
— Estou ouvindo seus passos.
— digo alto e me viro. — Se
escondendo na sua própria casa? —
zombo.
— Não enche, Vic. — vai
andando em direção as escadas.
— Qual é, Dani? — a sigo. —
Isso está com cara de amor.
— Não, eu não... — ela fica
totalmente sem graça. Bingo!
— Quem é ele? — pergunto
curiosa.
— Posso não falar nisso ainda?
— apenas assinto. — É que não sei se
gosto dele o suficiente pra... — ela cora.
— Como assim? — pergunto
sem entender.
— O conheci há poucos dias e...
Nós nos beijamos, o clima esquentou e
eu fiquei com medo. — confessa.
— Mas você queria seguir em
frente?
— Sim. — ela cora ainda mais.
— Tenho medo de estar sendo fácil
demais e... É que eu nunca senti isso na
minha vida, Vic. Eu tenho 35 anos, já
sou uma mulher, mas nunca fiz sexo com
ninguém.
— Bom, eu desconfiava disso.
Mas não deixo de ficar surpresa.
Danielle Campos é uma das mulheres
mais belas que já vi. Os olhos azuis
claríssimos, parecem transparentes, sua
pele é clara e combina perfeitamente
com o cabelo loiro.
— Eu não sei o que fazer. — se
senta num degrau e eu fico ao seu lado.
— Confia nele? — pergunto.
— Ele me passa algo que nunca
senti na vida. — dá de ombros. — O
jeito que sorri, como me olha, me toca,
me beija... O modo como fala comigo. É
totalmente diferente.
— Sei bem como é. — assumo.
Sim, eu estou pensando em
Caleb. Será que...
— E o que acha que devo fazer?
— ela pergunta, o que interrompe meus
pensamentos.
— Siga seu coração, Dani. —
sorrio. — Às vezes, o amor,
simplesmente acontece. Não podemos
nos negar viver. — acho que digo isso
mais para mim, do que para ela.
— Obrigada Vic, eu farei isso.
— diz e me abraça.
— Use proteção em. — ela me
dá um tapa e logo sobe.
Sento-me no degrau e fico ali
divagando por alguns momentos. Será
que finalmente, nós duas, tínhamos
encontrado o amor?
Meu celular vibra e o retiro
rapidamente do bolso.
— Oi, bonitão. — brinco e ouço
seu sorriso abafado.
— Oi. — diz baixo. — Estou no
apartamento com Babi, ela... Pediu
para que você viesse até aqui. Tudo
bem?
— Claro. — respondo um pouco
surpresa.
— Ela está preparando lasanha
à bolonhesa pra você. — fala ainda
mais baixo.
— Olhe só, ela é prendada. —
sorrio. — Pelo menos, não é um
desastre na cozinha feito Luna e eu.
— De fato não.
— Ei. — o repreendo. — Que
horas tenho que ir?
— Daqui uma meia hora, pode
ser? — respondo um simples “sim”. —
O motorista irá trazê-la.
— Posso muito bem dirigir,
Caleb. — protesto.
— Por sua segurança, Vic. —
insiste.
— Ok, mandão. — reviro os
olhos.
— Não revire os olhos!
— Não seja um velho ranzinza.
— o provoco.
— Posso te mostrar quem é o
velho hoje à noite.
— Mal posso esperar. —
suspiro lembrando de nosso beijo nessa
tarde. — Vou me arrumar, até já.
— Até.
Vou em direção ao meu quarto e
separo uma calça jeans e uma blusa
preta estilo indiano. Pego uma simples
sapatilha da mesma cor e alguns
acessórios. Não sei ao certo como me
portar, e isso me assusta. E se Babi não
gostar de mim?
Resolvo então espantar meus
medos e tomar um longo banho. Canto
sozinha por alguns momentos e quando
passo o sabonete pelo meu corpo, é
como se sentisse o toque de Caleb
novamente. Eu o quero!
Assim que termino o banho,
visto-me rapidamente e vejo que já
passaram os trinta minutos que Caleb
disse. Pego minha bolsa no closet e
passo o perfume.
Vamos lá Victória, você tem 40
anos, não pode se assustar com uma
menina de 18!
Saio do quarto e dou de cara
com Dani, toda arrumada, indo na
mesma direção que eu.
— Vai encontrá-lo hoje?
— Vou. — sorri e lê uma
mensagem no celular. — Acho que sei o
que fazer.
— Caso se sinta pressionada,
não faça nada, ok? — digo e ela assente.
— Ah, use camisinha! — grito e corro,
antes que ela me bata.
O motorista está me esperando
como imaginei e o saúdo como sempre.
Seu Chico, como quase sempre o chamo,
na verdade tem minha idade. Porém,
como esse é seu apelido, resolvi aderir.
— Boa noite, Chico. — ele sorri
amigavelmente.
— Está linda, senhora Soares.
— Um galanteador, como
sempre. — sorrio. — Como Suze, está?
— Ainda se recuperando. — sua
esposa havia sofrido um aborto
espontâneo pela segunda vez. — Mas
ela é forte.
— Sinto muito, Chico. — ele
sorri fraco. — Mas caso precise de
algo, saiba que estou aqui, certo?
— Obrigado, senhora.
— Nem vou brigar com você
novamente sobre me chamar de
“senhora”, porque já vi que não adianta.
— resmungo e seguimos caminho.
Assim que ele estaciona em
frente ao imponente prédio, ele desce do
carro e me acompanha até a portaria.
— Ordens de seu esposo. — diz
baixo.
— Tudo bem. Obrigada por me
trazer. — ele assente e logo vai embora.
Assim que chego, como minha
entrada está liberada, posso facilmente
adentrar o grande prédio. Lembro-me de
ter vindo aqui poucas vezes, quando
Luna ainda era um bebê e mal conhecia
Dani. Esse deve sempre ter sido o
refúgio de Caleb.
Com as mãos já suando, entro no
elevador e fico acompanhando as
luzinhas subirem por cada andar.
Quando finalmente para no último, solto
um logo suspiro.
Coragem, Victória!
Saio do elevador e me
encaminho até o apartamento. Respiro
fundo antes de tocar a campainha, e
assim que o faço, praticamente tenho um
ataque de nervos. Eu estou muito
nervosa, mais do que o normal.
Assim que porta se abre, Caleb
sorri com carinho em minha direção e
me puxa contra seu corpo. Eu ainda não
aprendi a lidar com isso, o modo como
ele passa de envergonhado para ousado.
Ele simplesmente me quebra com esses
gestos inesperados.
— Boa noite, minha rainha. —
diz e me dá um beijo casto.
— Boa noite, bonitão. — ele
sorri de lado, do modo que me
desestabiliza.
— Tem alguém muito animada
para te conhecer. Não precisa ficar
nervosa. — assegura.
— Não estou nervosa. — reviro
os olhos. — Ok, um pouco.
— Eu sei disso, conheço suas
nuances.
— Não nega ser amigo de Levi.
— resmungo. — Ele também parece
saber tudo. — explico.
— Vem. — abre caminho e eu
dou passos contados em direção a sala
de jantar.
Estaco no mesmo momento que
uma jovem aparece vestida com um
avental sobre a roupa e me encara
embaraçada. Babi é ainda mais linda do
que nas fotos. Seus traços são
claramente asiáticos, os olhos levemente
puxados, a pele clara, os cabelos lisos e
negros. Ela retira o avental rapidamente
e o joga longe. Seguro um sorriso, por
saber que não sou apenas eu que estou
nervosa.
— Oi. — digo sem saber o que
fazer. — Sou Victória.
— É um prazer conhecê-la,
senhora Soares. — diz formalmente e
passas as mãos com força sobre o
vestido.
— Senhora? Por favor, apenas
Vic. — ela sorri. — Posso ser velha,
mas não precisa me chamar assim.
— A sen... Quer dizer, você não
é velha. — diz ao me analisar. — É
linda, assim como papai sempre disse.
— Então seu pai fala sobre mim?
— indago curiosa.
— Bom, várias vezes ele...
— Estou vendo que me tornei o
assunto principal. — Caleb intervém
fingindo estar bravo.
— Não é mentira, papai. — ela
sorri.
— Adorarei saber sobre tudo o
que disse de mim, senhor Soares. — ele
me encara assustado.
— Só vou pegar os copos e lhe
contarei tudo. — ela sai rapidamente.
— Ela gostou de você. — ele diz
e segura minha cintura.
— Pensei que ela estivesse
fugindo. — solto o ar com força. —
Será que...
— Pare de se preocupar Vic, ela
fez lasanha pra você. — constata e eu
fico perdida. — Quase tenho que
implorar para que ela faça pra mim.
— Isso é mentira. — Babi
adentra a sala. — Eu sempre faço as
comidas que pede.
— Às vezes. — Caleb parece
uma criança birrenta. — Mas por que
não conta para Vic sobre como gosta da
loja dela?
— É que...
— Sério, você compra livros na
loja? — pergunto empolgada, enquanto
nos sentamos.
— Sim. — ela parece
envergonhada. — Na verdade, uma boa
parte do que compro por mês é lá. Eu
adoro ler, e lá tem os romances que
nunca encontro.
— Estou pensando em fazer um
aplicativo, para que possam ler os
livros, no caso e-books, com mais
facilidade. O que acha?
— Eu acho um máximo. — sorri
abertamente. — Fico até imaginando
como será o design e...
— Gosta de design? — ela
apenas assente.
— Na verdade, Babi vai prestar
vestibular para isso. — Caleb intervém.
— Sério? — a encaro espantada.
— Sim, na verdade é
Comunicação Visual, especialização em
Design. — esclarece. — Acho
magnífico poder modificar coisas ao
meu redor.
— Poderia me ajudar com o
design do aplicativo, o que acha? —
sugiro e ela arregala os olhos.
— Mas eu ainda não sei nada.
— Mas vai aprender e sei que
deve ter talento. — insisto.
— Ela tem. — Caleb diz
orgulhoso. — Tem que ver os desenhos
dela, são maravilhosos como os de
Dani.
— Não teve sorte em, bonitão?
— brinco. — Luna faz medicina e Babi
foi para área de seu pai. — ele faz uma
careta.
— Pra você ver, duas traidoras.
— brinca e gargalhamos. — Mas estou
feliz por fazerem o que gostam.
— Isso não faz a faculdade ser
menos pior. — suspiro ao me lembrar
das provas. — Eu odiava ter que fazer
provas. Odiava!
— Não bote medo em Babi. —
ele adverte sorrindo.
— Vai dizer que gostava de virar
várias noites estudando para uma
matéria que odiava? — mexo meus
ombros. — Deus que me livre! Ainda
mais você, que estudou todas aquelas
leis. — zombo.
— É papai, deve ter sido
horrível. — Babi prende o lábio
inferior, assim como eu. A careta de
Caleb é impagável.
— Vão rindo. — debocha. — A
mocinha, logo mais verá que nem tudo é
perfeito no seu curso.
— Pelo menos ela não tem que
carregar o... Como é mesmo o nome? —
pergunto a Babi.
— Vade mecum. — diz e
gargalha.
— Pior livro de todos. —
continuo debochando e ele revira os
olhos. — Ei, sem revirar os olhos!
— Essa piada é tão velha. — ri
forçadamente. — Estou com fome, então
vou fingir que não estou aqui. — assim,
ele se serve.
Pisco para Babi que ainda sorri
da cara do pai. Os dois realmente ter um
laço forte, impossível não notar.
Enquanto todos nos servimos, noto que
Babi parece bem mais à vontade agora.
Não deixo de imaginar o quão
feliz Luna ficaria ao saber de Babi. Sei
o quanto ela sempre sonhou em ter um
irmão, ela sempre me pediu isso. Porém,
antes tudo era tão complicado. Agora,
tudo faz tanto sentido.
— A comida estava maravilhosa.
— elogio. — Quem me dera ter suas
mãos, Babi.
— Obrigada. Jô me ensinou
tudo. — diz e logo seu rosto se torna
triste.
Pego sua mão pela mesa e forço
um sorriso.
— Conheço Jô, sei o quanto ela
é forte. — digo com cuidado.
— Obrigada. — diz sem jeito.
— Por estar aqui.
— Sempre estarei por aqui, a
partir de agora. — esclareço e me
levanto.
Ela faz o mesmo e vem de bom
grado até meus braços. Eu a abraço com
carinho e beijo seus cabelos.
— Sinto tanto medo de perdê-la.
Ela é como uma mãe pra mim. — diz
chorando em meu ombro.
— Eu sei, pequena. — arrisco
usar seu apelido. — Estou aqui por
você, ou melhor, nós estamos.
Caleb passa seus braços a nosso
redor e praticamente nos envolve. É um
daqueles momentos que gostaria de
eternizar, que parecem passar em
câmera lenta.
— Obrigada. — sussurro para
Caleb, que está obviamente emocionado.
— Obrigado você, minha rainha.

***
Horas mais tardes, após Babi se
acalmar e o clima ficar descontraído
novamente, resolvo deixar com que ela
descanse. Ela é uma boa garota, e está
passando por algo difícil. Sei bem como
é, perdi meu pai muito jovem, e até hoje
sinto sua falta.
Estou com os dedos entrelaçados
nos de Caleb, enquanto caminhamos
pelo calçadão de Copacabana. As ondas
quebram na areia e a luz da lua ilumina a
água. Sem conseguir resistir, tiro minhas
sapatilhas e piso na areia macia.
— Você gosta de praia, não é?
— Sim, sempre foi meu refúgio e
de Dani. — confesso. — Amo o modo
como tudo parece interligado aqui, como
parece trazer paz.
— Se fui dez vezes, em toda
minha vida, é muito. — diz e eu volto
para seu lado no calçadão. — Acho que
nunca me habituei muito.
— Pensei que corresse todas os
fins de semana.
— Até fazia, porém as revistas
começaram a publicar fotos de mim e...
— Não gosta de exposição, não
é? — ele assente.
— Além de que muitas mulheres
vinham falar comigo, e mesmo com
minha aliança... Era muito embaraçoso.
— assim que ele termina sua fala, sinto
meu estômago revirar.
— Era um bom momento para
conseguir mais uma amante. — as
palavras saem antes que eu possa
impedir.
O olhar magoado de Caleb e seu
suspiro mostram claramente que não
devia ter falado de tal modo. Mas não é
100% mentira, não é?
— Eu não me orgulho disso, Vic.
— diz calmamente. — Muitas vezes eu
não dormi com as mulheres, na verdade,
ao longo de todos esses anos, posso
contar com as duas mãos a quantidade
de amantes que tive.
— Mas e aquelas fotos? —
pergunto incrédula.
Há muitas mulheres nelas.
— Eu sabia que estava tentando
descobrir algo sobre mim. — confessa.
— Então, a maioria delas, com aquelas
várias mulheres, foram simples
atuações.
— Você está brincando? — paro
no mesmo instante.
— Não. — seus olhos azuis
parecem temerosos. — Pensei que fosse
ficar com ciúmes de mim...
— E todas as vezes que cheirava
a mulher, cada vez um perfume
diferente....
— Eu comprei os perfumes e os
passava. — leva as mãos ao cabelo e
passa as mãos diversas vezes. — Fui um
idiota, ok? Agi feito um adolescente.
— Mas isso não muda o fato de
que me traiu. — penso alto.
— Isso não muda o fato de que
ama Tomás. — rebate nervoso e agora
seus cabelos parecem ainda mais
selvagens.
— Eu...
— Não precisa ficar jogando em
minha cara os meus erros. — é rude. —
Sei bem que fui um idiota, babaca e não
agi corretamente. Mas isso não muda o
fato de que nós dois erramos.
— Eu sei. — tento abraçá-lo,
porém ele se afasta. — Eu não o amo,
Caleb.
— Sei disso, Vic. — diz
tristemente.
Ele entendeu errado.
— Não falo sobre você. —
esclareço. — Não amo Tomás. — seus
olhos se arregalam.
— O que? — pergunta surpreso.
— Se eu o amasse, tanto como
imaginei, não estaria aqui agora. —
sorrio. — Eu estaria chorando e me
lamentando em algum canto da mansão.
— Não precisa...
— Qual é, Caleb? — indago. —
Sei que me conhece bem, ao contrário
de mim, que sei pouco sobre você. Sabe
que é exatamente isso que estaria
fazendo.
— Pior que sei. — passa as
mãos nos cabelos. — Só pensei que
fosse...
— Minha segunda opção? — ele
assente. — Como poderia ser a segunda
opção de alguém, bonitão? Acha que
porque as mulheres te abordavam na
praia? Você é lindo, Caleb. — ele fica
estático. — Tanto por dentro, quanto por
fora.
— Vic...
— Podemos tentar, sabe? —
sugiro. — Sinto que podemos dar certo.
— Não quer mais o divórcio? —
pergunta e circunda minha cintura.
— Quero nós dois.
— Tem certeza disso? —
pergunta ansioso.
— Sim, e você?
— Realmente precisa fazer essa
pergunta? — ele sorri. — Sempre fui
seu, Vic.
— Lindo. — passo as mãos pelo
seu rosto e uno nossos lábios.
— Vem. — pede assim que nos
separamos. — Quero amá-la a noite
toda.
— Sou sua. — ele me pega no
colo, sem se importar com as pessoas ao
nosso redor e me beija lentamente dessa
vez.
— Minha.
Agora se inicia, uma nova fase
de nossas vidas.
Capítulo 13

Caleb

Acordo assustado com o toque


de meu celular. Sem sequer olhar o
visor, atendo-o rapidamente.
— Alô!
— Foi ele não foi? Foi por isso
que me socorreu... Por culpa? Droga
Caleb, foi ele que matou minha irmã?
— Merda!
— Dani, se acalma. Uma coisa
de cada vez...
— Você quer que eu me acalme
como Caleb? Foi ele ou não? — insiste
e me sento rapidamente na cama.
— De quem você está falando,
afinal? — pergunto. Torço para que ela
não cite o nome de meu irmão.
— Não me engane mais, Caleb.
Sabe que estou falando de Castiel. —
fico mudo.
Eu sabia que quando Dani
descobrisse que foi meu irmão o cara
que engravidou Annie, que iria ficar
além de magoada por não ter lhe
contado a verdade. Mas como eu faria
isso?
Oi, tudo bem? Então, meu irmão
mais velho engravidou sua irmã e
pediu para que ela abortasse a criança,
só que eu acabei assumindo o bebê e
ela morreu no parto.
Nunca soube como fazer isso,
então quando Annie chegou a falecer,
trouxe ela para morar comigo. Sempre
soube que ela não tinha ninguém além da
irmã e não a deixaria sozinha. Mas como
acompanhei a gravidez de Annie de
perto, Dani confiava um pouco em mim,
então não fez objeções.
Claro que ela ficou receosa, eu
era recém-casado, e ela não queria
interferir em meu relacionamento. Mas
no fim, ela acabou entendendo toda
situação, mesmo sendo tão jovem na
época. Todos passaram a acreditar que
Luna era minha filha com Victória, bom,
não tinham como dizer o contrário. Pois
depois que nos casamos, Vic fingiu a
gravidez. Chegou até a usar uma barriga
falsa. Tudo por Luna.
— Dani, eu sinto muito. — digo
simplesmente.
— Não me diga que sente muito,
Caleb. Meu Deus, ele praticamente
matou minha irmã e eu ainda...
— Você o que? — pergunto
nervoso. — Dani, me diga que não
chegou perto dele. — levanto da cama.
— Não, não é nada demais. —
responde com a voz falha.
Der repente ouço um estrondo,
como de algo batendo com força.
— Dani, está tudo bem? — grito
preocupado e começo a colocar minha
roupas, preciso encontrá-la agora.
Ouço uma voz no fundo, porém
não consigo distinguir muito bem. Fico
em silêncio apenas ouvindo, termino de
me arrumar e deixo um bilhete pra Vic,
que dorme serenamente. Pego o
elevador e quase tenho uma síncope com
a demora pra chegar a garagem. Assim
que chego ao meu carro, dou a partida.
O silêncio do outro lado da linha
é rompido por uma voz masculina.
— Por que se trancou nesse
banheiro e está no telefone?
— Não se aproxime de mim! —
Danielle grita
— O que houve feiticeira?
Hum? — a voz masculina pergunta e eu
forço um pouco mais para ouvi-la.
Parece que conheço.
— Já disse pra ficar longe de
mim. Eu tenho nojo de você! — ela
grita e logo ouço sua voz de volta no
telefone:
— Caleb, me ajuda! Estou na
mansão e... — pede e ouço o som de
seus soluços.
Sei agora o quão está com medo
do tal cara e sabendo meu destino,
acelero ainda mais o carro. Antes que eu
possa responder ouço o som de um
estalo o que me parece um tapa.
— Dani! Chame os seguranças
agora! — grito para o celular, sem obter
respostas.
— Então era isso sua
vadiazinha? Meu irmão que te mandou
pra me seduzir, não foi? — espera aí!
Irmão?
— O que faz com ela, Castiel?
— grito desesperado. — Responda,
maldito.
— Estou indo embora agora
mesmo de sua casa. — ele diz. — Não
sei como fui capaz de vir até aqui por
ela. Parabéns, irmão! Me enganaram
direitinho.
Viro a esquina e finalmente
chego em casa. Passo rapidamente pelo
portão e corro para dentro, subo as
escadas e encontro Dani jogada no meio
do corredor chorando. Logo Castiel sai
do quarto dela batendo palmas.
— Parabéns irmãozinho, quase
conseguiu me enganar! Pelo menos
acertou no meu gosto, sempre gostei de
loiras com olhos claros, ainda por cima
gostosinhas. — zomba, mas parece
furioso.
Seu rosto está vermelho, agora
sei o que foi o estalo que ouvi. Dani o
bateu.
— Dani. — ela levanta o rosto
em minha direção e vem correndo para
meus braços. — Sinto muito, querida.
Me desculpe por não ter lhe dito a
verdade.
— Você vai se arrepender do
que fez! — ela se solta de mim e o
encara. — Eu vou acabar com você,
pode ter certeza disso! Fui fraca por um
momento pois não controlo minhas
crises, mas pode guardar que vou acabar
com sua vida, assim como acabou com a
minha. — diz e sustenta um olhar duro
contra ele.
— Faça me rir garota, isso é uma
ameaça? Pode parar já, a farsa acabou.
Sei que ficou comigo apenas para me
manter longe do idiota romântico aí. —
Castiel diz zombeteiro, porém noto que
não está bem.
Será que ele não tem mesmo
ideia de que Dani é irmã de Annie?
— Você acha que eu perderia
minha virgindade com você porque
tenho um combinado com seu irmão?
Acha mesmo que iria ficar com você
sabendo quem de fato é, e tudo que fez?
Acha mesmo que diria que estava
apaixonada sabendo o verme que é? —
ela grita próxima ao rosto dele.
— Podem parar com o teatrinho,
está ficando tedioso. — Castiel diz e
abre um sorriso cínico.
— Teatro? Você acha que isso
tudo é a merda de um teatro? — Dani
grita e tenta ir pra cima dele, porém a
impeço. — Acha que o mundo gira em
torno de você, Castiel? Pois saiba que
não. Nunca ouvi falar de você antes! O
único irmão do qual ouvi falar e conheci
foi Christopher, pra você ter noção do
quanto sua família o considera, não é?
— Castiel fica mudo. — Não passa de
um verme sem escrúpulos e vou fazê-lo
pagar por tudo.
— Você é uma ótima atriz,
admito. Mas pra continuar a ceninha
ridícula, por que não me diz pelo que
tenho que pagar? Pela noite de hoje? —
ele zomba. — Claro, eu posso...
— Vai pagar por dar dinheiro a
minha irmã para tirar o filho seu que ela
carregava! Vai pagar por permitir que
seu irmão mais novo assumisse o seu
filho! Vai pagar por ter matado minha
irmã! — ela grita e vejo Castiel
empalidecer.
— É irmã de Annie? — ele fica
estático. — Não pode ser. — diz baixo.
— Ela morreu no parto, no parto
o qual você deveria estar presente.
Minha irmã sofreu uma depressão
profunda durante toda a gravidez porque
foi tola o bastante para amar um fraco
como você. Ela quase perdeu Luna
várias vezes, e fui eu quem a ajudou no
meio da noite e afastava todas as
lâminas e remédios possíveis para que
ela não cometesse nenhuma loucura. —
agora nós dois ficamos surpresos, eu
nunca soube disso.
Notei sim que Annie era muito
fechada e pouco falava sobre o bebê,
mas nunca imaginei que ela estivesse tão
doente assim. Meu Deus!
— Sabe o que ela me dizia todos
os dias super animada? "Irmã, se eu
tirar essa coisa de dentro de mim, ele
vai voltar pra mim e vamos ser felizes
de novo."
O silêncio se instala entre todos
nós. Castiel apenas fica parado a
olhando, sem saber que reação tomar ou
o que dizer.
— Então saiba que Caleb não
tem nada a ver com o que tivemos, e
tudo o que terei pra lembrar disso é
nojo. E nada irá me fazer parar até
conseguir mandá-lo de vez para o
inferno, se é que você já não está nele.
— ela diz e vejo o quão fragilizada está.
Sinto medo pelo que pretende fazer, ela
não é assim, nunca foi.
— Feiticeira, me escuta eu
posso... — meu irmão parece perdido.
O que houve com você, Castiel?
— Pode se explicar, Castiel?
Explicar que não passa de um invejoso,
pois é isso que transparece pra mim. E
não se dirija a mim, muito menos com
esse apelido ridículo. Tenho pena de
você! — ela diz e meu irmão se cala,
passando as mãos pelos cabelos
exasperado.
— Vamos? — pergunto passando
a mão sobre seus ombros e a puxo pra
longe dele. — Vá na frente.
Dani vai em direção as escadas
rapidamente e Castiel tenta passar por
mim. O puxo pelo braço.
— Caleb, eu preciso falar com
ela. Eu não fazia ideia de que...
— Corta isso, Castiel. — fecho
meus punhos. — Precisamos conversar
sobre tudo o que está havendo. E quero
você fora de minha casa e longe da
minha família.
— Eu não viria aqui se Danielle
não tivesse pedido. — explica. —
Preciso mesmo falar com você.
Esclarecer o porquê de minha volta.
Luna...
— Não toque no nome de Luna!
— grito e o empurro contra parede.
— Não é isso que está pensando.
— busco ironia em sua fala, porém não
encontro. — Fiz toda aquela cena,
porque não queria que Victória
desconfiasse de nada.
— Como assim? — pergunto
sem entender e solto seu corpo.
— Podemos conversar amanhã?
— pergunta e eu assinto.
— Vou, porque tenho que levar
Dani daqui. Mas quero uma explicação
pra tudo isso!
— Você a terá. — diz e leva as
mãos aos cabelos. — Amanhã então.
Assinto e desço as escadas em
busca de Dani, a encontro sentada no
sofá e puxo para meu abraço.
— Estou aqui. — digo e beijo
sua testa.
— Apenas me tire daqui, Caleb.
Por favor. — pede em meio ao choro.
— Vem.
No carro vejo o quanto ela está
se segurando para não desabar, talvez
para manter a pose de má ou algo do
tipo. Mas não quero ela assim, desde
que nos conhecemos sinto como se fosse
meu dever protege-la, como um irmão
mais velho.
— Dani, não faça isso!
— Isso o quê? — me encara.
— Se fechar pra mim.
— Estou bem, só estou
pensando. — afirma, desviando o olhar
— Sobre o que? — pergunto
receoso.
— Em como destruir Castiel.
Capítulo 14

Victória

Após receber uma mensagem de


Caleb, fiquei em total alerta no quarto.
Meus planos eram apenas dormir após a
noite diferente e mágica que passamos
juntos, mas como sempre, o destino
parece brincar conosco.
Ele apenas ligou e disse que
estaria chegando com Danielle em
alguns minutos, mas me pediu para não
fazer perguntas a respeito, porém deixou
escapar que Castiel está envolvido.
Eu só torço para que Dani não
tenha se metido com ele.
A porta do quarto finalmente se
abre e Caleb entra de ombros baixos.
Vou até ele e enquanto ele tranca a porta,
acaricio seus ombros.
— Ei. — digo baixinho e ele
vira seu rosto pra mim.
Toco de leve em sua barba e ele
beija com carinho minha mão. Seu
sorriso é claramente forçado e cansaço
emana de seu corpo. O que pode ter
acontecido de tão grave?
— Pareço tão mal assim? —
pergunta indo em direção ao frigobar.
Ele tira um vinho de dentro e
enche uma taça, logo vira de uma vez.
— O que aconteceu? — pergunto
e tiro o vinho de suas mãos. Não queria
vê-lo abusar da bebida novamente.
— Danielle se envolveu com
Castiel. — confessa baixinho e se senta
na cama. — Ela dormiu com ele.
— Meu Deus! — levo as mãos a
boca e o encaro espantada.
— Pois é. — meneia a cabeça.
— Não entendi ao certo ainda, Dani não
entrou em muitos detalhes, mas ela
descobriu tudo.
— Sobre Annie? — pergunto
praticamente em um sussurro e ele
assente.
— E tem mais.
— O que? — sento-me ao seu
lado.
— Castiel pediu para falar
comigo amanhã, no caso, hoje eu acho,
já que ainda é madrugada. — leva as
mãos ao cabelo. — Ele disse que sua
volta não tem nada a ver com Luna.
— Mas então...
— Só vou descobrir mais tarde.
— fecha os olhos com força.
— Ei. — o chamo e ele ignora.
Por mais que não conhecesse e
muito menos tivesse reparado muito em
suas feições, vinte anos juntos me
fizeram notar algumas manias dele,
mesmo que sem querer. A expressão em
seu rosto é de pura culpa, do mesmo
modo que ele ficava quando Luna
apenas caía.
— Não é sua culpa. — beijo de
leve sua boca.
— O pior de tudo é que Castiel
parecia tão assustado quanto Dani, os
dois pareciam chocados. — suspira
fundo. — Acho que ele contou a ela a
verdade sobre seu passado, sem saber
que Dani era irmã de Annie.
— Só que Dani interligou tudo
e... — deixo as palavras morrerem no
ar. — Ele confessou a ela.
— Parecia meu irmão novamente
ali. — ele limpa uma lágrima qu desce
por seu rosto. — O mesmo irmão que
perdi há vinte anos.
— Vocês eram muito unidos
antes, não é? — acaricio seus cabelos.
— Muito. — ele leva as mãos ao
rosto. — E agora, me sinto um lixo por
ter escondido a verdade de Dani e ao
mesmo tempo, não sei se estou
preparado para falar com meu irmão. Eu
não suportaria saber que ele não se
arrepende de tudo e...
— Não fique assim. — limpo
suas lágrimas. — Fale com ele, tem algo
errado nessa história. Castiel não
voltaria depois de vinte anos apenas
para marcar presença.
— Tenho medo que Luna
descubra a verdade e... — suas palavras
cortam meu coração.
Não sabia o que mais feria
Caleb, se o estado de Danielle, a
complicação com a relação do irmão, ou
simplesmente nossa filha saber a
verdade. E essa é uma versão de nossa
história que nunca pensei em viver, o
medo de Luna descobrir sobre tudo.
— Ela está em lua de mel, não
tem como saber. — tento parecer
decidida. — Estou aqui com você,
Caleb.
— Obrigado. — diz baixinho e
beija minha testa.
E essa é uma versão de Caleb
que não conhecia e tenho certeza que
praticamente ninguém teve. Não é o
homem imponente e destemido que fala
ou o grande advogado ou o marido
autoritário... É apenas um homem sem
armaduras e máscaras, demonstrando
seu medo como se eu fosse sua
salvação. Eu não posso dizer como meu
interior se sente no momento. Mas tudo
o que quero é abraça-lo e permanecer
assim.
— Dani está no quarto ao lado.
— dá de ombros. — Sabe como ela é,
se negou a ficar aqui conosco.
— Certo. Vou dar um tempo para
ela sozinha, tenho certeza de que ela não
quer conversar com ninguém.
— Mais tarde levo vocês para a
mansão e vou encontrar Castiel. — deita
na cama e me puxa pra si. — Obrigado
por estar aqui, minha rainha.
Fico com o cotovelo sobre seu
peito e nossos sorrisos se abrem
sincronicamente. Mesmo com tudo
parecendo incerto, algo faz sentido
agora. E por mais que nunca tenha
imaginado, o meu correto para ser o
mesmo que o de Caleb.
Capítulo 15

Caleb

Tento fechar os olhos e dormir


por diversas vezes, porém apenas
consigo me lembrar do desespero e a
frieza nos olhos de Dani, o medo de
Luna descobrir sobre tudo me arrebata a
cada instante. Minha vida virou de
pernas pro ar de repente.
— Sem sono? — Victória se vira
pra mim e sorri fraco. — Devia dormir
um pouco.
— Queria conseguir dormir
depois de tudo isso. — suspiro fundo.
— Tudo mudou tão rápido.
— Tudo virou de cabeça pra
baixo de repente. — sorri gostosamente
e se espreguiça. — Mesmo assim, ainda
não consegui perder todo o sono que
tenho.
— Sei bem disso. Seu sono,
assim como o de Dani é profundo e... —
fecho a boca no mesmo instante que
percebo o que disse.
Droga!
— Como sabe que tenho sono
pesado? — indaga curiosa e se escora
em cima de mim.
Fico em silêncio e relembro das
inúmeras vezes que simplesmente fui até
o seu quarto para vê-la dormir. Nas
quais, sem exceção, disse o quanto a
amava.
— Você velava meu sono? —
pergunta com um brilho diferente no
olhar.
— Eu... — suspiro fundo. —
Precisamos mesmo falar sobre isso? —
bufo e me sento.
— Sim. — sussurra sorrindo. —
Quero conhecer você, Caleb.
Apenas continuo encarando-a.
Não consigo dizer nada, parece que as
palavras fugiram. Como assim me
conhecer? Eu não tenho nada que
desperte o interesse dela, e isso faz com
que minha fala não saia de vez.
— Bom. — revira os olhos. —
Eu começo perguntando... Já se
apaixonou alguma vez?
— Sabe que sim. — respondo
sem entender sua pergunta. — Desde
que te conheci, eu...
— Não, estou dizendo por outra
pessoa. — dá de ombros. — Foram
vinte anos casados e ao mesmo tempo
distantes. Ninguém conseguiu chegar até
seu coração e...
— Não. — a corto, e tenho
certeza de que notou minha voz ríspida.
Não quero realmente tocar nesse
assunto.
— Seja sincero comigo, por
favor. — pede e se ajeita melhor na
cama, ficando de pernas cruzadas.
— Estou sendo. — desvio olhar.
— Você não desviaria o olhar se
estivesse. — me acusa.
— Não estou mentindo, ninguém
chegou perto de meu coração... A não
ser você. — digo encarando-a.
— Por que sinto que está me
escondendo algo? — insiste e eu bufo
irritado.
Levanto-me com raiva da cama e
lembranças de anos atrás vem a minha
mente. Não que ainda me importe, na
verdade não sei se realmente em algum
momento foi importante, mas o fato é
que tudo isso remete a algo que quero
que permaneça enterrado.
— Quem é ela? — Vic pergunta
de repente e apenas me encosto na
grande porta de vidro que dá para a
sacada.
— Não é algo relevante Victória.
— a corto. — Pode ter certeza de que...
— Qual é, Caleb? — levanta-se
e vem em minha direção. — Se não
fosse importante, você não estaria
fugindo da resposta.
— Vic, não insista nisso. —
tento segurar sua cintura, porém ela se
esquiva. — Estou sendo sincero,
ninguém além de você já chegou ao meu
coração. O que está no passado, já foi.
— Então não custa me dizer. —
abaixa o olhar e logo depois me analisa.
— Quem é ela?
— Solange. — digo já vencido.
— A esposa de Tomás? — sua
voz sai falha.
— Sim. — confesso e abro a
porta de vidro.
Sou presenteado com o vento
frio da madrugada, porém meu corpo
não protesta. Pelo contrário, a sensação
é praticamente anestésica.
— Foi algo momentâneo. —
digo, pois sinto a presença de Victória
atrás de mim. — Eu me encantei pela
devoção que ela tinha com Tomás, acho
que a transformei em um molde de
mulher perfeita, pois também queria
aquilo.
— Deus! — o sussurro dela me
faz virar em sua direção.
Há lágrimas em seu rosto e meu
coração se quebra. Ela está lembrando
de Tomás!
— Mas depois que me afastei de
sua família, depois que ela o perdoou
por tudo... — suspiro fundo. — Percebi
que eu queria você, queria que você me
tratasse como ela tratava Tomás.
— Isso só piora. — diz e se vira
pra sair, porém seguro seu braço.
— Qual o problema? —
pergunto e a puxo pra mim, dessa vez
ela não nega. — Eu sei que dói a você
lembrar do que Tomás fez, e que saber
que ele é feliz com outra mulher...
— Não é isso. — me corta
bruscamente. — Tomás não tem nada a
ver com isso.
— Como assim? — pergunto
confuso.
— O problema é você, Caleb. —
diz e encara o chão.
Meu coração se parte no mesmo
instante. Busco seus olhos azuis, porém
ela apenas se afasta e limpa as lágrimas
que caem. Só consigo me perguntar em
como conseguimos chegar a esse
momento... Pular de fazer amor, para o
fim de algo que nunca teve um começo.
— Eu entendo. — digo e passo
por ela.
— Não, Caleb! — exclama e
vem atrás de mim. — Eu só...
Meu celular toca no mesmo
instante e Victória trava. A encaro
esperando que continue sua fala, porém
ela apenas indica o celular com a
cabeça e vai para o banheiro.
Frustrado, sento-me na cama e
atendo.
— Soares.
— Caleb, irmão...
— Castiel? — pergunto
surpreso.
— Ela se foi, Caleb. — suspira
fundo. — Eu não sei como te dizer isso,
mas...
— Castiel, não quero uma
brincadeira agora! — praticamente
grito. — Chega dessa merda,
combinamos de nos falar mais tarde e...
— Jô se foi. — diz e meu mundo
para no mesmo instante.
Levanto meu olhar e encontro os
olhos azuis de Vic, me encarando com
um “V” na testa. Não consigo pensar,
muito menos raciocinar.
— Não brinque com isso! —
grito. — Onde Jô está?
— Ela... Não consigo dizer isso
em voz alta. — ouço um soluço.
— Castiel...
— Babi está aqui, Caleb. — diz
e paraliso. — Ela precisa de você,
irmão.
— Onde estão? — ignoro meu
consciente que insiste em querer saber
em como ele tem praticamente noção de
tudo.
Ele sabe sobre Babi.
— No hospital. — diz. — Babi
não quer sair daqui, eu tentei levá-la até
você mas...
— Estou indo. — digo e coloco
minhas roupas rapidamente.
Pego as chaves do carro e
quando estou saindo do quarto, a voz de
Vic me faz voltar a realidade.
— Caleb. — seguro meu braço.
— O que houve?
— Jô... — encosto-me na porta e
deixo as lágrimas caírem. — Não pode
ser verdade, Castiel está na linha
dizendo isso... Ele está mentindo, Vic!
— Caleb, querido. — toca meu
rosto e noto seus olhos marejados. —
Deixe que um dos seguranças dirija, por
favor.
— Não, eu preciso...
— Eu estou com você. — diz e
pega as chaves de minha mão. — Vem!
Ela abre a porta do quarto e tudo
parece passar em um segundo.
A vejo conversar com nossos
seguranças, e em poucos segundos
entramos no carro. Penso em perguntar
em como ela sabe da segurança, sendo
que eles ficam disfarçados, vestidos
normalmente. Mas a voz de Castiel me
faz lembrar do porquê estar indo a um
hospital no meio da noite.
— Caleb. — chama diversas
vezes e só assim noto que o ignorei,
mesmo estando com o telefone na
orelha.
— Cas. — digo e tento ser forte.
— Por favor, diga que está me
enganando.
— Foi por ela, Caleb. —
confessa. — Foi para ver Jô que voltei,
e agora...
— A perdemos. — o celular
escorrega da minha mão, assim que
constato que de fato não é uma armação
de Castiel.
Perdemos Jô.
— Estou com você, querido. —
Vic mexe em meus cabelos e me envolve
em seu abraço.
Por um momento, permito-me
chorar em seu colo.
Capítulo 16

Caleb

Assim que adentro o hospital,


meu sangue parece gelar e tudo ao meu
redor parece ainda mais inanimado. Vic
sussurra algumas palavras em minha
orelha, porém não consigo distingui-las.
Chegamos a sala de espera e
finalmente volto a realidade.
— Papai! — o grito agoniado de
Babi me desperta. — Eu a perdi.
Ela vem em minha direção e
praticamente nos esmagamos em um
abraço. Babi chora desesperadamente
em meu ombro, e eu me contenho.
Preciso ser forte por ela.
— Shhh, pequena. — beijo seus
cabelos. — Precisamos sair daqui.
— Não papai, ela não pode ter
morrido. — chora ainda mais.
Deixo então que ela chore no
meu ombro e continuo a abraçando com
força. Vejo então, Castiel sentado última
fila de cadeiras da sala. Ele disca
diversas vezes algo em seu celular, e
vejo-o levar as mãos à cabeça e chorar
ainda mais.
Meu irmão mais velho está
chorando.
— Pequena. — Vic diz ao se
aproximar de nós e Babi se desvencilha
de mim, abraçando-a com força. — Está
tudo bem, estamos aqui. Chore, vai
aliviar um pouco agora.
Como se fosse automático, me
afasto delas e vou em direção a Castiel.
Ele sequer percebe minha presença.
— Cas. — o chamo, e ele me
encara.
Lágrimas derramadas cobrem
seu rosto e ele as limpa rapidamente.
— Ela foi como uma mãe pra
mim. — leva as mãos aos cabelos. —
Sempre será.
— Há coisas que não entendo no
momento, mas não importa. — sou
sincero. — Precisamos sair daqui, Cas.
— Eu sei. — levanta-se. — Eu
pedi para que Isaac cuidasse de todos os
trâmites... Eu não consigo fazer isso e...
— Eu entendo. — digo e ele
assente. — Estava ligando para Isaac?
— Não. — dá de ombros. —
Não é nada demais. Vou apenas tomar
um banho e vou ver Isaac. — diz e vejo
que está tão perdido quanto Babi, quanto
eu.
— Venha pra minha casa. —
digo de relance. — Não sei ao certo o
que Jô significa pra você Castiel, mas eu
te conheço.
— Caleb...
— Não seja um covarde agora!
— digo nervoso. — Você iria a minha
casa de toda forma. Mesmo com tudo
que houve somos uma família e você
sempre fez parte dela! — passo as mãos
nos cabelos e noto os olhos de Castiel
arregalados.
Seu rosto ainda está machucado
devido aos socos que dei... Isso apenas
me faz sentir pior. O homem a minha
frente não parece um covarde, não é o
mesmo que fugiu anos atrás... Ele é
apenas meu irmão.
— Somos uma família. — repete
e quando percebo, estamos abraçados.

Victória

— Ei. — chamo Caleb e ele


apenas continua velando o sono de Babi.
— Preciso falar com você.
— Ok. — beija a testa de Babi e
vem em minha direção. — O que houve?
— pergunta assim que fecha a porta do
quarto.
— Dani chegou. — digo e ele
arregala os olhos. — Não consegui
contar a ela ainda, não sei como.
— Não há jeito que não doa. —
diz e passa por mim.
Ele vai em direção as escadas,
porém logo vejo-o parar. Vou até ele e a
cena que me aguarda, me deixa chocada.
Dani se aproxima de Castiel e
ele a encara, sem ao menos dizer nada,
vejo-o a puxar para um abraço. Ela
simplesmente o abraça de volta.
— Não! — ela grita de repente,
e assim temos certeza de que Castiel
contou a ela. — Seu cretino! — ela bate
com força contra o peito dele.
Caleb desce as escadas
rapidamente e a segura pelos braços.
— Para Dani! — diz baixo.
— Mande-o sair daqui! — ela
chora desesperadamente. — Ele veio
para acabar com a minha vida de novo.
— Dani! — Caleb grita em tom
de ordem e ela apenas encara Castiel
com nojo.
Onde está a mulher que
correspondeu o abraço dele há poucos
segundos?
— Nos vemos no enterro, irmão.
— Castiel diz e vai em direção a porta.
Sem conseguir me conter, vou
atrás dele. Assim que saímos de dentro
da casa, ele se vira pra mim.
— Eu nunca pensei que
entenderia como Caleb se sente. —
balança a cabeça negativamente. —
Talvez esse seja meu castigo.
— Do que está falando?
— Sobre amar uma mulher que
não corresponde o mesmo sentimento.
— diz de cabeça baixa. — Desculpe te
importunar com isso.
— Todos erramos, Castiel. —
digo e ele apenas sorri fraco.
— Nem sempre o amor é maior
que os erros. — fecha os olhos com
força. — Não um amor unilateral.
— Não sou uma boa conselheira,
mas posso te dizer algo a respeito sobre
o que disse de Caleb.
— Como assim?
— Não somos amigos, Castiel.
— dou de ombros. — Se estou falando
com você aqui e agora, é porque
Danielle é importante pra mim. E por
isso, se esse amor for real, espero que
acredite que tudo é possível.
— Não há como amar por dois.
— diz tristemente.
— Então não apenas ame,
conquiste, lute... Amor nem sempre é
tudo. Uma pessoa pode ensinar a outra a
amar, se ela for pra ser sua, vai ser.
— Você parece estar convicta
sobre isso. — me encara estupefato.
— Eis a prova viva aqui! — me
indico e ele finalmente abre seu sorriso
cínico.
Tem coisas que nunca mudam.
— Ele merece. — sorri. —
Vocês dois.
E foi a primeira vez que admiti a
alguém um sentimento que ainda não
admiti nem a mim mesma.
— Boa noite, Victória. — diz e
se vira pra sair.
— Boa noite, Castiel.
Volto para dentro e nem Dani,
nem Caleb estão na sala principal. Ouço
a voz de Caleb vindo da cozinha e me
encaminho pra lá.
Encontro-o dando um copo com
água pra Dani, mas tenho certeza de que
há algo mais ali. Ele fez o mesmo com
Babi há poucos minutos, calmantes
nesse momento são de grande ajuda.
— Ei. — Dani sorri fracamente
pra mim. — Estou com você. — abraço-
a com carinho e ela agradece baixinho
em meu ouvido.
Jô sempre será uma parte
fundamental de nossas histórias. Ela
cuidou das meninas quando novas, foi
babá de Caleb e seus irmãos... Ela era
apaixonante.
Viro-me para Caleb e noto seu
olhar distante. Ele sequer me olha e
sinto que minhas palavras de horas atrás
ainda rondam sua mente.
Eu não sou boa com palavras.
— Eu te espero no quarto. —
digo baixinho assim que estamos
próximos.
— Vou para o meu escritório. —
diz secamente.
— Caleb.
— Hoje não, Vic! — me corta.
— Apenas quero estar só. — diz em seu
tom seco e meu coração dói.
Ele parece o mesmo homem de
antes, o homem que não amei. Porém,
eu não seria novamente a megera que o
ignora.
— Só quero estar ao seu lado.
— beijo seus lábios com cuidado. — E
estarei.
— Victória! — me chama, porém
saio sem dizer mais nada.
Por mais que não soubesse muito
a respeito dele, os poucos dias em que
tudo ocorreu, não poderiam ser mais
esclarecedores. Caleb se blinda quando
está ferido, ele ataca para não ser
atacado. Mas já era tarde demais, eu não
desistiria.
Eu o quero, descobrir todas suas
nuances. Pois eu já sou dele.
Capítulo 17

Victória

Hoje, poderia ser considerado


um dos piores dias de minha vida. Como
se eu revivesse a cada momento, o dia
em que tive de enterrar meu pai.
O dia cinzento e nublado
combina perfeitamente com o sentimento
emanado por todos, a tristeza. Olho para
meu lado e Caleb se mantém apenas
abraçado a Babi, como se a dor que
sentem, fosse aliviada pela presença um
do outro.
As horas antes do enterro foram
as piores possíveis, pois Caleb
praticamente fugiu de mim e foi até a
casa de seus pais contar o que tinha
acontecido. Fiquei sozinha, olhando
para Babi dormindo, enquanto chorava
por tudo que me mata por dentro.
Liguei para Luna nesse meio
tempo, apenas para que estivesse a par
da situação. Claro que ela quis voltar
para cá no mesmo instante, mas lhe
deixei claro que de nada adiantaria,
sequer daria tempo. Luna nunca foi
apegada a Jô, mas sei que sua volta
seria para cuidar de seu pai. Quando
disse a ela que eu cuidaria dele, Luna
pareceu incrédula.
— Está me escondendo algo,
não é? — pergunta.
— Confie em mim filha, não vou
deixar seu pai sozinho.
— Ok mamãe, mas ainda assim,
quero conhecer Babi. — suspira fundo.
— Diga a ela que eu sinto muito, que
logo estarei em casa.
— Obrigada por entender,
Luna. — choro baixinho. — Obrigada
mesmo.
— Conheço meu pai, se ele a
ama, seria impossível não amarmos.
Ele tem um grande coração, mamãe.
— Fazendo torcida pelo seu pai
agora? — provoco.
— Apenas lhe dizendo a
verdade.
— Oi, querida. — a voz de
Leandra me desperta e sorrio em sua
direção. — Obrigada por cuidar de meu
menino.
— Está tudo bem, Leandra. —
ela me abraça. — Obrigada por estar
aqui.
— Eu nunca poderei ser
suficientemente grata por tudo que Jô fez
por mim e pelos meus meninos. — diz e
um lágrima corre pelo seu rosto.
Ela se afasta e vai em direção a
seu marido, Rodrigo Soares. Os dois se
abraçam por alguns segundos, mas assim
que Castiel aparece aqui, ela
praticamente corre até ele. A cena é
linda, mas eu vejo que eles não estão
surpresos pela presença dele, e sim
preocupados.
— Tem algo errado nessa
história toda. — ouço a voz baixa de
Caleb e me viro pra ele.
Ele finalmente está falando
comigo?
— Como Babi está? — pergunto
e olho em direção a Babi que vai em
direção a Dani que a abraça. — As duas
parecem quebradas.
— Todos nós parecemos. — diz
e me abraça. — Me desculpe por ser um
idiota.
— Eu entendo. — beijo seu
rosto. — Contei a Luna sobre o que
houve, mas a convenci a não fugir da lua
de mel.
— Obrigado por isso. Não
consegui sequer ligar para ela.
— Eu sei. — o abraço com mais
força. — Estou aqui com você, querido.
— Obrigado.
Ficamos algum tempo abraçados,
até que alguém toca meu ombro. Me viro
e encontro Christopher com os olhos
inchados, que me puxa para um abraço
no mesmo instante. Assim que ele se
afasta, encara o irmão de modo triste.
— Irmão... — sua voz falha e
Caleb o puxa para um abraço. —
Desculpe não ter respondido, meu
celular estava desligado.
— Tudo bem. Você está aqui
agora. — Caleb força um sorriso.
— Pai. — Babi se aproxima e
Christopher se vira assustado na mesma
hora.
— O que você disse? — ele
pergunta de supetão.
— Eu... — Babi fica pálida e
abraça o próprio corpo, talvez pelo
modo intenso que Christopher a encara,
e o modo rude com que fez a pergunta.
— Essa é Babi, minha filha. —
Caleb a puxa. — Te explico depois,
Chris.
— Pode ter certeza que sim. —
ele sai sem dizer mais nada e vai ao
encontro dos pais.
— Desculpe ter atrapalhado,
eu... — Babi soluça e Caleb a abraça.
— Está tudo bem, pequena. —
digo e beijo seus cabelos. — Vou falar
com Danielle.
Saio dali e sigo pelo gramado
verde. O enterro de Jô aconteceria em
poucos minutos, apenas esperávamos
Isaac e Joaquim chegarem.
Ando em direção a Dani, que
está sentada em um banco mais afastado
de todos. Vejo Castiel chegar próximo
dela e estaco. Ele diz algo de longe, e
ela simplesmente o ignora. Ele então sai
de cabeça baixa e sinto-me mal com
isso. Acho que ele realmente a ama.
— Oi. — sento-me ao seu lado.
— Precisa de algo?
— Apenas quero que isso acabe.
— ela chora baixinho. — Foi aqui que
enterrei Annie, e vê-lo tão perto me dá
vontade de gritar. Só não o faço, pelo
fato de que ele era importante pra Jô, e
eu a amo.
— Eu queria dizer que entendo,
mas não há como. — seguro uma de suas
mãos.
— Meninas. — levanto meu
olhar e encontro Isaac. — Você está
ainda mais baranga que o normal, peste.
— brinca com Dani, que se levanta e o
abraça com força. — Shhh, pestinha.
Permito-me finalmente sorrir
nesse dia, pois lembro-me do dia em
que marcamos um encontro entre os
dois. Dani e Isaac sequer chegaram ao
restaurante, pois só sabiam discutir. Mas
desde então, tem um laço fraternal muito
forte. E vê-lo cuidando dela, faz meu
coração se aquecer.
— Podemos começar? —
pergunto apenas mexendo a boca e ele
assente.
Levanto-me e vou em direção a
Caleb, que continua com Babi em seus
braços. De esgueira vejo Castiel
abraçado a Leandra, porém seus olhos
estão conectados a cena atrás de mim.
Seu queixo parece tenso e sua postura
também.
Leandra puxa o rosto do filho e
força-o a olhá-la. Assim, ele se
desprende do momento. Castiel parece
com ciúmes.
Aproximo-me de Caleb e aviso o
que Isaac disse. Joaquim aparece
minutos depois e finalmente o enterro
começa. E esse, com toda certeza, está
sendo um dos meus dias mais difíceis.
Babi grita desesperada e fico
perplexa com a cena. Caleb a segura
pela cintura, mas aposto que tenta não
chorar também. Fico abraçada a Dani,
que chora amargamente.
Não há quem não queira que esse
momento acabe.

***
A volta pra casa é silenciosa.
Isaac se propôs a dirigir e então, Caleb
vem com Babi ainda abraçada a ele, no
banco de trás. Fico um pouco deslocada
aqui, não por me ignorarem, mas porque
ninguém sabe lidar com a dor do outro, a
não ser quem a sente.
Dani está no banco do carona e
Isaac troca algumas palavras com ela.
Meu celular toca nesse momento e
atendo sem sequer olhar.
— Alô.
— Oi mamãe.
— Está tudo bem, filha?
— Só liguei porque preciso
falar com papai, mãe.
— Um minuto. — digo e toco o
ombro de Caleb. — Luna no telefone.
Ele pega o celular no mesmo
instante, e sem soltar Babi, leva-o a
orelha. Por alguns minutos ele conversa
com Luna e fico apenas observando
como Babi está alheia a isso.
— Dani. — Caleb a chama.
Dani pega o celular no mesmo
instante e conversa vários minutos com
ela. Sei o quanto ela precisa disso nesse
momento, Luna é uma parte de sua irmã,
ninguém melhor do que ela para lhe dar
força.
— Obrigada, princesa. — Dani
diz e passa o celular de volta pra mim.
O olhar de Dani parece mais
leve, e sorrio ternamente por isso.
Danielle ainda não sabe que sei da
verdade, mas isso é apenas questão de
tempo. Logo não haverá mais mistérios
entre nós. Isso é o que espero.
— Oi de novo, filha.
— Não sei se é certo, mas
queria falar com Babi também. — diz
sem jeito.
— Tem certeza? — acaricio os
cabelos de Babi, que me olha no mesmo
instante.
— Sim, por favor. — Luna
insiste, então passo o celular para
Babi.
— Sua irmã quer falar com você.
Babi me encara sem jeito e
Caleb sorri em sua direção. Ela então se
afasta um pouco do abraço do pai e pega
o celular. Com as mãos trêmulas, ela
conversa pela primeira vez com a irmã.
Caleb sorri pela primeira vez no
dia e sustenta meu olhar. O carinho com
que olha pra mim, faz meu coração se
aquecer. Não consigo desviar e me
afundo na imensidão azul de seus olhos.
Capítulo 18

Caleb

Dou novamente um calmante


para Babi, o mesmo que o médico havia
receitado à horas atrás. Ela dorme e
então, resolvo tomar um banho para me
acalmar.
Vou em direção a meu quarto e
praticamente me arrasto até o banheiro.
Sequer faço questão de tirar as roupa e
entro debaixo da ducha fria.
Choro baixinho, e despenco
dentro da banheira. Deito a cabeça para
trás e levo as mãos aos cabelos. A ducha
cai e ao mesmo tempo, meu corpo é
imerso por água.
Ouço um barulho na porta,
porém ignoro. Um som invade o
banheiro e só assim abro os olhos.
Encontro Victória com apenas a
lingerie, que logo se aproxima e se senta
ao meu lado na banheira já cheia. Ela
desliga a ducha e fica apenas me
encarando por alguns segundos.
Uma melodia baixinha continua
invadindo o banheiro e logo consigo
identificar.
"Se eu não tenho nada, eu tenho
você
Se eu tenho alguma coisa
Eu não dou a mínima
Porque tenho isso, com você
Eu não sei muito sobre álgebra
Mas eu sei que 1 + 1 é igual a 2
E somos eu e você
Isso é tudo que você tem quando
o mundo acabar...”
Victória começa a tirar minhas
roupas com cuidado e me olha
intensamente. Como se quisesse dizer
algo com essa música. Não brinque
comigo, Vic.

“Porque baby, nós não temos


nada sem o amor
uerido, você tem o suficiente
para nós dois
Então vamos lá, baby
Faça amor comigo”

Assim que estou apenas de


boxer, Vic passa as mãos com carinho
pelo meu rosto e abre a boca pra dizer
algo, porém a calo com um beijo. Não
precisamos de palavras agora.
A música continua, e de repente
a água fria não parece mais presente.
Sinto um calor latente correr por meu
corpo, sinto o corpo de Victória queimar
pelo meu.
“Quando meus dias estiverem
ruins
Me puxe para perto e não me
deixe ir
Faça amor comigo
Então quando o mundo estiver
em guerra
Deixe o nosso amor curar a
todos nós
Agora mesmo, baby
Faça amor comigo
Comigo... comigo... comigo...
comigo..
Ohh, faça amor comigo
Hey, eu não sei muito sobre
armas
Mas eu, eu fui alvejada por
você
Hey, eu não sei quando eu irei
morre
Mas eu espero que eu morra por
você
Hey, eu não sei muito sobre
lutas
Mas eu, eu sei que vou lutar por
você
Hey, quando eu fecho meu
punho eu percebo
Eu estou deitada ao seu lado
Baby nós não temos nada além
do amor
E querido você já tem o
suficiente para nós dois
Ooohhh...
Faça amor comigo
Quando meus dias estiverem
ruins
Me puxe para perto e não me
deixe ir
Faça amor comigo
Então quando o mundo estiver
em guerra
Deixe o nosso amor curar a
todos nós
Me ajude a baixar minha
guarda
Faça amor comigo
Comigo... comigo... comigo...
comigo...
Ohh, faça amor comigo
Comigo... comigo... comigo...
comigo...”
(1+1 - Beyonce)

E mesmo com tudo que está


havendo, ignoro o mundo lá fora por um
instante, e atendo seu pedido... Faço
amor com ela.

***

Coloco uma roupa normal e


resolvo sair para caminhar um pouco.
Victória dorme serenamente na cama, e
então resolvo não acordá-la. Passo
pelos quartos de Dani e Babi, ambas
dormem e agradeço por isso. Não
aguento mais vê-las tão mal.
Desço as escadas e me assusto
ao ver que Christopher está sentado no
sofá de minha sala.
— Por que está aqui? —
pergunto e ele dá de ombros.
— Mamãe está preocupada com
você. — diz. — Resolvi ficar aqui até
que você acordasse, apenas para dizer a
ela que está vivo.
Conheço meu irmão, sei que está
mentindo.
— Fale a verdade. — sou rude.
— Ok, você me conhece, não é
mesmo? — sorri fraco. — Quero saber
quem é aquela japinha.
— Certo. — sento-me no sofá a
sua frente. — Eu a adotei quando ela
tinha dez anos. Eu a encontrei na rua e...
— Corta esse papo, Caleb. — o
encaro sem entender. — Isso é óbvio pra
mim.
— Do que está falando? —
pergunto sem entender.
— Teve a capacidade de trazer
uma de suas amantes com um pretexto
tão imbecil. — levanto no mesmo
momento.
— De onde tirou isso? —
praticamente grito.
— Não é muito difícil de
imaginar. — me olha enfurecido. —
Pode enganar todo mundo com essa
historinha idiota, mas sei que aquela
vadia é sua amante.
— Cale a boca. — grito.
— Não aja como se fosse meu
pai. — grita de volta e se levanta. —
Achou mesmo que ninguém ia perceber
isso? Achou que eu não iria notar que
tudo que essa piranha quer é seu
dinheiro, e ainda fez sua cabeça para
inventar essa história e enfiá-la aqui?
— Tudo isso por que está
preocupado com o meu dinheiro? —
pergunto incrédulo.
Sempre soube que Christopher é
ambicioso, mas nunca imaginei o
quanto.
— Confesse, Caleb. — me corta.
— Só se for pra socar a sua
cara. — grito e ele sequer mexe. — Saia
da minha casa e nunca mais cogite a
ideia de falar isso sobre a minha filha.
— “Filha.” — gargalha sem
humor. — Sabe por que tenho certeza de
que ela é sua amante? Isaac se negou a
investigar sobre ela, mas sei que ele
sabe algo.
— O que quer dizer com isso?
— Sei que ele está te
acobertando.
— Você não sabe de nada,
Christopher. Vá embora, antes que as
coisas fiquem ainda piores.
— Não antes de dizer a verdade
para Victória. — insiste.
— Dizer o que pra mim? — Vic
surge no topo da escada, envolta apenas
por um roupão.
— Que seu querido marido,
colocou uma das amantes debaixo do
mesmo teto que você. — diz como se
tivesse vencido. — Ainda mais uma
vadia vinte e dois anos mais nova que
ele.
Cerro os punhos, porém antes
que pudesse fazer alguma coisa, Vic
segura meu braço.
— Não se estresse por isso. —
diz em meu ouvido e beija meus lábios.
— Não viaja, Chris.
— Está brincando comigo,
Victória? — ele praticamente rosna.
— Não fale assim com ela, ou
eu...
— Vai fazer o que? — me
enfrenta. — Me bater? Tenho 36 anos,
não sou mais criança.
— Então não aja feito uma. —
revido. — Seja homem suficiente e vá
embora daqui, e nunca mais fale de Babi
desse modo.
— Vocês são ridículos. —
exclama furioso. — Mas vou
desmascarar isso logo logo.
— Melhor ir, Chris. — Vic diz e
me viro para olhá-la.
— Mas antes...
Não consigo reagir, só sinto um
baque forte contra meu rosto. Dou alguns
passos para trás e só assim noto que
Christopher me acertou.
— Isso foi por usar a morte de
Jô como pretexto para essa palhaçada.
— me acusa. — Não duvido nada que
essa “zinha” tenha mata...
— Chega! — grito e o acerto.
Minha cota de paciência
acabou.
Acerto três socos e Christopher
vai para o chão. Victória grita e tenta me
tirar de cima dele, mas não consigo
pensar e muito menos raciocinar.
Quem é essa pessoa a minha
frente? Ela não pode ser o meu irmão
caçula.
— Chega, Caleb! — ouço a voz
autoritária de Castiel e seus braços me
tiram de cima de Christopher. — Vamos
lá, pare com isso!
Parece um flashback de quando
éramos mais novos, onde ele sempre
defendia Chris.
Afasto-me e fico totalmente
desarmado quando vejo um corte no
rosto de meu irmão. Droga!
— Chris...
— Pois é, a vadia te pegou de
jeito. — insiste.
— Cale a boca, Christopher! —
Castiel se intromete.
— O que quer aqui, Castiel?
Não venha agindo como o irmão mais
velho, se não prestou pra isso nos
últimos vinte anos!
O olhar de Castiel é indecifrável
e Victória segura em meu braço no
mesmo momento.
— Acha que só porque estive
fora não sei tudo que acontece por aqui?
— Castiel o enfrenta. — Tome vergonha
na sua cara Christopher, e respeite Babi!
Senão eu mesmo bato em você!
— Tente. — Christopher o
instiga e sorri.
— Vá embora da minha casa,
Christopher. — Victória diz de repente.
— Agora mesmo.
— Vic...
— Agora. — ela o olha
friamente e Chris sai sem dizer mais
nada.
— Você evitou que ele levasse
um soco no estômago. — Castiel brica e
Vic não consegue evitar um sorriso.
— Não creio que você faria
isso. — o desafio.
— Por que não? É exclusividade
sua bater em todo mundo? — zomba e
abre seu sorriso cínico.
Victória gargalha gostosamente e
eu apenas reviro os olhos.
— Ei! — ela chama minha
atenção. — Não revire os olhos!
— Vocês dois são estranhos. —
Castiel diz e eu apenas dou de ombros.
— Já que a sessão matar o irmão
caçula já passou, preciso falar com
você.
— Certo. — faço sinal com a
cabeça. — Vamos até o escritório então.
— Eu vou ver se Babi está bem.
— Vic beija meu rosto e sobe as
escadas antes de nós.
— Fico feliz em ver que estão
bem. — Castiel diz.
— O que quer dizer com isso?
— Acho melhor falarmos sobre
tudo com calma. — suspira fundo. —
Hoje não é um bom dia, na verdade,
parece o pior de todos... Porém, não
posso adiar essa conversa.
— Certo. — abro a porta do
escritório. — Entre.
Cas senta-se na poltrona em
frente à minha mesa e ofereço uma
bebida. Ele nega no mesmo instante e
então respira fundo.
— Suspeito que não seja um
assunto fácil.
— Não é. — confessa. —
Desculpe despejar tudo isso de uma vez,
mas é necessário.
— Diga de uma vez então.
— Como já havia dito, voltei
por conta de Jô. — suspira fundo. —
Não voltei por conta de Luna e jamais
tive algum sentimento especial por
Victória.
— Certo. — encosto-me na
cadeira. — Então por que estamos tendo
essa conversa?
— Primeiro pensei em conversar
com você a respeito de seu casamento.
— me encara envergonhado. — Mesmo
de longe, sei de tudo que se passa por
aqui. Nossa mãe, pai e Jô foram meus
fiéis informantes.
— Espera aí. — o corto. —
Você fala com nossos pais? Eles
disseram que...
— O que eu pedi pra dizerem.
— complementa. — Eu converso com
eles desde a época em que eles se
separaram.
— Como assim? Eles jamais...
— Essa história não é minha. —
me corta. — Sei que está curioso e
assustado com essa informação, mas
cabe a eles contar sobre isso.
— Certo. — cedo um pouco.
— Mas, o que importa no
momento é Christopher.
— Han? — fico perdido.
— Ele junto com minha mãe
podem levar nossa família a ruína
novamente.
— O que? Nossa mãe?
Christopher?
— Minha mãe, Caleb. — diz em
tom áspero.
— Temos a mesma mãe, idiota.
— Não. — abaixa a cabeça. —
Não temos.
Fico pasmo com sua declaração.
Ele me encara e noto seu semblante
abatido.
Castiel não é meu irmão?
Capítulo 19

Caleb

— Do que está falando, Castiel?


— A verdade nua, crua e direta é
essa. — me encara sem jeito. — Eu não
sou filho de Leandra, ao menos não
biológico.
— Cas...
— Lembra que uma vez Leandra
falou sobre sua irmã gêmea? — suspira.
— A irmã gêmea que morreu há anos
atrás?
— Lembro, mas...
— Acreditavam que ela morreu
quando deu à luz a mim.
— O que? — praticamente grito.
— Sou filho biológico de Lívia
Albuquerque. — confessa. — Temos o
mesmo pai, antes que me pergunte.
— Ele a traiu? — pergunto
perplexo.
— Nosso pai era um babaca. —
diz com raiva. — Até quando Leandra o
deixou de vez.
— Mas espera aí... Você disse
que “acreditavam”. Não acreditam
mais?
— Pelo menos não eu. — coloca
os cotovelos na mesa. — Não depois do
que Isaac e eu conseguimos.
— Como assim?
— Lembra de quando falimos?
— assinto. — Descobrimos que não foi
Leandra... Foi Lívia o tempo todo.
— O que?
— Foi ela quem mexeu com o
dinheiro posto na conta de nossos pais.
Ela fez isso por anos, e vem desde
quando éramos crianças.
— Como ela fez isso e ninguém
percebeu?
— Isso que me pergunto...
Mamãe sabe, tenho certeza. — passa as
mãos pelos cabelos. — Isso é uma
bagunça, eu sei, mas o fato é de que
Christopher pode estar envolvido com
ela.
— Eu não estou achando isso
uma bagunça, estou achando isso uma
loucura. — explodo. — Como nosso pai
não percebeu que não foi mamãe que
faliu nossa família? Como Joaquim não
o fez?
— O relacionamento deles não
era algo bom, Caleb. — confessa. —
Sabe do que estou falando, viveu esses
vinte anos distante de Vic, mesmo
estando casados.
— Ok. — respiro fundo. — Mas
como Chris se meteria com essa mulher?
— Ele pode não saber que ela
existe. — o olho sem entender. —
Consegui fotos dele com uma mulher, a
qual suspeito que ele assuma logo como
noiva.
— Christopher não ficaria noivo.
— digo o óbvio.
— Se isso desse a ele a
presidência da empresa... Ele fará
qualquer coisa, Caleb. Mas o problema
é que essa mulher é filha de Lívia. —
me passa seu celular. — E pior, você a
conhece.
— Paula? — pergunto incrédulo
ao ver a foto.
— Exatamente.
— Tem certeza de que ela é filha
de Lívia?
— Eu e Isaac estamos tentando
juntar as peças... Mas logo descobrimos
que Paula Junqueira não existe de fato.
Ela se chama Paula Albuquerque.
— Deus! — exclamo incrédulo.
— Ela é sua irmã.
— Sim, de certa forma. — diz
sem jeito.
— E o pai dela?
— Nada. — franze o cenho. —
Não há nada sobre isso, nada até agora.
— Mas por que Lívia faria isso
justamente agora?
— Porque Paula tem uma idade
aceitável para se casar e assim... Na
realidade, estamos investigando e não
faço ideia dos motivos delas.
— Então por que veio me contar
sobre tudo isso?
— Porque preciso falar com
nossos pais sobre, descobrir o que
sabem a respeito. Não quero que fique
de fora dessa vez, devo isso a você.
— Cas...
— Precisamos impedir que
Christopher faça alguma merda. — diz
nervoso. — Torcer para que ele seja
apenas um peão nesse jogo.
— Ok. — levanto-me. —
Quando pretende ir à casa de nossos
pais?
— Agora se possível.
— Vamos. — pego um copo e
coloco uísque.
Viro de uma vez e o líquido
desce queimando.
— Tomando coragem? — ele
pergunta zombando.
— Vamos de uma vez. — saio do
escritório e ele me segue. — Vou avisar
Vic e já desço.
Ele assente e vai em direção as
escadas. Viro-me e vou no quarto dela,
porém me surpreendo assim que não a
encontro lá e sim, em meu quarto
mexendo em seu notebook.
— Vic.
— Oi. — ela fecha o notebook
no mesmo momento. — Tudo bem?
— Sim. — respondo
desconfiado. — Tenho que ir até a casa
de meus pais, tudo bem?
— Claro. — responde
rapidamente. — Eu te ligo qualquer
coisa.
— Certo. — me aproximo e noto
que está estranha. — Algo errado?
— Não. — responde ainda mais
rápido.
— Sei. — beijo de leve sua
testa. — Me conte o que houve depois,
por favor.
— Não é nada, Caleb.
— Sei que está mentindo, Vic.
— ela fica vermelha no mesmo instante.
— Te conto quando voltar, ok?
— pergunta já desistindo da própria
mentira.
— Tudo bem. — saio do quarto
intrigado.

O que ela via naquele


notebook?
***

Saio de casa e logo encontro


Castiel encostado no carro.
— Pronto para qualquer coisa
que vá descobrir? — pergunta de
supetão e sinto meu corpo enrijecer.
— Estarei. — minto. — E você,
pronto? — ele então sorri de lado. Lá
vem!
— Nasci pronto mon amour. —
brinca.
Abro um sorriso fraco, pois sei
que ele está tentando retirar a tensão que
ambos sentimos, mesmo parecendo
impossível. Nós estamos indo descobrir
a verdade, e não tínhamos ideia do quão
dolorosa essa seria.
Capítulo 20

Victória

Respiro fundo assim que Caleb


sai pela porta. Abro novamente o
notebook e continuo com o que estou
fazendo. Se ele visse, com certeza faria
perguntas e eu mal saberia o que
responder.
Várias fotos nossas enchem as
imagens na pesquisa. Há fotos nossas em
grandes eventos e também uma foto de
dias atrás, quando ele me beijou na
praia. A foto em si é tão espontânea e
linda.
Os braços fortes dele estão
envoltos em minha cintura e eu
praticamente estou em seu colo. Seus
lábios moldam os meus com perfeição e
meu corpo se encaixa ao dele. Suspiro
fundo tocando a tela do notebook.
Encaro a parede a minha frente e
vejo as várias fotos minhas e de Luna.
Ainda não tive tempo de perguntar sobre
isso, mas tenho certeza de que ele as
tirou quando me observava.
Deito-me na cama e fico
divagando olhando para o teto. Penso
em tudo que se passou e em como isso
poderia funcionar. Mas ninguém tem uma
receita que mantenha um relacionamento
perfeito, e eu tinha de me adequar a isso.

***
— Você vai, Victória! — ela
grita em meu rosto.
— Não mãe, eu não vou me
casar com Caleb. — grito de volta e ela
acerta meu rosto.
— Sabe o que seu pai acharia
disso? — chora. — Ele não criou uma
filha para que ela não correspondesse
a ordens.
— Eu...
— Quer deixar seu pai
orgulhoso? — pergunta e toca de leve o
local onde bateu. — Case-se.
— Nunca. — levanto-me saio
chorando pela porta da frente.

— Ei, Vic. — ouço uma voz


distante.
— Não! — grito. — Me solta, eu
não vou me casar... Eu não...
— Acorda, Vic! — sinto meu
corpo balançar. — Acorde, minha
rainha.
Abro os olhos no mesmo
momento e a visão de minha antiga casa
some. Os olhos azuis de Caleb me
encaram preocupados e eu apenas sento-
me rapidamente contra a cabeceira.
Foi um pesadelo.
— Tudo bem? — pergunta.
— Eu só... Deixa pra lá. —
suspiro fundo. — Não gosto de sonhar
com minha mãe.
A expressão de Caleb muda no
mesmo instante e ele parece tenso.
— O que foi? — pergunto. —
Descobriram algo?
— É uma longa história. —
suspira cansado. — Quando pensei que
não poderia ser surpreendido, meus pais
me provaram o contrário.
— Como assim?
— Castiel não é meu irmão. —
confessa e eu estaco.
— O que? — praticamente grito.
— Foi desse mesmo modo que
reagi, mas após as explicações dele e de
meus pais, tudo fez sentido. — explica.
— Minha mãe tem uma irmã gêmea que
supostamente morreu no parto... No
parto de Castiel. Descobrimos que na
verdade, Lívia Albuquerque está viva e
chantageou minha mãe anos atrás, assim
ela faliu nossa família.
— Mas...
— Meu pai traiu minha mãe
quando eram mais jovens, antes mesmo
de se casarem. Ele tinha um caso com a
irmã gêmea dela.
— Você está brincando comigo?
— pergunto transtornada. — Rodrigo
trata Leandra com tanto amor e...
— Isso foi depois que ela o
deixou. Lembra de quando eles saíram
de lua de mel? Bem no começo de nosso
casamento, acho que tínhamos dois anos
de casados.
— Lembro, mas o que tem a ver?
— Minha mãe foi para Londres,
ou melhor, Castiel descobriu que ela
estava doente e todas as humilhações
que ela passava em torno de meu pai. —
ele abaixa a cabeça e noto uma lágrima
escorrer pelo seu rosto. — Castiel a
levou para morar com ele em Londres e
lá ela fez seu tratamento.
Apenas continuo encarando-o
incrédula. Isso não pode ser real.
— Ela tinha câncer. — confessa
e chora sem se conter. — Como eu não
percebi, Vic? Como pude ser tão cego e
não ver que meu pai a desrespeitou por
tanto tempo? Eu quase a perdi para uma
doença que eu nem sequer sabia que ela
tinha... Eu...
— Se acalme, amor. — abraço-o
com carinho.
— Eles contaram que estão atrás
de Lívia faz algum tempo, mas minha
mãe desconfia que ela não seja uma
pessoa ruim, que esteja sendo
controlada por outra.
— Como?
— Ainda não se sabe. — ele
funga em meu pescoço. — Mas eu tenho
que te contar algo.
— Tudo bem. — ele se afasta e
me encara.
— Lembra-se de Paula?
— Sim, aquela que invadiu seu
quarto de hotel?
— Essa mesmo. Já estava
desconfiado antes, em como ela havia
me encontrado e conseguido subir até
meu quarto, mas com tudo que houve
acabei me esquecendo de pedir para
Isaac investiga-la. Mas depois de tudo
que soube, faz sentido o que aconteceu.
— Como assim?
— Paula é filha de Lívia. —
confessa e arregalo os olhos. — E pior é
que Christopher parece estar metido
com ela.
— Isso só piora! — levo as
mãos a boca. — Mas como ficaram
sabendo disso tudo e...
— Castiel. Ele geralmente sabe
o que acontece por aqui. E quando
recebeu fotos de Christopher com Paula,
foi junto a Isaac investigar. Ele queria
apenas proteger o seu irmão caçula.
— E agora descobriu que ele
está no meio de toda essa bagunça. —
complemento e ele assente. — Mas
Chris sabe sobre a mãe de Paula, quer
dizer, sobre Lívia?
— Não sabemos. — leva as
mãos aos cabelos. — Não consigo
acreditar que meu irmão faria isso
conosco, por mais ambicioso que fosse.
— Mas considerando que ele
não sabe de nada, se a tal Lívia está
sendo controlada, por quem seria?
— Tem-se uma suspeita a algum
tempo. — diz baixinho. — Não sei se
vai gostar de ouvir isso.
— Por que?
— Porque a suspeita que se tem,
é a respeito de Julianne, sua mãe.
— Minha... minha mãe? —
pergunto gaguejando.
— Meus pais me contaram que
estão há anos atrás do paradeiro dela e
de Lívia. Eles desconfiam de que ela foi
a responsável por passar todos os bens
dos Albuquerque para meu pai.
O que?
— Como assim? O que ela
ganharia com isso?
— Vingança, talvez. — balança
a cabeça. — Meus pais assinaram um
documento sem saber que ele existia, e
isso tirou todo o dinheiro das mãos de
Lívia e Leandra.
— Mas minha mãe nunca soube
mexer com documentação e...
— É aí que seu pai entra, acham
que Paulo pode ter sido influenciado por
ela. — diz rapidamente. — Ou talvez,
ela tenha pedido para alguém fazer e
colocado no meio dos documentos que
Paulo tinha sobre o casamento de meus
pais. Já que foi ele e seu avô que
oficializaram o casamento.
— Meu pai não faria isso... —
respiro fundo e me levanto. — Ele não
trairia seu melhor amigo, não tendo
consciência disso.
— Meus pais também acham
isso. — diz e vem até mim. — Não
estou culpando ninguém, Vic. Apena
quero te deixar a par de tudo que está
havendo, não quero que se afaste porque
estamos lidando com toda essa merda.
— Não consigo entender porque
minha mãe tiraria o dinheiro dos
Albuquerque...
— Há uma certa lógica em tudo
isso. — ele se afasta um pouco. —
Nosso casamento, dá a você todo o
dinheiro dos Albuquerque.
— Como assim?
— Sabe o documento que acabei
de lhe falar que passa toda a fortuna dos
Albuquerque para os Soares? — assinto
e ele respira fundo antes de continuar.
— Você é uma Soares, Vic.
— Mas ela sumiu, nunca me
pediu dinheiro algum. — digo sem jeito.
— Ela me abandonou um dia depois que
nos casamos. Não tem nada que ela
ganhe com isso. Ela tem dinheiro e...
— Não, Vic. Você tem dinheiro.
— fico pasma. — Seu pai deixou tudo
para você.
— Mas por que minha mãe faria
isso? Por que meu pai não deixaria nada
pra ela? Não faz sentido Caleb! —
exclamo já fora de mim e tento absorver
tudo isso.
Isso é bem pior que um quebra
cabeças!
— Pior que faz Vic. Meu pai
disse que uma vez Julianne se insinuou
pra ele, na época de adolescentes... Só
que ele não a quis pois seu pai, Paulo,
era seu melhor amigo e tinha sentimentos
por ela.
— Então seu pai a rejeitou
porque o meu já gostava dela naquela
época? — pergunto e ele assente. Isso
está cada vez pior.
— Bom, mesmo depois que seus
pais começaram a namorar ela continuou
se insinuando e meu pai manteve a
mesma postura. Só que uma vez seu pai
pegou Julianne se insinuando para outros
caras e terminou tudo com ela. — fico
perplexa.
— Tem mais? — pergunto já
com medo.
— Nesse tempo separados as
investidas dela só aumentaram, só que
meu pai já estava envolvido com Lívia e
Leandra. Ao mesmo tempo Paulo e
Leandra se tornaram amigos, melhores
amigos na verdade. Ele nutriu
sentimentos pela minha mãe que não
eram correspondidos... Bom, meu pai
me contou que uma vez Paulo jogou tudo
em cima de Julianne. Disse a ela que
Leandra era única pra ele e tudo mais...
— Mas meu pai a tratava tão
bem, não faz sentido ele não a amar
Caleb! —parece que vou enlouquecer
com tudo isso.
— Não estou dizendo isso Vic,
estamos apenas buscando motivos pra
ela estar fazendo tudo isso. Julianne
teria obrigado Lívia a fingir a própria
morte e feito meus pais assinarem o tal
documento.
— Mas como ela obrigaria
Lívia?
— Pelo o que tudo indica, Lívia
já estava fora de sua sanidade mental e
Julianne se aproveitou disso. Como ela
o fez? Não temos ideia. — confessa
derrotado. — Minha mãe há alguns anos
encontrou uma tal de Taís Moreira, que
tinha tudo para ser Lívia, porém de
repente ela sumiu do mapa. Castiel está
investigando sobre isso, mas parece que
essa tal Taís está internada em uma
clínica psiquiátrica. Ou seja, talvez
Lívia seja mesmo doente.
— Meu Deus, Caleb!
— Julianne talvez tenha feito
tudo isso apenas pra prejudicar Leandra,
pois meu pai acabou de fato se casando
com ela após a suposta morte. Daí então,
ela separaria os dois e Leandra ficaria
sem nada, ou melhor, as duas irmãs
ficariam sem nada.
— Mas eles não se separaram...
— Assim, ela e Paulo acabaram
se casando. Só que com a morte do seu
pai e por ele não ter deixado nada a ela,
esse documento lhe foi útil.
— Me tornando uma Soares, ela
teria direito ao dinheiro... Então ela
queria me usar.
Não, não pode ser!
— Só que não conseguiu, pois
você não tinha interesse algum em mim.
— dá de ombros. — E é aí que entra
Paula. — diz e eu estremeço. — Ela é o
novo trunfo, Paula deve odiar a todos
nós. Se Chris realmente se envolver com
ela...
— Então ela conseguirá todo o
dinheiro. — complemento e ele assente.
— Essa menina então está sendo usada?
— Talvez sim, talvez não...
Ainda não temos certeza de nada.
— Mas por que só fazer isso
agora? Por que não antes? — indago
confusa.
— Ela ganhou espaço,
conquistou Cristopher... Ela é nova, tem
vinte anos apenas. Se fosse mais nova
Christopher sequer olharia para ela.
— Mas e se estivermos todos
errados e minha mãe não tiver nada a
ver com isso? E se for outra pessoa
Caleb?
É difícil demais aceitar que
minha mãe fosse a culpada de tudo
aquilo. Por motivos tão enfadonhos e
mesquinhos. Completamente egoístas...
Sempre notava a maneira com que meu
pai a tratava, com carinho, atenção...
— Não sei Vic, apenas
desconfiamos pois é a única pessoa que
ganharia algo caso Cristopher e Paula se
casassem.
— Não entendo... Não posso
aceitar isso.
— Vic, me escute! — ele segura
meus braços com carinho e me olha
firmemente. — Vamos passar por isso
juntos!
— Eu não quero passar por isso
Caleb! Quero paz! — exclamo e deixo
as lágrimas caírem.
Ele me abraça e passa as mãos
com carinho por minhas costas.
— Isso vai passar e teremos a
chance de finalmente ser felizes se você
ainda me quiser...
— Mas é claro que eu te quero
Caleb! É tão cego assim? — explodo e
Caleb me encara confuso.
— Eu ainda não consegui
entender o que aconteceu conosco... O
porquê de ter ido até mim no banheiro
e...
— Eu me apaixonei por você,
Caleb. — confesso e toco seu rosto de
leve.
— Você...
— Eu te amo. — confesso e seus
olhos se arregalam.
— Vic...
— Eu estou com medo, Caleb.
— noto lágrimas em seu rosto. — Eu
não posso te perder, não...
— Você não vai. — diz firme. —
Jamais, minha rainha.
— Você me conquistou, senhor
Soares. — o abraço. — Sou toda sua.
— Passaremos por isso juntos.
— me força a encará-lo. — Eu a
protegerei, Vic.
— Confio em você. — desabo
em lágrimas.
— Estou com você, amor. —
sussurra em meu ouvido. — Sempre
estarei aqui.

E em seus braços, encontro o


conforto que nunca imaginei ter. Caleb é
o homem de minha vida, e nada no
mundo nos afastaria. Nenhuma armação
e seja lá quem estiver por trás disso...
Eu não posso perde-lo.
Capítulo 21

Caleb

Seu pequeno corpo se molda ao


meu e por alguns instantes apenas
ficamos abraçados. Como se nossas
vidas dependessem disso para seguir em
frente.
Parece um sonho, o melhor
sonho de todos. E por mais quebrado
que estivesse, depois da conversa que
tive com meus pais, Victória me curou
com três palavras.
Ela disse que me ama.
Tinham sidos dias
completamente exaustivos e repletos de
surpresas, mas eu nunca imaginei ouvir
essa confissão. Deus, ela me ama!
Seus olhos azuis parecem
divertidos e eu tenho certeza que minha
boca continua aberta. Forço as palavras
a saírem, mas de fato não sei o que
dizer. É assustador, após quase trinta
anos apaixonado finalmente ver que esse
sentimento se tornou recíproco.
O medo se instala em meu peito
e tenho vontade de gritar que não a
mereço, mas sou egoísta demais pra
isso. Havia sonhado por todo esse
tempo que um dia seria o dono de sua
alma, seu corpo e por fim, seu coração.
De fato agora eu sou e não farei mais
nenhuma besteira que possa estragar
isso.
— Caleb! — chama minha
atenção. — Você está me sufocando.
— Desculpe, eu...
— Tudo bem, bonitão. — sorrio
do apelido. — Não sorria assim.
— Por que? — seguro com força
em sua cintura.
— Porque tenho vontade de te
atacar. — diz próxima a minha boca. —
Porque esse sorriso me faz esquecer
tudo.
— Eu te amo, minha rainha. —
beijo de leve seus lábios. — Comeu
alguma coisa?
— Bom, acho que na verdade
apaguei na sua cama. — sorri.
— Nossa cama. — a corrijo. —
Já é noite, precisa comer algo.
— Ok, mandão.
— Mas eu cozinho, porque
senão...
— Caleb! — finge se sentir
insultada, e eu sorrio.
— Vem, minha rainha. — pego-a
no colo. — Vou fazer algo que devia ter
feito muito antes.
— Quando nos casamos? —
sorri. — Obrigada por me fazer
esquecer um pouco de tudo.
— Não se preocupe com nada,
senhora Soares. — beijo sua boca. —
Agora vamos!
— Em frente, senhor Soares.
Sorrindo, abrimos a porta do
quarto e Victória solta gritinhos quando
a jogo um pouco para cima. Ela para
mim, não pesa praticamente nada.
— Isso é tão romântico. — diz,
enquanto descemos escadas.
— Sério? — pergunto incrédulo.
— Pensei que acharia cafona.
— Gosto de coisas cafonas... —
fica corada. — Suas cartas, suas
palavras bonitas, seus gestos
inesperados... Até suas explosões.
— Assim me sinto ofendido. —
ela revira os olhos. — Ei!
— Nem vem.
Em meio a essas pequenas brigas
com ela, eu sei que posso sobreviver, ou
melhor, viver plenamente.
Faço um lanche rápido e sirvo
Victória. Pego um suco na geladeira e
me sirvo. Victória retorce o rosto pra
mim, e sei que tem a ver com o suco.
— Qual é o seu problema com
meu suco? — pergunto divertido.
— Talvez porque tenha gosto de
nada? — finge ter arrepios. — Prefiro
refrigerante, mesmo que seja menos
saudável.
Ela vai até a geladeira e procura
algo.
— Você é implicante. — dou a
volta na mesa e vou até ela.
— Idiota. — se vira em minha
direção.
— Chata. — a encurralo contra a
geladeira
Passo o nariz em seu pescoço e
vejo seus pelos arrepiarem.
— Algo mais a declarar? —
provoco.
— Metido. — beijo seu
pescoço. — Convencido.
— Linda. — sussurro contra sua
pele. — Minha.
Ela puxa meu rosto para o seu e
tenta me beijar, porém prendo suas mãos
para cima rapidamente.
— Minha? — pergunto e ela me
olha em expectativa.
— Caleb. — protesta.
— Diga. — a encaro, e noto seus
olhos azuis ainda mais profundos.
— Idiota. — sorrio de sua
audácia.
— Errado. — mordo com força
seu pescoço e ela suspira alto.
— Sua. — sussurra.
— Não ouvi. — a encaro.
— Não força! — me olha brava.
— Por hoje. — cedo e a beijo.
Continuo prendendo suas mãos
para o alto e puxo suas pernas, que se
entrelaçam em minha cintura.
— AH MEU DEUS! — paro no
mesmo momento e Victória praticamente
dá um pulo. Encaro a pessoa a minha
frente. — Eu não consigo acreditar! —
ela grita ainda mais alto.
— Luna. — Victória a olha
incrédula, assim como eu.
— Eu entrei na casa errada ou...
— Não seja palhaça. — Vic vai
até ela e abraça com carinho. — O que
está fazendo aqui?
— Bom, vim ver meus pais, mas
acho que eles não estão, então.... — ela
finge se virar pra sair e eu sorrio.
Luna sendo Luna.
— Amor, achou seus pais? —
Lucas aparece na cozinha e logo tem a
confirmação. — Por que está assim? —
pergunta e Luna não disfarça o sorriso
no rosto.
— Nada. — me encara brava. —
Nem um abraço, pai?
— Desculpe, princesa. — a
abraço. — Agora me diga, o que está
fazendo aqui?
— Nossa, nem parecem felizes
em me ver. — faz drama e Lucas revira
os olhos. — Ok, eu não consegui ficar
longe.
— Filha, eu disse que não
precisava...
— Eu fiquei preocupada. — diz
baixinho. — Mas fico feliz em vê-los
bem.
— Como você deixou que ela
fugisse da própria lua de mel? — Vic
indaga a Lucas, que apenas dá de
ombros.
— Faço de tudo pela minha
boneca. — a abraça pela cintura.
Poderia ter ciúmes, e óbvio que
tenho. Mas esse garoto se mostrou
responsável e cuidou muito bem de
minha filha desde que se conhecem, sei
que não poderia ter alguém melhor ao
lado dela. Odeio admitir isso!
— Bom, como acho que está
tudo bem. — ela sorri de lado. —
Apenas vou para o meu quarto e...
— Nada disso, Luna. — Vic a
corta. — Vamos conversar mocinha.
— Ah, vamos mesmo. — Luna
gargalha. — Se quiser ir ver seus pais,
não me oponho.
— Ok, boneca. — beija a testa
dela. — Tchau sogrões.
— Esse apelido é horrível. —
digo assim que ele sai.
— Ele faz para provocá-los. —
Luna explica. — Agora me digam...
— Primeiro você. O que deu na
sua cabeça de voltar pra casa? — Vic a
olha brava. — Você veio como?
— Com o jatinho de Lucas. —
ela diz sem jeito. — Eu sei que devia ter
ligado mamãe, mas eu estava
preocupada e...
— Ok. — apaziguo a situação.
— É bom tê-la em casa, filha.
— Mas agora me digam, estão
juntos? — pergunta desconfiada.
— Bom, sim. — Vic diz e eu
sorrio internamente.
Somos mesmo um casal.
— HÁ. — Luna grita ainda mais
alto. — Nem acredito.
— Meu Deus, está tudo bem por
aqui? — Castiel aparece e Danielle vem
logo atrás.
Estaco e pânico toma conta de
mim. Victória fica apenas encarando
Luna, que parece absorta em toda essa
situação.
— Esse é... — tento dizer porém
Luna se vira e encontra Castiel.
— Oi, tia Dani. — Luna a
abraça. — Oi, Castiel!
Os dois se encaram e é como se
não soubessem o que fazer. Droga!
— Você o conhece? — pergunto
incrédulo.
— Bom, eu sei a verdade. — diz
e me encara. — Sei que ele é meu pai
biológico.
— Luna. — Vic diz e tenta
segurar as lágrimas.
— Olha, não precisam ficar
assim. — respira fundo. — Eu nunca
tinha o visto pessoalmente antes, quer
dizer... — ela balança a cabeça, como se
espantasse alguma lembrança. — Mas
sei de tudo que houve.
— Mas...
— Uma vez entrei no seu quarto
sem permissão, li uma das cartas... —
confessa. — Desculpe por isso, papai.
— Filha... — Vic fica ao meu
lado e eu apenas passo a mão em sua
cintura.
— Não precisam ficar assim,
sério. — nos olha e sorri. — Sei disso
há muito tempo, não muda nada.
O clima tenso se apodera do
local e tento focar meu olhar em Luna,
que continua apenas esperando uma
reação de nossa parte.
— Você então sabe que sou...
— Sei que é minha tia, Dani. —
sorri e abraça Dani novamente. —
Sempre foi, mas sei que é de sangue
também.
— Desculpe por termos
escondido isso, querida. — Dani diz e
sinto-me culpado por sequer ter pedido
perdão a minha filha.
— Não precisa pedir isso,
ninguém precisa. — nos olha inquisitiva.
— Nunca me faltou amor, carinho... Por
que teriam que pedir desculpas?
— Desculpe mesmo assim,
princesa. — digo e ela faz uma careta.
— Nem vou dizer nada. — diz e
me encara brava.
— Desculpem, eu tenho que ir.
— Castiel sai rapidamente e ficamos
atônitos.
Meu irmão está assustado!
— Mamãe, pare de chorar. —
Luna chega próxima a Vic. — Vamos lá,
senhora Soares.
Nos abraçamos e Luna acaba
chorando junto.
— Somos patéticos. — Luna diz,
assim que afasta.
— Bom, eu vou indo para o meu
quarto. — Dani diz e sai rapidamente.
— E eu vou pro meu. — Luna
corre até ela. — Me espera, tia.
Sorrio para Vic que apenas
meneia a cabeça negativamente.
— Ela cresceu, não foi? —
pergunto e Vic me abraça pela cintura.
— Tenho tanto orgulho dela. —
diz emocionada.
— Fizemos um bom trabalho.
— Mas acho que ainda tem um
trabalho pendente, senhor Soares. — diz
provocativa.
— Posso fazer hora extra.
— Estarei esperando por isso.
— brinca e me beija.
Por ora, tudo parece estar em
seu devido lugar.
Capítulo 22

Victória

Duas semanas depois

Luna gargalha da série que passa


e eu apenas assisto tentando entender.
Por que dizer “Bazinga” é algo tão
emocionante?
— Estou velha pra isso. — digo
e ela me encara sem entender. — Filha,
não acho graça nessas séries. Se fosse
Supernatural...
— Qual é, mamãe? Isso é
incrível.
— Nerd como o pai. — ela
fecha a expressão. — É sério, já viu as
notas dele da graduação? Nunca na vida
conseguiria aquilo.
— Puxei para o lado inteligente
da família então. — jogo uma almofada
nela. — Mentira!
— Bom mesmo.
— Babi anda fugindo de mim ou
é impressão? — Luna pergunta e eu dou
de ombros.
— Ela está ainda tentando lidar
com toda a mudança e pelo que seu pai
disse, ela tem vergonha de se aproximar.
— Luna arregala os olhos.
— Na segunda, voltam minhas
aulas e de Lucas. — explica. — Marque
um almoço no domingo mamãe, vou
conhece-la, nem que for a força. — rio.
— Ok, princesa.
— Eu nunca imaginei que teria
uma irmã e ainda mais que ela fugiria de
mim.
— Eu nunca imaginei que seu pai
fosse capaz disso. — confesso e sinto o
corpo de Luna se aconchegar ao meu.
Passo a mão em seus cabelos
loiros e é impossível não pensar que
isso tudo começou por amor a ela.
— Vocês parecem dois jovens
apaixonados, é lindo de se ver. —
suspira.
— Bem que eu queria ainda ser
uma adolescente. Já estou na casa dos
quarenta, daqui a pouco...
— Pare com isso! — me corta.
— Continua linda, e se prepare para o
modo possessivo de papai.
— Eu bato nele. — brinco.
— Bate em quem? — Caleb
adentra a sala.
— Você, querido.
— Ah, claro. — sorri
convencido.
Luna vai até o pai e lhe dá um
abraço. Logo sobe as escadas indicando
o celular, como se fosse atender a uma
ligação, e pelo sorriso só pode ser
Lucas.
Caleb vem até mim, beija meus
lábios e logo retira a camisa. Deixa a
mostra o peito que mesmo com a idade,
continua esculpido e completamente
maravilhoso. Suspiro encantada.
— Não me olhe assim, mulher.
— pega uma de minhas mãos. — Ou eu
te faço minha aqui mesmo.
— Isso é uma promessa? — o
instigo.
— Pode apostar que sim. — diz
se colocando por cima de mim e eu
acaricio seu rosto com leveza. Nunca
vou me cansar de olhá-lo.
Não resisto e o beijo, um beijo
repleto de amor e carinho. Quando nos
separamos ele me olha ternamente e
sussurra palavras que eu nunca imaginei
ouvir:
— Eu não sou o homem perfeito,
não sei ao certo qual sua cor favorita ou
a música que mais lhe agrada no
momento. Mas agora, quero que você
conheça meu escritor favorito, pois ele
descreve exatamente como me sinto com
você. — minhas lágrimas já descem por
meu rosto.
Ele estava se declarando pra
mim, não por meio de uma carta, não em
um momento de raiva... Mas olhando em
meus olhos.
Ele sorri de lado do jeito que
sabe que me desestabiliza, e eu apenas
consigo sorrir também.
— "Eu quero que você saiba
que dormir todas as noites ao seu lado,
e mesmo as discussões mais banais, são
coisas realmente esplêndidas e as
palavras difíceis, que sempre tive medo
de dizer, podem agora ser ditas: eu te
amo (Charles Bukowski)."
Ao fim da citação tudo o que
consigo fazer é chorar ainda mais. Seus
olhos azuis me encaram em expectativa.
— Eu gostaria de ser tão
romântica quanto você, mas agora só
consigo pensar em meu escritor favorito
também. — ele sorri e eu acaricio seu
rosto.
— "Finalmente entendi o que
significa o verdadeiro amor... Amor
quer dizer que você se importa mais
com a felicidade da outra pessoa do
que a sua própria. Não importa o quão
dolorosas sejam as escolhas que você
tiver que enfrentar (Nicholas Sparks)."
E eu amo você Caleb. Por mais que
ainda existam barreiras, nenhuma delas
estará entre nós, pois daqui pra frente
enfrentaremos o mundo juntos.
É o nosso primeiro momento
assim, eu temia pelas armações e por
tudo que estava por vir. Mas eu o tinha
comigo e nada no mundo seria capaz de
nos separar. Nada.
***

— Luna foi pra sua nova casa.


— conto, enquanto escovo os dentes.
Caleb toma banho e o vapor do
box me impede de ver a perdição de
minha vida. Mas precisávamos
conversar, então com certeza, é melhor
assim. Ou não.
— Me deixe adivinhar. Ela
pediu ajuda na decoração? — pergunta.
— Na verdade, ela está com
medo.
— Como assim?
— Bom, Lucas já está com
emprego fixo no hospital e iniciando o
mestrado, e ela é apenas uma graduanda.
Palavras dela.
— Não entendi ainda.
— Ela está com medo dele olhar
para as “doutoras de plantão”. —
Caleb gargalha.
— Só Luna para inventar isso.
— Bom, eu disse a ela que ele
jamais faria isso. — suspiro fundo. —
Mas queria saber o que você acha dessa
desconfiança dela.
— Bom. — ele fecha a ducha e
sai se secando do box. — Acho que é
sem fundamento, mas é algo normal. São
recém-casados, e Luna mesmo sendo
madura, ainda tem apenas vinte anos.
— Eu sei. Só não quero que ela
fique paranoica. — lavo minha boca e
guardo a escova. — Mas então, preciso
ir ao shopping.
— Qual o motivo? — ele coloca
uma toalha em volta da cintura e com
outra, seca os cabelos.
— Pensei em comprar um
presente para a casa nova dela. — dou
de ombros. — Algo especial.
— Ok, minha rainha. — enlaça
minha cintura. — Só espere eu me
arrumar.
Seu cheiro invade minhas
narinas e esqueço até como se respira.
Caleb me inebria.
— Como estão as coisas? —
pergunto, pois sei que ainda investiga
sobre minha mãe e todo resto.
— Bom, na advocacia, tudo na
mesma. — respira fundo. — Sobre as
investigações, cada vez mais
complicado.
— Sinto muito, amor. — ele
sorri. — Não fique convencido.
— Por que não posso gostar de
quando me chama de “amor”?
— Porque você sorri convencido
e...
— Ah, minha rainha. — ele me
encurrala contra a pia.
Caleb gosta de me encurralar!
— Temos que ir. — sussurro.
— Me dê dez minutos. —
mordisca minha orelha.
— Te dou cinco. — o desafio.
— Posso dar conta disso.
— Arrogante. — bato em seu
braço.
— Linda.
Ele então me beija e me prova
que é capaz de tudo.

***
Andávamos pelo shopping, e
mesmo que disfarçados tenho certeza de
que há homens da segurança ao nosso
redor.
— Eu sempre soube que eles são
seguranças. — confesso. — E dou
graças a Deus por eles andarem
disfarçados.
— Querendo ou não, precisamos
disso. — Caleb diz e passa o braço ao
meu redor. — Comprou tudo que queria?
— Sim. — encaro as sacolas em
sua outra mão. — Ela vai adorar, não é?
— Vic, você comprou enfeites
amarelos para alguém que ama cores
escandalosas... Óbvio que sim.
— Tomara.
Passamos pela praça de
alimentação e fazemos nosso pedido em
um restaurante. Assim que nosso número
aparece, Caleb se levanta pra buscar.
Fico olhando-o de longe e vejo
uma mulher ruiva se aproximar
cautelosamente dele. Ela toca seu braço
e ele se vira, como se desse um estalo
em sua mente, ele sorri. Um sorriso que
eu pensei que fosse só meu.
Ela o abraça e noto que Caleb
demora um pouco para retribuir, mas ele
o faz... Fico intrigada e meu coração dá
voltas dentro do peito. Minha vontade é
de acertar essa piranha com alguma
coisa. Quem sabe um soco?
Permaneço no mesmo lugar, pois
quero ver até onde essa cena vai dar.
Eles se separam e ela sorri pra ele.
Surpreendo-me quando vejo um homem
chegar por trás dela e a abraçar.
Tomás!
E essa então só pode ser sua
esposa, a tal Solange. A mesma pela
qual Caleb admitiu ter se interessado...
E pior, ela é linda.
Passo as mãos pelos meus
cabelos castanhos já cumpridos e noto o
quão sem graças são perto do ruivo
natural que ela ostenta. Pare com isso!
Sem conseguir mais encarar a
cena a minha frente, levanto-me e saio.
Caminho por entre os corredores do
shopping e resolvo entrar em uma de
minhas lojas favoritas de roupas.
Escolho algumas peças
aleatórias e entro rapidamente no
provador. Encaro meu reflexo no grande
espelho e desabo.
Eu me sinto tão insegura, sem
graça... Será que vê-la o fez sentir algo?
Eu nunca tive de lidar com
ciúmes e insegurança antes, mas agora
vejo que estou completamente perdida.
Choro baixinho, encostada na
parede do provador e tento me recuperar
ao mesmo tempo. Quando penso em
finalmente sair, ouço batidas na porta e
limpo rapidamente as lágrimas.
— Sim?
— Abra a porta. — Caleb diz e
me apresso em me ajeitar. — Agora,
Vic.
— Estou colocando uma roupa.
— minto.
— Vic. — insiste.
Então vencida pelo cansaço,
abro a porta e ele entra sem dizer nada.
Antes que eu pudesse o afastar, ele
tranca a porta do provador e me encara
preocupado.
— Por que saiu? — pergunta
nervoso.
— Cansei de me deliciar com
seu reencontro. — desdenho.
— Vic, eu não quis...
— Ainda sente algo por ela?
— Não. — responde firme. —
Claro que não.
— Então por que deixou que ela
tocasse em você? — rosno.
— Ela apenas me abraçou, Vic.
Nada demais. — diz e me encara.
— Ok, vou dar um abraço em
Tomás e já volto! — provoco e tento
sair, porém Caleb me segura com força.
— Tudo bem, me desculpe. —
diz e noto seu queixo tenso.
— Ok. — digo e tento me soltar
dele. — Vou ao cabeleireiro, se quiser ir
embora...
— Por que? Está perfeita. —
toca meu rosto, porém me esquivo.
Abro a porta do provador e ele
me segue. Noto as atendentes soltarem
suspiros por ele e sinto vontade de voar
em cada uma delas.
— Vic, pare com isso. — me
puxa para seu peito. — Não precisa
ficar assim.
— Volte para sua ruiva e me
deixe em paz. — revido e me solto.
— Minha rainha...
— Nada de "minha rainha",
Caleb. Quero ficar sozinha, me deixe!
— saio em outra direção e ele não me
segue.
É nossa primeira briga séria, e
eu realmente não sei lidar com essa
merda.
Entro no salão que sempre vou e
peço para que façam algo diferente.
Queria ao menos me olhar no espelho e
me sentir suficiente pra ele.
A imagem da ruiva em seus
braços me dá vontade de gritar, mas ao
invés disso, me concentro em sorrir das
piadas sem graça que o cabelereiro
conta.
Mas em meu interior, sinto algo
se revirar. Sinto que algo ruim vai
acontecer... Mas só posso torcer para
que isso seja algo relacionado a minha
insegurança. Apenas torço!

***
Chego em casa e já passa das
dez da noite. Praticamente fechei o
shopping. Olho em meu celular e noto
que já recebi o relatório mensal da loja.
Estou tão relapsa esses dias, que me
esqueci totalmente de procurar por isso.
Analiso os números e fico
contente com o que vejo. Felizmente as
vendas subiram, e ainda nem resolvi
nada a respeito do aplicativo.
Assim que entro dentro de casa,
noto que está tudo em silêncio. Dou
passos silenciosos e subo as escadas.
Um barulho de ânsia me chama
atenção e viro-me em direção a ele. Vou
até o banheiro do corredor e bato
algumas vezes.
— Um minuto. — ouço a voz de
Dani.
Logo ela sai e noto sua palidez.
— Tudo bem? — pergunto e ela
assente. — Comeu algo diferente?
— Acho que foi o sushi que
comi ontem. — passa as mãos pelo
rosto, mas noto sua testa franzida.
Ela está com o rosto inchado e
tenho certeza que chorou.
— Tente descansar um pouco, já
levo um remédio ótimo pra enjoo que
tenho no quarto.
— Não precisa, Vic.
— Claro que sim, vai lá!
— Obrigada. — diz e sai.
Finjo seguir caminho para meu
quarto, porém apenas dou tempo
suficiente para que ela entre no seu.
Refaço o caminho até o banheiro
e sigo meu instinto. Abro o lixinho e
encontro algo embolado no papel
higiênico jogado ali.
Ninguém usava esse banheiro,
porque é destinado para visitas. E outra,
Dani tem um banheiro em seu quarto...
Por que usou esse?
Só se ela não aguentou a ânsia
e...
Pasmo assim que desfaço o
embrulho do papel e encontro três testes
de gravidez. Todos positivos.
A porta do banheiro se abre no
mesmo instante e Dani estaca no mesmo
lugar.
— Vic, não é o que está
pensando.
— Então me dê uma luz.
— São...
— Castiel é o pai? — pergunto e
ela suspira fundo.
— Sim. — confessa e começa a
chorar.
— Shhhh. — a abraço. — Está
tudo bem.
— Não, nunca mais estará. —
diz e sai.
Noto que vai para seu quarto e
tenho certeza de que se trancou. Ela
precisa de um tempo sozinha.

Caleb

Ando de um lado pro outro no


quarto e tento não beber. Ligo
novamente para a segurança e eles me
informam que Vic já está em casa.
Graças a Deus!
Espero ansioso no quarto, porém
ela demora. Sem mais querer esperar
vou em direção ao corredor. Vejo a luz
do banheiro acesa e vou até lá.
Estaco ao ver Victoria
paralisada olhando para... Três testes de
gravidez. E meu Deus, todos positivos.
Lágrimas se acumulam em meus
olhos e sinto meu coração bater
freneticamente.
— Grávida? — pergunto
baixinho.
— Sim. — responde ainda sem
me olhar. — Meu Deus, isso será uma
loucura.
Sem conseguir me conter a puxo
pra mim e jogo-a pra cima. Não consigo
disfarçar minha felicidade.
— Me solte, Caleb! — diz
assustada. — Endoideceu?
Noto seu olhar de pesar e então a
coloco no chão. Será que ela não queria
ficar grávida?
— Você não parece feliz em
saber da gravidez. — digo receoso.
— Não sei como vamos lidar
com isso. — suspira fundo. — Imagina
quando Castiel descobrir? Vai ser uma
loucura e...
— Mas o que ele tem a ver com
isso? — pergunto sem entender.
— Ora, o filho também é dele.
— O que? — pergunto
incrédulo. — Como assim dele?
— Caleb, o que aconteceu com
você? — pergunta me olhando confusa.
— Castiel é o pai? — pergunto
temeroso.
— Óbvio, quem mais seria?
— Como pode fazer isso
comigo? — explodo. — E ainda fez
aquela ceninha no shopping, sendo que...
Victória explode em uma
gargalhada e se escora na pia de tanto
rir.
— Ainda tem a coragem de rir
de mim. — passo as mãos pelos
cabelos. — Acho melhor...
— Dani está grávida. — me
corta. — Não eu.
Como se tudo fizesse sentindo
em um segundo, apenas me seguro no
batente da porta.
— Então, não vamos ter um
bebê?
— Não. — diz simplesmente. —
E antes que pergunte, eu não me envolvi
com seu irmão.
— Não ia perguntar isso. —
seguro suas mãos. — Apenas me
confundi.
— Percebi.
— Me desculpe, minha rainha.
— toco seu rosto. — Está linda com
esse novo corte de cabelo.
— Você notou? — pergunta
inquisitiva.
— E também esse ombre hair. —
ela arregala os olhos. — Sou pai de
duas meninas, sei das coisas. — pisco.
— Metido. — abre um sorriso
fraco.
— Mas você é linda de qualquer
forma pra mim. — puxo-a mais pra
perto. — Principalmente, sem nada.
— Caleb, eu ainda não te
perdoei. — diz em tom baixo, e eu a
encaro.
— O que esse humilde servo
pode fazer para que sua rainha o
perdoe? — pergunto.
Ela então me dá um leve soco no
peito e eu me afasto.
— Nunca mais deixe nenhuma
dessas vacas tocar em você, ou eu
mesma de castro. — diz nervosa e eu
sorrio.
— Sou todo seu, minha rainha.
— Bom mesmo. — me olha com
pesar.
— O que foi?
— Estou preocupada com Dani.
— Merda!
— Pois é, merda!
— Precisamos dar um tempo
para ela. — digo. — Tem algumas
coisas que precisamos enfrentar
sozinhos.
— Eu espero que ela saiba
disso.
— Eu também.
Então levo Vic para meu quarto e
mostro a ela todo amor que sinto.
E enquanto ela dorme satisfeita
em meu peito, meus pensamentos viajam
até meu irmão. Temo por ele e por seus
sentimentos para com Dani.
Ele teria de cuidar dela, e ao
menos uma vez, fazer o que é certo.
Ser o pai dessa criança.
Capítulo 23

Victória

Uma semana depois

— Ele irá descobrir de um jeito


ou de outro! — afirmo pela milésima
vez e ela apenas ignora. — Não pode
fugir disso para sempre, Dani.
Ela continua jogando as roupas
na mala em meio as lágrimas e eu as
retiro ao mesmo tempo, jogando-as no
chão.
Ela não sairia de jeito nenhum
dessa casa, e muito menos fugiria daqui.
— Ele jamais amará essa
criança e eu jamais serei uma boa mãe!
— grita em meio as lágrimas, levando as
mãos ao ventre ainda plano.
— Espera um pouco aí! Dani,
você está com medo? — pergunto
receosa e incrédula.
Pensei que ela estava assim por
estar grávida do homem que ela tanto
odiou por anos. Mas ao que me parece,
ela tem medo de os dois não serem bons
pais.
— Eu não sei de mais nada Vic!
— funga baixinho. — Eu não consigo
aceitar que o homem pelo qual eu... Eu...
— Se apaixonou! —
complemento sua frase e ela chora ainda
mais.
— Não posso amá-lo Vic! — me
encara. — Castiel não é o homem que
pensei que fosse, ele é um monstro! Ele
pediu pra minha irmã abortar Luna e a
abandonou, tudo por ser apenas um
garotinho assustado. E ela? Ele em
algum momento pensou nela ou em como
ela se sentia a respeito de tudo? — fico
sem fala. — Não posso aceitar nada que
venha dele, se pudesse escolher não
teria essa criança.
— Nunca mais repita isso! —
me exalto e ela me olha assustada.
Acho que assustada pelo que a
mesma disse.
— Eu não queria ter dito isso
Vic, eu...
A abraço com força e acabo a
acompanhando nas lágrimas. Eu havia
finalmente me acertado com Caleb e não
conseguia mais imaginar o que seria de
mim sem ele. Eu o amava loucamente e
via em Dani o mesmo sentimento, só que
por Castiel.
— Eu sei que não querida! —
passo as mãos pelo seus cabelos.
— Mas o que está acontecendo
aqui? — Caleb pergunta ao entrar no
quarto, Dani se afasta e noto o olhar
assustado dele.
Ele analisa toda a situação e
quando nota a mala de Dani jogada em
cima da cama, leva as mãos aos cabelos
incrédulo.
— Não vai sair daqui Danielle,
nem pense nisso! — exclama autoritário
mas noto a dor em suas palavras.
Dani sai de meus braços
rapidamente sendo acolhida pelos dele.
A relação que eles tem é linda e terna.
Ele é como o irmão mais velho ou como
eu mesma via, um pai pra ela. Assim que
me olha por cima dos ombros dela noto
o medo que ele sente.
Eu podia não ter notado, talvez
seja porque pouco me importava com
Caleb antes, porém ele é uma pessoa
completamente transparente. Os olhos
azuis não fingem o que o embarga, ele
não tinha resquício algum de mentira
pelo corpo... E por Deus, eu só
conseguia me surpreender a cada dia
mais com ele.
— Iremos resolver isso, ok? —
pergunta carinhosamente para Dani que
apenas meneia a cabeça. — Castiel está
aqui, talvez devesse falar com ele e...
— Não. — responde
rapidamente. — Ainda não.
— Tem certeza? — ela assente.
— Vou estar com ele no escritório,
qualquer coisa, me chamem.
Ele apenas me lança um último
olhar antes de sair.
Dani parece cansada e
estressada. Não entendo muito sobre a
gravidez, e o que sei sobre bebês
aprendi com Luna há anos atrás, mas
tenho certeza que toda essa pressão não
é algo bom pra ela.
— Quer sair um pouco daqui? Ir
a praia? — pergunto e um sorriso leve
abre em seu rosto.
Os programas que fazíamos
juntas não eram tão típicos como ir ao
shopping ou visitar os pontos turísticos
do Rio. Nós simplesmente amávamos o
mar e todos os domingos íamos ver o
pôr do sol juntas. E a calma que a maré
trazia a nós duas era inexplicável e
parece ser o que ambas precisamos
nesse momento.

***

— Eu senti falta disso! — diz


assim que nos sentamos na areia.
O pôr do sol se exibe no
horizonte e eu apenas sorrio de sua
afirmação.
— Parece feliz Vic. — a encaro.
— Sempre soube que um dia iriam se
acertar, os olhares que Caleb deu a você
por todos esses anos apenas davam
indícios do que hoje todos tem certeza...
Ele sempre te amou.
— Eu o amo, Dani! — confesso.
—Esse sentimento se parece com um
furacão... Algo avassalador que ao
mesmo tempo te repele e te puxa com
mais força, sabe? — pergunto e a encaro
sorrindo, mas logo noto o seu olhar
perdido em pensamentos e só assim
percebo o que acabei de dizer. — Dani,
eu...
— Tudo bem Vic, eu apenas não
queria sentir isso. — ela solta o ar com
força e então leva as mãos ao peito,
apertando-o. — É um sentimento tão
sufocante que chega a doer e arder
quando estou longe dele. E quando ele
está por perto apenas tenho vontade de
me jogar em seus braços... — ela deixa
a frase morrer no ar e lágrimas descem
pelo seu rosto.
Dani pode ser poucos anos mais
nova que eu, mas no fundo é ainda a
mesma menina de sempre. O mesmo
temperamento forte misturado com
doçura e a insegurança a respeito das
pessoas.
— Ele disse que me amava. —
confessa e eu a olho assustada. —
Foram o que? Três dias e já estava
entregue nos braços dele... E sim, eu
disse a ele que o amava também. —
suspiro fundo. — Eu descobri que ele é
o pai biológico de Luna pois ele mesmo
me contou tudo. Ele disse que me amava
e que não queria mentira entre nós...
Quando ele começou a contar meu
mundo desabou, Vic!
Estava perplexa com sua
confissão. Então foi assim que ela
descobriu? Não sei se existe maneira
pior.
— Eu sinto muito Dani. Sabe o
como torci por você e Isaac! — digo
tentando fazê-la sorrir um pouco.
Lembro novamente da vez que
tentei juntá-los, mas os dois de cara já
não se bateram. Eram como irmãos
rebeldes, brigavam por tudo e
concordavam em nada. Se Castiel
desconfiasse que eles tiveram um
encontro uma vez, tenho certeza que
quebraria a cara de Isaac sem pensar
duas vezes. Eu adoraria ver a cena.
— Hora de ir, Vic! — Isaac
anuncia ao chegar perto de nós, e Dani
bufa.
Caleb havia me dado duas
opções: Ou iríamos a praia escoltadas
ou simplesmente não iríamos. É horrível
ser seguida a todo momento, mas sei que
ele apenas zela pela nossa segurança,
então resolvi não contrariá-lo.
— Não fique se achando,
brutamontes! — Dani retruca e ele
revira os olhos.
— Olha a macho fêmea falando.
— ele devolve e Dani lhe acerta um
soco no peito.
— Não comecem! — digo
passando por eles, indo em direção ao
carro.
Sei bem que se desse corda aos
dois ficaríamos até amanhã nisso, então
resolvi apenas ignorá-los.
***

A volta pra casa é tranquila,


Isaac dirige enquanto discute com Dani
sobre a música que iremos ouvir.
— Eu decido! — digo já
colocando minha música favorita do
momento, e noto ambos revirarem os
olhos.
Realmente, isso é irritante!
Os primeiros versos soam e eu
acompanho a música calmamente:
"Hello
How are you?
t's so typical of me to talk about
myself
I'm sorry, I hope
That you're well
Did you ever make it out of that
townWhere nothing ever happened?
It's no secret
That the both of us
Are running out of time...”
(Hello – Adele)
Já me preparo pra gritar o refrão
da música mas o grito agudo de Dani me
assusta. Faróis nos cegam e ouço Isaac
se comunicar com alguém. Tento prestar
atenção, porém meu corpo fica leve e...
Encontro escuridão.

***

Sinto minhas pálpebras pesadas


e uma forte dor de cabeça. Forço meus
olhos a se abrirem, mas assim que a
claridade invade minha visão tudo gira.
Com calma tento novamente e deixo
meus olhos se acostumarem com o
ambiente. Olho ao redor e me parece um
quarto.
Espera aí! Estou em um
hospital?
A música, o grito de Dani...
— Vic! — ouço a voz de Caleb e
me assusto.
— O que... o que aconteceu? —
pergunto confusa.
— Vocês bateram o carro! — diz
simplesmente, mas sei que tem mais.
— Foi um atentado? — pergunto
nervosa, Caleb desvia o olhar e isso é a
minha confirmação. — Deus!
Não consigo perguntar mais
nada, pois ele me abraça com força sem
deixar de beijar toda minha face.
Quando seu rosto está na mesma altura
que o meu finalmente noto seu olhos
vermelhos, que indicam que ele estava
chorando compulsivamente. Porém, eu
estou bem então...
— Caleb, como Isaac e Dani
estão?
Capítulo 24

Caleb

— Preciso de uma pausa! —


Castiel diz já se levantando e indo em
direção ao mini bar que tenho no
escritório.
— Não entendo o porquê de ter
tantos tipos de uísque aqui. — diz
pegando uma garrafa d'água.
— Talvez por que antes de me
acertar com Victória, a bebida era a
única coisa a qual podia recorrer? —
pergunto desgostoso.
— Como pude ter um irmão tão
maricas? — zomba.
— Me diga você como está
fazendo para esquecer Dani? Já que
bebida está fora de cogitação. —
provoco e seu semblante se fecha na
mesma hora.
— Ok, fez seu ponto! — dá de
ombros— Mas me diga, quem está
cuidando do escritório?
— Herrera por enquanto assumiu
meu lugar, mas espero poder voltar logo.
— Nenhuma de suas filhas está
interessada em assumir seu lugar? Digo
futuramente. — pergunta com o cenho
franzido e eu sorrio.
Quem me dera!
— Luna mesmo tendo casado
cedo, ainda está terminando a faculdade
de medicina...
— Eu soube disso através de Jô,
confesso que fiquei assustado. —
intervém.
— Por que? — pergunto sem
entender.
— Você por um acaso mandou
me investigar durante esses anos que se
passaram? — pergunta.
— Sim, mas a única informação
que obtive foi que você mora em
Londres.
— Foi o que pedi para que
Joaquim dissesse. — arregalo os olhos.
— Aliás, sou médico.
— Ela realmente tem muito de
você. — confesso pois sei que é
verdade, em muitas atitudes noto como
Luna age como Castiel.
O jeito espontâneo e sem
medidas é algo que os dois
compartilham, e agora mais um laço os
unia, a profissão.
— Caleb, eu não...
— Não fico nenhum pouco
chateado com isso, aposto que ela vai
amar saber que tem um médico na
família.
Seu rosto se suaviza e o noto
soltar o ar com força. Eu poderia ter
ciúmes dele? Claro que sim, mas não
tinha razão para aquilo. Luna era minha
filha de coração e mesmo que Castiel
tivesse a negado um dia, nada me faria
mais feliz do que vê-lo ter uma boa
relação com ela. Nem se fosse como
"tio".
— Obrigado. Espero um dia ter
coragem de falar abertamente com ela.
— senta-se na cadeira. — E Babi?
— Babi vai prestar os
vestibulares este ano, os resultados
saem no máximo até fevereiro do ano
que vem eu acho. Porém nada tem a ver
com direito... Ela quer ser designer.
— Ela já tem um estágio
garantido com o senhor Rodrigo Soares,
aposto. — diz zombeteiro e eu sorrio.
Mesmo que nenhuma das duas
tenha seguido meus passos, elas são
meus maiores orgulhos e estava
completamente satisfeito com as
decisões que elas tomaram. Se elas
estão felizes com isso,
consequentemente eu também estou.
Passamos alguns minutos
conversando sobre amenidades e
realmente é bom estar aqui com ele.
Castiel e eu temos uma mínima diferença
de idade, éramos praticamente grudados
durante a infância e senti falta de ter meu
irmão assim, perto de mim.
— Melhor voltarmos ao
trabalho. — diz e eu apenas concordo
com a cabeça.
Analisamos vídeos, documentos,
assinaturas e tudo mais que foi possível
de se encontrar até o momento. Isaac
acabou indo escoltar Vic e Dani, e
deixou as novas informações conosco.
As suspeitas de Castiel sobre
Julianne são fortes mas ainda falta o
verdadeiro motivo de ela estar
envolvida. Acabamos por procurar pela
entrada e saída em hospitais
psiquiátricos do Rio de mulheres com
características semelhantes a Lívia e na
mesma faixa etária que ela se encontra,
porém continuávamos no mesmo estágio.
Não havia nada.
E se demorasse muito, teríamos
que expandir isso para todo Brasil. E
tudo tenderia a piorar.
Desviei o olhar um pouco da
papelada e analisei o semblante
concentrado de Castiel em meio a isso
tudo, eu só podia imaginar que esse
homem á minha frente aceitaria nem que
com dificuldade a paternidade dessa
vez. Castiel errou no passado, foi
imaturo... Porém, quem nunca foi? Eu só
torço para que ele se portasse como a
pessoa que realmente é, um bom homem.

***
As horas passam rapidamente e
mesmo assim ainda não tínhamos
encontrado muita coisa. Haviam algumas
suspeitas de porquê Paula estava
envolvida com Christopher, mas tanto eu
quanto Castiel não estávamos
convencidos.
Os dois sempre que saíam juntos
nunca iam a lugares caros ou
chamativos, sempre discretos e nada
mais que andar de mãos dadas em
público. Havia algo errado naquele
relacionamento e mesmo que Paula
estivesse o usando, não duvidávamos
que ele estivesse fazendo o mesmo. Mas
por que ele faria isso?
E pior é que não pudemos ainda
intervir e falar com ele a respeito. Não,
uma vez que ele pode estar seriamente
envolvido e possa ser prejudicado.
— Caleb, olhe isso! — Castiel
me joga algumas fotos e eu a analiso
sem entender o seu alarde.
— O que?
— Olhe mais um pouco, com
atenção.
Analiso a foto e noto que a
mulher de xale roxo e óculos escuros no
alto da cabeça é Julianne, podia estar
com a semblante mais velho, mas tinha
certeza que era ela. Os olhos azuis
iguais os de Victória são inconfundíveis.
O homem alto ao seu lado estava apenas
de perfil e não conseguia afirmar, mas o
conhecia de algum lugar.
— Dominic.
— O que?
— Olhe só! — me joga outra
foto e de cara reconheço o homem ali.
— São a mesma pessoa, Dominic
Donatello tem alguma ligação com
Julianne.
— Então eles...
O toque alto do meu celular faz
com que minha frase morra no meio do
caminho. Olho o nome do visor e fico
apreensivo - Isaac.
— O que houve? — pergunto já
sentindo algo estranho no peito.
— Caleb, preciso que venha ao
hospital. — diz fracamente.
— O QUE? — grito e Castiel me
encara assustado.
— Sabotaram o carro e pra
garantir a batida sabotaram a estrada
que leva a casa de vocês. — esclarece
rapidamente. — Não venha com
ninguém da segurança, foi alguém de
dentro que fez isso.
— Eu vou matá-los, merda! —
grito já desesperado. — Como vocês
estão?
— Se acalme, eu e Victória não
sofremos nenhum dano além de
arranhões. O problema maior foi com
Dani.
— Como assim? — pergunto já
sentindo o mundo desabar.
— Ela está muito debilitada e
quase perdeu o bebê por conta disso. —
encaro Castiel. — Ela não pode sofrer
nenhum tipo de estresse no momento.
Por favor, contenha Castiel.
— Ok, estamos indo! — me
despeço e já desligo o telefone.
Castiel me encara
completamente confuso e eu respiro
fundo várias vezes. Ok, eu tenho que
dizer isso.
— O que houve, Caleb?
— Preciso que seja o homem
que de fato é dessa vez, Castiel!
— Mas... Do que está falando?
— Você ama Dani? — pergunto,
e ele leva as mãos aos cabelos nervoso.
— Sim, eu a amo mas... O que
houve Caleb? Ela está bem? — pergunta
desesperado.
— Eles sofreram um acidente e
Dani foi quem...
— Onde ela está? — pergunta
procurando as chaves.
— Ela quase perdeu o bebê. —
digo e vejo Castiel fechar e abrir os
olhos com força.
— Bebê? — pergunta receoso e
eu assinto. — Eu vou ser pai? —
pergunta mais pra si mesmo do que pra
mim.
— Você vai. — respondo mesmo
assim. — Dani não pode sofrer nenhum
abalo Castiel, por favor.
— Eu estarei ao lado dela, isso é
uma promessa.

***
Saímos praticamente correndo
de minha casa e agradeci aos céus por
Babi estar concentrada em seus livros e
fone de ouvido e não ter de leva-la
comigo.
Pedi para que Joaquim fosse até
minha casa e cuidasse dela. Não
podíamos confiar em ninguém além dele
e Isaac na segurança. Alguém está
armando contra nós.
Quando chegamos ao hospital
mal estacionei o carro e Castiel já havia
pulado dele. Ele tenta disfarçar sua
apreensão, mas a arma em sua cintura e
na minha, não deixam dúvidas.
Estamos preparados pra
qualquer coisa.
Na recepção logo nos informam
o número dos quartos e tanto eu quanto
Castiel pudemos vê-las.
— Cas. — o chamo.
— Não vou deixá-la só, Caleb.
— diz e sai em direção ao quarto que
ela se encontra.
Adentro o quarto 212 e encontro
Vic dormindo serenamente na cama. Há
um leve corte em sua testa, porém nada
mais aparenta um risco sério.
Fico por alguns minutos
esperando o médico. Assim que um
senhor que deve ter uns 60 anos entra, o
sorriso em seu rosto me deixa confuso.
— Vamos lá! Caleb Soares,
correto? — pergunta e assinto.
— Bom, a paciente teve apenas
leves cortes e nada mais grave aparente,
por estar usando o cinto de segurança o
bebê não sofreu nenhum dano e...
Paraliso!
— Espera aí, o senhor disse
bebê?
— Sim, os exames constataram
que a senhora Soares está com cerca de
duas semanas de gestação.
Cambaleio pra trás e tenho que
me segurar na cabeceira da cama pra
não cair.
— O senhor não sabia? —
pergunta sorrindo e eu confirmo. —
Então minhas felicitações, senhor
Soares! Espero que sua esposa goste da
novidade, logo logo ela irá acordar e
poderá contar a ela.
Logo ele sai, me deixando aqui,
completamente sem chão. Sento-me na
poltrona ao lado de sua cama e pouso
minha mão de leve em seu ventre.
Vamos ter um filho!
Lágrimas grossas rolam pelo
meu rosto e não me contenho. Fico então
imaginando nosso pequeno com os olhos
azuis que ambos temos.
Será que ele se parecerá mais
comigo ou com ela?
É como se já sentisse, sinto que
será um menino.
Lembro do nome que escolhi
caso o bebê de Annie fosse menino –
Miguel. Em meio as lágrimas sorrio
como se não tivesse amanhã e logo noto
Vic começar a despertar.
— Vic! — a chamo e ela me
olha.
— O que... o que aconteceu? —
pergunta confusa.
— Vocês bateram o carro! —
digo simplesmente, não quero preocupá-
la com nada. Não agora!
— Foi um atentado? — pergunta
nervosa e eu apenas desvio o olhar. —
Deus!
Sem poder me conter a abraço
com força e com cuidado para não
machucá-la. Distribuo vários beijos em
sua face e me seguro para não gritar a
novidade.
— Caleb, como Isaac e Dani
estão? — pergunta, claramente
apreensiva.
— Bom, ainda não vi Isaac mas
pelo telefone ele confirmou que está
bem. — ela me encara nervosa. — Já
Dani... Ela quase perdeu o bebê!
— Mas ela está bem? E Castiel
já está sabendo que...
— Shhh, está tudo bem agora.
Castiel está nesse momento no quarto
com ela. — digo.
Em vez de parecer mais
relaxada, Victória permanece tensa.
— Você está me escondendo
algo... Por que estava chorando se todos
estamos praticamente bem? — pergunta
nervosa e só consigo sorrir.
— Miguel é o causador das
minhas lágrimas.
— Han? Mas não conheço
nenhum Miguel...
Coloco minhas mãos de leve em
seu ventre e o acaricio, as lágrimas
novamente descem por minha face e eu
pouco me importo.
Victória a princípio não entende
e me olha como quem diz "Você ficou
louco?". Mas assim que começa a juntar
os pontos ela leva as mãos a boca
incrédula.
— Nós... Nós vamos ter um
bebê? — pergunta docemente e lágrimas
rolam pelo seu rosto. Linda!
— O fruto do nosso amor está
aqui, nosso Miguel! — confirmo e ela
abre um sorriso.
Sem que eu esperasse, ela me
beija. Um beijo terno e calmo, levando
nosso tempo pela felicidade de
termos um novo integrante na família.
— Pode ser mais uma menina,
Caleb! — adverte e eu nego com a
cabeça.
— Tenho certeza que será nosso
meninão, Miguel Fontana Soares!
Bônus

Danielle

É um local branco, havia


apenas uma névoa passando ali. Onde
eu estou?
Noto rapidamente duas
perninhas gorduchas correndo em
minha direção.
— Quem é você? Ei, onde você
vai? — pergunto sem obter respostas
do pequeno bebê que se afasta de mim.
Os cabelos loiros e olhos verdes
me remetem a... Minha bebê!
— Não! — grito, porém ela se
afasta ainda mais e de repente tudo
fica negro.
— Eu queria te falar tantas
coisas... Queria poder tocá-la
novamente e estar ao seu lado a cada
segundo a partir de agora. Eu a amo
tanto minha Dani e ainda mais o nosso
bebê.
Eu sei que só posso estar
sonhando, a voz baixa de Castiel
dizendo tais palavras me acalmam e
pude me sentir feliz pela primeira vez
após essas semanas guardando nosso
bem mais precioso. Levo então minhas
mãos ao ventre e logo sinto uma outra
mão quente pousada ali.
Mas o que?
— Dani, você está bem? —
forço meus olhos a se abrir e encaro os
olhos verdes do homem que amo.
Ele realmente está aqui, então
ele disse mesmo aquelas palavras.
Ele ama nosso bebê.
Analiso o resto do ambiente e
tento me enquadrar ali. Estou em um
hospital?
— Ah meu Deus! — grito assim
que me lembro do baque da batida e do
sonho. — Nossa bebê está bem Castiel?
Ela...
— Quase perdemos ela. — diz e
as lágrimas descem livremente pelo meu
rosto. — Espera um pouco aí, você já
sabe o sexo?
— Eu tive um sonho, apenas
isso. Sinto que é uma menina. — digo e
sorrio ao pensar no nome dela. — O que
faz aqui? — pergunto abruptamente.
— Vim passar a noite com você
e...
— A noite? Que horas são? —
pergunto confusa.
— Duas da madrugada. Mais
tarde se tudo estiver bem, você já será
liberada. — responde e eu apenas
assinto.
O silêncio toma conta do
ambiente e ficamos nos encarando por
alguns minutos sem dizer nada. E há
tanto a ser dito.
— Eu só queria a chance de
poder me explicar, contar o meu lado da
história... Sei que o que fiz a sua irmã
não tem perdão, mas eu não poderei
seguir em frente sem você... Sem vocês.
Um redemoinho de lembranças
invade minha mente. Os gritos e
desespero de minha irmã todas as noites,
as quais passei em claro por medo dela
tentar algo contra o bebê.
Eu me apaixonei perdidamente
pelo Castiel que era doce e gentil,
sarcástico e irredutível... Não amo o
monstro que destruiu a vida da minha
irmã. E eu não posso simplesmente
esquecer toda a dor que senti e sinto,
apenas para brincar de casinha até que
ele se cansasse de mim, e eu fosse
jogada pra fora da sua vida.
Estava decidida, eu não iria cair
nos jogos de Castiel.
— Dani...
— Não precisa fazer isso, não
precisa cuidar da bebê e muito menos de
mim! — o corto rapidamente.
— Eu quero Dani, quero estar ao
seu lado. — diz decidido. — E estarei.
— Não pode me obrigar a ficar
com você! — me altero e ele fecha
completamente sua expressão.
— Posso tanto que vou. —
afirma de modo autoritário e minha
vontade é de esganá-lo.
— Não, não pode! Enquanto esse
bebê estiver em minha barriga não pode
fazer nada a respeito.
— Assim que todo esse inferno
acabar, vocês irão embora comigo. Será
minha mulher e mãe da nossa filha, não
aceito menos que isso Danielle! — diz
em tom baixo e convicto, e eu me retraio
um pouco.
Que papo é esse de "minha
mulher"?
— Como você faria isso? Nos
levaria pra onde? — pergunto
sarcástica. — Eu jamais vou pra
qualquer lugar com você, seu monstro.
Por que seria mulher do homem que
matou minha irmã? — grito com raiva e
logo noto seu olhar magoado. Droga!
— Cas...
— Ok, se é assim que você quer.
Duas opções: ou irá embora comigo, ou
assim que a bebê nascer perderá
qualquer tipo de poder sobre ela. O que
acha? — diz em um tom frio.
— Você não seria capaz disso...
Caleb não deixaria.
— Caleb não tem nada a ver com
isso. — me corta. — Eu tenho ótimos
advogados Dani, não ouse brincar
comigo. E já que quer que eu seja o
monstro, então serei.
— Eu te odeio! — grito e ele se
aproxima de mim.
— Eu sei. — diz baixinho. —
Mas eu te amo minha feiticeira e nada
irá me fazer ficar longe de vocês. —
confessa me olhando.
— Você está me obrigando a
ficar com você, eu não quero!
— Eu sei que quer, sei que a
mesma Dani que se entregou
completamente a mim e se declarou, está
aí dentro em algum lugar... E eu vou
reencontrá-la.
Minha mente viaja para os
momentos que passamos juntos... Foram
tão fortes e intensos. Eu achei que
finalmente havia achado minha outra
metade... Porém, Castiel está longe de
ser isso.
— Sua filha nem nasceu e você
está ameaçando tirá-la de mim! Como
pode? — seguro as lágrimas.
— Eu estou apenas fazendo o
que posso pra que vá embora comigo.
Eu preciso de vocês.
— Pra onde diabos você quer
nos levar? — pergunto sem entender.
— Pra Londres, sua nova casa.
Capítulo 25

Caleb

Victória teve alta uma hora


depois assim como Isaac, apenas Dani
teria que passar a noite no hospital. Ela
continua sedada e Castiel se prontificou
a ficar com ela mesmo que sem poder
falar sobre o próprio filho. Eu via dor
misturada a felicidade em seus olhos,
mas eu deixei que ficasse... Ele precisa
de um tempo a sós com ela.
— Castiel parece assustado e
feliz! — Vic diz assim que entra no
carro e eu apenas concordo com a
cabeça. — Por que está assim? —
pergunta e eu sorrio largamente.
— Queria anunciar a todos que
vamos ter um filho. — digo e ela me dá
um tapa no braço.
Assim que tiro a arma e coloco
dentro do porta luvas, Victória me
encara inquisitiva. Mas achei melhor
não explicar, ela sabe por cima o que
houve, e de qualquer forma precisamos
estar preparados.
Isaac havia pedido um táxi e ido
pra casa sozinho. Ele estava distante e
quieto demais e em nada parecia estar
de tal modo devido ao acidente. Ele
esconde algo, tenho certeza.
E como o habitual caminho para
nossa casa havia me deixado inseguro,
decidi fazer uma nova rota. Iríamos
demorar um pouco mais para chegar,
mas Joaquim havia me garantido pelo
telefone que estaria tudo bem se fosse
por ali. Então o fiz.
Vic cantarola juntamente a uma
música internacional que não conheço e
eu apenas sorrio. Quando viro o rosto
para olhá-la com mais precisão, acabo
me esquecendo da direção.
— Caleb!
O grito de Vic faz com que eu
instantaneamente afunde o pé no freio.
Porém, ouço o carro bater em algo, ou
melhor, em alguém.
Saio rapidamente do carro e rezo
para que quem quer seja que tivesse
atropelado, esteja bem.
Como depois de anos sendo um
motorista exemplar pude fazer isso?
Ao olhar a frente do carro
encontro um rapaz com roupas velhas e
sujas, deve ter no máximo 23 anos.
Estendo minha mão pra ele, que se
levanta de repente e começa a se
desculpar.
— Me desculpe senhor, eu não
olhei pra atravessar e...
— Está tudo bem com você
rapaz? Qual o seu nome?
— Estou bem sim e... Meu nome
é Felipe. — responde e noto sua voz
receosa. Ele parece com medo.
— Onde é sua casa? Posso te
levar lá e.... — pergunto e ele arregala
os olhos abaixando a cabeça.
— Eu...
— Você mora aqui? Nas ruas?
— Victória pergunta ao vê-lo.
— Na verdade... — ele desiste
de continuar a frase e apenas assente
com a cabeça.
Vic então segura minha mão com
força e me olha ternamente.
— Sempre quis ter uma grande
família. — diz só para que eu ouça, e eu
sorrio.
Eu já havia estado na mesma
situação há anos atrás, foi com Babi e
agora é esse menino. Eu brincava
mentalmente com seu nome em minha
mente, Felipe... Felipe Soares.
— Ei, onde está indo? —
pergunto ao vê-lo se afastar.
— Eu estou indo embora, senhor.
— responde e volta a andar.
— Há quanto tempo está nas
ruas? — pergunto ao chegar ao seu lado
e ele abaixa a cabeça.
— Dez anos, senhor.
Deus, o que aquele garoto havia
sofrido?
—Por favor pare de me chamar
assim, meu nome é Caleb Soares e essa
é minha esposa, Victória. — digo e ele
arregala os olhos.
— Soares, igual os das
propagandas? — pergunta surpreso e eu
sorrio afirmando.
— Você já pensou em sair das
ruas? — pergunto e ele me olha
espantado.
— Sim. — confessa.
— Então venha conosco!
— Não precisa fazer isso senhor,
eu...
— Não precisamos, mas
queremos... Venha conosco Felipe! —
Victória pede ao nos alcançar.
— Mas para onde?
— Pra casa.
— Eu não posso aceitar senhor,
não precisa...
— Nós queremos que vá
conosco, Felipe. Sei que não é comum o
que estamos fazendo, mas aprendi com o
homem da minha vida que em nossa
família sempre caberá mais um. — Vic
diz sorrindo e a olho emocionado.
O garoto a nossa frente nos
analisa assustado e completamente
horrorizado.
— Eu...
— Façamos assim, passe uma
semana em nossa casa. Depois disso
deixaremos com que decida onde quer
ficar. — insisto e mesmo contrariado
Felipe acaba cedendo. — Qual o seu
nome completo?
— Felipe Paiva. — responde
receoso e eu assinto.
Ao entrarmos no carro vejo o
modo admirado com que encara o
veículo. Eu sou um amante de carros, e
esse menino parece ser um também.
Antes de perguntar mais alguma
coisa pra ele, apenas envio uma
mensagem para Joaquim e peço para que
pesquise sobre o garoto. Mesmo
sentindo que é o certo levá-lo daqui, eu
tinha que saber se ele é confiável ou
não.
Porém, meu instinto grita que
sim.
— Gosta de carros? — pergunto.
Ele assente e troca algumas
palavras comigo. Mas em pouco tempo
se cala.
Dirijo pelas ruas e em poucos
minutos recebo uma resposta de
Joaquim.
Confiável.
Direto como sempre. Mas não
deixo de ficar feliz por saber que Felipe
pode então ser mesmo mais uma parte de
nós.
Ao entrarmos na mansão Felipe
ficou completamente sem jeito e como
se fosse possível abaixou ainda mais a
cabeça, como se estivesse com vergonha
ou como se não se encaixasse ali.
Mas no fundo eu já sabia e sentia
que ele pertencia a nós... Para mim ele
já havia se tornado um Soares.
Assim que adentramos a mansão,
Joaquim nos encara sorrindo. Ele tem 61
anos, sendo praticamente da idade de
meu pai. Lembro-me das várias vezes
em que me derrubou no chão quando era
mais novo. Ele e meu pai, treinaram a
mim, Castiel, Isaac e Chris. Nos
prepararam.
— Sabia que traria o garoto. —
sorri. — Joaquim Morgan. — estende a
mão para Felipe, que aperta mesmo sem
jeito.
— Alguma novidade? —
pergunto e ele nega.
— Precisamos apenas falar com
seu pai e bom, visitar uma certa pessoa.
— Enquanto conversam, vou
levar Felipe para conhecer a casa. —
Vic e Felipe saem no mesmo instante
— Li todos os papéis que tinham
em seu escritório. Se Donatello se
envolveu com Julianne, precisamos
investigar mais a fundo o porquê.
— Como assim? Ele não pode
ainda estar envolvido?
— Não. — diz convicto. — Foi
a época em que os Donatello e Soares
eram inimigos, não sabe disso porque
não está ligado ao que acontece na
empresa. Mas seus pais são amigos de
Dominic e sua família faz um tempo.
— Eu não fazia ideia. —
confesso. — Mas então, por que será
que ele estava com Julianne naquela
foto?
— É uma foto antiga, da época
em que Dominic não valia sequer um
centavo. — sorri. — Não duvido de
nada.
— Certo. Mas e sobre o garoto?
— Felipe? — assinto. — Bom,
tem vinte anos de idade e há dez anos
vagueia pelas ruas. Perdeu a única
família que tinha, um irmão drogado, na
mesma época que ficou sem teto. Não há
quase nada sobre o garoto, porque
realmente, ele não tem nada.
— Obrigado.
— Ele vai se tornar um Soares,
não é? — sorri. — Isso me faz recordar
a época em que encontrou Babi.
— Se ele decidir ficar, pode ter
certeza que ficaremos felizes. Algum
movimento diferente por aqui?
— Fiquei de olho em Babi e
dispensei toda a segurança da casa. —
faz uma pausa. — Trouxe uma nova leva
de segurança de nível máximo, eles são
os melhores e mais confiáveis no
momento.
— Obrigado, Joaquim. — ele
assente.
— Mesmo assim, ficarei de
olho. Estava vendo as câmeras de
segurança da casa. Uma mula chamada
Isaac, mesmo depois de ter se
machucado, também está vendo as
gravações. Ainda não há nada relevante.
— Certo.
— Avisei seu pai sobre o
ocorrido. Ele disse que vai falar com
Donatello assim que possível, pois
Donatello está fora do país.
— Merda!
— Até a volta dele, iremos
descobrir mais sobre tudo. — me
tranquiliza. — Vou cuidar daquela
mula...
— Vulgo Isaac? — ele assente e
eu gargalho. — Não sei nem como te
agradecer por tudo.
— Cuide daquele moleque que
estamos quites. — sorrio.
Joaquim Morgan é praticamente
um pai pra mim.
Capítulo 26

Victória

Uma semana depois

— Tem certeza de que ele está


preparado pra isso? — pergunto e Caleb
não esconde a apreensão.
— Tenho medo que ele não se
adapte lá, é uma festa repleta de pessoas
fúteis e babacas. — responde enquanto
arruma sua gravata e eu lhe dou um leve
selinho.
Estávamos apreensivos com a
festa de fim de ano das Advocacias
Fontana, além de que ainda não tínhamos
descoberto como haviam sabotado o
carro e quem o fez. Mas por ora, todos
resolvemos deixar as apreensões de
lado e ir a festa, que infelizmente é algo
que não podemos faltar.
Neste ano tínhamos muito o que
revelar aos urubus e paparazzi. Babi e
Felipe seriam apresentados como
Soares, nós fazíamos questão disso. Ele
ainda não havia nos dado a resposta se
ficaria, mas nós sabíamos que ele havia
gostado de estar conosco. E
consideramos que logo teríamos um sim.
Nessa semana que passou,
deixamos de lado todos os problemas e
focamos apenas em nossa família. Luna
ficou estupefata com toda a novidade.
Para ela que era filha única, ganhar três
irmãos é o melhor presente de natal de
todos.
Mesmo com o medo ao nosso
lado, temos fé e esperança que esse ano
terminará com chave de ouro. Dani
havia se recuperado e o bebê está fora
de risco, mas infelizmente ela e Castiel
ainda não se entenderam por completo.
Pelo menos, sei agora que ele não irá
abandoná-la e muito menos o bebê, isso
com certeza deixou todos mais
tranquilos.
— Animado pra contar a
novidade a todos? — pergunto, alisando
minha barriga que tem apenas um leve
arredondado que não é marcado pelo
vestido preto que escolhi.
— Mal vejo a hora de todos
saberem do fruto do nosso amor. —
Caleb sussurra em meu ouvido, fazendo
todo meu corpo estremecer.
Sou toda dele!
Vou ao quarto de Felipe e o
encontro brigando com a gravata. Sorrio
em sua direção e ele sorri de si mesmo
pelo embaraço.
— Logo aprenderá a como fazer
isso. — digo e ele sorri sem jeito.
— Vocês tem certeza que me
querem lá? Não me importo em ficar
aqui e...
— Sei que ainda não decidiu,
mas tanto pra mim quanto pra Caleb,
você já é um filho. Queremos você
conosco, e se aceitar ficar aqui teremos
a maior honra de poder chamá-lo de
Felipe Soares. — os olhos negros de
meu menino ficam brilhosos e noto uma
lágrima correr sobre seu rosto.
— Obrigado! — diz e me abraça
sem que eu espere.
Lhe correspondo com ternura e
ele se aconchega ainda mais a mim.
Por favor fique conosco, nós já
te amamos tanto menino.
Ele era o nosso anjinho... Nosso
Felipe. Eu não teria como me despedir
dele caso decidisse partir.
— Eu aceito! — exclama de
repente e eu sorrio sem me conter.
— Caleb! — grito pelo meu
marido que logo aparece desesperado na
porta do quarto.
— O que houve, Vic? Algo com
o bebê? — começa a fazer várias
perguntas e eu rapidamente coloco meus
dedos sobre sua boca.
— Felipe aceitou ficar conosco.
— digo e Caleb logo fica emocionado.
— Bem vindo a família rapaz.
— sem se conter, ele abraça Felipe do
modo terno como sempre vejo abraçar
Luna e Babi.
— Eu quero ser como o senhor.
— Felipe diz e tanto eu quanto Caleb
nos entreolhamos sem entender.
— Ser o que Felipe? — pergunto
curiosa e meio sem jeito ele busca
rapidamente o notebook que havia
ganhado.
— Eu fiz pesquisas sobre o que
o senhor faz e... Bom, eu queria um dia
ser um advogado tão bom assim. —
confessa com as bochechas vermelhas.
Caleb fica sem fala e eu sorrio
largamente. Sei que um dos sonhos de
Caleb era ter um herdeiro para
administrar as Advocacias Fontana.
Felizmente, ele tinha acabado de
encontrar.
— Eu não poderia estar mais
feliz em saber disso.
***

Já chegando ao local onde


ocorreria a festa, noto como Caleb
continua animado e sorridente. Os
paparazzi fizeram mil e uma perguntas,
porém como sempre Caleb ignorou cada
uma delas.
Felipe e Babi mesmo retraídos
estavam ao nosso lado e eu lhes
apresentei rapidamente como nossos
filhos, deixando todos ali boquiabertos.
Aguentem essa, abutres!
Assim que pisei lá dentro
localizei Luna e Lucas conversando
animadamente com dona Leandra e
Christopher, em uma mesa mais
afastada. Nos sentamos logo a mesa e
Felipe mesmo sem jeito se apresentou a
Leandra, que sorriu sublime por
finalmente conhecê-lo.
— Eu finalmente estou ganhando
netos. Castiel e Caleb finalmente
acertaram, e você Christopher, quando
irá me dar um netinho? — sem me
conter, gargalho da cara de tacho que
Christopher fica.
— Mamãe, já disse que não
quero falar sobre...
— Eu que sei das coisas garoto.
— ela diz, fazendo todos da mesa
gargalhar.
— Leandra, acho que não vai ter
que pedir um netinho a Chris agora. Não
por enquanto. Temos mais um a caminho
bem aqui. — afirmo e Caleb passa a
mão sobre minha barriga.
Leandra quase cai da cadeira e
Rodrigo que se aproxima da mesa
começa a rir da situação da esposa.
— Finalmente, Caleb! —
exclama animada e eu gargalho.
— Eu sei que sou o filho
preferido. — Caleb diz, e antes que
Christopher pense em se opor, a voz de
Castiel se faz presente:
— Isso foi até cinco segundos
atrás, antes do primogênito chegar! —
ele abre seu habitual sorriso cínico e
Dani que está ao seu lado, revira os
olhos como se estivesse entediada.
Sei que no fundo ela está se
segurando pra não rir dessa situação.
Pois, havia um tempo em que não dorme
em casa e tenho certeza que tem passado
esses dias com Castiel. E por mais que
negue, ela o ama.

***

A noite corre maravilhosamente


bem, a festa e os convidados ainda não
haviam me deixado entediada.
Eu e Caleb havíamos nos
afastado um pouco de todos e nesse
momento estava abraçada a ele, sorrindo
de todas as coisas lindas que ele diz em
meu ouvido. Os olhos azuis lindos
refletem apenas amor e eu estou
completamente perdida neles.
Quebrando um pouco do nosso
momento, tive de sair rapidamente para
ir ao banheiro, já que nos últimos dias
minha bexiga parece que irá estourar a
qualquer momento.
Ao voltar ao local que estava
anteriormente, a primeira coisa que noto
é uma mulher de cabelos loiros ao lado
dele, ou melhor, muito próxima a ele.
Me aproximei ainda mais e tive
de me conter para não voar em cima da
oxigenada.
— Querido, ainda estou
esperando a sua ligação!
— Marcela, quando vai parar
com essa obsessão? Sabe que sou um
homem casado e completamente louco
por Victória. Há vários homens livres
nessa festa, vá atrás deles! — Ponto pra
Caleb.
— Não quero nenhum deles,
quero um homem de verdade como
você! Sei que Victória jamais faria as
loucuras que estou disposta a fazer.
Não penso duas vezes e a puxo
pelo cabelo. Que se dane a festa, que se
dane os convidados. Ninguém daria em
cima do meu homem e muito menos na
minha frente.

Caleb

Tudo acontece muito rápido. Em


questão de segundos apenas vejo
Marcela sendo puxada pelos cabelos e
minha esposa totalmente enfurecida.
Sorte que estamos em um local mais
reservado, senão as manchetes amanhã
apenas falariam sobre isso.
Agarro Victória por trás e a puxo
de cima de Marcela que tem o rosto todo
arranhado e machucado. Deus, essa
mulher é uma leoa!
— Me solte agora, Caleb! —
pede friamente e eu a viro pra mim.
— Vic, pare com isso amor. —
tento acariciar seu rosto, porém ela
desvia.
A solto notando que está mais
calma, mas ela puxa Marcela do chão
e a empurra contra a parede.
— Um aviso, esse homem aqui é
meu! Caso tente mais uma vez tocar ou
até pensar nele, saiba que não vou
pensar duas vezes em lhe jogar desse
prédio. — ameaça friamente e Marcela
abre um sorriso cínico. Merda!
— Você é uma comediante
Victória, todos sabem que você apenas
representa a esposa já que na cama ele
busca outras...
Marcela nem consegue terminar
pois Victória lhe acerta com força no
rosto.
— Vic!
— Calado, Caleb! E você
coisinha oferecida, olhe bem pra isso
aqui! — Vic aponta a própria barriga e
Marcela a olha confusa — Aqui está
mais um dos herdeiros deste homem,
então não ouse jogar baixo pois quem
faz amor a noite inteira com ele, sou eu!
Victória sai no mesmo instante e
me viro pra segui-la, mas sou impedido
pelas mãos de Marcela.
— Me solte! — peço e ela me
encara incrédula.
— Qual é Caleb? Sei que me
quer e...
— Pare de ser louca! —
exclamo exasperado e saio em busca de
Vic.
Há várias pessoas dançando e
sorrindo, avisto a mesa em que
estávamos e noto que apenas meus pais
estão ali.
— Que merda você fez pra ela?
— Essa é minha mãe, como sempre um
doce.
— Mãe...
—"Mãe" nada Caleb, você vai
fazer 41 anos em poucos dias e ainda
age como um moleque? Que merda você
fez pra ela?
— A louca da Marcela tentou me
agarrar e Victória bateu nela. — meu pai
engasga com o vinho e minha mãe
arregala os olhos.
— A filha dos Medeiros? —
meu pai pergunta e mamãe começa a
gargalhar. Essa mulher só pode ser
bipolar.
— O que eu estou perdendo
aqui?
— Eu bati na mãe dela uma vez
pelo mesmo motivo, estou vendo a quem
ela puxou. — ela sorri amplamente
como se lembrasse do momento.
— Onde Victória está? —
pergunto e o semblante dela se fecha
novamente. Lá vem!
— Castiel a levou pra casa. Não
a estresse ainda mais Caleb, ela está
grávida, não pode se esquecer disso. —
alerta e eu assinto.
Me despeço deles e praticamente
corro dali. Pouco me importa essa festa,
tudo o que quero agora é minha mulher e
nosso filho são e salvos.

***

Adentro nossa casa e o silêncio


me dá boas vindas. Droga, precisava
falar com ela hoje.
— Quantas vezes? — a voz de
Victória preenche o ambiente, ela
ascende o abajur da mesinha ao seu
lado.
Vou em sua direção no sofá.
— O que? — pergunto sem
entender.
— Foi pra cama com ela. —
complementa e noto seu olhar triste.
— Nunca! — afirmo convicto e
ela começa a gargalhar, porém logo noto
lágrimas sobre sua face.
Não, minha rainha!
— Não minta pra mim! — grita e
vem pra cima de mim depositando socos
em meu peito, seguro suas mãos e faço
com que ela olhe para mim.
— Nunca estive com ela, minha
rainha. Não tenho porquê mentir sobre
isso. — digo olhando em seus olhos e
ela abaixa a cabeça soltando o ar.
— Sinto muito! — um fio de voz
sai de sua boca. — Eu só estou com
medo, Caleb. Não sei, sinto que algo
ruim vai acontecer e descontei em você.
— Está tudo bem, amor! — digo
e deposito um leve beijo em seus lábios.
— Ainda estou brava com você!
— exclama de repente e eu sorrio.
— Vic!
— A próxima vez que deixar
uma dessas piranhas chegar perto de
você... Ah Caleb eu mesma vou garantir
que não terá mais nenhum filho. —
ameaça e eu levanto as mãos em
rendição.
— Só quero você perto de mim,
minha rainha! Adoro você com ciúme.
— nem termino de falar e ela me dá um
tapa no braço.
— Não seja engraçadinho.
— Não se estresse à toa amor,
temos que pensar no nosso pequeno. —
digo e ela sorri genuinamente.
— Me desculpe meu bebê,
mamãe ficou tão brava que se esqueceu
de cuidar de você. — diz, passando as
mãos na barriga e eu me ajoelho a sua
frente.
Deposito um beijo em seu ventre
e levanto meu olhar pra encontrar seu
rosto sorridente em meio as lágrimas.
— Eu amo tanto vocês, nada no
mundo irá nos separar... Nada!
Capítulo 27

Caleb

Victória dorme serenamente ao


meu lado e eu tento não me preocupar
com tudo o que está havendo. Aliso o
seu ventre e sem me conter o beijo com
carinho. Não posso perde-los. Preciso o
mais rápido possível descobrir quem
causou o acidente, quem tanto nos
persegue.
Essa semana foi completamente
exaustiva, ainda mais porque tive de
manter o sorriso para minha família
enquanto Castiel e Isaac tentavam chegar
a alguma resposta para tudo o que
acontecera. Fiquei a par de todas as
novas informações que obtemos, mas
ainda há muito pouco.
Após termos encontrado a foto
de Julianne com Dominic, ou melhor,
Donatello (como todos os chamam),
tivemos um novo ponto de partida para
as investigações. A relação que ela
havia estabelecido com Donatello anos
atrás foi descoberta apenas agora.
Tivemos de pagar muito alto pelas
informações, mas ao que tudo indica os
dois haviam sido amigos. A lógica para
a dificuldade de encontrá-la estava ali,
Donatello mesmo sendo apenas quatro
anos mais velho do que eu, tem um
arsenal de comparsas espalhados por aí.
Ele não teria que fazer muito para
esconde-la de nós.
Porém, meu pai deixou claro que
Donatello não teria relação alguma com
Julianne. Ele conhece Donatello e confia
nele. Me surpreendi com sua convicção,
mas não pude ir contra. Meu pai tem
alguma história forte relacionada a esse
cara.
Mas onde Julianne se encaixava
naquilo? Qual seria o motivo dela para
querer nos atingir?
Com esses pensamentos acabo
adormecendo.

***
Meu celular toca e forço meus
braços até o criado mudo.
— Soares.
— Caleb, Donatello está no
Brasil. — Castiel diz. — Estou com
papai e Joaquim, estamos indo para a
casa dele.
— Me mande o endereço por
mensagem...
— Fique pronto, em cinco
minutos passaremos aí.
— Ok, eu estarei.
As oito da manhã já estávamos a
frente da porta da casa de Donatello. O
lugar é bem diferente do eu imaginava.
Pelo que sempre soube sobre ele, não
passava de um patife frio e explorador,
não imaginava um jardim repleto de
flores ou ainda mais um parquinho para
crianças.
— Parece assustado, Caleb. —
meu pai exclama e eu concordo.
— Aqui não parece um lugar
onde Donatello viveria, não pelo pouco
que sei sobre ele.
— Isso aqui é a prova de como a
mulher certa pode mudar um homem. —
diz, me deixando ainda mais confuso.
Joaquim fica focado em seu
celular e dá várias ordens através dele.
— Pedi para Isaac ir olhar sua
casa. — Joaquim avisa e eu agradeço.
Castiel apenas se mantém em
silêncio e acho isso muito estranho, mas
pelo seu olhar cauteloso, sei que não
quer conversar a respeito.
E antes que eu pense em dizer
algo, a porta da frente da casa se abre e
Donatello aparece.
— Achei estranho sua ligação,
Rodrigo. — diz e cumprimenta meu pai.
— Por favor, entrem! — exclama de
modo acolhedor e fico ainda mais
perdido.
— Como vai, Donatello? — meu
pai pergunta e vejo uma criancinha
correr e se segurar nas pernas de
Donatello.
— Como pode ver, atarefado. —
ele sorri. — Elena, querida, venha aqui
por favor!
Uma mulher grávida, de no
máximo trinta e poucos anos aparece na
sala e nos cumprimenta educadamente.
O modo como meu pai a trata me deixa
inquisitivo, noto alguma intimidade ali e
tenho vontade de gritar sobre o que está
havendo.
— Essa é Elena, minha esposa.
— ela cumprimenta a todos.
— Mas você não era casado
com... — antes mesmo de terminar a fala
meu irmão me dá um cutucão na barriga.
— Perdoe meu irmão, Elena. Ele
não herdou os genes de cavalheirismo.
— ela sorri. — Castiel Soares,
encantado.
— Não abra esse sorrisinho
cínico para minha mulher, Soares. —
Elena gargalha e meu irmão se faz de
ofendido.
— Vou levar Dominic daqui,
vem querido! — o pequenino pega sua
mão. — E Dom, comporte-se.
— Sim, senhora. — Donatello
diz com um brilho no olhar.
— Foi um prazer conhecer a
todos. — sorri. — Avise Leandra que
descobri o sexo do bebê, será uma
menininha! —exclama animada para
meu pai, que em seguida a abraça.
Assisto a cena horrorizado e
olho em direção a Donatello que invés
de estar furioso, sorri.
Mas em que mundo paralelo eu
estou?
Assim que a tal Elena sai do
ambiente, sinto o ar ficar pesado. Talvez
seja impressão mas pelo olhares
trocados pelo meu pai e Donatello, sei
que algo nada bom virá a seguir.
— Venham até o escritório!
Assim que nos sentamos, antes
mesmo que eu pense em falar algo, meu
pai se adianta:
—Tem tido algum contato com
Julianne nos últimos anos?
— Julianne Fontana? — meu pai
assente. — Desde que descobri sobre
Paulo, eu cortei qualquer ligação com
ela.
— Espera, o que o pai de
Victória tem a ver com isso? —
pergunto já perdido.
— Também gostaria de saber. —
Castiel insiste.
— Você sabe que Paulo morreu
em um acidente de carro, não é? —
Donatello pergunta.
— Sim. — respondo.
— Naquela época Julianne era
minha amante. — confessa e fico
chocado. — Ela sabia sobre os meus
planos de tirar seu pai de circulação...
— O QUE? — Castiel eu
gritamos num uníssono.
— Deixe ele terminar de falar.
— meu pai pede em um tom baixo e
sinto raiva por ele estar tão calmo em
frente ao homem que queria matá-lo.
— Pois bem, eu era um jovem
estúpido e ambicioso, tendo Julianne
comigo sabia de todos os passos que
Rodrigo daria, pois Paulo contava tudo
a ela. — conta. — Um dia antes do
acidente de Paulo, eu terminei tudo e
contei que iria finalmente acabar com
Rodrigo, então não precisava mais de
nada dela. O carro que foi danificado
pelo meu pessoal foi o do seu pai, o que
ficava na empresa de vocês de
prontidão... Eu não imaginava o quão
grande a ambição de Julianne chegaria.
Ela então, foi mais esperta e deu um
jeito de Paulo pegar o carro de Rodrigo.
O mundo para por alguns
segundos e tento raciocinar mais uma
vez.
— Você tentou matar meu pai, só
que Julianne fez com que fosse Paulo
naquele carro? Deus, ela matou o
próprio marido? — pergunto já
exasperado quando tudo começa a fazer
sentido em minha mente.
Julianne armou para que o
acidente de carro fosse com Paulo,
quando ela descobre que ele não deixou
nada a ela, ela usou o segundo trunfo que
tinha - Victória. Victória sendo uma
Soares poderia ser usada contra nós, só
que Vic nunca foi envenenada pela mãe.
— Você teve algo a ver com o
acidente de Victória? — pergunto
friamente e os olhos de Donatello se
arregalam.
— O que? Acidente?
— Onde Julianne está? —
pergunto já impaciente e me levanto.
— Relaxa aí, Caleb! — Castiel
segura meu braço.
— Após tudo o que houve, ela
me procurou e contou como fez para que
fosse Paulo naquele carro. Então, eu
simplesmente a bani da minha vida.
Como ela ameaçou mostrar fotos nossas
a mídia em momentos íntimos, tive de
lhe pagar uma boa quantia para que
sumisse. E desde então, não tive
nenhuma notícia dela.
— Eu não entendo, como
Julianne pode se esconder durante todos
esses anos? Onde Lívia está?
Meu pai abre a boca pra
responder porém o som que se sobressai
é de meu celular - Victória.
— Vic, estou...
— Caleb, venha pra casa agora!
— ela praticamente grita em meio ao
choro e eu fico tenso na mesma hora.
— O que houve, amor? —
pergunto preocupado.
— Venha! — diz e ouço a
ligação ser desfeita.
Praticamente corro pra fora da
casa de Donatello e todos vem atrás.
Joaquim disca o número de Isaac
diversas vezes, porém todos dão na
caixa postal.
Ao chegarmos em minha casa
encontro minha mãe tentando acalmar
Victória que está em prantos, sem se
conter. Babi aparece com um copo e
entrega a minha esposa que apenas tenta
beber.
Me ajoelho aos pés dela que se
joga sobre mim, me abraçando com
força.
— O que houve, minha rainha?
— pergunto tentando parecer calmo, mas
por dentro é como se tudo estivesse
desabando.
— Minha mãe... Julianne tentou
me matar! — confessa e me abraça
novamente com força. — Só que minha
irmã entrou na frente do tiro que era pra
mim.
— O que? Como assim, Vic?
Que irmã? — me sinto perdido.
— Paula... Paula é minha irmã!
Bônus

Paula

Olho para o outro lado da cama


e como sempre ele se encontra vazio.
Não sei que horário foi que ele me
deixou aqui, mais uma vez abandonada
em seu apartamento, como se eu não
passasse de diversão. Mas é o que de
fato sou para ele.
Sei bem o que ele acha de mim,
que pensa que não sou nada além de uma
traidora, que tenho algum
relacionamento com Christopher... Mas
nem tudo é o que parece.
Desde pequena aprendi que os
Soares são monstros, os quais fizeram
com que minha mãe, Lívia, passasse
praticamente toda sua vida trancafiada
em uma clínica psiquiátrica. Fui
ensinada desde sempre por Julianne, a
melhor amiga de minha mãe, que tudo o
que podemos fazer é nos vingar dele.
Nos vingaríamos de todos eles e
foi por isso que conheci Christopher e
consequentemente Caleb. Eu iria usá-los
e entrar para a família, assim
acabaríamos com tudo o que eles
construíram em cima da destruição de
minha mãe.
Me viro de lado e fico
observando o quão masculino é o seu
quarto, e não sei se fico feliz ou não por
perceber isso. Levanto e começo a
analisar todo o ambiente. Há várias
fotos dele com uma pequena menina, a
qual imagino ser sua filha. Bom, só
podia ser isso, já que ele nunca me disse
nada concreto sobre sua vida.
Eu não sou uma mulher burra, ao
contrário, com apenas vinte anos, sei
que ele está apenas me usando pra saber
mais sobre Julianne. Ela mesma me
avisou sobre isso. Sabia que eles já
estavam descobrindo sobre tudo e com
certeza já sabem que eu sou filha de
Lívia. Mas Julianne garantiu que tudo
isso faz parte dos planos. Os quais
desconheço.
Christopher na realidade sempre
foi um grande amigo, éramos como
irmãos inseparáveis e assim, tive de
mentir a Julianne que éramos um casal
enquanto o ajudava ao mesmo tempo,
pois ele não queria que os pais o vissem
como o mulherengo de antes. No começo
pensei que ele estava jogando comigo,
assim como Julianne sempre me alertou,
mas com o tempo comecei a ver que não
era mentira. Ele torce por mim, e sei que
se soubesse de todas as mentiras que
contei, jamais me perdoaria. Penso que
talvez ele seja uma exceção da Família
Soares.
As histórias que Julianne me
contou já não fazem tanto sentido. Sobre
os Soares terem roubado sua filha,
Victória, e acabado tanto com a vida de
seu marido quanto com a de seus pais...
Deles serem os responsáveis pelo
estado de minha mãe. Eu os analisava há
anos, e não via o ódio e maldade que
Julianne sempre falou.
Assim como aconteceu quando
me “envolvi” com Caleb. Ele estava
completamente bêbado e me aproveitei
daquilo, o droguei e tirei suas roupas,
fingindo que realmente aconteceu algo
entre nós. Fiz isso apenas porque
Julianne disse que era crucial para
nossos planos. Agora, me arrependo
amargamente, pois isso não mudou em
nada a condição de minha mãe.
No começo tive ódio de Caleb
por ter ido até o quarto comigo, e o
considerei a pior pessoa do mundo por
isso. Depois descobri por Chris que o
casamento dele era apenas uma fachada.
Eu tive de agir feito uma amante
ciumenta por ordens de Julianne, ela
disse que assim faria a filha enxergar o
quão errado foi de se casar com um
Soares. Mas pelo contrário, levei uma
surra.
Tudo aquilo dava nó em minha
mente e em meu coração...
Por que eles fariam tudo aquilo? Por que
haviam magoado tanto minha mãe? Por
que mesmo já sabendo quem sou, ainda
não acabaram comigo ou simplesmente
contaram para Chris? Sei que ele não me
perdoaria ao saber que enganei e
droguei seu irmão, e isso acabaria
comigo. Chris é a única pessoa
realmente próxima a mim, fora Julianne
e minha mãe.
E ainda tinha Castiel, eu sei que
ele é meu irmão... Eu queria ter me
aproximado, mas Julianne nunca
permitiu. Nós vivíamos fugindo, sem
eira nem beira, enquanto ela arquitetava
seus planos. Eu sempre pensei que foi
pela perda da melhor amiga, filha e
marido. Mas agora eu sinto que algo está
errado, fora de contexto.
— O que faz com isso? — ouço
sua voz e coloco rapidamente o porta
retrato de volta no lugar.
— Estava apenas...
— Já disse para não mexer em
nada! — grita, fazendo com que eu me
retraia um pouco e decido já sair daqui.
Coloco minhas roupas
rapidamente, segurando as lágrimas
mais uma vez. Desde o começo tinha
sido assim, tínhamos uma noite incrível
juntos e no outro dia eu sou
simplesmente jogada pra fora de seu
apartamento. Eu ainda insistia nisso,
porque me apaixonei por ele e pelo
pouco que vivi, já sei que o amor não é
algo fácil... Só posso torcer para que ele
goste da novidade.
— Isaac! — o chamo e seus
olhos azuis me encaram confusos. Ele
parece perdido.
— O que foi agora? — pergunta
rude.
— Preciso te contar que...
O toque do meu celular se faz
presente e eu atendo rapidamente.
— Onde você está? Sabe que
horas são, sua burra? Não me diga que
continua vendo o babaca da segurança?
— Julia...
— Cale a boca e me escute!
Hoje iremos finalizar tudo, cansei de me
esconder. Eles estão descobrindo cada
dia mais sobre tudo, hoje iremos
finalmente ter nossa vingança! — sorri.
— Ainda mais que consegui afastar
todos de suas protegidas.
— Como assim? — pergunto
atônita.
— Vou me acertar de vez com
sua irmã! — solta rindo e sinto meu
corpo cair.
Desabo de joelhos e meu corpo
protesta, lágrimas estão prontas para
descer por meu rosto.
— Irmã? — pergunto em um
sussurro.
— Isso mesmo. Achou mesmo
que a louca da Lívia é sua mãe? Não,
não! — ela gargalha e a bile sobe a
minha garganta. — Você era apenas um
estorvo pra mim, pensei que pelo menos
pudesse me ajudar com a vingança, mas
foi burra demais e se apaixonou por esse
cara. Agora tudo o que me resta é acabar
com isso. — revela.
— Você é minha mãe? Victória é
minha irmã? — pergunto chorando, e
Isaac se ajoelha ao me lado, olhando-me
atentamente.
— Infelizmente, e já pode já dar
adeus a traidora da sua irmã! — diz e
gargalha. — Vou me acertar de uma vez
por todas com ela, machucarei os
Soares, do mesmo modo que acabaram
com a minha vida.
— O que?
— Vou matar Victória. — ela
desliga.
Fico perplexa e o celular cai de
minhas mãos. Encaro Isaac e tento não
pirar.
Minha vida foi uma mentira!
— Me ajude Isaac, precisamos ir
à casa de Caleb! Agora! — grito, assim
que caio na realidade.
— Você enlouqueceu?
— Julianne quer matar Victória!
— O que? — pergunta perdido.
— Ela quer matá-la porque
todos vocês descobriram a verdade,
sobre quem eu sou, sobre ela...
— Paula...
— Eu sei Isaac, sei que sabe
sobre mim. Mas isso não importa agora,
preciso proteger minha irmã, pelo menos
uma vez vou fazer o que é certo.
— O QUE?
— Julianne é minha mãe!
Quando finalmente chegamos na
casa de Victória, Isaac passa pelos
seguranças rapidamente. Ouço gritos
antes de abrir com cuidado a porta e
vejo Julianne apontar uma arma pra
Victória. Leandra está imóvel ao lado de
Vic, além da tal Babi e Danielle. Isso
parece uma cena de filme de terror.
Eu tinha acabado de descobrir
que por tudo que lutei na vida e imaginei
ser meu, de fato não é. Minha mãe
verdadeira não passa de uma psicopata
e a mulher a qual visitei todos os dias da
minha vida, que sofri por anos, não
passa de uma desconhecida. Além de
que minha própria irmã deve achar que
dormi com seu marido.
Deus!
— Olha só quem chegou pra
completar essa cena, assim poderei
matar todas de uma vez! — Julianne diz
friamente e eu faço sinal para Isaac ficar
onde está.
Em vez disso ele simplesmente
passa na minha frente, o que faz com que
Julianne aponte a arma em sua direção.
— Olhe só! O idiota pelo qual a
burra da minha bastarda se apaixonou!
— zomba e Isaac me encara surpreso.
— E você Victória, outra burra. Como
pude ter filhas tão idiotas?
— O que disse? — Victória
pergunta sem entender e Julianne
gargalha.
— A verdade, aquela sonsa ali é
sua irmã. Surpresa, filhinha! — diz
sorrindo e Victória me olha com raiva.
Abaixo a cabeça, pois é tudo o
que posso fazer, minha irmã me odeia.
Então é isso, nunca havia descoberto o
que é o amor.
— Julianne, não faça isso! —
peço e ela aponta a arma novamente pra
Victória.
— Chega de papo, vamos ao
gran finale! — diz e destrava a arma.
E é tudo muito rápido... Em um
momento estou atrás do corpo de Isaac,
no outro já estou entre Victória e
Julianne.
Uma dor profunda em minha
barriga me faz perceber que Julianne
havia atirado. Ela me acertou no lugar
de Victória. Sinto meu corpo cair em
cima de minha irmã e ela tenta me
segurar enquanto grita por Isaac.
Com o canto de olho vejo Isaac
desarmar rapidamente Julianne e chamar
os seguranças, que praticamente
invadem a casa.
Levo as mãos até meu ventre em
sinal de desespero e noto que há sangue
ali.
— Eu sinto muito, Vic... —
começo a falar, mas ela coloca as mãos
em minha boca sussurrando um simples
“shhhh”.
— Isaac. — o chamo e ele se
joga ao meu lado. Seus olhos estão
marejados. — Nosso.... Nosso bebê!
Sinto meu corpo leve e mergulho
na escuridão.
Capítulo 28

Victória

Vejo Paula fechar os olhos


lentamente e Isaac começa a gritar
desesperado. Eu havia acabado de
descobrir que tinha uma irmã e ela já
estava sendo arrancada de mim.
— Isaac! — Dani grita o
segurando pelos ombros — Temos que
levá-la daqui... Agora!
Isaac pega Paula no colo e
praticamente corre para fora da casa, o
certo seria esperar a ambulância mas
duvido que seu desespero o deixasse
fazer isso. Não sei o que há entre eles,
só sei que nada mais faz sentido.
Os seguranças seguram Julianne
pelos braços e antes de a levarem para
fora da casa, ela se solta não sei como e
tenta vir pra cima de mim. Levo as mãos
ao meu ventre em sinal de proteção e
espero sentir seu golpe, mas nada... Não
sinto nada. Vejo Leandra a grudar pelos
cabelos e jogá-la no chão.
— Isso é por ter se aproveitado
de minha irmã. — um tapa. — Isso é por
ter assassinado meu melhor amigo. —
outro tapa. — Isso é por mexer com a
minha família. — mais um. — E isso é
pra que quando se olhar no espelho
novamente, se um dia se olhar, lembrar
que ninguém mexe com um Soares e sai
ileso. — Leandra lhe acerta um soco
suficiente para desmaiar minha mãe.
O segurança pega Julianne no
colo e a retira dali.
— Para onde... Onde eles vão
levá-la? — pergunto desabando de
joelhos no chão e Leandra se aproxima
me abraçando com força.
— Ela nunca mais irá machuca-
la pequena, nem a ninguém. Se acalme.
— passa as mãos por meus cabelos.
Tento não pensar em nada, tento
esquecer a dor... Mas uma frase lateja
em minha mente. "Isso é por assassinar
meu melhor amigo". Que eu me lembre
o melhor amigo de Leandra era...
— Meu pai... Ela matou meu
pai? — pergunto e Leandra me olha
tristemente. Então é verdade!
Por isso toda a desconfiança
deles para com ela. Eles sabiam disso.
O aperto em meu peito se
intensifica, choro compulsivamente e
não consigo mais raciocinar. Eu só
quero uma coisa nesse momento, ou
melhor, uma pessoa - Caleb.
Pego o telefone e disco
rapidamente seu número. Desligo sem
dar muitas explicações, pois o nó em
minha garganta apenas se intensifica.
Em poucos minutos ele já
adentra a sala. Primeiramente nos olha
desconfiado e sem saber o que fazer, e a
única coisa que necessito são seus
braços e é neles que me jogo.
Esse homem se tornou meu porto
seguro.
— O que houve, minha rainha?
— pergunta.
— Minha mãe... Julianne tentou
me matar! — confesso e o abraço
novamente com força. — Só que minha
irmã entrou na frente do tiro que era pra
mim.
— O que? Como assim, Vic?
Que irmã?
— Paula... Paula é minha irmã!
— Eu não... Eu não entendo! —
diz confuso.
— Não entende o que, Caleb? —
explodo. — Que minha mãe é um
monstro? Ela manipulou todos, ela fez
uso das duas filhas, e foi pior ainda com
Paula. Ela matou meu pai! — grito, meu
interior parece sufocado.
Babi se aproxima novamente
com outro copo d'água e eu tento tomar,
porém minhas mãos trêmulas não
cooperam. Assim que termino de tomar
noto meu corpo já mais leve, será que
havia algo... Sinto minhas pálpebras
pesarem e caio em sono profundo.

***

Abro os olhos lentamente e


deixo a claridade invadir meu campo de
visão.
— Está tudo bem amor. — a voz
serena de Caleb faz com que eu me
acalme um pouco.
Os últimos acontecimentos vem
em minha mente. Minha mãe, a arma, a
"irmã" que não sabia que existia...
— Foi tudo real? — pergunto
apenas para confirmar, porém no fundo
tudo que quero é que isso não passe de
um pesadelo.
O olhar triste de Caleb confirma
minhas lembranças e sinto meu corpo
pesar mais uma vez.
— Como ela entrou aqui? —
pergunto em um sussurro.
— Um dos novos seguranças era
comparsa de Julianne, ou melhor, foi
pago por ela para que avisasse quando
apenas as mulheres estivessem em casa.
— explica. — Assim que recebeu o
dinheiro, ele simplesmente sumiu daqui.
Como o ser humano pode ser
tão egoísta?
— Como ela pode? Como ela...
— mal consigo terminar a frase e
lágrimas descem novamente pelo meu
rosto.
— Minha rainha, eu sinto
muito... Eu... — deixa a frase morrer no
ar e eu me aninho ainda mais ao seu
corpo.
— Eu só queria entender o
porquê! Por que ela fez tudo isso?! —
pergunto encarando o teto.
— Ela quer falar com você! —
ele diz baixinho.
— Como assim? Por que? —
pergunto sobressaltada e Caleb me
segura com mais força ainda.
— Não há chances dela sair
como inocente no julgamento... Fora as
várias provas que temos a respeito da
morte de seu pai, Paula está entre a vida
e a morte no hospital. E comigo no
tribunal não vou sossegar até que ela
pegue a maior pena possível... — ele
respira fundo. — Porém, ela pediu pra
falar com você, quer lhe confessar algo.
Divago sobre tudo o que ela
pode querer comigo, porém nada faz
sentido.
— Após todo esse estresse,
prefiro que não vá vê-la meu amor...
Pense no nosso Miguel.
Eu não quero correr riscos,
ainda mais com a saúde de meu filho em
jogo. Mas eu preciso saber o que ela
quer, ao menos entender o porquê de
suas ações.
— Me leve até ela! — peço e
Caleb fica tenso.
— Vic.
— Agora, Caleb! — digo
convicta, e ele então entende.
Preciso vê-la.

***

Realmente não estou habituada


com delegacias. Esse lugar parece frio
demais, e o motivo que me trouxe até
aqui faz com que me sinta ainda mais
deslocada. Eu não sei até que ponto da
verdade quero desvendar. Até cheguei a
considerar, se não é melhor viver com
os "porquês". Mesmo assim, cá estou.
— Tem certeza disso? — Caleb
pergunta assim que paramos em frente a
uma porta cinza.
— Não. — suspiro fundo. —
Mas preciso disso. — Caleb assente e
me dá um leve selinho.
— Estarei do outro lado do
vidro, não se preocupe. Caso queira
sair, apenas saia certo? — toca meu
rosto com carinho.
— Ok.
Abro a porta e entro.
A mulher a minha frente me traz
tantas lembranças... Os olhos azuis
idênticos aos meus comprovam que sou
sua filha, mas sei que essa é a nossa
única similaridade.
— Sabia que viria! — exclama
sorrindo — Sempre foi curiosa como o
seu pai.
— Não ouse falar dele! — digo
com raiva.
Ela tenta levantar as mãos, acho
que em sinal de rendição, mas as
algemas a impedem.
— Bom, vamos começar pelo
começo não é? — assinto. — Se tem
pessoas culpadas, elas são os pais de
Leandra e Lívia. Eles acabaram com a
minha família e nada mais justo que
fazer as filhas deles desmoronarem, não
acha?
— O que? Os pais delas estão
mortos...
— Mas quando eram vivos
fizeram questão de destruir a empresa da
minha família! — grita. — Eles levaram
minha família a ruína! Tiraram tudo de
nós!
— Mas a empresa de meus avós
faliu! Foi o que meu pai me disse...
— Seu pai? Paulo é um fraco
apaixonado pelas irmãs Albuquerque,
que nunca se decidiu se ama Lívia ou
Leandra. Por isso juntei o útil ao
agradável... Acabei com a vida dela e
da irmã. Vinguei-me delas tirando o seu
dinheiro e acabei com o sonho de amor
das duas, além de Paulo que não pode
ficar com nenhuma delas.
— Como?
— Lívia sempre teve problemas.
— sorri. — Uma doce boneca
manipulável.... Uma mentira ali e outra
aqui, e pronto! Eu tinha ela em minhas
mãos, uma mente doente pode ser um
bom trunfo.
— Você é um monstro! — digo,
pois não reconheço a mulher a minha
frente.
— Não minha querida, eu
enxergo o que os seus preferidos
realmente são! Eles são os monstros! —
rebate.
— Como pode usar minha irmã?
Como pode tentar me usar? Somos suas
filhas...
— Você foi apenas o modo que
consegui de prender Paulo, já Paula foi
um erro no meio do caminho... Nunca
planejei nada com ela. Descobri que
estava grávida logo após o seu
casamento, então fugi. Pensei que ela
teria alguma serventia, porém foi como
você, mais uma burra!
— Por que... Por que matou meu
pai? — pergunto e dor corrói meu ser. A
mulher que chorou dias, que parecia o
amar tanto não existia... Era apenas uma
personagem.
— Matei? — pergunta
ironicamente.
Não me contenho e me levanto
bruscamente.
— Por que o matou? — grito.
— É por isso que eu o amo
loucamente. — confessa e fico sem
entender. — Paulo é o homem mais
esperto que conheci, sempre conseguiu
manipular quem quer que fosse.
A porta da sala se abre num
estrondo e os braços de Caleb me
envolvem.
— Precisamos sair daqui agora.
— praticamente ordena.
— Então já descobriram? —
Julianne pergunta e noto o maxilar de
Caleb tensionado. — Conte a ela, Caleb.
— Me contar o que? — pergunto
perdida.
— Vem comigo. — Caleb tenta
me puxar, porém me esquivo.
— Do que está falando? —
encaro Julianne.
— O amor da minha vida sempre
esteve vivo. — suspira. — Todas as
peças se encaixam agora, não é?
— Eu não estou entendendo.
— Quanto mais tempo você fica
aqui, mas tempo ele tem para concretizar
nossos planos. — ela gargalha.
— Chega, Victória! — Caleb me
pega no colo e tira da sala.
— Me solte! — grito. — Me
solte!
— Pare, Vic! — ele me coloca
no chão. — Pense no nosso filho, droga!
— Sobre quem ela está falando?
Ainda existe um comparsa?
— Preciso que fique calma. —
pede.
— Sem essa, Caleb. O que está
acontecendo?
— Seu pai. — diz baixinho.
— O que tem ele? Descobriram
mais sobre a sua morte e...
— Seu pai não morreu.
Capítulo 29

Caleb

Victória adentra aquela sala e eu


vou em direção onde está meu pai e
Christopher, fora o delegado
responsável e alguns policiais. Castiel
havia levado Dani para o hospital por
precaução, ela não pode se estressar de
maneira alguma.
Eu já estive outras vezes na
mesma situação, mas hoje parece
completamente diferente. É a minha
mulher ali dentro, a mulher que amo há
tantos anos e que está enfrentando um
dos piores momentos de sua vida. A
própria mãe é uma psicopata e tinha
matado seu pai. Como ela poderia sair
inteira disso? E ainda agora que carrega
nosso pequeno.
— Se acalme filho... Dará tudo
certo! — meu pai diz, e assim que
recebe um telefonema se afasta.
Christopher está apenas
concentrado em seu celular e até o
momento não tive coragem de perguntar
algo sobre Paula. Mas é preciso.
— Ela usou você? — pergunto e
ele apenas assente. — Fale comigo,
Chris. — insisto.
— Agora não, Caleb! — me
corta. — Há algo mais importante.
— Como o quê? — pergunto.
— Como isso. — me dá seu
celular e vejo uma menina de no máximo
12 anos, sorrindo.
— O que isso tem de
importante?
— Olhe atentamente, atrás da
menina de roxo. — diz e eu então encaro
a foto novamente.
Noto um homem virado de lado e
um boné tampa a visão de seu rosto.
— Não há nada demais.
— A garota de roxo é Paula. —
esclarece e passa a foto para o lado.
— Não! — praticamente grito ao
ver a imagem.
— Ela uma vez me mostrou essa
foto, acho que inocentemente. —
suspira. — Eu não o reconheci de
imediato, na verdade, tudo fez sentido
agora.
— Apenas Paula tem essa foto.
— explica. — Ela me disse que esse
homem era um grande amigo de sua mãe,
que sempre a ajudou.
— Não pode ser, Chris. — digo
sentindo a bile vir a garganta.
— Só imaginar olhos azuis e
tudo se encaixa. — suspira. — O cara
da foto é Paulo.
— Ele então...
Ouvimos o grito agudo de meu
pai e praticamente corremos até ele. Ele
está caído de joelhos, com lágrimas nos
olhos e noto que mal consegue segurar o
celular.
Tiro o aparelho de suas mãos e
Chris o ampara.
— Alô.
— Caleb? — confirmo e
Joaquim prossegue. — Sua mãe está
com problemas e estou indo até ela.
Acredite ou não, Paulo está vivo e ligou
para ela. — diz rapidamente e paraliso.
Então é verdade!
— Rastreei o celular de sua mãe
e estou seguindo ela nesse momento. —
suspira fundo. — Assim que ela parar,
mandarei o endereço para vocês.
— Iremos com você e...
— Eu já estou indo, Caleb. —
diz. — Não confie em ninguém! Deixe
Victória na delegacia, junto aos
policiais.
— Ok. — digo e ele desliga.
Adentro a sala e retiro Victória
de lá, antes mesmo que Julianne a
machuque ainda mais. Preciso deixar
Vic em um local seguro.
— Preciso que fique calma. —
peço.
— Sem essa, Caleb. O que está
acontecendo?
— Seu pai. — respiro fundo.
— O que tem ele? Descobriram
mais sobre a sua morte e...
— Seu pai não morreu. — digo
de uma vez, e lágrimas correm pelo seu
rosto.
— Não! — grita.
— Preciso que fique calma e me
obedeça agora. — ela chora ainda mais.
— Minha mãe corre perigo, Vic.
— Foi ele o tempo todo? —
pergunta, como se voltasse a realidade.
— Preciso que fique aqui com o
delegado e não saia por nada. — ela me
olha sem piscar. — Fui claro?
— Apenas me diga, por que ele
fez tudo isso?
— Eu não faço ideia, amor. — a
abraço e ela desaba em meu colo. —
Preciso ir, mas logo estarei de volta.
— Eu sinto muito, eu nunca
quis...
— Nada disso é sua culpa. —
beijo sua testa. — Apenas esteja me
esperando.
— Eu te amo, Caleb. — diz e
beija meus lábios.
— E eu a você, minha rainha.
Me afasto dela a contragosto e
ligo diversas vezes para Isaac. Todas as
ligações vão direto para caixa postal.
Meu pai vem até mim.
— Precisamos ir, filho. — diz
nervoso. — Não posso deixar que ele a
machuque. Não a minha rosa.
— Joaquim mandou o endereço?
— pergunto e ele nega.
— Consegui rastrear o celular
dele. — Chris diz orgulhoso de si. —
Vamos lá!
Deixo Vic aos cuidados dos
policiais e todos nós corremos até o
carro.
Chris assume a direção e já dá a
partida.
— Liguei para Castiel. —
informa. — Na verdade, ele quem me
ensinou como poderia rastrear e...
Enfim, ele estará atrás de nós em poucos
minutos. Só precisa deixar Dani em um
local seguro.
— Como vão chegar lá sem
armas? — pergunto.
— Castiel as pegará na casa de
Joaquim. — meu pai conta. — Pedi a
ele que o fizesse.
— Pai...
— Não quero que nenhum de
vocês vá. — suspira. — É um assunto
meu.
— Não terá como nos impedir.
— Christopher intervém.
— Sei disso. — diz com pesar.
— Mas eu juro que se tiver a
oportunidade, eu matarei Paulo.
Christopher me encara pelo
retrovisor e apenas engulo em seco. É
um aviso de meu pai. Ele não quer que
nos surpreendamos com alguma ação
sua, e assim já deixa claro.
E querendo ou não, eu o entendo.
Faria tudo se fosse Victória no lugar de
minha mãe.
Bônus

Joaquim

Mesmo com a prisão de


Julianne, continuei as investigações
acerca de tudo. Algo ainda parecia faltar
nessa história.
Isaac, meu filho, não saiu até o
momento do hospital. Eu não fazia ideia,
mas pelo jeito, seu relacionamento com
a tal Paula é sério. E pelo que tudo
indica, logo mais serei avô.
Vasculho mais algumas imagens
que recebi nessa manhã e nada me
chama atenção. Bufo transtornado, eu
preciso descobrir o que está havendo.
Tenho certeza, e isso já faz um tempo, de
que Julianne não age sozinha.
Meu celular toca e atendo
rapidamente.
— Alô.
— Senhor Morgan, Leandra
Soares não está em casa. — diz e eu
fico em alerta.
— Como assim?
— Fiz como pediu e a chamei.
Como não me atendeu, entrei e a
procurei por toda a casa. Outros
colegas fizeram o mesmo e...
— Você tem certeza disso? —
pergunto e pego as chaves do carro em
cima da mesinha.
Pego minha arma na gaveta e
coloco na cintura.
— Sim, senhor.
— Quanto tempo faz que notaram
a falta dela?
— Cerca de um minuto. —
responde prontamente.
— Ok. — desfaço a ligação e
disco o número de Leandra.
— Oi Joaquim.
— Onde você está? — pergunto
irritado e já entro no carro.
— Em casa, oras.
— Não minta pra mim. — rosno.
— Como conseguiu passar pela minha
segurança?
— Há um caminho seguro que
apenas você, eu e Rodrigo conhecemos,
sabe disso.
— Por que saiu? Onde está?
— Estou a caminho de um
terreno baldio pelo que vi no mapa. —
confessa. — Não posso te envolver, ele
vai machucá-la e...
— Do que está falando, Lea?
— Paulo me ligou. — saio com
o carro no mesmo instante. — Ele está
vivo, Joaquim! Ele está com Liv.
— Como não pensei nisso? —
grito comigo mesmo e soco com força o
volante.
— Ele vai machucá-la se você
vier. — diz.
— Ele vai tentar machucá-las de
qualquer forma. — a corto. — Pare o
carro onde está agora mesmo, vou até
você.
— Joaquim, não...
— Lea, me escute, ao menos
dessa vez. — peço.
— Ele está com ela, não posso
correr esse risco. — suspira fundo. —
Sinto muito.
— Lea. — grito e ela desliga.
Encaro o aparelho acoplado ao
meu celular, e ele informa a localização
dela. Ligo para Rodrigo e aviso sobre o
que houve, ele fica transtornado mas sei
que logo virá até mim, assim como seus
filhos.
Estamos indo, Lea.

***
Ando com o carro cerca de vinte
minutos e finalmente estaciono. Ainda
rastreando o celular de Lea, tenho a
noção do exato local que ela se
encontra.
Penso até em pedir reforços de
meus seguranças, porém não existe mais
ninguém em quem confie. E sei que se
aparecer com a polícia, Paulo as
machucará.
Deixo a arma já destravada na
cintura e desço do carro. O local a
minha frente, parece mais uma fábrica
abandonada e há um vasto matagal ao
redor.
A passos lentos e com a arma em
punho, sigo até a entrada. Meus
melhores dias em ação podem ter
passado, mas não há como desaprender
isso.
Assim que adentro a primeira
porta, o som de meus passos se tornam
audíveis por todo o local.
— Olha só quem chegou. — me
viro para a voz masculina.
Levanto a arma e paro no
instante em que percebo uma arma
apontada para a cabeça de Lea.
— Nem pense nisso. — coloca a
arma mais próxima do rosto dela. —
Não queremos acabar com a beleza
dela, não é?
— O que quer, Paulo? —
pergunto e ele sorri.
— Leandra. — responde
rapidamente.
— Mas...
— Solte a arma e a chute pra cá.
— diz e eu não tenho outra opção. Faço
o que ele manda. — Bom garoto.
— Diga de uma vez, Paulo.
— Bom, confesso que a
semelhança entre elas é grande. — diz
sarcástico. — Então hoje lhe apresento,
Lívia Maria Albuquerque.
— O que? — pergunto atônito.
— Onde Leandra está?
— Ora, você não sabe? Estou
esperando por ela há algum tempo já.
O rastreador indicou que
Leandra está aqui... Onde ela se
meteu?
— Não seja engraçadinho,
Paulo. Diga onde Leandra está. — entro
em seu jogo.
— Talvez se eu estourar os
miolos da irmãzinha dela, ela apareça.
Assim, encaro a mulher
ajoelhada a frente dele, com a arma
apontada para sua cabeça. Ela não está
do modo como qualquer um ficaria,
chorando ou desesperada. Parece mais
que ela espera por isso há um tempo.
Lívia.
— Talvez seja melhor parar com
esse teatro, Paulo. — Lea aparece por
uma porta atrás dele e fico atônito. Ela
porta uma arma.
— Olhe só, corajosa como uma
Soares. — ele zomba e mantém a arma
apontada para Lívia. — Ficou ainda
mais linda com o passar do tempo.
— Solte minha irmã. — Lea
destrava a arma.
— Ela ainda era sua irmã
quando transou com seu namorado? —
ele zomba e Lea continua olhando-o
friamente. — Pare de fingir, Lea. Essa
farsa de boa moça já cansou.
— O que quer? — intervenho.
— Joaquim, você tem que
aprender, que tudo acontece no meu
tempo. — sorri amargo. — Ainda não é
hora de saber isso.
— O que aconteceu com você,
Paulo? — Lea pergunta incrédula.
— Contatos. Muitos deles me
possibilitaram enganar os grandes
Morgan e brincar com a cabeça dos
meus queridos Soares. — zomba. —
Forjar minha morte e culpar Julianne foi
algo tão fácil... Ninguém nunca esperou
nada do pobre Paulo. — ri amargo. —
Eu iria me afastar, pois já tinha Lívia ao
meu lado, mas sempre faltou alguém...
Você, minha querida. E claro, destruir
meu querido melhor amigo, pois ele
quebrou as mulheres que amo.
— Seu doente! — Leandra grita.
Um celular de repente toca.
Paulo sorri e tira o celular do bolso,
porém continua com a arma apontada
para Lívia.
— Não pense em...
— Cale a boca, Leandra. —
rosna. — Sim, preciso das duas aqui.
Ok, até mais!
— Com quem estava falando? —
pergunto.
— Um intermediário. —
assovia. — Confesso que não foi fácil,
Joaquim. Levei anos para conseguir
colocar alguém dentro de seu
“esquadrão” oficial. Tive até que pagar
estudos para o cara.
— O que?
— Pois é, um dos seus homens,
na verdade joga para o meu lado. — dá
de ombros. — Não fique magoado, são
apenas negócios.
— Qual o nome dele? —
pergunto com raiva.
— Sério que isso fará diferença?
— ri. — As surpresas já acabaram,
ninguém tão chocante vai aparecer.
— Cretino. — Lea grita. —
Como pode brincar com todos nós? O
que fizemos pra você?
— Paulo, quem esse cara está
trazendo? — pergunto, ao me dar conta
de sua fala anterior.
O celular de Paulo toca
novamente e ele atende prontamente.
— Eles já chegaram? Que
rápidos não?! — ri alto. — Traga elas
por baixo. Isso.
— O que está fazendo? — rosno
me sentindo incapaz.
Meu coração se despedaça por
ver Lívia ainda ajoelhada e assistindo
essa cena lamentável. O que esse
monstro fez a ela?
— Grite pelo seu marido, Lea.
— Paulo diz. — Ele está aqui. Ele e
seus filhos.
— O que? — os olhos de Lea se
arregalam. — Eles não...
— Soares! — Paulo grita. —
Não precisam se esconder, sei que estão
aí.
— Eu cansei dessa merda. —
ouço a voz de Caleb e logo a porta atrás
de mim é derrubada.
— Agora sim, vamos começar!
— Paulo anuncia e meu foco está em
Lívia.
Eu sei que todos estão aqui para
proteger Lea, mas eu não consigo não
focar na mulher a minha frente. Ela
precisa que alguém a salve, e espero que
possa ser eu.
Capítulo 30

Caleb

— Como vai, querido genro? —


Paulo zomba.
A cena a minha frente é
lamentável. Ver minha mãe portando
uma arma... Ver Paulo novamente... E
por fim, ver Lívia ajoelhado no chão...
— Armas no chão — ele exige.
— Seu filho...
— Armas no chão, ou o corpo da
gêmea é que vai. — ele olha para minha
mãe. — Será uma escolha deles,
querida.
— Não fale assim com ela. —
meu pai rosna.
— Quanto tempo em? — ele
coloca a arma na boca de Lívia e me
seguro para não voar em cima dele. —
Agora se decidam.
Todos nos entreolhamos e as
armas vão para o chão em questão de
segundos.
— Que lindos, tão obedientes.
— gargalha. — Quero as minhas garotas
aqui! — grita.
Respiro fundo e tento entender
sua frase, mesmo que essa não faça
sentido algum. Mas assim que sinto um
cheiro familiar, meu corpo paralisa.
Vejo Victória e Danielle
entrarem por uma porta atrás de Paulo, e
um homem alto aponta uma arma na
cabeça de minha mulher.
— Desgraçado! — Castiel perde
o controle. — Eu a deixei na delegacia
com Vic. — me olha. — Como isso
pode...
— O cara ao lado ele foi
treinado por mim. — Joaquim
confidencia. — Ele com certeza se
passou como da segurança delas,
mostrou o crachá que apenas minha
equipe tem. E assim, deixaram com que
elas saíssem.
— Finalmente entendeu o jogo,
Joaquim. — Paulo diz. — Deixei as
crianças de fora, porque elas sequer tem
sangue Soares nas veias. E portanto, não
tem que sofrer nenhum dano.
E nesse momento, fico mais
aliviado por ter deixado Luna, Babi e
Felipe na casa dos pais de Lucas. Ao
menos eles estão a salvo.
Fico parado, tentando entender o
que está havendo. Vejo Victória com
lágrimas descendo por seu rosto e suas
mãos estão em seu ventre, como se
estivesse tentando proteger nosso bebê.
— Pai! — Vic diz e Paulo
finalmente a olha.
— Você cresceu, não foi?
— Por que está fazendo isso? —
ela pergunta. — Pai, por que...
— Não comece com o drama,
Victória. — ele assente para o cara atrás
que aponta a arma para Vic.
Antes que assimilasse a situação,
o cara desarma minha mãe e pega a arma
dela para si.
— Não! — Castiel grita e tenta
ir até ela.
Um tiro é ouvido.
— Cas! — Dani grita.
Vejo meu irmão levar a mão a
perna e noto sangue escorrer.
— Um movimento, um tiro. —
Paulo diz e nem sequer me mexo para
chegar até Castiel.
Vamos jogar!
— Filho, você está bem? —
mamãe pergunta e Castiel apenas
assente.
O seu grunhido de dor é alto e
vejo que Dani chora copiosamente.
Volto meu olhar para Victória que
parece perdida em meio a tudo isso.
— Foque em mim. — falo alto e
ela finalmente me olha. — Apenas em
mim.
— Olhe só, que casal não? —
Paulo diz. — Está vendo Liv, isso se
chama amor.
Lívia o encara com nojo e
apenas desvia o olhar.
— Deixe-nos em paz, pai. — Vic
diz. — Por favor!
— Deixa eu pensar... Joaquim!
— ele diz de repente.
— O que? — Joaquim pergunta
confuso.
— Pensa rápido. — Paulo então
pega Lívia pelos braços e joga em cima
de Joaquim, que a pega e cai de joelhos
no chão.
Antes que pudesse fazer algo,
vejo Victória no lugar que Lívia estava.
O seu comparsa aponta as armas agora
em direção a Dani e minha mãe.
— Não! — grito e ele me olha
sorrindo — Me troque por ela!
— Olhe só minha filha, você
conseguiu mesmo o coração de um
Soares! Parabéns! — zomba.
— Pai, por que está fazendo
isso? — Vic insiste, com suas mãos
ainda sobre o ventre, enquanto lágrimas
cobrem seu rosto.
Não minha rainha! Você não!
— Sem dramas agora Victória,
sempre foi uma fraca, assim como sua
irmã! — gargalha e destrava a arma. —
Soube que sua irmã está entre a vida e a
morte no hospital, já me encarreguei
para que ela não saia viva de lá e você é
a próxima!
— Pai. — ela chora ainda mais.
— Como podem ver, tudo está
como quero. — ele sorri ganancioso. —
Como é não ter poder sobre tudo,
Rodrigo?
— O que fiz a você, Paulo? —
meu pai pergunta. — Éramos melhores
amigos e...
— Você conquistou as duas
mulheres que sempre amei. — sinto
apenas nojo. — E agora, irá perder tudo
de uma só vez. Consegui reuni-los,
enganá-los... Chegaram a pensar que
Julianne teria a capacidade de tudo isso.
— gargalha alto. — Tão ingênuos.
— Monstro! — Vic grita e ele
gargalha ainda mais.
Eu sei que deveria ficar parado e
não agir, mas eu não deixaria minha
mulher morrer e ainda mais nosso filho.
Assim que penso em avançar, Isaac
aparece por trás do comparsa de Paulo e
quebra seu pescoço antes que ele
consiga sequer se virar.
Sem pensar duas vezes corro até
onde Victória está e a protejo com meu
corpo.
Um, dois, três tiros...
Uma dor queima em minha
barriga e ao levar a mão a ela, sinto o
sangue molhá-la.
— Caleb! — a voz de Vic
parece longe e digo a última coisa que
passa por minha mente.
— Eu sempre vou amar vocês!

Victória

— Não! — desabo chorando.


— Solte a arma, Paulo. — ouço
a voz de Rodrigo. — Acabou pra você!
Olho para cima e encontro meu
pai ainda apontando a arma em minha
direção.
— Como pode ser capaz disso?
Como pode querer matar suas próprias
filhas? — grito e ele sequer se mexe.
— Esse sim é um gran finale! —
anuncia ao destravar a arma.
Um único som, um tiro.
Com os olhos abertos, assisto
meu pai ou quem quer que fosse esse
homem a minha frente, cair sem vida no
chão.
Olho para o lado e vejo Rodrigo
segurando a arma ainda em direção a
ele. Rodrigo Soares me salvou!
Ele me olha como quem diz
"Sinto muito". Assim Leandra se
aproxima dele e tira a arma de suas
mãos. Os dois e abraçam rapidamente,
logo voltam sua atenção para Caleb.
— Precisamos levá-lo! Agora!
— Rodrigo diz. — Alguma ambulância
veio com você, Isaac?
Olho para meu lado e finalmente
me dou conta de que Isaac está aqui. Ele
assente e faz uma ligação, um grupo de
paramédicos adentra o local.
— Sigilo absoluto! — Isaac
ordena. E seja lá quem for que ele havia
chamado, sei que não dirá nada sobre o
que vê aqui.
Sou tirada de cima de Caleb e
ele fica cercado por pessoas. Uma maca
é posta e Caleb é colocado. Eles saem
rapidamente e tento ir atrás, porém
braços fortes me impedem.
— Vic. — Chris me abraça. —
Calma.
— Eu preciso ir com ele. —
digo em desespero.
Olho para minha roupa
manchada de sangue, e sinto a bile vir a
garganta... Eu estou perdendo Caleb.
— Ele ficará bem, minha
querida! Caleb é um homem forte! —
Leandra diz e me puxa para um abraço.
— Foi minha... Tudo minha
culpa! — choro ainda mais e ela beija
minha testa.
— Não se culpe pela loucura
dos outros. Agora, precisamos ser fortes
por quem amamos. Caleb ficará bem! —
ela diz com tanta firmeza que quase me
faz acreditar nisso, porém seus olhos
desesperados transmitem outro
sentimento – medo.
— Preciso estar com ele. —
insisto e ela cede.
— Vem. — diz e me leva até a
ambulância.
O caminho percorrido até o
hospital parece sem fim. A força que não
tenho busco em meu pequeno que ainda
é apenas um leve arredondado em minha
barriga.
— O papai vai ficar bem, meu
querido! — digo para minha barriga. —
Ele tem que ficar.
Eu não posso perder Caleb. Não
agora, que nosso pesadelo finalmente
havia terminado. Eu o quero comigo,
para que finalmente possamos viver
nosso amor sem empecilhos.
Capítulo 31

Victória

Sentada na sala de espera é onde


todos nós estamos. Caleb havia dado
entrada no centro cirúrgico há alguns
minutos e eu já entrei em pânico.
Castiel também teve que ser
levado para retirar a bala alojada em
sua perna, o que felizmente não é nada
grave.
— Precisa comer algo, Vic! —
Dani chama minha atenção.
— Ok. — cedo não por mim,
mas pelo meu filho.
Encontro Luna, Babi e Lucas
sentados na cantina do hospital, e ao me
ver Luna se levanta e vem em minha
direção. A abraço com força e sinto
meus ombros molharem. Todos estamos
com medo de perdê-lo.
— Venha aqui! — chamo Babi,
que até então estava retraída mas que
claramente chora.
Sem pensar duas vezes, ela se
levanta e me abraça com força.
Precisamos nesse momento buscar
forças uns nos outros.
— Como está, mamãe? — Luna
pergunta cautelosa e eu apenas sorrio
fraco.
O que eu posso dizer?
Meu mundo parece desabar. Meu
pai havia tentado me matar e Caleb
havia arriscado a própria vida pela
minha.
O quão ruim isso é de verdade?
Quando penso em responder
algo, noto que está faltando alguém.
— Onde está Felipe? —
pergunto e Lucas bufa. — Lucas?
— Eles estavam conosco na casa
de meus pais, e praticamente tive de
obrigar Felipe a ir pra lá. Só que no
momento que contei o que tinha
acontecido com Caleb, ele... — Luna
lança um olhar de censura para ele.
— Ele? — insisto.
— Ele saiu pela porta da frente e
não voltou até agora!
— O QUE? — pergunto
incrédula, e busco respostas em Luna
que me olha triste.
Onde Felipe se meteu?
Saio da cantina imediatamente
com a pretensão de encontrar Isaac. Eu
sei que ele está por aqui, pois Paula foi
internada no mesmo hospital. Iria pedir
a ele que encontrasse Felipe pra mim.
Ando mais um pouco e paro,
quando ouço vozes alteradas vindas da
recepção. Algo me diz que devo ir até
lá, e é o que faço.
De longe notei que dois
seguranças altos e fortes se
encaminhavam para lá, só que do lado
oposto do meu. A recepcionista
insultava quem quer que fosse que pediu
informações. Ao chegar mais perto pude
ver Felipe, com as costas encurvadas,
penso que em sinal de vergonha
enquanto a mulher continua dizendo
coisas horríveis a ele.
— O que está acontecendo aqui?
— pergunto abruptamente e todos os
olhares se focam em mim.
Felipe apenas levantou o olhar e
noto que ele está se segurando para não
chorar.
— Senhora Soares, esse
delinquente está querendo ver seu
marido e...
— Um minuto! Delinquente? —
perguntei baixo e ela me olhou
espantada — Por que considera esse
rapaz um delinquente? — gritei sem me
conter, esquecendo totalmente de onde
me encontro.
— Senhora, pelas roupas é fácil
de se notar...
Sem prestar mais atenção no que
ela diz reparo em como meu menino está
vestido. Ele está com as mesmas roupas
velhas, com as quais havíamos o
encontrado. O que me faz pensar no por
que dele ter sumido e estar vestido
justamente com essas roupas.
— Chega! — a mulher se cala.
— Acho que o seu preconceito lhe
deixou tão cega que não enxergou quem
de fato é esse garoto... Ele é meu filho,
Felipe Soares. — seus olhos se
arregalam. — E mesmo que não fosse, o
mínimo que ele merece é respeito.
— Eu sinto muito... — ela
começa a dizer.
— Não sinta nada! — a corto. —
Pode ter certeza que conheço o seu
superior nesse hospital e deixarei que
ele resolva com você tal desrespeito! —
minto descaradamente, pois mal sei o
nome do hospital.
Puxo Felipe pela mão e o levo
até a cantina.
Ele se senta ainda olhando para
o chão e eu levanto delicadamente o seu
queixo, forçando-o a me encarar.
— Por que está assim, meu
querido? — pergunto cautelosa e ele
acaba deixando algumas lágrimas
caírem. — Está bem, meu menino. —
limpo seu rosto.
— Me desculpe por fazê-la
passar vergonha, eu...
— Pode parar com isso! — ele
se espanta. — Você é como um filho
para mim, assim como para Caleb. —
ele apenas continua me encarando. —
Por que não permaneceu com Lucas?
Por que não os esperou para vir aqui?
— pergunto.
— E-eu. — gagueja. — Pensei
que tivesse sido minha culpa. —
confessa e o olho assustada. — Eu já
ouvi muitas vezes que todos que se
aproximam de mim morrem, eu não
quero que o senhor Caleb...
— Shhhh. — me levanto e o
puxo para um abraço. — Caleb vai ficar
bem, nada disso foi sua culpa. Você
apenas trouxe mais luz para nossas
vidas, Lipe!
— Me desculpe! — pede, e eu
apenas beijo sua testa com carinho.
— Por que se vestiu com sua
roupa de antes? — diante de seu
silêncio, paro para pensar um pouco. —
Espera aí, você planejava ir embora?
— Eu... Eu acabei indo para a
sua casa e encontrei minhas velhas
roupas, daí decidi que viria até aqui
saber sobre o estado do senhor Caleb e
depois iria embora. Eu não quero
estragar a família de vocês! — confessa
chorando e eu fico ainda mais admirada
com a força dele.
Mesmo que não tivesse o mesmo
sangue que o nosso, o coração dele se
parece muito com o de Caleb. Os dois
são de uma bondade e sinceridade
impressionantes.
— Nunca mais! Nunca mais se
atreva a fazer isso! — exclamo e ele se
retrai novamente. — Somos uma família,
Lipe.
— Vic! — a voz de Christopher
se torna presente e sinto um calafrio
percorrer meu corpo.
— Como ele está? — pergunto
me virando para ele.
— A cirurgia para retirada das
duas balas foi um sucesso, felizmente
uma foi apenas de raspão. — exclama
aliviado e choro de felicidade, por
saber que Caleb está bem.
— E agora? Quando poderemos
vê-lo? — pergunto ansiosa.
— Pelo que me disseram, só
amanhã. Caleb ficará em observação,
mas o caso dele já é estável. Ele acabou
perdendo uma boa quantidade de sangue
mesmo tendo sido socorrido
rapidamente, então ainda está fraco.
Desespero volta a tomar conta
de mim. Acho que a tensão de meu
corpo é tão aparente, que Chris se
aproxima e me abraça ternamente.
— Caleb é forte Vic, logo ficará
bem! — diz e eu apenas assinto.
Ele tem que ficar.

***

Sozinha deitada na cama do


quarto de Caleb, cheiro seu travesseiro
chorando pelo medo de estar distante e a
qualquer momento receber a notícia de
que o perdi.
Eu queria permanecer no
hospital, na verdade fiz todo o possível
para poder ficar ao lado dele, nem que
isso significasse dormir na sala de
espera. Mas toda a família tinha um
trunfo contra mim – meu filho.
Eles acabaram me arrastando
para fora do hospital, pois dormir lá
está fora de cogitação, já que temos uma
cama confortável em casa e Caleb não
poderá receber visitas tão cedo.
É difícil admitir que perdemos
vinte anos separados um do outro, vinte
anos nos ignorando e muitas vezes
discutindo... E agora tudo o quero, é uma
chance para vivermos nosso amor.
Como o sono não se faz presente
resolvo ir até meu antigo quarto, o lugar
que antes era meu refúgio.
Abro a gaveta do criado mudo e
retiro de lá o pacote com as fotos dele e
de outras. Por um lado gargalho por
saber que ele armou a maioria delas, por
outro, me sinto horrível por saber que
alguma delas possa tê-lo tido.
Pego todas as fotos e vou até o
quintal. Com o álcool e fósforo em
mãos, coloco fogo em todo o passado
que nunca mais voltaria para nos
atormentar.
— Está tudo bem, mamãe? —
Luna pergunta, colocando um agasalho
em volta de meu corpo.
— Espero que sim! — digo
derrotada e voltamos para dentro.
Ao passar pelo corredor
principal dos quartos resolvo dar uma
olhada em cada um, estranho quando não
encontro ninguém no de Felipe.
Caminhando mais um pouco até o de
Babi, escuto vozes.
— Eu mal o conheço e dói saber
que ele está naquele hospital. — ouço a
voz de Lipe.
— Caleb é a melhor pessoa que
conheço. — Babi diz. — Tenho medo de
que algo o leve de mim, de nós! — sua
voz sai entrecortada e quando já estava
disposta a entrar no quarto, olho
primeiramente pela fresta da porta e
vejo Felipe a abraçando com força.
Por mais que os dois sejam
pessoas completamente tímidas, já se
apoiam um no outro, mesmo com o
pouco tempo de convivência. E tenho
certeza que nada no mundo fará Caleb
mais feliz do que ver os filhos se dando
bem assim.
Se tinha algo que ele nasceu
pra ser, foi pai.
De volta para o quarto de Caleb
vou até o seu closet e pego a caixa ali
escondida com as cartas. Suas cartas de
amor. Releio algumas e me emociono
novamente com suas palavras. Uma
carta em particular me chama atenção e
noto que o envelope nem havia sido
lacrado. Ao começar a ler, sinto meu
coração palpitar ainda mais em meu
peito, é a carta mais recente dele. Uma
que eu nem havia visto.

Querida Victória,
Essa é a primeira vez que
escrevo sem medo ou com pudor nas
palavras. Essa é a primeira vez que
escrevo uma carta sendo amado, amado
por você. Sabe o quanto isso me faz
sentir o homem mais feliz do mundo?
No momento que você disse que
me amava, eu me senti completo. Era
como se uma parte de meu peito que
antes era oca, vazia... Fosse
preenchida. Eu me tornei finalmente
um homem realizado ao ter o seu amor.
A princípio fiquei aterrorizado,
confesso. Como depois de todos os
erros cometidos e todas as humilhações
que a fiz passar, você pudesse me
amar? Para mim, era impossível. Mas
como sempre, você conseguiu me
surpreender. E a cada dia mais me
surpreende!
A inocência que fez-me
apaixonar por você quando ainda era
um garoto, continua presente tanto em
seu olhar quanto em sua alma. E eu te
amo ainda mais por isso. Pois mesmo
sendo o homem vazio no momento
errado, você desde o princípio havia
me aceitado, desde nossa pequena
Luna.
Hoje foi o dia em que recebi a
melhor notícia de minha vida, você
carrega o fruto do nosso amor em seu
ventre, nosso Miguel. Pode brigar e
dizer que estou sendo ansioso
afirmando que será um menino, mas eu
sinto, sei que será ele. Assim como fui
feliz ao ter Luna em meus braços,
quando encontrei Babi... Sou ainda
mais completo por ter mais um filho
nosso, apenas nosso.
Eu acho que nunca lhe disse
que queria ter uma família grande, mas
sempre fora o meu sonho, e antes
quando via os anos passando e vendo
você se afastar ainda mais, pensei que
nunca realizaria tal sonho. Mas o
destino vem e me prova o contrário,
além dos meus três tesouros, hoje a
vida nos proporcionou mais um -
Felipe.
Esse garoto apareceu para nós
de uma forma inusitada, mas assim que
o olhei soube que era nosso. Mais um
dos nossos filhos. Não tenho mais o que
reclamar, tenho tudo o que sempre
sonhei nesse momento. E se lhe escrevo
agora é para reafirmar o quanto ainda
te amo e sempre irei amá-la.
Os problemas que estão
surgindo entre nós, não irão mudar
nenhum décimo do sentimento que
tenho por ti e espero que nada mude em
relação aos seus sentimentos por mim.
Quero que saiba que nada no mundo
irá atrapalhar e muito menos lhe
machucar, isso é uma promessa Vic.
Sempre estarei aqui, para lhe mostrar
que não sou mais o moleque de antes,
que esconde os sentimentos por medo...
Hoje sou homem para lhe dizer
que irei proteger a você e nossa família
até a eternidade. E a cada estação que
passarmos juntos, farei com que nunca
possa duvidar que fez o certo por me
escolher, pois serei daqui pra frente o
homem que você merece.
O homem que você ama.
Sempre foi você, Vic
e será até a eternidade!
Para sempre seu, C”
As palavras de Caleb servem
tanto para amenizar quanto para
aumentar ainda mais minha dor. Como
eu queria poder ter lido isso ao seu
lado.
E naquele momento, mesmo que
nunca tenha sido tão boa quanto ele com
papel e caneta, resolvo transformar o
que sinto em palavras. Para que ele
também tenha a certeza em tinta, de que
sempre serei apenas dele.
Capítulo 32

Victória

As sete horas todos já estávamos


de pé e fomos ao hospital. Rodrigo e
Leandra já estavam lá e me abraçam
ternamente, acho que tentando me
tranquilizar enquanto aguardamos
alguma notícia.
Noto de canto de olho Babi olhar
preocupada para Christopher que tem a
aparência horrível. Pelo que Leandra
havia dito, ele foi teimoso o suficiente
para dormir nas cadeiras da sala de
espera.
— Vic! — Dani me chama e eu a
abraço com carinho. — Ele ficará bem,
tenho certeza disso.
— Obrigada! Como Castiel está?
— pergunto curiosa, pois minha
preocupação com Caleb era tamanha que
até me esqueci de perguntar como
Castiel estava após a retirada do
projétil.
— Parece uma menina chorona.
— revira os olhos e eu sorrio. — Que
foi? É sério, ele está dizendo que não
vai comer se eu não vier visitá-lo.
Todos gargalham e ela fica ainda
mais brava. Qualquer um nessa sala de
espera sabe que no fundo, Dani está
preocupada com ele, mesmo que ela
insista em negar isso.
— Família de Caleb Soares! —
um médico anuncia ao se aproximar e
me levanto rapidamente.
— Bom, felizmente a cirurgia
dele foi um sucesso e a recuperação está
dentro de todos os conformes. Daqui a
pouco poderemos liberar a entrada de
um dos familiares. — sorrio
abertamente. — Ele ainda está
sonolento, mas logo irá despertar.
Deixo as lágrimas caírem pela
felicidade que me inunda. Todos
sorrimos um para o outro, não há como
não ficar bem depois de ouvir isso.
Caleb está bem!
***

Os minutos seguintes são


torturantes, aguardo ansiosamente para
que a entrada no quarto seja liberada. Já
estou a ponto de invadir o local.
— Ei! — me viro e encontro
Isaac. — Vic, preciso falar com você!
— pede e eu o sigo.
Ele me leva até um corredor um
pouco afastado de todos. Noto que
parece abatido e muito cansado.
— Sei que é um momento difícil,
mas é que não sei mais o que fazer, ou a
quem recorrer. — confessa derrotado.
— Estamos todos bem agora
Isaac, fique tranquilo quanto a isso! —
declaro feliz.
— Nem todos. — diz e lágrimas
tomam conta de seus olhos.
Eu o conheço há anos e nunca
tinha o visto chorar antes. E só então,
lembro-me de Paula – minha irmã.
— Como ela está? — pergunto
preocupada e ele solta o ar nervoso.
— É um caso complicado! Ela
havia se recuperado bem por um dia,
mas pouco tempo depois uma das
enfermeiras... Droga, Vic! Eu sou um
homem treinado e deixei isso passar.
— O que?
— Quando fui até vocês, acabei
deixando um segurança de plantão no
quarto de Paula. — passa as mãos pelos
cabelos. — Ele deixou uma das
enfermeiras entrar, o que é normal.
Porém, essa enfermeira tentou sufocar
Paula. Ele só notou algo estranho,
quando uma outra enfermeira disse que
precisava vê-la. Ela quase... Quase
perdeu nosso bebê.
Mesmo depois de meu pai
morrer, ele continua me aterrorizando.
— E agora? Como ela e o bebê
estão?
— Ela está mais fraca ainda, a
gestação que já era preocupante se
tornou de risco. Eu só não sei o que
fazer. — diz exasperado. — Paula mal
fala comigo e eu fico ainda mais sem
chão.
— O quer que eu faça? —
pergunto sem entender.
— Quero apenas que pense em...
Bom, falar com ela, pelo menos para
que ela lute pela própria vida e do bebê.
— pede. — Ela dorme quase todo o
tempo, pois o corpo precisa descansar.
Nos momento desperta, tudo o que ela
tem desejado é morrer... Morrer, pois
segundo ela destruiu a vida de todos e
não merece a que tem.
— Meu Deus! — exclamo
incrédula e ele limpa algumas lágrimas
com o dorso da mão.
— Só pense nessa
possibilidade...
— Eu vou vê-la. — ele não
consegue disfarçar um pequeno sorriso.
Voltamos para sala de espera e
quando vou me sentar, finalmente uma
enfermeira anuncia que Caleb poderia
receber visitas. Olho primeiramente ao
redor e vejo se alguém se prontifica a ir
primeiro, mas os olhares que recebo são
de encorajamento.
Sigo pelo corredor do hospital
respirando fundo e quando finalmente
entro no quarto, meu coração para por
um segundo. Caleb parece tão frágil
nesse momento.
— Bonitão. — o chamo baixinho
e passo as mãos de leve por seu rosto.
— Eu tive tanto medo. — assumo e
deixo as lágrimas descerem mais uma
vez.
— Eu também. — a voz do
homem que amo sai baixa e um pouco
falha. Os olhos azuis me encaram com
seu brilho.
O brilho de Caleb.
— Eu te amo tanto, amor. —
confesso e ele sorri.
— Eu também te amo. — diz
antes do sono tomar conta de seu corpo,
e eu apenas continuo a acariciar seus
cabelos.
Fico por mais alguns minutinhos
apenas velando seu sono. Ele não irá
acordar tão cedo pelo que uma
enfermeira havia me dito quando voltou
aqui. O momento que ele conversou
comigo foi um dos poucos acordado.
Dou lhe um leve selinho e saio
do quarto para que os outros possam vir
vê-lo. Caleb está bem, e meu coração se
sente finalmente tranquilo e aliviado.
Mas andando pelo corredor que dava de
volta para sala de espera, resolvo parar.
Eu preciso vê-la, preciso
convencê-la que mesmo após tudo que
viveu ela tinha que lutar pela própria
vida.
Eu vou cuidar da minha irmã.
Capítulo 33

Victória

Adentro o quarto cautelosa e


Isaac vem em meu encalço. Logo vejo
Paula dormindo serenamente na cama,
que sequer deve saber que vim.
— Ela dorme a maior parte do
tempo. — ele explica. — Mas
geralmente nesse horário, ela acorda.
— Ok, vou esperar aqui. —
sento-me na poltrona.
— Qualquer coisa, estarei lá
fora. — diz. — Obrigado, Vic!
Sorrio para ele, que então sai do
quarto.
Limpo o suor frio de minhas
mãos nas calças e respiro fundo. Calma,
Victória!
— Oi. — ouço sua voz fraca.
Ela abre seus olhos e finalmente
noto que são do mesmo que tom que os
meus.
— Oi. — digo envergonhada. —
Desculpe vir sem avisar.
— Isaac? — pergunta.
— Está lá fora e...
— Não. — ela tenta se sentar,
porém não consegue. — Ele que te pediu
pra vir aqui?
— É... Sim. — digo sem jeito.
— Mas de qualquer forma, eu queria
falar com você. — ela assente.
Fico encarando-a por alguns
instantes e lembro-me de quando a
peguei pelos cabelos no hotel. Um
calafrio percorre meu corpo, ao
imaginar Caleb e ela...
— Eu o droguei. — diz de
repente. — Ele estava tão bêbado que
mal deve se lembrar, mas nem nos
beijamos.
— Do que está falando?
— Eu não transei com seu
marido. — confessa e eu arregalo os
olhos.
— Não precisa mentir sobre
isso. — toco de leve sua mão. — Não
tem problema...
— Estou dizendo a verdade. —
sussurra. — Sei que é difícil acreditar
em mim, mas não tenho porque mentir
sobre isso.
— Ok. — suspiro fundo e busco
algum resquício de mentira em seus
olhos. — Acredito em você.
— Sério? — pergunta surpresa.
— Por que o espanto?
— Isaac sequer me deixa falar
sobre Caleb. — uma lágrima escorre
pelo seu rosto. — Eu não o quero mais
aqui.
— Como?
— Quando o conheci no parque,
não sabia quem ele era. — começa a
contar. — Ele esbarrou em mim e
simplesmente começamos a conversar...
Ele era tão doce, gentil, carinhoso...
— O que houve? — pergunto.
— Uma semana depois,
marcamos nosso primeiro encontro e...
Ele não apareceu.
O que?
— Como se reencontraram?
— Julianne. — ela abaixa a
cabeça. — Ela percebeu que eu estava
diferente e logo apareceu em casa com
várias fotos de Isaac a tira colo. Ela me
parabenizou por me relacionar com
alguém tão próximo aos Soares e... Me
fez ir atrás dele.
— Como assim? — pergunto já
perdida.
— Todos os dias eu ligava para
ele, mandava mensagens... No caso, ela
fazia isso. — respira fundo. — Quando
ela mandou uma certa mensagem pra ele,
finalmente ele respondeu.
— O que ela escreveu?
— Ela sugeriu a ele sexo sem
compromisso. — Paula começa a
chorar. — Isaac mandou no mesmo
instante o endereço e o horário para nos
encontrarmos.
— Meu Deus! — digo
horrorizada.
— Tudo para ele sempre foi
baseado em sexo. — limpo com cuidado
suas lágrimas.
— Mas tudo mudou agora, ele...
— Ele está aqui porque se
importa com o bebê. — diz tristemente.
— Nada tem a ver comigo.
— Não fique assim. — passo as
mãos por seus cabelos. — Isaac pode
apenas estar confuso.
— Eu o ouvi confessando a
alguém pelo telefone que... Que sabia o
tempo todo quem eu sou. Claro, eu já
desconfiava disso antes, mas ouvi-lo
confirmar que se envolveu comigo para
conseguir saber mais sobre Julianne...
— Isso foi o que te quebrou, não
é?
— Nem meu corpo é o suficiente
pra ele. — ela se deita novamente.
— Você o ama, não é? — ela
assente.
— Posso te pedir algo? —
assinto. — Não o quero mais em meu
quarto.
— Paula...
— Apenas você e Chris, por
favor. — pede e fecha os olhos com
força. — Não consigo olhar pra ele, faz
me lembrar de tudo e...
— E tudo te lembra Julianne e
Paulo. — complemento e ela abre os
olhos. — Me sinto da mesma forma.
— Eles são mesmo meus p-pais?
— pergunta gaguejando.
— Eles são monstros. — digo e
seguro as lágrimas. — Que nunca mais
irão atrapalhar nossa vida.
— Eu nunca considerarei
Julianne como mãe. — confessa. — Por
mais que não tenha o sangue de Lívia,
ela sempre será minha mãe.
— Não duvido disso. — sorrio
pra ela. — Família vem do coração, não
do sangue.
Ficamos nos encarando por
alguns segundos e Paula abre a boca
diversas vezes, porém não diz nada.
— E-eu sou parte da sua
família? — pergunta de repente.
— Claro. — respondo de
imediato. — Você e seu pequenino. —
indico sua barriga. — Posso? — ela
assente e então passo a mão de leve por
sua barriga.
— Eu pensei em alguns
momentos que não merecia a vida e até
disse isso a Isaac. — diz e noto lágrimas
em seus olhos. Ela parece emocionada.
— Mas quando ouvi o coraçãozinho do
meu bebê... Comecei a me odiar
profundamente por isso.
— Fico feliz em ouvir isso. —
revelo. — Isaac está preocupado.
— Eu sei.
— Tem certeza de que não o
quer mais por perto? — pergunto.
— Quero apenas ter uma família.
— diz baixinho. — Não sei se ele pode
me proporcionar isso.
— Você já tem uma, Paula. —
levanto-me da poltrona. — Estou bem
aqui.
— Me desculpe por tudo. — ela
chora e leva as mãos ao rosto.
— Ei. — toco de leve em seu
braço. — Não há porque dizer isso.
E antes que ela pudesse pensar
em responder, abraço pela primeira vez
minha irmã. E agora mais do que nunca,
a protegeria. Pois somos uma família.
Capítulo 34

Caleb

Dias depois

— Estão todos bem? — pergunto


novamente e Christopher bufa pela
minha insistência.
— Caleb! — adverte.
— Ok! Eu só estou preocupado.
— cedo. — Sinto que Victória está me
escondendo algo. — exclamo frustrado.
Já não aguento mais a mesma
cama de hospital, esse quarto cinza e
apenas as visitas da minha família. Eu
quero ir logo para casa, estar com eles e
principalmente, poder conferir
pessoalmente se as coisas estão mesmo
bem.
— E Julianne? Como anda o
processo? — pergunto.
— Bom, Herrera está em seu
lugar. — dá de ombros. — Com a ajuda
de Joaquim e nosso pai, já sabe.
Herrera é meu braço direito na
Advocacia, tenha certeza de que ele está
tomando conta de tudo. O que garante a
prisão de Julianne.
— Ela deu algum outro
depoimento? — pergunto.
A porta do quarto e Castiel entra
sorrindo.
— Então, pela milésima vez
você está enchendo o saco do pirralho?
— ele zomba.
Chris gargalha e tenho vontade
de esganá-lo, pena não poder fazer isso
pois meu abdômen não permite. Duas
balas estiveram ali, sei que demorará
um pouco para poder fazer isso. Isso é
uma droga!
— Sabe que só não chuto sua
perna porque não tenho como agora! —
ele sorri ainda mais. — Espere só eu
sair daqui! — o ameaço e ele me olha
zombeteiro, levantando uma das muletas
em minha direção.
Ele havia retirado a bala da
perna há um tempo, mas ainda tinha que
usá-las. E pior que não parece nem um
pouco triste com isso.
— Ainda chantageando Dani
com a perna? — Chris pergunta e
Castiel bufa.
— Ela ainda vai acabar comigo.
— se senta na beira da minha cama. —
Acredita que ela disse que se eu
chantageá-la mais uma vez, eu não serei
o primeiro a saber o sexo do bebê? —
pergunta se fingindo de indignado e
Chris gargalha alto.
— Você não tem vergonha nessa
cara Castiel! — digo e ele apenas sorri.
— No fundo sei que ela me ama.
— afirma nada convicto.
— Todos nós sabemos disso. —
digo e ele sorri convencido.
Passamos uns bons minutos
conversando sobre várias coisas. Por
um momento éramos os mesmos de
antes, como se ainda fôssemos crianças.
E o bom de tudo isso, é a certeza de que
nada havia abalado o companheirismo
que sempre tivemos um para com o
outro.
— Chris, preciso perguntar uma
coisa. — digo e ele assente. — Tem
alguma possibilidade do filho de Paula
ser seu?
Havia um tempo que pensei em
perguntar isso, porém ainda não estava
muito bem. Mas de hoje, não passaria.
O clima antes descontraído se
torna tenso e pesado. Ao mesmo tempo
que Chris abre a boca para responder a
porta do quarto se abre novamente.
Agora, ferrou!
Eu soube através de Castiel que
as coisas entre Chris e Isaac não
andavam bem. Isaac está enlouquecendo
pelo fato de Paula apenas aceitar visitas
de Vic e Christopher. Ela realmente não
o quer por perto, e o por que nenhum de
nós faz ideia. Na verdade, Vic e Chris
com certeza sabem, mas não irão nos
contar.
Assim Isaac evita a todo custo
esbarrar com Christopher. O
relacionamento entre meu irmão e Paula
ainda não é algo totalmente esclarecido.
— Volto depois. — Isaac diz e já
se vira pra sair.
— Pare de agir como um idiota
Isaac, sente a bunda aí e escute o que
Chris tem para dizer. — Castiel diz e
mesmo contrariado Isaac acaba
cedendo.
— Pois bem...
—O filho que Paula espera não
tem chances de ser meu! — Chris diz e
todos olhamos para ele assustados. —
Nós sempre fomos apenas amigos, na
verdade, melhores amigos.
— O QUE? — Isaac se exalta.
— Isso mesmo! Eu sei agora que
o modo como conheci Paula não foi
coincidência. Mesmo assim o nosso
combinado de fingir namoro, surgiu
quando ouvi meu pai dizer que não
entregaria a empresa a mim, caso não
sossegasse. — confessa. — Eu sempre
tive outras mulheres, Paula e eu nunca
transamos.
— Puta merda! — Castiel
exclama sem se conter e eu continuo
pasmo.
— Mas o que ela ganharia com
isso? — pergunto e ele dá de ombros.
— Como já disse, conheci Paula
em uma certa ocasião, não vou entrar em
detalhes, pois é algo pessoal...
— Pode me contar que merda de
situação foi essa! — Isaac grita, já indo
em direção a Chris. Porém, Castiel lhe
acerta uma das muletas de leve.
— Pare de ser um bebê chorão!
— Castiel diz e ele fica ainda mais
irado.
— Já disse que é um assunto
nosso, se ela quiser lhe contar Isaac, ela
irá! — Chris diz nervoso. — Eu soube
só agora que ela é filha de Julianne. Não
fazia ideia antes que por trás disso ela
tinha uma vingança em mente. Pouco
fazia ideia de que ela seduziu Caleb e...
— Cale a boca. — Isaac
explode. — Não tem que falar sobre
isso.
A porta se abre e Vic entra com
um semblante nada bom.
— Esqueceram que estão em um
hospital? — pergunta nervosa. — E
você, Isaac, está precisando de um
sedativo? — rosna para ele.
Chris e eu seguramos para não
rir da cena. Ver Victória de praticamente
1,60 de altura enfrentando um
brutamontes feito Isaac...
— É, mais um capítulo da nossa
novela mexicana favorita. Que tal
chamá-la de OS SOARES E
AGREGADOS? — Castiel instiga e
gargalha.
— Por Deus Castiel, dá pra
calar a boca! — Chris o xinga e
acompanhamos Cas na risada.
— Devia parar de pirar e cuidar
dela. — Victória diz.
— Estou tentando. — Isaac diz
baixinho. — Ela é quem me evita.
— Por que será, em? — sem
dizer mais nada, Isaac sai do quarto. —
Idiota! — resmunga.
— Hormônios, querida cunhada?
— Castiel a provoca.
— Se eu não bater em você até o
fim da gestação, se considere muito
abençoado. — o ameaça e finalmente me
olha. — Oi, amor.
— A cavalaria chegou. —
Castiel diz e se levanta. — Anda logo,
Chris.
— Pare de ser imbecil. — Chris
resmunga e logo os dois saem do quarto.
Finalmente a analiso e noto que
o arredondado em seu ventre, já é
aparente. Nosso filho.
— Nunca vão crescer? — ela
pergunta e eu nego. — Momento ruim?
— Sempre nos melhores
momentos, minha rainha. — respondo e
ela me dá um leve selinho.
Sem conseguir me conter, seguro
seu pescoço e a beijo com vontade.
— Saudade? — brinca, olhando
para o volume em minhas calças.
— Não seja má, senhora Soares.
— ela sorri e senta-se ao meu lado na
cama.
— A relação entre Paula e Isaac
está cada vez pior. — confessa. — Ele a
magoou demais.
— Quer falar sobre isso? —
pergunto e ela nega.
— Preciso apenas te revelar
algo, porque ela mesmo me pediu para
contar.
— O que é? — pergunto sem
entender.
— O que lembra da noite que
passou com ela? — pergunta e eu fico
tenso.
— Vic, por que...
— Apenas responda. — insiste.
— Bom, eu havia bebido muito e
estava em uma festa. — ela me olha
atentamente. — Só lembro de entrar em
um quarto com ela e bom, acordei na
cama com ela no outro dia.
— Sempre foi assim? — Vic
pergunta.
— Como?
— Quando saía com as outras
mulheres, geralmente não se lembra de
nada?
— Na maioria, minha ressaca é
tão forte que tenho certeza que nem se
voltasse no tempo conseguiria saber o
que houve. — confesso envergonhado.
— Sempre foi a bebida que me deu
coragem e me ajudava a esquecer tudo
depois.
— Vocês não transaram. — diz e
eu fico pasmo.
— Como assim? — pergunto
incrédulo.
— Ela me contou que você
estava bêbado demais e por isso foi
fácil drogá-lo. — confessa. — Ela fez
com que parecesse que tiveram algo,
mas não aconteceu.
— Eu...
— Não conte isso a ninguém
mais, principalmente Isaac. Ela me fez
prometer que ninguém saberia.
— Por que? Assim, Isaac não
ficaria tão...
— Ela quer apenas distância
dele e não quer dar satisfações de sua
vida. Além de que ele nunca a deixou
terminar algum assunto referente a você.
— Pensei que ela estava apenas
o ignorando.
— Agora sim. — diz. — Antes
ela até tentou conversar, mas Isaac é
outra pessoa quando está com ela. E
digo isso, de uma maneira ruim.
— Talvez ele só esteja
aprendendo a lidar com o que sente. —
tento tranquilizá-la.
— Mas não é um assunto para
nos preocuparmos, não agora, pelo
menos.
— Se diz.
— Ei, prefere mesmo falar da
vida dos outros, do que de nós dois? —
pergunta indignada.
— Prefiro outra coisa, porém
não estou apto para isso. — provoco e
Vic suspira fundo.
— Você tem o meu coração,
Caleb. — diz baixinho e fico surpreso.
Victória se declara em momentos
aleatórios, e havia notado que isso é
algo comum dela. Se ela quer falar, ela
fala. Mesmo assim, sempre me
surpreende com suas palavras.
— E o meu, sempre te pertenceu.
— levo as mãos até sua barriga e ela me
beija.
Tudo está em seu devido lugar
agora.

***

Horas depois, após o horário de


visitas, fiquei mais uma vez sozinho
nesse quarto. O médico havia afirmado
que logo poderei sair daqui, mas sem
deixar claro de quão “logo” estamos
falando.
Eu pedi para que alguém pegasse
as provas e documentos do caso de
Julianne e me trouxesse, mas todos se
negaram a fazer isso. Então, serão mais
horas de tédio nesse hospital.
Apenas repasso comigo mesmo o
que farei assim que tiver alta. Além de
cuidar de minha família e finalmente ter
uma história de amor com minha mulher,
eu tenho duas opções em relação a
Julianne.
Primeira, eu posso considerar o
fato de que ela é mãe de Victória e não
ferrar de vez com sua vida; E segunda,
posso usar todas minhas armas contra
ela e a trancafiar em uma prisão de
segurança máxima com a maior pena
prevista na lei brasileira.
E dentre as opções que tenho, a
única que me parece plausível é a
segunda. E assim que receber alta, vou
lutar para que nenhum pesadelo do
passado atormente novamente a minha
família.
Capítulo 35

Victória

Acaricio os cabelos loiros que


estão espalhados pelo travesseiro e
sinto meu coração se apertar. Paula é tão
jovem, e já teve de enfrentar tanta coisa.
Ela ainda está insegura do que
fazer da própria vida, mas eu darei todo
o suporte possível para ela. Nunca
imaginei como seria ter um irmão, muito
menos uma irmã... Mas Paula havia se
tornado parte de meu mundo em pouco
tempo.
A porta se abre e Isaac entra. Eu
havia mandado uma mensagem para ele
há alguns minutos, avisando que ela
adormeceu. Só assim para que ele
pudesse vê-la. Ela não o queria por
perto, pois pensa que ele está se
sentindo culpado.
Se ela soubesse.
No fundo eu tinha certeza que ela
se sentiu usada por ele, mesmo ela não
admitindo em voz alta. Ela também acha
que ele apenas quer estar perto por
conta do bebê... E depois de tantas
mentiras, eu entendo perfeitamente sua
insegurança.
— Oi. — ele me cumprimenta.
— Falei com o médico dela, ele disse
que daqui uns quatro dias no máximo ela
terá alta.
— Fiquei sabendo disso
também. — sorrio.
— Paula disse algo a respeito?
Sobre para onde ela irá ou... — começa
a dizer meio desconfortável, enquanto
alisa de leve o rosto dela.
Há sentimentos ali, eu não posso
estar vendo coisas.
— Ela apenas se calou. —
reviro os olhos. — Eu a convidei para
ficar em minha casa e...
— De modo algum. — ele fica
tenso no mesmo instante.
— Deveria deixar de ser idiota e
ouvir o que ela tem a dizer sobre Caleb.
— o olho com raiva
— Não preciso saber disso. —
me corta.
— Mas deveria. — desvio meu
olhar para Paula. — Irá se arrepender,
Isaac.
— Falarei com ela depois. —
me ignora e beija a testa dela. —
Obrigado por me avisar. — apenas
assinto.
Fico mais alguns minutos apenas
velando o sono dela.
— Volto mais tarde. — sussurro,
e ela dorme serenamente.
É um dia feliz, pois Caleb
finalmente havia recebido alta e irá pra
casa. E mal sabe ele da surpresa que o
aguarda.
Na realidade, são duas
surpresas, e espero que ele as ame.
Entro em seu quarto e vejo
Castiel acertando a muleta de leve na
perna de Caleb, que está sentado na
cadeira de rodas.
Até seu abdômen não correr
mais nenhum risco de ter algum
estiramento ou até mesmo a dor que ele
sentia voltar, ele terá que se locomover
desse modo. A cirurgia que ele passou
foi feita em um local que podia ter
determinado sua morte naquele dia.
Só a lembrança desse pequeno
recado médico me faz sentir um aperto
no peito, mas eu não posso reclamar,
Caleb está aqui.
— Quantos anos vocês dois tem?
— pergunto, e Caleb acerta a perna boa
de Castiel com um leve soco.
— Foi ele que começou. —
Caleb diz. — Babaca!
— Parecem duas crianças! —
digo e Castiel fecha a expressão.
— Nem venha me chamar disso,
já tenho que aguentar Danielle me xingar
todos os dias de crianção e bebezão! —
reclama.
— O que queria? — sorrio da
careta que ele faz. — Você praticamente
faz birra para que ela vá vê-lo, sendo
que sua perna já está boa.
— Ela ainda vai acabar comigo.
— reviro os olhos. — Depois não
adianta chorar de saudade.
— Deixa de ser convencido. —
digo e vou até Caleb, beijo seus lábios
de leve. — Oi.
— Oi, minha rainha. — ele sorri
lindamente. — Ah, Dani comentou com
você sobre os planos de Castiel? —
pergunta e eu nego. — Ele pretende
levá-la para morar com ele em Londres.
— O que? Por que? —
praticamente grito.
— Eu tenho uma vida lá Vic,
tenho meu emprego, minha casa... Quero
que Dani faça parte da minha vida. —
Castiel diz.
— Detalhe que ele a ameaçou.
— Caleb complementa. — Ou ela se
muda com ele, ou ele tira o bebê dela
depois que ele nascer.
— Mas isso é impossível! —
digo irritada. — Você mataria ele. —
Caleb assente.
— Eu sei disso. — Castiel diz
derrotado. — Mas eu não tinha mais o
que inventar na hora... Ela nunca vai me
perdoar pelo o que houve com Annie,
mas eu não vou deixar com que saia da
minha vida... Muito menos com outra
vida em jogo.
Surpreendo-me com sua resposta
e noto que Caleb parece orgulhoso do
irmão. Castiel não quer isso apenas para
ficar com Dani, vai, além disso, ele quer
cuidar do filho deles. Ser o pai que ele
nunca foi.
— Eu vou conversar com ela
sobre isso, ver o que ela pensa sobre. —
digo. — Mas se ela aceitar... Podem dar
um jeito de no mínimo uma vez por mês
nós nos encontrarmos. — exijo e os dois
assentem.
Um médico adentra o quarto e
todos o olhamos ansiosos.
— Está liberado, senhor Soares.
— diz e Caleb ergue as mãos aos céus,
acho que agradecendo.
Hora de ir pra casa.

***

No carro Castiel e Caleb brigam


pela música que querem escutar. Os
ignoro, pois sei que não adianta me
intrometer.
— Vic, acho que você errou a
direção. — Caleb diz e Castiel me olha
cúmplice.
— Surpresa, bonitão. — digo e
Caleb me olha sem entender.
— Vocês dois me dão diabetes!
— Castiel exclama, fingindo uma ânsia.
— Nós ou a sua feiticeira? —
Caleb retruca.
Caleb finalmente consegue
deixar o irmão sem fala e gargalhamos.
Uma das surpresas de Caleb, é
que eu havia resolvido mudar de ares,
sair daquela mansão extravagante, que
até agora não entedia os porquês de ter
ganhado.
Ainda não entendia os porquês
de várias coisas. Mas não iria procurar
mais sobre o passado, sobre os planos
de Julianne e muito menos de Paulo... Eu
quero paz. A casa a qual escolhi para
nos mudarmos é grande o suficiente para
abrigar toda a nossa família, e para mim
isso já basta.
Assim que estaciono o carro,
noto a expressão relaxada e feliz no
rosto de Caleb. Isso me deixa ainda
mais animada, ele claramente gostou da
mudança.
— E então? — pergunto,
empurrando sua cadeira em direção a
nossa nova casa.
Ele me olha sorrindo.
— Sempre odiei aquela mansão.
— confessa e eu gargalho. — É sério
Vic, se eu fiquei naquele lugar foi por
pensar ser importante para você.
— Eu sempre odiei também. —
ele sorri.
Antes achava que a nossa antiga
mansão era algo que meu pai havia me
deixado como lembrança, algo que eu
sempre poderia me lembrar dele... Mas
agora eu só quero superar os pesadelos
que tenho a noite com a lembrança de
suas palavras e atos cruéis. E
felizmente, eu tenho minha família para
me ajudar nesse desafio.
Castiel mesmo com um pouco de
dificuldade abre a porta da casa e
balões azuis voam em direção a Caleb.
Uma faixa escrita em letras grandes
confirma o que ele sempre suspeitou,
nosso bebê é mesmo um menino.
— BEM VINDO PAPAI DO
MIGUEL? — pergunta lendo a frase ali
escrita e eu sorrio.
Levo suas mãos para o meu
ventre e digo: — Você só pode ser
vidente, senhor Soares!
Todos estavam ali para dar as
boas-vindas a ele.
Felipe mesmo ainda sem jeito
estendeu a mão para Caleb que o puxou
para um abraço de imediato.
Mal via hora de ouvir ele nos
chamar de pai e mãe. É um dos meus
grandes sonhos. Olho para o canto da
casa e vejo Isaac encostado em uma das
colunas. Mesmo com as desavenças,
pelo menos ele se portou como amigo
que sempre foi, e está aqui.
Após comermos e conversarmos
sobre tudo, convenci Luna e Lucas de
ficarem em nossa nova casa, pelo menos
por hoje. Queria ao menos uma vez, ter
minha família completa.
Castiel foi o primeiro a aceitar a
proposta e me dói ver a situação em que
ele se encontra. Ele está aproveitando
de qualquer mísero momento que possa
estar perto de Dani.
Viver de partes e pedaços de
alguém nunca será saudável. Ainda mais
Danielle que não sabe ao certo se o
repele ou o puxa pra perto. Espero que
Dani dê logo o devido valor á ele, antes
que seja tarde demais.
***

— Acho que você está um pouco


faminta! — Caleb zomba, assim que
entro no nosso quarto com um pote de
sorvete.
Se tem uma coisa que Miguel vai
amar é sorvete de chocolate.
Eu estou completamente viciada
nisso!
— Bonitão, isso tudo é culpa
sua! — sento-me ao seu lado na cama.
— Minha? — se faz de
desentendido.
— Você que me engravidou. —
provoco.
— Não reclamou em nenhum
momento enquanto eu fazia isso. — ele
sorri do jeito que me deixa acesa.
Droga!
Esse homem já me deixa louca, e
com os hormônios da gravidez minha
vontade é de pular em cima dele a todo
momento.
— Não estou reclamando. —
digo. — Acho que tenho outra função
para o sorvete, senhor Soares.
— Vic! — adverte quando
começo a tirar suas calças.
— Desejo de grávida não pode
ser negado. — beijo de leve seus lábios.
Ele sorri respirando com
dificuldade.
— Eu jamais vou me opor a isso.
— sorri. — Sou todo seu.

***
Acordo com o peso de um braço
em cima do meu corpo e sinto a calma
me invadir. Me viro e encontro o homem
que amo deitado junto a mim,
finalmente, na nossa cama.
Nosso lar, nosso amor, nossa
vida...
Passo de leve as mãos pelo seu
rosto e a barba rala me causa arrepios,
mas não é isso que chama minha
atenção. Há algo brilhando em minha
mão esquerda, pra ser mais exata, em
meu dedo anelar esquerdo.
— Finalmente? — pergunta
sorrindo. Fingido!
Olho com mais cuidado o anel
ali colocado, e só assim percebo que
não é um anel... É uma linda aliança com
um diamante negro no meio.
— Caleb... — ele me interrompe
com um beijo.
— Eu comprei faz um tempo...
Pra ser sincero depois que fizemos amor
pela primeira vez. — confessa
envergonhado.
— Não precisava disso e...
— Minha rainha, quero fazer as
coisas certas dessa vez. — diz pegando
minha mão e dando um leve beijo na
aliança. — Sempre assisti você de
longe, sabe disso. — assinto. — Sei o
quanto ama o filme e a série chamada
Sex and City.
— Você só pode estar brincando
comigo! — exclamo emocionada e ele
sorri.
— Eu nunca entendi ao certo o
porquê de você assistir aqueles filmes
tantas vezes. Então um dia resolvi
assistir. — dá de ombros. — A cena
final compensou o filme completamente
doido. — sorrio para ele. — E como
deve já saber, você é diferente de todas
as outras mulheres pra mim, Vic. Sempre
foi.
— Caleb!
— Ei, fica quietinha! — me olha
autoritário. — Estou tentando te pedir
em casamento, mesmo sem poder me
ajoelhar. — indaga nervoso e eu choro
ainda mais.
— Além do significado do
diamante negro, eu achei algo em comum
com o personagem principal...
— As cartas! — complemento e
ele assente.
— Uma citação que não me
esqueci foi a de Beethoven, ela sim me
resume por inteiro.
Sinto meu coração ir parar na
boca. Me sinto dentro de um filme. Ele
não vai recitar uma das minhas citações
favoritas... Ou vai?
— "Eu só consigo pensar em
você, minha amada imortal. Só posso
viver plenamente com você ou não
posso viver. Fique calma minha vida,
meu tudo. Somente com a calma da
consideração da nossa existência,
alcançaremos nosso propósito de
vivermos juntos. Oh! continue me
amando - E nunca julgue mal o tão leal
coração do seu amado.
A qualquer tempo
Sempre minha
Sempre...
— Nosso. — complemento junto
a ele, que tem lágrimas nos olhos.
— O que mais sonhei durante
todos esses anos foi poder dizer essas
palavras á você acordada... Muitas
vezes entrei no seu quarto e lhe disse
cada uma delas. — confessa.
— E-eu... — fico sem palavras.
— Victória Fontana, você aceita
ser...
— Sim, claro que sim! — grito
antes mesmo dele terminar de pedir, e
jogo-me em seu peito.
— Ai! — solta um gemido de
dor.
— Me desculpe, amor. — passo
as mãos pelos seu cabelos. — Mas isso
também foi sua culpa. — ele me olha
sem entender. — É sua culpa eu te amar
tanto assim, o que até me fez esquecer
que está ferido.
— Não ligo para dor, minha
rainha. — toca de leve meu rosto. —
Agora que tenho você, tenho tudo.
Eu sempre fui uma romântica
incurável. Amo filmes, séries e livros de
romance. Mas nunca imaginei um dia
viver um amor tão verdadeiro e forte,
como o que sinto por Caleb.
Nós não nascemos perfeitos um
para o outro, mas nos moldamos a
própria maneira, e hoje nos
completamos nas imperfeições.
Capítulo 36

Caleb

Meses depois

O nó da gravata que sempre foi


algo fácil de ser feito, parece nesse
momento a coisa mais complicada do
mundo. Culpa de todos os outros nós que
me cercam, principalmente o de minha
garganta e peito. Eu arrumava minha
gravata desde os meus quinze anos,
todos elas ficavam impecáveis e agora
nada que faço parece funcionar.
Meu nervosismo deve ser visível
e o espelho reflete meus cabelos já
bagunçados devido as várias vezes que
passei minhas mãos neles, meu terno já
está um pouco desajeitado... Estou
totalmente perdido, logo hoje, no dia de
renovar meus votos com Victória.
— Acho melhor eu fazer isso pra
você, meu filho. — meu pai que até
então, apenas assistia minha cena
patética em luta com a gravata, vem a
meu socorro.
Castiel e Christopher gargalham
da situação e minha vontade é de matá-
los. Os outros padrinhos também estão
aqui, Isaac apoiado em um dos cantos do
quarto, meu primo Pedro um pouco mais
distante no celular, e meus amigos da
faculdade, Levi, Daniel e Gustavo riam
de alguma piada interna e se não fossem
todos casados, iria alertá-los de que não
era fácil estar ali.
Todos já amarrados.
— Parece um pouco nervoso
irmão. — Christopher zomba, assim que
meu pai finaliza o nó em minha gravata.
— Parece que um dia vou rir da
sua cara quando estiver nessa situação!
— retruco e ele faz o sinal da cruz.
— Não me rogue pragas. — diz
sorrindo.
— Melhor acalmar os ânimos,
Caleb. — meu pai adverte. — Victória
está maravilhosa do outro lado do
corredor, ela não irá fugir!
Essa informação invés de me
acalmar, deixa-me ainda mais
apreensivo. Se ela está tão maravilhosa
quanto meu pai afirma... Será que vale a
pena ela ter aceitado se casar comigo?
Ela podia muito bem encontrar outro
cara e...
Merda de insegurança!
Talvez fossem os problemas e a
turbulência que mais uma vez invadiu
nossas vidas e acabou deixando Victória
devastada.
A cerca de um mês, finalmente
ocorreu o julgamento de Julianne e por
mais que no fim consegui condená-la a
passar um longo tempo na cadeia, o que
significa que ela de fato morrerá
trancada... Tal resultado não foi tão
gratificante.
Victória e Paula foram
testemunhas contra a própria mãe. Não
era necessário a presença de Vic, mas
sua insistência e cabeça dura a fizeram
ir até lá e dizer tudo o que presenciou no
dia da tentativa de atentado contra sua
vida.
Ao contrário de Paula que estava
determinada e fria diante a todos
presentes naquele julgamento, Victória
parecia mais uma menina com medo do
escuro. Eu havia alertado a ela que seria
difícil, que seria demais para seu
psicológico. Porém, ela decidiu pagar
para ver e infelizmente, houve juros.
Assim que a pena foi lida pelo
juiz e todos saímos de lá leves e sem
amarras com o passado, Victória
desmaiou. Com urgência fomos para o
hospital e felizmente nada de grave
havia acontecido com nosso filho e com
ela, pelo menos não fisicamente. A
partir daí tivemos de ter cuidado a cada
coisa dita e passo dado... A saúde de
Miguel e Vic era primordial para mim,
assim como para nossa família que
ajudou a cada momento.
Acordei várias vezes durante a
noite com os gritos altos dela, onde tudo
o que podia fazer era agarrá-la a mim e
fazer com que se esquecesse do
passado. Porém, ela me deixou fazer
isso por pouco tempo.
De repente a mulher que me
amava começou a repudiar tudo a
respeito de mim... Parecia que havíamos
voltado a ser o mesmo casal de antes.
Aquilo doía mais que as duas balas que
haviam me acertado, e não sabia como
lidaria com minha vida se Victória me
deixasse. E como se fosse o fim, em uma
noite me senti que não tinha mais porque
lutar.
— Tudo bem, filho? — meu pai
pergunta, e eu apenas assinto.
— Preciso ir ao banheiro, só
isso. — vou em direção ao banheiro.
Tranco a porta e escoro-me na
pia. Passo um pouco de água no pescoço
e encaro meu reflexo. Lembranças vem
com força a minha mente.
Victória havia tido mais um
pesadelo, e mais uma vez levantou da
cama levando uma das cobertas
consigo e correu para o outro quarto.
Mais uma vez vi meu mundo desabar.
Não éramos mais os mesmos que no dia
que a pedi em casamento e fizemos
juras de amor eterno... Não existia
mais minha "amada imortal".
Decidi então que precisava de
alguém para me ouvir, alguém que
pudesse me ajudar em como prosseguir
com aquilo e foi por isso que naquela
noite fui à casa de meus pais, pedir
conselhos a eles. Eu não sabia ao certo
toda a história que eles passaram até
encontrar e felicidade, mas sabia que
não havia sido fácil. Eu precisava de
uma saída. Uma saída que me levasse
de volta a felicidade com Victória.
Acabei confessando tudo o que
estava acontecendo para meus pais,
chorado todas as lágrimas que havia
guardado e por fim, passei a noite na
casa deles. Não tinha condições para
dirigir naquela noite.
No outro dia a primeira coisa
que encontrei ao abrir a porta de
minha casa foi Victória em pé ao lado
de várias malas. Eram as minhas
malas.
— O que...
— Eu sabia que você não havia
mudado... Você estava com ela, não
estava? — pergunta exaltada e sinto
meu peito se comprimir. Ela de fato não
confiava mais em mim.
— Ela quem, Victória? —
pergunto tentando me aproximar e ela
dá dois passos para trás.
A sala estava silenciosa, ainda
eram por volta das sete da manhã...
Luna que por um tempo decidiu morar
conosco para cuidar da mãe, assim
como Felipe e Babi, deveria estar
dormindo.
— O que pensa que está
fazendo Victória? Por que essas malas?
— pergunto já perdendo a calma.
Eu já não aguentava mais.
— Eu... — soluça, e lágrimas
rolam pelo seu rosto. — Não sei,
Caleb! Eu sei que te amo, amo mais que
tudo... Mas sinto que você não me
ama... Vai ser como eles! — confessa
chorando ainda mais.
— Sei como te ajudar com isso,
amor. — digo me aproximando e dessa
vez ela não se distancia.
— Como?
— Se confiar em mim, iremos
superar tudo... Até seus pesadelos!
—exclamo. Como se fosse uma
menininha ela assente várias vezes com
a cabeça.
E após um mês infernal
finalmente eu pude beijar minha
mulher.
Foi após isso que Victória
aceitou o tratamento. Ela havia
desenvolvido síndrome do pânico
devido aos acontecimentos... Haveriam
dias boas e dias ruins, porém todos
eles nós passaríamos juntos.
Batidas na porta me fazem voltar
a realidade.
— Perdido em pensamentos,
florzinha?
Eu não preciso nem abrir a porta
para saber quem está do outro lado. Levi
é a única pessoa que ousou me dar esse
apelido ridículo. Desde que Castiel
havia ido embora, ele foi a quem tive
como melhor amigo e companheiro para
todos os momentos.
Abro a porta e respondo:
— Completamente.
Voltando para onde todos estão,
noto que eles falam sobre banalidades e
pior, zombam de mim. Babacas!
Eu também não havia sido muito
esperto. Escolhi minha família e meus
melhores amigos na época de faculdade
para serem os padrinhos.
O que podia se esperar deles?
Intimidade, nesse momento, é um
problema.
— Vem, vamos dar uma volta!
— Levi diz e já vai em direção a porta
do quarto. — Não podemos esquecer da
surpresa! — diz para os outros, e todos
se olham cúmplices.
— O que estão pensando em
fazer? — pergunto já assustado.
— Aguarde e verá! — ri da
minha cara.
— Só me diga que Castiel não é
o dono da ideia!
— Não posso prometer nada.
Merda!
Quando finalmente chegamos ao
jardim, sinto meu corpo relaxar um
pouco. Toda a decoração foi feita e
escolhida por Vic, e assim como ela
havia dito que seria, está tudo em branco
e azul. Uma trilha de pétalas de rosas
azuis marca o caminho que ela
percorrerá até mim no altar, a qual me
parece simples e delicada. Victória
realmente tem bom gosto.
Sentamos na varanda e Levi se
vira pra mim.
— Ainda com medo? —
pergunta.
— Morrendo. — confesso. —
Me sinto como um adolescente
novamente.
— Sabe que já estive nessa
situação antes e... Bom, no meu caso não
foi algo tão satisfatório ou com final
feliz...
— Em compensação reafirmou
seus votos mais duas vezes depois
daquilo. — zombo e ele sorri.
Levi é um cara realmente feliz
no casamento.
— Isso que quero lhe dizer, caso
hoje ela desista...
— Cale a boca Levi! Nem ouse
brincar com isso! — me desespero e ele
gargalha.
— Falando sério agora. — o
encaro. — Sei que os últimos meses não
foram os melhores entre vocês dois, mas
vi como Victória estava hoje de manhã e
o modo como ela te olha. — suspira
fundo. — É o mesmo olhar que Melissa
me dá todos os dias e acredite em mim,
ela não irá desistir de vocês dois.
— Obrigado, amigo. — digo e o
abraço.
— Sempre soube que são loucos
um pelo outro. Deixe só contar isso á
Melissa e Victória! — Gustavo diz
assim que se aproxima.
— Nada como um drama no
casamento. — Daniel diz e sorri. —
Talvez o seu supere o do casamento dos
meus pais! — complementa.
— Que merda aconteceu no
casamento dos seus pais? — pergunto
tentando me lembrar.
— Minha mãe esfregou o rosto
da ex de meu pai no bolo de casamento
durante a festa. — conta e fico ainda
mais preocupado. — Foi épico!
Se Clara Lourenzinni, mãe de
Daniel, a mulher mais calma que eu
conheço, fez isso no casamento. O que
eu posso esperar de Victória? E da
surpresa que eles planejam?
— Estou completamente ferrado!
— constato.

***
Os poucos convidados que
tínhamos já haviam chegado. As
madrinhas e padrinhos estavam em seus
devidos lugares. Meu pai me deu um
último abraço como quem diz
"finalmente filho" e respiro fundo
esperando a entrada de Vic.
Mesmo com todos os percalços
Victória havia me escolhido, assim
como o jardim do nosso lar que ficaria
marcado para sempre com nossa união.
Eu já havia estado no altar e esperado a
mesma mulher há décadas atrás, mas
nesse momento tudo é diferente.
Não sou mais um adolescente
apaixonado me casando com a mulher
que amo por interesse das famílias ou
para fazê-la me amar... Eu sou um
homem esperando a mulher que sempre
amei, chegar até mim no altar. Quando
um som de piano se fez presente, sinto
que é mesmo real.
Eu não sabia qual música tocaria
em sua entrada, Victória disse que seria
uma surpresa... Que tocaria a música
que define nossa história. E se antes
estava nervoso, agora estou estático.
Buscando um foco diferente para
me acalmar, olho em direção ao piano.
Assim, vejo Castiel o tocando... Então
essa é a surpresa! Meu irmão vai cantar
a entrada de minha mulher.
As primeiras notas soam leves e
volto meu olhar para a trilha de pétalas
azuis e brancas. Desespero toma conta
de mim, pois Victória ainda não tinha
aparecido. Olho apreensivo para
Castiel, que continua a tocar como se
tudo estivesse nos conformes.
Dois segundos depois, Victória
aparece no jardim e instantaneamente
lágrimas vem aos meus olhos. Não
consigo me conter.
Ela está simplesmente linda em
um vestido longo branco, de alças
grossas, que marca perfeitamente sua
barriga já de seis meses, a qual ela tanto
quer mostrar. Ela havia amado a ideia
de se casar antes do nascimento de
Miguel, pois segundo ela seria uma
forma de marcar nosso amor em dobro.
Os seus cabelos estão soltos e
ondulados, o rosto praticamente leve e
sem nenhum toque excessivo de
maquiagem, o que realça ainda mais os
seus lindos olhos azuis... Ela está tão
linda, que mal consigo respirar. Não
consigo acreditar, que o sorriso
estampado em seu rosto é direcionado a
mim. E só consigo sorrir em meio as
lágrimas. Nossa felicidade estampada
em nossos rostos.
Quando ela chega em frente a
trilha que a leva até mim, o ar fica
escasso... Chegou a hora! Felipe que foi
escolhido por ela para entrar, lhe deu o
braço e então ela olha de leve para o
lado, e acena com a cabeça para algo. E
foi aí que a música de fato começou e
tudo fez ainda mais sentido.

“Lembro-me de todas as coisas


que eu pensei que eu queria ser
Tão desesperado para
encontrar uma maneira de sair do meu
mundo e, finalmente, respirar
Bem diante dos meus olhos eu
vi, meu coração veio à vida
Isso não é fácil, não é para ser
Toda história tem seu cicatrizes
Quando a dor cortá-lo
profundamente
Quando a noite o impedir de
dormir
Basta olhar e você vai ver
Que eu vou ser o seu remédio
Quando o mundo parecer tão
cruel
E se seu coração fizer você se
sentir como um tolo
Eu prometo que você vai ver
Que eu serei, eu serei o seu
remédio
Ohh

Nenhum rio é muito largo ou


muito profundo para mim para nadar
até você
Venha quando eu vou ser o
abrigo que não deixe a chuva passar
Seu amor, é a minha verdade
E eu sempre vou te amar
te amo, te amo
Quando a dor cortá-lo
profundamente
Quando a noite o impedir de
dormir
Basta olhar e você vai ver
Que eu vou ser o seu remédio
Quando o mundo parecer tão
cruel
E se seu coração fizer você se
sentir como um tolo
Eu prometo que você vai ver
Que eu serei, eu serei o seu
remédio
Ohh, ohh

Quando a dor cortá-lo


profundamente
Quando a noite o impedir de
dormir
Basta olhar e você vai ver
eu serei, eu serei
Quando o mundo parecer tão
cruel
E se seu coração fizer você se
sentir como um tolo
Eu prometo que você vai ver
Que eu serei, eu serei, eu serei
Seu remédio”
(Remedy - Adele)
Como se nossos corações
estivessem na voz de meu irmão, e
quando ele termina a música Felipe
entrega Victória para mim. Sinto suas
mãos geladas e lágrimas grossas descem
por sua face.
— Eu te amo. — sussurro contra
seus cabelos e beijo sua testa.
A cerimônia se inicia e passo ela
toda olhando em direção a Vic.
Simplesmente, não consigo desfocar da
mulher que tira meu chão.
Ela parece a mesma menina pela
qual me apaixonei, e quando ela começa
a dizer seus votos, tive novamente a
certeza, de que ela será a mulher pela
qual eu me apaixonarei todos os dias.
— Eu já lhe disse uma vez que
jamais seria tão romântica quanto você.
— sorri em meio as lágrimas. — Mas
quando senti que podia te perder, resolvi
deixar eternizado meus sentimentos por
você, assim como você fez muitas
vezes... Em tinta e papel.
A olho sem entender e Dani lhe
entrega um envelope, Victória o abre e
de lá tira uma... Uma carta.


Querido Caleb,
Amor não é um sentimento
difícil de se sentir, mas sim difícil de
controlar. Houve momentos em minha
vida que indaguei a mim mesma "o que
é amar alguém?" e infelizmente não
obtive resposta alguma.
Porém, quando pela primeira
vez pude olhar para você, sem passado,
sem mentiras, sem máscaras... Vi o
homem que de fato é e foi naquele
momento que obtive a resposta para
minha pergunta.
Amar alguém vai além de se
apaixonar ao primeiro olhar, ao
primeiro toque ou primeiro beijo... Em
nosso caso, foi muito além do que se
possa imaginar.
Eu não o amei pelo belo azul
dos seus olhos, eu passei a amar a
sinceridade que existe neles. Eu não o
amei por ser o homem mais lindo que
já vi, eu passei a te amar pelo coração
imenso que tem eu seu peito... O mesmo
peito que salvou minha vida, que
salvou a vida de nosso Miguel.
Como pude um dia olhar pra
você e não sentir que o certo era estar
em seus braços?
Como pude um dia não querer
dormir ao seu lado e acordar com seu
corpo em volta do meu?
Como pude não amá-lo antes?
E foi com você que descobri que
o amor não está relacionado ao tempo
e sim ao momento certo. E quando o
nosso momento certo chegou, foi que vi
meu mundo perder o foco, perder o
discernimento... Pois você é tempestade
Caleb! Você e sua fúria misturada a
romantismo me tiram os sorrisos e as
lágrimas mais sinceros e
principalmente, meu fôlego.
E é por você que eu respiro, é
por você que quero viver cada dia
mais... Porque amar é necessidade, e
você é minha necessidade eterna.
A qualquer tempo
sempre meu
sempre nosso
sempre o homem que amo
Pra sempre sua, Vic"
Epílogo

Victória

Um ano depois

— Quem é o meninão do papai?


— Caleb pergunta e balança Miguel no
colo.
Assisto a cena de longe, vendo-o
interagir com tanto carinho com nosso
filho. São por volta das duas da manhã,
e Miguel nos acordou chorando
novamente. Caleb prontamente levantou
e veio até ele, mas sabemos que o que
Miguel quer, ele não pode proporcionar.
— O “meninão do papai”
prefere a mamãe. — pego nosso filho de
seu colo e ele me olha emburrado. —
Oi, anjinho.
Miguel mostra os grandes olhos
azuis, a mistura perfeita dos meus e de
Caleb. Os cabelos enormes e negros já
despontam e me lembro das vezes em
que Caleb insiste em fazer vários
penteados em nosso filho. Isso
geralmente acontece no banho, as fotos
que tiramos com certeza constrangerão
Miguel algum dia.
— Até eu prefiro a “mamãe” se
for por isso. — Caleb diz, assim que
coloco Miguel para mamar no peito.
— Não seja idiota!
— Ei. — ele levanta as mãos em
sinal de rendição. — Não posso negar
que é lindo ver isso.
— Caleb! — o olho indignada.
Ele sorri de lado e vem até mim.
Ajoelha-se do lado da poltrona que
estou sentada e passa as mãos de leve
pelos cabelos de nosso filho.
— Eu acho lindo ver você em
seu papel de mãe. — o olho
emocionada. — Claro, eu já a vi agir
assim antes com Luna. Mas reviver
esses momentos, estando loucamente
apaixonado por você, faz tudo ser ainda
melhor.
— Como consegue ser tão bom
com as palavras? — pergunto e ele
apenas sorri.
— Você me faz querer ser o meu
melhor. — ele toca meu rosto. — Nada
faria sentido se não tivesse vocês.
Ele então tira algo do bolso
traseiro de sua calça de linho. O que ele
está fazendo?
— Feliz um ano de casados,
minha rainha. — ele me mostra uma
chave.
— O que ela abre? — pergunto
sem entender, e ao mesmo tempo
assustada por ele estar comemorando
nosso dia.
— Surpresa. — diz convencido
e eu reviro os olhos.
— Tão misterioso, senhor
Soares. — digo e Miguel resmunga em
meu colo.
Tiro-o do meu peito e o faço
arrotar. Quando noto, ele já dorme
serenamente. Ajeito-me e coloco-o em
seu berço.
Escoro-me no cercado e o
analiso por completo. A cara do pai.
— Eu lhe dou um presente de um
ano de casados e você simplesmente
ignora. — Caleb me puxa pela cintura.
— Terá de pagar por isso, senhora
Soares.
Rio de seu jeito e me viro para
ele.
— Ainda não sei o que essa
chave abre, portanto, ainda não ganhei
nada. — ele me olha desafiador e pego a
chave de suas mãos.
— Vou surpreende-la, minha
rainha.
— Você sempre o faz. — beijo
de leve seus lábios. — Feliz um ano,
bonitão.

***

Desço as escadas com Miguel no


colo e ele sorri alto das cosquinhas que
faço em sua barriga.
— Ma-a. — Miguel fala meio
enrolado e eu aperto suas bochechas
com gosto.
Mesmo tendo apenas 10 meses,
ele já arrisca alguns passos e sempre
resmunga algo.
Ouço barulhos altos vindo da
cozinha, e tenho certeza de que todos já
levantaram.
Assim que adentro a cozinha,
encontro Babi fazendo seu chá no fogão,
e Caleb tomando seu café, enquanto fala
amenidades com Felipe.
— Bom dia, família. — digo e
todos sorriem.
— Bom dia, minha rainha. —
Caleb diz e vem até mim. — E como vai
o meu garoto?
— Lipe — Miguel diz e todos o
olhamos assustados.
A sua primeira palavra correta.
— Acho que ele prefere o irmão.
— Lipe levanta e vem até Miguel, que
praticamente se joga em seu colo. — E
aí, maninho?
— Miguel tem apenas dez meses
e já é um traidor. — Caleb resmunga e
Babi gargalha alto.
— Não fale isso do nosso filho!
— ele me encara, se fazendo de
ofendido.
— Você devia estar
inconformada também, o carregou por
nove meses para ele sequer dizer seu
nome e...
— Não seja bobo, pai. — Babi
vem até mim e me dá um beijo no rosto.
— Bom dia, mamãe.
Como se tivesse um estalo, Lipe
para de brincar com Miguel em seu colo
e também vem até mim.
— Bom dia, mamãe. — ele beija
meu rosto e logo se senta com Miguel.
Essa é a parte de meus dias, que
me faz sentir completa. E me faz lembrar
de quando ouvi pela primeira vez, cada
um dos dois, me chamar de mãe.
Sento-me a mesa e Caleb
continua em pé emburrado.
— Vai amassar seu terno. —
digo e ele bufa, mas por fim acaba
cedendo.
O café da manhã passa rápido.
Babi conta animada sobre seu curso e
Lipe comenta um pouco sobre como vão
seus estudos. Ele está tendo aulas
particulares de manhã em casa, para que
possa avançar nas séries e fazer sua
faculdade, e a tarde, mesmo que Caleb
tenha tentado não leva-lo, ele insiste em
querer passar na Advocacia, que agora
recebe o nome de Advocacia Soares.
Assim que todos terminamos de
comer, Babi vai para a faculdade e a
professora de Lipe chega. Caleb enrola
um pouco, pois havia perdido seus
óculos em nosso quarto, mas logo está
pronto em seu terno sob medida e pega
sua pasta para sair.
— Preciso de você pronta ás
cinco. — diz determinado e beija meus
lábios.
Sem me dar tempo para resposta,
ele sai do quarto e vai para o trabalho.
Fico atônita e ao mesmo tempo perdida.
O que ele está aprontando?
As horas passam rapidamente, e
quando percebo já são 16 horas. Peço
para a babá de Miguel, o olhar um
pouco e corro para me arrumar no
quarto. Não que demorasse muito para
estar pronta, mas não teria muito o que
fazer em apenas uma hora.
Quando ouço o som da
campainha, assusto-me. Praticamente
ninguém a usa, pois os seguranças só
deixam entrar as pessoas de nossa
família, ou comunicam quem quer que
seja antes.
Desço as escadas rapidamente e
encontro Flora brincando com Miguel.
Ela é uma senhora amável, que sempre
cuida de meu filho com carinho. Não
podia ter escolhido uma babá melhor.
A campainha soa novamente e
resolvo então ligar para Caleb. Algo
está errado.
— Sabia que ligaria.
— Como assim? — pergunto.
— Abra a porta, minha rainha.
— diz e desliga.
Mesmo contrariada, vou em
direção a porta e abro. Encontro Caleb
encostado em uma das colunas da
entrada e com a cabeça baixa.
— Boa noite? — zombo.
— Vim convidar a mulher da
minha vida para um encontro. — diz
sedutor e vem até mim.
Ele tira uma das mãos das costas
e me entrega um buquê de rosas azuis.
— Caleb... — fico encantada.
Ele sorri de lado e o analiso. Ele
veste uma simples calça jeans e uma
camisa de mangas três quartos preta.
Simples e completamente sedutor.
— Esperando uma resposta. —
diz e chega ainda mais próximo de mim.
— Está linda.
— Você não está nada mal,
bonitão. — sorrio e enlaço seu pescoço.
— Eu aceito sair com você, senhor
Soares.
— Eu sabia. — diz convencido,
e sem me deixar retrucar, me beija com
vontade. — Flora ficará com Miguel e
nossos filhos.
— Uma noite de namorados,
bonitão?
— Uma noite apenas nossa. —
diz e morde minha orelha. — Vamos,
minha rainha.

***

Caleb estaciona o carro em


frente ao restaurante de seu primo.
Durante o trajeto, ele se mantém
misterioso e não diz nada a respeito da
chave que me deu na noite passada.
— Estou curiosa. — digo assim
que ele abre minha porta.
— Logo vai saber.
Entramos no restaurante e ele me
leva até uma mesa mais afastada. Ele
puxa minha cadeira e sorrio de seu
cavalheirismo.
— Encantada. — brinco e ele
sorri, sentando-se a minha frente.
— Com fome? — pergunta.
— Quero saber qual é minha
surpresa. — tiro do bolso a chave que
ele havia me dado e coloco em cima da
mesa.
— Não vou conseguir te enrolar
com comida, não é? — sorri.
— Não hoje. — ele assente.
Fico encarando-o e ele então
olha para o lado. Pedro aparece com
uma caixa nas mãos e entrega pra ele.
— Não sei o que esse babaca
fez para me convencer a guardar isso. —
gargalho e Caleb revira os olhos. —
Parabéns aos dois. — diz e sai
rapidamente.
— Uma caixa? — pergunto
curiosa.
— Pode abrir. — diz e entrega
pra mim.
— Tão fácil assim? — indago
desconfiada.
— Não faço o tipo difícil. —
brinca. — Abre.
— Ok.
Pego a chave e coloco na
fechadura da caixinha preta. Abro-a com
cuidado e Caleb me encara em
expectativa. Ele parece nervoso.
Quando vejo o conteúdo dentro,
meu coração falha uma batida.
— Caleb... — suspiro, pegando
as passagens em minhas mãos.
— Eu sei o quanto você quer
isso. — diz sorrindo. — Eu quero viver
isso junto a você.
— Mas como faremos isso? —
pergunto encarando todos os destinos já
demarcados. — Japão?
— Austrália, França, Canadá...
Todos os lugares do mundo, você e eu
amor. — pega minhas mãos e leva até
seus lábios. — Você me disse que o seu
maior sonho sempre foi conhecer o
mundo.
— Miguel ainda é pequeno...
— Se olhar com atenção, as
viagens só se iniciam quando Miguel
tiver dez anos... Podemos conhecer o
mundo aos poucos... Ir a França em um
mês, voltar para casa, ver nossa família
e depois ir para o Japão... Podemos
tudo, Vic.
— Eu não sei nem o que dizer.
— digo emocionada. — Eu nunca
esperei que...
— Estou aqui para fazer seus
sonhos se tornarem realidade, minha
rainha. — seus olhos estão marejados.
— E estarei ao seu lado, a cada
realização deles.
— Eu te amo. — digo e me
levanto. Sem me importar com os outros
clientes, sento-me no colo dele e o
beijo. — Você é o meu maior sonho!
— E você é o meu mundo, minha
rainha.
Nesse momento, volto há um ano
atrás. Quando ele leu seus votos e
conseguiu embargar ainda mais meu ser.
Quando tive novamente a certeza, de que
Caleb Soares é o amor de minha vida.

“Os grandes amores nos deixam


sem fôlego. Falta oxigênio, coragem,
vontade... E sobra covardia. E tudo ao
que se pode recorrer é a covardia de
seu ser.
Houve momentos em que
cheguei a pensar que o amor, por si só,
veio para quebrar o meu ser. Destruir
qualquer resquício de vida que me
restava. Mas ao olhar para os olhos
azuis dela, acompanhar sua respiração
lenta e contínua, adivinhar o que ela
vai querer no café da manhã do dia
seguinte... Isso faz tudo valer a pena.
E por mais que as más línguas
julguem o amor como corajoso, eu
assumo meu amor covarde. E é esse
tipo de amor que acredito, que dura
para sempre.

Pra sempre seu, C”


Fim
A mulher
que amei
Trilogia Soares – Livro
II
Sinopse

Castiel Soares ao contrário do que


muitos pensam sempre foi o mais centrado e
obediente dos irmãos. Cometeu erros como
qualquer ser humano e alguns deles
atormentavam seu sono... Até conhecê-la.
Danielle Campos sofreu uma grande
perda no passado que transformou sua vida
completamente. E mesmo com a dor que sentia
nunca deixou nenhum sentimento ruim a
corroer... Até conhecê-lo.
Ele pensou que ela seria sua salvação.
Ela quer de todas as formas sua
destruição.
Um sentimento arrebatador entre a linha
tênue do amor e do ódio.
Qual falará mais alto?
Parte I
“O meu grande amor não foi
escolhido, assim como o da maioria. Ele veio
sem pedir passagem e muito menos me deu
escolha. Ouvi uma vez que os grandes
amores são covardes, e o meu caso não foge
a essa regra.”

- Danielle Campos
Prólogo

Danielle

No futuro

Lágrimas grossas rolam pelo


meu rosto. O olhar gélido e ao mesmo
tempo magoado de Castiel me persegue,
não importa para onde eu corra.
Encosto-me na beirada da grande pia do
banheiro e desabo.
Deixo-me quebrar.
Não foi ele!
— Por que, Annie? — pergunto,
encarando o espelho.
Sei que as respostas não virão,
sei que não há como entender nada
disso. Mas eu não consigo acreditar.
Não dá.
Sem mais forças, deixo meu
corpo desabar no chão frio do banheiro
do hospital. Levo as mãos à cabeça e
choro. Tudo o que me neguei chorar
quando perdi minha irmã um dia.
Mas ao invés de lembranças
sobre ela me atormentarem, o que vem
em minha mente, são os piores
momentos ao lado de Castiel. Os quais,
eu o humilhei, o julguei, o machuquei...
Ele não se afastou, ele continuou
ali... Por que?
Porque ele realmente me ama,
como sempre disse. Ele não ficou
comigo por pena ou por culpa, ficou por
amor. E é tarde demais para enxergar
isso.
Encosto a cabeça no azulejo frio
e limpo o rosto de qualquer jeito. Meu
corpo paralisa por alguns instantes,
tentando absorver tudo. Busco em
minhas memórias algum deslize de
minha irmã, qualquer indício... Mas não
há nada. Ela nunca sequer o citou.
— Não consigo entender. —
digo para o vazio.
Encaro meus dedos e começo a
divagar sobre todos meus erros. Sobre
todos os momentos felizes que perdi,
por ter sido tão rudemente enganada. E
assim, perder Castiel.
Seu olhar há minutos atrás,
deixou claro que não tinha volta. Que se
insistíssemos nisso, voltaríamos a ter
mais três anos de tristeza. Mas eu não
consigo aceitar.
Lembro dos dias felizes, dos
sorrisos ao seu lado, de quando o
conheci... Eu sempre soube que era ele.
E sempre será.
Sempre pensei que Castiel
Soares fosse a minha maldição nessa
vida, mas pelo contrário, ele se tornou a
minha salvação.
Capítulo 1

Danielle

No presente

Acordo assustada com o som de


uma voz me chamando. Miro meus olhos
para cima e encontro um dos seguranças
da casa, me encarando um pouco sem
jeito.
— Algum problema? —
pergunto preocupada.
— Desculpe acordá-la, senhorita
Campos. — diz formalmente. — É que o
irmão do senhor Soares está na porta, e
ainda ninguém abriu.
— Mas por que Chris não
entrou? — pergunto confusa. — Tudo
bem, estou indo lá. Obrigada.
O segurança assente e dá passos
para longe de mim. Ajeito meus cabelos,
que devem estar parecendo um ninho
devido ao modo como dormi nessa rede
no jardim. Pego o livro que acabou me
acompanhando em meu sono e entro na
casa.
Ouço o soar da campainha e bufo
sozinha, enquanto me encaminho até o
causador do som. O que será que deu
em Chris hoje?
Passo pela cozinha e vejo Vic
sentada na bancada, com um papel em
mãos. Noto que há lágrimas em seus
olhos, mas que ela desajeitadamente,
tenta disfarçar.
— Me desculpe a demora, Vic.
Acabei apagando na rede do jardim e só
acordei quando um dos seguranças
praticamente me jogou dela. —
justifico-me e ela me encara zombeteira.
Ok, exagerei!
— Não sei porque está se
desculpando. — zomba. — Já disse que
não é a governanta dessa casa, você
trabalha fora há tempos Dani, não
precisa ficar...
— É o mínimo que posso fazer
por ainda atormentar você e Caleb. — a
corto. — Porém, com o dinheiro que
estou guardando, logo vou conseguir
comprar um apartamento e...
— Você sabe muito bem que
nunca atrapalhou nada, aliás precisamos
conversar. — diz e suspira fundo. — Eu
acabei de saber que... — a campainha
soa novamente.
— Um minuto! — grito e corro
em direção a sala.
Já com o verbo na ponta da
língua, para irritar Christopher por essa
besteira de apertar a campainha, abro a
porta de uma vez.
Os olhos verdes do homem a
minha frente são um enigma para mim. O
queixo quadrado com a barba por fazer,
e os cabelos negros bem aparados
despontam por sua testa. Ele leva a mão
ao queixo e passa dois dedos por ali,
abrindo um sorrio cínico, que me faz
queimar por dentro.
— Quem é você? — pergunto
assustada.
— O amor da sua vida, quem
sabe? — zomba e minha expressão para
ele ganha outro foco. Babaca!
— Quem é você? — insisto.
— Castiel Soares, ao seu dispor.
— faz uma reverência e sem que eu
possa evitar, pega minha mão direita e a
beija. Sinto meu coração bater
freneticamente e então puxo minha mão
rapidamente. — E você, loira?
— Que original! — bufo.
— Posso chamá-la de feiticeira.
— continua me encarando
profundamente.
Seu rosto me é familiar, e só
agora me lembro do que o segurança
disse.
“O irmão do senhor Soares está
na porta...”
— Como entrou aqui? —
pergunto, e dou um passo para trás da
porta.
— Sou parte dessa família
também. — diz e seu semblante muda
por completo.
— Nunca me disseram nada... —
respiro fundo e dou dois passos para
trás. Fechando a porta em seguida, na
cara dele.
Disco pelo interfone para a
segurança e eles me asseguram que o
homem parado a minha porta é um dos
irmãos de Caleb...
Quem diabos é Castiel Soares?
Vou em direção a cozinha e
encontro Vic no mesmo lugar. Ela me
encara com as sobrancelhas arqueadas.
Pareço tão mal assim?
— Pela sua cara, alguém não
muito bonito está aí. — brinca, porém a
encaro brava. — Quem está aí?
— O irmão de Caleb. — digo, e
sem conseguir evitar retorço o rosto.
Ok, não engoli esse cara.
—O que Chris fez para odiá-lo
tanto assim e não o deixar entrar? —
pergunta, obviamente não entendendo
minha expressão.
— Não é Chris. — explico. — É
um tal de Castiel.
O rosto de Victória se torna
pálido no mesmo instante.
— O que? — praticamente grita.
Ela o conhece?
— Não entendi muito bem, nunca
ouvi falar nele. Porém, um dos
seguranças me assegurou que ele
mostrou a identidade e como Caleb
deixou livre a entrada dos irmãos...
— Vamos lá! — bufa e se
levanta, passando por mim. Assim, a
sigo. — Dani! — diz de repente. —
Fique longe dele, ok?
— Ok, mamãe. — zombo, sem
entender.
Ela então abre a porta.
Os olhos verdes praticamente se
prendem em mim, e eu reviro os olhos.
Mesmo sentindo minhas mãos gélidas,
não consigo entender que droga de efeito
esse cara tem sobre mim. Ele então,
sorri cinicamente e pisca em minha
direção.
Idiota!
— O que quer aqui, Castiel? —
Vic pergunta.
A encaro desconfiada. Ela
realmente o conhece.
— Por que essa agressividade
morena? Meu irmão não está fazendo o
serviço direito, estou por aqui agora
caso...
O encaro perplexa e sinto um
raiva descomunal. Ele dá em cima de
todo mundo?
— Direto ao ponto, Castiel! —
agradeço a Vic mentalmente por cortá-
lo.
Não sei porque, mas o modo que
ele fala com ela, me incomoda
profundamente.
— Bom, vim fazer uma visitinha
ao meu querido e amado irmão mais
novo. Ele está? — ele pergunta.
Os dois continuam a conversar e
eu apenas presto atenção no homem a
minha frente. Seus traços são fortes
como os de Caleb, ambos, muito
parecidos com o pai. Mas os olhos de
Castiel são diferentes, completamente.
Em poucos minutos ele se
despede e praticamente corre pra fora
da casa.
— Ele é mesmo irmão de Caleb?
— pergunto e Vic assente. — Ele é um
idiota. — constato.
Victória vai em direção a um dos
seguranças e eu apenas observo de
longe.
— Onde está indo? — pergunto,
ao ver que ela pede um táxi.
Ela apenas manda beijos e
desaparece pelos portões.
Por não entender muito do que
está havendo, corro para dentro de casa
e abro meu notebook. Procuro o nome
“Castiel Soares” , mas aparecem
pouquíssimas informações. Fotos antigas
de quando ele era mais novo, em um
evento da empresa dos pais. Ao menos
descubro sua idade, 42 anos.
Apenas sete anos mais velho...
Foco, Danielle!
Caleb está ao lado dele em uma
foto, onde os dois sorriem
amigavelmente. Como eu nunca vi isso
antes? Isso que dá não ser ligada no
mundo virtual.
Pesquiso mais um pouco, mas
não encontro nada de concreto. Não sei
por que, mas Castiel despertou um
interesse em mim, como algo a ser
desvendado. Mas sinto também, que
algo por aqui, está prestes a mudar.
Capítulo 2

Castiel

Ligo para Isaac e ele me informa


a localização de Caleb. Já havia um
tempo que tínhamos começado a rastrear
o celular de meu irmão, tudo isso pela
sua própria segurança.
Depois de vinte anos vindo ao
Brasil escondido de meus irmãos,
mentindo para todos sobre meu
paradeiro, poder estar em casa
novamente é como o céu e o inferno ao
mesmo tempo. Não sei como vou
encarar meu irmão e lhe contar sobre o
que descobri, mal sei como ele vai
reagir ao descobrir sobre o passado de
nossos pais. Mas dessa vez, ele merece
saber.
Quando finalmente estaciono na
frente do prédio, pago o taxista e respiro
fundo antes de sair do carro. O diferente
clima me atinge, os dias nublados de
Londres me fizeram desacostumar com o
calor do Rio.
Disco o número de Isaac, que me
atende no mesmo instante.
— O encontrou? — pergunta.
— Têm seguranças na recepção,
estão disfarçados. — digo.
— Eles já estão avisados sobre
você, e já falei com o porteiro para
liberar sua entrada. Quarto 402, quarto
andar.
— Ok, obrigado amigo. —
desfaço a ligação.
Passo pelos seguranças e me
encaminho até o elevador. Assim que as
portas se fecham, um filme passa por
minha cabeça. Só consigo pensar em Jô,
a mulher que praticamente foi minha mãe
quando ainda era jovem, e em seu estado
atual. Vê-la em uma cama de hospital,
parte meu coração.
O elevador para e as portas se
abrem. Dou passos incertos até o quarto
de meu irmão e tento me concentrar no
que dizer.
Oi, não temos a mesma mãe. Ah,
e nosso irmão pode estar correndo
perigo, pois está se relacionando com a
filha da minha mãe biológica. A qual,
suspeito ser a culpada pela falência de
nossa família anos atrás.
Droga!
Respiro fundo e toco a
campainha de uma vez.
Assim que a porta se abre, noto a
raiva no rosto de meu irmão. Eu queria
poder explicar a ele tudo o que houve no
passado, fora o que estou desconfiado
agora, mas seu olhar frio me deixa sem
fala.
Sorrio cinicamente pra ele, para
tentar quebrar o clima, porém ele fecha
os olhos subitamente. Antes que eu
possa processar algo, sinto meu corpo
sendo levantado e meu irmão bate
comigo na parede.
— O que faz aqui? — pergunta
com raiva.
— Olá irmãozinho, quanto tempo
não? — pergunto indignado.
Que recepção calorosa!
— Sem brincadeiras Castiel, o
que faz aqui? E como me encontrou
aqui?
— Se me soltar, será mais fácil
de lhe dizer. — digo frustrado, mas meu
irmão continua me segurando.
Tenho duas opções, posso entrar
em um embate com ele ou simplesmente
tentar levar as coisas na paz. E pelo
olhar raivoso de meu irmão, opto pela
segunda opção.
— Caleb, me solte! Não sei que
bicho te mordeu, mas eu preciso
conversar com você. — digo alto,
porém ele parece ainda desconfiado a
meu respeito. — Ok, eu sei que não
confia em mim, mas é sobre Luna...
— Não fale dela! — grita e
segura meu pescoço com força.
Tento afastá-lo, mas meu
consciente não deixa. Ok, eu não vou
machucar meu irmão. Sua raiva com
certeza vem de algum lugar, e pela cara
de Victória quando fui a sua casa, tem a
ver com ela.
Levanto meu olhar para o lado e
me espanto ao encontrá-la vindo do
elevador. Não sei se nesse momento sua
presença é algo bom ou ruim.
— Olhe só, quem veio participar
da festa. — digo e Caleb afrouxa um
pouco da pressão em meu pescoço.
— O que faz aqui, Victória? —
ele pergunta, finalmente me soltando.
Levo as mãos a meu pescoço e
tento respirar devagar. Ok, meu irmão é
forte.
— Queria saber o que fez
Castiel voltar de Londres. — Victória
diz, e só assim volto a realidade.
— Responda logo o que quer
Castiel, ou eu mesmo te coloco no
próximo voo pro Alasca. — Caleb
praticamente rosna.
A tensão entre os dois é notável,
e não consigo não sorrir da cena. Mas
assim que noto os punhos fechados de
meu irmão me arrependo.
Ele então, me acerta no rosto.
Merda!
De onde ele tira tanta raiva e
força? Eu havia me esquecido de como
ele é explosivo e sequer pensa nesses
momentos.
— Por Deus, Caleb, não faça
isso. É isso que ele quer. — Victória
intervém e eu agradeço por isso.
Ok, vou ter de atuar na frente
dela. Pois não sei se meu irmão vai
querer que ela saiba de tudo por mim,
sendo que nem eu ainda consigo
discernir tudo que descobri.
Hora do show!
— Ah então agora você defende
o maridinho querida cunhada, sabe tudo
o que ele esconde ou quer que eu conte?
— pergunto e no mesmo instante me
arrependo.
Mas preciso fazer isso, ela ainda
não pode saber sobre tudo. Tomara que
eu seja realmente um bom ator, como na
época de colégio.
— Eu apenas sei que você é um
ser humano miserável que teve coragem
de querer matar a própria filha! — grita
com raiva e tenta vir pra cima de mim.
Suas palavras me atingem em
cheio, tenho vontade de gritar o
contrário, mas ainda não tenho certeza
de nada. E nada justifica ter abandonado
Annie naquela época, pois eu não tinha
ideia disso antes.
Respiro fundo e começo a bater
palmas, assim digo:
— Nossa, que lindos, o casal
perfeito! Mas finalmente chegamos ao
ponto que eu queria.
— Qual? — Caleb grita,
enquanto segura a esposa pela cintura.
— Luna. — solto o ar, pois
nunca sequer pensei em ter que dizer
isso a meu irmão.
— O que quer com nossa filha?
— pergunta gritando.
— Minha filha. — respondo e
tento manter a expressão fria.
— Ficou louco? — Caleb
pergunta e vem pra cima de mim.
— Não irmãozinho, apenas
voltei para pegar o que é meu.
O clima fica ainda mais tenso e
meu irmão começa a me bater sem parar.
Quero revidar mas sei não devo, sei que
ele está agindo assim pois realmente
acredita que sou capaz de alegar algum
tipo de paternidade por Luna. Mas eu
jamais farei isso, ainda mais porque fugi
disso o tempo todo.
E hoje, ela é filha de Caleb e
Victória.
— Caleb! Para! Para! —
Victória grita, mas de nada adianta.
Meu irmão ao mesmo tempo que
me pune por minhas palavras, está
descontando sua raiva por algo.
Sei disso, pois apenas consigo
controlar minhas explosões descontando
minha raiva em alguma outra coisa
depois, e essa coisa geralmente é um
saco de pancadas.
Quando Caleb finalmente para,
ele me joga contra a parede e grita:
— Que fique bem claro. Fique
longe da minha filha!
Abro um sorriso, pois mesmo
estando praticamente desfigurado por
ele, não consigo me manter sério nesse
momento. Olho para Caleb como quem
diz “sei que não sou o único problema”.
Como se entendesse meu olhar,
ele soca com força a parede ao lado do
meu rosto. Arregalo os olhos por
perceber o quão afetado ele está.
Merda!
— Ouviu bem? — pergunta e
entra no quarto, sem sequer esperar uma
resposta minha.
Levo as mãos a meu rosto e pego
o celular no bolso. Meu reflexo é
horrível, mas acho que mereço essa
surra, por todas as porcarias que disse.
Victória me encara por alguns
instantes, abre a boca algumas vezes,
mas logo entra no quarto de Caleb. A
passos largos vou em direção ao
elevador e tento organizar um pouco
minha situação diante do espelho.
Assim que saio do hotel, peço
um táxi e me encaminho para meu
apartamento. Ligo para Isaac e informo
que ainda não consegui conversar com
Caleb, pois Victória apareceu. Ele fica
furioso mas entende que não podemos
envolve-la nisso.
Encaro meu celular e tento não
olhar novamente no documento que
tenho salvo, porém não consigo. Nele
consta tudo sobre Luna Soares, até
mesmo seu tipo sanguíneo, o que toda
vez que leio, tento não acreditar ser real.
— Merda! — exclamo. — Pode
por favor, voltar duas quadras? — peço
ao taxista que assente.
Assim que ele para o carro em
frente à casa de Caleb, tomo coragem de
seguir em frente. Penso em ligar para
Isaac para liberar minha entrada, mas os
seguranças pedem minha identidade e
confirmam com ele no mesmo instante.
— Obrigado. — digo ao
segurança a minha frente, e ele meneia a
cabeça.
A passos incertos, entro na
imponente mansão e tento me lembrar de
onde fica o escritório. Com certeza é lá
que Caleb guarda os registros de Luna.
Subo as escadas com cuidado,
pois sei que eles não moram sozinhos, e
assim, os olhos verdes ou azuis da
mulher que me abordou mais cedo vem
em minha mente.
— Ei, o que faz aqui? —
paraliso e me viro no mesmo instante.
A dona dos meus pensamentos
me encara feito uma leoa. Ou ela me
odeia ou também está afetada.
— Meu Deus! — exclama
assustada.
— Estou tão mal assim? —
pergunto e abro um sorriso pra ela.
— Está péssimo. — diz e pega
minha mão. Sinto meu corpo estremecer
e ela solta um suspiro fundo.
Ok, acho que ambos estamos
afetados.
— O que foi? — pergunto
enquanto ela me puxa até um sofá.
— Sente aqui, vou pegar o kit de
primeiro socorros.
— Não precisa se incomodar...
— Não sei o que veio fazer aqui,
mas não vai sair enquanto não estiver ao
menos com esses ferimentos limpos. —
toca de leve meu olho. — Por que não
foi a um hospital? Pode ser algo grave
e...
— Me avaliei e percebi que não
é tão sério assim.
— É médico por um acaso? —
pergunta zombando e sai no mesmo
instante.
Ela volta em poucos minutos e
deposita a caixinha de primeiro
socorros ao meu lado.
— Sou. — digo e ela me encara
sem entender, enquanto pega uma gaze
do kit.
— Han?
— Sou médico. — seu semblante
é impagável.
Ela abre a boca pra dizer algo
mas não sai nada, apenas fico
observando-a, enquanto cuida de meus
ferimentos.
— O que veio fazer aqui?
Victória não me pareceu muito feliz ao
te ver, aliás ela foi atrás de você...
— Bom, digamos que o encontro
com Caleb não foi tão agradável. —
brinco e ela me encara estática.
— Ele que te bateu? — ela
arregala os olhos. — Sempre imaginei
que ele fosse forte mas nem tanto.
— Eu não o enfrentei. —
esclareço. — É complicado.
— Imagino. — diz e finalmente
sorri ao terminar seu trabalho. —
Pronto.
— Obrigado. — digo já me
levantando.
— Disponha.
Ficamos nos encarando por
alguns segundos e fico sem reação,
tentando desvendar a cor de seus olhos e
entender o que estou sentindo por essa
mulher. Nenhuma mulher conseguiu estar
sob minha pele antes, e um simples
toque dessa me fez estremecer.
— Posso tentar algo?
— O que? — pergunta
desconfiada.
— Me dê sua mão. — peço e ela
estende com cautela. Assim que
entrelaço nossos dedos, sinto meu
coração bater mais forte e ela me encara
assustada. — Me diz que não estou
pirando sozinho.
— Não entendo do que está
falando, eu... — ela tira a mão. — O que
veio fazer aqui?
Pisco tentando entender sua
reação, que mais que comprova o que
desconfio. Há algo entre nós dois.
— Vim ver se Isaac está por
aqui, já que não o encontrei na casa
dele. — minto.
— Você não é muito bom
mentindo. — diz e me encara séria.
— É um assunto que não posso
compartilhar, feiticeira. — ela cora e eu
sorrio.
— Por que me chama assim? —
pergunta e eu me viro, a passos largos
saio da mansão.
Sem conseguir me concentrar em
mais nada, a não ser os olhos dela, tenho
a certeza de que ela me enfeitiçou. E
algo dentro de mim mudou assim que ela
abriu aquela porta.
Capítulo 3

Danielle

Divago sozinha sobre o que deu


em minha cabeça de cuidar de um
homem que sequer conheço, e que pior,
Victória me pediu pra ficar longe.
Sento-me no sofá e passo a mão
esquerda sobre a direita, onde ele
entrelaçou nossos dedos. Meu corpo
ainda queima pelo toque dele e não sei a
razão disso.
Suas palavras me acertaram em
cheio e ainda não sei dizer se de modo
bom ou ruim. Pois de alguma maneira
estranha, ele também sentiu algo.
O silêncio na casa é notável, sei
que nem Caleb e Victória ainda
apareceram. Mas espero que ao menos
estejam se estendendo, eles acham que
não ouvi suas brigas, mas escutei boa
parte. Pra mim já era óbvio o sentimento
que Caleb tem por ela, mas não faço
ideia do que Vic fará a respeito.
Mesmo com preguiça, tomo
coragem e me levanto. Vou até meu
quarto no andar de cima e pego meu
caderno de desenhos. Encaro o papel
branco por alguns segundos, mas assim
que pego o lápis, começo a esboçar
algo. Quando termino, apenas consigo
encarar o sorriso cínico de Castiel, e é
impossível não sorrir também.
Deito-me na cama, abraçada ao
desenho e acabo mergulhando em
pensamentos. Agradeço por estar de
férias e não ter de acordar cedo amanhã.
Enquanto encaro a folha, imagino o quão
Castiel se parece com os vários
modelos que vejo diariamente na
revista.
Ser uma das designers de capa
não é algo fácil, mas é gratificante,
ainda mais por ter conseguido entrar
numa das melhores revistas do país. Ele
seria o modelo perfeito que estão
procurando para fazer par com a modelo
do momento.
Fecho os olhos com força ao
imaginá-lo sem camisa abraçado a ela e
um sentimento ruim se apodera de mim.
O que está acontecendo comigo,
afinal?
E com o desenho dele agarrado a
mim, acabo adormecendo.

***

Acordo com os raios solares


entrando pela janela e tento me levantar.
Meu corpo parece ter sido destroçado e
nem sei por que, já que não faço
praticamente nada há alguns dias.
Assim que estico as mãos,
esbarro em um papel amassado e
encontro o sorriso de Castiel.
Isso parece perseguição!
A passos lentos vou até o
banheiro e tomo uma ducha fria. Assim
que me seco, coloco uma roupa de
ginástica e pego meu celular com os
fones. Nada melhor que correr para
acordar de verdade.
Comprimento os seguranças e
vou em direção a garagem. Por mais que
pudesse correr pelo condomínio, sempre
preferi correr no calçadão da praia, e
como ainda são apenas 8 da manhã, o
sol não está tão forte.
Pego meu carro e logo estou de
frente pro mar. Aqueço assistindo esse
espetáculo da natureza, onde as ondas
quebram e ao mesmo tempo parecem se
abraçar. Talvez eu seja doida por pensar
isso ou como Victória diz, uma poeta.
Assim que já estou pronta,
coloco meus fones de ouvido e ligo a
música. Escolho Beyoncé para ser
minha primeira companheira do dia e
começo minha corrida.
No meio do caminho já estou
praticamente viajando junto a música e
sem querer esbarro numa pedra no chão.
Paro no mesmo instante para evitar cair,
mesmo assim acabo tropeçando.
— Droga. — murmuro quando
bato de frente com alguém.
Posso não tê-lo visto, mas é
como se meu corpo o reconhecesse.
— Acho que seus truques são
mais fortes do que imaginei, feiticeira.
Travo ao ouvir sua voz e me
afasto no mesmo instante. Assim que
levanto meu olhar, encontro Castiel me
olhando zombeteiro, e com o sorriso
cínico estampando no rosto.
— Por que insiste em me chamar
assim? — pergunto, tentando não focar
meu olhar em seu peitoral desnudo.
— Talvez porque ainda não sabe
seu nome. — responde tranquilamente.
— Duvido muito. — rebato.
— Bom, confesso que pedi para
Isaac informações sobre você, mas seu
namoradinho não quis me passar...
— O que? Namorado? Isaac? —
gargalho alto. — Nem nessa vida, nem
nunca.
— Pensei que... — noto seu
semblante envergonhado.
— Não é porque ele não quis
falar sobre mim que é meu namorado,
ele apenas preservou minha imagem. —
digo enfática. — Danielle.
— O que? — pergunta confuso.
— Meu nome é Danielle. — ele
sorri de lado. — Já sabe que sei seu
nome, não é? Então me poupe disso.
Ele faz uma careta e eu mesma
não entendo o porquê de estar sendo
rude. Mas é melhor me manter longe
dele de qualquer forma.
— Se fosse um cara qualquer
poderia dizer que está me dispensando.
— ele toca o queixo e sorri.
— Mas deixa eu adivinhar, não é
um cara qualquer? — zombo.
— Até que sou. — dá de
ombros, me deixando confusa. — Mas
não tem porque me dispensar já que meu
objetivo aqui não é dar em cima de
você.
— Eu... — gaguejo pela
vergonha.
Óbvio que um cara como ele não
está interessado em mim. De onde tirei
isso?
— Nunca disse que você deu em
cima de mim. — rebato.
Ele sorri e então noto que
estamos nos desafiando.
— Bom, já que não há interesses
a mais aqui, não se importa de tomar
uma água de coco comigo, não é? —
pergunta.
— Ok, não tenho nada pra fazer
mesmo.
Vou caminhando ao seu lado, até
que ele encontra um vendedor, tento
impedi-lo de pagar minha água, mas ele
simplesmente me corta.
— Eu ia pagar. — digo
indignada.
— Bom, você paga o sorvete
depois, que tal?
— Sorvete? — pergunto e o
encaro.
Caminhamos lado a lado, mas
evito ao máximo buscar seus olhos,
querendo ou não, eles me confundem.
— O que achou? Que iríamos
parar na água de coco? — brinca. —
Preciso conhecer mais da garota que
Isaac tanto protege, e pelo jeito, minha
cunhada e irmão também.
— Eles não me protegem. —
tomo um pouco da água. — Eles se
importam, é diferente.
— Qual é a sensação de quando
alguém se importa com você? —
pergunta e noto sua voz vacilar.
— Ela sempre está lá, não
importa o que aconteça, mesmo nas suas
piores horas. — digo e ele apenas
assente. — Está tudo bem?
— Só tenho medo de estar
perdendo uma das poucas pessoas que
se importam comigo, não sei lidar com
isso.
— Isso o quê? — pergunto e
faço-o parar de andar.
— Com a morte. — responde e
desvia o olhar.
Num ato de coragem toco seu
rosto, ele me encara e abre um sorriso
fraco.
— Alguém da sua família está
doente? — pergunto preocupada. — Sei
que não nos conhecemos, e sua família
nunca o mencionou, mas por favor me
diga...
— Você conhece Jô, não é? —
pergunta e é como se levasse um tiro no
peito.
— Ela não vai morrer. — digo
nervosa e saio andando.
Não sei como diabos ele a
conhece e muito menos porque está
falando da morte dela. Ela vai melhorar,
ela vai!
— Danielle. — ele me chama,
porém ignoro.
Dou passos mais largos e vou
diretamente pra areia. Sem me importar
com a roupa, sento-me e levo as mãos à
cabeça.
Sinto um corpo rodear o meu e
uma paz descomunal se faz presente.
Não sei porque permito seu abraço, mas
nada parece mais certo do que isso
agora.
— Me desculpe. — diz baixinho.
— Sei que não me conhece, mas saiba
que Jô é como uma mãe pra mim.
— Pra mim também. — deixo
algumas lágrimas caírem.
— Ei. — ele levanta meu queixo
e tira os braços de meu redor. Fazendo-
me sentir a falta de seu calor no mesmo
instante.
Pisco sem entender seu olhar
profundo e seus cabelos negros
despencam sobre a testa.
— Você é linda. — ele acaricia
minha bochecha. — Linda demais.
— Cas...
— Me desculpe. — ele se
levanta de repente e fico estática.
Ele ia me beijar?
Levanto-me e fico à sua frente.
Seu olhar parece culpado e sinto meu
coração acelerar.
— Por que se desculpou? —
pergunto e ele olha pra qualquer
direção, menos pra mim.
— Eu sou um homem mais velho,
tenho uma vida praticamente
consolidada, Danielle. Eu nunca me
senti tão afetado por alguém como por
você. E merda... Eu sequer sei sua
idade, e sei que meus demônios são
ruins demais...
— Sou sete anos mais nova que
você. — digo e sorrio ao me lembrar
das notícias a respeito dele, foram
poucas, mas sua idade constava. — E
sobre demônios, todos nós temos.
— Como sabe minha idade? —
pergunta e finalmente me encara. —
Google?
Tenho certeza de que estou
vermelha, mas já não posso voltar atrás.
Apenas assinto em resposta e ele meneia
a cabeça.
— Acho melhor irmos. — diz de
repente e pega seu celular.
— Ok. — digo e ele se vira pra
ir.
Lembro-me então de todas as
vezes que assisti filmes, séries e li
livros onde o cara tem medo do que
sente. E pelo que vejo, Castiel sente
algo por mim, mesmo que nós dois não
saibamos identificar o que é.
Dane-se, vou arriscar pelo
menos uma vez.
— Você não está pirando
sozinho. — digo e ele se vira no mesmo
instante.
— Repete isso. — chega bem
próximo a mim.
Mesmo que nossas alturas
impeçam nossos rostos de estarem
próximos, ele se inclina em minha
direção. Não consigo dizer nada e pela
primeira vez em meus 35 anos, estou
praticamente implorando por um beijo.
E melhor, quero realmente que aconteça.
— Repete. — ele pede
novamente e toca meu rosto.
— Não. — digo e ele se retrai.
— Há algo melhor que palavras.
— O que? — seu rosto parece
tenso.
— Isso.
O puxo pelo pescoço e nossos
lábios se chocam, como se ele já
estivesse esperando o beijo, toca com
cuidado meus lábios. Uma de suas mãos
desce para minha cintura e ele me traz
ainda mais pra perto de seu corpo.
Quando eu puxo seu lábio
inferior com os dentes, ouço seu suspiro
e ele invade minha boca com sua língua.
Sinto que meu coração vai explodir,
pois nunca havia me sentido assim antes.
Quando nos falta ar, Castiel me
dá um beijo casto e apenas separa
nossos lábios.
— Estou morrendo por isso
desde que te vi. — confessa baixinho.
— Quer passar o dia comigo? —
pergunta subitamente.
— Pensei que não estivesse
dando em cima de mim. — retruco e ele
abre um sorriso cínico.
— E não estou, quero conhecer
você e entender o que estou sentindo. —
diz e entrelaça nossos dedos. — Passe o
dia comigo.
Toco seu rosto de leve e lhe dou
um selinho.
— Só peço uma coisa a você. —
digo sem jeito e ele assente. — Não
minta pra mim.
— Por que acha que posso estar
mentindo? — pergunta franzindo a testa.
— O problema é que não acho, e
assim é muito mais fácil enganar. —
confesso com medo.
— Serei apenas eu pra você,
feiticeira. — suspira fundo. — Sei que
está tudo muito intenso, mas não consigo
me afastar.
— Então não se afaste.
E dessa vez ele me beija, e não
consigo não sorrir durante. Pois mesmo
que tudo me diga para me afastar, há
algo em Castiel que me atrai demais.
— Começamos pelo sorvete? —
pergunta ao se afastar e entrelaça nossos
dedos.
— Bom, acho que sim. — dou de
ombros.
— Sabe que irá pagar e que não
sou um homem pequeno. — ele brinca.
— Não estourando meu cartão
de crédito está tudo certo. — digo e ele
sorri.
Mas no fundo, sei que minha
conta bancária é o de menos.
Capítulo 4

Castiel

Seus dedos estão entrelaçados


aos meus e não sei ao certo de onde veio
essa vontade de ter contato. Não posso
mentir e dizer que não me envolvi com
várias mulheres ao decorrer dos anos,
isso aconteceu várias vezes. Mas nunca
cogitei algo a mais com nenhuma delas.
Não como eu imagino com Danielle.
— Perdido em pensamentos? —
pergunta e abre um sorriso.
Estamos andando a algum tempo
já, enquanto cada um toma seu sorvete.
— Me deu vontade de entrar
nesse mar. — disfarço.
— Por que não entra?
— Não trouxe nada adequado,
nenhuma toalha e tal.
— Entendo. — ela dá de
ombros. — Esse sotaque é inglês, não é?
— pergunta, me surpreendendo.
— Sim, como sabe?
— Bom, na empresa que
trabalho, algumas vezes vou a eventos e
converso com estrangeiros. Além dos
filmes que assisto legendados. — sorri
lindamente.
— Trabalha com o quê? —
pergunto.
— Bom, sou a designer das
capas das revistas da Toda demais*.
— A revista dos Gonçalves? —
pergunto surpreso.
— Sim. — diz simplesmente.
— Eu não acompanho a revista,
mas conheci o dono há alguns anos. Sei
o quão grande ela é no mercado.
Parabéns!
— Obrigada. — fica sem jeito.
— Falta pouco para poder comprar meu
apartamento e deixar Vic e Caleb em
paz.
— Por que diz isso? — estranho
o seu tom de voz receoso.
— Sei lá, é que sinto que está na
hora de ter meu lugar. Sinto que
atrapalho os dois e... Não sei ao certo.
— confessa.
— Ei. — forço-a me encarar. —
Eles te adoram, e saiba que é muito.
— Como sabe disso? —
pergunta desconfiada.
— Bom, como já deve ter
percebido, não tenho uma relação íntima
com minha família, principalmente com
Caleb. Tivemos problemas no passado,
que me fizeram ir embora do país. E
como já percebeu pelo sotaque, eu moro
na Inglaterra, Londres pra ser mais
exato. — os olhos dela brilham. — Eu
nunca deixei de acompanhar o que
acontece por aqui, pois eu me importo
com todos. Isaac e Joaquim sempre me
ajudaram com isso, além de Jô, claro.
Mas nenhum deles citou você, ao menos
não disseram seu nome em nenhuma
ocasião, mesmo que eu seja da
“família”. Isaac sequer quis falar
quando perguntei sobre você ontem, fez
mil e uma ameaças, aliás.
— Isaac é um brutamontes. —
sorri fraco. — Jô sempre me chamou de
pequenina, na realidade. — diz e noto
seus olhos marejados. — Quero tanto
que ela saia daquele hospital.
— Eu também. Por isso não
aguentei ficar longe, não mais. Ela é
como uma mãe para mim. — digo, e me
lembro de minha infância.
Dói muito essa lembrança. Como
se percebesse, Danielle toca meu rosto e
acaricia.
— Se um dia quiser me contar,
tudo bem. Cada um tem seus demônios,
não é? E ainda é cedo para dizer algo.
Os olhos dela me confundem
tanto, de uma maneira que faz querer
segurá-la e não soltar mais. E eu preciso
estender nosso dia, ao menos algum
tempo a mais ao lado dela.
— Passa essa noite comigo? —
pergunto e ela se afasta no mesmo
instante.
— O que acha que eu sou? —
praticamente grita. — Eu não sou uma
qualquer que...
Merda, ela entendeu errado!
— Ei, calma! Estou pedindo no
sentido literal, vamos jantar, sair...
— Isso é coisa de namorado. —
ela me encara inquisitiva.
— Podemos ainda não ter nada,
mas eu quero estar com você. — digo
convicto.
— Você é um homem decidido.
— ela mantém o semblante fechado. —
Nos conhecemos a menos de um dia e
quer que eu...
— Me conheça.
— Não estamos fazendo isso? —
pergunta, e vejo que está irredutível.
— Tudo bem. — suspiro
derrotado. — Desculpe por minha falta
de tato, e minha ansiedade. Vou levá-la
pra casa assim que terminar seu sorvete.
— Ok. — diz simplesmente.
O que eu imaginava? Que ela
iria comigo até meu apartamento e
ficaríamos juntos abraçados de frente ao
sofá?
Merda!
Não sei de onde veio essa
vontade repentina de ter tudo isso.
Minha melhor amiga, Alice, havia me
contado das várias vezes que isso
ocorreu em seus namoros, porém isso
nunca me instigou... Até agora.
Mas é como Danielle falou, não
somos namorados. Sequer somos algo.
Não sei onde estou com a cabeça pra
convidá-la assim.
O silêncio paira sobre nós e não
consigo dizer nada. Apenas escuto os
barulhos ao nosso redor e termino meu
sorvete. Danielle parece perdida em
pensamentos e sequer me olha.
Ouço o toque do meu celular e
atendo prontamente.
— Soares.
— Oi, meu filho. — sua voz me
acalma. — Pedi o celular emprestado
para uma enfermeira que está louca
pra te ver novamente.
— Eu sou irresistível, sei disso.
— ouço sua risada fraca. — Mas me
diga, está precisando de algo?
— Não, não. Apenas queria
falar com você, meu filho. — diz.
— Vou indo aí. E nem adianta
tentar me persuadir. — ouço sua
gargalhada fraca.
— Não quero te atrapalhar,
Castiel.
— Você nunca atrapalha. Eu te
amo, sabe disso.
— Eu também, meu filho.
— Até daqui a pouco. — digo e
ela se despede.
Jô sendo Jô!
Não consigo evitar sorrir por ela
ainda estar tão hiperativa quanto antes.
Mesmo com a idade avançada, e com as
várias doenças que a fizeram ir parar no
hospital, ela continua com a mesma luz.
Olho para o lado e Danielle me
encara com uma expressão de horror.
— Está tudo bem? — pergunto
confuso.
— Victória tinha razão sobre
você. — diz e sai andando.
— Danielle. — grito e corro
atrás dela.
Consigo alcançá-la e seguro seu
braço.
— Olha, sei que te chamar pra
passar a noite foi algo estúpido. Quer
dizer, nem nos conhecemos direito e...
— Me solte agora ou vou gritar.
— diz com raiva.
— Mas...
Ela se solta bruscamente de mim
e me encara com ainda mais raiva.
— Adeus, Castiel!
Ela então sai e fico pasmo com
sua reação.
O que aconteceu com ela?
Sem entender nada, acabo indo
na direção do carro que emprestei de
Isaac e saio dali. Eu ia convidá-la para
ir comigo ver Jô, mas pelo que parece
Danielle não me quer por perto.
Droga! Estraguei tudo!

Danielle

Estúpida! É isso que eu sou.


Babaca! Idiota! Cretino! É tudo
que ele é.
Como ele simplesmente me
convida pra "passar a noite" como se
fôssemos namorados, e minutos depois
diz que ama outra?
Mil vezes babaca!
Entro no meu carro e bato a
porta com força. Não me importo muito
com a sujeira que faço no banco ou com
o sorvete que simplesmente perdi por
estar nervosa demais para terminar de
tomar.
Mas por que diabos ele mexe
tanto assim comigo?
Babaca!
Tento colocar uma música pra
me animar, porém a playlist de meu pen
drive é a pior. Todas músicas melosas.
Suspiro fundo e praticamente
soco o som para que ele silencie. Penso
em ir pra casa, mas não consigo pensar
em outra coisa que não seja socar a cara
de Castiel. Merda!
Respira, Danielle! E foca no
trânsito a sua frente!
Dou voltas e mais voltas com o
carro, até que tomo coragem e vou pra
casa. Assim que chego a mansão, noto
que está silenciosa e já imagino que
Caleb e Victória não estão. Pelo menos,
Vic não deve estar, pois ela sempre
coloca música alta.
Tomo um banho relaxante e
resolvo me deitar um pouco logo após.
Ouço alguns barulhos do lado de fora do
quarto, os quais me despertam.
— Ei, bonitão!
Espera aí! Essa é a voz de
Victória. Quem diabos é esse "bonitão"?
A passos silenciosos, abro minha
porta com cuidado e olho pela fresta.
Espera aí, é Caleb que está saindo do
quarto dela...
Ela o chamou de bonitão? Isso
está muito confuso. Nunca os vi interagir
de tal forma, ou melhor, nunca os vi
interagir. Vejo-a sorrir pra ele. Ok, acho
que o sorvete não me fez bem.
Assim que os dois descem, tento
controlar minha vontade de beber algo,
mas não consigo. A passos incertos vou
até o andar debaixo, da escada consigo
vê-los brincando com as almofadas.
Pisco uma, duas, três vezes...
Mas é realmente isso que vejo.
Fico observando em silêncio,
mas quando Caleb a beija... Penso
rápido, melhor passar a noite fora. Seja
lá o que está acontecendo, não quero
atrapalhar. Sei que Caleb, mesmo
negando, a ama.
Pego meu celular no mesmo
instante e digito uma mensagem,
avisando que passarei a noite fora. Faço
uma pequena mala de roupas e desço as
escadas com cuidado. Os dois estão tão
absortos um no outro que sequer me
veem. Saio pelos fundos e finalmente
respiro aliviada quando estou fora de
casa.
Ufa! Não atrapalhei nada!
Peço para que nenhum dos
seguranças os avise que saí nesse
horário e entro em meu carro.
Assim que finalmente saio da
mansão, sorrio. Caleb está com Victória,
finalmente!
Estaciono o carro há poucos
metros da mansão e ligo para Isaac. Por
mais que saiba de alguns hotéis para
passar a noite, sei que ele tem um
apartamento que pode me emprestar só
por hoje.
— Fala, peste. — diz, assim que
atende.
— Ei, brutamontes, preciso de
sua ajuda.
— E quando não precisa? —
zomba.
— É sério, Isaac.
— Ok, fala.
— Sabe o apartamento que você
ia dar pra sua ex, mas no fim das
contas...
— Ok, sei. — me corta. — Não
vai dizer que resolveu aceitar minha
proposta e vai ficar com ele?
— Claro que não. — o corto
rapidamente.
Ele havia tentado me dar esse
apartamento várias vezes, porém não
aceitei em nenhuma delas. Eu tenho algo
de querer poder ter as coisas por mim
mesma. Eu não posso aceitar isso.
— O que é então? — pergunta.
— Posso passar hoje à noite lá?
— pergunto envergonhada.
— Claro, mas por que? —
pergunta, e sei que está desconfiado.
— Bom, aconteceram algumas
coisas e não quero atrapalhar Victória e
Caleb, não hoje.
— Ok, peste. Vou confiar em
você. — diz. — Vou pedir para um dos
seguranças levar minha chave pra
você. E, Dani?
— Sim?
— Não coloque fogo na
cozinha. — provoca.
— Te odeio! — digo e ele
gargalha, antes de desligar na minha
cara.
Brutamontes!
Sigo até o prédio e fico ao
menos feliz por chegar rápido. Assim
que abro a porta do carro, reconheço um
dos seguranças, pois ele usa o crachá
especial dos Morgan.
— A senhorita pode estacionar
na garagem privativa. — diz e me
entrega a chave.
— Obrigada. — digo e ele sai.
Adentro o imponente prédio e
fico ainda pasma com o luxo.
Cumprimento a todos na portaria e eles
sorriem em minha direção. Olho a chave
que o segurança me deu e noto que Isaac
fez questão de colar um papel com o
número do apartamento e o andar.
Ok, eu havia esquecido mesmo!
Entro no elevador com minha
pequena mala e quando vou tocar o
andar no painel, percebo que não tem a
opção. Encaro a chave novamente e só
assim noto o escrito em parênteses:
cobertura.
Então tá!
Quando as portas estão quase se
fechando, uma mão se coloca entre as
portas, fazendo-as abrir novamente.
Isso só pode ser brincadeira!
— Oi, feiticeira.
Capítulo 5

Castiel

Dirijo algum tempo até meu


prédio, mas o trânsito realmente não
ajuda. Mesmo estando sem camisa e um
pouco suado, o porteiro não se
incomoda de que eu use o elevador
comum. O que é bom, pois senão
demoraria mais.
Vejo que as portas do elevador
estão se fechando e praticamente corro
para impedir. Felizmente, consigo.
Abro um sorriso para quem quer
que seja que esteja ali dentro, mas me
surpreendo ao ver os olhos azuis/verdes
de Danielle. Ela faz uma careta e sei que
não gostou de me ver.
— Oi, feiticeira. — provoco.
Ela bufa baixinho e se encosta no
lado esquerdo do elevador. Reparo que
está com outras roupas e com os cabelos
molhados, e se for possível, ainda mais
linda.
— Os acasos de destino são
mesmo impressionantes, não? —
pergunto brincando, porém ela
simplesmente encara o chão.
Por que será que ela está me
tratando assim?
— Olha, eu realmente estou
perdido aqui. — digo frustrado e encaro
o painel do elevador, vou selecionar a
cobertura, mas vejo que já está. — O
apartamento de Isaac? — pergunto
enraivecido.
Esse prédio tem duas coberturas
e uma é dele, tenho certeza disso, pois
as escolhemos juntos. Não acredito que
ela mentiu e na verdade tem algo com
ele.
Se controla, Castiel!
Ela me beijou! Merda!
— Vai continuar muda? —
insisto. — Talvez deva ligar pro seu
namorado e dizer a ele que me beijou
mais cedo.
— Que namorado? — finalmente
diz algo. — Você que deveria ligar para
seu amor e contar, tão hipócrita.
— O que? — pergunto confuso.
— Qual é? — ela me encara com
raiva. — Está me cobrando algo, sendo
que declarou seu amor para outra na
minha frente e...
Paro de prestar atenção em suas
palavras no mesmo instante e começo a
rir. Ela acha que meu "te amo" mais
cedo foi para alguma namorada? Sério
isso? Rio ainda mais.
— E ainda tem a cara de pau de
rir. — o elevador para finalmente e ela
praticamente corre dele, levando sua
pequena mala. — Babaca!
— Você deveria ser um pouco
mais educada. E não sei porque está
com ciúmes, já que namora Isaac. —
seguro seu braço e a puxo pra mim.
— Me solte! — diz brava. — E
pare de insinuar que namoro Isaac.
— E o que veio fazer no
apartamento dele? — pergunto com
raiva.
— Eu só... Quer saber, não te
interessa! — tenta se soltar. — Me deixa
em paz!
Pelo que parece, ela realmente
não tem nada com ele. Ele teria me
contado, tenho certeza.
— Admita que está com ciúmes,
então. — instigo e a empurro contra a
parede do corredor.
— Castiel. — diz brava.
— Sou eu. — sorrio
ironicamente e continuo encarando-a.
— Eu não tenho ciúmes de você,
mal te conheço. — diz e tenta sair de
meu aperto, porém a impeço. — O que
quer?
Encaro sua face e noto que está
corada, seja por raiva e por toda tensão
que emana entre nós dois. Não consigo
mais raciocinar, eu a quero.
— Isso. — digo e a beijo.
Ela não resiste como pensei que
faria, se entrega completamente. Suas
mãos delicadas entram em meus cabelos
e subo seu corpo a minha cintura.
Não consigo raciocinar e ela
sequer me evita. Ela me quer, do mesmo
modo que a quero. Mas aos poucos vou
diminuindo a necessidade do beijo, não
posso fazê-la minha, não ainda. Não
enquanto ela realmente nem sabe quem
sou. Lhe dou um leve selinho e ainda em
meus braços ela me encara
envergonhada.
— Não tenho namorada. —
passo as mãos por seu rosto. — Estava
falando com Jô.
Seu semblante é impagável, ela
fica totalmente constrangida.
— Me desculpe. — diz sem
jeito.
— Só se me dizer o porquê de
estar com uma mala e estar vindo ao
apartamento de Isaac. — instigo.
— Bom, encontrei uma cena não
muito agradável de Vic e Caleb, e
resolvi dar espaço a eles. — diz e sorri.
— Como assim? — indago sem
entender.
— Os dois estavam namorando
no meio da sala de estar. — ela cora e
eu fico incrédulo.
— Não acredito. — admito.
— Nem eu, mas não iria
interferir. — sorri lindamente. — Eles
merecem ficar juntos.
— Concordo. — beijo de leve a
ponta de seu nariz. — Mas já que está
aqui, porque não fica comigo, no meu
apartamento.
— Castiel...
— Antes que pense pouco de
mim, apenas quero que vá comigo ver Jô
e que conversemos. — sorrio pra ela. —
Me deve isso por ter me abandonado
falando sozinho hoje cedo.
— Você é um aproveitador. —
diz e sai do meu colo. — Mas apenas
ficarei com você agora, vou dormir no
apartamento de Isaac.
— Não me oponho. — digo e
pego minha chave no bolso do short.
Claro que gostaria de tê-la em
meus braços, mas há tempo. E essa noite
pode ser apenas um começo pra nós.

Danielle

Assim que adentro sua cobertura,


sinto vontade de correr no mesmo
instante. É tudo realmente lindo.
— Vou tomar um banho, mas
pode bisbilhotar o que quiser. — ele
sorri e me dá um beijo casto.
— Ok.
Assim que ele some pelo
corredor, fico parada encarando sua
sala. Não consigo imaginá-lo decorando
isso.
Pego minha mala e vou andando
pelos cômodos. A cozinha é
simplesmente fantástica e fico
admirando a linda visão que ele tem, da
grande parede de vidro que mostra os
outros prédios.
Penso em ir pelo corredor, mas
me contenho. Aqui é o apartamento dele
e é preferível esperar aqui do que sair
por aí olhando tudo, mesmo que ele
tenha autorizado.
Sento-me no sofá e pego meu
celular. Encaro meu reflexo na câmera
frontal e me assusto. Estou horrível!
Cabelos bagunçados, boca inchada, pele
vermelha... Tento então me deixar
apresentável.
Fico alguns minutos nas redes
sociais, mas ao mesmo tempo me
pergunto em como Castiel tem esse
apartamento e Isaac sabe, sendo que o
próprio Caleb nunca disse nada sobre o
irmão. Ainda mais porque Castiel disse
que mora em Londres. Estranho!
— Não quis olhar por aí? —
Castiel adentra a sala e meu coração dá
pulos dentro do peito.
Ele está simplesmente lindo.
Numa simples calça jeans e uma
camiseta leve de verão, que se molda
perfeitamente em seu corpo.
— Eu... — limpo a garganta. —
Apenas estou no celular.
— Certo. — diz e se senta no
outro sofá. — Quer trocar de roupa para
irmos ver Jô ou já está pronta?
Encaro minhas roupas e sinto-me
diminuída por seu comentário. Será que
não estou bonita?
— Ei. — o encaro. — Você está
linda assim, apenas estou perguntando.
— Ok então. — digo sem jeito.
— Podemos ir se quiser.
— Pensei em comermos algo
antes, mas se o fizermos, perderemos o
horário de visitas. — assinto. — Babi
não vai estar lá hoje, não me pergunte
como sei sobre ela e tudo mais, por
favor. Não agora. Mas ela não me
conhece e espero que continue assim.
— Por que se esconde de sua
própria família? — pergunto intrigada.
— É uma longa história. — diz
pensativo. — Mas prometo te contar
tudo, apenas tenha paciência comigo.
Penso e repenso sobre minha
decisão, mas não consigo fugir dele. É
como se estivesse cravado em minha
pele. Lembro das palavras de minha
irmã já falecida: Você precisa dar
chance a felicidade.
Assim, estendo minha mão para
ele e o beijo com carinho. Sim, eu darei
uma chance a nós.
Capítulo 6

Castiel

— Posso falar com meu menino


a sós, pequenina? — Jô pede sorrindo e
Dani lhe dá um beijo na testa, saindo
longo em seguida do quarto.
Suspiro fundo com o cheiro de
Danielle que fica no ar e não consigo
conter o sorriso em meu rosto.
— Ei. — encaro Jô que aperta
de leve minha mão. — Fico tão feliz em
vê-lo sorrir assim, meu menino.
Balanço a cabeça negativamente
e sorrio pra ela.
— Estou apaixonado, Jô. —
admito e sinto como se algo dentro de
mim se tornasse leve.
Os olhos de Jô se enchem de
lágrimas e mesmo com a expressão
cansada, ela sorri emocionada.
— Não sabe como esperei pra
ver isso. — sorri amplamente. — Ainda
mais com uma menina de ouro feito ela.
— Eu percebi. — sorrio. —
Como está se sentindo hoje?
— Estou feliz como se fosse meu
último dia. — gargalha falsamente.
— Posso dizer que herdei meu
humor negro de você, né? — brinco e
beijo sua testa. — Quero você forte, pra
ir para Londres comigo.
— Quero ver todos vocês
felizes, meu menino. Quando descobri
que era infértil há muitos anos atrás,
nunca pensei que a vida me presentearia
com anjos como vocês. Você e seus
irmãos, Dani e Babi, são meus filhos de
coração.
— E você é minha mãe, sabe
disso, não é? — tento segurar as
lágrimas.
— Não me faz chorar, menino.
— ralha, me fazendo sorrir novamente.
Continuamos conversando por
alguns minutos e tento não mostrar o
desespero que habita em mim, por medo
de perdê-la. Josiane Oliveira, ou apenas
Jô, como a chamamos, realmente é
minha mãe. Foi ela quem me deu amor, o
amor que quando mais novo não tive de
meus pais.
Mesmo que há anos atrás tenha
me acertado com meus pais, Jô ocupa
um lugar insubstituível dentro de mim.
Por isso tive a coragem de reaparecer
depois de tantos anos me escondendo.
Por amor a essa mulher a minha frente.
Noto que Jô já boceja e olho a
hora em meu celular. Já são oito da noite
e o horário de visitas já se encerrou.
Felizmente arrisquei certo e Babi
apareceu apenas mais cedo, como Jô
havia me dito.
— Estou indo, mainha. — digo e
Jô me encara emocionada.
— Você nunca vai perder a
mania de me chamar assim? — finge
estar brava. — E você minha pequenina,
pare de espiar e entre.
Olho para trás e vejo que
Danielle está vermelha.
— Me dê um beijo e prometa
que vai cuidar do meu menino. — ela
fica ainda mais corada e eu finjo estar
sério, mas por dentro estou ansioso por
sua resposta.
— Eu prometo, Jô.
E só assim, sorrio de novo.

Danielle

Sinto-me estranha e minha


curiosidade está aguçada por tudo que vi
acontecer entre Castiel e Jô. Os dois
realmente interagem entre si como mãe e
filho, e só consigo imaginar o que
Leandra pensa disso.
— Você está em qualquer outro
mundo, menos neste.
— Apenas com sono. — minto.
— Se você diz. — encaro
Castiel e ele sorri, sem insistir no
assunto.
O silêncio paira sobre nós e por
mais estranho que pareça, não é algo
ruim. Me traz calma e paz, de um jeito
que nunca senti.
Quando finalmente chegamos a
cobertura, fico sem graça sobre o fazer.
Não porque ele possa me forçar a algo,
mas porque parece errado querer que
ele tenha iniciativa. Eu me sinto atraída
por ele, mas meu interior grita que não é
apenas isso.
E quando seus olhos verdes me
encaram, como se zombassem de mim,
sinto-me encorajada. Eu o quero, pelo
menos um pouco dele hoje.
— Está me olhando estranho. —
diz e caminha até a porta de seu
apartamento. — Como se eu fosse sua
presa.
— Como dizem por aí, um dia da
caça e outro do caçador. — ele então
para no mesmo instante e vira para me
olhar.
— E em que dia estamos? —
pergunta e me puxa para dentro do
apartamento com ele.
— Ei, eu não disse que...
— Acho que é o dia da caça
então. — assim me beija, empurrando-
me contra a porta do apartamento.
Suas mãos descem um pouco
mais e ele me levanta em seu colo.
— Não precisamos fazer nada,
só me deixe tê-la ao meu lado hoje. —
diz e beija com leveza meu pescoço.
— Cas, eu não sei se...
— É estranho gostar de você me
chamando por esse apelido. — sorrio
sem entender. — Praticamente ninguém
me chama.
— Combina com você. —
esclareço.
— Mas então, vai ficar? —
pergunta e noto sua ansiedade.
— Diz que não há segundas
intenções, correto? — ele assente. —
Mas eu estou em seu colo e...
— Eu a quero perto de mim, e
para isso não precisamos fazer amor. —
me dá um beijo casto. — Não agora.
— E seria isso que faríamos? —
pergunto confusa.
As poucas colegas de trabalho
que tenho, sempre me disseram que
homens preferem usar outros termos
para rotular o sexo. Fazer amor, segundo
elas sobre os homens, dá esperanças a
mulher que ele transa. E isso parece ser
algo ruim pra eles... Até mesmo pelos
livros que já li, em sua maioria, os
homens não dizem logo de cara isso.
— Por que o espanto? — sorri
cinicamente e praticamente me derreto.
— Faria amor com você a noite toda e
boa parte da manhã também.
— Cas. — tento conter meu
sorriso.
— Sou eu. — toco seu rosto e
respiro fundo.
— Me diz uma coisa primeiro.
— ele assente. — Gosta de café?
Ele me encara atordoado e seu
semblante parece confuso. Ok, é um
teste bobo sobre compatibilidade.
— Adoro, por que?
Praticamente pulo de seu colo e
balanço a cabeça negativamente.
— Então temos um impasse,
você não poderá fazer café amanhã cedo
se eu ficar. — declaro.
— Posso saber o porquê minha
senhora? — debocha.
— Porque eu odeio o gosto e
principalmente o cheiro.
Ele então sorri e me puxa pela
cintura.
— Sem café. — diz próximo a
minha boca.
— Então eu fico.
— Não irá se arrepender.
— Sei que não.
E dessa vez, eu o beijo.
As mãos dele devagar se
apropriaram de meu corpo, mas sem
avançar muito além. Castiel fez o que
prometeu e não me forçou a nada. E por
mais que eu o quisesse, o nervosismo
me impediu. Tinha medo de fazer algo
errado ou simplesmente travar.
Mas agora, olhando-o dormir
serenamente ao meu lado, não consigo
encontrar desculpas pra isso.
— Devo ser um belo espécime
dormindo. — diz me assustando.
— Deve ter ouvido muito isso e
ficou convencido. — retruco.
Parte de mim odeia imaginá-lo
com outras mulheres, mas sei que não
tem como culpá-lo por isso.
— Bom, na verdade não. — abre
os olhos e me encara. — Nunca dormi
com ninguém.
— O que? — pergunto
espantada. — Você está brincando
comigo.
— Claro que não. — me puxa
para debaixo do seu corpo. — Nunca
apenas dormi com alguém.
— Ah sim, "apenas". — zombo e
ele sorri em meu pescoço.
— Bom dia, linda. — beija meus
lábios. — Já vi que tem um péssimo
humor de manhã.
— Na verdade não. — bufo. —
Ok, só um pouco.
— Alice tinha razão. — diz de
repente e sinto meu coração acelerar.
Quem é essa?
— Do que está falando? —
pergunto já furiosa.
— Que um dia encontraria você.
— ele sorri.
— Estou perdida aqui. —
declaro, tentando me controlar.
Droga de ciúmes sem
fundamento!
— Que um dia encontraria a
mulher que iria abaixar todas as minhas
barreiras. — o encaro sem jeito. — Eu
sinto muito por isso.
— Por que?
Agora sim, me perdi mais.
— Por estar sendo tudo rápido
demais. Mas eu preciso que saiba de
uma coisa, não consigo controlar o que
sinto.
— Não controle. — ele fecha os
olhos e quando os abre, encontro
novamente seu brilho.
— Então sente-se. — diz e sai
de cima de mim.
— Por que? — pergunto curiosa.
— Me dê um segundo. — ele vai
até o seu closet e volta com um violão
em mãos.
— Que droga, não há tomates e
repolhos aqui. — brinco e ele sorri
cinicamente.
— Você que pediu para que eu
não controlasse, lembre-se disso.
— Ok, meu senhor. — brinco.
Ele então senta na ponta da cama
e apoia o violado em uma perna. E logo
dali, começa a sair um som impecável.

"Aproveite o dia ou morra


lamentando o tempo perdido
Está vazio e frio sem você aqui,
tantas pessoas sofrendo.
Eu vejo minha visão queimando,
eu sinto minhas memórias
desaparecendo com o tempo
Mas sou tão jovem para me
preocupar, essas ruas em que viajamos
sofrerão do mesmo passado perdido
Eu te encontrei aqui, então, por
favor, fique mais um tempo
Eu posso continuar com você
por perto
Eu te entrego minha vida
mortal, mas isto será para sempre?
Eu faria qualquer coisa por um
sorriso, segurando sua mão até nosso
tempo acabar
Nós dois sabemos que o dia irá
chegar, mas eu não quero te deixar
Nova vida substituindo todos
nós, mudando esta fábula que vivemos
Não precisamos ficar muito
aqui, então para onde iremos?
Irá você seguir esta jornada
esta noite, me seguir além das paredes
da morte?
Mas garota, e se não houver
vida eterna?
Experimentando a vida,
perguntas de nossa existência aqui, não
quero morrer só sem você aqui
Por favor, diga-me que o que
temos é real
Então, e se eu nunca mais te
abraçar, ou beijar seus lábios?
Então eu não quero te deixar e
as memórias que nós dois temos
Eu imploro não me deixe”
Seu olhar encontra o meu é só
então percebo que estou chorando. Ele
está dizendo estas palavras diretamente
pra mim, e felizmente, sei inglês
perfeitamente. Sua voz é tão linda, com
uma rouquidão única e afinação
perfeitas. Meu Deus! Que homem é
esse?
“Aproveite o dia ou morra
lamentando o tempo perdido
Está vazio e frio sem você aqui,
tantas pessoas sofrendo.
Experimentando a vida,
perguntas de nossa existência aqui, não
quero morrer só sem você aqui
Por favor, diga-me que o que
temos é real
Eu caminho aqui sozinho
Me afastando de você, sem
chance de te levar de volta para casa.”
(Seize the day - Avenged
Sevenfold)

Ele então para e me encara sem


jeito. Pela primeira vez o vejo
completamente sem graça.
— Isso é real. — digo e ele
arregala os olhos.
— Você entendeu toda a música?
— pergunta, parecendo surpreso.
— Sim, eu falo inglês
fluentemente.
— Droga, eu não queria te
constranger e...
— Já disse que é real. — vou até
ele e toco seu rosto. — Apenas
aproveite o dia comigo, Cas.
— Eu e você? — pergunta
próximo ao meu rosto.
— Só eu e você.
Pelo brilho em seu olhar, eu já
sei. "Eu e você" é o nosso eu te amo
mascarado.
E sim, eu me apaixonei por
Castiel Soares.

Capítulo 7

Danielle
— Por que ir de táxi se posso te
levar? — Castiel insiste e eu apenas
nego pegando minha bolsa.
Acabei deixando minha mala
com roupas no apartamento de Isaac,
caso tenha que fugir de mais uma cena
constrangedora de Caleb e Vic. Talvez
até aceite a oferta de Isaac e fique por
um tempo no apartamento, acho que está
mais do que na hora de sair da casa de
Caleb.
— Estou falando com você
“senhorita nada de café”. — reviro os
olhos de seu deboche. — Vem aqui.
Como dizer a ele que ainda não
quero que ninguém nos veja juntos? E
pior, será que estamos juntos?
Viro-me pra ele, que está
encostado na ilha da cozinha e pior, sem
camisa. Esse homem quer acabar com o
resto de sanidade que tenho.
— O que é “senhor eu tenho um
carro e posso levá-la”? — ele sorri
cinicamente e me puxa de encontro ao
seu corpo.
— Tecnicamente o carro é de
Isaac, mas isso não importa. — diz e me
beija castamente. — Vá de táxi, mas terá
que jantar comigo hoje à noite.
— Cas...
Seus olhos verdes não deixam
brechas sobre o que quer, sei que não
vai aceitar um “não” como resposta. E
droga! Eu quero mesmo encontrá-lo
novamente.
— Ok. — digo e ele sorri
convencido. — Tire esse sorrisinho
idiota do rosto, senão não vou...
— Você gosta dos meus sorrisos,
eu sei. — dá de ombros.
— Como sabe? — pergunto e ele
sorri ainda mais. — Eu não devia ter
admitido em voz alta. — bufo sozinha.
— Ei! — pousa suas mãos em
minha cintura. — Toda vez que sorrio,
você leva uma mecha do cabelo atrás da
orelha e morde o lábio.
— E? — paro no mesmo instante
com a mão atrás da orelha.
Eu realmente faço isso?
— Bom, prefiro acreditar que é
uma mania boa. Que gosta dos sorrisos
cínicos que dou a você.
— Então sabe que são cínicos?
— indago já irritada e ele sorri ainda
mais. — Alice lhe disse isso também?
— pergunto e ele arregala os olhos.
— O que minha melhor amiga
tem a ver com meus sorrisos? —
pergunta e arqueia a sobrancelha.
— Espero que nada. — sou
sincera e ele encosta sua boca na minha.
Não sei porquê, mas desde que
ele disse o nome dela com tanto carinho,
algo dentro de mim se remexeu. Ciúmes
não!
— Temos além de uma feiticeira
aqui, uma leoa também? — zomba e eu
tento sair de seu aperto. — Ei, eu e
você, lembra?
Eu, você e sua melhor amiga?
Penso, mas não consigo abrir a boca pra
dizer nada. Ok, essa tal Alice me irritou
sem eu ao menos conhecê-la. Droga de
paixão.
— Ok. — tento me soltar e ele
não permite novamente. — Tenho que ir.
— Não entendi ainda porque não
pode passar o dia comigo.
— Tenho algumas coisas pra
fazer. — lembro-me de meus desenhos
ainda não acabados, e principalmente do
desenho que fiz dele.
— Não pode mesmo ficar? —
pergunta e tenciono dizer “sim”.
Mas sei que preciso pensar
sobre tudo, e quem sabe tirar algo de
Victória sobre Castiel. Ainda não
entendi ao certo o modo nada
hospitaleiro que Caleb o tratou,
principalmente porque o rosto de Castiel
ainda tem marcas.
— Nos vemos a noite, ok?
Mesmo contrariado, ele
finalmente me deixa ir. Mas não antes de
tirar todo meu fôlego na cozinha. Esse
homem é problema.
Quando finalmente chego em
casa, peço um benção e torço para não
encontrar Vic e Caleb em alguma
situação constrangedora na sala. Então
abro a porta da sala com cuidado e entro
a passos leves.
— Estou ouvindo seus passos.
— ouço a voz de Vic e estaco no lugar.
Tirando o susto que ela me deu, está
tudo certo.
Olho na direção de sua voz e
encontro-a sentada numa poltrona que
fica praticamente escondida entre a
escada e o grande sofá. Doida!
— Se escondendo na sua própria
casa? — pergunta e me olha com
deboche.
— Não enche, Vic. — já ando
em direção as escadas.
— Qual é, Dani? — ouço seus
passos atrás de mim. — Isso está com
cara de amor.
Droga!
— Não, eu não... — tento dizer
algo, mas minha língua parece travar.
Castiel e seus sorrisos idiotas!
— Quem é ele? — pergunta
curiosa e eu a encaro.
— Posso não falar nisso ainda?
— assente e fico aliviada.
Lembro-me da noite passada e
de parte dessa manhã. Castiel não
avançou nenhum sinal, ou fez algo que
não quisesse. Mas será que poderia me
segurar mais? Tudo bem, faz apenas
alguns dias que nos conhecemos.
Mas como saber qual é a hora
certa para se entregar? Esperei 35 anos
e ninguém mexeu comigo como ele faz.
Será que chegou a hora?
— É que não sei se gosto dele o
suficiente pra... — travo e Vic me
encara inquisitiva.
Ok, ela é minha melhor amiga.
Ela tem que me ajudar com isso.
— Como assim? — pergunta.
— O conheci há poucos dias e...
Nós nos beijamos, o clima esquentou e
eu fiquei com medo. — confesso de uma
vez.
— Mas você queria seguir em
frente?
— Sim. — sinto meu rosto
queimar. — Tenho medo de estar sendo
fácil demais e... É que eu nunca senti
isso na minha vida, Vic. Eu tenho 35
anos, já sou uma mulher, mas nunca fiz
sexo com ninguém. — confesso e ela
sorri.
— Bom, eu desconfiava disso.
— Eu não sei o que fazer. — me
sento num degrau e ela apenas me encara
por alguns segundos.
— Confia nele? — pergunta.
— Ele me passa algo que nunca
senti na vida. — dou de ombros e me
lembro da tranquilidade que ele me deu
a cada momento. — O jeito que sorri,
como me olha, me toca, me beija... O
modo como fala comigo. É totalmente
diferente.
— Sei bem como é. — assume e
vejo um brilho diferente em seu olhar.
Aposto que está pensando em
Caleb. Finalmente!
— E o que acha que devo fazer?
— pergunto.
— Siga seu coração, Dani. —
sorri sonhadora. — Às vezes, o amor,
simplesmente acontece. Não podemos
nos negar viver.
— Obrigada Vic, eu farei isso.
— digo e a abraço.
— Use proteção em. — diz e eu
bato em seu braço. Ridícula!
Então subo para o andar de cima
com vários pensamentos em minha
cabeça. Não faço ideia se devo me
entregar, mas sei que não demorará para
acontecer.

Castiel

Seu cheiro parece que está em


todos os lugares da casa. Esse
apartamento nunca teve tanta vida antes,
sequer me lembro do momento em que
gostei de estar aqui.
Deito-me novamente na cama e
inalo o seu cheiro em meu travesseiro.
Como ela pôde me ganhar tão fácil?
Ouço meu celular tocar e
espreguiço-me, olhando o visor.
— Ligações internacionais são
caras, madame. O que posso fazer por
você? — coloco meu inglês em prática.
— Você é tão estúpido. Ainda
me pergunto como te aguento. — Alice
diz brava e eu sorrio.
— Você não resiste a mim, eu
sei.
— Idiota. — diz e eu suspiro,
lembrando das várias vezes que Dani me
chamou assim.
Feiticeira linda!
— Eu ouvi mesmo um suspiro?
— gargalha. — Castiel Soares está...
— Completamente apaixonado.
Silêncio se faz do outro lado da
linha e eu só consigo imaginar Alice
caindo no chão dura com a surpresa.
— Ali? — pergunto e ouço um
risinho. — Você é previsível, senhorita
Calaway.
— E você acabou de me matar
de infarto, senhor Soares. — gargalho
com sua pronúncia de meu sobrenome.
— Pare de rir e me conte sobre ela.
— Bom, não sei nem por onde
começar.
— Pelo começo, oras. — sorrio
de sua ansiedade e começo a contar
sobre Dani.
Por volta de uma hora fico no
telefone com Alice, falando sobre Dani,
sobre o Rio... Sobre tudo o que ela sabe
sobre mim, o que ainda é bem pouco,
mesmo sendo umas das pessoas mais
próximas e a conhecendo desde a época
da faculdade, a qual fomos colegas.
Meus demônios ninguém conhece
ao certo, e nem teria porquê. Há coisas
que são feitas para serem enterradas,
mas infelizmente voltar ao Brasil me
traz lembranças as quais não posso
evitar. Lembranças sobre uma época em
que fui fraco e estúpido demais para ser
adulto. E que ao mesmo tempo, pode não
ser minha culpa.
Assim que termino de falar com
Alice, deixo o celular no quarto e vou
em direção ao escritório. Abro a pasta
que tem alguns documentos enviados por
Isaac e releio mais algumas vezes.
Encaro a ficha de Luna Soares, minha
filha... Quer dizer, minha sobrinha, e
tento entender como isso é possível.
Fecho a pasta novamente e tento
não remoer isso, pode ter erros nos
dados, já que faz muito tempo desde que
os laudos foram feitos. E isso não tira
minha culpa sobre a morte de Annie, a
mulher que abandonei grávida há anos
atrás.
E mesmo querendo esquecer meu
passado, é como se ele voltasse com
força em minha mente, a cada instante. E
apenas ao lado de Dani consegui dormir
bem, depois de anos com pesadelos.
Danielle me trouxe uma paz descomunal.
Que me faz esquecer meu passado por
alguns instantes e principalmente o que
houve com Annie.
Ao lembrar de nossa noite juntos
e como ela se encaixa perfeitamente a
mim, seja de qualquer forma, eu não
consigo não temer sua reação quando
contar tudo ela. Pois eu preciso contar,
preciso dizer que ela me tirou de minha
própria escuridão.
E eu devo a verdade a ela, só
espero que ela não me abandone após
isso.
Capítulo 8

Danielle

Encaro as mensagens de Castiel


em meu celular e sorrio sozinha.
Virando-me para o quadro que
finalmente terminei de pintar, vejo o seu
belo rosto sonolento, as expressões bem
marcadas e os cabelos negros rebeldes
caindo sobre sua testa.
Levanto-me e vou em direção ao
grande espelho do meu quarto. Encaro o
simples vestido preto longo que escolhi
e fico divagando se a fenda nas costas
não parece ousada demais, ou se não
estou simples demais. Os meus saltos
também pretos, com certeza me deixarão
próxima ao rosto dele, meus olhos estão
bem marcados em contraste com o
batom nude em minha boca. Ok, isso tem
que servir.
Ouço meu celular tocar e nem
preciso olhar no visor pra saber quem é.
— Estou te esperando.
— Mas ainda são... — encaro o
relógio do meu celular. Droga! — Perdi
a hora, estou saindo já.
— Sério? — pergunta e fico sem
entender. — Quer dizer, pensei que
tinha mudado de ideia e...
— Você é uma pessoa ansiosa.
— brinco, porém não ouço sua risada.
— Apenas nunca fiz isso antes,
confesso que estou nervoso.
— Como assim? — indago,
retocando um pouco de meu batom.
— Nunca tive um encontro
antes. — ouço seu sorriso. — Isso é
constrangedor, mas é a verdade.
— Bom, eu já tive alguns. —
faço uma careta ao me lembrar. —
Todos péssimos.
— Então minha missão de hoje
será te dar o melhor encontro possível.
— diz já com a voz relaxada. —
Preparei uma surpresa pra você.
— Agora estou curiosa. — olho-
me pela última vez no espelho.
Ok, estou pronta!
— Bom, estou agora há duas
quadras abaixo da casa de meu irmão.
— confessa e eu me espanto. — Ok, eu
não consegui ficar parado em meu
apartamento.
— Não iríamos jantar lá? —
pergunto.
— Mudança de planos.
— Ok, estou indo. — digo e
desligo.
Saio do quarto ainda encarando
meu celular e nem noto direito quando
Vic para a minha frente.
— Vai encontrá-lo hoje? —
pergunta, ao mesmo tempo que meu
celular vibra.

Venha logo, feiticeira!


Sorrio com a mensagem dele.
— Vou. — digo e suspiro fundo.
— Acho que sei o que fazer.
— Caso se sinta pressionada,
não faça nada, ok? — assinto e Vic me
olha sorrindo. — Ah, use camisinha! —
grita e sai correndo. Sem me dar tempo
de acertá-la com alguma coisa.
Ridícula mesmo!
Como notei que ela desce as
escadas e vai em direção a saída da
casa. Espero por alguns instantes e só
depois tomo meu caminho.
Assim, quando finalmente saio
de casa, respiro fundo e vou a passos
incertos até a saída.
Já na rua, ando devagar até as
quadras que Castiel havia indicado e
meu coração falha uma batida, quando o
vejo de longe. Encostado em um carro
preto, vestido com uma camisa azul
escura que destaca ainda mais seus
olhos verdes e uma calça jeans preta que
lhe dá um ar jovem. Completamente
lindo.
Aperto com força a bolsa em
minhas mãos e tento pensar em como
agir. Abro a boca pra dizer algo, mas o
olhar profundo dele me faz travar.
— Oi. — diz e me puxa a seu
encontro. — Boa noite, feiticeira.
— Oi. — encaro-o, dessa vez
sem precisar estar na ponta dos pés.
— Não sei se gosto desses
saltos. — diz e toca meu rosto.
— Por que?
— Posso envolve-la
completamente quando sua cabeça bate
praticamente no meu peito. — bato em
seu braço. — Ei, é a verdade.
— Convencido como sempre. —
ele sorri cinicamente.
Sem mais esperar, ele cobre
meus lábios com os seus e me beija
apaixonadamente. Suas mãos me
envolvem e sinto um arrepio correr meu
corpo.
— Estava morto de saudades. —
diz e sinto sua respiração em meu
pescoço, onde ele beija demoradamente.
— Vamos?
— Sim. — digo, ainda atordoada
com sua declaração.
Ele abre a porta do carro e entro,
enquanto ele dá a volta, tento arrumar
um pouco de meu rosto e parecer alguém
normal. Por que ele me deixa tão sem
ar?
Assim que ele se senta ao meu
lado, coloca o cinto e se vira pra mim.
— Pronta? — diz e deposita a
mão direita em minha coxa.
— Pra onde? — pergunto e ele
nega com a cabeça.
— Surpresa.
Fico ainda mais curiosa,
enquanto ele arranca com o carro e
segue pelas ruas do Rio.
O silêncio entre nós como
sempre parece algo natural, mas sinto
que preciso dizer algo a ele. Como o
que acontece normalmente nos primeiros
encontros, as pessoas se conhecem.
Ok que nós já não somos
completos desconhecidos, mas ainda
necessito saber mais.
— Cas.
— Sim. — diz e me olha
rapidamente.
— Me fala de você. — peço e
sinto meu rosto queimar.
Isso foi estranho.
— Bom. — suspira fundo. —
Vamos aos poucos, ok?
— Ok.
— Sabe que meu nome é Castiel
Soares e tenho 42 anos. Moro há vinte
anos em Londres e vim ao Brasil
esporadicamente nesse tempo.
— Por que nunca o conheci? —
pergunto e ele suspira pesadamente. —
Tudo bem, não precisa...
— Eu passei por problemas
quando mais novo, era imaturo e bom...
Acabei destruindo a forte relação que
tinha com meus irmãos, principalmente
Caleb. Prometo te contar com mais
detalhes após o jantar.
— Ok. — sorrio fraco, pois não
parece ser algo bom. — Como é sua
relação com seus pais?
— Bom, essa é uma história e
tanto. — sorri. — Há coisas no passado
de minha família que duvido que muitas
pessoas saibam, e eu descobri em um
momento muito doloroso para minha
mãe, Leandra.
— O modo como você e Jô
conversam é como se fossem realmente
mãe e filho. — digo e ele sorri.
— Ela quem cuidou de mim
quando criança, foi praticamente minha
mãe. — ele balança a cabeça. — Meus
pais tem certos problemas que não cabe
a mim te contar, mas resumindo, eles
nunca me trataram como seu filho até
que descobri uma verdade. Depois
disso, a relação entre nós mudou,
realmente nos tornamos uma família.
— Parece complicado. — digo
meio perdida.
— E é. — ele sorri. — Desculpe
não te dar detalhes, mas é que não é
apenas minha história.
— Eu entendo. — sorrio pelo
jeito doce como ele fala comigo. — E
como é Londres?
— Um sonho basicamente. —
sorri. — Lá que fiz minha vida, me
formei em medicina, onde fica minha
casa e os poucos amigos que tenho.
— Você é especializado em que?
— pergunto curiosa.
— Pediatria. — fico encantada.
— Amo as minhas crianças.
— Nunca me imaginei em uma
profissão assim. — confesso. — Sempre
fui ligada as artes e bom, biológicas não
são meu forte.
— Eu pesquisei e vi umas capas
da revista em que trabalha. — diz e me
assusto. — São sensacionais, parabéns.
— Obrigada. — digo sem graça.
No momento em que paramos em
um sinal vermelho, Castiel me dá um
beijo casto e eu sorrio.
— Eu amo meu trabalho, mas
ainda assim não é meu grande sonho. —
confesso.
— Como assim?
— Trabalhar com a alta
sociedade, ter de ir a eventos e todo
esse blá blá blá, não me agradam. —
dou de ombros. — Gosto de desenhar,
na realidade. Criar.
— Já criou muito? — pergunta.
— Bom, minha casa dos sonhos,
o vestido de casamento, paisagens que
sequer conheço... — respiro fundo ao
lembrar-me do desenho que fiz dele. —
Muitas coisas.
— Poderia me deixar ver um
dia.
— Se o encontro for bom,
prometo que lhe mostro hoje mesmo. —
ele sorri e me encara, finalmente o sinal
abre.
— Aceito esse desafio. — diz.
— Ok. — sorrio.
— Já acabou o momento de
perguntas sobre mim? — pergunta
debochado.
— Por enquanto. — respondo e
encaro a paisagem pelo vidro do carro.
— Bom. — ele manobra o carro
e estaciona em frente a um lindo prédio.
— Onde estamos? — pergunto.
— Na sua surpresa. — diz e tira
o cinto. Ele desce e dá a volta, abrindo
minha porta.
— Obrigada, milorde. — zombo.
Ele entrega as chaves a um rapaz
parado em frente ao prédio e me guia
para dentro.
— É um lugar simples, mas
espero que goste.
Fico em silêncio enquanto
adentramos o grande restaurante, mas
que não parece ser algo tão fino, está
mais para aconchegante.
— Castiel, querido. — ouço uma
voz feminina e fico tensa no mesmo
instante. — Sentimos sua falta.
— Oi, Lu. — ele diz e só assim
encaro a bela morena a nossa frente.
O que está havendo aqui?
Eles se cumprimentam com um
abraço e tento me afastar de Castiel,
porém ele enlaça com força minha
cintura.
— Lu, essa é Danielle...
— A namorada dele. — dou um
beijinho no rosto dela e me afasto
rapidamente.
De onde saiu isso?
Castiel me encara com seu
sorriso cínico e a vergonha me bate.
— É um prazer, querida. — a tal
“Lu” diz e fico ainda mais sem graça,
ela não parece nem um pouco
interessada nele.
Por que fiz essa cena?
— Bom, a mesa de vocês está
arrumada no lugar que pediu. — diz e
sorri pra ele. — Parabéns aos dois.
De cabeça baixa, sorrio e
Castiel praticamente me puxa para seu
corpo.
Assim que paramos na mesa
correta, ele puxa minha cadeira e me
sento rapidamente. Ele se senta à minha
frente e me encara zombeteiro.
— Então, namorada. — dá
ênfase na última palavra. — O que vai
querer pedir?
Ignoro sua fala e apenas respiro
fundo.
— Confio no seu gosto. — digo
e ele assente.
Minha vergonha está acima de
tudo agora, não consigo nem encará-lo
direito. Ele chama o garçom e faz os
pedidos, enquanto encaro minhas unhas.
— Ei. — ele toca meu rosto
delicadamente.
— Me desculpe pelo que disse,
eu não quis...
— Gostei do que disse. — sorri.
— Antecipou meu pedido, mas tudo
bem.
— Como assim? — pergunto
surpresa.
— Vamos jantar e você verá.
— Ok. — digo vencida e ele
aperta minha mão.
A noite está só começando.

Castiel

Tento voltar ao clima de antes de


Luciana aparecer, mas Dani parece
querer fugir a qualquer a momento. Ela
parece envergonhada e nunca imaginei
que a veria assim, tão frágil.
Assim que terminamos de comer,
respiro fundo, pois está quase na hora de
fazer o que tanto planejei pra hoje. Eu já
havia cantado nesse restaurante várias
vezes, eu e Luciana somos velhos
amigos da escola e seus pais sempre nos
colocaram pra cantar para os clientes.
Mas hoje é diferente, vou pedir a mulher
que me ganhou em namoro. Sua fala
mais cedo parece que previu o que ia
acontecer.
— Já volto. — digo e Dani
finalmente me encara. — Não fuja!
Vou rapidamente para trás do
palco e Lu sorri ao me entregar o
microfone.
— Eu nunca imaginei vê-lo
fazendo isso. — sorri. — Ela vai amar.
— Espero que sim.
Respiro fundo uma e duas vezes.
E finalmente subo no pequeno palco,
onde se encontra um o violão.
— Boa noite. — digo e encaixo
o microfone. — Bom, espero que a
comida esteja como sempre magnífica.
— as pessoas sorriem.
— Há um tempo atrás, na
verdade, quando ainda era jovem, eu
cantava aqui. — suspiro fundo e busco o
olhar de Dani, ela parece pasma. —
Hoje é um dia especial, pois quero dizer
a linda mulher que enfeitiçou meu
coração que a quero como minha
namorada, apenas minha.
Vejo Danielle levar as mãos a
boca e algumas mulheres sorriem.
— Bom, que a sua resposta seja
sim, feiticeira.
É uma música antiga a qual meu
pai sempre ouviu, e ela nunca fez tanto
sentido quanto agora.
"Dama, sou seu cavaleiro em
uma armadura brilhante e eu te amo
Você me fez o que eu sou, eu sou
seu Meu amor, existem tantos modos
que eu quero dizer:
Eu te amo
Deixa-me te abraçar em meus
braços para sempre
Você foi e me fez bobo
Estou tão perdido em seu amor
E oh garota, nós não
permanecemos juntos
Você não vai acreditar na minha
canção?
Dama, por tantos anos eu
pensei que nunca iria te encontrar
Você entrou na minha vida e me
fez completo
Para sempre, deixe-me acordar
para te ver cada e toda manhã
Deixe-me ouvir você sussurrar
levemente em meu ouvido
Em meus olhos eu não vejo
ninguém a não ser você
Não há outro amor como nosso
amor Oh sim garota, eu vou sempre
querer você perto de mim
Estou esperando por você por
tanto tempo
Dama, você é o único amor que
eu preciso
E ao meu lado é onde quero que
você esteja
Porque meu amor, existe uma
coisa que eu quero que você saiba
Você é o amor da minha vida,
você é minha dama"
(Lady - Lionel Richie)
Assim que termino, solto o ar e
sorrio em direção a mulher que está em
lágrimas sentada na mesa. Ela se levanta
e vem até mim, antes mesmo de dizer
algo. Me levanto e coloco o violão no
suporte.
— Eu... — tento dizer algo
quando ela se aproxima, porém ela não
permite.
— Eu também te amo. — diz me
surpreendendo e sem me dar chance de
resposta, me beija.
Ouço uma salva de palmas e ela
sorri durante o beijo. Assim que ela se
afasta, segura minha mão e me encara de
forma doce.
— Vem comigo. — pede e eu
assinto.
Sigo até fora do restaurante e ela
pede para que eu pegue o carro.
— Pra onde estamos indo? —
pergunto ela sorri me beijando
novamente.
— Pro meu quarto.
Surpreendo-me com sua resposta
mas a sigo, mesmo não sabendo o que
me espera e ainda mais por ter de ir à
casa de meu irmão, porém não me
importo.
Ela me ama e eu também. Nada
mais importa agora.
Capítulo 9

Danielle

O caminho até minha casa é feito


em silêncio, mas com nossos dedos
entrelaçados. Eu não sei ao certo o que
Castiel pensou sobre meu pedido, mas
naquele momento não haviam segundas
intenções, por mais que parecesse.
Quero apenas mostrar a ele o desenho
que fiz, mostrar um pouco de mim, do
meu espaço.
Quando ele finalmente estaciona,
resolvo descer primeiro. Um dos
seguranças havia me dito que Castiel
tinha de ser autorizado a entrar.
— Eu já volto, um minuto. —
peço e ele assente.
Vou até um dos seguranças que
me encara sem expressão e aviso sobre
Castiel. Eles assentem e discam o
número de alguém. Pela cara que fazem,
a pessoa não atende e não duvido que
essa seja Isaac.
— Olha, eu estou autorizando
que ele entre. — aviso. — Já falei com
Isaac sobre. — minto e o segurança me
encara desconfiado, mas cede.
Volto para fora e entro no carro
novamente, enquanto os portões se
abrem.
— Caleb não me deixaria entrar
sem autorização de alguém, não é? —
pergunta e força um sorriso.
Aperto sua mão com carinho e
ele me encara rapidamente.
— Talvez devessem conversar
sobre o que aconteceu anos atrás. —
digo, enquanto ele estaciona. — Eu vi
uma foto antiga de vocês na internet,
pareciam tão...
— Unidos? — pergunta e tira o
cinto. — Foi uma boa época.
— Pode ser novamente, não
acha? — pergunto.
— Acho que devemos conversar
sobre isso. — respira fundo. — Tenho
algumas coisas pra te contar, a verdade.
— Ok. — digo e saio do carro,
ele faz o mesmo. — Primeiro quero te
mostrar algo.
— Tudo bem. — diz e me segue.
Entramos na mansão e ele enlaça
minha cintura.
— O que fazia no dia que o
encontrei aqui dentro?
— Vim ver alguns papéis no
escritório de Caleb. — confessa.
— Bom, ele não sabia, não é? —
pergunto e Castiel nega. — Por que não
pediu a ele?
— Eu vou te contar sobre esse
assunto e acho que vai me entender. —
beija de leve meu rosto.
— Ok, vem. — o puxo e subimos
as escadas.
Assim que estamos no corredor
que dá para meu quarto, respiro fundo.
Eu nunca trouxe um homem aqui e mal
sei como agir. Mas será apenas para ele
ver os desenhos, certo?
Não seja tola!
Abro a porta e Castiel me encara
curioso.
— Uau. — diz ao entrar. — Eu
sempre pensei que a casa fosse grande,
mas os quartos são imensos.
— Acho o mesmo. — sorrio de
sua expressão. — Fique à vontade, vou
pegar algo.
Deixo-o perto de minha cama e
vou em direção ao armário que tenho no
closet. Lá estão minhas pastas com
desenhos, é onde se encontra o desenho
dele.
Pego a pasta e abro, encarando
novamente seu lindo rosto. Só torço para
que ele goste. E isso me faz lembrar de
sua declaração. Ele me ama!
Sorrindo, volto para o quarto e o
encontro encostado em uma das paredes.
— Aqui. — lhe entrego a pasta.
Ele me encara desconfiado e
arqueia uma sobrancelha.
— Abra.
Fico encarando-o com
expectativa e meus saltos parecem
desconfortáveis. Enquanto ele folheia a
pasta, vou até minha cama e me sento.
Tirando os sapatos logo em seguida.
— Meu Deus. — exclama, e
tenho certeza de que encontrou seu
desenho.
— Gostou? — pergunto receosa
e ele me encara, vindo até mim.
Ele então se ajoelha a minha
frente e mesmo estando sentada na cama,
nossos rostos estão praticamente da
mesma altura.
— Quando fez os desenhos?
— Desde que o vi. — confesso e
sinto meu rosto queimar.
— Devo confessar que me
encantei por você desde que a vi pela
primeira vez? — suspira fundo. — Seus
desenhos são tão perfeitos como você,
amor.
Meu coração falha uma batida
por sua declaração.
— Lindo. — toco seu rosto. —
Estou com medo.
— Eu também. — declara. —
Mas não tem como fugir do que sinto por
você...
— É forte demais, eu sei. — ele
levanta e me puxa para seus braços, me
fazendo sentir o melhor abraço do
mundo.
— Preciso te contar algumas
coisas. — diz em meu pescoço.
— Sim. — respondo, tentando
ignorar o arrepio que percorreu todo
meu corpo.
Ele então me encara e sei que
quer revelar algo, mas não consigo
desviar meu olhar de sua boca. É como
se estivesse presa a todo seu corpo. E eu
não me importo se faz apenas alguns
dias que nos conhecemos, eu quero ser
dele.
— Dani, eu...
— Depois. — digo e toco seus
lábios com meus dedos.
Sem mais esperar o beijo com
toda vontade e desejo que sinto. Castiel
corresponde no mesmo instante,
devorando-me com fúria. Ele me toca
com certo cuidado e eu sei que está se
segurando, mas não quero isso.
— Não se segure. — peço e ele
me encara, com os olhos verdes
nublados pelo desejo. — Eu e você,
lembra?
— Sim. — ele me pega em seu
colo. — Eu e você, feiticeira.
Aos poucos, não há roupas no
caminho e sinto minha pele queimar com
o toque da sua. Seu corpo grande cobre
o meu e sinto prazer em lugares que
nunca imaginei.
— Cas, eu nunca... — ele me
encara e toca de leve meu rosto,
colocando uma mecha de meu cabelo
atrás da orelha.
— O que? — pergunta, enquanto
distribui beijos por meu pescoço.
— Eu nunca fiz amor. — revelo
e ele para no mesmo instante, me
encarando surpreso.
Ficamos assim por alguns
segundos, até que ele encosta sua testa
na minha.
— Nunca mais te deixarei ir,
sabe disso, não é? — pergunta e eu
sorrio.
— Sou sua. — digo e ele me
beija com carinho.
— E eu também nunca fiz amor
com ninguém. — diz baixinho, e sei que
não se refere ao ato físico, mas ao modo
como já fez sexo. — Só a você entrego
meu corpo e coração.
Fico emocionada, pois nunca
imaginei que realmente seria apenas do
homem que amo. Mas aqui estou eu,
entregue a ele, de corpo e alma.
— Eu te amo. — digo e lágrimas
correm por meu rosto.
— E eu a você, feiticeira.
E então, as palavras dão lugar a
algo sublime. Os toques de Castiel pelo
meu corpo me fazem ferver e a cada
instante em que ele me beija, meu
coração acelera ainda mais. O
nervosismo que sinto dá lugar ao prazer
assim que ele me faz sua e sinto cada
parte do meu corpo sofrer com sua
invasão. Agora eu sou dele, apenas dele.
E ele, apenas meu.
Capítulo 10

Danielle

— Eu nunca fui o filho favorito


dos meus pais. — Castiel diz de repente,
enquanto estou deitada sobre seu peito,
apenas vestindo sua camisa. — Quando
mais novo eu não entendia ao certo o
porquê deles não me tratarem como
meus irmãos, mas segui em frente.
Quando completei 22 anos, eu
comemorei praticamente sozinho aquela
data, senão fosse a empregada que
tínhamos em nossa casa. E foi naquela
noite que minha vida virou do avesso.
Semanas depois, a mesma empregada
alegou a mim que estava grávida.
Travo no lugar e ele sente minha
tensão, pois diz:
— Me desculpe, mas eu preciso
te contar isso. — apenas assinto e ele
continua. — Eu não conseguia entender
pois me protegi e bom, acabei falando
coisas que não devia, como dizer que
daria dinheiro a ela para abortar.
— Meu Deus! — levanto-me de
seu peito e ele se encosta na cabeceira
da cama, noto dor eu seu rosto e me
aproximo novamente de seu corpo.
— Caleb havia chegado do
exterior naquele mesmo dia e pelo que
sei hoje, ouviu toda a conversa. — ele
limpa uma lágrima que cai. — Ele me
deu dinheiro para sumir e não correr
riscos de fazer algo contra o bebê
quando nascesse. Mas eu não fui embora
porque pensei em fazer algo contra a
vida daquela mulher e do meu... Bom, eu
fui porque estava em pânico, nunca tive
o amor dos meus próprios pais, como
poderia ter um filho? — lágrimas
correm livremente pelo seu rosto e não
consigo me segurar também. — Mais ou
menos um ano e meio depois, eu voltei
ao Brasil, para ver de longe o que
estava havendo. Jô me contava tudo e foi
assim que descobri algumas coisas
sobre meus pais, e foi nessa época que
descobri não ser filho biológico de
Leandra.
— O que? — pergunto surpresa.
— Pois é, sou filho de Lívia
Albuquerque com Rodrigo Soares. —
confessa. — Meu pai traiu minha mãe
com a irmã gêmea quando mais novo, e
foi só assim que entendi de onde vinha o
receio de Leandra comigo.
— Eu sinto muito. — digo e Cas
segura com força minha mão. — Mas e
seu filho, onde ele está? — pergunto e
ele engole em seco.
— Filha, é uma menina. —
respira fundo. — Descobri algumas
coisas recentemente, mas isso não tira
minha culpa da morte da mãe dela no
parto.
— Meu Deus! — levo as mãos a
boca. — E com quem ela vive? Com
quem ela está?
— Com meu irmão. — confessa
e fecha os olhos com força.
— Como assim? — pergunto
confusa.
— Minha... — ele respira fundo.
— Eu sou o pai biológico de Luna.
Meu mundo para.
Meu coração sangra.
Os gritos de desespero de minha
irmã ensurdecem meus ouvidos.
Ele, ele foi a causa da morte
dela. Ele matou Annie.
— Você... — lágrimas grossas
cobrem meu rosto e Castiel me encara
assustado.
— Eu sei que é difícil entender e
que...
— Eu preciso... — levanto-me
rapidamente e pego meu celular no
criado mudo, correndo para o banheiro e
me trancando lá.
Caio sentada no chão e choro
amargamente.
Eu me entreguei ao homem que
destruiu minha vida há quinze anos atrás.
E pior, eu amo esse homem.
— Não! — sussurro em meio ao
desespero e disco o número de Caleb.
— Alô!
— Foi ele não foi? Foi por isso
que me socorreu... Por culpa? Droga
Caleb, foi ele que matou minha irmã? —
pergunto desesperada.
Por favor, diga que não!
— Dani, se acalma. Uma coisa
de cada vez...
— Você quer que eu me acalme
como Caleb? Foi ele ou não? — insisto,
tentando conter as lágrimas.
— De quem você está falando,
afinal? — pergunta.
— Não me engane mais, Caleb.
Sabe que estou falando de Castiel. — o
outro lado da linha fica em silêncio e
tenho me constatação.
É Castiel, ele é o culpado.
— Dani, eu sinto muito. — diz
simplesmente.
— Não me diga que sente muito,
Caleb. Meu Deus, ele praticamente
matou minha irmã e eu ainda... — choro
e tento me levantar.
— Você o que? — pergunta
nervoso. — Dani, me diga que não
chegou perto dele.
— Não, não é nada demais. —
minto.
Ouço batidas fortes na porta e
sei que é Castiel. Encaro o espelho a
minha frente e tento me recompor. Eu
preciso enfrentar isso, eu preciso...
— Feiticeira, está tudo bem? —
pergunta e seguro com força contra a
pia.
Lembro-me das noites que passei
velando o sono de minha irmã, de seu
desespero. Não consigo responder,
minha vontade é gritar pela angústia que
me invade.
Não sei quantos minutos fico
parada apenas encarando o espelho, mas
me assusto ao ouvir o banheiro ser
destrancado.
— Por que se trancou nesse
banheiro e está no telefone? — Castiel
pergunto, parecendo preocupado.
Não consigo mais raciocinar
quando ele tenta me tocar.
— Não se aproxime de mim! —
grito e tento passar por ele.
— O que houve feiticeira? Hum?
— pergunta, tentando me segurar
novamente.
Dessa vez me solto bruscamente
e praticamente corro para o quarto.
— Já disse pra ficar longe de
mim. Eu tenho nojo de você! — grito e
pego o celular novamente. — Caleb, me
ajuda! Estou na mansão e... — peço e
não consigo mais controlar o choro.
A expressão de Castiel muda no
mesmo instante e ele me encara como se
estivesse magoado. Tiro sua camisa no
mesmo instante e corro para o closet.
Coloco a primeira roupa que encontro e
tento tomar coragem pra sair dali.
Assim que saio, vejo Castiel
parado encarando o nada a sua frente.
Assim que me vê, ele abre a boca pra
dizer algo, mas simplesmente permanece
calado. Ele dá passos em minha direção,
mas não consigo evitar sentir medo.
Encolho-me no canto do lado de
minha cama e choro feito criança. Meu
pânico toma conta de tudo, sequer
consigo me mover. Castiel diz algumas
coisas, mas nada faz sentido em minha
mente.
— Annie Marie Campos era o
nome dela, não era? — pergunto de
repente e ele me encara perplexo.
— Como sabe? Você está com
meu irmão nisso tudo? Fez-me apaixonar
para...
Sei conseguir mais ouvi-lo,
levanto-me e acerto seu rosto.
— Isso é por ela. — digo
baixinho e me encolho novamente.
Castiel me encara sem palavras
e noto seu rosto frio, de um jeito
indecifrável.
"Eu o amo irmã, eu preciso dele
aqui"
A voz de Annie me ensurdece e
sinto vontade de gritar.
— Não, não pode ser! — choro
ainda mais e levo as mãos aos ouvidos,
tentando evitar tudo isso.
— Então era isso sua
vadiazinha? Meu irmão que te mandou
pra me seduzir, não foi? — Castiel
pergunta e não consigo encará-lo.
Então essa é sua verdadeira
face? Não quero ver, não quero ouvir!
— O que faz com ela, Castiel?
— ouço o grito de Caleb no telefone. —
Responda, maldito.
Antes que eu possa falar com
ele, Castiel tira o celular de minhas
mãos.
— Estou indo embora agora
mesmo de sua casa. — ele diz. — Não
sei como fui capaz de vir até aqui por
ela. Parabéns, irmão! Me enganaram
direitinho.
Sinto medo pela forma como
Castiel fala e tomo coragem de sair.
Preciso ficar longe dele! Corro para
fora do quarto e me jogo no meio do
corredor, sem mais forças para
continuar. Dói demais!
Castiel sai do quarto já vestido e
bate palmas, sinto meu coração quebrar.
Eu amo a minha própria destruição. Por
que?
— Parabéns irmãozinho, quase
conseguiu me enganar! Pelo menos
acertou no meu gosto, sempre gostei de
loiras com olhos claros, ainda por cima
gostosinhas. — tento evitar ouvir, mas é
impossível.
— Dani. — só assim noto a
presença de Caleb e corro para seus
braços. — Sinto muito, querida. Me
desculpe por não ter lhe dito a verdade.
Estar abraçado ao homem que
praticamente salvou minha vida e tem
sido um irmão/pai pra mim há quinze
anos, faz com que tenha força.
Tenha força de honrar minha
irmã.
— Você vai se arrepender do
que fez! — digo e me viro para encarar
Castiel. Seus olhos verdes estão
apagados e sinto sua dor, mas isso não
importa. É tudo culpa dele. — Eu vou
acabar com você, pode ter certeza disso!
Fui fraca por um momento pois não
controlo minhas crises, mas pode
guardar que vou acabar com sua vida,
assim como acabou com a minha.
— Faça me rir garota, isso é uma
ameaça? Pode parar já, a farsa acabou.
Sei que ficou comigo apenas para me
manter longe do idiota romântico aí. —
Castiel zomba e raiva se apodera de
mim...
— Você acha que eu perderia
minha virgindade com você porque
tenho um combinado com seu irmão?
Acha mesmo que iria ficar com você
sabendo quem de fato é, e tudo que fez?
Acha mesmo que diria que estava
apaixonada sabendo o verme que é? —
grito, próxima ao rosto dele.
— Podem parar com o teatrinho,
está ficando tedioso. — Castiel diz e
abre um sorriso cínico.
O sorrio que eu a...
— Teatro? Você acha que isso
tudo é a merda de um teatro? — grito e
tento acertá-lo, porém Caleb me segura.
— Acha que o mundo gira em torno de
você, Castiel? Pois saiba que não.
Nunca ouvi falar de você antes! O único
irmão do qual ouvi falar e conheci foi
Christopher, pra você ter noção do
quanto sua família o considera, não é?
— Castiel fica mudo. — Não passa de
um verme sem escrúpulos e vou fazê-lo
pagar por tudo.
— Você é uma ótima atriz,
admito. Mas pra continuar a ceninha
ridícula, por que não me diz pelo que
tenho que pagar? Pela noite de hoje? —
ele zomba. — Claro, eu posso...
— Vai pagar por dar dinheiro a
minha irmã para tirar o filho seu que ela
carregava! Vai pagar por permitir que
seu irmão mais novo assumisse o seu
filho! Vai pagar por ter matado minha
irmã! — grito e vejo a expressão dele
mudar drasticamente.
— É irmã de Annie? — ele fica
estático. — Não pode ser. — diz baixo.
— Ela morreu no parto, no parto
o qual você deveria estar presente.
Minha irmã sofreu uma depressão
profunda durante toda a gravidez porque
foi tola o bastante para amar um fraco
como você. Ela quase perdeu Luna
várias vezes, e fui eu quem a ajudou no
meio da noite e afastava todas as
lâminas e remédios possíveis para que
ela não cometesse nenhuma loucura. —
digo de uma vez e Castiel me encara
com lágrimas no rosto.
Eu sofro.
Ele sofre.
Mas ninguém aqui sofreu mais
do minha irmã. E ele vai pagar por isso.
— Sabe o que ela me dizia todos
os dias super animada? "Irmã, se eu
tirar essa coisa de dentro de mim, ele
vai voltar pra mim e vamos ser felizes
de novo."
O silêncio se instala entre todos
nós. Agarro-me ao corpo de Caleb,
tentando segurar as lágrimas. Preciso ser
forte.
— Então saiba que Caleb não
tem nada a ver com o que tivemos, e
tudo o que terei pra lembrar disso é
nojo. E nada irá me fazer parar até
conseguir mandá-lo de vez para o
inferno, se é que você já não está nele.
— digo e Castiel se retrai.
— Feiticeira, me escuta eu
posso...
— Pode se explicar, Castiel? —
o corto. — Explicar que não passa de
um invejoso? Pois é isso que
transparece pra mim. E não se dirija a
mim, muito menos com esse apelido
ridículo. Tenho pena de você!
— Vamos? — Caleb pergunta e
eu assinto. — Vá na frente.
Sem conseguir mais encarar o
rosto de Castiel, praticamente corro
pelas escadas e me jogo no sofá.
Chorando amargamente por tudo que
houve.
Pelo homem que amo ser
culpado pela pior parte de minha vida.
Capítulo 11

Castiel

Encaro a parede a minha frente e


não sei quanto tempo estou aqui.
Lembro-me da escolha que fiz há anos
atrás, quando decidi abandonar Annie e
fugi como um covarde. Eu não sou uma
boa pessoa, sempre soube.
Danielle parecia ser minha luz
em toda escuridão que carrego pela
culpa da morte de Annie... Que por
ironia ou brincadeira do destino é sua
irmã. Que feridas eu devo ter deixado no
coração da mulher que amo? Com
certeza aquelas que nunca irão se curar.
Mas eu não consigo simplesmente
ignorar e então choro pela dor que
causei, pela dor que sinto.
A frase que Dani contou que
Annie dizia todas as noites vem a minha
mente e tento interpretá-la a todo
instante.
"Irmã, se eu tirar essa coisa de
dentro de mim, ele vai voltar pra mim e
vamos ser felizes de novo."
Como assim “felizes de novo”?
Eu e Annie nos envolvemos uma vez e
não passou disso. Não quero pensar
agora sobre o que descobri há algum
tempo, pois não alivia em nada minha
culpa, mas pensar sobre isso, talvez faça
com que um dia consiga perdoar a mim
mesmo. Talvez eu não seja o pai
biológico de Luna.
Meu telefone toca e mais do que
desesperado olho o visor, na esperança
de que seja Danielle, porém é um
número desconhecido.
Assim que descubro o porquê da
ligação, meu mundo para e tudo se torna
ainda mais escuro que antes.
— Não! — grito em desespero.
— Como puderam deixar isso acontecer,
vocês não...
Desligo o telefone sem dar a
chance de dizerem mais alguma coisa.
Eu preciso ir ao hospital, eu sei que Jô
está viva. Ela tem que estar!
A passos incertos e no estado
horrível que me encontro, corro para
fora do apartamento e os minutos até
chegar ao hospital parecem ainda mais
infinitos.
Quando finalmente piso naquele
lugar, o grito feminino que ouço faz com
que eu caia de joelhos no chão da
recepção. Encaro a jovem garota que
implora para ver Jô e é negada. Babi, a
filha de Caleb, está fora de controle e
pede para ver a mãe.
— Não. — digo baixinho e
choro desesperado.
Sinto uma mão em meu ombro e
não consigo sequer encarar a pessoa.
Tento pensar e encontrar um jeito de
assimilar tudo isso. Não pode ser real!
Há poucas horas estávamos sorrindo
com ela, brincando com ela... Ela é
minha mãe, uma delas, uma das mulheres
mais importantes da minha vida. Aquela
que me fez sentir amado e especial
quando criança, ela não pode
simplesmente ter partido após ter tido
melhoras no seu caso. Não pode!
Encaro então a enfermeira que
toca meu ombro e ela sorri fraco. Os
gritos de Babi continuam e resolvo
ajudá-la. Jô também a fez se sentir
amada e especial, tenho certeza.
A passos incertos chego próximo
a Babi e os olhos negros puxados me
encaram assustados e vermelhos.
— Olá. — digo baixinho. — Eu
sou Castiel Soares.
— O que? — pergunta e limpa
as lágrimas, que caem ainda mais. —
Você é irmão de meu pai?
— Caleb falou de mim? — ela
nega sem jeito e vira-se para olhar para
o corredor que nos impede de ir até Jô.
— Eu sinto muito, sinto muito mesmo.
— Não. — diz desesperada e
abraça o próprio corpo. — Jô está bem!
— grita. — Ela não pode ter ido, não
justo hoje que não estava com ela...
Não!
Sem saber o que fazer e por
medo do que os seguranças possam fazer
se ela continuar gritando, puxo-a para
encontro de meus braços e ela se agarra
a mim como se fosse sua tábua de
salvação.
— Ela é minha mãe também. —
digo em seu ouvido e choro do mesmo
modo que ela.
Estamos perdidos.
Perdemos Jô.
— Eu preciso que se acalme e
respire fundo, tudo bem? — peço e ela
soluça em meus ombros. — Como
soube?
— Eu senti saudade e vim vê-la
agora de madrugada, um dos
enfermeiros sempre me deixava entrar
para apenas lhe dar um beijo de boa
noite. — soluça alto. — Ela morreu
comigo no quarto. — confessa e chora
ainda mais. — Ela pediu para entregar
algo ao menino dela e dizer que a
pequenina dela o faria feliz. Ela disse
seu nome e me entregou um papel...
Voltou a dormir e daí lhe dei um beijo na
testa, fui ao banheiro e quando voltava
pelos corredores, ouvi alguém gritar o
número do quarto dela e... Voltei pra lá
na hora... Era como se ela soubesse
que... — as palavras incertas de Babi,
mostram que ela não tem o que dizer,
mal sabe como agir.
Nenhum de nós sabe nesse
momento.
Fico estático e puxo Babi
novamente para meus braços. Eu não
consigo imaginar como tenha sido para
essa menina ver sua mãe falecer e não
poder fazer nada.
— Posso te levar pra casa e...
— Não saio daqui sem ela. —
me corta. — Ela ia sair daqui em poucos
dias, não é verdade o que aconteceu. —
balança a cabeça e chora ainda mais.
Eu entendo sua autonegação,
pois vivo o mesmo nesse momento, mas
preciso ser forte ao menos para cuidar
de Babi, sei o quanto ela é importante
para meu irmão e... Para Jô.
Insisto para que Babi então vá ao
menos beber um chá pra acalmar e
mesmo negando aceita uma água que
uma das enfermeiras traz para ela.
Pego meu celular e encaro o
número que há anos deveria ter discado,
o número de meu irmão.
— Soares.
Respiro fundo ao ouvir sua voz,
e finalmente tomo coragem pra dizer
algo:
— Caleb, irmão...
— Castiel? — pergunta
surpreso.
— Ela se foi, Caleb. — suspiro
fundo, com a dor que sinto ao admitir
isso em voz alta. — Eu não sei como te
dizer isso, mas...
— Castiel, não quero uma
brincadeira agora! — praticamente
grita e sinto-me um lixo. — Chega
dessa merda, combinamos de nos falar
mais tarde e...
— Jô se foi. — digo de uma vez
e silêncio se instala entre nós.
Observo de longe Babi sentada e
estática encarando a parede cinza a sua
frente. Sentado algumas fileiras atrás
espero a resposta de Caleb. Não quero
que Babi ouça que estou contando a ele,
ela havia impedido os funcionários de
ligarem para Caleb, alegando que já
tinha o avisado, pois com certeza sabe
que ele a tirará daqui.
— Não brinque com isso! —
ouço o grito de Caleb. — Onde Jô
está?
— Ela... Não consigo dizer isso
em voz alta. — meu soluço impede que
continue minha fala.
Dói muito!
— Castiel...
— Babi está aqui, Caleb. Ela
precisa de você, irmão.
— Onde estão?
— No hospital. — digo. — Babi
não quer sair daqui, eu tentei levá-la até
você mas...
— Estou indo.
Começo a ouvir barulhos
estranhos, penso em desligar porém não
consigo.
— Caleb. O que houve?
Escuto a voz de Victória um
pouco abafada.
— Jô... Não pode ser verdade,
Castiel está na linha dizendo isso... Ele
está mentindo, Vic!
Choro ainda mais agora, por
sabe que sequer meu irmão acredita em
mim. Que ele acredita que eu possa
mentir sobre algo assim.
— Caleb, querido. Deixe que
um dos seguranças dirija, por favor.
— Não, eu preciso...
— Eu estou com você. Vem!
Continuo ouvindo os barulhos
através da ligação e tento dizer algo,
para que Caleb perceba que ainda estou
aqui, mas não consigo encontrar as
palavras certas.
— Caleb. — o chamo diversas
vezes, porém apenas tenho o silêncio
como resposta.
Quando estou para desligar, ouço
a voz de meu irmão:
— Cas, por favor, diga que está
me enganando.
— Foi por ela, Caleb. —
confesso. — Foi para ver Jô que voltei,
e agora...
— A perdemos. — diz e sinto-me
quebrar ainda mais.
Tento dizer algo mas como
sempre sou o covarde.
— Estou com você, querido. —
a voz de Victória sai abafada
novamente.
E assim, encerro a ligação.
Encaro o nada a minha frente e
desvio meu olhar para o contato de
Danielle em meu telefone. Disco uma,
duas, três, quatro... dez vezes e não
obtenho resposta alguma. Eu preciso de
seu abraço para dizer que tudo vai ficar
bem, mesmo que nunca mais fique. Mas
sei que ela não virá, nunca por mim.
Mudo meu foco e ligo para
Isaac, tento ser claro para ele sobre o
que houve, mas sei que meu choro
interferiu. Mas no fim, ele entendeu que
preciso que cuide de tudo a respeito do
que houve agora... Não consigo fazer
isso.
Quando finalmente meu irmão
chega, Babi praticamente se joga em
seus braços e chora ainda mais se
possível. Victória encara a cena por
alguns segundos e logo é ela quem está
com Babi em seus braços.
Abaixo a cabeça e me concentro
em mandar mensagens para Danielle.
Implorar para que ela apenas me escute
hoje, apenas hoje. Só quero poder ter
seu abraço. Essa só pode ser a pior
noite de minha vida.
— Cas. — Caleb me chama e
finjo não ouvir.
Limpo as lágrimas rapidamente e
levo as mãos aos cabelos em desespero.
— Ela foi como uma mãe pra
mim. Sempre será. — confesso.
— Há coisas que não entendo no
momento, mas não importa. — diz. —
Precisamos sair daqui, Cas.
— Eu sei. — me levanto no
automático. — Eu pedi para que Isaac
cuidasse de todos os trâmites... Eu não
consigo fazer isso e...
— Eu entendo. — diz e eu
assinto. — Estava ligando para Isaac?
— pergunta e travo no lugar.
— Não. — dou de ombros. —
Não é nada demais. — minto. — Vou
apenas tomar um banho e ver Isaac.
— Venha pra minha casa. —
Caleb pede e eu o encaro surpreso. —
Não sei ao certo o que Jô significa pra
você Castiel, mas eu te conheço.
— Caleb...
— Não seja um covarde agora!
— diz nervoso. — Você iria a minha
casa de toda forma. Mesmo com tudo
que houve somos uma família e você
sempre fez parte dela!
Me assusto com sua afirmação e
Caleb me encara imponentemente, mas
ao mesmo tempo parece o mesmo garoto
que eu protegia há décadas atrás, quando
ainda éramos crianças.
— Somos uma família. — digo e
sem conseguir me conter, o abraço.
Precisamos um do outro agora.

Danielle
Acordo num sobressalto e sinto
um frio horrível correr através de mim.
Olho os dedos e noto minha pele
enrugada, assim como várias partes do
meu corpo. Afundo na água fria e seguro
o ar o máximo de tempo possível. Assim
que me levanto, meus dentes batem um
nos outros, como sempre acontece.
Fiz muito isso durante o tempo
em que minha irmã estava grávida,
desde então, toda vez que entro em
desespero apenas a água gelada me
ajuda. Como se fosse um vício constante
e pudesse levar um pouco da dor
embora. Penso então na causa da minha
dor, o homem que simplesmente destruiu
tudo de mim e sem que soubesse a
verdade, me conquistou.
Ele foi o culpado, apenas ele. E
eu não posso amá-lo, não devo.
Enrolo-me na toalha e caminho
em direção ao quarto de hotel, o qual
Caleb alugou pra mim, sem sequer
importar com o rastro de água que
deixo. A dor em meu peito é demais,
como se estivesse sufocando. Mas
parece agora um aperto, algo que dói
profundamente.
Tem algo errado!
Eu senti a mesma coisa no dia
em que perdi Annie. Encaro meu celular
e vejo que Victória está me ligando,
atendo prontamente.
— Preciso que venha pra casa.
— pede baixinho. — Já fechamos sua
conta no hotel, só venha.
— Mas...
— Dani, por favor. — insiste e
desliga.
Preocupação toma conta de mim,
e assim que vejo várias ligações e
mensagens de Castiel, sinto-me quebrar.

“Preciso de você, feiticeira.”

“Apenas um minuto nos seus


braços, é o que peço.”

“Me deixe apenas... Eu te


amo.”

Choro ao ler cada uma delas e


dou um jeito de meu arrumar
rapidamente e correr para casa. Algo
ruim aconteceu, tenho certeza.
Meu Deus, será que ele...
Não!
Apresso-me em colocar minha
roupa e praticamente corro pra fora do
hotel, e pego o primeiro táxi que
consigo. Assim que adentro a mansão,
encontro Castiel em pé ao lado de umas
das grandes colunas da sala. Em
desespero, me aproximo dele, o qual
simplesmente me encara. Ele está bem!
E por um momento respiro aliviada.
Mas por que esse aperto no peito
continua?
Ele então me abraça de surpresa
e não consigo negar. Eu preciso disso
também. Doeu tanto imaginar que tivesse
o perdido, que...
— Eu sinto tanto, meu amor. —
diz baixinho e soluça em meu ombro. —
Ela se foi, Dani.
Paro um segundo para raciocinar
e finalmente junto as peças. As suas
várias ligações e mensagens, o aperto
em meu peito, a voz triste de Victória...
Jô!
— Não! — grito e o afasto no
mesmo instante. — Seu cretino! — bato
contra seu peito e Castiel não reage.
Braços fortes me seguram e me
impedem de continuar. Raiva se apodera
de mim e a realidade me bate... Ele
destrói tudo. Assim como matou minha
irmã, ele...
— Para, Dani! — Caleb diz
baixo.
— Mande-o sair daqui! — choro
desesperada. — Ele veio para acabar
com a minha vida de novo.
— Dani! — Caleb grita em tom
de ordem e eu o ignoro.
Quero Castiel longe de mim!
— Nos vemos no enterro, irmão.
— Castiel diz e vai em direção a porta.
Caleb finalmente me solta e
então vira-me pra ele. Ele está com os
olhos vermelhos e com o semblante
acabado.
— Diga pra mim que é mentira.
— imploro e Caleb apenas me puxa para
um abraço.
Não consigo mais raciocinar.
Perdi uma das pessoas mais importantes
pra mim, e sequer sei porque culpo
Castiel por isso também. Ele parece
quebrado, mas sei que jamais estará tão
quebrado quanto minha irmã. E dessa
culpa, eu não posso livrá-lo. Mesmo que
meu coração pertença a ele, irei
arrancá-lo de mim.
— Estou aqui. — Caleb diz e me
ajuda a permanecer em pé.
O que era pra ser a melhor noite
de minha vida, tornou-se a pior.
Capítulo 12

Castiel

Apenas respire!
Digo essa mesma frase acho que
um milhão de vezes. Encaro meu reflexo
no espelho e noto que o aspecto está até
melhor, mas apenas dos machucados que
meu irmão havia deixado, pois os meus
olhos inchados e o semblante de derrota,
estão intactos.
Meu telefone toca e sei já está no
horário de ir, e eu sequer sei como vou
fazer isso. Pensei em ligar para Alice e
lhe contar o que houve, tentar buscar
algum conselho, mas a única pessoa a
quem quero recorrer quer distância de
mim, e o jeito é fazer tudo sozinho desta
vez.
Minutos após sair de casa
estaciono o carro em frente ao
cemitério. Olho meu relógio e noto que
ainda falta cerca de meia hora para
todos chegarem, então, resolvo tomar
coragem e fazer algo que jamais cogitei.
Talvez seja o começo de uma confissão
á Annie, eu devo isso a ela.
Desço do carro e encaro a
anotação antiga que tenho em meu
celular, não sei por que a guardei até
hoje e nem sei ao certo se é o local
certo, mas irei arriscar. Ando pelas
extensas ruas e procuro a quadra
correta, quando finalmente a encontro, o
ar se torna escasso novamente.
Ajeito meus óculos escuros e a
passos lentos vou até onde é meu
destino. Encarando as lápides a minha
frente e estaco no lugar ao ver que estou
realmente no local certo.

Annie Marie Campos


Filha, irmã e mãe amada.

Tiro os óculos e apoio-me em


umas das pernas, ficando quase
ajoelhado. Pego a delicada flor amarela
que trouxe e coloco ali. Encaro apenas
por alguns segundos a frase estampada
em sua lápide e o remorso me bate com
força.
— Eu sei que não pode me ouvir
e que isso não faz sentido algum. —
respiro fundo, olhando diretamente pro
céu. — Mas eu amo sua irmã, Annie. —
confesso. — E se tiver a mínima
possibilidade de Luna não ser minha
filha, quero poder contar a ela. Pelo
menos ter a chance de não ter sido eu o
homem a qual você atribuiu como “seu
amado”. — limpo uma lágrima que
teima em descer. — Mesmo assim, a
culpa pelo modo como te tratei e pelas
ameaças que fiz, o modo covarde como
fugi, ainda me assombrarão... Eu nunca
vou me perdoar pelo que te fiz, Annie. E
se o destino me permitir, quero ao
menos poder cuidar de sua irmã, a qual
sei que te ama mais do que tudo, e
mostrar a ela o que é ter uma família
novamente. — toco de leve sua lápide.
— Não tenho palavras para pedir
perdão, mas sei que estou no lugar certo
agora. E mesmo que Luna não seja
minha filha, saiba que ela é uma linda e
boa garota, aliás, ela é sua cópia fiel. —
abro um sorriso fraco. — Eu espero que
você esteja em paz, você merece.
Levanto-me e coloco novamente
os óculos, limpando de maneira falha as
lágrimas que cobrem meu rosto. Olho
mais uma vez para a flor amarela que
deixei em sua lápide, não sei ao certo
qual a espécie, e mesmo não conhecendo
muito bem Annie, conheço um pouco de
Luna. E sei que é uma cor que ela gosta,
talvez Annie gostasse também.
De volta as ruas do cemitério,
caminho tentando espairecer um pouco
da dor que me atinge. Lembrando de
quando era apenas uma criança, até o
momento que Jô ainda esteve ao meu
lado, mesmo tendo fugido. Como
poderia seguir sem sua presença agora?
Chego até o local onde Jô será
enterrada e minhas mãos, assim como
meu corpo todo, tremem. Apenas
respire! – digo e tento não surtar
novamente. Geralmente o que me acalma
nesses momentos de extrema tristeza é a
bebida. Mas faz muito tempo que não
recorro a isso, e eu não me deixaria
levar por esse caminho novamente, não
mais.
Assim que vejo minha família de
longe, minha mãe corre em minha
direção, me abraçando de forma
preocupada. E assim, desabo.
— Eu sinto tanto, meu amor. —
diz e chora junto a mim. — Eu nunca
poderei pagar a Jô o quanto lhe devo,
por ter cuidado tão bem de você, ter lhe
feito o homem maravilhoso que é.
— Ela não pode ter partido,
mãe. — choro ainda mais. — Ela não...
Sinto os braços fortes de meu pai
me envolvendo e ele praticamente nos
cerca, como se pudesse realmente nos
proteger de toda dor, e por um nano
segundo, sinto-me um pouco mais leve.
Assim que meus pais se afastam,
mamãe toca meu rosto com cuidado e
analisa os resquícios de machucados.
Ela vai dizer algo, tenho certeza, mas
antes mesmo que ela diga, conto a
verdade:
— Caleb não reagiu muito bem
com minha volta. — digo sem jeito.
— Meu Deus! — diz
horrorizada. — Eu preciso dar um jeito
nesse menino.
— Mãe. — chamo sua atenção.
— Sabe que ele tem seus motivos.
Mesmo contrariada, ela cede e
me dá um beijo no rosto. Sendo logo
abraçada por meu pai, que apenas me
olha como quem diz: “Está escondendo
algo”. É como se ele pudesse saber o
que se passa dentro de todos nós assim,
apenas nos olhando, mas não entrarei em
detalhes, não agora. Um dos motivos de
minha dor está presente há alguns passos
daqui, e eu teria de ao menos tentar me
aproximar.
Primeiro a olho de longe,
sentada em um banco, olhando para o
nada, perdida em pensamentos. Vamos
lá, Castiel!
— Eu já volto. — digo a meus
pais, que assentem e apenas observam.
Sigo até ela e não sei se devo ou
não chegar perto, da última vez não foi
nada agradável. Dói demais saber que
ela pensa que sou um assassino, que sou
um monstro. Não que seja o melhor ser
humano no mundo, tenho meus demônios
assim como ela mesma sabe, mas doeu
demais ouvir isso dela. Justo por ser
ela.
— Dani. — arrisco e ela sequer
mexe, continua olhando para o nada e
me ignora. — Eu só quero dizer que
sinto muito. Sei que minhas palavras não
te comovem e que... Que não se importa.
— dói demais admitir isso. — Mas eu
estou aqui, para o que precisar. E
feiticeira... — ela continua imóvel. —
Você sempre será minha dama.
Respiro fundo tendo seu silêncio
como resposta e volto até onde meus
pais estão. Meu pai me encara
desconfiado e minha mãe não segura a
língua:
— Ela é uma boa garota. — diz
e sorri fracamente. — Formam um belo
casal, não acha, Rodrigo?
— Sim, minha rosa. — meu pai
responde, mas sei que ele percebeu algo
estranho entre mim e Dani. — Eles
formam.
— Eu só queria que esse dia não
existisse. — confesso e minha mãe me
abraça novamente, ficando com a cabeça
encostada em meu peito, já que é a
menor que todos nós.
— Quando perdi meus pais,
ainda muito nova, meu mundo acabou
ali. — respira fundo e lágrimas correm
pelo seu rosto. — Mas eu tinha Lívia, e
por ela resolvi seguir em frente. Você
precisa encontrar algo que te dê força
para continuar, meu filho. — toca meu
rosto com carinho. — Você deve isso a
Jô, ela sempre quis sua felicidade.
— Eu sei. — respondo
emocionado.
É como se eu pudesse ouvir Jô
dizer: “Meu menino, você tem que lutar
pela sua própria felicidade, não é justo
um homem tão bonito chorar assim, além
de beber dessa maneira.”
E foi por ela que acordei pra
vida e parei de beber, parei de ser o
cara inconsequente e tentei me tornar um
homem responsável, que lhe desse
orgulho. Mas o que fazer quando sua
felicidade não te quer?
Continuo de longe a olhando,
tentando ao menos receber um olhar de
volta, mas ela está concentrada demais,
abraçada a Isaac. Ciúmes se apodera de
mim, mas acabo não cedendo a esse mal.
Volto a realidade quando Joaquim chega
e o enterro se inicia.
Choro amparado pelos braços de
meu pai, tento controlar mas não
consigo. Assisto Babi gritar e quase
passar mal quando o caixão é enterrado.
Fecho os olhos com força e mordo a
boca para não gritar em desespero.
E é nesse momento que
finalmente consigo enxergar que Jô se
foi. Que não terei mais minha “mainha”
aqui. Uma parte de mim foi embora com
ela, e sei que ninguém preencherá o
local que ela ocupa em meu coração,
pois dentro dele, Jô sempre estará.

***
Encaro a mansão de meu irmão e
penso se devo ou não entrar. Eu já havia
estado ali mais cedo, tínhamos tido a
conversa que tanto precisávamos,
mesmo sendo um dia horrível. Caleb
finalmente soube de toda verdade, de
que sou apenas seu meio irmão e que
Leandra teve câncer anos atrás. E que
foi justamente na época de sua doença
que nos aproximamos, e ela acabou
morando comigo um período em
Londres, o qual ele imaginava ter sido
as férias dela. Doeu ver sua reação
quando nossos pais contaram tudo, e
ainda mais porque escondemos isso
dele. E por isso resolvi adiar nossa
conversa sobre Luna.
O que eu faço aqui então? Sendo
que já disse tudo a ele? Não sei ao
certo, mas queria ao menos ver
Danielle. Sinto-me fraco e sozinho,
mesmo sabendo que meus pais estão ao
meu lado, dói demais a perda de Jô e
não poder recorrer a Dani, me machuca
ainda mais. Mesmo assim, resolvo
entrar na casa. Por mais absurdo que
isso pareça.
Assim que adentro a mansão,
noto-a silenciosa, e a passos leves subo
as escadas, em busca da mulher que
quero tanto ver. Quando paro em frente
ao seu quarto, respiro fundo várias
vezes, o que já se tornou um hábito meu.
Levanto minha mão e vou bater, mas a
porta se abre no mesmo instante.
— O que faz aqui? — pergunta
surpresa e dá passos para trás.
— Eu apenas... — respiro fundo
novamente. — Eu...
Seu olhar é frio e sinto-me
quebrar ainda mais, como se pudesse
sentir algo dentro de mim se estilhaçar.
Lágrimas descem por meu rosto e as
limpo rapidamente.
— Desculpe, eu não deveria ter
vindo e...
— Eu entendo. — diz por fim,
me surpreendendo.
— Eu já vou. — anuncio
covardemente.
Ficamos nos encarando por um
momento, mas vejo que ela não vai
mudar de ideia ou tentar me impedir de
ir. Viro-me pra sair e ela não diz nada.
Derrotado é como me sinto. Um grito
vindo do andar debaixo nos chama
atenção, encaro Danielle e ela passa por
mim, correndo pelo corredor e descendo
as escadas, vou em seu encalço.
— Meu Deus, está tudo bem por
aqui? — pergunto ao chegar a cozinha e
estaco ao ver Luna ali.
Esse dia pode piorar ainda
mais?
— Esse é... — meu irmão trava
em sua fala e encaro Luna,
completamente perdido.
— Oi, tia Dani. — Luna diz e
abraça Dani ao meu lado. — Oi,
Castiel!
Travo e fico ainda mais estático
se possível. Encaro Danielle e ela me
olha ainda mais assustada, assim como
Luna me olha.
— Você o conhece? — Caleb
pergunta
— Bom, eu sei a verdade. — ela
diz e me assusto. — Sei que ele é meu
pai biológico.
O que?
— Luna. — Victória a chama.
— Olha, não precisam ficar
assim. — respira fundo. — Eu nunca
tinha o visto pessoalmente antes, quer
dizer... — ela balança a cabeça, como se
espantasse alguma lembrança. — Mas
sei de tudo que houve.
— Mas... — Caleb trava
novamente e fico apenas absorto nesse
momento.
Ela sabe de mim...
— Uma vez entrei no seu quarto
sem permissão, li uma das cartas... —
confessa. — Desculpe por isso, papai.
— Filha... — Victória a encara
em lágrimas.
— Não precisam ficar assim,
sério. — nos olha e sorri. — Sei disso
há muito tempo, não muda nada.
O clima tenso se apodera do
local e meu olhar parece perdido, como
se estivesse fora de órbita ou a
gravidade não fizesse mais efeito.
— Você então sabe que sou...
— Sei que é minha tia, Dani. —
ela sorri e abraça Dani novamente. —
Sempre foi, mas sei que é de sangue
também.
— Desculpe por termos
escondido isso, querida. — Dani diz e
fico ainda mais sem reação.
— Não precisa pedir isso,
ninguém precisa. — nos olha inquisitiva.
— Nunca me faltou amor, carinho... Por
que teriam que pedir desculpas?
— Desculpe mesmo assim,
princesa. — Caleb diz.
— Nem vou dizer nada. — ela
diz e o encara brava.
Ok, tenho que sair daqui!
— Desculpem, eu tenho que ir.
— saio da cozinha e praticamente corro
pra fora da casa.
Eu sempre imaginei como seria
minha conversa com Luna ou até o que
diria a ela. Hoje sei que nunca estarei
preparado para isso, para admitir o quão
fraco fui. Ela sim é uma boa garota,
madura e gentil. Eu não teria nada a
oferecer a ela, assim como não tenho
nada a oferecer para Danielle que não
seja meu amor.
Sou vazio.
Capítulo 13

Danielle

Duas semanas depois

Tento não chorar, mas


novamente, encarando o desenho que fiz
dele, o qual tem seu cheiro, acabo
desmoronando. Rasgo-o em mil
pedaços, soluçando em desespero, por
ser tão fraca e tão manipulável. Eu não
posso amá-lo, e eu tenho que odiá-lo.
Mas como fazer isso depois dos
momentos ao seu lado, que mesmo sendo
poucos, não saem de minha memória?
Encaro novamente o resultado da
pesquisa que fiz na internet e tento não
pirar. Isso não pode estar acontecendo
comigo, não com ele. Choro, agarrada
agora, ao resto de sua imagem e ao meu
celular, tentando entender como pude ser
tão descuidada assim. Como pude não
ter percebido isso antes?
Não que esperasse que
acontecesse ou muito menos que pudesse
realmente desconfiar disso tão rápido.
Mas o medo se apodera de mim desde
aquela fatídica noite, onde me entreguei
a ele e no fim, fui quebrada. Toda
felicidade que havia perdido com a
morte de minha irmã, pensei que iria
recuperar ao lado dele, ledo engano.
Desde aquela noite não há um
dia que consiga dormir direito, que não
tenha sonhos com minha irmã. Em todos
eles eu vejo Annie pequena, correndo
por um imenso jardim, mas não é de fato
minha irmã, eu sinto isso. A menina de
meus sonhos tem os olhos de Castiel, e
isso somado ao que venho sentindo, só
me remeteu a uma coisa: gravidez.
Posso não acreditar em destino,
mas o meu e de Castiel mesmo que de
uma forma ruim sempre estiveram
entrelaçados. Mas como lidar se
realmente estiver grávida dele? Como
assumir que mesmo nos protegendo, isso
aconteceu?
E nesse momento, levo as mãos
ao meu ventre, tentando não pirar, não
querendo acreditar. Mesmo que não
possa sentir basicamente nada
fisicamente, meu estômago já se mostra
embrulhado. Quase quatro semanas após
tudo o que houve, e me descubro aqui,
com medo de estar grávida do homem
que não posso amar. Do homem que me
tirou a pessoa mais importante.
E dessa vez, choro pelo
desespero de não saber o que fazer ou
como lidar com isso. Corro para o
banheiro e deixo a água fria cair sobre
mim, tentando me acalmar, não pirar
dessa vez. Mas lembranças sobre as
noites ao lado de minha irmã, vem com
força em minha mente.
Após os gritos apavorados dela,
Annie finalmente dorme. Os remédios
não podem ser pesados por conta da
gravidez, mas de vez em quando,
conseguem fazê-la dormir serenamente.
Encosto-me na parede,
abraçada aos meus joelhos e choro
sozinha, perdida em meus próprios
pensamentos, com a chave do quarto ao
lado pendurada em uma corrente no
meu pescoço. Por medo de que durma e
ela a pegue sem que eu veja, e faça
algo contra a vida do seu bebê. Já que
escondi qualquer tipo de coisa que ela
possa se ferir lá.
Annie se tornou outra pessoa
desde a gravidez, na realidade, até um
pouco antes de sabermos disso. Ela já
não chegava tão cedo do trabalho e
parecia até mais feliz, mas eu não disse
nada, gostava de vê-la sorrir. Mas
desde que contou sobre sua gravidez,
tudo mudou. Minha irmã feliz
desapareceu e deu origem a alguém
que não conheço. Alguém que é capaz
de tudo por ser apaixonada pelo
homem que a abandonou grávida.
Se não fosse seu amigo, Caleb,
não sei o que teria acontecido. Annie
acabou saindo do trabalho, segundo
ela, pela gravidez. Então como nos
sustentaríamos? Caleb é um anjo em
nossas vidas, pois não tenho outra
definição. Mesmo com apenas quinze
anos, li alguma vez em um lugar que
anjos ajudam pessoas. E é isso que ele
faz a nós.
Mesmo assim, não acho justo
dizer a ele sobre o que Annie ameaça
ou quer fazer com o bebê. Ele sempre a
trata com carinho e tenta acalmá-la.
Queria muito que ele fosse o pai do
bebê, assim minha irmã poderia ser
feliz. Mas não entendo muito de
sentimentos, nem sei ao certo como ela
se envolveu com um cara, o qual ela
chama de amor, mas denomino monstro.
Pois ele a transformou em outra
pessoa.
Grito alto, tentando apagar essas
lembranças de mim, mas elas parecem
cravadas em minha memória, como se
nunca pudesse esquecê-las. E elas
machucam, demais. Pois sempre
remetem ao dia que perdi Annie.
Ansiedade é o que me define.
A bolsa de Annie estourou e
arrumamos rapidamente as suas
coisas, entrando no carro de Caleb,
assim seguindo para o hospital. Minha
irmã finalmente sorri, e sei que é
verdadeiro.
— Você é tudo pra mim, irmã.
— diz, antes de seguir em uma maca. —
Confie em Caleb.
Antes que eu possa dizer algo,
os enfermeiros a levam. Caleb me
abraça carinhosamente e eu sorrio em
meio a emoção. Minha sobrinha
finalmente iria nascer e assim, tenho
certeza, Annie ficará feliz novamente.
Seríamos três garotas agora.
— Vou acompanhar o parto,
tudo bem? — Caleb pergunta e eu
assinto.
Horas depois e o desespero já
toma conta de mim. Pergunto na
recepção várias vezes sobre minha
irmã, mas eles não tem resposta
alguma. Pesquiso na internet e vejo
que as vezes o parto leva um bom
tempo. Mas algo parece errado.
Sinto uma pontada forte no
peito e é como se faltasse ar. Encaro o
chão do hospital e as palavras de Annie
vem em minha mente: Confie em Caleb.
Por que ela disse isso?
Minutos depois, ele mesmo
aparece. E se já não bastasse a dor em
meu peito, quando meus olhos se
encontram com os dele, vejo-os
vermelhos.
— Não! — grito. — O que
aconteceu?
— Dani, eu...
— Luna está bem? — pergunto
em desespero. — Por que está
chorando?
— Se acalma. — me abraça. —
Luna está bem. — diz baixinho.
Mesmo assim, não consigo me
sentir bem.
— Annie... — digo e ele então
me encara.
Seu semblante cai ainda mais e
só assim as palavras de minha irmã
fazem sentido.
— Não! — grito e tento correr
pelo corredor, querendo vê-la. — Ela
não...
— Annie escolheu a vida de
Luna. — confessa e choro
descontroladamente. — Ela salvou a
vida de...
— Não, ela não pode ter...
— Eu sinto muito, Dani. — ele
chora junto a mim.
E depois disso, soube que nunca
seria a mesma novamente.

***

Encaro o teste a minha frente e


sinto a ânsia vir com força. Entro em
casa e noto-a silenciosa, tento controlar
a ânsia, porém ela só piora. Quando vou
ver já estou caída de joelhos no chão e
desabo, em meio a choro e a dor em
estômago, no banheiro do corredor.
Mesmo com a ânsia, o vômito não se faz
presente e sinto ainda pior a dor em meu
abdômen. Assim, choro ainda mais.
Levanto-me, lavo o rosto e encaro
novamente o resultado. Positivo.
Faço mais dois testes, para ter a
certeza e fico apenas esperando dar o
tempo. Assim que meu celular vibra,
fecha os olhos com força e tento tomar
coragem para ver os outros dois testes.
Quando abro os olhos, mais lágrimas
descem e tento não gritar. Todos
positivos.
Ouço batidas na porta e me
assusto, enrolando rapidamente os testes
em um pedaço de papel higiênico e
jogando-o no lixo vazio.
— Um minuto. — digo.
Respiro fundo e abro a porta.
Victória me encara desconfiada e eu
abro um sorriso fraco, tentando disfarçar
minha atual situação.
— Tudo bem? — pergunta e eu
assinto. — Comeu algo diferente?
— Acho que foi o sushi que
comi ontem. — minto e passo as mãos
por meu rosto. Sinto novamente ânsia e
franzo a testa, tentando reprimir isso.
— Tente descansar um pouco, já
levo um remédio ótimo pra enjoo que
tenho no quarto. — ela diz.
— Não precisa, Vic.
— Claro que sim, vai lá! —
insiste e eu cedo.
— Obrigada. — digo e saio
mesmo a contragosto.
A passos lentos tento fingir ir
para meu quarto, assim que ouço os
passos dela se afastarem, viro-me e
espero algum tempo, até que tenha
certeza de que Victória está em seu
quarto. Assim que estimo um bom
tempo, faço o caminho de volta ao
banheiro. Assusto-me ao encontrar
Victória dentro dele e ainda mais com os
testes em mãos.
Droga!
— Vic, não é o que está
pensando. — tento dizer, mas ela
simplesmente me encara séria.
— Então me dê uma luz. —
pede.
— São...
— Castiel é o pai? — pergunta e
suspiro fundo.
— Sim. — confesso e não
consigo mais controlar o choro.
— Shhhh. — me abraça. — Está
tudo bem.
— Não, nunca mais estará. —
digo e a realidade vem em minha mente,
assim saio dali.
Nada será como antes a partir de
agora. Nada.
Capítulo 14

Castiel

Uma semana depois

As últimas semanas pareceram


se arrastar, como se fossem apenas parte
de minha sobrevivência. Ao mesmo que
a saudade de Jô me dói, a de Dani
parece me atormentar. Pelo menos tive
algo para ocupar minha cabeça durante
todo o tempo que se passou, buscando
mais sobre o passado de minha família.
Tentando descobrir onde minha mãe
biológica está e se a mãe de Victória,
Julianne, pode estar envolvida nisso.
Ainda mais porque nosso irmão mais
novo, Christopher, pode estar no meio
disso também.
— Preciso de uma pausa! —
peço, após horas concentrado em papéis
junto a Caleb. — Não entendo o porquê
de ter tantos tipos de uísque aqui. —
pego uma água e encaro meu irmão.
— Talvez por que antes de me
acertar com Victória, a bebida era a
única coisa a qual podia recorrer? —
pergunta desgostoso.
— Como pude ter um irmão tão
maricas? — zombo.
— Me diga você como está
fazendo para esquecer Dani? Já que
bebida está fora de cogitação. —
provoca e enrijeço no mesmo instante.
— Ok, fez seu ponto! — dou de
ombros— Mas me diga, quem está
cuidando do escritório?
— Herrera por enquanto assumiu
meu lugar, mas espero poder voltar logo.
— Nenhuma de suas filhas está
interessada em assumir seu lugar? Digo
futuramente. — pergunto.
— Luna mesmo tendo casado
cedo, ainda está terminando a faculdade
de medicina...
— Eu soube disso através de Jô,
confesso que fiquei assustado. —
intervenho.
— Por que? — pergunta sem
entender.
— Você por um acaso mandou
me investigar durante esses anos que se
passaram? — pergunto.
— Sim, mas a única informação
que obtive foi que você mora em
Londres. — esclarece.
— Foi o que pedi para que
Joaquim dissesse. — ele arregala os
olhos e eu sorrio sem jeito. — Aliás,
sou médico.
— Ela realmente tem muito de
você. — diz e fico completamente
desconcertado.
Se ele soubesse do que
desconfio...
Mas com tudo que está havendo
resolvi deixar isso pra depois, pois
pode esperar.
— Caleb, eu não...
— Não fico nenhum pouco
chateado com isso, aposto que ela vai
amar saber que tem um médico na
família. — sorri e fico aliviado.
— Obrigado. Espero um dia ter
coragem de falar abertamente com ela.
— sento-me na cadeira. — E Babi?
— Babi vai prestar os
vestibulares este ano, os resultados
saem no máximo até fevereiro do ano
que vem eu acho. Porém nada tem a ver
com direito... Ela quer ser designer.
— Ela já tem um estágio
garantido com o senhor Rodrigo Soares,
aposto. — concluo e ele sorri.
Passamos alguns minutos
conversando sobre amenidades, e é bom
ter esse contato com ele novamente.
Quanto tempo pensei que jamais teria
uma relação sequer com meu irmão? É
bom tê-lo próximo a mim.
— Melhor voltarmos ao
trabalho. — digo por fim, e lá vamos
nós de novo.
Analisamos vídeos, documentos,
assinaturas e tudo mais que foi possível
de se encontrar até o momento. Assim
como não sabemos onde Lívia foi parar,
sendo que os laudos constam que ela
morreu no parto, e minha mãe confirmou
que na realidade foi tudo algum tipo de
armação, muito bem formulada.
Então, Lívia está viva e sabemos
que foi a culpada da falência de nossa
família anos atrás, o que acarretou o
casamento de Victória e Caleb. Minhas
suspeitas sobre Julianne ter
envolvimento com tudo estão ainda mais
alarmantes devido a isso, ainda mais
depois que meus pais nos contaram
sobre como a relação deles com ela
ficou abalada após o casamento e
nenhum deles sabe onde ela está desde
então.
As horas passam rapidamente e
mesmo assim ainda não tínhamos
encontrado muita coisa. Haviam algumas
suspeitas de porquê a tal filha de Lívia,
Paula está envolvida com nosso irmão,
Christopher, mas isso ainda não nos
convenceu. Tudo ainda parece estranho,
Chris nunca me pareceu fã de
relacionamentos sérios e Caleb que é
mais próximo, confirmou o mesmo.
Talvez fosse apenas uma fachada para
ele e ela tivesse um plano por trás.
Continuo passando alguns papéis
e estaco ao ver fotos. Dominic
Donatello, o grande concorrente da
Soares Mídia, juntamente com Julianne
em uma foto.
— Caleb, olhe isso! — mostro a
meu irmão.
— O que? — pergunta confuso.
— Olhe mais um pouco, com
atenção.
Ele analisa a foto por alguns
segundos e me encara assustado, um
pouco perdido ainda.
— Dominic. — esclareço.
— O que?
— Olhe só! — jogo uma outra
foto. — São a mesma pessoa, Dominic
Donatello tem alguma ligação com
Julianne.
— Então eles...
O toque alto do seu celular faz
com que Caleb se cale e ele atende
prontamente. Fico em silêncio, voltando
minha atenção para as fotos, mas o tom
de Caleb me chama atenção.
— Ok, estamos indo! — ele
finalmente desliga e eu o encaro
confuso.
— O que houve, Caleb? —
pergunto.
— Preciso que seja o homem
que de fato é dessa vez, Castiel!
— Mas... Do que está falando?
— fico completamente perdido.
— Você ama Dani? — pergunta e
nervosismo toma conta de mim.
O que aconteceu?
— Sim, eu a amo mas... O que
houve Caleb? Ela está bem? —
pergunto, já desesperado.
— Eles sofreram um acidente e
Dani foi quem...
— Onde ela está? — pergunto,
já me levantando e procurando as
chaves.
— Ela quase perdeu o bebê. —
diz e paro no mesmo instante.
Fecho os olhos com força e tento
absorver suas palavras.
— Bebê? — pergunto receoso e
finalmente o encara, o qual assente. —
Eu vou ser pai? — pergunto mais a mim
mesmo do que a ele.
— Você vai. — responde. —
Dani não pode sofrer nenhum abalo
Castiel, por favor.
— Eu estarei ao lado dela, isso é
uma promessa. — digo e tento não pirar.
Eu vou ser pai.
O caminho até o hospital é feito
em silêncio, e a ansiedade de vê-la
aumenta a cada segundo. Meu coração
está acelerado e meu corpo anseia por
alívio, algo que possa me acalmar.
Fecho os olhos várias vezes e pela
primeira vez, agradeço aos céus por
isso. Pois para mim, por mais que ainda
não seja a melhor pessoa do mundo e
esteja apavorado. Eu não consigo deixar
de ficar feliz com a notícia, pois vou ter
um filho com a mulher que amo. Parece
uma ironia do destino, mas prefiro
acreditar que seja o nosso destino.
Assim que adentramos o
hospital, respiro fundo várias vezes
tentando ficar calmo. A preocupação
com Dani é tanta que assim que liberam
nossas entradas, troco meia palavra com
meu irmão e vou para o quarto dela.
Quando chego até ele, vejo-a
deitada em uma cama, com os olhos
fechados, em sono profundo. Há alguns
arranhões em sua pele, mas nada parece
grave. Vou até ela e toco com cuidado
sua barriga, apenas sentindo pela
primeira vez a sensação verdadeira do
que é ser pai. O que tanto fugi há anos
atrás. E dessa vez, choro. Pela emoção
de ter uma segunda chance e só consigo
imaginar a felicidade de Jô ao saber que
seria avó. Sorrio em meio as lágrimas e
levo minhas mãos até o rosto de
Danielle, acariciando-o de leve.
— Eu te amo, feiticeira. —
declaro e tento conter as lágrimas.
Horas depois permaneço sentado
em uma poltrona ao lado de sua cama.
Havia conversado com seu médico e ele
me deixou claro que foi por pouco que
ela não perdeu o bebê. Senti-me ainda
pior naquele momento, pois não sei ao
certo como ser pai e muito menos como
agir. Mas por ela eu darei meu melhor,
por ela e nosso bebê. Para que sejamos
uma família.

Danielle

É um local branco, há apenas


uma névoa passando ali. Onde eu
estou?
Noto rapidamente duas
perninhas gorduchas correndo em
minha direção.
— Quem é você? Ei, onde você
vai? — pergunto sem obter respostas
do pequeno bebê que se afasta de mim.
Os cabelos loiros e olhos verdes
me remetem a... Minha bebê!
— Não! — grito, porém ela se
afasta ainda mais e de repente tudo
fica negro.

— Eu queria te falar tantas


coisas... Queria poder tocá-la
novamente e estar ao seu lado a cada
segundo a partir de agora. Eu a amo
tanto minha Dani e ainda mais o nosso
bebê.
Eu sei que só posso estar
sonhando, a voz baixa de Castiel
dizendo tais palavras me acalmam e
pude me sentir feliz pela primeira vez
após essas semanas guardando nosso
bem mais precioso. Levo então minhas
mãos ao ventre e logo sinto uma outra
mão quente pousada ali.
Mas o que?
— Dani, você está bem? —
forço meus olhos a se abrir e encaro os
olhos verdes do homem que amo.
Ele realmente está aqui, então
ele disse mesmo aquelas palavras.
Ele ama nosso bebê.
Analiso o resto do ambiente e
tento me enquadrar ali. Estou em um
hospital?
— Ah meu Deus! — grito assim
que me lembro do baque da batida e do
sonho. — Nossa bebê está bem Castiel?
Ela...
— Quase perdemos ela. — diz e
as lágrimas descem livremente pelo meu
rosto. — Espera um pouco aí, você já
sabe o sexo?
— Eu tive um sonho, apenas
isso. Sinto que é uma menina. — digo e
sorrio ao pensar no nome dela. — O que
faz aqui? — pergunto abruptamente.
— Vim passar a noite com você
e...
— A noite? Que horas são? —
pergunto confusa.
— Duas da madrugada. Mais
tarde se tudo estiver bem, você já será
liberada. — responde e eu apenas
assinto.
O silêncio toma conta do
ambiente e ficamos nos encarando por
alguns minutos sem dizer nada. E há
tanto a ser dito.
— Eu só queria a chance de
poder me explicar, contar o meu lado da
história... Sei que o que fiz a sua irmã
não tem perdão, mas eu não poderei
seguir em frente sem você... Sem vocês.
Um redemoinho de lembranças
invade minha mente. Os gritos e
desespero de minha irmã todas as noites,
as quais passei em claro por medo dela
tentar algo contra o bebê.
Eu me apaixonei perdidamente
pelo Castiel que era doce e gentil,
sarcástico e irredutível... Não amo o
monstro que destruiu a vida da minha
irmã. E eu não posso simplesmente
esquecer toda a dor que senti e sinto,
apenas para brincar de casinha até que
ele se cansasse de mim, e eu fosse
jogada pra fora da sua vida.
Estava decidida, eu não iria cair
nos jogos de Castiel.
— Dani...
— Não precisa fazer isso, não
precisa cuidar da bebê e muito menos de
mim! — o corto rapidamente.
— Eu quero Dani, quero estar ao
seu lado. — diz decidido. — E estarei.
— Não pode me obrigar a ficar
com você! — me altero e ele fecha
completamente sua expressão.
— Posso tanto que vou. —
afirma de modo autoritário e minha
vontade é de esganá-lo.
— Não, não pode! Enquanto esse
bebê estiver em minha barriga não pode
fazer nada a respeito.
— Assim que todo esse inferno
acabar, vocês irão embora comigo. Será
minha mulher e mãe da nossa filha, não
aceito menos que isso Danielle! — diz
em tom baixo e convicto, e eu me retraio
um pouco.
Que papo é esse de "minha
mulher"?
— Como você faria isso? Nos
levaria pra onde? — pergunto
sarcástica. — Eu jamais vou pra
qualquer lugar com você, seu monstro.
Por que seria mulher do homem que
matou minha irmã? — grito com raiva e
logo noto seu olhar magoado. Droga!
— Cas...
— Ok, se é assim que você quer.
Duas opções: ou irá embora comigo, ou
assim que a bebê nascer perderá
qualquer tipo de poder sobre ela. O que
acha? — diz em um tom frio.
— Você não seria capaz disso...
Caleb não deixaria.
— Caleb não tem nada a ver com
isso. — me corta. — Eu tenho ótimos
advogados Dani, não ouse brincar
comigo. E já que quer que eu seja o
monstro, então serei.
— Eu te odeio! — grito e ele se
aproxima de mim.
— Eu sei. — diz baixinho. —
Mas eu te amo minha feiticeira e nada
irá me fazer ficar longe de vocês. —
confessa me olhando.
— Você está me obrigando a
ficar com você, eu não quero!
— Eu sei que quer, sei que a
mesma Dani que se entregou
completamente a mim e se declarou, está
aí dentro em algum lugar... E eu vou
reencontrá-la.
Minha mente viaja para os
momentos que passamos juntos... Foram
tão fortes e intensos. Eu achei que
finalmente havia achado minha outra
metade... Porém, Castiel está longe de
ser isso.
— Sua filha nem nasceu e você
está ameaçando tirá-la de mim! Como
pode? — seguro as lágrimas.
— Eu estou apenas fazendo o
que posso pra que vá embora comigo.
Eu preciso de vocês.
— Pra onde diabos você quer
nos levar? — pergunto sem entender.
— Pra Londres, sua nova casa.
— Você pirou Castiel? —
pergunto incrédula. — Não é porque de
repente decidiu que está preparado para
ser pai que...
— Apenas descanse, e me
desculpe por ter me alterado. —
esclarece. — Pode não acreditar, mas eu
não sei o que faria caso te perdesse ou
tivéssemos perdido o nosso bebê. O
qual eu nem sabia que existia. — revela
magoado.
Apenas continuo encarando-o e
num momento de covardia, dou-lhe as
costas e finjo dormir. Mas o meu choro é
feito em silêncio, sabendo que mesmo
que sua proposta seja absurda, não
posso descarta-la. Meu bebê merece
uma família, por mais que seja com o
homem errado pra mim, Castiel é o pai
dele, e isso eu não posso mudar.
Capítulo 15

Danielle

Quando finalmente tenho alta, já


é outro dia. Castiel trouxe roupas para
mim e tentou até me ajudar a me vestir,
porém acabei pendido um socorro
silencioso para a enfermeira que assistia
tudo em silêncio, a qual, felizmente,
entendeu.
— Ele parece ser um cara legal.
— diz e sorri. — Não quero ser
intrometida, senhorita Campos, mas
homens como ele estão em falta.
— Eu...
— Me desculpe, isso foi
antiético. — sorri sem graça.
Assim que termina de me ajudar,
ela sai e eu apenas sorrio sem jeito. Ao
mesmo tempo que fiquei sem reação
sobre o que a enfermeira disse, fiquei
com raiva pelo modo como ela o olhou.
Ou melhor, o modo como a maioria das
enfermeiras que vieram até aqui o
olharam. Desocupadas!
— Pronta? — Castiel pergunta e
eu assinto.
Esperamos por um tempo o
médico aparecer e logo ele assina minha
alta. Quando saímos do quarto, Castiel
enlaça minha cintura e mesmo querendo
tirar sua mão dali, acabo não o fazendo.
Ele me ajuda a sentar na cadeira de
rodas e sorri fraco, me levando até a
saída. O que é um procedimento padrão,
por conta do risco recente.
Quando finalmente entramos no
carro, Castiel me entrega um travesseiro
e pede para que me afaste um pouco
para frente.
— O que está fazendo? —
pergunto, enquanto ele coloca o
travesseiro em minhas costas.
— É para melhor conforto de
suas costas. — responde e força um
sorriso. — Eu li algumas coisas na
internet enquanto dormiu... Eu vi que
grávidas tendem a sentir dor nas costas
e...
— Devia parar de agir assim. —
peço e ele se afasta, colocando seu
cinto. — Melhor sermos sincero um com
o outro sobre o que está havendo. Sobre
o que disse no hospital.
— Como assim? — pergunta e
liga o carro, tirando-nos dali.
— Ao começar por não saber
pra onde vou. — digo e o encaro. —
Preciso pegar roupas na casa de
Victória, vou ficar no apartamento de
Isaac por um tempo.
— Por que? — pergunta e noto
que aperta com mais força o volante.
— Porque preciso pensar sobre
o que está havendo e...
— Eu não sou idiota, Danielle.
— diz de repente. — Não é difícil
imaginar que já sabe da gravidez há
algum tempo, pois meu irmão já sabia
sobre. Não acha que teve tempo
suficiente para pensar em como agir, ou
até mesmo me contar? — pergunta
nervoso.
— Eu não sei como faria isso,
mas eu iria te contar em algum momento.
— retruco e volto minha atenção pra
janela.
— Por que não pode ficar no
meu apartamento então? Até resolver os
problemas que tenho aqui e minhas
férias acabarem, assim poderíamos ir
pra Londres e...
— Qual o seu objetivo ao me
levar pra Londres? — pergunto já
cansada. — Não precisamos estar juntos
para sermos pais dessa criança.
— Eu sei disso. — esclarece. —
Mas quero estar 100% presente na vida
de nosso filho e não tenho como
simplesmente abandonar meu emprego
agora... Como disse que não está feliz
com seu trabalho, pensei que poderia
buscar realizar seu sonho de criar e ao
mesmo tempo poderíamos criar nosso
filho juntos.
Fico em silêncio e absorvo suas
palavras. Ok, meu emprego não é ruim,
mas simplesmente não é minha grande
paixão. Há tempos que quero sair de lá e
não encontrei o motivo certo. Mas ainda
sim, como será sair daqui e descobrir o
exterior? Eu sempre quis conhecer
Londres, mas pelo medo do avião e o
medo de estar sozinha, nunca consegui
viajar. Será que seria uma boa hora?
Será que aceitar isso de Castiel, não é
uma afronta a memória de minha irmã?
Mas ao mesmo tempo penso que Annie
jamais me perdoaria por não deixar que
meu filho conviva com o pai, sendo que
ela sofreu tanto por não ter isso. E como
lidar que o mesmo homem que a
abandonou, me quer ao seu lado em sua
casa e em sua vida? Isso não faz sentido
ainda pra mim, não mesmo.
— Eu só não quero o título de
sua mulher. — ouço seu suspirar fundo e
me segundo para não olhá-lo. — Vou
ser sincera com você Castiel, senão
fosse essa gravidez, eu jamais o deixaria
se aproximar de mim.
— Eu sei. — diz simplesmente.
— E concorda com isso? —
pergunto surpresa.
— Não, mas aceito.
Assim, o silêncio se faz entre
nós e dessa vez é torturante. Castiel o
nota em poucos minutos e logo liga o
som. O som de One and Only de Adele
se faz presente e eu tento não pensar na
letra, e muito menos o olhar, mas parece
impossível.
“Você está na minha cabeça
E eu adoro mais a cada dia
Me perco no tempo
Só pensando em seu rosto
Só Deus sabe por que levou
tanto tempo para deixar
minhas dúvidas partirem
Você é o único que eu quero

Eu não sei por que eu estou com


medo
Eu já estive aqui antes
Cada sentimento, cada palavra
Já imaginei isso tudo
Você nunca saberá se nunca
tentar
Esquecer o seu passado e
simplesmente ser meu”

Como se fossemos puxados um


pro outro, ao mesmo tempo nos olhamos.
Seus olhos verdes me encaram tristes e
tento não chorar. O sinal está vermelho e
eu sei que poderia beijá-lo, nos livrar
dessa aflição mas algo dentro de mim
impede. Infelizmente ainda não esqueci
meu passado e nem sei se acontecerá.

“Eu te desafio a me deixar ser


sua primeira e única
Juro que valho a pena
Você me abraçar em seus
braços
Então venha e me dê uma
chance
Para provar que eu sou a única
que pode trilhar esse caminho
Até o final começar
Se eu estive na sua cabeça
Você se prende a cada palavra
que eu digo
Perca-se no tempo
Com a menção de meu nome
Será que um dia eu saberei
como é ficar perto de você
E fazer você dizer que irá
comigo para onde eu for?
Eu sei que não é fácil desistir
do seu coração
Ninguém é perfeito
Acredite, eu aprendi”
(One and Only – Adele)

Tento não pirar e levo minha


mão ao meu ventre, quando uma nova
música começa a tocar. Sinto meu corpo
mais leve e a dor em meu corpo mesmo
que pouca, faz com que me aconchegue
ainda mais ao travesseiro que Castiel
trouxe. Assim, acabo adormecendo.
***

Acordo com uma pequena dor de


cabeça e sinto meu corpo pesado, porém
abaixo de mim sinto um colchão macio.
Respiro fundo e abro os olhos,
encarando o quarto de Castiel pela
pequena fresta de luz que vem de uma
porta aberta. Arrasto meu corpo com
cuidado até a cabeceira e aos poucos
firmo meus pés no chão. Vejo duas
malas minhas encostadas perto do closet
e deduzo que eles a pegou na mansão.
Penso em levantar, mas por
medo dos cuidados que o médico pediu
para que tivesse, acabo não o fazendo.
Apenas sinto o chão gelado na planta de
meus pés e espreguiço-me. Escuto ao
longe a voz de Castiel e minha
curiosidade se aguça.
Ok, o médico não me proibiu de
andar!
Segurando-me nas paredes, ando
bem devagar e saio do quarto sem fazer
barulho. De longe, vejo-o sentado no
sofá da sala, encarando um computador
a sua frente, o qual tem uma mulher o
olhando de volta. Fico então parada,
apenas tentando ouvir. Os dois
conversam em inglês e ao olhar
novamente para a imagem no
computador, reparo ser uma mulher loira
de olhos azuis.
Sem conseguir me conter, me
aproximo mais e logo os olhos dela
pairam em mim. Castiel se vira no
mesmo instante e se sorri fraco ao me
ver. Sinto falta do seu sorriso cínico.
— Ali, essa é Danielle. — ele
diz e eu forço um sorriso a ela.
Então sua melhor amiga, Alice,
tem até um apelido... Ali!
— Prazer te conhecer, Danielle.
— diz e eu assinto, falando do mesmo
modo.
— Precisa de algo? — Castiel
pergunta e eu penso um pouco.
— Na realidade sim. — ele
então assente e fico feliz, pois esquece
completamente de Alice no computador,
a qual vejo por canto de olho, nos
encara de modo magoado.
Ela gosta dele!
— Preciso comer algo. —
declaro.
— Ok, eu vou pedir alguma
coisa e...
— Não, quero ir ao
supermercado comprar os ingredientes...
Gosto de cozinhar.
Tudo para tirar a atenção dele
sobre essa mulher. Vacalice!
— Tudo bem. — cede e se
despede rapidamente de Alice, a qual
sequer me encara. — Vamos? —
pergunta.
— Na verdade, prefiro ir para o
apartamento de Isaac, cozinhar lá. —
digo e ele me encara sem jeito.
— Eu não consegui deixa-la
sozinha lá, fiquei preocupado. —
declara. — Eu tenho um quarto de
hóspedes, por que não fica nele ou no
meu quarto? Tenho medo que passe mal
e...
— Tudo bem. — digo de uma
vez, antes que me arrependa. — Mas
ainda sim preciso comprar algo pra
comer.
— Ok, quer ir mesmo ao
supermercado? — pergunta e sorri de
lado. — Tem bastante comida aqui.
— Posso dar uma olhada? — ele
assente, então ando até a cozinha.
Uma fraqueza toma conta de meu
corpo e sinto-me cair, porém o seu
corpo logo me segura.
— Obrigada. — digo,
embriagada por seu cheiro.
— Sempre estarei aqui,
feiticeira. — diz baixinho, o que me
deixa sem resposta.
Não há como fugir desse
sentimento.
Capítulo 16

Danielle

Alguns dias depois

Deito-me na cama e fico


divagando dentro do quarto de
hóspedes. Os últimos dias tem sido bons
e tenho que admitir isso. Castiel sempre
é atencioso e está ao meu lado para
ajudar. Minhas dores pelo corpo
praticamente se foram e apenas espero
ter uma nova avaliação médica, no caso
fazer o ultrassom, que será justamente
hoje.
Levanto-me e coloco um vestido
solto branco, encaro meu reflexo no
espelho e busco algum arredondado mas
ainda não há nada. Por mais que tudo
seja inesperado, não consigo não sorrir
ao saber que há uma vida crescendo
dentro de mim. Além de que faz noites
que tenho sonhos tranquilos com a
mesma menininha de olhos verdes como
Castiel correndo por um jardim.
— Será que você é vai ser
mesmo uma menina? — pergunto a
minha barriga.
Ouço batidas na porta e já pego
minha bolsa em cima da cama.
Felizmente estou bem para andar agora,
quase nada me oportuna.
Abro a porta e Castiel sorri pra
mim, vestido despojadamente em um
jeans de lavagem gasta e uma camisa
branca dobrada até os cotovelos.
— Pronta?
— Sim. — digo e passo por ele.
— Victória ligou e disse que
estará lá conosco. — informa e assinto.
Victória veio me ver várias
vezes durantes esses dias, até eu fui em
minha real casa. Na cabeça dela o que
venho vivendo com Castiel é muito mais
do que pra minha segurança, mas resolvi
não discutir. Não quero que ela me
julgue por algo e ainda mais tirar o
sorriso do rosto dos pais de Castiel
após contarmos a novidade. Eu só
consigo imaginar o quão Jô ficaria feliz
também.
Quando finalmente chegamos a
clínica, sorrio para a recepcionista e ela
pede para que eu aguarde. Minutos
depois Victória aparece e não está com
a melhor cara possível.
— Você acredita que Caleb acha
que gravidez é doença agora? —
pergunta nervosa. — Não quer me
deixar sequer ficar em frente ao
computador, deve ter pirado.
Caleb está em pé ao seu lado e a
encara incrédulo.
— Mas espera um pouco aí,
você está grávida? — pergunto surpresa.
Victória me olha sem graça e
gargalha alto, juntamente com Caleb.
— Ok, eu jurava que tinha dito.
— sorri. — Você vai ser madrinha logo
logo. — diz animada.
— Ah meu Deus! — a abraço
com carinho e sorrio ainda mais.
— Parece que teremos trabalho,
Caleb. — encaro Castiel e finalmente
enxergo seu sorriso cínico.
— Não me diga, já me basta ter
os casos complicados na advocacia.
Agora tenho uma mulher que insiste em
querer me contrariar.
— Caleb Soares! — Victória diz
e o encara brava.
Sorrio deles e sinto um aperto no
peito. Não tenho isso com Castiel e nem
posso querer. É apenas pelo bebê que
ficaremos “juntos”, apenas isso.
Quando finalmente somos
chamadas, Victória segue para um
médico e eu para outro, não sabíamos,
mas sem querer nossas consultas foram
marcadas no mesmo horário.
— Boa tarde, mamãe. — o
médico anuncia e eu sorrio pra ele. —
Boa tarde, papai.
Castiel o cumprimenta e logo me
sento em uma cama reclinável, enquanto
Castiel permanece em pé, sem querer se
sentar. Os minutos passam e ele faz
várias perguntas, quando finalmente ele
começa o ultrassom, fico um pouco
tensa, pois lembro-me que já vi tudo
isso com Annie. Mas resolvo deixar isso
de lado, pelo menos por agora.
— Ali mamãe, aquele ali é seu
bebê. — ele me indica uma manchinha
borrada na tela e choro emocionada.
Encaro Castiel e já o vejo com
os olhos vermelhos.
— Ainda é cedo para ouvir o
coração ou sabermos o sexo. — ele diz.
— Pelo que me disse sofreu um acidente
há alguns dias, mas felizmente está tudo
bem.
Sorrio já aliviada e só assim
noto um aperto em minha mão, a qual
está por baixo da de Castiel. Puxo-a
delicadamente da dele, o qual está tão
feliz pela imagem na tela, que sequer me
encara por isso. Querendo ou não,
estamos unidos demais após isso, além
do sentimento que ainda tenho por ele.
Estou perdida, porém feliz.

***

Sede. Minha boca parece


completamente seca, e então forço-me a
levantar. Geralmente não acordo a noite
e muito menos acordo com barulhos,
meu sono é pesado, o que pode ser
considerado bom e ruim ao mesmo
tempo. Mas com a sede que estou, não
há outra opção a não ser ir a cozinha.
Coloco meus chinelos e saio do
quarto abraçada ao meu corpo. Parece
que está meio frio essa noite. Ou seria
madrugada? Encaro o relógio da cozinha
assim que chego lá e constato que são
1h30 da manhã. Abro a geladeira e
sorrio ao ver a grande garrafa de água
gelada. Coloco o líquido em um copo e
vou bebendo aos poucos. Assim que
termino, acabo pegando a garrafa e o
copo, resolvo levar ao quarto.
Voltando para lá, escuto um
ruído alto, que logo se torna um grito.
Noto que vem do quarto de Castiel,
deixo a garrafa e o copo no chão e corro
para o quarto dele. Abro a porta e
estaco no lugar ao ver sua situação.
— Não! — ele grita e aperta
com força o travesseiro, de modo que
seu corpo parece travado em posição
fetal, enquanto seus dentes estão
trincados.
— Cas... — o chamo incerta.
Chego mais perto e seus gritos
parecem piorar ainda mais.
— É minha culpa! — grita ainda
mais alto. — Minha!
— Cas... — insisto e noto seus
olhos fechados.
Ele está tendo um pesadelo.
Tomo coragem e vou até ele,
abraçando-o com cuidado, fazendo
carinhos em seus cabelos.
— Estou aqui. — digo baixinho
e ele se mexe um pouco, ainda alterado.
— Estou aqui.
Ele continua por alguns
momentos soltando alguns ruídos altos,
mas logo seus gritos param. Continuo
apenas acariciando seus cabelos e tento
não assustá-lo. Passam-se alguns
minutos e logo escuto sua respiração
leve. Ele dormiu.
Será que esses pesadelos são
comuns? O que será que eles são?
Pergunto-me e sinto sua dor, como se
fossemos interligados.
— O que você tem, Cas? —
beijo seu rosto e ele continua dormindo.
Levanto-me de sua cama a
contragosto e paro na porta antes de sair
do quarto. Observo-o dormir
calmamente e sinto-me um pouco
aliviada. Esse homem realmente tem
seus demônios, e com certeza deve lutar
para vencê-los sozinho.
— Dani. — fico parada e dou
passos em sua direção, vendo seus
lindos olhos abertos. — O que faz aqui?
— pergunta surpreso.
— Eu...
— Eu te acordei, não foi? —
pergunta sem jeito e senta-se encostado
na cabeceira. — Sinto muito por isso,
não se preocupe.
— Mas Castiel, o que aconteceu
para que...
— Esqueça o que viu aqui. —
diz nervoso.
— Mas...
— Preciso que saia do meu
quarto. — pede e fico perplexa. — Por
favor, Danielle.
— Ok. — digo e logo saio.
Arrependo-me no mesmo
instante por ter feito isso e assim que
alcanço o corredor, acabo retornando
para seu quarto, o qual encontro
trancado. Ele não quer realmente me
contar e não vai. Ok, somos mesmo
incompatíveis. Ele preso a seus
demônios, e eu presa a meu passado.
Capítulo 17

Castiel

Cerca de um mês
depois

— Não! — grito e tento ir até


minha mãe.
Escuto o som de um tiro e ao
mesmo tempo sinto minha perna
queimar.
Droga!
— Cas! — Danielle grita.
Levo as mãos a perna e tento
evitar que o sangue saia. Sinto a dor
forte e tento focar no que acontece a
minha frente.
Seja forte!
Mas dessa vez vejo Paulo sacar
a arma e destravá-la, acertando
Danielle, Leandra, Lívia...
— Não! — grito e tento chegar
até elas. — Não!
— Castiel. — ouço uma doce
voz me chamar e sinto alívio no mesmo
instante. — Castiel!
Sinto braços quentes me
envolverem e tento abrir os olhos, fugir
novamente desse pesadelo que me
assombra. Antes de tudo que houve no
último mês, meus pesadelos eram
baseados na morte de Annie e de Jô...
Hoje imagens de Paulo tão próximo as
pessoas que amo com uma arma, me
atormentam até mesmo acordado.
Abro os olhos e encontro
Danielle agarrada a mim, noto minha
camisa molhada e todo meu corpo está
do mesmo modo, por conta do suor. Esse
com certeza foi um dos piores.
— Eu te acordei? — pergunto
assustado, pois ela geralmente dorme
feito pedra.
— Não, na realidade estava sem
sono. — conta. — Além de que já é de
manhã, achei estranho não o ver
tomando café esse horário, sendo que
sempre vai ver Lívia...
— Droga! — exclamo e me
afasto com cuidado dela. — Preciso
correr ou perderei o horário de visitas.
— Eu sei. — sorri lindamente.
— Desculpe pelo barulho e...
— Tudo bem. — diz e sai.
Fico ali encarando a porta por
alguns segundos, tentando entender a
cabeça dessa mulher, mas como não
tenho tempo a perder, acabo não
querendo entende-la novamente.
Tomo um banho rápido e coloco
a primeira roupa que encontro. Pego as
chaves do carro no criado mudo e sigo
para cozinha, onde encontro Danielle
bebendo um dos seus achocolatados
favoritos.
— Não vai comer? — pergunta e
senta-se num dos bancos.
— Não. — digo e me aproximo.
Agacho-me até sua barriga já
com um leve arredondado e a beijo.
— Como estão hoje? —
pergunto me levantando.
— Bem. — diz e força um
sorriso.
Sei que ela não gosta muito de
minha aproximação, mas enquanto não
disser isso abertamente continuarei
dando bom dia a ela desse modo.
Encaro-a e logo me lembro do
que compramos no dia anterior e corro
para o quarto. Pego a caixinha com laço
amarelo e volto novamente a cozinha.
— Vai mostrar o sapatinho a
Lívia? — Danielle pergunta e eu assinto.
— Estou indo. Qualquer coisa
me ligue. — ela assente e então saio do
apartamento.
Encaro meu celular e me assusto
pela quantidade de mensagens que Alice
deixou. Ela tem estado estranha
ultimamente, mas infelizmente não tive
muito tempo para perguntar sobre, os
acontecimentos recentes acabaram
virando minha vida de cabeça pra baixo.
Descobrimos tantas coisas a
respeito da família de Victória, Julianne
e Paulo, as quais influenciaram
diretamente nossas vidas. No meu caso,
descobri que minha mãe biológica,
Lívia, na realidade sempre teve
problemas psicológicos e os pais de
Victória se aproveitaram disso para
manipulá-la, escondendo-a e fazendo
com que ela não fosse encontrada.
Após Julianne ser presa e Paulo
morto, restaram os cacos para juntar,
principalmente de Lívia, que está
internada em uma clínica para se
recuperar dos traumas e todo resto, o
que sei que jamais se concretizará. Há
feridas que não saram.
Estaciono o carro em frente a
clínica e o segurança me cumprimenta
com um sorriso, com certeza já
acostumado com minha presença, pois
venho nos três horários de visitas que
ela tem por dia. Entro na clínica e pego
meu crachá de visitante. Pergunto a
localização de Lívia já nos corredores e
eles me informam que ela está no
jardim. Assim, me encaminho para lá.
De longe, vejo-a sentada em uma
cadeira branca exposta ao Sol. Vejo que
Joaquim, como sempre, está ao lado
dela, assim como esteve desde o dia em
que o pesadelo dela acabou. Ele pode
negar que não há nada demais, mas só de
reparar no modo como ele a olha, todos
sabemos que se apaixonou.
— Oi. — digo e Joaquim sorri
pra mim.
— Vou tomar um café e já volto.
— ele diz e logo sai.
Sento-me no lugar dele e Lívia
me encara com um sorriso fraco. Ela não
demonstra muitos sentimentos e isso até
é um progresso. Fico alguns segundos só
a olhando e ela continua mantendo o
mesmo sorriso.
— Oi mãe. — digo e toco com
cuidado suas mãos. — Como se sente
hoje?
Ela permanece em silêncio como
sempre e eu aceito. Tem sido assim
desde que ela saiu, e eu entendo
perfeitamente, faz pouco tempo que ela
se libertou de um passado horrível.
Tudo bem que ainda não entendo ao
certo porque ela aceitou roubar meus
pais há anos atrás, claro que ela pode ter
sido manipulada, mas ela poderia muito
bem ter contado a verdade para sua
irmã.
— Bom, como já te contei,
aquela moça loira que vem comigo aqui
algumas vezes se chama Danielle, e é a
mãe do seu neto ou neta. — conto
novamente. — Nós compramos o
primeiro sapatinho para o bebê ontem...
Na cor amarela pois ainda não sabemos
o sexo e...
— Eu sinto muito. — diz
fracamente, me surpreendendo. — Foi
por você, meu filho. — ela diz e pega
algo embaixo da cadeira, uma caixinha
que nem tinha reparado.
Ela me entrega com uma mão e
estende a outra, entrego-lhe o sapatinho
que comprei para meu bebê e pego a que
ela me dá. Abro a caixinha incerto e
paraliso ao ver o conteúdo.
“Foi por você, meu filho.”
Lágrimas descem por minha face
e Lívia está da mesma maneira.
— Eles ameaçaram fazer algo
contra mim caso não...
— Esqueça isso, Gabriel. —
estranho o nome, porém ela sorri. —
Desculpe, esse é o nome que te dei em
minha mente. — conta e sorri sem jeito.
— É um lindo nome, mãe. Me
chame dele e...
— Não tem problema, Castiel
também é um nome de anjo, do mesmo
modo, você é um pra mim, filho. —
revela emocionada.
Fico sem palavras e encaro
novamente o sapatinho branco já
amarelado pelo tempo que está dentro
da caixa que ela meu deu.
— Foi por você que tive forças.
— confessa. — E espero que um dia
possa ser uma mãe de verdade pra você.
— Você já é. — digo e sem me
conter, a abraço.
Pela primeira vez na vida, sinto-
a mais solta comigo e sinto-me amado
novamente. Estou nos braços da mulher
que meu deu a vida, que sacrificou tudo
por mim. Eu sempre pensei que não
fosse bem vindo e muito menos amado,
hoje vejo que nunca poderia ter sequer
argumentado algo assim. Eu tenho tudo
aqui, nesse abraço.

***

Depois de algum tempo com


Lívia, acabo indo para meu apartamento.
Chego lá e o silêncio, como sempre, me
recebe. Procuro Dani pela casa e não a
encontro. Pego meu celular no mesmo
instante e ligo para ela, pois minha
preocupação é constante.
No terceiro toque ela atende.
— Oi, Cas. — ouço a voz de
Victória.
— Está tudo bem? Onde estão?
— pergunto já nervoso.
— Estamos ótimas. — declara e
ouço um barulho forte atrás. — Estamos
na praia com Caleb.
— Ah certo. Por que Dani não
atendeu? — pergunto.
— Está com Caleb atrás de um
picolé de acerola. — sorrio. — Já é
terceiro dela.
— Ok então. Diga a ela para me
mandar mensagem caso precise de algo
e...
— Por que não vem ficar
conosco? — pergunta.
— Melhor não, Vic. Não quero
estragar o dia de vocês com minha
presença, sabe que Danielle se
transforma quando estou por perto. —
digo a verdade.
Sempre que estamos todos
juntos, Dani dá um jeito de me evitar ao
máximo, sendo que praticamente foge.
Em casa, ela me ignora completamente
na maioria do tempo. Seu abraço mais
cedo me assustou, pois ela só deixa-me
aproximar para beijar sua barriga, de
resto, não sou ninguém.
— Eu sei disso, Cas. — ela
suspira fundo. — Sei também que ela
vai se arrepender. E você deveria parar
de mendigar amor.
— Como assim?
— Viver com a parte de alguém
não é saudável, disse isso a você um
tempo atrás, lembra? — concordo. —
Então, por que ainda faz isso?
— Eu amo Danielle, Vic. —
declaro derrotado, sentando-me no sofá
da sala.
— E ela te ama, só está deixando
o passado atrapalhar tudo.
— Eu a entendo, Vic. —
confesso. — E vou lutar por ela.
— Então faça isso, lute! — diz
convicta. — Não mendigue mais nada,
Cas.
— Eu vou fazer isso. — digo e
logo nos despedimos.
Encaro meu celular novamente e
não tenho coragem de falar com Alice.
Sim, estou sendo um péssimo amigo,
mas não quero levar problemas pra ela.
Encaro o quadro na parede e
sorrio pela foto. Por mais que não
tivéssemos certeza ainda do sexo, eu
realmente acredito que é uma menina.
Levanto-me e toco de leve o pequeno
borrão da foto, a primeira foto de nossa
filha... Nossa Annie.
Parte II

“Porque quando perdemos alguém,


finalmente temos noção do quão ela é
importante, de como faz falta. E eu te perdi
pro meu passado, restando a mim um futuro
sem você.”
- Danielle Campos
Capítulo 18

Castiel

Dois anos depois

Preparando-me para mais um dia


exaustivo, mais uma briga... Mais uma
das cansativas discussões com Danielle.
Danielle ainda continua sendo
um enigma para mim, mas não de modo
bom. Mesmo após o nascimento de
nossa pequena, quando pensei que ela
me daria uma chance, nada mudou. Ou
melhor, tudo apenas piorou. Se antes
para ela eu era um fracasso como
homem, agora eu sou como pai.
Como eu podia convencê-la do
contrário?
Os poucos momentos que ainda
compartilhamos juntos são com Annie,
ou quando ela decide que me quer e
viramos a noite fazendo amor como
loucos. Como eu sinto falta de como ela
era antes de descobrir a verdade!
Pego minha maleta e penduro o
jaleco no ombro. Os poucos momentos
que saio dessa maldita rotina de brigas
angustiantes são trabalhando ou quando
ficamos apenas eu e minha pequena.
Porém eu ainda quero paz com a mulher
que me fez sentir amor pela primeira
vez.
— Ficará de plantão essa noite?
— a voz dura de Dani se faz presente e a
olho sobre o ombro assentindo.
— Tem passado muito tempo no
hospital, não acha?
Lá vamos nós!
— É o meu trabalho Danielle, se
não sabe eu sou...
— Trabalho, Castiel? — pergunta
ironicamente — Você passa a maioria do
seu tempo trabalhando e mal me
pergunta como estou...
— Que merda você quer de mim?
— grito já exausto e ela me olha
assustada.
Eu nunca havia gritado com ela
antes. Com certeza estou no meu limite.
Ao analisá-la sinto meu coração esfriar
e os meus músculos tencionarem. Onde
foi parar o calor e a paz que ela me
trazia?
Seus olhos se enchem de
lágrimas e só assim percebo que me
excedi. Droga, estou apenas piorando as
coisas.
— Querida me perdoe, eu...
— Cale a boca — grita e me
empurra fazendo com que minha maleta
caia. — Estou farta de você, Castiel!
Quem é essa mulher a minha
frente? Gritando comigo como se eu
fosse um monstro... Eu nunca fui o cara
perfeito e sei muito bem dos meus erros,
os quais ela conhece muito bem também,
e todos nós um dia erramos. Danielle
não é perfeita, e acho que demorei
tempo demais para perceber isso.
Quem ela pensa que é pra me
crucificar dessa maneira? Dois anos de
nossas vidas baseados no que acha e no
modo como ela quer me tratar... Estou
farto disso!
— Chega! — exclamo com raiva
e ela em olha sem entender.
— O quê? — pergunta.
— Tudo o que quer é me afastar,
não é? — pergunto e ela fica estática —
Responda, porra! — grito sem me conter
e jogo a primeira coisa que encontro na
parede.
— Cas. — sinto-me ainda pior.

— Agora eu sou Cas? —


pergunto e sorrio ironicamente — Cansei
de você, Danielle! Cansei de viver a sua
disposição, viver mendigando um amor
que praticamente não existe mais!
— O que quer dizer com isso? —
pergunta e noto sua voz temerosa.
Pior é não me sentir mal com
isso, só consigo pensar em pôr um ponto
final. Por mais que tivesse tido várias
oportunidades disso, nunca me vi longe
dela, mas nesse momento, apenas quero
distância. Foram mais de dois anos
lutando por um amor que ela insiste em
me negar. Foram nove meses da
gestação de Annie sendo culpado e
desmoralizado todo dia. Foram dias e
mais dias de humilhação. Isso já não é
amor, não o que senti pela mulher que
me conquistou assim que a vi... Danielle
não é mais a mesma, assim como eu
também não sou.
— Quero que isso termine aqui.
— sou sincero. — Desisto de nós,
Danielle.
— Só pode estar de
brincadeira... — tenta balbuciar mais
alguma coisa, porém eu me aproximo e
ela se cala.
— Não, essa será nossa
realidade agora. — declaro friamente.
— Vai abandonar Annie assim
como...
— Assim como abandonei Luna?
— já estou completamente fora de mim
— Eu não sou mais um fraco, Danielle,
só você não consegue enxergar isso! Eu
cansei de tentar fazê-la esquecer o
passado. Tenho amor a minha filha, não
a você. — respiro fundo e tento controlar
meu tom de voz.

— Não me ama mais, é isso? —


pergunta.
Ela morde o canto esquerdo do
lábio inferior e leva uma mecha para
trás da orelha. A mania que tanto me
encantava e hoje... Nada.
— Não. — vejo seus olhos
vacilarem e noto seu ar de
incredulidade.
— É ela, não é? — pergunta e eu
a olho sem entender. — Dormiu com ela,
Castiel? — pergunta enfurecida.
— De quem diabos você está
falando? — pergunto sem paciência.
— Vacalice! — vocifera.

— Pare de chamá-la assim! —


exclamo com raiva e vejo que lágrimas
banham seu rosto.
Não, eu não posso ceder!
— A sua protegida, a mulher
perfeita... — zomba — Deve mesmo
ficar com ela já que não foi homem
suficiente para ser fiel a mim.
— Por mais que tenha me feito
de seu capacho todo esse tempo, eu
jamais desejei outra mulher que não
fosse você. Não venha querer me culpar
pelos seus erros ou melhor, nossos
erros. — grito transtornado.
— Espere aí, meus erros? —
gargalha em meio as lágrimas — Você
destruiu a minha vida e ainda quer me
cobrar algo? — pergunta no tom que já
conheço muito bem, o qual usa sempre pra me
ferir.

— Eu não quero mais nada de


você Danielle, nada! — digo e saio do
quarto.
Preciso sair daqui, preciso de
espaço.
Deus, havia acabado!
Tudo pelo que lutei havia ido
embora porque Danielle não consegue
me perdoar pelo passado.
— Merda! — praguejo, batendo
com força as mãos no volante.
Éramos para ser uma família
feliz, era para eu finalmente ter o que
sempre sonhei. Só consigo me perguntar
o porquê tudo sempre se complicar de
modo irreversível para mim.
Isso é uma merda!

***

— Bom dia doutor! — Angeline


me saúda assim que passo pela recepção
do hospital e sorrio em sua direção.
Mais um sorriso falso.
A manhã é bastante movimentada
e felizmente nenhum dos meus pequenos
pacientes estavam com algo grave.
Algumas gripes e nada com que as mães
tivessem que se importar.
Depois que minha mãe superou a
leucemia, tomei para mim a função de
tentar salvar vidas também; assim como
seu médico, John, o fez. Ser pediatra foi
um dos sonhos que me levou ao começo
de minha redenção com o passado...
minha redenção comigo mesmo.
— Perdido em pensamentos? —
levanto o olhar e encontro Alice, que
sorri gentilmente para mim.
Um alívio se instala em meu
peito ao vê-la, ela é uma das poucas
pessoas que fazem meu dia melhorar.
Mesmo os piores deles.
— Só um pouco. — sorrio em
resposta. — Está indo almoçar? —
pergunto.
— Exatamente, queria saber se o
belo moço pode me acompanhar. —diz
divertida.
— Claro que sim. — desligo
meu notebook e retiro o jaleco. —
Vamos?
Não há comparação entre
Danielle e Alice, por mais que as duas
fossem muito parecidas fisicamente, por
dentro são completamente diferentes.
Não sei porque Danielle sempre insistiu
em julgar minha amiga, sendo que
conheço Alice desde os meus 23 anos e
nada aconteceu.
Enquanto Danielle é tempestade,
Alice é calmaria; além de Alice ser
viciada em café, o que Dani detesta.
Não podia dizer que os últimos tempos
tenho me sentido sozinho, claro que sim,
mas depois de Danielle, não desejei
mais ninguém e Alice está fora de
cogitação.
— Está calado hoje — Alice me
olha curiosa enquanto degusta seu café.
— Mais um de seus mistérios? —
pergunta e sorri.
— Mais um dos meus finais não
felizes. — zombo de mim mesmo.
— Sinto muito. — diz e eu
assinto com um sorriso fraco - Você e
Dani não...
— Terminamos. — digo e assim
percebo que é a primeira vez que
assumo isso.
Isso machuca demais, do mesmo
modo que as palavras de Danielle.
— Eu nem sei o que dizer.
— Não precisa dizer nada Ali,
está tudo bem. — minto.
— Certeza? — insiste e eu
sorrio com sua preocupação. — Irá me
odiar se eu fizer algo agora?
— Como assim? — pergunto
confuso.
— Nos conhecemos desde a
faculdade Castiel, assim que começamos
a trabalhar juntos pensei que finalmente
teria minha chance com você...
— Ali, mas..
— Deixe-me continuar. — pede
e eu assinto nervoso, Dani não pode
estar certa sobre Alice. — Eu sei que é
recente sua separação e talvez possam
voltar, mas não vou desistir sem lutar.
Não dessa vez.
— Ali...
Ela não me deixa terminar e sela
nossos lábios. O gosto doce de sua boca
junto ao café me embriaga. Não consigo
pensar direito, mas também não
correspondo. Querendo ou não, não são
esses lábios que quero.
— Uma chance, Cas! — Alice
pede com sua boca quase colada à
minha.
Encaro minha melhor amiga sem
saber o que dizer, sem saber como agir.
Eu nunca pensei que Alice me olharia de
tal modo, que pudesse gostar de mim
assim.
— Ali, desde quando...
— Desde sempre, Cas. —
suspira fundo. — Me desculpe, eu agi
impulsivamente e...
— Eu sinto muito, Ali. —
declaro sem jeito. — Sinto muito por
não...
— Está tudo bem. — dá de
ombros. — Eu preciso ir.
— Ali, olha...
— Está tudo bem, Castiel,
mesmo. — sorri fraco. — Não é sua
culpa.
Ela então sai e me deixa
abismado. Como nunca percebi que
Alice gosta de mim como homem?
Deus! Isso não faz sentido
algum!
Permaneço sentado, sem
coragem de ir atrás dela. O que eu
poderia fazer?

Danielle

— Como pude ser tão cega? —


questiono ao quarto vazio e sento-me no
chão, já com as lágrimas descendo por
meu rosto.
Castiel vem sendo um homem
maravilhoso tanto comigo quanto com
nossa filha, Annie. Confesso que quando
ele me contou sobre o nome que daria a
ela, no mesmo dia que descobrimos o
sexo, fiquei surpresa e ao mesmo tempo
aliviada, pois tinha pensando neste exato
nome. Mas tudo o que fiz, em vez de
contar a ele que gostei, foi brigar. Brigar
pelo fato dele querer homenagear minha
irmã... Olhando pra trás, vejo o quanto
fui infantil.
Ajo na maioria das vezes por
impulso e Castiel é uma grande vítima
disso, pois venho descontando nele boa
parte daquilo que acho que ele merece.
Mas quem sou eu afinal para julgá-lo?
Mesmo que eu tenha sofrido no passado
junto a minha irmã, e ele seja uma das
causas disso, não é meu dever julgar
ninguém. Não sou perfeita.
Sem mais saber o que fazer, pego
meu celular e ligo para Victória.
— Espero que tenha boas
notícias! — Vic diz ao atender e sinto
meu coração se quebrar. — Alô? Dani?
— Acabou, Vic. — confesso.
— Como assim? — pergunta.
— Castiel terminou tudo. —
digo derrotada e ouço seu longo suspiro.
— Dani, ele deve estar de
cabeça quente e...
— Ele já admitiu que não me
ama mais Vic, eu sabia que a qualquer
momento ele iria ficar com a tal Alice.
— digo em desespero, mas no fundo sei
que é mais uma paranoia de minha
mente.
— Espera aí? Eles ficaram
juntos? Eu vou matá-lo. — diz nervosa.
— Ele negou, mas mesmo assim
sei através da forma que ele a defende
que gosta dela. — choro ainda mais. —
Ele a defende do mesmo modo que me
defendia.
Isso é verdade!
— Dani, se acalma por favor! —
pede. — Ele pode até ter terminado tudo
agora mas duvido que irá jogar o amor
de vocês fora tão facilmente.
— Ele não me ama mais, Vic. —
dói muito admitir isso.
— Dani...
— Mommy? — escuto a voz de
Annie pela babá eletrônica.
— Depois nos falamos, Annie
acordou. — digo rapidamente, já me
levantando, indo ao quarto de minha
filha.
— Por favor, me ligue assim que
puder. — pede e logo nos despedimos.
Já no quartinho de minha
princesa, a encontro sentada na cama,
traçando um modo de descer, mas a
proteção a impede.
— Oi, sweet heart![1] — ela
sorri do apelido e vem para meu colo.
— Onde daddy[2] está? —
pergunta.
Digo a ela que o pai foi trabalhar
e ela assente. Mesmo não tendo
completado nem dois anos, Annie é uma
criança muito esperta. Ela mistura inglês
e português em suas frases
frequentemente, tanto porque tentamos
mostrar a ela as duas línguas.
— Quero andar, mommy[3]. —
diz e a coloco no chão.
Fico ao seu lado, por medo dela
cair ou algo assim, mas felizmente ela já
tem um bom domínio disso. Annie é a
mistura perfeita de Castiel e eu. Os
cabelos loiros e a pele alva meus e os
olhos verdes do pai. E olhando para ela,
em meu colo, enquanto a amamento, é
impossível não sentir falta de Castiel.
Como eu poderia olhar para ela
e não sentir a dor da perda do homem
que amo?
Eu sei que não venho sendo a
melhor mulher do mundo e muito menos
seria um dia sua esposa, pois minhas
atitudes egoístas e as várias brigas que
tivemos aos longos desses dois anos são
provas disso. Quanto mais Castiel se
portava como o homem perfeito, mais a
culpa me invadia. No fim, eu não
consegui aceitar que ele me ganhou por
completo, mesmo que o passado ainda
me atormente. Além da briga sem fim
que tivemos durante toda gestação de
Annie até o dia do parto, a qual
consistia no fato de que ele não me
prometeu que a escolheria, caso tivesse
que fazer isso. Ele não prometeu, mas
felizmente tudo correu bem.
Mas há também as perguntas que
sempre me atormentam, as quais nunca
tive coragem de dizer em voz alta: Por
que eu mereço todo seu amor? Por que
ele não pode ser tão maravilhoso assim
com minha irmã?
Não me sinto digna desse
sentimento, porque não consigo entender
a profundidade disso. O porque dele não
ter estado ao lado de minha irmã, mas
comigo é um homem completamente
diferente. Castiel abriu muito mais que
seu coração para mim, ele me entregou
sua alma e sua vida, e pelo o que sei ele
nunca fez tal coisa por outra mulher. O
que eu tenho de especial, afinal?
— Pronto, mommy. — Annie diz,
após terminar sua papinha e eu sorrio
para ela, tentando não demonstrar
minhas aflições.
— Que tal ver um pouco de tv
enquanto limpo aqui e depois
desenharmos? — pergunto e ela
concorda sorrindo.
Deixo Annie na sala, sentada em
meio a vários brinquedos, enquanto
arrumo um pouco a cozinha. Felizmente
tenho uma boa visão dela daqui, pois a
cozinha e sala são integradas.
Enquanto Annie se distrai, lavo a
louça e coloco-a para escorrer, mas ao
mesmo tempo meus pensamentos estão a
mil. Eu tenho duas opções nesse
momento. A primeira é pegar minhas
coisas e de Annie e partir no primeiro
voo para o Brasil, fingindo que odeio
Castiel e jamais daríamos certo; e a
segunda é me entregar de vez a esse
amor e me redimir por toda a dor que o
causei durante esse tempo juntos, sem
deixar de dizer a ele o quanto o amo.
— Ai. — reclamo ao bater o
dedo mindinho do pé na quina de uma
parede.
Olho para cima e noto que é a
parede de crescimento de Annie, a qual
tem sua marca de altura por casa semana
que passa. Na realidade é um quadro
que Castiel comprou e começou a riscar
com nossa filha, desde o primeiro dia
dela em casa.
Após terminar de limpar, vou até
a sala e chamo Annie, mas logo noto que
dorme serenamente em meio aos
brinquedos.
— Ei, sweet heart! — acaricio
seus cabelos lisos.
Ela raramente dorme tanto, mas
pelo seu semblante tão calmo, resolvo
deixa-la dormir um pouco no tapete
macio da sala. Deitando-me ao seu lado,
fico por alguns minutos divagando sobre
tudo. Se não fosse por ela, jamais
estaria aqui hoje, sei disso. Annie
amoleceu meu coração e fez com que
Castiel permanecesse ainda mais aceso
dentro de mim.
— Eu te amo, princesa. — beijo
sua testa.
Olho para a parede a nossa
frente e lágrimas vem ao meu rosto,
fazendo-me lembrar de tudo. O nosso
primeiro dia em Londres, em como
nossa vida modificou por estarmos aqui.
Encaro os quadros a minha frente e
sorrio ao ver o tamanho de minha
barriga em cada uma delas. Castiel
registrou tudo, de todas as formas
possíveis, até mesmo o nascimento de
nossa filha. E por mais que eu seja uma
impulsividade ambulante e possa me
arrepender da escolha, acho que sei o
que devo fazer.
Ouço o som da campainha e
levanto-me. Abro a porta e Lívia sorri
pra mim.
— Oi, entre. — peço e ela passa
por mim.
Noto que há um embrulho em
suas mãos e fico curiosa.
— Mais um presente para
netinha? — pergunto sorrindo.
— Bom, pelo jeito ela só o verá
depois. — ela vai até Annie e beija sua
testa. — Preguiçosa.
— Muito. — sorrio. — Já tomou
café da manhã ou quer comer algo? —
ofereço.
— Não, estou bem. — ela senta-
se no sofá e me encara inquisitiva.
— Parece inquieta hoje. — diz e
arquei a sobrancelha. Tal mãe, tal filho.
— Problemas com Cas. — digo
sem jeito.
Com toda distância do Brasil e
das pessoas que amo, Lívia e eu nos
aproximamos muito desde que ela
resolveu morar perto do filho. Mesmo
com Castiel oferecendo a ela para morar
conosco, o que seria ótimo em minha
opinião, ela acabou se mudando para o
apartamento a nossa frente, juntamente
com Joaquim, o qual mesmo controlando
ainda a empresa de segurança, vive aqui
hoje.
— Eu sei que ele está sofrendo.
— confessa e fico estática. — Eu sei
parte da história, pois foi o que ele me
contou, mas pela sua versão dos fatos,
posso imaginar um pouco da dor que
sente.
— Como assim? — indago, pois
Lívia nunca interferiu em nada em nosso
relacionamento.
— Castiel me disse sobre o que
houve com sua irmã, do mesmo modo
que você me contou, mas ele nunca me
disse como se sente agora, ou o quanto
sofre. — revela. — Ele carrega o mundo
nas costas e não percebe isso. Ele pode
ter errado muito, Dani, eu concordo com
você, mas não acha que já basta? —
pergunta. — Eu vejo o modo como trata
você e Annie, vocês tem tudo para ser
uma família. Ele é um bom homem,
Dani. Sei que o ama e ele também, mas
também sei que amor não é o suficiente.
Faça-o feliz menina ou deixe-o ir. — ela
me encara com um fraco sorriso e eu
assinto.
— Ele terminou tudo hoje. —
confesso. — Acho que ele chegou a
exaustão.
— Um dia isso aconteceria, não
acha? — pergunta e eu concordo.
— Eu tenho uma escolha a fazer,
não é? — ela assente e se levanta,
abraçando-me em seguida. — Obrigada
por não me julgar. — digo.
— Eu conheci pessoas ruins,
Dani. Sei quando alguém faz o que faz
apenas para machucar, mas você está
tentando se proteger de algo que não
precisa. Viva esse amor ou o entregue
para outra pessoa.
— Deveria ter ouvido esses
conselhos antes. — sorrio em meio as
lágrimas.
— Não sou tão boa com isso
mas o tempo me ensinou muita coisa. —
ela sorri cinicamente.
— Vocês sorriem do mesmo
modo. — conto e ela aumenta ainda
mais o sorriso.
— Ao menos isso ele puxou a
mim, pois o humor negro só pode ser
convivência com minha irmã. — brinca.
— Sei... — zombo. — Onde
Joaquim está? — pergunto.
— Foi resolver algo da empresa.
— Sei que nunca perguntei mas...
— Se estamos juntos? —
pergunta e fica corada. — Bom, não sei
ao certo, ele nunca disse nada e...
— Vocês formam um casal indo,
além do mais, Joaquim é a cara do
George Clooney. — brinco e ela sorri
abertamente.
— Isso é verdade.
Continuo conversando com Lívia
por algum tempo, acabamos até
almoçando juntas. Annie ficou super
animada ao ver o presente da avó, o
qual é uma nova remessa de tintas para
ela usar. Fico feliz em ver que minha
filha gosta do mesmo que eu, criar.
— Posso passar o dia com ela?
— Lívia pergunta e eu assinto.
Ouvimos a campainha e enquanto
as duas olham cores, vou até a sala
atender. Abro a porta e me deparo com
Joaquim, vestido em seu terno típico.
— Ei, sogro. — brinco e ele
sorri.
Peço para que ele entre e meio
inseguro ele o faz. Não sei porque
Joaquim é tão cuidadoso com tudo, mas
talvez seja por sua profissão.
— Você é uma peste, menina.
Assim como Isaac sempre disse. —
sorrio.
— E falando em Isaac, alguma
notícia dele e Paula? — pergunto.
— Eles estão viajando ainda. —
diz rapidamente.
— Eu acho que ele está nos
escondendo algo.
— Eu também. — diz
cabisbaixo.
— Não corra! — ouço a voz de
Lívia e vejo o furacão de Annie pular no
colo de Joaquim.
— Vovô! — Annie grita e
Joaquim fica completamente sem graça.
Gargalho junto a Lívia da
situação, enquanto Joaquim e Annie
conversam. Mesmo os dois negando que
estão envolvidos, sei que de alguma
forma estão. Annie tem percepção disso
como eu e Castiel, afinal eu considero
Joaquim um sogro e Castiel brinca o
chamando de padrasto.
Ajudo Annie a se arrumar e logo
ela sai com eles, com certeza irão
caminhar por algum parque, o programa
que adoram.
Sozinha no apartamento,
arrumando e limpando tudo, vejo que de
certa forma todos os meus sonhos se
realizaram. Me tornei independente no
trabalho, sendo uma designer de capas
de livros, tenho uma filha linda e um
homem que me ama; os quais são minha
família. E eu quero isso, quero mesmo.
Só tenho que pensar por onde começar.
Castiel me ganhou com seu jeito
cínico, o olhar sincero e as piadas que
não cabem em sua boca. Jamais me
perdoarei se o deixar escapar assim. Eu
lutaria pelo seu amor, mesmo que este
não exista mais.
Capítulo 19

Castiel

O dia já tinha amanhecido e


finalmente fui liberado. Depois do beijo
de Alice, até pensei em procurá-la e
dizer algo, mas acabei não o fazendo. Só
consigo pensar na reação de Danielle,
de como direi isso a ela. Se tudo já
estava perdido, agora não há mais
chances.
Dentro do carro, fico divagando
sobre isso, em como Alice não me
despertou nada com o beijo, e no fim
entendi sua ação. Alice não gosta
realmente de mim, pode até ter gostado
antes, mas hoje, foi apenas por impulso.
Poucas horas depois do nosso
beijo, encontrei Alice chorando em sua
sala. Assim que entrei ela limpou as
lágrimas rapidamente e tentou
disfarçar, mas eu sabia que tinha algo
de errado com ela.
— Ei, o que houve Lice? —
pergunto receoso e ela me abraça com
força.
Assim que ela se afasta um
pouco, a porta de sua sala se abre e
seus olhos se arregalam.
— E ainda quer cobrar algo de
mim?
O reconheço de imediato, ele é
o novo neurologista do hospital. Devia
estar trabalhando aqui no máximo há
uns cinco meses. Ele me encara com
ódio e fico ainda mais perdido.
— Evan, espere por favor! —
Alice grita, porém ele simplesmente
balança a cabeça e sai.
— Não o deixe ir Cas, não
deixe... — chora em meu peito e a
aconchego ainda mais.
— Shhh está tudo bem, Ali. —
tento acalmá-la — Me diga o que está
havendo.
— Me perdoe por hoje mais
cedo, Cas. — pede e me encara. — Eu
confesso que fui apaixonada por você
e...
— Por que nunca me disse
nada? — pergunto angustiado.
Nós nos conhecíamos desde a
graduação, não há como alguém
esperar tanto tempo pra se declarar...
ou há? Se bem que meu irmão levou
vinte anos pra dizer seus verdadeiros
sentimentos por Victória.
— Eu fui covarde, Cas e... —
soluça alto. — Agora estou perdendo o
homem que amo por medo novamente.
— Como assim? — pergunto já
perdido.
— Hoje mais cedo quando lhe
pedi uma chance, eu agi por impulso —
confessa e fico aliviado. — Eu e Evan
dormimos juntos pela primeira vez há
dois dias. Como era minha folga no dia
seguinte, acabei por ficar vasculhando
o apartamento dele. — ela chora ainda
mais.
— Não precisa me contar se não
quiser. — digo ao notar a expressão de
dor em seu semblante.
— Ele me fez sentir coisas
novas, coisas que jamais pensei. Na
minha cabeça Cas, pensei que só seria
feliz um dia se fosse com você, mas
Evan entrou em minha vida e fez uma
bagunça, desde que chegou aqui nós
saímos juntos... E quando finalmente
me entreguei a ele, pensei que seria
diferente. Que eu fosse especial.
— Alice...
— Eu observei no dia seguinte a
nossa noite todo o apartamento dele. O
quão era clean e muito bem decorado
ao mesmo tempo. Não era algo másculo
como imaginei. Quando cheguei a
cozinha senti vontade de tomar café,
assim como você sabe que amo.
Quantas vezes não lhe pedi para trazer
grãos do Brasil para mim, não é? —
sorri fracamente. — Usei a cafeteira
normalmente e me sentei em uma das
poltronas da sala. Quando a porta da
frente abriu, me assustei e acabei
derrubando o café no tapete. Foi só por
esse acaso do destino que soube da
verdade.
— Que verdade, Ali? —
pergunto nervoso.
— Evan gritou comigo e me
expulsou de seu apartamento. Eu
estraguei sem querer o tapete que a ex
mulher dele tanto amava, a qual
morreu há dois anos. Eu juro que não
sabia Cas... Como eu poderia saber? —
ela chora ainda mais e eu abraço com
força.
Alice esteve comigo em vários
momentos. O mínimo que eu posso
fazer agora é ampará-la. Ambos
sofremos por amor e tentamos buscar
um no outro uma válvula de escape.
Porém estamos presos demais aos
nossos próprios sentimentos.
— Então foi por isso você me
beijou? — pergunto e ela assente sem
graça.
— Eu queria esquecê-lo Cas...
— confessa. — Me perdoe por isso.
Lembranças vem em minha
mente e sorrio sozinho.
— Se eu lhe contar algo, acho
que irá morrer de rir. — ela me encara
curiosa. — Você não nega ser sobrinha
de John.
— Como assim?
— Ó minha cara, senhorita
Callaway, seu tio John fez isso com
minha mãe. — conto lembrando-me da
cena, ainda mais de meu pai o batendo
em seguida.
— Tio John beijou sua mãe para
esquecer tia Jude? — confirmo e ela
arregala os olhos. — Deus do céu!
— Pois é. — afirmo sorrindo.
— Cas. — se afasta um pouco
de meu abraço. — O que sente por
Dani?
— Sinceramente? — pergunto e
ela assente. — Amor e mágoa, dois
sentimentos que de jeito nenhum
combinam.
— Vocês dois são opostos
Castiel. — fico curioso. — Danielle é
preto e você branco... Ao mesmo tempo
são perfeitos um para o outro.
— Você acha? — pergunto sem
graça.
Há poucos minutos eu só podia
pensar em como falar com Alice
novamente após nosso beijo, porém
nossa amizade ainda está aqui, intacta.
— Tenho certeza, Cas! — diz e
me abraça com carinho.
— Espero que um de nós dê
sorte no amor. — digo sorrindo e ela
gargalha. — Evan está louco por você,
Alice!
— Ele pensa que eu te amo, pois
foi isso que alguns de nossos colegas
disseram. Além do mais, ele
praticamente me expulsou do
apartamento por ainda amar a ex...
— Talvez ele esteja apenas
confuso. — tento amenizar a situação.
— Pode ter certeza que terei uma
conversa de homem para homem com
ele, se é que me entende? — pisco para
ela que me dá um tapa no braço.
— Não me venha usar sua
força. — me repreende. — Ele vai sair
correndo homem.
— Isso prova que ele não te
merece! — olho as horas no relógio e
já são cinco e meia da manhã. —
Preciso ir.
— Espero que tudo dê certo. —
diz.
— Eu também.
O som de meu celular me
desperta de meus pensamentos e suspiro
fundo, vendo que Danielle está ligando.
Deixo tocar pois já estou na frente de
nosso prédio e poderei falar com ela
pessoalmente.
Na subida no elevador deixo
meu corpo cair para trás na parede,
sentindo-me esgotado, tanto mentalmente
quanto fisicamente. Sei que ao abrir a
porta de casa iria encontrar meu
travesseiro jogado na sala. Pela minha
demora, Danielle com certeza vai me
colocar pra dormir no sofá, mas dessa
vez eu sinto que realmente mereço.
Ao abrir a porta a cena que me
aguarda é surpreendente. Danielle está
sentada desconfortavelmente na poltrona
e pior, com a camisola que eu tanto
adoro. O que ela faz ali? Chego próximo
a ela e toco seu rosto, como ela não
acorda pois seu sono é pesado, coloco
minha maleta no chão e pego-a no colo.
Carrego-a até nosso quarto e ela
se aconchega ainda mais aos meus
braços. Nesse momento lembro-me de
sua doçura e de como se entregava a
mim sem barreiras... É, eu ainda amo
minha feiticeira.
Deposito-a na cama e resolvo
tomar um banho, pois como será meu dia
de folga, tenho um bom tempo para isso.
Tomo um banho calmo e canto sozinho,
tentando tirar essa tensão de mim. Penso
e repenso sobre o que passamos e tento
ver o que ainda vale a pena, mesmo
sabendo que nunca conseguirei deixa-la
ir.
Após tomar o banho, vou até o
quarto de Annie e lhe dou um beijo na
testa. Minha pequena dorme
tranquilamente e sei que ainda tem um
tempo até acordar.
— Bons sonhos, sweet heart.
Assim que saio do quarto, sorrio
sozinho, pensando o quão essa
pessoinha tão pequena me faz ver que
valeu a pena lutar.
— Está feliz? — sua doce voz
me faz suspirar.
Poderia ter negado meu amor
mais cedo, ainda mais por estar
esgotado de nossas brigas, mas esse tom
que ela usa quando é doce, faz-me de
bobo por completo.
— Nossa filha é linda. — digo e
viro-me para Dani.
Linda!
— Eu sinto muito. — diz de
repente. — Por tudo.
— Como assim? — pergunto
assustado e ela se aproxima.
— Por ter te machucado tanto
por todo esse tempo juntos. Por não ter
dito o quanto te amo todos os dias. —
fico sem fala. — Eu sinto muito, Cas.
— Eu também. — confesso.
— Será que...
— Olha, Dani, isso está estranho
pra mim. — digo e passo por ela, indo
para nosso quarto. — O que houve
para...
— Eu vi que não posso te
perder. — confessa. — Eu preciso de
você.
— Não quero mais ser seu saco
de pancadas. — digo, lembrando-me de
todas as suas palavras frias e sua recusa.
— Eu e você, lembra? —
pergunta e fico estático.
O nosso “eu te amo” camuflado
está de volta e eu só consigo pensar em
como contar a ela sobre o beijo de
Alice.
— Cas? — insiste.
— Tenho algo para contar. —
digo rapidamente. — Aconteceu que
mais cedo, contei a Alice que
terminamos e... — travo.
— O que aconteceu? — pergunta
irada.
— Alice me beijou. — digo e
Dani arregala os olhos perplexa.
— E o que você fez? — pergunta
e se aproxima de mim. — Correspondeu
a ela, Castiel? Beijou ela também?
Responda! — diz friamente.
— Eu não correspondi. — digo
por fim, sem querer olhá-la.
Ela até pode vir com esse papo
de arrependimento e até estar mesmo
arrependida, mas seu lado ruim sempre
vem em conjunto, e eu não sei mais lidar
com isso.
— Eu vou falar com ela. — diz e
eu a encaro incrédulo. — Eu avisei
você, Castiel. Eu avisei que ela te
amava, que ela iria se aproveitar da
primeira oportunidade...
— Ela ama outro cara, Danielle!
— retruco. — Ela apenas agiu por
impulso e...
— A mesma impulsividade que
nós tivemos quando transamos dois dias
após nos conhecermos? — praticamente
grita. — Eu não engulo isso, Castiel.
Não sei onde estava com a cabeça pra
achar que poderíamos dar certo, não
mesmo.
— Olha, eu...
— Me deixe! — diz e vai para o
banheiro, batendo a porta com força.
Isso só piora.
Danielle

Retiro minha roupa e a jogo com


força no chão do banheiro. Permito-me
desabar debaixo da ducha fria. Caio
sentada no chão e as lágrimas descem
com força, tentando esvaziar essa dor de
dentro de mim. Ela o beijou e ele ainda
a defende, achando que ela ama outro...
Minha vontade é de esganá-la. Porém o
que mais dói é saber que isso é minha
culpa, pois eu permiti que ele terminasse
tudo. Burra!
Encosto minha cabeça no azulejo
frio e respiro fundo, tentando não pirar.
Tudo em mim agora é frio, congelante...
Menos meu coração, que parece sangrar.
O barulho do box se abrindo faz
com que eu me assuste, mas logo sinto o
corpo do homem que amo me levantando
e me abraçando, fazendo-me chorar
ainda mais. Alguns minutos se passam e
meus soluços cessam, assim sinto-me
relaxar em seus braços. Levanto meu
olhar e o encaro, em nossos olhos há a
mistura entre mágoa, amor e
principalmente saudade. Saudade dos
nossos momentos juntos, da nossa
primeira vez.
— Cas... — sussurro e o abraço
com força fechando os olhos.
— Lembra-se de quando disse
que me amava pela primeira vez? —
pergunta e apenas balanço a cabeça
confirmando. — Eu nunca esqueci.
— Eu ainda amo. — sinto seu
queixo movimentar em minha cabeça.
Com certeza ele havia aberto o sorriso
cínico que eu tanto amo.
— Quero que ouça com atenção.
— pede me abraçando com ainda mais
força e eu apenas assinto novamente.
A água antes fria se torna quente
e sei que foi ele quem a modificou. Nós
somos isso, completamente opostos.
“Amar pode doer, amar pode
doer às vezes
mas é a única coisa que eu sei
quando fica difícil
Você sabe que pode ficar difícil
às vezes
mas é a única coisa que nos
mantém vivos

Nós mantemos este amor numa


fotografia
Nós fizemos estas memórias
para nós mesmos
Onde nossos olhos nunca
fecham
Nossos corações nunca
estiveram partidos
E o tempo está congelado para
sempre
Então você pode me guardar no
bolso do seu jeans rasgado
Me abraçando perto até nossos
olhos se encontrarem
Você nunca estará sozinha,
espere por minha volta para casa”
(Photograph – Ed Sheeran)

Seus olhos verdes me encaram


ansiosos e vejo lágrimas em seu rosto.
Ele sempre gostou de cantar pra mim e
muitas vezes fingi não entender as
músicas que ele canta para nossa filha,
mas sei que a maioria são por minha
causa.
— É tudo tão complicado,
Castiel. — digo devastada.
— Foram dois anos difíceis e só
agora conversamos. — ele toca meu
rosto e eu o encaro. — Não há como
passar uma borracha em tudo, não é?
— Podemos tentar e...
— Tentar não é suficiente,
precisamos aprender a lidar com a carga
que temos. — diz sem jeito.
— Nesse momento só preciso de
você. — confesso e toco seus lábios.
— Dani.
— Eu sei que tem sido difícil
pra você, que as várias vezes que
fizemos amor eu fui para o outro quarto,
e que da última vez... — suspiro fundo.
— Mas eu prometo que...
— Cansei de promessas. — diz
e se afasta. — Eu não deveria ter
entrado aqui.
— Mas, Cas...
— Agora não, Danielle. — diz e
coloca um roupão. — Agora não.
Fico perdida, enquanto a água
escorre por meu corpo. Castiel está
muito magoado e eu não sei o que fazer,
e muito menos como agir. Ele pode ter
gostado do beijo dela, querer mais
disso... E eu não posso recriminá-lo,
pois acabou tudo entre nós.
Eu perdi o homem que amo.
Capítulo 20

Castiel

Duas semanas depois

Os dias tem sido difíceis, ainda


mais porque não sei até quando
resistirei a Danielle. Ela nunca se
aproximou tanto de mim, mas sei que se
ceder, posso me quebrar novamente e
dessa vez pode ser pior, pois realmente
chego a acreditar que ela me quer.
— Daddy! — Annie grita e eu a
pego no colo.
— O que foi, pequena? —
pergunto.
— Quando vamos comprar o
presente pra mommy? — pergunta e fico
perdido.
— Pra que presente?
— É o birthday da mommy. —
arregalo os olhos surpreso, eu havia me
esquecido completamente.
— Quem te lembrou disso? —
pergunto.
— Vovó. — ela então sorri.
— Podemos ir hoje, o que acha?
— pergunto.
— Yes[4]! — grita feliz e eu
sorrio pra ela.
— Ok, vamos fazer um trato. —
sussurro e seus olhinhos verdes me
encaram curiosos. — Vou dizer a sua
mãe que vamos passear e que será um
programa pai e filha, ok? Pra ela não
desconfiar que iremos comprar o
presente.
— Ok. — assente várias vezes.
— Já volto, fique aqui vendo seu
filme. — beijo sua testa e vou até o
escritório de Dani.
Bato na porta algumas vezes e
não tenho resposta alguma. Em meus
dias de folga geralmente passo com
minha mãe, Joaquim e Annie; Dani
nunca gostou muito de ficar comigo,
talvez hoje ela também não se importe,
mas com sua mudança, pode ser que
queira ir junto e isso atrapalhará Annie
escolher o presente.
Vou até nosso quarto e encontro a
porta entreaberta. Vejo-a sentada ao
lado do criado mudo e noto que tem uma
caixinha em mãos, e consigo ver que é
de veludo. O que me trazem lembranças
não boas da última vez que fizemos
amor. Eu havia a pedido em casamento.
Sento-me na cama fria
novamente, que há poucos segundos
estava coberta de nosso suor e calor.
Mais uma vez Danielle me deixou
sozinho no quarto após fazermos amor.
Mais uma vez ela deu a mesma
desculpa de que não pode dormir
comigo.
Qual é o problema dela afinal?
Ela se entregava de corpo e
alma todo o tempo que fazemos amor e
de repente, quando nossas respirações
se acalmavam, ela se levanta e sai.
— Dani! — a chamo e ela se
vira me olhando com culpa. — Sei que
vai dar pela milésima vez a mesma
desculpa, mas eu quero lhe pedir algo.
— Castiel, vou para o quarto de
hóspedes. — diz simplesmente e sai.
Frustrado e ainda mais
inseguro, me levanto indo em direção a
ela. A encontro encostada nas grandes
janelas de vidro da sala de estar. Sua
pele alva está apenas coberta por um
lençol e me seguro para não arrancá-lo
de seu corpo e torná-la minha
novamente.
Volto para o quarto e pego a
pequena caixinha que permaneceu
escondida há duas semanas em minha
maleta, e sorrio sozinho imaginando
sua resposta. Vamos completar um ano
que nos mudamos para Londres, e sei o
quanto ela ama o lugar. Sei que o
apartamento é uma das suas distrações
favoritas, ela ama sentar em uma
poltrona em frente as mesmas janelas
de vidro e assistir a cidade ao vivo.
Danielle e suas manias me
fazem a cada dia mais me apaixonar
por ela, mesmo com sua rejeição e
palavras frias durante as várias brigas.
Mas eu não desistirei facilmente, e foi
por isso que decidi fazer o grande
pedido. O pedido que formalizará
nossa situação e relacionamento, que a
marcará mesmo como minha.
— Dani. — a chamo inseguro e
ela se vira me olhando friamente.
Por que ela sempre age assim?
— O que quer? — pergunta e se
vira novamente para as janelas.
— Eu ainda tenho um pedido
para fazer. — digo e me ajoelho.
— Mas que merda você... — ela
para no meio da frase assim que nota
meu estado.
— Sei que é inesperado e que
devia começar pelo pedido de namoro
mas eu não consigo me controlar,
feiticeira. Você impregnou meu ser, foi
a primeira mulher que me fez sentir
algo além... Você é o meu além,
Danielle.
— Não! — grita de repente e eu
a olho estupefato.
— Amor, sei que temos passado
por momentos difíceis e que talvez
ainda seja premeditado, mas eu te amo
loucamente e quero estar ao seu lado
pelo resto dos meus dias.
— Castiel! — abaixa o tom. —
Eu já lhe dei a resposta. — diz e noto
lágrimas em seus olhos.
Não posso desistir ainda!
— Se você me ama Dani, por
favor, aceite ser minha mulher, amante,
companheira, tudo o que pudermos ser
um do outro. — respiro fundo. — Casa
comigo?
Meus joelhos doem mas não
pela posição que me encontro, mas sim
pelo triplo do peso que meu corpo
parece ter. Danielle não me olha feliz e
muito menos animada. Há apenas pena.
— Não. — diz e sai da sala em
meio a lágrimas.
Penso em ir atrás dela e insistir,
mas sei que não adianta. Ela negou... E
o pior é que ela não me ama. Feito uma
criança indefesa, choro ali, ajoelhado
no meio da sala, abraçado a caixinha a
qual guarda a aliança que comprei
para ela.
— Cas? — sua voz doce me traz
a realidade.
Encaro seus olhos azuis/verdes,
eu nunca saberei a cor real deles.
— Você está bem? — pergunta e
balanço a cabeça confirmando.
— Vou sair com Annie,
programa de pai e filha. — digo e seu
sorriso morre. — Voltaremos logo.
— Tudo bem. — diz e força um
sorriso. — Tentei falar com sua melhor
amiga a semana toda mas ela
simplesmente fugiu.
— Dani...
— Você pode até não me desejar
e amar mais, Castiel. — diz e suspira
fundo. — Mas eu vou ter uma conversa
de mulher pra mulher com ela.
— Você que sabe. — digo e
saio, deixando-a pensar sobre isso.
Não irei me intrometer entre ela
e Alice, pois estou cansado disso. Não
tenho culpa alguma do que houve, e
também estou cansado de viver com a
culpa de algo.
— Pronta, sweet heart? —
pergunto e pego Annie.
— Yes!
Pelo menos passarei o dia com
minha filha e esquecerei um pouco dos
problemas.

Danielle

O silêncio do apartamento me
deixa ainda mais exausta, sei que o
modo frio como Castiel vem me tratando
tem um porquê, e fico me perguntando
como ele aguentou ficar comigo deste
modo, o ignorando, por esses dois anos.
Finalizo mais uma capa pra um
cliente e envio, fecho meu notebook e
retiro os óculos. Solto uma respiração
profunda, e resolvo me arrumar. Já que
Alice não quer atender minhas ligações,
eu sei muito bem onde posso encontrá-
la.
Pego meu carro e em poucos
minutos estaciono em frente ao hospital
que Castiel trabalha. Retoco meu batom
vermelho e sorrio para meu reflexo, com
a frase de Mallu Magalhães em mente.
— “Nem vem tirar meu riso
frouxo com algum conselho, que hoje eu
passei batom vermelho.” — abro um
sorriso e ajeito meus cabelos.
Vamos lá!
Entro no hospital e Angeline a
recepcionista sorri pra mim, uma das
poucas mulheres daqui que não olham
Castiel de outra forma.
— Doutor Soares não veio
trabalhar hoje. — indaga e sorri.
— Preciso falar com a senhorita
Callaway. — sou direta. — Prometo não
fazer nada demais.
— Dani... Na última festa eu tive
que te segurar para não ir até ela e...
— Prometo não fazer nada. —
minto e Angeline mesmo contrariada me
entrega um crachá, com o qual posso ir
até a sala de Alice. — Obrigada!
— Te dou meia hora e depois
vou até lá verificar. — avisa.
Assinto e sigo pelos corredores,
em busca da sala de Alice.
O que me deixa possessa é
encontrar a sala dela ao lado da de
Castiel. Merda! Bato na porta e tento
abrir, mas está trancada. Espero por
alguns instantes ali na frente e nada dela.
E mesmo sabendo que é errado, resolvo
vasculhar um pouco o local.
Ando por alguns corredores e
minutos depois, encontro uma das
enfermeiras que nunca engoli, uma tal de
Rose, conversando com alguém num tipo
de copa.
— Alice pode estar grávida. —
escuto-a dizer e paraliso.
— Como assim? Ela parece não
se envolver com ninguém pois ama o
doutor. — uma outra voz feminina diz,
tento ver quem é, mas não consigo, pois
a porta está entreaberta.
— Encontrei-a abraçada a ele
dias atrás, os dois parecem bem
próximos. — ouço uma voz masculina.
— Com certeza o filho é de Castiel.
Fico estática por alguns
segundos, tentando raciocinar. Como
assim abraçados há dias atrás?
Saio dali meio zonza, sentindo
meu coração acelerar. Chego a recepção
e vejo de relance Angeline com alguém.
— Tem que se cuidar, Alice. —
ela diz. — Agora está comendo por
dois.
Levanto meu olhar e encaminho-
me para mais perto. Alice ao me ver fica
pálida e Angeline não diz mais nada.
— Grávida? — pergunto em um
sussurro.
— Danielle, olha...
É como se sua voz sumisse e
saio dali no mesmo instante, sem
conseguir raciocinar direito. Ele me
traiu? Não, não pode ser! Será por isso
que ela não me atendeu ou respondeu
minhas mensagens? Por medo de eu
descobrir sobre a gravidez?
Os batimentos do meu coração
aceleram e minha boca seca. Saio meio
desorientada e assim que vejo a rua
tento respirar novamente. Ele vai ter um
filho com ela?
Meu corpo está pesado e é como
se tudo estivesse esmagado dentro de
mim. Buzinas soam e não me importo.
Um baque forte faz meu corpo ser
levantado. Dor se instala em meus
ossos. Tento manter os olhos abertos e
em minha mente apenas vejo os olhos
verdes de minha filha.
Depois disso, mergulho na
escuridão.
Capítulo 21

Castiel

Annie sorri animada com a


grande compra que fizemos para sua
mãe no shopping, tudo escolha dela.
Penso então no que pensei em dar de
presente para Dani, mas sei que ainda é
cedo pra isso, e talvez nunca aconteça.
Coloco a chave na fechadura
para abrir o apartamento e logo escuto o
grito de minha filha, que solta minha
mão e corre na direção contrária.
— Vovó! — ela diz e escuto a
voz de minha mãe.
— Oi, mamãe! — digo e abro a
porta. — Quer entrar? — pergunto e ela
assente, mas já noto-a estanha.
— Filho, está tudo bem por
aqui? — noto seu tom apreensivo e fico
preocupado.
— Está tudo sim, por que? —
pergunto desconfiado e ela respira
fundo. — Annie, por que não vai chamar
sua mãe para mostrarmos a ela o
presente? — instigo minha filha que vai
animada para os quartos, procurar a
mãe.
— Tive um pesadelo com Dani
e... — fico estático. — Desculpe filho,
deve ser bobagem da minha cabeça.
— Como assim? Pesadelo? —
meu corpo fica tenso.
— Sonhei com ela e senti um
grande aperto no peito. Acordei agora e
resolvi te ligar prontamente. Mas já que
todos estão bem...
— Daddy, mommy não está aqui.
— paraliso e encaro Annie incrédulo.
Em passos rápidos vasculho o
apartamento e grito por Dani. Perco o
fôlego e respiro várias vezes tentando
me conter.
Danielle está bem, ela tem que
estar.
— Filho? — escuto minha mãe
me chamar, mas apenas consigo pegar
meu celular e discar o número de Dani.
— Filho, foi apenas um pesadelo e...
Disco o número de Dani várias
vezes e todas as chamadas vão direto
para a caixa postal. Onde diabos ela se
meteu?
— Daddy! — encaro Annie e
fico sem palavras, sei que ela está
estranhando meu jeito.
— Mãe, pode ficar com Annie
um pouco? — peço e ela assente.
— Joaquim deve estar chegando,
talvez ele possa ajudar a encontrá-la. —
tenta me tranquilizar. — Foi só um
pesadelo e uma sensação ruim, filho.
Vou até o quarto e tento ligar
novamente para Dani, e dessa vez ela
atende.
— Amor, está tudo bem? Onde
você está? — a encho de perguntas e por
alguns instantes ouço apenas sua
respiração.
— Cas... — essa não é a voz de
Dani.
— Alice? — pergunto já
perdido. — O que faz com o celular de
Dani? Onde ela está?
— Se acalme, estou no hospital
e...
— O que houve com ela? —
lágrimas já se formam em meus olhos.
— Foi tudo muito rápido, Cas.
— funga. — Ela entendeu tudo errado
e...
— Alice. — chamo sua atenção.
— O que aconteceu com ela? — grito
com raiva.
— Ela sofreu um acidente.
Desligo no mesmo instante e
corro para fora do quarto. Passo por
minha mãe sem conseguir explicar nada.
— Apenas fique com Annie. —
peço e ela assente.
Saio do apartamento e tento me
controlar, não posso pirar agora.
Entro em meu carro e seguro
com força o volante, tentando ficar
atento na direção. Apenas consigo
imaginar como Danielle está, meu
celular toca mas ignoro. Preciso vê-la.
— Por favor Deus, não me tire a
mulher que amo. — peço, já com
lágrimas nos olhos e tento chegar o mais
rápido possível ao hospital.
Quando finalmente adentro o
hospital, praticamente corro até a
recepção.
— Danielle Soares, por favor!
—peço rapidamente e recebo alguns
olhares curiosos dos recepcionistas.
Todos ali sabem que eu tenho
uma mulher mas a falta de aliança em
meu dedo anelar esquerdo sempre os fez
desconfiar que fosse mentira.
— Doutor. — Angeline me
saúda com um sorriso fraco. — Danielle
Campos? — pergunta discretamente e eu
assinto.
Como pude esquecer que Dani
ainda não leva meu sobrenome?
— Ela está bem? — pergunto em
desespero e assim que ela abre a boca
pra responder, Alice aparece.
— Cas. — diz um pouco sem
fôlego. — Não foi nada grave.
Meu coração se acalma um
pouco, porém raiva toma conta de mim.
— O que aconteceu? —
pergunto.
— Venha, vamos conversar na
minha sala. — pede e eu permaneço
parado.
— Quero ver a minha mulher. —
respiro fundo. — Agora!
— Ela está sendo medicada no
momento Castiel, ainda não pode vê-la.
— esclarece.
— O que aconteceu com ela? —
pergunto e mesmo não querendo, sigo
Alice até sua sala.
— Como te disse no telefone, foi
um mal-entendido.
— Como assim? — pergunto
ansioso.
— Eu não sei ao certo como ela
descobriu sobre minha gravidez mas...
— Como?
— Ela me perguntou se estava
grávida e sem ouvir minha resposta,
correu pra fora do hospital. — diz
calmamente. — Um carro a acertou.
— Não! — solto quase sem voz
e Alice pousa sua mão na minha.
— Felizmente ela apenas teve
uma fratura na perna direita. Talvez
apenas o gesso já a faça melhorar
rapidamente. — diz e abre um sorriso
fraco.
Com tal esclarecimento sinto-me
um pouco melhor e alívio toma conta de
mim.
— Me perdoe por isso, Cas. —
Alice começa a dizer e lágrimas correm
por seu rosto. — Eu jamais faria algo
contra ela, sei o quanto a ama e...
— Está tudo bem, Ali. — digo.
— Ainda não pode visitá-la, mas
daqui algumas horas já poderá. — ela
diz e eu sorrio em concordância. —
Pode olhá-la através do vidro, quarto
24.
Saio de sua sala e ando pelos
corredores, parando em frente ao quarto
que Dani está.
Através do vidro gelado eu
posso ver alguns arranhões no rosto de
minha mulher. A perna direita engessada
e imóvel. Com certeza ela ainda sente
dores no corpo e por isso a colocaram
pra dormir.
— Eu te amo. — sussurro contra
o vidro e saio dali.
Vou até a recepção para
preencher alguns papéis da internação
de Dani.
— Seu filho da...
— Victória! — me viro e
encontro Caleb segurando a mulher que
parece querer voar no meu pescoço.
— O que fazem aqui? —
pergunto surpreso e Caleb suspira fundo
enquanto imobiliza os braços de Vic.
— Se você não me soltar, Caleb
Soares...
— Vic. — ele respira fundo. —
Minha rainha, há muitas pessoas aqui e
não queremos dar um show, não é?
A cena é de fato cômica.
Eu conheço Caleb desde sempre,
mas nesse momento qualquer um pode
jurar que ele é o bom samaritano da
relação. O que as pessoas sentadas na
recepção não sabem, é que esses dois
são o casal mais explosivo que existe.
— Ele ainda tem a cara de pau
de abrir esse sorrisinho. — ela diz
incrédula e Caleb me encara de forma
dura.
Lá vamos nós!
— Venham até minha sala. —
peço e mesmo xingando baixinho,
Victória nos segue.
Assim que entro na sala ouço o
praguejar baixinho de Caleb e um soco é
dado na minha mesa.
De onde Victória tirou tanta
força?
— Pode começar a dizer o que
houve com Danielle! — diz com raiva.
— Victória Soares! — Caleb a
adverte duramente. — Castiel com
certeza tem uma explicação plausível
para tudo isso.
— Acho bom ele ter mesmo,
porque senão...
— Eu mesmo quebro a cara dele.
— Caleb completa e eu sorrio em
resposta.
Eles são completamente doidos.
— Posso falar agora? —
pergunto e silêncio da sala é minha
resposta.
— Ainda não sei ao certo o que
houve, Alice me disse que Dani de
algum modo descobriu que ela está
grávida e... Bom, nem eu sabia da
gravidez de Alice. — sou sincero.
— Grávida... — ela sussurra
baixinho e me encara com ainda mais
raiva. — Como pode? — grita e Caleb
tem que segurá-la mais uma vez.
— Não sou o pai. — esclareço e
eles me escutam atentamente. —
Danielle também entendeu tudo errado, e
acho que por isso acabou sofrendo o...
acidente. — digo e fecho os olhos com
força.
— Como ela está? — Caleb
pergunta de forma preocupada e eu me
sinto totalmente incapaz.
— Pelo que sei, ela apenas
fraturou a perna direita e tem alguns
arranhões pelo corpo. — respondo já
acabado. — Espero que ela seja
liberada logo.
— Quando podemos vê-la? —
ele pergunta.
— Em poucas horas. —
respondo e os dois assentem.
— Onde Annie está? - Victória
pergunta.
— Com minha mãe. — digo e os
encaro. — O que fazem aqui? —
pergunto e Victória bufa.
— Resolvemos fazer uma
surpresa pelo aniversário de Dani, e
todos viemos para cá no avião da
empresa. — sorri sem jeito. —
Tínhamos acabado de pousar em
Londres quando recebi uma ligação do
hospital me falando sobre Dani. — Vic
esclarece. — O meu número foi o último
que ela discou antes do acidente então...
— Sinto muito. — declaro
sincero. — Mas fico feliz por estarem
aqui.
— Nós também. — Caleb
responde e olha para Victória que
assente a algo que apenas os dois
entendem

***

Horas depois eu já não aguento


mais a espera para ver Dani. Preciso
esclarecer o mal entendido e tentar
entender de onde ela tirou a gravidez de
Alice. Algo está estranho.
— Ela vai entender, irmão. —
Caleb diz ao meu lado e eu sorrio em
resposta.
É bom tê-lo aqui nesse momento.
— Onde está Miguel? —
pergunto me lembrando do meu sobrinho
e ele sorri.
— Todos vieram. — esclarece.
— Devem estar todos babando por ele.
— Família de Danielle Campos?
— Nicolas, um de meus colegas aparece
e eu me levanto. — Ela já pode receber
visitas, Castiel. — assinto.
— Ela está bem doutor? —
Victória pergunta e ele sorri para ela.
Noto o olhar furioso de Caleb e é minha
vez de sorrir.
Nicolas está ferrado!
— Fizemos todos os exames, e
felizmente nada além da perna fraturada
é grave. — esclarece e sorri em direção
a minha cunhada.
— Certo. — Caleb diz
duramente e Victória o olha
questionadora. — Que foi?
Olho para os dois e sei que
mesmo estando no hospital, com certeza
Caleb não irá segurar o ciúme. E com
isso acabo entrando primeiro, indo até
minha mulher.
Nicolas me diz todas as
recomendações necessárias sobre o
estado dela e o escuto atentamente.
Assim que paramos na porta do quarto
peço alguns minutos de privacidade com
Dani e felizmente ele cede.
Ao entrar no quarto, seguro firme
o buquê de rosas amarelas que comprei,
seus lindos olhos se abrem e eu a encaro
sorrindo. Minha linda está com o rosto
machucado e com certeza sentiu muita
dor.
— Oi. — arrisco dizer e lhe
estendo as flores.
— O que faz aqui? — sua voz
sai falha e sinto dor em meu peito. Ela
parece tão frágil.
— Amor, eu sei que...
— Acabou, Castiel. — diz de
repente. — Não vou deixar que destrua
minha vida assim como destruiu a de
minha irmã.
— Dani... — minha voz sai
falha.
— Sai daqui! — grita e Nicolas
entra no quarto, encarando-me surpreso.
— Não quero esse homem me visitando,
eu o proíbo de vir me ver.
— Dani... — insisto.
— Preciso que saia, Castiel! —
ele diz e mesmo contrariado, dou passos
para trás, saindo do quarto dela.
— Não faz isso. — suplico para
Danielle que vira o rosto e ao mesmo
tempo quebra meu coração.
Suas palavras cortam novamente
meu ser. Logo agora que pensei termos
nossa segunda chance isso acontece.
Dani ainda me culpa pela morte da irmã
e pior, dessa vez não havia raiva ou
mágoa em seu olhar. Havia apenas ódio.
Capítulo 22

Danielle

A dor em meu corpo não é nada


comparada ao meu emocional destruído
nesse momento. Encaro a foto de Castiel
sorrindo lindamente em minha direção...
Uma das poucas fotos que tenho dele.
Ela estava em meu bolso na hora do
acidente e fiz questão de tê-la de volta
assim que acordei. O médico foi gentil e
me entregou rapidamente.
Não sou de muitas crenças, mas
senti que Castiel estava comigo naquele
momento. Quando tudo ficou escuro e
senti que não podia mais respirar... Os
olhos de Annie e a voz doce dele me
fizeram lutar para tentar me manter
acordada.
Essa foto havia me protegido
como eles. A foto do homem que amo.
— Oi. — Castiel aparece no
quarto e eu seguro as lágrimas que
querem descer.
Escondo a foto embaixo de meu
corpo.
— O que faz aqui? — minha voz
sai falha tanto pela dor física quanto
pela emocional.
Não posso mais o ferir.
— Amor, eu sei que...
Não me chame de amor! Droga!
— Acabou, Castiel. — o corto
rapidamente. — Não vou deixar que
destrua minha vida assim como destruiu
a de minha irmã.
Dou-lhe a facada final e imagino
o quanto essa frase deve tê-lo
machucado.
É a última vez que o machuco
assim.
— Dani... — ele insiste e vejo
dor em sua face.
— Sai daqui! — grito e o
médico entra. — Não quero esse homem
me visitando, eu o proíbo de vir me ver.
— Dani...
— Preciso que saia, Castiel! —
o médico diz e Cas dá passos para trás
saindo do quarto.
— Não faz isso! — ele suplica
pelo vidro que nos separa e eu não
consigo mais encará-lo.
Lágrimas escorrem de meu rosto
e meu coração se quebra mais uma vez.
A dor que vi nos olhos dele reflete a
presente nos meus. Por mais sincero que
ele pareça, por mais que as rosas
amarelas sejam minhas favoritas, eu
simplesmente não consigo aceitá-lo de
volta.
Sei que o perdi no momento em
que o médico o tirou desse quarto, mas
como posso continuar com esse
relacionamento se o passado ainda me
assombra?
Pensei que depois que viesse
falar com Alice, conseguiria superar
tudo, porém bastou algumas palavras em
um momento inoportuno para fazer todo
minha auto confiança se esvair.
— Ele não me traiu. — repito
baixinho para mim mesma enquanto o
travesseiro recebe minhas lágrimas.
— Não mesmo. — a voz de Vic
se faz presente e eu me assusto.
O que ela faz aqui?
— Surpresa? — ri sem humor.
— Disse para você que faria uma
surpresa de aniversário e aqui estou.
— Mas faltam alguns dias para
meu aniversário. — digo sem graça e
ela me abraça devagar. — Vic, ele... —
as palavras parecem sufocar em minha
garganta e deixo lágrimas caírem
novamente.
— Ele não te traiu, Dani — me
encara triste. — E você sabe disso.
— Eu... — gaguejo limpando as
lágrimas com o torso da mão. — Não
consigo mais fazê-lo sofrer, não o
mereço, Vic.
— Dani. — uma lágrima desce
por sua face. — Eu não sou a expert em
relacionamentos mas sei que tudo o que
precisa é um tempo... Talvez deva ir
para o Brasil um pouco.
— Não sei ainda. — sussurro.
— Eu o amo tanto, por que
simplesmente não consigo ignorar o
passado e...
— Porque o nosso passado é
uma parte de nós. Olha, não é fácil saber
que meus pais são monstros mas... —
suspira cansada. — Eu aceitei isso
porque é parte do passado e o enfrento
todos os dias. Cada um tem seu tempo
de aceitar o próprio passado Dani e o
deixar em seu devido lugar.
— Obrigada. — digo sem jeito.
— Onde Annie está?
— Caleb deve ter levado todos
para o apartamento que alugamos aqui.
— confessa. — Mas com certeza ela
deve estar grudada com Felipe, sabe que
ela o adora.
— Eu também o adoro. —
sorrio.
— Caleb está arrancando os
cabelos por medo dele desistir de seguir
a carreira de advogado.
Passamos alguns minutos
conversando e rindo um pouco. É bom
ter Victória aqui comigo, além de poder
desabafar meus demônios, ela me faz
esquecer de cada um deles.
— Tenho que ir agora. — diz
olhando o relógio. — Caleb vai passar a
noite com você, ok?
— Não precisa Vic, eu...
— Fique quieta, não tem como
contrariar a mim e muito menos Caleb.
— reviro os olhos e ela gargalha.
— Amo você. — diz beijando
minha testa e se vai.
O silêncio no quarto faz com que
todo meu medo volte e tudo o que temo
fique presente em minha mente. O olhar
magoado de Castiel é o único
pensamento que tenho.
Sua voz, seu cheiro, seu abraço,
seu carinho... Seu amor.
— Ei. — Caleb aparece e me
abraça com carinho. — Senti saudades.
— Eu também. — respondo de
relance, tentando disfarçar meu estado e
ele me olha curioso.
— Sabe que não precisa mentir
pra mim, não é? — aceno com a cabeça
e ele continua me olhando.
— Não quero falar sobre isso
agora Caleb, não consigo.
— Está doendo aqui? —
pergunta indicando meu coração e
acaricia meus cabelos. — Sei que está.
— Queria tirar essa dor de mim
e poder tirar toda a dor de Castiel.
— Ele não está nada bem, Dani.
— afirma e meu coração se afunda.
Se tem uma coisa que tanto
Caleb e Castiel são parecidos é na
honestidade. Caleb não inventa algo
para dar uma notícia, ele simplesmente
diz.
— O que houve? — pergunto
temerosa e ele passa as mãos nos
cabelos.
— Eu o encontrei em um bar,
completamente bêbado e tive de
carregá-lo até em casa.
— Mas ele nunca bebe nada
alcóolico. — digo assustada.
— Pois é. — suspira. — Alice
que convive com ele há mais tempo,
disse que nunca o viu nesse estado antes.
Meus pensamentos se povoam
pelo nome Alice e tento sentir algo ruim.
Seja raiva ou a inveja que sempre senti
por ela, mas não sinto mais nada.
Pelo menos um dos meus
fantasmas havia se dissipado.
— Dani. — me chama e eu volto
a prestar atenção. — Ele não é o pai do
filho que ela espera.
— Sei disso. — respondo e
Caleb me encara surpreso.
— Mas por que...
— Eu não quero mais magoá-lo,
Caleb. — digo sinceramente. — Passei
dois anos de nossas vidas o culpando e
magoando simplesmente porque me
sentia com esse direito. Mas eu não
tenho direito disso, nunca tive.
— Precisa conversar com ele
Dani, mesmo que seja para colocar um
fim digno nessa relação.
— Não consigo dizer adeus para
ele. — deito minha cabeça no
travesseiro. — Muitas vezes pedi para
que ele fosse embora ou então que era
nosso fim, mas nunca... Nunca de fato
quis isso.
— Você o ama. — confirma
meus pensamentos e eu o olho triste.
— Mais do que tudo, Caleb. Não
posso mais brincar com o coração dele.
Muito menos magoar nossa filha com
meus traumas.
— Ele acha que é o fim, Dani.
— diz cauteloso. — Não acha que ele
merece no mínimo uma explicação?
Tenho certeza que se for sincera com
ele, ele irá entender e te esperar.
— Não quero mais que ele
espere. — digo e Caleb arregala os
olhos. — Quero que ele seja feliz, nem
que for ao lado de outra mulher.
— Não seja tola, Dani, ele ama
você e enquanto esse sentimento for
vivo, ele não irá te deixar. Esses dois
anos que passaram são a prova disso.
— Não se ele me odiar... E tenho
certeza que amanhã quando acordar ele
estará sentindo isso.
— Por que está afastando-o de
sua vida? — pergunta confuso.
— Porque o amo demais para
dizer adeus e ainda mais para continuar
vendo ele sofrer por alguém que não
vale a pena.
— Dani... — Caleb tenta me
interromper, porém levanto a mão
pedindo só mais um segundo.
— Ele merece uma mulher que
dê valor ao amor que ele entrega e...
Eu não sou essa mulher.
— Não posso obrigá-la a não
fazer isso, mas não vou mentir caso ele
me pergunte algo.
— Sei que não, mas vou correr o
risco. — ele assente.
— Estarei sempre aqui Dani,
sabe disso, não é? — pergunta temoroso
e eu sorrio em sua direção.
Caleb é como irmão e pai para
mim, sempre esteve ao meu lado nos
piores e também nos melhores
momentos. E por mais vaca que eu tenha
sido com seu irmão, ele não tinha me
abandonado.
— Obrigada por seu uma das
melhores pessoas do mundo, Caleb. —
digo e ele beija minha testa com carinho.
Ele sabe que a conversa se
encerrou e sei que não irá mais voltar a
tal assunto.
Horas depois Caleb já dorme
serenamente na poltrona ao lado da
cama e me sinto culpada por ele estar
aqui. Mas como convencer uma pessoa
tão teimosa como ele?
Tentei dormir várias vezes mas o
máximo que consegui foi um cochilo,
onde todo o passado com minha irmã me
fez despertar rapidamente. Não quero e
não reviverei os dias ruins ao lado dela
novamente.
— Sinto sua falta, irmã. — digo
fechando os olhos com força e lembro
do sorriso sincero que Annie sempre me
dava.
Castiel não foi um santo com ela,
mas tudo o que houve não foi apenas
culpa dele. Nesse momento posso
finalmente enxergar isso.
Eu tinha feito minha escolha e
nada mudaria isso. Cada dia que ficar
longe de Castiel me quebrará ainda
mais, porém dessa vez faria o correto.
Irei deixá-lo inteiro, para que ele
sim possa ter e viver o grande amor que
merece.
Capítulo 23

Castiel

A primeira coisa que sinto ao


acordar é uma dor de cabeça
insuportável. Forço os olhos a se abrir e
me assusto ao notar que estou em minha
cama.
Será que tudo não passou de um
pesadelo?
Levanto meio sem jeito e vou
direto para debaixo da ducha. A água
gelada cai sobre meu corpo e alguns
flashes vem em minha memória. O pior
deles é o olhar ferido e raivoso de Dani
para comigo.
Desligo a ducha e fico alguns
segundos encostado na parede gelada do
box. O mesmo lugar onde já fizemos
amor por tantas vezes... Com um fio de
esperança me enrolo na toalha e saio do
banheiro em busca dela.
Tudo podia ser apenas um
pesadelo e aí eu poderia consertar
tudo... Não pode ser verdade que a
perdi.
— Dani! — a chamo e o silêncio
é minha única resposta.
Chamo mais algumas vezes e
começo a vasculhar todo o apartamento.
Nem mesmo Annie está aqui. Minutos
depois já vencido pelo cansaço, sento-
me no sofá da sala e deixo com que as
lágrimas desçam.
Ela estava diferente, talvez eu
devesse ter cedido logo de uma vez, não
ter sido frio com ela e... Ela sofreu o
acidente... Ela me mandou embora e
dessa vez não foi nada parecido como
das outras.
Passamos dois anos como gato e
rato, tentei de todas as formas conquistá-
la e por mais que ela me negasse, ou
melhor, se negasse a me amar... Eu sabia
que ela me amava. Hoje, eu já não tenho
mais certeza.
Minha cabeça lateja e forço a me
lembrar do que aconteceu assim que saí
do hospital. Acabei brigando com Alice
também e fui para o bar mais próximo.
Bebi como nunca havia bebido e muito
mais do que um dia pensei conseguir.
Ali estava a explicação para a tamanha
dor de cabeça, estou de ressaca.
A porta da frente se abre e Caleb
adentra a sala com um sorriso fraco no
rosto.
— Melhor? — pergunta sem
jeito e eu minto assentindo. — Beba
isso. — me entrega uma cartela de
comprimidos.
Me levanto e já vou direto para a
cozinha. Tomo dois dos comprimidos e
esfrego minhas têmporas com força.
— Odiava quando bebia além da
conta e tinha essa maldita dor de cabeça
no dia seguinte. — zomba entrando na
cozinha e eu lhe dou um sorrio forçado.
— Estou ainda tentando
assimilar tudo o que houve. — digo
sincero e ele me olha cúmplice — Ela
realmente me mandou embora? —
pergunto receoso.
— Cas. — suspira fundo. — Eu
sinto muito por isso mas Dani barrou sua
entrada no quarto dela.
Fico quieto e bebo mais um
pouco de água.
Ela realmente não quer me ver.
— Sei que ela está com raiva,
mas só queria lhe explicar que...
— Castiel, dê esse tempo a ela e
melhor, dê esse tempo a você mesmo.
— O que quer dizer? — indago
sem entender.
— Você passou dois anos se
humilhando e correndo atrás dela...
Talvez ela precise de espaço para sentir
sua falta.
— Não sei se consigo, Caleb. —
levo as mãos à cabeça em desespero —
Eu a amo.
— Sei disso, mas não pode amar
por dois. — diz e sai da cozinha, me
deixando perdido em pensamentos.
Será que eu havia amado por
dois? Será mesmo que amei sozinho?
Fico por mais um tempo ali
parado, encarando o copo e por fim
desisto. Acho que esse foi nosso maior
erro. Eu ouvi, aceitei e quis tudo...
Transbordei amor enquanto Danielle me
afogava em sofrimento.
Mesmo que doesse, a partir de
agora eu viveria apenas para minha
filha. Colocarei meu coração em
segundo lugar e tentarei deixar Danielle
em segundo plano... Pelo menos tentarei.
Horas depois minha cabeça já
tinha melhorado e havia comido o
suficiente para suportar esse dia. Caleb
continuava em meu apartamento porém
não tocou em nenhum assunto e nem eu
fiz questão.
Estava me segurando para
perguntar sobre Dani, sobre como ela
está e até mesmo quando ela finalmente
sairia do hospital. Por mais que tudo
entre nós pareça ter acabado, eu ainda
tenho que me segurar para não procura-
la e tentar entender o que houve, lhe
dizer que não sou o pai do filho de
Alice.
Mas se ela não quer me ouvir, eu
não posso fazer mais nada. Eu amo essa
mulher, mas um amor unilateral não é
saudável, nunca foi.
— Annie está com o resto de
nossa família, certo? — pergunto
quebrando silêncio e Caleb sorri em
concordância.
— Ela e Miguel devem estar
acabando com todos. — sorri feliz. —
Os dois estão grandes.
— Annie arrisca tantas palavras
em inglês que eu já nem me surpreendo
mais com sua facilidade de falar. —
sorrio orgulhoso. — Eu e minha... Quer
dizer, eu e Danielle sempre falamos em
português em casa, mas a nossa pequena
sempre pega algo em inglês dos
programas que assiste.
Contamos algumas proezas de
nossos pequenos e gargalhamos juntos
algumas vezes. Finalmente o clima havia
melhorado e posso sorrir pelo simples
fato de estarmos falando de nossos
filhos. Eles são nossa maior felicidade.
— Castiel? — me chama de
repente.
— Diga. — respondo e o
semblante de Caleb muda. — O que foi?
— Quando irá para o Brasil? —
pergunta.
— Em alguns meses serão
minhas férias, então logo estarei lá. Mas
venho pensando no que conversamos
esses tempos, talvez seja hora de o
fazer.
— Nosso lar é onde nosso
coração está, Cas. Já estava mais do que
na hora de você voltar para o Brasil. —
diz e eu concordo.
Minha volta para o Brasil é
sempre um assunto delicado. Eu amo
meu país de origem, ainda mais por toda
minha família viver lá. Porém Londres é
minha casa por tanto tempo que me
acostumei com a saudade e até gosto de
senti-la.
Mas talvez o clima tropical seja
bom para Annie, além de conviver com
os tios, primos e avós. A casa cheia é
algo que poucas vezes ela teve e eu sei o
quão a família é essencial. Talvez voltar
para o Brasil me traga muito mais que a
mudança de ares que necessito... Quem
sabe um novo amor.
Capítulo 24

Danielle

Quatro meses depois

— Está tudo bem, tia? — a


pergunta de Felipe é tão inocente e ao
mesmo tempo tão desafiadora.
— Sim, Lipe. — minto com um
sorriso e ele apenas me encara.
Annie dorme tranquilamente em
meu colo enquanto saímos do avião.
Felipe traz nossas malas e eu agradeço
imensamente a Caleb por tê-lo
incentivado a fazer uma curso no
exterior. Felipe é literalmente meu porto
seguro depois de tudo o que houve.
Desde o acidente e da última
conversa com Castiel meu mundo havia
dado várias voltas. Meu aniversário, há
cerca de quatro meses atrás foi
comemorado dentro de um quarto de
hospital, sem Castiel. Annie havia me
presenteado com telas novas para pintar,
as quais ela contou que escolheu no dia
em que saiu com o pai. E naquele
momento, doeu demais não ter Castiel
por perto, mesmo todo resto de minha
família estando presente.
Além de perder o homem que
amo, tinha que cuidar de Annie com
apenas uma perna boa. Felipe entrou
definitivamente em nossas vidas e além
de estudar, morou conosco e cuidou de
nós duas. Além de Lívia que
praticamente passou os dias no
apartamento conosco.
Castiel sempre vinha ver a filha
e passar o dia com ela, porém pouco nos
falamos, ou melhor, se é que em algum
momento nos falamos. Ele não tinha
perguntado sobre mim e pouco fez
questão de se aproximar. Eu sei que o
feri além do que imaginei poder, desde
então ele deve estar seguindo em frente,
pois saiu de seu próprio apartamento
por minha causa. Assim como eu queria
que fizesse.
Na maioria das vezes eu ouvi de
longe a conversa dele com Felipe e vi o
modo carinhoso com o qual ele trata o
sobrinho. Castiel continua o mesmo com
os outros, apenas eu estava
completamente perdida e fui totalmente
ignorada por ele.
Meses se passaram e continuei
definhando no apartamento que havia me
acostumado tanto a chamar de lar.
Continuei com meu trabalho, pois a
perna engessada não me impedia, e fazia
o máximo para cuidar de Annie,
tentando manter uma rotina normal.
Mas como um lugar é nosso lar
se nosso coração não está nele?
Meu coração havia ficado com
Castiel desde o momento que pus os
olhos nele pela primeira vez... Eu jamais
o recuperaria de volta.
Atravessando o portão de acesso
do pequeno aeroporto particular vejo de
longe Victória e Caleb. Eu sei que
Castiel, Lívia e Joaquim já haviam
chegado ao Brasil, pois Felipe me
confidenciou isso, mesmo assim uma
parte de mim doía por saber que ele não
veio me receber, ou ao menos receber
Annie.
Abraço os dois com força e tento
achar conforto neles. Talvez aqui eu me
reencontre, mesmo que seja para ficar
por poucos dias. Estou em casa, o lugar
onde nasci e cresci, e logo mais na casa
onde praticamente me criei.
O motivo de estarmos aqui é a
festa de fim de ano da empresa e
advocacia dos Soares, além de
comemorarmos o Natal em família.
Óbvio que eu não sou uma
Soares, mas minha pequena é, além de
Victória, Caleb, Luna e todo resto da
família terem me intimado a estar
presente. De qualquer forma é bom estar
aqui, pois independente do sangue eles
são minha família.
— É bom estar em casa. —
exclamo mais animada e percebo que os
olhares de Vic e Caleb não parecem tão
alegres. — O que foi?
— Precisamos contar algo. —
Caleb diz cauteloso. — Castiel já está
aqui e... — ele para e olha para Vic.
— E? — pergunto ansiosa.
Quem sabe ele queira falar
comigo ou até mesmo tenha perguntado
sobre mim. Por mais que não
estivéssemos juntos, não posso negar
que sonho todos os dias com um
recomeço. Já se completavam quatro
meses longe dele. Mal sei como aguentei
tanto tempo.
— Ele trouxe alguém com ele.
— Vic diz um pouco sem jeito. — Uma
mulher.
— Alice? — pergunto no
automático e eles negam veemente.
— Não sabemos ao certo o que
eles são...
— Está tudo bem. — digo e eles
me olham assustados. — Eu sabia que
um dia ele iria seguir em frente...
Apenas espero que ele esteja feliz.
Victória abre a boca algumas
vezes porém nada sai. O silêncio
permanece entre nós enquanto
caminhamos até o carro e Felipe aperta
de leve meus ombros.
— Se precisar de algo sabe que
estou aqui. — diz e sorrio em sua
direção.
— Você é o melhor sobrinho do
mundo. — digo e ele cora
instantaneamente.
Felipe não é muito de
demonstrar sentimentos, mas quando diz
algo, por mais simples que seja, sei que
é sincero. Talvez sinceridade seja algo
indispensável no pacote Soares.
— Bem vinda novamente. — Vic
diz quebrando o silêncio no carro e eu
sorrio em sua direção.
Coloco Annie na cadeirinha, e
ela continua dormindo.
Conversamos amenidades e
forço um sorriso a cada brincadeira que
eles fazem. Não estou bem. Por mais que
tenha feito o que fiz para que ele seja
feliz com outra pessoa, agora vejo que
não consigo aceitar isso. Dói demais!
Minutos depois eles estacionam
em frente a mansão e saímos do carro.
Tiro Annie da cadeirinha e ela
finalmente acorda, sorrindo em minha
direção.
— Chegamos, mommy? —
pergunta quando a coloco no chão, mas
antes mesmo que eu responda, ela grita:
— Daddy! — então corre em
direção a casa.
Levanto meu olhar e encontro
Castiel, sorrindo instantaneamente,
porém meu sorriso morre na hora, assim
como o resto de coração que ainda
guardava em meu peito.
Castiel pega Annie no ar e a
beija várias vezes, mas não é essa cena
que me chama atenção. A mão direita
dele está entrelaçada a mão esquerda de
uma mulher morena, mesmo com Annie
no colo, ele não solta. Ao que tudo
indica, essa é sua nova mulher. Encaro-a
por alguns instantes e logo a reconheço,
é Luciana, a filha do dos donos do
restaurante que ele me levou, onde me
pediu em namoro.
Respiro fundo, tentando
controlar as lágrimas que querem
descer, e encaro minhas sapatilhas por
alguns segundos.
— Tia! Onde quer que eu deixe
as malas? — Felipe praticamente me
grita e eu me viro indo em sua direção.
— Obrigada. — sussurro e ele
me lança um olhar cúmplice enquanto
entramos na casa.
Eu podia muito bem ir até
Castiel e cumprimentar tanto ele quanto
Luciana. Mas que armadura eu
ostentaria nesse momento?
Pouco havia percebido, mas nos
últimos tempos eu havia voltado a ser
um pouco do que sempre fui. Não tenho
mais casca ou armadura, e muito menos
conseguirei ser gélida com ele.
O que diria?
Ele havia seguido em frente e eu
não posso ao menos me opor a isso. Eu
havia destruído nós dois e sabia agora
que não teria volta. Não mais.

***

Entro no meu antigo quarto e


deposito minhas malas no chão. Felipe
vem até mim e eu o abraço com carinho.
Mesmo sendo bem mais novo ele é bem
mais alto do que eu. Assim me conforta
em seu peito e deixo que minhas
lágrimas rolem.
— Tia, eu sei que não devo me
intrometer mas... Não seria mais fácil
dizer ao tio que o ama? — pergunta
baixinho e eu o encaro sem ter a
resposta.
Seria mais fácil? Claro que
seria!
Mas será que eu já estou pronta
para lhe recompensar por todos os
erros?
Será que eu mereço uma
segunda chance com ele?
— Não posso, Lipe. — digo e
me coloco na ponta dos pés e beijo sua
testa. — Sinto muito por isso. — peço
indicando sua camisa molhada pelas
minhas lágrimas.
— Está tudo...
— Danielle, preciso falar com
você. — Castiel aparece de repente na
porta e me assusto com sua intromissão.
Felipe sai sem dizer mais nada e
com ele vai embora todo meu conforto.
Sem poder me conter analiso
minuciosamente as mãos de Castiel e
busco alguma aliança. A falta dela faz
meu coração se acalmar um pouco. Ele
ainda não está totalmente preso, talvez
ainda exista alguma esperança para nós.
— Entra. — digo e ele então
atravessa a porta e a fecha em seguida.
— Mas...
— Que merda você pensa que
está fazendo? — praticamente rosna e eu
o encaro sem entender nada.
— Do que você está falando? —
pergunto em um sussurro e ele me encara
ainda mais raivoso.
— Você pode até se sujeitar a
esse papel ridículo, mas eu não deixarei
que minha filha viva no meio... — faz
um gesto incompreensível com as mãos.
— No meio disso!
— Eu não estou entendendo,
Castiel. — digo sincera e ele sorri de
lado.
O mesmo sorriso cínico que eu
tanto amo, mas que no momento parece
apenas sombrio.
— Acho bom entender, se você
quer ficar com Felipe eu não vou me
opor a isso. — diz e fico sem palavras
— Mas não quero que confunda a
cabeça de Annie e ela ache que tem mais
de um pai.
— O que? — pergunto perplexa.
— Isso mesmo que ouviu. —
leva as mãos aos cabelos e logo se
aproxima de mim.
Seu corpo praticamente me
prensa contra a parede e vejo algo além
de raiva em seu olhar. Há desejo.
— Eu e Felipe não temos...
— Não me importo. — diz
friamente. — Se Annie disser mais uma
vez para mim que tem dois pais, eu juro
que a tiro de você. — me ameaça e eu
me encolho sem ter o que dizer.
— Não sei porque ela pensou
isso, Felipe sempre a ensinou a chama-
lo de primo ou Lipe, jamais...
— Cale a boca. — grita em meu
rosto e me encolho ainda mais.
Quem é esse homem a minha
frente?
O que fiz com o homem que
amo?
— Droga, me desculpe eu...
Batidas na porta o interrompem e
ele se afasta rapidamente.
Me viro e abro a porta, Luna me
olha um pouco assustada e então entra a
passos incertos no quarto.
— Atrapalho? — pergunta
olhando entre mim e Castiel.
— Já havíamos terminado. —
digo e Castiel vai em direção a porta.
Olho o carinho extremo que ele
trata Luna, e antes mesmo de sair ele
beija sua testa. Eles nunca conversaram
ao certo sobre tudo, pelo que sei, mas
com a convivência se tornaram
próximos. Ele jamais será o pai dela,
mas com certeza há um grande
sentimento entre eles.
— Não queria ter atrapalhado.
— diz sem jeito.
— Seja o que for, não é mais
importante. — seguro as lágrimas.
— O que foi que ele fez? — ela
pergunta brava e eu sorrio em sua
direção.
— Você é a única que entende
um pouco o meu lado, ou melhor, você e
Lipe.
— Sabe... Me casei cedo com
Lucas porque nosso amor falou mais
alto, mas sei agora que amor não é o
suficiente para sustentar uma relação.
Há vários outros sentimentos
envolvidos. — diz e não consigo não
compará-la com minha irmã.
Fora os olhos verdes, ela é a
verdadeira cópia de Annie. Hoje vejo
que minha tristeza pela perda de minha
irmã está finalmente se dissipando e
assim só me resta a saudade.
— Acho que está mais do que na
hora de voltar para o Brasil. — sugere
um pouco insegura.
— Seus pais lhe pediram para
me dizer isso? — pergunto e abro um
sorriso fraco.
— Não, quer dizer, eu já os ouvi
falando sobre mas...
— Mas?
— A mulher que está com
Castiel não é de Londres ou do exterior,
é uma antiga colega de escola dele.
— Sim, eu sei. — digo sem
jeito. — Eu a conheci no dia em que ele
me pediu em namoro. — revelo. — Mas
o que isso tem a ver?
— Ele está hospedado aqui em
casa faz dois dias, mas não dormiu aqui
nenhum deles.
— Espera. — levanto as mãos
em sua direção. — Como sabe disso? —
pergunto espantada e Luna sorri.
— Calma, não faça essa cara!
Apenas quero a felicidade de vocês. —
se exalta já levantando e eu a olho
mesmo sem querer. — Ouvi uma
conversa de meu pai com Castiel e sei
que ele irá voltar em breve a morar no
Brasil.
— O que? — grito sem me
conter.
— Pelo jeito ele irá mudar pra
cá, por conta da tal Luciana. — diz
entortando o rosto em uma careta.
— Mas ele não faria isso, tem o
hospital, amigos, Annie... Eu. — solto
num sussurro.
— Me desculpe dizer isso assim
na lata, mas eu precisava te contar e
aconselhar a fazer algo. Sei o quanto se
amam e...
— Luna. — a chamo e ela
continua tagarelando. — Luna!
— Oi. — me encara.
— Castiel parece feliz? —
pergunto cabisbaixa e Luna vem até
mim, me abraçando com força.
— Ele não a olha como olha
para você. — diz e fico um pouco feliz
com isso. — Aliás o que ele queria
aqui?
— Eu não entendi ao certo, acho
que está com medo de perder Annie para
Felipe. — sorrio sem vontade. — O que
é impossível, já que Annie ama o pai
mais do que tudo.
Encaro Luna e ela está com as
mãos na boca, me encarando inquisitiva.
— Que foi?
— Está aí o incentivo que
precisa para lutar por ele.
— Han? Como assim?
— Castiel não está com medo de
perder Annie para meu irmão, está com
medo de perder você. — diz e gargalha.
— Não fale besteiras, Luna.
— Isso é óbvio! Pelo que mamãe
me disse vocês não se falam diretamente
há meses e de repente quando você volta
para o Brasil ele te enfrenta e...
— Quem te disse que ele me
enfrentou?
— Ouvi os gritos através da
porta. — confessa corando e eu
gargalho. — É sério, ele ainda é louco
por você. Só não sei o que ele faz com a
tal Luciana.
— Talvez ela esteja dando a ele
o que eu não fui capaz. — digo e abaixo
a cabeça, lembrando de todas as
palavras frias que usei contra ele.
— O que? — ela pergunta e eu
me calo.
— É complicado, espero que
você nunca tenha que passar por isso. —
ela me abraça. — Mas onde está o
bonitão do seu marido?
— Trabalhando. — diz. — Vou
ver as crianças, qualquer coisa me
chame. — assinto e ela sai.
Mesmo amando conversar com
Luna, há momentos que preciso me
trancar em meus próprios sentimentos.
Ela me entende tão bem, assim como
minha irmã me entendia antigamente.
Pego minhas malas e começo a
abrir, arrumando as minhas roupas e as
de Annie no closet. Sem querer mais
pensar em Castiel, ou até mesmo chorar,
apenas dando-me um tempo para
absorver tudo o que ela me disse. Será
que ele vai realmente mudar para o
Brasil por conta dela?
Estou tão quebrada que não
tenho mais como me despedaçar, não há
como me sentir pior do que nesse
momento. Eu o havia deixado ir e agora
terei de arcar com as consequências, por
pior que elas sejam.
Capítulo 25

Castiel

Dentre todas as coisas que


pensei que um dia pudessem me
acontecer, me apaixonar definitivamente
não era uma delas. Ainda mais me
apaixonar do modo como aconteceu,
sem medos, negações ou mentiras.
Apaixonar-me por Danielle foi o
mesmo que me jogar em um buraco
negro, eu não fazia ideia do que tinha do
outro lado ou se realmente existia outro
lado.
Passar esses quatro meses longe
dela apenas fortaleceu a ideia de que
não existe outro lado do buraco, assim
como a própria ciência diz. E em meu
caso, onde o amor ainda impera, não
existe outra chance de felicidade que
não seja ao lado de Dani, mesmo que ela
não me queira. E apenas uma palavra me
define: Acabado.
Posso atuar muito bem e sempre
manter o máximo de distância possível
dela quando vou buscar Annie no
apartamento, onde passo sempre algum
tempo conversando com Felipe, mas a
verdade é que tento a sorte de talvez vê-
la, nem que seja de longe. Essa mulher
está cravada em minha pele e parece que
não tenho chances de retirá-la.
Pensei que o tempo a faria mudar
de ideia, que um dia qualquer a
encontraria em frente ao apartamento e
ela se jogaria em meus braços. Bom,
isso realmente só acontece em filmes.
Pois na vida real, eu tive de ver a
mulher que amo morar com outro
homem. E por mais que esse homem seja
meu sobrinho, não consigo controlar
meus ciúmes. Danielle parece tão segura
ao lado dele, enquanto eu estou
completamente perdido sem ela. Como
posso não ficar possesso ao notar a
relação deles?
Mesmo que ela não aceite e
muito menos saiba, ela ainda é minha
mulher e se depender de mim continuará
sendo.
— Perdido em pensamentos? —
Luciana caçoa e eu sorrio em sua
direção.
— Como sempre.
— Tem certeza que não quer que
eu fique? — pergunta sem jeito.
— Fez mais do que necessário,
Lu.
— Por Deus, Castiel! —
exclama brava. — Você praticamente me
salvou, o mínimo que podia fazer era te
ajudar, ou ao menos tentar.
— Pena que não funcionou. —
zombo de mim mesmo e ela sorri um
pouco mais relaxada.
— Obrigada! — diz e me abraça
com carinho. — Não sei o que faria se
você não tivesse aparecido, Cas, saiba
que sempre estará em meu coração.
— Isso por um acaso é um
adeus? — pergunto cínico e ela deixa
algumas lágrimas rolarem. — Quero que
me ligue assim que chegar, ok?
— Manteremos contato, e eu
quero saber tudo sobre essa noite. — diz
enfática. — Sinto que algo vai
acontecer.
— Espero que o Cara lá de cima
te dê ouvidos! — brinco e nos
despedimos com mais um abraço.
Às dezenove horas pela janela
do quarto vejo Luciana entrando em um
táxi que vai direto para o aeroporto.
Pelo menos um de nós tinha a chance de
recomeçar.
— Sabia que não conseguiria. —
Victória diz ao entrar no quarto e eu
reviro os olhos. — Nem adianta revirar
seus lindos olhos verdes que não irá me
enrolar mais. Me diga de uma vez, por
que a trouxe aqui?
— Qual é, Vic?
Vou em direção ao espelho e
tento arrumar a franja que insiste em cair
em meus olhos.
Isso me faz lembrar que antes de
perder Dani, meu cabelo não era
problema algum. Pois mesmo dentre
todas nossas brigas, ela sempre fez
questão de penteá-lo com sucesso. Só
ela consegue domar a droga dessa
franja.
— Cortar o cabelo ajuda sabia?
— Vic zomba.
— Diz isso para o seu marido.
— respondo com uma piscadela e ela
bufa.
— Acha que já não tentei fazê-lo
cortar aquela juba? Mas nem tente me
distrair com isso, responda minha
pergunta.
— Qual era mesmo? —
pergunto, me fazendo de desentendido.
— Castiel! — diz brava.
—Ok, ok! — exclamo levando
as mãos para o alto em sinal de
rendição.
Abro a boca para começar a
falar mas paro no mesmo instante que
Caleb entra no quarto.
— Atrapalho? — pergunta e eu
passo por ele dando tapinhas em seu
ombro.
— Time perfeito irmão.
— Volte já aqui, Castiel! —
Victória exclama brava e eu apenas me
viro para lhe soprar um beijo.
Caleb que se entendesse com
essa mulher, não iria falar sobre meus
problemas com Danielle hoje e muito
menos sobre Luciana. Ela que segure sua
curiosidade.
Desço até a cozinha para comer
algo pois desde ontem não havia comido
nada direito. A chegada de Danielle,
meu ataque de ciúmes com ela, a nossa
proximidade naquele momento, me fez
perder até a fome.
Preparo um simples sanduíche e
acabo viajando em minhas próprias
memórias. Porém preciso focar no
presente, ainda mais agora que Danielle
com certeza irá querer me matar por ser
intimada a ir comigo a festa anual. Ela
com certeza não irá parecer mais a
gatinha indefesa que vi ontem, ela se
tornará a leoa que tanto mexe comigo.
— Filho. — me viro e encontro
Leandra sorrindo lindamente.
Desde que aterrissei no Brasil
estava hospedado na casa de Caleb
porém não havia ido falar com minha
mãe ainda.
— Como vai, mamãe? —
pergunto e ela vem até mim, abraçando-
me com força. Agora sim, eu estou de
fato em meu lar.
— Senti tanto sua falta meu filho.
— exclama emocionada.
— Me desculpe por ter ficado
tanto tempo longe. — digo sincero e
limpo as lágrimas que descem por seu
rosto. — Prometo nunca mais me afastar
assim.
— É bom mesmo menino! —
chama minha atenção e puxa de leve
minha orelha. — Estava a ponto de ir
buscá-lo a chineladas do outro lado do
atlântico.
— Acho que logo mais não
precisará me buscar tão longe. —
confesso e ela me olha surpresa.
— Não me diga que... Ah meu
Deus filho, você vai mesmo voltar a
morar no Brasil? — pergunta e eu aceno
afirmativamente.
— Estava mais do que na hora,
não acha? — zombo.
O som de algo se partindo, faz
com que levante meu olhar no mesmo
instante.
— Droga! — Dani pragueja
baixinho ajoelhada no chão.
Vou até ela e me agacho também,
tentando ajudá-la a pegar todos os
pedaços do copo que derrubou, porém
ela é mais rápida e retira tudo.
— Me dê isso. — peço e ela
reluta contra mim. Seguro seu braço com
cuidado e impeço que se levante. —
Não quero que se machuque.
— Impossível me machucar mais
do que estou agora. — diz e sai do meu
aperto.
Ela joga os cacos dentro do lixo
e praticamente corre da cozinha.
— Você já disse a ela sobre sua
volta para o Brasil? — mamãe pergunta
de repente e eu nego. — Acho que ela
não digeriu muito bem a ideia Cas,
talvez seja bom conversarem de uma
vez.
— Não se preocupe, mamãe.
Falarei com ela essa noite, não podemos
mais adiar essa conversa. — sorrio. —
Agora me revele algo, quando Lívia e
Joaquim irão assumir que estão juntos?
— brinco.
— Esses dois já é outra história.
— sorri.
***

— Quem vai acompanhar


Felipe? — pergunto.
— Ninguém. — Caleb responde
e eu me espanto.
— Mas e Babi? — pergunto
curioso pois havia visto segundos atrás
Babi passar pelo corredor pronta.
— Christopher vai com ela. —
responde tranquilamente e fico estático.
Será que ele não enxerga os
olhares de nosso irmão para Babi?
— Por que essa cara? —
pergunta e eu apenas sorrio de lado.
— Ela já sabe? — pergunto
mudando de assunto e ele assente.
— Não a machuque, Castiel. —
diz e se levanta passando por mim.
Mas o que?
Olho na direção que ele vai e o
vejo beijar Victória delicadamente nos
lábios, assim ele a elogia. Como queria
eu ter a sorte de tratar a mulher que amo
assim.
— Onde Isaac está? — Vic
pergunta animada e Caleb abaixa a
cabeça. — Caleb...
— Eles desmarcaram
novamente. — conta e noto os olhos de
Vic perderem o brilho.
— Por que Paula...
— Minha rainha, vamos dar um
jeito nisso, ok? — tenta tranquiliza-la.
Mesmo desconcertada Victória
sorri pro marido e coloca novamente um
sorriso rosto. As atitudes de Paula para
com ela são completamente fora do
comum. Por que ela insiste em deixar a
própria irmã fora de sua vida, sendo que
Vic desde que descobriu esse laço
tentou se aproximar?
Isaac mal aparece por aqui pelo
que Caleb contou, em nenhuma
comemoração eles apareceram e ele
sempre vinha com a mesma desculpa:
"Paula disse que não está preparada"
Caleb sente que algo está errado,
assim como eu, mas não ousamos
intrometer, esperaríamos o momento
certo para questionar Isaac, o qual
parece que nunca chega.
— Vou apenas dizer tchau para
Annie e já os encontro. — digo e subo
as escadas.
No quarto de Miguel, encontro
ele e Annie deitados na cama, assistindo
um filme. Pelos olhinhos sonolentos sei
que logo estarão dormindo.
Como todos da família irão para
a festa que será demorada e até
cansativa para as crianças, eles ficarão
com a babá de Miguel, Sara.
— Oi, Sara. — digo e ela sorri
pra mim, como sempre animada. —
Tudo bem por aqui?
— Os anjinhos como sempre
estão vidrados na tv. — brinca. — Eles
não dão trabalho algum.
Sorrio para ela e por um segundo
a vasculho por inteiro. Sara é uma
mulher jovem, de apenas vinte anos, a
qual apareceu na frente da casa em
busca de emprego há pouco tempo atrás,
porém seu jeito doce ganhou toda
família Soares.
— Mesmo assim, obrigado por
cuidar deles. — digo e ela assente.
— Sweet heart. — Annie
finalmente me encara. — Logo
estaremos de volta, ok? — beijo sua
testa.
— Ok, daddy. — beija meu
rosto e eu acaricio de leve seus cabelos
louros.
— Amo você pequena! — digo e
ela sussurra um simples I love you
too[5].
Me despeço de Miguel e Sara, e
saio do quarto em seguida. Quando me
viro para o corredor acabo apenas
sentindo um baque contra outro corpo.
O cheiro forte e característico de
Danielle me embriaga como sempre. Em
uma casa enorme como essa, como seria
possível esbarrar justamente nela?
Sem poder me conter analiso
minuciosamente como ela está.
Um vestido vermelho destaca
ainda mais sua pele clara, o caimento é
perfeito como se fosse feito sob medida.
Seu corpo tão próximo ao meu, faz meu
coração disparar instantaneamente e
quando seus olhos encontram os meus,
me sinto completamente sem forças.
Não tenho como fugir dela nesse
momento.
— Me desculpe por isso. — diz
abaixando a cabeça e tenta sair, porém a
impeço.
— Já está pronta? — pergunto e
ela assente. — Vamos então.
A puxo delicadamente pelo
braço e ela vai mesmo de mal grado.
Saímos de casa em casais, todos
em carros separados e durante todo o
caminho Dani evita olhar para mim.
— Preciso falar com você. —
quebro o silêncio e ela me olha curiosa.
Sem ter mais palavras apenas
continuo olhando-a.
Ela está tão linda.
Penso no que dizer a ela ou se
deveria tentar conversar porém nada sai.
Durante todo o trajeto ela fica
analisando as ruas pela janela da
limusine e eu apenas a admiro.

***

Minutos depois chegamos a festa


e Dani logo dá um jeito de fugir para o
banheiro. Perambulo pelo salão e
cumprimento várias pessoas, as quais
pouco conheço e outra que há muito
tempo não vejo.
— Quem é vivo sempre aparece.
— Herrera caçoa e eu lhe dou um tapa
nas costas.
— Admita que morreu de
saudades. — abro um sorriso cínico e
ele bufa.
— Onde está Isaac? — pergunta
e eu simplesmente dou de ombros. —
Quero saber quem foi a mulher capaz de
fazê-lo sossegar depois do fiasco com
Tânia.
Conversamos amenidades por
um tempo mas logo me afasto. Danielle
está demorando muito para voltar do
banheiro e já estou ficando preocupado.
Andando mais um pouco pela
festa a encontro conversando
animadamente com o senhor e um
homem mais jovem. Um homem que não
tira os olhos dos seios dela.
Merda!
— Te achei querida. — enlaço
sua cintura e todos me olham confusos.
— Castiel Soares, o namorado.
Em poucos segundos o clima
ruim vai embora e interajo bastante com
o senhor que está aqui. Logo entendi que
ele foi o patrão de Dani no passado e
que quer muito poder contar com ela
novamente na revista. Meu orgulho por
ela apenas aumenta a cada elogio que o
senhor diz.
O que me enfurece é o fato do
filho dele não parar de flertar com ela, e
Danielle não se importar em dar
continuidade ao flerte. Segurei o
máximo que pude essa situação, mas
tudo tem um limite.
— Que tal sairmos qualquer dia
desses, Dani? — o rapaz sugere e sinto
meu sangue ferver.
— Claro. — ela responde e isso
acaba levando meu autocontrole para o
lixo.
— Se nos derem licença. —
peço e saio praticamente arrastando
Dani pelo salão.
Atravessamos cômodos e mais
salas, depois do que pareceu uma
eternidade consegui tirá-la do prédio.
— Mas o que pensa que está
fazendo? — pergunta nervosa.
— Que merda você pensa que
está fazendo? Será que dá pra parar de
agir feito uma qualquer?
As palavras saem da minha boca
antes mesmo que eu possa medi-las. Os
olhos magoados de Dani são o suficiente
para me fazer arrepender.
Eu havia estragado tudo mais
uma vez.
Capítulo 26

Danielle

Praticamente fujo de Castiel


assim que adentramos a festa. Eu não
consigo confiar em mim perto dele. Por
mais que esteja magoada, ainda mais
agora por saber que ele realmente vai se
mudar pra Brasil, não conseguiria me
controlar junto a ele.
Talvez fosse química e até
mesmo biologia, mas a beleza e a
presença dele me afetam de uma maneira
descomunal. Se ele me beijasse a
qualquer momento eu não iria conseguir
negar ou muito menos afastá-lo. Pois no
fim, isso é tudo o que quero, tudo o que
sonhei nesses últimos meses.
Perambulando pelo salão,
cumprimento algumas pessoas e sigo
meu caminho até o banheiro. Tento
entender o porquê de ele não ter trazido
a tal Luciana, do porquê de tê-la visto
sair da casa em um táxi mais cedo.
Talvez ela tenha tido um compromisso
inadiável e Castiel esteja me usando
como segunda opção na festa.
Volto para o salão, já sem
nenhuma vontade de permanecer nessa
festa. Apenas queria estar em casa,
debaixo das cobertas, com minha filha
em meus braços.
— Sempre distraída. — uma voz
conhecida diz ao meu lado e eu me viro
para olhar.
— Sempre belo, senhor Caetano!
— cumprimento meu ex chefe com uma
grande abraço e ele sorri com graça.
Ele é uma das poucas pessoas
que pude contar na vida, sempre me deu
todo apoio enquanto trabalhei em sua
revista e sempre disse que não viveria
sem mim lá. Bom, eu era há muito tempo
atrás, a responsável por arrumar todos
os looks e as posições que as modelos
ficariam nas fotos. Por mais que não
tivesse tamanha especialização, ele
sempre confiou em mim. E mesmo com o
meu pedido de demissão, ele nunca
deixou de me olhar de forma carinhosa.
— Esqueça o senhor menina,
apenas Caetano, sabe muito bem disso
— ralha fingindo estar bravo e eu
sorrio. — Agora me diga, como está
tudo?
Conversamos por alguns
minutos, sorrio junto a ele, que conta da
família com grande orgulho. Um belo
homem de olhos castanhos claros como
os dele se aproxima, o qual me olha de
cima embaixo, fazendo meu semblante
se fechar no mesmo instante. Caetano o
apresenta como seu filho e eu forço um
sorriso. O modo como esse cara me olha
é como se eu fosse um pedaço de carne.
— Não sabia que haveriam
moças tão belas nessa festa, pai. — o
rapaz diz galante e eu me seguro para
não revirar os olhos.
— Bruno, essa é Danielle,
aquela moça que salvava minha vida na
revista. — Caetano diz e eu sorrio
cúmplice.
— Bom, apenas fazia meu
trabalho. — dou de ombros. — E você
garoto, me lembro que vivia na revista
apenas por querer posar para as fotos.
— digo e sorrio pela lembrança.
Eu devo ser uns dez anos mais
velha que ele, lembro bem que quando
trabalhava lá ele era apenas um menino.
Hoje, olhando mais atentamente vejo
que se tornou um homem lindo, porém
não sinto absolutamente nada. Castiel é
o mais belo para mim, sem dúvida
alguma.
— Bom, como vê agora sou um
homem. — pisca brincalhão — Mas
gostaria muito de ter sua companhia
novamente na revista, a qual em breve
vou presidir.
— Eu...
— Te achei querida. — Castiel
aparece e enlaça minha cintura com
força. — Castiel Soares, o namorado.
Namorado?
A cara de tacho de Bruno me faz
querer rir mas me controlo ao máximo.
Ele deve saber muito bem que a festa é
da família Soares e com certeza não
esperava a intromissão abrupta de
alguém dessa família se apresentando
como meu namorado. Bom, nem eu.
Pouco entendo o que Castiel está
fazendo aqui, mas resolvo aproveitar o
momento.
Em poucos minutos Castiel já
conversa animadamente com Caetano e
eu apenas fico sem graça por todos os
elogios que recebo. Há um brilho
diferente no olhar de Castiel, como se
ele estivesse orgulhoso de mim e isso já
compensa minha noite.
— Que tal sairmos qualquer dia
desses, Dani? — Bruno pergunta do
nada e fico pasma.
— Claro. — respondo
educadamente e seguro novamente a
vontade de revirar os olhos.
Jamais sairei com ele.
— Se nos derem licença. —
Castiel diz e eu o olho confusa.
Sem me dar a chance de
perguntar algo, ele praticamente me
arrasta pelo salão. Tento impedi-lo
porém é em vão, e quando vejo já
estamos do lado de fora do salão.
— Mas o que pensa que está
fazendo? — pergunto nervosa.
— Que merda você pensa que
está fazendo? Será que dá pra parar de
agir feito uma qualquer?
Suas palavras me machucam
profundamente. Desvio meu olhar para o
chão e sinto um pingo de chuva cair em
minha nuca.
— Danielle, me desculpe eu...
— Não precisa dizer nada,
Castiel, já entendi muito bem o que acha
de mim. — digo e saio andando em
outra direção.
Vou pegar um táxi e ir pra casa,
não aguento mais encará-lo e muito
menos ouvir mais palavras frias saírem
de sua boca.
— Dani! — Castiel grita e eu me
viro para encará-lo.
Nesse mesmo momento, quando
nossos olhos se conectam uma chuva
forte despenca do céu e nos molha
completamente. Parece clichê demais,
sem graça demais, porém tudo o que
consigo fazer diante dele é chorar.
— O que quer de mim, Castiel?
— pergunto em meio as lágrimas e ele
fica parado no mesmo lugar.
— Sabe muito bem o que quero,
feiticeira. — diz o mais calmo possível
e sinto meu coração explodir no peito.
— Não. — digo enquanto ele
vem andando até mim.
Quando faltam apenas alguns
passos para ele me alcançar, nossos
olhos se conectam novamente e sinto-me
segura. Assim como foi na nossa
primeira vez.
Eu amo esse homem, por tudo o
que é. Pelos erros e acertos, qualidades
e defeitos.
Nada mais me afastará dele.
Em um ato impensado
simplesmente corro até ele e me jogo em
seus braços. Nossas bocas se encontram
imediatamente e seu gosto me embriaga.
— Vamos sair daqui. — diz e
morde com vontade meu pescoço.
— Cas... — solto um gemido
sem me conter e ele praticamente me
arrasta para o primeiro hotel que
encontra.
Ao entramos no quarto não
houve tempo para perguntas ou
cobranças. Não pude nem sequer
perguntar para ele sobre a outra mulher
e muito menos do porquê de estarmos ali
nesse instante.
Seus toques, suas carícias, seus
beijos, me fazem esquecer de todo e
qualquer problema, e até mesmo do
passado.
Nessa noite quando ele me
tomou para si novamente, me senti livre.
Enquanto nossos corpos se uniam com
perfeição e toda a intensidade do meu
ser se juntava ao dele, sussurrei com
toda sinceridade que o amo.
Aquela parte de mim que antes
apenas o repelia se entregou
completamente sem sequer pensar. E foi
nesse momento que deixei
definitivamente o passado para trás,
toda a dor e tristeza que me separaram
do homem que amo se dissiparam.
Estou finalmente preparada para
lutar por ele.

***

Acordo sentindo os raios solares


queimarem minha pele e sorrio ao sentir
meu corpo dolorido. Foi a melhor noite
de minha vida, disso eu não tinha dúvida
alguma.
Tateio a cama em busca de
Castiel porém apenas encontro o lençol
frio. Abro os olhos instantaneamente e
olho para o quarto em busca dele.
Levanto-me enrolada em um
lençol e vou até o banheiro procurá-lo.
Tudo o que encontro pelo quarto é vazio
e silêncio.
Onde ele havia se metido?
Vasculho por mais um tempo e
espero sentada na cama pela sua
aparição, porém nenhum sinal de que ele
vá aparecer ali. Já preocupada procuro
meu celular e assim que o acho disco o
número de Castiel.
Um pequeno papel em cima do
criado mudo me chama atenção e assim
que a ligação vai direto para caixa
postal, o pego e leio a pequena
mensagem.

Não posso mais.


- Castiel

Meu coração se quebra apenas


ao ler as três palavras. Ele havia
realmente desistido de nós dois.
Capítulo 27

Castiel

Ela dorme serenamente,


enquanto o pânico toma conta de meu
ser. Penso sobre nosso passado, esses
dois anos juntos, e é horrível ter de
admitir que meu amor por ela parece
doentio. Um amor unilateral.
Penso em me aconchegar mais
em seus braços e por aqui mesmo ficar.
Depois da noite maravilhosa que
tivemos, tudo o que quero é estar ao seu
lado assim que acorde. Mas eu sei que
ela não vai estar, que vai fugir assim que
perceber o que fez.
Levanto da cama e me visto
rapidamente. Penso em todos os
conselhos que tive de Alice e Luciana,
de todas as conversas intermináveis com
Caleb... E eu sei que está na hora de
parar.
Parar de ser o mesmo idiota de
sempre. Idiota, pois não há palavra
melhor para me definir. Escrevo um
simples bilhete e deixo no criado mudo.
Sei que ela ficará brava ao ler e até
pensará que é uma mini vingança, mas
sei que no fundo pouco se importa.
Se ela se importasse teria me
ouvido e saberia que o pai do bebê de
Alice não sou eu e tão pouco
conseguiria ficar quatro meses longe de
mim. Os piores quatro meses de todos
os tempos.
Doeu demais vê-la de longe
machucada, sem poder cuidar e muito
menos a mimar. Eu quis muitas vezes
socar a cara de Felipe, apenas porque
ela permitia ele por perto, ele fica no
apartamento com ela... O mesmo
apartamento que comprei especialmente
para nós.
Mas não tinha mais volta há
muito tempo e eu me neguei a ver o fim.
Não que a nossa história estivesse
finalizada, pois duvido muito que meu
amor por Dani um dia vá embora. Só
não adianta mais tentar em vão, atirar no
escuro...
Saio do quarto do hotel tanto
com um peso no coração, quanto na
consciência. Ligo então para a única
pessoa que poderia me entender nesse
momento.
— Ali, preciso de ajuda. — digo
rapidamente.
— O que houve, Cas? —
pergunta apreensiva.
— Eu e Dani transamos e...
Droga, eu a deixei no quarto de hotel
dormindo. — suspiro cansado. — Não
podia acordar e não tê-la lá novamente,
Ali. Entende? — pergunto já
desesperado.
— Cas, primeiro se acalme, ok?
— pede e respiro fundo.
— Vou voltar para lá e ficar com
ela, não devia ter saído e...
— Cas! — Alice grita e eu
estaco no elevador. — Conte devagar o
que houve e depois resolveremos o que
fazer, ok?
— Certo. — respondo e começo
a contar para ela tudo o que houve.
— Onde você está? — pergunta.
— Estou parado do lado de fora
do hotel, sem saber o que fazer. E se ela
me odiar por tê-la deixado lá sozinha?
— pergunto já angustiado.
— Já ouviu dizer que entre o
amor e o ódio existe uma linha tênue?
— pergunta e me sinto ainda mais
frustrado.
— Sem adivinhações, Alice!
— Pare de ser burro. —
exclama. — Você já sabia o que fazer
assim que saiu do quarto, não
precisava nem ter me ligado. Você pela
primeira vez, desde que a conheceu,
escolheu proteger os seus sentimentos
ao invés dos dela. Eu já te disse mil
vezes que primeiramente devemos amar
a nós mesmos e só assim...
— Seremos amados de verdade.
— complemento. — Como queria que
fazer isso.
— Bom, você o fez hoje.
— Acha que fiz o certo? —
pergunto.
— Acho que fez o que achou
certo, se vai dar algum resultado, logo
saberemos. Vá para casa e descanse um
pouco. — sugere e eu concordo.
Um silêncio paira no telefonema
e assim que penso em perguntar sobre a
gravidez, uma voz masculina soa no
fundo.
— Quem é no telefone?
— Deixe-me adivinhar, Evan?
— pergunto zombeteiro e ouço o bufar
de Alice.
— Ele não me deixa em paz. —
diz em um sussurro, com certeza ele
está perto. — Evan, será que pode me
dar um pouco de privacidade? Está no
meu apartamento e ainda por cima nem
foi convidado!
— Parece que alguém aprendeu
a lidar com ele. — digo e ouço sua
risada.
— Como queria que fosse isso.
— suspira fundo. — No fim, sei que ele
está aqui apenas pelo bebê e não que
seja ruim, pelo contrário, é bom saber
que meu filho terá um pai presente. O
problema é...
— Amar o pai do bebê? —
pergunto e ela sussurra um simples
"sim". — Mas e se ele te amar de volta?
— Não. — diz em um tom baixo.
— Ele apenas faz por obrigação.
— Ali...
— Somos dois ferrados Castiel,
não podemos negar. Mas eu sei que
mesmo negando, Danielle ama você e
sei que não irá desistir de vocês... Não
agora.
— Como pode acreditar nisso?
— pergunto parando um táxi em frente
ao prédio.
— Bom... Eu simplesmente sei.
— diz, me deixando intrigado.
Alice nunca foi de afirmar algo
sem ter muita certeza e não sei como ela
está tão convicta do amor de Dani por
mim. Nem eu tenho tal convicção.
Conversamos por mais alguns
minutos porém Evan nos interrompia a
todo momento. Alice com os hormônios
a flor da pele, se despediu rapidamente
e tenho certeza que o celular foi jogado
na cabeça de Evan. Só torço para que
eles se acertem.
Os minutos voam e continuo
ainda apreensivo por minha decisão,
porém assim que chego a casa de Caleb
uma cena me faz mudar de foco. Felipe
está sentado no quintal junto ao violão.
Ele canta e toca baixo mas consigo
entender perfeitamente a letra.
“Como pode ser gostar de
alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós gastando o
mar
Pôr do Sol, postal, mais
ninguém
Peço tanto a Deus
Para esquecer
Mas só de pedir me lembro
Minha linda flor
Meu jasmim será
Meus melhores beijos serão
seus
Sinto que você é ligado a mim
Sempre que estou indo, volto
atrás
Estou entregue a ponto de estar
sempre só
Esperando um sim ou nunca
mais”
(Amado – Vanessa da Mata)

Assim que me vê ele trava e me


olha assustado.
— Não me olhe assim. — levo
as mãos para cima em sinal de rendição
— Vejo que aprendeu perfeitamente a
tocar.
— Obrigado tio, tive um ótimo
professor. — revira os olhos e eu sorrio.
— Seu tio é o melhor, eu sei! —
zombo e ele bufa
Nesse tempo em Londres acabei
dando algumas aulas de violão e canto
para Felipe, o qual aprendeu
rapidamente.
— Mas agora me diga, quem é
ela? — indago.
—Ela? — pergunta sem entender
e é minha vez de revirar os olhos.
— A garota para quem canta a
música.
— Ela... — ele começa a
gaguejar e eu sorrio.
Mais um Soares apaixonado e
completamente fisgado!
— Ela é filha de um dos amigos
do meu pai. — confessa e me olha
apreensivo.
— Se conheceram em uma das
festas e...
— Não. — me corta. — Eu a
conheço há muito tempo, ou melhor, pelo
menos me lembro dela.
— Você se lembra dela mas ela
não se lembra de você? — pergunto
tentando entender e ele assente.
— Eu a revi no casamento dos
meus pais, de longe em meio aos
convidados, mas ela não me notou e...
Deixa pra lá. — dá de ombros.
— Quando quiser falar, sabe que
estou aqui, assim como seu pai. — digo
e ele assente.
— Obrigado, tio. — diz e volta a
tocar novamente.
Felipe querendo ou não já é um
garoto maduro para a própria idade, mas
duvido muito que ele saiba lidar com
que está sentindo. Na realidade, cada um
de nós sabe muito pouco.
Deixamos a conversa de lado e
aproveito para cantar junto com ele.
Ensino algumas músicas novas e tudo ia
bem, até que um táxi para em frente à
casa, chamando nossa atenção.
Danielle sai do mesmo e assim
que me olha, mesmo de longe, consigo
notar que seu rosto não está com a raiva
que eu esperava. Ela me olha por alguns
segundos e logo desaparece dentro da
casa.
— Torça para que o que sinta
por essa moça não seja amor, Lipe. —
digo e ele me olha sorrindo.
— Por que?
— Se seu relacionamento um dia
estiver no nível de Caleb ou no meu,
você está literalmente ferrado. —
confesso e ele gargalha.
— Acho que conheço alguém
pior. — diz e eu o olho curioso. —
Christopher. — diz e gargalhamos
juntos.
— Caleb irá matá-lo. — penso
alto.
— Não duvido. — complementa
e sorrimos cúmplices.
Todos já haviam percebido os
olhares de Christopher para com Babi. E
assim que Caleb notar algo diferente, eu
sei que não vai prestar. Esse com
certeza será o relacionamento Soares
mais complicado.
— Tia Dani está bem? — Felipe
pergunta e me sinto desconfortável.
O que poderia dizer?
— Ela vai ficar.
— Ela não está bem com sua
volta para o Brasil, não sabe como irão
fazer para que Annie possa vê-lo e...
— Ela acha que vou voltar para
o Brasil sem ela? - pergunto e ele
assente. — Claro que não, ela virá
comigo, sei o quanto ela sente falta de
casa.
— Mas tem a Luciana e ela não
quer...
— Vou falar com ela, fique
tranquilo. No fim, tudo dará certo. —
digo tentando ser convincente e logo
Felipe se perde na música.
Preciso ter uma conversa franca
com Danielle, a respeito da volta para o
Brasil, meus motivos para isso e
esclarecer a ela tudo sobre Luciana. Só
espero que isso seja o suficiente e que
tudo o que precisemos seja um
recomeço.
Um recomeço escolhido por nós.
Essa será a última vez que
lutaria por esse sentimento, caso ela
diga não, eu aprenderei, nem que fosse
sofrendo ainda mais, que amor as vezes
simplesmente existe pra nos machucar.
Bônus

Alice

—Será que eu posso ter um


momento de privacidade no meu próprio
apartamento? — grito sem me conter.
Evan me olha furioso ao mesmo
tempo que passa as mãos pela barba rala
com força. Eu sei que ele está com
raiva, só não sabia o motivo idiota que o
levou a isso.
— Eu estou aqui desde cedo
tentando colocar na sua cabeça que
temos que comprar coisas para o
quartinho da nossa menina e você
simplesmente fica nessa merda de
celular. — explode.
— Já disse que só vou comprar
algo para minha filha quando alguém
especial puder ajudar.
— Não me diga que esse alguém
especial é seu queridinho Castiel? —
desdenha.
— E se for? — retruco de volta
— O que você tem a ver com isso,
afinal?
— Eu sou o pai da criança que
você carrega e...
— E mais nada, Evan! — grito.
— Você disse corretamente, o pai da
criança que carrego, não meu pai. Pare
de achar que é algo além.
Sento-me já cansada no sofá e
continuo encarando Evan que me olha
cauteloso.
— Eu só queria começar a
organizar tudo para ela e... — vira de
costas para mim. — Lia comprou tudo
antes mesmo de sabermos o sexo do
bebê. — sussurra, porém escuto.
Suas palavras quebram meu
coração ainda mais. E isso é o que Evan
sempre faz comigo. Dói ouvi-lo falar
com tanta reverência da esposa que
perdeu há alguns anos. Ele sempre me
compara com Lia, mesmo sem querer.
Ela sempre será uma sombra na vida
dele, uma sombra do seu passado.
— Acontece que eu não sou Lia.
— digo e ele se vira assustado.
— Alice eu não...
— Não precisa se explicar,
Evan, sei bem como se sente a respeito
disso. — respiro fundo e levo as mãos a
minha barriga em busca de apoio.
Como se sentisse o que queria,
minha pequena dá um chute. Sorrio
sozinha encarando minha barriga e a
acaricio de leve.
— Eu te amo, minha bebê. —
sussurro baixinho.
— Está tudo bem? — Evan
pergunta e eu apenas assinto.
Me levanto e vou em direção a
cozinha. Enquanto bebo um copo d'água,
penso sobre tudo o que passei desde que
conheci Evan.
Desde o momento que me senti
perdida, no qual cometi o erro de beijar
meu melhor amigo, e também no
momento que fui expulsa do apartamento
de Evan. Com certeza nunca mais
pisarei naquele lugar.
Quando descobri sobre a
gravidez, senti que seria uma chance
para ter o meu felizes para sempre com
ele, mas Evan, não é nem de longe o
homem que pensei que fosse.
Ele é bipolar, neurótico e ainda
por cima não cansa de idolatrar o
próprio passado. Do quanto a vida dele,
com a mulher e o filho, era perfeita.
Claro que entendo sua dor, ou
pelo menos tento entender. Perdi meus
pais muito nova e sei bem como é lidar
com a saudade no dia a dia. Mas eu não
tento revive-los na realidade, porque a
saudade por si só me mostra que eles
estão vivos em mim. E isso já me basta.
Já Evan não age de tal forma.
Ele guarda e mantém o apartamento
deles intacto. Assim como ninguém pode
tocar em algo que foi deles. Até hoje
não sei o porquê dele ter me levado até
o apartamento em nossa primeira vez, e
me sinto suja por isso. Sinto como se ele
tivesse pensado nela quando esteve
comigo. E isso não é algo saudável para
mim, não mesmo.
— Se quiser posso fazer algo
para comer. — diz de repente ao entrar
na cozinha e eu nego.
— Já comi bem hoje e não
preciso de mais cuidados. Se quiser
escolher algo para o quarto de Blair,
sinta-se à vontade.
— Blair? — pergunta surpreso.
— Já escolheu o nome?
— Sim.
Tento sair da cozinha, porém ele
me impede. Eu o encaro estupefata. O
que ele está fazendo?
— Eu pensei em alguns nomes
também. — diz cauteloso.
— Quais? — indago. — Se
sugerir Lia, eu juro que te jogo para fora
desse prédio.
— Não permito que fale dela
desse jeito. — diz mudando totalmente
de postura, me encarando com raiva e eu
sinto ainda mais vontade de matá-lo.
Por que eu me apaixonei por
homem preso ao passado?
— Não permito você dentro da
minha casa e olhe só. — aponto para
ele. — Você está aqui.
— Estou falando sério Alice,
não quero que fale mais nada sobre Lia
ou...
— Ou o que Evan? Vai me bater?
Ou melhor, vai embora? — zombo. —
Acha mesmo que vou morrer caso você
desapareça e nunca mais volte? — rio
sem humor.
— Alice...
— Não querido, eu não sou
você. Eu sei muito bem que é incapaz de
amar outra pessoa e eu jamais vou me
apaixonar por um homem tão rude como
você. Não sou tola assim, então se não
está satisfeito, vá embora! — ele me
olha boquiaberto. — Há um ditado que
aprendi com um amigo: “a porta da rua é
a serventia da casa.”
Saio da cozinha o empurrando
para o lado e praticamente corro até o
quarto. Tranco-me por dentro e lá
permaneço.
— Alice. — ele me chama
porém ignoro.
Me agarro a um dos bichinhos de
pelúcia enormes que tenho e choro
baixinho. Choro por ser tão boba e ter
me apaixonado por Evan. Esse amor é
destrutivo e sei que apenas eu sairei
machucada.
Na vida do homem que amo
apenas existe espaço para uma mulher e
infelizmente não sou eu.
Capítulo 28

Danielle

Sou acordada com carinhos de


leve em meu cabelo e me espreguiço
sem querer.
— E aí? Onde a senhorita passou
a noite? — Vic pergunta e eu sorrio
fraco.
— Com Castiel.
— Eu sabia, ganhei 50 reais de
Caleb. — exclama alegre e eu reviro os
olhos. — Não parece tão animada.
— Ele me deixou sozinha no
quarto. — conto e ela me olha sem saber
o que dizer.
— Eu te avisei sobre tudo isso,
Dani.
— Eu sei. — digo e ela faz
carinhos em meu cabelo enquanto choro
baixinho.
— Talvez ainda não seja tarde
demais. — diz e eu a encaro.
— Pensei em algo. — confesso.
— Ele lutou por nós dois durante esses
anos, nada mais justo do que eu fazer o
mesmo por ele agora.
— Mas a pergunta principal é o
por que você fará isso? — Vic indaga.
— Porque eu o amo e mesmo
conseguindo seguir em frente sem ele, eu
não quero. — sou sincera.
— Boa resposta. — zomba e
sorrimos. — Você perdeu o ponto alto
da noite.
— Como assim? — pergunto
curiosa.
— Christopher foi para cima de
Donatello, receio que por ciúme de
Babi. — conta e sorri.
— Mas Donatello é casado. —
reflito alto.
— Pois então, ninguém sabe ao
certo o que Donatello e ele
conversaram, ou se chegaram a
conversar. Só sei que em um momento
estava tudo bem e no outro Caleb correu
para evitar que Christopher fizesse
alguma besteira. — diz sorrindo.
— O que Babi disse sobre isso?
— pergunto e ela bufa.
— Babi continua negando
qualquer envolvimento com Chris e
também disse que não sabe o porquê
dele ter atacado Donatello. Caleb acha
que Chris foi para cima de Donatello
por conta de algo das empresas, o que é
um alívio. Porque se ele desconfiar do
interesse do irmão em Babi ou vice-
versa, estamos ferradas.
— Tudo isso em uma só noite?
— sorrio cúmplice. — Não acredito que
perdi isso.
— Você com certeza estava em
um lugar melhor. — caçoa.
— Com certeza
Passamos um bom tempo
conversando sobre tudo e contei tudo o
que houve na noite que passou. A melhor
parte de minha amizade com Victória é
que ela sabe o momento certo de intervir
e o momento de me deixar desabafar. E
as lágrimas que tanto segurei molharam
seu colo e ela nem se importou.
— Lute pelo seu amor, Dani, sei
que quer fazer isso.
E estava decidido, eu lutarei
pelo homem que amo.

***

Horas depois eu brincava


animada com Annie, ela insistia em
jogar tinta guache em Miguel que apenas
sorria pela provocação. Os dois já
falam bastante, então praticamente me
enlouquecem com sua animação. Ambos
também já não mamavam mais no peito e
tinham acabo de começar a tomar leite
na mamadeira.
Nesta noite, Caleb e Victória
sairão para um programa de casal, o que
eles não tinham há algum tempo, já que
ambos não conseguem ficar muito tempo
longe do filho.
— Sweet heart! — exclamo
assim que Annie joga tinta vermelha em
meu cabelo.
— Desculpe, mommy. — pede
meio chorosa e noto sua boquinha abrir
de sono, assim como Miguel está.
— Vamos para o banho, minha
pequena. — a pego no colo e chamo
Sara para dar banho em Miguel.
Tomamos banho juntas e
brincamos por alguns minutos na
banheira. Esses pequenos momentos
fazem tudo valer a pena. E assim tinha
ainda mais certeza que meu
envolvimento com Castiel jamais foi um
erro. Na verdade, ele foi meu maior
acerto.
Minutos depois todos já
estávamos de banho tomado e coloco
ambos para deitar ao meu lado e
assistirmos um filme.
— Ei. — Vic aparece no quarto
acompanhada de Caleb e sorrio por ver
toda produção dos dois.
Eles realmente combinam um
com outro.
— Até amanhã, bebê. —
Victória se despede de Miguel e ele lhe
dá um beijo no rosto.
— Vocês dois irão aprontar hoje,
não é? — brinco e ela me lança uma
piscadela.
— Pronta, Vic? — Caleb
pergunta e logo eles se despedem.
Miguel então deita a minha
direita e Annie a minha esquerda. O
filme começa e logo sorrio ao ver que
mesmo sendo de princesas, Miguel está
adorando.
Minutos depois meus olhos
começam a pesar e noto que os dois
também estão assim. Ajeito os
travesseiros para cada um de nós e
deixo que o sono nos leve.
— Danielle. —alguém me chama
e demoro alguns segundos para me
situar.
— Oi, o que foi? — pergunto e
Castiel me ajuda a levantar sem acordar
os pequenos.
— Só vim acordá-la para ir
dormir em seu quarto. — sussurra. —
Dispensei Sara.
— Obrigada. — sussurro e dou
um beijo de boa noite em cada um deles,
antes de sair do quarto.
Ao fechar a porta com cuidado
procuro por Castiel, mas não há sinal
dele no corredor.Ele está me evitando.
Vou até meu quarto e tomo um
banho gelado. Sento-me no chão frio e
deixo com que algumas lágrimas rolem.
Desde quando fiquei tão chorona assim?
Meu coração dói ao relembrar o
modo como a mão dele se unia a de
Luciana. E se eles fossem namorados?
Não tive tempo de questioná-lo a
respeito. Me entreguei a ele sem pensar
duas vezes e sem ter tempo para estragar
tudo. Seu toque parece que ainda queima
em minha pele e os roxos pelo meu
corpo deixam claro que a noite foi de
extrema luxúria e paixão.
Mas será que ainda há amor?
Começo a cantar baixinho a
música que traduz perfeitamente meu
momento. Eu realmente me sinto fria
como pedra.
“Fria como pedra, fria como
pedra
Você me vê de pé, mas estou
morrendo no chão)
Fria como pedra, fria como
pedra
Talvez se eu não chorar, eu não
sentirei mais
Fria como pedra, baby
Deus sabe que eu tento me
sentir feliz por você
Saiba que eu sou, mesmo que eu
não consiga entender
Eu aguentarei a dor, me dê a
verdade
Eu e meu coração, nós vamos
conseguir superar”
(Stone Cold – Demi Lovato)
Batidas na porta me fazem
levantar em um salto.
— Quem é? — pergunto
assustada.
— Sou eu, preciso falar com
você. — Castiel diz e engulo seco.
— Um minuto. — peço e desligo
o chuveiro em seguida.
Me enrolo fortemente em um
roupão e coloco uma toalha nos cabelos
molhados.
Respiro duas vezes antes de
destrancar a porta e entrar no quarto.
Meu coração falha uma batida ao
encontrá-lo sentado de costas, apenas
vestindo uma calça de moletom.
Deveria ser proibido alguém ser
tão bonito assim.
— Oi. — sussurro e seu olhar
encontra o meu.
— Está tudo bem? — pergunta.
— Sim, apenas estava no banho.
— dou de ombros.
— Precisamos conversar
Danielle. — diz sério.
— Eu sei.
— Quer que eu espere você se
trocar ou...
— Está tudo bem, pode começar
se quiser. — digo, pois simplesmente
não sei como dizer a ele o que sinto.
— Ficarei apenas mais alguns
meses em Londres e já consegui um
emprego aqui no Rio. — fico estática.
— O que? — pergunto em um fio
de voz.
Ele vai me deixar por ela.
— Vou voltar para o Brasil.
— Por que? — pergunto e ele
suspira fundo.
— Quero tentar pela última vez.
— diz e em desespero me jogo em colo.
— Por favor, não faça isso. Só
me dê mais uma chance, Castiel,
prometo não...
— O que está dizendo? —
pergunta sem entender e me segura com
força pela cintura.
— Não fique com a Luciana, por
favor. — peço e lágrimas correm por
minha face.
— Minha volta para o Brasil não
tem nada a ver com Luciana, ela é
apenas uma amiga, a qual você conheceu
naquela vez... — diz calmo e limpa
minhas lágrimas com as pontas dos
dedos. Enfim, quero tentar a nossa
última vez.
— Sério? — pergunto sem
acreditar.
— Não posso desistir ainda. —
diz e eu me permito sorrir.
— Como faremos isso? —
pergunto e saio do seu colo.
— Não faço ideia. — diz e abro
seu sorriso cínico.
Meu sorriso favorito.
— Dani. — me chama. —
Você... Você quer mesmo tentar por nós
dois?
— Quero ser a mulher que você
merece. — sou sincera.
Um silêncio constrangedor se faz
no ambiente e fico apenas o encarando
por alguns minutos.
— Temos tudo para sermos
felizes Dani, espero que saiba disso.
— Hoje eu sei. — revelo
envergonhada.
— Vou deixá-la a vontade e
dormir. Teremos tempo para conversar
sobre todo o resto.
— Tudo bem. — digo
decepcionada, já que queria dormir em
seus braços.
— Você não tem nenhuma dúvida
sobre Alice ou sobre Luciana? —
pergunta incerto.
— Eu confio em você, Castiel.
Sei que não me enganaria. — afirmo e
ele sorri.
— Quero ser feliz ao seu lado.
— diz e me dá um beijo na testa. — Boa
noite, feiticeira.
Ele sai do quarto e me deixa
parada no meio do cômodo.
Então seria assim? Iríamos
mesmo recomeçar?
Não há mais problemas ou
passado para nos atormentar. Pelo
menos por enquanto. E assim me permito
dormir sorrindo, com a aposta de um
futuro feliz ao lado de Castiel.
Bônus

Antonella (Babi)

Olho para o espelho em minha


frente e suspiro fundo ao vê-lo atrás de
mim.
Por que ele sempre faz isso?
Aparece em meu quarto de
surpresa como se fosse algo comum,
como se nós fôssemos algo.
— Está linda. — elogia e eu me
viro para ele.
— O que quer aqui Christopher?
— Vim avisar-lhe que iremos
juntos a festa dessa noite.
— O que? — pergunto incrédula
— Eu vou com Felipe e...
— Irá comigo. — afirma
convicto e eu bufo em resposta.
— Não sei por que insiste nisso.
— Sabe muito bem porquê. —
diz se aproximando e não consigo
desviar meu olhar do seu.
Desde que o vi pela primeira vez
é assim. Meus olhos parecem ter uma
conexão sem igual com os dele. E por
mais ingênua que eu seja a respeito de
desejos e sentimentos, eu sei que meu
coração disparar e meu corpo se
arrepiar em sua presença, não é algo que
comum. E infelizmente, é algo além de
um simples desejo.
Seus dedos fortes deslizam
levemente pelos meus lábios pintados de
vermelho e como se fosse o correto,
meus braços rodeiam seu pescoço.
— Sabe que isso é errado. — o
alerto.
— Também sei que é inevitável.
— devolve, descendo seus dedos para
meu pescoço onde faz círculos. — Não
posso lutar pelo que sinto por você,
Antonella.
— Sabe que é a única pessoa
que me chama assim, não é? — zombo e
ele sorri enigmático.
— E espero que seja assim para
sempre. Apenas minha, Ella. — e assim
sela nossos lábios.
Penso em pará-lo e fico tensa ao
pensar que tanto meu pai ou qualquer um
de nossa família pode entrar em meu
quarto nesse momento, mas
simplesmente não consigo.
Christopher tem algo sobre mim,
que pouco sei explicar e muito pouco sei
a respeito, mas no momento decido
deixar acontecer. Pelo menos, por
enquanto.
Batidas na porta fazem com que
eu me afaste dele imediatamente e eu
respiro aliviada ao ouvir a voz de Lipe
do outro lado da porta.
— Não podemos continuar com
isso. — digo e Christopher fecha o
semblante na mesma hora.
— Já tivemos essa conversa
Ella, não vou me afastar de você
enquanto ainda me quiser. E sei que
ainda me quer.
— Babi. — Lipe chama
novamente e fico ainda mais tensa.
— Sente ali na cama e não diga
nada. — peço.
— Não, Felipe sabe muito bem
sobre nós e... — Christopher insiste.
— Não existe nós dois
Christopher, pelo amor de Deus! —
exclamo já exausta e com medo.
— Existe e você sabe disso.
O ignoro e abro a porta para
Felipe. Ele entra desconfiado no quarto
e bufa ao ver que Christopher está aqui.
Ele é o único que sabe realmente sobre
meus sentimentos para com Christopher
e com certeza sabe que não permiti de
bom grado ele aqui, sabe que novamente
Christopher entrou sem pedir.
— Não vi nada. — diz e
Christopher sai do quarto na mesma
hora. Covarde!
— Quer falar sobre isso? —
Lipe pergunta e eu nego enquanto coloco
meus brincos.
— Ok. — cedo ao notar seu
olhar curioso — Ele veio até aqui para
me contar que não vou com você a festa
e... Nos beijamos.
— Isso não é novidade. — diz e
fico envergonhada. — Sabe que ele não
vai desistir até que você ceda e aceite o
pedido de namoro.
— Eu não quero Lipe... Eu não
posso querer.
— Babi — chama minha
atenção. — Ele não tem laço sanguíneo
algum com você, não tem porque achar
que isso é proibido ou...
— Não serei um desgosto para
nosso pai.
— Não diga besteiras. — reluta
— Sabe que...
— Chega desse assunto. — digo
alisando o vestido e vou até ele
arrumando sua gravata. — Queria saber
o porquê de toda essa produção. —
zombo e ele fica sem graça.
No tempo que se passou, Lipe e
eu, assim como Luna nos tornamos de
fato irmãos. Pode ser algum estranho,
mas entre nós sempre foi algo comum,
como se tivéssemos o mesmo sangue,
sendo que isso pouco nos importou.
Lipe é um cara lindo e arranca
suspiros por onde passa, seja na
empresa ou na advocacia onde passa a
maioria do tempo aprendendo com
nosso pai. Muitas mulheres são
candidatas a se tornarem a sua, porém
ele apenas se interessa por uma.
— Talvez ela esteja lá, talvez me
note e...
— Sabe que haverá muitos
olhares em você essa noite. — provoco
já sabendo sua resposta.
— Eu apenas estou interessado
em um par de olhos verdes.
— Sei bem disso. — o abraço
com carinho. — Ela não te reconheceu
pois ainda não se esbarraram, mas sei
que irá.
— Eu espero, irmã.
***

Horas depois já estou com dor


nos pés por ficar transitando de um lado
para o outro no salão com Christopher.
Não nasci realmente para usar saltos,
mas infelizmente uma ocasião como essa
exige tal aparato.
— Quer algo para beber? —
Chris pergunta e eu nego, porém tudo
que consigo pensar é em uma coca-cola
bem gelada.
Eu não o encarei de modo algum,
sua beleza me deixa sem foco e o modo
como une nossas mãos faz com que meu
coração bata descompassado. Não sei
ao certo o que sobrará de mim nessa
noite.
— Não acredito! — um gritinho
feminino faz com que nos viremos e uma
morena alta e bela praticamente se joga
nos braços de Christopher.
Fico pasma e minha vontade é
arrancá-la de cima dele ou simplesmente
chorar, chorar de raiva por ele ter
soltado minha mão e retribuído com
todo afinco tal gesto.
— Paola, essa é Antonella
Soares...
— Ah, a filha de Caleb não é?
— dá dois beijinhos em meu rosto
enquanto assinto com a cabeça. — Sua
sobrinha é linda Chris, parabéns!
Sinto um nó em minha garganta e
minha vontade de chorar apenas
aumenta, mas não irei desabar aqui. Não
na frente deles.
Christopher apenas sorri
amigavelmente e logo eles entram em
uma conversa sobre viagens e festas que
foram, e pouco sei o que ainda faço
aqui. Facilmente me afasto e vejo o quão
ele realmente me queria ali consigo,
pois sequer nota minha ausência. Idiota!
Ando por alguns minutos e tento
encontrar nossa mesa. Em meio a tantas
pessoas que conversam, sorrio para
algumas e tento não arrancar os saltos
que novamente me incomodam. E em
uma das tentativas de não tropeçar em
meus próprios pés, acabo tendo de me
segurar em uma mulher que está parada
no caminho.
— Me desculpe por isso, eu... —
ela sorri amigavelmente e nem me deixa
prosseguir.
— Eu também odeio esses
saltos, mas como acompanho Dom
nessas festas e ele me faz o favor de ter
quase dois metros de altura, sou
praticamente obrigada a isso. — sorrio
cúmplice a ela, pensando no quão alto
Christopher também é.
Por que estou pensando nele?
— Prazer, sou Antonella Soares.
— me apresento e ela me abraça
apertado.
— Ah então você é neta de
Leandra? — pergunta se afastando. —
Você é linda, assim como ela falou.
— Obrigada. — digo sem jeito,
pois ainda não sei nome dela.
— Me desculpe a indelicadeza,
sou Elena Donatello. Um minuto, tem
alguém que vai adorar conhece-la. —
ela se afasta e em poucos segundos volta
com um homem realmente alto, olhos
negros e cabelos da mesma cor.
— Dom, essa é a neta de
Leandra. — Elena me apresenta e ele me
cumprimenta também com um abraço.
— Ela é linda, assim como
Rodrigo não se cansa de dizer. — ele
diz sorridente e Elena o cutuca com
cotovelo.
— Está deixando a menina sem
graça. — o repreende.
— Você com certeza já fez isso,
querida. — sorrio pelo tratamento que
os dois tem e fico admirada ao ver o
sentimento forte que seus olhares
transmitem um para o outro.
— Desculpe por ser tão
distraído, mas Elena consegue me
confundir. — ela o olha brava e ele
sorri. — Sou...
Sua frase paira no ar e logo vejo
Christopher o acertar com um soco. Mas
o que?
Tudo acontece muito rápido,
quando penso em pular em cima de
Christopher para impedi-lo de fazer
qualquer idiotice que esteja pensando ou
piorar ainda mais a situação, meu pai
aparece e o tira de cima de...
Espera, eu ainda nem sei o nome
do homem atingido. Também, na hora
que ele ia se apresentar Christopher me
faz essa cena. Isso é tão constrangedor.
— Elena, eu não sei o que dizer.
Não sei porque Christopher fez isso e...
— Está tudo bem, Antonella. —
o tal homem diz e Elena sorri docemente
— Christopher nunca foi muito com a
minha cara.
— Mas não entendo o porquê
dele ter feito isso. — digo.
— Nem nós. — Elena diz e
passa a mão pela boca do marido que
tem um leve corte.
Ele podia ter revidado porém
nem tentou.
— Não faz ideia de quem nós
somos? — Elena pergunta divertida.
— Sinto muito, mas não. — digo
envergonhada.
— Sou Dominic Donatello. —
ele diz e fico pasma.
— O grande concorrente de
vovô? — pergunto pasma. — Eu sempre
imaginei...
— Um velho? — ele zomba,
passando a mão no lugar onde levou o
soco.
— Mais ou menos isso. —
sorrio junto a eles. — É um prazer
conhece-los.
— Para nós também, espero que
quando nos encontrarmos novamente
seja em um momento menos inesperado.
— Elena sorri e Dominic enlaça sua
cintura.
— Até breve Antonella, e caso
queira visitar nossa empresa, as portas
estão abertas. — Dominic diz e eu
assinto.
— Podem me chamar de Babi, é
o meu apelido. — digo e eles logo se
despedem.
Me afasto dali e vou em direção
onde vi meu pai sumir junto a
Christopher. As outras pessoas que
ainda estão na festa parecem achar a
atitude de Christopher algo comum,
como se já estivessem acostumados.
Tudo bem que ele é o Soares que
mais sai nas notícias e sempre
presenteia todos com algum escândalo
referente a briga com os rivais. Mas por
que ele brigaria com o maior rival, justo
na festa de comemoração da família?
— Babi. — mamãe me chama e
vou até ela. — Sabe o que aconteceu lá,
ou por que Christopher fez aquilo?
— Não tenho ideia. — sou
sincera.
— Sei o que rola entre vocês
Babi, não precisa mentir pra mim. — ela
insiste e eu nego veemente.
— Eu realmente não sei o que
houve e sobre o que disse, não rola nada
entre nós.
— Deixarei passar dessa vez. —
diz rindo de lado e eu solto o ar
aliviada.
Onde eu estou me metendo?
— Não me faça mais uma merda
dessas Christopher! — ouça a voz brava
de meu pai — Estou cansado de ver suas
atitudes de moleque nos prejudicando.
— Não irá assumir a presidência
enquanto continuar com isso e espero
que peça desculpas o mais rápido
possível para Donatello. Não tem
motivo algum para agir assim. — meu
avô diz e mamãe abraça meus ombros
com carinho.
Caminhamos até onde eles estão
e fico pasma ao ver Christopher
fumando.
Como eu nunca o vi fumando
antes?
— Vocês não entendem. — ele
grita.
— Claro que não! — papai
revida — Você age como se ainda
tivesse vinte anos, sendo que já está
quase na casa dos quarenta.
— Cale a boca, Caleb. — diz e
se levanta.
O olhar de papai em sua direção
é matador e sinto pena ao ver o estado
que Christopher está, mas realmente ele
merecia ouvir aquilo.
E mais um dos problemas que
cercam meus sentimentos por ele - a
nossa grande diferença de idade. Eu
havia completado 20 anos a pouco
tempo e ele já estava com quase 38.
Dezoito anos de diferença podem
significar muita coisa, ou não, mas eu
não posso parar para pensar nisso agora.
Nós, não irá mesmo existir.
— Vou embora, já que meu lugar
não é aqui. — diz como um garoto
mimado e meu avô bufa.
— Trate de voltar para festa e
agir como o homem que sei que é.
Christopher levanta seu olhar e
encontra o meu. Sorrio sem graça para
ele e vejo apenas raiva em seus olhos.
Por que ele está assim?
Apenas uma coisa me intriga
nesse momento e não é sobre um
possível futuro para nós dois. Mas sim,
o porquê Christopher ter agredido
Dominic Donatello e me encara como se
eu fosse culpada de algo. Descobrirei a
resposta para essa pergunta, cedo ou
tarde.
Capítulo 29

Danielle

Um mês nunca passou tão rápido


em minha vida. Assim como os últimos
dias no Brasil antes de voltarmos para
Londres, o nosso último mês aqui
passou voando, e agora as malas já
estão quase todas prontas para
voltarmos, e por lá ficarmos.
Mudanças não são fáceis e
organizar dois anos de nossas vidas em
caixas e malas que não fossem um
exagero, está sendo algo muito
trabalhoso. Castiel principalmente, por
ter vivido a maior parte de sua vida
aqui, teve de doar boa parte de tudo.
Fiquei com minha parte e de nossa
princesa para organizar, a qual nesse
momento está emburrada pois o pai
ainda não chegou do hospital.
—Sweet heart, sabe que
trabalho do seu pai não tem um horário
correto. — sorrio para ela, mas que
continua olhando fixamente para porta
de entrada do apartamento.
Ela tem a mistura de nossos
gênios e como ambos somos teimosos,
não tinha como sair com uma
personalidade diferente.
Olho para o relógio e noto que já
passaram duas horas do horário que
geralmente Castiel chega em casa.
Mesmo seus atrasos sendo algo comum,
resolvo ligar. Talvez estivesse preso no
trânsito e assim terei uma desculpa para
dar pra Annie.
— Oi, querida. — diz ao atender
e meu coração se derrete.
Não que já tivéssemos resolvido
e conversado a respeito de tudo. Pelo
contrário, Castiel esteve tão ocupado
com o hospital e eu com a mudança que
praticamente não tivemos tempo para
nós. Apenas combinamos que assim que
chegássemos ao Brasil, colocaríamos
tudo em pratos limpos.
Mas qualquer gesto carinhoso
que ele tem para comigo faz meu
coração ter uma reação. Não nos
ignoramos mas também não dormimos
juntos, mesmo assim nunca me senti tão
próxima dele quanto agora.
— Ainda vai demorar muito para
chegar em casa? — pergunto.
— Bom, passei no shopping para
comprar a boneca que Annie tanto pediu,
mas em poucos minutos estarei aí.
Desculpe não ter avisado.
— Ela é quem está ansiosa para
que chegue, quer que a ajude a levar as
caixas para doação.
— Já disse que ela irá trabalhar
em uma ONG? — pergunta e eu
gargalho.
Nos últimos dias, Annie insistiu
em doar tudo o que podia para as outras
pessoas, o que achamos um gesto muito
nobre. Ao contrário de mim, que sou
apegada a vários objetos materiais,
Annie simplesmente os dá de bom
grado, sem pensar. Isso que nossa
pequena logo completará apenas dois
anos, imagine quando for mais velha.
E depois de vê-la assistindo tão
animada reportagens sobre ONGs,
Castiel insiste em dizer que Annie com
certeza seguirá esse caminho. Eu não
posso me orgulhar menos por isso, seja
o que for que ela queira, sei que dará
seu máximo.
— Ela disse que quer salvar as
baleias. — conto o que ela disse mais
cedo, após assistirmos um
documentário.
Ela não o entendeu muito bem,
pois tudo passou muito rápido, mas
quando a expliquei do que se tratava, ela
simplesmente adorou. Vi um brilho sem
igual no olhar de minha filha, o qual só
havia visto quando ela começa a pintar
algo.
A gargalhada de Castiel explode
do outro lado da linha.
— Essa menina me surpreende a
cada dia. Me deixe falar com ela
rapidinho. — pede.
— Ok. Annie, papai no telefone!
— digo e ela já estica os braços para
cima.
— Daddy! — diz animada.
Alguns minutos de conversa e
sorrisos de Annie depois, ela me
devolve o celular já com a ligação
desfeita.
— Daddy disse que vai demorar
um pouco, mas é por uma boa causa. —
diz e sorri largamente.
— O que será que ele tanto faz?
— brinco.
— Não posso contar, é segredo.
— diz e sai da sala, indo em direção ao
quarto.
Fico ali sentada no sofá sem
entender. Que segredo é esse que Annie
disse?
Vou até o seu quarto e sorrio ao
encontrá-la deitada no tapete felpudo,
cochilando gostosamente. Não acredito
que ela adiou o próprio sono à espera
do pai, acho que ele é a única pessoa
que consegue isso dela. Já que ela é tão
sonolenta quanto eu.
Enquanto ela dorme, aproveito
para esvaziar os criados mudos do
quarto de hóspedes, já que muitas vezes
Castiel passou a noite ali. Tenho certeza
que ainda há algo por lá e como nosso
voo é daqui dois dias, não custa já
deixar isso arrumado para ele.
Sorrio ao retirar vários álbuns
de fotos e cifras de músicas da primeira
gaveta. Tão típico dele. Abro um álbum
que nunca tinha visto antes, logo noto
que é na verdade um baú e me espanto
ao avistar uma pequena caixinha de
veludo preta ali. Não pode ser!
Assim que abro a caixinha,
minha visão embaça em meio a lágrimas
e fico pasma por saber que mesmo eu
negando seu pedido... Ele guardou a
aliança. Aliso o discreto diamante em
formato de coração no centro da joia e
choro ainda mais.
Arrisco então colocá-la em meu
dedo anelar esquerdo e sorrio ao ver
que cabe perfeitamente. Como Castiel
me conhece tão bem? A pedra é perfeita,
o formato, o tamanho... Fico perplexa
com isso.
Me perco em pensamentos e fico
divagando sobre tudo o que passamos.
Sobre os momentos felizes, as
tempestades e até mesmo o nosso
primeiro olhar.
Essa aliança simboliza tanto
para mim que pouco sei o que pensar.
Nunca liguei para joias, mas esse
símbolo de união parece algo tão nosso
que pela primeira vez, me encanto com
algo do tipo. Queria ser sua esposa,
acho que na verdade sempre quis. E
agora, temo nunca mais ouvir tal pedido.
— Ei. — dou um pulo de susto e
tento esconder minha mão esquerda nas
costas.
— Oi. — digo e Castiel sorri
desconfiado. — Pensei em ajudar a
retirar algumas coisas, já que vamos
embora depois de amanhã.
— Tudo bem. Vi que Annie
acabou não conseguindo me esperar
acordada. — sorri de lado e eu fico um
pouco mais aliviada.
Ele ainda não percebeu que mexi
na aliança.
— Bom, vou tomar um banho e
já venho te ajudar. — diz e vai em
direção ao banheiro.
Suspiro aliviada assim que ele
fecha a porta do banheiro atrás de si,
assim arrisco dar uma última olhada na
aliança.
—Você é tão previsível para
mim. — diz ao sair com tudo do
banheiro e fico perplexa.
Como ele percebeu?
— Cas, eu... — começo a
gaguejar e tento dizer algo, mas nada
sai.
Castiel se aproxima de mim com
um olhar tão profundo que simplesmente
travo. Abro a minha boca, mas
novamente não consigo dizer nada.
— Não precisa dizer nada. —
diz e coloca uma mecha de meu cabelo
para trás. — Eu te quero tanto. — ele
me puxa para cima, fazendo-me levantar
e encará-lo.
Seus olhos verdes são a única
coisa que vejo e assim que suas mãos
apertam com força minha cintura e me
puxam para ele, é como estar novamente
em casa. Fecho os olhos e sinto sua
respiração em meu rosto. Quando sinto
seus lábios nos meus, meu corpo vibra
pelo contato. Porém, o gritinho de Annie
quebra nosso momento.
— Oi, sweet heart. — Castiel
diz se afastando e Annie salta em seu
colo.
— Onde está a surpresa? —
pergunta ansiosa.
— Venha, vamos lá no carro
pegar. — ele diz e estranho tal coisa.
Por que ele não trouxe a tal
boneca já aqui pra cima?
— Let’s go[7].! — ela grita
novamente e desce do colo dele,
correndo em direção a porta.
Sorrio da cena e ao mesmo
tempo me sinto um pouco sem jeito ao
encontrar o olhar de Castiel no meu.
— Mais tarde. — sussurra em
meu ouvido e sinto meu corpo fraquejar.
Assim que ele sai do quarto
sento-me novamente na cama e fico ali
repensando sobre o que houve. Pensei
que ele me julgaria ou até ficaria bravo
por eu estar usando a aliança, porém
como sempre, fiz pouco dele.
Sorrio ao sentir que parecemos
os mesmos de antes. Há o mesmo frio na
barriga, a ansiedade da espera... E com
a volta para o Brasil, sinto que
finalmente construiremos nosso lar.
Tenho muito o que contar para
ele, sobre os meses que passamos
separados e todas as decisões e
reflexões que tive a respeito de nós.
Preciso desabafar a ele sobre Alice,
sobre a conversa franca que tive com ela
e da atual “relação” que temos. Preciso
saber sobre a tal Luciana, mas isso não
me sufoca, sei que ele não mentiria a
respeito dela.
Mas a verdade é algo essencial
para seguirmos adiante. Porque não
basta apenas amar, e foi o que aprendi
nesse últimos anos juntos.
Amor nos dá sonhos e
principalmente a vontade de estar perto,
mas a base que necessitamos é a
confiança. E confiança apenas se
constrói quando somos honestos. E é
assim que quero encarar Castiel daqui
pra frente. Sem mentira alguma.
Capítulo 30

Castiel

Sinto a claridade tomar conta de


meu rosto, o peso leve em meu ombro
faz com que acorde um pouco confuso.
Mas ao olhar para o lado, tudo volta a
fazer sentido. Danielle está deitada em
meu ombro e dorme serenamente, sua
respiração é calma e contenho a vontade
de alisar seu rosto. Como ela consegue
ficar ainda mais linda a cada dia?
Do outro lado, Annie olha sem
piscar para a janela do avião e sorri
alegre. Esse é um desses momentos que
queremos guardar para sempre. Onde
tudo está em seu devido lugar e que
nosso maxilar pode chegar a doer por
todo tempo que ficamos com o sorriso
aberto. Mas eu prefiro ficar eternamente
com esse sorriso, poder ter minha
família tão próxima assim.
Quando Annie percebe que estou
acordado, leva as mãos a boca e abafa
uma pequena gargalhada.
— O que foi, pequena?
— Mommy ainda não descobriu
sobre a surpresa. Ela acha que era a
boneca. — sorrio junto a ela e afago
seus cabelos.
— Logo contaremos a ela. —
sussurro. — Acha que ela irá gostar? —
questiono.
— Yes! — sussurra.
— Obrigada por me ajudar,
sweet heart. — ela me dá um beijo na
bochecha e volta novamente sua atenção
para a janela.
Fico nesse momento
questionando a mim mesmo se fiz o
correto ao tomar uma decisão tão
importante por Dani. Logo agora que
queremos recomeçar, ou melhor, que ela
finalmente aceitou recomeçar juntamente
a mim. Espero que essa surpresa não
estrague tudo. Jamais me perdoaria se a
perder novamente por minha culpa.

***
O clima quente do Brasil nos
recebe em seu auge. Há muito tempo que
sinto falta desse clima, desse lugar, de
poder voltar sem me preocupar com o
que minha família irá pensar. Mas agora,
ao saber que realmente me querem aqui,
posso chamar novamente esse país de
minha casa.
— Pegou tudo, Annie? — Dani
pergunta e nossa pequena assente
pegando seu elefante de pelúcia.
Pego a sua pequena mochila e
coloco em minhas costas. Eu havia dito
a ela várias vezes que não necessitava
trazer os seus livros de colorir favoritos
junto a ela na cabine do avião, pois
como meu pai cedeu o jatinho da
empresa para nós, havia espaço de
sobra nas malas e não tínhamos que nos
preocupar com o peso limite de
bagagem. Mas ela insistiu tanto que
acabei cedendo. Annie ama colorir e eu
jamais negaria algo que a faz feliz.
— Tudo certo, Castiel? — Dani
pergunta e eu confirmo com a cabeça.
Sei que é algo natural ela me
chamar pelo nome, mas dói não ouvi-la
me chamar de “amor”. Eu quero mais
que tudo ser realmente seu amor.
—Vamos? — pergunto e elas me
seguem para finalmente sairmos do
avião. Essa viagem acabou conosco.
Annie solta um gritinho e tenta
correr, porém a impeço.
— Annie, cuidado! — chamo sua
atenção.
Logo noto que sua pressa foi por
conta de toda nossa família estar aqui
para nos receber. Ela tenta correr
novamente, porém só permito quando já
descemos todas as escadas, assim ela
corre em direção a todos e logo se joga
em cima de Felipe que a pega no ar.
Minhas mãos se fecham com força em
torno da mala de mão que carrego e
sinto meu coração disparar.
Meu problema jamais foi com
Annie e sua relação com Felipe, mas o
meu maior medo era perder Dani para
ele. Claro que eu também sei que ele é
apaixonado por outra mulher e jamais se
envolveria com Dani, principalmente
por conta de Caleb. Mas o que eu podia
fazer a respeito do meu gênio
possessivo? Sou um homem ciumento ao
extremo e sei o quão isso é errado. Mas
há momentos que simplesmente não
consigo me segurar.
Dani conhece pouco desse meu
lado, pois nunca me senti ameaçado por
outro homem até agora e isso me permite
respirar leve. Mas eu nunca deixei de
enxergá-la como é, completamente linda
e o sonho de qualquer homem em são
consciência. Eu aprenderei a me
controlar, pois merecemos ser felizes
juntos, e ciúme algum irá nos separar.
— Não faça essa cara. — Dani
sussurra ao meu lado e eu apenas nego
com a cabeça.
— Eu entendo a relação dos
dois. — suspiro cansado. — Ele esteve
com ela um bom tempo e além disso, é
claramente o primo favorito dela.
— Miguel parece não estar
gostando disso. — olho em direção onde
ela aponta e vejo Miguel emburrado no
colo de Caleb.
— Ciúmes de primos Dani, isso
é normal. — digo. — Cadê meu
sobrinho nervosinho? — grito e Miguel
pula do colo de Caleb e corre até mim.
Deixo a mala no chão e o pego
no colo, jogando para cima. Olho para o
lado e vejo que Dani já está abraçada a
Victória e lágrimas correm pelos rostos
das duas.
— Isso parece mais uma
despedida e não uma chegada. —
zombo.
— É bom te ver irmão. — Caleb
me abraça. — Até quando as duas vão
ficar chorando? — pergunta
ironicamente.
— Até quando acharmos
necessário. — Dani responde o
abraçando e noto os olhos dele
marejados.
— Você é uma florzinha mesmo,
assim como Levi o chama. — sorrio
cínico e ele bufa.
Noto que Felipe que se
aproximava sorridente de repente fechou
o semblante, e engole seco. Bingo! Já
sei quem é a garota que ele está
apaixonado.
— E aí, Lipe? — o abraço. —
Não faça essa cara. — digo baixo e ele
fica vermelho de vergonha. Permito-me
gargalhar nesse momento.
— O que disse ao meu filho
Castiel? Mal chegou e já está deixando
o menino sem graça. — Victória diz se
aproximando e logo me abraça
fortemente. — Mesmo sendo
insuportável é bom tê-lo aqui.
— Não tem como apenas dizer
que me ama e que morre de saudades?
— ela me dá um tapa e Caleb me olha
fingindo ciúmes.
— Vocês parecem crianças. —
papai diz ao se aproximar e logo pega a
pequena Annie no colo. — Pronta para
passar os fins de semana na casa do
vovô?
— I'm ready[6]! — grita feliz e
meu pai gargalha.
— Menina, você não cansa de
me surpreender com esse inglês perfeito.
— a elogia e logo Miguel está cercando-
o. — Mas olhe só, temos um menininho
ciumento aqui. Venha cá! — pega-o com
o outro braço e Miguel finalmente sorri.
— Não sei o que faço com seu
pai. — mamãe diz ao me abraçar. —
Quem vê pensa que ele aguenta duas
crianças no colo. — zomba e todos
riem, confirmando novamente de onde
veio meu humor ácido.
— Ah Lea... Sorte que nossos
netos estão aqui senão contaria algumas
verdades e....
— Nem comece, papai. — Caleb
o corta. — Não quero saber como fui
feito, muito obrigado!
— Mas eu quero. — Miguel diz
de repente. — Como papai foi feito,
vovô? — pergunta inocentemente e
todos ficamos sem fala.
— Quero ver se livrar dessa
agora. — mamãe diz em meio a
gargalhada.
— Eu sei. — Annie diz e sinto
minhas pernas amolecerem.
— Sabe o que querida? —
pergunto.
— Como o vovô fez o tio Caleb.
— diz convicta. — Assim como fez o
senhor.
— Annie, querida, do que está
falando? — pergunto já sentindo meu
sangue gelar.
— Daddy, uma vez mamãe me
contou que vocês se amam de montão e
assim eu nasci. Aconteceu o mesmo com
vovô e vovó, não é? — pergunta e solto
finalmente o ar que estava segurando.
— Isso mesmo, querida. — meu
pai concorda.
— Viu, Mi! — ela diz e Miguel
apenas concorda com a cabeça como se
fizesse todo o sentido.
Não sei se devo me emocionar,
mas estou me segurando no último para
não chorar. Dani vai em direção a Annie
e a pega no colo, a abraça com força e
deixa algumas lágrimas correrem.
Enquanto todos se recuperam do
momento constrangedor que no fim foi
emocionante, vamos em direção aos
carros para irmos para casa. Dani já
sabe vamos morar na casa ao lado de
Victória, as duas agora podem tricotar o
dia todo.
Durante a viagem de carro sorrio
de Caleb, Victória e Dani brigando pelo
som do carro. Parece que nunca iríamos
crescer. Annie havia ficado tão animada
por ver Felipe, que quis ir com ele em
seu carro e deixei que assim matassem a
saudade. Para não ficar de fora, Miguel
acabou pedindo para ir também.
— Essa música! — Vic e Dani
gritam em uníssono e mesmo contrariado
Caleb cede.
— Sem força alguma em! —
zombo de Caleb e ele simplesmente
mostra o dedo do meio em minha
direção. — Tão maduro!
—Vocês são os irmãos mais
idiotas que conheço. — Vic diz para não
perder a oportunidade.
— Falando em irmãos, onde
Christopher está? — Dani pergunta.
— Ficou preso em uma reunião
na empresa. Babi também não pode vir,
pois está na faculdade. — Caleb
responde e ela sorri largamente.
— Ela está gostando desse
negócio de artes? — pergunto e Caleb
bufa.
— Tive sorte de Felipe ir para o
direito, porque Babi vive suspirando
pela casa por estar fazendo a faculdade
dos sonhos. Não sei como ela consegue
gostar de desenhar aquelas coisas.
— Nem eu. Só de pensar tenho
calafrios. — digo fingindo frio e Dani
bate em meu ombro.
— Amo arte, é algo lindo.
Podem parar de rir disso. — ela avisa e
Caleb dá de ombros. — Não vem não,
Vade Mecum! — todos gargalhamos e
Caleb apenas revira os olhos.
— Nem me darei ao trabalho de
responder. — diz. — Mas e Lívia, deu
alguma previsão de quando virá para o
Brasil?
— Bom, Joaquim me explicou
que está tentando resolver alguns
problemas da filial de segurança que
abriu em Londres, e assim, virão para
cá.
— Então sem data prevista? —
Victória pergunta, parecendo
decepcionada.
— Não. — digo e forço um
sorriso para ela.
Entendo o seu jeito, pois ela
sabe que se Lívia vier para o Brasil,
Paula talvez se aproxime dela. Tudo está
a estranho a respeito da relação de
Paula com nossa família, pois mesmo
nesses anos que se passaram, eu nunca a
vi de fato perto de minha mãe ou
qualquer outra pessoa.
— Chegamos! — Caleb diz e
estaciona em frente à sua casa e logo
todos os outros chegam.
Annie ao descer do carro de
Felipe já se joga em meu colo e pede
ansiosamente para ver seu novo quarto.
— Um minuto, sweet heart! —
peço, colocando-a no chão e chamo
Victória para perto.
— Tudo como combinado, Vic?
— ela assente e entrega as chaves da
casa em minhas mãos. — Não sei como
agradecer.
— Apenas faça minha melhor
amiga feliz. — pisca.
— Parece que estão de
segredinhos. — Dani diz ao se
aproximar.
— Faça as honras. — lhe
entrego a chave e ela me olha sorrindo.
Vamos em direção a casa e Dani
me encara já um pouco surpresa. Ao
abrir a porta, a sala de estar linda assim
como está nos desenhos de Dani nos
recebe. Bom, essa é a surpresa.
— Como você.... Como? —
Dani começa a gaguejar e lágrimas
escorrem por sua face.
— Enquanto arrumava as malas,
encontrei uma grande pasta escondida
debaixo da cama do quarto de hóspedes.
— revelo e ela leva as mãos a boca. —
Me surpreendi ao abri-la, pois lá estava
a casa dos seus sonhos. Desenhos lindos
feito por você. Então pensei, por que
não tornar isso real? — dou de ombros.
— E aqui estamos.
— Não tenho palavras, Castiel.
— chora ainda mais e vem até mim. —
Só tenho a dizer obrigada. Eu jamais
esperei que isso seria real.
— Seus sonhos se tornarão
realidade Danielle, basta me aceitar. —
digo convicto e de repente o ar da sala
de transforma.
Ficamos presos em nosso
mundinho e sinto vontade de beijá-la,
querendo nunca mais deixá-la se afastar.
— Tia Dani! — Felipe a chama
quebrando nosso momento e eu sorrio de
lado. — Desculpem, eu volto depois.
— O que foi, Lipe? — Dani
pergunta ainda me encarando.
— Annie está com vontade de
sorvete, então pensei se não poderia
levá-la para tomar. Miguel iria junto
também.
— Claro que sim. — respondo
por Dani e Lipe logo sai da sala. Olho
por um instante ao redor e noto que não
há mais ninguém aqui.
Passos no andar de cima me
alertam de que nossa família toda
acabou correndo pra lá, para nos deixar
a vontade nesse momento.
— Espero que tenha gostado. —
digo. — Victória me auxiliou em tudo e
bom... Sabe que ela só poderia ter me
ajudado a fazer isso ser ainda mais
perfeito.
— Você é perfeito. — ela diz e
toca de leve meus lábios. — Sei que
precisamos conversar e há muito ainda
para ser superado, mas quero que tenha
certeza de que... Eu amo você. — se
declara e sai praticamente correndo em
direção as escadas.
Fico parado ali, no meio da sala
de estar de seus sonhos, sorrindo feito
um bobo. Feito um adolescente
apaixonado que descobre que a rainha
do baile o ama também.
Capítulo 31

Danielle

Subo a grande escada e me


surpreendo novamente ao encontrar o
corredor do primeiro andar tão parecido
com meus desenhos. A única diferença é
que na grande parede branca do
corredor há apenas um quadro, diferente
dos vários que desenhei. Me aproximo e
sorrio ao notar que a foto do nascimento
de Annie que está colocada ali. O dia
mais feliz de minha vida.
— Tentei convencê-lo a colocar
todas as fotos que tem de vocês, mas
sabe como Castiel é. — Victória diz e se
aproxima de mim.
— Como assim? — pergunto e
Vic revira os olhos.
— Castiel não colocou outros
quadros como no desenho porque quer
fazer isso junto com você. Como se
estivessem reconstruindo tudo, entende?
— Entendo. — suspiro
apaixonada. — Nunca pensei que ele
seria como Caleb, sabe?
— Romântico? — pergunta e
assinto. — Dani, tudo o que percebi
esses anos junto com Caleb é que o
romantismo deles é intenso mas em
certos momentos. Estou mais
acostumada com as explosões do meu
marido do que com os cafés da manhã na
cama. — gargalho de sua afirmação.
— Pode parar com isso. Todos
sabemos que Caleb é o mais romântico.
— retruco e ela finge indignação.
— Não seja abusada. — zomba
e sorrimos.
— Ela sempre é. — Caleb
aparece.
— Então agora os dois estão
contra mim? — pergunto e Caleb dá de
ombros abraçando a esposa por trás.
— Miguel não está por aqui? —
ela pergunta.
— Ele foi tomar sorvete com
Annie e Felipe. — respondo.
— Certo. — Caleb assente. — O
que as meninas tanto tricotam?
— Isso que você chama de
romantismo? — Vic pergunta indignada
e eu gargalho.
— Está dizendo que não sou
romântico, senhora Soares? — ele
devolve contrariado.
— Não seja chorão.
— Esse apelido é de Castiel,
não meu. — Caleb diz e gargalhamos.
— Falando pelas minhas costas?
— a voz de Cas se faz presente e ele
abre seu típico sorriso cínico. Lá vem
uma pérola. — Acho que vou escrever
uma carta sobre isso e esconder. O que
acha disso, irmão?
Não me aguento e quando Castiel
se aproxima de mim, lhe dou um tapa no
braço e gargalho abafado em seu peito.
Victória não se aguenta e encosta na
parede de tanto rir. Caleb apenas olha
furioso para o irmão e dá de ombros.
Os olhos de Castiel se encontram
com os meus e ele me olha em
expectativa. Ele ia continuar brincando
com Caleb, tenho certeza.
— Nem continue. — peço já sem
fôlego.
— Não tenho culpa se meu irmão
não aguenta. — aponta para Caleb e
essa é a vez de Vic segurar o marido. —
Viu só? Ele resolve tudo na força física,
eu sou o esperto da família.
— Um minuto que o nerd da
família chegou. — viramos em direção a
escada e Christopher aparece em um
lindo terno azul marinho.
— Agora ferrou. — Caleb solta
e Vic morde os lábios para não
gargalhar novamente.
Todos sabemos que quando os
três se juntam, Caleb sempre é o maior
prejudicado. Por ser o mais transparente
dos três, histórias e gracinhas sobre ele
não faltam.
— A cada dia mais linda
cunhada. — Chris me abraça com
carinho.
— Traidor. — Vic o acusa.
— Sabe que você é minha
cunhada morena favorita. — lhe manda
um beijo. — Já a cunhada loira favorita
é essa daqui. — Chris me faz dar uma
voltinha e logo sinto as mãos fortes de
Castiel me puxando.
— Não abuse. — diz para Chris
que dá de ombros e o abraça em
seguida.
Castiel sabe que tudo entre nós
não está certo e essa reação é até um
pouco estranha, porque nunca o vi como
um homem ciumento. O ciúmes que
demonstrou por conta das investidas do
filho de meu ex patrão na festa foi algo
surpreendente para mim. Acho que
finalmente estou conhecendo esse lado
dele e não sei ainda se é algo bom ou
ruim.
— Onde estão meus sobrinhos?
— Chris pergunta olhando ao redor.
— Foram tomar sorvete. —
respondo.
— Babi já chegou? — ele
pergunta e sinto o corpo de Castiel ficar
tenso atrás de mim. Ele também
desconfia da relação dos dois.
— Hoje ela teria uma
apresentação importante na faculdade.
Pelo o que me disse houve um problema
nas duplas e algum garoto teve que
ajudá-la a se posicionar em frente a
turma, por isso a demora. — Vic
informa.
— Ela te mandou mensagem
falando quem é o garoto? — Caleb
pergunta já nervoso.
Se tem algo que o tira do sério, é
ver sua garotinha perto de homens. Mal
sabe ele que o perigo parece estar mais
perto do que imagina.
— Ah, um minuto. — Vic digita
algo no celular e logo ouvimos um aviso
de mensagem. — É o Theo, querido, não
precisa se preocupar.
Assim como eu, Cristopher a
olha sem entender de quem se trata.
— O filho mais velho de
Donatello. — explica e logo Chris
praticamente desce correndo as escadas.
— Que merda! —Castiel
exclama.
Assim ele e Caleb correm atrás
do irmão.
— Christopher precisa aprender
a se controlar ou...
— Caleb está desconfiado de
algo, mas por enquanto apenas acha que
Chris teme pela perda de ações na
empresa, caso Babi fique próxima dos
Donatello. — Vic diz já preocupada.
— Ele não irá gostar nada disso.
— digo e ela assente nervosa. —Que tal
me ajudar a arrumar as roupas no lugar?
— Melhor do que ficar
arrancando os cabelos pela bagunça que
Chris deve estar aprontando. Vamos lá!
— sorri e me leva em direção a um dos
quartos.
— Esse é o de Annie. — diz e
abre a porta.
Um quarto grande e espaçoso me
recebe. Como se fosse separado em dois
ambientes distintos, vejo que a esquerda
há a cama e o closet dela, e a direita
algo como um estúdio de desenho.
— Ele fez uma parte específica
para que ela possa pintar? —pergunto e
Vic confirma. — Obrigada por isso Vic,
sei que o ajudou. — a abraço com força
e ela acaricia meus cabelos.
— Sabe que só quero sua
felicidade. Então aproveite que está
ganhando sua segunda chance e lute com
garras por esse homem. — me instiga.
— Vou lutar com tudo o que
tenho.
***

Horas mais tarde eu já havia


conseguido organizar praticamente tudo
no quarto de Annie. Castiel e Caleb não
haviam voltado ainda, muito menos
Christopher deu as caras. Porém, Castiel
me mandou uma mensagem dizendo que
logo estariam em casa, e foi isso que nos
tranquilizou um pouco.
Então me distraio cozinhando,
enquanto Felipe brinca com os primos
no grande tapete da sala. Victória que
não tem um fio de paciência, continua
discando o número de Caleb
incansavelmente ou tenta contatar Babi.
— Seus dedos irão cair. — digo.
— Estou ficando louca, Dani. —
bufa contrariada. — Custa mandar uma
simples mensagem? Ou então Babi
atender o bendito celular?
— Castiel disse que logo eles
estarão aqui. Talvez esteja nervosa à
toa. — digo provando o molho que faço.
— Babi consegue me fazer ficar
mais nervosa do que quando Luna me
disse que iria se casar tão cedo. — sorri
da própria fala e eu reviro os olhos.
— Vamos combinar que seu
genro é uma coisa, não é? — digo e Vic
se abana, fingindo sentir calor. —
Falando nisso, esses dias atrás ela me
mandou uma foto linda deles em Paris.
Até quando eles irão ficar por lá?
— Segundo Luna, essa segunda
lua de mel está sendo um sonho. Acho
que o estresse da especialização que os
dois acabaram por agora desgastou
demais a relação forte que tinham.
Finalmente a vejo falando dele com todo
aquele carinho, sabe?
— Que Luna seja mais esperta
que nós duas no amor.
— Ela é, só pelo homem que
escolheu. — Vic brinca e gargalhamos.
— Não reclame do seu moreno
de olhos azuis, Vic. — finjo repreende-
la.
— Você também não pode
reclamar do seu moreno de olhos
verdes. Somos vacas sortudas. —
exclama e a acerto com o pano de prato.
— Sabe o que estava pensando
esses dias? — pergunto.
— Diga. — me olha curiosa.
— Sobre Lipe. — sussurro por
saber que ele está na sala e pode entrar
na cozinha a qualquer instante.
— Algum problema com ele? —
pergunta e franze o cenho sem entender.
— Ele já está arrasando
corações. — digo. ---- Sabe quantas
vezes fomos almoçar e quando eu me
levantava, alguma mulher ia até a nossa
mesa e se oferecia pra ele? — ela me
encara curiosa. — Todas.
— Sério? — assinto sorrindo.
— E o tanto de filhas dos acionistas e
sócios de Caleb que tentaram fisgá-lo?
O mais engraçado disso é que ele parece
alheio aos olhares e sempre que são
diretas com ele, ele simplesmente age
como se não entendesse.
— Um cavalheiro. —
complemento e ela assente.
— Mamãe. — Lipe diz ao entrar
com tudo na cozinha e nós duas
estacamos no mesmo momento. — Tudo
bem? — pergunta confuso e apenas
confirmo com a cabeça.
— O que foi filho? — Vic
finalmente se manifesta e ele continua
nos encarando estranho.
— Bom, papai pediu pra avisar
que está na casa da vovó. O celular dele
e de tio Cas descarregaram e só agora
ele conseguiu ligar.
— Filho da...
— Vic! — chamo sua atenção ao
ver Miguel entrar na cozinha com Annie.
— Eu vou acabar com ele. —
diz frustrada. — Me empresta seu
celular filho? — Lipe a encara
assustado e mesmo sabendo que ela vai
acabar com a raça de Caleb pelo
telefone, entrega-lhe o celular.
— Meu menino de ouro. —
exclama pegando o celular.
— E eu mamãe? — Miguel
pergunta choroso.
— Você é meu príncipe. —
abaixa e o beija na testa com carinho. —
Um minuto que eu vou acabar com o rei
da cocada preta agora mesmo.
Ela sai da cozinha e Lipe coça a
nuca com força, uma mania que tem
quando está nervoso.
— Não acredito. — Vic volta
rapidamente pra cozinha e nós a
encaramos.
— Esse é o problema de ser
casada. Caleb sabia que iria pegar seu
celular e ligar pra ele. — entrega o
celular de volta pra Lipe. — Sabe o que
ele fez? Desligou o celular! — diz
revoltada.
— Deus, Vic! — gargalho alto e
ela me lança um olhar fulminante.
— Deixe isso pra lá mamãe,
logo eles aparecem. — Lipe tenta
acalmá-la.
— Já pode separar um lugar na
sua cama para seu pai, porque comigo
ele não dorme.
Me viro para terminar a comida
gargalhando e logo Miguel consegue
distrair a mãe contando histórias sobre o
sorvete que comeu hoje mais cedo.
— A comida já está pronta. —
aviso minutos depois.
— Oba! — Miguel grita animado
e Victória finalmente sorri um pouco
menos tensa.
Ela me ajuda a montar uma mesa
linda na sala de jantar e logo todos já
estão sentados.
— Está uma delícia, tia Dani. —
Felipe elogia e eu sorrio pra ele.
— Obrigada, querido.
Ouvimos a porta da frente sendo
aberta e vejo o sorriso de Victória sumir
no mesmo momento. Ela para com o
garfo no mesmo lugar quando vê Caleb
entrando na sala de jantar. Castiel me
encara com um sorriso no olhar e sei
que está se divertindo com a situação.
Finjo estar como Vic e logo seu
semblante se fecha.
Vamos ver quem ganha suas
brincadeiras, querido!
— Oi papai. — Miguel quebra o
silêncio que se instalou de repente.
— Não fale de boca cheia,
príncipe. — Vic chama sua atenção.
— Vic...
— Não ouse, Caleb. — o corta.
— Depois conversamos.
Logo Annie e Miguel começam a
falar várias coisas, assim o ar parece
ficar leve novamente. Em vários
momentos Castiel me olha, mas continuo
fingindo que estou brava com ele.
Mereço um Oscar pela boa atuação.
Depois que terminamos o jantar,
logo todos se despedem. Annie abre a
boca de sono e já a levo até seu novo
quarto. Ela havia amado aquele lugar,
como se finalmente se sentisse em casa.
— I love you[8], mommy. — diz
ao se enrolar no edredom e eu beijo seus
cabelos.
— Amo você também, sweet
heart.
Deixo uma luz bem fraca
iluminar o ambiente e fecho a porta atrás
de mim. Esses pequenos momentos com
ela, fazem tudo valer ainda mais a pena.
— Já sabe onde é o nosso
quarto? — Castiel diz se aproximando
de mim e eu nego.
— Victória me proibiu de
desvendar o resto dos cômodos. Disse
que você queria fazer isso comigo. —
ele sorri confirmando e logo abre a
porta do quarto a frente de Annie.
Entro cautelosa e espero que ele
acenda a luz, mas simplesmente ouço a
porta sendo fechada e continuamos no
escuro.
— Acho que começamos nossa
relação assim, totalmente às cegas. — a
voz rouca dele me causa arrepios e sinto
meu corpo reagir no mesmo segundo.
— Cas...
— Quero que saiba também às
cegas quem eu sou. — diz e o ouço
respirar fundo. — Está muito brava? —
pergunta e eu sorrio.
— Não estou. Apenas fingi para
ver qual seria sua reação a respeito e
pelo jeito você caiu na minha
brincadeira.
— Você me enfeitiça a cada dia
mais mulher. — sem mesmo poder vê-
lo, tenho certeza que seu sorriso está
aberto. — Você é a única pessoa depois
de minhas mães que consegue brincar
comigo.
— Devo gostar disso? —
provoco.
— Deve amar. — sinto seu
corpo próximo a minhas costas e prendo
a respiração. — Quero que conversemos
sobre tudo, sejamos sinceros.
— Eu também. — complemento
e ele se afasta. — Podemos nos
conhecer devagar, digo, contar sobre nós
dois aos poucos. Algo que um não saiba
do outro, até que estejamos prontos para
falar sobre tudo. Como um casal normal
sempre faz. Pode me perguntar o que
quiser sobre mim e eu respondo. Sem
mentiras.
— Certo. — diz. — Pode
começar se quiser.
— Não, quero que você comece.
— respondo e ouço sua risada.
— Tão imprevisível. — diz e
ficamos em silêncio. Por alguns
segundos apenas escuto o barulho de
alguns carros passando lá fora.
— Sem perguntas então? —
indago.
— Pela primeira vez na vida não
sei o que dizer e muito menos o que
perguntar. — diz.
— Sabe o quanto amo isso? Eu
amo o fato de você ter todo o poder
sobre mim e ao mesmo tempo não ter a
consciência do que fazer a respeito. Me
coloca dentro do nosso quarto e não me
permite ver nada, apenas aguça meus
sentidos pra saber o quanto isso mexe
comigo. E tenha certeza que isso mexe
demais. Sinto-me segura, nervosa,
ansiosa com uma pitada de loucura.
— Dani.
-— Deixarei com que faça duas
perguntas amanhã já que não tem o que
dizer hoje, mas eu tenho uma pergunta.
— respiro fundo.
— Faça. — pede.
— Por que não desistiu? —
pergunto e uma lágrima desce pelo meu
rosto. — Por que não desistiu de mim?
Sinto seu corpo próximo ao meu
e um pouco de medo me toma. Talvez eu
não goste da resposta.
— Porque eu nunca busquei o
amor, Dani. E você nem sequer me
pediu, simplesmente exigiu para que te
amasse mesmo sem saber ou ter
consciência disso. Quando nos amamos
pela primeira vez, soube que meu corpo
nunca mais seria de outra mulher, porque
só você me fez sentir vivo. Você me fez
pensar em casamento, filhos... Família.
Algo que eu pensei jamais poder ter. —
coloca as mãos em minha cintura e me
puxa para perto. — Porque com você eu
sempre pude ser eu mesmo. Com você,
todos os meus demônios parecem
desaparecer e após anos eu consegui ter
uma noite inteira de sono. Porque...
— Não precisa dizer mais nada.
— o calo com um beijo.
Seguro seus cabelos já grandes e
os puxo com força. A resposta que tenho
é um gemido rouco e logo sinto suas
mãos tomarem conta de mim. A saudade
que sentimos parece maior que tudo.
— Não faça isso. — pede
afastando nossos lábios.
— Sou sua.
— Mas...
— Você sempre me pediu pra
deixar o passado no lugar dele, faça isso
agora também.
De repente o quarto fica
iluminado e noto um controle nas mãos
de Castiel. Seus olhos verdes tem um
brilho que há muito não via. Ignoro
totalmente o ambiente e apenas consigo
focar no homem a minha frente.
Toco seu rosto com leveza e
sinto a barba por fazer em meus dedos.
Ele fecha os olhos por um instante e
quando os abre, sei que continua
batalhando consigo mesmo se deve
seguir adiante ou não. Se devemos
conversar sobre tudo e depois ficarmos
juntos, porém acabo decidindo por nós.
— Eu e você, Cas. — repito
nosso “eu te amo” camuflado de tempos
atrás.
— Apenas eu e você. — diz e
sorrio, logo sinto seus lábios nos meus.
Não há mais volta depois disso.
Iríamos enfrentar o que viesse pela
frente ou qualquer passado que insistisse
em nos atormentar. Apenas eu e ele, e o
nosso “doce coração” – Annie.
Capítulo 32

Castiel

Um remexer em meu peito faz


com que desperte. Abro os olhos
lentamente e não consigo enxergar muito
bem, pois o quarto está com apenas uma
fresta de luz que vem da janela. Porém é
impossível não sentir a mulher
enroscada a mim. Mesmo sem poder ver
com clareza seu rosto, sei que ela está
me usando de travesseiro. Sua
respiração é leve, o que significa que
está em sono profundo.
— Minha. — sussurro em seu
ouvido e ela sequer mexe.
Levanto-me com cuidado e
coloco um travesseiro embaixo de sua
cabeça. Vou em direção a janela e fecho
as persianas. Acendo um dos abajures e
sorrio ao notar que nossas roupas estão
todas espalhadas pelo chão. Como eu
senti falta desses momentos com ela.
Meu corpo ainda parece um
pouco pesado, devido as horas no avião
e assim decido tomar um banho. A água
quente desce por minha pele e todos
meus músculos parecem se acalmar.
Vapor se forma ao meu redor e sorrio ao
me lembrar do quando Dani odeia isso.
Eu quente, ela frio.
Me perco em pensamentos e
acabo não acreditando em tudo o que
está havendo. Parece um sonho que
finalmente se tornou realidade. Mas há
uma insegurança dentro de mim que não
me permite me jogar de cabeça
novamente, um medo que não sei
explicar e muito menos consigo
compreender. Na realidade, ainda há
uma coisa que preciso contar a ela, só
não sei como o farei.
Passo as mãos pelos cabelos e
quando vou colocar o shampoo, ouço a
porta do box sendo aberta e o ar frio me
atinge. Dani me encara ainda com o
rosto sonolento e dá um singelo sorriso.
— Te acordei? — pergunto.
— Sabe que isso é meio
impossível. — fecha o box atrás de si.
— Durmo feito pedra.
— Sei bem disso. — sorrio. Ela
então coloca a mão na água e tira
rapidamente.
— Não sei como consegue tomar
um banho tão quente. — reclama
fazendo uma careta.
— Ok, resmungona. — mudo a
temperatura para o morno e finalmente
ela entra debaixo.
— Obrigada.
Encosto-me por um tempo nos
azulejos e aprecio a mulher a minha
frente. Ela está tão envolta em seu
mundo que cada detalhe dela fica ainda
mais explícito. Os cabelos loiros
compridos que já batem em sua cintura
estão colados nas costas. Ela passa as
mãos por eles várias vezes como uma
carícia. Totalmente linda.
— Vem aqui. — me aproximo e
com o chuveirinho ela molha meus
cabelos. — Estão a cada dia mais
cumpridos.
— Isso é um elogio? — pergunto
sorrindo de lado.
— Com certeza é. — suspira
fundo. Sinto seus dedos tocando minha
barba e abro os olhos para encará-la.
— O que foi?
— Tem noção do quão lindo é?
— pergunta.
— Bom, mamãe sempre disse
algo sobre meus olhos, cabelos, pele...
— Metido. — me corta sorrindo.
— Eu te amo tanto, Cas. Tanto que chega
a doer.
— Linda. — contorno seu rosto
com as mãos e a pego no colo em
seguida.
— Ai. — se assusta.
Passo as mãos de leve pelo seu
corpo e vejo-a queimar sob meu toque.
— Como eu senti falta disso. —
solta baixinho e tenho certeza que não
teve a intenção de que a ouvisse.
— Eu também. — seus olhos se
abrem e nem lhe dou tempo pra pensar.
A beijo com delicadeza e seus braços
me envolvem.
Não há outro lugar do mundo que
gostaria de estar nesse momento.

***
Arrumo minhas roupas em nosso
closet e sorrio ao notar que todos meus
jalecos já estão devidamente
pendurados. Dani com certeza teve o
maior cuidado com eles, como sempre
fez.
— Sweet heart, vamos tomar
café. — ouço a voz sonolenta de Dani.
Entro no quarto e encontro as
mulheres de minha vida brincando em
cima da cama. Annie deve ter vindo nos
acordar e como não me encontrou,
atacou a mãe.
— Então temos uma mocinha
esperta aqui? — pergunto indo até ela.
— Bom dia, daddy. — pula da
cama e corre em minha direção. A pego
no colo e beijo diversas vezes.
— Bom dia, pequena. — ela se
esquiva de mim e logo deita na cama
novamente.
Observo Danielle se espreguiçar
na cama e noto algumas manchas
vermelhas em seu corpo. Isso é apenas a
prova de que pertencemos um ao outro.
— Bom dia novamente, meu
amor. — diz vindo em minha direção e
me dá um simples selinho.
A enlaço pela cintura e puxo-a
para um verdadeiro beijo: — Bom dia,
feiticeira.
— Pode cuidar de Annie
enquanto mando alguns e-mails
pendentes? — pergunta e eu assinto.
— Ei, vamos tomar café? —
pergunto a Annie, que senta-se no
mesmo instante.
Minutos depois, enquanto Annie
conta animada sobre o sorvete que
tomou com os primos, faço panquecas.
Poderíamos ter contratado uma
empregada, mas resolvi esperar por
enquanto. Temos um padrão de vida alto,
no meu caso, desde sempre fui
acostumado com o melhor. Porém, meu
maior orgulho é poder dizer que
conquistei o que tenho hoje por mérito
próprio.
Mas o dinheiro não é nada,
quando não se tem alguém para ser feliz.
Sei ainda mais sobre isso agora, após
tantos erros. Poder ter minha família,
minha filha falando animadamente sobre
algo no café da manhã, coisas do
cotidiano que sempre pensei serem
descartáveis, mas hoje percebo que são
indispensáveis. E isso, o dinheiro não
consegue comprar.
— Hum, que cheiro delicioso.
Termino de montar as panquecas
de chocolate e pego uma caixa de
achocolatado na geladeira. Quando Dani
vê o achocolatado, sorri maravilhada e
me manda um beijo no ar.
— Obrigada, amor. — sorrio
pelo modo que me chama e é impossível
não me sentir finalmente completo.
Enquanto observo as duas
comerem devagar o meu feito, agradeço
em silêncio por essa nova chance.
Quantas vezes eu me martirizei por ter
abandonado Luna? Quantas vezes não
consegui dormir por conta da morte da
irmã de Dani no parto? Com toda
certeza, muitas de milhares.
— Perdido em pensamentos? —
Dani pergunta.
— Apenas estou feliz. — sorrio
de lado.
— Não me abra esse sorriso
cínico, amor. — brinca.
— Sabe quantas vezes imaginei
você me chamando assim?
— Assim como? De amor? —
assinto e ela sorri. — Você sempre foi
isso.
— Mas agora você admite, é
diferente.
— Tudo tem o momento certo.
— complementa.
— Realmente. — sento-me ao
lado dela. — Tudo tem seu momento
certo.
***

— Bom dia, posso ajudá-los? —


a mocinha a nossa frente sorri
largamente e a olho inquisitivo.
Caleb me encara impaciente e
Christopher já se apoia no balcão e olho
sedutoramente para a garota. Coitada!
— Sou Christopher Soares. —
se apresenta e os olhos da garota
brilham.
Olho para Caleb e ele ostenta
uma carranca, seguro-me para não
gargalhar. A cena de nosso irmão mais
novo flertando com alguém é
simplesmente cômica, para não dizer
ridícula.
— Meu irmão veio falar com o...
— Com licença. — Caleb se
intromete. — Gostaríamos de falar com
o dono do hospital.
Direto como sempre.
— Tem hora marcada? — ela
pergunta.
Passo pelos dois e suspiro
fundo. Babacas!
Quando avisei a eles que teria de
vir acertar minha admissão com o
diretor do hospital, eles fizeram questão
de vir junto para que eu não me perdesse
no português, mesmo eu sendo fluente. O
pior é que eles apenas complicaram
ainda mais a situação, como se eu fosse
um garoto de 15 anos.
— Castiel Soares, do horário
das quinze horas. — aviso e ela assente,
digitando algo no computador.
Viro-me para meus irmãos: —
Qual o problema de vocês? — pergunto.
— Se Caleb não tivesse se
intrometido, já teria...
— Ei, não me venha com isso!
— Caleb o olha furioso.
— Vocês não negam o sangue. —
zombo.
— O que foi? Meu sangue é A!
— Christopher diz orgulhoso e o olho
como quem diz “Cresça”.
— O meu também, babaca! —
Caleb responde já passando as mãos nos
cabelos.
Viro-me para a recepcionista e a
olho impaciente, porém ela continua
digitando algo.
Ajude-me, Deus!
— E você, Cas? — encaro
Chris, sem entender a pergunta. — Qual
o seu tipo sanguíneo?
— Isso é mesmo importante? —
pergunto com desdém.
— Para de ser idiota. —
reclama.
— Ok, moleque. — ele me
encara irado. — Sou do tipo O.
— O que? — Caleb
praticamente grita.
— O que o que, meu Deus? —
pergunto ainda mais perdido, já
totalmente impaciente, pois a
recepcionista não diz nada.
— Como você pode ser do tipo
O se Luna tem o sangue AB? — pergunta
e eu me calo no mesmo instante.
Fico tenso e tento não
demonstrar muito minha surpresa por
sua perspicácia. Eu nunca toquei em tal
assunto pois pensei não ser importante.
— Caleb, olha...
— Castiel, você não é o pai
biológico dela? — pergunta incrédulo e
anda para trás. — Não, não pode ser!
Annie não mentiria assim e... — ele me
encara ainda mais incrédulo. — Você
não me parece surpreso com isso ou...
Meu Deus! Por que não me disse?
— Caleb! — chamo a atenção
dele, de forma mais rude.
— Você devia ter me contado!
— diz nervoso. — Luna merece saber
disso, eu não acredito que não é o pai
biológico dela.
— Olha, não é local para
falarmos disso. — digo rapidamente.
— Caleb, se acalma, é melhor...
— Chris tenta dizer algo, porém Caleb o
corta:
— Quando seria o local bom? —
pergunta revoltado. — Desde quando
sabe disso?
Suspiro fundo e encaro a
recepcionista, porém ela continua
digitando alguma coisa. Merda!
— Eu não tinha certeza se o
sangue dela era mesmo AB e não tive
coragem de confrontá-lo a respeito
disso. — sou sincero. — Por mais que
não tenhamos um teste de DNA, é
praticamente impossível eu ser o pai
biológico de Luna. — confesso e sinto-
me um pouco mais aliviado.
— O que?
Paraliso.
Não, ela não pode estar aqui...
Continuo parado e encaro o
chão.
— Cas... — ela me chama. —
Isso é verdade? — pergunta.
Viro-me para Danielle e encaro-
a sem jeito. Ela traz em seus braços um
dos meus jalecos brancos. Droga! Ela
deve ter achado que o esqueci e
resolveu trazer até mim.
— Dani, olha...
— Diz a verdade pra mim. —
pede e noto seus olhos marejados.
— Eu posso não ser o pai de
Luna. — sou sincero.
Sem dizer mais nada, ela corre e
vejo-a seguir em direção ao banheiro.
Tento ir até ela, porém Chris me impede.
— Dá um tempo pra ela. — diz e
eu assinto.
— Eu não queria que fosse
assim, eu não tenho certeza se...
— Castiel. — Caleb me chama e
eu o encaro. — Precisamos descobrir a
verdade sobre isso, irmão.
— Eu sei. — sou sincero. —
Mas ela não podia ter ouvido isso
assim, não quero perde-la novamente e...
— Vamos resolver isso. — Chris
diz e eu o encaro perdido. — Todos
juntos.
— Senhor Soares, o diretor do
hospital teve um imprevisto e não
poderá atende-lo hoje. — viro-me para
a recepcionista. — Mas ele pediu para
lhe perguntar se pode ser amanhã no
mesmo horário.
— Claro. — respondo de
relance.
— Certo, desculpe-me pela
demora. — pede e assinto, saindo de
perto do seu balcão.
Penso no olhar perdido de Dani
e tento não pirar. Tem coisas que
acontecem conosco que parecem vir a
acontecer apenas nos momentos bons,
como se fosse para destruir tudo.
Não posso perde-la por conta
disso!
Não posso!
Capítulo 33

Danielle

Lágrimas grossas rolam pelo


meu rosto. O olhar gélido e ao mesmo
tempo magoado de Castiel me persegue,
não importa para onde eu corra.
Encosto-me na beirada da grande pia do
banheiro e desabo.
Deixo-me quebrar.
Não foi ele!
— Por que, Annie? — pergunto,
encarando o espelho.
Sei que as respostas não virão,
sei que não há como entender nada
disso. Mas eu não consigo acreditar.
Não dá.
Sem mais forças, deixo meu
corpo desabar no chão frio do banheiro
do hospital. Levo as mãos à cabeça e
choro. Tudo o que me neguei chorar
quando perdi minha irmã um dia.
Mas ao invés de lembranças
sobre ela me atormentarem, o que vem
em minha mente, são os piores
momentos ao lado de Castiel. Os quais,
eu o humilhei, o julguei, o machuquei...
Ele não se afastou, ele continuou
ali... Por que?
Porque ele realmente me ama,
como sempre disse. Ele não ficou
comigo por pena ou por culpa, ficou por
amor. E é tarde demais para enxergar
isso.
Encosto a cabeça no azulejo frio
e limpo o rosto de qualquer jeito. Meu
corpo paralisa por alguns instantes,
tentando absorver tudo. Busco em
minhas memórias algum deslize de
minha irmã, qualquer indício... Mas não
há nada. Ela nunca sequer o citou.
— Não consigo entender. —
digo para o vazio.
Encaro meus dedos e começo a
divagar sobre todos meus erros. Sobre
todos os momentos felizes que perdi,
por ter sido tão rudemente enganada. E
assim, perder Castiel.
Seu olhar há minutos atrás,
deixou claro que não tinha volta. Que se
insistíssemos nisso, voltaríamos a ter
mais três anos de tristeza. Mas eu não
consigo aceitar.
Lembro dos dias felizes, dos
sorrisos ao seu lado, de quando o
conheci... Eu sempre soube que era ele.
E sempre será.
Sempre pensei que Castiel
Soares fosse a minha maldição nessa
vida, mas pelo contrário, ele se tornou a
minha salvação.
A porta do banheiro se abre e
uma senhora entra, encarando-me
surpresa.
— Desculpe. — digo sem jeito e
ela sorri amigavelmente.
— Todos temos nossos dias
ruins, querida.
Encaro novamente o espelho e
tento limpar a bagunça de meu rosto,
controlando o choro que insiste em
querer vir com força.
Eu o culpei sem ele sequer ser o
homem que minha irmã amou, sem ser o
pai da criança que ela estava grávida.
Eu não consigo imaginar como tudo em
minha vida teria sido se soubesse sobre
isso antes.
Por que ele não me contou?
A porta do banheiro se abre
novamente e Victória me encara
preocupada.
— Ei. — diz e vem até mim,
abraçando-me forte.
— Por que ela mentiu pra todos,
Vic? — choro ainda mais. — Por que
ele não me contou?
— Chore tudo que tem que
chorar, Dani. — assim, desabo.
Penso em todos os momentos que
julguei Castiel, que o culpei. Ele sofreu,
eu sofri, todos sofremos por algo que
Annie mentiu há anos atrás.
Minutos se passam e quando
finalmente me afasto de Vic, vejo que
ela ainda está preocupada.
— Melhor? — pergunta.
— Sim, obrigada. — ela assente.
— Ele está aí ainda?
— Paradinho na recepção.
— Preciso que peça para ele ir
pra casa. — peço. — Preciso fazer algo.
— Dani.
— Por favor, Vic. — digo e ela
me encara inquisitiva. — Preciso ir ao
cemitério.
— Tem certeza? — pergunta e
solta uma respiração profunda.
— Sim, diga para ele que logo
vou pra casa. Vou de táxi e logo estarei
lá. — ela assente, mesmo contrariada.
Ela vem até mim e me abraça
com força novamente.
— Se cuida e me manda
mensagem assim que puder.
— Ok, obrigada. — ela então
sai.
Espero alguns minutos ainda
dentro do banheiro e logo recebo uma
mensagem de Victória, pedindo para que
eu seja rápida e o quanto foi difícil tirar
Castiel do hospital.
Saio do banheiro após conseguir
ficar ao menos apresentável e vou em
direção a saída do hospital, em busca de
um táxi. Assim que consigo um, entro e
desabo no banco de trás.
***

Respiro fundo ao encarar o local


a minha frente, e tomo coragem pela
primeira vez de entrar ali sozinha. A
passos lentos caminho e limpo as
lágrimas já secas em meu rosto. Por
mais que quisesse chorar, é como se meu
corpo se negasse a isso. Como se não
conseguisse mais suportar essa dor.
Assim que avisto meu destino,
seguro com força a bolsa ao meu redor e
tomo coragem de seguir em frente. Há
quanto tempo eu não vinha até aqui?
Quanto tempo não consegui
simplesmente aceitar?
Acho que de fato nunca aceitarei.
Pego a rosa branca que comprei
de uma senhora na frente do cemitério e
coloco com cuidado sobre sua lápide.
Passo os dedos com cuidado sobre seu
nome e meu coração se aperta. Como
queria que ela estivesse aqui.
Leio atentamente o escrito e
lembro como se fosse hoje, o dia que a
perdi.
Annie Marie Campos
Filha, mãe e irmã amada.

— Sinto sua falta. — sussurro


olhando para o céu.
O motivo maior de ter vindo ao
cemitério, não é por acreditar fielmente
que possa sentir minha irmã mais
próxima de mim aqui. Mas parece algo
do ser humano, ir ao último lugar que
deixamos a quem mais amamos e
conversar. Tentar acreditar que a perda
foi mesmo real.
— Por que, Annie? — pergunto
baixinho. — Por que não me disse o
nome do homem que amava?
O silêncio paira sobre mim e
como se fosse um estalo, sinto-me
culpada. Culpada por tudo.
— Eu me martirizei por tanto
tempo, irmã. Sentia que estava vivendo
seus sonhos, seus momentos. — mesmo
meu corpo protestando, as lágrimas
descem e parecem queimar sobre minha
face. — Eu sei que não importa onde
esteja, que torce por mim. Você foi a
melhor pessoa do mundo pra mim, foi
além de minha irmã, foi minha mãe. Eu
só não consigo agora imaginar o porquê
de você ter tentado enganar a todos e ter
insistido nessa mentira. — fecho os
olhos com força. — Como eu vou
consertar tudo isso, irmã? Como posso
saber o que fazer se você não está mais
aqui? Eu nunca soube o que fazer sem
você.
Levo minhas mãos ao rosto e
seguro-o com força. Toda a verdade que
neguei, parece agora clara como água
em minha mente. Por mais que tivesse
Victória, Caleb e Luna, eu nunca
consegui seguir por mim mesma. Sempre
esperei o impulso de alguém ou algum
conselho. Pois foi assim que Annie me
criou, ela era minha estrela guia, eu
nunca me senti perdida quando a tinha.
Agora, eu sou apenas uma sucessão de
erros.
Tento me colocar no lugar de
Castiel e penso em como reagiria se
fosse o contrário. Meu coração parece
se cortar novamente e sei que nunca me
perdoarei por toda dor que causei a ele.
Mas como eu poderei contornar essa
situação e faze-lo feliz?
— Eu o amo, irmã. — suspiro
fundo. — Eu me sinto culpada por tudo,
mas ao mesmo tempo, sinto que estou no
caminho certo. Eu só queria você aqui
para me guiar, como sempre fez.
Levanto os olhos para o céu e
levo minhas mãos ao peito. Nunca fui
uma mulher religiosa, mas sempre tive
fé em tudo o que foi criado. Sei que por
mais que nos sentimos sozinhos em
vários momentos, Ele está aqui, ao
nosso lado. Só queria um sinal.
Minutos se passam e sinto o
primeiro pingo de chuva cair sobre meu
ombro. Encaro novamente o nome de
minha irmã e ajeito a rosa com cuidado.
Meu coração ainda sangra pelo que
houve, mas um pouco de paz se apodera
de mim. Sem ao menos conseguir
explicar, caminho em direção a saída do
cemitério antes que a chuva engrosse.
Assim que um táxi parou a minha
frente, antes de entrar, olhei para o céu.
Mesmo com as nuvens carregadas e o
céu já quase totalmente escuro, procurei
por algo... Mas infelizmente não obtive
resposta alguma.
Já sã em salva dentro do carro,
soltei uma respiração profunda quando a
tempestade despencou do lado de fora.
E foi aí que me toquei.
Me toquei de que não é preciso
esperar a tempestade cair para correr,
que apenas um pingo de chuva é o
suficiente como aviso prévio. E mesmo
que isso não faça sentido algum, que
fosse apenas um acaso, descobri que
posso seguir meu caminho com meus
próprios pés. Mesmo com tudo o que
houve, eu não preciso me perdoar por
algo ou esperar por Castiel, não mais.
Eu irei até ele. Eu provarei a ele, o
quanto o amo. Da minha maneira, eu o
farei.
Capítulo 34

Castiel

— Preciso saber onde ela está,


Victória. — digo pela milésima vez e
Vic me olha com pesar.
— Olha, ela apenas pediu um
pouco de tempo, prometo a você que ela
está em segurança. — respira fundo. —
Dê esse tempo a ela, Cas. Sabe que não
a deixaria em perigo.
Fico em silêncio e apenas
observo as ruas pela janela do carro.
Christopher e Caleb estão em completo
silêncio e eu apenas consigo pensar em
Danielle, sobre como contar a ela sobre
tudo isso, essa bagunça.
Quando finalmente Caleb
estaciona, desço do carro e me
encaminho para sua casa, pois sei que
Annie ficou com a babá de Miguel.
Christopher aperta meus ombros, como
em sinal de força, mas apenas o olho em
desespero.
Não sei o que fazer.
Assim que abro a porta, estaco
no mesmo lugar.
Não, isso não!
— Ei, não vai deixar ninguém
passar mesmo? — Christopher zomba,
porém assim que passa por mim e vê o
mesmo que eu, limpa a garganta. —
Luna? — pergunta descrente.
— Surpresa! — ela grita e
quando vejo, todos estamos parados na
porta, sem saber o que fazer. — Não
parecem felizes em me ver. — diz e
franze o cenho.
— Daddy! — finalmente acordo
e encontro Annie puxando minha calça.
— Oi, pequena. — levanto-a no
meu colo e beijo seus cabelos.
Logo Annie pula de meu colo e
corre para os braços da prima. Eu estou
perdido.
— Luna, querida, por que não
nos avisou que vinha? — Victória é a
primeira a se aproximar e abraça Luna
com carinho.
Forço-me a mexer em sua
direção, porém parece tudo no
automático. Penso em como encarar
isso, como essa surpresa de Luna parece
um sinal para que eu lhe diga o que
desconfio, para que tiremos isso a
limpo.
Faz muito tempo que quero ter
uma conversa sobre tudo o que houve
com sua mãe, mas nunca conseguimos
isso. Por mais que tivéssemos nos
encontrado nos vários encontros
familiares, a vida e o tempo pareciam
não colaborar. E hoje, nada parece nos
impedir disso.
Vejo todos cumprimentarem ela,
mas apenas assisto a cena, sem
conseguir decidir o que fazer.
— Castiel? — escuto-a me
chamando e apenas aceno. — Algum
problema? — ela insiste e se aproxima.
— Podemos conversar? —
pergunto de repente, sem ao menos saber
como as palavras saíram de minha boca.
— Castiel, não acho que seja
uma boa hora para... — Caleb tenta se
intrometer porém o impeço.
— Preciso falar com você a sós
Luna. — encaro-a sério e ela assente,
indo em direção as escadas.
Assim, a sigo, porém logo Caleb
me para e me encara estupefato.
— Acho melhor...
— Sabe que já está mais do que
na hora de fazermos isso. — sou
sincero. — Por que adiar isso ainda
mais?
Passo por meu irmão e subo as
escadas, sem saber ao certo como agir.
Assim que encontro o corredor
principal, vejo Luna parada em frente a
um quarto, o qual ela entra, então faço o
mesmo.
— Parece sério. — diz e força
um sorriso.
— Não será a conversa mais
agradável do mundo, mas acho que é
preciso isso. — confesso.
— Certo. — ela se senta em
frente a uma espécie de escrivaninha.
— Quer sentar? — pergunta e eu
assinto, sentando-me na cama a sua
frente. — É sobre minha mãe biológica,
não é? — pergunta sem jeito.
— Basicamente. — dou de
ombros. — Vou aos poucos, ok? — ela
assente. — Eu não fui um homem bom
com Annie, sua mãe biológica, naquela
época eu não consegui lidar quando ela
me contou sobre a gravidez e fugi.
Deixei a responsabilidade que era
minha, inteiramente para ela e Caleb.
Não vou dizer que isso alivia minha
culpa, mas sei o quanto Caleb a criou
com amor e carinho, assim como
Victória, e sei também que jamais seria
tão bom quanto eles.
— Castiel, você é ótimo com sua
filha, sabe disso. — sorri fraco.
— Eu assumo minha covardia
naquela época, era um jovem renegado
pela família e sem saber para onde ir,
completamente perdido, mas isso de
nada alivia o que fiz. Sinto a culpa todos
os dias pela morte de Annie, pelo mal
que causei a ela... Mas hoje, o passado
não me dói tanto quanto antes por “n”
motivos, um deles, claro, é Danielle e
Annie, que me mostraram que sim, é
possível ser feliz com amor. — suspiro
fundo. — Mas há algo que preciso te
contar.
— Sim. — indaga curiosa.
— Quando voltei ao Brasil e nos
encontramos pela primeira vez, eu já
estava desconfiado de algo.
— Como assim?
— Eu sempre cuidei como pude
de todos por aqui, sabendo do que
ocorria por Jô e meus pais, e isso inclui
você. — levo as mãos aos cabelos, já
nervoso. — Recebi certa vez um
documento de Isaac, o qual falava que
você teve anemia e precisou receber
sangue.
— Sim, eu tinha quinze anos na
época, mas o que isso tem a ver? —
pergunta confusa.
— Eu apenas li todo documento
pouco antes de vir para o Brasil, não
achei que fosse preocupante pois logo
Isaac me contou que você havia se
curado. — ela assente. — Mas algo no
documento me chamou atenção, para ser
mais específico, seu tipo sanguíneo.
— O que?
— Eu vi que seu tipo sanguíneo
é AB, estou certo? — pergunto e ela me
olha estranha, porém confirma. — O
meu sangue é do tipo O.
— O que? — ela pergunta
novamente e se levanta.
— Eu não quero afirmar nada, e
nunca quis voltar a isso porque
complicaria tudo...
— Eu não sou sua filha
biológica. — afirma incrédula e eu a
encaro sem saber o que fazer. — Eu não
consigo acreditar que minha mãe mentiu
para todos e...
— Eu não sei o que levou Annie
a mentir mas... Não acho que isso mude
algo, sabe que tem seus pais, uma
família, isso vale muito mais que
sangue.
— Eu sei. — sussurra e respira
fundo. — Eu só estou chocada, passei
por isso uma vez quando descobri que
meus pais na realidade não eram meus
pais biológicos... Mas acho que o
melhor que podemos fazer é um teste de
DNA.
— Tem certeza, Luna? —
pergunto incerto.
— Sim, para tirar isso a limpo.
— concordo e ela sorri fracamente. —
Obrigada por me contar isso, sei que
meus pais demorariam muito para isso,
apenas para me proteger, então...
— Está tudo bem. — digo sem
jeito. — Eu na realidade quero te pedir
perdão apesar dos apesares.
— Você é parte da minha
família, Castiel. Somos uma família. —
ela se aproxima de mim e sorri, seus
olhos verdes se parecem com os meus,
uma coincidência dramática.
— Fico feliz por ouvir isso,
você também é Luna. — a abraço com
carinho e ela retribui com força.
E nesse momento, finalmente
deixei o passado para trás, só espero
que Dani faça o mesmo.

***

Quanto mais as horas passam,


mais meu nervosismo aumenta. Preciso
ver Danielle, falar com ela, fazer com
que entenda que não expus isso a ela e a
ninguém porque também não tenho
certeza. Claro que é olhando apenas
pelos fatos que temos, biologicamente, é
impossível de Luna ser minha filha, mas
poderia ter algum erro nos documentos
dela que vi há anos atrás. Porém, a
confirmação dela sobre seu tipo
sanguíneo, deixa claro que não é mesmo
minha filha.
Vou até o quarto de Annie e
encontro-a já dormindo serenamente.
Deito-me ao seu lado na cama e toco de
leve seus cabelos loiros.
— Eu te amo, sweet heart. —
beijo sua testa. — Se tem algo que me
orgulho na vida é você.
Abraçado a ela, lembro-me de
como foi tudo difícil até chegarmos aqui
e como não quero que essa paz acabe.
— Senti tanto medo de te perder,
pequena. — confesso, já afogado em
lembranças.
Ouço passos vindos de fora do
quarto e levanto-me no mesmo instante.
Praticamente corro para fora do quarto.
Assim que atravesso a porta um
corpo bate contra o meu, o cheiro da
mulher que amo me embriaga.
— Desculpe. — digo sem jeito e
me afasto um pouco.
— Oi, tudo bem. — diz e sorri
fraco.
— Eu...
— Vem, vamos conversar! —
pega minha mão e me puxa até a sala de
estar.
Ela se senta no sofá e bate no
assento ao lado, me convidando a sentar
também.
Isso não será fácil!
Danielle

— Eu fui até o cemitério hoje.


— os olhos de Castiel se arregalam. —
Falei com minha irmã pela primeira vez
sozinha. O que disse no hospital me fez
acordar e... Finalmente fosse atrás dos
conselhos dela, que estivesse próxima
dela novamente sem medo algum. Não
consegui respostas diretas, bom, disso
eu já tinha certeza. Mas sabe o que
entendi ao ir lá sozinha? — Castiel nega
com a cabeça. — Que mesmo que ela
fosse a minha estrela guia, eu tinha que
aprender a andar por mim mesma.
— Fico feliz que tenha ido até
lá. — diz baixinho, mas seus olhos
mostram sinceridade. — Eu fui até o
túmulo dela certa vez.
— Jura? — pergunto incrédula.
— No começo de tudo, antes de
irmos para Londres... Eu também me
culpei por te amar.
— O que? — pergunto surpresa.
— Pode parecer mentira mas eu
me culpei por amar a irmã da mulher
que eu destruí a vida. — confessa. —
Depois de tudo o que fiz a sua irmã, eu
não me sentia digno do amor que sentia
por você.
Meu mundo para por alguns
instantes e palavras me faltam para fazer
qualquer tipo de pergunta. Eu jamais
imaginei que ele se culpasse por me
amar, mas também, como poderia?
Estava tão focada em minha autonegação
que simplesmente ignorei tudo a minha
volta.
Castiel está tão quebrado quanto
eu.
Ele se levanta e começa a andar
de um lado pro outro da sala.
— Cas! — o chamo.
— Você foi a única pessoa que
eu deixei entrar, a única que tem o poder
de me destruir e renovar ao mesmo
tempo. — ele passa as mãos
nervosamente pelos cabelos e eu me
levanto indo até ele. — Depois que te
conheci, eu nunca mais consegui pensar
em outra mulher e muito menos desejar.
A cada segundo do meu dia, eu pensava
na mulher que cuidou dos ferimentos que
meu irmão causou.
Castiel fica olhando para o teto e
fico sem jeito de me aproximar. Quando
ele se vira pra mim e nossos olhos se
conectam, tomo coragem e o abraço com
força.
— Eu encontrei Luciana no
hospital em Londres, ela estava toda
machucada e mal conseguia falar. — o
encaro surpresa, havia até me esquecido
que tínhamos que conversar sobre tudo.
— Assim que ela pôde receber visitas,
fui até o quarto dela e conversamos. Ela
me contou que havia deixado tudo pra
trás no Brasil para viver o amor da sua
vida, com um cara estrangeiro. Esse
cara foi a causa dos hematomas no
corpo dela, ele praticamente a espancou.
— fico chocada. — Eu disse que a
ajudaria, e assim aluguei um
apartamento para ela assim que saiu do
hospital e garanti sua volta segura para o
Brasil. O tal cara nunca apareceu e
felizmente, Luciana não se importou.
— Meu Deus, Castiel! — digo
indignada. — Mas por que ela ficou na
casa de Caleb com você e...
— Ela disse que queria me
ajudar de alguma forma, assim, tentamos
fazer ciúmes em você. — diz
envergonhado e fico surpresa.
— Eu não fiquei apenas com
ciúme, pensei que tudo havia acabado.
— confesso. — Mas foi bom para que
abrisse os olhos.
Castiel senta-se no sofá e me
puxa para seu colo. Tocando de leve
meu cabelo e colocando uma mecha
atrás da orelha.
— Foi complicado isso. — diz e
abre um simples sorriso.
— Sobre Alice... — respiro
fundo. — Eu conversei com ela durante
os meses que estivemos separados,
coloquei tudo em pratos limpos. Ela me
confessou que você nunca fez nada, que
depois do beijo, ela mesma se afastou e
você não foi atrás.
— Mas você achou que
tivéssemos nos envolvido depois do
beijo? — pergunta sem entender.
— Eu ouvi uma conversa de
duas enfermeiras e um cara que não
conheço, ele disse que viu vocês dois
abraçados e... Olha, vou ser sincera. —
respiro fundo. — Eu não te expulsei do
hospital por achar que era o pai do filho
de Alice, eu sei que não faria isso
comigo. — ele arregala os olhos. — Eu
fiz pois estou cansada de fazê-lo sofrer,
por não ser forte o suficiente para deixar
o passado no lugar dele.
— Então me afastou para não me
magoar? — pergunta e eu assinto. — Eu
quase morri longe de você, feiticeira.
— Eu também. — sou sincera.
— Essa distância mais a suspeita de um
relacionamento seu com Luciana me fez
acordar pra vida. — sinto uma lágrima
descer por meu rosto. — Eu consegui
superar meus demônios, ou ao menos,
boa parte deles.
— Falei com Luna hoje, ela quer
fazer um teste de DNA. — diz cansado.
— Castiel, posso não ser a
melhor pessoa do mundo em biologia,
mas sei que a probabilidade de você ser
o pai de Luna não existe. — digo e ele
suspira fundo. — Por que não procurou
a certeza sobre isso?
— Porque não muda nada e não
tira minha culpa por ter fugido. — ele
encosta a cabeça no encosto do sofá. —
Mas eu devo isso a Luna, pois ela me
pediu para fazermos o teste, mesmo não
sendo importante.
— Sinto tanto por tudo, tudo
mesmo. — toco seu rosto. — Me
perdoe!
Ele pega minha mão e beija
delicadamente, e só assim abre seus
olhos verdes.
— Não precisa se desculpar
pelo que passou, não precisamos reviver
os dias de arrependimentos. — beija
meu pulso. — Eu não sei o que fiz para
merecer você, mas agora eu não dou a
mínima pra isso. — sussurra — Só
quero recomeçar Dani, como se nosso
relacionamento fosse novo.
Me afasto de seu corpo e o forço
a levantar. Empurro-o em direção a
porta de saída e ele me encara perplexo.
— Saia! — exijo e ele me
encara sem entender nada.
— Amor, por favor, não me
afaste. — implora e eu apenas o encaro
friamente.
— Saia agora! — o empurro
novamente e mesmo contra a própria
vontade, ele sai.
Sorrio ao fechar a porta e tenho
a certeza de que ele continua do outro
lado.
— Está aí ainda? — pergunto.
— Sim. — responde
rapidamente.
— Bata na porta.
— O que?
— Apenas bata na porta, Castiel.
— peço e logo ouço três sons de
batidas.
Toc, toc, toc...
Abro a porta com cuidado e seus
olhos verdes me encaram curiosos.
Deixo a porta entreaberta e o encaro
fingindo confusão.
Parece realmente a primeira vez
o que vejo. A grande diferença é que
agora temos uma filha. Porém, tudo
apenas parece melhor.
— Quem é você? — repito a
mesma pergunta de anos atrás e Castiel
me encara estupefato.
Demora alguns segundos, mas
ele olha para o chão e balança a cabeça
negativamente. Ele entendeu minha
intenção.
Quando me encara, o sorriso
cínico que tanto amo está aberto de um
modo cafajeste que nunca vi.
— Talvez seu futuro marido. —
meu coração dispara e sem fazer
cerimônia alguma, Castiel se ajoelha no
chão.
— Você não está seguindo o
roteiro. — digo segurando as lágrimas.
— Desde que pus os olhos em
você pela primeira vez, soube que era
meu fim. Nada mais justo do que ser
minha esposa, loirinha.
— Muito original. — zombo em
meio a gargalhadas pelo apelido idiota.
— Posso chamá-la de feiticeira.
— indaga.
— Posso ser sua feiticeira?
— Quem não está seguindo o
roteiro agora? — pergunta e eu sorrio.
— Não somos bons atuando. —
ele sorri e beija minha mão esquerda.
— Quero colocar uma aliança
aqui, Dani. — diz convicto. — Quero
que seja minha mulher no papel também.
— Já sabe a minha resposta,
não? — brinco, porém ele não sorri.
Noto fragilidade em seus olhos e
ele desvia rapidamente. Ele realmente
teme que não o aceite, como fiz quando
me pediu em casamento pela primeira
vez.
— Se me disser sim agora, tenha
certeza de que esse não é o pedido de
casamento oficial. Não sou um homem
romântico, mas te darei o melhor de
mim.
— Não preciso de romantismo.
— Não? — pergunta incrédulo.
— Apenas eu e você.
— Tem certeza? — pergunta e eu
assinto. — Casa comigo?
— Sim. — grito antes mesmo
que ele termine e Castiel me pega em
seus braços.
— Eu te amo tanto. — diz e
beija de leve minha boca. — Vou ser o
melhor para você, daqui por diante,
serei o homem que merece.
— Você já é, Cas. — o encaro
com amor. — Você sempre foi.
Não quero pensar no porquê
minha irmã mentiu, nem mesmo me
importarei com isso. Seja o que for, eu
ficarei ao lado do homem que amo.
Capítulo 35

Castiel

Uma semana depois

— Eu só quero ficar na cama,


querido. — Dani diz e se enrola
novamente no lençol.
— Pensei em irmos passear,
curtir esses últimos dias que tenho livre.
— ela levanta seu olhar e seus cabelos
loiros caem bagunçados.
— Podemos aproveitar na cama,
assistindo um filme com nossa filha. —
sorri fraco. — Por favor. — insiste.
— Ok, feiticeira. — coloco
minha regata e vou até ela, beijando de
leve seus lábios. — Vou alimentar nossa
ferinha.
— Tudo bem. — diz e se joga de
volta nos lençóis.
Saio do quarto e vou em direção
ao de Annie.
Encontro-a dormindo
serenamente e toco de leve seus ombros.
Ela mexe um pouco, porém não acorda.
Igualzinha a mãe!
— Sweet heart!
Espero alguns segundos e nada,
por isso a balanço um pouco. Como não
funciona, a encho de beijos e chamo
várias vezes.
— Ah! — ela solta um gritinho.
— Bom dia, dorminhoca. —
beijo de leve sua testa.
— Bom dia, daddy.
— Vamos fazer o café da manhã
e depois assistir um filme no quarto com
sua mãe? — pergunto e ela praticamente
se joga em meus braços.
Descemos as escadas cantando
animadamente, uma das músicas que
sempre cantei para ela – Leãozinho de
Caetano Veloso.
— “Gosto muito de você
leãozinho.” — canto e Annie tenta
acompanhar, mas ainda se perde um
pouco.
Coloco-a em sua cadeirinha e
ela bate firme na pequena mesa ao seu
redor.
— Panqueca! — pede alto.
— De novo, pequena? —
pergunto, colocando um avental.
— Yes! — bate palmas e sorri
animada.
Annie é meu bálsamo para todo e
qualquer problema.
— Ok, panquecas. — digo.
Passamos um bom tempo na
cozinha até conseguir terminar as
panquecas e cantamos várias músicas
que coloquei em meu celular.
Após alimentar minha pequena,
arrumo uma bandeja com comida para
Dani, e subimos as escadas. Assim que
abro a porta do quarto, estranho a falta
de Dani na cama, porém um barulho me
chama atenção no closet.
Deixo a bandeja em cima de uma
mesinha e sigo com Annie até lá.
— Mommy! — Annie chama.
— Aqui!
Sigo sua voz e encontro Dani
enrolada com o botão de um vestido.
— Pensei que ficaria na cama.
— ajudo-a a fechar o vestido.
— Bom, acabei dando uma
animada há pouco. — beija de leve
meus lábios. — Bom dia, princesa. —
ela pega Annie no colo.
— Bom dia, mommy.
— Trouxemos o café para você.
— digo e ela sorri animada.
Saímos do closet e Dani vai até
a bandeja, pegando um dos morangos
que estão sobre a panqueca.
— Obrigada. — sorrio para ela
e sinto-me realizado.
Ajudo-a com a bandeja,
colocando em cima da cama, enquanto
Dani e Annie se ajeitam contra os
travesseiros.
Pego o controle remoto e ligo a
tv.
— Qual o filme, Annie? —
pergunto.
— Leão! — diz animada.
— Rei Leão 1, 2 ou 3? — ela
fica pensativa e encara Dani.
Fico sem entender sua reação
mas continuo esperando sua resposta.
— Annie? — insisto.
— Ah, nossa. — encaro Dani, e
ela corre em direção ao banheiro com a
mão na boca.
Annie me encara assustada e vou
até ela. Pegando-a no colo.
— Tudo bem, pequena. — digo
baixinho, porém os olhinhos verdes dela
continuam arregalados.
Vou até perto do banheiro e
Annie força a descer. Coloco-a no chão,
porém não solto sua mão.
— Dani? — bato na porta.
— Um minuto. — diz e logo
abre.
Noto-a pálida e seu rosto está
molhado.
— Algum problema, feiticeira?
— pergunto.
— Eu não tenho certeza mas... E
também não está como antes, quer dizer,
como foi com Annie que tive vários
sintomas nas primeiras semanas...
— O que? — pergunto perdido.
— Lembra que dormimos juntos
na noite da festa dos Soares? —
pergunta e eu assinto.
— Mas o que isso tem a ver...
Paro o mesmo instante em que
Annie vai até a mãe e toca sua barriga
plana.
— Meu Deus! — exclamo
estático.
— Eu sei que não planejamos
e... Meu Deus, devíamos aprender a usar
proteção e... Eu estou atrasada há duas
semanas, não pensei que...
Ajoelho-me no chão e assim
como Annie, toco sua barriga.
— Tem quase certeza? —
pergunto, olhando para cima.
Dani está em prantos e acena
afirmativamente.
— Um bebê? — pergunto para o
nada.
— Nosso bebê. — diz e
sorrimos um para o outro.
Annie continua apenas tocando
de leve a barriga de Dani e não expressa
nada.
Encaro-a intrigado por alguns
segundos, em meio a emoção desse
momento. E só assim consigo entender
algumas coisas. Não sou um homem
religioso, mas tenho minhas crenças,
minha fé. Acredito que algumas coisas
estão destinadas, e olhando para minha
filha agora, consigo perceber isso. Eu e
Danielle estávamos destinados a
ficarmos juntos, Annie veio para nos
unir. Eu não posso estar mais grato por
isso. Porque nunca fui tão feliz quanto
agora.
Epílogo

Danielle

Quatro meses depois

— Isso nunca vai entrar em


mim,Victória! — exclamo irritada e ela
gargalha entrando no quarto.
— Deixa de ser resmungona. —
passa as mãos na minha barriga já
acentuada de cinco meses. — Sua mãe é
uma chata, bebezão.
— Gabriel. — corrijo-a e ela
abre os olhos espantada.
— Escolheu o nome do seu filho
e nem me contou? — se faz de ofendida
e eu reviro os olhos. — Danielle...
— E ainda tem mais, se for uma
menininha vai se chamar Josiane.
— O que? — praticamente grita
e eu gargalho.
— Shhh, é uma surpresa. Você
está sabendo agora porque eu já não
aguento mais segurar.
— Sua vaca. — bate de leve em
meu ombro. — É uma linda homenagem,
Dani.
— Pensei em vários nomes
masculinos mas nenhum veio em mente,
mas daí me lembrei dos momentos em
que Lívia chama Cas de Gabriel, que
seria o nome que ela daria pra ele,
portanto, seja Josiane Soares ou Gabriel
Soares, eu ficarei mais do que satisfeita.
— digo sincera.
— Os dois nomes me parecem
fortes. Precisamos apenas agora que
esse bebezinho nos mostre o que é, não é
mesmo pequeno? — Vic diz.
Sentimos um chute e sorrio
olhando minha barriga.
— Sua madrinha está te
importunando, pequenino? — Victória
arregala os olhos. — Isso mesmo, você
será a madrinha. Você e Caleb terão que
me ajudar a manter ele ou ela, assim
como Annie, na faculdade, ok?
— Você faz os momentos felizes
se tornarem os piores. — brinca e me
abraça. — Esse pequenino terá a
madrinha mais linda do mundo.
— Convencida. — olho para seu
vestido que cai impecável no corpo e
bufo. — Olhe só pra você, não vai
parecer uma baleia amarrada como eu.
— Credo Dani! Coloque logo
esse vestido azul e as botas, é a nossa
noite de meninas e vamos arrasar. —
insiste.
— Ok. — pego o vestido. —
Mas quero saltos confortáveis, porque
não vou usar sapatos baixos com isso.
Castiel que ouse me impedir.
— Ele saiu com Caleb há um
bom tempo, estão jogando póker ou sei
lá o que com uns amigos da faculdade de
Caleb. — conta e eu estremeço. — Ou
talvez Caleb o tenha levado para treinar,
algo assim. E sobre os sapatos, já trouxe
as botas pra você.
— Há mulheres nesse jogo? Ou
nesse treino? — pergunto já brava.
— Acha mesmo que Caleb iria
jogar pôquer com outra mulher que não
seja eu? Nem morta. Muito menos
treinaria com alguma outra.
— Ok, fico mais tranquila assim.
— começo a me trocar. — Não olhe pra
mim!
— Você é tão chata. — lhe
mostro o "dedo" e ela gargalha.
— Sabe o que estava pensando?
— pergunta ao me ajudar com o laço do
vestido — Que o vestido lhe caiu
perfeitamente. — provoca.
Vou até o espelho e encaro o
resultado espantada.
— Meu Deus! — levo as mãos a
boca surpresa.
— Eu sei, de nada.
— Ok, admito que você acertou
dessa vez. — coloco as botas marrons
lindas sem salto que ela trouxe. — Para
onde vamos?
— Lembra aquele barzinho em
frente a praia que sempre vamos? —
assinto. — Lá mesmo.
— Acho que vou abrir mão da
música para sentar na areia e...
— Nem pensar. — me corta. —
Vamos ouvir música boa ao vivo e
comer aquele camarão que você tanto
queria.
— O que estamos fazendo aqui
ainda? — pergunto já ansiosa e Victória
pega as chaves do carro.
— Let's go.

***

Enquanto enfrentamos o trânsito


carioca, Victória canta loucamente
alguma música clássica que toca no
rádio. O seu gosto musical geralmente é
bom, mas essa música em particular, é
deprimente. Encosto a cabeça no vidro
do carro e tento controlar minha
ansiedade por frutos do mar, estou louca
para comer isso desde cedo.
Assim que ela estaciona o carro,
o barulho das ondas se quebrando nos
recebe em sua majestade. Saio do carro
e sinto o calor do pôr do sol tocar minha
pele. Eu amo Londres, mas o Rio
sempre será meu lugar favorito por
vários motivos.
— Não podemos mesmo pular a
parte do barzinho e ir ver o mar? —
pergunto.
— Jamais. — Vic me encara
brava. — Hoje tem MPB ao vivo, você
ama esse tipo de música. Então faça o
favor de mover sua bunda para o
barzinho junto comigo.
— Ok. — respondo e Vic me
guia até a entrada.
O lugar é simplesmente lindo e
de uma leveza impressionante. O preto
que se encontra na maior parte da
decoração apenas me faz sentir melhor,
minha cor favorita.
— Vamos sentar ali. — ela
indica uma mesa que fica próxima ao
palco e sorrio.
— Só espero que toque Caetano
Veloso. — a repreendo.
— É bem capaz de alguém tocar
sua música favorita. — sugere.
— Conhece o cantor? —
pergunto.
— Bom, sim. — dá de ombros.
— Caleb veio comigo aqui algumas
vezes.
— Entendi. Já pediu nossa
comida? — pergunto ao ver um garçom
passar próximo a nós.
— Jesus, mulher! — sorri. —
Vou pedir quando o garçom voltar.
Agora me conte, como estão as coisas
com Cas? Nenhuma briga eu suspeito.
— Algumas sempre tem. — Vic
me encara estupefata. — Quem manda
ele fazer café em casa? A gravidez
apenas me fez odiar ainda mais o cheiro
de café e ele insiste em fazer aquilo.
— Por isso o encontro várias
vezes bebendo uma caneca de café na
minha cozinha. — reflete e gargalhamos.
— Castiel não tem salvação. —
ela assente.
Noto que Vic enquanto fala mexe
várias vezes na aliança em seu dedo
anelar esquerdo. Olho para minha mão
direita e ali encontro a minha. Simples e
tão linda. Ideias passam por minha
mente e lembro de tudo o que passei
com Castiel nos últimos meses.
Além de estar ao meu lado a
cada minuto e nossa relação amadurecer,
Castiel se tornou insubstituível para
mim. Desde o momento em que colocou
a aliança em meu dedo anelar direito e
fez a promessa de casamento, além de
entender o fato de não querer me casar
grávida.
— Ei. — Vic estala os dedos na
minha frente, o que me faz voltar a
realidade.
— Desculpe, eu estava apenas...
— Pensando no cínico. —
provoca.
Olho para minha aliança
novamente e sorrio ao lembrar o sorrio
de Castiel. Olho para o palco a nossa
frente e uma ideia vem em minha mente.
— Vic, sei que Castiel está
armando algo com Caleb sobre um
pedido de casamento. — solto e ela
pisca várias vezes. — Não me olhe
assim, eu o ouvi no telefone esses dias,
falando a respeito de igreja ou ar livre...
Somei um mais um e... Ok, isso não
interessa. Quero que me ajude com algo,
antes que Castiel conclua os planos
dele.
— Como assim? Endoideceu? —
pergunta surpresa.
— Ele sempre fez de tudo por
nós e continua fazendo. Nada mais justo
do que invertermos o jogo um
pouquinho.
— Dani.
— Apenas ligue pra ele e
invente qualquer desculpa para que
venha até aqui. — digo já decidida.
— O que pensa em fazer?
— Pedirei o homem que amo em
casamento.

Castiel

— Eu só queria saber onde elas


se enfiaram, eu juro que se Victória
levou Dani para alguma balada...
— Pare de reclamar Castiel, se
concentre no treino. Enquanto as
crianças estão distraídas com
Christopher, temos tempo pra isso.
Então, foco! — acerta meu abdômen e
devolvo o golpe. — Isso, florzinha.
— Daddy! — Annie grita e me
viro para ela.
— O que o tio Chris fez agora?
— pergunto já nervoso, pois Chris
sempre a mima demais.
— Nada, o seu celular que está
tocando. — Christopher grita, e logo
Annie vem até mim, entregando o
aparelho.
— Oi amor. — silêncio do outro
lado. — Dani?
— Cas, preciso que venha até
nós...
— O que aconteceu, Vic? — a
corto e Caleb me encara preocupado.
— Preciso que venha nos buscar,
agora. — diz nervosa. — É o barzinho
que fica em frente à praia de sempre,
Caleb o conhece. Por favor, venha logo!
— Victória! — grito e apenas
ouço a ligação ser desfeita.
Disco novamente seu número e
todas as minhas tentativas são falhas.
— Algo está errado, Caleb. —
passo as mãos no cabelo nervoso. —
Precisamos ir.
— Merda. — pragueja baixinho.
— O que houve, daddy? —
Annie pergunta e apenas lhe dou a mão.
— Preciso que você e Miguel
fiquem com o tio Chris enquanto eu vou
buscar sua mãe e sua tia, ok? — ela
assente. — Se comporte.
— Chris, cuide deles. — Caleb
grita.
Encaro Caleb e só assim noto
que estamos com a roupa de treino.
Droga! Corro até o vestiário e coloco a
calça que trouxe e uma camisa. Quando
volto, noto que Caleb fez o mesmo, mas
não parece tão preocupado como antes.
— Já liguei para Isaac e pedi
para que fosse até elas primeiro, ele
mora mais perto do que nós. — informa.
— Ok, vamos. — e assim saímos
rapidamente.
Quando Caleb finalmente
estaciona o carro ao lado do tal
barzinho, praticamente pulo dele. Ele
vem logo atrás e vamos o mais rápido
possível até o barzinho.
Assim que entro, a primeira
coisa que vejo me espanta. Isaac está
sentado ao lado de Victória em uma
mesa.
— Onde minha mulher está? —
pergunto nervoso e Isaac sai
rapidamente. — Onde pensa que vai? —
rosno.
— Deixe ele ir, Castiel. — Vic
diz calmamente.
— Como você me liga, me faz
vir correndo aqui e...
— Sente a bunda nessa cadeira e
apenas espere.
— O que? — passo as mãos
pelo cabelo. — Não vai dizer nada,
Caleb?
Meu irmão dá de ombros e beija
levemente os lábios da mulher.
— Onde minha mulher está? —
quase grito e eles me encaram
impassíveis.
Minha fúria e preocupação
aumentam, fecho meus punhos com força
e continuo esperando respostas. Até que
uma voz se faz presente no ambiente.
— Boa noite a todos. — me viro
para a voz de Dani e assusto-me a
encontra-la em cima de um simples
palco. — Gostaria primeiramente de
agradecer pelo espaço cedido pelo
dono, para que eu pudesse estar aqui.
— Dani. — a chamo, porém
minha voz sai em um sussurro.
— Sente logo, homem. — Vic
exclama sorrindo.
Sento-me então completamente
confuso e sem saber o que esperar. Isaac
surge com um violão ao lado de Dani e
fico sem chão. Ela não...
— Essa música em particular diz
muito do como me sinto no momento.
Ela diz claramente o que sinto pelo
homem que amo, o homem que me
ensinou a amar. O homem que eu quero
que se case comigo.
Meu coração parece vir a boca e
fico sem fala. Nada ao nosso redor
parece existir, apenas consigo enxergá-
la em cima do palco.

“Quando vou ver você de novo?


Você partiu sem um adeus, nem
uma única palavra foi dita
Nenhum beijo final para selar
qualquer pecado
Eu não tinha ideia do estado em
que estávamos

Eu sei que tenho um coração


inconstante e amargurado
E um olhar errante, e um peso
na minha mente
Mas você não se lembra, você
não se lembra?
A razão pela qual você me amou
antes
Baby, por favor, lembre de mim
mais uma vez”

Fico de boca aberta ao ouvir sua


voz doce, a letra linda e todo o resto ao
meu redor desaparece de vez. Eu tenho
planejado há um tempo meu pedido de
casamento para ela, mas até agora não
havia conseguido encontrar o lugar ou
modo perfeitos. E ali está ela,
improvisando um pedido de casamento
para mim.

“Quando foi a última vez que


você pensou em mim?
Ou você me apagou
completamente de suas memórias?
Porque muitas vezes eu penso
onde eu errei
E quanto mais eu penso, menos
eu sei

Mas eu sei que tenho um


coração inconstante e inseguro
E um olhar errante, e um peso
na minha mente
Mas você não se lembra, você
não se lembra?
A razão pela qual você me amou
antes
Baby, por favor, lembre de mim
mais uma vez
Eu te dei o espaço para que
você pudesse respirar
Eu mantive minha distância,
assim você iria ser livre
Eu espero que você encontre a
peça perdida
Para trazê-lo de volta para mim

Por que você não se lembra,


não se lembra?
A razão pela qual você me amou
antes
Baby, por favor, lembre de mim
mais uma vez

Quando vou ver você de novo?”

(Don’t you remember – Adele)

Assim que ela encerra, nem a


espero dizer nada e me encaminho até o
palco.
— Como pode? — pergunto
assim que ela se aproxima.
— Te amar ainda mais? —
devolve em meio a lágrimas. — A culpa
dessas lágrimas e do nosso pequeno
Gabriel ou... Jô
— Você escolheu os nomes?
Você...
— Sabemos o quanto Jô foi
importante para nós e bom, lembrei-me
que Lívia daria seu nome de Gabriel,
nada mais justo que... — a vejo ficar
sem jeito e sorrio ainda mais. Como
pude ter tanta sorte?
— Obrigado. — digo e a puxo
pela cintura. — Obrigado por existir,
minha feiticeira.
— Casa comigo? — pede e
então abro o sorriso cínico que ela tanto
diz amar. — Quero ser a sua mulher no
papel também.
— E eu quero ser seu. —
acaricio seu rosto com carinho. —
Ainda mais do que já sou.
Meus lábios descem fortes nos
seus e ela corresponde com fervor.
Palmas e assovios são ouvidos e
sorrimos durante o beijo.
Nada mais nos separaria e hoje
tinha a certeza. Nossa Jô ou Gabriel
veio apenas para complementar ainda
mais nossa pequena grande família. E eu
não poderia estar mais feliz, porque
mesmo com todos os imprevistos e
tempestades, a mulher que amo está ao
meu lado. Agora e para sempre.
Bônus especial

Danielle

Anos depois

As coisas da vida não são


complicadas, pois no fim, somos nós
que a complicamos. Tornamos o fácil em
difícil, o certo em duvidoso... Eu o fiz
várias vezes. Seja por ser infantil ou ter
um gênio difícil, e cometi muitos erros
por conta disso, e um dos piores, julguei
o homem que amo por culpa do passado,
achando-me a responsável por isso, mas
nunca tive sequer o direito de dizer algo.
— Parece emocionada, mommy.
— viro-me para a porta do quarto e
encontro Annie me encarando.
— Pensando na vida, minha
pequena. — bato no colchão e ela vem
até mim. — Você está prestes a se casar
e não sei como lidar com isso ainda.
— Mommy! — reclama e sorri
ao mesmo tempo, encaro seu semblante
mais velho, e realmente tenho que
admitir, Annie já é uma mulher. — Eu
morei fora por um bom tempo e você
nunca ficou assim.
— É que você ainda era solteira,
não imaginei que encontraria o amor lá
fora e... — suspiro emocionada. — Você
sempre será meu sweet heart, mas agora
o seu coração pertence a seu futuro
marido.
— Iremos morar na mesma
cidade, mommy. Sabe que a família de
Ezequiel não o quer longe e ele tem uma
empresa para gerir. — noto o pesar em
sua voz e tento entende-la.
— Tem certeza que quer esse
casamento, Annie? — pergunto séria. —
É óbvio que o ama, me contou a história
toda e entendi. Mas vejo em seu
semblante que não está completamente
feliz com isso.
— É difícil, mommy. — ela
suspira fundo. — Ezequiel tem se
mostrado um bom homem, diferente do
que fez comigo antes, agora ele é
companheiro, amigo, gentil, claro que
ainda é muito fechado para o mundo,
mesmo assim, o amo desse jeito.
— Ok, só não cometa o mesmo
erro que o meu, converse com ele, deixe
tudo em pratos limpos sempre. — digo e
ela assente.
— Você sabe que eu e seu pai
erramos muito, você viveu no meio da
nossas brigas e constantes separações...
Não quero que...
— Mommy, eu prometo dar o
melhor de mim. E caso Ezequiel seja um
idiota, sei para onde correr. — força um
sorriso, mas noto-a já emocionada
também.
Abraço-a com carinho e acabo
desabando junto a ela. Por mais que
Annie sempre tenha sido um espírito
livre, viajou o mundo, conheceu vários
costumes, sempre soube que ela voltaria
para nossa casa. E agora que vai se
casar e ter sua própria casa, é algo
diferente. Sei o quanto minha menina
sofreu por amor, por sempre acreditar
nas pessoas, temo que se machuque. Mas
se Ezequiel a faz feliz, espero que seja
real.
Escutamos um barulho de um
celular e Annie se afasta, sorrindo para
mim.
— Vai lá. — digo e ela corre
para fora.
Levanto-me da cama e vou em
direção ao closet. Coloco um simples
vestidinho azul e acabo me atrapalhando
com o zíper nas costas.
— Sempre complicando tudo,
feiticeira. — sorrio ao sentir sua
respiração em meu pescoço e ele beija
de leve meu pescoço.
— Onde estão as crianças? —
pergunto e me viro para ele.
— Gabriel saiu com alguns
amigos dele, “coisas de homem”
segundo ele. — ri cinicamente.
— Deixe o menino. — bato em
seu ombro e passo por ele.
— Só não quero um neto tão
cedo. — diz e paro no mesmo instante.
— Espero que tenha ensinando a
ele direitinho, em como se prevenir...
— Sabe que se depender de
meus ensinamentos, já teríamos vários
netos. — gargalho e ele me acompanha.
— Após termos dois filhos que
finalmente nos lembramos que existe
“proteção”.
— Não seja chato. — digo e vou
até o espelho perto da cômoda, tentando
dar um jeito em meu cabelo.
— Por que estava chorando? —
pergunta e me encara através do
espelho.
— Casamento de Annie. — sou
sincera.
— Eu quem deveria estar assim,
mulher. — brinca e me abraça por trás.
— Para quem está se produzindo toda?
— Talvez para o meu marido. —
seu olhar me encontra e ele sorri
cinicamente.
— Esse cara com certeza tem
muita sorte. — diz e beija minha
bochecha.
— Não, eu que tenho.
Ele sorri cinicamente e dá um
beijo em minha bochecha antes de sair
do quarto.
Assim que termino de arrumar
meu cabelo, encaro o quadro pendurado
em minha parede, o qual guarda as
palavras que Jô escreveu há anos atrás,
um papel que ela entregou a Babi, a qual
encontrou este um tempo antes de meu
casamento com Castiel.
Emolduramos o papel com a
escrita de Jô e sempre me emociono ao
vê-lo.
Peça a minha pequenina, que
cuide do meu menino.
Ele é feito de ouro e ela de
prata, serão imperfeitos juntos, mas
valerá a pena.
— Obrigada, Jô. — digo sozinha
no quarto, e limpo uma lágrima que
tende em descer.
Isso me faz viajar para o dia em
que visitamos Jô anos atrás no hospital,
no qual prometi que o faria feliz para
ela.
— Ei, feiticeira. — limpo a
lágrima que desce e me viro em direção
a porta. — Vamos almoçar? — pergunta
com o seu sorriso cínico estampado em
seu rosto.
Aceno afirmativamente e ele me
encara desconfiado.
Viro-me novamente para o
quadro e fecho os olhos um instante.
— Eu acho que finalmente o faço
o feliz, Jô. E vou cumprir para sempre
essa promessa. — sussurro e vou em
direção a Castiel.
Ele sorri e beija meus lábios
com delicadeza.
— Parece estranha. — diz.
— Apenas eu e você? — indago
e ele sorri.
— Eu e você, feiticeira.
E esse será nosso eterno “eu te
amo”.
Fim
Anexo I
[1] Sweet heart: doce coração.
[2] Daddy: papai.
[3] Mommy: mamãe.
[4] Yes: sim.
[5] I love you too: eu também te amo.
[6] I’m ready: eu estou pronto(a).
[7] Let’s go: vamos lá.
[8] I love you: eu te amo.
A quem
amei para sempre
Trilogia Soares – Livro
3
Sinopse

Antonella "Babi" Laira pouco sabe sobre


seu passado, mas tinha a certeza de um futuro
ao lado do amor de sua vida, o qual mesmo
sendo proibido, ela lutaria.
Christopher Soares encontrou em Babi
a oportunidade perfeita para finalmente
concluir seus planos. O que ele não contava era
que no meio do caminho sua maior ambição se
tornaria algo desprezível perto da dor que
causou a mulher que o escolheu.
Segredos serão revelados
Mentiras serão descobertas
Christopher verá a mulher que ama se
afastar em um piscar de olhos.
Será ela capaz de perdoar um amor
falho e se entregar novamente ao homem que
mais a enganou?
Será ele capaz de fazer a escolha certa
entre o amor e a ambição?
Alguns amores valem por uma vida,
outros não passam de uma mentira.
Parte I
“Já estou cheio de me sentir vazio.
Meu corpo é quente e estou sentindo
frio.
Todo mundo sabe e ninguém quer
mais saber.
Afinal, amar o próximo é tão
démodé...”

Legião Urbana - Baader-Meinhof Blues


Prólogo

Antonella (Babi)

.Acordo um pouco desorientada,


sentindo-me completamente fora de
órbita. Foco meus olhos na parede a
minha frente e me sento rapidamente,
tocando de leve o macio lençol e
finalmente me lembrando de onde estou.
É um lindo quarto, o qual agora
se tornou meu. Seguro com força o colar
em meu pescoço e encaro o porta-
retratos que fiz questão de colocar no
criado mudo, eu e Jô - minha mãe.
Ela se foi tão cedo, me deixando
de modo inesperado. Além da dor de
sua perda, tenho que lidar com essa
saudade imensa que me invade a cada
segundo que penso que não a terei mais
ao meu lado.
Aperto com força o pingente em
formato de coração, pendurado em meu
colar, o qual ganhei de Jô em meu
aniversário de quinze anos. Encaro
novamente a foto e divago sobre tudo
que passamos juntas, por ser quem sou
por conta dela.
— Sinto sua falta, mãe. — digo e
limpo uma lágrima que desce.
Recoloco o porta-retratos no
criado mudo e me levanto. Ando pelo
meu mais novo quarto e tento me
acostumar. Mesmo sempre tendo fugido,
tentando não atrapalhar a vida de meu
pai, sei que sempre pertenci de certa
forma a essa casa, a família Soares. Jô
sempre insistiu para que eu deixasse
Caleb contar sobre minha existência,
mas o medo sempre falou mais alto.
Eu evitei ao máximo estar ligada
aos Soares, ainda mais porque o nome
deles é conhecido e não queria trazer
algum problema. Por esse motivo não
carrego o sobrenome deles, escolhi ficar
apenas com o de Jô, pois de qualquer
forma, sentia medo de prejudicar Caleb,
já que ele me deu a opção de escolha em
minha adoção. Porém, ele se tornou meu
pai desde sempre.
Saio do quarto a passos lentos,
encarando o grande corredor repleto de
quartos. Ando devagar por esse,
buscando as escadas. Assim que as
encontro, desço os degraus aos poucos,
analisando pela primeira vez esse lugar.
É uma casa imensa,
perfeitamente decorada e linda. Mas
nunca imaginei que meu pai realmente
moraria aqui, ele sempre foi muito
simples comigo, de forma que não
combina com esse lugar.
Meio confusa chego a sala,
olhando para os lados em busca da
cozinha. Arrisco meu caminho a
esquerda, já que ainda estou meio
perdida, tenho quase certeza de que me
deram algum calmante.
Por sorte chego até a cozinha,
ampla assim como toda a casa e
extremamente luxuosa. Encaro a grande
geladeira de duas portas a minha frente e
abro um pequeno sorriso, lembrando da
frase que Jô sempre dizia
“Precisa ver a enorme
geladeira que seu pai tem em casa,
parece até que estamos no Big
Brother[1].”
Ela sempre comparou tudo aos
seus programas de televisão favoritos.
Abro a geladeira e pego uma
jarra com água. Coloco à jarra em cima
de uma das bancadas e começo a
procurar um copo. Quando finalmente
abro uma porta do armário mais no alto,
acabado tendo que ficar na ponta dos
pés, e vejo os copos. Tento alcançar
algum, mas falho várias vezes.
Resolvo então subir no balcão,
já que parece firme. Subo aos poucos e
consigo alcançar o copo, sorrio por
minha vitória, mas quando menos penso,
sinto meu corpo desequilibrar e
cambaleio pra trás.
— Cuidado. — uma voz
masculina diz e um corpo me segura com
força, o que impede minha queda.
Assim que consigo ficar de pé e
de modo equilibrado, viro-me para o
homem que me ajudou.
Seus olhos são castanhos, de um
modo enigmático, como se escondesse o
mundo neles.
— Obrigada. — digo sem jeito,
pelo olhar intenso que ele me lança.
— Babi, não é? — pergunta e eu
assinto, ainda sem entender como ele
sabe meu nome ou o que faz na cozinha
de meu pai.
— Parece que não me conhece.
— diz e eu assinto. — Nos vimos hoje
mais cedo, ou melhor, ontem, no enterro.
— diz sem rodeios, fazendo meu
estômago embrulhar, por me lembrar
novamente daquele momento.
Na realidade, tenho apenas
flashes de tudo que houve. Consigo
ouvir meus próprios gritos de desespero
nesse instante, assim me inclino para
trás, segurando no mesmo balcão que
subi. Fecho os olhos e coloco o copo no
balcão, tentando afastar esses
pensamentos.
— Ei. — o tal homem diz e eu
não consigo dizer nada.
Dói demais lembrar.
— Sou Christopher. — diz e toca
de leve em meu rosto. Não sei por que,
mas sinto-me segura. — Sou irmão de
Caleb, o mais novo.
Abro meus olhos e ele está bem
próximo. Sinto algo forte em meu peito,
não sei ao certo definir o que é isso.
— Me desculpe. — ele diz de
repente e se afasta um pouco. — Qual o
seu verdadeiro nome? Bárbara? —
pergunta, fazendo-me rir por um instante.
— Meu nome é Antonella. —
digo e ele arregala os olhos. — Babi é
apenas um apelido.
— Estranho. — diz e sorri pela
primeira vez, mostrando um ar de bad
boy[2], desses que vejo em filmes.
— Todo mundo diz. — saio da
frente dele e pego o copo, pegando a
jarra e colocando um pouco d'água. —
Veio ver meu pai na madrugada? —
pergunto curiosa.
— Na realidade não. —
responde e dá de ombros. — Vim ter a
certeza de uma coisa.
— Que coisa? — indago
curiosa.
— De quem é você. — encaro-o
sem entender. — Fiz um julgamento
errado, agora vejo isso.
— Como assim? — pergunto já
perdida.
— Melhor esquecer isso. — diz
e abre um sorriso sem dentes. — Tenho
que ir.
— Ah certo, até mais
Christopher! — digo sem jeito.
— Pode me chamar de Chris. —
assinto. — Até mais, Ella!
Ele então sai de perto, indo em
direção a uma porta que não faço ideia
de onde dá.
Levo o copo a boca e a água
gelada desce por minha garganta. Penso
então que por um instante não pensei em
dor, foquei apenas na conversa com esse
homem.
Isso é estranho, mas ele
despertou algo em mim. Mas não faço
ideia do que seja.
Capítulo 1

Antonella (Babi)

Três anos depois

- Um ano após os acontecimentos do


livro 2

Sinto braços fortes me


envolverem e meu corpo relaxa
instantaneamente ao sentir seu cheiro.
Viro-me ainda bocejando e ele me
aperta ainda mais ao seu encontro.
— Muito trabalho? — pergunto e
ele apenas assente. — O que foi?
— Apenas não acredito que está
mesmo aqui, em meu apartamento... —
passa as mãos de leve em meu rosto. —
Em minha cama.
— Eu disse a você que estaria.
— Você também disse que nos
assumiria e isso ainda não aconteceu,
Ella. — ele de repente se levanta e sai
do quarto no mesmo instante.
Sento-me frustrada na cama e
balanço minhas pernas com raiva. Por
que nossos momentos felizes nunca
duram mais do que cinco segundos?
Sei que sou covarde e que tenho
sido assim por um longo tempo, pra ser
mais exata por praticamente dois anos.
Desde quando ele me roubou um beijo, e
isso se repetiu entre momentos em que
não havia ninguém de nossa família por
perto, e nunca consegui fugi, pois ele
sempre me encontra.
O problema é que não consegui
ainda enfrentar minha família e dizer a
eles que amo meu tio adotivo... Eu
simplesmente não consigo.
Saio do quarto em busca dele, e
como sempre ele está em frente a grande
varanda olhando o movimento do lado
de fora. Ele veste apenas uma calça de
moletom e é impossível não ficar
mexida com sua presença, ele é
intimidante.
— Chris...
— O que inventou dessa vez? —
se vira pra mim. Seus olhos mostram
que sua raiva é ainda maior do que
antes.
— Disse que fui dormir na casa
de Mari e...
— Tem noção que tudo seria
mais fácil se simplesmente enfrentasse
nossa família comigo? — suspira fundo
e se aproxima um pouco. — Tem noção
que suas mentiras e viver essa relação
escondida de todos, pode ser muito pior
que dizer a verdade, Antonella?
— Chris...
— Eu estou cansado de tudo
isso. Estou cansado de não poder te ter
no momento que quero, no momento que
desejamos. — ele toca meu rosto com
cuidado. — Tenho quase 38 anos, Ella,
não sou um moleque que tem de se
esconder dos pais. Porra, eu... — ele se
afasta e vai em direção ao quarto.
Quando volta ele está com uma
camisa e calçou chinelos. Ele pega as
chaves do carro em cima do balcão e
vai em direção a porta.
— Onde você vai? — pergunto
temerosa.
— Para um lugar onde as
pessoas não tenham vergonha de mim.
— Eu jamais tive vergonha de
você Christopher, por Deus, eu só...
— Não consegue admitir para
nossa família e nem para ninguém que é
apaixonada por um cara praticamente
dezoito anos mais velho que você? —
ele joga as chaves longe. — Esse é o
problema, não é? Minha idade? Não sou
bom o suficiente pra você?
— Não coloque palavras na
minha boca. Eu nunca me importei com a
nossa diferença de idade, e você sabe
bem disso. — respiro fundo. — Eu sei
que esperar é cansativo, mas...
— E mais nada, Antonella. —
grita e eu me encolho. — Vou sair
porque já vi que essa discussão não vai
nos levar a lugar algum. Como sempre.
— diz com pesar.
Ele vai até onde as chaves
caíram e sem sequer olhar em minha
direção, sai do apartamento.
Sento-me transtornada no sofá e
fico repensando sobre tudo o que
passamos. Desde o momento que aceitei
finalmente meus sentimentos por ele e
me entreguei a essa relação proibida.
Eu tive medo desde o início de
que fosse uma ilusão e que jamais
funcionaríamos, mas pelo contrário, nós
simplesmente nos completamos.
A diferença de idade nunca foi
um problema para mim, e tenho certeza
que Christopher jamais se importou com
isso. Tanto que nossos gostos, por mais
que seja mais nova, sempre
convergiram.
Por que eu simplesmente não
assumo de uma vez que nascemos um
para o outro?
Algo me prende, tanto dentro de
mim quanto ao meu redor. As únicas
pessoas que sabem sobre nosso
envolvimento são Luna e Felipe, e os
dois me disseram para não me esconder.
Mas eu temo pela reação de meus pais,
temo por talvez ser a culpada de
desestruturar toda nossa família. Eu não
conseguiria viver com essa culpa,
justamente por ter sido eles quem me
salvaram.
Pego meu telefone e disco o
número de Luna, eu preciso da minha
irmã.
— Duas da manhã de um sábado,
é bom ser importante ou...
— Christopher saiu do
apartamento. — seguro as lágrimas. —
Ele não disse nada, mas com certeza não
quer me ver aqui quando voltar.
— O que houve, Babi? — seu
tom muda drasticamente e sei que está
preocupada.
— Ele disse que está cansado de
me esperar e que... — soluço alto. —
Que eu não quero assumir o que temos
por conta da diferença de idade.
— Ele é um idiota. — grita
brava. — Mas você também é.
— Como assim, Lu? — pergunto
confusa.
— Qual é, Babi? Desde que me
contou sobre seu relacionamento
escondido, vocês vivem como se fossem
adolescentes fujões. Christopher já é um
homem feito, com certeza quer a mulher
que ama ao lado dele no dia que assumir
a presidência.
— Mas...
— Mas nada Babi, você tem que
se decidir. Você pode ficar com
Christopher e assumir o que tem, ou abra
mão do homem que ama e deixe com que
ele siga em frente. A escolha é sua.
Suas palavras me paralisam e só
então sinto a dor de perdê-lo. Imagino-o
com outra mulher... As suas mãos, seus
beijos pertencendo à outra pessoa... Isso
me corrói só de pensar.
— Babi?
— Eu não consigo imaginá-lo
com outra pessoa que não seja eu, muito
menos imaginar meu futuro sem ele. —
confesso decidida.
— Então já sabe o que fazer. —
diz e logo nos despedimos.
Vou até o seu quarto e me deito
novamente na cama. Pego meu celular e
olho as várias fotos e vídeos que tenho
de nós. Coloco o vídeo mais lindo que
tenho, o qual ele fez quando me pediu
em casamento há duas semanas... O
pedido que aceitei, mas nunca mais
falamos sobre, já que ele ficou magoado
por mesmo tendo dito "sim" eu não ter
contado a nossa família a respeito.
Escuto barulho vindo da sala, e
sei que ele está de volta. Não esperava
que ele já voltasse, dói só imaginar que
tudo possa estar mesmo acabado.
Levanto-me da cama e vou até a sala.
Vejo-o entrando na cozinha, e ouço o
barulho da geladeira sendo aberta.
Vou até o balcão da cozinha e me
escoro sobre ele, vendo-o concentrado
em beber um copo d’água. Sua cabeça
está baixa e tenho certeza de que está
chateado apenas pelo modo como coça
fortemente a nuca. Tão bravo, tão meu.
— Chris. — o chamo e ouço seu
suspirar fundo.
— Eu não vou mais discutir,
Ella. Hoje não.
Vou até ele e toco de leve sua
cintura. Ele se vira e me encara, antes
que ele diga algo, beijo-o e ele
corresponde com fervor.
Assim que nos afastamos, seus
olhos castanhos parecem perdidos e ele
se afasta.
— O que significa isso, Ella? —
pergunta incerto.
— Sim.
— O que? — pergunta sem
entender.
— Eu aceito seu pedido. — digo
e ele me pega no colo no mesmo
instante.
— Repete, por Deus, repete
isso! — diz em um sussurro.
— Eu vou me casar com você,
na semana que vem se quiser. — ele
arregala os olhos, claramente incrédulo.
— Eu te amo, Chris.
— Você não sabe o que isso
significa pra mim Ella, não sabe quanto
sonhei... Deus, eu não consigo pensar em
mais nada. — diz com um sorriso nos
lábios.
— Vegas, baby? — pergunto
brincando e seu semblante muda de
repente, como se realmente cogitasse a
ideia.
— Com toda certeza, baby. —
sussurra próximo ao meu rosto. — Em
uma semana estaremos em Vegas e você
será minha esposa.
— Está falando sério? —
pergunto surpresa.
— Como nunca falei antes. —
acaricia meu rosto. — Quero que seja
minha oficialmente antes de assumirmos
o que temos, assim ninguém poderá nos
separar, mesmo que queiram.
Suas palavras me chocam e só
assim me lembro do real motivo de não
tê-lo feito meu antes.
— Eu tenho medo, Chris. — o
abraço em busca de proteção.
— Não precisará ter, pequena.
Se for necessário, seremos nós dois
contra o mundo.
E assim me entrego ao abraço e
ficamos perdidos um no outro. Só quero
estar certa sobre minha decisão, que eu
realmente possa ser feliz ao lado do
homem que amo.
Capítulo 2

Antonella (Babi)

Enrolo meu corpo ainda mais


nos lençóis e sorrio sozinha ao me
lembrar das últimas horas. Encaro o
rosto tranquilo de Christopher e passeio
meus dedos levemente por sua face.
— Tão lindo. — sussurro
baixinho.
Continuo passeando as mãos por
seu rosto e chego até seus cabelos
castanhos bem cortados. Os fios lisos
caem perfeitamente em cascatas em sua
testa, como se ele os tivesse arrumado
desta forma.
Fico explorando suas marcas
enquanto ele dorme, me perguntando se
o que estamos fazendo é o correto ou
não. Se deveria mesmo ter concordado
em me casar com ele sem contar a
ninguém.
Desço minhas mãos até seu peito
e meu corpo estremece pelo calor que
emana de sua pele. Esse desejo
incontrolável que sinto por ele, apenas
faz com que todos meus pensamentos
racionais dissipem. Quero tocá-lo,
quero tê-lo.
— Abusando de mim? —
pergunta de olhos fechados e paro com
minha mão no cós de sua calça de
pijama.
Antes mesmo que eu possa
responder, seu corpo grande cobre o
meu e ele me ataca em um beijo feroz.
— Chris...
— Fizemos uma promessa, Ella.
— raspa os dentes em meus lábios. —
Não me obrigue a ter de quebra-la.
Do mesmo modo que subiu em
cima de mim, ele sai de repente e vai em
direção ao banheiro.
— Cretino! — grito transtornada
e consigo ouvir sua gargalhada de longe.
Deito-me novamente no
travesseiro e lembro-me de todas as
promessas que fizemos. Christopher já é
um homem vivido e tenho certeza que
várias mulheres passaram por sua cama,
claramente o oposto de mim. Eu nunca
pensei em esperar até o casamento para
isso, mas ele quis assim. Disse que eu
mereço isso. Mesmo sem entender muito
bem, resolvi atender seu pedido. Não
me matará esperar um pouco mais.
Minutos depois ele sai do
banheiro. Apoio meu cotovelo no
colchão e o assisto desfilar com apenas
uma cueca pelo quarto. Todos os
músculos parecem esculpidos e seguro
minhas mãos para não tocá-lo a todo o
momento – ele é lindo.
— Gosta da visão? — pergunta
convencido e eu reviro os olhos.
Levanto-me e vou em direção ao
banheiro. Antes que eu chegue até a
porta, ele me puxa pela cintura e me
beija com carinho.
— Não demore. — diz e passa
as mãos de leve pelo meu rosto.
Apenas sorrio e ele me solta.
Entro no banheiro e não consigo
esconder o sorriso bobo em meu rosto.
Christopher é romântico e decidido, de
um modo que me faz querer beijá-lo por
horas. Seus gestos, olhares, caretas, até
seus enigmas me fascinam. Antes, eu
tinha medo por estar tão apaixonada
assim, e ao mesmo tempo sou feliz por
ter a sorte de ele me corresponder.

***

— Então não precisamos sair do


país para nos casar sem que ninguém
saiba? — pergunto e Chris nega com a
cabeça. — Mas como?
— Tenho vários contatos Ella, e
um deles inclui meu advogado Eduardo.
Antes que pense que ele pode contar
algo a Caleb, tenha certeza de que não.
Conheço Eduardo desde sempre, somos
amigos há anos... Ele sabe sobre nós e
me ajudou com toda papelada
necessária. — ele diz e fico
boquiaberta. — Eu jamais a levaria para
uma capela e deixaria que Elvis a
acompanhasse até o altar! Jamais! — diz
nervoso, fazendo-me rir. — Quero que
saiba que se estamos fazendo isso às
pressas é porque se tornou extremamente
necessário, mas você terá seu casamento
dos sonhos. Terá o que é seu por direito,
baby.
Suas palavras me pegam de
surpresa, pois nunca cogitei a
possibilidade de um casamento de
princesa, muito menos com ele. Não
posso negar que sou romântica até o
dedinho do pé e a convicção em suas
palavras me emocionam por completo.
Mesmo nunca tendo dito, eu sei que ele
me ama.
— Tudo bem, querido. — digo e
ele sorri. — Podemos assinar agora?
Ele sorri levemente e me encara
com um pouco de deboche.
— Não, baby. Mas pensei em
começarmos com o correto. — diz e se
afasta um pouco, ajoelhando-se a minha
frente, no tapete da sala.
— Como assim? — pergunto
surpresa e assustada com sua atitude.
— Eu não posso ainda vê-la
entrar num belo vestido branco, ou até
mesmo dançar a primeira dança na
frente de todos. Mas eu quero que isso
seja real Ella, como sempre foi pra mim.
— ele tira algo do bolso e logo noto ser
uma caixinha de veludo. Levo às mãos a
boca e lágrimas já se formam em meus
olhos. — Quando a pedi em casamento
pela primeira vez, lhe fiz um vídeo e
coloquei pétalas espalhadas pelo
apartamento, porém faltou algo. — ele
abre a caixinha.
— Chris, meu Deus! — exclamo
ao ver a aliança repleta de pequenos
diamantes.
— Eu espero ter acertado, baby.
— sorri sem jeito. — Aceita ser para
sempre minha, senhorita Laira? —
pergunta galanteador.
Sorrio emocionada e lhe estendo
a mão. Ele coloca a aliança com um
pouco de dificuldade, pois minha mão
está trêmula. Assim que ele coloca,
beija com carinho minha mão e sorri.
Sem conseguir acreditar, jogo-
me em cima dele e caímos em cima do
tapete.
— Eu te amo. — digo repetida
vezes, beijando seu rosto, sua boca, seu
pescoço. — Eu te amo, baby.
Ele segura meu rosto e me olha
profundamente. Dedilhando de leve com
a mão esquerda meus lábios, onde sua
grossa aliança dourada brilha.
— Meu? — pergunto e uma
lágrima desce, mesmo tentando evitar.
— Sim, apenas seu. — diz e me
beija.
Fico ali, perdida em seus braços.
Apenas nos separamos para recuperar o
fôlego, e fico boba por cima de seu
corpo, sem conseguir acreditar que
realmente fiquei noiva.
— Pensei em fazermos uma
breve viagem, ao interior de São Paulo,
para podermos nos casar lá, sem correr
risco algum. — assinto de imediato,
aliviada por ele não pedir para nossa
família estar junto. — Tem certeza?
— Absoluta, amor. — sorrio e
beijo levemente seus lábios.
— Você me faz o homem mais
feliz, Ella. — diz e suspira fundo,
fechando os olhos castanhos, os quais
tanto amo, por alguns segundos.
— E você me faz a mulher mais
feliz também.
— Agora será apenas minha,
baby. — vira-se sobre mim e me puxa
pra cima, me ajudando a levantar.
Ele vai até o som e uma música
invade o ambiente. Assim que escuto a
primeira melodia da canção, choro
ainda mais em meio a um sorriso.
— Me concede essa dança,
baby? — ele me estende a mão e aceito
de bom grado.
Seu corpo grande me envolve e
encosto a cabeça em seu peito.
— Você se lembra mesmo da
música, não é? — pergunto.
— Como esqueceria de você
cantando pra mim, Ella? — nossos
olham se encontram. — Você cantou
essa música em um almoço de família,
uma mensagem implícita sobre nós dois.
Foi nesse dia que tive a certeza de que
valia a pena.
— Valia a pena o que? —
pergunto emocionada me lembrando
daquele almoço.
Cantar Secret Love Song[3] para
ele, fez todo sentido pra mim. Pois essa
música nos traduzia e ainda traduz
perfeitamente.
— Ser apenas seu.
Nossos lábios se unem em um
beijo apaixonado e minhas mãos
adentram seu cabelo, puxando-o ainda
mais pra mim.
— “Eu gostaria que pudesse ser
assim. Por que não podemos ser assim? Porque
eu sou sua.”[4] — canto junto a música em
seu ouvido e o sinto estremecer.
A música continua a nos embalar
e não consigo pensar em outra coisa que
não seja a aliança em meu dedo anelar
esquerdo. Eu estou noiva do homem que
amo e irei me casar em breve com ele.
Por ora, deixarei nossos impasses do
lado de fora desse apartamento.
Capítulo 3

Antonella (Babi)

Alguns dias depois

— Serão apenas três dias, pai.


— digo, forçando um sorrindo, não
querendo transparecer minha omissão.
— Mas por que ir buscar
referências de design no interior? —
indaga curioso e eu fico sem fala.
Não vai ser fácil enganá-lo.
Felizmente a porta da minha pequena
sala se abre.
— Sabia que iria encher a
menina, irmão. — ouço a voz de Chris e
fico ainda mais nervosa. — Eu também
vou nessa viagem, a empresa tem
negócios no interior paulista, ou acha
que apenas fazemos propaganda para
cidades grandes? — debocha e meu pai
o encara inquisitivo por alguns
segundos.
— Ok. — meu pai diz por fim e
dá de ombros. — Sei que já é de maior
e toma suas próprias decisões, pequena,
mas não consigo não me importar.
— Eu entendo, pai. — digo e me
levanto da cadeira, indo até ele e o
abraçando. — Eu te amo ainda mais por
isso.
— Também te amo, pequena. —
diz e beija meus cabelos. — Só vim
falar com você sobre isso, pois
estranhei ter dito apenas a sua mãe.
— Pare de ser ranzinza, Caleb.
A idade só o deixa pior. — Chris
interfere, desviando a atenção de meu
pai, que vai até ele e lhe dá um soco no
ombro. — Droga!
— Pra ter ainda mais certeza
sobre minha idade. — meu pai sorri
satisfeito enquanto Chris passa a mão
pelo ombro. — Um bom estágio, filha.
Depois me conte ao certo quando vão.
— Pode deixar. — digo e ele
assente, saindo de minha sala.
Encaro a porta sendo fechada e
logo desvio minha atenção para Chris.
Ele sorri como sempre enigmaticamente
e solto o ar que tanto segurei.
— O que faz aqui? — pergunto,
indo até minha cadeira e me apoiando
pelos cotovelos na mesa.
— Um passarinho me contou que
Caleb estava aqui e resolvi saber o por
que. Ele quase nunca vem à empresa.
Fico ainda mais nervosa, pois
sei que é verdade. Meu pai nunca se
envolveu muito com os assuntos da
empresa de meu avô, sequer gosta de
algo relacionado a isso. Por isso,
quando ele apareceu em minha pequena
sala hoje, fiquei completamente sem
jeito.
Meu estágio aqui é por apenas
algumas horas, já que minha faculdade é
basicamente integral. Mas em
praticamente dois anos de estágio, ele
quase nunca apareceu aqui.
— Ele está desconfiado de algo.
— digo e Chris assente, vindo até mim,
encostando contra a mesa, encarando-me
de forma relaxada.
— Logo ele vai saber de tudo,
Ella. — diz e me força a levantar,
trazendo meu corpo para próximo do
dele. — Sabe que tudo seria mais fácil
se tivesse nos assumido antes, não é?
— Eu sei. — digo vencida,
tocando seu peito. — Vou falar com
eles, assim que voltarmos.
— Fico feliz em saber disso,
baby. — sorri e toca de leve minha
cintura. — Vou deixá-la trabalhar.
Ele beija de leve meus lábios e
logo se afasta.
— Esse fim de semana tudo se
resolverá, fique tranquila. — diz e eu
assinto, ainda preocupada. — Tem
certeza que quer ir comigo?
— Por que não iria ao nosso
casamento? — pergunto em deboche e
ele faz sinal de negação com a cabeça.
— Te busco amanhã cedo em sua
casa. — diz e eu assinto. — Se cuide,
baby.
Ele meneia a cabeça e sai da
sala, deixando-me ainda mais perdida
em pensamentos.
Após ter aceitado seu pedido de
casamento, Chris começou a preparar
tudo e me surpreendeu com a rapidez de
conseguir um casamento em cartório
para nós, só que isso, no interior de São
Paulo, onde ninguém poderá desconfiar.
Sei que ele fez por bem, mas
mesmo assim, sinto-me insegura com
isso. Eu o amo, mas ainda tenho medo
da reação de meus pais.
Abro minha primeira gaveta e
encaro a aliança ali guardada. Toco-a de
leve e levo até meu dedo anelar
esquerdo. Nós dois ainda não podemos
usar as alianças, pois claro que alguém
veria, mas sei que quero a aliança aqui,
mostrando que sou dele.
Ouço batidas na porta e retiro-a
rapidamente, colocando na gaveta
novamente.
— Entra.
A porta se abre e o rosto de meu
irmão surge. Lipe sorri espontaneamente
como sempre. Quem não o conhece ao
certo, classifica-o como arrogante ou até
mesmo antipático, porém meu irmão
apenas é tímido, e demonstra pouco suas
emoções.
— O que o garoto do direito faz
em minha sala? — pergunto brincando e
ele se senta na cadeira a minha frente,
ainda sorrindo.
— Mamãe mandou eu seguir
nosso pai. — diz e eu arregalo os olhos.
— Fiquei escondido no corredor,
esperando os gritos dele caso
encontrasse você e Chris.
— O que? Como assim? —
pergunto sem entender.
— Nossa mãe sabe sobre vocês,
apenas não confirmou em palavras. —
ele dá de ombros, encostando-se na
cadeira. — Ela viu que ele estava
desconfiado sobre sua viagem repentina
com a empresa, e me ligou para vir até
ele e evitar uma tragédia.
— Por que não me avisou, Lipe?
— pergunto incerta. — E se nosso pai
entrasse na sala e me visse com Chris
aqui, de modo mais...
— Por favor, Babi, não me faça
brigar com você. — diz mudando o
semblante, parecendo nervoso. —
Nosso pai vai descobrir de alguma
forma, e já que não conta, ver vocês
dois é uma delas.
— Felipe, isso não te diz...
— "Não me diz respeito?" —
pergunta com deboche e eu mal o
reconheço, Felipe parece estressado. —
E todas as vezes que encobri você para
sair de casa? Acha que não sinto que
engano nossos pais também?
— Ei. — digo, encarando-o
incrédula. — O que foi que houve? —
pergunto e ele apenas bufa.
— Olha, desculpa. — diz e
passa as mãos pelos cabelos.
Ele se levanta de repente e vem
até mim, dando-me um abraço.
Sinto a tensão em seu corpo e um
estalo vem em minha mente.
— Ela não te reconheceu
novamente? — pergunto e ele se afasta,
negando com a cabeça.
— Acho que nunca vai
reconhecer. — diz com pesar e eu
assinto. — Desculpa ter descontado em
você isso.
— Está tudo bem, Lipe. — digo
e sorrio. — Não está errado sobre o que
disse, só seu tom que me surpreendeu.
— Estamos perdidos nessa
merda toda. — diz e eu gargalho.
Lipe quase nunca diz palavrão
ou alguma palavra como "merda".
Quando diz é impossível não gargalhar.
— Com certeza estamos.
Encaro meu irmão e noto que seu
olhar parece perdido como o meu. Mas
ao contrário de Lipe, eu tenho a chance
de ficar com a pessoa que amo agora,
pois sei que Chris me ama também. E de
certa forma, sei que devo aproveitá-la.
Pois depois que nos casarmos, por mais
que tudo seja difícil, ninguém poderá
nos separar.
Capítulo 4

Christopher

Dias depois

— Sim. — Antonella responde


emocionada, e eu tento mudar meu
semblante, demonstrar algo, porém algo
dentro de mim se remexe no mesmo
instante.
O que está havendo afinal?
A mulher a nossa frente diz algo,
mas eu consigo apenas encarar Ella. O
modo fascinado com o qual me olha,
quebra-me, de uma forma que nunca
imaginei. Há algo errado comigo.
— Eu os declaro casados. — a
juiz de paz diz e eu solto uma lufada de
ar.
De canto de olho, vejo meu
melhor amigo e cúmplice de tudo isso –
Eduardo – olhando-me como se
finalmente tivesse feito algo certo. Ele
então meneia a cabeça e só assim me
lembro de que é a hora do simples beijo.
Viro-me para Antonella e toco
levemente seu rosto macio, sua pele
pálida está um pouco avermelhada e
uma lágrima desce por seu rosto. Ela se
aproxima de mim e toca minha barba por
fazer.
— Eu te amo, baby. — diz e
forço um sorriso.
Sem dar a ela tempo para
questionamentos, beijo-a de leve nos
lábios, apenas para ouvir um simples
grito de meu amigo e palmas das outras
testemunhas que consegui, pessoas
aleatórias que aceitaram dinheiro em
troca de reconhecer meu casamento.
Bom, da parte do dinheiro, Antonella
não faz ideia.
— Vamos? — pergunto após
tudo estar devidamente assinado e ela
assente sorrindo.
Saímos do cartório da pequena
cidade e seguimos até o meu carro.
Deixei tudo planejado e bem
arquitetado, sem chance de erros ou
interferências. Porém, a desconfiança
que Caleb demonstrou há alguns dias,
fez com que ficasse mais atento, pois
mesmo que o casamento agora esteja
feito, falta muito para conseguir o que
realmente quero.
— Tão calado, senhor Soares.
— Ella brinca e me encara como
sempre, com um encanto no olhar.
Desde quando nos conhecemos,
ela me olha assim. Sem contar o dia
tórrido do enterro de Jô, o momento em
que a encarei pela primeira vez de fato –
na penumbra da noite na cozinha da casa
de meu irmão – vi a mesma adoração em
seus olhos, um brilho sem igual, algo
que mexeu comigo, dando-me a certeza
que era apenas uma menina frágil.
Frágil e extremamente valiosa.
Dirijo em silêncio, com uma das
mãos na coxa esquerda de Ella. Ela
canta uma música baixinho, enquanto
encara a aliança em seu dedo anelar
esquerdo. Ela realmente parece feliz,
enquanto eu, nunca estive tão perdido.
Assim que estaciono em frente a
nosso hotel, dou a volta no carro e abro
a porta pra ela. Antonella sorri pra mim
e beija levemente meus lábios, algo que
ela jamais fez tão espontaneamente e
sem parecer com medo.
— Está pensando muito. — diz,
surpreendendo-me.
— Apenas quero curtir nosso
dia, baby. — dou-lhe meu melhor
sorriso e ela me encara desconfiada.
Desde quando ela consegue ver
através de minhas feições?
Subimos no elevador em
silêncio, porém o corpo de Ella está
envolto pelo meu, de forma que me fez
respirar no mínimo cem vezes para que
não faça alguma besteira. Estou adiando
esse momento há dois anos, mas hoje,
sei que não terei como, porém planejei
até esse detalhe.
Abro a porta pra ela, a qual
estaca no lugar, olhando-me em
expectativa. Sem entender seu olhar,
adentro o quarto e ela logo também
entra. Noto que ela não está tão bem...
— Parece decepcionada. —
instigo e ela dá de ombros, mexendo em
algo atrás do vestido, ou ao menos
tentando.
— Pra ser sincera, nunca
imaginei que seria assim. — diz com
pesar.
— Como assim? — pergunto
sem entender e retiro meu terno.
Mesmo sendo apenas um
casamento no civil, Ella praticamente
me intimou a estar vestido a caráter.
— Flores, corações, romance,
pétalas de rosa... Palavras, amor,
paixão... — ela suspira fundo e não me
olha, apenas caminha até o outro lado do
quarto, em direção a uma pequena
sacada. — Em vez de tudo isso, um
hotel, uma cidade desconhecida, sem
minha família e principalmente...
Antes que ela possa dizer mais
alguma coisa, vou até ela e a puxo para
meus braços.
— Você me tem, Ella. — toco
seu rosto com leveza. — Isso não é o
bastante? — pergunto, sentindo
novamente aquela sensação de
desconforto.
— É. — diz simplesmente e toca
meu rosto. — Sempre será.
Sua pele alva brilha com a
pequena fresta de luz que passa pela
janela, os seus olhos parecem me
desnudar e sinto minha pele queimar.
Sem conseguir resistir, toco seus
cabelos presos em um coque alto e puxo
a presilha, fazendo com que os fios
pretos e lisos caiam em cascata sobre
suas costas.
— Linda. — digo sem pensar, e
só assim noto que fui sincero.
Não as mentiras que disse
durante esses dois anos... Mas sim, a
verdade. Antonella é linda e uma mulher
que realmente me enlouquece com sua
ternura e olhar arrebatador.
Ela abre a boca pra dizer algo,
porém, toco seus lábios com meus
dedos, explorando sua boca. Ela solta
uma pequena lufada de ar e já noto suas
bochechas coradas, como se estivesse
esperando por isso há muito tempo. E só
assim percebo, que eu também a espero.
Esperei ardentemente o dia de poder tê-
la completamente para mim, mesmo
sabendo que jamais iria o fazer.
Como se o time[5] combinado
fosse perfeito, meu celular toca alto,
quebrando nosso momento. Ella me
encara decepcionada, mas se afasta,
voltando a encarar a sacada.
Vou até meu terno e tiro de
dentro dele meu aparelho. Não preciso
sequer olhar pra saber quem é que liga,
mas mesmo assim, faz parte de toda essa
encenação.
— Alô. — digo e respiro fundo,
tentando controlar a vontade de jogar
esse celular fora e trazer a mulher que
tanto quero para os meus braços.
— E aí? Perfeito, não? —
Eduardo pergunta e ouço sua risada. —
Hora de arrasar na encenação, meu
amigo. Boa sorte!
— O que? — praticamente grito,
fazendo com que Ella se vire pra mim.
Hora do show!
— Não quero saber disso, Peter!
— grito. — Eu estou ocupado, não
posso... Olha, eu... — desligo o celular
e jogo na cama, depositando toda minha
falsa raiva nesse ato. — Merda! — digo
e levo as mãos aos cabelos, fingindo
nervosismo e preocupação.
E pelo olhar de Ella, ela caiu
nisso.
— Algum problema, Chris? —
pergunta e se aproxima de mim.
— Uma conta que precisa ser
analisada e o dono dela, quer que o
presidente o atenda amanhã. — digo e
fecho os olhos, aguardando ansioso pro
sua resposta.
— Mas amanhã é domingo e...
Como chegará a tempo no Rio? E por
que esse cara não espera até a outra
semana? — ela começa a dizer várias
coisas, e eu apenas me afasto, indo até a
cama e me sentando.
— É um cliente antigo, que exige
esse tipo de tratamento. Ele sabe que já
sou o presidente, mesmo que ainda não
tenha tido a festa de posse, enfim... —
digo e ela me olha com pesar. — Não
quero perder o pouco tempo que temos
juntos. — jogo meu melhor charme e ela
apenas suspira fundo, abaixando a
cabeça.
Parada, vestida de noiva, com
um simples vestido branco, olhando
para os próprios sapatos também dessa
cor. Tento evitar o sentimento que se
apodera de mim, porém é impossível,
desejo é o que sinto. Caso Eduardo não
tivesse acertado no tempo, sei que teria
feito algo que me arrependeria, teria
feito-a minha.
— Ok. — Ella diz de repente. —
Nunca quis ter uma lua de mel escondida
em um hotel da cidade que sequer sei o
nome. — diz e noto sinceridade em suas
palavras.
Ok, minha veste de homem
romântico e sedutor parece estar
falhando. Merda!
— Baby, eu não queria magoá-la
e...
— Esqueça isso. — diz e vem
até mim. — Se eu tivesse tido coragem
antes e contado a nossa família, vejo
agora que tudo seria mais fácil. Se eu
ficar mais um segundo nesse hotel, a
culpa que sinto só vai aumentar. Preciso
ir pra casa, pensar no que fazer.
Assusto-me com suas palavras,
então me levanto, indo até seu encontro.
— Só quero sua felicidade,
baby. — forço um sorriso e ela desvia o
olhar. — Ei. — ela então me encara. —
Quero ser o homem que merece.
— Você já é, Chris. — ela
respira fundo e sorri de lado. — Mas
agora, depois do que fiz, nada mais faz
sentido.
— Como assim? Se arrependeu
de casar comigo? — pergunto assustado.
Temendo que ela use a palavra
"divórcio".
— Não, baby. Apenas de não ter
meu pai ao meu lado, um caminho para
percorrer com ele até você, nossa
família assistindo tudo... Foi tudo tão
vazio sem eles, não acha? — pergunta, e
mesmo sem sentir nada do que ela diz,
assinto.
— Vai se sentir completa, baby.
— toco seus cabelos. — Prometo a
você, tudo será pleno em breve. —
minto, e ela se aconchega em meu peito.
Um misto de sentimentos se
apodera de mim, mas no fim, sei que
minha ambição é maior que tudo. Se
tudo correr tão bem quanto correu até
agora, logo terei o que sempre almejei, e
praticamente tudo, devo a Ella. Mesmo
sabendo que algo está mudado, os
planos seguem como planejado. Eu terei
tudo.
Capítulo 5

Antonella (Babi)

Ando pelas ruas, ainda um pouco


acanhada. Algumas pessoas mais velhas
passam por mim e me cumprimentam
com carinho, dando um simples e
sincero sorriso. Tão diferente do que
estou acostumada no dia a dia, algo
como ter uma palavra amiga para
começar mais um dia. E para todo lugar
que vou por aqui, encontro alguém que o
faz.
É uma pequena cidade, chamada
Águas de Lindoia, e que com certeza
vive do turismo, já que há vários hotéis.
Christopher voltou para o Rio ontem,
sábado, após a ligação de alguém da
empresa. E eu, resolvi ficar, já que não
quero levantar as suspeitas de meu pai e
muito menos, deixar que ele veja a
aliança já colocada em meu dedo.
Sento-me no banco do que
parece ser a praça e pego meu celular,
vejo que há mensagens de meu irmão e
de minha melhor amiga, porém resolvo
não responder. Christopher não mandou
nada, mas tenho certeza que está
ocupado com o tal cliente, o qual, nesse
momento, não consigo não odiar.
Encosto-me no banco de pedra e
encaro alguns casais que passeiam de
mãos dadas por aqui. Eles sorriem um
pro outro, como se guardassem algum
segredo, algo apenas deles. E agora,
depois de dois anos, me escondendo e
ao mesmo tempo demonstrando meu
amor a Chris, não sei mais se o que fiz
foi correto. Já que o casamento dos
sonhos, o qual antes nem sabia que
queria, se tornou apenas uma união
civil... A lua de mel ao lado do homem
que amo, se tornou eu em uma pequena
cidade e ele no trabalho... Nada como
um dia imaginei, e sei que tenho uma
parte de culpa disso.
Sinto meu celular vibrar e noto
ser Felipe.
— Muito ocupada? — pergunta
antes mesmo que eu possa dizer algo e
estranho seu tom de voz.
— O que houve, Lipe? —
pergunto sem entender.
— Bom, ouvi nosso pai
comentando que Chris voltou antes,
mas que quer saber o porquê de você
ainda não ter voltado.
— Mas eu estou trabalhando,
Lipe. — minto e ouço sua risada.
— Qual é, Babi? Eu te conheço.
Volte pra casa o quanto antes e... Bom,
dê um jeito de trazer algum trabalho
feito aí.
— Mas Lipe, papai pode
desconfiar ainda mais se eu voltar, pode
achar que eu não vim fazer nada...
— Olha. — diz de repente,
cortando-me. — Ele me perguntou se
você tem namorado. Ele está possesso
de ciúmes, Babi.
— Merda! — digo incrédula. —
Vou para o hotel arrumar minhas coisas.
— Me diz, você não... — ele
para de falar de repente, deixando o
silêncio entre nós.
— O que foi? — pergunto.
Já me levanto e caminho em
direção ao hotel novamente.
— Não fez nada que possa se
arrepender, não é? — pergunta e fico
sem entender. — Eu ouvi uma conversa
sua com Christopher, sobre casamento
e...
— Lipe. — chamo sua atenção.
— Juro que foi sem querer. Eu
estava indo no seu quarto e...
— Ok. — digo por fim. — Mas
eu não posso mentir pra você.
— Babi. — diz em tom duro,
fazendo-me sentir ainda pior que antes.
— Eu me casei. — digo e
desligo o celular.

***

Um dos motoristas da empresa


sorri pra mim e eu coloco minha mala no
porta-malas do carro. Sento-me no
banco passageiro e ele não diz nada,
como sei que faria. Os seguranças de
minha família são discretos a respeito
de tudo, ainda mais depois de tudo que
houve há alguns anos.
Pego meus fones de ouvido e
seleciono uma playlist um pouco mais
animada. Say my name da Beyonce
embala meu momento, e me seguro para
não cantar alto. Encosto a cabeça no
vidro do carro, e mando uma simples
mensagem para Christopher, o qual
sequer está online e muito menos
visualiza.
Sinto um aperto no peito, com o
decorrer das horas na estrada, encaro
meu celular e vejo que Christopher
visualizou, mas também não respondeu.
Tiro o fone e ligo pra ele. Toca, toca,
toca... E a ligação então cai. O aperto
em meu peito apenas aumenta, e sequer
posso ligar pra alguém e pedir para que
veja se está tudo bem, sem que isso
levante alguma suspeita.
Respiro fundo algumas vezes e
começo a indagar-me sobre como Chris
conseguiu fazer tudo isso escondido de
todos. Como será que esse motorista não
passará um relatório sobre nós para
Isaac, sendo que ele, como todos os
outros, são obrigados a fazer isso?
Como ele conseguiu as testemunhas tão
rapidamente? Tantas perguntas que antes
nem cogitei, e agora martelam em minha
mente.
Mente e peito apertados. Sinto
algo errado, algo estranho. De forma que
senti apenas uma vez na vida. Quando
fui acordada no meio da noite por um
homem estranho, no orfanato em que
vivia... Jogo esses pensamentos pra
longe, já que tudo que trazem é tristeza.
Encosto novamente a cabeça no
vidro do carro e começo a praticamente
contar os minutos para chegar em casa,
já que terei de ir ver minha família antes
de ver Chris.
As horas intermináveis passam,
e eu finalmente respiro fundo, assim que
o motorista para em frente a minha casa.
— A senhorita precisa descer
aqui, foi o combinado com o senhor
Christopher. — o motorista diz,
surpreendendo-me. — Diga a sua
família que veio de táxi.
— Mas... — apenas assinto, já
que o homem sai do carro e tira minha
mala. — Ok, então. Obrigada.
Fico em pé, fora do carro com a
mala em mãos e logo o carro
desaparece.
Aperto o interfone de casa e em
poucos segundos os seguranças liberam
minha entrada. Só assim percebo, que
aquele homem, comigo no carro, não
deve ser um deles. Com certeza, Chris o
contratou por fora, já que não queria
levantar suspeitas. Isso só piora.
Assim que entro em casa,
encontro meus pais deitados no sofá,
abraçados um ao outro. Sorrio da cena,
pois nunca vi pessoas tão apaixonadas
como os dois.
— Olhe só, a filha pródiga. —
meu pai diz, e minha mãe o cutuca com o
cotovelo, levantando-se.
— Caleb. — chama sua atenção,
e felizmente, meu pai sorri.
O que demonstra que tudo ainda
está bem.
Mamãe se aproxima de mim e
segura com força minha mão esquerda,
tirando de meu dedo algo que eu sequer
me lembrei que estava ali. Ela então me
abraça com carinho e sussurra em meu
ouvido:
— Pegue comigo depois.
Ela se afasta e eu sorrio, mas sei
que a qualquer momento vou desabar na
frente deles. Como não percebi que a
aliança estava em meu dedo? Meu Deus!
E se meu pai visse isso?
Porém, meu pai vem até mim e
me abraça, com toda força de sempre.
Praticamente, esmagando-me.
— Pai. — digo, tentando
respirar.
Ouço sua risada e ele me solta,
tocando meus cabelos.
— Quero seu namorado em
nossa casa, o quanto antes. — diz sério
e eu arregalo os olhos. — Nada de
viagens inusitadas, e ainda mais, usar
seu tio para te acobertar.
— Mas pai... — tento
argumentar, porém ele balança a cabeça,
um gesto claro de que ainda não parou
de falar.
— Eu estou feliz por você, juro.
— diz e sinto-me ainda pior. — Só não
minta mais pra mim.
— Ok. — digo sem jeito, e ele
beija minha testa, afastando-se.
— Bi! — ouço o grito de Miguel
e me viro.
Ele vem nas costas de Lipe, o
qual claramente estava correndo com ele
no jardim.
— Oi, Mi. — digo e ele
praticamente pula de cima de nosso
irmão.
Ele vem até mim e pula em meu
colo.
— Quero filme! — pede
animado e eu não consigo negar nada a
seus olhinhos azuis brilhantes.
— Ok. — mamãe diz e vem até
mim, pegando Miguel de meu colo. —
Depois diz que não é mais bebê.
— Não sou, mãe. — ele
responde e faz bico, como sempre.
— Lipe, vamos pegar comida.
— meu pai diz e passa por nós, indo até
a cozinha com meu irmão.
Fico então com minha mãe e
Miguel na sala, sentados no enorme
tapete.
— Não faça mais isso com ele,
Babi. — diz com pesar. — Ele não
merece.
Respiro fundo e seguro uma
lágrima que quer descer. Esqueço-me
nesse momento de minha preocupação
com Chris e apenas foco em minha mãe,
a qual parece decepcionada.
— Eu sinto muito. — digo e ela
força um sorriso.
— Eu também, filha.
Fico ali, parada por alguns
instantes, sem saber como agir. Miguel
fala comigo e só assim sorrio um pouco.
Mas a decepção estampada no rosto de
minha mãe e o pior, o que em breve
poderei ver no rosto de meu pai, faz meu
coração afundar no peito.
Eu tenho o homem que amo, e
mesmo assim, pareço ter perdido tudo.
Capítulo 6

Antonella (Babi)

Coloco meus brincos em frente


ao espelho, e encaro-me por alguns
instantes. Não sei por que, mas as
últimas horas fizeram com que eu sequer
me reconheça, como se tivesse me
tornado uma pessoa diferente. Tentei ao
máximo ontem a noite não demonstrar
minha tensão próxima a minha família,
já que todos estavam tão animados
assistindo filmes. No caso, a culpa de
ter escondido tudo de minha família, faz
com que sofra, e é um sofrimento que
pode trazer ainda mais dor.
Uma segunda-feira com a cara de
domingo, já que estou praticamente
livre. Não tenho nenhuma aula na
faculdade e não tenho estágio nas
segundas, isso me dará um tempo para
conversar com Christopher e tentar
resolver o que me atormenta.
Precisamos contar a verdade para todos,
antes que isso me sufoque.
Ouço batidas na porta de meu
quarto e logo ela se abre.
— Oi, pequena. — minha mãe
diz e força um sorriso.
Ela então fecha a porta e se senta
em minha cama. Olhando ao redor, como
se pensasse em algo importante. E eu
conheço esse olhar em seu rosto, já
tivemos várias conversas assim, e com
toda certeza, ela vai falar do passado.
— Quando Caleb me disse que
tinha uma filha, nós estávamos
começando a nos acertar. Bom, num
primeiro instante quis esganá-lo. Pensei
"Como assim uma filha fora do
casamento?". — ela sorri de lado e eu
continuo apenas a encarando. — Depois
que ele me contou tudo, eu me
surpreendi novamente com o tamanho do
coração desse homem. Caleb não é só
um homem lindo por fora, ele é muito
mais que olhos azuis. E nós duas. — ela
me encara com pesar. — Nós duas
sabemos muito bem disso.
— Mãe... — tento dizer algo,
porém ela levanta a mão, um gesto claro
para que eu me cale.
— Quando me chamou de "mãe"
pela primeira vez. — só assim noto que
uma lágrima desce por seu rosto e eu
também, choro baixinho. — Assim como
Felipe também o fez, foi um sentimento
que jamais pensei ter novamente após
Luna. Eu me senti completa, sabe? De
uma forma que tudo que passei ao lado
de seu pai fez ainda mais sentido. — ela
então se levanta e vem até mim,
segurando minha mão esquerda. — Há
coisas que estão destinadas, Babi.
Assim como eu e Caleb, Danielle e
Castiel, seus avós, sua irmã e Lucas...
Tudo tem um propósito. Você e Chris
também têm. Não desperdice isso por
medo ou insegurança. Não magoe
aqueles que a amam por conta de
mentiras, a sinceridade é a chave pra
tudo. Eu não tive pais que me amassem,
mas mesmo assim, hoje tenho uma
família. Temos histórias complicadas,
tristes... Mas o amor cura tudo, a mentira
não. — ela abre minha mão e coloca a
aliança em minha palma. — Eu te amo,
filha. Mas não gosto do que fez.
— Me desculpa, eu não queria...
— as lágrimas descem com mais força e
ela me abraça, dando-me mesmo sem
que eu mereça, o carinho do seu colo. —
Eu nunca quis decepcionar vocês.
— Vai falar com ele, não é? —
pergunta e eu assinto sem jeito. Ela se
afasta e toca meu rosto. — Não adie
mais isso, conte logo pro seu pai, e
assim, quero saber de tudo também.
— Ok. — digo simplesmente e
ela sorri, limpando minhas lágrimas.
— Fique bem, pequena.
Ela então sai do quarto,
deixando-me perdida em pensamentos,
sem saber o que fazer.
Escoro-me na penteadeira e
encaro meu celular que vibra. Pego-o e
vejo que é apenas uma mensagem da
operadora, entro em minhas conversas e
vejo que Christopher ainda não me
respondeu, mesmo após sucessivas
mensagens, as quais ele também não viu.
Algo está errado. Algo além de
nossas atitudes.

***
Passo pela portaria sem precisar
ser anunciada e o velho porteiro sorri
em minha direção. Tenho certeza de que
Chris o paga alguma quantia, para que
não chegue aos ouvidos de ninguém
minhas visitas no prédio.
Após minutos que pareceram
intermináveis, o elevador finalmente
para, e sigo a passos lentos até o seu
apartamento. Encaro a porta por alguns
segundos e resolvo tocar a campainha.
Passam-se alguns minutos e nem sinal de
Christopher. Ligo em seu celular
algumas vezes e como sempre – caixa-
postal. Sem conseguir mais esperar,
pego a cópia da chave que ele me deu e
abro a porta.
O cenário que me espera é
simplesmente assustador. Toda a
vidraçaria da sala parece quebrada e os
cacos estão espalhados por todo o lugar.
— Christopher. — sussurro para
o vazio.
Olho para uma trilha de sangue
no chão e a sigo, transtornada. A porta
do quarto de Chris está aberta e sinto a
bile vir a minha garganta.
— Chris! — grito alto e me jogo
de joelhos ao seu lado.
Seu corpo está caído no chão e a
camisa branca que usa está manchada de
sangue. Noto uma faixa enrolada em sua
mão e não a desenrolo, pela cor
vermelha da faixa, sei que foi ali que ele
se cortou. Analiso todo seu corpo e
procuro por mais algum ferimento.
Felizmente, não há mais nenhum.
O cheiro forte de álcool emana
de seu corpo e choro copiosamente
tentando acordá-lo.
— Chris, amor, o que você fez?
— choro sem me conter.
— Ella. — sua voz sai baixa e
entrecortada. — Me perdoe.
— Shhh. — seguro sua mão
machucada. — Não fale nada.
— Apenas saiba que... E... baby.
— diz e seus olhos se fecham.
Sua respiração parece tranquila
e noto que ele dorme feito pedra. Faço
todo o esforço possível e o arrasto até o
chuveiro. Chris balbucia algumas
palavras em seu sono, porém não se
move contra mim.
Dou-lhe um banho com cuidado
e lavo sua ferida na mão. O corte não foi
tão profundo, e felizmente não sai mais
sangue. Enxugo-o com cuidado e coloco
uma cueca limpa. Levo-o para sua cama
e faço um curativo decente em sua mão.
— Não me deixe, baby. — sua
voz sai baixa e ele aperta os olhos com
força. Com certeza está sonhando.
— Não vou te deixar amor,
nunca. — beijo seus lábios com carinho
e deito-me ao seu lado.
Puxo o lençol sobre nós e coloco
um travesseiro debaixo de sua mão
ferida. Christopher balbucia mais
algumas palavras emboladas. Fico
assim, guardando seu sono, sentindo-me
culpada por encontra-lo nessa situação.
Ele parece apenas um garoto imaturo,
mas sei que é o homem da minha vida.
Deito-me em seu peito e como se
fosse automático, seu braço passa por
cima de meu corpo. Encaro-o e noto que
ainda dorme. Sorrio por saber que ele
sonha comigo. Poderia ser complicado
nosso casamento, porém vamos dar
certo. Mesmo com toda confusão e culpa
que me cercam, sei que daremos um
jeito, mesmo que não tenhamos agido
corretamente.
Eu o amo.
Ele me ama.
Nesse instante, isso basta.
Capítulo 7

Christopher

Sinto uma forte dor em minha


mão direita e tento levantá-la, porém um
peso me impede. Abro os olhos
vagarosamente e estaco ao ver Ella
enrolada feito uma gatinha a mim. Como
ela chegou aqui?
Com cuidado para não acordá-
la, retiro minha mão debaixo de seu
corpo e solto um gemido de dor assim
que a sinto livre. Encaro o curativo bem
feito e analiso meu atual estado. Estou
com uma cueca diferente, deitado em
minha cama e Antonella dorme
serenamente ao meu lado.
Forço minha cabeça a se lembrar
do que houve, mas ela dói ainda mais.
Com cuidado me levanto da cama e vou
em direção à cozinha. Estaco na entrada
da sala, ao notar vários vidros
estilhaçados no chão. Lembranças vêm
com força em minha mente.
— Disse que isso seria
animado. — desafio Eduardo, que
apenas dá de ombros.
— Nossas convidadas especiais
ainda não chegaram. — diz e bebe
algo. — Vá beber homem, aproveite
que sua “esposinha” não vai impedi-lo.
— fecho a cara e ele gargalha.
— Cale a boca. — lhe dou um
empurrão, e vou em direção ao bar
instalado na grande sala da casa.
Enquanto bebo mais uma dose
de uísque, olho as pessoas se
esfregando uma nas outras, parece
impossível não me sentir deslocado
aqui. Mas quantas vezes eu já não
estive nessa mesma situação? Desde
que completei dezoito anos sair, beber
e encontrar mulheres diferentes tem
sido meus passatempos favoritos.
Faziam-me esquecer completamente da
pressão da empresa, de minha família...
Não consigo entender o que está
errado agora.
Olho meu celular e vejo dezenas
de chamadas perdidas de Antonella.
Remexo-me desconfortável no banco e
solto um suspiro frustrado. O que está
acontecendo comigo, afinal?
— Um gatinho tão lindo não
deveria suspirar assim. — encaro a
loira estonteante que aparece ao meu
lado.
— O gatinho aqui pode estar
mais para um leão. — zombo, bebendo
mais um gole.
Ela segura de leve meu copo e o
pega. Vira de uma vez o resto da
bebida, sem sequer tirar os olhos dos
meus. Analiso-a minuciosamente, e sei
que é o tipo perfeito que preciso para
aliviar minha tensão. Para me lembrar
de quem realmente sou.
— Podemos pular essa parte
maçante e ir para o quarto? —
pergunto e ela mostra um sorriso
perfeito.
— Venha! — me dá a mão e eu
nego com a cabeça. Pego-a pela
cintura e ela me indica para onde ir.
— Esse é meu garoto! — ouço o
grito de Eduardo.
Assim que chegamos a um
quarto a loira me joga na cama e vem
para cima de mim. Suas mãos tem
pressa e ela arranca rapidamente
minha camisa.
— Em festas como essa,
geralmente não há homens como você.
— diz beijando meu pescoço.
— Como? — pergunto ao
segurá-la com força pela cintura.
— Lindos. — diz e seu elogio
me faz viajar até Ella.
Ela sempre me diz que sou
lindo.
Sinto um aperto no peito e
resolvo ignorá-lo, puxo a cabeça da
loira em direção a minha e a beijo com
fúria. Assim que seus lábios tocam os
meus, a única imagem que vem em
minha mente é Ella em cima de mim.
Minha vontade de amar apenas seu
corpo.
Separo-me de repente da loira e
ela me olha estupefata. Olhos azuis,
cabelos loiros bagunçados e lábios
inchados por conta do beijo... Nada do
que realmente meu corpo parece
precisar.
— Ei. — ela grita assim que a
jogo para o outro lado da cama.
— Tenho que ir. — coloco
minha camisa com pressa.
— Mas...
— Mas nada. — a corto. —
Simplesmente não posso. — explico-
me, sem saber o porquê de estar o
fazendo.
— É casado? — pergunta.
Encaro-a e não noto asco em seu rosto,
apenas compaixão.
O que diabos está acontecendo?
— Sim. — respondo rude ao me
lembrar dos cabelos lisos negros, olhos
castanhos escuros e pele alva de
Antonella... Minha esposa.
Não pense nisso Christopher!
— Ela é uma mulher de sorte.
— diz e noto sinceridade em suas
palavras.
— Como pode dizer isso? —
rosno. — Poderia muito bem estar com
você e...
— Você não o fez, é isso que
importa no fim. — dá de ombros. —
Você a ama.
— O que? — pergunto
incrédulo.
— Pode negar a si mesmo, mas
sabe da verdade.
— Quem você pensa que é pra
falar sobre meus sentimentos? —
pergunto enfurecido.
— Alguém que já esteve na sua
situação antes, e acredite, não aceitei o
que sentia e perdi o homem que amo. —
seus olhos estão marejados. —
Aproveite que ainda tem sua chance,
depois pode ser tarde demais. — diz e
sai do quarto.
Sento-me ainda mais frustrado
na cama e tento não pensar no que a
desconhecida disse. Eu não amo
Antonella. Não posso amá-la.
Saio do quarto com a fala da
loira e imagens de Ella me
atormentado. Vou direto para o bar e
peço três garrafas de uísque, mesmo
assustado, o barman as vende para
mim.
— Ei, onde está indo? —
Eduardo me para.
— Não interessa. — rosno e
tento passar, porém ele me interrompe
novamente.
— O que Gabriela disse a você
que te deixou assim? — pergunta
preocupado.
— Você conhece a loira? —
pergunto sem entender e ele apenas
assente. — Cuide de seus problemas,
que eu cuido os meus, ok?
— Chris...
— Me deixe em paz! — o
empurro com força e saio da casa.
Dentro de meu carro, abro a
primeira garrafa e começo a beber
direto do bico. O trânsito do Rio está
tranquilo, porém a distância até meu
apartamento ainda é grande. Os
flashes de meus momentos ao lado de
Antonella continuam me atormentando
e não consigo tirá-la de meu sistema.
Bebo mais do que posso dirigindo,
mesmo sabendo que não deveria, mas é
como se isso fosse ajudar a tirá-la de
mim.
— Não! — soco o volante do
carro.
Paro em um acostamento e ligo
para a única pessoa que pode me ouvir,
ou melhor, que sempre me ouve.
— Ei Chris, que bom que ligou.
Maurício está louco para sair
novamente com você e...
— Paula. — a corto em um
sussurro.
— O que houve? — pergunta
rapidamente.
— Apenas me responda. — bebo
mais um gole de uísque. — Como sabe
que ama Isaac?
— Chris, o que está havendo?
Que voz é essa? Você andou bebendo
outra vez?
— Apenas me responda. —
praticamente suplico e lágrimas
correm por minha face.
Não consigo entender o que
está havendo. Tem algo errado comigo.
— Me responda você, Chris.
Você conseguiria viver sem Babi?
— Ela não tem nada a ver com
isso Paula, eu só...
— Eu te conheço melhor do que
ninguém Christopher, não ouse achar
que eu não vejo o que existe entre
vocês.
— Eu me casei com ela. —
confesso.
— Deus, Chris! — exclama
assustada.
— Eu me sinto um idiota. —
digo e levo a garrafa à boca
novamente.
— Vou perguntar de novo, você
conseguiria viver sem ela? — insiste.
— Onde você quer chegar com
isso? — pergunto nervoso.
— Eu viveria sem Isaac, mas
tenho certeza que de sem ele, parte de
mim morreria um pouco a cada dia. —
confessa. — Se você sentir o mesmo a
respeito de Babi, já sabe.
Penso e repenso sobre sua fala.
Sinto um bolo se formar em minha
garganta e não consigo raciocinar
direito, perguntando a mim mesmo o
porquê de não ter conseguido transar
com outra mulher.
A realidade é que desde que
comecei esse plano não saí em
momento algum para as minhas festas
costumeiras. E nesse instante, não sei
nem mais o porquê. Pode ser por estar
apenas concentrado no plano, mas...
Isso não impediria.
— Não posso. — digo para
Paula e desligo o celular.
Ligo o carro novamente e vou
em direção ao meu apartamento.
Preciso apenas da bebida para me
fazer esquecer, pra não sentir nada.
Assim que abro a porta do meu
apartamento, o cheiro de rosas e
morango parece impregnado no local.
O perfume de Antonella parece estar
em todo lugar, é como se ela realmente
estivesse aqui. Pego a garrafa e viro
uma, duas, três... Até que não vejo mais
nenhum líquido nela.
Encaro um dos grandes
espelhos da sala e minha imagem
deplorável me faz sentir ainda pior.
Meu coração acelera assim que os
olhos castanhos de Ella invadem minha
memória. Ella, minha Ella.
— Não! — grito e soco com
força o vidro.
Minha mão arde e noto sangue
escorrer. Sento-me ao lado do sofá e
abro a outra garrafa. Levo ela a boca e
fecho os olhos sentindo o líquido
queimar em minha garganta. A bebida
tem que tirar esse sentimento de mim.
— Chris, querido! — viro-me
em direção a sua voz, saindo de meus
pensamentos. Sinto-me ainda mais
envergonhado ao notar seu olhar
preocupado. — Está com dor? —
pergunta claramente preocupada.
— Minha cabeça e minha mão.
— digo e ela passa rapidamente por
mim, indo em direção à cozinha.
Ela abre o armário e retira de lá
a caixa de remédios que tenho por
precaução. Pega uma garrafa d'água na
geladeira e vem até mim.
— Tome. — entrega-me os
comprimidos. — Vai melhorar.
— Obrigado. — digo e tomo
rapidamente.
Seu olhar não desvia do meu em
momento algum e sinto meu coração
querer saltar do peito. Esse é o seu
efeito sobre mim, por mais que negue e
não queira.
— Eu não me lembro. — sou
sincero. — Depois que soquei minha
mão no espelho, não me lembro de
praticamente de nada.
— Tive tanto medo. — diz
baixinho e seus olhos ficam marejados.
— Eu te encontrei caído no chão do
quarto, tinha sangue em vários lugares
e...
— Não chore, baby. — puxo-a
para um abraço e ela soluça em meu
peito.
— Prometa pra mim. — se afasta
e toca meu rosto com carinho. —
Prometa que nunca mais vai beber
assim, Christopher! Me ligue, brigue,
termine o que temos...
— Nunca mais cogite a ideia de
se separar de mim. — digo bruscamente,
sem sequer processar as palavras antes
de saírem de minha boca. — Eu
prometo, Ella.
Penso no que mais dizer, porém
travo. Ella me encara um pouco receosa,
mas tem um simples sorriso nos lábios,
o que indica que sequer desconfia de
onde eu estive.
— Você pediu para que não o
deixasse, ainda bêbado e caído no
chão... Seria bem melhor ouvir isso de
você sóbrio. — brinca, forçando-me a
sorrir.
Eu devia realmente ser um
bêbado quieto. Merda!
— Não quero mesmo que me
deixe, baby. — digo e os olhos dela
adquirem o mesmo brilho de sempre.
Aperto com força sua cintura e
ela beija de leve meu pescoço.
— Eu sei disso, amor. — sorri
lindamente. — Em minha vida, aprendi
que palavras não são nada, o que
realmente importa são as ações. Você
sempre demonstrou seu amor por mim,
mesmo não dizendo em voz alta. — suas
palavras fazem a culpa me invadir. Eu
realmente nunca disse que a amo, e sei
que não posso sentir isso.
— Me perdoe, baby. — peço
sincero, mesmo que ela não saiba o real
motivo disso.
Por mais que tenha minha
ambição por trás de tudo, Antonella é só
uma menina, e eu a uso de forma que não
deveria. E no fim, sei que ela sairá
machucada disso.
Em vez de dizer algo, ela
simplesmente puxa minha cabeça de
encontro a sua e me beija. Finalmente eu
estou no local correto, onde quero estar.
Minhas mãos sobem até seu
cabelo e o beijo se torna mais lascivo e
desejoso. Não havia planejado esse
momento, pois pensei que nunca
chegaríamos a isso. Mas eu a quero,
como nunca quis alguém antes.
— Baby. — chamo sua atenção.
— Vem. — me oferece sua mão
e eu a pego sem pensar.
Ela me leva até o quarto, e
quando estamos em frente a cama, ela
fica de costas pra mim.
— O que... — minhas palavras
se perdem, assim que ela fica nua na
minha frente. — Não faça isso comigo,
Ella. — ignorando minha fala, ela se
vira pra mim e retira a única peça que
cobre meu corpo.
Ela toca minhas costas com as
mãos trêmulas e quentes, e eu solto um
grunhido de satisfação. Pele com pele,
olho no olho.
Um pedido explícito em seu
olhar me faz esquecer completamente de
todas as mentiras, armações e pela
primeira vez na vida, esqueço minhas
ambições. Apenas essa mulher me
importa, ela é meu único desejo. Beijo-a
com delicadeza e deito seu corpo sobre
a cama. Suas mãos percorrem meu corpo
minuciosamente, como se ela quisesse
gravar cada detalhe. E isso, tira meu
fôlego.
Pela primeira vez na vida, faço
amor com alguém. Deixando meu corpo,
alma e coração nas mãos de uma única
pessoa – Antonella Laira Soares.
Capítulo 8

Antonella (Babi)

Uma semana depois

— Tem algo estranho aqui. —


sinto sua presença atrás de mim. — Fui
abandonado na cama, isso mesmo,
senhora Soares? — ele cheira meu
pescoço.
— Baby. — digo e sinto seu
sorriso em minha pele. — Estou
cozinhando para nós.
— Hum, então está com fome?
— ele começa a beijar de leve minha
orelha.
— Eu...
— Sem fala, minha Ella? —
pergunta e me vira pra ele. — Bom dia,
baby.
— Bom dia. — sorrio e tenho
certeza de que estou vermelha.
O olhar castanho sedutor faz com
que volte há uma semana. Quando estive
totalmente entregue a ele pela primeira
vez, quando finalmente fizemos amor...
Eu não tenho palavras para descrever o
que se remexe dentro de mim, uma
mistura de felicidade, ansiedade e
vontade. Felicidade por estar assim com
ele, ansiedade para poder vê-lo a cada
segundo e vontade de gritar ao mundo
que sou dele, e que ele é meu.
— Ella. — pisco duas vezes e
volto à realidade.
— O que?
— A comida, baby.
Ele nem termina de dizer e
praticamente pulo me virando. Por um
milagre as panquecas não queimaram e
desligo o forno rapidamente. Ouço ao
meu lado sua gargalhada e sinto vontade
de bater nele com a frigideira quente.
Mas como ficaria sem esse
cretino?
— Se continuar rindo, não vai
comer. — digo brava.
— Amor, você tem que entender
que sua falta de atenção é um caso sério.
— o ignoro e termino de colocar o
recheio de chocolate nas panquecas. —
Baby. — me chama, e mesmo
contrariada, viro-me pra ele.
Christopher está praticamente
esparramado no sofá da sala e seu peito
está exposto. Lindo.
Você está brava! – recrimino-me.
— O que, Christopher? —
pergunto e coloco as panquecas nos
pratos, em cima da mesa.
Ele não diz nada e vem até mim.
— Estou muito ferrado? —
pergunta e me puxa pela cintura. —
Quando me chama pelo nome completo,
tenho certeza de que quer me bater.
Sorrio de seu comentário.
Droga!
— Olhe só, um sorriso. — fecho
a cara no mesmo instante. — Amo suas
variações de humor.
— Não seja cretino. — digo e
tento sair de seus braços. — Estou com
fome, Chris.
— Então voltei a ser "Chris"? —
pergunta convencido.
— Continua sendo um cretino.
— instigo-o.
— E eu continuo te adorando
desse jeitinho. — diz, surpreendendo-
me. — Doce, correta, delicada para o
mundo... Selvagem, corajosa e
desafiadora pra mim... Só pra mim.
Antes que eu possa dizer algo,
seus lábios tocam os meus. Ele me
segura com força, como se dependesse
de mim. Isso me faz sorrir, pois remete
ao que sinto, do mesmo modo que
dependo inteiramente dele.
Christopher

Sentado em minha cama, aguardo


ansioso para que Ella saia do banho.
Lembrei a pouco que em menos de uma
semana, na verdade em cinco dias,
haverá a festa em comemoração a minha
posse da empresa. Claro, faz um tempo
já que a presido, mas meu pai quer
tornar isso oficial, incluir como um
marco de nossas vidas, e infelizmente,
temos que divulgar a sociedade.
Claro, eu amo festas de todo o
tipo. Mas essas comemorações com
sócios e todo resto, sempre me cansam
demais. Pessoas falam de negócios o
tempo todo, e jamais tive tempo de me
divertir, sequer tomar uma bebida forte,
porque tenho que estar sóbrio.
Ela então sai do banheiro
secando os longos cabelos negros.
Linda.
Os dias têm sido ainda mais
confusos, não consegui colocar em
prática ainda o resto de meu plano, e
sequer comecei a fazê-lo. Após ter
Antonella, senti-la, e ter me entregado a
isso, senti-me o pior ser humano e ao
mesmo tempo, tive o melhor momento de
minha vida. Não sei ainda discernir o
que está havendo, mas não quero dar um
passo em falso, portanto, tenho que dar
continuidade de alguma forma no plano,
mesmo que esteja um pouco abalado
com tudo.
— Acho que quer falar comigo.
— Ella deduz ao me encarar. — Está
pensativo desde o almoço.
— Bom, tenho um convite a te
fazer. — digo.
Ela vai até o espelho e começa a
pentear os cabelos.
— Diga.
— Sabe que a minha posse da
empresa vai acontecer daqui uns dias,
não é? — ela assente e sorri para o
espelho.
— Estou orgulhosa de você! —
diz.
Se ela soubesse...
— Bom, quero que me
acompanhe. — digo e ela se vira pra
mim.
— Todo esse mistério por isso?
— pergunta sorrindo. — Sempre te
acompanho a essas festas, porque
mamãe quer que Lipe saia com algumas
garotas e não tenha como me levar.
— Vic é uma comédia. — sorrio.
— Mas quero que vá como...
Respira Christopher!
— Como? — ela fica a minha
frente, então a puxo para meu colo.
— Como minha esposa.
Seus olhos se arregalam e sua
face branca fica avermelhada. Ela abre a
boca repetidas vezes e nada sai. Pelo
olhar triste que me dá, tenho certeza de
que não aceitará. E isso apenas adiará
ainda mais meus planos...
— Não vai, não é? — pergunto,
tentando esconder minha frustração.
— Chris, não é assim que as
coisas funcionam. — diz e sai de cima
de mim. — Eu tentei por toda essa
semana falar com meu pai e... Eu não sei
como agir, não sei como contar a ele
tudo.
— Estou aqui, ao seu lado,
sempre. — minto descaradamente e ela
me lança um olhar triste. — Vejo o
quanto sofre por esconder isso de nossa
família, e acredite, eu também.
— Eu não sei como dizer a ele
que escondi nossa relação... Que nos
casamos escondidos e... — Ella começa
a chorar e meu peito se aperta. Merda!
Levanto-me e vou até ela,
abraçando-a com força. Ela se agarra a
mim como se eu fosse sua tábua de
salvação, e sinto-me ainda pior.
— Minha mãe me encara sempre
magoada, como se esperasse alguma
atitude minha... Eu não sei mais lidar
com tudo isso. — diz em desespero e eu
beijo seus cabelos.
— Então está decidido, iremos
contar a eles. — digo convicto e ela se
afasta um pouco, encarando-me me
expectativa.
— Mas e se...
— Nada de "mas" ou "se", Ella.
A verdade sempre é o melhor caminho,
disse isso a você desde quando
começamos a nos relacionar.
Realmente sou um hábil
mentiroso, pois Ella assente algumas
vezes e se agarra a mim novamente.
Então é isso, iremos contar a meu irmão
a verdade, e a partir daí, terei tempo
certo para conseguir o que realmente
quero.
Capítulo 9

Christopher

Dias depois

- Festa de posse da presidência

A noite transcorre normalmente,


enquanto algumas pessoas me
cumprimentam, outras param para
conversar comigo, pelo que parece um
século. Antonella veio comigo, mas
como já havia dito, não como minha
mulher. Raiva se apodera de mim, a
cada pessoa que a chama de "filha de
Caleb" ou até mesmo de minha sobrinha.
Ela é minha esposa!
Mesmo a convencendo de que o
melhor é contarmos a verdade para
todos, ela conseguiu me fazer adiar isso
mais um pouco, deixando claro que
assim que a festa passasse contaríamos
tudo. Porém, não posso mais esperar, e
irei fazer uma pequena surpresa para ela
e todos os demais presentes.
— Parece pensativo. — Ella diz
baixinho ao meu lado. — Seus
pensamentos estão em qualquer lugar,
menos aqui.
— Que perspicácia, minha
senhora. — ela sorri. — Apenas
pensando no momento mais feliz da
festa.
— Qual? — pergunta curiosa.
Puxo seu corpo para mais perto
do meu e sussurro em seu ouvido:
— No qual vou estar em um
quarto, só eu e você.
Antes que ela possa me dar uma
resposta, Castiel aparece.
— Irmão, preciso falar com você
um segundo. — diz rapidamente. — Oi,
pequena.
— Oi, tio. — Babi o abraça.
— É mesmo importante, Cas? —
pergunto contrariado. — Em alguns
minutos vou ser anunciado como
presidente no palco.
— Ok. Mas assim que descer do
palco venha até mim. — pede sério.
— É algo grave? — pergunto, já
estranhando seu tom.
— Depende da resposta que me
dará.
— Cas...
— Boa sorte, moleque. — diz e
sai.
Fico parado alguns segundos,
divagando sobre o que poderia ser essa
conversa tão importante. Mas se ele
deixou para depois, talvez não seja algo
tão urgente assim.
Antonella segura em meu braço e
a levo até a mesa de nossa família.
— Preparado, filho? — mamãe
pergunta, assim que me sento ao seu
lado.
— Espero que sim.
— Você vai dar conta, moleque.
— Caleb intervém, fazendo com que eu
engula em seco. De certa forma, sinto-
me a pior pessoa, por ter de enganar
meu irmão. — Tem talento pra isso.
— Obrigado, irmão. — digo e
tento afastar meu constrangimento.
Caleb parece completamente
alheio a tudo, e isso me rasga por
dentro. Saber que estou quebrando a
confiança de meu irmão é algo que
nunca imaginei me importar, mas agora,
algo dentro de mim se remexe a cada dia
que se passa e o fim desse plano se
aproxima.
— Boa noite a todos. — todos
nos viramos para o palco, onde meu pai
está. — Hoje é um dia de grande
felicidade para mim e minha família.
Nunca imaginei que acertaria apenas
com o meu filho caçula. — diz e todos
sorriem. — Mas como todos devem
saber, Castiel me trocou pela medicina e
Caleb pelo direito...
— Continuo sendo o favorito. —
Castiel grita e todos gargalham.
— Cale a boca, idiota. — Caleb
retruca, o que me faz rir ainda mais.
— Como podem ver, os dois
sequer teriam maturidade para gerir a
empresa. — papai brinca e meus irmãos
bufam ao meu lado. — Hoje, não tenho
palavras para descrever, como é ver o
meu caçula se tornar o presidente dessa
empresa. E com vocês, o mais novo
presidente da Soares Mídia, Christopher
Soares.
Levanto-me meio trêmulo, e Ella
segura minha mão com força. Seus olhos
demonstram o que ambos queremos,
queria beijá-la e marcá-la como minha
felicidade agora. Mas quando ela solta
minha mão, sei que ainda não é o
momento certo. Pelo menos, mais alguns
minutos.
Mamãe se levanta e me abraça
com carinho, e logo me empurra em
direção ao palco. Subo as escadas com
cuidado e tento não tremer mais do que
já estou. Estou realizando oficialmente o
sonho de toda minha vida.
— Parabéns, meu filho. — papai
me abraça. — Você merece.
— Obrigado, pai.
Assim que ele me dá espaço, vou
até onde o microfone está localizado. Eu
tinha um discurso pronto há muito
tempo, mas hoje, falta-me até ar.
— Boa noite a todos. — digo
cauteloso. — Primeiro, gostaria de
agradecer a meus pais. Não por terem
confiança em mim e me nomearem como
presidente, mas por desde sempre,
estarem ao meu lado e constituírem a
melhor parte de mim.
De longe, vejo minha mãe em
lágrimas. Ela parece incrédula, assim
como todos de minha família sentados
na mesa. Mas pelo menos hoje, eu diriei
a eles o que sinto e o quão grato sou.
— Gostaria de agradecer aos
meus irmãos, cunhadas, sobrinhos... Por
me ensinarem que a felicidade está nas
pequenas coisas. Por Castiel ter me
ensinado a ter paciência, Dani me
ensinado o quão café é ruim. — Castiel
gargalha alto. — Victória por me
mostrar que nem sempre sabemos sobre
tudo e Caleb por me ensinar alguns
golpes de boxe.
— Ei. — Caleb grita indignado.
— Sem brincadeiras, agradeço a
Caleb por ter me ensinado que o amor
não é um laço sanguíneo, e sim sermos
família. — digo e respiro fundo. Não
posso fraquejar agora.
Olho para o lado e vejo meu
melhor amigo, o qual faz um sinal de
negação com a cabeça. Não sei o que
pensar, muito menos o que fazer,
portanto, resolvo continuar a falar.
— A Paula, pelos melhores
conselhos e por ser minha melhor amiga.
A Joaquim e Isaac, por serem parte de
todo meu crescimento... Por todas as
vezes que me derrubaram de cara no
tatame.
— Te derrubarei mais vezes. —
Joaquim grita e todos sorriem.
— Tenho certeza disso. —
sorrio.
Penso em como continuar minha
fala, mas meus olhos se encontram com
os de Ella, que presta atenção a cada
palavra minha. Poderia recuar e deixar
isso para depois, mas sei que não há
momento mais apropriado do que este.
Eu preciso dar um jeito de convencer a
todos que a amo, mesmo que não passe
de uma mentira. E esse, com toda
certeza, é o meu momento.
Deixo todas minhas incertezas de
lado e apenas respiro fundo. É a minha
vez de conseguir o que quero.
— Há uma pessoa em especial
que gostaria de agradecer. — digo,
encarando-a com um sorriso, e seus
olhos se arregalam. — Eu sempre ri de
meus irmãos por parecerem dois bobos
apaixonados, até mesmo ri de Isaac e
meu pai. Mas hoje, eu sei bem como é se
sentir assim. E essa pessoa, mudou tudo
dentro de mim, por mais impossível que
isso possa parecer. Obrigado, baby. —
complemento e noto que todos voltam
seu olhar para a direção que olho.
Eles agora sabem. Todos sabem.
— Há cerca de três anos atrás,
conheci uma garota. No começo, tenho
que admitir, não fui a pessoa mais
simpática com ela. Mas hoje, quero
apenas que ela saiba que é tudo pra
mim, e bom, que minha família, aceite o
sentimento que temos um para com o
outro. Não temos laços sanguíneos,
como todos sabem, e por coisas que não
sei ainda dizer, nos apaixonamos. —
Ella parece estática e lágrimas correm
de seus olhos. Caleb encara-me sem
esboçar qualquer reação, porém a
maioria das pessoas nos olha
assustadas. — Não sei se é o melhor
momento, mas eu quero que seja minha
mulher. — digo, saindo do palco e
seguindo até onde Ella está sentada.
Castiel está em alerta ao lado de
Caleb, o qual continua impassível.
— Irmão. — chamo-o, e ele me
encara.
— Vai pedir a mão dela? —
Caleb pergunta, encarando-me sério. —
Espero que tenha certeza do que está
fazendo, os dois... Depois
conversaremos, mas agora, seja homem,
Christopher.
Viro meu olhar para Ella, a qual
sequer sabe o que fazer, parece pasma
ao lado de Felipe.
— Baby. — digo e ela faz um
sinal de negação com a cabeça.
Assim, tomo coragem e me
ajoelho, tirando a mesma caixinha de
veludo com a sua aliança, já que ela
acabou deixando-a comigo.
— Aceita ser minha esposa? —
pergunto e sinto pela primeira vez
insegurança ao fazer algo para ela.
— Chris... — diz e toca de leve
meu rosto. Ela então se vira para o lado,
e sei que está olhando para meu irmão.
— Pai...
— O que te fizer feliz, filha. —
meu irmão diz, mas algo parece estranho
em sua voz.
— Eu te amo, pai. — ela diz e
finalmente se vira pra mim. — E eu te
amo, Chris. — diz, deixando-me colocar
a aliança em seu dedo anelar esquerdo.
Puxo-a para mim e nos
abraçamos. Não tenho coragem de beijá-
la aqui, na frente de nossa família, sei
que já há informação demais por hoje.
Uma salva de palmas é nosso som de
fundo, enquanto Ella se desmancha em
meu colo.
— Eu disse que as coisas dariam
certo, baby. — sussurro em sua orelha.
— Obrigada, baby. — diz,
surpreendendo-me.
Eu não sei pelo que ela está
agradecendo, mas só sei que ao abrir os
olhos e ver meu melhor amigo, vendo a
cena de longe, com um semblante
surpreso, que todo o plano ainda corre
bem. E de algum jeito, vamos concluí-
lo.
Capítulo 10

Antonella (Babi)

Saio dos braços de Chris e vou


até meu pai, o qual se levanta da cadeira
e me recebe nos seus. Ele me abraça
com força, fazendo-me chorar junto a
ele.
— Está feliz? — pergunta em um
sussurro.
Afasto-me um pouco dele, e
tento decifrar seus olhos azuis. Meu pai
sempre foi completamente transparente,
e não é difícil dizer que ele parece
confuso com a situação, mas por incrível
que pareça, ele não parece surpreso.
— Estou, pai. Eu o amo. — sou
sincera, e meu pai sorri.
— Eu só quero o melhor pra
você. — diz, tocando de leve meu rosto.
Logo minha mãe se aproxima e
me abraça, sem dizer uma palavra. Sei
que ela não deve ter gostado de não ter
contado primeiramente a meu pai, mas
não foi planejado assim por mim. Acho
que Chris pensou melhor e resolveu
fazer isso, para que eles não saibam do
casamento escondido.
— Parabéns, pequena.
Toda nossa família me abraça,
desejando felicidade. Muitos aqui,
sequer mostram surpresa, acho que no
fundo, todos conseguiam ver o que já
acontecia entre eu e Chris.
— Bom, o novo presidente tem
que ter sua primeira dança. — uma voz
diz auto no microfone, fazendo-me virar
e ver o melhor amigo de Chris.
Christopher se afasta do aperto
de sua mãe e vem até mim.
— Me concede essa dança,
baby? — pergunta completamente
galanteador, e eu sorrio.
Estendo-lhe a mão, a qual ele
beija com carinho. Ele me leva até o
centro do salão, e logo uma música
clássica começa a tocar. Christopher
rodopia comigo, fazendo-me sentir leve
em seus braços. Pela primeira vez,
nossa relação parece real.
Sinto os flashes em cima de mim,
murmurinhos e ademais... Porém, a
felicidade de minha família saber sobre
nós, e melhor, meu pai aceitar isso, faz
com que nada mais importe.
Estou nos braços do homem que
amo e finalmente estamos fazendo o
correto. Tenho certeza agora, de que
seremos felizes.

Christopher
Passo água por meu rosto,
tentando permanecer sóbrio. Há tanta
bebida nessa festa, porém não posso
beber nenhuma, já que prometi a Ella.
Não que seja uma necessidade, mas a
pressão e ansiedade sobre mim faz-me
querer buscar uma válvula de escape.
No caso, a bebida.
Ouço um barulho na porta, e
encaro a pessoa que entra. Meus irmãos
vêm até mim, os quais não parecem tão
incomodados com a cena que Ella e eu
protagonizamos há pouco.
— Irmão, olha, eu... — tento
dizer algo, porém Caleb levanta a mão,
um gesto claro para que eu me cale.
— Eu sempre desconfiei, Chris.
— diz, surpreendendo-me. — Não sou
burro e muito menos cego, sempre vi os
olhares trocados por vocês e a forma
radical com que seu tratamento com
Babi mudou de repente... Eu só quero
que parem de esconder de mim o que
fazem... Não quero mentiras entre nós.
— diz sério.
Assinto para ele, sentindo-me o
pior ser humano de todos.
— Faça- a feliz, irmão. — Caleb
pede ainda sério, mas parecendo
emocionado. — Não existe pessoa no
mundo a qual confiaria minha filha com
tanta segurança, que não seja você.
Espero que sejam felizes, de verdade.
Sem conseguir acreditar nas
palavras de meu irmão, abraço-o. Caleb
bate algumas vezes em minhas costas,
como quem diz – "faça o certo,
moleque." Ele nunca cansou de repetir
essa frase.
— Que cena linda, preciso de
lenços. — Castiel debocha, e como
sempre, seu sorriso cínico está
estampado em seu rosto.
— Babaca. — digo, afastando-
me de Caleb e dando um soco no ombro
de Castiel.
Porém, meu irmão é mais rápido
e consegue atar meus movimentos.
— Moleque, você nunca vai
aprender. — Castiel zomba, soltando-
me.
— Acho que cheguei na hora
boa. — Isaac aparece, já com os punhos
de prontidão. — Se quiser, posso dar
uma lição nele. — diz, encarando Caleb.
Não!
— Deixe o moleque em paz,
Isaac. — Castiel diz, rindo da carranca
de Isaac. — Está na hora de crescer,
amigo. E Chris, parabéns, irmão. Era
sobre isso que iria falar com você.
— Sério? — pergunto
completamente surpreso.
— Estava planejando seu caixão
para quando Caleb soubesse de algo...
Mas você foi mais esperto. — diz,
claramente zombando de Caleb.
Caleb revira os olhos e finge que
vai passar por Castiel, mas na realidade,
acerta em cheio o estômago de Cas, o
qual quase cai no chão.
Eles nunca vão crescer.
— Eu vou te matar! — Castiel
diz, segurando com os braços a barriga.
— A dor é momentânea, cínico.
Sabe muito bem disso. — Caleb diz,
sorrindo da cena de nosso irmão.
Eu que não quero levar um soco
desses.
— Acho que fui usado como
aviso prévio, caso Chris apronte algo
com Babi... — Castiel sorri cinicamente
pra mim, mesmo com a face de dor. —
Você está ferrado, irmão!
Isaac gargalha junto a Castiel, o
qual parece sequer ligar pra dor. Caleb
apenas assiste a cena, com um sorrisinho
de lado.
— Vocês têm problemas. —
digo, revirando os olhos.
A porta novamente faz barulho e
nosso pai entra.
— Reunião particular? —
pergunta, mas quando olha para Castiel,
seu olhar se torna de espanto. — Que
merda aconteceu aqui?
Ele se vira para Isaac, o qual dá
de ombros. Então olha diretamente para
Caleb, o qual usa a melhor pose de bom
moço...
— Caleb Soares! — diz alto,
fazendo-nos gargalhar.
Até parece que ainda somos
crianças.
Ouço a porta se abrir novamente
e Felipe entra com Miguel em seu colo,
e Joaquim em seu encalço.
— Olhe só, estamos
praticamente completos. Falta alguém
chamar Pedro e Lucas, para
completarmos o time. — Castiel zomba
como sempre, pois não pode deixar nada
passar.
— O que todo mundo está
fazendo no banheiro? — pergunto, sem
entender.
— Acho que isso sim é uma
amostra do que irá atropelar você caso
magoe Babi. — Castiel zomba
novamente. — Você está mais do que
ferrado, está fod...
— Castiel Soares! — meu pai
praticamente grita, assustando-nos. —
Tem uma criança aqui, controle sua
boca.
Miguel olha para todos, porém
seus olhos azuis parecem furiosos para
comigo.
— Cuide da Bi. — Miguel diz,
ainda no colo de Felipe.
Felipe então me encara, ainda
mais sério que Caleb.
— Repito o que Miguel disse,
cuide dela, senão... — Felipe coloca
Miguel no chão, o qual corre até Caleb.
— Senão o que garoto? —
pergunto, sem entender seu tom sério.
— Vou mostrar que também sou
um Soares. — diz convicto, e abre os
braços, para me abraçar.
Um pouco desconfiado, abro os
braços e ele vem até mim. Porém, em
poucos segundos, caio de costas no
chão.
Eu não deveria ter confiado em
um Soares, ainda por cima, um filho de
Caleb.
Merda!
Ouço a gargalhada de todos e
Felipe estica mão para que eu levante,
mas assim que o faço, ele me derruba
novamente.
Merda dupla!
— Está avisado, tio!
— Esse é o meu garoto. —
Caleb diz orgulhoso, enquanto tento me
levantar.
De repente, vejo nosso primo,
Pedro, o qual é praticamente um irmão
pra mim, já que crescemos juntos. Ele
me estica a mão, ajudando-me a
levantar, porém não para de sorrir.
— Cara... — ele gargalha ainda
mais.
— O que houve aqui? —
viramo-nos para a voz, encontrando
Lucas, o marido de Luna, parado ao lado
da porta.
— Só mais uma amostra de
como os Soares são. — Castiel diz,
deixando Lucas ainda mais confuso.
Apenas curto o momento,
ouvindo ainda mais besteiras de meu
primo e todos os outros. Realmente, não
posso deixar que eles descubram sobre
minhas verdadeiras intenções, eles
jamais me perdoariam. Esses olhares de
orgulho se tornariam de desprezo, e
isso, eu não posso aceitar.
Capítulo 11

Antonella (Babi)

O silêncio paira sobre nós no


carro. Christopher dirige, já que
dispensou o motorista, e uma música
toca baixinho. Fico perdida em
pensamentos, pensando se meu pai irá
falar comigo a respeito do pedido de
casamento ou se sua falta de surpresa ao
ouvi-lo, é algo bom ou ruim.
— Está tão silenciosa. —
Christopher diz e toca de leve em minha
coxa esquerda.
— Obrigada de toda forma pelo
que fez, foi muita coragem. — digo,
lembrando-me de seu pedido inusitado.
Christopher me olha de canto de
olho, como se não entendesse.
— Fiquei me perguntando o
porquê de ter me agradecido, após
colocar a aliança em seu dedo.
— É que tudo seria ainda mais
difícil caso meu pai soubesse do
casamento escondido... Agora, ele pensa
que ainda vamos nos casar e nos deu a
benção dele... Tornou tudo mais simples.
— digo e sorrio pra ele, o qual parece
espantado. — Não foi por isso que fez o
pedido? — pergunto incerta.
— Pra ser sincero, não. — ele
sorri fraco. — Eu apenas quis fazer uma
surpresa, baby. Mas fico feliz em te ver
mais tranquila.
Analiso-o e posso jurar que
nunca imaginei estar aqui hoje. Nunca
pensei ter tamanha coragem de me jogar
nesse amor "proibido".
— Quer ouvir algo melhor que
isso? — pergunta e o encaro sem
entender. — Prefiro sua voz, Ella. —
diz, fazendo-me sorrir.
Se há algo que praticamente
todos em minha família compartilham, é
o amor pela música.
— Qual música? — pergunto.
— Bom, a que quiser. A que
achar que... — ele pega minha mão
esquerda e dá um leve beijo. —
Combina com o momento.
— Certo.
Penso em todas as músicas que
marcaram nossos momentos. Foram três
anos desde que o vi pela primeira vez,
mas há praticamente dois anos que
temos um relacionamento. E é nisso que
me baseio para cantar.
"Sempre precisei de um pouco
de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto
E destes dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo
pelos cantos
Esse é o nosso mundo
O que é demais nunca é o
bastante
E a primeira vez é sempre a
última chance
Ninguém vê onde chegamos:
Os assassinos estão livres, nós
não estamos"

— O que? Como...
Sorrio para a cara de espanto de
Christopher, ele continua dirigindo, mas
ao mesmo tempo, mantém os olhos
arregalados. Olhando-me de canto de
olho.
— Sempre ouvi seu sussurro em
meu ouvido, antes de dormir... Ou até
mesmo as noites que acordei com sede e
o encontrava sentado no sofá, tocando o
violão e cantando baixinho. — digo, e
ele permanece em silêncio. — O que
foi? — pergunto, sem entender sua
reação.
— Nada, eu só... — ele suspira
fundo. — Não esperava por isso.
— Bom, é uma banda
maravilhosa. — sorrio e ele finalmente
faz o mesmo. — Por que nunca cantou
apenas pra mim? — pergunto, e ele
apenas balança a cabeça.
Permaneço então em silêncio,
sem conseguir entender seu jeito
estranho. Por mais que o ame, ele ainda
se esconde um pouco de mim. Sinto que
há uma parte dele que não quer se
mostrar, mas aos poucos, eu sei que irei
conseguir fazê-lo ser meu por completo.
Porém me surpreendo por
completo, ele começa a cantar:

"Vamos sair, mas não temos


mais dinheiro
Os meus amigos todos estão
procurando emprego
Voltamos a viver como há dez
anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas”

Assusto-me, e o encaro sem


acreditar. Ele finge não perceber minha
inspeção e canta ainda mais alto.
Encanto-me, sentindo meu coração
acelerar rapidamente. Eu só quero
permanecer aqui e ouvir sua voz, a qual
parece ser capaz de tranquilizar todos os
medos de minha alma.

“Vamos lá, tudo bem - eu só


quero me divertir
Esquecer dessa noite, ter um
lugar legal pra ir
Já entregamos o alvo e a
artilharia
Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia
Nossas vidas possam se
encontrar

Quando me vi tendo de viver


Comigo apenas e com o mundo
Você me veio como um sonho
bom
E me assustei
Não sou perfeito
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo, eu,
homem feito
Tive medo e não consegui
dormir"
(Teatro dos Vampiros - Legião
Urbana)

Ele de repente se cala,


respirando fundo, e me lança um simples
olhar, o qual me faz sentir ainda mais
feliz. E eu nunca imaginei estar aqui,
assim, ao lado dele.
Encaro minha mão esquerda e a
aliança brilha em meu dedo anelar.
Passo de leve a mão direita sobre ela,
analisando-a por completo. Nunca
imaginei, não tão cedo, que teria alguma
joia aqui.
Sinto então a mão quente do
homem que amo, envolver a minha.
Ele logo estaciona e descemos.
Encaro o grande portão da casa de meus
pais e olho Christopher sem entender.
Ele parece nervoso e indeciso, de um
modo que nunca o vi antes.
— O que foi? — pergunto e ele
me puxa para um abraço, o qual parece
eterno em alguns instantes.
Christopher se afasta e toca meu
rosto. Vejo dor passar por seus olhos e
ele franze o cenho.
— O que houve? Por que não vai
entrar? — pergunto já perdida, ele então
toca meus lábios com os dedos, e os
sinto trêmulos. — Chris!
— Preciso ir, mas... Me perdoe,
Ella. — diz de repente, praticamente
correndo até seu carro.
Corro até ele e bato no vidro,
porém ele arranca, deixando-me na
calçada, sem saber o que fazer.
O que aconteceu com ele?
Capítulo 12

Christopher

Paro o carro bruscamente e bato


a cabeça com força contra o volante.
Uma vontade assustadora de quebrar
tudo ao meu redor se apossa de mim,
porém tento me controlar. Não posso
explodir, sem sequer saber qual a razão
disso.
Passo as mãos pelos cabelos e
saio do carro, encarando a rua vazia,
onde há apenas a luz de um poste. Não
sei onde estou e também não faço
questão. Apenas quero ficar sozinho e
entender essa merda.
Ando em círculos e chuto as
pedras soltas do chão. A voz, o cheiro, o
sabor, o toque de Antonella me
perseguem. Consigo ouvir novamente
sua voz suave cantando uma de minhas
músicas favoritas e... Droga, eu nunca
cantei para uma mulher na vida, e fiz pra
ela hoje.
Lembro-me de quando era novo,
mais ou menos tinha uns sete anos,
quando perguntei ao meu pai o porquê
de ele não cantar para minha mãe, já que
sempre pedia para que eu cantasse pra
ela.
Suas palavras me marcam até
hoje.
— Você ama sua mãe, Chris? —
meu pai pergunta e praticamente grito
"SIM". — Então, cantamos para quem
amamos.
— Mas você não ama a mamãe,
pai? — pergunto, e meu pai apenas
sorri, sem dizer nada.
— Um dia vai entender que há
algo pior que o amor, quando ele não é
o suficiente... Mágoa por exemplo, ela
sim é eterna.
— Ah! — grito, socando o ar,
com as lembranças a mil.
Naquela época suas palavras não
me fizeram sentido algum, meus
carrinhos eram mais interessantes. Mas
hoje... Hoje eu entendo perfeitamente e
pior, pareço entender a dor.
Encosto-me no carro e faço algo
que há muito tempo não fazia, choro.
Choro por raiva de mim mesmo, por não
entender o porquê de estar assim e por
ser fraco a respeito de Antonella.
Por que ela me surpreende?
Por que eu me importo? Desde
quando eu passei a me importar com
isso?
— Merda! — digo nervoso e
ouço o toque de meu celular. — Alô! —
digo ao atender.
— Ei, calma aí. O que foi,
mano? — suspiro fundo, tentando me
controlar.
— Estou pirando, Edu. — sou
sincero, pois sei que ao menos com ele,
posso ser.
— É sua esposa, não é? —
pergunta, e apenas confirmo. — Eu vi
quando falou dela naquele palco,
Christopher, não foi apenas atuação.
— Do que está falando? —
pergunto ainda mais perdido.
— Olha, esse plano é antigo,
mas você poderia ter executado ele há
tempos. Ter feito Antonella se casar
antes, pressionando-a a aceitar tudo
antes... Por que demorou tanto, mano?
Tem algo errado com você, sabe disso.
— Não, claro que não. Ela teria
desconfiado e...
— Ela sempre esteve em suas
mãos, basta olhar pra ela. — diz,
fazendo-me lembrar do olhar doce de
Ella para comigo. — O problema é que
demorou para perceber que estavam no
mesmo patamar.
— Traduz, porra! — digo
nervoso, passando as mãos pelos
cabelos desesperado.
— Você bebeu, foi a festa e não
transou com ninguém. Aliás, desde que
começou com esse plano não levou
mais ninguém pra sua cama...
Praticamente três anos desse plano
Chris... Acha mesmo que não significa
nada ter ficado tanto tempo longe das
várias mulheres que o seguem? —
pergunta, assustando-me.
Fico parado, pensando no que
passou. No começo, eu ainda saí com
algumas mulheres, mas depois que a
beijei eu...
— Só estava focado, e não podia
estragar tudo. — digo já nervoso.
— Estar focado não o impedia
de transar com suas secretárias antes,
Chris. O que mudou então? Acorda!
— Edu, você está louco, cara...
Eu não...
— Você a ama! — diz de
repente, fazendo-me paralisar.
Não.
Não.
Não pode ser...
"Eu te amo, baby!"
Sua voz doce vem a minha
mente, fazendo com que meu coração
acelere ainda mais, se é que é possível.
Eu não posso amá-la, não...
— Você jurou nunca casar. Por
mais que precisasse disso para
conseguir o que quer, você não pensou
duas vezes antes de o fazer. Antes, com
Paula, quando fingiam um
relacionamento, você sequer
mencionou isso Chris. A diferença não
está em você, é em Antonella... Você a
ama.
— Não! — grito e jogo o celular
longe, vendo-o despedaçar na parede.
Choro em desespero, sem
conseguir entender mais nada.
Preciso beber.
Preciso respirar.
Preciso de... De Ella.
Pego os restos de meu celular e
entro no carro. Jogo os pedaços no
banco carona e já parto dali.
Rodo pela cidade por vários
minutos, até chegar à casa de Paula. Só
ela pode me ajudar.
Assim que chego, desço do carro
e toco o interfone. Em poucos minutos
os seguranças liberam minha entrada, o
que me faz lembrar do erro que também
cometi com minha amiga... Preciso
contar a verdade a ela.
Assim que entro na casa, logo
sinto um pequeno corpinho grudando
minhas pernas.
— Saudades do tio. — brinco,
abaixando e pegando Maurício no colo.
— Precisamos jogar, tio. — diz
animado, e praticamente pula de meu
colo, correndo para a sala. — Mãe! Tio
Chris está aqui!
Sorrio, limpando rapidamente
meu rosto, ao me lembrar de meu estado
de antes.
— Menino, se comporte! Estou
indo! — ouço o grito de Paula e logo a
vejo descendo as escadas.
Ela abre um amplo sorriso
quando me vê e praticamente se joga em
meus braços.
Não consigo dizer a verdade pra
ela... Sei que não. Mas ela merece saber
e não posso mais ser um crápula.
— Você sumiu, seu ingrato. —
diz e sorri ao se afastar.
— Muito trabalho e...
— Vai se casar! — grita
animada, e eu forço um sorriso. —
Minha cerimônia foi simples, quase
ninguém foi, mas foi linda, a de vocês
dois tem quer ser também...
Ela começa a tagarelar e eu me
calo. Noto a felicidade em seu rosto,
algo que há muito não via. Por mais que
Isaac não preste, ele a faz feliz. Como eu
tenho direito de tirar isso dela?
Não posso, não por enquanto.
Não sem saber como isso a afetará. Mas
cedo ou tarde, terei que o fazer. E
espero que cedo.
— Ei. — chamo sua atenção e
ela cora, com certeza percebeu que falou
demais.
— Desculpe, mas me diz... Por
que esses olhos vermelhos? — pergunta
e eu respiro fundo.
— Estou confusa, pequena. —
digo e ela me puxa pelo braço até o
sofá, fazendo-me sentar ao seu lado.
— Acha que não está preparado
pra casar, é isso? — pergunta,
parecendo nervosa.
— Não, eu só... Não sei definir o
que sinto por Ella. — digo e Paula
apenas sorri, como se eu fosse um
idiota. — Que foi?
— Chris, você a ama... Por que
tem dúvidas disso? — pergunta.
— Por que eu... Eu nunca disse
isso a ela. — também, nunca quis
enganá-la, não dessa forma. — E eu não
sei definir...
— Amor não se define, Chris.
Amor apenas se sente. Nos deixa louco,
confusos, e principalmente, abalados. —
sorri docemente. — Amor é fazer
loucuras, por mais simples que sejam.
— Mas e se... E se a loucura
magoar essa pessoa amada? —
pergunto, lembrando-me do que
realmente motivou minha aproximação
de Antonella. — Sei que mágoa não
acaba e...
— Ei, não fique assim. Mágoa se
supera sim, aos poucos, com o tempo.
— diz, dando a mim, uma esperança que
não sei dizer de onde veio. — Se
magoou Babi, de alguma forma, ou se
escondeu algo dela, a melhor coisa a
fazer é contar... Poderão superar isso,
juntos.
— Mas e se eu não a amar e
estiver me confundindo com toda
pressão e...
— Se não a amasse, Chris. Tenha
certeza de que não estaríamos tendo essa
conversa. — diz e tudo fica claro pra
mim.
Deus, eu amo Ella!
Amo Antonella Soares. Minha
esposa, minha linda... Meu amor.
— Preciso dizer isso a ela,
preciso... — digo desesperado e me
levanto.
— Ei, se acalme. — diz,
sorrindo pra mim. — Pelo que Isaac me
contou foi uma noite e tanto, fale com
ela amanhã. Vai dar tudo certo.
— Obrigada, pequena. — a
abraço e ela dá tapinhas em minhas
costas.
— Estou orgulhosa de você,
queria ter ido para ver sua declaração.
— diz e noto tensão em sua voz.
Preciso dizer a verdade a ela,
mas antes, tenho que dar oportunidade
de Isaac contar.
— Eu sinto muito, pequena. —
digo e ela dá de ombros, sorrindo
novamente. — Tenho que ir.
— Vá e não se esqueça, faça por
merecer com Babi.
Sim, pequena, eu farei.
Só espero que Ella, me dê uma
chance para... Uma última chance. Por
mesmo que nem eu mesmo entenda, eu a
amo. E tenho que dizer isso a ela.
Capítulo 13

Christopher

Alguns dias depois

Seguro forte em minha mesa,


encarando os papéis que tanto escondi.
Três anos escondendo isso, tentando de
todas as formas que nunca fossem
expostos ou que alguém além de mim e
Eduardo soubesse.
— Chris, você está fazendo o
certo, cara. — Eduardo diz e força um
sorriso.
Estou nervoso, apenas esperando
Ella vir até minha sala. Eduardo me
ajudou a pegar todos os papéis e
repassou comigo todos os passos, para
que eu não esqueça de contar nada.
Paula disse que o melhor é contar a
verdade, e pela ansiedade que corre em
meu corpo, tenho certeza que apenas
isso me trará um pouco de alívio.
Encaro a sala ao meu redor – a
sala da presidência da Mídia Soares.
Por anos, sonhei com isso, e agora, tudo
parece sem sentido. Tentei entender a
mim mesmo durante todos os dias que se
passam, tentei respirar e não pirar com
tudo, mas os pesadelos que venho
tendo, sequer me deixaram dormir.
Por isso decidi chamar Ella até
aqui hoje, após quase uma semana
fugindo e tentando me entender. Nossa
família estranhou meu jeito, com toda
certeza, mas Ella também estava
ocupada com a faculdade, e acho que
não percebeu minha distância.
Escolhi a empresa para contar a
ela, porque acho que é um local neutro.
Acho que talvez seja mais fácil dela
entender. Na realidade, o único lugar
que pensei foi aqui, pois não me sinto
mais digno de leva-la para meu
apartamento. Nem eu me aguento, diante
de todas as mentiras que parecem
impregnadas lá. Preciso contar a ela que
estou disposto a tudo, tudo mesmo para
que me perdoe... Para que me ensine a
lidar com o que sinto por ela.
Batidas na porta me assustam,
fazendo-me encarar Eduardo que
balança a cabeça e sorri, como se me
incentivasse.
— Boa sorte, amigo. — diz e
bate em meus ombros.
Ele logo se afasta e abre a porta,
a qual revela minha esposa, a mulher
que amo e nunca sequer percebi.
Ela cumprimenta meu amigo e
logo entra, fechando a porta atrás de si.
Quando volta seu olhar pra mim, lança-
me um doce sorriso, o qual faz meu
coração acelerar, ainda mais do que
antes.
— O que houve? — pergunta
como se conseguisse ler meus
pensamentos. — Chris, está tudo bem?
— pergunta, vindo até mim e tocando
meu rosto.
Pego suas mãos nas minhas e
beijo-as com carinho.
— Preciso contar a verdade a
você, de quem sou e o que fiz. — digo
rapidamente, tentando não ser um
covarde.
Seja homem, Christopher! –
repreendo-me.
— Baby, o que está
acontecendo? — pergunta, com o cenho
franzido e um ponto de interrogação
claro no rosto.
— Você me ama, Ella? —
pergunto de modo desesperado.
— Chris, é claro que eu te amo.
— diz e sorri de lado. — Eu vi o modo
como se afastou esses dias, tem algo
errado, não é? — pergunta, e eu assinto.
Levanto-me e pego a cadeira que
fica frente à mesa e a coloco ao lado da
minha. Bato de leve no assento e Ella se
senta. Respiro fundo, fechando os olhos.
— Promete que não vai me
deixar? — peço, na falha tentativa de
tentar melhoras as coisas.
— Chris, o que houve? —
pergunta, já parecendo tão nervosa
quanto eu.
— Eu... Eu sempre tive um plano
sobre tudo. — digo, e gaguejo um
pouco.
— Como assim? Plano? —
pergunta com o cenho franzido.
— Sobre nós. — confesso e Ella
arregala os olhos.
Sinto-me quebrar, ao ver dor
passar por seus olhos. Ella arregala os
olhos e se levanta no mesmo instante.
Ela começa a andar de um lado pro
outro a minha frente, como se tentasse
digerir o que disse.
— Do que está falando, Chris?
— pergunta num tom mais alto,
perdendo totalmente o olhar doce que
tem para comigo.
Eu sei, nesse instante, que a
perdi.
— Há três anos, quando a vi no
enterro de Jô e Caleb te apresentou, eu...
Eu pensei que fosse uma das amantes
dele.
— O que? — pergunta num
sussurro, olhando-me incrédula.
— Eu comecei a investigar sobre
você, por isso, naquele mesmo dia,
estava na cozinha da casa de meu irmão.
Queria ter certeza de que não era o que
pensava... A partir daí, investiguei mais
a fundo e descobri algumas coisas. Na
realidade muitas.
— Do que está falando?
— Seu passado, um documento
de minha família e... Eu planejei tudo a
partir daí. — confesso e sinto lágrimas
descerem por meu rosto.
Não consigo encarar Ella, a qual
está do mesmo jeito e sei que ainda me
olha. Ela quer saber mais, e ela merece
saber.
— O documento é esse. — digo
e pego a folha deixada a minha frente.
Coloca-a na extremidade da
mesa e Ella se aproxima, pegando-a com
cuidado. Alguns segundos se passam e
fico estático, sem conseguir dizer nada.
Eu fiz um discurso e pensei estar
preparado para isso, mas agora, tudo foi
por água abaixo.
— Mas isso não faz sentido.
Aqui diz que o casamento de um Soares
com um Donatello garante o poder das
duas empresas ao cônjuge mais velho.
— diz fraco, o que me faz encará-la.
— Eu não sei como te dizer
isso... Nunca falamos sobre seu passado,
mas eu sei quem é seu pai, Ella. — digo
de uma vez, tentando conter as lágrimas.
— Como pode? — pergunta,
deixando o documento novamente em
cima da mesa. — Não! — grita de
repente, dando passos pra trás. — Diz
pra mim que toda sua implicância com
Dominic nunca teve um motivo. Diz! —
praticamente ordena.
Levanto-me e tento me
aproximar, porém ela se retrai,
mostrando o quão frágil está.
— Eu não pensei que...
— Diz de uma vez! — exige. —
Dominic Donatello é meu pai? Por isso
tudo? Por isso “nós”? — pergunta e não
consigo mais reconhecer a mulher a
minha frente.
— Sim. — respondo
simplesmente e sinto meu rosto arder em
seguida.
Ela me bateu.
Volto a olhar para Ella, a qual
está com a mão na boca e chora
compulsivamente.
— Anos de um maldito plano...
Por isso nunca disse que me amava, não
é? Por isso nunca me quis perto de Theo
ou Dominic, ou qualquer ligação com os
Donatello? Por dinheiro? Poder?
— Ella, eu te...
— Fez toda aquela cena pra
enganar nossa família, a mim... Por
dinheiro, Christopher? — pergunta, e
logo suas lágrimas cessam. — Você é
um lixo. — diz e antes que eu possa
dizer algo, ela tira a aliança do dedo e
joga longe. — Isso é tão lixo quanto
você. Parabéns, senhor Soares, você tem
tudo!
Ela então se afasta e vai em
direção à porta.
— Ella, por favor, deixe-me...
— Chega de mentiras e
fingimento. Não precisa mais disso,
fique com seu dinheiro que agora, eu
tenho um passado e um futuro destruído
para lidar.
Ela então sai, e sinto a dor de
sua ida ao mesmo instante.
Caio de joelhos e sinto minhas
pernas arderem. Choro e desabo, sem
conseguir mais raciocinar. Paula disse
que a verdade ajudaria, que... Paula está
errada sobre isso, por completo.
Ella não está magoada, ela me
odeia agora. Eu perdi a mulher que amo.
A porta da frente se abre
novamente e desesperado me levanto,
imaginando ser Ella, porém, como dizem
por aí, tudo que está ruim pode piorar.
Hoje, é um desses momentos.
— O que houve, irmão? —
Caleb pergunta, e eu apenas o encaro.
— Eu a magoei, Caleb. —
confesso e Caleb me encara incrédulo.
— Por ambição, eu a perdi.
— De que merda está falando?
— pergunta nervoso.
— Leia os documentos na mesa e
vai entender. — digo e ele passa por
mim, indo até a mesa.
Continuo parado, de costas pra
ele. Nem penso em perguntar o porquê
dele estar na empresa, ou pior, em minha
sala. Porém, em poucos minutos apenas
sinto meu corpo sendo puxado e o
primeiro soco me atinge.
Ella disse que tenho tudo, mas
pelo contrário, eu perdi.
Capítulo 14

Christopher

Meu irmão continua me


acertando e eu não consigo revidar.
Minhas mãos parecem inertes, apenas
tento cobrir meu rosto. Mas no fim das
contas sei que mereço. Sei que esses
socos não são nada perto da dor que
Ella está sentindo agora.
Caleb me levanta do chão e me
joga sobre a cadeira de presidente.
— Está feliz agora? Feliz com
seu posto? — grita e morde uma das
mãos com força. — Como pode fazer
isso com a minha filha? Ela só tem vinte
e um anos, Christopher!
Meu irmão leva às mãos a
cabeça e passa com força pelo rosto. Eu
levo minhas mãos aos cabelos e choro,
desabo. Eu não consigo me controlar,
não mais.
— Olhe pra mim! — ele esmurra
a mesa.
O encaro e vejo lágrimas
descendo por sua face.
— Eu fiz de tudo por você,
Chris. Toda nossa família fez. Eu confiei
em você e você me traiu. — ele respira
fundo. — Eu sempre desconfiei do
envolvimento de vocês, não sou cego!
Achei que ninguém melhor pra cuidar da
minha filha do que meu próprio irmão.
— grita. — Mas por que fazer isso com
ela? Eu pensei que a amasse!
Fico em silêncio e absorvo suas
palavras. Ele sabia! Ele sempre soube.
— Diga algo! — exige.
— Eu a amo. — choro em
desespero.
— Você ama o poder que ela te
deu! — grita. — Você a fez se casar com
você. Como pode?
— Eu a amo, irmão.
— Não me chame de irmão,
porra. Você deixou de ser isso quando
desenterrou o passado da minha filha e
usou a seu favor!
Suas palavras são piores que os
socos que ele desferiu minutos atrás.
— Como pode? — pergunta
enfurecido e joga um vaso na parede, o
qual se parte em mil pedaços.
— Caleb, eu...
— Quer saber? Chega! — me
corta. — Quero apenas que assine os
papéis do divórcio o mais rápido
possível.
— Não. — respondo de
imediato.
— O que? — pergunta
transtornado.
— Não vou deixá-la.
— Mas ela vai te deixar. — diz
convicto e sorri amargo.
— Não pode obrigá-la a me
deixar. — o encaro.
— Eu não farei isso, você se
encarregou disso quando mentiu e a usou
deliberadamente para seus interesses. —
sinto meu coração se apertar.
Ela não vai me deixar. Ou vai?
— Valeu a pena Christopher? Ter
a Soares é pouco pra você? Precisava
mesmo da Donatello? — pergunta com
desprezo.
— Era meu sonho. — confesso.
— Derrubar Dominic? —
pergunta com desdém. — Desde que
encontrei Babi, evitei o máximo de
saber quem são os pais biológicos, mas
por necessidade, tive que saber. Ela foi
abandonada num lugar onde quase foi
estuprada aos dez anos! — grita e eu
arregalo os olhos. — Não descobriu
isso também?
— Por que nunca cobrou nada de
Dominic? — pergunto sem entender.
— Babi nunca quis saber sobre o
passado. Eu sempre soube e disse a ela
que diria quando quisesse, mas ela se
nega. Eu nunca fiz teste algum, apenas
soube das testemunhas de pessoas a
respeito disso, o que aponta diretamente
a ele. Se ela quisesse saber sobre isso,
iria atrás disso por ela. O fato é que por
sua culpa ela descobriu o que nunca
quis.
— Eu só queria uma segunda
chance, irmão. — digo já desesperado.
— Você não vai destruí-la,
Christopher. Eu não vou permitir. Ela
sofreu demais para que você chegue e
tire tudo. Espero mesmo que você a
ame.
— Por que? — pergunto sem
entender.
— Porque vai sofrer cada dia em
que ela não quiser te ver. Porque mesmo
que ela não seja minha filha biológica,
eu sou o pai dela. E se tem algo que a
ensinei a todos os meus filhos, foi a se
amarem antes de tudo.
— Caleb...
— E mais uma coisa... — ele
fecha os olhos com força. — Nunca
mais se aproxime da minha casa e muito
menos da minha família. Você morreu
pra mim!
Ele então sai.
Aguardo alguns segundos alguém
entrar, mas nem sinal de vida. Jogo-me
de joelhos no chão novamente e choro.
Eu perdi a mulher que amo e a minha
família no mesmo dia. Tudo por uma
ambição burra e sem nexo.
Eu não quero mais ser presidente
de nada. Eu só quero uma chance de lhe
explicar tudo.
Encaro os documentos
espalhados na mesa, assim leio todo o
acordo, chorando ainda mais. Lembro-
me do que descobri e o que me fez ir
atrás de Antonella a princípio.
Meus soluços já são altos e não
consigo sequer encarar a cópia do
documento que está molhada por minhas
lágrimas. Foco novamente minha visão
nas palavras que me fizeram insistir
tanto em ter Antonella.
"Caso um herdeiro dos Soares
se case com um herdeiro dos Donatello,
o de maior idade assume a
responsabilidade de presidir as duas
empresas."
Esse documento foi feito há mais
de quatro décadas, assinado por meu
avô e pelo avô de Donatello. Porém,
acabou com minha vida nesse instante.
Capítulo 15

Antonella (Babi)

Encaro o grande armário de


bebidas trancado e meu ódio parece
aumentar ainda mais. Pego a chave que
escondi dele, no seu próprio
apartamento, e abro o armário.
Pego a primeira garrafa que vejo
e abro, sem me dar tempo pra pensar ou
voltar atrás viro o primeiro gole. O
líquido queima em minha garganta e
grito de angústia, grito de raiva.
Uma mentira!
Tudo uma grande mentira!
Por sorte ou azar, consegui pegar
um táxi assim que saí da empresa. Aqui
estou, rodeada de garrafas de bebidas,
logo vejo que uma já está praticamente
vazia e abro outra.
Eu nunca bebi antes, não desse
modo. Sempre tentei controlar
Christopher a respeito disso, mas aposto
que nunca consegui. Quantas mentiras
ele disse? Quantos segredos ele guarda?
Será que tem uma amante também?
Não consigo parar de pensar
sobre meu passado... Como vou encarar
Dominic novamente?
Ele é meu pai.
— Não. — grito e jogo a garrafa
vazia longe, fazendo-a estilhaçar na
parede.
Pois é, o que a bebida mais o
ódio são capazes?
Tento me levantar e seguro firme
na parede para conseguir. Gargalho
sozinha de meu desastre e ao mesmo
tempo choro por tudo que está
acontecendo.
Ligo a tv com dificuldade e
seleciono o YouTube[6]. Escolho a
música perfeita e sento-me a frente dela,
bebendo mais metade de uma garrafa.
Sinto meu corpo mais pesado e
as palavras saem com dificuldade. Com
certeza, não estou cantando bem.
"É óbvio que você foi feito para
mim
Cada pedaço de você se encaixa
perfeitamente em mim
Cada segundo, cada
pensamento
Estou entregue profundamente
Mas nunca demonstrarei
Mas nós sabemos disto,
Temos um amor que é sem
esperança"
(Secret Love Song – Little Mix)
Deito-me no tapete e continuo
bebendo e cantando. Não sei quanto
tempo leva, mas tudo começa a girar e
não consigo mais pegar a garrafa. Meus
olhos ficam pesados e minha garganta
não responde.
Lembranças de nossos momentos
juntos, principalmente de nosso primeiro
beijo, invadem minha mente.
Ando pelo jardim da casa de
minha "família". Isso ainda soa
estranho, imaginar que as várias
pessoas, que estão dentro da grande
casa são agora parte de mim também,
porém Jô tinha me avisado sobre isso,
que um dia aconteceria. Respiro fundo
e tento controlar as lágrimas que
querem descer.
Jô se foi há pouco tempo, e
mesmo quem disse que com o tempo
essa saudade melhora, tenho certeza
agora de que não estava certo. Sinto
falta dela a cada instante, cada
momento de meu dia. Mas eu sinto por
um lado que ela está bem, como sempre
disse que ficaria quando me deixasse.
Ela foi mãe, amiga, companheira...
Tudo sem pedir nada em troca. E nesse
mundo, onde fui abandonada, tive a
sorte de dois anjos me resgatarem.
Sento-me no balanço infantil e
sorrio ao ver que ainda caibo num
desses. Seguro nas correntes e fecho os
olhos, sentindo a leve brisa tocar meu
rosto. Sim, eu sinto Jô perto de mim.
Como se fosse automático sinto
meu corpo formigar e algo dentro de
mim se incomoda. Abro os olhos no
mesmo instante e me assusto ao
encontrar os olhos castanhos de
Christopher... O que ele faz aqui?
Ele é como um "tio" para mim,
no caso, ou ao menos deveria ser. Não
sei por que, mas até agora não
consegui enxergá-lo como tal.
— Tudo bem? — arrisco
perguntar, ele então fica em silêncio e
apenas se senta no outro balanço ao
meu lado.
Fico o encarando, e noto um
simples sorriso no canto de sua boca.
Queria poder negar e dizer que isso
não me atinge, mas ele, com toda
certeza, é o cara mais belo que já vi na
vida.
— Eu te vejo de longe, sei que
pode parecer estranho mas... Deve ter
percebido que não a trato como Castiel
faz. — diz, deixando-me intrigada.
— Algum problema? —
pergunto e ele nega. — Eu sei que é
estranho ter aparecido agora na sua
família e...
— Não, o estranho é o que sinto
próximo a você.
O que?
— Chris... Eu... — ele então
toca meu rosto com a mão direita e
abre um sorriso branco, deixando-me
completamente sem fala.
— Me chame assim, gostei de
meu apelido em seus lábios... Aliás,
acho que vou gostar de muito mais. —
diz, colocando uma mecha de meu
cabelo atrás da orelha. — Você é linda,
Ella.
Respiro fundo e tento dizer
algo. Mas quando penso em abrir a
boca pra falar, os lábios de
Christopher tocam os meus. Meu
primeiro beijo... E é magnífico. Sinto
uma leve pressão de sua mão em meu
cabelo e faço o mesmo com ele,
colocando meus dedos em meio aos fios
lisos e cumpridos.
Sinto seu gosto e pior, gosto
disso.
Afasto-me de repente, ao
perceber a burrada que fiz. Olho
rapidamente para os lados, nervosa,
com medo de alguém ter visto.
Christopher parece tranquilo e não
esboça nada além.
— Como imaginei, perfeita.
Fecho os olhos com força,
tentando esquecer esse maldito dia, o
dia em que comecei a confiar nele...
Perfeita? Só se for para a ambição dele.
Bebo mais e mais, tentando
esquecer tudo, cada detalhe do que
passamos juntos. Tento me levantar, pois
meu corpo já protesta contra o álcool,
porém é em vão. Entro em sono
profundo, e uma paz descomunal me
atinge.
Parte II
“Agora está tão longe ver,
A linha do horizonte me distrai
Dos nossos planos é que tenho mais
saudade
Quando olhavamos juntos na mesma
direção
Aonde está você agora
Além de aqui,
Dentro de mim?”

Legião Urbana – Vento no litoral


Capítulo 16

Christopher

Saio esbarrando nos corredores


do hospital e meu coração sangra.
Alguns enfermeiros me param, com
certeza assustados com o estado de meu
rosto e minha atual situação. Mas não
lhes dou atenção, eu apenas quero poder
voltar no passado e consertar tudo.
Nunca ter me aproximado de Ella, pois
eu sou a destruição da mulher que amo.
Eu nunca a mereci.
— Você vai voltar pra lá agora!
— ouço a voz fria de meu irmão e ele
me puxa com força pelo braço.
Não consigo impedi-lo e deixo
ser guiado pelo ódio de um dos homens
que sempre foi minha inspiração.
Ele me joga em frente a uma
parede de vidro e força meu rosto contra
ela. Fecho os olhos com força, tentando
não gritar, pois algo dentro de mim me
sufoca.
— Você vai abrir a porra dos
seus olhos e encarar o que fez! — Caleb
praticamente ordena ao meu lado. —
Seja homem pelo menos uma vez!
Abro os olhos incertos e encaro
Ella deitada na cama. Minhas pernas
fraquejam e seguro com força contra o
vidro.
— Quero que se lembre disso
quando cogitar a possibilidade de tentar
se aproximar dela. — Caleb ameaça.
Encaro mais uma vez Ella e
choro copiosamente. Não consigo fingir
mais nada, não consigo entender como
pude ser capaz de causar tanta dor a ela.
Uma mulher inocente.
Me solto de meu irmão e o
encaro, mesmo mantendo a pose fria, sei
que Caleb está se segurando para não
me abraçar. Ele sabe que estou
arrependido, sempre foi o melhor de nós
em enigmas. Porém, ele não vai ceder, e
isso só indica que além de perder a
mulher que amo, perdi meu irmão.
Viro-me e saio novamente pelos
corredores, cambaleando pela dor em
meu peito e a falta de ar em meus
pulmões. Esbarro sem querer em
algumas pessoas e peço desculpas sem
encará-las.
Quando saio finalmente do
hospital, solto uma breve respiração e
me seguro para não voltar atrás. Eu
queria poder enfrentar meu irmão e dizer
que nada me afastará de Antonella, mas
fui o próprio culpado do afastamento.
Não posso fazer mais nada a respeito.
Vou em direção ao
estacionamento e de longe vejo várias
pessoas chegando. Quando as
reconheço, apresso o passo, para chegar
logo ao carro.
Infelizmente, meu irmão é mais
rápido que eu.
— Christopher. — paraliso e
volto meu olhar para Castiel.
Meus pais sequer se aproximam
e Dani sai junto a eles. Eu agradeço por
isso, pois sei que meus pais estão
decepcionados demais para me encarar
e Dani nem daria tempo para eu falar, já
teria me batido.
— Ei, moleque. — encaro
Castiel, o qual balança a cabeça
negativamente. — Parece que Caleb já
deu a coça que você merece.
Permaneço em silêncio e meu
irmão me encara fielmente. Os olhos
verdes dele não parecem magoados ou
decepcionados. Ele é único até o
momento que me encara como igual.
— Como está se sentindo? —
pergunta, deixando-me surpreso.
Ok, sua pergunta me pegou
desprevenido. Ninguém o fez até o
momento, sequer se importaram. Não
que eu mereça que eles se importem,
pelo contrário.
— Será que dá pra parar de me
encarar como se eu fosse um ET[7]? —
Castiel debocha, porém sei/p/ que está
sério.
— Pode começar a despejar,
Cas. — digo e passo as mãos pelos
cabelos. — Pode começar.
— Tenho certeza que os socos de
Caleb e as verdades dele já foram o
suficiente. — diz convicto. — Além de
que ver a mulher que ama em coma a sua
frente tenha bastado para abrir seus
olhos.
E novamente a realidade bate em
minha cara. Eu a vi praticamente morta
em minha frente. Dói, dói demais isso.
Além de ter sido por minha própria e
exclusiva culpa.
Levo as mãos ao rosto e choro
com a lembrança do estado em que a
encontrei.
— Vem aqui, moleque. —
Castiel me puxa para um abraço, e
mesmo sem entender tal gesto, desabo.
Desabo de vez.
Assim que meu irmão sai de
minha sala, disco no mesmo instante o
número de Ella. Preciso falar com ela
nesse momento.
Como não obtenho resposta
alguma, corro até o carro e dirijo
rapidamente até o meu apartamento.
Com a esperança de que ela esteja lá.
Em poucos minutos, meu novo
celular toca e mesmo sem querer,
atendo de imediato.
— É melhor dizer que está com
a minha filha e a trazer pra fora desse
prédio agora. — Caleb diz com raiva.
Eu giro as chaves na fechadura
do apartamento e entro.
— Do que está falando, Caleb?
— pergunto sem entender.
— Babi sumiu! Eu sei que a
levava em um apartamento diferente do
qual me recebe e todos nós, agora me
diga qual a merda do andar e
apartamento. Sei que é o mesmo
prédio!
Tento responder meu irmão, mas
quando encaro o chão e vejo líquido
espalhado, assusto-me. Dou passos
incertos pelo corredor e ao chegar na
sala, meu mundo para.
Meu coração se quebra.
Minha respiração falha.
Antonella está caída no chão
com uma garrafa de uísque em cima
dela. Olho para o lado e há uma
garrafa vazia, fora a que ela tem em
seu corpo.
— Não! — grito e desabo de
joelhos ao lado dela. — Baby, por
favor, acorda!
Quando não obtenho resposta
alguma, contato que o álcool pode ter
feito algo pior do que um desmaio.
— Caleb, preciso de ajuda. —
digo, ao mesmo tempo que pego Ella no
colo.
— Eu não quero saber...
— Uma ambulância agora
Caleb, estou descendo com Ella em
meus braços...
— Qual o andar? — meu irmão
praticamente grita.
— Décimo segundo. — digo e
ele desliga.
Quando estou saindo
desesperado do apartamento, meu
irmão aparece e ignorando totalmente
a mim, pega Ella no seu colo.
Tento entrar com eles no
elevador, mas Felipe que vinha junto
com ele me impede.
— Fique longe da minha irmã.
— ele grita e me encara enfurecido.
Assim que as portas do elevador
de fecham, deslizo pela parede do
corredor e choro.
Eu estou perdendo o amor da
minha vida.
— Isso vai me custar uma
camisa nova. — a voz de Castiel me traz
a realidade.
Só então percebo que meu choro
molhou toda sua camisa.
— Sinto muito, eu...
— Aprendendo a pedir
desculpas, irmão? — ele sorri
cinicamente. — Caleb não irá perdoá-
lo, não agora. E sequer sei o que Babi e
nosso pai farão, mas fique de fora por
enquanto, Chris. Para o seu bem.
— Eu tenho que saber como ela
está e...
— Eu te passarei informações
sobre o estado dela. — diz calmo. —
Ela já saiu do coma alcoólico pelo que
Caleb nos disse, só precisa se recuperar
totalmente.
— Por que está fazendo isso?
Nossa família pode te julgar e...
— Somos irmãos, Chris. Eu
entendo o lado de ambos, mas por ser o
mais velho tenho a responsabilidade de
cuidar dos dois.
— Não somos mais crianças.
— Como perdi a oportunidade
de fazer isso naquela época, faço hoje.
Agora mova sua bunda e não chegue
perto de nenhuma bebida alcoólica.
— Eu não vou. — digo vencido.
— Obrigado, irmão.
— Seja agradecido, sumindo um
pouco do mapa. — sorri cinicamente. —
Goodbye.[8]
Assim que entro no táxi, noto que
as lágrimas desapareceram por alguns
instantes. Por mais que não entenda a
atitude de Castiel, eu só consigo
agradecer por tê-lo ao meu lado. Fora
meu amigo Eduardo, ele é a única
pessoa que me resta.
Pois quem mais importa, perdi
para sempre. Para minha própria
ambição.
Capítulo 17

Antonella (Babi)

— Eu devia ter te colocado


contra a parede assim que desconfiei
de vocês dois, assim nada disso teria
acontecido. Assim eu nunca teria que te
ver desse jeito...
Parece uma voz longe, mas me
dá forças para querer acordar.
Sinto meu corpo pesado e tento
abrir os olhos. Forço mais um pouco e
consigo ver algumas frestas de luz,
porém fecho rapidamente, pois isso me
incomoda. Espero mais alguns segundos
e tento novamente, devagar, esperando
meu olhar se acostumar com o local.
Tento mexer minha mão, porém
algo me impede, viro-me e tento focar
ao lado. Em alguns segundos consigo
identificar meu pai e seus olhos azuis me
encaram, seu semblante é triste e seu
rosto está vermelho.
Ver sua expressão me traz
lembranças e dúvidas sobre tudo.
Lembro-me de Christopher e
lágrimas vem automaticamente a meu
rosto. Meu pai me encara sem jeito e
leva uma de suas mãos até mim,
limpando as lágrimas que insistem em
descer.
— Pai, foi tudo verdade? —
pergunto covardemente e ele apenas se
levanta, me abraçando em seguida.
Sinto meu mundo desabar
novamente e tento raciocinar em meio a
toda confusão que minha vida se tornou.
Tudo porque decidi viver um amor
proibido, um sentimento que nunca
deveria ter se instalado em mim.
Assim que meu pai se afasta,
sinto falta de seus braços ao meu redor,
os mesmos que me salvaram há dez
anos. Sinto a culpa me invadir por ter
sido tão covarde e escondido dele toda
a verdade. Se tivesse tido o mínimo de
respeito e consideração com minha
família, não estaria aqui hoje, nem
mesmo em um hospital sem saber o por
que.
— Você se lembra do que
aconteceu depois que foi para o
apartamento de Christopher? — ele
pergunta.
Franzo a testa e tento me
lembrar. Lembro-me das várias bebidas,
de me sentir leve e tentar a todo custo
cantar uma música, mas de repente tudo
se tornou escuro.
— Eu desmaiei? — pergunto, me
sentindo ainda mais culpada.
— Você entrou em coma
alcoólico. — conta e lágrimas descem
pelo seu rosto. — Eu senti tanto medo,
filha.
— Pai. — levo as mãos ao rosto,
sem saber onde ou como me esconder.
Eu machuquei minha família de
tantas formas que não sei mais como
agir.
— Eu sinto tanto, pai. —
confesso. — Eu sinto muito por tudo.
— Não se preocupe com nada
agora que não seja ficar boa e voltar pra
casa. — ele aperta minha mão. — Eu te
amo, minha pequena.
— Também te amo, pai. — digo
e o abraço.
A culpa me invade, mas não
consigo deixar de pensar nos meus
sentimentos que foram usados e jogados
fora. Em toda mentira que vivi ao lado
de Christopher imaginando que seria
meu “feliz para sempre”.
Em como todo romance que já li,
tento encontrar na vida algo que
explique tudo isso. Algo que faça
Christopher não ser apenas o homem que
me usou. Mas isso não parece um
romance, parece mais uma história de
terror. Eu não sei se vou sobreviver a
isso.

Christopher

Encaro a casa de Isaac e Paula,


ainda sentado em meu carro. Penso se
devo ou não me aproximar, mas quando
vejo, já estou a passos incertos
caminhando pelos seguranças, os quais
sabem que tenho passe livre.
Penso então no pedido de Castiel
de me afastar e sei que é o melhor por
agora. Meu celular toca antes que eu
possa abrir a porta da casa, e finalmente
consigo sorrir nesse dia.
Ela acordou e está bem.
Não se preocupe irmão, ela é
forte.
Sinto vontade de estar ao lado
dela, me ajoelhar no chão e pedir
perdão por tudo. Por ter sido ambicioso
e pretensioso, por não ter pensando
sequer em seus sentimentos no início,
por ter pensando nem nos meus
próprios... Sendo que sempre senti algo
forte perto dela, mas nunca quis admitir.
E aquela frase que sempre ouvi
Paula dizer, vem em minha mente: "Não
me lembro mais qual foi nosso começo.
Sei que não começamos pelo começo.
Já era amor antes de ser." (Clarisse
Lispector)
Então encaro novamente a porta
da casa dela, sei que talvez seja um erro
fazer isso. Mas eu preciso contar a
verdade a Paula, uma das únicas
pessoas que me resta, mas que sei que
perderei nesse momento. Tudo por conta
de um bendito acordo que fiz com Isaac.
Mas eu não posso sequer julgar
Paula, pois omiti coisas a respeito de
sua própria família a partir do acordo
que tenho com Isaac. Ele sabia dos
documentos que descobri entre os
Donatello e os Soares, e também sabia
sobre eu e Ella, mas prometeu não
contar nada se eu não contasse a Paula o
que ele vem escondendo dela.
Que ele vem mentindo a cada
dia, dizendo que Victória nunca quis
Paula por perto, que Lívia está sempre
ocupada demais com Joaquim ou com
Castiel para que ela possa se
aproximar... Não sei em que momento
me tornei essa pessoa horrível, que
permite que a melhor amiga seja
subjugada por um homem inseguro e
obsessivo, mas eu vou mudar isso hoje.
Mesmo que seja para perder Paula para
sempre, ela merece a verdade.
Então finalmente abro a porta e
estaco assim que um segurança me joga
contra a porta.
— Mas que merda você pensa
que está fazendo? — pergunto furioso.
— São ordens. — diz
simplesmente e antes mesmo que ele
possa pensar, o derrubo no chão.
Ter treinamento é algo
fundamental em minha família, e posso
dizer que finalmente se tornou algo útil.
O segurança faz menção de se levantar,
mas lhe aponto o dedo no mesmo
instante:
— Nem pense ou vou te
desmaiar em poucos segundos.
Ele, porém, não me obedece e
vem pra cima. Em poucos segundos ele
cai desacordado.
— Eu avisei.
Respiro fundo e penso em como
fazer isso. Isaac não vai permitir que eu
me aproxime e conte a ela, e não posso
fazer isso pelo telefone, a machucaria
demais.
Em poucos segundos Isaac desce
as escadas e me encara incrédulo. Ele
chega próximo a mim e me empurra no
mesmo momento contra a parede.
— Você enlouqueceu? —
pergunta baixo e sinto nojo dessa
situação.
Eu sei que sou um crápula e que
não mereço Ella. Mas Isaac não está
muito longe disso, e não vou deixar que
Paula sofra ainda mais com ele.
— Vamos à sala de treinamentos,
preciso falar com você. — digo e ele
continua a me encarar. — Já não basta a
surra que levei de meu irmão, nem tente
relar em mim Isaac, ou vamos ficar aqui
o dia todo.
— Vamos logo, porra! — Isaac
diz nervoso e caminha para fora da casa.
Ok, tudo certo até agora! Sei que
Paula virá atrás de nós, ela é curiosa
demais. E eu não sei ao certo como
contar tudo a ela...
— Agora você me diz que merda
veio fazer aqui? — Isaac pergunta no
mesmo instante que entramos na sala de
treinamentos.
— Acho que sabe muito bem. —
digo e ele arregala os olhos no mesmo
momento.
— Eu não descumpri nada do
acordo. — diz solícito e o encaro
incrédulo. — Vá embora!
— Não percebe que ela está
sofrendo? — pergunto já com raiva. —
Posso ter concordado com isso antes,
mas não mais... Não hoje.
— Você não pode ferrar com
meu relacionamento só porque o seu
acabou. — ele leva às mãos a cabeça e
passa várias vezes pelos cabelos. —
Paula é minha.
— Isso deixou de ser um
relacionamento quando a roubou do
mundo e impediu que vivesse. — revido
e ele me encara embasbacado. — Seja
homem Isaac e admita que cometeu erros
com ela.
Assim me viro para a porta da
sala e encontro Paula nos encarando
assustada. Fecho os olhos com força e
de repente tento passar por Isaac, que
me segura com força no mesmo instante.
Isso foi ridículo, mas é uma das poucas
formas de tirar Isaac do controle, tentar
chegar perto de Paula.
— Já chega, Christopher! —
grita de repente.
— Isaac. — sussurro. — Conte a
ela. — peço, ao ver por seu ombro o
olhar surpreso de minha amiga. — Ela
não merece isso.
— Você não vai ferrar a minha
vida. — grita e me acerta um soco.
Caio no chão e meu corpo lateja
pela dor. Escuto o grito de Paula com
Isaac. Vejo-a tentar chegar até mim,
porém Isaac a prende em seus braços.
— Bata mais Isaac. — limpo
minha boca e o encaro perplexo. —
Acha mesmo que me bater vai adiantar
algo? Vai mudar o passado ou as suas
mentiras? — Paula me encara
desconfiada e eu faço apenas nego com
a cabeça.
Ela sabe o que quero dizer, ela
sempre saberá... Quando a conheci,
nunca pensei que se tornaria tão especial
para mim, muito menos que ela fingiria
um relacionamento comigo como pedi há
tempos atrás, mas ela o fez... E desde
então, temos nosso sinal, o qual indica
que algo está errado, o mesmo daquela
época.
— Vá embora, agora! — Isaac
exige.
Porém Paula, sem que qualquer
um de nós espere, acerta em cheio o
abdome de Isaac com seu cotovelo,
fazendo-o afastar um pouco. Ela
aproveita e vem até mim, tocando meu
rosto, passando as mãos de leve por
meus lábios cortados.
— Chris, diz que não mentiu pra
mim. — pede, encarando-me com
tristeza, e lágrimas já se formam em seus
olhos.
Paula nunca foi uma mulher
ingênua, não do modo como Isaac pensa.
Se eu tivesse feito qualquer sinal antes,
ela teria desconfiado, porém, além de
confiar nele, ela confiou plenamente em
mim, por isso não foi atrás da irmã, por
isso não ficou próxima de Lívia. É
minha culpa também.
— Eu sinto muito, pequena. —
digo baixinho. — Me perdoe.
Ela então se afasta, ficando de
pé e passando as mãos pelos longos
cabelos loiros.
— Isaac. — Paula diz. — O que
estão escondendo de mim? — pergunta e
sei que está perdida.
Dói vê-la assim, e ver que nunca
fiz nada para impedir.
— Fora daqui, Paula. — Isaac
diz e a pega pelos braços, tentando tirá-
la a força da sala.
Eu vou matá-lo!
— Chris! — ela grita em socorro
e sem pensar duas vezes, levanto-me
mesmo com a dor e a solto de Isaac,
derrubando-o em seguida.
Um, dois, três, quatro socos...
Para tentar amenizar a raiva que sinto
por vê-lo a tratar como uma idiota.
Paula não merece isso.
— Pare, por favor! — ela pede e
então estaco.
— Conte a ela, Isaac! — peço
novamente, praticamente implorando
para que essa cena de terror acabe.
— Isaac, do que ele está
falando? — pergunta e se ajoelha ao
lado dele, tocando seu rosto.
— Sereia...
Pelo olhar que Paula dá a ele,
sei que ele não terá escapatória, a não
ser contar toda verdade para ela.
— Não escute o que ele fala,
sereia. — Isaac diz, e sei que não tem
outro jeito. Eu mesmo tenho que falar.
— Victória sofre por estar longe
de você. — digo, encarando-a, sem
deixar dúvida sobre a verdade. Ela sabe
que não estou mentindo.
E no fundo espero que ela
também saiba que sinto muito.
— Diz pra mim que é mentira.
— pede e encara Isaac. — Isaac! Me
responda! — grita e ele tem a
capacidade de negar.
Dói vê-la de tal forma, e como
Isaac ainda insiste nessa mentira.
— Ele disse a verdade. — Isaac
finalmente confessa.
Então, tenho que ir embora
daqui.
Encaro Paula mais uma vez,
porém ela sequer me olha. Eu sinto
tanto!
— Eu prometo voltar, pequena.
— digo, saindo da sala no mesmo
instante.
Entro em meu carro e encaro
meu reflexo horrível através do
retrovisor. Penso para onde devo ir, mas
me sinto completamente perdido. Encaro
meu reflexo novamente e pergunto alto:
— Quem é você, afinal?
Capítulo 18

Antonella (Babi)

Algum tempo depois

A passos incertos entro em casa


e Lipe vem abraçado a mim. Ouço um
gritinho masculino e logo meu anjinho
está em meu colo.
— Oi, Mi. — digo e ele sorri.
— Vamos brincar hoje? — pede,
com os grandes olhos azuis brilhando.
Miguel sempre foi assim,
amoroso com todos nós, principalmente
com Felipe. Mas agora, com seus quatro
aninhos, parece ter ficado ainda mais.
— Bom, eu...
— Eu brinco com você, Mi. —
Felipe intervém. — Babi ainda tem que
dormir um pouco, lembra que disse que
ela passou mal por não comer salada e...
— Bi, você tem que comer
salada. — Miguel chama minha atenção
e eu sorrio. — Papai não me deixa
brincar lá fora se não como, então ele
pode fazer o mesmo com você.
— Que garotinho esperto, não é?
— papai tira ele de meu colo e joga-o
pra cima. — Vamos levar sua irmã lá
pra cima e depois todos brincamos, ok?
— Eba! — Miguel grita e pula
do colo dele.
— Não corra! — mamãe diz,
mas Miguel já está correndo pelos
degraus. — Teimoso como o pai.
Sorrio de sua provocação e meu
pai a olha inconformado.
— Nem vem, bonitão. Miguel
tem seu gênio, todo mundo sabe disso.
— Ah meu Deus! — viro ao
ouvir o grito de Luna. — Você está bem
irmã? Te trataram bem naquele hospital?
Meu Deus, você está ainda mais branca
se possível! Eu senti tanto medo, vim o
mais rápido que pude e...
— Estou bem. — digo já
abraçada a ela. — Obrigada por se
importar.
Antes que eu possa pensar, Luna
bate em meu braço e me abraça
novamente.
— Para aprender a não me
deixar preocupada mais. Te amo muito,
irmã. — sorrio, sentindo suas lágrimas
em meus ombros.
— Abraço em família? — meu
pai pergunta e ouço gritinho de Miguel.
Em poucos segundos sinto seus
bracinhos ao redor de minha perna.
Logo, papai, mamãe e Lipe estão
a nossa volta. Esse é sempre um dos
meus melhores momentos, em meio das
pessoas que realmente me amam e que
são minha família.

***

— Você sempre teve razão, Lipe.


— confesso e meu irmão para de fazer
cafuné em meus cabelos. — Você
sempre esteve certo.
Silêncio se instala entre nós e o
único som ouvido é uma das músicas de
nossa playlist. Take your time de Sam
Hunt - traz um pouco de paz ao meu
coração.
— Já pensou no que vai fazer?
— ele pergunta e eu apenas nego. —
Descanse irmã, é o melhor por enquanto.
— Eu sei. — respiro fundo. —
Até agora não consegui assimilar tudo,
acho que estou dentro de um pesadelo
e...
— Eu sinto muito. — ele me
abraça com carinho.
— Eu também.
— Laura me ligou. — diz sem
jeito. — Ela estava te procurando e
bom, como não conseguiu acabou vindo
até mim. Contei o que houve e ela disse
que logo estará aqui.
— Mas ela não está fora do
país? — pergunto incrédula.
— Ela disse que ia pegar o
primeiro voo. — Lipe dá de ombros.
— Eu entendo. — respiro fundo.
— Vou mandar uma mensagem para eles
depois e ver o que houve.
— Sabe que precisa conversar a
respeito do que descobriu, não é? —
assinto. — Se não quiser falar comigo
sobre, ao menos não me esconda mais
nada.
— Pode deixar, Lipe. — ele
beija minha testa. — Só quero ficar um
pouco sozinha.
— Certo, nossos pais saíram
com Miguel, pois prometeram leva-lo
para ver um filme. Luna teve outro
problema com Lucas e teve que sair a
pressas atrás dele. — ele conta e sinto-
me mal por minha irmã. — Estarei em
meu quarto, pra qualquer coisa, ok?
— Ok. Obrigada. — o abraço
novamente e ele em seguida, sai do
quarto.
Fico então parada, encarando o
teto por alguns segundos. Pensando em
como minha vida virou de cabeça pra
baixo nos últimos três anos. Desde
quando vim morar de vez na casa de
meu pai, a perda de Jô que até hoje me
machuca, o carinho de Victória e a
forma que ela se tornou uma mãe pra
mim, ter Lipe, Luna e Miguel... E por
fim, ter conhecido Christopher.
Quando nos conhecemos não
tinha ideia de que chegaríamos ao
matrimônio um dia, por mais falso que
seja. E abraçada à tristeza desse falso
relacionamento, deito-me na cama e
apago. Querendo esquecer tudo que
houve.

***

Sinto uma sensação boa me


invadir e abro meus olhos devagar,
encontro a luz do quarto apagada e um
cobertor ao meu redor. Com certeza
Lipe fez isso. Fecho os olhos novamente
e tento focar apenas em voltar a dormir,
e logo sinto meu corpo leve.
— Ella. — escuto sua voz rouca,
e abro os olhos no mesmo instante.
Christopher me encara sem jeito
e sorri em minha direção. Quero tocá-lo
e questionar sobre tudo, mas não quero
que esse sonho termine.
— Eu te amo, baby. — diz
próximo a mim e noto seu rosto um
pouco machucado. O que? — Eu não
vou desistir de nós.
Fecho os olhos e tento acordar,
mas não consigo. Não por não conseguir
fugir do sonho, mas por isso ser real.
Christopher está aqui.
Meu coração bate freneticamente
e sento-me na cama, sem conseguir
encará-lo. Sinto raiva, nojo, ódio... Por
ele insistir nessa mentira. Por ainda
querer brincar comigo.
— Já conseguiu tudo o que
queria, senhor Soares. Pode ficar com
tudo, cada maldita ação das empresas.
— digo o mais frio que posso, mas por
dentro estou acabada.
— Eu prometo voltar. — diz me
ignorando. — Eu prometo voltar e ser o
homem que você merece. Adeus, baby!
Tento dizer algo, porém as
palavras faltam. Sinto uma dor de
cabeça insuportável e vejo Christopher
desaparecer pela porta. Tento respirar,
mas o ar parece escasso.
Não consigo entender como ele
veio parar aqui, como ele conseguiu
entrar em meu quarto. Eu só posso estar
delirando no fim.
— Se acalma. — digo a mim
mesma e vou até o banheiro.
Encaro o espelho e jogo água
fria em eu rosto. Noto então que a
aliança que joguei em sua sala está
colocada em meu dedo anelar esquerdo,
e tento não chorar por isso. Por que ele
veio até aqui? Por quê?
Saio do banheiro e acendo as
luzes, em busca de provas de que não é
um delírio, fruto de todo cansaço e da
recuperação após o que houve. Mas um
papel branco deixado em cima da
mesinha de cabeceira acaba por me
deixar sem chão.
O pego e sei que é um envelope,
leio o remetente, assustando-me ao ver a
letra de Christopher. Ele realmente
estava aqui, era ele e eu não tive reação
alguma. A não ser querer me convencer
de que era um sonho e dizer que ele
ganhou.
Como posso ser tão burra?
Aliás, foi disso que ele se
aproveitou. De minha burrice e
inocência.
Penso em ler o que ele escreveu,
mas não quero saber de nada, não quero
ter de entender suas razões, motivos, ou
até mesmo saber em como ele se sente
bem com tudo isso.
Jogo a carta dentro de uma das
gavetas e resolvo esquecer. Lembrando-
me que esse homem é tão ganancioso
que não desistiu até agora de me iludir,
pois deve poder perder algo com o
divórcio... Mas dessa vez eu não serei
mais a burra de antes, que caiu feito um
patinho em suas armações.
Christopher vai pagar pelo que
fez a mim, desenterrando um passado
que nunca quis, o qual me obriga a
encarar Dominic Donatello um dia e
descobrir que Theo, que é meu veterano
na faculdade e também estuda design,
além de ser um grande amigo, é meu
irmão. E por todas as mentiras, as falsas
juras de amor, por ter me quebrado... Eu
não serei mais a Ella que ele tanto
conhece.
Eu vou quebra-lo, da mesma
forma que estou. Se ele pensa que pode
fugir e se fazer de vítima está enganado,
ele tem que pagar. Começando pelo
dinheiro e poder que conseguiu, darei
um jeito, e ele perderá tudo.
Capítulo 19

Antonella (Babi)

Alguns dias depois

Seguro novamente a carta que


ele deixou em minhas mãos, penso em
lê-la, mas sou covarde demais pra isso.
Sei que suas palavras bonitas ou até
mesmo cruéis, podem me machucar além
do normal. E tudo que menos preciso, é
que minha dor piore. Pois saber que o
homem que amo não passa de um
fantasma, já é o suficiente.
Coloco um simples vestido e
escovo meu cabelo já longo, o qual vejo
que precisa de um corte urgente. Pelo
horário, sei que Felipe deve estar na
advocacia com nosso pai, mas esses
dias, eu tenho encontrado todos em casa,
todos preocupados comigo.
Assim que saio pronta do quarto,
encaro meu celular e vejo que há várias
ligações perdidas de Theo, mas como
tenho feito, ignoro. Não consigo encará-
lo, sem pensar que somos irmãos. E me
pergunto como ele vai encarar isso. Pois
nem eu sei ao certo se conseguirei falar
com Dominic Donatello novamente.
Vou em direção ao quarto de
meus pais, mas antes mesmo que possa
bater na porta, escuto seus gritos, e isso
parte meu coração.
— Você não é um maldito deus,
Caleb! Acha mesmo que pode controlar
a vida de sua filha? Ou melhor, de todos
nós?
— Eu já disse que não estou
fazendo isso! — papai grita alterado. Eu
nunca os ouvi de tal maneira. — Não
vou deixar que ele se aproxime dela e a
quebre novamente.
— Ele é seu irmão, Caleb. Pelo
amor de Deus, o que está havendo com
você?
— Eu não vou deixar mais que
todos usem da minha calma para magoar
quem amo. — encosto-me na parede e
lágrimas vem aos meus olhos. — Não
tem porque se intrometer nisso, Victória.
A decisão é minha.
— Esse o maior problema,
Caleb. A decisão é apenas sua. Está
sendo o que nunca imaginei que fosse –
egoísta.
— Vamos ser sinceros, Victória.
Nunca me conheceu o suficiente, não é?
— Saia desse quarto e não pense
em sequer voltar a ele caso continue a
me dizer essas coisas. — mamãe exige e
sinto meu coração doer ainda mais.
— Essa também é minha casa, e
o meu quarto.
— Ok, eu saio.
Afasto-me rapidamente e
escondo-me no corredor. Mamãe sai do
quarto e a vejo limpar rapidamente o
rosto. Escuto o estrondo de algo no
quarto deles, e sinto medo se apoderar
de mim. Estou sendo a culpada pelo que
acontece, sei disso. Eu nunca os vi
assim antes. É minha culpa, e terei de
resolver isso.

***
Encaro o imponente prédio e
tento entender em que momento cheguei
aqui. Sendo que meu destino era a
Soares Mídia. Suspiro fundo e olho para
trás, vendo os carros dos seguranças,
meu pai com certeza sabe onde estou
agora. E sei que tenho que ser rápida,
antes que ele me impeça.
Tomo coragem e saio do carro,
tentado me equilibrar nos saltos, que
mesmo sendo baixos, me fazem
cambalear. Aperto entre as mãos minha
bolsa e a passos incertos entro no
prédio. A recepcionista sorri pra mim e
apenas fico sem fala.
— Eu preciso falar com
Donatello, Dominic Donatello. — digo
de uma vez.
— Você é? — pergunta
educadamente.
— Me desculpe, Antonella
Soares. — digo rapidamente.
Aguardo por alguns instantes, e
logo ela libera minha entrada. Entro em
um elevador e sigo para o último andar.
Coloco meus fones e tento me concentrar
em não ouvir algo nostálgico, mas isso é
a única coisa que acalma minha
ansiedade.
Abro minha bolsa e pego o papel
em mãos, que graças a Lipe tive acesso.
A prova real de que sou filha de
Donatello, de que ele talvez seja a
pessoa que me abandonou e deixou a
própria sorte. Mas há tantas outras
perguntas, sobre minha mãe biológica,
por exemplo.
Ouço o bipe do elevador e assim
que as portas se abrem, encaro meus
pés, com medo do que me aguarda.
Assim que entro no andar, Elena, sua
esposa me recebe com um sorriso e um
forte abraço.
— Quando me disseram que era
você, não acreditei. — tento não
demonstrar minha insegurança. — Dom
vai ficar muito feliz em vê-la, assim
como Theo, ele está preocupado com
você.
— Ah sim, eu vou falar com ele
depois. — digo sem jeito.
Fico com medo de ela perguntar
algo sobre o que tenho a falar com seu
marido, mas ela apenas passa alguns
minutos, tentando me distrair. Mesmo
não dizendo nada, sei que ela percebeu
como estou, mas agradeço por não
perguntar. Eu iria embora no mesmo
instante.
O seu celular toca e ela atende
rapidamente. Encaro novamente os
papéis já amassados em minhas mãos e
aproveito para guarda-los.
— Não, estou indo aí. Ok.
Ela se vira pra mim e sorri
fraco.
— Babi, tenho que resolver um
problema no andar debaixo, mas já
estarei de volta. — permaneço sentada
onde ela me indicou. — Essa é a sala de
Dom, logo ele estará aqui. Me desculpe
por isso, eu...
— Está tudo bem, Elena. —
forço um sorriso.
— Nem piscará e estarei de
volta. — brinca e logo sai.
Encontro-me então, sentada em
uma sala vazia, e meus olhos finalmente
vagam por ela. Levanto-me com cuidado
e encaro o porta-retratos colocado em
sua mesa, na qual estão todos de sua
família. Será que fiz o certo de estar
aqui? Não posso estragar mais uma
família.
Antes mesmo que possa dizer
algo, a porta da sala se abre e perco a
fala. Encaro o homem que sorri pra mim
e tento buscar alguma semelhança entre
nós. Os seus olhos são da mesma cor
que os meus, mas não consigo me
enxergar como sua filha. Mas aquela
sensação boa que sempre sinto perto
dele está presente novamente.
— Como vai, Babi? — pergunta
e tenta se aproximar.
Impulsivamente me afasto e
lágrimas vêm aos meus olhos.
— Por que? — pergunto
tentando não chorar. — Por que me
abandonou?
— Babi, quer se sentar querida?
— pergunta e eu nego com a cabeça.
Pego os papéis amassados e
entrego a ele. Ele me encara incerto,
mas logo os lê e sua reação me deixa
ainda mais sem chão. Seus olhos voltam
aos meus, parecendo assustados e
surpresos, como se ele não...
— Você... — gagueja e leva às
mãos a cabeça, relendo os papéis. —
Você é minha filha?
— Você não sabia? — pergunto
completamente perdida.
— Não, eu nunca... — ele leva
as mãos aos cabelos e encara-me sem
saber o que fazer.
— Você não me abandonou
então? — pergunto receosa, e ele se
aproxima.
— Eu jamais o faria, Babi. —
percebo que estou chorando e ele
também.
E antes mesmo de dizer mais
alguma coisa, ele me abraça e assim
desabo.
— Vocês estão bem? — escuto a
voz de Elena e nos separamos no mesmo
instante.
Elena nos encara assustada,
assim como Theo, que está ao seu lado.
— Babi, o que houve? — ele
pergunta e apenas o encaro emocionada.
Ele é meu irmão.
— Eu... — tento dizer algo, mas
logo travo.
— Não precisa se explicar, vem
cá. — me abraça com carinho.
Assim que nos afastamos, encaro
Donatello que continua com o olhar
perdido, mas ao mesmo tempo parece
feliz.
— Eu não sei como explicar
isso. — digo sem jeito.
— Eu vim avisar que seu pai
está aqui, Babi. — Elena diz. — Caleb
quer falar com você, Dom.
Paraliso no mesmo instante, e
sinto que tudo ainda pode piorar. Mas eu
já sabia que meu pai não ficaria de fora
dessa, havíamos combinado de contar
tudo a Donatello juntos, mas eu não
consegui esperar. Não sei se conseguiria
fazer isso na frente dele.
Donatello me encara incerto e
apenas assente em minha direção, ele
tem o semblante fechado, mas não sei
nem ao certo o que lhe dizer.
— Ele tem muitas coisas a me
explicar. — diz de repente.
Prendo a respiração e Theo
passa seu braço ao meu redor, sorrindo
com carinho, sem sequer entender a
situação. Mas sinto medo, porque nem
eu mesma conheço minha história. E
agora terei de obrigar meu pai a dizer,
de uma forma ou outra. Tanto para mim
quanto para Donatello.
Capítulo 20

Antonella (Babi)

Sento-me num sofá, com Theo ao


meu lado, ainda abraçado a mim. Não
sei o que dizer, e muito menos, o que me
espera, assim que meu pai entrar pela
porta dessa sala. Mas por dentro, estou
em pânico. Elena teve algum
contratempo e teve que sair, assim
ficamos apenas eu, Donatello e Theo.
O tempo de espera para meu pai
aparecer é torturante, olho de soslaio
para Donatello a cada cinco segundos, e
sempre, encontro seu olhar em mim. Ele
parece incrédulo com minha revelação.
Ele realmente parece não saber
de fato o que sou dele.
A porta da sala finalmente é
aberta, e meu pai entra com cautela. Ele
olha para Dominic e assente, como se o
cumprimentasse. Seu olhar cai sobre
mim, e noto novamente, o mesmo olhar
de decepção em seu rosto. Eu apenas
sou um desgosto pra ele nesse momento,
sinto isso.
— Não era para Babi ter vindo
aqui sozinha e te contar o que sabemos,
mas sim, é verdade. — diz, sem
formalidade alguma.
— Esse papel... É real? —
Dominic pergunta e meu pai assente,
passando as mãos pelos cabelos. —
Mas como é possível alguém fazer um
teste de DNA? Meu e dela, sem que eu
tenha noção disso? Aliás, esse teste é
antigo... Quer dizer que só agora
descobriu, não é? — pergunta, e parece
que vai surtar a qualquer momento.
Meu corpo fica tenso e Theo me
encara, procurando alguma resposta. Eu
apenas assinto para sua pergunta.
— Christopher não usou
praticamente nada de meu conhecimento
ou de qualquer outra pessoa de nossa
família, ele pesquisou com a ajuda de
um amigo, o qual também sumiu, justo
hoje. — meu pai diz, parecendo ainda
mais nervoso. — Só o que posso te
adiantar é que não sabia, tinha uma leve
desconfiança, porém nunca pesquisei a
fundo, pois Babi nunca quis saber.
— Nunca quis saber o que? —
Theo pergunta, encarando-os.
— Filho... — Dominic começa a
falar, mas logo se cala, como se não
tivesse encontrando as palavras certas.
Acho que elas não existem.
— Eu sou sua irmã. — digo
baixinho e Theo arregala os olhos,
parecendo completamente surpreso. —
Eu... Não sabia.
Theo me abraça ainda mais forte
e eu choro em seu aperto. Sinto-me
quebrada, como nunca estive. Esse é um
dos meus piores momentos.
— O que Christopher fez a ela?
— Dominic pergunta, mas sequer o olho.
Não quero ouvir sobre Chris, eu
só quero... Não sei ao menos o que
quero.
— Eu vi sobre o pedido de
casamento, eu estava lá. — Dominic
insiste e eu suspiro fundo.
Como meu pai se cala, eu me
afasto de Theo e limpo as lágrimas que
descem.
— Christopher me usou, por
ambição, dinheiro... Eu me casei com
ele, achando que nos amávamos. Mas
descobri que na realidade, ele sempre
soube que sou sua filha e por isso me
enganou nos últimos anos. — confesso,
e minha garganta parece arder.
Preciso sair daqui.
— Do que está falando? —
Dominic pergunta e encara meu pai. —
Caleb?
— Não sei se seu avô lhe contou
sobre, mas existe um documento entre os
Soares e os Donatello. — meu pai
começa a contar. — Nele, consta que se
houver a união de dois membros das
famílias, como o casamento, o mais
velho, assume as duas empresas.
— O que? — Dominic
praticamente grita. — Você só pode
estar brincando com isso.
— Acredite, eu queria estar. —
meu pai diz sério.
Dominic anda pela sala e passa
as mãos diversas vezes pelos cabelos,
como se não conseguisse acreditar
nisso.
— Então, aquele moleque é dono
da minha empresa? — pergunta,
parecendo furioso.
— Pai. — Theo o chama.
— Agora não! — diz ríspido e
eu me encolho, sem saber o que pensar.
— Ele a usou... Por isso? — Dominic
indica a sala e então sorri frio. — Quem
ele pensa que é, porra?
— Dominic. — meu pai o
chama, olhando-o firmemente. — Por
mais que seja constrangedor dizer isso,
precisam fazer o teste de DNA. Ao
menos um que os dois tenham noção de
que estão fazendo. Ainda não sei como
Christopher agiu, mas logo saberemos.
— Não. — Dominic corta sua
fala no mesmo instante. — Está ali, a
prova de que Babi é minha filha. Não
preciso de mais nada disso. Eu só
consigo pensar que vou acabar com
Christopher quando o ver.
— Pai, não é hora pra isso. —
Theo diz, e Dominic apenas faz um sinal
com a cabeça. — Pai, não...
— Agora, Theo. — ele diz e
Theo se afasta, ele beija minha testa e
logo se retira da sala.
— Pai... — olho para meu pai, o
qual apenas parece perdido e não diz
nada.
Eu nunca vi Caleb Soares deste
modo. O que foi que eu fiz?
— Soares, preciso de um minuto
com ela. — Dominic pede, e meu pai
apenas me olha, como se buscasse
respostas.
Eu assinto, e ele entende minha
posição. Dói vê-lo sofrer por tudo isso,
sem saber como consertar meus erros.
Assim que ele fecha a porta da
sala, o silêncio recai sobre mim e
Dominic.
— Eu sinto muito. — diz, de
repente e eu o encaro. — Eu juro, eu
nunca soube, Babi... Eu nunca soube de
nada.
Respiro fundo, absorvendo suas
palavras.
— Você está sofrendo, querida.
Vejo isso. Só pelo modo que chegou
aqui em busca de respostas. Eu nunca vi
Caleb dessa forma, ele está sem chão
também. Imagino então, que você, esteja
se culpando por isso.
É como se ele pudesse ler minha
mente.
— Ele me quis por ser sua... —
as palavras travam em minha língua.
Ainda é difícil admitir que meu mundo
cor de rosa, se tornou negro de uma hora
pra outra.
— Filha. — diz, e me olha,
parecendo emocionado. — Minha filha.
Dominic começa a chorar e eu
desabo junto a ele. Não sei como, mas
de repente estamos abraçados. Ele me
conforta, pois ele entende minha dor.
Não posso ousar dizer que minha
vida faria mais sentido caso soubesse de
sua paternidade antes, pois eu tive tudo,
eu tenho um pai maravilhoso, uma
família sem igual. Mesmo assim, o
choro desse homem, que parece ser tão
impenetrável, deixa claro que nenhum de
nós sabe como lidar com isso agora.
— Eu perdi tantas coisas... —
diz, e se afasta, enxugando as lágrimas
em meu rosto. — Eu não sei o que
pensar, Babi. Mas eu prometo, vou fazer
o meu melhor, para te ver bem
novamente.
Suas palavras rondam minha
mente e uma ideia surge. A raiva por
Christopher, mesmo após todas as
enganações e mentiras - de ele ter ido
até mim e me entregado uma carta - vem
com força. Meu choro cessa e só
consigo pensar em uma coisa – ferir
Christopher.
— Preciso de sua ajuda. — digo,
sem saber o que me espera ou como ele
vai reagir.
Tenho pensado nisso há dias,
uma maneira de dar adeus de vez a
Christopher.
— O que? — pergunta,
encarando-me sem entender.
— Quero que ele perca tudo. —
peço, fechando os olhos rapidamente,
sentindo a raiva aflorar dentro de mim.
— Ele não tem direito de assumir nada.
— Babi, escute bem. — diz
calmamente e nem parece o mesmo
homem furioso de segundos atrás. — Eu
não sei até que ponto os papéis que
Christopher valem, e muito menos se ele
realmente tem direitos sobre a minha
empresa. Sendo que você não tem o meu
sobrenome ainda, correto? — assinto,
prestando toda atenção. — Posso correr
atrás de tudo e descobrir, junto a Caleb,
o que realmente está acontecendo. Todos
estão perdidos, eu imagino, mas logo
tudo entrará nos eixos. Tudo bem?
— Tudo bem. — respondo por
fim, e ele abre um singelo sorriso.
Um sorriso que agora percebo,
assemelha-se com o meu.
Mas em vez de pensar sobre meu
pai biológico e todo resto, apenas uma
coisa ronda minha mente – preciso tirar
Christopher de vez de minha vida.
Bônus

Dominic
Donatello

Sento-me em minha cadeira e


encaro a sala ao meu redor, sem saber
no que pensar. Forço minhas
lembranças, tentando saber de algum
momento onde deixei passar algo em
minha vida. Não consigo sequer
imaginar isso. Porém, encarando o papel
que Babi trouxe, sei que deixei muito
pra trás – uma filha.
A porta da sala se abre e respiro
fundo, segurando com força o tampo da
mesa. Não preciso encarar a pessoa que
entrou para ter certeza de quem é.
Apenas ela é capaz de desafiar uma
ordem direta minha. No caso que se
referia a ninguém me incomodar assim
que Babi saísse.
— Theo está insano lá fora. —
ela diz calmamente e logo está parada
ao meu lado, encostada na mesa. — O
que aconteceu, querido? — pergunta e
toca de leve meu queixo, fazendo-me
olhá-la.
Elena é um bálsamo para tudo
em minha vida.
Afasto minha cadeira e ela sabe
muito bem o que quero, automaticamente
se senta em meu colo e passa as mãos
em volta de meu pescoço.
— Babi é minha filha. —
confesso e ela arregala os olhos, tão
surpresa quanto eu devo ter ficado antes.
— Mas...
— Ela apareceu aqui com o teste
de DNA já feito há algum tempo, ao que
tudo indica, Christopher, o mais novo
dos Soares, sabe? — pergunto e ela
assente, ainda de boca aberta. — Ele
armou tudo, até aquela cena que vimos
na posse dele, o pedido de casamento,
ela me confessou que eles na realidade,
já estão casados. Mas que ele contou a
ela que tudo foi uma armação, que ele o
fez, pois tem um documento assinado
por meu avô que...
Paro no mesmo instante e reflito
sozinho. Lembrando o quanto meu avô
era bom, porém o quanto horrível meu
pai era. Meu pai era o homem mais
perverso que já conheci, era frio e cruel.
Ao me lembrar disso, uma luz parece se
acender em minha mente.
— Não pode ser! — digo
enraivecido, tirando com cuidado Elena
de meu colo. — Ele não podia ter feito
isso! — grito.
— Dominic! — Elena grita ainda
mais alto e para a minha frente, tocando
meu rosto. — Precisa se acalmar, ok?
— Eu sei, mas...
Desvio de Elena e pego meu
celular, ligando para meu contato, o qual
sempre me ajudou a resolver vários
problemas, e quem investiga sobre tudo
ao meu redor, além de proteger minha
família. Pedi há algumas horas para que
investigasse sobre todas essas novas
informações... Mas pensando com um
pouco mais de clareza, consigo apenas
imaginar uma pessoa capaz de ter me
escondido isso e enganado todos.
— Foi meu pai quem a escondeu
de mim, não foi? — pergunto assim que
ele atende, já surtando.
— Donatello, tenho as
informações que pediu. Tenho os
documentos a respeito de tudo, além de
uma testemunha. Uma mulher chamada
Kátia, uma prostituta que diz ter uma
amiga já falecida que engravidou de um
jovem ricasso, e que ganhou dinheiro
para abortar o bebê, porém não o fez...
Ele continua contando, e tudo
que faço é desmoronar novamente na
cadeira.
Lembro-me de anos atrás, de
como estive perdido por aí. Eu sequer
me lembro da mãe biológica de Babi,
dentre tantas prostitutas com as quais
saía na época... Isso parece um pesadelo
sem fim.
— Donatello? — ouço a voz de
Leon me chamando.
— Apenas me diga, ela é
realmente minha filha? — pergunto,
respirando fundo, mesmo já não
restando sombra de dúvidas sobre isso.
— Christopher teve amostra
suficiente de seus cabelos e dos de
Antonella Soares. Descobri que tudo foi
feito por debaixo dos panos, ele pagou
alto para conseguir fazer esse teste, sem
sequer dar o nome dos interessados. —
diz e eu soco com força a mesa.
— E a empresa? — pergunto, já
exausto, sentindo as pequenas mãos de
minha esposa tocarem minhas costas.
— Essa é a parte estranha. Ele
não conseguiu a Donatello, pois para
isso, Antonella precisava ter o seu
sobrenome. Portanto, o plano dele não
obteve sucesso.
— Ótimo, já desconfiava disso.
— Mas descobri algo,
Donatello. Que quem encobriu tudo isso,
a respeito dos atos de Christopher, foi
Isaac Morgan. — diz, assustando-me.
— O que? — pergunto
incrédulo.
— Conheço Joaquim há tempos,
e falei com ele há poucos minutos. Ele
disse que essas informações chegariam a
ele, pois a segurança segue todos os
Soares e os amigos mais íntimos. A
pessoa responsável pelos relatórios
gerais é Isaac, caso haja algo estranho,
ele que comunica Joaquim sobre ou
simplesmente resolve, pois eles são os
responsáveis por toda segurança dos
Soares.
— Eu sei. — digo já vencido. —
Obrigado, amigo.
— Sobre o que me pediu a mais,
sobre alguma falcatrua de Christopher...
— Sim, achou algo? — pergunto
ansioso, lembrando-me do pedido de
Babi.
— Não há como ter acesso aos
Soares sem ter alguém dentro da própria
empresa, portanto, teria que falar com
Rodrigo diretamente...
— Não. — nego veemente.
Não quero envolver meu amigo
nisso, ainda mais porque seu filho pode
ter feito algo pior ainda, além de ter
destruído o coração de Babi e enganado
toda a família.
— Deixe, eu vou resolver isso.
— digo, lembrando-me de minha última
saída.
— Como quiser, até mais.
— Até. — desfaço a ligação.
Abaixo a cabeça e toco de leve
meu queixo, pensando em como
realmente mexer com isso. Tudo nunca
esteve tão confuso quanto agora, mesmo
com toda vida conturbada que tive e
minhas más escolhas.
— Não faça nada agora,
Dominic. — Elena diz e me abraça por
trás, dando um leve beijo em minha
bochecha. — Vamos resolver isso.
Reflito sobre suas palavras,
assim consigo me sentir um pouco
melhor. Coloco o telefone no lugar e
resolvo não ligar. Melhor não fazer nada
para Babi, não ela estando tão nervosa
assim, e eu ainda mais perdido.
Meu celular toca e minha
vontade é jogá-lo longe.
— Deixe. — Elena pede, e eu
pego o aparelho de meu bolso e a
entrego.
Apoio meus cotovelos na mesa e
seguro minha cabeça com força,
tentando assimilar tudo.
Preciso saber de tanta coisa
ainda, sobre meu pai, sobre a mãe
biológica de Babi, sobre esse
documento de um casamento entre os
Soares e os Donatello que sempre soube
que existia, mas que nunca pensei que
seria usado... Sobre mim, como pai.
— Dom. — viro-me para Elena,
a qual me olha alarmada. — É melhor
atender, querido.
Pego o celular e só pela
expressão dela, sei que só pode ser algo
ruim.
— Pronto.
— Isaac nos passou pra trás,
como eu já suspeitava, por isso toda
essa merda está acontecendo. — espero
alguns segundos, reconhecendo a voz
de Caleb. — Mas isso não importa
agora, o que importa é que descobri
algo. — ele dá uma pausa. — Meu
irmão roubou a empresa.
— O que? — pergunto
incrédulo.
— Isso mesmo!
— Por que ligou para me contar
isso? — pergunto sem entender.
— Não vou contar a meu pai
agora, não sabendo de tudo o que
houve, tenho medo de que isso
prejudique sua saúde. Babi me pediu
algo, e tenho certeza que te pediu o
mesmo...
— Ela quer que ele perca tudo,
certo? — pergunto e ele confirma. —
Precisamos conversar pessoalmente
sobre tudo isso, Caleb.
— Concordo plenamente.
Marcamos de nos encontrar
amanhã, já que tudo está além do que
apressado e não sabemos o que fazer
com essas informações. Caleb parece
enfurecido com o irmão, por tudo o que
fez por pura ambição, e eu não consigo
parar de pensar que Christopher me
privou de saber que era pai... Fez-me
perder ainda mais tempo longe da minha
filha.
— Vamos pra casa, Dom. —
Elena pede e segura minha mão.
— Eu já fui um monstro um dia,
Elena. Mas não sou mais aquele homem.
— confesso derrotado, abarrotado de
lembranças.
— Sabemos que não, meu amor.
— diz calma, como sempre.
— Mas eu preciso por um fim
nisso, ou evitar que Caleb e Babi façam
algo que possa prejudicar sua própria
família. — digo decidido.
— Como assim? — pergunta,
claramente perdida.
— Eles querem que Christopher
perca tudo, e dependendo do que façam,
vou ajudar.
— Dominic! — Elena chama
minha atenção.
— Não vamos mais falar sobre
isso, minha estrela. — digo, tocando seu
rosto e me levantando. — Preciso sair
daqui.
— Ok. — diz, mas seu tom deixa
claro que essa conversa não acabou.
Saímos de minha sala e olho ao
redor de toda a empresa que tanto luto
para manter. Só consigo imaginar,
colocando-me no lugar de Christopher, o
qual um dia me pertenceu – quando fazia
tudo por poder – se isso realmente vale
a pena. No meu caso, percebi após
muitos erros, que não vale.
Capítulo 21

Antonella (Babi)

Uma semana depois

- Mansão dos Donatello

— Eu descobri algumas coisas,


Babi. — Donatello diz, sentando-se ao
meu lado, no grande sofá de seu
escritório particular. — A primeira
delas é que sim, sou seu pai biológico,
não há como ter algum erro no exame
que Chris fez.
Respiro fundo, com a certeza de
que não há mesmo como fugir disso.
Não mais.
— Mas como ele conseguiu? —
pergunto, e ele passa as mãos pelos
cabelos já com alguns frios brancos.
— Bom, ele usou fios de nossos
cabelos. No seu caso, com certeza foi
mais fácil, já comigo, suspeitamos que
ele conseguiu através de algum
cúmplice, até mesmo pode ser alguma
empregada que teve acesso a uma
escova de cabelos minha... Mas o que
importa aqui é que ele apenas confirmou
algo que Caleb já desconfiava. — diz e
eu assinto.
— Meu pai não quis buscar além
do meu passado, pois eu pedi isso a ele.
Acho que por isso nunca falou com
você, além de que ele pensou que fui
abandonada e deixada naquele orfanato.
— digo e ele me encara com certa
tristeza.
— Foi meu pai, seu avô
biológico, ele te deixou lá. — diz e
fecha os olhos, encostando-se contra o
encosto do sofá. Encaro- o e noto que
uma lágrima desce por seu rosto. — Eu
não sou um santo, acredite em mim, fiz
coisas ruins nessa vida, mas meu pai...
Se é que posso chamar aquele homem
assim, ele era um monstro.
Ele então se levanta de repente e
vai até uma grande mesa, pegando um
envelope branco.
— Aqui. — diz e eu pego,
encarando o envelope sem entender. —
Houve um tempo, quando mais jovem
em que realmente não fui um santo, e
acabei me envolvendo com muitas
mulheres, uma delas foi Clara Nogueira.
— ele então faz sinal para que eu abra o
envelope, e assim o faço.
Levo às mãos a boca, ao ver a
foto de uma mulher que é praticamente
igual a mim. Lágrimas vêm ao meu
rosto, e passo de leve as mãos pela
imagem. Minha mãe.
De repente Elena entra na sala e
nos encara com pesar.
— Aconteceu algo, querida? —
Donatello pergunta e ela assente, vindo
até mim.
— Babi, seus pais estão aqui. —
informa e eu apenas peço para que eles
possam entrar.
— Disse a eles que viria? —
Donatello pergunta e eu nego com a
cabeça. — Posso te dar um conselho?
— apenas concordo. — Não os afaste
de você, não nesse momento tão
delicado. Posso ver pela mulher
maravilhosa que é, o quanto eles são
bons pra você.
— Você está certo. — digo,
enquanto vejo Elena sair do escritório, e
logo meus pais voltam junto a ela.
Minha mãe está com um olhar
pesado, já o semblante de meu pai é
completamente triste, como se algo
realmente ruim tivesse acontecido.
— Desculpe, filha, nós só...
— Me desculpem, eu devia ter
avisado antes. — digo, seguindo o que
Donatello aconselhou.
Por mais que esse momento seja
difícil pra mim e para Donatello, meus
pais também estão sendo prejudicados.
Pelo olhar que me dão e a forma como
estão, sei que as coisas estão
completamente estranhas entre nós, mas
não quero isso. Sei que preciso deles,
ainda mais agora.
— Se sentem, por favor. —
Elena diz, e logo sai do cômodo.
Deixando-nos a sós.
O silêncio recai sobre nós,
enquanto meus pais se sentam lado a
lado no outro sofá, que está a minha
direita.
— Essa... — respiro fundo,
tocando de leve a foto. — Essa era
minha mãe.
Mamãe no mesmo instante se
levanta e vem até mim, ajoelhando-se a
minha frente. Ela encara a imagem,
tocando de leve em meu rosto, sorrindo.
Quando seus olhos azuis se
encontram com os meus, vejo que ela
não está triste por isso, por saber que
conheço meu passado. Ela tem um certo
brilho no olhar, como se estivesse
orgulhosa.
— Você é igual a ela. — diz,
fazendo-me sorrir em meio às lágrimas.
Meu pai permanece imóvel,
sentado no outro sofá.
— Caleb. — mamãe o chama e
ele suspira fundo.
— Eu também pesquisei a
respeito de tudo, você é a cara dela,
filha. — diz, e abre um sorriso sem
dentes.
— Bom. — Donatello diz e eu o
encaro. — Eu preciso te contar algo a
respeito dela, tudo bem? — pergunta e
eu assinto, sem saber o que esperar. —
Sua mãe era... Uma prostituta.
Arregalo os olhos surpresa, mas
aos poucos deixo isso de lado. O que
ela fazia não interessa, eu apenas quero
saber um pouco mais dela.
— Ela me procurou quando
soube da gravidez, mas eu estava fora
do país naquela época, então, meu pai,
assumiu tudo. Pelo o que uma amiga
dela contou, Clara aceitou a proposta
dele.
— Que proposta? — pergunto
sem entender.
— Ele pagou para que ela tirasse
você. — diz e fico sem fala. — Ela
aceitou, mas o que meu pai não sabia,
era que ela foi até a clínica clandestina e
não fez o aborto, ela deu parte do
dinheiro para a dona de lá dizer que ela
realmente o fez para meu pai, e a outra
metade, usou para fugir.
— Então ela...
— Ela te protegeu. — Donatello
sorri, e minhas lágrimas voltam. — Ela
conseguiu enganar meu pai uma vez,
porém com o tempo, ele acabou
descobrindo a verdade. Ele foi atrás
dela, mas quando a encontrou, você já
tinha nascido e ela... Bom, ela morreu no
parto.
— Não. — digo, já suando frio.
Sem conseguir imaginar o quanto ela
sofreu e se sacrificou por mim.
— Eu sinto muito, Babi. — ele
diz, enquanto minha mãe segura com
força minha mão, com lágrimas em seu
rosto.
— Então foi seu pai que me
deixou naquele orfanato? — pergunto e
ele assente.
— Ele escondeu tudo de mim, de
minha família... Eu juro, que se eu
tivesse sido informado, eu não te
deixaria lá.
Seu rosto parece contorcido, e
assim como eu e minha mãe, ele tem
lágrimas pelo rosto.
— Eu também falei com a amiga
de sua mãe uma vez, ela me confirmou
toda a história. Contou o quanto Clara
lutou para falar com Dominic, mas não
conseguiu, e assim, acabou convencendo
o pai dele de que ela realmente estava
grávida. Sua mãe era uma mulher forte,
Babi. Hoje, depois de tudo o que
descobri, não tenho dúvida alguma. Eu
sinto muito por não ter te contado o
pouco que sabia antes, mas eu apenas
queria que você tivesse o direito de
escolha e... — meu pai para de falar de
repente e vejo que ele realmente não
está bem.
— Eu sei, pai. — digo, sorrindo
em direção a ele.
Vendo seu estado, levanto-me e
vou até ele, abraçando-o com carinho.
— Você sempre fez o seu melhor
por mim, e acatou todas as minhas
decisões. Eu agradeço demais pelo
respeito que sempre teve. — ele chora
em meu ombro, enquanto toco de leve
seus cabelos negros já grandes. — Eu te
amo.
Assim que nos separamos, vejo
o quanto o semblante dele está mais
leve. Sei que ele se culpa, mas sabemos
que não precisa disso.
— Agora, sobre Christopher. —
Donatello diz, fazendo-me engolir em
seco. — Descobri algo que pode não ser
muito bom, ou pior, pode.
— Como assim? — meu pai
pergunta, e assim, sento-me ao seu lado.
Mamãe vem até nós e toca de
leve meus cabelos, ficando de pé.
— Houve um desfalque na
Soares, há alguns anos. Após muito
pesquisar, descobri que foi Christopher
que fez. — diz, suspirando fundo. —
Nesse envelope que te dei, tem as
provas de que ele nunca devolveu o
dinheiro que pegou.
— Quanto? — pergunto sem
conseguir acreditar.
— Cem mil reais. — arregalo os
olhos no mesmo instante. — Eu não sei
por que ele fez isso, não conseguimos
ainda descobrir sobre o destino do
dinheiro mas...
— Isso tira dele o direito de
presidir a Soares? — pergunto e
Donatello nega coma cabeça. — Por
que?
— Isso foi há muito tempo, pode
ter alguma justificativa válida para isso.
— Donatello explica. — Mas a questão
é que ele não conseguiu a presidência da
minha empresa.
— Por que não tenho seu
sobrenome, não é? — pergunto e ele
assente. — Felipe havia me explicado
um pouco sobre. — confesso a meus
pais.
— Você me pediu para te ajudar
nisso, mas não sei como. — Donatello
diz e sorri de leve.
— Com o que? Como assim? —
mamãe pergunta confusa.
— Eu queria dar um choque de
realidade em Chris e... Bom, fazê-lo ver
que realmente machucou a todos. —
tento explicar.
— Mas, Babi...
— Mãe, ele fez tudo isso por
dinheiro, nada mais justo que...
— Ele perder tudo? — minha
mãe pergunta e eu assinto. — Isso não
vai mudar nada, filha. Acha mesmo que
seu avô está bem com essa situação,
acha mesmo que alguém está? Seu tio
magoou a todos, e sei que
principalmente você, mas...
— Ela tem o direito de resposta,
Victória. — meu pai diz firme, o que me
faz sentir completamente culpada.
— Ela não tem direito de se
vingar. — mamãe diz e eu entendo sua
interpretação sobre isso.
Ela então se afasta do sofá e nos
encara.
— Se querem continuar com esse
joguinho idiota que Christopher
começou, ótimo. Mas eu pensei que o
importante aqui era você, Babi.
Conhecer seus pais biológicos e em
algum momento confrontar Christopher a
respeito de tudo.
— Victória... — meu pai tenta
dizer algo, mas ela levanta a mão.
— Eu não vou falar disso aqui,
pois Donatello não tem que ficar
ouvindo minhas opiniões sobre nada.
Mas vocês deveriam pensar melhor no
que estão fazendo. Ver que a situação
vai muito além da presidência da
Soares. Isso tem a ver com a nossa
família, a única coisa que realmente
importa.
Mamãe então dá as costas e sai
da sala, indo em direção a saída.
— Deus. — digo, e meu pai se
levanta no mesmo instante indo atrás
dela.
Assim que ele sai, Donatello me
encara com pesar.
— Se continuar com isso, de
querer magoar Christopher, vai piorar
toda essa situação. Tem certeza que quer
fazer algo contra ele? — estranho por
completo sua pergunta.
— Eu...
— Ele precisa de um choque de
realidade, e podemos fazer isso. Mas
acha mesmo que compensa arriscar a
felicidade de sua família? — pergunto
sério.
— Eu não quero que eles se
prejudiquem ou outra coisa... Eu só
quero que Christopher pague pelo que
fez.
— Você herdou um lado horrível
meu. — diz sincero, e eu o encaro
espantada, mas sem querer voltar atrás.
— Eu vou assumir os riscos de tudo,
vou fazer uma cena e acusar Christopher
sobre o desfalque, se quiser mesmo
fazer isso. Mas terá que prometer que
irá fazer algo depois disso.
— O que? — pergunto afoita.
— Consertar as coisas. — diz, e
eu fico perdida. — Você vai conseguir.
E por puro impulso respondo:
— Ok, eu aceito.
Capítulo 22

Christopher

Dias depois

Encaro novamente o teto e


divago sobre tudo. Releio mais uma vez
a mensagem que meu irmão me mandou
e tento controlar a euforia, e
infelizmente, o remorso que explodem
dentro de mim. Eu sei que não deveria
ficar assim, sei que com certeza nesse
momento, sequer seja ainda o marido de
Antonella, mas eu não consigo desistir.
Forço-me a levantar e vou ao
banheiro. Encaro minha barba por fazer
e sorrio com a lembrança de que Ella
gosta dela assim. Escovo os dentes e
lembro dos dias em que ela cantava no
chuveiro enquanto eu estava nessa
mesma posição, mesmo esse banheiro
não sendo o nosso. Estou em um hotel,
pois não tive coragem de voltar a
nenhum de meus apartamentos. O cheiro
dela está impregnado neles, assim como
a culpa por tudo que fiz. E ainda não
consegui encarar isso.
Meu celular toca e novamente
vejo uma mensagem de Castiel. Ele me
avisa praticamente sobre tudo, mas
dessa vez não tem certeza se o que Ella
quer falar comigo é bom ou ruim, apenas
sabe que ela quer todos presentes. Isso
mais parece meu julgamento, mas eu não
me importo, pois ao menos estarei perto
dela. Essas duas semanas, após vê-la
praticamente sem vida em meus braços,
foram as piores possíveis. Eu nunca
pensei que sentiria isso, mas só de
lembrar do seu doce sorriso, meu peito
se aperta. Eu preciso de apenas uma
chance.
Essas últimas semanas tentei
aceitar a oferta de meu amigo e mudar
minha vida, mas não sei, algo em mim
ainda me impede. Não consegui sequer
fazer o que prometi a Castiel, que é ficar
longe. Aguardei Ella ler a carta que
deixei, e espero que seja por isso que
ela me chamou.
Cerca de meia hora depois, já
respirei fundo várias vezes dentro de
meu carro. Encaro meu reflexo e toco
meu queixo, tentando imaginar o que
dizer para minha família. Pelo que Cas
me disse, foi Ella que chamou todos,
então com certeza será a respeito da
carta, a respeito de sua decisão sobre
nossa separação.
Batidas na janela do carro me
assustam e finalmente abro a porta.
Castiel sorri cinicamente e me olha de
cima embaixo.
— Péssimo. — sorri. — Assim
como imaginei.
— Sempre engraçado, irmão. —
debocho.
— Sempre lindo você quis dizer,
não é? — nego com a cabeça e ele toca
meu ombro, guiando-me pela entrada da
casa de Caleb.
— Só eu acho estranho tudo
isso? — pergunta e eu o encaro.
— Aquele dia, deixei uma carta
pra ela. — coço minha nuca. — Mas
acho que ela chamou todos porque não
quer mais esconder nada de ninguém, já
escondemos o bastante.
— Você e Caleb podem negar,
mas são bem mais parecidos do que
acham. — diz e me para de repente. —
Seja o que for que escreveu, mexeu com
ela, então só... Vá com calma!
— Certo.
Castiel abre as portas e eu entro
logo em seguida, como se fosse sua
sombra. Meus pais estão sentados no
sofá e de longe vejo as crianças
brincando com a babá, Sara. Busco o
olhar da mulher que amo, mas ela ainda
não está aqui. Dani se aproxima de nós e
abre um sorriso fraco pra mim, o que me
surpreende. Todos sabemos que ela é
uma das pessoas mais difíceis de
perdoar.
— Ela logo vai aparecer. — Cas
diz e então se afasta, para falar com a
esposa.
Coloco as mãos nos bolsos e
sinto meu coração bater freneticamente.
Minha mãe me olha com pesar e penso
até em me aproximar, mas não é minha
casa, e duvido que ainda não esteja
decepcionada. Tanto porque sumi nas
últimas duas semanas, deixando de lado
até mesmo a empresa. Não sei ao certo
nem quem esteve em meu lugar, e muito
menos me interesso. Eu irei cumprir o
que prometi na carta e serei verdadeiro.
Olho para o chão, enquanto o ar
parece ainda mais pesado que antes.
Passos me chamam atenção e como se
ela fosse meu imã, meus olhar vai em
direção as escadas.
Linda - é a única definição que
tenho.
Se antes estava com medo do
que viria, agora estou apavorado. O
olhar de Ella vaga em qualquer lugar
menos em mim, e noto sua frieza.
Não, baby!
Continuo parado no mesmo
lugar, enquanto Caleb e Victória vêm
atrás dela. Luna desce logo depois com
Felipe, e eu fico ainda mais em saber o
que fazer. Essa ansiedade está me
matando.
Castiel então vem em minha
direção e antes mesmo de chegar, Caleb
o para, dizendo algo que deixa meu
irmão nervoso.
— Que palhaçada é essa, então?
— Cas pergunta nervoso.
— Bom, eu acho que todos estão
se perguntando o que está havendo aqui.
— fico estático, ouvindo atentamente
suas palavras. Minha Ella. — Eu quero
apenas dizer que sinto muito por tudo
que fiz a vocês, pela preocupação e por
todas as coisas que omiti. — ela sorri
fracamente. — Além de que acabei me
envolvendo com Christopher e isso...
Bom isso me mostrou um passado que
não queria, mas ao mesmo tempo me
mostrou minhas origens.
— Ella... — digo em sussurro.
— Bom, enfim, nós nos
envolvemos. — finalmente seu olhar
para em mim. — Christopher!
Fico sem reação e tento dar
passos em sua direção. Assim que
estamos próximos, vejo um sorriso em
seu rosto e isso me dá esperança. Ela
com certeza leu a carta.
— Eu posso dizer algo antes que
continue? — pergunto, tirando coragem
através do sorriso que me lança, e ela
simplesmente assente.
— Eu sei que fiz tudo errado, na
realidade desde sempre. — suspiro
fundo. — O que tenho pra dizer é que
amo Antonella, e por ela eu quero ser
melhor, por toda dor que causei a cada
um dessa sala, sem ao menos pensar...
Que ela me abriu os olhos...Que eu
quero a chance de...
— De ter minha empresa sobre
seu comando?
Paraliso.
Encaro Ella e seu sorriso doce
não está mais lá, há apenas ironia em
seu semblante. Viro-me e Dominic
Donatello, em seu terno típico, me
encara imponentemente.
— Mas o que está havendo aqui?
— pergunto assustado.
— Como foi capaz disso? —
Castiel pergunta de repente e empurra
Caleb. — E você Babi, como pode? Eu
não reconheço mais essa família! —
grita. — Vamos sair daqui, Chris. — me
encara, e fico sem reação.
Danielle vai até as crianças,
pega Gabriel no colo e Annie vem atrás
dela. Castiel continua a me encarar, e
antes que possa dizer algo, meu pai se
levanta.
— Babi tem uma decisão para
contar, e é por isso que estamos aqui,
não é. — pergunta nervoso e encara
Babi. — Não quero saber de empresa e
muito menos o que Donatello faz aqui.
— Chris... — Castiel tenta, mas
eu apenas nego com a cabeça e me viro
para Ella.
— Eu não vou abrir mão desse
casamento. — ela diz de repente, e
minha respiração falha.
Será que ela realmente me dará
uma chance?
— Eu não vou deixar tudo para
você, Christopher. — diz e sorri,
pegando alguns papéis em cima da
mesinha, jogando-os em mim.
Espanto-me e sequer os olho.
— O que está havendo, baby? —
pergunto sem entender mais nada.
— Não vai me usar mais. —
sorri com deboche. — Suas palavras
não me comovem, e junto com Dominic,
consegui descobrir muitas coisas
interessantes sobre você.
— Como assim?
— Estão todas nesses papéis. —
dá de ombros. — Tudo que roubou da
Soares.
— O que? — pergunto
assustado. — Eu nunca...
— Qual é, Christopher? — se
vira para meu pai. — Eu sinto muito, vô.
— O que está fazendo,
Antonella? — Caleb pergunta de
repente.
Meu pai me encara incrédulo e
tenho certeza de que estou da mesma
maneira. Viro-me, olhando todos da
sala, buscando respostas sobre isso.
Mas quando paro meu olhar em
Donatello, seu ódio parece emanar, e
sinto como se uma faca fosse cravada
em meu peito.
— Ella, você leu a carta? —
pergunto, tentando pela última vez.
— Aceite que perdeu tudo,
Christopher. — balança a cabeça. —
Qualquer tipo de roubo que tivesse
cometido, pelo contrato que assinei, faz
com que perca a presidência
imediatamente.
— Mas eu não quero mais...
— É bom ser enganado, não é?
— se aproxima. — Achou mesmo que
iria vir aqui e eu iria cair no seu
papinho de "vou ser o que você
merece"? Eu não caio mais nisso. E
todos agora sabem que sua ganância é o
que sempre importou. Você é podre por
dentro.
Sinto uma mão em meu ombro e
Castiel me puxa, tentando me tirar daqui,
mas não vou, fico apenas olhando-a.
— Antonella! — ouço o grito de
Caleb, porém tudo fica embaçado de
repente.
Encaro Ella e não consigo mais a
reconhecer.
Quem é essa mulher a minha
frente?
Ela realmente não acreditou em
nada do que disse na carta? Mas
também, como poderia? Tudo o que fiz
foi enganá-la. E por isso, assumo um
erro que nunca cometi.
Dando passos para trás, saio da
casa de meu irmão, vendo a decepção
estampada no olhar de todos. Quando
Castiel fecha a porta atrás de nós,
encaro a rua e tento não pirar.
Preciso de um cigarro.
Preciso beber.
Preciso de algo que tire essa dor.
— Eu não sabia, Chris. — ouço
a voz de Cas, e mesmo sabendo que ele
está ao meu lado, ela parece muito
longe. — E tenho quase certeza de que
Caleb também não. Irmão, eu sinto
muito.
Levo as mãos à cabeça e
lágrimas descem por meu rosto. Ela quer
me tirar tudo, achando que as empresas
importam, mas nada mais me importa
que não seja ela.
Não sei como, mas de repente
corro para meu carro. Dirijo em meio as
lágrimas e quando vejo já estou em
frente ao apartamento de Eduardo.
— Chris? — ele pergunta
incerto.
— Aquela proposta ainda está
de pé?
— Sim, mas...
— Eu vou. — digo de uma vez.
— Mas Chris, talvez seja
melhor...
— Ela não é mais a mesma, eu a
quebrei. — confesso. — Preciso que ela
entenda que não me importa o dinheiro.
Eu não preciso fazer isso por ela.
Preciso fazer isso por mim.
— Ok, amigo. Vamos lá, então!
E com isso, digo adeus ao meu
passado.

Antonella (Babi)
Christopher sai da casa de meus
pais e o silêncio paira entre todos nós. A
raiva com que meu tio Castiel e Dani me
olharam, assim como encararam toda
nossa família, faz-me sentir culpada
nesse instante.
Olho para meus pais e minha
mãe apenas faz sinal de negação com a
cabeça e juntamente a Luna e Miguel,
sobe as escadas. Olho para meus avós e
vejo que os dois estão horrorizados com
tal declaração. Encaro então meu pai e
ele desvia o olhar, parecendo realmente
magoado, viro-me então para Donatello
e ele apenas assente pra mim, como
quem diz claramente “agora tem que
acertar as coisas”.
O que foi que eu fiz?
—Vô, eu não deveria ter feito
isso, eu não...
Deus, eu não sou assim!
— Depois, minha querida. —
minha vó diz e sorri pra mim, assim
como meu avô.
Logos os dois saem da casa e
deixam-me apenas com meu pai,
Donatello e Felipe.
Lipe fica alguns segundos me
olhando e logo depois sai de casa, sem
sequer olhar para trás.
— O que houve aqui? — meu
pai pergunta e olha de mim para
Donatello. — Eu pensei que fosse falar
sobre divórcio, como deixou
subentendido que faria. Não pensei que
seria uma cena para se vingar de
Christopher! Eu ajudei Donatello a
descobrir algo sobre ele, pois iria daí
falar com Chris sobre, fazê-lo enxergar
que errou. Não essa cena ridícula! —
diz claramente furioso.
— Pai...
— Você não precisa se vingar,
muito menos se igualar com o que Chris
fez. Eu sei que está sofrendo, mas o que
vi aqui hoje, a minha Antonella não
faria. — chama minha atenção e então
encara Donatello. — Não sei por que
resolveu ajuda-la nisso, mas saiba que
não vou deixar com que destrua minha
família. Quero que saia da minha casa, o
mais rápido possível.
Donatello sequer diz algo e
apenas encara meu pai. Logo meu pai
sobe as escadas e nos deixa sozinhos.
— Eu não entendo. — digo,
sentando-me no sofá e tentando
reorganizar meus pensamentos.
— Você me pediu algo, estando
nervosa e com raiva. Eu sabia que isso
faria você pensar e ver que não precisa
fazer nada contra Christopher, pois isso
pode magoar muitas pessoas, inclusive
as pessoas que mais ama. — Donatello
diz, como se já soubesse que isso
realmente ia acontecer.
Como pude ser tão cega?
— Eu pensei que isso me faria
feliz, que me sentiria bem. — confesso,
tentando controlar as lágrimas.
— Você tem um bom coração,
Babi. Mal fez algo ruim e já está vendo
que errou, e melhor, admite isso. — diz
e eu forço um sorriso, sabendo que
acabei magoando novamente a todos.
Burra!
— Olha, eu não tive a
oportunidade de cria-la e sei que não
posso exercer agora esse papel de pai.
Mas posso te dar um conselho? — ele
pergunta e eu assinto, encarando-o. —
Dê um tempo a si mesma, viaje, se isole
um pouco... Às vezes precisamos de
tempo para discernir entre o certo e o
errado.
— Eu não sei. — digo sem jeito,
tentando imaginar como seria tudo se
não tivesse trocado os pés pelas mãos.
— Não seria algo como fugir dos
problemas? — pergunto incerta.
— Às vezes, precisamos fugir,
para finalmente encarar nossa realidade.
— diz convicto. — Já passei por isso
antes, e me ajudou a perceber o que
errei e como poderia acertar no futuro.
— Por isso me deixou quebrar a
cara? — pergunto e ele abre um sorriso
sem dentes.
— Por isso a vida nos ensina a
cada dia mais. — diz e sorri pra mim.
— Fale com sua família, seja sincera
sobre o porquê fez isso. Eu vou
descobrir o porquê do desfalque de
Christopher. Olha, ele pode ser muitas
coisas, mas apesar de que ele seja a
última pessoa que eu confio, duvido que
seja um ladrão.
Paro um minuto para pensar
sobre isso, e realmente, sei que
Christopher não iria tão longe. Apesar
de que no momento não consigo pensar
muito sobre, não do modo que estou.
— Preciso mesmo de um tempo.
— digo e Donatello assente.
— Eu quero estar na sua vida,
Babi. Mas sei que precisa se encontrar
primeiro, antes de qualquer coisa.
Porém, se precisar de algo, só ligar. —
diz e eu me levanto, abraçando-o.
— Obrigada por tudo. — digo e
ele se afasta.
— Até mais.
Donatello logo sai de minha casa
e eu me jogo novamente no sofá. Penso
nos erros que cometi e em como todos
influenciaram diretamente na situação
em que me encontro. Preciso consertar
as coisas, e rápido.
Capítulo 23

Caleb Soares

Subo as escadas, sem acreditar


no que minha filha foi capaz. Vou até
meu quarto e encontro Victória sentada
na beira da cama. Vejo que seu rosto
está vermelho e essa é a mesma cor de
seus olhos. Não há brilho em seu olhar,
não o de costume, muito menos um
sorriso estampa seu rosto. Victória está
apenas presente, encarando-me,
esperando alguma iniciativa minha.
Nossas brigas tem sido
constantes desde que descobrimos tudo
a respeito de meu irmão e Babi. Eu sei
que em vários momentos estive errado,
sei disso agora. Sou homem protetor,
ainda mais com meus filhos, não quero
de modo algum que alguém se aproveite
da bondade deles... E quando vi que meu
próprio irmão foi capaz disso, nada
mais me fez discernir entre o certo e o
errado.
Victória tentou por diversas
vezes, mas nas quais respondi acabamos
discutindo. Então resolvi evitar brigas,
mas no fim, sequer acabamos
conversando sobre o dia a dia, ou algo
rotineiro. Não lembro a última vez que a
beijei desde que decidi tomar as rédeas
da vida de Babi. Isso não mudou nada,
minha filha continua se afundando após
tudo que houve.
Ao evitar machuca-la, querendo
ou não, machuquei uma das pessoas que
mais amo nesse mundo – meu irmão
caçula. Christopher errou muito, é um
fato que não posso mudar, mas quem
nunca errou? Eu mesmo já errei muito
antes, e continuo o fazendo.
— Divagando. — Victória diz, e
finalmente saio de meus pensamentos.
— Desculpe. — digo e ela força
um sorriso.
Sei que ela está magoada,
machucada e pior, acabada com isso
tudo. Isso realmente abalou nosso
casamento, de uma forma que pensei que
nunca mais aconteceria. Não após tudo
que passamos para estarmos juntos.
— Eu te amo. — digo, deixando
uma lágrima descer por meu rosto. —
Eu te amo mais do que tudo, minha
rainha.
Seus lindos olhos azuis se
fecham por um instante, e ao notar sua
fragilidade, vou até ela e abraço com
cuidado. Victória se molda a mim
perfeitamente, como sempre aconteceu e
sempre acontecerá... Fomos feitos um
para o outro, e sabemos disso.
— Eu sinto muito, me perdoe,
minha rainha. Me perdoe. — peço em
seu ouvido, sentindo o cheiro doce de
seus cabelos. — Estava certa desde o
começo.
Eu não posso sem ela, pois fico
completamente perdido. Vaguei por
vinte anos esperando pelo seu amor, e eu
não deixarei que algum outro erro meu a
leve de mim. Victória sempre foi uma
certeza em minha vida. Como pude
permitir chegarmos a essa situação?
Afasto-me dela por um instante e
toco de leve seu rosto. Limpo as
lágrimas que ainda insistem em descer, e
noto, aos poucos, seu olhar para comigo,
voltar a ser o mesmo. O mesmo desde
que demos nosso primeiro beijo.
— Eu errei, sei disso agora. Eu
pensei estar protegendo nossa família.
Eu não sabia que ela faria isso com
Chris. Eu me sinto tão culpado, minha...
— Rainha. — diz e sorri de
verdade, mostrando-se como a mulher
que amo. — Sua rainha.
— Me perdoe. — peço e ela
toca meu rosto, passando os dedos
delicadamente por cada traço meu.
— Um dia eu olhei pra você e
não consegui imaginar nada,
absolutamente nada. Mas desde que
olhei pra você com todo amor que sinto
você se tornou meu tudo. Somos
humanos, Caleb. Erramos hoje, e vamos
errar amanhã. Tem que entender que não
há como controlar o sentimento alheio e
muito menos proteger a todos. Sabe
disso, eu também sei.
— Eu entendo, Vic. — digo,
fechando os olhos por um instante. —
Acho que me senti impotente quando a
vi deitada naquela cama de hospital e...
Tudo aconteceu debaixo do meu nariz...
— Dos nossos narizes. —
corrige, olhando-me inquisitiva. — Tem
que entender que todos nós estamos aqui
por ela, e também por Chris. Seja o que
for que aconteça, somos uma família.
Essa cena que Babi fez, fazer isso foi
tão errado quanto o que ele fez. Babi
tem que arcar com as consequências
disso, assim como nós arcamos com
nossos erros.
Sorrio de sua sinceridade. Se há
algo entre nós que sempre é feito, é
dizer a verdade. Victória e eu nunca
conseguimos mentir um para o outro, há
algo em nós que não permite. Eu sei
agora, vendo tudo com clareza e calma
que realmente errei, que não devia ter
agido como agi... Muito menos ter
ajudado Donatello a descobrir mais
sobre meu irmão, na mas antes sequer
pensei se era certo ou errado, apenas
queria encontrar algo que pudesse fazer
meu irmão acordar. Nada radical como
o que aconteceu hoje. Mas o que me
resta é consertar o que posso, e encarar
meu irmão.
— Obrigado. — digo sincero, e
ela me encara sem entender. —
Obrigado por ser quem é.
— Caleb Soares, um romântico
nato. — diz, fazendo-me sorrir de lado.
— Esse sorriso não, bonitão.
— Por que não? — instigo-a, e
ela morde o lábio inferior, olhando-me
com os olhos ainda emocionados.
— Porque sabe muito bem o que
isso faz comigo.
— Então estou perdoado, minha
rainha? — pergunto, segurando com
força sua cintura, e ela enlaça os braços
em volta de meu pescoço.
— Vou pensar no seu caso. —
diz, sorrindo.
Beijo seu pescoço de leve e noto
que estremece no mesmo instante.
— Está pensando ainda? —
pergunto e continuo meus beijos, até
chegar próximo a sua boca.
— Não mude nunca. — diz de
repente, fazendo-me parar e olhá-la.
— Como assim? — pergunto
perdido.
— O homem que amo protege a
família, mas não deixo a raiva o cegar.
— diz, tocando meu rosto e puxando-me
pra perto. — Eu te amo.
— Eu sei. — digo emocionado,
mas logo me lembro de Babi e isso me
faz respirar fundo.
— Preocupado? — ela pergunta
e eu assinto. — Luna está com Miguel
agora, acho que pedi para que ela o
distraísse um pouco.
— Felipe saiu de casa,
claramente horrorizado com o que
houve. — digo e ela faz um sinal de
negação com a cabeça.
— Ela vai ver que errou. — diz
e eu concordo. — Mas agora, preciso
distraí-lo, senhor Soares.
— Como assim? — pergunto
sem entender.
— Assim.
Antes mesmo que eu possa
questiona-la, ela me puxa e nossas bocas
se encontram. Beijamo-nos com
saudade, fome, e todo amor que
sentimos um pelo outro. Pego-a em meu
colo e levo-a para nosso quarto.
Deito-a sobre nossa cama e paro
um minuto apenas para olhá-la. Ela sorri
lindamente, com o rosto corado e os
cabelos castanhos espalhados pelo
lençol. Eu nunca abrirei mão disso, de
ter a mulher que amo em meus braços
todas as noites, pelo resto dessa vida...
E todas as vidas que vierem.
Capítulo 24

Christopher

Dois meses depois

— Nicholas, mesa dois!


Escuto o grito de Nala e acelero
meus passos até a parte externa da
lanchonete. Ouço-a gritar o nome de
Tânia, e começo a rir de seu desespero.
Sorte que os clientes não escutam isso.
Ou melhor, acho que não.
Coloco o guardanapo sobre meu
ombro, segurando o bloquinho de papel
com a mão esquerda e pegando a caneta
com a mão direita. Encaro então as
jovens sentadas na mesa, que devem ter
por volta de dezesseis anos, mas que de
certa forma, me olham assustadas.
— Bom dia, querem pedir? —
pergunto, abrindo um sorriso sem
dentes.
Uma morena escora-se na mesa e
levanta uma das sobrancelhas pra mim.
Olhando-me de forma interessada, e ao
mesmo tempo estranha. Não sei ao certo
quantas vezes já foram, mas tive esses
olhares sobre mim várias vezes.
Realmente, há muito tempo não gosto
disso.
— O atendente está no menu? —
ela pergunta e as outras três gargalham,
o que me faz rir também.
Apenas deixo em evidência
minha mão esquerda, a qual tem minha
aliança colocada. A jovem continua me
encarando e eu apenas nego com a
cabeça.
— Algum pedido que esteja no
cardápio? — pergunto, e ela sorri,
pegando o cardápio de plástico na mesa.
Elas logo pedem e eu anoto tudo,
saindo em seguida, indo para de trás do
balcão e deixando pedido pendurado em
frente a janelinha que dá na cozinha,
para que Merlin – nosso cozinheiro – o
faça.
— Mais uma das suas
admiradoras? — assusto-me com a voz
de Tânia atrás de mim, e me viro,
sorrindo pra ela.
Uma das poucas pessoas que
realmente me fizeram bem nos últimos
tempos.
— Bom, mais uma das
adolescentes que brincam na frente das
amigas, mas correm quando mostro
minha aliança. — digo, e ela bate com
seu bloquinho contra meu ombro.
— Odeio você por isso. — diz,
fazendo-me a olhar sem entender. —
Que foi? Eu daria tudo para que aquele
seu amigo bonitão, sentasse em uma
dessas mesas e me cortejasse.
Gargalho de seu linguajar,
perguntando-me quem em sã consciência
usa essa palavra hoje em dia. Em
poucos segundos um mar de lembranças
me invadem, fazendo-me lembrar de
meus irmãos e pai, principalmente
Caleb, o romântico incurável da família.
Suspiro fundo, sentindo sua falta.
Não sei ao certo se um dia poderei
encarar meu irmão novamente e isso me
corrói por dentro, sabendo que sequer
tenho algo a dizer, a não ser pedir
desculpas.
— Pare de pensar e vá trabalhar!
— Tânia diz e passa por mim, indo em
direção as mesas.
Fico encostado contra a parede,
olhando o movimento fraco de manhã, já
que apenas no horário do meio dia a
lanchonete começa a encher.
Esse tem sido meu dia a dia,
olhar tudo isso ao minha volta. Eduardo
me deu a oportunidade de recomeçar,
longe de tudo, respeitando o espaço de
todos, e finalmente, vivendo um dia de
cada vez. Sem planos ou armações,
apenas respirando. O pior é que a cada
momento, lembro-me de Antonella, a
mulher que ainda amo e demorei tanto
tempo para dar o devido valor.
Escuto o barulho da porta da
frente abrindo e vejo meu amigo
entrando. Sorrio de Tânia praticamente
paralisada a frente de uma mesa,
encarando-o com admiração. Eduardo a
cumprimenta, mas duvido muito que
tenha notado o olhar dela. De certa
forma, ele parece alheio a isso. O que
me deixa mal, pois Tânia é uma boa
mulher.
Escoro-me no balcão e ele sorri
convencido, como sempre faz quando
vem aqui. Palhaço!
— Tire esse sorrisinho idiota do
rosto. — digo, e ele sorri ainda mais. —
Babaca!
— Ei, o babaca aqui conseguiu
novamente. — diz animado, deixando-
me perdido.
— O que?
— Bom, estava atrás de mais um
emprego, não é? — pergunta e eu nego
de imediato. — Não importa, agora está.
— Como assim? — pergunto
sem entender.
— Sempre me disse que adora
matemática, e lembro bem de quando me
ensinava os cálculos... Bom, tenho uma
antiga conhecida, amiga de minha tia.
Ela tem uma neta, que está com
dificuldade na faculdade e não consegue
passar em Cálculo I.
— Edu... — corto-o, já sabendo
de suas intenções.
— Qual é? Sei que adora a
lanchonete, que Nala é uma boa pessoa,
mas as aulas da garota serão a noite.
Não precisa abandonar nada. — diz, e
eu apenas respiro fundo. — Sei que
gosta daqui, mas essa é uma boa
oportunidade de fazer algo que
realmente é bom.
— Edu, eu não sei se...
— É um bom professor, sei
disso. — diz, cortando-me. — Hoje a
noite te levo pra conhecer a garota,
Júlia, e a avó dela, Luíza. Você vai ver,
são ótimas.
— Ok. — digo vencido.
— Eu sou o melhor. — diz com
soberba e eu jogo o guardanapo nele. —
Agora sobre Babi... Me deixe falar! —
pede e eu apenas desvio o olhar.
— Eu sei que não quer que conte
a ninguém que o desfalque foi por minha
causa, que você fez aquilo pra me
ajudar? Que não quer Babi se sinta
culpada por te acusar, blá, blá, blá. —
Edu caçoa. — Mas já parou pra pensar
que talvez ela não se importe se o
desfalque foi real ou não? Que isso foi a
oportunidade perfeita pare ela se
vingar? — pergunta, surpreendendo-me.
— Qual é, Chris! Babi não é mais
criança, sabe disso. Ela pode muito
bem...
— Ela não é assim. — digo
convicto. — Ela não agiria como eu agi
e...
— As pessoas mudam com o que
acontece em suas vidas. — diz, fazendo-
me assim, parar para pensar. — Eu não
estou te absolvendo de culpa alguma, de
jeito algum, mas não sei, Chris. O jeito
como ela te acusou na casa de seu
irmão, ou melhor, como ela reuniu
todos...
— Não sabemos se foi ela que
fez isso. Pode muito bem ter sido
Donatello e...
— Mas poderíamos saber se
você perguntasse a Castiel. — instiga-
me.
— Esquece isso. — digo,
batendo novamente com o guardanapo
nele.
— Nicholas! — Nala grita
novamente e eu pisco para meu amigo,
correndo até ela. — Por que está
papeando e não trabalhando, posso
saber? — pergunta de cara amarrada,
fazendo-me sorrir.
Nala é a dona da lanchonete, a
qual se tornou muito especial para mim
em pouco tempo. Ela me deu um
emprego, mesmo eu sendo muito mais
velho do que o cara que ela procurava
para atender.
Ela quis me registrar a todo
custo, assim teve que saber meu
primeiro nome. Mas continuou mesmo
assim me chamando de Nicholas – que é
meu segundo nome. E no fim, seus
gritos, lembram-me de dona Leandra
Soares – minha mãe – a qual sempre me
chama de Nicholas quando estava brava.
— Nala, sabe que se não fosse
casado eu...
— Menino, me respeita! — diz,
batendo com o braço em meu ombro.
— Você e Tânia amam meu
ombro, não é? — brinco e ela continua
de cara fechada.
— Só vou perdoar porque estava
conversando com o bonitão que minha
filha está suspirando por aí, mas da
próxima vez...
Ela faz um sinal estranho com a
mão e eu apenas assinto, sorrindo de sua
cena.
— Vou falar com ele sobre ela,
pode deixar. — digo.
— Bom mesmo, sirva pra algo.
— diz e sai, e eu apenas meneio a
cabeça, pensando em como tudo mudou.
Olho para trás e vejo Tânia
entregando algo para Eduardo, o que
parece ser um bilhete. Ele me encara
intrigado e eu dou de ombros, já até
imaginando o que seja.
Tânia logo sai de perto das
mesas e passa o balcão, praticamente
correndo para a cozinha. Acho que foi
difícil pra ela dar o primeiro passo.
Vejo Eduardo abrindo o papel, e logo
sua face fica vermelha. Gargalho alto,
vendo-o guardar o papel no bolso da
calça.
Ele me mostra o “dedo” e logo
some pela porta da frente. Acho que não
vou mais precisar falar com ele sobre
ela.
Sorrio disso, imaginando o como
tudo deve ser mais fácil para quem
simplesmente deixa as coisas
acontecerem. E não como eu, as força.
Sei hoje que de algum modo eu teria me
apaixonado por Ella, mesmo que ela um
dia, no começo, tenha tentado me tratar
como tio. Sempre houve algo nela, e eu
cego por dinheiro e poder, não percebi.
Penso então em como tudo
mudou de repente, como agora tenho um
trabalho completamente diferente, mas
que me faz sorrir no dia a dia, e acabo
me perguntando sempre: Como Ella
está?
Será que está tudo bem? Não só
fisicamente, como Castiel sempre me
manda por mensagem, mas sim, por
dentro. Será que ela sente minha falta?
Nem que seja um pouco.
Será que como Eduardo falou,
minhas atitudes não a mudaram?
Nunca tive coragem de perguntar
a Castiel sobre o episódio na casa de
Caleb, apenas peguei minhas roupas e
aceitei a oferta de Eduardo. Que no caso
consistia em me mudar por um tempo
para sua cidade natal, localizada no
interior de Minas Gerais, na qual ele
tem hotel.
Sequer disse a meu irmão onde
estou morando, e pedi para que não
investigasse. Caso, meus pais ou
Donatello quisessem me processar, eu
apareceria, mas nada veio até mim, ao
menos, Eduardo não foi comunicado.
A única coisa que martela em
minha mente é sobre Ella, sobre como
ela me acusou naquele dia, há meses
atrás. Onde seu olhar era outro, e eu
sequer cogitei que ela realmente tinha
mudado...
Mas será?
Eu tenho uma forma de descobrir
isso, e sei que hoje não dormirei sem
saber. Pois finalmente, parei para pensar
realmente sobre. Pego meu celular,
vendo que ninguém novo entrou na
lanchonete. Digito uma mensagem para
Castiel. Agora, de algum jeito, eu vou
saber o porquê de Ella ter feito aquilo.
Só espero que não a tenha
transformado em uma versão pior de
meu antigo eu.
.
Capítulo 25

Antonella (Babi)

Duas semanas depois

Coloco minha mala ao lado da


cama e encaro o simples quarto de hotel.
Simples, porém aconchegante.
Sento-me na cama, pego o
celular e já ligo para meu irmão.
— Oi. — digo, assim que ele
atende. — Já cheguei e estou bem.
— Tem certeza de que não quer
que eu vá aí e...
— Não, estou bem mesmo, Lipe.
Sabe que preciso fazer isso sozinha.
Dois meses fora do Brasil com Laura
foram o bastante para colocar as ideias
em ordem, agora estou mais do que
pronta. — ao menos espero que sim.
— Ok. — diz e ouço seu
suspirar fundo. — Avisou nossos pais?
— pergunta.
— Avisei. Dessa vez não vou
esconder nada de ninguém.
— Fico feliz em ouvir isso,
irmã.
— Cansei de mentir e omitir. —
digo, encarando o teto. — Preciso falar
com ele, e não é vergonha admitir isso.
— Não mesmo.
— Vou falar com Eduardo agora,
te ligo mais tarde, ok? — ele concorda e
logo desliga.
Levanto-me da cama e vou até o
banheiro. Jogo um pouco de água no
rosto e encaro meu reflexo.
Nunca antes em minha vida,
senti-me tão preparada para algo como
agora.
Após toda a cena que causei,
acabei decidindo que já estava na hora
de crescer, parar de agir como se a vida
fosse um simples jogo. Pedi perdão a
todos de minha família, e resolvi passar
um tempo fora do Brasil, com minha
amiga Laura.
Laura e eu nos aproximamos há
uns dois anos, por sempre estarmos nos
mesmos eventos e termos quase a mesma
idade. Ainda mais por ela ser filha de
um dos melhores amigos de meu pai –
Levi Gutterman. Ela tem passado um
tempo fora do país estudando. E quando
contei a ela sobre querer espairecer,
logo me convidou a ficar com ela por
um tempo. Contei a meus pais a respeito,
e eles felizmente me apoiaram. Assim,
logo embarquei para o Canadá, e por lá
fiquei com ela.
Esses dois meses com Laura
foram incríveis, mas sempre senti que
faltava algo, ou melhor, que faltava por
um ponto final em algo. Por isso, há uma
semana, com a ajuda de meu pai,
consegui o número novo do celular do
melhor amigo de Chris – Eduardo – e
assim, entrei em contato com ele.
Eduardo a princípio estranhou
minha ligação, mas quando expliquei a
ele sobre tudo que descobri e como
queria encarar Christopher, ele cedeu e
aceitou me ajudar a me aproximar de
Christopher, de um jeito menos invasivo.
Falei com ele a respeito do
desfalque na Soares, e como todos já
sabem que Chris fez aquilo apenas para
ajuda-lo. Meus pais me contaram o
necessário, além de que, o restante dos
porquês não me interessava muito. Eu
apenas sabia que tinha errado com
Christopher ao acusa-lo, e por mais que
ele tenha errado comigo também, sabia
que precisava encará-lo e colocar tudo
em pratos limpos.
E agora, vou fazer isso.
Ouço batidas na porta e vou até
ela. Abro-a e Eduardo sorri pra mim.
— Como vai? — pergunta e eu
apenas meneio a cabeça. — Parece que
ansiosa.
— Um pouco. — admito.
— Bom, tem algumas coisas que
preciso te contar sobre Chris. — diz e
eu lhe dou espaço para entrar no quarto.
Eduardo fica parado ao lado de
minha cama e coloca as mãos nos bolsos
da calça.
— Olha, eu me surpreendi
quando me ligou. Ainda mais quando me
disse sobre seu arrependimento por ter
feito aquela cena com ele. Eu não posso
falar por Chris, mas como o conheço
muito bem, sei que ele vai ficar feliz em
te ver. — diz e eu apenas assinto. — Ele
mudou, na verdade mudou muito. Em
poucos meses Chris conseguiu dois
empregos diferentes, um como atendente
em uma lanchonete e outro dando aula
de cálculo para uma neta de uma
conhecida minha. Eu o conheço há anos,
e nunca o vi tão bem quanto hoje, tão
realizado.
Fico boquiaberta com o que ele
diz. Christopher em uma lanchonete?
Dando aulas?
— Entendo seu espanto. Castiel
e seu pai também ficaram, acho que toda
sua família. Chris pediu espaço a
Castiel, mas isso não impediu o resto de
sua família de vir até mim e perguntar
por ele. Ele não sabe que contei a
respeito dele para todos. Me mataria se
soubesse. — sorri e eu apenas continuo
atenta a cada palavra. — Eu acho que
ninguém veio até ele ainda, por respeitar
o que ele está fazendo. Ele está
recomeçando a vida, de uma forma
melhor, eu acredito.
— Eu não tenho nem o que dizer.
— sou sincera e ele abre um grande
sorriso.
— Bom, você pediu minha
ajuda. Então, hoje às seis da noite, eu
passo aqui para te levar até a lanchonete
que ele trabalha. Como ele não dá aula
de reforço hoje será fácil conseguir falar
com ele. — diz e eu assinto.
Eduardo logo se encaminha
novamente para perto da porta.
— Espero que tudo dê certo. —
diz e abre a porta para sair.
Antes que eu possa respondê-lo,
ele sai, deixando-me sozinha com
minhas incertezas.
— Eu também espero.

***

Meu celular toca e levo as mãos


ao peito, tentando me acalmar. É uma
mensagem de Eduardo, avisando que já
está na frente do hotel.
Saio de meu quarto ainda um
pouco sem jeito, pensando em como vou
agir ou o que vou dizer para
Christopher. Faz apenas dois meses que
não o vejo, mas tudo o que ele
representou para mim quando estivemos
juntos, torna esses meses praticamente
infinitos.
Não posso negar que a confiança
entre nós dois não existe mais, foi
quebrada. Eu não sei classificar o que
sinto, mas ao mesmo tempo, tenho
muitas dúvidas sobre o que ele sente.
A primeira pergunta que ronda
minha mente é: Por que ele não concluiu
o plano e me contou a verdade antes?
Desço os dois lances de escada
do hotel e logo me encontro na rua e
Eduardo espera por mim. Não tive
coragem de sair do quarto do hotel, pois
temia encontrar Christopher antes. Pelo
que vi quando cheguei a cidade, é uma
típica cidade do interior, pequena e
muito aconchegante. Por isso, senti que
o melhor era ficar no quarto, pois não
queria esbarrar com Christopher em
alguma esquina.
— A lanchonete é perto daqui,
então vamos a pé, tudo bem? —
Eduardo pergunta e eu assinto.
Caminhamos pelas ruas de
paralelepípedos, o que mostra o quanto
ainda guardam do passado histórico da
cidade. Há várias subidas pelas ruas,
deixando claro o contraste das serras de
Minas Gerais, o que torna ainda mais
lindo esse lugar.
Atravessamos duas ruas e logo
vejo uma lanchonete na próxima
esquina. Meu coração já acelera e
obrigo meu corpo a continuar andando.
As luzes dos postes são a
iluminação, já que a noite caiu e as
estrelas povoam o céu. Assim que
paramos do lado da lanchonete, que tem
grandes paredes de vidro, olho
desesperada para Eduardo, com medo
de que Christopher me veja.
— Relaxa. — ele diz e eu tento
não pirar. — Chris me mandou
mensagem há pouco, está na cozinha da
lanchonete, resolvendo alguma coisa
com Nala, a dona.
— Certo. — digo, respirando
fundo. — Deve me achar uma completa
idiota.
— Não. — diz de relance. —
Acho você corajosa, por enfrentar as
coisas de frente assim, mesmo após tudo
que houve. Agora sei porque Chris...
O celular dele toca, fazendo-o
parar de falar no mesmo instante,
atendendo-o.
Ele conversa com a pessoa do
outro lado da linha e tento imaginar se
essa pessoa pode ser Chris ou não.
— Ok, babaca. Hoje tenho uma
surpresa pra você. — Eduardo então
pisca pra mim e o encaro assustada. —
Não seja curioso, Chris. Estou te
esperando aqui fora.
Fico em silêncio, e vejo Eduardo
desligar a chamada. Olho para dentro da
lanchonete, e como as paredes de vidro
me permitem ver dentro, assusto-me ao
ver Christopher de longe.
Ele está vestido totalmente
despojado, com uma camiseta simples e
pelo que vejo, uma calça jeans. Ele tem
um avental por cima da roupa e está
virado para o outro lado, portanto, não
consegue me ver.
— Ele vai sair a qualquer
momento. — Eduardo diz e me viro pra
ele, assentindo. — Precisa que eu fique?
— pergunta e eu nego. — Certeza?
— Sim, obrigada pelo que fez.
— digo e ele assente.
— Qualquer coisa me ligue, ok?
— apenas assinto e ele logo sai,
desaparecendo pelas ruas.
Encaro novamente o interior da
lanchonete e vejo Christopher tirando o
avental, com um grande sorriso no rosto.
Logo o motivo dele sorrir aparece e meu
corpo retesa no mesmo instante.
Uma mulher negra, de cabelos
encaracolados dá um tapa em seu
ombro, sorrindo pra ele. Ele sorri pra
ela e pega o avental, jogando-o nela. Ela
tenta revidar, mas logo os dois se
abraçam. Assim, meu coração se parte
com a cena.
Abaixo a cabeça por um instante,
procurando a razão de estar assim. Não
é preciso pensar muito para entender o
porquê de doer tanto ver isso.
Só agora percebo que ele parece
realmente ter mudado, assim como eu. E
talvez, esse homem que está sorrindo e
abraçando outra mulher, não queira me
ouvir, e muito menos colocar tudo em
pratos limpos. Mesmo assim, não posso
fugir disso, pois eu preciso deixar tudo
resolvido, sem fugir novamente.
Respiro fundo e levanto meu
olhar novamente para a lanchonete,
porém não o encontro.
— Ella?
Paraliso ao ouvir sua voz,
impactada por saber se sua proximidade
só agora. Sei que se olhar para o lado
vou vê-lo, e isso me aterroriza, ao
mesmo tempo em que me tranquiliza de
algum modo.
Tomo coragem e o encaro,
sentindo meu coração pular dentro do
peito. Ele arregala os olhos, parecendo
não acreditar que me vê. Eu também não
sei como estou aqui, a frente dele.
— Ella, o que faz aqui? —
pergunta e noto seu cenho franzido.
Os cabelos castanhos e lisos
estão mais curtos, a barba bem feita e
noto algo em seu braço esquerdo, o que
parece ser uma tatuagem.
Se concentre!
— Precisamos conversar. —
digo, finalmente encontrando minha voz.
Christopher assente, mas ainda
continua estático, assim como eu.
Estamos perdidos em nossos
pensamentos, mas de certa forma, o que
me uniu a ele antes, parece ainda estar
presente aqui. Infelizmente, encarando-
o, tenho a certeza do que quis negar nos
últimos meses. Eu ainda amo esse
homem.
Capítulo 26

Antonella (Babi)

— É... — Christopher limpa a


garganta e finalmente desperto de meus
pensamentos. — Tem uma praça aqui, se
quiser...
— Pode ser.
Sigo-o, e logo avisto uma bela
praça, em frente a uma grande igreja. De
repente ele para e se senta em um dos
bancos de madeira ali colocados e eu
fico em pé, sem saber o que fazer.
— Isso é ainda mais estranho do
que imaginei que seria. — ele diz, e é
impossível não sorrir de sua
constatação. — Mas confesso que estou
surpreso em te ver.
— Acredite, eu também. — sou
sincera e estralo meus dedos, tentando
me acalmar e dizer algo que faça
sentido. — Não sei se sabe o porquê de
eu vir aqui, além dos motivos óbvios.
Mas primeiro, antes de tudo, quero me
desculpar.
— O que? — ele pergunta e
arregala os olhos. — Não tem que...
— Christopher. — corto sua fala
e ele apenas me encara. — Eu errei
quando o acusei em frente a nossa
família, foi horrível aquilo. Pedi perdão
a todos, mas ainda faltava pedir isso a
você. Eu sei também, agora, que tudo o
que aconteceu entre nós, foi em parte
minha culpa. Se eu tivesse dito a nossa
família antes... Se eu tivesse ao menos
falado com meu pai... Eu sei que isso
mudaria muito o rumo das coisas.
— Ou não. — ele diz,
surpreendendo-me. — Eu sou um cara
esperto, Ella. Eu conseguiria enganar a
todos, por conta de ter ajuda de Isaac,
ele foi quem me encobriu. — assusto-me
com sua honestidade. — Eu te enganei e
acredite, enganei a mim mesmo.
— Como assim? — pergunto
sem entender.
— Eu nunca quis dinheiro, na
realidade, o poder era algo que sempre
me interessou. Pensei que ter as duas
empresas daria orgulho aos meus pais e
me sentiria realizado. — diz e respiro
fundo, sem ainda conseguir entender o
que ele quer dizer. — Hoje, vejo o
quanto me enganei. A felicidade que
tenho ao decorrer dos dias, ao ver que
gostam de mim aqui, sem eu ter que usar
alguma máscara, me faz sentir bem.
Servindo, dando aulas... Eu mudei, Ella.
Eu percebi que poder não é nada,
quando não se faz o que gosta. Eu amo a
Soares Mídia, mas hoje vejo, foi tudo
em vão. Magoei as pessoas que amo por
um sonho besta adolescente...
— Olha. — digo, finalmente
tomando coragem para ser sincera. —
Eu só quero que me desculpe e que
possamos resolver isso, como adultos.
— Certo. — diz e suspira fundo,
parecendo decepcionado. — Pode ter
certeza, não precisa se desculpar por
aquilo, mas tudo bem. Agora, sobre
nós... — ele respira fundo e eu o encaro,
sentindo meu coração falhar uma batida.
— Eu não sei o que dizer, Ella.
— Olha, não precisa me explicar
nada. O que temos não passa de um
papel, e acho que o divórcio é uma boa
saída... Mas só quero te perguntar uma
coisa.
— O que? — pergunta.
Reúno então todas minhas forças
e resolvo perguntar de uma vez.
— Por que me disse sobre o
plano antes de conseguir tudo? —
pergunto e ele me surpreende ao sorrir.
— Tem certeza que precisa fazer
essa pergunta? — pergunta e eu assinto.
— Bom, acho que mesmo não sendo um
homem romântico, isso pode soar como
algo poético.
Fico ainda mais perdida.
— Eu percebi que te amava
tarde demais. Na realidade, quando me
encontrou com a mão cortada e cuidou
de mim. Eu tinha ido a uma festa naquela
noite, eu tentei transar com outra mulher,
mas eu não... Não consegui.
Encaro o chão, sem conseguir
crer no que estou ouvindo.
— Eu nunca estive com outra
mulher, desde que te beijei. — diz e o
encaro incrédula. — Eu já menti muito
pra você, omiti na realidade, mas espero
que acredite em mim hoje. Eu fui à festa,
para provar que ainda era o mesmo
Christopher, o de farras e mulheres.
Porém, assim que aquela mulher me
chamou de “lindo” e me beijou, eu
travei, e não consegui ir em frente.
Porque não era você.
— Christopher, não precisa
continuar. Eu só quero...
— Por favor, me deixe continuar.
— pede e mesmo sem saber o que fazer,
assinto.
— Foi ali que comecei a
perceber o que sentia. Que há muito
tempo já sentia. Quando cantou “teatro
dos vampiros” pra mim, e eu cantei pra
você... Eu nunca fiz isso pra ninguém,
Ella. A não ser minha mãe. Foi naquele
instante que soube, eu estava perdido.
Por isso deixei você em casa e
praticamente fugi. Eu descobri que te
amava naquela noite. Falei com Paula,
pedi algum conselho... Ela disse que o
melhor era a verdade, mesmo sem saber
sobre tudo. Foi por isso que...
— Me contou a verdade porque
Paula te aconselhou a fazer isso? —
pergunto incrédula, tentando segurar as
lágrimas.
— Não. — nega veemente. —
Contei a verdade porque te amava,
porque apesar de tudo, queria te pedir
uma segunda chance.
Tento digerir suas palavras, mas
nada fez sentido agora. Eu quero
acreditar nele, mas infelizmente, ainda
não consigo, por mais que ele se mostre
sincero.
Ele me amava.
— Eu entendo. — digo
simplesmente. — Acho que demorei em
processar muitas coisas, mas hoje sei o
quanto fomos imaturos. Fico feliz por
você estar bem, mas precisava te ver,
pra poder seguir em frente. — sou
sincera.
— Eu também. — diz e sorri.
Porém seu sorriso só me remete
a uma coisa – o modo como ele sorriu
para outra mulher hoje. Pois é, mesmo
que estejamos conversando e eu ainda o
ame, sei que acabou... Nós acabamos há
muito tempo. Se é que existimos um dia
de fato.
— Eu te amo, Ella. Por mais que
isso pareça improvável, apesar de todos
os meus erros. Eu sempre te amei. —
diz, surpreendendo-me.
— Mas... — calo-me, sem saber
o que mais dizer.
Ele ainda está brincando
comigo?
— Eu vi você abraçado à outra
mulher, Christopher. Não minta pra mim!
Não há nada que eu possa te dar e...
— O que? — pergunta,
parecendo não entender. — Ah, você
deve ter me visto abraçado a Tânia. Ela
se tornou uma amiga, apenas. Mas sobre
você não poder me dar nada, Ella. Se
um dia, aceitar ser minha novamente, me
dará tudo.
— Christopher...
— Eu não sou como meus
irmãos. Não sou um homem romântico,
por Deus, nem sei como me declarar.
Ele então se levanta e se
aproxima de mim.
— Eu vou estar aqui, no mesmo
lugar, esperando você. — diz, e eu fico
sem fala, intimidada por sua
aproximação. — O que quiser de mim,
você terá, Ella.
— Eu... Eu...
Travo, sem conseguir mais
encará-lo. Olho para o chão e penso
sobre tudo... Ainda parece tão cedo para
afirmar algo ou até mesmo aceitar.
— Eu não sei o que dizer. —
digo.
— Você leu minha carta? —
pergunta e eu nego. — Por favor, quando
puder, se ainda a tiver, leia. — pede.
— Christopher, acho que está
sendo precipitado e...
— Pela segunda vez em minha
vida, estou deixando meu coração falar
por mim. — diz e sorri. — A primeira,
foi naquela carta. Há algo lá, que talvez
te faça me dar apenas um voto de
confiança... Qualquer coisa que te faça
querer me ver novamente.
O encaro novamente e seus olhos
castanhos me confundem. Ele parece tão
perto, e dessa vez, perto por completo.
Sem incerteza ou medo. Nunca pensei
que me sentiria assim, não mais. Mas sei
que se continuar aqui, posso fazer algo
que vou me arrepender depois.
Chega de agir por impulso!
— Preciso ir. — digo e ele me
olha com pesar. — Acho que
precisávamos disso.
— Eu te levo até onde está
hospedada. — diz, ignorando minha
última fala.
— Não...
— Por favor, Ella. — pede, e
resolvo não negar mais.
Ele vem ao meu lado, e o
silêncio cai sobre nós.
A noite está linda, e enquanto
caminhamos, sei que isso parece uma
cena de um filme de romance. Mas não
faço ideia de qual a próxima atitude
dele.
Porém, tenho que admitir. Nunca
me senti tão confusa e segura assim.
Apenas quero poder em algum momento
discernir sobre o que estou fazendo.
— Bom, está entregue. — diz
assim que paramos em frente ao meu
hotel.
— Obrigada. — digo e ele
assente. — Tenha uma boa noite.
Viro-me para entrar, mas logo
sinto sua mão em volta de meu braço.
Assim, encaro-o e ele apenas me olha,
como se estivesse em alguma luta
interna.
— Algum problema? —
pergunto, sentindo seu toque fazer meu
corpo todo estremecer.
— Eu sinto muito.
— Está tudo bem. — digo e
forço um sorriso.
— Não pelo que fiz. — diz e
fico sem entender. — Mas por isso.
Então sinto apenas meu corpo
bater contra o seu, e seus lábios se
encontram com os meus. Aos poucos me
entrego ao beijo e por um segundo,
esqueço-me de tudo. Seu gosto, seu
toque... Nunca foi tão bom, tão certo.
Assim que nos afastamos, pela
falta de ar, apenas continuo olhando para
ele, sem acreditar que isso é real.
— Não, eu não sinto muito por
isso. — diz e sorri. — Boa noite, Ella.
Ele então se afasta e se vira,
indo embora. Levo dois dedos aos
lábios e sinto-os formigar. E apesar dos
pesares, não me arrependo desse beijo.
Não agora.
Christopher

Seu gosto ainda parece tão


presente em mim, que minha vontade é
de dar meia volta e puxá-la novamente
para meus braços. Nunca antes pareceu
tão certo beijá-la.
Entro em meu novo lar, uma
pequena casa a qual aluguei, e penso em
como queria mostrar esse lugar a ela.
Não tem o luxo com o qual estamos
acostumados, e muito menos todo o
design moderno e bonito de meu antigo
apartamento, mas aqui, sinto-me
realmente em casa.
É uma casa simples, a qual
decorei aos poucos, da forma como
pude, com o dinheiro que fui recebendo
da lanchonete. Não tenho muitas coisas
aqui, já que aluguei a casa praticamente
mobiliada, mas o pouco que comprei,
como minha cama, faz-me ter orgulho
pela primeira vez de algo meu.
Engraçado que antes, quando
praticamente ganhava o quádruplo que
recebo hoje, não dava sequer o valor ao
dinheiro. Porém, hoje, com o que ganho,
consigo dar valor a cada pequena coisa
comprada, até mesmo um jogo de copos.
Meus pais me ensinaram todos
os valores, por mais que os dois sejam
provenientes de famílias influentes e
ricas, porém, nem sempre me espelhei
neles. Acho que hoje, faço pela primeira
vez isso. Ao menos, gostaria de saber se
Antonella, pode me amar sendo assim –
apenas eu mesmo.
Sento-me no sofá e encaro o teto
por alguns instantes, lembrando-me do
que Castiel contou a respeito de Ella.
Ele me disse que ela pediu perdão à
família toda pela cena que fez para me
atingir, que por mais que ela tenha feito
aquilo, planejado, se arrependeu. Hoje,
assim que saí do restaurante e a vi,
soube que sim, a minha Antonella, de
certa forma, ainda continua a mesma.
Quando ela me pediu desculpas,
antes mesmo de lhe perguntar algo,
fiquei em choque. Tenho certeza nesse
instante, que ambos erramos, acredito
que eu mais, porém, finalmente
admitimos isso, e espero que possamos
contorná-los.
Escuto o toque de meu celular e
pego-o no bolso. Como já imaginava, é
meu amigo, o qual tenho certeza que
ajudou Ella a chegar até mim.
— Fala traíra. — digo ao
entender, e escuto sua gargalhada.
— Pode me xingar do que
quiser, mas sei que está feliz. — diz, e
eu sei que não posso negar.
Há tempos não tenho um sorriso
tão aberto em meu rosto.
— Aposto que está sorrindo
feito um idiota. — zomba e eu respiro
fundo, sem sequer querer revidar sua
provocação. — Mas então, está tudo
bem? — pergunto e noto seu tom de voz
mudar.
— É... Eu a beijei. — confesso e
meu amigo fica mudo de repente. —
Edu?
— E eu pensando que você iria
com calma. — diz, fazendo-me rir.
— Eu a amo, Edu. — digo,
fechando os olhos e lembrando-me de
como é bom estar próximo a ela.
— Espero que dessa vez não
perca sua chance de ser feliz, babaca.
— chama minha atenção. — Agora, vou
desligar, para que possa sorrir feito
bobo a vontade. Até!
— Até. E Edu?
— Diga.
— Obrigado, amigo.
Logo ele desliga e fico perdido
novamente em meus pensamentos.
Penso então em minhas chances,
em como agir daqui por diante. Eu não
sei se devo ir até ela, ou simplesmente
esperar com que ela decida algo através
daquela carta. Só sei que darei a ela
alguns dias para pensar, após isso, terei
que tomar uma decisão. Com toda
certeza, seja qual for sua escolha, eu
tentarei conquista-la novamente. Dessa
vez, da forma correta.
Capítulo 27

Antonella (Babi)

Uma semana depois

Encaro a janela do carro


novamente e quase imploro para que
Lipe vá mais rápido com o carro.
Quando ele se ofereceu para me trazer
novamente para Minas, sequer pensei
em como essa nova viagem seria, porém
tê-lo por perto me traz calma.
Quando voltei pra casa após ver
Chris, ele ainda continuava gravado em
minha mente, e pior, em meus lábios.
Assim que cheguei em meu quarto, após
passar um tempo com minha família,
procurei pela carta, e a encontrei no
mesmo lugar que a deixei há meses
atrás.
Foi difícil abri-la, foi ainda mais
difícil lê-la. Pensei em vários momentos
simplesmente fazer pedacinhos do papel
e esquecer tudo. Porém, por ter ido até
Christopher, o visto novamente e
percebido o quanto ele realmente parece
diferente, permiti-me dar um tiro no
escuro.
A carta é pequena e simples, o
contrário do que imaginei, mas me
surpreendi porque nunca imaginei
Christopher escrevendo algo assim. Ele
deixou claro em cada linha o que sentia,
pelo menos foi o que meu coração,
mente e alma, compreenderam. Porém o
que me assustou realmente foi muito
além do escrito por ele, mas o
documento em anexo. Tentei por alguns
instantes odiá-lo, após ler cada linha,
porém em poucos minutos me vi em
lágrimas, apenas querendo poder estar
ao lado dele. Perguntando-me se o amor
que está na carta realmente existe.
Imaginei tantas coisas, aliás,
coisas futuras. Nós dois morando no
interior, uma simples casa perto daquela
linda praça, um gato e um cachorro, até
mesmo filhos. Imaginei uma menina com
o seu olhar intimidante e meus cabelos
negros. Por um momento deixei minha
cabeça viajar dentre meus sonhos mais
desejados, e por fim, entreguei-me a
esse sentimento.
Decidi que mesmo após tantos
erros, e reviravoltas em nossas vidas, eu
iria até ele. Iria me arriscar pela última
vez nesse amor, o qual ainda está tão
vivo em mim.
— Ei, sonhadora. — sorrio ao
ouvir a voz de Lipe. — Pode parar um
pouco de parecer uma boba apaixonada?
— zomba e eu lhe dou um leve soco no
braço.
— Você que quis passar mais de
seis horas comigo nesse carro. —
revido e ele apenas nega com a cabeça.
— Voltou ainda mais chata do
exterior. — diz brincando e suspira
fundo. Eu sei bem o que o exterior o
lembra. — Nem pense em falar nisso.
— Mas Lipe...
— Nem insiste, sabe que não
vou falar sobre ela com você. — disse
por fim, e resolvi me calar.
Sei muito bem o quanto qualquer
assunto sobre Laura mexe com ele, então
o melhor é não o aborrecer com isso
agora. Mas tenho certeza, um dia irei
fazê-lo falar comigo abertamente sobre
ela.
— Sabe que logo todos virão ver
Christopher, né? — pergunta e eu
assinto, lembrando da conversa que tive
com meu pai.
— Nossa vó contou que foi até
Minas atrás dele algumas vezes, mas que
sempre ficou o observando. Ela nunca
esteve tão orgulhosa de Christopher,
assim como todos de nossa família. —
digo e ele concorda, pois sabemos o
quanto nossa família sofre pela
distância.
Todos de certa forma já sabem
onde ele está, ou até mesmo foram até a
cidade. Porém tio Castiel é quem
realmente fala com ele, já que todos
estão apenas respeitando o espaço de
Christopher. Acho que o medo de dizer
algo errado ou estragar esse novo
momento dele atormenta a todos, ainda
mais meu pai, que por mais que tenha
agido para me defender antes, tenho
certeza que se culpa muito por tudo.
Afinal, eles são irmãos.
— O que faremos o resto dessa
viagem? — Lipe pergunta. — Ainda
faltam cerca de duas horas para
chegarmos.
— Cantar? — indago e noto que
ele sorri.
— Com toda certeza.
Mudo então o som para outra
playlist e logo uma de nossas músicas
favoritas começa. Lipe me olha
rapidamente e solta a voz, fazendo-me
cantar junto a ele. Por mais que não
sejamos ligados por laços de sangue, o
laço fraterno que nos une é forte demais.
Só eu sei o quanto agradeço por ter
Felipe, Luna e Miguel em minha vida,
eles são parte importante de meu ser.

***

— Chegamos! — Lipe diz e


estaciona o carro em frente ao mesmo
hotel que fiquei quando vim para cá há
duas semanas. — Vou levar as malas e
pedir um quarto. Trava o carro pra mim.
— Lipe joga a chave e eu a pego no ar.
Assinto e ele logo sai com as
malas, indo para o hotel. Olho em meu
celular e vejo que já é tarde, por volta
das oito da noite. Pensei que poderia
falar com Christopher hoje, mas pelo
jeito terei que esperar até amanhã. Essa
ansiedade ainda vai acabar comigo.
Pego minha bolsa e saio do
carro, ligando o alarme em seguida.
Entro no hotel e encontro Lipe falando
com a moça da recepção, que apenas
tem olhos pra ele.
— Posso guardar o carro, então?
— meu irmão pergunta e a moça assente
várias vezes.
Como ele consegue fazer isso?
Se tem algo que meu irmão nunca
tenta ser é galanteador, e muito menos dá
em cima de alguém. Ele sempre é quieto,
mas acho que por conta de sua beleza, a
maioria das mulheres acaba se
encantando instantaneamente.
— Sobe com as nossas malas
enquanto eu guardo o carro, ok? — pede
e eu assinto, pegando a chave que a
moça lhe entregou e puxando minha
mala.
A bolsa que Lipe trouxe sequer
pode ser chamada de mala, já que deve
ter dois pares de roupas dentro. Está
mais paramuma simples mochila, a qual
carrego em cima de minha mala de
rodinha.
Entro no elevador e começo a
divagar sobre tudo comigo mesma. Sem
pensar sobre minha decisão, já que
tenho certeza do que quero e ela está
tomada. Pela primeira vez na vida estou
confiante em algo, e por mais que possa
quebrar minha cara depois, sei que não
vou me arrepender. Pois se faço isso,
não é apenas pelo que sinto, mas pelo
que acredito.
***

— Vou tomar um banho. — Lipe


diz e vem até mim, dando um beijo em
minha testa. — Toma cuidado, qualquer
coisa me liga.
— Ok. — digo e ele logo se
afasta, entrando no banheiro.
Vou até o espelho pendurado na
parede, que fica de frente as duas camas
de solteiro, e prendo meu cabelo em um
coque alto, deixando alguns fios soltos.
Pego meu celular, um pouco de dinheiro
e logo saio do quarto.
Por estar muito ansiosa, resolvi
dar uma volta pela praça. Perguntei a
recepcionista mais cedo sobre o porquê
de ver tantas luzes de minha janela, e ela
me contou que está tendo uma festa
típica da cidade, e por essa razão a
cidade está muito iluminada em um
ponto.
Como Lipe está cansado de
dirigir, pedi para que ele descansasse,
pois sei que de qualquer jeito, se eu
ficar ou não nessa cidade, ele voltará
dirigindo, já que morro de medo de
dirigir por muito tempo.
Assim que saio na rua, caminho
em direção à praça da cidade, pois pelo
que a recepcionista também disse, é
onde ficam as barraquinhas de comida.
Após todo esse tempo no carro, por
mais que tenha comido algumas
besteiras, sinto vontade de comer algum
doce.
Ando pelas ruas e logo me
encontro de frente a praça, que está
repleta de luzes e várias barraquinhas
pelas ruas. Pelo jeito fecharam todas as
ruas ao redor da praça, pois tudo está
ocupado, e tem várias pessoas andando
livremente no meio delas.
Começo então a procurar algo
para comer, e a única coisa que vem em
minha mente é um espeto de morango
coberto com chocolate. Ando então até
encontrar uma barraquinha que venda
isso. Compro assim que acho e já
começo a me deliciar. Divino!
Uma música espanhola toca e
busco o lugar de onde ela vem. No
mesmo instante que me viro, choco-me
contra outro corpo.
— Desculpe, eu não te vi. —
digo de imediato, encarando a mulher
que sem querer esbarrei.
— Quem você pensa que é pra
tocar em mim? — a mulher pergunta
claramente alterada. — Sou Kimberly
Mubarak[9]!
— Ah, claro. — respondo sem
jeito, e muito sem entender sua reação.
Ela me olha com ar superior,
mas resolvo ignorar isso e sair de perto,
concentrando-me em chegar mais
próxima de quem canta essa música tão
linda, mas que nem sei o nome.
Ando um pouco e logo vejo um
pequeno palco e um homem cantando.
Realmente, ele tem uma bela voz.
Logo ele encerra essa canção e
agradece, e todos que estão próximos ao
palco, assim como eu, batem palmas.
Sinto meu celular vibrar no bolso e me
distraio um pouco, olho rapidamente e
respondo a mensagem de Lipe, que
como sempre, está perguntando se estou
bem.
Volto minha atenção para o palco
e sinto meu ar se esvair no mesmo
instante. Vejo Christopher falar algo com
o cantor, o qual assente algumas vezes e
logo volta para o microfone. Christopher
está sorrindo e logo vejo Eduardo ao
seu lado, o qual bate nos ombros dele.
Logo os dois saem do palco,
vindo para a rua. Paraliso no mesmo
instante, mesmo sabendo que talvez ele
nem me veja. Porém volto a realidade
em instantes, assim que a melodia da
música começa a tocar.
Uma das músicas que me
lembram Christopher. A qual ele cantava
baixinho, assim que eu fechava os olhos
na hora de dormir. Acho que na
realidade, ele pensava que eu já estava
dormindo. Porém, sempre ficava
acordada, querendo ouvi-lo cantar.

“Uma menina me ensinou


Quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei

Ela fazia muitos planos


Eu só queria estar ali
Sempre ao lado dela
Eu não tinha aonde ir
Mas egoísta que eu sou
Me esqueci de ajudar
A ela como ela me ajudou
E não quis me separar

Ela também estava perdida


E por isso se agarrava a mim
também
E eu me agarrava a ela
Porque eu não tinha mais
ninguém”
Como se fosse um imã, meu
olhar é atraído para longe do palco e
logo pousa em direção ao homem que
tanto atormenta e único capaz de
acalmar meu coração. Seus olhos
castanhos que eram tão enigmáticos,
hoje parecem completamente
transparentes. Ele me encara, vindo em
minha direção de imediato, parecendo
não acreditar em minha presença. Faço
então o mesmo, indo até ele, querendo o
mais rápido possível estar próxima.

E eu dizia ainda é cedo


Cedo, cedo, cedo, cedo
E eu dizia ainda é cedo
Cedo, cedo, cedo, cedo
Ah, eu dizia ainda é cedo
Cedo, cedo, cedo, cedo
Ah, eu dizia ainda é cedo

Sei que ela terminou


O que eu não comecei
E o que ela descobriu
Eu aprendi também, eu sei

Ela falou: Você tem medo


Aí eu disse: Quem tem medo é
você
Falamos o que não devia
Nunca ser dito por ninguém

Ela me disse: Eu não sei


Mais o que eu sinto por você
Vamos dar um tempo
Um dia a gente se vê”

E eu dizia ainda é cedo...”

(Ainda é cedo – Legião Urbana)


A música me inebria, como se
fosse a canção da nossa relação,
totalmente diferente de como nos definia
antes. Somos outros hoje, sei disso.
Logo estou a frente dele,
tentando controlar minha respiração e
esquecendo-me por completo de meu
doce, que ainda seguro. Ele me olha
indeciso e eu apenas tento segurar
minhas lágrimas, não de tristeza, mas de
redescoberta. E nesse instante, toda
aquela carta passa em minha mente, e
não consigo pensar em nada pra dizer,
apenas demonstrar.Assim, o faço.
Mesmo sem saber ao certo,
puxo-o para mim, abraçando-o, como se
minha vida dependesse disso. Ouço as
palmas das outras pessoas já que a
música se encerra, mas a única coisa
que me importa é estar nos braços dele.
O qual parece achar que a qualquer
momento vou fugir, pois realmente se
agarra a mim.
Afasto-me um pouco e toco seu
rosto, reconhecendo-o novamente.
— Oi. — digo, sem ter mais
palavras para falar sobre esse momento.
— Oi. — diz e sorri, enquanto
ainda acaricio seu rosto.
Ficamos em silêncio por alguns
segundos, acho que ainda sem conseguir
acreditar nesse momento.
— Eu te amo. — diz, e já não
consigo segurar minhas lágrimas.
Poderia duvidar dele, questioná-
lo novamente sobre tudo, mas apenas
consigo focar em seus olhos, os quais
um dia me enganaram, mas que hoje,
mesmo não podendo tomar mais nada de
mim, olham-me do modo mais terno
possível.
— Eu sei. — digo, acreditando
em seu amor, e entregando-me
novamente a ele.
Somente a ele.
Capítulo 28

Christopher

— “Porque eu, que apenas


tinha uma certeza na vida – a empresa
– me vi perdido, assim que percebi o
que estava fazendo. Não sou o melhor
homem do mundo, nem mesmo o mais
correto, mas se tem algo que sei, é que
sou o homem que te ama, e por mais
que existam milhares capazes de o
fazer, eu quero ser o melhor homem que
te ama. Se for pra ser algo daqui por
diante, quero apenas que seja ser seu.
Por isso, eu quero que assine o
divórcio, me dê a chance de te
conquistar novamente. Me dê a chance
de ser seu.”
Ela termina de ler a carta que
escrevi há meses atrás, que está mais
para um simples bilhete, mas foi na qual
abri meu coração pela primeira vez para
alguém. Limpo as lágrimas que descem
por seu rosto, e suspiro fundo, sem
conseguir explicar o quanto é bom ouvir
sua voz novamente.
Não sei ao certo, mas nada
parece mais correto do que tê-la aqui,
em minha casa, sentada em meu sofá,
enquanto apenas falamos de nós. Nunca
imaginei que a encontraria no meio da
rua, enquanto a música que tanto me
lembra ela tocava em alto e bom som. A
música a qual pedi para que cantassem,
porque me lembra dela, a qual também
reflete parte de nossa história.
— Ei. — digo, quando ela
apenas fica em silêncio. — O que foi?
— pergunto, colocando uma mecha de
seu cabelo atrás da orelha.
— É que... Esse lugar...— sorri
lindamente, olhando ao redor. — Você...
— seu olhar cai sobre o meu e fico
apenas admirando o modo como me
olha, com seu jeito doce. — Eu nunca
pensei que seria tão fácil estar aqui,
parece natural, entende? — pergunta, e
finalmente compreendo seu silêncio.
Sim, eu sei como ela se sente.
Puxo-a para os meus braços,
abraçando-a novamente, assim como
fizemos no meio da rua, em meio à festa.
Se tem algo que nem eu entendi, foi
como daquele abraço, demos as mãos e
viemos até minha casa. Há algo entre
nós, como se precisássemos desse
momento, algo apenas nosso.
— Acho que desde que te contei
a verdade, ou parte dela, precisamos ter
uma conversa. — digo, afastando-me de
seu aperto. — Eu te amo, Ella. Mas eu
sei o quanto errei com você.
— Chris...
— Por favor. — peço, e ela
então se cala, deixando-me continuar. —
Essa carta é apenas uma parte do que
sentia naquela época, mas não
representa o que sou hoje, não tudo, nem
o que sinto por completo. Nunca pensei
que dois meses valeriam muito mais do
que anos de uma vida dedicada a ser o
herdeiro da empresa. Eu parei e vi como
é a vida simples, como ela pode ser
simples. Eu vi que dinheiro é sim algo
essencial, mas não é tudo. Eu não sou
um novo homem, ainda tenho os mesmos
gostos, porém, com novas importâncias.
Eu amo o que estou fazendo agora, Ella.
Após a lanchonete, em alguns dias da
semana, dou aulas particulares de
cálculo para uma garota, e simplesmente
adoro isso. Sempre fui bom com
números, mas nunca me senti tão vivo ao
fazer algo, nem quando me sentei na
cadeira de presidente da Soares.
Respiro fundo, reparando nos
olhos arregalados de Ella e como o
sorriso em seu rosto parece sincero.
— Nunca imaginei ouvir isso de
você. Christopher Soares, professor. —
diz, como se testasse as palavras em sua
boca. — Gosto disso!
— Eu também. — assumo,
passando as mãos por meus cabelos. —
Eu tenho duas pós graduações em
economia, e vi que posso prestar
concurso para ser professor. — confesso
e ela leva as mãos a boca, claramente
surpresa. — Eu não sei ainda se vou
fazer a prova, porque tenho que estudar
muita coisa antes, mas... É um sonho em
vista. Algo que nunca antes passou por
minha cabeça.
— Um novo sonho. — diz, como
se completasse minha fala. —
Completamente diferente.
— Pois é. — debocho de mim
mesmo e ela sorri. — Assim como a
tatuagem que fiz, algo que de repente
tive vontade e acabei simplesmente me
deixando levar.
Ela me encara curiosa então tiro
minha camisa, expondo a ela minha
tatuagem, que fica em meu braço
esquerdo. É uma simples frase, a qual
nunca fez sentido antes pra mim, antes
de toda minha vida virar de cabeça pra
baixo... Mas no momento que a fiz, onde
me vi só e imaginando minha vida, fez
todo sentido. E acho que sempre fará.
— “Essa saudade que eu sinto
de tudo que eu ainda não vi.”[10] —
ela lê e me encara surpresa, como se
absorvesse cada palavra. — Qual o
significado?
— Eu fiquei perdido nos
primeiros dias aqui, eu sentia falta de
algo, como se tivesse um buraco no meu
peito. Pensei em ligar pra todos, correr
pra alguém... Mas ao decorrer dos dias
percebi que sentia falta de algo que eu
nem conhecia.
— Algo novo? — questiona e eu
assinto.
— Como nós. — confesso. —
Como tudo seria se eu não tivesse
planejado nada.
— É linda. — diz, tocando de
leve a tatuagem.
— Mas e você? — pergunto
interessado, colocando novamente minha
camisa. — Como estão as coisas? De
verdade, Ella.
— Bom, eu tranquei a faculdade
e passei os últimos dois meses fora do
país com Laura. Precisei de um tempo
pra mim, e quando voltei, decidi que
queria falar com você, colocar os pingos
nos “is” e... Bom, aqui estamos. — diz,
fechando rapidamente seus olhos.
— Eu sinto muito, Ella. — digo,
tomando finalmente coragem de tocar
nesse assunto. — Sinto muito por ter te
mostrado algo que nunca quis saber. —
digo, a respeito de ter tocado em seu
passado.
— Acho que por mais que tenha
agido de má fé, foi bom saber. Eu
descobri que minha mãe biológica me
amava demais, e que meu pai biológico
é um homem incrível também. Além de
já ter uma família maravilhosa, consegui
finalmente saber mais sobre tudo, sobre
minha origem. Não se culpe por isso. —
diz simplesmente, e noto o quão forte e
segura ela é.
— Acho que nunca vou
conseguir parar de me culpar. — sou
sincero e abaixo a cabeça, encarando a
almofada que ela tem em seu colo.
— Ei. — diz e puxa minha mão
esquerda, e eu a encaro no mesmo
instante. — Meu Deus! — exclama de
repente, surpreendendo-me.
— O que foi? — pergunto
incerto.
— Você ainda usa sua aliança.
— constata o óbvio e eu sorrio,
levantando minha mão esquerda e
deixando ainda mais claro a ela.
— Desde que coloquei em meu
dedo na festa de posse, nunca a tirei. —
confesso e Ella fica em completo
silêncio. — Algum problema com isso?
— pergunto, temendo por sua resposta.
— É que nunca pensei que me
surpreenderia tanto com você. — diz,
dando de ombros. — É como se eu não
te conhecesse mais, sabe? Mas ao
mesmo tempo somos apenas nós.
Sorrio, vendo o quanto ainda
mesmo sem entender nossa atual
situação, eu sei o que quero, e Ella
também.
— Quando vi junto à carta, o seu
pedido de divórcio, e que abre mão de
toda e qualquer quantia de dinheiro ou
posição, eu vi que não era mais o
homem de antes. — diz, tocando meu
rosto, como se gravasse minhas
expressões. — Mas quando te vi hoje,
naquele palco, dizendo algo para um
cara e de repente a música começou...
Eu sabia que era você. O meu homem.
— Ella... — digo, sem saber
como reagir a sua declaração.
É como se ela estivesse
respondendo minha carta, como se me
aceitasse novamente.
— Você é meu e eu sou sua.
Vamos ter problemas, somos humanos,
erramos... Mas se tem algo que aprendi
com meus erros, é nunca deixar de ser
verdadeira e completamente honesta. E
eu quero estar com você, Chris. Poderia
mentir e dizer que não crio expectativas
sobre nós, mas eu já criei várias em
poucos minutos. Seja o que for amanhã...
Hoje, no agora, eu sou sua.
Não consigo mais raciocinar
direito, e a única coisa que consigo
fazer é puxá-la para meus braços e
beijá-la com todo amor que sinto. Com o
gosto de recomeço tão sonhado por mim.
Ella se agarra a mim, com a
mesma fome, mesma vontade...
Deixando claro que um simples beijo
não é o bastante pra nós, não hoje, não
no “nosso” agora.
Nesse instante, tocando sua pele
macia, sentindo o quanto se entrega a
mim, o quanto nossos corpos são
perfeitos um pro outro, apenas tenho
novamente a certeza de que somos almas
gêmeas, somos únicos. Deito-me sobre
seu corpo, segurando sua nuca,
encarando com devoção suas nuances,
vendo seus olhos fechados, em contraste
com sua boca entreaberta. Ela assim
como eu, não consegue esconder o
prazer que sente.
Mas nós somos muito mais que
prazer, muito mais que uma simples
conexão carnal. Ella é minha, por
completo, sem mais ambições, mentiras
ou armações.
Puxo de leve seu cabelo, e seus
olhos se abrem no mesmo instante. Nada
no mundo paga isso, ter a mulher que
amo, delirando de amor, prazer, luxúria
junto a mim. Mas sei que nada mais
importa do que novamente dizer a ela o
que sou.
— Eu sou seu. — digo,
encarando-a com toda sinceridade que
tenho, todo amor que transbordo.
Sei agora, que estamos juntos
novamente.
Capítulo 29

Antonella (Babi)

Semanas depois

As coisas na vida são realmente


estranhas. Se há um ano alguém me
perguntasse como eu estaria, logo diria
que estudando, estagiando e em um
relacionamento. Nesse instante se
alguém me perguntar como estarei no
futuro, não serei ousada em arriscar
algo, sequer mesmo meu status. Acho
que finalmente aprendi a não tentar
previr nada, apenas viver um dia de
cada vez.
— Um real por seus
pensamentos. — sorrio e me viro,
abraçando-o, sem sequer precisar olhá-
lo pra saber que tem um sorriso cínico
em seu rosto.
— Pelo menos um dólar, tio. —
brinco.
— Não dê bola, hoje ele
acordou pior que o de costume. — Tia
Dani diz assim que se aproxima, me
abraçando com carinho.
— Ela me ama. — Castiel
implica e ela revira os olhos, ajeitando
meu cabelo.
— Parece nervosa. — ela indaga
e eu assinto.
— E se ele não gostar e... —
tento dizer, mas travo, imaginando que
possa estar estragando tudo.
Estragando o começo de algo tão
bom que eu Chris estamos construindo.
— Babi, se você quer mesmo
viver esse amor, nada mais justo que dar
a ele a chance de ter quem o ama ao
lado, que ele saiba que todos nós
apoiamos vocês. Por que ele ficaria mal
com isso? — pergunta, encarando-me
desafiadora.
Nunca disse a ela, mas Dani me
dá muito medo às vezes.
— Eu acho que só estou nervosa.
— digo, tentando me acalmar e ela sorri.
— Você está fazendo algo muito
bonito. — diz e logo se afasta, junto a
Castiel.
Encosto-me contra a bancada da
lanchonete e fico divagando comigo
mesma, vendo meus tios irem para o
quarto de meus pais. A família Soares
praticamente lotou o hotel.
Meu relacionamento com Chris
tem seguido, mas não sei ao certo nem o
que somos. Namorados, noivos, ou até
mesmo casados como está no papel,
porém o que importa é que me sinto feliz
e ele também.
Passei alguns dias com ele após
termos ficado juntos, conhecendo seu
dia, sua nova vida, seu novo eu... Acho
que nunca estive tão apaixonada quanto
agora. E por isso e tantas outras coisas,
que revolvi fazer algo para vê-lo mais
alegre.
Foi fácil perceber o quanto dói
pra ele essa distância de nossa família,
não só física, mas por completo. Sei que
pra ele é muito difícil dar o primeiro
passo, acho que ainda por receio do que
aconteceu conosco, porém, sei o quanto
todos querem vê-lo, já que estou ciente
sobre o que acontece em ambos os
lados, principalmente o de meu pai.
Nossa família viu o quanto ele
mudou, porque obviamente ninguém
realmente ficou longe, apenas o
necessário para que ele não notasse.
Nunca vi meus avós tão felizes a
respeito dele, e sei que isso o fará muito
feliz também. Porque por mais que ele
não tenha dito nada, sei que teme não
dar orgulho a eles. Mas ele dá, e precisa
saber disso.
Christopher

— Não quer ir passear um pouco


pela praça, fazer algo além de ver um
filme? — pergunto e Ella nega no
mesmo instante, praticamente me
puxando pelo braço. — Ei, por que está
assim? — pergunto sem entender sua
pressa.
— Nada, apenas cansada. — diz,
mas não sinto firmeza em suas palavras.
— Ella...
— Vamos logo, baby. — insiste,
e mesmo sem entender, caminho rápido
junto a ela.
Ficamos juntos apenas para
jantar fora, já que passei praticamente o
dia todo na lanchonete.
— Bom, agora para. — Ella diz
de repente, e fico paradinho em frente à
porta de minha casa, sem entender nada
do que está havendo. — Você tem uma
lembrança ruim de nossa família, eu sei,
e fui eu quem a fiz. Mas não é por isso
que estamos aqui, é porque eu... Eu te
amo, Chris. — surpreendo-me no mesmo
instante. — Esses dias ao seu lado vem
me mostrando o quanto nosso amor é
forte, e o quanto ele foi modificado ao
decorrer de nosso amadurecimento. Mas
o meu amor não é o suficiente, ou
melhor, não é o único que você tem.
Atrás dessa porta, tem todos aqueles que
te amam, e que se orgulham de quem é, e
do que nós somos.
Fico estático, sem palavras, já
entendendo o porquê de seu nervosismo,
o porquê de seu modo estranho. Apenas
a encaro, buscando alguma incerteza
sobre o que disse
. Ela disse que me ama, e disse
que as pessoas que me ama estão atrás
dessa porta... Isso não é possível.
Viro-me para porta e abro
devagar, sentindo meu coração
praticamente pular do peito e lágrimas
se formam em meus olhos. Assim que a
abro totalmente, não consigo mais
raciocinar direito.
Só agora sei o quanto senti falta
deles, de cada um deles, das pessoas
que são tudo pra mim – minha família.
Em especial, o homem que está no
centro da minha sala, que nesse instante,
por mais que sejamos tão diferentes
fisicamente, parece meu reflexo.
Um dia pensei que não fosse nem
um pouco parecido com Caleb, hoje sei,
que somos mais do que isso.
— Irmão. — digo, e caminho até
ele, sentindo as lágrimas descerem por
minha face.
O silêncio da sala não me
assusta, mas sim o da pessoa a minha
frente.
— Moleque. — diz e
praticamente me esmaga em seu abraço.
Choro em seu obro e sinto suas
lágrimas molharem minha camisa. Nunca
pensei que sentiria tanta falta assim de
alguém.
— Eu sinto muito, irmão. —
digo, desabando por completo.
— Eu também, não sabe o
quanto.
— Ok! — ouço o grito de
Castiel e Caleb se afasta, já encarando
nosso irmão impaciente. — Eu sou o
mais velho, o primeiro abraço era meu.
— Cas diz provocativo, fazendo-me
sorrir em meio às lágrimas.
Uma coisa que Castiel me
mostrou no decorrer de tudo isso, é que
por mais que ele tenha passado por
situações difíceis, algumas que eu
sequer conheço, isso não o impediu de
ter um coração enorme. E não sei se
teria conseguido passar por tudo sem
seu apoio, suas mensagens todos os dias.
— Babaca. — Caleb diz, assim
que Cas vem até mim e me abraça
também.
Senti falta do deboche dos dois.
— Eu preciso falar algo agora.
— minha mãe diz de repente, e as
lágrimas voltam a descer por meu rosto.
— Nicholas... Ah meu Nicholas.
— Christopher, mulher. — meu
pai retruca, como sempre o fez quando
ela me chama assim. — Nosso
Christopher.
— Rodrigo, hoje não. — o corta
e meu pai se cala no mesmo instante,
sorrindo. — Não sei se acreditou que
realmente nos afastamos de você, mas na
realidade, apenas deixei você voar,
como fiz quando foi para aquele
intercâmbio com dezesseis anos.
Ela se aproxima de mim e toca
meu rosto com carinho, fazendo-me
sentir realmente em casa. Meu pai vem
ao seu lado, e apenas me encara como
sempre fez, demonstrando sem palavra
alguma o que sente. E nesse momento
arrisco dizer que ele sente orgulho de
mim.
— Você errou, meu filho. Mas
quem nunca errou na vida? Eu errei,
assim como seu pai, Caleb, Castiel...
— Eu não! — Cas provoca e
mamãe o encara, sorrindo do mesmo
modo que meu irmão. Tal mãe cínica,
tão filho cínico. — Ok, talvez um
pouquinho.
— Vamos ignorar Castiel, já que
ele ainda não cresceu. — mamãe
retruca, no mesmo tom de Cas e todos
gargalham. — Mas continuando... — ela
diz e olha feio para meu irmão, que
apenas finge não entender nada. — Nós
amamos você, meu amor. Por tudo que
foi, por tudo que é e ainda mais pelo que
será. Queremos estar ao seu lado pra
tudo. Quase morri tendo que vir até essa
cidade e te ver de longe. Parece o
mesmo que fiz quando foi para o
intercâmbio.
— Mãe, eu não fez isso. — digo
incrédulo, sem conseguir imaginar que
ela foi até outro país quando eu era um
intercambista.
— Sim, ela foi até o Canadá
várias vezes só pra ver como você
estava. — papai diz e mamãe dá de
ombros, sorrindo pra mim.
— Ok. — mamãe diz de repente
e me abraça, praticamente me
esmagando. — Você emagreceu mais
ainda! — diz brava e se afasta, olhando-
me de cima embaixo, como se não
acreditasse no que vê. — Uma tatuagem!
— grita e bate palmas. — O que tem
escrito aí? — pergunta.
— Uma frase de Legião. —
conto e ela sorri amplamente, assim
como meu pai.
— Ok, agora me deixe abraçar
nosso filho, minha rosa. — papai pede e
ela se afasta.
Todos vêm até mim e me
abraçam, o que me deixa completamente
sem jeito, pois nunca imaginei ser tão
querido assim, muito menos que tão
cedo voltaria a ter contato com todos.
Miguel, Annie, Luna, Pedro, Eduardo,
Victória, Felipe, Dani... Todos estão
aqui. Além das duas novas pessoas que
a vida me deu de presente, Tânia e Nala.
Olho para o lado e vejo Ella
assistindo a cena, ainda encostada
contra a porta.
Ela de repente se afasta, e penso
que virá até mim, mas pelo contrário,
ela se vira e abre a porta.
— Oi. — escuto alguém dizer e
fico curioso, assim como todo mundo na
sala, os quais encaram a porta no mesmo
instante.
Paula entra a passos incertos e
encara a todos nós, claramente tímida.
Estranho por ela estar só, mas feliz e
surpreso por ela estar aqui, porque
agora sim está completo.
— Desculpa, eu me atrasei. —
diz e vem até mim. — Senti sua falta,
playboy. — sem pensar duas vezes a
abraço.
Tenho novamente nesse instante a
certeza do quanto sou abençoado por ter
pessoas tão maravilhosas em minha
vida. Pessoas as quais eu irei mostrar
que toda a fé que tem em mim, vale a
pena.
Assim que Paula se afasta,
encaro Ella, a que nesse momento tem
toda minha atenção.
— Obrigado. — mexo com a
boca, enquanto Annie vem até mim e
pula em meu colo.
Abraço minha sobrinha com toda
saudade que sinto, pensando em como
um dia quero poder abraçar meus filhos.
Um sonho que nunca tive, mas começo a
ter vontade nesse momento. Com toda
certeza agora, quero abraçar o mundo,
mas dessa vez, da forma correta, sendo
honesto e apenas eu mesmo.
Capítulo 30

Christopher

Passo um tempo incrível com


minha família. Andamos pela pequena
cidade, mostrei a eles meus lugares
favoritos e meus dois trabalhos – mesmo
que todos já saibam onde ficam. Contei
a eles sobre a cachoeira que tem há mais
ou menos cinco quilômetros daqui, e já
acabamos combinando de ir até lá
amanhã.
O modo como todos parecem
gostar dessa cidade, e não me julgam
por estar aqui, deixa-me leve. Não que
precise da aprovação deles para algo,
mas porque mostra que independente de
tudo, eles são minha família. E família é
muito mais que apenas um laço
sanguíneo, é demonstrar amor. Isso, eles
sempre fizeram e felizmente, ainda o
fazem.
— Irmão, posso falar com você
um minuto. — Caleb pede e eu assinto,
indo com ele para um lugar mais
afastado de todos.
Estamos na frente do hotel em
que se hospedaram, enquanto as crianças
correm e brincam, assim como o resto
de nós. Meus pais já foram dormir, mas
ainda sim, ficaram bastante tempo
conosco, sem ter muito pra fazer, apenas
nos divertir.
Paro a frente de Caleb e ele
suspira fundo, abrindo um meio sorriso.
Eu já queria ter essa conversa franca
com ele, mas não tinha pensado que era
o momento certo. Mas já que estamos
aqui, nada mais justo.
— Antes de tudo eu só quero
pedir perdão, irmão. Eu sei o quanto te
magoei, o quanto magoei toda nossa
família. — digo sincero e Caleb me
ouve atentamente. — Olhe só...— indico
onde nossa família está. — São
incríveis, você também é. Eu não sei
como fui capaz de magoar tanto a cada
um, não apenas com o que fiz a Ella,
mas por ter traído a confiança de todos
e...
— Chris, você é parte dessa
família, sempre será. Você errou,
magoou minha menina, mas nunca a vi
sorrir tão verdadeiramente como hoje. E
isso é por sua causa, nada mais. O que
aconteceu, aconteceu, não podemos
mudar. Mas o futuro é de vocês, sabe
disso. Quero que sejam felizes, e que um
dia, me perdoe por ter sido impulsivo,
dito o que disse, agredido você.
— Caleb não tem que...
— Eu tenho, porque eu te amo,
irmão. Por mais que tenha errado
conosco, eu também errei com você. E
por isso, pelo homem que é, pelo sorriso
no rosto de Babi, eu trouxe isso, pois sei
que vai precisar. — diz e tira um
pequeno envelope do bolso detrás da
calça. — Victória sempre soube onde
ela a deixava, e bom, onde estava a
carta que deixou pra Babi.
— Vocês leram? — pergunto,
praticamente morto de vergonha. Não
pelo que escrevi, mas porque meu irmão
sabe que fiz como ele, escrevi uma
carta.
— Não, mas Babi nos contou o
necessário. — diz e me estende o
envelope, pego-o e encaro meu irmão.
— Abre!
— Ok.
Abro o pequeno envelope e
encaro meu irmão incrédulo ao tirar o
conteúdo de dentro.
— Ela vai dizer sim, sabemos
disso. — Caleb diz e segura de leve em
meu ombro esquerdo. — Seja apenas
você Chris, ela te ama assim. Todos nós
amamos.
— Obrigado, irmão. — digo e
puxo-o para um abraço. — Obrigado
por tudo.
— Aliás... Eu não vou mais ter
filhos, Christopher. — diz, e o encaro
sem entender. — Então me dê
sobrinhos... Ou melhor, netos. Deus, isso
é estranho! — exclama e eu gargalho.
Vou caminhando ao seu lado, até
onde todos estão. Guardo o envelope no
bolso de minha calça e fico próximo a
Ella, que conversa algo com Paula.
É bonito ver essa cena, não
apenas de Ella com Paula, mas de Paula
com todos nós. Victória tem um sorriso
gigante no rosto, com certeza, feliz por
ter a irmã próxima a ela, depois de tanto
tempo. Eu ainda não sei ao certo o que
houve, mas pelo jeito, acho que as duas
já estão próximas.
— Vamos entrar, Mi. — Caleb
diz e vai até o filho, pegando-o e
jogando-o pra cima.
— Mas pai...
— Nada de “pai”, Miguel. —
Victória interfere e vai até os dois,
bagunçando de leve o cabelo do filho.
— Precisamos descansar porque amanhã
temos um dia na cachoeira.
— Eba! — ele grita animado e
foge dos pais, indo até Felipe. — Vou
dormir com o Lipe.
— Ok, meu amor. — Vic diz. —
Boa noite, gente! Até amanhã!
— Você também, mocinha. —
Dani diz para Annie. — Vamos dormir!
— Quero dormir com a tia
Paula. — diz, e emburra de repente. —
Por favor, mommy[11].
Vejo que Paula está corada, mas
sorri amplamente. Ok, eu preciso
entender logo o que está acontecendo
por aqui.
— Vamos lá, princesa. — Paula
diz e Annie solta um gritinho.
— Um dia eu fico surdo. — Cas
retruca e todos gargalhamos, Annie tem
o gênio dele. — Vamos, sweet heart!
— Boa noite, gente! — Dani diz
e pisca pra nós, e logo todos entram no
hotel.
Ficamos apenas eu, Ella, Luna e
Lipe. Eduardo acabou indo embora logo,
levando Tânia e Nala em casa, na hora
não entendi muito bem, mas aposto que
ele e Tânia estão tendo algo, e fico
muito feliz por isso. Pedro, meu primo,
já havia subido antes, pois teve algum
problema no restaurante e seu telefone
não parava de tocar, eu ainda não sei ao
certo como ele consegue lidar com tudo
aquilo.
— Bom, eu vou indo dormir. —
Luna diz e se espreguiça. — Vamos,
Lipe, antes que Miguel volte doido atrás
de você.
— Isso vai acontecer se não
subir. — Ella provoca e Felipe sorri
amplamente.
— Boa noite! — Luna e Lipe
dizem ao mesmo tempo.
— Boa noite. — respondo e logo
os dois entram no hotel.
— Então... — Ella começa a
dizer e de repente para. — Vamos? —
pergunta e eu assinto, entrelaçando
nossos dedos.
— Tudo bem? — pergunto e ela
assente, com um sorriso no rosto,
enquanto caminhamos até minha casa.
— Acho que nunca estive tão
feliz. — declara e eu sorrio cúmplice.
— Eu não sei como planejou
tudo isso, mas... Não tenho palavras pra
agradecer. — sou sincero e ela dá um
beijo de leve em meu rosto.
Paro então por um instante pra
pegar a chave de casa no bolso e abro a
porta.
— Bem vinda, madame. —
brinco e ela faz uma reverência,
entrando. — Obrigado de verdade, Ella.
— digo, assim que fecho a porta,
virando-me pra ela.
— Não fiz nada demais, apenas
o certo. — diz e vem até mim,
colocando os braços em volta de meu
pescoço. — Eu te amo, baby.
— Eu também te amo muito. —
digo, selando nossos lábios.
Ella me empurra contra a porta,
e quando vejo já tira minha camisa,
olhando-me com devoção. Mal sabe ela
o quanto mexe comigo.
— Está selvagem hoje,
senhorita? — pergunto, pegando-a em
meu colo de surpresa e beijando várias
vezes seu pescoço.
— Senhora... Porque sou uma
mulher casada. — diz e eu sorrio de sua
colocação.
— E seu marido sabe o que faz
na casa desse futuro professor? —
pergunto e ela nega.
— Bom, digamos que meu
marido é um homem muito ocupado com
a empresa e não tem tempo pra mim. —
diz, continuando nossa brincadeira,
fazendo-me quase gargalhar.
— Mas não estou vendo
nenhuma aliança em seu dedo. — digo,
pegando sua mão esquerda, fingindo-me
de desentendido.
— Bom, talvez ele possa ser
deixado de lado... — diz, piscando pra
mim e beijando-me com vontade.
Antes que continuemos com isso
e eu a tome pra mim, resolvo então ter
coragem pra fazer algo. Algo que não
quero adiar, pois sei que cedo ou tarde,
vou fazê-lo.
— Então está mentindo... Não é
uma mulher comprometida. — indago,
colocando-a no chão novamente.
Ella me encara desafiadora e
com um sorriso no canto da boca.
— Porém acho que não vai ficar
muito tempo sozinha. — digo e ela me
encara sem entender.
Tiro o envelope de meu bolso e
ajoelho-me. Ella arregala os olhos, e
noto seus olhos marejados.
— Eu planejei muitas coisas em
minha vida, Ella. Planejei cada detalhe
de todas as vezes que te pedi em
casamento, mas essa... Essa nem eu
mesmo esperava.
Tiro a aliança de dentro do
envelope e deixo a vista de Ella, vendo
lágrimas escorrerem por seu rosto.
— Caleb me trouxe a aliança. —
explico rapidamente. —Sei que pode
parecer precipitado, mas... — respiro
fundo, tentando conter a emoção. —
Nada é mais certo pra mim do que nós,
nada mesmo. Eu, Christopher Nicholas
Soares, quero que seja mais uma vez
minha esposa. Para que dessa vez
realmente possa amá-la e respeitá-la, do
modo como merece, e do modo como a
admiro. — declaro-me de uma vez, sem
pensar duas vezes, pois sei que é o que
quero.
Antonella é o que quero.
— Nenhum pedido seria mais
lindo que esse, baby. Sim, eu mais uma
vez aceito ser sua esposa. — Ella diz
em meio às lágrimas, e me dá sua mão
esquerda, na qual coloco sua aliança.
Beijo sua mão com ternura,
encarando seus lindos olhos castanhos,
que me remetem apenas a doçura de uma
mulher incomparável.
— Onde estávamos? —
pergunto, levantando-me rapidamente,
pegando-a em meu colo.
— Na parte em que somos
felizes pra sempre. — diz, fazendo-me
rir.
— Então quer dizer que sou um
príncipe? — provoco, levando-a até
meu quarto, ou melhor, nosso.
— Bom, talvez o pior deles, mas
o único que amo. — diz, e jogo-a com
cuidado na cama. — Ei!
Subo na cama e cerco-a com meu
corpo.
— Apenas seu, baby. — digo,
beijando de leve seus lábios.
— Apenas sua.
Assim, perco-me em seu corpo,
sentindo meu mundo girar e voltar ao
normal a cada beijo, cada toque, cada
olhar... Tudo que compartilhamos parece
único.
Porque por mais que tenhamos
errado no passado, uma certeza nunca
mudou – nosso amor.
Epílogo

Antonella (Babi)

Quase dois anos depois

Acordo sentindo mãos em minha


barriga. Sorrio antes mesmo de abrir os
olhos, por saber que ainda deve ser
cedo, e Christopher deve estar indo para
o trabalho.
— Bom dia, dorminhocas. —
diz, beijando minha barriga. — Bom dia
a mamãe dorminhoca. — diz e me dá
um leve beijo.
— Bom dia, papai do ano. —
brinco e Christopher já arregala os
olhos.
— Está sentindo alguma dor? —
pergunta aparentemente preocupado, e
eu gargalho, sentando-me contra os
travesseiros. — Ella, não faz isso
comigo.
— Só estou brincando, amor. —
digo e toco de leve minha barriga já
enorme, de quase 38 semanas.
Não renovamos nossos votos
como tínhamos pensado, mas
pretendemos nos casar ao ar livre, com
toda nossa família junto a nós.
Esperamos que em breve, assim que
nossas pequenas nasçam, possamos
realizar esse sonho.
Christopher tem sido muito mais
que um marido atencioso, tem sido um
pai extraordinário antes mesmo de
nossas pequenas virem ao mundo. Nossa
vida virou de cabeça pra baixo assim
que descobri que estava grávida, tanto
porque eu tomava anticoncepcional,
quanto porque realmente não
esperávamos sermos pais tão cedo. Mas
isso nos uniu ainda mais.
Foi engraçado descobrir que
estava grávida, pois meus sintomas
resolveram aparecer bem no dia da
minha apresentação de TCC[12]. Assim
que terminei minha apresentação e fui
aprovada, posar para as fotos com meus
professores, foi uma das maiores
provações que passei em minha vida.
Sentia meu estômago se apertar,
como se a qualquer momento fosse
colocar tudo pra fora. Mas segurei
firme, infelizmente sem imaginar o que
era a causa disso. Pensei apenas ser o
nervosismo da apresentação, mas
quando desmaiei após a última foto, aí
descobrimos o real porquê.
O mais engraçado foi
Christopher recebendo a notícia que eu
estava grávida. Ele poderia ter feito
muita coisa, mas foi adepto ao velho
clichê – desmaiou. O melhor de tudo é
que tenho uma foto dele caído no chão
do quarto, ainda inconsciente, pois
consegui capturar aquele momento.
Felizmente ele não desmaiou quando
descobrimos que eram gêmeas, ao
menos isso.
Desde então tudo mudou para
nós, e felizmente pra melhor. Meus pais
entraram em êxtase, assim como
Donatello, o qual aprendi a amar pelo
que é e amo o cuidado que tem comigo.
Ainda mais o modo como ele se
aproximou de Christopher. Claro, eles
não são os melhores amigos do mundo,
mas se dão bem.
Minha relação com Donatello é
ótima, mas ainda não consegui chama-lo
de pai, não porque ele não seja um pra
mim, mas porque esse lugar em minha
vida, já pertence a alguém. Porém,
minhas filhas com toda certeza terão
dois avós babões em cima dela, e serão
muito mimadas.
Sobre minhas pequenas... Ah,
elas modificaram muito em mim. Tanto
seus nomes que escolhi especialmente
para as duas mulheres que mesmo não
estando mais aqui – e uma delas eu não
tenha de fato conhecido – são especiais
para mim: Josiane e Clara. Tanto que
acabei optando por não mais viver no
Rio, já que tive de ficar por lá por um
bom tempo pra terminar minha
graduação. Eu vi que meu lugar era em
Minas, na pequena cidade, junto a Chris.
O que eu não sabia antes é que
na cidade vizinha a essa, tem um
Instituto Federal, onde Christopher fez
escondido à prova de um concurso para
ser professor, e acabou passando.
Assim, como tudo já estava certo para
nós, ficamos nessa cidade, e escolhemos
construir nossa vida aqui.
Como sou formada em design,
resolvi trabalhar com isso aqui mesmo,
indo até a casa das pessoas, mostrando
para elas como um ambiente pode ser
modificado e ficar ainda mais
aconchegante. E assim, nossa vida foi
seguindo.
Nossa família sempre vem nos
visitar, ou nós vamos até o Rio ver
todos. Porém como minha cesárea está
marcada para daqui uma semana, nesse
momento, praticamente nossa família
toda está em nossa casa, temendo que a
qualquer momento eu possa sentir
alguma dor ou desconforto.
Ter uma gestação de gêmeos não
tem sido fácil, mas felizmente, minhas
dores diminuíram e hoje sei que falta
pouco para ver as carinhas de nossas
pequenas. Por isso, não tenho me
apavorado com nada, pois desde minha
última consulta, onde deixamos firmado
o dia que será o parto, elas estão
tranquilas, o que me deixa assim
também.
— Ei. — Chris diz, fazendo
piscar algumas vezes e voltar a
realidade. — Estou indo trabalhar, mas
qualquer coisa me liga, ok? — assinto
várias vezes, mostrando a ele que está
tudo bem.
Christopher leu tantos livros
sobre gestações, que de nós dois, é o
mais preocupado. Não me incomodo de
forma alguma com isso, mas no fim fico
preocupada é com ele, que sempre
parece nervoso e ansioso demais.
— Relaxa, amor, nossas
pequenas não... — paro de falar no
mesmo instante, em que sinto uma dor
forte na barriga e algo sair de dentro de
mim. — Ah meu Deus! — exclamo
incrédula.
— Dessa vez não vai me
enganar. — ele diz e beija minha testa.
Permaneço estática, rindo alto
devido a surpresa, sem conseguir
acreditar nisso.
— Viu, sabia que estava...
— Chris, a bolsa estourou. —
digo séria, e ele me encara abismado. —
Chama minha mãe, agora.
— Ah meu Deus! — ele diz e
olha pra baixo, vendo o molhado nos
lençóis.
— Respira! — digo e ele respira
fundo, correndo pra fora do quarto.
Passo a mão de leve por minha
barriga e converso com minhas
pequeninas.
— Sejam boazinhas com a
mamãe.
— Elas vão nascer! — ouço o
grito de Christopher e gargalho, em meio
à dor que sinto.
Sorrio de mim, de minha vida,
do que temos. Nada um dia me indicou
isso, que teríamos esse momento juntos.
E nada no mundo paga por ter tudo o que
tenho: o homem que amo, a vida que
levo... A fé que compartilhamos.
Aprendemos a olhar pro nosso
hoje, nosso agora... E nesse momento,
somos muito mais que dois, somos
quatro. Com novos dois motivos pra
sorrir e celebrar ainda mais a vida. Que
mesmo que não seja perfeita, é a ideal
pra nós. Eu, ele, nossa família... E como
diria uma das músicas que ele tanto
escuta e que retrata o que acredito:
“Nem foi tempo perdido, somos
tão jovens[13].”
E sim, nada do que passamos foi
perdido. Pois dentre todos os erros e
acertos, encontramo-nos novamente.

FIM
Anexo II

[1] Big Brother é um reality show onde


os participantes ficam confinados em uma casa
e são monitorados por câmeras 24 horas por
dia.
[2] Bad boy é uma expressão que se
traduzida ao pé da letra do inglês para o
português (brasileiro) significa: menino mau.
[3] Secret Love Song é uma música do
grupo Little Mix, que foi lançada no ano de
2015 e faz parte do álbum Get Weird.
[4] Trecho da música Secret Love Song
do grupo Little Mix.
[5] Tradução do inglês para o português
(brasileiro): tempo. Expressão que dá
entendimento de tempo ou momento perfeito.
[6] Youtube é um site onde seus
usuários podem carregar e compartilhar vídeos
em formato digital
[7] ET é uma abreviação usada para
Extraterrestre.
[8] Tradução do inglês para o português
(brasileiro): adeus.
[9] Kimberly Mubarak é o nome de uma
personagem de ficção, protagonista da
Duologia A todo custo, da escritora Manuele
Cruz.
[10] Trecho da música Índios, da banda
Legião Urbana.
[11] Tradução do inglês para o
português (brasileiro): mamãe.
[12] TCC é uma abreviação usada para
Trabalho de Conclusão de Curso.
[13] Trecho da música Tempo Perdido,
da banda Legião Urbana.
Nota da autora

A trilogia Soares é formada por


três livros principais. Porém ainda há
três livros para serem publicados, de
personagens secundários:
Livro bônus: Antes de tudo, eu te
amei – Leandra Albuquerque e Rodrigo
Soares;
Primeiro Spin-off : De repente, o
amor – Isaac Morgan e Paula Fontana;
Segundo Spin-off: Por nós dois,
eu faço tudo – Felipe Soares e Laura
Gutterman.
Em breve, todos estarão
disponíveis!
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Até a próxima!

Beijos e unicórnios

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