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Soares
Aline Pádua
Copyright 2017 © Aline Pádua
1° edição – fevereiro 2017
Victória
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Victória
Victória
***
Caleb
Primeira carta
Victória
Caleb
Hospedo-me em um hotel
qualquer e assim que entro no quarto,
vou ao banheiro. Entro debaixo da ducha
fria e encosto minha cabeça no azulejo
frio. Talvez a água leve essas aflições
embora. E por fim faço algo que há
muito tempo não fazia, choro. Choro
feito um menino de doze anos que teve
pela primeira vez seu coração partido.
Volto a alguns anos atrás, quando
percebi que Victória jamais seria minha.
Eu via os olhares que ela e Tomás
davam um para o outro, aquilo me
corroía por dentro. Contudo, resolvi
ignorar, pensei que talvez ela quisesse
me fazer ciúmes. Infelizmente hoje sei
que estava totalmente enganado.
Mas naquela época eu via que
eles se gostavam de alguma forma,
talvez fossem apenas amigos, ou sei lá.
E como dizem por aí: “O maior cego é
aquele que não quer ver”. Quando ela
me contou que perdeu a virgindade com
ele... Merda! Eu sabia que eles eram
próximos, tinha a suspeita de que ela já
havia dormindo com ele, mas nunca quis
ouvir toda a verdade... Era pra ter sido
eu, o único homem dela. Por Deus! Eu
amo essa mulher e a perdi mesmo ela
estando casada comigo.
Assim que saio do box, fico um
tempo encarando o espelho, me
perguntando quem de fato sou. Penso em
como poderia contar a verdade pra
Luna, mas isso apenas faz com que chore
ainda mais. Eu a amo tanto, como se
realmente fosse minha.
Enrolo-me em um roupão e vou
em direção ao quarto. Ligo para
recepção e peço duas garrafas de
uísque. Só a bebida pra levar um pouco
dessa raiva e frustração embora.
***
Victória
Caleb
Victória
Caleb
Caleb
***
Victória
Victória
Caleb
Caleb
***
Victória
***
Horas mais tardes, após Babi se
acalmar e o clima ficar descontraído
novamente, resolvo deixar com que ela
descanse. Ela é uma boa garota, e está
passando por algo difícil. Sei bem como
é, perdi meu pai muito jovem, e até hoje
sinto sua falta.
Estou com os dedos entrelaçados
nos de Caleb, enquanto caminhamos
pelo calçadão de Copacabana. As ondas
quebram na areia e a luz da lua ilumina a
água. Sem conseguir resistir, tiro minhas
sapatilhas e piso na areia macia.
— Você gosta de praia, não é?
— Sim, sempre foi meu refúgio e
de Dani. — confesso. — Amo o modo
como tudo parece interligado aqui, como
parece trazer paz.
— Se fui dez vezes, em toda
minha vida, é muito. — diz e eu volto
para seu lado no calçadão. — Acho que
nunca me habituei muito.
— Pensei que corresse todas os
fins de semana.
— Até fazia, porém as revistas
começaram a publicar fotos de mim e...
— Não gosta de exposição, não
é? — ele assente.
— Além de que muitas mulheres
vinham falar comigo, e mesmo com
minha aliança... Era muito embaraçoso.
— assim que ele termina sua fala, sinto
meu estômago revirar.
— Era um bom momento para
conseguir mais uma amante. — as
palavras saem antes que eu possa
impedir.
O olhar magoado de Caleb e seu
suspiro mostram claramente que não
devia ter falado de tal modo. Mas não é
100% mentira, não é?
— Eu não me orgulho disso, Vic.
— diz calmamente. — Muitas vezes eu
não dormi com as mulheres, na verdade,
ao longo de todos esses anos, posso
contar com as duas mãos a quantidade
de amantes que tive.
— Mas e aquelas fotos? —
pergunto incrédula.
Há muitas mulheres nelas.
— Eu sabia que estava tentando
descobrir algo sobre mim. — confessa.
— Então, a maioria delas, com aquelas
várias mulheres, foram simples
atuações.
— Você está brincando? — paro
no mesmo instante.
— Não. — seus olhos azuis
parecem temerosos. — Pensei que fosse
ficar com ciúmes de mim...
— E todas as vezes que cheirava
a mulher, cada vez um perfume
diferente....
— Eu comprei os perfumes e os
passava. — leva as mãos ao cabelo e
passa as mãos diversas vezes. — Fui um
idiota, ok? Agi feito um adolescente.
— Mas isso não muda o fato de
que me traiu. — penso alto.
— Isso não muda o fato de que
ama Tomás. — rebate nervoso e agora
seus cabelos parecem ainda mais
selvagens.
— Eu...
— Não precisa ficar jogando em
minha cara os meus erros. — é rude. —
Sei bem que fui um idiota, babaca e não
agi corretamente. Mas isso não muda o
fato de que nós dois erramos.
— Eu sei. — tento abraçá-lo,
porém ele se afasta. — Eu não o amo,
Caleb.
— Sei disso, Vic. — diz
tristemente.
Ele entendeu errado.
— Não falo sobre você. —
esclareço. — Não amo Tomás. — seus
olhos se arregalam.
— O que? — pergunta surpreso.
— Se eu o amasse, tanto como
imaginei, não estaria aqui agora. —
sorrio. — Eu estaria chorando e me
lamentando em algum canto da mansão.
— Não precisa...
— Qual é, Caleb? — indago. —
Sei que me conhece bem, ao contrário
de mim, que sei pouco sobre você. Sabe
que é exatamente isso que estaria
fazendo.
— Pior que sei. — passa as
mãos nos cabelos. — Só pensei que
fosse...
— Minha segunda opção? — ele
assente. — Como poderia ser a segunda
opção de alguém, bonitão? Acha que
porque as mulheres te abordavam na
praia? Você é lindo, Caleb. — ele fica
estático. — Tanto por dentro, quanto por
fora.
— Vic...
— Podemos tentar, sabe? —
sugiro. — Sinto que podemos dar certo.
— Não quer mais o divórcio? —
pergunta e circunda minha cintura.
— Quero nós dois.
— Tem certeza disso? —
pergunta ansioso.
— Sim, e você?
— Realmente precisa fazer essa
pergunta? — ele sorri. — Sempre fui
seu, Vic.
— Lindo. — passo as mãos pelo
seu rosto e uno nossos lábios.
— Vem. — pede assim que nos
separamos. — Quero amá-la a noite
toda.
— Sou sua. — ele me pega no
colo, sem se importar com as pessoas ao
nosso redor e me beija lentamente dessa
vez.
— Minha.
Agora se inicia, uma nova fase
de nossas vidas.
Capítulo 13
Caleb
Victória
Caleb
Caleb
Victória
Victória
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A volta pra casa é silenciosa.
Isaac se propôs a dirigir e então, Caleb
vem com Babi ainda abraçada a ele, no
banco de trás. Fico um pouco deslocada
aqui, não por me ignorarem, mas porque
ninguém sabe lidar com a dor do outro, a
não ser quem a sente.
Dani está no banco do carona e
Isaac troca algumas palavras com ela.
Meu celular toca nesse momento e
atendo sem sequer olhar.
— Alô.
— Oi mamãe.
— Está tudo bem, filha?
— Só liguei porque preciso
falar com papai, mãe.
— Um minuto. — digo e toco o
ombro de Caleb. — Luna no telefone.
Ele pega o celular no mesmo
instante, e sem soltar Babi, leva-o a
orelha. Por alguns minutos ele conversa
com Luna e fico apenas observando
como Babi está alheia a isso.
— Dani. — Caleb a chama.
Dani pega o celular no mesmo
instante e conversa vários minutos com
ela. Sei o quanto ela precisa disso nesse
momento, Luna é uma parte de sua irmã,
ninguém melhor do que ela para lhe dar
força.
— Obrigada, princesa. — Dani
diz e passa o celular de volta pra mim.
O olhar de Dani parece mais
leve, e sorrio ternamente por isso.
Danielle ainda não sabe que sei da
verdade, mas isso é apenas questão de
tempo. Logo não haverá mais mistérios
entre nós. Isso é o que espero.
— Oi de novo, filha.
— Não sei se é certo, mas
queria falar com Babi também. — diz
sem jeito.
— Tem certeza? — acaricio os
cabelos de Babi, que me olha no mesmo
instante.
— Sim, por favor. — Luna
insiste, então passo o celular para
Babi.
— Sua irmã quer falar com você.
Babi me encara sem jeito e
Caleb sorri em sua direção. Ela então se
afasta um pouco do abraço do pai e pega
o celular. Com as mãos trêmulas, ela
conversa pela primeira vez com a irmã.
Caleb sorri pela primeira vez no
dia e sustenta meu olhar. O carinho com
que olha pra mim, faz meu coração se
aquecer. Não consigo desviar e me
afundo na imensidão azul de seus olhos.
Capítulo 18
Caleb
***
Caleb
Victória
***
— Você vai, Victória! — ela
grita em meu rosto.
— Não mãe, eu não vou me
casar com Caleb. — grito de volta e ela
acerta meu rosto.
— Sabe o que seu pai acharia
disso? — chora. — Ele não criou uma
filha para que ela não correspondesse
a ordens.
— Eu...
— Quer deixar seu pai
orgulhoso? — pergunta e toca de leve o
local onde bateu. — Case-se.
— Nunca. — levanto-me saio
chorando pela porta da frente.
Caleb
Victória
***
Andávamos pelo shopping, e
mesmo que disfarçados tenho certeza de
que há homens da segurança ao nosso
redor.
— Eu sempre soube que eles são
seguranças. — confesso. — E dou
graças a Deus por eles andarem
disfarçados.
— Querendo ou não, precisamos
disso. — Caleb diz e passa o braço ao
meu redor. — Comprou tudo que queria?
— Sim. — encaro as sacolas em
sua outra mão. — Ela vai adorar, não é?
— Vic, você comprou enfeites
amarelos para alguém que ama cores
escandalosas... Óbvio que sim.
— Tomara.
Passamos pela praça de
alimentação e fazemos nosso pedido em
um restaurante. Assim que nosso número
aparece, Caleb se levanta pra buscar.
Fico olhando-o de longe e vejo
uma mulher ruiva se aproximar
cautelosamente dele. Ela toca seu braço
e ele se vira, como se desse um estalo
em sua mente, ele sorri. Um sorriso que
eu pensei que fosse só meu.
Ela o abraça e noto que Caleb
demora um pouco para retribuir, mas ele
o faz... Fico intrigada e meu coração dá
voltas dentro do peito. Minha vontade é
de acertar essa piranha com alguma
coisa. Quem sabe um soco?
Permaneço no mesmo lugar, pois
quero ver até onde essa cena vai dar.
Eles se separam e ela sorri pra ele.
Surpreendo-me quando vejo um homem
chegar por trás dela e a abraçar.
Tomás!
E essa então só pode ser sua
esposa, a tal Solange. A mesma pela
qual Caleb admitiu ter se interessado...
E pior, ela é linda.
Passo as mãos pelos meus
cabelos castanhos já cumpridos e noto o
quão sem graças são perto do ruivo
natural que ela ostenta. Pare com isso!
Sem conseguir mais encarar a
cena a minha frente, levanto-me e saio.
Caminho por entre os corredores do
shopping e resolvo entrar em uma de
minhas lojas favoritas de roupas.
Escolho algumas peças
aleatórias e entro rapidamente no
provador. Encaro meu reflexo no grande
espelho e desabo.
Eu me sinto tão insegura, sem
graça... Será que vê-la o fez sentir algo?
Eu nunca tive de lidar com
ciúmes e insegurança antes, mas agora
vejo que estou completamente perdida.
Choro baixinho, encostada na
parede do provador e tento me recuperar
ao mesmo tempo. Quando penso em
finalmente sair, ouço batidas na porta e
limpo rapidamente as lágrimas.
— Sim?
— Abra a porta. — Caleb diz e
me apresso em me ajeitar. — Agora,
Vic.
— Estou colocando uma roupa.
— minto.
— Vic. — insiste.
Então vencida pelo cansaço,
abro a porta e ele entra sem dizer nada.
Antes que eu pudesse o afastar, ele
tranca a porta do provador e me encara
preocupado.
— Por que saiu? — pergunta
nervoso.
— Cansei de me deliciar com
seu reencontro. — desdenho.
— Vic, eu não quis...
— Ainda sente algo por ela?
— Não. — responde firme. —
Claro que não.
— Então por que deixou que ela
tocasse em você? — rosno.
— Ela apenas me abraçou, Vic.
Nada demais. — diz e me encara.
— Ok, vou dar um abraço em
Tomás e já volto! — provoco e tento
sair, porém Caleb me segura com força.
— Tudo bem, me desculpe. —
diz e noto seu queixo tenso.
— Ok. — digo e tento me soltar
dele. — Vou ao cabeleireiro, se quiser ir
embora...
— Por que? Está perfeita. —
toca meu rosto, porém me esquivo.
Abro a porta do provador e ele
me segue. Noto as atendentes soltarem
suspiros por ele e sinto vontade de voar
em cada uma delas.
— Vic, pare com isso. — me
puxa para seu peito. — Não precisa
ficar assim.
— Volte para sua ruiva e me
deixe em paz. — revido e me solto.
— Minha rainha...
— Nada de "minha rainha",
Caleb. Quero ficar sozinha, me deixe!
— saio em outra direção e ele não me
segue.
É nossa primeira briga séria, e
eu realmente não sei lidar com essa
merda.
Entro no salão que sempre vou e
peço para que façam algo diferente.
Queria ao menos me olhar no espelho e
me sentir suficiente pra ele.
A imagem da ruiva em seus
braços me dá vontade de gritar, mas ao
invés disso, me concentro em sorrir das
piadas sem graça que o cabelereiro
conta.
Mas em meu interior, sinto algo
se revirar. Sinto que algo ruim vai
acontecer... Mas só posso torcer para
que isso seja algo relacionado a minha
insegurança. Apenas torço!
***
Chego em casa e já passa das
dez da noite. Praticamente fechei o
shopping. Olho em meu celular e noto
que já recebi o relatório mensal da loja.
Estou tão relapsa esses dias, que me
esqueci totalmente de procurar por isso.
Analiso os números e fico
contente com o que vejo. Felizmente as
vendas subiram, e ainda nem resolvi
nada a respeito do aplicativo.
Assim que entro dentro de casa,
noto que está tudo em silêncio. Dou
passos silenciosos e subo as escadas.
Um barulho de ânsia me chama
atenção e viro-me em direção a ele. Vou
até o banheiro do corredor e bato
algumas vezes.
— Um minuto. — ouço a voz de
Dani.
Logo ela sai e noto sua palidez.
— Tudo bem? — pergunto e ela
assente. — Comeu algo diferente?
— Acho que foi o sushi que
comi ontem. — passa as mãos pelo
rosto, mas noto sua testa franzida.
Ela está com o rosto inchado e
tenho certeza que chorou.
— Tente descansar um pouco, já
levo um remédio ótimo pra enjoo que
tenho no quarto.
— Não precisa, Vic.
— Claro que sim, vai lá!
— Obrigada. — diz e sai.
Finjo seguir caminho para meu
quarto, porém apenas dou tempo
suficiente para que ela entre no seu.
Refaço o caminho até o banheiro
e sigo meu instinto. Abro o lixinho e
encontro algo embolado no papel
higiênico jogado ali.
Ninguém usava esse banheiro,
porque é destinado para visitas. E outra,
Dani tem um banheiro em seu quarto...
Por que usou esse?
Só se ela não aguentou a ânsia
e...
Pasmo assim que desfaço o
embrulho do papel e encontro três testes
de gravidez. Todos positivos.
A porta do banheiro se abre no
mesmo instante e Dani estaca no mesmo
lugar.
— Vic, não é o que está
pensando.
— Então me dê uma luz.
— São...
— Castiel é o pai? — pergunto e
ela suspira fundo.
— Sim. — confessa e começa a
chorar.
— Shhhh. — a abraço. — Está
tudo bem.
— Não, nunca mais estará. —
diz e sai.
Noto que vai para seu quarto e
tenho certeza de que se trancou. Ela
precisa de um tempo sozinha.
Caleb
Victória
***
***
Caleb
***
As horas passam rapidamente e
mesmo assim ainda não tínhamos
encontrado muita coisa. Haviam algumas
suspeitas de porquê Paula estava
envolvida com Christopher, mas tanto eu
quanto Castiel não estávamos
convencidos.
Os dois sempre que saíam juntos
nunca iam a lugares caros ou
chamativos, sempre discretos e nada
mais que andar de mãos dadas em
público. Havia algo errado naquele
relacionamento e mesmo que Paula
estivesse o usando, não duvidávamos
que ele estivesse fazendo o mesmo. Mas
por que ele faria isso?
E pior é que não pudemos ainda
intervir e falar com ele a respeito. Não,
uma vez que ele pode estar seriamente
envolvido e possa ser prejudicado.
— Caleb, olhe isso! — Castiel
me joga algumas fotos e eu a analiso
sem entender o seu alarde.
— O que?
— Olhe mais um pouco, com
atenção.
Analiso a foto e noto que a
mulher de xale roxo e óculos escuros no
alto da cabeça é Julianne, podia estar
com a semblante mais velho, mas tinha
certeza que era ela. Os olhos azuis
iguais os de Victória são inconfundíveis.
O homem alto ao seu lado estava apenas
de perfil e não conseguia afirmar, mas o
conhecia de algum lugar.
— Dominic.
— O que?
— Olhe só! — me joga outra
foto e de cara reconheço o homem ali.
— São a mesma pessoa, Dominic
Donatello tem alguma ligação com
Julianne.
— Então eles...
O toque alto do meu celular faz
com que minha frase morra no meio do
caminho. Olho o nome do visor e fico
apreensivo - Isaac.
— O que houve? — pergunto já
sentindo algo estranho no peito.
— Caleb, preciso que venha ao
hospital. — diz fracamente.
— O QUE? — grito e Castiel me
encara assustado.
— Sabotaram o carro e pra
garantir a batida sabotaram a estrada
que leva a casa de vocês. — esclarece
rapidamente. — Não venha com
ninguém da segurança, foi alguém de
dentro que fez isso.
— Eu vou matá-los, merda! —
grito já desesperado. — Como vocês
estão?
— Se acalme, eu e Victória não
sofremos nenhum dano além de
arranhões. O problema maior foi com
Dani.
— Como assim? — pergunto já
sentindo o mundo desabar.
— Ela está muito debilitada e
quase perdeu o bebê por conta disso. —
encaro Castiel. — Ela não pode sofrer
nenhum tipo de estresse no momento.
Por favor, contenha Castiel.
— Ok, estamos indo! — me
despeço e já desligo o telefone.
Castiel me encara
completamente confuso e eu respiro
fundo várias vezes. Ok, eu tenho que
dizer isso.
— O que houve, Caleb?
— Preciso que seja o homem
que de fato é dessa vez, Castiel!
— Mas... Do que está falando?
— Você ama Dani? — pergunto,
e ele leva as mãos aos cabelos nervoso.
— Sim, eu a amo mas... O que
houve Caleb? Ela está bem? — pergunta
desesperado.
— Eles sofreram um acidente e
Dani foi quem...
— Onde ela está? — pergunta
procurando as chaves.
— Ela quase perdeu o bebê. —
digo e vejo Castiel fechar e abrir os
olhos com força.
— Bebê? — pergunta receoso e
eu assinto. — Eu vou ser pai? —
pergunta mais pra si mesmo do que pra
mim.
— Você vai. — respondo mesmo
assim. — Dani não pode sofrer nenhum
abalo Castiel, por favor.
— Eu estarei ao lado dela, isso é
uma promessa.
***
Saímos praticamente correndo
de minha casa e agradeci aos céus por
Babi estar concentrada em seus livros e
fone de ouvido e não ter de leva-la
comigo.
Pedi para que Joaquim fosse até
minha casa e cuidasse dela. Não
podíamos confiar em ninguém além dele
e Isaac na segurança. Alguém está
armando contra nós.
Quando chegamos ao hospital
mal estacionei o carro e Castiel já havia
pulado dele. Ele tenta disfarçar sua
apreensão, mas a arma em sua cintura e
na minha, não deixam dúvidas.
Estamos preparados pra
qualquer coisa.
Na recepção logo nos informam
o número dos quartos e tanto eu quanto
Castiel pudemos vê-las.
— Cas. — o chamo.
— Não vou deixá-la só, Caleb.
— diz e sai em direção ao quarto que
ela se encontra.
Adentro o quarto 212 e encontro
Vic dormindo serenamente na cama. Há
um leve corte em sua testa, porém nada
mais aparenta um risco sério.
Fico por alguns minutos
esperando o médico. Assim que um
senhor que deve ter uns 60 anos entra, o
sorriso em seu rosto me deixa confuso.
— Vamos lá! Caleb Soares,
correto? — pergunta e assinto.
— Bom, a paciente teve apenas
leves cortes e nada mais grave aparente,
por estar usando o cinto de segurança o
bebê não sofreu nenhum dano e...
Paraliso!
— Espera aí, o senhor disse
bebê?
— Sim, os exames constataram
que a senhora Soares está com cerca de
duas semanas de gestação.
Cambaleio pra trás e tenho que
me segurar na cabeceira da cama pra
não cair.
— O senhor não sabia? —
pergunta sorrindo e eu confirmo. —
Então minhas felicitações, senhor
Soares! Espero que sua esposa goste da
novidade, logo logo ela irá acordar e
poderá contar a ela.
Logo ele sai, me deixando aqui,
completamente sem chão. Sento-me na
poltrona ao lado de sua cama e pouso
minha mão de leve em seu ventre.
Vamos ter um filho!
Lágrimas grossas rolam pelo
meu rosto e não me contenho. Fico então
imaginando nosso pequeno com os olhos
azuis que ambos temos.
Será que ele se parecerá mais
comigo ou com ela?
É como se já sentisse, sinto que
será um menino.
Lembro do nome que escolhi
caso o bebê de Annie fosse menino –
Miguel. Em meio as lágrimas sorrio
como se não tivesse amanhã e logo noto
Vic começar a despertar.
— Vic! — a chamo e ela me
olha.
— O que... o que aconteceu? —
pergunta confusa.
— Vocês bateram o carro! —
digo simplesmente, não quero preocupá-
la com nada. Não agora!
— Foi um atentado? — pergunta
nervosa e eu apenas desvio o olhar. —
Deus!
Sem poder me conter a abraço
com força e com cuidado para não
machucá-la. Distribuo vários beijos em
sua face e me seguro para não gritar a
novidade.
— Caleb, como Isaac e Dani
estão? — pergunta, claramente
apreensiva.
— Bom, ainda não vi Isaac mas
pelo telefone ele confirmou que está
bem. — ela me encara nervosa. — Já
Dani... Ela quase perdeu o bebê!
— Mas ela está bem? E Castiel
já está sabendo que...
— Shhh, está tudo bem agora.
Castiel está nesse momento no quarto
com ela. — digo.
Em vez de parecer mais
relaxada, Victória permanece tensa.
— Você está me escondendo
algo... Por que estava chorando se todos
estamos praticamente bem? — pergunta
nervosa e só consigo sorrir.
— Miguel é o causador das
minhas lágrimas.
— Han? Mas não conheço
nenhum Miguel...
Coloco minhas mãos de leve em
seu ventre e o acaricio, as lágrimas
novamente descem por minha face e eu
pouco me importo.
Victória a princípio não entende
e me olha como quem diz "Você ficou
louco?". Mas assim que começa a juntar
os pontos ela leva as mãos a boca
incrédula.
— Nós... Nós vamos ter um
bebê? — pergunta docemente e lágrimas
rolam pelo seu rosto. Linda!
— O fruto do nosso amor está
aqui, nosso Miguel! — confirmo e ela
abre um sorriso.
Sem que eu esperasse, ela me
beija. Um beijo terno e calmo, levando
nosso tempo pela felicidade de
termos um novo integrante na família.
— Pode ser mais uma menina,
Caleb! — adverte e eu nego com a
cabeça.
— Tenho certeza que será nosso
meninão, Miguel Fontana Soares!
Bônus
Danielle
Caleb
Victória
***
Caleb
***
Caleb
***
Meu celular toca e forço meus
braços até o criado mudo.
— Soares.
— Caleb, Donatello está no
Brasil. — Castiel diz. — Estou com
papai e Joaquim, estamos indo para a
casa dele.
— Me mande o endereço por
mensagem...
— Fique pronto, em cinco
minutos passaremos aí.
— Ok, eu estarei.
As oito da manhã já estávamos a
frente da porta da casa de Donatello. O
lugar é bem diferente do eu imaginava.
Pelo que sempre soube sobre ele, não
passava de um patife frio e explorador,
não imaginava um jardim repleto de
flores ou ainda mais um parquinho para
crianças.
— Parece assustado, Caleb. —
meu pai exclama e eu concordo.
— Aqui não parece um lugar
onde Donatello viveria, não pelo pouco
que sei sobre ele.
— Isso aqui é a prova de como a
mulher certa pode mudar um homem. —
diz, me deixando ainda mais confuso.
Joaquim fica focado em seu
celular e dá várias ordens através dele.
— Pedi para Isaac ir olhar sua
casa. — Joaquim avisa e eu agradeço.
Castiel apenas se mantém em
silêncio e acho isso muito estranho, mas
pelo seu olhar cauteloso, sei que não
quer conversar a respeito.
E antes que eu pense em dizer
algo, a porta da frente da casa se abre e
Donatello aparece.
— Achei estranho sua ligação,
Rodrigo. — diz e cumprimenta meu pai.
— Por favor, entrem! — exclama de
modo acolhedor e fico ainda mais
perdido.
— Como vai, Donatello? — meu
pai pergunta e vejo uma criancinha
correr e se segurar nas pernas de
Donatello.
— Como pode ver, atarefado. —
ele sorri. — Elena, querida, venha aqui
por favor!
Uma mulher grávida, de no
máximo trinta e poucos anos aparece na
sala e nos cumprimenta educadamente.
O modo como meu pai a trata me deixa
inquisitivo, noto alguma intimidade ali e
tenho vontade de gritar sobre o que está
havendo.
— Essa é Elena, minha esposa.
— ela cumprimenta a todos.
— Mas você não era casado
com... — antes mesmo de terminar a fala
meu irmão me dá um cutucão na barriga.
— Perdoe meu irmão, Elena. Ele
não herdou os genes de cavalheirismo.
— ela sorri. — Castiel Soares,
encantado.
— Não abra esse sorrisinho
cínico para minha mulher, Soares. —
Elena gargalha e meu irmão se faz de
ofendido.
— Vou levar Dominic daqui,
vem querido! — o pequenino pega sua
mão. — E Dom, comporte-se.
— Sim, senhora. — Donatello
diz com um brilho no olhar.
— Foi um prazer conhecer a
todos. — sorri. — Avise Leandra que
descobri o sexo do bebê, será uma
menininha! —exclama animada para
meu pai, que em seguida a abraça.
Assisto a cena horrorizado e
olho em direção a Donatello que invés
de estar furioso, sorri.
Mas em que mundo paralelo eu
estou?
Assim que a tal Elena sai do
ambiente, sinto o ar ficar pesado. Talvez
seja impressão mas pelo olhares
trocados pelo meu pai e Donatello, sei
que algo nada bom virá a seguir.
— Venham até o escritório!
Assim que nos sentamos, antes
mesmo que eu pense em falar algo, meu
pai se adianta:
—Tem tido algum contato com
Julianne nos últimos anos?
— Julianne Fontana? — meu pai
assente. — Desde que descobri sobre
Paulo, eu cortei qualquer ligação com
ela.
— Espera, o que o pai de
Victória tem a ver com isso? —
pergunto já perdido.
— Também gostaria de saber. —
Castiel insiste.
— Você sabe que Paulo morreu
em um acidente de carro, não é? —
Donatello pergunta.
— Sim. — respondo.
— Naquela época Julianne era
minha amante. — confessa e fico
chocado. — Ela sabia sobre os meus
planos de tirar seu pai de circulação...
— O QUE? — Castiel eu
gritamos num uníssono.
— Deixe ele terminar de falar.
— meu pai pede em um tom baixo e
sinto raiva por ele estar tão calmo em
frente ao homem que queria matá-lo.
— Pois bem, eu era um jovem
estúpido e ambicioso, tendo Julianne
comigo sabia de todos os passos que
Rodrigo daria, pois Paulo contava tudo
a ela. — conta. — Um dia antes do
acidente de Paulo, eu terminei tudo e
contei que iria finalmente acabar com
Rodrigo, então não precisava mais de
nada dela. O carro que foi danificado
pelo meu pessoal foi o do seu pai, o que
ficava na empresa de vocês de
prontidão... Eu não imaginava o quão
grande a ambição de Julianne chegaria.
Ela então, foi mais esperta e deu um
jeito de Paulo pegar o carro de Rodrigo.
O mundo para por alguns
segundos e tento raciocinar mais uma
vez.
— Você tentou matar meu pai, só
que Julianne fez com que fosse Paulo
naquele carro? Deus, ela matou o
próprio marido? — pergunto já
exasperado quando tudo começa a fazer
sentido em minha mente.
Julianne armou para que o
acidente de carro fosse com Paulo,
quando ela descobre que ele não deixou
nada a ela, ela usou o segundo trunfo que
tinha - Victória. Victória sendo uma
Soares poderia ser usada contra nós, só
que Vic nunca foi envenenada pela mãe.
— Você teve algo a ver com o
acidente de Victória? — pergunto
friamente e os olhos de Donatello se
arregalam.
— O que? Acidente?
— Onde Julianne está? —
pergunto já impaciente e me levanto.
— Relaxa aí, Caleb! — Castiel
segura meu braço.
— Após tudo o que houve, ela
me procurou e contou como fez para que
fosse Paulo naquele carro. Então, eu
simplesmente a bani da minha vida.
Como ela ameaçou mostrar fotos nossas
a mídia em momentos íntimos, tive de
lhe pagar uma boa quantia para que
sumisse. E desde então, não tive
nenhuma notícia dela.
— Eu não entendo, como
Julianne pode se esconder durante todos
esses anos? Onde Lívia está?
Meu pai abre a boca pra
responder porém o som que se sobressai
é de meu celular - Victória.
— Vic, estou...
— Caleb, venha pra casa agora!
— ela praticamente grita em meio ao
choro e eu fico tenso na mesma hora.
— O que houve, amor? —
pergunto preocupado.
— Venha! — diz e ouço a
ligação ser desfeita.
Praticamente corro pra fora da
casa de Donatello e todos vem atrás.
Joaquim disca o número de Isaac
diversas vezes, porém todos dão na
caixa postal.
Ao chegarmos em minha casa
encontro minha mãe tentando acalmar
Victória que está em prantos, sem se
conter. Babi aparece com um copo e
entrega a minha esposa que apenas tenta
beber.
Me ajoelho aos pés dela que se
joga sobre mim, me abraçando com
força.
— O que houve, minha rainha?
— pergunto tentando parecer calmo, mas
por dentro é como se tudo estivesse
desabando.
— Minha mãe... Julianne tentou
me matar! — confessa e me abraça
novamente com força. — Só que minha
irmã entrou na frente do tiro que era pra
mim.
— O que? Como assim, Vic?
Que irmã? — me sinto perdido.
— Paula... Paula é minha irmã!
Bônus
Paula
Victória
***
***
Caleb
Joaquim
***
Ando com o carro cerca de vinte
minutos e finalmente estaciono. Ainda
rastreando o celular de Lea, tenho a
noção do exato local que ela se
encontra.
Penso até em pedir reforços de
meus seguranças, porém não existe mais
ninguém em quem confie. E sei que se
aparecer com a polícia, Paulo as
machucará.
Deixo a arma já destravada na
cintura e desço do carro. O local a
minha frente, parece mais uma fábrica
abandonada e há um vasto matagal ao
redor.
A passos lentos e com a arma em
punho, sigo até a entrada. Meus
melhores dias em ação podem ter
passado, mas não há como desaprender
isso.
Assim que adentro a primeira
porta, o som de meus passos se tornam
audíveis por todo o local.
— Olha só quem chegou. — me
viro para a voz masculina.
Levanto a arma e paro no
instante em que percebo uma arma
apontada para a cabeça de Lea.
— Nem pense nisso. — coloca a
arma mais próxima do rosto dela. —
Não queremos acabar com a beleza
dela, não é?
— O que quer, Paulo? —
pergunto e ele sorri.
— Leandra. — responde
rapidamente.
— Mas...
— Solte a arma e a chute pra cá.
— diz e eu não tenho outra opção. Faço
o que ele manda. — Bom garoto.
— Diga de uma vez, Paulo.
— Bom, confesso que a
semelhança entre elas é grande. — diz
sarcástico. — Então hoje lhe apresento,
Lívia Maria Albuquerque.
— O que? — pergunto atônito.
— Onde Leandra está?
— Ora, você não sabe? Estou
esperando por ela há algum tempo já.
O rastreador indicou que
Leandra está aqui... Onde ela se
meteu?
— Não seja engraçadinho,
Paulo. Diga onde Leandra está. — entro
em seu jogo.
— Talvez se eu estourar os
miolos da irmãzinha dela, ela apareça.
Assim, encaro a mulher
ajoelhada a frente dele, com a arma
apontada para sua cabeça. Ela não está
do modo como qualquer um ficaria,
chorando ou desesperada. Parece mais
que ela espera por isso há um tempo.
Lívia.
— Talvez seja melhor parar com
esse teatro, Paulo. — Lea aparece por
uma porta atrás dele e fico atônito. Ela
porta uma arma.
— Olhe só, corajosa como uma
Soares. — ele zomba e mantém a arma
apontada para Lívia. — Ficou ainda
mais linda com o passar do tempo.
— Solte minha irmã. — Lea
destrava a arma.
— Ela ainda era sua irmã
quando transou com seu namorado? —
ele zomba e Lea continua olhando-o
friamente. — Pare de fingir, Lea. Essa
farsa de boa moça já cansou.
— O que quer? — intervenho.
— Joaquim, você tem que
aprender, que tudo acontece no meu
tempo. — sorri amargo. — Ainda não é
hora de saber isso.
— O que aconteceu com você,
Paulo? — Lea pergunta incrédula.
— Contatos. Muitos deles me
possibilitaram enganar os grandes
Morgan e brincar com a cabeça dos
meus queridos Soares. — zomba. —
Forjar minha morte e culpar Julianne foi
algo tão fácil... Ninguém nunca esperou
nada do pobre Paulo. — ri amargo. —
Eu iria me afastar, pois já tinha Lívia ao
meu lado, mas sempre faltou alguém...
Você, minha querida. E claro, destruir
meu querido melhor amigo, pois ele
quebrou as mulheres que amo.
— Seu doente! — Leandra grita.
Um celular de repente toca.
Paulo sorri e tira o celular do bolso,
porém continua com a arma apontada
para Lívia.
— Não pense em...
— Cale a boca, Leandra. —
rosna. — Sim, preciso das duas aqui.
Ok, até mais!
— Com quem estava falando? —
pergunto.
— Um intermediário. —
assovia. — Confesso que não foi fácil,
Joaquim. Levei anos para conseguir
colocar alguém dentro de seu
“esquadrão” oficial. Tive até que pagar
estudos para o cara.
— O que?
— Pois é, um dos seus homens,
na verdade joga para o meu lado. — dá
de ombros. — Não fique magoado, são
apenas negócios.
— Qual o nome dele? —
pergunto com raiva.
— Sério que isso fará diferença?
— ri. — As surpresas já acabaram,
ninguém tão chocante vai aparecer.
— Cretino. — Lea grita. —
Como pode brincar com todos nós? O
que fizemos pra você?
— Paulo, quem esse cara está
trazendo? — pergunto, ao me dar conta
de sua fala anterior.
O celular de Paulo toca
novamente e ele atende prontamente.
— Eles já chegaram? Que
rápidos não?! — ri alto. — Traga elas
por baixo. Isso.
— O que está fazendo? — rosno
me sentindo incapaz.
Meu coração se despedaça por
ver Lívia ainda ajoelhada e assistindo
essa cena lamentável. O que esse
monstro fez a ela?
— Grite pelo seu marido, Lea.
— Paulo diz. — Ele está aqui. Ele e
seus filhos.
— O que? — os olhos de Lea se
arregalam. — Eles não...
— Soares! — Paulo grita. —
Não precisam se esconder, sei que estão
aí.
— Eu cansei dessa merda. —
ouço a voz de Caleb e logo a porta atrás
de mim é derrubada.
— Agora sim, vamos começar!
— Paulo anuncia e meu foco está em
Lívia.
Eu sei que todos estão aqui para
proteger Lea, mas eu não consigo não
focar na mulher a minha frente. Ela
precisa que alguém a salve, e espero que
possa ser eu.
Capítulo 30
Caleb
Victória
Victória
***
Victória
Victória
Caleb
Dias depois
***
Victória
***
***
Acordo com o peso de um braço
em cima do meu corpo e sinto a calma
me invadir. Me viro e encontro o homem
que amo deitado junto a mim,
finalmente, na nossa cama.
Nosso lar, nosso amor, nossa
vida...
Passo de leve as mãos pelo seu
rosto e a barba rala me causa arrepios,
mas não é isso que chama minha
atenção. Há algo brilhando em minha
mão esquerda, pra ser mais exata, em
meu dedo anelar esquerdo.
— Finalmente? — pergunta
sorrindo. Fingido!
Olho com mais cuidado o anel
ali colocado, e só assim percebo que
não é um anel... É uma linda aliança com
um diamante negro no meio.
— Caleb... — ele me interrompe
com um beijo.
— Eu comprei faz um tempo...
Pra ser sincero depois que fizemos amor
pela primeira vez. — confessa
envergonhado.
— Não precisava disso e...
— Minha rainha, quero fazer as
coisas certas dessa vez. — diz pegando
minha mão e dando um leve beijo na
aliança. — Sempre assisti você de
longe, sabe disso. — assinto. — Sei o
quanto ama o filme e a série chamada
Sex and City.
— Você só pode estar brincando
comigo! — exclamo emocionada e ele
sorri.
— Eu nunca entendi ao certo o
porquê de você assistir aqueles filmes
tantas vezes. Então um dia resolvi
assistir. — dá de ombros. — A cena
final compensou o filme completamente
doido. — sorrio para ele. — E como
deve já saber, você é diferente de todas
as outras mulheres pra mim, Vic. Sempre
foi.
— Caleb!
— Ei, fica quietinha! — me olha
autoritário. — Estou tentando te pedir
em casamento, mesmo sem poder me
ajoelhar. — indaga nervoso e eu choro
ainda mais.
— Além do significado do
diamante negro, eu achei algo em comum
com o personagem principal...
— As cartas! — complemento e
ele assente.
— Uma citação que não me
esqueci foi a de Beethoven, ela sim me
resume por inteiro.
Sinto meu coração ir parar na
boca. Me sinto dentro de um filme. Ele
não vai recitar uma das minhas citações
favoritas... Ou vai?
— "Eu só consigo pensar em
você, minha amada imortal. Só posso
viver plenamente com você ou não
posso viver. Fique calma minha vida,
meu tudo. Somente com a calma da
consideração da nossa existência,
alcançaremos nosso propósito de
vivermos juntos. Oh! continue me
amando - E nunca julgue mal o tão leal
coração do seu amado.
A qualquer tempo
Sempre minha
Sempre...
— Nosso. — complemento junto
a ele, que tem lágrimas nos olhos.
— O que mais sonhei durante
todos esses anos foi poder dizer essas
palavras á você acordada... Muitas
vezes entrei no seu quarto e lhe disse
cada uma delas. — confessa.
— E-eu... — fico sem palavras.
— Victória Fontana, você aceita
ser...
— Sim, claro que sim! — grito
antes mesmo dele terminar de pedir, e
jogo-me em seu peito.
— Ai! — solta um gemido de
dor.
— Me desculpe, amor. — passo
as mãos pelos seu cabelos. — Mas isso
também foi sua culpa. — ele me olha
sem entender. — É sua culpa eu te amar
tanto assim, o que até me fez esquecer
que está ferido.
— Não ligo para dor, minha
rainha. — toca de leve meu rosto. —
Agora que tenho você, tenho tudo.
Eu sempre fui uma romântica
incurável. Amo filmes, séries e livros de
romance. Mas nunca imaginei um dia
viver um amor tão verdadeiro e forte,
como o que sinto por Caleb.
Nós não nascemos perfeitos um
para o outro, mas nos moldamos a
própria maneira, e hoje nos
completamos nas imperfeições.
Capítulo 36
Caleb
Meses depois
***
Os poucos convidados que
tínhamos já haviam chegado. As
madrinhas e padrinhos estavam em seus
devidos lugares. Meu pai me deu um
último abraço como quem diz
"finalmente filho" e respiro fundo
esperando a entrada de Vic.
Mesmo com todos os percalços
Victória havia me escolhido, assim
como o jardim do nosso lar que ficaria
marcado para sempre com nossa união.
Eu já havia estado no altar e esperado a
mesma mulher há décadas atrás, mas
nesse momento tudo é diferente.
Não sou mais um adolescente
apaixonado me casando com a mulher
que amo por interesse das famílias ou
para fazê-la me amar... Eu sou um
homem esperando a mulher que sempre
amei, chegar até mim no altar. Quando
um som de piano se fez presente, sinto
que é mesmo real.
Eu não sabia qual música tocaria
em sua entrada, Victória disse que seria
uma surpresa... Que tocaria a música
que define nossa história. E se antes
estava nervoso, agora estou estático.
Buscando um foco diferente para
me acalmar, olho em direção ao piano.
Assim, vejo Castiel o tocando... Então
essa é a surpresa! Meu irmão vai cantar
a entrada de minha mulher.
As primeiras notas soam leves e
volto meu olhar para a trilha de pétalas
azuis e brancas. Desespero toma conta
de mim, pois Victória ainda não tinha
aparecido. Olho apreensivo para
Castiel, que continua a tocar como se
tudo estivesse nos conformes.
Dois segundos depois, Victória
aparece no jardim e instantaneamente
lágrimas vem aos meus olhos. Não
consigo me conter.
Ela está simplesmente linda em
um vestido longo branco, de alças
grossas, que marca perfeitamente sua
barriga já de seis meses, a qual ela tanto
quer mostrar. Ela havia amado a ideia
de se casar antes do nascimento de
Miguel, pois segundo ela seria uma
forma de marcar nosso amor em dobro.
Os seus cabelos estão soltos e
ondulados, o rosto praticamente leve e
sem nenhum toque excessivo de
maquiagem, o que realça ainda mais os
seus lindos olhos azuis... Ela está tão
linda, que mal consigo respirar. Não
consigo acreditar, que o sorriso
estampado em seu rosto é direcionado a
mim. E só consigo sorrir em meio as
lágrimas. Nossa felicidade estampada
em nossos rostos.
Quando ela chega em frente a
trilha que a leva até mim, o ar fica
escasso... Chegou a hora! Felipe que foi
escolhido por ela para entrar, lhe deu o
braço e então ela olha de leve para o
lado, e acena com a cabeça para algo. E
foi aí que a música de fato começou e
tudo fez ainda mais sentido.
“
Querido Caleb,
Amor não é um sentimento
difícil de se sentir, mas sim difícil de
controlar. Houve momentos em minha
vida que indaguei a mim mesma "o que
é amar alguém?" e infelizmente não
obtive resposta alguma.
Porém, quando pela primeira
vez pude olhar para você, sem passado,
sem mentiras, sem máscaras... Vi o
homem que de fato é e foi naquele
momento que obtive a resposta para
minha pergunta.
Amar alguém vai além de se
apaixonar ao primeiro olhar, ao
primeiro toque ou primeiro beijo... Em
nosso caso, foi muito além do que se
possa imaginar.
Eu não o amei pelo belo azul
dos seus olhos, eu passei a amar a
sinceridade que existe neles. Eu não o
amei por ser o homem mais lindo que
já vi, eu passei a te amar pelo coração
imenso que tem eu seu peito... O mesmo
peito que salvou minha vida, que
salvou a vida de nosso Miguel.
Como pude um dia olhar pra
você e não sentir que o certo era estar
em seus braços?
Como pude um dia não querer
dormir ao seu lado e acordar com seu
corpo em volta do meu?
Como pude não amá-lo antes?
E foi com você que descobri que
o amor não está relacionado ao tempo
e sim ao momento certo. E quando o
nosso momento certo chegou, foi que vi
meu mundo perder o foco, perder o
discernimento... Pois você é tempestade
Caleb! Você e sua fúria misturada a
romantismo me tiram os sorrisos e as
lágrimas mais sinceros e
principalmente, meu fôlego.
E é por você que eu respiro, é
por você que quero viver cada dia
mais... Porque amar é necessidade, e
você é minha necessidade eterna.
A qualquer tempo
sempre meu
sempre nosso
sempre o homem que amo
Pra sempre sua, Vic"
Epílogo
Victória
Um ano depois
***
***
- Danielle Campos
Prólogo
Danielle
No futuro
Danielle
No presente
Castiel
Danielle
***
Castiel
Danielle
Castiel
Danielle
Castiel
Danielle
Capítulo 7
Danielle
— Por que ir de táxi se posso te
levar? — Castiel insiste e eu apenas
nego pegando minha bolsa.
Acabei deixando minha mala
com roupas no apartamento de Isaac,
caso tenha que fugir de mais uma cena
constrangedora de Caleb e Vic. Talvez
até aceite a oferta de Isaac e fique por
um tempo no apartamento, acho que está
mais do que na hora de sair da casa de
Caleb.
— Estou falando com você
“senhorita nada de café”. — reviro os
olhos de seu deboche. — Vem aqui.
Como dizer a ele que ainda não
quero que ninguém nos veja juntos? E
pior, será que estamos juntos?
Viro-me pra ele, que está
encostado na ilha da cozinha e pior, sem
camisa. Esse homem quer acabar com o
resto de sanidade que tenho.
— O que é “senhor eu tenho um
carro e posso levá-la”? — ele sorri
cinicamente e me puxa de encontro ao
seu corpo.
— Tecnicamente o carro é de
Isaac, mas isso não importa. — diz e me
beija castamente. — Vá de táxi, mas terá
que jantar comigo hoje à noite.
— Cas...
Seus olhos verdes não deixam
brechas sobre o que quer, sei que não
vai aceitar um “não” como resposta. E
droga! Eu quero mesmo encontrá-lo
novamente.
— Ok. — digo e ele sorri
convencido. — Tire esse sorrisinho
idiota do rosto, senão não vou...
— Você gosta dos meus sorrisos,
eu sei. — dá de ombros.
— Como sabe? — pergunto e ele
sorri ainda mais. — Eu não devia ter
admitido em voz alta. — bufo sozinha.
— Ei! — pousa suas mãos em
minha cintura. — Toda vez que sorrio,
você leva uma mecha do cabelo atrás da
orelha e morde o lábio.
— E? — paro no mesmo instante
com a mão atrás da orelha.
Eu realmente faço isso?
— Bom, prefiro acreditar que é
uma mania boa. Que gosta dos sorrisos
cínicos que dou a você.
— Então sabe que são cínicos?
— indago já irritada e ele sorri ainda
mais. — Alice lhe disse isso também?
— pergunto e ele arregala os olhos.
— O que minha melhor amiga
tem a ver com meus sorrisos? —
pergunta e arqueia a sobrancelha.
— Espero que nada. — sou
sincera e ele encosta sua boca na minha.
Não sei porquê, mas desde que
ele disse o nome dela com tanto carinho,
algo dentro de mim se remexeu. Ciúmes
não!
— Temos além de uma feiticeira
aqui, uma leoa também? — zomba e eu
tento sair de seu aperto. — Ei, eu e
você, lembra?
Eu, você e sua melhor amiga?
Penso, mas não consigo abrir a boca pra
dizer nada. Ok, essa tal Alice me irritou
sem eu ao menos conhecê-la. Droga de
paixão.
— Ok. — tento me soltar e ele
não permite novamente. — Tenho que ir.
— Não entendi ainda porque não
pode passar o dia comigo.
— Tenho algumas coisas pra
fazer. — lembro-me de meus desenhos
ainda não acabados, e principalmente do
desenho que fiz dele.
— Não pode mesmo ficar? —
pergunta e tenciono dizer “sim”.
Mas sei que preciso pensar
sobre tudo, e quem sabe tirar algo de
Victória sobre Castiel. Ainda não
entendi ao certo o modo nada
hospitaleiro que Caleb o tratou,
principalmente porque o rosto de Castiel
ainda tem marcas.
— Nos vemos a noite, ok?
Mesmo contrariado, ele
finalmente me deixa ir. Mas não antes de
tirar todo meu fôlego na cozinha. Esse
homem é problema.
Quando finalmente chego em
casa, peço um benção e torço para não
encontrar Vic e Caleb em alguma
situação constrangedora na sala. Então
abro a porta da sala com cuidado e entro
a passos leves.
— Estou ouvindo seus passos.
— ouço a voz de Vic e estaco no lugar.
Tirando o susto que ela me deu, está
tudo certo.
Olho na direção de sua voz e
encontro-a sentada numa poltrona que
fica praticamente escondida entre a
escada e o grande sofá. Doida!
— Se escondendo na sua própria
casa? — pergunta e me olha com
deboche.
— Não enche, Vic. — já ando
em direção as escadas.
— Qual é, Dani? — ouço seus
passos atrás de mim. — Isso está com
cara de amor.
Droga!
— Não, eu não... — tento dizer
algo, mas minha língua parece travar.
Castiel e seus sorrisos idiotas!
— Quem é ele? — pergunta
curiosa e eu a encaro.
— Posso não falar nisso ainda?
— assente e fico aliviada.
Lembro-me da noite passada e
de parte dessa manhã. Castiel não
avançou nenhum sinal, ou fez algo que
não quisesse. Mas será que poderia me
segurar mais? Tudo bem, faz apenas
alguns dias que nos conhecemos.
Mas como saber qual é a hora
certa para se entregar? Esperei 35 anos
e ninguém mexeu comigo como ele faz.
Será que chegou a hora?
— É que não sei se gosto dele o
suficiente pra... — travo e Vic me
encara inquisitiva.
Ok, ela é minha melhor amiga.
Ela tem que me ajudar com isso.
— Como assim? — pergunta.
— O conheci há poucos dias e...
Nós nos beijamos, o clima esquentou e
eu fiquei com medo. — confesso de uma
vez.
— Mas você queria seguir em
frente?
— Sim. — sinto meu rosto
queimar. — Tenho medo de estar sendo
fácil demais e... É que eu nunca senti
isso na minha vida, Vic. Eu tenho 35
anos, já sou uma mulher, mas nunca fiz
sexo com ninguém. — confesso e ela
sorri.
— Bom, eu desconfiava disso.
— Eu não sei o que fazer. — me
sento num degrau e ela apenas me encara
por alguns segundos.
— Confia nele? — pergunta.
— Ele me passa algo que nunca
senti na vida. — dou de ombros e me
lembro da tranquilidade que ele me deu
a cada momento. — O jeito que sorri,
como me olha, me toca, me beija... O
modo como fala comigo. É totalmente
diferente.
— Sei bem como é. — assume e
vejo um brilho diferente em seu olhar.
Aposto que está pensando em
Caleb. Finalmente!
— E o que acha que devo fazer?
— pergunto.
— Siga seu coração, Dani. —
sorri sonhadora. — Às vezes, o amor,
simplesmente acontece. Não podemos
nos negar viver.
— Obrigada Vic, eu farei isso.
— digo e a abraço.
— Use proteção em. — diz e eu
bato em seu braço. Ridícula!
Então subo para o andar de cima
com vários pensamentos em minha
cabeça. Não faço ideia se devo me
entregar, mas sei que não demorará para
acontecer.
Castiel
Danielle
Castiel
Danielle
Danielle
Castiel
Danielle
Acordo num sobressalto e sinto
um frio horrível correr através de mim.
Olho os dedos e noto minha pele
enrugada, assim como várias partes do
meu corpo. Afundo na água fria e seguro
o ar o máximo de tempo possível. Assim
que me levanto, meus dentes batem um
nos outros, como sempre acontece.
Fiz muito isso durante o tempo
em que minha irmã estava grávida,
desde então, toda vez que entro em
desespero apenas a água gelada me
ajuda. Como se fosse um vício constante
e pudesse levar um pouco da dor
embora. Penso então na causa da minha
dor, o homem que simplesmente destruiu
tudo de mim e sem que soubesse a
verdade, me conquistou.
Ele foi o culpado, apenas ele. E
eu não posso amá-lo, não devo.
Enrolo-me na toalha e caminho
em direção ao quarto de hotel, o qual
Caleb alugou pra mim, sem sequer
importar com o rastro de água que
deixo. A dor em meu peito é demais,
como se estivesse sufocando. Mas
parece agora um aperto, algo que dói
profundamente.
Tem algo errado!
Eu senti a mesma coisa no dia
em que perdi Annie. Encaro meu celular
e vejo que Victória está me ligando,
atendo prontamente.
— Preciso que venha pra casa.
— pede baixinho. — Já fechamos sua
conta no hotel, só venha.
— Mas...
— Dani, por favor. — insiste e
desliga.
Preocupação toma conta de mim,
e assim que vejo várias ligações e
mensagens de Castiel, sinto-me quebrar.
Castiel
Apenas respire!
Digo essa mesma frase acho que
um milhão de vezes. Encaro meu reflexo
no espelho e noto que o aspecto está até
melhor, mas apenas dos machucados que
meu irmão havia deixado, pois os meus
olhos inchados e o semblante de derrota,
estão intactos.
Meu telefone toca e sei já está no
horário de ir, e eu sequer sei como vou
fazer isso. Pensei em ligar para Alice e
lhe contar o que houve, tentar buscar
algum conselho, mas a única pessoa a
quem quero recorrer quer distância de
mim, e o jeito é fazer tudo sozinho desta
vez.
Minutos após sair de casa
estaciono o carro em frente ao
cemitério. Olho meu relógio e noto que
ainda falta cerca de meia hora para
todos chegarem, então, resolvo tomar
coragem e fazer algo que jamais cogitei.
Talvez seja o começo de uma confissão
á Annie, eu devo isso a ela.
Desço do carro e encaro a
anotação antiga que tenho em meu
celular, não sei por que a guardei até
hoje e nem sei ao certo se é o local
certo, mas irei arriscar. Ando pelas
extensas ruas e procuro a quadra
correta, quando finalmente a encontro, o
ar se torna escasso novamente.
Ajeito meus óculos escuros e a
passos lentos vou até onde é meu
destino. Encarando as lápides a minha
frente e estaco no lugar ao ver que estou
realmente no local certo.
***
Encaro a mansão de meu irmão e
penso se devo ou não entrar. Eu já havia
estado ali mais cedo, tínhamos tido a
conversa que tanto precisávamos,
mesmo sendo um dia horrível. Caleb
finalmente soube de toda verdade, de
que sou apenas seu meio irmão e que
Leandra teve câncer anos atrás. E que
foi justamente na época de sua doença
que nos aproximamos, e ela acabou
morando comigo um período em
Londres, o qual ele imaginava ter sido
as férias dela. Doeu ver sua reação
quando nossos pais contaram tudo, e
ainda mais porque escondemos isso
dele. E por isso resolvi adiar nossa
conversa sobre Luna.
O que eu faço aqui então? Sendo
que já disse tudo a ele? Não sei ao
certo, mas queria ao menos ver
Danielle. Sinto-me fraco e sozinho,
mesmo sabendo que meus pais estão ao
meu lado, dói demais a perda de Jô e
não poder recorrer a Dani, me machuca
ainda mais. Mesmo assim, resolvo
entrar na casa. Por mais absurdo que
isso pareça.
Assim que adentro a mansão,
noto-a silenciosa, e a passos leves subo
as escadas, em busca da mulher que
quero tanto ver. Quando paro em frente
ao seu quarto, respiro fundo várias
vezes, o que já se tornou um hábito meu.
Levanto minha mão e vou bater, mas a
porta se abre no mesmo instante.
— O que faz aqui? — pergunta
surpresa e dá passos para trás.
— Eu apenas... — respiro fundo
novamente. — Eu...
Seu olhar é frio e sinto-me
quebrar ainda mais, como se pudesse
sentir algo dentro de mim se estilhaçar.
Lágrimas descem por meu rosto e as
limpo rapidamente.
— Desculpe, eu não deveria ter
vindo e...
— Eu entendo. — diz por fim,
me surpreendendo.
— Eu já vou. — anuncio
covardemente.
Ficamos nos encarando por um
momento, mas vejo que ela não vai
mudar de ideia ou tentar me impedir de
ir. Viro-me pra sair e ela não diz nada.
Derrotado é como me sinto. Um grito
vindo do andar debaixo nos chama
atenção, encaro Danielle e ela passa por
mim, correndo pelo corredor e descendo
as escadas, vou em seu encalço.
— Meu Deus, está tudo bem por
aqui? — pergunto ao chegar a cozinha e
estaco ao ver Luna ali.
Esse dia pode piorar ainda
mais?
— Esse é... — meu irmão trava
em sua fala e encaro Luna,
completamente perdido.
— Oi, tia Dani. — Luna diz e
abraça Dani ao meu lado. — Oi,
Castiel!
Travo e fico ainda mais estático
se possível. Encaro Danielle e ela me
olha ainda mais assustada, assim como
Luna me olha.
— Você o conhece? — Caleb
pergunta
— Bom, eu sei a verdade. — ela
diz e me assusto. — Sei que ele é meu
pai biológico.
O que?
— Luna. — Victória a chama.
— Olha, não precisam ficar
assim. — respira fundo. — Eu nunca
tinha o visto pessoalmente antes, quer
dizer... — ela balança a cabeça, como se
espantasse alguma lembrança. — Mas
sei de tudo que houve.
— Mas... — Caleb trava
novamente e fico apenas absorto nesse
momento.
Ela sabe de mim...
— Uma vez entrei no seu quarto
sem permissão, li uma das cartas... —
confessa. — Desculpe por isso, papai.
— Filha... — Victória a encara
em lágrimas.
— Não precisam ficar assim,
sério. — nos olha e sorri. — Sei disso
há muito tempo, não muda nada.
O clima tenso se apodera do
local e meu olhar parece perdido, como
se estivesse fora de órbita ou a
gravidade não fizesse mais efeito.
— Você então sabe que sou...
— Sei que é minha tia, Dani. —
ela sorri e abraça Dani novamente. —
Sempre foi, mas sei que é de sangue
também.
— Desculpe por termos
escondido isso, querida. — Dani diz e
fico ainda mais sem reação.
— Não precisa pedir isso,
ninguém precisa. — nos olha inquisitiva.
— Nunca me faltou amor, carinho... Por
que teriam que pedir desculpas?
— Desculpe mesmo assim,
princesa. — Caleb diz.
— Nem vou dizer nada. — ela
diz e o encara brava.
Ok, tenho que sair daqui!
— Desculpem, eu tenho que ir.
— saio da cozinha e praticamente corro
pra fora da casa.
Eu sempre imaginei como seria
minha conversa com Luna ou até o que
diria a ela. Hoje sei que nunca estarei
preparado para isso, para admitir o quão
fraco fui. Ela sim é uma boa garota,
madura e gentil. Eu não teria nada a
oferecer a ela, assim como não tenho
nada a oferecer para Danielle que não
seja meu amor.
Sou vazio.
Capítulo 13
Danielle
***
Castiel
Danielle
Danielle
Danielle
***
Castiel
Cerca de um mês
depois
***
Castiel
***
Danielle
Castiel
Castiel
Danielle
O silêncio do apartamento me
deixa ainda mais exausta, sei que o
modo frio como Castiel vem me tratando
tem um porquê, e fico me perguntando
como ele aguentou ficar comigo deste
modo, o ignorando, por esses dois anos.
Finalizo mais uma capa pra um
cliente e envio, fecho meu notebook e
retiro os óculos. Solto uma respiração
profunda, e resolvo me arrumar. Já que
Alice não quer atender minhas ligações,
eu sei muito bem onde posso encontrá-
la.
Pego meu carro e em poucos
minutos estaciono em frente ao hospital
que Castiel trabalha. Retoco meu batom
vermelho e sorrio para meu reflexo, com
a frase de Mallu Magalhães em mente.
— “Nem vem tirar meu riso
frouxo com algum conselho, que hoje eu
passei batom vermelho.” — abro um
sorriso e ajeito meus cabelos.
Vamos lá!
Entro no hospital e Angeline a
recepcionista sorri pra mim, uma das
poucas mulheres daqui que não olham
Castiel de outra forma.
— Doutor Soares não veio
trabalhar hoje. — indaga e sorri.
— Preciso falar com a senhorita
Callaway. — sou direta. — Prometo não
fazer nada demais.
— Dani... Na última festa eu tive
que te segurar para não ir até ela e...
— Prometo não fazer nada. —
minto e Angeline mesmo contrariada me
entrega um crachá, com o qual posso ir
até a sala de Alice. — Obrigada!
— Te dou meia hora e depois
vou até lá verificar. — avisa.
Assinto e sigo pelos corredores,
em busca da sala de Alice.
O que me deixa possessa é
encontrar a sala dela ao lado da de
Castiel. Merda! Bato na porta e tento
abrir, mas está trancada. Espero por
alguns instantes ali na frente e nada dela.
E mesmo sabendo que é errado, resolvo
vasculhar um pouco o local.
Ando por alguns corredores e
minutos depois, encontro uma das
enfermeiras que nunca engoli, uma tal de
Rose, conversando com alguém num tipo
de copa.
— Alice pode estar grávida. —
escuto-a dizer e paraliso.
— Como assim? Ela parece não
se envolver com ninguém pois ama o
doutor. — uma outra voz feminina diz,
tento ver quem é, mas não consigo, pois
a porta está entreaberta.
— Encontrei-a abraçada a ele
dias atrás, os dois parecem bem
próximos. — ouço uma voz masculina.
— Com certeza o filho é de Castiel.
Fico estática por alguns
segundos, tentando raciocinar. Como
assim abraçados há dias atrás?
Saio dali meio zonza, sentindo
meu coração acelerar. Chego a recepção
e vejo de relance Angeline com alguém.
— Tem que se cuidar, Alice. —
ela diz. — Agora está comendo por
dois.
Levanto meu olhar e encaminho-
me para mais perto. Alice ao me ver fica
pálida e Angeline não diz mais nada.
— Grávida? — pergunto em um
sussurro.
— Danielle, olha...
É como se sua voz sumisse e
saio dali no mesmo instante, sem
conseguir raciocinar direito. Ele me
traiu? Não, não pode ser! Será por isso
que ela não me atendeu ou respondeu
minhas mensagens? Por medo de eu
descobrir sobre a gravidez?
Os batimentos do meu coração
aceleram e minha boca seca. Saio meio
desorientada e assim que vejo a rua
tento respirar novamente. Ele vai ter um
filho com ela?
Meu corpo está pesado e é como
se tudo estivesse esmagado dentro de
mim. Buzinas soam e não me importo.
Um baque forte faz meu corpo ser
levantado. Dor se instala em meus
ossos. Tento manter os olhos abertos e
em minha mente apenas vejo os olhos
verdes de minha filha.
Depois disso, mergulho na
escuridão.
Capítulo 21
Castiel
***
Danielle
Castiel
Danielle
***
Castiel
***
Danielle
***
Castiel
Alice
Danielle
***
Antonella (Babi)
Danielle
Castiel
***
O clima quente do Brasil nos
recebe em seu auge. Há muito tempo que
sinto falta desse clima, desse lugar, de
poder voltar sem me preocupar com o
que minha família irá pensar. Mas agora,
ao saber que realmente me querem aqui,
posso chamar novamente esse país de
minha casa.
— Pegou tudo, Annie? — Dani
pergunta e nossa pequena assente
pegando seu elefante de pelúcia.
Pego a sua pequena mochila e
coloco em minhas costas. Eu havia dito
a ela várias vezes que não necessitava
trazer os seus livros de colorir favoritos
junto a ela na cabine do avião, pois
como meu pai cedeu o jatinho da
empresa para nós, havia espaço de
sobra nas malas e não tínhamos que nos
preocupar com o peso limite de
bagagem. Mas ela insistiu tanto que
acabei cedendo. Annie ama colorir e eu
jamais negaria algo que a faz feliz.
— Tudo certo, Castiel? — Dani
pergunta e eu confirmo com a cabeça.
Sei que é algo natural ela me
chamar pelo nome, mas dói não ouvi-la
me chamar de “amor”. Eu quero mais
que tudo ser realmente seu amor.
—Vamos? — pergunto e elas me
seguem para finalmente sairmos do
avião. Essa viagem acabou conosco.
Annie solta um gritinho e tenta
correr, porém a impeço.
— Annie, cuidado! — chamo sua
atenção.
Logo noto que sua pressa foi por
conta de toda nossa família estar aqui
para nos receber. Ela tenta correr
novamente, porém só permito quando já
descemos todas as escadas, assim ela
corre em direção a todos e logo se joga
em cima de Felipe que a pega no ar.
Minhas mãos se fecham com força em
torno da mala de mão que carrego e
sinto meu coração disparar.
Meu problema jamais foi com
Annie e sua relação com Felipe, mas o
meu maior medo era perder Dani para
ele. Claro que eu também sei que ele é
apaixonado por outra mulher e jamais se
envolveria com Dani, principalmente
por conta de Caleb. Mas o que eu podia
fazer a respeito do meu gênio
possessivo? Sou um homem ciumento ao
extremo e sei o quão isso é errado. Mas
há momentos que simplesmente não
consigo me segurar.
Dani conhece pouco desse meu
lado, pois nunca me senti ameaçado por
outro homem até agora e isso me permite
respirar leve. Mas eu nunca deixei de
enxergá-la como é, completamente linda
e o sonho de qualquer homem em são
consciência. Eu aprenderei a me
controlar, pois merecemos ser felizes
juntos, e ciúme algum irá nos separar.
— Não faça essa cara. — Dani
sussurra ao meu lado e eu apenas nego
com a cabeça.
— Eu entendo a relação dos
dois. — suspiro cansado. — Ele esteve
com ela um bom tempo e além disso, é
claramente o primo favorito dela.
— Miguel parece não estar
gostando disso. — olho em direção onde
ela aponta e vejo Miguel emburrado no
colo de Caleb.
— Ciúmes de primos Dani, isso
é normal. — digo. — Cadê meu
sobrinho nervosinho? — grito e Miguel
pula do colo de Caleb e corre até mim.
Deixo a mala no chão e o pego
no colo, jogando para cima. Olho para o
lado e vejo que Dani já está abraçada a
Victória e lágrimas correm pelos rostos
das duas.
— Isso parece mais uma
despedida e não uma chegada. —
zombo.
— É bom te ver irmão. — Caleb
me abraça. — Até quando as duas vão
ficar chorando? — pergunta
ironicamente.
— Até quando acharmos
necessário. — Dani responde o
abraçando e noto os olhos dele
marejados.
— Você é uma florzinha mesmo,
assim como Levi o chama. — sorrio
cínico e ele bufa.
Noto que Felipe que se
aproximava sorridente de repente fechou
o semblante, e engole seco. Bingo! Já
sei quem é a garota que ele está
apaixonado.
— E aí, Lipe? — o abraço. —
Não faça essa cara. — digo baixo e ele
fica vermelho de vergonha. Permito-me
gargalhar nesse momento.
— O que disse ao meu filho
Castiel? Mal chegou e já está deixando
o menino sem graça. — Victória diz se
aproximando e logo me abraça
fortemente. — Mesmo sendo
insuportável é bom tê-lo aqui.
— Não tem como apenas dizer
que me ama e que morre de saudades?
— ela me dá um tapa e Caleb me olha
fingindo ciúmes.
— Vocês parecem crianças. —
papai diz ao se aproximar e logo pega a
pequena Annie no colo. — Pronta para
passar os fins de semana na casa do
vovô?
— I'm ready[6]! — grita feliz e
meu pai gargalha.
— Menina, você não cansa de
me surpreender com esse inglês perfeito.
— a elogia e logo Miguel está cercando-
o. — Mas olhe só, temos um menininho
ciumento aqui. Venha cá! — pega-o com
o outro braço e Miguel finalmente sorri.
— Não sei o que faço com seu
pai. — mamãe diz ao me abraçar. —
Quem vê pensa que ele aguenta duas
crianças no colo. — zomba e todos
riem, confirmando novamente de onde
veio meu humor ácido.
— Ah Lea... Sorte que nossos
netos estão aqui senão contaria algumas
verdades e....
— Nem comece, papai. — Caleb
o corta. — Não quero saber como fui
feito, muito obrigado!
— Mas eu quero. — Miguel diz
de repente. — Como papai foi feito,
vovô? — pergunta inocentemente e
todos ficamos sem fala.
— Quero ver se livrar dessa
agora. — mamãe diz em meio a
gargalhada.
— Eu sei. — Annie diz e sinto
minhas pernas amolecerem.
— Sabe o que querida? —
pergunto.
— Como o vovô fez o tio Caleb.
— diz convicta. — Assim como fez o
senhor.
— Annie, querida, do que está
falando? — pergunto já sentindo meu
sangue gelar.
— Daddy, uma vez mamãe me
contou que vocês se amam de montão e
assim eu nasci. Aconteceu o mesmo com
vovô e vovó, não é? — pergunta e solto
finalmente o ar que estava segurando.
— Isso mesmo, querida. — meu
pai concorda.
— Viu, Mi! — ela diz e Miguel
apenas concorda com a cabeça como se
fizesse todo o sentido.
Não sei se devo me emocionar,
mas estou me segurando no último para
não chorar. Dani vai em direção a Annie
e a pega no colo, a abraça com força e
deixa algumas lágrimas correrem.
Enquanto todos se recuperam do
momento constrangedor que no fim foi
emocionante, vamos em direção aos
carros para irmos para casa. Dani já
sabe vamos morar na casa ao lado de
Victória, as duas agora podem tricotar o
dia todo.
Durante a viagem de carro sorrio
de Caleb, Victória e Dani brigando pelo
som do carro. Parece que nunca iríamos
crescer. Annie havia ficado tão animada
por ver Felipe, que quis ir com ele em
seu carro e deixei que assim matassem a
saudade. Para não ficar de fora, Miguel
acabou pedindo para ir também.
— Essa música! — Vic e Dani
gritam em uníssono e mesmo contrariado
Caleb cede.
— Sem força alguma em! —
zombo de Caleb e ele simplesmente
mostra o dedo do meio em minha
direção. — Tão maduro!
—Vocês são os irmãos mais
idiotas que conheço. — Vic diz para não
perder a oportunidade.
— Falando em irmãos, onde
Christopher está? — Dani pergunta.
— Ficou preso em uma reunião
na empresa. Babi também não pode vir,
pois está na faculdade. — Caleb
responde e ela sorri largamente.
— Ela está gostando desse
negócio de artes? — pergunto e Caleb
bufa.
— Tive sorte de Felipe ir para o
direito, porque Babi vive suspirando
pela casa por estar fazendo a faculdade
dos sonhos. Não sei como ela consegue
gostar de desenhar aquelas coisas.
— Nem eu. Só de pensar tenho
calafrios. — digo fingindo frio e Dani
bate em meu ombro.
— Amo arte, é algo lindo.
Podem parar de rir disso. — ela avisa e
Caleb dá de ombros. — Não vem não,
Vade Mecum! — todos gargalhamos e
Caleb apenas revira os olhos.
— Nem me darei ao trabalho de
responder. — diz. — Mas e Lívia, deu
alguma previsão de quando virá para o
Brasil?
— Bom, Joaquim me explicou
que está tentando resolver alguns
problemas da filial de segurança que
abriu em Londres, e assim, virão para
cá.
— Então sem data prevista? —
Victória pergunta, parecendo
decepcionada.
— Não. — digo e forço um
sorriso para ela.
Entendo o seu jeito, pois ela
sabe que se Lívia vier para o Brasil,
Paula talvez se aproxime dela. Tudo está
a estranho a respeito da relação de
Paula com nossa família, pois mesmo
nesses anos que se passaram, eu nunca a
vi de fato perto de minha mãe ou
qualquer outra pessoa.
— Chegamos! — Caleb diz e
estaciona em frente à sua casa e logo
todos os outros chegam.
Annie ao descer do carro de
Felipe já se joga em meu colo e pede
ansiosamente para ver seu novo quarto.
— Um minuto, sweet heart! —
peço, colocando-a no chão e chamo
Victória para perto.
— Tudo como combinado, Vic?
— ela assente e entrega as chaves da
casa em minhas mãos. — Não sei como
agradecer.
— Apenas faça minha melhor
amiga feliz. — pisca.
— Parece que estão de
segredinhos. — Dani diz ao se
aproximar.
— Faça as honras. — lhe
entrego a chave e ela me olha sorrindo.
Vamos em direção a casa e Dani
me encara já um pouco surpresa. Ao
abrir a porta, a sala de estar linda assim
como está nos desenhos de Dani nos
recebe. Bom, essa é a surpresa.
— Como você.... Como? —
Dani começa a gaguejar e lágrimas
escorrem por sua face.
— Enquanto arrumava as malas,
encontrei uma grande pasta escondida
debaixo da cama do quarto de hóspedes.
— revelo e ela leva as mãos a boca. —
Me surpreendi ao abri-la, pois lá estava
a casa dos seus sonhos. Desenhos lindos
feito por você. Então pensei, por que
não tornar isso real? — dou de ombros.
— E aqui estamos.
— Não tenho palavras, Castiel.
— chora ainda mais e vem até mim. —
Só tenho a dizer obrigada. Eu jamais
esperei que isso seria real.
— Seus sonhos se tornarão
realidade Danielle, basta me aceitar. —
digo convicto e de repente o ar da sala
de transforma.
Ficamos presos em nosso
mundinho e sinto vontade de beijá-la,
querendo nunca mais deixá-la se afastar.
— Tia Dani! — Felipe a chama
quebrando nosso momento e eu sorrio de
lado. — Desculpem, eu volto depois.
— O que foi, Lipe? — Dani
pergunta ainda me encarando.
— Annie está com vontade de
sorvete, então pensei se não poderia
levá-la para tomar. Miguel iria junto
também.
— Claro que sim. — respondo
por Dani e Lipe logo sai da sala. Olho
por um instante ao redor e noto que não
há mais ninguém aqui.
Passos no andar de cima me
alertam de que nossa família toda
acabou correndo pra lá, para nos deixar
a vontade nesse momento.
— Espero que tenha gostado. —
digo. — Victória me auxiliou em tudo e
bom... Sabe que ela só poderia ter me
ajudado a fazer isso ser ainda mais
perfeito.
— Você é perfeito. — ela diz e
toca de leve meus lábios. — Sei que
precisamos conversar e há muito ainda
para ser superado, mas quero que tenha
certeza de que... Eu amo você. — se
declara e sai praticamente correndo em
direção as escadas.
Fico parado ali, no meio da sala
de estar de seus sonhos, sorrindo feito
um bobo. Feito um adolescente
apaixonado que descobre que a rainha
do baile o ama também.
Capítulo 31
Danielle
Castiel
***
Arrumo minhas roupas em nosso
closet e sorrio ao notar que todos meus
jalecos já estão devidamente
pendurados. Dani com certeza teve o
maior cuidado com eles, como sempre
fez.
— Sweet heart, vamos tomar
café. — ouço a voz sonolenta de Dani.
Entro no quarto e encontro as
mulheres de minha vida brincando em
cima da cama. Annie deve ter vindo nos
acordar e como não me encontrou,
atacou a mãe.
— Então temos uma mocinha
esperta aqui? — pergunto indo até ela.
— Bom dia, daddy. — pula da
cama e corre em minha direção. A pego
no colo e beijo diversas vezes.
— Bom dia, pequena. — ela se
esquiva de mim e logo deita na cama
novamente.
Observo Danielle se espreguiçar
na cama e noto algumas manchas
vermelhas em seu corpo. Isso é apenas a
prova de que pertencemos um ao outro.
— Bom dia novamente, meu
amor. — diz vindo em minha direção e
me dá um simples selinho.
A enlaço pela cintura e puxo-a
para um verdadeiro beijo: — Bom dia,
feiticeira.
— Pode cuidar de Annie
enquanto mando alguns e-mails
pendentes? — pergunta e eu assinto.
— Ei, vamos tomar café? —
pergunto a Annie, que senta-se no
mesmo instante.
Minutos depois, enquanto Annie
conta animada sobre o sorvete que
tomou com os primos, faço panquecas.
Poderíamos ter contratado uma
empregada, mas resolvi esperar por
enquanto. Temos um padrão de vida alto,
no meu caso, desde sempre fui
acostumado com o melhor. Porém, meu
maior orgulho é poder dizer que
conquistei o que tenho hoje por mérito
próprio.
Mas o dinheiro não é nada,
quando não se tem alguém para ser feliz.
Sei ainda mais sobre isso agora, após
tantos erros. Poder ter minha família,
minha filha falando animadamente sobre
algo no café da manhã, coisas do
cotidiano que sempre pensei serem
descartáveis, mas hoje percebo que são
indispensáveis. E isso, o dinheiro não
consegue comprar.
— Hum, que cheiro delicioso.
Termino de montar as panquecas
de chocolate e pego uma caixa de
achocolatado na geladeira. Quando Dani
vê o achocolatado, sorri maravilhada e
me manda um beijo no ar.
— Obrigada, amor. — sorrio
pelo modo que me chama e é impossível
não me sentir finalmente completo.
Enquanto observo as duas
comerem devagar o meu feito, agradeço
em silêncio por essa nova chance.
Quantas vezes eu me martirizei por ter
abandonado Luna? Quantas vezes não
consegui dormir por conta da morte da
irmã de Dani no parto? Com toda
certeza, muitas de milhares.
— Perdido em pensamentos? —
Dani pergunta.
— Apenas estou feliz. — sorrio
de lado.
— Não me abra esse sorriso
cínico, amor. — brinca.
— Sabe quantas vezes imaginei
você me chamando assim?
— Assim como? De amor? —
assinto e ela sorri. — Você sempre foi
isso.
— Mas agora você admite, é
diferente.
— Tudo tem o momento certo.
— complementa.
— Realmente. — sento-me ao
lado dela. — Tudo tem seu momento
certo.
***
Danielle
Castiel
***
Castiel
Danielle
***
Castiel
Danielle
Anos depois
Antonella (Babi)
Antonella (Babi)
Antonella (Babi)
***
Antonella (Babi)
Christopher
Dias depois
Antonella (Babi)
***
Antonella (Babi)
***
Passo pela portaria sem precisar
ser anunciada e o velho porteiro sorri
em minha direção. Tenho certeza de que
Chris o paga alguma quantia, para que
não chegue aos ouvidos de ninguém
minhas visitas no prédio.
Após minutos que pareceram
intermináveis, o elevador finalmente
para, e sigo a passos lentos até o seu
apartamento. Encaro a porta por alguns
segundos e resolvo tocar a campainha.
Passam-se alguns minutos e nem sinal de
Christopher. Ligo em seu celular
algumas vezes e como sempre – caixa-
postal. Sem conseguir mais esperar,
pego a cópia da chave que ele me deu e
abro a porta.
O cenário que me espera é
simplesmente assustador. Toda a
vidraçaria da sala parece quebrada e os
cacos estão espalhados por todo o lugar.
— Christopher. — sussurro para
o vazio.
Olho para uma trilha de sangue
no chão e a sigo, transtornada. A porta
do quarto de Chris está aberta e sinto a
bile vir a minha garganta.
— Chris! — grito alto e me jogo
de joelhos ao seu lado.
Seu corpo está caído no chão e a
camisa branca que usa está manchada de
sangue. Noto uma faixa enrolada em sua
mão e não a desenrolo, pela cor
vermelha da faixa, sei que foi ali que ele
se cortou. Analiso todo seu corpo e
procuro por mais algum ferimento.
Felizmente, não há mais nenhum.
O cheiro forte de álcool emana
de seu corpo e choro copiosamente
tentando acordá-lo.
— Chris, amor, o que você fez?
— choro sem me conter.
— Ella. — sua voz sai baixa e
entrecortada. — Me perdoe.
— Shhh. — seguro sua mão
machucada. — Não fale nada.
— Apenas saiba que... E... baby.
— diz e seus olhos se fecham.
Sua respiração parece tranquila
e noto que ele dorme feito pedra. Faço
todo o esforço possível e o arrasto até o
chuveiro. Chris balbucia algumas
palavras em seu sono, porém não se
move contra mim.
Dou-lhe um banho com cuidado
e lavo sua ferida na mão. O corte não foi
tão profundo, e felizmente não sai mais
sangue. Enxugo-o com cuidado e coloco
uma cueca limpa. Levo-o para sua cama
e faço um curativo decente em sua mão.
— Não me deixe, baby. — sua
voz sai baixa e ele aperta os olhos com
força. Com certeza está sonhando.
— Não vou te deixar amor,
nunca. — beijo seus lábios com carinho
e deito-me ao seu lado.
Puxo o lençol sobre nós e coloco
um travesseiro debaixo de sua mão
ferida. Christopher balbucia mais
algumas palavras emboladas. Fico
assim, guardando seu sono, sentindo-me
culpada por encontra-lo nessa situação.
Ele parece apenas um garoto imaturo,
mas sei que é o homem da minha vida.
Deito-me em seu peito e como se
fosse automático, seu braço passa por
cima de meu corpo. Encaro-o e noto que
ainda dorme. Sorrio por saber que ele
sonha comigo. Poderia ser complicado
nosso casamento, porém vamos dar
certo. Mesmo com toda confusão e culpa
que me cercam, sei que daremos um
jeito, mesmo que não tenhamos agido
corretamente.
Eu o amo.
Ele me ama.
Nesse instante, isso basta.
Capítulo 7
Christopher
Antonella (Babi)
Christopher
Dias depois
Antonella (Babi)
Christopher
Passo água por meu rosto,
tentando permanecer sóbrio. Há tanta
bebida nessa festa, porém não posso
beber nenhuma, já que prometi a Ella.
Não que seja uma necessidade, mas a
pressão e ansiedade sobre mim faz-me
querer buscar uma válvula de escape.
No caso, a bebida.
Ouço um barulho na porta, e
encaro a pessoa que entra. Meus irmãos
vêm até mim, os quais não parecem tão
incomodados com a cena que Ella e eu
protagonizamos há pouco.
— Irmão, olha, eu... — tento
dizer algo, porém Caleb levanta a mão,
um gesto claro para que eu me cale.
— Eu sempre desconfiei, Chris.
— diz, surpreendendo-me. — Não sou
burro e muito menos cego, sempre vi os
olhares trocados por vocês e a forma
radical com que seu tratamento com
Babi mudou de repente... Eu só quero
que parem de esconder de mim o que
fazem... Não quero mentiras entre nós.
— diz sério.
Assinto para ele, sentindo-me o
pior ser humano de todos.
— Faça- a feliz, irmão. — Caleb
pede ainda sério, mas parecendo
emocionado. — Não existe pessoa no
mundo a qual confiaria minha filha com
tanta segurança, que não seja você.
Espero que sejam felizes, de verdade.
Sem conseguir acreditar nas
palavras de meu irmão, abraço-o. Caleb
bate algumas vezes em minhas costas,
como quem diz – "faça o certo,
moleque." Ele nunca cansou de repetir
essa frase.
— Que cena linda, preciso de
lenços. — Castiel debocha, e como
sempre, seu sorriso cínico está
estampado em seu rosto.
— Babaca. — digo, afastando-
me de Caleb e dando um soco no ombro
de Castiel.
Porém, meu irmão é mais rápido
e consegue atar meus movimentos.
— Moleque, você nunca vai
aprender. — Castiel zomba, soltando-
me.
— Acho que cheguei na hora
boa. — Isaac aparece, já com os punhos
de prontidão. — Se quiser, posso dar
uma lição nele. — diz, encarando Caleb.
Não!
— Deixe o moleque em paz,
Isaac. — Castiel diz, rindo da carranca
de Isaac. — Está na hora de crescer,
amigo. E Chris, parabéns, irmão. Era
sobre isso que iria falar com você.
— Sério? — pergunto
completamente surpreso.
— Estava planejando seu caixão
para quando Caleb soubesse de algo...
Mas você foi mais esperto. — diz,
claramente zombando de Caleb.
Caleb revira os olhos e finge que
vai passar por Castiel, mas na realidade,
acerta em cheio o estômago de Cas, o
qual quase cai no chão.
Eles nunca vão crescer.
— Eu vou te matar! — Castiel
diz, segurando com os braços a barriga.
— A dor é momentânea, cínico.
Sabe muito bem disso. — Caleb diz,
sorrindo da cena de nosso irmão.
Eu que não quero levar um soco
desses.
— Acho que fui usado como
aviso prévio, caso Chris apronte algo
com Babi... — Castiel sorri cinicamente
pra mim, mesmo com a face de dor. —
Você está ferrado, irmão!
Isaac gargalha junto a Castiel, o
qual parece sequer ligar pra dor. Caleb
apenas assiste a cena, com um sorrisinho
de lado.
— Vocês têm problemas. —
digo, revirando os olhos.
A porta novamente faz barulho e
nosso pai entra.
— Reunião particular? —
pergunta, mas quando olha para Castiel,
seu olhar se torna de espanto. — Que
merda aconteceu aqui?
Ele se vira para Isaac, o qual dá
de ombros. Então olha diretamente para
Caleb, o qual usa a melhor pose de bom
moço...
— Caleb Soares! — diz alto,
fazendo-nos gargalhar.
Até parece que ainda somos
crianças.
Ouço a porta se abrir novamente
e Felipe entra com Miguel em seu colo,
e Joaquim em seu encalço.
— Olhe só, estamos
praticamente completos. Falta alguém
chamar Pedro e Lucas, para
completarmos o time. — Castiel zomba
como sempre, pois não pode deixar nada
passar.
— O que todo mundo está
fazendo no banheiro? — pergunto, sem
entender.
— Acho que isso sim é uma
amostra do que irá atropelar você caso
magoe Babi. — Castiel zomba
novamente. — Você está mais do que
ferrado, está fod...
— Castiel Soares! — meu pai
praticamente grita, assustando-nos. —
Tem uma criança aqui, controle sua
boca.
Miguel olha para todos, porém
seus olhos azuis parecem furiosos para
comigo.
— Cuide da Bi. — Miguel diz,
ainda no colo de Felipe.
Felipe então me encara, ainda
mais sério que Caleb.
— Repito o que Miguel disse,
cuide dela, senão... — Felipe coloca
Miguel no chão, o qual corre até Caleb.
— Senão o que garoto? —
pergunto, sem entender seu tom sério.
— Vou mostrar que também sou
um Soares. — diz convicto, e abre os
braços, para me abraçar.
Um pouco desconfiado, abro os
braços e ele vem até mim. Porém, em
poucos segundos, caio de costas no
chão.
Eu não deveria ter confiado em
um Soares, ainda por cima, um filho de
Caleb.
Merda!
Ouço a gargalhada de todos e
Felipe estica mão para que eu levante,
mas assim que o faço, ele me derruba
novamente.
Merda dupla!
— Está avisado, tio!
— Esse é o meu garoto. —
Caleb diz orgulhoso, enquanto tento me
levantar.
De repente, vejo nosso primo,
Pedro, o qual é praticamente um irmão
pra mim, já que crescemos juntos. Ele
me estica a mão, ajudando-me a
levantar, porém não para de sorrir.
— Cara... — ele gargalha ainda
mais.
— O que houve aqui? —
viramo-nos para a voz, encontrando
Lucas, o marido de Luna, parado ao lado
da porta.
— Só mais uma amostra de
como os Soares são. — Castiel diz,
deixando Lucas ainda mais confuso.
Apenas curto o momento,
ouvindo ainda mais besteiras de meu
primo e todos os outros. Realmente, não
posso deixar que eles descubram sobre
minhas verdadeiras intenções, eles
jamais me perdoariam. Esses olhares de
orgulho se tornariam de desprezo, e
isso, eu não posso aceitar.
Capítulo 11
Antonella (Babi)
— O que? Como...
Sorrio para a cara de espanto de
Christopher, ele continua dirigindo, mas
ao mesmo tempo, mantém os olhos
arregalados. Olhando-me de canto de
olho.
— Sempre ouvi seu sussurro em
meu ouvido, antes de dormir... Ou até
mesmo as noites que acordei com sede e
o encontrava sentado no sofá, tocando o
violão e cantando baixinho. — digo, e
ele permanece em silêncio. — O que
foi? — pergunto, sem entender sua
reação.
— Nada, eu só... — ele suspira
fundo. — Não esperava por isso.
— Bom, é uma banda
maravilhosa. — sorrio e ele finalmente
faz o mesmo. — Por que nunca cantou
apenas pra mim? — pergunto, e ele
apenas balança a cabeça.
Permaneço então em silêncio,
sem conseguir entender seu jeito
estranho. Por mais que o ame, ele ainda
se esconde um pouco de mim. Sinto que
há uma parte dele que não quer se
mostrar, mas aos poucos, eu sei que irei
conseguir fazê-lo ser meu por completo.
Porém me surpreendo por
completo, ele começa a cantar:
Christopher
Christopher
Christopher
Antonella (Babi)
Christopher
Antonella (Babi)
Christopher
Antonella (Babi)
***
***
Antonella (Babi)
***
Encaro o imponente prédio e
tento entender em que momento cheguei
aqui. Sendo que meu destino era a
Soares Mídia. Suspiro fundo e olho para
trás, vendo os carros dos seguranças,
meu pai com certeza sabe onde estou
agora. E sei que tenho que ser rápida,
antes que ele me impeça.
Tomo coragem e saio do carro,
tentado me equilibrar nos saltos, que
mesmo sendo baixos, me fazem
cambalear. Aperto entre as mãos minha
bolsa e a passos incertos entro no
prédio. A recepcionista sorri pra mim e
apenas fico sem fala.
— Eu preciso falar com
Donatello, Dominic Donatello. — digo
de uma vez.
— Você é? — pergunta
educadamente.
— Me desculpe, Antonella
Soares. — digo rapidamente.
Aguardo por alguns instantes, e
logo ela libera minha entrada. Entro em
um elevador e sigo para o último andar.
Coloco meus fones e tento me concentrar
em não ouvir algo nostálgico, mas isso é
a única coisa que acalma minha
ansiedade.
Abro minha bolsa e pego o papel
em mãos, que graças a Lipe tive acesso.
A prova real de que sou filha de
Donatello, de que ele talvez seja a
pessoa que me abandonou e deixou a
própria sorte. Mas há tantas outras
perguntas, sobre minha mãe biológica,
por exemplo.
Ouço o bipe do elevador e assim
que as portas se abrem, encaro meus
pés, com medo do que me aguarda.
Assim que entro no andar, Elena, sua
esposa me recebe com um sorriso e um
forte abraço.
— Quando me disseram que era
você, não acreditei. — tento não
demonstrar minha insegurança. — Dom
vai ficar muito feliz em vê-la, assim
como Theo, ele está preocupado com
você.
— Ah sim, eu vou falar com ele
depois. — digo sem jeito.
Fico com medo de ela perguntar
algo sobre o que tenho a falar com seu
marido, mas ela apenas passa alguns
minutos, tentando me distrair. Mesmo
não dizendo nada, sei que ela percebeu
como estou, mas agradeço por não
perguntar. Eu iria embora no mesmo
instante.
O seu celular toca e ela atende
rapidamente. Encaro novamente os
papéis já amassados em minhas mãos e
aproveito para guarda-los.
— Não, estou indo aí. Ok.
Ela se vira pra mim e sorri
fraco.
— Babi, tenho que resolver um
problema no andar debaixo, mas já
estarei de volta. — permaneço sentada
onde ela me indicou. — Essa é a sala de
Dom, logo ele estará aqui. Me desculpe
por isso, eu...
— Está tudo bem, Elena. —
forço um sorriso.
— Nem piscará e estarei de
volta. — brinca e logo sai.
Encontro-me então, sentada em
uma sala vazia, e meus olhos finalmente
vagam por ela. Levanto-me com cuidado
e encaro o porta-retratos colocado em
sua mesa, na qual estão todos de sua
família. Será que fiz o certo de estar
aqui? Não posso estragar mais uma
família.
Antes mesmo que possa dizer
algo, a porta da sala se abre e perco a
fala. Encaro o homem que sorri pra mim
e tento buscar alguma semelhança entre
nós. Os seus olhos são da mesma cor
que os meus, mas não consigo me
enxergar como sua filha. Mas aquela
sensação boa que sempre sinto perto
dele está presente novamente.
— Como vai, Babi? — pergunta
e tenta se aproximar.
Impulsivamente me afasto e
lágrimas vêm aos meus olhos.
— Por que? — pergunto
tentando não chorar. — Por que me
abandonou?
— Babi, quer se sentar querida?
— pergunta e eu nego com a cabeça.
Pego os papéis amassados e
entrego a ele. Ele me encara incerto,
mas logo os lê e sua reação me deixa
ainda mais sem chão. Seus olhos voltam
aos meus, parecendo assustados e
surpresos, como se ele não...
— Você... — gagueja e leva às
mãos a cabeça, relendo os papéis. —
Você é minha filha?
— Você não sabia? — pergunto
completamente perdida.
— Não, eu nunca... — ele leva
as mãos aos cabelos e encara-me sem
saber o que fazer.
— Você não me abandonou
então? — pergunto receosa, e ele se
aproxima.
— Eu jamais o faria, Babi. —
percebo que estou chorando e ele
também.
E antes mesmo de dizer mais
alguma coisa, ele me abraça e assim
desabo.
— Vocês estão bem? — escuto a
voz de Elena e nos separamos no mesmo
instante.
Elena nos encara assustada,
assim como Theo, que está ao seu lado.
— Babi, o que houve? — ele
pergunta e apenas o encaro emocionada.
Ele é meu irmão.
— Eu... — tento dizer algo, mas
logo travo.
— Não precisa se explicar, vem
cá. — me abraça com carinho.
Assim que nos afastamos, encaro
Donatello que continua com o olhar
perdido, mas ao mesmo tempo parece
feliz.
— Eu não sei como explicar
isso. — digo sem jeito.
— Eu vim avisar que seu pai
está aqui, Babi. — Elena diz. — Caleb
quer falar com você, Dom.
Paraliso no mesmo instante, e
sinto que tudo ainda pode piorar. Mas eu
já sabia que meu pai não ficaria de fora
dessa, havíamos combinado de contar
tudo a Donatello juntos, mas eu não
consegui esperar. Não sei se conseguiria
fazer isso na frente dele.
Donatello me encara incerto e
apenas assente em minha direção, ele
tem o semblante fechado, mas não sei
nem ao certo o que lhe dizer.
— Ele tem muitas coisas a me
explicar. — diz de repente.
Prendo a respiração e Theo
passa seu braço ao meu redor, sorrindo
com carinho, sem sequer entender a
situação. Mas sinto medo, porque nem
eu mesma conheço minha história. E
agora terei de obrigar meu pai a dizer,
de uma forma ou outra. Tanto para mim
quanto para Donatello.
Capítulo 20
Antonella (Babi)
Dominic
Donatello
Antonella (Babi)
Christopher
Dias depois
Antonella (Babi)
Christopher sai da casa de meus
pais e o silêncio paira entre todos nós. A
raiva com que meu tio Castiel e Dani me
olharam, assim como encararam toda
nossa família, faz-me sentir culpada
nesse instante.
Olho para meus pais e minha
mãe apenas faz sinal de negação com a
cabeça e juntamente a Luna e Miguel,
sobe as escadas. Olho para meus avós e
vejo que os dois estão horrorizados com
tal declaração. Encaro então meu pai e
ele desvia o olhar, parecendo realmente
magoado, viro-me então para Donatello
e ele apenas assente pra mim, como
quem diz claramente “agora tem que
acertar as coisas”.
O que foi que eu fiz?
—Vô, eu não deveria ter feito
isso, eu não...
Deus, eu não sou assim!
— Depois, minha querida. —
minha vó diz e sorri pra mim, assim
como meu avô.
Logos os dois saem da casa e
deixam-me apenas com meu pai,
Donatello e Felipe.
Lipe fica alguns segundos me
olhando e logo depois sai de casa, sem
sequer olhar para trás.
— O que houve aqui? — meu
pai pergunta e olha de mim para
Donatello. — Eu pensei que fosse falar
sobre divórcio, como deixou
subentendido que faria. Não pensei que
seria uma cena para se vingar de
Christopher! Eu ajudei Donatello a
descobrir algo sobre ele, pois iria daí
falar com Chris sobre, fazê-lo enxergar
que errou. Não essa cena ridícula! —
diz claramente furioso.
— Pai...
— Você não precisa se vingar,
muito menos se igualar com o que Chris
fez. Eu sei que está sofrendo, mas o que
vi aqui hoje, a minha Antonella não
faria. — chama minha atenção e então
encara Donatello. — Não sei por que
resolveu ajuda-la nisso, mas saiba que
não vou deixar com que destrua minha
família. Quero que saia da minha casa, o
mais rápido possível.
Donatello sequer diz algo e
apenas encara meu pai. Logo meu pai
sobe as escadas e nos deixa sozinhos.
— Eu não entendo. — digo,
sentando-me no sofá e tentando
reorganizar meus pensamentos.
— Você me pediu algo, estando
nervosa e com raiva. Eu sabia que isso
faria você pensar e ver que não precisa
fazer nada contra Christopher, pois isso
pode magoar muitas pessoas, inclusive
as pessoas que mais ama. — Donatello
diz, como se já soubesse que isso
realmente ia acontecer.
Como pude ser tão cega?
— Eu pensei que isso me faria
feliz, que me sentiria bem. — confesso,
tentando controlar as lágrimas.
— Você tem um bom coração,
Babi. Mal fez algo ruim e já está vendo
que errou, e melhor, admite isso. — diz
e eu forço um sorriso, sabendo que
acabei magoando novamente a todos.
Burra!
— Olha, eu não tive a
oportunidade de cria-la e sei que não
posso exercer agora esse papel de pai.
Mas posso te dar um conselho? — ele
pergunta e eu assinto, encarando-o. —
Dê um tempo a si mesma, viaje, se isole
um pouco... Às vezes precisamos de
tempo para discernir entre o certo e o
errado.
— Eu não sei. — digo sem jeito,
tentando imaginar como seria tudo se
não tivesse trocado os pés pelas mãos.
— Não seria algo como fugir dos
problemas? — pergunto incerta.
— Às vezes, precisamos fugir,
para finalmente encarar nossa realidade.
— diz convicto. — Já passei por isso
antes, e me ajudou a perceber o que
errei e como poderia acertar no futuro.
— Por isso me deixou quebrar a
cara? — pergunto e ele abre um sorriso
sem dentes.
— Por isso a vida nos ensina a
cada dia mais. — diz e sorri pra mim.
— Fale com sua família, seja sincera
sobre o porquê fez isso. Eu vou
descobrir o porquê do desfalque de
Christopher. Olha, ele pode ser muitas
coisas, mas apesar de que ele seja a
última pessoa que eu confio, duvido que
seja um ladrão.
Paro um minuto para pensar
sobre isso, e realmente, sei que
Christopher não iria tão longe. Apesar
de que no momento não consigo pensar
muito sobre, não do modo que estou.
— Preciso mesmo de um tempo.
— digo e Donatello assente.
— Eu quero estar na sua vida,
Babi. Mas sei que precisa se encontrar
primeiro, antes de qualquer coisa.
Porém, se precisar de algo, só ligar. —
diz e eu me levanto, abraçando-o.
— Obrigada por tudo. — digo e
ele se afasta.
— Até mais.
Donatello logo sai de minha casa
e eu me jogo novamente no sofá. Penso
nos erros que cometi e em como todos
influenciaram diretamente na situação
em que me encontro. Preciso consertar
as coisas, e rápido.
Capítulo 23
Caleb Soares
Christopher
Antonella (Babi)
***
Antonella (Babi)
Antonella (Babi)
***
Christopher
Antonella (Babi)
Semanas depois
Christopher
Antonella (Babi)
FIM
Anexo II
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Até a próxima!
Beijos e unicórnios