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Copyright© 2018 Ivani Godoy

Revisão: Adriano Silva


Designer da capa: Barbara Dameto
Diagramação Digital: Barbara Dameto

Essa é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Essa obra segue as regras da Nova Ortografia da língua Portuguesa de 2009.
Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de
qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível —
sem o consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.

As opiniões contidas no livro são dos personagens, em nada assemelham as


opiniões do autor. Esta é uma obra de ficção, sendo os nomes e fatos fictícios.
ÍNDICE
SINOPSE
PRÓLOGO do livro Você é minha
1 - Injustiçada
2 - Conflito
3- Descoberta
4 - Influência
5 - Armação
6 - O Troco
7 - Escolha Difícil
8 - Renúncia
9 - Sobrevivendo
10 - Boate Rave
11 - Pedido Especial
12 - Desejo Ardente
13 - Casamento
14 - A Viagem
15 - O Fim
16 - Tormento
17 - A Verdade
Epílogo
Próximo livro: A Aposta
Sinopse: A Aposta
Notas da Autora
AGRADECIMENTOS
Outro Livros da autora:
Prólogo do livro A aposta
Capítulo 1
Proposta

Capítulo 2
Mensagens

Capítulo 3
Minha namorada

Capítulo 4
Primeiro beijo

Capítulo 5
Ciúmes

Capítulo 6
O passado

Capítulo 7
Sensações

Capítulo 8
Trato

Capítulo 9
Escolho você

Capítulo 10
Inocência

Capítulo 11
O tempo não apaga

Capítulo 12
Vamos jogar!

Capítulo 13
Primeira vez

Capítulo 14
Medo

Capítulo 15
A espera
Capítulo 16
Alma partida

Capítulo 17
Quebrado

Capítulo 18
Esperança

Capítulo 19
Luz e trevas

Epílogo
Dois meses e meio depois…
FIM

Outros livros da autora


Sobre a autora
IVANI GODOY

Convites
PRÓLOGO do livro Louco por você
EMILY
CAPÍTULO 1
Disfarce

TABITTA
CAPÍTULO 2
Reencontro

JASON
CAPÍTULO 3
Convite

TABITTA
CAPÍTULO 4
Prisão

TABITTA
CAPÍTULO 5
Interrogatório

TABITTA
CAPÍTULO 6
Tiroteio

TABITTA
CAPÍTULO 7
Proteção

JASON
CAPÍTULO 8
Armação

JASON
CAPÍTULO 9
Pesadelos

TABITTA
CAPÍTULO 10
Renúncia

TABITTA
CAPÍTULO 11
Luta

TABITTA
CAPÍTULO 12
Cativeiro

TABITTA
CAPÍTULO 13
Acerto de contas

JASON
CAPÍTULO 14
Aliança com o inimigo

TABITTA
CAPÍTULO 15
Perdão

TABITTA
CAPÍTULO 16
Promessa

TABITTA
CAPÍTULO 17
Infiltrados

JASON
CAPÍTULO 18
Salvador

TABITTA
EPÍLOGO
TABITTA
Sinopse de “Marcas da Escuridão”
Redes Sociais:
SINOPSE

Samantha Gray é uma psicóloga infantil que se mudou


para Manhattan fugindo de um passado que a assombrava
desde a infância, não confiava nos homens, pois o único
homem que deveria protegê-la a destruiu de forma
irrecuperável. Sam viveu até então, uma vida solitária, sem
muitas pessoas ao redor, mas tudo mudou ao conhecer o CEO
de olhos verdes intensos. Um homem controlador e que não
aceitava a palavra não como resposta. Lucky Donovan,
sempre foi rodeado de mulheres, poder, conquistas e
influências, afinal, ele era dono de quase toda América. Mas
por trás daquele sorriso sexy e quente, ele trazia uma infância
dilacerada e traumática e isso tudo mudou quando conheceu
Samantha, a única mulher que disse não a ele, e algo mudou
dentro de si — dali em diante, sabia que moveria Céu e Terra
para tê-la em sua vida e em sua cama. Dois mundos diferentes.
A dor e os traumas de seus passados os tornarão unidos e
fortes. Uma paixão avassaladora que os consumirão. Mas isso
seria o suficiente? Eles serão capazes de deixar o passado e
viver o futuro? Descubra lendo essa linda história de amor.
PRÓLOGO
Lucky Donovan

Dezembro de 1994
Eu estava deitado na cama esperando mamãe chegar em
casa, fazia cinco dias que eu a aguardava. Tudo já havia acabado
na dispensa. Não tinha mais comida ou leite para me alimentar.
A fome doía como se houvesse alguma coisa roendo dentro de
mim, como garras e lâminas afiadas. Eu só podia esperar e fingir
que essa dor, a qual me consumia, não estivesse de fato
acontecendo. Eu queria fazer algo, não só imaginar que estava
cercado de uma família amorosa, com pais bondosos e com
muita comida e brinquedos. Hoje era Natal, não havia nada para
comer ou algum brinquedo para brincar. Era o meu pior dia na
Terra e tudo o que eu queria era fugir, nem que fosse em
pensamentos.
— Fique em casa e não saia até eu chegar — pediu a
mamãe.
Ela recebeu uma ligação e não pensou duas vezes em me
deixar sozinho naquela casa imensa e solitária.
— Mas o Natal é daqui alguns dias, mamãe — chorei, não
querendo ficar sozinho de novo, principalmente à noite.
— Eu sei, mas eu volto antes de chegar o Natal. Amo você
— declarou, saindo pela porta e me deixando trancado.
Depois de uma semana, ela não tinha voltado ainda. Era
noite e ao invés de medo por estar sozinho, eu me sentia
aliviado, porque dormir era a única forma de esquecer a fome
tremenda que eu estava passando naquele momento.
Eu poderia gritar e pedir ajuda, mas tinha medo de as
pessoas me levarem para longe da mamãe. Eu não queria ficar
longe dela, por mais ausente que ela fosse em minha vida.
Mamãe sempre me deixava ali sozinho, mas nunca deixou
de voltar, mas agora ela não iria voltar para mim como sempre
fazia.
Agora era para sempre.
Minhas forças se acabaram, e eu caí no chão da cozinha
com uma tigela vazia…
Nesse dia, Mary me matou, mas eu ressuscitei após ouvir a
voz de um anjo.
Miguel.
1 - Injustiçada
SAM

Abril de 2016
— O que você deseja para o café da manhã? —
perguntou a garçonete do Green.
A garota parecia ter uns dezoito anos, mais ou menos.
Ela era loira com cabelos compridos, presos em um rabo de
cavalo.
Há uma semana, eu havia começado a trabalhar como
psicóloga na empresa Vênus, que beneficiava crianças que
necessitavam de ajuda com problemas e traumas de infância.
Tantas pessoas sonhavam em entrar nessa empresa, mas
poucas a mesma chance que eu. Dei graças a Deus por
conseguir o serviço. A empresa possuía várias instituições que
trabalhavam com crianças pelo mundo.
A Ônix era uma empresa bilionária de estilo e muito
importante no ramo de Marketing empresarial. As duas
empresas ficavam em um imenso edifício na Rua 57, com
vista para Skiling de Manhattan, um dos principais cartões-
postais de Nova York. Os dois prédios eram como as Torres
Gêmeas, um ao lado do outro, mas com uma passarela que
ficava no nono andar, bem onde eu trabalhava na Vênus, ela
levava de um prédio ao outro.
Eu gostava de tomar café e almoçar no Green, ia ali
quase todos os dias desde que comecei a trabalhar na Vênus. A
lanchonete não era muito grande, mas era aconchegante, com
paredes de vidros que ficavam de frente para as duas empresas
que pertenciam ao mesmo dono. Eu não o conhecia, mas
diziam que era muito rígido e nem em feriados dava folga para
os colaboradores que trabalhavam em sua empresa, ou seja,
eu. Nunca gostei muito de feriados, então não reclamava.
Quando eu me mudei para Manhattan, estava fugindo de
um passado obscuro para o qual eu jamais queria retornar ou
pensar sobre novamente. Por mais que você tente fugir de um
passado assim, ele está no fundo de sua mente como um
câncer enraizado, mas sem o matar. São apenas lembranças
sombrias.
Quando vim morar no Brooklyn, cheguei com a intenção
de trabalhar e ser uma profissional de sucesso e capacitada no
meu ramo de trabalho, afinal, amava o que fazia. Acho que
além do meu irmão Bryan e de minha avó Júlia, que eu amava
verdadeiramente, a minha profissão era a segunda paixão.
Particularmente adorava trabalhar com crianças em risco
social e que sofriam por algum tipo de problema. Porque um
dia, há muito tempo, eu também fui quebrada de todas as
formas possíveis, quase de forma irrevogável, quem deveria
ter me protegido quando criança não o fez, aliás, foram eles
que haviam transformado a minha vida em um pesadelo e
tormento por quatorze anos.
— Um cappuccino com creme, por favor — Sempre
pedia isso todas as vezes que vinha ali. Era meu café favorito e
o que não era tão caro.
Tomei rápido para não chegar atrasada ao trabalho,
porque a minha chefe era definitivamente uma bruxa, mas ela
não iria me fazer desistir dos meus sonhos. Não mesmo.
Eu já tinha acabado com o meu cappuccino e peguei um
para levar para Diana, uma colega de trabalho.
Um cara se sentou na cadeira à minha frente, o havia
notado antes paquerando a garçonete loira que trabalhava ali, a
mesma que trouxe o cappuccino para mim. Um paquerador,
com certeza.
Seu rosto era lindo, muito parecido com um modelo de
revista famosa como a People. Seus cabelos loiros batiam no
queixo e eram lisos, mas parecia que gostava deles
bagunçados para todos os lados, como se estivesse acabado de
acordar, mas não de um jeito feio, e sim de um jeito atraente.
Devia ser moda para ele. Usava calça jeans e camiseta preta
com gola V e dois botões, olhos cor de whisky combinavam
bem em seu rosto perfeito.
O cara me lançou um sorriso devastador. Um sorriso que
fazia todas as mulheres molharem suas calcinhas, até mesma
eu, afinal não era nenhuma santa.
— Eu posso me sentar com você, linda? — perguntou
ele sorrindo, mas havia se sentado antes que eu o respondesse.
— Pode — respondi com simpatia, peguei o copo de
cappuccino para Diana e me levantei.
— Eu já estou de saída. Então, fique à vontade.
Ele olhou meu corpo como se me despisse com seus
olhos, senti um arrepio percorrer todo a minha espinha, mas
isso não podia acontecer.
— Você não quer ficar comigo? — Ele me lançou um
sorriso. — Nós podemos ir para o meu apartamento.
Com aquele rosto sexy e com seu sorriso perfeito, fazia
qualquer garota sair correndo com ele para qualquer lugar sem
questionar ou pensar nas consequências. Mas eu não era assim.
Eu era mais como os Felizes para Sempre. Respirei fundo e
olhei para ele sentado ali, à minha frente.
Ergui as sobrancelhas e lhe disse:
— Você ao menos sabe o meu nome?
Ele ainda sorria.
— Eu não preciso saber seu nome, linda, para ter o que
queremos um do outro — Seu tom era malicioso.
Eu fechei a cara.
— Isso não vai acontecer.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Por quê? Posso ver em seus olhos que você me deseja
tanto quanto eu a desejo — Sua voz parecia confiante.
Eu ri amarga.
— Você não sabe de nada — suspirei. — Jamais ficaria
com alguém como você, e por vários motivos.
— Quais são? — Ele cruzou os braços.
— Primeiro: você é rico, eu posso ver isso. — Apontei
para suas roupas.
— Por que isto a impede? — Seu tom era confuso, assim
como seu rosto.
— Homens como você só querem uma coisa de
mulheres como eu. Isso não é algo que darei a ninguém igual a
você — sorri amigavelmente. — Foi um prazer conhecer-lo.
Saí antes que falasse algo, deixando-o ali, com um
sorriso no rosto, mas seus olhos mostravam confusão.
Respirei fundo e entrei no imenso prédio de vidro e fui
para o elevador da empresa Ônix, já que o elevador da Vênus
estava em manutenção. O elevador também era de vidro
grosso e mostrava toda a cidade de Manhattan, uma bela vista
para se acordar todos os dias, para quem podia ter esse luxo,
obviamente. Me encontrava atrasada e tudo porque fiquei
conversando com um idiota atraente no Green. Apertei o botão
para meu andar, mas antes que as portas se fechassem, um
homem entrou. Santa mãezinha me abana, porque isso sim que
era homem.
Ele estalava os dedos e você caía de joelhos à sua frente
como uma submissa. Embora, eu nunca fosse de fazer o que os
homens mandavam, eu poderia abrir uma exceção para aquele
Deus Grego.
O homem era alto, um metro e noventa mais ou menos.
Trajava calça jeans e camiseta preta com jaqueta de couro,
também preta e aberta na frente. Seus cabelos castanhos eram
curtos, com uma mexa de cabelo que caía sobre o olho direito,
fazendo o verde-floresta de seus olhos ficarem mais lindos, e
uma boca instigante. Que boca! Se o cara do Green era sexy,
imagina esse? Esse homem dava de mil em beleza naquele
outro. Era como comparar sorvete de chocolate com sorvete de
morango, e eu era completamente apaixonada por chocolate.
Esse homem sim era de molhar calcinha. Se ele fazia isso só
com um olhar, imagina se me tocasse?
Ele tinha duas covinhas, uma em cada lado de suas
bochechas, fazendo-o mais perfeito do que ele já era. Só em
olhar tive vontade de colocar a minha língua naquelas duas
covinhas… Nossa! Eu acho que estava ficando louca,
definitivamente estava com os parafusos soltos.
Ele me olhava como se quisesse me possuir naquele
elevador.
— Oi — sussurrei.
Ele sorriu.
— Olá, doçura. Você é nova aqui na empresa? — Seu
tom era cálido, assim como ele.
Eu pisquei chocada, ele estava flertando comigo? Ali,
naquele elevador com vista para a cidade de Manhattan? Não
sabia qual era o mais belo dos dois, o homem ou a vista. Acho
que ele era mais belo que o Sol ao nascer.
— Sim. Eu comecei na semana passada — perguntava-
me se ele ouvia o nervosismo em minha voz como eu ouvia.
— Você deve ser bem gostosa na cama. — Seus olhos
me devoravam como se ele quisesse me comer.
Eu pisquei, chocada com o que ele falou.
— O que você disse? — Eu cheguei o mais longe dele
que o elevador permitia. Eu pensei ter ouvido errado.
— Minha sala é no último andar, vamos até lá comigo e
podemos nos divertir muito juntos. — Ele olhou o número do
elevador, que subia para o nono andar, depois para mim.
— Posso fazer valer à pena. Você é tão linda!
Eu arregalei os olhos, descrente e com raiva do que
ouvia.
— Você é doido? — Eu percebi que gritava.
Seu sorriso sumiu e sua expressão se tornou sombria e
fria, como se ele fosse duas pessoas ao mesmo tempo.
— Eu faço o que quero e na hora em que quero — Seu
tom deixava isso bem claro.
Eu me encolhi por estar sozinha com aquele lunático
atraente. Certamente, eu havia acordado com o pé esquerdo ao
pelo menos o outro rapaz do Green era mais simpático do que
aquele ali.
— Você pode fazer o que quiser da sua vida que não me
interessa. — Apertei o copo, ainda olhando para ele. — O que
o seu chefe acha disso? De cantar mulheres em elevadores?
— Eu não tenho chefe. — Ele cruzou os braços e
estreitou os olhos.
Eu ri amarga.
— Ótimo! — grunhi. — Então é um playboy mimado
que acha que só por que tem dinheiro e beleza, pode chegar
assim e falar isso? As mulheres caem aos seus pés só por que
as chama para a cama? Pois fique sabendo que a minha
resposta é NÃO — Meus olhos eram frios. Embora, eu
soubesse que algumas mulheres diriam sim, não pelo dinheiro,
e sim pela sua beleza. Aposto que chovia mulheres lindas em
sua horta.
— Você não devia dizer isso a um cara como eu —
alertou meneando a cabeça de lado.
— Sim, um idiota e arrogante — sibilei. — Eu nunca
vou ficar com alguém igual a você, então pode procurar outra
mulher.
Ele me lançou um sorriso de lobo.
— Você não devia me desafiar…
O interrompi cerrando os dentes. — Não é um desafio, estou
dando minha resposta. Eu não vou sair com um homem que
acha que pode tudo. Fique ciente disso.
Ele deu um passo até ficar em minha frente, sem em
momento algum retirar os olhos de mim, parecendo um animal
cercando sua presa. Eu queria ir para mais longe dele, mas o
elevador não permitia.
— Vou provar que ninguém me desafia, pois sempre
consigo o que quero.
A minha vontade foi de jogar o cappuccino na cara dele,
mas me controlei a este impulso, afinal, não queria ser
demitida por fazer isso na empresa. Como um não podia ser
um desafio? Esse cara era louco, devia procurar um psiquiatra.
Eu olhei para ele com os olhos sombrios. — Pessoas
normais chamam para encontros e não para transar em sua
sala.
Ele me olhou com os olhos grandes como os de uma
coruja.
— Encontro? — disse essa palavra como se tivesse sal
em sua garganta. — Eu não tenho encontros.
— Então, devo dizer que você cantou a mulher errada —
Eu estava preparada para mais retaliação, mas a porta do
elevador se abriu no meu andar e caminhei para a imensa
passarela de vidro que dava para a Vênus sem olhar para trás.
Cheguei ao salão onde havia algumas crianças que
vieram para sessões conosco. Podia vê-las brincando umas
com as outras. O salão era cor de creme e com vários
brinquedos onde esperavam pela sua vez.
Diana estava em pé, olhando as crianças. Ela era uma
loira e com corpo esbelto. Não sei como não tinha namorado
ainda. Olhou-me assim que entrei no salão. Ela também era
uma psicóloga competente, nos tornamos amigas desde que
comecei a trabalhar ali.
— Eu trouxe para você — disse lhe entregando o
cappuccino.
A única que não ia com a minha cara na empresa, era
Sasha, uma de minhas chefes. Eu não sabia os motivos, já que
nunca tinha feito nada a ela e nem a ninguém.
— O que foi, Sam? — perguntou enquanto pegava o
cappuccino. — Obrigada.
Antes que eu tivesse tempo para responder, Sasha me
chamou da porta de seu escritório. Seu sorriso era de um gato
que comeu o canário. Mais parecido com o gato Cheshire[1].
Não era para ela estar com raiva por eu estar atrasada? Eu
fiquei na espreita com isso. Pelo seu sorriso, não seria nada
bom.
Ela era uma mulher linda. Seus cabelos ruivos nos
ombros eram lisos e com um rosto bem maquiado, se parecia
com modelos de passarela com um corpo magro, mas com
tudo no lugar. Ela usava um terninho rosa, parecido com o
meu, mas o meu foi comprado no brechó enquanto o dela era
de alguma grife.
— Lucky Donovan quer você na sala dele agora,
Samantha Gray — Não era bem um pronunciamento e sim
uma ordem direta e sem nenhum poder de recusa.
Eu olhei para Diana à frente e depois para ela, que
estava sorrindo como se tivesse acabado de ganhar na loteria.
— O que ele quer comigo? — sondei. Eu não sabia
quem eram todos os meus chefes, mas esse, em especial,
algumas pessoas chamavam de carrasco. Se ele me chamou
em sua sala, boa coisa não era.
— Com certeza vai demitir você — anunciou ela, bem
animada com a situação.
Meus pulmões pareciam que tinham parado de
funcionar, porque eu não conseguia mais respirar. Era como se
tivesse levado um soco na boca do estômago ou caído de uma
grande altura e me esborrachado no chão, sem fôlego.
— O que foi que eu fiz para ser demitida? — Minha voz
falhou no final.
Ela riu sem se importar comigo.
— Para o Lucky mandar alguém embora, não precisa de
motivos. Lucky Donovan pode fazer tudo, afinal, ele é o dono
desta empresa — Seu tom parecia de orgulho.
— Mas eu não fiz nada — murmurei.
— Com certeza, você é mais uma dessas vagabundas
que se deixam encantar pelo charme de Lucky e seu dinheiro,
mas não fique assim, esse é o Lucky. — Ela revirou os olhos.
— Ele não pode ver uma mulher bonita que entra em suas
calcinhas, deixando-a logo depois como algo descartável.
Igual está fazendo com você.
Meus olhos ficaram escuros, querendo estrangular
aquela víbora peçonhenta. Isso me fez ver fogo de tanta raiva.
Então, ela achava que eu fui para cama com esse cara e por
isso ele me dispensou? Isso significa que era isso que
aconteceria se eu tivesse conhecido esse homem e ficado com
ele. Ainda bem que não o conheci.
Eu queria estrangular a Sasha por pensar que eu era mais
uma da lista de tolas descartadas do meu chefe, mas não ia
bater boca com ela, senão eu voaria em seu pescoço e sairia
expulsa dali, o que seria terrível para meu currículo. Entrei de
cabeça erguida. Então, era assim que eu sairia.
— Você não sabe de nada — rosnei.
Ela deu uma risada exaltada, ignorando meu tom.
— Sugiro que vá logo, ele odeia esperar. — Ela deu
mais um de seus sorrisos de vadia e entrou em sua sala,
batendo a porta.
— Não liga para a cadela rabugenta, ela está te
provocando. Se Lucky Donovan quisesse demitir você, ele não
a chamaria em sua sala, ela mesma faria isso. — Diana me
olhou de lado — Houve algo entre você e ele?
Eu pisquei ultrajada.
— Diana, eu nem o conheço, por isso estou com medo
de que seja uma demissão — respirei fundo — Onde é a sala
dele? A víbora nem me disse, e eu não vou perguntar a ela ou
vou arrancar seus cabelos.
Diana riu, mas parecia tensa.
— No último andar da Ônix, no corredor à direita.
— Último andar. Tem certeza? — Minha voz saiu alta
com uma suspeita me batendo.
— Sim, por quê?
Eu sacudi a cabeça, o cara do elevador não podia ser o
meu chefe, tinha que ser uma coincidência e nada mais. O
filho da mãe me chamou para transar na sala dele no último
andar da Ônix, e também disse que não tinha chefe. Isso
significava que ele não trabalhava para ninguém, pois aquela
empresa era dele? Maldição! Agora estava me dando conta
exatamente do que estava acontecendo comigo. Ele iria me
dispensar por ter levado um fora? Não acredito que ele seria
capaz deste ato desumano.
— Desgraçado! — rosnei com os punhos cerrados e com
vontade de socá-lo naquela cara bonita. Como ele pode querer
me demitir só por que eu não quis transar com ele? Quem ele
acha que eu sou? Uma vagabunda? Maldito!
Eu estava o xingando em pensamento enquanto chegava perto
de sua sala. Se ele fosse mesmo me demitir, diria algumas
verdades.
— Olá, Sam. O senhor Donovan está esperando por
você — disse Nancy. Nós não éramos exatamente amigas, mas
almoçávamos juntas de vez em quando no Green. — Ele está
na sala de reuniões.
Nancy era morena e bonita, casada e possuía dois filhos
pequenos. Então, não acho que o Lucky havia ficado com ela,
não parecia-me ser uma safada ou vagabunda infiél. Isso me
fez perguntar, será que ele ficava com mulheres
comprometidas? Eu sacudi a cabeça, reorganizando meus
pensamentos, não queria pensar ou saber sobre isso.
Ela foi até uma porta de madeira grossa e abriu-a para
que eu pudesse passar.
— Entre. — Gesticulou.
Minhas mãos suavam frio devido ao meu nervosismo
com o que viesse a acontecer dentro daquela sala. Eu entrei e
olhei ao redor.
A imensa sala tinha uns dez metros de largura por dez de
comprimento, ou mais ou menos isso. As paredes eram
tomadas pela cor branca e creme, não possuía muita
decoração, como quadros e fotos ou algo que deixasse o
ambiente alegre. O lugar parecia meio triste se não fosse pelas
imensas janelas de vidros que pegavam as duas paredes à
minha frente e a do meu lado direito. A vista dali era ainda
mais linda do que a da sala da cadela.
Lucky Donovan era o homem que estava sentado na
outra ponta de uma mesa grande de carvalho branco. O
homem do elevador estava todo relaxado na cadeira e me
olhava com um sorriso no canto de boca. Garanto que foi pela
minha cara de choque por ter descoberto que ele era mesmo o
meu chefe. Apesar das suspeitas, torci para que estivesse
errada, mas não tive essa sorte.
Minha pulsação estava acelerada, com medo de que ele
viesse me demitir por não ter ficado com ele. Talvez ele não
me mande embora — pensei. Eu estava prestes a implorar por
meu emprego se fosse preciso, porque não podia perdê-lo, não
depois de ter ralado muito para consegui-lo. Além disso, tinha
a despesa do hospital que Bryan havia sido internado no mês
passado. Ele não podia pagar, já que estava desempregado.
Antes que eu me preocupasse pelas várias razões nas
quais não podia perder meu emprego, ele falou, ou melhor,
declarou com arrogância:
— Eu disse a você, sempre consigo o que quero. — Ele
se apoiou no encosto da cadeira e cruzou os braços. — Aqui
está você…
Eu expirei, me controlando, estava com raiva de sua
prepotência e arrogância, primeiro no elevador, agora ali?!
— Ninguém pode ter tudo na vida. Nem mesmo você,
que pelo visto acha que pode tudo só porque tem o poder nas
mãos — Meu tom era enojado ao dizer esse final. — Pessoas
egoístas e sem escrúpulos, que mandam seus funcionários
embora por injustiça e sem se importar com nada, sem ligar no
que isso causaria à pessoa. Você apenas pensa em seu ego
ferido por receber um maldito NÃO! — Expirei. — Aprenda a
conviver com isso.
Seus olhos escureceram e o sorriso sumiu, tornando seu
rosto sombrio.
— Eu não a demiti por não querer transar comigo —
Seu tom era frio como o seu rosto.
Eu franzi o cenho.
— Então, por quê?
Ele suspirou, como se estivesse tentando se controlar.
— Eu chamei você aqui para fazermos um acordo em
troca de você continuar trabalhando na minha empresa.
Eu pisquei, ultrajada. De todas as coisas que pensei em
ouvir, isso não era uma delas.
— Você é doido? Acha que por ter dinheiro e poder,
pode me comprar? Nem sempre o dinheiro pode comprar tudo
— Minha voz era ácida.
Seu rosto era grave.
— Eu não estou oferecendo dinheiro para você ficar
comigo, eu jamais faria isso. — Ele me lançou um sorriso de
lobo prestes a dar o bote em sua presa. — Eu não preciso de
nada disso, já que tenho um charme que deixa as mulheres
loucas.
Eu expirei para me controlar e não voar no pescoço dele.
Embora, a sua última frase estivesse mais certa do que nunca.
Ele não precisava de dinheiro para ficar com uma mulher,
apenas com um sorriso as mulheres caíam de joelhos.
— Você está usando seu poder para me demitir caso não
aceite seu acordo, não é? Tudo, porque levou um NÃO de uma
mulher — eu sibilei entre dentes. — Pessoas levam não o
tempo todo. Precisa se acostumar com isso.
— Eu não levo não de ninguém — Seu tom deixava
bem claro isso.
O que só me deixou com mais raiva dele, se é que isso
era possível.
— Meus parabéns! Você conseguiu o que queria. Eu me
demito, porque não há a mais remota possibilidade de eu fazer
acordo com um cara como você — rosnei com firmeza.
Minhas mãos tremiam tanto que achei que estivesse com mal
de Parkinson, mas era apenas a minha raiva se manifestando
por meio dos meus músculos.
Ele respirou fundo e descruzou os braços.
— Por que está com raiva? Eu nem disse ainda o que
vou propor no acordo… — seu tom parecia mais calmo agora,
embora confuso.
— Vindo de você, pode-se esperar tudo — eu disse com
amargura. — Seja o que for, a resposta é não.
Ele ignorou o que eu disse e continuou:
— Você pode ficar com o emprego se você for a um
encontro comigo. Não estou falando de sexo, apenas um
encontro e nada mais, como ir ao cinema ou a um restaurante.
Ele era louco? Ele precisava ser seriamente tratado por
psicólogos. Lucky me olhava, esperando por uma reação. Eu
não acreditava no que tinha acabado de ouvir de sua boca. Mas
para quem tinha me chamado para ir a seu escritório só para
que transássemos, ele era capaz de qualquer coisa para ter o
que queria.
— Você tem uma ideia muito errada do que significa um
encontro, devia pesquisar no Google. Ao me chamar aqui e
propor isso, sua chance de ter um encontro comigo é zero, não
que eu fosse aceitar antes disso — alisei minha testa para
aliviar minha dor de cabeça. O dia mal começou e já tinha uma
enxaqueca? Só aquele homem para ter essa capacidade para
fazer isso nas pessoas — pensei amarga. — Eu posso não ter
dinheiro como você, mas tenho orgulho e dignidade. —
levantei o queixo e olhei dentro de suas duas pedras de
esmeraldas. — Prefiro morrer atropelada ao sair daqui, ou até
pedir esmolas na rua a ter um encontro com um homem como
você.
Ele se levantou com os punhos cerrados.
— Eu dei uma chance a você, estou fazendo o que
queria — gritou, me fulminando com os olhos. — Não foi
você mesma que disse que eu precisava te chamar para um
encontro se quisesse que aceitasse o convite para sair comigo?
Estou chamando agora. Podemos fazer o que você quiser.
Eu arregalei os olhos.
— Mas isso foi antes de você me chamar para transar na
sua sala, e agora isso, usando ameaça para me demitir caso não
venha a ir em um encontro com você — sibilei — Você tem
alguma ideia do que fez? Alguma noção? Isso não é encontro,
é ameaça. Eu jamais vou ficar com um cara a base de ameaças.
Da próxima vez, checa que personalidade a mulher tem antes
de chamá-la para transar e propor acordo à ela.
Ele jogou as mãos para cima num gesto frustrado. Esse
homem era bem estranho, era eu que deveria estar frustrada e
grilada por ele achar que podia me comprar com suborno. Eu
não estava grilada, estava furiosa. O estranho, pelo que podia
ver em seu rosto era que ele realmente achava que eu fosse
aceitar sua proposta absurda.
— O que você quer então para ir a um encontro comigo?
Uma joia? Um carro ou até um apartamento…
Meus olhos estavam arregalados quando o interrompi,
porque cada vez que abria a boca, as coisas ficavam piores. Eu
não acreditava que tinha escutado tantas asneiras saindo em
um dia somente. Céus! Em que mundo ele vivia? Ele achava
que presentes caros e exuberantes conquistavam uma mulher?
Podiam até conquistar algumas, mas não a mim. Achei melhor
ir embora antes que arrancasse a cabeça dele e pendurasse em
um milharal para as aves comerem.
— Eu vou dizer o que eu quero de você — comecei
tentando controlar minha raiva. Ele esperou tenso ao ouvir o
ressentimento em minha voz. — Distância. Agora eu não
quero ouvir falar de você. Eu não quero ver você ou saber que
você existe neste mundo.
Eu dei as costas para sair dali, ignorando seus olhos
arregalados e aturdidos, por alguns breves minutos, notei dor
em seus olhos, mas não me importei com isso. Devia ter me
enganado.
— Espero nunca mais vê-lo em minha vida.
Eu ouvi Lucky respirar e expirar como se doesse.
— Você pode ficar com o emprego sem me dar nada em
troca — gritou ele atrás de mim. — Eu não vou aceitar sua
demissão.
Eu parei na porta sem virar o corpo, apenas minha
cabeça, e olhei em seus olhos que pareciam atormentados. Isso
é estranho, porque ele estaria sofrendo? Era tão prepotente que
achava que poderia comprar e ameaçar as pessoas só porque
tinha dinheiro, não se importava com nada, a não ser com ele
mesmo.
— É tarde demais para isso — respondi e saí dali antes
que desmoronasse na frente dele, mas percebi que me seguiu
para fora da sala.
— Por favor, fique — pediu ele a meia voz.
Eu pude ver que algumas pessoas que estavam na sala de
espera do lado de fora de seu escritório ofegaram com aquele
gesto. Então, supus que não falava por favor sempre. Era mais
dando ordem —, pensei amarga. O que pode tê-lo levado a ter
aquele gesto comigo? Talvez, remorso? Eu não sabia, mas
também não me importei, apenas queria sumir dali e deixar as
lágrimas caírem sem precisar segurá-las.
2 - Conflito
Lucky
Eu acabei de ver a mulher mais perfeita dentro do
elevador. Quase não me controlei e a beijei lá mesmo. Uma
coisa que nunca fiz em minha vida, porque nunca beijei
ninguém. Estranho eu sei, mas nunca senti vontade de fazer
isso. Até aquele momento.
Eu saí do elevador e fui para minha sala.
— Bom dia, senhor Donovan — falou Nancy, minha
secretária, com seu tablet em mãos. — O senhor quer ver a sua
agenda para hoje?
— Não! — Eu entrei em meu escritório e ela me seguiu.
— Eu quero que você entre em contato com Sasha e
Bastiam agora mesmo. — Olhei para ela. — O Bastiam
primeiro.
— Sim, senhor — Sua voz era séria, mas podia senti-la
encolhida. — Mais alguma coisa?
Eu me sentei em minha cadeira de madeira com estofado
de veludo preto e olhei para ela, meu rosto impassível
— Não.
Ela se virou e saiu quase correndo, parecendo estar com
pressa de sair de minha presença. Eu sabia que era rígido e
autoritário, e não iria mudar só porque algumas pessoas não
gostavam do meu jeito de ser.
Eu não tinha tempo para me preocupar com o que os
outros sentiam ou não à meu respeito, possuía normas
especifícas para quem trabalhava comigo. Quem não tinha
eficiência no trabalho, não ficava em minha empresa, porque
comigo tinha que fazer o que era ordenado e com a
competência de um profissional que sua função desempenhada
exigia.
Olhei ao redor de meu escritório espaçoso, iluminado
naturalmente pela claridade que se projetava pelas janelas em
estilo Francês.
Eu gostava daquela magnífica vista para a cidade de
Manhattan. Gostava de olhar para aquele esplendor todos os
dias, por isso comprei o prédio onde morava com a vista mais
para a cidade e para o Rio Hudson River. Isso era uma vida
confortável; nada comparado com a miséria de onde eu vim.
Deixei os pensamentos de lado e sem me dar conta estava
pensando na mulher mais perfeita que havia visto em minha
vida, e olha que já tive muitas mulheres lindas, mas igual a
essa, nunca. Seus cabelos negros e anelados chegavam até a
bunda gostosa, como uma cascata negra, e ficou mais divina
em sua pele de marfim. Mas aquela boca, vermelha e carnuda
era a coisa mais magnifica que já vi, não parecia usar batom,
então aposto que era linda naturalmente. Sua boca me fazia
lembrar de rosas vermelhas.
O seu corpo curvilíneo como uma obra de arte, embora,
parecesse não saber o quanto ficava atraente naquele terninho
preto e com saia lápis que destacava suas curvas.
Se o Ryan visse aquela garota, com certeza cairia em
cima e logo a contrataria como sua modelo para desfilar para
ele. Ryan tinha uma grande agência de modelos, a Fashion
Donovan, sabia que já tinha ficado com praticamente todas as
mulheres de Manhattan, e com certeza com todas as suas
modelos também, mas não era para menos. O cara se parecia
com um Adônis. São palavras das mulheres, não minhas. Eu
também não me queixava da minha beleza, afinal, eu
conseguia tudo… até hoje.
Garanto que ele lucraria muito bem com ela sendo sua
modelo, mas isso não iria acontecer, porque eu não deixaria
Samantha trabalhar para ele. Ela nunca desfilaria por aí com
roupas íntimas para um bando de babacas ficarem babando por
ela. O único homem que apreciaria e tocaria naquele corpo
seria eu e mais ninguém. Eu soube seu nome pelo crachá que
estava em seu bolso, que ficava em cima de seus seios
arrebitados e com certeza saborosos.
Eu pedi ao Bastiam que descobrisse mais sobre ela, já
que trabalhavam juntos, então devia ter alguma informação
sobre ela. Rapidamente ele me mandou tudo sobre a tal mulher
que me facinou só com seu jeito de ser e sua lingua afiada,
mas o que me estranhou foi saber que ela não tinha parentes e
nem pais.
Nasceu em Março de 1991 em Savannah, Georgia.
Morava no Brooklyn, mas até aí tudo certo, mas não ter pais?
Quem nessa vida não tinha pais? Mesmo que fossem uns
malditos desgraçados, que não se importam com seus filhos…
Você sempre vem de algum lugar. Talvez estivessem mortos.
Pelo que eu vi ali, ela não tinha família ou namorado, isso só
me estimulou a continuar com meu plano de conquistá-la de
uma forma ou de outra. Se o único jeito de tê-la era conquistá-
la primeiro e ir a encontros, então por que não? A droga era
que não sabia nada de encontros. Não sabia como isso
funcionava, porque a única coisa que sabia fazer com uma
mulher era fodê-las e depois dispensá-las, mas sair para um
restaurante e cinema? Nunca fiz nada
disso.

Eu iria chamá-la ali para lhe propor um acordo, diria que


se não fosse a um encontro comigo a demitiria, mas é claro
que não faria isso, apenas precisava fazê-la sair comigo. Eu
pude ver que foi mancada chamá-la para transar, devia ter
checado que tipo de mulher era antes de ir para cima. Agora
era tarde demais, porque se eu não fizesse um acordo com ela,
e usasse seu emprego e sua demissão ao meu favor, ela jamais
aceitaria sair comigo.
Quando eu propus o acordo a Sam, achei realmente que
fosse aceitar, porém ficou tão furiosa que seus olhos azuis
pareciam virar chamas ardentes.
Vendo a razão agora, percebi que foi um gesto
impensado ao fazer aquela proposta. Ela tinha todo o direito de
me rejeitar e gritar comigo. Depois que se demitiu e foi
embora, percebi a burrada que fiz, porque mesmo eu não
demitindo Samantha, eu fui o causador de ela pedir as contas,
tentei voltar atrás, mas era tarde demais. Eu, definitivamente
era um filho da puta fodido.
Samantha provou que tinha decência, não vi fingimento
em seus olhos, mas bem lá nas profundezas daquele olhar
podia ver que tinha algo de errado com aqueles olhos
preciosos. Gostaria de saber por que razão o olhar ferido de
Samantha me incomodou. Eles já estavam assim antes de ela
se demitir por minha estupidez, então não fui o causador, mas
posso ter afetado ainda mais. Não, eu resolveria isso, eu iria
trazê-la de volta, nem que fosse a última coisa que eu
fizesse.

Eu sabia que, quando entrasse em suas calças e fizesse


tudo de pervertido com Samantha a dispensaria. Isso já era
estranho, porque eu gostava de sexo sem muito toque, não
colocava minha boca nas partes íntimas das mulheres e muito
menos as beijava, mas com Samantha queria fazer tudo isso e
muito mais. O que havia de errado comigo para desejar algo
que sempre me deu calafrios só de me imaginar fazendo?
Todo o meu medo e raiva vinham do passado fatídico, e
uma infância que queria esquecer que um dia me pertenceu.
Às vezes, as lembranças vinham como uma bofetadas,
fazendo-me grunhir e gemer de dor e me retirando o fôlego.
— Senhor Donovan — chamou Silas, o gerente de
marketing.
Eu estava sozinho nesta reunião, meu braço direito
estava viajando para comprar uma nova empresa no Kansas.
Jordan Johnson. Ele trabalhava para mim e, além disso, era
meu melhor amigo desde Harvard, quando eramos ainda muito
jovens.
Esta reunião era apenas com funcionários ,discutíamos
sobre a empresa a qual desejava comprar, a Águia da
Esperança, que ficava em Toronto e beneficiava várias
crianças por todo o mundo. Kevin estava encarregado de
fechar com os proprietários.
Me joguei no sofá perto da mesa assim que expulsei
todos da sala de reunião, precisava ficar sozinho com a dor
que estava me atormentando desde que as portas das
lembranças haviam sido abertas. Olhei o teto branco. Como
essa garota trouxe essas lembranças que estavam presas no
fundo de minha mente? Não queria me lembrar de nada do
meu passado, apenas esquecer todas elas.
Eu sabia o que havia desencadeado as lembranças foram
os seus olhos, que mesmo na beleza azul celeste, eles tinham
um abismo igual quando eu via os meus olhos no espelho. E
também suas palavras, que foram as mesmas que Mary disse a
mim quando eu tinha quinze anos e fui procurá-la. Meus pais
adotivos me ajudaram a encontrar a mulher que me
abandonou. Eu queria entender seus motivos por ter me
deixado. Mas o que levei na cara? Ela nem deu chance de eu
abrir a boca e me expulsou de sua mansão, onde morava com
seu marido em Moscou.

Eu estava nervoso enquanto me remexia no banco do


carro de Miguel. Ele era um homem forte, loiro e de olhos
castanhos claros, o considerava um anjo que apareceu e me
salvou naquele dia, naquela casa.
— Fique calmo, filho, vai dar tudo certo — disse para
me tranquilizar.
Eu assenti e tentei me acalmar para deixá-lo tranquilo,
mas me perguntava o que eu estava fazendo? Por que eu
queria saber daquela mulher? Ela me deixou e foi embora, por
isso eu não deveria nem estar ali.
Eu olhei sua mansão em Moscou, três andares, tudo
luxuoso, aposto que ela tinha vários funcionários à seu dispor.
Mas eu também não reclamava, afinal, os Donovan me deram
de tudo e era grato a eles por isso.
Saí do carro do Miguel e suspirei, olhando o portão
grande.
— Eu vou esperar aqui, ou quer que eu entre com voce?
— perguntou num tom preocupado ou foi o que me pareceu.
Olhei para ele e balancei a cabeça. Não queria preocupá-
lo, então dei a melhor desculpa que eu pude. Imagina se a
reunião com minha mãe não fosse conforme estava esperando?
— Eu vou ficar bem, pode ir no seu almoço com a Lana
— Laura era sua esposa, mas a chamava de Lana, aliás, todos
a chamavam assim. — Eu tenho dinheiro para o táxi. Vai dar
tudo certo — sorri.
Ele sorriu também. Uma vez, ele me disse que gostaria
que eu sorrisse, porque eram raras as vezes que isso acontecia.
Quando se foi apertei o botão do portão e chamei no interfone.
Um homem alto e moreno veio me atender, com certeza
era o porteiro.
— O que posso fazer por você, meu jovem? —
perguntou num tom delicado.
Eu estava a ponto de responder quando um carro chegou
e parou próximo a mim, o portão foi aberto, mas a mulher saiu
do carro e me olhou de cima a baixo como se fosse um
moleque pedindo esmola em um viaduto. Eu estava com jeans,
camiseta preta com jaqueta, o que sempre usava.
Eu a reconheci assim que meus olhos verdes
encontraram os seus, que eram iguais aos meus, seus cabelos
castanhos estavam soltos nas costas, parecia que tinha acabado
de chegar do salão de beleza. O que não duvidava em nada.
Quando eu era criança, ela também era assim, mas fazia em
casa, já que não tinha dinheiro.
— O que faz na minha casa, moleque? Veio pedir
dinheiro? — Ela pegou o dinheiro na carteira e jogou para
mim. Eu não me mexi, estava trancado no chão devido ao
choque. O seu dinheiro bateu no meu peito e caiu no chão, aos
meus pés.
— Eu não quero ouvir você falar — rosnou antes que eu
sequer abrisse a boca. — Eu não quero ver você ou saber que
você existe neste mundo. Espero nunca mais vê-lo em minha
vida… bastardo.
Eu saí de lá correndo sem olhar para trás, para o monstro
que era aquela mulher que dizia ser minha mãe.

Samantha disse a mesma coisa que Mary me falou


aquele dia. Ela não sabia o que essas palavras desencadearam
na porra da minha mente fodida.
Eu confiava e amava essa mulher que me decepcionou e
me abandonou como se não significasse nada para ela, e com
certeza nunca signifiquei, porque deixou-me sozinho naquela
casa. Às vezes, chegava a pensar: por que ela não me entregou
para um lar adotivo? Ou me deixou na porta de alguém? Eu
sabia que algumas mães faziam isso quando não tinham
condições de cuidar de seus filhos, mas o que Mary fez foi
desumano. Quando pensava no falso amor que ela dizia sentir
por mim… Suas palavras… Sentia vontade de vomitar.
“Eu te amo, meu garotinho.’’
Eu poderia ter esquecido de tudo isso, como acontecia
com algumas crianças, afinal, na época eu tinha seis anos, mas
para o meu azar, eu me lembrava de tudo.
Expulsei as lembranças sombrias daquela mulher
desalmada e voltei a pensar na morena de cabelos negros,
melhor isso do que meu passado escuro.
Eu queria Samantha Gray em meus braços e na minha
cama, gritando o meu nome enquanto eu a possuía de todas as
formas possíveis, queria aquelas pernas longas enroscadas em
meu quadril enquanto estivesse dentro dela.
Eu teria essa morena, eu só não sabia como iria
conseguir fazê-la mudar de ideia à meu respeito. Ela foi a
única pessoa em oito anos que me enfrentou sem ter medo do
meu poder, sabia que as pessoas falavam sobre mim pelas
costas, mas nenhuma delas nunca chegou em mim e disse tudo
o que pensava como havia feito. Além da minha família, é
claro, acho que foi por isso que ela me impressionou, me fez
querer devora-la com minha boca, beijá-la em todos os lugares
de seu corpo, uma coisa que nunca quis ou fiz com nenhuma
outra. Mas que droga! O que eu iria fazer sobre isso?
Eu ouvi passos chegando até mim.
— O que foi, Lucky? — perguntou Ryan.
Eu tinha quase certeza de que era ele, ninguém entraria
ali sem eu chamar, porque não podia demitir meu irmão,
mesmo se ele trabalhasse para mim.
Alguém da empresa devia ter ligado para ele e contado o
meu estado louco de expulsar todos da sala de reunião, por
isso ele devia estar ali: para me checar. Nunca fiquei
dscontrolado a ponto de expulsar os meus funcionários. Meu
trabalho sempre veio em primeiro lugar. Samantha tinha me
feito largar os meus princípios e conceitos. Maldição.
Ryan era meu melhor amigo e meu irmão desde que fui
adotado por seus pais quando tinha seis anos. Eles morreram
em um acidente de carro quando fiz dezoito, Ryan dezesseis e
Rayla treze, cuidei deles até que fossem capazes de cuidarem
de si mesmos.
Eu não gostava de reviver a minha vida antes dos seis
anos, aqueles pesadelos torturantes me impediam de dormir à
noite. E tudo aquilo havia sido real e aconteceu comigo. Algo
que eu estava bloqueando para não pensar e sim focar no
agora.
— Não aconteceu nada — Minha voz era grossa igual a
de um pássaro gripado. Pássaros ficam gripados? Eu não sei,
mas parecia que algo arranhava minha garganta.
— Não me parece nada — ele retrucou, parando ao meu
lado. — Então desembucha, cara.
Eu abri os olhos e olhei para ele sentado na mesinha de
centro à minha frente.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei,
ignorando a sua pergunta, não queria falar sobre os meus
problemas.
Ele estreitou os olhos — Eu perguntei a você primeiro,
então pare de enrolação e diz logo. O que houve?
Eu me sentei no sofá e olhei para a imensa vidraça com
vista para a cidade de Manhattan. Em que lugar desta cidade
ela estava naquele momento? Eu queria entendê-la e decifrá-
la, para mim ela parecia um livro, mas fechado a sete chaves.
Algo me ocorreu e eu precisava ter certeza de alguma
maneira. Será que ela tinha namorado? Eu deveria ter
perguntado, mas achei que ela não tivesse namorado, senão ela
teria dito logo de cara, não é? E também, Bastiam teria
descoberto e acrescentado essa informação no relatório dela.
Mas se por acaso Samantha tivesse um namorado, o que eu
faria com isso? Eu podia querer fazer tudo e comprar todos,
mas nunca me envolveria com uma mulher casada ou que
tivesse um namorado. Eu tinha que acreditar no relatório que
recebi sobre Samantha e não em outra coisa, se eu pensasse
que ela tinha outra pessoa teria que desistir, e isso não fazia
parte do que eu desejava.
— Quando eu cheguei aqui hoje para trabalhar, me
deparei com uma beleza rara no elevador. — Eu estava meio
atônito — Meu Deus! Tudo nela era tão perfeito, como uma
Afrodite.
Ele titubeou.
— Só por isso está assim? — Ele riu, gesticulando para
mim — Só por causa de uma garota? Não jogou seus encantos
nela?
Eu fiz uma careta.
— Claro que sim, mas ela me deu um fora… — Me
encolhi, porque isso nunca aconteceu antes. Todas as outras
mulheres eram fáceis e teriam aceitado sem pensar no que eu
estava disposto a dar a elas, mas não Samantha Gray. Isso me
fez ficar com raiva de mim mesmo por ter sugerido dar carros,
casas e joias, se Samantha aceitasse, isso afirmaria que só
estaria interessada no meu dinheiro igual todas as outras
mulheres que tentavam ter mais de mim do que apenas uma
foda. O problema era que Samantha não queria nada de mim:
nem foda, encontros ou presentes que estaria disposto a lhe
dar. Eu nunca senti uma atração tão forte assim por ninguém
que vi a primeira vez.
Ele gargalhou feito uma maritaca. Riu tanto que colocou
as mãos na barriga, debruçando sobre ela.
— Se veio aqui para gargalhar da minha cara é melhor ir
embora — sibilei, cerrando os punhos para não socá-lo.
Ele parou de rir e tentou se recuperar, sentando-se no
sofá ao meu lado e ficou ali, como se fosse dono do lugar. Sua
testa vincou.
— Sério, irmão? Isso não é para tanto assim —
sussurrou com ceticismo. — Você sempre conseguiu tudo o
que quis nessa vida. Então, por que razão esse desânimo e
irritação?
Eu sacudi a cabeça.
— Não é esse o problema — reclamei. — É que essa
mulher me faz sentir vontade de beijá-la e querer colocar a
minha boca em cada canto de seu corpo. — Eu passei as mãos
pelos meus cabelos. — Isso nunca aconteceu antes… jamais
quis alguém como eu a quero.
Ele franziu a testa.
— Você disse que a encontrou no elevador, então, ela
trabalha aqui ou veio a negócios?
Engoli em seco.
— Trabalhava, eu propus algo a ela, mas essa garota
ficou furiosa… Foi minha culpa ela ter se demitido — Meu
tom era uma droga, e não me sentia nada orgulhoso da merda
que havia feito. — Eu tentei voltar atrás, mas ela não aceitou e
foi embora dizendo que não queria me ver nunca mais. Aquilo
foi um belo tapa na cara e bem merecido.
Ele me encarou com ar recriminado.
— O que propôs a ela para reagir assim e se demitir? —
Ele se levantou e me olhou com seriedade. — O que
aconteceu?
Eu contei a ele como a rosa vermelha entrou na sala de
reunião, brava comigo e me chamando de diversos nomes, mas
sem nunca abaixar a pose ou se rebaixar. Ela parecia ter
princípios, eu só não sabia se aquilo era bom ou ruim para o
que eu queria dela.
— Ela chamou você de playboy mimado? — Ele
sacudiu a cabeça, rindo. — Eu já gosto dessa mulher.
— O sujo falando do mal lavado? — retruquei com
dureza. — Você é igual, então não me venha com essa merda.
Ele me olhou de modo provocativo.
— Será que eu teria alguma chance com ela?
Eu lancei a ele um olhar mortal.
— Fica longe dela, Ryan! — rosnei com os dentes
cerrados. — Eu estou falando sério.
Ele levantou as mãos como que se rendesse.
— Ei! Calma, cara. Só estava brincando. — Ele revirou
os olhos. — Não está mais aqui quem falou.
— Ótimo! — soltei um suspiro frustrado. — Eu tentei
pedir para ela voltar para o seu serviço, mas…
Ele arqueou as sobrancelhas.
— O que ela respondeu?
— Que era tarde demais para isso e foi embora, dizendo
que nunca mais queria me ver em sua frente. — Eu não
entendia o aperto no meu peito por causa disso. — Tem algo
nela que me fascina. Não sei se é o olhar solitário, mas parecia
haver um abismo dentro daquele globo azul. Tinha alguma
coisa lá. E Céus! Aquela boca vermelha. Meu Deus, que boca
era aquela? Me dava vontade de beijá-la.
Ryan piscou.
— Você disse olhos azuis solitários e uma boca
vermelha? — Ele me observava com os olhos grandes, mas
parecia chocado com alguma coisa.
— Sim, por quê? — Meu tom era como lâminas
chinesas, como daquelas de filme com adagas voadoras.
Ele suspirou e passou as mãos em seu cabelo bagunçado.
— Eu a conheci de manhã, no Green. Nossa! Ela é
realmente uma beleza. — Ele suspirou. — Eu fiz de tudo para
entrar naquela sainha preta que ela usava.
Meus dentes trincaram querendo matá-lo por dizer isso,
e iria matá-lo se ele a tivesse tocado de alguma forma. Mas por
que razão isso me incomodaria, sendo que eu nem a conhecia
direito? Eu apenas a queria.
— Você jogou as suas cantadas nela? — perguntei. Não
sei se ele ouvia a raiva na minha voz como eu ouvia e a sentia
saindo de minha pele como uma radiação pronta para estourar.
Ele me olhou com ultraje.
— E quem não daria em cima daquela mulher? —
retrucou. — Ela é um inferno de mulher! — Ele imitou um
violão com as mãos.
— O que aconteceu entre vocês? O que ela disse a você
quando deu em cima dela? — Se ela tivesse caído em suas
cantadas e não nas minhas, eu iria matar alguém, ou seja,
ele…
Ele sorriu como um gato.
— Nós transamos dentro do banheiro da lanchonete do
Green — Ele cacarejou, mas eu percebi pelo tom de sua voz
que ele estava tirando sarro comigo.
Eu me levantei cerrando os punhos e louco para socar a
cara dele se não parasse de me provocar. Fiquei de frente para
ele.
— Não me faça perder o resto da minha paciência, Ryan
— sibilei entredentes. — Porque ela já se foi há muito tempo.
E não falta muito para perder o resto.
Ele suspirou.
— Fica frio, mano, porque não aconteceu nada entre
mim e ela.— reclamou, enrugando o nariz. — Ela me deu o
fora também, assim como deu em você, mas é claro que ela
não falou mal de mim ou coisa do tipo. Ela apenas disse que
homens como eu só queriam uma coisa de garotas como ela.
— Ele revirou os olhos. — Sexo e isso ela não me daria,
nunca. Nesse caso, ela estava certa. Eu não fico com mulheres
certinhas e sim com aquelas que não querem compromisso.
Eu franzi a testa.
— O que ela quis dizer com “caras como você”? —
perguntei, confuso e doido para entendê-la de alguma forma.
Ele sacudiu a cabeça em confusão.
— Eu não sei, mas pelo que percebi dessa mulher linda
— ele se interrompeu assim que eu grunhi. — Desculpe, mas é
verdade. O problema é que ela não parece se envolver com
ninguém, com nenhum homem. A garçonete do Green me
disse a mesma coisa. Ela comentou que essa garota sempre vai
lá sozinha ou com Diana, a psicóloga que trabalha aqui. Fora a
parte que ela mesma me disse que nunca ficaria comigo,
porque eu tinha dinheiro.
Eu havia notado algo nos olhos dela ao falar que eu
usava o dinheiro para conseguir o que queria, mas achei que
ela disse aquilo porque estava com raiva de mim. Agora, eu
via que não.
— Eu não sei, meu irmão, mas essa mulher não me
deixavam crer que ela fosse interesseira. — Ele me olhou de
lado. — Isso é bom, não acha? Porque tem um monte de
mulheres cercando a sua fortuna.
Eu, particularmente não tinha certeza se era bom ou
ruim, mas fiquei ainda mais fascinado pela rosa vermelha,
queria entender a sua vida e entrar fundo nela. Queria saber
tudo que gostava, porque até agora não sabia uma coisa
sequer, a não ser que ela era Psicóloga.
Eu sabia que ela morava no Brooklyn, então, com
certeza encontraria com ela, já que tinha seu endereço no meu
relatório. Precisava saber cada detalhe de sua vida particular,
saber a cor de sua calcinha e posições que ela gostava de
transar. Tentei não pensar em outros homens tocando aquele
corpo perfeito.
— Você acha que ela tem namorado? — especulei.
Ele pegou uma garrafa de whisky colocou o líquido em
um copo e bebeu.
— Eu tenho certeza que não…
Eu o interrompi.
— Como pode ter tanta certeza?
— Simples, meu irmão. — Ele bebeu outro gole de sua
bebida. — Porque se ela tivesse, teria dito a você na hora da
briga e a mim, quando dei em cima dela.
Eu sabia que havia algo a mais naqueles olhos lindos e
ao mesmo tempo vazios, algo que não sabia o que era. Isso me
motivava a querer saber tudo sobre ela. Queria saber seus
desejos profundos e torná-los realidade, todos eles. Como
podia querer tanto alguém que tinha acabado de conhecer? Eu
não sabia como, mas a desejava de qualquer jeito.
— Eu vou pedir ao Simon para pesquisar mais sobre ela
— sussurrei, pegando a garrafa de bebida de sua mão e bebi
um pouco do whisky. Quem sabe assim eu relaxasse um
pouco? Porque eu estava precisando. Simon era meu braço
direito e guarda costa fiel.
— Ela não parece ser igual a outras mulheres que
pegamos e transamos por uma noite — Ryan me disse.
— Eu sei, por isso que quero saber mais sobre ela, talvez
assim eu a entenda e consiga convencê-la a voltar a trabalhar
aqui — Precisava confiar nisso, porque só assim eu poderia
ficar calmo e não ficar louco de tanto pensar sobre ela.
Ryan sacudiu a cabeça.
— Você precisa tirar essa mulher do seu sistema, meu
irmão, e ir até a Rave e catar qualquer vagabunda que esteja
interessada em você, igual você fez ontem à noite. Deixa essa
garota quieta, isso vai ser melhor para os dois, cara, confie em
mim — Sua expressão era séria ao me olhar.
— Eu não posso… também não quero outra mulher —
eu disse, firme e com convicção. — Eu só preciso dela e tê-la
em meus braços. Nunca quis algo como eu quero essa mulher.
Ele suspirou.
— Então, pense bem, Lucky. Pense no que você
realmente quer, porque se for só uma transa, ela parece estar
fora da linha. — Seu olhar era sério ao me dizer isso. — Eu
não acho que ela transe por aí só por transar, então se
realmente só quer uma transa com alguém que não caiu de
quatro por você, desista dela, porque ela não parece ser assim.
Eu franzi o cenho.
— Como assim?
— Ela tem cara de ser uma mulher que quer corações,
flores e uma casa com uma cerca branca. — Ele revirou os
olhos com isso. — Desista antes que, no fim, você acabe
quebrando essa garota.
3- Descoberta
SAM
Após o episódio enfadonho que aconteceu na empresa
Ônix, quando eu pedi as contas da empresa Vênus Donovan e
tudo, porque não quis fazer um acordo com o patrão, eu
consegui um emprego em uma fundação para crianças com
problemas de traumas. Essa era a minha área, a minha
especialidade.
A instituição Fênix trabalhava com crianças e
adolescentes que não tinham família e nem ninguém que se
importasse com elas, por isso, eu era apaixonada pelo que
fazia, queria ajudar crianças e fazer com que elas tivessem
uma vida melhor, ou ao menos fazê-las entender e lutar para
deixarem o passado para trás e seguir em frente com suas
vidas, livres da dor e das perdas que um dia tiveram. A
instituição Fênix não era tão elegante e famosa quanto à
empresa do Lucky, mas também era uma fundação importante.
Estava adorando trabalhar lá.
Três semanas depois que comecei a trabalhar na Fênix,
fui a uma fundação em Nova York com Michael. Era um
evento para ajudar crianças que precisavam de algum suporte
psicológico e financeiro. Adorei ser convidada por Michael.
Mal começara a trabalhar e já fora convidada a ir a um evento
de prestígio como esse. No começo, pensei em não aceitar,
porque lá teriam muitas câmeras, mas não podia deixar de ir.
Então, decidi deixar o medo de lado e ir ao evento, mas ficaria
longe das câmeras o quanto possível.
Assim que chegamos ao evento no salão branco com
várias pessoas elegantes, alguns eram funcionários da empresa
Martines, outros eram convidados de outras empresas e
doadores.
Depois de ser apresentada para algumas pessoas que não
me recordo os nomes. Acho que tinha umas cem pessoas ou
mais, incluindo modelos, atores e cantores.
Um grupinho de empresários estava falando sobre
Lucky ser rígido e, às vezes, até frio. Mas suas obras eram
ótimas, como ajudar crianças que necessitavam, tirando-as da
rua e providenciando um lar feliz para elas.
Eu não sabia o que pensar ao descobrir sobre suas obras
de caridade. Desde o dia que o conheci e fui embora de sua
empresa, por que vezes me deparei pensando nele, no que o
levou a fazer o que fez. Ele tinha algum complexo de querer
tudo do jeito dele, e quando as coisas não saíam conforme
planejou, agia da forma que agiu. Eu não falo a parte de me
chamar para transar, porque isso significou que ele era um
baita de um mulherengo, mas sim por ele ter buscado uma
forma que achou ser boa para conseguir o que queria e foi
negado a ele. Foi o que o levou a tentar me propor aquele
acordo absurdo.
Depois de dois dias, a minha raiva por Lucky foi
dissipando, principalmente depois que eu soube por Diana que
ele frequentava psicólogos. Eu não sabia qual era o problema
dele, mas tinha certeza de que era um maníaco por controle.
Às vezes eu queria esquecê-lo. Às vezes não. Talvez ele
tivesse se arrependido de me propor aquele acordo, não é?
Afinal, quando saí da sua empresa, ele me pediu para voltar.
Eu que não quis… Não podia ficar, não depois do que ele fez.
O salão estava cheio de convidados de vieram ao evento, todas
elegantes. Eu estava até envergonhada no meio de tantas
mulheres lindas e com seus vestidos de festas. Eu usava um
vestido longo e preto, com decote caído nos seios, bonito, mas
nada elegante como os dessas modelos.
— Está tudo bem? — sondou Michael, me avaliando.
Eu não sabia se ele sentiu minha tensão, mas não queria
preocupá-lo. Então, me recompus.
— Sim — Eu estava ao seu lado. Olhei para frente e me
deparei com um homem moreno e alto. Acho que era o
Martins, dono da instituição Martine, conversando com Lucky
Donovan.
Eu congelei no lugar. Michael seguiu meu olhar e seus
olhos escureceram. Eu não sabia como ele tinha ficado
sabendo sobre minha desavença com Lucky, eu não perguntei
sobre isso a ele, mas tinha certeza de que ele sabia ou
desconfiava.
— Eu não sabia que ele estava aqui, Lucky não deixa
avisado que vai comparecer aos eventos, apenas aparece —
Sua voz tinha uma pontada de amargura.
Não sei por que meu peito deu um solavanco alto como
se fosse sair do peito, não entendia essa reação do meu corpo
ao vê-lo. Corpo traiçoeiro.
Tudo estava correndo bem no evento até que eu vi uma
mulher morena e corpo de modelo cercando ele com seu
encanto e sorrisos. Ele também sorriu para ela como se
estivessem em um clima, foi quando Lucky me viu com
Michael e seu sorriso desapareceu. Seus olhos, que se
voltaram para o meu chefe, eram como os de um assassino em
série.
Ignorei Lucky durante o evento inteiro, mas podia senti-
lo me observando onde quer que eu fosse como um gavião.
Algumas pessoas me fizeram perguntas como “Você não é
muito nova para ser Psicóloga?” e também “Você e Michael
são namorados?”. Eu respondi todas elas do melhor modo
possível, sem fraquejar ou ficar envergonhada pela sala estar
cheia de pessoas refinadas. Evitei a todo o custo ser filmada e
que tirassem fotos de mim, não podia aparecer na TV e
jornais.
— Michael é só meu chefe — declarei a verdade. Evitei
perguntas depois disso.
Lucky não se aproximou de mim ou falou comigo no
evento, talvez não quisesse ser visto com uma antiga
funcionária sua, ao invés de modelos que o cercavam a todo o
momento.
Martins subiu no palco que tinha do lado direito do
salão. Ele falou das obras que estavam fazendo com ajuda de
doações, como abrir mais orfanatos, lar para crianças
abandonadas e contratar mais Psicólogos que iriam ajudar e
direcionar essas crianças e adolescentes.
— Com vocês agora, Lucky Donovan que irá nos dizer
um pouco mais sobre os projetos futuros para ajudar nossas
crianças e adolescentes — falou Martins. Todos bateram
palmas para Lucky.
Lucky foi até o palco, subiu dois degraus e pegou o
microfone, depois olhou para nós no salão.
As câmeras e fotógrafos se direcionaram para Lucky. Eu
saí sem ser notada e fiquei ao fundo, escondida perto da
varanda, assim ninguém me veria. Se alguma foto minha
saísse em jornais, se meu pai descobrisse onde eu estava, ele
viria atrás de mim, isso não poderia acontecer.
Seus olhos varreram onde eu estava, mas não me
encontrou. Então, continuou procurando, tudo isso em silêncio
e as pessoas esperando ele falar alguma coisa. Depois de
alguns segundos, ou minutos, ele me achou escondida ali,
sozinha. Ele franziu a testa como se perguntasse o que eu
estava fazendo.
— Quando comecei a construir a Vênus, há oito anos
tinha um objetivo em mente: conseguir resgatar o máximo de
crianças e adolescentes, tanto das ruas como de seus próprios
pais. Nós sabemos que nem todos os pais cuidam de seus
filhos como deveriam, muitos são negligenciados dia e noite.
Isso acarreta em vários problemas psicológicos que afetam sua
mente e posteriormente suas vidas — Sua voz estava grossa e
séria — Para evitar que alguns caiam no mundo do crime,
quero fazer algo para ajudar a direcioná-las. Muitas daquelas
pessoas que se tornaram assassinas foram judiadas,
maltratadas, pisadas, estupradas e espancadas quando crianças
ou adolescentes por amigos, colegas e familiares que deveriam
protegê-los.
Muitas das vezes nós nem sabemos os maus tratos ou
desconfiamos que isso está ocorrendo, talvez com alguém de
nossa família. Ninguém sabia o que estava acontecendo
comigo na casa dos meus pais, as surras que eu recebia sem
merecer. Evitei esse pensamento e foquei no Lucky, que
continuou falando:
— Eu não me considero bom ou santo por fazer um
trabalho humanitário. Ao contrário, as pessoas dizem que sou
o diabo. — Ele piscou para as pessoas com um meio sorriso.
Todos riram de seu gesto por fazer uma piada.
Eu já ouvi isso de algumas pessoas na empresa dele,
esse era um dos muitos apelidos que ele recebia. Eu não
acreditava que ele era ruim, só complicado, arrogante, duro em
alguns momentos e frio em outros. Agora, vendo o que ele já
fez, o meu coração se amoleceu.
Lucky continuou falando um pouco mais de seus
projetos e sua meta, como comprar uma empresa que abrigaria
mais de mil jovens e crianças. Eu fiquei feliz por ele fazer algo
assim, acredito que o teria beijado por isso. Não havia nada
que me deixasse mais feliz do que ver pessoas ajudando
crianças, um ser indefeso que precisa de nossa atenção,
proteção e amor.
Lucky tinha sumido alguns minutos após seu discurso.
Eu aposto que estava com alguma mulher, porque assim que
desceu do palco, algumas mulheres o cercaram. Eu fiz cara de
paisagem, pois Michael estava comigo, mas eu não sabia o que
estava sentindo, apenas com o peito apertado, como se
estivesse faltando ar em meus pulmões.
Pedi licença a Michael e fui ao banheiro, queria ficar um
pouco sozinha, mas antes de chegar ao banheiro, eu ouvi uma
voz não muito distante.
— Ela está aqui junto com aquele ser desprezível do
Michael — era a voz do Lucky. Eu conhecia seu rosnado
muito bem.
Eu parei à porta do banheiro, pensando em entrar ou
seguir a voz dele para ver com quem ele estava falando sobre
mim, porque eu sabia que se referia a mim. Se ele estivesse
falando sobre mim com uma mulher, eu ia esganá-lo.
— Ela deve ser especial para deixá-lo inquieto assim por
semanas — observou uma voz masculina, mas, pelo timbre,
não parecia ser homem e sim um adolescente. Pelo menos não
é uma mulher —, pensei.
Lucky suspirou.
— Ela é muito especial — Seu tom era de orgulho no
começo, mas depois ficou triste. — A única mulher que me
deu um fora. E não tiro sua razão, eu daria um fora em mim
mesmo se fosse ela. Às vezes me pergunto o que deu na minha
cabeça para ameaçá-la daquele jeito?
O garoto riu.
— Você foi um cretino, admita. Mas qual a razão para
ameaçá-la a ir a um encontro? Só por que ela não quis transar
com você?
Eu cheguei mais perto da sala no final do corredor. A
porta estava entreaberta. Espiei para ver quem estava com ele.
Lucky estava de costas para mim e olhava a cidade através dos
vidros do lugar. Um garoto, que devia ter entre dezessete e
dezenove anos, estava sentado em um sofá, olhando para ele.
O garoto era loiro e forte para sua idade. Aposto que praticava
esportes.
Lucky balançou a cabeça.
— Não, eu não sei bem o porquê, mas nunca fui
desafiado antes. Então, isso me pegou de surpresa, quando dei
por mim, já tinha proposto para ela ir a um encontro comigo,
assim não iria demiti-la. Eu voltei atrás da injustiça que estava
fazendo, mas Samantha nem quis me ouvir, apenas se
demitiu. — Ele deu um gole da bebida que estava em suas
mãos.
— Eu também não iria querer ver sua cara nunca mais,
Lucky. Desculpe dizer, mas você pisou feio na bola — Seu
tom era uma crítica.
— Eu sei, por isso saí do salão para não vê-la com
Michael ou eu perderia minha mente se o visse tocá-la, sendo
que não tenho nenhum direito sobre ela.
Eu estreitei meus olhos, porque Michael não me tocou…
espera, Michael pegou nas minhas costas por uns segundos,
mas ele fez aquilo para eu descer o pequeno degrau que havia
no salão. Então, Lucky viu. Olhei para ele, que parecia triste
com isso. Por que ele se incomodaria que alguém tivesse me
tocado? Bem, estávamos quites, porque eu não gostei de vê-lo
com as mulheres no salão.
— Hoje, faz um mês que ela se demitiu por causa do
meu egoísmo. E faz três semanas que eu soube que ela
conseguiu um emprego na Fênix…
O garoto o cortou.
— Na verdade, você ligou para o Michael para ele dar o
emprego a ela — interveio o garoto. — Aposto que fez isso,
porque sabia que ela não voltaria a trabalhar para você, então
não quis deixá-la sem serviço, não é?
Eu ofeguei de choque com o que ouvi. Quer dizer que
ele me ajudou a conseguir o serviço de psicóloga na Fênix?
Michael não me disse nada. Então, deve ser por isso que
Michael pensava que tinha rolado algo entre mim e Lucky.
Meu coração se comoveu ainda mais com o gesto de Lucky ao
me ajudar. Isso provava que havia se arrependido pelo que me
fez e também que tinha um imenso coração.
Lucky riu, mas parecia triste.
— Se fosse maior de idade, pegaria você para trabalhar
para mim. — Lucky virou a cabeça para o garoto e sorriu.
— O quê? Ainda anda procurando saber tudo que faço?
Se você quiser saber mais sobre mim, é só perguntar, Logan.
Mas isso não significa que direi tudo.
Logan revirou os olhos.
— Na verdade, eu sei tudo sobre você, Lucky. É claro
que cada dia eu descubro mais. — Logan meneou a cabeça de
lado, ainda fitando o Lucky como se ele fosse um herói. Eu
não sei, mas esse garoto parecia amar o Lucky.
— Sabe, você seria idolatrado se as pessoas soubessem
realmente o que fez e ainda faz para muitas pessoas carentes e
pobres como fez para mim. — Logan estremeceu, como se
lembrasse de algo ruim. Talvez esse menino fosse um dos
garotos que Lucky já ajudou — pensei.
Lucky bufou.
— Eu não quero ser idolatrado por ninguém. Quando
ajudo uma pessoa, não quero nada em troca, eu faço porque
quero ajudar crianças e adolescentes que foram de alguma
forma prejudicadas, muitos deles poderiam ter se tornado ruins
querendo acabar com pessoas. Por isso, faço o que puder para
que isso não aconteça. Assim como Miguel fez para mim, me
resgatando do fundo do poço para ser alguém hoje —
sussurrou.
Logan sacudiu a cabeça.
— Você fez mais que isso, Lucky, você me salvou do
meu pai, que me usava como saco de pancada, tanto que eu
precisei de um transplante de fígado urgente, e você doou um
pedaço do seu. Quem nesse mundo faz isso para alguém que
não seja da família? Ninguém. Eu devo a minha vida a você,
sempre estarei grato.
— A única coisa que você precisa fazer é estudar,
garoto, e não deixar as lembranças e os pesadelos dominarem
você. — Lucky o fitava — Como estão as consultas com a
psicóloga?
Logan assentiu.
— Eu não tenho mais pesadelos do que houve comigo, e
as lembranças nem vêm mais em minha mente. Eu me
mantenho focado nos estudos e no jogo, e por falar em jogo,
eu fui contratado pelos Raydes, dá para acreditar? — De
repente, ele parou de falar e olhou para o Lucky. — Você não
teve nada a ver com isso, não é?
Lucky sacudiu a cabeça.
— É claro que não, você é bom jogando futebol
americano, Logan. Eles seriam uns perdedores se não tivessem
contratado você — disse Lucky. — Avise quando estiver
jogando que eu irei vê-lo jogar, ok?
Isso explicava Logan ser musculoso para sua idade, ele
jogava futebol americano, e pelo que via em jogos assim, os
atletas eram fortes. Pelo que sei, esse time dos Raydes era o
melhor time da temporada. Sei disso pelo Bryan, que assistia
futebol americano.
— Obrigado, Lucky — pigarreou Logan. — Eu aviso
sim.
Lucky olhou o relógio no pulso, checando as horas.
— Preciso ir embora, a festa já está quase no fim. — Ele
olhou para Logan — O que eu fiz para você é nosso segredo e
você sabe disso. Não quero que as pessoas saibam de nada em
relação a isso, porque no dia que doei um pedaço de mim a
você, não estava fazendo uma caridade, estava salvando uma
vida. A sua vida, garoto. E não me arrependo de nada.
Logan se levantou, foi até ele e colocou a mão direita em
seu ombro.
— Eu sei, sempre vou dar valor a essa segunda chance
que me deu ao me salvar — Seu tom era agradecido e
emocionado. — Amanhã, eu vou voltar para Seattle com meus
pais, mas antes quis passar neste evento porque sabia que
estaria aqui. Eles estavam loucos para te ver e falar sobre outra
instituição que estão abrindo em Seattle. Tudo graças à sua
ajuda.
— É, eu falei com eles agora a pouco. Milton e Lana
parecem realmente amar você como filho — Não era uma
pergunta e sim uma declaração. Mas tinha um nuance que não
entendi na sua voz, parecia culpa.
— Sim, eles amam, e tudo graças a você, que os
conseguiu para mim, porque ninguém adota adolescentes de
dezesseis anos, sempre preferem crianças, ainda mais quando
acordava no meio da noite gritando tão alto como se tivesse
sendo morto. — Ele estremeceu e mudou de assunto. — E
quanto à garota que me disse, não dê mais mancada, Lucky. Se
está realmente afim dela, lute, vá atrás dela e a chame para um
encontro, mas estou falando encontro com velas e essas coisas,
não em sua cama e também não a ameace para sair com você.
Lucky respirou fundo com uma risada.
— Vou manter isso em mente, expert em mulheres.
Logan deu uma gargalhada.
— Oh, eu sou mesmo. Agora, estou aproveitando minha
vida adolescente ao máximo como tenho direito. Afinal, fiquei
dezesseis anos da minha vida em cativeiro. Mas agora, com
dezessete anos, quero aproveitar tudo de bom. Não se
preocupe, não vou entrar em encrenca — falou, porque Lucky
já ia abrir a boca para dizer algo. — Mas você já passou da
idade de ficar por aí, cercado de mulheres que não significam
nada para você. Deixa isso para nossa geração.
Lucky agora gargalhou.
— Eu não acredito que estou sendo chamado de velho.
O quê? Agora sou da pré-história? — Lucky bagunçou seus
cabelos como se Logan fosse uma criança.
Esses dois pareciam irmãos falando assim. Eu queria
saber o que Lucky teve que passar em sua vida, por que se
colocou no meio quando falou das crianças que foram
quebradas pelos seus pais? O que será que houve ? Eu não
sabia, mas devia ter sido uma vida sofrida igual a minha ou
parecida.
Logan gargalhou por um segundo e depois ficou sério.
— Peça desculpas a ela, cara. Admita que errou, tudo
bem? Isso é ser humano, e você é bem humano. Mesmo que,
às vezes, você não se considere assim — falou Logan.
Lucky pareceu pensar no conselho do Logan.
— Valeu pelas dicas e conselhos, garoto. É inacreditável
receber conselhos de um adolescente de dezessete anos. — Ele
balançou a cabeça — Agora, vamos. Preciso vê-la antes que
ela vá embora com aquele cara.
— Se os dois estiverem juntos, então controle-se e não
faça besteira — advertiu.
— Com quem acha que está falando? Eu não faço
escândalo por nada, nem por uma mulher — replicou.
Logan revirou os olhos.
— Conheço você, Lucky. Quando perde a cabeça, falta
querer matar qualquer um que entre em seu caminho. Então, se
controle ao redor dessa mulher, porque senão vai piorar ainda
mais — suplicou.
— Sim, professor. — Seu divertimento era evidente em
seu tom. Ele parecia tão leve conversando com Logan, tão
diferente do homem que conheci na sua empresa. Seja quem
fosse aquele garoto, gostei dele na vida do Lucky.
Eu saí antes que me vissem, não queria ser pega
espionando a conversa dos dois. Sabia que nas últimas
semanas havia ficado com raiva de Lucky. Acho que raiva era
um pouco forte. Estava mais grilada por ele ter feito o que fez,
mas ver suas obras me fez perceber quem ele realmente era:
um homem que sofreu muito, que levou várias pancadas da
vida. Então, estar no controle era algo que Lucky não só
queria, mas precisava, como um escape, por isso não aceitou
bem o fora que lhe dei.
Fiquei esperando Lucky vir me pedir desculpas pelo que
fez, assim como Logan sugeriu que fizesse, mas ele não veio,
tentei não deixar meu coração vacilar com ele não vindo até
mim, ao invés disso ficou conversando com uma modelo, acho
que Jenifer Liston. Depois, saíram juntos do evento, mas sem
se tocar. Não era nem uma idiota para saber o que iriam
fazer…
Eu devia ficar feliz por Lucky estar com outra mulher,
não é? Isso significa que decidiu partir para outra, escolhendo
me deixar em paz. Então, eu também iria esquecer que o
conheci.
4 - Influência
SAM
Depois que vi Lucky no evento ao qual fui, fiquei mais
balançada por ele do que já estava. Naquele dia, soube
bastante coisa a seu respeito, coisas que não queria que
ninguém soubesse. Isso me fez perder o sono várias noites,
pensando no porquê de Lucky agir assim. Por que Lucky não
queria que ninguém soubesse? Mas, por outro lado, eu o
entendia, se fosse comigo, não seria diferente.
Não queria pensar em um homem mulherengo e sem
vergonha como ele. Em um momento, ele disse que queria
pedir desculpas pelo que me fez. No outro, saiu com uma
mulher ao invés de vir falar comigo. Isso me deixou pensativa,
devo admitir.
Outra coisa que estava me deixando com o coração
balançado pelo Lucky, e também confusa, era que todos os
dias eu recebia rosas vermelhas com bilhetes. Minha casa
estava parecendo uma floricultura. Nos bilhetes do Lucky,
dizia:
“Quer jantar comigo hoje, Rosa Vermelha?’’ ou “Vamos
a um encontro de verdade?’’. Ele mandou até o número de seu
telefone para que eu mandasse minha resposta. Só não pediu
desculpas como uma pessoa normal faria, mas “normal” e
“Lucky” na mesma frase não combinavam.
Fiquei confusa no início, me perguntando por que Lucky
não tinha vindo pessoalmente me perguntar isso. Por que
mandar bilhete igual a um adolescente na escola? Mas foi
melhor, porque assim eu não cairia em tentação. Mesmo
sentindo algo por ele, não poderia sair com Lucky. Acredto
que estava apenas iludido por eu não ter ficado com ele,
certeza de que assim que me entregasse, me jogaria fora igual
fez com as outras mulheres que Sasha mencionou.
Definitivamente não queria isso para minha vida.
Duas semanas depois do evento, eu já estava com raiva
de tantas rosas e nada de Lucky vir me convidar pessoalmente,
não liguei para o número que mandou. Se eu ouvisse sua voz,
não conseguiria dizer que não podia ficar com ele por vários
motivos. Primeiro, ele era rico. Segundo; mulherengo e que só
estava iludido comigo por ter dito não a ele quando deu em
cima de mim. Tinha certeza de que se eu aceitasse ir a um
encontro com ele, eu não conseguiria mais dizer “não” .
“Lucky, eu não posso aceitar ir a um encontro com você.
E, agradeço pelas rosas, mas gostaria que não me mandasse
mais nenhuma.’’ Eu sei que meu recado foi seco, mas era
melhor assim. Cortar o mal pela raiz. E se eu deixasse meus
desejos por esse homem virar algo mais? Estaria ferrada.
Eu parei de pensar em Lucky e foquei no meu trabalho.
Isso era menos complicado e menos dor de cabeça.
Na Fênix, eu tinha um escritório apenas meu, apesar de
que na Vênus também, mas lá tinha a cadela da Sasha para me
atormentar. Aqui os meus colegas de trabalho eram
maravilhosos. Ana era minha nova colega de trabalho, assim
como Diana era na Vênus.
Amava os garotos da Fênix, podia ver em alguns olhos
atormentados a mesma dor que um dia eu tive e ainda tinha lá
no fundo da minha alma. Isso era algo que não queria pensar
agora e nem nunca, já que as lembranças me faziam sofrer
ainda mais.
Meu chefe também era um homem muito bonito Mas eu
não sentia nenhum interesse por ele, não como senti pelo dono
da Vênus. O que havia de errado comigo? Será que meu gosto
era sempre por bad boys? Aquele homem da lanchonete do
Green também era quente e fez meu corpo estremecer só com
o olhar, imagina se tocasse em mim? E olha que essas
sensações não foram nada comparadas com as que Lucky me
fazia sentir, irradiava problema assim como irradiava beleza.
Eu acho que deveria ser considerado crime deixar algo daquela
perfeição andando entre nós, só para enfeitiçar mulheres tolas
e desavisadas… Como eu. Era isso! Eu era uma tola de me
interessar por um mulherengo.
Logo depois da festa do Martins, pesquisei mais sobre
Lucky, apenas por curiosidade. Era isso que eu dizia a mim
mesma em particular, sabia um pouco por meio de que ele
mesmo discursou no evento e também o ouvi conversando
com Logan. Vi nos tablóides que era visto com várias
mulheres diferentes todos os dias: ruivas, morenas, loiras.
Todas lindas, algumas modelos, pelo que notei. Mas não liguei
muito para isso, afinal, eu o vi na festa do Martins com uma,
até foi embora com ela. Embora, eu notasse que algo no fundo
do meu coração doía sempre que pensava nesse fato. Eu só
não sabia os motivos!
Também descobri que ele foi adotado pelos Donovan
aos seis anos de idade e não havia nada que relatasse sobre
Lucky antes dos seis anos de idade nas revistas e jornais. Tudo
era um grande mistério e apesar de querer investigar afundo,
não poderia, possuía meus próprios segredos.
Nesses dois meses que estava na Fênix, comecei a
trabalhar com um garotinho que tinha sete anos de idade e não
falava com ninguém desde que chegou, há seis meses. Todas
as psicólogas tentaram entrar em sua mente e fazer com que se
abrisse com alguém, mas sem êxito. Eu o peguei para tentar
ajudá-lo da maneira que pudesse. Também precisava ter fé de
que conseguiria trazer luz para aqueles olhos negros.
Estava em meu escritório pequeno, mas aconchegante e
do meu gosto. Tinha uma mesa de ferro com vários papéis e
relatórios de crianças que eu cuidava como meus pacientes,
um armário com arquivos, um sofá bege de dois lugares e uma
poltrona da mesma cor.
Shaw era um garoto que viu a mãe ser assassinada pelo
pai, este motivo era a causa de não mais conversar com
ninguém, via no fundo daqueles olhinhos negros um abismo
de dor e sofrimento, como os meus tiveram um dia.
Seu rostinho arredondado era um pouco cheio e com
covinhas, cabelos negros na altura do queixo e boca pequena.
Shaw estava sentado no sofá e eu na poltrona de frente a ele,
com uma agenda para anotar tudo o que ele viesse a dizer em
mãos. Mas Shaw nunca dizia nada, apenas segurava um
carrinho de polícia em suas mãos e não olhava em meus olhos.
— Shaw, querido, pode se abrir comigo — eu dizia isso
todas as vezes que sentava com ele. E, como as vezes
anteriores, não dizia nada, apenas ficava olhando o carrinho
em suas mãos.
Eu tentaria uma tática diferente com Shaw naquele dia,
não sabia se daria certo, mas não custava nada tentar.
— Shaw, eu vou contar uma história para você. — Eu
suspirei, olhando o jardim do lado de fora da janela do
escritório. — Uma garotinha com seus cabelos negros e
trançados como a Rapunzel… Já ouviu a história da Rapunzel?
— Eu olhei para ele.
Seus olhos negros estavam nos meus e pareciam tristes,
mas não disse nada, só assentiu.
— A garotinha adorava a Rapunzel. Ela sempre queria
que sua mãe fizesse tranças parecidas, mas a sua mãe não se
importava com ela. Sua mãe dizia que ela era feia e não seria
bonita para ninguém, que não deveria ter nascido, porque era
uma semente do mal… — Precisei respirar fundo. — Seu pai a
adorava e foi assim até que fez dez anos quando seu pai
começou a lhe bater com cinto deixando marcas, a garotinha
queria entender por que o pai não a amava mais, assim como
um dia a amou. A garotinha nunca soube o motivo. — Toda a
infância daquela menina sempre foi conturbada e com pais
monstros que a machucavam todas as noites e dias. Por anos,
ela sofreu nas mãos de quem deveria protegê-la. Ela cresceu e
até hoje tem pesadelos como consequência de seu passado
sofrido. — Eu limpei as lágrimas que caíam dos meus olhos e
desciam pelas minhas bochechas. — Essa garotinha que só
queria ser amada… sou eu.
Eu percebi que ele respirava com dificuldade, mas não
disse nada, apenas apertava o carrinho com mais força, como
se estivesse com medo de lembrar-se do que estava guardado
em sua mente.
— Eu… eu… — ele começou a falar.
Meus olhos foram para seu rosto molhado. Eu senti meu
coração se quebrando ainda mais ao ver a sua dor, mas apenas
fiquei ali, olhando para Shaw. Suas mãos estavam em punhos
e apertadas sobre o seu colo. Eu não interrompi, esperando
que continuasse.
— Quando… — respirou fundo e parecia doer —,
antes… eu brincava na cozinha esperando… mamãe…
Ele gemia com olhos fechados com força. — Ela… ela
estava fazendo comida para nós e para… ele — Shaw parecia
com medo. — Papai chegou e começou a brigar e dizer coisas
feias que não entendi… Ele bateu na cara dela e ela caiu no
chão. — Ele respirava de forma irregular, como se estivesse
em um pesadelo real. Seu peito subia e descia. — “Corre
Shaw…”, mamãe gritava. Eu queria correr, mas não
conseguia… Ele começou a rasgar sua blusa… não queria que
ele a machucasse, peguei uma garrafa de bebida, bati em sua
cabeça e gritei para que a deixasse em paz, mas… — Shaw
gritava e colocava as mãos na cabeça como se quisesse
arrancar os cabelos.
Eu fui até ele e me sentei ao seu lado, tocando seu rosto.
— Shaw! — chamei, mas ele não ouvia continuou
falando com dor na voz. O meu coração estava da mesma
forma: dilacerado. Como um pai pode fazer essa barbaridade
na frente de uma criança indefesa? Eu sabia que o desgraçado
desumano ainda estava solto nas ruas, porque havia fugiu
antes que a polícia chegasse ao local.
— Ele… me bateu e eu bati na mesa… mas eu vi tudo.
— Seus olhos estavam fechados com força, como se não
quisesse ver a cena macabra de novo. — Papai batia nela
várias vezes enquanto ela gritava.
Céus, isso era demais! Como um pai pode machucar sua
mulher na frente de seu filho? Uma criancinha de sete anos de
idade? Onde está a humanidade dele? A mesma onde está a do
Dilan, os dois eram monstros que estavam soltos nessa Terra.
— Ela lutava com ele… Ele se zangou, a xingando de
nomes feios e pegou uma faca… — Shaw começou a gritar
sacudindo a cabeça sem parar — Ele…
— Shaw! Por favor, Shaw! — Eu o puxei para os meus
braços, beijando seus cabelos — Eu estou aqui e não vou
deixar você.
Eu não sabia mais o que fazer para que ele entendesse
que essas lembranças eram um pesadelo e que estava
acordado.
— Shaw, meu amor, por favor. — Eu chorava por ele
estar tomado de dor. Queria retirar a sua dor para que não
sentisse mais nada, mas como faria isso se a minha demorou
anos? E ainda estava lá, adormecida.
Shawn passou os braços em minha cintura e apertou
forte, como se nunca quisesse me deixar ou que eu não fosse
embora.
— Por favor, nunca me deixe! — suplicou.
— Eu não vou, eu prometo. — Eu o embalei mais
apertado em meus braços, querendo tirar toda sua dor, mas não
podia, apenas o amaria para sempre. Tinha algo nele que me
fazia sentir um carinho muito especial, me fazia querer
protegê-lo, e não era só o trabalho. Com um mês e meio
cuidando dele, decidi adotá-lo anteriormente havia falado com
Michael sobre essa possibilidade.
Shaw não respondeu e não falou mais nada naquele dia,
apenas chorava em meus braços, buscando por proteção e
amor.
Todas as coisas que aconteceram de ruim em minha vida
nesses últimos meses quase fizeram-me cair, como o meu
irmão levar uma facada para me salvar do delinquente do
Dilan, perder o meu emprego na Vênus, mas apesar de todas
as coisas ruins que aconteceram, tive a chance de conhecer o
Shaw, e depois disso parece que uma luz entrou em meu peito
e fez com que me apaixonasse por aquele garotinho de apenas
sete anos de idade. Eu estava feliz por tê-lo em minha vida.
Shaw foi como um milagre que Deus enviou para mim, e acho
que também fui para ele.
Na manhã de segunda-feira, quando cheguei ao meu
trabalho, meu telefone tocou:
— Alô?
— O que há com a minha irmã favorita? — perguntou
Bryan do outro lado da linha.
Eu revirei os olhos.
— Da última vez que pesquisei, eu era a sua única irmã,
seu tonto — sorri sozinha, olhando o jardim. Ali tinham várias
plantas e flores, como jasmim e frésias.
As porcarias dos nossos pais fizeram apenas nós dois.
Graças a Deus por isso, porque se tivéssemos mais irmãos, não
sei o que eu faria caso viesse acontecer alguma coisa com eles,
mas eu estava aliviada que Lisa não podia ter mais filhos,
assim ninguém iria sofrer nas mãos daqueles dois monstros.
— Certo — Tentei não pensar no passado e focar no
agora. — O que houve?
Eu o ouvi bufar.
— Não posso ligar para minha maninha sem que tenha
acontecido algo? — retrucou em um tom magoado.
— É claro que pode, mas eu acho estranho você me ligar
em meu horário de trabalho. — Franzi os lábios. Ele sempre
ligava à noite, quando eu estava em casa, e não aqui no
trabalho.
Ele suspirou.
— Eu só quero pedir a você o telefone daquela médica
gostosa que me atendeu no hospital.
— Você é doido, Bryan?! Eu não acredito que você ligou
aqui, no meu horário de trabalho, para isso — repliquei. — Eu
não posso de repente ligar para doutora e dizer: “Oi, doutora,
o meu irmão quer ter um encontro com você, então dê o seu
telefone a ele?’’. — Eu suspirei. — E, além disso, pelo que sei,
você não precisa de mim para isso.
Meu irmão era um cara lindo e podia ficar com qualquer
garota que quisesse, era só estalar os dedos para isso. Éramos
muito parecidos fisicamente. Ele era forte, com músculos
definidos, vamos dizer que o chamava de sarado, barriga
tanquinho e uma pele branca, mas bronzeada. Tinha cabelos
negros da cor da noite e os olhos azuis atentos como os de um
lobo, iguais aos meus.
— Eu sei, maninha, estou brincando. Apenas senti
saudades de você. Desculpe por ligar antes da hora — ele
disse e depois ouvi um sorriso em sua voz. — E, querida, eu
não tenho encontros, apenas quero entrar nas calças da doutora
— ele me disse sem nenhuma vergonha. — Anjinho, eu
apenas transo e nada mais.
— Você é tão cheio de si, não é? Se não tivesse tão
longe de mim, eu bateria em você até criar juízo… — me
levantei e peguei um copo de água e beberiquei um pouco.
Ele riu.
— Se você não fosse minha irmã, eu já estaria em suas
calças, maninha, porque você é uma das mulheres mais
perfeitas que já vi e conheci. — Ele deu uma risada divertida.
Eu aposto que ele revirou os olhos. — Mas você é minha
maninha preciosa e que eu amo demais.
— Eca, que nojo! — exclamei — E, eu também te amo,
mesmo que seja um sem vergonha.
Ele riu descarado.
— Eu sou tudo que uma mulher quer e tenho tudo que
deixa elas irem às nuvens, e voltar no prazo de um segundo.
— Tendencioso, não? — revirei os olhos.
— Maninha, eu sou o sonho de todas elas assim como
você é o de todos os homens — Ele grunhiu esse final. —
Ainda bem que você não liga para os homens como eu ligo
para as mulheres. Assim, sua castidade vai estar intacta.
— Argh, vamos parar de falar sobre isso, ok? — Eu
estava corada, ainda bem que ele não estava ali para ver.
Depois, mudei de assunto: — Eu vou passar este final de
semana com você, mas não quero me deparar com mulheres
em seu apartamento — Lembrei-me da última vez que estive
lá e dei de cara com uma garota nua na cozinha. Não queria
passar por aquilo novamente.
— Certo. Então, você soube alguma coisa do magnata?
— Senti um desagrado em sua voz. — Eu fiz uma pesquisa
sobre ele e você não vai acreditar nisso! Sua fortuna é
estimada em 74 bilhões. Acho que por isso caem muitas
mulheres em sua rede, como um cardume.
O comentário me deixou sem ar, achava que ele era rico,
mas não tanto assim, embora não concordasse que o interesse
das mulheres por ele fosse apenas pelo seu dinheiro. Não, era
mais que o dinheiro, afinal ele era um homem atraente.
— Sério? Isso é bom, assim ele não vai mais procurar
por mim, já que não tenho grana e nem nada disso — sussurrei
depois de me recuperar um pouco.
Talvez seja por isso que ele não veio me pedir desculpas
pessoalmente depois do evento —, pensei amarga. Lucky
continuava mandando bilhetes, mas, essa semana, em vez de
rosas, ele começou a mandar brincos e correntes de diamantes.
Devo dizer que fiquei puta com isso, o que ele achava que eu
era? Uma aproveitadora que precisava dessas coisas caras para
ser conquistada e motivada a sair com ele? Ele era louco. Eu
iria devolver aquelas joias para ele ainda naquele dia, assim
que eu saísse do trabalho. Tinha seis pares de brincos e
correntes, não queria nem imaginar o valor que isso daria, mas
sabendo agora o quão rico ele era, podia imaginar… Olhei
para checar a caixa azul sobre a mesinha.
— Sim, ele é bastante poderoso aqui nos Estados
Unidos. Acho que chega junto com o presidente Barack
Obama. A sua ajuda com instituições beneficentes são várias,
e a maioria delas não é relatada na mídia. Pelo que descobri,
ele quer assim, mas eu não ligo para o seu poder e suas obras
beneficentes, porque preciso saber se ele a incomodou de
alguma forma — Seu tom era preocupado agora e não
brincalhão. — Se não me contar, vou bater aí aonde você
trabalha.
Eu sabia que ele faria isso, era capaz de tudo por mim.
— Não tive notícias dele — falei.
Eu não queria dizer a ele que vi Lucky há algumas
semanas no evento na Martines. E que, nesse dia, fiz
descobertas impressionantes em relação a ele, e isso me
deixou balançada, também sobre seus presentes extravagantes,
assim como me pediu para ir a um encontro com ele.
— Aqui está perfeitamente bem, Bryan. Então, não se
preocupe comigo.
— É bom ouvir isso — Ele parecia aliviado agora.
Eu decidi mudar de assunto.
— Se já começou a andar por aí com mulheres, então a
lesão está se curando bem, não é? — Com certeza estava bem
já que queria sair por aí transando com tudo o que se movesse.
Meu irmão era um mulherengo nato, mas eu o amava.
— Perfeitamente bem, maninha — sussurrou e depois
seu tom era sombrio. — Não teria ficado assim sem sua ajuda,
e graças a você, eu fui salvo…
Eu cheguei bem a tempo de chamar a ambulância para
levar meu irmão, que tinha levado uma facada na barriga. Seu
próprio pai fez isso quando foi me procurar para me levar de
volta para Kentucky. Como eu não estava em casa naquele dia,
Bryan discutiu com ele e disse que eu não iria a lugar algum.
Foi quando ele ficou furioso e esfaqueou o próprio filho, mas
para quem tentou fazer coisa pior com a filha, sabia que era
capaz de tudo. Depois disso, nos mudamos da Florida. Eu para
o Brooklyn, e Bryan para Nova Jersey. Não era muito distante
dali, apenas duas horas de carro.
Eu nunca vi tanta raiva e ódio como nos olhos do Dilan
por mim, nem parecia que um dia ele me amou. Ele achava
que eu não era filha dele, mas até onde eu sabia, a mulher que
me colocou ao mundo disse que não o traiu, mas ela também
disse que eu era a filha do mal. Minha mãe teve depressão pós-
parto, hoje, não queria saber nada deles, de nenhum dos dois
desgraçados que nos colocaram no mundo, embora eles nunca
tivessem sido realmente meus pais. Nenhum deles sabia o que
era isso.
— Agora você está bem — sussurrei, limpando as
lágrimas que desciam pelo meu rosto. Ainda bem que Bryan
não estava ali para me ver.
Ele suspirou.
— Sim, eu estou perfeitamente bem, tanto que, à noite,
eu vou a uma boate pegar algumas gatas, já que fiquei em
abstinência por causa do maldito Dilan — Seu tom era
maligno no final. — Se algum dia, eu o voltar a vê-lo em
minha frente, vou matá-lo.
Um arrepio percorreu minha espinha, como se tivessem
injetado água gelada em minhas veias.
— Não pode fazer isso, está me ouvindo? — Minha voz
se elevou um pouco e depois baixei o tom.
— Por quê? Ele tentou fazer coisas horríveis com
você…
Eu interrompi.
— Eu não estou preocupada com ele — falei baixo e
com raiva. — Por mim, ele que se exploda. Se você o matar,
vai parar na cadeia, Bryan, e vai estragar as suas chances de
entrar na polícia e realizar seus sonhos.
Ele respirou fundo.
— Não iria acontecer nada comigo, Sam — Seu tom era
seguro e confiante.
— Eu não posso ficar sem você… — eu me sentei de
novo na poltrona e passei as mãos nos cabelos em um gesto
nervoso.
— Ei, vai ficar tudo bem comigo — prometeu com a voz
suave. — Eu vou me comportar, mas…
— Eu sei… — eu me interrompi com alguém batendo
na porta —, depois a gente se fala, Bryan, tem alguém me
chamando.
— Até logo, maninha. Eu amo você.
— Também amo você — desliguei e olhei para o rosto
sorridente de Ana à porta.
— Quem é o sortudo para você dizer isso para ele? —
perguntou, curiosa.
— Não é ninguém no departamento do amor… Ele é
meu… — eu hesitei no final. Não podia dizer a ninguém que
Bryan era meu irmão. Talvez Dilan ficasse sabendo de alguma
forma sobre nós dois, mas era melhor não arriscar. — Ele é só
um amigo.
Ela riu, sacudindo a cabeça.
— Amigo, sei.
— Sério, Ana, com ele não existe nada romântico, e
tenho dó das garotas que se apaixonam por ele — murmurei.
Ela assentiu, ainda meio sem acreditar. Ana era uma
ruiva exuberante. Seus olhos castanhos eram meigos e gentis,
aliás, ela era meiga e gentil.
— Michael quer você na sala dele — ela me disse num
tom confuso.
Franzi a testa.
— Isso é bom ou ruim? — eu sondei, preocupada.
Durante esse tempo que trabalhava ali, eu nunca fora chamada
em sua sala, apenas conversamos fora de lá.
Michael era um cara bonito, até poderia rolar algo entre
nós pelo jeito que ele me olhava. Expulsei esse pensamento da
minha cabeça, tanto pelo segredo que levava quanto por não
conseguir pensar em outro homem, apenas em um par de olhos
verdes. Eu deveria ficar feliz por ter um rapaz legal igual à
meu chefe, mas não! Eu tinha que pensar no maior
mulherengo de Manhattan e que achava que objetos caros
compravam tudo ou talvez ele não tivesse noção sobre isso, já
que nunca se importou ou correu atrás de uma mulher antes.
Mas devo admitir que fiquei pensando nele durante semanas.
Ela franziu a testa.
— Eu acho que não, afinal, você não fez nada de errado
— Ana me tranquilizou. — Você é uma profissional
competente.
Eu assenti muda e fui falar com Michael. Ele estava
sentado em uma cadeira em seu escritório, o qual não era
muito grande. Havia uma mesa de madeira de Mogno, uma
estante com livros e um armário grande com arquivos de
pacientes e funcionários.
Michael estava sentado, apoiando os cotovelos na mesa
e cobrindo o rosto com as mãos. Seus cabelos loiros, que
estavam um pouco grandes, caíam sobre as mãos que
escondiam seu rosto. Percebi que seus músculos estavam
tensos através da camisa branca que trajava. Por alguma razão,
meu coração gelou dentro do peito com medo de que notícias
boas não viriam dali.
— Sr. Michael — chamei, entrando e ficando na sua
frente. Chamá-lo de senhor não era nada bom, já que ele tinha
vinte e sete anos. Três anos a mais do que eu.
Ele deixou as mãos caírem de lado e me fitou com os
olhos tristes.
— Michael, só Michael — pediu. Ele me disse isso na
primeira vez que comecei a trabalhar para ele, mas eu sempre
acabava esquecendo.
— Algum problema, Michael? — perguntei, mexendo as
mãos em um gesto nervoso.
— Sim — ele disse e apontou para a cadeira à sua frente
e do meu lado. — Sente-se.
Eu me sentei reta, como uma tábua. Olhei para ele,
esperando que falasse.
— Sam, hoje eu recebi uma ligação do Lucky Donovan
— começou ele.
O que Lucky queria com meu chefe? Eu não sabia, mas
seja o que fosse que ele tenha dito, deixou Michael
preocupado. Eu não sabia o que ele queria, mas já estava
temendo pelo pior.
— O que o Sr. Donovan queria? — Minha voz saiu
vacilante, não sei se Michael notou.
Ele respirou fundo.
— Eu sei que não tenho o direito de perguntar isso, mas
aconteceu algo entre você e Lucky Donovan? — Seus olhos
azuis intensos me avaliavam.
Eu pisquei, chocada por Michael pensar que tinha
acontecido algo entre mim e Lucky, mas talvez fosse por
Lucky ter pedido para que arrumasse o serviço ali para eu
trabalhar.
— O que ele disse? — sondei confusa.
Michael suspirou.
— Ele não disse nada sobre vocês dois…
Eu interrompi.
— Não existe e não existiu “nós dois.’’
— Existe algo, porque ele exigiu que se você não
aceitasse ir a um encontro com ele, no restaurante Old
Homestead Steakhouse amanhã à noite… ele fecharia a Fênix.
O ar ficou preso em meus pulmões, me impossibilitando
de respirar por instantes. Eu não acreditava que isso estivesse
acontecendo de novo, mas pelo menos não era uma demissão,
só uma exigência do filho da mãe. Eu não sabia o que faria,
porque se não aceitasse suas exigências e não fosse ao seu
encontro, Fênix poderia ser fechada ou eu poderia me demitir
e ir embora, mas isso iria prejudicar a adoção de Shaw,
nenhum juiz me daria a guarda dele se não pudesse sustentá-
lo, levantei meus olhos para Michael.
— O que pensa em fazer comigo? Vai me demitir caso
não aceite as exigências dele? — A minha voz estava trêmula
e com medo.
Seu olhar era triste ao esconder o rosto nas mãos de
novo, igual a hora que entrei.
— Eu realmente não sei o que fazer… — sua voz saiu
abafada pelas mãos. — Ele não me deixou alternativa. —
Michael tirou as mãos do rosto e olhou para mim. — Se você
não for falar com ele, Lucky pode fechar a Fênix…
Eu queria gritar, mas saiu só um lamento. Eu sabia que
ele era rico e poderoso, mas mandar na empresa de outras
pessoas já era demais —, pensei amarga. Mas, talvez, ali fosse
dele também.
— Ele tem todo esse poder, ou este lugar aqui também é
dele?
Ele sacudiu a cabeça.
— Não, a Fênix é minha, recebi de herança dos meus
pais. — Encostou-se na cadeira. — Mas Lucky Donovan tem
esse poder, pode fazer tudo o que quiser dentro de Manhattan,
aliás, dentro da América! Eu definitivamente estou de mãos
atadas e sem saber o que fazer! — Ele expirou, mas seu tom
era de raiva.
— Eu não entendo, porque Lucky está agindo assim
sendo que foi ele que ligou para você me colocar aqui? —
Então, o filho da puta primeiro me chama para transar, depois
me ameaça para ter um encontro com ele. Vendo que não
conseguiu nada, me manda rosas e diamantes, me convidando
de novo para ir jantar. Como não aceitei, então voltou para as
ameaças de novo. Mas, agora, devo dizer que Lucky foi
esperto, acho que ele sabia que ameaçando meu emprego, não
iria conseguir nada. Porque eu preferia perder meu serviço a ir
a um encontro à base de ameaças. Entretanto, ameaçando
fechar a Fênix, o maldito com certeza sabia que pegou no meu
calcanhar de Aquiles. Não me perguntei como ele sabia disso,
porque eu não tinha a resposta. Michael franziu o cenho.
— Como sabe sobre isso? Lucky disse a você?
— Eu nem falei com Lucky — evitei sua pergunta. —
Mas ele me mandou alguns bilhetes, me chamando para ir
jantar com ele. — Deixei de fora a parte das joias. — Eu disse
que não podia aceitar sair com ele.
Ele deu um suspiro resignado.
— Lucky Donovan é conhecido por ter tudo o que quer.
— Nem tudo — grunhi.
Eu não sabia o que fazer com isso, mas não podia deixar
que o coração de gelo do Lucky fechasse esse lugar por minha
causa, só para me atrair a sair com ele. Ali cuidava-se de
muitas crianças que precisavam de ajuda e eu não podia tirar
isso deles e do Michael, que amava o lugar.
Meu mundo parecia estar desabando de novo. Vivia
fugindo de um pai desequilibrado, monstro e agora vinha esse
cara mimado fazer exigências para que eu saísse com ele?
Tudo para que eu fizesse o que ele queria? Sua insistência não
passava de um capricho por ter levado um maldito NÃO!
Shaw, o que aconteceria com ele caso eu me demitisse?
Sentia-me destruída por dentro. Eu preferia mil vezes sofrer a
causar mais dor em Shaw, o amava como se ele fosse meu
filho, mas como poderia ajudá-lo se eu não trabalhasse mais
ali? E como conseguiria sua custódia se não tivesse um
serviço? O que eu faria?
— Eu acho que você devia conversar com ele —
sugeriu.
— Você acha que eu vou me vender para aquele
desgraçado? — rugi com meu autocontrole indo para o espaço.
Só o Lucky para trazer o pior de mim.
Ele sacudiu a cabeça.
— Não estava falando de vocês irem para cama ou coisa
assim, jamais diria isso — murmurou. — Apenas converse
com Lucky, está bem? Não vai arrancar pedaço se ao menos
tentar, porque pelo que notei, ele quer se encontrar com você.
Não no termo sexual, mas sim para conversar. Pelo menos foi
o que ele disse. — Ele me fitou — Não estou dizendo isso só
por que não quero a Fênix fechada, mas porque eu sei que vai
querer se demitir igual fez na empresa dele. Agora, pense no
Shaw, tudo bem? Porque o juiz não vai aprovar a adoção se
você não tiver um emprego fixo.
Eu encolhi os ombros sem saber o que fazer.
— Eu vou pensar sobre isso — menti. Preferia pedir
esmola a ficar um segundo no mesmo espaço com Lucky
Donovan. Mas, por outro lado, tinha o Shaw, o meu garotinho
lindo.
— Isso é bom.
Eu precisava mesmo falar com Lucky. Como ele ousava
fazer exigências de novo para que eu saísse com ele? Por que
ele não era um cara normal que chega e diz: “Estou afim de
você, Sam, aceita jantar comigo?”. Lucky era complicação,
uma das grandes e que eu não queria enfrentar mas, pelo jeito,
não tinha muita escolha.
5 - Armação
LUCKY
— Senhor — chamou Simon, entrando em minha sala.
Conheci o Simon na Inglaterra, há três anos, em uma
reunião para abrir uma de minhas empresas por lá, sabia, pela
fortuna que tinha, que precisava de um guarda costas. Afinal,
não queria ser uma vítima de sequestro. Geralmente as pessoas
que têm uma fortuna são vítimas desse crime, isso fora os
inimigos acumulados no ramo do meu império.
Simon era forte e já foi das forças armadas. Serviu no
Iraque por vários anos. Eu o contratei, precisava de alguém
assim para me ajudar e tomar conta de mim, portanto fiz dele o
meu guarda costas.
— Sim, entre. — Me sentei e olhei para ele ali, de pé à
minha frente, com as mãos ao lado do corpo e com rosto
impassível.
— Ela mandou alguma mensagem enquanto estava na
sala de reunião? — Estendi minha mão para ele, pedindo meu
celular. Eu ia chegar em Samantha na festa do Martins e pedir
desculpas por tê-la demitido injustamente. Entretanto, ela
estava acompanhada de Michael, tentei não deixar isso subir à
minha mente, fiz um alerta para ele quando pedi para contratá-
la: deixei bem claro para não fazer avanços com Samantha ou
eu acabaria com ele.
Entretanto, o filho da puta a levou no evento da
Martines. Eu só não quebrei sua cara por estarmos cercados de
pessoas e também por Samantha. Mas fiquei aliviado quando a
ouvi dizer que Sam não estava saindo com Michael, vi nos
olhos dele que o mesmo estava afim dela. Logan me impediu
de quebrar a cara dele. Eu não entendia a raiva e o aperto no
peito que estava sentindo. Para não fazer besteira, fiquei
olhando-a de longe, até saí com uma modelo que não me
lembro do nome, mas não fiquei com ela, não sentia mais
prazer, tesão e outras coisas por nenhuma mulher, apenas por
Sam. Pelo menos, o Jordan e Ryan se divertiram com ela,
enquanto eu? Fui para o silêncio da minha casa, pensando na
Rosa Vermelha, a única mulher que não me queria.
Simon entregou meu celular.
— Ela não vai aceitar sair com o senhor, e também disse
que vai devolver as joias que deu a ela — disse.
— O quê? — Eu percebi que tinha gritado. Eu não era
bom em conquistar mulher, não assim, difícil igual a Samatha.
Com as outras era só sorrir e logo teria o que queria, mas com
a Sam estava tremendamente difícil, quase impossível. Alguns
dias atrás, ela enviou uma mensagem dizendo para eu parar de
mandar as rosas e que não aceitaria o meu pedido para se
encontrar com ela. Agora isso? Olhei a mensagem dela. Ali
dizia que agradecia por tudo, mas que não aceitava ir a um
encontro comigo e devolveria as joias,.
— Maldição! Por que ela tem que complicar tudo? —
Quando Logan sugeriu que a conquistasse, achei que seria
fácil, mas via que não. Ele disse que quando um homem está
interessado em mais do que apenas sexo, que o certo era ele
conquistar uma mulher com flores, rosas e joias. Como nunca
fiz nada disso na minha vida, achei que o garoto tinha razão.
Quando as rosas não deram certo, mandei as joias, mas, pela
mensagem, ela não gostou de nenhum dos dois.
Essa mulher entrou em minha cabeça como uma droga
viciante que se por acaso eu não a tivesse, ficaria louco. Não
conseguia tirar Sam da minha cabeça por nenhum momento.
Simon suspirou com os ombros encolhidos, estava
parado próxima mesa.
— Senhorita Gray não parece ser dessas que gosta de
receber joias ou coisa caras, pelo que descobri dela, ela gosta
de simplicidade.
Ele devia ter razão, por isso ela não aceitou as joias.
Samantha tinha algo que a tornava diferente de todas as
mulheres do mundo. Eu acho que por isso não conseguia parar
de pensar nela desde o dia em que a conheci no elevador.
Depois disso, Sam esteve em meu sistema como uma droga ou
câncer sem cura.
No começo, queria desistir e lutar contra o que estava
sentindo, seja lá o que fosse, mas foi impossível esquecer
aquela mulher com um metro e setenta de altura e com olhos
azuis como o Céu no dia de verão. Eu tentei tirá-la da minha
cabeça e do meu sistema e ficar longe, sabendo que havia a
magoado e que não a merecia. Só de imaginar essa
possibilidade, me sentia asfixiado, como se meus pulmões
estivessem com defeito ou falhando em suas funções. Embora,
não soubesse o que isso significava realmente, já que nunca
senti nada parecido.
— Acho que tem razão, mas do que será que ela gosta?
— Eu queria que ela tivesse tudo que nunca teve nessa vida,
queria também realizar seus sonhos mais profundos.
— Eu tenho um palpite, senhor. Aposto que ela gosta de
coisas simples, sem tanto valor… — disse Simon —, como
chocolates. O senhor percebeu que ela agradeceu só pelas
rosas? Isso significa que ela gostou delas, não das joias.
— Você pode estar certo — sussurrei depois de pensar
um segundo.
Pelo que eu consegui descobrir, ela morava sozinha em
uma casa de aluguel no Brooklyn. Ela se formou psicóloga há
poucos meses, e era nova na área. Afinal, ela tinha vinte e
quatro anos mas, pelo que percebi, ela era competente em sua
função, fora a parte de ela amar sua carreira, assim como ela
mesma me disse naquele dia em que a conheci. Eu queria
entender mais da vida de Samantha, mas ela não estava
facilitando as coisas para mim, e isso me deixava nervoso.
— Eu acho que o senhor tem que chegar nela ao invés
de mandar bilhetes e presentes — sugeriu ele. — Ou desistir
dela de vez.
Talvez, se eu a deixasse de lado, eu poderia esquecê-la
também, mas eu achava quase impossível esquecer aquela
mulher com rosto angelical e corpo perfeitamente esculpido,
porém, eu precisava me controlar para não atrapalhar a sua
vida ainda mais do que já fiz. Uma parte de mim dizia para
deixá-la ir, e a outra dizia que queria tê-la em meus braços e na
minha cama. Qual delas venceria?
— Senhor… — Simon me interrompeu com meu
telefone tocando. Ele ficou de pé como uma estátua e com o
rosto impassível, difícil de decifrar.
— Espere um pouco, Simon, e já voltaremos ao assunto
— eu ordenei enquanto olhava a ligação de Toronto. Esta era
uma ligação importante para os meus negócios, não podia
rejeitar.
Kevin era meu representante que estava em Toronto para
comprar uma nova empresa, Águia da Esperança, que tinha
beneficiários em todo o mundo. Ela era uma das empresas
beneficentes mais importantes e, para minha sorte, eles
estavam querendo vendê-la. Estava querendo comprá-la e
fazer um projeto que ajudaria muitas crianças e adolescentes.
O meu projeto era chamado Revolução.
— Eu só espero que tenha boas notícias para mim,
Kevin — eu anunciei ao atender o celular, louco por pelo
menos uma boa notícia no meio de tudo que aconteceu.
Ele suspirou do outro lado da linha.
— Senhor Donovan, eu tenho boas e más notícias —
informou.
— Comece pela notícia boa — ordenei, já estava
cansado de ouvir más notícias.
Ele respirou fundo.
— Os acionistas da empresa Águia da Esperança
disseram que vão vender a empresa deles para o senhor, mas a
má notícia é que só venderão caso o senhor se case e fique
livre de tabloides, onde é visto enroscado em mulheres
aleatórias.
Meu queixo trincou.
— Por que a minha vida particular seria da conta
daqueles estúpidos? — eu sibilei entre dentes. Por que, desde
que eu conheci a Sam, eu não quis ficar com mais ninguém?
Aliás, eu não fiquei com mais ninguém, apenas queria ela. Eu
estava ferrado, lutando por uma mulher que não me queria,
mas era incapaz de desistir.
A linha ficou em silêncio por um minuto. Depois, ele
falou com a voz um pouco mais grossa.
— O senhor Taym, o dono da empresa, e os acionistas
contaram que estão vendendo a empresa por motivos pessoais,
e que ela é herança de família. O sócio majoritário, que é o
filho mais velho do falecido Sr. Tyne, disse que só vai vender
a empresa para pessoas de família, que respeitam o trabalho
social e beneficente. Então, se o novo dono for casado, o torna
melhor para não afundar a empresa no futuro. E não morrer o
sonho de seu pai. Mas se você não…
— Eles não vão assinar o maldito papel da venda — eu
terminei por ele, com a voz fria e dura como aço. Dei um soco
na mesa que chegou a tremer. — Maldição!
— Eles acham que você se casando, e sendo um marido
fiel e comportado, isso vai melhorar o empenho e o nome da
empresa, que tem em torno de quarenta anos nesse mercado.
— Ele suspirou, resignado com esse fato também.
Eu olhei para o teto branco, tentando me controlar para
não perder a cabeça ou arrancar a cabeça de alguém.
— Eles são uns malditos filhos da mãe — praguejei
inconformado. — Eu tenho vinte e oito anos, tenho um
império imenso e consegui tudo isso sem ajuda de uma
mulher. Eu posso muito bem cuidar dessa empresa também.
— Eu sei que sim, chefe, mas eles disseram que não tem
acordo… Ou é isso ou nada feito.
Eu dei um suspiro resignado.
— Oferece o dobro do dinheiro — disse a ele.
Ele suspirou ultrajado.
— Eu já tomei a liberdade de oferecer, senhor. — Ele
pigarreou. — Mas Colin Taym disse que isso não é só sobre o
dinheiro e, sim fazer com que a empresa não afunde no futuro.
— Eles acham que vou conseguir uma mulher assim em
duas semanas? — Meu tom era furioso e frio como uma
geleira do Polo Norte. Eu já estava inconformado, porque não
conseguia tirar Samantha da minha cabeça. E agora isso?
— Se me permite uma opinião, chefe — ele começou…
—, eu tenho uma sugestão para isso.
Eu suspirei.
— Fale então que sugestão é essa — disse em um tom
duro e seco. Peguei uma bebida e tomei. Eu estava precisando
depois dessa notícia bombástica. Por que a droga de um papel
justificaria alguma coisa? Eu nunca deixei uma empresa minha
falir, aliás, abria portas para novos serviços, e não as fechava.
Não existia a palavra “falido” no meu vocabulário. Também já
ajudei várias pessoas que se encontravam em crise financeira
com suas empresas, fiz isso mesmo que elas não fossem
minhas. Então, eu era bem capaz de fazer com as minhas
também. Eu jamais deixaria algo meu falir.
— Por que você não se casa com a Sasha? Ela é bonita,
então talvez vocês possam ser um casal — sugeriu.
Eu ri.
— Sasha é só uma funcionária, jamais me casaria com
ela. — Estremeci só de pensar nisso.
Ele suspirou.
— Não precisa existir relação sexual entre vocês dois, é
apenas um casamento de conveniência — esclareceu. —
Quando os papéis da empresa estiverem assinados, pode se
divorciar sem nenhum problema.
— Você acha que vou dar metade dos bens que eu
consegui nesses anos, a uma mulher? Uma funcionária minha?
— perguntei ultrajado.
— Vocês podem casar sem comunhão de bens e com um
contrato de que ela não terá direito a nada quando se
divorciarem. Apenas o juiz e vocês vão saber disso.
Eu franzi os lábios, pensando na ideia de Kevin que,
afinal, não era tão ruim. Eu precisava ter a Águia da Esperança
de qualquer jeito, mas jamais me casaria com Sasha ou com
qualquer outra mulher, mesmo por contrato. Eu não queria ter
isso de novo. Porque uma mulher interesseira me fazia pensar
na minha fodida mãe que foi embora para se casar com um
ricaço e isso era tudo que eu não queria.
Eu confiava em Sasha, mas jamais me casaria com ela.
Nós nos conhecíamos desde a adolescência, mas nunca
tivemos relações sexuais, apenas éramos colegas de trabalho.
Eu tinha alguém em mente, alguém muito mais eficaz, e que
não era interesseira de nenhuma forma. Mas também era quase
impossível fazê-la aceitar se casar comigo, mesmo que fosse
por uma boa causa. Precisava falar com ela de alguma forma
para convencê-la a aceitar se casar comigo.
— Diga aos acionistas da Águia da Esperança que eu
aceito a oferta deles. — Esperava fazer a Sam entender e
aceitar a minha oferta, porque senão eu estaria em uma
enrascada total e o culpado seria eu. — Eles querem um
casamento, eles terão um casamento. Se esse for o único jeito
de eu ter a Águia da Esperança, então eu faço. — Dei de
ombros, embora ele não pudesse ver.
— A Sasha…
— Não é com a Sasha que vou me casar — cortei. — É
outra mulher que tenho em mente.
— Oh.
Eu pensei ter ouvido decepção em sua voz, mas eu devo
ter me enganado, porque ele não se beneficiaria com o meu
casamento com a Sasha, o que não iria acontecer.
— Então, está tudo bem — falou ele por fim com a voz
um pouco grossa. — Eu vou deixar todos a par da situação.
Eu coloquei o copo com whisky na mesa e apertei as
têmporas, tentando torcer para ela aceitar a minha proposta.
— Faça isso — ordenei e desliguei o telefone. Olhei
para o Simon, que ainda estava de pé. — Eu preciso que
descubra alguma coisa sobre Samantha Gray, como uma
dívida ou coisa do tipo, para que eu tenha um segundo plano
caso ela não aceite se casar comigo.
Ele estreitou os olhos com esse fato.
— Senhor, eu já fiz isso — ele respondeu com a voz
firme. — Ela deve 20 mil dólares em um hospital na Flórida,
onde ela morava antes de se mudar para o Brooklyn. Seu
aluguel está atrasado. Ela fez uma renegociação com o
hospital da Flórida agora que está trabalhando.
— Eu quero que estas dívidas sejam pagas até o final do
dia, incluindo todos seus cartões de créditos, seguro de carro,
tudo que estiver atrasado, você entendeu? — ordenei.
Simon levantou as sobrancelhas.
— Sim senhor.
— Eu sei que ela é diferente, por isso eu a quero para ser
a minha esposa. — Me levantei e olhei a bela vista de
Manhattan. — Ela não é interesseira como todas as mulheres,
provei isso no momento em que não aceitou sair comigo,
preferindo se demitir. Também vejo a sua repulsa pelo meu
dinheiro.
— Isso é verdade, senhor.
Eu balancei a cabeça.
— Eu vou ligar para o Michael e montar meu plano de
conseguir fazer com que Samantha concorde sair comigo, e
assim conversaremos para eu fazer minha proposta de
casamento a ela. — Eu quase ri com isso. Como vou propor
casamento a uma mulher que nem aceita sair comigo? Eu acho
que estava louco, Samantha me deixou assim.
— Eu vou jogar com as cartas que tenho, vou propor o
acordo a ela para que se case comigo, e se ela não aceitar e eu
não conseguir o que eu quero, então deixarei ela livre e não
vou mais incomodá-la. — Passei as mãos pelos cabelos,
temendo que isso viesse a acontecer.
— Mas, senhor, você não acha melhor esperar a sua
resposta para depois pagar as dívidas? Ela pode não aceitar sua
proposta.
Eu não queria pensar na possibilidade de ela dizer “não”
para mim de novo. Só de pensar nessa palavra vindo da boca
dela, o meu coração se encolhia, ficando do tamanho de uma
noz.
— Eu não me importo com o dinheiro, sabe disso. —
Olhei para ele. — Até fico feliz em ajudá-la.
— Mas e se ela aceitar? Eu não acho que ela vai transar
com o senhor por contrato de um casamento — disse como
uma declaração.
— Eu sei. Esse casamento não será sobre sexo. Se isso
acontecer durante o casamento, vai ser porque ela quer, mas eu
jamais vou obrigá-la a isso.
— Senhor, se não tiver sentimentos por ela, então não
devia conquistá-la, ainda mais a pedindo em casamento. Ela
não merece isso.
Se fosse outra pessoa, eu teria dito para cuidar da sua
vida e deixar a minha em paz, mas Simon sabia de todos os
cantos escuros e profundos da minha mente e do meu passado.
Ele era ciente da dor que carreguei durante toda a minha vida
feito uma droga. Simon era como da minha família, a única
pessoa de fora que eu confiava cegamente, assim como Logan.
— Por que diz isso? — Embora já soubesse.
— Senhor, como eu disse, tem algo de diferente nos
olhos dela, como se ela tivesse uma dor profunda ou estivesse
sofrendo por alguma perda. Essa dor é a mesma que vejo nos
olhos do senhor.
Eu assenti.
— Será que é daí que vêm as contas do hospital na
Flórida? — Minha testa vincou. — Ela perdeu algum familiar?
— Pelo que eu consegui descobrir, ela não parece ter
família, apenas amigos. Sem namorado ou ex. Isso foi o que
eu descobri. Mas o abismo está lá nos olhos dela, senhor.
— Eu também percebi isso, Simon — sussurrei. —
Acho que isso me fez ficar mais curioso para me aprofundar
em descobrir o que ela tinha debaixo da superfície. — Eu o
tranquilizei. — Mas não se preocupe, Simon, ela não é igual a
todas as mulheres que já tive. E se eu ao menos chegar perto
de seu coração, não a deixarei escapar.
Ele sorriu aliviado. Essa era a primeira vez que eu o via
sorrir assim durante todo o tempo que esteve comigo. Ele
sempre teve o rosto como de um soldado que foi e é até hoje,
mesmo não exercendo mais a função.
— Faça isso, senhor — gracejou. — Pois o senhor
também precisa ser feliz.
Ele saiu da sala, me deixando de boca aberta como a de
um peixe. Simon me entendia e conhecia o meu lado
quebrado. Quando eu o contratei para ser o meu segurança,
pude ver a dor em seus olhos negros. Era o mesmo abismo que
eu tinha nos meus, nunca me contou nada do que houve, onde
ele estava e o que enfrentou em sua vida. Eu também não
perguntei, já que era sempre ruim falar sobre a dor. Era mais
facíl esquecer ou tentar esquecer.
Ouvi dizer que dor atrai dor, talvez fosse por isso que me
senti atraído por aquela mulher linda. Eu podia enxergar lá no
fundo do azul gelo algumas migalhas de chamas, estava doido
para tê-la comigo e poder consertá-la de seu abismo. Mesmo
que para o meu abismo não tivesse nenhuma cura.
6 - O Troco
SAM
Eu saí da Fênix sem saber o que fazer em relação ao
Lucky, e agora estava aqui, debaixo das cobertas, sem ter
ânimo para sair ou até mesmo para procurá-lo e dizer algumas
verdades que ele precisava ouvir.
Eu tinha planos de adotar Shaw, mas agora o que eu
faria? Eu o queria comigo, porque o amava como se tivesse
saído de mim.
Não disse nada ao Bryan sobre o que o Lucky fez se
soubesse, já estaria ali para me consolar e explodir a cara dele.
Eu não sabia se conversava com Lucky ou se deixava
meu emprego para proteção da Fênix, mas se isso acontecesse,
ficaria desempregada e com as dívidas que tinha, havia
negociado com o hospital da Flórida, mas será que agora
chegaria à estaca zero de novo?
Meu telefone tocava direto, mas eu ignorava, porque
eram ligações de Diana e Ana. Elas eram as minhas duas
amigas de verdade em Manhattan ou aqui no Brooklyn, onde
morava. As ligações delas eram rejeitadas, indo direto para a
caixa de mensagem. A única ligação que eu iria atender era a
de Bryan, para que ele não se preocupasse comigo e
desconfiasse que algo estivesse acontecendo.
Já eram quase sete da noite quando ouvi uma batida na
porta. Eu gemi. Quem era a essa hora da noite? Bryan não era.
Sempre quando vinha me visitar avisava antes, não fazia a
menor ideia de quem seria. A não ser que fosse a senhorinha,
dona da casa, vindo cobrar o aluguel, pois logo eu seria
despejada.
Eu fiquei quieta, para quem quer que fosse na porta
pudesse ir embora, já que eu não estava com ânimo para
atender ninguém.
— Samantha! — Ouvi o grito da Ana. — Eu sei que
você está aí, então é melhor abrir a porta ou eu vou arrombá-
la.
Eu quase revirei os olhos ao imaginar a doce Ana
arrombando uma porta de madeira, quebrando as suas unhas
bem feitas. O inferno devia estar congelando nesse momento.
— Por favor, Sam, precisamos falar com você —
chamou Diana da porta também.
O que elas faziam ali em minha casa a essa hora? Por
que razão Diana estava ali? Se Lucky soubesse que sua
funcionária estava ali, o que ele faria? Ela era tão linda! Por
que Lucky não notou ela em vez de mim? Ao pensar nele com
outra mulher, meu estômago revirou por dentro, como se
tivesse comido algo que me fez mal. Eu era uma completa
estúpida! Como podia pensar em um homem que ameaçava
fechar um lugar que beneficia tantas crianças só para ter um
encontro comigo?
Eu podia ir até o Lucky e conversar com ele, mas não ia
fazer isso, porque se eu fizesse ele venceria. Eu era muito
orgulhosa para fazer o que ele queria, por isso preferia ficar ali
até definhar.
Meu pai me perseguia, mas é claro que ele não tinha o
poder que o Lucky possuía. Por isso até hoje Dilan não nos
achou, há alguns meses ele machucou Bryan querendo saber o
meu paradeiro, é claro que ele não conseguiu. Mas eu tinha
certeza que seria diferente com Lucky, afinal ele era muito
rico. Acho que era tão poderoso que poderia comprar um
presidente — pensei amargamente.
Eu sabia que Ana e Diana não desistiriam até eu as
atender à porta, me levantei da cama à contra gosto.
— Oh, meu Deus! — Ana exclamou horrorizada, me
olhando de cima a baixo. — Você foi violentada?
Eu pisquei atônita, olhando meu corpo para ver o que
tinha horrorizado ela. Eu estava descalça com um shortinho
curto e uma regata e com o corpo todo amassado. Com
certeza, meus cabelos pareciam um monte de feno onde os
passarinhos poderiam até fazer ninhos.
Diana sorria para mim.
— Parece que você teve uma relação amorosa com um
cara quente — ela me disse.
Eu bufei.
— Dificilmente, já que para uma pessoa ter sexo, é
preciso ter um parceiro, o que não é o meu caso neste
momento — respondi, ficando de lado para elas entrarem em
minha humilde casa. — Entrem.
A casa era pequena, com dois quartos, sala e cozinha. A
sala tinha dois sofás, um de dois e outro de três lugares, e uma
mesinha de compensado, onde ficava uma TV antiga e
pequena. Eu ia jogar fora as rosas que ele havia me dado, mas
não consegui. Então, as guardei no meu quarto. Já a joia eu iria
devolver assim que estivesse pronta para enfrentá-lo.
Elas entraram e olharam todos os cantos, como se
esperassem encontrar um homem saindo de algum lugar.
Eu ri sem humor.
— Não tem nenhum homem aqui se é isso que estão
procurando — eu garanti às duas.
— Você parece horrível! — observou Ana.
— Como se um trem tivesse me atropelado — murmurei
com gosto amargo na boca.
— Um trem chamado Lucky Donovan, o Deus do sexo?
— anunciou Diana. — Ele vai pagar pelo que fez a você. E vai
pagar caro hoje.
Eu ergui as sobrancelhas.
— Como você vai fazer isso sendo que ele é seu chefe?
— sondei.
Ela sorriu.
— Você verá.
— Eu não quero que você tenha problemas com ele por
minha causa, Diana — sussurrei.
— Não sou eu que vai fazer algo a ele, mas sim você —
ela gesticulou para mim.
Eu franzi o cenho.
— O que você quer dizer? Já ouviu aquele ditado que
diz: “Merda quanto mais mexe, mais fede?’’
— Ditado bem feio! — Diana fez uma careta. — Viemos
levar você ao clube de dança que Lucky frequenta.
Eu pisquei.
— O quê? — Eu quase gritei. Isso se minha voz tivesse
forte. — Eu não quero vê-lo hoje, ainda mais em um clube
onde vai estar cercado por mulheres. Além disso, hoje é
segunda, não deve estar funcionando, então como pretende
levá-lo até lá? — dentro do meu peito deu uma pontada
dolorida ao pensar nele com outra mulher.
Diana levantou as sobrancelhas.
— Eu vou lá direto, e sempre o vejo sozinho, sem
nenhuma mulher. Isso é bem estranho, já que sempre está, ou
melhor, estava rodeado de mulheres, mas não nesses dois
meses — Ela parecia falar consigo mesma no final. — E a
Rave funciona todos os dias da semana.
Ana sorriu, batendo palmas como uma criança ao fazer
uma travessura.
— Então, pensamos que, de um jeito torto, o Lucky
realmente está na sua…
Eu a interrompi.
— Eu não quero ouvir nada sobre Lucky por um bom
tempo… — Apontei para mim mesma. — Ele fez isso comigo
e agora pareço ter saído de um filme de terror. Daria até para
fazer um dos filmes do Tim Burton sem precisar colocar
maquiagem.
— Por isso precisamos ir ao clube Rave para fazê-lo
pagar — interveio Diana. — Marquei com ele, dizendo que
nos encontraríamos lá, mas eu usei seu nome, dizendo que
estaria lá e que aceitaria encontrar com ele.
Eu franzi o cenho.
— Como ir a um encontro com ele vai fazê-lo pagar por
tudo o que me fez? — perguntei ironicamente. — Se vocês
não se esqueceram, é isso que Lucky quer, um encontro, por
isso estou assim hoje, por não ter aceitado.
— Você vai chegar no Lucky e mostrar que todo esse
material aí — apontou para o meu corpo. — Vai dizer que
mesmo que ele deseje o seu corpo, jamais vai tê-lo. — Sorriu
animada. — Então você vai pegar o cara mais sarado e gostoso
da festa e esfregar na cara dele.
Eu arregalei os olhos.
— Eu não estou afim de dar amasso em ninguém —
rosnei com raiva de mim mesmo, porque só queria dar
amassos em um único homem, no Lucky.
Eu queria deixá-lo louco quando me visse na boate
dançando, me divertindo e o ignorando. Eu sabia que Lucky
odiava ser ignorado. Depois, eu queria bater em mim mesma
por pensar isso. Eu deveria correr para bem longe dele e não o
provocar.
Ele é o cara que você tem que dar o troco, não se
esqueça de que ameaçou destruir seus sonhos e agora está
perseguindo você, entoei essas palavras ao meu cérebro como
um mantra. Talvez assim eu o odiasse, e não o contrário.
— Vamos lá, Sam, você não pode ser assim tão certinha,
não é? — insistiu Diana. — Não precisa transar com o cara se
não quiser, apenas esfregar na cara do meu chefe.
— Faz Lucky Donovan comer poeira — pediu Ana.
Eu apertei os olhos por um minuto e depois olhei para
Diana.
— Por que Lucky não fica em cima de você em vez de
mim? — reclamei. — Afinal, você é linda, além disso, é
também funcionária dele.
Ela sorriu com candura.
— Porque, eu tenho uma namorada.
Eu pisquei chocada.
— Namorada? Tipo… uma mulher? — indaguei,
estupefata por nunca ter notado isso antes.
Ela deu de ombros.
— Sim. Então, eu não sou um partido para o meu chefe.
— Ela levantou uma sobrancelha feita por sombra negra. — Já
que eu gosto da mesma fruta que ele gosta.
Eu fiz uma careta, mas assenti muda, porque eu nunca
fui preconceituosa com ninguém sobre sua vida sexual. As
pessoas ficam com quem quiserem, assim eu pensava.
— Tudo bem — falei, desistindo. — Vamos lá dar uma
lição no bastardo de uma figa. Eu apenas preciso de um banho.
Elas gritaram, animadas como duas crianças ao ganhar
seu presente preferido. Eu as deixei na sala e fui tomar banho e
me arrumar para enfrentar o dragão. Se eu ao menos pudesse
domá-lo, seria bom, mas isso era algo impossível.
Meia hora depois, eu estava com um vestido prata
comprido, com costas nuas, de alça fina e com decote caído no
meio dos seios. Ele era apertado em meu corpo e mostrava
todas as curvas que tinha. Bem sexy. Coloquei um sapato preto
de salto alto. Deixei meus cabelos soltos nas costas para cobrir
um pouco a nudez. Passei rímel preto para ressaltar o azul
intenso dos meus olhos ou tentar cobrir o inchaço pelo choro.
Não passei batom, já que minha boca era praticamente
vermelha.
— Minha nossa! — Ana bateu palmas. — Lucky vai
cair de quatro por você.
— Acho que todos os homens do Clube Rave —
declarou Diana, sorrindo. — Mulher, você está um maldito
avião.
Eu revirei os olhos. Não queria Lucky de quatro, apenas
o queria fora da minha vida de uma vez por todas. Eu senti um
aperto insuportável no peito ao pensar nisso, tão forte que me
impossibilitou de respirar por um minuto. Bryan sempre dizia
que eu era fácil de ver além dos defeitos das pessoas, ver algo
de bom dentro delas. Do meu pai, eu vi um dia, mas não mais.
E minha mãe? Nunca, ela sempre me odiou.
Lucky, apesar do jeito torto com que fazia as coisas,
tinha muitas ações que ele fazia que tocavam meu coração,
como ajudar crianças. Isso valia mais do que qualquer coisa
para mim, acho que por isso que não conseguia odiá-lo ou não
gostar dele por se meter na minha vida.
Eu tentei ouvir os que as duas falaram dele. Elas me
disseram que Lucky não beijava ninguém, e era isso o que
faria para ele desistir. Diana disse que, uma vez, viu uma
garota o beijando sem sua vontade e parecia que ia matá-la.
Então, ela teve a grande ideia para que eu o beijasse. Eu
achava estranho um homem nunca ter beijado ninguém em sua
vida, como podia fazer sexo sem beijo? Mas o meu temor era:
e se eu não conseguisse esquecer o beijo depois? Por que eu já
pensava nele mais do que eu deveria e gostava sem beijo,
imagina com o beijo?
Chegamos ao clube, que ficava a duas quadras da Fênix.
O lugar era grande com dois andares. Na entrada, tinha uma
placa com o nome Clube Rave, que piscava igual a um pisca-
pisca, verde e vermelho.
Assim que entramos, me deparei com um cheiro crítico,
misturado com feromônios no ar, acho que para apimentar o
lugar. Nós três fomos direto para o bar.
Dentro, estava abarrotado de gente. Tinha um brilho que
vinha da bola que girava no teto, como se ali tivesse várias
estrelas brilhantes piscando e lançando laser de luz colorida no
salão inteiro.
— Bonito!
— Sim. — Diana sentou no banquinho do bar, ao meu
lado direito, e Ana do esquerdo.
Eu olhei para o bartender que servia as bebidas. Ele era
novinho, moreno com cabelos lisos e rosto de bebê, parecia ter
uns dezenove anos, mais ou menos.
— Quero um whisky — pedi assim que me sentei.
Ele me olhou com um sorriso.
— Identidade… — pediu ele.
Eu ri.
— Olha para mim, eu pareço ser menor de idade?
Ele me deu um olhar de cima para baixo e pareceu
gostar do que viu, e depois riu inocente.
— Você parece que vai fazer 18.
Eu sorri, embora sem vontade.
— Desculpe desapontá-lo. — Embora não sentisse. —
Eu tenho vinte e quatro anos. Então, eu não preciso de uma
identidade.
— É melhor ser chamada de nova do que de velha. —
Diana sorriu e piscou para o garoto da bebida. Não sei por que
razão ela flertava com homens se jogava no time oposto?
Eu olhei ao redor à procura dele, já que elas disseram
que Lucky estaria ali. Então, ele deveria estar em algum lugar
perto. Olhei as pessoas dançando.
— Se você está procurando por ele, não vai encontrá-lo
na pista de dança. — Ana apontou para um canto do outro lado
do salão imenso e cheio de pessoas. — Ele não dança, pelo
menos nunca o vi.
Tinha uma cabine de seis metros, parecendo uma sala
VIP. Tudo para quem pode, não é? Dentro da sala VIP tinha
quatro homens. Um deles com duas mulheres, uma de cada
lado. Reconheci o cara sexy do Green.
— Quem é o cara com as duas loiras? — sondei,
avaliando.
— Ryan, irmão de Lucky — respondeu Diana. — Tão
bonito e quente quanto o irmão mais velho.
Eu assenti e olhei o outro cara ao lado de uma morena.
Seus cabelos eram loiros nos ombros e olhos, acho que azuis,
não dava para ver direito por causa das luzes piscando, mas de
longe parecia o Thor. Sasha estava lá também, com um cara
moreno vestido com terno e gravata.
Tinha uma loira com cabelos platinados ao lado de
Lucky, mas os dois não pareciam estar se tocando. Lucky
estava de cabeça baixa, olhando seu drink no copo. A loira
olhava para todos os lados como se procurasse alguém ou
esperasse por alguém, os dois pareciam estar entediados.
— Hora do show — falei, bebendo um pouco de whisky
que desceu queimando a minha garganta. — Isso é para eu ter
mais coragem.
— Nós vamos ficar olhando daqui — disse Ana.
— Faça-o comer o pão que o diabo amassou —
encorajou Diana.
Eu revirei os olhos, depois respirei fundo e fui em
direção à cabine VIP deles. Eu ouvi assovios sendo
direcionados a mim. Então, supus que eles gostaram da minha
aparência. Eles abriam caminho para que eu passasse, como se
eu estivesse em uma passarela desfilando. Eu os ignorei e
segui em frente.
Subi os dois degraus que davam na cabine dele,
composta por duas paredes, acho que de madeira, mas pintada
de branco. Dentro do espaço pequeno, tinha uma mesa de ferro
comprida, com seis cadeiras, o guarda costas de Lucky
impediu que eu seguisse, mas assim que viu de quem se
tratava, se afastou e me deixou entrar. Então, supus que ele me
conhecia de algum jeito.
— Nossa! — disse o loiro parecido com Thor. — Com
essa doçura, eu iria até o fim do mundo.
Ryan olhou para mim e para o irmão com um olhar
curioso.
— É justamente isso que Lucky está fazendo — ele
disse e depois sorriu para mim. — Você se lembra de mim?
Eu olhei para ele e suas duas loiras siliconadas.
— O cara do Green…
— Ryan Donovan — disse com um sorriso travesso. —
Irmão do Lucky.
Eu assenti e olhei para o Lucky, que me olhava como se
não acreditasse que eu estivesse realmente ali, à sua frente. Ele
se levantou e deu um passo em minha direção. Diana não falou
a ele que eu tinha aceitado vê-lo em um encontro? Por que a
surpresa, então? Talvez achasse que eu não viesse.
— Sam… — meu nome saiu tão intenso de sua boca que
parecia uma melodia.
— Então, essa é a linda morena em quem não para de
pensar? — conferiu o loiro com Lucky.
Tentei não deixar meu coração gravar o que acabara de
ouvir, que Lucky não conseguia parar de pensar em mim.
— Ela não é tão perfeita assim — arrulhou Sasha, com
uma pontada de inveja em sua voz.
— É claro que ela é — retrucou a loira platinada que
estava ao lado do Lucky. Ela era ainda mais bonita
pessoalmente: cabelos longos e os olhos castanho claros, usava
um vestido branco cashmere com alças grossas. — Você que
está com inveja, Sasha.
Eu os ignorei e apenas fitava Lucky, que estava de pé e
com as mãos ao lado do corpo, parecia nervoso e feliz ao
mesmo tempo. Eu me aproximei e pude sentir o seu cheiro de
lavanda e perfume Dolce & Gabbana Eu me aproximei ainda
mais dele a ponto de nos tocarmos. Olhei em seus olhos verde
floresta e quentes.
— O que você quer de mim? — perguntei com a
naturalidade que eu consegui, que não era muita.
Seus olhos avaliavam o meu rosto, como se ele
esperasse que eu estivesse fazendo alguma piada com ele, e
depois me deu um sorriso libidinoso.
— Eu quero você — Sua voz era de molhar a calcinha,
ou seja, a minha calcinha branca de renda que estava usando.
Eu fiz algo sem pensar nos custos, mas também sabia
que não tinha outro jeito. Mas se ele não gostava de beijar
ninguém, então não iria gostar do meu beijo também. Quem
sabe assim ele desistisse de uma vez por todas de mim? Talvez
me mandasse para o espaço. Mas por que razão eu estava
nervosa?
Não pense, apenas aja — sussurrei para mim mesma em
pensamentos.
Joguei os braços em seu pescoço e coloquei a minha
boca sobre a dele, que se encontrava aberta por causa do
choque. Eu sentia seu corpo tenso e tremendo, como se
estivesse triscando em um fio desencapado. Parecia que Lucky
estava com muita dor. Ele não correspondeu o beijo, apenas
parecia petrificado.
Eu ouvi o riso de satisfação de Sasha por ele não
retribuir o meu beijo, mas eu a ignorei, porque isso fazia parte
do plano. Então, por que meu coração doía tanto? Ele estava
apertado com a rejeição do Lucky, mas não era isso que eu
queria? Eu abri os olhos, ainda com a boca na dele, e percebi
que seus olhos verdes pareciam chamas ardentes. Lucky
parecia estar travando uma luta feroz contra ele mesmo. Era
possível ver que ele queria o beijo, mas parecia que retribuir
doía muito. Isso me cortou fundo, porque percebi que
realmente não beijava ninguém, talvez teve algum trauma na
infância ou na adolescência, e essa era uma barreira que ele
havia colocado. Eu não queria ser a causadora de seu
sofrimento,
Eu estava prestes a empurrá-lo e parar com o beijo que
comecei quando ele apertou sua mão em minha cintura, a outra
em meus cabelos e me beijou com tanto fervor que parecia que
estava faminto há dias e de repente via um banquete em sua
frente. Sua mão esquerda alisava a pele nua das minhas costas
me apertando mais contra o seu corpo. Eu pude sentir a sua
necessidade e desejo tão fortes que achei que fosse me possuir
ali mesmo, devorava a minha boca como se estivesse fazendo
sexo com ela.
Droga, não foi assim que eu pensei que seria. Era para
me rejeitar e não devorar a minha boca assim, na frente de
todos. Podia detectar o seu corpo rígido e maxilar tenso, mas
ele parecia não querer parar tão cedo, como se não tivesse tido
o suficiente. Eu tinha que afastá-lo agora ou não conseguiria
mais fazer isso. Minha boca doía e parecia inchada por causa
da força do seu beijo, fora a parte do ar que faltava em meus
pulmões. Este corpo traiçoeiro era uma droga.
Volte para o plano, Sam, pedi a mim mesma.
Eu tirei as minhas mãos de seus cabelos lisos e sedosos e
empurrei seus ombros. Eu pensei que ele ia lutar, mas ele se
afastou, ofegante, e depois me lançou um sorriso devastador.
Aliás, ele era devastador. Esse sorriso me custou todo o
autocontrole para não rasgar as suas roupas ali mesmo, sem
me importar que estivesse em uma boate lotada de gente.
Céus, o que havia de errado com meu cérebro? Devia estar
com defeito, precisava urgente de um neurologista.
— Você deve saber que não beijo ninguém, não é? —
Seus olhos se estreitaram nos meus.
Eu suspirei ressentida.
— Pelo visto é conversa fiada, já que devorou minha
boca — retruquei com a voz ácida.
Ele arregalou os olhos.
— Então, você achou que me beijando faria com que eu
desistisse de você — Não era uma pergunta.
— Pois deveria — repliquei. — Porque você não me
quer…
— É claro que eu quero você — declarou com tom firme
e convicção. — Eu quero você como nunca quis nada em
minha vida. — Seu sorriso agora era megawatt. — Tenho
certeza que meu beijo comprovou isso.
Eu dei um suspiro frustrado.
— Não, você acha que me quer, mas isso não é verdade.
Ele me olhou de lado.
— Acha que não quero você? Eu nunca fiquei atrás de
uma mulher como eu fiquei por você por dois meses. Isto só
prova o que eu quero.
Eu cortei.
— Essa é a diferença entre querer uma coisa e necessitar
de algo. — Tirei meu cabelo do rosto e joguei para trás em um
gesto frustrado.
— Qual é a diferença? — retrucou o loiro de olhos
azuis. — Não é a mesma coisa?
Eu lancei a ele um olhar assassino.
— Jordan — reclamou Lucky.
Eu suspirei, me acalmando. Depois, olhei para o Lucky.
— Querer uma coisa é como você querer um carro
esportivo, sofá ou um negócio… — expirei —, mas necessitar
de alguma coisa é algo como o ar que respira ou a comida que
você come. Algo que você não pode ficar sem.
Ele arregalou os olhos.
— Você está falando em amor?
— Sim. Eu quero um cara que me ame, uma pessoa que
pense que sou seu mundo, assim como ele seria o meu.
Quando você ama, quer fazer tudo por ela. Não estou falando
em dinheiro, estou falando em dar coisas simples, como uma
rosa colhida no jardim ou levá-la para um piquenique na beira
de um lago. Tudo isso são coisas simples que uma pessoa
necessita em um relacionamento. — Isso era algo que nunca
tive em minha vida, apenas o amor do Bryan e da vovó. Eu
queria ter um amor assim um dia.
Eu levantei o queixo e fiquei firme, falando sem vacilar.
— Mas você não sabe o que é isso, porque nunca amou
ninguém em sua vida, apenas o seu dinheiro — Esta parte era
mentira, porque eu vi o jeito que olhava e falava com Logan,
até doou uma parte de si mesmo a ele. Naquele olhar tinha
muito amor, mas para eu tirar Lucky da concha de rocha que
ele criou a sua volta, eu precisva dizer isso, porque de outra
forma ele nunca diria o que realmente sentia por mim, ao invés
de dizer que só me quer. Eu queria mais dele, não só uma noite
de sexo quente, precisava saber se ele queria o mesmo que eu
ou não, porque se ele quisesse só meu corpo, isso nunca iria
acontecer. Nem que eu tivesse que ir para algum lugar longe
dele.
— Isso não é verdade — retrucou com os olhos grandes.
— Eu mandei rosas para você todos os dias em três semanas,
mas você não quis nada disso. Até as joias disse que ia
devolver…
Eu percebi que todos seus amigos olhavam para ele de
olhos arregalados, acho que foi pelo que acabou de dizer, que
me mandou rosas e joias. Eu peguei a caixa na minha bolsa e
coloquei em suas mãos. Seus olhos estavam grandes olhando a
caixinha de joias azul.
— Eu não as quero de volta — disse a mim.
— Eu não posso ficar com elas. Eu agradeço pelas rosas,
sim, mas não por isso. Eu não quero seus diamantes, não vê
isso? Eu não sou assim, mas você não deve saber disso…
Talvez ache que o dinheiro e coisas caras façam uma mulher
ceder, mas eu não vou.
— Eu não penso isso de você, Sam. — Seus punhos
estavam cerrados em volta da caixinha. — Eu apenas quero ter
um encontro com você, isso é pedir demais?
Eu precisava saber a verdade, o que ele realmente sentia
por mim, se era mais um caso de uma noite para ele ou algo
mais.
— Então, vamos dizer que eu aceito a sua cantada e
ficamos juntos hoje. — Tentei não corar e ignorar os olhares
de todos sobre mim.
Seus olhos se estreitaram, mas ele esperou que eu
terminasse.
— Onde seria? Em um apartamento? Ou até mesmo
aqui, em um banheiro qualquer? — Minha voz era fria no
final, porque ele, sem dúvida, já fizera isso com muitas
mulheres antes. — Vamos dizer que seja em um hotel. Então,
no dia seguinte, você me descarta como se eu fosse um objeto,
ou melhor, talvez vá embora antes que eu acorde e deixe a
conta para mim.
Ele trincou os dentes.
— Você está zombando de mim?
— Vamos lá, Lucky, não é isso o que você faz? Tiro a
parte de você sair sem pagar — Meus olhos eram frios. —
Mas, no fim, eu seria apenas mais uma na sua lista.
— Você é diferente — gritou, mas não alterando muito a
voz. — Com você, eu quero transar em cada canto da minha
casa, na minha cama e de todas as formas possíveis.
Eu prendi a respiração com o que ele disse, meu corpo
foi tomado por uma corrente eletrica ao ouvir isso de sua boca.
Deixei de lado o desejo que me queimava com suas palavras
intensas, e o fogo que subiu dos pés à cabeça como labaredas.
Ergui o queixo e olhei para Lucky fechando a cara com ar
ofendido, embora não estivesse ofendida, mas precisava de
mais do que “eu quero você” vindo da boca dele. Eu precisava
que ele falasse o que realmente sentia para ter certeza de que
não iria ser só mais uma na lista de mulheres descartadas
assim que me deitasse com ele. Por isso, iria provocá-lo mais
um pouco para fazê-lo dizer o que realmente sentia por mim.
Esperava que fosse o mesmo que eu.
— Você acha que sou uma vadia que você faz assim…
— eu estalei os dedos, dando ênfase às minhas palavras —, e
na mesma hora vou abrir as pernas para você?
— Não foi isso o que eu disse… — ele cerrou os
punhos. — Eu apenas quero um encontro com você, é tão
difícil enxergar isso?
— Eu também queria muita coisa, como ter um emprego
que eu amo e que você ameaçou fechá-lo caso não saísse com
você. Também quero conhecer o Caribe e viajar em um
cruzeiro. — Meu rosto era grave. — Mas, Lucky, ninguém
pode ter tudo no mundo, mesmo você, que tem tanto dinheiro.
Por isso, não vou ser mais uma mulher na sua lista de
descartáveis, que deve ser imensa.
— Como a torcida dos Beatles — disse Jordan.
Lucky lançou a ele um olhar de congelar o oceano.
— Cale a boca ou te faço calar — sibilou e depois me
olhou com os olhos mais calmos. — Com você eu quero me
casar.
Eu engoli em seco.
— Você me ama para pensar isso? — Tentei não deixar a
esperança me dominar, talvez ele realmente me amasse, não é?
Uma coisa aprendi como psicóloga: às vezes, uma pessoa que
não consegue expressar o que sente pessoalmente, busca
outras formas de dizer, como ele fez com os bilhetes que me
enviou ou me ameaçando sobre o emprego. Eu precisava que
Lucky dissesse o que realmente pensava e sentia. — Você não
parece capaz de amar ninguém a ponto de pedi-la para casar.
Ele piscou, ultrajado com o que eu disse. Seus olhos
verdes pareciam mais escuros quando ele estava com raiva,
mas ele se controlou e falou devagar.
— Estou falando de negócios…
Eu arregalei os olhos em descrença e cortei furiosa. Meu
peito doía, porque a esperança de ele sentir algo por mim foi
dissipada nesse momento. Aliás, foi arrancada do meu peito.
— Você está falando para eu me casar com você como
um negócio? Onde você pode oferecer dinheiro para eu transar
com você? — Cerrei os punhos para não esmurrar a cara dele.
— Fique sabendo que não sou uma prostituta, seu bastardo
egoísta.
Ele engoliu em seco e piscou.
— Eu sei que você não é isso, Sam. — Ele passou as
mãos nos cabelos. — Não estou falando de sexo, é só no
papel…
Interrompi furiosa.
— Pois fique sabendo, Lucky Donovan — cuspi seu
nome. Oh, agora entendia o que esse cretino pensava sobre
mim. Então, ele mandou recado e presentes somente para me
casar com ele como um contrato? Não deixei a dor me apossar,
e sim a raiva. Era melhor lidar com a raiva do que com a dor
de saber que ele só queria me usar, a dor dele de não me
querer ou sentir o mesmo que sentia por ele. Eu estava até
pensando em deixar de lado o que vim fazer ali, apenas
conversar com ele, mas nossa conversa estava indo para um
lado que nenhum dos dois queria, pelo menos eu. — Eu não
vou me casar com você nem por todo o dinheiro do mundo —
esbravejei. — Casamento para mim é somente por amor, e isso
é algo que não é o seu caso, não é? — expirei. — Você apenas
me quer para provar a si mesmo que pode ter tudo — sibilei
entredentes e cutuquei seu peito com o dedo — Você nunca
vai me ter, porque eu jamais desceria tão baixo, ainda mais
com alguém que ameaça fechar o meu serviço só para ter o
que quer.
— Eu sinto muito por fazer isso — Sua voz era só um
sussurro. — Não é só um acordo é algo mais, como… — ele
parecia engasgado no fim, mas não liguei para o que ele
pensava, estava com raiva demais.
Eu recolhi a mão e cerrei os punhos
— Se você me queria, deveria ter chegado em mim
pessoalmente, não mandado cartas e presentes caros que não
quero, e também não ameaçando meu chefe, dizendo que se eu
não saísse com você, iria fechar sua empresa. Que ser humano
faz isso? — rugi antes que ele me interrompesse.
Seu olhar era entorpecido.
— Eu…
— Você está usando seu poder para ter o que quer, como
sempre. E tudo por quê? Por causa de uma maldita transa? —
Eu não ia dizer isso no final, porque não ia fazer isso, mas me
obrigou a dizer, me machucando hoje mais do que já fez antes.
— Pois agora fique sabendo que eu vou encontrar um cara e
deixá-lo fazer isso — sorri de modo sarcástico. — Mas esse
cara não será você, não iria para cama com um homem que usa
ameaças e poder para ter o que quer. — Eu dei um sorriso
maroto. — Você quer sexo, mas não vai ganhar, não de mim
pelo menos, eu prefiro ficar com qualquer um nesse lugar.
Seus olhos de repente ficaram malignos.
— Você não ousaria…
Eu ri.
— Vamos pagar para ver, mas é isso que você faz, não
é? Você compra as pessoas como se fossem objetos. — Deixei
o sarcasmo e o asco serem evidentes em minha voz, era
melhor isso do que deixar a dor me consumir.
Ele expirava irregular.
— Samantha, não teste a minha paciência…
Eu ergui as sobrancelhas para ele.
— E vai fazer o quê?
Ele tremia de raiva. Esse homem parecia que nunca
havia sido desafiado em sua vida, sua raiva aumentava sempre
que eu o enfrentava, mas não liguei. Ele me machucou
quebrando as minhas esperança nele assim que falou sobre o
casamento como um negocio, então ele me queria só para sexo
e capricho.
— Você pode ter a mim.
Eu ri com desdém.
— Nunca! — falei com a minha voz subitamente gelada.
Meus olhos eram ferozes. Eu me aproximei dele até meus
lábios ficarem bem próximos ao seu ouvido e sussurrei
baixinho só para ele ouvir. — E algum homem desse salão vai
ter o privilégio de ver que não há nada debaixo deste vestido,
mas esse não será você.
Eu o ouvi engasgar, afastando como se eu o empurrasse,
seus olhos eram enervados.
— É melhor não fazer isso ou eu vou cometer um
assassinato…
Eu ri amarga.
— Vamos ver. — Eu me virei para descer os degraus e ir
direto para o salão e fazer a segunda parte do plano.
Ele segurou meu braço.
— Sam…
— Não toque em mim. — Dei um safanão em sua mão.
— Você é uma vagabunda, sabia? — rugiu Sasha.
— Não, eu não sou, mas vou me tornar uma hoje —
sibilei. — Por culpa dele. — Apontei na direção do Lucky,
mas sem olhar para ele. — Agora, eu vou me divertir e
esquecer que conheci vocês algum dia.
Eu me virei sem falar mais nada e saí dali. Ouvi
barulhos e murmúrios deles, mas logo foram engolidos pela
música do salão.
Cheguei à pista de dança. Estava tocando a música
Cotton Eye Joe, do Rednex. Eu adorava dançar esta música,
então, remexi os quadris, rebolando eles de um jeito
provocante, mas sem ser vulgar. Podia ver Diana dançando
com uma loira e um homem dançando com Ana.
Eu senti mãos em minha cintura como se me abraçassem
por trás, por um momento achei que fosse Lucky, mas não era
sua voz a sussurrar em meu ouvido.
— Vejo que você deixou Lucky furioso — a sua voz era
quente.
Eu me virei e dei um passo para trás, tirando as suas
mãos de mim, já que nem o conhecia.
O cara era moreno com cabelos castanhos claros e um
pouco compridos, mas bagunçados. Ele parecia ser musculoso
por debaixo de sua camiseta preta e sua pele era coberta de
tatuagens, pelo menos a pele exposta, como o braço direito e
um pedaço do pescoço. As tintas coloridas pareciam ser um
tribal e caveiras. Bem sinistro. Ele usava uma camiseta preta e
calça jeans. Tinha um brinco na orelha direita, sorriso era sexy.
Será que só aparecia bady boy na minha frente?
— Vejo que não gosta dele — chutei, mas continuei me
remexendo. É claro que eu não ia para cama com ele e nem
com ninguém, não era dessas e jamais me rebaixaria a isso.
Também não perderia a minha virgindade com um cara
aleatório. Eu queria aproveitar cada segundo quando eu fosse
para a cama com alguém e queria que fosse para sempre. Por
um breve segundo, pensei que esse cara seria o Lucky. Pelo
visto não, eu realmente era uma idiota por ter pensado assim.
Seu rosto se tornou sombrio, e fitando por sobre o meu
ombro, para o Lucky.
— Ele tomou algo de mim — Seu tom era frio acima do
ruído da música.
Eu segui seu olhar e vi a loira de cabelos platinados. Ela
estava sentada no mesmo lugar e olhando para nós, sua
expressão parecia ser de dor.
— A loira platinada? Ela está com ele? — Voltei meus
olhos para o cara sexy à minha frente e ignorei a expressão
assassina do Lucky sobre nós. Ele ainda estava de pé no
mesmo lugar, parecia querer matar o homem ao meu lado.
— Ela é irmã adotiva dele — ele suspirou. — Éramos
namorados, mas o Lucky me ameaçou para largar ela.
— Deixa ver se eu adivinho: ele falou que se você não a
deixasse, fecharia o seu negócio ou faria você ser demitido? —
Chutei com gosto amargo ao pensar que Lucky usasse golpes
tão baixos assim.
Ele riu amargo.
— Ele falou em fechar o meu negócio. Este clube é a
minha vida, mas estava disposto a perder só para tê-la comigo.
— Então, o que aconteceu? Por que não estão juntos? —
perguntei, curiosa. Eu queria um amor assim, um amor onde o
cara fizesse qualquer coisa por mim e não a base de ameaças.
Ele meneou a cabeça de lado, percebi que nós dois
estávamos parados ali, no meio da pista de dança, embora a
música estivesse rolando ainda e alta, mas não liguei muito
para isso.
— Ela foi para França e não lutou por nós — Seu tom
era de pesar. — Essa é a primeira vez que a vejo em um mês.
— Ele me olhou curioso. — Mas, e quanto você e o Lucky?
Eu suspirei.
— Eu o conheci quando trabalhava para ele, deu em
cima de mim e eu dei um fora nele…
Ele riu.
— Oh, isso deve ser interessante. Eu nunca soube que
Lucky levou fora de alguém — falou meio atônito.
— Sempre há uma primeira vez — declarei. — Ele não
levou isso muito bem e me forçou a pedir demissão da Vênus.
— Tirei o cabelo do rosto. — Eu sou psicóloga e amo meu
trabalho. Depois, consegui um emprego na Fênix, mas o filho
da mãe exigiu que se eu não fosse a um encontro com ele,
fecharia a Fênix.
— Por isso veio aqui se encontrar com ele?
— Eu vim mais para dizer que não ia ficar com ele. —
No fundo, eu sabia que não era bem isso. Eu queria confrontá-
lo e dizer o que sentia, mas o resultado não foi o que pensava.
— Ainda mais depois de ele dizer que quer que eu me case
com ele — Minha voz saiu em um rosnado. Eu não entrei em
explicação, afinal, nem conhecia esse homem.
— O quê? — Seu tom era estupefato e olhou para trás de
mim. — Parece que você o deixou de quatro.
— Eu não acho isso — discordei. — Ele apenas quer me
possuir, já que ele consegue ter tudo o que quer e por não
aceitar um “não” como resposta.
Ele franziu o cenho.
— Eu não acredito nisso. Então, por que o beijou?
Eu funguei.
— Eu sei que ele não beija ninguém em seus encontros.
Diana me disse que uma vez uma garota o beijou e ele quase
bateu nela e teria feito se não fosse uma mulher… Então…
— Então, você pensou que fazendo isso o faria desistir e
deixar você em paz?
— Sim, mas aconteceu justamente o contrário —
resmunguei.
— O que disse para ele ficar tão furioso na hora em que
você saiu? — perguntou curioso.
Eu ergui as sobrancelhas.
— Estava me observando?
— Eu vi quando você foi até eles, mas achei que era
uma amiga e depois eu vi que não… — ele me olhou de
soslaio. — Então?
Eu ri.
— Eu disse que ele queria meu corpo, mas isso jamais
iria acontecer. Também disse que eu estava aqui para transar
com qualquer homem desse lugar, menos com ele. — Tentei
não corar ao dizer isso a esse cara atraente e tatuado.
O cara sexy me olhou de olhos arregalados.
— Se você ainda quiser um cara para uma noite de sexo
quente, eu estou aqui para você. — Ele olhou meu corpo. —
Você é linda!
Eu revirei os olhos.
— Oh, não! Eu só disse aquilo para deixá-lo furioso,
mas não penso em fazer isso. Além disso, não é meu estilo sair
por aí…
— Você é daquelas com “ corações e flores’’? — Ele riu.
— Eu só fico com caras por amor. Para mim, amor e
prazer têm que estar juntos — sussurrei baixo só para ele
ouvir. Embora naquele barulho ninguém ouvisse nada.
Ele piscou, chocado com alguma coisa.
— Quantas vezes você já se apaixonou? — sondou ele.
— Nenhuma vez — disse a verdade.
Ele piscou de novo, atônito.
— Quer dizer que você é…
Eu pisquei com ultraje por ele chegar a essa conclusão
tão rápido.
— Não vamos falar sobre isso — me esquivei, corando,
porque não queria falar sobre a minha virgindade com um cara
que acabara de conhecer.
Ele deu uma risada excitada.
— Lucky sabe disso?
Eu pisquei chocada.
— Por que ele haveria de saber? Minha vida particular
só diz respeito a mim — murmurei. — Eu nem sei por que
estou falando com você.
Ele sacudiu a cabeça ainda com ar divertido.
— Gostaria de ver a cara dele quando souber. — Ele riu
de novo. — Eu quero dar uma lição na Rayla e você, nele. Que
tal fingirmos que estamos nos entendendo?
Eu suspirei.
— Por que não? Mas sem mãos bobas e sem beijo,
entendido? — eu o adverti.
— Sim. Eu vou me comportar — prometeu.
— Ótimo — Eu assisti um filme uma vez que a garota
dançava de um jeito sensual, mas sem parecer vulgar ou
vagabunda. Olhei nos olhos negros do cara. — Qual é o seu
nome? Eu sou Samantha Gray.
Ele me deu um sorriso.
— Alex Jackson.
— Você tem algum parentesco com Alexia Jackson? —
Lembro-me dela dizer que seu irmão morava em Manhattan.
Ele arregalou os olhos.
— Se for uma mulher com cabelos loiros cor de ouro e
olhos violetas, e também chegado a saltos e vestidos chiques,
então sim, é minha irmã. Você a conhece?
— Oh, sim, fizemos faculdade juntas. — Sorri. Veja
como o mundo é pequeno, eu encontrar o irmão de uma amiga
ali, nesta boate. Alexia sempre foi chegada a vestidos
elegantes, a menina tinha uns duzentos vestidos e sapatos de
saltos alto. — Ela não me disse que seu irmão era lindo.
Ele jogou a cabeça para trás e gargalhou.
— Então, eu sou lindo? — Ele me lançou um sorriso
sexy.
— Sim, mas não precisa me lançar esse sorriso de
abaixar calcinha, porque nada vai acontecer, a não ser dançar
para aqueles dois — eu disse a ele.
— Quer dizer que meu sorriso abaixa calcinha, hein? —
sondou, rindo. Essa era uma risada sexy. A irmã do Lucky era
uma idiota por tê-lo deixado escapar.
— Eu sei que abaixa, mas…
— Mas não a sua calcinha — terminou a frase com um
revirar dos olhos. — Não me admira que Lucky esteja tão afim
de você a ponto de persegui-la.
— Isso mostra que ele é um canalha — rosnei.
— Não, isso mostra que ele viu algo em você que eu
também vejo…
— O que é? — cortei.
— Você é pura e inocente, mesmo para sua idade. Acho
que você deve ter uns vinte e três ou vinte e quatro anos, estou
certo? — Ele me avaliava.
— Tenho vinte e quatro anos — declarei. — E não sou
inocente assim, porque se fosse, já teria caído nas garras dele e
em sua cama.
Ele sacudiu a cabeça, ainda sorrindo.
— Vamos dançar ou não? — Coloquei as minhas mãos
nos meus cabelos e me movi com a música. Eu ri — Rhythm
of the night, jura? Eu adoro ela.
Ele riu e colocou suas mãos em minha cintura, enquanto
eu balançava no ritmo dançante.
― Lucky está louco para me matar posso ver em seus
olhos ― ele parecia divertido.
— Vamos ver isso. — Eu me virei e fiquei de costas
para o Alex, enquanto as suas mãos passeavam por minha
cintura. Eu balançava a cabeça no ritmo da dança. Ele colocou
o queixo no meu ombro, sua bochecha perto da minha.
— Boa garota — disse, quase orgulhoso. Ele balançava
os quadris, mas sem tocar as suas partes íntimas e seu corpo
em mim. O que eu achei bom.
— Se descer um centímetro, ficará sem as mãos —
adverti quando ele alisou a minha barriga e já ia descendo as
mãos.
Ele apenas riu e deixou as mãos onde estavam, em
minha cintura.
Eu fitei para frente e me deparei com Lucky vindo em
nossa direção com um olhar gelado, e mortal. Seus amigos
estavam ainda na salinha, observando o Lucky vir em minha
direção. Simon vinha com ele. A loira estava com um olhar
preocupado para o irmão e o homem que ela abandonou.
Eu parei de dançar e olhei de olhos arregalados para o
Alex.
— Ele está vindo para cá — minha voz falhava. — Se
ele quiser bater em você? — Logo, me lembrei do aviso do
Lucky, que se alguém me tocasse, ele iria matar o cara. De
repente, fiquei preocupada com a vida do Alex. E se o Lucky o
matasse? Eu me sentia uma vadia por ter colocado Alex nisso,
porque se acontecesse alguma coisa com ele, a Alexia iria me
matar e enterrar o corpo.
— Vai embora antes que ele chegue — pedi a ele com
urgência.
Ele me olhava sem nenhuma preocupação ou medo do
Lucky.
— Ei, acalme-se, vai ficar tudo bem. — Tocou meu
rosto.
— Tire as suas mãos imundas de cima dela — sibilou
Lucky, aparecendo ao nosso lado.
De repente, uma mão passou por mim, indo direto para o
queixo do Alex, que cambaleou para trás. Ele se recuperou
após alguns segundos e colocou a mão no queixo, depois
olhou com uma fúria homicida para o Lucky.
— Eu não pretendo tirar as mãos dela esta noite —
assegurou Alex em um tom provocante. — Eu vou tocar muito
mais nela do que apenas a cintura.
Eu queria pedir para Alex parar de provocar Lucky ou
ele o machucaria. Mas não tive a chance, porque Lucky se
encheu de fúria e passou por mim, ficando na frente do Alex e
me arrastando para trás dele, como se fosse para me proteger.
— Eu vou acabar com você — sibilou Lucky.
Alex estreitou os olhos.
— Você já fez isso — Alex rosnou. — Agora você vai
sentir como é bom quando você vê algo que gosta sendo tirado
de você.
— Você nunca mais vai tocar na Sam ou eu juro que vou
destruir você — esbravejou.
Eu estreitei os olhos. Quem ele pensava que era para
mandar em mim assim? E ainda por cima ameaçar as pessoas
desse jeito? O Alex, irmão da minha amiga.
Eu observei que todos da boate tinham parado de dançar
e olhavam a cena dos dois, que estavam um de frente para o
outro. Nenhum dos dois piscava. Notei que tinham quatro
seguranças do lado do Alex. Deviam trabalhar na boate. Os
amigos de Lucky estavam logo ali, atrás de mim, e com eles, o
Simon, que segurava algo em sua cintura. Temia que fosse
uma arma.
Meu Deus! O que eu fiz? E se todos ali brigassem por
minha causa? Se isso acontecesse, seria uma carnificina de
horror. Eu não poderia deixar que isso acontecesse. Fora a
parte que a qualquer hora alguém ali podia tirar fotos deles, já
que Lucky era importante na sociedade.
Lucky estava prestes a bater no Alex de novo, mas eu
entrei na frente, o que foi uma burrice minha. Bem na hora, o
punho dele bateu no meu braço, próximo ao meu ombro
esquerdo. Não foi tão forte, eu acho que ele tentou parar para
não me acertar, mas estava muito em cima. Cambaleei para
trás, mas o Alex me firmou, praguejando baixo por eu ter me
machucado em sua luta boba.
— Ah, meu Deus! — horrorizado, Lucky balbuciou, me
olhando. — Rosa vermelha…
Eu saí correndo do clube Rave, ignorando quem gritou
meu nome. Não queria saber quem era nesse momento, apenas
queria desaparecer dali e deixar a dor me consumir. Não falo a
dor física e sim a que Lucky deixou em mim.
Tirei os saltos e corri descalça pela calçada. Eu virei à
esquerda, indo na direção da Fênix, que ficava a dois
quarteirões dali. Eu chegaria lá e pediria ajuda para ir para
casa, desmaiar nos lençóis e apenas sairia de lá quando a
minha vida voltasse ao normal ou, pelo menos, desejar que
meus caminhos e meu coração não estivessem amarrados pelo
Lucky.
— Você, seu moleque, vai fazer o que eu mandar —
gritou a voz de um homem não muito distante de mim.
— Eu… eu… não posso — chorava a voz conhecida.
Meu corpo tremeu em pânico. Aquela era a voz de
Shaw. Mas o que ele estaria fazendo ali? Ele não devia estar
longe do abrigo da Fênix.
— Ah, você vai — rosnou a voz do homem e depois um
som de um tapa. Shaw chorava baixinho.
Eu fui correndo na direção do som, virei a esquina e vi
Shaw no chão encolhido e um homem na frente dele. O cara
forte e barbudo estava pronto para dar um chute em Shaw
quando eu me joguei contra o homem e caímos os dois no
chão,
Eu o ouvi praguejar, mas ignorei e tentei me levantar,
entretanto não consegui, porque o desgraçado me prendeu no
chão e montou em cima da minha cintura, segurando os meus
ombros que, por sinal, já estavam doendo.
— Você vai pagar por isso, sua vagabunda — rosnou o
cara com bafo de cerveja.
— Por favor, não machuque a Sam — chorou Shaw,
levantando-se e olhando nós dois no chão.
— Então, esta é a vadia que anda dando para o
bilionário. — Riu malicioso, olhando o meu corpo. — Até que
você é gostosa.
Eu tentei lutar, mas ele me prendeu no chão com sua
força. Com um frio em minha alma, percebi que a história se
repetia. Este homem era o pai de Shaw, podia ver a
semelhança em seus olhos negros. Ele ia fazer comigo o que
fez à mãe do meu menino. Eu não acho que Shaw sobreviveria
vendo a cena de novo.
Eu olhei para os olhos de pânico do meu garoto.
— Querido. Corra! — gritei com uma súplica em meus
olhos para que ele fosse embora antes que fosse tarde demais.
— Sam…
— Não pense em mim, apenas corra, por favor —
implorei com os olhos molhados. — Eu vou ficar bem —
menti. Eu sabia que este desgraçado não me deixaria
sobreviver, mas não queria que Shaw presenciasse isso de
novo.
— Sam — repetiu ele com choramingo.
— Vá… — pedi. — Corra na direção que eu vim e peça
ajuda — gritei para ele ir à direção da boate e torcer para
alguém nos ajudar.
Ele assentiu chorando e saiu correndo.
— Volte aqui, moleque — gritou Saul. O pai de Shaw se
chamava Saul, e ali estava o bandido assassino que não tinha
sido preso. Ele me olhou com raiva. — Você vai pagar por
isso, sua vadia. — Ele me deu uma bofetada tão forte que eu
cheguei a virar o rosto.
Eu tentei lutar, mas a luta era em vão, já que ele era
muito forte. Um monstro, assim como Dilan, que tentou me
fazer mal, mas nunca chegou a esse ponto. Bom, ele teria se
não fosse pelo meu irmão.
O Saul empurrou meus ombros com força contra o chão.
Cheguei a ficar sem ar. Senti algo estalar bem onde o Lucky
bateu, dessa vez parecia que foi quebrado, mas o pior estava
por vir. Eu nunca imaginei que a minha primeira vez seria
assim, estuprada e morta por um assassino.
Se ao menos Shaw achasse alguém para pedir ajuda e vir
ali me socorrer, mas como ele pediria ajuda se ele não
conseguia falar com ninguém? Porém, ele estava falando com
seu pai hoje. Então, talvez isso fosse uma esperança de eu ser
resgatada. Eu esperava que não fosse tarde demais. Minha
súplica não foi tão longe, porque após sentir uma pancada na
cabeça, tudo ficou escuro.
7 - Escolha Difícil
SAM
— Me desculpe, rosa vermelha, por magoá-la daquele
jeito. — Ouvi um suspiro dolorido do Lucky. Lucky? O que
ele fazia ali comigo? E onde eu estava? Lembrava de quase ter
sido violentada e morta. Será que isso aconteceu? Se
aconteceu, como eu estava ouvindo ele? Mas se sobrevivi…
Será que Saul conseguiu me tocar? Droga! Eu queria acordar,
mas não conseguia fazer isso. Era como se estivesse dopada
por morfina, sem forças para acordar. Eu apenas conseguia
ouvir.
Estaria eu sonhando? Senti o toque de suas mãos em
meu rosto como se o estivesse esquadrinhando.
— Eu prometo nunca mais magoar você. Sei que sou um
crápula e que fui egoísta por fazê-la sofrer. — Expirou
próximo à minha cabeça, até pude sentir seu hálito delicioso
banhar meu rosto. — Eu ia conversar com você aquela noite,
na festa do Martins, mas estava com medo de perder o
controle vendo você com Michael. — Senti lábios macios em
minha mão. Eu queria dizer para Lucky esperar que eu
acordasse desse sono sem fim ao qual estava, para que tivesse
uma conversa séria comigo, igual sempre quis desde que
descobri o que fez por mim, pedindo ao Michael para
conseguir um serviço na Fênix. Porque não era justo eu estar
dormindo enquanto ele despejava isso para mim.
— Eu quero que saiba que eu sou um monstro sim, não
vou negar isso, mas eu não exigi para que saísse comigo,
porque queria entrar em suas calças e depois dispensá-la. Eu
quis você desde que a conheci. No começo, achei que era só
desejo por ser linda. — Senti lábios na minha testa — Isso
você é. Entretanto, não foi só isso. Em nenhuma hora eu
parava de pensar em você, sei que deveria ter ido
pessoalmente pedir desculpas, mas estava com medo de você
dizer que não as aceitava e também não me perdoar pelo que
fiz. Eu sei que fui um idiota e estúpido por ter ameaçado você
quando nos conhecemos, mas agora vou fazer tudo certo,
porque o meu jeito distorcido está errado, veja isso, a magoei
tão profundamente que chega a ser criminoso. — Ele expirou
como se estivesse com dor.
Eu queria acordar para ver se a dor e agonia que estava
ouvindo na voz dele, também estavam em seu rosto. Meu
coração doeu ao ver seu sofrimento. Eu queria acordar e dizer
isso a ele, mas o sono era tão pesado.
— Eu sinto muito, Sam. Prometo que serei bom para
você de agora em diante. Nunca mais quero ser o causador do
que vi em você de novo…
Tudo ficou em silêncio por um instante. Talvez eu tenha
voltado à deriva, mas logo ouvi passos e depois uma voz.
Meus ouvidos pareciam estar tampados. Eu não esquecerei
tudo que ele havia me contado. Quando acordasse, iríamos
conversar. Eu sabia que se fosse outra pessoa, teria ficado com
raiva pelo que ele fez a mim. Acho que lá no fundo não
conseguia odiar nem meus pais. Bryan disse que eu era
incapaz de odiar alguém e que gostava disso em mim.
— Como ela está senhor Donovan? — perguntou uma
voz de homem.
Eu queria abrir os olhos, mas eles estavam pesados
demais. Apenas fiquei à deriva, ouvindo a conversa.
— Ela vai ficar bem, Simon — respondeu Lucky.
— Eu tive tanto medo… — choramingou Shaw. —
Pensei… que ele ia fazer o… mesmo que fez a… minha…
mãe… Eu não pude fazer nada, como sempre…
Eu ouvi o Lucky rosnar como um leão assassino.
— Eu vou fazer de tudo para ele apodrecer na cadeia,
embora eu adoraria matá-lo — A voz de Lucky saiu fria e
depois suspirou para se controlar. — Desculpe, eu sei que ele é
o seu pai.
Shaw ficou em silêncio por um momento, mas enfim
respondeu com a voz tomada de dor.
— Ele… deixou de ser o meu pai… no momento em que
tirou minha mãe de mim… — sua voz falhou.
— Agora está tudo bem, garotão — Lucky o
tranquilizou. — Ele nunca mais vai fazer mal a alguém. Eu
prometo.
— Obrigado… senhor Donovan, por cuidar da Sam…
— a voz de Shaw era falha. Ele parecia uma criança que
estava aprendendo a falar, mas fiquei feliz por ele falar com
Lucky igual fez comigo.
Lucky suspirou
— Eu gosto dela. — riu amargo. — É mais do que
gostar, mas eu não consigo dizer as palavras…
— Eu sei como é isso. Posso ter sete anos, mas eu sei —
Shaw ficou em silêncio por um minuto e depois sussurrou: —
Você tem trauma das palavras “eu te amo’’, assim como eu
tenho de não conseguir falar com outras pessoas. Mas, por
qual razão, Lucky?
Lucky expirou.
— Eu… apenas não consigo dizer as palavras, porque
essas eram as palavras que a cadela da minha mãe costumava
usar para mim — Seu tom era sombrio ao falar da mãe. — A
sua pelo menos morreu para salvar a sua vida, já a minha me
deixou para morrer… — sua voz saiu um rosnado no final. —
Eu jurei que nunca mais iria dizer essas palavras a alguém na
minha vida. Por isso, eu entalo quando tento dizê-las. Ao
mesmo tempo, nunca conheci uma pessoa que me fizesse
sentir vontade de dizê-las.
— Até você conhecer a Sam — observou Simon com
tom suave.
— Ela é fácil de amar… — falou Shaw.
— Vejo que a ama também — falou Lucky, como uma
declaração.
Meu coração se afundou ao ouvir isso da sua boca.
Então, não era só um capricho dele ao me perseguir? Ele
realmente me amava! Apenas não conseguia dizer as palavras
e não sabia lidar com isso, já que nunca amou ninguém em sua
vida. E quem deveria tê-lo protegido e ensinado sobre o amor
verdadeiro o traiu e não se importou com ele. A sua história
era um pouco parecida com a minha.
Ouvir tudo o que Lucky sentia por mim fez amolecer o
meu coração de novo, mais do que antes. Eu queria abraçá-lo,
reconfortá-lo e dizer que eu sentia muito pelas palavras que eu
havia dito a ele no clube Rave. Mas por que ele não me disse a
verdade naquela hora? Eu teria o ouvido e aceitado com maior
prazer. Aliás, eu teria amado.
— Sim. Sam é como minha irmã mais velha. — Shaw
riu com candura enquanto eu me enchia de júbilo. Eu nunca o
vi rir com alguém, apenas comigo, depois da tragédia que
ocorreu com ele. Quanto mais ele falava com Lucky, sua fala
melhorava cada vez mais. — Ela é como um anjo que
apareceu em minha vida para trazer luz.
— Sim, ela também é meu anjo — sussurrou Lucky. —
A luz que acendeu a escuridão que havia em mim.
— Se você a machucar de novo, eu vou arrebentar você
— ameaçou Shaw.
Lucky suspirou.
— Como sabe sobre isso? Ela disse algo a você?
— Não, mas eu ouvi uma conversa da Ana com ela no
telefone…
— O que elas diziam?
— Ana estava preocupada, porque depois que Sam saiu
da empresa aquele dia, ela não atendia as ligações dela ou da
Diana. — Alguém tocou meu rosto com as mãos tão suaves
quanto plumas. — Fiquei preocupado com ela. Foi então que
eu ouvi Ana falando de um plano para você sair do pé dela e a
deixar em paz. — Shaw rosnou as palavras a seguir: — Por
que a perseguiu se a ama?
Lucky deu um suspiro desalentado.
— No começo, não lidei bem com tudo que aconteceu
— murmurou. — Eu sempre consigo o que quero. Então, veio
a Sam e disse “não” para mim, algo que eu nunca havia
recebido.
— Sério? Ninguém nunca disse “não” para você? — Era
surpresa no tom de Shaw? Eu também fiquei surpresa quando
eu soube. E não estou me referindo a mulheres, e sim às outras
coisas no mundo dos negócios.
— Sim. Minha mãe dizia não muitas vezes, então
quando me tornei o que sou, eu fiz uma promessa de não levar
não como resposta. — Ele respirou fundo, mas pareceu doer.
— Eu sei que a magoei, mas estou preparado para desistir e
deixá-la ser feliz — Sua voz era só um sussurro e um acalentar
de dor.
Meu coração batia forte em meu peito. Então, o que ele
sentia por mim não era forte o bastante para lutar. Eu queria
desesperadamente implorar para ele não desistir, não agora,
que eu havia descoberto que seus sentimentos eram
verdadeiros comigo. O mesmo que eu sentia por ele há mais
de um mês, desde que descobri sobre suas boas ações que
ajudavam crianças necessitadas pelo mundo a fora.
— Por quê? Ela precisa que lute por ela… — disse
Simon.
— Eu sei, mas e se eu fizer besteira e acabar magoando
ela ainda mais? — Ele resfolegou.
— Você não pode ameaçar a Sam para ficar com o
senhor — disse Simon.
— Sim, eu sei que ela gosta do senhor, porque a vi com
uma foto sua nas mãos, e perguntando por que você não era
menos complicado, e também que ela não parava de pensar no
senhor — disse Shaw.
— Eu vou tentar ser menos complicado para ela de
agora em diante — Seu tom parecia ter um selo de promessa,
mas também senti alívio em sua voz.
— Acho bom, porque Sam é uma mulher para ser amada
— declarou Shaw.
Lucky riu.
— Eu não acredito que estou ouvindo isso de um
garotinho de sete anos. — Ele deu uma risada lânguida e
depois se recuperou. — Desculpe, garotão.
— Eu sei que vou fazer sete anos em algumas semanas,
mas sou inteligente, embora eu não entenda por que converso
com você e não entalo como é com as outras pessoas. Com a
Sam também é assim — Seu tom era confuso no final. — Se
você partir o coração da Sam, eu vou chutar as suas bolas.
Agora Lucky gargalhou. Eu nunca o vi assim, rindo
junto com Shaw. Eu gostei.
— Eu vou ficar ciente disso — assegurou.
As vozes continuaram a sussurrar, mas a escuridão me
apossou. Não sabia se era de sono ou se fui dopada de novo.

Eu abri os olhos e tudo que vi foi um teto branco. Era


um quarto com paredes claras e com lustre de cristal no teto,
me sentei e olhei ao redor, tinha uma estante cheia de livros
embutida na parede que pegava metade dela, uma TV enorme
parecida com uma tela de cinema do lado direito. A vidraça
que ficava na direção dos pés da cama tinha uma vista
deslumbrante para o rio fazendo amar o lugar. A janela de
vidro pegava uns oito metros que ia de cima a baixo, com uma
varanda à frente, e um pilar na forma de metade de um poço.
Nela tinha uma espreguiçadeira como se fosse colocada ali
para apreciar a vista da cidade à noite ou até durante o dia.
A cama era uma California king que cabia três pessoas
ou mais. Com colchões sedosos e lençóis de seda, cortinas de
bom gosto.
— Nossa! Isso que é quarto — murmurei, pulando na
cama como uma criança na manhã de natal. Eu podia morrer
ali e ainda ser feliz.
Eu olhei meu pijama de shortinho curto e um top preto
que mostrava a minha barriga lisa. Essa roupa se parecia muito
com as que usava para correr. Mas que roupa era essa? Não me
lembrava de me vestir assim. E que quarto era esse? Ou
melhor, de quem era o quarto?
Eu olhei o meu corpo e notei que meu braço esquerdo
estava com uma tala. Devia ter machucado ele quando… Oh,
meu Deus! Será que prenderam Saul? E onde estava Shaw?
Precisava saber onde eu estava e de quem era aquele quarto
fino. Mas o cheiro inconfundível de lavanda e perfume caro,
Dolce Gabbana, me fez perceber que só podia ser dele.
Levantei-me, olhei no criado-mudo e vi um retrato com
a foto de Ryan, Rayla e Lucky. Todos os três pareciam estar
esquiando na neve.
— Será que foi ele quem me vestiu? Maldito seja! Se ele
me tocou enquanto estava apagada para colocar essas roupas,
vou matá-lo — rosnei comigo mesma.
Saí do quarto. O piso ali era da cor de areia do mar,
assim como as paredes. Passei por um corredor, mas não vi
ninguém à vista. De repente, ouvi vozes no andar de baixo,
então as segui para ver se encontrava com Lucky. Elas vinham
do lado direito da escada, e eu as segui conforme elas ficavam
mais fortes.
— O que vai fazer, Lucky? — perguntou a voz do Ryan.
Ouvi um suspiro de dor.
— Eu não sei, mas me casar eu não vou…
Meu coração martelou ao ouvir a palavra casamento,
será que ele estava noivo todo esse tempo que ficou no meu
pé? Se isso fosse verdade, ele era um tremendo de um
cafajeste.
— Você não pode fazer isso — Ryan disse. — Se você
não se casar, vai perder a compra da empresa Águia da
Esperança em Toronto.
— Eu não me importo com isso — Lucky suspirou.
Andei mais um pouco e fiquei meio escondida no hall da
entrada da sala de estar, ainda ouvindo os dois e tentando
segurar a minha dor e não chorar por saber que ele precisava
casar com alguma mulher. Mulher é o que não falta para ele
—, pensei amarga.
— Lucky, esse sempre foi o seu sonho. Você sempre
sonhou em ajudar crianças que necessitam de amparo —
insistiu Ryan. — Essa é uma empresa que vale bilhões, e eles
estão vendendo por milhões para você, não pode perder essa
chance.
Lucky respirou fundo.
— Eu não vou me casar com outra mulher para eu ter
uma empresa só porque eles querem assim. Nunca —
murmurou com dor. — Eu quero a Sam… e só ela. Mas não
vou obrigá-la a ficar comigo… nunca mais.
— Talvez se você explicar para Sam, ela possa entender
que é para ajudar crianças que precisam, como o Shaw e,
também, que estejam passando necessidades — pressionou
Ryan.
— Não posso… — a sua voz desalentada cortou meu
coração.
Então, ele precisava se casar para tomar posse de uma
empresa que ajuda crianças carentes? Mas ele não podia fazer
isso, porque me queria e não outra mulher, como eu havia
imaginado. Essa empresa devia ser a que ele mencionou no
discurso do evento da Martines.
— Não vou submetê-la a isso, Ryan.Você viu a dor que
causei a ela… Céus, eu prefiro morrer a ver aquilo de novo —
Eu podia sentir ele encolhido. — Não quero mais isso. Ela vai
ter sua vida de volta, mesmo que eu não faça parte dela.
— Lucky, meu irmão, já faz três dias que você não vai
ao trabalho, desde que a trouxe para cá. Ficar aí, sentado nesse
sofá, não vai resolver nada. Ainda mais bebendo. Isso não é
certo — pediu Ryan, quase suplicante. — Você precisa reagir,
cara.
Ele suspirou desalentado.
— Logo, ela vai acordar e vai embora. Posso não vê-la
nunca mais — resfolegou. — Eu nunca me senti assim em
toda a minha vida, parece que estou desfalecendo aos poucos.
— Meu caro amigo, você caiu de quatro justamente pela
gata que não quer nada com você — sussurrou Jordan.
— É um sentimento profundo. Dói só de pensar nela
longe de mim — Seu tom era taciturno. — Mas é assim que
deve ser, porque quando ela estiver boa, vai voltar para seu
emprego e continuar com sua vida. Já falei com Michael, e que
não vou interferir mais.
— Aquele cara está louco para entrar nas calças dela e
você não vai fazer nada? — retrucou Jordan.
— Eu quero fazer algo… Céus! Só de pensar nisso me
dá vontade de morrer… — seu tom era exasperado — Mas eu
não posso… — gemeu como se estivesse tomado de dor. —
Depois que eu a vi lá no chão, e aquele cara… Eu queria ter
matado ele, só não fiz porque vocês dois me impediram. Mas
ao vê-la desmaiada, eu achei que ela estava morta, e se
estivesse, o que seria de mim? Eu não sei, mas a dor é demais,
e ainda pior é saber que era minha culpa…
— Isso não é verdade, Lucky — discordou Ryan. — Foi
aquele desgraçado que bateu nela.
— Eu desci o murro nela e no mesmo braço que está
com a tala… — seu tom era um gemido de dor. — Quem
garante que não fui eu quem a machuquei?
— Eu garanto — falei, entrando na sala grande.
Tinha um lustre imenso no teto e as paredes na cor
creme. Um sofá grande na forma L, com almofadas pequenas.
Uma mesinha de centro à frente do sofá e uma poltrona de
seda. A parede do lado direito onde o sofá está escorado era só
vidro com uma bonita vista para o horizonte. Logo à frente,
tinha outra parede de vidro que dava para ver a cozinha do
outro lado da imensa sala. Céus, que lugar lindo!
Na sala, estavam: Jordan sentado na poltrona de seda
vermelha e Ryan de pé ao lado dele. Lucky estava sentado de
frente para os dois no sofá na forma de L e olhava seu whisky
no copo.
Os três arregalaram os olhos vendo a roupa curta e
atraente que estava vestindo, mas sem querer, já que não fui eu
que as coloquei em mim, e também olhavam uma tatuagem de
fênix que eu tinha no pé da barriga, que começava do umbigo
para baixo do lado direito. Só mostrava o pedaço de suas asas
coloridas.
— Sam… — os lábios sexy do Lucky se mexeram num
sussurro de espanto olhando meu corpo bem exposto.
— O que foi? Nunca viram uma mulher com uma
tatuagem? — retruquei, chegando perto deles.
Jordan olhou para mim com um sorriso.
— Até aonde vai essa tatuagem? — Ele gesticulou para
minha barriga lisa.
Eu sorri torto.
— Vai até um lugar onde você nunca terá acesso.
— Wou — Ryan riu. — Essa é para a história.
— Até parece que você também não queria saber até
onde a tatuagem dela vai — retrucou Jordan.
Ryan me fitou de cima a baixo com um olhar
provocativo.
— Eu poderia ter visto se Lucky tivesse me dado uma
chance antes — Ele parecia pensativo.
Lucky rosnou baixo.
— É melhor calarem a boca — rosnou. — E parem de
olhar para o corpo dela. — Lucky colocou sua bebida na
mesinha de centro e me fitou. — Como você está se sentindo?
Não devia estar na cama?
— Céus, a cama! — sorri para o Lucky. — Acho que me
apaixonei pela sua cama.
— Por que não se apaixona pelo dono da cama? — falou
Jordan com um sorriso.
— Talvez, se ele for bom igual à cama? — Meu tom era
provocante vendo os olhos arregalados do Lucky.
Ryan riu.
— E se eu disser que aquela cama é minha? E que sou
tão bom quanto ela? — Seu tom era provocativo e brincalhão.
Eu sacudi a cabeça, sorrindo para ele.
— Não é sua cama, é do Lucky — fui firme ao declarar
isso e fui me sentar ao lado do Lucky. — Porque aquela cama
perfeita tem o cheiro dele. — Escorei nas costas do sofá e
suspirei.
— E que cheiro seria esse? — sondou Jordan.
Eu sorri vendo os olhos brilhantes do Lucky que me
obeservava atentamente.
— Lavanda floral, mas com toque de café com creme,
chocolate com cobertura de mel.
Lucky esboçou um sorriso. Fiquei feliz por ele sorrir um
pouco, tirando aquele tormento que estava em seus olhos .
— Eu cheiro tudo isso?
Eu assenti muda. Enquanto ele ampliava mais o sorriso
sexy.
— Eu nunca mais quero tomar café com creme em
minha vida — Ryan arrulhou.
— Não sabe o que está perdendo — provoquei e depois
falei sério. — Mas ao acordar em um quarto que é um sonho
encantado e em uma cama que parece que você morreu e foi
para o Céu, eu achei que estivesse em algum tipo de reality
show com câmeras invisíveis me observando.
Jordan riu.
— Se você estivesse sem roupas, seria fascinante.
Lucky olhou para ele e logo o sorriso de Jordan sumiu.
— Certo, desculpe — Ele não parecia arrependido.
— Pode sonhar sentado, porque em pé vai cansar —
disse e depois fitei o Lucky. — Diga-me uma coisa: quem
tirou as minhas roupas e colocou essas? E de quem é esse
shortinho curto? Juro, se for de alguma mulher que você
trouxe para cá, eu tiro agora.
— Eu nunca trouxe nenhuma mulher aqui na minha casa
— falou Lucky com sinceridade.
Eu arregalei os olhos com descrença.
— Quer dizer que aquela cama dos meus sonhos é
virgem? — Meu tom saiu duas oitavas mais agudo.
Ele riu torto.
— Espero desvirginar ela em breve. — Seu olhar varreu
o meu corpo. Eu senti o calor subir por ele como laser que
saíam dos seus olhos indo para minha pele. — E quanto às
roupas que foram tiradas de você, foi a Rayla que as tirou e
colocou essas que está vestindo, elas também são dela,.
— A loira do Alex? — perguntei e peguei uma
almofada, então coloquei no colo e no peito.
Ryan revirou os olhos.
— Alex não é namorado dela.
— Porque alguém teve a decência de estragar tudo sem
pensar nos sentimentos dos outros — retruquei.
— Está falando de mim? — rosnou Lucky.
— Tem mais alguém aqui que se mete na vida dos
outros? — repliquei fitando-o.
Ele deu um suspiro desalentado e sem forças.
— Você estava muito bem com ele para se importar com
os sentimentos dela.
— Vocês dois precisavam de uma lição. Você… — eu o
fitava enquanto ele retribuía com o olhar enervado. — Por se
meter em minha vida, e ela por ser fraca e deixar ser
controlada por você e o seu poder.
— Eu não a controlo — rebateu ele.
— Alex ama sua irmã de verdade, tanto que estava
disposto a deixar você fechar seu negócio de família só para
estar ao lado dela, mas ela simplesmente foi embora — Meu
tom saiu amargo ao pensar na sua escolha tola.
— Você parece muito defensora dos outros — replicou.
— Eu defendo quem está certo. — Meneei a cabeça de
lado. — Eu defenderia você também, se estivesse certo, mas
você está sempre errado.
— Isso não é verdade.
— É claro que é. Você tem a sua própria maneira de
conseguir as coisas, mas nem sempre é o jeito certo. Como eu
disse uma vez, o dinheiro não compra tudo nessa vida.
Algumas coisas são conquistadas com gestos.
— Gestos? — indagou ele.
Eu percebi que estava nervosa e também notei que
estávamos sozinhos. Seu amigo e seu irmão tinham ido
embora. Para onde, eu não sabia, e também não me importei
com isso no momento. Eu peguei a mão do Lucky.
— Gesto como esse que você fez por mim, me salvar
daquele cara. Agradeço por você ir lá… — minha garganta
fechou com um nó.
Ele suspirou e apertou a minha mão, escorou a sua
cabeça nas costas do sofá como se não tivesse força.
— Quando eu vi você com Alex, meu sangue ferveu,
não só de raiva, mas de dor também, ela tomou conta de mim,
era um sentimento que nunca senti antes, apenas tinha em
mente que não deixaria que você ficasse com ele.
— Eu não ia ficar com ele — interrompi. — Apenas
estávamos dançando.
— Daquele jeito? — Ele riu sem vida, mas seu olhar era
inalcançável como o Sol que vemos todo dia, no qual não
podemos tocar, apenas sentir. — Mas mesmo se quisesse, eu
não tinha o direito de interferir. Afinal, você não me pertencia
e não iria nunca me pertencer de nenhuma forma…
— Mas eu não tinha a intenção de ficar com ele, não sei
se você notou, mas a única parte do meu corpo que ele tocou
foi a minha cintura.
— Isso é motivo suficiente para querer matá-lo — Seu
tom tinha um gosto amargo.
— Alex ama a sua irmã e desculpe falar, mas ela é uma
tremenda de uma fraca por se deixar coagir por você.
— Eu só queria protegê-la — sussurrou baixinho, mas
eu o vi arrependido.
— Podemos proteger quem amamos, mas isso pode ser
feito sem interferir na vida delas. Você já se perguntou como
ela se sente sobre isso? — Eu levantei as sobrancelhas para
ele.
— Eu estou tendo sessão com a psicóloga Samantha
Gray? — ele perguntou, mas havia um esboço de sorriso.
Minha nossa, que boca! E como eu estava louca para devorar a
sua boca. ainda mais depois daquele beijo que tivemos. Só de
imaginar que ele nunca beijou ninguém antes me fazia feliz e
querer de novo. Mas não podia agora, porque os traumas dele
teriam que se desfazer com o tempo e com alguma terapia.
— Desculpe é que… quando vejo uma pessoa assim
como você… — gesticulei para ele —, eu fico preocupada e
procurando algo para poder ajudar. — Tracei suas veias com
as unhas da minha mão.
Ele arqueou as sobrancelhas negras e grossas.
— Pessoas como eu? — incitou.
Eu suspirei.
— Uma pessoa que é maníaca por controle ou por querer
tudo ao seu modo, isso sempre vem de algum trauma que teve
em sua infância. Quando crianças, nós deveríamos ser criados
e amados por nossos pais. Infelizmente, isso não acontece
sempre. E quando nos tornamos adultos, carregamos as dores e
as lembranças do maus tratos que sofremos, e temos que
carregar para sempre. Uma pessoa com traumas de infância,
que não teve a vida que deveria ter tido… Bem, em sua
memória ficam presas coisas que aconteceram e que não
consegue esquecer, mas também não deixa de pensar sobre
elas. Nossa mente é composta por uma terminação cerebral
que sente tudo o que vimos e ouvimos. Então, sua mente busca
coisas que não o faça se lembrar do que ocorreu com você, ela
evita isso o quanto pode. A sua lembrança fica presa em um
canto de seu cérebro, e para não pensar nisso a sua mente de
agora conjura só o que você quer e não o que aconteceu
realmente. Então você não consegue fazer o que sua mente
bloqueou quando era criança, como se fosse um escape para
não sentir dor, a perda e o medo. — falei a ele.
Eu olhava sua expressão de ultraje.
— Soube que vai a um psicólogo. Ele não fala sobre isso
com você?
— Não, porque isso não é algo que eu quero ouvir —
Sua voz estava grossa, acho que era por causa das lembranças
que teve com as minhas palavras.
Minha expressão era estapafúrdia.
— Se você não gosta de ouvir a verdade, por que razão
vai ao psicólogo? Está jogando dinheiro fora.
— Eu não sei — admitiu por fim, recuperando-se e me
olhando de lado. — Talvez, eu troque por outra mais eficiente.
— Mas, para isso, ela não pode ter medo de dizer a
verdade a você — falei e depois a ficha caiu. — É uma
mulher? — Minha voz saiu um pouco mais alta no final por
causa do choque.
Então, Lucky tinha seções com uma mulher e aposto que
eles já ficaram juntos. Droga! Eu não queria me preocupar
com isso, mas me preocupava, porque doía saber disso, mas
esse era o passado dele. Eu não devia me importar, mas
machucava saber que ele teve tantas mulheres.
— O que foi, Sam? Você está com ciúmes? — Seus
olhos brilhantes estavam arregalados e incrédulos.
— Não — menti.
Ele pegou meu queixo com os dedos.
— Sam… — meu nome saindo da sua boca parecia tão
doce. — Não aconteceu nada entre ela e eu.
— Não? — Eu franzi o cenho. — Como não? Você é o
tipo de toda mulher na Terra.
Ele ergueu as sobrancelhas na forma de V.
— Eu sou seu tipo de homem?
Eu sorri torto.
— Até se eu fosse lésbica, mudaria de time para ficar
com você — soltei a verdade.
Ele riu sacudindo a cabeça.
— É bom saber disso — sorriu, tocando a minha
bochecha. Depois, ficou sério. — Então, não ia ficar com
aquele… Alex.
Eu suspirei.
— Eu fiz aquilo, porque estava com raiva de você por
me mandar rosas e bilhetes, mas nunca aparecer pessoalmente
na minha casa e pedir para eu sair com você… — E também
pelo contrato do casamento que ele ia me propor, mas não falei
sobre isso agora, afinal, eu não sabia se podia aceitar sua
proposta assim. Precisava de mais tempo para pensar melhor.
Eu sei que ajudaria muitas crianças, mas não queria meu
casamento a base disso.
Ele me interrompeu.
— Mas você disse não.
— Sim, eu disse, mas se você tivesse aparecido na
minha casa pessoalmente, eu teria dito sim, com certeza.
Entretanto, você não foi, assim como não chegou em mim na
festa do Martins, mas saiu com outra mulher… — minha voz
falhou.
Ele piscou.
— O quê? Eu não fiquei com ela e nem com ninguém.
— Ele tocou no meu rosto. — Uma parte de mim queria ir até
você para dizer tudo o que estava sentindo e me sufocava. Mas
a outra tinha medo do que iria dizer. Olha que não sou de
temer qualquer coisa. Eu sinto muito por ter causado dor em
você e por tê-la magoado. — Ele me olhou sério — Acredita
que não fiquei com ninguém? Porque só você me importa.
— Eu acredito em você. Eu também sinto por tudo que
disse na Rave. — Eu me encolhi em suas mãos como um
gatinho. — Então, não ficou com sua psicóloga?
Ele sacudiu a cabeça e sorriu.
— Eu não sou o tipo dela.
Meus olhos se arregalaram.
— O quê? Por acaso ela é lésbica?
Ele sorriu ao aproximar o rosto do meu e ficou tão perto
que senti seu calor em meu rosto.
— Não — respondeu ainda sorrindo. — Mas ela tem o
dobro da minha idade.
— Oh! — Eu tentei desviar os olhos dos dele, mas não
consegui.
— Você estava com ciúmes dela? Responde a verdade…
— pediu, antes que eu mentisse de novo, mas ele parecia
esperançoso. — Eu preciso saber para sossegar meu coração
aflito.
Eu suspirei.
— Por que outra razão você quer saber? — Minha voz
era fraca ao ouvir a sua declaração. Eu apertei tanto as minhas
mãos em minhas pernas que achei que ficariam com
hematomas, só para não o puxar para mim e beijá-lo com
fervor.
— Porque, eu estou louco para beijar você. — Ele fitava
os meus olhos e meus lábios abertos.
— Não vai doer? — Minha voz era fraca. Eu queria
perguntar porquê ele não beijava ninguém, mas me controlei.
Ele deu de ombros.
— Talvez, mas eu não consigo resistir a vontade de
devorar esses lábios de novo, Rosa Vermelha — Sua voz era
tomada de paixão capaz de incendiar o planeta e meu corpo
inteiro. Se uma palavra dele fazia isso com meu corpo,
imagina o que faria se eu estivesse transando com ele? Perdi o
fôlego.
— Eu não quero que sinta dor…
Ele me interrompeu devorando a minha boca como se
estivesse com uma sede terrível e que há muitos dias não se
saciava. Porém, eu podia senti-lo estremecendo e o maxilar
tenso. Ele estava sentindo dor, eu não queria isso. Fui me
afastar, mas ele não deixou isso acontecer, me deitou no sofá e
pairou em cima de mim, mas ficou com todo seu peso.
Aprofundou mais o beijo, devorando cada canto da minha
boca e sugando a minha língua. Para quem nunca beijou, ele
beijava muito bem.
Minha pele tremulava de prazer e queimava a cada toque
dele, parecia chamas na minha pele. Ele palmilhava cada canto
do meu corpo e o alisava como se minha pele fosse seda fina.
O seu toque me enchia de fogo até nas partes mais sensíveis.
Apertei ele contra mim querendo mais dele. Embora
estivéssemos colados, não tinha brecha entre nós dois. Até me
esqueci de que meu braço tinha uma tala. Eu gemi assim que
ele esfregou o seu quadril no meu e pude sentir a sua
necessidade intensa. Parece que esse som que saiu da minha
boca o incentivou a continuar e ficar mais feroz e faminto.
Suas mãos alisavam meus braços e desceram para minha
cintura, quadril e coxa .
O meu corpo travou assim que seus dedos foram para o
meio das minhas pernas.
— Lucky… não posso… — eu não conseguia fazer
aquilo, não conseguia chegar a isso. Por isso nunca fiquei com
ninguém. Eu sabia que o desgraçado do Dilan me deixou uma
marca, por isso nunca deixei nenhum homem me tocar assim.
Mesmo que eu ansiasse pelo toque do Lucky como precisava
do ar.
Eu me formei em psicologia para ver se assim eu
cobriria as cicatrizes devido à infância e até à adolescência que
tive. Embora, também fosse para ajudar pessoas que
necessitassem. Lembrei-me daquela noite terrível que queria
entrar em minha mente, mas a bloqueei para não pensar nela.
Lucky saiu de cima de mim como se eu o empurrasse ou
batesse nele. Eu podia ver o seu olhar magoado com o que eu
disse. Ele deve ter pensado que eu não queria mais o seu
toque. Mas isso não era verdade.
— Me desculpe, Sam… Eu…
— Não tem o que se desculpar, Lucky. — Eu me sentei e
coloquei as mãos no meu colo. Eu precisava dizer alguma
coisa para ele não parecer tão magoado sem dizer a verdade,
embora isso também não fosse mentira. — Acho que não estou
pronta para dar esse passo agora… Preciso de tempo, já que
nunca fiz…
Ele me avaliava meio atônito.
— Sam, você é virgem? — Ele se sentou perto de mim e
tocou meu queixo com os dedos e levantou para mim olhar
para ele. — Eu preciso saber a verdade para poder lidar com
isso.
Eu me afastei do seu toque de cenho franzido.
— Não tem que lidar com nada — Minha voz saiu
baixa, mas tinha uma pontada de dor. — Eu sei que está
acostumado com mulheres experientes fazendo tudo o que
quer…
Ele tocou meu rosto de novo. Seus olhos cintilavam
como o Sol, embora fossem verdes.
— Você é a única mulher que eu quero para sempre e
para desvirginar a minha cama pela qual se apaixonou. — Ele
beijou meu rosto, mas percebi que sorria cálido.
— Não é só a cama que vai desvirginar — sussurrei
corando.
— Eu vou amar cada momento. — Beijou as minhas
têmporas. — Não importa o quanto eu tenha que esperar até
você estar pronta. Eu vou esperar.
Mas e se eu nunca estivesse pronta?—, pensei. Mas não
falei em voz alta.
— Mas você tem as suas necessidades — sussurrei
baixinho.
— Eu tenho uma mão para fazer isso. — Ele se afastou
um pouco e me lançou um sorriso devastador.
— O que você vai fazer com a mão, Lucky? —
perguntou Shaw.
Eu me levantei depressa. Shaw estava de testa franzida
olhando de mim para o Lucky sentado no sofá com uma
almofada no colo para esconder a sua… Eu queria rir disso,
mas Shaw não estava sozinho. Ryan e Jordan estavam juntos
com sorrisos estampados em seus rostos. Acho que os dois
sorriam do meu desconforto e do estado do Lucky.
— Eu acho que o Lucky quis dizer que vai fazer um
mingau para você — falou Ryan com um sorriso debochado
para o irmão e depois olhou as minhas bochechas rosadas.
Eu sabia muito bem que Ryan não estava falando de
mingau normal e sim de outra coisa. Eu fechei a cara para ele
e olhei para o sorriso inocente do Shaw.
— Eu adoro mingau de milho — quicou, olhando para
Lucky. — Você vai fazer agora?
Lucky colocou um sorriso no rosto olhando Shaw e se
levantou. Meu olhar foi para sua calça para ver se estava alta,
mas não estava. Os efeitos do amasso já haviam passado,
embora o meu corpo ainda estivesse quente por causa do seu
toque.
— Claro. — Olhou afiado para Jordan e Ryan. — Acho
que vocês vão querer me acompanhar também.
— Pode fazer você — Ryan ainda estava sorrindo.
— Preciso de vocês comigo agora — Seu tom parecia
uma ordem. — Precisamos conversar.
Nenhum dos dois pareceu se incomodar com a forma
que Lucky falava, já deviam estar acostumados com seu tom
autoritário. Eles saíram e me deixaram sozinha com o Shaw,
mas eu podia ver os três na cozinha através da vidraça. As
paredes da sala e da cozinha eram de vidro, deixando o
ambiente mais confortável e claro. Ryan e Jordan estavam
sentados nas cadeiras e de frente para a mesa de vidro. Lucky
estava de pé olhando alguma coisa no laptop. Apostei comigo
mesma que era alguma receita. Eu ri, mas depois o sorriso
sumiu ao mesmo tempo em que Ryan e Jordan me olharam de
olhos arregalados com alguma coisa que Lucky disse.
Eu virei o rosto corando, porque tive cem por cento de
certeza que ele estava falando sobre eu ainda ser virgem , só
assim para explicar os olhos arregalados e descrentes dos dois.
Ainda mais ao se deparar com uma mulher de vinte e quatro
anos de idade que não tenha transado. Talvez, eles pensassem
que eu tivesse uma doença genética que era impossível de ter
relações sexuais. Mas meu problema era pior que esse, e foi
causado por um trauma do passado que não me permitia ir em
frente, e tudo por causa de Dilan. Eu esqueci tudo isso e me
foquei no Shaw ali comigo, peguei a sua mão, o puxei para o
sofá e me sentei ao seu lado.
— Como você está Shaw, com tudo isso? — perguntei.
Seu semblante era triste.
— Eu não sei, mas eu tive muito medo de ele machucar
você — sua voz falhou.
Eu o abracei forte.
— Eu estou bem, meu amor — eu o tranquilizei. — Ele
foi preso e não vai mais nos machucar.
— Lucky prometeu que ele não vai sair mais da cadeia.
— Shaw se afastou para me olhar.
— Você confia nele?
Ele assentiu.
— Lucky é um cara legal, por isso consigo falar com
ele, assim como falo com você.
— Eu percebi. Eu sei que Lucky é legal, mas ele só tem
um jeito distorcido de resolver as coisas — sorri e depois
fiquei séria. — Por que razão estava lá fora naquele beco
sozinho, Shaw? E por que você saiu do alojamento da Fênix?
— Eu ouvi Ana ao telefone com Diana. Ela dizia que
você estava triste por algo que Lucky Donovan tinha feito. —
Seu semblante mudou, ficando tristonho. — Ouvi que você
estava no Clube lá perto, então resolvi ir ver você.
Meu coração gelou com tudo de ruim que podia ter
acontecido com ele fora da Fênix. Mas, graças a Deus, ele
estava bem.
— Eu sinto muito por ter ido embora sem falar com
você, eu sei que nada justifica isso. — Eu enxugava seu rosto
lindo. — Mas prometo recompensá-lo.
Um sorriso apareceu em seus lábios.
— Como?
— Vou falar com Michael e ver se você pode ficar em
minha casa…
— Você vai embora? — perguntou Lucky, aparecendo
na sala com uma tigela branca nas mãos.
Seus olhos estavam virando sombras de novo, podia ver
dor, perda, medo e mais alguma coisa que não consegui
identificar.
— Esse é o meu mingau? — Shaw se levantou e foi até
o Lucky.
Lucky forçou um sorriso ao Shaw e entregou a vasilha a
ele.
— É melhor sentar na mesinha e comer. — Ele fez uma
careta. — Experimenta para ver se está bom.
Shaw franziu o cenho.
— Você nunca fez mingau? — Ele olhou para a tigela
com medo de estar ruim demais.
— Vamos, Shaw, experimenta — incentivei.
Ele foi se sentar no chão, colocou a tigela na mesinha de
centro e depois colocou a colher na boca.
Percebi que todos olhavam para ele, assim como eu,
querendo saber a sua resposta.
— Hummm — murmurou com os olhos fechados e
depois olhou para o Lucky. — Você sabia que eu não comia
nada com açúcar ou apenas esqueceu?
Lucky sorriu.
— Eu sei que você não come nada que tenha açúcar —
declarou ele. — É uma criança bem diferente, devo admitir,
porque todas as crianças particularmente amam doces e
chocolate.
— A Sam adora chocolate trufado. — Shaw sorriu para
mim e depois ficou sério. — Queria dar um a você de
presente, mas não tenho dinheiro.
Eu fiquei comovida com isso.
— Ah, meu amor, não precisa comprar nada. — Olhei
de lado para ele. — Como sabe que eu amo chocolate?
Ele continuou comendo o seu mingau tentando ignorar a
pergunta.
— Shaw…
— Eu ouvi você conversar com um cara, ele dizia que
seu aniversário estava se aproximando, mas que você nunca
queria sair para comemorar. Então, ele daria chocolate trufado
a você, embora o chocolate levasse você a engordar, mas ele te
amaria gorda caso isso acontecesse. — Ele riu baixinho.
Eu perdi o fôlego. Então ele ouviu a minha conversa
com Bryan? Mas, pela sua cara inocente, ele não pareceu ouvir
tudo que conversei com Bryan naquele dia. Onde falávamos
que éramos irmãos. Eu estava no viva voz, por isso ele ouviu
tudo.
— Quem é esse cara, Sam? — perguntou Lucky em um
tom enciumado.
Eu olhei para ele e sorri, embora sem vontade.
— Somos apenas amigos — menti. — Eu não sou o tipo
dele.
Ele piscou.
— Ele é gay? — indagou Ryan antes de Lucky.
— Por que acha que um cara tem que ser gay para eu
não ser o tipo dele? — retruquei.
Ele me olhou de cima a baixo.
— Porque você é linda e, diga-se de passagem,
ressuscita até os mortos… — ele foi interrompido com um
tapa que Lucky deu em sua cabeça. — Ai, mas que droga,
cara!
— Pare de babar por ela — rosnou e depois me olhou.
— Ele é gay? Por que razão ele disse que te amaria até gorda?
Eu ri com a possibilidade do Bryan ser gay. Céus, se ele
soubesse o que eu disse, acho que eu estaria morta.
— Se ele é ou não, eu não sei, mas ele disse que não sou
seu tipo. Eu não sou de me meter na vida particular de
ninguém — eu disse isso para ver se aliviava o seu mau
humor, que já tinha se elevado com a possibilidade de um
homem me amar. Eu olhei para o Shaw. — Sabia que é feio
ouvir a conversa dos outros?
— Desculpe, Sam, foi sem querer. — Ele parecia triste.
— Tudo bem, meu amor. Agora, termine o seu mingau.
— Então, você come chocolate e ainda tem um corpo
desses? — perguntou Ryan.
— Me diz uma coisa. — Olhei de soslaio para ele. —
Quando foi a última vez que ficou com uma mulher?
Ele franziu o cenho e não foi o único.
— Por que pergunta?
— Você olha meu corpo como se não ficasse com
mulheres há anos — falei baixo para Shaw não ouvir e cruzei
os braços, tampando os meus peitos da sua visão de gavião.
— Para seu governo, eu estive com duas mulheres
ontem à noite. — Ele esboçou um sorriso.
Eu arregalei os olhos.
— Duas ao mesmo tempo? Como um ménage? — Tentei
abaixar a voz.
— Como sabe sobre ménage se nunca… — a frase do
Jordan ficou inacabada.
Eu ri.
— Só porque nunca fiz, não significa que não saiba o
que é — repliquei. — Além disso, leio muitos livros e alguns
são sobre isso.
Ryan riu.
— O que foi? Quer experimentar? — Lucky deu um
murro no braço do irmão, que chegou a se encolher. — Mas
que droga, Lucky! Eu estou brincando.
— Desculpe desapontá-lo, mas essa não é a minha praia
— falei depois de me recuperar. — Eu sou uma pessoa que
não divide nada, muito menos um homem.
— Ah, Lucky meu amigo, você já era, já que não
consegue ficar com uma mulher só. — Jordan deu um tapinha
nas costas de Lucky.
Meu coração doeu ao ouvir aquilo, porque ele não seria
capaz de fazer com as mãos como ele mesmo disse. Como fui
idiota por pensar isso.
— Juro, Jordan, que se não calar a boca, amanhã você
vai sair nas colunas sociais sem o apêndice — rosnou Lucky.
Jordan se encolheu com o pensamento disso acontecer.
Ele com certeza devia ter visto que seu amigo não estava para
brincadeira, não com a sua cara fria e hostil.
— Desculpe, cara, foi mal — sussurrou para Lucky e
depois para mim. — Com você, ele é diferente. Devo dizer
que não ficou com ninguém desde que conheceu você naquele
elevador, e depois em seu escritório, quando entrou querendo
bater nele. — Revirou os olhos azuis com esse fato. — Não
tirava a morena da cabeça.
Eu arregalei os olhos, fitando Lucky, que tinha um
esboço de um sorriso de diamante que cintilava mais que o
Sol.
— Ah! — Eu não sabia o que dizer, não sabia se eu
ficava feliz ou triste, optei por feliz, me aproximei dele,
mordendo os lábios e dando um olhar penetrante. Depois,
sussurrei em seu ouvido. — Então, você tem alguma prática
com as mãos. Continue assim que no final será recompensado.
Senti que ele estremeceu com isso.
— Sam… — sua voz também era fraca.
Eu ri e me afastei alguns centímetros, colocando o dedo
médio e o indicador nos meus lábios e beijei, depois coloquei
nos lábios dele. Eu queria beijá-lo, mas me controlei. Fui me
afastar, mas Lucky me pegou pelo braço, me puxou para ele e
bati em sua parede dura de músculos que era seu peito
delicioso. Eu arfei com o impacto e com fogo que subiu em
meu corpo.
— Oh! Eu exagerei com meu gesto?
— Você pode fazer o que quiser comigo e com meu
corpo. — Tocou minha boca com as pontas dos dedos, eles se
abriram involuntariamente com seu toque, tão quente quanto a
brasa ardente. — Eu não ligo se eu parecer um boiola. — Seus
lábios puxaram em um sorriso. — Você sabe da verdade. —
Colocou as mãos em meu quadril e puxou para o seu. Senti a
sua dureza em meu estômago. — Isso aqui prova o que sinto
por você… E isso. — Ele chegou a boca bem próxima da
minha como se fosse me beijar de novo. Eu estava torcendo
para que acontecesse isso. Mordi os lábios para me
impossibilitar de fazer besteira e beijá-lo sem ele estar pronto.
Seus olhos ficaram injetados.
— Nossa! E quando você faz isso me deixa louco, algo
que nunca senti com ninguém, mas você é diferente! Você
mexe com algo dentro de mim, que me dá vontade de devorar
essa boca linda — Seu tom era gutural e nasalado, acho que de
desejo.
Eu prendi a respiração com essa declaração.
— Por que você quer devorar a boca da Sam? —
perguntou Shaw. — Não pode simplesmente beijá-la?
Eu me virei para Shaw. Seus olhos negros estavam
grandes como dois pires, mas seus lábios estavam levantados
em um sorriso.
Eu fiquei de costas para o Lucky e na sua frente,
impedindo que Shaw visse algo que não devesse. Lucky ainda
estava a todo vapor atrás de mim. Pude ver Ryan e Jordan
rirem do meu desconforto e do meu rosto vermelho.
— Shaw… — minha voz falhou. — Não ligue para o
que Lucky disse.
Eu já ia até o Shaw quando as mãos de Lucky pegaram a
minha cintura e me apertaram contra seu corpo, como se me
abraçasse por trás.
— Se eu fosse você, não saíria daí — sussurrou Lucky
bem próximo no meu ouvido. Pude sentir seu hálito quente
banhar a minha pele e o arrepio correr através dela como uma
corrente elétrica. — Ou o Shaw vai ter uma surpresa que
nunca viu antes.
Parei onde estava e prendi a respiração ao sentir ainda a
sua dureza em minhas costas. Eu queria esmurrá-lo e beijá-lo
ao mesmo tempo por isso. Eu sabia que ele estava se
aproveitando da situação.
Ele passou os braços em minha cintura, deixando
descansar as mãos em minha barriga. Senti seus dedos
alisando a tatuagem. Queria empurrá-lo, mas me segurei. Ele
colocou o queixo no meu ombro direito e olhou para o Shaw.
— Estou aqui, tentando convencer a Sam para que ela e
você fiquem aqui até ela ficar boa — Seu tom era meloso.
— Lucky — o adverti, porque isso era golpe baixo,
ainda mais ele usar uma criança. — Eu tenho que falar com
Michael, e não acho que ele vá…
— Deixa que eu cuido do Michael — interveio Lucky.
Eu afastei de perto do Lucky e olhei seu rosto.
— Não gosto de como você resolve as coisas — rosnei.
Ele suspirou.
— Não tem outro jeito de resolver as coisas com
Michael.
Eu funguei.
— Existe diferença entre falar e ameaçar. — Sacudi a
cabeça. — Shaw, querido, porque não pega o meu telefone? —
Olhei para o Lucky. — Onde ele está?
— Dentro do criado-mudo ao lado da minha cama.
Eu assenti e olhei para o Shaw.
— Você pode pegá-lo para mim?
— Sim, eu já volto. — Saiu correndo.
— Sem correr, você pode cair da escada e se machucar
— gritei.
Os dois amigos dele não estavam na sala também,
deviam ter ido a algum lugar, mas não liguei. Eu me afastei do
Lucky, dando um tapinha nele.
— Você se aproveitou da situação só porque o Shaw
estava aqui.
Ele riu descarado.
— Você provocou isso. — Apontou para sua calça que
estava com um volume alto através do jeans.
— Sério? Não me lembro de ter feito nada, apenas me
aproximei de você — Meu tom era insinuante.
— Oh, Rosa Vermelha! Seu toque desperta um vulcão
que está preso e doido para ser solto. — Seu sorriso era
libidinoso.
— Isso veremos quando você desvirginar a cama e a
mim. — Apontei para o meu corpo e fitei de um jeito sexy e
inocente. — Mas posso não ser boa…
Seu olhar era cálido e devastador ao mesmo tempo.
— Isso é impossível, Rosa Vermelha — Sua voz era
pesada de desejo. — Mas vou adorar morder cada canto do seu
corpo saboroso, principalmente essa tatuagem.
Eu fiquei sem fôlego por um segundo.
— Céus! Se só essas palavras fazem meu corpo pegar
fogo, imagina…
Seu sorriso era cativante.
— Quando eu estiver dentro de você? Vou fazer você
gritar em cada canto dessa casa — ele falava sem nenhum
pudor.
— Oh! Eu também o farei gritar.
— Eu adoro esse seu lado de gatinha provocante e vou
adorar ver ele em minha cama também.
Eu não pude deixar de sorrir e me sentir feliz por ele
gostar que eu falasse assim com ele. Lucky parecia tão
instigante. Ergui as sobrancelhas para ele.
— E se eu parecer uma pantera selvagem, o que vai
fazer? — mordi os lábios.
— Você vai me fazer gozar nas calças — sussurrou,
mexendo-se.
— E não vai ser o único! Se querem transar, por que não
vão para o quarto? — rosnou Jordan ali perto.
Meu sorriso sumiu e fiquei constrangida por ser atrevida
na frente deles. Eu nunca fui assim, aliás, eu nunca conheci
ninguém que me interessasse desta forma como Lucky. Suas
palavras acendiam cada canto da minha pele e se
transformavam em labaredas. Mas eu pensei que eles dois não
estavam ali, por isso falei isso com Lucky..
— Desculpe… é que… achei que não estavam aqui…
— eu ainda estava sem fôlego pelo toque do Lucky, mas o que
eu ia dizer? Eu não sabia porque reagia assim, mas era mais
forte do que eu, como se meu corpo e minha boca tivessem
controle próprio.
Lucky me olhou com um esboço de um sorriso.
— Não precisa pedir desculpas, Rosa Vermelha — Seu
tom era amoroso e quente ao mesmo tempo. — Você pode
fazer e dizer o que quiser.
Suspirei, mas antes que eu dissesse algo, Shaw chegou
com o meu telefone, eu ignorei a todos e meu desejo por esse
homem.
— Obrigada, querido — agradeci ao Shaw enquanto
pegava o meu telefone.
— Um cara ligou, e parecia o mesmo cara que falou
sobre os chocolates e que você ia engordar com os bombons.
— Riu e depois ficou sério. — Ele estava preocupado com
você, já que não apareceu na casa dele como era para fazer. —
Ele suspirou. — Eu tentei tranquilizá-lo, dizendo que você está
bem, mas acho que ele não acreditou. Ele disse que se você
não ligar em dez minutos, ele vai bater em sua casa.
Eu já estava discando o número de Bryan. Eu sabia que
eu devia ter ligado esses dias, mas não tive oportunidade, já
que estava meio moribunda. Ele atendeu no primeiro toque.
— Onde você está? — gritou do outro lado da linha e
tive que afastar o telefone da orelha.
Olhei para o Lucky, que estava com a testa franzida.
Coloquei o celular na pele para abafar o som e fui até Lucky e
sussurrei em seu ouvido.
— Sabe que é só você, não tem ninguém em minha vida
e nunca teve — sussurrei e me afastei. — Eu já volto — disse
a ele e atendi o telefone. — Você está querendo me deixar
surda?
Fui para a varanda e olhava a vista bela da cidade.
— Como você está? — Seu tom era ansioso.
— Estou bem, Bryan — eu o tranquilizei com a voz
baixa para eles não escutarem da sala.
— O que houve? Você sumiu…
— Eu não sumi, apenas… Bryan não posso falar agora,
mas juro que estou bem — sussurrei. — Eu prometo que vou à
sua casa no próximo fim de semana e nós conversaremos, tudo
bem?
Eu fitei a sala, encontrando os olhos de Lucky que
estavam me encarando.
— Jura que está tudo bem? — sondou em dúvida.
— Eu juro! Tenho que desligar, mas estou bem.
— Amo você.
— Eu também — respondi e desliguei, disquei outro
número que precisava.
— Alô? — falou Michael.
— Sou eu, Samantha…
— Sam? Você está bem? — Seu tom parecia
preocupado.
— Sim. Eu estou bem — Suspirei. — Obrigada.
— Eu soube pelo que você passou nas mãos de Saul. Eu
sinto muito.
— Já passou. O importante é que ele foi preso e não vai
chegar perto de Shaw nunca mais — disse. Assim eu esperava.
— Se tem o dedo do Lucky, então com certeza vai ficar
— Tinha um tom de amargura na voz dele ao pronunciar o
nome do Lucky
— Queria ver com você se o Shaw pode ficar comigo na
casa do Lucky — Assim que disse o nome do Lucky me
arrependi, porque saiu um rosnado da garganta dele.
— Sam, eu me importo com você, então vou perguntar
algo… — ele parecia sem jeito. — Vocês estão ficando juntos?
Eu respirei fundo sem saber se estávamos em um
relacionamento, afinal, nem conversamos sobre nada disso
ainda.
— Não sei bem o que está havendo conosco, mas espero
que sim.
— Eu sei que não é da minha conta perguntar ou falar
sobre isso… — respirou fundo — Ele vai pisar em você igual
faz com todas.
Meu coração doía com suas palavras e temia que isso
pudesse ser verdade, mas aí vinha na minha mente a conversa
que ouvi dele com Shaw e voltei atrás. Ele não faria isso
comigo, porque se importava e sentia amor por mim, apenas
não conseguia dizer em voz alta.
— Lucky está diferente, ele é legal por debaixo daquela
fachada. Ele não vai fazer nada disso — sussurrei baixinho.
— É um risco muito grande que você vai ter que correr
— Sua voz era triste no final.
— Vai deixar o Shaw ficar ou não? — esquivei-me de
suas palavras.
— Sam, mas se você tem planos de ficar com Lucky
definitivamente, então você não vai poder ter o Shaw.
— O quê? — eu quase gritei. — Por quê? Você acha que
o juiz vai ser contra caso, eu fique com Lucky?
Ele deu um suspiro desalentado do outro lado da linha.
— O problema não é o juiz, e sim o Lucky…
— Como assim? Por que ele não iria querer que eu
adotasse o Shaw? Ele tem várias empresas que beneficiam
adoção pelo mundo — minha voz falhou com a possibilidade
de Lucky não aceitar o Shaw.
— Eu vi uma entrevista dele na HBO em que ele dizia
que ajudava crianças carentes sim, mas que ele não queria ter
filhos e nem adotar nenhuma criança.
— Ele disse? — sussurrei baixo. Talvez fosse por isso
que ele não tenha adotado Logan, mesmo gostando do garoto.
— Sim. Eu sinto muito, Sam — Seu tom era grave e
emoldurado.
— Não precisa sentir. — murmurei pensando em ter que
escolher entre os dois.
— Mas a boa notícia é que o juiz aprovou a guarda
provisória de Shaw.
Meus olhos brilharam de lágrimas.
— Sério? — Entrei com pedido de guarda do Shaw há
algum tempo, ainda bem que não pedi as contas do meu
serviço, porque eu estando desempregada, o juiz jamais diria
sim para eu ter a guarda do meu garoto.
— Sim, estou falando sério — garantiu. — Então,
conversou com Lucky sobre a sua exigência? Ouvir dizer que
ia pedir as contas daqui. Não faça, Sam, vamos arranjar um
jeito de resolver esse problema .
— Obrigada, Michael — disse comovida. — Mas não se
preocupe, porque o Lucky não vai mais interferir nos meus
caminhos, agora eu posso ficar na Fênix sem correr o risco
dele fechá-la — Pelo menos uma notícia boa.
— Você está com ele por causa disso? — perguntou com
ultraje.
— É bom saber que você pense tão mal de mim, e que
eu me submeteria a algo assim — minha voz saiu grave.
— Lamento, Sam, não foi o que eu disse…
— Mas foi isso que deu a entender — Suspirei. — Passo
aí depois para assinar os papéis.
— Tudo bem, Sam, sinto muito por ter dito algo que a
insultou. Saiba que não tive essa intenção — disse e desligou.
Meu Deus! O que eu faria agora? Se eu escolher o
Lucky, perderei Shaw. E se eu ficasse com Shaw, perderia
Lucky. Mas eu nem tinha ele ainda e já iria perdê-lo? Como
poderia escolher entre os dois? Não tinha que escolher, porque
se o Lucky me quisesse, teria que aceitar o Shaw também. Nós
dois éramos um pacote só. Se Lucky não me quisesse com
Shaw, então partiria com o meu menininho lindo do coração.
Limpei as lágrimas e voltei para sala. Podia ver todos
conversando entre si e pararam de falar para me olhar.
— Sam, o que foi? — perguntou Lucky num tom
preocupado.
— Aquele cara te fez chorar? — rosnou Shaw. — Eu
vou acabar com ele.
Eu sorri em meio às lágrimas com a sua coragem de
enfrentar o Bryan.
— Não. Ele não me fez chorar — eu o tranquilizei. —
Estava falando com Michael.
Ele franziu o cenho.
— O que ele disse a você para ficar assim?
Notei que a cara de Lucky ficou assassina, como um
leão faminto a procura de caça, me apressei em explicar ou ele
iria arranjar um jeito de acertar as contas com Michael. Mas
quando ele soubesse da verdade, era ele que iria acabar
comigo, talvez até me expulssasse. Eu me encolhi por dentro,
mas não deixei isso apagar a felicidade que estava sentindo
por ter Shaw em minha vida para sempre. Isso era algo que
queria há tanto tempo.
— O juiz disse sim — soltei para Shaw, ignorando
todos. Apenas fitava o Shaw. Não pude deixar de ficar feliz ao
ver seus olhos brilhando como uma árvore de natal. Eu contei
a ele algumas semanas atrás que tinha planos de adotá-lo,
precisava saber se queria ficar comigo caso o juiz dissesse sim.
Shaw ficou feliz, acho que feliz era pouco.
— Isso quer dizer que vou morar com você para
sempre? — Seu tom era eufórico.
— Sim, meu pequenino — sorri em meios às lágrimas.
Ele correu e me abraçou pela cintura.
— Eu te amo tanto, Sam — sussurrou, chorando.
Eu olhava para o Lucky atrás do Shaw, enquanto
respondia.
— Você é a coisa mais importante na minha vida, Shaw.
— Eu respirei fundo. — Não desistiria de você por nada nesse
mundo.
Os olhos do Lucky estavam em um terror profundo,
pareciam que estavam sendo perfurados por vários tipos de
lâminas e dores.
Ryan e Jordan olhavam para sua reação, também
preocupados com o amigo.
— Você vai adotá-lo? — Sua voz saiu engasgada, como
se tivesse engolido algas marinhas.
Eu suspirei, segurando a raiva, porque se ele dissesse
algo que magoasse Shaw, eu iria acabar com ele.
— Sim — respondi olhando seus olhos atormentados. —
Eu nunca agradeci a você por me forçar a me demitir aquele
dia, porque graças a você, eu pude ter o Shaw em minha vida.
Agora ele faz parte da minha família, o meu garotinho lindo.
Os olhos de Shaw brilharam como duas pérolas negras.
— Eu já sou homem, que tal me chamar de garotão ao
invés de garotinho? — pediu, sorrindo.
Eu também sorri.
— Fechado, garotão. — Toquei seus cabelos.
— Eu tenho que sair… — disse Lucky com dificuldade
de falar. — Não vou demorar.
— Não tem que me dar explicação. — Tentei ignorar a
dor. — A casa é sua, e não temos nada, não é?
Seus olhos se estreitaram ao ouvir o ressentimento e a
raiva na minha voz. Ele não disse nada, apenas virou as costas
e foi embora. Ryan me deu um sorriso de desculpas e saiu
atrás do Lucky junto com o Jordan.
Eu tentei não chorar e deixar Shaw triste. Ele parecia tão
alegre em morar comigo que não faria nada para fazê-lo
pensar o contrário. Como isso não comoveria o coração do
Lucky? Será que ele não se sentia bem com um sorriso
daqueles? Um sorriso mais brilhante que o Sol.
— Sam, você está chorando por ele ter saído?
Eu o fitei.
— Um pouco, mas ele vai voltar logo — sorri,
aproveitando meu garotinho nos meus braços. Uma felicidade
que nada apagaria. Eu dava graças a Deus por ter Shaw em
minha vida.
Eu fiquei até tarde esperando Lucky chegar em casa,
mas já passava de uma da manhã e ele não havia chegado.
Minha mente ia para tantos pensamentos, o que me machucava
e fazia eu me encolher na cama dele, era pensar que nunca
iríamos desvirginar a cama, não eu, pelo menos. Ele poderia
estar em qualquer lugar da cidade com outra mulher. E tudo
porque ele não me aceitou com Shaw. Meu coração dóia fundo
ao imaginar ele tocando outra mulher, a minha alma sangrava
como se estivesse milhares de agulhas afiadas nela.
Eu estava tão feliz por Lucky não ter ficado com
ninguém depois que me conheceu, mas agora tudo isso podia
mudar, porque ele já devia estar com alguém e eu não ia ser
capaz de perdoar.
8 - Renúncia
LUCKY
O mundo desabou como se um tanque de guerra tivesse
sido lançando sobre mim, me deixando destroçado e
aniquilado no chão sem dar espaço e tempo para gritar
socorro.
Na hora em que a Sam disse que ia adotar o Shaw, algo
dentro de mim se quebrou em pedaços como cacos de vidros,
um sentimento sobrepondo a felicidade que eu sentia por tê-la
em meus braços e por ela retribuir o mesmo que eu sentia.
Perdi a minha alma já quebrada, me esquecendo de
morrer completamente e ir para o abismo que sempre foi antes
de ter a Sam comigo em meus braços e sentir o sabor daquele
beijo de mel. A perda estava me sufocando por dentro, como
se meus órgãos estivessem sendo esmagados por um triturador
de carne e deixando o meu sangue escorrer pelas frestas.
Estava completamente devastado por sair da minha casa
e deixá-la com aqueles olhos. Céus! Eles pareciam quebrados
e fui eu quem os quebrou, deixando-a para trás só porque não
conseguia lidar com a minha merda distorcida.
A revelação bombástica que ela fez acabou comigo,
pois, agora eu percebia que o Céu estava azul com a sua
presença e se tornou escuro, um cinza borrado, sem estrelas e
sem luz, pois ela era a luz, sempre foi ela.
A palavra adoção tocou fundo em algo na minha alma
negra como breu, porque eu sabia que não consiguiria ser um
pai amoroso e atencioso como uma criança quer e necessita
diariamente. Um pai verdadeiro. Eu não tive isso de nenhum
lado até os meus seis anos, quando fui resgatado pelos
Donovan e que também foram tirados de mim por um acidente
de carro.
Podia ajudar pessoas que queriam adotar crianças
necessitadas que precisavam de um lar feliz e amoroso,
também podia ajudar em outras áreas, assim como um dia, eu
fui ajudado por Miguel e Laura, os pais de Ryan e Rayla,
outras crianças também precisavam de uma oportunidade de
serem felizes e amadas, mas eu não era um homem digno de
ter alguém em meus cuidados, uma criança para tomar conta.
E se isso acontecesse e eu não conseguisse lidar, então eu seria
parecido com ela, com a mulher que dizia ser minha mãe e
depois me deixou para morrer naquela casa no meio do nada e
de fome.
Eu precisava de tempo para pensar naquela bola de neve
que a minha vida estava se tornando, vi nos olhos da minha
Rosa Vermelha que não desistiria do Shaw por nada no
mundo, nem por mim. Ela mesma disse isso antes que eu
saísse da minha casa. Até disse que me agradecia por ser
demitida, porque assim o conheceu.
Eu estava correndo o risco de perder a mulher que eu
mais amava na minha vida, aliás, a única que já amei em
minha vida, não conseguia dizer essas palavras a ninguém em
voz alta, nem mesmo a Sam. Uma frase tão simples e tão
profunda. Mas que me fazia lembrar-se dela, da maldita
mulher que desgraçou a minha vida e que dizia ser minha
mãe. Ela dizia essa frase o tempo todo para mim, mas aposto
que não conhecia o significado.
“Eu amo você, meu filho’’. Tantas vezes ela disse que
me amava, e eu, como uma criança, acreditava nela. Mas isso
nunca aconteceu, porque Mary não amava ninguém a não ser
ela mesma e o dinheiro.
Eu cresci com traumas dessas palavras. Por isso, jurei
que nunca iria dizer a frase “eu te amo’’ para alguém, se eu
falasse seria igual a ela: inescrupulosa e desumana. Também
jurei nunca receber nenhum NÃO em minha vida.
Samantha me fez cair de joelhos por ela como nunca
fiquei por nenhuma mulher. Sua bondade, tenacidade,
sinceridade, sua glória e seu esplendor me conquistaram. E
também, ela não teve em nenhum momento medo de me
enfrentar, mesmo sabendo do que era capaz. Sua fibra fez com
que me apaixonasse por ela a ponto de não querer e não poder
viver sem sua presença.
Eu saí da minha casa e fiquei vagando pelas ruas de
Manhattan, sem rumo e sem destino. Precisava esfriar a cabeça
para não fazer besteira e me arrepender depois, também buscar
uma solução para o meu problema. Jordan e Ryan foram
comigo, não queriam me deixar sozinho do jeito que eu estava.
Com certeza estavam com medo de eu ter um surto em algum
lugar da cidade.
— Onde estamos indo? — perguntou Jordan do banco
de trás do meu Porsche preto.
Ryan estava do meu lado.
— Precisamos falar sobre isso, Lucky — Ryan
resmungou. — Você não pode deixá-la só porque ela vai
adotar o menino.
— Ou vocês calam a maldita boca ou saem do meu carro
— rosnei, apertando minhas mãos no volante para controlar a
raiva, não deles, mas de mim mesmo por ser um egoísta e
tomado por merdas fodidas do meu passado.
Eu ouvi os suspiros exasperados dos dois, mas eles
ficaram quietos e me deixaram em paz. Eu poderia demitir
Jordan da minha empresa já que ele trabalhava para mim, mas
nunca faria isso, mesmo que agora me sintisse como um lixo.
Ele e Jason eram meus melhores amigos.
Entrei na South Street Se aporte, onde ficava o píer 17. E
também onde ficava o navio Fênix e a lancha Schaefer 620
pequena. Era aquela lancha que eu queria, porque ela era
veloz, e precisava de velocidade.
Saí do carro quase correndo. Por sorte, eu tinha as cópias
das chaves dos meus barcos. Minha lancha tinha uma listra
alaranjada, parecida com as cores brilhantes da Fênix. Gostava
desse pássaro, porque me sentia como ele. Eu morri e nasci de
novo, por isso a tatuei em minhas costas para ter o lembrete de
como estava prestes a virar cinzas se não fosse por Miguel me
encontrando, vinte e dois anos atrás. A Sam também tinha a
tatuagem da fênix abaixo do seu umbigo perfeito e descendo
até mais embaixo, lá era onde eu queria estar, mas pelo visto
isso não iria acontecer tão cedo.
Pulei na lancha e liguei, acelerando para sair dali e logo,
não notei se via o João, o piloto que tomava conta de meus
barcos. Ele quem pilotava os barcos quando saíamos. Mas
naquele momento, eu precisava e queria estar sozinho sem
ninguém azucrinando a minha cabeça.
Voei com a lancha dali do píer deixando Jordan e Ryan
gritando. Não liguei, apenas queria correr e deixar a minha
mente livre como o vento, só assim a dor não me tocava como
uma cadela que ela era, embora, de todo jeito estivesse me
perseguindo como uma doença crônica.
— Droga, Lucky! Você não pode dirigir assim desse
jeito — gritou Ryan exasperado.
Eu não queria voltar e lidar com a dor que estava me
esmagando de dentro para fora como um câncer sem cura, mas
ao invés dele matar só a matéria, ele estava matando a minha
alma.
Eu acredito que naveguei por horas viajando pelo Rio e
o mar à frente, sem ter hora de voltar para casa, mas estava
escurecendo, assim como a minha vida, podia ver o alaranjado
do Sol se pondo no horizonte.
Jordan e Ryan ainda estavam no píer esperando por mim
e furiosos por os ter deixado para trás, me seguiram, porque
quiseram, já que não pedi para que viessem comigo.
Deixei a lancha no píer e fui direto para o meu carro.
Pude ver que o João não estava muito longe dali, mas não
parei para falar com ele, me sentia entorpecido por todos os
lados.
Ryan me fuzilava com os olhos.
— Vejo que você voltou — rosnou. — Sabe quantas
reuniões, eu perdi por ficar aqui esperando você?
Eu o ignorei e saí do píer indo em direção ao meu carro
estacionado no meio fio. Pude ver os dois me seguindo e
entrando no carro junto comigo. Eu segui adiante, mas para
onde? Eu não sabia, e também não queria saber do meu
destino ou da minha perda.
Eu pensei no passeio de lancha que havia feito, imaginei
o ar puro e com cheiro almiscarado do vento banhando o meu
rosto, tão puro e suave. Eu queria ser normal e menos
complicado para fazer Sam feliz.
Pensei e repensei, mas a única conclusão que cheguei é
que não era homem suficiente para fazê-la feliz como Sam
merecia. Podia ver isso pelas coisas que eu fiz à ela, e a dor
que a causei desde o dia que a conheci. Como fui capaz de
machucar a única mulher que eu amei em toda a minha vida?
A única que me fez sentir vivo como nunca senti antes? Eu era
um monstro que deveria ser destruído por ousar tocar naquele
anjo perfeito.
Foi só quando eu a beijei no sofá da minha sala que pude
sentir que Sam também me amava, embora ela não tivesse dito
nada a mim, mas pude sentir em cada toque e em cada beijo
que tivemos.
Eu iria sofrer a ponto de quase morrer por me afastar e
ela também por me amar, mas era o certo a fazer. Ela merecia
coisa melhor do que um homem que a machucou.
— Ao invés de ficarmos perambulando pela cidade
como doidos… — Jordan resmungou —, por que não vamos
ao meu apartamento?
Eu respirei fundo, mas meus pulmões doeram como se
eu estivesse me afogando, arranhando minha garganta ou
talvez eles estivessem com defeito. Assim como eu, por ter
nascido nesse mundo.
Eu não respondi, apenas dirigi para seu apartamento, que
ficava na cobertura da Lux. O hotel era do Jordan e não ficava
muito longe de onde eu morava, quase um de frente para o
outro.
O pai de Jordan era um cantor famoso de rock, James
Johnson, da banda Clave. Ele comprou esse Hotel e deu ao
filho de presente de aniversário, de vinte e dois anos, embora
com o dinheiro que ele ganhava e ganhou por fechar vários
negócios para mim, com certeza compraria vários destes
hotéis ou mais. O cara também tinha a conta recheada, me
disse que estava investindo em redes de hotéis, um ramo muito
bom de investimentos.
As paredes da sala eram revestidas de uma cor palha e
os vidros traziam luz ao ambiente, fazendo-o mais
aconchegante. A sala bem decorada e organizada, dois sofás
marrons com almofadas coloridas, uma imensa estante
avermelhada dava ao ambiente um ar sofisticado, entre meio
os sofás e a estante, ficava a mesinha de vidro de centro e um
tapete Persa forrado no chão.
O apartamento do Jordan era muito bem organizado e
sem nenhum sinal de coisas fora do lugar. As cortinas estavam
puxadas para o canto das janelas de vidro. Ele tinha esse
hábito de deixar tudo arrumado se não fosse por ele ser um
mulherengo, daria para ser um monge.
Eu sabia que Jordan não trazia nenhuma mulher para seu
apartamento, assim como nunca levei nenhuma para minha
casa e nem pretendia, porque a única mulher que desejava e
queria era a minha Rosa Vermelha. Nós quatro fizemos uma
promessa, Ryan, Jordan, Jason e eu, de não estragar nosso
ambiente trazendo uma foda para nossa casa.
Na parede à direita da estante, tinha um grande quadro
que eram dois lobos brancos rugindo um para o outro. Pensar
em lobos de olhos azuis me fazia pensar nela e a dor voltou
mil vezes pior, como um tsunami sobre mim. Eu ignorei a dor
que estava sentindo e fui à imensa adega e peguei uma garrafa
de whisky e segui para a varanda, me sentei em uma
espreguiçadeira branca que ficava ali, apenas queria que a dor
passasse ou que um meteoro caísse sobre mim me levando a
falência de vez, porque eu não queria ficar como um envólucro
caído e sem vida pela Terra. Se fosse para isso acontecer era
melhor estar morto de uma vez.
Já eram quase onze horas da noite, fiquei olhando para o
meu edifício enquanto bebia. Dali dava para ver o meu prédio
e notei que todas as luzes estavam apagadas, menos a do meu
quarto. Sam estava lá e talvez esperando por mim. Céus o que
eu faria? Eu precisava deixá-la para o seu bem, mas como dóia
tanto assim?
— Droga, Lucky, fala alguma coisa com a gente! —
resmungou Ryan, parando perto da imensa porta de vidro que
dava para a varanda.
— Eu não quero pensar, apenas quero beber e fazer essa
dor passar… — suspirei desalentado.
Ele deu um suspiro exasperado.
— Eu sei que você tem essa defensiva de pensar mal de
si mesmo, pensar que você não é bom o suficiente para educar
uma criança, mas não se esqueça de que foi você que terminou
de nos criar — A voz de Ryan era séria, mas senti ela se
rachando no final. — E você fez isso muito bem.
Quando os pais dele e de Rayla morreram, tomei conta
dos dois, sei que fiz um bom trabalho em educá-los. Mas ter
um filho? Era outra coisa, isso era uma responsabilidade que
estava me corroendo por dentro como um maldito verme que
come tudo que vê. Uma dor que não queria cessar de nenhuma
forma. Bebendo era a única forma de esquecer a dor e tudo
que estava acontecendo em minha vida miserável. Ou pelo
menos tentar esquecer, mas acredito que nem assim era
possível.
Jordan e Ryan deixaram-me sozinho com a garrafa de
whisky e a dor havia me entorpecido. Mas que sofrimento era
esse que estava me consumindo por dentro?
Já eram cinco da manhã, e eu não tinha pregado o olho
um segundo, mas cheguei à conclusão de que iria lutar pela
Sam, mesmo que isso me fizesse ser o pai de Shaw. Eu iria
falar com ela e dizer que aceitava os dois em minha vida, e
que a queria para sempre. O que não suportava era vê-la
chorando, pois percebia pelas luzes acesas do meu quarto, que
ela ficou até a uma da manhã acordada, apostava que
esperando por mim.
Depois do trabalho, eu iria falar com a Sam, assim teria
mais tempo de arrumar a minha cara mal dormida e a ressaca,
até parece que havia passado a noite em uma festa ou fodendo
alguém. Quase ri com isso, bem, se eu conseguisse rir de novo.
Eu não queria transar por aí e não ia ficar com qualquer
mulher aleatória, apenas queria a minha Rosa Vermelha. Sam
estava em cada gota do meu sangue e em cada célula de meu
corpo, ela era o ar que eu respirava dia e noite, sem ela eu não
era nada, não era ninguém, apenas um corpo caminhando sem
vida.
Cheguei entorpecido no meu trabalho, porque não
suportava ficar muito tempo longe dela. Eu devia ter ido para
casa e pedido, ou melhor, suplicado seu perdão por deixá-la
sozinha ontem o dia todo e a noite também. Eu esperava que
ela ainda me quisesse, porque senão… não sabia o que
aconteceria comigo.
A nova assistente que contratei pulou assim que eu
cheguei ao meu escritório. A contratei no lugar da Nancy, que
se mudou de cidade.
Essa nova assistente era morena e bonita, se eu não
tivesse sido domado por uma mulher linda, que me enfeitiçou
de corpo e alma, acho que teria transado com ela. Mas isso
agora estava fora de questão, Samantha Gray me inutilizou
para todas as mulheres, só de pensar em outra me sentia
enojado e com asco de mim mesmo.
— Bom dia, senhor Donovan, você quer saber agora o
relatório completo de suas reuniões que foram canceladas por
três dias? — A sua voz mostrava bastante eficiência.
Eu não respondi. Passei por ela sem olhar para trás e abri
a porta do escritório, falei sem me virar.
— Eu não quero ser incomodado por ninguém — Minha
voz era fria e hostil. Aliás, eu estava frio.
— Mas…
Eu me virei com um olhar mortal e gelado. Ela se
encolheu onde estava.
— Qual a parte do ninguém que você não ouviu? —
esbravejei. — Se alguém me incomodar, você estará na rua. —
Entrei, deixando-a de olhos arregalados.
Eu me joguei no sofá olhando o teto. Ali no silêncio da
minha sala, os únicos sons que eu ouvia era o farfalhar do
vento batendo na janela e a dor de meu coração quebrado. Ele
dava cada fisgada que achei que estava tendo um infarto
fulminante aos vinte oito anos, mas é claro que não era bem
isso, a dor que sentia parecia estar me triturando por dentro,
podia sentir que estava sem forças para lutar e acreditar que eu
realmente merecia uma segunda chance.
Peguei meu telefone e disquei o número de Simon, ele
atendeu no segundo toque.
— Senhor — respondeu.
Eu precisei resfolegar.
— Onde está Samantha? — Minha voz era quebradiça
como vidro ou como eu mesmo.
Ele suspirou.
— Ela entrou no prédio da Ônix há dez minutos, senhor.
— O quê? — Eu me coloquei de pé.
— Sim, senhor. Ela entrou…
Eu cortei.
— Mas aqui ela não chegou.
— Se a senhorita Gray não foi visitar o senhor, como ela
mesma disse… — ele pareceu pensar um pouco e depois
prosseguiu —, então, talvez ela tenha ido ver a senhorita
Muller.
— Mas o que ela haveria de conversar com a Sasha? —
rosnei, saindo da sala e entrando no elevador para o nono
andar.
— A senhorita Muller foi ao apartamento do senhor e
disse alguma coisa para o menino Shaw, que a senhorita Gray
não gostou muito, porque ficou furiosa — Seu tom agora era
grave.
— Estou quase lá — desliguei.
Eu cheguei ao salão da Vênus, mas não havia nenhuma
criança ali presente. Eu podia ouvir as vozes vindas da sala da
Sasha.
— Então, é você — A voz do Kevin veio de algum lugar
lá dentro. — Ele pode não querer você, mas eu quero. Você
parece ser um vulcão na cama, se lá tiver toda essa selvageria.
— Solte-me — Sam rosnou — Isso é algo que nunca vai
saber.
Todo o meu sangue ferveu ao ouvir o que Kevin disse,
tanto que queria mata-lo, esfolar o desgraçado que estava
assediando a minha mulher, a minha preciosa Rosa Vermelha.
— Talvez eu consiga — Pelo seu tom, parecia malicioso.
Entrei no escritório da Sasha e olhei para as costas do
maldito que olhava para Samantha à sua frente.
— Não se você quiser continuar vivendo — sibilei.
Eu pude ver que ele tremia com a minha ameaça, isso
era bom, porque não estava brincando nenhum pouco. Estreitei
meus olhos ao ver o estado de Sasha. Ela estava toda
descabelada e com várias manchas vermelhas em seu rosto,
mas também estava um pouco inchada. Isso sem contar sua
camisa com dois botões abertos.
— Mas que droga está acontecendo dentro da minha
empresa? — minha voz era mortalmente fria.
Eu pude ver Sasha e Kevin se encolherem com o meu
tom, mas ao olhar para Sam vi que ela estava com raiva, aliás,
ultrapassava a raiva, era pura fúria e ódio. Eu me encolhi por
dentro com o ressentimento e o abismo nos olhos dela.
Senhor! Ela não ia me perdoar por ter ficado longe à noite e ter
fugido desde ontem como um maldito fodido que era. Eu não
sei, mas eu estava tremendo por dentro com medo de ela me
deixar de vez.
— Já estou de saída da sua empresa — Ela declarou
“sua’’ com ênfase e com os olhos fulminantes.
A dor se apossou de mim mil vezes, pior do que antes.
Foi tão forte que achei que eu morreria ali mesmo.
— Sam… — tentei falar, mas parece que tinha algo
entalado em minha garganta.
Ela me ignorou e fulminava a Sasha.
— E você nunca mais se aproxime de Shaw — sibilou.
O que Shaw tinha a ver com isso? Simon disse alguma
coisa sobre Sasha ter dito algo a ele que a Sam não gostou, e
parece que foi algo grave para deixá-la furiosa desse jeito,
podia ver isso pelas roupas rasgadas de Sasha e os cabelos
despenteados. Parecia que ela havia levado uma surra.
— Porque se você se aproximar dele… — continuou
Sam com a voz fria como uma geleira. — Juro que seu rosto
vai ficar tão desfigurado que nem o CSI vai identificar.
Sasha arregalou seus olhos castanhos claros de choque
ao ver o veneno na voz da Sam.
— Eu vou dar parte de você — sibilou Sasha.
Sam não pareceu se intimidar com as ameaças da Sasha
de denunciá-la, mas é claro que eu não deixaria isso acontecer
com a minha Rosa Vermelha. Nunca.
— Posso ir para cadeia, mas você vai desejar nunca ter
se metido comigo — grunhiu ameaçadoramente.
Meu rosto era grave ao olhar sombriamente para Sasha,
quem ela achava que era para ameaçar a minha mulher? Eu
quase ri com isso, até podia ter tomado Sam como mulher,
mas ao ver a frieza ao olhar para mim agora pouco… Cheguei
tarde! Agora, a minha vida acabou.
— Ninguém aqui vai para cadeia. — Eu me coloquei no
meio das duas, não me importando com a Sasha, e sim com a
minha Rosa Vermelha, podia ver a tala em seu braço, ela
pareceu ter se esquecido que estava machucada. — O que está
acontecendo aqui e o que Shaw tem a ver com isso? — Minha
voz estava com raiva, aliás, eu estava tremendo de raiva.
Sam suspirou.
— Eu já fiz o que tinha que fazer aqui. — O olhar que
ela lançou para Sasha era maligno e frio. — O recado está
dado. — Ela se virou para ir embora, mas eu segurei seu braço
temendo que ela me deixasse de vez.
Eu precisava conversar com ela de algum jeito antes que
ela decidisse me deixar para sempre. Precisava dizer tudo o
que eu sentia, dizer que ela era tudo na minha vida, até
imploraria se fosse preciso.
— Sam…
Ela se esquivou de meu toque como se fosse um veneno.
A escuridão começou a entrar em mim me forçando a cair em
um abismo profundo e sem poder voltar à superfície. A perdi
para sempre e tudo por causa do maldito trauma, e deixar isso
dominar a minha vida, a única luz que eu tinha, única
esperança de ser feliz.
Seus olhos também estavam entorpecidos.
— Por favor, se você realmente se importa comigo, não
se aproxime de mim… — Sam expirava irregular e parecia
que estava querendo ficar calma e não chorar, mas eu podia
ver a sua boca trêmula.
Eu prometi a mim mesmo que nunca a faria chorar de
novo, se eu pudesse evitar, mesmo que eu acabasse pagando o
preço por isso, mas era melhor eu sofrer do que Sam.
— Eu vou ficar longe de sua vida e não vou atrapalhar…
Eu prometo — Segurei toda a minha dor e guardei para não
mostrar a Sam o quanto a sua partida estava me despedaçando.
Seus lábios estavam trêmulos.
— Obrigada — sussurrou em um resfolegar e saiu quase
correndo, como se eu estivesse infectado por alguma doença
contagiosa.
— Senhor, eu… — Kevin parou de falar com o murro
que dei em sua boca que o sangue chegou a descer.
Eu olhei para ele com uma fúria homicida.
— Se ousar tocar, olhar ou respirar o mesmo ar que
Samantha, eu juro que você vai ser destruído em segundos —
sibilei entredentes, olhando para Kevin limpando o sangue que
escorria na boca.
— Mas foi ela…
Cortei o latido da Sasha com o meu olhar fulminante.
— Isso vale para você também — rosnei. — O aviso foi
dado para os dois.
Voltei para meu escritório dormente, tirando a dor que
irradiava como o meu sangue que bombeava pelas minhas
veias, podia ver as trevas se apossando de mim com tal poder
que achei que desmaiaria no elevador. Céus, como isso dóia!
Parece que cada parte de mim estava morrendo aos poucos.
— Senhor… — começou a nova secretária. Nunca me
lembrava do nome dela, mas também não me interessava
agora.
— DEIXE-ME EM PAZ! — esbravejei. — Ninguém
entra aqui ou não verá o dia amanhã.
Entrei em minha sala e caí prostrado no carpete,
deixando a dor se apossar de mim. Eu merecia isso por ser um
idiota estúpido por deixá-la escapar de novo. Mas agora era
para sempre, perdi a coisa mais valiosa que um dia já tive.
Esse buraco que estava sentindo em minha alma parecia me
esfolar vivo e que nunca iria passar.
Que dor tremenda era essa que nunca senti antes? Por
que parecia que estava morrendo e caindo em um abismo ou
sendo rasgado de dentro para fora como se estivesse com algo
destroçando tudo dentro mim?
Eu sabia que dali por diante a minha vida desprezível
seria como se estivesse em um purgatório, e iria ser assim
enquanto vivesse.
Pela primeira vez em vinte e dois anos, eu chorei como
uma criança e me deixei cair à deriva em um torpor de dor.
9 - Sobrevivendo
SAM
Eu acordei cedo para ver se Lucky havia chegado mais
tarde e talvez não o tivesse visto chegar, mas para meu
pesadelo, ele não apareceu e não ligou para dizer onde estava,
até mesmo para dizer que estava bem. Ingratidão de sua parte,
deveria pelo menos dar notícias.
Precisava sair da sua casa antes que ele chegasse. Aonde
já se viu? Ele ficar em outro lugar só por que eu estava ali?.
Minha mala rosa de roupas já estava no quarto, supus
que Lucky devia ter mandado alguém ir buscar em minha casa.
Desperdício de tempo, já que não fiquei uma noite ali.
Vesti uma calça jeans skinny e uma blusa branca de alça
por causa do braço que estava com a tala, mas graças aos céus
não doía muito. Isso era bom, assim eu podia voltar para o
trabalho. Saí da casa de Lucky antes que Shaw acordasse, pois
precisava resolver algumas coisas antes de levá-lo comigo
para casa no Brooklin, como, por exemplo, a sua adoção.
Cheguei na Fênix e assinei os papéis que Michael
organizara para a adoção de Shaw. Eu nem acreditava que
agora ele era meu. Nem por um breve segundo tive dúvidas
em adotar o meu garotinho e ficar com Lucky. Se Lucky me
quisesse, teria que aceitar o Shaw também, a esperança era
mínima a esse respeito, eu sabia que ele não mudaria de ideia
nesse caso.
Michael havia dito para que me recuperasse antes de
voltar ao trabalho.
— Não precisa se preocupar, eu vou ficar bem —
tranquilizei.
Ele também mencionou que o Lucky ligou e disse que
não se entrometeria mais em meu trabalho, quando soube
disso me irritei com Lucky, quem ele pensava que era para se
meter assim em minha vida? Mas sabia que não adiantava
bater de frente com ele, pois perderia essa batalha, era como
nadar e morrer na praia.
Optei em não dizer o que havia acontecido entre mim e
Lucky ao Michael, mas acreditava que logo ele iria saber, não
me importei com isso, no momento apenas iria curtir Shaw em
minha vida, como meu filho. Falei ao Michael que começaria
a trabalhar na segunda feira, essa semana iria passar com
Shaw. Queria levá-lo ao Central Park para fazer piquenique e
aproveitar a nossa vida juntos, um novo futuro.
Liguei para Diana para ver se Lucky havia aparecido na
empresa. Ela ficou confusa por eu querer saber dele, mas disse
que havia chegado lá cedo com cara de quem não dormiu a
noite, e o pior ficou a noite inteira bebendo e farreando. O meu
coração sangrou ao ouvir isso. Então, ele foi procurar diversão
em outras mulheres? Por que eu me surpreenderia? Afinal, ele
é Lucky Donovan, o cara mais cobiçado do mundo —, pensei
amarga. Como Jordan mesmo mencionou, ele não seria de
uma mulher só, ainda mais esperar por uma pessoa que não
estava pronta, fui uma completa idiota por pensar que ele me
esperaria. Mas tem males que veem para o bem, talvez não
fosse ele o cara que iria me ajudar a superar o medo e o
passado assombrado que tinha. Meu coração não aceitou isso
muito bem.
Cheguei à casa do Lucky por volta das dez da manhã
para buscar o Shaw e irmos embora antes que ele resolvesse
voltar para sua casa, o que acreditava que não faria enquanto
eu estivesse lá, por isso iria facilitar as coisas para ele e sair
antes de ser expulsa.
Assim que eu entrei no apartamento, ouvi o grito agudo
de Shaw vindo da direção do quarto onde estava dormindo,
achei que ele estivesse tendo um pesadelo, mas eram dez
horas, e ele sempre acordava cedo. Corri para cima pulando os
degraus de dois em dois e entrei em seu quarto, era grande
com cama de casal king size e lençóis azuis e cortinas de seda.
Esse quarto era enorme e com janelas de vidros de cima a
baixo, com uma televisão de led e um Xbox.
Simon estava à porta, olhando para dentro, mas sem se
aproximar, sabia que esses eram os gritos de Shaw quando não
queria ser tocado por ninguém. Shaw estava sentado no chão
encolhido perto da cabeceira da cama, os joelhos dobrados no
peito e a cabeça apoiada neles e chorando. Passei correndo
pela porta e me ajoelhei à sua frente.
— Shaw, meu amor. — Peguei seus ombrinhos e alisei
seus cabelos lisos.
Ele levantou a cabeça e seus olhinhos lindos. Pude ver
as lágrimas que escorriam pela sua bochecha. Aquilo me
cortou o coração. Não suportava vê-lo chorando e tomado de
dor, parecia doer no fundo da minha alma, me abraçou forte
como se quisesse me manter ali para sempre.
— Eu sinto muito, Sam… — sussurrava sem parar.
— Meu amor, me diz o que houve — pedi suplicante. —
Você está me assustando, Shaw.
Ele respirou fundo e se afastou, olhando meu rosto. Eu o
peguei, levei para cama e sentei-me ao seu lado.
— Logo quando acordei, fui procurar você, mas você
não estava, o Simon me disse que você tinha saído…
Eu o avaliava.
— Sim, eu fui assinar os papéis da sua adoção —
declarei. — Por isso está assim?
Ele sacudiu a cabeça.
— Por que não me disse que Lucky terminou com você,
porque resolveu me adotar? — Ele se encolheu.
Meus olhos se arregalaram ao ouvir isso de sua boca.
— O quê? Quem falou isso para você?
— Não importa — expirou. — É verdade?
— É claro que importa! — Peguei seu rostinho pequeno
e lindo. — Prometemos não esconder nada um do outro,
lembra?
— Não quero que sofra, Sam… — sua voz falhou ao me
abraçar. — Talvez fosse melhor…
— Não ouse pensar assim, Shaw! — interrompi com o
pânico tomando conta de mim. — Eu não posso perder você…
— eu o afastei para ver seu rosto. — Nunca pense em me
deixar, Shaw… Nunca!
Seus olhos ficaram marejados e ainda mais ao ver as
lágrimas descer pelo meu rosto.
— Não chore, Sam — pediu, quase desesperado.
— Então não fale em me deixar… nunca mais.
Ele assentiu.
— Por isso não fui embora sem falar com você — Sua
voz era só um sussurro. — Mesmo depois daquela mulher
dizer todas aquelas coisas…
— Que mulher? — indaguei sufocada — E o que ela
disse? — Ele hesitou em não contar. — Shaw, me diga a
verdade.
— O Simon a chamou de senhorita Muller.
— O quê? — gritei com a raiva me apossando. — O que
ela disse?
Ele se levantou e olhou pela janela de vidro.
— Ela disse que eu era um bastardo sem família e que
ninguém me queria por perto, também disse que sou um órfão
morto de fome… e que eu estava atrapalhando seu
relacionamento com o Lucky, porque ele nunca ia me querer…
— sua voz era quebradiça como vidro.
— Ela disse isso? — perguntei pelos lábios rígidos e
trincando os dentes. Segurei a raiva por ela tê-lo magoado,
mas ela iria pagar por tudo e por cada lágrima derramada dele.
— Sim. — Ele limpou as lágrimas com as costas das
mãos e me olhou. — É verdade, não é?
— Shaw, querido — Cheguei perto dele e peguei sua
mão. — As partes feias que ela disse não são verdades, você
não é morto de fome e também não é um sem teto. — Peguei
seu rosto em minhas mãos e olhei nas suas duas pedras negras.
— Quanto ao Lucky… Ele tem algum trauma de infância.
— Mas, então… — ele não terminou, embora eu senti a
dor em seu coraçãozinho.
— Posso gostar do Lucky, Shaw, só que você é mais
importante do que todo mundo. — E o Bryan também, pensei
mentalmente. Os dois eram tudo em minha vida. Eu o abracei
e beijei seus cabelos. — Eu amo você, Shaw, mais do que um
irmãozinho. — Beijei cada bochecha dele molhada pelas
lágrimas. — Amo você como um filho, como se tivesse saído
de mim. — Afastei-me e olhei para ele. — Então, não pense
nisso, se Lucky não quiser você, é porque não merece o que eu
sinto por ele.
— Mas…
— Um dia, quando for adulto e tiver uma namorada…
— interrompi —, e ela pedir para você ficar longe de mim, o
que você fará?
Ele sacudiu a cabeça com veemência.
— Nunca, Sam! Se ela me amar, terá que aceitar você
também — Sua voz tinha tanta veemência.
— O mesmo que eu digo, meu lindo. — Beijei seu rosto
e me afastei. — Agora, vamos embora dessa casa, para nossa
casa, frisou essa ultimas palavras.
Ele sorriu.
— Amo você, Sam, para sempre — sussurrou.
— Também te amo, garotão.
Eu saí da casa do Lucky sem olhar para trás, mas meu
coração estava sangrando por dentro por ficar longe dele,
porém, não podia ficar com uma pessoa que não queria o meu
filho junto, porque era isso que Shaw era. O meu filho.
Eu ia pegar um táxi para ir embora para casa, já que não
podia dirigir por causa do meu braço, mas Simon disse que me
levaria. Ele tentou me convencer a ficar e esperar o Lucky e
que tudo ia se acertar entre nós, mas eu não acreditava
verdadeiramente nisso.
Eu queria nunca ter conhecido Lucky, para não estar
sofrendo assim por causa dele, mas isso era impossível. Agora
eu ia acertar as contas com a vadia da Sasha. Ela ia se
arrepender por ter se metido no meu caminho e por ter
magoado meu garotinho.
Pedi ao Simon que me levasse na empresa do Lucky
antes de me levar para casa, dei a desculpa de que ia agradecê-
lo por me hospedar em sua casa. Mas é claro que tinha outra
coisa em minha mente. Fui direto para o escritório da Sasha,
vendo Diana no caminho antes que eu entrasse.
— Sam, o que faz aqui? — perguntou confusa e um
pouco preocupada ao ver meu estado, minha raiva transpirava
pelos poros.
— Sasha está aí?
— Sim, na sala dela com…
Eu não fiquei para ouvir. Fui direto para sua sala e entrei
sem bater. Eu arregalei os olhos ao ver a cadela sentada na
mesa e um cara entre suas pernas beijando seu pescoço. Sua
saia estava suspensa até a cintura. Os dois se afastaram assim
que entrei. O cara se virou e me fitou com raiva a princípio,
mas por segundos, assim que seu olhar de falcão comeu meu
corpo, ele sorriu e o sorriso era do gato Cheshire, camisa
estava com dois botões abertos, cabelos negros e anelados,
estilo social e os olhos castanhos.
Sasha abaixou a saia e pude ver que ela usava uma
calcinha vermelha de renda. Sua camisa também estava aberta
como a do homem, ficou vermelha escarlate assim que me viu.
— Mas que droga você está fazendo aqui — gritou,
cerrando os punhos. — Eu vou…
Ela parou de falar quando me aproximei e lhe dei uma
bofetada que chegou a virar o seu rosto.
— Sua vagabunda, você vai se arrepender por ter
mexido comigo — esbravejei.
— Você ficou maluca? — gritou, segurando seu rosto
que agora estava vermelho,peguei seus cabelos e os puxei
passando uma rasteira e ignorando seus gritos ao cair ao chão
feito uma abóbora madura. Sentei em seus quadris, sabia
algumas coisas de luta que aprendi com Bryan, dei outra
bofetada em cara e lamentei a outra mão não estar boa para
bater com ela também.
— Isso é por ter feito Shaw chorar… — bati de novo —,
isso é por ter dito aquelas coisas para ele.
Ela tentava se defender das bofetadas cobrindo o rosto
com as mãos, mas não conseguia.
— O que está esperando, Kevin, para tirar essa doida de
cima de mim? — rosnou.
Kevin só estava ali de braços cruzados me observando
bater.
— Eu não acredito que esteja apanhando de uma mulher
com um braço só — riu debochado, mas veio e me pegou por
trás, me tirando de cima de Sasha. Eu lutava em seus braços
para me libertar e acabar com ela, mas ele era forte.
— Como pôde dizer aquelas coisas para uma criança?
— gritei sem me importar se os outros fossem ouvir.
Ela se levantou ajustando a roupa rasgada, seus cabelos
estavam desgrenhados e me olhava furiosa.
— Por sua culpa, o Lucky estava inconsolável ontem —
sorriu como se tivesse ganhado na loteria. — E você sabe onde
ele foi buscar consolo?
Eu parei de lutar nos braços do Kevin, essa notícia foi
como se levasse um tiro no peito e me desfalecesse aos
poucos. Então, ele foi buscar consolo nela. Já era difícil
descobrir que ele buscou consolo com uma mulher, mas tinha
que ser com ela? Meu mundo desabou.
— Então, é você — a voz do Kevin veio bem próximo
ao meu ouvido. — Ele pode não querer você, mas eu quero. —
Eu senti me apertar contra seu corpo… disse para se afastar de
mim e fui para longe dele, nunca iria me ter. Me devolveu um
sorriso irônico.
— Talvez eu consiga…
— Não se quiser continuar vivendo — inrompeu Lucky.
Kevin que estava de costas para ele, ficou tão branco
como um fantasma. Será que tudo isso era medo de Lucky?
Era como se ele fosse um chefe mafioso ou algo do tipo. a
mim, ele não parecia perigoso, apenas controlador.
Lucky entrou estreitando os olhos para cada um e ainda
mais com o estado de Sasha, que estava toda despenteada e
marcas vermelhas na cara e um pouco inchada. Fora as roupas
sem botões que o cara abriu.
— Que droga está acontecendo aqui dentro da minha
empresa? — Seu tom era baixo, mas frio.
— Já estou de saída da sua empresa.
Ele me lançou um olhar entorpecido.
— Sam…
Eu o ignorei, e apontei o dedo para a cadela. Ela correu
para longe e ficou do outro lado de sua mesa, fugiu como se eu
fosse uma cobra. Isso é bom, assim ela não se mete comigo.
Então a alertei para ficar longe do meu garoto, ou ela ia se
arrepender do dia que nascera.
— O que está acontecendo aqui? E o que Shaw tem a
ver com isso? — Sua voz foi estranha ao dizer o nome de
Shaw, como se estivesse com raiva.
— Eu já fiz o que tinha para fazer aqui — olhei
malignamente para ela. — O recado está dado.
Eu me virei para ir embora, mas Lucky segurou o meu
braço bom.
— Sam…
Eu me esquivei de seu toque como se doesse e com
certeza doía como se tivesse veneno em minhas veias, embora
nunca houvesse sido picada por nada assim, mas ouvir dizer
que doía. Olhei em seus olhos assustados sem entender o que
se passava.
— Por favor, se você realmente se importa comigo, não
se aproxime mais — expirei, tentando me acalmar e me
controlar para as lágrimas não descerem na frente dele.
Ele resfolegou e assentiu.
— Eu vou ficar longe de sua vida e não vou atrapalhar.
Eu prometo.
Eu assenti com os lábios trêmulos.
— Obrigada. — Saí dali quase correndo, porque a dor
estava demais, tão forte que estava me triturando por dentro, vi
a Sara, mas não podia falar com ela, afinal, queria me manter
em pé e não desmoronar, talvez fossem ficar os três naquela
sala, como um ménage. Ryan fazia isso. Talvez, ele também
fizesse.
Quando cheguei ao elevador, desmoronei, caindo,
escorando na parede e deixei a dor sair como uma avalanche,
por sorte, eu estava sozinha, mas ao entrar no elevador, me fez
lembrar de quando o conheci e a dor só aumentou como se
uma onda gigante tivesse me apossado. E com certeza
apossou, deixando-me quebrada e destruída como nunca havia
antes ficado.
Saí do prédio deixando uma parte de mim, sabia que
nunca mais o veria de novo. E, também nunca seria completa
novamente, mas precisava lutar por Shaw, que precisava de
mim.

Foi uma semana difícil, para não dizer dolorosa, voltei


para o trabalho na Fênix. Era para eu voltar só na outra semana
como pensava, mas precisava manter a minha cabeça em foco,
precisava trabalhar para não pensar em Lucky.
O Michael me perguntou se eu estava bem para trabalhar
por causa do meu braço. Eu disse que sim, queria saber por
que razão estava triste, afirmei que não era nada, embora ele já
soubesse, por que foi ele mesmo que me alertou se eu ficasse
com Shaw iria perder o Lucky, mas ele não disse, achei bom.
Contei tudo o que tinha acontecido comigo para Diana e
Ana. As duas eram minhas amigas, também contei ao Bryan
tudo o que houve comigo desde o meu encontro com Lucky
até a nossa despedida na sala da Sasha, outra coisa que não
queria pensar.
— Eu vou matá-lo — foi o que ele me disse. Demorou
uma eternidade para fazê-lo se acalmar e não vir tirar
satisfação com Lucky. Eu disse que superei esse golpe da vida.
Bryan não acreditou que eu havia esquecido Lucky, mas pelo
menos, não queria ir matá-lo. Tremia só de pensar nessa
possibilidade.
Lucky cumpriu sua palavra como disse que faria, não
apareceu em minha vida ou atrapalhou os meus caminhos, era
como se houvesse desaparecido, mas é claro que não foi isso
que aconteceu.
Perguntei a Diana como Lucky estava, me disse que
ficava até tarde da noite em seu escritório e estava mais mal-
humorado do que nunca, como um leão faminto de raiva.
Fiz um empréstimo para pagar o hospital da Flórida que
havia negociado depois que consegui o serviço na Fênix, e
também para pagar o aluguel de onde morava e os cartões de
créditos que tinha. Quando fui pagar o aluguel que estava
atrasado, a Sra. Valência disse que havia sido quitado e pago
até o final do ano, ou seja, dali a seis meses. Com o hospital
foi a mesma coisa. Isso era muito dinheiro e ainda mais
juntando com os aluguéis e os cartões de crédito, acho que
chegava em torno dos trinta mil dolares.
Quase caí de costas ao saber que foi Lucky, só podia ser
ele, a funcionára do hospital me disse que a dívida havia sido
quitada há duas semanas, ou seja, antes de eu ser quase morta
pelo pai de Shaw. Resolvi, então, devolver a ele o dinheiro que
quitara as dívidas.
Depois de uma semana, tirei a tala, não estava doendo
mais, não gostava de andar de ônibus pela cidade, sempre
lotado, mas andei só mais uma vez, porque quando eu saí no
dia seguinte, dei de cara com Ryan e seu Porsche prata. Ele me
disse que era o meu motorista, já que eu tinha recusado a ajuda
de Simon. Ryan não aceitava não como resposta e se não
aceitasse ir com ele no carro, iria de ônibus comigo, entretanto
ia ser assediado pelas mulheres e a culpada seria eu. Nessa
hora, eu ri, ele era algum tipo de famoso do mundo da moda,
acabei aceitando a sua carona.
E quando o Ryan não podia ir, era a vez do Jordan com
ele foi mais engraçado, porque disse que se eu não aceitasse
sua carona em sua Ferrari prata, iria implorar de joelhos. Eu ia
adorar ver isso, fiquei com dó, então, aceitei. Mas, não era
idiota para saber o que estava acontecendo, sabia que isso
tinha o dedo do Lucky, sabia que eu não aceitaria a sua ajuda,
por isso mandou seus amigos. Deixei que isso não entrasse em
meu coração quebrado, o qual ele mesmo quebrou.
Coloquei Shaw na escola perto de casa, assim ficaria
mais fácil de pega-lo na hora da saída. Cheguei ao trabalho na
sexta-feira e estranhei por todos estarem me olhando como se
estivessem com pena de mim.
— Eu sinto muito, Sam — sussurrou Ana.
A princípio, achei que Lucky não tivesse cumprido a sua
palavra como prometeu e resolveu interferir de novo no meu
trabalho igual fez uma vez.
Eu franzi o cenho.
— Por que sente muito? — indaguei com a voz estranha
e olhei para o Michael ao lado dela. — Vai me demitir?
Ele piscou.
— Não, mas acho que gostaria de ver isso. — Ele me
entregou uma revista de fofoca.
Eu olhava com cenho franzido, mas o pior foi a imagem
que vi na capa. Ofeguei olhando a foto do Lucky com uma
mulher loira deslumbrante, acho que uma modelo ou se
parecia com uma, mas o meu pesadelo era que ali dizia que os
dois iriam se casar. Não reparei no nome da mulher, porque, de
repente, o ar dos meus pulmões ficou preso, me
impossibilitando de respirar. Então, Lucky conseguiu uma
noiva para se casar e tudo para comprar uma empresa de
milhões? O que ele não faria pelo poder?
Todos estavam falando comigo, mas eu não conseguia
ouvir nada, apenas queria desaparecer. Tranquei-me no
banheiro e deixei as lágrimas caírem pelo rosto, sabia que ele
tinha ficado com a Sasha, mas agora ele ia se casar com outra
mulher. Então, por que razão ficou com a Sasha se ia se casar
com outra? Isso foi só porque Lucky estava sofrendo ou ele
realmente não se importava comigo e não tinha sentimentos
verdadeiros? Eu me lembrei dele dizendo que não se casaria
com ninguém, só comigo, mas vi que mentiu.
Meu coração sangrava fundo por não ter como competir
com a noiva de Lucky. Ela com certeza nunca ia ter filhos para
não estragar seu corpo de modelo. Então, ele não teria que se
preocupar com isso e já comigo ele teria um fardo. Shaw e
meus outros filhos, que queria ter um dia. Queria ter uma casa
com cerca branca e uma varanda enorme para me sentar e
olhar meus filhos brincando no jardim e agradecer a Deus por
tê-los em minha vida, queria ter tudo isso, mas Lucky não era
o candidato para ser o pai dos meus filhos, jamais faria isso
por mim, mas essa mulher sim, ela seria uma esposa troféu que
não o julgaria pelos seus erros e nem cobraria nada dele, igual
eu faria se ele estivesse comigo.
— Sam, eu sinto muito — sussurrou Ana assim que eu
saí da cabine do banheiro.
Meus olhos estavam inchados e o branco ao redor do
azul estava vermelho, acho que até o azul parecia estar
vermelho.
— Michael deu o dia de folga para você.
Eu sacudi a cabeça.
— Vou ficar bem, Ana, e não preciso de um dia de folga
— alisei meus cabelos negros para ajeitá-los no lugar. — Eu
não vou ficar cabisbaixa por causa de um homem.
Seus olhos eram tristes.
— Não achei que estivesse se apaixonando por ele —
murmurou. — Se soubesse, jamais teria sugerido que você o
beijasse aquele dia na Rave.
Tentei não pensar naquele beijo e no que o seu toque
causava em meu corpo e também não podia pensar nele agora
que pertencia a outra.
— Não é sua culpa, mas eu vou esquecê-lo e tirar ele do
meu sistema. — Suspirei. — Mesmo se Lucky não fosse se
casar, não o teria perdoado por ter ficado com Sasha.
— Ela é realmente uma vagabunda — concordou. —
Olha, o que acha de irmos para Rave hoje e talvez lá você
possa encontrar alguém…
Eu não era dessas mulheres que ficavam com um cara
para esquecer outro, mas ela tinha razão. Eu precisava disso,
precisava tirar Lucky do meu sistema e da minha vida por
inteiro. Nós marcamos de nos encontrarmos na Rave do Alex.
Deixei Shaw com a minha vizinha que morava perto de minha
casa. Talvez, viesse a ficar fora até tarde da noite e quem sabe
encontrasse alguém que fizesse o meu coração bater mais forte
assim como Lucky fazia. Não, eu não podia pensar em amor
agora, seria apenas sexo. Eu sei que sempre sonhei em me
entregar por amor, mas a vida não era sempre o queríamos,
também não era tão perfeita como um conto de fadas. Talvez,
quando eu ficasse com alguém, esqueceria e tiraria o Lucky da
minha pele e do meu coração.
10 - Boate Rave
SAM
A boate estava lotada, mas não liguei muito, apenas
passei os olhos à procura de Diana e Ana. Para minha
surpresa, as duas estavam sentadas na cabine com Ryan,
Jordan e Rayla. Por um momento, meu coração gelou ao
imaginar ver Lucky ali também, mas ele não estava. Agora
que estava noivo, garanto que estava com ela, não a deixaria
para vir ali. Fechei todos os meus pensamentos e os tranquei.
Indo até eles.
Todos arregalaram os olhos ao me ver chegando.
— Minha nossa! Você está deslumbrante nesse vestido!
— Jordan varreu os olhos sobre o meu corpo com o vestido
que escolhi.
O vestido era vermelho tomara que caia de seda e com
pedrinhas de lantejoulas brilhantes na parte dos seios e seguia
até no meio das coxas, deixando parte delas à mostra.
Coloquei com uma sandália gladiadora de sete centímetros,
preta. Meus cabelos caíam sobre as costas formando uma
cascata de ondas negras.
— Obrigada. — Olhei os dois.
— Por que se produzir assim? — Ryan gesticulou para o
meu corpo.
— A Sam veio aqui hoje, para encontrar um cara que a
leve para cama — disse Diana com uma piscadela para mim.
Todos os três ofegaram, menos Ana e Diana.
— Você o quê? — Ryan quase gritou.
— Mas você é virgem — piscou Jordan sacudindo a
cabeça.
— Não por muito tempo — declarou Diana.
— Não pode fazer isso com meu irmão — pediu Rayla.
Eu ri amarga.
— Eu não posso fazer isso com ele? — Meu tom era
amargo ao falar olhando para cada um ali. — Foi ele que
resolveu casar com outra.
Ela me interrompeu.
— Ele não vai casar com ninguém — Sua voz parecia
esperançosa.
— Eu vi a foto na revista dele com uma loira peituda —
Tentei não deixar a dor transparecer na minha voz.
— Foi o Kevin que fez aquilo e quase perdeu o emprego
ou teve a sua cabeça na forca — declarou Ryan com um olhar
sério. — Não ele.
Eu arregalei os olhos.
— Ele não vai se casar? — perguntei com alguma
esperança.
— Não. Eu falei para ele ligar para você e explicar —
rosnou Ryan. — Aquele idiota!
Eu dei um suspiro desalentado.
— Ele não disse nada, porque quer que eu pense que vai
se casar, mas agora isso não importa mais — respirei fundo
com meus olhos querendo marejar. — Ele ficou com alguém e
eu nunca vou perdoá-lo.
Ryan me olhou como se eu fosse louca.
— Lucky não ficou com ninguém desde que conheceu
você — falou com firmeza e convicção.
— Ficou sim…
— E quem seria essa mulher que você acha que ele
ficou? — replicou Rayla com os olhos estreitos.
— Sasha…
Ryan riu amargo.
— Você só pode estar brincando! — zombou ele. —
Nem se ele não amasse você, ele jamais ficaria com Sasha,
como nunca ficou.
Eu olhei incrédula para ele.
— Eu tenho cara de que estou brincando? Ele ficou com
ela sim, e isso eu não vou perdoar nunca. — Afastei uma
lágrima, zangada.
— Sam… — começou Rayla.
— Eu não quero falar disso com vocês. — Peguei a
bebida do Jordan e despejei na minha boca para criar coragem.
A coisa desceu rasgando e queimando em minha garganta. —
Agora, vou procurar alguém que queira ficar comigo a noite
inteira e que me faça esquecê-lo.
— Lucky realmente ama você — Jordan me disse com
um tom triste.
Eu ri com desdém.
— Quem ama uma pessoa não faz o que ele fez. Ele
poderia ter vindo me esclarecer sobre a foto na revista e
também não teria ficado com aquela… — trinquei os dentes
—, mas se ele realmente gosta de mim como vocês estão
dizendo, ele vai sentir tudo que eu senti quando soube que
ficou com a Sasha — expirei para me controlar. — Agora, vou
caçar um cara aqui que esteja disposto a me fazer esquecer
tudo esta noite.
Saí dali antes que falassem algo mais sobre Lucky. Seus
irmãos disseram que ele não ficou com Sasha, mas eles com
certeza ficaram juntos, porque nem esclarecer sobre as fotos
veio fazer. Os seus irmãos me chamaram, implorando para não
fazer aquilo, mas os ignorei.
Cheguei à pista de dança e me deparei com Alex indo
para sua namorada. Eu soube que os dois voltaram a ficar
juntos, fiquei feliz pelos dois estarem bem e felizes. Ele era
carta fora do baralho para mim, mas mesmo que fosse solteira,
não ficaria com Alex, queria alguém estranho, alguém que eu
não conhecesse e que não veria no dia seguinte.
— Oh, Sam, que surpresa! — Ele olhou meu corpo e
piscou. — Você está perfeitamente sexy!
— Não deixa Rayla ouvir isso — sorri e depois fiquei
séria. — Conhece algum rapaz decente que esteja disposto a
ficar comigo hoje e que não tenha envolvimento com drogas
ou coisa do tipo?
Ele arregalou os olhos ultrajado.
— Está querendo se vingar de Lucky, não é? Mas Rayla
disse que ele não está noivo e que…
Eu interrompi.
— Mas ele ficou com alguém antes, e agora ele vai
pagar.
— Sam…
— Vai me ajudar ou não? — suspirei.
Ele também suspirou, coçou a cabeça e olhou por sobre
o meu ombro para Rayla.
— Tudo bem, mas antes me diz uma coisa. — Ele voltou
seus olhos para mim. — Você ainda é…
Eu encolhi os ombros, entendendo o que ele quis dizer.
— Por que isso importa? — reclamei.
Ele sacudiu a cabeça.
— Pelo visto ainda é — ele disse. — Olha em volta e vê
se acha alguém agradável e atraente que você esteja afim.
— Hummm — eu fiz o que ele mandou.
Vi um cara magro e com óculos de grau, mas ele tinha
cara de que não ficaria comigo a não ser se casássemos antes.
Outro cara estava conversando com uma garota morena, seu
corpo era coberto de tatuagens e cabelos loiros, não deu para
ver os olhos, pois estava de lado para mim. O outro cara que
estava ao seu lado também estava flertando com a moça
morena. Ele tinha cabelos ruivos e também com tatuagens em
seu corpo. Descrição dos dois homens: bad boys. Pelo visto,
gostavam de sexo a três. Como um ménage.
— Acho que você não está pronta para os irmãos da
banda King. — Ele bufou, revirando os olhos. — Eles dois só
fazem ménage.
Eu estremeci, não sabia se estava pronta para um,
imagina dois? Depois de alguns minutos procurando, avistei
um homem sentado no bar, estava de lado, mas deu para ver
direito. Tinha uma tatuagem que saía de sua camiseta pela gola
do pescoço e braço direito. Não deu para ver que tatuagens
eram, porque estava longe. Seus cabelos eram de um castanho
claro e curto, mas com mexas caindo em cima dos olhos que
pareciam ser castanhas, estava meio longe para ver os olhos.
— Quem é ele? — perguntei curiosa.
— Hummm! — Seu olhar caiu no cara que eu apontara
com o queixo. — Jason, eu acho que pode rolar algo com ele,
já que não fica sério com ninguém, mas é isso que você quer,
não é? — Ele me olhou de lado com os olhos cheios de
significados. Não entendi, mas deixei passar. — Vai lá e chega
nele.
Assenti, fui até o bar, me sentei ao lado do Jason e olhei
para o barman. Mas não era o garoto daquele dia e sim um
cara da minha idade ou mais velho, não sei. Forte, musculoso
e também bonito. Mas, eu já tinha o meu tipo que estava em
algum lugar dessa cidade.
— O que deseja? — Seu tom era malicioso ao me olhar.
— O mais forte que você tiver aí. — De repente, me
senti nervosa com o que eu pretendia fazer. Por que razão as
minhas mãos estavam suando frio? Eu as coloquei sobre o
colo e as apertei.
Jason, me olhando de soslaio. Notei que seus olhos eram
cor de chocolate e combinavam bem com as maçãs do rosto e
a barba por fazer. Podia ver as tatuagens saindo de sua
camiseta branca no pescoço, parecia ser um pássaro. Não era a
fênix e sim, outro animal que não sabia qual era. Tinha o corpo
forte e musculoso. Eu ri nervosa, desviando de seu corpo
sarado.
— Oh… Obrigada — gaguejei. Por que eu não podia
simplesmente flertar igual fazia com Lucky? Com ele parecia
tão fácil como respirar.
Ele sorriu com seus dentes brancos e retos.
— Qual a bebida mais forte que já tomou?
Eu abaixei os ombros.
— Champanhe. — Não precisava contar com a bebida
que peguei do Jordan logo que cheguei, afinal, nem sabia que
bebida era aquela! Olhei para o barman. — Mas ela não vai
me ajudar para o que eu preciso fazer agora, preciso de algo
forte e que me dê coragem. Tenho vinte e quatro anos, a
propósito.
Ele piscou, mas não pediu a minha identidade.
— Temos vodca com Martini. É bastante forte — ele
disse e foi fazer a bebida para mim.
— Por que você precisa de coragem? — Jason me olhou
de lado, balançando sua bebida amarela com a mão direita. A
sua tatuagem seguia pelo seu braço direito até a mão, e agora
olhando de perto pareciam asas de um falcão, apenas dava
para ver uma parte da asa, a outra devia estar no peito
musculoso ou nas costas.
Eu sorri nervosa desviando de seus braços fortes e olhei
seus olhos.
— Porque, preciso ir para cama com você hoje à noite
— fui direta. Embora corada.
Ele piscou atônito e depois sorriu. Notei que tinha um
piercing na língua, como seria beijá-lo com aquilo? Droga, por
que eu não sentia nada? Eu devia bater em minha cara.
— Oh, é muito reconfortante saber que você precisa de
uma bebida forte para ir para cama comigo — Seu tom parecia
que eu o insultara, mas tinha um esboço de um sorriso
naqueles lábios carnudos.
— Desculpe, é que não faço isso, estou nervosa — me
engasgava ao falar. Por que com Lucky, eu não gaguejava ou
mesmo hesitava?
— Por que você está fazendo isso? — Jason me avaliou
enquanto bebia um pouco de sua bebida.
Eu pisquei atônita.
— O quê?
— Você quer ir para cama comigo sendo que não está
pronta? Não parece ser por fama.
Eu corava.
— Preciso de um motivo para fazer isso? — retruquei e
depois arregalei os olhos. — Você disse fama? Por acaso você
é algum tipo de roqueiro de uma banda de rock famosa?
Ele riu sacudindo a cabeça. Sua risada era rouca e
gostosa.
— Você parece que não vê muita televisão, estou certo?
— observou, revirando os olhos.
— Não vejo muito, mas não importa o que você é, eu
não quero fama, quero… — Eu queria que a dor passasse logo
e saísse do meu corpo e da minha alma quebrada.
Ele estreitou os olhos.
— Você não está pronta para isso. — Bebeu outro gole
de sua bebida. — Eu não sou o homem certo para ser o seu
primeiro.
Engasguei, embora não tivesse nada na boca.
— Quem disse que você seria o meu primeiro? —
repliquei.
— Eu conheço uma mulher pura quando vejo uma. —
Ele me olhou de soslaio. — Você é tão pura que aposto que
nunca se tocou, estou certo?
Eu abaixei a cabeça, constrangida, porque estava certo,
eu nunca me toquei antes, mas nunca senti vontade até
conhecer o Lucky. Seu toque acendeu algo dentro de mim que
incendiou todas as outras partes que estavam apagadas. Como
um vulcão adormecido e que de repente explode. Mas que
droga!
— É por isso que você não quer ficar comigo? — Meu
tom era de dor, não por ele não me querer e sim pelo Lucky ter
feito o que fez. Por que ele tinha que estragar tudo?
Ele colocou a mão na minha coxa, e quase caí da cadeira
se ele não tivesse me pego pelo braço.
— Por isso… se você nem consegue que eu a toque,
como pretende ir para segunda base? — Ele suspirou. —
adoraria ser esse felizardo, mas vejo que não está pronta, não
comigo pelo menos.
Meu desânimo era forte, queria tomar todas as bebidas
do bar, mas mesmo assim não acreditava que conseguiria tirar
Lucky de mim, era como a porra de uma droga que foi injetada
em minhas veias. Como podia correr do toque de um homem
como esse ali do meu lado? Eu sabia a resposta, porque com
ele, o meu passado vinha e com ele a dor, mas com Lucky não
era assim. Eu estava ferrada e consumida por ele.
— Quem é o cara? — Jason olhou ao redor, à procura de
algo ou de alguém, como se esperasse que a qualquer hora
esse homem aparecesse.
— O cara? — Minha voz era alta acima do barulho do
som da música.
— Posso ver a dor e raiva em seus olhos — Seu olhar
era imperioso. — Então, tenho quase certeza que você quer
fazer isso para se vingar de algo que ele fez. Não estou certo?
— Você lê pensamentos ou tem visões do futuro? —
sussurrei aflita por ele saber dos meus planos.
Ele riu e bebeu mais um gole de sua bebida.
— Não, mas eu estou certo, não estou?
Eu encolhi os ombros olhando o mármore preto do
balcão.
— Não é tanto uma vingança, quero fazer isso para me
libertar…
— Como assim?
Eu não sabia se contava essa parte da minha vida ou não,
mas se eu não falasse, então ele não ficaria comigo. Talvez, se
eu contasse a ele tudo, então ele poderia me ajudar a tirar
Lucky do meu sistema.
— Eu conheci um cara há algum tempo. O que ele tinha
de irritante, arrogante e egocêntrico também tinha de lindo e
atraente. Mas ele é daqueles que acham que por ter poder e
dinheiro conseguem tudo o que querem. Se ele tivesse me
chamado para tomar um café ou almoçar, teria talvez aceitado.
Porém sabe o que ele fez? — Eu ri com dureza. — Me
chamou para transar com ele em seu escritório e no meu
horário de trabalho, fiquei furiosa e o mandei pastar. — Passei
as mãos nos meus cabelos num gesto nervoso. — Eu nem
sabia que ele era meu chefe até ser chamada em sua sala e ele
me propor que se eu não fosse a um encontro, me demitiria.
Mas…
— O que mudou para você se apaixonar por ele? —
perguntou de rabo de olho.
— Eu sou psicóloga infantil e trabalhava na empresa
dele…
— É um excelente trabalho — falou admirado.
— Obrigada. Eu amo o meu trabalho. — Apertei as
têmporas tentando me controlar. Contei o que aconteceu
comigo e esse playboy, no começo senti raiva, mas depois vi o
que ele realmente era, um cara complicado, mas legal e bom
que se preocupa com os outros. — Mas, nesse último
emprego, eu conheci Shaw — Meu tom era de júbilo ao falar
de meu menininho lindo.
— Shaw? É algum outro cara? — indagou incrédulo.
Eu sorri com orgulho.
— Sim, ele tem um metro e quinze, mais ou menos, e
sete anos — Meu rosto ficou grave no final. — Ele viu sua
mãe sendo morta pelo próprio pai. — Eu estremeci. —
Apeguei-me a ele, sabe? Tanto que resolvi adotá-lo.
— Um gesto nobre de sua parte — ele simpatizou.
Eu respirei fundo.
— Nem todos pensam assim — Minha voz saiu com um
resmungo de dor. — Algumas semanas atrás, esse cara me
salvou de ser morta pelo pai de Shaw e a partir dali…
— Tudo mudou para você, não é? — terminou ele.
— Sim. Também entendi seus sentimentos por mim,
soube o que ele verdadeiramente sentia — afastei uma lágrima
zangada. — Mas quando disse que ia adotar o Shaw, ele não
aceitou muito bem a notícia e foi buscar consolo com outra
pessoa.
— Ele ficou com outra mulher? — Seu tom agora estava
irritado.
— Sim — resfoleguei. — Isso é algo que nunca vou
perdoar.
— Por isso veio até mim? Para se vingar? — Não era
bem uma pergunta.
Dei um suspiro desalentado.
— A princípio sim, mas também para esquecer e tira-lo
de dentro de mim — limpei as lágrimas. — Achei que indo
para cama com um cara aleatório poderia me ajudar a esquecê-
lo.
Ele riu.
— Isso não ajudará — Ele disse com delicadeza, mas
senti ele encolhido como se sentisse e fizesse isso direto. —
Só por alguns minutos, e depois a dor volta com força.
— Eu sei — murmurei e depois sorri para ele. — Você
faz isso com todas as mulheres que chegam a você? Porque se
for assim, a sua lista de encontros é um tanto precária.
— Você é diferente! — Ele olhou com um sorriso
libidinoso. — Mas você ficaria surpresa com a lista de
mulheres que tive.
Eu olhei para ver se eu via a mesa que os amigos de
Lucky estavam, mas não consegui. Ao invés disso, eu vi o
Lucky vindo em minha direção com um olhar assassino e
pronto para matar alguém que chegasse perto.
— Jason…
— Como sabe meu nome já que não me conhece e eu
não disse a você? — Sua testa vincou.
— Alex me disse…
— Bastardo do Alex — ele xingou baixinho.
Eu franzi o cenho.
— O que tem ele?
— Ele sabia que eu não ficaria com você.
— Por que não? — sondei com um zero na minha
autoestima. — É algo comigo?
Ele olhou ultrajado.
— Não, você é perfeita! O sonho de todos os homens,
acho que até mesmo os gays mudariam de time por você. —
Ele piscou para mim.
— Então…
Ele suspirou passando as mãos em seus cabelos.
— Eu só pego mulheres de uma noite e sem
compromisso, e isso não inclui virgens.
— Você já se apaixonou antes, não foi? E ela era virgem,
não é? Por isso que você não fica com mulheres virgens.
Ele piscou ultrajado.
— Como sabe sobre isso? — Seu suspiro era de dor
agora. — Nunca contei isso a ninguém.
— Simples, eu sou psicóloga se esqueceu? Posso ver o
que faz a pessoa fugir de algum tipo de situação que vivenciou
antes e trouxe várias cicatrizes, ela faz de tudo para não voltar
lá de novo.
Ele encolheu os ombros olhando a sua bebida como se
quisesse decifrar os enigmas do universo ou apenas voltar ao
passado. Quem sabe?
— Eu tinha dezessete anos quando a conheci, da mesma
idade que ela, era tão diferente, sabe? Doce e meiga! A mulher
mais perfeita que já conheci em minha vida. — Ele me deu um
sorriso triste.
— Por que não estão juntos se ainda gosta dela? —
sondei curiosa.
— Era seu aniversário aquele dia e também um ano que
estávamos juntos, eu preparei um encontro no meu chalé no
Texas. Tudo foi perfeito aquela noite… Mas depois da nossa
noite juntos… — ele resfolegou e pegou a minha bebida
intocada e bebeu também, acho que caçando algo mais forte.
—, ela foi embora no dia seguinte, como se eu não significasse
nada e nunca mais a vi.
— Eu sinto muito — murmurei.
Ele me olhou, mas com os olhos entorpecidos.
— Março fez nove anos que ela se tornou tudo para mim
e namoramos por um ano, mas, nesse dia que iríamos
comemorar, foi a última vez que a vi, ela ficou como uma
tatuagem permanente em minha pele, assim como o seu cara
está na sua — murmurou. — Você é daquelas mulheres que o
cara quer cuidar e proteger como um tesouro, assim como eu a
queria proteger.
Sorri para aliviar a tensão já que não podia tirar sua dor
ao perder essa garota que ele parecia amar ainda, nem a minha
dor e raiva eu podia tirar.
— Mas pode não dizer a ele que não quer ficar comigo?
— Ele? — Seus olhos lampejaram para o meu rosto.
Eu olhei na direção do Lucky que já ia chegando perto
de nós. Jason seguiu o meu olhar e arfou.
— Droga! Não me diga que o tal cara que me disse é o
Lucky? — guinchou ele.
Eu franzi a testa.
— Sim, por quê? Não me diga que também é daqueles
que tem medo do seu poder? — No final, a minha voz era
amarga com esse fato.
Ele olhava com os olhos tempestuosos para o Lucky.
— É mais do que isso — ele fez um muxoxo de raiva.
— Então, você é a garota? — Ele se levantou, fitando na
direção do Lucky, que estava cada vez mais perto. — Eu sou
uma besta mesmo. Por que eu não suspeitei de nada logo de
princípio? Somente o Lucky tem poder suficiente para
ameaçar fechar os caminhos das pessoas.
— Do que está falando? — levantei-me também e fiquei
perto dele.
— Eu estou morto — sussurrou.
— Eu não acredito que esteja com medo dele com o par
de músculos que você tem — ironizei.
Ele riu, mas era uma risada nervosa.
— Eu protejo você — falei, fiquei na frente dele e
encarei o Lucky, mas ele já tinha avançado e dado um soco na
boca de Jason, que cambaleou para trás, mas encarou o Lucky
com um olhar triste.
— Eu vou matar você — esbravejou Lucky.
Eu me coloquei na frente dele e segurei a sua camisa
branca. Empurrei-o para trás, para não bater mais em Jason.
Céus, primeiro Alex e agora Jason? Esse cara era uma
máquina de bater nas pessoas.
— Que droga está fazendo, Lucky? — vociferei.
— Eu posso explicar, cara — começou Jason, alisando a
boca com a mão, podia ver um corte ali. — Eu não sabia quem
ela era até agora.
Eu olhava para o Jason, mas ainda segurava a camisa de
Lucky para ele não bater em Jason de novo.
— Vocês se conhecem? — minha voz saiu aguda.
Lucky apenas ficou expirando com raiva.
— Você ia transar com meu melhor amigo? — Seu gosto
era amargo como veneno.
— Amigo? — Eu me afastei dele e olhei de olhos
arregalados para Jason. — Eu nunca vi você com os outros.
— Eu estava viajando e cheguei hoje — esclareceu
Jason.
— E se eu não tivesse chegado aqui, você já ia transar
com ela em algum lugar por aí — ele fuzilava Jason.
Jason cruzou os braços.
— Ela não é dessas que a gente fode em um banheiro
qualquer — replicou com dureza.
Lucky me olhou com os olhos enervados.
— Eu também achava isso — Sua voz era de desdém.
Isso me irritou e a raiva me apossou.
— Olha aqui, seu bastardo idiota, eu tenho todo o direito
de transar com quem eu quiser e você não tem moral para me
julgar. — Eu cutucava seu peito com raiva. — E, para sua
informação, o Jason não aceitou ficar comigo.
Lucky arregalou os olhos olhando o amigo.
— Não?
Jason estreitou os olhos.
— Como eu disse, ela não é dessas garotas. — Ele me
olhou. — Ela é mais como uma joia que você guarda e protege
como um bem precioso.
— Você não quis, mas garanto que deve ter alguém aqui
nesse lugar que vai querer ficar comigo — fuzilei Lucky.
Ele me fitava com os olhos tenebrosos.
— Não se você quiser ter Shaw em sua vida…
Meu corpo tremeu agora de medo.
— O que você quer dizer com isso? — indaguei
sufocada.
Seus olhos eram fendas afiadas nos meus.
— Eu quero dizer que se você não for comigo agora,
amanhã o juiz vai tirar a guarda dele — falou firme e com
convicção.
— Você não pode fazer isso… — minha voz era um
sussurro de dor.
— É claro que posso — Seu tom deixava bem claro isso.
Ele chegou até a mim e pegou meu braço. — Agora, vem
comigo — Ele olhou sombrio para o Jason. — Depois, vamos
conversar.
— Pode apostar que sim — rosnou Jason. — E se você
fez o que ela disse que fez, eu mesmo vou acertar as contas
com você.
Lucky o ignorou e me puxou. Eu não lutei contra ele,
afinal, de que adiantaria isso se no final ele podia fazer o que
quisesse? Ele tinha poder e capacidade de tirar Shaw de mim,
isso não poderia acontecer nunca, não vi ninguém na saída da
boate, mas também não reparei em nada, já que estava
controlando a raiva para não fazer besteira e estragar as coisas
ainda mais e fazer Lucky destruir o que sobrou da minha vida.
Chegamos ao seu carro, um Aston Martin Vanquish
preto, mas não era Simon que o dirigia e sim ele mesmo.
— Entra — apontou para a porta aberta.
Eu fiquei com vontade de bater naquela cara linda que
tanto queria tocar, mesmo que fosse em uma bofetada. Entrei
calada. O caminho todo ficamos em silêncio, ele não disse
nada, mas eu podia ver que suas mãos estavam bem apertadas,
com força no volante.
— Você ia transar com ele? — ele resfolegou.
Eu o ignorei e continuei olhando as ruas de Manhattan
passarem por nós, meus olhos já estavam molhados por causa
da raiva e dor.
— Sam, responde — Sua voz estava grossa.
— Responder o quê? Hein, Lucky? — esbravejei. — Se
eu tivesse ido para cama com ele, não seria da droga de sua
conta. Você me falou quando foi para cama com a Sasha?
— Eu nunca transei com a Sasha. — Ele estendeu a mão
para mim. Esquivei, não querendo seu toque.
— Não foi o que ela disse… — expirei.
Ele parou o carro e foi quando notei que ele não estava
na minha casa e sim em frente ao seu Hotel Plaza.
— Por que parou aqui? Eu quero ir para minha casa. —
Eu saí do carro às pressas. — Se não me levar, eu vou sozinha.
Ele já estava com os braços em minha cintura.
— Rosa Vermelha, por favor, vamos conversar — pediu
ele.
— Não me toque — gritei me esquivando dele. Por sorte
não tinha ninguém na entrada do prédio. — Você tocou nela e
você me disse que ia esperar. — Eu chorava.
— Rosa Vermelha… — ele me abraçou, ignorando os
empurrões. — Não houve nada entre mim e Sasha, eu juro —
sussurrou em meu ouvido com tom calmo e intenso. — Vamos
para minha casa conversar. Aí, se você não acreditar em mim
depois disso, prometo que deixo você em paz para sempre e
não vou atrapalhar sua vida. — Ele se afastou e me olhou
suplicante. — Agora, vamos conversar primeiro.
Eu assenti e ele me puxou para entrarmos no hotel, notei
bastante movimento lá dentro.
— Por que tem tanta gente aqui? — Olhei o grande
salão cheio de pessoas bem trajadas. Parecia que o alvoroço
vinha do salão de festa que ficava à direita.
— Está tendo uma festa de aniversário da filha do
embaixador — ele me disse.
Isso significava câmeras, precisava sair dali e logo, antes
de ser vista com ele e sair em alguma coluna de famosos. Isso
não seria nada bom para guardar o meu segredo.
Eu olhei para ele vestido com uma camisa social branca
Calvin Klein, mas estava sem gravata e sem terno, com calça
social de linho preta.
— Você estava aqui na festa…
— Sim, mas Ryan ligou e me disse o que você estava
pensando em fazer, então…
— Então você foi lá para impedir que acontecesse —
interrompi. — Você estava aqui sozinho ou com a sua noiva?
Ele suspirou.
— Eu não tenho noiva — respondeu e depois franziu o
cenho, olhando ao redor e sua expressão se tornou sombria
quase de imediato. Percebi o que o deixou assim, foi quando
notei que os homens me olhavam. Embora meu vestido não
fosse tão refinado para uma reunião como aquela, era bonito e
chamativo de um jeito sedutor e não vulgar.
— Bando de urubus — ele fez um muxoxo de raiva e
passou os braços em meus ombros, como se fosse para provar
que eu tinha dono.
Eu até pensei em me esquivar quando ouvi uma voz
feminina chamando por ele.
— Lucky, onde você esteve?
Eu arfei, compreendendo tudo. Ele estava na festa com
outra mulher? Mas não era a Sasha e nem a sua noiva de
mentira. Essa era glamorosa, cabelo loiro encaracolado nas
costas. Rosto perfeito como de uma boneca e olhos azuis, essa
era o sonho de todo homem.
Eu me esquivei de seu toque e o fitei friamente, embora
a dor fosse evidente em meus olhos.
— Eu não acredito nisso — rosnei. — Pelo jeito, você
não perdeu tempo. Sasha, sua noiva modelo e agora você veio
na festa com outra mulher?
— Sam… — senti dor na sua voz. — Não é o que pensa.
Eu ri com desdém.
— Não? Eu não deveria me surpreender, afinal , você é
Lucky Donovan — Meu tom também era de desdém, mas por
sorte controlada.
— Sam…
A garota chegou até nós e sorriu deslumbrante ao vê-lo,
como se ganhasse um presente de Natal, ou seja, o Lucky. Eu
que tinha pensado que tinha sido a sortuda por ganhá-lo, mas
vi que não. Ela chegou perto de nós e me fitou de cima a
baixo, como se estivesse me avaliando, pude notar o seu
sorriso triunfante desaparecer para uma carranca.
— Olá — falou num tom calmo, mas detectei que se
esforçou para manter a classe. — Posso roubar o Lucky um
pouquinho? Temos que tirar umas fotos.
Eu controlei a raiva e mantive a minha expressão
estável.
— Imagina. — Olhei para o Lucky, que me fitava
preocupado. — Você pode ir se não se importar que eu
também tire fotos com Jason ou até… — eu parei de falar com
seu olhar sombrio, tão sombrio como um assassino em série.
— É melhor não terminar — Seu tom era de congelar o
oceano. Assim como o seu rosto.
Isso me irritou. Quem ele pensava que era? Ele que saía
com essas mulheres e reclamava de eu sair com Jason? Mas eu
não ia fazer escândalos ali, afinal, não era dessas, bastava o
que tivemos na boate do Alex.
— Quer saber? Para mim já chega — eu disse num tom
calmo, embora não me sentisse assim, só eu sabia como eu
estava por dentro. Eu estava com raiva e com dor, isso era uma
mistura não muito boa. — Estou indo, tive o suficiente por
hoje. — Forcei um sorriso para a garota. — Foi um prazer
conhecê-la.
Eu me virei para sair dali antes que eu perdesse o resto
do meu autocontrole. Mas não fui muito longe, porque, de
repente, sua mão pegou meu braço e me puxou para o
elevador. Ele apertou o botão da sua cobertura.
11 - Pedido Especial
SAM
— Solte-me — rosnei assim que estávamos dentro da
sua sala.
Ele me soltou.
— Eu não transei com a Sasha, você precisa acreditar
em mim. — Ele pegou minha mão direita e colocou em sua
calça e pude ver que ficou duro com o meu toque. — Isso aqui
não esteve dentro de ninguém desde que eu conheci você. Eu
não toquei em ninguém, porque só você me importa.
Eu prendi o fôlego e expirei, me controlando.
— A garota lá embaixo? Ela parecia animada por ficar
com você. — Eu tirei a minha mão de sua calça e desta vez ele
deixou.
Ele suspirou e passou as mãos nos cabelos.
— Eu fui lá sozinho, e não fiquei muito tempo depois
que Ryan ligou, mas ela pediu que tirasse fotos com ela.
— E você ia tirar — Meu tom era sério.
Ele meneou a cabeça de lado..
— Eram apenas fotos, e não eram fotos juntos — Seu
rosto estava suplicante. — nunca tive nada com ela.
Eu sacudi a cabeça.
— Vamos esclarecer uma coisa, Lucky, tudo o que for
fazer, pense duas vezes, se você for sair por aí tirando fotos
com mulheres só porque elas querem um cara bonito e rico,
pense que eu também irei fazer. Se você for transar por aí,
pense que eu também irei — Continuei ignorando seu rosto.
— Porque eu não sou mulher que deixa seu homem sair por aí,
posando de modelo para mulheres que querem tirar uma
casquinha.
Seus olhos brilharam.
— Seu homem gostoso e sexy? — Pude ver um esboço
de um sorriso.
Ele me pegou. Cretino.
— Você entendeu o que eu quis dizer. — Me sentei no
sofá. — Porque, quando for pensar em fazer algo assim, pense
em mim fazendo o mesmo e se doer em você, também vai doer
em mim.
Ele sentou na mesinha de centro de frente para mim e
me fitou .
— Eu sei, não sou bom em relacionamentos, mas com
você eu quero tudo e muito além, queria ter ido atrás de você
quando saiu da empresa, mas você disse que se eu realmente
gostasse de você, não era para te procurar novamente —
expirou. — Essa foi a primeira vez que me sacrifiquei por algo
ou por alguém, sabia que sofreria em silêncio, só porque
prometi isso a você. — Ele olhou além da janela de vidro e
depois virou-se para mim. — Quando a foto saiu na revista, eu
quase matei o Kevin por aquilo. Estava pensando em ir até
você e dizer que não era verdade, mas se eu fosse, não
conseguiria dizer adeus de novo.
— Poderia ter ligado — Minha voz era só um sussurro.
— Acredite, ouvir sua voz é a mesma coisa que ver
você, tão difícil quanto. — Ele me lançou um sorriso triste. —
Eu não fiz isso na intenção de machucá-la, jamais faria isso de
novo.
— Vamos supor que eu acredite em você — Minha voz
estava cheia de esperança. — Somos diferentes, Lucky.
Ele me interrompeu.
— Não. Nós somos compatíveis.
Eu ri sem emoção.
— Em quê? Olhe ao seu redor para o que você tem.
Ele franziu o cenho.
— O que isso tem a ver conosco?
Eu tirei os sapatos que já estavam machucando o meu
pé. Percebi que seus olhos brilharam com luxúria ao ver
minhas pernas nuas. Tentei me recompor e voltar à conversa
séria.
— Tem tudo a ver. Primeiro; você é rico — estremeci.
Um mundo tão diferente do meu.
— Meu dinheiro é um problema? — perguntou
ultrajado.
— Também, mas o pior é que existem coisas das quais
preciso que você não será capaz de me dar, e eu não posso dar
o que você quer, Lucky. — Eu limpei as lágrimas que caíram
em minha face.
— É claro que pode. — Ele se ajoelhou na minha frente
e abriu as minhas pernas, encaixou seu quadril no meu e
apertou as minhas coxas.
Minha pele parecia que estava pegando fogo onde ele
tocava. Lucky correu seus dedos em minha clavícula, meu
pescoço e entre meus seios sobre o decote do vestido. Eu
podia sentir que meus mamilos já estavam duros com seu
toque. Prendi a minha respiração e apertei as minhas pernas
em seu quadril como se com aquele gesto pudesse tirar a dor
que estava ali, mas sabia que não pararia até ele tirá-la de lá.
Seus olhos eram brasa viva ao me fitar com desejo e
fome.
— Você me quer…
— Nunca disse que não queria — protestei sem fôlego.
— Mas não posso fazer isso.
Ele arfou.
— Você estava a ponto de fazer com Jason — rosnou o
nome do amigo.
— Ele é diferente.
Seu corpo inteiro tremeu e já ia se afastar de mim, mas
eu prendi as minhas pernas em volta de sua cintura com mais
força sem me importar que meu vestido levantasse. Doeu em
mim ao pensar que o que eu disse o magoava profundamente.
— Quer dizer que você ia para cama com ele, mas não
comigo? — ele resfolegou.
— Não foi isso o que eu disse. — Cheguei minha boca
perto da sua, mas fitando em seus olhos entorpecidos. — No
dia seguinte do…
— Não diga a palavra, já está sendo bastante difícil me
controlar aqui. — Ele me interrompeu, estremecendo.
— Tudo bem, mas o que eu queria dizer é que no dia
seguinte, não ia acontecer nada comigo assim que ele tivesse
partido, mas com você…
Seus olhos estavam grandes de curiosidade.
— O que tem eu?
— Você tem o poder de pegar o meu coração e esmagá-
lo depois e isso seria o meu fim. — Eu me encolhi. Tão pouco
tempo e eu já amava esse homem com cada fibra do meu ser.
Lucky me abraçou, beijou meu pescoço e o mordiscou,
tremi e uma corrente elétrica atravessou meu corpo dos pés à
cabeça.
— Se você prometer me dar o seu coração, prometo
guardá-lo e protegê-lo — jurou na minha pele, traçando os
lábios sobre ela. — Como se ele fosse o tesouro mais precioso
do mundo para mim e com certeza você é a minha joia rara.
Eu estava ofegante com suas palavras e apertei meus
braços à sua volta. Esse prazer estava me consumindo por
dentro e eu já não tinha mais noção dos meus atos. Ele
mordiscou a minha orelha e gemi. O que eu ouvi de sua boca
foi a coisa mais linda que já ouvi dele, e tocou cada canto da
minha alma. Uma de suas mãos seguia pela minha perna
enquanto a outra foi para o zíper do meu vestido, abrindo-o,
me deixando ali com meus seios excitados em suas mãos,
apertando-os. Meu corpo remexia e apertei mais as pernas em
sua volta querendo ele dentro de mim ou explodiria.
Lucky riu do que ele estava fazendo comigo .
— Apenas me deixe apreciá-la — seus olhos se
iluminaram como quatro de julho ao apreciar meus seios
expostos. — Tão lindos!
— Não vou desistir do Shaw — sussurrei. Assim, se ele
quisesse se afastar, essa era a hora, mas não se afastou e
continuou a beijar o meu seio.
— Não acho que um garotinho conseguiria dar conta de
uma mulher com um corpo desse. — Apertou meus quadris e
minha bunda junto com a sua dureza, que parecia querer sair
da calça que estava vestindo. — E isso… — colocou a boca
em meu seio e chupou por um minuto, como se ele estivesse
com fome, meus olhos se fecharam com o prazer que eu estava
sentindo. — Então, eu não preciso me preocupar com isso.
Eu estava sem fôlego e com meu corpo desejando-o de
todas as formas. Apertei seus braços, e forcei meus olhos a
ficarem abertos.
— Lucky, estou falando sério — Minha voz era
ofegante. — Não quero só o Shaw, eu quero ter mais.
Ele se afastou de repente. Eu achei que agora ele iria se
afastar, mas eu estava errada. E como eu estava errada.
— Se você quiser ficar com Shaw, não sou contra. Eu
pude ver que você não consegue viver sem ele. — Ele me
olhava, enquanto eu assenti. — Eu gosto daquele garoto, não é
todo mundo daquele tamanho que ameaça chutar as minhas
bolas. — Ele riu e suas covinhas de menino apareceram. Essa
era a risada que eu amava. — Eu sei que ele ama você, então
Shaw é dos meus. Podemos, sim, ter o Shaw. — Ele beijou a
ponta do meu nariz sem nunca desviar os olhos dos meus.
Tentei controlar a voz e a surpresa com o que ele disse.
— E os outros?
Ele afastou o rosto do meu com os olhos estreitos.
— Adotado vai ser só o Shaw — ele disse com a voz
grossa. — Os outros que vamos ter, sou eu que virei a colocá-
los aqui dentro. — Ele passou a mão na minha barriga.
— Você faria isso? — Minha voz saiu alta na sala.
Ele sorriu e me deu um selinho.
— Samantha Gray, você ainda não percebeu? — Seu
olhar era cintilante como as estrelas que brilham de noite e o
Sol que ilumina o dia. Lindo! — Eu faço qualquer coisa por
você, tudo para tê-la em minha vida.
Eu ri em meio às lágrimas.
— E na sua cama dos sonhos?
— Oh, Rosa Vermelha, você não sabe o quanto. — Ele
beijou as minhas lágrimas.
Eu coloquei as minhas mãos em seu cabelo e puxei seu
rosto para o meu, como se fosse beijá-lo, mas apenas olhei em
suas profundezas verdes. Embora, eu adoraria beijá-lo, mas
não queria provocar dor nele ao fazer isso. Talvez com o
tempo ele superasse.
— Se eu ficar com você, jura que nunca vai me quebrar
de novo? — Era para ser um pedido, mas saiu como uma
súplica.
— Eu juro, porque se eu quebrar você, também serei
quebrado — sussurrou encolhido.
Eu sorri.
— Então, leve-me para aquela cama dos meus sonhos e
vamos desvirginar ela.
— Com prazer, Rosa Vermelha. — Ele me pegou nos
braços e me levantou. Continuei com as minhas pernas e
braços em sua volta, subiu a escada para seu quarto comigo
nos braços.
Assim que estávamos no quarto, Lucky me colocou no
chão, mas continuou a beijar meu pescoço, tirando o resto do
vestido, senti ele caindo nos meus pés. Eu o chutei para o lado.
Lucky se afastou para me apreciar sem roupas. Eu podia sentir
meu corpo pegando fogo, tanto pelo desejo quanto pela
vergonha de ficar exposta e nua na sua frente. Tentei me cobrir
com as mãos, mas ele não permitiu. Então, eu deixei as minhas
mãos ao lado do meu corpo. Seus olhos eram labaredas de
desejo, luxúria, parecia mais um animal faminto e doido para
saciar sua sede e fome .
— Então essa é a tatuagem? Uma fênix? — Seus olhos
eram escuros de desejo. — Quem a fez, foi homem ou mulher?
Porque ela fica bem… — ele interrompeu, notando algo —
Por que está sem calcinha?
Eu revirei os olhos.
— Primeiro; foi uma mulher que fez essa tatuagem, e
não um homem. Segundo, estou sem calcinha, porque esse
vestido deixa marca e não pelo o que está pensando — falei
depressa.
Seus olhos lampejaram para meu rosto.
— Só de imaginar que ele…
— Ele não me tocou — cortei.
— Mas ele ia fazer, e isso me deixa furioso. — Ele
cerrou os punhos.
Eu fiquei com raiva de repente. Peguei uma toalha que
estava no sofá no pé da cama e me cobri, não estava preparada
para discutir com ele estando nua.
— Não pode me culpar por isso, eu achei que tinha
ficado com aquela vaca — sibilei. — Ela fez isso, porque tem
uma queda por você.
Ele me olhou de lado.
— Eu não dou a mínima para o que ela quer ou tem —
ele disse com dureza. — Porque o sentimento não é mútuo,
irei acertar as contas com ela depois. Por causa dela você ia…
— sua expressão se tornou escura como tempestade. — Mas
não estou acusando você, estou furioso com ela, com Kevin e
com Jason.
— Com Sasha sim, por ter mentido que vocês transaram
só para eu me afastar de você, e Kevin também, por colocar
nas revistas que ia se casar com outra mulher. Mas Jason não
tem nada a ver com isso, ele não tem culpa de nada, e, além
disso… — eu me sentei na cama e coloquei as mãos no colo
—, quando ele tocou a minha perna… — eu me interrompi
com o engasgo dele. Eu olhei para cima e vi que a sua
expressão beirava a ira. Ops, erro meu. Porcaria, por que não
fiquei calada?
— Ele tocou em você? — esbravejou.
Eu me encolhi, porque nunca o vi tão furioso assim,
acho que ele era até capaz de matar alguém, ou seja, Jason.
Ainda bem que ele não estava ali. Respirei fundo.
— Eu fui até lá, porque eu queria esquecer você.
— Nos braços de outro? — Seu olhar era enervado.
Eu dei de ombros.
— Todos dizem que isso ajuda, mas, quando ele me
tocou, eu dei um pulo e não foi de susto. — Eu me levantei e
fui até ele sem nunca desviar de seus olhos. — Jason é um
avalista, eu acho, ele sabia que tinha algo errado e também
disse que eu não estava pronta para aquilo, não com ele —
Mas, bem nas profundezas negras da minha alma, eu sabia que
não ia ficar com Jason e nem com ninguém. — Você é o único
cara que acende cada célula do meu corpo, e tem poder de me
fazer sentir viva com apenas um olhar. Esse olhar que está me
lançando agora queima e apossa aqui. — Peguei sua mão e
coloquei em meu coração. — Ele é seu e sempre vai ser. —
deixei a toalha cair no chão e peguei sua mão, que ainda
segurava, e passei por meus seios. Ele sorriu já com bom
humor e até apertou os meus seios. Caminho certo para tirar a
escuridão de seus olhos. — Eles são seus e isso também. —
Levei sua mão para baixo, descendo por meu estômago até
entre as minhas pernas. — Ela é só sua e sempre vai ser.
Ele estava sem fôlego.
— Sim, ela é… — ele apertou lá.
Eu tremi, sem fôlego também.
— Você é o único que faz com que minha pele entre em
combustão — cheguei perto da sua boca e passei a língua em
seus lábios. — Essa boca também é sua. Eu sou toda sua.
Ele me abraçou forte, como se quisesse me manter ali
para sempre.
— Tremo só de pensar nele.
— Eu não acredito que vai me deixar nua aqui, enquanto
briga por causa disso — reclamei e mordisquei sua orelha para
fazê-lo esquecer. Eu queria esquecer também o que estava
prestes a fazer antes. — O que está esperando para desvirginar
a cama e a mim?
Ele gemeu, mas pareceu mais um rosnado, e começou a
beijar o meu pescoço, apertar todas as partes do meu corpo
como se quisesse se fundir a mim. Senti a cama nas minhas
costas. Ele pairou em cima de mim ainda beijando o meu
pescoço e desceu para os meus mamilos duros ansiando pelo
seu toque. Fora a dor entre as minhas pernas.
— Perfeitos! — sussurrou com ardor ao colocar um
deles na boca sugando, mordiscando e lambendo com fome,
como se há muito tempo não se alimentasse.
Ofeguei assim que sua boca perfeita foi parar em meus
mamilos e os sugou faminto. Minhas pernas se abriram em um
convite silencioso, e ele se encaixou ali, como se fosse feito
para ele. Eu ofegava tão alto que chegava a ser constrangedor.
Mas, eu não dei a mínima para isso, apenas queria que a dor
acabasse.
— Saborosa — falou, abocanhando meu outro mamilo.
Enquanto uma de suas mãos estava no meu rosto, a outra
estava no meu estômago. Meu corpo arqueou para cima
querendo mais do seu toque.
— Lucky, se eu não conseguir…
Ele tirou a boca do meu mamilo, e logo meu corpo
gritou em protesto. Isso era o paraíso.
— Está vendo isso? Seu corpo anseia pelo meu toque.
— Ele beijou meu rosto. — Então, acredite em mim, você não
vai querer parar e sim vai gritar por mais de mim.
Ele voltou a trilhar caminhos de beijos molhados pelo
meu corpo, descendo ao pescoço, seios e minha barriga lisa.
Senti a sua língua na minha tatuagem de fênix. Minhas mãos
agarravam forte suas costas, fazendo-o gemer.
— É linda assim como você! — Ele beijou a fênix
enquanto suas mãos apalpavam meus mamilos rijos.
— Você vai acabar comigo assim… — sussurrei sem
fôlego e num apelo para andar logo.
Ele abriu mais as minhas pernas delicadamente, como se
não estivesse com pressa, seus dedos trilhavam sobre minhas
coxas, e ficou com o rosto a centímetros do meu centro, seus
olhos brilharam como se adorasse vê-la tão perto e depois me
olhou lá de baixo com um sorriso sexy. Definitivamente eu
amava aquele sorriso lindo.
— Eu nunca fiz isso antes, mas com você eu quero tudo,
inclusive saborear essa delícia — Podia sentir seu hálito
quente banhar perto da minha vagina. Meu corpo se
impulsionou para cima, querendo-o ou morreria. Será que era
possível morrer por querer a boca de um homem gostoso entre
minhas pernas que latejava e ansiava por ele? Eu não sei, mas
meu corpo gritava por ele.
Eu estava fraca e eufórica por saber que ele nunca tinha
colocado a boca em uma mulher, como também nunca tinha
beijado. Dava para ser mais feliz do que isso? Meus
pensamentos evaporaram assim que sua boca foi para o clitóris
e o prensou entre os dentes e chupou como se sugasse algo
saboroso, lambendo-o, ou melhor consumindo. Sua mãos
prendiam meu corpo para mantê-lo no lugar, eu me remexia
como uma lagarta na areia quente. Minhas mãos foram para
seus cabelos e seguravam com força como se quisesse enterrá-
lo mais em mim. Céus, que desejo era aquele? O som que saía
de minha garganta era alto, acho que se ouvia em todo prédio,
mas não eram gritos. Ainda.
— Goza para mim — sussurrou com um chupão em meu
clitóris. Eu gozei forte, chamando seu nome.
Ele não parou por aí, meu homem quente enfiou um
dedo em mim, e com o polegar ele esfregava meu clitóris
junto, ao mesmo tempo em que veio sugar meus mamilos.
— Oh, céus! — chorei enfiando minhas unhas em suas
costas por cima da camisa. Queria tirá-la, mas estava sem
forças, apenas com meu corpo pegando fogo. Arqueei para
cima assim que ele enfiou um segundo dedo. Senti a invasão
do seus dedos no meu hímen, mas o prazer era tanto que não
liguei.
— Porra, você é tão apertada — rosnou sobre meus
mamilos, mexendo seus dedos dentro de mim, sabia que ele
estava me alargando para ele.
Eu com certeza gritei tanto que iria ficar rouca no outro
dia, ao ver milhões de estrelas no espaço, tudo explodiu dentro
de mim. Nunca senti nada assim em minha vida. Eu ainda
estava mole ao vê-lo tirando as suas roupas, camisa, calças, e
cueca boxer, estava de costas para mim, podia ver seus
músculos definidos. Mas também vi a grande asa brilhante que
ali estava em toda extensão de suas costas largas e em cores
vivas como a minha, mas a dele era maior. Era a fênix que
pegava as suas costas inteira. E no meio dela, estava escrito
com tinta preta: você me matou, mais eu renasci. Meu coração
doía por saber que ele falava de sua mãe. Lembro-me da
conversa dele com Shaw, quando falou que sua mãe o tinha
deixado. Isso cortou meu coração.
— É linda! — sussurrei, olhando a ave colorida.
Ele se virou, já sem nenhuma roupa. Fiquei sem fôlego
ao ver o meu nome ali em cima do seu coração. Samantha,
escrito em tinta preta.
— E o que acha disso? — perguntou, subindo na cama e
me olhando ali, toda exposta para ele.
Minha respiração ficou presa em meus pulmões.
— Quando você fez? — Tracei os dedos em cima do
meu nome em seu peito duro e malhado.
— Depois que eu pensei que aquele cara…
— Shhh — toquei meus dedos em seus lábios. — Eu
amei a tatuagem. E por que não me contou que tinha uma
fênix também?
Ele deu de ombros.
— Eu a fiz quando comecei a formar meu império, do
pó que eu estava me reergui, mas o final daquela frase só se
tornou real agora. — Ele olhou meu corpo nu, e ali vi amor,
luxúria e devoção. — Você me fez renascer do pó e me fez
viver e acreditar que posso ser feliz independente do passado.
Você me ensinou a… — ele fechou os olhos por um instante, e
depois me olhou com os olhos marejados.
— Eu sei — falei, porque ele queria dizer, mas apenas
não conseguia. Eu sabia da verdade.
Ele beijou minhas pálpebras.
— Eu também, quando fiz essa fênix foi para mostrar
que ela renascia das cinzas, assim como eu queria renascer,
por isso eu a fiz. Queria deixar o meu passado de dor para trás
e apenas renascer e eu consegui! — Beijei sua bochecha com
covinhas de menino. — Você e Shaw me ensinaram a amar e a
ser feliz por completo. Mas você me ensinou o grande
significado do amor incondicional, que é capaz de entrar em
sua alma quebrada e restaurá-la, fazendo uma alma nova e
inteira. — Beijei seu nariz sem nunca tirar meus olhos dos
dele que estavam marejados. Eu sei que eu sofri nas mãos
dele, mas, ao me salvar, eu pude ver que ele tinha um grande
coração. — Você restaurou a minha alma quebrada e um dia,
quero restaurar a sua.
Ele também beijou as minhas lágrimas.
— Espero que me diga o que foi quebrado — sussurrou
sem fôlego pelas coisas que eu disse.
— Talvez outra hora — esquivei-me, olhando seu corpo
nu, e vi a sua dureza… nossa era grande e largo, será que
caberia em mim? Meus olhos estavam enormes. — Oh, isso
é…
Ele sorriu ainda emocionado.
— Você vai adorar ele. — Lucky se posicionou entre
minhas coxas. — Ele vai te fazer gritar muito de prazer.
Eu corei, mordendo o lábio.
— Se for igual como foi com sua boca, eu vou amar. —
Sentia o calor aumentando só de senti-lo na minha entrada.
— Acredite em mim, linda, meu pau é mil vezes melhor
do que minha boca. — Ele beijou a minha testa. — Você toma
pílula? Porque eu não tenho camisinha. Eu joguei tudo fora
depois que conheci você.
Eu pisquei.
— Porque eu haveria de usar se nunca… — mordi o
lábio. — Mas se quiser podemos parar.
Ele me olhou como se eu fosse louca ou se tivesse
nascido outra cabeça em mim. Eu quase ri da sua expressão
estupefata.
— Eu aceitei ter filhos com você, mas não por agora. —
senti ele se posicionar na minha entrada, me olhando com
ardor e fervor misturado com luxúria. — Eu tiro antes, mas vai
doer. — Ele beijou meu pescoço. — Eu não queria isso, mas…
— Não se preocupe comigo. — Beijei seu peito e passei
a língua em sua orelha. — Apenas quero você dentro de mim e
de uma vez.
Minhas mãos estavam em suas costas, e cabelos,
apertando-os contra mim. Ele beijava meu pescoço e orelha,
mordiscando e sugando. Senti um súbito de dor quando ele
empurrou um pouco. Minhas unhas enfiaram em suas costas, e
evitei gritar, mas gemi.
Ele gemeu, e parou me olhando preocupado.
— Sinto muito.
Eu estava ofegante, mas não queria que ele parasse.
— Tudo… bem…
Ele me beijou, mas desta vez na boca. Eu arfei,
querendo devorá-lo com tudo o que eu tinha.
— Você vai sentir dor — sussurrei em sua boca, mas
incapaz de sair dela.
— Você também, então vamos sentir os dois. — Eu
sentia a sua língua fazer malabarismo com a minha cada vez
que ele empurrava para dentro de mim. Eu gritei em sua boca
quando ele veio com tudo, mas o beijo abafou o som. Sua boca
devorava a minha como se eu fosse um sorvete saboroso que
ele amava e nunca teria o suficiente.
Eu sentia o seu corpo rígido com o beijo, e pude ver que
Lucky estava lutando com o que tinha em sua mente, tentei
afastá-lo, mas não consegui, porque ele não permitiu e me
beijava com mais força. Aposto que no dia seguinte meus
lábios estariam inchados pela força do beijo.
Depois de um momento senti o desconforto se dissipar e
o prazer tomar conta do meu corpo como labaredas. Agora, eu
ansiava por ele se mexer dentro de mim e me levar ao êxtase
transbordante, fechei as pernas em seus quadris e levantei o
meu para ele entrar mais fundo enquanto minhas mãos
apertavam suas costas.
Ele bombava dentro de mim em um ritmo lento, depois
foi aumentando. Foi tão prazeroso que chegamos ao clímax
juntos. Eu chamei seu nome em sua boca quando vi milhões
de estrelas, mas a sua língua abafou o som euforico. Ele
estremeceu e rosnou, gozando junto comigo. Eu fiquei mole
com os braços um de cada lado do corpo, era como se eu não
tivesse energia. Ele me beijou mais alguns segundos e depois
saiu de dentro de mim. Estremeci com o vazio dele.
— O que foi que eu fiz? — Ouvi ele resmungar com
raiva.
Eu o fitei e o vi observando as minhas pernas com olhar
entopercido. Eu podia sentir uma pontada dolorida entre elas e
molhado, tanto de sangue quanto de seu sêmen. Eu me senti
como se ele tivesse me batido, acho que doeria menos.
— Você se arrependeu, não foi? — Não sei se ele ouviu
dor na minha voz, mas não liguei, fui para me levantar e ir
embora antes de ser enxotada por ele.
Ele arregalou os olhos, e me pegou antes que eu saísse
da cama, me prendeu ali e ficou em cima de mim.
— Não é nada disso. — Ele beijou meu rosto molhado.
— Você é tudo. Esse momento foi perfeito, e acredite em mim
que vai ter mais dele. — Ele beijou meus lábios de leve. —
Era para eu ter tirado antes, mas praticamente gozamos juntos.
Meu coração se aliviou por saber que ele ainda me
queria. Não sei o que eu faria se ele me rejeitasse, não queria
passar por aquilo que passei quando soube de sua noiva falsa,
não era algo que gostaria de passar de novo.
— Vamos torcer para que nada tenha acontecido —
sussurrei, acalmando ele. — Eu quero ter filhos, mas não
agora.
— Eu também — disse por fim, mais calmo, beijando
minhas pálpebras num gesto carinhoso. Ele foi ao banheiro e
veio com um pano molhado.
— O que vai fazer? — sondei, olhando o pano em sua
mão, e para seu corpo sarado e nu como veio ao mundo.
— Limpar minha mulher — seu sorriso cintilava ao
dizer mulher.
— Mulher, hein? — murmurei, sorrindo também.
Ele se abaixou ao meu lado e me olhou com um sorriso
malicioso.
— Abre as pernas — pediu, enquanto eu arregalava os
olhos. Ele emendou antes que eu reclamasse por seu modo
mandão. — Por favor.
Eu ri.
— Nossa! Lucky Donovan pedindo, por favor, hein? —
Dei a ele um sorriso provocativo.
— Oh, Rosa Vermelha, por você eu faço tudo —
declarou enquanto limpava entre as minhas pernas com a
toalha molhada. Assim que senti seu toque, meu corpo se
ascendeu de novo.
— Suponho que esse não seja um hábito seu de tratar as
mulheres depois do sexo — adivinhei, mas gostei do gesto
doce dele. Quem diria que o homem frio, calculista e rígido
pudesse ter esse lado doce?
— Não, mas você é diferente. — Ele piscou para mim e
sorriu. — Assim como não tinha de beijar e colocar a boca
aqui. — Ele mexeu a toalha entre minhas pernas. Eu revirei os
olhos, mas agora de desejo. — Tudo com você é diferente,
Sam.
— Espero que seja para melhor — Minha voz era grossa
de emoção.
— Oh, Rosa Vermelha, é tudo esplêndido. — Ele
terminou o serviço e jogou a toalha no cesto de roupa suja.
Depois, colocou uma colcha sobre a mancha de sangue no
lençol, deitamos em cima dela. Ele me puxou para seus braços
beijando minha testa.
— Essa delícia de cama foi desvirginada. — Deitei em
seus braços, aconchegando-me em seu calor.
Ele riu me embalando em seus braços.
— Sim. — Ele beijou meus cabelos. Ficou em silêncio.
Pensei que tinha dormido, por isso quando ele falou me pegou
de surpresa. — Sam, casa comigo?
Eu me sentei tão rápido que se não fosse ele me segurar,
eu teria caído da cama. Achei que tinha ouvido mal. Meus
olhos se arregalaram para ele deitado na cama.
— O quê? Por que você quer se casar comigo? —
indaguei meio atônita.
— Porque, eu… eu… — ele não conseguia terminar
fechando os olhos com força e respirou fundo, e depois abriu,
mas estavam tristes, e também com raiva. — Por que eu não
consigo dizer? Droga.
Eu me sentei em seu colo e passei os braços em volta de
seu pescoço. Porque isso doeu em meu coração. Não suportava
que ele sofresse.
— Tudo bem, não precisa me dizer essa frase agora. —
Beijei seu rosto lindo e tenso. — Toda vez que você quiser me
dizer essa palavra e não conseguir, diga Rosa Vermelha e eu
vou entender o que quer me dizer.
Ele me abraçou forte por um segundo, depois me pôs de
lado, me beijando antes de se levantar e ir até a cômoda pegar
uma caixinha de veludo vermelha na forma de Rosa Vermelha,
apenas fiquei olhando a sua bunda nua. Mordi os lábios
querendo sentir ele de novo dentro de mim, nunca pensei que
sexo fosse tão bom.
Ele se ajoelhou na cama com a caixinha na mão. Eu
engoli em seco, mas esperei.
— Rosa Vermelha, eu preciso de você como o ar que eu
respiro — declarou ele. — Eu sei que não sou perfeito e que
não a mereço… — ele expirou —, mas prometo tentar por
você. Eu posso ter dinheiro e poder para comprar tudo, mas
não posso comprar o amor ou tentar comprá-lo, porque isso é
impossível! Porque o amor verdadeiro faz você querer dar o
mundo a ela, mas também te faz querer ser seu mundo. —
sorriu torto com suas covinhas. — Tudo isso é o que sinto por
você, Rosa Vermelha. Eu quero você, não, repito, eu preciso
de você para dormir nessa cama pela qual você é apaixonada.
— ele piscou. — Mas espero que seja mais apaixonada pelo
dono dela, pois ele é completamente por você, Rosa Vermelha.
Se você aceitar se casar comigo, prometo ser fiel e respeitá-la,
Rosa Vermelha, para sempre.
Eu pisquei em meio as lágrimas e me joguei sobre ele
que caiu de costas na cama e eu por cima.
— Eu não acredito que me pediu em casamento estando
nu. — Beijei cada canto de seu rosto. — A propósito, você
tem uma bunda linda.
Ele riu no meu ouvido e empurrou meus ombros para
trás. Eu fiquei ali apoiada nos braços com meus cabelos negros
caídos pelo seu peito nu. Seu olhar era quente no meu.
— Eu achei que estando nu faria você aceitar — ele
colocou meu cabelo atrás da orelha e me olhou com desejo. —
Eu adoraria me enterrar dentro de você de novo, mas você está
dolorida.
— Não estou — menti. Eu ali, nua, e ele também nu, o
desejo começava a acender meu corpo de novo. Tão forte que
não ligava para dor de ter perdido a minha virgindade. A outra
dor de querê-lo dentro de mim era maior.
— Sim, você está — disse não acreditando em minhas
mentiras. — Você era virgem.
Eu olhei seus olhos verdes intensos e brilhantes como o
Sol.
— Já tirou uma virgindade antes? — perguntei, mas não
querendo saber a resposta.
— Não, mas gostei de ter feito agora com você. — Ele
beijou meus lábios um segundo e depois pegou a caixinha na
mão que já tinha caído na cama ao me jogar nele. — Vai se
casar comigo, Samantha Gray?
Eu queria muito me casar com ele. Meu Deus, isso era
tudo que eu queria! Mas não podia, porque se eu casasse com
ele, logo iria aparecer na imprensa e isso seria um problema.
Conhecia ele há apenas dois meses, isso era um tempo muito
curto para casar, mas a minha vida inteira tive medo de
enfrentar as coisas que me acontecia ou lutar mais, fora o meu
trabalho, Bryan e vovó, eu não lutei por nada que eu queria,
não até conhecer Shaw e Lucky. Eles me deram força para
lutar pelos meus sonhos. Eu fitei seus olhos esperançosos, e
respirei fundo.
— Eu até poderia aceitar com duas condições… —
comecei, pensando em um plano.
Ele franziu a testa.
— Que condições?
Eu me sentei em seu quadril e o fitei, deitado e me
olhando. Coloquei meus cabelos para cobrir meus seios nus,
mas ele tirou e me deixou exposta, fechei a cara para ele, mas
Lucky apenas sorriu. Eu respirei fundo, tentando me recuperar
e me concentrar.
— Primeiro; se casarmos, quero que seja reservado e
sem imprensa, quero que seja simples só com os amigos e não
aparecer em televisão igual foi com a loira.
Ele me interrompeu.
— Eu não ia casar com ela — lembrou-me.
Eu balancei a cabeça.
— Eu sei, mas eu não quero aparecer na mídia. — soprei
para cima na testa, para tirar os cabelos dos olhos.
Ele me avaliava, tentando me ler, mas não conseguia,
porque sempre fui boa em guardar a minha expressão.
— Por quê?
Eu suspirei.
— Eu tenho uma profissão, Lucky, e não quero que ela
seja realizada por meio de seu nome, quero conseguir isso por
mérito. — Eu olhei suplicante para ele, esse era o único jeito
de casarmos sem sair na mídia. — sei que você pode mexer os
pauzinhos para que isso aconteça, embora mais cedo ou mais
tarde eles irão saber, mas não quero que seja no dia do nosso
casamento.
Ele pareceu pensar.
— Certo, vou fazer isso, mas eu não tenho um pauzinho
e sim um bem grande. — Ele mexeu debaixo de mim e senti
que ele já estava pronto, a todo vapor de novo. Eu ofeguei. —
Ele fez você gritar muito hoje, e acredito que vai fazer muito
mais.
— Oh — fiquei sem fôlego e vermelha escarlate.
— Eu adoro essa cor em seu rosto. — Ele me puxou
para deitar em seu peito e me abraçou forte. — E o segundo?
— Vamos nos casar sem comunhão de bens — soltei.
Todo seu corpo tremeu debaixo de mim. Eu tive medo
de olhar a sua reação, apenas fiquei ali com a cabeça deitada
em seu peito. Demorou muito tempo até ele responder.
— Por quê? Tudo que é meu também passaria a ser seu
— Seu tom parecia estranho, eu não entendi.
Eu levantei a cabeça e fitei seus olhos indecifráveis.
— Eu não quero o seu dinheiro, Lucky, apenas quero
você — beijei seu rosto e passei a língua em suas covinhas e
sorri. — Sempre quis fazer isso, desde o dia em que te conheci
— sussurrei e fiquei feliz pelo sorriso torto que apareceu em
seus lábios —quero dormir e acordar com você nessa cama…
— eu saí de cima dele e rolei na cama espaçosa, fiquei de lado
para ele —, eu quero que você seja meu dia e noite.
Ele veio até mim e sussurrou em meu ouvido:
— Eu sou só seu para sempre — jurou. — E você é
minha.
— Sim, eu só quero você. Isso é a única coisa que me
importa. Eu não quero saber o quanto você tem na sua conta
bancária, — Toquei seu cabelo, tirando de seus olhos, porque
algumas mechas caíram sobre ele. — não quero fazer parte
disso, não sou interesseira, Lucky. Eu não quero que as
pessoas comecem a falar quando souberem do casamento.
Ele afastou o rosto, tirando os cabelos do meu rosto.
— É só não ligar para eles.
Eu sacudi a cabeça.
— Não é simples assim… — toquei seu rosto com
minhas mãos. — Por favor, se você quer que eu seja sua
esposa faça isso por mim? Esse é o único jeito para eu me
casar com você.
— Tudo bem. — Ele me entregou a caixinha. — Aqui,
para você. Uma rosa vermelha para uma Rosa vermelha.
Eu me sentei e abri a caixinha com as mãos, tremendo
com o que viesse a ter lá dentro. Ofeguei ao ver o que era, não
quis nem pensar no valor. Era um anel de ouro e diamante
vermelho A pedra era na forma de uma rosa vermelha
brilhante. Meus olhos estavam arregalados de choque.
— Céus, isso é…
— Não diga que é caro — pediu ele, ficando com o
rosto a centímetros do meu. — Eu aceitei suas condições,
então aceite este anel como prova do que sinto por você.
Eu expirei e assenti. Ele pegou o anel e colocou em meu
dedo, beijando cada dedo da minha mão. Seus olhos brilhavam
como o Sol, a Lua, as estrelas, acho que se juntasse os três não
iluminariam tanto quanto sua felicidade. Nesse caso, a minha
também.
— Obrigada. — Deitei na cama, e apoiei a cabeça no
travesseiro, e olhei em suas duas pedras de esmeraldas
brilhantes por eu ter aceitado sua proposta. Já estava tarde, e
eu exausta. Não queria dormir e acordar no outro dia e ver que
isso era um sonho lindo. Um que nunca achei ser possível.
Ele deitou ao meu lado e me puxou para seus braços,
suspirando feliz.
— Rosa vermelha demais… — sussurrou, beijando
meus lábios de leve.
— Eu também te amo demais — sussurrei e caí no sono.
12 - Desejo Ardente
SAM
Eu levantei por volta das cinco da manhã, latejando de
prazer e desejo no meio das pernas. Droga, logo ia acabar
acordando o Lucky, mas eu queria acordá-lo, assim ele me
daria o que eu estava ansiando tanto que chegava a doer.
Nunca senti isso antes, mas gostei muito. Ele estava com a
cabeça apoiada no travesseiro e com os olhos fechados. Seus
cabelos lindos caíam na testa, deixando seu rosto sereno e com
as covinhas que eu tanto amava, seus lábios estavam
entreabertos, me fazendo ansiar por eles. Maldição, minha
vontade era de beijá-lo, aliás, de devorá-lo.
Eu saí da cama antes que o acordasse, vi a minha bolsa
ali na poltrona que ficava perto da janela de vidro. Simon
devia tê-la trazido sem eu notar enquanto estávamos
dormindo, igual fez da outra vez, mas acredito que agora ia
ficar ali para sempre. Eu procurei para ver se dentro dela
estava a minha roupa de corrida. Até que enfim, eu achei no
fundo da bolsa grande. Era um shortinho de ginástica rosa e
cinza, com lacinhos de enfeites nas coxas e cós grosso, mas
um pouco curto, e um top de ginástica também. Calcei o tênis
e prendi meus cabelos em um rabo de cavalo.
Escovei os dentes com a sua escova, a minha não sabia
onde estava, e fui correr para espairecer e aliviar o desejo que
estava sentindo por Lucky e seu corpo perfeito. Para não
pensar muito, eu liguei para o Bryan. Ele atendeu depois do
terceiro toque.
— Alô? — respondeu uma voz feminina.
— Preciso falar com o Bryan — falei sem entender,
porque outra pessoa atenderia seu telefone, ele nunca deixava
ninguém tocar nele.
— Quem é você, e o que quer com o meu homem, sua
puta? — sibilou ela do outro lado da linha.
— Que droga você pensa que está fazendo? — rosnou
Bryan com a garota e depois num tom delicado para mim. —
Espere um segundo, luz do Sol.
— Você tem outra mulher — gritou a mulher louca. Ela
não tinha a mínima ideia de quem meu irmão era. Se ela
soubesse o mulherengo que Bryan era, correria para longe.
Ouvi Bryan rir.
— Eu tenho várias outras mulheres — rosnou. — Eu
vou atender essa ligação e quando chegar aqui espero que
tenha ido embora, ou eu mesmo te colocarei para fora.
Esperei mais alguns segundos e sentei em um banquinho
de praça, não muito longe do prédio do Lucky. Falar com
Bryan era importante, não sabia como ele iria reagir ao saber
da notícia, mas esperava que ficasse do meu lado, já que eu era
sua irmã.
— Sam, o que aconteceu para me ligar às cinco da
manhã? — perguntou Bryan em um tom preocupado.
Eu suspirei.
— Vou me casar com Lucky — soltei em um fôlego só.
Ouvi-o engasgar do outro lado da linha e ficar em
silêncio por um minuto.
— Você tem certeza que Lucky sente o mesmo por
você? Que ele quer casar com você? — perguntou. — Não é
só pela empresa que ele quer comprar?
— Pelo visto, você fez o dever de casa — retruquei,
passando minha mão pelo cabelo.
— Tenho que saber tudo sobre quem anda perseguindo a
minha luz do Sol — Seu tom era meloso.
Eu revirei os olhos.
— E não é pela empresa que ele quer casar comigo, se
fosse por isso, ele poderia ter qualquer uma, era só estalar os
dedos.
— Sobre isso — interrompeu — Você não é muito de
perdoar traição, então o que houve?
— Ele não ia se casar, foi tudo ideia do agente dele que
fez sem sua ordem e quase foi mandado embora sem a cabeça
— Contei a ele tudo que houve desde que descobri as fotos de
Lucky e também sobre Sasha. Também sobre Jason, e tudo
sobre Lucky.
— Você ia transar com esse cara? — indagou irritado.
Apostava que ele estava passando as mãos pelos cabelos, ele
sempre fazia isso quando ficava irritado.
— Não sei, mas fui lá nessa intenção, ainda bem que não
fiquei com ele ou agora estaria arrependida para sempre. —
Estremeci ao pensar não tendo Lucky em minha vida. — Eu
sei que ele tem o jeito meio distorcido de resolver as coisas,
mas eu vou colocá-lo na linha.
Ele riu.
— Se você conseguir isso, vou te dar os parabéns,
maninha — disse com uma risada.
— Eu queria você no casamento — murmurei.
Ele suspirou.
— Eu até faria um sacrífício e me disfarçaria para isso,
mas lembra do emprego que eu te falei que estava esperando?
Eu arfei.
— Sério? Agora quer dizer que meu irmão é um policial
— Sempre foi seu sonho entrar para a polícia.
— Sim, portanto a minha primeira tarefa vai ser hoje no
mesmo dia de seu casamento…
Eu interrompi.
— Como é que sabe que o meu casamento é hoje, sendo
que nem eu sabia disso?
Ele deu uma risada gostosa.
— Ele fez preparativos para vocês irem para Vegas,
então, eu supus, agora que você falou, que seja para o
casamento.
— Acho que seu chefe vai ganhar na loteria por ter você
— sussurrei a verdade. — Será que você pode pelo menos
fazer a vovó sair daquela fazenda e ir até lá no meu
casamento?
— Eu acho muito arriscado Sam, a não ser que pensa em
contar tudo ao seu futuro marido — ele disse num tom
preocupado. — Faz o vídeo de seu casamento e nos manda.
— Eu não estou preparada para contar tudo a ele, por
enquanto. — Eu me levantei para voltar, fazia tempo que eu
estava ali na rua e nem havia corrido ainda.
Terminei a chamada do Bryan, dando boa sorte a ele por
entrar na polícia, algo que sempre fora seu sonho.
Voltei para o apartamento de Lucky, digitei o código e
entrei na sala, meus olhos se arregalaram ao ver todos sentados
no sofá na forma de L; Ryan, Jordan, Jason, Rayla e Alex.
Menos Lucky, que estava de pé, e Sasha á sua frente e de
costas para mim. Shaw estava de pé ao lado de Lucky. Aquilo
me encheu de raiva, como ele podia trazer essa mulher ali
depois de ela ter feito o que fez a nós e ao Shaw? Ontem, eu
poderia pedir para ele demiti-la, sei que faria ou talvez não.
Mas eu jamais faria isso, porque não tinha esse direito.
Eu não sei, mas Sasha gostava dele. E isso não ia
acontecer, porque Lucky era meu e não iria deixar nenhuma
vadia tomá-lo de mim. Eu acho que ele não tinha percebido
isso ainda, mas ele trouxe ela ali depois de tudo que tivemos
ontem à noite. Era demais para suportar, ainda mais com Shaw
presente.
— Mas que droga você está fazendo aqui? — eu
esbravejei, entrando na sala e ficando de frente para a cadela e
do lado de Shaw para protegê-lo da víbora peçonhenta.
Eu a fuzilei, com meus punhos cerrados. Pude notar que
todos estavam com olhos arregalados, mas não liguei para
nenhum deles.
— Que roupa é essa? — rosnou Lucky atrás de mim. —
Você saiu assim?
Eu dei de ombros e fuzilei a Sasha.
— Eu disse para ficar longe…
Ela estreitou os olhos .
— Essa é a casa do Lucky…
— Não me importa de quem é a droga da casa —
proferi. — Eu falei para ficar longe do Shaw ou está querendo
levar outra surra? — Eu dei um passo para ela, mas as mãos
do Shaw pegaram meu braço, então parei tentando me
controlar.
— Sam…
— Eu vim para me desculpar, mamãe ursa — disse ela.
Fui me lançar para arrancar aqueles cabelos de fogo,
mas Shaw puxou meu braço de volta. Eu me curvei e fitei o
Shaw para ver se ele não estava assombrado.
— Você está bem? Ela não disse algo a você que o
machucou?
Ele sacudiu a cabeça.
— Ela só pediu desculpas — sussurrou.
— Mas que droga! Será que dá para vocês pararem de
ficar encarando a bunda da minha mulher? — guinchou
Lucky.
Eu me endireitei e fitei sua cara de fúria e a ponto de
matar alguém, notei que todos estavam rindo dele. Eu acho
que eles fizeram isso para provocar o Lucky e pelo visto
funcionou. Lucky estava desabotoando sua camisa branca e já
dava para ver meu nome escrito lá com tinta preta.
— O que pensa que vai fazer? — perguntei.
— Estou tirando a camisa para dar a você e impedir que
eu mate esses idiotas. — Ele falava enquanto desabotoava os
botões.
— Não ouse tirar a camisa na frente dela — rosnei e
fulminei Sasha, que estava de olhos arregalados vendo o meu
nome no peito de Lucky. Não deu para ver tudo, apenas um
pouco, mas ela sabia que era isso.
Ele parou de desabotoar a camisa.
— Onde você estava vestida assim? — gesticulou para
minhas roupas.
— Isso é roupa de ginástica, fui correr para espairecer, já
que estava ansiosa demais — respondi.
— Ansiosa com o quê? — incitou ele.
Eu mordi os lábios. Ele estava de bermuda e com a
camisa quase toda aberta onde mostrava o seu corpo lindo e
saboroso. Um fogo desceu por entre minhas pernas como uma
corrente elétrica misturada com labaredas.
Ele sorriu malicioso ao ver o desejo em meus olhos,
cobiçando-o. Estava louca para me apossar dele, rasgar suas
roupas e devorar cada centímetro.
— Eu já vi seu peito nu, então não precisa ficar com
ciúme — eu pude ver que Sasha tentava controlar a raiva, mas
eu notei.
Eu ergui as sobrancelhas entre ela e Lucky para ver se eu
havia entendido errado ou era verdade o que ela deu a
entender. Lucky veio e passou o braço em minha cintura e a
fuzilou com frieza e desdém. Pude vê-la se encolhendo com o
olhar tenebroso do Lucky, acho que a maioria das pessoas
tinham medo, mas eu não era uma delas.
Ela se apressou em explicar.
— Isso, é claro, quando todos aqui fomos de férias para
Bahamas…
Bahamas? Isso sim era um lugar lindo para férias igual
ao Caribe. Eu adoraria estar em um lugar desses com Lucky e
não sair do quarto. Mas se não saíssemos do quarto como
iríamos aproveitar a vista? Eu não me importava com a vista
do lugar e sim em ter Lucky nu na cama comigo.
— Eu só vim me desculpar…
Meu olhar para ela foi frio, aliás, eu adoraria matá-la,
pena que não podia.
— Eu não acredito em nada que sai dessa sua boca,
porque quando uma pessoa faz algo e se arrepende, ela mesma
pede desculpas sem ser forçada ou ameaçada por seu chefe —
Minha voz era fria. — Então, fica longe do Shaw — suspirei.
— E fica longe do Lucky.
— Mas ele é meu chefe. — Ela olhou dele para mim,
como se estivesse preocupada que fosse ser demitida.
— É claro que é, mas é só isso que ele vai ser seu — ri
irônica — Você acha que eu não sei seu interesse nele? Não
adianta mentir — falei, porque ela estava prestes a abrir a boca
para falar — Mas ele é meu agora, e não vou deixar alguém
desclassificada como você se meter no meu relacionamento
com ele como fez antes — Dei um passo até ela e vi que deu
outro passo para trás — Você pode ver e cobiçar que não me
importo, porque ele é perfeito para ser cobiçado e desejado,
como ganhar na loteria, não digo pela sua conta bancária e sim
por Lucky ser quem é, um homem com alma linda e pura —
Eu sabia que Lucky era contra isso, mas apesar de seus erros e
falhas, era um homem maravilhoso, capaz de ajudar várias
crianças pelo mundo, por isso o amava mais a cada dia.
Eu me aproximei mais Sasha, mas ela não se mexeu e
ficou ali como se estivesse hipnotizada por uma serpente.
— Lucky é perfeito em todas as formas e você pode
olhar, mas nunca ouse dar em cima dele, porque aí nós
teríamos um problema bem grande.
Me aproximei e sussurrei em seu ouvido, a senti
encolhida, mas Sasha não se afastou, mas aposto que estava
olhando para Lucky atrás de mim, apenas não revidou, por
ele estar ali, disso tinha certeza.
— Porque no final sou eu que ele vai beijar, e em
lugares que você nem imagina. — Sasha ofegou e eu me
afastei dela sorrindo amarelo e dei um passo para trás. — No
final, ele é só meu — O meu tom agora era sombrio — Agora,
se você disse tudo o que tinha a dizer, é melhor ir embora —
apontei para porta.
Ela estreitou os olhos com um veneno. A cobra
mostrando as garras. Eu não sabia porque o Lucky ainda
deixava Sasha trabalhar para ele, se fosse eu, já teria demitido
essa víbora.
— Essa casa não é sua.
Lucky a interrompeu.
— A partir de agora é, então pode ir embora — Sua voz
era como uma faca afiada, mas vi que ele estava com
dificuldade de falar, acho que pelas coisas que eu falei sobre
ele.
— Mas vocês vão para Las Vegas para o casamento,
também queria ir — reclamou ela.
Las Vegas? Então o que Bryan disse era verdade! Lucky
realmente estava pensando em nos casar em Vegas? Eu
arregalei os olhos para Lucky.
— Nem morta que ela vai para o nosso casamento —
rosnei com dentes trincados. — Porque, se ela entrar por uma
porta, eu saio por outra.
Lucky veio até mim e me puxou para seus braços, tremi
com seu toque que pareceu incendiar todo meu corpo.
— Você é a coisa mais valiosa da minha vida, Rosa
Vermelha. — Ele beijou os meus lábios e me derreti, só não
fui mais além pela presença do Shaw, os outros já tinham
desaparecido, apenas restava o meu corpo em chamas
clamando por ele. — O meu prêmio de loteria — declarou se
afastando e me deixando ofegante e necessitando por mais
dele. Seu sorriso ofuscante e depois ele fuzilou Sasha. — Você
não vai conosco e você causou isso a si mesma inventando
coisas, me afastando da mulher da minha vida, é melhor você
ir antes que eu a demita — Seu tom deixava bem claro que e
não a queria em sua frente. Isso me fez perguntar: Por que ele
a mantinha trabalhando para ele? Pensei em perguntar, mas eu
também não contei tudo ao meu respeito, então deixei isso por
enquanto.
Ela saiu sem dizer nada e com a cabeça baixa.
— Isso foi quente — Ryan riu provocativo. — Pensei
que fosse beijá-la.
Eu fiz careta para ele sentado ali.
— Ninguém mexe com o que é meu — mordi os lábios
para Lucky, porque o fogo só aumentava com um prazer
intenso, ainda mais admirando seu corpo másculo.
— Acho que a noite de ontem foi curta — disse Jordan
com um sorriso torto.
Lucky arregalou os olhos que depois brilharam.
— É por isso que foi correr? Por que estava ansiosa? —
sondou com um olhar malicioso e com a voz rouca de desejo.
O ignorei, embora fosse difícil, era como uma pessoa há
muitos dias no deserto, e de repente encontrei o oásis, mas ali
eu ansiava pelo corpo de Lucky. Eu ignorei esse desejo e me
curvei para meu menino, pude vê-lo suspirando de alívio
assim que Sasha saiu. Fui beijar seu rostinho redondo, mas
Lucky segurou o meu quadril por trás.
— É melhor não se curvar, Rosa Vermelha, a não ser que
você queira me ver quebrando a cara deles no dia do nosso
casamento — sussurrou em meu ouvido.
Eu senti o meu corpo pegar fogo novamente, como se
ele despertasse apenas com seu toque. Senti como se uma
corrente elétrica tivesse me apossado da cabeça aos pés.
— Ah… Tudo bem — gaguejei sem fôlego.
Lucky riu e se afastou me deixando respirar com
dificuldade. Aposto que ele sabia o poder que o seu toque
tinha sobre meu corpo.
Eu o ignorei e olhei a todos.
— Acho que Lucky já disse a vocês sobre o casamento.
— Sim — respondeu Rayla, me avaliando. — Mas o que
não entendo é porque você não quer um casamento de grande
estilo. Com festa, buquê e tudo mais.
Eu belisquei a ponta do meu nariz tentando ver como
diria isso a eles de modo que entendessem sem dizer a
verdade, iria revelar tudo depois do casamento, agora tinha
medo de perdê-lo.
— Como disse ao Lucky, não quero subir em minha
carreira por causa de seu nome — olhei para ele que fez uma
careta linda. — Eu quero ter meu nome com meu próprio
trabalho e eficiência sem depender dele ou do seu nome para
isso.
Ryan bateu palmas, todo animado.
— Então, vamos todos para Vegas pegar gatinhas e…
— Ryan — eu o interrompi em sinal de advertência.
Olhei para o Shaw sorrindo divertido.
— Eu sei tudo sobre garotas — seu sorriso era lindo.
— É isso aí, camarada, bate aqui — disse Ryan,
estendendo o punho fechado para Shaw colidir com o dele,
mas Shaw apenas ficou ali olhando seu punho e encolheu os
ombrinhos.
Ele não falava com ninguém com exceção de Lucky e
eu, não sabia os motivos disso, mas gostei. Esperava que no
futuro ele ficasse bem e começasse a conversar com todo
mundo. Tinha fé nisso.
Ryan recolheu a mão.
— Certo, eu ainda vou conquistar a sua confiança. —
seu tom era obstinado. — E vamos nós dois para minha casa
em Aspen e gritar daquelas montanhas como dois loucos.
Os olhos de Shaw brilharam. Tão fascinante! Mas ele
não respondeu só assentiu e sorriu. Ryan sorriu ao ver o brilho
de felicidade nos olhos de Shaw.
Eu arregalei os olhos para Ryan.
— Você tem uma casa em Aspen?
Ele me olhou de lado sem entender a pergunta.
— Sim, por quê?
Eu sorri animada.
— Pode nos emprestar para passarmos a lua de mel lá?
Ele piscou e depois sorriu ultrajado.
— Não posso…
Meu sorriso morreu. Talvez ele não gostasse de
emprestar sua casa, mas quem deixaria?
— Oh, tudo bem…
Ryan riu de meu tom desapontado.
— Não é que eu não queira emprestar, Sam — ele se
apressou em explicar. — É que o Lucky não aceitaria isso.
Minha testa vincou olhando o sorriso cativante do
Lucky.
— Por que não aceitaria? Ele é seu irmão.
— Porque, eu também tenho uma casa lá e se for para
passar a nossa lua de mel… — ele falou essa parte com um
desejo quente na voz, tão quente como brasa ardente —,
vamos passar em minha casa — franziu a testa. — Mas pensei
que você queria fazer um cruzeiro no mar e ir para o Caribe.
Eu franzi o cenho.
— Como sabe sobre isso?
Ele suspirou e encolheu os ombros.
— Quando discutimos na Rave, você disse que ninguém
podia ter tudo e que você tinha um sonho de fazer um cruzeiro
no mar e, ir para o Caribe, mas não se podia ter tudo. — Ele se
encolheu com a lembrança.
Eu arregalei os olhos.
— Eu não acredito que lembrou disso — sorri e toquei
seu rosto. — Pode ser um dos sonhos, mas Aspen é Aspen e,
além disso… — coloquei meus lábios em sua orelha e
sussurrei baixo para Shaw não ouvir e nem os outros. Ele
estremeceu com meu toque. —, lá é frio, isso significa, nós
dois no quarto juntinhos, sem roupas o dia inteiro e à noite.
Ele apertou a minha cintura ofegante, me afastei com um
sorriso libidinoso.
— Você está sendo má — reclamou sem fôlego.
— Por que você está sendo má, Sam? — perguntou
Shaw, enquanto todos dali riam do estado excitado de Lucky.
Eu segurei meu sorriso e olhei para Shaw me olhando
confuso.
— Apenas disse ao Lucky o que vamos fazer em Aspen
quando formos até lá no mês que vem.
Lucky me interrompeu.
— Por que não vamos depois de casarmos? — Seu tom
era confuso.
Eu olhei para ele.
— Porque, eu não tenho nem dois meses de experiência
no meu trabalho e não quero pedir férias agora ao Michael,
tenho que ter pelo menos mais alguns meses.
— Eu posso…
Eu o interrompi.
— De jeito nenhum! Você não vai se meter em meu
emprego — eu repliquei. — Não vamos discutir isso agora —
olhei para o Shaw e sorri. — Como foi a sua noite?
Shaw me olhou com as pupilas dilatadas.
— Bom…
— Shaw o que houve? Teve pesadelos? — me esqueci e
já ia me curvar.
Ele vinha tendo mais pesadelos depois do que houve
com o pai, pai não, monstro, isso era o mais exato para o que
aquele homem era.
— Sam — Lucky rosnou.
Eu me endireitei e olhei para ver Shaw assentir.
— Por que não me ligou? Eu pedi para me ligar a
qualquer hora — lembrei a ele.
— Eu sei, mas você estava tão disposta a sair com Diana
e Ana, que não queria atrapalhar.
Eu me sentei na mesinha e o puxei para perto de mim,
olhando em seus olhos.
— O que eu disse para você? Não importa o que eu
esteja fazendo, eu vou para você — Eu fui firme. — Shaw, eu
posso estar do outro lado do mundo e fazendo a coisa mais
maravilhosa, ainda assim, volto para você, está me ouvindo?
— Sim, Sam, eu sinto muito. — Ele me abraçou forte.
— Amo você, eu só não queria atrapalhar de novo.
Eu beijei seu cabelo sentindo seu cheiro doce.
— Você nunca atrapalha meu amor — me afastei e sorri.
— Você é a melhor coisa que apareceu em minha vida.
Ele sorriu deslumbrante.
— Você foi meu melhor presente de todos os tempos —
afirmou .
— Oh, garotão, pode apostar que não foi só o seu —
assegurou Lucky com fervor na voz.
Shaw assentiu.
— Quando voltarmos de Vegas, irei levá-lo ao parque de
diversões, depois ao zoológico, como estava previsto para seu
aniversário — disse a ele.
Ele sorriu animado.
— Obrigado, lá deve ter montanha russa igual na
Disneylândia — sussurrou pensativo.
Ele sempre quis ir à Disney, mas nesse momento não
podia levá-lo, já que havia começado a trabalhar agora.
Michael podia querer me demitir e não podia perder meu
serviço.
— Prometo que no ano que vem, quando eu desapertar
um pouco, iremos à Disney — prometi. Além disso, precisava
pagar o Lucky pelas minhas dívidas no qual pagou.
Shaw sorriu concordando.
— Shaw, em cima da minha mesa em meu escritório tem
um presente para você — disse Lucky.
Seus olhos grandes foram para Lucky.
— Sério? Um presente? — Sua voz era eufórica — O
que é?
Lucky sorriu ao ver os olhos brilhantes de Shaw. Mas
quem não ficaria feliz com isso?
— Ingresso para você ir a todos os brinquedos na
Disneylândia se você quiser — falou ele, sorrindo de lado. —
Embora, eu ache que você não vai conseguir ir a todos eles.
— É sério? Para todos eles? — gracejou.
— Lucky — eu o adverti.
Shaw olhou para mim e o sorriso perfeito dele
desapareceu como uma luz sendo apagada. Me odiei por ter
causado isso a ele, mas não queria que Lucky gastasse seu
dinheiro conosco, isso fazia de mim uma pessoa ruim?
— Não quer que ele dê o ingresso a mim? Então não vou
aceitar — sua voz murchou assim como seu rosto lindo.
Eu estava prestes a devolver seu sorriso quando Lucky
suspirou e falou comigo em um tom calmo.
— Sam, nós vamos nos casar hoje, então Shaw vai ser
tão seu quanto meu — Podia ouvir a sua felicidade ao me
dizer isso. Também fiquei feliz que ele gostasse do Shaw, era
isso que queria, não era? — Posso dar qualquer presente que
ele quiser.
Eu não podia impedir que Shaw aceitasse o presente já
que o fez feliz assim. Em meu coração, queria dar tudo de
melhor ao Shaw. Mas que mãe não iria querer isso?
— Tudo bem, querido — sorri para ele com a voz
emocionada. — Vamos à Disney.
— Obrigado, Sam — sussurrou, beijando meu rosto.
— Tudo para vê-lo feliz, querido.
Ele se afastou e olhou para o Lucky.
— Posso ir lá ver o ingresso? Preciso ver se é real e que
não estou sonhando.
Lucky bagunçou seus cabelos.
— Sim, é real garotão — declarou, feliz por Shaw. —
Está sobre a mesa do escritório.
— Obrigado, Lucky. — Ele abraçou a cintura de Lucky.
— Mas quero que saiba que não vai me comprar, porque se
magoar a Sam de novo, eu vou chutar as suas bolas. É uma
promessa.
Eu ouvi todos rirem disso. Incluído Lucky.
— Shaw! — eu o repreendi. — Não pode dizer esse tipo
de palavra para as pessoas.
Ele se afastou e me olhou sorrindo.
— Desculpe, Sam — falou e saiu correndo para uma
porta que ficava perto da escada. Lá devia ser o escritório.
— Você parece amá-lo muito, não é? — observou Rayla
com emoção na voz.
— Como se ele tivesse nascido de mim — respondi a
verdade.
— Ainda bem que não nasceu — sussurrou Lucky.
Eu olhei para seu sorriso devastador. Ainda bem que eu
estava sentada ou caíria com as pernas bambas.
— Porque isso significaria que alguém já teria estado
dentro do que é só meu — seu sorriso era torto e provocativo.
Isso roubou meu fôlego. — Todos os filhos que vão sair de
você serão colocados aí por mim. E essa é a melhor parte e
que vou adorar fazer.
Minhas pernas já estavam bambas com suas palavras,
ficaram piores, aliás, o meu corpo estava mole e ofegante com
suas palavras.
Eu corei e olhei para o sorriso de todos e fiquei mais
nervosa ainda, aposto que estava vermelha.
— Querem parar de ficar encarando Sam, deixando-a
envergonhada? — rosnou Lucky para eles.
— Você é o único que está deixando ela assim por dizer
coisas como essa na nossa frente, seu idiota — replicou Rayla.
Eu olhei para ela e sorri corando.
— Vocês têm razão — suspirei. — Suas palavras são
como um imã que entram fundo em mim.
— Eu gosto de entrar fundo — declarou Lucky com
fervor na voz.
Eu o fuzilava.
— Você não devia dizer essas palavras na frente das
pessoas — acusei. Eu precisei respirar para me recompor,
olhei em volta e dei um sorriso meigo a Rayla.
— Eu quero pedir desculpas a você.
Ela franziu o cenho.
— Pelo quê?
— Por ter dançado com Alex aquele dia, mas saiba que
não tinha a intenção de fazer nada, apenas dar uma lição em
você e no Lucky.
Ela encolheu os ombros.
— Foi uma dança bem grudada, mas não posso reclamar
por ter acontecido algo, afinal, eu fui embora e o deixei —
sorriu triste. Alex alisou seus braços, reconfortando-a. — E
não tenho nenhum ressentimento de você por isso.
— Obrigada, e lamento pelo que fiz, mas você e Lucky
precisavam de uma lição e sair das conchas em que estavam
vivendo. — Eu sorri para ela. — De qualquer forma deu certo,
pois isso fez vocês dois ficarem juntos.
Ela sorriu, agora pareceu real. Fiquei feliz com isso.
— Ele é bom de cama e sabe dar conta do recado.
— Argh — sibilou Lucky, estremecendo. — É melhor
não dizer nada.
— Eu estou com Lucky — concordou Ryan encolhido.
— Não quero essa imagem na minha cabeça ou vou querer
matá-lo.
Eu sorri e olhei para Alex.
— Eu aposto que sim — ouvi o rosnado de Lucky perto
de mim. — Mas o que não entendo é porque você fez o que
fez.
Alex franziu o cenho.
— Como assim? Ser bom de cama? — Seu sorriso
estava cantando em seus lábios.
Eu bufei ao revirar os olhos.
— Não, mas você sabia o que eu pretendia fazer e me
mandou para o Jason.
Lucky arfou antes que eu terminasse e já foi na direção
de Alex. Eu me levantei e me coloquei na frente de Lucky para
impedi-lo.
— Lucky, pare — pedi segurando seu peito.
— Eu vou acabar com você, seu miserável —
esbravejou fuzilando Alex.
Eu olhava os olhos hostis de Lucky.
— Você não vai fazer isso — protestei e depois rosnei.
— Agora pare de dar chilique e deixe-o terminar de falar.
Ele suspirou, mas relaxou nos meus braços. Eu me virei
de costas para ele e olhei para Alex sentado no sofá sem se
abalar pelo chilique do Lucky.
— Eu não disse para você escolher o Jason, eu apenas
falei para você escolher alguém que achasse atraente, porque
não tem como você transar com alguém sem sentir atração.
Lucky rosnou atrás de mim. Eu me afastei até bater em
sua parede de músculos atrás de mim.
— Lucky, por favor — pedi suplicante.
A testa de Alex estava vincada.
— A sua escolha ficou entre os irmãos King e acredite
em mim, você não estava pronta para aquilo.
— Os caras da banda King? — indagou Lucky
horrorizado. — Você ia ficar com Nilan e Gave?
Eu engoli em seco.
— Não. Eu não estava preparada para um homem
imagina para dois… — eu ri sem humor e olhei para o Alex e
os outros me encarando de olhos arregalados. — Mas vocês
sabiam que Jason era amigo de Lucky, então por que não
interferiram?
— Simples, porque você estava segura com Jason até
Lucky chegar e consertar a burrada que fez não esclarecendo
tudo para você — Ryan se intrometeu.
— Sim, eu sabia que não faria você mudar de ideia já
que estava decidida, mas quando você notou Jason, então
soube que podia interferir, mas talvez ele… — Alex apontou
o queixo para o Lucky. — Talvez ele não tivesse ficado com
outra mulher como você pensava que ficou, porque cá entre
nós, ele seria um completo idiota se tivesse feito.
— E com isso vocês a mandaram para mim? — Jason
falou antes que eu saísse do choque por saber da armação. —
Eu devia dar uma surra nos três por fazerem isso. — Ele olhou
feroz para Ryan, Alex e Jordan, e depois sorriu com candura
para mim. — De qualquer forma, agradeço, porque eu gosto
de você, preciosa.
Lucky fechou a cara para o amigo.
— Espero que esse gostar que esteja se referindo seja
amigável ou vai andar por aí sem as bolas — sibilou entre
dentes.
Jason sorriu para o amigo sem se deixar abalar e depois
para mim.
— Eu sabia que em você gritava inocência, não só pelo
sexo, mas também em tudo e isso não é para mim — senti uma
tristeza em sua voz. Acho que Jason estava se lembrando da
garota do seu passado. Queria tanto ajudá-lo, mas como?
— Por isso pedi para ela ir para o Jason. — Alex olhava
para o Lucky. — Outro cara não iria dizer que não ficaria com
ela, seria louco se dissesse isso.
Lucky sibilou e o som era um silvo, mas ficou quieto.
— Vocês falam inocência como se eu tivesse algo
diferente — retruquei.
— Oh, preciosa, acredite em mim: você é perfeita —
declarou Jason me olhando, mas logo desviou os olhos depois
do rosnado de Lucky. — Mas eu pego mulheres experientes,
depois as dispenso sem compromisso. — Ele me olhou de
lado. —Você é algo para guardar e proteger como uma joia
preciosa, como disse a você, mas fico feliz por dizer não,
porque se tivesse feito, eu iria me arrepender para sempre.
— Por causa do Lucky — não era uma pergunta.
— Sim, mas também por você, eu sabia que você
merecia mais do que isso. — A sua testa vincou. — Apenas
toquei sua perna e você quase saiu correndo como se eu fosse
estuprá-la. — Ele estremeceu. — Eu não sei, mas tinha algo de
diferente em você, apenas não sabia o quê. — Ele me avaliava,
acho que todos o faziam.
Eu não podia dizer o que quase aconteceu comigo no
passado que fazia me sentir daquele jeito. Isso era algo que
estava enterrado fundo em minha mente, esperava que
continuasse lá, por enquanto.
— Eu acho que foi o que aconteceu no beco com o pai
de Shaw. Quando uma pessoa passa por aquilo, demora um
tempo para se recuperar — sorri para aliviar a tensão de todos.
— Também estava chateada com Lucky, mas de uma coisa eu
tinha certeza: não conseguiria ficar com você, mas agradeço
por me dar um fora na Rave, pois se fôssemos para outro
lugar, a coisa ia ficar bem embaraçosa.
— Acho melhor parar de falar sobre isso, Sam. —
Lucky colocou as mãos em minha cintura, como se me
abraçasse por trás e, na verdade, ele estava. — Estou fazendo
de tudo para me controlar ao ouvir você dizendo que ia ficar
com outro cara. — Seus dedos alisavam minha barriga esguia.
Senti um arrepio atravessar meu corpo, dos pés à cabeça.
— Você não corre do toque dele. — Jason sorriu para
mim. — Era isso que você devia sentir quando ficasse com
alguém. Por isso fico feliz por vocês dois.
— O toque do Lucky é como uma energia elétrica,
porque com apenas um toque, ele incendeia todo o meu corpo
e me faz quase entrar em combustão — Minha voz era fraca.
— É como se dentro de mim tivesse um vulcão adormecido e
com apenas um toque dele, tudo explodisse.
Lucky riu baixinho.
— Como isso? — Lucky encostou bem apertado em
minhas costas, senti seu hálito e sua boca em meu pescoço,
tanto que minhas pernas ficaram moles como gelatina. Eu
gemi fechando os olhos, meu corpo parecia um fio
desencapado com seu toque.
— Não faz esse som para eles — ordenou, também
ofegante, beijando meu pescoço. — Esse som é só meu.
Fácil para ele dizer, não era ele quem estava sentindo
tudo isso, todo esse desejo saindo da minha pele, do meu
corpo como uma maldita labareda. Concentre-se, Sam, entoei
como um mantra. Embora, eu adorasse sentir isso, mas não na
frente dos outros.
— Droga! Se você quer transar com ela, pelo menos a
leve para o quarto, Lucky, ou vai querer que todos aqui
gozemos ouvindo esse som? — queixou-se Ryan.
Eu saí dos braços do Lucky tão rápido que cambaleei e
já ia caindo em cima do Jason, o que não ia ser nada bom. Ele
até levantou as mãos para me pegar, mas Lucky foi mais
rápido e me puxou para seus braços musculosos e perfeitos,
olhando ferozmente para Jason.
— Se tocar nela, eu juro que quebro seus dois braços e
não haverá lutas na MMA por um longo tempo — rosnou.
Eu olhei de olhos arregalados para o Jason, que sorria
sem se preocupar com a ameaça de Lucky.
— Você luta? Eu achei que você tocava em alguma
banda — estabilizei minha respiração e meu autocontrole.
Ele revirou os olhos.
— A única coisa que toco são os punhos. — Ele
levantou os braços na frente de seu rosto como se fosse lutar
boxe.
— Agora, com vocês o letal, mortal e destruidor…
Balaaaaaaa, o fera dos ringues. — Jordan colocou a mão e
gritou narrando como um locutor de lutas.
Eu arregalei os olhos .
— Seu nome no ringue é Bala?
Ele assentiu.
— Sim. Você não parece conhecer pessoas famosas, não
é? — Jordan disse como uma declaração.
— Sim, eu não sou fã disso — franzi os lábios olhando
Jordan. — Certo, vamos nos conhecer melhor, Ryan mexe com
moda.
— Ei — Ryan me interrompeu com ar recriminado. —
Não mexo com moda, você falando assim parece diminuir a
minha masculinidade, eu sou dono da Fashion Donovan.
Como se alguma coisa fosse tirar a masculinidade dele,
o cara era um Adônis do sexo em pessoa. Olhos cor de whisky,
corpo torneado de músculos definidos, pele bronzeada. Tinha
dó da garota que se apaixonasse por ele. Olhei, então, para
Jordan.
— Você também é algum tipo de famoso que não
conheço? — sondei. — Porque você parece o Thor com esse
cabelo loiro e olhos azuis.
Ele riu, revirando os olhos.
— Não sou famoso, mas apareço nas colunas sociais por
causa do meu pai.
— E quem é seu pai? — perguntei curiosa.
— James Johnson, você o conhece?
Eu sacudi a cabeça.
— Não, desculpe — sussurrei.
— Ele é cantor de rock — esclareceu, não muito
animado com isso.
Eu assenti.
— Isso explica por que não o conheço. Sou fã de música
country — esclareci e olhei para o Jason. — Então, você luta,
Bala.
Ele revirou os olhos por eu usar seu apelido no ringue.
Eu acho que não foi com o peso como suas fãs gritam seu
nome. Esperava vê-lo lutar em breve.
— Sim, sou campeão de faixa preta em kung Fu, Muay
Thai — Seu tom era animado ao falar de luta.
Eu franzi o cenho.
— Se você sabe lutar assim, por que deixou Lucky bater
em você?
Lucky riu confiante.
— Rosa Vermelha. — Ele revirou os olhos. — Ele não
deixou, o acertei, porque sou faixa preta também e mais ágil
do que ele, apenas não sou lutador profissional.
— Você sabe lutar?
— Sim. Eu faço isso nas minhas horas vagas do trabalho
— Seu tom era animado ao falar de luta também. Pelo visto,
era seu hobby preferido.
Eu fiquei de frente para ele e o fitei.
— Me ensina?
Ele piscou com os olhos.
— O quê? Você quer aprender a lutar?
— Quero aprender a me defender de situações perigosas
— esclareci. Pensei em meu pai me pegando a força e me
batendo, talvez com algumas práticas conseguisse evitar que
isso acontecesse de novo. Bryan podia me ensinar, mas
morávamos em lugares diferentes e também, eu casando
ficaria complicado para esconder meu segredo. Evitei pensar
nisso agora.
— Se for por isso, não precisa, o Simon vai levá-la em
todos os lugares que quiser.
Eu fechei a cara para ele.
— Eu não vou andar por aí com seu motorista — rebati.
— Para isso, eu tenho o meu carro.
— Aquela lata velha? — balançou a cabeça
categoricamente. — Sam…
— Lucky Donovan, não ouse comprar nenhum carro
para mim — rosnei feroz. — Se não quiser ter problemas.
Ele deu um suspiro frustrado.
— Não vou fazer isso.
Eu assenti, mas fiquei confusa por ele aceitar tão
facilmente sem lutar o dia inteiro. Deixei passar, por enquanto.
— Ótimo, mas e quanto às lutas, vai me ajudar? Eu
estava procurando uma academia de luta, até fui na Falcon…
— me interrompi, olhando Jason. — Seu nome é Jason
Falcon?
— Sim.
— Então, a academia Falcon é sua? — Não era bem uma
pergunta. Eu me lembrei de alguém falar de Jason Falcon
quando estive lá alguns meses atrás. Quem diria que um dia,
eu conheceria ele em pessoa?
— Sim — sorriu como um gato. — Você vai aprender a
lutar lá?
Eu sacudi a cabeça.
— Não, o meu salário não cobre o custo dela, já que
parece ser bem chique — sussurrei.
Ryan riu sacudindo a cabeça.
— Você vai casar com o homem mais rico do mundo e
fica preocupada com o custo de uma academia? — Seu tom
era ultrajado.
— Já conversei com Lucky sobre isso, irei me casar com
ele sem comunhão de bens, então, não tenho nada. — Eu
apontei o dedo para ele do meu lado. — Apenas quero ele.
— Sam…
Eu me virei e olhei de frente para Lucky.
— Não vamos discutir sobre isso — protestei. — Você
já aceitou as condições, se lembra?
Ele estreitou os olhos.
— Mas isso não significa que vou deixar você só às
custas do seu salário, aliás, você nem precisa trabalhar depois
de casar — Sua voz era um pouco animada com isso.
Eu o olhava de forma dúbia.
— Você ficou maluco? Eu amo o meu trabalho e vou
continuar trabalhando, você que não ouse fechar as portas para
mim — rosnei.
— Se nem casou já está assim, imagina depois que se
casar? — observou Rayla.
Eu encolhi os meus ombros.
— Talvez se não tivesse tanto dinheiro, não brigaríamos
muito — murmurei comigo mesma.
Ele arregalou os olhos.
— O meu dinheiro te incomoda? — Seu tom era de
ultraje.
— Sim e muito — apertei os lábios. — Somos de
mundos diferentes, mas sou egoísta para ficar longe de você.
— Oh, Rosa Vermelha, você não vai para longe de mim,
nunca. — Lucky me abraçou e sussurrou em meu ouvido. —
Eu sinto seu corpo ansiar pelo meu corpo dentro de você, não
é?
— Lucky… — minha voz falhou sem forças.
Ouvi os outros rirem. Eu não era uma puritana, mas
estava envergonhada por não conseguir resistir ao Lucky na
frente dos outros.
— Sam, se você quiser, eu posso dar aulas a você —
disse Jason.
— Não valoriza o que tem no meio das pernas? —
sibilou Lucky.
Eu revirei os olhos.
— É só aula, Lucky — comecei, mas ele me
interrompeu com os olhos furiosos.
— Aulas onde ele passa as mãos em seu corpo? — Sua
voz era enciumada. — Nem morto.
Eu olhei para seus amigos.
— Ele sempre foi assim, homem das cavernas? —
sondei curiosa.
Ryan riu e os outros também com o apelido que dei a
ele.
— Não, querida, ele transava e descartava logo em
seguida. — Ele sacudiu a cabeça com isso — Todos aqui
gostamos de sexo selvagem.
— Sexo selvagem, hein? Como Christian Grey? —
minha voz saiu um pouco alta.
Ele arqueou as sobrancelhas.
— Vejo que leu Cinquenta tons de cinza?
— Sim, eu gosto do livro — sussurrei.
— Também gosta de ser amarrada e ter sexo selvagem?
— perguntou Jason, curioso e com as sobrancelhas erguidas.
Eu fiz uma careta corando, é claro.
— Várias cenas quentes de lá eu gosto.
— Cite uma — interrompeu Jason com um olhar grande.
Eu passei as mãos no cabelo.
— Hummm… — procurei na minha mente. —, tem uma
que ele prende ela na cama com as mãos amarradas e vai
passando uma pedra de gelo em seu corpo. Fogo e gelo, uma
mistura interessante.
— Essa cena é quente. — Rayla se abanou.
— Sim — concordei, me sentindo quente só de falar. —
Quer dizer que vocês fazem isso direto?
Jordan sorriu.
— Deixar a mulher presa enquanto você a devora é bem
excitante. — Ele me olhou de lado ainda sorrindo. — Você vai
adorar isso.
Eu olhei para o Lucky.
— Você gosta de amarrar as mulheres iguais a eles?
Ele sacudiu a cabeça.
— Não — respondeu. — Já que isso inclui ter que
colocar a boca em todo seu corpo, algo que nunca fiz. — Ele
me lançou um sorriso. — Mas com você, eu vou fazer tudo já
que gosta de cenas assim.
Eu estava vermelha com ele falando assim e olhei a
todos, mas antes que pedisse para mudar de assunto:
— Você vai adorar cada parte disso — Jason sorriu,
olhando o sorriso do Lucky e a minha cara vermelha.
— Certo, vamos mudar de assunto — olhei para Alex.
— Eu liguei para Alexia, mas ela está em uma palestra na
Suíça.
— Minha irmã trabalha muito, vivo dizendo isso a ela.
— Ele deu de ombros.
— Você conhece a irmã dele? — perguntou Rayla
confusa.
— Sim, estudamos juntas na faculdade — sussurrei. —
Vou tomar um banho e tirar essa roupa que parece incomodar
o Lucky, mas eu não sei porquê.
— Não sabe? Querida, esse shortinho deixa toda sua
coxa perfeita exposta e toda a sua barriga também, ainda mais
essa tatuagem exposta, onde todos os homens pensam em
passar a língua — Seu tom era um resmungo.
Eu ri.
— Lucky, você não pode imaginar o que os outros estão
pensando — ergui as sobrancelhas. — Você diz isso só porque
é você quem pensa essas coisas.
— Eu estou certo sobre isso — falou Lucky em um
rosnado. — Eu sei o que cada maldito bastardo aqui está
pensando.
— Somos homens, querida, e você tem o corpo perfeito.
— Ryan piscou para mim. Mas não vi interesse em seus olhos,
apenas provocação com Lucky.
— É melhor calar a boca — sibilou Lucky entre dentes.
— Mas estou curioso. — Jason me olhava enquanto
tomava a sua bebida e olhou a minha tatuagem. — Que
tatuagem é essa? Parece uma fênix, estou certo? Ela vai até
onde? Porque aí só aparece um pedaço de sua asa.
Eu sorri.
— É uma fênix e ela vai até a um lugar que nenhum de
vocês vai ter acesso. — Eu olhava a cada homem na sala e
deixei o mais lindo para o final. — Só você, sempre.
Vários engasgos distintos.
— Você quer dizer que ela vai até…
Lucky cortou Jason.
— É melhor não dizer essa palavra.
Mudei de assunto antes de fazer Lucky perder a cabeça.
— Eu vou subir, mas antes, que horas nós vamos para
Vegas?
— O jatinho estará pronto às três — Lucky me disse.
— Jatinho? — pensei no Bryan dizendo que Lucky tinha
preparado tudo para Vegas hoje, mas não disse nada de
jatinho. O bastardo sabia por isso não disse nada. — Vamos de
jatinho?
Lucky franziu a testa.
— Sim, por quê?
Suspirei. — Eu acho que vou precisar de uma bebida
antes — minha voz falhou no final.
— Você tem medo de avião? — perguntou incrédulo.
— Sim, um pouco — admiti envergonhada.
— Se você quiser, podemos ir de carro — ele franziu o
cenho. Acho que pensando em andar 4073 quilômetros de
carro até Vegas só porque tenho medo de avião.
— Não, está tudo bem — sorri para tranquilizá-lo.
Subi as escadas para o quarto dele e já fui tirando as
roupas, precisava de água gelada para esfriar essa vontade que
estava entre as minhas pernas desde que acordei. Nunca pensei
que sexo fosse tão arrebatador assim, mas adorava aquilo,
aliás, estava amando o desejo incontrolável.
O banheiro de Lucky era do tamanho de três quartos
meus, possuía um espelho que pegava a parede inteira do lado
direito e com uma banheira grande e branca, com balcão
enorme de mármore e um lavabo creme.
Entrei no chuveiro debaixo da água gelada, mas ela não
resolveu muito o que estava sentindo. O fogo ainda estava ali
me consumindo, achei até que gritaria. Nunca me toquei antes,
porque jamais senti nada, mas há sempre uma primeira vez,
não é? Eu me escorei na parede do banheiro e coloquei a mão
direita entre minhas pernas e me toquei enquanto a outra mão
acaríciava meus mamilos rijos. Meu corpo tremia com o
desejo.
— Mas que droga é essa? — rugiu Lucky.
Eu tirei as mãos do meio das minhas pernas e olhei para
o Lucky parado me olhando com luxúria e raiva, mas eu não
liguei muito para isso, apenas me joguei em seus braços
querendo ele desesperadamente, tanto que chegava a doer.
— Por favor, eu preciso… Por favor… — eu implorei
ofegante.
Ele me pressionou na parede e me fitou com os olhos
quentes de luxúria.
— Você estava se tocando, Sam? — Ele estava com
dificuldade de respirar também, sua voz estava rouca.
Eu assenti sem forças para falar enquanto sua língua
mergulhava em meu pescoço e chupava minha pele. Ele soltou
um rosnado do fundo da garganta.
— Não quero que faça isso.
Eu assenti de novo sem saber se ele podia sentir a minha
cabeça mexendo. Minha voz há muito tempo havia sumido e
perdido o som. Ele se afastou e seus olhos eram ardentes.
— Estou falando sério, Sam — Seu olhar agora era
sério. — Se você estiver com vontade de transar, então me
chame que, eu vou para você. — Ele pegou meu seio e apertou
beliscando a ponta. Eu gemi. Ele colocou a mão entre minhas
pernas e apertou esfregando meu clitóris. — Só eu posso fazer
isso, está me ouvindo? Eles são meus. Todo o seu corpo é
meu.
— Sim… por… favor…
— Oh, querida, eu vou cuidar de você. — Ele me pegou
nos braços e me sentou no mármore. Abriu as minhas pernas,
colocou a boca no meio delas chupando, mordendo, lambendo
meu nervo inchado e dolorido de desejo por aquele homem
lindo. — Isso é meu e só eu posso tocar, chupar, morder e
comer — ele rosnava. — Nem você pode tocar, está me
ouvindo?
Eu apenas assentia, não sei se ele podia ver, mas também
não me importava. Sua boca afundou dentro de mim e tudo se
formou em explosão. Meu corpo arqueava querendo mais dele,
ainda mais quando ele chupou meu clitóris como se fosse algo
saboroso, algo de outro mundo.
— Oh, Lucky. — Sentia o meu orgasmo chegar. Minhas
mãos apertavam sua cabeça para afundar mais em mim me
levando outra vez ao esplendor.
— Porra, ela é saborosa como o maldito mel. — Ele
enfiou dois dedos também e, logo eu estava gritando seu nome
de novo e de novo. Gozeis várias vezes seguidas, nem sabia
que isso era possível, mas com a língua de Lucky foi sim. Ele
continuou com os dedos dentro de mim e levantou o rosto para
beijar o meu pescoço.
— Ela é minha e só eu posso fazer isso. — Ele mexeu os
dedos dentro de mim e eu agarrava suas costas apertando e
clamando seu nome.
— Eu. Quero. Você. Dentro. De. Mim. Agora. — Enfiei
minhas unhas em suas costas.
— Seu desejo é uma ordem, rosa vermelha. — Ele se
afastou um pouco, pegou a camisinha dentro do bolso de sua
bermuda e rasgou o saquinho com os dentes enquanto tirava as
suas roupas e se encaixou dentro de mim tão fundo que gritei.
— Nossa! Você é apertada minha rosa vermelha — Sua
voz era grossa de desejo. — Só minha e vai ser para sempre.
— Lucky. — Eu agarrei seus cabelos, olhei seus olhos
quentes e sua boca perfeita. Eu queria tanto beijá-lo, mas não
podia pedir isso a ele, mesmo que doesse dentro de mim não
fazer.
— Você quer me beijar, não é?
Eu fitei seus olhos escuros de um prazer tremendo. Ele
parecia bêbado de desejo, assim como eu estava.
— Não se preocupe comigo, apenas mexa essa bunda
bonita — sussurrei sem fôlego.
— Bonita, hein? — rosnou e colocou a sua boca na
minha e devorou-a com fome enquanto estocava dentro de
mim. Meus cabelos estavam enrolados em um punho e a outra
mão em minha bunda, enquanto devorava minha boca e
bombeava dentro de mim. Minhas mãos estavam em suas
costas tão apertadas que achei que perfuraria a sua pele. Mas
ele não reclamou, então não liguei.
Meu corpo virou bilhões de explosões de fogos ao
chegar em meu clímax arrebatador e eu gemia em sua boca.
— Esse gemido é só para mim, nunca mais geme perto
de ninguém. — Seu corpo ficou tenso, sabia que ele estava
prestes a gozar.
— Sim — respondi enquanto ele gozava dentro de mim
me apertando como se quisesse se fundir comigo.
— Oh, você é tão linda — declarou. — Meu raio de luz
que consome a escuridão.
— Amo você, Lucky. — Beijei seu coração com meu
nome nele, seus olhos quentes e vidrados em mim.
— Eu também, Rosa Vermelha, enquanto eu respirar
nesse mundo.
13 - Casamento
SAM
A viagem para Las Vegas não foi muito longa no jatinho
particular do Lucky. É claro que tive que tomar um pouco de
whisky para relaxar, mas o que me fez relaxar mesmo foi o
toque do Lucky a viagem inteira. Ele me beijava e alisava
minha pele, assim nem pensei muito que estava nas alturas.
Seu jatinho era bem elegante como tudo do Lucky. Por
dentro tinha duas carreiras de bancos paralelos com estofado
de veludo. As paredes dele eram brancas. Esse até tinha uma
suíte aonde o Lucky me levou, com assento reclinável, outro
assento para visitante, minibar e tv de led grande. A cama era
grande com colchão macio e lençóis de linho Egípcio .
— Muito lindo — falei, olhando a cama e com vontade
dele de novo. Nós dois já tínhamos ficado duas vezes no
banheiro lá em casa, mas a vontade estava persistindo. Eu
olhei para ele com um olhar de desejo. — Acha que consegue
mais?
Ele sorriu.
— Oh, Rosa Vermelha. — Ele me pegou pela cintura e
me colocou na cama deitada. — Levante as mãos.
Eu fiz o que ele pediu, levantei as mãos juntas para a
cabeceira da cama. Lucky tirou a minha blusa e desabotoou
meu sutiã, fiquei ali na sua frente com meus seios de fora.
Embora, ele já tivesse visto e provado do meu corpo desde
ontem, nunca era o suficiente.
— O que vai fazer agora? — sussurrei sem fôlego, ele
estava vestido com uma camisa social esporte listrada de azul
e preto e uma calça preta.
Ele tirou a gravata preta que estava usando e debruçou
sobre mim, amarrando as minhas mãos na cabeceira da cama.
Seus olhos estavam tão quentes que podia sentir a minha pele
pegando fogo.
— Vou fazer isso — respondeu com a voz rouca, tirando
a minha calça jeans e calcinha.
Ele ficou ali de pé devorando meu corpo nu e amarrado
na cama. Seus olhos incendiavam todo o meu corpo como
laser, como se fosse a coisa mais linda e preciosa que ele já
havia visto em sua vida. Eu não podia me sentir mais feliz do
que já era. Esse homem era meu amor, minha vida, minha
alma.
— Tão porra de linda!
— Vai ficar aí só me olhando ou vai entrar em ação? —
provoquei ofegante, abrindo as minhas pernas como um
convite. Eu podia corar sim, mas não deixaria a vergonha de
estar nua em sua frente me dominar, afinal, ele ia ser meu
marido.
Ele me lançou um sorriso libidinoso. Ele estava de pé
fora da cama, mas perto de mim, tão perto que podia sentir seu
cheiro… uma mistura de sabonete com desodorante
masculino.
— Tão ansiosa! — Ele pousou os olhos no meu corpo
mais uma vez com desejo, luxúria, amor e devoção. — Uma
verdadeira obra de arte! — Debruçou-se sobre mim e beijou a
minha testa e se afastou. — Eu já volto.
Eu arfei.
— O quê? Você vai sair!
— Não vou demorar, Rosa Vermelha.
Eu soltei um bufo tentando me soltar, mas sem
conseguir.
— Eu não acredito que vai sair daqui e me deixar nua e
amarrada — reclamei mexendo as mãos.
Seu sorriso era quente. Lindo de morrer.
— Não se preocupe, querida, eu vou cuidar de você —
Eu podia detectar a verdade em cada palavra e a fome
também.
Eu suspirei.
— O que tem mais importante lá fora do que nós… —
eu não consegui terminar e virei o rosto corando.
Ele tocou o meu rosto com as pontas dos dedos. Seus
olhos eram devassos, então lambi meus lábios.
— Não tem nada mais importante que devorar esse
corpo gostoso. — Ele beijou as minhas pálpebras e me deu um
selinho nos lábios.
— Então, por que vai sair? — perguntei confusa,
querendo mais do seu toque, como ele dentro de mim.
— Uma surpresa para você, minha futura esposa.
Eu o interrompi.
— Eu não quero surpresa, eu quero você agora.
Ele riu do meu resmungo e beijou a ponta do meu nariz.
— E você vai ter cada polegada minha. Agora, espere
aqui por mim — ele disse e se levantou indo até a porta de
correr do quarto.
Como ele podia me deixar assim e sair para fazer sabe-
se lá o quê? Maldito seja.
— E se alguém entrar aqui enquanto estiver fora e me
ver assim nesse estado? — Eu provoquei.
Ele parou antes de chegar à porta e olhou para mim, para
o meu corpo nu, estendido na cama. Eu apertei minhas pernas
juntas para abafar o desejo ardente.
— Ninguém vai entrar aqui e ver o que é meu — seu
tom era sério ao dizer isso, mas os olhos apaixonados. — Por
que essa porta só abre com código e ninguém o possui,
somente eu.
Eu expirei me controlando.
— Eu vou te dar um minuto, se não aparecer, irei
começar a gritar — eu o ameacei.
— Você vai gritar sim, mas por outra coisa — ele me
disse com um sorriso lascivo e saiu pela porta de ferro.
Comecei a contar para passar o tempo, era melhor do que
pensar que estava nua e exposta para quem entrasse por aquela
porta. Isso era bem constrangedor e esperava mesmo que ele
fizesse valer a pena.
Depois de contar até cem, a porta do quarto se abriu,
meu coração parou ao imaginar que não pudesse ser o Lucky,
mas era ele com uma bandeja de comida: morangos, iogurte,
champanhe e uma vasilha com gelo dentro.
Ele sorriu ao colocar a bandeja recheada de coisas em
cima de uma mesinha que tinha ao lado da cama.
— Não demorei — Ele parecia orgulhoso com ele
mesmo.
Eu fechei a cara.
— Você me deixou aqui para buscar comida? — Meu
tom era ultrajado e com um pouco de raiva.
— Ei, lindinha, não fique brava comigo — pediu ele,
chegando seus olhos bem próximos dos meus. — Tudo isso
aqui vai te dar um prazer tremendo.
Eu ergui as sobrancelhas.
— O quê? Me alimentando? Eu não estou faminta de
comida e sim de outra coisa… — olhei para suas calças,
mordendo os lábios. Eu acho que virei uma louca por sexo,
mas não ligava, porque eu estava adorando esse desejo e fome
que estava tendo por ele.
Ele sorriu pervertido ao seguir o meu olhar.
— Sempre faminta.
— Oh, você não sabe o quanto — sussurrei. — Se as
minhas mãos não estivessem amarradas, eu já teria me tocado.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Por que você acha que eu as amarrei?
— Eu pensei que você tivesse me amarrado por outra
coisa — Meu tom era amargo.
— Vejo que a minha mulher está impaciente — ele
disse, alegre com esse fato, ainda mais sabendo que era ele a
me deixar assim.
— E como! — rosnei e depois falei com um tom calmo
e meloso. — Por favor, epreciso de você para acabar com esse
fogo que parece me consumir por dentro se você não me der o
que eu quero.
Lucky começou a tirar a camisa e não pude deixar de
adorar seu corpo saboroso que estava diante de mim.
Músculos fortes e definidos que eu podia até contar os quatros
gominhos que tinham em seu abdômen.
— Está vendo algo que gosta? — Ele provocou
malicioso.
— Você está sendo mau — acusei..
Lucky apenas sorria enquanto tirava a sua calça de um
jeito lento, como se fosse para me matar a cada segundo vendo
seu corpo gostoso. Assim que ficou nu, subiu na cama
beijando meus pés com leves toques dos lábios.
— Lucky…
Seus lábios estavam em minhas coxas. Podia sentir seu
toque queimando minha pele, seu hálito quente beijando
minhas coxas, fazendo queimar de atrito. Eu gemi me
mexendo, querendo me soltar e voar em seus braços para
Lucky acelerar e me dar o que tanto estava ansiando.
— O que você quer que eu faça, querida? — Eu senti a
sua língua em minhas coxas bem perto do meu centro onde
estava queimando. — Você quer que eu beije aqui? Ou aqui?
— Ele beijou o outro lado da coxa, mas nunca onde eu
ansiava.
Meu corpo salpicou para cima como se seu toque fosse
um imã, mas com fogo e ansiando por ele.
— Lucky… por favor… — meus olhos estavam
fechados, enquanto meu corpo queria ele dentro de mim,
necessitava dele como eu precisava do ar.
— O que você quer? Me diz que eu faço — Sua voz era
grossa de desejo e luxúria ao passar a língua em minhas coxas
perto do meu ponto sensível, mas nunca onde latejava.
— Por favor… — abri mais as pernas e levantei os
quadris querendo que ele colocasse a boca em mim. Eu
poderia ficar constrangida depois, porque agora não ligava
para isso, apenas o queria.
— Eu quero palavras — exigiu ele, soprando minha
parte sensível.
Seu hálito quente queimou ainda mais que seu toque. Eu
não acreditava que ele ia me fazer dizer as palavras, mas para
acabar com o fogo e desejo, eu faria tudo.
— Eu quero a sua boca em mim.
Ele se afastou, porque não senti mais o seu toque em
minha pele. Eu abri os olhos e encontrei os dele em mim com
desejo ardente, e escuros de fome.
— O que foi? Se não me quer, então solta as minhas
mãos e me deixa cuidar de mim.
Seus olhos se estreitaram. Ele se levantou da cama e foi
até a bandeja e pegou um morango bem vermelho e mergulhou
no iogurte e veio com ele estendido em minha direção.
— Sabe o que vou fazer com isso?
Eu franzi a testa. .
— Comer? — zombei.
Ele revirou os olhos verde floresta. E subiu na cama com
o morango e um copo pequeno com iogurte.
— Agora, eu vou precisar que você fique quietinha —
Não pareceu um pedido e sim uma ordem, estava prestes a
reclamar quando ele colocou o morango nos meus lábios me
impossibilitando de falar. — Não coma ou morda até eu pedir.
Eu o fuzilei com os olhos, já que não podia falar com o
morango me impedindo de falar, até podia sentir o suco doce
do morango com iogurte em minha boca. grunhi enquanto ele
beijava meu rosto.
— Agora, eu vou cuidar da minha futura esposa, porque
eu sei que está muito quente, então vamos refrescá-la. — Ele
pegou o iogurte gelado no copo e começou a despejar sobre
mim, como se eu fosse um bolo e ele estivesse confeitando. —
Parada — mandou ele, pois já estava me mexendo com o
iogurte gelado sobre minha pele ardente. Eu fiquei parada
vendo a sujeira que ele estava fazendo comigo. O iogurte caía
sobre meus seios duros e no meio da minha barriga, fazendo
uma linha reta até o meu centro quente.
— Hummm! — Ofeguei ao sentir o gelo e fogo ali
juntos.
— Delícia — ele sussurrou colocando o copo na
mesinha e olhando a sua obra de arte no meu corpo. —
Magnífica de linda.
— Hummm — isso era tudo o que eu podia dizer já que
estava com a boca cheia.
— Porra, que visão de outro mundo. — Lucky colocou a
boca sobre o meu seio direito e sugou com fome o iogurte que
estava ali, depois foi para o outro seio, mordiscando e
lambendo. — Esplêndidos!
Meu corpo queimava com ele me lambendo assim,
quase me levando à combustão espontânea. Céus, era como se
eu estivesse dentro de uma fornalha de fogo sem me queimar
ou me causar dor física, porque a única coisa que eu sentia era
um tremendo prazer que me fazia ver estrelas, aliás, uma
constelação inteira.
— Hummm… — eu queria gritar o nome dele e falar
para que se apressasse e fazer esse fogo sumir, mas com a
boca cheia não tinha como falar, apenas gemer.
Ele seguiu sugando o iogurte que estava na minha
barriga e, senti a sua língua ali no meu umbigo e no pé da
barriga. Meu corpo subiu querendo ele logo, se eu não o
tivesse morreria. As pessoas morrem de desejo? Eu não sei,
mas eu iria sim, se ele não matasse o fogo que me consumia.
— Você é muito gostosa. — Ele colocou a boca no meu
centro e tudo se explodiu em mim, enquanto ele sugava cada
canto do meu clitóris como se ele fosse o iogurte que estava ali
sobre mim.
Meu corpo explodiu em milhões de estrelas no espaço
cósmico, eu nem percebi que havia mordido o morango,
partindo-o ao meio e o suco desceu pelo meu queixo. Fiquei
mole enquanto tremia após o orgasmo. Lucky se elevou sobre
mim e passou a sua língua mágica pelo suco do morango,
comeu a outra parte do morango que tinha caído entre os meus
seios.
— O morango mais gostoso que já comi em toda na
vida — seu olhar agora era cálido. — Está mais calma?
Engoli o morango saboroso assim como Lucky havia
feito.
— Ainda não. — Olhei para seu pau a todo o vapor,
necessitando de cuidados. — Ele precisa ser descarregado.
Lucky sorriu.
— Oh, e ele vai — Sua voz era cálida. Posicionou-se no
meio das minhas pernas, já preparado com camisinha, afinal,
não queria ficar grávida agora, só mais para frente.
— Quero que me desamarre. Preciso tocar você.
Ele me desamarrou e massageou os meus pulsos, onde
estavam vermelhos por causa da minha pele branca.
— Você se machucou? — De repente, ele parecia
preocupado.
Eu sacudi a cabeça e coloquei as minhas mãos em sua
bunda fazendo-o entrar em mim.
— Não. Agora eu preciso sentir essa belezura dentro de
mim … — gemi, incapaz de terminar assim que ele me
apossou .
— Não chame meu pênis de belezura, isso diminui a
minha masculinidade — repreendeu ele.
Eu revirei os olhos.
— Nada que eu disser vai diminuir seu brinquedo. —
Coloquei meus dedos em seus cabelos e puxei sua cabeça para
mim como se eu fosse beijá-lo, mas não fiz, apenas sussurrei.
— Agora me fode, me faça ver estrelas e gritar seu nome em
cada canto desse quarto.
E assim ele fez, três vezes, até chegarmos a Vegas, onde
seria o nosso casamento e onde eu teria o Lucky para sempre
em minha vida. Era como se eu estivesse sonhando, não
querendo acordar e descobrir que tudo era um sonho lindo.
Mas tudo era real.
Ana e Diana foram conosco no jatinho de Lucky.
Também havia chamei Michael, mas ele disse que não podia
ir, pois tinha um compromisso importante. Mas Ana me disse
que ele não tinha nenhuma reunião, não essa semana. Já Lucky
me disse que ele tinha sentimentos por mim, por isso não
apareceu em meu casamento, tentei não me sentir culpada por
isso, pois não queria que ele tivesse sentimentos por mim, não
desse tipo, gostava dele como um a um amigo.
Lucky alugou uma igrejinha pequena no centro de
Vegas. Ali, tudo brilhava à noite. O esplendor era mágico. Eu
gostei muito, ainda mais porque, Lucky seria meu para
sempre.
Rayla me levou a uma loja de vestidos de noiva de todos
os tipos e tamanhos. Eu fui escolher um comprido e com alças
finas. Mas Rayla sorriu e me trouxe um lindo vestido branco,
que era um pouco caro para usar uma noite só. Argumentar
com Rayla era quase tão irritante e cansativo quanto
argumentar com Lucky, mas sabia que tinha dedo dele nisso,
como sempre.
Quando eu me vi no espelho, quase tive um troço. O
vestido era apertado em minha cintura mostrando as minhas
curvas, era um tomara que caia e na região dos seios haviam
vários brilhantes que eu podia jurar serem diamantes. A parte
de baixo era rodada e com uma renda branca na forma de
rosas. Eu gostei, mesmo que fosse bem caro. Eu não vi o
preço, mas garanto que era caro, como tudo do Lucky.
Logan chegou depois e já estava enturmado com todos
os nossos amigos, não conversei com ele já que Lucky estava
ao meu lado o tempo todo. Mas esperava ter a oportunidade de
pegar ele sozinho para conversarmos.
Eu perguntei ao Lucky por que gostava tanto de Logan,
pelo breve momento que vi os dois juntos, em Vegas e na festa
do Martins, notei que pareciam se amar como irmãos.
— Eu o conheci quando fui a minha empresa em Seattle,
estava na rua dirigindo para o Hotel quando Logan entrou na
frente do carro, quase me fazendo atropelá-lo… — Lucky
estremeceu. — Eu cheguei nele e vi que tinha algo errado.
Eu sentei perto dele, nós estávamos no hotel perto da
igreja onde íamos nos casar.
— O que ele tinha?
— Seu corpo estava todo machucado e saindo sangue da
boca, ele desmaiou nos meus braços. Eu pensei que ele estava
assim por participar de alguma luta de rua, mas quando a
médica disse que ele havia apanhado com algo pesado, como
um pau ou algo assim, suas lesões eram tão profundas que
arrebentaram seu fígado… Precisava urgentemente de um
transplante de fígado. — Ele pegou minha mão e apertou —
Eu tentei conseguir um doador para ele, como família, mas
quando cheguei à sua casa para conversar com seus pais, eu
descobri que sua mãe tinha morrido quando era criança e o
garoto era cuidado pelo pai, — riu amargo — se é que
podemos chamar aquilo de pai. O filho da puta bêbado disse
que o menino podia morrer que não estava nem aí para ele, e
que se ele tinha sobrevivido, então era porque não havia batido
o suficiente.
Meu coração sangrou ao ouvir aquilo, como esses
monstros têm filhos? Eles não deveriam ter essa capacidade
nunca, assim como meus pais.
— O que aconteceu com esse homem? Ele foi preso?
— Eu o denunciei às autoridades e o filho da puta não
vai ver a luz do dia nunca mais — rosnou com punhos
cerrados.
— Então, você doou seu fígado ao Logan, não é? —
Não foi bem uma pergunta, já que ouvi os dois conversando
no Martins.
Ele me olhou de lado com um sorriso.
— Estava ouvindo aquele dia, não é? Eu tive a sensação
de estar sendo observado, mas não tinha certeza.
Eu corei.
— Sim, eu ouvi tudo desde o começo, aquilo me fez
amá-lo ainda mais. Naquele momento, eu vi o homem lindo e
maravilhoso que estava por de baixo daquele cara arrogante e
controlador — beijei seu rosto — Logan parece um garoto
legal e gosta de você.
Lucky sorriu com isso, seus olhos sempre brilhavam ao
dizer ou ouvir sobre Logan, assim como eu ao falar de Shaw.
Eu me perguntava: Por que ele não o adotou? Mas, depois do
trabalho que ele teve de aceitar Shaw, eu o entendia.
— Sim, ele é um garoto incrível. Quando tudo
aconteceu, seu pai preso e ele sem ter lugar para ficar, eu o
trouxe comigo para minha casa em Manhattan até conseguir
um lar para ele. Eu sabia que isso era raro, casais quererem
adolescentes, mas consegui um casal de amigos em Seattle.
— Por que não ficou com ele você mesmo? — sondei
curiosa.
Ele suspirou.
— Rosa Vermelha, você sabe como eu me sentia em
relação à adoção, apenas consegui superar isso graças a você,
porque perder você é mil vezes pior do que o que sentia em
relação a isso. — Ele beijou minha testa — Você me
transformou em algo bom.
— Lucky, você já era bom antes de mim, só autoriário e
rígido. Então, vai conversar com ele?
Ele franziu o cenho.
— O que quer dizer?
— Lucky, meu amor, eu vi o olhar de Logan ao ver você
com Shaw lá na sala, pude ler seus olhos, como se ele se
perguntasse o motivo de não ter ficado com ele quando tudo
aconteceu. Eu não entendi na hora, mas agora que falou sobre
ele ter ficado com você por um tempo, então pude perceber
que era essa a sua pergunta.
— Eu não podia ficar com ele naquele tempo, não
consegui, mas eu queria — sussurrou ele. — Eu só não
consegui…
— Eu sei, querido, mas talvez ele não saiba. Converse
com ele, ok? Ainda temos tempo até o casamento.
— Tudo bem, eu vou conversar com Logan. Vai querer
ficar com ele? Se quiser posso falar com ele…
— Lucky, meu amor, hoje ele tem uma família que o
ama muito, não é? — esperei ele assentir e continuei. —
Mesmo se ficássemos com ele, Logan não seria feliz, porque
ama seus pais adotivos. Você só precisa explicar suas razões
por não ter o adotado naquela época, ele vai entender, porque
pelo que vi, Logan é um garoto especial e centrado.
— Obrigado, linda! Você é a melhor mulher do mundo.
— Então, me beijou, depois se levantou e foi ao quarto do
Logan. Ele ficou no mesmo apartamento que nós.

Entrei na igrejinha em Vegas com um ministro


administrando o casamento. Eu não queria mais nada, só
aquele homem que estava à minha frente e que seria meu
marido.
Ryan estava gravando nosso casamento. pedi a ele que
fizesse isso para mim. Assim, eu enviaria a vovó e Bryan, já
que nenhum dos dois pôde estar comigo.
Quando chegou a hora de nossos votos, eu disse o que
ele verdadeiramente significava para mim. Lucky tornou-se
mais do que o ar que respiro nesse mundo. Ficamos de frente
um para o outro e de lado para os pouquíssimos convidados
que tínhamos. Somente os amigos dele: Jason, Alex, Rayla,
Ryan, Jordan, Logan e Simon, que também era um amigo fiel.
Da minha parte, era somente Shaw, Diana e Ana, já que o
Michael não foi. Eu tentei não pensar nisso, não no dia do meu
casamento.
— Lucky Donovan, quando você entrou em minha vida
foi como um trem de carga, embora não me arrependa de ter
entrado naquele elevador e ter conhecido o homem mais lindo,
sexy e quente que já conheci — sorri para ele em meio as
lágrimas. — E bota lindo nisso! — respirei fundo, ignorando
seu olhar cálido. — Você me ensinou o significado do amor
verdadeiro e a ser feliz como nunca fui . Eu amo você por sua
personalidade difícil, rabugento, controlador e cheio de poder.
Prometo amar o homem bom e também o homem quebrado e
selar todas as rachaduras com meu amor incondicional.
Prometo amá-lo e fazê-lo feliz enquanto eu viver, porque sou
do meu amado e meu amado é meu.
Uma vez, eu fui em uma igreja com minha avó quando
tinha dezesseis anos. Não me lembro do nome, estava
acontecendo um casamento, foi onde eu ouvi a noiva dizer
essa frase “Eu sou do meu amado e meu amado é meu’’.
Minha avó dizia que, na igreja que ela frequentava, eles
acreditavam que essa frase bíblica fazia os casamentos serem
mais abençoados por Deus, por isso, eu a usei, queria meu
casamento abençoado.
Terminei de declarar todo o meu amor, o que eu sentia
por ele com tal vigor que podia senti-lo em cada parte da
minha alma e do sangue que corria em minhas veias. Chegou a
sua vez de falar o que sentia por mim. Só de ouvir a sua voz
dizendo seu amor por mim, me enchi de júbilo.
Lucky respirou fundo e parecia que também queria
chorar, mas era mais controlado do que eu que já estava
chorando.
— Antes de minha preciosa mulher entrar em minha
vida, eu vivia em um mundo que havia luzes e estrelas no céu;
tinha um Sol que iluminava o dia. e a Lua que iluminava a
noite. Embora nada disso pudesse iluminar a escuridão que
havia em mim. Porque, eu vivia em um mundo que tinha tudo
isso, mas era um cego no escuro e sem um ponto de luz no
final do túnel, até que eu encontrei você, Rosa Vermelha,
naquele elevador, e ali o Sol nasceu, como se ele estivesse
adormecido por vinte e oito anos e, de repente, acordei. O Sol
resplandeceu e se apossou de mim curando o quebrado que
havia em meu coração e em minha alma danificada que agora
pertence a você, minha Rosa Vermelha — Ele disse isso tudo
em um fôlego só, mas o sentia expirando às vezes, como se
fosse para se controlar.
Eu estava sem ar por sua declaração intensa e saber que
significava tudo para ele. Assim como ele significava para
mim. Ele estava lindo com um terno Vanquish preto com
gravata borboleta.
— Pode beijar a noiva — falou o reverendo assim que
nós declaramos os nossos votos.
Lucky me puxou para seus braços e me beijou de forma
intensa e possessiva por alguns minutos, deixando-me sem
fôlego e com o corpo pegando fogo.
— Agora, você é minha — sussurrou em meu ouvido
como uma adoração divina.
— E você é meu — falei com júbilo, beijando a sua
boca. Eu poderia aprofundar mais no beijo, mas meu
menininho estava ali nos assistindo, então me controlei.
Deixaria o desejo para depois.
Quando fui assinar o papel de nosso casamento, fui ler
para comprovar se era real, para ver se Lucky Donovan era
meu de agora em diante, mas não consegui, já que sua boca
não saía do meu pescoço e da minha pele, isso era uma
distração e tanto.
Assim ocorreu tudo bem em meu casamento, embora no
final da cerimônia houvesse algum alvoroço de jornalistas
querendo entrar na capela onde todos nós estávamos. Nós
tivemos que sair pelas portas dos fundos às pressas para não
sermos vistos. Enquanto isso, os guarda-costas que Lucky
tinha levado conosco os impediam de entrar.
Eu nunca tive tanto medo em minha vida de ser filmada
ou sair em algum tablóide, já que notícias assim correm igual
peste em uma aldeia. Mas, graças aos céus, deu tudo certo para
nós. Tirando o incidente dos fotógrafos, o resto foi perfeito.
Embora preferisse Bryan ali, junto com minha avó. Eu sabia
que estava sendo covarde por não contar ao Lucky a verdade
sobre mim, mas temia perdê-lo.
Esse era o meu casamento dos sonhos com o homem
perfeitamente lindo e sexy que eu me apaixonei. Eu nunca
pensei que amaria uma pessoa assim como eu amava o Lucky.
Eu estava feliz, acho que feliz era pouco, era mais como o
êxtase transbordante.
14 - A Viagem
SAM
Nossa lua de mel foi perfeita e cheia de alegria. Não era
para irmos à lua de mel agora, só mais para frente, mas, como
sempre, Lucky interferiu, ligando para Michael e pedindo
minhas férias antecipadas, fiquei furiosa com ele, porque só
soube quando seu jatinho pousou em Aspen. Liguei para o
Michael para me desculpar e dizer que eu estava indo trabalhar
na segunda-feira, mas disse para eu ficar esse mês fora, para
aproveitar a minha lua de mel, embora eu ouvisse a dor na voz
dele, o que me fez sentir mal.
Nós ficamos uma semana em Aspen, depois fomos a um
cruzeiro no Oceano Pacífico. Isso foi um dos momentos mais
lindos da minha vida. Shaw foi conosco, por isso não foi bem
uma lua de mel, foi mais como férias em família. Férias que eu
estava adorando passar ao lado do homem que eu amava,
como nunca amei ninguém em minha vida, e com meu filho,
Shaw.
Um mês depois do casamento e das férias, Lucky e eu
fomos à Disneylândia levar Shaw para passar o dia e ir a todos
os brinquedos. Embora, ele não tivesse andado em todos, após
andar em poucos já estava cansado. Mas eu nunca o vi tão
feliz como vi naquele dia. Aquilo me encheu de uma alegria
sem fim, que achei que meu coração fosse explodir. Foi o
aniversário mais feliz que ele já teve. Fiquei feliz em
proporcionar isso a ele.
Todos nossos amigos ficaram em Vegas após meu
casamento para se divertirem, menos Logan, que voltou para
Seattle, prometendo que iria passar as férias de final do ano
conosco. Lucky, Shaw e eu fomos a Disney. Ele foi com
Lucky, já eu fiquei para trás, porque subi na roda gigante e
fiquei enjoada. Então, para não vomitar lá em cima, não subi
na montanha russa. Lucky queria chamar o médico, mas não
precisava de médico, afinal, eu estava bem, acho que tinha
sido algo que comi e não me fez bem, mas fora isso eu estava
completamente feliz, porque agora tinha uma família que eu
amava demais.
Na sexta-feira, após um mês e meio do casamento, fui
visitar Lucky na empresa e me deparei com uma conversa de
Kevin ao telefone com uma mulher falando de uma
transferência de dinheiro da empresa de Lucky para uma conta
na Suíça.
— Sim, senhora, eu vou transferir logo o dinheiro.
Eu saí dali antes que ele me visse. Eu não sei, mas não ia
deixar assim, porque Lucky não merecia que isso acontecesse
com ele. Peguei meu telefone e liguei para o Bryan. Ele era o
único que podia me ajudar com isso.
— Anjinho, como tem passado com sua vida de casada?
Diga que Lucky está tratando você bem, porque senão…
Eu o interrompi.
— Lucky é o homem mais amoroso e carinhoso que já
conheci em minha vida.
— E onde eu fico nessa? — falou magoado.
— Você é o irmão mais perfeito do mundo — anunciei
com júbilo e depois falei sério: — Preciso que faça algo para
mim.
— Luz do Sol, você sabe que faço qualquer coisa por
você — disse ele. — Eu te dou a Lua se me pedir.
Eu revirei os olhos com hipérbole, mas ele não viu.
— Eu quero que faça um dossiê completo de um cara
chamado Kevin Brown, ele trabalha para o Lucky — sussurrei.
— Eu acho que está roubando do Lucky, porque ele falou de
uma transferência para a Suíça.
— E você está preocupada com o patrimônio do seu
marido, anjinho? — brincou ele.
Bryan sabe que nunca fui interesseira. Mesmo que a
mulher que me colocou no mundo sempre dissesse isso.
— Não seja bobo — repreendi. — Apenas estou
preocupada com Lucky, porque ele não merece isso.
— Por que razão você acha que consigo fazer isso? —
ele perguntou num tom nada sério.
— Meu menino, eu sei que você pode fazer isso e muito
mais. — Eu entrei em um corredor longo cor de creme e a
parede a direita era de vidro com vista para a cidade linda. —
Você é um hacker brilhante, por isso o departamento da polícia
o contratou, acredito que logo eles irão mandar você para o
FBI ou CIA, já imaginou? — eu disse.
— Dificilmente — Sua voz estava rouca como se ele
estivesse escondendo um segredo ou algo assim. Deixei
passar, porque se fosse algo importante, ele me diria, não é?
— Então, por favor, faça isso por mim.
Ele bufou.
— Sim, eu faço isso, mas nunca mais me chame de
menino, por favor. — Ele riu zombeteiro. — Porque isso
diminui a minha masculinidade que, por sinal, é bem elevada.
Eu revirei olhos.
— Oh, maninho, nada do que eu diga vai diminuir seu
brinquedo, afinal você anda pendurado em mulheres lindas o
tempo todo — eu declarei com ceticismo. — Você é um
Adônis, meu querido.
Ele riu descarado.
— Sim, isso é verdade — concordou com tom matreiro.
— As mulheres que fiquei realmente são lindas e gostosas, e
elas dizem que sou bom…
Cortei.
— Me poupe dos detalhes sórdidos — repreendi, depois
falei em um tom leve. — Eu vou visitar a vovó amanhã e
depois vou ao seu apartamento. Por favor, não leve ninguém lá
nesse fim de semana, tudo bem? Porque vou levar Shaw
comigo e não quero que meu filho veja nada indecente.
— Ele ia gostar disso.
— Bryan… — repreendi ultrajada.
— Estou brincando, maninha — ele me tranquilizou. —
Prometo que não haverá ninguém lá.
— Até amanhã — sussurrei. — Eu amo você.
— Eu também, maninha, vou esperara-la em casa.
Eu desliguei e cheguei ao escritório do Lucky, a sua
recepcionista se levantou e estreitou os olhos.
— O Lucky está? — perguntei.
A garota me observada de cima a baixo, pude ver que
seus olhos escureceram com ar invejado. Meus cabelos
estavam soltos nas costas e vestia saia lápis e blusinha branca.
Eu achei um pouco lisonjeiro.
Essa não era a Nancy, a mulher que trabalhava ali
quando eu entrei aquele dia para xingar o Lucky. Essa era
morena e com cabelos presos em um coque no alto da cabeça,
mas com corpo de modelo.
— Ele está em uma reunião, mas se você quiser esperar
— Ela parecia fazer um esforço para ser educada, mas apontou
para um sofá cor creme na forma de L que ficava no canto na
sala de espera. — Quem eu devo anunciar?
— Sam. — Eu não sabia o porquê, mas não queria dizer
Samantha Donovan, esse sobrenome ainda me provocava
arrepios sempre que eu pensava nele, mas era a prova de que
estávamos casados. Olhei para meu anel na forma de uma rosa
vermelha.
Eu me sentei para esperar meu marido. Marido, essa
palavra ainda adoçava a minha boca como mel. Pensar nisso
me lembrou da nossa primeira noite depois de casados em
Aspen.
Chegamos à sua casa em Aspen, depois do casamento,
era enorme, não dava para ver direito do lado de fora, estava
de noite, embora fosse bem iluminada e ladeada de vidros.
Shaw estava cansado e foi dormir, mas a surpresa foi quando
eu entrei no quarto e vi a cama califórnia king enfeitada de
rosas vermelhas. Em cima dela estava escrito com pétalas de
rosas “eu te amo’’. No chão cor de areia, havia mais pétalas de
rosas vermelhas. Eu nem liguei para todos os detalhes lindos e
sofisticados. Apenas aquele “eu te amo’’ escrito ali, ele não
podia dizer pessoalmente, mas assim também servia. Nunca vi
nada mais lindo e romântico. Tinha champanhe em cima do
criado-mudo dentro de uma vasilha de gelo e também tinha
um copo com chocolate derretido dentro. Isso acendeu ainda
mais o meu desejo por ele ao imaginar o que haviamos feito
em seu jatinho, aquilo floresceu tudo dentro de mim.
— Como você fez isso? — Meu queixo estava caído ao
ver o quarto cheio de rosas vermelhas e com cheiro inebriante.
Ele riu ofuscante e passou os braços por trás de mim e
beijou o meu pescoço e lóbulo da minha orelha. Eu tremi.
— Surpresa para minha Rosa Vermelha — sussurrou na
minha pele que já estava pegando fogo com seu toque. — pedi
a Simon preparar tudo antes que chegássemos aqui.
Eu estava sem fôlego com seu toque, que parecia que
estava incendiada dos pés à cabeça. Como eu amava aquele
toque. Eu me virei e passei os braços em volta do seu pescoço
e joguei a cabeça para o lado, dando mais espaço a ele.
Nós dois estávamos bem colados, mas parecia que não
era o suficiente estar assim, eu precisava dele agora e sempre.
Minhas mãos foram para sua camisa e puxei, abrindo-a,
deixando os botões voarem para todos os lados na pressa de
tirá-la do seu corpo. Ele puxou as alças do meu vestido e ele
caiu ao chão, me deixando só de calcinha preta e sutiã de
renda da mesma cor.
— Espero que não seja sua camisa preferida —
sussurrei, beijando seu peito nu e gostoso.
Ele riu deliciado com isso.
— Oh, minha querida, não tem nada mais importante do
que o seu toque mágico que incendeia cada parte de mim. —
Ele estava sem fôlego ao dizer isso, já ia me levar para cama,
mas me afastei. Lucky ergueu as sobrancelhas. — O que foi?
Eu não falei nada, apenas caí de joelhos à sua frente e
desabotoei as suas calças e tirei junto com sua cueca.
— Sam… não precisa fazer isso… — ele estava
ofegante.
Eu olhava para sua dureza ali, apontada para meu rosto e
livre das roupas. Olhei para ele com cenho franzido.
— Você não quer que eu faça?
Ele piscou, chocado que eu pensasse isso. Ele se
ajoelhou na minha frente, tocou meu rosto com as pontas dos
dedos e me fez olhar para ele, porque eu tinha abaixado a
cabeça.
— Oh, Rosa Vermelha, você não sabe o quanto eu quero
isso. — Ele beijou meu rosto. — Eu apenas não quero que
faça nada obrigada e sim, porque você quer fazer.
— Eu sei que não tenho nenhuma experiência… — le
me interrompeu, beijando a minha boca me tirando o fôlego.
— Eu adoro por você não ter experiência, isso significa
que não tocou em ninguém.
Eu me afastei, sorrindo de leve.
— Seu bobo. — Dei um tapinha no ombro dele. —
Agora, deita na cama e me deixa praticar sexo oral no meu
lindo e sexy marido.
— Eu adoro essa cor em seu rosto. — Ele afagou meu
rosto com as pontas dos dedos. — Você fica assim toda vez
que fala ou ouve a palavra sexo.
— Você vai ver mais dela quando eu… — interrompi,
olhando para o seu bem precioso — Se eu não conseguir
engolir, promete não ficar…
Ele me interrompeu.
— Shhh… — ele colocou dois dedos nos meus lábios,
me silenciando. — Eu não ligo para isso, você sabe disso.
Como eu disse, você só faz se quiser. Jamais vou obrigá-la a
isso.
Eu assenti e me sentei na cama, esperei ele deitar de
costas no colchão e ficou com sua dureza para cima. Eu prendi
meus cabelos num coque e sentei em suas pernas. Peguei seu
pênis na mão direita e movimentei para cima e para baixo até
sair o seu pré-sêmen. Eu nunca havia feito isso, mas li bastante
livros assim, então, talvez eu não fosse tão ruim.
Ele estava ali, ofegante, com desejo, podia ver seus
olhos abrasadores. Ele segurava as mãos ao lado do seu corpo,
querendo se controlar. Eu alisei a ponta da sua coroa e ele
soltou um gemido do fundo da garganta.
— Sam…
Eu me curvei e passei a língua na ponta e senti o gosto
meio salgado do pré-sêmen dele, não achei ruim, mas
precisava ser adoçado, foi então que tive uma idéia. Por que
não? Ele estava de olhos fechados, mas abriu assim que me
afastei dele. Seus olhos agora estavam confusos.
— O que foi? Não gostou? — Eu podia ver alguma
nuance que não entendi em sua voz grossa de desejo.
— Fique parado — mandei, porque ele já estava se
levantando para me colocar debaixo dele e me possuir. Ele
achou que eu não havia gostado de fazer isso, mas eu tinha
outra ideia. — Ele apenas precisa ser adoçado.
Ele arregalou os olhos, me vendo pegar o chocolate
derretido nas mãos e voltei a me sentar em suas pernas,
coloquei o dedo no chocolate e depois levei a minha boca
fechando os olhos, o vi gemer e apertando as mãos em minha
cintura com força.
— Você está acabando comigo — Sua voz estava rouca
de desejo e paixão.
Eu abri meus olhos e fitei os seus verde floresta se
incendiando como um canavial.
— Lembra-se do que fez comigo no avião? — Ergui as
sobrancelhas, chupando meus dedos num gesto sexy.
Seus olhos se estreitaram.
— Isso é uma vingança? Porque eu fiz você gritar —
sussurrou com a voz ardente.
Sorri de modo libidinoso.
— Agora sou eu quem vai fazer você gritar — minha
voz também estava grossa.
— Eu já estou a ponto de gritar vendo você lamber esses
dedos.
Eu derramei um pouco de chocolate sobre a ponta de seu
pênis, que ficou parecendo um pirulito de chocolate. Eu dei o
copo para ele segurar enquanto colocava a boca sobre a coroa
e lambia o doce com azedo ao mesmo tempo. Eu levei a minha
boca um pouco mais fundo, quase chegando ao fundo da
minha garganta. Eu posso nunca ter feito, mas eu sabia como
fazer, já que lia muitos livros eróticos.
Eu apertei um pouco a cabeça de seu pênis com a boca,
traçando a língua em volta dele. Ele gemeu em resposta. Senti
suas mãos em meus cabelos, segurando-os bem forte, mas sem
me machucar. Eu podia ver que ele estava no auge do prazer
ardente que se apossava dele. Eu podia detectar pelos ruídos
que saíam de sua garganta. Para apimentar ainda mais, eu
apertei suas bolas enquanto balançava minha cabeça para cima
e para baixo, sugando seu liquido pré-ejaculatório.
— Rosa Vermelha, eu vou gozar… — sua voz era cálida
ao gritar.
Eu apenas acelerei mais os movimentos e apertei mais as
suas bolas, e senti seu esperma bater no fundo de minha
garganta, e engoli tudo. Ainda bem que não vomitei. Assim
que terminei, me afastei e olhei para ele ali, todo mole, me
olhando com um sorriso. Limpei minha boca com as costas
das mãos.
— Foi bom? — sondei preocupada. Eu sabia que Lucky
havia estado com várias mulheres experientes que fizeram isso
para ele. Mas eu não pensaria nisso ou meu ânimo ia embora,
e não queria estragar a nossa lua de mel.
Ele se sentou depressa e me puxou para seus braços,
devorando a minha boca ainda com o gosto dele.
— Posso sentir meu gosto em sua boca linda e gostosa
— sussurrou nos meus lábios. — E para quem nunca fez, você
se saiu uma expert. — Ele se afastou com as sobrancelhas
erguidas. — Onde aprendeu a fazer…
— Livros… — sorri.
Ele também sorriu e me deitou na cama, pairando em
cima de mim e beijando a minha garganta.
— Continue lendo esses livros e vamos fazer tudo o que
eles fazem — Sua voz era parcialmente maliciosa , rasgando
minha calcinha e sutiã. Meu corpo salpicou para cima com
esse gesto. — Agora, eu vou satisfazer a minha linda esposa
que me fez um boquete incrível.
— Foi mesmo incrível? — perguntei animada.
— Foi tudo, Rosa Vermelha. — Lucky pegou o
chocolate derretido e derramou sobre os meus seios duros,
descendo sobre a minha barriga até lá, quase igual ele fez com
o iogurte, mas agora era chocolate derretido.
Ele colocou a sua boca quente e gostosa sobre o
chocolate, lambendo até não restar nada em minha pele.
Quando a sua boca e língua mergulharam em meu clitóris,
lambendo e chupando-o com fome e sede, eu gritei com prazer
ao ver milhões de estrelas.
— Você é saborosa — falou com júbilo, beijando meus
lábios.
— Você também é — sussurrei.
Ele riu, beijando a minha pele vermelha e se levantou,
indo até a cabeceira para pegar a camisinha e a colocou. Eu
pretendia começar a tomar pílula logo, assim ele não ia mais
precisar colocar camisinha. Eu estava louca para que isso
acontecesse.
Ele ficou de pé do lado da cama, me observando com os
olhos quentes e cheios de luxúria, amor e devoção.
— Nossa! Você é tão linda! — Seu tom era de
contemplação. Seus olhos eram tão intensos, pupilas dilatadas
de desejo e fome, como não se alimentasse há dias.
Ficamos aquela noite inteira acordados fazendo amor, eu
não me cansava nunca. Mas era assim com Lucky, parecia que
não tinha o suficiente dele e do seu corpo.

Uma porta grande de madeira forjada foi aberta e por ela


saíram vários homens vestidos de ternos, me livrando dos
meus devaneios com o meu marido deslumbrante e saboroso.
Um cara loiro e com olhos azuis veio em minha direção.
Ele usava um terno caro. Com certeza dono de alguma
empresa ou algo do tipo.
— Nossa! Por que uma beleza rara assim está parada
aqui? — Ele me lançou um sorriso lascivo.
Antes que eu respondesse ouvi o rosnado de Lucky atrás
dele.
— Essa mulher não está disponível para você nem para
ninguém. — Ele veio até mim e passou os braços em minha
cintura e olhou impassível para o cara. — Esta beleza rara é a
minha esposa, Samantha Donovan — Seu tom ao pronunciar o
meu nome e sobrenome era de júbilo.
Vários homens ali ofegaram com a notícia, mas não
disseram nada, apenas estavam de olhos arregalados. Dentro
desse um mês e meio que estava casada, eu não havia sido
filmada ainda, graças aos céus e ao Lucky. Por isso o espanto
de todos. O homem loiro diante de mim sorriu, agora vago.
— Oh, então é com essa mulher que você se casou? —
Ele me olhou de lado. — Essa é mais linda do que a mulher
que saiu na foto nos tablóides alguns meses atrás.
— Sim, ela é — Lucky apertou minha cintura e falou
num tom mortal no final. — Então, sugiro que fique longe dela
se não quiser ter problemas comigo.
— Ei, relaxa, não está mais aqui quem falou. — Ele saiu
quase correndo por causa do rosto sombrio do Lucky.
— Lucky…
— Vem comigo — me puxou para seu escritório, que
ficava na porta do lado da sala em que ele saiu. — Por que
você não pediu para me chamar? Eu teria saído da reunião —
ele me disse assim que entrei em seu escritório.
U-A-U, então era assim o escritório dele? Ele tinha uns
dez metros de largura por dez de comprimento, com uma
estante enorme recheada de livros do lado direito logo na
entrada. Tinha dois quadros diferentes, com as imagens
borradas e bem diferentes. As paredes eram da cores claras,
menos a parede central que era de vidro, e no fundo também
onde ficava sua mesa bem organizada com um notebook em
cima dela. Canetas, lápis e papéis, tudo organizado.
A sua sala era mais linda do que a sala de reunião, mas
tão requintada quanto. Tinha um sofá enorme em frente à sua
mesa e três cadeiras, uma que supostamente era a dele que
ficava de costas para a parede de vidro e duas à frente.
— Eu não pedi para chamar, porque eu podia esperar —
respondi, ficando de pé perto do sofá. — E também não queria
atrapalhar.
— Você nunca atrapalha, Rosa Vermelha. — Ele pegou
meu rosto nas mãos e fitou nas profundezas dos meus olhos.
— Todas as vezes que vier aqui, entre em meu escritório e
peça para me chamar.
— Eu não acho que sua nova secretária vai me deixar
fazer tal coisa. — Eu suspirei.
Ele estreitou os olhos, foi até sua mesa e pegou o
interfone e colocou no ouvido.
— Suzanny, quando a senhora Samantha Donovan vier
aqui na empresa, me chame, não importa o que eu esteja
fazendo. — Ele ouviu o que ela disse, mas a cortou. — Não
importa que eu esteja com o presidente dos Estados Unidos —
Sua voz era crua e fria. — Ela sempre vai vir em primeiro
lugar. Me chame ou estará no olho da rua. — Ele desligou.
— Por que falar assim com seus funcionários? — eu
perguntei.
Ele meneou a cabeça de lado.
— Às vezes, eu tenho que ter as rédeas curtas para fazer
um funcionário competente e, se ele não fizer o que é
mandado, então não serve para trabalhar para mim.
Ergui as sobrancelhas.
— Às vezes? — Meu tom era de censura. — Você
poderia ser mais gentil com as pessoas.
Ele sorriu malicioso.
— Oh, minha preciosa esposa, eu sou gentil. — Ele me
pegou pela cintura e me sentou em cima de sua mesa,
empurrando seus papéis e computador para o lado. — Agora,
vou mostrar a você a minha gentileza.
— Lucky, alguém pode entrar — sussurrei sem fôlego,
mas incapaz de resistir a ele.
— Ninguém entra aqui, querida, sem eu chamar, pode
acreditar em mim. — Ele abriu as minhas pernas levantando a
minha saia até a cintura e encaixou ali. Colocou seus dedos em
minha calcinha de renda. — Você está molhada para mim? —
Ele beijou meu pescoço e mordiscou minha orelha. — Eu
adoro isso.
Eu gemi apertando meus braços em suas costas cheias
de músculos perfeitos e definidos.
— Deita na mesa, bebê — pediu ele. Eu deitei de costas
e meus cabelos saíram da mesa na direção de sua cadeira,
fazendo uma cascata de cabelos negros caírem.
Ele tirou a minha calcinha preta de renda.
— Coloque os pés um em cada lado do meu ombro —
ordenou, tirando meus sapatos e beijando as minhas pernas
que já estavam em seus ombros. Eu tremi com seu hálito
quente banhando minha pele sensível.
Lucky expirou com a cabeça entre as minhas pernas
abertas para ele.
— Você cheira tão bem. — Ele triscou o nariz no meu
centro dolorido de necessidade dele. Então, senti a sua língua
dentro de mim. — É de dar água na boca.
— Lucky — gritei sem me importar que alguém ouvisse
enquanto ele devorava meu clitóris com sua língua mágica.
Meu corpo se enchia de um prazer, tremendo ao explodir. —
Por favor.
— O que você quer? — Ele enfiou dois dedos dentro de
mim, enquanto eu gritava o nome dele. Deixei a minha cabeça
cair para trás e senti suas mãos nos meus seios duros de prazer
e fogo. Ele ainda me devorava lá com os dedos e a boca.
Minhas pernas prenderam sua cabeça ali querendo ele ainda
mais.
— Nossa! Você é tão linda — sussurrou com a voz
cálida de desejo. — Goze para mim, querida.
Meu corpo arqueava para cima como se quisesse flutuar
no céu, então gozei em sua boca. Meu corpo ficou mole e sorri
para ele excitado.
— Eu não tenho camisinha aqui. — Ele olhava meu
corpo com desejo.
— Eu tenho na minha bolsa. — Apontei para ela no
sofá.
Ele foi até lá e pegou a camisinha dentro da minha bolsa.
Desabotoou as calças e a colocou ali, na sua grandeza perfeita.
Então me fitou.
— Por que tem uma camisinha em sua bolsa? — Ele se
posicionou entre as minhas pernas já abertas para ele.
— Porque iríamos precisar dela! — respondi e gritei
assim que ele entrou dentro de mim e parou, com a
sobrancelha erguida.
— Você veio aqui só para transar comigo?
Eu encolhi os ombros.
— Você me disse para eu não me tocar, então… —
minha voz falhou. — Sinto muito.
— O quê? — Ele puxou as minhas mãos e me sentou. O
meu peito ficou colado com o dele. — Por que você sente
muito?
Escondi o meu rosto em seu peito. Enquanto suas mãos
estavam em minhas costas e em minha bunda me apertando
mais dentro dele.
— Sam…
— Não sei… Talvez… você não quisesse que eu viesse
aqui, mas eu não consegui…
— Ei, Rosa Vermelha… — ele pegou meu rosto e fitou
nas profundezas dos meus olhos. — Você pode vir aqui a todo
o momento que quiser e a qualquer hora, não importa o que eu
esteja fazendo, vou ficar com você. — Ele empurrou mais
fundo dentro de mim. — Eu adoro estar dentro de você. Então,
você é mais do que bem-vinda em vir aqui para eu ter isso.
Ele balançava, estocando dentro de mim e beijando meu
pescoço. Minhas mãos estavam em suas costas, levantei o
rosto para o teto, embora estivesse de olhos fechados e tomada
por êxtase.
— Lucky…
Sua boca cobriu a minha e me desfrutei do êxtase
transbordante, logo eu estava mole em seus braços. Eu tive o
que queria e o que ansiava desde cedo, eu não sei, mas estava
com uma vontade louca por sexo desde que nos casamos.
— Minha esposa está saciada o suficiente? — Ele beijou
mais uma vez os meus lábios.
— Hummm — murmurei incoerente. — Você acha que
consegue uma segunda rodada? Tenho mais camisinha na
bolsa.
Ele riu e me abraçou forte.
— Eu acho que estou sendo usado — reclamou, ainda
beijando minha pele.
Eu dei uma risadinha.
— E você não gosta de ser usado? — provoquei.
Ele beijou as minhas têmporas.
— Por você, a qualquer hora.
Então, ele me fez gozar mais duas vezes e logo eu estava
saciada, por hora.
Estava sentada no sofá, e ele de frente para mim, sentado
em sua cadeira e mexendo em seu computador sobre a mesa já
arrumada da bagunça que fizemos. Eu ia embora, mas Lucky
disse para o esperar, que levaria só dois minutos para ir
comigo, então, não sairíamos do quarto a tarde inteira.
Ele estava sentado, escrevendo algo em seu
computador., estava sereno e relaxado. Ombros largos e peito
musculoso até através da camisa que estava usando. Seu corpo
me enchia de desejo e me dava água na boca, tanto que me
dava vontade de passar a língua nele inteiro.
— Se você continuar olhando para mim com essa cara
linda e querendo me devorar, nós vamos ficar aqui de novo e
de novo — Seu tom era devasso.
Eu tremi e apertei uma perna na outra, controlando o
meu desejo, afinal, teríamos a tarde inteira. Ele pegou o
interfone e ligou.
— Cancele todos os meus compromissos para esta tarde
— ordenou e suspirou com irritação. — Eu pago você para
obedecer e não para fazer perguntas — rosnou e desligou.
— Não pode falar com seus funcionários de um jeito
menos rude? — Meu tom era de crítica.
Ele me olhou de lado já com a raiva controlada.
— Eu vou deixar você opinar em alguma coisa aqui em
minha empresa quando aceitar metade do que é meu.
Eu ofeguei de pavor e pesar, depois relaxei.
— Não, obrigada — Minha voz falhou. — Eu quero
dizer uma coisa a você, mas não sei como começar.
Ele veio se sentar ao meu lado.
— Pode falar, estou ouvindo — sussurrou.
— Eu preciso viajar.
— O quê? — Seu tom saiu alto e agudo. — Para onde?
— Para casa da minha avó — respondi. — Perto de
Nova Jersey.
— Eu não sabia que você tinha avó. — Ele franziu a
testa. — Quando puxei a sua ficha, não dizia nada lá que você
tinha avó ou parente vivo.
Eu suspirei, porque sabia que existia a possibilidade de
alguém checar mais fundo, por isso Bryan fez desaparecer
todo meu histórico de antes, todo meu parentesco. Por isso,
usava o sobrenome da minha avó. A mulher que dizia ser
minha mãe não quis colocar o sobrenome do meu pai, Dilan
Walker. Eu achei até bom não ter seu sobrenome.
Evitei responder o seu último comentário. Esperava que
ele não insistisse por respostas.
— A minha avó Julia tem uma fazenda perto de Nova
Jersey. Já faz tempo que não vou lá e ela já está reclamando.
Também vou levar o Shaw comigo para ela conhecê-lo.
Ele assentiu.
— Eu também vou com você.
Eu sacudi a cabeça.
— Não precisa…
Ele me interrompeu com os olhos em fendas.
— Como assim, eu não preciso? — Sua voz saiu irritada
e confusa no final.
Eu respirei fundo.
— Você tem uma reunião este final de semana em
Toronto, com os empresários da empresa Águia da Esperança,
então, precisa preparar tudo.
Seus olhos escureceram mais.
— Você é mais importante do que tudo nesse mundo.
— Eu sei, mas você precisa fechar esse contrato e
comprar essa empresa para ajudar mais pessoas que
necessitam de ajuda. Desta vez, eu vou sozinha, mas da
próxima vez vamos os três juntos, está bem?
Ele suspirou de má vontade.
— Tudo bem. — Ele beijou a minha testa. — Quanto
tempo pretende ficar lá na fazenda de sua avó?
— Dois ou três dias no máximo. — Beijei as suas
covinhas lindas. — Segunda estou de volta. De qualquer
forma, você vai estar em Toronto.
Ele me abraçou forte.
— Vai ser horrível ficar sem você e Shaw — disse com
tristeza, depois me afastou e me olhou. — Lá tem algum peão?
Se tiver, leve somente calças frouxas e blusas largas.
Eu dei um tapa nele e sorri.
— Quer parar de bancar o homem das cavernas?
Ele riu sem humor.
— Isso é impossível, ainda mais com a perfeição que
está ao meu lado. — Ele deu um suspiro desalentado,
colocando a cabeça em meu pescoço. — Eu vou sentir sua
falta.
— Eu também.
15 - O Fim
SAM
Cheguei à fazenda da minha avó, que ficava perto de
Nova Jersey. Era uma hora e meia de Manhattan até lá. Antes
de chegar à Nova Jersey, virei à esquerda em uma estrada de
chão. Já fazia mais de quatro meses que não a visitava. Aquele
lugar foi meu lar desde os meus quinze anos quando fugi da
casa dos bastardos que diziam serem meus pais.
A estradinha era estreita, e os dois lados da estrada eram
cercados por coqueiros formando um muro. Atravessei a
porteira de madeira que já estava aberta, porque ela sabia que
logo eu estaria ali. Meu avô, Samuel, e ela compraram a
fazenda antes de Lisa nascer. Anos depois, quando minha mãe
tinha oito anos, meu avô morreu de câncer nos pulmões.
Então, vovó ficou tomando conta da fazenda até hoje.
Eu podia ver os gados pastando nos pastos verdejantes
não muito longe dali. Cheguei à imensa casa feita de tijolos
grandes, mas pintada de cor de abóbora. Ela possuía dois
andares com varandas ladeando a casa inteira. As janelas eram
de madeiras avermelhadas de modelo antigo. Na frente da
varanda, na porta, tinha um banquinho que era amarrado de
cordas que ela fez para mim quando a visitava e tinha outra
cadeira também grande que estava escorada na parede perto da
porta de entrada.
Eu parei a Mercedes preta do Lucky, aliás, minha,
porque ele pegou meu carro e vendeu sem meu consentimento.
Quando chegamos do nosso casamento, no lugar do meu
Mazda antigo havia essa Mercedes. Lucky disse que queria me
dar uma Maserati, mas ele sabia que eu não aceitaria, então
pegou leve e me comprou esse carro, embora ele fosse um
pouco demais também.
A minha avó correu com alegria. Ela tinha seus cabelos
branquinhos iguais algodões, mas nem parecia ter a idade que
tinha. No próximo mês, ela faria oitenta anos e parecia ter a
força de uma mulher de quarenta, vestia um macacão largo e
com um chapéu na cabeça. Seus cabelos estavam curtos, estilo
social.
Foi difícil deixar o Lucky em casa e vir ficar por três
dias com a vovó, por mais que eu o quisesse comigo. Ele não
poderia vir, afinal, tinha a compra de uma empresa para fazer,
e eu não queria atrapalhar seus negócios, essa empresa parecia
ser muito importante para ele.
— Minha neta preciosa — guinchou Vó Julia com
alegria e quase me arrastou do carro para o seu abraço de urso.
Embora, ela não fosse gorda, tinha a força de um homem.
Eu sempre brinquei sobre ela ter mais força e coragem
do que muitos jovens por aí.
— Olá, vovó — Aqui eu não podia chamá-la de Julia, só
de vovó, embora eu adorasse isso, porque ela e Bryan eram
tudo para mim. Agora, também o Shaw e Lucky, que eram a
minha vida.
— Quantas saudades, meu amor. — Ela se afastou e
olhou para o Shaw que tinha saído do carro, mas não chegou
perto dela, apenas olhava com seus olhinhos negros e lindos.
— Esse deve ser o menino Shaw.
— Sim — respondi. Eu já havia dito sobre o Shaw a ela.
Então, estava familiarizada um pouco no assunto.
Entramos na casa e olhei a sala; nela tinha quatro janelas
que estavam abertas. Isso arejava o lugar. Havia dois sofás
com colcha de retalho bordados a mão por ela. Uma estante
com uma TV pequena e algumas fotos minhas e de Bryan na
parede da sala. Não vi nenhuma foto da minha mãe. Depois do
que meu pai fez e minha mãe o apoiou, vovó não falou mais
com sua filha. Vovó apenas disse que a Lisa estava morta para
ela assim como estava para mim.
— Então, como é esse seu marido bilionário? Eu soube
que ele é o homem mais poderoso dos Estados Unidos —
começou vovó, indo para cozinha, eu podia sentir o cheiro de
galinhada. Ela sabia que eu adorava as suas galinhadas, por
isso ela fez para mim.
— Lucky é maravilhoso! — declarei com orgulho. —
Eu vou lá em cima deixar a mala de roupa e depois nos
falamos.
Subi e desfiz as malas, a minha e do Shaw, que ficou no
quarto do Bryan. Na parte de cima, havia cinco quartos: um
meu, um do Bryan, e um da minha avó. Restando mais dois
para visitas. O quarto do Bryan ficava na primeira porta à
direita, de frente para o meu, as paredes do quarto eram
brancas e com duas janelas de madeira que estavam abertas
com vista para a frente da fazenda. A cama estava grande com
colcha branca, decorada com dois criados-mudos e um abajur
em cima de cada um deles. O piso era de madeira.
A tarde de sábado na fazenda passou rápido, cavalguei
pelos pastos. Também contei tudo a Vó Julia sobre o Lucky
desde que nos conhecemos. Ela não ficou muito feliz com o
que ele fez comigo quando nos conhecemos, mas eu disse que
ele não teve uma vida fácil, assim como eu não tive, isso
amenizou a sua raiva ou antipatia por ele.
Vovó e eu estávamos na sua cozinha cor de areia, com
um fogão vermelho antigo. Os armários de mogno de quando
ela casou, acho que há uns cinquenta ou sessenta anos, mais o
menos. A cozinha grande, tinha uma pia de mármore preto de
quase dois metros, que pegava a parede em que ficava a janela,
com vários pratos no escorredor sobre a pia.
— Se você o ama tanto, conte a verdade a ele — ela me
disse enquanto preparava o jantar.
Eu suspirei.
— É tão difícil pensar no passado. As acusações que ela
me fazia, dizendo que eu era interesseira e corria atrás de
homens na cidade em que morávamos… Tenho medo que
pense que quero seu dinheiro.
— Mas isso não aconteceu com você, então, não tem
que se envergonhar de nada ou temer isso. Se ele a ama, vai
acreditar em você.
Ela abaixou o fogo do arroz e se sentou na cadeira de
madeira de mogno à minha frente, a mesa de madeira nos
separava. Seus olhos eram tristes ao olhar para mim e pensar
no quanto sofri por causa das pessoas que se diziam serem
meus pais, mas eles nem sabiam o que era essa palavra.
— Também é difícil pensar que tenho uma filha que não
se preocupa com seus filhos, mas sim com seu marido, um
estranho ao seu próprio sangue. — Ela pegou a minha mão
direita sobre a mesa e apertou.
— Vovó, eu sei que para nós é difícil esquecer algo
assim, mas temos que seguir em frente — limpei uma lágrima
que caía dos meus olhos. — Hoje, eu tenho Lucky e Shaw,
tenho mais razão para viver e seguir em frente, além de Bryan
e a senhora que são tudo para mim.
— Eu fico feliz que você tem Shaw e Lucky meu amor,
porque você precisa ser feliz depois de tanto sofrimento. —
Ela limpou algumas lágrimas que desciam pelo meu rosto.
— A senhora também — sorri para aliviar a tensão. —
Não pensa que não notei a troca de olhares entre a senhora e
aquele peão.
Ela revirou os olhos azuis.
— Isso é impossível, já que sou uma idosa e também
não tenho mais, como os adolescentes falam? — Ela passou a
mão na testa como se lembrasse de algo. — Ah! Sim, eu não
tenho mais fogo, igual a você e seu marido.
Eu corei ao pensar em minha vida sexual com meu
marido lindo e gostoso, e bota gostoso nisso.
— Eu acho que João e eu estamos apenas fazendo
companhia um para o outro. — Ela sorriu, olhando através da
janela aberta para o estábulo, acho que estava querendo ver o
senhorzinho de uns oitenta anos também, a julgar pela sua pele
branca enrugada. Isso me lembrou do Lucky, dizendo para eu
vestir roupas largas por causas dos peões dali. Se ele soubesse
que o único peão ali, tinha mais do triplo da minha idade, acho
que riria disso.
Eu respirei fundo.
— Eu fico feliz com isso vovó, você merece — eu disse
e depois corrigi com tom um pouco rouco. — Nós merecemos
a felicidade depois de tantas lágrimas e lamentações.
— Sim, nós merecemos — concordou, me olhando de
lado. — Mas um relacionamento a base da mentira não é bom,
ainda mais quando o homem é tão bom quanto seu marido.
Mentiras sempre vêm à tona, e não de um jeito bom, minha
querida.
— Eu sei que isso está errado, vovó. Eu penso em contar
para ele assim que eu voltar para Manhattan — sussurrei,
passando as mãos nos meus cabelos presos em um rabo de
cavalo.
— Fico contente com isso.
Acordei na manhã de domingo com sono, porque tinha
ficado até tarde falando com Lucky. Ele teve que ir a Toronto e
já estava de volta. Então, não liguei para incomodá-lo, para
deixá-lo descansar.
Andei pela fazenda mais uma vez e nadei no lago que
tinha no coração de lá. A água era cristalina e bem gostosa de
tomar banho. Algo que já estava com saudades, porque não ia
lá há mais de quatro meses.
Naquela tarde, Shaw e eu fomos visitar Bryan em seu
apartamento em Nova Jersey. Passamos a tarde com ele. Nós
almoçamos em sua cozinha pequena, com mesa de madeira de
pinho e uma geladeira branca, com um fogão inox.
— Conte como você está — exigiu ele assim que me
sentei à mesa.
Shaw estava na sala jogando Xbox. Eu não sei por que
razão um marmanjo com vinte e seis anos tinha um Xbox. Ele
disse que era para jogar com amigos no fim de semana.
— Eu vou sentir a sua falta, preciosa — declarou Bryan,
beijando a minha testa. Nós estávamos no meio da rua, em
frente ao seu apartamento, já estava de saída de sua casa para
fazenda.
Olhei para os olhos azuis de meu irmão, que usava jeans
rasgados nos joelhos com uma camiseta preta, ficava bem em
sua pele branca. Cabelos bagunçados como se tivesse acabado
de acordar, mas esse era seu estilo de usar o cabelo. Um ponto
de charme para as mulheres.
— Eu também irei sentir saudades, maninho — suspirei.
— Assim que chegar em casa, eu vou dizer a verdade ao
Lucky, assim não precisarei esconder vocês dois dele, afinal,
agora ele sabe que tenho uma avó e logo vai querer conhecê-
la, então , vou apresentar você a ele também.
— Eu acho bom mesmo, porque meu serviço é em
Manhattan. — Ele me olhou de lado. — Nos veremos direto,
porque eu não vou ficar longe da minha maninha linda.
Sorri e o abracei forte.
— Eu estou tão feliz que vou ter todos vocês ao meu
redor — Eu não via à hora de contar ao Lucky, porque eu
odiava mentir para ele.
Voltei para a fazenda e ajudei a minha avó em sua horta
de legumes. E no seu galinheiro, embora eu não entendesse
nada de galinhas, mas ajudei para passar o tempo.
Julia estava perto do curral de madeira conversando com
um dos peões quase da idade dela, o mesmo senhor que vi
logo quando cheguei. Ele era moreno, mas forte e com cabelos
grisalhos. Suas roupas eram um jeans folgado e uma camiseta
branca. Os dois pareciam bem íntimos, então fiquei feliz em
ver que ela estava bem, e que tinha companhia.
À noite, eu desci a escada para sala e olhei para a
imagem da televisão que quase me matou, uma foto do Lucky
aos beijos com a secretária dele. Os dois estavam no Green.
Embaixo, nos tablóides, dizia que ele estava se separando de
mim e que já tinha outra mulher na lista.
Eu senti como se minha alma tivesse sido arrancada do
meu corpo, mas a dor da traição estava ali, me comendo viva,
como larvas carnívoras. Eu senti a dor me sufocando e a
escuridão se apossar de mim.
Acordei e vi que já estava clareando lá fora, e também
que eu estava no meu quarto, foi quando me lembrei do que vi
e a dor voltou mil vezes pior do que antes. Como ele pôde
fazer isso comigo? Eu me entreguei a ele de corpo e alma e
agora ele vinha e me traía só porque não estava lá para ele?
Talvez, desde o começo ele fizesse isso comigo. Talvez, eles
até já estivessem juntos quando fui visitá-lo em sua empresa
antes de vir para cá.
Julia ficou comigo até eu prometer que estava tudo
bem,tive que me manter firme e calma, embora não me
sentisse assim. Agora, eu me sentia destruída e destroçada e
foi Lucky quem me matou com um tiro certeiro direto em meu
coração quebrado.
Eu saí naquela manhã e deixei Shaw com a minha avó,
ela não queria que eu saísse, aliás, ela insistiu que eu fosse ao
médico, mas eu não precisava de médico e sim de uma
solução. Shaw não conversava com ela, mas sorria e até
gostava dela. Não o bastante para falar como fazia comigo e
com Lucky.
Eu fui ao banco retirar um dinheiro para ajudar a minha
avó, já que não pretendia voltar para casa, ou melhor, para
casa dele, talvez ele até levou aquela mulher para lá na minha
ausência. Céus, como uma traição assim doía tanto? Eu sentia
como se eu já estivesse morrendo aos poucos, como um câncer
incurável.
Quando tirei o extrato da minha conta, eu quase tive
uma síncope. Dois milhões estava nela. Eu tinha certeza que
era obra dele, talvez ele tenha feito isso para me pagar de
alguma forma por ele ter conseguido um contrato bilionário, já
que a estúpida aqui ajudou ele a conseguir, mas se ele achava
que podia me comprar, estava muito enganado.
Cheguei ao gerente do banco e disse que queria devolver
todo esse valor, inclusive os trinta mil que ele havia pago de
dívidas minhas antes de casarmos. Não queria dever nada a ele
e não queria nada dele.
Eu não sabia o número da conta do Lucky, e o gerente
não podia me ceder essa informação, mas o Bryan como
sempre, me ajudou nessa parte e me passou o nome do banco e
da sua conta bancária. Assim, devolvi tudo e também cancelei
todas as minhas contas para não fazer isso novamente.
Eu não sabia o que faria no dia seguinte, mas de uma
coisa eu tinha certeza: eu não podia e não iria perdoá-lo por
me trair assim. Porque ele deveria ter sido homem e ter
terminado tudo antes de ir para cama com outra. A dor era
sufocante, quase desfalecendo os meus ossos e nervos do meu
corpo, principalmente o órgão mais importante: meu coração.
Bryan ficou furioso com o que o Lucky fez comigo, ele
até queria ir lá acertar as contas com ele, mas não deixei isso
acontecer. Porque isso era eu que iria resolver e não ele.
Porém, iria fazer isso na hora certa, depois que a dor aliviasse,
embora, pela profundidade dela, estivesse tremendamente
difícil.
Quando eu cheguei já à noite na fazenda, ouvi a voz de
Shaw falando com Julia. Eu fiquei feliz ao ver essa cena. Vovó
sempre foi alegre e extrovertida. Eu quis levá-la aonde eu
fosse, mas ela não saía desse lugar, dizia que lá estava toda a
sua vida. Então, não insisti.
Por volta das dez da noite, levei Shaw para sua cama e já
ia contar uma história para ele quando ouvi um estrondo na
porta de baixo. Vovó gritou. Shaw já ia gritar quando cobri a
sua boca.
— Shhh, não grite — pedi, olhando em suas duas
bolinhas negras assustadas. Eu podia ver o medo nos olhos do
meu menino.
Ele assentiu.
— Você não pode entrar em propriedade privada, Dilan
— gritou Julia com raiva e ódio.
Meu sangue gelou nas veias, como se tivessem injetado
gasolina nele. Ele estava ali e veio para me levar com ele ou
fazer coisas piores comigo. Céus, o que eu faria? Como eu
poderia lidar com ele? Bryan não estava, então, era eu sozinha.
Eu tirei o Shaw da cama e abri a porta do guarda-roupa,
que era embutido dentro da parede, mas com um espaço
grande de paredes na forma de um armário. Afastei as roupas e
o coloquei lá dentro. Ele choramingava baixinho. Eu fitei seus
olhos cheios de lágrimas.
— Não importa o que ouça ali. — Apontei para porta.
— Sam, não vai… — ele chorava.
— Eu vou ficar bem, prometo — beijei seu rostinho
molhado. — Não saia daqui e não grite, por favor. Promete?
Ele assentiu, chorando mudo, e se abaixou no cantinho
do armário, perto das minhas roupas e sapatos. Eu saí dali,
fechando a porta e peguei o telefone para mandar uma
mensagem para Bryan.
“Por favor, Bryan, ele está aqui na fazenda e vai querer
me levar com ele, eu não sei o que fazer. Pede ajuda.’’ Cliquei
em enviar.
Meu coração estava destroçado por dentro, por ter
descoberto a traição de Lucky pela televisão. Vovó sendo
ameaçada por aquele canalha desprezível do Dilan. Eu queria
ser forte para aproveitar e fugir, mas não podia, não com a
vida de Shaw e dela em jogo. A minha vida já não tinha muita
importância, já que Lucky a destruiu. Ele me quebrou de tal
modo que não ia me recuperar tão cedo. Por isso, agora eu era
uma casca vazia. A única alegria que sentia era vovó, Shaw e
Bryan.
Lembro-me da felicidade que eu sentia antes e também
estava feliz, porque voltaria para ele, mas tudo havia mudado,
estava sem rumo e sem chão. Por que ele teve que destruir
tudo o que tínhamos? Ou, eu achava que tínhamos.
Eu fui para a escada de madeira.
— Sai da frente, sua velha — rosnou com sua voz
grossa. — Eu estou aqui para buscar a Samantha.
— Ela não está aqui — ouvi vovó dizer.
— É claro que ela está — retrucou com a voz mortal. —
Eu chequei antes de vir. — Ele riu com desdém e depois
gritou. — Desça aqui agora, Samantha, ou a sua velha pagará
com as consequências.
Um frio desceu por minha espinha, me fazendo gelar
assim que ouvi um som de um baque. Desci a escada com as
mãos e o corpo tremendo, como se eu estivesse entrando em
combustão. Meus olhos varreram a sala e vi a vovó desmaiada
no chão perto do sofá, com certeza ele bateu nela por isso o
barulho que ouvi de pancada.
— Vovó! — gritei, correndo para o seu lado e tocando
seu rosto. — Por favor, acorda.
— Você não vai poder ajudar, Sam. — Ele pegou meu
cabelo e puxou. Eu gritei de dor.
Fitei o monstro. Ele era forte e tinha cabelos negros e
grandes, estava barbudo, parecia que não se barbeava nem
tomava banho há dias. Eu até podia sentir o cheiro de bebida.
Seus olhos azuis, assim como os meus e de Bryan. Eu não sei
como falava que não era sua filha, já que me parecia com ele,
estava furioso comigo, mas isso não era novidade, sempre
ficava sem motivos.
— Por favor, pai, vai embora — supliquei, chorando.
— Eu não sou seu pai — esbravejou. — Eu queria que
fosse… — no final sua voz tinha uma pontada de tristeza, mas
depois mudou, se tornando fria como uma geleira. — Você
está impura, então, é hora de tirar a sua impureza.
Dilan tirou o cinto dele. Ele ia me bater, e o Shaw
poderia ouvir os meus gritos que eu sei que sairiam assim
como saíam antes quando ele me batia. Isso não podia
acontecer, porque Shaw já testemunhou coisas demais pela sua
vida inteira. Virei e corri.
— Não adianta fugir, Sam, porque eu vou encontrá-la —
gritou a meia voz, mas ele me seguia para fora.
Eu fui para o celeiro, talvez ali estivessem alguns dos
peões da fazenda e algum deles podia lidar com ele, e Shaw
não poderia ouvir nada. Mas, antes de chegar aos estábulos, eu
tropecei e caí ao chão, estava escuro, senti o feno na minha
cara e o cheiro de cavalos e urina seca. Engasguei com a
pancada.
Dilan já estava ali e puxou o meu cabelo de novo, eu
gritei com uma dor aguda na cabeça. Eu estava de bruços no
chão, não tive tempo para me levantar e continuar correndo.
— Vamos aproveitar dessa vez, doce Sam. — Eu o senti
sentar em cima da minha bunda, também pude sentir a ponta
de uma faca passeando nas minhas costas .
— Solte-me. — Eu tentei lutar contra ele sobre mim,
mas era inútil lutar, era como nadar, nadar e morrer na praia.
Ele se levantou, e então senti as cintadas nas minhas
costas, uma dor aguda atingiu o pé da barriga e a escuridão me
apossou, ou talvez fosse a morte? De qualquer forma, estava
feliz pela dor ter ido embora. Mas, no fim do túnel escuro,
pensei ter ouvido a única voz que me livraria da morte.
Rosa vermelha! gritou a voz tomada de terror.
16 - Tormento
LUCKY
Desde que vi as fotos de Sam com outro homem, eu me
senti entorpecido e cercado de dor por todos os lados, ela foi a
única mulher que me fez sentir isso, como se o mundo fosse
um arco-íris e o céu azul de um brilho intenso. Eu me sentia
assim com Sam e Shaw. Agora, sem os dois em minha vida,
era como se eu estivesse na escuridão sem luz e sem vida,
como se o universo não tivesse Sol e nem Lua para iluminar
meus caminhos, apenas um abismo. As dores estavam por
todos os lados do meu corpo.
Eu me arrependi de ter ido pela ideia do Kevin e de tirar
aquelas fotos onde mostrava que eu estava aos beijos com
minha secretária. Ele fez com que as fotos vazassem no
mesmo dia, fiquei branco depois que as vi, não fui homem o
suficiente de enfrentar a Sam e buscar uma razão por ela ter
me traído assim com aquele cara. Meu mundo desabou depois
que vi aquelas fotos dela sorrindo, e ele a beijando, tudo se
quebrou assim como foi no passado. Duas mulheres me
enganaram e me traíram. Uma que me deu a luz e outra que se
tornou a razão de existir e respirar nesse mundo.
Kevin queria que eu ficasse de verdade com a minha
secretária, mas não podia, não via mais as mulheres assim,
para mim era somente a Sam. Por isso, apenas tirei as fotos,
porque queria magoá-la assim como ela me magoou ao me
trair; magoar não era a palavra certa e sim me destruir, não
suportava a ideia de tocar em outra mulher. Definitivamente a
Sam me arruinou para todas as mulheres desse mundo.
Eu não sabia nada dela, porque ela não ligou para falar
mal de mim e pedir o divórcio, o que destruiria mais a minha
vida. Se ela não pedisse o divórcio, eu teria que fazer, mesmo
que eu morresse depois. Daria até o final de semana para me
procurar, se não viesse, eu iria procurá-la e me divorciar dela.
Maldita hora que eu fiz com que nosso casamento fosse de
comunhão de bens. Embora, ela não soubesse disso, porque
assinou sem ler, mas quando soubesse, não sei se iria querer a
metade do meu dinheiro. Mas os meus advogados disseram
que, como houve traição, ela sairia sem nada.
Cheguei a minha casa naquela noite depois do trabalho,
embora não tivesse cabeça para nada, mas precisava me
manter ocupado ou enlouqueceria. Na casa, o vazio se tornava
quase insuportável com sua ausência e de Shaw. O que fazia
aliviar a dor era beber algo forte. Eu nunca me senti dessa
maneira, a dor parecia entrelaçar no meu sangue como um
câncer incurável.
— Mas que droga está acontecendo aqui? — esbravejei,
olhando a minha sala cheia de gente. Não muitas, apenas meus
amigos.
Kevin, ali de pé perto do sofá na forma de L. Ryan e
Jordan com duas mulheres cada um, Jason também estava com
uma loira pendurada nele.
— Trouxemos alguma diversão para você — começou
Ryan. Mas eu cortei com um olhar frio.
— Eu não quero droga de diversão — rugi. — Eu só
quero beber. — Olhei a todos ali. — Sozinho, então, tirem
essas vadias da minha casa antes que eu perca o resto do meu
controle.
— Você precisa transar.
— É melhor calar a boca, Ryan, e fazer o que eu mandei
— Meu tom era mortalmente frio. Eu estava a ponto de atacar
meu próprio irmão.
Ele bufou.
— Chegou a hora de irem, garotas — Ryan disse para
elas e se levantou do sofá. — Ele está ranzinza hoje.
— Poderíamos fazer você relaxar — falou uma loira,
batendo os cílios para mim.
Meu estômago parecia que estava embrulhando como se
eu tivesse comido comida estragada.
— SAIAM AGORA!
Eu respirei fundo assim que todas saíram da minha casa,
olhei para os caras ali.
— Agora, são vocês.
— Nós não vamos embora — assegurou Ryan, me
encarando.
Eu o fuzilei com o olhar mortal.
— Oh, você vai sair sim, nem que seja a ponta pés, aliás,
todos vocês, os quero fora da minha casa — ordenei com ira.
Antes que todos ali protestassem e eu os jogasse para
fora, a porta do elevador se abriu e entraram três caras
armados. Todos ali ofegaram de pavor, inclusive eu. Eu não
imaginei que ali houvessem assaltos, porque isso nunca
aconteceu antes. E logo quando dei folga ao Simon.
— Todos sentados agora — ordenou um cara loiro.
Eram três caras. Um loiro que estava do lado direito de
um moreno e um ruivo do lado esquerdo. O moreno de olhos
azuis estava no meio e me olhava com raiva, a ponto de me
matar.
Embora no fundo, eu quisesse que ele me matasse, só
assim a dor passaria. Esse cara não carregava arma, apenas os
dois que ladeava ele. Eu reconheci o moreno de cabelos negros
e lisos da foto com a Sam. Esse era o cara que estava nos
braços da minha Sam.
— É você… — minha voz era para sair com raiva, mas
saiu um sussurro de dor.
Seus olhos azuis eram de ódio e direcionado a mim, tão
rápido que mal deu para similar, ele estava em cima de mim e
deu um soco na minha boca que o sangue desceu na hora.
— Não se aproxime dos dois ou eu atiro em vocês —
rosnou o loiro apontando a arma para os meus amigos.
Meu sangue gelou com isso, não queria que ninguém se
machucasse.
— Faz o que ele diz — pedi, enquanto eu me preparei
para me defender.
O cara com cabelos negros me olhava com fúria.
— Você destruiu a minha raio de Sol — gritou com ira.
— Sam se parecia com o Sol, mas você a quebrou, saindo com
a sua secretária e fazendo festas com a mulherada.
Eu franzi o cenho.
— Você só pode estar brincando com a minha cara —
esbravejei — Sam foi a única que me traiu…
Ele me cortou com ferocidade e desdém.
— Ela nunca faria isso — Seus olhos eram mortais. —
Ela ama você, seu babaca estúpido.
— Ela ama meu dinheiro — Meu tom era morto no
final.
Ele riu amargo.
— Você não a conhece mesmo, não é? Já checou a sua
conta bancária hoje? Porque lá você vai encontrar os seus dois
milhões, que você depositou na conta dela sem ela saber —
Sua voz era fria. — Ela o devolveu junto com os trinta mil que
você pagou as contas dela alguns meses atrás. Ela também
fechou todas as contas para você não fazer mais o que fez.
Eu olhei confuso para ele e depois para o Kevin.
— Isso é verdade, Kevin? Essa quantia foi transferida da
conta dela para a minha?
Kevin parecia nervoso. Isso parecia estranho.
— Não, não é verdade — disse ele depois de um minuto
de silêncio. Embora sua voz também estivesse nervosa.
Bryan riu.
— Sério? — Ele arqueou as sobrancelhas para o Kevin.
— Foi transferido hoje às doze horas, por ela mesma.
Eu estava com uma raiva enfurecida. Então, ele esteve
com ela hoje? Ele ainda tinha a audácia de vir aqui na minha
casa dizer isso? Ele pegou a sua mochila preta que estava em
suas costas, e pegou uma pasta nas mãos.
— Isso é para você. — Ele jogou a pasta para mim.
Eu a peguei automaticamente sem saber o que havia ali.
— O que é isso? — perguntei.
— Tudo o que você precisa saber está aí — ele me disse,
mexendo em seu laptop.
Eu olhei a pasta e arfei. Ali estava o dossiê completo do
Kevin. Ele transferindo um milhão da minha conta para conta
dele. Saldos, transferências de contas, depósitos e saques, tudo
feito pelo Kevin.
— Mas que droga é isso? — rugi.
— O que foi? — perguntou Kevin em um tom agudo.
Agora eu entendia o motivo do nervosismo dele. O
bastardo estava me roubando.
— Você está me roubando, seu desgraçado? —
esbravejei com os punhos cerrados.
— Sim, ele está — Bryan disse com frieza. Bem, foi
esse o nome que Simon me enviou para a pesquisa sobre ele
depois que recebi as fotos dele com a Sam. Bryan Scott, mas
não conseguiram descobrir seu sobrenome, o que me era
estranho, já que todas as pessoas têm sobrenome, era como se
ele fosse um fantasma. Mas eu não tinha cabeça para pensar
nisso, não com a dor que eu estava sentindo.
Kevin arregalou os olhos, fitando o Bryan e depois a
mim.
— Ele está mentindo… — começou Kevin, mas Bryan o
interrompeu.
— Sério? Kevin Brown, nascido no dia 18/09/1985.
Morava em um orfanato, em Ohio desde os quatro anos e
adotado aos dez anos por uma família de empresários de
Moscou, o pai adotivo se chamava Jackson Rules… — Bryan
olhou para ele com a sobrancelha erguida como se convidasse
o Kevin a desmentir tudo.
— Cale essa boca — rosnou Kevin com os punhos
cerrados.
Bryan olhou para ele como se fosse um inseto.
— O nome da mãe adotiva era Mary Rules. — Ele me
olhou. — Lembra-se desse nome?
Eu arregalei os olhos e a dor voltou como uma onda
gigante, que parecia estar me perfurando de dentro para fora.
O ar de repente parecia tóxico, tanto que de repente queria
uma máscara de gás.
A vadia da minha mãe me abandonou para eu morrer
naquela casa e foi se casar com um velho rico. Olhei o dossiê
onde comprovava o Kevin roubando mais dinheiro de mim
para uma conta na Suíça. O nome dela estava ali. Maldita seja!
— Você estava roubando de mim para a vadia da minha
mãe? — Minha ira pulsava quase palpável.
Kevin me olhou de repente e a máscara caiu.
— Ela planejava tirar todo seu dinheiro. — Ele riu de
modo zombeteiro. — Mas quanto mais dinheiro tirava, mais
você ganhava.
— E por isso decidiu que, além de desviar novecentos
mil por mês, você desviava mais quatrocentos mil, não é? —
Meu tom era tenebroso.
Ele olhou malignamente para o Bryan.
— E a outra parte vai para você seu desgraçado? —
sibilei, querendo socá-lo, mas estava sem energia, talvez fosse
porque não comi nada desde ontem, ou talvez fosse apenas a
minha dor que me manteve com os pés presos no chão. —
Você e ela vão para cadeia e não vão sair de lá tão cedo.
— Você prenderia a sua mãe? — Seu tom era
provocativo.
— Ela não é a minha mãe — rebati. — Ela deixou de ser
no momento em que me abandonou para se casar com um
homem rico. Mas ela vai pagar por tudo e você também já que
é o seu comparsa.
— Estava tudo dando certo, mas você… — ele olhava
friamente para o Bryan —, e a vadia da Samantha tinham que
se meter no que não era da sua conta. Acha que eu não a vi
perto de minha sala, enquanto falava com a Mary? Com
certeza foi ela que deu com a língua nos dentes.
Eu estava prestes a quebrar sua cara, mas o Bryan foi
mais rápido se lançando para o Kevin como se fosse um ninja.
Os dois eram fortes, mas Bryan era cheio de músculos e uma
cabeça mais alto que Kevin. Ele parecia um lutador como
Jason. Bryan desceu os punhos fechados nos peitos de Kevin,
que caiu contra a minha parede sem fôlego. Bryan desceu
outro soco em seu rosto e o sangue desceu, manchando a sua
camisa.
— Você quebrou o meu nariz — gritou ele.
— Nunca ouse falar da Sam. — Outro murro em sua
mandíbula. — Nunca! — gritou ele, batendo no Kevin de
novo. — Ela é uma santa, seu maldito bastardo, você ouviu?
Santa.
Ele parecia possuído de raiva. Eu até podia impedi-lo de
fazer isso, mas Kevin merecia muito mais, eu estava doido
para quebrar ele também. Ninguém se mexeu, deixando Bryan
bater em Kevin. Pelo que soube de Kevin, ele não sabia lutar
e, pelo visto, esse homem sim. Eu acho que ele era da minha
idade ou do Ryan mais ou menos. Mais velho do que a Sam.
Acho que estava na faixa dos vinte e cinco aos vinte e oito
anos.
— Bryan, você vai matar o cara, largue-o — pediu o
cara loiro. — A Sam não iria gostar disso.
Com menção do nome da Sam, Bryan suspirou
profundamente e soltou o Kevin desmaiado no chão, checando
sua veia do pescoço.
— Ele está vivo — Seu tom não parecia muito feliz com
isso.
— O que a Sam tem a ver com isso? — perguntou Ryan
chocado. — Ela está aliada a vocês?
Bryan limpou as mãos com sangue em sua calça jeans e
olhou para ele.
— Não, ela nem sabe que estou aqui.
— E por que você está aqui? — perguntei com
ceticismo.
Seu olhar era mortal ao se direcionar a mim.
— Para lutar com você e te dar uma lição — riu com
desdém. — Quando a Sam começou a trabalhar em sua
empresa, achei que seria bom para ela crescer, porque ela ama
o que faz. Mas você deu em cima dela e tudo mudou. Ela não
me contava para eu não me preocupar. Até parece que eu não
conheço ela. — Ele sorriu agora com amor.
Um punhal em meu coração quebrado.
— Ela sempre me protegeu, desde criança, embora eu
também a protegesse de tudo e de todos. — Seu rosto ficou
sério e olhou para mim. — Você fechou as suas portas, eu até
pensei que ela odiava você depois disso, mas não! — Ele
sacudiu a cabeça. — Depois, ela se apaixonou por você e tudo
mudou. Eu disse para ela não fazer isso, mas era tarde demais.
Ele falava da Sam com amor, mas não vacilava ao dizer
que ela estava apaixonada por mim. Mas que droga isso
significava? O que será que eu estava perdendo?
— Agora, ela foi visitar a avó e quando liga a TV, o que
ela vê? O bastardo do marido com uma amante pendurada no
pescoço — sibilou.
— Eu não tenho amante — retruquei.
— Foder, comer e transar — seu tom era de escárnio. —
Tanto faz, tudo dá no mesmo.
— Por que isso importa agora? — Minha garganta
arranhava como se tivesse sal. — Ela me traiu mesmo.
Bryan arregalou os olhos e me olhou como se eu fosse
louco.
— Sam nunca trairia você — murmurou. — Ela morre
por você.
— E o que significa isso? — Tirei as fotos do bolso e dei
a ele. Desde que recebi essas fotos, eu carregava comigo por
todos os lados para ver e tentar entender porque ela tinha me
traido. Por que eu não fui suficiente?
Ele pegou as fotos e olhou com os olhos estreitos e virou
a foto vendo cada ângulo e depois me olhou.
— Você a traiu por isso? — replicou com dureza.
— Como só por isso? — sibilei. — Ela mentiu para
mim.
— Hummm… — ele andava para frente e para trás
como um leão prestes a dar o bote. — Por que não perguntou a
ela antes de fazer uma vingança?
— Não precisava dizer nada, afinal, essa foto mostra
tudo. — Eu estava encolhido de dor. — Vocês estão se
beijando.
Ele riu com raiva.
— Eu deveria matar você por fazê-la sofrer.
Eu expirei, mas doeu.
— Vá em frente e faça, então, mate-me, porque você
estaria me fazendo um favor — resfoleguei.
— Mas que droga! — rugiu Ryan. — Uma mulher não
vale isso.
Bryan e eu olhamos para o Ryan ambos com a expressão
furiosa.
— Ela vale — dissemos nós dois em uníssono, o que foi
estranho e esquisito.
Bryan me olhou com as sobrancelhas erguidas.
— Você faria?
Eu assenti mudo.
— Bom saber. — Ele riu e depois revirou os olhos me
avaliando. — Não sei quem tirou essas fotos, mas o que está aí
não é isso. Aposto que foi tudo armação de Kevin para separar
vocês dois.
Meu coração estava querendo acreditar nele, para
sossegar a minha alma ferida.
— O que você é dela? — Porque alguma coisa tinha já
que ele não tinha nada de gay como ela mesma disse. Bom, eu
acho que esse era o mesmo cara que ela se referiu dizendo não
sentir nada por ela, alguns meses atrás, no dia em que descobri
sobre a adoção do Shaw.
— Eu sou irmão dela, então, não tem a mais remota
chance do que está aqui nessa foto ser verdade — ele me disse
com convicção. — Quem tirou essa foto sabia o que estava
fazendo por que pegou um ângulo perfeito como se
estivéssemos nos beijando. — Ele revirou os olhos com isso.
Eu ofeguei e não fui o único. Pude ver os olhos
arregalados de todos ali e com pena de mim. Mas uma parte de
mim estava aliviada com isso, embora a outra parte dizia que
eu a perdi, já que ela pensava que eu a traí com a minha
secretária. Sendo que isso nunca aconteceu. Tinha medo de ela
ter se vingado de mim como ela me disse um dia, se eu fizesse
isso, ela também faria, igual quando ela quase ia ficando com
Jason.
— Eu a perdi.
— Sim, você a perdeu — ele concordou. — Eu vou
pegar ela, minha avó e o garoto, e vamos embora para um
lugar longe de você.
— Você não pode levá-la de mim — A minha voz era
tomada de desespero.
— É claro que posso e vou fazer isso — Seu olhar era
frio. — E você não vai me impedir e não vai fechar seus
caminhos de novo — ele rosnou com os punhos cerrados. —
Ou, eu juro que seu dossiê estará em todos os jornais do país,
então, você vai se afastar e ficar longe dela.
— Eu não posso — Meu tom era um gemido de dor. Eu
não me importaria com a porcaria do meu dossiê, eu só me
importava com ela. — Eu vou ter que implorar que ela me
perdoe.
Ele riu.
— Sam pode ser boa, mas se tem uma coisa que ela
nunca perdoa é traição. — Ele me olhou de lado e furioso. —
E você a traiu da pior maneira possível.
— Eu não a traí. — Soltei o ar contaminado dos meus
pulmões.
Ele arqueou as sobrancelhas para mim.
— E as fotos, o que significa aquilo?
Eu suspirei.
— Da mesma maneira que significam as suas com ela —
afirmei. — Quando eu vi a foto dela com você, o meu mundo
desabou como se estivesse em uma altitude e de repente caísse
em uma velocidade mortal, arrebentando todos os meus órgãos
— me encolhi. — Kevin sugeriu que fizesse o mesmo que ela.
— Eu sacudi a cabeça. — Mas eu não penso em mais ninguém
dessa forma. Eu deixei de pensar no momento em que conheci
a Sam — funguei para não chorar. — Ela roubou a minha alma
e meu coração. Tudo isso foi entregue a ela. — Eu gesticulei
para o meu corpo. — Sem ela, eu não vivo, eu vegeto como
um zumbi ou uma alma penada.
Ele me avaliava para ver se eu estava dizendo a verdade.
— Hummm, bom, mas eu vou lutar com você — ele me
disse. — Você vai pagar por toda lágrima que ela derramou
por você.
Eu me encolhi ao pensar no seu sofrimento.
— Pode fazer, não vou revidar — sussurrei, ficando
ereto e com os braços ao lado do corpo.
Ele sorriu como um gato prestes a comer um canário.
— Oh, eu vou adorar fazer isso. — Ele levantou os
punhos para mim, enquanto eu fechava os olhos esperando o
soco, afinal, eu merecia sofrer.
Eu ouvi um bip de uma mensagem.
— Droga! — balbuciou Bryan com tom horrorizado.
Eu abri meus olhos e vi que os dele estavam em um
completo terror, pavor, medo e desespero após ver uma
mensagem no seu celular. Algo aconteceu, será que era com a
Sam? Será que ela estava bem?
— O que foi?
— Meu pior pesadelo. — Ele me fitou com os olhos
cheios de terror e pareciam lacrimejados. — Vamos ter que
resgatá-la.
Meu coração se afundou e meu mundo começou a
desabar novamente quando ele disse isso.
— O que significa isso? — perguntou Ryan, olhando os
caras com a arma calibre trinta e oito nas mãos. — Não dá
para abaixar isso já que estamos todos entendidos por aqui?
— Abaixem as armas — Bryan pediu sem tirar os olhos
de chamas de mim. — Você tem um helicóptero, não tem? Ele
está aqui no arranha-céu? Por favor, diga que ele está aqui.
— Sim, tenho uma reunião amanhã de manhã em Nova
York, por isso ele está aqui para sairmos cedo, mas dá para
dizer o que está acontecendo? — pedi com leve tremor, com
medo da verdade.
— Nosso pai a pegou — Seu tom era de asco ao dizer
pai.
— Por que isso seria um pesadelo? — perguntou Jordan
taciturno.
— Porque ele é um ser abominável — respondeu num
tom frio. — O pior do planeta.
— Ele vai machucá-la? — Minha voz espelhava a dele,
dor e desespero.
— Da pior maneira possível.
— Não me diga que ele quer… — eu não conseguia
terminar. Por favor, senhor, não o deixe tocá-la —, pensei.
— Mas ele é pai dela — Jason disse horrorizado.
— Ele acha que ela não é filha dele, porque a doida da
minha mãe diz que ela é a semente do mal, os dois são
lunáticos, deviam estar em uma clínica psiquiátrica. — Ele
suspirou, guardando o notebook que estava na mesinha e
colocando a mochila nas costas. — Eu fiz o DNA algum
tempo atrás, então, descobri que ela é de fato filha do bastardo
fodido.
— Isso é abominável. — Jason se levantou. — Eu quero
matar esse filho da puta por sequer pensar em tocar na
preciosa.
— Eu vou fazer isso — respondeu Bryan sombrio e
depois me olhou. — Nós vamos de helicóptero ou não? Porque
não tem como chegar à fazenda a tempo de carro.
Eu pisquei ainda entorpecido de dor. Se ele a tocou…
— Vamos — eu sussurrei. — Mas, eu dei folga para o
Simon hoje, então ele não está aqui. Ele é o único que sabe
pilotar o helicóptero que está no térreo do arranha-céu daqui.
Bryan olhou para o loiro ali e assentiu.
— Calebe sabe pilotar helicóptero e avião, não se
preocupe. Ele vai nos levar — ele falou como uma declaração
e não como uma pergunta.
Bryan, Calebe e o outro cara que não sabia o nome,
também foram conosco.
Eu liguei para o Simon, dei o endereço da fazenda e o
mandei ir para lá o mais rápido possível, também ficou
encarregado de chamar a polícia no caminho para lá.
— Foi por isso que não dissemos a ninguém que éramos
irmãos. Assim, ele nos rastrearia até onde morávamos. —
Bryan deu um suspiro desalentado. — Por algum tempo,
conseguimos manter isso em segredo, mas a foto dela
aparecendo no jornal como sua esposa traída, isso deve tê-lo
feito descobrir a verdade, por isso a encontrou.
Eu fiquei furioso comigo mesmo, porque se algo
acontecesse com a Sam, a culpa seria somente minha e da
minha burrice.
— Se ele a tocar, eu vou matá-lo — rosnei, olhando as
luzes do arranha-céu de Manhattan e pensando se algum dia
veria um brilho assim na minha vida de novo. Esperava que
sim, porque se eu perdesse a Sam, eu perderia tudo.
— Afinal, o que você faz? — perguntou Jordan ao
Bryan. — Porque parece que você entende muito de
computador para descobrir tudo sobre o que Kevin andava
fazendo. Até conta na Suíça.
— Eu sou formado em sistema da computação —
respondeu, passando as mãos nos cabelos. — Eu entendo tudo
sobre computadores, alguns me chamam de hacker. Eu
trabalho para polícia.
Ryan o interrompeu estupefato.
— Você é policial?
Bryan assentiu e olhou para seus dois amigos, o piloto e
o outro que estava ao lado do Calebe.
— Nós três somos, mas eu consegui o emprego há
pouco tempo. Foi assim que eu consegui descobrir tudo sobre
Kevin, entrando nos computadores dele e dos bancos para
onde o dinheiro fora enviado.
— Aquele bastardo vai pagar por te me roubado —
sibilei.
Nathan, meu empregado, pegou o desgraçado e o levou
ao hospital, depois anunciou a polícia sobre o roubo. Entreguei
o dossiê a ele para dar ao meu advogado, Dennis, e levar
Kevin preso.
— Sam o ouviu falar ao telefone sobre uma
transferência de dinheiro da empresa. Então, ela me pediu para
checar as coisas — ele riu sem humor. — Ela sempre se
preocupa com as pessoas.
Eu sabia disso muito bem. Todos nós ficamos em
silêncio até que chegamos à fazenda. Bryan pediu para pousar
um pouco longe, assim, o maldito não conseguiria fugir.
O helicóptero pousou, nós descemos e corremos em
direção à sede da fazenda. Antes de chegarmos a casa,
ouvimos um grito de raiva vindo do celeiro de madeira.
Bryan e eu paramos, olhamos um para outro com os
olhos cheios de pavor e pesar. Eu podia ver seus dois amigos
ali armados.
— Vamos cercar o celeiro, daqui ele não sai — disse
Bryan aos outros e depois a mim. — Você vai pela frente, e eu
vou pelos fundos.
Eu assenti e saí em direção à porta de madeira da frente
do celeiro, mas ela já estava aberta, entrei sem ser notado e me
horrorizei com a cena diante de mim. Sam estava no chão
cheio de feno, ela parecia inconsciente ou ela… não, não, não,
ela não podia estar… ela estava bem. Ela tinha que estar bem
—, pensei forte como um mantra.
O cara alto e moreno com barba por fazer deu uma
cintada nas costas dela, mas ela nem reagiu a isso, porque
estava desmaiada.
— Garota vadia — gritou e já ia dar mais uma cintada
nela. Porém, eu já estava me preparando para matá-lo, quando
Bryan foi mais rápido e deu um murro de cheio no rosto do
canalha. O cara cambaleou e caiu em cima de uma moita de
feno.
— Rosa Vermelha! — gritei, horrorizado com a cena
diante de mim.
— Cuida dela até a ambulância chegar — gritou ele para
mim, ainda olhando o homem caído ali com os olhos
arregalados olhando o filho. Como pode um pai fazer isso com
sua filha? Eu nem podia falar nada já que minha mãe havia me
deixado sozinho para morrer. Esses seres abomináveis não
deveriam ser pais.
Com se precisasse falar algo, porque eu já estava indo
para ajudar a minha preciosa esposa. Eu me ajoelhei ao seu
lado e toquei seu rosto.
— Sam, meu amor, acorda — choraminguei, alisando
seu rosto molhado. Ela esteve chorando antes de desmaiar. —
Por favor, abra os olhos. Chamei a ambulância e eles logo
estarão aqui, promete aguentar por mim? — Beijei seus lábios.
— Eu te amo tanto. — Não doeu dizer essas palavras, porque
era verdade.
Ela estava suja de feno, e o pior era ver que suas calças
estavam sujas de sangue. Meu Deus, não! Ele não podia ter
feito isso com ela. Eu segurei toda a minha fúria e dor. Vi
Bryan socando o desgraçado maldito na cara.
— Você estuprou a sua filha? — esbravejei com fúria.
— Ela não é a minha filha — gritou de volta.
— Sim, ela é — rosnou Bryan, dando um chute na boca
do estômago do pai. — Eu mesmo fiz o DNA de vocês. — Ele
pegou o cara que já estava só sangue e jogou na parede como
se ele não pesasse nada.
O cara ficou ali encolhido e segurando o peito.
— Ela não é — ele resfolegou.
— Lembra daquele dia que foi preso em sua casa em
Kentucky? — Bryan olhava friamente para o homem ali como
se ele não fosse seu pai.
O bastardo estreitou os olhos.
— Como sabe sobre isso?
— Porque fui eu que o prendi — respondeu num tom
frio. — Trabalho para a polícia, fiz tudo isso para proteger a
minha irmã do canalha que se diz ser nosso pai. — Ele
expirou. — Você é o bastardo do pai que tentou violentar a
própria filha muitas vezes. Mas agora você fez isso?
O cara estava de olhos arregalados olhando a filha no
chão inconsciente.
— Olha o estado que você deixou a sua filha, a filha que
um dia você já amou — o tom da voz do Bryan era sombrio e
mortal.
— Meu Deus! O que eu fiz? — cobriu o rosto com as
mãos. — Eu não a toquei… só bati… — ele engasgou.
— Isso vai ser suficiente para deixar você por um bom
tempo na cadeia — disse Bryan.
— Eu vou assegurar para que nunca mais veja a luz do
dia — sibilei entre dentes e querendo matá-lo eu mesmo, mas
não queria deixar a Sam sozinha.
A ambulância chegou e a colocou na maca colocando
aparelhos em seu nariz para fazê-la respirar. A enfermeira
disse que ela estava com hemorragia interna. Mas que ela ia
ficar bem, não sei se ela disse isso para me acalmar ou não. Eu
desejava que ela realmente ficasse bem.
A polícia também chegou e levou Dilan para cadeia.
Meu advogado ia cuidar para que ele não saísse nunca mais de
lá.
Uma policial feminina apareceu perto da ambulância
onde eu estava perto da minha Rosa Vermelha.
— Tem um garotinho no quarto da casa, mas ele está
chorando muito e não deixa ninguém chegar perto dele. Ele
está dentro de um armário e quando a gente chega perto dele,
ele grita como se a gente estivesse o matando — a policial me
olhou. — Você o conhece? A senhora Julia, a dona daqui
tentou tirar ele de lá, mas não conseguiu.
Eu pisquei olhando o segundo andar da casa.
— Droga! É o Shaw — olhei para o Bryan chegando
perto da ambulância. Podia ver meus amigos ali perto também.
— Ele não vai ouvir ninguém, só a mim. Então, fica com a
Sam enquanto eu falo com Shaw.
— Pode ir, minha avó e eu vamos com ela na
ambulância. — Ele olhou para uma senhora com cabelos
brancos que usava um cachecol em cima de um vestido
xadrez. Tinha um enfermeiro olhando a sua cabeça, parecia
machucada. — Se acontecer algo ao Shaw, ela surtaria e nos
mataria. Eu tomo conta dela para você.
Eu assenti, ainda não querendo deixá-la, mas sabia que
eu tinha que tomar conta de Shaw, porque eu já o amava como
a um filho, então, teria que protegê-lo e não machucá-lo mais
do que um dia ele ja tenha sido. Quando cheguei ao quarto no
segundo andar, eu ouvi o choramingo dele. Isso cortou meu
coração, o quarto era grande com uma cama de solteiro, e um
sofá ao canto. Ali haviam duas portas de madeira, uma era o
banheiro, e a outra era o armário de roupas, bem dali que eu
ouvia o choramingo do Shaw.
— Shaw — chamei. — Garotão, abre esse armário e
vem para fora.
— Não saia daí até eu chegar — ele entoava toda hora.
— Eu sei que a Sam disse isso para você, mas preciso
que você venha para fora para eu falar com você — pedi.
— Por que eu confiaria em você? — gritou num tom
dolorido.
— Porque eu sou amigo, garotão.
— Você fez a minha Sam sofrer, ela chorava e chorava
depois que assistiu você com outra mulher — Sua voz era
ácida, mas mesmo assim dolorida. — Você é um canalha
egoísta.
Eu expirei.
— Sim, eu sou, mas acredite em mim, aquelas fotos não
eram reais. Eu nunca traí a Sam — declarei, encolhido com o
seu sofrimento. — Ela é toda a minha vida.
Ele ficou em silêncio lá dentro. Então, falei, tentando
convencê-lo a sair dali.
— Quando eu tinha seis anos, a minha mãe saiu de nossa
casa e me disse para eu não sair de casa até que ela voltasse,
fiquei por sete dias, mas não conseguia mais, já que eu estava
fraco de fome — expirei, mas tudo doía. — Um dia, ia
passando o pai do Ryan perto da minha casa. Ele me
encontrou, mas se eu não tivesse gritado por ajuda, ele nunca
saberia que eu estava ali, sozinho e faminto. — Eu passei a
mão direita no meu rosto para me controlar da dor. — Saia daí
e vem para mim, quando a Sam estiver boa, eu levo você para
vê-la.
Não demorou muito, ele abriu o armário e saiu com os
olhos vermelhos de chorar e correu, me abraçando forte. Ele
vestia um pijama de coelhos.
— Vai ficar tudo bem — prometi, alisando seus cabelos.
— Vejo que conseguiu tirar ele do armário — disse a
policial olhando o Shaw nos meus braços. — Qual é o seu
nome?
Shaw não respondeu, apenas escondeu o rosto no meu
pescoço.
— Ele não fala — declarei.
Ela levantou as sobrancelhas para mim.
— Eu o ouvi falando com você.
Eu suspirei.
— Ele era uma criança do lar da Fênix — esclareci.
— Oh.
— Sim. Sam e eu o adotamos, somos os únicos com
quem ele conversa, mas ela ainda está trabalhando com ele.
Ela é psicóloga. — Eu o deitei na cama e coloquei a coberta
sobre ele. Passei a mão em seu rosto. — Tenho que ver como a
Sam está, Shaw, então, por favor, dorme um pouco, prometo
que agora está tudo bem.
Ele não queria ficar sozinho, então, deixei o Simon com
ele no quarto, mas eu não tirava a sua razão por ter medo,
ainda mais depois de tudo que passou.

Cheguei ao hospital de Nova Jersey e logo me deparei


com todos os meus amigos ali, na sala de espera. Alex e Rayla
também estavam ali, mas o pior é que todos estavam com a
expressão horrorizada.
— Como ela está? — perguntei com leve tremor e com
medo da resposta. Eu não podia perdê-la, simplesmente
porque não conseguia viver sem ela, se ela se fosse, eu não
conseguiria seguir em frente, não conseguiria sobreviver no
mundo sem Sam. eu
Bryan já ia responder quando o médico apareceu ali,
com seu jaleco azul.
— Doutor, como Samantha Donovan está? — perguntei.
Ele me olhou.
— Você é o marido dela?
Eu assenti.
— Sim. Ela vai ficar bem? — Minha voz estava sem
vida.
— Ela teve uma costela quebrada e um inchaço no
cérebro, mas o pior é que ela perdeu muito sangue e não temos
seu tipo sanguíneo aqui no estoque já que usamos todos nas
vitimas que sofreram no acidente aéreo ontem. A não ser que
um de vocês tenha o tipo sanguíneo A, O positivo ou negativo.
— Ele olhou ao redor da sala a procura de um consentimento.
— O tipo A só pode receber de O positivo ou negativo ou tipo
A.
Mas todos ali negaram. O meu era B positivo.
— Temos que fazer alguma coisa, droga — esbravejou
Bryan. — Ela não pode morrer.
— E tem que ser rápido, porque ela corre o risco de
perder a criança — anunciou o médico.
Eu olhava para ele de olhos arregalados.
— Ela está grávida? — ofeguei.
— Pelo jeito, você não sabia. — Ele me olhou. — Ela
está grávida de seis semanas, por isso seu estado é crítico e
corre o risco de perder a criança.
O meu coração martelava descompassado em minhas
costelas. Ela estava grávida do meu bebezinho, mas corria o
risco de perdê-lo. Não, isso não podia acontecer, precisava dos
dois comigo, precisava arranjar um jeito de salvar os dois, mas
como?
— Olá — chamou uma garota, se aproximando de nós.
— Eu não pude deixar de ouvir a conversa. — Ela parecia
tímida. — Eu não sei quem é a mulher grávida, mas meu
sangue é A positivo e não tenho quaisquer doenças, então, se
vocês quiserem, posso dar o meu sangue a ela.
A garota tinha cabelos pretos anelados em um rabo de
cavalo. Seus olhos eram negros como ônix e boca voluptuosa
em forma de coração, usava jeans skinny e uma camiseta preta
folgada com estampa dos Backstreet Boys.
Todos nós olhamos para ela. Bryan pegou os ombros da
mulher de olhos negros e olhou nos olhos dela.
— Obrigado — agradeceu, comovido e feliz. — Você é
um anjo.
Ela fez uma careta e se afastou de seu toque e olhou para
o médico.
— Posso fazer agora, pois tenho que trabalhar. — Sua
voz era suave e meiga.
— Qual é o seu nome, gata? — perguntou Ryan para ela.
Ela olhou para ele com cenho franzido, sacudiu a
cabeça, mas não respondeu. A garota entrou na sala que a Sam
estava no CTI. Ryan ficou resmungando por ela nem ligar para
ele e muito menos dizer seu nome. Não liguei para isso,
apenas tinha alguma esperança de ter minha Rosa Vermelha de
volta, e com isso meu filho também. Eu nem acreditava que
seria pai, pensava que se um dia fosse ter um filho não saberia
educá-lo ou amá-lo, mas via que isso não era verdade. Porque
esse carocinho de feijão gerando dentro da barriga de Sam já
tinha me apossado por inteiro, assim como a mãe fez comigo
só com um olhar. Hoje, eu podia dizer que tinha uma família e
foi Sam que me deu.
17 - A Verdade
SAM
Eu acordei do que parecia ter sido um coma intenso, mas
antes que abrisse os olhos, senti uma mão tocar a minha
barriga e a voz que jamais pensei ouvir de novo estava ali,
perto de mim. Parecia ser um sonho lindo, eu não queria
acordar tão cedo.
— Sabe… — eu fiquei em choque, porque achei que ele
estivesse falando comigo, mas depois ele emendou, — meu
filho — ele sussurrou, alisando a minha barriga. — Eu nunca
pensei que ficaria tão feliz em ser pai, mas eu gostei.
Eu senti que perdi a minha respiração ao ouvir o que ele
havia acabado de dizer. Ele disse filho? Eu estava grávida dele,
era isso? Por isso ele estava alisando a minha barriga? Senti
seus dedos tão suaves sobre minha barriga. Mas eu não podia
ter esperança de tê-lo de volta, porque ele me traiu, e isso eu
não podia perdoar. E mesmo agora que estava grávida, não
podia ficar com ele.
Lucky não pareceu sentir meu nervosismo, porque
continuou a falar com meu caroço de feijão. Aliás, o nosso
pequeno carocinho de feijão, tão pequenino que eu só tinha
vontade de protegê-lo.
— Quando eu era pequeno, não tinha a vida que toda a
criança deveria ter. A minha mãe… — ele riu amargo e com
dor. — Não posso dizer que aquela mulher sabe o que é a
palavra mãe e o significado dela. Porque uma mãe protege seu
filho e não deixa você sozinho em uma casa quando se tem
seis anos e vai embora, dizendo que voltaria, mas nunca voltar,
era uma prostituta barata que saía com caras, enquanto eu
ficava lá por dias, trancado em uma casa sozinho e com fome.
Lembro-me que não tinha nada para comer e como doía, eu
gritava por ela até cansar e desmaiar ao chão. — Ele expirava
irregular.
Meu coração doía. Queria poder amenizar sua dor, mas
como? A minha também estava ali dentro de mim.
— Essa vida desgraçada foi até meus seis anos e meio.
— Ele riu sem vida. — Eu recordo que ela nunca saía no
Natal, mas assim que ela recebeu uma ligação, não pensou
duas vezes e saiu me deixando sozinho e nunca retornou.

“Mamãe, não saia hoje’’, supliquei chorando.


“Ele é um cliente importante, por isso tenho que ir’’, ela
me disse.
“Mas, hoje é Natal’’, reclamei.

— Eu me lembro que passei aquele Natal sozinho,


passaram-se dias e nada de ela aparecer ou voltar para me
resgatar daquela casa, as coisas de comer começaram a acabar
e comecei a ficar com fome. Mas, desta vez, ela não voltou
como das outras vezes.
Eu senti lágrimas na minha barriga caindo de seus olhos
lindos e preciosos. Ele estava chorando, queria tanto
reconfortá-lo, mas esperei, pois ele precisava se abrir.
— Eu já estava quase sem forças e caído no chão da
cozinha. Foi então que ouvi alguém passando perto da casa e
conversando, acho que ao telefone. Sei que tinha prometido a
ela que não sairia dali, mas simplesmente não podia morrer de
fome, tentei achar energia de onde não tinha e gritei por ajuda
— ele suspirou. — O pai do Ryan me achou no chão da
cozinha. Ele quebrou o vidro da porta e entrou, me pegando no
colo. Lembro-me de ele dizer que eu estava leve e desnutrido,
por pouco, ele não conseguiria me salvar.
Meu coração que batia por ele estava partido agora por
sua história triste. Não importava o que ele havia feito, a sua
dor ainda me cortava fundo.
— Quando eu saí do hospital, ele disse que os teria
como uma família. Mas eu nunca me esqueci daqueles
momentos de tormentos, a fome… a dor… o desespero — ele
resfolegou. — Mas o pior veio depois, porque quando eu fui
localizar a desgraçada da mulher, descobri por que ela não
voltou mais daquela vez. Eu descobri que havia simplesmente
me deixado lá sozinho e foi viver com um homem cheio da
grana, em Moscou — soriu com desdém. — Já pensou? Uma
mãe deixando seu filho sozinho em uma casa num lugar longe,
apenas o deixando lá para morrer sozinho e com fome
enquanto ela estava cercada de dinheiro? Ela quase me matou
se não fosse pelos meus pais adotivos.
Lucky ficou em silêncio tanto tempo que eu achei que
tinha acabado de contar sobre sua vida difícil e uma mãe
cadela. Embora a minha vida também fosse uma droga,
vivendo com aqueles dois que se diziam serem meus pais.
Graças aos céus que eu cresci, e eles não tinham mais poder
algum sobre mim. Eu limpei minha cabeça, não querendo
pensar nele agora e no que ele tinha acabado de fazer comigo,
quase tirando minha vida.
— Meu filho — Seu tom era de orgulho de novo ao
dizer “meu filho’’. — Eu vou fazer tudo que estiver ao meu
alcance para você ter tudo que um dia eu não tive — Agora
seu tom era de promessa. Eu senti sua mão em meu rosto.
Permaneci parada para ele não descobrir que estava acordada.
— Eu sei que não tenho o direito de pedir seu perdão. Porque
depois que vi a sua foto e do Bryan abraçados, achei que
estivessem juntos, mas porque você nunca me disse que tinha
um irmão mais velho? Então, o que eu teria pensado sobre
tudo aquilo? Eu pensei que tivesse me deixado, igual ela fez
comigo, me deixou para trás somente para eu morrer enquanto
ela se casava com um homem rico. Por favor, volte para mim,
Rosa Vermelha. — Senti seus lábios nos meus.
Então, Lucky viu fotos minha e do Bryan e pensou que
eu estivesse traindo ele com outro cara? Mas como ele podia
pensar isso depois de tantas vezes que eu disse que o amava?
Embora, eu entendesse seu lado desconfiado pela sua mãe tê-
lo deixado, eu nunca o machucaria ou o abandonaria por
ninguém nesse mundo. Isso tudo era minha culpa, por não ter
dito a verdade a ele quando tive a chance, agora, era tarde
demais para chorar pelo leite derramado. Lucky me traiu, pois
achava que eu o estivesse traindo e não porque não me queria
mais, podia sentir seu amor enquanto ele se abria comigo.
Ele colocou o rosto em meu pescoço, e sua voz saiu um
sussurro de dor e tormento.
— Mesmo que você não me queira mais… — senti seu
corpo tremendo com isso —, eu vou passar o resto da minha
vida rastejando aos seus pés e implorando seu perdão, mas,
por favor, me perdoa, porque eu amo você e simplesmente não
posso viver sem você.
Eu prendi a respiração ao ouvir a sua declaração. Eu abri
os olhos e vi seus cabelos castanhos ali, tão perto do meu
rosto. Seu cheiro almiscarado de perfume de lavanda e
lágrimas salgadas banhando minha pele. Esse ser
deslumbrante estava ali, nos meus braços, se abrindo comigo e
revelando o seu amor por mim. Eu sabia que custava muito
para Lucky falar sobre seu passado. Esse mundo estava cheio
de crueldade e maldade, os meus pais também não valiam
nada. Meu pai quase me matou e por isso, eu estava no
hospital com paredes brancas e cercada de aparelhos, também
precisava desabafar com ele e contar a verdade sobre tudo.
Mesmo que isso não pudesse mudar o que ele fez comigo, por
causa da minha mentira.
— Quando eu era criança… — ele se mexeu nos meus
braços assim que ouviu a minha voz, mas coloquei as mãos em
seus cabelos e prendi sua cabeça em meu pescoço. Não queria
perder a coragem. — Só me deixe terminar antes que eu perca
a coragem.
Ele mexeu a cabeça assentindo.
— O Dilan me amava e me protegia da minha mãe, que
jurava que eu era a filha do mal — eu disse com a voz
embargada. — Uma vez, ele me pegou antes que eu caísse de
uma árvore, embora quando completei dez anos, tudo mudou,
ele começou a beber e se transformou em algo que eu não
queria. Aquele cara legal e amoroso foi se tornando um
desalmado e bruto — eu resfoleguei, porque doía pensar sobre
isso. — Eu apanhava dele sempre, apenas se o olhasse já era
motivo para tirar seu cinto e me bater. Isso foi até os quinze
anos… — minha voz falhou e lágrimas desceram.
Lucky se afastou para me fitar, desta vez eu o deixei
fazer isso, já que eu estava sem forças para prendê-lo perto de
mim. Seus olhos verdes estavam atormentados ao ver a dor
nos meus e as lágrimas que desciam pelo meu rosto e
bochecha, mas não disse nada, apenas ficou esperando eu
desabafar, igual ele fez.
— Naquele dia, tinha o baile de primavera da escola, eu
estava muito animada para ir, porque nunca havia ido a um
baile antes, ainda mais andando com um garoto. Um garoto da
escola tinha me convidado para ser seu par — eu ri sem
humor. — Acho que ele foi o único.
— Isso não é verdade — ele discordou com um olhar
intenso e amoroso. — Você é linda!
Eu peguei meu celular na mesinha perto da cadeira da
cama e procurei nas minhas fotos salvas. Eu tinha cabelos
negros, usava óculos e roupas largas.
— Essa era eu quando eu tinha quinze anos. —
Entreguei o celular a ele. — Com óculos de graus e roupas
largas.
Ele pegou o meu celular e fitou a minha foto e depois
sorriu com amor.
— Ainda linda! — Seu tom era de júbilo.
Eu sacudi a cabeça, decidindo não discordar dele,
discutir com Lucky era perda de tempo.
— Eu estava me preparando para ir ao baile, com um
vestido branco e cabelos soltos. — Eu olhava minhas mãos ao
falar. — Foi quando… ele entrou em meu quarto, fedendo a
cachaça, e ficou furioso ao olhar para mim vestida daquele
jeito, parecia um namorado possessivo e ciumento ao invés de
um pai, — Limpei as lágrimas que caíam pela minha
bochecha. — rasgou o vestido no meu corpo, lembro-me de
que nunca senti tanto medo na minha vida igual naquele dia.
seu olhar no meu corpo vestida de roupa íntima… seus
dedos…
Lucky expirou, controlando a raiva, mas eu podia ver a
sua fúria pelo Dilan, acho que seria até capaz de matar o meu
pai, depois, Lucky tocou meu rosto molhado, mas eu senti a
sua mão tremendo.
— Ele de algum jeito tocou em você? — Eu podia ouvir
que a sua voz fervilhava por trás da calma.
Eu neguei com a cabeça.
— Não, ele não chegou a fazer isso, mas eu podia ver
que ele ia… Eu vi nos olhos dele. — Eu me encolhi com a
lembrança. — Mas, graças a Deus, o Bryan chegou e entrou
em meu quarto e viu o que estava acontecendo. Dilan ficou
furioso por ter sido interrompido e disse que se nós dois
contássemos a alguém, ele bateria no Bryan, igual fazia
comigo.
— Então, você não denunciou — Não era uma pergunta.
Ele sabia que eu jamais arriscaria a vida do meu irmão.
— Não, eu não podia deixar que ele batesse no Bryan
também — suspirei. — Quando eu completei dezesseis anos,
ele tentou de novo, mas meu irmão estava lá outra vez, ele não
me deixava sozinha um minuto com ele — eu ri. — Nós
sempre protegemos um ao outro.
— E sua mãe?
Eu ri com desdém.
— Depois desse dia, contei a ela, mas não acreditou e
riu de mim. Então contei a vovó, que ficou furiosa com a
mamãe. Quando cheguei aquele dia em casa, ela me bateu até
cansar. — Ele limpou as minhas lágrimas. — Me chamou de
vagabunda e que eu andava dando para todo mundo da cidade
ao invés de acreditar em mim, que era a sua filha, a sua única
filha mulher. Ela ficou do lado dele. E fora a parte que ela
manchou meu nome pela cidade inteira — expirei, controlando
a dor. — Então fui morar com minha avó até ir para
faculdade. — De repente, olhei para ele assustada. — Minha
avó… como ela está? E Shaw?
— Ei, fique calma — ele pediu assim que viu meu
estado. — Ela e Shaw estão bem, não se preocupe com eles.
Eu suspirei.
— Fico aliviada com isso — falei e depois continuei
meu relato. — Depois que me formei, Bryan foi morar
comigo. — Eu olhei seus olhos verdes e lindos. — Uma vez
você me perguntou por que eu tinha vinte e quatro anos e
ainda era virgem. Bom, eu acho que, de alguma forma,
pensava que havia me tornado os nomes que ela me chamava.
Acho que aí está a minha aversão ao seu dinheiro.
— Nosso — ele me corrigiu.
— Eu achava que se contasse a verdade, você não
acreditaria em mim como ela fez.
— Se você tivesse me contado, teria acreditado em você
— Eu podia ouvir a verdade em cada palavra.
— Eu sei — me encolhi no colchão. — Por isso não
critico você por ter ficado com…
Ele arregalou os olhos estupefatos.
— O quê? Eu não fiquei com nenhuma mulher — jurou.
— Eu nunca trairia você, mesmo pensando que me traiu.
Meus olhos agora estavam com esperança.
— Não ficou? Mas eu vi…
Lucky suspirou agora com uma sombra escura
atravessando suas feições — Aquilo tudo foi eu sendo um
idiota estúpido. — Ele passou as mãos em seu cabelo
bagunçado. — Depois que vi sua foto com o Bryan, o primeiro
pensamento que me veio à cabeça foi que você estava me
traindo com ele, já que, pelas pesquisas que tinha feito de
você, não descobri nada sobre você ter irmãos. O que queria
que eu pensasse com vocês daquele jeito? — Ele pegou a foto
e me deu, era do Bryan beijando a minha testa em frente ao
seu apartamento. — Ele era o cara que você disse que era gay.
Eu olhei para ele.
— Eu não disse que Bryan era gay, apenas disse que eu
não fazia o seu tipo, já que somos irmãos — revirei os olhos.
— Pode acreditar, ele não tem nada de gay, acho que ele é pior
do que o Ryan — sorri meio boba para ele. — Então, você
não ficou com ninguém?
— Não, porque a única pessoa que eu quero é você —
jurou. — Por isso concordei com a ideia do maldito Kevin,
isso é algo que vou me arrepender para sempre. Aquelas fotos
foram armação, igual a sua com Bryan. Tudo armação do
Kevin com a Mary para nos separar.
Eu levantei as sobrancelhas.
— Mary?
— A vagabunda da mulher que diz ser a minha mãe —
soltou uma risada com raiva e asco. — Ele é enteado dela e os
dois eram aliados para me roubar.
Eu arregalei os olhos de choque.
— Eu fico feliz que não tenha feito de verdade o que ele
sugeriu — sorri, pegando a sua camisa preta e puxando para
mim ignorando uma pontada de dor nas costelas. — É bom
saber que o homem por quem eu me apaixonei ainda é só meu.
— Apaixonou? — Ele esboçou um sorriso.
— Claro, porque se eu não fosse apaixonada por você,
jamais teria me casado contigo.
— Eu achando que se casou comigo por causa do meu
charme — sorriu e chegou o rosto bem próximo do meu. —
Eu posso beijá-la? Porque, eu estou doido para fazer isso há
muito tempo.
— Isso depende. — Eu o olhei de um jeito ardente. —
Você não disse a palavra chave.
Ele franziu o cenho.
— Que palavra chave? Você quer que eu peça perdão?
Você quer que eu me ajoelhe aos seus pés, é isso? — Ele já
estava se levantando quando firmei minhas mãos em sua
camisa.
— Não. Você não disse que me ama. — Embora ele
tenha dito enquanto pensava que eu estava apagada.
Ele chegou o seu lindo rosto bem próximo do meu. Tão
perto que podia sentir seu delicioso aroma que eu adorava,
Lucky roçou os lábios nos meus.
— Eu sou loucamente e completamente apaixonado por
você. Eu estou de quatro, cinco e seis por você. Estou de todas
as posições por você — Seu tom era cálido ao dizer tais
palavras.
— Fico feliz em saber disso — sorri, tocando seu rosto
lindo e suas covinhas. — Eu amo você demais.
— Eu também amo você — declarou com fervor e se
afastou, depois me deu um selinho. — Pensar que perdi você é
a coisa mais apavorante do mundo, não quero sentir esse
sentimento novamente como na semana passada.
Eu arfei.
— Quer dizer que estou apagada há uma semana? —
Meu tom saiu alto nas paredes do quarto.
Seus olhos gloriosos estavam mais lindos que o Sol ao
nascer.
— Sim, foi uma semana difícil de suportar… — sua voz
era rouca com a lembrança. — Eu quase morri um bilhão de
mortes ao ver você naquele chão cheia de sangue, mil vezes
pior do que foi com Saul.
Eu estremeci.
— Mas agora estou bem — garanti, não querendo pensar
no que aconteceu. — Estou louca para ir embora daqui.
— Sam, você tem um machucado em suas costelas e
quase perdeu nosso filho com hemorragia. — Ele estremeceu
ao pensar nisso. — Vai levar alguns dias para receber alta.
— Você está bem com a minha gravidez? — perguntei
hesitante. — Eu não sabia que estava, devo ter ficado grávida
com a nossa primeira vez juntos, já que não usamos
camisinha.
— Eu sei. — Ele beijou a minha face. — Mas eu estou
em êxtase ao descobrir que vou me tornar pai de um filho seu.
Eu sorri alegre.
— Fico feliz em ouvir isso — o beijei. — Amo você.
— Também amo você, minha Rosa Vermelha.
Epílogo
Um mês se passou após a minha estadia no hospital,
soube por Bryan que meu pai estava na prisão e se recusou a
ter advogado, disse que merecia estar lá e não merecia ser
absolvido de nada. Eu não sei o que sentia com isso, mas, lá
no fundo, acho que eu ainda o amava, embora não estivesse
pronta para perdoá-lo pelo que fez comigo a minha vida
inteira.
Alguns dias atrás, soube que a minha mãe foi visitá-lo,
mas ele não quis a sua visita, afinal, foi ela quem disse que eu
não era filha dele, e por culpa dela, fez o que fez comigo. Ela
saiu de lá chorando. Bryan me disse que ela queria me ver e
pedir perdão por ter me causado tanto sofrimento.
— Eu não posso perdoá-la, talvez algum dia, quando as
feridas cicatrizarem, mas agora não posso — respondi a ele
assim que estávamos falando sobre o assunto. — Você vai
perdoá-la? — perguntei a ele.
— Não vou perdoar nenhum dos dois nunca. Para mim
eles estão mortos — Esta foi a sua resposta. Depois disso, não
falamos mais sobre isso.
Eu estava há um mês em abstinência por causa da surra
que levei do Dilan, que quase me fez perder o meu bebezinho
dentro do ventre. Perguntei à doutora Sandra se já podia fazer
sexo. Ela me disse que, se eu estivesse me sentindo bem, não
havia problema algum. Lucky contratou uma médica para
tomar conta de mim durante o mês em que estive mal, mas
agora não sentia nenhuma dor, então, podíamos desfrutar um
do outro, algo que eu estava ansiando muito.
Lucky e eu fizemos amor depois de um mês. Fizemos
várias vezes à noite e de manhã, antes de ele sair para o
trabalho. Era seu primeiro dia de trabalho depois que eu saí do
hospital. Eu também tinha uma festa na Fênix. Mesmo tendo
que trabalhar, eu preferia estar com Lucky, porque o fogo que
estava sentindo era fora do normal. A doutora Sandra, a minha
ginecologista e obstetra, disse que as mulheres grávidas
ficavam com mais hormônios, por isso essa vontade de toda
hora fazer sexo. Amei a ideia.
Cheguei à Fênix para o evento que estava sendo
realizado para arrecadar fundos para a instituição. A festa
estava acontecendo em um salão grande e decorado com luzes
florescentes, cercados de flores de várias cores e nomes
diferentes. Rosas vermelhas e brancas, tulipas e outras que não
recordo. Ainda não tinha começado. Localizei Michael e Ana
que, para a minha surpresa, estavam de mãos dadas, fiquei
feliz, pelo menos ele estava seguindo em frente.
Ana usava um vestido preto tomara que caia, bem justo
com suas curvas acentuadas. Michael estava com um terno
preto. Ficou bem com seus cabelos loiros e olhos azuis.
— Oi, pessoal — eu os cumprimentei.
Os dois me olharam com expressões tristes.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa com o evento?
Michael suspirou.
— Lucky ligou e me pediu para demiti-la — ele me
disse com um semblante inexpressível.
Meus olhos se arregalaram.
— Ele fez o quê? — percebi que gritava.
— Acho melhor você conversar com ele, Sam —
Michael disse, ainda calmo. Não parecia ter raiva em seus
olhos igual da outra vez.
— É o que eu vou fazer agora! — rosnei, cerrando os
punhos. E me virei para sair dali e encontrar o causador da
minha raiva, ele que se preparasse. — Depois nós
conversamos.
— Vai dar tudo certo, Sam — assegurou Ana à meia
voz. Pelo tom, parecia que ela escondia algo de mim, porém,
estava com raiva demais para pensar com clareza.
Cheguei à Mercedes e Simon abriu a porta para mim.
Ele era agora meu motorista e guarda-costas para onde eu
fosse. Eu tive uma briga com Lucky por causa disso, mas
acabei cedendo depois que disse que pessoas podiam me usar
para chegar até ele. Ainda mais que agora eu não estava
sozinha, tinha um ser pequenino crescendo dentro de mim, por
isso me rendi.
— Para onde, senhora Donovan? — perguntou.
— Para a Ônix — respondi com raiva. Não dele é claro,
mas do Lucky.
Cheguei ao escritório, pisando alto e vendo brasa na
minha frente de tanta raiva.
— Você não pode entrar na sala, o senhor Donovan está
em uma reunião — disse a Suzanny, entrando na minha frente.
Ela era a garota que apareceu nas fotos há um mês, armando
que estavam juntos.
Eu a fuzilei com uma ira tremenda capaz de matar
alguém, pois já não estava boa com ela antes, imagina depois
do que houve? Eu levantei a mão e desci uma bofetada nela
que sua cabeça chegou a girar.
— Saia da minha frente — rosnei. — Esse tapa é por ter
se submetido a posar para fotos com meu marido.
Ela segurou o rosto vermelho e riu com desdém. A
serpente mostrando as garras. Mas agora eu também era uma
serpente.
— Marido? Você o traiu, sua vadia — guinchou ela.
— Na verdade, não o traí, porque aquele cara da foto é
meu irmão — Minha voz era seca. — E você estará despedida
antes que termine o dia, sua vagabunda.
— Eu vou acabar com você — rosnou ela e veio para
cima de mim, mas o Simon a pegou levando-a para longe de
mim.
— O chefe disse para ninguém a tocar.
Isso me fez ver fogo ainda mais. Ignorei os dois e entrei
na mesma sala que entrei um dia para xingá-lo. Isso era meio
irônico, porque agora eu vinha para fazer a mesma coisa.
Assim que a porta foi aberta, eu ouvi a voz furiosa dele.
— Quem ousa interromper essa reunião… — a sua voz
mortal sumiu assim que me viu ali com raiva. Ele passou os
olhos na Suzanny e Simon perto da porta e por fim pousaram
em mim. — O que está acontecendo, Sam?
Eu cheguei à mesa que nos separava e bati as mãos. E
rugi, ignorando os olhares de todos os supervisores da
empresa.
— O que foi? Você ainda tem a audácia de perguntar? —
esbravejei. — Você não tem o direito de se meter na minha
vida.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Você já sabe…
— Mas é claro que eu sei — rugi. — Como ousa dizer
ao meu chefe para me demitir? — eu gritava, tremendo de
raiva. — Você não pode fazer isso só porque tem o poder nas
mãos.
— É claro que posso — Seu tom deixava bem claro isso.
— Você é minha esposa e não quero você trabalhando lá.
— Você não quer? — expirei me controlando. — E onde
eu vou trabalhar, então?
— Você não precisa…
Eu o interrompi.
— Não é porque, me casei com você que vou ficar em
casa, gastando seu dinheiro — suspirei. — Eu sempre
trabalhei e vou continuar assim, querendo você ou não.
— É um desafio? — perguntou, incrédulo.
— Não, mas eu não vou ficar em casa comendo à custa
de um homem…
Ele me interrompeu.
— Seu marido, pela lei dos homens e de Deus.
Eu expirei me controlando.
— Claro, mas o que quero dizer é: eu preciso trabalhar,
não só pelo dinheiro, mas também porque amo meu trabalho.
Ele assentiu depois de um minuto.
— Você quer um trabalho, não é?
— Sim — eu o fuzilava. — De preferência um que você
não se meta.
— Você não quer que eu seja o seu chefe? — Seu tom
era ultrajado. — Você já trabalhou aqui.
— Não estou falando disso, apenas estou dizendo que
quero trabalhar em um lugar onde você não se meta por ser o
meu marido, ou porque tem dinheiro.
Ele se recostou na cadeira e suspirou.
— Certo, eu não vou me meter.
— Sério? — interrompi chocada, achando que tivesse
ganhado a batalha facilmente. — Posso voltar para o meu
trabalho sem ter medo que você feche o lugar?
— Não. — Ele sacudiu a cabeça.
— Fale de uma vez, não estou com paciência — rosnei.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— O que vai fazer se perder a paciência?
— Lucky! — Eu expirava ou voava no pescoço dele.
— Tudo bem, você vai trabalhar na Vênus de volta.
Eu franzi a testa.
— Você ouviu o que eu disse? Eu não vou trabalhar
aonde você manda…
Ele me cortou.
— A Vênus não é mais minha. — Sua postura era
relaxada.
— Não? Você a vendeu?
Ele negou com a cabeça.
— Não, eu não vendi a minha empresa, eu apenas dei de
presente.
Meus olhos pareciam saltar das órbitas. Eu nunca
imaginei que ele fosse tão nobre ou altruísta ao dar uma
empresa milionária a alguém.
— Oh! — varri os olhos ao redor para os homens que ali
se encontravam de terno e gravata. Todos me encarando
incrédulos também. — Para algum deles?
Lucky revirou os olhos para hipérbole.
— Eu jamais daria a minha empresa, que é a minha vida,
a um funcionário — retrucou.
— Então, para quem… — eu me interrompi com um
assombro, e ao encarar aqueles olhos verdes intensos,
brilhantes e excitados com expectativa, pude confirmar minhas
suspeitas. — Você não fez isso!
Ele sorriu como uma criança ao ganhar seu presente
preferido.
— Meus parabéns, você é a nova dona da Vênus — Seu
tom era calmo e excitado.
Eu ofeguei de pavor e pesar, uma mistura não muito boa.
— Você não fez isso! — repeti, eu acho que tão alto que
dava para ouvir lá de baixo. — Você é doido?
Ele franziu a testa.
— Eu estou completamente são. Agora pouco, quando
eu disse que tinha dado a minha empresa, você não deu esse
chilique, mas agora, quando soube que era para você, está
assim? — Ele gesticulou para mim com um ar confuso.
— É diferente…
Ele me interrompeu.
— Diferente como? Me explique como é diferente entre
eu dar um presente a minha esposa ou a um funcionário? —
Seu tom era de ultraje.
— Presente é uma joia ou flores e não uma empresa de
milhões — gritei.
— Bilhões — corrigiu ele, calmo.
Eu expirava para me controlar. Peguei um copo que
tinha uma bebida branca dentro, não sabia o que era, mas essa
serviria para me controlar um pouco. Mas antes que eu
colocasse na boca, Lucky a tomou da minha mão.
Eu o fitei feroz.
— O que foi?
— Você não pode beber, se esqueceu? — me lembrou de
que estava grávida.
Suspirei e olhei ao redor.
— Vocês se importariam de nos deixar a sós um minuto?
Eu preciso ter uma conversa com esse… — fulminei o Lucky
e cerrei os dentes — senhor.
Todos olharam para ele de braços cruzados, como se
buscassem sua permissão.
— Ela manda — respondeu sem tirar os olhos de mim.
— Não estou mandando, estou pedindo, por favor —
declarei a todos.
Os empresários se levantaram e saíram, apenas um ficou
por último, era moreno e usava terno, parecia ter uns quarenta
anos mais ou menos, sorriu para mim.
— Você pediu, por favor? — ele parecia impressionado.
— É claro que pedi — sorri. — Afinal, sou educada.
Ele sorriu para o Lucky.
— Devia aprender com ela, Lucky — Seu tom parecia
não ter medo da fúria do Lucky.
— Vá embora, Mike — rosnou ele.
— Você não pode fazer isso — falei assim que todos
saíram.
— É claro que posso, porque eu sou o dono — replicou.
— Isso é loucura, não vou saber administrar essa
empresa — reclamei, me jogando no sofá e fitando ele de pé
com um sorriso sexy.
— Você não sabe o tanto de pensamentos quentes que
estou tendo com você nesse sofá — Seu olhar era cálido.
Eu apertei as minhas pernas para segurar o desejo que
estava ali.
— Lucky, estou falando sério.
— Eu também. — Ele chegou próximo de mim,
ajoelhou-se à minha frente e colocou os dedos nos meus
joelhos, abrindo as minhas pernas.
— Lucky, nós estamos na sala de reunião — protestei
sem forças.
Ele sorriu travesso.
— Oh, eu sei. — Seus dedos seguiam pelas minhas
coxas.
— O que os outros vão pensar? — Minha voz era fraca
ao sentir as suas carícias.
— Eles estão aqui para trabalhar e não para pensar —
retrucou. — Afinal, eu sou o dono.
— Não é porque é o dono que tem que dar mal exemplo
— rebati. E peguei a suas mãos das minhas pernas. — Por
mais que eu queira, a resposta é não. Estou aqui tratando de
coisas sérias e você fica levando para esse lado?
Ele suspirou e sentou ao meu lado.
— Eu quero que você aceite esse presente, porque estou
dando, querendo você ou não. — Seus olhos agora eram
suplicantes. — Por favor, aceita?
Eu suspirei também depois de um longo minuto de
silêncio.
— Tudo bem, eu aceito — Não tinha como lutar contra o
Lucky, era como lutar contra uma onda gigante.
— Sério? — Seu sorriso agora era esplêndido.
— Sim, mas com duas condições.
Seu lindo sorriso continuava ali.
— Quais?
— Primeiro: quem manda as pessoas embora? Tipo…
demiti-las.
Ele estreitou os olhos.
— Calebe do RH, mas ele só faz isso quando eu mando
fazer.
— Ótimo, já que você gosta tanto de se meter no meu
trabalho, eu quero que você demita essas pessoas. — Eu
peguei o papel na minha bolsa azul que combinava com meu
vestido azul de cashmere. Entreguei o papel cheio de nomes de
mulheres que ele já havia ficado.
Ele pegou o papel e leu os nomes que estavam escrito
dos dois lados, tentei não ficar com raiva por causa disso,
afinal, esse era o seu passado. Isso era só algumas dali, ainda
havia mais que não trabalhavam ali.
— Você quer que eu demita todas elas? — Ele me
avaliava.
— Sim, incluindo a sua secretária, que, por sinal, tem
uma queda por você — Eu tentei não ficar com raiva por isso.
— Eu já tinha feito isso assim que cheguei aqui, afinal,
nenhuma boa mulher se submeteria ao que ela aceitou — ele
me disse — Mas e as outras? Por quê?
— Porque, se eu trabalhar aqui, não quero ficar olhando
para essas mulheres e imaginar que elas já ficaram com meu
marido ou que já ficaram em cada canto dessa empresa…
Ele me cortou.
— Eu não fiquei com nenhuma mulher dentro da minha
empresa, jamais faria isso — ele sorriu torto. — Foi apenas
você na minha sala.
— Lembra quando me conheceu e me chamou para
transar em seu escritório? E você mal me conhecia.
— Pode ser, mas você sempre foi diferente, assim como
aqui e na minha casa, eu apenas a queria. — Ele beijou a
minha mão. — Agora tenho você só para mim.
Eu revirei os olhos.
— Como conseguiu esses nomes? Sendo que nem eu
sabia?
— Quando eu soube do golpe do Kevin, eu sabia que ele
estava aliado com uma mulher — falei.
Os advogados de Lucky colocaram Kevin e ela na
cadeia. Acredito que ficariam lá um bom tempo. Ele também
conseguiu seu dinheiro de volta. Lucky foi ao julgamento dela
e a detonou, não pude ir, já que estava acamada pela surra que
levei do meu pai, mas quando ele chegou, percebi que estava
sofrendo por tê-la enfrentado. Eu não disse nada, apenas o
abracei e o beijei, mostrando meu amor e que ele não estava
sozinho.
— Eu não estou falando de sua mãe, mas sim de uma
pessoa aqui da empresa — eu disse. — Bryan fez o dossiê
sobre as mulheres que você já ficou, e que trabalham aqui. —
Eu fiz uma careta. — Mas fiquei espantada com a lista de
mulheres que você ficou, acho que daria uma biografia: “A
vida secreta de Lucky Donovan.’’
— Eu sinto muito que o meu passado a magoe —
murmurou com um olhar injetado. — Talvez, se eu tivesse tido
uma vida diferente, não teria feito o que fiz.
— Não estou acusando o seu passado, Lucky, não tenho
esse direito — sussurrei. — O que eu quero dizer é que não
quero você perto delas — olhei de lado para ele. — Eu sei que
você pode mexer os pauzinhos, pois tenho certeza que você
adora fazer isso e fazer com que nenhuma delas fique
desempregada. Afinal, não sou nenhuma víbora.
— Tudo bem — ele assentiu. — Eu vou fazer isso. —
Ele beijou meu rosto. — Tudo para ver a minha esposa feliz.
— Obrigada.
— E o segundo?
Eu afastei o rosto do dele para fitá-lo.
— Eu quero que você dê feriados a todos que trabalham
para você quando tiver feriado, porque todos têm família e
precisam passar ao lado delas, assim como eu preciso passar
ao lado do meu marido lindo e gostoso. — Eu me sentei em
seu colo.
Ele me apertou em seus braços e beijou meu pescoço.
— Então, eu sou gostoso, hein? — Ele mordiscou a
minha orelha direita.
— Lucky, estamos em seu horário de trabalho —
critiquei sem fôlego com seu toque. — E você tem que voltar
para sua reunião.
— Não tem mais reunião — declarou, beijando a minha
pele.
— Você não pode fazer isso…
— É claro que posso. — Seus lábios saíram no meu
pescoço e foram para minha boca. — Eu sou o dono, então,
posso fazer tudo.
— Lucky, estou falando sério. — Tentei me levantar,
mas ele apenas me colocou com delicadeza deitada no sofá
grande e confortável e pairou sobre mim. — Lucky, alguém
pode entrar aqui.
Ele me ignorou e suspendeu meu vestido até o pescoço,
deixando-me nua, apenas de calcinha. Seus olhos vagaram
pelo meu corpo. Lucky estava sentado em cima dos meus
quadris, mas sem colocar peso, embora eu pudesse sentir a sua
ereção ali, isso só incendiou ainda mais meus hormônios
incontroláveis por ele.
— Lucky… — eu gemia —, alguém — ofeguei quando
ele colocou as mãos nos meus seios e apertou-os
delicadamente.
— Ninguém vai entrar aqui. — Ele olhava meus seios
com desejo faminto. — Acha que já tem leite?
— Ainda não — respondi ofegante. — Mas alguém
pode entrar e me ver assim.
Ele varreu os olhos em meu corpo e suspirou pegando o
seu telefone e ligou para quem? Eu não sei.
— Simon, não deixe ninguém entrar na sala de reunião
ou a sua cabeça estará a prêmio. — Ele desligou, deixou o
telefone cair e sorriu olhando meu corpo com desejo. —
Ninguém mais pode ver essa obra-prima, apenas eu.
A sua boca cobriu a minha com uma fome exasperada,
assim como eu estava. Depois, ele desceu para os meus seios e
chupou com força e eu gritei de volúpia, abri as pernas em um
convite silencioso.
— Isso mesmo, querida, abra as pernas para mim —
sussurrou, chupando meu outro seio duro. — Eles são
saborosos, sortudo do meu filho quando nascer.
Eu peguei a sua camisa e desabotoei, tirando ela e sua
gravata, a jogando-as no chão. Apreciei a bela vista de seu
bíceps definido. Ele esfregou a sua ereção já grande e pronta
em mim e soltei um gritinho, me recomponto a seguir por
saber que não poderia.
— Pode gritar o quanto quiser — Lucky pareceu ler a
minha mente. — Aqui é a prova de som. Grita, pois eu quero
ouvir você chamando meu nome. — Ele pegou a minha
calcinha e rasgou em um puxão. Eu estava prestes a protestar
quando ele enfiou dois dedos dentro de mim, e gritei apenas
com um súbito prazer, chupando meus seios enquanto mexia
os dedos dentro de mim.
Eu deixei o corpo arqueado, procurando mais o dele,
acho que o meu grito o prédio inteiro ouviu, isso se aqui não
fosse à prova de som, gozei intensamente.
— Isso, bebê. — Ele tirou os dedos de mim e abaixou as
suas calças e logo estava no céu. Agora não precisávamos
mais de camisinha, assim, eu podia sentir ainda mais a sua
quentura. Isso me levou à loucura.
— Eu gosto de ouvir você gritar no seu êxtase. — Lucky
estava ofegante. — Esse é um som que quero que ninguém
nunca ouça.
— Ah! — eu gritei de novo para o seu prazer e logo
chegamos ao clímax juntos. Eu fiquei o que pareceu um longo
tempo mole no sofá. Ele saiu de dentro de mim, arrumou as
calças e foi até o banheiro se limpar, logo voltou com um pano
molhado.
— Abra as pernas — pediu.
Eu olhei para ele corando.
— O que vai fazer?
— Limpar a minha querida esposa — ele chegou até
mim e abriu as minhas pernas e as limpou.
Depois que ele retornou ao banheiro, me sentei no sofá e
abaixei o vestido.
— Você me deixou sem calcinha — acusei assim que ele
saiu do banheiro. Ele colocou a camisa e sua gravata de volta,
me olhou e me deu um sorriso travesso.
— Ninguém vai saber que você está sem calcinha,
apenas eu — Seu tom era malicioso.
— Muito refrescante. — Eu me levantei, peguei a
calcinha e joguei-a no lixo. — Acho que a mulher da limpeza
vai ter uma surpresa ao ver isso.
Ele chegou perto de mim e arrumou meus cabelos que
deviam estar amassados do pós-sexo quente no sofá, depois
beijou meus lábios.
— Ela vai pensar que eu estava fazendo amor com a
minha linda esposa — sussurrou com ardor.
Eu me afastei dos seus lábios sem querer.
— Acho melhor parar de me beijar ou vamos parar
naquele sofá de novo.
Ele franziu a testa.
— Ainda está com vontade?
Eu encolhi os ombros.
— Eu não sei, mas essa gravidez está me matando de
prazer, tenho vontade quase toda hora — escondi meu rosto no
peito dele. — À noite, quando acordo e fico olhando você
dormir…
Ele me afastou e me olhou.
— Por que não me acordou? Eu teria adorado realizar
essa vontade com o maior prazer.
Eu suspirei.
— Eu não queria incomodá-lo, entendo que já ficamos
um mês sem sexo, mas a doutora Sandra disse que a gravidez
aumenta meus hormônios e pode causar essa vontade,
chegando a doer se eu não fizer sexo.
— Pois de agora em diante, você vai me procurar a todo
o momento que estiver com vontade — Sua voz era séria.
Eu sacudi a cabeça.
— Mas não posso — eu disse a ele. — Você tem que
trabalhar e não vamos ficar assim de novo. — Apontei para o
sofá. — Se você cobra algo de seus funcionários, então tem
que dar exemplo e sem essa de que é o dono.
— A que horas esse desejo vem a você? — Ele parecia
sinceramente preocupado com isso.
— De manhã, quando acordo, nove horas, na hora do
almoço, três horas e à noite. Também quando acordo de noite
com um desejo esmagador por você — sussurrei.
Ele beijou meu rosto vermelho.
— Vou providenciar para realizar essas vontades, não se
preocupe — Isso foi uma promessa.
Eu sacudi a cabeça.
— Você não pode realizar todos os meus desejos a todo
o momento, eu posso aguentar até à noite.
— Nada disso — discordou. — A minha Rosa Vermelha
vai ter tudo o que deseja. — Ele sorriu com malícia. — Eu vou
adorar fazer isso. Mas agora vamos que eu vou te apresentar a
Vênus. Afinal, eu só tenho três horas.
Eu ergui as sobrancelhas. Agora era meio dia, não sei o
que ele faria daqui a três horas, talvez fosse ter outra reunião.
— O que vai acontecer daqui a três horas?
Ele encostou os lábios em meu ouvido, e sussurrou.
— Vamos ter a segunda rodada, minha esposa linda.
Eu ri.
— Você vai fazer isso ao pé da letra, não é?
— Oh, sim. E vou amar cada parte disso.
Ele me levou até a Vênus, onde seria minha sala agora,
tentei não pensar no peso disso. A sala ficava no último andar
do prédio, conheci algumas pessoas legais quando havia
trabalhado por ali. Quando cheguei à recepção da minha nova
sala, me deparei com a minha secretária, era morena e parecia
ter uns vinte e cinco anos mais ou menos, seus cabelos negros
eram grandes, mas estavam presos em um rabo de cavalo.
— Jully — Lucky nos apresentou. — Esta é minha
esposa, Samantha Donovan.
— Você é casada. — Não era uma pergunta, pois podia
ver a aliança em seu dedo.
— Sim, há cinco anos — respondeu ela meio nervosa.
— Oh, agora entendo. — Ela era casada por isso não
estava na lista dele. Lucky estava com as sobrancelhas
erguidas, mas não disse nada.
— Por quê? — perguntou ela confusa. — Eu vou ser
demitida?
— É claro que não! — sorri para tranquilizá-la.
— Eu vou levar a senhora Donovan para conhecer o
escritório da gerência, que agora é dela. E de agora em diante,
só a chame de senhora Donovan, entendeu? — ele falou de um
jeito meio rude com a Jully.
Eu fiz uma careta, mas não disse nada, sei que Lucky
iria reclamar de alguma coisa ou não me chamo Samantha
Donovan. Este sobrenome ainda me dava arrepios, mas era o
preço por tê-lo comigo.
— Sim, senhor — disse ela depressa e me olhou. —
Desculpe, senhora.
Eu suspirei.
— Não tem problema — sorri. — Mas pode chamar a
Sasha e dizer para ela vir aqui no escritório do Lucky?
— Seu escritório, não meu — ele corrigiu, passando o
braço em minha cintura.
— Eu sei. — Eu olhei para Jully. — Mas você vai dize-
la que o Lucky quer falar com ela.
— Eu? — indagou ele sem entender.
Eu o ignorei.
— Apenas diga isso a ela, está bem? — pedi. — E não
diga que eu estou aqui, por favor.
Ela assentiu ainda confusa.
— Sim, senhora, eu o farei — garantiu.
Lucky me levou à sala imensa, acho que uns nove
metros de largura por dez de comprimento. As paredes eram
de cor creme, bem, onde tinha parede, porque ela era cheia de
vidro, de cima a baixo e com vista bela para Manhattan.
— UAU!
— Gostou? — Ele me olhou preocupado. — Se não
gostou, podemos reformar ela para você.
Eu assenti.
— Ela é linda, mas falta colocar alguma vida aqui —
anunciei, animada com a ideia. — Irei adorar transformar aqui
em um ambiente alegre.
— Que bom. — Ele me abraçou e beijou o meu pescoço,
o fogo reacendeu de novo, tão forte como um vulcão. —
Adoro ver esse sorriso lindo em seus lábios. Essa boca linda!
Quase me mata só de olhar.
— Ah… eu sei de algo que me deixaria completamente
feliz. — Eu virei e apertei meus quadris contra o dele. —
Preparado para a segunda rodada?
Seus olhos brilharam. Não havia passado nem vinte
minutos que nós dois ficamos em sua sala de reunião. Meus
hormônios estavam à flor da pele.
— Oh, com maior prazer, meu amor — respondeu indo
me beijar, mas fomos interrompidos com o interfone
chamando. — Maldita hora de tocar.
Eu sorri.
— Vamos fazer depois —declarei, afastando-me dele e
depois suspirei, atendendo ao telefone que estava em cima da
mesa de vidro. — Sim?
— Senhor Lucky, a senhorita Muller está aqui —
anunciou Jully meio nervosa.
Eu percebi que ela me chamou de Lucky, isso quer dizer
que ela não deu a entender que eu estava aqui. Já gostei dela
logo de cara.
— Espere um minuto e mande-a entrar — pedi e
desliguei, e fitei o Lucky.
— Por que você quer falar com a Sasha?
Eu suspirei.
— Lembra agora a pouco que disse que o Kevin estava
aliado a uma mulher sem ser a sua mãe?
Ele arregalou os olhos.
— Não vai me dizer que é a Sasha? — Seu tom agora
era de raiva.
— Sim, foi ela o tempo todo — respondi, observando
sua reação.
— Eu não acredito que ela fez isso comigo.
Eu estreitei meus olhos.
— Por que não? Veja o que ela disse para o Shaw, uma
criança. Céus, quando vai deixar de ser cego? — rosnei,
afastando-me para longe dele.
— O quê? — ele interrompeu, vendo as lágrimas em
meus olhos. — Sam…
O que mais me doía era que quando ele devia ter
acreditado em mim, não confiou, mas agora ele acreditava
nessa víbora peçonhenta, expirei, controlando a dor.
— Vá se esconder no banheiro e você vai saber de tudo.
— Apontei para uma porta de madeira que ficava ao lado da
mesa.
— Sam, não foi isso que eu disse. — Ele deu um passo
para mim, mas me afastei não querendo seu toque agora. A dor
apareceu em seus olhos, foi como se eu lhe tivesse batido,
porém, também estava doendo em mim a sua falta de
confiança.
— Apenas faça o que eu pedi, por favor — falei
limpando as lágrimas.
— Eu não vou, até dizer que acredita em mim. — Ele
pegou meu rosto nas mãos e me fitou. — Sei que errei por não
acreditar em você, mesmo vendo as fotos, mas saiba que de
agora em diante eu vou sempre confiar, porque você é a
mulher da minha vida e mãe dos meus filhos. Desse aqui… —
ele colocou a mão na minha barriga —, e do Shaw. Por favor,
diga que acredita em mim.
— Sim — sussurrei em meio ao choro. — Não liga para
as lágrimas, acho que faz parte da gravidez. Desculpe-me por
estar sensível.
— Tudo bem, meu amor. — Ele beijou meus lábios e foi
se esconder no banheiro. Limpei meu rosto e me controlei para
receber a traidora.
Ela bateu na porta e entrou, mas devo admitir que gostei
do choque em seu rosto ao me ver ali ao invez de Lucky. Ela
estava com um terno preto e com dois botões abertos, aposto
que fez isso para ele. Vagabunda de uma figa, nem respeitava
homem casado.
— Cadê o Lucky? — Seu tom era seco.
— Isso não é da sua conta, Sasha — respondi friamente.
Ela olhou ao redor, como se procurasse por ele, invisível
em algum lugar, depois que viu que eu estava sozinha, a sua
máscara caiu. Ela sorriu como uma leoa.
— Eu soube que voltou para o Lucky, — ela desdenhou.
— tento imaginar o que ele viu em você? Uma caipira sem
graça e morta de fome.
Eu ri com desdém.
— Olha quem fala — critiquei. — Uma mulher que foi
criada em um orfanato até os dez anos — Eu não gostava de
descer tão baixo, mas não deixaria Sasha me humilhar.
— Sua vagabunda. — Ela foi me bater, mas eu me
defendi, dando um empurrão que ela quase caiu de seu salto
Louboutin.
— Nunca mais pense em me bater ou eu acabo com esse
rosto, — rosnei. — ao menos, nunca fui para cama com caras
aleatórios.
— Eu transo com quem eu quiser — grunhiu, arrumando
os cabelos.
— Nisso concordo com você. Mas o que não entendo é
por que você traiu o Lucky? Ele arrumou para você vir
trabalhar nessa empresa, e você foi roubar justamente dele,
para o Kevin?
Ela piscou.
— Você não sabe do que está falando — sibilou, mas
senti a sua voz tremendo.
Eu ri provocante.
— Eu vi vocês dois se pegando em sua sala, se
esqueceu?
Ela riu.
— Estávamos apenas aproveitando um ao outro —
retrucou. — Isso não prova nada.
— Você é uma vadia safada — cerrei os dentes. —
Bryan fez um dossiê seu e descobrimos as transferências da
Vênus para sua conta. Está lembrada disso?
Ela ficou tão branca como a neve. O sangue fugindo de
seu rosto.
— Você está mentindo. — Ela deu um passo até mim,
acho que querendo me bater, mas não conseguia.
— Oh, não estou e você sabe disso — a encarei
friamente. — Você sabe o que Lucky vai fazer quando souber?
Ele vai te mandar para cadeia, onde está a mãe dele e o Kevin.
— Lucky não vai me prender — Seu tom era
provocativo. — Além disso, aonde você acha que ele buscou
conselho quando viu as suas fotos com aquele cara? Eu disse
que você o traia desde o começo.
— Sua descarada — rugi. — Eu nunca traí o Lucky.
Ela riu com desdém.
— Mas ele traiu você — Ela sorria como um gato.
Meu coração deu um solavanco tão grande que achei que
morreria.
— Você está mentindo — retruquei, mas pareceu um
lamento. — Lucky não fez isso.
— Lembra-se das fotos? Aquilo realmente aconteceu.
— Não… — minha voz falhou com uma dor forte. —
Ele me garantiu que não tocou nela.
— E acredita nele? — Ela arqueou as sobrancelhas bem
feitas. — Você acha que ele mudaria por você?
Eu não respondi, porque a dor que se apossou em mim
era tremenda, achei que morreria, se por acaso abrisse a minha
boca gritaria ou choraria,não iria fazer nenhuma das duas
coisas, portanto, só fiquei ali, controlando-me. Eu senti uma
pontada em minha barriga, precisava ficar calma, pois a
médica disse que não poderia ficar nervosa, mas assim era
difícil, com tudo que estava acontecendo. Será que era
verdade? Será que ele mentiu para mim?
— É claro que eu mudei por ela — assegurou Lucky,
saindo do banheiro e a fuzilando com frieza e depois para
mim, com uma expressão preocupada a me ver com a mão na
barriga. Ele correu para mim e me abraçou forte, tentei afastá-
lo, mas não deixou, apenas me abraçou mais forte.
— Eu juro, Sam, pelo que mais amo no mundo. — Ele
se afastou e me fitou com intensidade. — Eu não toquei em
nenhuma outra mulher depois que conheci você. — Ele beijou
as minhas lágrimas. — Por favor, acredite em mim, eu amo
você e só você.
Eu fechei os olhos por um breve segundo, sentindo seu
toque de esplendor em minha pele, podia ver a sinceridade
vindo dele e meu coração se aliviou com isso e a dor
desapareceu por completo, passei os braços em sua cintura e
inspirei seu cheiro inebriante.
— Confio em você — sussurrei. — Sempre.
Ele assentiu e me avaliou.
— Você está bem? — perguntou preocupado.
— Agora estou — garanti e fulminei Sasha. — Eu não
acredito em nada que sai da sua boca.
Sasha olhava com pânico para Lucky.
— Eu posso explicar — ela começou sua ladainha. —
Eu só fui para cama com ele…
Lucky a cortou.
— Não me interessa com quem você foi para cama. O
que me faz ficar furioso é que você traiu a minha confiança,
assim como Kevin — Seu tom era frio e mortal. — Céus,
estava cercado de víboras e não sabia?
— Eu sei que não é desculpa, mas eu fiz isso por você.
Lucky riu com desdém.
— Por mim? — Seu tom era ultrajado. — Você fez
armação, não só uma, mas duas vezes para me separar da
mulher da minha vida, e, além disso, ainda me roubou? Acha
que isso é por mim?
Ela ficou ali, parada observando a frieza e o desdém do
Lucky.
— Eu sabia que essa…, — ela me fulminou com raiva e
ódio — eu tinha certeza que ela iria roubar tudo de você —
Sasha disse ao Lucky. — Eu não queria que você ficasse
pobre, por isso fiz o que fiz, mas saiba que tinha a intenção de
devolver tudo a você.
Agora, Lucky gargalhou com asco.
— Você só pode estar zoando com a minha cara, porra
— Seu tom era um rugido felino.
— Eu sempre fui completamente apaixonada por você,
— Ela riu com lágrimas descendo pelo rosto. — mas você
nunca quis ficar comigo, pois ficava com todas as outras
mulheres.
Eu senti o meu coração parar com o rumo da conversa.
Eu sabia que era por isso que Sasha era assim, pois sempre
soube que gostava do Lucky, não era à toa que sempre me
odiou.
— Você só pode estar louca que um dia eu a foderia —
ele rosnou — Eu confiava em você mais do que um
funcionário, e sim uma amiga, mas você me traiu.
Eu me encolhi ao pensar nele ficando com outra, mesmo
que fosse no seu passado. Mesmo assim, eu não queria ouvir
essa história dele com as suas ex. Suspirei e Lucky me olhou
preocupado.
— Eu vou dar uma volta por aí — falei, afastando-me
dele. — Enquanto isso, você resolve esse problema.
— Problemas? Nós tivemos depois que você entrou em
nossas vidas, vadia — grunhiu.
— Não fala mal da minha esposa — sibilou Lucky entre
dentes.
— Você é um frouxo por fazer tudo que essa desgraçada
quer — rebateu. — Não está vendo que ela manipulou você?
— Ela pode fazer qualquer coisa comigo. — Ele sorriu
para mim com um prazer quente nos olhos. — Eu sou seu para
sempre. — Depois, seus olhos agora frios pousaram em Sasha.
— Quando você disse aquelas coisas sobre Shaw e também
me separou da Sam, relevei por amizade aos seus pais e por
meus pais adotivos, mas, com o que você fez, eu não posso e
não vou tolerar isso. Você não fará mais parte de nada que
envolva a minha vida.
— Não pode me tirar da sua vida — ela começou a
suplicar. — E se eu pedir desculpas e implorar?
— Não fará diferença, porque quem me trai uma vez,
não há retorno — Seu tom era mortalmente frio.
— Mas você a perdoou pelo que ela fez. — Ela apontou
o queixo com asco para mim.
Eu estava prestes a revidar, mas o Lucky falou antes.
— Sam nunca me traiu. Aquele cara da foto é irmão dela
e não outra coisa, então, pare de dizer besteiras — rosnou
feroz. — De hoje em diante, você vai ser acusada de ser
cúmplice do Kevin e arcará com as consequências.
Ela arregalou os olhos para ele.
— Eu não posso ir para cadeia.
— Pensasse nisso antes de me trair e roubar o que é
meu. Agora é tarde para arrependimentos — Pelo seu tom, não
havia volta nem perdão. Ainda bem que era amiga dele e não
inimiga.
— Eu sou a gerente administrativa dessa empresa e sou
quem a deixa no lugar, então não pode me demitir. — Seus
lábios tremeram.
— Você tem razão — concordou Lucky. — Eu não
posso.
Meu coração ficou em frangalhos, pois depois de tudo,
ele ainda ia acreditar nela? Por que ele não acordava logo?
Maldita desgraçada, a minha vontade era de matá-la.
— Então, vai me deixar ficar? — Não parecia haver
esperança em sua voz. — Eu prometo nunca mais fazer isso.
Eu me encolhi e olhei para a janela lá fora, para a imensa
vista. Bom, agora Lucky ia ter que escolher, pois se essa
vagabunda e ladra ficasse ali, então eu não ficaria com essa
empresa, não havia nada nesse mundo que me fizesse ficar
trabalhando no mesmo lugar que essa mulher.
Lucky ficou preocupado observando minha reação.
— Meu amor, a empresa é sua — ele me disse
tranquilamente. — Cabe a você tomar essa decisão.
— Mas você vai perdê-la já que disse que são amigos e
confiava nela — murmurei.
— Ela não é minha para eu perdê-la. — Ele beijou meus
lábios. — Você é. A minha esposa linda e mãe do meu filho.
Eu ouvi o ofegar da Sasha.
— Você engravidou somente para prendê-lo, não é? —
rugiu para mim e depois olhou para ele. — Não está vendo?
Ela é uma golpista, Lucky.
Eu a fuzilei.
— Eu não engravidei para segurá-lo — rosnei, mas, de
repente, me senti preocupada de que o Lucky desse ouvidos
para ela. — Eu juro, Lucky, eu jamais faria isso.
Ele beijou meus lábios de novo e depois sorriu.
— Eu sei que não, mas adorei saber que serei pai — Seu
tom era de orgulho. — O meu herdeiro.
— Eu desisto — arrulhou Sasha, quase encolhida.
Nós dois olhamos para ela.
— O quê? — Meu tom saiu alto de choque.
— Você realmente a ama — Não era uma pergunta. —
Você já teve milhares de mulheres, mas nunca beijou nenhuma
delas, nem quando transava.
— Posso saber como sabe sobre isso já que nunca
transamos?
Ela riu sem vontade.
— Tenho minhas fontes. As mulheres sempre diziam
que você era bom de cama, mas que apenas tinha um defeito,
que não colocava a boca nelas e nem as beijava — murmurou.
— Porque nenhuma delas teve nenhuma importância
para mim, mas a Sam sim. — Ele fitava minha boca e meus
olhos. — Essa boca é tudo que um dia eu ansiei. Você foi a
única e sempre vai ser — Ele pareceu falar isso para
tranquilizar o meu coração, que estava angustiado ao ouvir
sobre as suas conquistas, mas ouvir essa declaração da boca
dele fez me sentir melhor.
Eu sorri torto.
— Obrigada — agradeci a ele e a fulminei. — Você está
demitida. Você não fará mais parte desta empresa de agora em
diante.
— Você não pode fazer isso.
Eu levantei o queixo.
— É claro que posso, como Lucky disse, agora esta
empresa é minha, então posso fazer tudo — Meu tom era
gelado. — Agora, você está demitida.
— Não vai conseguir uma pessoa mais eficiente do que
eu — retrucou.
— Ah! É claro que vou, — declarei, sorrindo — o
mesmo que descobriu suas fraudes e de Kevin. Ele nunca me
roubaria igual você faria.
— O seu amante?
— Ele não é meu amante, sua depravada — sibilei. —
Bryan é meu irmão. — Eu disse num tom calmo ao Lucky. —
Eu vou ao banheiro e quando eu sair, não quero que ela esteja
aqui. — Eu saí antes da resposta dele. Entrei no banheiro
enorme e cercado de mármore branco florido.
Eu saí depois de alguns minutos, esperando que ela já
tivesse ido embora. Não a vi, mas sim Ryan com uma calça
jeans e uma camiseta branca e jaqueta preta. Ele estava na
frente do Lucky.
Ryan sorriu para mim com malícia.
— Ora, ora, se não é a minha cunhada preferida —
disse, me abraçando.
— Ela é a sua única cunhada, seu idiota — disse Lucky.
Ryan riu. E depois se afastou me olhando.
— Eu vim propor uma coisa a você.
Eu levantei as sobrancelhas.
— O que é? — perguntei curiosa.
— Eu quero que você desfile em minha ova coleção —
sua voz era animada.
Eu arregalei os olhos.
— Mas lá só desfilam mulheres com roupas íntimas e
com corpo perfeito, eu não acho que eu fique bem de roupas
íntimas, ainda mais desfilando — declarei.
— Você só pode estar brincando — sua voz saiu alta de
choque. — Você tem o corpo mais perfeito que já vi, e olha
que já vi todos os tipos de mulheres lindas.
Lucky rosnou furioso.
— Pare de falar do corpo da minha mulher — Seu tom
era sério. — Esqueça, Ryan, porque ela não vai desfilar por aí
só com a porcaria de uma calcinha e sutiã.
— Olha quem fala. — Ryan levantou as sobrancelhas
para o irmão. — Quem sempre viu os meus desfiles e gostava.
— Você disse bem, gostava, mas foi antes, e por isso que
não vou deixar a minha mulher desfilar por aí assim, com um
bando de homens babando por ela — Seu tom era frio e
decisivo.
— Meu corpo não é tão perfeito assim — reclamei
corando.
— Cunhada, você tem um dos corpos mais perfeito que
já vi, poderia ser minha modelo. — Ele piscou para mim, o
que fez Lucky rosnar como um leão. — Ei, calma aí, meu
irmão, só estou dizendo a verdade.
— É melhor calar a boca antes que eu te faça calar com
meus punhos. — Seu olhar era tenebroso.
— Eu nunca pensei que você algum dia seria tão
ciumento assim — sorriu da careta de Lucky e depois me
olhou. — Soube que você vai trabalhar aqui.
— Não tive opção em relação a isso — funguei.
— Como assim? — ele sondou curioso.
— Seu irmão ameaçou fechar de novo onde eu
trabalhava, imagina? — Meu tom era crítico ao olhar feio para
o Lucky. — Ele me deu duas alternativas, ficar em casa ou
pegar a Vênus e direcioná-la. Loucura, não é?
— Oh, com certeza — piscou chocado e depois riu. —
Eu nunca faria uma coisa dessas com alguém, nem se eu
amasse essa garota. — Ele revirou os olhos com essa ideia. —
O que nunca vai acontecer. Jamais daria uma empresa a uma
mulher. Só se eu estivesse louco.
— Já ouviu aquele ditado que quem cospe para cima, cai
na cara? — eu falei. — Então, sim, isso pode acontecer com
você.
Ele sacudiu a cabeça, negando.
— Eu sou livre como um pássaro — sorriu, mostrando
seus dentes brancos e brilhantes. — Não há ninguém nessa
cidade que não tenha ido para a cama comigo. — Ele me
olhou de lado. — Acho que teria você, mas você me deu um
fora.
— Você acha que eu ficaria com um cara que tinha
acabado de flertar com a garçonete do Green e depois veio
com esse sorriso para cima de mim? Isso nunca aconteceria.
— Sabia que você foi meu primeiro e único fora? — Seu
tom era quase um ultraje, como se fosse impossível ele levar
um fora de uma garota.
— Foi bom você ter dado o fora nele. — Lucky pareceu
aliviado com isso.
— Eu tinha muitos problemas para me deixar levar por
um bad boy — sussurrei.
— Você me acha um bad boy? — perguntou magoado.
— E, não é? Aposto que tem tatuagens por aí. —
Apontei para o seu corpo.
Ele deu um sorriso cativante.
— Oh, sim, eu tenho, você quer ver?
— Nem sonhe com isso — rosnou Lucky para mim e
seu irmão.
Eu sorri passando os braços em volta da cintura dele.
— Não se preocupe, meu marido, a única tatuagem que
quero ver é a sua.
Ele sorriu com isso. Eu ouvi Ryan bufar.
— Eu sabia que você era um mulherengo — falei a
Ryan.
— Mas você disse que meu sorriso molhava calcinha. —
Ele piscou para mim.
— Você disse isso? — gritou Lucky a ponto de atacar o
irmão, mas me fitou de olhos arregalados. — Isso é verdade?
Eu corei, mas dei de ombros.
— Lucky, você foi o meu primeiro e espero
fervorosamente que seja o último, mas mesmo assim não
significa que eu não olhava os outros homens, bom, antes de
ter você na minha vida. Afinal, eu sou humana — olhei para o
sorriso do Ryan. — Mas isso não quer dizer que molhei a
minha calcinha ao ver você.
— Isso quer dizer que sentiu algo por ele? — o tom de
voz do Lucky se elevou.
Eu expirei, tentando me controlar.
— Lucky, não é porque nunca estive com um homem
antes de você, não significa que eu nunca quis. — Eu corei ao
dizer isso. — Você não pode me condenar por isso, já que teve
milhares de mulheres em sua cama — Minha voz saiu amarga
no final.
— Ninguém nunca esteve em minha cama — falou num
tom mais leve. — Só você.
— Você entendeu o que eu quis dizer — rebati.
— Eu aceito, mas não significa que eu goste — Ele
fechou a cara para o irmão. — Muito menos com o meu irmão.
Ryan riu.
— Ei cara, não houve nada entre nós…
Lucky cortou feroz.
— Por causa dela.
— Sim — concordou ele, me olhando de soslaio. —
Mas fez bem você me dar o fora naquele dia. Eu me sentiria
mal levando uma garota igual a você para dar uma rapidinha
— ele me disse, ignorando o rosnado do Lucky. — Por mais
que tenha o corpo esculpidamente lindo. Meu irmão tem sorte.
— Sim, eu tenho sorte — falou com júbilo depois num
tom ríspido para o irmão. — E pare de chamar o corpo da
minha mulher de lindo.
— E não é? — retrucou uma voz conhecida atrás de
mim.
Eu me virei para o meu irmão, que tinha entrado pela
porta e me fitava com um sorriso gracioso. Eu corri até ele e o
abracei.
— Eu senti saudades — murmurei em seu ouvido.
— Nos vimos esse final de semana. — Ele se afastou e
beijou a minha testa. Ele sempre fazia isso quando nos
encontrávamos.
— Parece uma eternidade — sussurrei me afastando
dele.
Ele sorriu deslumbrante para mim.
— Por que está vestida assim?
Eu sabia que ele estava falando do vestido justo no meu
corpo. A minha barriga ainda não tinha crescido muito, afinal,
estava fazendo 10 semanas de gravidez.
— Eu ia para o trabalho.
— Assim? — Ele gesticulou para mim.
Eu ergui as sobrancelhas.
— Ei, quem é o meu marido? O Lucky ou você? —
retruquei, cruzando os braços.
— Não é por que se casou que não vou me meter — ele
sorriu com amor. — Para mim, você vai ser para sempre a
minha garotinha.
— Essa garotinha vai fazer vinte e cinco anos daqui a
sete meses e está esperando um filho. O seu sobrinho. —
Revirei os olhos. — Eu ia para a festa beneficente que ia ter lá
na empresa onde eu trabalhava.
Ele arqueou as sobrancelhas.
— Trabalhava?
Eu contei tudo sobre a ameaça do Lucky até a minha
posse dessa empresa.
— Você é dona da Vênus. — Ele parecia chocado. Mas
também não era para menos.
— É o que parece — resmunguei.
— Por isso chamei você aqui — disse Lucky, passando
os braços em minha cintura e olhando Bryan. — Eu gostaria
de saber se você pode ajudar a Sam a administrar essa
empresa, sei que você é policial, mas pode ajudar aqui de onde
você estiver, afinal, você é expert em computador.
— Sério? — Ele parecia euforicamente feliz.
Os dois começaram a falar sobre a empresa, o seu
desenvolvimento e outras coisas que não entendia. Afinal, não
era muito boa em números, mas meu querido irmão era um
craque nisso, pedi uma pizza enquanto conversavam.
— Certo, a reunião está marcada por volta das cinco da
tarde — falou Lucky, chegando até a mim. — Eu irei
apresentar para os funcionários a nova dona da Vênus.
— Todos vão achar que você é louco — contestei.
— Eles podem achar o que eles quiserem, porque eu não
me importo, apenas me importo com a sua opinião — sorriu
de lado. — Eu sou o dono e ninguém manda em mim.
Eu sorri amarelo.
— Vamos ver quem manda em quem.
— Eu nunca imaginei que ele seria domado por uma
mulher. — Ryan parecia quase pasmo.
Eu olhei para ele.
— Um dia você também vai ser domado por uma
mulher, caindo de quatro. E, quando esse dia chegar, eu estarei
lá para dar os parabéns. — Sorri provocante.
— Eu aposto um milhão de dólares que isso nunca vai
acontecer. — Ele sorriu também.
Eu arfei atônita e depois me recompus. Ele falava isso
como se tivesse falando em dar joias, e não um milhão.
— Eu poderia até apostar, mas não tenho dinheiro para
isso — Minha voz falhava.
Ele piscou.
— Você é casada com um dos homens mais ricos do
mundo, tem uma empresa que vale bilhões e ainda fala que
não tem dinheiro? — Seu tom e rosto eram de ultraje.
Eu expirei.
— Eu posso ser dona daqui, mas não significa que o
dinheiro seja meu.
Lucky me cortou.
— É claro que é seu, e, além disso, somos casados. Tudo
que é meu é seu — falou Lucky — quiser apostar, pode fazer.
— Não gosto de apostar dinheiro — falei depois de me
recuperar. Porque Lucky falava como se um milhão não fosse
nada, soube alguns dias que ele me enganou na hora de assinar
os papéis do casamento, me tirou a atenção somente para eu
não ler o que estava escrito. Casamos com comunhão de bens,
fiquei furiosa com ele, mas já era tarde demais.
— O quê? Você tem medo de perder? — provocou Ryan.
— Hummm, não, eu só não acho justo apostar dinheiro
nisso — franzi os lábios e depois sorri para ele. — Já sei! Que
tal isso, se você cair de quatro…
— Você quer dizer, ela de quatro e não eu — ele me
cortou.
— O que eu quis dizer é, se você namorar uma garota e
for fiel a ela. — Eu avaliava seus olhos arregalados. — E sem
fazer sexo com ela e nem com ninguém, eu topo apostar.
— Você quer que eu fique sem sexo todo esse tempo, e,
além disso, com uma namorada? — guinchou com ultraje.
Eu pude ver, pelo canto do olho, Bryan e Lucky rindo da
cara do Ryan.
— Sim. Se esse tempo você se apaixonar por ela, você
vai dar um baile e vai dançar com ela para todos verem você e,
por último, vai dizer que a ama — Meu tom era sério.
— Eu nunca fui a um baile e muito menos dançar, o que
meus amigos vão pensar? — retrucou. — O pior é ficar sem
sexo.
Eu sorri torto.
— Todos nós sabemos que você gosta de mulher, e
estará acompanhado de uma garota linda — Eu disse e depois
o provoquei. — A não ser que você leve um homem.
Ele se aproximou de mim tão perto que senti seu calor,
seu rosto ficou a centímetros do meu.
— Se a tocar, estará morto — sibilou Lucky.
Ryan sorriu travesso.
— Eu concordo, mas se eu ganhar, você vai desfilar para
mim. Se eu perder, faço o que você disse. — Ele revirou os
olhos com isso.
O sangue fugiu do meu rosto.
— Para você?
— Não estou dizendo para mim especificamente, afinal,
valorizo a minha vida. — Ele olhou para a fúria do Lucky. —
É apenas um desfile que a Fashion Donovan vai fazer daqui
alguns meses com mulheres gestantes e não gestante também.
Você é perfeita para isso.
— Esse desfile é sobre o quê? — indaguei meio
sufocada.
— É um desfile com uma nova coleção de lingerie.
— De jeito nenhum! — rugiu Lucky.
Eu não sabia bem como eu iria sair dessa, Alexia podia
me ajudar com isso, mas se ela ficasse como sua namorada,
talvez ela viesse a se apaixonar por ele, isso seria o fim do
mundo, ainda mais se ele não retribuísse o interesse nela. Eu
seria a culpada por isso. O certo era eu deixar bem claro para
ela, falar a verdade sobre o playboy mulherengo que o Ryan
era, assim não se iludiria. Para falar a verdade, eu não estava
muito preocupada com essa aposta, apenas queria que ele
ficasse firme com alguém assim como o Lucky.
— Fechado. — Peguei a sua mão e apertei, mas ele me
puxou como se fosse me abraçar, mas não chegou a isso,
porque o Lucky o impediu e olhou com ferocidade o irmão.
— Não ouse tocá-la — Seu tom era mortal.
Ryan deu um passo para trás. Não parecia abalado pela
ira do irmão.
— É só um abraço, cara.
— Sem abraços, estamos entendidos? Afinal, você teve
uma queda por ela.
— Eu não tive uma queda por ela — retrucou. — Eu
apenas queria…
— É melhor nem terminar.
— Certo, senhor ciumento. — Ele deu um soco de
brincadeira no braço do Lucky. — Agora, eu tenho que
trabalhar, pois tenho uma reunião em uma hora. — Ele me
olhou sorrindo. — Eu vou arranjar a garota.
— Não, senhor — cortei. — Eu vou escolher ela.
— De jeito nenhum! — retrucou ele. — E se você me
escolher uma baranga? Eu tenho um gosto peculiar.
Eu sorri torto.
— Eu sei o seu gosto, não se preocupe. Pernas longas,
corpo curvilíneo e rosto que os homens morreriam só de olhar.
— Pelo canto dos olhos, eu vi Bryan levantar uma
sobrancelha. Ele já sabia a quem eu me referia, mas não disse
nada. — Com essa garota, eu vou saber se vocês ficaram
juntos ou não, porque ela não vai ser comprada. Mas você é
um homem lindo e ela pode cair em suas garras, porém, ela
não é tola para se apaixonar por você.
— Parece que você está descrevendo a si mesma e não
essa mulher, mas, afinal, quem ela é? — Seu sorriso era
divertido.
— Oh, não, essa pessoa que vai fazer de tudo para
seduzi-lo é a personificação da beleza e da rainha do gelo,
portanto não corro o risco de ela se apaixonar por você, apenas
o levará aonde a minha aposta será feita. Ela não é igual às
garotas que você está acostumado a pegar, que logo vão
fazendo tudo o que você quer.
— Eu sou assim? Porque você não caiu em meus
encantos.
— Porque, eu não sou idiota a esse ponto — suspirei. —
Ela também não é, por isso, meu amigo, se você quiser ganhar
a aposta, vai ter que ser forte e resistir à própria Afrodite.
— Aposto o contrário, porque assim que ela me ver, vai
cair de quatro. — Ele riu com malícia e confiança.
— Boa sorte, meu camarada. — Bryan deu um tapinha
no ombro dele. — Você vai precisar namorá-la, porque ela é
incapaz de resistir.
Ryan olhou para ele.
— Ela é tudo isso?
— Ela é perfeita e, além disso, gostosa. Então, vai ter
que usar muito a mão no banheiro. — Bryan riu descarado.
— Você ficou com ela?
— Bem que eu tentei, mas ela disse que não fica com
parentes de amigos — Ele não parecia satisfeito com isso. —
Ela é a melhor amiga de Sam.
Ryan olhou para mim com os olhos estreitos.
— Eu quero uma garota menos bonita, que tal uma com
olhos fundos de garrafas e roupões como de uma freira?
— Vai ser ela — falei firme. — Essa, eu tenho certeza
que não será comprada por você.
— Você não se preocupa que ela terá o coração partido
assim que essa aposta acabar?
— Essa aposta não é para você conquistá-la e sim para
resistir a ela ou cair na tentação, estamos entendidos? Além
disso, se a magoar, vai ter que arcar as consequências, comigo
e com Alex.
— O que o Alex tem a ver com isso?
— Essa garota é a irmã dele, Alexia. — eu suspirei. —
Então, espero que essa aposta fique longe dos ouvidos dele ou
amanhã terá um olho roxo.
Ele bufou.
— Eu não tenho medo dele — Seu tom era firme e
confiante. — Mas sou forte o suficiente para resistir a essa
mulher. Quando for a hora, me avisa que vou dar uma festa
para apresentá-la como minha namorada. — Ele bufou com a
palavra e saiu do escritório.
— Ele é tão seguro de si — falei assim que ele foi
embora.
— Sim — respondeu Bryan. — Eu vou lá fora dar uma
palavrinha com ele antes de ele ir.
Eu olhei para ele.
— Vê se fica do meu lado, afinal, sou a sua irmã —
rosnei.
— Sempre, anjinho. — Ele beijou meu rosto e saiu.
Lucky me olhou de lado.
— Não importa se ele cair ou não por essa mulher, você
não tem a mais remota possibilidade de desfilar para ele.
Sorri e beijei seu rosto lindo.
— Eu sou psicóloga infantil e não ficaria bem para
minha imagem desfilar por aí com roupa de baixo.
— Então, porque aceitou? — perguntou ele confuso.
— Porque ele precisa de uma lição e também torço de
verdade que ele e Alexia se entendam — suspirei. — Bom,
isso se ela me ajudar. — Coloquei meus braços em volta de
sua cintura e apertei-a contra a minha. — Está pronto para
outra rodada?
Ele sorriu esquecendo o irmão.
— Com certeza. — Ele me suspendeu do chão,trancei as
pernas em sua cintura e o beijei faminta. Ele disse que não
doía mais quando me beijava, aliás, era justamente o contrário.
Eu fiquei feliz com isso. Lucky me colocou no sofá grande e
pairou em cima de mim, pegando meu rosto com as mãos e me
olhando intensamente.
— Eu amo você demais — declarou ele. — Você é o
meu Sol que brilha de dia e as estrelas que brilham à noite.
Sempre vou precisar de você, pois é o meu tesouro mais
precioso desse mundo. Isso aqui sempre vai ser seu, —
colocou a minha mão em seu coração e senti a batida forte
dele — porque ele só está batendo aqui no meu peito por causa
do amor que sinto por você, minha Rosa Vermelha.
Eu estava com os olhos molhados.
— Você também é tudo em minha vida, o ar que eu
respiro, meu bilhete da loteria e a cura do câncer. Você é meu
milagre! Eu amo você de corpo, alma e coração, que é todo
seu, assim como o seu coração é meu — Podia parecer clichê
dizer isso a ele, mas eu não ligava, era tudo verdade.
— Para sempre! — jurou beijando-me.
Notas da Autora
Eu nasci em Nova Xavantina, Mato Grosso, Brasil.
Atualmente moro em Birigui, São Paulo, sou casada e tenho
três filhos, que são minhas vidas: Nicolly, Jordan e Emilly.
Quando fiz meu primeiro livro, Híbrida, da Série
Destinos, romance fantasia, eu não pensava em fazer a Série
Dilacerados, mas então, eu fiz o: Você é minha, e logo surgiu
a idéia de fazer a série com os outros personagens do livro
também. O segundo livro será contando a História de Ryan e
Angelina.
SEQUÊNCIA:
1 – VOCÊ É MINHA
2 – A APOSTA
3 – LOUCO POR VOCÊ
4 – MARCA DA ESCURIDÃO
5 – DOMADO POR VOCÊ
6 – SEMPRE FOI VOCÊ
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, eu quero agradecer a Barbara Dameto
que fez a diagramação desse livro e também essa capa
maravilhosa que definitivamente amei.
À minha filha Nicolly, que preparou muito almoço e
jantar enquanto eu escrevia esse livro. Obrigada minha linda.
Obrigada ao meu irmão Leandro de coração pelo
trabalho que teve ao fazer grupos de livros e meu site
http://autoraivanigodoy.com/
Quero agradecer ao meu marido pela paciência e por
compreender meus horários exaustivos enquanto escrevia essa
série.
Agradecimentos especiais a todos os meus leitores
vorazes que amam uma história de amor. Obrigada por me
incentivarem a cada dia para continuar a série Dilacerados.
Outro Livros da
autora:
Série MC Fênix
Série Destinos
Série Principes da máfia
2ª Edição
2019
Copyright© 2019 Ivani Godoy

Revisão: Kátia Regina Souza

Design da capa: Babi Dameto

Diagramação digital: Denilia Carneiro

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são

produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com


nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua


Portuguesa.

Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento


e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra, através de
quaisquer meios — tangíveis ou intangíveis — sem o
consentimento escrito da autora.

Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº.
9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Prólogo

Fui para o meu desfile na Califórnia, e tentei levar Angelina


comigo, mas ela não quis, disse que tinha de trabalhar. Isso era
algo que teria de contar a ela quando chegasse em casa, sobre
ela ser a dona da editora, e não o Daniel. Afinal, ele precisava
deixar a editora para se lançar de cabeça em seu sonho de ser
um piloto de corrida.
Ainda bem que o meu último dia na Califórnia passou. Eu
gostava de trabalhar, claro, mas nesse desfile não estava com a
cabeça no lugar, e sim com a mente a quase dois mil
quilômetros de distância, pensando na minha linda mulher.
O desfile foi um sucesso, ainda mais lançando os vestidos da
Angelina. Assinei contrato com várias redes de lojas, tanto
daqui dos Estados Unidos, como do Japão e da Alemanha.
Estava feliz com isso, mas ficaria mais contente quando
chegasse em casa e finalmente pudesse estar junto da minha
mulher, que ficou me aguardando. Desejava que ela tivesse
uma boa notícia.
Há três meses andava ansioso porque a menstruação da
Angelina não desceu, então contava os dias nos dedos e torcia
para ela estar esperando o nosso pequeno anjinho.
Eu tinha um desejo forte de um dia ser pai, mas nunca
aparecera a mulher certa para concretizar este plano, até que o
ser mais lindo do mundo surgiu na minha vida, me fazendo
cair de joelhos.
Quando me mudei para o meu apartamento — que agora era o
nosso apartamento —, chamei-a para ir morar comigo, mas ela
arrumou um monte de desculpas: “Meus irmãos estão numa
escola do Bronx e não podem mudar de colégio agora”, como
esta e várias outras. Eu a convenci com meus dedos dentro
dela, uma arma não muito justa de usar, mas, porra, adorava
vê-la gritando, dizendo que faria tudo que eu pedisse.
Estava louco para vê-la, ainda mais depois de passar cinco dias
fora, sem seus toques, sem seus beijos. Esses dias foram os
mais longos da minha vida, isso porque não tinha minha
namorada comigo.
Quando retornei, olhei todos os quartos à sua procura, e não a
avistei. Logo senti um aperto no peito, mas depois pensei: “Ela
deve ter ido na Sam”. Isso sempre acontecia comigo. Sabe
quando você vive algo tão bom e maravilhoso que custa a
acreditar ser real? Eu me sentia assim com ela, que era tudo de
mais precioso para mim. Então, às vezes, tinha medo dela
desaparecer como num passe de mágica.
Eu ia ligar para Angelina assim que guardasse o anel de
diamante amarelo, com a pedra na forma de uma estrela e a
palavra “anjo” dentro. Mandei o joalheiro fazer assim porque
são símbolos importantes para nós dois: o anjo a representa
para mim, e a estrela representa a mim para ela. Meu peito
inchou quando me lembrei dela dizendo que eu era a sua
estrela de mil pontas, pois tinha vários motivos para me amar.
Eu só não conseguia imaginar quais eram eles. Considerava-
me um bastardo sortudo por aquela mulher me querer, e
pretendia pedi-la em casamento hoje.
Guardei o anel para mais tarde. Tive de esperar três meses para
a nossa casa ficar pronta, para então, assim, pedir sua mão. O
dia mais esperado, o dia com que tanto sonhei, chegara.

Escondi a caixinha azul com o diamante de dezoito quilates e


já estava fechando a gaveta quando avistei papéis de exames.
Podia apostar que era a ultrassonografia do nosso pequeno
anjo. Eu sentia meu peito bater forte, como se quisesse sair
pela boca. Tinha certeza de que ali estava o que eu tanto
queria.
Assim que abri, li “POSITIVO”. O nosso bebezinho se
encontrava dentro dela, tão pequeno e indefeso, e eu já queria
protegê-lo para sempre. Antes de deixar a felicidade me
dominar por completo — a ponto de gritar feito louco —,
enxerguei duas coisas que fizeram meu corpo congelar e
minha alma sangrar. Se alguém enfiasse as mãos em meu peito
usando garras no meu coração para esmagá-lo, acho que
doeria menos. Não podia acreditar no que estava vendo.

A data do resultado dos exames era de antes de eu ir para a


Califórnia. Então ela já sabia que estava grávida e não me
dissera nada? Deixou-me aflito esse tempo todo, sonhando e
rezando para ela estar esperando nosso filho? Eu desejava
tanto ter logo meu pequenino em meus braços, e que ele fosse
parecido com Angelina. Por que escondera a informação? Por
qual razão faria isso comigo?

Um tremor se apossou do meu corpo ao ver um panfleto de


uma clínica para abortos. Não! Ela não podia fazer isso…
Capítulo 1

Proposta

ANGELINA

— Shane, vamos logo — gritei para o meu irmãozinho. —


Estamos atrasados.
Desde que meus pais morreram, há três anos, eu tomava conta
dos meus irmãos. Shane tinha oito anos, e Lira três. Eles eram
“meu tudo”, a razão da minha vida. Dispunha das suas guardas
desde então.
Shane apareceu na porta com sua mochila do Homem-Aranha
nas costas. Ele possuía cabelos lisos e castanhos na altura do
queixo. Seus olhos negros pareciam voar longe como um
falcão, tal qual os meus. Lira era a minha gracinha, minha
bonequinha linda, de cabelos loiros encaracolados até a cintura
e os olhos azuis mais belos que já vi. Minha mãe estava
grávida dela quando houve o acidente, porém, graças aos céus,
conseguiram salvá-la.
Shane foi até mim e sorriu.
— Estou pronto — disse.
— Eu também! — Lira pegou a minha mão e fez um rodopio.
— Estou mais linda que você.

Eu ri.
— É claro que você está, minha bonequinha perfeita. —
Beijei-a na bochecha. Ela usava um vestido rodado e florido.

Seus olhos brilharam ao me ouvir elogiá-la, adorava me


escutar dizendo que era bonita. Esses dois eram meu mundo,
eles me faziam querer lutar contra tudo e contra todos, só para
vê-los felizes.
— Vamos, então.
Deixei Lira e Shane na escola perto de casa, onde ficavam o
dia todo, para eu poder trabalhar mais calma. Em seguida, fui
para o meu serviço de faxineira. Eu conseguiria ter arrumado
um emprego melhor, mas tive de deixar a faculdade para
cuidar dos meus irmãos. No entanto, não me arrependia desta
escolha, faria tudo de novo. Eles eram tudo o que tinha de
precioso neste mundo.
No mês anterior, descobri que Shane tinha uma doença no
coração, e que necessitava de cirurgia. Sempre achei que fosse
sadio, mas há alguns meses ele desmaiou, fizemos um check-
up e constatamos a causa. Meu irmão precisava de certos
cuidados, proteção e tudo mais.
Curiosamente, no dia em que estava no hospital para pegar os
exames, consegui auxiliar uma mulher grávida doando meu
sangue. Quando ouvi que ela estava prestes a perder seu filho
e a sua vida… não pude deixar de ajudá-la, precisava fazer isto
por mim e por aquela família.

Acho que todas as coisas acontecem por obra divina, como eu


ter o mesmo sangue que aquela garota e estar lá no momento
certo. Ou eu poder contar com meus irmãozinhos pequeninos
que, com seu amor, me davam forças para seguir em frente.
Embora isso não compensasse as perdas de meu passado, com
certeza ajudava, mesmo que o buraco em meu peito fosse
permanente.
Shane seria operado daqui a um mês. Com a proximidade do
dia, meu coração trovejava de medo. A minha pulsação ficava
forte, como um tambor, ao imaginar perdê-lo… Não, eu não
podia focar nisso, ocorreria tudo bem na cirurgia, o médico
disse. A ansiedade estava me matando, me comendo viva. Não
gostava de pensar em cirurgia, meus pais entraram em uma
para serem operados e não voltaram mais. Contudo, agora era
diferente, Shane colocaria um marca-passo, um procedimento
simples pelo que consegui descobrir. Entretanto, eu apenas
tinha medo.

Cheguei ao imenso Hotel Plaza. O local tinha janelas e portas


repletas de vidros. Eu não entrava pela frente, e sim pelos
fundos; dali já dava para ver que o hotel era deslumbrante.

— Olá, Angie — Maria me cumprimentou. Todos meus


amigos me chamavam de Angie, esquecendo meu nome
verdadeiro: Angelina Mary Stone.
Ela era a nossa chefe, um amor de pessoa. De cabelos
grisalhos, parecia ter uns cinquenta anos mais ou menos, não
que eu fosse perguntar isso a ela.
— Bom dia — suspirei, ouvindo-a dizer onde eu ia ficar.
Peguei os dois últimos apartamentos do penúltimo andar,
menos a cobertura. Não perguntei o porquê, não fazia parte da
minha função sair mexericando por aí. Trabalhava naquele
prédio há somente uma semana, e não pretendia deixar escapar
esta grande oportunidade, com eles pagando tão bem. Nunca
ganhei tanto.
Fui para o apartamento mencionado por Maria. No andar havia
duas moradias, uma do lado direito e outra no esquerdo. Cada
uma dava quase dez do apartamento onde eu morava. A da
direita era maior.

Demorei cinco horas para limpar o primeiro apartamento,


enorme e cheio de prêmios pendurados na parede branca,
muitos deles de concursos relacionados a empresas de moda.
Ali havia ainda uma foto de um homem lindo e sexy, de
cabelos loiros, olhos cor de whisky e pele branca bronzeada.
Sua boca estava levantada em um sorriso arrebatador. Vestia
um terno preto tanques. Ryan, assim se chamava, pelo menos
era o que dizia embaixo das fotos.

Não era a primeira vez que o via: o encontrara no hospital,


quando doei meu sangue para aquela mulher que estava
prestes a perder o bebê. Lá, já senti algo em meu peito no
momento em que ele perguntou o meu nome e nossos olhos se
chocaram. Meu coração bateu mais forte e o estômago se
encheu de borboletas.
Descartei a ideia de tentar algo a mais, caras lindos e ricos
sempre queriam nos usar e depois jogar fora. No entanto,
pensei nele por semanas. Como um rosto que vi apenas uma
vez não saía da minha cabeça? Estava ficando louca.

Dava para imaginar a ironia do destino? Eu ir trabalhar no seu


apartamento — pelo menos achava que era dele, já que tinha
várias coisas de moda e muitas fotos.

Ryan estava ao lado da modelo Rayla Donovan, uma loira


platinada de olhos castanho-claros. Talvez fossem irmãos,
porque se pareciam muito. Deslumbrantes! Esta era a palavra
para descrevê-los.
Terminei de limpar o imenso apartamento de seis quartos. Um
deles, a suíte máster, dispunha de uma cama California king e,
em seu lado direito, de um sofá na forma de L que ficava perto
de uma parede de vidro. Fora os demais cômodos: academia
com piscina, sala de jogos com mesa de sinuca e vários outros.
Para a minha sorte, não estavam tão sujos assim, então não foi
preciso caprichar tanto. Se fosse dar uma limpeza geral neste
imenso apartamento, levaria o dia inteiro.
Deixei de bisbilhotar coisas que não me diziam respeito e fui
para o apartamento em frente a este.

Estava tudo uma bagunça, com garrafas de champanhe caídas


por todos os lados no chão cor de madeira. As paredes eram
creme e não havia nada enfeitando o lugar, como quadros e
outras coisas, apenas dois sofás: um grande encostado na
parede, e um de três lugares no centro da sala.

Demorei quase três horas limpando todos os cômodos,


faltando ainda a suíte e a cozinha. Deixei a suíte por último e
fui para a cozinha. Embora fosse menor do que o outro
apartamento, era tão elegante quanto.
A cozinha, toda branca, contava com uma ilha em mármore
cor de areia no seu centro. O fogão era de inox, os armários
claros, e, a geladeira, duplex.
— Quero que saiam agora! — rosnou um homem, irritado.
Isso me fez levar um susto, pensei que estava sozinha.

Não me contive e fui para a porta da cozinha dar uma espiada.


Arregalei os olhos ao ver duas loiras, ali, só de calcinha, com
enormes peitos de fora, parecidos com melões gigantes. Uma
era baixa, e a outra mais alta.
O cara que gritava estava de costas para mim, apenas vi uma
tatuagem em seu dorso, um desenho colorido de um grande
dragão cuspindo fogo. Vestia somente cueca. Seus músculos
eram bem malhados e, os ombros, largos e definidos; parecia
tenso. “Corpo divino” descreveria bem a imagem.

Não acreditei que o homem mandou as duas embora, estando


peladas. Nossa! Isso era repugnante, tratar mulheres como
objetos descartáveis.

— Por que está nos expulsando? — perguntou a baixinha.

— Não gostou dos momentos que tivemos essa noite? — A


garota mais alta alisava os seios, num gesto sedutor.

Ele suspirou, como se tentasse controlar a raiva.

— Olha, não interessa se eu gostei de foder as duas — disse


com tom de desdém. — Foi apenas isso. Agora saiam da
minha casa!

Não pude ver sua expressão, mas pelos olhos arregalados


delas, notei que o olhar do cara era mortal, à semelhança da
voz.

As garotas pegaram suas roupas, vestiram-se rapidamente e


foram embora. Se tivessem um pouco de decência, nunca mais
voltariam, depois de serem humilhadas assim.

Ele se virou para mim. Ofeguei. Seus cabelos loiros eram


longos, na altura do queixo, mas bagunçados. Os olhos cor de
whisky me miraram. A boca sexy, o peito tonificado…
Impressionante! Nossa, que homem era esse? Parecia um
daqueles modelos deslumbrantes. Logo o reconheci da foto
com a Rayla e do hospital; ao vivo, era mais gato, como eu me
lembrava de minhas fantasias com ele. Quase ri por me
imaginar transando com um homem desses, que pegava duas
mulheres de uma vez. Depois que o vi no hospital, fiquei
pensando nele direto por semanas, até que coloquei um ponto
final e disse a mim mesma que não ia focar minhas energias
em um cara com quem não tinha a menor chance. Foi bom eu
parar de sonhar acordada.
O que ele fizera com aquelas mulheres me deixou com
repulsa, tive vontade de vomitar. Corri para a cozinha e
comecei a lavar as vasilhas sujas que estavam ali. Eu esfregava
um prato — de porcelana inglesa ou francesa, não entendia
muito disso, mas sabia que era caro — quando senti meu
corpo formigar e fraquejar. O calor estava em todos os lugares,
como se eu estivesse perto de uma fornalha acesa, aquecendo
minha pele suave. Embora as minhas mãos se encontrassem
debaixo da torneira de água fria, ainda me sentia quente.
Sentia que ele estava chegando perto de mim, mas não me
virei. Se eu me virasse, seria pior. “Será que ele vai me mandar
embora? Droga, não posso perder este emprego. Preciso deste
serviço mais do que nunca”. Meu corpo tremia com sua
proximidade, podia inalar seu cheiro de sabonete de lavanda.

— Você é a nova faxineira. — Não era uma pergunta.


Dei um pulo assim que ouvi seu sussurro na minha nuca. O
prato que estava na minha mão caiu no chão, virando milhares
de pedaços. “Meu Deus, agora eu realmente estou demitida”.
Olhei para os olhos estreitos do cara e comecei a tremer.
— Desculpe… — disse. Suas íris eram fendas escuras. — Eu
não estava espiando, juro. Só ouvi vozes e fui ver quem era…
— falei, envergonhada, provavelmente com meu rosto todo
vermelho.
Ele não disse nada, apenas me olhava.
— E também pelo prato. — Olhei para os cacos quebrados no
chão. — Prometo que pagarei. Pode descontar do meu salário.
— Tentava não demonstrar meu desespero. “Por que ele tinha
que ter pratos tão caros?”.
Fitei-o de volta, com lágrimas já escorrendo pelo rosto. Ele me
observava atentamente.
— Por favor, não me denuncie para a agência, eu preciso
muito deste trabalho… eu… — emendava sem pausas.

Então ele me interrompeu:


— Não vou dizer nada, acalma-se. — Suspirou ao notar meu
terror. — Não precisa chorar, não ligo para a droga do prato.
— Seu tom de voz parecia irritado. Com o quê? Eu não sabia.
Assenti nervosa, dado o jeito com que me olhava, como se eu
fosse um enigma. Tentei ignorá-lo e fui limpar os cacos no
chão. Ele continuou ali, em pé e de braços cruzados. Para a
minha sorte, o cara vestira ao menos uma bermuda jeans; para
o meu azar, estava sem camisa. Evitei mirar seu peito nu
enquanto eu fazia o meu serviço. Fugi para o quarto antes que
ele dissesse alguma coisa.
O local estava uma bagunça. Ofeguei ao ver as cordas na
cama, e também uma madeira na forma de X com ataduras,
como a cruz de Santo André; certamente prendia suas
parceiras ali. Tentei não pensar na forma com que ele fazia
sexo. Isso não era da minha conta.

Depois de limpar tudo, fui me trocar no banheiro dos


empregados. Tirei o uniforme — um vestido preto — e vesti
uma calça de moletom e uma camiseta folgada com o logotipo
de Alan Jackson, meu cantor preferido.

Decidi sair antes que o cara aparecesse de novo, todavia, ele


estava na sala, sentado no sofá maior. Vestia agora uma calça
jeans, e ainda estava sem camisa. Seria difícil me concentrar
com ele assim. O homem segurava um copo de vidro na mão,
o líquido parecia ser whisky, com duas pedras de gelo dentro.
Parei de frente para ele.
Seus olhos estavam em mim, assim como na cozinha.

— Precisamos conversar — ele me disse.


Engoli em seco. “Ele vai me demitir. Oh, Deus!”. Tentei de
tudo para não chorar de novo. “Se me mandar embora, o que
vou fazer? Este é o lugar onde eu ganho mais!”.
— Ei, não precisa entrar em pânico. — Ele me avaliava. —
Como eu falei, não vou demitir você, ou contar o que houve
aqui.
Suspirei, mas estava longe de ser por alívio.

— O que o senhor quer? — Minha voz saiu trêmula.


Parecia que ele havia tomado banho e não fora ali, devia ter
ido ao seu outro apartamento. O que me fez perguntar: o que
era este apartamento em que eu estava? Algum tipo de
prostíbulo?
Fiz de tudo para não olhar o seu corpo, e que corpo! Santa
mãezinha, dava vontade de lambê-lo todo. Eu devia estar
louca, mas o cara era um Adônis. Perfeito!
Ele franziu o cenho.

— Quantos anos acha que eu tenho?


Estreitei meus olhos. “Qual será o motivo da pergunta?”.
— Hummm — murmurei estupidamente. — Vinte e quatro? —
Pareceu mais uma indagação.
Ele sorriu. Seus dentes eram brancos como marfim.
— Vinte e seis, então pare de me chamar de senhor. — Tomou
um gole da bebida. — Não sou nem um ano mais velho do que
você.
Assenti, muda, não querendo corrigi-lo: na verdade, eu era
dois anos mais nova que ele, ou quase, já que fazia aniversário
no dia vinte de outubro, ou seja, no mês seguinte. Queria que
ele falasse logo o que desejava de mim.

— Quantos anos você tem? — questionou.


— Faço vinte e quatro no mês que vem.
— Certo, então sente-se e vamos conversar? — convidou.
Arregalei os olhos.
— Acho que não posso.

Ele franziu a testa.


— Por que não?
— Porque os empregados não devem sentar junto com os
patrões. — Eu me remexi nos calcanhares. — Seria demitida
da agência por isso.
Seus olhos não deixaram os meus.

— Eles não vão saber — garantiu.


— Eu… — comecei a insistir. Aos iniciar meus trabalhos
naquela agência, eles deixaram esta norma bem clara. Ele me
cortou.
— Eu sou o patrão aqui. Estou mandando você sentar. — Sua
voz apresentava raiva no final.

Senti-me acovardada por seu tom controlador. Se ele me


mandasse cair de joelhos, eu faria sem pestanejar. Sentei-me
reta com as mãos no colo.

— Tudo bem, mas só tenho vinte minutos — falei, deixando


bem claro que não dispunha de muito tempo, afinal, tinha mais
trabalho para fazer.

— Onde vai depois? — Demonstrava curiosidade.


— Eu tenho trabalho em uma hora — respondi honestamente.
Por sorte, a última casa que eu pegaria era pequena, no Bronx.

— Se você trabalha daqui a uma hora, por que tem de sair em


vinte minutos? — Ele se remexeu no sofá, sem nunca deixar
de me avaliar.

— Porque eu pego o ônibus — suspirei. — O que deseja


comigo?

Ignorou a minha pergunta e fez outra.


— Você não tem carro?
— Não. — Eu estava sem entender o porquê do cara inquirir
tanto sobre mim.
— Todas as pessoas têm que ter um carro, nem que seja velho
— criticou.

— Eu tinha, mas precisei vender — sussurrei. Depois que


meus pais morreram, passei alguns apertos financeiros. — O
que você quer?

— Você tem raiva de mim, Anjo? — perguntou e avaliou a


minha reação.
Além dos meus pais, ninguém nunca me chamou de “Anjo”
antes.
— Dificilmente, já que nem o conheço. — Mexia as minhas
mãos num gesto nervoso com seu olhar intenso.

— Eu vi seu olhar quando me enxergou com aquelas garotas.


— Seu tom era cômico.
— Isso não me dá motivo para ter raiva ou algum outro
sentimento parecido por você — retruquei.
— Mas você não gosta do modo com que trato as mulheres.
— Isso não é da minha conta, como eu disse, sou uma
empregada e estou aqui para trabalhar, e não para cuidar da
vida dos patrões. — A minha voz saiu um pouco ácida no
final. — Não me interessa se trata as mulheres como lixo.

— É isso que você pensa de mim?


— O que eu penso não importa.
Ele assentiu e sorriu.

— Você quer ganhar um milhão de dólares? — perguntou.


Meus olhos se arregalaram, sem entender.

— Não jogo na loteria, então não tenho como eu ganhar esse


valor — falei por fim.
Ele riu, sexy e rouco. Droga! Por que tinha de ser tão lindo?
No hospital, no mês passado, perguntou meu nome, mas eu
não disse nada, apenas queria sair daquele lugar o mais rápido
possível e beber para ver se a dor sumiria. Não era de tomar
álcool, mas após pegar os exames de Shane, eu precisava.
Johnny ficou comigo aquele dia. Um amigo de ouro.
Pelo visto, ele não se lembrava de mim. Quase ri disso, um
homem que tratava as mulheres daquela forma com certeza
não se recordaria de nenhum rosto depois do ato, muito menos
do meu, uma qualquer sem graça que ele viu apenas uma vez.
— Eu posso pagar isso, se você fizer algo por mim. — Sua
voz era calma.

— Olha, eu não sei o que você quer, mas a resposta é não.


— Você nem sabe o que é para dizer não! — replicou.
— Algo assim, vindo de uma pessoa como você, não pode ser
boa coisa. — Bem que o dinheiro ajudaria a pagar todo o
tratamento de Shane, mas seria certo me submeter a isso pelo
meu irmão?
— O que quer dizer com “uma pessoa como você”? —
Escorou as costas no encosto do sofá. — Você sabe quem eu
sou?
— Não, mas o que você deseja deve ser algo errado. — Minha
voz era grossa. — Eu jamais desceria tão baixo, mesmo sendo
pobre.
Ele estreitou os olhos.
— Garanto que não é nada ilícito ou perigoso. — Sua voz
rouca estava calma, como se tivesse toda paciência do mundo.
— Certo, vou arriscar — falei. — O que é?
— Quero que seja a minha namorada por um mês ou dois. —
Seu olhar abrasador se aprofundava no meu.
Eu gargalhei.
— Você só pode estar brincando comigo!
— Sua risada é linda, Anjo. — Ele fitava a minha boca.
A minha risada sumiu. De repente, senti raiva e me levantei
depressa.
— O que você acha que eu sou, uma prostituta? — gritei. —
Nunca venderia meu corpo, nem por todo o dinheiro do
mundo.
— Não estou falando de sexo. — Ele se ergueu também. —
Jamais pagaria por isso. Foda tenho de graça, é só estalar os
dedos.
Eu o avaliava para ver se dizia a verdade. Nas últimas frases
com certeza sim: o cara era um maldito deus grego.

— Se não é sobre sexo, então se trata do quê? — deixei sair o


sarcasmo. — Se num estalar de dedos tem qualquer garota que
quiser, por que eu serviria?
— Caso eu resolva contar o motivo, você promete pensar na
resposta? — Parecia quase suplicante, esperançoso.
— Não sendo nada indecente ou que exija que eu cometa
algum assassinato… — retruquei.
Ele riu, deliciado. Apenas fiquei ali acompanhando a sua
risada gostosa, que me deixava boba.

— Sente-se. — Gesticulou para o sofá onde eu estava há


pouco.

Assenti e me sentei.
— Eu tenho uma amiga… — começou. Levantei uma
sobrancelha com censura. Cá entre nós, esse cara não era do
tipo que tinha amizade com mulheres; aparentava catar o que
queria e dispensar logo depois, como eu o vi fazer. — Não é
esse tipo de amiga. Ela é mulher do meu irmão, o Lucky…
— O que tem ela? — perguntei. Lucky Donovan era o marido
da mulher para quem doei meu sangue. Sabia que ela
sobreviveu, assim como a criança que estava esperando, pois
pedi ao Johnny para checar para mim. Fiquei feliz com isso.
Mas fingi que desconhecia Lucky, já que ele não se lembrava
de mim.
— Ela tem o corpo perfeito para o que quero fazer… — disse,
e depois acrescentou ao ver o espanto em meus olhos. — Pare
de ficar com essa cara de terror e me deixe terminar de falar —
repreendeu-me.
— Desculpe.
— Eu sou o dono da Fashion Donovan. Você conhece a
empresa?
Neguei com a cabeça.

— Não, mas parece que tem a ver com moda, certo? — Meu
conhecimento da área era bem escasso, afinal, me fazia
lembrar de alguém que não queria, não agora; não podia focar
em Ângela se quisesse continuar em pé, respirando.

— Sim. — Ele franziu o cenho. — Você aparenta não me


conhecer das revistas e dos tabloides.
— Não tenho tempo para fofocas sobre famosos, trabalho
quase doze horas por dia — declarei.
— Tudo bem. Eu tenho uma agência de modelos — disse ele.
— Quero que a Sam venha desfilar para mim. Então fizemos
uma aposta. — Deixou escapar uma careta linda. — Ela é
contra eu ficar com garotas aleatórias todos os dias,
descartando logo depois, como hoje. Se eu conseguir namorar
firme com alguém até o desfile, sem trair ou transar, ela
trabalhará para mim na Fashion Donovan.
Eu o olhava, incrédula.

— Por que não oferece dinheiro a ela?


— Samantha não é como todas as mulheres. — Seu tom
denotava carinho ao falar da cunhada, mas nada romântico. —
Ela não liga para dinheiro, embora seja casada com o meu
irmão, um dos homens mais rico do mundo.
— E se você perder? — perguntei.
— Eu teria que ir a um baile…
— Como é que é? — Achei que tinha ouvido errado.

— É isso que você escutou — rosnou.


Gargalhei mais uma vez. Ele fechou a cara linda para mim.
Tentei abafar o sorriso do meu rosto, sem sucesso.

— O que há de errado com um baile? — perguntei. Ele me


encarou como se eu estivesse louca.
— Prefiro doar todo o meu dinheiro a ir a um baile —
retrucou.
— Nossa! Você já foi rejeitado em um? Parece ter sido
abandonado ou coisa assim — observei, apontando para ele.
— Baile significa dança, garotas certinhas e comportadas, isso
não é para mim. — Estremeceu. — Gosto do fácil, admito.
Eu o mirava, ultrajada.
— Para você dispensar mais fácil no dia seguinte, como lixo?
Deu de ombros.
— Elas têm o que querem de mim, fazem as suas próprias
escolhas. — Passou a mão esquerda entre os cabelos loiros
bagunçados. — Eu só cato cada mulher uma vez, não repito a
dose.
— E as garotas aceitam isso? — Pisquei, chocada. Ele sorriu,
devasso.
— É claro que sim. Sou tudo que elas querem, nem que seja
por uma noite.
Sacudi a cabeça, descrente.
— Essas garotas são idiotas por se deixarem ser usadas assim.
— Teria de achar outro cara para eu fantasiar como meu
príncipe encantado. Esse tremendo mulherengo não serviria
mais.
Ele sorriu torto.
— Você ficaria comigo se eu quisesse. — Piscou.

Revirei os olhos.
— Oh, seu ego é um pouco grande, não? — Ri. — Sem
chances de um dia eu ir para cama com você. — Ele não
precisava saber que esteve nas minhas fantasias mais
profundas desde que o vi no hospital, isso era só para mim.
Evitei pensar nisso, pois o cara era bem observador.

— Eu duvido. — Demonstrava confiança.


Bufei.
— Por que você não chama uma das mulheres que estavam
aqui? — Tentei não corar ao imaginar ele dando conta das
duas de uma vez só. Um ménage. Isso soaria interessante para
os livros que gostava de escrever. Talvez eu fizesse uma
história desse gato loiro com olhos cor de whisky.
— Ficou maluca? — quase gritou, e o vi estremecendo. — Eu
não repito a dose, como já disse, além disso, preciso me
manter sem sexo, e com elas ou outra garota fácil vai ser
difícil conseguir. Sam até pretendia me arrumar sua amiga, só
que com essa seria impossível resistir, como o canto da sereia.
Isso é justamente o que ela quer, mas…
— Mas comigo você não teria esse problema de transar uma
vez, que dirá meses, não é? — Tentei não me desapontar com
isso, era melhor assim. Caso ficasse com esse homem lindo,
seria chutada para fora de sua casa no dia seguinte.

— Por isso a escolhi. — Ele me olhou. — Quando apareceu


ali na porta da cozinha — gesticulou para o recinto —, logo
soube que seria você.
— Por quê? — Franzi o cenho.
— Porque assim estarei seguro. Não fico com garotas virgens,
não é a minha praia. E você não vai tentar me seduzir durante
a noite.

Fiz uma careta.


— Nisso concordamos — falei e depois retruquei: — Quem
disse que eu sou virgem?
— Essa cor vermelha que aparece em seu rosto sempre que
ouve a palavra “sexo”. Sinto o cheiro de virgens de longe.

Bastardo.
— Você é tão…
— Charmoso?
Eu revirei os olhos. Estava pensando em “convencido”, mas
deixei quieto.
— Quer dizer que minha pureza estará segura nas mãos de um
playboy?
— Eu não sou um playboy.
— Não? Que seja! No que o nosso relacionamento se
basearia? Se por acaso eu aceitasse, como seria?
Seu belo rosto anguloso, de nariz reto e perfeito, me encarava.
Agora ele estava com alguma esperança de que eu fosse
aceitá-lo.
— Você virá morar aqui por todo o tempo que ficarmos juntos
e não vai trabalhar de doméstica de novo. — Ele suspirou.
— O que há de errado em trabalhar de doméstica? É um
emprego honrado como outro qualquer.
Acho que ele notou meu tom de crítica, porque logo se
apressou em explicar:
— Não estou dizendo isso para desmerecer o seu serviço, e
sim porque a mídia descobriria e seria um alvoroço. Eles
começariam a falar: “Se você tem dinheiro, por que não dá
uma vida melhor para sua namorada?”, coisas deste tipo.
Após avaliá-lo, confirmei que estava sendo sincero.
— Tudo bem, mas não posso largar o meu trabalho, preciso
dele.
— Você terá um milhão, pode fazer o que quiser com isso.
— Não, eu não vou aceitar um milhão. — Estremeci com a
ideia de dispor de tanto dinheiro.
— Eu dobro para dois milhões — soltou, sem nem mesmo
pensar.
Ofeguei de pavor e pesar.
— O quê?
— Já falei, prefiro dar todo o meu dinheiro a ir a um baile. —
Ele não parecia mesmo preocupado com a quantia, e sim
comigo não aceitando sua oferta. O cara era estranho, o que
havia de errado com um baile?

Respirei fundo.
— O que eu quis dizer é que eu vou aceitar vinte e cinco mil, e
não esse valor todo que você disse.

Sua testa se franziu.


— Por que pedir uma quantia tão inferior a que eu ofereci?
— Só vou aceitar porque preciso desse valor exato. Se eu
ganhasse tudo que propôs, me sentiria suja.
— Não vamos transar, já disse.
— Eu sei, mas eu apenas sou assim. — Dei de ombros. — Se
você concordar em me dar os vinte e cinco mil, eu aceito. Mas
não posso deixar meu trabalho, preciso dele. Não vou ser
sustentada por ninguém.
— Eu não vou sustentá-la, pode ficar tranquila. — Colocou a
mão no queixo, pensativo.
— Então, o que vamos fazer? — perguntei. — Tenho de
trabalhar em alguma coisa.
— Vou conseguir um emprego para você — disse ele.
Comecei a discordar, mas o homem falou antes. — Não temos
escolha. E você também precisa de um carro, não pode andar
de ônibus por aí. Namorar um famoso tem seu lado chato.
— Não tenho dinheiro para comprar um carro.
— Se pegasse o valor que eu quero lhe dar, teria.

— Não, desejo a quantia que pedi, e já tenho planos para ela


que não envolvem comprar um automóvel.
Ele suspirou.

— Certo, posso te emprestar um carro meu.


— Não acho que eu ficaria bem em uma Ferrari — murmurei.
Sorriu de um jeito cálido.
— Oh, sim, seria o anjo mais perfeito do mundo.
Revirei os olhos com a palavra “anjo”. “Estou longe de ser
um”, pensei.
— Eu aceito, mas o carro tem de ser de acordo com o salário
que eu vou receber, não posso ter um Porsche sendo que, nem
se eu trabalhasse a minha vida inteira, não conseguiria
comprar um. — Mordi os lábios. — Todos saberiam que é seu,
e não quero ser acusada de oportunista — funguei. — Posso
ser pobre, mas tenho orgulho do meu nome limpo, espero
continuar assim.
— Você que sabe. — Ele parecia querer fazer o que pedi,
assim eu não desistiria. — E onde vive?
— No Bronx. Sobre isso, não posso morar com você. — Olhei
ao redor, para o apartamento grande e com poucos móveis,
apenas dois sofás, um de três lugares, outro na forma de L,
uma estante vazia.
Ele bufou.

— Você não moraria aqui. Seria em minha casa, lá tem


quartos…
— Não é esse o problema. — Eu o cortei. Não estava a fim de
falar sobre Shane e Lira, afinal, isso não era da conta dele. —
Nós só vamos namorar e não casar, então não precisamos
morar juntos.

Ele aquiesceu.
— Casamento não é minha praia. — Piscou para mim. — Sou
um pássaro livre, não quero ficar preso em uma gaiola.

— Casamento para mim é precioso e sagrado. Inclusive,


pretendo me casar vestida de branco em uma igreja e passar a
lua de mel em Santa Bárbara, embora fosse adorar conhecer o
Rio de Janeiro. Ouvi dizer que é uma cidade linda.
Arqueou as sobrancelhas bem alinhadas.
— Por que não o Caribe ou o Havaí? Enfim, Santa Bárbara e
Rio de Janeiro também são belíssimos.
— Porque esses outros dois lugares são mais caros. Com
certeza, meu futuro marido não terá dinheiro para irmos a eles
— falei sinceramente.
Engasgou.
— Você tem um noivo?

Eu o olhei ultrajada.
— É claro que não! Se eu tivesse um namorado, não aceitaria
sua proposta. — Suspirei, mirando a vista para a cidade. —
Mas sonhar não custa nada.
Ele riu, provocante.

— É bom saber que você sonha com um príncipe encantado


montado em um cavalo e uma casa com cerca branca.

— Como sabe que esse é o meu sonho? — Sorri, ignorando


seu sarcasmo.
O homem sacudiu a cabeça loira e me olhou de soslaio com
um sorriso devastador, o que levou todo o meu autocontrole.
Quase desmaiei com tamanha beleza.
— Definitivamente, você é outra coisa. — Ele não tirava os
olhos da minha boca e das minhas íris negras, como se
quisesse mergulhar dentro delas.
Eu o ignorei e perguntei:

— Em que serviço eu vou trabalhar? Não posso ficar parada.


— Você terminou seus estudos? — indagou, pegando a garrafa
de whisky e enchendo o copo. — Ou fez algum curso?

— Não pude terminar a faculdade… Parei no meio. E fazia um


curso, mas também tive de parar. — Minha voz estava trêmula
no final.
— Por que não concluiu? — Curioso, tomava a bebida da cor
de seus olhos.
Dei de ombros.
— Aconteceram algumas coisas… Bom, não deu para
finalizar. — Foi nessa época que meus pais morreram e eu tive
de sair da faculdade para trabalhar e cuidar de Shane e Lira.

Ele assentiu com o cenho franzindo.


— Você sabe mexer com computador? — perguntou.
— É claro que sei — declarei, animada. — Faço resenhas de
livros todas as noites no meu blog.
Arregalou os olhos.

— Você tem um blog? — perguntou. Percebi que ele parou de


beber para me fitar, esperando a minha resposta.
— Sim — confirmei. — “Livros do coração”.

— Então você gosta de ler. — Não era bem uma pergunta, e


sim uma afirmação. Afinal, se fazia resenhas, deveria gostar
de ler.
— Sim — respondi. — É uma paixão. Estava me formando
em Literatura.
Ele assentiu, impressionado.

— Acho que já sei qual é o trabalho certo para você —


relatou. — Me dê seu telefone para eu te ligar — pediu.
— Certo, mas que trabalho é? — inquiri.

— É surpresa. — Sorriu de um jeito maroto. — Amanhã você


saberá.

Eu me levantei.
— Só espero que não seja em uma boate ou algo assim —
ameacei-o com veemência —, senão cortarei as suas bolas e
darei aos porcos.
Ele se levantou, colocou o copo na mesinha de vidro de centro
e se aproximou de mim.
— Anjo — a palavra deixou seus lábios de modo doce como
mel —, meu corpo é perfeito demais para ser jogado aos
porcos. — Passou a mão direita em seu peito nu e sexy; não
olhei, ou perderia o fio da meada.
— Cuidado com o ego — retruquei —, ele causa cegueira.
Seu sorriso era ofuscante.
— Duvido disso! — Estendeu o braço direito para mim. —
Então, fechado?
— Sim. — Apertei a sua mão e soltei-a após sentir uma
corrente elétrica atravessar meu corpo. — Diga-me uma coisa.
— Sim…? — Ele parecia distraído, olhando meus olhos. Por
qual motivo seu olhar intenso me queimava?
— Você disse que é irmão do Lucky…
— Sim. — Seus olhos se estreitaram. — Você o conhece?
— Não… Bom, já o vi — esclareci. — A esposa dele estava
perdendo o filho, então eu doei o meu sangue para ela, já que
eles não tinham o nosso tipo lá, no momento. Ela e a criança
se curaram?
— Sim. Os dois estão bem. É com ela que fiz a aposta. Você
foi bem generosa com o que fez naquele dia.
— É o mínimo que qualquer um faria — sussurrei. — Não
podia deixar de ajudar uma pessoa que precisava. — Sorri. —
Estou feliz que ela esteja bem.
— Por que não me disse seu nome naquele dia, quando
perguntei, no hospital?

— Por que eu haveria de dizer? — Pelo menos ele se lembrou


de mim.
Encolheu os ombros.
— Não sei, mas você me ignorou como se eu não existisse…
Eu ri.
— Deixa-me adivinhar, isso nunca aconteceu antes com você?
— Levei um fora da minha cunhada antes dela conhecer meu
irmão, mas foi só ela em toda minha vida — revelou.
— Mulher sábia, sua cunhada.
Revirou os olhos.
— Nos vemos amanhã? Eu te ligo. — Ele pegou um molho de
chaves no bolso da calça, tirou uma preta e me deu. — Aqui
está a chave do carro que deixei na garagem, lá embaixo. É só
apertar o alarme que descobrirá qual é.
— Okay — aquiesci. — Você nem perguntou o meu nome.
Como pode confiar em mim a ponto de saber que não levarei
seu carro para longe?

— Seu nome é Angel, e eu sei que se me roubar e me enganar,


conseguiria achá-la…
— Meu nome é Angelina, não Angel — corrigi.

Ele curvou a cabeça de lado.


— Angel combina mais, porque você não tem nada de
“pequeno anjo”. É um anjo em tamanho real. — Piscou para
mim, ignorando meus olhos arregalados por ele conhecer o
significado do meu nome. — E não há lugar onde possa se
esconder de mim.
Ri em um misto de nervosismo e espanto. Como sabia o meu
nome, se não o disse a ele? Decerto ligou para o setor de
recursos humanos do hotel, era a única explicação plausível.
— Você está parecendo um cara da máfia ou algo assim. —
Ergui as minhas sobrancelhas. — É algo do tipo?
Revirou os olhos de novo, mas percebi que segurava um
sorriso. Por que se tornava tão mais lindo quando sorria?
Devia ser considerado um crime ele sorrir assim.
— Oh, Anjo! — Esta foi a sua resposta.
Pude ver que ele não era mafioso, apenas cheio da grana e com
um ego muito grande, embora realmente fosse tudo de
maravilhoso e muito mais. Para piorar, tinha aquele sorriso
libidinoso. Isso deixava as minhas pernas bambas.
— O que devo vestir nessa entrevista amanhã? — indaguei,
mudando de assunto, e também querendo saber onde
trabalharia no dia seguinte.
— Hummm… — Ele me fitou de corpo inteiro, parecendo
tirar as minhas medidas. Vestia calça e blusa largas, logo,
escondia bem minhas curvas. — Pode ser um vestido, uma
saia, ou algo assim.
— Bom, Ryan…
Sorriu como se ganhasse na loteria.
— Você sabe meu nome. — Pareceu impressionado.
— Está em sua corrente. — Apontei para o colar de ouro
trançado em seu pescoço. Além disso, vira na foto em seu
outro apartamento, mas não disse nada.
— Então você estava olhando meu peito nu? — Ergueu as
sobrancelhas, chegando perto de mim enquanto falava. Eu me
afastei para trás até bater as minhas costas na parede ao lado
da porta de saída. — Anjo… — sussurrou tão próximo que
senti seu hálito de whisky banhar meu rosto.
— Não me chame assim — pedi com a voz fraca, mas com
alguma compostura. Eu o empurrei para longe. — Fique
distante de mim. Nós somente fingiremos namorar, sem
toques.
Ele cruzou os braços.

— Vamos ter de nos tocar na frente das câmeras.


Encarei-o com o cenho franzido.
— Por que eu teria de aparecer na frente das câmeras com
você?
— Anjo… — Grunhi, contudo, ele me ignorou, e continuou
com uma paciência exagerada. — Frequentaremos coquetéis e
festas após os desfiles de moda, necessitarei de você ao meu
lado, já que é a minha namorada.
— Tudo bem, mas só na frente das câmeras, e sem mão boba
— adverti.
Ele suspirou.
— Neste final de semana haverá uma festa no clube de um
amigo meu. Nós dois vamos ter de comparecer — disse ele. —
Antes, precisamos aprender mais a respeito um do outro para
não dar furo.
— Certo, mas me avise quando, e nós falaremos sobre isso.
Até lá, mantenha distância — alertei.
Ele concordou.
— Irei para o trabalho resolver algumas coisas, depois te ligo.
Trocamos números.

— Quem vai saber dessa nossa situação? Para eu ficar


preparada.
— Sam, Jordan, Lucky, Jason e o irmão da Sam, o Bryan.

Eu me encolhi por dentro.


— São muitos — reclamei.
— O que foi? — sondou, preocupado.
— Eles vão achar que sou uma vadia safada pensando em
dinheiro…
— Ei, eles não são assim, mas se realmente estiver
preocupada, podemos dizer que você aceitou isso para
conseguir um emprego melhor — sugeriu.

— Eu me sinto como a Julia Roberts em Uma linda mulher,


sem a parte da prostituição.
— Eles sabem que não vamos transar, porque se fizer isso
perco a aposta — sussurrou, tentando me tranquilizar. — Não
se preocupe com isso.
— Enquanto nós dois estivermos namorando, de fachada, você
vai me trair às escondidas? — perguntei.
Ele sorriu, jocoso.
— O quê? Está com ciúmes, Anjo?
Bufei.
— Claro que não! Mas não estou a fim de passar por corna na
frente das câmeras e das pessoas. Então é melhor manter suas
calças fechadas por enquanto.
— Você vai me deixar sofrer assim?
Sorri, inabalável.
— Você tem duas mãos, use-as. — Abri a porta para sair. — A
gente se vê amanhã.
Já estava atrasada para o serviço, embora não fosse mais
precisar dele. Só esperava que o trabalho no dia seguinte fosse
algo bom para mim.
Antes que eu fechasse a porta, o ouvi arrulhando.
— Sabe o quanto isso é absurdo? Nunca precisei usar as
minhas mãos.
Diverti-me com isso e fui embora. Para ele, devia ser horrível
ficar sem sexo, uma vez que vivia de mulher em mulher. Eu
não o conhecia bem, porém, acreditava que me entreteria
muito com essa situação.
Quando cheguei ao estacionamento subterrâneo, apertei o
botão do alarme do carro, e um Volvo cinza apitou.
— Nossa! Não acho que meu salário dê para comprar um
Volvo — sussurrei, sozinha em meio ao escuro, a despeito de
ser aproximadamente quatro horas da tarde.
— Garanto que dá sim, e ainda sobra — falou uma voz
profunda atrás de mim.
Um grito saiu da minha garganta e o alarme do carro caiu no
chão. O Volvo começou a apitar. Eu olhei para o Ryan, ali, de
pé, com um sorriso no seu rosto perfeito.
— Droga, Ryan! Você quer me matar do coração?
— Desculpe. — Ele não parecia nada arrependido, aliás, ria da
minha reação. “Bastardo”, pensei. — O que acha que uma
pessoa faria com você em um estacionamento subterrâneo de
um hotel como este, cercado de câmeras?
— As probabilidades são diversas — retruquei, olhando ao
redor. — Já vi muita coisa acontecendo em um estacionamento
no CSI.
Ele gargalhou, e sua voz rouca e linda ecoou no lugar, fazendo
um som tanto assustador quanto sexy.
— Você tem muita imaginação, hein? — Pegou o controle do
chão e desligou o alarme que soava estridente.
— Não. Só sou precavida — retorqui, olhando o seu carro. —
Com o salário que vou receber vai dar para comprar um
Volvo?
— Oh, sim, com certeza, não se preocupe — tranquilizou-me,
entregando a chave que caiu na hora do susto. — Ninguém vai
suspeitar que é meu.

— Bom, então qual desses é o seu? — Ali só havia Ferraris,


Porsches e outros carros que eu não conhecia. Eu me virei e
fitei seus olhos, que estavam brilhantes.
Ele sorriu.
— Aquele — apontou para um Bugatti Veyron preto.
— U-a-u! Por dentro deve ser bastante confortável —
murmurei comigo mesma.
— Você não imagina o quanto. — Seu tom era malicioso. —
O banco é ótimo, dá até para fazer…
— Pelo amor de Deus! É melhor não terminar — soltei em
repulsa. — Vá logo.
Quando me virei para ir embora, ouvi um bip não muito longe,
alto o suficiente para me assustar e pular direto nos braços de
Ryan. Sentia seus músculos fortes através da camiseta que ele
usava. O desejo de passar as mãos por aquele bíceps sarados
era grande, tive de me controlar para não fazer besteira.
Seus braços esguios, mas fortes, me seguraram pela cintura.

— Acho melhor você parar de assistir ao CSI. Ou talvez só


esteja louca para cair nos meus braços — murmurou num tom
cálido, com sua boca matadora perto do meu ouvido. Meu
corpo inteiro parecia ter sido tocado por um fio desencapado.
Arfei e me afastei dele, como se o homem estivesse me
empurrado. Encarei-o, amarga, mas podia sentir que meu rosto
estava vermelho.
— Eu só me assustei.
— E correu direto para mim? — Riu de um jeito matreiro. —
Espero que você se assuste mais vezes na minha companhia.
— Cale-se — rosnei. — Já vou, e me ligue se precisar de algo.
— Posso precisar de você à noite para manter a minha cama
aquecida — provocou. Lancei a ele um olhar mortal. —
Desculpe, mas eu gosto de vê-la assim. — Fitava minha face
corada. — Você fica mais linda.

— Assim como? — perguntei, embora já soubesse a resposta.


— Vermelha. Tanto de vergonha quanto de raiva. — Tocou
meu rosto com os dedos cálidos. — Fica tão linda, Anjo!

Dei um safanão em suas mãos.


— Sem toques, esqueceu? — Minha voz falhou com o meu
corpo entrando em curto circuito por causa do toque dele.
Levantou as sobrancelhas na forma de V.
— Foi você que se atirou em meus braços agora há pouco.
— Você é tão… — as palavras fugiram.
— Gostoso? Lindo? — completou. Não era isso que eu estava
pensando, todavia, não deixava de ser verdade.
Revirei os olhos.
— Não permita que o seu ego te engula — alertei enquanto
entrava no carro e ligava-o. Por sorte, andava com todos os
meus documentos, até minha habilitação. Depois, olhei para
ele. — A gente se vê.
— Pode apostar que sim, Anjo — garantiu com um tom
libertino.
Bufei e deixei passar o apelido, não adiantava discutir com ele:
sempre fazia o que queria, aparentemente. Eu só esperava não
me arrepender mais tarde desse acordo que fizemos.
Capítulo 2

Mensagens

ANGELINA

Cheguei à escola para pegar Lira e Shane mais cedo. Queria


passar um tempinho com eles, já que não precisaria trabalhar
naquele dia. Lira sorriu para mim, e seus olhinhos azuis se
arregalaram assim que viu o automóvel novo que eu dirigia.
— Você comprou um carro, Angie? — animou-se.
— Não, meu anjinho, é só emprestado de um amigo —
respondi ao entrarmos no veículo.
Passamos a tarde inteira no parquinho perto de casa. Este era
um dos meus momentos mais alegres, ficar com meus irmãos e
poder assistir à felicidade dos dois amores da minha vida.
Chegamos por volta das seis horas da tarde ao meu
apartamento. Ele era bem pequeno, mas aconchegante. Na sala
havia dois sofás velhos, mas conservados, um de três lugares e
um sofá-cama. O de três assentos ficava escorado na parede
central, com o sofá-cama ao seu lado. De frente para os dois,
se encontrava uma mesinha de madeira e uma estante com
uma TV pequena, onde Shane e Lira assistiam aos seus
programas preferidos, e eu, às vezes, via CSI Nova York.
— Vão tomar banho e se preparar para jantar — pedi à Lira e
ao Shane.

Foram para o seu quarto, que se localizava diante do meu.


Como só tínhamos dois quartos, dividiam o mesmo. Quando
meus pais morreram, nós já morávamos aqui neste
apartamento. Eles — Amélia e Lorenzo — pensavam em
comprar uma casa maior, que comportasse todos nós —
Shane, eu e Lira, que estava a caminho. Eu podia ter várias
lembranças dolorosas neste lugar, mas também tinha várias
memórias boas, que me traziam muita felicidade, como
mamãe na cozinha fazendo jantar para nós e para o papai. Ela
era linda, com seus cabelos negros e olhos azuis, similares aos
de Lira. Dava para entender por que papai se apaixonou por
ela à primeira vista. Já eu e Shane puxamos à cor de olhos do
papai, e os cabelos da mamãe. Lorenzo também era lindo, um
loiro formoso de íris negras. Lembro-me dele chegando do
trabalho, beijando cada um dos seus filhos, e depois mamãe. A
distância só aumentava mais a dor, mas a morte é algo com
que temos de conviver, não é o que dizem? Por sorte, tinha
meus irmãozinhos que tanto amava.
Esquentei o espaguete com queijo e coloquei na mesa da
cozinha. A minha cozinha era pequena, com uma pia de
mármore e um armário branco… Bem, um dia foi branco. Meu
fogão era vermelho e velho, mas bom, funcionava direito
ainda.

— A comida está na mesa, venham jantar — gritei para Shane


e Lira.

— Já estamos indo — berrou Shane de volta, logo se


encaminhando até a cozinha. Ele estava vestido com seu
pijama do Homem-Aranha. Amava este personagem, e Lira a
Barbie.
— Vou ao apartamento do Johnny, então não abra a porta para
ninguém e, qualquer coisa, grite — pedi a ele, indo para a sala.
Shane me olhava com o cenho franzido.

— Eu protejo a Lira, não se preocupe — disse com convicção.


— Sou o homem da casa.

Ri e beijei seus cabelos molhados com cheiro de shampoo de


morango.
— Sei que sim, meu amorzinho. Já volto.

A minha garganta se apertou porque nós dois nascemos com


uma doença no coração. Meu pai também tinha bloqueio
atrioventricular total, usava marca-passo desde os vinte anos,
ou seja, um total de vinte e dois anos com o dispositivo, e era
saudável. Se não fosse o acidente de carro há três anos, ele
ainda estaria conosco. A minha doença diferia da de Shane e
papai, eu era cardiopata. Dava graças a Deus por Lira ser
saudável.

Bati à porta do apartamento de Johnny e Charles, ao lado do


meu. Os dois se tornaram meus melhores amigos desde que
nos mudamos para este prédio. Eram namorados — cá entre
nós, um baita desperdício, porque oh meu Deus, que homens!

Sorri quando a porta se abriu e Johnny apareceu do outro lado.


Tinha um metro e oitenta, mais ou menos, o mesmo tamanho
do Ryan, cabelos curtos com mechas e olhos verdes sexy. E
bota sexy nisso! Seu corpo era forte e musculoso, vamos dizer
que parecia um bad boy. Vestia bermuda jeans, sem camisa. Eu
podia contar os gominhos em sua barriga tanquinho — um,
dois, três, quatro morrinhos de abdômen. Deslumbrante!

— Devia ser considerado um crime você ficar andando por aí


assim — acusei, apontando para seu corpo sarado, repleto de
tatuagens coloridas, uma série de borrões indistinguíveis.
Apenas discernia algumas imagens, números e frases em
egípcio, ou algo parecido com isso.

Entrei em seu apartamento. A sala era igual à minha, mas com


móveis mais caros, já que os dois tinham empregos bons.
Johnny trabalhava de segurança em uma boate — chamada
Rave, ou coisa assim. Charles atuava como chef em um
restaurante de Manhattan, sendo talentosíssimo com comidas
italianas. Foi com ele que aprendi a fazer espaguete.
Johnny riu, fechando a porta.

— Estou na minha casa, querida, aqui ando até pelado —


disse. — Você que fica cobiçando meu corpo.

Revirei os olhos.
— “Cobiçando” é uma palavra forte, só estou admirando seus
bíceps sarados — esclareci com um sorriso. — Cadê o
Charles?
— Estou aqui — falou uma voz rouca atrás de mim.

Eu me virei e quase babei olhando seu corpo. Charles era mais


magro, mas musculoso também, com um corte de cabelo curto
(estilo social), íris ônix, rosto delicado e um pouco largo, e
queixo quadrado.

— Vocês dois vão acabar me matando de combustão


espontânea, sabiam? Um está sem camisa — gesticulei para o
Johnny, que sorria de lado, e em seguida para o Charles —, e
você, só de toalha.

Charles sacudia a cabeça, divertido.

— Poderíamos fazer um ménage — sugeriu, sentando no sofá


na forma de L e olhando para mim com um sorriso no rosto.
Johnny também ostentava um sorriso de menino perverso.

— Faríamos um excelente trabalho com você — Johnny


entrou no jogo.

— Obrigada, mas não. — Ri. — Vocês dois são maus —


reclamei, me sentando perto do Charles.
Ele soltou uma gargalhada e me abraçou, beijando a minha
cabeça.

— Oh, Borboleta — disse Charles. Fiz uma careta devido ao


apelido; já não bastava Angie e o recente Anjo, de Ryan.
Charles sempre me chamou assim, devido à minha borboleta
desenhada na virilha. Ele nunca a viu inteira, claro, apenas o
pedaço à mostra quando usava short curto.

Johnny sentou do meu outro lado e pegou a minha mão.

— Você vai encontrar o cara certo.


Eu ergui as sobrancelhas.

— E como eu saberia que esse cara chegou ou vai chegar? —


Tentei não pensar no Ryan.

Johnny beijou os dedos da minha mão, subindo pelo meu


braço, até se aproximar dos meus lábios. Fiquei de olhos
arregalados mirando sua boca sexy e suas belas íris. Cara, eu
era uma mulher de carne e osso, sujeita a cair em tentação com
esses dois… Mas eu sabia que jamais faria isso.
— Você vai sentir seu coração acelerar forte no peito, como se
fosse sair pela boca. Sua pele vai esquentar, como se estivesse
perto de uma fornalha, sempre que ele chegar perto de você ou
apenas te olhar. Seu estômago parecerá ter mil borboletas
dentro.

Engoli em seco.

— Isso tudo talvez com apenas a respiração dele em seu


ouvido, ou seu cheiro másculo e rico — interveio Charles,
sussurrando. — Quando se sentir assim, saberá quem é o cara.

Prendi o ar, não pelos toques deles, mas porque me senti deste
modo mais cedo, ao chegar perto do Ryan. Seu calor era
inconfundível, parecia que incendiaria todo meu corpo e
minha alma.

Eu me levantei e olhei para os dois, sentados no sofá, me


fitando com as sobrancelhas erguidas.

— Tem algo que eu quero contar a vocês, mas não sei como
começar. — Minha voz falhou. Será que me achariam uma
vadia interesseira?

— Você achou esse cara, não foi? — perguntou Johnny, me


mirando de lado.

— Como ele é? — sondou Charles.

Passei a mão nos cabelos, que estavam num rabo de cavalo


bagunçado.

— Vocês se lembram daquele serviço que consegui na semana


passada? No edifício Plaza?

— Não vai me dizer que o cara é de lá? — indagou Charles, de


olhos arregalados.
— Borboleta, caras daquele mundo só querem uma coisa de
garotas doces como você: — falou Johnny — entrar em sua
calcinha e depois largá-la.

— Não é sobre isso.


Contei aos dois o que aconteceu no apartamento do Ryan.
— Ryan Donovan? — interrompeu Johnny, chocado.

— Você o conhece?
— Quem não conhece o cara? — replicou e depois suspirou.
— Você sabe, ele tem uma grande fama de mulherengo. Cada
dia com uma garota diferente.
— Eu sei — funguei —, mas e quanto ao dinheiro, acham que
sou uma vadia por aceitar?

Charles se levantou e veio até mim.


— Não, você não é nenhuma vagabunda interesseira, Angie,
apenas precisa do dinheiro para cuidar do seu irmão. — Ele
me abraçou forte. — Fizemos uma vaquinha e juntamos esse
valor para você.
Eu me afastei dele.

— Vocês fizeram isso para mim? — Chorei, comovida,


olhando de um para o outro.

— É claro que fizemos. — Johnny também me abraçou. —


Você é nossa irmãzinha linda, Borboleta.
Eu os beijei no rosto.

— Vocês dois sãos os melhores amigos do mundo. — Sorri,


me afastando deles. — Não há nada que não façam por mim,
não é?
— Oh, Borboleta, se você precisasse de um transplante de rins,
daria um dos meus… — disse Charles.
Johnny assentiu.

— Eu também, tudo para vê-la feliz — falava sério. Não sabia


o que fizera para merecer amigos iguais a esses dois.
Limpei as lágrimas com as costas das mãos.

— Estão me fazendo chorar — sussurrei, comovida. — Amo


vocês como os irmãos mais velhos que nunca tive.

— Também amamos você, Borboleta — declarou Charles com


fervor.
— Então você vai voltar atrás com o riquinho? — sondou
Johnny, avaliando meu rosto.
— Não posso, prometi a ele. — Ri. — Acreditam que ele
estava disposto a dar dois milhões para eu ser sua namorada,
só para não ir a um baile?

Charles arregalou os olhos, descrente.


— Sério?

— Sim, mas eu não podia aceitar, me sentiria suja caso


pegasse esse dinheiro todo — suspirei. — E agora… Não
posso deixar ele na mão.

Só de imaginar não o vendo mais, me sentia vazia, sem ar em


meus pulmões, com o coração batendo descompassado ao
mesmo tempo. Era estranho, porque acabara de conhecê-lo.
Esperava que minhas fantasias não se excedessem tanto,
porque eram aquilo: apenas fantasias, jamais poderiam se
tornar realidade, mesmo tendo agora um contato mais
próximo, após um mês sonhando com ele, e percebendo que
de príncipe não tinha nada.

— Oh, o que significa essa pontada de dor em sua voz? —


observou Charles me olhando de lado.
Eu me encolhi.

— Não é nada — menti.


Ele não caiu nessa.
— Você não consegue se imaginar ficando longe dele, não é?
— Estava preocupado comigo.
— Prometi a ele que o ajudaria. Sei que é um risco, afinal, ele
está cumprindo uma aposta ao namorar comigo. — Dei de
ombros. — Claro que o cara jamais sentiria algo por mim,
estando cercado por modelos lindas.
— Você já se olhou no espelho? — retrucou Johnny. —
Borboleta, você é maravilhosa. Se um dia eu deixasse de
gostar de homens, você seria a única mulher com quem ficaria.
Ri, agradecida.

— Vai dar tudo certo, mas agora vou embora, ver o que os
meninos estão fazendo. — Aproximei-me deles e abracei um
de cada vez.

— Se precisar de nós, é só chamar — disse Charles.


— Se o trabalho novo que ele arranjou for algo indecente, me
avise que dou um jeito nisso — garantiu Johnny.

— Acho que não é nada indecente, isso mancharia a sua


imagem — tranquilizei-os. — Boa noite aos dois.
— Boa noite, Borboleta — disseram em uníssono quando fui
em direção à porta. Após, Johnny falou sozinho: — Tome
cuidado, Angie, não quero ver a minha menina com o coração
partido por causa desse homem. Ele tem “destruidor de
corações” escrito no rosto.

Meu coração martelava nas costelas, com medo de que eu


viesse a me apaixonar. Ryan definitivamente tinha o poder de
estraçalhar sentimentos, tal qual dissera Johnny. Contudo, não
seria correto deixá-lo na mão, se eu conseguia ajudá-lo.

Cheguei em casa e coloquei Shane e Lira para dormir. Fui para


o meu quarto tomar banho e checar que roupa usaria no dia
seguinte em minha entrevista, mesmo não sabendo bem que
serviço era. Isso estava acabando com os meus nervos. Não
queria algo sexy, mas também não vestiria nada feio. Por sorte,
tinha a minha saia social rosa que combinaria com uma blusa
branca e um terninho por cima. O conjunto ficaria bem
independente do emprego.
Depois de jantar, fui direto para o meu quarto torcer para dar
tudo certo na entrevista. Estava quase dormindo quando ouvi o
bip de uma mensagem. Ao ler de quem era, não acreditei no
que via. Talvez tivesse dormido e sonhasse, só isso explicaria
ele estar mandando uma mensagem para mim.

Ryan: Você está dormindo?

Ri sozinha, rolando na cama feito uma adolescente boba ao


receber um recado do garoto de quem gosta.
Eu: Não, mas estou surpresa que o homem mais popular
entre as mulheres esteja mandando mensagem para uma
garota simples como eu.
Ryan: Vejo que pesquisou sobre mim. E você não tem nada
de simples, Anjo.

Eu: Oh, eu precisava ver onde me meteria com um cara


igual a você.
Ryan: “Meteria” é uma palavra boa.

Aposto que ele riu ao escrever essa frase.

Eu: Cale a boca.


Ryan: Não estou falando, e sim escrevendo.

Ignorei-o e soltei outra pergunta, satisfazendo minha


curiosidade.

Eu: Você costuma fazer isso com todas as mulheres? Enviar


mensagens?

Ele ficou tanto tempo sem responder que pensei ter desistido.
Então o celular bipou com um novo alerta.

Ryan: Não. Como eu disse, só transo e mando as garotas


embora depois.
Enviou outra antes que eu falasse algo sobre sua forma
horrível de tratar as mulheres.

Ryan: Mas você é diferente, Anjo!


Eu: Sim. Eu definitivamente sou diferente: morena,
desengonçada, sem pernas bonitas iguais às das loiras que
estavam em seu apartamento, ou das outras que apareceram
em fotos ao seu lado.

Isso era verdade. Quando pesquisei por ele na internet, antes


de me deitar, pude ver que era muito fã de loiras de corpos
esbeltos, embora eu não devesse me preocupar com isso, já
que não tínhamos nada um com o outro.

Ryan: Você não se olha no espelho com frequência, Anjo?

Pareceu uma crítica.

Eu: Eu me olho no espelho, por isso eu digo que não sou um


anjo, muito menos linda.

Escrevi a verdade e cliquei em “enviar”.


Ryan: Acho que eu preciso abrir seus olhos e mostrar a
beleza que você tem.

Eu: Sou o que sou, Ryan, e nada mudará isso.


Ryan: Veremos, Anjo.

Suspirei e escorei a cabeça no travesseiro. Já ia retrucar, mas


ele mandou mais uma mensagem.

Ryan: Como você está dormindo?

Ri, sacudindo a cabeça.

Eu: Com uma camiseta e sem calcinha.

Escrevi esse final e enviei para provocá-lo. Ele não disse nada
por algum tempo, fiquei preocupada.

Eu: O que foi? Você está aí?

De repente, meu celular bipou.

Ryan: Você quase me aleijou.


Eu: O quê? Eu não fiz nada!

Não sabia do que ele estava falando.


Ryan: Eu estava correndo na esteira, perdi o equilibro e caí.
Eu: Oh, se machucou?

Temia ter exagerado na dose.

Ryan: Não, mas isso foi a coisa mais sexy que já li em uma
mensagem.

Arregalei os olhos.

Eu: Eu estava brincando, seu bobo.

Cliquei e mandei outra a seguir.

Eu: Você malha às onze horas da noite?


Ryan: Não estava conseguindo dormir.

Sorri feito uma boba.

Eu: O quê? Estresse por abstinência sexual?


Ryan: Vai ser um mês longo!
Ele enviou mais uma antes de eu responder.

Ryan: Mas depois do que disse, posso fantasiar com você


sem calcinha e de camiseta.

Arfei, corando. Ainda bem que ele não estava ali para ver meu
rosto e meu corpo vermelho, em fogo devido ao seu
comentário.

Eu: Engraçadinho, não quero que você fantasie comigo.


Ryan: Desculpe, vou me comportar.
Eu: Devo me preocupar com o trabalho amanhã?

Ryan: Não, mas o Daniel é um tanto mulherengo, então vou


ter de deixar a minha marca em você na frente dele.
Eu: O que quer dizer com isso?

Ryan: Vamos nos beijar.

Quase gritei. Sabia que precisaríamos fazer isso em algum


momento, mas não achava que seria tão cedo.

Ryan: O que foi? Ainda está aí?

Ele escreveu, pois fiquei muitos minutos em silêncio,


refletindo sobre nunca ter sido beijada.
Eu: Sim. Desculpe. Acho que vamos ter um problema com
isso…
Ryan: O quê? Você voltou atrás?
Eu: Não, mas eu nunca… beijei ninguém antes.

Passou-se uma eternidade até sua próxima resposta. Acho que


a informação o pegou de surpresa.

Ryan: Droga! Como isso é possível?

Eu: Eu não sei.


Ryan: Você é perfeita! Qualquer homem ficaria louco com
você por perto.

Fiz uma careta para esta frase; não era verdade.

Eu: Estava esperando o meu príncipe montado em um


cavalo branco.
Ryan: Príncipe?
Eu: Esqueça, eu quero dizer o cara perfeito.
Ryan: Não existe homem perfeito neste mundo.

Eu: Sonhar não custa nada. Mas eu vou beijá-lo amanhã,


não se preocupe.

Ryan: Estou contando os minutos, Anjo.


O que isso significava? Será que estava louco para me beijar,
tanto quanto eu desejava sua boca saborosa? Algo me dizia
que ela teria gosto de framboesa, e eu adorava este fruto.

Eu: Tenho de dormir agora, para acordar cedo amanhã.


Ryan: Boa noite, Anjo.
Eu: Boa noite, Ryan.

Meu coração pulava sempre que ele me chamava de Anjo. Não


devia gostar disso, mas eu gostava, e muito. Não tinha a menor
chance com um homem igual a ele. Ryan ficava com mulheres
diferentes a cada dia, fora a parte dele ser rico e eu não. Como
competiria com seu estilo de vida repleto de modelos
perfeitas? Patinhos feios não se tornam princesas. Era melhor
eu continuar a esperar o meu príncipe montado em um cavalo
branco. Talvez ele não demorasse a aparecer, certo?
Capítulo 3

Minha namorada

RYAN

Fiquei olhando o carro da garota sair do estacionamento, já me


sentindo vazio por estar longe dela. Quando a vi naquele dia,
no hospital em Trenton, Nova Jersey, devo admitir que fiquei
pensando nela por semanas — não sei se por sua beleza e
inocência, ou pelo fato da menina me ignorar. Tentei parar
com isso, focar em outra coisa, mas não adiantou de nada. Um
mês depois, a reencontrei no meu apartamento.
Conversando com ela, notava sua beleza tanto por dentro
quanto por fora. Meu Deus! O que era aquilo? Um anjo lindo
que apareceu em minha vida. Esta frase dizia tudo. A mulher
tinha uma doçura que gritava para mim, fora a parte dela ser
uma maldita Afrodite. Pele branca, mas um pouco queimada
do sol, perfeita sem qualquer maquiagem e outros produtos de
beleza… Cabelos negros e anelados como ondas do mar,
sempre presos num rabo de cavalo. Olhos escuros como a
noite, e uma boca era matadora.
Não acreditava que estava sonhando com uma mulher que
acabara de conhecer. Bom, já a encontrara no mês anterior,
porém, naquele dia nós nem nos falamos direito. Nenhuma
garota nunca me fez sentir nada parecido com isso. Eu a queria
tanto que chegava a doer. Já estive com muitas, mas para nada
além de sexo. A menina, no entanto, era doce, meiga e
especial, uma joia preciosa a ser guardada e querida. Nossa!
Devia ser considerado um crime eu desejá-la com tamanha
intensidade. Precisava me manter a quilômetros de distância
dela e de sua inocência, que gritava para mim como uma
gralha maldita.
A pior coisa que podia acontecer, aconteceu: virarmos
namorados. Quase ri da palavra “namorados”, nunca pensei
ser possível para mim. “Mas isso tudo é por causa de uma
aposta”, dizia a mim mesmo. Lá no fundo, sabia que
significava mais, e isso me assustava. Vê-la de novo mudou
algo dentro de mim, ainda não sabia bem o quê. Não gostei.
Cheguei por volta das quatro e meia em minha empresa, a
Fashion Donovan. O prédio onde funcionava tinha trinta
andares; a minha sala ficava no último. Não fui trabalhar mais
cedo, pois dormi tarde na noite anterior, após um coquetel na
casa do meu estilista. Logo depois vieram as entrevistas e tudo
desandou com as perguntas sobre meus pais… Não
conseguiria adormecer nem que eu quisesse, porque a dor e os
pesadelos estavam ali, me fazendo companhia.

— Pierre está esperando você para o ensaio das modelos —


disse Sandy, a minha secretária.

Sandy era uma mulher linda. Loira de olhos azuis, corpo


curvilíneo e com pernas longas. Transei com ela logo que a
contratei; era claro que ela queria mais. Foi quando dei o
ultimato: trabalhar aqui sem insistir nesta ideia ou ser
demitida. Eu não repetia a dose. Agora ela era toda
profissional, embora, às vezes, via alguns botões de sua
camisa abertos, mostrando um pouco do seu decote. Eu não
ligava; depois de passar uma noite com alguém, acabava a
graça. Sim, era egoísta, contudo, não pretendia mudar, mesmo
com Angelina dominando a porra da minha mente.

— Obrigado, depois falo com ele. — Entrei na minha sala. —


Ligue para o Daniel Luxem e transfira para mim — solicitei.

Eu não era rude com meus funcionários igual ao meu irmão —


Lucky tinha um jeito distorcido de tratar as pessoas.
Felizmente, Sam estava o colocando na linha. Eu gostava
disso. Já passara da hora dele virar “humano” de novo. Lucky
teve uma vida difícil quando criança, sua mãe o deixou para
morrer… Se é que se pode chamar aquilo de mãe. Uma
cachorra de rua era mais mãe do que ela foi um dia, mulher
desalmada que tenta matar seu filho, e anos depois rouba dele
milhões em um golpe… No mês passado, Lucky soube que
Kevin, seu ex-funcionário, era quem estava extorquindo ele
junto com a sua mãe. Por sorte, ela fora presa, e esperava que
ficasse lá por muitos anos.
O bastardo do Kevin, filho adotivo dessa desalmada, teve uma
vida de luxo e grana, ao contrário do meu irmão, que ela
largou no meio do nada. Meu pai salvou Lucky ainda criança.

Meu corpo doía tanto que fiquei sem fôlego, tudo por lembrar
do meu pai. Era nessas horas que eu bebia e ficava com
mulheres, para ver se aliviava a dor de perdê-los… Claro, a
angústia nunca ia embora, apenas ficava dormente por pouco
tempo, e voltava com força total, como um tsunami. Meus pais
faleceram em um acidente de carro, quando eu tinha dezesseis
anos e, mesmo agora, com vinte e seis, o sofrimento
continuava forte demais para suportar.
Depois de rever a mulher linda na qual fiquei semanas
pensando, a dor parecia mais fraca, não tão grande como na
noite anterior, aturando uma entrevista em que tive de falar
sobre os meus pais; por isso fiquei com aquelas duas loiras.
Não adiantou. A cura foi reencontrá-la, a garota de olhos
negros que brilham como a lua no céu. Ainda doía, claro, mas
não igual a antes. Eu só não entendia o porquê disso, por que
estava reagindo assim a ela.

— Sim, já vou fazer isso — respondeu Sandy, saindo da sala,


me tirando dos meus pensamentos.
O escritório era simples, com uma mesa grande de vidro e
vista para a cidade que tanto amo, Manhattan, onde nasci e fui
criado. A parede central tinha cor creme e, o resto, fora feito
de vidro de cima a baixo. Um quadro enorme da minha irmã
Rayla em um desfile de moda em Moscou enfeitava o
ambiente. Ela era alta e tinha corpo curvilíneo. Seus cabelos
loiros platinados estavam soltos e caíam sobre as costas.
Minha irmã era a única mulher de quem exibia fotos em meu
serviço e em minha casa, por ser igualmente a única que amo e
amarei para sempre. Bom, também a minha mãe, claro. Mas
ver as fotos de minha mãe me machucava, por isso as deixava
guardadas.

Rayla era modelo há anos, desfilava para mim sempre que


podia. Para a minha tristeza, logo se casaria com o bastardo do
Alex, dono da boate Rave. Os dois sofreram uma separação
alguns meses atrás por causa de Lucky, porém, reataram o
relacionamento. Eu torcia por eles, a despeito de tudo. Queria
a felicidade da minha irmã, ela merecia.
Olhando ao redor da minha sala espaçosa, com sofá marrom
arrastado para o lado da parede à direita, me sentei na cadeira
de estofado preto e olhei a vista dos prédios à frente, e também
o rio Hudson, um pouco longe da Fifth Avenue, onde minha
empresa se localizava. Dava para enxergá-lo mesmo assim —
do meu escritório, ao menos.

“O que será que a Anjo está fazendo agora? Será que ela está
pensando em mim?”. Sacudi a cabeça, tentando mudar meu
foco.

— Como você é estúpido — falei comigo mesmo.

De repente, o telefone tocou. Peguei-o, colocando no ouvido.

— O que foi, Sandy?

— O senhor Luxem na linha dois — respondeu ela. — Vou


passar a ligação.

— Olá, Daniel.

— Ryan, quanto tempo.


Revirei os olhos. Daniel era dono da Editora Luxem, herdada
do seu pai, Michael Luxem, que morreu ano passado de câncer
nos pulmões. Por ser meu amigo desde a escola, com certeza
me ajudaria a colocar minha namorada dentro de sua empresa.
“Minha namorada?”. Devia estar louco pensando nisso como
se fosse verdade.

— Nos vimos na semana passada, lembra? — Estive com ele


na Rave e ficamos com uma garota cujo nome não recordava.
Foi um ménage incrível. Ou eu achara incrível antes da Angel
entrar em minha vida e bagunçar minha cabeça. Agora, não
sentia vontade de nada similar àquilo.
Ele riu.

— É verdade — disse, lembrando. — Vamos sair neste fim de


semana? Tenho duas gatas que entraram para trabalhar aqui.
— Seu tom de voz demonstrava animação com a ideia de
pegar essas meninas.

Suspirei. Poderia ficar com elas sem ninguém saber, mas não
faria isso com minha namorada, ela merecia respeito. Fora a
parte de não querer outra mulher, porque não conseguia tirá-la
da minha cabeça. Porra! Estava amaldiçoado.

— Vou passar…
— O quê? — me interrompeu, chocado. — Desde quando
você dispensa uma mulher?

— Desde que iniciei meu namoro — declarei.

Desta vez, o idiota gargalhou tão alto que tive de afastar o


telefone do meu ouvido.

— Acho que estou ouvindo coisas — falou, depois se calou


por um minuto. Com riso na sua voz, prosseguiu: — Você
bebeu?

— Quer ficar quieto e ouvir, idiota? — rosnei com os dentes


cerrados.
Ele suspirou.

— Certo, vá em frente, meu amigo. — Pude perceber que ele


estava se segurando para não gargalhar novamente.
“Bastardo”, xinguei em pensamento.

— Eu te liguei para você conseguir um trabalho aí na editora


para uma pessoa… — Coloquei os cotovelos na mesa e a mão
direita no meu cabelo.
Ficou em silêncio durante um segundo.
— Vamos por partes — murmurou. — Quem é essa pessoa?
Respirei fundo.

— Seu nome é Angelina Mary Stone, ela é a minha namorada.


— Senti um gosto bom na minha boca ao dizer a última
palavra, querendo que fosse real, e não apenas atuação.
Enquanto a Anjo arrumava meu apartamento, liguei para o RH
do hotel e chequei o nome dela. Lucky e Bryan tentaram
localizá-la depois da doação de sangue, todavia, a mulher
sumiu do mapa. Se não fosse o fato de Sam estar bem, acharia
que a imaginei aquele dia no hospital.
— Sério? — Seu tom era ultrajado. — Por que não a contrata
como modelo?

Não conseguia imaginar Angelina sendo modelo algum dia.


Ela, com sua doçura tímida, não se sentiria bem de lingerie em
uma passarela. E só de imaginar essa possibilidade, me dava
vontade de matar qualquer bastardo que pudesse vir a olhar
aquele corpo que eu jurava ser perfeito. Decerto usava aquelas
roupas largas para esconder suas belas curvas.

— Não a quero por aí desfilando em uma passarela, com


homens em volta babando. Além disso, ela ama livros, até tem
um blog e faz resenhas.

— Sério? Deixe-me dar uma olhada aqui. Qual é o nome do


blog? — Ouvi ele clicando o mouse e teclando em seu
computador.

— Ela mencionou algo como “Livros do coração”.


— Achei… Oh, céus! Ela é linda! Meio nerd, mas linda. Você
tem razão de estar todo raivoso. Pele branca, cabelos pretos
anelados, olhos negros…
— Não estou raivoso — sibilei. — Angelina apenas não é para
isso.

— As resenhas parecem excelentes. Você sabe se ela já fez


algum curso ou se formou em alguma coisa?
— Iniciou a faculdade de Literatura, mas não chegou a
terminar.
— Por quê? — perguntou, curioso.

— Não sei, ela não me disse — respondi. Era verdade, não me


contou, foi propositalmente vaga em relação a isso. Não quis
forçar o assunto, com medo de que a garota mudasse de ideia.
— Então, vai arrumar o serviço ou não?

Ele suspirou.
— Se fosse por mim, daria o trabalho a ela, mas estou
vendendo a minha parte da editora para o Franklin.

— Aquele velho de sessenta anos que vive com mulheres de


vinte penduradas em seu pescoço? — Minha voz saiu alta.
Não iria deixá-la perto daquele homem. Era como jogar um
gatinho para um leão faminto. Isso nunca aconteceria.
— Sei que o cara gosta de mulheres que poderiam ser suas
netas, mas ele já é dono do resto da empresa. — Deu um
suspiro longo. — Você sabe, tenho projetos com corrida de
carros, este sempre foi o meu sonho.
O que eu faria? Poderia arrumar algum outro serviço para ela
em qualquer lugar, talvez comigo mesmo, como secretária.
Mas ela parecia amar tanto os livros…
Abri meu computador e busquei por seu blog. Havia tantas
publicações que resenhou, isto era sua paixão. Enxerguei o
brilho em seus olhos ao falar em um vídeo sobre a obra Um
amor para recordar. O livro contava a história de uma garota
doce e meiga que se apaixonou por um encrenqueiro; no final,
ela o transformou… Mas a personagem morre com uma
doença… Muito triste. Não sabia o que eu faria se isso
acontecesse comigo. A vida seria realmente uma droga se eu
me apaixonasse e, de repente, ela morresse, então era melhor
eu não deixar isso acontecer nunca, não me dava muito bem
com perdas. Concluía isso pelos meus pais.
Podia apostar que ela era louca para encontrar um cara assim e
se apaixonar. Meu estômago deu voltas com isso. O que estava
prestes a fazer contrariava todas minhas ações passadas, em se
tratando de uma mulher que praticamente acabei de conhecer,
mas não conseguia parar de pensar nela nem por um segundo.
Merda!
— Cara, você está aí? — chamou Daniel. — Queria poder
ajudar, mas…

Eu o interrompi.
— Você me vende a sua parte da editora?

Ele ofegou, e não era para menos: jamais tomei uma atitude
parecida com esta.
— Sério, cara? Você quer comprar a editora só para essa
mulher trabalhar nela?

Esfreguei meus olhos.


— Eu também quero a parte do Franklin — declarei num tom
firme. — Não há a mais remota possibilidade de eu deixar
aquele cara perto dela.
— Não sei se Franklin vai vender sua parte, afinal, ele é sócio
do meu pai há décadas. Além disso, está ansioso para colocar
as mãos no negócio inteiro.
— Mas você não vai vender para ele, e sim para mim, não é?
— pedi apressadamente, não querendo perder a chance. —
Pago o dobro do valor que ele ia dar por ela.
Daniel xingou baixo do outro lado da linha. Supus que o preço
era alto, mas não liguei muito para isso.
— Certo, cara, somos amigos, farei isso por você. — Suspirou.
— Mas ele não vai querer vender a parte dele, vocês serão
sócios.
— De jeito nenhum! Ele aceitará minha proposta — rosnei.
Ficou em silêncio um segundo, ponderando o que eu disse.

— Não acho que você tem todo esse poder. — Parecia ter
certeza deste fato.
— Conheço alguém que pode fazê-lo mudar de ideia. —
Somente o Lucky dispunha desta capacidade. E já que era meu
irmão, faria o que eu pedisse.
— O que dirá ao Lucky? — perguntou, sabendo a quem eu me
referia.
— Que eu quero investir em algo de valor, como a editora.

Ele riu. Apostaria que o bastardo revirou os olhos.


— Ryan, você nunca leu um livro na vida, como pode comprar
uma editora? E, o pior, como pretende mantê-la funcionando?
— troçou.
Funguei.

— Um passo de cada vez. — Passei a mão nos cabelos. —


Primeiro, quero a empresa para ontem, sem aquele bastardo lá
quando ela começar a trabalhar amanhã de manhã.
— Sugiro que Lucky faça um milagre — riu, nada confiante.

— Lucky consegue ter tudo o que quer nesta vida — respondi.


Isso era verdade. Até aquele instante, ele nunca levara um
“não” de ninguém, apenas da Sam, uma vez, quando a
conheceu, porque dinheiro não podia comprar amor.
— Realmente… — concordou.

— Quando será sua próxima corrida? — sondei, tentando


pensar em algo.
— Daqui a três ou quatro meses, mais ou menos — respondeu,
confuso. — Por quê?
— Até lá, você pode ficar como chefe dela? — pedi, quase
suplicante.

Ele expirou.
— Farei isso só porque é para você, cara, porque somos
amigos há décadas.

— Você fala isso como se fôssemos velhos.


Daniel riu.
— Ryan, eu tenho vinte e oito anos, e você vinte e seis, não
somos mais tão novos. Agora, falando sério, deixarei meu
contrato pronto amanhã, assim que você chegar com ela aqui
na editora.

— Entro em contato quando falar com Lucky.


— Boa sorte, cara, você vai precisar para conseguir o que
quer.
— Obrigado.
Desliguei o telefone, peguei meu celular e liguei para o Lucky.

— Espero que seja importante. — Ele atendeu no quarto


toque, meio ofegante.
Eu sacudi a cabeça.

— O que foi? Você estava correndo? — zombei. Ele, com


certeza, transava com a Sam. Esses dois pareciam coelhos.
Não era de se estranhar, com uma mulher daquelas, quem não
pareceria? Embora Angel fosse mais perfeita que qualquer
garota que já conheci neste mundo.
— Engraçadinho — rosnou. — Eu já estava indo para a
segunda rodada. Agora me diga o que você quer para eu
acompanhar a minha mulher no banho.
Ri enquanto pegava o whisky e colocava no copo.

— Preciso comprar uma empresa para ontem, e quero que


você me ajude, porque o cara parece não ter a intenção de
ceder a parte dele. — Tomei um gole bem grande da bebida;
careceria disso para enfrentar as perguntas que ele faria a
seguir. Lucky não deixaria isso quieto.
— Empresa? Que tipo de empresa? Moda? — sondou,
profissional.
Suspirei.
— Não é de moda. — Respirei fundo e soltei a bomba: — É
uma editora.
Ele ficou calado um segundo e depois desatou a rir como uma
gralha, igual ao Daniel. Maldito seja.

— Certo, cadê o meu irmão e o que você fez com ele?


— Rá, rá, é sério — rugi. — Comprarei a editora Luxem, do
Daniel, a parte que era do pai dele, mas preciso da do Franklin
também.
— Oh, o velho tarado? Eu já o vi em alguns negócios onde fui.
— Suspirou, resignado. — O que o dinheiro não faz?
— Não quero saber da vida daquele safado, apenas desejo sua
parte na empresa. Preciso que ele assine os papéis da venda.
— Se você quer tanto essa editora, mesmo não conhecendo
nada sobre a área, por que não se torna sócio dele? O cara
pode ser mulherengo, mas sabe administrar uma empresa
muito bem…
— Não — cortei-o. — Quero ser o dono dela sozinho, sem ele
por perto! Vai me ajudar ou não?
— Por que está bravo? — indagou, confuso. — Ele te fez
alguma coisa?
Respirei fundo, tentando me acalmar.
— Não. Eu nem o conheço. — Bebi outro gole. — Só preciso
que me ajude sem fazer tantas perguntas.
— Não pode me culpar por querer descobrir o motivo para
comprar uma empresa que não é de seu ramo. Droga, Ryan!
Você não entende nada de editoras, nunca sequer leu um livro.
Como pretende fazê-la funcionar sem falir? — questionou
num tom calmo, apesar de eu sentir um toque de nervosismo
ou preocupação em sua voz. — Quando compramos um
negócio, temos que saber tudo sobre ele…

— Estou ciente disso. Contratei alguém que entende e vai


gerenciá-la para mim — blefei. Angelina não poderia, sem
treinamento, administrar uma empresa dessas, porém, Daniel
lhe ensinaria. Bom, não custava tentar. Depois eu falaria com
ele sobre isso.
— Essa pessoa é uma mulher? — comentou, incrédulo.

— Quer parar de fazer tantas perguntas e me ajudar a comprar


a editora? — rosnei com os dentes cerrados.
Ele respirou fundo.

— Certo. Vou falar com Franklin, então daqui a algumas horas


ele vai entrar em contato com você para assinar os papéis da
venda.
— Você parece confiante.
— Não há dúvidas quanto a isso — respondeu. — Nós só
precisamos encontrar algo contra ele e usar a informação. Só
não deixe a Sam saber — disse bem baixinho, para ela não
ouvir.
— Minha boca é um túmulo. Contanto que eu tenha essa
empresa em meu poder, não ligo para mais nada.
— Você vai tê-la ainda esta noite. Jamais aceito “não” como
resposta — sussurrou, rindo. — Apenas da minha Rosa
Vermelha… Felizmente, não durou muito, e agora tenho a
minha obra de arte nua no meu banheiro.
— Está me dando algo no que pensar — brinquei. Embora
houvesse uma época em que a desejei… Bem, isso foi antes de
saber que Lucky se apaixonara.
Ele sibilou.
— Faça isso e eu o mato.
Ri, sacudindo a cabeça.

— Como está a segunda lua de mel?


Gargalhou com bom humor.
— Esplêndida! — falou em júbilo. — Não tem como ser mais
perfeita do que isso.
— Quando vocês voltam?
— Semana que vem.
Lucky e Sam estavam em sua segunda lua de mel em sua casa
nas Bahamas. Na primeira, visitaram Aspen. Sam queria
minha casa para passar a ocasião, mas a do Lucky era muito
maior. Ela nem desejava viajar, na verdade, mas meu irmão a
convenceu, porque na outra eles levaram Shaw, o garotinho
que os dois adotaram; desta vez, ele ficou com a avó da Sam.
Eu me despedi dele e fui trabalhar. Havia algumas modelos
que contratei para desfilar com a nova coleção de lingerie dali
a um mês ou dois na Flórida — a data não fora definida ainda.
Era para eu estar lá no palco, vendo o ensaio delas, mas
mandei o meu estilista, Pierre, e o gerente de vendas, Roger,
irem no meu lugar.
Pierre arregalou os olhos e disse:
— Tem certeza? É um desfile com mulheres lindas e gostosas.
Você nunca perdeu um. — Seu tom aparentava incredulidade.
— Talvez você consiga uma diversão.
Não estava com vontade. Deixaria qualquer decisão necessária
em suas mãos, afinal, ele era o estilista e tinha bom gosto.
Seus talentos já me renderam muito dinheiro, era brilhante.
— Tem certeza que não está doente?

Sacudi a cabeça, sorrindo, e fui embora. Quase ri sozinho


depois, por minha falta de interesse nessas mulheres. Queria
culpar a aposta feita com a Sam, mas sabia que não era isso,
porque apenas ela vinha em minha cabeça: a morena de olhos
escuros como a noite e com lábios carnudos em forma de
coração. Naquela boca residiam todos meus pecados; não tinha
direito de desejar algo tão precioso como o meu Anjo.
Já passava das sete horas quando o Franklin me ligou e
marcou a reunião em seu escritório no centro. Pude ver, pelo
seu tom, que aceitaria, contudo, não parecia nada feliz com
isso. Bom, problema dele.
Assinamos os papéis na frente do seu advogado, do advogado
do Lucky e do meu. Seu nome era Dennis, e tinha a cara séria
como a do Simon, o guarda-costas do Lucky. Poderia ter sido
um soldado um dia, mas acho que não foi.
— Isso não vai ficar assim — rosnou Franklin, me fuzilando
com os olhos hostis.
Lucky me mandou o relatório dele. O cara era um tremendo de
um canalha. Além de ficar com mulheres mais novas, também
pegava menores de idade. Lucky tinha fotos dele com garotas
de quatorze e quinze anos, e jogou tudo nas mãos do seu
advogado. Talvez fosse por isso que seu olhar era mortal ao
fitar Franklin. Se a informação vazasse, o velho não veria a luz
do dia nunca mais na sua vida, por ser um pedófilo que
merecia estar preso. Diria ao Bryan para cuidar dele, já que era
um policial.
Estreitei meus olhos.
— O que foi? É uma ameaça? Se for, deixarei avisado, caso
aconteça algo comigo e com a minha família — rosnei, doido
para acertar a cara do velho tarado. — Você será o único
responsável.
— Estarei do seu lado — falou Dennis, sombrio. — Para
eliminar a escória da Terra.
Franklin suspirou e mirou seu advogado.
— Acabamos por aqui. — Pegou sua pasta e saiu porta afora,
sem nos olhar. Estava furioso comigo.
Sorri por ter a Luxem só para mim. Amanhã, compraria a parte
do Daniel. Meu Anjo teria um lugar para trabalhar sem
ninguém dar em cima dela, muito menos um velho asqueroso
que precisava tomar um balde de Viagra para ter uma ereção.
Fui para casa. Jordan e Jason me ligaram, me chamando para
irmos à Rave. Respondi que não estava a fim de festejar. Eles
perguntaram se eu queria que levassem algumas garotas para o
apartamento onde eu ficava com as mulheres. O prostíbulo,
como ela disse. Ri com esse termo. Ela nem percebeu que
falou isso em voz alta no meu apartamento. Eu não queria
mulher nenhuma porque somente pensava nela, a linda morena
exuberante. Ali eu descobri que estava definitivamente
ferrado.
Capítulo 4

Primeiro beijo

RYAN

Desde ontem à noite não dormia direito. Até queria, mas era
quase impossível, não conseguia parar de pensar na mulher de
corpo perfeito. Embora eu não a tenha visto direito por causa
das suas roupas folgadas, já imaginava suas curvas incríveis,
algo bom para eu passar as minhas mãos. O que estava
pensando? Angelina era diferente de todas as garotas que
costumava pegar e descartar logo em seguida. Foi idiotice
propor a ela ser a minha namorada, tudo para ganhar a aposta
da Sam. Eu sabia que podia ter Alexia, com toda a sua beleza
loira, mas nada comparado a essa mulher divina, que me tocou
fundo. Isso era algo que não podia acontecer.
Seria errado ficar preso com mulheres fáceis; apesar de Alexia
não se comportar assim, ela faria de tudo para eu cair em
tentação, ao contrário da Angie. Eu não ficava com alguém
duas vezes, muito menos aceitava passar meses preso a uma
pessoa que abriria as pernas quando eu quisesse. Eu tinha de
me manter em abstinência até depois do desfile. Ficar sem
mulheres era uma droga, precisaria usar as mãos como um
adolescente na puberdade. Meus testículos já doíam de tanto
tesão, mas eu ganharia essa aposta, custe o que custasse.
Escolhi a garota mais doce e meiga para isso, pois era
intocável para mim. Tão perfeita, tão pura! Deixaria as minhas
mãos longe dela, para o seu bem. Nunca fiquei com uma
virgem que nunca beijou ninguém em sua vida. Choquei-me
ao descobrir isso nas mensagens que trocamos. Quase ri de
mim mesmo. Quando um dia pensaria em mandar mensagem
para uma mulher? O inferno devia estar congelando. Todavia,
não pude resistir; até conseguia visualizar o rosto dela
vermelho no momento em que perguntei com que roupa ela
dormia. Não esperava pela resposta que recebi, mas admito
que gostei.
Caí da maldita esteira quando li aquilo, ela dizendo estar sem
calcinha, mesmo sabendo que mentia. Tinha cara de quem
dormia com um conjunto de calças e camisetas de bolinhas e
corações, aqueles mais desgastados. Não parecia o tipo de
mulher que usava lingerie. Ficaria linda e sexy de qualquer
jeito.

Acordei cedo depois de dormir quase duas da madrugada,


ansioso para vê-la novamente. Isso me assustava, nunca me
senti assim em relação a uma garota antes. Eu não podia
deixá-la entrar em meu coração… Se permitisse, ela
desapareceria igual aos meus pais… Bloqueei este
pensamento. O nosso namoro era só uma aposta e nada mais.
Entoei isso como um maldito mantra.

Quando cheguei ao Bronx, notei a simplicidade do lugar. O


pior era que lá você poderia levar um tiro sem saber de onde
viera a bala. Senti um nó dentro de mim, porque aquele não
era o local ideal para ela morar. Queria lhe dar tudo de bom,
mas a garota não aceitaria. Admirava sua honestidade, dava
para ver pelo dinheiro que rejeitou, aceitando uma quantia
insignificante para mim. Eu não compreendia o porquê de ela
precisar somente daquele pequeno valor. Talvez um dia me
contasse.

Parei em frente ao prédio onde Angie morava, um edifício


antigo de cinco andares, com paredes desbotadas e uma
escadaria de incêndio fornecendo acesso às janelas, entrada
fácil para um ladrão. Isso me preocupava muito. Contrataria
alguém para vigiá-la sem que percebesse. Nossa! Estava
virando um perseguidor? Era só o que me faltava.
Eu já ia deixar o carro quando a vi saindo pela porta do prédio.
Vestia uma blusa branca com uma saia social rosa que deixava
suas curvas bem à mostra, provando que eu estava certo sobre
seu corpo deslumbrante. Os cabelos negros e anelados
balançavam acima da bunda, angelicais. Céus, e que bunda!
Ela não estava sozinha, e sim abraçada com um cara moreno e
forte, cheio de tatuagens nos braços, desenhos que não
consegui decifrar de longe. Trinquei os dentes e fechei os
punhos com força.
— Mas que droga — praguejei sozinho. — Quem é esse
idiota?

Ela me disse que não tinha namorado. Será que havia mentido
para mim? Parecia tão sincera. “Mulher é um bicho
traiçoeiro”, pensei com raiva.

E por que eu me importava com seu possível namorado?


Angelina não me pertencia para eu poder reclamar disso.
Deixaria as coisas bem claras para ela, como, por exemplo: se
namorava, poderia ter me dito e recusado a proposta. Droga!

Saí do meu Bugatti sem tirar os olhos dela. Usava uma bolsa
de alça grossa e salto alto, aumentando sua altura de um metro
e setenta para um e oitenta. O que me impressionou mais
foram suas pernas longas, tudo de bom. Só de imaginar outro
homem tocando-as, me dava vontade de socá-lo, estrangulá-lo
e levá-lo para a cova.

O cara a puxou para si e ia colocar os lábios nos dela. Eu


acelerei os passos para impedir que isso viesse a acontecer, ou
ele seria morto e eu pararia na cadeia.

— Que merda está acontecendo aqui? — rugi com os punhos


cerrados.

Afastou-se dele, como se o homem a empurrasse.


Desequilibrou-se e logo cairia, mas eu a peguei pela sua
cintura fina de violão. Não sabia por que usava aquelas roupas
folgadas, escondendo tamanha perfeição, porém, gostava
disso: assim nenhum bastardo a cobiçaria. Diferente de mim,
completamente fodido de interesse.

Angelina levantou a face e puxou a cabeça para trás, de modo


a olhar para mim; alguns fios de seu cabelo foram parar em
seu rosto. Eu os coloquei para trás da orelha e notei que
utilizava um par de brincos de esmeralda.
A garota sorriu para mim. Nossa! Era como abrir as portas do
céu e ouvir os anjos cantando em adoração à sua perfeição.
Sem falar nesses lábios em forma de coração, deliciosamente
beijáveis.

— O que faz aqui? — perguntou, afastando-se de mim para


me olhar direito.

Queria saber se ela também sentia essa eletricidade diante do


meu toque. Meu corpo inteiro reagia a isso. Estreitei meus
olhos, mirando os dela, e depois o cara que me fitava com um
sorriso idiota.

A Anjo piscou.

— Oh, este é o Johnny, meu amigo. — Apontou para o


babaca, que sorriu ainda mais para mim. — Esse é o Ryan, de
quem lhe falei.

Encarava a menina com as sobrancelhas levantadas.


— Você costuma beijar todos os seus amigos assim? — deixei
o sarcasmo sair alto e claro.

Um tom de rosa lindo se apossou de sua pele branca.

— Não… — Sua voz falhou.


— Eu ia ensiná-la a beijar. — O cara me disse com ar
divertido.

Fuzilei-o.
— E não pensou duas vezes antes de enfiar a sua língua na
garganta dela, não é? — sibilei.

O homem gargalhou e deu de ombros. Fiquei vermelho, dando


um passo em sua direção com os punhos cerrados, pronto para
tirar aquele sorriso da sua cara.

Ela se colocou no meio de nós dois, de costas para ele e de


frente para mim.

— Por que você está reagindo assim? — perguntou, confusa.

— Porque ele está com ciúmes — disse Johnny, achando


graça.
— Não estou. — Nunca senti ciúmes de ninguém na minha
vida, e nem pretendia. Minha vontade era a de esganar esse
cara.

Angelina estreitou os olhos por um momento, logo sorrindo (e,


no processo, acabando com meu coração). Seu sorriso ainda
seria a minha perdição.
— Você está preocupado com o que as pessoas vão pensar se
verem Johnny e eu nos beijando, não é? — falou como uma
declaração.
Isso nem passou pela minha cabeça, apenas não queria outro
cara tocando nela.

— Sim, já que estamos namorando. Estranho chegar aqui e


pegar esse cara enfiando a língua em sua garganta.

— Oh, não era nada disso… — começou, mas ao ver a minha


fúria, se calou e corrigiu: — Desculpe, eu só não queria passar
por inexperiente quando me beijasse. — Abaixou o rosto,
envergonhada. — Talvez você não fosse gostar.

Ela era louca? Como não amá-la por não ter experiência?
Porra, ficava contente com isso.

Toquei seu queixo e levantei seu rosto para enxergar seus


olhos úmidos, que não permitiam às lágrimas escapar.

— Tudo bem, Angelina. — Minha voz soou um tanto grossa


devido às emoções novas que sentia. Estava com ciúmes, sim,
e não suportava vê-la triste. O que aconteceu comigo?
— Garanto que ele beija melhor do que eu — zoou o cara.

Suspirei, controlando a minha fúria quase palpável.

— Vamos? Ou iremos nos atrasar — falei por fim, querendo


sair logo dali, antes de eu cometer um crime.
— Claro. — Assentiu e foi abraçar o homem. — Obrigada por
tudo, Johnny.
Johnny sorriu por cima do ombro dela, ainda a abraçando, e
apertou a sua bunda. O fogo tomou conta de meu corpo, achei
que estouraria como um vulcão. Dei um passo em sua direção,
mas o bastardo piscou para mim e foi embora dando um
“tchau” por cima do ombro. Angie se virou com um sorriso
deslumbrante, que sumiu como uma luz sendo apagada ao ver
a minha cara lívida.
— O que foi?

— Vamos — respondi, indo em direção ao meu carro.


— Eu não vou com o seu Volvo? — indagou, confusa, me
seguindo.

— Não.
Cheguei ao carro e entrei, acompanhado por ela. Partimos.
Angelina ficou calada.
— Por que está com raiva de mim? — Sua voz com sotaque
sulista era só um sussurro.

— Por que o deixou passar a mão em sua bunda depois de


quase tê-lo beijado? — Apertava o volante com força. — Você
tem alguma coisa com ele?

— Não acredito que esteja me perguntando isso. — Pareceu


magoada, fazendo eu desejar morrer. — Você pensa tão mal de
mim?

— O que você quer que eu pense, Angelina? Eu o vi quase


enfiar a língua em sua boca, e ainda por cima pegar na sua
bunda! — gritei involuntariamente, tamanha a minha raiva.
— Não entendo por que está tão bravo.
Expirei para me acalmar, ela tinha razão: não era meu direito
sentir isso e descontar nela. Angie jamais me pertenceria.

— Você está certa, desculpe — falei por fim.


Ela suspirou aliviada.

— Pode se tranquilizar, não sou o tipo dele. Se fosse, nunca o


deixaria pegar na minha bunda.
Fitei-a de olhos arregalados.

— Todos os homens a cobiçam. Você é o tipo de garota que


deixa qualquer um bobo. — “Como eu”, pensei com
amargura.

— Não ele — repetiu, me encarando. — E também não sou o


tipo de todos.
— É claro que é!

— Não sou o seu — rebateu.


Desliguei o carro na Morris Park Ave.
— Por que paramos aqui?

Virei para ela.


— Você é mais do que meu tipo — declarei, e depois a ficha
caiu. — O cara é gay?
— O nome dele é Johnny — retrucou, defendendo-o. — Como
você sabe disso?

— Só assim um homem não se interessaria por você. — Eu me


perguntava quando ela ia notar o quão linda era. A menina não
enxergava sua própria beleza, a beleza que via a quilômetros
de distância, a qual tirava meu sono e me fazia perder a porra
da minha mente.

Corou, mas riu um pouco.


— Então você é gay — disse ela. Eu ri junto.
— Oh, eu não sou. — Se ela imaginasse meus gostos na cama
e o que já fiz com mulheres, nunca mais diria isso.
— Por que paramos, não estamos atrasados? — Mudou de
assunto.

— Por isso. — Inclinei a cabeça na direção dela e coloquei a


mão direita em seus cabelos, puxando-a para mim e devorando
aqueles lábios carnudos. Para falar a verdade, tive vontade de
tomá-la desde que a vi a primeira vez no hospital.
Eu a peguei desprevenida, mas isso foi bom. Senti seu sabor
de morango, delicioso. Beijá-la era como matar a minha sede
em um oásis no meio do deserto.
As minhas mãos vagaram em sua cintura fina e em seus fios
perfeitos várias vezes. Segurei-a pela cintura e a sentei em
meu colo, sem nunca tirar a boca da dela. Sentia suas mãos em
meu peito e em meus cabelos. Ela gemeu quando mordi a sua
boca e suguei sua língua; quase fiquei louco. Eu
esquadrinhava seu corpo com os dedos e segui até a barra da
saia, ao que a garota endureceu. Afastei-me, interrompendo o
beijo. Deus, e que beijo! Nunca senti tanto desejo por
ninguém, e parecia longe de estar saciado.

— Desculpe, me deixei levar — sussurrei com falta de ar. Essa


garota era a minha ruína.
Ela assentiu, também sem fôlego, focalizando meus lábios e
meus olhos, que agora pareciam bêbados. Via a mesma fome e
desejo nos dela. Droga! Acabaria magoando-a e não queria
isso. Só de pensar em vê-la sofrendo, me encolhia por dentro.

Angelina se afastou, suspirando, e se ajeitou no banco,


arrumando seus cabelos bagunçados.
— Isso foi… U-A-U.

— Que bom que gostou — respondi com um sorriso devasso.


— Se o beijo é assim, imagine… — interrompeu-se, fitando as
minhas calças a pleno vapor, duro como uma rocha. Seu olhar
era tão quente que tremi, quase gozando.
— Pare de me encarar assim — pedi, meio ofegante. Quando
fiquei desse jeito com um amasso? Nunca! Perdi o controle. —
Estou tentando me comportar.
A garota expirou, um tanto… desapontada?
— Ah, a aposta.

Trinquei os dentes.
— Não estou falando da aposta, Anjo, e sim que você merece
coisa melhor. Não sou seu cavaleiro da armadura brilhante, e
nunca serei.
Ela bufou.

— Foi só um beijo, Ryan, não estou pedindo para se casar


comigo. Sei que não faço o seu tipo.
— Não, você não faz. — Não queria dizer isso, mas
necessitava impedi-la de se iludir comigo.
Soltou um olhar fulminante.
— Olhe aqui, sei que vamos ter de nos beijar algumas vezes
— seu tom era enervado —, e lamento que para você seja
ruim… Sugiro que use bastante enxaguante bucal para
diminuir o asco.

Eu arquejei.
— Ficou maluca? Quem falou em ter nojo? — Bati as mãos no
volante. — Droga, Anjo, vejo como seu corpo reage ao meu
toque, e por mais que eu goste dos seus beijos e carícias, não
posso…
Ela piscou.

— Ryan, eu não transaria com você ou faria algo mais do que


beijá-lo. — Passou as mãos nos cabelos num gesto nervoso. —
Se fizesse, me sentiria como uma prostituta, e isto eu não sou.

— Por quê?
— Estou sendo paga para ser sua namorada, e não outra coisa.
Sem chance de sexo — murmurou. — Você pode ter um
monte de mulheres, é só estalar os dedos para elas caírem de
joelhos aos seus pés, mas eu não. — Aparentava tristeza. —
Meu corpo pode sentir algo por você quando me beija, porém,
eu o controlo. Homens como você só servem para quebrar
corações.
— Eu… — comecei a me desculpar; ela não permitiu.

— Então — cortou ainda com fúria na voz —, se você quiser


dizer algo a mim ou achar que estou passando dos limites,
apenas fale, não me humilhe novamente. — Fungou, olhando
a janela. — Sei que não sou nada se comparada às mulheres
que já teve, não chego aos pés delas. Você não precisa me
lembrar.

Sentia-me um completo estúpido por fazer isso com ela, uma


besta-quadrada. Deveria apanhar até virar um homem digno.
Ela já se achava inferior às outras, por que fui falar aquilo?
Merda! Queria dizer que ela era incomparável, contudo, fiquei
quieto.
— Perdoe-me, Anjo… Sinto algo por você, mas não desejo
que crie laços comigo. Juro que nunca mais vou dizer nada
que a magoe. — Ergui a mão direita. — E para que fique
sabendo, seu beijo é o melhor que já tive. — Toquei sua boca
aberta. — Oh, Deus, estes lábios! Vai ser difícil esquecer, mas
farei de tudo para não feri-la, prometo. — Olhei dentro de suas
duas pedras de ônix. — Você me perdoa? Por favor?
Afastou-se de mim. Eu me encolhi, com medo de ela ter se
zangado de novo. Felizmente, Angie sorriu.
— Alguma vez você já pediu perdão a alguém, ou por favor?
Respirei aliviado.

— Não, esta é a primeira.


“Um monte de primeiras vezes”, pensei. Primeira crise de
ciúmes, primeiro beijo a me consumir, primeira mulher de
quem quero mais que sexo, primeira para quem compro uma
empresa.

— Tentarei tomar isso como um elogio — disse ela, jogando


seus cabelos atrás dos ombros. O cheiro de lavanda dominou o
ambiente, me deixando tonto e duro de novo.
— É um elogio, mesmo que às vezes eu seja um idiota, como
agora há pouco — declarei.
Lançou-me um sorriso tênue.
— Tudo bem. — Ficou séria: — Quando tudo isso acabar,
espero continuarmos amigos. Você é um cara legal, com
algumas exceções.
Ri com isso.
— Obrigado, mas depois do trato acabar, não acho que
possamos ser amigos. — Meu tom era triste. Só de pensar
nisso, sentia um vazio no peito.

Angelina me olhou com suas íris inalcançáveis, agora sem


brilho.
— Por que não? — Murchou como uma flor ao morrer.

— Porque não posso ficar perto de alguém por quem sinto


essas coisas — sussurrei.
— Que coisas?

— Você sente o mesmo que eu. — Olhei-a de soslaio. — A


eletricidade e o desejo forte de me enterrar dentro de você.

Ela engasgou com isso.


— Eu não sinto vontade… — interrompeu-se, fitando minhas
calças. — Oh, céus, isso é…

— Chama-se desejo, algo que eu nunca senti desta forma por


mulher nenhuma em minha vida. — Com as outras era apenas
sexo, sem tanto querer.
Mirou-me de olhos arregalados.
— É claro que já, afinal, você fica com milhares de mulheres
diferentes — acusou.
— É puramente sexual…
Arqueou as sobrancelhas negras e alinhadas.
— E comigo não é?
— Oh, com você é diferente, não é só sexo, tem algo a mais.
— Eu me encolhi. — Não estou pronto para enfrentar isso.

— Bom, da próxima vez, diga a verdade. Gosto de ser franca


com as pessoas, e que elas sejam comigo. — Pegou a minha
mão e a apertou. — Você apenas precisa ser sincero sempre,
sem precisar me magoar para me afastar. Vou entender. —
Bagunçou meus cabelos. Eu nunca gostei de mulheres tocando
em mim, mas ela era uma exceção. Sempre deixava as demais
amarradas ou algemadas na hora do sexo para evitar toques. —
Está perdoado, mas vamos evitar nos beijar com frequência.
— Sim — assenti.

Ficamos em silêncio até chegar à editora do Daniel, ou melhor,


à minha. Ela não se localizava muito longe da minha agência
de modelos, situada na Fifth Avenue. A editora ficava dois
quarteirões à frente, na Madison Ave.

Parei diante do prédio envidraçado de vinte e cinco andares —


dava uma bela vista para quem passava na rua —, com paredes
de tijolos avermelhados posicionadas em locais estratégicos.
Na fachada, lia-se “Editora Luxem”, o sobrenome do Daniel.
Manteria o nome por ora, depois mudaria para Editora
Donovan. Se fizesse isso agora, ela descobriria que era minha
a empresa e, talvez, não quisesse mais trabalhar ali.
Seu olhar se fixava no edifício, como se tivesse ganhado o
melhor presente do mundo. Logo se virou para mim, com seus
olhos brilhando.
— É aqui? — Parecia em dúvida.
— Sim — respondi, gostando de vê-la feliz. Valeu cada
centavo pago. Quando Lucky mencionou que deu a Vênus
para Sam, achei que ele estava louco. Agora, eu comprara uma
editora somente para ela trabalhar com o que amava. Éramos
dois doidos. Apenas queria fazer tudo por esta mulher que, em
menos de doze horas (ou até antes disso, desde o hospital), se
instalara sob a minha pele. Quanto mais ficava perto dela,
mais difícil era pensar que teria de deixá-la no final da aposta.
— Tem certeza? — perguntou, como se isso fosse bom demais
para ser verdade. — É tão lindo!
Sorri.
— O meu amigo é o dono — menti. — E que bom que gostou.
Imaginei que se encaixaria bem em uma editora, por adorar
livros.
— Oh, aqui é o céu. — Piscou com as íris brilhantes. — Farei
de tudo para passar no teste.

Franzi a testa.
— O serviço já é seu, não precisa de teste nenhum. — Não
paguei uma fortuna para submetê-la a um maldito teste.
Anjo sacudiu a cabeça.
— Você já fez o bastante por mim, agora é por minha conta.
— Fitou-me suplicante. — Quero ter uma prova ou entrevista
como todo mundo. Ao menos um contrato de experiência, por
favor.
Eu suspirei. Como ela não tinha experiência, não seria
aprovada se a editora fosse de outra pessoa. Jamais diria isso a
ela. Admirava seu esforço em lutar por algo que desejava,
mesmo que lá no fundo eu quisesse somente dar tudo a ela.
Era estranho… Nunca liguei para nada, para nenhuma mulher
que não fosse Rayla ou minha mãe.
— Tudo bem. Mas se ele der em cima de você, aí eu me meto
sim.
A garota sacudiu a cabeça.
— Jura que o dono disso ia querer algo comigo…
Se ela soubesse de tudo, veria o quão errada estava: comprei a
editora somente para realizar seu sonho. Caso alguém além de
Lucky descobrisse o que fiz, diriam que perdi a cabeça. Mas
eu não dava a mínima para a opinião de terceiros; minha única
preocupação era colocar este sorriso lindo no rosto dela.
— Você deveria se olhar mais no espelho — adverti. — Não
importa se os homens têm dinheiro ou não, quando eles a
veem, ficam loucos.
— Bobagem — descartou com um gesto de mão.

Deixei passar. Mesmo quando tudo acabasse, insistiria para ela


manter seu emprego, pois parecia tão animada. Por isso
comprei a editora, assim não corria o risco de ela ter de sair
caso eu partisse mais para frente. Uma pontada de dor atingia
o meu coração ao pensar em deixá-la. Alisei meu peito para
ver se aliviava; não adiantou.
Chegamos à recepção do prédio e fomos para o vigésimo
quinto andar, onde ficava a sala do Daniel — por três ou
quatro meses, até ele ir embora para participar de suas corridas
de carro, seu sonho. O cara era um piloto nato.
Lá estava Karen, a secretária do Daniel. Loira, com cerca de
um metro e oitenta, e corpo curvilíneo por debaixo do terninho
colado. Eu e Daniel fizemos um ménage com ela uma vez.
Depois disso, os dois saíram algumas vezes. Viramos amigos,
ou melhor, não nos tornamos inimigos — eu não era de ter
amizade com mulheres.
Ela sorriu para mim ao chegarmos perto de sua mesa.
— Como vai, Ryan? — cumprimentou num tom meloso.
Angelina fechou a cara para Karen e eu. Com um sorriso
forçado, passou o braço em minha cintura, me segurando de
lado.
— Você vai me apresentar sua amiga, amorzinho? — disse ela.
Podia ver que se esforçou muito para não grunhir.

Sua expressão era intensa. Irritara-se comigo ou com a garota?


Eu não sabia. Imagine se ela descobrisse que já rolou algo
comigo e a Karen? Gostei de vê-la enciumada. Sua mão por
cima da minha camisa gerou um frenesi em meu corpo, dos
pés à cabeça. Eu me perguntava se ela sentiu o mesmo.
Esperava que sim, do contrário, seria injusto.
Karen desfez seu sorriso por um instante ao me perceber
acompanhado. Logo voltou ao normal, educada e eficiente em
seu trabalho.

— Oi, Karen, esta é minha namorada, Angelina. — Olhei de


uma para a outra. — Anjo, esta é Karen, secretária do Daniel.
Ouvi Karen ofegar.

— Anjo? Namorada? — inquiriu, um tanto ultrajada.


Chocara-se com isso, afinal, eu nunca namorei ninguém; meu
negócio era pegar, provar e largar, sem compromisso.

Angel deu um sorriso doce.


— Apelido carinhoso — respondeu, beijando meu rosto. —
Não é, amorzinho?
Mirei-a com um esboço de sorriso. Ela estava se comportando
assim por ciúmes de Karen. Angie não gostou da afabilidade
da secretária em relação a mim, mas não reclamei, afinal, fiz o
mesmo com o tal de Johnny — e, a despeito dele ser gay, eu
continuava com vontade de quebrar as suas duas mãos por
pegar naquela bunda perfeita e gostosa com a qual eu tanto
sonhava. “Ela não é para você”, lembrei-me. Céus, Angie era
tão doce e pura que dava raiva imaginar outro cara tocando
naquela perfeição de corpo.
Eu sorri, entrando no jogo.

— É claro, Anjo — puxei-a para os meus braços e a beijei


com entusiasmo e fervor. Estava louco para ter mais desta
boca saborosa. Nunca seria o suficiente, sempre desejaria mais
e mais dela. Se o beijo era assim, nem conseguia conceber a
ideia de estar dentro da garota, com ela gritando o meu nome,
algo que nunca deixei acontecer: quando ficava com uma
mulher, a impedia de gemer o meu nome.
— Você trouxe a nova contratada para beijá-la na minha
empresa ou para me apresentar? — zombou Daniel.

“Minha empresa”, pensei, só não disse em voz alta.


Pretendia ignorá-lo, mas Angie estava se afastando. Segurei-a
perto de mim, passando os braços em sua cintura e
sussurrando em seu ouvido.
— Já ouviu aquele ditado: “Quem mexe com fogo acaba se
queimando?”. — Afastei o meu rosto do dela e sorri para
tranquilizá-la. — Está tudo bem, Anjo.
Ela fitava o Daniel, escorado no batente da porta de sua sala
com um sorriso de gato prestes a comer um canário. Sabia o
que ele pensava, que Angelina era similar à Karen,
compartilhável. Estava redondamente enganado: a menina não
era para mim, e muito menos para ele. A sua fama de
conquistador era igual à minha, se não pior.
— Sem chance disso acontecer — rosnei para ele, pegando na
mão dela e a levando para a sala do cara. — Não divido com
ninguém, está me ouvindo?
Daniel tinha boa aparência. Um metro e oitenta e oito, cabelos
negros e curtos, chegado à roupa social, terno e gravata. Não
entendia como ele não se sufocava naquilo. Nem morto eu
usaria essas coisas.
Angelina estreitou os olhos com o que eu disse, contudo, não
falou nada. Assim que entramos, Daniel fechou a porta. A sua
sala parecia uma biblioteca, coberta de estantes recheadas de
livros que eu não conhecia. Não era muito fã de leitura. No
entanto, não me arrependia de ter comprado a editora: tudo
para ver minha mulher feliz. “Minha mulher!”. Maldição,
estava enlouquecendo.
Ele se sentou em sua cadeira, de frente para nós, e apoiou as
mãos sobre a mesa de madeira avermelhada, com vários
papéis em cima. Eu não sabia o que fazer com isso depois de
findado nosso acordo; não queria pensar nisso agora.
Angelina, encantada, fitava os livros em cima da escrivaninha
de Daniel.
— Você tem First Folio, de Willian Shakespeare? —
espantou-se.
Daniel olhou para o livro e depois para ela, com um sorriso.
— Já leu?
— Não, mas sei que há poucos dele. Vi que o cofundador da
Microsoft, Paul Allen, adquiriu um por seis milhões em 2001
— disse, um tanto impressionada com o valor.
— Gostaria de ler? — Não parecia uma pergunta.
Angelina suspirou e ficou reta na cadeira.
— Quem não gostaria? — Sorriu para ele. — Mas seria
impossível, então me contento outros livros.
Ele assentiu.
— Este livro foi do meu pai, que o comprou há alguns anos,
pois colecionava coisas antigas. — Isso era verdade, a casa do
senhor Michael parecia mais um museu, não sabia o que a
senhora Amélia faria com as antiguidades dele, agora que o
homem morreu. — Nunca li. Se você quiser emprestado…
Ela engasgou.
— Oh, não! — falou, após se recuperar.
Daniel franziu o cenho.

— Por quê?
Angie suspirou.
— Mal nos conhecemos, e o livro vale uma fortuna… Se eu
estragasse ou se roubassem… — Estremeceu. — Obrigada por
oferecer.
Daniel me encarou como se perguntasse: “O que você está
fazendo com essa garota doce e meiga?”. Era a questão que eu
levantava a mim mesmo desde que a reencontrei. Depois, meu
amigo se virou para ela.
— Sei que não nos conhecemos, mas já que botou meu amigo
aqui no cabresto — seu tom no final era incrédulo —, pode
pegar emprestado.
Revirei os olhos com o termo. Até parece que um dia ficaria
com somente uma mulher, ainda mais para sempre. Isso era o
que eu me dizia a todo o momento, um mantra maldito para
não cair em tentação, tentação esta que estava ao meu lado.
— Bom — continuou —, se você quiser, confio que nada
acontecerá ao livro.
Não precisava dizer que a obra também era minha, já que
comprei a editora com tudo dentro. Daria de presente a ela
antes do nosso acordo findar.
Angie estava um tanto chocada pela proposta do Daniel, aliás,
eu também. Só esperava que ele não estivesse bancando o
galinha para cima dela, por saber que a garota amava livros.
— Obrigada por sua gentileza, vou passar — respondeu,
nervosa, pigarreando. — Mudando de assunto, primeiro quero
me desculpar.
Nós dois ficamos confusos.
— Pelo quê? — Daniel inquiriu.

— Por encontrar Ryan e eu nos beijando. — Enrubesceu. A


cor em seu rosto era linda.
Meu amigo estreitou os olhos para mim. Em seguida, fitou-a
com a expressão mais calma.
— Oh, não se preocupe, estou acostumado com o Ryan
fazendo isso.
— Quer dizer que ele ficava beijando mulheres por aí, em
público? — questionou com uma pontada de ciúmes.
Daniel bufou.
— Beijar? Não, querida, ele mal jogava a camisinha fora e saía
do local onde estava. Por isso te dou os meus parabéns por
domá-lo.
— Certo, vamos falar de trabalho ou do meu passado? —
rosnei, fuzilando o bastardo.
Ele sorriu e assentiu, sem se preocupar com meu tom
ameaçador.

— Então, “Anjo” ou “Angelina”?


— Angelina Mary Stone. Só o Ryan me chama de Anjo,
ignore-o.

Sorri torto.
— É o que você é, meu Anjo. — Eu me aproximei sem tirar os
olhos dos dela, que deu um tapinha no meu braço.

— Comporte-se — advertiu.
Daniel encarava nós dois, estupefato.
— Angelina, você fez alguma coisa antes? Cursos?
Ela puxou seu currículo da bolsa e entregou-o a ele. Daniel o
pegou e o leu por alguns minutos.
— Aqui diz que interrompeu a faculdade de Literatura quase
no final, por quê?
Angie expirou, segurando uma mecha de seu cabelo e
enrolando-a nos dedos. Notei que ela sempre fazia isso quando
ficava nervosa.
— Meus pais morreram em um acidente de carro… Por isso
não deu para terminar. — Sua voz era um sussurro de dor. Os
olhos umedeceram, sem chegar a derramar lágrimas.
Eu pisquei, chocado, não fazia ideia de que isto também
acontecera com ela. A dor de perder meus próprios pais
continuava presente, fincando fundo. Deveria ser igual para
Angie.
Com um olhar, pedi a Daniel que mudasse de assunto. Ele
suspirou.
— Eu sinto muito.
Angelina respirou fundo.
— Está tudo bem — falou, mas não estava… Escutava o
sofrimento em sua voz.
— Você será a minha nova assistente pessoal. — Trocou de
assunto; nenhum de nós estava pronto para ver uma mulher em
prantos, ainda que certa por se sentir assim.

— E a Karen? — grunhiu o nome da secretária. Acho que ela


já suspeitava que tivemos algo no passado para reagir deste
modo.
— Ela vai se casar…
— Casar? — soltei, descrente. Karen era uma mulher de
balada e diversão, costumava dizer que nunca se prenderia a
alguém.
— Por que o interesse? — Angie me censurou.
Olhei-a de forma dúbia.
— Não há interesse algum! Só tenho olhos para você, Anjo —
declarei a verdade: parecia que todas as mulheres do mundo
haviam sumido para mim, existia apenas ela.
A garota sorriu com candura.
— Isso é bom, porque se reparar em outra, vai ficar sem os
olhos — ameaçou.
Não sabia se disse isso porque sentia ou pelo fato de Daniel
estar presente. Gostei, tirou a tristeza de suas belas íris.

— Hummm — murmurou Daniel, curioso.


Ela se recompôs e se virou para ele com cenho franzido.
— Sendo sua assistente, vou precisar sair da cidade? —
perguntou, preocupada.
— Sim, sempre que eu tiver de viajar a trabalho, você irá
comigo.
Não gostei da ideia dela longe de mim e perto de Daniel.
Estava prestes a discordar, Angie não iria a lugar nenhum.
Porém, ela falou antes.

— Não posso dormir fora de casa. — Notei que ela estava


nervosa, com medo de que esta notícia a fizesse perder o
emprego. Era claro que isso não atrapalharia em nada, eu
estava mais do que feliz por ela não ir a qualquer local
distante.
— Você tem filhos? — sondou, intrigado.
Angelina respirou fundo.
— Não, apenas dois irmãos de quem tomo conta. Preciso ficar
com eles.
Arregalei os olhos, desconhecia esta parte de sua vida também.
Por que não perguntei nada à garota? Eu era uma besta
mesmo.
Ele assentiu, um tanto chocado, assim como eu.

— Quantos anos eles têm?


— Shane tem oito, e Lira tem três, aliás, faz mês que vem. —
Expirou, como se a data fosse dolorosa de lembrar. Eu não
entendia, não era para ser um dia alegre, um aniversário?
— Três anos no próximo mês? — Ele buscou alguma coisa no
currículo dela. — Foi nesse período que você saiu de
Columbia, não? Foi por eles que deixou a universidade?
— Sim, estava na faculdade quando recebi a notícia do
acidente… Mamãe estava grávida de Lira, graças a Deus
conseguiram salvá-la. — Riu com amor. — A minha
bonequinha linda. Depois, a assistente social entrou em
contato comigo, me dando opções. Primeira: permitir ao
estado tomar meus irmãos de mim ou dá-los para minha tia
Alice. — Sacudiu a cabeça. — Jamais deixaria isso acontecer.
São tudo o que sobrou da minha família, sem eles eu morreria.
Segunda: conseguir um trabalho e tomar conta deles. Foi o que
fiz, e não me arrependo de nada.
Daniel pigarreou, comovido, tal qual eu. Como uma pessoa
maravilhosa, que se sacrificava pelos outros se esquecendo
dela própria, aparecera na minha vida? Um bastardo filho da
puta que podia machucá-la. Não… Não feriria a única capaz
de encher meus dias de luz. Repetiria isso a mim mesmo até
enraizar a mensagem no meu cérebro.
— Certo, vamos fazer o seguinte. Você vai trabalhar como
minha assistente, mas não viajará comigo. — Colocou o
currículo dela na mesa. — Avisarei com antecedência quando
isso tiver de acontecer, e você preparará tudo para mim.
Ela assentiu.
— Sim, pode deixar. — Parecia quase eufórica. Eu também
estava feliz por vê-la radiante.
— Ok. — Levantou-se e pegou uma pasta em uma gaveta na
estante. — Darei um manuscrito a você, para ver como se sai.
— Tenho um manuscrito que eu mesma escrevi. Sempre ando
com ele, você pode lê-lo se quiser — falou meio tímida.
Daniel se impressionou.
— Você escreveu um livro?
— Sim. — Ela pegou uma pasta rosa na bolsa, com vários
papéis dentro. — Sei que não terminei a faculdade, mas
aprendi bastante coisa pela internet e pelos livros.

Ele deixou seus papéis de lado e segurou a pasta.


— “Dilacerados”? — Leu o título. — Pode fazer uma síntese?
Angie ficou nervosa, mexendo numa mecha de cabelo.
— Hummm. — Pigarreou. — Conta a história de Elizandra,
uma garota simples, mas com garras para lutar pelo que quer.
Ela trabalha em uma lanchonete para sustentar seus irmãos
pequenos e sua mãe doente. Neste lugar, conhece Nathan,
moreno, alto, de olhos intensos, cor de ouro. Ele é dono de
uma empresa de sucesso, e devido à sua fama, é cercado de
mulheres, uma diferente a cada dia. Elizandra se apaixona por
ele e o homem a quebra, o que acontece sempre que uma
garota simples passar a amar um playboy. Não sou muito boa
para resumir em voz alta, mas me dou bem no papel, prometo.
Ficamos pasmos. Daniel folheou algumas páginas, arregalando
os olhos.
— Vejo que é um livro com um dominante e uma submissa. —
Piscou. — Você gosta deste tipo de história?
Ela corou.
— Sim, embora nunca me submeteria a isso.
Ergueu as sobrancelhas.

— Nunca fez sexo assim?


Ficou mais vermelha ainda e olhou para mim, buscando ajuda.
Fuzilei Daniel.

— Isso não é da sua conta — sibilei entre dentes. — Foque no


trabalho.
O cara sorriu, inabalável.

— Desculpe, Angelina, apenas fiquei curioso pela história.


— Só porque escrevo a respeito disso, não quer dizer que eu
faça tudo — afirmou com seu sotaque sulista, que a tornava
mais sexy, quase impossível de resistir. Devia dar graças ao
meu autocontrole; acho que logo ele vazaria pelas frestas. —
Este livro faz parte de uma trilogia. Não estou pedindo para
publicá-lo, e sim para olhá-lo e ver como eu me saio. Por
favor, me diga a verdade, não deixe que sua amizade com
Ryan o influencie. Do contrário, nunca vou aprender com os
meus erros e corrigi-los.
Ele assentiu, ainda um tanto chocado.
— Passarei para nossa revisora, veremos como é a sua escrita
— disse, fechando a pasta. — Hoje, Karen resumirá todas as
suas funções.
— Obrigada — respondeu animada. Percebi seus olhos
estreitos com a menção do nome da Karen. Reparara que ficou
mais aliviada depois de saber do casamento da secretária.
Como se fosse querer alguma coisa com ela… Só a minha
doce namorada para pensar isso.
Daniel chamou a Karen e as duas saíram, nos deixando
sozinhos.
— Onde você achou essa garota? — indagou, logo que
deixaram a sala.
Suspirei.
— Ela faxinou meu apartamento. Mas já a tinha visto antes,
porque doou sangue para Sam.
— Oh, então ela é a mulher em que você estava pensando este
mês todo? — Sua voz soou aguda.
— Quem disse que eu estava pensando em uma mulher?
— Lembra da semana retrasada, quando ficamos com aquela
garota na Rave?
Eu sacudi a cabeça.
— Não me lembro, estava um pouco chapado.
— Você a chamou de Anjo enquanto a fodia. Não acredito que
a mulher de suas fantasias bateu à sua porta um mês depois
que a conheceu no hospital.
— Ironia, não? — trocei de mim mesmo.
— E você já foi oferecendo um emprego a ela? Ou melhor,
comprando uma empresa só para ela ter onde trabalhar sem
correr o risco de ser demitida ou assediada? — sondou de
forma dúbia.
Estreitei os olhos.

— Se alguém daqui fizer algo assim, será mandado embora em


dois segundos, isso se eu não o matar antes — rosnei.
— Vejo porque gosta dela.

— Ela é diferente de todas que conheci, não liga para o meu


dinheiro. É boa, doce e meiga — falei um pouco da verdade.
— Posso ver isso. Ela é virgem? — Ele me avaliava. — Vocês
já foram para a cama? Porque pela forma que disse que não a
dividiria e pelo rosto vermelho da garota, parecia ter algo
mais. Enxerguei que ali tem inocência.
— Ela não é dessas mulheres com quem você sai e logo vão
abrindo as pernas. A Anjo…
— Por que a chama de Anjo? — Parecia abismado com isso.
— Ela é como um anjo lindo, cercado de doçura e bondade,
que se sacrifica pelos outros, se esquecendo dela própria.
Como você viu agora: desistiu de tudo pelos seus irmãos. E
não transamos ainda, estou esperando o seu momento. — Não
contei a verdade a ele; sabia que isso nunca aconteceria.
— Então, ela…

— Sim — cortei.
Daniel suspirou, olhando a pasta de Angelina e seu manuscrito
sobre a mesa. Não imaginava que ela havia escrito um livro.
Era uma garota vibrante e muito talentosa, pelo que percebi.
— Olhe, Ryan, nós somos amigos há muito tempo. Já vi você
pisar em mulheres mais do que eu. Por favor, não a quebre.
Fitei-o, desconfiado.
— Por que você se preocupa? É igual a mim — retruquei.
— Eu sei, mas nunca me aproximei de garotas semelhantes a
ela. Pense bem, Angelina já sofreu demais, não acha?
Ele tinha razão, eu não podia e não faria isso com ela. Não a
machucaria, faria de tudo para impedir.
— Não a magoarei — jurei para mim mesmo.
— Fico feliz com isso — respondeu, mais calmo. — Agora
vamos tratar de negócios. — Pegou uma pasta preta na gaveta
da mesa e passou-a para mim. — Aqui está a escritura da
editora. Eu soube que Franklin não queria assinar.
Ergui as sobrancelhas.
— Soube? Ou ele veio reclamar?
— Veio aqui dizer para eu não vendê-la, porque você iria
afundá-la em um mês. — Revirou os olhos. — Respondi que
não tinha muito poder para lutar contra Lucky Donovan…

— Não sei por que ele queria a editora, se nem aparenta saber
ler. O velho safado gosta é de meninas novas. — Soltei com
amargura ao pensar nisso. — Assinarei o contrato, e inclua
este livro na lista. — Apontei para a obra que ela desejava.
— Você vai comprar um livro de seis milhões para uma
mulher? — inquiriu, ultrajado.
— Adquiri uma empresa que custa mais do que isso, por que
não posso comprar um livro junto? — retruquei, rubricando as
páginas e assinando ao final.
— Meu amigo, você foi fisgado — disse com uma risada. —
Finalmente domaram Ryan Donovan.
Não discordei, pois eu não sabia realmente o que estava
acontecendo comigo. De uma coisa tinha certeza: faria tudo
para vê-la sorrindo. Sua alegria iluminava a minha vida. Para
ela eu daria o sol, as estrelas e todo o universo, se me
pertencessem.
Capítulo 5

Ciúmes

ANGELINA

Acordei hoje cedo na esperança de que o serviço que Ryan


prometeu fosse bom e respeitável, porque cá entre nós, ser
faxineira podia ser cansativo, mas era um trabalho digno,
então esperava continuar assim. Não faria algo desonroso, que
envergonhasse meus irmãos no futuro.
Quando cheguei à Editora Luxem, pensei estar em um sonho
lindo, do qual a qualquer hora pudesse acordar, e o castelo
viraria pó.

Ryan e eu entramos no prédio de paredes cor de creme, com


um lustre enorme no teto principal. Também havia fotos de
autores recebendo prêmios. Adorei. Ao chegarmos à recepção,
no último andar, com vista para a cidade, vi uma mulher loira
de corpo perfeito e pernas longas. Seus cabelos estavam presos
em um coque.
Ela sorriu ao avistar Ryan. Não gostei do jeito com que olhou
para ele, como se já tivesse provado do fruto, ou coisa assim.
Não duvidava nada disso, afinal, ele era um mulherengo, e,
com certeza, ficara com quase todas as garotas da cidade.
O meu chefe era um cara moreno de olhos cor de mel, muito
lindo, ainda mais com seu meio sorriso ao me fitar de lado.
Usava roupa social Vanquish. Um terno como aquele custava
uma fortuna. Pelo seu sorriso sexy, era outro conquistador, à
semelhança de Ryan.
Quando Ryan disse ao Daniel que eu não era para ser dividida,
compreendi que compartilhavam mulheres, deviam fazer isso
quase sempre, um ménage. Bem, já tinha visto Ryan com duas,
mas dois homens e uma garota? Interessante!
Isso se parecia muito com a história do livro que escrevi,
Dilacerados, mas eu não era Elizandra para me apaixonar por
um playboy cheio da grana. Se isso acontecesse, me quebraria
aos pedaços, sem conseguir me reerguer. Com Caim foram
cinco anos até superá-lo. Com Ryan seria impossível esquecer,
passaria a eternidade o amando.

A minha entrevista com o dono e presidente da Luxem foi


bem-sucedida. Porém, quando chegou a parte de eu falar o
porquê de não conseguir terminar meus estudos, achei que não
conseguiria contar da perda dos meus pais. Deixei de lado a
outra perda que tive, a da minha outra metade. Bem, era assim
que as pessoas definiam gêmeas, não? Afirmavam serem uma
só carne. Ângela era tudo na minha vida. Parei de pensar isso
ou sucumbiria ali, na frente do meu novo chefe e do Ryan. Isso
não podia acontecer. Coloquei a dor de lado e me concentrei
no trabalho.

Depois que Karen me falou sobre o serviço, não me pareceu


nada difícil. Ela me mostrou onde ficava cada manuscrito que
precisava ser visto, e me fez fazer três capítulos para ver como
me saía. Consegui concluir após algumas horas.

— Você é boa — expôs, lendo o manuscrito corrigido.


— Obrigada — agradeci meio sem jeito.
— Desculpe falar — começou, hesitante —, mas eu nunca
pensei que o Ryan seria um dia fisgado por uma mulher. —
Sorriu para mim.

Evitei um suspiro.
— Também custo acreditar — menti, porque isso nunca
aconteceria (não comigo, pelo menos).

Ryan me levava todos os dias para o trabalho na editora.


Tentei impedir; foi em vão. Ele me deixava e buscava. Estava
preocupada porque o que eu sentia por ele crescia a cada dia,
impossível de controlar. Quando ele chegava perto de mim,
meu coração palpitava e meu estômago parecia ter mil
borboletas.

Ele me largou na Luxem sexta-feira e foi para sua empresa.


Lá, se cercava de mulheres, uma mais linda do que a outra.
Quando olharia para uma garota sem graça igual a mim?
Nunca! Não era nada comparada às modelos bem-vestidas
com as quais convivia. Minhas roupas se resumiam a jeans e
camisetas folgadas, e meus cabelos eram arrumados em casa, e
não num salão de beleza.
Aprendi muita coisa ao longo da semana na minha função na
editora, foi bom para mim. Amava trabalhar lá. Na sexta-feira,
Daniel disse para eu ir embora mais cedo porque ele também
estava saindo.
Não encontrei Ryan à minha espera. Pensei em pegar o ônibus,
estava acostumada, contudo, não podia: por namorar com ele,
alguém poderia me ver e filmar, e no dia seguinte eu
apareceria na televisão e nas revistas. Não queria isto, era
melhor eu me manter no escuro. Sabia que não ficaria muito
tempo escondida das câmeras, entretanto, faria o que pudesse
para prolongar. Peguei meu celular e liguei para ele.
— Alô? — respondeu uma voz de mulher.

Um frio desceu por minha espinha ao imaginá-lo com outra.


Será que já tinha arranjado alguém?

— Ryan está? — sondei. “Talvez tenha discado o número


errado por engano”.

— Quem deseja? — inquiriu a garota, um tanto irritada.

— Angelina, queria falar com ele — sussurrei, tentando não


transparecer a dor na minha voz.

— Olhe aqui, Angelina, o Ryan não pode atender porque está


em sua sala com uma modelo linda, então você já era.

— O quê? — Quase gritei em frente à empresa. Ela desligou


sem responder.

Não acreditava que aquele cretino fez isso comigo. Ele não me
queria tanto como sua namorada? Como pôde sair por aí para
transar com outras mulheres? Quem saberia que fez uma
maldita aposta, certo? E, além disso, como eu descobriria que
ele não estava cumprindo com sua parte? Coitada dessa Sam,
com certeza estava sendo enganada, tal qual eu.

— Vadia — rosnei para o celular.


— Algum problema? — indagou uma voz profunda atrás de
mim.

Eu me virei e encontrei Daniel, que me mirava com um olhar


preocupado.

— Não — menti.

— Você parece com raiva — observou, não acreditando em


mim.
Eu suspirei.

— Eu vim de carro com Ryan, mas agora ele está ocupado. —


O ruído que saiu da minha garganta era de asco e ódio.

Ele estreitou os olhos.


— Ryan disse isso para você? — Seu tom tinha uma pontada
de fúria direcionada ao amigo.

— Não, mas uma mulher do outro lado da linha sim —


murmurei.

— Deve ser a Sandy, a secretária dele. Quando Ryan está em


reunião, ele deixa seu telefone com ela. — Fitou-me de lado.
“Sei muito bem em que tipo de reunião está”. — Se você
quiser, te dou uma carona até sua casa.

Arregalei os olhos.
— Moro no Bronx, a mais de meia hora daqui — falei após
me recuperar. — Vou pegar um ônibus.

Daniel sacudiu a cabeça.

— Nem pensar, se você não tem carro para ir embora, vou


levá-la. — Seguiu até uma Ferrari preta estacionada ali perto,
na vaga do presidente. Desativou o alarme e abriu a porta para
eu entrar. — Venha.

— Não posso incomodá-lo — sussurrei.

— Angelina, entre no carro. — Pareceu mais uma ordem. Na


sequência, emendou mais brando: — Por favor?

Assenti e me sentei em sua Ferrari chique com estofado preto.


Ele seguiu para o Bronx. Nós dois ficamos em silêncio
inicialmente.

— Você mora no Bronx há muito tempo? — perguntou,


querendo bater papo.

— Há cinco anos, mais ou menos. Meus pais se mudaram para


cá depois… Quando eu tinha dezenove.

— Onde vivia antes da mudança?

— Nashville. — Lá ficou difícil para nós depois que Ângela


morreu… Parei neste pensamento ou desfaleceria.

Daniel riu e apertou um botão do MP3 embutido no carro, e o


som de Gone country, do Alan Jackson, encheu o veículo.

— Então você deve gostar de música country — disse ele. Não


era bem uma pergunta.

— Alan Jackson é o máximo — falei, tamborilando a mão na


minha perna no ritmo da música. — Meu sonho é um dia
conhecê-lo.

— Levaria você, se Ryan não fosse me matar.


Meu telefone tocou. Peguei e vi o nome do bastardo piscando
na tela. Apertei “ignorar”.
— É ele, não? — sondou.
— Sim — respondi, ouvindo I’ll Try, canção que parecia ter
sido feita para o Ryan e eu, embora ele não tivesse de lutar ou
querer algo comigo, pois nunca mudaria, mesmo caso se
apaixonasse por mim.

— Não vai atender?


— Não agora. — Olhei para fora da janela, focando no fim de
tarde e tentando não pensar no que aquela mulher disse, nele
em sua sala com uma modelo linda. Talvez o cara voltaria
atrás com a proposta, mas poderia ao menos me avisar,
correto?

O telefone do Daniel começou a tocar.


— Oi, Ryan. Sim, é Alan Jackson. Sabia que o sonho de
Angelina é conhecer ele?

Fitei-o com o cenho franzido. Não queria que dissesse isso


para o Ryan, afinal, não era da sua maldita conta, e nem de
ninguém.

Ele suspirou.
— Eu nunca tocaria nela. — Revirou os olhos. — A não ser
que ela quisesse. — Bufou. — Estou brincando, cara. —
Dirigiu-se a mim: — Ele quer falar com você.
— Não quero conversar com ele agora — respondi, virando a
cabeça. Meus cabelos revoavam num coque solto, devido aos
vidros abaixados.
— Ela não quer falar com você. — Respirou fundo e
respondeu a uma pergunta que não ouvi: — Não. Seja lá o que
tenha feito, Angelina parece estar com raiva. — Escutou e
depois disse: — Não, ela não me contou nada.
Daniel desligou o telefone e ficou em silêncio por um
segundo.
— Posso saber o que ele fez? — inquiriu, curioso.

— Não quero tocar no assunto — falei com um suspiro


desalentado.
— Tudo bem. — Voltou ao silêncio. — Onde eu a deixo?

Dei o enderenço de minha casa e seguimos sem dialogar. Logo


chegamos em frente ao meu prédio, com paredes
avermelhadas e desbotadas devido ao tempo e à chuva. Este
lugar era meu lar há cinco anos.
Daniel avaliava o edifício e as ruas nada seguras. Eu não
andava à noite sozinha, e quando fazia isso, Johnny ou Charles
me acompanhavam.
— Sei que não é uma rua famosa de Manhattan, mas é o meu
lar. — Observava seu rosto rígido.

— Com o salário que ganhará na editora, você pode sair daqui


quando quiser.
— Não quero — declarei. — Tenho amigos neste lugar.

Sorriu, decidindo não discutir comigo.


— Certo. Até amanhã. — Aproximou-se como se fosse me
beijar.
Eu me afastei.
— O que está fazendo?

Ele ainda sorria.


— Despedindo-me de você com um beijo no rosto —
respondeu, sem nenhuma vergonha.
— Sei que você e o Ryan compartilhavam mulheres, mas isto
não é comigo. — Apertei a minha bolsa no colo. — A única
coisa que podemos ser é amigos, e sem beijos.

Daniel piscou.
— Como sabe sobre eu e Ryan?

Ri, amarga.
— A partir do comentário dele de não me dividir — bufei. —
Jamais faria algo assim.

— Eu sei, além disso, nunca a desrespeitaria, e não só pelo


Ryan, que parece sentir algo por você. — Soava sincero. —
Desculpe-me se dei a entender outra coisa.

— Tudo bem, até amanhã então. — Saí de sua Ferrari e entrei


no prédio, encontrando Johnny na escada. Ele olhava de mim
para o veículo que virava a esquina.

— Sai com um bofe lindo e chega com outro mais bonito


ainda? — observou quando passei por ele para subir a escada e
ir para o meu apartamento no segundo andar.

— Não deixe Charles ouvir isso. — Sorri. — Como estão Lira


e Shane? Se comportaram bem?
Ao sair hoje pela manhã, deixei meus bebês na escola, e
Johnny os pegou para mim, pois não sabia em que horário
voltaria para casa do serviço, porque Daniel disse ontem que
íamos passar da hora. Contudo, houve um imprevisto, e ele
saiu mais cedo, me liberando também.

— Perfeitamente bem — respondeu. — Shane está um craque


em Xbox.
Fiquei feliz com meu irmãozinho estando bem. Tudo que eu
queria era que aquele exame estivesse errado, assim ele não
passaria por isso, afinal, eu também tinha um problema no
coração e nunca precisei fazer nenhuma cirurgia, só vivia à
base de remédios diariamente. Felizmente, agora eu disporia
de dinheiro para o tratamento dele.

Peguei Shane e Lira e fui para o meu apartamento. Convidei


Johnny e Charles para irem jantar comigo e comemorar meu
novo emprego na Luxem. Era para ter celebrado no dia em que
comecei a trabalhar, mas foi corrido, então decidi adiar para
hoje, já que saí mais cedo.
Charles chegou por volta das cinco. Sua beleza masculina
incendiou a sala. Vestia jeans rasgado e uma camisa xadrez
enrolada nos cotovelos. Gato! Pena jogar no outro time. Azar
das mulheres, e sorte do Johnny.

Fui tomar banho enquanto deixei-os na sala. Vesti um


shortinho curto que usava em casa e que mal tapava minha
bunda; não me preocupei, eles não sentiriam nada ao me ver
assim. Coloquei um top que mostrava toda a minha barriga e
meu piercing no umbigo. Esta era a minha roupa de dormir,
estava preparada para a noite.

Ouvi a campainha tocar, imaginei que fosse o Johnny com a


pizza de pepperoni e o champanhe, que eu tanto amava, para
comemorarmos. Mesmo não podendo beber por causa dos
remédios, às vezes eu tomava algo — não muito, claro.
Também bebia se estava sofrendo, principalmente no dia do
meu aniversário e da Ângela… Vinte de outubro, uma data que
me sucumbia; ficar alcoolizada era a única forma de esquecer
a dor nesse dia, que era para ser tão especial. Fazia isso em
casa, no meu quarto, olhando sua foto, seu sorriso jovial mais
deslumbrante que o sol. Seis anos sem minha metade. A
angústia logo voltava, tinha de conviver com ela. Meus irmãos
e amigos me mantinham sã nesta terra. Se não fossem eles,
não sabia o que seria de mim. Talvez um dia essas feridas se
curassem.
Terminei de secar meus cabelos negros ondulados e os deixei
cair em cascatas nas costas, indo para a sala. Lá, me deparei
com Ryan de cara fechada, sombrio ao ver as roupas que eu
estava vestindo na presença de Charles. Lembrei-me que ficou
furioso com o Johnny por querer me ajudar e me ensinar a
beijar, tudo por não saber da sua sexualidade.

Cruzei os braços diante do peito.


— O que está fazendo aqui? — rosnei. — Achei que tivesse
mudado de ideia.
Seus olhos se arregalaram.
— Quem disse isso? — indagou com a voz fria.

— A mulher que estava com seu telefone. Ela falou que você
estava muito… ocupado — expliquei, controlando a raiva.
— Não acredito que aquela va…

Cortei-o.
— É melhor vigiar o que fala — alertei e indiquei o Shane,
que estava de testa franzida, olhando de mim para o Ryan. —
Se comportaram bem?
— Sim — respondeu Shane, ainda fuzilando Ryan. — Quem é
ele? E por que está gritando com você?

Eu suspirei.
— Ryan é meu namorado… Ou era — sussurrei, sem ter
certeza disso.
Antes que alguém falasse, a campainha tocou.
— Shane, vai lá ver se é o Johnny. Se for, atenda; se não for,
me chame.
— Sim — respondeu, correndo na direção da porta com Lira
em seu encalço.

Ryan pegou meu braço.


— O que esse cara está fazendo aqui? E com você vestida
assim? — sibilou.

Tentei me esquivar de seu toque, contudo, ele era forte demais,


e o contato me deixava mole.
— Solte meu braço — urrei.

— É melhor largar ela — ameaçou Charles, se pondo de pé,


prenunciando o início de um problema grande.

— Ou fará o quê? — grunhiu, se lançando para meu amigo.


Eu me pus na frente de Charles e coloquei as mãos no peito de
Ryan, empurrando-o para trás.

— O que está fazendo? Ficou maluco? — disse, sem alterar a


voz para não assustar Lira e Shane. Peguei seu braço e puxei-o
para o meu quarto, fechando a porta e encarando sua face
lívida.
— Eu, maluco? A minha namorada pega carona com seu
chefe, não atende as minhas ligações, agora chego aqui e vejo
um homem na sala, com você praticamente nua.
Fechei a cara.
— Não estou nua — retruquei. — Aquela mulher contou que
você estava em seu escritório transando com uma modelo.

Ele arregalou os olhos de fúria.


— Vadia — rosnou de novo, mirando-me com os olhos
estreitos. — Ouvindo isso, sem saber se era verdade, você já
foi ficando com outro cara?
— Eu não saí com ninguém — rebati. — Além disso, por que
você se importa? Afinal, este namoro é só de fachada e nada
mais.
— Pelo mesmo motivo que você não gostou de pensar que eu
estava transando por aí. — Seu rosto era grave ao se
aproximar de mim.
Eu me afastei com a intensidade do seu olhar predatório.
Minha perna bateu na cama.
— Ryan… — alertei, mas era tarde demais. Sua boca atingiu a
minha, devorando com fome e com raiva. Caí de costas no
colchão, tendo ele pairando em cima de mim, beijando-me
sedento. Abriu minhas pernas com seu joelho e se encaixou
ali, esfregando-se em minha pélvis. Estava tão pronto que eu
podia sentir a sua necessidade, similar à minha. O desejo
latejava em meu centro, doido para ser saciado.
Minhas mãos passeavam em suas costas e em seus cabelos,
apertando mais seu rosto contra o meu. Seus beijos eram
famintos, como se estivesse há vários dias sem se alimentar, e
sua necessidade era urgente. Gemi em sua boca, e este som só
o fez ser mais veloz, degustando cada canto de mim.
— Ryan… — sussurrei em seus lábios, buscando alguma
coerência. Era difícil, seu toque incendiava todo o meu corpo.
— Hummm. — Ele tirou os lábios dos meus e encostou a sua
testa na minha.

Fitei suas íris, tão cálidas, uma fornalha acesa.


— Não suporto a ideia de alguém tocando em você, nesta pele
linda de pêssego. — Ele alisava meu rosto com as pontas dos
dedos longos.
— Ninguém me tocou.

— O cara na sala — grunhiu.


— Ele é namorado do Johnny — esclareci com dificuldade de
respirar.

Ryan levantou o rosto.


— Os dois estão realmente juntos? — murmurou, engasgado.
— Sim. E você quase bateu nele — acusei.
Seu semblante agora era triste
— Sinto muito. — Escondeu o seu rosto no meu pescoço e
inalou meu cheiro. “Ainda bem que acabei de tomar banho”.
— Este é um sentimento novo para mim, não estou sabendo
lidar com isso.
Eu suspirei.

— Eu sei, tudo também é novo para mim — declarei. — Nos


conhecemos há praticamente uma semana e não suporto a
ideia de você tocando em outra mulher.
— Não toquei em ninguém, juro, Anjo. — Sua voz era sincera.
— O que vamos fazer, Ryan? Não posso me apaixonar por
alguém que tem o poder de me destruir — articulei, sôfrega.
Ele se afastou para fitar meu rosto. Seus olhos estavam
injetados.
— Você tem esse mesmo poder sobre mim. — Sacudiu a
cabeça com dor visível em seus olhos. — Eu não posso…

Ele nunca daria o braço a torcer para o que sentimos um pelo


outro. Eu não imploraria, a despeito de conhecer a
reciprocidade de nossas emoções. Talvez não fosse mulher
suficiente para ele…

— Entendo. Não se preocupe — murmurei, escondendo minha


angústia. — Acho melhor irmos para a sala.

Ryan aquiesceu, saindo de cima de mim. Arrumei meus


cabelos e roupas e passei por ele, que pegou meu braço.
— Você está bem com isso? — sondou.

Ele era louco? Como perguntava se eu estava bem, quando não


dava uma chance para o nosso relacionamento? Ignorei a
fisgada em meu coração e forcei um sorriso.
— Sim, não se preocupe comigo. Sei que isso é só uma aposta
— falei e saí dali às pressas, antes que ele verbalizasse algo.
Cheguei à sala e me deparei com Charles e Johnny sentados no
sofá de dois lugares, e Shane e Lira no outro. Os quatro já
comiam pizza.
— Vejo que não nos esperaram — acusei, me colocando ao
lado de Shane.
— Não achei que vocês dois sairiam daquele quarto tão cedo.
— Johnny olhou para o Ryan.
Bufei, ignorando seu comentário provocativo.
— Lira, querida, sente no meu colo para o Ryan ficar aí, ok?
— Estendi os braços para ela.
Minha bonequinha vestia um pijama da Barbie. Fez uma
careta e olhou para o Ryan.

— Não posso sentar no seu colo? — perguntou a ele, animada.


— Lira…
Ryan me cortou.
— Claro, princesa. — Ele caminhou até ela.
Lira ficou de pé no sofá e bateu palmas, toda animada.

— Eba! — cantarolou, pulando nos seus braços. — Quando eu


crescer, vou me casar com você.
Ryan se sentou e a botou em seu colo.

— Quando você crescer, ele estará velho, querida — eu disse.


— Velho, mas ainda lindo — garantiu o cara, sorrindo de
modo devasso para mim.

Revirei os olhos.
— Vejo que você tem um ego e tanto — Charles afirmou,
fuzilando Ryan.
— Lamento ter perdido a cabeça agora há pouco.
Eu arregalei os olhos. O inferno devia ter congelado para ele
pedir desculpas a outra pessoa. Charles piscou, atônito.
Recuperado, sorriu amigavelmente.
— Tudo certo, cara, mas se magoar a nossa garota, teremos
contas a acertar.
— Eu também acertarei as suas bolas! — Shane anunciou.
— Shane… — repreendi-o.
Ryan riu, e todos olharam para ele.
— Desculpe. — Tentou se recompor, fitando Shane ao seu
lado. — Você parece o Shaw.
Meu irmão franziu a testa.
— Quem é Shaw?

— É o filho adotivo do meu irmão, Lucky, e sua esposa, Sam.


Ele também ameaçou acertar as… — Parou, parecendo
lembrar que Lira estava ali, e corrigiu: — Acertar o Lucky,
caso ele viesse machucar a Sam.
— Quando vai me apresentar a ele? — Seu tom agora era
curioso e empolgado.

— Logo, assim que Lucky e Sam chegarem de férias, estão em


Vail…
— Vail, no Colorado? Nossa! Quero ir lá um dia. Soube que é
bom para esquiar. — Shane soou animado.
— Shane, querido, para esquiar em um lugar daquele você
precisa aprender muito, e isso só quando for grande — alertei.
— Posso levar vocês lá algum dia — convidou Ryan.
Estreitei meus olhos.

— Não faça promessas que não vai cumprir — deixei o alerta.


— Quem disse que não posso cumprir? — rebateu com
doçura.

— Você é o máximo — gritou Shane, contente.


— Se você vai levar ele para viajar, eu vou querer uma Barbie
— falou Lira com a voz suave.
Eu fechei a cara.
— Lira, querida, você tem mais de cem Barbies. — Olhei para
os dois. — Parem de pedir coisas ao Ryan.
Ela cruzou os bracinhos de um jeito teimoso.
— Quero uma Barbie Princesa.

— Chega. — Encarei-os. — Não quero que peçam nada ao


Ryan, estão me ouvindo? Ele não é nenhum Papai Noel que
anda distribuindo brinquedos por aí.
— Quem disse que não sou? — retrucou.
— Não comece, Ryan — rosnei, virando-me para Shane e
Lira. — Vocês já comeram?
— Sim — responderam em uníssono. Shane prosseguiu: —
Angie, agora que arrumou um serviço onde ganha mais do que
nos outros, você vai comprar o meu Xbox?

— Depois de passar a minha experiência de três meses,


compro para você.
Ouvi Ryan dar um suspiro frustrado que ignorei
completamente.
— Três meses? Vai demorar tanto tempo! — reclamou.
— Shane, venha cá. — Peguei suas mãos e girei de frente para
ele. — Sei que ainda é criança, mas você precisa entender que
não podemos ter tudo o que desejamos. Às vezes, é necessário
esperar. — Toquei seu rostinho triste por ver a dor nos meus
olhos. — Queria poder fazer mais…
Ele me abraçou forte.
— Desculpe, Angie, não quis te magoar — choramingou. —
Saiba que eu vou te amar para sempre; de noite, enquanto as
estrelas iluminam a escuridão, e de dia, quando o sol brilhar.
Você é tudo, Angie.
Acho que aprendeu falar assim por causa dos livros. Ele
adorava ler. Será que se tornaria um escritor? Só de pensar no
futuro, minha garganta se fechava…
— Oh, meu amorzinho. — Beijei seus cabelos com cheiro de
shampoo de morango e chorei, não pude evitar, o medo veio
com força total ao imaginar o que ele passaria daqui a três
semanas.
— Não fique assim — pediu com dor. — Desculpe… — Sua
voz linda falhou.
— Oh, querido. — Afastei-me e fitei-o com meus olhos
molhados. — Não é por isso que estou chorando, meu
amorzinho.
Ryan, Charles e Johnny não desviavam o olhar de nós. Johnny
e Charles sabiam do meu problema; Ryan, no entanto, estava
confuso e preocupado comigo, a julgar por sua expressão.
Shane tinha lágrimas no rosto.
— Então por que está chorando? — sussurrou.
Limpei as gotas e forcei um sorriso.
— Não ligue para mim, meu amor, apenas estou feliz por ter
você e Lira em minha vida. — Beijei seu rosto molhado. —
Agora está na hora de escovar os dentes e ir para a cama.
Ele assentiu e sorriu.
— Eu te amo demais, Angie. Mais do que o céu, mais do que o
mar e o universo inteiro. — Abriu seus braços, dando ênfase
às palavras.
Meu coração sempre se derretia com suas declarações. Shane
costumava falar isso antes de dormir; nunca me cansaria de
ouvir.
— Eu também te amo, querido, de montão — jurei e olhei
para Lira, que dormia nos braços do Ryan.
Levantei-me e estendi os braços para pegá-la.
— Me dê ela — pedi.
O cara sacudiu a cabeça e se ergueu com Lira no colo.

— Eu a levo para cama, me diga onde fica.


Pisquei, um tanto estupefata.
— Na primeira porta, em frente ao meu quarto — respondi,
atônita.
— Eu te mostro — falou Shane, saindo com Ryan para o
dormitório deles.
Fiquei no meio da sala com meus olhos ainda úmidos.
— Ei, vai dar tudo certo — garantiu Charles, vindo me
abraçar. — Estaremos com você, Angelina.
— Só espero mesmo que seja gay, porque se não for, vou
quebrar todos os seus dedos e braços. — Ouvi a voz sombria
do Ryan.
Afastei-me do Charles e focalizei um Ryan impassível. Notei
que ele segurava duas bonecas Barbie de Lira nas mãos.
Charles sorriu para ele, nada afetado com sua ameaça. Os dois
eram homens fortes, porém, o Ryan era mais.
— Não se preocupe, sou fiel e amo o Johnny. Sem chance de
isso acontecer, principalmente com uma mulher. — Meu
amigo me olhou, sorrindo. — Mesmo que seja a gostosa da
Angie.
— Então vamos deixar algo claro aqui — começou Ryan de
modo tenebroso. — Não quero ver nenhum dos dois pegando
na bunda dela ou a beijando. Se isso acontecer, aí sim teremos
um problema.
— Ryan! — reclamei. Ele não tinha esse direito, éramos
namorados de fachada (e, se fosse de verdade, ele continuaria
não podendo interferir na minha vida, ameaçando meus
amigos). Ainda mais depois de dizer que não queria ter
nenhum sentimento por mim.
Charles e Johnny se entreolharam.
— Certo — Charles assentiu com a voz grossa.

— Não vamos fazer nada que o deixe com ciúmes — falou


Johnny com um sorriso.
Ryan fez uma careta. Ali, percebi que para ele deveria ser
difícil sentir ciúmes de alguém com quem não queria estar, por
isso lutava contra esse sentimento com unhas e dentes.
Johnny e Charles foram embora para seu apartamento. Quando
eles se mudaram para o prédio, há um bom tempo atrás, achei
que não daríamos certo; estava errada. Havíamos nos tornado
uma bela família.
— O que você tem? — perguntou assim que os dois saíram,
avaliando minha face úmida.
— Nada — respondi, pegando a caixa de pizza quase vazia,
levando-a para a cozinha e a colocando sobre a mesa. Com
tudo o que houve, esqueci de comer.
Limpei a sala e me sentei à mesa da copa. Pus uma fatia no
prato, com bastante queijo, e tomei um gole do champanhe.
Ele me seguiu, arrastando a cadeira e sentando de frente para
mim.

— O que foi? Não vai comer? — Ryan também não se


alimentara. — Sei que não é nenhuma refeição que vale mais
que o meu salário, mas é gostosa.
Estreitou os olhos com o meu tom de crítica.
— Eu não como pizza — respondeu de modo frio.
Pisquei com minha pizza quase chegando à boca e arregalei os
olhos para ele.
— Quem neste mundo não come pizza de pepperoni? — Meu
tom era ultrajado.
Ele sorriu, maroto.
— Eu.

Ignorei seu sorriso sexy, que me deixava sem fôlego e com as


pernas bambas. Lá fora começou a cair uma forte chuva, tanto
que achei que logo haveria um dilúvio.
— Você já jantou? — perguntei.
Ele negou com a cabeça.
— Não, depois que saí da minha empresa não pensava em
outra coisa a não ser encontrar você para saber o que se
passava. — Ele trincou os dentes. — Fiquei furioso ao
descobrir que estava vindo de carona com Daniel. Sabe que
espécie de homem ele é? Faz de tudo para entrar nas calças
das mulheres.
— E você é igual a ele. Devo ficar longe também? — inquiri,
tomando um pouco da minha bebida.
Desconsiderou o questionamento.
— Quando tiver um problema, me ligue que eu vou até você…
Cortei com ceticismo.
— Para quê? Para alguma mulher do outro lado da linha me
dizer que você está transando em algum lugar da sua empresa?
— Eu nunca transei em minha empresa, e não seria agora que
faria isto — rosnou. — Minha casa e meu trabalho são
valiosos para mim, jamais sujaria eles assim.
— Por isso tem o prostíbulo? — Deixei a comida de lado,
perdi a fome.

Ele arqueou as sobrancelhas.


— Prostíbulo?
— O apartamento ao lado do seu. — Guardei a pizza na
geladeira e tomei o resto do champanhe. Sempre bebia chá
verde, mas hoje teve pizza, então pedia algo a mais.
Ele riu.

— Agora o meu apartamento é um prostíbulo? — zombou.


Dei de ombros.
— Abatedouro, prostíbulo e outros nomes que surgirem para o
que se faz lá. — Meu tom era seco.
— Não faço mais nada lá — respondeu, me olhando de
esguelha.
— Mas fará em algumas semanas. — Minha voz saiu fria ao
pensar nisso. Logo ele estaria livre para ficar com mais
mulheres.
Ryan não disse nada, isto só provava que eu estava certa.
Doeu…
— Já que não come pizza, o que você quer? Não tenho nada
de rico. — Abri a minha geladeira. — Pra beber, tenho
refrigerante, suco e chá. E sobrou champanhe, se quiser.
— Por que insiste tanto em falar sobre riqueza e pobreza?
— Por que é isso que somos, Ryan. — Eu me virei para ele. —
Você é rico, cercado do bom e do melhor. Acho que nunca
lavou uma colher na vida, não é?
Ele fez uma careta e não respondeu.
— Trabalho desde que me conheço por gente — continuei. —
Amo pizza com bastante queijo, cachorro quente e lasanha. —
Passei a mão no meu piercing. Ele acompanhou o meu gesto,
desejoso. — Adoro uma carne assada.
— Você come de tudo e ainda tem esse corpo? — Seu olhar
vagava pela minha silhueta, como se estivesse tirando as
minhas medidas. Talvez fossem os remédios que eu tomava
que possibilitavam tal “façanha”. — Deus a abençoe — disse,
malicioso. — Ele é perfeito.
Revirei os olhos.
— Você quer comer ou não? Está chovendo muito, não poderá
dirigir assim — mudei de assunto.
— É claro que posso — retrucou, focalizando o temporal do
lado de fora da janela.
— Acontecem muitos acidentes devido a esse tempo ruim. —
Eu me encolhi para não pensar nisso, ou me lembraria das
perdas que tive.
Notei que Ryan também ficou mal, virando rapidamente para a
janela, de modo a esconder sua expressão. Ao que parecia,
acidentes mexiam tanto com ele quanto comigo. Queria
perguntar o que houve para deixá-lo deste modo. Céus, era
uma incompetente mesmo, pesquisei sobre sua vida amorosa
— se é que se podia chamar aquilo de “amorosa” —, contudo,
não procurei acerca de sua família. Sabia que ele tinha uma
irmã e um irmão, mas só. Talvez algo ocorrera com seus pais.
Desejava descobrir, entretanto, me controlei, afinal, eu não
gostava de ficar falando sobre os meus pais.
— É verdade — concordou em um tom assombrado.

— Você pode dormir no sofá-cama. Não é como sua


California king, mas bastará. — Lavei os pratos e coloquei-os
para escorrer, não tinha uma secadora. Não desperdiçaria
dinheiro com isso, se dispunha de duas mãos.
Estava calado, fitando a rua.
— Você vai querer comer? — insisti. — Tenho lasanha ou
posso fazer sanduíches.
Ele desviou da janela e se virou para mim.
— Sanduíche, por favor, mas não como nada que tenha queijo
— pediu com a voz rouca.
— Nada que tenha queijo? Nossa! É o que mais amo — falei e
fui pegar os ingredientes para fazer seu sanduíche: tomate,
alface, maionese e bacon. — O que quer beber? Refrigerante?
Chá, leite ou champanhe?
— Leite serve.
Entreguei a ele.
— Vou arrumar o sofá enquanto você come.
Busquei as cobertas no armário de roupas, bem como um
travesseiro, e coloquei-os no sofá-cama. Em seguida, peguei as
duas bonecas que estavam em suas mãos mais cedo, agora
atiradas no sofá de dois lugares. Uma Barbie usava um vestido
preto justo tomara que caia; nas costas, havia um detalhe na
forma de círculo onde se via sua “pele” nua; no busto, a roupa
era presa por dois grampos, com um “S” de renda. Não usaria
este tipo de vestido, mas tinha gente que sim.
A outra Barbie tinha um vestido branco, longo, com uma
manga só e um bordado floral. Na região da barriga, era
rendado e mostrava o umbigo. Descia até os pés de forma
elegante.
Eu desenhei esses modelos e muitos outros para as bonecas de
Lira.
— São lindos — declarou Ryan, entrando na sala. — Nunca vi
essas roupas em bonecas antes, onde as conseguiu?
Olhei para cima e o vi de braços cruzados, as íris fixas em
mim.
— Ah, eu que fiz — respondi a verdade.
Ele piscou, atônito.
— Todos aqueles outros também? — Apontou para o quarto
de Lira e Shane.
— Sim, quando não escrevo, ou estou resenhando, eu desenho.
Lira gosta de colecionar Barbies e de mudar suas roupas
direto, então decidi improvisar vestidos a partir dos modelos
que criei.
— Posso ver os desenhos deles? — indagou.
Concordei. Fui até o meu quarto e peguei um caderno, que dei
a ele.
— Aqui.
Ryan olhou cada vestido que estava sobre o papel branco.
Ficou atônito. Havia quase quinhentos ali, afinal, desenhava
desde os quatorze anos.
— Já pensou em ser estilista? — sondou.
Neguei com a cabeça.
— Desenho por desenhar, não é uma paixão como escrever
livros de romance — sussurrei.
— Sabia que vestidos como estes podem valer uma fortuna?
— Indicou o caderno.
Sacudi a cabeça.
— Quem pagaria por isso? — repliquei.
— Sou dono de uma agência de moda, Anjo, acredite em mim.
— Quer dizer que você se interessou?
— Com certeza. — Continuava a inspecionar os desenhos.
— Então fique com eles — pedi, pensando no quanto eu devia
a ele por ter um emprego, e quem sabe logo um livro lançado.
Ele piscou, aturdido.
— O quê?
— Pode ficar com os desenhos — anunciei de novo,
apontando para o caderno grosso em suas mãos.
— Isso vale muito dinheiro.
— Bem, você já me pagou vinte e cinco mil para eu ser sua
namorada, e arrumou um serviço para mim. — Passei os dedos
nos cabelos. — Pegue esses desenhos e considere-os pagos, o
que acha?
— Então o nosso acordo estaria cancelado… — Sua voz
falhou.

— Vou cumprir a minha promessa porque quero, e não por


dinheiro. Acho que isso ajudaria a não me sentir tão suja.
Ele suspirou.

— Não fizemos nada que justifique você se sentir assim.


— Ryan, nós nos beijamos, e às vezes não conseguimos nos
controlar, como aconteceu no quarto há pouco. — Sentei-me
no sofá-cama. — Por favor, aceite.
Ele ficou em silêncio por um segundo e se encaminhou ao meu
lado, na sua cama improvisada.
— Tudo bem, mas vou pagar o que realmente valem. —
Estava prestes a discordar; ele falou antes. — É o justo.
Ryan colocou o caderno na mesinha perto do sofá e depois
tirou a jaqueta e camiseta. Mirei seus gominhos sexy. Seu
corpo era perfeito, cada curva musculosa onde eu adoraria
passar as mãos.
— Está vendo algo de que gosta aí embaixo? Meus olhos
ficam aqui em cima — falou num tom matreiro.
Bufei, desviando o rosto.

— É melhor dormirmos, já é tarde. — Eu me levantei,


contudo, ele segurou meu braço.
— Fique comigo por enquanto — pediu. — Prometo me
comportar.
Apaguei a luz da sala e me deitei ao lado dele. Eu sair dali
seria a mesma coisa que um dependente químico resistir a uma
droga, ou um bebum ao álcool.
Ryan pegou a minha mão e ficamos de barriga para cima,
encarando o teto. Tentei não pensar no que o seu toque fazia
comigo. A luz da cozinha estava acesa, trazendo um pouco de
claridade para a sala.
— Posso fazer uma pergunta? — indagou depois de um
grande silêncio.
— Claro — respondi, hesitante, sem saber o que ele queria.
— Por que chorou ao abraçar o Shane? Não parecia ser por ele
ter me pedido para levá-lo a Vail, e nem pelo Xbox — chutou.
— O que era?
Vacilei.

— Anjo — disse ele —, você nunca quer me contar nada. Será


que vou sempre descobrir pela boca dos outros?

Decidi continuar sem revelar nada sobre Shane, não estava


pronta para isso. Então resolvi contar um pouco sobre mim.
— Bom, eu amo música country, adoraria conhecer Alan
Jackson. É algo em que estou trabalhando, verei se consigo ir a
um show dele em Nova Jersey, no próximo ano.
— Eu a levo — disse como uma declaração.
Olhei para ele e dei um sorriso triste.
— Ryan, no ano que vem nós dois nem estaremos nos falando,
o acordo acaba antes…
— Por que me sinto tão sufocado sempre que a ouço dizer que
não vamos mais nos ver? — Levantou a mão e tocou o meu
rosto, esquadrinhando-o como se tentasse memorizá-lo.
— Isso também acontece comigo — murmurei. — Estou com
medo…
O homem buscava respostas em minha expressão.
— Medo de quê?
— Medo de me apaixonar por você. — Ri, sem humor. —
Céus, só de imaginar, eu me sinto vazia e dormente ao mesmo
tempo. Isso é algo que não pode acontecer, entende? Você me
esmagaria, me dilaceraria.
Ele me puxou para seus braços quentes e fortes. Expirei,
fechando as pálpebras, sentindo seu calor aquecer o meu
corpo.
— Isso não vai acontecer. — Nem Ryan parecia acreditar em
suas palavras.
— Já está acontecendo — sussurrei, encolhida. — Olhe para
nós, mal conseguimos ficar longe um do outro. Sei que você
sente o mesmo. Talvez nós devêssemos tentar…
Ele saiu rápido dos meus braços, como se ali tivesse fogo,
aterrorizado.
— Não pode acontecer — insistiu, taciturno. — Não devo me
apaixonar por você… nunca. — Pegou sua jaqueta e o caderno
de desenhos. — Isso acaba agora.
— Ryan… — Eu estava prestes a chorar, mas não queria na
frente dele, então me segurei.
— Não diga nada, por favor, não quero quebrá-la… — Sua
voz era um sussurro de dor. — Acabarei fazendo isso se
continuarmos… — Saiu, me deixando sem palavras.
Peguei a camisa que, na pressa, deixou para trás, e caí de
joelhos com ela nos braços, soluçando, dilacerada por uma
angústia que nunca pensei que sentiria de novo. O mesmo
aconteceu com Caim, quando me apaixonei por ele há seis
anos. Para piorar, o que sentia pelo Ryan era muito, muito
maior.
Capítulo 6

O passado

ANGELINA

O dia seguinte foi difícil, após Ryan ter terminado comigo,


deixando tudo que tivemos e vivemos para trás como se não
fosse nada. Já deveria estar nos braços de outra mulher. E eu
permanecia ali, aos pedaços, destroçada por causa dele. Fui
idiota por ter aceitado ser sua namorada. Quando um homem
daqueles olharia para mim? Era estúpida por cogitar isso.

Deixei Lira e Shane na escola na segunda-feira e cheguei mais


cedo ao trabalho. Depois do serviço, planejava devolver o
carro e ir de ônibus para casa. Sempre andei assim e nunca
morri, por que haveria de mudar agora?

Na Luxem, Daniel me perguntou o que acontecera comigo, em


razão da minha expressão tão triste. Imaginei que eu devia
estar horrível, nem a maquiagem encobriu as olheiras fundas.
Eu apenas disse que não dormi bem à noite. Ele não acreditou
e pegou seu telefone. Sabia que ele ligaria para o Ryan.
Deixei-o e fui trabalhar, assim a tarde passaria, e esperava
inutilmente que a dor também.
Karen não apareceu hoje, o que foi bom, não estava querendo
ver nenhuma mulher que já foi dele — tolice minha, já que
ficou com praticamente todas as garotas de Nova York, talvez
dos Estados Unidos.

Assim que deu a minha hora, saí antes do Daniel me ver,


porque tinha certeza de que ele me encheria de perguntas que
eu não queria responder.

Ao estacionar o Volvo do Ryan em frente ao prédio dele,


prestes a sair do carro, o vi entrando no prédio com uma loira
de cabelos longos. Linda! Ela usava um vestido vermelho bem
apertado em suas costas, mostrando suas curvas incríveis e
deslumbrantes. Foi como um soco no estômago, bem acertado.
Os dois conversavam. Ele vestia calça jeans e jaqueta preta, e
estava de costas para mim, portanto não me viu. Entraram no
prédio.
Coloquei a mão direita sobre o meu coração dolorido, decidida
a não chorar: tinha de devolver seu carro e dar o fora antes que
ele saísse de novo. Idiotice, pois o maldito acabara de subir
para levá-la ao seu apartamento de foda.
Olhei para dentro, através dos vidros das janelas, para garantir
que sumiram de vista, e deixei o carro. Enxerguei o manobrista
do hotel, um cara alto e moreno. Ele sorriu quando me
aproximei.
— Olá. — Peguei as chaves do Volvo e entreguei-as em sua
mão.

— Qual é o seu carro, moça? — perguntou, estreitando os


olhos ao reparar em minha expressão. — Você está bem?

Pigarreei.
— Sim, o carro é aquele. — Apontei para o Volvo. — É do
Ryan Donovan, você pode estacioná-lo na garagem e dar a
chave para ele, por favor.

A semana passou voando, mas a dor estava lá, como sempre.


Ver Ryan com aquela garota no Plaza esquartejou meu
coração. Muito pior do que um dia senti pelo Caim, meu
primeiro amor. Nunca foi tão forte quanto era com Ryan.

No dia seguinte, após eu ter devolvido o carro, estava me


preparando para ir ao serviço de ônibus quando Daniel
apareceu na minha porta, oferecendo uma carona. Não queria
aceitar, porém, ele ameaçou me demitir caso eu não aceitasse.
Isso era obra do Ryan — só podia —, a não ser que Daniel
estivesse dando em cima de mim, o que achava improvável, já
que era o melhor amigo do bastardo.
Mais tarde, fomos ao restaurante Frutos do Mar, no centro de
Manhattan. Quando Daniel me chamou para jantar, primeiro
não aceitei. No entanto, ele disse que era para conversarmos
sobre a possibilidade de eu publicar meu livro, então
obviamente concordei. O ambiente envidraçado garantia uma
bela vista para o rio Hudson. Embora fosse noite, as ruas
estavam iluminadas.
— Daniel, este restaurante deve ser muito caro, como vou
ajudar a pagar? — reclamei ao adentrarmos o imenso salão
com mesas redondas e quadradas, forradas por toalhas de linho
branco. As cadeiras de madeira eram de camurça bege.

Daniel vestia uma camisa preta listrada de azul, com mangas


enroladas até os cotovelos, e calça social esporte preta. Estava
elegante! Ele sorriu para mim de modo simpático.

— Este lugar é do meu avô, não pago quando venho aqui. —


Piscou. — Bônus de família.
Eu suspirei.

— Você é da família, eu não — lembrei-o. — Não acho que


meu salário pague algo daqui.
— Não precisa, Angelina, viemos para tratar de trabalho, fica
por minha conta. — Eu estava prestes a discordar, mas ele
falou antes: — Todos os negócios são tratados assim, o
contratante é quem paga. — Virou-se para mim. — Vamos
fazer o seguinte: se alguma vez sairmos sem nenhum negócio
envolvido, nós dividimos a conta, que tal?

Não precisava dizer a ele que nós nunca sairíamos nesse


contexto, e sim apenas por assuntos relacionados ao trabalho.
Não queria me envolver com alguém tão cedo. O rosto do
Ryan surgiu em minha mente; ignorei-o, não querendo pensar
nele de nenhuma forma.
Assenti e nos encaminhamos a uma mesa perto da janela.
Logo que entrei, enxerguei Ryan sentado a uns sete metros de
onde estávamos. Vestia jeans, jaqueta preta aberta e uma
camiseta branca. O que quase me desfaleceu foi vê-lo com a
mesma loira do seu prédio. A garota estava sentada ao seu
lado, em uma mesa grande e quadrada, feita para caber várias
pessoas.

Ryan fulminou Daniel; se seus olhos fossem laser, meu chefe


já estaria morto. Não sabia por que razão ele agia assim, como
se doesse me ver com outra pessoa. Talvez machucasse
mesmo, mas ele não daria o braço a torcer. Em vez disso,
ficava com sua loira. “Deve ser mais sério com esta garota, se
está com ela desde segunda-feira, e hoje é sexta…”, pensei.

Havia mais duas mulheres ao seu lado, igualmente lindas e


deslumbrantes. Uma de cabelos loiros platinados, que
reconheci: sua irmã, acompanhada de um moreno cheio de
piercings na orelha e no nariz. E a segunda de cabelos negros,
olhos talvez azuis; não dava para ver direito, pois ela estava de
lado, conversando com um homem. Lembrei dele do hospital,
de quando vi Ryan pela primeira vez. Era moreno, de olhos
verdes e brilhantes. Tinha mais outro cara, lindo e sexy, ao
lado da garota morena. Era forte e musculoso, quem sabe um
campeão de vale-tudo, mas podia estar errada.

— Não sabia que eles estariam aqui hoje — avisou Daniel,


seguindo meu olhar. — Ele parece querer me matar.
— Ele não tem o direito de reclamar ou dar algum palpite, já
que está com uma mulher — retruquei, retirando meu foco do
grupo e me virando para Daniel.

— Podemos ir a outro lugar…

Eu cortei.

— Não sou de fugir de coisa alguma. Se ele está com alguém,


o problema é dele. — Sorri. — Vamos nos sentar ou não?

Daniel retribuiu o gesto e me levou a uma mesa não muito


longe do Ryan. Estava de costas para o grupinho, mas podia
sentir o olhar do maldito. Concentrei-me em Daniel, que
puxou a cadeira para eu me sentar, e se colocou à minha
frente.
— Então, o que achou do livro? — perguntei, arrumando os
talheres por ordem de tamanho, do maior ao menor. Fazia isso
para ocupar minhas mãos trêmulas, querendo matá-lo, junto à
garota ali atrás de mim. Nunca baixaria o nível, ele só ficaria
mais convencido e diria que eu não significava nada.

— Você está calma. — Sua voz demonstrava confusão.


— Por que não estaria?

— Por ver o Ryan acompanhado. — Olhou a mulher por sobre


o meu ombro.

Eu ri, sem vontade nenhuma.


— Ele é solteiro e desimpedido, fica com quem quiser — fui
firme. — Assim como eu.

Arqueou as sobrancelhas.

— Você pretende ficar com alguém para se vingar? —


Suspirou. — Não acho que ele esteja com ela.

Sacudi a cabeça, descrente.

— Sério? O que fazem juntos, então? — Prossegui, sem deixá-


lo falar: — Tanto faz, mas eu não desceria tão baixo. Quando
ficar com alguém, será porque quero, e não por vingança ou
algo do tipo. Agora vamos parar de falar dele e começar a
conversar sobre o livro, afinal, foi para isso que viemos hoje,
certo?

— Não só por isso — disse, quase magoado. — Mas já que


você quer ir direto ao ponto…

— É melhor, assim vamos embora mais cedo. — Precisava


sair logo dali, antes que eu perdesse o meu autocontrole.

— Tudo bem. — Acenou para um garçom moreno e másculo


vir nos atender.
O cara era alto, usava uma calça social preta e uma camisa
branca com dois botões abertos. Sorriu para nós ao se
aproximar da mesa.

— Oi, Daniel — cumprimentou, pousando o olhar em mim


com um sorriso libertino. — E você é…?
— Alguém que está fora da linha para você, Jack — Daniel
avisou, divertido. — A não ser que você queira ter problemas
com Ryan.
— Ryan? — Surpreendeu-se. — Achei que ele estivesse com
aquela gata loira.

Fechei a cara para o Daniel e sorri para o moreno.


— Não tenho nada com Ryan, aliás, com ninguém. — Joguei
meus cabelos para trás.
Ele gargalhou como um lobo.
— Podemos resolver este problema, o que acha? — Sua voz
era lasciva.
— Que tal depois? — Claro que não ficaria com ele, nem
agora e nem nunca. Não era de flertar com homens, contudo,
estava gostando disso. — Por ora, quero um chá verde.
Franziu o cenho.
— Chá?

— Sim, eu amo — assegurei, ignorando seu espanto. Não diria


que não podia ingerir nenhuma bebida alcoólica por causa dos
remédios para o coração. Apesar do meu médico não
mencionar nada sobre isso, apenas deduzira. Remédios e
álcool não eram uma boa combinação.
— Aqui não temos chá, senhorita…
— Angelina — emendei. — O que vocês têm?
— Champanhe, conhaque e variedades em vinhos italianos,
franceses e irlandeses.

— Ah — murmurei.
— Jack, vamos esperar um pouco para pedirmos — disse
Daniel. — Agora pare de dar em cima dela, antes que o Ryan
saia de sua mesa e venha matar você.
O cara olhou para o Ryan e depois para mim, com cenho
franzido.

— Ele parece mesmo querer acabar comigo. Isso é estranho.


Se está com a loira, por que se importa?

Daniel cortou-o.
— Vá atender as outras mesas, depois te chamamos.
Jack saiu, e eu olhei para o Daniel.

— Por que o expulsou?


— Para o Ryan não acabar preso. — Suspirou. — Isso foi para
provocar ciúmes?

— Ryan não sente nada por mim, muito menos ciúmes —


retruquei com ceticismo. — Apenas queria ver se eu ainda
sabia flertar, não pretendo ficar com ele, afinal, caras iguais a
ele, e iguais a você e ao Ryan, são destruidores de corações.
Não tenho a intenção de ter o meu partido por nenhum dos
três.

— Mas você tem sentimentos pelo Ryan…


Interrompi-o.
— Isso não importa agora — repliquei, amarga. — Vamos ao
que interessa. Fale sobre o livro, lembre-se de que me
prometeu a verdade, não importa se for ruim.

Daniel assentiu, um tanto desolado.


— Sim, nas páginas cento e oitenta, duzentos e cinquenta e
trezentos e sessenta estão as cenas mais quentes de sexo… —
Sorriu, travesso. — Para quem nunca fez, você sabe muita
coisa…
Quase engasguei.

— Quem lhe contou isso?


— Ryan…

— Delator! — sibilei, furiosa por Ryan ter dado com a língua


nos dentes. Não era assunto para ele falar por aí com outras
pessoas. Idiota! — O que há com as cenas?

— Você descreveu tudo nos mínimos detalhes, todavia, as


sensações durante o sexo não saíram tão, bem… Como posso
dizer… Faltou vivenciar o teor dos sentimentos de quando ele
a devora com a língua mágica…
— Certo, entendi. — Estava corada pela forma com que ele
me olhava, não com desejo ou algo assim, somente interessado
em minha resposta. — Não descrevi bem as sensações de
Elizandra? Você acha que é por minha falta de experiência no
assunto?
Aquiesceu.

— Sim, o livro é perfeito, mas para uma personagem amarrada


e sendo chicoteada, ela não parecia tão exultante…
— Quem está amarrada e foi chicoteada? — indagou uma voz
profunda e sexy do nosso lado na mesa.

Deparei-me com um par de olhos azuis, intensos como o céu


de verão, e um sorriso devasso em lábios carnudos
avermelhados. Uma boca que qualquer mulher mataria para
beijar. Os cabelos negros caíam na altura do queixo,
espalhados como se tivesse acabado de acordar. Um
verdadeiro Adônis. Poderia estar em uma capa de revista
masculina ou na People.

— Se for você quem gosta disso, vou adorar te ensinar alguma


coisa — disse um outro cara, loiro com cabelos compridos nas
costas, presos num rabo de cavalo. Muito gato! Sua boca
estava levantada em um sorriso torto.
— Será que eu morri e fui para o paraíso? — murmurei,
embasbacada.

— Acho que somos nós quem estamos no céu. — O cara de


cabelos negros piscou para mim. — Oh! Eu me lembro de
você no Hospital, em Trenton, Nova Jersey.

Também pisquei, recordando do cara que me agarrou e que


achei que fosse me beijar lá mesmo. Lembrei-me do fogo que
subiu em meu corpo quando ele me tocou. Nada comparado ao
toque do Ryan, claro, seria como equiparar uma fornalha acesa
a um vulcão em erupção.
— Lembro de você também, o irmão da garota que estava
prestes a perder o bebê. — Levantei e fiquei diante dos dois.
— Ah, sim, esta é a garota que doou sangue para Sam —
assentiu o loiro, rememorando também. Não recordava dele no
hospital, apenas de Lucky, Ryan e esse cara com olhos azuis-
celestes.

O moreno sorriu e se aproximou, como fez aquele dia, agora


me abraçando e girando.
— Obrigado, você salvou a pessoa que mais amo neste
mundo.
Ofeguei de choque e vergonha por estarmos em um restaurante
cheio de gente. Ouvi um baque não muito longe, algo se
quebrando.
— Bryan, acho melhor soltá-la — avisou Daniel, tenso.

Bryan riu e me colocou no chão.


— Desculpe, cara, por agarrar assim seu encontro…
— Droga, isso não vai prestar — rosnou Daniel, se colocando
de pé.
Segui seu olhar e vi que Ryan fuzilava Bryan de modo mortal.
“Eu vou matá-lo!”, li em seus lábios. Percebi que o barulho
anterior foi dele esmurrando a mesa, onde enxerguei alguns
copos caídos. A mulher do Lucky, Sam, aparentava
preocupação.

Afastei-me dos braços do Bryan e mirei suas íris confusas.


Ryan não foi até nós, o que era bom.
— Conhece Ryan? — sondou, me levando para a mesa onde o
grupo estava.
— Bryan — reclamei, puxando meu braço e me distanciando
dele.

— Desculpe, apenas queria lhe apresentar a minha irmã.


Vi a garota morena de olhos azuis, parecida com ele.
Ostentava um semblante cauteloso, desassossegada pela briga
iminente.
— Oi — sussurrei, envergonhada por ser trazida à mesa deles.
Ignorei Ryan e sua raiva.
— Olá — respondeu Sam.
Bryan sorriu, colocando a mão direita no meu ombro.

— O mundo é pequeno, nós encontramos a… — Parou e se


virou para mim: — Qual é o seu nome?
— Angelina — disse e me esquivei gentilmente dos seus
braços, tanto pelos olhos ferozes do Ryan quanto por mim.
Esse cara era bem estranho, primeiro me arrastava até lá, agora
passava a mão nos meus ombros? Era como se estivesse
provocando alguém, ou seja, o Ryan. Não quero ficar no meio.
— Você está saindo com ele agora? — Ryan inquiriu, seus
punhos cerrados.

— Está saindo com ela? — Indiquei a loira ao seu lado.


— Eu não…
— Está sim — retrucou Bryan, falando pela primeira vez com
ele. — Não é para comunicar o seu namoro com Alexia que
estamos aqui? Não viemos comemorar?
Escondi minha dor.
— Parabéns, pelo visto não perdeu tempo. — Girei nos
calcanhares para voltar à minha mesa e avisar o Daniel que iria
embora. Não conseguiria ficar, vendo-o com outra.
Bryan me segurou e me puxou para os seus braços, tão forte
que ofeguei com o impacto em seu peito duro.
— Tire as mãos de cima dela agora. Angelina não te pertence
— rosnou Ryan, se levantando.

Eu me afastei do Bryan e fitei Ryan. Sua expressão era


maligna ao afrontar o moreno, que parecia não ter medo
algum.
— E eu pertenço a você, Ryan? — sibilei.
Ele piscou.
— O quê?

— Está vendo? Você não sabe o que quer! Não sou a sua
propriedade para fazer assim — estalei os dedos — e esperar
que eu caia aos seus pés.
— Eu não…
Cortei-o, indignada.

— Se você pode pegar mulheres por aí, também fico com


quem quiser. — Pousei meus olhos na loira, logo passando a
reparar no restante da mesa: estavam todos atônitos.
A expressão de Ryan se tornou lívida. Se a situação fosse
outra, eu teria me encolhido.
— Juro, Anjo… — Ao escutarem seu modo carinhoso de se
referir a mim, seus amigos se abismaram, como se ele
estivesse falando um idioma desconhecido. — Vou matar
qualquer um que a tocar, e não me importo de passar a vida em
uma maldita cadeia.

— Você não pode ameaçar as pessoas que se aproximam de


mim — grunhi com os dentes cerrados. — Fez a sua escolha
quando saiu da minha casa. Conviva com isso.
Antes dele dizer algo, Lucky se aproximou.
— Ryan, venha comigo, precisamos conversar. — Seu irmão
cochichou algo em seu ouvido. Os dois, junto ao cara
musculoso, se afastaram. O homem com tatuagens em seu
pescoço e braço também sumiu de vista, e o loiro foi com ele,
não sem antes me lançar um olhar curioso.

— Menina, o que você fez com esse homem? — Bryan sorriu


para mim. — É um milagre alguém deixar Ryan Donovan de
quatro.
— Papo furado — dispensei seu comentário com um gesto.
— Bryan, fique longe dela, você ouviu Ryan, ele não parecia
estar brincando. — Sam ficara angustiada. Ela pegou a sua
mão e apertou-a. — Por favor.
— Ei, mana, não vai acontecer nada comigo — tranquilizou-a.
— Não se preocupe, Sam. Não vou ficar com seu irmão —
falei, não querendo assustá-la, afinal, ela estava grávida. E era
verdade: jamais ficaria com alguém que não amasse.
— Não? — Bryan piscou. — Pensei que faríamos o que estava
dizendo antes… Você amarrada na cama enquanto eu a possuo
— sondou, sem nem um pouco de vergonha.
Corei, mas sorri.
— Era uma cena do meu livro, que Daniel está querendo
publicar. — Minha saiu fraca.
— Livro? — indagou, desapontado. — Então você não faz
nada daquilo?
— Nunca fiz — admiti, mexendo meus calcanhares no salto de
dez centímetros.

Ele estreitou os olhos.


— Você nunca fez sexo selvagem ou nunca fez…
Cortei-o com o rosto escarlate.
— Não é da sua conta — retruquei. — Vamos esquecer tudo,
ok?
Bryan assobiou, tomando meu retruco como um sim.
— Isso explica a histeria do Ryan. — Mirou-me de lado. —
Fora a parte de ser linda.
Sam parecia impressionada.
— Foi um prazer conhecê-la — disse a ela. — Agora vou me
sentar, antes que o dono venha reclamar por estar
incomodando vocês.
— Sente-se com a gente — pediu a garota.
— Eu… — Olhei para o Daniel ao meu lado, que me fitava
com um sorriso doce e torto.
— Por mim, tudo bem.
Sorri para Sam.
— Certo.
Todos nós sentamos ao redor da grande mesa. Foi preciso
colocar mais uma de quatro cadeiras junto.
Ryan, Lucky, o homem loiro com cara de Thor e o sujeito
musculoso não tinham voltado do banheiro ainda. Devia estar
difícil controlar a fera. Não entendia por que ele fez isso, não
era Ryan quem estava com outra garota? Contudo, não parecia
se importar com ela e seus sentimentos. Bem, e quando que ele
já se importou com uma mulher? Bastardo egoísta.
Daniel sentou do meu lado direito e Bryan no esquerdo. Sam
estava do outro lado da mesa, perto do cara moreno, namorado
da Rayla, a irmã do Ryan. Havia três cadeiras vazias entre os
dois. A loira se situava perto da modelo. Alexia, este era seu
nome.
— Onde conheceu o meu irmão? — perguntou Rayla. —
Lembro-me de você do hospital, e naquele dia nem falou com
ele. Transando não estão, já que acabei de ouvir que nunca
ficou com ninguém, ou, pelo menos, foi o que entendi.
Suspirei. Ficou fácil de deduzir que eu era virgem. Contei a
verdade, já que não existia mais namoro de fachada. Daniel
sabia de tudo, expliquei a ele terça-feira, após me interrogar
onde estava meu carro desaparecido, pois devolvera ao Ryan.
— Reencontrei Ryan ao faxinar seu prostíbulo.
Ela franziu o cenho.
— Prostíbulo?

— O apartamento onde ele leva as mulheres para abater —


esclareci, pensando nas loiras que ele expulsou como se
fossem cadelas.
Ela riu com o termo, e não foi a única.
— Você chama aquilo de prostíbulo?
— E não é? Eu o vi mandando duas loiras nuas embora, sem
respeito algum. — Meu tom era amargo.
— Vadias nasceram para isso — declarou Bryan com uma
risada.
Sam fechou a cara para ele.
— Todas as mulheres são seres humanos e merecem ser
tratadas como tal — repliquei. — Isso deve estar nos genes
dos playboys. O que me lembra de uma vez que assisti a uma
novela pela internet, acho que do México, que dizia: “as tontas
não vão para o céu”. Por “tontas”, entendo “mulheres que
gostam de homens fortes e tatuados”.
Rayla e Sam arregalaram os olhos com isso.

— Nem todos os caras são assim — discordou Rayla. — Alex


não é.
Ergui as sobrancelhas para o cara tatuado, cheio de brincos,
correntes e piercings.
— Sério? Bom, com certeza foi um dia, meus parabéns por
domá-lo.
Ele franziu o cenho.
— Não sou um cavalo para ser domado — retrucou.

Bufei e depois sorri.


— Todos os bad boys são…
Bryan me cortou.
— Isso é uma mancha em nossa honra.
— Ele tem razão — concordou Daniel, ofendido.

Revirei os olhos.
— Apenas digo a verdade. — Fitei os dois, séria. — Bad boys
pegam garotas e as descartam como objetos, sem se importar
com seus sentimentos. Então quando encontram mulheres
diferentes ao que estão acostumados e sentem algo por elas,
lutam contra e fazem cagadas, tentando esquecer e voltar às
suas vidas normais. Portanto, são cavalos a serem domados.
— Estamos falando dos bad boys ou do Ryan? — replicou
Bryan.
— Dele e de vocês que seguem o exemplo.
Todos ficaram em silêncio por um momento. Em seguida,
Rayla questionou, curiosa.
— O que houve entre vocês?
— Ryan propôs que eu fosse sua namorada para ganhar a
aposta que fez com você. — Virei-me para Sam. — Acho que
ele queria tê-la desfilando para ele.

Seu rosto se transfigurou em uma careta.


— Sabia que ele ia arranjar um jeito de conseguir outra mulher
para a aposta, sem ser a Alexia. Maldito seja. — Ela olhou
para a loira, que até então não havia dito nem uma palavra;
notei que a todo o momento seus olhos estavam no Bryan.
Interessante! Será que Alexia estava a fim dele?
Senti meu estômago revirar: se ela gostasse do Ryan, eu não
poderia competir com esse corpo fabuloso.
— Não entendo, se ele estava namorando você de fachada —
sondou Bryan —, por que o cara aceitou jantar com a Alexia?
Soltei um suspiro desalentado.
— Terminamos na sexta-feira — disse, pegando um fio de
cabelo e enrolando no meu dedo. — Nossa situação ficou um
tanto… intensa para os dois. Pelo visto, ele seguiu em frente
com o plano.
— Eu já tinha desistido da aposta — Ryan se aproximou de
nós e sentou com Alexia.
Tentei não demonstrar a dor que senti ao vê-lo perto de outra
mulher. Deixei meu rosto impassível, sem expressão. Fazia
sempre isso no passado, quando escondia de Ângela meu amor
por Caim; agora não tinha dificuldade mais.
— Por quê?
Ele deu de ombros e não respondeu. Acho que não aguentou
ficar sem sexo fácil. Viveria livre para desfrutar de quem
quisesse. Com certeza estivera com várias desde o dia em que
foi embora da minha casa. Senti como se houvesse minhocas
vivas em meu estômago.
— Não faça essa cara, Anjo. — Sua voz era um sussurro de
dor.
Suspirei, mas doeu.
— É a única que eu tenho. Se não quer olhar para ela, talvez
não devesse ficar me encarando — redargui com ceticismo.
Ele expirou, triste.
— Que cara ela está fazendo, Ryan? — questionou Rayla,
curiosa.
Sua face estava entorpecida.
— Ela está com raiva, pensando que eu já fiquei com várias
mulheres nesse tempo em que estamos separados, não é? —
Seus olhos prenderam os meus com uma grande intensidade.
Arqueei as sobrancelhas.
— E não ficou? — perguntei.
— Isso não é da sua conta.
Outra vez, escondi o sofrimento, assim ele não desconfiaria da
proporção do mal que suas palavras me faziam.
— Você tem razão, não tenho o direito de saber — concordei
com escárnio. — Assim como você não tem o direito de se
intrometer no que eu vou fazer hoje.
Seu rosto se tornou sombrio.
— O que fará hoje? — soltou cada palavra pausadamente.
Coloquei meus braços sobre a mesa e me curvei para frente em
sua direção. Seus olhos foram para o meu decote em V e
escureceram, não de raiva, mas de desejo.

— Não é da sua conta — repeti sua frase e sorri. Endireitei-me


na mesa, pois não era só Ryan que estava vendo meu decote: o
cara musculoso cheio de tatuagens e o loiro de olhos azuis
também olhavam.
— Você não quer me ver perdendo a cabeça…
— Cale a boca! — cortei, furiosa. — Pare de ameaçar as
pessoas!
— “Pessoas” não. — interrompeu-me, irado; bem, acho que
“irado” era eufemismo. — Homens que estão te comendo com
os olhos. — Sua voz soou mortalmente fria. Bufei.
— Eles podem fazer o que quiserem. — Dei de ombros. —
Como eu disse, você não é meu namorado, e muito menos meu
dono. Deveria reagir assim com a sua namorada, e não
comigo.
— Não tenho namorada. Não devo satisfação a ninguém.
— Não vou discutir de novo com você — falei e olhei para o
Daniel. — Acho melhor irmos embora.
— Não, por favor, espere — pediu Sam, com as íris azuis
molhadas. — Nem agradeci por você ter salvado a minha vida.
— Ela chorava. — Lucky contou a todos que você doou
sangue para me ajudar.
— Oh, Rosa Vermelha, não chore — pediu Lucky, preocupado
com a esposa.
— A gravidez me deixa assim. — Ela sorriu, limpando as
lágrimas. — Tentei te localizar em Nova Jersey, sem chance.
Pedi até para meu irmão, que é craque em computador, e nem
ele conseguiu.
Impressionei-me com Bryan.
— Você é um hacker?

— Sim, busquei arquivos do hospital com seus dados para


localizá-la e poder agradecer por ter salvado a vida da minha
irmã e do meu sobrinho, mas não fui capaz de encontrar nada.
— Seu tom era confuso no final.
Eu ri, deixando todos surpresos.
— Desculpem-me. Tenho um amigo que também é um hacker
brilhante e estava naquele dia no hospital comigo. Foi ele
quem deletou todos os registros a meu respeito. Já serviu no
exército há alguns anos. Chama de “vírus negro” ou algo do
tipo.
— Por que esconder seus arquivos? Para não ser encontrada?
E quem é esse cara que é bom em computador? — sondou
Bryan, num misto de confusão e curiosidade. — Preciso
conhecê-lo.
— Quando eu estava no hospital, recebi uma notícia ruim,
fiquei sem chão. — Fitei Sam, escorada nos braços do marido.
— Soube do que se passava com você, e não pensei duas vezes
em ajudar. Embora estivesse ciente de que tinham dinheiro,
não fazia ideia de quem eram.
— O que isso tem a ver? — perguntou Lucky, atarantado.
Contei a todos que certa vez ajudei uma senhora, impedindo-a
de ser atropelada ao atravessar a rua, e sua filha megera, em
vez de me agradecer, jogou dinheiro em cima de mim,
praticamente me dando uma esmola. Fiquei furiosa na ocasião.

O pessoal da mesa ostentava expressões impressionadas, como


se eu fosse uma maldita heroína. Não era; estava longe disso.
— Juro, nunca senti tanta raiva na minha vida. Se não fosse
pela senhorinha, eu a teria feito engolir o dinheiro de volta. Fui
embora mancando, deixei as notas para um morador de rua.
Pelo menos ele ficou feliz com isso. — Passei as mãos nos
cabelos. — Esperaria um agradecimento, claro, mas não
dinheiro. Se eu quisesse ganhar para salvar pessoas, teria me
tornado médica. Bom, de qualquer forma, não desejava que
isso se repetisse, ainda mais naquele dia em que a minha
cabeça não estava tão bem, após a notícia ruim que recebi.
— Que notícia? — inquiriu Ryan, me avaliando.
— Isso não importa. — Focalizei os olhos molhados da Sam.
— Desculpe por pensar que fossem assim também…
— Oh, está tudo bem agora — sussurrou. — Mesmo se você
não se entender com Ryan, ele é de fato um cavalo…

Todos riram (Bryan e Daniel muito mais, porque sabiam o


significado da palavra).
— Ei, o que é isso, Sam? — rosnou, olhando feio para ela.

Ignorou-o e me deu um sorriso, sendo retribuída.


— Sim, definitivamente é — concordei.
— Quer parar de zombar de mim? — sibilou, me fuzilando. —
Por que está me chamando assim?
Sam revirou os olhos.
— Diga uma coisa — começou ela, ignorando o rosnado do
Ryan.
— Sim?
— Você falou que escreve livros, não?
— É.

— Que tipo de livro?


Eu sorri.
— Romances, mas este é de dominante e submissa.
— Sério?
— Aham.

Ela colocou as mãos na mesa, encarando-me com brilho e


excitação.
— Conte-me alguma coisa, adoro esse tipo de livro. Leio e
depois faço igual com Lucky. — Corou, mas não deixou de
falar o que pensava. Gostei disso nela.
— Maldição, Sam! Não quero escutar sobre suas perversões
na cama — urrou Bryan.

— Ele é meu marido, você não pode fazer nada em relação a


isso. Entenda como pagamento por todas as vezes em que ouvi
mulheres gritando no seu quarto.
Notei, por um breve segundo, Alexia estremecer com o que a
Sam disse a respeito do Bryan com outras. Ela realmente tinha
uma queda por ele.
— Ryan é quem gosta desse negócio de dominante e submissa
— eu disse.
Lucky deu um sorriso devastador. Sam dispunha de motivos
para se apaixonar por ele, o cara era inesquecível, ainda mais
quando sorria torto com suas covinhas de bebê.

— Como sabe sobre o Ryan? — Lucky indagou.


— Vi algemas, cordas, chicotes de montaria e várias outras
coisas no seu prostíbulo.

Desta vez, Lucky jogou a cabeça para trás e gargalhou alto.


Nem parecia se importar com as pessoas ao redor. Depois de
um segundo, me olhou de lado:
— Você está se referindo ao apartamento onde ele leva as
mulheres?
— Sim — balbuciei, sem entender a sua euforia.
Antes que comentássemos mais sobre o assunto, um senhor de
meia idade chegou à mesa e se apresentou como o avô do
Daniel. Era um cara legal, e chamou os homens para irem
bater um papo com ele na sala de jogos. Eu nem sabia que
havia isso naquele restaurante chique.
Pelo jeito do senhor Arnaldo, parecia bem simples. Adorava
pessoas assim, que não deixavam o dinheiro e a soberba
subirem à cabeça.
Ficamos na mesa só as meninas e eu. Bem melhor, precisava
pedir a opinião delas em relação a algo. Uma ideia que tive,
esperava funcionar.
— Conte-nos, você seria uma boa submissa para o Ryan? —
sondou Sam ao estarmos sozinhas (bom, sem os garotos).
— Nem morta — me precipitei. Hesitante, mudei a resposta:
— Enfim, entre quatro paredes talvez pudesse ser diferente —
admiti, a despeito de estar ciente de que isso não aconteceria
nunca. — É aí que entram meus problemas com o livro:
descrever as cenas quentes. Daniel disse que é pela minha falta
de experiência no assunto. Precisarei sentir tudo por mim
mesma antes de publicá-lo. — Meu rosto queimava.
Em seguida, dividi com elas o meu plano de fazer o Ryan sair
da toca.
— Pode dar certo, tomei uma atitude similar com Lucky —
disse Sam. — Esses caras têm medo de falar o que sentem,
temem o desconhecido.
— Meu irmão não deixa as pessoas se aproximarem dele, acho
que para não sofrer mais perdas. Ele foi o mais afetado pela
morte dos nossos pais — explicou Rayla.
— Isso se chama escape, correm de tudo que pode causar dor a
eles no futuro. — Sam franziu o cenho. — Uma baita idiotice.
Se Ryan aceitasse seus sentimentos (cá entre nós, ele é louco
por você), sofreria bem menos e não a perderia.
— Alguém deveria dizer isso a ele… Se depois do que eu fizer
hoje Ryan não aceitar, vou renunciar dele, mesmo não
querendo. — Encolhi-me com a ideia do bastardo não me
querer. Olhei para Alexia, tão calada até agora. — Assim que
ele chegar, você estará pronta para o que combinamos?
A garota mirou o lugar onde os homens estavam, e seus olhos
encontraram os do Bryan. Após, voltou-se a mim.
— Sim, eu topo. E se ele resolver não der o braço a torcer?
Nós dois… — Não terminou. Estremeci ao imaginar os dois se
beijando.
— Posso lidar com isso — falei, mais para mim mesma. —
Além disso, preciso dar um jeito na minha falta de
experiência.
Antes que as meninas contra-argumentassem, Bryan retornara.
— Se você quiser, posso resolver esse seu problema. — O
safado sorriu torto ao chegar na mesa junto com todos os
caras.
Sentaram-se nos seus lugares. Ryan, perto de Alexia, bateu os
punhos na mesa, fuzilando Bryan ao meu lado.
— Estou falando sério, não ouse tocá-la — rosnou, sombrio.
Estreitei meus olhos.
— Você não tem o direito de… — eu me interrompi com a
cena que vi a seguir.
Não desejaria reencontrá-lo nunca, contudo, ali estava Caim, o
cara por quem um dia fui apaixonada, acompanhado de uma
garota morena alta e esbelta.
Caim encorpou desde a última vez que o vi, há três anos;
enxergava seu corpo musculoso debaixo da roupa social, calça
e camisa. Seus cabelos castanho-claros encurtaram. Olhei para
ele esperando sentir algo, e nada. Nem raiva havia mais. Sua
presença apenas me fez lembrar-me dela… Com isso, a dor
veio num tsunami.
— Você parece que viu um fantasma — observou Ryan.
Eu me recuperei, ou melhor, tentei fazer a imagem de Ângela
ir embora. Ao mesmo tempo, não queria, mas se pretendia
continuar respirando, precisava deixá-la partir e focar no cara
ali no restaurante. Encarei Bryan.
— Você pode trocar de lugar com Ryan? — pedi com a voz
aguda.
Ele franziu o cenho.
— Por quê?
— Porque necessito fazer uma coisa, e Ryan não vai deixar eu
me comportar assim com você sem um escândalo. Não tenho
tempo para isso agora — esclareci, meio suplicante, me
escondendo ao seu lado. — Por favor, depois eu explico.
Bryan assentiu e se levantou, trocando de lugar com Ryan, que
foi para o meu lado com as sobrancelhas levantadas.

— Você apenas queria minha companhia?


Bufei.
— Você se acha mesmo, não?
— Sim — respondeu sem nenhum pudor.
— Se não fosse por sua crise de ciúmes, teria feito com Bryan
o que vou fazer com você. — Claro que não usaria Bryan, pois
Alexia parecia ter sentimentos por ele.
— Não estava com ciúmes — rosnou.
Levantei uma sobrancelha.
— Não? — Peguei seus ombros e virei meio de lado para me
cobrir da visão de Caim. — Quem disse que mataria o Bryan
se me tocasse? Até onde eu sei, isso se chama ciúmes, idiota.
— Bem na hora, Caim olhou para a mesa. — Maldição…
— O que foi?

— Tantos restaurantes na cidade e nos encontramos aqui? —


Soltei um muxoxo de raiva, logo fitando a face confusa do
Ryan. — Fingi ser sua namorada, e agora quero que finja ser o
meu, caso ele venha até nossa mesa.
— Ele? — A voz soou embargada.
Olhei por sobre seu ombro, e ele me seguiu.
— Você conhece o filho do desembargador? — Ficou rouco.
— Sim, fui apaixonada por ele quando eu tinha dezessete
anos.
Ele arfou.
— Namoraram?

Eu ri.
— Não, nunca tivemos nada um com o outro, apenas nos
apaixonamos. Não que isso seja da sua conta.

— É bem difícil imaginar o filho do desembargador amando


alguém. — O falso Thor me mirou de esguelha. — Ele é como
nós, não se prende a nada.
Revirei os olhos. Sabia disso; de vez em quando, me deparava
com a foto de Caim nos tabloides, pendurado em morenas
esbeltas.
— Descobri recentemente que ele está noivo. Acho que casa
em fevereiro com a modelo Kate Smith — disse Lucky. —
Inclusive, fui convidado para a cerimônia.
Esperei sentir algo com essa notícia, como ciúmes ou dor. Meu
único lamento era que, se ele não tivesse ido embora, Ângela
poderia estar ao seu lado, comigo. Como doía me lembrar da
pessoa que eu mais amava no mundo…
Peguei a bebida do Daniel e tomei. O líquido desceu rasgando
por minha garganta em chamas. Ignorei, a angústia que estava
sentindo era pior.

— Que droga é isso?


— Vodca, minha querida — respondeu Daniel.
— Te incomoda ele estar noivo? — perguntou Ryan, um tanto
vulnerável.
Suspirei.
— Minha situação com Caim é… complicada — respondi.
Dirigindo-me a todos da mesa, falei: — Desde já, quero pedir
desculpas.
— Pelo quê? — sondou Alexia.

Ri, nervosa.
— Porque sempre que nos encontramos, nós dois acabamos
brigando.
— E você quer me usar para fazer ciúmes nele? — protestou
Ryan, magoado.

— Ciúmes seria se eu estivesse interessada nele e vice-versa.


Posso ter amado Caim um dia, e ele a mim, mas passou.
— Se ele amava você, por que não ficaram juntos? — indagou
o loiro.
— Vamos dizer que tinha alguém no meio…
— Kate? — averiguou Rayla.
— Quem? — Minha voz estava grogue com as lembranças
jorrando de minha mente.
— A sua noiva, a moça que está com ele.
— Não, isso que houve entre nós foi há quase sete anos.
Tínhamos vidas diferentes… O destino nos separou antes de
ficarmos juntos. Acho que não era para ser.
— Você lamenta por isso? — Ryan quis saber.
— Na época, sim. Hoje, ele só me lembra dela… — Peguei o
copo e bebi outro gole. — Desculpe, gente, não posso falar
sobre isso.
— Se você não o ama mais, por que dói tanto tocar no
assunto? — Ryan resfolegou.
— Por causa de Ângela — respondeu a voz profunda de Caim
atrás de mim.

A dor veio misturada com o desespero de imaginar o rosto


sorridente de minha irmã diante de Caim, e depois sua
expressão desolada ao perdê-lo. Tudo por minha causa.
Respirei fundo e me levantei, girando para encará-lo. Ali
estava o homem que um dia amei, usando um terno Vanquish.
Caim continuava lindo, agora com vinte e quatro anos. O
tempo lhe fez bem. Seus olhos verdes sempre foram a ruína
para mim e para todas as garotas do mundo.
Parecia triste
— O que faz aqui? — questionei. Deixara sua noiva sozinha
na mesa. Sempre que nos víamos, ele arranjava um jeito de
dizer que me amava. Esperava que não fizesse isso de novo,
pois estava praticamente casado.
— Precisava falar com você. — Olhou para a mesa e franziu o
cenho. — Desde quando você é amiga dos Donovan?
— Faz pouco tempo — respondi, emendando: — Caim, não
temos mais nada a conversar. Chega de brigas, de machucar
um ao outro.
Lembrei-me da última vez que o vi no cemitério, quando meus
pais foram enterrados. Ele apareceu dizendo que queria me dar
apoio por minha perda, mas eu não aceitei e gritei com ele na
frente das pessoas. Foi injusto da minha parte, mas estava
cercada de dor naquele dia.
— Sei que foi uma má ideia ir ao funeral, isso provavelmente
lhe trouxe várias lembranças indesejadas…
Cortei-o.
— Pare — pedi com a voz fina. — Perdi a cabeça, mas nada
daquilo eu sentia de verdade, apenas estava ferida e descontei
em você. No entanto, não significa que precisamos reviver o
assunto.
— Por quase seis anos eu pensei que você me odiava por ter
ido embora, e logo depois… — interrompeu-se ante a minha
face lívida. — Tudo bem, não vou falar sobre ela.
— Bom, porque não quero discutir e feri-lo mais. Espero que
seja feliz.
Riu, mortificado, passando as mãos nos cabelos.
— Quando fui embora, tentei de tudo para esquecê-la e tirá-la
de mim. Parece que esse amor está em meu sangue como um
vírus maldito, sou incapaz de eliminá-lo. Fiquei com várias
mulheres em razão disso… Nunca foi igual.
— Agora deve ter me esquecido, já que vai se casar —
observei num sussurro, esperançosa de que ele refizesse sua
vida sem pensar no passado. O que Caim sentia por mim não
era amor, e sim ilusão, querendo e desejando que viéssemos a
ter o futuro com que sonhávamos antes de tudo desmoronar
por completo.
— Então sabe que vou me casar em fevereiro. — Não era uma
pergunta. Avaliava-me sem tirar os olhos de mim.
— Meus parabéns — respondi, sincera.
Riu com escárnio.
— Maldição! Como posso amar tanto uma mulher sendo que
nunca a toquei por malditos sete anos? — Sua voz era amarga.
— Sete anos sem sentir o gosto de sua boca e do seu corpo.
Ouvi um grunhido sair da garganta do Ryan, indicando uma
possível briga. Não queria mais escândalos, então me
recompus e disse algo que ele não gostaria de escutar.
— Espero que vocês dois sejam felizes.

— Pensei em muitas coisas que talvez você falasse para mim,


mas “parabéns” não era uma delas. — Soou amargo.
Eu suspirei.

— O que esperava? — Minha pergunta era retórica.


— Uma palavra sua e não me caso com ela. — Aparentava ter
esperança.
Arregalei os olhos, não estava pronta para isso. Droga! Como
reagiria sem magoá-lo mais? Ele jurava me amar. Uma vez
fomos amigos, e eu não queria que sofresse, todavia, precisava
abrir seus olhos para o futuro, para ele seguir em frente sem
sonhar com o passado. Não era psicóloga, não obstante sabia
que, quando uma pessoa desejava tanto algo, acabava
pensando não poder viver sem aquilo, embora tudo se
resumisse a ilusões projetadas em sua mente.
— Caim, já passamos por muitas coisas juntos, ou quase
juntos… — Olhei dentro de suas íris verdes. — Em nome de
nossa amizade, você precisa se libertar da nossa história. Ela
não existe mais, não retornará. O destino quis diferente. —
Aproximei-me, ficando a um passo dele. — Não consigo
oferecer mais nada… Não depois de Ângela…
— Angie… — sussurrou. Sempre me chamava assim, e o
apelido pegou na escola, por isso o tinha até hoje. Caim
mordeu os lábios, se segurando para não chorar. — Posso ter
uma noiva e me casar com ela, mas jamais lhe esquecerei.
— Você é capaz — insisti com veemência. — Só nunca tentou
de fato — murmurei. — Chegou a hora de seguir em frente,
com sua noiva que parece amá-lo muito, senão ela já estaria
aqui, brava com você e comigo. Não deixe a oportunidade
escapar de suas mãos por causa do passado.
— Ela sabe o que sinto por você.
Respirei fundo e fitei a garota, cujos olhos estavam molhados.
Droga! Uma mulher que deixa seu namorado ir atrás de outra e
continua ali deve amá-lo muito. Voltei-me a ele.
— Caim, você tem uma noiva, e eu tenho um namorado…
Interrompeu-me, atônito.
— Namorado? — soltou a palavra com asco. Olhou por sobre
meu ombro, para a mesa, e parou em alguém atrás de mim.
Não precisei virar para saber que era o Ryan, a sua presença
incendiava todo o meu corpo.
Ryan me abraçou de lado.
— Olá, Caim. — Sua voz era mortalmente fria.
Caim se voltou a mim.
— Você está namorando Ryan Donovan? — cuspiu as
palavras.
— Sim.
Riu com desdém.
— Conhece a fama dele? Droga, Angelina! Ele vai pisar em
você, igual faz com todas as mulheres… Não vê isso? — Suas
mãos estavam em punhos, doido para acertar o Ryan.
— Bem, você também esmagou meu coração, e eu sobrevivi,
não? Se por acaso Ryan fizer o mesmo, aguentarei novamente.
— Encolhi-me com a ideia, acho que morreria caso isso
acontecesse, pois o que sentia pelo Ryan era muito maior.

Ryan apertou minha cintura e beijou meu rosto.


— Nunca farei isso, Anjo — jurou com intensidade na voz.
“É só por atuação”, repeti a mim mesma como um maldito
mantra, mas meu coração queria ter esperança.
— Caim, eu amo o Ryan como nunca amei ninguém na minha
vida — falei. Iria magoá-lo, porém, não havia outro jeito de
resolver. Além disso, era a verdade: estava completa e
irrevogavelmente apaixonada.
Ryan não disse nada, mas senti a sua respiração pesada,
reconhecendo a sinceridade em minhas palavras.

— Você… — Caim parecia engasgado.


Eu expirei.
— Você deve sim se casar! Merece ser feliz, e sua noiva
também. E só vai conseguir se deixar o passado para trás —
respirei fundo. — Talvez um dia possamos voltar a ser
amigos…
Caim assentiu, mordendo os lábios com força. Fazia isso
sempre que segurava o choro. Encarou Ryan com frieza.
— Se você a magoar, o destruirei — ameaçou. — Não me
interessa quem é o seu irmão.
— Ele não vai fazer isso — garanti, porque Ryan já estava
abrindo a boca e dali não sairia nada de bom, apenas geraria
mais brigas entre os dois. — Adeus, Caim.
Ele respirou fundo, como se doesse.
— Posso dar um abraço de despedida em você? — pediu,
suplicante.
Não sabia o que dizer, Ryan não permitiria. Seu braço se
transformou em aço à minha volta.
— Anjo — enunciou com tanto fervor e adoração que quase
acreditei —, se você fizer isso, não poderei me controlar. —
Ryan virou para Caim. — Acho melhor ir atrás de sua noiva
antes que acabe ficando sem as duas. Agora a Angelina é
minha.
O olhar de Caim inquiria se era este o meu desejo. Aquiesci,
ao que desapareceu do restaurante. Sua noiva não estava mais
ali, talvez cansara de esperar por ele. Torcia para que os dois
se entendessem. Saí dos braços do Ryan e sentei na minha
cadeira como uma boneca quebrada.
— Você está bem? — indagou Sam, preocupada.
Sorri para ela.
— Vou ficar.
Pareceu não acreditar em mim, mas nada disse.
— Que bom.
— Quem é Ângela? — perguntou Rayla, me olhando de lado.
— Sua rival?
Resfoleguei.
— Rival? Não, era a pessoa que eu mais adorava no mundo.
Faria tudo por ela, até entregar o garoto que amava de mão
beijada… — Entornei outra dose da bebida, fechando as
pálpebras com força para controlar a dor. Olhei a mesa sem
nada ver. — Desculpem-me, gente, não posso falar sobre ela…
A não ser que queiram me ver tomando todo o álcool deste
lugar e ir parar no hospital.
Não fizeram mais perguntas a respeito, embora a curiosidade
fosse palpável. Falar sobre Ângela era um campo minado. Se
eu insistisse, acabaria explodindo aos pedaços.
— Mudando de assunto: você não vai mais namorar a Alexia?
— perguntou Bryan, erguendo as sobrancelhas para Ryan. —
Vai ficar com Angelina?
— Por que, está interessado? — fuzilou-o em retorno, hostil.
Bryan sorriu ao modo do gato Cheshire, não se preocupando
com a ira do outro. Decerto dizia essas coisas porque estava
com ciúmes de Alexia, comprovando as minhas suspeitas de
que havia uma queda mútua ali. Por que não estavam juntos,
se os dois se gostavam? Talvez fosse como Ryan e eu.
— Se você ficar com Alexia, a Angelina estaria livre. — Pude
perceber que não falava sério.
Ryan já ia se levantar para atacá-lo, mas eu o segurei em seu
lugar.
— Fique quieto — rosnei, furiosa. — Isso é algo que eu
também quero saber.
Ele respirou fundo.
— O que você quer… eu não posso dar. Não namoro, apenas
fodo e dispenso logo depois, como você mesma já viu.
Guardei a dor para mim; precisava seguir em frente. Chegara a
hora de ele provar que sentia o mesmo ou desistir de vez. Eu
me virei na cadeira e fiquei diante dele, sustentando seu olhar.
Coloquei meu plano em ação.

— Não acredito em você. Apenas diz isso para convencer a si


mesmo.
Ryan estreitou seus olhos.

— Fico com quem eu quiser — retrucou.


— Prove — desafiei.
Pasmou-se.
— O quê?
— Prove que pode ficar com quem quiser, beije Alexia. —
Mantive-me firme. Era um jogo perigoso, mas necessário.
Ele piscou, chocado, me avaliando.
— Se por acaso fizer isso, como reagirá?
Eu me arrumei na cadeira e peguei a taça de champanhe, bem
mais fraco do que a vodca que havia bebido antes. Todos ali
me olhavam em silêncio, esperando a minha reação.
— Encerramento. — Tomei um gole da bebida, deixando tudo
para trás. — Tal qual fiz com Caim.
— Eu não sou ele — sibilou.
— Não, você não é. É mil vezes pior — declarei. Sua
capacidade de me destruir era muito grande. — Não vou
continuar nessa, como uma adolescente imatura que não tem
certeza do que quer. Sei que você tem sentimentos por mim,
Ryan, mas não pretendo aguardar a vida inteira enquanto você
decide o que deseja.
Ele expirou.
— O que quer dizer?

— Quero dizer que você tem uma decisão a tomar, porque até
agora esteve em cima do muro.

— Não tenho nada a decidir. — Soava enervado.


Peguei meu telefone na bolsa.
— Certo, você fez a sua escolha — Aproximei-me como se
fosse beijá-lo. Ele prendeu a respiração, no entanto,
permaneceu ali, intenso, acompanhando-me morder os lábios.
Seus olhos escureceram mais com isso. — Agora eu faço o
que quiser, e você não vai se meter mais na minha vida.
— Você não ousaria…
Ergui-me e me afastei, fitando seus amigos. O irmão dele
parecia triste.
— Escolha dele, vocês viram. Com licença, preciso fazer uma
ligação. — Saí antes que dissessem algo.
Capítulo 7

Sensações

ANGELINA

Liguei para o Johnny.


— Oi, princesa — respondeu, animado. — Os meninos estão
bem.
— Eu sei, Johnny, confio em você.
— Como foi o jantar? Deu tudo certo quanto ao livro?

Suspirei.
— Você não vai acreditar no que aconteceu hoje.
Contei tudo brevemente.

— Sério? — abismou-se. — Encontrou com os dois?


— Sim, mas eu te liguei para pedir um favorzão. — Mesmo
ele sendo gay, corei ao pensar no que viria a seguir.
— Você pode pedir o que quiser, Borboleta. Charles e eu
estamos aqui para ajudá-la.
— Sabe aquelas cenas do livro, as mais picantes, onde a garota
está amarrada e o cara faz várias coisas com ela? — sussurrei.
— Sim — respondeu, meio confuso.
— Então, o Daniel disse que faltou sentimento ao descrevê-
las… Pela minha falta de experiência com o assunto. —
Sacudi a cabeça. — Já imaginou uma mulher de quase vinte e
quatro anos que nunca teve um orgasmo?
Ele riu.

— Está perdendo a melhor sensação do mundo.


— Pois é! Por isso liguei.
Expliquei o meu plano para fazer Ryan sair da concha em que
vivia. Envolvia o maldito ficar sabendo que Johnny me
ajudaria nas cenas do livro. Esperava que, quando descobrisse,
admitisse seus sentimentos. Sem dúvida, eu não ficaria com
meus amigos, pois só tinha olhos para um homem.
— Vamos fazer isso sim, por você — falou Johnny. — Tomara
que ele faça o que espera, Angelina. Não quero que sofra.

— Obrigada, Johnny, aguardo sua ligação. Ele precisa ouvir e


pensar que vai me ajudar. — Também torcia para Ryan ficar
comigo.

Desliguei e voltei para a mesa onde estavam todos jantando.


— Não sinto nada por ela — ouvi Ryan dizer a alguém.

Falava de mim, lutando contra suas emoções para não dar o


braço a torcer.

— Que bom que você pensa assim, significa que você não vai
se meter com o que vou fazer assim que eu sair daqui. —
Sentei na cadeira ao seu lado e troquei um olhar com as
meninas.

Sua expressão era tempestuosa.


— O que pensa em fazer? — rosnou com os punhos cerrados.
— Tic tac — sussurrei friamente. — Sua escolha foi feita,
esqueceu? Sou livre para fazer o que eu quiser.
Expirava sôfrego, se controlando.

Ignorei-o e avistei os frutos do mar nos pratos de todos,


inclusive no meu. Por que era alérgica a isto? Busquei Daniel,
procurando uma resposta a uma pergunta estúpida: só tinha
este tipo de comida ali?
— Pedi para você, não sabia o que queria, então escolhi
lagosta.

— Obrigada, mas vou deixar passar. — Empurrei a refeição


para o meio da mesa; todos pararam de comer e se voltaram a
mim.

— Por que não vai comer? — perguntou Rayla. — Não gosta


de lagosta?

— Não é isso. — Sorri gentilmente. — Sou alérgica a frutos


do mar. Quando tinha treze anos, comi e fiquei uma semana
respirando com ajuda de aparelhos em um hospital.
Tentei não pensar naquela ocasião. Ângela se enfureceu
comigo, brigava a cada dia para eu prestar mais atenção no
que ingeria.
— Oh, por que não me disse quando eu mandei a mensagem
com o nome do restaurante? — questionou Daniel, confuso.
— Acho que estava nervosa demais sobre o livro, não prestei
atenção, desculpe. Mas aproveitem — sussurrei,
envergonhada.

— Se você quiser, podemos ir a outro lugar — sugeriu Daniel,


pronto para se levantar.
— Não se preocupe, eu já estava de saída. Preciso fazer algo
com Johnny.

— O que vai fazer com esse idiota às onze horas da noite? —


grunhiu Ryan.

Fuzilei-o.

— O único idiota aqui é você — rosnei. Ao mesmo tempo,


meu telefone tocou e atendi. “Bingo, bem na hora, Johnny”,
pensei. — Oi, querido, qual foi a resposta do Charles? Vai me
ajudar com as cenas do livro?

Escutei algumas pessoas ofegarem (os homens, pelo menos; as


meninas sabiam do plano). Quem fez mais alto foi Ryan.

— Charles concordou, se ele participar também — anunciou


meu amigo com um sorriso na voz. Disse isso caso o Ryan
pudesse ouvir algo. Mesmo assim, eu engasguei com a bebida.
Não sabia o porquê, já que não faríamos nada, era apenas
atuação.

— Angelina… Sinto muito, pensei que ele escutaria — falou.

— Desculpe — pedi aos demais. Coloquei a bebida na mesa e


olhei para o Daniel. Meu rosto deveria estar vermelho,
contudo, precisava terminar meu plano.

Sam assentiu, ao que seu marido estreitou os olhos, passeando-


os entre nós, desconfiado. Não liguei. Esqueci meu rosto rubro
e fui adiante.
— Você acha que um ménage com dois caras resolveria o meu
problema em relação às sensações descritas no livro? Charles
disse que Johnny só concorda se ele também participar. É claro
que não vai haver sexo, e sim… outras coisas… — Tentei soar
normal, ignorando o setor masculino da mesa.
Alguns homens engasgaram com a comida, e outros com as
bebidas. Desconsiderei, focando em um Daniel espantado.

— Oh, com certeza…

— Tantos homens aqui e você vai estudar as cenas com esses


caras? Garota má — Bryan sorriu para mim.

Retribuí o gesto. Se ele soubesse que tudo fora armado entre


eu e as meninas…
— Fechado, Johnny, passarei no Belas Country e comprarei o
mousse, depois vou para sua casa… — De repente, meu
telefone sumiu da minha mão e voou para o outro lado da sala,
batendo em uma janela de vidro que virou apenas cacos. Os
outros frequentadores do restaurante se assustaram.

Não me importei com o julgamento de estranhos, mas com as


íris afiadas de Ryan em mim, furioso. Esperava uma reação
dele, todavia, não isso.
— Que droga você pensa que está fazendo? — disse, me
erguendo, sem alterar a voz, pois não queria chamar atenção
de ninguém, ao contrário dele. — Sabe quantos meses levei
para pagar aquele celular, seu estúpido?

Ele se levantou também.

— Eu compro outro, aliás, te dou uma maldita loja de


smartphones se quiser — gritou de volta. — Acha que tenho
sangue de barata para ouvi-la dizer essas coisas na minha
frente?
Explodi. Certo, era tudo planejado, sim, apenas não contava
que ele fosse ficar tão furioso a ponto de quebrar meu celular.
Por que simplesmente não falava “Não fique com o Johnny, o
único que tocará em você sou eu. Você é tudo que eu quero,
Angelina”? Por que complicava tudo? Ele me deixou com
raiva.

— Não foi você mesmo quem jurou não sentir nada por mim?
Fez a sua escolha, não reaja como um namorado traído. —
Minhas mãos tremiam, então as cerrei para não voar no
pescoço dele e estrangular aquela cara linda.

— Isso foi para me testar? — perguntou, descrente.


Trinquei os dentes e falei através deles:

— Não preciso testá-lo. — Ele estava mais certo do que


imaginava. — Mudou de ideia? Quando eu sair por aquela
porta, não quero vê-lo nunca mais na minha vida, entendeu?
Decida já.

Ryan ficou calado. Era o fim de tudo, ele jamais insistiria em


mim. Precisava ir embora para cair na cama e chorar sozinha
por um amor não correspondido.

— Levo você para casa — informou Daniel. — Afinal, viemos


juntos.

— Não é necessário, vou de ônibus ou de táxi — murmurei.

— Nem pensar — falou Ryan.

— Você perdeu o direito de opinar sobre a minha vida a partir


do momento em que fez sua escolha — sibilei. Todos seus
amigos estavam de olhos arregalados, inclusive o irmão dele,
que parecia triste. Sam e as meninas também estavam, pois
nosso plano furou, e bem furado. — Desculpem-me qualquer
coisa, tenho de ir embora.

Saí de lá sem olhar para trás. Ouvi chamarem pelo Ryan, e


antes que eu chegasse à porta de vidro de correr, ele segurou
meu braço.
— Se quer conversar, então vamos — falou.
O restante do grupo apareceu também.

— Não vou impedir que a leve, mas se a tocar sem sua


vontade, aí teremos problemas — Bryan ameaçou, num tom de
policial impondo uma lei.

— Nunca a machucaria — sussurrou, vulnerável. Ryan olhou


para Alexia: — Você pode ir com Bryan ou Jordan? Preciso
falar com ela sozinho.

A garota sorriu e assentiu, piscando para mim, tal qual Sam e


Rayla. Eu não disse nada, não sabia o que pensar, tudo
dependeria de nossa conversa.

— Não se preocupe comigo, vou ficar bem — garantiu.


— Onde vai levá-la? — perguntou Daniel.
— No Belas Country, aonde ela já ia antes. Se quiserem, nos
encontramos lá. — Deu de ombros.
Minutos depois, estávamos voando no seu Bugatti Veyron
preto. Já andara nele, nas várias caronas que me deu para o
serviço. Por dentro, era caramelo-ouro, com costura tipo
diamante, alguns detalhes em prata, e diversos botões que eu
não sabia nem para que serviam. Tudo ali gritava “grana”,
assim como os demais pertences de Ryan.
O Belas Country ficava alguns quilômetros antes da entrada do
distrito de Bronx. Assustei-me ao conferir o velocímetro, que
constava 260 km/h.
— Dá para ir mais devagar? — pedi, irritada. — Não estou a
fim de morrer em um acidente de carro, tenho duas crianças
dependendo de mim.
Ele não respondeu, mas reduziu para 100 km/h. Parou o
veículo no acostamento da rodovia logo em seguida. Um
Porsche passou por nós — pelo menos eu acho que era um
Porsche —, e outro carro que não deu para ver, pois estava
escuro. Ambos buzinaram; ouvi Bryan gritar:

— Aproveitem!
Outros quatro carros os seguiram. Um eu acho que era do
Lucky, o outro era do Daniel. Já os dois últimos não reconheci,
talvez do cara tatuado e da irmã de Ryan. Não deu para
registrar as marcas; corriam muito.
— Dirija, Ryan, não pode estacionar nesta rua deserta. Quer
que alguém roube seu carro? Ele deve valer uma fortuna!
— Dois milhões — falou em voz baixa.
Fiquei espantada.

— Mais um motivo para irmos embora daqui. — Minha voz


saiu fraca. — O que vai fazer além de me raptar?
— Anjo… — Vi a dor naqueles olhos lindos através da luz do
painel de controle. — Você ia mesmo ficar com aqueles…
— Por que se importa com isso, se não quer nada comigo?
Não vou esperar que um dia me queira. Não sou desse tipo —
sussurrei, abrindo a porta e saindo. Fiquei na frente do
automóvel, que estava com faróis ligados.
Ele também saiu e me pegou pela cintura, me abraçando e
devorando a minha boca com uma fome incontrolável. Nossa
paixão seria capaz de devastar o mundo, e eu nem teria notado.
Seus beijos eram urgentes e estridentes. Chupou a minha
língua, me fazendo ofegar de prazer em sua boca. Coloquei as
mãos em seus cabelos lindos e sedosos, trazendo seu rosto
mais para o meu, querendo que ele matasse aquele desejo que
eu estava sentindo.
Senti minha bunda no capô do carro. Ryan ficou ali, entre as
minhas pernas, se esfregando com tamanho atrito. Alguma
parte racional do meu cérebro queria reclamar que estávamos
em uma rodovia e a qualquer hora poderia passar alguém, mas
não liguei, apenas sentia a sua necessidade contra a minha de
forma louca. Prendi minhas pernas em sua cintura, apertando
mais seu quadril no meu.

Nossa! Era uma sensação maravilhosa, ele me agarrando desse


jeito, como se quisesse se fundir comigo. Deitou-me no capô
do carro e se dobrou em cima de mim, tomando a minha boca.
Meus lábios se inchavam pela força do beijo. Ele estava com
gosto de whisky, um sabor dos céus. Suas mãos desciam pelo
meu corpo e abaixaram o meu vestido, o suficiente para exibir
meus seios. Os lábios desceram para o meu pescoço e peito.
Também senti a parte de baixo do meu vestido subir acima da
cintura. Fiquei nua para ele, e não me incomodei.
— Você não está usando calcinha — sussurrou sedento,
beliscando meus mamilos.
Arfei com a excitação, quase implorando por seu toque.
— Calcinha deixa marca no vestido — falei. Sentia sua dureza
ali, na minha pele. Suas mãos vagueavam por todo o meu
corpo. Ele colocou a boca no meu seio direito e sugou-o,
faminto.
— Nossa! Eles são fabulosos. — Apertou mais forte, acredito
que gritei de êxtase. — Pode gritar, Anjo, estamos sozinhos.
Aposto que faço você gozar só chupando esses seios lindos e
saborosos.
Ele estava certo. Quando cheguei lá, gritei tão alto que meus
ouvidos até doeram. Foi belíssimo, vi milhares de estrelas.
Ryan não parou por aí: desceu seus lábios pela minha barriga,
passando a língua. Meu corpo mexia como o de uma lagarta na
areia quente, tanto era o fogo que o incendiava dos pés à
cabeça. Ele circulou a língua no piercing no meu umbigo.
— Quis fazer isso desde o dia em que o vi na sua casa, e você
vestindo aquele maldito shortinho curto. Não sabe o quanto
me segurei para não rasgá-lo e me enterrar dentro de você.
Eu arfava, almejando que matasse aquele fogo a me incendiar.
Ele pegou as minhas coxas, que estavam em volta de sua
cintura, dobrou-as e botou-as em cima do capô do carro, com
salto e tudo.
— Ryan, os saltos vão riscar o carro — balbuciei, ofegante, e
já ia tirando as pernas, mas ele as colocou de volta no capô,
deixando-as abertas e vulneráveis para si.
Seu rosto se ergueu, fitando-me com um meio sorriso
libertino. Por onde seus olhos passavam, faziam surgir
labaredas pelo meu corpo.
— Uma verdadeira obra de arte em cima do meu carro e acha
que me importo com uma pintura? — soprou com fervor,
levando sua face até as minhas partes íntimas, que nunca
tinham sido tocadas por ninguém. — Não sabe o quanto eu
sonhei com isso…
Logo sua boca estava lá, me devorando. O fogo foi tanto que
me erguia do capô, achando que sairia voando. Suas mãos
eram as únicas coisas que me mantinham firme, enquanto me
degustava, ou melhor, me consumia. Parecia estar sobre brasas
vivas. Arqueei-me, necessitando de mais dele, a ponto de
gritar. Agarrei seus cabelos, o sentindo chupar meu clitóris
com força e fome. A sensação de outro mundo levou-me a
mais um orgasmo alucinante.

— Isso é só meu. — Sugou a região, dando ênfase ao que


disse. Suas mãos foram para os meus seios. — Eles também.
Gemi e não respondi, sabia que não era verdade, mas não
pensei nisto no momento ou estragaria tudo. Urrei seu nome
ao chegar ao terceiro orgasmo. Nem sabia que isso era
possível, ter orgasmos múltiplos; pelo visto, sim.

— Isso, Anjo, grite o único nome que vai sair dessa boca linda
quando estiver gozando — sussurrou com a voz embargada de
desejo.

Ryan levantou o corpo, tirando sua jaqueta e camiseta,


expondo aqueles músculos perfeitos e definidos. Desabotoou
as calças e puxou-as para baixo, junto com sua cueca boxer,
deixando sua beleza dura e reta para mim. De repente, me
senti tensa, não querendo fazer isso. Não queria que minha
primeira vez fosse desse modo. Pretendia perder a minha
virgindade com um homem que me amasse, que quisesse estar
comigo sempre, e não um que tinha medo dos seus
sentimentos por mim. Esse cara não era o Ryan, e nunca seria,
independente de minha vontade.

— Relaxe, Anjo, não vou transar com você aqui, jamais tiraria
sua virgindade no capô do meu carro.
Eu corei.

— Oh! Então você quer que eu coloque a boca? — Apoiei-me


nos cotovelos e levantei a cabeça para olhar melhor seu corpo
perfeito e pronto, com sua ereção ali, diante de mim.

Ele sorriu para mim e se curvou, beijando meu rosto vermelho


de vergonha, afinal, eu nunca tinha feito isso.
— Vou usar sim essa boquinha linda e saborosa, mas não hoje.
— Beijou-me. Senti seu gosto agridoce. — Você é deliciosa.
Senti-o lá na minha entrada e fiquei tensa.
— Relaxe — pediu de novo. — Não vou entrar, apenas quero
esfregar meu pau nestes lábios rosados da sua boceta gostosa,
e neste broto que está inchado e vermelho de tanto eu chupá-
lo.

Ofeguei com sua boca suja. Nunca pensei que gostaria que um
cara me falasse obscenidades, porém, escutando Ryan, adorei.
Meu fogo aumentava a cada segundo. Eu o senti se esfregando
na minha entrada e no meu clitóris, e tudo parecia que estava
explodindo dentro de mim.
— Ryan! — Minhas mãos foram para as suas costas e
pressionei-me mais junto a ele. Acho que minhas unhas
entraram em sua pele, mas não reclamou de dor, então deixei
passar. Gozei com um grito rouco, e logo depois senti seu
corpo tenso, bem como o esperma caindo pela minha entrada e
descendo para o capô do carro. Arquejávamos após o clímax
de outro mundo. Ficamos os dois ali, moles, tentando
recuperar o fôlego.
— Promete que ninguém nunca vai tocar neste corpo, Anjo?
— Beijou e lambeu meu pescoço.
— Não posso prometer isso — sussurrei. Precisava que ele
decidisse agora ou tudo acabaria hoje.

Ryan se desvencilhou de mim, como se eu tivesse batido nele,


e ficou na minha frente, me mirando com os olhos de ventania,
mortificado.
— Você não pode querer outro cara depois do que acabamos
de ter aqui. — Soava vulnerável novamente.
Levantei-me do carro, notando as minhas pernas molhadas.
— Limpe-se com a minha jaqueta. — Sua voz estava grossa,
mais do que o normal.
Havia dor em sua face. Eu me senti mal por isso, mas era
preciso fazê-lo enxergar o que estava em jogo caso não
decidisse logo. Segurei as alças do meu vestido, cobrindo
meus seios nus. O clima estava um pouco frio; não liguei.
Peguei sua jaqueta atirada no capô e me limpei. Abaixei meu
vestido, arrumando-o para não parecer amassado, um
problema sem muita solução.
Procurei por arranhões no capô, e não deu para ver direito,
devido à escuridão e à cor do veículo — preto. Parecia
amassado.

— Quantas vezes você já transou neste carro? — perguntei,


colocando a mão na sua cintura.
Soltou um suspiro desalentado, vestindo sua camiseta e
passando as mãos nos cabelos.
— Tenho certos limites. Não transo na minha casa, na minha
empresa e nos meus carros. Você foi a exceção.
Meu coração idiota quase teve um infarto. No entanto,
precisava esclarecer as coisas.

— Ryan, mesmo que nós tenhamos feito isso aqui, você não
vai dar o braço a torcer, e eu não posso ficar te esperando até
estar pronto para ficar comigo. — Expirei. — Eu não posso…
Fiz menção de voltar ao carro, ignorando seus olhos
angustiados, mas ele me puxou para seus braços, pondo uma
mão atrás do meu pescoço e aproximando meu rosto a
centímetros do seu; com a outra, apertava a minha cintura.
Segurava-me firme, como se não quisesse me soltar nunca.
Escondeu a face nos meus cabelos, e ouvi-o suspirar contra a
minha pele.
— Não suporto a ideia de alguém fazendo tudo que acabei de
fazer com você e muito mais. — Esquadrinhava os dedos de
sua mão em minha pele.

— A escolha é sua, Ryan. Assim não dá para ficar. Eu me


apaixonei por você, e você por mim, tenho certeza.

Afastou o rosto do meu. Por um momento, achei que ele ia


negar, tal qual sempre fazia. Todavia, me deu um sorriso
brilhante.
— Nunca imaginei que esse dia chegaria. — Pegou uma
mecha de meu cabelo e inalou-a, como se fosse a coisa mais
cheirosa do mundo.

— Que dia? — indaguei com esperança. Meu coração estava


descompassado de medo dele não aceitar o que sentíamos um
pelo outro.
Tomou meu rosto em suas mãos e olhou bem no fundo dos
meus olhos, intenso.
— O dia em que seria domado por uma mulher — disse com
fervor.
Eu ri, em meios às lágrimas.
— Isso quer dizer que vamos namorar de verdade?
Limpou as gotas que caíam pelo meu rosto, beijando-me com
suavidade.
— Não sou bom em relacionamentos, na verdade, nunca tive
em um — assumiu. — Mas acredito que, se eu fizer besteira,
você vai me pôr na linha.
Arrastei minhas mãos por debaixo de sua camiseta, tocando
sua barriga tanquinho.
— Com certeza — assenti, emocionada, e depois fiquei séria:
— A única coisa que nunca perdoarei é se você me trair, Ryan.
Aprenda com Caim.
Não obstante, com Caim foi diferente; desisti dele por amor,
um amor lindo e puro. Pesando na balança hoje, entre o que eu
sentia pelo Ryan, sabia que nunca conseguiria desistir dele
igual fiz com Caim, por ninguém, nem mesmo por Ângela.
— Jamais faria isso, Anjo… Desde que a conheci, você é a
única em que penso. — Pôs as mãos na minha bunda e puxou
meu quadril para o dele. Senti seu monte grande ali, a todo
vapor. — Isto aqui prova que só você tem esse poder sobre
mim.

Engasguei com o fogo renascendo. Não podíamos fazer isso


ali de novo, tivemos sorte de ninguém passar com o carro. Era
melhor não abusar.
— Ryan… — Minhas pernas já estavam bambas.
— Eu sei. — Beijou meus lábios mais uma vez e se afastou.
— Vou me comportar até o jantar no Belas Country.
— O que vai acontecer depois? — perguntei, entrando em seu
automóvel, deixando a jaqueta suja aos meus pés para ser
lavada.
Ele me olhou de lado enquanto dava partida.
— Você não vai escrever as cenas do livro? Não acha que eu
vou deixar aqueles dois… Céus, só de pensar nisso me dá
vontade de matá-los! — Apertou suas mãos no volante; os nós
dos dedos ficaram brancos.

Deitei a cabeça em seu ombro, tranquila pela sensação


maravilhosa de tê-lo ali perto, sabendo que tudo era real, que
me queria de verdade e não lutaria contra.
Estava perto de contar a ele que foi tudo armação para sair da
redoma em que vivia e aceitar o que sentia por mim.
Entretanto, Ryan parou seu carro e me beijou, me fazendo
esquecer do resto.
Chegamos ao Belas Country, o restaurante caipira onde amava
ir. A entrada revestida de pedrinhas brancas formava um
corredor grande, levando a uma porta de vidro de correr. O
telhado era de palha, na forma de chapéu de camponês, com
uma placa grande piscando em vermelho, trazendo o nome do
restaurante. Já escutava a música country lá de dentro.

Ryan me puxou para seus braços, beijando a minha testa.


— Você é só minha, e eu serei somente seu, para sempre —
jurou com fervor, tomando meus lábios de novo, faminto. —
Com você, nunca é o suficiente. Vamos entrar antes que eu
mude de ideia e a leve embora daqui.
Assenti, meio tonta pela intensidade do beijo. Estava molhada
de novo só de sentir seu toque e sua voz sexy. Céus, a sensação
de gozar era maravilhosa, fora do comum. Foi algo tão intenso
que pensei que desfaleceria em seus braços. Amaria ter mais
sensações como aquela, tudo com ele.
Capítulo 8

Trato

ANGELINA

Entramos no grande salão. Do lado direito, havia mesas de


madeira com cadeiras de carvalho branco, e várias pessoas
sentadas. Do outro lado, ficava um palco de madeira com som
baixo e microfones. Ali se faziam os shows ao vivo. O meio se
destinava a quem quisesse dançar música country. A maioria
das pessoas usava roupas ao estilo do local: botas, calças
jeans, camisas xadrez e chapéus de caubói.
— Preciso ir ao banheiro me limpar — cochichei em seu
ouvido.
Ele riu, beijando meu rosto.

— Se quiser companhia…
Enrubesci.
— Oh, não! Se entrarmos os dois, não sairemos de lá tão cedo.
— Esta é a ideia.
— Seja bonzinho — repreendi.
Fui para o banheiro me limpar e ajeitar meus cabelos. Quando
saí, me deparei com Ryan tirando fotos com três garotas, duas
abraçadas nele, e olhando para a câmera do celular de uma
loira. As que estavam com ele eram morenas e usavam saias
curtas, botas de cano alto e top. A do lado direito, esbelta,
tinha uma mão sobre seu peito, bem onde eu tocara minutos
antes. Vê-lo com essas mulheres cortou meu coração, senti-me
traída. Cheguei perto da loira que tirava as fotos e estava de
costas para mim.
Os olhos do Ryan encontraram os meus. Seu sorriso brilhava,
à semelhança de um diamante no sol. Ao ver minha expressão
fechada, a cara de felicidade sumiu como uma luz sendo
apagada.
— Anjo…
Li meu apelido em seus lábios, contudo, ignorei e fui sentar
numa mesa grande, no canto, meio afastada da multidão. Ali
estavam todos seus amigos — que já considerava meus
também. Do lado esquerdo, ficava Sam, seguida por Lucky,
Rayla e seu namorado. No direito, alguém que ouvira
chamarem de Jordan, Daniel, Alexia e Bryan.

Ryan gritou meu nome, mas segui em frente. Ia me sentar na


cadeira perto do Daniel, deixando um assento vazio à minha
esquerda para o Ryan; antes disso, ele pegou a minha mão e
apertou-a delicadamente, fitando meu rosto.

— O que foi? — indagou, confuso.


Virei a cabeça de lado, concentrada em seus olhos lindos.
Como tinha coragem de perguntar?
— As garotas tocando em você. — Sentei, acompanhada por
ele.

— Só estava tirando fotos — respondeu baixinho.


— Certo. — Céus, um homem que teve milhares de mulheres
devia saber que nenhuma garota ficaria feliz com isso. Ryan
nunca ligou para ninguém para entender a gravidade da
situação. — Como se sentiria se eu tirasse fotos abraçada com
Bryan, Daniel, Jordan e este aqui? — Fitei o cara musculoso
que parecia ser lutador ou algo do tipo.
— Jason — apresentou-se.

— Você luta? — sondei, intrigada.


Ele se voltou à Sam, e depois a mim, sorrindo.

— Sim, como descobriu?


— Seus músculos. — Apontei com os dedos para o corpo
tatuado.
Desta vez ele riu, ou melhor, gargalhou, e não foi o único.

— Luto sim…
— “Bala” é seu apelido no ringue — contou Sam.

— Sério? Por quê?


— Porque quando estou no ringue, só tenho um objetivo:
derrubar meu oponente com um único soco e ganhar a luta. —
Piscou, sorrindo de lado. — Já foi em alguma luta antes?
Assenti de forma dúbia. Esperava poder vê-lo competir um
dia, seria interessante.
— Sim, uma vez, mas era em um clube clandestino…

— O que fazia em um clube de luta clandestino? — indagou


Jason antes do Ryan, que já ia abrindo a boca para falar.

— Minha amiga é da polícia. Ela estava investigando esse


lugar, fui junto para não deixá-la sozinha. Algo bem estúpido,
já que é uma policial… Bom, aconteceu uma briga com uns
caras que queriam ficar com a gente. Um deles passou a mão
em sua bunda; ela não vestia o uniforme, e sim um par de
calças coladas, mostrando suas curvas. — Imitei um violão
com as mãos. — Aí, como diz um certo ditado, “A merda caiu
no ventilador”.

— O que houve? — Jason parecia bastante interessado.

Ri, sacudindo a cabeça.


— Oh, ela não deixou barato, pegou a mão do cara e quebrou
dois dedos dele. Acho que até hoje ele não pode ter filhos,
após ela fritar suas bolas. — Passei as mãos nos cabelos.
— Garota, me apresente essa mulher — pediu, risonho. —
Gosto de gente assim.

Sorri.

— É mesmo linda, tem um metro e setenta e sete, cabelos


loiros cor de ouro, olhos verde-esmeralda e um corpo que todo
homem adoraria tocar. Quando ando com ela, os caras babam.
Aposto que se os mandar ajoelhar, eles fariam sem questionar.

Jason se curvou para frente com as mãos sobre a mesa, me


olhando intensamente.

— Como sabe que os caras não estavam babando por você?


Afinal, você é linda. — Levantou as mãos e mirou Ryan após
seu rosnado: — Só declarando o óbvio.
Revirei os olhos.

— Vamos dizer que ela tem curvas bem distribuídas pelo


corpo. E só um defeito…

— O quê?
— Sua boca…

— Ela não tem dentes?

Gargalhei.

— Johnny a chama de… — curvei-me para frente e falei


baixo: — “amolecedor de pênis”.

Todos na mesa riram, enquanto Jason fez uma careta.

— O que isso quer dizer? Que ela não é boa de cama? Esse
Johnny já ficou com ela?
— Dificilmente, já que Johnny é gay. Foi ele quem sumiu com
meu arquivo do hospital. É casado com Charles. E se eu
tivesse uma fortuna em mãos, daria tudo ao cara que
conseguisse chegar nela com sucesso… Ela praticamente
odeia a “escória” que são os homens. Palavras dela, não
minhas.

— Escória? O que houve com ela para reagir assim?

— Bem, a conheci na Universidade de Columbia, há quase


cinco anos. Depois, se mudou para Trenton, fugindo de um
cara que a usou. Não sei bem a história, ela não me disse,
porque doía falar sobre ele. Esse cara a quebrou de uma forma
que considero irreversível. Não perguntei, afinal, também
tinha a minha dor naquela época e não gostava de falar disso.
— Expirei, olhando um aquário repleto de peixinhos, não
deixando minha mente regressar àquela época. — Era doce,
meiga e tímida, logo no começo. Usava vestidos compridos,
cabelos presos em um rabo de cavalo e óculos de grau, bem
nerd, digamos. Certo dia, porém, apareceu toda arrumada na
faculdade, vestindo uma calça de couro que abraçava seu
corpo com espartilho, e que mostrava seus bem formados
seios. Não de um jeito vulgar, e sim sexy. E abandonou os
óculos. Foi quando nasceu essa garota com nova
personalidade. Em vez de sua beleza e elegância fazerem os
homens caírem aos seus pés, ela os expulsava como uma
peste.

— Decerto em razão de um trauma grande que teve. Cada


pessoa encara do jeito de que carece para tentar de alguma
forma aliviar sua dor — declarou Sam. Sorriu ao ver meus
olhos arregalados. — Sou psicóloga. Pelo modo como foi
machucada por esse cara, sentiu necessidade de se afastar dos
homens em geral.

— Oh! Acho que por isso ela entrou para a polícia, para se
resguardar. É também uma tremenda lutadora.

— Onde ela está? E qual é o seu nome? — perguntou Jason,


intrigado.
— Trenton, Nova Jersey. Fui lá no ano passado, em sua casa,
quando visitamos o clube de luta clandestino. Eu a chamo de
Borboleta… — falei. Também estive em sua casa após pegar
os exames de Shane.

Ele arfou de olhos arregalados.

— Borboleta? — Sua voz saiu sufocada, e a face parecia


torturada.

— Sim, apelidei-a assim e ela odeia. Tem uma borboleta nas


costas, acima da bunda. Eu tenho uma igual, que ela me
obrigou a fazer para selar nossa amizade.

— Qual o nome dessa mulher? — indagou Jason, nervoso.


Todos da mesa olhavam para ele para tentar entender seu
comportamento, principalmente a Sam, que estava com o
cenho franzido.
— Tabitta Rodrigues — respondi, avaliando sua reação.
Tomou sua bebida em um gole e fechou as pálpebras em
agonia. — Você a conhece?
Abrindo-as, me encarou de forma distanciada, inalcançável.
Não compreendi.

— Não — respondeu somente, desviando o rosto.


O grupo ficou em silêncio por um segundo. Pensei que ele
conhecia Tabitta… Talvez ela só o lembrasse de alguém de seu
passado. Foquei no agora, e em não me meter na vida dos
outros, pois se quisesse que soubéssemos de algo tão pessoal,
ele mesmo nos diria.

Mirei Ryan, que estava de cenho franzido na direção de Jason,


mas logo se voltou a mim, sorrindo.
— Então, vai responder à pergunta? — retomei nossa
discussão. Ele ergueu uma sobrancelha. — Como se sentiria
me vendo tirando fotos, bem colada, com seus amigos
homens?

Suspirou.
— Ficaria furioso, pronto para matá-los — disse, chegando
bem perto de mim, pegando meu rosto entre suas mãos e
olhando no fundo dos meus olhos. — Prometo não deixar
ninguém mais me tocar, satisfeita?
Sorri com deleite e dei um selinho nele.

— Completamente — respondi e me afastei de suas mãos. O


restante da mesa demonstrava surpresa com nosso diálogo,
inclusive Jason, cujos olhos cor de chocolate, no fundo,
continuavam em chamas. — O que foi?
Rayla ergueu as sobrancelhas:

— O que você fez de tão bom para domar meu irmão? —


Passou as unhas vermelho-sangue na borda da taça, sem tirar
os olhos de nós dois. — É praticamente um milagre.

— Sou boa com cavalos. — Ri.


Ryan rosnou, e os demais caíram na gargalhada, até Jason.
Agradeci por ele sorrir novamente. Não sabia o que o deixou
triste, esperava que ficasse bem.
— Minha tia me deu o Neve quando eu tinha quatorze anos,
era um cavalo selvagem. Foi uma luta para ele permitir que o
montasse. Finalmente consegui, e até hoje sou a única. Por
isso, fiz uma promessa a ele: só me casarei com o homem que
conseguir montá-lo. Acho que vou morrer solteira — brinquei.

— Por isso você disse que esperava o príncipe encantado


montado em um cavalo branco? — Ryan entornou um gole
longo de sua bebida.

— Sim. Não precisa ser um príncipe, apenas conseguir domá-


lo. Levei um ano para isso. — Fitei seu rosto temporariamente
pálido. — O que foi, Ryan?

Ele sacudiu a cabeça.


— Por que se importa tanto com a opinião de um cavalo?
— Ele não é só um cavalo… Não vai me dizer que está com
ciúmes do Neve?
Estreitou os olhos.

— Não tenho ciúmes — rosnou.


— Não? — Rayla riu, explicando a mim: — Ryan tem medo
de cavalos. Quando era criança, caiu de cima do seu pônei e
nunca mais montou.

Arregalei os olhos.
— Sério? Interessante!

Frio, Ryan virou da irmã para mim, com uma expressão de


congelar o oceano.
— O que é tão interessante? — cuspiu.

Ignorei o seu tom.


— Você é um homem…
Sorriu, zombeteiro, deixando a sua raiva para trás.

— Até agora há pouco, da última vez que chequei, era, sim.


Corei, recordando o que nós fizemos no carro. Tentei
recuperar meus pensamentos.
— O que estou dizendo é que você é forte para lutar por aquilo
que quer. Todos aqui são, eu acho. Quando você deseja algo
que vale muito a pena, tem de ir atrás, lutar, perseverar. Fiz
isso com o Neve, não desisti dele. Portanto, me tornei boa em
domar cavalos.

Ele grunhiu.
— Eu não sou um animal — sibilou através de seus dentes
trincados.

— Não, você parece mais um ogro ou um homem das


cavernas. — Beijei seu rosto lindo, que fazia uma careta. —
Você quebrou meu celular com raiva, tudo para eu não ir…

Seus olhos ficaram escuros.


— É melhor nem terminar isso, se não quiser que eu mate
aqueles dois…

— De que estão falando? — inquiriu Rayla, ainda atônita ao


constatar que Ryan era de fato capaz de sentir ciúmes de uma
mulher. O inferno devia estar congelando. Logo ela sorriu,
batendo palmas: — Está se referindo ao Johnny e Charles?
Eles só ajudaram a armar para salvar o relacionamento de
vocês.

Ryan arregalou os olhos para todas nós mulheres, que ríamos


com cumplicidade.
— Você não ia ficar com eles?

Sacudi a cabeça.
— Não, mas precisava fazer você enxergar que podia me
perder caso não desse o braço a torcer.

— Não acredito que fui enganado por vocês — grunhiu.


— Funcionou, não é? — sussurrei, pegando a carne assada que
estava sobre a mesa em uma bandeja grande. Também tinha
farofa de tomate com carne seca e salada. Coloquei um pedaço
de carne na boca, fechando os olhos por um segundo, sentindo
o sabor delicioso e o alimento se desmanchando ali. Eles
trouxeram a comida antes que chegássemos, Ryan e eu.
Mergulhei outro pedaço no molho vermelho.
— Sou apaixonada por este molho. Venho aqui duas vezes por
semana, talvez até mais, dependendo do tempo.
— Você come isso tudo e continua com esse corpo? — Rayla
gesticulou para mim com uma inveja amigável. — Queria ser
assim.
Sorri.

— Você é modelo e tem um corpo lindo. Dizem que algumas


ficam muito tempo sem comer para conseguir. — Engoli a
carne, fazendo esforço para não gemer devido ao gosto
fabuloso.

— Sim, muitas fazem isso. E você aí, comendo de tudo!


— Você é linda, Rayla! Não precisa se preocupar com a
comida. Gosto de você do jeito que é, magra ou gorda. —
Alex riu da careta dela com a palavra “gorda”. — Para mim, é
perfeita.
Pareceu aliviada com isso.

— Hummm, obrigada.
— É uma questão de metabolismo, não sou de engordar
facilmente, vem de família.
— Deus abençoe a genética. — Ela sorriu para mim.
— Parem de olhar a minha mulher — reclamou Ryan para os
caras da mesa.
Eu ri.
— Céus, Ryan, controle esse ciúme. — Bebi o meu chá,
observando os caras solteiros. — Não faço o tipo deles.
Ryan riu com desdém.
— Anjo, você é cega, a única que não nota o tanto que sua
beleza resplandece em todo o lugar que entra.
Bufei.

— Não é verdade. O que eu quero dizer é que vocês quatro —


dirigi-me a Bryan, Daniel, Jason e Jordan — gostam do fácil,
porque o que vem fácil, vai embora fácil, assim não precisam
se prender a ninguém ou dar satisfação. Os outros já foram
domados. — Apontei para Lucky, Alex e Ryan. — Só falta
vocês.

Bryan riu com a ideia de ele ser fisgado por uma mulher.
— Desculpe, garota, isso não vai acontecer comigo. —
Exalava confiança.

Reparando nele, no entanto, via como olhava para Alexia


sempre que ninguém estava notando. Significava que tinha
uma queda por ela, com certeza, talvez virasse algo a mais no
futuro.
— Vamos ver! Humm, aposto que até o final do ano que vem,
vocês quatro também já terão sido fisgados por mulheres —
falei, tomando meu chá.

Desta vez foi Jordan quem gargalhou alto.


— Aposto um Bugatti nisso…

Engasguei com a bebida e tossi. Ryan deu uma palmadinha


nas minhas costas.
— Você está bem? — sondou, preocupado.

Antes que eu dissesse alguma coisa, os outros ali começaram a


soltar suas apostas.
— Dou uma Ferrari zerada. — Jason piscou para mim.
Estava de olhos arregalados, muda.
— Eu, uma Maserati — anunciou Daniel, sorridente.
Sacudi a cabeça, tonta.
— Eu apostaria um carro como esses, mas não tenho dinheiro
para isso… Só agora comprei uma Range Rover para mim.

Sam cortou o irmão e olhou para mim:


— Ele vai apostar um Porsche.
Bryan levantou as sobrancelhas negras para a irmã.
— Vou?
Ela sorriu para o irmão, assentindo.

— Sim, afinal, você está lucrando muito para a empresa do


Lucky…
Lucky a corrigiu.

— Sua empresa.
Fitou-o com amor.
— Nossa — retificou. — Então ele pode apostar.
Pigarreei, mas minha garganta estava seca.
— Gente, eu até apostaria, mas não tenho nada que vocês
queiram… — sussurrei.
— Você poderia fazer um pole dance para nós — brincou
Jordan.
Ryan sibilou.
— Você não teria tempo de assistir, morreria antes disso
acontecer.
Alisei as minhas têmporas, tentando pensar no que eu daria a
eles. Dinheiro não tinha, mas dançar como uma stripper? Ryan
jamais permitiria, caso eu perdesse. Além disso, nunca me
submeteria a rebolar assim na frente de um homem.
— E vocês, o que iriam querer? — questionei a Daniel, Bryan
e Jason.

— É melhor vigiarem o que pedirão — rosnou Ryan, sombrio.


— Quero que você aceite um presente meu sem reclamar do
valor ou coisa do tipo. — Daniel me lançou um sorriso.

— Que presente?
— Na hora você saberá, quando perder a aposta. — Seu tom
era confiante. — Isso ou o pole dance.
Sacudi a cabeça e olhei para o Jason.
— E você?
— Que você faça uma tatuagem escolhida por mim.
Ofeguei, mirando seus braços com tintas coloridas e pretas.
Estremeci ao imaginar isso no meu corpo.
— Não posso escolher? Acho que não ficaria bem toda pintada
— lamentei.
— Prometo que não será um dragão, aves ou nada tão
colorido. E o local também é por minha conta.
Levantei meus olhos para ele; percebi que não mudaria de
ideia. Mas o que era uma tatuagem, afinal? Encarei Jordan,
que sorria vendo o meu pânico.
— Eu quero que coloque um piercing…

Cortei-o.
— Já tenho um piercing.
Ele levantou as sobrancelhas.
— Onde?
— No umbigo.
Sorriu de modo provocante.
— Não, você vai fazer um pouco ao sul de lá.
Engasguei, mesmo sem nada na boca. Escondi o rosto nas
mãos.
— Isso é… — Não sabia bem o que dizer, não queria perder
essa aposta.
— Você ainda não ouviu a minha parte — Bryan disse.
Tirei minhas mãos do rosto e olhei para ele.

— Você pode atirar em mim depois de eu realizar todos os


pedidos deles.
Riu e sacudiu a cabeça.

— Se eu atirasse em você, iria preso e Ryan me mataria.


— Com certeza — concordou Ryan, seco.
— Eu não vou querer nada…
Fiquei surpresa.
— Não?

— Você salvou a vida da minha irmã, então fica por isso. —


Levantou as sobrancelhas. — E já está contando que perderá?
Porque você vai.
Eu me arrumei na cadeira e observei minhas mãos. Nunca fui
de desistir por nada no mundo, não seria agora que faria isto.
— Vamos fazer o seguinte: conseguirei uma garota para cada
um de vocês, e os quatro vão namorar com elas por dois
meses, incluindo passeios no parque, piqueniques, cinema e
outros programas de casal.
Jordan me examinava como se eu estivesse falando em um
idioma que ele não conhecia. Quase ri da sua expressão
estupefata.
— E quanto ao sexo?
Dei de ombros.

— Se elas quiserem, vocês que se entendam, não vou me


meter nisso. Minha única condição é que, nesses dois meses,
sejam fiéis a elas ou perderão a aposta.
— Você acha que acontecerá com a gente o mesmo que com
Ryan? — indagou Bryan, descrente.
— Se elas forem ótimas domadoras de cavalos, sim —
respondi com um sorriso.
Lucky gargalhou junto a Ryan.
— Não estou achando graça — resmungou Jordan, de cara
fechada.
— Quer desistir?
Estudava-me, provavelmente me achando louca.
— Não desisto de uma aposta, nunca.
— Bom saber, pois já conheço duas para dois de vocês. Logo
estarão domados. — Ignorei suas caretas e pousei meus olhos
no Jason. — Começarei por você.
Ele levantou as sobrancelhas.
— Por que eu?
— Porque a garota que tenho em mente é ideal para você, e
não para eles. — Peguei meu chá e o bebi. Tabitta me mataria,
porém, talvez isso fizesse com que os dois se entendessem.
Pelo jeito com que Jason reagiu a ela, parecia conhecê-la. Ele
também aparentava ter sofrido por amor. Depois procuraria
saber mais a respeito disso. A única forma seria perguntando à
Tabitta se ela conhece Jason.
— Qual é o seu nome?
— Surpresa. Não fique preocupado, ela é linda, combina com
você.
— Está me chamando de lindo? — riu.
Revirei os olhos.

— E não é? — Sorri, levantando meu chá, ignorando o


grunhido do Ryan. — Um brinde ao Hospital Sagrado
Coração, que vai ganhar uma bolada.
Sam franziu o cenho.
— Como assim?
— É um hospital para crianças que sofrem do coração,
mandarei os quatro carros para lá, se eu conseguir ganhar —
informei. Esperava não perder no final.
Todos arfaram.
— Você não vai ficar com eles? — perguntou Jason, me
olhando como se tivesse nascido três cabeças em mim. Não
era o único com esta expressão.

— Claro que não! Não sairia por aí em um Bugatti de dois


milhões de dólares! — exclamei. Ryan fez uma careta. —
Seria assaltada logo na esquina. E só de imaginar esse valor
reunido, me dá calafrios. Não lutei ou trabalhei por ele. O
propósito de ganhar essa aposta será para um bem maior:
colocar vocês quatro no cabresto e ajudar crianças que
precisam de auxílio.
— É muito nobre de sua parte. — Sam sorriu para mim.
Dei de ombros.

— Apenas é um lugar que precisa de ajuda — respondi. Seria


lá que Shane colocaria seu marca-passo, em duas semanas.
Eles me deram remédios para ajudar o movimento do coração
dele, pois estava muito fraco. Por isso sua fadiga e falta de ar,
igual vi hoje cedo. Tinha medo dele não aguentar uma
cirurgia, mesmo sendo simples. Ao pensar nisto, meu coração
doía fundo.
— Você é incrível! — declarou Ryan, maravilhado.
Sorri para ele, mas o gesto morreu ao notar duas mulheres ali,
olhando para o Ryan. Uma era morena, com cabelos chanel;
vestia jeans e jaqueta. A outra, loira, usava um vestidinho
curto. Seguravam um celular grande na mão.
— Podemos tirar uma foto com você, Ryan Donovan? —
perguntou a morena.
Permaneci controlada, não faria escândalo, fosse por isso ou
por qualquer coisa. Era óbvio que elas queriam tirar uma
casquinha dele.
Ryan reparou em meu rosto impassível. Com um sorriso
educado, que não deixava de ser sexy, passou seu braço sobre
meu ombro e me puxou para ele.
— Pode tirar.
A mulher morena franziu o cenho.
— Achei que tiraríamos abraçadas com você, como vejo nas
revistas — balbuciou.
— Desculpe, mas minha namorada aqui — me lançou um
sorriso de candura — não gosta que eu tire fotos abraçado com
outras garotas. Não é, Anjo?

Exultante, já nem ligava para a existência dos demais.


— Sim, namorado. — Aproximei-me na intenção de beijá-lo e
parei ali, a centímetros de sua face.
— Oh, Anjo! Faço tudo para vê-la feliz — jurou, colocando a
mão nos meus cabelos e puxando meu rosto para o dele. De
repente, estava devorando a minha boca. Uma corsa que
ansiava por água, era assim que eu me sentia pelos seus beijos.
Ele não parecia se importar com seus amigos ali, e nem com a
minha boca com sabor de chá, e a sua de whisky. Eu também
não ligava: quando o beijava, tudo sumia; o tempo, as pessoas,
o mundo. Restava somente nós dois.
— Se vocês fizeram isso para despistar as mulheres,
conseguiram. Agora se contenham — brincou Rayla.
Envergonhada, me afastei, contemplando o grupinho de
garotas que queriam o meu homem. Sentavam-se a umas três
mesas da nossa, ainda embasbacadas com a reação dele.
— Agora elas sabem que você tem dona.
Ryan me olhou de esguelha.
— Quer dizer que você é minha dona?
Sorri, beijando seu rosto.
— Claro que sim — afirmei. A música country estava baixa e
suave, não tinha começado a apimentar ainda.
Ele riu, levando minha mão aos seus lábios.
— Você me inutilizou para todas as mulheres.
Meu peito inchou, achei que explodiria.

— Acho bom mesmo — disse e me distanciei, tentando me


recompor, afinal, estávamos em um restaurante cercado de
pessoas. Peguei um pedaço de pizza e comi. Logo me lembrei
do Johnny e Charles, e de meu celular quebrado.
— Empreste-me seu celular, já que fez o favor de quebrar o
meu? — Olhei feio para o Ryan.

Sua expressão agora era triste.


— Sinto muito, darei outro a você — respondeu, me
entregando o seu. — Para quem vai ligar?

Era um iPhone do último modelo. Chique. No plano de fundo,


havia uma foto dele com Jason, Jordan, Daniel e Lucky. Os
cinco estavam com bermudas, saindo do mar com seus bíceps
sarados e tatuados. Em Jason, vi desenhada uma águia preta,
no lado direito do peito, e outra colorida — desta, aparecia
apenas um pedaço das asas nos seus braços; supus que a
tatuagem inteira estava nas costas. Jordan tinha uma cruz
preta, que pegava do peito até abaixo do umbigo, e outras
tribais nos braços e no ombro esquerdo. Daniel e Lucky não
tinham nada na frente, só se estivessem nas costas, onde não
dava para enxergar na foto. Um grupo formidavelmente sexy,
principalmente Ryan.
— U-A-U — destaquei as letras separadamente. — Acho que
vou pegar vocês como modelos de capa dos livros que farei.
Venderia como água, ficaria rica. E colocaria vocês dois nisso
também, Bryan e Alex.
— Deixe-me ver? — pediu Sam, estendendo a mão para o
celular. Notei uma aliança grossa de ouro em seu dedo, e outro
anel com a pedra na forma de uma rosa vermelha. Dei a ela o
celular.
— Hummm, isso é uma ideia maravilhosa — concordou
Daniel. — Mas não para mim. Seu livro é sobre um
empresário alto e musculoso, com tatuagens. — Virou-se para
Lucky. — Acho que você faria o papel perfeito.
Lucky levantou as sobrancelhas.

— Nem morto. — Seu tom era frio.


Daniel deu de ombros e não disse nada.
Sam sorriu, olhando a foto e depois o marido. Aquela
expressão sombria dele se transformou em amor ao mirar sua
mulher. Ali vi adoração, devoção.

— O seu corpo é o mais lindo de todos, meu amor. Ryan,


depois envie esta foto para mim — pediu, ao que Ryan
assentiu. Voltou seus olhos para o marido: — Você ficaria
perfeito de modelo de capa de livro.

Ele fez uma careta.


— Rosa Vermelha, sou um empresário, não um modelo. Já
pensou o que os outros diriam sobre isso? Duvidariam do meu
poder. — Soava grosso, mas controlado. — Ryan poderia fazer
isso, já que a namorada é dele, não? — Elevou seus olhos para
o irmão.
— Acho que sim — concordei, sorrindo para Ryan. — Você
poderia fazer o papel do malvado, o Ruger. Ele tem os olhos
frios, iguais aos seus… às vezes.
Ele riu, ou melhor, gargalhou, e não foi o único. Eu os ignorei
e disquei o número que queria. Dirigi-me ao Ryan:
— Seu celular deveria ter senha, sabia? Qualquer um pode
pegá-lo e usar como se fosse você — falei enquanto o telefone
chamava.
— Ninguém mexe nele — assegurou. — Só eu.
— Sério? E quanto à sua secretária do outro dia?

— Ela não trabalha mais para mim — respondeu, um tanto


sombrio.
Antes que eu dissesse alguma coisa, Johnny atendeu.

— Alô? — parecia confuso, em razão do número


desconhecido.
— Johnny, sou eu. — Olhei para a cara feia do Ryan, que
tomava sua bebida.
— Está tudo bem? — inquiriu, preocupado. — Tentei te ligar,
mas você não atendeu.
— Isso porque o homem das cavernas aqui pegou meu celular
e lançou-o contra a janela de vidro do restaurante, após ter
ouvido a nossa conversa — murmurei.

Ouvi os outros rirem do termo. Ryan grunhiu.


— Então deu certo o plano? — perguntou, divertido.
— Não sabe o que está perdendo nos rejeitando — Charles
gritou ao fundo.
Eu sorri.

— Hummm. — Encarei Ryan, taciturno. Não entendia sua


antipatia pelo Johnny. — Deu certo, sim, agora ele está
amarrado a mim.
Com isso, a sombra escura em sua expressão se dissipou por
completo. Pegou meus cabelos e ficou brincando com eles.
— Fico contente — falou Johnny. — Você merece ser feliz.
— Obrigada. — Minha garganta se fechou com a emoção. —
Como estão Lira e Shane?
— Dormindo — respondeu. — Se você vai para o apartamento
do Ryan me diga agora, assim deixamos as crianças aqui hoje.
Já era quase meia-noite, então eu passaria a noite na casa do
Ryan e amanhã voltaria para a minha. Não gostava de dormir
longe de Shane e Lira. Também não tinha certeza se Ryan me
levaria para a sua casa ou para o seu apartamento de foda. Se
fizesse isso, iria embora na mesma hora.

— Sim, irei com ele — sussurrei. — Obrigada por tudo.


— Amigos servem para isso. Amamos você, Borboleta.
— Eu também amo os dois. Qualquer coisa, liguem para este
telefone.
Despedi-me e desliguei. Peguei um naco de carne e comi com
farofa. Estava uma delícia. Virei para o Ryan com o garfo
espetado em um pedaço.
— Prove — pedi, e ele abriu a boca. Era um gesto romântico
em público, e nem liguei, adorava isto.
Meus olhos foram para o seu rosto risonho. Notei, pela minha
visão periférica, que todos da mesa também o observavam,
espantados. Desfrutei do momento.
— Já que você está namorando ela de verdade — começou
Sam, olhando o Ryan —, isso significa que vamos ter um
baile?
Ryan escondeu o rosto no meu pescoço.
— Me mate.

Ri, alisando seus cabelos loiros.


— Será divertido — declarei. Depois sussurrei em seu ouvido,
só para ele: — Podemos sair mais cedo para ir fazer
besteirinha.
Afastou-se e sorriu tal qual o gato Cheshire.

— Gosto de como isso soa — disse, desejoso. Prosseguiu, para


Sam: — Pode preparar o baile.
Sam bateu palmas, animada como uma criança que ganha um
presente de que gosta.

— Eba! Vamos ter um baile!


Lucky a puxou para seus braços.
— Sim, vamos ter um baile, Rosa Vermelha.
Fiquei confusa com a felicidade dela por ir a um baile, embora
eu também tivesse perdido o meu quando fiz dezoito anos.
Ângela e eu estávamos contando os minutos para irmos à festa
da escola, já maiores de idade. Logo veio o fim… E nossos
sonhos foram interrompidos.
— Ela não teve um baile — disse Ryan no meu ouvido.
Eu suspirei.
— Eu também não… — murmurei, não querendo lembrar-me
daquele dia. Uma tragédia sempre é uma tragédia.
— Anjo — sussurrou, vendo a dor na minha voz.
— Estou bem. — Tomei a bebida.
Todos estavam calados, prestando atenção em mim.

— Não se preocupem comigo — menti.


No salão, havia algumas pessoas dançando, homens vestidos
com jeans desgastados, botas de caubói e chapéu. Outras
estavam em pé, assistindo. Isso me deu uma ideia,
compartilhada com Alexia, Rayla e Sam.
— Vocês topam dançar comigo? — Aparentaram
desconfiança. — Vamos nos divertir, ok? O que é melhor do
que estar aqui, cercados dessas pessoas maravilhosas, nos
mexendo ao som de músicas animadas?
— Vamos dançar, então. — Alexia sorriu para mim. A garota
realmente era linda, uma loira deslumbrante.
— O mesmo aqui — falou Rayla. — Faz tempo que não
danço. Sabe, nós poderíamos fazer uma vez por mês um dia de
garotas, o que acham?
— Estou dentro! — exclamou Sam. — Então vamos nessa.

Levantei-me e beijei os lábios do Ryan.


— Não quer vir comigo?
Ele fez uma careta.
— Você sabe que não danço, mas pode ir se divertir com as
garotas — disse.
— Aprecio isso, querido — sussurrei, beijando seus lábios de
novo.
— Vamos sacudir os esqueletos — gritou Rayla, contente.
Capítulo 9

Escolho você

RYAN

Saí da casa da Angelina após ouvir sua confissão, achei que


estava sendo esmagado de todas as formas possíveis. Sabia
que ela se apaixonara por mim, podia sentir em cada carícia,
em cada beijo; na forma com que aqueles olhos negros me
fitavam, com tanto fervor e fome. Deus! Por que uma mulher
como aquela foi se apaixonar por um homem como eu?

Cheguei ao meu apartamento de foda querendo quebrar tudo,


porque representava o bastardo sujo que era. Encontrei-o
ocupado por Jason, Jordan e quatro mulheres. Os dois estavam
sentados no sofá, enquanto elas dançavam para eles. As
garotas eram bonitas, devo admitir. Esperei sentir algo, que
meu pau se levantasse, e nada. A única coisa que eu sentia era
raiva. O pior era saber que um dia fiz parte disso.
Rememorando, percebi que eu costumava ser um bastardo
filho da puta que não queria nada sério com ninguém. Agora
que conhecera essa garota, no entanto, não suportava viver
sem ela de nenhuma forma. O meu maldito coração palpitava
sempre que estava por perto, e se longe, me sentia vazio.
Todos olharam quando entrei na sala. Os dois sorriram para
mim.
— Ainda bem que veio participar da festa — anunciou Jordan,
animado.

— Isso mesmo, estávamos esperando por você — Jason


assentiu.
Uma das quatro mulheres se vestia praticamente com roupas
de stripper. Isso me enojava ainda mais.
— Vamos fazer você feliz. — Ela veio me tocar.
Fechei a cara de um jeito sombrio.
— Toque em mim e eu vou esquecer que você é uma mulher
— sibilei entre dentes.
Ela se afastou como se eu tivesse batido nela; claro que nunca
tocaria em uma mulher assim, não deixaria suas mãos poluídas
tirarem o cheiro da Angel de minha pele
Jason se pôs de pé e ficou na frente das garotas, com cenho
franzido.

— Qual é a porra do seu problema? — rugiu.


Olhei dele para o Jordan.

— Vocês vão querer comprar este lugar? — Nem chamei


aquilo de apartamento, de fato não era, e sim um abatedouro,
um prostíbulo. Este pensamento me fez uivar de dor e raiva de
mim mesmo, pois a mulher que eu queria estava sofrendo, e eu
ali, nesse antro de perdição do caralho.
Os dois me encararam como se tivesse nascido mais uma
cabeça em mim.
— O quê? — indagou Jason.

— Que porra está dizendo? — perturbou-se Jordan.


Expirei, fechando as pálpebras com força. A face de Angie! A
dor estava evidente ali. Abri-as e encontrei as íris azuis do
Jordan e os olhos cor de chocolate do Jason.

— Vocês têm cerca de três segundos para avisar se querem


comprar este lugar, ou vou expulsar essas mulheres daqui e
destruir tudo. — Minha voz era fria.

Finalmente se deram conta de que eu não estava brincando.


Algo no meu rosto chamou atenção deles, não sei o quê.
Talvez a raiva? A dor? O desespero? Tudo isso em uma
enxurrada de emoção.

— O que aconteceu com você? — perguntou Jordan. — Cara,


você não está bem. — Mirava-me de cima a baixo. — Está
todo molhado. O que houve?

Nem notara isso antes; havia ficado muito tempo debaixo da


chuva, olhando o apartamento dela, com tudo gritando em
mim para eu subir de volta e a tomar em meus braços, de todas
as formas possíveis.

— Vocês vão ficar com ele? Não as quero aqui, se o lugar


ainda for meu. — Apontei o queixo para as garotas.
— Certo. — Jason se dirigiu a elas: — Meninas, desculpem,
meu amigo aqui precisa de nós. Vão embora, nos vemos
depois.
Esse “depois” nunca chegaria, porque Jason não era cara de
ligar para alguém. Elas saíram sem falar nada.
— Ótimo, agora conte o que aconteceu com você — exigiu
Jason.

Minha vontade era de apenas sentar em algum lugar e tentar


esquecer o que não podia ser esquecido.
— Não quero falar, só desejo sair daqui. — Observei o local
com repugnância. Fui embora, e eles me seguiram sem fazer
perguntas.

Foi isso o que Lucky sentiu quando estava com problemas


para aceitar a Sam com Shaw? Aquele dia em que apareceu na
casa do Jordan e bebeu para esquecer. Lucky pensava que não
tinha capacidade de cuidar de uma criança, o que era um
absurdo, já que praticamente criou Rayla e eu, e fez um bom
trabalho.

Isso levou-me a me lembrar dos meus pais, de quando se


foram… para sempre. Essa era a razão para eu não poder ficar
com a única mulher que já quis nesta vida. Ela merecia algo
melhor do que eu, um cara que a fizesse feliz. Céus! Só de
imaginar outro tocando aquele corpo e beijando aquela boca
linda com sabor de fruta, me dava vontade de matá-lo, mesmo
não tendo direito sobre ela.

Jason e Jordan permaneceram comigo, em silêncio.


Entenderam que eu não responderia nunca. Não conseguia
falar porque a dor estava me comendo vivo.

Fui trabalhar em minha empresa na segunda, contudo, sabia


que não ia ser capaz de me concentrar, por isso voltei mais
cedo para casa. Logo na entrada, me deparei com uma loira
deslumbrante com cabelos e pernas longos, e olhos cor de
violeta, acho; não deu para ver direito, afinal, não ia ficar
encarando a garota. Linda! Em outros tempos, estaria louco
para dar em cima dela, porém, não via mais as mulheres deste
jeito. Era como se todas fossem homens aos meus olhos.
Ridículo, eu sei, mas era assim que me sentia.
Logo depois de trocarmos algumas palavras, descobri que era
Alexia, Sam a havia chamado. Foi então que me lembrei da
maldita aposta. Com tudo o que estava acontecendo, nem
recordara isso. Não faria mais apostas e desmancharia esta,
não me importava de perder.

O cara da portaria entregou a chave do meu Volvo e disse que


Angelina a dera a ele. Fiquei mais louco ainda, sabendo que
ela tinha acabado de fazer isso. Corri para fora para ver se eu
ainda a encontrava, mas não adiantou. O pior: ela
provavelmente me viu na entrada com Alexia, deve ter
pensado que eu a levaria para o meu apartamento de foda.
Droga! Tinha nojo de mim mesmo e deste lugar. Jordan disse
que ficaria com ele. Bom. Pelo menos eu me livrei.

Foi o pior dia da minha vida. Angelina estava sofrendo,


pensando que eu segui em frente e já recorrera a outras
mulheres, algo que não aconteceria nunca, porque ela me
estragou para todas. Como pode uma pessoa fazer isso sem
nem transarmos? Arrebatou-me apenas com um beijo. Imagine
se a tivesse em minha cama, comigo dentro dela, fazendo-a
gritar meu nome? Seria a coisa mais perfeita do mundo, o
mundo que agora escurecera sem ela.
No mesmo dia, Lucky e Sam me visitaram. Não liguei muito,
a despeito de precisar falar com a Sam. Não estava com
cabeça para nada, somente meu Anjo importava. Liguei para o
Daniel e contei sobre Angie ter devolvido o carro. Queria dá-
lo a ela, mas a garota nunca aceitaria. Pedi para ele buscá-la
em sua casa e levá-la à Luxem todos os dias. Daniel contra-
argumentou que ela não aceitaria sua carona, e conhecendo
Angelina, eu também tinha certeza de que não. Disse a ele que
se ela não aceitasse, deveria ameaçar demiti-la. Eu jamais faria
isso, óbvio.

Vi seus desenhos de moda, foi impressionante saber que tinha


talento para isso também, apesar de não ser sua paixão. Os
modelos de vestidos estavam perfeitos para cerimônias de
Oscar e Grammy. Isso dava quase cinquenta mil, mais ou
menos. Todavia, diria a ela que valia duzentos, assim
compraria um carro decente. Angie precisava ser menos
certinha em relação ao dinheiro. Era similar à Sam neste
sentido: nenhuma delas ligava para isso, não gostavam de
receber coisas caras. Adoraria dar tudo à Angelina. Agora
entendia o que o Lucky passava ao querer presentear Sam
inutilmente. Parecia que algo dentro de mim se quebrava cada
vez que pensava nisso.
Era sexta-feira, completava uma semana desde que saí do seu
apartamento. Uma semana de vazio sem ela. Sam marcou um
jantar no restaurante do avô do Daniel, onde anunciaria o meu
namoro falso com Alexia. Claro que isso não aconteceria.
Evitei todos naquela semana, não estava a fim de conversar
com ninguém. Eles sentiram que algo estava errado comigo,
acho que me diriam no jantar.

Peguei Alexia em frente à sua casa, ou melhor, na casa de


Alex, que ficava perto da Rave. Alex era meu cunhado. No
começo, pensei que ele e Rayla não durariam juntos, mas o
amor que sentiam um pelo outro era mais forte do que os
obstáculos que enfrentaram. Reforçava o que eu teria de passar
caso quisesse ficar com Angelina. Ela valeria a pena, era eu
quem não valia nada.
Ao deixar meu apartamento, estava disposto a abrir mão da
aposta. Para ser franco, desistiria da minha fortuna por ela, se
assim tivesse seu corpo nu debaixo do meu, não só uma vez,
mas para sempre. Esses dias longe foram insuportáveis,
sabendo que estava na companhia daqueles dois caras, que até
podiam ser gays, mas suas aparências não me tranquilizavam.
Eram fortes e musculosos, com tatuagens. Isso me matava aos
poucos. Como não tinha direito sobre ela, sofria em silêncio.
A viagem com Alexia até o restaurante foi silenciosa. A garota
perguntou somente uma coisa:

— Bryan estará lá?


Aquiesci, não entendendo a princípio o que ela queria com ele.
Fitando seus olhos violetas, pude ver que tinha uma queda
pelo cara, ou algo mais. Eu não disse nada, afinal, não era da
minha conta.
Chegamos ao restaurante do avô do Daniel. Estava pronto para
dizer a todos que eu não aceitaria o namoro de fachada, porque
a única mulher que eu queria era ela, meu Anjo. Não tinha
contado a ninguém a respeito de Angelina, apenas o Daniel
sabia disso. Revelaria naquela hora… Foi quando ela entrou
no restaurante com meu amigo ao seu lado, sem se tocarem.
Senti muita ira, contudo, me controlei.

Estava linda! Usava um vestido vermelho brilhante de alças


finas trançadas, apertado em seu corpo, deixando suas curvas
bem à mostra, com decote V no meio dos seios perfeitos. Seus
cabelos, soltos nas costas, formavam ondas. Os lábios
carnudos estavam com um batom, acho que de cereja ou
morango. Isso me deu ainda mais vontade de devorar aquela
boca linda. Quando ela entrou no restaurante, todos os homens
a fitaram. E, como sempre, parecia alheia a isso, um anjo com
seu esplendor, iluminando o lugar.
— Uou! Quem é aquela belezura com Daniel? — sondou
Jason, babando. — Será que ele está saindo com ela?
Cerrei os punhos com força só de imaginá-lo, ou outro cara,
tocando naquele corpo perfeito. Trinquei os dentes e falei
através deles:
— Se Daniel ousar encostar nela, eu o mato.
Observou-me com cenho franzido.

— O quê? Você a conhece? Cara, me apresente a ela.


— Fique longe — falei, seco.

Nossos olhos se encontraram, pude enxergar a dor em sua


expressão. Assim que viu Alexia do meu lado, o sofrimento se
transformou em raiva. Ela me ignorou e sentou de costas para
mim. Seu vestido longo exibia costas nuas, cobrindo somente
a bunda e a frente, deixando a beleza de sua pele de seda à
mostra.
Segurei-me para não acabar com o Daniel. Se ele estivesse
fazendo investidas nela, eu o mataria. E o pior foi Jack, o
garçom que a paquerou, sem nenhum medo que eu fosse matá-
lo. Mas como ele saberia que ela era minha, se não estávamos
juntos?
Bryan chegou junto com Jordan e parou direto em sua mesa,
antes de irem para a nossa. Ficou conversando com Angie e a
fez rir de algo que disse. Ela se levantou e continuaram
conversando; após, a pegou nos braços e a rodopiou. Vendo
esta cena, minha ira chegou ao auge. Era tanta que eu podia
sentir meu corpo tremendo forte.
Lucky ficou me olhando por um segundo, e depois para
Angelina. Não liguei para ele, confrontaria Bryan por ousar
tocar nela. Antes disso, meu irmão me obrigou a sair dali,
dizendo que se eu fizesse isso, a envergonharia na frente das
pessoas, por isso saí de lá e fui para o banheiro tentar me
acalmar.

— Que droga está fazendo? — esbravejou Jason quando a


porta do banheiro se fechou.
Esmurrei a parede. Doeu, mas não liguei.

— Vou acabar com ele, se aquele bastardo ousar tocá-la. Juro.


— Minhas mãos tremiam tanto que achei que fossem cair.
— Ryan, quem é essa garota para você? Eu me lembro dela do
hospital, quando doou sangue para a Rosa Vermelha. — Lucky
franziu o cenho. — Você parece ter sentimentos por ela, não?
— Eu… — Não sabia de fato o que sentia, apenas tinha
certeza de uma coisa: com Bryan ela não ficaria. Se isso
acontecesse, não responderia pelos meus atos. Só de pensar,
meu peito se apertava, me sufocando, esmagando meus
pulmões aos poucos, como uma doença incurável. Era algo
que nunca experienciei por ninguém em minha vida.
— Ryan, nos diga o que está acontecendo — pediu Lucky,
calmo. — Por que tem agido tão estranho nesta semana,
evitando todos?
Suspirei, desgostoso.

— É coisa do imprinting…
— Que porra isso significa? Imprin…
Cortei Jason.
— Imprinting, aquela coisa que os lobos do Crepúsculo têm
quando veem uma mulher e se apaixonam, esquecendo tudo à
sua volta — resmunguei, apertando meu nariz. Foi o que
aconteceu comigo ao ver a Angelina pela primeira vez.
Jordan gargalhou feito um papagaio.

— Você leu Crepúsculo? Está doente? — Veio até a mim,


colocando a mão na minha testa para medir a minha
temperatura.

— O inferno deve estar congelando — zombou Jason, entre


risadas.
Cerrei os dentes.

— Querem parar, os dois? Não li nenhum livro, porra, apenas


estava buscando respostas para o que eu sinto, e me deparei
com essa palavra esquisita, e outras como “buu”, “puf”, e
“ban”. — Dei de ombros, parecendo idiota.
Jordan se curvou para frente de tanto rir. Eu estava a ponto de
esmurrar sua cara quando Lucky falou:

— Vamos chamar de amor à primeira vista, foi isso que


aconteceu com minha Rosa Vermelha e comigo.
— Não, vamos chamar de Bala, igual ao apelido do Jason nos
ringues, porque a porrada é certeira. — Jordan apertou os
lábios, tentando não rir.
Lucky revirou os olhos.

— Você fala isso porque não aconteceu com você, quero ver o
dia em que for fisgado.
— Oh, cacete, que nunca aconteça algo assim. — torceu
Jason. Voltou-se a mim: — Como conheceu essa garota? Foi
atrás dela depois que a viu no hospital?

— Não, a encontrei de novo há duas semanas, fazendo faxina


no meu antigo apartamento.
— Você vendeu o seu apartamento? — indagou Lucky.

— Para o Jordan. Não ia usá-lo mais.


— O que houve depois? — Meu irmão parecia curioso.
— Eu a chamei para ser a minha namorada por causa da
aposta com a Sam.
Contei tudo a eles, sobre o que sentia quando estava perto dela
e o pagamento da aposta.

— Você ofereceu um milhão? — Jordan ficou atônito.


Só não mencionei que foram dois, e não um.

— Sou mais dar todo o meu dinheiro do que ir a um baile. —


Estremeci com este pensamento. “Baile” era um tema perigoso
para mim, desenterrava lembranças há tempos trancadas
dentro de meu ser. Impedia-me de pensar para não desfalecer.

— Então ela é uma golpista? Pegou o dinheiro e agora está


saindo com Daniel? — analisou Jason, sem entender.

— Não está saindo com Daniel, ele nunca a tocaria. — Ri sem


humor. — E ela não aceitou esse dinheiro, e sim vinte e cinco
mil.
Os três franziram o cenho, confusos.

— Por que vinte e cinco mil, em vez de um milhão? — Lucky


perguntou.

— Não sei o porquê, não me disse, apenas falou que era para
algo importante. — Passei as mãos nos cabelos e olhei para o
Lucky. — Lembra que pedi sua ajuda para comprar a Editora
Luxem do Daniel?
Ele arregalou os olhos.
— Não vai me dizer que você comprou uma empresa que não
é o do seu ramo apenas por uma mulher? — Não escondeu seu
choque, evidente em seu rosto embasbacado.
— Oh, merda! — Espantou-se Jordan, com os olhos
arregalados como os de uma coruja.
— Sim, uma dupla bosta — concordou Jason, estupefato. —
Você deu a ela uma empresa?

Ri, nervoso, com a mão direita na cabeça.


— Não, foi para conseguir um serviço para ela, já que seria
minha namorada. E também porque ama livros, até tem um
blog onde faz resenhas. Daniel disse que estava vendendo sua
parte da empresa ao seu sócio tarado…
— …então decidiu comprá-la. — Não era uma pergunta.
Lucky sabia disso.
Dei de ombros.
— Sim. Poderia ter encontrado para ela um emprego na minha
empresa, ou na sua. Mas Angelina ama livros, então tinha de
ser lá. Daniel concordou em vender sua parte, mas o Franklin
não, e eu nunca deixaria aquele velho safado perto dela. Por
isso pedi sua ajuda.
— Algo impensado, devo dizer, já que você não entende nada
de editoração — falou.
— Pode ser, e dane-se. De qualquer maneira, jamais jogaria
um gatinho no meio de leões famintos.
— Você acha que ela é inocente mesmo? — Jason levantou as
sobrancelhas para mim. — A mulher te enfrentou ali, com
garras de onça, e não de um gatinho.
Eu sorri, agora verdadeiro.
— Ela é assim quando fica brava. — Contei a eles acerca de
seus design de vestidos, e também sobre escrever livros. —
Inclusive, aquela roupa que está usando é uma obra dela. Ela
também os faz, quero dizer, costura.

— Por isso você estava estranho desde sexta-feira, querendo


quebrar o seu antigo apartamento. E também não ficou com
ninguém, só agora sairia com Alexia… — ponderou Jason —
Foi tudo por ela?

— Não quero nenhuma outra mulher depois que a conheci.


Não vou ficar com Alexia. Vim aqui hoje para dizer isso.
Apenas meu Anjo importa para mim.
— Anjo? — Jordan levantou uma sobrancelha.
— Ela parece um anjo, com sua beleza, pureza e inocência. —
Cocei a cabeça. — É doce e meiga, embora eu adore vê-la se
irritar de vez em quando, fica mais linda.
Lucky riu.
— Meu irmão, você foi fisgado, assim como eu.
Pensei em discordar, entretanto, sabia que era verdade. Meu
pior temor se realizou: fui fisgado por uma mulher. Maldição,
o que faria agora?
— Não acredito que você foi domado por uma boceta. —
Jordan sorriu, zombeteiro.

— Eu não diria isso, já que nunca transamos.


Ele arregalou os olhos.
— Você está apaixonado por uma mulher com quem nunca
transou?
— Ela não é assim. A Anjo está mais para casas no subúrbio
com cercas brancas e príncipes montados em cavalos pedindo
sua mão. — Este representava meu outro problema, o motivo
pelo qual eu deveria ficar longe dela: não era esse cara, nunca
seria.

Jason e Jordan riram. Lucky apenas me olhou de lado.


— Ela é virgem, então? Se não fosse, vocês já teriam transado
— sondou Jason, ao que assenti. — Bem que tinha algo de
inocente naqueles olhos…
— Meus amigos estão todos caindo por garotas virgens —
lamentou Jordan. — Primeiro a Sam, e agora essa Anjo. Qual
é o nome dela mesmo?
— Angelina. E não sei o que fazer — admiti.
Lucky colocou os braços nos meus ombros.
— Então tome uma decisão, meu irmão. Pelo que notei dessa
garota, ela não parece aceitar as suas cagadas. Pense bem antes
de perdê-la.

Eu me encolhi.
— Não posso me afastar — murmurei.
— Vamos lá para fora, e se comporte. — Lucky suspirou. —
Não quero a minha mulher estressada com nada.
Horas depois, me encontrava sentado no Belas Country,
esperando minha linda namorada voltar para a mesa, pois fora
dançar com as meninas no salão. Observando sua beleza e
pensando na personalidade maravilhosa que estava por trás
disso, soube que foi a melhor escolha que eu já fiz, não me
arrependia de nada. Deveria levantar as mãos para o céu e
agradecer por ela ter cruzado meu caminho. Sorri ao imaginar
as coisas que faríamos logo mais, a possibilidade de sentir seu
gosto de novo.
— Nunca imaginei que um dia eu veria esse sorriso bobo em
seu rosto. — Jordan me olhou de esguelha.
— Eu também não. A Anjo é tudo — declarei.
Lucky sorriu.

— Fomos fisgados por mulheres maravilhosas que se tornaram


o nosso mundo. — Encarou Daniel, Bryan, Jordan e Jason: —
Agora falta vocês quatro.
Bryan revirou os olhos azuis-celestes.
— Vocês nunca vão me ver caindo por uma mulher —
garantiu com firmeza.
— O mesmo vale para mim. — Jordan levantou seu copo de
whisky e brindou com Bryan e Daniel.
— Com certeza — concordou Daniel, sorrindo.
— Mulher é para foder e pronto — disse Jason, entornando
sua bebida e olhando para a pista sem parecer ver nada.
Isso me fez pensar na conversa que ele teve com Angelina
sobre sua amiga policial. Ficara bem interessado, mas quando
ela disse seu nome, foi como se levasse um soco no estômago.
Decerto a conhecia de alguma forma. Sempre soube que ele
tinha uma tristeza grande em seu passado. Suspeitava de que já
se apaixonara, e isto deixou uma marca profunda. Talvez fosse
por essa policial. Esperava que meu amigo encontrasse a
felicidade logo.
— Rapidinho estarão amando também. Não se esqueçam da
aposta: namorar por dois meses sem traição e mantendo seus
paus dentro das calças, a não ser que suas parceiras queiram
transar também. Mas do jeito que a Anjo é, vai achar umas
mulheres mais certinhas. — Ri, sacudindo a cabeça. — O
carma para vocês. Adorarei ver isso.
— Eu também — Lucky se divertiu.
— Já estou quase arrependido — falou Bryan.

— Vai desistir? — provoquei.


Ele bufou.
— Não desisto de uma aposta, nunca. — Sorriu e fitou Jason.
— Pelo menos ela vai começar com você. Até lá, posso transar
à vontade.
— Torço para a garota ser gostosa, e não virgem, doce e essas
merdas. — Jason suspirou, tomando mais um gole de bebida.
— Talvez seja a policial. Já imaginou ela algemando você, e
não o contrário? — sondou Bryan, sorrindo.
Jason se engasgou com o álcool, perturbado e tomado por uma
dor momentânea. Todavia, também enxerguei esperança ali.
Ele queria que fosse ela, podia ver em seu rosto. Estava
confirmado: a conhecia de algum lugar.
Voltei-me à minha perfeita namorada. Ela sorriu assim que
seus olhos pousaram em mim, deslumbrante como um
amanhecer. Este sorriso sempre destruía a minha existência.
Notei um cara perto da Anjo, encantado com sua beleza.
Trinquei os dentes.
Daniel seguiu meu olhar e bufou também.
— Acho que tem alguém interessado demais, não?
Cerrei os punhos. Fui até ela e encarei o homem que a cercava
como um abutre.
— Ryan… — pediu, colocando as mãos no meu peito. Não
bateria nele, embora vontade não faltasse, apenas deixaria algo
claro.

— Ela tem namorado, fique longe. — Beijei-a na frente de


todos, saboreando seus lábios deliciosos com vitaminas A, B,
C, D, a porra do alfabeto inteiro. Afastei-me depois de um
minuto e reparei nos olhares surpresos, tanto do caubói quanto
dos outros frequentadores do local. Estava ciente de que eu era
um mulherengo, mas isso era demais, como se ninguém
acreditasse que eu seria capaz de namorar.

— Eu sou seu namorado — falava para ela, alto o suficiente


para os demais escutarem. — Os outros até podem vê-la e
cobiçá-la, afinal, é linda mesmo. Contudo, sou o único homem
que faz seu coração acelerar, o único que, se pudesse, lhe daria
o céu, a lua e as estrelas. O que eu posso garantir é o meu
amor, o meu coração e a minha alma. Você foi a única que
entrou e a única que ficará, vou amá-la para sempre. — Dei
mais um selinho em sua boca aberta de choque.
Ouvi assovios, os quais ignorei, focando em minha musa.
Todos voltaram a dançar, me deixando apreciar minha adorada
namorada.
— Você também é muito importante para mim. Se estou
doente, você é o meu remédio. Se estou faminta, você é o meu
alimento. Se estou na escuridão, você é o meu guia. Se estou
triste, você é a minha felicidade — sussurrou no meu ouvido.
Quando declarei o que sentia, não a imaginei fazendo o
mesmo. Adorava saber que meu amor por esta linda mulher
era retribuído.
— Dance comigo. — Angie passou os braços em meu
pescoço.

Apertei sua cintura fina.


— Por mais que eu ame estar com você, explorando suas
curvas perfeitas, preciso negar o convite. Mas ficarei de olho
nesses babacas. — Fuzilei alguns ali e dei mais um beijo nela.
— Vá lá com os homens e nos deixe aproveitar a noite. —
Rayla me puxou dos braços da minha garota — Chega de
melação. — Afastou Angelina para longe de mim.
De acordo, voltei para a mesa.
— Eu quase chorei — zombou Jordan, fingindo limpar o
rosto. Bastardo.
— Divirta-se por enquanto. Quando encontrar uma mulher que
faça isso com você, sou eu quem vou rir. — Dei um soco de
brincadeira nele. — No final, ela será tudo para você. Assim
como a Anjo se tornou a razão de eu viver, desde o dia em que
a conheci. Sou o homem mais sortudo da face da Terra porque,
por um milagre, ela me ama de volta.
Angie dançava a música Cotton Eye Joe Rednex, balançando
seus quadris conforme a canção. Não sabia como as quatro não
caíam de seus saltos de dez centímetros. Mulheres… Achei
sexy. Talvez, mais para frente, pediria a ela para fazer pole
dance para mim. Sorri com a ideia maravilhosa.
— A Rosa Vermelha dança muito bem. — Lucky olhava para
sua mulher. — Adoro vê-la alegre.
Bryan riu.
— Eu também amo vê-la feliz. Ela sempre adorou dançar,
fazia aula na escola. — Seu tom demonstrava orgulho.
Sam poderia ser bela, porém, meu interesse continuava em
Angie; devorava seu corpo com os olhos. Cada movimento me
deixava louco.
Angelina virou de costas para nós, foi quando vi a tatuagem de
uma estrela de sete pontas acima da sua bunda perfeita.
Minhas mãos coçaram, querendo tocá-la. Ainda bem que teria
a noite inteira com ela, adoraria cada minuto.

— Você viu a tatuagem que a Angelina tem nas costas? Parece


uma estrela com alguns nomes nas pontas — observou Bryan.
— De quem serão?
Dei uma cotovelada na sua barriga. Ele praguejou baixo.
— Pare de cobiçar a minha mulher — rosnei. — Olhe a
Alexia.
Ele riu do rosnado do Alex.
— Quero minha irmã longe das garras desse aí — falou Alex.
— Ela não merece sofrer de novo.
— De novo? — indagou Bryan.
Alex suspirou, coçando sua barba por fazer.
— Ela se apaixonou uma vez, quando tinha dezenove anos. O
cara a destruiu por dentro e por fora, tanto que meus pais
tiveram de interná-la. Ao sair, ela já não se importava com os
homens. — Passou as mãos nos cabelos. — Acho que ela fica
longe deles para se proteger e não ficar daquele jeito
novamente.

— A Sam não deve saber disso, senão teria me contado. — A


voz do Bryan saiu grossa, vendo Alexia dançar com as
meninas.
— Ninguém sabe, meus pais a levaram para a Suíça… Depois,
morreram — explicou Alex. — Por isso eu estava com medo
dela entrar nessa de namorada falsa com você. — Dirigiu-se a
mim. — Você tem essa capacidade com as mulheres.
— Temo igualmente por Angelina. — Daniel me olhou, sério.
— Não a quebre, ela já se machucou uma vez. E, com você,
seria uma queda maior do que com o Caim.
— Não vou feri-la — prometi. — Saiba que ela tem mais
capacidade de me destruir do que eu a ela. Nunca imaginei que
isso aconteceria, sempre me esquivei, optando por mulheres
fáceis. Um simples olhar dessa garota, com quem nem transei,
me desarmou.

— Isso se chama amor, meu irmão. — Lucky passou o braço


direito sobre o meu ombro. — Você está completamente
apaixonado por ela.
— Eu sei, e isso me assusta demais. — Jamais pensei em me
declarar para uma mulher, em especial na frente de um monte
de gente, como acabara de fazer.
Ela veio até mim com um sorriso lindo. Eu me levantei e a
puxei para os meus braços. Peguei-a firme, me enchendo do
êxtase por estar ao seu lado, domado.
— Você estava mais que gostosa rebolando essa bundinha
linda — sussurrei em seu ouvido.

Angie riu baixinho e murmurou também:


— Fiquei toda molhada só de ouvir isso.
Minhas mãos apertavam sua cintura fina e macia.
— Anjo…
Ela riu de novo e se afastou, sem nunca tirar os olhos de mim.
Deu-me um selinho.
Quando imaginaria que um dia eu desejaria me casar com
alguém? Agora, em sua presença, estava louco para possuí-la
de todas as formas possíveis. Queria tê-la comigo o tempo
inteiro. A garota me fisgou, me domou de corpo e alma.
No próximo final de semana, teria um desfile em uma ilha na
França. Era para ser na Flórida, porém, fora transferido. Ao
voltar, a pediria em casamento. Não dissera a ninguém o que
estava planejando, seria uma surpresa para ela. Gostaria muito
que Angie fosse comigo; conhecendo-a, sabia que não largaria
o serviço para viajar. Sendo o dono da Editora Luxem, não me
oporia, contudo, ela não poderia descobrir isso por enquanto.
Pretendia chamá-la mesmo assim, mais tarde, na minha casa e
na minha cama.
Nunca pensei que chegaria o tempo em que eu levaria uma
mulher para o meu verdadeiro apartamento. Com ela, queria
tudo: filhos, casamento e um lar com varanda, cerca branca e
um jardim na frente. Seria o seu cavaleiro, faria qualquer
sacrifício, até domar um maldito animal selvagem.
— E você tem namorado? — um cara perguntou à Alexia. Ela
e as meninas já estavam vindo sentar em nossa mesa.
A garota piscou e mirou Bryan, buscando ajuda. Não sabia por
que não respondia ela mesma. Ele pareceu entender o olhar,
pois se levantou e deu um passo à frente, encarando sombrio o
homem vestido de caubói.
— Sim, você está olhando para ele. — Sua voz soou fria. —
Então, se não se importa, pare de dar em cima dela.
O cara piscou e depois sorriu, envergonhado.
— Desculpe — disse e se retirou.
— Quer dançar comigo? — perguntou Bryan, pegando a mão
de Alexia e a levando para a pista.
— Sim, eu quero.
Bem colados, um tanto afastados de nós, os dois dançavam e
discutiam ao mesmo tempo. Ela disse algo para ele, dando as
costas e voltando à mesa. Antes que chegasse, Bryan a puxou
para os seus braços e a beijou, tão faminto e profundo que
pareciam que se fundiriam um ao outro. Ele segurava sua
cintura fina e os seus cabelos, aproximando seu rosto do dela.
A garota correspondia, apertando suas mãos em seu peito e
cabelos negros.
Alex pareceu não gostar disso nem um pouco, mas ali tinha
algo. Por isso Bryan estava provocativo comigo, por causa de
Alexia; sentia ciúme. Agora fazia sentido.
Parei de prestar atenção nos dois e foquei na minha amada,
que estava do meu lado com um sorriso enorme em seu rosto
angelical. Pensativa, fitava Bryan e Alexia. Talvez seria Alexia
o par dele na aposta.
Capítulo 10

Inocência

RYAN

Angelina e eu nos despedimos dos meus amigos e fomos


embora para a minha casa. Ao passarmos em frente ao meu
antigo apartamento, ela estremeceu. Acho que pensou que eu a
levaria para lá. Isto nunca aconteceria, pois a garota valia mais
do que qualquer coisa neste mundo. Ela era o meu futuro, o
meu raio de luz, e um dia seria a mãe dos meus filhos.

— Ele foi vendido — anunciei, avaliando seu rosto.


Angie piscou.
— O quê?

— O prostíbulo, como você mesma o chama. — Revirei os


olhos com o termo que inventou. — Eu o vendi na sexta-feira
passada.
Ela sorriu; brilhava mais do que o sol. Meu Deus! Jogou-se
para mim, colocando seus braços e suas pernas ao meu redor.
Eu a segurei por sua bunda linda, entrei em casa e fechei a
porta, tudo com ela nos meus braços.

Angelina beijava meu pescoço.


— Você não tem ideia de como fico feliz com isso.
Eu ri e a levei até o toalete, ligando a torneira da banheira
branca. O local era grande, com piso cor de areia, uma pia de
mármore preta e um box de tamanho considerável.
Coloquei-a sentada no balcão da pia enquanto enchia a
banheira com água quente e espuma de lavanda, seu cheiro.

— Fique aqui — pedi.


Ela assentiu, mirando-me com os olhos bêbados de desejo.
Quase me esqueci de tudo que precisava fazer. Nós tínhamos
ficado no carro, então ela precisaria de um banho, e eu
também.
Escutei o barulho de panos caindo ao chão. Quando olhei para
cima, a vi nua. Reparei em suas pernas longas e perfeitas, o
quadril com curvas, sua boceta linda e raspada, a barriga lisa e
os seios pequenos, que cabiam perfeitamente em minhas mãos.
Seu rosto inocente estava um pouco corado, sorridente.

Fiquei extasiado, com uma enorme vontade de possuí-la ali


mesmo, devorando-a de todas as formas possíveis. Precisava
me controlar, porque ela era virgem. Antes que eu pudesse
pedir para ela ter dó de mim — não era justo ficar nua na
minha frente, provocante —, Angie se lançou na minha
direção e me beijou com uma fome que nem acreditava ser
possível. Nossos lábios doeriam depois; não me importei.
Agarrei-a pela bunda e a apertei. Ela enrolou os pés em minha
cintura, gemendo em minha boca, com as mãos em meus
cabelos, prendendo meu rosto junto ao seu. Nossa! O beijo
estava selvagem e faminto dos dois lados. Prendi-a na parede,
pressionando meu quadril contra o dela. Em seguida, me
afastei um pouco, colocando um dedo em sua entrada
molhada.
— Não vou tirar sua virgindade hoje, mas posso abrir um
pequeno caminho? — pedi.
— Hummm — gemeu, incoerente.

— Você quer isso? — sondei. Não faria nada sem sua


permissão.

Angelina passou a língua no meu pescoço. Reprimi um


gemido e me controlei para não fodê-la forte.

— Sim, eu quero tudo que você quiser. — Sua voz falhava de


desejo.
— Transarei com você, só não hoje. — Não sabia quanto
tempo aguentaria minhas bolas azuis. Seria um sacrifício
danado me esfregar contra ela e não colocar para dentro, como
eu gostaria.
— Ryan… — Inseri um dedo em sua boceta apertada e
perfeita.
— Isso mesmo, chame meu nome enquanto eu a faço gozar. —
Empurrei tudo. Ela estremeceu. Com o polegar, acariciei seu
clitóris, acelerando os movimentos, o que a deixou nas nuvens.
Seu corpo se projetava para cima e para baixo, querendo
acompanhar o meu dedo dentro dela.
— Oh, isto é o céu!! — gritou, apertando minhas costas. No
dia seguinte, estaria cheio de arranhões. Não liguei.
Acelerei mais a pressão contra seu clitóris. Ela explodiu,
jogando sua cabeça para trás, fechando os olhos e urrando meu
nome. Nunca vi nada mais lindo.

— Perfeita! Tão linda quando goza — sussurrei, maravilhado,


olhando seu rosto suado e trêmulo com seu orgasmo
alucinante.

Ela sorriu, meio tímida.

— Não é gozar que me faz sentir mole e em êxtase, e sim


você.

Eu ri e a coloquei na banheira com água morna, cheia de


espuma. Apoiou-se na borda, sem nunca tirar os olhos de mim.
— Você está muito vestido, não acha?

Sorri, passando a camiseta por cima da cabeça e a jogando no


chão. Notei que observava minha barriga, e suas íris
escureceram ainda mais quando tirei a calça e a cueca.

— Vendo algo que gosta? — sondei, entrando na banheira


junto com ela.

— Sim, você é tão perfeito! — falou, quase pasma. — Será


que isto não é um sonho? E amanhã acordarei e você não
estará mais aqui?

Puxei-a para o meu colo, sentindo meu pau duro em sua


entrada perfeita. Controlei-me, pois ela não estava pronta.
Toquei seu rosto e os cabelos, presos num coque bagunçado,
talvez para não os molhar na banheira. Seus olhos negros
como ônix me fitavam com intensidade.

— Sou real, e quando amanhecer, continuarei aqui, e no dia


seguinte, e no outro… — Beijei a ponta de seu nariz. — Serei
tão grudento que você brigará comigo querendo espaço.

Ela riu, passando a língua nos meus lábios.


— Vou amar, porque isso significa que ficaremos assim. —
Rebolou no meu colo e meu pau salpicou para cima, querendo
ser enterrado.
— Anjo…

— Agora é a minha vez — disse, saindo do meu colo e


ficando ali na minha frente.

Eu franzi o cenho.
— Sua vez?

— Você colocou a boca em mim, farei o mesmo em você.

Queria tanto que isso acontecesse comigo, com nós, mas não a
forçaria a me dar prazer como dei a ela.
— Tem certeza disso?

Mirava meu rosto.

— Você não quer que eu faça porque não tenho experiência?


— Sua voz era só um sussurro, mas detectei a dor ali. Foi
como um soco no estômago.

Eu me ajoelhei na banheira e a puxei para os meus braços.


Beijei-a por um momento, fitando suas íris negras umedecidas.
Como podia pensar que eu não a queria por sua falta de
experiência, se esta questão me deixava imensamente feliz?
— Anjo… Quero isso mais do que qualquer coisa. Sonho com
esses lábios carnudos em volta do meu pau, chupando e
sugando, há muito tempo. — Toquei seus lábios abertos de
choque. — Quanto a não ter experiência, eu me sinto um
bastardo sortudo, porque significa que você nunca colocou
essa boquinha no pau de ninguém. Será só minha. E você pode
fazer qualquer coisa com meu corpo.

Angie me deu um sorriso que cintilava o lugar e meu coração.

— Você pode me ensinar para eu ficar experiente só para você.


— Beijou meu rosto, sem desviar os olhos. — Quero fazer
isso. Não estou pronta para transar, mas podemos fazer todo o
resto. — Sorria como um gato prestes a comer um canário. —
Sente-se na beirada da banheira. — Indicou o canto. — Apoie
as costas na parede.
Fiz o que ela pediu, deixando que assumisse o comando.
Quase ri disso. Quando na minha vida sonhei em permitir a
uma mulher tomar as rédeas no quarto? Nunca! Essa garota
veio para me fazer cair de joelhos. Não estava reclamando.

Angelina se ajoelhou, colocando as mãos em cada uma das


minhas pernas. Seus seios desnudos estavam empinados na
minha direção, tudo para minha cobiça e tentação. Ela encarou
meu pau duro como granito e seus olhos brilharam com o que
viu, o que me fez quase gozar. Lambeu os lábios, em
expectativa para saboreá-lo. Pegou meu pau duro em suas
mãos pequenas e apertou-o delicadamente. Não sabia o que
estava fazendo, mas, mesmo assim, fiquei perto de gozar antes
da hora. Ela trançou os dedos na coroa, pegando uma gota do
meu líquido lubrificante e colocando-a na boca.

Gemi, apertando minhas mãos na beira da banheira com tanta


força que achei que os nós dos dedos ficariam brancos.
— Você está me matando aqui — sussurrei com a voz gutural
e anasalada.

Ela sorriu de modo libidinoso.


— Hummm, nada mal. — Curvou-se para frente e colocou
seus lábios em forma de coração na cabeça do meu pênis,
passando a língua em volta dele como se fosse um maldito
pirulito. Levou-o mais ao fundo de sua boca e sugou forte;
meu corpo tremeu.
Gemi, fechando os olhos e sentindo o prazer me dominar.
Ficava louco ouvindo seus gemidos e gracejos. Eu era um cara
grande, e tinha orgulho disso. Ela não conseguiria me colocar
inteiro em sua boca quente, mas o êxtase que eu sentia dizia o
contrário.
Abri os olhos e alisei seu rosto corado.
— Aperte a boca um pouco mais, não deixe os dentes pegarem
nele — pedi, traçando suas têmporas suavemente.
Obedeceu-me com intensidade. Uma visão de outro mundo:
ela com a boca cheia.

— Isso, agora segure com a outra mão o que sobrou do meu


pau, o que você não conseguiu colocar na boca.

Usou a mão direita, balançando para cima e para baixo, em


conformidade ao ritmo de seus movimentos, sugando-o e
lambendo-o.

— Isso mesmo. — Fechei os olhos de novo, sentindo o êxtase


chegar tão intenso que coloquei minha cabeça contra a parede.
Estava prestes a gozar com cada sugada que ela dava.

— Anjo… — Minha voz falhou. — Se não quiser que eu goze


em sua boca, precisa tirar agora…
Apenas gemeu e acelerou mais os movimentos, levando-me
bem ao fundo de sua garganta, apertando meu pau mais uma
vez. Foi quando eu explodi, gritando seu nome, o nome pelo
qual tinha adoração.
Ganhei muitos boquetes em minha vida, e com mulheres
experientes, contudo, nunca foi como este… Com ela, eu vi
estrelas. Não! Vi uma constelação inteira, ficando mole. Para
quem nunca fez sexo oral, ela se saiu muito bem. Parte da
minha alegria residia no fato de sua boca nunca ter estado em
outro homem. Pensar nisso me dava vontade de matar um. Por
sorte, ela era só minha, e seria para sempre.

Angelina liberou meu pau mole e levantou seus olhos quentes


e bêbados para mim, limpando sua boca com as costas das
mãos.

— Então, como me saí?


Detectei nervosismo em sua voz. Será que ela estava
preocupada de eu não ter gostado? Era louca?

— Você foi excepcional, tão incrível que estou até mole. —


Era verdade, foi o melhor boquete de todos os tempos.
Ela sorriu brilhante e me abraçou.

— Farei melhor na próxima vez, me esqueci de apertar suas


bolas. Dizem que isso deixa os homens loucos — sussurrou,
beijando meu pescoço.

Gemi, saindo da banheira e a levando comigo nos braços.


— É melhor pararmos por hoje, já está tarde. — Eu não queria
parar, aliás, queria ficar com ela a noite inteira, sem espaço
para descansar. — Amanhã continuamos.
Angie franziu os lábios em um biquinho bonitinho, algo que
sempre achei fútil e sem graça em mulheres, mas nela era
lindo e fofo.
— Mas me deu vontade de novo enquanto chupava você. —
Mordiscou meu ouvido. — Estou toda molhada, e não é da
água da banheira.
Rosnei, feroz, devorando sua boca, sentindo o gosto do meu
gozo nela. Dei à minha mulher gostosa aquilo pelo que tanto
ansiava: eu.
Capítulo 11

O tempo não apaga

ANGELINA

Acordei com o sol brilhando do lado de fora das janelas de


vidro. As persianas estavam recolhidas, por isso a claridade ali
dentro. Já era tarde, só não sabia o quanto. Observei o corpo
quente e másculo por quem estava completamente apaixonada.
Sorri ao me lembrar do que fizemos à noite, ardia ao pensar
nos detalhes. Foi o melhor sexo oral da minha vida… Aliás,
foi o único.
Ryan estava com sua barriga tanquinho para cima, sem
camisa, de boxer preta, com a mão direita sobre seus olhos
fechados, e a outra em minha cintura. Seu rosto esculpido
parecia sereno ao dormir um sono profundo. A boca sexy,
entreaberta, me deixava com fome dele de novo. Estava louca
para acordá-lo para continuarmos de onde paramos — e,
agora, fazer o sexo realmente, já esperara demais. Queria
sentir seu corpo sobre o meu e realizar meu sonho de possuir
este homem gostoso e lindo.
Saí de fininho da cama, não querendo acordá-lo. Já era quase
meio-dia no relógio do despertador. Ainda bem que hoje era
sábado, então poderíamos aproveitar mais. Notei que estava
sem roupas. Peguei uma camisa verde dele e vesti; batia nos
meus joelhos.

Fui à cozinha fazer o café da manhã para nós dois, pois estava
faminta. Era enorme, com armários de aço na parede, um
fogão inox perto da pia de mármore e uma ilha grande no meio
da cozinha. Em cima da pia, havia uma janela de vidro que
exibia uma vista linda para o horizonte onde o sol se escondia
à noite.

Anos atrás, Ângela e eu fizemos uma promessa: no dia em que


completássemos dezoito anos, viajaríamos pelo mundo e
veríamos o sol nascer em vários lugares. Um sonho
interrompido por causa de um monstro que nos seguiu e fez
meu carro capotar. Ela amava o sol, então eu o observava
todas as vezes que se punha, como se minha irmã estivesse
logo atrás, olhando para mim.

Preparei waffles e panquecas. Por sorte, sabia onde ficava


tudo, pois havia arrumado sua casa antes de ir trabalhar na
editora. Depois que fiz o café da manhã, organizei a mesa com
leite, suco e iogurte. Após me alimentar, saí da cozinha e segui
para a sala de estar, gigante, com vista para a cidade, dois
sofás grandes na forma de L e uma estante com uma TV de 50
polegadas. Sentei-me em uma mesinha perto da janela de
vidro e passei a fitar Manhattan; um paraíso de se olhar por
anos e nunca se cansar.

Peguei o iPhone do Ryan de cima da mesinha. Na noite


anterior, deixara seu número com Johnny para ele me ligar
caso precisasse de mim. Vi as mensagens perdidas de meu
amigo, eram muitas. Será que aconteceu alguma coisa? Não,
tinha certeza de que tudo estava bem. Não podia sempre
pensar no pior, sabia que meus garotos encontravam-se
seguros.
Ouvi passos vindo do corredor enquanto discava para Johnny.
Olhei para cima e me deparei com a bela visão do homem
mais lindo do mundo. Um verdadeiro Adônis. Peguei o celular
e bati fotos, querendo eternizar a imagem diante de mim, tudo
para minha cobiça. Esse deus grego era só meu. Quando
tivesse meu telefone, passaria as fotos para ele.

Ryan usava cueca boxer, sem camisa, mostrando o V perfeito


da barriga tanquinho com alguns gominhos, o peito forte e os
ombros largos. Seus cabelos estavam bagunçados de um jeito
sexy. Essa visão me encheu de cobiça.

Arregalou os olhos assim que bati a primeira foto e sorriu torto


para a segunda.

— Espero que não pretenda mandar isso para ninguém. —


Soava rouco de sono, fomos dormir mais de três horas da
manhã.

Eu pisquei.
— É claro que não! Elas são o meu presente.

Ele veio até mim, me puxou para seus braços fortes e me


beijou como se eu fosse seu café da manhã; de fato, eu queria
ser. Retribuí o beijo com igual vigor e paixão. Logo fomos
interrompidos pelo toque do celular.

— Hummm — murmurou em minha boca. — Deixe-o tocar.

Era isso que eu queria, mas não podia ignorar a ligação.


Afastei-me do meu homem lindo e mirei seus olhos quentes.
— É o Johnny — disse, acrescentando mediante seu rosnado:
— Não seja assim. Eles são meus amigos.

Ryan assentiu sem querer e se distanciou, sem retirar a


expressão quente de seu rosto, me derretendo por dentro.

— Eu sei, desculpe. Prometo que serei legal com aqueles dois.


Contanto que mantenham as mãos longe do que é meu, não
teremos problemas.

Ergui minhas sobrancelhas.

— Eu sou sua?
Ele riu, lançando um olhar ávido ao meu corpo, que foi direto
no meu centro.

— Você é toda minha, Anjo, dos pés à cabeça. — Deu um


sorriso pervertido. — Quer mais provas?

Engoli em seco, pegando fogo. Era tão difícil resistir a ele,


ainda mais com esse corpo quase nu, me olhando como se
quisesse me levar para a cama e não me deixar sair dela tão
cedo. Tonificado, com músculos definidos em todos os lugares
certos: peito, pernas, braços. Fora o rosto esculpido, as íris cor
de whisky, a boca sexy levantada em um sorriso libidinoso.
Nossa! Com esta visão, meu núcleo queimava em atrito.
Impossível me segurar, como um drogado tentando resistir ao
seu veneno preferido. Contudo, precisava saber o que estava
acontecendo com meus irmãos.

— Atendo enquanto você toma café da manhã — falei,


levando o celular ao ouvido.

Ele sacudiu a cabeça, ainda sorrindo. Tão lindo que só pude


ficar ali, encarando-o de boca aberta como um peixe.
— Preferiria me alimentar de outra coisa… — Notou que eu
vestia sua camisa, e seus olhos escureceram mais. Depois,
virou-se e foi para a cozinha, sem notar o efeito de suas
palavras em mim, um maldito vulcão prestes a explodir.

Estremeci e me recuperei.

— Oi, Johnny. — Minha voz saiu fraca, então pigarreei.

— Angelina. — Parecia nervoso.


Um gelo desceu por minha espinha, me deixando tensa.

— Aconteceu alguma coisa com os meninos?

— Anjo… — Ryan me chamou num tom preocupado. — O


que houve?
Caminhava em minha direção com um iogurte de morango em
mãos.

— Não, os meninos estão bem, se acalme — Johnny me


tranquilizou.

Coloquei minha mão direita no coração e suspirei aliviada.

— Graças a Deus. Então qual é o problema? Você parece


agitado. — Sinalizei para o Ryan voltar a tomar café, mas ele
balançou a cabeça e ficou ali perto do sofá, atento.

— Não ligue a TV, Borboleta… — pediu Johnny, um tanto


aflito.

— O quê?

Ele suspirou pesadamente.

— Não ligue a TV, por favor — repetiu, suplicante. — E não


saia nas ruas agora.
— O que está na TV? — Fiquei confusa. O que poderia estar
passando de tão grave que ele não queria que eu visse? Corri
até o sofá, peguei o controle e liguei o imenso aparelho.

Ofeguei de pavor e pesar; fotos minhas e do Ryan no Belas


Country estampavam a tela: eu o beijando na mesa, eu dando
comida para ele em sua boca. E o que vi em seguida fez meu
mundo cair de vez, uma imagem que arrancou meu coração…

— Anjo — chamou Ryan, aturdido, chegando perto de mim.

Escutava Johnny ao fundo, no entanto, meus ouvidos pareciam


obstruídos com algodão. Fui tomada de dor por todos os lados.
Na TV, uma menina de dezessete anos e meio festejava com
homens aleatórios, usando roupas curtas e provocativas, com
olhos negros e vazios; olhos que um dia brilharam mais que o
sol.

Ryan arquejou. Não liguei que a princípio ele pensasse que


fosse eu. Não era eu ali, e sim ela… A pessoa que
representava tudo na minha vida. Agora, todos esses malditos
jornalistas falariam mal da minha irmã, usando meu nome nas
imagens que ali circulavam. Também diriam que eu pretendia
dar o golpe do baú no Ryan, fora os nomes impróprios que
utilizariam os veículos midiáticos.

Meus olhos se encheram de lágrimas com a dor que se apossou


de mim… Tão forte que tudo embrulhou dentro do meu corpo.
Corri para o banheiro e caí de joelhos no chão, vomitando no
vaso sanitário o que comera há pouco. Ryan correu para o meu
lado e pegou meus cabelos. Esquivei-me dele, me sentindo
como aqueles jornais me descreviam.
— Não chegue perto mim — gritei, chorando.
Ele deu um suspiro desalentado.
— Anjo, eu sinto muito.
Por que ele sentia muito? Por que estava sofrendo? Não queria
que sofresse por minha causa. Sentei-me no chão do banheiro
e escorei a cabeça na parede de azulejo frio, tentando aliviar a
dor.

— Johnny, o que está havendo com ela? — perguntou Ryan,


com o celular que caiu em algum lugar.
Ignorei a conversa deles, só pensava em Ângela. Ela fez tudo
aquilo, saía com caras aleatórios, porque não pôde lidar com a
angústia de perder Caim. Não lutou de outra forma para seguir
em frente, não, recorreu ao álcool e a homens desconhecidos.
Tentei salvá-la do poço onde estava se afundando; não
consegui.
Histérica, me debatia no chão do banheiro, querendo que o
sofrimento fosse embora, mas ele nunca iria… Não me
importava em me machucar, uma dor a mais não faria
diferença.
— Anjo — balbuciou Ryan, assombrado ao acompanhar
minha crise. Estava entorpecida de amargura por todos os
malditos lados.
Braços fortes me pegaram, me suspendendo do chão, me
aninhando ali como se eu fosse um bebê frágil. Ainda me
debatia, pedindo para ele me soltar, contudo, Ryan não deu
ouvidos, apenas me prendeu na cama com minhas mãos em
cima da cabeça e seu corpo sobre o meu, impossibilitando-me
de lutar.
Minhas forças foram embora; fiquei ali, mole por um segundo,
soluçando e gemendo. Por que eu não fui com ela? Ângela me
deixou sozinha para lidar com tudo isso, com sua perda. A
escuridão que me rodeava era profunda, impedia-me de ver as
coisas ao meu redor.
— Por quê? — urrei. Seus braços fortes continuavam a me
firmar em seu aperto.
— Oh, Anjo… — falava agoniado, incapaz de me trazer de
volta da escuridão.

— Por que ela me deixou? Por que não me levou junto? —


Através na névoa escura, ouvia vozes não muito longe, mas
era incapaz de chegar até elas. A dor em meu coração me
cegava, como se eu estivesse em uma maldita fornalha, me
queimando sem poder morrer…
— Porque você precisava cuidar de seus irmãos. — Ryan
resfolegou, me trazendo de volta ao presente. Parecia que eu
estava em uma rua deserta, caçando e gritando, querendo
encontrar Ângela. Pedi para me levar com ela a todo custo. Em
meio ao negrume, não conseguia ver nada, muito menos quem
eu tanto desejava. Somente sentia a dor a me consumir.
Abri meus olhos molhados de lágrimas e encontrei os de Ryan.
— E para eu amar você. — Beijou minhas lágrimas,
carinhoso, não de forma sensual, me tratando como a coisa
mais preciosa de seu mundo.
Gemi, sacudindo a cabeça. Mentalizei Lira, minha bonequinha
linda, e meu irmão, que precisavam de mim, que eu fosse forte
para eles. Não podia me permitir cair agora, lutaria por quem
amava, enfrentaria a dor que estava esmagando meu corpo,
meu coração.

— Lira… Shane. — Minha voz saía quebradiça como vidro.


— Eles estão na sala.
— Eu preciso… — Tentei me levantar, mas ele não me
deixou.
Ryan respirou fundo.
— Você precisa se controlar antes, porque senão vai preocupá-
los.
Fechei meus olhos por um segundo, depois os abri,
acompanhando sua face apreensiva. Eu estava vermelha e
inchada de tanto chorar. Não sabia por quanto tempo saí de
mim, talvez horas? Minutos?
Ryan me fitava, entorpecido. Tirou suas mãos das minhas e
alisou minha bochecha, meus olhos, minha boca.
Esquadrinhou meu rosto como se estivesse memorizando-o.
— Desculpe-me…

Encostou sua testa na minha sem desprender os olhos dos


meus.
— Sei o quanto doeu ver aquelas fotos. — Sua voz tinha uma
pontada de raiva. — Meus advogados estão entrando em ação
para processar todos esses abutres desgraçados.
— Quanto tempo fiquei fora?

Ele se encolheu.
— Quarenta minutos, mais ou menos…
Quarenta minutos? Lembrava-me de estar em um lugar escuro
e rodeada de dor, um pesadelo do qual não podia acordar.

— Eles disseram que quero seu dinheiro… — Minha voz


falhou; escondia meu rosto em seu pescoço. — Eu não quero,
Ryan. Nunca quis. — Apertei meus braços em suas costas. —
Você precisa acreditar em mim.
Depois da minha crise, me dei conta de que talvez ele
estivesse pensando isso, que eu estava interessada em seu
dinheiro. Nunca fiquei com tanto medo de perdê-lo como
agora, principalmente após saber o quanto ele me amava.
Esperava que esse amor fosse suficiente para ele nunca
duvidar dos meus sentimentos.

— Oh, Anjo! — Sentou-se na cama e me puxou para seu colo,


me embalando tal qual uma criança e beijando meus cabelos.
— Você não é interesseira. Rejeitou dois milhões, me deu seus
modelos de vestidos que valem quase duzentos mil só para
pagar os vinte e cinco mil que aceitou antes, e também pelo
serviço que eu consegui para você. — Afagava meus cabelos.
— Se fosse uma golpista, teria pego os dois milhões na hora
sem nem mesmo pensar. Não o fez porque é pura. — Deu um
selinho na ponta de meu nariz. — Acredito em você de olhos
fechados.

Engoli em seco.
— Ryan…

Ele alisou as minhas têmporas.


— Nunca senti tanto medo quanto há pouco, vendo você
daquele jeito, sem poder fazer nada, sem poder enfiar a mão
em seu peito e arrancar toda a sua dor… Eles vão pagar por
isso. Eu juro.

— Sei que ela fez tudo aquilo, saiu para festas e com caras
aleatórios, mas foi porque não soube lidar com a dor de perder
Caim. — Ainda assim, eu não o culpava mais. Ninguém podia
escolher quem amar. Talvez se eu o tivesse conhecido depois
dela, ele teria se apaixonado por Ângela, em vez de mim?
Coloquei meu ouvido no coração do Ryan, de modo a aliviar
um pouco a dor da lembrança. Concentrei-me no ritmo de suas
batidas e no seu cheiro, que me deixava bêbada.
— Eles não têm o direito de falar sobre ela assim — chorei. —
Minha irmã não está aqui para se defender.
— Eu sei, meu Anjo, eles não tinham, mas vão pagar —
concordou. — Prometo.

— Confio em você.
— Você pode lutar, é muito forte, uma guerreira. Saberá
defendê-la com garra. E estarei com você até o final. Sempre.

Afastei meu rosto de seu peito e conferi sua expressão solene.


— Dói tanto falar sobre ela — murmurei com lágrimas a
escorrer.
— Eu sei, querida. — Limpou-as com as pontas dos dedos.
— Às vezes, sinto raiva por ela ter ido… Prometemos nunca
deixar uma a outra — sussurrei. — Se eu tivesse feito mais…
— Tudo acontece nesta vida por uma razão — disse
suavemente. Tomou fôlego, fechando os olhos: — No dia em
que meus pais foram para Nova York de carro, era para eu ter
ido com eles. Minha mãe estava promovendo um baile de
caridade, ela sempre fazia isso e me chamava, querendo me
prender a alguma garota certinha. Nunca dei ouvidos. Não
estava pronto para deixar a farra; com dezesseis anos, eu era
igual a logo antes de conhecer você.

Abriu os olhos e beijou meu nariz. Depois voltou a cerrá-los,


acho que para controlar a dor.
— Por isso minha aversão a bailes, porque me lembram ela.
Era para eu estar lá naquele carro com eles. Você não sabe o
quanto pensei nisso durante vários anos, que eu podia ter
partido junto. Não era a minha hora, mas eu pensava em mil
maneiras de impedir o acidente, se estivesse lá…

Encolhi-me por dentro, por sua perda tão similar à minha.


Ryan, erroneamente, se culpava por isso.
— Você não tem culpa. — Ele abriu os olhos com o som da
minha voz. — Se estivesse lá, também teria… E jamais nos
conheceríamos.
Ele beijou a minha testa.

— É o que repito a mim mesmo depois que a encontrei. Sabe


quantas vezes eu desejei estar lá e ter ido com eles? Muitas.
Por isso lutei contra o que sentia por você no começo. Não
queria permitir que entrasse, porque logo iria embora e
desapareceria como eles.
— Isso é…
Ele me interrompeu.
— Ridículo, eu sei, mas era assim que eu me sentia. Meu amor
por você é maior do que qualquer coisa. Maior do que a culpa,
maior do que o mundo. Então entendo como se sente em
relação à sua irmã, mas aqui há pessoas que precisam de você.
Seus irmãozinhos ali na sala, preocupados com você. — Deu-
me um selinho. — E eu. Nunca dependi tanto de ninguém em
minha vida.
— Também preciso de você, Ryan. — Beijei sua boca por um
segundo. Na sequência, me afastei dele com meus olhos
arregalados. — Oh, meu Deus!

— O que foi? — Soou urgente ao tocar meu rosto com as


mãos.

Fiz uma careta.


— Eu vomitei e nem escovei os dentes. — Saí de seus braços
e corri para o banheiro, já pegando uma escova nova. Ele tinha
um estoque dentro da gaveta. Coloquei a pasta, escutando sua
risada gostosa e ardente.
Fitei-o com o cenho franzido.
— Por que está rindo?
— Meu Deus, como você é linda! — Ele riu mais, pegou a
minha escova e jogou-a na pia de mármore. Eu estava prestes
a reclamar quando me beijou com fervor e adoração, uma
mistura muito boa. Tentei empurrá-lo, pois precisava me
limpar, contudo, Ryan não deixou. Não tive forças para
impedi-lo. Ele chupou a minha língua como se fosse um
pirulito saboroso.
— Poderia aprofundar mais o beijo, mas a sala está cheia de
gente, incluindo seus irmãozinhos… — Riu, sacudindo a
cabeça e se afastando um pouco. — Shane já chegou bravo
comigo, pensando que era eu o motivo de você chorar daquele
jeito.
Arregalei os olhos.
— Ele sabe?
— Eu estava no telefone com Johnny quando ele ouviu seus
gritos. — Encolheu-se com a memória, depois sorriu. —
Shane me deu dez minutos para eu levá-la à sala ou ele
entraria aqui e acabaria comigo.
Gargalhei, porque só meu garoto diria isso sem se importar de
estar falando com um homem. Era o meu protetor.
— Este riso é a coisa mais linda que já ouvi — declarou,
observando minha boca. — Pelo menos você sorriu um pouco.
Antes que eu respondesse, escutei a voz urgente do meu
garotinho lindo.

— Angie — gritou, batendo à porta do quarto.


Respirei fundo.
— Estou saindo, meu amor — respondi, deixando os braços
do Ryan. Escovei meus dentes e penteei meus cabelos com os
dedos; pareciam um monte de feno. Já ia desistir e prendê-los
em um rabo de cavalo, mas Ryan pegou um pente na gaveta e
veio atrás de mim para arrumá-los. Fiquei surpresa.
Ele arqueou uma sobrancelha, me fazendo inveja.
— O que foi? — Olhava-me através do espelho.
— Você é o homem mais perfeito do mundo, o sonho de toda
mulher — falei, maravilhada por ele me amar.
Ryan sorriu.
— Anjo, sou assim só para você, ninguém mais. — Terminou,
deixando meu cabelo escovado e em ondas às minhas costas.
— Como você disse, se você estiver doente, procurarei o
remédio; se estiver sofrendo, farei de tudo para aliviar a dor;
se chorar, secarei suas lágrimas com meus beijos; se precisar
de um amigo, estarei lá para você; se necessitar de um amante,
serei o seu; se quiser ir para a lua, a levarei. No final, quero ser
o seu mundo, pois você é o meu.
Como um homem mulherengo podia ser capaz de dizer tudo
isso? Santa Mãe do Céu, tirei a sorte grande por esse deus
grego me amar.
— O que foi? Parece impressionada. — Sorriu torto.

— Ryan Donovan, o deus do sexo puro, o queridinho das


mulheres, está fazendo um poema à sua namorada?

Seu sorriso brilhava como diamante. Iluminava tudo: meu ser,


minha vida.
— Deus do sexo, hein? — Virou a cabeça para trás e
gargalhou. — Repito: só faço coisas assim para você. Mais
uma primeira vez para eu colocar na minha lista.
— Existe uma lista? — perguntei, ultrajada.
— Você está bem, Angie? — sondou Shane, me
interrompendo de falar que ele era o melhor homem do
mundo, pular em seu pescoço e beijar cada canto de seu rosto
lindo.
Eu me recompus e saí do banheiro, gritando na direção da
porta do quarto:
— Sim, já vou sair. — Ryan ficou escorado no batente da
porta. Seus olhos estavam quentes, mas preocupados. Usava
uma bermuda jeans, sem camisa.

— Seus amigos estão lá fora? — Corei ao relembrar a crise


que tive.
Ele assentiu.
— Agora são seus amigos também. — Olhou-me de lado.
— Não tenho roupas aqui, apenas o meu vestido.

— O Johnny trouxe algumas para você. — Foi até uma cadeira


que ficava no canto e pegou uma bolsa rosa, a mesma que
comprei no Walmart no ano passado. — Até que ele serve para
alguma coisa.

Ryan sorria de leve. Em sua presença, a dor ficava menor.


Estava doendo, sim, contudo, ele a tornava mais suportável.
Como se, de alguma forma, Deus o tivesse enviado para me
ajudar a passar por tudo que estava enfrentando com Shane e
minhas perdas… Era grata aos céus por ele ter aparecido na
minha vida.
Fui para o banheiro me trocar, porque não tinha muito tempo.
Precisava encarar meus problemas, encarar um bando de
jornalistas. Vesti um jeans skinny e uma blusa de alças finas,
afinal, o tempo estava bom lá fora, a despeito de não poder
sair do hotel por enquanto.
Ryan não entrou comigo no banheiro; se entrássemos os dois
ali, não sairíamos tão cedo, e meu menininho estava
impaciente do outro lado da porta. Meu belo namorado já
estava vestido com um jeans desbotado e uma camiseta que
abraçava seu corpo tonificado, com logotipo de uma banda de
rock que não conhecia. Seus cabelos loiros estavam de um
jeito bagunçado e sexy. Lindo, era esta a descrição ideal.
— Esqueça esse pensamento por enquanto. — Sorria cálido.
Ele estava certo: tínhamos problemas para enfrentar lá fora.
— Angie, você está demorando muito, então eu vou entrar. —
Shane anunciou, abrindo a porta. Correu até mim e abraçou
minha cintura. Tinha oito anos, mas era um menino grande.
Acho que puxaria os quase dois metros do meu pai. — Mana,
você estava chorando por quê? — Sua voz tinha uma pontada
de raiva. Ele se afastou de mim e estreitou os olhos para Ryan.
— É por causa dele?
Mirei seu rostinho preocupado.
— Shane, meu amor, o Ryan está me ajudando a passar por
isso tudo…
Ele me interrompeu.
— O que aconteceu? Está toda vermelha e inchada — rosnou,
fechando os punhos. Shane tinha um metro e trinta, grande
como papai em sua idade. Quando completasse quinze anos,
ficaria mais alto que eu, se não antes. De qualquer maneira,
sempre seria meu bebê. — Quero acabar com quem fez você
chorar assim.
Eu ri, abraçando-o forte. Seu cheiro natural de bebê e sabonete
de morango me deixava inebriada com amor. Queria sentir isto
por toda a minha existência.
— Eu te amo muito, meu amor. — Beijei seu rostinho.
— Por que ficou triste agora?

— Não estou triste… Estou feliz por ter você e Lira em minha
vida. — Pigarreei. — Agora vá com Lira.
— Promete ficar bem?

Levantei a mão direita para cima num sinal de juramento.


— Palavra de escoteira.
Soltou uma risada gostosa e rica.
— Você nunca foi escoteira.
Baguncei seus cabelos.

— Sim, eu fui, mas uma péssima — cochichei.


Riu de novo e foi para a sala, fechando a porta. Fiquei ali,
mirando a porta de madeira e lamentando por ele estar doente.
— Anjo, o que está acontecendo? O que foi? — Ryan correu
para o meu lado e me abraçou. — Por favor, me conte.

— Não posso perdê-lo, Ryan… — choraminguei.


— Eu não vou… — interrompeu-se, me afastando e olhando
meu rosto. — Você não está falando de mim, não é?

Balancei a cabeça.
— Preciso ser forte por ele. — Fechei os olhos por um
momento.

— É sobre o Shane? — Parecia confuso. — Você não vai


perdê-lo, querida, aquele garoto venera o chão que você pisa.
Respirei fundo e abri os olhos, fitando suas íris preciosas.

— Aquele dia no hospital em Nova Jersey, descobri que Shane


tem uma falha no coração, e precisará fazer uma cirurgia…

— O quê? No coração?
Aquiesci.
— Sim, foi por isso que aceitei o dinheiro da aposta, para
poder adquirir alguns remédios. A cirurgia foi marcada para
daqui a duas semanas…
— Não vai acontecer nada com ele, eu juro.
— Talvez se eu… — Minha voz falhou no final.
— Não existe “se”, Anjo. Quando algo assim acontece
conosco, temos que acreditar que tudo dará certo — disse,
alisando meus cabelos que há pouco escovara.
— Obrigada por estar aqui e me dar forças para seguir em
frente. — Eu o abracei forte.

— De nada, sua felicidade é a minha — respondeu e segurou


as minhas mãos. — Agora vamos lá para a sala, temos de
enfrentar esses abutres falando coisas ruins de você.
Processarei todos eles, garanto. — Sua voz soou fria.
Caminhamos até a sala de mãos dadas. Todos já estavam ali
nos esperando. Ostentavam expressões preocupadas comigo,
alguém que eles praticamente conheceram no dia anterior.
Achei que duvidariam de mim, porém, estava errada. Alguns
se sentavam no sofá na forma de L: Jordan, Jason e Rayla, de
mãos dadas com Alex. Alexia estava perto de Bryan, sem se
tocarem, um par perfeito e lindo. Lucky abraçava a Sam.
Charles e Johnny, de pé, situavam-se perto do sofá. Daniel
estava próximo aos meus amigos. O grupo tinha olhos tristes,
alguns com mais raiva, e não de mim, pelo que percebi.
Sam veio na nossa direção e me abraçou por um momento.
— Lamento, querida, por esses idiotas terem feito isso com
você — sussurrou com doçura e uma pontada de ira.
Meu coração saltou por ela se preocupar comigo. Forcei um
sorriso para tranquilizá-la.
— Eles estão falando muitas coisas ruins a meu respeito. —
Olhei cada um, por último o irmão do Ryan, o Lucky. Ele tinha
o poder de fechar as portas para algumas pessoas, por isso
desejava me explicar, não gostaria que ele entendesse mal o
que sentia pelo seu irmão. — Quero que saibam que não tenho
interesse no dinheiro do Ryan. Eu o amo, é por isto que estou
com ele.
— Eu sei, querida. — Lucky me puxou para os seus braços. —
Confio em você.
— Obrigada — sussurrei, comovida.
— Certo, chega — rosnou Ryan, me tomando dos braços do
irmão. — Abrace sua mulher, não a minha.
Encarei-o de forma dúbia.
— Não acredito que até do seu irmão você tem ciúmes.

Beijou-me na testa.
— Sinto ciúmes de você com todos os homens deste mundo.
— Mirou Charles e Johnny, perto de nós. — Incluindo eles
dois, que não gostam de mulher.
— Gostamos de mulher — replicou Charles. — Apenas não da
mesma forma que você.
Ryan revirou os olhos.
— Você é… — Minhas palavras fugiram.

— Lindo? — falou com um esboço de um sorriso.


Estava prestes a retrucar quando a campainha tocou. Todos
ficaram confusos.

— Quem será? — Jordan franziu o cenho para Ryan. — Você


está esperando alguém?
Meu namorado balançou a cabeça e foi abrir a porta.
— Que diabos você está fazendo aqui? — esbravejou. Em
seguida, escutei o barulho de um punho acertando a carne de
alguém, acompanhado por um gemido de dor.
Corri até o hall e arregalei os olhos. Caim estava ali,
massageando o queixo em que Ryan havia batido. Ryan
imprensou-o contra a parede.
— Não bata nele, por favor — gritou a namorada de Caim.
Surpreendi-me ao vê-la ali, junto a ele. Bom, pelo menos os
dois continuavam namorando.
— É por sua causa que a irmã dela ficou daquele jeito… —
sibilou Ryan na cara de Caim. — Agora Angie está sofrendo
com isso.
— Porra, você não sabe de nada — retornou Caim.
Puxei Ryan para ele parar de bater no outro.
— Não é culpa dele. — Fiquei de frente para o Ryan e toquei
seu rosto rígido e tenso. Seus olhos foram para mim. — Por
mais que eu odeie admitir, ela foi a única que se deixou levar
por esse caminho. Eu estava com a mesma dor que ela naquela
época, por Caim ter ido embora, e não fiz o que ela fez. —
Expirei, me controlando. — Acalme-se.

Ele respirou fundo para se controlar e assentiu. Fitou Caim


com frieza, mas não disse nada. Eu também olhei meu quase
ex, ainda atônita.
— O que faz aqui?
Parecia triste.

— Vim resolver as merdas que estão falando de sua irmã. E


impedir que falem mal de você, aquelas fotos nem suas são. —
Esfregou o queixo. — É tudo minha culpa.

— Caim…
Ele me interrompeu.
— É verdade, eu deveria ter aberto o jogo com ela desde o
início, antes que as coisas tomassem aquelas proporções. —
Suspirou. — Montei uma coletiva com os jornalistas aqui no
salão.
— Você fez o quê?
— Sim, vamos esclarecer as coisas com esses fodidos, depois
você pode processá-los se quiser.
— Mas Caim, eles nem tocaram em seu nome — argumentei.
— Você está de casamento marcado… — Olhei para sua
noiva. — Não devia estar nesta situação, nem neste escândalo.

— Se você fez isto porque pensa que vai ter algum mérito com
ela, esqueça — rosnou Ryan. — Angie é minha.
Caim olhou frio para ele. Após, voltou-se a mim, mais brando.

— Não estou fazendo isso por uma chance com você, Angie.
Pensei no que disse sobre eu viver no passado; estava certa. —
Encarou, triste, sua noiva, e depois eu. — Te amei muito, mas
agora chegou a hora de eu seguir em frente. Além disso, este
idiota a adora, devo admitir. — Aparentava ter respeito por
Ryan. — Ainda mais depois das fotos de vocês dois juntos no
restaurante country, que estão em todos os lugares.
Ryan saía com muitas mulheres antes de eu entrar em sua vida,
mas não em restaurantes e encontros iguais a como foi
comigo, só em festas e baladas.
— Idiota é você. — Ryan urrou, já indo para cima de Caim; eu
o segurei.
— Ryan… — repreendi, olhando Caim. — Então agora você
decidiu que, na realidade, nós nunca existimos? Não
romanticamente, é claro. Fomos amigos um dia, espero
continuar assim. E gostaria de ser sua amiga também. —
Dirigi-me à namorada dele.
Ela deu um sorriso doce.
— Você parece uma pessoa legal. Contanto que não esteja
interessada em Caim, podemos sim ser amigas.
— Quem tem Ryan em sua vida não pensa em mais ninguém
— garanti com júbilo. Caim focalizava a namorada com um
semblante impressionado, como se estivesse se perguntando:
“O que eu fiz para merecer esta mulher?’’.
Devia agradecer mesmo, porque nenhuma garota suportaria o
que ele fez com ela, deixá-la para correr atrás de outra.
— Então você vai me ajudar? — perguntei.
— Sim — assegurou. — Marquei uma reunião daqui a uma
hora com nós dois juntos, para esclarecermos as coisas.
— Ele quer que eu quebre a cara dele? — Ryan sibilou.
— Ryan… — repreendi-o de novo, embora estivesse doida
para quebrar sua cara também se ele insinuou algo como
estarmos juntos, ainda mais com sua namorada presente. — O
que quer dizer com “juntos”? Há pouco você falou em desistir
de que um dia existiu nós dois…
Ele respirou fundo.
— Olha, o único jeito de despistarmos os jornalistas é
contando o que realmente aconteceu. E faremos isto juntos,
mas não juntos num sentido romântico. — Deu um olhar triste.
— Foi por minha causa que Ângela fez aquelas coisas. Agora
temos uma nova vida, e não podemos deixá-los se
intrometerem nela. — Passou as mãos nos cabelos. — Estarei
com Kate, e você com Ryan. Vamos calar a boca desses
estúpidos.
— Isto é loucura, ela nunca deu uma entrevista para um monte
de gente — retrucou Ryan. Disse para mim: — Mas a decisão
é sua.
— Vai querer se esconder para sempre? — perguntou Caim,
me olhando de lado. — Você está namorando uma figura
pública, qualquer coisa que fizer afetará a imagem dele.
— Eu lido com isso, não você. — Ryan cerrou os punhos. —
E não me importo, contanto que ela esteja comigo. Você só
está querendo dar motivos para ela me deixar. Isso não vai
acontecer, eu a seguiria nem que fosse no inferno.
Arregalei os olhos com suas palavras. Antes que eu falasse
algo, Caim rugiu.
— Não é nada disso, seu estúpido. O que estou dizendo é que
temos que esclarecer as coisas, porque eles estão falando mal
dela, e isso não pode continuar assim, porra! — Virou-se para
mim. — Ele é um idiota, você sabe que estou certo.
— Não ligue para o que esse cretino diz. — Ryan me olhou
nos olhos. — Não me abala eles falarem de minha carreira ou
não.
Suspirei. Ele estava fazendo isso para eu não ter de enfrentar
um mar de repórteres querendo me devorar viva, mas eu não
podia deixar isso acontecer com Ryan, ele não podia levar seu
nome à lama por minha causa.
— Ele está certo, Ryan, tenho de enfrentar tudo isso hoje. Não
posso me esconder, deixando seu nome sendo arrastado junto
com o meu. Preciso ir lá e declarar que eu não sou interesseira,
que não estou atrás do seu dinheiro. — Apertei a ponta de meu
nariz. — E também por Ângela, que não está aqui para se
defender. Eu estou e vou dizer a esses estúpidos que o que
quer que ela tenha feito não é da maldita conta deles. A única
que tem o direito de dizer alguma coisa dela sou eu, porque a
amo com cada gota de meu sangue. Vamos nessa. Esses idiotas
vão engolir suas palavras.
Ryan sorria de orelha a orelha, quente. Tive de me controlar
para manter meu foco.
— Você realmente gostou daqueles modelos de vestidos que
fiz? — sondei.
Ele franziu o cenho, sem entender.
— Sim, são fabulosos, inclusive tenho o contrato comigo para
você assinar. Pierre, meu estilista, pediu para eu contratá-la
para trabalhar com ele na Fashion Donovan. Os vestidos
estarão no nosso próximo desfile, daqui a alguns meses na
Califórnia.
— Pierre Delacourt tem um bom gosto — Rayla falou atrás de
nós. — Por que não aceita ser estilista para o Ryan?
Sacudi a cabeça.
— Gente, eu desenho por hobby, não por paixão. O que amo
são os livros — afirmei. — Além disso, trabalho na Luxem, a
editora do Daniel e o sonho de todos os escritores. Quem iria
querer mudar isso? — Peguei uma troca de olhares entre
Lucky, Jason, Jordan, Daniel e Ryan. Não entendi muito bem.
— É verdade, Anjo, temos que fazer o que amamos. Se você
ama escrever livros, então é lá na editora que você vai ficar…
— Beijou minha testa.
— Posso fazer os dois, os livros para mim, e os vestidos ou
qualquer roupa que eu venha desenhar para você.
— Eu aceito se você me deixar pagar o devido valor…
— Se eu quiser presenteá-lo e não cobrar, é problema meu —
falei com segurança.
— Isso é verdade, mas não concordarei, porque não é justo
com minha namorada linda que gosta de ajudar a todos sem
pensar nela mesma. — Beijou meu nariz, enquanto eu fazia
uma careta. — Felizmente, eu penso em você a cada maldita
hora. — Num estalo, emendou outra questão: — Por que você
perguntou sobre os vestidos agora?
Mordi meu lábio inferior. Seus olhos foram para eles e
escureceram.
— Estou preparando minhas respostas. — Fitei o Johnny. —
Preciso ir em casa pegar um vestido para a entrevista.
Johnny sacudiu a cabeça.
— Não pode sair daqui, lá embaixo está lotado de repórteres, e
algumas fãs malucas do Ryan. Todas contra você.
Andava de um lado a outro do hall de entrada.
— Não acredito nisso — resmunguei. Essas mulheres que
fizeram coisas que nunca fiz agora estavam contra mim? Era
culpa do Ryan por ter ficado com toda a América do Norte.
Não disse nada, afinal, ele se preocuparia ainda mais com isso,
e seu passado não era tão importante quanto suas ações
presentes.

— Sobre as garotas, não posso fazer nada. Namorar com


homens com cara de Adônis é pedir por isso. — Sam sorriu
para o marido, que fez uma careta linda. — Quanto ao vestido,
consigo te emprestar um, temos praticamente o mesmo corpo.
— Já que a Sam não vai mais desfilar para você, que tal pegar
a Angelina no lugar? — Jason disse para o Ryan com um
esboço de um sorriso, decerto na intenção de provocá-lo. Pelo
visto, conseguiu.
— Porra nenhuma que vou deixar vocês, babacas, verem a
porra de seu corpo. São loucos se acham isso. Essa perfeição é
apenas para mim.
Revirei os olhos com a hipérbole.

— Ryan, querido, estou longe de ser perfeita. — Sorri para


Sam. — Obrigada, mas vou usar um dos vestidos que eu fiz
sem precisar do dinheiro do Ryan. Nem o conhecia quando o
costurei. — Passei as mãos nos meus cabelos e falei ao meu
namorado: — É um dos modelos que estão com você. Se eu
vestir antes do desfile, vai me processar?
Notou que eu não estava falando sério.
— Oh, Anjo. — Sorriu maliciosamente ao mirar meu corpo.
— Tem outro jeito de me pagar.
Ryan puxou meus cabelos delicadamente e cheirou uma mecha
deles. Eu tremi com seu toque. Mesmo depois de tudo, ainda
sentia vontade dele como nunca. Ignorei esse desejo e fitei
Caim; não havia dor em seus olhos. Acho que ele entendeu
que nunca houve um “nós”, somente estava iludido com o
passado.
— Daqui a quanto tempo é a entrevista? — sondei.
Ele olhou no seu Rolex.
— Quarenta minutos, mais ou menos.
Pedi para Johnny trazer o vestido que fiz no propósito de ir
para o meu noivado… Bom, quando encontrasse um noivo.
Agora tinha Ryan em minha vida. Não sabia aonde iríamos a
partir dali, entretanto, com certeza não podia viver sem ele. Só
de pensar nesta possibilidade me encolhia por dentro.
Ryan e os outros caras desceram para o salão no qual se daria
a entrevista. As garotas ficaram na sala, exceto Alexia, que foi
comigo para ajudar a ajeitar o meu cabelo no quarto do Ryan.
Não gostava de me arrumar cercada de gente. Tolice, eram
mulheres iguais a mim.
Alexia fez um coque no alto da minha cabeça, com mechas
dos dois lados do meu rosto. Colocou rímel nos meus olhos e
sombra ao redor deles, não muita. Ficou bonito, destacou
bastante minhas íris negras e meus e cílios longos.
— Como você sabe tanto sobre cabelos e maquiagens?
— Fiz um curso alguns anos atrás — respondeu. — Quero que
saiba que não ia namorar o Ryan, fui àquele restaurante dizer
isso a todos. Fiquei feliz por ele se declarar a você.
Avaliava seus olhos violetas através do espelho. Vi sinceridade
neles.
— Obrigada. Posso saber por que não ia ficar com ele antes de
descobrir sobre nós dois? Ryan é lindo… — Estava curiosa a
respeito dela, a mulher parecia guardar muitos segredos. — Se
não quiser contar, não precisa — acrescentei, pois hesitou.
Alexia riu, passando as mãos em seus cabelos loiros.
— Vamos dizer que um cara alto, moreno, de olhos azuis e
boca matadora me impede de pensar em outra coisa —
revelou. No entanto, ainda havia algo escondido. Não pedi
para que me contasse; eu também guardava segredos, inclusive
do Ryan.
— Sabia que você e Bryan estavam juntos!

— É complicado nosso lance. — Ela suspirou. — Vamos ver


como isso se desenrola.
Deixei quieto; Alexia não diria mais nada, a menina era
fechada. Gostava dela.
Sorriu ao dar os seus últimos retoques em mim.
— Nossa, mulher, você está um avião. — Assoviou. — O
Ryan que se cuide.
Fui colocar a roupa. O vestido, na região do busto, tinha a
forma de duas maçãs, e escamas até abaixo dos peitos. Na
altura da barriga, a cintura era colada ao corpo, exibindo
minhas curvas em razão da renda transparente. A saia, cor de
ostra, fora feita num material grosso, ficando acima dos
joelhos. Na região rodada, havia uma estrela de sete pontas
bordada, e em cada uma delas coloquei uma pérola, por serem
tão preciosas quanto os nomes desenhados na tatuagem às
minhas costas. Fechava-se com uma tira trançada, em vez de
botões ou zíper.
Sentia-me confiante, apesar da tensão em relação ao que
encontraria diante daquele mar de jornalistas. Olhei para o
espelho e falei a mim mesma:
— Seja forte. — Seria o meu mantra também depois da
entrevista. — Vamos lá.
Capítulo 12

Vamos jogar!

RYAN

Depois da noite anterior, achei que passaria o dia inteiro me


maravilhando e amando minha garota linda. Estava pensando
em levá-la para jantar e ir ao cinema, algo que nunca fiz em
toda minha vida. Com ela, queria fazer tudo, nem que fosse
dançar a maldita Macarena.
Custava a acreditar que aquela mulher maravilhosa era
realmente minha, e que a tive em meus braços toda a noite,
dormindo juntinhos. Dormir junto trazia suas vantagens: beijá-
la, sentir seu cheiro de morango, ter ela nua esparramada na
minha cama, onde podia saboreá-la a qualquer momento que
desejasse, ou seja, sempre, pois era simplesmente viciante.
Jamais teria o suficiente.
A porra das fotos na TV veio em um mau momento. Não
queria que saísse na maldita mídia. Mataria todos aqueles
bastardos que ousaram dizer aquilo dela e de sua irmã. Quando
enxerguei as imagens da garota exuberante de cabelos e olhos
negros se agarrando a dois caras no maior esfrega, pensei que
estivesse vendo coisas. A menina das fotos parecia perdida e
tinha olhos vazios, sem nenhuma esperança. Percebi logo de
cara que não era meu amor. Angelina jamais faria algo do tipo.
Além disso, fui o único que a tocou. Agradecia a tudo por
aquela mulher ser minha, tão doce e pura; nunca se submeteria
a ficar com caras aleatórios.
Já suspeitava que ela tivesse uma irmã, porque o maldito Caim
a chamou de Ângela, muito parecido com Angelina. Não
desconfiava que fosse sua irmã gêmea e houvesse morrido.
Johnny me contou sobre a separação dela e de Caim, a briga
dos dois nesses últimos anos. Bom, ficava feliz por aquele
idiota não a ter tocado, pois só de pensar… me dava vontade
de acabar com sua raça.
Angelina amava sua irmã, a dor era evidente em seus olhos
negros borrados de lágrimas. Eu me lembrei dela dizendo que
Ângela era sua alma gêmea. Queria muito ajudá-la e tirar sua
dor, impedir que ela chorasse mais, mas não podia fazer nada,
apenas mostrar o meu amor por ela.

Quase tive um colapso ao ver o estado em que ela ficou no


banheiro, a crise que teve; por pouco não se machucou. Nunca
me senti tão impotente em minha vida. Fiquei do seu lado até
meu Anjo se acalmar.

Agora estava lá, esperando-a chegar para começar a entrevista


e calar esses malditos que andavam falando mal da minha
garota.

O salão grande, cor de creme, lotara-se de jornalistas


aguardando nossa conferência à imprensa. Conversavam entre
si, ansiosos por uma aparição da Anjo. Alguns repórteres nos
olhavam confusos, sem saber o que estava acontecendo.
Nenhum deles entendia o motivo da presença de Caim e por
que pediu a coletiva. Ninguém se aproximou para solicitar
respostas, estava bem claro que só falaríamos depois que
minha linda namorada chegasse.
Encontrava-me perto de Caim e Lucky. Ainda bem que meu
irmão me acompanhara, caso eu precisasse dele. Alguns
jornalistas pensavam em ir até nós, e só de olhar para a cara
sombria do Lucky, saíam quase correndo. Acho que suas
carreiras dependiam muito disso, dessa informação.

Fiquei nervoso com a possibilidade dela perder o controle na


frente daquele bando de abutres, rondando uma notícia para
vender e ganhar um bônus. Angie não estava acostumada com
isso, não saberia lidar. Se eles dissessem algo que a ofendesse,
assassinaria todos com minhas próprias mãos.

— Relaxe, Ryan, tudo dará certo, cara — pediu Lucky, vendo


meu nervosismo.

— Ela não está acostumada a isso, Lucky — reclamei,


observando o mar de repórteres. — E se Angie me deixar? Se
pensar que é demais para aguentar?

Caso Angelina acabasse nosso namoro, não saberia o que seria


de mim. Ela era a única mulher que enchia meu coração de
gozo e alegria. Precisava dela como do ar que respiro.

— Cara, você não conhece mesmo a Angie. Quando minha


amiga ama alguém da forma que ama você, ela não desiste —
explicou Johnny. — Vi o jeito como ficou quando a deixou.
Ela não comia direito, não dormia, tudo por sua causa. Então
não tenha medo dela não querer continuar só porque você é
famoso, seria impossível.

— Acha que ela vai querer passar por aquilo de novo? —


Charles me olhou de lado.
Eu me encolhi ao pensar na dor que causei à Angie na semana
anterior, tudo porque não aceitava o que sentia por ela, a razão
da minha existência. Faria qualquer coisa para não a ferir
novamente.

Caim estava em silêncio ao lado de sua noiva. Era uma


morena bonita, mas eu só tinha olhos para a minha namorada.

— Obrigado — disse a Caim. De madrugada, pedi ao Simon


para procurar saber tudo sobre ele. Fiquei chocado ao
descobrir que ele ajudou Angelina, arrumando serviços para
ela, mesmo sem minha amada saber disso. Ajudou a tirar a
antipatia que eu sentia por ele.

O cara franziu a testa.

— Pelo quê?

— Você conseguiu muitos trabalhos para a Anjo sem ela saber.


O que não entendo é por que não arrumou um serviço melhor ,
menos cansativo e sofrido.

Ele suspirou.
— Ela não deixava currículo para outras funções, apenas de
faxineira e doméstica — disse num tom triste. — Eu não podia
fazer nada. — Levantou as sobrancelhas. — Vai contar isto a
ela?

— Não, não é minha história para contar — falei a verdade.

— Bom, porque se dissesse algo, também teria de dizer sobre


a editora que comprou somente para ela trabalhar lá.

Arregalei os olhos.

— Como sabe?
Ele sorriu.

— Do mesmo modo que descobriu a meu respeito. Tudo para


ajudá-la. A proeza com a editora foi impressionante.

Estava pronto para responder que não me arrependia, quando


ouvi alguns murmúrios encantados ao redor do salão.

— Maldição! — praguejou Jordan. — Meu amigo, você


ganhou na porra da loteria.
Levantei a cabeça e notei que todos olhavam para a entrada.
Eu me virei e ofeguei com a visão exuberante adentrando o
salão como uma maldita rainha.
A Anjo estava com as mãos trêmulas. O que me deixou de
queixo caído foi sua beleza com aquele vestido, que preenchia
suas curvas perfeitas, todo modelado com detalhes magníficos.
O resto desapareceu: só havia ela.

Estendi a mão à minha namorada e a puxei para os meus


braços, devorando sua boca perfeitamente “beijável”. Notei os
flashes das câmeras através das minhas pálpebras fechadas, e
não liguei. O mundo inteiro poderia acabar e eu nem me
importaria.

— Você está deslumbrante — declarei, me afastando dela sem


querer.
A entrevista foi boa, Angie se saiu muito bem respondendo
cada questão, esclarecendo que as fotos eram de sua irmã.
Caim também apareceu e contou a sua versão na história de
Ângela, e os motivos que levaram minha cunhada a cair ao
fundo do poço. Disse que não podia ficar com ela porque era
novo na época, e que depois de sua morte foi até em terapeutas
para aliviar a culpa.
— Não sou psicóloga, mas eu sei que as pessoas têm várias
formas de lidar com a dor: beber, fumar, ficar com estranhos,
tudo para se esconderem do sofrimento, tentando aliviá-lo. —
Angie encolheu os ombros. — Ela escolheu festejar e sair com
os homens errados.

Angelina contou acerca da perda dos seus pais e de ter que


largar a faculdade para cuidar de seus irmãos. Havia angústia
em sua voz ao narrar os acidentes que levaram seus pais e
Ângela. Queria poder tirar sua dor, mas tudo que conseguia era
assegurar meu amor incondicional a ela.

Alguns ali arfaram pela história triste e pelo trabalho duro para
garantir a vida honrada que mantinha sempre, mesmo com as
lutas vencidas. Angelina deu a volta por cima, nocauteando as
críticas dos jornalistas. O resto do problema meu advogado
resolveria.

Após terminar a reunião, subi com minha linda e gostosa


namorada para o meu apartamento, de modo a comemorar a
sua entrevista brilhante. Expulsei todos da minha casa para
ficar a sós com minha mulher. Shane e Lira foram com Sam e
Lucky, os dois levariam os meninos para passear, algo assim.
Precisava agradecer à Sam por isso.

— Você se saiu perfeitamente bem — sussurrei contra sua pele


linda. Ela foi mesmo perfeita, mas mais perfeito ainda seria
tomá-la de todas as formas.
Comprei um terreno perto do rio Hudson, onde estava
construindo uma casa. Copiei o modelo de uma página do
caderno de desenhos que ela me deu. Dei três meses para o
engenheiro terminá-la, pois seria o tempo que levaria para
preparar o casamento. Bom, esses eram meus planos, esperava
que ela dissesse sim.
Levei-a para o quarto. Torcia para Jordan ter feito o que eu
pedi a ele. Ao entrar, percebi que me amigo não me
decepcionou.
Fiquei um pouco atrás, deixando-a observar os objetos sobre o
colchão e a mesa de madeira que coloquei ali no canto, ao lado
da cama. De repente, me senti nervoso ao mostrar para ela esse
meu lado. Talvez Angie não quisesse nada disso, ser minha
submissa. Se fosse assim, retiraria tudo rapidamente; ela era
mais importante do que meus desejos carnais.
Havia algemas, chicotes de montaria, bondage slaves, cordas
de restrições, grampos de mamilos e outros sex toys. Não
usaria tudo nela, só algumas coisas. Bom, isso se Angelina
deixasse, claro. Seus olhos já grandes ficaram ainda maiores
ao ver o poste de pole dance colocado próximo de um suporte
de porta-algemas.
O rosto lindo corou diante de tudo, principalmente dos
vibradores para clitóris que comprei para usar nela.

— Nós vamos…? — Nervosa, foi incapaz de prosseguir.


Fiquei de frente para ela e fitei seus olhos negros.

— Anjo, nós não vamos fazer nada que não queira, ok?
Apenas vamos jogar, e se não gostar, paramos. — Dei de
ombros. Nunca a obrigaria a agir contra sua vontade.
Ela assentiu, mordendo seus lábios.
— Só jogar? — Sabia no que ela estava pensando. Queria
muito que fosse hoje, que ela estivesse pronta. Notando sua
tensão, via que não.
— Prometi que só tiraria sua virgindade quando estivesse
preparada. Se não for hoje, tudo bem. — Desenhei seu queixo
com os dedos. — Vamos jogar igual fizemos ontem, mas com
brinquedos. Você confia em mim?
— Com a minha vida — respondeu, sem nem mesmo pensar.

Era o filho da puta mais sortudo da face da terra por ter uma
mulher dessas.
— Não fique nervosa, relaxe — pedi após me recuperar.

Transara com várias mulheres desta forma, amarrando-as e as


deixando submissas. Todavia, com elas, eu ordenava e era
obedecido; com Angel, fazia questão de que ela apreciasse
cada segundo, tal qual eu.
— Estou nervosa. E se eu fizer algo errado? — Entristeceu-se.
Toquei o belo rosto e levantei seu queixo para que olhasse para
mim.
— Não fará nada de errado. Fique tranquila e me deixe tomar
conta.

Ela sorriu como o sol, atingindo direto o meu coração, todo


dela.

— Tudo bem, serei sua submissa — anunciou, séria, se


afastando de mim. Em seguida, colocou as mãos nas costas e
abaixou a cabeça. — O que quer que eu faça, senhor?
Como não amar uma mulher dessas? Ali, me apaixonei de
novo por ela. Não consegui me segurar e ri. Não dela, claro, e
sim do seu jeito inocente, se esforçando para tudo dar certo.
Oh, porra, se eu não gostava disso… Eu adorava! Se soubesse
quem a enviou para mim, eu me ajoelharia aos seus pés em
gratidão por toda a minha vida.

Ela franziu a testa, um tanto irritada.


— Desculpe, você fica mais linda se submetendo às minhas
vontades. — Sentei-me na beira da cama sem nunca tirar meus
olhos dela. — Tire a roupa bem devagar.
Engoliu em seco, mexendo as mãos às suas costas.
— O vestido é de laço, não conseguirei desatá-lo sozinha,
senhor — sussurrou.
Apertei os lábios para não rir dela me chamando de senhor.
Não havia coisa mais linda.

— Querida, você pode me chamar… — me interrompi,


olhando de soslaio para ela. — Que nome você me daria no
quarto? Escolha, e toda vez que formos jogar, você se dirigirá
a mim por ele.
Angelina franziu os lábios, pensativa, e logo sorriu. Se ela
soubesse o que esse sorriso fazia comigo, teria um pouco de
dó de mim e do meu pau, duro como uma rocha.
— Estrela.
— Estrela? — sondei, confuso.

Mirou-me bem no fundo dos meus olhos.


— Você é minha estrela de mil pontas, porque há mil motivos
para eu amá-lo — falou, convicta.
Era mesmo um bastardo sortudo da porra.
— Venha aqui — chamei, estendendo minha mão para ela.

Angie fez o que eu pedi, sem nunca tirar os olhos de mim.


Segurei-me para não a beijar com todo o meu amor e esquecer
os jogos. Virei-a de costas para mim. Assim que senti aquela
pele linda e sedosa em minhas mãos, me deu vontade de atirar
tudo para o espaço e possuí-la. Peguei as tiras do vestido em
meus dedos.

— Vou rasgá-lo — disse com a voz grossa de desejo.


— Não! — gritou, em seguida baixando sua voz para um tom
suave. — Desculpe…

— Por que não? — perguntei, querendo entender sua reação.


Ela pigarreou.
— Estrela, este é o vestido que fiz para usar no dia do meu
noivado.
— Felizardo do seu noivo então, não é? — Sorri, desfazendo
os laços.

— Hummm, acho que sim. — Sua voz tremeu quando meus


dedos tocaram sua pele.

Evitei rir.
— Então vamos manter o vestido, certo?
— Seria bom, Estrela. — Ouvia o sorriso na sua voz.

A peça caiu no chão aos seus pés. Saiu dela e se abaixou para
pegá-la. Fui tomado por uma visão incrível de sua bunda linda
com um maldito fio dental. Assoviei por entre os dentes.

— Porra! — rosnei, cerrando os punhos. Era uma visão única.


Angie colocou seu vestido na beira da cama e ficou na mesma
posição de antes, com as mãos para trás e a cabeça baixa.

— Sabe dançar? — perguntei quando se posicionou na minha


frente. Era uma pergunta idiota, já que a vira dançando no
Belas Country.

Ela piscou e assentiu.


— Sim, fiz aulas quando era mais nova — respondeu.

Peguei meu iPhone e coloquei uma música da Beyoncé, Halo;


combinava com ela. O som fluiu no quarto.
— Dance no poste para mim — ordenei.

Ficou um tanto assustada, mas concordou, corando. Tão linda!


Foi até o poste, a alguns metros de onde eu estava sentado na
cama. Pôs as mãos no metal e começou sua dança sensual.
Girou com as pernas para cima e abertas, me deixando com a
visão do paraíso. Parecia aquelas pessoas que fazem ginástica
olímpica. Sua destreza e habilidade eram de outro mundo.

A cena deixou meu pau mais duro ainda, um feito


praticamente impossível. Seria difícil me segurar só
esfregando sua boceta suculenta.

Fez um último movimento e pousou com classe, depois sorriu


para mim, um pouco ofegante. De repente, fiquei preocupado.
— Você está bem? — sondei.

Aquiesceu
— Apenas faz tempo que não danço assim — explicou, já
retornando à posição de submissa.
Como eu queria essa mulher! Toquei seu rosto com as pontas
dos dedos e desci sobre seus seios rosados e duros, mesmo
através do seu sutiã de renda tomara que caia, na cor igual à do
vestido. Seu peito subia e descia com a respiração alterada
devido ao meu toque em sua pele de pêssego.

— Você confia em mim?


Assentiu sem conseguir falar, porém, eu precisava escutar sua
resposta. Peguei seus cabelos e enrolei-os em minha mão
direita, puxando-os para trás, não forte para não machucá-la.
— Quero que diga — ordenei, encarando seus lindos olhos
quentes, bêbados de desejo por mim.
— Si-sim… — gaguejou, ofegante.
Afastei-me dela para evitar beijá-la, o que me levaria a
esquecer de tudo e tomá-la antes da hora. Caminhei em
direção à cama.
— Vá para a plataforma onde fica o suporte das algemas e se
ajoelhe no meio dela com as mãos para trás e a cabeça baixa
— mandei, sem me virar, ou não cumpriria nada dos meus
planos.

Ouvi-a arfar, encaminhando-se aonde pedi. Tinha quase


certeza que tirou os sapatos, porque não escutei o barulho dos
saltos.
Quando pedi ao Jordan para colocar a plataforma no canto do
meu quarto, e que ela teria de ser revestida de camurça e
veludo para não machucar os joelhos dela, o babaca gargalhou,
porque o normal seria elas se ajoelharem no chão mesmo. Não
queria os joelhos da minha garota vermelhos e ralados, então
não liguei para seus deboches. Um dia, ele seria fisgado por
uma mulher e entenderia o que eu sentia pela Anjo.

Peguei as algemas de couro, cobertas de veludo, e me virei


para ela na mesma posição que a mandei ficar: ajoelhada com
as mãos para trás e a cabeça baixa.
— Malditamente linda! — declarei, chegando perto.
Ela me fitou através de seus cílios grossos e negros e arregalou
os olhos para as algemas de couro macio em minhas mãos.
Não pretendia marcar sua pele linda, por isso escolhi aquelas.
— Você quer isso? — indaguei, avaliando sua reação.
— Sim, eu quero tudo com você — falou, segura.
Sorri, me segurando para não beijá-la.
— Obrigado, linda. — Ajoelhei-me ao seu lado e coloquei as
algemas, prendendo seus pulsos atrás das costas e beijando sua
cabeça com cheiro do paraíso. — Sente-se sobre seus
calcanhares.
Fez o que mandei. Estava adorando vê-la submissa, embora
também amasse enxergá-la perdendo o controle de vez em
quando; ficava mais linda quando estava irritada.
— Boa garota. — Fui até a cama de novo, agora para pegar a
venda preta, e algumas outras coisas que usaria nela.
— Cobrirei esses lindos olhos, está bem?
— Sim. — Fechou as pálpebras e se remexeu sobre os
calcanhares. Com certeza estava toda molhada e quente.
Adoraria saciar seu prazer. Coloquei as outras coisas no chão,
perto dela, e tapei seus olhos com a venda. Depois, me afastei,
a encarando algemada com as mãos para trás e vendada,
indefesa, à minha mercê.

— A visão mais linda do mundo — grunhi, tirando minhas


roupas e jogando por cima do ombro. Peguei meu pau, que já
estava duro como granito e pingando com meu pré-sêmen no
chão. Cheguei mais perto dela. — Abra essa boquinha linda.
Abriu a boca e colocou sua língua para fora, como se estivesse
pedindo por ele. Oh, porra, se eu não gostei… Quase gozei
antes da hora.
— Você quer meu pau em sua boca, não é? — Batia punheta
enquanto ela gemia.
— Sim…
— Darei o que minha menina deseja. — Passei a ponta
inchada e vazando líquido em seus lábios e língua. Ela gemeu
e abocanhou meu pau quase inteiro. — Está com fome,
querida?
Gemeu de novo, agora com a boca cheia. Não havia nada mais
lindo neste mundo do que aquela visão: sua boca voluptuosa
em volta do meu pau, que sumia com ele dentro dela. Toquei
seu rosto enquanto Angie sugava e lambia, degustando-me.

— Porra — grunhi, fechando meus olhos. — Vou deixar por


sua conta, não quero machucá-la, então leve tão fundo quanto
puder, ok?
Acelerou mais o movimento de sua língua, já expert. Dava-me
tesão imaginar que fui eu quem a ensinou a fazer um boquete
incrível — diga-se de passagem, o melhor da minha vida. Ela
circulava a língua em volta do meu pau e chupava como se
fosse um maldito pirulito. Meu corpo tremeu e gozei em sua
boca, sabia que não duraria muito, não com ela querendo me
comer.
Abri meus olhos bêbados e moles. Só essa mulher me deixava
assim depois de um boquete. Estava louco para transar com
ela, enterrar tão fundo que não andaria em linha reta por
semanas, mas esperaria seu momento.
Tirei meu pau de sua boca e a olhei, passando a língua nos
lábios, limpando-os. Queria beijá-la, contudo, assim não
conseguiria fazer o que eu desejava. Eu me agachei na sua
frente e peguei seu sutiã com fecho frontal e soltei-o, jogando-
o longe.

— Obrigado, querida, pelo boquete incrível que me deu. —


Não resisti e beijei sua boca com meu gosto meio salgado
harmonizando com seu sabor frutal. Tive de lutar contra tudo
para me afastar dela, em especial depois do seu gemido de dor.
Sabia o que Angelina queria. — Cuidarei de você — prometi,
afastando meu rosto do dela. Peguei o óleo aromatizado que
fazia as mulheres se excitarem ainda mais e despejei-o sobre
sua pele de seda. Ela se remexeu, já sentindo o efeito. Quase
sorri, porque o óleo deixava a pessoa louca de prazer,
aumentava sua libido.

Porra! Adorava vê-la assim, tão quente e toda molhada para


mim.
— Sou um filho da puta sortudo — rosnei, indo para trás dela.
Coloquei o vidro no chão e esparramei o líquido sobre seu
corpo com as mãos, pelos seios rosados e inchados. Massageei
seu peito e ela gemeu, fechando as pernas uma contra a outra.
Doía nela de tanta vontade. Eu não a deixaria sofrer.
— Está molhada para mim, querida? — Tirei seus cabelos das
costas, mordiscando sua orelha. — Você quer meus dedos em
sua boceta apertada?
— Sim… — Ofegou ao sentir meus dedos dentro de sua
calcinha. O óleo continuava neles, isso aumentaria seu prazer.
Quando toquei seu clitóris, ela gritou, jogando a cabeça para
trás, no meu ombro. Empurrou seu quadril na direção da
minha mão, querendo mais. Então lhe dei o que precisava.
— Abra um pouco as pernas — sussurrei em seu ouvido. Ela
gemeu e fez o que eu mandei. — Isso, querida.
Peguei o pedaço de pano de sua calcinha e o rasguei. Seu
corpo convulsionou como se tivesse levado um choque
elétrico.

— Vou enfiar dois dedos hoje, sim? — Eu também arfava, já


pronto de novo. Agora, entretanto, era hora do prazer dela,
tudo para satisfazê-la.
Angie assentiu. Deixei passar porque sabia que ela não
conseguiria falar nada. Puxei-a, escorando suas costas em meu
peito nu, e coloquei meus dois dedos dentro dela, o médio e o
indicador; com o polegar, circulava seu clitóris. Não demoraria
a gozar. Agarrei seu corpo e a pus de joelhos, segurando-a,
pois ela não teria forças para nada, uma vez que suas pernas
estavam bambas. Com a outra mão, apalpei seus seios,
amassando-os e beliscando-os, enquanto mordiscava seu
pescoço. Meu pau cutucava sua bunda linda, mas era ela
primeiro, depois eu. Angie berrava, tanto que meus ouvidos
provavelmente doeriam. Eu não me importava, amava vê-la
toda eufórica. Ela balançava o quadril junto com os
movimentos de minha mão. Acelerei mais o gesto, dentro e
fora dela.
Gemeu, com a cabeça em meu ombro, e gritou.
— Linda demais! — exclamei ao sentir seus dedos em volta
do meu pau, apertando-o. Assoviei. — Está vendo como ele
está duro? Isto tudo é por sua causa — chupei sua orelha.

Ela gemeu novamente e começou a bater uma para mim. Suas


mãos iam para cima e para baixo, me deixando louco.
— Maldição! — Estava perto de gozar; só ela fazia isso
comigo. Dominava meu corpo, mesmo sem saber.
— Eu estou perto… tão perto. — A voz linda com sotaque
sulista falhou de desejo e prazer.
— Goze para mim, Anjo — pedi, mexendo mais meus dedos
dentro dela. E foi o que fez, gozou forte. Eu me segurava para
não terminar antes. Ao vê-la desmoronar nos meus braços,
gritando meu nome, transbordei também.
Eu me afastei, não querendo sujar seu corpo delicioso, afinal,
estávamos apenas começando. Fechei meus olhos, me
deliciando com seu toque ao me levar à loucura.
— Nossa! Isso foi… — Ficou sem fôlego. Virou a cabeça e
sorriu para mim. Mesmo com seus olhos vendados, sabia que
brilhavam como o sol.
Eu sorri, beijando seu nariz.
— É só o início, querida. — Levantei-me, levando-a comigo,
ignorando seu gemido de prazer com o que eu disse.
— Então nós…
Fitei seu rosto lindo.
— Quer continuar jogando? — inquiri.
Ela sorriu e concordou.
— Sim, Estrela, estou gostando muito… — Enrubesceu.

Eu ri, desprendendo sua mão direita da algema. Massageei-a.


— Elas machucaram sua mão?
— Não, minha pele é branca e fica marcada com facilidade.
Está tudo bem.
Carreguei-a até a parede, prendendo seus dois braços abertos
por cima da cabeça nas correntes que estavam ali. Dei um leve
puxão, conferindo o trabalho.
— Você gosta de me ver presa, não? — Riu, deliciada.

Retribuí o gesto, embora ela não pudesse ver, por causa da


venda.
— Você, à minha mercê? Com certeza. — Puxei sua venda
para cima um pouco, pois precisava que ela visse uma coisa.
Angie piscou com a claridade e observou o saquinho em
minhas mãos. — Quer usar?

Surpreendeu-se com os grampos de mamilos. Com um esboço


de sorriso, falou:
— Achei que um Dom fizesse o que quer no quarto, sem se
preocupar com a opinião de sua parceira.
Tirei os grampos do saquinho, divertido. Não gostaria de usar
nada nela que já tivesse sido usado, queria tudo novo, pois
merecia do bom e do melhor.
— É assim, mas com você é diferente. Faço questão que goste
também. — Bati de leve meu dedo em seu nariz. — É para o
prazer de nós dois.
— Estou amando cada coisa que fizemos, e acredito que
também vou adorar as outras surpresas que preparou.
Peguei os grampos e olhei de lado para ela.
— Fico feliz com isso. Pronta?

Aquiesceu. Coloquei os grampos nos bicos de seu peito.


Angelina ofegou assim que eles apertaram.
— É desconfortável um pouco, mas veja isso. — Puxei um.

Ela gritou.
— Oh, porra!
Eu ri.
— Você, xingando?
Apertou as pernas juntas, tentando tirar o atrito que estava ali.

— Nossa! Isso foi… — Não achou uma palavra para


descrever o que sentia.
— Vai adorar ainda mais depois. — Coloquei de volta o
grampo e puxei a venda para cobrir seus olhos de novo. —
Vou tapá-los porque será mais prazeroso.
Peguei um chicote preto com várias tiras. Passei-as sobre o
pescoço, os seios e a barriga lisa. Ela ofegava alto, gemia ao
mesmo tempo que mexia o corpo junto com as algemas que a
deixavam indefesa.
Com uma mão, segurei o chicote, e com a outra o meu pau,
que já estava duro de novo. Maldição, nunca endureceu tão
rápido assim, apenas ela tinha este poder sobre ele. Puxei o
chicote e bati as tiras em sua barriga lisa. Ela gritou de novo,
mas não de dor, e sim de prazer. Acertei seus seios lindos.
Adorava ouvi-la berrar de desejo, ciente de que fui quem a
deixou assim.
Ela estava perto de gozar, então joguei o chicote no chão e caí
de joelhos na sua frente. Seu corpo perfeito tremia, tamanho
era o desejo e fogo que ela sentia, tal qual eu. Peguei suas
pernas e a suspendi.
— Coloque suas pernas em volta do meu pescoço — pedi a ela
com o meu tom rouco de desejo, prazer e fome, uma mistura
muito boa.
Angelina arquejou com a minha boca em seu clitóris, sugando
e lambendo, degustando seu delicioso sabor de creme. Eu a
chupava enquanto batia punheta, porque se colocasse meu pau
para esfregar em sua boceta, não resistiria e acabaria fazendo
uma besteira sem ela estar pronta.
Suas pernas apertavam meu pescoço, me dando mais prazer.
Eu estava com uma mão no meu pau e a outra segurando sua
bunda, para ela não cair e não machucar seus pulsos presos nas
algemas. Imprensei-a contra a parede, firmando mais seu
corpo.
Nunca me preocupei com os prazeres das mulheres, sempre foi
só para o meu benefício, embora elas se satisfizessem por
tabela. Com a Anjo era diferente: amava vê-la gritar, gemer e
implorar por mais. Ela estava tão vidrada no êxtase que o que
disse me pegou de surpresa:
— Ryan… coloque dentro… de mim — gritava a cada
segundo que eu a estocava com a minha língua.
Tirei a minha boca e olhei para ela, pensando ter ouvido
errado.
— Anjo, tem certeza? — sondei, entre a dúvida e a esperança.
— Sim, tenho, por favor.

Não respondi, apenas a devorei ainda mais, levando-a às


nuvens. Puxei os grampos de mamilos e a fiz gritar de êxtase.
Depois do ápice ela ficou mole, então tirei suas pernas do meu
pescoço e coloquei-as em volta de minha cintura. Levantei
com ela nos braços, escorando-a contra a parede e retirando as
algemas, que prendiam seus pulsos.
— Agora chegou a hora de fazer amor com a minha linda
namorada.
Capítulo 13

Primeira vez

ANGELINA

Ri com o que ele disse. Considerando tudo que aconteceu ao


longo do dia, com as fotos de Ângela saindo na TV, não achei
que pudesse ficar feliz como estava. Ryan era o meu milagre.
Seus olhos foram para a minha boca e vi um lampejo de
felicidade por eu estar rindo.
— Desde quando Ryan Donovan faz amor?

Ele sorriu.
— Desde que ele se apaixonou pela mulher perfeita que se
tornou seu mundo inteiro. — Mirou-me de soslaio. — Então,
fará amor comigo?
Escondi meu rosto em seu pescoço, tímida.
— Mil vezes sim.
— Esta é a risada que venero. — Beijou minha pele. — Eu a
amo.
Mordisquei sua orelha e coloquei a língua no seu ouvido.
Ele apertou minha cintura e rosnou feroz, me colocando na
cama com suavidade e pairando sobre mim.
— Desde o dia em que o vi no seu apartamento, você se
tornou uma das razões para eu respirar, Ryan. Aliás, acho que
foi até antes disso, quando o conheci no hospital. — Peguei
seu rosto lindo em minhas mãos e olhei bem no fundo de seus
olhos brilhantes. — Eu te amo, não posso viver sem você, sem
o seu toque, sem os seus beijos.
Deu um selinho na ponta do meu nariz e sorriu, o sorriso lindo
que eu amava. Depois, beijou minha boca com carinho, amor e
devoção. Enquanto uma de suas mãos esquadrinhava meu
corpo, a outra foi para o meio de minhas pernas. Enfiou dois
dedos e, com o polegar, circulou meu clitóris.
— Não vou tirar sua virgindade hoje…
— Estou pronta, Ryan. Já passou da hora, fiz uma promessa a
mim mesma de que me entregaria a você hoje — declarei,
beijando-o com fervor. Ele mexeu mais os dedos; tremi e já
estava quase gozando quando ele os tirou. Prestes a reclamar,
senti-o na minha entrada, empurrando um pouco.

Minhas pernas estavam em sua volta e, as mãos, em seus


ombros. Apertei-o ao sentir a sua intrusão. Ofeguei com um
pouco de dor, afinal, o homem não era pequeno, mas o
adorava assim.

Seu corpo congelou e ele afastou o rosto, olhando-me


preocupado.

— Você está bem?


Assenti, ainda arfando.

— Não quero machucá-la — disse com uma pontada de


tristeza.
— Não vai, eu confio em você. — Coloquei meu rosto em seu
ombro.
Ele suspirou.

— Tudo bem — sussurrou e empurrou de uma vez.

Mordi sua carne, marcando-o; ele não reclamou. Estremeci


com a dor súbita, então Ryan parou de se mover e esperou eu
me acostumar com ele dentro de mim. Beijou-me em uma
tentativa de aliviá-la, lento e amoroso. A agonia sumiu após
um minuto de carícias, dando espaço para o prazer. Comecei a
mexer meus quadris. Ele tomou isso como um motivo para se
mover também, sempre devagar, com medo de me machucar.
— Ryan, estou bem agora — alertei em sua boca.

— Estou fazendo amor — disse, deliciado. — Ouvi dizer que


é para ir devagar.

— Até um idoso aceleraria além disto. — Levantei meus


quadris, querendo mais.
Ele me olhou e riu.

— Depende… No meu caso, quando ficar velho, pretendo


tomar um balde de Viagra para levantar o meu pau e te fazer
gritar como agora.

Eu ri, não pude evitar ao imaginar o Ryan velho.


— Sua risada é tão linda — sussurrou, abobado, olhando
minha boca.
Sacudi a cabeça.

— Esqueça esse negócio de fazer amor lento. Eu quero ver


estrelas!
Ele fez o que eu pedi. Não podia esperar menos, o cara era
bom. Bom nada, maravilhoso. Cada estocada me levava a
enxergar uma constelação inteira. Gemia, gritando seu nome,
até explodir como um vulcão.

Ele chegou lá logo depois; seu corpo ficou rígido e


estremeceu. Murmurava meu nome com adoração, caindo
mole em cima de mim e rolando de lado para beijar meus
cabelos.

— Você está bem? — Ofegava, talvez pelos ruídos e


grunhidos que deu ao estocar dentro de mim. Só em pensar
nisso, tudo recomeçava a queimar.

Senti minhas pernas molhadas. Levantei-me depressa, de olhos


arregalados.

— Oh, droga! — Corri para o banheiro sem me importar em


estar pelada, liguei o chuveiro e fui lavá-las, torcendo que tudo
saísse antes do pior acontecer. Não entendia bem disso, então
esperava que lavando logo após o sexo eu não engravidasse.

— Machuquei você? — Apressou-se atrás de mim e entrou no


banheiro.

— Você não usou camisinha — critiquei. Por ser experiente,


Ryan deveria ter pensado mais sobre isso do que eu, que
estava bêbada de desejo por ele.
— Estou limpo — prometeu.

— Não me preocupo com doenças, e sim com gravidez. —


Continuei lavando. Seria tarde demais?

— Você não quer ficar grávida? — Seu tom tinha uma nuance
que não entendi.
Parei o que estava fazendo e olhei para ele ali, de braços
cruzados, nu com toda sua glória exposta.

— O que foi?

— Um filho seria bom para nós. — Deu de ombros, contudo,


havia excitação na sua voz.

— Você intencionalmente não usou proteção? — perguntei,


estupefata.
Admitiu sem arrependimento, pegando um pano para se
limpar, sem tirar os olhos de mim.

— Será o fruto do nosso amor.

Ignorei suas palavras, focando em meu maior medo. Por que


não tomei remédio antes? Maldição! O médico deixou bem
claro que se eu engravidasse, minhas chances seriam mínimas
de sobreviver na hora do parto. Eu tinha cardiopatia, o que
impedia meu coração de se movimentar igual ao de uma
pessoa sadia. Precisava tomar remédios direto, então um parto
seria arriscado, pois o órgão poderia falhar…

Olhei para ele, que estava sorrindo com a ideia de ser pai.
Como eu diria a Ryan que jamais teríamos filhos? Apagaria
aquela alegria estampada em seu rosto.

Ele estreitou os olhos.

— O que foi? Você não quer ser mãe do meu filho? — Ouvi
uma pontada de dor na sua voz.

Engoli em seco.

— Ryan, nós nem nos casamos ainda — falei, ignorando o


tremor.
Necessitava ganhar tempo para pensar sobre isso. Claro que
logo teria de contar a verdade a ele. Será que me deixaria?
Queria matá-lo ao imaginar que ele seria capaz. Brigaria
comigo se eu não fosse sincera. Eu conseguiria arriscar a
minha vida para vê-lo feliz? E por que a ideia de ser mãe de
um garotinho loiro com olhos caramelos me alegrava? Decerto
porque seria filho dele.

— Nós vamos nos casar em breve. Se você quiser esperar,


usarei proteção de agora em diante. Porém, já é tarde demais.
— Por quê?

— Porque você já engravidou. — Seu tom tinha tanta


confiança que me encolhi.

— Ryan, as chances de eu engravidar na primeira vez são…


— Na realidade, as chances eram altíssimas sem camisinha,
mas eu precisava manter a esperança.

Deixei esse assunto perigoso de lado por ora, pois não sabia o
que fazer em relação a isso, e fui para o quarto. Havia sido um
dia longo, com tudo o que aconteceu comigo. Deitei na cama.

— Durma um pouco. Depois, continuaremos nos divertindo.


— Ele também deitou ao meu lado e beijou meus cabelos.

Aconcheguei-me em seus braços com os olhos fechados.

— Você é o meu milagre enviado por Deus — sussurrei com


um sopro.

— E você é o meu Anjo. — Senti seus lábios nos meus por um


breve segundo. Dormi tomada por êxtase.
Ryan foi para a França para um desfile que haveria lá. Queria
que eu o acompanhasse, mas não pude, porque tinha de
trabalhar e cuidar dos meus irmãos. A semana que passou fora
maravilhosa, aproveitei cada segundo ao seu lado. Sempre
ficávamos juntos, tanto que eu já estava profissional no sexo
oral.

Fazia três dias que viajara, todavia, parecia uma eternidade


sem ele. Todas as noites nos falávamos por Skype até tarde, o
que amenizava um pouco a saudade.

Eram dez horas da noite de segunda-feira quando ele ligou. Eu


estava deitada na cama só com a sua camiseta, a que ele
deixou comigo logo que nos conhecemos. Guardei-a para
mim, assim sentiria seu cheiro delicioso impregnado nela.
— Oi, namorado — atendi meu telefone.
Ele riu.

— Olá, Anjo. Amanhã estarei em casa por volta das sete ou


oito horas da noite. — Sua voz grossa demonstrava desejo. —
Estou louco para chegar e matar a saudade.

Suspirei.
— Também sinto sua falta.

Meu peito doía com a distância, tanto que às vezes mal


conseguia respirar direito. Mas ele precisava do seu trabalho,
eu não podia ficar muito colada. Talvez Ryan achasse ruim,
ouvi dizer que homens não gostam disso.

— Está se comportando? — inquiri. Ele estava cercado por


modelos lindas e formosas, podia até ser que tivesse ficado
com algumas delas no passado. No entanto, não havia motivos
para a minha insegurança: ele me amava. Mas eu era uma
garota simples, jamais conseguiria competir com uma modelo,
caso ele mudasse de ideia.
— Quem tem uma mulher igual a você não olha para outra.
Você é incomparável, Anjo. Quando Deus a criou, jogou o
molde fora — afirmou, rouco. Prendi a respiração ao ouvir a
sua resposta. Ele sempre dizia coisas lindas para mim, nem
parecia que um dia foi mulherengo. Adorava isso. — Você é
tudo na minha vida.

Rolei na cama e olhei para a foto de plano de fundo do seu


celular, que antes tinha também os seus amigos. Colocara ela
num quadro em cima da minha mesinha de cabeceira. Usei o
Photoshop e deixei somente ele com seu peito nu, escorrendo
água do mar nos seus olhos lindos, descendo pelo corpo
sarado. O sorriso sexy que lançava para a câmera era
deslumbrante como o sol.
— Sei que estou sendo paranoica, mas com você cercado de
mulheres lindas… é um pouco difícil.

— Você é a única que eu quero — garantiu — Só você. De


onde veio essa insegurança?
Respirei fundo.

— Não sei… Às vezes penso em você com essas modelos…


— sussurrei; jamais seria igual a elas, belíssima.
Ele me interrompeu.

— Anjo, não pense nisso, ok? Eu só tenho olhos para você.


Posso estar, sim, cercado dessas mulheres, mas nenhuma delas
é você. Nenhuma delas faz o meu coração bater como se fosse
sair do peito só por olhar seu rosto. Nenhuma delas enche meu
estômago de borboletas ao ouvir sua voz. Nenhuma delas me
tocou fundo como você, quando roubou minha alma, meu
coração e meu mundo.
Prendi o fôlego por um segundo, me sentindo a garota mais
feliz do planeta. Ele também era o único homem que eu amava
e queria para sempre, mais do que tudo nesta vida.
— Confio em você.
— Fico feliz com isso. — Ouvi um sorriso em sua voz rouca e
sexy como o pecado. — Você está sozinha em seu quarto?
Pisquei confusa pela mudança de assunto.

— Quem mais estaria aqui?


Ele riu, deliciado.
— Vá até sua porta e a tranque, depois tire as roupas e deite na
cama — ordenou com sua voz grossa.
Arregalei os olhos.
— Vamos fazer sexo por telefone? — Obedeci. Fechei a porta
e coloquei o celular no viva-voz.
— Ligue seu notebook, entre no Skype e coloque na cadeira ao
lado da cama para que eu possa ver todo o seu corpo.

Desliguei o celular e nos conectamos pelo Skype. Assim que a


tela veio à vida, vi meu milagre do outro lado. Estava sentado
no meio da cama, escorado na cabeceira, vestindo uma
camiseta preta, mas nu na parte de baixo, uma visão dos
deuses. Queria perguntar por que ele estava com a camiseta,
por que não a tirou, mas ele falou antes de mim.

— Você tem algum brinquedo aí que possa usar?


Ajeitei meu note na cadeira ao lado da cama e fiquei sentada
sobre meus calcanhares, olhando para ele ali, sentado como
um deus grego.
— Hummm — murmurei. — Tenho um vibrador.
Seus olhos brilharam.

— Que tipo de vibrador? — Segurava o riso.


Engoli em seco.

— Na forma de um pênis…
— Você tentou usá-lo?
— Hummm — pigarreei. — Tentei na noite em que nos
falamos pela primeira vez por mensagens… Pretendia dormir
e não conseguia, pensando em você, no desejo que despertou
em mim. Doeu quando comecei a colocar… Então parei. —
Eu me remexi nos calcanhares, procurando ignorar seu olhar
ardente, como se o sol estivesse bem ali beijando minha pele.
— Oh, eu que ganho com isso. — Seu sorriso era ofuscante.
Ele virou a cabeça de lado, sem nunca tirar os olhos de mim.
— Doeu porque você era virgem na época, fico feliz por ter
parado. Amei ser o primeiro e espero fervorosamente ser o
último. Mas estou curioso, aonde conseguiu o vibrador? Você
não é do tipo que compra isso.
Não queria dizer a ele que foi o Johnny que me deu para eu ir
experimentando antes de ficar com homens. Se contasse,
geraria uma discussão, algo que não desejava.
— Tabitta me deu quando veio aqui — menti. Sempre que nos
encontrávamos, ela tentava fazer minha cabeça a comprar
vários brinquedos sexuais para eu usar na minha menina,
palavras dela, não minhas. Ela tinha um monte dessas coisas.

— Tire sua camiseta bem devagar — ordenou. Comecei a


fazer o que ele pediu. — Esta é minha camiseta? Sexy pra
caralho.

Assenti, muda. Fiquei de joelhos diante da tela, só de calcinha


fio dental que mal tapava a frente, imagine atrás? Seus olhos
escureceram ao olhar a peça vermelha da Victoria’s Secret,
toda rendada.
— Porra! Fio dental — grunhiu, pegando seu pau duro como
rocha. Desejava tanto ele comigo para eu colocar minha boca e
sugar tudo. — Tire sua calcinha, querida. — Sentei na cama e
joguei a lingerie no chão. — Agora se ajoelhe, do jeito que
você estava antes.

Minha timidez foi para o espaço.


— Sente-se sobre os calcanhares, mas com as pernas abertas,
expondo a sua boceta gostosa para mim — grasnou feroz,
sacudindo seu pau para cima e para baixo. — Agora eu quero
que você coloque uma mão em seus seios deliciosos e a outra
em sua vagina suculenta. Porra, queria estar aí para devorá-la
inteira.
Gemi, fechando os olhos ao posicionar meus dedos no clitóris,
esfregando-o.

— Abra os olhos — ordenou. — Eu os quero em mim.


Acatei. Minha visão foi direto para o seu pau caindo pré-gozo,
deixando minha boca cheia de água. Quem diria que algum dia
eu acharia um boquete bom? Dizem que as mais quietas são as
piores; concordo com quem inventou esta frase. Lambi meus
lábios.
— Está com vontade de colocar meu pau em sua boca? —
falava rouco ao ver o desejo em meus olhos.

Perdera a capacidade de formar frases há muito tempo, tudo o


que eu podia fazer era concordar. Meu corpo pegava fogo.
— Ótimo. — Pareceu orgulhoso com isso. — Agora aperte
seu clitóris e finja que são meus dedos, minha língua
lambendo seu broto rosado, mais saboroso que qualquer
comida.

Tremia tanto, a ponto de gozar ao tocar meu clitóris e beliscar


meus seios, tal qual ele fazia quando estávamos juntos.
— Caralho! — Seus olhos se fixaram no meio das minhas
pernas, vendo eu me tocar. — Tire a mão desses seios lindos e
coloque dois dedos dentro de você. Com a outra, continue a
brincar com seu clitóris.

Fiz isso, mexendo para dentro e para fora. Já estava gritando


pelo orgasmo que se aproximava. Gemi, rebolando meus
quadris junto aos movimentos das minhas mãos. Acelerei o
ritmo e meus gemidos ficaram maiores, incapaz de manter
meus olhos abertos.
— Porra, porra, porra. — Tomou ar. — Esta é uma visão que
guardarei para sempre. — Soltou uma respiração áspera por
entre os dentes. — Puta merda! Perfeita.

Meus olhos bêbados encontraram os dele ali, todo quente.


— Goze para mim, querida. — pediu.
Suas palavras foram como um raio direto no meu centro, após
a última estocada de dedos. A voz sexy desencadeou toda a
explosão que tive dentro de mim. Precisei apertar a boca para
não berrar. Ele estava perto de chegar à sua libertação. Por
sorte, o volume do Skype era baixo.
Tirei os meus dedos de dentro de mim e mirei seu corpo
tremendo, o rosto tenso e o maxilar contraído, quase gozando.
Coloquei meus dedos na boca, sugando meu líquido sem
nunca desviar o olhar.

Parecia bêbado de luxúria, prazer, amor e desejo, uma mistura


muito boa que eu amava. Gozou grunhindo meu nome, ou
melhor, meu apelido: Anjo.
Ficou mole por um tempo, igual a mim.
— Foi abduzido? — sondei depois de recuperar o fôlego.
Deitei na cama, exausta, ajeitando a tela do note para mostrar
o meu rosto.
— Sim, acho que vi estrelas… — Fitava-me através dos seus
olhos anuviados. — Quando você lambeu os dedos, fui ao
paraíso e voltei em segundos. Puta merda, aquilo foi perfeito,
uma visão dos céus.
Sorri, meio mole depois do êxtase.
— Foi sim, perfeito — concordei, sonolenta.
— Vá dormir, Anjo, amanhã nos falamos — prometeu.

— Eu te amo, Ryan. — Adormeci antes de ouvir sua resposta.


Capítulo 14

Medo

ANGELINA

Acordei cedo com um sorriso bobo após sentir um grande


êxtase na noite anterior. Nunca pensei que faria sexo assim,
por Skype, mas amei. Foi tão bom quanto seria pessoalmente.
Eu me levantei ainda nua e fui tomar banho. Trajei um vestido
florido de alças trançadas. Na região dos seios, era justo, e não
muito rodado na saia. Batia no meio das coxas. Calcei botas de
caubói que iam até a canela e coloquei um suéter por cima.
De repente, ouvi os gritos urgentes de Lira. Saí correndo do
quarto em direção à cozinha, de onde vinha o barulho. Ela
parecia estar chorando.

Quando cheguei, me deparei com uma cena que me levou a


gritar em desespero. Daria para me ouvir do outro lado do
quarteirão. Shane estava caído no chão, todo mole… Como se
estivesse… “Não, não, não, não, por favor, não deixe que
ele… Oh, Deus, não. Você não pode levá-lo de mim, não
pode”, implorava. Era para ser só uma simples cirurgia, então
por que ele passou mal?

Caí de joelhos ao seu lado e toquei seu rostinho lindo. Meu


irmão estava gelado…
— Shane, por favor, acorde — supliquei.
De repente, eu não estava sozinha. Fui tirada de cima dele por
Charles, enquanto Johnny massageava o peito de Shane e fazia
respiração boca a boca.
— Shane… — chorava.
— Ele vai ficar bem, Borboleta — Charles disse.
— Não posso perdê-lo, não posso — gemi, fechando os olhos.

Ângela se foi, assim como os meus pais, e agora Shane


estava… Ele ficaria bem, eu tinha de confiar e acreditar nisso.
Não podia deixar as outras perdas me dominarem.
— Ele está respirando de novo — avisou Johnny, preocupado.
— A ambulância está a caminho.
— Ele está dodói? — perguntou Lira, chorando.

Peguei-a nos braços, precisava dela perto de mim. Se Shane


não conseguisse… Não, deveria pensar positivo.
— Ele vai ficar bem — sussurrei, querendo acreditar naquela
promessa. Quando perdi Ângela, eu tinha tanta fé de que ela
sobreviveria àquele acidente… Aliás, que nós duas
sobreviveríamos e escaparíamos do crápula delinquente que
fez meu carro capotar. Com meus pais foi a mesma coisa…
Temia pelo pior, mas lutaria e não perderia a fé.

Os paramédicos chegaram, colocaram Shane na maca e o


levaram para a ambulância. Charles pegou Lira e saiu do
apartamento. Busquei minha bolsa e fomos para o hospital.

Shane foi encaminhado à sala de exames para checarem seu


estado; não pude acompanhá-lo. Fiquei ali, entorpecida, na
sala de espera, em um corredor branco e comprido. Parecia
que eu estava morrendo aos poucos.
Charles chegou alguns minutos depois.

— Onde está Lira? — questionei, sem vida.

— Deixei-a com a minha mãe, não sabemos quanto tempo vai


demorar aqui. — Sentou-se ao meu lado esquerdo, e Johnny
no direito. — Ele ficará bem, Angie.

— Sim, Shane sairá dessa, querida — garantiu Johnny.


Chorei em seus braços pelo que me pareceram horas. Soluçava
e não me importava que me vissem sofrendo. Só queria meu
irmão curado e comigo.

— Preciso contar algo a vocês dois.

— Pode falar, estamos aqui para o que quiser — incitou


Charles.
— Com certeza — concordou Johnny.

— Hoje, faz seis anos que Ângela se foi. Estou completando


vinte e quatro anos… — Nunca revelei o dia exato do meu
aniversário. Era para ser uma data feliz, contudo, ela só me
lembrava de uma tragédia que nunca esqueceria.

Os dois ofegaram em sincronia.

— Angelina…
— Já pensaram no carma que é isso? No nosso aniversário de
dezoito anos, a perdi. Agora Shane está… sabe-se lá Deus
como. — Expirei, limpando as lágrimas. Curvei-me para a
frente e coloquei minha cabeça em meus joelhos, fechando os
olhos. — Não era para ele passar mal assim. Shane estava com
fadiga esta semana, mas o médico disse que era normal…
— Ele vai ficar bem — Johnny reiterou.

— Espero que sim. Estou com medo. — Ajeitei-me no banco,


colocando a cabeça no encosto do sofá. — Eu vou contar a
todos e quero vocês no apartamento do Ryan comigo.

— Porque não os chama aqui? É melhor do que ir até lá só


para dizer sobre Shane — falou Charles.

— Porque eu quero contar tudo, tanto a respeito de Shane


como o que houve naquela noite em que perdi Ângela, um dos
momentos mais tristes da minha vida. Eu já os considero meus
amigos. Vocês estarão comigo?

Os dois concordaram em me ajudar. A cada dia, criava mais


laços com aquelas pessoas. Sam era uma ótima companhia, saí
com ela algumas vezes enquanto Ryan viajava. Alexia e Rayla
também. Por isso não queria deixá-las de fora em um
momento tão difícil para mim.

— Obrigada, amo vocês dois.

Escrevi a todos uma mensagem para que me encontrassem na


casa do Ryan às sete e meia da noite, assim daria tempo dele
chegar. Não liguei para ele, não queria incomodá-lo;
conversaríamos mais tarde, quando voltasse de viagem. Eram
a recém onze horas e estava ansiosa para vê-lo. Todos os meus
amigos responderam dizendo que estariam lá no horário
marcado.

Ficaria a tarde inteira com Shane, rezando para ele melhorar.


Precisava deste milagre em minha vida, precisava do meu
irmão comigo.

Passava das duas da tarde quando o médico deu o veredito:


Shane estava bem, mas precisava ser operado o quanto antes.
— Administramos um sedativo para ele dormir. A cirurgia
para colocar o marca-passo deverá ser feita o mais rápido
possível, não poderemos aguardar mais uma semana.
Marcamos para amanhã, às nove horas.

— Ele corre risco de vida? — indaguei num sussurro, já


sabendo a resposta.
— Não se preocupe, ele ficará bem se a cirurgia for realizada o
quanto antes. Tenha fé.

Aquiesci, muda. Fé… Tinha tanta antes das perdas… Não


resolveu muita coisa. A despeito disto, não abandonaria a
esperança de logo ter o meu bebezinho comigo e bem.

Entrei no quarto onde ele se encontrava dormindo com um


lençol branco sobre seu corpo. Meu coração doía vendo meu
menino naquela cama, mesmo o médico dizendo que ele
estava a salvo. Não conseguia parar de ter medo.

— Mamãe, papai e Ângela, se vocês estiverem me olhando aí


do céu, por favor, me ouçam. Necessito dele aqui comigo. Se
Shane partir para onde estão, não saberei o que fazer… Lira
depende de mim. — Toquei seu rostinho lindo. — Por favor,
Deus, se você existe, não o deixe morrer, ele e Lira são a razão
da minha existência, minhas metades. — Beijei sua testa. —
Amo você, meu garotinho lindo, amo para sempre.

— Estou bem, Angie — sussurrou.


Virei para cima e me deparei com um par de olhos negros que
me fitavam confusos. Chorei de felicidade por vê-lo
consciente.
— O que está havendo?
Sorri em meio às lágrimas ao ouvir sua voz linda que sempre
iluminava minha vida.

— Oh, meu Deus! Você está bem, meu amor? — Abracei-o


forte, beijando seu rostinho lindo.
— Não chore, Angie — implorou.

— Estou chorando de alegria!

Ele me abraçou, me reconfortando, repetindo a cada segundo


que estava bem. Inalava seu delicioso aroma, que me trazia luz
e paz. Ficamos conversando e sorrindo. Esperançosa de que
tudo daria certo, não me permiti pensar negativo ou ficaria
louca. Queria somente apreciar a felicidade por meu lindo
irmão estar seguro.

Entrei na casa do Ryan usando a chave que me deu antes de ir


viajar. Não deveria estar ali com meu irmão hospitalizado,
contudo, era necessário.

Aquele era para ser um dia especial, o melhor da minha


existência, afinal, tinha meus irmãos e o amor do homem com
que todas as mulheres sonhavam. Tirei a sorte grande. Porém,
a vida nem sempre acontece como queremos, não é
direcionada conforme desejamos. Se fosse assim, eu podia
apertar o botão de rebobinar e voltar seis anos, quando tudo se
desenrolou e um pedaço da minha alma se foi.
Perder alguém no dia do meu aniversário… Era muito azar,
nasci amaldiçoada ou algo assim. E anos depois, mais uma
vez, enfrentava o mesmo medo… Não podia cogitar perder
meu maninho, tinha de ser forte.
Reuni todos meus amigos, só não chamei Tabitta porque ela
estava trabalhando fora da cidade, acho que em Kansas —
pelo menos foi o que disse Samira, a babá de Emily.
Ao entrar no apartamento, fui para a cozinha. O grupo estava
sentado ao redor da imensa mesa. Do lado esquerdo, Caim,
Kate, Jason, Johnny, Daniel, Bryan e Jordan. Do direito, Ryan,
Charles, Alexia, Sam, Lucky, Rayla e Alex. Havia uma cadeira
vazia ao lado de Ryan, provavelmente para mim.

Todos me olharam assim que me aproximei. Quando convidei


Caim e sua noiva, não achei que ele iria, mas precisava dele
ali. Ainda bem que apareceu.

Pareciam preocupados comigo. Não sabia o que viram no meu


rosto, mas deveria ter sido o suficiente para assustá-los.
— O que está acontecendo, Anjo, e por que não atendeu às
minhas ligações? — perguntou, vindo até mim e beijando a
minha testa.
— Esqueci meu telefone em casa — respondi, me afastando
dele um pouco.
— Tem algo errado, eu posso sentir — disse, avaliando meu
rosto.

Assenti e dirigi-me ao grupo.


— Olá, pessoal, fico feliz que tenham vindo. — Soava rouca
pela dor, tanto de meu irmão hospitalizado como também por
Ângela.
Caim me olhou de lado.
— Você me ligou e me pediu para vir aqui hoje. — Seu tom
era confuso. — Posso saber por quê?
— Sim — respondi, olhando cada um ali. — Vou contar algo a
vocês, porque já os considero meus amigos… — Remexi-me
na cadeira. — Peço a compreensão de todos para que não me
interrompam… — Meu rosto já estava molhado. — A dor é
insuportável quando falo neste assunto, é como se eu estivesse
sendo rasgada viva.
Não me senti assim ao dar a entrevista apenas porque, naquele
dia, Shane estava bem. Tentei ignorar o medo, segurando um
dos copos cheios de whisky e bebendo em um gole só. A coisa
desceu rasgando minha garganta; não liguei.

— Não acha que está exagerando na dose? — comentou Sam,


avaliando meu rosto. — O que aconteceu para deixá-la assim?
— Estou aqui para contar algo a vocês, algo que aconteceu
seis anos atrás, quando metade de minha vida foi ceifada.

— Angelina, você sobreviveu ao acidente — comentou Caim.


Ri em meios às lágrimas.

— Para quê? Para sofrer ao perdê-la. Queria ter ido com ela.
— Eu me encolhi. Ryan estremeceu ao meu lado e alisou meus
ombros.

— Nunca pense isso, Anjo, não posso imaginar ficar sem você
— sussurrou no meu ouvido, acariciando meus cabelos.
— O que desencadeou isso? Na entrevista você não estava
assim ao falar de sua irmã — falou Daniel, perceptivo.
Expirei e me arrumei na cadeira.
— Hoje faz seis anos que ela se foi, não é? — Caim me olhou
de lado.

Encolhi os ombros.
— Este é um dos motivos… Há sete anos, quando morávamos
em Nashville, eu estava na ponte do rio Cumberland. Sempre
ia lá para apreciar a vista, adorava olhar a água corrente e me
inspirar para escrever histórias. Eu era do jornal da escola e
fazia muito isso naquela época. Certo dia, um carro parou
enquanto me maravilhava com a vista. Um garoto saiu do
Porsche vermelho-sangue. Pensei que passaria direto, mas
estacionou o veículo e veio até mim quase correndo, dizendo:
“Por favor, não pule dessa ponte”. Apenas fiquei lá, olhando o
desconhecido, confusa. Quem era ele? Por que achava que eu
pularia? Mal soube o que responder. “Seja qual for o seu
problema, não faça isso, a morte não é a solução”, ele insistia.
Continuei atônita, mas consegui tranquilizá-lo: “Não vou me
matar. Jamais faria isso”. O garoto suspirou de alívio,
questionando: “Então por que está aqui?”. Expliquei que
apenas gostava de apreciar a linda vista. Ele concordou
comigo sobre a beleza do lugar e perguntou meu nome.
“Angelina. E o seu?”, respondi. “Caim’’, disse ele. Desse dia
em diante, nos tornamos amigos. Ele foi estudar na mesma
escola que Ângela e eu. Nós éramos gêmeas idênticas, mas
com personalidades diferentes.
Suspirei, focalizando minhas mãos sobre a mesa, sem nada
ver, presa no passado.

— Quando cheguei em casa naquele dia, disse à Ângela sobre


o garoto lindo que tinha acabado de conhecer, e que achou que
eu fosse pular da ponte. — Mirei os olhos tristes de Caim,
continuando: — Não mencionei o seu nome, não sei o porquê,
talvez estivesse distraída por suas roupas caras e pelo Porsche
reluzente. No dia seguinte, nos encontramos na escola,
teríamos aulas juntos. Também passamos a nos ver fora dela.
O que eu sentia se tornou mais do que amizade. Ângela tinha
ficado doente naquela semana, por isso não foi à aula e não
conheceu Caim. Na segunda-feira, três semanas depois de
nosso encontro inicial, Caim disse que me amava e que queria
namorar comigo. Surpresa, acabei ficando sem reação e não
aceitei de cara. Logo várias coisas aconteceram ao mesmo
tempo. Mamãe ficou doente, então tive de cuidar dela. Shane
era pequeno nessa época e também não estava saudável…
Talvez fosse uma virose. Certa noite, decidi dar a minha
resposta a Caim, mas antes de falar com ele, Ângela entrou em
nosso quarto toda animada com o garoto novo que conhecera,
com quem almoçou. Quando ela disse que era o Caim, tudo
mudou.
— Só fui almoçar com ela porque pensei que era você —
Caim explicou.

— Ela não disse nada sobre você falar que me conhecia. —


Olhei para ele. — E Ângela nunca mentiu para mim.
— Sim, porque naquele dia eu não disse seu nome, apenas a
chamei para almoçar comigo. Rapidamente percebi que aquela
garota à minha frente e a menina que eu amava não eram a
mesma pessoa. Supus que fossem gêmeas, ia te perguntar a
respeito disso quando nos víssemos. As personalidades de
vocês duas eram diferentes.
Ri sem humor.
— Esse foi um dos motivos para eu ter ficado calada após ela
me dizer que gostava de você — murmurei. — Ângela usava
as roupas de moda, sempre extrovertida e viva. Eu era sem
graça, gostava de ler, não comprava peças chiques, usava jeans
velhos e camisas largas. Quem era eu para me comparar a ela?

— Droga, Angelina, isso não foi o problema — assegurou


Caim com dentes cerrados. — Você me jogou para ela, pediu
para eu namorá-la, sabendo que eu amava você.

Encolhi-me com o ressentimento na voz dele.


— Eu sei, mas ela o amava. Nunca a tinha visto assim, tão
feliz. A alegria dela vinha em primeiro lugar. — Tomei outro
gole da bebida.
— Mesmo às custas da sua? — retrucou Daniel.
Eu expirei.

— Sim — respondi a verdade. — Ela valia cada dor que eu


sentia, porque faria o mesmo por mim se soubesse que eu
amava Caim. Assim que ela descobriu o que eu sentia, quis
desistir dele, mas já era tarde demais, os dois haviam ficado.
Durante cinco meses do namoro de vocês, consegui esconder o
que sentia, porém, quando soube o que havia acontecido, não
deu mais. Achei que a dor me consumiria…
— De quem é a culpa? Angelina, eu cheguei a implorar para
que ficasse comigo. Estava disposto a largar tudo por você —
replicou Caim com uma pontada de raiva. — O que você fez?
Deixou-me e, para piorar, me jogou nos braços de sua irmã.
— Quando ela chegou em casa e disse que vocês… — Parei
por um instante, me direcionando à Kate. — Você não tem
ciúmes do passado dele, tem?
Ela levantou uma sobrancelha bem-feita e alinhada.

— Vocês transaram?
Ouvi um ruído sair dos peitos de Ryan e Caim. Ignorei os dois
— Nós nem nos beijamos, que dirá fazer sexo — declarei. —
Ângela, sim. Quando ela me contou o que tinha acontecido,
tudo veio à tona: a dor, o amor que eu sentia pelo Caim. Não
pude esconder dela, por mais que eu quisesse. Foi um mês
difícil para mim, acredito que para ela também. Fiquei uns
dias na fazenda da minha tia. Precisava de tempo para
esquecer tudo. — Voltei-me a Caim. — Ao chegar em casa,
duas semanas depois, soube que você tinha ido embora e a
deixou quebrada, assim como eu…
Ele suspirou, me olhando com suas íris escuras e
tempestuosas.

— Eu não tive escolha, Angelina. Não podia ficar com ela


sendo que amava você. Não seria justo com nós três, precisava
ir… Aquilo estava me matando aos poucos, como um maldito
câncer…
Mordi os lábios.

— Ela se tornou diferente depois que você se foi. Chorava por


nós duas e por você, Caim. Chegou um dia em que parou e
começou a ir às festas, ficar com caras aleatórios. Graças aos
céus, nossa amizade permanecia a mesma. Lidamos com a dor
de maneiras diferentes. Ela optou por se divertir, e eu me atirei
nos livros.
Fiz uma pausa, antecipando a angústia que me causaria narrar
os próximos acontecimentos.
— No dia anterior ao nosso aniversário de dezoito anos, ela foi
para uma festa na fazenda do filho do prefeito, cujos pais
tinham saído da cidade. Já era tarde e ela não voltava para
casa. Meus pais estavam com Shane na minha tia Alice. Era
por volta das duas da madrugada de vinte de outubro, o dia do
nosso nascimento, pois já havia passado da meia-noite. Hoje
faz seis anos que sua vida foi ceifada… Fui atrás dela, pois
estava cansada de ficar esperando. Não podia dizer aos meus
pais, nunca a entregaria. Quando cheguei na fazenda, a vi
dançando com dois garotos, um à frente e o outro atrás.
Beijava ambos. Quase caí de costas ao ver o quão longe ela
tinha ido, o quão no fundo do poço estava. Só a enxergava
caindo, sem poder tirá-la do abismo. Puxei Ângela para longe
dessa festa, ou zona, longe daqueles malditos bastardos que se
aproveitavam dela, só porque não estava em seu juízo perfeito.
Eu a levei comigo, não ia ficar ali vendo aquela maldita orgia.
Ao colocá-la no carro, percebi que ela devia ter bebido alguma
coisa estranha. Foi quando senti alguém agarrando meus
cabelos por trás e me derrubando no chão, montando em mim.

— Quem era? — inquiriu Ryan, sombrio.


— Stive Lutner, o filho do prefeito, um dos que estavam com
Ângela. Ele me disse que eu o tinha impedido de transar com
ela, agora ocuparia seu lugar. Ameaçou tirar minha virgindade.
— Estremeci com as lembranças de suas mãos, seu toque
nojento. — Tentei gritar, mas com o barulho da festa, era
impossível me ouvirem… Nunca senti tanto medo na minha
vida. Ele me bateu para eu calar a boca.
— Esse cara tocou em você? — perguntou Caim num tom
mortal.
— Não, Ângela pegou um pedaço de pau e o acertou em cheio
na cabeça. Eu estava com muito medo para me sentir culpada
por ferir alguém ou checar se ele estava morto.
— Que tenha morrido ou ido para a cadeia — rosnou Jason.
Eu ri, amarga.

— Nem uma coisa, nem outra. O desgraçado assassino está


livre, sempre em festas e viajando pelo mundo, como se a vida
que ele tirou não significasse nada para ele. O que o dinheiro
não compra? Ele controla tudo, pelo menos a lei.
— Como assassino? Não foi um acidente? — indagou Caim.
Eu sacudi a cabeça.
— Não. Dirigi para casa depois que entramos no carro, faltava
dois quilômetros para chegar na cidade, quando uma Strada
Cabine Dupla bateu na lateral do Chevrolet antigo do meu pai.
Pertencia ao Stive, costumava vê-lo dando cavalo de pau pela
cidade. Ele fez de tudo para me tirar para fora da estrada.
Lembro-me de estar com medo, e Ângela gritando que não
queria morrer. Perdi o controle ao fazermos uma curva. Bati
em uma árvore e tudo escureceu.
Respirei fundo para conseguir prosseguir:
— Abri os olhos algum tempo depois. Ela estava do meu lado
no CTI, com seu corpo já sem vida, porque acabara de partir.
Os médicos continuaram lutando por ela, mas era tarde
demais… Uma parte da minha alma partiu com Ângela. —
Limpei minhas lágrimas. — Vocês não precisam dizer que
sentem muito, eu sei — falei, pois as bocas de todos já
estavam se abrindo.
Sam, Rayla, Alexia e Kate tinham os olhos molhados. Alexia
parecia tensa, atormentada por um abismo de dor, vivendo um
pesadelo pessoal de lembranças despertadas pela minha
história. Bryan a fitava com preocupação, aparentando saber o
que desencadeou a angústia visível em sua face. Queria
descobrir porque ela estava assim, mas não tinha tal direito.
Ademais, já havia a minha própria dor para me preocupar, a
qual ninguém podia tirar de mim. Seja lá o que fosse que ela
tentava esquecer, torcia para conseguir.
Forcei um sorriso sem vontade, entornando minha bebida.
— Acho que só sou azarada com tantos acidentes de carro.

— Isso não é verdade, o que houve com sua irmã foi


assassinato — falou Bryan, nervoso. — Vou apurar o caso,
esse canalha não vai sair impune.
— Gente rica não vai para a cadeia. E se for hoje, amanhã será
solto — cuspi, amarga.
— Vamos ver quem tem mais poder, ele ou eu — sibilou
Lucky.
— Quanto ao acidente dos meus pais, estava na faculdade
quando ligaram para me contar. Os dois lutaram pela vida por
dias, e eu com fé, orando para sobreviverem. — Coloquei
meus cotovelos na mesa e cobri os olhos. — Mas a esperança
se foi… Eles morreram e meu mundo desabou de novo, como
se eu batesse de frente com um tornado. — Não senti nada de
orgulho ao revelar a próxima parte, a fraqueza ao pensar em
tirar minha vida. — Fui para a ponte do Brooklyn, já
morávamos aqui. Nashville ficou difícil para todos nós
vivermos, a saudade dela era muita.
— O que foi fazer na ponte? — perguntou Ryan com um leve
tremor na voz.
Deixei minhas mãos caírem e olhei para elas sobre a mesa.
Não custava nada dizer a verdade a eles, afinal, foi para isso
que os convidei.
— Eu fui para acabar com meu sofrimento…
Todos ali ofegaram de pavor. Eu também reagiria assim se
estivesse de fora da situação. Há uma frase de William
Shakespeare que diz: “Todo mundo é capaz de dominar uma
dor, exceto quem a sente”. Era real. Eu me sentia sem solução
naquela época. Pesando na balança, não faria isso hoje, não era
fraca igual a antes. E tinha uma rede de apoio: amigos
verdadeiros, meu namorado e meus irmãos, não me sentia
mais sozinha.
— Você tentou se matar? — esbravejou Ryan com os punhos
cerrados.
Eu me encolhi.
— Eu ia, mas quando estava me preparando para isso, uma
assistente social me ligou, explicando que, com a morte dos
meus pais, eu seria a responsável por Shane e Lira, que era
recém-nascida. Os dois me deram forças para lutar e viver por
eles… Mas tudo que é bom dura pouco…
— Aconteceu alguma coisa com eles? — perguntou Ryan,
preocupado.
Senti sua mão ao meu redor, me abraçando. Levantei minha
cabeça sem nada ver.
— No hospital, no dia em que doei sangue a você — olhei
para Sam, que também estava com os olhos marejados e a
cabeça escorada no ombro do marido —, recebi o resultado
dos exames do Shane… Ele tem uma doença no coração e
precisa de cirurgia. Estava prevista para a semana que vem,
contudo, ele passou mal hoje cedo e foi internado.
— O quê? — Ryan quase gritou. — Por que não me disse?
— Não queria incomodar, e Shane já estava até falando, então
podia esperar até você chegar aqui.
— Você devia ter me ligado, droga, é para isso que servem os
namorados, não? — disse num tom magoado.
— Eu sei, sinto muito — sussurrei. — O médico disse que a
cirurgia acontecerá amanhã às nove.
— Estaremos com você para o que precisar, cunhada — disse
Rayla.
— Obrigada, eu só vim aqui para contar a todos vocês o que
aconteceu comigo, e por que sofri tanto hoje. É bom estar
cercada de amigos em uma hora dessas.
— Queria que tivesse vindo a mim antes, não importa onde eu
estava e o que fazia, iria correndo. Você é mais importante do
que tudo em minha vida.
Ao fitar seus olhos, pude ver o amor que sentia por mim, tão
intenso quanto o meu por ele. Era grata por tê-lo em meus
braços.
— A dor é demais, Ryan. Hoje faz seis anos que Ângela se foi,
e amanhã faz três da morte de mamãe e papai. Não posso
perder Shane também…

— Não vai perdê-lo. Ryan ou Lucky podem conseguir o


melhor médico do país para fazer a cirurgia dele — falou Sam
com alguma esperança, olhando o marido e Ryan, que
assentiram.
Precisava ter fé para que meu irmão saísse dessa e ficasse
conosco por muitos anos. Meu pai tinha marca-passo e vivia
bem, com Shane seria assim também.
— Vamos ter esperança, Anjo, nada de ruim vai acontecer a
Shane — prometeu Ryan. — Estou com você sempre.
Ergui-me, mirando todos ali. Nem queria imaginar minha
expressão, devia estar toda inchada.
— Obrigada por virem hoje, deixando seus afazeres de lado.
Sam se levantou e me abraçou.

— Amigos são para isso, querida. Lucky conseguirá um


cirurgião especializado em coração, ok?
— Agradeço — sussurrei.

Forcei um sorriso para Kate.


— Foi bom conhecer você. Espero que o que eu disse aqui não
atinja os dois, desejo que sejam felizes. — Dei um abraço
nela. O que tive com Caim ficara no passado. Perguntei a ela:
— Você se importaria de eu abraçá-lo?
Kate sorriu gentilmente.
— Tudo bem, se não o ama mais. — Fitou Ryan.
— Ela pode não se importar, mas eu sim — rosnou, já de pé,
olhando friamente para Caim. — Se não quiser ficar sem as
mãos, é melhor se manter longe dela.
Caim sorriu e o encarou de frente.
— Não tenho medo de você. — Foi me abraçar, ignorando o
Ryan.
Ryan se lançou na sua direção, e eu me coloquei entre os dois,
atenta à expressão assassina do meu namorado.
— Ryan, era só um abraço…
Ele me imprensou contra a geladeira e encostou sua testa na
minha.
— Anjo, perdão… Olha só o que me faz fazer.
Suspirei, tentando controlar meu corpo com o toque dele.
— Eu não fiz nada, mas tudo bem. — Quase desfaleci mirando
suas íris cálidas.
Beijou a minha testa e se afastou.
— Obrigado, querida — disse. — Agora vamos para o
hospital ver o nosso garoto.
Assenti, em êxtase por ter um homem desses na minha vida.
— Tive a sorte grande de arranjar alguém como você. —
Toquei seu rosto — Você me conhece mais do que eu mesma
para saber onde minha mente está neste momento.
— Eu sei, porque a minha também não sai daquele hospital.
Passei a amar Shane e Lira.
Deixamos o apartamento e nos encaminhamos ao hospital. Ao
chegarmos, Ryan foi falar com o médico e acertar tudo para a
cirurgia. Como não amá-lo?
— Ele está dormindo agora, seus batimentos se estabilizaram,
então não se preocupe. — Sentou-se ao meu lado na cadeira na
sala de espera. — A cirurgia foi transferida para o meio-dia.
De repente me senti alerta, avaliando se ele estava escondendo
algo de mim.
— Por quê? — Bebi o resto do leite que ele trouxe para mim.
— Porque o médico especialista em cardiologia vem de
Houston para cuidar do caso. Ele é o melhor do mundo.
— Ryan…
Interrompeu-me.

— Não vamos discutir dinheiro agora, Anjo. Shane também é


importante para mim, portanto, farei tudo a meu alcance para
ajudá-lo.
— Você é o anjo que Deus enviou para a minha vida para me
ajudar a passar por isso. Se estivesse sozinha…
Ryan apertou seus braços à minha volta, como se quisesse me
manter ali para toda a eternidade.

— Sempre estarei ao seu lado — jurou, comovido pelas coisas


que disse a ele. — Feliz aniversário, linda. Obrigado por me
fazer feliz.
Orei para tudo dar certo no dia seguinte. Que Deus me desse
ouvidos e meu irmão ficasse bem.
Capítulo 15

A espera

RYAN

O desfile na França foi um sucesso com minha nova coleção


de lingerie. Era para Sam ter participado, mas perdi a aposta
por causa da Anjo. Não que eu me arrependesse de escolhê-la,
aquela mulher surgiu para trazer luz à vida vazia que eu
levava, agora completamente preenchida com ela ao meu lado.
Os vestidos dela seriam lançados na Califórnia em alguns
meses, acredito que se tornariam um sucesso. Contava com
isso, pois eram esplêndidos. Estava orgulhoso pelo talento de
Angie.
Quando cheguei da França, fui visitá-la, doido para vê-la,
abraçá-la, beijá-la e passar o seu aniversário juntos. Até
aluguei o restaurante Baboo, conhecendo seu amor por comida
italiana. Seria o primeiro encontro oficial de toda a minha
vida.
Soube que ela iria ao meu apartamento aquela noite. Pensei
que seria para nós conversarmos, mas ela convidou a todos, os
meus amigos e os dela.

Quando ela falou que quase cometeu suicídio diante da morte


de seus pais, foi como se tudo dentro de mim se partisse ao
meio, temendo que ela tivesse pensando nisso de novo. Graças
a Deus, Angelina já não considerava esta opção. Porra! Por ela
eu enfrentaria o inferno, moveria céus e terra. Meu amor faria
o mesmo por mim.
Ao ter a Anjo em meus braços pela primeira vez, custei a
acreditar realmente que faríamos amor. Pensava que ela
estivesse se guardando para seu futuro marido. Pelo olhar dela,
Angie achava que isso não aconteceria comigo. Não por falta
de amor, e sim por não acreditar que eu me comprometeria
tanto. Antes de conhecê-la, de fato, eu pensava assim também.
Angie mudou isso, não sabia o que essa mulher tinha. Fez com
que eu desejasse tudo: casamento, filhos. Por ela, andaria em
brasas sem ter medo de me queimar.
Se minha garota quisesse casar, assim seria, nem que para isso
eu tivesse de enfrentar um maldito cavalo.

Enquanto criança, adorava cavalos, achava fascinante como


eles troteavam livres pelos pastos verdejantes do haras dos
meus pais, hoje meu. Algumas vezes, frequentava o local só
para vê-los correr, com suas crinas ao vento. Queria montá-los
e sentir o ar puro beijar minha pele, o sol banhar meu rosto,
mas tudo não passava de um sonho. Caí de um pônei quando
tinha sete anos. Já pensou, um homem crescido com medo de
cavalos? De qualquer forma, precisava acabar com este temor,
porque era o único jeito de provar para Angelina que eu valia a
pena, que por ela levaria uma maldita bala.

Minha amada era melhor do que tudo que já experimentei. Seu


gosto de fruta, seus gemidos doces, maldita canção para os
meus ouvidos. E os gritos? Simplesmente divinos, algo que
queria escutar para sempre. Se alguém um dia me dissesse que
eu faria amor com uma mulher, teria rido na cara dele,
perguntado se havia bebido. Mas fazer amor, transar, foder
com ela, era tudo o mesmo, igualmente perfeito.
Não dormi à noite, conversado com o Lucky e o doutor Raul
Smith, um cardiologista especializado em todos os tipos de
problemas no coração. Lucky disse que ele era o melhor.
Esperava que sim, porque não queria vê-la destruída.

Meu irmão mandou os exames de Shane por e-mail para o


doutor providenciar tudo. A cirurgia foi marcada para o meio-
dia, duraria em torno de duas a quatro horas. O médico o
transferiria para o Hospital Mount Sinai, de Manhattan.

Chegamos ao hospital. Já estava tudo pronto e organizado para


a cirurgia. Lucky cuidara dos detalhes para mim. Meu irmão
valia ouro.

Os médicos e enfermeiros levaram Shane para o centro


cirúrgico. Angelina ficou ali, nos meus braços.

Quando a vi chorando ao lado da maca de Shane, que estava


dormindo, aquilo me doeu por dentro. Cada lágrima escorrida
ardia em mim. Nunca pensei que dedicaria minha vida a uma
pessoa, a ponto de sentirmos a dor um do outro.

— Vai dar tudo certo — garanti. Esperava estar correto em


relação a isso… Do contrário, nem queria imaginar…

Ela não respondeu, acho que não conseguiria falar nada. Eu


precisava acreditar que Shane ficaria bem.
Estava com medo dela ter uma recaída e fazer alguma besteira,
mesmo dizendo que jamais se mataria, porque agora dispunha
de motivos para viver. Fiquei mais do que feliz em ter gozado
dentro dela sem preservativo na nossa primeira vez, uma coisa
que nunca aconteceu comigo. Queria que ela engravidasse de
mim, ter um filho seu era tudo o que mais desejava desde o dia
em que me apaixonei.
Vendo-a em meus braços, temendo pela vida do irmão, torcia
para Angie estar grávida. Almejava lhe dar mais motivos para
viver, não só por mim ou por seus familiares, e sim por nosso
filho também.

Era estranho, contudo, tinha certeza de que ela engravidou.


Chame de sexto sentido ou esperança, embora não acreditasse
em nada disso, não custava tentar. Um filho dela seria tudo de
bom: uma menina com cabelos e olhos negros como os da
mãe. Porra, precisaria atirar em vários bastardos na minha
porta que viessem procurá-la quando crescesse.

Nunca fui de sonhar com nada, a não ser minha carreira. Após
a Anjo, passei a fantasiar com uma série de situações. Primeiro
que Shane ficasse bom logo, isso era nossa prioridade. Depois,
casar com a mulher que amo, torná-la a senhora Donovan.
Ademais, que ela entrasse na igreja grávida do nosso filho.
Seria o cenário mais lindo do mundo. Já amava a criança antes
dela existir.

Fazia uma hora que a cirurgia tinha começado. Angelina agora


dormia, o que só foi possível com a ajuda de uma enfermeira,
que administrou um calmante. Isso porque, a cada minuto, ela
queria saber como estava indo o procedimento, e andava sem
parar de um lado para o outro.
Estávamos todos reunidos na sala de espera, aguardando o fim
daquela tortura, meus amigos e os dela. Johnny e Charles eram
realmente seus companheiros fiéis, não a deixaram por
nenhum instante.

— Ela é uma guerreira — disse Lucky, sentando ao meu lado e


focalizando Angie adormecida, deitada no banco com a cabeça
no meu colo.

— Sim, ela é. — Alisei seus cabelos sedosos.

— Com todas as coisas que passou, deveria ter desistido ou


feito alguma besteira — falou Daniel do outro canto da sala,
sentado em uma cadeira.

Olhei para ele.

— Ela disse que mesmo que as coisas não saiam como


desejamos e queremos… jamais se mataria, igual pensou em
fazer uma vez… E também falou que ela não suporta a ideia
de me ver sofrendo. — Meu peito se inchou com isso. Ficamos
conversando até tarde sobre o seu passado, sua vida quando
criança, até o dia em que me conheceu.

— Angelina ama muito você, Ryan — Sam declarou.

Como que para confirmar as palavras de minha cunhada, a


Anjo apertou minha camiseta, que segurava firme, escorando o
rosto na minha barriga e suspirando em meio ao sono.

— Eu sei. Nunca quis dar meu coração a alguém que tivesse o


poder de me destruir.
— Amar não envolve sempre destruição — Sam sussurrou.

— Sim, mas quando ela disse que já pensou em se matar


antes… algo em mim se quebrou. Se ela fizesse isso de novo,
iria acompanhá-la… — Fitava o seu rosto lindo, sem o qual
não poderia mais viver.

— Você não pode amar alguém tanto assim. — Jordan me


olhava preocupado, como se eu já fosse pular de um prédio.
— Mas eu amo. Amo tanto que não dá para viver neste mundo
se ela não estiver aqui.

— Entendo este sentimento. — Lucky observou Sam. Decerto


estava pensando no dia em que quase foi morta pelo seu pai
desalmado. Esperava que ele apodrecesse na cadeia.

— Eu não compreendo. — Jordan sacudiu a cabeça.

— Isso porque você nunca se apaixonou — disse a ele. —


Quando isso acontecer, entenderá.

— Jamais vai acontecer comigo. — Fez uma careta, ainda


desacreditado.
Depois de cinco horas de cirurgia, o médico apareceu. Tinha
uns cinquenta anos, mais ou menos.

— Como ele está? — A Anjo perguntou.

O médico, Raul, suspirou.


— Teve uma parada cardíaca, mas conseguimos trazê-lo de
volta e bem — apressou-se em dizer após notar o grito
silencioso que ela soltou. — As próximas vinte e quatro horas
serão essenciais para sua recuperação.

Permaneci ao lado de Angie o tempo todo. Dado momento,


porém, percebi que ela carecia de espaço, preferindo ficar
sozinha com um Shane adormecido. Deixei-os e fui para a sala
de espera. Tranquilizei meus amigos, avisei que podiam ir
embora descansar, porque tudo dera certo.
— Como os dois estão? — perguntou Sam.
— Shane está dormindo e a Anjo está com ele, agora mais
calma.

Sam caminhou até mim e alisou meu braço. Eu estava


esgotado, já fazia quase um dia inteiro que eu não dormia.
— As coisas vão se ajeitar, cara — garantiu Caim, tocando
meu ombro para me confortar.
— Obrigado — pigarreei diante de sua sinceridade. Ele e sua
noiva permaneceram a cirurgia toda conosco.

— Qualquer coisa, nos chame, estarei aqui pela Borboleta —


disse Charles.
— Estaremos — corrigiu Johnny. — Angie é nossa irmãzinha,
e nós a amamos.
Todos meus amigos foram embora; mais tarde voltariam. Caim
e Kate também, não sem antes insistir que, se houvesse um
problema, não hesitariam em retornar.
Eu precisava fazer uma ligação importante, uma que não dava
para adiar mais. Poderia requisitar a ajuda de Bryan, todavia,
necessitava resolver isso por mim mesmo. Liguei para quem
eu queria.
— Ora, quem é vivo sempre aparece. — Atendeu no segundo
toque.
— Olá, Dominic. — O seu nome de MC era Shadow, porque o
cara tinha um ar sombrio que de longe se enxergava. Era o
líder dos MCs da Fênix em Chicago. Nos tornamos amigos ao
estudarmos juntos em Harvard. — Você foi quem sumiu —
retruquei.
— Tem uma festa esta noite, se quiser aparecer. — Eu podia
ouvir o sorriso na sua voz.
Ele sempre me convidava para festas em seu clube; nunca
aceitei. Antes, porque se eu aparecesse com uma prostituta em
alguma foto, a mídia me encheria o saco — nada contra elas,
claro; ser famoso tinha suas desvantagens. Concluía isso pelas
imagens que saíram da irmã da Anjo, o alvoroço que deu.
Agora, por outro lado, não aceitaria o convite porque tinha
uma mulher perfeita que me amava de modo recíproco. A
única que queria para sempre.

— Vou recusar. — Sentei-me na cadeira.


Ele riu.

— Novidade… — Aposto que revirou os olhos.


Eu ri também.
— Tenho um favor a pedir. — Ele seria capaz de encontrar
quem eu estava procurando. Depois que soube do cara que
matou a irmã da Angel, resolvi não deixar isso impune. Ela
disse que ele só se safou porque tinha dinheiro. Vamos ver o
que faria agora.
— Quem eu preciso matar por se meter com um dos nossos?
— Seu tom era sombrio. Se o Lucky, às vezes, colocava medo
nas pessoas, imagine esse cara? Era a personificação do mal.
Gargalhei, sacudindo a cabeça.
— Matar? Ninguém. Caçar? Sim.

Ele suspirou.
— Quem?
— Um cara chamado Stive Lutner. Ele é de Nashville. Seu pai
foi prefeito de lá, ou coisa assim.

— O que quer que façamos com ele?


— Que o traga até mim. — Meus punhos se fecharam. —
Temos um acerto de contas a fazer.

— Não quer que cuidemos disso para você? E o que ele fez?
Respirei fundo para me controlar.
— Ele tentou estuprar minha namorada e a perseguiu, matando
sua irmã gêmea no processo. Saiu ileso porque tinha grana, e a
garota não. — Meus dentes estavam cerrados por pensar nisso.
— Eu soube pelos jornais que foi fisgado por uma boceta…
Quem diria, hein? Ryan Donovan?
Não fiquei com raiva dele por dizer isso da minha namorada,
era o seu modo de falar. Os MCs tinham seus próprios
costumes. Não precisava mencionar que fui domado pela
Angel sem ao menos chegar perto dessa parte de seu corpo.
Óbvio que, quando cheguei, fiquei mais viciado ainda.

— Olha quem fala! — Sacudi a cabeça. — Soube pelo Nasx


quando o vi há alguns meses que você também foi domado.
Ela deve ser um maldito avião para conseguir tal façanha.

Havia felicidade em sua voz.


— Evy é tudo de mais perfeito que já vi na minha vida, a
mulher mais linda do mundo. — Seu tom agora era de júbilo.
— E é uma maldita ninja nas facas.
— Bom, pelo menos se pular a cerca, ela corta suas bolas —
brinquei.
— Meu amigo, meu pau não quer outra boceta, apenas a dela,
então ficará seguro em minhas calças — disse com convicção.

Cocei o queixo.
— O mesmo aqui, cara. A Anjo veio me completar de todos os
lados. Mulheres, bebidas, festas e fama nunca preencheram o
vazio que eu sentia, apenas ela.
— Anjo? — indagou.
— Isso a define pela doçura e bondade. Exceto quando fica
irritada, aí solta suas garras — declarei com amor.
— Nós somos os bastardos mais sortudos por conseguir que
mulheres como Evy e sua Anjo gostem de caras como nós.
Fico feliz por você.
— Agradeço a tudo por ela ter aparecido em meu caminho,
cara.

— Eu também agradeço pela Evy. — Suspirou. — Como está


o Jason? Soube que ele vai para a França participar de uma
luta. Faz tempo que não falo com ele. — Fungou. — Mudando
de assunto, você pretende matar esse cara? — sondou, sem me
dar tempo de responder quanto ao Jason.
— Queria poder dizer que sim, mas não vou arriscar que um
dia a Anjo descubra que fui o mandante de um assassinato, e
acabe me deixando.
— Se ela te amar de verdade, vai entender.

— Fácil falar… Não pretendo esconder segredos dela. Já basta


te pedir para encontrar esse cara e ter um “papo reto” com ele.
— Olhei para a porta do quarto, ainda fechada. — Quero fazê-
lo pagar. Talvez ele tenha algum podre escondido além dos
que conhecemos, aí posso mandá-lo por toda sua vida para a
cadeia.

— Você é um bom homem, Ryan, sempre soube disso. — Seu


tom era orgulhoso como o de um pai coruja, a despeito de ser
somente dois anos mais velho do que eu.

— Você também. — Minha garganta se fechou com a emoção.


Ele riu.

— Sei que está dizendo isso só porque somos amigos, mas


obrigado. No meu mundo, não podemos demonstrar fraqueza e
bondade, ou os tubarões nos engolem vivos. Vou encontrar
esse cara e procurar seus podres. Daemon é um grande
rastreador. Assim que o acharmos, entro em contato.
— Agradeço.

— Ryan — chamou a voz capaz de me trazer do mundo dos


mortos.
Olhei para cima e a enxerguei rindo. A visão mais perfeita do
universo.
— Preciso ir, Dom — pigarreei com um suspiro. — Estou no
hospital. Meu cunhado de oito anos fez uma cirurgia. A Anjo
está chegando aqui.
— Ele está bem?
— Sim, graças a Deus. — Eu me levantei. — Ficarei
aguardando sua chamada.
Desliguei e fitei Angelina.
— Como você está? — Peguei sua mão.
Ela sorriu, o sorriso deslumbrante que há alguns dias eu não
via. Iluminava toda minha vida e minha alma
— Ele acordou, Ryan — falou, eufórica.
— Oh, Anjo, estou tão feliz com isso. — Abracei-a e beijei
sua cabeça.
— Eu também, sinto vontade de gritar.
Eu ri.

— Bom, os gritos vão ter de esperar, já que estamos em um


hospital. Agora vamos lá ver nosso garoto.
Capítulo 16

Alma partida

ANGELINA

Os três meses que passaram foram os melhores de minha vida


em todos os sentidos, tudo estava em seu devido lugar. Shane
se recuperou bem da operação que fez em outubro. Brincava
normal, claro, comigo não o deixando extrapolar para não
correr o risco de dar um problema na cirurgia. Seguia à risca a
recomendação do médico para ele ficar curado logo.

O baile que Sam organizaria (uma vez que o Ryan perdeu a


aposta) foi adiado, porque ela estava grávida de sete meses e
sentindo algumas dores, então o médico recomendou repouso
absoluto. Lucky não a deixava fazer nada. Certo ele, com uma
gravidez assim não se brinca.
Em dezembro, Ryan me levou ao Times Square em Nova
York. Quando eu disse que morava no Bronx há cinco anos e
não conhecia aquele lugar, ele não pensou duas vezes. Não
revelei a ele o porquê de nunca ter ido lá antes: achava que era
frequentado só por pessoas finas e ricas, todavia, estava
redondamente enganada. Amei sair em um encontro com ele.
Olhei para o homem deslumbrante ao meu lado. Ele estava
vestido com jeans escuro, camisa preta e uma blusa de lã por
cima, por causa do frio. Eu usava calça jeans, blusa grossa, um
casaco marrom para me aquecer e botas de caubói que Ryan
comprou para mim. A temperatura não atrapalhou nosso
passeio.
— Ryan Donovan em um encontro? — Sorri ao chegarmos ao
Rockefeller Center. Ele me levou para ver o pôr do sol do
terraço. Apaixonei-me pela vista, mesmo que, nesse dia, não
houvesse um sol aparente se pondo no horizonte. As nuvens
estavam carregadas no céu, prenunciando a chuva. Talvez
nevasse na virada do ano, dali a algumas semanas.
Ele riu, me apertando em seus braços.
— Mais uma coisa que vai para a lista de primeiras vezes com
você. — Beijou meu rosto. — Terei muito mais para colocar,
estamos apenas começando.
Aquele dia foi um dos mais lindos da minha vida. Após o
terraço, patinamos no gelo. Ele não queria ir, porque não sabia
como; felizmente, cedeu ao meu pedido.

— O que não faço por você? — falou ao entrarmos no centro


de patinação, próximo ao Times Square.

— Por isso amo você — declarei, sorrindo de lado. —


Prometo que, ao chegar em casa, o recompensarei.
Fitou-me com desejo.

— Oh, querida! Estou contando com isso.

Sacudi a cabeça, ainda sorrindo. Nós colocamos os patins e


fomos para a pista de gelo. Deu um passo e já ia caindo, mas
segurei suas mãos e fiquei de frente para ele.

— Droga, Anjo, não sei andar nesta merda!


— Não é difícil, é como aprender a andar de bicicleta. Feche
mais as pernas — pedi. Ele acatou. — Darei um passo para
trás e você me segue, ok?

— Vou parecer uma maricas — reclamou, observando ao redor


para ver se alguém estava olhando.
— Sei, com toda a certeza, que você não é uma maricas —
sussurrei, sedutora. — Talvez eu tenha de refrescar sua
memória. — Também conferi se ninguém estava perto, mas os
demais patinadores se encontravam a uma distância
considerável. Sorri, devassa. — Não foi na minha boca que
gozou logo cedo?

Ele piscou e me puxou para os seus braços, todavia, foi rápido


demais, caindo de costas no gelo, e eu por cima dele. Gemeu
com a pancada no chão e meu peso, mas seus braços
continuavam firmes em minha cintura.

— Esqueci os malditos patins — rosnou, ofegante. — Você


está bem?

Eu sorri.
— Perfeitamente bem. Na próxima vez que estiver de patins,
seria interessante lembrar de não puxar as pessoas
bruscamente.
Ele riu.

— Oh, caralho, se vou usar esta merda de novo! — Beijou a


ponta do meu nariz. — Você é a culpada por falar assim
comigo enquanto estamos cercados de gente.

— O quê? Não gostou de eu dizer que amo seu pau na minha


boca ou que você me perverteu? — Mordi meus lábios.
— Maldição — praguejou. — Vamos embora agora, porque
mesmo com minhas bolas congelando neste frio, eu as quero
enterradas em você.

Meu corpo tremeu, querendo ele também, desejando-o tanto


que chegava a doer. Eu me levantei e o ajudei a se erguer para
irmos aproveitar cada momento que esse homem tinha a
oferecer a mim.

Já era quase dez da noite quando saímos do Times Square. Mal


aguentava esperar chegarmos em casa, estava faminta demais
por ele.

Como o aquecedor estava ligado, não morreria de frio quando


tirasse a roupa. As janelas do carro eram escuras, então quem
surgisse do lado de fora do estacionamento da loja não nos
veria. Ryan saiu e foi comprar algo que o Jordan pediu. Ele
ficou confuso quando eu disse que ia esperá-lo no carro, mas
não falou nada. Eu precisava tirar minhas roupas.
Estava no Mitsubishi L2OO Triton dele — o carro era lindo,
devo dizer. Meu homem gostava de colecionar máquinas
velozes. Já eu, não entendia nada delas. Continuava usando
seu Volvo para ir ao serviço; era o mais simples no meio de
seus sete automóveis, que incluíam: Porsche, Ferrari, Maserati,
Range Rover e, por fim, o Bugatti, um dos meus favoritos,
pois remetia a lembranças da primeira vez que ficamos juntos.
Agora seria do Mitsubishi que teria recordações.

Ao entrar no banco de trás, ignorando que eu estivesse em um


estacionamento, já fui tirando as roupas: calcinha, sutiã, calça
e blusa, deixei apenas o casaco comigo, que ia na altura dos
joelhos. Sentei-me e esperei por ele.
— Anjo… — interrompeu-se, entrando no carro e vendo que
eu estava no banco traseiro. — O que faz aí?

Não respondi, apenas abri o jaleco e mostrei a ele o que o


casaco escondia.

— Porra, Anjo — praguejou e olhou ao redor, vendo se


avistava alguém. Rosnou e saiu do carro, abriu a porta de trás
e entrou, me puxando para os seus braços, devorando a minha
boca. — Não consegue esperar até chegar em casa? Minha
mulher está faminta? — sibilou na minha boca. Sua mão
direita foi para o meio das minhas pernas. — Droga,
encharcada.

— Você me faz assim, quente e molhada. — Mordisquei seus


lábios.

— Merda, querida, vamos ter de ser rápidos aqui, a loja fecha


em meia hora. — Ele me afastou um pouco e tirou seu pau
duro e gostoso para fora de sua calça. — Droga, não tenho
preservativos comigo. — Olhou-me de lado. — Quer arriscar?
Evitei um suspiro, porque já era tarde demais para me
prevenir. Ainda não fizera o exame, mas tinha certeza de que
eu estava grávida, algo em que não queria pensar.
Não disse nada, apenas montei nele e desfrutei do paraíso.

— Cavalgue em mim — ordenou, tirando meu casaco e


abocanhando meus seios. Passava de um a outro, sugando,
mordendo, lambendo-os. Suas mãos estavam em meus
quadris, apertando-os, me ajudando a cavalgar. — Apertada
demais, porra.
Puxei seus cabelos, querendo ver seu rosto e beijar sua boca.
Meu corpo tremia pelo êxtase. Sabia que não demoraria muito
a gozar. Levei meus lábios aos seus e devorei, faminta, sua
boca com gosto do whisky que tínhamos tomado no
restaurante; bebi somente um gole, por suspeitar da gravidez.
Esses beijos eram o meu alimento, a minha vitamina, o meu
tudo.

Ele não falou enquanto transávamos, ou melhor, fazíamos


amor — dizia que todo sexo comigo era fazer amor. Achei
incomum ele ficar calado durante a transa; pensei que fosse
porque alguém poderia nos ouvir ali. Só depois que
terminamos, enquanto estávamos ofegantes, indagou:

— Por que você fica tensa sempre que o assunto é gravidez?


— sondou, olhando nos meus olhos.
Eu suspirei.

— Quero tudo com você, Ryan. — Coloquei minha cabeça em


seu ombro. — Eu o amo.

— Também a amo, Anjo, tanto que às vezes não consigo nem


mensurar.

Não foi a primeira conversa que tivemos sobre filhos. Sempre


que tocávamos no assunto, ele ficava pensativo e me avaliava.
Decerto achava que não queria filhos com ele; não era
verdade. Desejava tudo com ele, porém, não podia. Estava
sendo covarde por não contar a verdade; precisava revelá-la, e
logo.

O meu livro seria lançado no próximo mês. Sentia-me feliz


pelo meu sonho realizado. Um dos sonhos… Agora só faltaria
eu me casar com meu lindo namorado, o homem mais perfeito
do mundo para mim.
No meio do êxtase, vivendo com meu Ryan, uma coisa estava
me incomodando e me fazendo perder o sono à noite: a
menstruação atrasada há três meses. Esta era a minha
preocupação, porque ela nunca atrasou nem um dia. Sempre
fui daquelas mulheres bem reguladas. Sentia um frio na
espinha, porque sabia o que isso significava: eu estava grávida.
Aquela nossa primeira vez teve uma consequência, porque ele
não usou preservativo, querendo me engravidar. Pelo visto,
conseguiu.

Quando recebi o resultado do exame, tudo em mim se desfez,


minha alma se partiu. Teria de contar ao Ryan a verdade.

Encarava a folha onde se lia “positivo”. O médico, ao ver


minha expressão de horror, me deu um panfleto de uma clínica
de abortos. Poderia xingá-lo por me oferecer isso, mas minha
mente estava entorpecida e dormente. Jamais acabaria com
algo tão valioso. Nunca tiraria a vida do meu filho. Logo, ao
saber que aquele ser pequeno estava dentro de mim, tudo
mudou. De repente, me enchi de júbilo e êxtase. Já não me
importava que minha vida estivesse em risco. Apenas queria
esse ser precioso a salvo, como nunca quis nada na minha
vida. Até mais do que o pai dele.

Uma semana após receber o resultado do exame, contaria ao


Ryan toda a verdade sobre mim e nosso bebezinho. Era tarde
demais, mas ele tinha de saber do risco que eu correria no
momento do parto. Esperava que ficasse ao meu lado até o
fim, porque sua força e amor me dariam mais estímulo para
lutar pela vida e continuar em frente, até o último segundo.
O dia havia chegado. Pedi à Sam para deixar meus
irmãozinhos em sua casa, assim conversaria mais à vontade
com Ryan. Seria bem difícil, quase impossível evitar que ele
sofresse. Eu também sofreria; aliás, já estava. Encontrava-me
um caco pelas lágrimas que ele derramaria — hoje, amanhã,
até o dia em que nosso bebê nascesse, se eu sobrevivesse.
Em muitas situações que enfrentei em minha vida, não tive fé.
Agora, precisava usar a minha fé se eu quisesse viver e fazer o
homem que eu amava feliz.
Entrei no apartamento do Ryan, após deixar meus irmãos na
casa da Sam. Correção: nosso apartamento, foi isso que disse a
partir do momento em que eu fui morar com ele, levando
Shane e Lira.
Ryan estava em pé no meio da sala, com a expressão sombria,
fria e também com raiva. Eu já tinha visto ele com raiva, sim.
O pior dia foi quando eu duvidei dele. Sua expressão naquela
ocasião estava igual à de agora.

— Que porra isto significa? — Esbravejou, levantando um


papel na mão.
Reconheci o exame de gravidez que fizera há oito dias, antes
de ele ir para o desfile na Califórnia. Eu já deveria ter lhe
contado… Seria por isso a sua ira?
— Eu posso explicar… — comecei, mas fui interrompida.

— Explicar? Diga como pode explicar isto? Este exame foi


feito antes de eu ir para a Califórnia, por que não me contou?

— Não queria trazer problemas para a sua viagem…


— Problemas? — gritou. — Estava louco para ser pai, e você
sabia disso. — Expirou, tentando se controlar.

— Eu sei, é por isso que eu não disse nada. — Meus olhos já


estavam molhados vendo a dor nos dele, e isto era só a ponta
do iceberg. O que eu revelaria a seguir o destruiria.
— “Eu sei”… — Ele riu, sem vida. — Pensou em abortá-lo?

Levantei a cabeça subitamente.


— O quê? — Minha voz saiu aguda. Ele ficou louco? Eu
nunca faria isso.
Levantou o folheto da clínica de aborto para mim. Devo ter
guardado por engano quando peguei o exame do médico.
Sabia o que ele estava pensando.
— Você estava tentando abortar o nosso bebê? — Sua dor era
tanta que eu me encolhi, como se tivesse levado um tiro no
peito. Acho que doeria menos.
— O quê? Não…
— Então como explica esta merda, Angelina? — Abanou o
folheto da clínica na mão. — Você não me contou que estava
grávida, e além disso, achei este panfleto de uma maldita
clínica de aborto.

— O médico viu minha expressão… e deve ter pensando que


eu não o queria… então me entregou o folheto. Eu devo ter
pegado ele junto com os exames sem saber.

Seus olhos ficaram escuros.


— Sua expressão estava aterrorizada? Tudo porque não queria
ter um filho meu? — lamentou.
Eu explodi, me rasgando por dentro, assim como ele seria
rasgado tão logo eu terminasse de falar.

— Não posso ter filhos — disse, chorosa. — Eu nasci com um


problema no coração, quase igual ao do Shane, mas o meu é
mais grave. Tenho cardiopatia. Meu coração bate mais lento
do que o das outras pessoas, por isso tomo remédios. Não
sobreviveria até o final da gestação. Era por isso que eu estava
com medo. — Fitei sua face repleta de angústia e outras
emoções que me matavam aos poucos. — Assim como estou
vendo agora o terror em seus olhos…
Os papéis em suas mãos caíram no chão; aparentava não ter
mais força para segurá-los. Ele parecia não estar respirando, o
ar lhe fugia. Olhava de meu rosto para a minha barriga, talvez
se perguntando qual de nós dois era mais importante para ele.
Orava para que fosse nosso filho, e não eu.

Sacudiu a cabeça várias vezes, tentando acordar de seu


pesadelo pessoal. Meu coração estava sangrando tanto que
achei que morreria ali.

— Ryan, vai ficar tudo bem, conseguirei ter nosso filho e viver
— tranquilizava-o.
Mirava-me com sua expressão sem vida.

— Vamos para a clínica de aborto — disse com a voz morta.


O ar saiu dos meus pulmões ao pensar em suas palavras…
Com certeza ouvi errado.

— Repita?
— Vamos tirar isso. — Apontou para a minha barriga,
assustado. — Não vou deixar você morrer…
Mal sabia ele que eu já estava morrendo ao ouvi-lo se referir
deste modo ao nosso pequeno anjo. O que mudou sua mente?
Oh, não! Não me livraria do meu ser precioso, jamais.
Minhas mãos foram à minha barriga, num gesto inútil para
protegê-lo de todos, até do seu pai. Levantei o rosto, ignorando
as lágrimas que escorriam por minha bochecha.
— Não vou abortá-lo — declarei com a voz mais firme que
consegui.

Encarava-me como se eu tivesse perdido minha cabeça.


— O quê? Não pode continuar com esta gravidez — soltou a
última palavra com asco. — Ele vai matar você.

— Vou lutar pela vida, mas se não conseguir — respirei fundo


—, ele terá você.

Parecia me achar louca.


— Nunca vou aceitar algo que a matou.
Engoli em seco com sua frieza.

— Ele é parte de você também — sussurrei com dor na alma


por sua incompreensão. Entendia que ele estava sofrendo ao
descobrir acerca do risco que correrei, todavia, não pensei que
me mandaria abortar nosso bebezinho. Foi como se ele tivesse
enfiado as duas mãos em meu peito e rasgado meu coração.
— Não, você é parte de mim, se ele a machucar… — Sua voz
estremeceu ao dizer isso. — Eu não posso… Simplesmente
não posso. Se você me ama, vai tirá-lo…
— O quê? Posso amar você com a minha vida, porém, não
farei isso — resfoleguei. — Não sou capaz de assassinar meu
filho, um ser pequenino que não tem como se proteger. A
única pessoa que pode garantir sua segurança sou eu. Se me
fizer escolher entre os dois, por mais que eu ame você, perderá
para ele. Sempre.
— Ele vai matá-la! — gritou.

— Eu não me importo! — rebati. — Ele é parte sua também,


como eu poderia fazer algo assim? Seria o mesmo que levantar
uma arma e atirar em você. Eu já o amo, Ryan, e é tão forte
quanto o que nós sentimos um pelo outro. Se eu tiver de
morrer para trazê-lo ao mundo, que assim seja.
Ryan deu dois passos para trás, estupefato.

— Você não pode querer algo que a ferirá. — Sua voz era
quebradiça como vidro. — Precisamos tirá-lo.
Interrompi-o, em choque.

— Ele é seu filho, seu bastardo, devia pensar nele, não em


mim! Não na dor que sentirá caso eu não sobreviva. Lute por
ele, fique ao meu lado, não me obrigue a destruir este ser
precioso.
— Não posso — repetiu. Levava as mãos à cabeça, parecendo
pretender arrancar os cabelos. — Porra, porra, porra… —
Pegou as chaves do carro na mesinha e foi em direção à porta.
— Onde você vai? — perguntei, logo atrás dele.
Ryan parou com a mão na maçaneta e não se virou, matando o
que restava da minha alma quebrada.
— Encontrarei um jeito de tirar essa coisa… Antes que ela a
mate. — Bateu a porta com tanta força que o trinco tremeu.
Meus joelhos ficaram fracos e cederam. Era a pior dor de toda
a minha vida. Com sua partida, fui rasgada irrevogavelmente.
Lá fora, era dia, mas meu interior escurecera, se tornando um
buraco, um vácuo nas profundezas da terra.

Sabia o que eu precisava fazer. Não queria… Tomar tal atitude


acabaria comigo, contudo, não tive escolha. Não podia me
livrar do meu filho, isto nunca aconteceria. Ele já era o meu
mundo inteiro, assim como seu pai, que agora estava
procurando um jeito de matá-lo.
Peguei o celular e liguei para a única pessoa capaz de me
auxiliar a protegê-lo.
— Angelina? — Atendeu na segunda chamada.
— Tabitta, eu preciso de sua ajuda.
Capítulo 17

Quebrado

RYAN

Fui para o meu desfile na Califórnia, e tentei levar Angelina


comigo, mas ela não quis, disse que tinha de trabalhar. Isso era
algo que teria de contar a ela quando chegasse em casa, sobre
ela ser a dona da editora, e não o Daniel. Afinal, ele precisava
deixar a editora para se lançar de cabeça em seu sonho de ser
um piloto de corrida.

Ainda bem que o meu último dia na Califórnia passou. Eu


gostava de trabalhar, claro, mas nesse desfile não estava com a
cabeça no lugar, e sim com a mente a quase dois mil
quilômetros de distância, pensando na minha linda mulher.

O desfile foi um sucesso, ainda mais lançando os vestidos da


Angelina. Assinei contrato com várias redes de lojas, tanto
daqui dos Estados Unidos, como do Japão e da Alemanha.
Estava feliz com isso, mas ficaria mais contente quando
chegasse em casa e finalmente pudesse estar junto da minha
mulher, que ficou me aguardando. Desejava que ela tivesse
uma boa notícia.
Há três meses andava ansioso porque a menstruação da
Angelina não desceu, então contava os dias nos dedos e torcia
para ela estar esperando o nosso pequeno anjinho.
Eu tinha um desejo forte de um dia ser pai, mas nunca
aparecera a mulher certa para concretizar este plano, até que o
ser mais lindo do mundo surgiu na minha vida, me fazendo
cair de joelhos.
Quando me mudei para o meu apartamento — que agora era o
nosso apartamento —, chamei-a para ir morar comigo, mas ela
arrumou um monte de desculpas: “Meus irmãos estão numa
escola do Bronx e não podem mudar de colégio agora”, como
esta e várias outras. Eu a convenci com meus dedos dentro
dela, uma arma não muito justa de usar, mas, porra, adorava
vê-la gritando, dizendo que faria tudo que eu pedisse.
Estava louco para vê-la, ainda mais depois de passar cinco dias
fora, sem seus toques, sem seus beijos. Esses dias foram os
mais longos da minha vida, isso porque não tinha minha
namorada comigo.

Quando retornei, olhei todos os quartos à sua procura, e não a


avistei. Logo senti um aperto no peito, mas depois pensei: “Ela
deve ter ido na Sam”. Isso sempre acontecia comigo. Sabe
quando você vive algo tão bom e maravilhoso que custa a
acreditar ser real? Eu me sentia assim com ela, que era tudo de
mais precioso para mim. Então, às vezes, tinha medo dela
desaparecer como num passe de mágica.

Eu ia ligar para Angelina assim que guardasse o anel de


diamante amarelo, com a pedra na forma de uma estrela e a
palavra “anjo” dentro. Mandei o joalheiro fazer assim porque
são símbolos importantes para nós dois: o anjo a representa
para mim, e a estrela representa a mim para ela. Meu peito
inchou quando me lembrei dela dizendo que eu era a sua
estrela de mil pontas, pois tinha vários motivos para me amar.
Eu só não conseguia imaginar quais eram eles. Considerava-
me um bastardo sortudo por aquela mulher me querer, e
pretendia pedi-la em casamento hoje.

Guardei o anel para mais tarde. Tive de esperar três meses para
a nossa casa ficar pronta, para então, assim, pedir sua mão. O
dia mais esperado, o dia com que tanto sonhei, chegara.

Escondi a caixinha azul com o diamante de dezoito quilates e


já estava fechando a gaveta quando avistei papéis de exames.
Podia apostar que era a ultrassonografia do nosso pequeno
anjo. Eu sentia meu peito bater forte, como se quisesse sair
pela boca. Tinha certeza de que ali estava o que eu tanto
queria.

Assim que abri, li “POSITIVO”. O nosso bebezinho se


encontrava dentro dela, tão pequeno e indefeso, e eu já queria
protegê-lo para sempre. Antes de deixar a felicidade me
dominar por completo — a ponto de gritar feito louco —,
enxerguei duas coisas que fizeram meu corpo congelar e
minha alma sangrar. Se alguém enfiasse as mãos em meu peito
usando garras no meu coração para esmagá-lo, acho que
doeria menos. Não podia acreditar no que estava vendo.

A data do resultado dos exames era de antes de eu ir para a


Califórnia. Então ela já sabia que estava grávida e não me
dissera nada? Deixou-me aflito esse tempo todo, sonhando e
rezando para ela estar esperando nosso filho? Eu desejava
tanto ter logo meu pequenino em meus braços, e que ele fosse
parecido com Angelina. Por que escondera a informação? Por
qual razão faria isso comigo?

Um tremor se apossou do meu corpo ao ver um panfleto de


uma clínica para abortos. Não! Ela não podia fazer isso… Não
a mulher que eu conhecia e amava. Daria sua vida pelos seus
irmãos e por mim, então como não aceitaria nosso fruto, que
fizemos com todo nosso amor? Deveria haver outra explicação
para toda esta porcaria. A partir do momento em que a
conheci, ela se tornou a razão da minha existência, assim
como o nosso filho que estava dentro dela.

Fui para a sala ainda tonto com tudo que descobri, iria atrás
dela para confrontá-la e buscar explicação para essa merda.
Respirei fundo, tentando controlar minha ira.

Estaquei ao vê-la entrar pela porta e me fitar com seus olhos


negros marejados. Acho que tinha algo a me dizer, porque seu
rosto estava sério e úmido. Eu seria capaz de matar e morrer
por essa mulher. Por que fez isso comigo? Antes que Angie
falasse algo, esbravejei:

— Que porra isto significa?

Observou a minha mão, que carregava o exame, e arregalou os


olhos. Enxerguei arrependimento ali, não obstante, isto não
atenuou a minha raiva.

— Eu posso explicar… — Sua voz tremeu, mas eu estava


irado demais para me preocupar com isso agora.

— Explicar? Diga como pode explicar isto? — Sacudi o


resultado na mão. — Este exame foi feito antes de eu ir para a
Califórnia, por que não me contou?

Encolheu-se diante da minha raiva.

— Não queria trazer problemas para a sua viagem.

Angelina endoidou? Caralho! Eu precisava me controlar ou


perderia o resto da minha fodida mente.
— Problemas? — rugi. — Estava louco para ser pai, e você
sabia disso. — Expirei, tentando me controlar com várias
golfadas de ar.
Seu belo rosto já estava molhado e sofrido. Quis abraçá-la e
beijar suas lágrimas, secá-las com minhas carícias, dizer que
tudo ficaria bem e não era necessário chorar. Todavia, a
vontade de descobrir a verdade foi maior.

— Eu sei, é por isso que eu não disse nada. — Mordeu os


lábios, controlando o choro.
Estreitei meus olhos.

— “Eu sei”… — Ri com amargura. Tudo em mim parecia


estar morto ou morrendo aos poucos. Nosso futuro dependeria
do que ela responderia: — Pensou em abortá-lo?

Maneou a cabeça para trás num rompante e me encarou como


se eu fosse louco. Meu coração se encheu de esperança,
querendo que não passasse de um engano, que houvesse outra
explicação para essa porra.

— O quê? — quase gritou.


Mostrei o panfleto que achei no meio do exame, sobre a
maldita clínica de aborto. Nem li o nome do lugar, pois a
palavra “aborto” me cegou na hora. Seus olhos ficaram
maiores do que antes.

— Você estava tentando abortar o nosso bebê? — A dor que


eu sentia saiu bem visível na minha voz, afinal, já dominara o
meu corpo.

Angelina deu um passo para trás, como se eu tivesse batido


nela. Pela dor em seus olhos, acho que machucaria menos se
eu tivesse feito isso. Ambos sofriam.
— O quê? Não… — Aparentava sentir-se traída, sem motivo:
fora eu o enganado.

— Então como explica esta merda, Angelina? — Amassei o


folheto. — Você não me contou que estava grávida e, além
disso, achei este panfleto de uma maldita clínica de aborto.

Apertava suas mãos pequenas na lateral do corpo, num gesto


nervoso.
— O médico viu minha expressão… deve ter pensado que eu
não o queria… então me entregou o folheto. — Sua voz
falhou. Por que reagira assim ao nosso filho? Sempre foi tão
pura e doce, eu mal acreditava no que via e ouvia. — Eu devo
ter pegado ele junto com o exame sem saber.

Meus olhos ficaram sombrios, mas evitei a dor que estava ali
me comendo vivo, pois se sua expressão era tão ruim a ponto
do médico lhe entregar o folheto de uma maldita clínica só
para ela tirar nosso bebê… Então ela realmente não o queria?
O fruto do nosso amor?

— Sua expressão estava aterrorizada? Tudo porque não queria


ter um filho meu? — pretendia urrar, mas saiu um lamento.

Lembrei desses três meses de ansiedade e euforia, aguardando


a notícia de que estava grávida. Quando eu mencionava isso,
Angelina ficava distante, até mesmo com um olhar
entorpecido. Pensei estar vendo coisas; agora compreendia a
razão por trás do seu distanciamento. Ela não o queria, não
como eu.
E assim, num grito de dor, revelou algo que não só
desmoronou minha vida, mas também a minha alma. Creio
que morri ali.
— Não posso ter filhos. Eu nasci com um problema no
coração, quase igual ao do Shane, mas o meu é mais grave.
Tenho cardiopatia. Meu coração bate mais lento do que o das
outras pessoas, por isso tomo remédios. Não sobreviveria até o
final da gestação. — Tomou fôlego sem nunca tirar os olhos
de mim, petrificado. — Era por isso que eu estava com
medo…

A bomba foi tão grande que perdi todo o ar dos meus pulmões.
Entrei em pânico.
— Assim como estou vendo agora o terror em seus olhos… —
disse-me ela.
Sim, estava tomado de pavor. Tudo me consumiu, me matando
por dentro tal qual uma maldita erva daninha. Teria de
escolher entre as duas coisas mais importantes da minha vida:
ela ou o nosso bebê! Se Angelina ficasse com ele… eu
perderia tudo. Se ela não conseguisse… seria o fim da minha
existência.
Nunca quis entregar meu coração a alguém por causa de
cenários similares a este, em que corria o risco de um dia
perdê-la, como aconteceu com os meus pais. Era a pessoa mais
valiosa do meu mundo inteiro, a única que me enchia de
júbilo, paz, alegria, amor. Meu céu, minha estrela, meu sol,
minha lua e todo o maldito universo. Sem Angelina, não
resistiria… Não mesmo.
Queria brigar com ela por não ter me dito logo de cara a
verdade. Se tivesse me contado, não estaríamos nesta situação.
Eu não a teria engravidado e também não precisaria escolher
entre os dois — isso se ela conseguisse chegar até o ponto de
nosso anjinho nascer.
Porra! O que faria? Desejava nosso filho, no entanto, não
aceitaria perdê-la. Sacudi a cabeça várias vezes tentando sair
desse pesadelo em que me encontrava. Como pode uma pessoa
estar em êxtase em um segundo, e no outro o mundo
desmoronar sobre si, deixando-a no mais completo tormento?
Os meses em que nós dois estivemos juntos foram uns dos
melhores da minha vida…

Em retrospectiva, quando saí desgovernado do meu


apartamento, sem chão, e disse aquelas coisas a respeito dela
tirar nosso bebê, quis bater na minha cara. Fui egoísta, sim.
Era um filho da puta por tê-la deixado sozinha para lidar com
tudo. Angelina também está sofrendo: por ela, por mim e pelas
palavras feias que proferi.

Fui para a nossa casa, a que comprei para ela, para morarmos
juntos após o casamento, que era para ser dali a um mês. Será
que tudo viraria pó? A vida que sonhávamos juntos ainda
existiria? Eu seria forte o bastante para vê-la moribunda? Não,
eu não permitiria que nada acontecesse a ela.
Observei nossa casa com paredes cor de areia, de dois andares.
Angelina gostava de janelas largas de vidro, para dar claridade
ao ambiente, então pedi ao engenheiro para fazer assim.
Também havia uma varanda que ladeava toda a residência,
com uma bela vista para onde o sol se punha no fim de tarde.
Notei que ela adorava vê-lo, porque sempre que o sol estava se
pondo, ia para a janela da cozinha do apartamento.
Pensava em como seríamos felizes ali, juntos: Lira, Shane e o
nosso anjinho. O mesmo anjinho que eu disse para ela tirar…
Oh, Deus! O que eu fiz? Por que eu falei aquilo para Angie?
Imploraria por seu perdão, nem que fosse de joelhos.
Meu coração sangrava pelo risco que ela correria estando
grávida, e, paradoxalmente, se acelerava de felicidade por
saber que carregava meu filho. Faria tudo que ela quisesse
neste mundo. Ficaria ao seu lado, independente do que
acontecesse… Seria forte por ela. Como lhe disse uma vez, se
ela chorasse, secaria suas lágrimas; se sofresse, removeria sua
dor.
Voltei para o apartamento, já mais calmo, louco para abraçá-la,
beijá-la, garantir que tudo ficaria bem e que eu a amava com
toda a minha alma, que não sairia do seu lado. Ao chegar, por
volta das cinco da tarde, a casa estava em completo silêncio.
Um gelo desceu pelo meu corpo. Não, ela não iria embora
assim, não me deixaria, a despeito de eu merecer isto, depois
de tudo que disse… Não podia viver sem ela.
Corri, procurando em cada canto da casa, por último em nosso
quarto.

— Anjo! — chamei. Como respostava, objetive o silêncio


pétreo. Abri o armário e suas roupas não estavam mais lá.

“Não, não, não, não…”, pensei, desesperado, com minha visão


turvando. Não sei bem o que houve depois do meu mundo cair
sobre mim. Apenas ouvia a voz alterada do Lucky, e outras
que não identifiquei. Tudo em mim estava dormente e sem
vida, ela me matou ao partir.
— Meu Deus! Ryan, o que houve? — rugia meu irmão.
Não respondi; sinceramente, não ligava para o caos no meu
apartamento. Parecia que um furacão passara por ali e
destruíra tudo. Os sofás jogados pelos cantos, as mesas
reviradas, a televisão quebrada com milhões de cacos de vidro
espalhados por todo o chão…
Estava de joelhos perto de um espelho quebrado, bem onde
fizemos amor antes de eu ir para a Califórnia. Onde a fiz
enxergar sua beleza na tentativa de acabar com a insegurança
que a acometia cada vez que eu viajava. Fizemos amor, e
mostrei à Angelina a mulher magnífica e linda que era.
Somente ela existia na minha vida, ninguém mais.

Sabia que ela estava insegura por eu ir para a Califórnia. Ela


sempre ficava assim quando eu viajava para os desfiles de
minha empresa. Nós estávamos sozinhos em casa. Shane e
Lira foram para a Sam, brincar com Shaw. Aproveitei para
desfrutar da minha mulher.
— Venha aqui. — Puxei-a para a frente do espelho da sala.
Arregalou os olhos.

— O que vai fazer?


— Mostrar a beleza de mulher que você é. Mostrar que
somente você faz isso comigo. — Fiquei atrás dela e imprensei
meu pau na sua bunda. Angie engoliu em seco e fechou as
pálpebras. — Abra os olhos e veja a obra divina diante deste
espelho.

Seu corpo nu refletido ali me matava de prazer. As íris


vidradas estavam presas às minhas.
— Observe a minha mão acariciando seu clitóris, este broto
rosado e suculento que é meu alimento. Agora abra mais as
pernas para eu colocar meus dedos dentro desta boceta
deliciosa.

Fez o que eu mandei, ofegante. Com a minha mão direita,


enfiei dois dedos dentro dela, e com a esquerda, amassei seus
mamilos saborosos. Sua pele tremia, ela não demoraria a gozar
de novo. Nós já tínhamos ficado no quarto, ou melhor,
jogamos lá. Fiquei feliz por gostar das brincadeiras comigo.
Tudo que pedia, Angie fazia. Adorava isto.

— Por que você fica insegura sempre que vou para a agência
ou viajar a trabalho? — Mexi meus dedos dentro dela; com o
polegar, acariciei seu clitóris.

Ela piscou com os olhos bêbados e me encarou. Depois,


desviou o rosto. Eu interrompi o movimento. Angelina
choramingou.

— Preste atenção em mim, ou não vai receber meus dedos e


meu pau — rosnei. — Quero a resposta.
Respirou fundo.

— Porque elas são lindas, e você já ficou com todas… — Sua


voz falhou.
Suspirei.

— Para deixar bem claro: não fiquei com todas as minhas


modelos. Aquelas com quem mantive relações e que estão
comigo ainda, são hoje casadas ou têm namorados. As outras
não trabalham mais para mim. — Tirei a mão do seu peito e
toquei seu rosto lindo.
Ficou surpresa.
— Não há nenhuma modelo com quem já tenha ficado que
ainda trabalhe para você e esteja solteira?
Estreitei meus olhos.
— Por que duvida de mim? Não acredita quando digo que só
você importa? — sibilei, um tanto irritado.
Mordeu os lábios.
— É que elas são tão perfeitas… Às vezes, acho que não sou
mulher suficiente para você…
Ela era louca? De onde saiu isso? Quando enxergaria que era
maravilhosa?

— Olhe para essa mulher no espelho e diga o que você vê nela


— ordenei. Engoliu em seco, todavia, obedeceu. — Descreva-
a.

Ela suspirou.
— Pele branca, bronzeada. Olhos negros como a noite, que
brilham como a lua sempre que ela olha para você. — Fitou-
me e continuou: — Cabelos pretos anelados, caindo em
cascata nas costas. Boca voluptuosa em forma de coração.
Corpo…

Hesitou, notei que ela não gostava de algo nele, e eu queria


saber o que era, porque via Angelina como uma maldita obra
de arte.
— Continue.

— Corpo curvilíneo, barriga lisa com uma borboleta azul


tatuada na virilha… Seios… Eles são pequenos.
— Você não gosta do tamanho?
— Eu… — titubeou.
— Responda, você realmente não gosta deles?
Ela pigarreou.
— Todas as mulheres com quem você ficava tinham os peitos
grandes… Diferente de mim…
Eu a interrompi.
— E estou com elas agora? Fiquei mais de uma vez com
alguma delas?
Engoliu em seco.
— Não…

— Com quem eu estou agora, Anjo? Por qual mulher meu pau
fica duro? Qual devoro todas as noites? Qual nome grito
quando gozo em sua boca ou dentro dela? Para qual fiz uma
tatuagem em meu peito? Hein, Anjo? Para quem digo, todas as
manhãs, que é a minha luz, o meu milagre, a razão de eu
existir neste mundo? — Mirava-me com seus olhos como os
de uma coruja. Prossegui, ignorando a dúvida em sua face. —
Quem é essa mulher que tem a porra de um corpo esculpido
que me faz gozar sempre? Quem?
— Eu…
— Sim, você, porra! — grunhi com os dentes cerrados. —
Então não tenha ideias que não existem, porque a única que eu
quero é esta aqui, refletida no espelho. A linda morena gostosa
em quem sou viciado, na sua boca, nos seus seios que adoro
saborear, na sua boceta, em toda você. — Voltei a mexer meus
dedos dentro dela. — Olhe para a única mulher que meu pau e
eu queremos, e me diga: ela não é linda?
Observava a si mesma, contudo, estava tão bêbada de desejo
que provavelmente mal conseguia se ver direito.

— Eu quero ouvir sua voz.


— Sim, ela é linda, e você a ama. — Seus olhos encontraram
os meus. Neles, havia tanto amor, tanta admiração; eu era seu
maldito mundo.
— Sim, com toda a porra da minha alma. Ponha as duas mãos
no vidro do espelho e veja a mulher que eu amo. — Retirei
meus dedos dela, o que a fez choramingar. Peguei seu quadril
por trás e segurei-o, vendo sua bunda gostosa. — Firme-se no
espelho e empine essa sua bundinha linda para trás.
Ela ofegou e fez o que eu pedi. Sabia no que pensava, que eu
usaria sua bundinha hoje. Porém, Angelina não estava pronta.
Talvez um dia a teria de todos os ângulos.

— Mente suja. — Dei um tapa em sua bunda. — Um dia a


possuirei, mas não hoje.
— Oh… — gemeu assim que entrei dentro dela, saboreando a
sensação de sua vagina apertada.
— Quem eu estou comendo agora? — rosnei.
— Eu… — gritou.

— Sim, você, Anjo. A única que vou foder, saborear, comer e


com quem farei amor até os últimos dias da minha vida —
ofegava falando com ela enquanto estocava. Mordisquei sua
orelha ao gozar dentro dela, gritando seu nome com adoração.
Sentia dor em minha mão, talvez houvesse cacos de vidro
nela. Não me importei, porque dor maior eu vivenciava por
todo o meu corpo. Pulsava cada vez que eu respirava, por ela
ter ido embora, me deixando quebrado e destruído, aliás,
morto.

Durante três meses, vivi em um completo tormento sem a


Anjo. A primeira semana após ela sumir foi insuportável. Eu
apenas ficava em nossa casa — falo “nossa” porque sempre
pertencerá a ela, não interessa onde estiver. Ali viveríamos e
seríamos felizes… Não mais…
Olhava a cama California king, a qual não chegou a usar.
Quantas vezes sonhei com isso, em possuí-la ali de todas as
formas possíveis. Agora, restava o vazio, a perda e o
sofrimento. A dor me apossou tanto que eu só bebia dia e
noite, até cair em um torpor, sem me preocupar com nada,
muito menos comigo, que poderia correr o risco de morrer
alcoolizado. A morte seria bem-vinda naquele momento de
tormento.

Tudo estava escuro, apesar da luz que brilhava durante o dia e


das estrelas que iluminavam a noite. Estava cego, não via nada
disso. Antes, só enxergava beleza, pois era feliz com a
companheira mais bela do mundo, quiçá dos mundos; falo no
plural porque, se existem outros universos por aí, ninguém em
nenhum deles se compararia a ela. Encontrava-me em um
abismo profundo, e a bebida anestesiava minha angústia.
Mais uma semana se passara, meus amigos e meu irmão foram
até a nossa casa, gritando para eu abrir a porta. Não ligava
para nada, ficava sem responder, entorpecido por todos os
lados. Bebia vendo as fotos de nós dois juntos no Belas
Country. Ali, mostrávamos toda nossa alegria e amor,
aproveitando a noite como um casal.
“Anjo, por favor, me diga onde está, preciso tanto de você”.
Esta foi uma das mil mensagens que enviei a ela.
Entendia seus motivos, ela não me queria porque eu era um
bastardo insensível, por isso não respondia às mensagens.
Lucky surgiu para me tirar do meu torpor. Ele já aparecera
antes, mas não respondi. Pelo visto, encontrara uma forma de
entrar.
— Não vou deixar você fazer isso com sua vida — rosnou, me
puxando pela camisa e me levando ao banheiro. Empurrou-me
para debaixo do chuveiro, ligando a água gelada. Eu me
encolhi, sem discutir. Meu corpo tremeu com a baixa
temperatura. — Você vai lutar, porra! Não ouse desistir —
sibilou. — Vamos encontrá-la, então aguente firme, caralho.
Depois que Angie se foi, tentei achá-la em todos os lugares.
Bryan também, usando seus meios de hacker, contudo, sem
nenhum resultado ou sinal de onde estaria. Foram meses de
busca.
Todos os dias eu mandava mensagem para ela, sem retorno.
“Sinto tanto sua falta, Anjo, me perdoe”.
Enquanto eu esperava por respostas de Bryan e até de
Daemon, o motoqueiro do MC da Fênix, contei ao Dominic o
que havia acontecido comigo. Ele se prontificou a me ajudar,
enviando Daemon, o melhor rastreador à sua disposição.
Angelina corria risco de vida, e eu estava longe dela, sem
poder fazer nada, sem poder tirar sua dor.
Três semanas após ela ter me deixado, fui a Nashville, na
fazenda de sua Tia Alice. A mulher era já uma senhora de
cinquenta anos, mais ou menos; não que fosse perguntar a ela,
claro. Indaguei apenas se a Angelina esteve lá.
— Aqui ela não apareceu — disse. — Já faz uns três anos que
não os vejo, nenhum deles: Shane, Lira e a doce Angie. Uma
garota de ouro.
Depois que eu contei a ela sobre o que estava havendo com a
Angel e o porquê de ela ter ido embora, a senhora Alice ficou
furiosa. No entanto, também vi preocupação pela vida da
sobrinha. Prontificou-se em nos auxiliar na procura. Eu
agradeci.

Pesquisei sobre sua doença. Cardiopatas não podem ter filhos


pois sua respiração, já fraca, piora com a gravidez. Pelo que
descobri através do médico que operou Shane, ela carecia de
certos cuidados, tais como um obstetra, nutricionista,
psicólogo e outros, porque para entender a fala de médico, só
com um dicionário junto. Igualmente, precisava de um
cardiologista acompanhando-a com frequência. Porra! Ficaria
louco assim, sem saber como ela estava.
A noite sempre era a ruína da minha existência, porque com
ela vinha tudo: a saudade, a impotência, o sofrimento. Tudo se
tornava mais escuro. Não conseguia respirar direito, meus
pulmões pareciam se fechar, impedindo o ar de sair.
Experienciava uma dor profunda em meu coração, com garras
afiadas esmagando-o.

Sentado na varanda dos fundos, olhando o nada, sentia o vento


gelado beijar minha pele. A dor já tinha me consumido tanto
que agora estava dormente.
Quando chegou março, a filha da Sam nasceu. Lucky me
chamou para eu ir vê-la na maternidade; não consegui… Por
mais que amasse meu irmão, não fui capaz. Acabaria
desfalecendo lá mesmo, me lembrando do meu próprio filho, o
qual cogitei matar. Quando pensava nisso, me dava vontade de
me atirar na frente de um carro. Só não o fiz pela carta que ela
me deixou. Ao lembrar de suas palavras, reavivava a
esperança de encontrá-la para dizer o quanto a amava e pedir o
seu perdão.
Ela já estava grávida de seis meses. O nosso pequeno anjinho
devia estar grande em sua barriga. Queria tanto tê-los comigo
naquele momento. Relia a carta escrita com sua caligrafia:

Ryan,
Sei que está sofrendo muito por receber esta notícia assim, e
sofrerá ainda mais quando eu for embora, mas eu não posso
ficar aqui, não quando você quer matar o pequeno tesouro
que Deus nos deu.
Lutarei com unhas e dentes pela minha vida, por você, pelos
meus irmãos, por nosso bebê. Eu prometo, querido.
Você disse que se algo acontecesse comigo, não iria aceitá-lo.
Não faça isso, Ryan. Ele é parte de você e de mim, nós dois o
fizemos com o nosso amor. Então, se algo der errado, não o
tire da sua vida, pois ele precisará de você para protegê-lo e
amá-lo. Então, por mim, não abandone nosso pequeno
milagre.
Imploro que tenha forças e lute por ele, não se entregue à
derrota. Não se entregue à bebedeira e às mulheres aleatórias.
Talvez eu não tenha o direito de exigir isso, ainda mais
quando pretendo sumir, porém, faça pelos bons momentos que
tivemos juntos. Saiba que não guardo rancor por querer tirar
nosso pequeno anjinho. No fundo, compreendo que disse
aquilo da boca para fora, porque estava sofrendo. Se eu
sobreviver ao parto, retornarei para você, mesmo que não me
queira mais, insistirei em conquistar seu perdão, para que me
aceite de volta.
Ryan, não me agrada deixá-lo. Isto está me matando aos
poucos, a cada segundo. Gostaria de tê-lo ao meu lado, agora
e sempre. O amor que sinto por você vai além de tudo, acho
que até da morte.

Fique com Deus, meu amor, minha vida.


Seu Anjo.
Meu telefone tocou quando estava indo para o haras encontrar
o Neve. Nesses três meses na solidão e escuridão, consegui
domar o cavalo dela. Só precisava encontrá-la para nos
casarmos.
Arregalei os olhos vendo quem era.

— Por favor, me diga que descobriu onde ela está — falei


assim que atendi.
— Sim, eu a encontrei — respondeu Daemon.
Capítulo 18

Esperança

ANGELINA

Há três meses, minha vida se tornara um completo martírio…


Três meses sem respirar direito, e quando fazia, parecia doer
tudo dentro de mim. Três meses sem dormir, sem comer. Três
meses sem viver, pois meu mundo desabou. Três meses que
perdi o homem que amava, o pai da minha filha.
Coloquei as mãos na barriga já grande, sentindo-a chutar.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto e caíam no meu peito.
— Meu amor, queria tanto que seu pai estivesse vendo isto,
sentindo você mexer aqui dentro. — Alisei minha barriga. —
Ele sonhava com você, sabia? A chamava de “pequeno
anjo”… — gemi em meio ao choro.
Isso era o que resumia meus dias: chorar deitada na cama e
pensar nele. Estava morrendo aos poucos por não saber dele.
Quando procurei a ajuda de Tabitta e fui ficar em sua casa na
praia, pedi para ela não contar nada sobre Ryan que viesse a
aparecer na TV ou nas redes sociais. E que não mencionasse
nem o seu nome. Caso eu descobrisse como ele resolvera lidar
com a dor… Se escolheu o mesmo caminho de Ângela após
Caim a abandonar… Oh, céus, que não tenha feito nada disso
e esteja bem. Quase ri com a ideia, pois tinha certeza de que
ele não estava. Sofreria porque eu parti sem dizer nada.

Naquele dia, depois que ele saiu à procura de um jeito de tirar


a nossa filha, peguei Shane e Lira e fomos para a casa de
Tabitta, deixando a minha alma para trás.

Não sentia dores da gravidez, apenas minha respiração estava


cada vez mais lenta e pesada. O médico Julian, que sabia do
meu caso, disse que teríamos de fazer uma cesariana ao
completar oito meses de gestação, ou seja, dali a dois meses.
Ainda assim, as chances de eu sobreviver seriam pequenas.
Felizmente, o amor e o prazer de carregar a minha filha
superava tudo. Sim, uma filha, quando fiz a ultrassonografia
descobri que era uma menina. Fiquei feliz demais. Seria uma
garotinha linda, porque puxaria ao pai, ou seja, teria de tomar
cuidado com os garotos.

Soube que a Sam teve uma menina também. Queria estar lá


para conhecê-la, mas não conseguiria ir e vê-lo; precisar partir
de novo seria como a morte.

Escrevi várias cartas para serem entregues caso eu não


resistisse ao nascimento de minha filha. Muitas delas para Lira
e Shane, a serem entregues em cada um de seus aniversários,
no dia em que começassem a namorar, em seu casamento,
quando tivessem filhos… Também fiz vinte e cinco cartas para
a minha filha, Victoria. Em todas, dizia o quanto a amava e
adoraria estar com ela, mas que não podia, pois me ocupava a
acompanhando do céu.

As cartas faziam parte do meu plano B, pois eu lutaria pela


vida até o último minuto. Contudo, talvez fosse mais fácil se
Ryan estivesse ao meu lado. Se eu sobrevivesse, o procuraria e
pediria perdão por abandoná-lo.
Samira levou Lira e Shane para sua casa em Trenton, a alguns
quilômetros dali. Ela era uma garota doce e meiga, a melhor
amiga de Tabitta. Iria com as crianças — Lira, Shane e Emily,
filha de Tabitta — num parque perto de sua casa. Minha amiga
ficou comigo, não querendo se distanciar caso viesse a
acontecer alguma coisa.

Já era quase hora do almoço. Como sempre, não sentia fome,


embora soubesse que precisava me alimentar; comia mesmo
sem ter vontade.

Guardei as cartas em uma caixa de sapato para serem


entregues no momento certo. Acariciei minha barriga,
tentando acalmar seus chutes, porque eles me deixavam
ofegante, apesar de amar senti-la. Isso significa que seria
sadia. Entoei uma cantiga de ninar que fiz para ela e para mim:
“Durma, durma, meu pequeno anjo, que papai logo virá para
nós, e com seu amor nos tirará da solidão”.
Estava cantando quando a porta se abriu num rompante.
Minha respiração falhou ao ver quem estava ali.
Ryan me fitava com seus olhos atormentados. Balançou a
cabeça, parecendo acordar de um pesadelo. Piscou três vezes
para checar se era eu mesma ali. Fiquei paralisada, em pé,
perto da mesinha, com uma mão na minha barriga.
Estava mais magro, dava para ver através de sua camiseta que
perdeu bastante peso. Então ele também deixara de se
alimentar direito? Ao redor dos olhos, a cor roxa denunciava
noites mal dormidas. Pelo jeito, também não se barbeava há
muito tempo.
— Ryan… — Minha voz falhou. Ali estava um rosto que
sonhei em rever, ao longo de três meses de solidão e vazio sem
ele. E agora aparecia lá, na minha frente. Meus olhos
umedeceram devido às lágrimas que desciam pelo meu rosto.
— Oh, Ryan…

Ele correu até mim, caindo de joelhos na minha frente e


abraçando a minha cintura, colocando a testa na minha barriga
inchada. Esta menina seria grande; puxou ao seu pai, que tinha
um metro e oitenta.

— Ah, Anjo, eu sinto muito. — Beijou minha barriga. Eu


usava um shortinho curto e um top. Seu pequeno gesto me fez
prender a respiração. — Nunca quis dizer tudo aquilo de você,
pequeno anjo.
Minhas mãos foram para seus cabelos, que também estavam
grandes, batendo nos ombros. Há muito não viam um corte.
Tão diferente do que costumava ser…
— Perdoe-me, meu filho. — A dor era evidente em sua voz e
olhos, aliás, por todo ele.

Não queria interromper seu momento, mas eu precisava.

— Filha… — Soava rouca.


Ele afastou sua cabeça e me observou com os olhos de menino
perdido, que depois se iluminaram um pouco.

— Droga! Terei de comprar uma arma se puxar a você. — Deu


mais um beijo na minha barriga. Erguendo-se, tocou meu rosto
e limpou minhas lágrimas. Notei uma cicatriz em sua mão
direita. Parecia ter levado pontos, e não foram poucos.

Meu coração gelou.


— O que é isso? — perguntei, passando o dedo nela

Ele respirou fundo e fechou os olhos.

— Aquele dia, depois que saí do meu apartamento sem rumo,


fui para a casa que mandei fazer para morarmos juntos depois
de casados.

Arregalei os olhos, interrompendo-o.

— Você comprou uma casa?

Puxou-me para a cama e se sentou ao meu lado. Eu ainda


segurava sua mão. Ele assentiu.

— Comprei o terreno logo que começamos a namorar, e fiz a


casa. — Encolheu-se. — Foi para lá que eu fui ao deixar o
meu apartamento. Quis olhar o lugar onde viveríamos para
sempre juntos… Fiquei nela por horas. Ao retornar, você não
estava… — Deitou no meu colo, como uma criança perdida
que necessitava da mãe. — Shane, Lira e você… Tinham ido
embora, e ninguém sabia para onde. — Expirava com
dificuldade. — Foi quando achei a carta que deixou, e a li.

Pensei na carta e tentei me acalmar para controlar a dor, a


minha e a dele. O homem em meus braços era uma casca vazia
do que deixei há três meses.

— Ryan… — comecei, mas ele não me ouviu e continuou,


preso naquele pesadelo.

— Você tinha ido, suas coisas sumiram… Enlouqueci e


quebrei todo meu apartamento, nosso quarto, nossa cama…
Tudo dentro de mim se partiu, foi como cair da porra de um
prédio e foder todos os meus ossos. Respirava, embora muito
mal, porque até isso doía. — Ele tomou fôlego. — Voltei
arrependido por ter dito aquelas coisas para você, sobre a
nossa menina. — Virou o corpo, ainda deitado no meu colo, e
colocou a boca na minha barriga. — Não sei por que falei
aquilo… Juro, Anjo, não queria… — Seus olhos, que um dia
foram brilhantes e lindos, agora estavam quebrados. Oh, Deus,
e fui a responsável.

— Não se atormente mais — supliquei. — Eu sinto muito.

— Eu é que sinto por magoá-la, por dizer aquelas coisas a


você e à nossa garota. — Alisou minha barriga, bem na hora
ela chutou forte.

— Oh! — Ofegou, atônito, e se sentou na cama. — Ela se


mexeu! — Um sorriso lindo surgiu em sua boca, puro e
verdadeiro.

Fiquei feliz que nossa filha resolveu chutar para acabar com as
chamas de tormento de sua mente. Esperava alegrá-lo em
breve. Deitei na cama com a barriga para cima, para deixá-la
por conta dele, que se posicionou ao meu lado, sem tirar a mão
de nosso bebê.

— Ela nunca para quieta, às vezes não me deixa dormir à noite


— sussurrei, colocando minha boca em sua testa. — Ryan…

Acredito que ele compreendeu o desejo que sentia, a ponto de


quase implorar, afinal, foram meses separados, e não sei o que
ele fez sem mim, mas… não, eu não queria descobrir. Tinha
medo da resposta e não poderia culpá-lo, pois fui eu quem o
largou.

— Não houve ninguém — garantiu, lendo o meu rosto. Fazia


isso muito bem, eu não conseguia esconder nada dele. —
Sempre será só você, meu Anjo. — Beijou minhas têmporas e
testa, nunca a boca.
— Amor… — reclamei, pegando seus cabelos e puxando-o
para mim, devorando seus lábios, dos quais estava morta de
saudades. Louca, queria compensar cada maldito dia perdido.
Gemi ao sentir seus dedos hábeis em meu corpo. Todo o
desejo adormecido nesses meses reacendeu tão forte que achei
que gozaria só com seus beijos, um bálsamo para mim.
Uma de suas mãos foi para o meio das minhas pernas. Gelei,
não porque não queria isso, queria mais do que o ar que eu
respirava, mas já fazia meses que não me depilava, e a coisa lá
estava feia.

Ele sentiu meu constrangimento e tirou sua mão de mim.


Fitou-me, preocupado.
— Você sente alguma dor? Desculpe…

Eu o interrompi.
— É que já faz tempo que não me depilo, e a coisa lá embaixo
não está bonita… — Corei. — Nem consigo ver meus pés.

Gargalhou, exibindo dentes brancos como o sol. Levantou-se e


pegou minha mão, me levantando junto.

— O que foi? Aonde vamos?


Não respondeu, apenas me guiou até o banheiro. Meu quarto
não era grande, tinha uma cama de casal, dois criados-mudos e
uma penteadeira onde ficavam minhas coisas.
Ao entramos, observou o pequeno toalete e fez uma careta
linda. Não era nada igual ao seu, que dava quase cinco
daquele.

Virou-se para mim e tirou o top preto que eu usava em casa e o


meu short curto; estava muito quente. Não reclamei, permiti
que fizesse o serviço, seja lá sua intenção.
— Sorte sua não ter um homem aqui, esta porra de short é
mais parecido com uma calcinha — resmungava, já tirando
meu fio dental. — Oh, merda, como espera que eu tenha
controle vendo isso?
Sorri, o meu primeiro sorriso verdadeiro em eras.

— Quem disse que eu quero que você se controle? Querido,


estou na seca há meses, desejando e sonhando com um único
homem, que agora está neste banheiro me despindo.

Ele sorriu com a mesma felicidade que estava estampada em


meu rosto.
— Por mais que goste desta calcinha, ela precisa sair. —
Largou-a no chão. Levantou, foi até o lavabo e voltou com a
vasilha e o estojo que eu usava para me depilar.
Entendi o que ele pretendia.

— Você não vai fazer isso — falei, cobrindo minha frente, mas
nem era preciso: pelo tamanho da barriga, não dava para ver
nada. Sorte a minha que não tive estrias.

Sorriu com candura.


— Você disse que não enxerga mais. Então, sim, depilarei
minha futura esposa. — Abaixou-se diante de mim. — Agora
fique quietinha para eu não a cortar, está bem?
Tentei retrucar, contudo, ele estava tão animado que deixei,
ignorando meu rosto vermelho.

— Você já fez isso antes? — sondei, sem querer saber de fato.


Sentia a lâmina raspando minha pele, e suas mãos tão leves
quanto uma pluma. Respondeu sem tirar os olhos do seu
serviço:
— Não, nunca. Mais uma coisa para a lista de primeiras vezes.

— Hummm — murmurei, lembrando que ele já tinha dito isso


antes. — Cite o que mais está na lista.
Ele riu, a risada que eu amava.

— Bom, vamos ver: a primeira para quem mandei mensagens,


a primeira com que fiz sexo no meu carro e no meu
apartamento. A primeira que mexeu comigo de imediato. A
primeira em que pensei ao deitar para dormir, ao me levantar
de manhã e no restante do dia.
Ryan suspirou. Não pude esconder minha surpresa. Ele
finalizou o trabalho e limpou o lugar que raspou com o
chuveirinho. Assim que a água tocou no meu clitóris, dei um
gritinho e o desejo reacendeu, divertindo-o.

— Sensível. — Levantou-se e focalizou meus olhos. — A


primeira mulher para quem faço poemas. A primeira com
quem vou a encontros. A primeira para quem compro uma
empresa só para ela trabalhar. A primeira que pretendo
presentear com um livro raro de Shakespeare. A primeira com
quem faço amor. A primeira que roubou minha alma, meu
coração e tudo que há em mim. A primeira e única que me
dará nossa princesinha. — Beijou meu nariz e sorriu. —
Espero acrescentar muito mais à lista.
Meus olhos estavam arregalados de choque ao ouvir aquilo.

— Você comprou a editora do Daniel só para eu entrar lá? —


Meu tom era ultrajado. — E o livro de Shakespeare?
Deu de ombros, como se isso não fosse nada.
— Para você eu daria a lua e as estrelas que brilham à noite.
Daria o sol que ilumina o dia, daria a minha vida. —
Aproximou o rosto do meu, polegadas de distância. — Nada
importa se eu não puder tê-la. Nesses três meses, confirmei
tudo isso. Dormia e acordava nas trevas. Na sua ausência,
passei a vivenciar um purgatório. Ou pior, era como estar no
inferno… — Limpou as lágrimas que caíam por minha face.
— Quando cortei meu braço, e Lucky me achou ferido e
perdendo sangue, queria morrer, queria que ele não tivesse
chegado e me socorrido…
Chorei mais, então ele me abraçou.
— Não chore, li a carta onde falava o quanto amava eu e a
nossa filha. E que se você sobrevivesse, voltaria para mim e
imploraria por meu perdão. Anjo, não é você que tem de pedir
perdão, e sim eu que preciso rastejar aos seus pés e suplicar
por sua misericórdia.
Sacudi a cabeça em seu peito.
— Não precisa, não. Fui eu a errada desde o começo, não
contei a verdade sobre a minha doença no coração. Se você
soubesse, teria se prevenido e nada disso aconteceria. Agora
que ela está aqui, não me arrependo; exceto por partir e não
enfrentá-lo, mas eu estava com medo…
Beijou minha cabeça.
— Eu sei, nós dois erramos. Vamos resolver esse problema, já
passou…
Afastei-me dele e mirei seus olhos.
— Problema?
— Sim, vim buscar minha mulher e meus queridos cunhados,
que considero meus filhos. Vou levá-los para casa, mas
antes… — Distanciou-se e se ajoelhou na minha frente,
tirando do bolso da calça jeans um diamante com uma pedra
na forma de uma estrela, com o nome “Anjo” escrito dentro.
Parecia ter uns dezoito quilates.
Arregalei os olhos sabendo o que ele faria a seguir.
— Ryan, eu estou nua aqui, você acabou de… E grávida,
inchada, com os pés igual a um pão que cresceu para fora da
forma. Meus peitos estão grandes, parecem dois melões… E
você vai me pedir em casamento? — Meu coração batia a mil.
Poderia dar problema naquele momento e não teria nada a ver
com a minha doença.
Ele sorriu com amor, desejo e devoção ao fitar meu corpo, não
se importando com o inchaço. Esse homem me completava.
— Você é a mulher mais linda do mundo…
Cortei-o.

— Dizem que o amor é cego, agora acredito nisto.


Ryan sacudiu a cabeça.

— Eu não sou. Anjo, você é minha vida, minha alma, sem


você eu não vivo, apenas vegeto como um zumbi. Mas um
zumbi lindo e gostoso. — Piscou para mim com um meio
sorriso e estendeu a mão. — Aceita ser a minha esposa?
Prometo amá-la enquanto viver, e também depois.
Fiquei incrédula. Teria pulado nele se não fosse a barriga.
— Sim, mil vezes sim! — exclamei ao ver o diamante pesado
no meu dedo. — E você não precisa domar o Neve. Eu sei que
me ama.

Ele se levantou e me beijou com amor, ternura e devoção.


Seus beijos eram como raios, um pouco dele e já estava toda
consumida pela corrente elétrica. A barba pinicava um pouco.
Estava na hora dele fazê-la sumir.
— O quê? Agora que consegui domá-lo, após dois meses de
treino? — sussurrou, se afastando de mim com um brilho nos
olhos.
Eu arfei.
— Você conseguiu domar o Neve? Ele deixou você subir nele?

Ryan riu, pegando a lâmina de barbear do chão, junto com a


vasilha, para guardá-las. Não deixei, tomando-as de suas
mãos. Ele ergueu suas sobrancelhas.

— Caí um bocado de vezes, mas conversei com ele e expliquei


que seria o único homem que sempre a amaria como você
merece. Ninguém iria tocá-la, a não ser que quisesse morrer.
— Deu de ombros. — Então consegui montá-lo.
— Você foi até Nashville?
— Quando desapareceu, fui até a casa da sua tia, pensando que
estaria lá. Pedi a ela para levá-lo ao meu haras. Contei sobre
sua promessa ao Neve. — Olhou-me de lado. — Aliás, está
furiosa com você por esconder muitas coisas dela.
Eu suspirei. Sabia disso, só não queria preocupá-la.
— Depois conversarei com ela. — Puxei uma cadeira, peguei
seu braço e o fiz sentar. Levantei minhas mãos com o estojo e
a vasilha. — Devo trocar o estojo para raspar sua barba?
— Vai me barbear? — Sorriu. — E por que eu não usaria esse
aí?

— Porque você raspou lá… em mim? — incitei.


Ryan jogou a cabeça para trás e gargalhou por um segundo.
— Anjo, minha boca já esteve em cada canto de sua vagina,
não tem problema usar o estojo na minha barba.
Corei com seu olhar quente no meu corpo. Peguei o sabonete,
já que não tinha creme de barbear, e raspei toda sua cara linda,
deixando-a lisa como veio ao mundo. Observei seu corpo.
— Há outro lugar que precisa ser raspado? — Fitei suas
calças, mordendo os lábios.
Ele riu.
— Não, eu já raspei meu saco, aquele troço coça quando tem
cabelos.
Ri também. Seus olhos foram para a minha boca.
— Senti tantas saudades de sua risada.

Eu ainda sorria quando guardei o estojo e peguei a tesoura,


olhando seu cabelo.
— Você confia em mim para cortá-los?

— Confio em você de olhos fechados, para tudo — disse com


convicção.
— Se fosse você, não iria tão longe. Vai que eu encurte
demais? — provoquei, balançando a tesoura.
— Você continuaria me querendo careca? — Levantou as
sobrancelhas.
— Querido, iria querê-lo de todos os jeitos. Mas já amava seu
cabelo antigo — falei, moldando os fios com a tesoura, na
altura da orelha. Afastei-me e sorri. — Lindo!
— Você que é! — Ergueu-se, pegou os cabelos do chão e
jogou no cestinho de lixo. — Vou tomar um banho, quer me
acompanhar?
Aquiesci com meu corpo pegando fogo, ansiando pelo seu
toque. Ele ligou a água quente, me virou de costas e agarrou
meus cabelos.
— Vai lavá-los?
Eu sacudi a cabeça.

— Lavei mais cedo, preciso prendê-los. — Eu já ia fazer isso,


mas ele tirou a minha mão do caminho e os amarrou num
coque.
Pegou o sabão e a bucha e se agachou atrás de mim, lavando
minhas costas. Senti-o passar o dedo na estrela de sete pontas,
onde futuramente tatuaria os dois nomes que faltavam: Ryan e
Victoria, as minhas outras razões de viver. Contei a ele o nome
que pretendia dar a ela.
— Victoria? — perguntou.
Acariciei a barriga.
— Sim, porque será uma vitória tê-la e ver seu rosto lindo.
Aposto que puxará a você.
— Nada disso, eu a quero igual a você, morena com olhos
negros — discordou.
— Independentemente de com quem se pareça, vamos amá-la
— falei. Ele suspirou.
Olhei para trás, para Ryan agachado lavando minhas costas e
bunda. Fiquei nua na frente daquele homem de vários jeitos,
todavia, sempre corava quando me expunha tanto.
— Sim. — Beijou uma ponta da estrela. — Eu sabia que era
onde colocaria o nome de nossa filha. — Como não amar um
homem desses?
Tomamos banho juntos e ele ainda não havia me tocado. Eu
estava a ponto de gritar por isso. Ryan me secou, e em cada
lugar que sua mão passava, minha pele incendiava.
— Ryan… — clamei por mais.

Ele beijou meu nariz.


— Cuidarei de você, mas não aqui. — Puxou-me para fora do
banheiro e me deitou na cama, posicionando-se ao meu lado.
Beijou minha boca por um momento e logo seguiu para o meu
pescoço, lambendo, mordiscando e chupando.
Eu ofegava alto, segurando seus braços bem forte, a ponto de
deixar marca.
— Ryan! — Cerrei as pálpebras, sentindo seus dedos e suas
mãos sobre o meu corpo.

Ele me virou de costas e escorou-as em seu peito, com a boca


no meu pescoço. Uma mão agarrava e beliscava meus enormes
peitos duros; a outra foi para o meio das minhas pernas.
— Molhada para mim — sussurrou no meu ouvido. Enfiou
dois dedos e circulou meu clitóris. Logo vi as estrelas de que
tanto sentia saudades. Gritei seu nome, não me importando de
escutarem. — Tão sensível, porra — rosnou, circulando mais
rápido. Tudo explodiu, me levando ao céu em segundos.
Manteve seus dedos dentro de mim, até meu corpo parar de
vibrar com o orgasmo que acabara de ter. Fiquei mole.
— Foi rápido esse.
— Hummm — murmurei sem forças, ofegante. Parecia ter
corrido uma maratona, mas era porque havia ficado muito
tempo conversando e em pé.
— Está passando mal? — questionou, preocupado.

Sacudi a cabeça — ou, pelo menos, tentei; estava pesada.


— Ficarei bem, é só o cansaço — consegui dizer.
— Onde guarda seus remédios? — perguntou, alterado.
Eu me virei, coloquei minha cabeça em seus ombros e o
abracei.
— Não posso tomar remédios, traria sequelas à nossa filha,
então decidi parar até ela nascer. — Fechei os olhos. — Mas
isso me deixa tão fraca…

— O que agravou sua condição? Por favor, não me diga que


foi o que acabei de fazer com você!
— Não, depois que parei de tomar remédios, minha respiração
passou a falhar. — Era incapaz de abrir os olhos. — Então não
posso ficar muito tempo conversando… Rouba a minha
energia…

— Anjo — a tristeza estava ali em sua voz linda —, entrarei


em contato com o médico, enquanto isso você dorme um
pouco.
— Não vá embora — implorei, segurando seu pescoço. Sentia
raiva por não conseguir lutar contra minhas pálpebras. — Não
posso viver mais sem você, é pior do que pensar em morrer.
Ele beijou de leve meus lábios.
— Não vou a canto algum enquanto você estiver respirando
neste mundo. — Seu tom tinha uma nuance que não entendi.
— Ryan, não… — comecei, sem forças para prosseguir. O que
ele queria dizer com aquela afirmação? Tive vontade de gritar,
porém, me vi sem poder reagir.

— Durma, Anjo. — Senti seus lábios na minha testa. — Agora


estou onde queria, nos braços da mulher que é dona da minha
alma.
Não desejava dormir, por medo daquele sonho lindo acabar.
Contudo, não deu para segurar, e pela primeira vez em três
meses, dormi como um anjo, sem os costumeiros pesadelos
que me assolavam dia e noite. Ryan não iria a lugar nenhum
sem mim. Ele me amava. Com este pensamento, adormeci.
Antes, pensei ter ouvido:
— Eu a seguirei, Anjo, onde for, porque aqui neste mundo não
posso viver mais sem você…
Capítulo 19

Luz e trevas

RYAN

Quando descobri por Daemon onde Angelina estava, fui


correndo para Nova Jersey. Só de imaginar que já estive uma
vez na casa de sua amiga Tabitta — a policial — à procura
dela, mas a cadela disse que não sabia de nada, e que mesmo
se soubesse não me diria, sentia muita raiva. Naquela hora,
quis esfolá-la viva, mas deixei quieto, porque minha cabeça
não estava boa, então, para não fazer besteira, fui embora.
Toquei a campainha da casa na esperança de vê-la. A
residência de dois andares era feita de madeira avermelhada,
ficava perto da praia. A porta se abriu, e não tive tempo de
processar o que estava para acontecer, apenas senti o vento de
um punho vindo em minha direção. Por reflexo, desvencilhei-
me, já querendo matar a cadela louca, mas o Jason interveio e
puxou Tabitta para longe de mim. Eu sabia que os dois se
conheciam e pareciam se amar, mas nenhum dava o braço a
torcer para isso.
Quando falei em aparecer ali, ele se prontificou em ir comigo.
Eu não tinha cabeça para assimilar sua relação com ela, não
liguei, no entanto, meu amigo merecia coisa melhor do que
essa víbora.
A garota era linda, sim, loira com o corpo cheio de curvas,
ainda mais usando aquelas calças de couro sintético preto e
espartilho, bem como um salto de dez ou mais centímetros,
não sabia direito. O seu único defeito era sua boca, porque, cá
entre nós, era louca. Assim que abriu a porta, já foi voando em
minha direção. Por pouco eu não levei um soco na cara.
Apenas não fui em cima dela porque não batia em mulheres, e
Jason a levou para longe de mim. Escutei-a me xingando de
tudo quanto era nome; até os MCs ficariam para trás com seu
vocabulário vil.

Subindo a escada de madeira, parei um segundo para ouvir o


que parecia ser uma canção de ninar, cantada por uma voz que
me tiraria do tormento que eu estava vivendo.
“Durma, durma, meu pequeno anjo, que papai logo virá para
nós, e com seu amor nos tirará da solidão”.

Abri a porta num rompante, e ali estava: o meu Anjo de


cabelos negros, com sua barriga enorme; ficara mais linda
grávida. Visualizava um menino parecido com ela, com tudo
seu e nada meu. Corri até Angie e caí de joelhos à sua frente,
beijando nosso fruto que estava ali dentro, gerado com tanto
amor… Esperava que fosse forte e saudável.
Ficamos a tarde inteira juntos, comigo alisando sua barriga.
Quando senti nossa filha — sim, uma filha! —, fiquei muito
emocionado. Torcia para Victoria se parecer com sua mãe, mas
maldição, precisaria me manter atento a qualquer malandro
que quisesse se aproveitar do meu bebezinho. Seria sim meu
bebê até ficar velha; se decidisse se tornar uma freira, melhor
ainda.
O nome de nossa filha seria Victoria, pois era o nosso pequeno
milagre, uma guerreira que sobreviveria assim como Angelina.
Toda vez que pensava nisso, me dava um aperto no peito.
Esses meses vivendo, ou melhor, vegetando longe dela… Não
aguentaria de novo. Não podia mais viver sem ela. Encolhi-me
ao imaginar um cenário onde ela não resistisse… Só me
restaria uma coisa a fazer.
Há seis meses, quando a palavra “suicídio” cruzava a minha
mente, sentia raiva das pessoas que davam fim às suas vidas.
Talvez agora isso fosse a minha sentença, dependeria de como
ela se sairia no nascimento de nossa filha. Não mencionei a
ninguém meus planos; se dissesse, todos se oporiam, acho que
me prenderiam e jogariam a chave fora, até eu voltar a mim.
Mas ninguém estava na minha pele, só eu entendia o tormento
que vivi e sofri nesses meses sem ela. A solidão, a dor, a
angústia, o desespero, tudo era mil vezes pior que a morte.
Notei que Angie estava feliz, ou melhor, radiante por nossa
reaproximação. Contudo, também percebi que sua saúde se
debilitara, sempre ofegava como se tivesse feito ginástica ou
corrido bastante. Não gostei nada disso, e dela ter dito que
parou de tomar os remédios porque não queria afetar nossa
filha. Não sabia o que senti em relação a isso, não desejava
prejudicar Victoria, todavia, também não queria ver a Anjo
mal. Não dava para conciliar as duas vontades? A despeito
disto, confiava que tudo daria certo. A esperança de vê-la bem
era a única coisa que me impedia de enlouquecer. Sentia-me
entre a luz e as trevas. A luz seria estar ao lado dela, e as
trevas era a impotência de enxergá-la definhando a cada
segundo, e eu sem poder fazer nada, apenas assistindo a
tudo…
Observar seu rosto lindo enquanto dormia tão pacífica apertou
meu coração. Não podia perdê-la, era a única forma de eu
viver neste mundo.

Deixei-a dormindo com sua respiração pesada. Não queria sair


de perto dela, mas precisava fazer algo o mais rápido possível.
Desci a escada com meu celular na mão, já discando o número
do médico, registrado caso precisasse dele.

— Como ela reagiu a você? — rosnou Tabitta com um gosto


amargo na boca, como se tivesse comido algo estragado.

Ignorei-a e liguei para o médico, Raul Smith, o mesmo que


operou Shane. Expliquei quanto ao estado da Anjo e ele se
prontificou a estar ali de manhã, bem cedo, para avaliar a
situação dela.

Passei a noite ao seu lado, acompanhando seu sono instável.


Puxei-a para os meus braços e beijei sua testa e seu nariz. Não
queria dormir, porém, estava cansado por ter ficado várias
noites acordado.

Inalei seu cheiro de morangos e suspirei feliz: a mulher em


meus braços era quem eu amava com toda a minha alma. Com
ela, estava em casa.

Durante meses, minha vida se resumiu à solidão de sua


ausência. Agora, com ela e minha filha, por fim via a luz. Pela
primeira vez em muitos anos, rezei a um Deus no qual nem
sequer acreditava direito. Pedi que não levasse as duas
mulheres, porque eram minha razão de viver.
Acordei seis horas da manhã com meu telefone tocando. Saí
da cama sem acordá-la. Linda, dormia de barriga para cima,
com uma mão sobre o seu ventre, como se estivesse
protegendo nosso bebê. Seus cabelos negros estavam em
cascatas em cima do colchão, com alguns fios em seu belo
rosto. Nunca vi nada mais belo que esta visão. Tirei uma foto e
coloquei como plano de fundo do meu celular.

Notei que sua respiração estava mais pesada do que ontem à


noite.

— Alô? — respondi, sem olhar a tela.

— Sou eu, Raul, estou aqui na porta da casa que você me


indicou.

— Aguarde um minuto — disse e desliguei. Saí do quarto de


fininho, observando-a dormir com seu pijama: calça e
camiseta largas. Ainda bem que era comprido, não gostaria
que ninguém a visse quase nua. Fui abrir a porta para o médico
que veio de Houston para ver como Angelina e nossa filha
estavam.

Olhei para o cara careca de meia idade. Gente fina, conseguiu


salvar o Shane, e esperava que fizesse o mesmo por minha
futura esposa e nosso bebê.

— Bom dia, doutor — cumprimentei.

— Bom dia, senhor Ryan — respondeu formalmente.


— Ela está no quarto, vamos lá? — De repente, escutei-a
gritando meu nome como se estivesse em um pesadelo e eu
fosse sua âncora. Corri, pulando os degraus de dois em dois
para chegar até ela, deixando o médico para trás.
Entrei no quarto vendo-a sentada na beirada da cama com os
olhos cheios de lágrimas e uma mão na barriga. Eu me agachei
à sua frente e toquei seu rosto molhado.

— Você está bem? Está sentindo dor? — Minha voz saiu alta
de preocupação. Eu já ia chamar o doutor quando suas mãos
pegaram minha camisa e me puxaram. Ela escondeu o rosto no
meu pescoço, chorando.

— Oh, Ryan… — lamentava.

Alisei seus ombros e cabelos, tentando tranquilizá-la,


temeroso.
— Anjo, me diga o que houve, estou preocupado com você —
pedi, me esforçando para ficar calmo.

Angie suspirou e me apertou mais em seus braços. Parecia não


querer me deixar nunca.

— Eu acordei e você não estava aqui… Então eu pensei… —


Sua voz linda sumiu.

Entendi o que ela dizia, qual era o seu medo. Afastei-me para
ver seus olhos lindos e molhados.

— Estou aqui, não vou a lugar nenhum. — Beijei seus lábios


salgados por conta das lágrimas e depois as sequei com as
pontas dos dedos. — Juro pela nossa filha.

Após um segundo ela assentiu, mais calma. Antes que falasse


algo, ouvi alguém pigarreando. Nós dois olhamos para a porta.
O médico estava ali, de pé, fitando-nos e sorrindo. Pretendia
ignorá-lo, mas ela se afastou e olhou de mim para ele, confusa.

— Shane? — Soou embargada.


Óbvio que se preocuparia com Shane em primeiro lugar, não?
Sempre se deixando por último!
— Não, ele está bem — garanti. — O doutor veio por você.

Raul entrou no quarto.


— Bom dia! Nós nos encontramos de novo, Angelina — disse,
colocando sua maleta preta sobre o criado-mudo. — Vim
examiná-la, posso?
Angie piscou e sorriu para mim, um gesto capaz de iluminar
minha vida e me resgatar da escuridão. Ali, havia adoração e
amor; isto também estava nos meus olhos.
Ela se recompôs e assentiu.
— Tudo bem, doutor — respondeu, meio ofegante. Piorava a
cada hora. Tentei não deixar minha preocupação incomodá-la,
não queria estressá-la. Afastei-me para ceder espaço ao doutor.
Passados alguns minutos, Raul se virou para nós dois.

— Então, doutor, como ela está? — sondei, ansioso.


Ele suspirou, dirigindo-se à Angie:

— Eu soube que você interrompeu a medicação para o


coração…
A Anjo aquiesceu.

— Sim, não queria machucá-la. Remédios fortes deixam


sequelas, por isso parei. — Alisava a barriga.
— Tem algum médico acompanhando sua condição e a
gestação?
Ela franziu a testa.
— Sim. Por quê?
Estreitou os olhos.
— O que ele falou sobre parar com os remédios para o
coração?

Franziu a testa.
— Disse que prejudicariam o bebê. Por quê? — Sua respiração
já estava mais desigual do que há alguns minutos.

— Sinto avisar, mas esse médico não sabe de nada. Por ser
formado, devia entender mais acerca de seu problema.
Parando de tomar os comprimidos, sua respiração tende a
enfraquecer, como agora, e cada vez ficar pior. Mesmo com os
remédios, sua gravidez é de risco. É um milagre ter chegado
tão longe. Já não deveria ter oxigênio para sua filha e você.

— Então ela corre risco de vida? — Ficou em choque.


Ofeguei de pavor, um sentimento que compartilhávamos.
— Não só sua filha, você também — assegurou. — Onde
estão seus exames mais recentes?
De olhos arregalados, apontou para o armário de roupas. Notei
que se esforçou muito para levantar a mão direita.

— Dentro de uma caixa vermelha…


Fui até lá, peguei os exames em uma pasta branca e entreguei
ao doutor.
— Aqui.
Ele conferiu cada folha de papel. Demorou alguns segundos
para dar seu veredito.
— Pelo que vejo aqui, você está grávida de seis meses.
Poderíamos fazer uma cesariana, mas sua filha nasceria
prematura extrema. — Voltou a checar os papéis, tanto da
gravidez como os referentes ao coração dela. — De imediato,
precisamos interná-la para conduzir novos exames, além de
arranjar um pediatra e um obstetra com urgência para
sabermos se já podemos realizar a cirurgia. — Olhou para nós
dois. — Quero deixar claro que sua operação é de alto risco,
contudo, farei o que posso. Vamos levá-la a Houston, lá tenho
o doutor Christian, pediatra, a obstetra Camille, e Dennis,
ginecologista, os melhores de seus ramos. E minha equipe
toda. Precisamos fazer isso o mais rápido possível.

Arquejei pensando em como sua vida poderia acabar em


questão de segundos. E eu achando que teria mais tempo com
ela… Não quis continuar a imaginar tal possibilidade. Tinha
de acreditar que ela ficaria bem.
Quando meus pais morreram, não deu tempo de rezar. Não que
eu rezasse na época, nunca fui em igrejas, mas minha mãe ia
todos os domingos. Se havia um Deus no céu, que ajudava as
pessoas que a ele recorriam, implorava para ouvir minha
súplica e fazer com que minha mulher sobrevivesse. Não
podia simplesmente viver sem ela, de nenhuma forma.

Arrumamos as malas e embarcamos no meu jatinho, equipado


com o necessário para fazê-la respirar melhor. Chegando a
Houston, fomos direto para o hospital, localizado no centro da
cidade. Meu coração gelava de medo e ansiedade. Ela já
estava tão fraca que foi preciso colocá-la em uma maca. Fiquei
com Angie até terminarem todos os exames, tanto do coração
como os de nossa filha. A obstetra e o ginecologista disseram
que o bebê estava bem formado, mas depois do parto
precisaria permanecer no hospital até ganhar peso.
Meus amigos estavam lá — Sam, Rayla, Jordan, Lucky,
Daniel e Alex —, e também os dela — Johnny, Charles e
Tabitta. Devo dizer que gostei do jeito com que Tabitta se
importava com a Anjo; vi seu sofrimento, embora não a
perdoasse por ter escondido Angelina de mim, em razão do
que perdi todos esses meses, não acompanhando minha filha
crescer em sua barriga. Não enxerguei Bryan e Alexia, embora
os dois tivessem sido informados sobre o estado da Angel.

— Vai dar tudo certo, Angie — Charles disse, beijando sua


testa, e Johnny também.
— Estaremos aqui com você — Johnny alisou seu rosto.

— Obrigada, pessoal — sussurrou, ofegante. — Vocês são os


melhores amigos de todos os tempos…
— Eu a amo, sempre — declarou Tabitta, chorando.

Ela não respondeu, acho que não conseguia falar. Em seguida,


seus olhos molhados pousaram em mim. Estava deitada na
maca, já indo para o centro cirúrgico. Meus olhos
umedeceram.
— Amo você, Ryan — afirmou, meio sem ar. — Lutarei por
nossas vidas, tanto a minha como a de nossa filha.

Não consegui falar por um segundo, sentia minha garganta


entupida. Fiz um esforço para me acalmar e tranquilizá-la no
processo, não queria estressá-la e piorar seu estado. Guardei a
dor para mim, não deixando transparecer no meu rosto.
— Sim, eu sei que vai — sussurrei e beijei de leve seus lábios.
— Eu também te amo para sempre, minha vida.

— Promete que se for para escolher entre eu e Victoria… você


vai salvá-la?
Arregalei os olhos diante do que ela me pedia. Isso era
impossível. Jamais poderia fazer essa escolha. Seria como me
dividir ao meio.
— Anjo…

— Prometa, Ryan — suplicou. — Por que se me escolher… eu


não conseguirei… — Sua voz sumiu, desmaiando na minha
frente.

Comecei a gritar, sacudindo-a para fazê-la acordar e voltar


para mim. Fui arrastado para longe, longe da minha vida,
longe da minha alma.
Epílogo

Dois meses e meio depois…

— Anjo, você não pode me deixar, você me prometeu que


lutaria pela sua vida. Brigue por mim, por nossa filha linda,
que por sinal, se parece com você. — Ryan sussurrou. — Sei
que prometi para você que se… por acaso, não voltasse para
mim… eu viveria e cuidaria de Victoria, mas não posso
cumprir esta promessa caso não retorne. Não consigo viver
neste mundo sem você. — Expirou, pesaroso. — Lucky e Sam
cuidarão dela para nós. Eles prometeram.

Através da névoa, ouvia a voz da pessoa que seria capaz de me


resgatar da escuridão em que eu me encontrava. Seguindo o
som, lutei pela luz, porque sabia que eu teria de voltar para ele,
para o meu amado.

Quando acordei naquele hospital, vendo o homem que eu mais


amava na minha vida perto de mim, com os olhos fundos e
arroxeados por causa das noites mal-dormidas, soube que
havia ganhado um presente. Desde o primeiro segundo em que
o conheci, percebi sua perfeição. Depois disso, me apaixonei
ainda mais por ele. Abri os olhos porque precisava lhe dizer
isto. Ele não respondeu, apenas escondeu seu rosto em meu
pescoço e chorou.

Ali, prometi que nunca mais o faria sofrer assim, não se eu


pudesse evitar. Também jurei dar mais valor à vida e à
oportunidade que me foi dada. Era um milagre eu ter
sobrevivido.
Outra coisa que me enchia de júbilo a cada dia era minha
filhota linda. Ela precisou ficar mais dois meses no hospital até
ganhar peso e receber alta. Graças aos céus, estava bem agora,
e tão esperta!
Victoria era seu nome, pois foi uma vitória tê-la em meus
braços, e nos braços do pai. Ryan se tornou o pai mais coruja
que já vi nesta vida. Nossa garota não podia dar um gritinho e
ele já estava com ela nos braços. Nos dois primeiros meses,
não deixava ninguém além dele pegá-la. Nossos amigos foram
nos visitar em nossa nova casa logo quando saímos do
hospital, e tive de brigar com Ryan por isso, então ele deu uma
aliviada. Estava difícil, fora a manha que colocou nela por não
largá-la um segundo no berço. Com quase dois meses e meio
em casa, Ryan não queria ir trabalhar, só para ficar tomando
conta de nosso bebê. Quase chutei-o porta afora.
Quando Ryan me levou para conhecer nossa nova casa, ou
melhor, a mansão que ele fez, copiando a casa dos meus
sonhos, nem acreditei. Como não amar um homem desses?
Agradecia aos céus por tê-lo em minha vida. A casa era
ladeada por uma varanda generosa e bem ampla. Eu amava
isso! Ryan fez meu sonho se tornar realidade.

O primeiro livro da série Dilacerados, escrita por mim, seria


lançado no próximo mês nas livrarias aqui dos Estados
Unidos. Já era para ter saído, mas não deu, devido à minha
gravidez e fuga de Ryan, e depois a minha quase morte. Após
a cirurgia, renasci graças ao amor do Ryan. Estávamos mais
felizes do que nunca. Tudo que passei na minha vida me levou
àquele exato momento. Sofri em demasia, as perdas que tive
foram dolorosas, mas, no final, fui recompensada pelo homem
maravilhoso com quem me casaria e pela minha filha, que ele
e Deus me deram. Era feliz também por ter meus irmãos
saudáveis e contentes, bem como vários amigos que dariam
tudo por mim.

Mirei meus olhos negros no espelho, brilhantes como o sol, de


puro êxtase. Rosto corado, lábios com batom na cor cereja. O
vestido de noiva era tomara que caia, com detalhes em pérola.
Acentuava bem minhas curvas, que graças a Deus estavam nos
lugares certos. Não queria engordar mais, foi uma luta perder
cinco quilos dois meses depois de ter Victoria. Ryan disse que
não precisava, porque me amaria mesmo assim, mas eu não
aceitei, ainda mais com ele cercado de modelos dotadas de
corpos deslumbrantes. Quando eu respondi isso, ele apenas
sacudiu e cabeça e me disse que, para ele, só existia eu e mais
ninguém. Ademais, me colocou na cama e fez o maior sexo
oral que já tive, afinal, não podíamos transar ainda, já que
fizera a cirurgia do coração há somente dois meses.

Olhei para baixo, no top do meu vestido. Escondida pelo pano


estava a cicatriz do tamanho de uma moeda americana.
Cheguei a ficar inquieta com isto certa noite, não querendo me
despir diante de Ryan, todavia, ele garantiu que ainda tinha o
corpo mais lindo do mundo e beijou a marca do peito e a da
cesariana. Eu me derreti com seu gesto de amor.
— Está pronta? — perguntou Tabitta, me observando de cima
a baixo. — Linda!

Corei.
— Obrigada — sussurrei.

— Ainda dá tempo de mudar de ideia. — Fez uma bela careta.

Eu sorri. Desde que ela descobriu sobre minha gravidez de alto


risco, já não foi com a cara do Ryan. Eu quase morrendo não
ajudou muito a situação. Ela o culpava por isso, mas ele não
era o responsável, e sim as leis da vida. E não me arrependia,
porque agora tinha minha filhota linda. Ela era uma mistura de
nós dois, pele branca com cabelos negros, e íris cor de
caramelo iguais às do pai. Linda, minha garotinha!

— Meninas? Vamos logo com isso. — Sam entrou no quarto


com seu vestido vermelho-sangue, que caiu bem com seus
cabelos negros. — Ryan está impaciente no altar, tive que dar
a Victoria para ele não vir procurá-la.

Tabitta sibilou.

— Se aquele desgraçado não me der ela na hora da cerimônia,


eu vou matá-lo. — Jogou seus cabelos loiros atrás das costas.

Tabitta sempre foi uma mulher linda, mas nesses meses estava
vendo algumas diferenças nela, um brilho a mais. O motivo?
Jason Falcon, o amigo de Ryan. Quando soube que ele era o
homem que tinha abandonado minha melhor amiga, fiquei
furiosa, só não fui atrás dele porque acabara de ser operada.
Ryan me tranquilizou, dizendo que ele nunca a abandonou de
nenhuma forma, ela que foi embora sem dizer nada. Queria
saber mais sobre isso, mas Tabitta falou que era melhor não,
então deixei quieto. Mas ali tinha uma história, um segredo
que ela guardava a sete chaves. Esperava que me contasse um
dia.

Revirei os olhos, pensando no Ryan com nossa bebezinha,


nossa razão de viver. Admirava seu amor por nossa filha.

Eu estava no quartinho da igreja onde seria realizado o nosso


casamento. Era branco, com um espelho grande, para o qual
me encontrava de frente. Dei as costas e fui enfrentar a minha
realidade, meu destino, caminhando pelo corredor que dava
para a entrada no salão da igreja. Lira e Emily eram minhas
damas de honra e foram na frente.

Johnny me acompanharia até o altar, pois o considerava meu


irmão mais velho. Antes, porém, tinha uma surpresa para o
meu futuro marido, o pai da minha filha, da única, já que
nunca mais poderia engravidar, por isso tomava remédios para
evitar. Completados dois meses e meio após o parto e a minha
cirurgia, fizemos sexo. Esse tempo era mais pela cirurgia,
porque o resguardo acabara há semanas.

Todos os dias de manhã, Ryan me lembrava de tomar


remédios, até que aquilo me cansou e passei a usar um
anticoncepcional em formato de injeção, que durava meses.
Não contente com isso, ele foi em busca de um profissional a
pedido de respostas, para ver se eu corria perigo mesmo com o
medicamento. Sabia o motivo do seu medo, e disse para ele
ficar tranquilo, ou envelheceria antes da hora.

— Não ligo se eu envelhecer, meu pau sempre vai ficar duro


quando ver você. — Lançou-me um sorriso amarelo e sumiu
com sua cabeça entre as minhas pernas, me fazendo ver uma
constelação inteira.
Voltei ao presente para fazer o que precisava. A porta do
corredor se abriu; permaneci escondida. Olhei para o Johnny,
que sorria para mim.

Finalmente apareci e entrei no salão da igreja, que estava toda


decorada com flores de diversos tipos (rosas, tulipas e jasmins)
e cores (brancas, vermelhas e azuis). O aroma era de outro
mundo.

Nos bancos do lado direito estavam os amigos dele e seus


funcionários. Fiquei preocupada que convidasse alguma
modelo com quem ficou no passado, mas Ryan jurou que não
faria isso comigo. Disse que só havia seis modelos que
costumavam trabalhar para ele e com as quais tinha se
relacionado, contudo, quatro possuíam namorados e duas eram
casadas, e arranjou serviço para elas em outra agência, onde
ganhariam mais. Fez isso para eu não me preocupar quando
ele fosse trabalhar, e também para eu não cruzar com alguma
mulher que foi dele no passado. Pulei em seus braços e o beijei
como se o mundo estivesse acabando.

Ele também chamou os motoqueiros MCs da Fênix, de


Chicago. Quando conheci Dominic e sua esposa, Evelyn,
gostei deles logo de cara. Os dois formavam um casal lindo. O
cara era um show de homem, moreno, um metro e oitenta e
oito, forte, olhos verde-esmeralda, com cílios grossos e
cabelos castanho-escuros. Tinha uma tatuagem de cobra no
braço direito, como se ela estivesse subindo pelos músculos, e
no antebraço esquerdo o nome “Evelyn”. Havia outras
escondidas pela camiseta e jaqueta sem mangas com emblema
da Fênix. Seu apelido no clube era Shadow, talvez pelos seus
olhos mortais. Já Evelyn, sua namorada, era uma ruiva
deslumbrante com cabelos anelados e olhos cor de ouro. A
mulher dispunha de um maldito corpo sarado, deslumbrante.
Também conheci Daemon, o rastreador do MC, foi ele quem
me encontrou. Não sabia seu nome verdadeiro, apenas o
apelido, mas o cara era um deus grego tatuado. Forte, um
metro e noventa, olhos caramelo-ouro, cabelos curtos, brincos
em sua orelha direita e um alargador. Ao rir com Nasx, notei
seu piercing na língua. Havia mais visíveis, no entanto, podia
jurar que existiam alguns em outros lugares também. Não que
eu quisesse ver… Ele estava com jeans rasgados nos joelhos e
uma camiseta branca com um colete com o logotipo da Fênix.
Carregava uma corrente grande no cós da calça, presa à sua
carteira, no bolso da frente. Nela, havia um par de soqueiras.
Não queria nem imaginar o que fazia com aquilo.

Que coisa! Esse clube de MCs da Fênix tinha somente homens


gatos. Isso me deu a ideia de fazer um livro nesta temática.

Nasx era o vice-presidente, um loiro de um metro e oitenta e


nove com cabelos longos caindo nas costas. Seu corpo
musculoso fora forrado por tatuagens, como os dragões nos
braços despidos. Vestia uma jaqueta sem mangas de couro.
Seus olhos eram azul-cobalto. Conclusão: lindo!
Ganhei até um beliscão do Ryan por olhar demais Daemon e
Nasx. Claro que para mim só existia meu futuro marido, e para
provar isso faria uma declaração de amor, embora ele já
soubesse o quanto eu o amava e venerava o chão em que
pisava.

Os MCs tinham suas jaquetas por cima das roupas que


usavam. Dominic perguntou se eu queria que eles as tirassem.
Obviamente disse não, não me importava com suas roupas.
Apenas falei para ficarem à vontade. Ele me convidou para ir
ao seu clube em Chicago. Aceitei, pois estava louca para
conhecer o lugar e escrever meu novo livro.

Do lado esquerdo, estavam meus amigos: Charles, Jason,


Jordan, Daniel, Alex, Rayla, Bryan, Alexia, Caim, Kate e
minha tia, que chegou há dois dias. Ficou furiosa comigo
quando saí do hospital, onde quase morri e não contei para ela.
E também por todas as dificuldades que sofri antes de
conhecer o Ryan, o esforço de trabalhar para conceder uma
vida digna aos meus irmãos. Não me arrependia.

Sam estava preparando um baile, que aconteceria assim que


voltássemos da lua de mel. Não sabia bem aonde Ryan me
levaria; quando perguntei, apenas disse para confiar nele.

Lucky e Sam eram nossos padrinhos de casamento. Estavam


no altar, e Lucky segurava sua filha nos braços, uma bebezinha
linda que parecia mais com ele do que com a mãe: pele branca,
cabelos castanho-claros e olhos azuis. Linda.
— Está maravilhosa, Borboleta — disse Johnny assim que
cheguei perto dele.

— Obrigada, meu amigo — agradeci. Segurou meu braço e


seguimos em direção ao altar.
Vi Ryan discutindo com Tabitta para decidir quem ficaria com
nossa filha. Ela estava com um vestidinho branco e uma tiara
na cabeça. Jason foi para perto de Tabitta, impedindo que um
matasse o outro. Os dois eram como gato e rato, mas eu amava
ambos e acreditava que com tempo eles se dariam bem.
Deixaria a poeira baixar quanto à minha quase morte, de que
ela tanto o acusava.
— Gostaria de cantar uma canção para o homem mais lindo do
mundo, que se encontra em cima desse altar, com nosso
grande milagre em suas mãos. — Assim que minha voz saiu
pelo alto-falante, Ryan girou na direção das portas duplas e
avistou meus nele.
Vestia uma camisa branca com terno por cima, sem gravata,
pois não queria se sentir sufocado com aquela droga —
palavras dele, não minhas. Estremeci com seu olhar intenso,
mas me mantive controlada.

— Poderia citar um milhão de motivos para dizer porque amo


você, mas vou dizer nesta canção de Michael Bolton, All for
love. Nós enfrentamos muitas coisas para ficarmos juntos: o
medo, a dor, a escuridão, o tormento e até a morte. Agora,
eternizaremos nossa relação porque fizemos “Tudo por amor”,
como diz a música.

A noite torna-se amanhecer


Para provar que o amor continua

Está escrito nas estrelas e no fundo do meu coração


É com você onde eu ainda permaneço

Através de cada página que viramos


Cada lição que aprendemos
Finalmente nos libertaremos, ou nos forçamos a
submeter
Porém o amor está certo e nunca errado
Sabemos que podemos dizer que demos tudo
Demos tudo por amor
A cada passo do caminho, entregamos nossa alma

Demos tudo por amor, tudo por amor


Nas orações silenciosas que rezo

Que palavras nunca poderiam ser ditas,


Para alcançar dentro de seu coração
Não importa onde você esteja

Prometo que encontraremos um caminho


Para caminhar pela estrada que já conhecemos

A estrada que nos guia para casa


Um milhão de sonhos
Eu tenho idealizado e em cada um deles eu via

Seu rosto e você sozinho.

Mudei o final, de “sozinha” para “sozinho”, apenas para


mostrar o quanto esse homem era meu mundo inteiro, o ar que
eu respirava. Cantava o refrão da música dando passos até ele.
Tabitta pegou nossa filha de seus braços, desta vez ele deixou,
pois estava chocado demais. Seu rosto brilhava de felicidade.
Continuei a entoar a canção sem nunca tirar meus olhos dos
seus.

A vida passa tão depressa

Pelos segredos que permanecem


Rapidamente o futuro torna-se passado.

Quando eu te abraçar novamente


Estarei te abraçando eternamente
Nas orações silenciosas que rezo

Que palavras nunca poderiam ser ditas,


Para te alcançar através da escuridão
Para alcançar bem fundo no seu coração

Prometo que encontraremos um caminho


Assim como a noite torna-se amanhecer

Pra provar que o amor continua


Através de cada página que viramos
Cada lição que aprendemos

Finalmente nos libertaremos, ou nos forçamos a


submeter

Porém o amor está certo e nunca errado


Nós damos tudo por amor.

Ao terminar, vi-me diante dele, com a face molhada. Ele


também parecia querer chorar, todavia, era mais forte do que
eu.

— Você me deu mais razões para viver neste mundo, me deu


uma filha linda, um amor pelo qual lutar e viver — sussurrei.
— Eu o amo.

Ele me pegou nos braços e me rodou, me beijando com toda a


sua ternura.
— Porra, amo você — grunhiu na minha boca.

Alguém pigarreou do meu lado, então me recompus, afinal,


estávamos em uma igreja. Afastei-me do Ryan e mirei o padre,
envergonhada, entregando o microfone a ele.

— Desculpe por isso — falei.


Ele apenas sorriu.
— Agora que declararam seu amor, vamos começar?

Nós assentimos.
— Sim, senhor — respondi.

— Sim.
— Estamos nesta igreja para abençoar os noivos, caríssimos
amigos, para o vosso propósito de abençoar o
matrimônio deste casal, e que seja firmado na presença de
Deus. O senhor já vos consagrou pelo Santo Batismo, vai
agora dotar-vos e fortalecer-vos com a graça especial de um
novo Sacramento. Para poder assumir o dever de mútua e
perpétua fidelidade e as demais obrigações do
matrimônio. Diante da Igreja, vou, pois, interrogar-vos sobre
as vossas disposições.

Fitou-nos. Estávamos de frente a ele e de costas para os nossos


amigos.
— Ryan Donovan e Angelina Mary Stone, viestes aqui para
celebrar o vosso matrimônio. É de vossa livre vontade e de
todo o coração que pretendeis fazê-lo?
— Sim — respondi, apertando sua mão na minha.
— Porra, sim — anunciou com um sorriso de diamante.
Ouvi risadas dos nossos convidados, mais vindas dos MCs,
sentados nas cadeiras.

— Ryan, estamos em uma igreja, pare de ficar dizendo


palavrões — repreendi.
Ele olhou para o padre, que o encarava de cenho franzido.

— Desculpe, continue.
O padre Francisco assentiu.
— Vós que seguis o caminho do matrimônio, estão decididos a
amar-vos e a respeitar-vos, ao longo de toda a vossa vida?
— Sim. — Observei seus olhos brilhantes e abrasadores. —
Para sempre.

— Para sempre, Anjo — jurou. — Até além da morte.


— Uma vez que é vosso desejo contrair o Santo Matrimônio,
unais as mãos direitas e manifestais o vosso consentimento na
presença de Deus e da sua Igreja.
Fiquei diante do meu lindo e futuro marido, com a mão na sua.

— Eu, Ryan Donovan, recebo você, por minha esposa, Anjo, e


prometo ser fiel, amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza,
na saúde e na doença, todos os dias da minha vida.
Nosso amor enfrentou tudo isso e resistiu firme e forte.
Esperava que agora só viessem alegrias para nós e nossa filha
linda. Quando o Ryan falou “Anjo” nos votos, o padre ficou
com o cenho franzido, mas não disse nada. Acho que já o
ouviu me chamando assim, pois era o único nome pelo qual se
referia a mim. Como não ficar feliz com isso?
— Eu, Angelina Mary Stone, recebo você por meu esposo,
Estrela, e prometo ser fiel, amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na
tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de nossas vidas.
Também troquei o nome dele por “Estrela”, porque era minha
estrela de mil pontas, pois havia mil motivos para amá-lo.
Seus olhos cintilaram ao ser chamado assim. Sabia o que
significa, por isso se iluminou.
O padre ignorou todas nossas mudanças nos votos e
continuou.
— Eu os declaro marido e mulher. Não separe o homem o que
Deus uniu. Pode beijar a noiva…
— Graças a Deus, porra — rosnou. Ignorou a risada dos
convidados e a careta do padre, apenas me fitava com
intensidade. — Eu te amo, Anjo.
Eu sorri.
— Também amo você, minha Estrela.

Então ele me beijou, selando nossas vidas juntos.

FIM
Outros livros da autora

Sinopse: “Híbrida”
Série “Destinos” – Livro 1

Milena Richtofer é uma garota de dezessete anos que se


mudou para a cidade de Savannah, tentando fugir do assassino
que matou sua mãe, e que agora a persegue.

Ela sempre se achou estranha por ter uma beleza diferente das
outras garotas da sua idade e por possuir um poder
surpreendente e assustador. Milly dispõe da habilidade da
telecinésia, porém, às vezes, não consegue se controlar. Este é
o seu medo. Seu poder e sua dor parecem estar conectados um
ao outro.
Tudo muda ao conhecer o misterioso e solitário Jordan
Hanson, um vampiro lindo que também vive na escuridão
desde a morte de sua mãe. Por trás de seus olhos azuis-
esverdeados, ele esconde uma tristeza profunda, ainda mais do
que a de Milena. A dor de ambos se torna uma só. Com um
olhar, o menino rouba sua alma.
Enquanto descobre sua verdadeira origem e o porquê de ter
poderes sobrenaturais, segredos são revelados dos dois lados, e
Milena percebe que aquilo que pensava ser sua vida não
passava de uma grande mentira.

Sinopse: “Louco Por Você”


Série “Dilacerados” – Livro 3

Jason Falcon, lutador de MMA, é uma arma dentro e fora dos


ringues. Conhecido como Bala, leva multidões à loucura.
Forte, rico, sensual, tatuado, com um metro e noventa, e
cabelos castanho-claros, faz as mulheres caírem aos seus pés.
Jason é cercado de amigos fiéis e leais. No entanto, esconde
um segredo até dos seus melhores companheiros. Com o
passado batendo à sua porta, corre o risco deste ser revelado, e
pela única mulher que ele amou em toda sua vida, a qual
quebrou seu coração em milhões de pedaços.

Tabitta Rodrigues é uma policial. Linda, de gênio forte, não


leva desaforo para casa. Tem um metro e setenta e sete, além
de um corpo curvilíneo que todo homem sonha em possuir,
cabelos loiros cor de ouro e olhos verde-esmeralda. Foi
forçada a desistir de seu único amor no passado. Entretanto, à
semelhança de Jason, seu segredo guardado a sete chaves está
prestes a ser descoberto — um que ela jurou levar para o
túmulo.

O que o destino reservou aos dois? Serão capazes de esquecer


o passado e dar uma segunda chance para o amor?
Sobre a autora

IVANI GODOY

Nasceu em Nova Xavantina, Mato Grosso, em 1981, mas


hoje vive em Birigui, São Paulo. É casada há dezessete
anos e mãe de três filhos, que são sua razão de viver.
Começou a se interessar por livros ainda criança, quando
fugia para a biblioteca da escola por sofrer bullying.
Acredita que o amor ultrapassa barreiras e preconceitos,
sendo capaz de superar tudo. Com esse pensamento, seguiu
em frente e passou a escrever histórias de amor, pois é o
que ela mais gosta de fazer.
Convites

Venham conhecer meus outros livros também:


“Híbrida”, uma história de fantasia, é o primeiro livro da
série “Destinos”. Um romance entre uma garota metade elfo e
metade humana que se apaixona por um vampiro, o filho de
seu pior inimigo.

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Louco por você

Série Dilacerados – Livro III

IVANI GODOY
2ª edição
2018
Copyright© 2019 Ivani Godoy

Revisão: Kátia Regina Souza


Capa: Babi Dameto
Diagramação digital: Denilia Carneiro

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é


entreter as pessoas. Nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova
Ortografia da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados. É proibido o
armazenamento e/ou a reprodução de
qualquer parte desta obra, através de
quaisquer meios — tangíveis ou intangíveis
— sem o consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº. 9.610/98, punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
PRÓLOGO
EMILY

Quando descobri que o homem que admiro era de fato


meu pai, não pude acreditar. Sempre fui louca por ele —
calma, gente, por “louca” me refiro ao fato de ser sua fã, e ele,
meu grande herói; minha mãe surtaria se pensasse o contrário.
Farei oito anos daqui a algumas semanas.
Achei na gaveta secreta da mamãe a foto dele. Lá, ela
guardava seu maior segredo. Um segredo que nunca quis me
contar, por mais que eu insistisse. Por sorte, ela esqueceu a
chave antes de ir trabalhar. O que era estranho, já que nunca a
deixava, mas hoje parecia distraída e mais feliz. Tentei buscar
alguma resposta dela, mas eram sempre vagas quando
perguntava o que mamãe não queria responder. Como quando
inquiria sobre o meu pai.
— Mamãe, quem é meu pai? — repetia desde sempre.
— Ele é alguém de quem não precisa saber — replicava.
— Apenas se foi.
O “se foi” eu entendia de dois jeitos: ou morreu, ou a
abandonou grávida de mim. Eu poderia tentar fazer uma
pesquisa, ou pedir para o Nathan fazer para mim, já que o
garoto era bom em computador, mas nem o nome dele eu
sabia, por que ela não disse. Aliás, ela não disse nada.
Antes de mamãe sair, perguntei de novo a respeito do
meu pai. Sua resposta foi diferente.
— Amanhã a gente conversa sobre isso.
Eu não queria esperar esse amanhã que talvez nunca
viesse a acontecer; queria a resposta naquele momento.
Cansei de aguardar e abri sua gaveta com a chave que
peguei sem ela saber. Não gosto de fazer isso, porque teria de
mentir para ela, mas não conseguia esperar. Foi quando
encontrei as fotos dela com Jason Falcon no tempo em que ele
era mais novo. Acho que na escola em que estudava, em
Austin, no Texas. Os dois estavam sorrindo e pareciam se
amar muito. Ela gargalhava para a câmera, enquanto ele a
fitava com adoração.
O que me causou estranheza foi saber que ele
desconhecia minha existência, porque nas colunas sociais onde
o via aparecer, dizia não ter filhos. Jason não parecia estar
mentindo.
Agora eu compreendia todas as vezes que brigava
comigo quando me pegava assistindo a uma entrevista dele na
TV ou na internet. Ela, com certeza, não queria que eu
descobrisse sobre isso, que ele é meu pai. Mas ali estava a
prova, em minhas mãos: fotos dos dois juntos, o amor presente
em cada linha do rosto dela, e do dele também.
Comparei-me com os dois. Eu tinha cabelos castanho-
claros, que batiam nas costas. Parecidos com os fios curtos
dele. Os de minha mãe eram louros, cor de ouro, e, seus olhos,
verde-esmeralda. Já as minhas íris eram cor de chocolate,
iguais às de Jason. Tudo em mim se assemelhava mais a ele do
que a ela. Isso confirmava as minhas suspeitas de que Jason
era o meu pai.
Eu sabia que ele estava em Trenton lutando hoje, era um
esportista brilhante. Eu amava assisti-lo; claro que minha mãe
não deixava, por causa das cenas fortes. Porém, eu escapulia e
via assim mesmo, principalmente quando ela viajava a
trabalho, isto é, quase sempre.
Nossa! Ele derrubava os caras com apenas um golpe.
“Bala” era seu apelido. Gostei.
Eu não podia perder a chance de conhecê-lo
pessoalmente, já que estava na mesma cidade que eu. Minha
mãe ficaria furiosa comigo, mas não deixaria a oportunidade
passar, ou nunca mais teria uma igual.
Sentia-me mal pelo que fiz com Samira, ela era gente
boa. Nathan me garantiu que aquela seria a dose certa do
remédio para dormir, usei somente as medidas que indicou.
Assim, ela não passaria mal, apenas apagaria por algumas
horas. Samira cuidava de mim sempre que minha mãe viajava.
Depois pedia perdão.
Encontrava-me no salão do Hotel Calion, no centro de
Trenton, a cidade onde moro desde que nasci. Estava pensando
e armando um jeito de entrar sem ser notada pela recepcionista
que fica no balcão na entrada. Sabia que ele estava hospedado
ali, porque Nathan pesquisou tudo certinho; meu amigo era um
gênio. Eu o ajudei na investigação. Investigação? Estava
pensando como minha mãe.
Liguei cedo dizendo que era fã de Jason, indagando se
ele estaria no hotel à noite. Por incrível que pareça, a mulher
respondeu. Talvez imaginasse que, por eu ser criança, não
apareceria lá e ficaria gritando por ele. Bem, ela não me
conhecia… Herdei a teimosia de minha mãe.
Preparava-me para entrar em ação quando um homem
alto surgiu, ele era forte e meio velho, acho que tinha uns
quarenta anos, mais ou menos. Sua expressão era sombria,
vazia e fria, tal qual à que vi uma vez na pasta da mamãe, de
um cara do mal que ela prendeu. Quando perguntei o que o
velho de cabeça branca fizera, ela não quis me contar. Achei
estranho um senhor daquela idade ser preso por um crime.
Do lado do homem sinistro havia um garoto de
prováveis onze anos, bem maior que eu. Vestia jeans rasgados
e camiseta preta, e tinha cabelos louros e olhos negros. O
adulto segurava seu braço ao passar pela recepcionista.
Aproveitei a deixa e fui para perto do homem, fingindo estar
com ele, mesmo não indo com a sua cara. Um erro que, se
minha mãe soubesse, me mataria. Ela sempre dizia: “Não
aceite nada de estranhos, seja caronas, doces ou o que for”.
Costumava cumprir suas ordens, contudo, hoje estava muito
ansiosa para ver o Jason e não liguei para nada, nem para
minha segurança, pela qual mamãe tanto zelava. Ela era
bastante protetora comigo.
Aprendi muita coisa com minha mãe, uma policial.
Ensinou-me desde pequena; bom, desde que comecei a
entender o bastante para diferenciar um cara do bem de um do
mal. Sei lá, esse homem ali parecia mal. Talvez pelo jeito com
que apertava o braço do garoto, que estremecia de dor, ou pelo
seu olhar frio. O menino não estava ali porque queria estar, e
sim fora forçado a ir com esse homem. Seria um pai abusivo?
Não gostei nada disso. Minha mãe sempre foi aberta comigo
sobre maus-tratos às crianças.
O barbudo entrou no elevador com o garoto. Fui junto,
mesmo estremecendo por ficar perto dele em um espaço
pequeno e fechado. Corri o risco. Ainda bem que a moça da
recepção não reparou em mim, ou, se reparou, supôs que eu
estava com ele. Por ela ser recepcionista, deveria prestar mais
atenção nas coisas.
Assim que as portas se fecharam, os olhos negros do
cara foram para mim e brilharam com malícia. Eu sabia que
ele era malvado! Enxergava em sua face. Também sabia que
judiava de crianças pela forma que apertava o menino. Com
minha mãe, aprendi a odiar esse tipo de homem. Ela sempre
falava que caras que pensam em fazer maldade com crianças
não deveriam existir na Terra. Concordava com ela,
principalmente depois de cruzar com esse aí.
Abri a mochila que carregava nas costas e a deixei
assim, caso precisasse usar a arma de choque que minha mãe
me deu para situações como essa. E também o spray de
pimenta no bolso do lado.
O cara apertou o botão para o décimo andar. Ele não
disse nada, mas eu podia sentir seus olhos a cada segundo em
mim. Tremi de medo, apenas não deixei transparecer, ou ele
venceria. Apesar de que, se tentasse alguma coisa comigo,
venceria de todo jeito, já que era um homem grande.
Por sorte, ele estava indo para o mesmo andar do meu
pai, que provavelmente se encontraria no seu quarto, porque a
luta acabou há algumas horas. As pessoas que trabalhavam
para ele também estariam, tinha certeza disso. Bom, esperava
que sim, para o meu próprio bem.
O elevador se abriu quase em frente ao número do
quarto do meu pai — sabia qual era porque umas mulheres
subiram antes, dizendo estarem indo para lá. Ele era bastante
mulherengo, será que foi por isto que se separou de minha
mãe? Bom, logo descobriria a verdade. Não podia ficar
pensando no que era e no que não era, precisava saber de tudo.
O cara olhou para os dois lados do corredor, com certeza
checando para ver se havia alguém por ali. Ele estava prestes a
agir, podia sentir.
Fitou-me com olhos de lobo mau.
— Vocês dois vêm comigo. — Não parecia uma
pergunta.
O garoto se esquivou do seu toque e ficou na minha
frente, como se fosse me defender do cara. Não teríamos
capacidade de lutar com ele, afinal, éramos crianças, mas
podíamos tentar, porque eu não o acompanharia de jeito
nenhum.
— Você não vai levá-la para sumir com ela igual fez
com minha irmã, seu canalha — sibilou o menino com o rosto
duro. Vendo-o assim, parecia mais velho do que era de fato.
O homem fechou a cara e cerrou os punhos, pronto para
acertar o garoto. Agi por instinto: peguei o spray de pimenta e
apertei o frasco, espirrando em seus olhos. Sorte minha que ele
não era um gigante, acho que tinha um metro e oitenta, mais
ou menos.
Ele uivou de dor, e suas mãos foram para seu rosto,
enquanto eu peguei a do garoto e levei-o na direção do quarto
de Jason. Toquei a campainha várias vezes e virei para trás, o
cara estava vindo na nossa direção, com seus olhos agora
vermelhos. A porta se abriu e eu entrei correndo com o garoto
ao meu lado, passando pelo homem que a abriu.
— Quem diabos são vocês? — indagou o cara, chamado
Silas ou algo assim, treinador do Jason. Era forte, moreno,
parecido com o Samuel L. Jackson (que eu conhecia dos
filmes dos Vingadores). — Esta festa não é para criança.
Eu estava prestes a pedir que fechasse a porta quando o
malvado pegou meu braço. Gritei tão alto que a música parou.
Todos ficaram em silêncio, acho que de choque, paralisados.
Antes, estava havendo uma festa, repleta de mulheres com
poucas roupas e bebidas. Não vi meu pai em nenhum lugar.
O garoto do meu lado pegou algo no bolso e enfiou na
mão do cara que me segurava. Era um estilete. O maldito
berrou de novo, soltando meu braço.
Eu parecia um robô, executando ações de modo
automático. Não pensei em nada, apenas segurei a arma de
choque, apontei para o seu peito e disparei. Ele caiu no chão,
mole. Antes, ouvi seu urro.
— Que droga está acontecendo aqui? — rosnou uma voz
grossa. — Que gritos são esses?
Jason saía por uma porta de madeira, acho que do
quarto. O que me deixou chocada foi que ele não estava
sozinho.
Ofeguei, olhando a única pessoa que nunca pensei em
ver ali.
— Mamãe?
CAPÍTULO 1

Disfarce
TABITTA

— Bom dia, Taby — cumprimentou meu chefe assim


que entrei no meu serviço na agência do FBI do Brooklyn.
Teria de me mudar para lá no próximo mês, porque
trabalhava muito longe da minha casa atual. Morava em
Trenton, Nova Jersey. Samira ficava com Emily enquanto eu
viajava, o que era quase sempre. No entanto, não queria abusar
da boa vontade dela, por isso no Brooklyn seria melhor para
nós, assim ela ficaria com Mama.
O departamento se situava em um prédio pintado de
branco de quatro andares, no centro do Brooklyn, com várias
janelas de vidro. Gostava de trabalhar ali, amava o que fazia,
bem como adorava meu chefe, que era um George Clooney
gato.
Sorri para ele.
— Thomas, bom dia — disse, beijando seu rosto. Ele
tinha cinquenta anos, era casado com Sandra há quase trinta.
Os dois me ajudaram muito em um momento ruim da minha
vida, no qual não tive mais ninguém, então eu os considerava
como se fossem meus pais.
Em casa, eu o chamava de “Papy”, e ali por Thomas,
pois estávamos em um ambiente de trabalho. Tanto ele quanto
eu levávamos nosso serviço a sério.
Eu me formei na polícia há pouco tempo, ainda estava
no período de experiência, assim disse Papy, mas já prendi
vários assassinos e bandidos corruptos. Apenas um, o pior de
todos, não consegui pegar ainda. O motivo de eu me tornar
policial: Sebastian Ruiz.
— Sem beijos no trabalho, já disse — me repreendeu, se
afastando de mim.
Ele me alertara que ali nos trataríamos como os dois
profissionais que éramos, e deixaríamos nossa ligação de pai e
filha de lado. Às vezes, eu esquecia.
— Você morreria sem meus beijos. — Sorri, pegando
um café preto sem açúcar na cafeteira e tomando um gole. Isso
me ajudava a relaxar.
Sentei à mesa. A sala não era grande, havia apenas a
mesa com três cadeiras, sendo que uma era a minha; um sofá
pequeno no canto; e um armário com vários arquivos. Meu
trabalho envolvia mais o meu PC.
Ele revirou os olhos negros.
— Você é indomável — disse, colocando-se na cadeira
diante de mim. Seus cabelos eram um pouco brancos, usava
óculos de grau e era um tanto robusto. Eu o amava.
— Concordo. — Houve um tempo em que um homem
me domou, e, em certo nível, continuava exercendo seu efeito
sobre mim até hoje, tanto que não estive com ninguém depois
dele, enquanto o tal já ficou com metade da população
feminina da Terra.
Expulsei esse pensamento ou sucumbiria na frente de
Thomas. Isto não poderia acontecer, ainda mais no meu
horário de trabalho.
Thomas e Sandra sabiam que existiu alguém importante
na minha vida, alguém que era meu mundo inteiro. Somente
desconheciam quem era, eu não disse nada, pois ele se tornou
bastante famoso: Jason Falcon, o Bala, como as pessoas o
chamavam. Uma vez, fui a uma luta sua, mas não fiquei muito
tempo, após reparar que a tatuagem que fizemos juntos tinha
desaparecido de seu corpo. Foi como se ele pegasse uma
navalha e rasgasse o meu coração. Dada a dor insuportável, fui
embora. Depois disso, passei a evitar reencontrá-lo; por sorte,
a internet e a TV mostravam quase todos os seus passos.
— Por que não sai e namora um pouco? O agente
Marrone tem demonstrado interesse — falou Thomas,
interrompendo meus pensamentos.
Pigarreei, tentando retornar ao presente, não querendo
pensar em Jason. Sei o que desencadeou essas lembranças:
mais cedo, antes de levar Emily à escola, ela me perguntou
sobre seu pai de novo, onde ele vivia, o que fazia e por que
não a procurava. Eu não podia responder a nenhuma dessas
questões, para sua proteção, e de Jason. Se Sebastian soubesse
dele… Não queria nem cogitar isto. Faria o que fosse preciso
para manter ele longe de mim, o fiz por oito anos e sete meses,
aguentaria mais um pouco, não me importando que isto me
matasse a cada segundo.
Foquei no agora, no meu trabalho, e tranquei minhas
emoções — ou, pelo menos, tentei.
— Lincoln? — Sorri sem vontade. Era um dos meus
muitos disfarces, fingir felicidade sendo que meu coração
sangrava aos poucos. — Ele tem uma namorada, mas não pode
ver uma mulher que seus olhos só faltam sair de órbita.
— Ele tem? — indagou com descrença.
Eu ri.
— Está vendo? Sim, mas seu comportamento cafajeste
não é de um homem comprometido. — Bebi mais um gole do
meu café. — Sabe quando eu transaria com um homem
daqueles? Nunca, a não ser para eu cortar suas bolas e fazê-lo
comer.
Desta vez, Papy gargalhou. Ele e Mama não se
importavam com minha linguagem, falava o que pensava e
não me importava nem um pouco.
— Bom ponto, um homem que não respeita sua mulher
devia estar sozinho. — Fez uma careta. — E quis dizer para
você namorar alguém, não necessariamente transar.
Eu sacudi a cabeça.
— Papy… desculpe, Thomas — corrigi antes dele me
advertir por chamá-lo assim. — Não estou a fim de arrumar
namorado, aliás, minha vida está boa do jeito que está, sem um
homem para se meter nela.
— Está para nascer um homem que vai domá-la e fazê-
la cair de joelhos. — Mal sabia ele que já existia um cara
capaz disso, somente não podia tê-lo. — Durante os oito anos
que a conheço, até agora, só vi você tratando-os com gelo e
mais nada.
Mudei de assunto, não queria falar com ele sobre
romance. Já fui rasgada, e não havia a mais remota
possibilidade de eu ser de novo, mesmo se Jason não estivesse
incrustado no fundo de minha mente e em meu coração.
— O que faz aqui na minha sala? — sondei, curiosa. Ele
não ia muito ali, para evitar falatório por eu ser sua suposta
protegida. — Não que eu não queira sua companhia, claro —
acrescentei.
Ele sacudiu a cabeça.
— Você sempre foge quando o assunto é seguir em
frente com sua vida, não? — criticou de um jeito paternal. —
Taby, quero que seja feliz, não só comigo e Sandra e com a
nossa Emily, mas também que encontre alguém capaz de
alegrá-la como você merece.
Evitei um suspiro, pois isso era impossível: a felicidade
plena era algo que não sentia há tempos, aproximadamente
oito anos e sete meses. As únicas luzes na minha vida eram
Emily e meus pais adotivos, Thomas e Sandra. E também
Samira, amiga que cuidava de Emily para eu trabalhar; era
meus pés e minhas mãos, não sabia o que faria sem ela quando
me mudasse, sentiria muita falta. Além deles, havia ainda a
minha doce amiga Angelina.
— Não preciso de ninguém, Thomas, apenas de você,
Mama e Emy.
— Emy me ligou hoje cedo… — começou, me
observando de lado.
— O que ela queria? — Lembrei que a peguei no
telefone antes de ir para o serviço, mas ela disse que estava
falando com Nathan, seu coleguinha da escola, por isto não dei
bola. Ela mentiu para mim? O que queria com Thomas para
não me dizer a verdade?
— Ela me disse que você chegou triste ontem à noite e
foi chorar em seu quarto. — Seu tom denotava preocupação
comigo. — O que aconteceu com você? Não tivemos nenhum
caso que abalasse seu emocional para agir assim. É outra
coisa?
Eu me levantei e olhei a rua lá fora da janela de vidro. A
minha sala ficava no segundo andar do edifício. Não me
abalava sempre com o meu serviço, só quando o assunto era
crianças maltratadas e abusadas, ainda mais sexualmente, este
era meu ponto fraco. Por esse fato, caso fosse preciso, havia
um psicólogo à disposição no trabalho.
Não queria lembrar do que houve ontem à noite, mas as
lembranças estavam ali, me comendo viva.
Estava saindo do shopping em Nova York, fui lá para
comprar uma fantasia para Emily e algumas coisas para a nova
casa no Brooklyn. Foi quando vi Jason abraçado com uma
mulher morena; morena vírgula, ela tinha pele branca e
cabelos negros. Vê-lo com outra não foi o que me quebrou,
embora isso também tenha doído muito. O que me fez sangrar
foi vê-lo passando a mão em sua barriga de grávida e a
chamando de “preciosa”. Havia muito carinho ali, mas nada
romântico. Enxergara aquela garota na TV, alguns meses atrás:
era mulher de Lucky Donovan, um dos homens mais
influentes da cidade, pelo que soube, e melhor amigo de Jason.
A dor naquela hora foi tremenda, quase desfaleci lá
mesmo no corredor da loja, mas me controlei, ou ao menos
tentei. O gesto carinhoso dele para com ela foi demais, era pior
do que saber que ele estava fodendo por aí, porque naquele
momento eu queria que fosse comigo, o que era impossível.
Eu ansiava tanto por seu toque que tudo em mim gritava
pedindo para ser feito ou morreria.
Vendo a cena dele passando a mão na barriga daquela
mulher me fez lembrar e desejar que ele tivesse feito o mesmo
quando eu estava grávida de nossa filha. Queria suas mãos,
seus beijos e tudo que ele viesse a dar. Eu teria tudo isso se
não tivesse partido, ou talvez estivéssemos sob lápides
agora… Estremeci. Isso não aconteceria.
Foi por isso que saí de lá quase correndo antes dele me
ver, por mais que eu o quisesse, eu não poderia.
Thomas veio até mim e me abraçou, me reconfortando.
— Taby, querida…
— Eu vi alguém que não vejo há muito tempo —
comecei a contar. Fomos interrompidos com a porta sendo
escancarada, e depois uma voz.
— Ora, ora, será que a dona Sandra sabe que a está
traindo com uma mulher mais nova, Thomas?
Eu me afastei de Thomas enquanto ele fazia uma careta
pela suposição do imbecil que entrou sem bater, como se a sala
fosse dele.
Fuzilei o babaca. Ele tinha olhos negros e sorriso de
comedor de merda, achando que sabia de tudo, mas na verdade
não sabia de nada.
— Isso que está atrás de você se chama uma porta, e ela
estava fechada. Deveria bater antes de entrar, idiota, não acha?
— Cerrei meus punhos, querendo esmurrá-lo.
Um cara que estava ao seu lado riu. Ele tinha cabelos
negros curtos, com mechas sobre seus olhos azul-cobalto, que
combinavam com a pele bronzeada e barba por fazer.
— Gosto dela — disse com um sorriso que faria as
mulheres caírem de joelhos aos seus pés. — Eu falei para
batermos antes de entrar.
O comedor de merda o fuzilou.
— Que tal ficar calado, Bryan? — rosnou ao outro, que
só deu de ombros, ainda sorrindo. Após, seus olhos mortais
pousaram em mim. — Você tem a boca muito espertinha, não
é?
Dei de ombros.
— É o que dizem. — Se ele achava que teria medo dele,
estava muito enganado. Já lidei com homens piores. — O que
faz aqui na minha sala? Garanto que não veio só para ver se
minha boca é esperta.
Ele pareceu não ligar para o que eu disse, deixando-me
com mais vontade de quebrar seus dentes.
— Estou curioso. — Olhou de mim para Thomas. —
Vocês dois…
Revirei os olhos.
— Não existe “nós dois”, seu idiota, ele é como um pai
para mim. Agora diga logo o que quer ou desapareça da minha
sala, porque só de olhar para sua cara me dá vontade esmurrá-
la.
Ele fechou a cara e deu um passo até mim com os
punhos cerrados. Perguntei-me se ele iria realmente me
enfrentar; quase ri disso. Não sei quem ganharia: ele era forte,
mas eu sabia lutar, derrubei caras maiores que ele.
Thomas se pôs entre nós para evitar a carnificina que eu
estava prestes a fazer nesse arrogante.
— Tabitta, sossegue — ordenou, fitando sombriamente o
homem que vestia um terno social que valia mais do que
minha moto. — E você também, Dennis. O que faz aqui? Não
veio de Manhattan apenas para ver se eu estou traindo minha
esposa — sibilou.
Dennis revirou os olhos.
— Precisamos dela para uma missão junto com o agente
Bryan. — Olhou para mim e depois para o cara de olhos azuis.
— Tantos agentes na CIA e você vem no FBI buscar
uma minha? — O tom de Thomas era de desdém. — Por que
não foi no FBI de Manhattan ou no seu departamento?
— Você quebrou o regulamento de não contar a ninguém
sobre nós. — O cara teve a audácia de fechar a cara.
Thomas riu de modo frio.
— Não vai precisar dela para sua missão? Então com
certeza ela terá de saber de onde vocês são e o que vão fazer,
não é?
— Posso recusar, chefe?
Dennis me cortou.
— Você não pode.
Eu ri, pensando em esmagá-lo com o salto de dez
centímetros da minha bota.
— Não perguntei a você. — Mirei meu chefe, ignorando
o rosnado do Dennis.
— Você não pode recusar — repetiu. — Ou trabalha
conosco, ou vai presa.
Gargalhei de modo zombeteiro.
— Posso saber o que fiz de tão grave que a CIA precisa
me levar presa? Não estou conspirando contra o meu país ou
algo do tipo. Essa é a função de vocês, não?
— Tabitta — Thomas me repreendeu.
— Você tem uma ligação com quem precisamos prender,
estamos atrás dele há muito tempo. — Observou com atenção
minha reação diante de suas palavras.
Ri com escárnio.
— A única ligação que você vai achar entre eu e um
bandido é minha bota indo parar em suas bolas como um
presente de boas-vindas.
Dennis sorriu, não sei se zombando de mim ou pelo que
eu disse. Medo de ser presa eu não tinha, afinal, não devia
nada a ninguém.
— Mostre a ela, agente Bryan.
Franzi a testa enquanto Bryan abria sua bolsa preta nas
costas e pegava uma pasta da mesma cor, entregando-a a mim.
Olhei para Thomas, que estava de cenho franzido. Abri a pasta
e o que vi fez meu coração saltar pela boca, minhas mãos
suaram frias de dor e medo. Eu ofegava.
— Tabitta, o que é? — indagou Thomas.
Eu o ignorei, passando folha por folha. A primeira foto
mostrava eu, uma adolescente de dezessete anos, ajudando sua
avó a fazer compras na esquina de casa. Margareth, com seus
sessenta anos, cabelos grisalhos e pele enrugada pela idade,
sorria para mim. Lembrava-me desse dia, eu não queria ir com
ela, não gostava, porque vovó conversava com todos e
demorava a voltar para casa. Sinto falta disso, da sua alegria.
Alguns dias depois da minha fuga naquela noite, chequei
nos jornais e até na polícia se havia notícias de um corpo
encontrado na rua em que morávamos em Austin. Foi um
choque descobrir que não, mas isso não me dava esperança de
ela estar viva, eu tinha certeza de que ele apenas sumiu com o
corpo, só para eu não achá-la. Aposto que Sebastian fez isso,
assim ninguém investigaria o assassinato.
Tudo em mim doía, meu coração estava sangrando pelas
memórias vivas daquele dia. Bloqueei isso ou desfaleceria ali,
na frente dos agentes. “À noite você se deixa sucumbir à dor,
Tabitta”, pensei como um mantra.
A outra foto era de um homem que procurei por anos
provas para mandá-lo para cadeia pelo resto de sua vida, foi
por isso que me tornei agente do FBI, sabia que logo
encontraria seus podres: tráfico humano, tráfico de drogas e
vários outros crimes. Até agora, não conseguira provas
suficientes. Sempre que chegávamos perto, outra pessoa
assumia a culpa e ia para a cadeia no lugar do salafrário
desumano.
Entretanto, eu também encontrei pessoas que
trabalhavam para ele, como Franklin Salazar, um velho que
vivia pendurado em meninas menores de idade. Um pedófilo
desgraçado, no qual adoraria colocar minhas mãos. Seu pau
não levantaria nunca mais, nem à base de remédios, depois
que eu acabar com ele.
Nas fotos seguintes, o velho safado apertava as mãos de
Sebastian Ruiz em sua casa no México, com duas meninas de
quatorze ou quinze anos atrás deles. Elas estavam de cabeça
baixa, uma morena e outra ruiva. Eu sempre odiei homens que
abusavam de mulheres, para mim todos deveriam ser
decapitados. Claro, por ser uma policial, com obrigação de
fazer justiça, não deveria pensar isso; não ligava. Esses vermes
não deveriam existir.
Respirei fundo. Olhei para Dennis, que pela primeira vez
estava sério.
— O nosso infiltrado no cartel no México nos disse que
Sebastian Ruiz teve uma filha. — Ele me olhou de lado, me
sondando. — Uma filha que desapareceu com sua avó no
Texas, e nunca mais voltaram para lá. Onde vocês duas foram
morar? — Apontou para a pasta — As fotos mostram só
Sebastian e os seus homens saindo da casa, não vocês. Onde
está sua avó agora? Eu tenho quase certeza que ela não
sobreviveu, não é?
Evitei sua pergunta e fiz outra. Não queria pensar
naquele momento, eu já tentara imaginar o que aquele crápula
fez com minha avó, mas nada de eu descobrir isso. Talvez ele
tenha tirado ela de lá pelo mesmo lugar que eu saí da casa, foi
a única conclusão que achei. Talvez eles soubessem que havia
câmeras no local.
— Não. Mas se tem um infiltrado no seu cartel, por que
precisa de mim? Ele não pode buscar as provas de que
carecem?
— O agente Milles foi descoberto e morto há alguns dias
— falou Dennis, sombrio. — Por isso vim aqui hoje.
— Você deu queixa do Sebastian Ruiz matando sua avó?
— questionou Bryan.
Eu suspirei.
— Queixa sem corpo? Por quatro anos tive esperança
dela, de alguma forma, ter sobrevivido. Com o tempo e sem
notícias, cheguei à conclusão de que ela morreu mesmo, mas
não podia ligar Sebastian ao crime, por isso me tornei policial,
para buscar prendê-lo. — Minha voz estava fraca no final.
— Vamos conseguir pegar esse cara — garantiu Bryan.
— E o que tenho a ver com isso? Eu não tenho nenhuma
relação com seus crimes e sua crueldade.
Ele riu como se guardasse um segredo, ainda sexy.
— Tabitta Rodrigues Ruiz, nascida no Texas em agosto
de 1989, mãe Luciene Rodrigues, ex-mulher de Sebastian
Ruiz. Foi assassinada em julho de 1991 no México. Você foi
criada por Margareth Rodrigues, que está desaparecida desde
março de 2006 — falava sem nem mesmo olhar na pasta. —
Diz que ela foi assassinada por Sebastian, e que presenciou
todo o acontecido, e logo depois você desapareceu sem deixar
rastros. Todos na cidade pensam que vocês se mudaram.
— Como vocês a descobriram aqui? — A voz do
Thomas soava rouca. Podia ver que ele estava magoado por eu
esconder isso dele. Devia ter contado a ele e Mama sobre meu
passado e minha avó. Eles foram sempre bons comigo. Eu era
realmente uma cadela egoísta.
— O que nos levou a você foi nosso infiltrado no
México mencionando seu nome antes de sua vida ser
eliminada a mando de Sebastian. — Suspirou. — Então
chequei mais a fundo e a achei, uma agente do FBI.
— Eles sabem onde estou morando e onde trabalho? —
Minha voz falhou, temendo que ele viesse atrás de mim e
descobrisse sobre Emily.
— Sebastian sabe que você está no FBI, um dos
subordinados dele até sugeriu que a pegasse para trabalhar
para eles. — Bryan sacudiu a cabeça com desdém. — Mas ele
disse que você não os ajudaria nunca. Supus que ele sabe que
você o odeia, e que quer sua ruína.
— Com cada fibra do meu ser — disse com ferocidade.
— Por isso queremos você conosco, assim que
prendermos Franklin Salazar, e você fizer a prisão dele. Nós
pensamos que ele sairá da toca, pois Franklin é seu braço
direito. É onde pegaremos Sebastian e seus cúmplices —
explicou Bryan, sério.
— Conseguimos a informação de que Salazar é o cabeça
do tráfico humano. Não há sucessor para este cargo, por isso
temos certeza de que Sebastian mesmo vai assumir o que
Salazar fazia depois que o trancafiarmos — disse Dennis.
— Está falando em me usar como isca para atrair
Sebastian?
— Não temos outro jeito, a solução é você nos ajudar. O
problema é que não é só ele que está nesse ramo, há peixes
maiores ainda, incluindo agentes do FBI e do meu
departamento, deputados e vários políticos, juízes… a lista é
imensa.
— Daqui? Quem seriam esses? — Fiquei em choque.
Tentei imaginar todos com quem trabalhava e pensar que
algum deles era um maldito rato.
— Não posso dizer, não posso deixar que vaze, e
descobrirem que suspeitamos deles. Quero pegar todos os
ratos de uma vez — rosnou Dennis.
Eu sorri.
— Dê-me cinco minutos com cada um deles, vou
ensinar o que faço com ratos e pedófilos.
— Tabitta, nosso serviço é prendê-los e mantê-los
presos, não dar lições usando a força — contra-atacou
Thomas.
Dennis revirou os olhos.
— Vamos achar provas suficientes para mandá-los por
toda sua vida para a cadeia. Não posso mais mandar infiltrados
para o cartel, afinal, levaria anos para a pessoa chegar perto
dele, e mais mortes que não quero ter sob minhas mãos. Agora
ele está desconfiado e sua segurança foi reforçada, então
vamos atraí-lo para fora do México e buscar mais provas
contra ele. — Pela primeira vez, Dennis parecia triste, acho
que devido ao seu agente que morreu.
— Qual o plano? Eu sei que Franklin Salazar é um
tremendo de um canalha que abusa de meninas novas. Como
será a operação? Precisamos de algo concreto para o
prendermos e o deixarmos lá sem direito à fiança.
Dennis foi até minha mesa, pegou um pendrive e
colocou em meu notebook. Seus olhos se estreitaram ao ver a
foto de duas pessoas no plano de fundo do meu PC.
— Jason Falcon? Quem diria que a dama de gelo tem
um ponto fraco por um homem. Há uma aposta correndo por
aí sobre você gostar de mulher — provocou.
Revirei os olhos e bufei. Até parece que não ouvi isso
antes. Ali estava a foto de Jason no ringue de luta, e Emily
sorridente ao sair da escola no ano passado. Os dois amores da
minha vida.
— Apenas faça o que tem de fazer e pare de prestar
atenção no que não diz respeito a você — repliquei.
— Acho que você precisa de um homem de verdade, e
não ficar sonhando com um famoso — ronronou. — Se quiser,
estou disponível. — Seu olhar varreu meu corpo, dando um
sorriso.
Eu ri com desdém.
— Você acha que tem chance comigo? Se enxergue, nem
se eu estivesse bêbada ficaria com você. Cuide do seu
trabalho, em vez de dar em cima de mim. Vamos ao plano, já
que veio aqui até falando em me prender por estar aliada com
um homem que tem centenas de mortes nas costas, tráfico de
menores e de drogas, porte ilegal de armas e obstrução da
justiça. Eu me pergunto por que ainda não aniquilaram o filho
da puta… Não seria a primeira vez que a CIA faz algo assim
por debaixo dos panos.
— Você tem uma ideia muito errada da gente — rosnou,
mas abriu o arquivo no PC e virou a tela para nós.
— Pelo visto, você sabe bastante sobre seu pai… —
começou Bryan.
— Oh, oh, pare aí, não é por que aquele monstro deixou
seu esperma na minha mãe que quer dizer que seja meu pai —
rosnei. — O único pai que considero é o Thomas.
— E eu aqui pensando que vocês eram amantes. —
Dennis sorriu para mim e para careta do Thomas. Os olhos do
Papy estavam grandes, acho que mais pelo que eu disse dele,
que o considerava meu pai. — Mas ela é muita areia para o
seu caminhão.
— Pare de dizer besteira e explique o plano, não vou
arriscar minha cabeça ajudando a CIA sendo que nem trabalho
para eles.
— Você é o nosso melhor elo para usar contra ele. Aqui.
Precisamos derrubar todos seus pontos de drogas, prostituição
e vários outros. No final, você irá à TV e dirá que logo ele será
preso.
— Aposto que ele vai ficar furioso com isso.
— Sim, ele vai, mas acreditamos que, em vez de mandar
alguém matá-la, virá ele mesmo, é aí que o pegaremos. —
Apontou para a tela. Ali, havia dois contêineres perto de um
píer, estava noite, mas alguma claridade emanava de um poste
de luz não muito longe. O que vi na outra foto me chocou e me
fez quase vomitar: as portas abertas do contêiner e, dentro,
várias mulheres, aliás, crianças e adolescentes. Da faixa dos
quatorze aos dezenove anos, sujas e encolhidas.
— Essas fotos foram tiradas no porto de Oakland, na
Califórnia, semana passada. Aqui há mais ou menos quinze
meninas, pelas notícias que tive da polícia local, que logo
acionou o FBI porque sabiam de quem era aquilo, e que o
departamento do FBI estava atrás deles há tempos. Thomas
chamou o UNODC, o Escritório das Nações Unidas. As
garotas eram de países diferentes, algumas do México, outras
do Brasil, Argentina, Tailândia e China. Todas raptadas de
suas famílias.
— Houve quatro casos como esses no Texas, na Geórgia
e na Califórnia. O policial Lewis, da Califórnia, me ligou e
pediu para nós montarmos um esquema para encontrar as
pessoas que estavam fazendo isso. Então chegamos ao
suspeito que temos, por isso Lewis nos avisou de novo sobre
essa apreensão que fez na Califórnia — elucidou Thomas. —
Alguns agentes foram para lá buscar mais provas contra o
suspeito que foi preso, falar com os pais das garotas e sondar
se possuem mais suspeitos neste caso.
— Por que não me disse sobre isso? — perguntei,
magoada.
Ele levantou as sobrancelhas negras para mim.
— Tabitta, eu sou chefe deste departamento, nem
sempre posso dizer tudo aos meus funcionários. Querendo ou
não, aqui você é uma, e lá fora é minha filha, então trate de
aceitar. E também não vi você me dizendo sobre seu pai ser
um dos homens mais procurados da América. Um homem com
a ficha tão extensa quanto o fã-clube dos Beatles.
Eu me encolhi por dentro com o ressentimento em sua
voz.
— Sinto muito…
— Depois vamos conversar sobre isso, em casa com
Sandra. Agora, estamos no trabalho. — Usava um tom duro.
Sempre falava assim quando estava magoado ou me reprendia.
— A polícia encontrou um homem com as meninas, o nome
dele é Tom Myers. Ele foi encarcerado e morto na prisão no
dia seguinte, antes de falar algo. Acredito que Sebastian
mandou executá-lo para não delatar nada que tenha feito ou
mandou fazer, como raptar as garotas.
— Certo, então o que Franklin tem a ver com essas
meninas? Sei que aquele velho safado fica com garotas
menores de idade, mas ele também participou desta vez? Ele
estava lá nesse dia? — sondei, embora crente que sim.
— Sim, ele estava na Califórnia, mas o desgraçado tem
um álibi.
— Me deixe adivinhar: disse que estava transando em
um quarto de hotel qualquer, não é? — indaguei com
amargura.
— Sim, foi checado nas câmeras de segurança do Hotel
Belmont que esteve realmente lá com uma mulher maior de
idade. Por isso, não conseguimos ligar ele ao tráfico de
humanos. Sabemos que ele estava lá, só não conseguimos
provar — disse Bryan.
Dennis me olhou.
— Aí que você entra, Franklin abriu um clube de BDSM
Fetish em Manhattan. Acreditamos que, neste lugar, não
frequentam só meninas maiores de idade, já que seu fetiche é
mais por garotas novas.
Odeio homens abusadores de menores. Por mim ele
estaria morto. Contudo, antes eu teria o prazer de fazê-los
comerem seus paus e os estupraria com uma pá enferrujada
para eles saberem como é bom ser rasgados.
— Qual vai ser o meu disfarce? Se você disser que vou
ter de servir de submissa a alguém, te castro aqui mesmo. —
Fuzilei o Dennis — Amo meu trabalho e adoraria ver Franklin
servindo de mulher na prisão, mas não vou foder…
— Ninguém aqui falou que vai foder alguém —
retrucou. Senti-o se encolher. Era bom mesmo, porque não
transaria por aí para cumprir meu trabalho e levar alguém
preso. Se eu fosse assim, poderia ter entrado disfarçada no
cartel do México, dizendo que estava com Sebastian, e feito
tudo que quisesse até ele abaixar a guarda e matá-lo. Não sou
capaz, por isso minha justiça e vingança estão demorando
tanto.
— Tenho uma agente disfarçada lá dentro que está
fazendo isso, mas ela não é a submissa, e sim o contrário.
Fizemos assim para ela não precisar se deitar com ninguém,
mas, às vezes, isso acontece, faz parte do trabalho. — Dennis
acrescentou, me olhando de lado.
— Bom, ainda bem que não trabalho para CIA, não é?
— retruquei, depois franzi o cenho. — Então o que vou fazer
lá dentro? Faxina?
Dennis e Bryan fitaram meu corpo. O olhar do Dennis
era de quem queria me devorar, mas Bryan apenas me mirou
incrédulo, como se duvidasse que eu serviria para ser
faxineira. Esse homem com cara de bad boy, com certeza, já
foi fisgado por uma mulher.
Dennis riu.
— Desculpe — disse, entre risos. — Querida, se você
estivesse vestida de faxineira, seria a fantasia de todos os
homens daquele lugar. Logo Franklin estaria entrando em
contato com você para trabalhar para ele. Você, com certeza,
sabe o que exerce sobre os homens, não é?
Sei que sou bonita, não posso dizer que puxei os genes
dos meus pais. Puxei vovó quando era nova. Ela tinha cabelos
louros e longos, olhos verde-esmeralda e corpo curvilíneo,
assim como eu. Vi sua foto uma vez. Linda! Esta palavra a
descrevia. E ainda era até o dia em que Sebastian a matou
friamente na minha frente; ele pode não ter puxado o gatilho,
mas não significa que ele não a matou.
Pigarreei, ignorando o aperto no meu peito com
lembranças dolorosas.
— Então o que vou fazer? Qual será meu papel? —
Tentei controlar a voz.
O cara de pau sorriu, eu sabia que ali tinha coisa.
— Você será a submissa de Bryan…
— Espere, o quê? — interrompi, chocada — Eu não
vou…
Bryan me cortou.
— Não vamos transar ou algo do tipo, apenas fingir que
sou seu mestre. E, você, minha submissa.
— E se houver uma situação em que tenhamos de fazer
alguma coisa? — sussurrei.
Sua expressão caiu um pouco, acho que com medo de
algo que eu não sabia o que era.
— Vamos torcer para que isso não aconteça, porque não
estou a fim de trair minha namorada. — Estremeceu com esse
pensamento. Gostei dele, isso que era homem fiel, e não o
bastardo do Lincoln, que não respeitava a coitada da sua
namorada.
— A nossa agente infiltrada dará cobertura a vocês dois.
Não posso dizer quem é ainda; ela vai procurá-los assim que
chegarem lá amanhã à noite. Nós precisamos de todas as
provas que conseguirmos contra Franklin Salazar. Vamos
pegar os peixes pequenos, depois o grande.
Certo, eu não gostei disso, mas penso que podia lidar.
Esperava não precisar tocar em Bryan ou fazer as coisas que
fazem naquele tipo de clube. Nunca fui em um, porém, sabia
como funcionava.
Logo começamos a tramar nosso plano de ação. Não
apreciava meu papel lá dentro, e nem o fato de servir de isca
para atrair Sebastian do México aos Estados Unidos, no
entanto, me sacrificaria para ligá-lo ao tráfico de humanos, que
estava acontecendo aqui como uma maldita praga.
A justiça por seus atos estava para começar. Eu faria de
tudo para ele cair; aliás, não só ele, mas todo seu império do
crime.
CAPÍTULO 2

Reencontro
JASON

— Jason, se concentre, cara — ordenou Silas, o meu


treinador. Ele também era meu amigo há muito tempo, acho
que desde que me tornei lutador profissional, há quatro anos.
Silas me achou brigando na faculdade e nas ruas de
Cambridge, Massachusetts. Aquele foi um tempo difícil para
mim, pois minha cabeça não estava em um bom lugar. Caçava
brigas com todo mundo que me olhava. Ele me treinou para
descarregar por meio do esporte essa raiva que me consumia
vivo.
No ringue, deixava sair todas as frustrações e a raiva
presas dentro de mim, me corroendo como larvas de fogo.
Essa ira que me consumia se dava por causa de uma garota do
meu passado, uma que ficou na minha maldita pele, como uma
tatuagem. “Ou pior, porque tatuagens podem ser removidas. O
sentimento por ela, não”, pensei, amargo. Mulheres, bebidas,
nada a apaga de dentro de mim.
Em março, fará dez anos desde que Tabitta se tornou
tudo na minha vida. Ela era doce, meiga, tão linda e inocente
que eu só queria colocá-la em um pedestal e dizer para
ninguém tocá-la. E, se por acaso isso acontecesse, eu o
mataria.
Por um ano ela foi meu mundo inteiro, por um ano ela se
tornou minha razão de viver, de ser feliz. Depois, se foi como
um cometa, deixando-me destroçado e cheio de raiva por não
ter sido homem suficiente para ela. Mesmo que oito anos e
nove meses tenham se passado após sua partida, não conseguia
esquecê-la, sentia o seu cheiro de jasmim a me consumir todas
as noites. Seu gosto de pêssego ainda parecia estar na minha
pele e na minha boca.
Quando conheci Tabitta, ela se tornou minha luz no
meio da escuridão que eu vivia. Minha vida em casa não
estava boa, aliás, nunca foi, era como viver no inferno.
Entretanto, com ela, tudo era o paraíso.
Eu já tive milhares de mulheres, mas nenhuma delas me
marcou do mesmo modo. Nenhuma mulher me fez sentir
como se o ar me faltasse só ao olhá-la. Nenhuma delas fez
meu coração bater tão forte, como se fosse parar, só em estar
perto dela. Nenhuma mulher me fez esquecê-la, nem mesmo
por um segundo. Era só sexo, mais nada. Acho que era por
isso que eu as deixava amarradas e as fodia por trás, assim não
veria seus rostos e não me sentiria culpado por usá-las como
eu fazia.
Senti um soco em minha boca e cambaleei para trás, me
trazendo de volta ao presente.
— Droga, Jason — sibilou Silas. — Onde está a sua
fodida mente?
Nós dois treinávamos no ringue para uma luta que teria
em alguns dias em Nova Jersey. Esse era o meu problema:
onde a porra da minha mente se encontrava, deixando meu
cérebro mais fodido do que já era. Soube por Angelina que
Tabitta morava em Trenton.
Suspirei, limpando a boca e tirando o sangue dali.
Merda, por que não parava de pensar nela nem por um
segundo? Desde o dia em que Angelina, a namorada do Ryan,
disse que era amiga da Tabitta, eu andava assim desligado.
Isso foi há dois meses. Quando soube onde morava e que ela
não estava longe de mim, eu mal pude acreditar. Acreditar que
eu a encontrei após anos sem saber seu paradeiro, como estava
vivendo, se estava feliz. Depois desse dia, ela estava mexendo
e fodendo com a minha cabeça de novo, ainda mais do que
antes.
Não fui procurá-la em sua casa, mesmo sabendo onde
ela morava e o que fazia da sua vida. Tão diferente do que ela
imaginara. Lembro-me de Tabitta dizer que sonhava em ser
professora de jardim de infância, porque amava crianças. Uma
profissão muito diferente do que aquela com que trabalhava
hoje. Jamais imaginei que se tornaria uma agente do FBI. Ela
com armas nas mãos, enfrentando homens que poderiam
machucá-la… Só de pensar nisso, me dava vontade de matar
todos que tentassem, qualquer um que encostasse um dedo
nela. Ainda tinha o instinto de protegê-la, igual fazia no
passado.
Eu não conseguia simplesmente ir vê-la, pelo fato de eu
não ser capaz de perdoá-la pelo que fez, por ter me deixado
sem dizer adeus. Quais foram as suas razões? Eu não fui
suficiente para ela? Não fui homem o bastante? Às vezes,
achava que era por essa razão que eu ficava com mulheres
aleatórias, como se fosse provar algo com isso, como se fosse
provar que eu era bom de cama ou apenas bom o suficiente.
Mas isso não acontecia, porque logo depois eu me sentia como
um lixo. Dava razão a ela para ter me deixado.
— Maldição! — rosnei, saindo da minha academia que
ficava na Madison Ave.
Silas praticamente me expulsou de lá, já que não estava
conseguindo me concentrar em nada no treino. Já era quase
onze horas da noite. Chega! Isso acabaria hoje, eu não podia
ficar com essa raiva se apossando de mim por ela ter me
deixado no passado sem nenhuma explicação. Precisava fazer
alguma coisa, mas o que iria me ajudar?
Cheguei ao clube de BDSM Fetish, que ficava mais
afastado do centro. Nunca frequentei este lugar, era novo, acho
que abriu há pouco.
Não fui à Rave, mesmo com meus amigos estando lá e
me convidando. Minha cabeça não estava boa para ficar perto
de alguém, eles começariam a fazer perguntas que eu não
poderia responder. Não agora. Não com a porra do meu peito
me sufocando.
Precisava me manter no controle ou explodiria. O único
lugar onde podia conseguir isso era o clube de dominantes. Há
tempos não ia a um desses: fazia dois meses que não ficava
com mulher nenhuma, não sentia vontade de fazer sexo com
ninguém mais. Não depois de saber onde Taby vivia, só a uma
hora e meia de mim. Tão perto, e ao mesmo tempo tão longe.
Como o sol: eu o vejo, mas não posso me aproximar ou tocá-
lo.
Entrei no clube, estava meio escuro, com luzes
vermelhas. Era assim mesmo, pois dava mais suspense,
vontade e prazer. As paredes do salão eram vermelhas.
Uma mulher nua e presa por correntes pendia do teto.
Outras, de joelhos, prostravam-se na frente de seus Dons.
Pensei que, vendo essas cenas, meu pau levantaria. Pelo jeito,
me enganara. Estava frustrado por não sentir nada assistindo a
cenas de sexo dos Dons com suas submissas. Não tinha
vontade de fazer o mesmo com uma mulher qualquer desse
lugar, apenas sentia nojo disso tudo. Nojo e raiva de mim
mesmo, por ser tão fodido.
Estava prestes a dar a volta e ir embora quando vi
alguém que eu nunca pensei em ver de novo, não ali naquele
lugar. Sonhava o tempo todo em reencontrá-la, contudo, nunca
num ambiente como o clube. Travei meus músculos e meu
coração bateu forte no peito, parecia que logo teria um enfarto.
Mas eu não me importaria de morrer vendo, pela última vez, o
rosto que sempre iluminou meu mundo.
Tabitta estava na minha frente; a menina de dezoito anos
que usava vestidos longos, cabelos presos num rabo de cavalo
e óculos de grau agora estava ali. E virou um mulherão. Linda!
Embora ela sempre tenha sido. Sempre foi como um sol para
mim, onde entrava, iluminava tudo com seu esplendor e
doçura.
Usava seus cabelos louros soltos às costas. Com salto
alto, tinha um metro e oitenta, mais ou menos. Lembro-me de
gostar de colocar meus dedos nos seus fios lisos e sedosos.
Seu cheiro de jasmim era de outro mundo. Sua silhueta estava
mais delineada do que me lembrava; antes, ela era mais cheia,
não gorda, claro, apenas seus vestidos a deixavam um pouco
maior, o que achava bom, assim ninguém veria seu corpo,
além de mim. Ela também usava óculos de grau na época,
escondendo seus olhos verde-esmeralda. Mesmo com eles, não
deixava de ser linda, tal qual agora.
Tornara-se ainda mais perfeita, mas a reconheceria em
qualquer lugar do mundo. Vendo-a assim, me dava vontade de
matar qualquer um que olhasse para ela. Porém, isso não podia
acontecer, porque ela não me pertencia mais.
Encontrava-se a alguns metros de mim, vestindo uma
saia de couro preta curta que parecia mais um cinto, nem podia
chamar aquilo de saia, pois o tecido mal cobria a bunda dela.
Vestia um sutiã preto, também de couro. Seu rosto estava
forrado com maquiagem, bem diferente da menina doce pela
qual me apaixonei: no passado, ela não gostava de usar nada
de maquiagem, e mesmo assim continuava linda; aliás, era
mais linda sem. Foi isso que me fez apaixonar por ela.
Entrou no salão e foi direto até um homem
acompanhado de duas mulheres. A primeira era loura, de
joelhos na sua frente, com os braços presos para trás; bonita,
mas não chegava perto da borboleta. Havia também uma
morena do lado do cara, usando um vestido vermelho; não
parecia submissa.
Taby não me viu, porque estava de costas para mim.
Mesmo no escuro, enxerguei a tatuagem de borboleta nas suas
costas, perto da bunda. Pedi para fazermos juntos,
simbolizando nosso amor. Ela ainda estava ali. Eu que escolhi
esse lugar, por que era um local que eu gostava de ficar
beijando. A minha tatuagem fiz no meu peito direito, mas a
cobri com uma águia; era doloroso demais vê-la todos os dias
e saber que nosso amor se foi, ou o dela, pelo menos. O meu
continuava vivo, me comendo e me corroendo por todos esses
anos. Pelo visto, Taby não apagara a dela. Eu queria saber seus
motivos para não removê-la de sua pele, já que me tirou da sua
vida como se eu não fosse nada.
Sua barriga lisa, onde muitas vezes passei a língua,
estava de fora. O que eu amava fazer; aliás, eu amava fazer
tudo com ela. Por que ela estava naquele clube? Por que se
vestia assim? Como se fosse uma dessas garotas submissas?
Tabitta até tinha o colar de submissa. Será que era uma
submissa de alguém? Meu peito doeu em resposta, por vê-la
desse jeito. O pior seria ela estar com alguém. Com certeza
pertencia a algum desses caras.
Ela chegou no cara barbudo, que estava com as duas
mulheres. Será que era dele? Se fosse, por que as outras duas
estavam ali?
— Oh, maldição, não vou simplesmente ficar vendo isso
e não fazer nada — sibilei, olhando com fúria para o cara.
Taby sorriu para ele ao se aproximar. O bastardo largou
a mulher de joelhos à sua frente e foi ao seu encontro. Que
homem não iria? Só se fosse cego. Ele pegou seu colar e a
puxou para ele, como se fosse beijá-la. Ela desviou o rosto, e
ele beijou seu pescoço.
Eu poderia ter ficado ainda mais furioso vendo essa
cena, se não estivesse enxergando suas mãos em punhos, como
se quisesse acertá-lo na cara. Bom, eu estava louco para fazer
isso também. Meu sangue ferveu quando ele pegou sua bunda.
Eu me sentia como se tivesse uma bomba dentro de mim,
pronto para explodir em mil pedaços.
Cerrei meus punhos e fui até eles sem me preocupar
onde eu estava e que eu poderia ser preso por isso. Puxei o
braço dela para longe dele e esmurrei o cara, que já ia
reclamar, mas não teve tempo, porque caiu desacordado no
chão. Eu só ouvi o poc do meu punho acertando sua face.
— Que porra foi essa — ela rosnou, irritada. Fez
menção de me acertar, mas ela travou no chão, com as mãos
caindo ao lado do corpo assim que seus olhos encontraram os
meus. Congelou no lugar, como se tivesse sido petrificada.
Eu pude ver que ela me reconheceu na mesma hora,
talvez já soubesse o que eu me tornei, a fama de lutador. Sua
respiração ficou ofegante, como se tivesse corrido muito e
cansado. Mas também vi dor em seus olhos verdes.
— Jason… — Sua voz falhou.
Nesse momento, parecia que existia somente nós dois. O
clube sumiu, as pessoas sumiram. Custava a acreditar que ela
estava na minha frente. E que eu a amava da mesma forma que
antes. Entretanto, também senti raiva por ela ter me deixado
sozinho para superar sua perda, seu abandono. O que não foi
superado merda nenhuma, a dor sempre esteve comigo, agora
ela só aumentou mil vezes, tanto que era quase difícil respirar.
— Olá, Tabitta, quanto tempo. — Soei duro ao
cumprimentá-la.
Seus olhos se estreitaram com o ressentimento na minha
voz. O que ela queria? Que eu a recebesse em um tapete
vermelho cheio de rosas? Ela foi embora sem nenhuma
explicação, porra. Taby devia ter sido mulher o suficiente para
dizer que não me queria mais na sua vida, dizer que acabou e
pronto.
Algumas pessoas gritaram pelo segurança. A mulher
loura começou a berrar. Não dei uma mínima para isso.
— Quem é ele? — indagou a morena que estava ao lado
do cara.
Tabitta piscou, saindo do congelamento, e olhou sobre o
meu ombro para alguém. Depois, pegou meu braço.
— Eu resolvo isso, então continue — respondeu à
mulher sem tirar os olhos de mim. Puxou-me para um corredor
meio escuro, com as paredes de vidros, onde podíamos assistir
aos quartos.
Ela pegou algo no sutiã e colocou no ouvido: uma
escuta.
— Houve um problema, continuem sem mim. — Estava
rouca.
A garota foi disfarçada àquele lugar, usando só esse
pedaço de pano? Seus superiores aceitaram isso? Malditos
bastardos. Aposto que todos gostavam de vê-la assim.
— Ele ia encontrar com o seu subordinado, foi
quando… — Ela parou e me olhou de lado. — Bom, o James
Martine está inconsciente agora. Franklin acabou de chegar.
Eu segui sem dizer nada, esperando para ver o que ela
faria. Tabitta me puxou para um dos quartos, que estava
recheado de coisas, como a cruz de Santo André no canto e
uma plataforma cheia de correntes em uma parede. Ali era
onde os Dons prendiam suas parceiras para elas ficarem à sua
disposição.
Ela suspirou e continuou falando com quem quer que
fosse pelo fone sem fio.
— Alguém do meu passado — respondeu enquanto
fechava a porta.
Aquilo foi como um soco no estômago. Se eu lutasse
com dez homens e tivesse apanhando deles, não doeria tanto
quanto doeu ela dizendo isso. Então Taby me considerava
apenas alguém do seu passado, que nunca significou nada?
Alguém sem importância?
Expirei para me acalmar e tentar controlar a dor que me
comia vivo.
— Sim. Mantenha-me informada. — Desligou a coisa e
me olhou com os olhos de ventania, o seu verde me pareceu
mais escuro. — Por que droga você foi bater no James?
Estreitei meus olhos.
— Ele tocou em sua bunda. — Cerrei os dentes. — O
que tinha na cabeça para se submeter a isso? A se vestir assim,
e ainda por cima vir em um lugar como este?
Ela maneou a cabeça de lado e riu, amarga.
— Falou o cara que fica com duas mulheres de uma
vez? Agora está se preocupando se um homem tocou em
minha bunda? — dizia, venenosa. — Você só pode estar
brincando com a minha cara, porra!
— Até parece que você também não ficou com homens
por aí depois de ir embora e me deixar sem uma maldita nota
dizendo pelo menos adeus — rosnei. Não precisava explicar
que nunca fiquei com duas mulheres ao mesmo tempo, apenas
com uma, e dividia ela com meus amigos, Ryan e Lucky, antes
de se apaixonarem por suas namoradas. Jordan também.
Eu queria matar todos os homens que a tocaram durante
toda sua vida, desde quando ela foi embora até o maldito
inconsciente lá no salão.
Seus olhos verdes viraram tempestade. Eu sabia que ela
estava perto de perder a cabeça, parecia que queria bater em
mim, podia ver suas mãos em punhos, destacando os nós dos
dedos. Tão diferente da doce e meiga garota que conheci e
pela qual me apaixonei há quase dez anos. Essa parecia mais
uma leoa do que um gatinho manso.
Ela estava prestes a dizer algo, mas foi interrompida
pelo seu celular. O som veio do meio de suas pernas.
— Lugar legal para esconder um telefone — eu disse,
desejando que minha boca estivesse onde ele estava agora. Eu
faria um trabalho excelente.
Taby grunhiu para mim, pegando o celular na cinta-liga
em suas coxas e atendendo.
No momento em que eu disse que ela ficou com outros
homens, percebi um brilho de dor em seus olhos, fora sua
reação, foi como se eu tivesse batido nela. Ela ficou com
outros caras, não ficou? Taby não pode ter passado esses anos
sem que um cara a tocasse, se foi embora porque não fui
homem suficiente para ela. Eram muitas perguntas, e nenhuma
resposta.
Ela atendeu e logo arregalou os olhos.
— O quê? — Passou a mãos nos cabelos num gesto
exasperado. Notei suas unhas vermelhas. — Maldição! —
Mirou o espelho na parede, que dava para o corredor. Ali era
onde as pessoas assistiam aos casais transando nos quartos.
Alguns iam lá só para assistir, e não para participar.
— Quantos minutos tenho? — Suspirou. — É claro que
vou fazer, vamos pegar aquele cretino custe o que custar.
Ela me olhou ao desligar o telefone.
— Eu tenho que prender um cara…
— Franklin Salazar? — chutei.
Já ouvira falar desse velho com mais de sessenta anos
que ficava com menores. Ryan, alguns meses antes, conseguiu
umas fotos dele com menores de idade e o ameaçou para
comprar sua parte na Editora Luxem. Depois, deu as fotos ao
Bryan, que disse que cuidaria disso. Talvez fosse montar um
esquema para prendê-lo, somente não informou quando.
Acredito que não pudesse contar, por não ser permitido pelos
seus superiores.
Droga! Ele sabia que Tabitta estava ali hoje. Por que não
disse nada? Eu quase ri disso. Como ele me contaria, se não
sabia que eu a conhecia? Aliás, ninguém sabia. De que forma
diria aos meus amigos que a única mulher que eu amei foi
embora porque não fui suficiente para ela?
— Você o conhece? — indagou.
— Não, mas ouvi dizer que ele fica com menores, é
verdade? É por isso que está aqui. — Não foi uma pergunta:
era óbvio que ela estava ali por isso.
— Sim, preciso prendê-lo. Não posso dizer muito, já que
não fui autorizada a isso, mas estamos há eras o cercando, por
isso não tenho muito tempo. — Olhou para o espelho com a
expressão preocupada.
— Tempo para quê?
Ela me fitou.
— Franklin está vindo checar se você está me punindo.
Ele acha que você é meu dono, e eu o desrespeitei indo para
outro cara. Ele virá ver o que fará comigo para me castigar
como Dom. — Riu com desgosto. — Ironia, não? Vindo de
um homem que sai com várias mulheres ao mesmo tempo.
— O que vamos fazer? — sondei, antecipando o que ela
ia sugerir. Eu estava louco para isso acontecer, louco querendo
tocá-la novamente, após anos. Só de pensar, meu pau ganhou
vida, uma vida que perdera há dois meses pelas outras
mulheres quando soube onde ela estava.
— Vamos ter que atuar como dominante e submissa. —
Pareceu não gostar dessa parte. Isso foi como um soco no
estômago.
— O quê? — Eu não a tocaria se ela não me desejava,
não como eu ansiava por ela. Porra! Isso era demais.
— Isso mesmo. — Foi tirar sua saia. Um sutiã preto
segurava seus seios fartos, um pouco maiores do que aos seus
dezoito anos. Agora, com vinte e seis, tinha um corpo até mais
fabuloso. — Garanto que está acostumado a ver mulheres sem
roupas. — Seu tom era amargo feito fel no final.
Observei seu rosto lindo e moldado, como se um artista
habilidoso a tivesse feito. Era um pouco cheio, embora suave,
com boca voluptuosa, olhos verdes e cílios bem desenhados,
que a deixavam mais linda. Ela estava com raiva de mim por
ter tido outras mulheres?
— Se não tivesse ido embora, garanto que jamais
haveria outra mulher na minha cama — sibilei.
Ela engoliu em seco e olhou para o chão por um
segundo, depois sacudiu a cabeça se esforçando para não
perder o controle.
— Isso não vem ao caso agora. — Soou grossa, como se
estivesse com dor.
Mas quem deveria sentir dor era eu, e não ela, que me
deixou. Hoje, a revendo, o abismo no meu peito se escancarou.
Não sabia se seria capaz de deixá-la partir… Ao pensar nisso,
sentia que morreria…
Ela já estava descendo o zíper da minúscula saia.
Coloquei minhas mãos em cima das suas; ela tremeu ao meu
toque, como se tivesse recebido um choque.
— O que está fazendo? — Meus olhos não deixaram os
dela. Não sabia do que seria capaz se alguém a visse sem
roupas assim. Mataria qualquer um.
— Não temos escolha, ok? Ele chegou aqui com uma
menor, com certeza vai me checar antes de prosseguir. — Seu
tom era sombrio e com asco ao falar sobre Franklin. — Ele vai
entrar em ação com a menor, então o prenderemos. — Olhou
nos meus olhos, e vi minha dor refletida nos dela. — Estamos
há muito tempo tentando pegá-lo, não posso desperdiçar esta
oportunidade.
— Não vou transar com você aqui, com pessoas olhando
— retruquei.
Ela estreitou os olhos.
— Você não faz isso sempre? Não é por isso que está
aqui? — A amargura marcava presença, mas ela expirou para
se controlar e pegou meu pulso. — Por favor, eu não tenho
muito tempo.
Eu suspirei. Ela estava certa, foi para isso que fui lá,
porém, tinha desistido e já ia embora, então a vi e não pude
abandoná-la.
— Tudo bem, mas você me obedecerá, ok? Se não
quiser assim, não vamos fazer nada. — Deixei o ultimato,
afinal, eu precisava estar no controle, e não havia nada melhor
do que com ela.
— Certo, use seu lado Dom comigo, já que você não
veio aqui à toa. — Novamente, a dor se expressava em suas
palavras.
Expirei, tentando não pensar no seu sofrimento. Eu já
mal suportava aquele em meu peito. Encarei a parede com
várias correntes. Eu a prenderia ali, assim o velho tarado não
poderia ver seu corpo esculpido. Peguei sua mão e a levei
onde as correntes estavam.
Ela levantou as sobrancelhas, olhando de mim para a
parede.
— Ainda fará o que eu disser? — sondei de novo.
Suspirou, frustrada, fitando o espelho e depois eu.
— Tudo bem. — Ficou perto da parede vermelha cheia
de correntes.
Virei-a de costas para mim e a porta, deste modo, todos
veriam somente sua parte traseira. Se aquele velho pensava
que a enxergaria nua, estava redondamente enganado.
Ela fungou quando prendi suas mãos nas algemas de
couro vermelhas para cima da cabeça, com os braços abertos.
Peguei seus cabelos e coloquei no lado direito do rosto.
Lambi seu pescoço e sua orelha. Taby tremeu. Eu gostava de
ouvi-la ofegar e suspirar de prazer, aquilo era música para
meus ouvidos. Algo que sempre sonhei em escutar de novo,
pois nunca esqueci.
— Agora, olhos na parede, e não olhe para mim até eu
mandar — ordenei e mordisquei sua orelha.
Ela gemia e respirava alto. Eu me afastei e fui a um
armário, porque sabia que as coisas de que precisava estavam
ali. Todos os clubes eram parecidos, eles deixavam tudo
pronto para você pegar e usar.
Escolhi uma venda preta de couro com renda e um
chicote de várias tiras. Voltei onde ela estava amarrada e à
minha mercê, toda para mim. Coloquei o chicote no bolso de
trás da minha calça jeans e beijei suas costas lindas. Adorava
beijá-las, não sabia bem o porquê, mas amava fazer isso, desde
sempre. Depois, desatei o fecho do sutiã.
— Vamos tirar isso, sim? — Estava rouco de desejo,
prazer, luxúria e muito amor não correspondido. Tentei não
pensar nisso, ou meu pau nem levantaria.
Ela gemeu de novo e fechou os olhos, apertando as
pernas uma na outra, querendo tirar seu atrito.
— Está molhada para mim? Responda — mandei,
porque ela hesitou.
— Sim, muito molhada — revelou, ofegante.
— Bom saber. Agora vou cobrir seus olhos, assim será
mais prazeroso. — Tapei seus olhos lindos com a venda.
Mirei o vidro e vi o sorriso cruel do Franklin. Ele estava
com uma menina loura do seu lado, acho que ela devia ter no
máximo dezesseis anos. “Esse homem é um canalha”, pensei
com rancor. Não via a hora de o prenderem.
Deixei de lado quem assistia e olhei para a obra de arte
esculpida à minha frente, com as costas nuas e perfeitas. Ela
estava apenas com a saia e os seus saltos. Eu não tiraria a
última peça de roupa, não na frente desse bando de abutres,
porque não era só o Franklin que estava ali, havia outros caras
desconhecidos.
Peguei o chicote e passei as tiras pelo seu corpo. Ela
estremeceu, mas não disse nada. Bati em suas costas. Tabitta
gritou e ofegou ao mesmo tempo.
— Já fez isso antes? — sondei, querendo saber algo
dela, e, ao mesmo tempo, não desejando escutar a resposta.
Por sorte, esses quartos eram à prova de som. Os bastardos só
podiam nos ver.
— Não, mas é bom sentir dor e prazer.
Eu sorri.
— Que bom que gostou. — Fiz de novo em suas pernas,
sua bunda e suas costas. Não bati com força, não queria
machucá-la.
Suas mãos puxavam as correntes no ato de prazer,
fazendo o tilintar delas correr pela sala. Eu sabia que ela
estava a ponto de gozar.
Olhei para a janela e vi o velho safado empurrar a
menina para o quarto de frente a este e fechar a porta.
Bryan apareceu no corredor e sorriu, piscando através do
vidro. Já o outro cara que estava com ele olhou para Tabitta e
estreitou os olhos, depois franziu o cenho para mim. Parecia,
pela sua expressão, ter um monte de perguntas, eu só não sabia
quais seriam elas. Tinha uns cinquenta ou sessenta anos,
talvez. Havia ainda outro homem que estava olhando Tabitta,
esse com luxúria. Minha vontade foi de quebrar sua cara, mas
me controlei. Fui até a janela e apenas baixei a cortina
vermelha, impedindo-os de ver algo.
Agora éramos só nós dois. Caminhei até ela e a virei de
frente para mim, então vi seus seios que tanto amava chupar.
Afrouxei as correntes para não machucarem seus braços
esticados e retirei sua saia minúscula.
— Você disse…
— Não tem ninguém olhando, cobri com as cortinas. —
Fitei seu corpo nu, exceto pela calcinha de renda vermelha que
mal tapava sua boceta, na qual estava louco para colocar a
boca, a fim de saborear o gosto que tanto queria de novo.
— Deslumbrante! — rosnei, colocando um mamilo na
boca e o sugando. Ela gritou, mas logo se calou. — Pode
berrar, essas paredes são à prova de som.
Eu lambia, mordiscava e chupava seus mamilos. Minhas
mãos foram para sua calcinha; rasguei o pedaço de pano. Taby
ofegou, e antes que recuperasse o fôlego, enfiei dois dedos
dentro dela e circulei seu clitóris com o polegar. Ela puxou as
mãos com seu corpo tremendo, estava perto, podia sentir.
Então retirei os dedos. Tabitta fez um muxoxo de reprovação.
— Não pare, estou tão perto…
Caí de joelhos à sua frente e vi o seu monte de Vênus
escorrendo suco devido ao prazer. Levantei sua perna direita e
coloquei no meu ombro. Inalei seu sexo com cheiro de
jasmim, tal qual eu me lembrava. Suguei seu suco como se não
me alimentasse há anos, pois, de fato, não me alimentei dela
por muitos anos: quase nove sem seus gemidos, sem provar e
degustar seu gosto de pêssego que era meu êxtase, e, pelo
visto, continuava sendo.
Peguei sua bunda linda e a trouxe mais para mim.
Mordisquei seu clitóris de leve, então ela gritou, com seu
êxtase batendo na porta, e gozou na minha boca. Eu a segurei
firme, lambendo-a até ela parar de tremer. Levantei-me e
abaixei a braguilha de minha calça jeans, tirando meu pau duro
para fora. Com suas pernas em volta de mim, enfiei meu pau
em sua boceta molhada, gostosa e apertada. Estava sem o
piercing que tinha no pênis; sempre que treinava ou lutava eu
tirava, mas adoraria tê-lo ali, só para ele encostar-se ao seu
clitóris e fazê-la gritar ainda mais.
Coloquei minha boca na dela e a beijei enquanto
estocava meu pau dentro de sua boceta apertada. Ela gritava, e
eu a mordia, degustando e lambendo seus lábios e sua língua
saborosa, tanto que senti gosto de sangue. Não liguei, apenas
queria matar essa fome que me consumia há muitos anos.
Nenhum de nós disse nada. Eu sabia que se falasse algo
estragaria as coisas naquele momento, então fiquei quieto.
A cada estocada do meu pau dentro de Tabitta, eu queria
ir mais fundo, o bastante para me fundir a ela, se assim fosse
possível. Desejava ficar ali para sempre, mas não podia
segurar mais. Logo que ela gozou, eu a acompanhei,
desfrutando do êxtase tanto meu quanto de Taby ao vê-la
desmanchar nos meus braços. Eu a beijei por mais alguns
segundos até pararmos de tremer do nosso pós-orgasmo.
Não queria sair dali de dentro dela, estava tão quente e
confortável. No entanto, fomos interrompidos por alguém
batendo à porta.
Nessa hora, ela afastou sua boca e desprendeu suas
pernas da minha cintura.
— Maldição! — praguejou. — Me solte, eu preciso me
vestir.
Tirei a venda de seu rosto. Ela piscou por um segundo.
Precisava saber o que Tabitta estava pensando sobre o que
acabáramos de fazer. Antes, ela era fácil de ler, como um livro
aberto; agora, não conseguia decifrá-la, ela parecia ter mil
cadeados.
Fechei minha calça e soltei suas mãos das correntes e
algemas. Ela suspirou e observou seu corpo, depois me fitou
de olhos arregalados.
— Droga, você não usou a maldita camisinha —
reclamou.
Foi a primeira vez que perdi o controle em toda a minha
vida. Nunca transei sem camisinha, apenas com ela no
passado, quando era só minha. Agora, eu não sabia a quantos
homens ela pertenceu. Só de pensar em outro a tocando, fiquei
furioso.
— Eu estou limpo — disse e inquiri: — E você?
Seus olhos viraram fendas enquanto vestia a saia e o
sutiã. Ela ficou sem calcinha, porque eu rasguei a sua. Ajeitou
sua roupa e foi para o banheiro, evitando a pergunta. Ela
estava muito mudada; antes, quando ficava nua na minha
frente, corava em um tom de rosa lindo, eu achava tão perfeita
a cor na sua pele. E hoje? Não… Esta mulher e a menina que
amei eram tão diferentes e, simultaneamente, tão iguais.
Queria descobrir o motivo que a levou a me deixar e mudar da
água para o vinho. Precisava saber se a culpa foi minha. Onde
foi que errei? Não dei valor suficiente a ela?
— Por quê? — Segui-a até o banheiro.
Tabitta me encarou após se ajeitar na frente do espelho.
— Por que o quê?
Eu ri, amargo.
— Você só pode estar brincando comigo! Você foi
embora sem dizer uma maldita palavra, apenas desapareceu do
mapa. Por que simplesmente não disse que não me queria
mais? E que encontrou algo melhor… — Essa parte era bem
esquisita. Lembro-me de acordar em um quarto de hotel em
Chicago com Dominic do meu lado. Ele apenas me disse que
ela lhe pediu para me levar para longe de Austin. E não falou
mais nada. Eu queria quebrar sua cara aquele dia, mas não era
culpa dele por ter feito o que Tabitta solicitou. Na ocasião, ele
estava todo machucado, não ia piorar as coisas.
Voltei para Austin depois e fui até sua casa, mas ela
estava vazia. As pessoas disseram que ela e sua avó tinham ido
embora da cidade, e que ninguém sabia para onde. Surtei, não
recordo o que aconteceu em seguida porque a dor foi forte,
fiquei uma semana bebendo no chalé até Dominic ir lá e me
levar para longe, dizendo que soubera que ela foi para
Massachusetts. Fiquei anos lá, e nada dela aparecer.
Ela expirou e fechou os olhos por um momento. Após,
me olhou: a máscara estava de volta, sua frieza era tanta que
me encolhi. Contudo, por um instante, pensei ter visto dor em
seus olhos.
— Não é hora para conversa. — Esquivou-se com
frieza. — Deixe o passado para trás.
Cerrei os dentes.
— Meu pau estava dentro de você há um segundo atrás,
e você quis aquilo, não minta para mim — sibilei.
Ela passou por mim, saindo do banheiro.
— O que tivemos foi apenas sexo, e mais nada. — Sua
voz saiu aguda. — Era preciso fazer aquilo para ganharmos
tempo.
Aquelas palavras saindo de sua boca foram como um
tiro no meu peito, apenas para terminar de me matar.
— Então você só transou comigo para resolver um caso?
Ela me fitou com os olhos frios como uma maldita
geleira.
— Sim, foi só por isso, então siga com sua vida, finja
que nunca me viu aqui. E esqueça o passado, pois ele não
volta mais.
Eu custava acreditar que estava ouvindo isso da sua
boca. Ela enlouquecera? Como podia pedir isso depois de tudo
que vivemos juntos, depois de hoje? Depois de eu sentir seu
gosto, de estar com meu pau dentro dela? Como ela pôde dizer
isso? Nunca achei que algo doeria tanto após ela ter me
deixado, mas isso era mil vezes pior, ver sua frieza e saber que
nunca seria bom o bastante para ela, jamais seria. Isso era o
que o velho sempre dizia a mim, que minha mãe foi embora e
me deixou porque eu não era suficiente para ela e nem para
ninguém.
Passei por Tabitta ou faria uma besteira da qual me
arrependeria pela eternidade, como implorar que ficasse
comigo.
— Meus parabéns pelo seu bônus — desdenhei, abrindo
a porta. — Um dia você foi o meu mundo inteiro, agora você
não é nada.
Saí sem olhar para trás, abandonando para sempre a
única mulher que deixei entrar e que quebrou meu coração em
milhões de pedaços — não só uma, mas duas vezes.
CAPÍTULO 3

Convite
TABITTA

Passado
Estava atrasada para ir à escola, aliás, sempre chegava
atrasada, mas naquele dia foi porque meu alarme não
despertou para me acordar na hora certa. Eu morava com
vovó, porém, ela saiu cedo e não pôde me chamar. Sempre que
acordava atrasada ela me chamava.
Minha mãe morreu quando eu tinha dois anos, fui criada
por minha avó. Na verdade, mamãe foi embora depois que me
teve e nunca mais veio saber de mim. Vovó não falava muito
dela, apenas que ficou muito iludida pelo meu pai e perdeu a
cabeça, fazendo o que ele queria. Eu não entendi o que ela
quis dizer com isso, e até perguntei, mas ela não contou. Ao
inquirir à vovó sobre meu pai, ela evita falar nele. Acho
estranho, contudo, se ele não liga para mim, eu também não
vou me importar com ele. Afinal, até agora, nunca precisei, e
espero nunca precisar.
Quando me mudei para o Texas, três meses antes, e fui
estudar nessa escola, conheci um garoto tão lindo! Seus
cabelos na altura do queixo, um pouco de barba por fazer,
olhos cor de chocolate e olhar intenso me conquistaram logo
de cara. No princípio, achei que estava só me iludindo, como
uma adolescente que sonha em ficar com o menino mais
popular da escola.
Depois de muito observá-lo de longe, vendo-o ficar com
várias garotas da escola e nunca olhar para mim, quase ri ao
pensar nisso: quando um garoto que jogava no time de futebol
me notaria? Jamais! Eu não era nada como elas e suas
minissaias e blusinhas minúsculas. Usava vestidos largos e
óculos. Ele tinha razão em não reparar em mim, embora
doesse enxergá-lo com outras.
Teve uma vez que o vi no ginásio com Pamela, a rainha
do baile da escola. Loura e linda! Ela estava de joelhos na sua
frente e já ia abrir suas calças. Eu ofeguei. Acho que foi alto,
porque seus olhos se conectaram aos meus por breve segundo,
antes de eu me virar e sair correndo. Ouvi ele me chamar e não
parei, só deixei de correr quando cheguei à minha casa e
chorei com a dor que me consumiu. Naquele momento, soube
que o amava.
Eu estava tão longe que não senti quando topei em
alguém. O impacto foi grande, teria caído se não fosse por
braços fortes a me segurar. Meus livros não tiveram a mesma
sorte: foram todos ao chão.
— Que porra, olhe por onde anda — disse uma voz de
mulher. — Você devia me impedir de cair, e não ela.
Virei para cima e me deparei com um par de olhos
chocolate e um sorriso sexy no canto da boca. Ele estava de
jaqueta e jeans desgastados.
Arregalei os olhos e ajeitei meus óculos no rosto. Era só
o que me faltava, não podia ter me deparado com outras
pessoas, em vez desses dois? Eu me afastei de seus braços
como se tivesse levado um choque, não o querendo perto de
mim; ainda mais depois dele ter passado a noite com Pamela,
que estava ali na minha frente.
Notei também a presença de Dominic e Joana, amiga de
Pamela, duas vagabundas de primeira. Ela era morena, de
cabelos negros. Já Dominic era lindo: moreno, alto, olhos
verdes e sorriso sexy. Claro, não tanto quanto Jason.
— Você está bem? — sondou Jason.
— Eu estou — respondeu Pamela. Ela usava saia e
blusinha rosa. Não sabia como ela vestia isso na escola sem o
diretor reclamar, talvez por ser filha dele. — Agora deixe essa
sonsa e vamos embora. Olhe para ela… — Fitava-me com
seus olhos castanhos zombadores. Sempre que ela me via era
isso, me esnobava e dizia que Jason nunca ia ser meu. Eu a
ignorava, mas ela tinha razão. — Esses vestidos são de sua
avó?
Jason suspirou e estreitou os olhos, mirando-a. Vi raiva
estampada em suas feições lindas. “Estranho, já que os dois
ficaram juntos na noite passada”, pensei, amarga.
— Eu não estava falando com você — falou, sombrio.
Achei o tom esquisito, ele não falava assim com ninguém, não
que eu tenha visto. — Só porque já fodemos algum dia não
significa que temos alguma coisa, então vê se me erra e vá
procurar sua turma.
— Jason…
Ela começou, mas ele a interrompeu de forma abrupta.
— O que tivemos há duas semanas e antes disso foi tudo
foda, nada mais.
Ignorei os dois e fui pegar meus livros, não querendo
pensar que ele falou que ficou com ela há duas semanas; foi no
dia que eu os vi no ginásio. Bem, isso não significava que ele
não ficou com outra garota. Eu não achava que ele tratava as
mulheres assim, mas, pelo visto, estava errada.
Eu me levantei com meus livros nos braços e olhei os
dois, ela com expressão humilhada, e ele furioso; furioso era
pouco.
— Peço desculpas aos dois — disse a eles. Ela o xingava
de tudo quanto era nome, para o que ele não parecia ligar. Seus
olhos não me deixaram. Procurei entender a razão dele me
olhar tanto, porém, precisava ir para a aula e deixá-los
resolverem seus problemas.
Eu me virei e saí correndo, para longe deles.
— Ei, espere — gritou Jason. Não parei, apenas fui
embora. — Taby, te vejo depois da aula.
Não compreendi o que ele quis dizer com me ver depois,
ele sempre era o primeiro a partir, quando eu saía da escola ele
já tinha ido.
Estaquei e o encarei. Jason, de braços cruzados, me
fitava. Pamela e Joana já tinham ido embora, apenas Dominic
estava à espreita, esperando por ele.
— Não perca seu tempo. — Vi seus olhos se estreitarem
antes de eu me virar e ir embora. Não fui muito longe antes
dele me agarrar pelo braço e me prender na parede. Os livros
já iam cair de novo, mas ele impediu, segurando-os firme. —
Argh!
Arregalei meus olhos. Seu rosto lindo estava a
centímetros do meu rosto. Seu hálito de menta me banhou, me
deixando tonta. Minhas pernas ficaram bambas, meu coração
bateu forte como um tambor e meu estômago se encheu de
borboletas.
O que aconteceu foi tão rápido que fiquei sem fala por
alguns segundos. Esperava ele dizer alguma coisa, porque eu
perdera o controle do meu corpo há muito tempo, no momento
em que ele me tocou e uma corrente elétrica se apossou dos
meus pés à minha cabeça. O que esse garoto quisesse fazer
agora eu deixaria, pois não me controlava mais.
Observei sua boca e seu rosto com barba por fazer, a
qual queria que roçasse em minha face, para eu sentir a
textura. Como seria beijar essa boca levantada em um sorriso
sexy com dentes brancos e retos? Olhei seus olhos e vi que
brilhavam. Ele parecia gostar de me deixar boba.
— O que você… — Até minha voz falhou com tudo que
estava acontecendo.
Ele aproximou seu rosto e encostou seu nariz no meu,
com a boca próxima à minha e olhos fixos em mim. Os meus
olhos estavam grandes como os de uma coruja.
— Vou te esperar na hora da saída — repetiu, mas na
posição em que estávamos se tornava intenso e difícil de
resistir. — Você confia em mim?
Eu não podia responder estando tão perto dele. Então eu
assenti, muda, ignorando seu hálito sobre mim.
Deu um selinho na minha boca aberta de choque e
depois, simplesmente, se virou e foi embora, me deixando ali,
abobada por ele. Meu coração fazia tum, tum um milhão de
vezes. Tentei recuperar o fôlego para ir para a sala, já que
estava atrasada demais.
Durante a aula de francês, fiquei pensando: o que o
levou a conversar comigo? Três meses e ele nunca me disse
um “oi”, por que agora seria diferente? O que ele estava
ganhando com isso? Ficar comigo que não era, sempre estava
cercado de mulheres lindas.
Não prestei atenção na aula, pois minha cabeça se
encontrava cheia de um garoto gostoso com cara de bad boy.
Se vovó soubesse, me esganaria. Ou talvez não.
Na hora da saída, eu o vi me esperando escorado no meu
carro. Ele parecia aqueles modelos lindos que posam para
fotos de propagandas de automóveis.
Havia algumas garotas próximas dos veículos delas,
olhando para ele, a uns seis metros de Jason, o comendo de
longe. Ele causava esse encanto sobre as mulheres; não as
culpava, eu também tinha essa mesma fraqueza por ele. Mas
era diferente delas, que só queriam um passatempo ou um
rosto bonito: eu o amava.
Jason sorriu assim que cheguei perto. Seu sorriso faria
qualquer menina abaixar a calcinha, inclusive eu, se ele
pedisse, todavia, não seria do seu feitio ordenar algo do tipo.
— O que faz aqui? — Quando ele disse que me
esperaria na hora da saída, não achei que estivesse falando
sério.
Afastou-se do carro e ficou na minha frente.
— Avisei que ia esperar por você, não foi? — Seu tom
continha algo que não identifiquei, parecia raiva, mas do quê?
Eu não sabia.
— Sim, só achei que estava brincando… — Interrompi-
me com a sombra que apareceu em seu rosto.
— Olhei em seus olhos e perguntei se acreditava em
mim. Por que mentiu dizendo que sim? — indagou com
amargura.
Engoli em seco.
— Não menti, queria acreditar em você, mas… — Fitei
as garotas que ainda nos encaravam como se elas estivessem
se perguntando por que ele conversava com uma menina sem
graça, sendo que as tinha à sua mercê. Não precisava ler
mentes para saber que imaginavam isso. — Certo, então o que
queria conversar comigo? Por que me esperar? — Voltei-me
para ele.
Ele estava a um passo de mim, observando meu rosto
atentamente.
— Quero convidá-la para ir a uma festa comigo hoje à
noite — disse, ainda com sua expressão de falcão.
Meus olhos se arregalaram por um segundo.
— O que foi? Por que o espanto? — Deu uma risada
gostosa e rouca.
Franzi a testa, pensativa. Esse cara lindo, que não olhou
para mim por três meses, enquanto eu sonhava com ele todas
as noites, do nada resolveu falar comigo e me convidar para
uma festa? Eu estava achando suspeito demais.
— O que está ganhando com isso? — Fui passar por ele
para abrir a porta da minha Mercedes, contudo, ele pegou meu
braço. Devo dizer que uma corrente elétrica atingiu meu corpo
como um raio?
— O que quer dizer com essa pergunta? — Percebi que
ele sentiu raiva de novo; acho que não gostava que
duvidassem dele.
Suspirei e mirei suas íris sombrias.
— Caras iguais a você não chamam garotas como eu
paras festas, não se não estiverem fazendo uma aposta ou com
a intenção de humilhá-las em público. — Era verdade. Se
aceitasse e ele fizesse isso, acho que morreria.
Jason soltou meu braço depressa, como se eu tivesse
batido nele.
— Então é isso que pensa de mim? Que só porque sou
popular também sou esnobe e cruel a esse ponto? — rosnou
com os dentes cerrados. — Eu não humilho as pessoas.
Levantei as sobrancelhas.
— Não? E o jeito com que tratou sua namorada mais
cedo foi o quê? — falei “namorada” para não dizer amante,
enrolada, foda e outros nomes dados para o que ele fazia com
elas.
O garoto suspirou para se controlar.
— Ela sabia que não ia ter nada de mim, apenas sexo, e
isto já foi cortado também. — Seus olhos se estreitaram. —
Não gostei dela falar mal de você.
— Você nem me conhece…
Ele me cortou.
— Está enganada, eu te observo desde que chegou aqui
há três meses, sempre te olho de longe. Quando está lendo,
fica tão concentrada, como se esquecesse de tudo à sua volta.
Quando está preocupada e estudando, nascem ruguinhas em
suas sobrancelhas. Quando está feliz, seus olhos se iluminam
através dos óculos. E quando sorri, é como o sol, resplandece
em todos os lugares.
Ofeguei, porque não sabia que ele prestava atenção em
mim. Fiquei contente por não ser só eu que o observava de
longe. Será que ele reparou nisso? Reparou que eu o idolatrava
à distância?
— Por que nunca me disse um “oi”, então? Sempre
passa por mim e finge que sou invisível. — Se ele se
importava a ponto de me notar tanto, por que nunca disse
nada? Queria que ele tivesse se aproximado, como agora, mas
há dois meses, ou antes. Ele não sabia o quanto doeu ser
ignorada por ele. Não ligava em ser invisível para os outros.
Com Jason, pela primeira vez na vida desejei ser vista, e pela
primeira vez na vida tive inveja de garotas como Pamela.
Ele suspirou e coçou a cabeça.
— Como você disse há pouco, garotas doces e puras
como você não saem com garotos como eu. — Havia
ressentimento em sua voz, e direcionado a ele mesmo, e não a
mim.
— O que quer dizer com “doce e pura”?
— Você é meiga, inocente, ajuda pessoas. Quando vai à
livraria à noite buscar livros, todas as quartas e sextas-feiras,
você passa na lanchonete do lado e compra dois cafés e pães
para entregar ao senhor que vive no beco. Eu a ouvi chamá-lo
de James.
Meus olhos pareciam saltar das órbitas.
— Você estava me seguindo?
Deu de ombros.
— Eu fui te observar uma noite e vi você saindo
sozinha. Não sabia aonde estava indo, então a segui. Você saiu
a pé, e não de carro, as ruas estavam escuras, e tem muita
gente ruim neste mundo — repreendeu-me. — Não devia
andar à noite sozinha. O pior foi quando se dirigiu à biblioteca
e passou pelo beco onde ficam alguns desabrigados. Você deu
um oi a todos ali. — Sacudiu a cabeça. — Depois, comprou
seus livros e fez o percurso de volta. No outro dia, eu fui à
biblioteca perguntar com que frequência você ia lá à noite.
Disse que era seu amigo e não gostava disso, nem um pouco,
de você andando sozinha. O responsável pela biblioteca
concordou comigo; falou seus horários e os dias em que você
ia buscar livros.
— Você me acompanha todas as noites? Bem que pensei
que estava sendo seguida — falei comigo mesma, depois para
ele, e sorri: — Obrigada por cuidar de mim. — Peguei sua
mão e a apertei.
Ele suspirou e se aproximou de mim, colocando um fio
solto do meu rabo de cavalo atrás da orelha. Eu estremeci.
— Não foi nada. Se algo acontecesse com você, acho
que os mataria. — Demonstrava um forte sentimento na voz.
Expirei com seu toque e proximidade.
— Você realmente gosta de mim?
Jason olhou para o céu por um momento, depois para
mim, com um sorriso.
— Quando chegou à escola, eu fiquei fascinado por ser
diferente de tudo que já vi em minha vida. Você veste essas
roupas largas e não liga para o que os outros dizem ou pensam.
Gostei disso, por isso não me aproximei, não por achá-la feia
ou algo assim, você é linda. Seu rosto, seus olhos verdes e
esses óculos ficam belíssimos em você.
— Por que só agora? — Dei um passo para trás, me
afastando dele. Seus olhos se estreitaram, então logo
acrescentei, porque quando ele ficava enraivecido e magoado
doía em mim. — Fica mais fácil ter coerência para
conversarmos.
— Minha aproximação a abala? — Parecia divertido
com esse fato.
— Com muita frequência — admiti, corando.
Ele riu. Sua risada era tão linda que só fiquei olhando.
— Fico lisonjeado com isso — disse. Após, tornou-se
sério. — Quando me viu no ginásio com a Pamela… — Eu me
encolhi, não querendo pensar naquele momento e no que ela ia
fazer com ele. — A dor em seus olhos ao me ver ali… Tomei
uma decisão, sabia que não podia ficar com outras garotas,
como vinha fazendo só para me manter longe de você. Cortei
todas e decidi esperar alguns dias para nos falarmos, mas
estava sem coragem. — Riu, passando as mãos nos cabelos. —
Fiquei com medo de você me dar um fora e dizer que não sou
bom o bastante, mesmo vendo e sentindo o que sente por mim.
Hoje, quando a toquei, meu coração bateu forte, como se fosse
sair pela boca. Meu corpo parecia ter sido tocado por um fio
desencapado, o calor foi enervante. Eu sabia que não podia
lutar contra o que sentia.
Ainda estava pasma com tudo que falou. Gostei disso,
então por que não dar uma chance a ele?
— Tudo bem, eu vou à festa com você hoje, mas nos
encontramos lá, ok? E onde é? Na sua casa?
Seus olhos escureceram quando mencionei sua casa.
Não entendi a reação.
— Não, na do Dominic, ela fica nessa rua aqui. —
Apontou a rua da escola e me deu o endereço.
Não perguntou o porquê de eu não querer que ele fosse
na minha casa; acho que sabia o motivo. Minha avó era calma,
contudo, parecia o Hulk quando explodia, e talvez não
aprovasse eu saindo com um garoto igual a ele, cheio de
tatuagens e brincos na orelha direita.
Jason trabalhava em uma academia, fora do seu horário
de aula. Eu o vi treinando lá. Pelo que percebi, parecia gostar
de fazer isso.
Dominic ou Dom, como ele o chamava, tinha dezenove
anos e um sorriso sexy, mas quando ficava bravo, sua
expressão se tornava sombria, tanto que aparentava já ter
matado milhões. Ouvi dizer que ele era de uma gangue,
porém, não sabia se isso era verdade.
— Eu sei onde ele mora.
— Sabe? — indagou com a voz um tanto mortal.
Apressei-me em explicar, porque ele furioso não era
bom.
— Já o vi lavando seu carro quando passava com o meu
em frente à sua casa.
Ele suspirou, provavelmente de alívio. Será que
imaginou que eu fiquei com o Dominic? Poderia ter rido disso,
o cara era pior que Jason quando se travava de mulheres, um
tremendo de um garanhão e mulherengo.
— Bom, então está combinado: às oito horas lá?
Antes que eu respondesse, ouvi a voz grossa de
Dominic. Eu me virei e ali estava ele vestido com calça jeans
desgastada e camiseta. Sorria para o Jason. Oh! Esse homem
destruiria muitos corações só com isso. E olha que era um
sorriso natural, sem ser o que ele lançava para as mulheres. Se
este já era assim, imagine o outro?
— Vamos, Jason? — chamou, aproximando-se de nós.
— Eu trouxe Melissa e Sara para nos divertirmos.
Com ele havia duas garotas, uma morena e uma loura,
ambas muito bonitas. Eu não tinha amigos ali, afinal, morava
na cidade há apenas três meses. Conversava somente com a
turma dos nerds, e não a dos descolados.
— É Amélia — corrigiu a garota loura.
— Não importa — redarguiu sem olhar para ela, seus
olhos estavam em nós.
A menina suspirou e não respondeu. Como elas
aceitavam isso? Como ficavam com caras que não se
importavam em aprender seus nomes? O pior era que Jason
ficaria com ela também… Quase ri por ter pensado que ele
namoraria só comigo. Não disse nada e passei por ele, que
segurou meu braço, como fez antes, mas agora me escorou no
carro com seu corpo me prendendo.
— Não vou ficar com ela e nem com ninguém, prometo.
Encarei as garotas e o Dominic, que estava nos mirando
com os olhos estreitos.
Assenti para Jason.
— Responda, quero ouvir sua voz dizendo que acredita
em mim. — Soava sério, ficava assim quando eu desconfiava
dele. — Olhe nos meus olhos e diga.
Eu suspirei.
— Acredito.
— Não, você não acredita, posso ver em sua expressão.
— Balançou a cabeça, rindo com amargura. Sua face estava
transfigurada pela dor novamente, tudo por eu não acreditar
nele. Isso feriu meu coração.
Respirei fundo.
— Eu vou tentar confiar, ok? É o que posso prometer,
afinal, praticamente acabamos de nos conhecer, a confiança
vem com tempo e ações, não é? — Era o mínimo que eu podia
fazer.
Ele concordou. A angústia pareceu sumir de seu corpo, e
eu fiquei feliz com isso.
— Nunca vou quebrar sua confiança em mim, prometo.
— Havia um ar de juramento em cada palavra. Ele deu um
beijo no meu nariz num gesto carinhoso. Depois se afastou,
cedendo espaço para eu abrir a porta do carro. Riu quando eu
tropecei com as pernas bambas por causa dele.
— Agora acredito no que meu toque faz — divertiu-se.
Corei diante de seu sorriso sexy. Entrei na Mercedes e
saí dali. Antes dele subir em uma Harley preta antiga, pude
ouvi-lo falando com Dominic:
— Eu estou fora, cara, e você sabe disso.
Fiquei feliz com sua resposta. Esperava que ele não me
quebrasse mais para frente. Era um risco, todavia, não podia
deixar de confiar que ele daria o braço a torcer. Uma coisa que
me fez também aceitar foi que eu vi vulnerabilidade em seus
olhos, era como se ele gritasse “não duvide de mim”.
Disse à vovó que ia à festa na casa de uma amiga; não
revelei que estava indo à casa de Dominic, ou ela não deixaria.
Ouvi dizer que lá havia muitas bebidas, que ficavam juntos na
frente das pessoas e fumavam. Não sabia se isso era verdade.
Vovó acreditou, pois nunca menti para ela. Eu me senti
mal por fazer isso, mas era incapaz de rejeitar ir a uma festa
com Jason.
Eu me olhei no espelho para checar minha roupa. Estava
com uma saia jeans na altura das coxas e uma blusa rosa.
Calcei minha bota preta. Não era muito chegada à moda, mas
me arrumava algumas vezes. Usava vestidos por gostar deles.
Deixei meus cabelos louros soltos nas costas. Tirei meus
óculos de grau; eu os usava mais na escola e quando eu lia,
porque senão minha cabeça doía muito.
Adorava filmes e livros de romance, mas era mais
apaixonada por livros. Sempre quis viver um romance igual
aos dos livros, contudo, nenhum garoto olhava para mim, eles
me achavam esquisita e feia, embora eu considerasse minhas
roupas bonitas. Sonhava em encontrar um garoto que
enxergasse através delas, que não se importasse com o que eu
vestia. Esperava que Jason fosse como os caras dos livros que
li algum tempo atrás, por exemplo, London Carter em Um
amor para recordar. Ele não ligou para as roupas que a
personagem usava; claro que não deu o braço a torcer no
começo, porém, depois que aceitou o que sentia, sua vida
mudou para sempre, tanto que ele a amou até muitos anos na
sua velhice, após a morte da protagonista. Quem dera eu
tivesse um amor assim? Um amor que nem o tempo e a
distância pudessem apagar.
Cheguei à casa de Dominic às oito em ponto. Estava
nervosa, mas me controlei. Tirei o meu casaco, desliguei o
carro e fui para a casa de dois andares com paredes brancas.
Antes que saísse do automóvel, ouvi um gemido de uma
mulher não muito longe dali, atrás de uma árvore. Fiquei sem
acreditar que alguém faria sexo na frente da casa.
Tentei ver se avistava alguém mais nas proximidades,
mas não vi ninguém, todos já deviam estar dentro da
residência. Também não vi o casal sem moral e sem vergonha
na cara.
Sabia que Dominic morava com sua mãe, a qual
trabalhava de enfermeira à noite, na cidade, então ele
aproveitava bastante. Ela era daquelas mães liberais, afinal, ele
era maior de idade.
Eu ia ignorar o casal e sair do carro quando ouvi uma
coisa que me fez gelar no lugar.
— Vai, Jason, mais forte! — Reconheci a voz de
Pamela.
Não houve resposta dele; ela continuou gritando.
— Seu pau é gostoso, me faça gozar como só você
sabe…
Sacudi a cabeça, chorando e com a mão na boca para
não sair som. Não queria que eles me vissem ali, não desse
jeito que eu estava. Fui idiota por confiar nele, por pensar que
um dia teria uma chance. Com certeza era tudo armação para
eu ser humilhada e sofrer, já que ele parecia saber que eu o
amava. Brincou comigo e com meus sentimentos, dizendo que
sentia o mesmo por mim.
Saí de lá jurando nunca mais acreditar em ninguém.
Faria de tudo para esquecê-lo e tirá-lo do meu coração, da
minha cabeça e de cada canto que ele ocupasse em meu corpo
e minha alma.
CAPÍTULO 4

Prisão
TABITTA

Presente
Soube que Shane, irmão de Angelina, a minha amiga
desde a faculdade, fez uma cirurgia para ele colocar um
marca-passo. O garotinho tinha problemas no coração. O
procedimento estava previsto para dali a uma semana, até
tinha feito horas extras para repor meu dia, porque pretendia
ficar com ela, dando forças e dizendo que sempre estaria ali
por eles. Quando descobri que Shane passou mal, corri para o
hospital. Dava para pensar no gelo que senti ao me deparar
com a sala de espera lotada de seus amigos? Claro que até aí
tudo bem, porque ela era fácil de amar, me lembrava de mim
antes da minha vida acabar. O que me paralisou foi ver alguém
que não queria; não poderia deixar que ele desse por minha
presença. Jason Falcon.
Eu me escondi no canto, assistindo à Angie deitada no
colo do seu namorado, Ryan Donovan. Ela parecia estar
dormindo, o que era estranho, já que seu irmão estava no
centro cirúrgico.
— Como Angelina conseguiu dormir? — sondou Jason,
fitando-a inconsciente.
— Dei um calmante para ela — respondeu Ryan com
um suspiro. Bom, isso explicava.
Quando Angie disse que estava namorando esse cara, o
Ryan, quis ir até Manhattan somente para bater nela e abrir
aquela sua cabeça, para lhe ensinar que homens como aquele
não se interessavam em relacionamentos com meninas doces
como ela. O cara era um tremendo de um mulherengo. Vi que
me enganei. Fiquei feliz com isso, ela merecia alguém que a
amasse, e pelo olhar de Ryan, ele não só parecia amá-la muito,
mas também adorá-la.
Olhei ao redor da sala lotada de caras: um louro com
cabelos compridos nas costas e presos; um segundo coberto de
tatuagens e de mãos dadas com Rayla Donovan, acho que era
seu namorado; e vários outros. Não prestei muita atenção em
nenhum, porque minha concentração estava fixa em alguém
que ocupava minha mente dia e noite. Ele vestia calça jeans e
camisa branca com jaqueta por cima. Sempre gostou de usar
jaqueta, mesmo o tempo estando quente. Ele olhava para o
Ryan e Angie sentados no sofá, como se doesse vê-los assim.
Talvez isso trouxesse várias recordações de nós dois juntos, a
angústia era visível em sua expressão. Queria tirá-la dali, seus
olhos eram lindos demais para estarem sofrendo; sabia que não
podia.
Fiquei esperando escondida até a cirurgia acabar,
tentando achar uma brecha para encontrá-la sozinha. Já era
tarde quando Ryan deixou o quarto.
— Achei que o carrapato não ia sair nunca — falei,
entrando no quarto de hospital com várias máquinas do lado
da cama de Shane. Ele estava deitado com um lençol azul o
cobrindo. Havia um aparelho indicando seus batimentos.
Angie estava sentada ao lado da cama segurando sua
mão, com os olhos molhados. Levantou a cabeça assim que
ouviu minha voz.
— Tabitta? Faz horas que está aí? Desculpe, estou meio
longe… — Olhou para a cama e limpou as lágrimas.
Fui até minha amiga e puxei-a para os meus braços. Ela
chorou por um momento.
— Vai dar tudo certo, Angie, ele vai ficar bem, querida
— disse, alisando sua cabeça.
Ela se afastou e limpou o rosto, assentindo.
— Você tem razão, o pior ele já passou no centro
cirúrgico, não é? E graças a Deus permanece aqui.
— E vai continuar conosco por muito tempo, pode
acreditar. — Fui firme ao dizer isso, pois acreditava
sinceramente. — Shane vai te dar muitas dores de cabeça
quando crescer e trazer namoradas para transar em sua casa.
Ela riu, depois quase se espantou e me abraçou de novo.
— Só você mesmo para me fazer rir em uma hora
destas. — Afastou-se. — Obrigada, Taby, por vir de tão longe
me ver e saber como Shane está.
— Querida, somos amigas para isso, para os bons e
maus momentos, na saúde e na doença. — Pisquei e sorri. —
Se ficássemos juntas, poderíamos usar isso no nosso
casamento.
Ela riu e bufou.
— Não, agradeço, mas vou passar. — Beijou meu rosto.
— Obrigada por vir aqui e me fazer sorrir.
— Sempre que precisar de uma líder de torcida é só
gritar que venho correndo, ok? — Era verdade. Quando a
conheci, há cinco anos, ela me ajudou muito, esteve lá por
mim todas as vezes que sofri. O bom era que Angie não
perguntava o que tinha acontecido, apenas esperava meu
momento.
— Queria ir visitá-la na sua casa, mas seu namorado não
te deixa sozinha um segundo. — Desejava ter isso um dia de
novo, igual tivemos no passado. Na verdade, gostaria de ter
tudo que já tive, mas com Jason, e não com outra pessoa. —
Não que isso não seja bom. Ele é legal para você? Se um dia
ele a enganar ou machucá-la, vou castrá-lo e fazê-lo comer seu
próprio pênis.
Ela sorriu e corou, garanto que tendo pensamentos
indecentes em relação a Ryan.
— Oh, ele é tão bom para mim, sabe? Contratou o
melhor médico do país para fazer a cirurgia do Shane. Queria
que o conhecesse.
Fiz uma careta.
— Não posso… Não que eu não queira, apenas não dá
agora. — Mudei de assunto, ou pelo mesmo tentei: — Quando
Shane estiver bom para viajar, o leve ao Brooklyn na casa da
Mama, assim poderei vê-lo, ok? Emily está me deixando doida
reclamando de saudades dele. E, por favor, não leve seu
namorado.
Ela franziu a testa.
— Você está fugindo do Jason? Assim que disse seu
nome na frente dele, algum tempo atrás, ele parecia conhecê-la
e estar sofrendo por isso. Pelo menos foi o que vi em seus
olhos. — Ela me olhou de lado. — Vocês dois tiveram alguma
coisa, não é? Ele é o cara que te abandonou? Diga, porque se
for eu que vou castrá-lo.
Ri, alisando seus cabelos.
— Eu gostaria de ver você pegando em um pênis para
cortá-lo — sussurrei, caso Shane acordasse, depois suspirei.
Queria contar a ela e não podia. Quanto menos gente soubesse,
melhor. O único que conhecia toda a verdade era Dominic, o
chefe dos MCs da Fênix de Chicago. Não podia envolver mais
ninguém.
— Quanto menos souber sobre isso, melhor, ok? Não
posso falar nada, se eu pudesse, contaria. É mais seguro deixar
assim. E vamos manter o brinquedo do Jason como está,
certo? — Fez uma careta enquanto eu sorria. Esperava usar
essa parte dele em breve, assim que eu resolvesse minha vida.
Ela estava prestes a dizer algo, talvez apontar que
guardo coisas dela. Porém, não podia me aproximar muito de
Angie para não trazer perigo à sua vida, nem à de sua família.
Já tinha de tomar cuidado e proteger Mama, Papy, Samira e
minha filha, os mais próximos de mim. Os de longe que
resguardava eram Angie, seus irmãozinhos, e o principal deles,
Jason. Dominic conseguia se cuidar sozinho, dispunha de
vários aliados. Eu tentava não saber o que ele fazia, porque, se
soubesse, precisaria prendê-lo.
— An… gie… — balbuciou Shane, abrindo os olhos.
Fiquei feliz por ele estar bem, o médico disse que no dia
seguinte já poderia ir para casa.
— Olá, garotão, eu estava dizendo à sua irmã que você
ia ficar bem e que ia namorar muito — murmurei, beijando
sua testa.
— Eu vou namorar a Emily — sussurrou ele com os
olhos brilhantes.
— Vamos ver daqui uns vinte anos, sim? — Sorri junto
com Angie. Gostei de vê-la contente.

— Mamãe, me leve para a casa da tia Angie — Emily


pediu assim que me sentei à mesa para tomar café da manhã.
— Eu quero ver o Shane.
Nós estávamos na cozinha. Ela era grande e branca, com
armários cor de areia (porque amo essa cor), fogão de inox e
geladeira duplex. A mesa em que estávamos se cercava por
seis cadeiras avermelhadas. As janelas de vidros tinham vista
para o jardim.
Eu suspirei. Olhei seus cabelos castanhos e olhos da cor
dos de seu pai. Tão linda minha menina. Desejava levá-la para
ver Shane, mas não podia arriscar e me deparar com Jason. Se
ele a visse, saberia que ela era dele na mesma hora, porque a
garota era sua cópia viva.
— Vamos ver depois que eu chegar do trabalho. Agora
tenho que ir, meu amor. Amo você, querida. — Beijei suas
bochechas e me esquivei mais uma vez de seu pedido, não
sabia até quando conseguiria manter isso trancado dentro de
mim. Sabe quando tem algo guardado e você quer apenas
explodir para aquele fardo ficar mais leve? Estava assim há
oito anos e nove meses, carregava uma rocha sobre meus
ombros.
Desde que saí de casa hoje cedo, contava os minutos
para prender Franklin Salazar, o abusador de menores. Se
fosse por mim, faria uma coivara de fogo e jogaria todos lá
dentro sem ao menos perder uma noite de sono. Cruel, eu sei,
ainda mais eu sendo uma policial, mas era o que sentia.
O plano estava certo, o disfarce também, era só esperar e
prendê-lo com a boca na botija. Tudo quase foi por água
abaixo assim que eu o vi ali no clube. Sabia o que Jason foi
fazer lá, com certeza conseguir mulheres, o que não era difícil
para ele, bastava estalar os dedos. Tentei não pensar nisso.
Após todos esses anos ele estava igual. Eu o via nas
revistas e TV. Além disso, o encontrei pessoalmente uma vez
no clube de luta, na loja em Nova York, e também no hospital
quando fui visitar Shane. Quase nove anos e só o enxerguei
três vezes, e meio de longe, sem sentir o seu cheiro de lavanda
com um toque de menta, que não foi perdido com o tempo:
pelo visto, ele ainda tinha esse aroma. Mesmo antes ele não
gostava de usar perfume, apenas desodorante masculino, e
amava tudo que tinha menta. O seu cheiro ainda estava em
minha pele.
Não queria dizer a ele tudo que disse, não queria ver a
dor naqueles olhos como eu vi quando falei que não significou
nada o que tivemos, que seu toque, seu gosto e seus beijos
foram apenas para ajudar no caso. Estava mentindo, porque
significaram tudo para mim. Fazer sexo com ele foi aquilo
com que sempre sonhei, era o que desejava e queria para
sempre.
Gostaria de revelar a verdade, os motivos de eu partir e
das decisões que tomei, o que realmente houve naquela noite
que era para ser o dia mais feliz da minha vida, quando eu o
tinha, quando estávamos comemorando nosso primeiro ano
juntos. Um ano de felicidade e amor. Queria contar porque não
disse adeus; se eu falasse, aquilo me mataria, não teria
coragem de partir.
Vendo a sua dor — aliás, ultrapassava a dor —, ele
estava quebrado, e fui eu a responsável… Nesse momento,
percebi a intensidade do seu amor por mim, um amor que,
quando mais nova, sonhava em ter; um amor que ultrapassasse
tudo, barreiras, o tempo, os obstáculos, que nunca fosse
esquecido. Notei isso hoje ao rever esse homem, soube que o
que tínhamos antes ainda estava vivo e forte.
Suspirei ao lembrar da mulher que um dia fui, com olhos
verdes que brilhavam de felicidade, agora vazios. O rosto
bonito, antes meigo, se tornou sombrio e sem vida, mesmo
correndo sangue em minhas veias. Eu estava viva e morta ao
mesmo tempo. Viva porque tinha a Emily, meus pais, amigos,
e por ver Jason ainda respirando. Sua sobrevivência neste
mundo valia qualquer sacrifício, mesmo que significasse
permanecer em tormento por anos.
Limpei as lágrimas dos meus olhos, tentando controlar a
dor. Ela nunca iria embora, estava gravada em mim como um
câncer. Apesar disso, não me arrependia de amá-lo, o
sofrimento que sentia era a única lembrança do que vivemos.
— Recomponha-se, Tabitta — sussurrei a mim mesma.
— Não quebre agora.
Lavei meus olhos e enxuguei-os, saindo do banheiro.
Não reparava à minha volta, só o que eu via e sentia era a dor
de Jason. A porta se abriu e Lincoln entrou após Jason sair.
Tentei não pensar no sofrimento de meu amado ou
desmoronaria. Lincoln parecia ter raiva, eu o conhecia bem
para saber que ele estava furioso, embora não soubesse o
motivo, e também não me interessava. Éramos apenas colegas
de trabalho e nada mais.
— Nem comece — falei, passando por ele, que já ia
abrir a boca, com certeza para criticar o que fiz.
Lincoln segurou meu braço.
— Tabitta, sério, o que você fez? Transou com o cara?
— rosnou.
Ele era alto, forte, com cabelos curtos e olhos claros.
Sempre quis ficar comigo, porém, nunca aceitei. O cara era um
tremendo de um sem-vergonha.
Estreitei meus olhos.
— Se eu transei ou não, isso não é da sua maldita conta
— sibilei.— Cuide da sua vida e me deixe em paz.
Bufou, enraivecido.
— Tudo bem, a vida é sua. — O desdém estava em cada
palavra. — Já que gosta de se sentir assim.
Ergui as sobrancelhas.
— Assim como? Termine.
Ele suspirou.
— Deixe para lá. De onde você conhece Jason Falcon?
Ele bateu em James Martine, o aliado de Franklin, o nocauteou
com um soco, só porque ele a tocou.
Expirei, tentando me controlar.
— De novo, não é da sua conta. — Cerrei os dentes,
querendo machucá-lo. Não desejava conversar sobre Jason
agora, muito menos com ele.
Lincoln com certeza estava pensando que eu era mais
uma foda dele, e que amanhã Jason me trocaria por outra. Eu
achava que não chegaria até amanhã, afinal, a noite ainda não
acabara. Ele podia já estar com alguém, ainda mais sofrendo
do jeito que estava depois de tudo que eu disse a ele.
Não podia pensar nisso, precisava focar no caso do
Franklin, porque com ele preso, Sebastian sairia da toca e eu o
capturaria, então iria atrás de Jason e diria toda a verdade.
— Conseguimos prender o Franklin com provas
suficientes para ele passar um bom tempo na cadeia? —
perguntei, cruzando por um corredor cheio de agentes. O lugar
fora evacuado para a operação. Havia alguns policiais no
quarto de frente ao que eu estava. Com certeza, foi ali que o
velho tarado levou a menina.
— Sim, nós o prendemos — afirmou assim que
estávamos perto de Thomas.
Thomas franziu a testa para mim, me avaliando. Notei
que ele sabia agora que Jason não era qualquer um, ainda mais
depois de ter visto sua foto com Emily no meu PC, e eu
ficando com ele. Papy compreendia que eu jamais aceitaria
fazer o sacrifício de ficar com um homem aleatório. Depois
conversaria com ele e Mama.
Quando contei tudo aos meus pais sobre meu passado,
não mencionei Jason, apenas vovó e o filho da puta que dizia
ser meu pai. Os dois aceitaram bem, só ficaram um pouco
magoados comigo por não ter revelado antes a verdade.
Papy tirou sua jaqueta preta e deu para eu vestir. Eu
sentia um pouco de frio, pois minha roupa mostrava todo o
meu corpo, e estava sem calcinha, porque Jason rasgou a
minha.
Dennis chegou com Bryan com um imenso sorriso de
comedor de merda.
— Nem comece — rosnei antes que ele pudesse abrir a
boca.
Dennis me olhou de lado.
— Eu não disse nada…
— Mas ia. — Mudei de assunto: — Onde o velho está?
— Foi levado só de cueca para a prisão. — Bryan riu
com um revirar de olhos. — Está na sala de interrogatório da
polícia local.
Eu ri também.
— Uma visão bem bonita, não acha? Um velho e sua
bunda murcha.
Todos gargalharam, até o Thomas, que sacudiu a cabeça.
— Você não existe, agente Tabitta.
— Nosso departamento ficou melhor com você nele,
Taby — o agente Milton me disse. — Quarenta anos no FBI, e
só nesses dois últimos passei a sentir mais ânimo no trabalho,
sua disposição é contagiante. Ainda mais para um velho como
eu.
— Você não é velho, apenas enxuto, dá até um caldo
grosso. — Sorri para o senhor de quase sessenta anos, um
grande amigo. Acho que se aposentaria no ano que vem.
Thomas bufou.
— Vamos interrogar Franklin Salazar — Papy falou,
seguindo para fora do clube. — Os agentes Milton e Raul
coletaram todas as provas contra ele.
— Onde está a garota? — perguntei, o acompanhando
também.
— Peguei sua declaração. — respondeu Milton. — Ele
ofereceu um carro novo, um apartamento e outras coisas para
ela.
— Quantos anos ela tem?
— Dezesseis. — Thomas soou seco. — O que farão o
pai e a mãe dessa menina e de mais seis que achamos nos
quartos com homens, incluindo dois políticos? As famílias
sempre sofrem pelos filhos. A agente Desiree está neste
momento conversando com os pais delas.
— Espere, seis garotas? — Meu tom saiu um pouco alto,
então abaixei a voz. — Não era só a que estava com ele?
Thomas meneou a cabeça.
— Não, com ela eram sete. Seis vieram aqui porque
queriam, mas uma menina não estava por vontade própria.
Agora está sendo examinada, porque um cara a machucou um
pouco com seu jeito sádico e doente.
— Essas meninas são tontas por acreditarem em homens
como Franklin e James. Esses canalhas as machucam e
entregam para caras estupradores. Como podem não ver isso?
Como podem querer algo assim? — Tinha vontade de abrir
suas mentes, mas não podia, porque só elas seriam capazes
disso.
Quando saímos da boate, vi Jason dirigindo sua Ferrari
cinza. O que me cortou fundo foi que ele não estava sozinho,
havia uma mulher loura ao seu lado; não deu para vê-la
direito. Ele passou devagar, sem tirar os olhos de mim. Por um
breve segundo se ateve no Lincoln. Pareceu querer matá-lo.
Vê-lo com outra mulher foi um soco no estômago, como
se ele tivesse enfiado as mãos em meu coração e o triturado tal
qual carne moída.
— Olhe quem já está com outra mulher — comentou
Lincoln, encarando o Jason e a loura.
Meu peito subia e descia com o tormento. Tentei expirar
para controlar a dor que estava me comendo viva. Merecia isso
ou coisa pior, se tivesse coisa pior. A própria morte seria um
alívio. Eu o magoei tão profundamente que chegava a ser
criminoso. A extensão da dor que vi em seus olhos era intensa,
me consumia a cada segundo.
Queria mais que tudo neste mundo arrancar sua angústia
de uma vez por todas. Não era justo com ele. A melhor das
hipóteses seria se ele me esquecesse, não? Quase ri disso; se
em nove anos ele não me esqueceu, não seria agora que
aconteceria, considerando o que repetimos juntos, que senti
seu cheiro, seu gosto, e ele o meu.
Entendia que Jason fora ferido por minhas palavras
duras, mas ele não poderia ter esperado para pegar outra
mulher? Não esfriou nem o que acabáramos de ter. Como ele
pôde fazer isso comigo?
“Maldição! Concentre-se, Tabitta”, pensei, forte.
— Você está bem? — sondou Thomas num tom
preocupado, olhando de Jason para mim.
Respirei fundo, desviando os olhos e cobrindo meu rosto
com uma máscara fria. Não deixaria que notassem meu
interesse nele; Sebastian tinha gente em todos os lugares,
inclusive onde eu trabalhava.
— Estou — menti. Tranquei a dor dentro de mim; lidaria
com ela depois, e não agora, com os olhos de todos à minha
volta sobre mim.
— Tem certeza? — sussurrou, acho que para os outros
não ouvirem.
— Sim, eu tenho.
Jason virou a esquina com sua nova foda.
— Então vamos embora.
Sabia que ele queria retrucar, mas não disse nada.
Apostaria que era por estarmos cercados de gente, e também
por estarmos trabalhando.
CAPÍTULO 5

Interrogatório
TABITTA

Entrei na cela onde Franklin, sentado em uma cadeira,


estava com as mãos algemadas nas costas. Os outros seis
presos continuavam sendo interrogados pelos demais agentes.
Eu fiquei com o velho, já que tinha de colocar o nosso plano
em ação.
— Você e aquela cadela desgraçada vão pagar por isso
— Franklin sibilou, fuzilando-me com raiva. — Não vou ficar
preso por muito tempo.
Anya era a mulher enviada por Dennis, que também
estava disfarçada no clube.
Levantei uma sobrancelha, chegando perto dele, e parei
a um passo. O agente Chris estava atrás dele, hoje era seu
último dia trabalhando conosco, ele estava montando uma
empresa de segurança junto com seu primo; desejava sorte
para eles. Agora chegara a minha parte do plano.
— Você não devia ameaçar a filha do seu chefe, ele
poderia mandar matá-lo na cadeia. — Olhei de lado para ele.
— Claro que ainda agradeceria se ele o fizesse, por acabar
com a escória fodida que você é.
Acho que ele parou de me ouvir no momento em que
mencionei seu chefe e o fato de ser sua filha… Eu não queria
ter o sangue daquele monstro, mas isso era algo que não
poderia mudar.
O maldito olhou ao redor, como se buscasse câmeras,
mas nessa sala não tinha nenhuma, não que ele soubesse:
estavam escondidas.
— Qual é a pegadinha? Acha que sou burro para cair na
sua conversa? — zombou. — Você é uma cadela que só está
procurando matar sua coceira… — Sorriu. — Posso dar um
jeito em você…
Gargalhei com desdém, fitando Chris, que ainda estava
sério, mas vi-o revirando os olhos.
— Ouviu isso?
Chris riu. Era um cara bonito, apenas não me interessei
por ele e nem por ninguém. Havia apenas um homem de quem
gostava dessa forma, o único que não podia ter.
— Cara, se enxergue, você viu o homem com quem ela
estava? Acha que vai querer um velho como você?
— Nem se eu estivesse bêbada — rosnei, depois voltei
aos planos, pois não pretendia passar a noite olhando para seu
rosto asqueroso.
— De qualquer forma, não acredito em você. — Mirou-
me com seus olhos zombadores. — Com certeza está
checando para ver se eu falo algo. Não vou dizer nada.
Caras como ele são muito espertos, contudo, acabara de
admitir que o conhecia. Ele nem sabe disso, mas sua forca
estava preparada.
— Acredita mesmo nisso? — Dei um passo para o lado,
ainda o fitando. — Tenho provas que colocariam você na
prisão, com direito à pena de morte…
O filho da puta riu.
— Pena de morte? Estamos em Manhattan, aqui não
existe pena de morte. Além disso, nunca estuprei ninguém,
elas estão comigo porque querem.
— Aí é que você se engana. Foi acusado de estuprar e
matar uma menina de dezessete anos no estado do Texas.
Acredita que lá tem pena de morte? É só mandarmos você para
lá.
Seu rosto ficou tão branco que parecia papel, ele sabia
que menina era. Algumas semanas antes, descobri por Bryan,
que investigou o caso de Franklin. A garota era ninguém
menos que Pamela Andrew; uma cadela, eu sei, na escola ela
me humilhava muito, mas nunca merecia ter sido morta como
foi.
Entretanto, isso significava que ele esteve lá naquele dia
com Sebastian, somente não na minha casa, porque não me
lembrava dele. Pamela foi morta na mesma noite em um hotel,
supunha que fosse depois que ela deixou o quarto de Dominic,
quando fui procurá-lo para pedir sua ajuda para levar Jason
embora. Seu corpo foi encontrado no rio Colorado após alguns
dias, por pessoas que andavam pelo local. Na autópsia,
descobriu-se que ela foi violentada várias vezes. Tinha sinais
de luta, ou seja, ela o enfrentou antes de morrer. A ira se
apossou de mim ao saber de tudo isso. Queria matar eu mesma
os homens que faziam esse tipo de coisa, pena que não podia.
A polícia local tentou descobrir todos esses anos o que
aconteceu com ela, mas só conseguiram quando Bryan, um
hacker brilhante, achou uma gravação do hotel mostrando
Franklin e Pamela juntos no corredor, entrando no quarto dele.
Então os proprietários resolveram abrir o jogo: eles foram
ameaçados a não dizer nada, ou sua família sofreria as
consequências. Contaram que ele foi embora sozinho, a garota
não saiu junto, então o casal suspeitou que os caras que
estavam com Franklin a levaram pela janela, já que estava
hospedado no térreo. As câmeras comprovaram isso.
Quis esganar o velho por fazer isso com uma garota
inocente. E mesmo se não fosse inocente, ninguém merecia
uma morte assim. Felizmente, seus dias estavam contados.
Não desejava o mal de Pamela, embora não gostasse
dela ter ficado com Jason antes que eu entrasse em sua vida e
se tornasse seu mundo inteiro, como ele disse quando saiu do
clube. Não queria pensar no que falou depois, não, eu não
podia aceitar, precisava fazer o necessário para ter o homem
que eu amava.
— Então, o que vai ser, Franklin? Fará um acordo
conosco? Eu não gosto disso tanto quanto você. Caras como
você não deveriam estar vivos, e sim apodrecendo no inferno,
que é o seu lugar. Você vai pagar por estuprar e matar Pamela
Andrew, e também por ficar com menores e vendê-las no
mercado negro.
— Você não tem provas disso — retrucou.
A porta se abriu num rompante. Bryan entrou furioso e
foi direto no Franklin, pegando ele e imprensando contra a
parede.
— Me diga o que você quer com esta mulher. — Pegou
uma foto e colocou na cara do velho.
Franklin arregalou os olhos para a imagem.
— Onde conseguiu isso? — perguntou, irritado.
Cheguei mais perto dos dois e olhei confusa para o
Bryan. Por que ele interrompeu o meu interrogatório? Não era
para o cara estar ali.
— O que foi, Bryan? Que foto é essa?
— Responda, droga, o que você queria fazer para essa
garota? Sua foto estava na parede do seu quarto com um
maldito X na cara dela — esbravejou Bryan, esmurrando-o na
parede.
Franklin gemeu com a pancada.
— Por culpa dessa vagabunda o desgraçado do Ryan
Donovan me chantageou para comprar a Editora Luxem, ela
era minha — rosnou. — Ele não tinha o direito.
Bryan riu com desdém.
— Para ser uma empresa de fachada, igual vinha
fazendo às escondidas de Daniel Luxem, o filho do Michael,
seu sócio? Você fazia falcatruas fingindo que levava uma
quantia exorbitante de livros em contêineres para várias
cidades, mas, na verdade, carregava garotas para vendê-las no
mercado negro, não é?
Arregalei os olhos. Essa empresa era a mesma em que
Angelina trabalhava? Um frio desceu por minha espinha.
Sabia que ela e Ryan eram namorados, mas não que ele tinha
comprado a editora. Será que adquiriu essa empresa somente
para ela trabalhar nela? Se fosse, ele era bem altruísta.
Peguei a foto da mão do Bryan e ofeguei: ali estava
Angelina abraçada com Ryan, e um X vermelho em cima do
rosto dos dois. Ele planejava alguma vingança?
— O que pretendia fazer com Angelina? — sibilei,
querendo matar esse homem ainda mais.
— Responda agora ou nada de acordo com você —
falou Papy, entrando também na sala.
— Sim, eu usava as embarcações e forjava pedidos de
livros, levava as garotas no lugar para vendê-las, faturei
milhões com isso. — Riu.
— Agora não vai faturar mais, já que vai para uma
prisão até aguardar julgamento — disse Papy. — Agente
Bryan, solte-o. O interrogatório acabou por hoje.
— Agente Bryan, solte Franklin agora — mandou seu
chefe, pois Bryan hesitou diante da ordem de Papy.
Bryan suspirou, frustrado, e o largou, ou melhor, o jogou
no chão sem nenhum tipo de simpatia — não que eu não faria
o mesmo que ele, claro.
— Quero as localizações dos negócios de Sebastian,
onde ficam seus contatos e seus nomes. Quero tudo, então
desembuche — ordenou Thomas.
— Vocês são loucos se acham que podem pegar alguém
como ele. Há infiltrados seus em todos os lugares. Assim que
eu assinar esse acordo, serei um homem morto.
— Daremos proteção a você — assegurou Papy. Pelo
seu tom, ele não parecia gostar disso; ninguém com coração
iria querer um homem desses vivo, não com tudo que ele fez.
O velho riu.
— Ninguém conseguiria me proteger do chefe. Sem
chance de eu entregá-lo, prefiro pegar a pena de morte, pelo
menos assim seria rápido. Já com ele? — Maneou a cabeça de
lado, se ajeitando no chão. — A única coisa que posso dizer é
que vai haver uma transportação quinta-feira.
Ele nunca dizia “Sebastian”, dava o seu testemunho sem
usar o nome do meu falso pai diretamente, assim não teríamos
mais provas contra ele.
— Transportação de quê? — perguntou Papy.
Franklin levantou as sobrancelhas.
— O que vocês acham?
— Onde? — rosnei.
— Vão ter de descobrir por vocês, não é esta sua
função? Têm três dias para fazer isso, ou aquelas lindas
borboletas voarão para seus donos. — Sorriu e assoviou.
— Elas são seres humanos, seu… Você me dá nojo —
falei com repulsa. Saí da sala antes que eu esganasse o velho
asqueroso. Precisava fazer uma ligação importante.
Não podia contar à Angelina que sua vida corria perigo,
mesmo com Franklin preso. E ela acabara de passar uma barra
com seu irmão…
Peguei o celular para ligar para a única pessoa que podia
protegê-la.
— Para quem pensa em telefonar? — indagou Bryan,
chegando perto de mim.
Olhei para ele.
— Preciso proteger a garota da foto, eu a conheço,
Bryan, somos amigas. — Levantei a foto da Angie, que ainda
segurava. — Eles precisam de proteção.
— Eu já cuidei disso, não se preocupe — ele me
tranquilizou. — Também sou amigo dos dois, Tabitta. Falei
com Lucky, o irmão do Ryan. Ele tem bastante influência em
todos os lugares, irá protegê-los.
— Eu ia ligar para ele, mas já que o fez, obrigada, Bryan
— agradeci — O que Lucky disse?
— Ele não quer preocupar seu irmão, então vai colocar
guardas que vigiem ele e Angelina vinte e quatro horas por
dia, até sabermos que eles não correm mais perigo. Estarão
protegidos, Tabitta. — Aproximou-se e tocou meu ombro, me
reconfortando. Eu nem notei, mas estava tremendo.
Conheci Angelina quando estudávamos juntas, alguns
anos atrás. Ela entendia a minha dor porque sentia algo
parecido por ter perdido alguém naquela época. Eu sofria pelo
Jason, enquanto ela sofria pelo Caim, o seu primeiro amor.
Ficava alegre por ela ter encontrado uma nova e recíproca
paixão.
Eu já estava de saída da agência quando Bryan me
chamou. Achei que era para mais um interrogatório sobre
Franklin.
— Tabitta.
Ele vinha em minha direção. Eu estava na calçada da
sede da delegacia de Manhattan. O prédio era de tijolos
vermelhos e forrado nos vidros, não muito diferente da nossa
sede.
— O que foi? Algum problema no caso?
— Não, Dennis e Thomas estão cuidando e montando
uma estratégia para pegarmos o Sebastian, agora que Franklin
não está querendo ceder. Mas não foi por isso que te chamei.
— Sacudiu seu celular preto na mão. — Recebi uma ligação
de um amigo meu sobre uma briga de bar…
Eu o cortei.
— Não sei se você sabe, mas brigas de bar são trabalho
da polícia, e não nosso. Meu trabalho é prender gente perigosa
como Franklin, e não ir atrás de alguém que bebeu demais e
está causando encrenca.
Ele suspirou, sacudindo a cabeça.
— O cara bêbado que está causando encrenca é o Jason.
Eu arfei.
— Maldição! O que ele tem na cabeça? — rosnei. —
Onde fica esse bar?
— Venha comigo resolver esse problema. — Seguiu em
direção à sua Range Rover.
Chegamos ao bar perto da praia. Era pequeno e meio
afastado da cidade. Eu não entendia o que ele foi fazer em um
bar. Bem, eu o machuquei tanto, vi a dor queimando em seu
rosto, então devia ser por isso que ele estava ali.
Entramos no estabelecimento repleto de cadeiras de
madeira espalhadas pelo pequeno salão. Não tinha muita gente
ali, apenas alguns homens bebendo e outros jogando sinuca.
Jason discutia com um cara barbudo. Havia um senhor
no bar, e Bryan foi conversar com ele. Decertou foi ele que
ligou para o Bryan. Cheguei mais perto do Jason e ouvi sua
discussão.
— Você acha que quero sua mulher? — desdenhou,
apontando para a garota do lado do barbudo, uma morena
bonita. Meu coração foi atingido ao pensar que ele já estava
com outra. Onde se encontrava a loura? Achei que estavam
juntos.
— Acha que sou burro? Vi vocês dois. — O cara apertou
o taco em suas mãos, como se quisesse bater no Jason com ele.
— Ela veio até mim para pedir um autógrafo. — Sua
voz saiu um pouco arrastada. Estava bêbado, porém, não
muito.
— Você acha que não conheço Jason Falcon das colunas
sociais, com mulheres penduradas no pescoço? — rosnou o
cara.
— Ele está falando a verdade, Paulo, eu só queria um
autógrafo — disse a mulher.
— Posso saber o que está acontecendo aqui? —
perguntei, ficando entre os dois.
Jason me olhou e sorriu para mim por um momento. Em
seguida, virou-se para Paulo.
— Você já foi enfeitiçado por uma boceta vodu?
O cara franziu o cenho. Olhou para mim e para a arma
no meu coldre.
— Vocês são da polícia? — inquiriu a mim e Bryan. —
Só estou vendo a arma, cadê o distintivo?
Peguei no bolso da calça e mostrei para ele.
— Aqui.
— FBI? — praguejou.
Jason me pegou pelo braço e puxou para ele, quase nos
fazendo cair.
— Ela me pegou com sua boceta vodu. — Fitou meus
olhos. O amor imenso estava ali, visível. — Meu pau só se
levanta quando você está perto.
Ergui uma sobrancelha para ele.
— Sério? Não era o que parecia. Vi você saindo da boate
com uma loura não tem muito tempo — soltei, sarcástica.
Ele franziu o cenho.
— Alexia? Eu não estava fodendo ela e nem ninguém.
Bryan ofegou atrás de mim.
— Alexia estava na boate hoje? — indagou, sufocado,
ou foi o que me pareceu.
Jason olhou para ele.
— Sim, dei carona para ela, já que estava chorando
muito e não parecia bem para dirigir.
— Droga! — xingou e me olhou. — Você segura as
pontas aqui? Preciso esclarecer algumas coisas com ela. Com
certeza viu algo que não aconteceu.
Eu sabia que ele estava com alguém, só isso explicaria o
fato dele não ter dado em cima das garotas e de mim, porque o
cara era um maldito deus grego.
— Deve ter visto você com outra mulher. Estava aos
prantos, dizendo que mentiu para ela e a traiu — Jason falou.
Eu não vi Bryan com ninguém. Nós dois tivemos de ir a
um quarto e ficar bastante tempo lá, para todos pensarem que
estávamos fodendo. Mas isso não aconteceu. Ela devia ter
enxergado ou ouvido algo que a fez pensar que ele estava a
traindo comigo. Precisei deixar Bryan sozinho no clube para
ver se eu buscava uma confissão de James, foi quando Jason
apareceu e estragou tudo. Felizmente, agora o filho da puta do
James estava preso, já que foram encontradas várias coisas que
envolviam ele com menores em seu carro.
— Pode ir, Bryan, eu resolvo aqui — garanti, enquanto
guardava o meu distintivo.
Ele assentiu e saiu correndo do bar. Esperava que os dois
se entendessem.
Dirigi-me ao cara e sua mulher:
— Estamos resolvidos ou teremos de ir à delegacia?
— Contanto que ele fique longe da minha garota —
rosnou o homem, furioso.
Jason bufou.
— Eu já disse, meu pau só se levanta por uma mulher.
— Sorriu para mim. — Você.
Revirei os olhos.
— Certo, vamos embora, então. — Peguei seu braço
para tirá-lo dali. Indaguei ao senhor do bar: — Quanto ele
deve a você?
O senhor de meia-idade olhou para o Jason, que estava
cheirando meu cabelo. Ele sempre gostou de fazer isso.
— Pode deixar, não é a primeira vez que ele bebe
demais no meu bar. Amanhã ele vem e acerta a conta, não se
preocupe.
Eu franzi a testa. Jason ia direto ali para beber? Ele
sempre ficava assim? Isso tudo era minha culpa.
Fui ao bar com Bryan em seu carro, mas ele partira para
resolver seus problemas com Alexia. Esperava um dia também
resolver os meus com esse homem do meu lado, que era a
minha vida.
— Cadê a chave do seu carro? — perguntei assim que
paramos perto do seu automóvel.
— Hummm, no meu bolso da frente — respondeu, sem
nunca tirar os olhos de mim. Era como se estivesse com medo
de eu desaparecer.
Coloquei minha mão em sua calça e peguei as chaves do
carro. Seguimos para sua mansão na beira do mar, um lugar
lindo, eu devo dizer. Sua casa possuía dois andares, já tinha
visto em uma revista de moda.
— Como sabia que eu morava aqui? — sondou assim
que estacionei seu carro na garagem imensa. Havia mais
veículos ali, só não reparei nas marcas.
— Sei tudo sobre você — respondi ao entrarmos em sua
sala.
Ele ligou a luz usando um controle remoto. Não sabia
como ele achou no escuro, ainda mais estando bêbado.
A sala era imensa, com paredes marrons, uma cor bem
estranha para um ambiente caseiro. Os móveis também eram
marrons e pretos, tanto os sofás na forma de L quanto a estante
embutida na parede. Não havia quadros ou fotos; a sala era
linda, mas parecia sem vida.
— Estranho, porque eu não sei nada sobre você —
retrucou, tirando sua jaqueta e deixando-a no sofá.
— Eu tive um dia longo e não quero discutir, em
especial sabendo que amanhã não vai lembrar nada que
conversarmos hoje.
— Vou me lembrar de tudo, não estou tão bêbado assim.
Balancei a cabeça.
— Você tem uma linda casa, embora um pouco triste.
Por que cores escuras?
Ele deu de ombros.
— Dizem que o ambiente em que se vive revela o que
você é por dentro. — Expirou, ao que eu me encolhi. Antes
que eu dissesse alguma coisa, ele continuou: — Por que eu
não fui homem suficiente para você?
— O quê?
— Eu não fui suficiente para você…
A dor que se apossou de mim era tão terrível que me
deixou sem fôlego por um momento. Entendia que foi preciso
deixá-lo, todavia, não imaginava que ele pensava que não era
homem suficiente para mim. Ele era tudo, todos esses anos e
eu continuava o amando da mesma forma que antes.
— Você sempre foi o bastante para mim, Jason, nunca
pense o contrário — falei a verdade.
— Então por que foi embora aquele dia, me deixando
vazio e morto por dentro?
Expirei e fechei os olhos por um momento, estabilizando
minha respiração e a dor que me consumia.
— Me diga o que houve, borboleta? — pediu, tocando
meu rosto e o esquadrinhando.
Seu toque era quente e abrasador na minha pele. Abri os
olhos meio úmidos, encarando-o ali tão perto de mim.
— Não posso…
— Por quê? — Seus dedos seguiam por meu rosto e
lábios.
Ele parecia não saber o que seu toque fazia com meu
corpo. Eu me afastei.
— Eu tenho que ir embora. — Ficaria em um hotel nas
proximidades. Era para ir à casa do Papy no Brooklyn, mas já
era quase duas da madrugada, então continuaria por aquela
vizinhança mesmo.
Ele me segurou antes que eu saísse e me puxou para si.
— Tudo bem, não vou perguntar mais nada, ok? Apenas
não vá embora hoje. — Seu tom era suplicante, e sua voz linda
tremeu.
Fitei seus olhos. Estava com medo de eu ir embora e
deixá-lo de novo; parecia quebrado. Eu quebrei esse homem
no momento em que o abandonei, e ele nunca se recuperou.
Por isso precisava concluir minha missão e trazer luz ao cara
na minha frente.
— Certo. — Peguei sua mão e levei para a escada.
— Obrigado. — Aparentava estar um pouco mais feliz.
— Onde é o seu quarto?
— Na segunda porta à direita.
Deparei-me com um recinto branco; bom, ao menos ele
não era marrom ou preto, igual ao resto da casa. A cama era
king size, com lençóis claros. Na parede à direita estava uma
TV enorme, e, na esquerda, uma imensa janela de vidro. Não
tinha muita coisa lá, como quadros e outros enfeites. Meu
coração doeu pela culpa ser minha por ele estar assim.
Soltei suas mãos, sentei na cama, e tirei minha camiseta
e jaqueta preta. Depois, as botas escuras, a faca no meu
tornozelo, o coldre com a arma e a calça.
— Nunca pensei que veria você com uma arma um dia.
Virei para cima e notei que ele estava me olhando com
um esboço de um sorriso. Gostei de ver esse sorriso verdadeiro
em seu rosto. Fazia muito tempo que não o enxergava deste
modo.
— Eu também não. — Retribuí o gesto.
— Já atirou em alguém com ela? — sondou.
— Já, mas não matei ninguém ainda, espero que nunca
precise. — Estremeci. Eu era uma boa atiradora, mas sempre
mirava em pernas e mãos, nunca em um órgão vital. Orava
para que jamais viesse a precisar.
Ele olhou meu corpo tão logo tirei a minha calcinha e o
meu sutiã. Seus olhos eram quentes.
— Você não cora mais. Sempre que eu encarava seu
corpo, seu rosto ficava vermelho — observou.
Revirei os olhos e fui para o banheiro.
— As coisas mudam.
— Algumas mais que as outras — disse, me seguindo.
Seu tom foi de crítica. Falou antes que eu pudesse retrucar: —
Você é tão linda! — sussurrou, quase abobado. — Sempre foi
como o sol.
Eu me virei já debaixo do chuveiro, com a água quente a
escorrer, e olhei para ele todo nu, com sua beleza dura exposta.
Seus músculos estavam cobertos por tatuagens. Eu o puxei
para mim e o beijei, querendo mostrar tudo que não podia
dizer em voz alta. Apertei meu corpo contra o dele,
saboreando as sensações lindas e maravilhosas. Seus braços
agarravam minha cintura com força.
Logo em seguida, ele estava dentro de mim. Coloquei
minhas pernas à sua volta, enquanto ele me imprensava contra
a parede e me penetrava com seu pau.
Gemi, sentindo seu membro gostoso. Cada estocada me
levava mais perto do prazer. Esperava que ele não caísse e me
levasse, já que está meio bêbado.
Seus lábios tomaram meu pescoço e minha orelha,
mordiscando-os e os lambendo. Gritei, escorando a cabeça na
parede. Queria apenas que esse homem matasse o desejo e a
fome que sentia por ele. Cada estocada me levava ao limite, à
porta do meu orgasmo.
Ele afastou o rosto do meu e fitou meus olhos com
luxúria, amor e adoração.
— Eu te amo, borboleta, sempre amei e sempre vou
amar — declarou com fervor.
Meu coração rachou com essa manifestação. Uma parte
de mim ficou feliz em ouvir isso. Desejava que nossa história
fosse real, igual foi um dia. Era o que me dava mais forças
para lutar e viver neste mundo sem ele, sabendo que no futuro
ficaríamos juntos. Eu não respondi, apenas beijei sua boca e
chupei sua língua, desfrutando de seu gosto delicioso.
Apertei sua cabeça contra mim, querendo mais,
querendo colocá-lo dentro mim. Urrei em sua boca assim que
meu orgasmo bateu, tão forte como um raio. Depois de um
segundo, seu corpo tremeu. Gozou dizendo “eu te amo” de
novo. Ele me beijou e escorou sua testa na minha, sem nunca
tirar os seus olhos brilhantes dos meus olhos bêbados por ele.
— Não me afaste de novo, por favor. — Meu coração
sangrou com isso. Não podia ficar próxima dele, mesmo
desejando isso com a minha vida. Talvez se mantivéssemos
nossa relação em segredo? Esperava que funcionasse.
Soltei minhas pernas à sua volta e me afastei, pegando a
bucha de banho para ensaboá-lo. Não respondi.
— Por que não responde quando falo com você? — Seu
tom era quebradiço como vidro.
Observei seus olhos atormentados.
— Porque não devo prometer o que não posso cumprir.
— Minha garganta se arranhou.
— Por que não? Sinto que me ama também, vejo através
dos seus beijos, do seu toque e do seu olhar. — Acariciava
meu rosto ao dizer isso.
Eu expirei.
— As coisas são complicadas. Se quiser que eu fique
aqui, não faça perguntas hoje, ok? — pedi, quase suplicante.
Ele assentiu, mordendo os lábios. A minha falta de
respostas às suas perguntas o machucava. Isso era pior do que
tudo.
Passei a bucha em sua pele cheia de tatuagens. Ele tinha
um falcão nas costas, e asas de falcão nos braços. Ensaboei o
local onde deveria estar a tatuagem de borboleta que fizemos
juntos, simbolizando nosso amor.
Rachei, não consegui mais segurar a dor que estava me
sufocando quando vi que ele removeu nossa tatuagem. Se ele a
apagou, era porque não queria mais sentir nada por mim. Se
não tivesse minha filha, teria desmoronado de vez. Vendo o
lugar coberto com outro pássaro, eu me afundei.
Deixei-me cair no chão do banheiro e chorei em
demasia, me quebrando na sua frente. Ele agachou, me puxou
para o seu colo e desligou a água. Suspendeu-me do chão em
seus braços e me levou para o quarto, me secando e me
depositando na cama. Deitou ao meu lado, me puxando para
junto de si.
— Eu tive que tirá-la… A dor era demais quando a via
em meu peito… Por não saber o motivo pelo qual me deixou.
Pensar que não fui homem suficiente para você, que não fui o
bastante, que talvez fiz algo para merecer.
Meus olhos estavam molhados.
— Você não fez nada de errado, Jason, sempre foi
maravilhoso. Eu não queria ter ido embora aquele dia. —
Toquei seu rosto com barba por fazer, em choque com o que
eu disse. — Foi preciso.
— Por quê? — Ele limpava as lágrimas da minha face.
— Eu não entendo…
— Não precisa entender. Só saiba que fiz tudo isso por
você. — Minha voz falhou.
— Por mim? — Seu tom saiu alto no quarto. — Que
droga isso quer dizer?
— Eu tive de ir embora, não podia colocar sua vida em
perigo…
— Borboleta…
Eu o beijei, impedindo-o de falar.
— Se amanhã você se lembrar do que conversamos hoje,
eu contarei tudo — disse a verdade. Esperava que ele se
lembrasse, assim eu tiraria esse fardo de cima dos meus
ombros. Aninhei-me em seus braços. — Vamos dormir agora.
— Eu vou me lembrar de tudo — prometeu.
CAPÍTULO 6

Tiroteio
TABITTA

Acordei cedo e olhei ao redor no quarto branco. Senti


um corpo ao meu lado, virei e ali estava ele. O homem com o
qual eu sonhava dia e noite. Seu corpo musculoso despido, sua
pele macia que tanto amava. Alisei seu peito, seu rosto e sua
boca.
Ele pegou minha mão. Ao se dar conta, fugiu tão rápido
que logo estava fora da cama, longe de mim.
— Não me toque — gemeu, colocando as mãos na
cabeça devido à ressaca. Seu cérebro parecia estar dando
voltas como um redemoinho.
Deixá-lo uma vez antes foi insuportável; beber era a
única forma que achei de aliviar a dor. Se eu não tivesse
Emily, não sabia o que teria acontecido comigo.
Provavelmente não estaria aqui agora. Por isso tinha certeza de
que Deus e esse homem me deram ela para passar por tudo.
— O quê? — Doeu perceber que ele não queria o meu
toque.
Ele me olhou com o cenho franzido.
— Tabitta? O que faz aqui?
Gelei. Então ele não se lembrava do que tivemos na
noite anterior? O pior: ele pensou que eu fosse uma de suas
vagabundas com quem transa e esquece no dia seguinte. Doeu
tanto, como se ele enfiasse as mãos em meu peito e esmagasse
o meu coração.
Não disse nada, apenas vesti minhas roupas e guardei
minha arma na cintura e minha faca na joelheira, calçando as
botas.
— Responda, droga! — gritou, ao que gemeu pela
ressaca.
Fuzilei-o enquanto colocava minha jaqueta de couro.
— Você não se lembra de nada mesmo?
Ele estreitou os olhos com o ressentimento na minha
voz.
— Do que eu deveria me lembrar? Me diga. — Veio em
minha direção.
Eu sacudi a cabeça.
— Esqueça, se você não se lembra, é porque não era
importante. — Saí do quarto, desejando ir embora dali e deixar
a dor me consumir; ela estava me esmagando por dentro.
— Tabitta, espere — gritou, indo atrás de mim. Deve ter
notado que estava sem roupas, porque o ouvi praguejar.
Ignorei-o e desci a escada correndo. Abri a porta num
rompante e ali estava uma loura, mas não a de ontem à noite.
Essa tinha cabelos louros platinados e olhos castanho-claros.
Reconheci a modelo Rayla Donovan, irmã do Ryan e Lucky.
Precisava ir embora antes que acabasse matando alguém.
— Quem é você? — perguntou ela na varanda. Passei
sem responder.
— Tabitta… — gritou Jason.
— Jason, pensei que não trouxesse mulheres para sua
casa — comentou Rayla num tom confuso.
Isso me pegou de surpresa. Ele não levava garotas para
sua casa? “Talvez tenha ficado comigo só porque estava
bêbado demais”, pensei, irritada.
— Tabitta, quer esperar? — rosnou à meia-voz. —
Como consegue correr com esses saltos?
— Para quê? Vai me chamar para fazer um maldito
ménage com você dois? — Ele me pegou pela cintura. Eu
podia lutar, mas jamais o machucaria, e, com certeza, perderia.
— Fique calma e me conte a verdade, preciso ouvi-la
dizer.
Expirei, me controlando, e me virei ainda em seus
braços para enxergar seus olhos.
— O que você quer que eu diga, Jason? Que eu abri a
porra do meu coração para você ontem, e hoje você não se
lembra de nada do que houve com a gente? — Suspirei. —
Mas talvez seja bom.
— Você se abriu comigo? Por que não esperou até eu
estar sóbrio? — Seus olhos estavam grandes.
Eu ri, amarga.
— Você disse que se lembraria de tudo quando
acordasse hoje, não achei que estivesse tão bêbado. Me
enganei, não é?
Ele colocou as mãos na cabeça.
— Não consigo me lembrar de nada, me diga o que
houve!
— Não…
— Como não? — cortou.
— Talvez seja melhor assim. — Eu me afastei dele.
Estávamos na frente da sua casa.
— Melhor para quem? — censurou. — Para você vir até
mim e depois dizer que o que tivemos na boate não significou
nada?
— Eu já disse o quanto significou. Mas você não se
lembra, não é? Só vamos esquecer isso, ok?
— Oh, porra nenhuma! — sibilou. — Eu preciso saber o
que aconteceu.
— Então trate de lembrar, porque eu não direi nada. Não
me procure até recordar.
— Maldição, Tabitta, e se eu não lembrar nunca?
— Continue fazendo o que fazia antes, garanto que
mulheres não faltarão.
Ele seguiu meu olhar para a garota que estava na
varanda nos fitando com curiosidade. Depois, me encarou de
olhos arregalados. Eu pensei que ela namorasse aquele cara
tatuado que vi no hospital quando fui visitar Shane; talvez
tenham terminado.
— Rayla? Ela é namorada de um amigo meu. Eu não
tenho e nunca tive nada com ela. — Voltou-se para mim. —
Você é a única mulher que eu quero, Tabitta.
Ele me puxou para seus braços e me beijou; isto é, a
palavra certa seria me consumiu. Foi então que ouvi pneus
derrapando e me afastei dele, olhando para o portão. Ofeguei
ao enxergar um carro abrindo as portas; meu instinto foi
protegê-lo ainda mais quando eu vi suas armas.
— Corra para dentro da casa — ordenei, pegando sua
mão e o conduzindo.
— O que… — Parou de falar ao escutar os tiros por
todos os lados.
Rayla começou a gritar e entrou na mansão, assim como
Jason e eu.
— Abaixem-se! — berrei aos dois. Eles fizeram o que
mandei, escondendo-se atrás de um móvel. Balas voavam e
quebravam os vidros.
— Oh, Deus! Eles vão nos matar — chorou Rayla,
assustada. — Eu nem tive a chance de dizer ao Alex que estou
grávida.
Ela alisava sua barriga, amedrontada. Eu já estive com
esta sensação uma vez. Cheguei perto dela e toquei suas mãos.
— Não vai acontecer nada com você, tudo bem? —
prometi. Eu me levantei, peguei minha arma e a destravei.
Olhei para o Jason. — Fique com ela, eu vou cuidar deles.
Chame ajuda.
Ele pegou meu braço.
— O que vai fazer, ficou louca? Espere a polícia chegar.
Eu ri.
— Eu sou policial, se esqueceu? Já enfrentei coisa pior
que um bando de atiradores. Não a deixe sozinha. — Saí
correndo na direção da garagem antes que ele dissesse alguma
coisa. De lá, teria uma visão melhor dos caras.
Precisava saber quem eram esses homens, se estavam ali
atrás de mim ou de Jason. Um frio desceu por meu corpo: e se
o Sebastian descobriu sobre eu e Jason? Foi por isso que
mandou homens atrás dele? Se o matasse, também acabaria
comigo. Maldito desgraçado. Eu teria que deixar Jason de
novo, não ficaria ao seu lado com sua vida correndo perigo.
Cheguei à garagem e mirei em um dos homens. Eram
pelo menos três, dois atirando e um no carro.
Comecei a atirar e acertei um homem na perna. Logo o
outro estava mirando em mim, atingindo a parede ao meu
lado. Senti alguém ao meu redor e apontei a arma na cara do
Jason. Meu coração gelou.
— Droga, Jason, o que faz aqui? Eu poderia ter atirado
em você. — Estremeci. Empurrei ele para o canto. — Era para
você ter ficado com a Rayla, e não vir atrás de mim.
Ele suspirou.
— Ela está segura lá em cima. Eu não podia continuar
escondido e deixar você enfrentando esses bandidos sozinha.
— Sou treinada para isso. — Saí da parede e mirei no
carro, atirando nos homens.
— Tabitta, sua cadela, eu sei que está aí, seu pai manda
lembranças — gritou um dos caras, e depois seguiram-se tiros
atrás de tiros, com certeza de uma metralhadora. Como o
portão estava aberto, alguns pegaram nos carros de Jason.
Jason sibilou com punhos cerrados, não por seus carros
alvejados junto com sua casa, e sim por eles terem me
xingado.
— Fique calmo, não entre na dele. Já fui xingada por
nomes piores, não ligue — pedi, apertando a minha mão na
arma. — Diga ao Sebastian para sair da toca e me encarar
como o homem que ele nunca foi. Senão, juro que seu império
no crime vai cair. E com vocês junto, seus paus-mandados.
— Ele quer você longe dos seus negócios. Se não o
fizer, acabaremos com todos que ama, inclusive esse lutador
de araque por quem é apaixonada. — Riu. — Adorarei fazer
isso.
— Eu vou protegê-lo de escórias como você e o bandido
do Sebastian. Franklin foi só o começo, acabarei com tudo
dele, pode dar o recado.
— Pai? Sebastian? — indagou Jason, estreitando os
olhos. — Se ele é seu pai, por que quer matá-la?
— Não, ele quer matar você e me levar com ele, mas
isso não vai acontecer. — Atirei novamente, acertando no
ombro de um.
— Vou matar você, sua puta — rugiu o cara atingido.
— Sério? Deixe eu te dizer uma coisa, seu filho da mãe.
— Estava a uns dez metros deles, a parede grossa nos
separava. — A polícia está a caminho, vou amar enfiar seu
traseiro na cela de uma prisão.
Ele riu.
— Ninguém está vindo, eu interceptei a frequência da
polícia e disse que era engano. Não é maravilhoso? A casa está
cercada, não tem para onde fugir.
Ouvi mais carros parando do lado de fora. Então a ajuda
veio? Eram seus capangas, como ele acabara de informar.
Olhei para o Jason.
— Precisamos sair daqui. Onde está Rayla?
— No andar de cima. Eu tenho um quarto protegido
onde guardo meus pertences valiosos, com porta de aço e
chumbo, como as de cofres de bancos.
— Vamos para lá, então. — Corremos em direção à
escada.
— Renda-se, Tabitta, suas munições estão acabando, e a
ajuda não virá. Quando a pegarmos, revezaremos com você.
Vamos ver se é tão boa na cama quanto sua boca atrevida
sugere.
Eu o ignorei, mas Jason se retraiu ao ouvir essa ameaça.
Puxei-o, relevando sua raiva. Chegamos ao final do corredor,
diante da porta grossa. Ele digitou a senha, e entramos.
Quando ele disse que tinha coisas valiosas, pensei que
fossem joias, quadros e dinheiro, nunca o que estava à minha
frente.
Em uma parede havia algumas armas nove milímetros e
outras, além de uma rede de computadores de primeira
geração. Reconheci as câmeras na cidade de Austin, várias
delas, em cada canto das ruas. Arregalei os olhos e o fitei,
enquanto ele acabava de fechar a porta.
— O que é tudo isso?
— Oh, graças a Deus, vocês estão bem — disse Rayla,
aproximando-se. — Por que a polícia está demorando tanto?
Liguei para eles e me disseram que logo chegariam.
— Vamos dar um jeito de sair daqui. — Eu esperava
mesmo que pudéssemos fugir, já que a polícia não estava
vindo. Olhei para o Jason, que me fitava. — Sabia que você
não pode ter tantas armas assim? Se a polícia entrar aqui, vão
pensar que está contrabandeando. E essas câmeras? Por que
está vigiando Austin?
Ele não respondeu, apenas foi no computador, colocou a
imagens dos homens lá fora na tela e ativou o leitor facial.
Logo tínhamos os nomes dos bandidos.
— Victor Cortesia. — Apontou para o homem moreno.
— Acusado de tráfico humano, roubo, estupro e assassinato.
— Ele está lista de procurados do FBI — comentei. Fiz
toda uma pesquisa dos capangas do Sebastian procurados pela
justiça. Sabíamos que sua fortaleza ficava no México, tão
protegida e armada quanto Fort Knox. Se fôssemos fazer uma
emboscada lá, teríamos grandes perdas, ainda mais pela
quantidade de armas e homens de que dispunham. Por isso
queríamos que ele saísse da toca e cometesse os crimes ele
mesmo, sem que alguém levasse a culpa. Mas estava difícil de
fazer isso. — Vai me dizer para que tudo isso, Jason? As
armas, a espionagem em Austin e estes computadores?
Ele suspirou e me olhou de lado.
— Responderá às minhas perguntas?
— Justo. — Olhei pela janela de vidro coberta com uma
cortina escura.
— A janela é a prova de balas — afirmou Jason.
Eu assenti, precisava tirar todos dali. Avistei um fuzil
M16. Era isso ou nada. Não deixaria esses criminosos
impunes.
Quando fui pegar sua arma, Jason perguntou:
— O que fará com ela?
— Eu vou para o telhado atirar neles. Pegue Rayla e fuja
daqui, cobrirei vocês. Use meu telefone para entrar em contato
com um cara chamado Thomas e diga o que está acontecendo.
Ele vai mandar os homens certos, que não estão na folha de
pagamento de Sebastian.
— Oh, porra, se eu vou deixar você aqui… Não ouviu o
que eu falei desses homens? Eles são estupradores e assassinos
da pior espécie, sem chance de eu largar você sozinha.
— Eu não tenho escolha, eles vão nos cercar e destruir
sua casa…
— Acha que eu me importo com a porra da casa? Não
ligo para isso, eu me importo com você, então se você for para
o telhado, eu vou junto.
— Droga, Jason, por que não faz o que peço pelo menos
uma vez?
— Porque eles podem matá-la, não vê isso? Ou fazer
coisa pior, como o cara lá fora disse agora há pouco. Não
venha dizer para eu ficar e esperar, porque isso não vai
acontecer.
Sabia que ele não mudaria de ideia, sempre foi cabeça
dura. Amava isso nele. Peguei o meu celular e liguei para o
Papy, ele nos ajudaria. Garantiu que os policiais viriam em
alguns minutos.
Sentei em uma cadeira assim que desliguei o celular.
Jason se encontrava de pé à minha frente, depois sentou em
um sofá perto da Rayla.
— A polícia logo chegará — disse a eles. — Você deve
esconder essas armas ou eles vão prendê-lo.
— Tenho porte para cada uma delas, então estou bem
com isso.
Ficamos em silêncio. Pelo menos o tiroteio acabara.
Acho que eles não queriam chamar tanto a atenção, mas não
significava que desistiram; deviam estar se aproximando em
silêncio. Esperava que a ajuda chegasse rápido.
— Desde quando conhece Jason? — perguntou Rayla a
mim.
— Em março vai fazer dez anos, estudávamos juntos na
escola em Austin quando eu tinha dezessete — respondi. —
Três meses depois, começamos a namorar.
— Quanto tempo vocês ficaram juntos? Desculpe
perguntar isso, mas parece que ainda se amam. — Olhou de
um para o outro.
Expirei, conferindo os homens lá fora através das
câmeras. Parecia que montariam guarda. Alguns começaram a
entrar na casa. Contei oito caras.
— Um ano. — A dor forte me impediu de respirar por
um segundo.
— Posso perguntar por que se separaram, sendo que
ainda se amam?
Respirei fundo, mas foi ele quem respondeu.
— Ela foi embora — gemeu, baixando a cabeça.
— Jason… Eu sinto muito — murmurei.
Levantou os olhos para mim.
— Eu só queria entender por que me deixou. — Seu tom
era um sussurro de dor. — Não me venha com essa história de
que me disse ontem. — Acrescentou assim que eu abri a boca.
— Fui embora para protegê-lo, Jason. Se eu não tivesse
partido, hoje você não seria o que é…
— Acha que eu prefiro a fama a você? Daria tudo que
tenho para tê-la de volta, minha herança e meus bens, até a
porra da minha alma!
Engoli em seco.
— Não precisa dar nada. De qualquer forma, não
importa mais, ele sabe que você existe e o quanto é importante
para mim.
— Do que está falando?
— Sebastian, o meu pai. Ele vai querer usar você contra
mim para me atrair. Por isso, de agora em diante, você terá que
andar com os seguranças que vou arranjar.
— Oh, caralho se vou, não preciso de nenhum segurança
— rosnou com os punhos cerrados. — Sou lutador, esqueceu?
Levantei as sobrancelhas.
— Até onde eu sei, lutador não pode contra balas, não
é? E mesmo você possuindo porte de armas, não pode andar
armado e atirar por aí; já um segurança profissional, sim, se
for preciso.
— Não vou ficar com segurança algum. — Foi firme.
Suspirei, esfregando a testa.
— Se não aceitar proteção, eu não vou poder ficar do
seu lado, vou ter de ir embora, só assim estará seguro. Por
favor, me deixe terminar — falei, porque ele já ia abrindo a
boca. Vi a dor em seus olhos ao me imaginar partindo. — Ou
pode aceitar os seguranças que eu conseguir, e me ter por
perto.
O brilho que adentrou seus olhos foi tremendo, mais que
o sol de verão. A felicidade me tomou com tanta força que
achei que logo gritaria, embora continuasse preocupada com o
que podia acontecer com ele e Emily, e também meus pais e
amigos. Torcia para o plano de Dennis e Thomas funcionar,
pois estava cansada de me esconder e ficar longe do homem
que amava.
— Quer dizer que você não vai embora, não vai me
afastar mais? — Levantou-se, me puxou para seus braços
fortes e me beijou.
Quase esqueci que tínhamos companhia e estávamos
cercados por bandidos perigosos e armados. Afastei-me dele,
fitando seus olhos brilhantes e seu sorriso.
— Não, de qualquer forma, ele sabe sobre você. — Meu
celular tocou. Era Emily.
— Quem é Emily? — sondou.
Distanciei-me, não querendo ter essa conversa. Contaria
sobre Emily, mas não agora, conosco presos e com bandidos lá
fora nos cercando. Chequei as câmeras de dentro da casa, eles
já estavam chegando ao corredor quando ouvi as sirenes,
trocas de tiros lá fora e carros saindo em alta velocidade.
Escutei os bandidos praguejarem e fugirem. Oh, isso não
aconteceria. Eu fui para a porta. Jason pegou meu braço.
— O que vai fazer?
— Eles estão escapando, preciso pegá-los — respondi.
— Pode abrir a porta?
Ele não quis, a princípio, mas logo abriu. Eu não tinha
tempo a perder, não podia ficar esperando e deixá-los fugirem.
Observei o corredor vazio.
— Os policiais estão aqui para fazer isso — respondeu
com uma pontada de medo em sua voz.
Virei e olhei para ele.
— Jason, eu sou uma agente, este é o meu trabalho.
Preciso pegar o que está correndo pelos fundos — falei,
segurando minha arma e saindo antes dele dizer algo.
Diego Sales estava fugindo pela janela do quarto do
Jason. Eu corri atrás dele e apontei a arma antes dele pular:
— Parado ou eu vou atirar — ordenei.
Ele estacou e se virou para mim com um sorriso e a
arma apontada na minha direção.
— Abaixe a arma e coloque as mãos para cima.
Ele sacudiu a cabeça.
— Você sabe que não vou fazer isso. Atire em mim, e eu
em você, e nós dois morreremos, o que acha? — disse sem
nenhum medo. — Eu sou mais experiente. Já matou antes?
Aposto que não.
Eu já fiquei com uma arma apontada para mim no
passado, e sempre que isso acontecia, meu corpo gelava e
minha pele suava, mas nunca deixava transparecer, pois assim
o inimigo ganharia.
— Então temos um problema, não é? Porque eu também
não vou baixar a arma. Renda-se antes que eu atire em você.
Garanto que minha pontaria é boa. — Não queria matá-lo, mas
não tinha opção. Estava a ponto de puxar o gatilho quando um
tiro acertou seu ombro, fazendo sua arma cair no chão.
Olhei para trás dele: Lincoln estava ali, na varanda, e foi
prender o cara.
— Você está preso. Qualquer coisa que disser poderá ser
usada contra você no tribunal…
Um policial veio e levou Diego embora. Antes dele
passar por mim, ameaçou:
— Isso ainda não acabou.
— Tire esse cara daqui antes que arranque sua cabeça —
rosnei.
— Tabitta, você está bem? — sondou Lincoln, vindo até
mim. Não deu tempo de responder, pois ouvi o grito dolorido
do Jason.
— Taby! — Ele apareceu na porta e me olhou dos pés à
cabeça, depois correu até mim e me abraçou. — Você está
bem?
Abracei-o, sentindo seu aroma que tanto amava.
— Estou, Jason — tranquilizei-o, beijando sua boca e
esquecendo de todos ao meu redor. Para mim, a Terra
desapareceu.
Eu parei ao ouvir um pigarrear distinto, sabia que era o
Papy. Mas fiquei abraçada com ele, não queria me distanciar
nem por um segundo.
Vi preocupação na face do Papy. Ele correu até mim e
me abraçou, me tirando um pouco dos braços do Jason.
— Está bem, querida?
— Estou, Thomas, não se preocupe.
Ele sorriu para mim, depois encarou Jason com
seriedade.
— Jason, este é Thomas, meu chefe e meu pai adotivo.
— Prazer em conhecer o senhor — Jason disse,
apertando a mão do Papy.
— Há um quarto cheio armas no corredor — um policial
recém-chegado informou.
— Ora, ora, será que vamos ter de prender o famoso
Jason Falcon por posse ilegal de armas? — cacarejou Lincoln,
sorrindo para o Jason. Ele adoraria que isso acontecesse.
Jason fechou a cara para ele. Isso me lembrou do olhar
que lançou ao Lincoln na boate. Será que ele pensava que tive
algo com meu colega?
— Você não vai ter essa fama às minhas custas —
rosnou e dirigiu-se para o Papy: — Tenho posse de todas elas.
Sou colecionador de armas e motos, podem ver as duzentas
motos que tenho no casarão ao lado.
Arregalei os olhos com esse fato. Duzentas motos? Oh,
eu adoraria vê-las, era apaixonada por elas também. Andava
mais de moto, só usava carros quando saía com Emily.
Alguns policiais ofegaram, inclusive Papy. Já o Lincoln
fechou a cara.
— Com certeza quero ver as provas.
— Isso não é sua função, e sim tomar o depoimento de
Diego Sales e descobrir para onde Victor Cortesia foi. Os
policiais vão cuidar disso — ordenou Papy.
A polícia pegou nossos depoimentos, de Jason, Rayla e
meu. Diego foi levado para interrogatório; após, seria
conduzido à prisão.
— Você está bem? — perguntei à Rayla depois que
demos nosso depoimento. — Não quer um médico? Afinal,
passou por um grande susto hoje.
— Estou bem, o Alex já está a caminho. — Ela me
abraçou por um segundo, mas logo depois um cara chamou
seu nome.
— Rayla!
Eu me afastei e vi o mesmo cara musculoso e cheio de
piercings e tatuagens que enxergara no hospital. Ele se
aproximou dela e a abraçou forte. Este devia ser o Alex, seu
namorado.
Deixei o Jason em sua casa com dois policiais de guarda
e liguei para o Bryan. Ele conseguiria alguns guarda-costas
profissionais para tomar conta da segurança de Jason. Eu
ficaria mais aliviada com isso. Gostaria de fazer eu mesma,
porém, precisava trabalhar para colocar Sebastian na cadeia de
uma vez.
CAPÍTULO 7

Proteção
JASON

Estava grilado por ter esquecido a noite de ontem, por


não me lembrar de nada do que ela disse. Como esqueci algo
tão importante? Algo que estava querendo ouvir por anos? E
por que ela não esperou eu estar sóbrio para me dizer a
verdade?
Sentia raiva por aqueles homens terem atirado em nós,
aliás, nela. Taby disse que eles estavam me querendo, mas não
acreditava nisso, não depois de dizerem o que fariam com ela
se a pegassem. Por que ela não foi arrumar uma profissão
menos arriscada? Maldição! Se todas as vezes que sai para
trabalhar Tabitta enfrenta homens perigosos assim, eu ficarei
louco da cabeça.
Já lutei com vários caras fortes e bons em um ringue,
mas nunca senti medo. Ouvindo o que aqueles bandidos
diziam que iam fazer com ela, eu me enfureci, querendo matar
todos. Graças a Deus foram presos, menos um, Victor
Cortesia, o pior deles. Ela sim devia andar com guarda-costas,
e não eu.
Tabitta saíra há alguns minutos, mas deixou dois
policiais comigo. Eu não queria a proteção de ninguém,
contudo, a garota disse que se eu não aceitasse, ela iria
embora. Eu não podia deixar isso acontecer.
Nem acreditava que a tinha de volta na minha vida.
Gostaria de saber mais sobre o que houve aquele dia. Ela disse
que fez para me proteger, mas do quê? E de quem? Seria do
seu pai bandido? Eram muitas perguntas, e nada de respostas.
Queria insistir para me dizer, mas tinha medo de que, se a
pressionasse, ela se afastaria.
— Fiquei aliviado e feliz por estarem bem — disse
Lucky. — Quase tive um ataque do coração ao saber do que
houve aqui. Eu vim direto da empresa para cá, não disse nada
à Rosa Vermelha, não queria preocupá-la.
Lucky, Jordan e eu estávamos sentados na mesa da
cozinha, o único móvel que não foi alvejado.
— Fez bem, mas acredito que logo ela saberá, já que os
jornalistas estão em todos os lugares feito um bando de
abutres. — O meu agente estava cuidando dos repórteres em
volta da casa, e de alguns fãs preocupados comigo. Luís
garantiu para todos que eu estava bem. Falei para ele deixar
Tabitta fora disso, afinal, não queria as câmeras na cara dela.
Esses bandidos podiam usar isso e machucá-la. Tremia só de
pensar.
Rayla e Alex conversavam entre si lá na sala de estar.
Assim que eu liguei para o Lucky e contei o que houve, veio
correndo para cá, preocupado conosco. Amigos assim são
verdadeiros, como o Dom também era. Eles são mais que
amigos: são a família que nunca tive.
Contei aos dois o que aconteceu no clube ontem, ou
melhor, nessa madrugada, porque já era tarde àquela hora,
sobre os tiroteios, e também a respeito de Tabitta, que me
trouxe bêbado para casa.
— Essa Tabitta é aquela que Angelina mencionou, a
policial? — Estreitou os olhos, me avaliando. — Por que
nunca me disse sobre ela antes? Sou seu melhor amigo.
Eu me encolhi com sua acusação. Ele estava certo,
deveria ter contado há anos tudo o que houve comigo, mas não
podia na época, a dor cortava fundo. Como diria a eles que a
única mulher que amei na vida e amava até hoje me deixou
por eu não ser homem suficiente para ela? Era isto o que eu
pensava antes de descobrir o seu amor por mim. Machucava
falar sobre esse assunto.
— Deveria ter contado, sim, sinto muito por esconder
isso de vocês — sussurrei. — Doía demais mencioná-la.
Ele assentiu.
— Bem que eu percebi que tinha algo de errado com
você, seus olhos demonstravam um sofrimento cuja origem eu
desconhecia. Nunca perguntei o motivo da dor visível em seu
rosto, porque sabia que no dia em que estivesse pronto, você
me diria; não só a mim, mas também para todos aqueles que o
amam. — Ele expirou — Às vezes dói falar e lembrar, sei
disso, já que vivi algo parecido toda a minha vida.
Jordan concordou e falou, bebendo seu whisky, embora
fosse cedo:
— Sim, cara, somos mais que amigos, somos irmãos.
Mas estou curioso: quando conheceu esta mulher? Parece que
não foi agora, e sim há muito tempo. Vejo essa dor em seus
olhos desde Harvard, quando nos conhecemos.
— Na escola onde estudava, em Austin, a vi pela
primeira vez. Logo sua doçura e pureza me conquistaram. Ela
era meiga, e agora está diferente, impulsiva e com garras,
como uma tigresa. Gosto dela assim também. — Passei as
mãos no cabelo. Era verdade: não importava o que ela se
tornara, eu a queria com a mesma intensidade.
— Se a ama tanto, por que a deixou antes? — sondou
Lucky, confuso.
Eu expirei.
— Não fui eu quem a abandonou. Ela foi embora…
— Eu não entendo — sussurrou Jordan. — Então ela é
uma…
Olhei para ele com o rosto duro.
— É melhor nem terminar — cortei-o. — Ela teve seus
motivos.
— E quais foram? — indagou Lucky. — Ao menos disse
por que foi embora?
— Eu não sei, Taby não me contou. — Minha voz saiu
baixa.
Lucky trincou os dentes.
— O quê? Ainda assim vai defendê-la? — Soava
incrédulo. — Sei que a ama, mas ela tem de dizer tudo a você.
Não pode deixar por isso mesmo.
— Entendo sua fúria, mas não fiquem deste jeito.
Também me senti assim no começo, porém, não posso viver
sem essa mulher, Lucky. Fiz isso por anos e foi um completo
tormento, era como se eu estivesse respirando, mas morto. —
Eu a amava tanto que estava disposto a ter somente o que ela
me desse, mesmo meu coração doendo por querer saber tudo
sobre ela, saber a verdade.
— Posso ver, meu amigo. Entretanto, viver com
segredos não é certo, você não pode aceitar ficar com ela sem
saber o que aconteceu, o que a levou a deixá-lo, não é justo.
Nenhum dos dois vai ser feliz com isso. Posso ver em seus
olhos o quanto machuca quando fala que não sabe o porquê
dela ter partido. Isso não é vida.
Lucky estava certo, todavia, tinha medo de prensá-la a
dizer a verdade e ela ir embora.
— A única coisa que sei é que ela me deixou pela minha
segurança… — Bom, foi isso que ela disse quando estávamos
presos no quarto.
Jordan me interrompeu.
— Como assim?
Eu suspirei.
— Depois desse tiroteio de hoje, com aqueles caras
dizendo que o pai dela exigiu que ela saísse do caso ou seria o
fim… Tenho certeza que tem o dedo dele nisso. — Olhei para
os dois. — Estou com medo, esses caras são barra-pesada da
pior espécie.
— Quem é o pai dela? — perguntou Jordan. — Não
deve ser nada bom, já que mandou alvejar vocês.
— Sebastian Ruiz, chefe do principal cartel do México,
conhecido por matar pessoas, estuprar, traficar drogas e
humanos, e por vários outros crimes.
— Como sabe sobre isso? — Jordan estava assustado.
— Ouvi alguns policiais falando dele e do que faz. Temo
por ela. Depois, vou conversar com Taby para ver se vem ficar
aqui. Colocarei mais seguranças no local para impedir que o
que aconteceu hoje se repita.
— Ela vai aceitar? Não acha que está se precipitando, a
chamando para morar com você? E se ela estiver interessada
em seu dinheiro? — Jordan emendava os questionamentos.
— Ela não é assim, nunca foi, e mesmo agora mudada,
continua a mesma nesse sentido. Sinto que me ama, seu amor
é tão intenso quanto o meu. O problema é esse enrosco dela
não me contar o que houve aquela noite e depois me deixar
sem dizer nada.
Eu não permitiria que a dúvida e os meus pensamentos
nebulosos atrapalhassem a felicidade que eu estava sentindo
por tê-la de volta nos meus braços.
Resolvi mudar de assunto, dirigindo-me ao Lucky. Falar
do passado me deixava sem controle. Faria de tudo para
resolver esse pepino antes que algo grave acontecesse. A sua
segurança vinha em primeiro lugar. Até porque, com ela
segura, talvez um dia me contasse.
— Rayla falou a você ou ao Ryan sobre estar grávida?
Logo teremos mais um bebê por aí. — Ryan estava em uma
reunião de trabalho em Chicago, por isso Lucky falara para ele
que Rayla esteve envolvida no tiroteio. Não queria preocupá-
lo, mas as notícias voavam, então logo saberia.
Lucky arfou.
— Rayla está grávida? — Seu tom saiu duas oitavas
acima.
Antes que eu respondesse, ouvi um arfar alto atrás de
mim. Olhei para a porta da cozinha: Alex estava ali, de pé e
olhos arregalados, buscando Rayla do seu lado como se
procurasse uma resposta.
Ela me fuzilou.
— Obrigada por ficar calado, Jason — reclamou.
— Desculpe, achei que não tinha contado sobre isso só
ao Alex.
Alex estreitou os olhos para a amada.
— Você não ia me dizer que espera um filho meu? —
Seu tom era ultrajado e magoado.
Ela se encolheu.
— É claro que eu ia contar, mas neste final de semana,
quando estivéssemos em nossas férias nas Bahamas.
Ele sorriu e a pegou nos braços, girando-a. Alex também
tinha uma surpresa para ela programada: pediu sua mão ao
Lucky e Ryan. Disse que tinha a intenção de propor casamento
durante a viagem.
Fiquei contente pelos dois estarem bem e felizes. Pela
primeira vez na minha vida, não sentia inveja ao ver um casal
apaixonado, fosse Lucky com a Preciosa, Ryan com a Anjo
dele, ou esses dois. Não invejava porque tinha o mesmo com
Taby agora, e esperava termos para sempre. Não sabia o que
aconteceria conosco, mas não a deixaria partir de novo, não
mesmo.
— O que está acontecendo aqui, pessoal? — Bryan
entrou na cozinha, seguido por dois homens altos, fortes e com
as expressões sérias, como a de Simon. Eu não os conhecia.
— Que droga houve com seu olho? — indagou Jordan,
preocupado, acho que com medo dele ter apanhado em uma
luta. — Está brigando por aí? Parece que o cara acertou de
jeito.
O entorno de seu olho estava roxo. Eu me lembrava de
ter visto ele na boate esta noite, será que houve uma luta por
lá? Depois de levar um fora mais uma vez da Taby, eu fui
embora, não podia ficar tão perto dela, doía muito sua rejeição.
Acredito que fui beber, após? Deu um branco, não recordava
nada até hoje cedo, quando abri os olhos e vi Taby na minha
cama.
Bryan sorriu.
— Vamos dizer que uma loirinha esquentada ficou
furiosa comigo e desceu uma bola de cristal na minha cara. —
Passou as mãos nos olhos e estremeceu.
— Ela viu você com outra na boate ontem à noite, não
foi? — Botei a mão direita na cabeça. — Lembro-me de dar
carona a ela, e que estava chorando muito, e a deixei no seu
apartamento.
— Você traiu minha irmã, seu desgraçado? Vou acabar
com você — rosnou Alex. — Quando me pediu para namorar
com ela, eu te falei para nunca fazê-la sofrer!
Eu sabia que os dois começaram a namorar há algum
tempo, logo depois de um encontro do nosso grupo no Belas
Country. Bryan olhou para ele.
— Eu nunca trairia Alexia. Ela apenas soube que fiz
algo, que não aconteceu realmente, por isso ela fez isto. —
Apontou para o seu rosto. Não parecia irritado com o
machucado.
— O que ela pensou que fez, então? — sondou Alex. —
Deve ser sério, porque o ferimento está bem feio.
Bryan estreitou os olhos para mim.
— Humm, não acho que vá gostar dessa parte. Quero
que saiba que quando entrei sozinho no quarto do clube com
Tabitta, nós não…
— Vocês ficaram sozinhos num quarto? — indaguei
com dentes cerrados.
— Não, bem, sim… — ele se interrompeu quando me
lancei na sua direção e o prendi na parede. — Mas que porra!
Eu não a toquei, juro.
— Então o que foram fazer?
Ele levantou uma sobrancelha.
— Não confia nela?
Grunhi e soltei-o, ele tinha razão. Não era certo duvidar
da Taby, ela jamais faria isso, mesmo não a conhecendo bem
hoje, sentia seu amor por mim. Eu me afastei dele, fui até uma
garrafa de whisky e bebi direto dela.
— Cara, relaxe, nós fomos naquela boate disfarçados,
estávamos atuando que éramos parceiros, ela minha submissa,
mas sem fazer nada na frente das pessoas…
— Isso quer dizer que fizeram pelas costas? — inquiriu
Jordan.
Fechei os olhos com força por um momento e depois
encarei Bryan, que me fitava.
— Como eu disse, não houve nada entre nós.
Precisávamos manter as aparências, e uma das garotas
observou que não íamos muito ao quarto, então tivemos de
improvisar para que pensassem que estávamos nos divertindo.
Eu nunca enganaria minha namorada com ninguém, mesmo
que a Tabitta seja perfeita.
— O que essa operação é, pode nos contar?
Bryan olhou para o Jordan.
— Desculpe, é segredo, há coisas no meu trabalho que
não posso revelar. E acredito que ela também não.
“Ótimo! Mais segredos”, pensei, irritado. Ao menos os
segredos quanto ao seu serviço eu tolerava de boa, ao contrário
dos que guardava sobre sua partida.
— Com tudo que aconteceu hoje, você precisa ser
protegido vinte e quatro horas por dia. Esses caras aqui vão
fazer isso… — Bryan ajeitou sua jaqueta e olhou para mim
com uma expressão séria
— Eu não preciso de proteção, Tabitta sim. Aqueles
malditos querem ela, não eu — cortei o Bryan.
Bryan suspirou.
— Sim, mas ela está segura com seus amigos agentes.
Não se preocupe demais com Tabitta, foque em você.
Bryan olhou para os dois homens que estavam calados.
Um era moreno, e o outro louro.
— Esses são Landon e Chris. A partir de agora, serão
seus seguranças. Se sair para qualquer lugar, eles irão segui-lo
e fazer sua proteção.
— Ele tem razão, Jason, esses caras são barra-pesada,
como disse há pouco, e podem vir atrás de você. Por favor,
fique com eles, assim ficaremos mais tranquilos — falou
Lucky.
Eu não gostei disso. Queria protegê-la, mais do que a
mim mesmo. Bryan disse que os caras eram profissionais,
sabiam lutar e lidar com várias situações. Esperava que
estivesse certo, porque não podia nem imaginar minha vida
sem ela de novo.
—Fique com eles por enquanto, não deve demorar muito
para prenderem esses homens, não é? — Jordan olhou para o
Bryan em busca de afirmação.
— Sim, nós vamos prendê-los logo — respondeu Bryan,
mas não senti muita confiança em sua voz. Mudou de assunto
rapidamente, direcionando-se ao Lucky: — Onde está a Sam?
Chequei meu telefone para ver se tinha alguma ligação
de Taby. Não havia nenhuma. Optei por acreditar na palavra
do Bryan de que ela estava bem e continuaria assim.
Lucky respirou fundo.
— Eu não disse a ela ainda. Logo que chegar em casa eu
conto, não gosto de manter segredos. — Foi uma indireta para
mim. — Eles sempre vêm à tona, nem sempre de um jeito
bom. Vocês devem lembrar disso, não é?
Sabia do que ele estava falando: referia-se à Sam ser
irmã do Bryan, o que ela escondeu do Lucky, e isto quase a
matou.
Entretanto, o que Tabitta guardava de mim não era nada
como isso. E seja qual fosse o motivo, eu aceitaria. O pior era
ficar sem ela.
CAPÍTULO 8

Armação
JASON

Passado
Três meses vendo a loura tímida com seus vestidos
largos e óculos de grau no corredor da escola, nas salas de
aula, tão diferente das garotas a que eu estava acostumado, que
só se importavam com seus cabelos e suas unhas bem-feitas.
Essa menina não ligava para nada disso. Foi o que chamou a
minha atenção. Sua inocência, pureza e doçura me fizeram
gostar mais dela, como nunca gostei de ninguém na minha
vida.
Meus amigos começaram a rir de suas roupas largas de
vovó, mas eu os cortei, dizendo que se algum deles falasse mal
dela, ia se ver comigo. Nenhum era páreo para mim. Ou até
acho que Dom ganharia, caso lutássemos, mas ele era meu
melhor amigo, jamais brigaríamos.
Tanto tempo escondendo o amor que eu sentia por essa
garota… Não adiantou nada eu me afastar dela por sua
proteção. Eu não era bom, não o suficiente para merecê-la.
Vivia com meu pai bêbado e desempregado, e tinha uma mãe
que o abandonou.
Assim que ela me viu com Pamela no ginásio, eu
enxerguei a dor nos seus olhos, e soube que ela também me
amava. Tinha medo de chegar até a menina e dizer o que eu
sentia. Cortei as garotas depois que soube que era recíproco,
não vi sentido em continuar com a mulherada sendo que
pensava só nela, Tabitta.
Quando a toquei para impedi-la de cair no corredor, meu
corpo pareceu ter sido tomado por uma corrente elétrica.
Soube que não podia e não queria ficar longe dela de nenhuma
forma, mesmo não a merecendo.
Fui até sua casa numa noite e a vi saindo para ir à
biblioteca, até aí tudo bem, mas ela foi a pé e atravessou o
beco escuro de um bairro não muito bom para garotas andarem
sozinhas, principalmente àquele horário.
Andou um quilômetro para pegar livros e passar onde
ficavam os moradores de rua. Todas as noites que ia lá, ficava
conversando com um senhor. Ela levava comida e café, e às
vezes papeavam por muito tempo.
Mudei meu horário de trabalho na academia para os dias
em que Tabitta não frequentava a biblioteca. O atendente disse
que ela ia lá duas vezes por semana.
Eu precisava saber se ela ficaria bem andando naquelas
ruas escuras. A garota não parecia enxergar a maldade nas
pessoas, contudo, eu via alguns homens do beco olhando para
ela de uma forma que não gostei. No dia seguinte, fui bater um
papo com os caras que estavam lá, alguns até usando drogas.
Dom foi comigo, todos do lado errado da lei ouviam ele.
Tabitta parecia ser de uma família rica, seu carro era
uma Mercedes. Eu não tinha nada para dar a ela, mas esperava
ser um lutador um dia e levá-la a um restaurante caro, porque
ela merecia do bom e do melhor.
Ignorei todas as coisas que o velho dizia a meu respeito,
que ninguém me queria, que nenhuma pessoa lutaria por mim,
que sou um bastardo abandonado pela própria mãe. Não
deixaria essas lembranças e ofensas me atingirem e destruírem
a única luz que achei no meio da escuridão.
Custava a acreditar que Taby aceitou sair comigo, meu
coração batia alto e descompassado sempre que pensava em
finalmente sentir o gosto de seus lábios lindos. Estava louco
para tê-la em meus braços, adorá-la e amá-la como merecia.
Cheguei ao buraco que era a minha casa. Não falava isso
por ser pobre, e sim pelo velho estar lá sentado e bêbado
naquele sofá carcomido da sala, sem fazer nada, apenas
definhando em sua amargura e seu desprezo por tudo à sua
volta, inclusive a mim. A nossa casa era pequena: dois quartos,
sala e cozinha.
Julio estava bêbado no sofá como sempre. Desde o dia
em que minha mãe nos abandonou, quando eu tinha oito anos,
para viver sua vida sem um marido e filho, ele ficou
amargurado. Quando era pequeno e não sabia me defender, me
batia com o que tivesse na sua frente. Para ir à escola, eu tinha
de vestir roupas que cobriam as marcas da surra. O crápula era
esperto, batia onde ninguém podia ver. Se exagerava e eu
ficava de cama, o velho ligava para a escola e dizia que eu
estava doente. De fato, estava, mas era ele que me deixava
assim.
Por que uma mãe largaria seu filho de oito anos sob
responsabilidade de um bêbado? Era uma pessoa que não
deveria ser mãe nunca na vida.
O velho (como eu o chamava, porque aquilo não era pai,
ele nem saberia o que significava tal palavra) me culpava por
minha mãe ter ido embora, mas a culpa era dele por não parar
em casa e estar sempre bebendo.
Quando eu fiz quinze anos e ganhei músculos, ele tentou
me bater, e eu o derrubei no chão, falando que da próxima vez
que ousasse me tocar, se arrependeria. Depois disso, ele
começou a provocar e dizer coisas que me machucavam; fazia
porque sabia que doía em mim, mais do que se me batesse na
cara.
— Já chegou o bastardo que nem a mãe quis. — Era
deste modo que me dava boas-vindas. Dizia isso todas as
vezes que eu chegava em casa.
Ele estava lá sentado bêbado, com uma garrafa de Jack
Daniels nas mãos. Acabou com todo o seu dinheiro na
poupança para comprar álcool, não sabia como ainda não
morrera de tanto beber.
Ignorei suas provocações e fui para o meu quarto. Ele
era gordo e barbudo, nem se cuidava mais. Mesmo com as
portas fechadas, podia ouvi-lo me xingando:
— Você é um verme imundo que ninguém quer por
perto. Ninguém nunca vai te amar e lutar por você, se nem sua
mãe lutou.
Bloqueei sua voz, pensando na garota que aceitou que eu
a levasse para um encontro. Quando um dia eu imaginaria que
iria a um encontro? Nunca, para mim era só foda e diversão,
nada mais. Entretanto, com Taby não era assim, ela me fazia
querer ser tudo para ela, assim como ela se tornou meu mundo
inteiro. Taby era a única luz que tinha nesta vida, o resto era só
escuridão e abandono.
Fui tomar banho. Considerei bater uma visualizando ela,
mas eu prometi que me comportaria. Sabia que não ia possuir
seu corpo hoje, mas eu não ligava, apenas a queria do meu
lado. Por ela, esperaria o tempo que fosse. Não arruinaria a sua
confiança em mim, jamais.

Cheguei à casa do Dom alguns minutos antes da hora


marcada. Quando ela disse que me encontraria ali, entendi que
não queria que eu fosse à sua casa por causa da sua avó.
Nenhuma família aprovaria sua filha ou neta saindo com um
cara cheio de tatuagens e piercings. Gostaria que ela visse o
que eu era por dentro, e não minha aparência, e que a senhora
Margareth soubesse o quanto amava sua neta; faria tudo por
sua felicidade.
Dom estava com duas meninas, uma de cada lado,
sentado em um sofá. Ele sorriu assim que cheguei.
— Sabia que ia aparecer hoje — disse. Apontou o
queixo para a menina morena do seu lado direito e a loura do
lado esquerdo. — Escolha uma para você.
Eu sacudi a cabeça.
— Não, valeu, mas pode continuar. — Peguei uma
cerveja. — Estou esperando alguém.
— Aquela garota? — Sua voz saiu alta em meio ao
barulho da música. Suas festas eram como as de uma
fraternidade, repletas de agitação e diversão. Para mim, não
faziam sentido se Taby não estivesse comigo.
Estreitei meus olhos.
— O que quer dizer com “aquela garota”? Diga, Dom.
— Cerrei os dentes.
Ele sorriu.
— Não estou dizendo nada que a insulte, apenas que ela
não é deste nosso mundo, Jason. A menina é inocente e pura,
fora a parte de ser rica.
A mãe do Dom era enfermeira, e seu pai estava preso
por roubo. Dom trabalhava, mas nunca me disse onde e o que
fazia. Quando perguntei, falou para eu não me preocupar,
então supus que boa coisa não era. Eu, às vezes, abria seus
olhos para não fazer besteira, mas até eu estava fodido com o
pai que tinha.
Não disse nada e fui pegar outra cerveja. Sabia que ele
estava certo, mas não podia mais ficar longe dela, já me
mantivera afastado tempo demais, e cada um desses dias foi
uma tentação, um tormento, vendo-a sem poder tocá-la ou
dizer como estava linda.
Já passava das onze, e ela não apareceu. Fiquei inquieto,
com medo dela não vir. Tabitta prometeu que confiava em
mim e estaria ali hoje. Então por que não viera? Meu coração
bateu forte em meu peito por ela não confiar em mim, sem ao
menos tentar me dar uma chance.
— Ela não vai vir, cara — zombou Dom. — Pegue
qualquer uma dessas garotas aqui, vamos nos divertir.
Quis esmurrá-lo, mas ele estava chapado demais. Eu não
respondi, só dei as costas e saí para ir embora. Sem ela, a festa
não tinha sentido.
— Aonde você vai? — gritou Dom.
— Embora — falei sem me virar. Parti antes que ele
dissesse mais alguma coisa.
Subi em minha moto e fui até sua casa enorme, de dois
andares, com varanda na frente. O seu quarto ficava no lado
esquerdo. Ia lá quase todas as noites para ficar vendo-a estudar
na sua escrivaninha, perto da janela.
O seu quarto estava escuro. Como ela pôde dormir e
furar nosso encontro? Fiquei furioso por isso.
Estacionei minha moto atrás de uma moita, assim
ninguém a enxergaria. Havia uma árvore enorme no quintal,
com um galho dando para sua janela. Subi nele e fui até a
janela de vidro, que parecia mais uma porta. Não estava
fazendo barulho, mesmo sabendo que sua avó tomava
remédios para dormir — ouvi-a dizer a uma menina da sua
sala.
Para a minha surpresa, não estava trancada; falaria com
ela sobre isso depois. Onde já se viu ir dormir sem conferir se
as portas e janelas estão fechadas? E se não fosse eu ali, e sim
outra pessoa, que podia fazer mal a ela? Um ladrão ou um
estuprador? Não havia muitos desses na cidade, mas cuidado
nunca era demais.
Entrei e fechei sem fazer barulho, o quarto estava um
pouco claro com a luz que vinha do banheiro. Então ela tinha
medo do escuro? Fui até a porta de madeira e a tranquei, caso
sua avó acordasse e nos visse juntos. Eu me virei e olhei para
ela deitada na cama de barriga para cima. Vestia um top preto,
mais parecido com um sutiã, e um shortinho preto e curto,
deixando sua barriga de tanquinho e coxa expostas. Oh, porra!
Que imagem, estava louco para passar as mãos nesse corpinho
sarado. Ainda bem que ela vestia aqueles vestidos, assim
ninguém veria sua silhueta fabulosa.
— Você mentiu, Jason. — Soluçou durante o sono.
Agarrava tão forte um ursinho, como se fosse um bote salva-
vidas.
Parecia que esteve chorando antes de dormir, aquilo me
cortou fundo. Eu não suportava que ela sofresse assim. O que
será que houve? Estava sonhando comigo? E por que ela disse
que eu menti, se foi ela quem não apareceu no nosso encontro?
Não queria acordá-la, mas precisávamos conversar.
Aproximei-me de sua cama e sentei ao seu lado. Necessitava
saber o porquê de não ter ido à festa, e por qual razão chorava.
Quando sentei na cama, ela abriu os olhos e já ia gritar.
Subi em cima dela e tapei sua boca, impedindo-a de acordar
toda a vizinhança.
Seus olhos verde-esmeralda me fitaram na escuridão. A
princípio, demonstravam medo; depois que me reconheceram,
tornaram-se furiosos.
— Eu vou tirar a mão de sua boca, mas não grite, ok?
Ela assentiu.
— O que diabos está fazendo aqui? — Teria gritado se
pudesse.
Eu ri baixinho.
— Esta é a primeira vez que a vejo xingando.
Tabitta grunhiu.
— Você quer me ver braba? Pois eu estou agora, seu
bastardo, filho da puta. — Começou a me bater no peito. Seus
socos eram fortes e doeu. Não queria que meus músculos
machucassem suas mãos, então segurei-as e as coloquei em
cima de sua cabeça no colchão. Qual seria o motivo da raiva?
— Posso saber o que eu fiz para você ficar assim? —
perguntei.
Fechou os olhos, como se doesse me encarar.
— Abra os olhos e responda.
Apenas virou a cabeça de lado e soluçou.
— Taby, me diga o que houve, por favor — supliquei,
não gostando de vê-la daquele jeito.
— Você mentiu para mim. — Sua voz falhou.
— Posso saber em quê? Estou confuso aqui.
Ela riu, amarga.
— Vai, Jason, mais forte… — Estremeceu e olhou para
mim. — Seu pau é gostoso, me faça gozar como só você
sabe… Lembra disso?
— Que história é essa de pau e ir mais fundo? — Se
alguém ousou dizer alguma besteira a ela, eu os mataria. —
Taby, conte o que quer dizer com isso. Por que não foi ao
nosso encontro? Você disse que estaria lá…
— O quê? Para servir de vela? Talvez você me chamasse
para ver você transando com outra. — Tentou me bater, mas
eu a prendi, impossibilitando-a de fazê-lo.
Arregalei os olhos.
— Transar com quem? De que droga está falando?
Ela expirou.
— Eu fui à maldita festa, mas o que vi antes? — sibilou.
— Você transando com a Pamela atrás de uma árvore, e ela
gritando seu nome enquanto estava sendo fodida.
Agora entendia sua fúria, contudo, eu não fodi ninguém.
Decerto Dominic estava por trás disso, junto com a cadela da
Pamela.
— Vou matar aqueles dois — urrei. Por isso ela disse
que a traí, porque prometi que não ficaria com nenhuma
mulher. Nem punheta eu bati para não quebrar a promessa, e
agora ouvia isso? — Você me viu com ela? Eu. — Gesticulei
para mim. — O meu corpo.
Ela fungou e me fitou de olhos arregalados.
— Não, apenas ela chamando o seu nome…
— Por que não foi checar para ver se era eu mesmo?
— E dizer o quê? Como poderia competir com uma
garota que tem um corpo igual ao da Pamela?
Estreitei meus olhos.
— Esse corpo sobre o qual estou deitado, pelo que vejo,
é perfeito. E gosto dessa perfeição sendo escondida por
debaixo dos seus vestidos largos. — Com um joelho, abri suas
coxas e esfreguei meu pau duro em sua boceta.
Ela engasgou.
— Jason… Então não ficou com ninguém? — Tinha
esperança.
Baixei a cabeça e beijei a ponta do seu nariz.
— Não, o único que vi com ela foi Dominic — rosnei.
— Acertarei as contas com ele.
— Por que eles fizeram isso?
— Eu não sei, mas vou resolver isso amanhã. Agora
quero fazer outra coisa.
— O que é? — Ela ofegava.
Eu a beijei, degustando de sua boca, seus lábios e sua
língua, seu sabor era de mel. Soltei suas mãos e as coloquei
em seus cabelos. Ela me abraçou, gemendo também, e tirou
minha jaqueta. Eu me afastei um pouco para ela tirar a minha
camiseta.
— Adoro ver você sem camisa — confidenciou,
passando as mãos nas tatuagens que fiz quando tinha quinze
anos, um falcão nas costas e asas nos braços. Gostava desse
pássaro. — Por que um falcão? — sondou, acendendo a luz do
abajur para ver melhor, traçando os dedos nas asas dele no
meu braço.
— São pássaros que possuem velocidade em seus voos e
enxergam longe. Queria ser como eles, livre para fazer o que
desejar neste mundo. — Suspirei.
— Você se sente preso?
— Na maioria das vezes, sim — respondi. — Depois
que a conheci, não me sinto mais assim, e sim feliz por tê-la
em meus braços.
— Fico contente com isso. Eu quero tatuar uma
borboleta azul algum dia, mas minha avó me mataria — disse,
tocando meus cabelos. — Uma vez eu vi você sem camisa e
gostei das tatuagens; me motivou ter uma também.
— Onde me viu sem camisa? — Não me lembrava de
ter ficado sem camisa na frente das pessoas, nem para transar
eu tirava as minhas roupas. Dom falava que eu era esquisito,
porém, não achava que havia necessidade de tirar as roupas
somente por uma foda.
— Jogando bola na casa do Dominic. — Estremeceu,
então supus que tivesse me visto com alguma garota nesse dia.
Quando jogávamos bola, eu tirava a camisa. Talvez alguma
menina de que não recordo tenha se aproximado de mim.
— Prometo que não tocarei mais em nenhuma mulher.
— Beijei seus lábios. — Só você.
Ela sorriu.
— Parece que estou sonhando ao tê-lo em meus braços.
Sempre te achei como o sol, inalcançável. — Acariciou meu
rosto. Eu estava com barba por fazer.
— Eu também te achava inalcançável, mas aqui
estamos. — Beijei-a no pescoço, nos lábios, e desci para seus
seios.
Congelou, então afastei meu rosto e fitei seus olhos
grandes.
— Prometo me comportar.
Ela suspirou.
— Não foi por isso que eu gelei — começou a se
explicar.
— Não vou fazer nada que não queira, pode ficar
tranquila.
— Eu sei, é que nunca fiz isso antes. Posso não ser
aquilo com o que está acostumado.
Eu a interrompi com um beijo.
— O que importa é que vai ser você, a mulher que eu
sonho em tocar, amar e beijar todos os dias e horas da minha
vida. Vou fazer o que você quiser, ok?
— Eu estou pronta. — Ela foi firme, colocando suas
mãos no botão de minha calça jeans. Gemi com seu toque, que
incendiou todo o meu corpo.
— Que tal nós só brincarmos hoje?
— Por quê? Não me quer?
— É claro que quero, sonho com isso há meses, desde
que a conheci. — Peguei os seus seios por debaixo do top e
apertei-os.
Ela ofegou e abriu as pernas para mim, como em um
convite. Isso me deu mais incentivo para apreciar essa obra de
arte. Eu me sentei em seus tornozelos, mas sem colocar peso, e
tirei seu top. Taby se levantou um pouco para eu fazer isso.
Olhei seus seios rosados e lindos. Ela tentou se cobrir, mas eu
não deixei.
— Eles são perfeitos, não os esconda de mim. — Estava
maravilhado ao abocanhar um seio dela e chupar forte, lamber
e degustar.
Saiu um ruído de sua garganta, como se já quisesse
gritar. Por mais que eu desejasse ouvir seus gritos, isto não
podia acontecer, pois sua avó dormia no quarto ao lado. Eu
afastei meu rosto e olhei para ela.
— Vou precisar que não faça barulho, certo? —
sussurrei, passando a língua no bico do seu peito.
— Eu vou tentar, Jason, mas é tão bom… — ofegava.
Deixei seus seios e desci meus lábios para sua barriga
plana e sexy.
— Ficará melhor ainda. — Peguei o seu shortinho curto.
— O que vai fazer? — Sua voz se tornara rouca com o
prazer.
Ela estava de olhos arregalados.
— Confia em mim? — sondei, tirando seu short junto
com a calcinha, assim que ela assentiu.
— Sim…
— Ótimo. — Observei sua boceta lisa e exposta para
mim. Coloquei meu rosto na frente dessa gostosura. — Esta
boceta suculenta é minha, só minha.
— Jason… — gemeu em uma oração e abriu mais as
pernas, como se não controlasse seus atos.
Estava necessitada, assim como eu.
— Abra as pernas e coloque-as nos meus ombros —
ordenei. Ela fez o que eu pedi, meio tímida. — Se for gritar,
pegue o travesseiro para abafar o som, querida. Eu adoraria
ouvi-la, mas isto poderia acordar sua avó. — Cobri minha
boca com seu sexo encharcado e a devorei, lambendo seu
clitóris. Meu pau estava como rocha, mas agora era para o seu
benefício.
Assim que mordisquei seu clitóris com sabor de pêssego
ela gritou contra o travesseiro. Suas pernas estavam cruzadas
na minha cabeça, apertando-a, querendo mais da minha boca.
Eu que não recusaria à minha bela e linda mulher. Tracei
minha língua em seu centro latejante e virgem, que esperava
desvirginar em breve. Lambi e chupei até que a senti tremer e
gozar. Suguei todo seu gozo como um alimento saboroso.
Eu me afastei assim que Taby ficou mole. Fui para cima
dela e tirei o travesseiro do seu rosto.
— Então, como foi? — sondei. — Gostou?
Ela me encarou com os olhos abrasadores.
— Foi maravilhoso. — Sorriu. — Nossa! Estou até
mole.
— Fico feliz por satisfazê-la. — Beijei sua boca,
traçando sua língua e deixando seu sabor ali. — Agora vou
esfregar meu pau nessa boceta suculenta, mas sem entrar.
— Por que não? Estou pronta.
— Está tarde, e como é a sua primeira vez, quero que
seja especial. Também não tenho camisinha comigo, afinal, fui
à festa com a intenção de ter um encontro com você, e não
transar. — Beijei suas pálpebras e me afastei, tirando minha
calça jeans e abaixando minha boxer. Peguei meu pau duro e
esfreguei em sua boceta molhada. Abafei seus gritos com
outro beijo, me saciando com seu gozo e suas unhas em
minhas costas.

Acordei antes do amanhecer. Precisava sair da casa sem


sua avó acordar, não queria trazer problemas para Taby. Eu me
vesti e beijei seus lábios de leve. Olhei para a linda loura
esparramada na cama, os cabelos sedosos espalhados no
colchão e nos lençóis brancos, seu rosto belo e esculpido, seu
corpo nu. Nem acreditava que a tive em meus braços; esperava
ter muito mais. Coloquei um lençol para cobrir meu bem
precioso. Bati uma foto e deixei como plano de fundo do meu
celular.
Ela gemeu assim que eu a beijei.
— Preciso ir antes que sua avó acorde. Pode continuar
dormindo, é cedo demais para se levantar. — Alisei seu rosto.
— Hoje é sábado, quero que vá a um lugar comigo. Ok?
— Vou a qualquer lugar com você — disse com um
suspiro. — Eu o amo, Jason.
Meu coração deu um solavanco, como se fosse parar a
qualquer momento, com apenas dezessete anos. Ela foi a
primeira pessoa em todo o mundo que disse que me amava,
nem meus pais falavam isto. Eu quase ri, aqueles dois amavam
só a si mesmos. Nem lembrava muito de minha mãe antes dela
ir embora.
Eu não era de chorar, mas agora queria, ouvindo essas
palavras da única mulher que me fazia sentir vivo.
— Também amo você, minha linda — declarei, mas ela
já estava dormindo. Diria para minha preciosa depois.
Dei mais um beijo nela e saí pela janela. Chegara a hora
de eu resolver as coisas com Dom…
Parei assim que vi a avó da Taby perto da minha moto.
Ela estava com um robe branco e os braços cruzados.
— Minha neta não é um brinquedo para você usá-la e
dispensar, como está acostumado a fazer — rosnou Margareth.
— Conheço sua fama, Jason Falcon. Fiz minha pesquisa
depois que soube que minha neta se apaixonou por você.
Eu respirei fundo, temendo que ela me afastasse da
Taby. Não suportaria ficar longe dela.
— Eu sei que ela não é um brinquedo, senhora, jamais a
desrespeitaria assim. Não vou mentir que sou santo, mas o que
sinto pela Taby é verdadeiro — garanti.
Ela estreitou os olhos.
— E como explica você saindo de sua janela no romper
da aurora? Isso é um desrespeito com sua imagem — acusou.
— Ontem à noite tivemos um mal-entendido, precisava
resolver as coisas com ela.
— E não podia esperar até hoje? — retrucou.
Balancei a cabeça.
— Não. Sei que comecei com o pé esquerdo, devia ter
vindo falar com a senhora primeiro — sussurrei, nervoso.
Ela me interrompeu, ainda com aço na voz.
— Sim, você deveria.
— Estava com medo de não me aceitar como seu
namorado. Ela merece alguém melhor do que eu, mas nunca
vai achar alguém que a ame tanto — disse e depois supliquei:
— Imploro que não me impeça de vê-la, não posso viver sem
ela. — Se eu não podia antes, imagine agora que sentira seu
gosto, seu cheiro e seu amor, que estava incrustado em minha
pele, no meu ser.
Ela suspirou e me avaliou por um momento. Pareceu
acreditar em mim.
— Olhe, moço, não julgo as pessoas por suas roupas, ou
por você estar coberto de tintas. Só quero o bem da minha
neta. Se ela o ama, não vou atrapalhar, mas se magoá-la,
acertarei as contas com você. E nada de dormir no seu quarto
ou entrar pela janela. Se quiser entrar, entre pela porta da
frente e será bem-vindo. Aqui é uma casa de respeito. E
também há hora de chegar à noite.
Suspirei e sorri.
— Sim, senhora, obrigado por não afastar a luz da minha
vida — agradeci.
— Só faça minha neta feliz — pediu.
— Eu vou, prometo. E já que não é contra o nosso
namoro, posso pegá-la hoje antes do almoço? Quero levá-la a
um lugar.— Acrescentei rápido: — Não se preocupe, não é
nenhuma festa, apenas um local que é importante para mim;
espero que seja para ela também.
Ela sorriu.
— Tudo bem. Tome conta dela.
— Tomarei.

Cheguei à casa do Dom. O sol estava saindo, mas tinha


certeza que sua mãe não tinha voltado; ela retornava por volta
das dez horas. Dom sempre levantava cedo para arrumar a
bagunça da festa, antes dela chegar em casa, ou melhor, ele
colocava as garotas para fazerem isso. Tudo por uma noite
com ele.
Entrei, ignorando Alicia, Laura e a cadela da Pamela.
Aproximei-me dele, que estava perto do sofá com cara de
ressaca, e desci um soco na sua boca. Nós sempre fomos
amigos, nunca brigamos assim, mas agora estava furioso por
ter feito o que fez. Ele sempre me ajudou em horas difíceis.
Lembrava-me da última vez que meu pai triscou a mão
em mim, eu tinha quinze anos e estava na cozinha quando ele
entrou bêbado, claro, e começou a me xingar, dizendo que
minha mãe se foi por minha causa. Respondi que o culpado
era ele por ser um bêbado fodido que não conseguia parar em
emprego nenhum. Eu não vi chegando, só senti o cabo de
vassoura pegar minha cabeça. Fiquei zonzo na hora, e o
sangue escorria.
Naquele dia, saí de casa e conheci Dominic, um garoto
de dezessete anos, forte em termos de músculos, pois era
lutador. Ele deu pontos na minha cabeça e queria me levar ao
hospital, mas eu não aceitei. Dom sabia suturar muito bem, já
que sua mãe era enfermeira; devia ter aprendido com ela.
Depois disso, viramos melhores amigos, e ele me ensinou a
me defender do meu pai e de quem quer que fosse.
— Que porra é isso, cara? — rosnou, limpando o sangue
da sua boca. — Ah, você já sabe.
— Do quê? Que você bolou um plano fingindo ser eu
transando com a puta da Pamela, tudo para Taby ver?
— Eu não sou uma puta — defendeu-se ela.
Fuzilei-a.
— Cale a maldita boca. Só não faço com você o que fiz
com o Dom, porque não bato em mulheres.
Ela estremeceu ante minhas palavras. Não liguei. Olhei
para o Dom.
— Por que fez isso?
Ele suspirou.
— Desculpe, cara, achei que você estava entrando em
uma furada saindo com uma garota igual a ela. Não sabia que
estava tão fissurado na garota…
Cortei-o, com os punhos cerrados.
— Direi apenas uma vez, Dom, então preste atenção.
Você é meu melhor amigo, nunca houve limites entre nós dois.
Agora, existe uma linha que não pode ser cruzada. Taby é esta
linha, que não vou tolerar ser ultrapassada por ninguém, nem
mesmo por você — ameacei, ácido. — Eu a amo, e por ela
derrubaria até meu melhor amigo.
Ouvi as garotas arfarem. Dom, primeiro, arregalou os
olhos; após, o bastardo sorriu. Livrou-se de eu quebrar sua
cara só porque o sorriso de merda que estava dando era por
parecer impressionado.
— Não acredito que foi domado por uma…
Eu o interrompi.
— O que eu disse sobre a linha não ser cruzada? —
lembrei. — Ela não é dessas que você fode por aí, Taby é mais
como o para sempre. Pretendo dar isso a ela algum dia.
O bastardo ainda sorria. Muitas vezes, antes de eu saber
lutar, Dom me defendia de garotos de rua. Eu não conseguia
enfrentar nenhum deles, por serem maiores que eu. Dom dizia
aos meninos da nossa cidade para ficarem longe de mim. Ele
até lutou com três garotos, e venceu sem nem mesmo piscar.
Eu o considerava desde então como um irmão mais velho e
protetor.
— Prometo me comportar. Se é importante para você,
agora é minha irmã também. — Foi até mim e bateu de leve
nos meus ombros. — Seja feliz, cara, você merece.
— Obrigado. Vou sair com ela na hora do almoço,
depois irei levá-la na oficina às quatro horas.
— Já vai apresentar aos caras? — Ergueu as
sobrancelhas.
Fechei a cara.
— Oh, porra não! Só você estará lá para eu fazer uma
tatuagem, e nela também.
— Tatuagem? Tipo para selar o amor de vocês dois? —
O bastardo não escondia seu sorriso de merda. Ignorei e
respondi normal.
— Isso, então esboce uma borboleta azul para mim.
Você me deve isso, não acha? — O filho da mãe era bom
tatuador, fez todas as minhas tatuagens, e ficaram excelentes.
— Sim, cara, eu devo.

Depois de pegá-la em sua casa, levei-a no carro do Dom,


um Cadillac preto. Ele tinha mais ciúmes desse carro do que
algum dia já teve de alguém.
Taby estava nervosa no banco da frente. A minha
intuição me dizia o porquê.
— Sabe que não farei nada se não estiver pronta, não é?
Ela assentiu e mordeu os lábios.
— Estou falando sério, Taby.
— Eu confio em você — respondeu e escorou a cabeça
no meu ombro.
Passei meu braço em volta de sua cintura e beijei seus
cabelos.
— Obrigado, linda.
Andamos mais alguns quilômetros pela estrada. Fui a
um ponto alto, do qual dava para ver a cidade inteira de longe.
Parei o carro em frente a um chalé grande de madeira. Quando
achei esse lugar abandonado, procurei pelo dono, que morava
em Manhattan. Eu tomava conta dele desde então.
Ela olhava cada canto ao redor com seus olhos
arregalados, maravilhada pela vista.
— Uau, isso é tão lindo. — Chegou mais perto do chalé
avermelhado. — De quem é?
— De um senhor que mora em Manhattan. Cuido daqui,
venho neste lugar quase todos os dias.
Seu sorriso lindo morreu. Pensei nas minhas palavras, o
que ela entendeu por elas? Depois de um segundo, percebi que
achou que eu levava garotas lá. Fui até Taby, coloquei dois
dedos debaixo do seu queixo e o levantei, porque ela tinha
baixado a cabeça.
— Nunca trouxe nenhuma mulher aqui, só você. —
Beijei sua testa. — Sempre será só você.
Tomei-a com fervor e adoração, degustando-a. Suas
mãos apertaram minha cintura, gemendo. Eu me afastei sem
querer.
— Por mais que eu a queira agora, isso vai ter que
esperar. Preciso te mostrar uma coisa. — Sorri vendo o brilho
de felicidade em sua expressão, visível mesmo através dos
óculos. — Venha comigo.
Impressionou-se ao entrar no chalé e ver uma cama de
casal California king com lençóis brancos, forrados com
pétalas de rosas sobre ela e o chão. Tudo isso foi realizado
com a ajuda de Dom, afinal, ele me devia por tentar afastá-la
de mim. Não sabia como fez ficar bonito assim, mas o
bastardo conseguiu.
— O que achou? Pensei em como nosso primeiro
encontro deveria ser especial, então resolvi preparar isso. —
Gesticulei para o chão e a cama.
— Está tudo lindo, tanto que estou sem palavras. — Riu,
pegou uma pétala e a cheirou. — Quem diria que um bad boy
faria isso para uma menina.
Eu ri também.
— Estava esperando a garota certa aparecer na minha
vida para bancar o romântico.
— Eu sou a garota certa? — Ela me olhou de esguelha.
Puxei-a para os meus braços.
— Você é tudo, preciosa.
— Obrigada. — Sorriu e observou a bancada da cozinha
americana, forrada de coisas gostosas para nosso almoço.
Gastei metade do meu salário com esse encontro, mas valeu
cada sorriso de felicidade dela. — Vamos sentar, estou
faminta.
— Eu também. — Olhei para seu corpo, com um vestido
de verão moldado às suas curvas, e não igual aos que ela
costumava usar.
Senti-a tremer com minhas palavras. Sabia que ela
queria ficar comigo, assim como eu a queria. Seus olhos foram
para a cama e depois para a comida, acho que pensando em
qual escolheria primeiro.
— Vamos almoçar, em seguida partimos para o outro
tipo de fome, que estou doido para saciar também.
Comemos enquanto conversávamos sobre sua vida no
Kansas antes de se mudar para Austin. Sua mãe morreu
quando ela era pequena, foi criada por sua avó. Não conheceu
seu pai. Também nunca teve nenhum amigo ou namorado. Eu
gostei dessa parte, a de não ter namorado.
— E os seus pais? — perguntou, mordendo um morango
cujo suco escorreu pelo canto de sua boca. Ela passou a língua,
lambendo o local. Nem sabia o que aquele gesto fazia comigo.
— Deixe que eu cuido disso. — Aproximei meu rosto
do dela e a suguei.
Arregalou os olhos inocentes, corando em sua pele
branca. Eu me afastei e respondi à sua pergunta, mesmo não
querendo falar sobre esse assunto.
— Minha mãe foi embora quando eu tinha oito anos e
me deixou com meu pai — disse, vago. Não precisava contar
dos espancamentos que sofria do meu próprio pai. Essa parte
escura da minha vida só pertencia a mim.
— Oh, sinto muito — murmurou.
Não gostava de ver a pena na expressão das pessoas.
Felizmente, não enxerguei pena nela, só solidariedade.
— Não precisa sentir. — Peguei sua mão e levei na
direção da cama. — Queria algo especial para sua primeira
vez, mas se não estiver…
Ela me interrompeu se jogando nos meus braços, com
pernas e braços à minha volta, e me beijando. Retribuí o beijo,
desfrutando do seu amor e prazer. Eu a depositei na cama e
pairei em cima dela, sem nunca me afastar daqueles lábios
saborosos com gosto de morango.
Passei as mãos em seu corpo perfeito, levando uma delas
ao meio de suas pernas e alisando seu centro por cima da
calcinha. Ela levantou a bunda para cima, querendo mais do
meu toque para aliviar e tirar seu atrito. Eu me afastei um
pouco e tirei seu vestido, deixando-a com apenas um conjunto
de sutiã e calcinha brancos. Apertei seus seios e coloquei seus
mamilos na minha boca, sugando com fome. Meu pau já
estava duro, querendo ser enterrado nela. Taby gritou assim
que eu abocanhei seu mamilo e rasguei sua calcinha, alisando
seu clitóris.
— Aqui você pode gritar à vontade que ninguém vai
ouvir, apenas eu. Adorarei cada gemido que soltar. — Pus dois
dedos dentro dela e a senti estremecer. Esfreguei seu clitóris
para levá-la ao prazer. Ela rebolava junto com meus dedos.
— Jason… — Taby estava prestes a gozar, eu podia
sentir. Tirei meus dedos, fazendo-a choramingar. Gostei da
garota me querer tanto quanto eu a ela. Fiquei de joelhos em
cima dela, removi minhas roupas e botei a camisinha no meu
pau duro. Seus olhos brilharam ao olhar para ele, depois
corou; essa cor era linda. Eu me posicionei entre suas pernas e
fitei suas íris verdes.
— Eu a amo, Tabitta — declarei e empurrei devagar,
fazendo-a se acostumar comigo.
Ela ofegou e sorriu em meio à dor.
— Também amo você — sussurrou, me abraçando e
trazendo minha boca para a sua. Taby gemeu nos meus lábios
e logo estávamos nos movimentando em sincronia, saciando-
nos. Pela primeira vez, fiz amor com uma mulher que eu
realmente amava com cada fibra do meu ser. Uma mulher que
amaria para sempre.
CAPÍTULO 9

Pesadelos
TABITTA

Presente
Quando saí da casa do Jason, fui com Papy para o
Brooklyn. Não queria deixá-lo, mas sabia que por ora ele
estava seguro. Por via das dúvidas, além dos policiais que
deixei lá, também liguei para o Bryan dar uma ida à sua casa.
Bryan ficou também encarregado de conseguir dois guarda-
costas para Jason. Eu não o conhecia bem, porém, sabia que
podia confiar a segurança de meu amado a ele, já que os dois
eram amigos.
Na volta para a casa, Papy me encheu de perguntas sobre
Jason: como eu o conheci, por que terminamos, se ainda nos
amávamos…
Revelei toda a verdade a ele, que merecia saber disso.
Falei que precisei deixá-lo pela sua segurança, porque corria
perigo nas mãos do Sebastian. Isso agora mudara, uma vez que
esse segredo foi descoberto, então eu o protegeria com a
minha vida se fosse preciso.
— Ele sabe por que você o largou?
— Dei um resumo, mas ele não conhece os detalhes.
Contarei a ele, só estou esperando o momento certo.
— Você está com medo, isto é normal, querida. Diga-me
uma coisa: também vai revelar a ele sobre Emy ser sua filha?
Jason merece saber.
— Sim, eu sei que ele merece. Já que estou ao seu lado,
não quero mais mentir para ele, Papy, e não vou. Lamento não
ter dito a verdade a você e Mama, doía falar nesse assunto,
sinto muito.
Ele deixou uma mão no volante e, com a outra, me
abraçou, beijando meus cabelos.
— Não precisa sentir, querida, está tudo bem. Posso
entender por que não disse nada.
— Obrigada, pai.
— Emy vai adorar saber que é filha de Jason, pois gosta
dele, uma fã de carteirinha. — Riu, orgulhoso. — Ele parece
ser um cara legal, fora a parte de ter sido mulherengo enquanto
vocês dois estavam separados esses anos. — Papy me olhou de
lado. — Você vai ficar bem com isso? Sei que não foi culpa
dele sair com mulheres, já que ele pensava que tinha ido
embora, mas não deixa de doer, não é?
Emy sempre foi fã de Jason. Se ela soubesse que ele
estava na TV, fazia suas tarefas e ia para frente dela só para vê-
lo. Eu só não a deixava assistir às lutas, não era para criança.
— Sim, Emy vai adorar saber que ele é seu pai —
murmurei. — Jason é fácil de ler, eu pude perceber que ele
ficava com essas mulheres para provar um ponto a si mesmo.
Achava que não foi homem suficiente para mim… Por eu ter
ido embora sem dizer adeus.
— Isso não quer dizer que será fácil — insistiu.
— Sei que não vai. São consequências dos meus atos.
Mas o pior será a hora em que eu disser toda a verdade. E se
Jason não quiser me perdoar? Afinal, são quase nove anos
escondendo sua filha.
Ele alisou meus ombros.
— Pelo pouco tempo que estive perto daquele homem,
percebi o quanto ele a ama, Taby. Não há nada que faça ou
tenha feito que o motivaria a pensar o contrário. Então não
tenha medo, tudo bem?
Eu assenti e não respondi, não tendo certeza de que
aquilo era verdade. Se Jason escolhesse me odiar, eu aceitaria.
Merecia por tê-lo abandonado.
Assim que chegamos à casa do Papy no Brooklyn, desci
de sua Mercedes. A residência tinha dois andares, paredes de
tijolos vermelhos e uma varanda na frente.
— Olá, filha. — Mama sempre me chamou assim, e eu
adorava isso. Ela era uma mulher bonita, de cabelos negros
com alguns fios brancos. Não era vaidosa, tinha uma política
de que as pessoas deviam aceitar o que realmente são. Eu não
discordava, achava que todos deviam fazer o que querem e
gostam.
Abracei-a por um segundo, me reconfortando com isso.
Sempre que o fazia, me lembrava da vovó, de chegar da escola
e correr para os seus braços. Confortava-me saber que eu era
amada por ela, mesmo que não tenha sido pelos meus pais. Se
é que podia chamar aquilo de pais… Uma mãe que só me teve
e deu para a minha avó, e dois anos depois foi morta no
México, provavelmente por Sebastian. Como uma mulher
podia aceitar um homem tão inescrupuloso? Vovó dizia que
eles se amavam, mas isso não era amor. Quem ama não vende
sua mulher, como ele fez.
— Mamãe, ficou sabendo que Jason Falcon vai lutar
aqui em Trenton este final de semana? Não acredito que vou
estar na mesma cidade que ele! — falou Emy, entrando na sala
toda eufórica.
Ela estava com um vestido rosa e uma sapatilha que dei
a ela na semana anterior. Linda, minha filhota. Às vezes, à
noite, eu a olhava dormir e imaginava o que fiz de bom para
merecer algo tão precioso para mim como minha menina. Era
a luz que Deus enviou para eu passar por todo o calvário que
foram esses anos sem o Jason. Ela se parecia muito com ele.
Eu suspirei.
— Sim, eu soube — respondi, entendendo o porquê dela
falar disso.
— Podemos ir vê-lo, mamãe? Ele está tão perto! —
suplicou. — Por favor. Faça isso como presente de aniversário,
eu não quero mais nada, apenas conhecê-lo pessoalmente, nem
que seja uma vez na vida.
Expirei e troquei um olhar com Papy, cuja expressão
sugeria um “Não disse?”. Ele chamou mamãe e foi para a
cozinha, de modo a me deixar a sós com Emy para eu resolver
tudo. Não podia dizer nada a ela, não antes de falar com Jason.
Meu coração se partiu por ter de negar isso a ela, com seu
aniversário sendo dali a duas semanas. Esperava que Jason
estivesse conosco nesse dia importante de nossas vidas. Para
ele também se tornaria, quando soubesse a verdade.
— Emy, querida, um ringue de lutas não é lugar para
crianças — me esquivei. Precisava saber a reação de Jason
antes de apresentá-los.
Seu semblante mudou, ficando triste.
— Oh… — O tom desapontado cortou meu coração. Eu
não podia fazer nada, não agora.
Passei a tarde inteira com ela, tentando alegrá-la e
distraí-la de Jason um pouco, mas sabia que não desistiria. Por
isso, falaria com Jason logo e diria a verdade.
Esses dias foram cheios no trabalho. Eu estava junto
com minha equipe buscando descobrir novos lugares e os
pontos que Franklin usava para prostituição infantil.
Desmanchamos três casas usadas para prostituição de menores
em três cidades diferentes: Michigan, Ohio e Boston.
Foi uma semana corrida. Fiquei feliz por resgatarmos
essas crianças vivas, que teriam agora um futuro pela frente.
Seus sonhos, interrompidos por causa de homens abusadores
de menores, seriam retomados. Para elas, se tornaria um
trabalho difícil seguir em frente com todos os pesadelos e
traumas, mas, pelo menos, estavam vivas. Isso era o que
importava.
Quinta-feira, fomos a Riverside, subúrbio localizado
quatorze quilômetros a oeste de Chicago, e três fora dos
limites da cidade.
Bryan descobriu a localidade onde o contêiner cheio de
garotas estaria. À meia-noite, as meninas seriam levadas para
pontos de prostituição em vários lugares. Eu não ia permitir
isso. Faltavam dez minutos para meia-noite. O pior era que o
lugar estava cheio de contêineres, acho que uns cinquenta,
mais ou menos. Por isso, nos dividimos para procurar o certo.
— Jason sabe que está aqui? — sondou Bryan do meu
lado. Encontrávamo-nos numa rua afastada, mal movimentada.
Os malditos a escolheram justamente por isso, assim evitariam
pessoas descobrindo o que tinha dentro.
Eu respirei fundo.
— Disse para ele que estava vindo a trabalho, não entrei
em detalhes.
— O que ele achou? — Chegamos perto de umas
árvores próximas ao local. Lincoln, Papy e Dennis estavam lá.
Não entendia porque a CIA participava da missão, não era sua
função. Eles ficavam mais responsáveis por investigarem e
fornecerem informações de segurança nacional aos senadores
do nosso país. Caçar Sebastian tudo bem, ele era considerado
perigoso para a nação, mas ali encontraríamos só seus servos.
Quando perguntei ao Papy sobre isso, ele disse que Dennis
combinou de continuar com a gente até prendemos Sebastian e
seus comparsas. Também falou que isso era uma missão
pessoal para ele, mas Papy não quis revelar o porquê, ou talvez
não soubesse. “Bom, para quem Sebastian não fez algum
mal?”, pensei, frustrada.
— Ele queria vir comigo. Não deixei, afinal, há muito
pessoal do Sebastian por aqui. — Tentei não pensar nisso
agora, não gostava nem de imaginá-lo lá.
— O que aconteceu naquela noite que o deixou? —
inquiriu, curioso.
— Vai me dizer por que terminou com Alexia? —
Levantei a sobrancelha para ele. — Até dois dias atrás, vocês
pareciam no maior love, e agora está assim, como se num
purgatório.
Ele expirou e estremeceu. Fins de namoro deixam
qualquer um destruído. Não entendia por que eles terminaram,
os dois faziam um casal tão lindo. Eu a conheci pessoalmente
dois dias antes, em um restaurante onde fui jantar com Jason.
Ela estava lá com Bryan. Uma loura deslumbrante, isso a
descrevia.
— Bom ponto, mas eu não posso dizer nada sobre isso.
— Sua voz demonstrava devastação. — Agora vamos
esquecer nossas vidas pessoais e nos concentrar no caso.
Eu não ia insistir, já que ele não queria contar. Esperava
que os dois se entendessem logo. Foquei na missão,
esquecendo o resto.
Assim que Thomas deu um sinal, nós invadimos o local,
que parecia um sítio, separados em duplas. Eu fiquei com
Bryan. Havia sete homens na entrada, mais cinco perto de dois
contêineres, vigiando-os. Supus que ali tinha coisa.
— FBI, abaixem as armas e levantem as suas mãos —
gritou Thomas, e os tiros começaram.
A minha função e do Bryan era tirar as garotas com
segurança, enquanto o resto do pessoal, junto com a polícia
local, prendia todos e descobria se havia mais meninas ou
drogas nos outros contêineres.
Bryan desarmou dois e atirou em mais dois. Eu acertei
um no braço. Ele estava me dando cobertura para eu abrir o
primeiro contêiner. Os tiros pareciam ter cessado. Escancarei a
porta com meu coração acelerado, com medo delas estarem
machucadas. “Não, essas meninas estão bem, preciso acreditar
nisso”, pensei.
Assim que a porta foi aberta, com a arma em punho,
mirei no homem na frente das várias garotas, acho que dez,
mais ou menos.
— FBI, abaixe a arma e levante as mãos — ordenei.
O cara ignorou o que eu disse e apontou sua arma na
minha direção. Meu corpo estava gelado, minhas mãos
suavam, eu temia que o pior acontecesse. Em dois anos, nunca
matei ninguém; agora, sabia que não ia passar. Foi tão rápido
que mal deu para assimilar: uma garota correu, querendo fugir,
e veio na minha direção; o cara estendeu a arma e disparou, e
eu também. Meu corpo parecia estar no piloto automático. A
menina caiu nos meus braços sangrando, e o cara foi ao chão
com um tiro na cabeça.
Ignorei meu corpo tremendo e olhei a menina loura de
uns quinze anos, mais ou menos. Acho que gritei por uma
ambulância e para salvarem sua vida, mas eu estava
entorpecida. Tudo doía. Não lembro muito bem o que houve
depois, apenas que fui levada para uma escuridão profunda.

Acordei visualizando um teto branco e ouvindo um bip


não muito longe de mim. Tentei recordar o que aconteceu: a
menina nos meus braços, o cara morto no chão…
— Oh, meu Deus! — Fui me levantar, mas mãos me
impediram de fazê-lo.
— Você precisa se acalmar e ficar quieta — pediu Papy
com a voz trêmula.
Fitei seus olhos tristes. Parecia que não era o único,
Lincoln e Bryan também estavam ali, perto de mim.
Encontrava-me em um hospital. Olhei para o meu ombro
enfaixado e senti uma dor aguda proveniente dele.
— O que houve? A menina está bem? — perguntei ao
Papy.
Todos baixaram seus rostos, então um frio desceu por
minha espinha, me deixando sem fôlego, esmagada por dentro.
— Ela não resistiu, filha. A bala atravessou seu coração.
Não vimos que tinha outro cara no lugar, ele acertou seu
ombro, por isso está no hospital. — Papy alisou meus cabelos.
— Sinto muito, querida.
Não consegui impedir que as lágrimas caíssem. Eu
poderia ter sido mais rápida, puxado o gatilho antes. Abracei
Papy, ignorando todos ali, deixando-me apenas sentia a dor em
meu peito. Eu sabia que meu trabalho era perigoso, não só
física quanto mentalmente. A angústia que vivia agora era pior
que a dor no meu ombro machucado.
A sensação de impotência me consumia aos poucos.
Papy ficou comigo me reconfortando, embora não estivesse
doente. Eles queriam me manter no hospital até o outro dia,
mas eu não aceitei. Naquele momento, eu só queria ver uma
pessoa e sentir seus braços, para ver se ele tirava essa dor.

Toquei a campainha da casa de Jason e ninguém


atendeu, então peguei a chave que me deu e entrei. Não reparei
ao redor, contudo, Jason consertou a residência; até foi pintada
com tintas claras, mas não reparei na cor. Encaminhei-me ao
quarto, tirei as roupas e deitei debaixo das cobertas, querendo
ser enterrada por elas. Era tarde, só não sabia que altura da
madrugada. Expirei seu cheiro nos travesseiros.
Não liguei para ele, não queria atrapalhá-lo onde quer
que estivesse. Talvez tivesse saído com seus amigos. Isso era
bom, pelo menos não estava em algum lugar bebendo, igual
fazia antes de eu entrar em sua vida de novo. Por sorte, não se
tornou um alcoólatra, tal qual seu pai.
Adormeci e sonhei que estava em um corredor escuro,
iluminado por somente uma fonte de luz. Ouvia tiros ao meu
redor, olhava assustada, mas não via nada. Meu coração gelou
quando percebi que era eu quem atirava. Logo depois,
apareceram vários corpos aos meus pés, pessoas gritando,
então a voz fina da garota que morreu, com seu vestido branco
banhado de sangue.
— Você me matou — disse ela, o líquido vermelho
escorrendo de sua boca e seu nariz.
— Não! — gritei, abrindo os olhos com meu coração
palpitando.
— Taby, querida, o que houve? — saudou a voz de
Jason ao meu lado.
Não disse nada, apenas o abracei forte, expirando seu
cheiro que consumia meu corpo e minha alma, me deixando
calma, apesar de ainda sofrer e tremer pelos acontecimentos
do dia.
— Eu estou bem — menti.
Ele suspirou e me afastou para fitar meu rosto. A luz do
quarto estava acesa, por isso enxergava sua face linda e
gloriosa, mas também ansiosa. Só não via direito por causa das
lágrimas.
— Taby, não minta para mim. Cheguei aqui ouvindo
seus gritos lá da sala, até pensei que estava sendo ferida —
sussurrou. — Não me diga que está bem…
— Desculpe. — Meu corpo tremia como se eu estivesse
com febre, todavia, me sentia gelada como um cadáver, igual à
garota e ao cara em quem atirei. — Oh, Deus, Jason! Eu…
eu… — Sentei-me na cama e olhei minhas mãos.
— Borboleta, você está me assustando. O que houve
nessa viagem? — Seu tom era agoniado ao escutar a dor na
minha voz. — Estou ficando louco aqui.
Expirei e limpei as lágrimas que escorriam pelo meu
rosto, sentindo uma pontada no ombro, então contei tudo que
aconteceu, da prisão que fizemos e das garotas que libertamos.
Exceto uma…
— É minha culpa… Eu deveria ter atirado antes no cara.
Ele pegou meu rosto e beijou as lágrimas que caíam da
minha face, olhando dentro dos meus olhos.
— Querida, você está assim não só pelo que aconteceu
com a garota, mas também por ter atirado nesse homem. Você
nunca matou alguém antes, então a culpa e remorso estão te
consumindo. — Beijou a minha testa. — Lembra daquela vez
que acertou Mika na cabeça por ele fazer bullying com uma
menina do primeiro ano? — Assenti, sem saber aonde queria
chegar.
— Sim — minha voz estava rouca, então pigarreei. —
Ele estava dizendo coisas feias a ela, mas não foi só por isso
que bati na sua cabeça com o cabo da vassoura do zelador, e
sim porque ele me disse que eu era sua puta. No dia seguinte,
Mika chegou todo machucado na escola… Então foi você que
fez aquilo com ele! Não que não tenha merecido.
— Bom, ele teve o que mereceu, sim, por falar isso da
minha linda namorada. O que estou dizendo é que depois de
bater na cabeça dele e assisti-lo desmaiar no chão, eu vi o
desespero em seus olhos, o medo de estar morto, mesmo ele
sendo um filho da puta. Você não foi feita para ser policial,
talvez devesse ter se tornado professora, como era seu sonho.
— Eu sei, mas esse cara era um assassino, um
estuprador e um maldito desgraçado, ele merecia morrer. A
garota não… — murmurei.
— A despeito desse homem ser tudo isso, você não
queria matá-lo, Taby, porque não está em seu sangue tirar a
vida de uma pessoa. Por isso está assim, sofrendo. — Pegou-
me no colo e beijou meu pescoço, traçando-o com a língua. —
E não se esqueça de que a amo, então seja qual for o problema
que tiver, sempre estarei aqui para ajudá-la.
Meu coração se aliviou ao perceber a verdade na voz
dele. Sabia que Jason faria tudo por mim, assim como eu faria
por ele. Meu amor me apertou em seus braços, mas eu gemi
com a dor.
— Taby? — Afastou-se, preocupado. — O que foi?
— Humm, acho que me esqueci de mencionar que levei
um tiro.
Ele arfou, observando meu corpo. Jason me colocou
delicadamente na cama, me tirando do seu colo e abrindo a
camisa que eu vestia. Seus olhos ficaram grandes e assustados
vendo a faixa no meu ombro, tapando um seio com ela. O tiro
acertou em cheio, ainda bem que não pegou meu coração ou
outro órgão vital.
— Tiro? — engasgou-se. — Não precisa ir ao médico?
— Estou bem agora, Jason, já fui medicada em Chicago,
não se preocupe…
Ele cortou, exaltado.
— Não me preocupar? Chego em casa e sou recebido
com os gritos torturantes da minha mulher, depois descubro
que um desgraçado atirou nela? Não me peça para ficar
calmo… — interrompeu-se ao ver meu sorriso de felicidade
ante o que disse. — Por que está feliz? Não que eu não ame
seu sorriso, adoro vê-la assim.
— Venha aqui e tire essas roupas — pedi, indo remover
sua camisa, mas meu braço doeu. — Maldição, isso não vai
ser bom.
— Taby, não acho que devemos fazer isso hoje — falou
em um sussurro, mas ficou só de boxer preta.
Eu ri.
— Não vamos transar, Jason, não acho que eu esteja boa
o suficiente para isso, tanto mental como fisicamente. —
Peguei sua mão enquanto ele se deitava. — Eu só quero
adormecer nos seus braços e sentir seu cheiro. Mas gostei do
que você falou.
Ele me aninhou contra si e beijou meus cabelos.
— Seja o que for que eu disse que a alegrou, fico
contente.
— Você disse que sou sua mulher.
— Você é, Taby, sempre foi, desde o dia em que a
conheci e a fiz minha. — Deu um beijo casto na minha boca.
— Se quiser, podemos tornar isso oficial.
Meu peito se apertou com suas palavras. Queria ser sua
esposa mais do que nunca, mais do que tudo neste mundo,
contudo, não podia aceitar sem ele saber da verdade. Preciso
revelar tudo. Porém, não hoje; agora desejava apenas sentir
seu calor e seus braços à minha volta.
— Podemos ir a Las Vergas, não é? — sussurrei,
gostando do plano.
— Você não sonhava em se casar em Maui, no Hawaii?
Ainda quer ou tem algum outro lugar onde deseja fazer? —
Sua mão alisava minhas costas.
Sorri, eufórica por saber que ele ainda recordava do meu
sonho de me casar em uma ilha paradisíaca.
— Faria isso por mim?
Seu sorriso em resposta era lindo e maravilhado.
— Taby, você sabe que faria tudo por você. Era um
sonho que eu também tinha, nós vivemos ele por um ano, não
foi? Mesmo perdendo você esse tempo, continua sendo da
minha vontade. Por isso comprei uma casa em Kaanapali
Beach. Todo ano, no seu aniversário, vou para lá. Era como se,
estando na ilha, permaneceria perto de você. — Sua voz se
tornou baixa com a lembrança da minha partida. — Hoje
estamos juntos de novo e podemos realizar o nosso casamento
dos sonhos lá, sim.
— Lamento que tenha sofrido, Jason. Quero que saiba
que nunca foi a minha intenção.
— Sei que não. Não quero que fique triste, por isso… —
Tirou-me dos seus braços e se levantou.
Eu franzi o cenho.
— O que vai fazer?
Ele não respondeu. Foi até uma porta de madeira grande
e entrou no imenso closet. Segundos depois, voltou com uma
caixinha azul. Eu arregalei os olhos, olhando da caixinha para
ele.
— Jason…
— Guardei o anel que dei a você aquele dia, o qual, por
alguma razão, deixou para trás. — Sentou-se na cama. Quando
eu ia fazer o mesmo, ele me impediu. — Fique quietinha para
não machucar o ombro.
Meu coração estava em disparada ao ver o pequeno anel
de ouro com uma pedra azul dentro. Esta pedra era maior do
que a anterior.
— Coloquei uma pedra maior, porque agora posso pagar.
— Piscou para mim. — Eu poderia comprar outro anel mais
caro, mas eu a conheço, sabia que ia amar o antigo, porque ele
simboliza os quase dez anos que amo você, e que vou amar até
o dia em que morrer. Aceita se casar comigo?
Minha garganta se fechou. Eu queria aceitar o anel de
volta, entretanto, não podia fazer isso com ele. Jason tinha
uma luta sábado, precisava estar com a cabeça no lugar ou
perderia. Eu não sabia como seria sua reação ao descobrir
tudo.
Ele franziu a testa, me avaliando.
— Não quer? Posso comprar outro…
— Não tem nada a ver com o anel, Jason, é só que eu
não posso aceitar. — A dor que se apossou de seu rosto foi tão
grande que achei que morreria. Ele entendeu errado. —
Espere, deixe-me terminar. Não falei que não aceitaria ser sua
esposa, porque isso é algo que quero há muito tempo.
Domingo, depois da luta em Trenton, gostaria que repetisse a
pergunta. Desta vez, eu aceitarei.
— Por que nesse dia, e não hoje? — sondou, confuso.
Peguei sua mão.
— Porque antes de concordar, preciso te contar toda a
verdade sobre o que houve naquela noite. Não posso me casar
com você escondendo esse segredo. Não seria justo. —
Suspirei com uma ferroada no braço. — Droga, esse braço vai
me encher o saco. Pode pegar na minha bolsa os meus
remédios?
Ele estava meio perturbado com o que eu disse sobre o
casamento, mas assim que notou minha dor, sua expressão
ficou ansiosa e preocupada.
— Não quer ir ao médico ou pedir para o meu médico
vir aqui? — Entregou-me os remédios e um copo com água.
— Guarde o anel para depois. Agora deite aqui perto de
mim na cama, preciso senti-lo.
Ele não respondeu. Antes de deitar, pegou o anel de
diamante azul, simbolizando a borboleta que selou nosso
amor, tirou a corrente que tenho no pescoço, colocou-o ali e a
devolveu a mim.
— Ele ficará com você, e tão logo me disser tudo,
poderá botá-lo em seu dedo, assim saberei a sua resposta. —
Deitou-se ao meu lado, me aninhando em seus braços.
— A minha resposta é mil vezes sim, Jason, nunca pense
o contrário. Sei que está confuso, mas peço que espere só mais
um pouco, tudo bem? — Suspirei, já sentindo o peso dos
remédios. — Acho que esses remédios derrubariam até
cavalos.
— Esperarei o tempo que for. Agora durma, meu amor.
— Beijou meus lábios. — Eu a amo para sempre, Taby, minha
borboleta azul.
— Eu também amo você…
CAPÍTULO 10

Renúncia
TABITTA

Passado
Faz um ano que conheci Jason, o garoto bad boy que se
tornou meu mundo inteiro: meu namorado, meu amigo e meu
amante. Oh, esta última parte era a que eu mais gostava, ser
sua de forma incondicional.
O momento mais feliz foi o dia em que ele me levou
para fazer uma tatuagem. O que fez meu coração saltar de
felicidade foi ele também fazer uma igual à que eu sempre
quis.
— Essa borboleta selará nosso amor para sempre —
disse Jason. Fiz uma borboleta azul acima da bunda, nas
costas.
Nosso ano juntos foi maravilhoso. Jason me levava à
casa do Dom para as festas que havia lá. Depois de algum
tempo com Dom, pude perceber que ele era um cara legal, um
amigo que Jason adorava, então também passei a amá-lo.
Minha avó gostava de meu namorado como se ele fosse
da família. Alegrava-me o fato dela se dar bem com o homem
que eu amava, e com o qual pretendia me casar um dia.
Passaríamos a nossa lua de mel em Maui, no Hawaii, um lugar
que sempre achei lindo. Quando mencionei isso a Jason, ele
disse que era um dos seus locais favoritos, e gostaria de
conhecê-lo junto comigo, assim que ele se tornasse um lutador
profissional, como era seu sonho.
Já era quase sete da noite, Jason e eu ficamos de nos
encontrar na cabana de que ele tomava conta.
Comemoraríamos o meu aniversário, e também um ano de
namoro.
Uma vez, fui à sua casa, e seu pai me deu medo; estava
bêbedo e xingava o Jason com coisas que o faziam sofrer,
culpando-o por sua mãe ter ido embora. Eu estava prestes a
fazer aquele velho engolir todas suas palavras, mas Jason me
tirou de lá antes disso. Até achei bom, não queria que ele
enfrentasse seu pai por mim; mesmo o cara sendo o crápula
que era, ainda era pai dele. Depois disso, passamos a nos
encontrar em outros lugares, principalmente na cabana, que se
tornou nosso refúgio e ninho de amor
Eu estava na sala dando um abraço na vovó antes de ir
ver Jason. Já havia contado a ela que não era mais virgem, e
vovó foi compreensiva, ciente de que eu e Jason nos
amávamos e que pretendíamos ir para a faculdade juntos, só
não sabíamos onde, ainda. E, depois, nos casaríamos. Eu
contava com isso.
A porta foi escancarada em um rompante, tendo sido
chutada. Gritei com o susto, porque isso nunca aconteceu.
Assaltos eram incomuns nessa região, e nós também não
éramos tão ricos. Vivíamos da aposentadoria do meu avô, que
morreu quando eu era pequena.
Entraram na sala três homens, dois morenos, por volta
de vinte ou trinta anos, mais ou menos, exceto pelo cara do
meio, que devia ter uns quarenta e cinco, a julgar pelos longos
cabelos ligeiramente grisalhos e barba por fazer. Vestia-se de
preto, parecia um gângster, e seus amigos estavam armados.
Vovó ficou na minha frente, como se para me proteger
dos bandidos. Pareceu se esquecer de que empunhavam armas,
e não podíamos com eles.
— O que está fazendo na minha casa, Sebastian Ruiz?
Você não é bem-vindo aqui — rosnou ela com os punhos
cerrados.
— Eu vim ver minha filha — disse com os olhos em
mim.
Fiquei espantada. Então esse homem era o meu pai? O
cara que nunca se importou se eu estava viva ou morta? Como
minha mãe se envolveu com ele, sendo que podia enxergar a
maldade de longe, incrustada em si? Sua expressão era
sombria.
— Você é… — As palavras fugiam devido ao choque.
— Sou seu pai e vim buscá-la….
— Para quê? Para fazê-la se prostituir também, como
fazia com a mãe dela? — vovó rugiu. — Você não passa de
um monstro, seu desgraçado!
Ofeguei de pavor. Ele forçava a minha mãe a vender seu
corpo? Esse homem era um animal desalmado dos piores,
como pôde querer isso para sua esposa e sua filha? Ele devia
tentar me proteger, e não o contrário.
Estava prestes a dizer que não iria a lugar algum na sua
companhia, jamais, porque o único homem que tocaria meu
corpo seria Jason, e mais ninguém, quando ouvi um tiro. Vovó
arquejou com a mão no peito. Virei-me para ela, pronta para
perguntar se estava bem, mas vi sangue, e vovó caindo no
chão.
Parecia que estava em um pesadelo, contudo, continuava
acordava, assistindo à minha avó morrer. Botei-me de joelhos
ao seu lado e gritei para chamarem uma ambulância. Soluçava
e gemia ao mesmo tempo.
A mulher que me criou engasgou com o sangue que saía
de sua boca.
— Oh, Deus, vovó! — Estava desesperada, com medo
de perdê-la. Isso não podia acontecer, ela era tudo na minha
vida.
— Eu mandei você atirar nela? — sibilou Sebastian, o
monstro que tirou a minha avó de mim. Depois ouvi outro
estampido. Pensei que o cara tivesse atirado de novo, agora em
mim, mas o homem que atirou em vovó estava estirado no
chão da sala, morto. Sebastian matou seu próprio capanga? Eu
não liguei, apenas não queria que vovó morresse e me
deixasse. Precisava dela comigo.
— Vá para o quarto branco… Lá tem tudo de que vai
precisar… — sussurrou em seu último suspiro.
Teria de deixar a dor para mais tarde, agora precisava
sair desse lugar, como vovó pediu. O quarto branco a que ela
se referia era um ambiente que preparou, pensando que um dia
necessitaria usá-lo. Não entendi na época, não achei que
correríamos perigos a ponto de carecermos de um quarto para
nossa proteção. Ela sabia que algo ruim aconteceria algum dia,
que o monstro do meu pai viria atrás de mim.
— Tabitta, venha comigo ou eu vou matar todos que
ama. Seus amigos, conhecidos e vizinhos serão mortos se não
me acompanhar. — Ouvi Sebastian em algum lugar ali perto.
Eu me movi no piloto automático, precisava sobreviver
por mim, pela vovó e pelo Jason. Depois prosseguiria com
meu luto. Corri para o quarto que ficava no final do corredor.
— Não a deixe fugir, ou eu mato você também — gritou
o monstro.
Um cara veio atrás de mim. Meu coração gelou assim
que ele tentou pegar meus cabelos. Fui mais rápida e coloquei
a palma da minha mão para abrir a porta. Entrei no quarto e
fechei-a logo a seguir. A porta só abria com as digitais minhas
e de vovó, então eles não conseguiriam entrar.
Era um quarto de três e meio por três e meio, com uma
porta de aço reforçada com concreto e revestida de aço
inoxidável. Quando perguntei se a vovó estava fazendo um
cofre para guardar os bens que não tinha, ela apenas deu uma
risada. Uma risada que nunca mais ouviria…
Tinha celulares descartáveis, e cartões de crédito e
débito em meu nome. Coloquei tudo na bolsa preta para levar
nas costas e peguei uma mala maior com dinheiro dentro, não
sei quanto, e também não me importava agora.
Há um ano, vovó me levou ali e mostrou onde ficava
tudo. Falou que se um dia precisasse sair às pressas, poderia
carregar o essencial, como dinheiro, cartões e passaporte.
Estava com minha bolsa no meu ombro, onde se encontrava
meu celular, que logo peguei e quebrei com o pé. Não sabia
como isso funcionava, talvez ele rastreasse o meu número. Se
esse homem fosse igual os caras dos filmes, faria algo assim.
Saí pelo alçapão no meio do cômodo. Embaixo ficava o
túnel que dava a quatro quadras de casa. Segurei as duas
bolsas, por sorte uma era pequena, e corri pelo túnel usando
uma lanterna para enxergar e não me machucar, pois não teria
como explicar os machucados ao Jason depois.
Sebastian não podia saber do Jason nunca, porque se
isso acontecesse, ele o mataria como fez com vovó… Jason
teria de sair da cidade; se ficasse, seria o seu fim. Sebastian
poderia usá-lo para me levar com ele e fazer o quisesse
comigo, e o pior, não deixaria Jason vivo no processo.
Conhecia só uma pessoa que podia me ajudar a protegê-
lo. Cheguei à casa do Dom, ele estava dando uma festa. Isso
não era novidade, já que o fazia direto. Deixei as mochilas em
seu Cadillac Eldorado 67.
Entrei quase correndo e parei alguns de seus amigos, que
estavam bebendo e se divertindo, ao contrário de mim,
destruída por dentro.
— Vocês viram o Dom? — Ofegava por ter corrido.
Algumas pessoas disseram que não sabiam dele, outros
comentaram que ele estava com alguém no seu quarto. Pensei
nesses adolescentes se divertindo sem saberem que suas vidas
pudessem correr perigo, devido ao monstro que era o meu pai.
Talvez ele os massacrasse só porque alguns estudavam
comigo, ele mesmo disse que mataria todos à minha volta.
— A polícia está vindo, precisam ir embora, a não ser
que queiram ir para a cadeia. — Muitos ali eram menores de
idade. Todos saíram correndo como o diabo fugindo da cruz.
Esqueci sobre eles por enquanto e dirigi-me ao quarto do
Dom, abrindo a porta sem bater. As horas estavam correndo,
não podia enrolar mais e deixar Jason resolver me buscar em
casa, isto seria o fim dele e o meu.
Arregalei os olhos com o que vi. Pamela estava de
joelhos na frente do Dom, com o pau dele em sua boca. Uma
visão que não queria ter nunca. Balancei a cabeça para
expulsar essa cena da minha mente.
— Tabitta, o que foi? — Dom se pôs de pé nu. Eu não
olhei, não querendo essa memória para a posteridade. Pamela
estava nua também e ficou ao lado dele, me encarando com
raiva. Dom não parecia impressionado com a nudez da garota.
— O que você quer? — gritou. — Já não tem o Jason,
agora vai querer o meu Dom também?
Dom estreitou os olhos para ela, pareceu se esquecer de
que os dois estavam pelados.
— Você é só uma foda, um pedaço de carne, nunca se
esqueça disso — desdenhou, sombrio. Eu me encolhi por ela.
— Quer saber? Nem um pau você é boa para chupar, então
pegue suas roupas e vaze da minha frente.
Dom era um cara legal, mas quando essa sombra entrava
em suas feições, era como se ele fosse outra pessoa. A causa?
Eu não fazia ideia. Uma vez, perguntei ao Jason sobre isso,
mas nem ele que era o seu melhor amigo sabia de nada.
Pamela pegou suas roupas no chão e saiu chorando porta
afora.
— O que foi? — perguntou num tom confuso. — Por
que está aqui? Não era para você estar em um encontro com
Jason no chalé?
— Coloque suas roupas, pegue tudo que precisar e bote
na mochila, porque precisamos ir embora.
— O quê? Por quê? — Franziu a testa.
— Porque você está indo embora da cidade agora.
Ele arfou.
— Eu não vou a lugar algum, Taby. O que houve, por
que está agindo assim?
Fui ao seu armário e peguei suas roupas do cabide. Suas
mãos seguraram meu braço e me sacudiram. Percebi que
estava tremendo, mas tentei me controlar, não me permitiria
quebrar.
— Me diga o que há, porque está me deixando doido.
— Precisamos ir logo, eles podem estar a caminho
daqui, atrás de mim e do Jason. — Fitei-o com os olhos
molhados. — Por favor, só quero salvá-lo.
Engoli o choro. Precisava ser forte para o que faria a
seguir, depois eu poderia me desmanchar à vontade, já que
estaria sozinha e com minha alma vazia.
— Quem são essas pessoas que estão atrás de você e
Jason? — Vestiu jeans e camiseta. — Talvez eu possa cuidar
deles…
— Não! — gritei. — Eles parecem ser da máfia ou coisa
assim. Mataram a vovó.
Espantou-se.
— O quê?
— Dom, não podemos ficar conversando, precisamos ir
até a cabana antes que Jason resolva aparecer lá em casa, aí
sim estaremos todos mortos. — Eu me encolhi com essa ideia.
— Pegue o que necessitar, porque vocês não vão voltar mais.
Esse homem deve saber tudo sobre mim e Jason, e pode usá-lo
para chegar até nós.
— E minha mãe? — Botou mais roupas dentro da
mochila.
— Você a busca antes de sair da cidade. Leve-os para
longe de Austin, distante desse homem.
— Quem é esse cara? Qual é o seu nome? — perguntou
assim que entramos em seu carro.
— Meu pai, Sebastian Ruiz.
Pisou no freio devido ao choque.
— Desculpe, você disse “pai” e “Sebastian Ruiz” na
mesma frase? — Seus punhos estavam cerrados no volante
com força.
— Já ouviu falar dele? — Arregalei os olhos.
— Sim, ele é o chefe do maior cartel mexicano, um dos
homens mais poderosos no mundo do tráfico, tanto humano
como de drogas. — Soava amargo. — Soube que tem federais
atrás dele, mas nunca conseguiram provas o suficiente para
derrubá-lo.
— Esse desgraçado usava minha mãe para se prostituir,
e ia me levar com ele…
— Faria o mesmo com você? — rosnou.
— É o que parece. Caras como ele não têm amor
paternal, aliás, acho que nem sabe o que é isso. — Limpei as
lágrimas do meu rosto. — Tenho medo de que ele vá atrás de
Jason, então é melhor para todos… eu ir embora… — Precisei
respirar, porque depois disso estaria apenas vegetando na
Terra. — Ele disse que se eu não fosse, mataria todos meus
amigos e vizinhos.
— O que pensa em fazer, Taby? — inquiriu, me
avaliando.
— Você vai levá-lo junto com sua mãe para longe daqui.
Para alguma cidade fora do Texas — murmurei.
Ele me olhou de lado.
— E você?
— Eu vou embora também, mas não com vocês, não vou
correr o risco deles me acharem e matarem Jason… — Minha
voz falhou.
— Tabitta…
— Eu o amo como nunca amei ninguém nessa vida, por
sua segurança sou capaz de tudo, até de viver na solidão para
ele ficar seguro e feliz, mesmo que seja longe de mim. Jamais
colocaria Jason em risco. — Peguei sua mão, a que não estava
no volante. — Por favor, fique do meu lado.
Ele respirou fundo.
— Você sabe o que está me pedindo? — Sua voz estava
quebradiça como vidro.
— Sei que será difícil, já que ele é o seu melhor amigo,
mas é a sua própria segurança que está em jogo. — Expirei;
meus pulmões doeram.
Suspirou.
— Ele vai sofrer, Taby. Aquele cara morreria por você
— sussurrou, entristecido.
— O importante é ele continuar seguro e vivo… — Meu
peito pesava com o que aconteceria comigo e com ele dali para
frente.
Assim que chegamos, Dom desligou o carro. Por sorte,
era noite. Jason não veria o Dom, mas saberia que era ele no
carro.
— Vá buscar sua mãe, passe longe da rua de casa.
Depois, venha pegar o Jason. Ele estará inconsciente, então
cuide dele, ok? Enquanto isso, vou me despedir.
— Dirá que vai embora?
— Não, não posso dizer adeus, não conseguirei partir
assim… E também ele jamais permitiria.
— Aonde você vai depois daqui?
— Não sei ainda. — Toquei a mochila preta e grande no
banco de trás. — Isso é para vocês viverem por enquanto. Não
diga que eu dei, invente alguma coisa. O que está aqui bastará
para vocês dois irem à faculdade e se formarem. Têm notas
boas, poderão entrar em qualquer uma.
Abriu a bolsa e assoviou. Eu não sabia quanto tinha, mas
era mais de quinhentos mil, acho que por isso meu ombro
ficou doendo por carregá-la no túnel escuro.
— Menina, de onde esse dinheiro saiu?
— Minha avó sabia que logo esse homem chegaria para
nos procurar, por isso arrumou tudo, o quarto com porta de aço
e leitor de digitais, e o túnel por debaixo da casa, foi assim que
fugi. — Peguei a mochila menor e coloquei no ombro.
— Daqui a meia hora, eu volto. — Parecia estupefato
com o que eu disse e tinha o semblante triste pelo que teríamos
de fazer.
Fui para a cabana, nosso ninho de amor, onde era para
comemorarmos o dia mais importante da minha vida, nosso
primeiro ano de namoro. Tudo que é bom dura pouco, não?
Antes que eu batesse, ele abriu a porta e olhou o carro
do Dom indo embora.
— Aquele é o Dom?
Segurei tudo para não chorar ao ter de deixá-lo.
— Ele me deu uma carona, disse que não queria que eu
perdesse nossa comemoração.
— Por que não veio no carro da sua avó? — questionou,
confuso.
Controlei a dor por perder vovó. Nem um enterro eu
poderia dar a ela, tudo por culpa daquele maldito monstro
desalmado.
— Ela o usaria hoje — menti. Jason sempre foi bom em
me ler, logo, puxei uma máscara de tranquilidade e sorri,
trancafiando minha dor.
— Então vamos aproveitar! Um ano de namoro; com
certeza, haverá muito mais. — Sorriu com tanto amor que me
encolhi, porque amanhã esse sorriso lindo não estaria mais
estampado em seu rosto.
Beijei-o para mostrar o quanto eu o amava com cada
fibra do meu ser. Logo ele me odiaria e tentaria me esquecer
nos braços de outra mulher.
Jason tirou minhas roupas e colocou-se dentro de mim.
— Promete que nunca ninguém tocará esse seu corpo,
Taby, só eu? — Sempre perguntava isso, era como se tivesse
medo que o sonho lindo que estávamos vivendo acabasse. Ele
nem imaginava que esse sonho terminaria antes mesmo de
começarmos nossa vida juntos.
Gritei em cada estocada dada, até que gozamos em
sincronia. Fitei seus olhos lindos e brilhantes.
— Prometo ser sempre sua, e de mais ninguém — jurei
com tudo da minha alma, que urrava de dor. Eu sabia que ele
não cumpriria sua promessa de só pertencer a mim, não depois
de pensar que o abandonei.
— Eu a amo, para sempre.
Beijei a borboleta que tatuou no peito, simbolizando
nosso amor.
— Eu também te amo mais que a vida. — Isso era
verdade. Decidi me submeter a uma existência de solidão e
tormento apenas para ele ficar seguro.
— Taby, me dê sua mão — pediu, ao que obedeci. Não
sabia o que ele faria, mas jamais hesitaria diante de um pedido
desse homem. Fiquei surpresa assim que vi um anel de ouro
com uma pedra azul no meu dedo. — Eu te amo mais que o
sol e as estrelas. Por você, eu daria minha vida, minha alma e
tudo que há em mim. Tabitta Rodrigues, aceita ser minha
esposa? Prometo amá-la para sempre.
— Sim, mil vezes sim — respondi, beijando-o de novo e
entregando meu amor e corpo a ele. No dia seguinte já não
poderia fazer isso… Queria chorar com a dor no meu peito,
contar tudo, mas não podia. Apenas me desfrutei dele e de
todo seu amor por mim.
Levantei-me depois da segunda vez que ficamos juntos.
Chegou a hora de comer o bolo que ele fez para mim.
Comemoramos meu aniversário, enquanto ele cantava
parabéns. Era um momento que queria registrar para sempre,
uma lembrança que não esqueceria jamais.
Coloquei um sonífero em sua bebida. Minha alma
cortava por fazer isso com ele, contudo, não havia alternativa.
— Beba um pouco. — Entreguei o suco; logo ele
apagaria.
Podia deixá-lo acordado e simplesmente ir embora, mas
sabia que ele partiria atrás de mim e reviraria cada canto da
cidade. Isso não podia acontecer, não com Sebastian à solta.
Depois que Dom os levasse para longe, seguiria na direção
contrária. Faria com que Sebastian me localizasse, talvez em
Londres ou na China, assim tiraria o foco dos meus amigos e
do garoto que amava. Um purgatório, era isso que minha vida
se tornaria dali em diante sem Jason, o único homem que eu
amei e amaria para sempre.
CAPÍTULO 11

Luta
TABITTA

Presente
Cheguei ao clube onde seria realizada a luta de Jason
contra um campeão de peso-pesado, Dilano Alfred, mais
conhecido como Escorpião, por ter o artrópode desenhado no
peito. Jason era apelidado de Bala. Sempre que ele entrava no
ringue, meu coração tremia com medo de se machucar. Graças
a Deus, ele nunca se feriu gravemente em suas lutas.
Antes de eu ir para lá, o Bryan me procurou e disse que
Dennis e Thomas já tinham formado um plano para tirar o
Sebastian da toca onde estava escondido. Franklin não aceitou
o acordo, temendo por sua vida. Eu achei bom, porque caras
como ele mereciam perpétua e pena de morte, e não um
combinado que facilitaria sua vida, sendo que ele não facilitou
em nada para todas as meninas que sequestrou e estuprou.
Não gostei do que Dennis propôs, ele queria me usar
como isca para atrair Sebastian. Até aí já tinha concordado
antes, o que não me deixou feliz era que ele sugeriu usar o
meu relacionamento com Jason para sair na TV e nos jornais,
assim o crápula do Sebastian iria atrás de mim e tentaria fazer
alguma coisa comigo e com Jason, tal qual fez no passado,
com a minha avó. Mas agora eles o impediriam. Isso me
pareceu frio da parte dele; Papy não concordou, claro.
— Não arriscaria nenhum dos meus agentes, muito
menos a vida de um civil — rosnou Papy quando Dennis me
chamou para dizer o plano, já que eu tinha recusado quando
Bryan me contou.
— Jura? Não é porque ela é sua filha amada? Eu
arrisquei os homens que mandei para se infiltrarem no cartel
do Ruiz, e você não quer arriscar uma sua? — sibilou Dennis.
Antes que virasse uma discussão entre os dois, pois o
clima lá ficou bem tenso, expliquei a minha ideia:
— Que tal eu sozinha fazer a missão? Tiramos Jason
disso, porque não vou envolvê-lo, colocando em perigo a sua
vida. — Olhei feio para o Dennis. — Vocês escolhem. Ou
infiltramos mais pessoas no cartel de Sebastian, mas isso
levaria tempo e mais mortes indesejadas. Também podemos
continuar desmanchando os pontos de prostituições e drogas, e
tudo que pertencer a Sebastian, e a cada ação dar uma
entrevista e o acusar de ser o mandante. Não acredito que ele
vá nos processar por falta de provas, seria muita cara de pau.
Dennis sorriu. O bastardo ficou satisfeito. Deu-me
vontade de arrancar o sorriso fodido do seu rosto com meu
punho na sua cara.
— Isso pode acontecer, agora que saiu em uma revista
mexicana que Sebastian Ruiz não é chefe de cartel coisa
nenhuma. Garanto que ele ameaçou o dono da publicação ou a
empresa foi comprada. Com essas acusações, ele ficaria
furioso porque sua filha está desmanchando seus negócios
lucrativos e jogando seu nome na imprensa. — Assentiu,
animado.
— Mas vai arriscar sua vida — disse Papy, não gostando
da ideia.
— Não me importo, contanto que ele perca tudo, seu
reinado, seu império no crime. Vou ficar bem, Thomas —
falei, vendo a preocupação em seu rosto. — Mesmo afastada
do caso, ajudarei vocês a prender Sebastian e todo seu séquito
de bandidos.
Estava afastada do FBI por enquanto, devido ao tiro que
levei em Chicago. Já não doía mais, mas Papy não me deixou
voltar, porque os pontos seriam abertos.
Os pesadelos ainda me assombravam tanto que acordava
à noite gritando. Eles só não apareciam quando dormia com
Jason ou Emily, minhas duas razões de viver. Jason me
obrigou a frequentar a psicóloga que Papy arrumou para eu ir.
Estava indo nela uma vez por semana.
Entrei no clube lotado de mulheres gritando “Bala”, e
algumas “Escorpião”. Dei meu nome ao segurança, que já
sabia que eu viria; Jason deixou-o na lista de acesso ao local
onde os lutadores ficavam.
Avistei Chris e Landon, os guarda-costas de Jason que
Bryan conseguiu. Eu os conhecia: afastaram-se do FBI e se
tornaram seguranças renomados.
Landon era um cara louro com cabelos curtos e olhos
negros, e Chris, moreno, forte e mais sério. Landon sorriu para
mim assim que cheguei perto deles.
— Oi, Landon, como está nosso homem? — perguntei
ao me aproximar.
Sacudiu a cabeça, fazendo uma careta. Ele era lindo,
mas ouvi dizer que não ficava a sério com ninguém. Coitadas
das mulheres com quem se envolvia.
— Vamos tirar a parte do “nosso homem” da equação, aí
sim eu respondo que está tudo bem por aqui. — Piscou. Logo
que nos conhecemos, ele deu em cima de mim, mas eu não
quis, então nos mantivemos apenas colegas de trabalho. — Se
você quiser trocar por uma mulher, estou dentro. A não ser que
tenha mudado de ideia e queira sair comigo.
Chris riu.
— Cara, você não valoriza sua vida? Jason está a
caminho, e pela sua cara, ele vai treinar com você antes da
luta.
Landon seguiu o olhar do Chris e eu também. Vi Jason
vindo com seus olhos lindos, mas mortais, direcionados ao
Landon.
— Está saindo com ele? — inquiriu, incrédulo. — Achei
que gostasse de mulher.
Eu ri.
— Não é porque não vou para cama com todos que dão
em cima de mim, que quer dizer que sou lésbica — retruquei e
dei um passo, ficando de frente para o Jason.
Ter esse homem diante de mim fazia parecer que estava
vivendo um sonho lindo, do qual não queria acordar nunca.
Antes que eu dissesse alguma coisa, ele me puxou para seus
braços e devorou a minha boca. Eu sabia o que estava fazendo:
dando um recado a todos os homens do lugar, deixando claro
que eu tinha dono. Eu que não ia reclamar de jeito nenhum.
Retribuiria à altura. Fomos interrompidos com o grito de seu
treinador.
— Jason, você tem que aquecer.
Tentei me afastar, mas seus braços não deixaram. Ele me
consumiu mais, tanto que meus lábios estavam duros pela
força do beijo. Depois, distanciou-se com um sorriso.
— Já estou aquecendo — respondeu ao seu treinador.
Dirigindo-se a mim, acrescentou: — Seja bem-vinda.
Pela primeira vez em muitos anos, minhas pernas
ficaram bambas devido aos seus beijos e amassos. Sempre
adorava isso, amava como meu corpo reagia a ele.
— E que boas-vindas, não é? — Sorri e me afastei, mas
segurei sua mão direita, que estava com umas ataduras
brancas. Olhei sobre seus ombros e vi um homem moreno nos
encarando surpreso, talvez por Jason estar com alguém. — Seu
treinador está esperando você.
Ele estreitou os olhos por um segundo e encarou Landon
atrás de mim, mortal.
— Você está aqui para trabalhar ou dar em cima da
minha mulher? — rosnou.
— Jason, somos colegas, então relaxe, ok? Concentre-se
na sua luta e nada mais — eu disse.
— Sossegue, cara, desde que conheço Tabitta, ela não
ficou com nenhum homem, não que eu saiba. Até achei que
fosse lésbica.
Eu revirei os olhos.
— Jason — chamou Silas, seu treinador. — Deixe para
namorar depois da luta.
Ri e beijei seu rosto.
— Vá, ficarei bem aqui até a hora em que for lutar.
Depois, precisamos conversar, tudo bem? — Hoje teríamos a
nossa conversa difícil.
Ele me avaliou, espantado.
— Você não… — Sua voz estava tomada de dor.
Logo entendi o seu medo: ele estava achando que eu o
deixaria de novo. Isso não aconteceria nunca. Estando perto
dele, sabia que jamais teria forças para abandoná-lo mais uma
vez. Eu devia ter ficado calada.
— Jason, não é nada disso. — Aproximei-me e sussurrei
em seu ouvido: — Eu juro.
— Então é sobre o quê? — sondou, afastando o rosto
dele para ver o meu. — É sobre o que disse antes, sobre
revelar tudo?
Antes que eu respondesse, o locutor anunciou:
— Agora, com vocês, o letal, mortal e destruidor…
Balaaaaaaa, a fera dos ringues. Vocês o querem?
Várias pessoas gritavam seu nome, e mulheres soltavam
“gostoso” e outros elogios — todos verdadeiros, devo dizer.
— Chegou a hora de ir lutar, vá — pedi com a voz
tranquila. — Eu não vou a lugar algum.
— Na hora da luta, fique perto do Silas, tudo bem? —
Eu estava prestes a discordar, quando ele acrescentou: — Por
favor, se eu não ver você, vou ficar louco.
Suspirei e dei um selinho nele.
— Eu prometo, agora vá. — Eu o empurrei na direção
do seu treinador. Jason vestia um calção preto e estava sem
camisa. Cobriu seus ombros largos com um roupão escuro.
Ele assentiu e se foi, sem nunca tirar os olhos de mim,
até que saiu porta afora. Meu coração doeu, porque fui eu
quem deixou esse medo nele. Se eu não tivesse aberto minha
boca, ele não estaria temeroso. Esperava que isso não
atrapalhasse sua luta.
— Tabitta, o que fez a esse homem? Ele parecia
assustado com a ideia de você partir — observou Landon.
— Vamos deixar isso de lado e tratar de sua segurança
— me esquivei.
Fui para perto de seu treinador e sentei em um banco de
madeira. Olhei para o Jason, no ringue junto com o Escorpião.
Todavia, seus olhos vinham a cada segundo em mim, como se
para ter certeza de que eu não fugira. Sorri para tranquilizá-lo.
— Desde quando conhece Jason? — perguntei a Silas,
enquanto a luta não começava. Os dois lutadores estavam de
frente um para o outro, com um juiz perto.
— Há quase quatro anos eu o encontrei brigando nas
ruas de Cambridge, Massachusetts. Nele eu vi um garoto com
potencial, mas que carregava uma dor profunda e muita raiva.
Então disse para usar essa raiva nos ringues, e foi o que ele
fez. Deu certo, mas ele nunca me disse o porquê da raiva e da
dor que eu via em sua expressão, até aquele dia na casa dele,
em que vocês foram atacados.
— Segunda? — Foi quando dormi em sua casa e
voltamos a namorar.
— Sim, ali eu descobri que você sempre foi a causadora
da angústia que o consumia. — Olhou-me de lado, depois para
o ringue — Veja sua expressão, está a cada segundo com medo
de você desaparecer daqui. Não foi preciso contar sobre vocês
dois, enxerguei o amor e a preocupação nos olhos de Jason
aquele dia.
Eu encolhi os ombros.
— Acho que falei demais antes dele subir no ringue…
— O que disse a ele? Num momento estava feliz por vê-
la, e no outro estava com medo de perder algo, ou melhor,
você.
Eu suspirei.
— Apenas disse que tínhamos de conversar, mas ele
levou como se eu já fosse contar que ia embora e o deixar. E
não é isso que vai acontecer, entende? — Jason se esquivou de
um gancho de direita. — Eu não posso mais viver longe dele,
já fiz isso por anos, e foram somente trevas em minha vida. —
Tirando minha filha e meus amigos.
— Não acha que foi uma hora inapropriada para dizer
isso? — censurou.
— Eu sei, expliquei que não era nada, que não iria a
lugar algum, mas…
— Mas ele não pareceu acreditar.
Estava prestes a comentar que isso não fazia sentido
quando meu telefone tocou.
— Preciso atender. — Ele assentiu e foi para perto do
ringue, onde Jason deu um soco em Escorpião, que cambaleou
para trás. Fiquei feliz por ele estar vencendo a luta. Seus fãs
iam à loucura com cada golpe dado no seu adversário,
principalmente as mulheres. Algumas até gritavam para ele se
casar com elas ou levá-las para sua casa. Tentei não pensar em
Jason com essas garotas, e nas que teve antes de eu retornar.
Precisava saber que tipo de problema Landon
mencionou. Ele mandou uma mensagem dizendo para
encontrá-lo no banheiro dos lutadores, porque tinha um pepino
lá para resolvermos.
— Preciso ir ao banheiro e já volto — falei ao treinador
de Jason.
— Droga, mulher, se você sair agora ele não vai lutar
mais. Já está mal, não parece estar se concentrando — criticou.
— Ele está lutando bem, não vê? Está ganhando…
Ele me cortou.
— Ganhando? Já era para ele ter nocauteado o cara faz
minutos — reclamou. — Agora quer sair?
— Eu não quero sair, mas tenho um problema para
resolver que envolve a segurança de Jason. E seu bem-estar é
mais importante do que tudo. — Parti antes que ele falasse
algo e corri para o banheiro, onde encontrei Chris e Landon
apontando a arma para um cara vestido de preto, escorado na
parede do canto. Parecia que os dois cuidaram dele muito bem,
porque havia machucados em toda a parte.
— O que está acontecendo, por que esse homem está
ferido? — perguntei.
Landon sorriu.
— O nosso cara aqui estava armado e veio com a
intenção de atirar em Jason, não é? — Landon chutou o
homem no chão.
O bandido, forte e moreno, gemeu com a pancada das
botas de Landon e olhou para mim. Sorrindo, pareceu esquecer
as dores que devia estar sentindo com todos esses ferimentos.
— Eu vim para acabar com você, não com Jason, sua
puta desgraçada, e vou matá-la. — Levantou-se e veio em
minha direção, querendo me atacar. Não deu tempo de eu me
defender, ou de os seguranças interferirem: um punho acertou
o cara, que caiu desmaiado no chão. Era o Jason. Arfei,
mirando seus olhos que estavam em mim, arregalados do que
podia jurar ser medo.
— Droga, Jason, você sempre dá socos assim nas
pessoas? E por que não está no ringue?
— Eu ganhei a luta — respondeu. — Que droga está
acontecendo aqui?
Espantei-me.
— Você ganhou a luta?
— Por que parece incrédula? — Landon ergueu as
sobrancelhas inquisitivas para mim. — Ele é Jason Falcon, a
fera dos ringues, não fica mais de dez minutos em um.
— Diria que estou impressionada. — Cheguei até Jason
e peguei sua mão direita. — Não tinha que estar no palco
recebendo seu prêmio?
Ele respirou fundo.
— Sim, mas eu não a vi, então encerrei a luta e fui te
procurar… Pensei que… — Estremeceu. Eu sabia o que ele
pensou, que eu havia ido embora.
— Ei, estou aqui — sussurrei, depois virei para o cara
inconsciente. — Com ele apagado, não vamos saber seu
motivo para querer me matar.
— Desculpe por isso, mas quando ele te chamou daquele
nome, não pude me controlar. — Jason apertou minha mão.
Olhei para o Chris.
— Leve-o para a polícia e fale para eles o interrogarem.
Precisam descobrir o porquê dele me odiar a ponto de vir
armado em um clube cheio de pessoas inocentes.
— Tudo bem — disse e saiu, levando o cara
desacordado com a ajuda de Landon.
Jason me beijou e me levantou do chão, me imprensando
na parede. Coloquei minhas pernas à sua volta. Meu braço não
doía mais, então podíamos aproveitar, mas não era o momento.
— Jason, não tem que estar lá fora? — ofegava nos seus
lábios.
— Agora eu só preciso estar dentro de você —
respondeu, baixando a alça da minha blusa enquanto consumia
a minha boca. Eu não usava mais a faixa, já que meu
machucado parecia seco, só uma gaze por cima.
Sabia o que ele estava fazendo ou tentando fazer: era
como se estivesse querendo deixar claro que era bom o
suficiente para eu não deixá-lo.
Meu corpo inteiro ardia pelo fogo causado por seu
toque, suas carícias e seus beijos, que me levavam ao céu. Não
queria interromper nosso momento, desejava matar essa
ardência dentro de mim.
— Jason, eu não posso… — sussurrei, desprendendo
minhas pernas de sua cintura e colocando meus pés no chão.
Afastou-se rápido, como se eu fosse uma cobra. O
tormento era visível nele.
— Não, você não pode… — Sua voz falhou, tomada de
dor. Pôs as mãos nos cabelos, parecendo querer arrancá-los.
— Jason…
— Você não pode me deixar de novo, não pode. — Seu
desespero machucava a minha alma. Estava a ponto de dizer
que não ia fazer isso quando ele caiu de joelhos na minha
frente, abraçando minha cintura para me manter ali para
sempre. — Não posso viver sem você… Não posso. Fiquei
louco desde o dia que disse que ia me revelar tudo, mas logo
vieram os pesadelos, onde você me deixa sozinho de novo…
A agonia é demais, eu não…
Minha garganta se fechou. Ali estava alguém que eu
quebrei há anos, que se tornou a casca de um homem que um
dia foi. Precisava deixar claro que nunca o abandonaria.
Toquei seus braços e o puxei para cima.
— Levante-se, Jason — pedi. Ele ergueu a cabeça e
olhou para mim com suas íris lindas e marejadas. — Não vou
deixar o único homem por quem eu andaria em brasas,
enfrentaria tudo como enfrentei nesses anos, vivendo na
solidão para mantê-lo a salvo. Não vou embora, não vou
abandoná-lo, Jason. Eu o amo com cada fibra do meu ser, da
minha alma. Não quero que tenha medo ou desconfie de mim
sempre.
Ele se levantou sem piscar e tirar os olhos de mim, com
medo de eu desaparecer em uma nuvem de fumaça.
— Pensei que estava prestes a dizer que tudo tinha
acabado mesmo antes de começar, igual acontecia nos meus
pesadelos. — Chegou perto e tocou meu rosto. Eu não sabia
que ele estava tendo pesadelos também. — Se não é isso, por
que me pediu para parar?
— Você parecia estar querendo provar alguma coisa
transando comigo. Nem sempre sexo é a chave de tudo —
sussurrei.
— Não é só para provar que sou homem o bastante, era
porque eu queria você, Taby, tanto que não sei o que fazer para
controlar o medo de perdê-la de novo.
— Você é mais do que homem para mim, não precisa
provar nada em relação a isso, ok? — Beijei seu peito nu. Sob
essa tatuagem de águia era onde estava a nossa borboleta;
mesmo ela tendo sido apagada, beijei o pássaro, porque ele
amava essa ave, e tudo que Jason amava, eu também adorava.
Minhas mãos foram para sua bermuda e a abaixei junto
com a cueca. Peguei seu pênis, que ficou duro com meu toque.
Caí de joelhos na sua frente com seu membro na minha cara e
olhei para ele.
— Taby, você não é mulher para ficar de joelhos na
frente de um homem, ainda mais dentro do banheiro de um
clube, você merece muito mais — disse, segurando meus
ombros na intenção de me levantar. Balancei a cabeça,
puxando seus shorts até seus joelhos. Usava mais a mão boa,
não forçando o meu ombro machucado.
— Quero isso com você, agora. — Peguei seu pau e
coloquei na minha boca, sem tirar os olhos dos dele.
Ele alisava meu rosto enquanto eu chupava e lambia
forte, fazendo com que fechasse os olhos.
— Oh, porra! Isso é bom — rosnou, rouco com desejo.
Ele se escorou na parede e suas mãos foram para a minha
cabeça, alisando meus cabelos.
Estava sem prática nessa área, afinal, foram anos sem
fazer um boquete nele, e estava mais grosso agora do que aos
seus dezoito anos, embora ainda saboroso como antes.
Lembrava-me da primeira vez que fiz um boquete nele, foi
quando tatuamos as nossas borboletas. Naquele dia, fomos
comemorar na cabana, então ele me ensinou a chupar seu pau,
o que adorei. Depois disso, fazíamos quase todas as noites.
Amava sentir seu gosto meio salgado de pré-sêmen,
adorava mais ouvir seus gemidos e gracejos. Aposto que ele
não estava falando com medo de alguém ouvir, porque
estávamos no vestiário do clube.
— Maravilhoso como eu me lembrava — rosnou sem
fôlego. — Estou perto, tão perto…
Acelerei meus movimentos e apertei suas bolas,
deixando-o mais alucinado. Com um ruído do fundo da
garganta, ele gozou na minha boca.
Eu estava com um baita tesão também, mas agora era
para ele, não eu. Precisava mostrar que estaria ali quando ele
precisasse de mim.
A nossa conversa seria bem complicada. Não sabia se
ele me perdoaria por ter feito tudo que fiz para protegê-lo, e
também por esconder nossa filha. Esperava que sim.
CAPÍTULO 12

Cativeiro
TABITTA

— O que foi? Está silenciosa — sondou Jason, enquanto


me abraçava de lado e beijava meus cabelos. Nós dois
estávamos indo para o hotel onde ficaria hospedado junto com
as pessoas que trabalhavam para ele.
— Estou bem — menti.
— Não faça isso.
— O quê?
— Não minta para mim — pediu. — Sempre que o faz,
meu coração gela, pensando no pior. Antes era fácil ler você,
agora não é tanto, isso me deixa doido.
Eu me encolhi.
— Talvez isso aconteça…
— Tabitta, pelo amor de Deus! — Alterou-se dentro do
carro. Foi tão alto que o motorista dele olhou para nós no
banco traseiro. — Você vai me deixar maluco aqui.
— Não estou falando que eu vou deixá-lo, mas o que
direi a você hoje pode mudar sua opinião quanto a querer ficar
comigo. Talvez não me queira mais. — Minha voz falhou.
— Nada vai mudar, Taby. Eu a amo a ponto de não
conseguir respirar sem você. — Beijou meus lábios.
Eu assenti, mas não respondi; talvez não fosse verdade.
A cada segundo que nos aproximávamos do Hotel Calion, meu
coração gelava e minhas mãos suavam. Nunca me senti assim,
nem mesmo quando apontavam uma arma para mim. Expulsei
esse pensamento, ficaria pior se me lembrasse do que houve
em Chicago.
Na suíte do hotel, havia algumas meninas dançando com
poucas roupas. O pessoal que trabalhava para ele estava ali,
como o agente Luís, o treinador Silas, e também alguns
colegas de Jason.
Tinha um homem louro com cabelos compridos abaixo
dos ombros. Lembrava-me dele do hospital, quando fui visitar
Angelina e Shane. E outro com cabelos negros e curtos, com
roupa social em vez de jeans e jaqueta, como o cara louro.
Também me recordava dele do hospital.
— Ora, ora, quem é essa…
Jason cortou-o com os punhos cerrados.
— É melhor vigiar o que fala, se não quiser precisar de
um médico, Jordan. — Jason me abraçou forte de lado e olhou
para os caras. — Esses são meus amigos, Daniel — gesticulou
para o moreno de cabelos negros, depois apontou para o outro
— e Jordan, que vai levar um soco se não parar de encarar
você.
Jordan sorriu, inabalado.
— Estou te olhando não por ser linda, sabemos que isso
você é. Apenas fiquei impressionado por conhecer
pessoalmente a mulher que fez Jason se apaixonar por ela há
quase dez anos, e mantê-lo fissurado até hoje — disse,
chocado que alguém amasse uma pessoa por tanto tempo.
Decerto nunca se apaixonou. Adoraria ver isso acontecendo
com ele. — Angelina vai amar saber disso.
Levantei as sobrancelhas.
— Angelina? Por que ela amaria Jason estar com
alguém?
— Quer calar a boca, Jordan? Ou eu vou ter que fazer
isso? — sibilou Jason, fuzilando o amigo.
— Deixe-o contar, estou louca para saber o que
Angelina tem a ver com a história — pedi.
— Fizemos uma aposta alguns meses atrás com
Angelina… Daniel — apontou para o seu amigo —, Bryan,
Jason e eu.
— Que tipo de aposta? — Angelina participando de uma
aposta? Isso era novo. Desde que a conheci, a menina nunca se
arrumava ou saía para se divertir, o que era um erro, já que a
garota era linda.
— Jordan — avisou Jason.
— Não seja estraga-prazeres. — Sorri. — Eu quero
saber.
— Nós quatro temos que namorar uma menina durante
dois meses. — Revirou os olhos. — Sem as trairmos, e
também levando-as a piquenique e parques. Um carma, não
acha?
Joguei a cabeça para trás e gargalhei por alguns
segundos.
— Sério? Oh, vou adorar presenciar isso — disse, entre
risadas. — Não sabia que Angelina era tão espirituosa em
propor isso a um bando de bad boys mulherengos como vocês.
— Ela disse que ia começar por Jason — contou Jordan.
— Até desconfiamos que você fosse a amiga policial
que ela mencionou. Dá para acreditar na coincidência? —
Daniel sorriu para mim e Jason.
— Quanta gentileza dela me arrastar a essa aposta, não
é? — Sacudi a cabeça, ainda sorrindo. Jason me avaliava. —
Embora eu fosse adorar os passeios no parque e piqueniques
com você.
Ele sorriu para mim e beijou meus cabelos.
— Eu também adoraria, querida — declarou.
— Devo mencionar que você é mais linda do que ela
disse? — falou Jordan, depois se apressou em explicar após o
rosnado de Jason: — Com todo o respeito, claro.
Revirei os olhos.
— Obrigada, Jordan.
Jason fechou a cara.
— Quero que leve essa festa para outro lugar —
ordenou, dirigindo-se a Silas e seus amigos.
— Não precisa mandá-los embora, apenas vamos para o
quarto. — Peguei sua mão. — Deixe-os fazerem sua festa
enquanto fazemos a nossa.
— Já gosto dela — Jordan sorriu, piscando para mim.
Jason me puxou para um quarto, aliás, uma suíte máster,
com cama California king com lençóis brancos, alguns outros
móveis, como sofá e mesas, e uma vista para a cidade.
— Então Angelina fez uma aposta com vocês, hein? —
inquiri, querendo saber o que ele pensava sobre isso.
Ele me puxou e me abraçou forte.
— Sim, mas não estou com você por uma aposta. Sabe
disso, não é? — Beijou-me por um momento.
— Eu sei. Jason, nós precisamos ter a conversa agora.
— Estou tremendo aqui, nunca reagi assim, nem quando
vou lutar.
— Desculpe, preciso revelar a verdade, o que houve
aquela noite, o porquê de o deixar, e também outra coisa. Não
sei se vai me perdoar. Espero que sim, porque o amo. —
Fomos interrompidos por um grito de criança, o que fez meu
corpo tremer e gelar, pois reconheci a voz.
— Não pode ser! — sussurrei, correndo atrás de Jason,
que já estava indo para a sala.
— Que droga está acontecendo aqui? — rosnou Jason.
Assim que cheguei à sala, me deparei com alguém que
não deveria estar ali. Seus olhos foram do Jason para mim,
arregalados.
— Mamãe?
Todos da sala me encaravam, menos Jason, concentrado
em Emily. Não liguei a princípio por ele descobrir sobre ela
desse jeito. O pior era que havia um homem desmaiado e
ensanguentado no chão, e, perto da minha filha, um garoto
louro, acho que de uns onze anos, mais ou menos. Emily
segurava um taser que dei a ela.
— O que está fazendo aqui? E quem é esse homem
caído no chão? E esse menino? Por que saiu de casa? Cadê a
Samira? — Emendei uma pergunta atrás da outra. —
Responda, Emily.
Ela deu o taser ao menino.
— Descobri que Jason é o meu pai, mamãe. Por que
nunca me disse a verdade? Foi porque ele a abandonou e não
queria ficar conosco? — A dor era evidente na sua voz.
Um ruído sofrido saiu da garganta do Jason. O restante
das pessoas estava em silêncio, em choque ao descobrir tudo.
— Nós vamos conversar sobre isso, mocinha, assim que
eu souber quem é esse homem e por que usou um taser nele.
E, ao que parece, seu amiguinho aqui furou sua mão, porque
ainda segura a arma do crime. — O garoto carregava um
estilete. — Quem começa?
— Esse desgraçado raptou minha irmã — disse o
menino, pegando uma foto do bolso e me mostrando. Ela era
loura, acho que tinha uns quinze anos. — Eu estava chegando
em casa quando eu vi esse cara a colocando em seu carro hoje
cedo.
— Como veio parar com ele? — sondei, já querendo
matar esse filho da puta por raptar uma garota.
— Fui à polícia, mas eles não ligaram para mim, por ser
uma criança. Então andei pelos bairros caros daqui, já que seu
carro era um Maserati. Foi quando eu o vi e o enfrentei,
dizendo que queria minha irmã de volta. O homem falou que
se eu quisesse ver minha irmã, deveria ir com ele. Não
acreditei nele nem um pouco. — Gesticulou a cabeça na
direção da Emily. — Sabia que era malvado. Quando ele viu
sua filha, o seu olhar era daqueles pedófilos, nos ensinaram
sobre isso na escola. Não gostei do jeito com que olhou para
ela.
— Eu sei me defender — replicou minha garota.
Fechei a cara para ela, com o meu coração gelado devido
ao perigo que passou e o que poderia ter acontecido.
— As coisas não estão bonitas para você, mocinha. Se
for para fazer gracinha, é melhor ficar calada. Agora eu quero
que vocês dois vão para aquele quarto e fiquem lá até eu
chamar. — Apontei para o quarto onde eu estive com Jason há
pouco. — Sem reclamações.
— Mas mamãe… eu queria… — Ela olhava para o
Jason, que parecia uma estátua ali de pé. Emy queria a
verdade, mas teria de esperar.
— Agora, Emily! — ordenei. Só usava esse tom quando
precisava. — Depois conversaremos.
Assim que os dois foram para o quarto, virei para o
Jason, que me fitava em transe.
— Entendo que tenha muitas perguntas, e vou responder
a todas elas, mas preciso me livrar desse lixo. — Abaixei-me
diante do homem e mexi em seus bolsos.
— O que está fazendo? — questionou Jordan.
— Preciso achar algo… ah, aqui. — Peguei o celular, a
sua carteira e a chave do quarto dele. Procurei o meu telefone.
— Para quem vai ligar? — indagou o agente do Jason.
— Não pode chamar a polícia daqui do quarto do Jason, se a
imprensa souber, será um desastre. Agora que acalmou sobre o
ataque na casa dele, não podemos encarar mais escândalo.
— Por isso vamos levá-lo para o seu quarto, cuja chave
eu tenho. — Sacudi-a a eles.
— Sua filha é bem valente, não é? — Jordan piscou para
mim e Jason, um tanto chocado. — Acho que puxou a vocês
dois. Eu nem acredito que tem uma filha! Você sabia sobre ela
e não nos disse, Jason?
Deixei-o murmurando com Daniel e Jason, e fui virar o
rosto do cara no chão. Olhando para ele, fiquei com mais raiva
do que esse maldito queria fazer com minha filha.
— Algum de vocês pode trazer minhas algemas e minha
arma? Estão na minha bolsa no quarto — pedi, checando sua
identidade. — Ora, ora, se não é Júlio Weston.
— Conhece esse cara? — perguntou Silas, me
entregando o que solicitei.
— Sim, ele está na lista de procurados do FBI. É
acusado de homicídio, sequestro e tráfico humano. — Algemei
suas mãos e dei um tapa na cara dele para acordá-lo, mas o
bastardo nem se abalou. — Droga, acho que o choque foi
grande. Podem me ajudar a levar esse filho da puta para o seu
quarto? — Havia cinco homens ali: Luís, Silas, Jordan, Daniel
e Jason.
Daniel e Jordan o carregaram. Jason continuava em
silêncio esse tempo todo, acho que furioso e com raiva demais
para dizer algo. Eu liguei para o Papy. Depois eu falaria com
Jason.
— Taby, não está de licença? — perguntou Papy ao
atender o telefone. Eu só ligava nesse número quando era
trabalho.
Contei a ele tudo o que aconteceu, tanto acerca do cara
que tentou me matar no clube, quanto do bandido foragido
Júlio Weston, que queria levar minha filha com ele. Também
disse que ele estava no Hotel Calion algemado, e pedi para
enviar agentes.
— A Emy foi até o hotel para ver o Jason a essa hora da
noite sozinha? — Senti sua voz tremendo.
— Pois é, Papy, mas isso é minha culpa, eu deveria ter
suspeitado que ela estava aprontando alguma coisa, toda
entusiasmada, querendo conhecer o Jason. — Olhei para ele
do meu lado, abrindo a porta do quarto e entrando.
— Nós estávamos fazendo uma emboscada para prender
esses bandidos hoje. Júlio e Matias Weston não verão a luz do
dia nunca mais — rosnou.
O apartamento era grande e vazio, exceto por um sofá e
colchões em vários lugares. Não desejava nem pensar o que
eles faziam nesses colchões ou eu mataria esse cara antes da
polícia aparecer. Apontei para o sofá.
— Coloque ele ali. — Viemos Jordan, Daniel, Jason e
eu. Nenhum deles conversava muito, então o barulho que ouvi
ao entrar no apartamento me fez ver fogo: gemidos, e não de
prazer, mas de dor, provenientes do quarto.
Olhei para os caras ali.
— Papy, fique na linha. Vocês três, me esperem aqui. —
Coloquei o celular no viva-voz e escondi no meu top. Levantei
minha arma e fui na direção do quarto.
— Taby… — chamou Jason à meia-voz. Era a primeira
vez que ele dizia meu nome, depois de tudo. Acho que temia
por minha vida.
Eu o ignorei e fui em silêncio ao quarto. O que vi me
enojou e me fez querer matar ao mesmo tempo.
Havia um homem sem camisa e com as calças abaixadas
e uma garota amarrada na cama, sem roupas. Sua boca estava
com um pano, impossibilitando-a de gritar. O medo e o terror
eram evidentes em seus olhos.
— FBI, coloque as mãos para cima onde eu possa ver —
gritei. O cara deu um pulo e já ia pegando sua arma na
cabeceira da cama para atirar em mim.
Eu estava prestes a puxar o gatilho quando alguém deu
dois tiros no peito do cara, que caiu para trás, morto. Vi Bryan
com os olhos sombrios e sua arma em punho. Não deixei de
me sentir aliviada por ele ter aparecido, porque na hora de
atirar eu gelei. Não estava preparada para fazer isso de novo,
por isso tanta terapia
— O que faz aqui? — inquiri, olhando ao redor.
— Estava junto com os agentes preparando a
emboscada. Devido ao que aconteceu, tivemos de acelerar as
coisas. — respondeu, soltando as mãos da garota e tirando a
mordaça de sua boca. — Vai ficar tudo bem, somos da polícia.
A menina chorava e se cobriu com o lençol.
— Eles chegaram a… — sondei.
— Não, vocês apareceram a tempo de impedir.
Obrigada. — Parecia agradecida e aliviada.
— Tudo bem. — Não falei sobre seu irmão, achei
melhor esperar. Era a mesma garota que vi na foto do menino
no apartamento do Jason. Ainda bem que impedimos uma
catástrofe.
— Há mais meninas ali dentro. — Ela apontou para uma
porta do lado direito do quarto. — E alguns homens com elas.
Bryan e eu corremos para a porta. Meus nervos travaram
vendo umas sete meninas entre doze e dezessete anos, todas
encolhidas lá dentro, em cima de colchões sem lençóis. E os
caras em pé, vestindo as calças; acho que ouviram os tiros.
Duas garotas estavam machucadas.
— Oh, Deus! — exclamei. — Papy, olhe isso. —
Mandei fotos das garotas em cativeiro para ele e dos homens
que procurávamos: políticos e alguns empresários.
— Estamos entrando no prédio — respondeu.
— Algumas não parecem ser dos Estados Unidos,
precisamos contatar as embaixadas de seus países. — Meu
coração sangrou só de pensar que minha filha poderia ser uma
delas, com algum desgraçado abusando dela.
Bryan mandou todos se deitarem no chão e os algemou.
— Vamos ver como aparecerá amanhã na TV. “Senador
foi pego com menor de idade em cativeiro’’. Sabe qual é a
parte boa disso tudo? Você não vai ver a luz do dia nunca
mais, seu traste! — Virei para as duas meninas machucadas:
— Qual deles fez isso com vocês?
Apontaram para um cara alto, parecia que lutava boxe;
era um político também.
— Solte-o, Bryan. Vamos ver se ele gosta tanto de bater
em mulher me enfrentando mano a mano.
— Isso não vai acontecer — rosnou Jason, entrando no
local e arfando vendo os homens e as garotas encolhidas no
canto, chorando. — Você ainda não se curou da ferida, e se um
filho da puta desses a tocar, eu o mato, Taby.
Sabia que ele faria isso mesmo, logo, deixei Bryan
resolver tudo enquanto o resto dos policiais não chegava.
Voltei para a sala bem a tempo do outro filho da puta acordar.
— Que droga é você? — Júlio piscou, amarrado.
— FBI, você está preso. — Dirigi-me a Daniel, Jordan e
Jason, que estavam do meu lado ainda com os olhos
arregalados: — Voltem para o seu apartamento e me esperem
lá. O FBI e a polícia estão a caminho, provavelmente a
imprensa também. Não quero o nome de Jason no meio desse
falatório, com políticos abusadores de menores.
— Não vou deixá-la — disse ele. Olhou sombrio para o
homem no sofá. — Ainda mais com esse crápula e os caras
presos naquele quarto.
— Ela não estará sozinha, Jason, lhe farei companhia. E
você não pode ficar aqui. Retorne ao seu apartamento. Assim
que terminarmos, ela voltará. — Bryan entrava na sala. Virou-
se para Jordan e Daniel: — Levem ele antes que seja tarde
demais.
Os dois foram para perto do Jason e pegaram o seu
braço. Ele não se moveu; seus olhos estavam em mim, com
medo de me perder, não sabia se para a morte ou por tudo que
houve entre nós.
Segurei seu rosto em minhas mãos e olhei dentro de seus
olhos.
— Vou ficar bem, prometo, não vou lutar com nenhum
deles, juro. Cuide de Emily para mim, ok? Daqui a pouco
estarei lá e poderemos conversar direito, tudo bem?
Ele tremeu o canto da boca e assentiu, saindo com seus
amigos. Encarei o cara no sofá.
— Estou sangrando, me leve ao hospital — pediu.
Eu ri.
— Está ouvindo isso, Bryan? Ele quer um hospital. O
que acha que somos? — Amarrei seus pés um no outro; suas
mãos já estavam algemadas. Fitei-o com frieza.
— Quantas das meninas naquele quarto disseram que
estavam com dor ao serem violentadas? Quantas gritavam,
chorando, pedindo por misericórdia? — Peguei suas bolas e
apertei forte. Ele berrou de dor. — Quantas, hein, seu filho da
puta?
— Você é louca? — Ofegou. — Se são policiais, por que
estão fazendo isso? Eu vou processá-los.
— Oh, me processar? Se eu não tivesse prometido ao
meu namorado que não lutaria com ninguém, adoraria
enfrentá-lo e vê-lo sangrar, verme maldito, assim como todas
as meninas que sequestrou, inclusive a minha filha, minha
bebê, que você queria trazer para cá, para estes monstros. —
Apertei mais o seu pau por cima da calça, enquanto ele uivava.
Bryan chegou com uma faca afiada de cozinha nas
mãos. Júlio arregalou os olhos.
— O que pensa em fazer? — Arquejava. — Oh, porra,
sinto muito pela sua filha, seja ela quem for.
— A criança do elevador, lembra? Ela tem oito anos e
você ia sequestrá-la. Sabe a raiva que me dá ao pensar nisso?
O que me dá vontade de fazer? Talvez, se cortasse suas bolas,
você não estupraria mais meninas ou as sequestraria para dar a
caras como esses malditos que estão presos naquele cômodo
— rosnei. — Grite, ninguém vai ajudá-lo.
— Seu irmão está morto, agora vamos aliviar a dor de
ter suas bolas esmagadas ou arrancadas. — Bryan alisou a faca
afiada.
Claro que não faríamos isso, mas ele não precisava
saber. Até eu fiquei espantada com minha raiva desses vermes,
mas só de pensar no perigo que minha filha correu, me
encolhia por dentro.
— Queremos respostas, e você as dará a nós. — Não era
um pedido do Bryan. O cara era alegre quase sempre, contudo,
algumas vezes, detectava algo sombrio através dos seus olhos
azuis.
Apertei mais as bolas do Júlio, que gritou. Ficaria
dolorido por semanas, o que era bom: todo sofrimento para ele
era pouco.
— Eu falo, apenas tire essa mulher louca de perto de
mim…
Eu me afastei um pouco e sorri, satisfeita. Ele nos
entregou todas as bocas de tráfico humano da cidade e de
vários outros lugares. Os dois, e mais alguns homens, estavam
envolvidos nisso. Deu nomes de políticos e famosos, os que
foram pegos ali.
Os agentes e a polícia chegaram e os levaram embora,
um morto e o outro vivo — conhecendo Sebastian, não por
muito tempo, já que ele deu com a língua nos dentes. Deus me
perdoe, mas não tinha dó desse tipo de gente. Podia até estar
sendo antiprofissional, mas era o meu jeito de resolver as
coisas. Os crápulas deputados e senadores também foram
detidos; a perícia examinaria o local para descobrir o que mais
houve lá.
As meninas foram levadas ao hospital para fazerem
acompanhamento médico. Após, seriam enviadas às suas
famílias.
Quando acabei de dar meu depoimento, o garoto foi
levado para junto da irmã, e ligaram para sua mãe.
Concedi uma entrevista a uma TV, pondo em ação o
plano que sabia que ia funcionar. A carta já tinha sido jogada,
agora era só esperar o resultado.
Fui para o apartamento do Jason. Ele estava sozinho, os
seus amigos tinham ido embora.
— Acabou? — sondou, me olhando de cima a baixo.
Enxergou sangue em mim. — Está machucada? O corte abriu?
Você prometeu que não lutaria com nenhum deles.
Neguei com a cabeça, indo até o quarto. Ele me seguiu.
— Não lutei, juro. O sangue não é meu. — Fui ao
banheiro e tirei minhas roupas, precisava ficar livre do cheiro
de podridão daqueles monstros.
Escorei-me na parede e chorei, sobrecarregada pelas
meninas que tiveram suas inocências perdidas, por minha filha
que quase foi uma delas e pela dor que Jason estava passando
agora por minha causa.
— Taby… — A impotência se fazia presente em sua voz
ao se agachar na minha frente e me puxar para os seus braços.
— Elas são apenas crianças e tiveram sua inocência
roubada por aqueles bandidos… — gemi, agarrando sua
camiseta. Tentei tirá-la, mas ele me impediu.
— Taby, não. Está querendo fazer o mesmo que eu no
clube, tudo por medo de perdê-la. — Pegou meu rosto nas
mãos e olhou bem no fundo dos meus olhos. — Eu me lembro
de tudo que houve naquela noite, depois da boate, na minha
casa, cada coisa que disse. Não vou deixá-la por não me dizer
que tivemos uma filha. Ela é minha filha, não é? Porque se
parece comigo.
— Eu nunca estive com nenhum outro homem, apenas
você — sussurrei. — Eu te fiz essa promessa na nossa última
noite, prometi que nunca deixaria ninguém me tocar. Eu a
mantive.
— Oh, Deus, Taby! — Expirava para se acalmar e
controlar a dor que sentia. Queria poder acabar com ela, mas
não era capaz. — Sinto muito.
Desculpava-se por ter quebrado a sua promessa, e eu
mantido a minha. Mas fui eu quem o abandonou e o deixou
lidar com a dor sozinho.
— Não precisa sentir, Jason. No momento em que o
deixei, sabia que isso ia acontecer, era inevitável. — Eu me
encolhi ao pensar nele e nas mulheres que teve.
Desligou a água, me secou e me enrolou na toalha.
Depois, segurou minha mão e me puxou para a cama, onde
Emily dormia. Já passava das três da madrugada.
Vesti uma camiseta dele e um short que ficou maior do
que eu. Jason deitou-se de um lado da nossa filha, e eu do
outro. Beijei seus cabelos.
— Oh, Deus! Se algo tivesse acontecido com ela… —
Chorei.
Chegou mais perto e abraçou nós duas.
— Não aconteceu nada, então não fique pensando nisso
tudo. — Alisou meu rosto, limpando as lágrimas. — Não
suporto vê-la chorando. Vá dormir um pouco.
— Preciso te contar o que aconteceu aquele dia… —
Minha voz saiu fraca, estava sem energia. Foi um dia longo, o
mais longo da minha vida. Mas eu estava aliviada por ter as
duas pessoas que eu mais amava nos meus braços.
— Amanhã conversaremos. — Beijou meus lábios. —
Amo você.
— Eu também amo vocês dois… — Estava dormindo
antes de terminar de falar.
CAPÍTULO 13

Acerto de contas
JASON

Não preguei os olhos essa noite, observando as duas


mulheres da minha vida. Taby já era há quase dez anos, a
partir do momento em que a vi. Naquele dia, ela se tornou meu
mundo inteiro. Agora, vendo minha filha, uma filha que eu
nem sabia que eu tinha… Seus cabelos castanhos, pele branca
e a maçã do rosto arredondada, cílios grandes e negros, e olhos
iguais aos meus.
No clube, lutei mal porque minha cabeça não estava no
ringue, e sim no que Taby disse. Temia que ela estivesse me
deixando, assim como foi nos meus sonhos, ou melhor,
pesadelos, que tive desde a hora em que ela falou que revelaria
a verdade sobre o que aconteceu naquela noite, e que isso
poderia nos afastar.
Nunca pensei que meu coração fosse se amedrontar por
quase perdê-la várias vezes em uma única semana para a
morte. Quando aqueles bandidos atiraram em nós dois na
nossa casa, temi por sua vida, ao mesmo tempo que queria
acabar com aqueles filhos da puta.
Depois, quando ela foi baleada em Chicago, e no dia
anterior, com aquele homem no clube… Eu ia dar mais que
um murro nele, só não o fiz por ela. E mais o que houve aqui
do lado, no outro apartamento.
Ser policial acarreta riscos, mas isso já era demais.
Queria que ela retomasse o plano de se tornar professora,
como foi sempre seu sonho. No entanto, vi que as coisas
mudaram. Por que não escolheu uma profissão menos
arriscada? Se toda vez que ela saísse pela porta eu ficasse
preocupado com o que aconteceria, envelheceria antes do
tempo ou surtaria.
Meus nervos estavam tão rígidos ontem que não
consegui adormecer, pensando no perigo que as duas
correram. Graças a Deus, estavam em segurança nos meus
braços, a minha mulher e a minha filha, Emily.
Sentado no sofá, esperava Tabitta chegar da sua casa.
Ela foi lá deixar Emily com Samira e falar com seu pai, que
estava na cidade. Taby o chamava de Papy, embora seu nome
fosse Thomas. Não sei bem a história, mas parece que ele era
como um pai para ela. Gostei de minha preciosa ter encontrado
pessoas que a amavam e a protegiam, como esse Thomas e sua
esposa, Sandra.
Emy ficava com Samira, uma garota muito legal e doce,
pelo que notei dela quando foi ali. Eu disse que não precisava
mandá-la para casa, porque já estive longe da minha filha
tempo demais, oito anos sem ela. Tabitta insistiu, então supus
que nossa conversa não seria nada fácil. Eu estava nervoso
com o que ela iria me contar.
Fui até a cozinha, peguei uma garrafa de whisky e um
copo e caminhei para a sala, de modo a esperar por ela. Liguei
a TV e me deparei com Taby dando uma entrevista, falando
das meninas que foram achadas, e que mais uma rede de
tráfico humano e prostituição foi fechada.
Tabitta e Thomas se encontravam perto um do outro. Ela
estava séria e com raiva, podia ver nos seus olhos através das
câmeras.
— O que vocês pretendem fazer para acabar com o
tráfico humano e as casas de prostituição infantil? Os
envolvidos eram somente esses dois homens e aqueles
políticos? — A repórter citou os nomes dos caras que foram
presos.
Ela olhou para a câmera, como se quisesse dar um
recado a alguém.
— Pretendemos acabar com essa corja de bandidos que
usam crianças para ganhar dinheiro. Escute, seu crápula, o
pegarei, não importa onde esteja escondido. Vou prendê-lo e
você nunca mais verá a luz do dia.
— Então realmente já sabem quem está por trás disso
tudo? Vocês podem dizer o nome? — A repórter sondou.
Ela assentiu.
— Sabemos sim, seu nome é Sebastian Ruiz, um homem
perigoso, capaz de tirar a vida de alguém em um segundo. Mas
vamos pegá-lo e fazê-lo pagar por tudo — declarou com
firmeza.
— Assistindo à minha entrevista? — perguntou,
entrando na sala.
— De um a dez, o quanto seu pai, que você provocou
em num programa de TV, é perigoso? — Coloquei a garrafa na
mesinha de centro, e fiquei com o copo cheio de bebida.
Desliguei o aparelho.
Ela suspirou e sentou-se perto de mim no sofá.
— Mil, e ele não é meu pai, Papy é.
Ofeguei de pavor.
— E você o enfrenta assim, em público? Ele com certeza
verá isso, não é?
— O que queria que eu fizesse? — Pegou o meu copo e
bebeu o resto em um gole. — Por culpa desse cara, eu fiquei
longe de você. Por culpa dele, milhões de adolescentes com
um futuro pela frente perderam seus sonhos. Ele sequestrou
essas meninas e as levou para longe de suas casas, de suas
cidades, e até de seus países, para forçá-las a vender seus
corpos.
— Ele queria que ficássemos separados, por isso você
foi embora?
— Vou te contar tudo que houve aquela noite —
sussurrou. Primeiro, falou sobre estar de saída de sua casa
quando apareceram e mataram sua avó.
— Espere, ele assassinou a sua avó? — a interrompi,
chocado. Encontrava-me tão absorto em felicidade por tê-la de
volta que esqueci de perguntar onde sua avó estava. — Mas eu
voltei lá no dia seguinte e não soube de morte alguma. Todos
pensaram que vocês saíram da cidade para nunca mais
voltarem, por isso espalhei câmeras em Austin, para ver se
retornariam algum dia.
Ela se encolheu no sofá.
— Sim, ele a matou e depois sumiu com o corpo dela.
Eu não podia ir à polícia, já que ele é chefe de um cartel
mexicano e teria várias pessoas compradas lá. Além disso, não
havia um corpo.
Não acreditava que a dona Margareth estava morta.
Lembrava-me de ir àquela tarde pedir a mão da Taby em
casamento. Ela nem por um minuto hesitou em dá-la a mim,
um rapaz que só tinha um emprego em uma academia e
treinava para ser um lutador um dia. Sua avó não ligou para
isso, ela me aceitou para sua neta, concedendo sua benção a
nós.
Meu coração se apertou ao saber o quanto Taby sofreu
sozinha. Ela se manteve pura, e eu fiquei com centenas de
mulheres no intuito de esquecê-la. Quando pensava nisso,
sentia ódio de mim mesmo.
Ela relatou os seus minutos de agonia ao fugir deles, e
também a sua escolha por minha proteção, porque não me
queria morto. E continuou com seu relato nos mínimos
detalhes.
— Dom te ajudou a me dopar para você se afastar de
mim? — rugi depois que ela me revelou toda a verdade. A dor
que teve de enfrentar sem auxílio, com a perda de sua avó e a
descoberta de que seu pai era um assassino e a queria com ele
para fins desumanos…
Terminou afirmando que sofreu todos esses anos por ter
me escondido a verdade sobre me abandonar e a respeito de
nossa filha.
Eu estava com raiva, e não dela, como Taby esperava e
temia, e sim de alguém que pensei ser meu melhor amigo, por
quem entraria na frente de uma bala.
Ela se encolheu com minha fúria, mas se apressou em
explicar:
— Dom fez o que fez para protegê-lo, Jason. Ele sabia
do que Sebastian era capaz, até já tinha ouvido falar dele, acho
que daqueles caras mal-encarados com quem saía.
Eu me levantei, furioso, com os punhos cerrados.
— Não, Taby, ele era meu melhor amigo, devia ter me
dito a verdade, entende? Eu merecia saber. Você estava
sofrendo sozinha em algum lugar deste mundo, grávida, tudo
por ele não me dizer a verdade.
Ergueu-se também e ficou na minha frente.
— Jason, por favor…
Sacudi a cabeça, tentando clarear minha mente.
Confiava nele cegamente. O quanto chorei e sofri após a
partida dela… Ele estava lá, presenciando tudo, e não fez
nada. A mulherada que eu fodia para abafar a dor, enquanto
ele sabia que Taby me amava, e o porquê de ter partido.
Oh, Deus! Eu não a merecia, não merecia essa mulher
que sacrificou tudo por mim. Ela fazendo o impossível para a
minha proteção, e eu fodendo o mundo inteiro no intuito de
esquecê-la, esquecer a única que já se preocupou comigo e me
amou de forma incondicional. O que ela sacrificou, e o que eu
fiz?
— Eu não mereço você. — Afastei-me dela me sentindo
imundo, um canalha egoísta que não merecia nem estar na sua
presença.
Virei e saí do prédio com ela gritando atrás de mim para
eu esperar e me acalmar. Eu não precisava ficar calmo,
precisava era quebrar a cara de um traíra que me enganou por
quase nove anos, nove fodidos anos.
Estacionei o meu carro em frente ao clube dos MCs.
Estava irado e doido para matar o meu ex-amigo.
Entrei no clube pisando forte e vendo tudo embaçado,
tamanha era minha fúria por aquele falsário. Passei pelo garoto
na porta, ignorando quando ele me saudou. Todos ali me
conheciam, afinal, sempre que podia passava lá.
Entretanto, nunca fiquei com nenhuma prostituta do
lugar. Até pensei em ficar uma vez, mas o bastardo sabia da
verdade sobre Taby, e provavelmente por isto não deixou. Mas
isso não mudava nada, porque peguei várias mulheres. Porra!
Porra.
Assim que entrei no clube, me deparei com vários MCs:
Nasx, Daemon, Kill e outros. Todavia, procurava apenas um,
que estava sentado no sofá perto de uma ruiva exuberante. Ela
não parecia ser prostituta, não mesmo.
Ele se levantou e sorriu ao me ver, porém, o sorriso
sumiu ao notar a minha cara de fúria; acho que fúria era
pouco, estava mais para serial killer, parecia até o Kill (ou
melhor, Michael, seu nome real). O bastardo era um cara de
coração frio; pelo menos era o que sua expressão demonstrava.
— Jason, o que… — interrompeu-se quando soquei sua
boca e o sangue jorrou. Ele cambaleou para trás. Alguns caras
tentaram me parar, mas derrubei todos. Armas e facas foram
apontadas para mim. Não liguei: peguei o Dom pelo colete e
olhei em seus olhos.
— Solta-o ou eu vou atirar — rosnou alguém com quem
não me importei.
— Ninguém atira — ordenou Dom.
— Mas esse louco vai matar você! — sibilou a ruiva,
irritada comigo.
— Quando descobriu? Ela te contou? — sondou, sem
nunca desviar os olhos de mim.
Eu o prendi na parede e soquei seu estômago com força;
ele gemeu. Sentia alguns caras se aproximando.
— Ninguém entra nesta briga.
Seu clube inteiro estava doido para atirar em mim. Eles
matariam e levariam um tiro por Dom, como eu também teria
levado um dia.
— O quê? Que meu melhor amigo me traiu, porra? —
Dei mais um soco. — Eu confiava em você com a minha vida!
— E outro.
Ele não estava se defendendo, apenas apanhava calado,
exceto pelos gemidos. Seus amigos queriam impedir, mas não
o fariam, porque seguiam as ordens de Dom, já que ele era seu
chefe. Eu só não sabia dizer da ruivinha brava.
— Não vai se defender? Só vai ficar aí levando? —
Joguei-o em cima de uma mesa de sinuca e peguei o taco de
bilhar. — Eu confiei no meu amigo, e o que você fez? Ajudou
ela a me deixar, e tudo para quê? Você se interessou por ela?
Por isso a ajudou a se livrar de mim?
Sentou-se na mesa e limpou o sangue que escorria pela
sua boca.
— Você é louco? Nunca me interessei pela Tabitta, ela
sempre foi uma amiga para mim, assim como você, Jason.
Eu ri com desdém.
— Amigo não faz o que você fez, não deixa uma mulher
colocar seu amigo para dormir, depois o leva embora e a
abandona grávida de uma filha dele para se virar sozinha,
porra! — Minha carne tremia devido à raiva que me consumia.
— Grávida? Ela não me disse isso. — Havia dor em
seus olhos. — Se quer tanto me matar, me mate logo, cara.
Não acho que socos são suficientes para me fazer pagar por
ajudar Taby. Se quiser acabar com a minha vida, fique à
vontade, ninguém vai impedir.
— Não conte com isso. — A ruiva me peitou com um
olhar homicida. Após, virou-se para o Dom: — Se ele o ferir
mais, vou acertá-lo, e não perderei uma noite de sono com
isso.
A ruiva tinha cabelos anelados e íris cor de ouro.
— Então, quer me enfrentar? Pode vir, seu filho da puta,
não tenho medo de homens fodões como você — sibilou, com
uma adaga em cada mão, pronta para atirar.
Eu estreitei os olhos.
— Esta é a linha que você não pode ultrapassar, igual me
falou uma vez. — Dom olhou para a ruiva e depois para mim.
— Ela é a linha que ninguém cruza.
Fuzilei-o.
— Você cruzou essa linha quando a deixou ir embora e
não me contou nada. — Dei mais um soco na sua cara. — Seu
bastardo!
— Dom! — gritou a ruiva, chorando, prestes a atirar
suas adagas, mas o tiro veio antes.
Congelei pensando que alguém tinha atirado em mim.
Não senti dor nenhuma, mas o espelho do lado de nossas
cabeças se espatifou em milhares de cacos de vidro.
Todos observavam a porta da frente, com suas armas
direcionadas para lá também. Surpreendi-me vendo Taby, que
também segurava uma arma nas mãos.
— Abaixe a sua arma agora — rosnou um prospecto,
querendo bancar o machão.
No clube dos MCs, existia uma hierarquia: prospecto,
quando se está iniciando para se tornar um motoqueiro MC
com colete e tudo; vice-presidente, igual a Nasx; e presidente,
como o Dom. Ele era o cabeça do grupo.
Eu me esqueci do Dom e da minha raiva por ele, e fui
até ela, que parecia não ligar para mais de vinte armas
apontadas para si. Eu já estava ficando louco, porque se
alguém atirasse nela, não sabia o que faria. Morreria ou iria
para a cadeia, porque ninguém a machucaria e sairia vivo.
— Ninguém atira — ordenei aos caras sombrios.
Taby riu, ignorando-o e fitando o garoto.
— Quantos anos têm? Dezesseis? Sua mãe sabe que está
aqui, menino? — zombou.
O garoto inflou o peito.
— Tenho dezenove anos e não preciso da autorização da
minha mãe para fazer o que quero. — Ainda apontava a arma
para ela.
— Você possui licença para ter uma arma? — Ela não
conseguia ver as coisas e simplesmente deixar seu lado
policial de fora. Fez o mesmo comigo na minha casa,
checando a procedência da minha coleção de armas.
Taby sorria inabalável, como se esses homens fossem
brincadeira de criança. Ela abaixou sua arma.
— Eu, ahm… — Piscou, meio chocado, buscando o
Dom atrás de mim. Com certeza não possuía porte.
— Todos abaixem as porras das armas — ordenou Dom,
gemendo de dor. — Tripper, você também.
— Espere, Tripper é nome ou apelido? — indagou Taby
ao garoto, que já tinha abaixado sua arma.
Tripper sorriu para ela.
— Apelido.
Ela assentiu e olhou para todos ali.
— Eu deveria prendê-los por não terem licença para
armas de fogo.
— O que está fazendo aqui? — perguntei.
Ignorou-me e falou num tom de acusação:
— Vejo que descarregou sua raiva. Compensou viajar
quase doze horas para acertar as contas com Dom?
— Não cheguei nem perto de liberar toda minha raiva.
— Eu podia ter ido de avião, mas eu precisava pensar, então
fui de carro.
— Certo. — Seu tom era seco. Ela deu a arma para
Tripper, que arregalou os olhos, principalmente quando tirou
sua jaqueta e ficou só com o espartilho, que deixava meus
lindos bebês arrebitados.
— Não use essa arma, agora ela tem suas digitais. —
Piscou para ele.
O garoto ofegou.
— Como sabe tanto sobre porte de armas e digitais?
Você é algum tira?
— Acertou na mosca, Tripper.
Todos arfaram em sincronia perfeita, espantados.
Olhavam para o Dom como se buscassem respostas às suas
perguntas mudas.
— De que departamento você é? — questionou Tripper.
Ela sorriu.
— FBI, e estou fora da folha de vocês — falou com um
revirar de olhos.
Ouvi maldiçoes de todos os lados, mas não do Dom. Ele
sabia o que ela era, só podia saber, não tinha como o cara ficar
tanto tempo no escuro.
— Relaxem, não estou aqui em busca de nada ilegal.
Mas devo apontar que isso não parece faltar. Estou certa?
— Vai nos prender? Porque só vai revistar o lugar se
tiver um mandado de busca — disse Kill com seu olhar mortal
e frio. Quando o conheci, eu me perguntava às vezes se ele era
mesmo humano. — Por que o maldito FBI mandou uma va…
Cortei-o, cerrando os punhos.
— Termine essa frase e vou esquartejá-lo com as suas
próprias facas — sibilei. Tinha cabelos negros na altura dos
ombros e barba por fazer. Foi andando para mim, assim como
eu ia para ele, para enfrentá-lo. O clube inteiro ficou
paralisado, apenas Dom deu um suspirou frustrado.
— Michael — chamou uma voz atrás dele. — Eu não
posso ficar um segundo longe e você já quer acabar com
alguém?
Era uma garota pequena com um vestido florido, cabelos
negros com tranças nas costas e olhos verdes. Conheci
Michael no clube de luta em Cambridge, há alguns anos,
quando estudava em Harvard. Ele namorava Isabelle, uma
garota doce e gentil. Fiquei sabendo que os dois se separaram
há quase cinco anos. Depois disso, ele bebia direto e se tornou
mais sombrio e mortal do que já era. Não éramos bem amigos,
só colegas.
Ele sorriu para ela, guardando suas adagas nos bolsos da
calça.
— Isy! — Pegou a baixinha nos braços e a levantou do
chão, beijando sua boca, esquecendo que nós estávamos ali.
Nessas horas, via que Michael era humano, embora
parecesse ter algo amedrontador nele — não igual ao passado,
claro, quando perdeu Isy. Já vi o mesmo no Lucky antes da
Sam entrar em sua vida, e também via às vezes no Bryan. Ele
usava aquela máscara de garoto extrovertido, mas havia
sombras mortais em seus olhos; o abismo estava lá, o
afogando a cada dia. Eu só não sabia o porquê.
Vivendo com Dom por anos, fiquei bom em lê-lo. Talvez
pelo peso da culpa todo esse tempo, mantinha uma expressão
mortalmente fria para quem não o conhecia, por isso seu
apelido era Shadow.
— Tio Jason — chamou uma coisinha minúscula,
puxando minha camisa. — Você veio aqui para me ver?
Olhei para baixo e me deparei com um monte de cabelos
negros e um par de olhos verdes. Ela sorria para mim. Eu sorri
também, pegando Bella nos braços.
— Oh, coisa pequena, como você está, querida?
Então ela contou que seu papai lhe comprou um
cachorro. Michael criando um cão? Essa eu gostaria de ver.
Reparei que todos me olhavam, tanto os MCs como Taby.
— O que foi? — perguntei.
— Desde quando a conhece? — Michael, confuso, fitou
Isy, que já estava no chão ao seu lado.
— Tio Jason bateu nos caras maus que queriam
machucar mamãe e eu — falou Bella antes de Isy.
— Caras maus? Isy? — indagou Michael, taciturno.
Suspirei e coloquei-a no chão.
— Princesa, pode ir brincar… e, hum, me deixe falar
com seu pai e sua mãe? — pedi.
Ela cruzou os bracinhos.
— Não pode bater no meu papai, ele é bom, não é um
cara mau. Ele disse que me ama até a lua.
Sorri para ela.
— Você é uma coisinha linda. — Eu me agachei à sua
frente e coloquei seus cabelos volumosos atrás da orelha. —
Juro não brigar com seu pai, tudo bem?
Bella sorriu e assentiu. Foi até Michael, que a pegou nos
braços e a beijou em ambos os lados da bochecha, fazendo-a
rir de cócegas devido sua barba grande. Depois, ela saiu para a
porta da cozinha. Michael olhou para mim e Isy.
Contei a ele que estava em Dallas para uma luta,
andando no meu carro para o hotel, quando três caras cercaram
uma mulher e uma criança. Não sabia que era Isy até acabar
com os caras.
— O que eles queriam? Era gente do Berry? — sondou
Michael.
Ela suspirou.
— Acredito que sim, porque um mês depois Bella foi
sequestrada e eu vim parar aqui. — Ela se encolheu, e ele
colocou o braço direito à sua volta.
Michael assentiu e me olhou, agradecido.
— Obrigado por salvar minhas duas razões de viver —
falou, mirando Isy e na direção da porta onde Bella se foi.
— E eu, onde fico nisso? — arrulhou a ruiva perto do
Dom, magoada, mas parecia estar brincando.
— Você também, minha preciosa. — Sorriu para ela. Ele
estava com Isy e essa ruiva com Dom, então o que diabos era
isso? Algum tipo de orgia?
— Evelyn é irmã do Michael — disse Dom, vendo
minha confusão.
Lembrava-me de Dom mencionar uma vez que a família
de Michael foi morta e, sua irmã, sequestrada. Bom, ficava
feliz que os dois tenham se reencontrado. Deve ter uma
história bem interessante envolvida nisso, uma que não estava
a fim de saber agora. Talvez depois, com menos raiva.
— Tremo só de pensar no perigo que você correu todos
esses anos sozinha, longe de mim, e tudo para quê? Para eu
não matar meu presidente? — Seu tom agora era mortalmente
frio.
— Bem-vindo ao clube. A sua foi embora para você não
matar alguém, já a minha se foi para eu não morrer. —
Trinquei os dentes para o Dom, com minha ira crescendo de
novo.
— Cadê aquelas mulheres que engravidam dos homens
para prendê-los? — falou Nasx, sorrindo, acho que para aliviar
a tensão. — Não que eu queira isso acontecendo comigo.
Portanto, crianças, usem proteção.
Taby deu um suspiro frustrado, ignorando-o, e veio na
minha direção.
— Você quer descarregar a raiva? Então lute comigo.
Afinal, nós dois que mentimos para você. Eu o deixei, e ele
ajudou, então lute, porra — gritou.
Ofeguei de pavor e pesar; só de imaginar alguém a
machucando, ficava grilado, até se fosse eu mesmo.
— Não vou lutar com você — disse a ela. — Jamais
faria isso.
Taby meneou a cabeça.
— Não vá me dizer que tem medo de lutar com
mulheres. — Enxerguei-a passar rápido por mim, depois
minhas costas bateram no chão duro de cimento.
Arquejei com a dor nas minhas costelas. Antes que eu
recuperasse o fôlego, ela montou em mim e começou a socar
meu peito. Porra! E que socos.
— Reaja, seu bastardo, não quer descontar a raiva?
Então revide — rosnou em cada pancada.
Ouvi várias pessoas rindo, inclusive a ruivinha e o
bastardo do Nasx, que parecia uma gralha maldita.
— Luta de Jason Falcon ao vivo, e eu nem preciso pagar
por isso — Nasx cacarejou feito uma galinha. Como se ele
pagasse para assistir às minhas lutas. Todos meus amigos
tinham passe livre aos eventos.
— Isso, loura, acerte seu pau e o esmague para nunca
mais funcionar com nenhuma mulher — gritou a ruiva para
Taby, enquanto eu grunhia com os socos.
Taby parou por breve segundo e olhou para Evelyn com
um sorriso.
— Não posso machucar seu pau, preciso dele para me
dar vários orgasmos.
Mais gargalhadas na sala. Aproveitei sua distração e a
rodopiei sem machucá-la, colocando-a de costas, comigo por
cima, e prendendo-a com as mãos para cima e suas pernas
presas às minhas.
Ela me fuzilou, tentando se soltar.
— O quê? Só vai me prender no chão? Lute comigo, não
é isso que você queria?
Respirei fundo.
— Sim, mas não com você. Droga, Taby, por culpa dele,
você sofreu sozinha, enquanto eu…
— Então é esse o problema — sibilou. — Me solte.
— Vai me atacar de novo?
— Não — grunhiu, mostrando os dentes, tão linda que
só queria beijá-la.
Eu a libertei e me levantei, pegando seu braço para
erguê-la também. Ela até pareceu esquecer que levou um tiro
há nem uma semana. Ficou na minha frente, ainda irritada.
— Essa é a causa da raiva, e não por Dom me ajudar,
não é? Está se culpando porque não fiquei com nenhum
homem depois de você, enquanto você ficou com toda a
população feminina do país? — Se suas palavras fossem facas,
eu estaria todo cortado.
— Ele sabia da verdade, devia ter feito algo… para eu
não…
— Sair fodendo tudo que se movia em uma tentativa de
tirar sua dor? Se você está grilado com isso, então vamos
ver… — Olhou para os homens dali. — Quem daqui é solteiro
e quer transar comigo?
Todos arregalaram os olhos e não disseram nada.
— Oh, cacete, isso não está acontecendo — xinguei, frio
igual a uma geleira.
Ela me fitou, venenosa.
— Não é esse o seu problema? Sua culpa te comendo
vivo? Se é por isso, fico com vários homens e estamos quites,
o que acha?
Ofeguei pensando nela com outros. O que eu achava?
Ela era louca de perguntar isso? Tentei me acalmar, mas estava
difícil.
Por sorte, nenhum dos caras disse nada. Deviam
entender que briga de casal ninguém se mete. E minha
paciência não estava boa, caso isso viesse a acontecer. Eu
conhecia a maioria dos homens dali, eles me respeitavam e
vice-versa. Até o Nasx que sempre foi brincalhão ficou quieto.
— Isso não está acontecendo, Taby — repeti com
ferocidade. — E não é só por isso, bati nele porque Dom
mereceu, tanto que não se defendeu. — O cara permanecia
calado, sentado em um sofá. — Garanto que se fosse a ruiva,
se ela e eu fizéssemos o que vocês dois fizeram, ele reagiria da
mesma forma. — Meus olhos varreram dela para ele,
encolhido no sofá, respirando mal pelos ferimentos
(merecidos).
— Você acha que eu me juntaria a um verme como
você? — rosnou Evelyn, me fuzilando e dando um passo até
mim com os punhos cerrados. Dom pegou seu braço e a puxou
para ela sentar ao seu lado, gemendo no processo.
— Evy, se controle, mulher, você não pode atacar um
homem forte no mano a mano. Se ele a machucar, um de nós
dois teria de matar o outro. E não estou a fim de assassinar um
irmão.
Bufei.
— Não bato em mulheres, você deveria saber disso —
retruquei.
Evelyn olhou para mim e sorriu. Essa garota era outra
coisa, sua boca atrevida e com garras de leoa, havia motivos
para Dom ter sido domado por ela, o que era praticamente um
milagre. Bem, milagres aconteciam, até Ryan também foi
domado.
— Pois eu bato com maior prazer em homens. Quer
experimentar? — Dom a segurava firme pelo braço,
impedindo-a de vir até mim.
Taby riu. O som que eu amava. Gostei de vê-la sorrindo,
sempre que mencionávamos ou ela ouvia das mulheres que
tive, ela sofria. Fiquei contente que a ruiva a fez sorrir, mesmo
sendo às minhas custas. Essa era minha maior tristeza: não
podia mudar o passado, não podia mudar o que fiz.
— Você é das minhas, porque eu também bato em
homens, pergunte a todos os caras que já prendi. Aposto que
não terão filhos por muito tempo, incluindo o último, cujas
bolas esmaguei. — Parecia deliciada com isso.
— Espero nunca ser preso por você, então. — Nasx
sorriu para ela. — Eu já gosto dessa garota. — Dirigiu-me a
mim, assim que rosnei: — Com todo respeito, é claro.
Revirei os olhos; acreditava nele. Os MCs da Fênix
tinham suas regras, e envolverem-se com mulheres
comprometidas era uma das que nenhum podia infringir.
Adorava Nasx, ele me lembrava Bryan, sem a escuridão que
cercava seus olhos, às vezes. Bryan tinha isso, esperava que
Alexia a tirasse de lá, mas a menina era igual a ele, exceto que
a escuridão dela parecia ser de dor, enquanto a do Bryan era
outra coisa que eu não conseguia identificar.
Agora que eu estava mais calmo, deixaria Dom falar sua
versão da história.
— Por que a ajudou com o plano tosco daquele dia?
Taby me cortou.
— Não era tosco, era para sua própria segurança —
retrucou.
— Uma segurança que não pedi e da qual não precisava
— rosnei e fitei Dom, esperando que falasse.
— Quando Taby me encontrou na minha casa aquela
noite e me pediu para levá-lo para longe, eu não queria fazer
aquilo porque eu era seu amigo, e você ia sofrer…
— Sofrer? Eu estava morto esses oito anos e nove meses
— sibilei num tom entrecortado.
Tanto Taby quanto ele se encolheram.
— Eu sei, cara, e lamento por isso, mas eu já sabia da
fama de Sebastian Ruiz naquela época. Ele era conhecido por
ter tudo o que quer, liquidando quem passasse pelo seu
caminho. Incluindo você, Jason. — Alisava a mão da garota.
— Ele queria Taby e podia usar você para chegar até ela, e
obrigá-la a fazer qualquer coisa.
Gelei com a ideia de Sebastian, que todos temem,
levando Taby. Pensei naqueles caras na minha casa, dizendo
que se a pegassem iam revezá-la…
— Deixei-a na cabana e fui buscar minha mãe no
hospital. Antes que eu chegasse lá, fui abordado por três caras
armados com metralhadoras. Eles me levaram a um armazém
abandonado e me prenderam, querendo saber da Tabitta. —
Expirou, controlando a dor.
Acho que Dom precisava de um médico, devo ter
exagerado. Continuou com seu relato. Imagino o medo que
deve ter sentido na frente desses homens armados ameaçando
matá-lo.
— Olhe aqui. — Levantou sua camisa, mostrando a
barriga. Nela, havia uma cicatriz de faca. Mais em cima havia
duas tatuagens de revólveres, um de cada lado, com os canos
apontados para dentro. Nos cabos, estava escrito “MC” e
“Fênix”.
— Você disse que tinha brigado com alguns caras, mas
não mencionou que eles eram do cartel — acusei.
Abaixou a camisa e me olhou. Notei que tatuara também
o nome da Evelyn no antebraço esquerdo. No direito, eu sabia
que ele tinha uma serpente enrolando seu braço. Achei sinistro
quando o vi.
— Eu menti, eles iam acabar comigo, mas… — Olhou
para a serpente no seu braço. — Um cara chamado cobra me
ajudou a me libertar. Ele era dos MCs da serpente. Eu ia lá
direto. Lembra que perguntava o que eu fazia quando eu
sumia?
Assenti. Eu achava que ele estivesse em alguma gangue,
apesar de não considerar os MCs como uma: eram mais uma
família imensa que morreria e mataria uns pelos outros.
Apreciava a lealdade entre eles.
— Ele morreu aquele dia para me salvar — continuou
num sussurro.
— Por isso a tatuagem no braço, em homenagem a ele.
— Não era uma pergunta.
— Sim, ele era um irmão verdadeiro. Nós dois lutamos
com os caras. Eu pensava que os homens eram do Sebastian
Ruiz, já que procuravam Taby. Mas não…
— Espere, então de quem eram? — A voz da Taby saiu
alta. — Quem mais estaria à minha procura?
— Seu nome era Hector Salgado, um chefão do cartel
dos lobos solitários. Cada cartel, máfia e MCs têm suas
marcas. — Olhou para Nasx, que sorriu. Ele estava sempre de
bom humor, acho que fazia isso para aliviar a tensão.
— Se você gosta de me ver tanto sem camisa, é só pedir,
VIP. — Piscou, brincalhão. Tirou seu colete preto com
emblema da Fênix e camiseta, virando as costas para nós,
ignorando o bufo e revirar de olhos do Dom. Ali estava uma
fênix, colorida e brilhante. No meio dela, lia-se “MC Fênix”.
Uma tatuagem impressionante que cobria todas as suas costas.
— Todos aqui a temos; os homens, pelo menos. Com
eles não é diferente. Por isso descobri a verdade. Rendi dois e
o torturei até saber o que eram — hesitou neste final,
observando a reação da Taby, uma agente que trabalhava pela
lei. — Eram inimigos do Sebastian Ruiz e queriam você como
moeda de troca ou algo assim.
— O que aconteceu depois? Porque já passava das duas
aquela noite e você não tinha chegado à cabana — murmurou
ela.
— Assim que eu consegui fugir, fui ao hospital e dei
pontos na ferida aberta. Se não tivesse feito, teria morrido de
hemorragia. Também avisei minha mãe que ficaria fora da
cidade por um tempo. Achei melhor não a levar comigo.
Enquanto isso, ela iria para a casa de sua irmã, no Arizona.
Quando cheguei para te contar que não era só seu pai que
estava atrás de você, e que tinha outro cartel querendo pegá-la,
você já tinha ido. — Suspirou com um olhar triste para Tabitta
e eu. — Tinha duas opções: ir atrás de você para tentar de
alguma forma protegê-la desses dois cartéis, mesmo sabendo
que não era páreo para eles na época, ou levar Jason para
longe. Não consegui ajudá-la, Taby, sinto muito. Não tinha
como proteger os dois ao mesmo tempo.
— Tudo bem, Dom, não o culpo. Eu é que sinto muito
por você ter sido ferido aquele dia por minha causa.
— Não sinta tanto, porque eu matei dois homens aquele
dia, Taby, então você terá a escolha de me prender agora. Vai
fazer isso? Se for, agora é sua chance. — Ele se levantou meio
sem fôlego pelos socos que eu dei nele. A ruiva estava ao seu
lado. A cada arquejo de dor, ela me lançava punhais com os
olhos.
Não ia bater boca com ela sendo que Dom a amava.
Gostei de ele ter encontrado algo bom, mesmo que fosse essa
ruivinha esquentada.
Os seus amigos do clube estavam de olhos arregalados,
alternando entre Dom e Taby. Tabitta foi até ele e segurou suas
mãos, depois o abraçou forte.
— Eu não estou aqui como policial, Dom, estou aqui
como amiga e irmã — sussurrou, alisando suas costas. — Não
tinha ideia do quanto sofreu para manter Jason seguro.
Obrigada por tudo, por protegê-lo.
Fitou-me com um olhar triste.
— Irmão é para isso, não é?
Eu estava agradecido por tudo que ele fez por mim e por
Taby. Meu peito ardeu por sua dor, por ter sofrido e vivido
aquilo nas mãos de assassinos. Isso amenizou um pouco da
raiva que sentia.
A ruiva fechou a cara vendo a Taby abraçada ao Dom.
Eu também não gostava disso, mas confiava nos dois.
Mentiram para mim, mas também sofreram com tudo isso.
Não perdoara Dom ainda, deixaria o tempo agir.
— Tem uma coisa que não entendo: quando você soube
onde Taby estava? Todos aqui se assustaram por ela ser do
FBI, e você não ficou nada chocado. Suponho que descobriu
há muito tempo e não disse nada a mim, inclusive que ela
morava a uma hora e meia da minha casa, não é?
Ele se afastou de Taby e sentou de volta, segurando a
barriga.
— Quando eu vim para o MC da Fênix, pedi ao Berry
(ou Charles, como você o conhece) para investigar sobre a
Taby. Descobri o que ela era e onde morava, mas ele me
proibiu de chegar perto dela, por ser uma agente. Se eu me
aproximasse, ele saberia. Eu seguia sua liderança, afinal, ele
era meu presidente até alguns meses atrás, quando foi morto.
— Que apodreça no maldito inferno, que é o seu lugar
— sibilou Kill. Não queria estar na pele desse cara se ele
estivesse vivo e nas mãos do Michael.
— Eu queria ir lá e contar tudo a você. — Seus olhos
verdes foram para mim. — Mas as coisas aqui saíram dos
eixos, então não pude. Estava me preparando para ir logo, mas
quando vi Tabitta na TV hoje de manhã, tive certeza de que
logo saberia dela. Estava indo para Manhattan te procurar,
contudo, você chegou antes.
— Sim, eu soube dela pela namorada do Ryan. Angelina
e Taby são amigas desde a faculdade.
— Conversei com Ryan alguns meses atrás, ele me disse
que é plenamente feliz com essa mulher, fico alegre por ele.
Até me pediu para localizar alguém chamado Stive Lutner,
acho que tentou violentar sua namorada e matou a irmã dela.
— Espere, ele pediu a você para localizar Stive Lutner?
— cortou Tabitta com a voz aguda. — Esse filho da puta foi
quem atacou Angelina e sua irmã gêmea? No aniversário de
dezoito anos de Angie, ela foi buscar Ângela em uma rave.
Sua irmã estava andando com pessoas do lado errado,
Angelina fez de tudo para tirar a menina do fundo do poço.
Não sei da história inteira, já que doía nela falar sobre isso.
Apenas disse que um cara chamado Stive fez ela e sua irmã
saírem da estrada, matando Ângela no processo. Não tinha
ideia de que esse cara era o mesmo serial killer de quem estou
há um ano e meio a atrás.
— Você o conhece? — indaguei.
— Ele está na lista de procurados do FBI, assumi uns
dois casos dele neste ano. Stive Lutner pega as mulheres e as
mantém em cativeiro por semanas, torturando-as com cintos,
facas e estiletes. Uma vítima que sobreviveu nos contou que
além dele as espancar, deixa sua autoestima lá embaixo,
desmoralizando-as… — esclareceu, reparando em minha
confusão. — O bastardo começa a namorar suas vítimas e
depois as captura, tortura, estupra e mata. Estamos caçando ele
há eras, mas sempre que chegamos perto, arruma um jeito de
fugir. Até seus pais, que eram prefeitos em Nashville, ele
matou. — Suspirou, frustrada e com raiva. — Se tiverem
notícias dele, me informem. O maldito precisa pagar por tudo
que fez com dezoito garotas, que eu saiba; deve haver mais.
— Se encontrarmos esse serial killer, entro contato com
você — prometeu Dom.
— Obrigada… — interrompeu-se ao conferir uma
mensagem que acabara de chegar. Virou-se para Dom: — Se
tiverem algo aqui no clube ou ao redor que não esteja dentro
da lei, sugiro que fiquem nas sombras por esta semana, ok?
Principalmente nos bairros afastados.
— O que você vai fazer? — sondou Nasx, sério pela
primeira vez. — Vai mandar revistar nossas casas noturnas?
— Eu soube de uma apreensão que fizeram esta semana
aqui em Chicago. Será algo assim de novo? Saiba que não
temos nada a ver com isso — falou Dom. — Estou vendo
quem são os fodidos desgraçados que estão fazendo da minha
cidade um ponto de tráfico humano…
— E quando pegarmos eles, vamos mostrar o que
fazemos com gente desse tipo — Kill terminou a frase, aposto
que por Taby estar ali.
Nenhum de nós disse nada, nem mesmo ela. Eu que não
sentia pena desses caras nas mãos de Kill.
CAPÍTULO 14

Aliança com o inimigo


TABITTA

Uma semana tinha se passado após eu levar um tiro.


Minha recuperação estava indo bem. Voltaria a trabalhar
depois do feriado do final do ano. Meus pesadelos tinham
sumido, graças à Linda, a psicóloga que eu frequentava.
Papy descobriu que o homem que queria me matar no
clube era filho de Clara Daves. David Daves tentou me
assassinar para se vingar de Sebastian, mandante de morte de
sua mãe. A polícia estava apurando o caso, mas se tratando do
Sebastian, não duvidava de nada. Porém, se David achava que
me matando faria Sebastian perder uma noite de sono, estava
redondamente enganado. Era capaz de aquele crápula
agradecer a quem fez o serviço.
Foram fechados vários pontos de prostituição.
Prendemos diversos bandidos acusados de tráfico humano.
Mesmo afastada, eu os ajudava sempre que podia. Não
conseguia ficar de fora, vendo a injustiça, e eu sem poder fazer
nada.
Jason estava tão apegado à nossa filha que fazia tudo por
ela, até ir à escola e dizer aos coleguinhas que era o seu pai.
Sua alegria era contagiante, nunca vi meu bebê tão feliz assim
na vida. Ela já amava o Jason, mesmo antes de saber que era
seu pai. Agora que descobrira, estava no céu.
No aniversário dela, fomos almoçar fora. Bom, esse era
o meu plano, mas Jason, como sempre, interveio e fez uma
imensa festa, convidando mais de cem pessoas, mais amigos
dele do que meus. Ele disse que queria apresentá-la a todos,
queria que conhecessem sua filha e sua mulher. Eu adorava
quando ele falava que eu era sua mulher.
A festa estava sendo realizada no grande salão do Hotel
Plaza, que pertencia a Lucky Donovan.
— Papai — gritou Emily, correndo na direção do Jason.
Ela vestia um vestido branco rodado, com uma tiara de
borboletas. Seus cabelos estavam soltos e seus olhos
brilhavam ao fitar Jason. Eu amava isso, adorava sua
felicidade.
— Sem correr, Emily — a reprendi.
Ela parou na nossa frente e pegou a mão de Jason, que
logo a segurou nos braços.
— O que minha princesa quer? Me diga que eu faço.
Revirei os olhos.
— Cuidado com o que promete, essa danadinha pode ser
bem convincente quando deseja algo — falei, indo me sentar e
deixando os dois conversarem. Antes, ouvi o que ela pediu, o
que me fez rir sozinha.
— O senhor pode ser o Papai Noel este ano na escola?
Cada ano é o pai de um aluno. Meu nome foi sorteado, e meus
colegas disseram que você não aceitaria, por ser famoso. Mas
eu disse que você é o melhor pai do mundo e concordaria, não
é? — Sua alegria era tanta que seria impossível Jason negar.
Não que ele pretendesse, já que fazia tudo que ela queria.
— É claro que estarei lá, minha linda. Vou ser o Papai
Noel e darei presentes a todos — garantiu com carinho na voz
e jubilo, beijando-a em ambas as bochechas. — Este final de
ano será inesquecível para a minha princesa.
— Obrigada, papai! — Ele a colocou no chão e Emy
saiu correndo toda eufórica, gritando para seus amigos. —
Meu papai vai ser o Papai Noel mais lindo do mundo, e disse
que dará brinquedos a todos nós. — A turminha de amigos
dela comemorou.
Jason ficou lá, parado, olhando para ela como se grato
por tê-la. Eu também agradecia aos céus por ter os dois na
minha vida.
Estava sentada em uma mesa grande, sentindo os olhos
de uma pessoa em mim. A mulher do Lucky me mirava com
cara de poucos amigos. Eu sabia que ela estava reagindo assim
por eu ter abandonado Jason no passado. No momento em que
os vi juntos, percebi que ela gostava mais dele do que dos seus
outros amigos. Felizmente, não havia sentimento romântico. O
amor dela pelo seu marido, um homem moreno de cabelos
castanhos e olhos verdes, era evidente.
— Você está linda! — sussurrou Jason no meu ouvido,
assim que chegou à nossa mesa.
Eu vestia um vestido vermelho de cashmere tomara que
caia, todo modelado no meu corpo. Ele usava uma calça jeans
e camisa branca, enrolada até os cotovelos.
— Você também. — Sorri. — E aí, Papai Noel, hein?
Ela te convenceu a isso? Saiba que vou adorar ver você
gordinho.
Ele riu, olhando por sobre meu ombro, acredito que para
Emily.
— Emy está tão animada com isso, então não me
importo. — Deu de ombros e beijou minha testa. — Sua
felicidade é tudo para mim.
Angelina não pôde vir no aniversário de Emily porque
foi viajar com seu namorado para Vail. Bryan me disse que ela
foi passar o fim de semana lá com seu gato louro de olhos
caramelos. Gostei da minha amiga estar feliz com Ryan. A
viagem foi programada por Lucky e Bryan para tirá-la da
cidade por um tempinho, depois de eu ter dito aos dois o que
Stive Lutner era de verdade, um maldito serial killer que
poderia resolver procurá-la. Quanto ao bastardo do Franklin,
até agora não fizera nenhuma investida, então não faria mais,
assim eu esperava. Por via das dúvidas, havia guarda-costas
acompanhando os dois e as crianças vinte e quatro horas por
dia. Escondidos deles, claro. Lucky disse que não queria que
seu irmão se preocupasse com nada. Admirava esse seu jeito
protetor.
Rayla e seu namorado estavam perto dos pequenos que
brincavam mais afastados; acho que ela gostava de crianças.
Talvez pensasse no seu filho, que viria em alguns meses.
Samira estava ao seu lado. Ela era uma morena linda, alta,
com corpo fabuloso. Bem nerd, lembrava eu na escola, com
vestidos largos e tudo mais. Samira não era de se arrumar para
nada. Isso não mudava o quanto ela era perfeita, mas ela não
parecia acreditar.
Na mesa estavam Jason, Sam, Lucky e eu. Jordan e
Daniel não tinham chegado ainda. Bryan e Alexia também
não, mas estava cedo; logo apareceriam. Pela expressão que vi
no rosto de Bryan no dia anterior, ele e Alexia não tinham
voltado. Seja qual fosse o problema dos dois, esperava que
resolvessem, porque se amavam.
Suspirei, olhando para Sam e sua cara emburrada.
Estava assim desde que entrei no salão.
— Ok, desembuche — falei a ela. — Sei que deseja
dizer alguma coisa, então diga.
Lucky e Jason permaneceram calados.
— Tudo bem, se você quer assim… — Ela se ajeitou na
mesa e me fuzilou.
— Rosa Vermelha, deixe isso quieto.
Ignorou seu marido e me fitou, soltando a raiva que
estava sentindo.
— Você abandonou o Jason, quebrando seu coração, e
não deu sequer sinal de vida. Sabe o que fez? A ferida que
deixou? O tanto que ele sofreu por sua causa, todos esses
anos? Você não o merece, não depois de como agiu.
Jason expirou.
— Não diga isso, preciosa, ela não fez…
— Ela tem razão — concordei, encolhendo os ombros.
— Mas também está errada. Eu sei que não mereço Jason
depois do que o fiz passar, mas não me arrependo disso, só me
arrependo de fazê-lo sofrer. Tê-lo deixado é a razão para ele
estar vivo agora, a razão pela qual entrou na faculdade,
conheceu seu marido e realizou seu sonho de se tornar lutador.
— Mas ele não queria nada disso, Jason queria você —
rosnou.
— Eu também queria ficar ao seu lado, mas não podia.
Não foi só ele que sofreu esses anos, eu tive que andar me
escondendo durante muito tempo desse homem que queria a
morte das pessoas que eu amava. Tive que aprender a lutar
sozinha quando eles me acharam na Rússia, na China e em
vários países no primeiro mês longe de Jason. Na minha fuga
para Chicago, fui atingida na barriga e descobri que estava
grávida, também quase a perdi. — Olhei para Emily brincando
com um menino moreno. Acho que era Shaw, o filho adotivo
da Sam e Lucky. — Foi onde conheci meus pais adotivos. Eles
me deram proteção e me ajudaram a me esconder em uma casa
na Sibéria até Emily nascer e eu ver o que faria da minha vida.
— Respirei fundo. — Então eu não podia ficar com ele,
porque esse cara poderia levá-lo e me obrigar a fazer o que ele
queria, e eu faria qualquer coisa para salvar a sua vida, não me
importando o que viesse a acontecer comigo. Por causa de
Emily, não deixaria isso acontecer.
Jason ofegava.
— Você não me disse isso — acusou.
Mirei seus olhos grandes e tristes.
— Você não precisava saber de tudo de ruim que me
aconteceu. Eu só não disse nada para protegê-lo.
— Eu não queria proteção, maldição!
— Para que saber, para se torturar ainda mais? Eu
também não quero me lembrar daquele tempo sombrio da
minha vida. A única luz que veio para iluminar o meu
caminho foi Emily. Por ela e por você, Jason, sobrevivi a todos
esses anos. — Sam estava com os olhos molhados. Perguntei a
ela: — Você não faria o mesmo por seu marido? Ou ficaria
junto dele, não ligando para os riscos?
Ela se encolheu com o que eu disse. Lucky me lançou
um olhar venenoso, que ignorei; olhares assim não me
causavam medo, já estava acostumada a ver isso todos os dias
no meu serviço, então não me importava.
— Você está fazendo ela chorar — advertiu-me.
Estreitei meus olhos.
— Não era a verdade que ela queria ouvir? Aqui está a
realidade. Quando conheci o Jason, ele só tinha Dom. Falo de
amigos verdadeiros, não esses que, em qualquer dificuldade,
se afastam de você, igual aconteceu com seu pai e sua mãe…
— Taby… — avisou Jason.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou Jordan,
chegando até nós. Daniel estava ao seu lado.
Eu respirei fundo.
— Sentem que vou contar uma história a vocês. —
Jason espantou-se com o que eu disse. — Eles precisam saber
da verdade, querido. Tudo bem?
— Que verdade Jason não contou a nós? A mim, que
sou seu melhor amigo? — Lucky acusou com os dentes
cerrados. — Você já não contou que foi apaixonado por uma
mulher por anos, e ainda por cima a amava até hoje.
— Abaixe a crista, cara. Antes de você chegar acusando-
o, deixe eu falar primeiro — rosnei, não gostando de ele olhar
assim para Jason, como se meu amado o tivesse traído.
Ficaram quietos, a despeito de contrariados.
— Ótimo. — Virei para Sam. — Gosto de como se
preocupa com ele, da forma que o ama também. Ele merece
isso, merece ser amado, porque nem sempre foi assim.
Peguei uma taça de champanhe e tomei um gole.
— Seu pai era um tremendo de um hipócrita e
desgraçado, e não é só porque está morto que vou mudar
minha opinião sobre ele. Julio sempre dizia ao Jason que
ninguém lutaria ou ficaria com ele, que ninguém se importaria.
Mas Jason se provou forte, não ligando para seu pai. Pedi para
o Papy descobrir o seu paradeiro, checar como estava indo
sem seu filho. Não que eu me preocupasse, não era isso. Fui
visitá-lo no hospital para dizer algumas verdades que estavam
entaladas por anos na minha garganta e mostrar o que o filho
dele tinha se tornado, o cara maravilhoso que sempre foi, e que
não havia nada que ele pudesse fazer em relação a isso.
Contei aos seus amigos o que disse ao pai de Jason.
Falei que pelo homem que eu amava, faria e fiz de tudo para
mantê-lo feliz. Meu sacrifício por Jason só provava que ele era
importante. Por ele, eu entraria na frente de uma bala.
— Espero que isso nunca venha a acontecer —
sussurrou.
Eu sorri.
— Também espero. Eu disse a ele que Jason se tornou
um lutador, não só no ringue, mas no sentido de seguir em
frente, tendo tudo o que sempre quis. Que mesmo eu estando
longe, você permaneceria vivo e seguro.
— Eu tive algumas coisas nesse tempo, sim, mas o que
mais desejava era você. Não estou lhe acusando ou
reclamando… Se fosse comigo, eu faria o mesmo para vê-la
segura — declarou.
— Eu sei que sim. — Alisei sua mão e olhei seus
amigos. — Vocês parecem ser amigos de verdade dele, então
aqui vai a pergunta: o que fariam no meu lugar e do Dom? Ele
se sacrificou por Jason, se tornou líder dos MCs para protegê-
lo. Dom sabia que eu fazia o mesmo, mas não era suficiente
para afastar o Sebastian, então virou Shadow e fez coisas que
nem quero imaginar para manter Jason a salvo. Isso é amizade
e amor.
Lucky fitava Jason com compaixão e tristeza, acho que
pelas coisas que seu amigo passou.
— Quando conheci Dom e você naquele clube de luta
em Cambridge, senti que tinha algo de errado com os dois.
Mais com ele, pois inúmeras vezes eu o peguei pesquisando
sobre um homem parecido com um gângster. Não vi o nome
porque ele desligava o PC quando eu entrava, alegando que
era um trabalho que estava fazendo para uma garota. Cá entre
nós, quando Dom faria isso por uma mulher? Nunca, as
mulheres que faziam para ele, e não o contrário. Mesmo
achando estranho, deixei quieto na época. — Lucky tomou sua
bebida. — Acho que não devia ter feito isso, devia ter checado
mais a fundo, tentado ajudar de alguma forma.
— Você é poderoso agora, mas mesmo com seu
dinheiro, não iria querer bater de frente com o Sebastian, não
seria páreo para ele. Ele é chefe do cartel mexicano…
— Não é bom você sair falando sobre mim por aí, já que
meu nome está sendo procurado. — Escutei a voz dos meus
pesadelos.
Eu me coloquei de pé num salto e olhei para o homem
que esperava rever, mas comigo armada, colocando-o na
cadeia. E ali estava, desarmada, na festa de aniversário da
minha filha, onde havia muitos adultos inocentes e crianças.
Os convidados do Jason não tinham chegado ainda. Só Silas,
seu agente e seus amigos mais próximos. Papy e Mama
também não tinham aparecido. Torcia para que Thomas
notasse algum movimento estranho e mandasse os agentes
para prender esse homem. Infelizmente, com o que tínhamos
dele, não pegaria perpétua. Landon e Chris estavam no canto
com suas armas apontadas para os homens de Sebastian. Seus
capangas estavam sem nada nas mãos, mas isso não
significava que não estivessem armados.
— Todos atrás de mim — falei sem alterar a voz. Não
foi preciso repetir. Somente Jason se manteve ao meu lado.
Sebastian vestia-se de preto, com um terno caro que
valia mais do que meu salário. Também, com o tanto que
faturava com coisas ilegais… Preferiria andar nua a comprar
algo com dinheiro de sangue, conquistado mediante vidas
destruídas.
— O que está fazendo aqui? — Tentei não deixar minha
voz falhar, temendo pelos meus amigos. Ele estava cercado
por cinco caras.
Ele riu.
— É assim que trata seu pai?
Eu desdenhei.
— Pai? Você é muito ousado, seu crápula, para vir aqui e
dizer isso. Você foi apenas o doador de esperma para minha
mãe e nada mais. Talvez eu nem seja sua, já que a obrigava a
se prostituir por aí.
Estreitou os olhos.
— Você não sabe de nada, menina. Vamos conversar em
um lugar com menos pessoas ao redor. — Olhou por sobre
meu ombro e sorriu, acredito que para Emily. — Minha neta é
linda!
Cerrei os punhos e dei um passo até ele. Jason me puxou
de volta.
— Fique longe dela ou acabo com você — sibilei.
— Vim aqui para informar que sua vida corre perigo…
Ri com desdém.
— Não precisava deixar seu reinado no México para me
dizer que pretende me matar. Eu já sabia disso. Agora que está
aqui, pretendo prendê-lo por todos os crimes que cometeu na
sua vida.
— Não estou falando de mim, se eu quisesse matá-la, já
teria feito há muito tempo — retrucou.
— Você tentou me matar muitas vezes. Na Itália, na
China e até aqui no país, em Chicago, há quase nove anos.
Recebi um tiro na barriga, quase perdi minha filha. E
assassinou a minha avó. O que fez com seu corpo? Jogou em
algum lugar qualquer? Dentro de um rio?
Ele suspirou.
— Primeiro: não matei sua avó, foi Pablo, que foi morto
logo em seguida por ter feito o que fez. Também não mandei
meus homens a matarem, foi Hector Salgado, o antigo…
Eu sabia quem era Hector Salgado, pesquisei mais sobre
ele depois que Dom o mencionou.
— Sei quem ele é, o antigo chefe do cartel da família
Salgado ou Lobos Solitários, como eram conhecidos. Foi
morto há mais de sete anos… — Parei, porque foi bem nessa
época que deixei de ser perseguida. — Você o matou! Por quê?
Porque me queria levar para me prostituir para você? E aí se
livrou de um chefe de cartel para que ele não o impedisse, me
assassinando?
Deu um passo na minha direção. Jason me colocou atrás
dele e fuzilou Sebastian.
— Se tocá-la, juro que o mato — rosnou Jason com os
punhos cerrados. Pareceu se esquecer de que falava com um
bandido.
Os seus seguidores já estavam colocando suas mãos no
paletó, acredito que para pegarem suas armas. Meu coração
gelou no meu peito, com medo de uma possível catástrofe.
— Se vocês sacarem suas armas na frente da minha neta,
arranco seus fígados e os faço comer — ordenou num tom
mortal.
Saí de trás de Jason e encarei Sebastian. Todos se
recompuseram e não fizeram nada, acho que conheciam o
chefe que têm para saber que ele faria isso mesmo.
— E quanto à casa do Jason, há duas semanas? Três
homens, sendo dois deles Diego Sales e Victor Cortesia, que
fugiu, atiraram contra nós. Então, sim, você mandou me matar
— falei, ácida.
— Não mandei que fizessem isso. Depois terei uma
conversa com eles por ousarem agir pelas minhas costas. —
Seu tom era maligno. Não queria estar na pele de Cortesia e
Sales.
Expirei para me acalmar.
— Só me diga o que veio fazer aqui e vaze da minha
frente, a não ser que pretenda confessar seus crimes e me
deixar prendê-lo. — Não tinha esperança quanto a isso.
Esse era o problema: nós não conseguimos provas
suficientes para levá-lo por toda a sua vida à prisão. Ele usava
seus cúmplices para fazer o serviço sujo e, quando eram
pegos, confessavam que fizeram tudo por conta própria. Papy
disse que há nove anos tenta arranjar provas para trancafiá-lo;
até agora, não teve êxito. Sempre escapava pelos dedos, como
água.
Ele riu, sacudindo a cabeça.
— Não posso protegê-la da prisão, então não, não serei
preso hoje… — Foi interrompido quando as portas se abriram.
Por elas, entraram Papy, Dennis, Lincoln, Bryan e mais
agentes do FBI. Apontavam suas armas para Sebastian e seus
homens.
— FBI, mãos para cima, onde eu possa ver. — gritou
Papy.
Olhei assustada para onde Emily e seus coleguinhas
estavam, mas não os vi, e nem o garotinho da Sam. As outras
pessoas ficaram em silêncio.
— Tire todos daqui, agora — ordenou Bryan a alguém.
— Rayla levou as crianças para o apartamento do Lucky,
eles estão bem, não se preocupe — garantiu Jason, notando a
minha preocupação.
Papy fuzilava com frieza Sebastian.
— Olá, agente Smith, nos vemos de novo — Sebastian
encarou Papy de frente. Não parecia temer as armas apontadas
para si. Contanto que seus servos não sacassem as suas
também, ficava tranquila.
— Eu vou prender você agora — rosnou Papy.
— Pelo quê? Até onde sei, você não tem provas
conclusivas contra mim, não aquelas que tanto deseja —
desdenhou. — E agora estou aqui porque você não soube
protegê-la, e, por sua culpa, a vida dela corre perigo. —
Apontou o dedo para mim, enraivecido.
— Desde quando se importa com sua filha? Você é um
desumano desgraçado, que não liga para nada, exceto faturar
dinheiro às custas de inocentes. Não me venha com essa de pai
protetor, porque isso você não é, e nunca foi.
— A única ameaça para mim é você, seu desgraçado. —
Aliviei-me pois todos saíram dali, embora contrariados,
forçados pelos agentes. Sam não queria ir, mas Lucky a levou,
não desejando arriscar a vida do seu bebê e de sua esposa.
— Eu não vou sem ela. — Jason segurava minha mão,
fuzilando um agente.
Fiz um sinal para meu colega deixá-lo. Sabia que ele não
me abandonaria, eu o conhecia bem.
Sebastian olhou para mim.
— Você, com sua ideia estúpida de me atrair para fora
do México, soltou meu nome na TV. Os Bravata viram, agora
virão atrás de você, não entende? Não sabe o que eles fazem?
Cortei-o, furiosa.
— O quê? Você é diferente dos Bravata? Diferente de
Andrey Jacov, o chefe da máfia? Eles são uns fodidos
mafiosos russos que faturam mais de setenta bilhões de euros
por ano, com mais de duzentos e cinquenta mil bandidos à sua
disposição e quase dois milhões de seguidores pelo mundo
todo. — Deu um sorriso de merda, maravilhado por eu saber
algo assim. — O que, não achou que eu sabia de tudo isso?
Você comete os mesmos crimes que Andrey: tráfico de drogas,
prostituição, tráfico humano, tráfico de órgãos, homicídio,
extorsão e lavagem de dinheiro. O que mais tem para eu
colocar na lista? Você e esse mafioso desgraçado não deviam
estar soltos, deviam estar no inferno, que é o seu lugar.
— Impressionante a forma com que nos odeia…
Eu o interrompi.
— Odeio todos que fazem mal no mundo; você é um
deles.
Sebastian sacudiu a cabeça.
— Em vez de ficar rosnando para mim, me acusando de
fazer tudo isso, deveria tomar cuidado com sua segurança.
Provavelmente conhece o que Andrey faz com seus
prisioneiros — rosnou de volta. — E você não está ajudando
concedendo entrevistas, falando a meu respeito.
— Espere, o que os Bravata querem com Tabitta? —
indagou Papy.
— Capturá-la, claro, para chegar até mim. Eu a mantive
nas sombras por muito tempo, mas ao sair na TV, eles
descobriram que ela é minha filha e virão atrás dela. Por isso
eu vim aqui, para protegê-la.
— Não preciso da sua ajuda, aliás, não preciso nada de
você e de seus modos sujos de resolver as coisas. — Olhei
para o Papy — Se vai prendê-lo, tire-o da minha frente antes
que eu mesma atire nesse monstro.
— Mesmo que me leve preso, não vou ficar lá por muito
tempo, sabem disso. Vocês têm alguma prova contra mim que
me deixará trancafiado para sempre? Aposto que não.
Evidências não conclusivas jamais convencerão o júri a me dar
pena de morte ou ao menos perpétua. — Fitou cada um dos
agentes e, por último, Papy.
— Temos Franklin, vocês dois estavam conversando na
sua casa no México, e com menores do lado.
— Isso, minha querida, não prova nada, apenas que ele
foi me visitar com suas mulheres, mas eu não sabia que elas
eram menores de idade. E ele não lhes disse nada além disso,
até onde me informaram.
— O que ele foi fazer lá, se não tinham negócios juntos?
— sibilou Bryan.
— Propor negócios que não aceitei, claro.
Bufei, indignada.
— Você consegue se safar em tudo, não é? Mas aqui vai
outra: na noite em que matou minha avó, você e seu bando
foram filmados saindo da nossa casa em Austin. Também
assassinou Pablo, o cara que atirou em vovó, e ocultou os
cadáveres.
Sorriu, inabalado com o que eu disse.
— Sim, fui avisar que sua vida corria perigo com Hector
Salgado atrás das duas, todavia, você não me deixou contar
nada disso depois que Pablo atirou na sua avó, simplesmente
se trancou no cofre.
— O que queria que eu fizesse, hein? Ele era seu servo e
matou minha avó…
Cortou-me.
— Sem o meu consentimento. E sim, se você
testemunhar, pode me acusar de matar Pablo, mas aí está: vai
mesmo querer me prender por um assassinato, sendo que alega
que cometi milhares de crimes, pelos quais mereceria a pena
de morte? E não ocultei o corpo de sua avó, ela está enterrada
em um cemitério. Direi onde depois que pegarmos Andrey.
— Você é um tremendo de um desgraçado — rosnei. —
Vou te fazer pagar por todas as vidas que destruiu, todas as
crianças raptadas que foram obrigadas a ganhar dinheiro para
você. Não posso provar ainda, mas conseguirei, nem que seja a
última coisa que faça na vida.
— Eu não vou impedir. Agora, acredito que temos um
problema maior. Soube por uma fonte confiável que Andrey
Jacov está em primeiro lugar na lista de procurados do FBI,
não? Vocês não podem e não vão conseguir capturá-lo sem
mim. Tenho um plano para prendê-lo. O que vai ser? Sei que
não têm provas suficientes contra ele, por isso nunca o
pegaram, porém, eu tenho. O suficiente para ele ser
extraditado para os Estados Unidos e julgado aqui, e não na
Rússia. Cederei elas a vocês, se trabalharmos juntos.
— Você está dizendo para nos unirmos para capturar
Andrey Jacov, é isso? — Dennis riu, sacudindo a cabeça. —
Por isso apareceu aqui sem ter medo de ir preso por
assassinato… Sabia que precisaríamos de você para capturar o
chefe da máfia russa.
— Nós não precisamos dele, podemos pegá-lo sozinhos,
sem esse assassino desalmado nos ajudando — grunhi, não
gostando da ideia de me aliar ao criminoso que mais queria
capturar. Sem chance no inferno.
— Sabe que depois de prendermos Andrey, pegaremos
você também, não? — Dennis questionou com as sobrancelhas
levantadas.
Sebastian sorriu.
— Vamos ver. Há apenas uma condição para eu
trabalhar com vocês. — Cruzou os braços e olhou para mim.
— Tabitta não estará no caso.
Arfei diante de sua petulância. Procurei Papy com o
olhar. Sebastian continuava com seu sorriso, o qual odiava; era
como se estivesse sempre um passo à minha frente. Eu me
enfureci e me lancei contra ele, mas não cheguei perto de
quebrar sua cara, porque Jason me pegou por trás e apertou
seus braços à minha volta, me impedindo de esganar esse
homem desgraçado.
— Tabitta, pare — ordenou Papy. Só usava esse tom
quando encarnava o papel de chefe, colocando o de pai de
lado. Eu me recompus e fuzilei Sebastian. — Ele tem razão…
Eu o cortei.
— O quê? Não pode me tirar assim do caso!
— É claro que posso, sou seu chefe. Além disso, Andrey
a quer, não vamos levá-la até ele e entregá-la de bandeja. Você
ficará afastada do caso e ponto final. — Olhou para Sebastian.
— Agora vamos andando, estou louco para saber seu plano. Se
não for bom, você ficará um bom tempo na prisão, mesmo que
não seja acusado de seus verdadeiros crimes.
CAPÍTULO 15

Perdão
TABITTA

Cheguei à casa do Jason furiosa, pisando forte e


querendo matar Sebastian com minhas próprias mãos. Como
ele ousava dizer que não faria parte desse caso? Maldito! Ele
não era nada, apenas um assassino filho da puta que achava
que podia dar as cartas. O pior foi que Papy aceitou suas
condições.
— Taby, querida, isso foi melhor, seja qual for o motivo
para esse cara exigir que se afastasse. Eu surtaria de tanto
medo. Se já não bastasse um cartel mexicano atrás de você,
agora vem essa máfia russa? Como manter minha mente sã
com você longe de mim? — Aproximou-se e tocou meu rosto.
Nós estávamos na sua sala. — Pelo modo que seu pai…
Eu o interrompi:
— Ele não é meu pai, Papy é.
— Eu sei, linda. O que quero dizer é que tudo isso
levaria tempo e você teria que ir para a Rússia com eles. Não
posso deixar isso acontecer, ficaria louco aqui pensando no
pior.
Nesse ponto ele tinha razão. Queria fazer parte da
investigação contra Andrey, contudo, teria que ficar meses
afastada de Jason e Emily, e não conseguiria. Já fiquei longe
dela a trabalho, mas nunca durante meses.
Como a festa de Emily foi interrompida, ficamos de
levá-la para se divertir no zoológico, porque ela amava
animais. Puxou à vovó, que só não criava um monte de gatos
porque eu era alérgica a pelos. Por isso nunca pude comprar
um cachorrinho para Emily. Esperava que quando tudo isso
acabasse, aquele desgraçado contasse onde vovó foi enterrada.
Fitei o anel de noivado no meu dedo. Queria casar o
quanto antes, mas como pensávamos em casar na praia,
precisava que todos esses chefes de cartel e da máfia russa
estivessem presos. Odiaria ser interrompida no meu
casamento, aí sim mataria alguém. Então Jason e eu decidimos
realizar a cerimônia depois deles serem presos. Nenhum sairia
livre disso, não mesmo.
Passei a morar em sua casa. Eu ia me mudar para o
Brooklyn, mas ele me convenceu, já que estávamos noivos, a
morar juntos até nos casarmos. Claro que mudei a cor da casa
e até os móveis, tornando o ambiente mais alegre, combinando
com a família feliz que éramos, e não sombria, como estava a
vida dele antes de nos reencontrarmos. Havia fotografias de
nós três em todos os lugares.
Olhei para o meu lindo namorado, ou melhor, noivo, e o
beijei. Precisava senti-lo nem que fosse um pouco, mesmo que
não pudéssemos nos aprofundar mais no beijo, porque nossa
filha estava na porta ao lado.
— Eca, vocês dois. Beijo é algo nojento, cheio de saliva
— disse Emily, entrando na sala. — Quando eu namorar o
Jacob, não vou beijá-lo.
Eu sorri. Jacob era o garoto que estava com ela no Hotel
Calion. Toda vez que me lembrava de resgatarmos sua irmã,
Julie, das garras daqueles estupradores, sentia mais ódio de
Sebastian.
Fui visitar os dois irmãos há alguns dias, moravam em
um trailer afastado do centro. Meu coração sangrou ao ver o
estado em que viviam. Sua mãe estava doente, vivia mais
internada do que com eles, então os dois ficavam bastante
tempo sozinhos e indefesos, por isso a garota foi sequestrada.
Veria como poderia ajudá-los de alguma forma. Jacob era um
garoto que valia ouro, doce e gentil, mas ficava furioso quando
se deparava com injustiça. Dei meu telefone a ele para me
ligar caso acontecesse algo.
— Emy, Jacob é cinco anos mais velho que você. E você
é nova demais para pensar nisso. — Jason se afastou de mim e
olhou para ela.
Jacob tinha treze anos (e, sua irmã, quinze), e não onze
como eu havia imaginado. Apenas era baixinho.
— Só vai namorar quando o cara em questão me
derrotar no ringue.
Ela arregalou os olhos.
— Mas o senhor é invencível, nunca perdeu uma luta na
vida.
Jason sorriu com a declaração dela e a pegou pela
cintura, suspendendo-a do chão e beijando sua cabeça. Eu
adorava ver momentos como esse dos dois juntos.
— Por isso mesmo, querida. Não vai namorar nunca.
Revirei os olhos para os dois. Antes que eu dissesse que
Jason não podia controlar para sempre a vida de nossa filha,
meu telefone tocou.
— Alô? — sondei, confusa, porque não havia
identificação na tela.
— Senhora agente, Julie e eu precisamos de você —
disse Jacob; só ele me chamava assim. Soou urgente e
amedrontado.
— Jacob? O que foi, aconteceu alguma coisa?
— Meu pai veio ao nosso trailer querendo levar Julie e
eu com ele, mas não posso permitir, ele é igual ao cara do
hotel. Por favor, nos ajude — implorou. — Foi ele quem deu
Julie para o cara que a levou aquele dia.
— Calma, Jacob. Cadê sua mãe?
Ele suspirou, parecendo chorar.
— Mamãe está no hospital… Ela está morrendo.
Olhei para Jason e minha filha, ambos assustados.
— Vocês têm um lugar onde possam se esconder até eu
chegar aí? Estou em Manhattan agora, demorarei algumas
horas. Qual é o nome desse cara?
— Samuel Diaz. E temos sim. Assim que a senhora
chegar, me ligue, que atendo e digo onde estou. — Parecia
correr. — Obrigado, senhora agente.
— Taby, o que foi?
Desliguei o telefone e peguei as chaves da Mercedes.
— A mãe de Jacob foi internada e seu pai louco, que por
sinal parece ser quem entregou sua irmã a Matias e Júlio
Weston, está atrás dos dois. Estou indo para sua casa agora
resolver isso. Fique com Emily…
— Oh, coisa nenhuma, você não vai sozinha, eu vou
junto — falou com firmeza. — Já te vi em perigo demais por
hoje, então sem reclamação, eu vou com você.
Suspirei, desistindo. Chegamos a Trenton uma hora e
meia depois. Liguei para Jacob, e ficamos de nos encontrar no
hospital.
Os dois estavam lá fora me esperando, com suas roupas
um pouco rasgadas e sujas. Um homem alto aguardava na
frente dos dois. Jacob entrou na frente da irmã, encarando-o
com frieza.
Saí do carro antes que Jason encostasse na vaga e corri,
ignorando meu noivo praguejando baixo.
— Você não é meu pai, desgraçado. Nunca ligou para
mim, por que só agora apareceu?
— Sua mãe está morrendo, vocês dois não têm ninguém
além de mim. — Virou na direção de Julie. — Vou saber usá-
la muito bem.
Ela cuspiu na cara dele.
— Vá à merda, seu crápula. Se acha que vou com um
desgraçado igual a você, está enganado. Foi você quem me
deu para aquele cara no hotel, e ele levou meu irmão. Por
sorte, fui liberta pela agente que cuidou de nós.
O cara fez menção de dar um tapa na Julie, porém, eu o
impedi, chegando por trás dele e colocando a arma na sua
cabeça.
— Se tentar alguma coisa eu atiro em você agora,
Samuel Diaz. Ou eu devo te chamar de Dentinho? — Prostrei-
me na frente dos garotos e peitei o verme. Alguns de seus
dentes faltavam.
Eu dei o nome do cara para Bryan puxar sua ficha antes
de ir para lá. Era um tremendo de um filho da puta, um cafetão
de segunda. Era pai só de Jacob, e não de Julie. Decerto usaria
a garota, uma loura linda para fins inescrupulosos. Mas isso
não aconteceria, eu não permitiria. Perguntava-me o que
Rebeca, a mãe deles, viu neste homem… Por que se
envolveria com alguém igual a ele?
— Quem é você, sua vadia desgraçada… — Foi
interrompido por um soco de Jason; mais um dente caiu no
chão, e ele tombou, desacordado.
Sacudi a cabeça, repreendendo Jason.
— Querido, você precisa se controlar, não pode
simplesmente chegar e derrubar os criminosos com um soco.
Sabe aquele ditado “Pergunte primeiro para bater depois”?
Deu de ombros, perguntando aos garotos.
— Vocês estão bem?
Antes que eu respondesse, Julie saiu do seu lugar e deu
um tapa no rosto de Jason, pegando todos de surpresa,
inclusive Jason.
— Ficou maluca, Julie? — criticou Jacob, segurando seu
braço.
— Eu não acredito, Jacob, é ele mesmo! — disse e
gritou eufórica. Abraçou Jason, pegando-o desprevenido.
Jacob revirou os olhos.
— Ela é uma fã de carteirinha de Jason Falcon. Tem
fotos dele em todos os seus cadernos.
Julie riu e se afastou de Jason. Parecia estar sonhando
acordada.
— Desculpe por bater em você, precisava ver se você
era real mesmo. — Quicava de tão feliz. — Sempre sonhei em
me casar com você quando crescesse.
Eu ri.
— Você e toda a população feminina do universo —
falei. — Vou chamar a polícia para prender Samuel Diaz, já
que ele é procurado.
Julie piscou.
— Desculpe por agarrar ele assim, mas eu sonhava em
vê-lo há muito tempo, até fui à sua luta com Escorpião.
— Não tem problema, querida, Jason tem esse efeito nas
pessoas, mulheres principalmente. — Beijei de leve os lábios
dele, que fez uma careta com a menção às mulheres. — Farei a
ligação. Enquanto isso, entrem no hospital e procurem saber
como vai Rebeca.
Ele arfou.
— Rebeca? — Seu tom saiu estranho ao pronunciar esse
nome.
— Sim, a mãe dos meninos que está internada aqui.
Assentiu e foi com os garotos para dentro do prédio.
Ignorei sua reação. Será que ele a conhecia? Será que Rebeca
era Bechy? Não podia ser. Fui interrompida em minhas
conjecturas
— Alô? — Minha voz soou grossa.
— Não sabe o que descobri sobre Rebeca Louis Falcon.
Ela é a mãe de Jason, Taby, precisa dizer a ele antes de
chegarem.
— É tarde demais para isso, Bryan. Depois eu ligo,
tenho que ir. — Corri para a entrada do hospital, avisando ao
guarda de lá para chamar a polícia e prender Samuel Diaz, que
deixei algemado e inconsciente.
Cheguei ao quarto informado pela enfermeira, onde
estava deitada na cama e moribunda a mulher que abandonou
Jason quando criança, largando-o com o monstro do seu pai.
Eu tinha antipatia pelos dois por fazerem Jason sofrer todos
aqueles anos. Agora me deparava com seus filhos, irmãos de
Jason… Escondi minha antipatia pela mulher no seu leito de
morte.
Acabara de falar com o médico: o câncer atingira todos
os seus órgãos; eles deram horas para ela. O estranho era que o
médico também disse que se tivesse tratado há alguns meses,
ela teria se salvado. Por que não buscou a ajuda de Jason? Ele
teria auxiliado, mesmo não gostando dela por deixá-lo.
Assim que entrei no quarto, ouvi o sussurro dela falando
com ele. Seus ombros estavam tensos e rígidos enquanto fitava
a mulher, e suas mãos em punhos.
— Você me abandonou com aquele homem, agora está
pedindo para eu esquecer todas as…
— Jason, você pode ser adulto, mas não faça mamãe
chorar ou brigaremos — rosnou Jacob.
— Jacob, querido. — Sua voz saía fraca ao falar com
eles. Jason se parecia com ela. Tinha cabelos castanhos, com
alguns fios brancos, e um rosto demonstrando envelhecimento
precoce. Ela não tinha mais de sessenta e cinco anos, mas sua
aparência estava péssima. A doença e o sofrimento acabam
com as pessoas. — Ele tem razão para me odiar, eu o deixei
quando era pequeno e indefeso nas mãos do pai dele. Não
conseguia mais ficar com um homem que me batia. Mas eu
estava doente na época, não podia ficar com você. — Olhou
para o Jason. — Se tivesse, teríamos morrido os dois sozinhos,
sem dinheiro e sem lugar para morar. Não estou pedindo que
me perdoe, porque isso é impossível. Aceitei esta doença
como um castigo por fazê-lo sofrer todos esses anos.
— Mamãe, não morra — pediu Jacob, tocando o rosto
dela. Ele estava chorando. — A senhora agente e Jason vão
levá-la a um hospital melhor, então…
— Meu garoto, sempre tentando conseguir um jeito de
me salvar…
— Se a senhora sabia que Jason Falcon era nosso irmão,
por que não pediu a ele para contratar um médico bom que a
curasse? — Julie sussurrou com lágrimas nos olhos.
Rebeca respirou fundo e se encolheu, tossindo por
alguns segundos.
— Mamãe! — gritaram Jacob e Julie em uníssono.
Jason saiu do transe e deu mais um passo na direção da
cama, mas parou quando Rebeca falou, ofegante:
— Jason… Eu o magoei muito, não achava justo
aparecer e pedir algo assim a ele, só por ser famoso e ter
dinheiro. Eu mereço seu ódio por mim…
— Não odeio a senhora. Houve um tempo que sim, mas
não mais. — Chegou perto de sua cama e tocou o rosto dela,
limpando as lágrimas.
— Eu sempre amei você, Jason, tanto que guardo suas
coisas de quando era criança no trailer. Carrego comigo tudo
que era seu. Foi a forma que achei de ter um pedacinho de
você comigo. Sinto muito, meu filho. Eu tentei te achar
depois, na Geórgia, mas seu pai se mudou, levando você com
ele, e perdi o contato…
— Está tudo bem, mamãe. Não fale agora, apenas
descansa um pouco…
— Eu não tenho muito tempo. Você precisa tomar conta
dos seus irmãos para mim. Sei que o pai de Jacob vai querer
ficar com ele só para ter Julie, então os proteja. Eu me
entristeço de partir e não poder protegê-los.
— Prometo, ninguém tocará nos dois, juro pela vida da
minha filha.
Ela sorriu.
— Não esperaria nada menos de você, Jason. Com o
sofrimento que deve ter passado com seu pai, você nunca se
tornaria igual a ele. Sempre foi um garoto bom.
Jason respirou fundo.
— Tudo graças à Tabitta, minha noiva. Ela transformou
a escuridão que eu tinha, em luz. E me deu uma filha linda,
olhe ela aqui. — Tirou seu celular do bolso e mostrou a foto de
Emily jogando um beijo para ele. — Ela é meu raio de sol.
— Linda! Se parece com você. Fico feliz que esteja
contente, meu garoto. Tornou-se um homem grande e forte. —
Pousou os olhos atrás dele e se deparou comigo ali, espiando o
momento da família. — Foi você quem trouxe a luz para a
vida do meu filho?
Eu me endireitei e entrei no quarto, ficando perto do
Jason, que estava com os olhos úmidos. Sabia que a morte dela
estava chegando. Meu coração doeu por ele, porque ao
contrário do seu pai, sua mãe se arrependeu do que fez. Eu
queria tirar sua dor, mas não podia.
— Ele também trouxe luz à minha — falei a verdade. —
Quero dizer que descanse em paz. Jason e eu perdoamos a
senhora por tê-lo deixado. Juramos dar amor e carinho a Jacob
e Julie.
Ela olhou para Jason por um segundo, como se estivesse
buscando confirmação para o que eu falei.
— Sim, perdoo a senhora. — Abaixou-se, beijando a
testa dela. — Também sempre te amei e vou amá-la para a
eternidade, mamãe.
Alguns segundos depois, Rebeca deu seu último suspiro.
Os meninos começaram a gritar e chorar ainda mais, depois o
médico entrou e a deu como falecida, desligando os aparelhos.
Era como se ela estivesse se mantendo viva só para vê-lo antes
de morrer. Felizmente, os dois se despediram.
Abracei os meninos, oferecendo conforto a eles, já que
não podia tirar a dor que sentiam. Jason saiu do quarto quase
correndo. Eu me afastei deles, cujos olhos vertiam lágrimas.
— Já volto — falei aos dois e fui atrás de Jason. Ele
estava do lado de fora do quarto, no corredor, e já ia lançar um
soco na parede. — Não ouse se machucar! — gritei.
Ele freou o seu punho e me fitou com seus olhos
atormentados, também molhados.
— Nunca se machuque porque está sofrendo, Jason. Se
quiser bater em algo porque está assim, bata em mim…
Puxou-me para seus braços e chorou.
— Dezoito anos sem ela, sem saber nada a seu respeito,
e quando a encontro, em quinze minutos minha mãe morre?
Não é justo, por que ela não me procurou? Poderia estar viva
agora… — continuou balbuciando.
— Você precisa ser forte, seus irmãos necessitam de
você, tudo bem? Carecem do seu apoio. E eu estarei ao seu
lado, sempre — jurei. — Agora vamos voltar para o quarto,
pegá-los e organizar o funeral de Rebeca.
CAPÍTULO 16

Promessa
TABITTA

Três meses depois


Foram três meses difíceis, mas também felizes por ter
Jason, Emily, minha família, meus amigos e os dois novos
irmãos de meu amado noivo. Jacob e Julie estavam lidando do
jeito que podiam com a perda de sua mãe. Adoravam ficar
com Jason e comigo. Ele ficou com a guarda definitiva de
Jacob, já que o pai dele era um criminoso e passaria muitos
anos na cadeia.
Jason pegou as coisas que sua mãe guardava dele: meias,
chupeta, macacãozinho e uma carta, onde dizia que sentia
muito por tê-lo deixado, e também para cuidar dos irmãos.
Ficou destruído por semanas após sua morte, mas Emily, Jacob
e Julie faziam biscoito e chocolate e levavam na cama para
ele.
Entretanto, o que fez Jason levantar mesmo e deixar um
pouco sua dor de lado foi o sofrimento do Ryan. Não que eu
me importasse com aquele filho da puta…
Há três meses, Angelina me procurou pedindo minha
ajuda para protegê-la, porque Ryan queria que ela tirasse o
filho dos dois. Isso já me fez odiá-lo muito mais. E o pior:
falou que, ao ter o filho, corria perigo de morrer. Angelina era
cardiopata, então não podia ter filhos sem se arriscar.
— Tem certeza de que você quer isso? — inquiri, assim
que a levei para minha casa de praia, um lugar que ninguém
sabia que tinha. Eu iria guardá-la de todos, inclusive de seu
namorado, que não queria que ela tivesse a criança justamente
para não morrer no parto.
A casa de madeira avermelhada dispunha de quatro
quartos, sala e cozinha.
Ela suspirou com os olhos molhados.
— Só não conte a ninguém que estou aqui, muito menos
ao Jason, porque tenho certeza de que ele diria ao Ryan… —
Encolheu-se. — Também não me diga nada do que vier a
saber lá fora sobre ele… De como está lidando com a dor.
— Eu prometo, Angie, não vou dizer nada — jurei.
Essa promessa que fiz à Angie me custou muitas brigas
com Jason, mas não ia traí-la, porque ela precisava da minha
ajuda e proteção.
— Ele é meu amigo, droga, e está sofrendo agora, não
vê isso? — sibilou uma noite, quando pediu para eu dizer o
paradeiro dela.
— Não posso quebrar minha promessa. Se aquele filho
da puta se preocupasse com ela, não a mandaria abortar seu
filho. Só não fui lá dar uma lição nele porque ela pediu —
gritei de volta.
Depois disso, tivemos várias discussões. Para não brigar
mais, me mantive focada no trabalho, e ele viajando para suas
lutas. Eu ligava todas as noites. Jason atendia, mas não dizia
nada, e ficávamos os dois ali, sem falar por um momento. Até
ele suspirar e dizer que me amava, e eu de volta. Isso
acontecia sempre que estávamos longe um do outro.
Por três meses, mal nos tocamos, e quando fazíamos, ao
acabarmos, ele virava as costas para mim, me ignorando. Eu
sabia que merecia isso por esconder Angelina.
Johnny e Charles, amigos de Angelina (e namorados, o
que era um desperdício, porque os bofes eram lindos)
cuidavam dela para mim enquanto eu não podia durante esses
meses. Eles a amavam tanto quanto eu. Mas eu escapulia
durante o serviço e ia com ela nas suas consultas médicas.
Pegava ruas diferences para não ser seguida por alguém que
estava caçando Angie, Bryan era um deles.
— Seu bebê está se formando bem, acredito que daqui a
dois meses já podemos fazer uma cesariana — o médico disse.
— Completaram seis meses hoje, então com oito meses
podemos tentar. Você aguentará até lá?
Angelina ficava mais fraca a cada segundo, tanto que
nos dez últimos dias tive de dizer ao Jason que ia a trabalho ao
Alaska, só para fazer companhia a ela. Ele desconfiou, seus
olhos se estreitaram, mas não disse nada, já que nossa
comunicação estava nula por enquanto. Esperava fazer as
pazes em breve.
Angie estava ofegante, mal andava e ficava sem ar. Eu
queria ajudar, contudo, não podia fazer nada por ela, apenas
permanecer ao seu lado e amar a filha que ela estava
esperando.
— Que nome vamos dar à nossa menina? — indaguei ao
colocá-la na cama. Escondia meu desespero e medo de que ela
não resistisse à cirurgia. Ela não precisava saber o quanto
estava sofrendo por me sentir impotente.
Angie sorriu, arquejando, e alisou a barriga. Deitei ao
seu lado e também passei a mão ali, sentindo nossa bebê
chutar.
— Victoria, porque se parecerá com o pai e será um
milagre tê-la. Eu vou conseguir, certo, Taby? — perguntou,
chorando. Eu a abracei forte e beijei seus cabelos.
— Vocês duas conseguirão, minha querida. Nós ainda
vamos atirar nos garotos que vierem convidá-la para sair — eu
disse.
Ela riu.
— Só você para me fazer rir em uma hora assim. Mesmo
ele não estando aqui comigo… — Expirou, fechando os olhos.
— Estou feliz por nossa filha estar bem…
Eu não queria pensar no Ryan, porque sempre que o
fazia, me dava vontade de matá-lo. Por que aquele filho da
puta não usou preservativo? Se ele tivesse feito isso, hoje a
vida dela não correria perigo. Não só ela, como Victoria
também.
Mandei Emily, Shane e Lira, irmãozinhos de Angelina
dos quais ela tomava conta desde que seus pais morreram,
irem passear com Samira, que ficou ao meu lado o tempo todo.
Uma amiga que valia ouro.
Estava prestes a ligar para Jason. Ele chegaria aquele dia
de uma luta em Londres. Eu precisava fazer alguma coisa por
Angie, estava com medo dela não conseguir. E ela amava
aquele fodido do seu namorado. Se ele a fizesse feliz, talvez
isso desse mais forças para minha amiga lutar por sua vida.
A campainha tocou antes que eu pudesse ligar para ele.
E não foi preciso, porque era Ryan na porta. Uma fúria me
subiu por ele estar ali, de pé, enquanto ela estava acamada e
com a respiração pior. Sua cardiopatia se agravara porque
resolveu parar de tomar os remédios para não prejudicar a
bebê.
Abri a porta e olhei para o cara de quem sentia raiva
desde que soube o que ele fez. Não dei a mínima para se
estava sofrendo ou não. Fechei minhas mãos em punhos e fui
esmurrar sua cara, mas o bastardo se esquivou.
— Seu filho da puta — rugi. Estava prestes a matá-lo,
mas fui levada para longe dele pelo Jason, que me pegou pela
cintura e me carregou até a cozinha. — Vou cortar seu pau
com faca cega e fazê-lo comer, seu desgraçado. Vou pegar
uma pá e estripá-lo com ela! — continuei xingando. O que me
fez ficar com mais raiva foi que ele me ignorou e subiu a
escada, indo para o quarto de Angelina.
Jason me imprensou na parede.
— Quer se acalmar? Você não pode enfrentar um
homem como Ryan, a sua cabeça não está em um bom lugar
neste momento. — Afastou-se, mas sentia que ele estava
grilado comigo, foi assim durante três meses.
— Ele merecia que eu fizesse coisa pior — rosnei. —
Castrá-lo ainda é pouco.
— Ficou maluca? Ele está sofrendo todo esse tempo
longe dela, droga, e você podia ter aliviado isso para ele, mas
não o fez. Decidiu até se afastar de mim só para não ter que
contar. Como foi seu trabalho no Alaska? — acusou. — Você
mentiu para mim.
Estreitei os olhos.
— Você também mentiu quando disse que ainda estava
em Londres, não é? Enquanto, estava em um maldito clube de
strippers em Chicago com Dom — sibilei.
— Acha que eu a trairia? — Uma sombra escura
atravessou suas feições. Isto me lembrou de quando o conheci
e duvidei dele, sua expressão ficava assim.
— Faz quanto tempo que não transamos? Uma ou duas
semanas? Isso sem contar que era frio depois que terminava, o
que sempre comprova que o homem tem outra mulher…
Ele me cortou, agora furioso.
— Você não confiou em mim para resolver a coisa com
Ryan e Angelina, apenas a escondeu e não me disse nada. Vi
meu amigo definhando a cada dia sem ela. E sabe por que eu
queria ajudá-lo, mesmo ele não merecendo? Porque eu fiquei
daquele jeito quando me deixou, e não foram três meses não,
foram quase nove anos num maldito purgatório. — Expirou,
ganhando gás. Eu me encolhi por lembrar do seu sofrimento.
— Ele está agora lá em cima naquele quarto sofrendo, vendo a
sua mulher doente e moribunda, sem saber se ela vai
sobreviver ao parto. Como acha que ele está, hein?
— Ele pode estar sofrendo, mas eu fiz uma promessa a
ela, não podia dizer nada a ele e nem a ninguém…
— A sua proeza com a promessa diminuiu o tempo dos
dois, porque ela pode…
Eu me lancei para ele, batendo no seu peito. Peguei-o
desprevenido. Estava sofrendo e com raiva dele pensar e dizer
isso.
— Ela não vai morrer, está me ouvindo? Ela não pode
morrer! — Socava e chorava ao mesmo tempo. — Se ela
precisar de um coração novo para viver, eu lhe dou o meu…
— Oh, Deus, Tabitta! — balbuciou entristecido e me
puxou para si. Eu quebrei ali, nos braços de Jason,
despedaçada tanto por ficar longe dele esse tempo, quanto pelo
meu medo de perder Angie, que era mais como a irmã que
nunca tive, tal qual Samira.
Ele alisava meus ombros, esperando que eu me
acalmasse.
— Nunca a trairia, Taby, independentemente de
estarmos brigados, jamais tocaria em outra mulher. Só você
importa. — Beijou a minha testa.

A cirurgia de Angie foi marcada para aquele dia, porque


ela acordou pior, não conseguia nem se mexer direito.
Estávamos todos na porta que levava ao centro cirúrgico,
observando-a encolhida na maca, ofegante pela dor que sentia.
— Vai dar tudo certo, Angie — Charles disse, beijando
sua testa, e Johnny também.
— Estaremos aqui com você — Johnny alisou seu rosto.
— Obrigada, pessoal — sussurrou. — Vocês são os
melhores amigos de todos os tempos…
— Eu a amo, sempre — declarei, chorando. Queria
acabar com seu sofrimento, mas não podia.
Angie não respondeu, acho que não conseguia falar. Para
ela, devia ser doloroso conversar, sendo que não tinha muito
oxigênio nos pulmões. Depois, seus olhos molhados pousaram
em Ryan. Os dele também estavam úmidos. O cara realmente
a amava, e não era pouco.
— Amo você, Ryan — afirmou, meio sem ar. — Lutarei
por nossas vidas, tanto a minha como a de nossa filha.
Ele ficou em silêncio por um instante, sem conseguir
falar, acredito que controlando o desespero por ela entrar
naquela sala sem saber o que aconteceria com Angie e nosso
bebê. Sim, “nosso”, pois eu seria a segunda mãe de Victoria.
Minha amiga o encarava com ansiedade, como se
buscasse saber que ele acreditava nela quando dizia que
voltaria.
— Sim, eu sei que vai — disse e a beijou nos lábios. —
Eu também te amo para sempre, minha vida.
Eu estava encolhida e chorando, tamanha era minha dor
e impotência, à semelhança de Ryan. Jason passou os braços à
minha volta e beijou minha testa, me dando conforto.
— Promete que se for para escolher entre eu e
Victoria… você vai salvá-la?
Arregalei os olhos diante do que ela pedia para ele.
Todavia, depois de pensar um segundo, eu faria a mesma se
estivesse no seu lugar. Se fosse para optar entre eu e Emily,
salvaria minha filha.
Notando a dor e o desespero de Ryan, percebi que seria
um tormento imenso escolher entre as duas pessoas que ele
mais amava. Seria como ser dividido ao meio.
— Anjo…
— Prometa, Ryan — suplicou. — Porque se me
escolher… eu não conseguirei… — Sua voz sumiu quando ela
desmaiou ali na nossa frente.
Todos nós soltamos gemidos de dor e desespero com
medo de perdê-la. Ryan começou a gritar, tocando seus
ombros, mas Lucky e Jason foram até ele e o arrastaram para
longe dela. Os médicos a levaram correndo para o centro
cirúrgico.
— Deus, Lucky! Se ela morrer, eu… — Ryan estava em
pânico. Ele se escorou na parede e quebrou ali, puxando as
pernas e se abraçando, parecendo uma criança desolada.
Lucky ficou falando com ele, tentando aconselhá-lo e
acalmá-lo. De repente, Ryan se levantou e seus olhos
pousaram em mim, o tom caramelo escurecido. Lançou-se na
minha direção. Por sorte, Jason tinha um bom reflexo e o
impediu de me atingir.
— Por sua culpa tive pouco tempo com ela —
esbravejou, querendo me matar. — Sua vadia desgraçada…
Foi cortado quando Jason o imprensou na parede;
chegou a gemer.
— Entendo seu sofrimento, porque fiquei do seu lado
todo esse tempo em que ela não me revelou onde estava
Angelina. Arrisquei meu relacionamento por você, porque não
achava justo sofrer longe da sua mulher. Mas não ouse chamá-
la assim de novo, ou eu vou esquecer que está sofrendo e
revidar como homem — alertou Jason.
Lucky entrou no meio e afastou Jason, olhando de um
para outro.
— Maldição, porra! Estamos em um hospital e sua
mulher está tendo sua filha agora, então não pense que teve
pouco tempo com ela, porque haverá mais para vocês dois,
ok? Um futuro onde criarão sua filha juntos — disse para um
Ryan encolhido.
Ryan não respondeu. Foi para uma vidraça com vista
para a cidade, mas aposto que ele não via nada, apenas
escuridão e dor. Eu estaria assim se fosse Jason naquela sala,
por isso não briguei ou senti raiva dele, embora ainda guarde
ressentimento por ele não ter se prevenido.
Lucky se virou para o Jason.
— Não é hora para isso, nem o lugar, droga. — Jogou as
mãos para cima num gesto frustrado. Sam foi até Ryan e
passou os braços na cintura dele.
— Falei com a enfermeira para saber como ela está…
— O que ela disse? — A voz dele parecia morta, aliás,
ele parecia morto.
— Que a respiração dela estabilizou e estão fazendo a
cesariana neste momento. — Soava fraca. — Ela vai ficar
bem, Ryan. Não precisa temer.
— Angie é uma guerreira, sempre foi. Lutou pelos
irmãos, pelos amigos, agora fará o mesmo por você e sua filha
— declarou Charles, olhando o Ryan. Ele não viu, porque
fitava a janela de vidro.
— Ela vai sair dessa e voltará para nós — assegurou
Johnny.
— Vocês dois também sabiam onde ela estava esse
tempo todo e não disseram nada — sussurrou desprovido de
vida, sem olhar para Johnny e Charles.
Johnny suspirou.
— Eu lamento, cara. Ela nos pediu segredo, e minha
ajuda foi para rastrear as consultas médicas e deletar tudo para
o Bryan não achar nada. — Mirava as costas do Ryan. — Sei
que foi errado, mas não podia dizer “não”, eu a amo como
uma irmã.
— Fizemos isso por Angie — afirmou Charles a todos.
— Vocês três são um bando de traidores — Ryan,
venenoso, falou para Charles, Johnny e eu. — Torçam para ela
sair dessa ou eu vou destruí-los. — Olhou para o Jason. —
Não me importa se ela é sua mulher ou não.
Jason já ia dando um passo até ele, mas segurei sua mão
e o mantive perto de mim. Ryan deu de ombros com o meu
gesto, virou as costas para nós e seguiu fitando o nada.
Não liguei para suas ameaças, porque sabia que ele
estava sofrendo com tudo o que aconteceu. Se não fosse isso,
ele jamais ameaçaria as pessoas. Muito menos a mulher do seu
amigo.
— Não é só você que a ama, ouviu? Nós também a
amamos e estamos com ela há mais tempo que você. — Eu
não queria abrir minha boca, contudo, não conseguia
simplesmente deixar de lado.
— Eu não quero ouvir sua voz — rosnou para mim.
— Sosseguem, os dois — ordenou Jason.
— Ele começou… — Meu telefone tocando me
interrompeu. Franzi a testa, não queria atender ninguém agora,
mas era o nome do Bryan. O que será que ele queria? Pelo que
eu saiba, estava trabalhando disfarçado na Rússia para
podermos pegar o chefe mafioso.
— Oi, olha, agora não é um bom momento para
falarmos…
— Quem é? — perguntou Jason.
Bryan me cortou.
— Alexia foi sequestrada…
— Oh, meu Deus, não! — Meu tom saiu agudo e mais
alto. Abaixei a voz porque uma enfermeira fez careta para
mim.
Jason veio até mim.
— Você está bem?
— Não entre em pânico agora, mas tem alguém
disfarçado aí no hospital para matar Angelina. Chris e Landon
a pegaram e está sendo mantida em uma sala até a polícia
chegar. Stive Lutner queria vingança, e sequestrou Alexia
também.
— Oh, Deus! — repeti. — Resolverei isso e depois vou
aí te ajudar.
— Não precisa, tem muita gente aqui para me dar
cobertura, apenas cuide da Angelina. Agora tenho que ir.
Guardei o celular e peguei a arma na minha bolsa.
— Tabitta, pelo amor de Deus, me diga o que houve,
está me deixando louco. — Jason pegou meu braço.
— Não posso explicar agora. — Saí correndo, parei na
frente do Lucky e olhei para ele, que ficou tenso me vendo
com uma arma. — Não deixe Jason vir atrás de mim.
Fui à sala onde a mulher estava sendo mantida sob
custódia, supervisionada por Landon e Chris. Encarei-a com
uma fúria assassina, me controlei para não puxar o gatilho; se
o fizesse, me arrependeria para sempre. Sentava-se na cadeira,
algemada com as mãos para trás. Landon e Chris conseguiram
uma sala vazia para eu interrogá-la até a polícia chegar.
— Como a descobriram aqui? — perguntei aos dois. —
Qual é o nome dela?
— Luana Savvy — respondeu Landon. — Bryan ligou e
me disse o que estava acontecendo, então fiz uma varredura
pelo hospital e descobrimos essa mulher, que não trabalha
aqui, vestida com o uniforme de enfermeira.
— Agora me diga onde está Alexia…
— O que minha irmã tem a ver com isso? — perguntou
Alex.
Virei-me e estavam todos ali, espantados, Jason incluso.
— Eu falei para impedir Jason de vir me procurar —
recriminei Lucky.
— O que está acontecendo? Quem é essa garota e o que
a Alexia tem a ver com isso? — perguntou Jason, chegando
perto de mim.
Ignorei-o e fitei a menina, que estava chorando.
— Quero saber onde ela está e por que veio para matar
Angelina.
Todos arfaram, em especial Ryan, ao meu lado.
— Você tentou matar minha mulher? Porra! — gritou na
cara dela, fazendo-a ir para trás com o corpo. A cadeira só não
caiu porque estava escorada na parede.
— Stive me pediu para acabar com sua vida, ele disse
que nós dois só podíamos ficar juntos se eu injetasse a agulha
com veneno na garota antes dela ter a criança, assim
morreriam as duas. — Sorriu para nós, balançando a cabeça
como se tivesse um tique nervoso. — Ele me ama, sei que vai
fazer a loura pagar.
— Oh, Deus! Ela é louca. — Entrei na frente do Ryan,
que parecia que queria matar a garota de uns vinte anos, mais
ou menos. — Ryan, eu cuido disso, então se afaste. Lucky —
chamei o irmão dele, porque Ryan hesitou.
Olhei para a garota morena com cabelos longos e presos
em um rabo de cavalo. O que a loucura não fazia? Isso não era
amor, ela precisava de um psiquiatra urgente.
— Vou te dizer quem é Stive Lutner: um monstro. Ele
conquista suas vítimas, as sequestra, espanca e estupra, depois
joga seus corpos no lixo. Quer mais ou continua apaixonada?
— Meu tom era mortal, ignorando seus olhos arregalados. —
Me diga onde esse maldito levou Alexia, ou eu juro que vou
usar um método de descobrir as coisas nada dentro da lei.
Adianto que será doloroso.
Então ela me disse que ele estava em Chicago, e Alexia
em um hotel em Nova York. Pena que nos encontrávamos
longe demais para acabar com o verme desgraçado. Mas eu
não entendi: se ele estava em Chicago, por que manter Alexia
em cativeiro em Nova York?
Alex saiu desesperado assim que soube da localização
de sua irmã. Rayla foi com ele. Liguei para o Bryan para
avisar sobre Alexia, caso já não soubesse; afinal, talvez tivesse
descoberto seu esconderijo antes de mim. Ele disse que
Daemon, do MC Fênix, já estava com ela. Bryan falou que o
cara era um excelente rastreador, foi ele quem encontrou
Angelina para Ryan.
Indaguei o que fariam quanto ao Stive, e Bryan
respondeu que quanto menos pessoas soubessem onde estava,
melhor. Um gelo desceu por minha espinha ao imaginar que
tivesse matado o cara. Não que Stive não merecesse, porque
merecia, sim. Mas se Bryan fizesse isso, estragaria sua vida.
Quatro horas depois do episódio da louca assassina, o
médico apareceu e avisou que a cirurgia foi bem. O tempo
seria essencial para sua recuperação. Fizeram a cesárea e
operaram seu coração.
— Então ela vai viver? — sondou Ryan com esperanças
na voz.
— As primeiras vinte e quatro horas nos dirão — disse o
médico, Raul, o mesmo que operou Shane, irmão da Angelina,
alguns meses atrás.
— E a Victoria, como está? — questionei.
— Ela está bem agora, mas na incubadora por ter
nascido prematura. Acredito que vai sobreviver.
Fomos para o berçário ver nossa bebezinha linda.
Angelina não podíamos visitar ainda, só quando ela fosse para
o quarto.
— Oh, que perfeita! — Queria pegá-la nos braços, mas
não podia, teria de esperar. Ela era tão miudinha. Enfiei as
mãos no buraco da incubadora e a toquei. Victoria estava
dormindo. Acariciei seu rostinho redondo e meio inchado.
— Fofinha da tia. — Sam, que também teve uma
menininha linda, babava por ela.
— Mamãe número um não pode estar aqui agora vendo
você, mas a sua segunda mamãe está, e sua tia também —
sussurrei, sorrindo.
Ryan se aproximou. Seus olhos estavam molhados e
maravilhados, como se presenciasse um milagre. E, realmente,
era um milagre ela estar viva.
— Quer tocá-la? — perguntei a ele. — Coloque o braço
aqui. — Fez o que eu pedi sem reclamar, acho que ele não
estava vendo mais nada ali, só ela, Victoria. Meio desajeitado,
tocou seu rostinho lindo.
— Tão pequena e linda! Como a mãe — murmurou. —
Maravilhosa, meu pequeno anjo.
— Sim, ela é. — Lucky sorriu, batendo nas costas do
irmão.
— Se Angie não conseguir…
— Angelina ficará bem, Ryan — garantiu Lucky.
— Eu só estou dizendo… Você pode tomar conta da
minha filha? Você e Sam são as únicas pessoas que conheço e
nas quais confio para amá-la, além de Rayla, mas ela está
grávida — sussurrava atormentado ao irmão.
— Prometemos, Ryan. Mas Angelina vai ficar bem,
acredite e tenha fé — assegurou Sam.

Três dias depois da cirurgia, Angelina acordou. Não


pude ficar mais feliz com isso. Agora minha amiga estava
segura de dois loucos, porque Franklin disse que não tocaria
nela e nem em ninguém da sua família, e Stive Lutner… Bem,
desse não tive notícias.
A alegria de ter Angelina e Victoria perto de nós
superava tudo. Pedi a todos para manter a sua tentativa de
assassinato longe dos seus ouvidos, até que ela ficasse cem por
cento boa.
CAPÍTULO 17

Infiltrados
JASON

Dois meses e meio depois


Olhei para a mulher que estava debaixo de mim, com
meu pau penetrando-a centímetro a centímetro, suas unhas
rasgando minhas costas e seus pés prensando minha bunda,
querendo mais de mim.
— Céus! — gritou. — Sim, Jason, me fode mais forte.
— Oh, querida, eu vou — rosnei e dei o que minha
garota queria. A cada estocada, a levava ao ápice do prazer.
Coloquei uma mão entre nós e esfreguei seu clitóris, fazendo-a
gritar. — Goze no meu pau, quero senti-lo quente com seu
gozo.
Empurrei mais forte meus quadris, em sincronia com os
dela. Adorava a sensação de ter meu pau dentro de Taby, sentir
suas unhas me deixando marcado. Ela disse que o faz para
todas as mulheres na academia verem que tenho dona; aprecio
essa possessividade. Ela puxou minha boca para a dela e
chupou minha língua com um gemido rouco, até que gozou
gritando, mas nossas bocas abafaram o som. Eu a segui logo
após. Fiquei em cima dela por um segundo, depois me retirei e
beijei sua testa.
— Essa foda foi… uau — sussurrou, beijando meu
peito. Sempre fazia isso onde ficava nossa tatuagem, como se
a quisesse ali de volta. Não dizia nada, mas eu entendia.
— Vou fazê-la de novo — disse, avaliando seu rosto. —
A tatuagem, quero dizer.
Ela sorriu.
— Não precisa, Jason. Sei que estou aqui. — Colocou a
mão em meu coração. — É por isso que eu beijo o local,
agradecendo por estar dentro de você sempre.
Eu sorri.
— Também gosto de estar dentro de você. — Beijei seus
lábios, depois falei sério: — Sim, você está no meu coração,
mas quero uma tatuagem que simbolize não só você, mas
Emy, Jacob, Julie e minha mãe.
— Hummm — murmurou e pegou minha mão. — Você
pode pôr as iniciais dos nossos nomes nos seus dedos. Ficaria
lindo. Também farei, mas colocarei os nomes nas asas da
borboleta. O que acha?
— Como é possível eu amá-la mais do que já amo? —
perguntei a mim mesmo. Ela tratava meus irmãos como se
fossem nossos filhos.
Jacob e Julie estavam indo à escola que Emy
frequentava. Os dois se deram bem ali, adaptando-se depressa.
Às vezes Emy chegava reclamando que Jacob não a deixava
conversar com nenhum coleguinha da escola. Gostava de
como protegia as duas meninas; enfrentou um homem em um
elevador só para salvar minha filha, e nem sabia que era tio
dela. Tremia ao pensar nos perigos que encararam aquele dia,
não só ele, mas Julie também. Por sorte, Emy não pensava
mais em namorar o Jacob, já que eram parentes. Argh, não
queria imaginá-la namorando alguém, talvez daqui a uns vinte
anos.
— Fico feliz com isso — falou, sorrindo. — Acha que
consegue mais uma? — Ela me montou. Olhei para cima, me
deparando com a coisa mais bela do mundo. Antes de
continuarmos, parei, pois ouvi um carro estacionando na frente
da casa. O segurança deve ter reconhecido, já que deixou
entrar.
— Acho que vamos ter que esperar. — Sentei-me com
ela ainda no meu colo, peguei o seu seio e coloquei-o na boca,
mordiscando. Taby gemeu e já ia encaixar meu pênis na sua
entrada, quando a campainha tocou sem parar.
— Juro que vou matar quem estiver na porta — rosnou,
saindo de cima de mim e indo no banheiro se limpar. Vestiu
um top e short curto, deixando sua barriga à mostra, e as
pernas também.
— Vai descer assim, sendo que nem sabemos quem está
lá embaixo? — Levantei-me também e coloquei uma bermuda.
Ia vestir uma camiseta, mas ela precisava mais. — Bote isso
para eu não assassinar alguém por olhar minhas gostosuras. —
Pus a mão na sua boceta por cima do short e apertei-a. Ela
gemeu, e o som foi direto no meu pau.
— Maldição! — sibilou com raiva, saindo do quarto
pisando forte.
Ri do seu jeito fogoso e sexy. Taby abriu a porta e meu
ânimo se foi. Por ela entraram Dennis, Lincoln e Bryan. Os
três ergueram as sobrancelhas para nós, Dennis e Bryan
sorrindo; já o filho da puta do Lincoln fez uma careta
desgostosa.
— Interrompemos alguma coisa? — perguntou Dennis
com um sorriso debochado.
Observei a reação dela, para checar se ao menos ia corar
um pouquinho, mas nada. Apenas estreitou os olhos.
— Sim, estávamos indo para a segunda rodada e vocês
nos interromperam — rosnou, enquanto eu sorria, orgulhoso
da minha mulher fogosa. — Então espero que seja importante.
Dennis revirou os olhos.
— Eu diria que lamento empatar, humm… o momento
de vocês, mas é necessário. — Seu tom agora era sério. — A
festa de casamento do Ryan Donovan será vigiada pelos
Bravata…
Taby ofegou de pavor.
— Espere, o quê? — arquejou. — Vamos prendê-los
antes disso, não é? Eles não podem estragar o casamento da
minha amiga.
— Nós pensamos em usar seu relacionamento com
Jason hoje na festa. Vocês entram em uma discussão, e Tabitta
sai correndo da igreja, levando todos a segui-la.
— Isso não vai acontecer. Não vou deixar esse bando de
assassinos ir atrás dela — rosnei com os punhos cerrados. —
Por que não aparecem lá e prendem todos os suspeitos?
— Porque não sabemos quem são, só que estarão à
espreita para levá-la com eles. E para não haver tumulto ou até
tiroteio na igreja, decidimos fazê-la se afastar das pessoas. Nós
a seguiremos. E quando os capangas de Andrey aparecerem
para sequestrá-la, pegaremos eles — falou Lincoln. Tinha algo
nesse cara que me fazia não confiar nele, e eu não parecia ser
o único que notava isso; Bryan o olhava com raiva.
Ela avaliou os três ali na sala.
— Mas assim não pegaremos o Andrey! Sei que ele está
em algum lugar escondido em Manhattan, então o que vocês
querem não é só que eu saia da festa, e sim que seja capturada
com uma escuta. Deste modo, teremos provas contra ele. —
Ela era esperta, soube exatamente o que eles estavam
enrolando para dizer.
— Isso não está acontecendo — grunhi para os três. —
Sem chance no inferno.
— É o único jeito — interveio Dennis. — Sem isso, não
vamos pegá-lo, porque ele não vai sair da toca. O que adianta
termos as provas e não a pessoa para prender?
— Irônico, não é? Temos Sebastian Ruiz, mas não
provas suficientes para prendê-lo, e temos provas sobre Jacov,
mas não conseguimos chegar nem no mesmo espaço que ele
— Bryan parecia falar com ele mesmo. — O homem está fora
do radar.
Ela ignorou Bryan e me fitou. Eu conhecia esse olhar,
era de quando ela queria fazer algo para um bem maior,
mesmo que se sacrificasse no processo. Minhas entranhas se
reviraram, eu não podia deixar isso acontecer, não podia.
— Jason, querido, dependemos disso para sermos
felizes, precisamos dele preso e do Sebastian também. —
Olhou para o Dennis. — E se ele quiser me usar de moeda de
troca com Sebastian? Garanto que não vai se entregar para me
libertar.
— Bom, ele não terá exatamente uma escolha, então o
bastardo estará lá quando Jacov exigir a troca. Prenderemos os
dois de uma vez — assegurou Dennis. — Topa?
— Papy não sabe desse nosso esquema, não é? —
inquiriu.
Dennis olhou para o Lincoln, que parecia nervoso
demais para o meu gosto.
— O agente Lincoln disse que tinha conversado com
Thomas, e que ele concordou.
Ela estreitou os olhos para Lincoln e Dennis, depois
suspirou.
— Tudo bem, eu aceito — disse.
Assim que os três saíram, correu para o andar de cima, e
eu a segui.
— Sabe que isso não vai acontecer — falei, vendo-a ir
para o banheiro e tirar as roupas. — O que está fazendo, Taby?
Ela não respondeu, só me mostrou uma escuta no bolso
do shortinho que usava antes. Eu já ia abrir a boca, mas ela me
silenciou, beijando-me, gemendo e gritando, em êxtase.
— Me foda mais fundo. Isso mesmo, querido, amo seu
pau dando cada estocada dentro de mim. — Ela me cutucou
para eu dizer mais alguma coisa.
Revirei os olhos, mas entrei no jogo, seja lá qual fosse
seu plano. Sabia que ela tinha um. Virei-a de costas para a
parede.
— Você ama meu pau, querida? — Tirei para fora meu
pênis e penetrei-a por trás, fazendo-a gritar. — Então ele é
todo seu, cada centímetro. — Puxei seus cabelos para trás,
lambi seu pescoço e mordisquei sua orelha. Uma mão
amassava seus seios, e a outra circulava seu clitóris.
— Oh, céus! Isso mesmo, mais forte — gritou.
Seja quem fosse que colocou a escuta, curtiria uns bons
gemidos. Fiz uns sons mais altos para abafar os dela ao ser
fodida, não queria nenhum filho da puta ficando excitado às
suas custas.
Dei mais duas estocadas e acelerei meus movimentos no
meu bebezinho rosado. Puxei de leve seu clitóris, ao que
chamou meu nome e se desmanchou nos meus braços. Gozei
logo em seguida.
— Você nunca me decepciona, querido noivo —
sussurrou, beijando meu peito, e foi para o chuveiro toda
sorridente.
— Eu e meu pau estamos aqui para servi-la, minha
querida noiva. — Tirei minhas roupas e entrei no chuveiro
com ela. — Agora vou mostrar o quão bom eu sou com a
boca.
— Oh, querido, já sei o quão talentosa sua língua é —
murmurou, rouca. Apertou suas pernas, contendo o atrito ao
imaginar minha boca sugando sua boceta deliciosa. Mas eu
não daria mais um show da minha vida privada para quem
estivesse ouvindo.
— Você a fez ficar talentosa, porque eu a coloquei só em
você em toda a minha vida — disse a verdade. Por mais que
tenha feito muito sexo por aí, nunca botei minha boca nas
mulheres, nem antes de conhecer a Tabitta. Ficava feliz por
não ter feito, porque o sorriso que ela me lançou agora valia
mais do que tudo na vida.
— Você é o melhor homem do mundo. — Pulou nos
meus braços. — Eu o amo.
— Eu também, minha linda. — Dei um beijo de leve nos
seus lábios.
Saímos do chuveiro e nos vestimos, eu de jeans e
camiseta com jaqueta, e ela com uma calça de couro,
moldando suas curvas gostosas. Fomos para a garagem.
— Então, vai me dizer o que está acontecendo?
Taby olhou para mim.
— Quando os três vieram aqui naquela hora, Lincoln se
aproximou de mim e tocou minha bunda…
— Espere, o quê? — cortei-a, furioso. — Eu vou
quebrar todos os seus dedos.
— Pode fazer isso depois. Na hora, eu senti e também ia
bater nele, mas Bryan me lançou um olhar significativo, que
normalmente só dá quando está planejando alguma coisa.
— Você está dizendo que esse filho da puta do Lincoln é
infiltrado…
— Acabei de falar com Bryan, soube que Lincoln é
russo e trabalha para o Jacov. Ninguém nunca desconfiou dele,
afinal, não tem sotaque. Sua mãe era americana. — Ela
suspirou. — Ele nunca chamou Papy ou perguntou nada,
planejava me levar lá, ter Sebastian e ficar comigo.
— Porque ele tem uma queda por você, não é? Deve
estar furioso depois do que tivemos no banheiro. — Avaliava
seu rosto lindo.
— Sim, todos esses anos trabalhando com Lincoln,
aprendi que, quando está com raiva, faz muita besteira,
impedindo-o de pensar direito. Por isso ele vai dar um passo
em falso e Bryan o pegará, mas precisamos deixá-lo pensar
que vou para Jacov, como era o plano.
Levantei uma sobrancelha.
— E você não vai?
— Eu vou, mas com uma equipe que não me trairia,
porque estando lá precisarei de proteção. Uma pessoa que seja
influente nesse terreno, em quem nós dois confiamos —
sussurrou, observando meu rosto.
— Dom — eu disse, e ela assentiu. — Ele virá para o
casamento do Ryan. Daemon ajudou muito na localização de
Angelina.
— Eu sei, Bryan marcou para encontrarmos com Dom
daqui a alguns minutos, no Hotel Riff. Então vamos, preciso ir
lá e voltar sem que ninguém me veja saindo até a hora do
casamento. — Abriu a porta de uma das minhas Mercedes,
entrou no banco de trás e se abaixou.

Chegamos ao quarto do hotel onde Dom estava junto


com Daemon, Nasx, Michael e a ruivinha, que me olhou de
cara feia. Ela ainda não esqueceu que eu bati no Dom alguns
meses atrás.
— Olá, Taby — Dom a cumprimentou. Todos vestiam
roupas de motoqueiro. — Jason.
Nós fizemos as pazes quando fui a Chicago alguns
meses antes. Eu estava desolado naquele dia, tinha brigado
com Taby porque ela não queria falar sobre Angelina.
Conversamos e nos entendemos. Claro que isso gerou
desconfiança da parte de Taby, quando descobriu que visitei o
clube de strippers do Michael, mas eu só fui lá porque era
onde Dom estava. Fiquei furioso por ela desconfiar de mim,
como se fosse possível eu traí-la com outra mulher. Só ela
importava.
Saudei os quatro caras. A ruiva levantou as sobrancelhas
— E quanto a mim, não vai me cumprimentar?
Revirei os olhos.
— Para quê? Você não vai com a minha cara. Se eu
desse as costas, aposto que ficaria tentada a enfiar suas adagas
nelas.
Ela riu.
— Tentação seria ver o Dom nu e não poder desfrutar do
seu…
— Pelo amor de Deus, Evy, não quero ouvir você
dizendo isso de qualquer homem, mesmo que seja seu marido,
ou eu vou querer cortar o seu pau e fazê-lo comer — rosnou
Michael.
— Vocês se casaram? — perguntou Tabitta. — Não
lembro de ser convidada.
Dom riu.
— Ainda não, mas será logo. Quero que vocês dois
sejam os padrinhos.
— Aceitamos, sim. — Taby sorriu, depois ficou séria. —
O nosso também acontecerá logo, assim que Jacov e Sebastian
estiverem presos.
— Bryan nos disse da emboscada. Mas Jacov não é
idiota, saberá o que está acontecendo, mesmo se não tivesse
X9 lá dentro — disse Dom.
— Eu sei, há infiltrados tanto de Sebastian como de
Jacov no FBI. A única pessoa em que confio lá dentro é o
Papy, acredito que o Bryan também. E em você, Dom, por isso
estou aqui, preciso ser capturada por Jacov, mas com a certeza
de que serei protegida quando tudo ficar feio. — Ela suspirou.
— Você sabe que vai ficar feio e ainda quer ir? —
indaguei — Fique aqui, eles podem conseguir outros agentes
para fazer isso.
— Jacov me quer, e não outra pessoa. — Fitou-me,
suplicante. — Se nós tivéssemos opção, tomaríamos outro
rumo, mas não há.
Suspirei, não gostando nem um pouco dela correr perigo
para prender um bandido da máfia russa. Queria ir no seu
lugar, mas não podia.
— Vamos bolar o plano, então — disse Nasx com um
sorriso e segurando um par de brincos, eu acho, em suas mãos.
— Isso ficará bem em você.
— São escutas? Eles vão perceber, caras como eles são
preparados para tudo — assegurou Taby.
— Por isso esse piercing aqui é para a sua… — Olhou
para mim, que fechei a cara. O bastardo continuava sorrindo.
— Bem, ninguém vai te revistar lá embaixo. Além disso, ele é
forrado por um plástico especial, caso usem detectores de
metal.
Eu trinquei os dentes.
— Você não vai colocar suas mãos na boceta da minha
mulher, porra!
— Eu não vou colocar as mãos, e sim o piercing nela…
— Oh, cacete se vai… Eu boto, sempre fiz os do Dom
na escola.
Taby riu.
— Gente, eu mesma ponho, já furei ela uma vez alguns
anos atrás, quando perdi uma aposta com Angelina. — Pegou
o piercing nas mãos do Nasx.
— Estraga-prazeres — murmurou Nasx. Ele se livrou de
eu quebrar sua cara, porque sabia que ele estava brincando.
— Vamos testar, vá no banheiro e coloque para
checarmos se é bom ou não. Fiz umas melhorias para o pano
não atrapalhar na hora de ouvirmos — falou Daemon para
Tabitta. — Enquanto isso, eu vou arrumando o aplicativo para
escutarmos tudo de onde estivermos.
Ela foi ao banheiro e ficou por alguns minutos. Depois
deu um grito, mas não foi de dor. Eu corri para lá, ignorando a
risada de Nasx e Daemon.
— Filho da puta! — gritou ela.
Entrei e fechei a porta, vendo-a escorada na parede com
as pernas abertas, uma no vaso e a outra no chão. Ela me
mirou com os olhos vidrados.
— Desculpe, são piercings vibradores que Daemon
inventou, não sabíamos que funcionava, agora sabemos. Este
que está aqui na minha mão é a escuta — gritou Nasx entre
risadas, batendo à porta. Não era só ele que ria.
Abri a porta, peguei a escuta fechei rápido, não querendo
que ele visse nada.
— Adoraria entrar num ringue com você, Nasx, vou te
fritar as bolas — Taby rosnou e sorriu para mim. — Acho que
gozei.
Eu ri e me agachei na frente dela. Trisquei seu piercing
brilhante, e ela gritou mais uma vez, entre xingamentos e
adoração. Coloquei minha boca no local, sugando o suco
proveniente de sua boceta saborosa.
— Maldição, Jason! — Pegou meus cabelos e apertou
meu rosto contra suas pernas, querendo mais da minha boca.
Dei a ela, dançando com a minha língua sobre seu clitóris,
sentindo o gosto que eu tanto amava.
— A escuta funciona bem, pessoal. Chega de pegação,
porque o casamento começa em duas horas — berrou Nasx,
rindo.
Saí do banheiro, mas só quando fiz minha mulher gozar
na minha boca. Naquele momento, me encontrava no paraíso,
mesmo sabendo que estaria no inferno dentro de algumas
horas.
CAPÍTULO 18

Salvador
TABITTA

O casamento de Angelina ia de vento em popa. Estava


contente por sua felicidade com seu marido e nossa
princesinha linda.
— Taby, estou com medo desse homem fazer algo a
você, mesmo estando vigiada por várias pessoas — sussurrou
Jason, entristecido.
Peguei seu rosto em minhas mãos e fitei seus olhos
lindos. Queria dizer a ele o que descobri há alguns dias, mas
temia que, se revelasse isso, Jason não me deixaria ir a canto
algum. Chegamos tão longe para desistir de pegar o mafioso.
Essa corrida infernal tinha de acabar hoje.
— Vai dar tudo certo, eu prometo. — Esperava estar
correta em relação a isso ou faria esse homem sofrer ainda
mais.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou Lucky,
bem na hora que Jason ia me interromper. Acho que tinha
noção de que estava escondendo algo dele. Mesmo comigo
usando minha máscara, ele sabia quando eu mentia, foi assim
que descobriu que eu estava com Angelina.
— Nada, está tudo bem — menti.
— Nada uma porra — rosnou Lucky. — Acha que sou
idiota? Estou vendo os olhares que dão a Dom e Bryan, então
me contem. Não quero que nada estrague a felicidade do meu
irmão. Ele já sofreu muito, não acham? — acusou-me.
— Eu não posso dizer, mas vou resolver tudo — garanti.
Lucky fechou a cara com minhas palavras vagas.
— O que ela vai resolver, Jason? — Buscou o amigo à
procura de resposta.
Eu suspirei.
— Vou me despedir dos noivos. — Saí antes dele falar
algo. Fui até Angie, que estava em uma salinha no fundo da
igreja, com Ryan ao seu lado. Ela amamentava a bebezinha.
— Você está feliz por passar a vida inteira com esse
traste? — Olhei feio para ele, que retribuiu com o mesmo
desgosto.
— Não briguem, os dois — falou, sacudindo a Victoria
já amamentada.
Sorri para ela e estendi os braços para pegar nossa
bebezinha.
— Venha com a mamãe dois…
Fui cortada pelo Ryan.
— Você não é mãe dela, porra! Não há a mais remota
possibilidade de eu ter enfiado meu pau em você, preferiria me
castrar — rosnou, me fuzilando com seus olhos frios.
Sorri com deleite.
— Eu posso cuidar disso. — Dei um passo na direção
dele, mas Angelina se colocou na frente.
— Não deixaria isso acontecer, preciso do seu… — ela
se interrompeu e olhou para Victoria, depois para mim,
corando. — Preciso dessa parte na lua de mel.
— Não se preocupe, eu te dou a coleção de pênis que
tenho guardada em casa — brinquei. Usava bastante
vibradores antes de Jason entrar de novo na minha vida. Agora
não precisava mais, já que dispunha de um de carne e osso.
Ryan grunhiu e saiu gritando o nome do Jason.
— Já vai tarde, carrapato. — Olhei para Angelina, que
estava sorrindo.
— Sabe que terá de perdoá-lo um dia, não? Não foi
culpa dele, e por causa disso nós temos ela. — Beijou Victoria.
— Eu sei, mas gosto de vê-lo arrancando os cabelos e
indo reclamar com Jason, sabendo que não vai resolver nada.
— Sorri.
— Quando vai me contar tudo sobre Jason e você? —
questionou, me avaliando.
Suspirei.
— Quando você chegar da lua de mel. Eu prometo.
— Eu a amo, Tabitta. Você é uma amiga que vale ouro
— declarou.
— Não seria melhor diamante? Eles são mais caros —
provoquei. — Também amo você…
Fui interrompida pelo meu telefone tocando.
— Oi, Samira, já chegou em casa? — Ela tinha ido
embora há pouco tempo. O ruído de choro que ouvi em
seguida drenou todo o sangue do meu rosto. — Samira?
— Fique calada ou sua amiguinha gostosa vai pagar por
isso — sibilou uma voz masculina.
— Não a machuque, por favor. — Pedi silêncio à Angie,
que estava assustada. — O que você quer?
— Nós dois sabemos o que eu quero, agente Rodrigues,
então vamos esquecer as formalidades e ir direto ao assunto.
Seu pai tem algo que desejo, provas contra mim. Preciso delas
hoje. Você terá uma hora, ou sua amiga pagará o preço.
— Não seria mais fácil eu levar Sebastian até você?
Perguntaria diretamente a ele e teria sua vingança. — Tentei
ganhar tempo. Sebastian estava sob custódia da polícia,
contudo, jamais cederia essas provas tão facilmente. Não daria
tempo de salvar minha amiga.
Ele riu.
— Você vai entregar seu pai? Os filhos hoje em dia não
nos dão mais valor como antigamente — recriminou
— Sebastian não é meu pai, e sim um assassino que
merece morrer.
— As horas estão correndo, agente Rodrigues. Vá
buscar seu pai na toca onde ele estiver, e se encaminhem ao
lugar que informarei por mensagem — ordenou, impaciente.
Desligou o telefone. Eu ainda respirava mal. Sabia que
Daemon já teria ouvido pela escuta. Olhei para Angelina.
— Preciso que faça algo por mim, ok? — supliquei.
Ela assentiu, muda, acho que em choque.
— Quero que vá lá fora no salão e chame todos para cá,
diga que fará um discurso ou algo assim. — Continuei, porque
ela já ia abrir a boca: — Não faça perguntas, pois não posso
responder. Só faça isso, tudo bem? Prometo que trarei Samira
de volta.
Triste, foi reunir todos na salinha com dez de largura por
dez de comprimento, um quartinho nos fundos. Lugar perfeito
para mantê-los seguros até eu resolver os problemas.
Alguns convidados do noivo tinham ido embora;
ficamos só nós (amigos próximos, como Jordan, Daniel e
Simon, guarda-costas de Sam), os MCs, Lucky e sua família.
Além dos amigos da Angie, Johnny e Charles. Sua tia já tinha
ido também, o que achei bom, menos uma para me preocupar.
— O que ele queria? — perguntou Daemon, trocando
um olhar com Dom do outro lado da sala.
Daemon era um cara lindo. Forte, alto, com olhos
caramelo-ouro, cabelos curtos, brincos em sua orelha direita e
um alargador. Tinha um piercing na língua que notei quando
riu para mim, ao sair do quarto após testar a escuta na minha
menina. Ele estava de jeans rasgado nos joelhos e uma
camiseta branca com um colete com logotipo da Fênix. Usava
uma corrente grande no cós da calça, prendendo a sua carteira
que se encontrava no bolso da frente. Na corrente, tinha um
par de soqueiras. Adoraria vê-lo em ação.
— Preciso levar Sebastian até Andrey ou aquele fodido
mafioso vai matar a Samira, mas antes quero deixar todos aqui
seguros. — Minha voz falhava.
— O que fará com Jason? Garanto que ele não vai ficar
e deixar você ir com dois assassinos frios. — Olhou para o
Jason, que conversava com Ryan e Lucky.
— Aqui para você. — Evy me entregou um “boa noite,
Cinderela”. — Não deixe Dom saber, ou contará ao Jason. Ele
disse que nunca mais vai guardar dele segredos em relação a
você.
— Você vai botar Jason para dormir? — indagou
Daemon.
— Sim, e você não vai dizer nada. Hora do show —
falei e levantei a taça. Nós estávamos numa salinha nos fundos
da igreja. Achei mais prudente colocá-lo para dormir do que
aturar uma briga. Fui até o Jason e entreguei um copo para ele,
que sorriu.
— Por que isso?
— Um brinde aos noivos — sussurrei, triscando os
lábios no champanhe, e vendo-o beber seu whisky com gelo.
— E à família linda que me deu. Seus irmãos e nossa filha.
Depois de alguns minutos, o remédio fez efeito.
— Você também… — Sua voz falhou. — O que você
fez? — Seus braços seguraram os meus e seu copo caiu no
chão.
Meu coração doeu ao enxergar a traição em seus olhos.
Eu me segurei para não chorar, precisava ser forte.
— Sinto muito, Jason. Saiba que o amo com toda minha
alma — sussurrei.
— O que você fez com ele? — rosnou Lucky, segurando
Jason, impedindo-o de cair no chão.
— Não deixe ela ir… — Então apagou. Lucky
amaldiçoou, colocando-o no sofá. Virou-se para mim. —
Explique-se. Agora.
Expirei e contei a todos o que aconteceu e o que
precisava fazer. Depois de deixá-los seguros na igreja, fui à
procura de Sebastian. Chris e Landon ficaram de guarda.
Bryan encarregou-se de me entregá-lo na ponte do
Brooklyn. Assim que estacionei a Mercedes do Jason, o
homem entrou no meu carro.
— Olá, minha filha.
— Não sou sua filha. Vamos acabar logo com isso.
Liguei para o número da Samira. Atenderam no segundo
toque.
— Eu estou com ele, agora quero ouvir a voz dela para
saber se está bem.
— Taby, me tire daqui, por favor, esses homens são
maus — suplicou.
Meu coração doeu por ela estar em perigo por minha
causa.
— Vou te trazer de volta, prometo…
— Vá para o Pier 17, em Manhattan. Se eu souber que a
polícia está envolvida nisso, começarei a desmembrar sua
amiga, dedo por dedo.
Expirei para me acalmar. A ida para Manhattan estava
silenciosa, então resolvi descobrir mais sobre o cara ao meu
lado, porque uma coisa me deixou confusa, e demoraríamos
um pouco para chegar.
— Por que aceitou ir comigo? E sem essa de que é um
bom pai, isso sabemos que não é. Você mata pessoas,
sequestra crianças e as obriga a se prostituírem. Como uma
pessoa assim pode ter amor por alguém? — Apertei minhas
mãos no volante.
— Sim, não ligo para nada neste mundo, sou frio, um
monstro. Minha alma foi levada de mim no dia em que Andrey
Jacov matou sua mãe grávida do meu filho e a deu para os
seus homens estuprarem, rasgando-a inteira e me fazendo
presenciar tudo. Vi a única pessoa que eu amava nesta vida
sendo violentada — esbravejou. — Então não, eu não sinto
pena de ninguém, hoje eu não sinto nada, porque estou morto
por dentro, Tabitta. Morto!
— Oh, meu Deus! — balbuciei, chorando e tremendo
horrorizada. Tantas vezes pensei que ela tivesse me deixado e
ido viver sua vida com ele, sem filhos para atrapalhar. Depois,
o odiei por obrigar a minha mãe a ficar com caras, sendo que
isso não aconteceu, ela foi… Oh, céus.
— Tabitta — gritou alguém, e logo senti um tapa na
cara.
Pisquei e olhei para mim mesma, ainda sentada no carro,
trêmula. Notei que estávamos um tanto longe do Pier 17. Mirei
o cara do meu lado. Não sabia mais o que ele era.
— Você deu um tapa na minha cara. — Minha voz saiu
fraca. O veículo estava parado em um acostamento, logo na
chegada de Manhattan.
— Você estava entrando em pânico, tive de fazer alguma
coisa, porque temos problemas. — Aproximou-se dos meus
seios, mas olhando para mim. Decerto sabia que tenho uma
escuta, e imaginava que fosse ali. — Eu só espero que vocês a
protejam, pois há alguém que ficará furioso com isso. Ao
contrário de mim, ele se preocupa com ela e derrubará
qualquer um que a coloque em risco.
Franzi a testa.
— Quem é essa pessoa de que está falando? —
perguntei, curiosa.
— Logo saberá — respondeu, dando de ombros.
Queria saber a quem se referia, todavia, ignorei minha
vontade, porque algo estava me deixando tensa e amedrontada.
— Você não pensa em sobreviver a isso, não é? Pensa
em matá-lo, e depois o quê? Fugir? Vingança não leva a
nada…
Ele riu.
— Você me procurou por anos para se vingar do que eu
fiz, ou do que acha que eu fiz — lembrou-me.
— Sim, mas eu queria você preso, não o mataria, não
sou uma assassina. — Tentei não pensar no homem que matei
em Chicago ao tentar salvar a garota.
— Vamos deixar essa história de lado e nos concentrar
neles. — Virou-se para frente.
Segui seu olhar e ofeguei. Havia dois carros pretos
parados diante de nós. Sete caras armados saíram dos veículos,
e um veio em nossa direção.
— Saiam e caminhem até aqui — ordenou um homem
com sotaque russo.
Minhas mãos tremiam. Alisei a barriga, tentando me
acalmar.
— O que é isso? — indagou, sombrio.
Sebastian notou minhas mãos por cima da barriga. Eu as
retirei e saí do carro.
— Nada.
Ele amaldiçoou alguma coisa e escreveu uma
mensagem: “Ela está grávida, a proteja, Nikolai”. Queria
perguntar quem era, mas os caras do Jacov estavam ali e
podiam ouvir.
Eles nos revistaram atrás de escutas, mas não
encontraram. Colocaram capuzes em nossas cabeças.
Andamos mais um pouco e o carro parou. Não disseram nada,
e nós dois também não. Senti-me ser retirada do automóvel.
Caminhamos alguns metros; ouvi um solavanco e senti o
cheiro de água salgada. Estávamos perto do mar, talvez em um
barco. O capuz foi retirado da minha cabeça e pisquei para a
claridade, ofegando de pavor.
Na minha frente havia mais ou menos uns duzentos
homens. Estávamos em um navio da marinha, parecido com
um Destroyer USS Mason. Ele era enorme para caber todas
essas pessoas, vestidas com ternos e gravatas.
— Olá, Tabitta. — Lincoln estava perto de um homem
mais ou menos da idade de Sebastian.
— Lincoln, você é um rato — xinguei, enojada.
Sorriu como se eu o tivesse elogiado. Bastardo filho da
puta. Segurei minha língua para não insultá-lo, temendo por eu
não estar sozinha e me machucar. Estava impressionada
comigo mesma por me manter no controle até agora. Quando
soube o que esses homens cruéis fizeram com minha mãe,
entrei em choque, mas não podia quebrar, precisava ser forte
para enfrentar tudo. Choraria quando estivesse nos braços do
Jason, tanto pelo risco que estava passando, quanto pela dor de
perder minha mãe de um jeito trágico e por mentir para meu
amor.
— Nos vemos de novo, não é? Faz quanto tempo
mesmo? — zombou Jacov, sorrindo de modo frio para
Sebastian.
Minhas mãos estavam em punhos para dilacerar sua
cabeça.
— Vinte e três anos, quando você matou minha esposa
que esperava o meu filho. — A raiva predominava na sua voz
e expressão.
— Oh, sim, a doce Luciene. Aquilo foi um recado para
nunca me traírem de novo. Você era um servo perfeito, até que
se apaixonou e ficou mole. No nosso mundo, não pode haver
amor, você deveria saber disso.
Espantei-me com a revelação de que ele trabalhava para
Jacov.
Sebastian estava com sua expressão dura.
— Hoje eu sei disso. Você a entregou para trinta homens
abusarem dela. — Cerrou os dentes. — E a matarem no final.
Jacov deu de ombros. Sua frieza me deixava com
vontade de matar o filho da puta.
— Veja por este lado: você matou todos eles.
— Faltou um, é por isso que estou aqui — rosnou e
depois gritou: — Agora!
Não sei bem o que houve, mas um tiroteio teve início.
Eu não sabia quem atirava, os MCs ou os federais. Estava
desarmada, então não podia lutar muito, nem corpo a corpo, já
que eu não devia levar nenhuma pancada.
Corri para dentro do barco para achar Samira. Era por
isso que eu estava ali, acima de tudo. Os dois assassinos que se
engolissem. Não ligava para eles, mas torcia para Sebastian
matar Jacov, porque prisão para ele seria pouco depois do que
fez com minha mãe.
Passava de porta em porta para ver se eu a avistava, mas
não a vi em nenhuma das cabines do navio. Porão! Isto, ela
devia estar no porão. Estava prestes a ir procurar, quando
alguém pegou meu braço. Era o Lincoln.
— Me solte, seu filho da puta, traidor — gritei, dando
um safanão nele.
— Sua puta desgraçada, sabia que eu tinha colocado
uma escuta em você e ainda assim transou com aquele
desgraçado para eu ouvir tudo — esbravejou. — Você
gritando! — Colocou as mãos nos cabelos, como o louco
fodido que era. — Aqueles sons me atormentam.
— Ele será meu marido em breve, posso fodê-lo o
quanto eu quiser, e quer saber? Seu pau é bom, ele é bom, amo
tudo do Jason. Se quer lutar, vamos lá.
— Eu poderia e vou, assim que tirar esse bastardo que
está na sua barriga. Achou que eu não sabia? Vi você indo
comprar um teste de gravidez. Aposto que deu positivo, já que
agora há pouco a enxerguei com sua mão no ventre.
Arregalei meus olhos.
— Você andava me seguindo? — Minha voz aguda
ecoou nas paredes do navio.
— Sim, precisava arranjar um jeito de capturar você
para fazer tudo que sempre sonhei com seu corpo. Agora
quero rasgar sua barriga e tirar esse feto imundo de dentro.
Teria que lutar com ele, mano a mano. Esperava ganhar
e não sair machucada.
— Não chame meu filho de bastardo ou feto, ele é
alguém que terá muito amor, meu e do seu pai — sibilei,
pronta para brigar. — E você, seu verme, jamais possuirá meu
corpo, porque ele pertence ao meu marido, o pai dos meus
filhos.
Gritava parecendo estar possuído ou algo assim. Veio na
minha direção com os punhos cerrados, mas não chegou até
mim, porque caiu no chão alguns passos antes.
Enxerguei fios em suas pernas e alguém o arrastando
para longe. Era um cara vestido de preto, com cachos
dourados e olhos verde-esmeralda. Virou Lincoln de barriga
para cima e colocou seu coturno preto sobre ele, que perdeu o
ar, assustado. O garoto devia ter por volta de vinte e poucos
anos. Acho que Lincoln o conhecia de algum lugar, e tinha
medo dele.
Dominic disse que é possível reconhecer as gangues
pelas marcas e tintas. O garoto tinha dragões nos braços e em
um pedaço do pescoço. O resto devia estar debaixo da
camiseta preta.
— Jacov ganhou uma passagem só de ida para o inferno,
e agora será a sua vez, mas de modo bem mais doloroso. —
Fitou-me de lado, como se nos conhecêssemos há anos. Eu
nunca o vira antes. Era um maldito deus grego, com músculos
fortes e tonificados. Decerto malhava.
— Se você quer a cadela, pode ficar. É uma puta
desgraçada que não vale nada, nem uma foda — disse com
alguma esperança de que o garoto não fosse matá-lo.
Chamava de “garoto” porque havia algo de juvenil nele,
embora existisse também algo de adulto e sombrio. Uma
mistura bem diferente, que nunca enxerguei em nenhum
criminoso com o qual me deparei.
— Você que não vale nada, Lincoln. É um bastardo
estuprador. Quantas vezes já fez isso com mulheres, hein?
Quantas vezes não aceitou um “não” e levou para o lado da
violência? Você é um verme, um lixo. — Cuspi na cara dele.
O garoto esboçou um sorriso, como se gostasse do jeito
com que tratava caras como Lincoln.
— Você será preso, seu corrupto, por trair o nosso país, e
nunca mais verá o dia de novo — prossegui.
Lincoln olhou para o garoto desconhecido e franziu o
cenho.
— Eu vou para a prisão? — Mantinha a esperança, mas
quando viu o rosto do garoto, tão sombrio e mortal, ficou
branco. Acho que sabia do que o menino era capaz, ao
contrário de mim.
— Até deixaria você ir para a prisão, se não tivesse
tentado colocar suas mãos imundas em cima dela. — Apontou
o dedo na minha direção. — Ninguém a toca e sai vivo. Tire
isso pelo Sebastian, que só se preocupava com vingança e não
se importou de trazê-la aqui. Porra! Então não, você não vai
para uma prisão federal, e sim para outra muito pior. Lá,
desejará morrer a cada maldito segundo, o que não acontecerá
tão cedo.
Lincoln estremeceu e começou a implorar por sua vida,
gritando para não ser levado às masmorras dos Dragon.
Berrava que sentia muito por ter me insultado de alguma
forma, contudo, suas súplicas não comoveram o garoto. Ele
olhou para trás e dois homens vestidos como ele, nos quais eu
não tinha reparado antes, caminharam até nós.
— Leve-o daqui, depois acerto minhas contas com esse
verme imundo. — Desceu o soco na cara do Lincoln, fazendo-
o cair desmaiado.
— Não o mate, você pode ser preso por isso. Entregue-o
às autoridades, que saberão fazer o necessário — falei a ele.
Revirou os olhos verdes. Ele me lembrava alguém, mas
não sabia exatamente quem. Ou talvez estivesse enganada.
— Vamos sair daqui — disse, sem me responder. Foi
seguir por um corredor.
— Não posso ir embora — sussurrei.
— O quê? Como assim? — Virou-se para mim com um
olhar exasperado, que ignorei completamente. — Tem quase
trezentos homens dos Bravata aqui e chegarão mais,
precisamos ir.
— Minha amiga Samira está aqui embaixo em algum
lugar, acredito que no porão.
Nós seguimos para lá. Ele entrou primeiro e averiguou o
local, acho que para ver se havia problemas ou não.
Eu estava com o coração na mão, rezando para ela estar
bem, e que esses homens não a tivessem tocado de nenhuma
forma.
— Я нашел тебя кроликом.
“Eu achei você, coelhinha”, falou em russo. Pelo menos
foi isso que entendi. Porém, o garoto não parecia nada russo;
depois pesquisaria mais sobre ele. Agora só queria salvar
minha amiga e nada mais.
Continuou na nossa língua:
— Vou tirar você daqui — disse a ela.
Eu me aliviei ao vê-la bem, sem nenhum arranhão. Dei
graças a Deus por isso.
— Não ouse se aproximar de mim, seu tarado
estuprador. Não vou deixá-lo me tomar à força e, se tentar,
cortarei seu pau pequeno e o farei comê-lo inteiro, seu filho da
puta! ― rosnou Samira, furiosa.
O cara grunhiu de raiva, não pelas palavras dela, e sim
pelo que viu. Samira estava nua e amarrada com as mãos para
cima, presa em correntes. O rosto do garoto ficou duro como
pedra.
Foi ajudá-la a se soltar.
— Coelhinha, eu tomo conta de você — jurou, baixinho.
Enquanto ele a auxiliava, eu olhava ao redor, checando
para não vir ninguém. Esperava que não, não estava a fim de
matar mais ninguém, mesmo que fosse um assassino igual a
esses caras.
— Samira? Sou eu! Esse cara não vai te fazer mal, ok?
Ele veio para nos tirar daqui — tranquilizei-a.
— Oh, Taby, ainda bem que você está comigo. Sabia que
me salvaria. — Sua voz estava fraca.
— É claro que eu viria! Você e Angelina são como irmãs
para mim — declarei. Ela suspirou, olhando o rapaz que a
auxiliava a se libertar. Perguntei a ele: — Qual é o seu nome?
Você não me disse como se chama.
— Não disse e não vou dizer — respondeu. Amaldiçoou
quando a pegou pela cintura. — Prenda suas pernas à minha
cintura.
— Por quê? — indagou.
— As correntes estão esticadas demais, preciso delas
frouxas para soltá-las..
O cara só poderia ser o tal Nikolai. Ele soltou uma das
mãos de Samira. Ela tirou sua venda e o encarou, piscando
algumas vezes. Não entendi sua expressão de raiva
direcionada a ele.
Antes que eu perguntasse alguma coisa, gritei quando
Nikolai jogou uma faca acima da minha cabeça, acertando a
testa de um homem que caiu no chão com a lâmina cravada no
cérebro.
— Avise quando for soltar facas por aí, ok? Você
poderia ter me acertado — rosnei.
— Isso não aconteceria, sou bom demais. — Soltou as
algemas, desprendendo-a das correntes.
Tirou sua camiseta e a entregou para Samira, que estava
de pé, cobrindo seu corpo com as mãos.
Notei que as costas dele eram cercadas por tintas de
dragões, e também algumas caveiras.
— Tatuagens legais — observei.
Ele não respondeu, apenas olhou para o corredor e
amaldiçoou. Fechou a porta, trancando-a por dentro.
Conversou em russo com alguém por um relógio no seu braço,
que, com certeza, era alguma engenhoca feita para escuta. Eu
não entendia muita coisa em russo, então só captei alguns
trechos, como “explodir a lateral para sairmos”.
— Você vai explodir o lugar? — Arquejei. — Vamos
morrer afogadas!
— Vejo que fala russo. — Ele me fitou com a expressão
mais calma, a despeito de ainda ter aço em seus olhos. — Sim,
eu vou, pois não temos escolha. Há mais homens dos Bravata
entrando aqui, e, com certeza, querendo usá-la como escudo
contra os tiras que estão lá fora cercando o lugar.
Ele nos escondeu em um canto e usou seu corpo para
nos proteger da explosão. De repente, a parede explodiu e a
água começou a entrar na cabine.
Samira parecia prestes a entrar em pânico; era pior do
que ser algemada.
— Ela não sabe nadar — informei ao Nikolai, que
praguejou.
— Fique comigo, ok? Depois que sairmos daqui, nós
vamos nos encontrar — falou com os olhos nos dela.
Parei de ouvir quando a água nos cobriu e saímos pelo
buraco. Ele ajudou a Samira. Surpreendi-me ao me deparar
com um submarino pequeno. Nadei até uma porta que se abriu
e a água entrou conosco dentro do corredor. As portas foram
fechadas e, finalmente, pude respirar.
— Vocês estão bem? — perguntou Dominic, de pé na
minha frente, junto com Daemon e Michael. Nasx estava ao
seu lado também.
— Não teria deixado você se soubesse o que ia
acontecer. Certamente eu teria ido embora junto, como estava
nos planos — Nasx falou para Samira.
Os dois ficaram amigos após Angelina ter decidido
deixar Ryan. Aparentava preocupação.
— Estou bem agora, Nasx. — Ela o abraçou, mas o cara
loiro o tirou de cima dela e o prendeu na parede com uma faca
em sua garganta.
Armas e adagas foram expostas de todos os lados, tanto
dos MCs quanto dos homens que estavam com esse meu
salvador.
— Fique longe dela — alertou, frio.
Pretendia me levantar e impedir o massacre; eu não
entendia por que ele se preocupava com Nasx. Talvez fosse
daqueles machos alfa que, ao ver uma mulher uma vez, pensa
que ela é dele. Entretanto, tudo girou e Dom me pegou antes
que eu caísse no chão.

Abri os olhos. Estava em terra seca, com os MCs me


cercando, deitada no colo do Dom. Levantei a tempo de
avistar meu salvador indo embora em um barco.
— Eu vou te ver depois, Nikolai, e descobrirei tudo
sobre você. — Forcei um grito para ele ouvir do lugar onde
estava.
Ele olhou para mim e sorriu, triste.
— Gostaria que não fizesse isso — gritou de volta.
Dirigindo-se à Samira do meu lado, jurou: — Eu voltarei para
cumprir a promessa que fiz a você.
— Ele está dizendo que vai sair comigo em um
encontro? — Ela se espantou.
— Acho que ele está pensando mais em sexo, porque
caras como ele não costumam ter relacionamentos —
sussurrei, mas talvez ele mudasse, Dom e Jason mudaram
quando se apaixonaram. Após checar se todos os MCs
estavam ali, indaguei:— O que aconteceu lá no navio com
Jacov e Sebastian? — Lembrava-me de Nikolai dizer que os
dois morreram, mas como? Será que um matou o outro? Seja
como fosse, ficaríamos melhor sem eles poluindo o planeta.
Dom suspirou.
— Vamos dizer que nenhum deles vai respirar neste
mundo de novo. Devem estar apodrecendo no inferno. — Seu
tom era maligno. — Agora vamos, Jason está louco sem saber
de você. E você precisa ver um médico. Por que não disse que
estava grávida?
— Estou bem. Foi só estresse mesmo. Só quero ver
Jason.
— Quer que eu vá junto, caso se sinta mal? — sondou
Samira.
Sacudi a cabeça.
— Não se preocupe. Mas, se quiser, pode ir para a minha
casa.
Antes dela decidir voltar para Jersey, Samira estava
pensando em ficar uns dias na cidade. Achei bom, porque
sentia sua falta.
— Vou ficar com Mary, assim dou um jeito de ver você
depois — respondeu.
Mary era nossa amiga de Jersey, mais da Samira do que
minha, mas gostava dela.
Nós já estávamos no carro, indo para a casa de Jason.
Julie, Jacob e Emily dormiriam no Lucky até eu me entender
com meu noivo.
Assim que desci do carro, Jason correu porta afora para
me abraçar forte e me beijar, como se não quisesse me deixar
nunca.
Agradeci ao Dom e aos seus irmãos MCs. Tinha mil
perguntas sobre o garoto Nikolai, mas não queria falar sobre
isso no momento, e sim sentir esse homem nos meus braços.
Jason tirou minhas roupas ainda molhadas e me banhou
no chuveiro. Apenas depois de tudo foi que a crise de choro
bateu: por minha mãe; pela quase morte minha e do filho no
meu ventre; e por descobrir algo que jamais pensei que existia.
Eu sabia quem o garoto era, ou ao menos suspeitava, só não
sabia como isso era possível. Descobriria toda a verdade e o
procuraria onde fosse.
— Sinto muito, Jason — sussurrei, beijando-o. — Sei
que tem muitas perguntas e acusações, mas pode brigar
comigo outra hora? Agora eu só quero que faça amor comigo,
para eu esquecer tudo que passei hoje.
E assim ele fez.
EPÍLOGO
TABITTA

Duas semanas depois


Entrei na academia do Jason com o resultado nas mãos.
As minhas suspeitas de quem Nikolai era foram confirmadas
por um exame de DNA. No navio, quando ele me cobriu da
explosão, peguei uns fios de cabelo dele sem ele notar. Agora
tinha certeza.
Também confirmei a minha gravidez com um teste.
Jason foi comigo fazer o ultrassom. Ele disse que participaria
de perto de toda a gestação, já que perdeu a de Emily. Decidiu
se aposentar das lutas, agora ele queria ser professor. Apoiei,
assim ele estaria em casa todas as noites, comigo e com as
crianças.
Os federais vieram me perguntar como sobrevivi àquele
naufrágio. Disse que um homem me salvou e vestia uma
máscara, então não pude ver quem era. Não podia entregar o
meu irmão; ele só foi lá aquele dia para me proteger do que
estava prestes a acontecer comigo por culpa de Sebastian.
Estava infringindo a lei ao mentir, mas não me importava.
Os federais, junto a Papy e Dennis, classificaram mais
de mil pessoas envolvidas em crimes, as quais foram presas.
Segundo o departamento antidroga dos Estados Unidos,
apreenderam no outro barco, em Long Island Sound, sessenta
quilos de cocaína, trezentos quilos de metanfetamina, trezentos
quilos de maconha e duzentas armas. Em outro navio, havia
cinquenta garotas de vários países.
Papy disse em uma entrevista que as detenções eram
resultado de mais de nove anos de investigações, graças ao
empenho de dois mil agentes, tanto dos Estados Unidos como
da Rússia e do México. E que o líder do cartel mexicano,
Sebastian Ruiz, foi morto junto com o líder dos Bravata,
Andrey Jacov, durante a operação.
O encarregado dos navios era Lincoln, então supus que
meu plano de desorientá-lo funcionou, porque foi um descuido
dele, sabendo que dois bandidos iam se encontrar, deixar suas
drogas e outras coisas por perto para serem descobertas. Azar
para eles, sorte para nós.
Foi uma prisão impressionante para a carreira deles.
Para mim nem tanto, porque Jason me proibiu de trabalhar nas
ruas capturando bandidos até nosso filho nascer. Não
discordei; já me arriscara demais. Durante o dia, ficava no
departamento da agência conferindo arquivos, e à noite
voltava para minha família.
Havia diversos homens no ringue treinando com Jason.
Quem não ia querer treinar com meu talentoso futuro marido?
Nosso casamento estava marcado para o próximo final de
semana na nossa ilha dos sonhos, no Hawaii.
Sam deu a ideia de fazermos o baile logo depois. Era
uma festa que era para ter acontecido há muito tempo, após
Ryan ter perdido uma aposta. Adorei a ideia de um baile nas
praias do Hawaii.
Jason estava de costas para mim e de frente para seus
alunos. Eu não os tinha visto, porque não ia ali há dias. Todos
pararam e olharam para mim.
— Por que pararam? Continuem — ordenou, virando
para trás e me vendo. Falou para os caras: — Voltem ao treino,
ou querem que eu arranque os olhos de vocês?
— Conhece essa mulher? — perguntou um garoto de
uns dezesseis anos, mais ou menos. — Ela é muito linda.
Sorri, chegando mais perto.
— Obrigada, querido. Vou roubar meu noivo um
pouquinho e já devolvo, ok?
Puxei Jason para sua sala no fundo da Academia Falcon.
Empurrei as coisas da mesa para o chão, tirei meu vestido e o
beijei, devorando sua boca.
— Taby… — rosnou. — Estou suado.
Baixei seu short, peguei seu pau duro em minhas mãos e
coloquei na minha entrada. Eu já tinha tirado minha calcinha
no carro.
— Não ligo, você fica mais gostoso assim. Agora me
foda. — Prendi minhas pernas à sua volta e o beijei, enquanto
ele estocava dentro de mim. Suas mãos apertavam minha
bunda, trazendo-a mais para perto dele. Ele me fodia, duro, até
que eu gozei, gritando na sua boca. Deu mais duas estocadas e
gozou também, chamando meu nome.
Nós dois ficamos ali, ofegantes. Dei mais um selinho
nele e sorri.
— Olá, querido noivo. Só vim checar se ainda não
desistiu do casamento. Estou te fazendo lembrar o quão bom é
isso, caso queira desistir. — Remexi meus quadris com seu
pau ainda em mim.
— Eu amo ser abordado assim por você. Satisfazer
minha mulher é prioridade. — Ele me beijou mais uma vez.
— Que bom ouvir isso, porque tenho algo a dizer —
sussurrei nos lábios dele.
Jason afastou o rosto e me olhou com o cenho franzido.
— O que é?
— Vou a Moscou esta noite. O resultado do exame que
fiz de Nikolai deu positivo. — Há algumas semanas, falei das
minhas suspeitas para ele, e que fiz o exame de DNA.
Também descobri quem Nikolai era, por isso a apreensão de
Jason quanto a eu ir à casa de um mafioso. O meu querido
irmão era o líder de uma máfia russa, os Dragon. Felizmente,
pelo que descobri, ele não fazia o mesmo que Jacov. Cometia
uma série de atos ilegais, mas não tráfico humano e crimes
bárbaros contra inocentes.
— O quê? — Ele ia se afastar, porém, prendi as minhas
pernas à sua volta. — Veio aqui achando que comigo estando
dentro de você eu diria sim para ir à sede de uma máfia?
Sorri, ignorando sua cara fechada.
— Foi ideia da Evy. Ela disse que funciona com Dom
quando quer alguma coisa — disse, depois falei sério: — Eu
preciso falar com ele e preencher as lacunas que não estão
batendo, entende? Ele não vai me machucar ou deixar alguém
fazer isso.
— Você não tem certeza disso — rosnou. — E não acho
legal falar do seu irmão com meu pau dentro de você.
Ele estava certo. Desprendi minhas pernas dele e ajeitei
o vestido, enquanto Jason vestia o short.
— Eu não vou sozinha…
— Quem mais vai? — sondou, agora calmo. Isso era
estranho, achei que ele ficaria furioso. Pelo jeito, me enganei.
— Dom, Nasx, Daemon e Bryan… Estava pensando em
ir sem você saber, mas prometi que nunca mais esconderia
nada. Preciso ir lá conversar com ele. Sebastian sabia sobre
meu irmão, até mandou uma mensagem no carro para Nikolai
quando descobriu que eu estava grávida. — Alisei meus
cabelos, fui até ele e toquei seu rosto. — Queria que você
fosse comigo.
Ele me abraçou e beijou minha testa.
— Eu já ia antes de você dizer, Dom me ligou e contou
tudo, mas gostei da forma como pediu. — Afastou-se sorrindo,
para o meu alívio. — Quando quiser qualquer coisa, é só me
pedir desse jeito, eu vou adorar dar a você.

A academia em Moscou contava com um ringue no seu


centro, mas ao redor dele, em vez de cordas, havia telas
grandes, acho que para que os lutadores não fugirem. Não
queria nem ver que tipo de luta faziam ali; provavelmente era
ilegal.
Eu estava entre Jason e Dom, com Bryan, Nasx e
Daemon do outro lado.
Nikolai brigava no ringue com dois caras atacando-o ao
mesmo tempo.
— Isso não é ilegal? Dois contra um — sussurrei. Os
cinco riram. Nikolai livrou-se de um dos caras que tentou dar
um chute nele. Rodopiou e acertou o homem no estômago, e
outro na boca. Logo estavam os dois adversários no chão.
— Será que não tem ninguém aqui para me enfrentar?
— questionou Nikolai, limpando o suor do rosto e saindo do
ringue de cabeça baixa.
Meu coração bateu forte, porque desde que peguei o
exame, a ideia de ter um irmão me agradava. Era algo que
nunca imaginei ter.
Corri até ele e pulei nos seus braços. Peguei-o
desprevenido, então cambaleou para trás e piscou algumas
vezes, me firmando em seu colo.
— Que tal comigo? Eu poderia chutar sua bunda —
sussurrei, ofegante pelo impacto.
Jogou a cabeça para trás e riu, uma risada gostosa.
Observando seus cabelos louros e com cachinhos, pude ver a
familiaridade que estava deixando passar no barco, e que me
levou a suspeitar de que ele, com certeza, era meu irmão
caçula. Eu queria saber como Nikolai sobreviveu àquilo tudo
que aconteceu com nossa mãe.
— Eu adoraria, mas daqui a uns meses, já que está
grávida — disse deliciado, enquanto eu puxava seus cachinhos
dourados.
Alguém arfou.
— Não acredito que você engravidou uma mulher, cara.
O que houve com os preservativos? — zombou um homem
forte, chegando até nós. Seus olhos claros como água estavam
arregalados. — Você estragou toda sua vida.
Nikolai revirou os olhos, e eu me afastei dele. Parecia
que o cara assustado vomitaria a qualquer momento, como se
fosse com ele. Eu poderia ter rido disso, mas o Nikolai já
estava rindo por nós dois.
— Esse é Alexei, meu melhor amigo e ajudante —
explicou. — E também meu irmão.
Alexei pigarreou e me encarou. Tinha a pele bronzeada,
cavanhaque, cabelos castanho-claros e olhos azuis.
— Tem certeza que o filho é dele? — Aparentava ter
algo entalado em sua garganta.
Bufei.
— Se eu fosse namorada dele, e você me fizesse essa
pergunta, eu fritaria as suas bolas. — Ri da sua feição
estupefata, e os demais me acompanharam. — O filho não é
dele, e sim daquele homem lindo e gostoso ali. — Apontei o
dedo para o Jason, que estava sorrindo de orelha a orelha.
— Ela é o cartão vermelho — Nikolai falou.
— Eu não sou cartão vermelho — retruquei e virei-me
para Alexei, que me fitava espantado, agora por outra razão.
— Tabitta Rodrigues.
— “Cartão vermelho” significa que você é intocada,
tanto na Rússia quanto em toda América. — Nick piscou para
mim. — Tomarei um banho e iremos para a minha casa.

A casa de Nikolai era imensa, com três andares e


arquitetura estilo francês. Eu gostei. Havia seguranças por
todos os lados.
— Agora vamos conversar nós dois… ― começou
Nikolai.
Jason cortou-o.
— Eu não vou deixá-la.
Nick olhou para ele e assentiu. Dom e Bryan ficaram
junto com os guardas do Nick, enquanto Daemon e Nasx nos
vigiavam da porta.
Seguimos para o fundo da casa, a um quintal em um
jardim cheio de flores de todos os tipos e todas as origens.
Eram as rosas que vovó amava e, no fundo, o mar lindo e azul.
Havia um pote em cima da mesa.
— Naquela noite, quando os homens do Hector estavam
atrás de você, e o filho da puta do Sebastian saiu do México
para ir buscá-la em Austin, eu supliquei para ele não ir, para
deixar eu resolver as coisas, mas o que ele fez? Não deu
ouvidos. — Expirou e prosseguiu, olhando o oceano. — Fui
atrás dele, mas cheguei tarde. Vovó estava no chão, sem vida.
O bastardo desgraçado simplesmente foi embora e a largou lá.
Olhei as câmeras para ver se ele tinha levado você com ele,
mas graças a Deus, descobri que não.
Esforçava-me para me controlar vendo sua dor, igual à
minha por nossa avó. Será que vovó o conhecia?
— Quando Jacov matou minha mãe… — corrigiu-se,
virando-se para mim — nossa mãe, ela estava grávida de sete
meses, indo para o oitavo. Estava praticamente morta no
momento em que Sebastian cortou sua barriga e me tirou.
Depois me levou a um hospital e sumiu do mapa. Passei por
vários lares adotivos e fui adotado pelos pais de Alexei; eles
realmente gostavam de mim.
— Onde eles estão agora?
— Foram mortos pelos Bravata há doze anos, então
Alexei tomou seu lugar até eu completar dezesseis anos.
Alexei não queria o cargo de chefe dos Dragon, ele nunca
quis. Quando ocupei a função, fui ao México e disse ao
Sebastian para ficar longe de você, que não a queria misturada
nisso tudo, você merecia mais.
— O que ele respondeu? — sondei, com o coração
apertado por sua dor. Eu me escorei no Jason, que estava me
dando suporte.
— Não deu ouvidos. Eu devia ter impedido ele naquela
época, assim o merda não teria deixado matarem nossa avó.
Sebastian foi em busca de sua vingança, enquanto eu procurei
arranjar um jeito de salvar sua vida. Quando foi ferida em
Chicago, considerei a gota d’água. Cacei Hector Salgado e o
matei, mandando um recado a todos que se metessem no meu
caminho. Coloquei o cartão vermelho em você. — Endureceu
com as lembranças.
— Ele me disse que foi ele quem matou Hector para eu
ficar livre. — Meu tom era amargo. Não sabia o que pensar
sobre Nikolai matar pessoas e eu não poder prendê-lo.
Riu com amargura.
— Com certeza estava usando você e seu departamento
para chegar até Jacov. O filho da puta deve ter adorado quando
você saiu das sombras. Assim que apareceu na TV e o
ameaçou em público, todos os Bravata foram para cima.
Sebastian tinha provas para Jacov ir para a cadeia, mas ele não
o queria preso. Ele queria vingança por ter matado nossa mãe,
só pensava nisso e em mais nada. Há algumas semanas, falei
para ele não colocar você no meio. Se desejasse fazer, que
fosse sozinho. Sebastian não ouviu, como sempre. Fiquei mais
furioso ainda quando soube que estava grávida e no meio
daquela corja de animais desgraçados. — Cerrou os punhos
com força. — Fui até lá para salvá-la e matar os dois
monstros.
— Você os matou? — A pergunta saiu alta no lugar que
parecia uma varanda de flores.
Virou de costas para o mar e me fitou.
— Estou contando tudo isso correndo o risco de você me
prender. Não resistiria, caso queira. E nenhum dos meus
homens se meteria.
Surpresa, avaliava se ele dizia a verdade. Pude notar que
sim, mas eu jamais faria isso.
— Devo informar que não posso mais prendê-lo, já que
não sou mais uma agente. Meu chefe deve estar vendo agora a
minha carta de demissão. — Sorri diante de seus olhos
arregalados. — Não nasci para ser policial. Quando estava em
Chicago e atirei naquele homem, fiquei semanas indo a uma
psicóloga. Até pensei que fosse pela garota que morreu, mas
não, foi tudo aquilo. Eu só me tornei policial para chegar a
Sebastian. Agora que ele se foi, quero uma vida pacata, sentar
em uma varanda e ver meus filhos brincando no jardim; cuidar
dos meus cunhados e dos meus pequenos amores. — Alisei a
barriga e sorri para Jason. — E ser uma esposa e dona de casa
em tempo integral.
— Você é minha linda e sonhada esposa. — Deu um
selinho em mim e suspirou.
Olhei para o meu irmão, que nos mirava com a
expressão mais branda. Ele parecia leve, como se tivesse
tirado um peso das costas.
— Você também merece ser feliz, meu irmão, ainda
mais depois da vida dura que teve. Eu tive sorte de ter vovó
por dezoito anos, e você? Aquele desgraçado devia ter dado
você à vovó também… — declarei. Depois um pensamento
me veio à cabeça: — Mas me diga uma coisa: se ele deixou
você bebê no hospital, como depois de grande descobriu sobre
ele?
— Após ser adotado pelos Dragon, sempre procurei
meus pais verdadeiros. Nunca tive êxito, porque ele não
deixou seu nome no hospital. Quando eu tinha quinze anos,
Alexei achou alguém que foi ao hospital à procura de um
menino deixado lá há quinze anos. Até pensei que fosse a
minha mãe, mas a mulher que procurava a criança era de
idade. Então Alexei, que é craque em computador, fez uma
busca minuciosa. Descobri que tinha uma irmã e uma avó, a
qual meses depois morreu sem saber sobre mim. Também
aprendi tudo sobre Sebastian e sua vingança.
— Por que não foi nos visitar, já que sabia a nosso
respeito? — sussurrei.
— Para protegê-las da vida que levo. Você era vibrante e
feliz, não queria atrapalhar; decidi não interferir. — Passou as
mãos nos cabelos.
— Você pode mudar, se não é feliz nessa vida — falei,
tocando seu rosto.
— Não é tão ruim agora que Jacov se foi, espero que
continue assim. Além disso, quando se entra neste mundo, há
uma regra que não pode ser quebrada: você entra vivo, e só sai
morto. — Puxou-me para seus braços e me colocou de frente
para o pote de barro.
— Isso não é justo — reclamei. — As pessoas têm
direito ao livre-arbítrio.
— A vida não é justa, querida irmã. — Apontou para o
pote. — Peguei o corpo da nossa avó aquele dia e o trouxe
comigo. Se fosse por Sebastian, ela não teria nem um enterro.
Mas não podia trazer você junto ou dizer o que tinha
acontecido. Decidi cremar seu corpo e, assim que nos
conhecêssemos, jogaríamos suas cinzas no mar.
Eu já estava chorando. Ele me abraçava de um lado, e
Jason do outro. Atiramos as suas cinzas no mar, onde vovó
poderia descansar para sempre. Eu não acreditava que as
pessoas que morriam nos viam aqui na Terra, mas se existisse
algo assim, esperava que ela enxergasse que, depois de muitos
anos, os seus netos estavam juntos finalmente.

Desfrutava de uma vista linda do mar durante meu


casamento ao ar livre em Kaanapali Beach, em Maui, no
Hawaii. Improvisamos um altar na areia. Ao redor da praia,
havia hotéis e casas, com coqueiros altos, deixando tudo mais
que perfeito.
Nesses três dias, conheci lugares incríveis. Jason, Emily,
Jacob, Julie e eu visitamos crateras vulcânicas e colinas. Claro
que não chegamos perto com o helicóptero, eu não queria me
aproximar demais. Jason nos levou a Wailea para ver as
tartarugas-verdes. O lugar inteiro era mágico. Emily estava
mais que feliz, e eu também por ver a minha família contente.
Todos os meus amigos estavam ali para celebrar o nosso
casamento. Até meu irmão apareceu com Alexei. Eu ia pedir
para ele me levar ao altar, mas Papy estava tão animado com
essa ideia que não quis decepcioná-lo. Mama, igualmente,
encontrava-se eufórica por mim. Deus me deu uma família
maravilhosa.
— Você já tem uma coisa nova. — Mama alisou meu
vestido de noiva com alças finas e colado no meu corpo.
— Então pensamos que precisa de uma coisa azul —
disse Sam, colocando um broche no meu vestido branco. Ela
usava um vestido prata tomara que caia, deslumbrante.
— E uma coisa velha…
Cortei Angelina, linda em seu vestido azul modelado às
suas curvas.
— Eu já tenho a coisa velha. — Levantei o anel. —
Jason me deu antes de nos separarmos, há mais de nove anos,
então conta, não é?
Samira piscou, impressionada, e sorriu. Ela usava um
vestido com decote em V, mostrando o vão entre seus seios.
Uma roupa bem diferente de como costumava se trajar. Devo
dizer que seu sequestro a mudou. Se ela está feliz assim, eu
também ficava.
— Agora falta algo emprestado — começou ela, mas
fomos interrompidos por meu irmão entrando no quarto
improvisado que fizemos com um toldo, cercado de lençóis
brancos. Vi isso em um filme e peguei a ideia, achei tão bonito
o vento balançando o tecido.
— Eu tenho algo emprestado para você, querida irmã —
disse, colocando uma corrente com pingente de coração em
meu pescoço. — Era de nossa mãe. Há uma foto de você bebê
junto com ela sorrindo. Acredito que estava feliz por tê-la. Eu
a carrego comigo desde sempre.
Comecei a chorar. Por sorte, minha maquiagem era à
prova d’água, graças à Alexia, a minha maquiadora e
cabeleireira.
— Obrigada.
Papy chegou e me levou para a entrada da fileira de
cadeiras. Do lado direito estavam os MCs e os Dragon, e no
esquerdo os meus amigos e de Jason. Dom e Evy eram nossos
padrinhos por parte de Jason, assim como fomos os deles
alguns dias atrás. Os meus eram meu irmão e Samira. Ela e
Angelina tiveram que tirar cara ou coroa, já que não consegui
escolher entre as duas. Mas deu tudo certo.
Emily e Lira foram minhas damas de honra, tal qual no
casamento de Angelina. As duas usavam vestidos rosa e
volumosos. Ficaram lindas, com seus cabelos soltos nas
costas, Lira toda loira como uma boneca, e Emily
deslumbrante como uma princesa. Elas levaram nossas
alianças.
Já estava escurecendo quando nós dois declaramos
nossos votos.
— Desde que tinha dezesseis anos, sonhava em ter um
amor que me enxergasse como eu era por dentro, e não meus
vestidos largos de vovó. — Estava de frente para meu lindo
marido, que olhava com adoração. — Igual acontecia nos
livros. Quando me apaixonei perdidamente por você, Jason, e
soube que sentia o mesmo por mim, me vi realizada. Você era
mais do que eu merecia. Agradeço aos céus por finalmente
conseguir um amor que transcendeu o tempo. Acredito que
vamos ficar juntos para sempre.
Assim que terminei de falar o quanto ele era importante
na minha vida, eu já estava chorando.
— Algumas pessoas celebram um ano que virá, ou um
presente que ganham. Eu celebro o dia em que a conheci,
porque quando você entrou em meu mundo, eu estava perdido,
sem rumo e sem direção, mas seu amor trouxe de volta as
cores à minha vida. Você me ensinou a amar e ser amado. —
Ele sorriu. — Eu prometo amá-la enquanto eu respirar neste
mundo. Prometo amá-la para sempre, minha borboleta azul.
Eu o beijei antes da benção do padre. Ouvi risadas, mas
não liguei; apenas meu marido importava.
— Como está se sentindo, senhora Falcon? — sondou
no meu ouvido depois do casamento. Nós estávamos em uma
tenda com as laterais abertas e a brisa nos atingindo. O baile
acontecia a todo vapor.
Sam parecia demasiadamente alegre por estar em um
baile. Ela disse que amou ter uma festa ao luar. Angelina
dançava com Ryan. Com o passar dos dias, perdi a antipatia
que sentia por ele, pois via o quanto esse homem adorava
minha amiga. Ele até foi dançar com ela, algo que não gostava
de fazer, segundo Angie.
— Maravilhosamente bem, meu marido. — Eu o beijei
por um momento e me afastei. — Vamos para o nosso quarto?
Angelina ficará com as crianças.
— Seu desejo é uma ordem, minha esposa. — Ele estava
adorando isso.
E eu também, porque agora começaria o nosso “Felizes
para sempre”, interrompido há nove anos.
Hoje tenho um amor que nem o tempo e nem a distância
apagaram. Um amor como sempre sonhei para mim.
FIM
2 ª Edição
2019
Copyright © 2019 Ivani Godoy
Capa: Barbara Dameto
Revisão: Analine Borges Cirne
Diagramação Digital: Sara Ester
Esta é uma obra ficcional.
Qualquer semelhança entre nomes, locais
ou fatos da vida real é mera coincidência.
Todos os direitos reservados. Nenhuma
parte deste livro pode ser utilizada ou
reproduzida sob quaisquer meios
existentes sem a autorização por escrito
da autora.
A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do código penal.
Agradecimentos da autora

Estou amando fazer a série Dilacerados,


mesmo com todos os imprevistos e obstáculos que
aconteceram ao decorrer dela. E convido você,
leitor, a viajar na série comigo até o final, porque a
fiz com amor e carinho.
Prólogo
Alexia
Meu coração martelava, palpitava e
gritava com medo do demônio desalmado
que um dia eu havia amado e que tinha se
aproximado de mim fingindo me amar só
para depois me sequestrar e me trazer para
aquele lugar, aquela masmorra que me dava
calafrios e desespero. Porque ali eu estava
sozinha e desamparada, sem ninguém, sem
meus pais, meu irmão e meus amigos; só
éramos eu, a dor e a solidão.
Estava em uma gaiola sem nada no
meu corpo, que ele violara pelo que parecia
uma eternidade. Tudo em mim doía, gritava
socorro, mas minha voz não saía mais
devido à sede e à fome, por ele não me dar
comida nem água.
Alex e meus pais deviam estar
preocupados comigo, porque era para eu ir
até a loja da esquina, mas não contava que
Samuel aparecesse e me fizesse entrar em
seu carro após apontar uma arma para mim,
obrigando-me a ir consigo, e depois trazida
para aquele lugar e mantida em cativeiro
por dias.
Minhas forças tinham se acabado, mas
não foi isso que me destruiu, e sim a
confiança, o amor que eu sentia por aquele
monstro, que no começo era um cara legal,
mas logo se transformou em um demônio
desalmado. Nesse dia ele me aniquilou de
forma irreversível.
Capítulo 1
Alexia
Um mês havia se passado depois do
encontro com Bryan no restaurante Belas
Country, e eu sem sair de casa e cabisbaixa,
isso por ser mais uma vez idiota e por
confiar em homens. Aquela raça não
prestava, um quase tinha me matado havia
uns cinco anos. Depois de tanto tempo, o
único que me fazia sentir algo por um deles
não me queria; beijara-me no restaurante,
depois ficara com outra mulher em seu
apartamento.
Bryan definitivamente era um bastardo
filho da puta, mulherengo. Eu fui ao seu
apartamento no dia seguinte ao encontro no
Belas Country para entender qual era o
nosso lance, porque sentia que ele me queria
também, ainda mais ao me beijar daquele
jeito, tão intenso, como se quisesse devorar
a minha boca, meu corpo e minha alma.
Pensei que ele só não me possuíra lá mesmo
por estarmos em público. Contudo, depois
de vê-lo com uma morena, percebi que tinha
me enganado, ainda mais vendo os dois só
de toalha, como se tivessem saído do banho
naquele momento.
Saí correndo de lá, na verdade, nem
entrei; quando ela abriu a porta e eu vi os
dois daquele jeito, só corri, chorando. Até
pensei que ele viria atrás de mim e falaria
que aquilo era ilusão, mas ele não veio;
aquilo realmente aconteceu, ele ficou com
outra, não comigo.
Sofri por semanas, depois fiquei com
raiva, tanta que, se eu o visse na minha
frente, o esmagaria com meus saltos
Louboutin. Quem ele pensava que era para
pisar em mim assim? Beijar-me em um
momento e na mesma noite ir para a cama
com outra?
Depois de um mês sem sair de casa, eu
estava na boate Lux, à qual minha amiga
Claire me convidara a vir consigo e Luana.
Claire era uma loura linda e formosa, e
Luana, uma ruiva exuberante. Havíamos
sido colegas de faculdade, onde eu fazia
Marketing, mas tive que parar para tomar
conta de uma escola, mas pretendia retomar
no ano seguinte, só não sabia ainda que
curso faria, talvez designer de moda, já que
amava comprar sapatos e vestidos
glamourosos. Terminaria meus estudos bem
mais velha que o normal, pois também tinha
feito a high school tarde, pois ficara muito
tempo no hospital psiquiátrico.
Nós três éramos amigas. Ainda faltava
uma, Samantha, mas ela estava casada com
Lucky Donovan, um homem lindo e
poderoso. Samantha era irmã do cara
mulherengo que me deixara com um buraco
enorme no peito, porque eu já nutria
sentimentos por ele havia muito tempo.
Apaixonei-me por Bryan quando o vi
no dia em que ele foi visitar Sam na
faculdade. Ele até deu em cima de mim,
mas eu vi que ele só queria uma coisa
naquele tempo. Eu não estava pronta para
transar com ele, mas havia um mês, sim, por
isso fui ao seu apartamento para
conversarmos e talvez até ficarmos juntos,
fazermos algo além de beijos, mas o que
achei quando fui lá? Ele com outra mulher.
— Hoje você vai transar, Alexia, com
um cara gato — declarou Claire enquanto
caminhávamos pela boate até nossa mesa, e
acrescentou assim que eu estava abrindo a
boca para dizer que tinha ido ali para
acompanhá-las e comemorar o aniversário
de Luana, não para transar por aí: — E sem
essa de não estar pronta, porque já estou
cansada de ouvir isso de você.
Só tinha uma pessoa com quem eu
pensava em fazer sexo, e justamente ele não
me queria desse modo, apenas me via como
a melhor amiga da sua irmã. Talvez nem me
achasse bonita.
— Eu só estou aqui por vocês, pelo
aniversário de Luana e mais nada, então
esqueça essa coisa de me fazer me
interessar por alguém, porque isso não vai
acontecer — rosnei, aproximando-me da
mesa, meio afastada do salão.
Mikael e Julian já estavam sentados
ali. Mike, como o chamávamos, era
namorado de Claire havia algum tempo. Era
dono da boate onde estávamos, no Centro
de Nova Iorque, um loiro lindo com sardas.
Claire dizia que as amava. Eu também via
Luana direto com Julian, que era um cara
moreno, com olhos negros, forte. Aliás,
tanto ele quanto Mike eram fortes, afinal,
tinham jogado basquete na escola, mas
Mike seguira com a boate, e Julian ainda era
um jogador.
— Você está linda, meu amor — disse
Julian, beijando Luana. — Feliz aniversário.
Ela riu e corou. Estava mesmo
deslumbrante. Vestia um vestido rosa-claro
de cashmere com sandálias de salto alto.
Seus cabelos ruivos combinavam com seus
olhos castanho-claros. Os dois formavam
um casal lindo. Eu ficava contente por
minhas amigas estarem bem e felizes.
— Obrigada, querido.
Se não fosse pelo aniversário de
Luana, eu não teria saído de casa. Era a
única solteira daquele grupo, provavelmente
por isso elas ficavam tentando me arrumar
um namorado, pois eu tinha acabado de
completar 24 anos e ainda não havia tido
um. Entretanto, apenas um cara me
interessava dessa forma, com aquele par de
olhos azuis, corpo forte e pegada firme.
Bem, não se pode ter tudo que se deseja,
não é? Se fosse assim, a minha vida teria
sido diferente quando eu tinha 19 anos…
expulsei esse pensamento, afinal, era uma
noite alegre, não era hora de pensar no meu
passado obscuro.
— Oi, gente — falei aos dois, mas eles
mal olharam, só assentiram para mim
enquanto adoravam suas namoradas. Achei
bom. Um dia queria ter aquilo também, ver
aquele olhar de adoração nos olhos da
pessoa pela qual eu me interessasse. Bem,
milagres assim não acontecem, pois Bryan é
indomável e galinha.
Claire abraçou Mike, e nos sentamos à
mesa na sala VIP da boate. Aquele lugar me
lembrava muito a boate que meu pai deu
para meu irmão, Alex, em Manhattan. Ele
sempre amou isso, até já foi DJ em várias
casas noturnas, inclusive no Japão, na China
e em alguns outros países. Por isso papai
deu a boate a ele, no intuito de fazê-lo
sossegar. Acredito que funcionou, mas, no
fundo, foi Rayla, sua namorada, quem o
colocou na linha.
Olhei as cores vivas do lugar. Estava
lotado de gente dançando e se divertindo.
— Olá, pessoal, vejo que cheguei
atrasado — falou Jack, o irmão sarado de
Claire, loiro, alto, forte, com olhos cor de
mel e sorriso encantador. — Desculpem,
tive que resolver algumas coisas antes de vir
para cá.
— Chegou bem na hora de levar nossa
amiga Alexia aqui para dançar e se divertir
— disse Luana.
— Aliás, vamos todos dançar — falou
Claire pegando a mão de Mike e indo para a
pista de dança.
Eu estava perto de reclamar quando
Jack pegou minha mão e me levou para a
pista. Jack, Claire e eu fomos criados
praticamente juntos, os dois eram como
irmãos para mim e Alex, embora eu
soubesse que Jack queria mais que minha
amizade, mas eu não podia me entregar a
ele, nem a ninguém… com exceção de
Bryan.
— Jack, eu não quero dançar, não
estou com ânimo para isso hoje — reclamei
quando ele ficou à minha frente e colocou
as mãos em minha cintura, puxando-me
para si. Sussurrou em meu ouvido:
— Não olha agora, Alexia, mas, a
alguns metros daqui, o cara por quem você
é apaixonada está com uma mulher, ambos
sentados a uma mesa, e o filho da puta ainda
me olha como se quisesse me matar. Dá
para acreditar nisso? — em sua última frase,
parecia falar consigo mesmo.
Meu coração deu um solavanco tão
grande que acreditei que dava para ser
ouvido do outro lado do salão e através da
música dançante que estava tocando. Ao
virar o rosto na direção em que Jack olhava,
deparei-me com um par de olhos azuis me
fitando do outro lado do salão. Bryan estava
ao lado da mesma morena que eu tinha visto
no seu apartamento havia um mês. Então
ele realmente se prendeu a uma mulher?
Achei que meus pulmões estavam com um
defeito que impediam o ar de sair. Eles
combinam… Eu e ele, não.
“Ninguém quer você, não vê isso, sua
puta?” uma voz que eu não queria ouvir
invadiu minha cabeça. “Só eu”. Então a
cena veio à minha mente. Tentei bloqueá-la,
mas ela estava ali, comendo-me viva. Suas
mãos no meu corpo…
Ele não está aqui, Alexia, se controla,
entoei a mim mesma, expulsando aquela
voz da minha mente. Bryan, olhos azuis,
lábios avermelhados e beijo de mel, repeti
isso várias vezes. Esse era o mantra atual
que eu invocava para as lembranças ruins
irem embora de vez.
— Alexia — chamou Jack.
Virei o rosto e fitei meu amigo ao meu
lado, que se encontrava com um olhar
ansioso e preocupado. Então percebi que
tinha ficado meio absorta por alguns
segundos enquanto ele sacudia meus
ombros, talvez querendo me trazer de volta
dos meus pensamentos.
— Eu estou bem, não se preocupe
comigo — menti, ofegante. Era como se eu
estivesse correndo em uma ladeira e de
repente ficasse sem fôlego. — Eu só preciso
de ar fresco… e sair daqui, ir para onde eu
não precise ver os dois…
— Vem comigo, sei de um lugar ideal
— falou, pegando minha mão e me levando
por uma escada para o terraço do prédio.
Eu já havia ido ali uma vez com Claire
e Luana. O lugar tinha a vista mais linda de
todos os lugares que eu já vira, dava para
ver Nova Iorque inteira de lá.
Escorei-me à grade do parapeito do
terraço e olhei as luzes lá embaixo e ao
longe. O clube de Mike era no alto do
prédio do pai dele, o senhor Martins, dono
da Fundação Martines, que beneficiava
várias crianças pelo mundo, como a Vênus,
da Samantha. Lucky, seu marido, dera a
empresa Vênus para ela de presente.
Embora eu não tivesse inveja dela por isso,
porque só queria uma coisa, que estava lá
embaixo na boate com sua namorada, e
quanto a mim… estava ali, sofrendo por ele.
— Você sabe o que sinto por você, não
sabe, Alexia? — começou Jack, pegando
nos meus ombros e me deixando de frente
para si. E me fitou. — Desde os 15 anos, no
baile da escola, eu já queria você, mas
depois viajei para a Inglaterra e, quando
voltei, você estava naquele hospital na
Suíça… Eu sei que não sente o mesmo por
mim, que gosta daquele cara lá embaixo,
mas podemos tentar.
Eu mirava seus olhos brilhantes pela
luz da lua e das estrelas. Não sentia nada
por ele, exceto amor de irmão. Entretanto,
meu coração doía por não corresponder ao
seu amor, que eu podia sentir e ver…
— Jack, eu não… — fui interrompida
por sua boca na minha e seus braços à
minha volta.
Ele aproveitou meus lábios abertos de
choque por ouvir suas palavras e os devorou
como se não se alimentasse havia anos e
não quisesse nunca mais parar.
Se quem eu quero não me quer, então
por que não dar uma chance ao meu amigo,
que me ama? Talvez depois, com o tempo, o
amor surja, não é? Igual acontece em
filmes e livros de romance.
Eu estava a ponto de retribuir seu beijo
quando Jack foi arrancado de perto de mim
e lançado em cima de uma mesa próxima de
nós e na qual eu não tinha reparado antes.
Jack arquejou com a pancada,
enquanto eu ofegava de pavor vendo Bryan
em cima dele, espancando-o. Quando
ergueu a mão para esmurrá-lo na face de
novo, gritei:
— Bryan, não! — Corri até ele e
peguei seu braço para o impedir de bater de
novo em Jack, que estava sangrando um
pouco. Estaria com uma hemorragia maior
se não tivesse se defendido do ataque. —
Mas que droga! O que você tem na cabeça?!
Ele não parecia querer parar de bater
em Jack, que enfim estava revidando. Os
dois pareciam saber lutar, mas Bryan estava
em vantagem.
— Você vai ficar longe dela, ou eu
juro que vou matá-lo — sibilou Bryan
lançando mais um soco em Jack, que se
defendeu com destreza.
— Não vou ficar longe dela, cara, a
não ser que ela queira. Ao contrário de
você, eu a amo e não quero apenas entrar
em suas calças só porque ela é gostosa —
rosnou Jack limpando a boca, que estava
sangrando.
— Você não sabe de nada, porra! —
Ele ia bater em Jack de novo, mas o impedi
entrando em sua frente e o empurrando para
trás.
— Maldição, quer parar de tentar bater
nele?! — Estava prestes a dizer para ele
voltar para sua namorada, que, por sinal,
deixara na boate para vir atrás de nós. Se ele
se importasse realmente comigo, ao ver o
beijo, devia ter falado algo para mim, não
ter batido em Jack.
— Bryan, que droga! O que está
fazendo aqui? — indagou sua namorada
chegando até nós e olhando a cena. Suas íris
negras pousaram em mim e sua testa se
franziu.
Não liguei para isso, porque estava
com raiva demais de Bryan por tudo que
fizera. Afastei-me dele.
— Você não devia estar aqui, Bryan.
Pega sua namorada e vai embora —
ordenei, deixando a raiva se apossar de
mim; era melhor do que a dor em meu
peito, que estava me sufocando, quase me
impossibilitando de respirar.
Aproximei-me de Jack sem tirar minha
atenção de Bryan.
— Bryan, temos que ir agora. — A
mulher pegou seu braço, puxando-o para
irem embora.
Entretanto, ele parecia travado me
olhando. Por um breve momento, vi a dor
nos seus olhos, mas foi tão rápido que logo
passou, e sua expressão se tornou sombria,
ainda mais ao fitar Jack ao meu lado.
— Toque em um fio de seu cabelo, e
eu vou caçá-lo e acabar com você —
ameaçou.
— Se eu quiser, isso não é da sua
maldita conta! Buscou minha opinião para
andar transando por aí? Não fez isso, não é?
— sibilei já com lágrimas escorrendo por
meu rosto. — Agora some da minha frente,
porque não quero saber de você nunca mais!
A garota o arrastou, mesmo ele não
querendo ir embora.
Uma relação bem estranha a que eles
têm. Como uma namorada aceita isso sem
reclamar ou ficar furiosa por ele bater em
um cara por causa de outra mulher? E por
que ele veio até mim preocupado por eu
ficar ou não com alguém?
Quando eu disse para Bryan ir embora
e que eu não queria vê-lo, notei uma chama
de dor em seus olhos lindos, porém tristes.
Embora eu o tivesse mandado embora, não
queria que ele fosse de verdade, queria que
ficasse comigo e dissesse que só queria a
mim, não outras mulheres por aí. Todavia,
com Bryan era assim mesmo, ele nunca se
contentaria só com uma mulher, sempre
teria que ter mais. E eu jamais aceitaria isso.
Se Bryan me quisesse, teria que ficar só
comigo, porque eu jamais dividiria um
homem, ainda mais o homem que eu amava.
— Você está bem, Jack? — Olhei para
ele, que limpava o seu rosto.
Ele suspirou.
— Sim, mas preciso ir ao banheiro me
limpar para não assustar ninguém.
— Lamento pelo que aconteceu, não
sabia que ele seria capaz disso — sussurrei.
— Não foi sua culpa ― deixou bem
claro que só existia um culpado. — Agora
vou cuidar desse sangue. Nos encontramos
lá dentro.
Voltei para a boate e forcei um sorriso,
pois não queria estragar a comemoração de
Luana porque não conseguia parar de pensar
em um bad boy mulherengo que não se
prendia a ninguém. Ele nunca se prenderia a
mim, uma garota simples que vivia tendo
crises de paralisia quando as lembranças
sombrias do que tinha vivido no passado
voltavam a atormentá-la.
Jack foi ao banheiro para se arrumar e
dar um jeito em sua face; ele também não
queria estragar o momento de Luana.
Bryan continuou na boate com sua
namorada. Eu o ignorei por todo o tempo
em que estive lá, até que falei para as
meninas que voltaria para o meu
apartamento. Elas não queriam me deixar ir
sozinha, então disse que iria com Jack.
Ele não se queixou por eu usá-lo
assim, mas me senti mal, porque, por mais
que seu beijo fosse bom, eu não sentia nada
por ele. Seu beijo com sabor de menta era
tão diferente dos beijos doces de Bryan…
Eu amava sua boca e seus beijos, tudo nele.
Sabia que era burra por ainda querê-lo
depois de vê-lo com outra mulher, mas não
podia esquecê-lo. Queria poder, mas não
conseguia.
Luana e Claire não viram problema em
eu sair com Jack. Eu tinha certeza de que,
na mente delas, nós ficaríamos juntos, mas
isso não aconteceria. As duas sabiam que eu
não era mais virgem, embora não
soubessem como eu tinha perdido a
virgindade, ou melhor, como ela fora tirada
de mim havia uns cinco anos por um
desgraçado que deveria estar apodrecendo
no inferno. Elas só sabiam que eu tinha
ficado internada por um tempo, mas todos
pensavam que era porque eu ficara em
cativeiro, mas ninguém sabia o que
realmente acontecera naquele lugar, só os
policiais, meus pais e meu irmão, que
tinham guardado isso muito bem.
— Você está bem para ficar sozinha?
— sondou Jack parando seu carro em frente
ao meu apartamento.
O prédio possuía cinco andares. Eu
morava no último, pois adorava lugares
altos, de onde eu podia ter uma vista
panorâmica.
Respirei fundo, mas doeu fazê-lo. Eu
queria ficar sozinha e deixar a dor da
rejeição de Bryan me dominar, me
consumir.
— Eu vou ficar bem — menti e
acrescentei assim que ele abriu a boca para
dizer, possivelmente, que sabia que eu
estava mentindo: — Eu sinto muito por ele
ter batido em você por minha causa.
— Não sinta, não foi sua culpa aquele
idiota agir daquele jeito por ciúmes. O que
não entendo é por que, se ele ama você, não
faz nada para tê-la e fica com outras
mulheres… — ele parecia falar consigo
mesmo no final, mas estremeci ao imaginar
Bryan com outra mulher. — Desculpe por
dizer isso; eu só não entendo.
— Ele não me ama — murmurei num
choramingo. — Por que eu não me
apaixonei por você?
Ele beijou meus cabelos.
— Porque ninguém manda no coração,
Lex. Se mandasse, você já seria minha
mulher e com certeza mãe dos meus filhos
— falou com tanto amor que me senti mal
por gostar de outro cara que não assumia o
que sentia.
— Eu sinto muito.
Chorei em seus braços, depois fui para
o meu apartamento quase correndo,
querendo apenas mergulhar na minha
banheira e chorar por um ano inteiro.
Capítulo 2
Alexia
Quando entrei no corredor do meu
andar, notei que tinha algo errado; a porta
do meu apartamento estava entreaberta.
Meu coração gelou ao pensar em Samuel.
Havia algumas semanas eu vinha recebendo
recados sinistros, ameaças de morte por
mensagens em meu celular. Até trocara o
número, mas as mensagens continuaram.
Supunha que eram do monstro que
desgraçara minha vida e que nunca havia
sido preso. Eu não tinha ido à polícia saber
dele depois que saíra do hospital. Meu pai,
quando estava vivo, cuidara de tudo. Eu
apenas soubera que Samuel não tinha sido
preso.
Meu coração estava batendo alto
enquanto me aproximava mais do
apartamento no corredor vazio, embora
fosse tarde para me deparar com alguém ali.
Ao chegar mais perto, ouvi uma
música soando através da abertura da porta.
O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky. No
passado eu gostava muito de ouvi-la, porque
sonhava em ser bailarina, mas esse sonho
morreu quando Samuel, o monstro,
destruiu-me. Ele me fez odiá-la, assim como
eu o odiava com todas as forças, o que me
fazia ficar de pé e não deixar o passado me
dominar e me levar ao fundo do poço em
que eu havia estado alguns anos antes.
Assim que ouvi essa música tocando
na caixinha de música com uma bailarina
que eu ganhei da minha mãe, virei-me e saí
correndo, mas colidi com um peito
musculoso, o que me fez gritar tão alto que
acreditei que dava para ouvir no prédio
inteiro. Naquela hora fiquei cega de medo,
ódio, dor e apenas bati na pessoa que, em
minha mente, segurava-me e me esmurrava.
— Me solta, seu desgraçado! Eu odeio
você, seu monstro! Você destruiu minha
vida há cinco anos e tem a audácia de vir
me procurar?! — eu gritava e chorava
enquanto batia no peito do cara. De repente
minhas costas estavam na parede, e minhas
mãos, erguidas acima da cabeça. Ele estava
me imobilizando.
“Você gosta disso, não é?”. Senti as
cintadas em minha pele, me batendo até eu
dizer que gostava daquilo, daquele ato
horrendo e desumano. “Você é minha puta,
não é?”
Fechei os olhos, sacudindo a cabeça,
querendo esquecer todas aquelas
lembranças que não queria ter mais. Bryan,
pensei nele, visualizei seu belo rosto e
respirei fundo. Foi então que ouvi vozes
perto de mim. Na verdade, era uma só voz
me chamando. A princípio achei que estava
imaginando, então a voz ficou mais alta e
mais clara.
— Alexia!
— Bryan? — Percebi que quem me
segurava era Bryan, e não o imundo do…
Não quero pensar nele agora, nem nunca!
Já tive crises demais hoje!
— Alexia, me diz o que houve, porque
estou louco aqui ouvindo seus gritos de dor
e tormento, como se alguém estivesse te
batendo… — sua voz falhou. — Me diz! Se
aquele maldito da boate tocou em você, eu
vou matá-lo, eu juro!
Pisquei e me mexi, e ele soltou minhas
mãos. Sabia a quem ele se referia.
— Jack não fez nada — minha voz
estava rouca pelas lembranças que me
atormentavam havia anos, ainda mais
quando as crises vinham.
Caminhei para o meu apartamento.
Sabia que tinha que enfrentar o que
estivesse lá dentro. Não podia correr
sempre, como um gato medroso e
assustado, embora com motivos. Precisava
tentar. Além disso, não estava sozinha.
— Você saiu correndo e deixou a porta
aberta? — o tom de voz de Bryan era de
acusação e crítica, mas também tinha uma
nota de confusão. — O que houve para sair
correndo?
Eu ia ignorá-lo, mas depois pensei que
ele podia me ajudar a descobrir se era
realmente Samuel que estava fazendo aquilo
comigo, afinal, Bryan era policial e podia
investigar as ameaças. A invasão à minha
casa, deixando a música como um recado,
só podia ser obra de Samuel, já que era o
único que sabia que eu amava aquela
canção antes de ele me fazer ouvi-la tantas
vezes enquanto estava em seu poder.
— Quando eu cheguei, ela estava
aberta… — eu mal terminei de falar quando
ele me puxou para trás de si e pegou sua
arma, apontando-a para frente e abrindo o
restante da porta com a sua bota preta.
— Droga, Alexia, por que não disse
isso logo? — grunhiu acendendo a luz na
entrada.
A canção ainda tocava e a bailarina
dançava rodopiando na caixa de música.
— Você deixou a caixinha ligada?
Respirei fundo, tentando bloquear as
lembranças que aqueles acordes me traziam.
— Não, por isso saí correndo, porque
não a deixei ligada e a minha porta estava
entreaberta. Se fosse só pela porta, pensaria
ser um ladrão, mas essa música tem um
significado; sei quem é a pessoa que deu
corda na caixa…
Ele olhou todo o apartamento, mas
estava vazio. Era claro que estaria, Samuel
não seria estúpido a ponto de se deixar ser
pego. Eu me lembrava de ele dizer que as
autoridades eram lerdas, por isso nunca o
pegariam. Enquanto isso, ele raptaria mais
garotas tolas e inocentes como eu…
— Está limpo, sem sinal de
arrombamento. Você sabe quem invadiu sua
casa? Qual o nome da pessoa? Me passa
para eu investigar. Sou da polícia, lembra?
Ri com amargura.
— A polícia não vai achar nada, esse
cara se move como uma sombra. Ninguém
vai chegar perto dele a não ser que ele
queira. Ele não para até ter o que quer… —
minha voz falhou enquanto eu estendia a
mão para fechar a caixinha de música, mas
Bryan me impediu.
— Não toque em nada, pode ter
digitais na caixa e em outros lugares do
apartamento. — Ele pegou o telefone e
falou com um cara chamado Calebe.
Deixei-o conversando e fui para o
quarto arrumar umas roupas para mim.
Precisava ir para outro lugar até tudo se
resolver completamente. Também tinha de
checar se algo havia sido levado. Samuel
não era ladrão, mas quem sabia o que mais
aquele monstro se tornara após aqueles
anos, além de ser um estuprador de
mulheres inocentes?
Eu não iria para a casa do Alex, já que
não queria trazer problemas para ele, mas
precisava dar um tempo de Nova Iorque,
ficar longe de Claire e Luana. Não podia
deixar aquele ser desprezível chegar perto
delas. Precisava fazer Mike e Julian as
levarem para umas férias longe dali, longe
daquele desgraçado que, depois de quase
cinco anos, resolvera voltar para terminar o
que começara e fora interrompido.
Depois que as roupas estavam
colocadas na mala, fui até minha caixa de
joias. Não era por ser fútil e gostar de me
arrumar, embora gostasse; eu me importava
com aquelas joias porque tinham sido de
minha mãe, que me dera antes de morrer.
Então, aonde eu fosse, levava-as comigo
como lembrança.
Assim que abri o pequeno baú,
encontrei um bilhete.

“Você é minha puta, não daquele


policial de merda. Se eu vir você com ele,
vou matá-lo e esquartejá-lo…”

De repente o bilhete foi arrancado de


minhas mãos, e corri para o banheiro e
vomitei no vaso sanitário tudo que tinha
ingerido devido às lembranças jorrando em
minha mente como um maldito câncer
incurável.
— Alexia…
Ignorei o chamado e tirei as roupas,
entrando debaixo do chuveiro. Precisava
arrancar as lembranças do seu toque
asqueroso em minha pele. Água e lágrimas
caíam em minha face, repercutindo a dor e o
desespero que apertavam meu peito,
sufocando-me.
Fazia tempo que eu não tinha essas
crises, mas sabia o que as desencadeara:
seus bilhetes ameaçadores e os nomes de
que ele me chamava e que ainda me davam
calafrios na espinha e na alma.
— Alexia! — Bryan pegou a bucha
que eu esfregava em minha pele e a jogou
longe de mim, em seguida desligou o
chuveiro. — Não pode machucar a si
mesma! Seja o que for que esse cara fez
com você, eu juro que vou fazê-lo pagar,
Luz do Sol.
Fitei seus olhos, que revelavam seu
sofrimento ao me ver quebrada daquela
maneira. Nem minhas amigas me tinha visto
assim, só meus pais e Alex. Eu não queria
que Bryan me visse daquele modo, mas
precisava dele. Somente seu rosto e sua voz
faziam as vozes que me atormentavam irem
embora. Joguei meus braços em seu
pescoço e o beijei, querendo que ele tirasse
de mim tudo que restara daquele monstro
que destruíra minha alma, deixando-a em
pedaços.
— Luz do Sol… — repreendeu-me,
afastando-me da sua boca, mas não deixei.
— Por favor, tira ele de mim, por
favor… — chorava ao suplicar, agarrando-
me fortemente a Bryan, não me importando
em me humilhar para ganhar qualquer coisa
dele. Só precisava, com o toque que eu
sempre sonhara em sentir, arrancar aquilo
que estava poluindo a minha pele.
Ele não disse nada, só me olhou por
um segundo e logo estava me beijando a
todo vapor, do jeito que eu queria e sonhava
com seus beijos doces, mas naquele instante
com gosto de bebida e cigarros. Eu não
sabia que ele fumava, mas não me importei
com isso, apenas queria desfrutar do
máximo dele, porque no dia seguinte não
teria aquilo de novo.
Tirei sua jaqueta e camiseta e logo fui
para suas calças, tirando o seu cinto e
desabotoando sua calça, tudo com meus
lábios nos dele, sua língua devorando a
minha com fome, com prazer e desejo,
como se não se alimentasse havia dias ou
anos e de repente achasse um banquete para
se fartar. Eu estava igual a ele, faminta.
Coloquei minhas pernas à sua volta e
logo o senti dentro de mim, enchendo-me e
me fazendo ansiar ainda mais por ele. Senti
minhas costas na parede, então ele estocava
seu pau em meu interior, levando-me ao
limite do prazer e me fazendo ver estrelas.
Nenhum de nós disse nada além de
gemidos. Então gritei em sua boca quando
gozei, com ele vindo logo depois de mim.
Eu nunca havia gozado em toda a
minha vida, aquele era meu primeiro
orgasmo. Quando eu perdi minha
virgindade, foi através de um estupro, então
não sentia nada em relação ao sexo, apenas
repulsa; com Bryan, porém, sentia tudo,
prazer e paixão.
Bryan era um cara fechado, difícil de
se ler, mas senti naquela hora que ele
também me queria tanto quanto eu, apenas
não dava o braço a torcer. Também notei
que ele era bastante carinhoso,
principalmente ao beijar a minha pele onde
a boca daquele monstro havia estado, como
nos meus seios… Estremeci ao me lembrar
da dor.
Ele encostou a testa na minha, com
seus olhos nos meus.
— Está bem agora? — sondou,
beijando minhas pálpebras com carinho.
Ainda estava dentro de mim.
Encolhi-me como um gatinho em seus
braços e escondi meu rosto em seu pescoço,
sentindo seu aroma delicioso de
desodorante masculino.
— Desculpe por atacar você assim,
não sei o que aconteceu. Eu só queria…
— Eu sei, e não estou reclamando por
ter acontecido. Isso era algo com que eu
sonhava há muito tempo. — Ele beijou
minha testa e suspirou como se adorasse
meu cheiro.
Afastei-me e olhei para ele, que estava
sorrindo. Bryan tinha dois lados, um
sombrio e outro divertido e doce. Ele sorria
e brincava com todos, mas eu já o vira
sombrio em alguns momentos, como na
hora em que batera em Jack. Tinha algo nas
profundezas de seus olhos que afirmava que
ele havia falado a verdade quando dissera
que mataria meu amigo. Ele não parecia
falar aquilo só porque estava com raiva, no
calor do momento.
Eu estava a ponto de lhe perguntar por
que ele não viera até mim ao invés de
procurar outra mulher, uma que, ao que
parecia, tinha deixado na boate para vir ali.
No entanto, fomos interrompidos por
alguém batendo à porta. Apertei-me mais
contra Bryan, olhando a porta do banheiro
fechada.
— Eu pensei que você disse que
alguém tinha entrado aqui, mas, ao invés de
revistar o lugar, está…
— É melhor calar a boca, Calebe, ou
vou arrancar seus dentes — rosnou Bryan,
depois sussurrou, beijando meu rosto: —
Tome um banho e se vista enquanto eu falo
com eles, tudo bem?
Assenti, muda, desenrolando-me dele.
Senti um vazio assim que ele esteve fora de
mim.
— Droga, não usamos camisinha —
reclamou ele abotoando suas calças. Pegou
a camisa e a jaqueta e as vestiu.
Notei que ele tinha várias cicatrizes
em seu peito, fora as tatuagens que o
cobriam em vários lugares do corpo. Onde e
como ele as tinha conseguido? Seu tórax,
além das cicatrizes, era coberto por
tatuagens, tinha um ponto parecido com um
mapa, com nomes neles. Dois nomes, na
verdade, Emília e Emma, com letras em
chamas. Quem eram elas e onde estavam?
Não perguntei, já que não era o momento
para isso, mas achei estranho, pois não eram
nomes de mulheres de sua família, pelo
menos das que eu conhecia.
— Eu tomo pílulas anticoncepcionais,
então pode ficar tranquilo, que não vou
engravidar para prender você — disse com
acidez, acrescentando quando ele estava
perto de dizer algo: — Mas não poderei me
livrar de qualquer doença que venha a ter, já
que você fica com tudo que se move.
— Eu nunca transei sem camisinha.
Filhos são o que me preocupa, porque não
quero tê-los, e, se alguém engravidar de
mim pensando que vai me prender, mando
abortar — seu tom soou sombrio.
Encolhi-me ante sua expressão
soturna, e algo dentro do meu peito doeu
por ele não querer filhos e o pior, dizer que
mandaria uma mulher abortar um ser
pequeno e indefeso dentro dela… como
havia acontecido comigo havia quatro
anos… Parei de pensar nisso, ou sucumbiria
ainda mais do que ao pensar no que Samuel
me fizera naquele cativeiro.
Olhando para Bryan, vi a sombra que
o cercava. Só não sabia o que o levara a
ficar assim, desumano, porque um cara que
menosprezava um bebê ou um feto dessa
forma era desumano para mim. Contudo,
normalmente ele não era assim. Por que
dizia isso, então?
— Tudo que você está pensando sobre
mim é verdade, Alexia, então sugiro que se
mantenha longe de mim para o seu bem. Se
espera uma casa com cerca branca e filhos,
não sou esse homem — disse ele, depois
saiu batendo a porta e me deixando
chocada.
Eu custava a acreditar que ele dizia a
verdade. Sentia que ele criara uma gaiola à
sua volta, impedindo-me de a atravessar. Eu
não queria nada, apenas que me deixasse
entrar para ver e lhe mostrar a luz em seu
interior, a mesma luz que um dia eu perdera,
mas, com o passar dos anos, começara a
brilhar de volta, mesmo que a dor nunca
fosse embora. O que acontecera com ele
para ficar assim? Isso teria a ver com
aquelas cicatrizes e os nomes que estavam
gravados em seu peito? Acreditei que não
teria resposta para aquilo.
Depois de eu dar meu depoimento
sobre a pessoa que invadira meu
apartamento, e eles revistarem minha casa,
Bryan me levou embora. Disse a ele que
ficaria em um hotel, mas ele não deixou e
me levou para uma casa em Manhattan. Até
achei que fosse de um amigo seu, mas
percebi que não era quando ele estacionou
seu Range Rover depois de entrar em uma
casa com portões grossos de ferro. Ele
desceu do SUV. Eu já ia descer, quando ele
disse:
— Fique no carro até eu checar tudo
— não era bem um pedido.
Só não o mandei catar coquinho
porque estava cansada demais e com raiva
de tudo, do desgraçado do Samuel por
resolver me procurar e de Bryan por me
ignorar completamente depois de termos
transado no banheiro. Quase ri ante esse
pensamento. Como se ele fosse agir de
modo diferente comigo só porque
transamos… Ele faz isso com todas as
mulheres, para ele foi apenas sexo entre nós
dois… Já para mim? Eu estou
irrevogavelmente apaixonada por ele.
Depois de ele fiscalizar a casa, fomos
até a porta, que tinha quatro cadeados e três
caixas de código alfanuméricos, e câmeras
para todos os lados.
— Para que tanta segurança? Tem
algum presidente importante aqui? —
indaguei, porque a casa era mais protegida
que o Fort Knox.
Ele não respondeu, e eu que não
insistiria por migalhas de sua atenção. Se
ele não se importava comigo, não iria me
incomodar. Eu não deveria ter vindo, mas
não queria trazer perigo para meus amigos e
meu irmão, por isso segui Bryan sem
reclamar. Era isso que eu dizia a mim
mesma.
— Seu quarto vai ser aquele ali. — Ele
apontou à direita para uma porta que estava
fechada, depois para a porta que ficava de
frente para essa. — Nunca entre naquele
quarto a não ser que eu deixe ou a chame
para entrar.
Notei que ele falava comigo como se
eu fosse uma estranha e não a melhor amiga
de sua irmã ou a mulher que ele estava
fodendo
Assenti, muda. Com certeza ali era o
seu quarto, e ele não queria que eu fosse lá.
Quase ri por ter imaginado que dormiria
com ele naquela noite.
— Eu tenho que sair, mas não vou
demorar. Preciso ir pegar Brenda na boate…
Quando ele disse isso, foi como se
enfiasse a mão em meu peito e arrancasse
meu coração aos pedaços. Talvez doesse
menos se fizesse isso de modo literal. O que
eu podia esperar dele?
— Não é o que pensa — disse ao ver a
agonia em meus olhos. Possivelmente eu
não consegui escondê-la a tempo.
Não falei nada e fui para o quarto, ou
me quebraria na sua frente, e isso não podia
acontecer.
— Alexia…
— Só vá embora para sua mulher, ou
talvez tenha mais, não é? Vá logo, Bryan, e
me deixe sozinha. — Não esperei ele
responder, apenas me tranquei no quarto e
coloquei a mão na boca para abafar o som
do choro para ele não ouvir, mas, depois de
uns minutos, ouvi o som do seu carro indo
embora. Foi quando me deixei cair no poço
de dor que estava me sufocando.
Olhei para a cama Califórnia King e o
quarto espaçoso, todo branco, com fotos de
Sam na parede. Então aquele quarto era
dele? Eu que não dormiria naquela cama,
quantas mulheres ele havia trazido ali? Com
certeza milhares. Incluindo a Brenda…
Arrastei-me ainda chorando até o
carpete e me deitei ali, porque achava que
ele não tinha transado no chão; pelo menos,
esperava que não.
Na manhã seguinte, assim que eu
acordasse, iria embora. Talvez, se eu fosse
para a casa de praia do meu irmão no
Caribe, conseguisse ficar segura. O que eu
não podia era ficar com Bryan, vendo-o
com outras mulheres. Eu não suportaria
novamente o que aconteceu naquela noite,
quando ele me deixou ali sozinha, arrasada
e foi atrás de outra mulher.
Encolhi-me, não querendo pensar em
minha vida. Só esperava que o dia seguinte
fosse melhor.
Capítulo 3
Bryan
Saí da minha casa, reforçada com
câmeras e outros dispositivos de segurança
para, caso eu precisasse algum dia, deixar
alguém que eu amasse protegido, mas nunca
em minha vida havia pensado que seria a
mulher deslumbrante com cabelos cor de
ouro, aquela que eu sonhava em tocar havia
muito tempo. Eu finalmente a tinha
possuído, mas não do jeito que queria.
Quando pensava em ficar com Alexia, seria
pela vontade dela, não para tirar a porra de
um desgraçado de suas lembranças.
Só em pensar no que aquele homem
devia ter feito com ela para lhe causar a dor
que eu vira mais cedo naquele dia, dava-me
vontade de esquartejá-lo, porque a morte era
pouco para ele. O seu inferno chegaria
quando eu o pegasse e fizesse tudo que
jurara nunca mais fazer.
Eu tinha meu emprego na CIA, para a
qual gostava de trabalhar, fora a parte de ter
de manter segredos das pessoas que eu
amava, como Sam, vovó e, depois, Alexia.
Pude ver em seus olhos que ela
pensava realmente que eu saí da casa para
ficar com outra mulher, mesmo que eu
tivesse acabado de transar com a garota. Eu
sempre havia feito isso com as mulheres,
mas com ela não era assim. Alexia tinha
algo que fazia minha escuridão diminuir,
seu sorriso, sua voz…
Desde o dia em que eu soube, por
Alex, seu irmão, no Belas Country, que um
cara a machucara tanto que fora preciso ela
se internar em uma clínica, mesmo dia em
que eu a beijei pela primeira vez, percebi o
que ela realmente sentia por mim. Inclusive
podia ver isso na forma como ela me olhava
e quando ficamos juntos. Também senti sua
dor por pensar que eu ficaria com outra
pessoa.
Na noite do nosso primeiro beijo,
notei-a tensa o tempo todo, tanto que supus
que o cara que a havia machucado tinha
feito com que ela não quisesse mais ficar
com homens. Por isso fui embora sozinho e
não a convidei para o meu apartamento; não
queria trazer mais dor a ela.
No dia seguinte, ela foi ao meu
apartamento e viu Brenda, minha colega de
trabalho e a mulher com quem meu chefe
ficava. Tínhamos trabalhado disfarçados
naquela noite, mas Alexia pensou que
estávamos fodendo. Eu sabia que deveria ter
esclarecido as coisas, mas não podia, não
queria infectar a luz que existia nela com a
minha escuridão, então deixei que pensasse
isso e me afastei dela, pois já sofrera
demais, e comigo sofreria muito mais,
porque eu fazia isso com as pessoas
próximas. Elas se machucavam ao confiar
em mim.
O destino era realmente uma cadela.
Duas mortes eu tinha nas costas por não
conseguir fazer o meu trabalho direito, se é
que podia chamar o que eu tinha feito,
naquele ano de escuridão, de trabalho.
Quando eu trabalhava para Pietro,
conhecido por todos como Black, não era
um “serviço”, e sim uma maldição que
acabou levando minha alma, tudo para
pagar a dívida que meu pai devia a ele, se é
que eu podia chamá-lo de pai. Dylan era um
ser desumano que quase matara a filha e o
bebê que ela esperava.
Entretanto, eu tinha pagado essa
dívida. Não fora por ele, mas sim por Sam,
porque eu conhecia Pietro, e, quando se
devia a ele, liquidava-se a dívida ou se
pagava o preço, inclusive a família do
devedor, do modo mais doloroso que
existia.
Enfim eu estava protegendo uma
mulher com quem eu me importava mais do
que comigo mesmo, cujo algoz, que queria
levá-la novamente, ninguém conseguia
localizar. Todavia, ele não me conhecia; eu
iria encontrá-lo e acabaria com ele, embora
não pudesse fazer isso sozinho, porque tinha
de trabalhar e tomar conta de Alexia para
que aquele desgraçado não a machucasse de
novo. Oh, o inferno iria cair se isso
acontecesse. Eu derrubaria quantos fossem
necessários para impedir que ela sofresse
mais uma vez.
Eu só conhecia uma pessoa que podia
me ajudar com isso. Para minha sorte, ele se
encontrava em Nova Iorque.
Meu telefone tocou quando eu estava
indo para o inferno em que tinha estado
havia tanto tempo e para o qual teria que
retornar. Pietro era o chefe do MC Scorpion,
que não conhecia a palavra chamada Lei. Os
federais estavam em cima deles, e se eu
fosse ao seu encontro também estaria na
lista de procurados. A sede de seu clube era
em Kentucky, mas havia sido transferida
para próximo a Nova Jersey.
Olhei a chamada sem registro e franzi
o cenho por alguém ter aquele número. Só
Sam o tinha, mas o nome dela estava
registrado, diferente daquele.
— Alô? — minha voz saiu dura.
— Olá, Scott. Como tem passado? —
saudou Shadow, o presidente do MC Fênix
em Chicago.
Nós dois tínhamos nos conhecido
havia alguns anos, quando eu fora a
Chicago fazer um trabalho para Pietro, o
último. Shadow me ajudara a me livrar da
dívida que tinha com Pietro, que era pior do
que vender a alma ao diabo, aliás, ele era o
diabo em pessoa na Terra. Pietro era o chefe
do MC Scorpion, que não conhecia a
palavra lei. Os federais estavam em cima
deles.
Shadow sempre me chamava de Scott
porque eu tinha usado meu segundo nome
quando o conhecera, mas depois nos
tornamos colegas, irmãos, na verdade. Era
assim que eu os considerava, ele e todo seu
pessoal do MC, uma família que nunca
tivera.
— Bem. Suponho que seja importante,
para deixar sua mulher na cama e vir falar
comigo às 3h da madrugada — falei com
um suspiro, mas era bom, eu precisava falar
com ele.
Ele suspirou também.
— Eu sei o que está acontecendo,
então me encontre no clube do MC em
Nova Iorque AGORA — seu tom não soava
como um pedido. Ele devia ter-se dado
conta de que era o tom que usava com seus
homens, pois falou de forma mais leve: —
Scott, eu sei o que aconteceu com a garota
que você está protegendo e que ela é
importante para você…
O carro deu um solavanco quando
pisei no freio, parando-o instantaneamente.
— Como sabe sobre isso? — Olhei ao
redor bem a tempo de ver uma moto parar
perto do meu carro.
— Siga Daemon até o clube, Scott, e
vamos conversar sobre sua garota.
— Shadow, me diz que porra está
acontecendo! — grunhi com raiva.
— Apenas siga Daemon, e vamos
conversar.
Liguei o carro e segui Daemon.
Assim que cheguei à sede do
motoclube Fênix em Nova Iorque, não
reparei muito no local, pois estava
preocupado demais com o que Shadow
tinha dito sobre Alexia. Ele parecia saber
realmente quem ela era e o que lhe estava
acontecendo.
Entrei no clube ignorando a festa que
estava rolando e as mulheres nuas que
estavam ali com os caras. Enquanto eu as
via, não sentia absolutamente nada. Alexia
chegara arrebentando, porque, depois de
apenas um beijo dela, eu não quisera mais
mulher nenhuma; agora que eu tinha sentido
seu calor e estado dentro dela, seria pior
ainda. Só ela mesma para pensar que eu a
tinha deixado para procurar outra mulher.
Contudo, eu havia sido culpado por lhe
dizer que buscaria Brenda na boate. Dennis
que se virasse com ela, já que a mulher era
dele, ou melhor, sua “ficante”, porque
aquele cara não ligava para ninguém, só
para si mesmo e seu trabalho.
Fui direto a Shadow, sentado ao lado
de Nasx, Michael e Daemon, que acabava
de se sentar. Estava ali também outro cara,
moreno e alto, com colete do MC.
— Há quanto tempo, Scott — saudou
Shadow. — Sente-se. Vamos conversar.
A mesa à qual estávamos era mais
afastada do pessoal que estava no salão,
assim ninguém ouviria o que iríamos
conversar. Isso era bom.
— O que sabe sobre Alexia, e como
Daemon estava me seguindo…?
Ele me cortou:
— Não estava seguindo você, e sim
ela…
Cerrei os punhos com força. Se por
acaso ele estivesse interessado nela, eu o
mataria.
— Vamos deixar de lado esse veneno
que está em seus olhos; posso ver que está
querendo matar o Daemon — declarou
Shadow me olhando de lado e dando um
gole na sua bebida. — Nós estamos atrás
dela porque chegamos à conclusão de que
nosso alvo quer sua garota…
— Espere, o quê? — minha voz saiu
duas oitavas mais alta. Alguns dos MCs
fecharam a cara para mim, mas não me
importei com isso. Tinha sido apenas o meu
medo, que viera à tona. Se não bastasse um
lunático que a ferira no passado, em quem
eu estava louco para colocar as mãos, eles
vinham dizer que havia outro cara a
querendo? Porra! Eu jurei não matar mais
ninguém, mas assim fica difícil.
— Que porra isso significa? Quem é
esse cara? Me diz, que vou matá-lo.
— Esse é o nosso problema. Quando
chegamos perto, ele escapa como uma
sombra…
— Sombra? — interrompi Nasx. —
Qual seu nome? E o que ele fez para vocês
o caçarem?
— Ryan Donovan me pediu para pegar
o cara que tentou estuprar sua namorada e
matou a irmã dela. Então, estávamos
caçando esse cara até uma casa em Seattle.
Foi quando achamos uma garota em
cativeiro e uma foto da sua mulher no
quarto do cara. Por isso a estamos vigiando
desde então, porque pensamos que ele virá
atrás dela.
— Se vocês estão vigiando, então
sabem quem entrou no apartamento dela
esta noite e quem é esse desgraçado? —
minha voz saiu num sibilar.
— Seu nome é Steve Lutner. O
bastardo é um sádico fodido, que conquista
garotas inocentes e jura que as ama, depois
as mantém em cativeiro por uma semana, as
espanca, maltrata, estupra e depois mata —
o tom de Shadow era sombrio. Ele me olhou
de um jeito que fez gelar minha alma
escura. Eu sabia que não ia gostar do que
ele estava prestes a me dizer. —
Acreditamos que sua garota é uma delas, a
única que sobreviveu, e que agora ele quer
terminar o serviço que ficou inacabado.
— Pelo que consegui descobrir, Alexia
foi sequestrada por quase uma semana, mas
um cara do FBI a encontrou toda
machucada, desidratada e fraca por falta de
água e comida, fora as lesões em seu corpo.
Seu pai a internou em um hospital
psiquiátrico, porque ela ficou traumatizada.
E não é para menos; pelo modo como a
encontraram, acharam que ela não
sobreviveria, devido às lesões profundas
que teve — disse Daemon sombrio.
Meu peito se apertou, meu sangue
gelou nas veias ao saber o quanto minha
garota sofrera nas mãos daquele desgraçado
filho da puta, então ferveu, a ponto de eu
querer fazer o que jurara que nunca mais
faria em minha vida. Eu não me importava
de passar a vida na cadeia por matar um ser
daquele tipo. Assim que o pegasse, adoraria
fazer tudo que estava louco para fazer com
ele. O inferno estava para começar em sua
vida, e ele nem percebia.
Quando Alex mencionara que Alexia
tinha sido quebrada, eu havia achado que
um bastardo a tinha machucado, como
acontecia às vezes no fim de um
relacionamento. Ao descobrir tudo isso e
presenciar o modo como ela se comportara
mais cedo naquela noite, senti mais raiva de
mim por não ter pesquisado mais sobre ela e
ter descoberto pela boca dos outros o que
lhe acontecera. Por isso a sua crise, o seu
medo daquele homem.
— Eu hackeei todas as câmeras
próximas à casa dela, e aqui está a cara do
serial killer. Eu soube que o que ele fez
com Alexia fez também com mais 18
garotas, mas nenhuma sobreviveu, só ela. A
garota que encontramos junto à foto de
Alexia estava morta. — Daemon empurrou
uma foto de um cara moreno com cabelos
curtos e usando óculos escuros, certamente
para não ser reconhecido, uma vez que não
havia outro motivo para ele usar óculos de
sol à noite.
— Comprovamos que ele é de fato
Steve Lutner, filho do senhor e da senhora
Lutner, que o bastardo matou, esquartejou e
deixou bem na frente da prefeitura, para
toda a população da cidade ver. O cara é
definitivamente fodido da cabeça, para não
dizer demônio — falou Shadow. Seu nome
verdadeiro era Dominic, mas poucos o
chamavam assim ou pelo seu outro apelido,
Dom.
— Peguei também imagens das
câmeras de locais de onde algumas das
vítimas dele foram levadas, mas ele está
sempre diferente, olha aqui. — Daemon me
deu um envelope.
Em algumas imagens o homem estava
barbudo, em outras, com cabelos longos e
ruivos, ou louros, ou negros. Em umas
estava sem óculos; em outras, com óculos
de grau, representando nerds.
Quanto mais eu via sua face, mais ódio
eu sentia daquele cara. Estava louco para
matá-lo, assim como ele fizera com aquelas
garotas inocentes, com famílias que as
amavam… e ele tinha ferido a minha garota.
Ela era minha, ninguém nunca mais tocaria
nela, ou eu jurava que acabaria com quem
quer que o fizesse, incluindo aquele fedelho
do clube que estava doido para ter o que era
meu.
— Eu quero cópias delas; vou ver o
que acho a partir daqui. Agora que sei quem
ele é, fica mais fácil. Por suas diversas
aparências, imagino que ele use nomes
diferentes. Isso significa que o nome do cara
que Alexia deu a mim não era verdadeiro.
Ela se referiu a ele como Samuel, não Steve.
Ele sabia que seu nome era procurado pela
polícia e pelo FBI pelas mortes de outras
garotas, por isso sempre devia mentir seu
nome para elas. — Bebi um gole de uísque
e olhei para Shadow, que me observava. —
Se o pegarem antes de mim, fiquem
sabendo que ele é meu.
— Scott, você é um agente da CIA,
não pode sujar seu nome e suas mãos
assim…
Estreitei os olhos.
— Acha que me importo com meu
nome ou o que vier a acontecer comigo? —
meu tom saiu frio, mas ele não ligou, afinal,
era sombrio igual a mim, se não pior. — Eu
não me importo, apenas quero que ele pague
pelo que fez a ela. A sua morte vai ser lenta,
com requintes de crueldade.
— Ele vai pagar, mas não pode ser
você a fazer isso. Pense nela, na sua garota.
O que ela iria achar disso, de você buscando
vingança para o que aconteceu com ela?
Por instinto olhei para a câmera no
meu celular e a vi. Ela estava no quarto que
eu lhe designara em minha casa. Eu a
colocara ali justamente para vê-la aonde
quer que eu fosse. O que vi me deixou
grilado. Ela estava dormindo no chão, sobre
o carpete. Abraçava-se tão forte, como se
agarrasse um bote salva-vidas. Parecia tão
inocente e frágil que eu só queria protegê-la
de quem quer que quisesse lhe fazer mal,
que ao menos sonhasse em tocar minha Luz
do Sol. Ao mesmo tempo sentia ódio de
mim mesmo por, depois de a ter encontrado
daquele jeito, assustada e com medo, em
vez de a ajudar, ter transado com ela como o
fodido que eu era.
Olhei para as outras câmeras para ver
se avistava algo de estranho ao redor da
casa. Foi quando vi o garoto da boate no seu
carro em frente ao portão da minha casa,
talvez pensando em chamar ou entrar, o que
seria impossível, pela segurança dela. Ela
devia ter nos seguido.
Trinquei os dentes, tentando me
controlar para não correr para lá e matar o
cara errado, embora esse eu também
quisesse morto, porque só em pensar nele a
beijando de novo me enchia de fúria.
— Pode me procurar sempre que
precisar. ― Shadow e eu nos parecíamos,
éramos sombrios e tínhamos feito coisas
pelas quais jamais teríamos misericórdia de
Deus ou alcançaríamos a redenção. Eu não
ligava muito para onde minha alma fosse
depois que eu morresse, ou era assim que eu
pensava antes de Alexia entrar em minha
vida. Sua luz e beleza resplandeciam como
o sol na minha vida. Eu a chamava de Luz
do Sol por esse motivo, e ela nem sabia.
Desejava ser alguém melhor para viver com
aquela mulher deslumbrante.
Queria não matar mais ninguém, mas
vendo a imagem daquele filho da puta e
sabendo que ele estava à procura dela para
terminar o que começara anos antes, eu
estava decidido a lhe mostrar quem era o
demônio, o que eu era capaz de fazer. Eu o
ensinaria a nunca mais se aproveitar de
garotas inocentes.
— Preciso ficar de frente para esse
verme maldito, preciso olhar nos olhos dele
e lhe mostrar que agora ela não está sozinha
para enfrentá-lo igual esteve no passado.
Shadow suspirou.
— Vou te dar uma chance com ele,
mas você não vai matá-lo, é um homem da
lei e não tem como limpar seu nome ou
fazer trabalhos sujos para pagar dívidas
como fez para saldar a dívida do bastardo
do seu pai ou se vingar, como quando estava
de licença.
Meu pai era um fodido que não ligava
para seus filhos. Ele até gostava da minha
irmã quando ela era pequena, mas, quando
ela completou dez anos, tudo mudou. Eu
podia ver que minha mãe tinha ciúmes ao
ver Dylan perto de nós, possivelmente por
isso ela disse que Sam não era sua filha, e,
como o bastardo fodido que meu pai era,
acreditou nisso. Ele começou a beber e a
frequentar salas de jogos, então virou o mal
em pessoa, e o pior, trouxe a maldade para
minha família, tanto que tive que dar minha
alma para proteger minha irmã.
Havia alguns meses, eu levara uma
facada dele. O bastardo aparecera em minha
casa querendo saber de Samantha. Eu não
esperava isso, razão pela qual fui pego de
surpresa. Depois daquele dia, eu soube que
espécie de monstro ele era, e o pior, o que
tentou fazer com a filha, a minha irmã
querida. Finalmente ele estava apodrecendo
na cadeia e só sairia de lá morto.
Shadow olhou para uma ruiva bonita
conversando com algumas mulheres em
uma mesa não muito longe. Eu sabia que ele
tinha caído de quatro por uma mulher,
soubera havia pouco tempo, mas ficara feliz
pelo cara, porque havia alguém que aceitava
seu lado escuro. Eu queria algo assim,
queria que a Luz do Sol me aceitasse como
eu era realmente, não aquele cara alegre que
todo mundo achava que eu era, mas aquele
que ninguém nunca vira de verdade, nem
mesmo minha irmã.
Shadow me fitou de volta com um
olhar sério, aquele que ele costumava dar às
pessoas com quem se preocupava.
— Hoje temos mulheres que são
nossas razões de viver. Por elas nós
matamos e morremos. Não é assim com a
sua? — era uma pergunta retórica, pois ele
sabia como eu me sentia. Na minha vida
existiam três mulheres que eram meu tudo,
por quem eu daria minha vida e mataria,
Sam, vovó e minha Luz do Sol, que estava
em minha casa dormindo.
Saí do motoclube prometendo ao meu
irmão Shadow que ia procurá-lo caso
precisasse da sua ajuda. Eu sabia que, no
MC Fênix, teria as minhas costas e as da
minha família protegidas. Devia a ele a
minha vida, acreditava que parte da minha
alma também.
Cheguei a casa pensando em mandar o
garoto da boate embora, porque, pelo que
sabia, ele ainda estava na porta da minha
casa mantendo a guarda. Só não sabia por
que ele ainda não tocara a companhia e a
chamara ou até mesmo ligara para ela.
Assim que cheguei ao portão da minha
casa, vi o rapaz caído na calçada, todo cheio
de sangue. Pela sua camisa ensopada, ele
levara um tiro ou fora esfaqueado. Corri até
ele e me ajoelhei ao seu lado.
— Maldição, garoto! Por que você
veio aqui, hein? — chamava-o de garoto,
embora fosse um homem formado como eu,
porque, embora eu tivesse 27 anos,
completados em setembro, parecia muito
mais velho que ele, provavelmente por ter
tido de amadurecer à força.
Seu pulso estava fraco, e ele cuspiu
sangue ao tentar falar, mas, apesar disso,
soltei a respiração, que estava presa,
aliviado por ele estar vivo. Era certo que eu
tinha pensado em sua morte, mas tinha sido
na hora da raiva, eu não queria aquilo de
verdade.
Ele bancara o idiota por estar ali, mas
amava Alexia e só queria ver se ela estava
segura. Quem não amaria uma mulher como
aquela? Não apenas por sua beleza, mas por
seu interior. Samantha dizia que as pessoas
sempre podiam contar com ela quando
precisavam.
— Ele queria… mas eu não o deixei
entrar…
— Não fale agora — pedi, ligando
para a emergência. Disseram que logo
estariam ali.
— Precisa protegê-la… Ele disse que,
não importa onde ela esteja, ele vai pegá-la
e castigá-la…
— Eu prometo que a protegerei. Agora
pare de falar, OK?
Depois que a ambulância e os policiais
chegaram e fizeram o seu trabalho, fiz o
meu investigando as câmeras ao redor da
casa, dando à polícia local as cópias das
filmagens. Pelo que notei, Lutner não
parecia estar se escondendo. Isso me
ajudaria a pegá-lo, eu esperava.
Fiquei mais alguns minutos
conversando com Calebe sobre a segurança
de Alexia e o atentado contra a vida de Jack,
amigo dela. Calebe trabalhava comigo, mas
precisara pedir umas férias devido a um
acidente que o deixara meio abalado, mas,
como éramos amigos, ele estava me
ajudando a ficar de olho em Alexia e
protegê-la.
Alexia não sabia de nada do que tinha
havido do lado de fora da minha casa,
porque a casa era equipada com proteção
contra invasão e à prova de som, então lá de
dentro não era possível ouvir nada do que
acontecia do lado de fora. Fiquei feliz por
ela ainda não saber nada. Assim que Jack
estivesse fora de perigo, eu lhe diria o que
tinha ocorrido, que seu amigo agira como
um herói.
Liguei para o hospital a fim de checar
o garoto. A atendente me informou que ele
estava em cirurgia, mas que me manteria
informado a respeito de qualquer novidade.
Estava entrando em casa quando ouvi
os gritos de Alexia. Corri com meu coração
tremendo, pensando que, de algum modo,
aquele desgraçado tivesse passado pela
segurança e entrado ali sem eu saber.
— Bryan, não me deixe… — sua voz
falhou, cheia de dor e desespero.
Ela estava deitada ainda no carpete,
evitando a cama. Eu só pude presumir que
ela pensava que eu tinha dormido com
mulheres ali, o que não acontecera.
Agachei-me perto dela e toquei seu
rosto, suado com o pesadelo que estava
tendo. Parecia ser comigo, já que havia dito
meu nome em tom desesperado.
— Luz do Sol — chamei-a, sacudindo
seus ombros. — Acorde, é só um pesadelo.
Ela abriu os olhos, molhados de
lágrimas, e me viu ali. Logo me abraçou
forte, como se eu fosse seu bote salva-vidas,
e suspirou no meu pescoço.
— Bryan, eu pensei que estava
morto… Sonhei que você tinha levado um
tiro e estava… — sussurrava e me apertava
ainda mais contra si.
Se ela soubesse que não tinha sido só
um sonho, mas que não tinha sido eu quem
levara um tiro, e sim seu amigo, eu apostava
que ficaria preocupada e exigiria ir ao
hospital.
Peguei-a nos braços, levei-a para a
cama e a depositei com delicadeza nela.
— Eu estou bem, Luz do Sol, não se
preocupe comigo. Eu só preciso de um
banho e já volto…
Ela se afastou de mim como se eu a
tivesse empurrado, e pensei nas minhas
palavras. O que ela tinha entendido? Havia
dor na beleza violeta de seus olhos.
— Oh, você estava com sua namorada,
não é? — a amargura era como fel em sua
voz.
Coloquei-me sobre ela e beijei sua
testa e suas pálpebras, então fitei seus olhos
arregalados.
— Eu não estava fodendo ninguém.
Acha que eu ficaria com você e depois
sairia para transar por aí? Mesmo eu sendo
um canalha, jamais faria isso, muito menos
com você. — Beijei sua boca,
interrompendo o que ela estava prestes a
falar, e logo estava dentro dela de novo,
saciando a minha fome por aquela mulher e
jurando que sempre protegeria a única luz
que enchia de gozo meu peito e minha alma.
Capítulo 4
Alexia
Acordei cedo, caçando o corpo
másculo e gostoso que eu tive o prazer de
tocar e ter em meus braços. Dormir ao lado
de Bryan durante aqueles dois dias desde
que ele tinha me levado para sua casa foi
um sonho que eu ansiava havia muito
tempo, desde o dia em que eu soube que
estava apaixonada por aquele homem lindo
e forte.
Eu confiava em que Bryan me
protegeria do desgraçado do Samuel, que
não deixaria nada acontecer comigo, por
isso estava em sua casa sem reclamar –
embora eu jamais reclamaria com o sexo
que estávamos tendo. Além disso, minha
presença ali evitaria levar o perigo e
problemas para meu irmão e meus amigos.
A procura pelo corpo de Bryan não
logrou resultados; ele não estava na cama.
Eu tinha acordado tarde, porque o sol já
tinha nascido. Fui tomar banho para depois
procurar por ele e perguntar o que estava
acontecendo conosco, porque eu não podia
continuar transando sem saber a que nosso
relacionamento se resumia. Namoro? Caso?
Foda? Ou tinha algo mais? Eu não aceitaria
ir para a cama com ele caso Bryan quisesse
ficar com mais mulheres por aí e se ele me
considerasse apenas mais uma foda em sua
vida.
Vesti um vestido de cashmere bonito e
elegante. Não estava me arrumando para
ele, porque sempre me arrumava assim.
Gostava de vestidos elegantes para usar no
dia a dia, por isso trabalhava e investia em
vestidos e sapatos, era quase maníaca
compulsiva; em meu apartamento já não
cabia mais nada.
Por falar em trabalho, eu tinha que
ligar para Robert, o meu braço direito e
coordenador na escola particular onde eu
era diretora. Ocupava o lugar que era do
meu pai na escola infantil da qual ele era
dono, por isso não me formei como meus
amigos. Após sua morte, eu tive de tomar
conta do estabelecimento.
Amo crianças…, pensei, mas evitei
continuar a pensar nisso, ou sucumbiria ali
mesmo com lembranças que não queria
recordar tanto acerca de meu passado
quanto do que Bryan havia dito sobre não
querer ter filhos e suas razões
desconhecidas para isso.
Fui para a sala e ouvi vozes
masculinas. Meu nome foi citado, então
fiquei curiosa para saber com quem Bryan
estava falando, ainda mais sobre mim.
Esperava que ele não falasse sobre nossa
vida sexual para outras pessoas, igual já o
ouvira falando muitas vezes com seus
amigos e até com minha melhor amiga, irmã
dele, sobre as mulheres com que ele ficara –
algo em que eu preferia não pensar.
— Vai contar a ela sobre o que
aconteceu com o garoto? — perguntou a
voz grossa de um cara.
Cheguei à sala e me deparei com
Bryan e um cara louro que estava sentado
no sofá de frente para ele, pele branca, mas
bronzeada, com cavanhaque. Eu já o vira,
em meu apartamento, depois de sair do
banheiro – fora ele que batera à porta do
cômodo logo após eu transar com Bryan.
Seu nome, caso eu não estivesse enganada,
era Calebe.
Bryan suspirou.
— Eu vou dizer assim que ela
acordar… — Bryan passou a mão na cabeça
num gesto nervoso.
— Eu não estou mais dormindo. O que
tem para me contar? — interrompi-o,
entrando na sala.
Os dois olharam para mim assim que
entrei no cômodo com predominância de
branco, um sofá em L e uma TV gigante
num painel de madeira na parede. Não tinha
reparado, mas o lugar era bem organizado
para um homem.
Calebe me fitou de olhos arregalados,
assim como Bryan. Deve ser por eu ter
escutado a conversa deles, pensei. O
homem deu um sorriso torto.
— Vejo por que a está mantendo em
casa, cara. A mulher é a porra de um avião
— disse um cara alto, moreno, com cabelos
ruivos e sorriso sexy, que eu não tinha
notado. Ele estava saindo da cozinha, vestia
jeans e camiseta preta e estava com uma
cerveja na mão.
— Joshua, cale a boca — rosnou
Bryan se levantando e se virando para mim,
mas notei um toque de tensão nele. —
Como você está?
Notei que ele não veio até mim para
me abraçar ou me beijar como tinha feito
nesses dias em que eu estava com ele.
Quase ri pensando em Bryan sendo
carinhoso fora da cama com uma mulher ou
na presença dos outros. Talvez fosse como
eu tinha pensado, eu era apenas mais uma
foda para ele.
Perguntei, para não ter de pensar mais
naquilo:
— Então alguém vai me dizer o que
está acontecendo aqui? Por acaso prendeu a
pessoa que invadiu meu apartamento? Eu já
posso voltar para lá?
Bryan me cortou:
— Não prendemos o desgraçado que
fez isso, mas eu vou pegá-lo e fazê-lo pagar
por tudo que fez a você — seu tom era uma
promessa. Tinha algo sombrio em sua voz
ao dizer isso. Quando ele falava em fazê-lo
pagar, não estava se referindo a levá-lo para
a cadeia, e sim a algo mais sério, como
matá-lo, de preferência com muita dor, pelo
menos era isso que eu sentia no tom amargo
de sua voz.
Não dissera a ele, nem a ninguém o
que tinha acontecido comigo naquele
tempo, quando eu havia sido quebrada,
despedaçada por um cara desgraçado que
podia ter voltado atrás de mim depois de
anos. A dor e os traumas tinham me levado
para uma clínica por muito tempo, na Suíça,
para que ninguém especulasse o que tinha
acontecido comigo, mas, graças a Deus, eu
estava bem e não voltaria para lá jamais.
Não deixaria um fodido psicopata controlar
minha vida. Por isso o cara que estava atrás
de mim tinha de ser preso.
Eu estava prestes a perguntar
novamente o que estava acontecendo,
quando a campainha tocou. Bryan suspirou
e foi atender a porta. Fiquei ali, meio sem
jeito, cercada por aqueles homens que
deviam trabalhar com Bryan na polícia, mas
o estranho era que eles não usavam
uniforme como os policiais que haviam me
interrogado na noite anterior. Eles vestiam
jeans, camiseta e jaqueta de couro, pareciam
bad boys.
Bryan voltou para a sala – o hall de
entrada não era visível de onde eu estava –
me avaliando. Foi quando eu vi Brenda,
vestida com um vestido preto, toda
arrumada.
A dor em meu peito me sufocou por
alguns segundos. Pensei que tinha levado
um soco no estômago.
— Bryan, vamos! — chamou a
mulher, puxando seu braço como fizera na
boate, levando-o na direção do quarto que
ele dissera para eu não entrar.
Ele vai permitir a entrada dela? Então
sou menos importante para ele do que essa
mulher? Sou a porra da sua amante?! Oh,
Deus, uma amante! O que deu em mim para
me tornar isso?! Por que eu não posso
arrumar um homem só meu? Um homem
que não queira me usar… Usar, isso, todos
eles me usam… Um me deixou quebrada
porque fui idiota por acreditar nele, e agora
esse aqui, que dorme comigo em um
momento, e no outro está com outra mulher.
Eu não posso aceitar isso!
— Alexia… — ouvi-o me chamando,
mas não liguei, apenas saí correndo para a
cozinha e tranquei a porta, querendo ficar
sozinha. Não olhei para a mobília, para
nada, porque estava vendo tudo embaçado
por causa das lágrimas.
Eu preciso sair daqui o mais rápido
possível, não posso aceitar isso! Não vou
viver em uma casa para a qual ele traz
mulheres a fim de ficarem juntos. Depois
eu, como uma idiota, fico com ele também,
aceitando ser a sobra de um mulherengo
que não se prende a ninguém. Um resto, é
isso que eu sou. Um maldito resto! Oh,
Deus, no que me tornei?
Saí pela porta dos fundos, ignorando
seus gritos ao me mandar abrir a porta da
cozinha, ignorando-o e entrando em seu
carro, que, para minha surpresa, estava com
as chaves. Bom para mim e azar para ele.
Assim que liguei o veículo e pisei no
acelerador, parti rumo ao portão fechado.
Eu ia derrubá-lo usando a frente do carro,
quando os portões se abriram.
Olhei pelo retrovisor e vi Bryan
apertando o botão do controle-remoto do
portão, certamente não querendo seu carro e
sua propriedade destruídos, pensei
amargamente. Isso me deu vontade de jogar
o carro de cima de uma ponte de tanta raiva
que estava sentindo naquele momento, tanto
que minhas mãos tremiam.
Como esse desgraçado traz outra
mulher para onde eu estou? Como ele pôde
me usar assim?! Deixei minha raiva um
pouco de lado para receber uma ligação de
Claire. Eu não queria a envolver em tudo
aquilo, no perigo que rondava feito um
abutre na carniça, por isso precisava falar
com Mike e Julian, pedir a eles para
levarem Claire e Luana para umas férias
prolongadas em algum lugar longe de
Manhattan. Também precisava procurar
algum lugar seguro para ficar sem ser a casa
de Bryan. Eu que não ficaria lá, vendo-o
levar mulheres para o mesmo lugar onde me
mantinha.
— Oi, Claire…
Ela me interrompeu falando e
chorando:
— Jack foi baleado há dois dias, está
no hospital… Tentei te ligar, mas só dava
fora de área…
— Espere, o quê? — Meu pé pisou no
freio devido ao choque, e fui para frente.
Meus peitos bateram no volante, fazendo-
me ofegar de dor e sem ar nos meus
pulmões. Antes que eu me recuperasse, o
carro bateu em outro que parou sem dar
seta, ou deu e eu não vi.
Olhei para ver se o motorista estava
bem, se havia se machucado de alguma
forma. Meu Deus, espero que não. Meu
peito se aliviou assim que o homem saiu do
veículo, embora estivesse uma fera, e era
para estar, já que seu automóvel era um
Maserati.
— Claire, em que hospital ele está? Eu
tenho que resolver um problema aqui e já
vou para aí o mais rápido possível.
Ela me deu o endereço, e, para minha
surpresa, era em Manhattan. O que Jack
estava fazendo ali? Pelo que eu sabia, ele
não tinha parentes ali. Teria ido atrás de
mim após ter me deixado em casa? Ficara
sabendo de alguma forma que meu
apartamento havia sido invadido? Se fosse
assim, como ele me achara?
Saí do carro para enfrentar o cara
furioso por eu ter batido em seu veículo
caro e novo. O homem era forte e moreno,
barbudo. Eu não sabia de onde, mas achava
que o conhecia de algum lugar.
— Que porra, mulher! Olha o que
você fez com meu carro, que acabei de
comprar?! — ele praticamente gritou.
Foi então que me lembrei dele do
grupo de apoio que eu frequentava, para
mulheres que tinham sido maltratadas por
seus namorados e maridos. Ele era ex-
marido de uma mulher que ia toda semana
aos encontros, Eliana. Ver aquele canalha ali
me deu ainda mais raiva do que quando o vi
batendo no rosto dela um dia, em frente ao
grupo de apoio. Eu só não fora até eles
naquela hora porque ela me pedira com os
olhos, de longe, para eu não me meter.
Depois me contara que ele era perigoso e
que sempre batia nela antes que eles se
separassem. Eu queria entender o que
mulheres que apanhavam de seus
companheiros tinham na cabeça para aceitar
algo assim.
Sabia que tinha de ir para o hospital
para ver o que tinha acontecido com Jack, e
aquele canalha estava me impedindo de
chegar até lá, um fardo que não deveria
estar livre, e sim na cadeia.
— Desculpe, eu vou pagar o
conserto… — tentei controlar minha raiva;
mesmo ele sendo um bastardo, eu estava
errada por não olhar o caminho.
— Com o quê? Dando em uma
esquina qualquer? Acha que não me lembro
de você, sua loura safada, que está doida
para um homem a pegar e fazer o que quiser
com você? Você convenceu a minha mulher
a me largar! Agora vai pagar por isso! —
Tirou uma arma das costas e a apontou para
mim.
Meu sangue gelou, porque acreditava
que morreria baleada por aquele cara
barbudo e feio. Armas já tinham sido
apontadas para mim antes, quando Samuel
me fizera entrar em seu carro e desgraçara
minha vida… Até então eu tinha cicatrizes
daquele tempo, não só na minha alma, mas
no meu corpo também.
— Eu estou de olho em você há dias.
Estava só esperando o momento certo para
pegá-la sozinha. — Seu cheiro de cachaça
estava vindo até mim. — Eu vi você saindo
da sua casa e entrando nesse carro. —
Apontou para o carro de Bryan. — E depois
entrou em uma casa de um cara grã-fino,
com certeza cheio da grana, para lhe dar
uma vida boa, sua cadela.
Eu não precisava mencionar que Bryan
não era rico, mas isso me fez perguntar
como ele tinha aquele casarão
superprotegido, porque aquilo custaria uma
nota preta. Com qual dinheiro ele a deixara
segura daquele jeito? Eu teria tempo de
perguntar isso a ele algum dia? Talvez
morresse ali, naquele dia, sem ver mais
ninguém que eu amava. Eu não podia
aceitar isso!
— Você armou para eu bater em seu
carro, seu bêbado fodido! Por isso que a sua
mulher te largou, porque você é um canalha,
alguém que, mesmo tendo dinheiro, não é
ninguém, e sim um fracassado filho da puta
que anda batendo em mulheres indefesas!
Por que não enfrenta um homem do seu
tamanho ao invés de uma mulher que não
tem como se defender?
Alex sempre dizia que, quando eu
ficava com raiva, falava demais. A fúria do
homem chegou ao auge; ele logo estouraria,
e eu seria seu alvo.
— Você vai vir comigo, sua vadia! Eu
vou lhe ensinar uma lição! — rosnou ainda
com a arma apontada para mim.
Antes que eu pudesse correr para trás
do carro ou tentar fugir para outra direção,
duas caminhonetes pretas estacionaram
cantando pneus perto de nós. Aproveitei a
distração daquele fodido e corri para trás do
carro, escondendo-me dele e do pessoal dos
carros também, fossem quem fossem.
— Oh, meu Deus! — Ouvi tiros,
entrando em piloto automático e saindo de
trás do carro. Entrei correndo no parque
vazio à margem da avenida, fugindo do
fogo cruzado. Dois dias seguidos sendo
caçada por dois homens diferentes, e
nenhum deles valia nada.
Braços envolveram minha cintura por
trás enquanto eu estava correndo. Gritei e
xinguei quem quer que fosse. Meus cabelos
soltos voavam no meu rosto devido ao
vento no parque.
Capítulo 5
Alexia
— Me solta, seu desgraçado! Se ousar
me tocar, eu vou cortar seu pau mole e fazer
você comê-lo, seu filho da puta… —
interrompi o que estava falando ao ouvir
uma risada rouca e gostosa que reconheci.
— Meu pau não é mole, e você o sente
duro agora em sua bunda, não é? E você
gritou muito toda vez que ficamos juntos,
querendo e pedindo mais dele… —
sussurrou em meu ouvido com um tom
rouco e ardente como labaredas.
— Bryan? — Virei-me de lado e olhei
seu rosto perto do meu. Contudo, em vez de
sentir alívio, senti raiva por tudo que ele
tinha feito comigo, por levar outra mulher
para sua casa, ainda por cima comigo lá
dentro. Afastei-me de seus braços. — O que
faz aqui? Veio pelo seu carro? Não se
preocupe, eu vou pagar o conserto…
Seus olhos se tornaram escuros de
repente, e a expressão alegre se foi, dando
espaço para algo sombrio, mas, nas
profundezas daquela beleza azul, consegui
ver as chamas.
— Acha que eu estava preocupado
com um carro ao invés de você? — sibilou.
— Você ia se ocupar logo, então não
me faça acreditar que pensava em mim.
Acha que só porque preciso de sua proteção
por causa daquele homem atrás de mim vou
aceitar ser usada por você? — sibilei de
volta, cutucando seu peito com o dedo. —
Fique sabendo, seu bastardo filho da puta,
que não vou ser sua amante. Eu não nasci
para ser a segunda; ou sou a única, ou
esqueça que eu existo.
Virei-me para ir embora, pegar um táxi
e ir para algum lugar bem longe dele e da
mulher, que eu podia ver com Calebe e
Joshua. Isso me fez ficar mais furiosa do
que qualquer coisa. Por que ele a trouxe
aqui?!
— Acha que estou fodendo por aí? Eu
só coloquei meu pau em uma boceta em um
maldito mês inteiro, depois do Belas
Country, e foi na sua, então não estou
traindo você com ninguém — falou agora
mais calmo. — Eu vou te explicar tudo, mas
depois. Agora vamos embora; você está
muito exposta aqui.
Eu o avaliava para descobrir se estava
dizendo a verdade ou não, mas não vi
mentiras nos seus lindíssimos olhos.
— Não ficou com ninguém depois do
Belas Country — murmurei, não querendo
que ninguém me ouvisse, embora seus
amigos estivessem um pouco longe de nós.
O parque estava deserto naquela manhã,
talvez porque o céu prometesse chuva.
Respirei fundo, com esperança de que
ele não tivesse mesmo ficado com ninguém.
— Sim, porque você, com apenas um
beijo, me domou, tanto que não quero mais
nenhuma mulher, só você, minha Luz do
Sol. — Aproximou-se de mim e me puxou
para seus braços.
Afastei meu rosto do dele e franzi o
cenho.
— Isso é mentira. Naquele dia no seu
apartamento eu vi vocês dois… — Apontei
para a mulher e depois para ele. — Você
não se explicou e não disse nada, me
deixando pensar que estavam juntos após
me rejeitar naquela noite.
— Eu fui um idiota. Queria protegê-la
de mim, então deixei que pensasse que tinha
acontecido algo entre mim e Brenda, mas
nada aconteceu. Depois do restaurante, fui
trabalhar, e ela estava comigo, então dormiu
na minha casa… mas no quarto de
hóspedes, não comigo. Acha que eu
mancharia seu gosto doce com o sabor de
outras mulheres? — Ele me pegou pela
cintura e me beijou.
— Confiarei em você até que me
desaponte — respondi em sua boca, meio
ofegante e impressionada por ele não ter
ficado com ninguém.
— Obrigado, linda! Agora vamos
embora. Amanhã te levarei para depor
contra esse verme, que estava armado e
querendo atirar em você… — seu tom
estava mortalmente frio.
Pude perceber que ele queria matar o
cara, não o levar preso, porque a sombra
que eu via algumas vezes em seus olhos
estava lá.
Dei um suspiro triste.
— Obrigada, mas eu preciso ir para o
hospital ver o Jack. Não sei o que houve,
mas Claire estava chorando quando me
ligou.
— Sobre isso, eu também preciso lhe
contar uma coisa sobre seu amigo… — ele
soltou a palavra “amigo” com um grunhido.
Parecia não gostar do Jack.
Não gostei do tom da sua voz, era
como se ele soubesse o que realmente tinha
acontecido com ele. Isso era possível? Não
duvidava de mais nada.
— O que houve? Você sabe algo sobre
isso? Porque achei estranho ele estar em
Manhattan, quando não tem amigos aqui.
Será que ele veio atrás de mim antes de
ontem? — Tentei me afastar, mas Bryan não
deixou. — Você o viu naquela noite? Bryan,
preciso saber a verdade.
Um grunhido saiu de seu peito. Tentei
me afastar de novo, mas ele novamente não
deixou, apenas me apertou mais em seus
braços fortes, como se estivesse me
reconfortando.
— Sim, eu sei o que aconteceu com
ele, porque têm câmeras por toda a casa,
como deve saber. Foi como eu o vi na frente
do portão da minha casa antes de chegar,
mas, quando cheguei…
Interrompi-o:
— Como você o viu antes de chegar
em casa?
— Pelo meu celular; assim, posso
manter o olho em você mesmo não estando
perto. Mas, quando cheguei, ele estava
ferido em frente ao portão, então chamei a
emergência para socorrê-lo.
Arregalei os olhos, descrente, e me
afastei dele; dessa vez ele permitiu.
— Você sabia que ele foi ferido desde
quando cheguei à sua casa e não me disse
nada? Não me chamou? — meu tom soou
alto devido à descrença por ele ter me
escondido algo tão sério. Era para eu estar
no hospital com Jack desde o início.
— Ei, sei que devia ter dito a você,
mas não consegui; não sabendo de tudo pelo
que passou, e o pior, sabendo que algum
filho da puta, além de entrar em seu
apartamento, nos seguiu até minha casa.
Como Steve Lutner não conseguiu entrar
devido à segurança reforçada que tenho, viu
o garoto espiando minha casa e atirou nele.
Por quê? Não faço ideia. Talvez porque seja
um fodido doente que precisa estar no
inferno.
Um som agudo saiu de dentro de mim.
Percebi que era um grito.
— Você não devia ter me escondido
algo importante assim, não importa o que
tenha acontecido comigo… — interrompi-
me, chocada com algo que ele disse. —
Esse Steve Lutner é aquele cara que
Angelina disse que a perseguiu e matou sua
irmã ou é um nome parecido?
Angelina era namorada de Ryan
Donovan. Meu irmão era namorado da irmã
dele. Lembrei-me de que tinha ido na casa
de Ryan alguns dias antes porque Angelina
me chamara. Ela fizera uma reunião com
todos os seus amigos por causa de uma
batalha pela qual estava passando. Seu
irmão, Shane, precisara fazer uma cirurgia
cardíaca, colocara um marca-passo. Nessa
noite ela contou o que tinha acontecido com
sua irmã, Ângela. Lembrei-me de que ela
falara sobre Steve Lutner e que esse cara
quase a estuprara e acabara matando sua
irmã.
— Sim, o mesmo cara…
— Mas por que ele está atrás de mim?
Foi esse cara que entrou em meu
apartamento, não Samuel? — não pude
deixar de ficar aliviada por não ser ele.
Bryan veio até mim e pegou minha
mão. Começamos a caminhar para onde
seus amigos estavam, ou melhor, eles
estavam levando preso o sujeito que tentara
atirar em mim porque sua mulher o deixara.
Gostei muito de ela ter feito isso com
aquele maldito. Nenhuma mulher merecia
ser espancada, por isso eu fazia aulas de luta
na academia de Jason Falcon, um lutador
brilhante amigo da namorada do meu irmão.
— Essa é uma das coisas que preciso
contar depois que formos embora, mas,
como sei que não vai deixar seu amigo
nesse momento, vamos para o hospital.
Depois conversaremos, tudo bem?
Eu não queria deixar para depois,
precisava desvendar aquele mistério: por
que um homem que eu nem conhecia queria
me matar? No entanto, Jack estava no
hospital por minha culpa. Como eu podia
olhar nos olhos de Claire e pensar que era
por minha causa que seu irmão estava
ferido?

Quando entrei na sala de espera,


Luana, Mike e Julian estavam sentados,
todos cabisbaixos por nosso amigo estar
ferido. Claire não estava à vista, nem seu
pai, o senhor Milles. Certamente estavam
com Jack no quarto, pois não iriam querer
deixá-lo sozinho.
Bryan me disse que falara com o
médico e tudo ocorrera bem na cirurgia que
ele fizera na madrugada do dia anterior. Eu
não sabia como ele conseguira informações
sem ser da família; talvez tivesse usado sua
prerrogativa de policial. Não me importei
mais com isso, queria apenas que meu
amigo ficasse bem. Precisava vê-lo para
saber seus motivos para ir me ver na casa de
Bryan.
Só então percebi que estava tremendo.
Minhas mãos tremiam tanto devido ao meu
nervosismo e medo de perdê-lo. Nós éramos
praticamente irmãos.
Meus três amigos me olharam assim
que entrei na sala.
— Como Jack está? Onde está Claire?
— sondei — Desculpem, só soube agora.
Eu teria vindo antes se soubesse do que
tinha acontecido com ele. — Lancei um
olhar feio a Bryan, que ignorou.
— Ele passou por uma cirurgia, mas
agora está bem. Já está no quarto. O senhor
Milles e Claire estão com ele — Luana me
disse. — Claire esteve aqui agorinha e disse
que ele queria te ver assim que acordou. Ele
parecia preocupado com você. Aconteceu
alguma coisa entre vocês? — Chegou perto
de mim e sussurrou: — Achei que vocês
dois tivessem saído juntos naquela noite,
que finalmente iam ficar juntos.
Um rugido de fúria saiu do peito de
Bryan. Pelo jeito, ele ouvira suas palavras.
Estava próximo demais de mim para não
ouvir.
— Isso não aconteceu e nem vai
acontecer — rosnou sombrio para ela.
Luana e Claire sabiam da minha
paixão por Bryan desde a faculdade. Sabiam
até que eu tinha uma foto dele que roubara
de Sam quando ele a visitara. Ela me olhou
com muitas perguntas mudas; sabia que não
era o momento. Com certeza me encheria de
perguntas depois.
— Eu vou ver se posso entrar lá e ver
como ele está —falei.
Capítulo 6
Alexia
Entrei no quarto seguida por Bryan,
que não me deixava sozinha um segundo;
não liguei, contudo. Apenas queria ver meu
amigo. Jack estava acamado, coberto por
lençóis, ladeado pelo senhor Milles e Claire.
Os três me olharam.
— Oi — sussurrei com a voz rouca
devido ao choro. Meus olhos ainda estavam
molhados e vermelhos.
Jack me olhou de modo preocupado,
checando para ver se eu tinha algum
ferimento. Seu olhar nada tinha de
romântico ou sexual ao me fitar dos pés à
cabeça. Isso era bom.
— Você está bem? — sua voz saiu
rouca, e ele se encolheu devido à dor.
— Era eu que devia perguntar isso,
não você — falei, em seguida me voltei
para Claire e seu pai. — Desculpem, eu só
soube agora, quando ligou para mim, Claire.
O senhor Milles me abraçou por uns
segundos. Ele sempre fazia isso desde
pequena. Eu o considerava um segundo pai
para mim. Adorava aquela família.
— Está tudo bem, querida, agora
nosso garoto está bem — disse e franziu a
testa para Bryan. — O que está fazendo?
Bryan estava em cima de uma cadeira,
colocando algo no teto no canto do quarto.
Não olhou para nós enquanto respondia:
— O cara que atirou em seu filho sabe
que o garoto sobreviveu e virá terminar o
serviço, que ficou inacabado. Como não
podemos trocá-lo de hospital ainda, vamos
trocá-lo de quarto, e um agente nosso vai
fingir ser o rapaz…
— O nome dele é Jack — rosnei,
porque, sempre que ele dizia as palavras
“garoto” e “rapaz”, tinha um toque de
desdém.
Bryan estreitou os olhos enquanto me
fitava, mas não respondeu, só deu de
ombros.
— Que seja. O que importa é que ele
vai ser transferido de quarto, e, quando o
criminoso chegar aqui, o prenderemos —
seu tom soou mortal no fim.
— Você é policial? Onde está seu
distintivo? — perguntou o senhor Milles.
Bryan sorriu. Seu sorriso parecia
esconder muitos segredos. Eu podia ver que
ali tinha coisa.
— Você vai ver no seu devido tempo
— falou e continuou instalando o que me
parecia uma pequena câmera.
Ignorei-os e cheguei mais perto de
Jack, tocando seu rosto lindo e ansioso,
embora com alguns hematomas resultado da
briga que tivera com Bryan.
— Eu fiquei com tanto medo depois
que soube do que houve com você.
— Eu estava na casa tentando… —
sua voz ofegava devido ao esforço.
— Não fale, ou será que vou ter que
tampar sua boca? — sussurrei, não
querendo vê-lo com dor.
Ele sorriu.
— Eu sei de algo que você pode fazer
que me impedirá de falar — sua voz ainda
estava ofegante.
— Isso não vai acontecer — rosnou
Bryan em tom sombrio —, porque, se a
beijar, vou ter que matá-lo ao invés de
protegê-lo.
Jack, que sorria alguns segundo antes,
ficou sério e olhou entre mim e Bryan.
— Você não pode aceitar ficar com
ele, não pode aceitar ser a outra nunca…
Bryan o interrompeu:
— Ela não é a outra, nem a primeira, é
a única, e pare de falar, ou vai arrebentar os
pontos no seu peito — Bryan disse num
grunhido. — Preciso de você sadio e fora
daqui, se possível, do país.
— Não vou deixar Alexia com um
canalha como você… — sua voz saiu alta, e
o som do aparelho que monitorava seu
coração ecoou ao lado da cama.
— Que história é essa de sair do país?
— O senhor Milles perguntou preocupado.
Ele se parecia com Jack, mas tinha quase
sessenta anos. — Você está namorando esse
cara que diz ser policial?
— Eu não disse que sou da polícia,
embora seja de certa forma — replicou
Bryan. — E sou namorado de Alexia,
querendo vocês ou não.
Pisquei diante do que ele tinha
acabado de dizer.
— Ela parece não saber disso — disse
Claire olhando entre nós dois.
E eu não sabia mesmo. Nem sabia o
que tínhamos, mas tinha certeza de que
sentíamos algo um pelo outro. Bem, eu o
amava. Quanto a ele, eu não tinha ideia.
Talvez sentisse algo por mim. Esperava que
também fosse amor.
— Ela sabe. — Ele sorriu para ela.
Notei que Claire prendeu a respiração
ao admirar seu sorriso sexy e lindo. Quem
não reagiria assim a ele? Aquele homem
tirava o fôlego de qualquer mulher.

Depois da transferência de Jack para


um novo quarto, Calebe ficou vigiando o
cômodo do lado de fora. Enquanto isso,
Bryan tentaria pegar aquele Steve, que eu
não conhecia e que queria me matar e quase
matara Jack.
Fiquei com meu amigo até ele dormir
com a ajuda dos remédios. Não queria fazê-
lo sofrer, mas percebi que isso era
impossível; não podia corresponder ao seu
amor.
— Então, hein, danada? Finalmente
você conseguiu fisgá-lo — falou Claire. —
Eu pensei que ia acabar ficando com meu
irmão, já que ele a ama, e você amava
Bryan, mas ele nunca se interessou. Então o
que mudou?
Estávamos sentadas em um sofá que
havia no quarto.
— Eu não sei direito o que aconteceu.
Lembra que fui ao restaurante do avô de
Luana, onde era para eu namorar Ryan
Donovan… — Luana Luxem era prima de
Daniel Luxem, dono da editora Luxem, uma
das editoras mais famosas e influentes dos
Estados Unidos.
— Pena que não namorou aquele bofe
sarado — disse Luana sorrindo.
Sorri também.
— Eu não ia namorá-lo, já que
somente Bryan me importa desse jeito. —
Corei. — Angelina tem uma puta sorte,
embora Bryan seja tudo para mim.
— Então vocês transaram!? — gritou
Luana batendo palmas.
— Psiu! — Olhei preocupada para
Jack, checando se ainda dormia. Aqueles
remédios derrubavam até cavalos. — Fale
baixo para não o acordar.
— Nos conte como foi. Ele realmente
é bom de cama? Ouvi dizer que ele gosta de
sexo quente, de deixar as mulheres
amarradas e algemadas e até de bater nelas
com o cinto — falou Claire. — Isso é
verdade?
Fiquei meio ofegante ao ouvir isso. Já
tinha ouvido que Bryan gostava de sexo
assim, ele até queria fazer com Angelina,
lembrava-me de ele ter dito isso no
restaurante naquele dia. Ela apenas estava
falando das cenas do livro que lançaria em
breve, mas ele pensara que ela queria fazer
sexo duro, então sugerira ajudar nas cenas
do livro. Aquilo era algo em que eu não
queria pensar. Meu coração doeu, porque
achava que não podia dar algo assim a ele.
Sexo com Bryan, tudo bem, afinal era
maravilhoso. Entretanto, se ele quisesse
mais que isso, eu seria capaz de lidar? Seria
capaz de ficar presa e algemada de novo
sem surtar? Bryan me deixaria caso eu não
quisesse sexo com bondage?
— Alexia?
Pisquei, com Claire me chamando de
volta ao presente.
— Não fizemos isso, só sexo, e foi
maravilhoso — respondi tentando regular a
voz para elas não perceberem meu
incômodo. — O homem é tudo de bom.
— Sim, ele tem um sorriso de molhar
calcinha, não é? — Claire piscou. — Sei
que molhou a sua. E, pelo olhar que o vi
lançando no quarto para você, ele parece
adorá-la.
— Eu não sei bem o que estamos
fazendo, porque Bryan é difícil de se ler,
mas sinto que ele sente algo por mim, mas
não falamos disso, embora eu tenha certeza
de que ele sabe que eu o amo. — Esperava
que Bryan sentisse o mesmo.
— Adoro ver esse brilho em seus
olhos, minha amiga, é raro ver isso — falou
Claire alisando meus cabelos.
— Eu estou completamente
apaixonada por aquele homem. Sabe
quando você só quer uma pessoa e mais
ninguém, quando cada rosto bonito que
você olha não significa nada, só o dessa
pessoa? Tudo nele é perfeito, e isso vocês
viram com seus próprios olhos.
Luana sorriu animada.
— Eu estava torcendo para que você
namorasse alguém, mas aquele pedaço de
carne é tudo, menina. — Ela me deu um
tapinha nas costas.
— Vocês viram aquele sorriso? —
inquiriu Claire. — Se eu não amasse Mike,
minha calcinha estaria toda molhada.
Ri, sacudindo a cabeça.
— Ele tem esse efeito nas mulheres…
— interrompi-me ao som de tiros em algum
lugar lá fora.
Logo a porta do quarto se abriu, e
Mike, Julian, o senhor Milles e Calebe
entraram no quarto, que pareceu pequeno
com tantos homens grandes.
Quando Bryan tinha dito que estava
montando um plano para prender aquele
Steve, eu não achara que tiros estariam
envolvidos, ou que tudo sairia do controle.
As meninas correram para seus
namorados.
Fui até Calebe, que estava perto da
porta.
— Onde está Bryan? — Meu coração
estava acelerado, temendo o pior.
Só havia me sentido assim uma vez,
quando meu irmão me disse que mamãe e
papai tinham morrido num acidente de
avião. Eu estava para ter alta da clínica
psiquiátrica e fiquei uma semana em um
quarto, sem ver ninguém devido à dor.
Apenas meus amigos e meu irmão me
impediram de voltar à clínica.
— Bryan com certeza está bem —
assegurou Calebe com voz firme.
Eu não acreditava nele nem um pouco,
então tentei passar pela porta para checar se
Bryan estava bem, mas não fui muito longe,
porque Calebe me pegou pela cintura.
— Me solta, eu preciso ver se ele está
bem! — gritei batendo em seus braços e
chutando seus pés. Os tiros continuavam,
então fiz algo impensado: peguei suas bolas
e as apertei – talvez forte demais.
Calebe rugiu e me soltou.
— Maldição, mulher! — gritou com
raiva.
Não liguei, só saí correndo pelo
corredor, pegando uma vassoura
abandonada ali, provavelmente por algum
funcionário da limpeza que fugira ao escutar
os tiros. Ouvi Calebe amaldiçoar atrás de
mim. No entanto, continuei correndo, pois
queria saber de Bryan. Para minha surpresa,
o corredor daquela ala do hospital estava
vazio. Estava prestes a seguir na direção em
que ouvira os tiros havia alguns minutos.
Depois daqueles sons pavorosos, o silêncio
era cortante.
— Eu sei que está neste hospital,
minha doce Alexia, então me escute, sua
cadela, porque sou seu dono e, quando eu a
tiver à minha mercê, vou adorar ouvir seus
gritos. São música para os meus ouvidos —
disse a voz dos meus pesadelos nos últimos
anos, mas daquela vez era real, uma voz que
eu gostaria de nunca mais ouvir pelo resto
da minha vida. Só então percebi que a voz
dele saía pelos alto-falantes que havia pelos
corredores. Eu não sabia se já estavam lá ou
se Samuel os colocara.
Eu não estava pensando em dizer nada,
muito menos para um louco varrido e
monstro assassino, mas não queria deixar o
medo me dominar. Então me permiti ser
governada pela raiva; era melhor lidar com
ela a entrar em choque e surtar.
— Acha que gritava de prazer, seu
doente?! — berrei no corredor vazio, sem
saber se ele ouviria ou não. Ele ficava irado
sempre que era contrariado.
Vamos ver isso! Aquela adolescente
que não dizia nada morreu naquela semana,
eu me tornei outra pessoa agora, uma que
não liga para você, seu fodido!
— Eu não tenho dono, e, quer saber,
seu filho da puta? Vou adorar enfiar um pau
nessa sua bunda feia e estripá-la toda, seu
fodido de merda! — eu sabia que, quanto
mais falasse, se ele estivesse ouvindo, mais
ficaria furioso, tanto que acreditava que me
mataria se tivesse a chance. E aquele
bastardo podia estar em qualquer lugar ali.
Cinco anos antes, eu não podia lidar
com ele porque não sabia lutar, mas
finalmente tinha aprendido. Eu entrara em
uma academia e aprendera a me defender de
caras que quisessem me fazer mal, porque
não havia nada pior do que ser indefesa. Eu
havia jurado a mim mesma nunca mais estar
naquela posição.
— Já ouviu aquele ditado, “não
cutucar a onça com vara curta?” — indagou
uma voz atrás de mim. Virei-me e rodopiei
o cabo da vassoura, acertando um cara louro
de jaqueta escura, mas não reparei muito em
sua aparência ou roupa, apenas me defendi.
Não era Samuel, mas talvez fosse o tal
Steve.
— Eu vou acabar com você, seu
imbecil de merda! — Continuei o atingindo
com o cabo da vassoura, mas alguém me
pegou por trás. Ignorei os grunhidos e
gemidos de dor do cara louro, pisei no pé
daquele que me agarrava e lancei minha
cabeça para trás, acertando seu rosto. Ouvi
xingamentos vindos dos dois.
— Maldição! Não vamos te machucar,
garota! — rosnou o louro.
— Eu já ouvi isso antes desse louco
fodido que está dizendo que vai me levar e
acabar comigo! — grunhi, soltando-me e
correndo deles, já que não podia lidar com
uma dupla de caras musculosos. Todavia,
não fui longe, porque mais dois caras me
cercaram.
O cara louro era bonito, bem, bonito
era pouco, tinha 1,98m, cabelos longos
presos em um rabo de cavalo, corpo
musculoso forrado de tatuagens, pelo menos
na pele exposta, como nos braços, e olhos
azuis-cobalto.
O homem cujo nariz machuquei, tinha
1,90m, olhos cor de ouro, cabelos curtos,
era forte e gostava de brincos e alargadores
nas orelhas.
Os outros dois caras que me fecharam,
impedindo-me de fugir, um era alto e forte,
olhos verde-esmeralda com cílios grossos e
cabelos castanho-escuros na altura dos
olhos, com tatuagem de cobra no braço
direito como se estivesse subindo pelo
braço e, no esquerdo, o nome Evelyn no
antebraço, e o outro era moreno, com
cabelos negros longos, na altura dos
ombros, barba por fazer, olhos pretos
mortais. Ele me lembrava um serial killer.
Fechei a cara para os quatro caras
musculosos do MC Fênix. Pelo menos era
isso que diziam seus coletes de couro.
— Eu não vou com vocês, não mesmo,
e, se ousarem me tocar, juro que arranco
seus paus e os faço comerem! — Não sabia
de onde conseguia coragem para desafiar
aqueles homens musculosos e sarados, mas
os enfrentei, mesmo sendo uma tentativa
estúpida da minha parte.
Todos riram, achando minhas palavras
divertidas. Eu estava prestes a voar em cada
um deles, quando o louro bonito falou:
— Querida, se você ficasse comigo,
não seria à força, e sim com você gritando e
ansiando por mim, e amaria meu pau,
jamais iria querer cortá-lo. — Ele piscou
para mim.
— Nasx, se falar de pau com minha
namorada de novo, sou eu que vou cortar
seu brinquedo e fazê-lo comer — disse
Bryan com um rosnado, aparecendo de
repente.
Olhei para Bryan, que estava atrás do
cara de olhos verdes. Chequei para ver se
ele estava ferido; para o meu alívio, não
estava. Corri para ele e me joguei em seus
braços, ignorando todos os homens ali,
porque tinham mais deles além dos caras do
MC, como também um vestido com terno
preto, de cabelos escuros, olhos negros e
sorriso sexy.
— Você está bem? — sondei, beijando
seus lábios, que eu tanto amava.
Ele aprofundou mais o beijo, tanto que
achei que logo estaríamos tirando as roupas.
Até me esqueci do lugar em que eu estava,
dos homens à minha volta, até do assassino
que um dia destruíra a minha vida, algo que
eu não deixaria acontecer de novo.
Bryan riu nos meus lábios, mas era
uma risada tensa.
— Eu que devia perguntar isso a você.
Não era para estar aqui, mas no quarto com
seus amigos.
Afastei meu rosto dele e o fitei.
— Eu ouvi tiros, então saí correndo
para saber se você estava bem…
— Como escapou do Calebe? — Ele
arqueou as sobrancelhas.
Sorri, meio tímida.
— Ele tentou me segurar, mas… bom,
acho que ele vai ficar com raiva de mim por
um tempo, isso se não quiser me matar. —
Olhei para os homens tatuados.
— Bateu nele como fez com a gente?
— gemeu Nasx, com a mão na barriga. —
Minha barriga dói pela pancada que você
me deu com o cabo da vassoura.
— E meu nariz logo estará inchado —
falou o cara com sorriso sexy e olhos claros
como ouro.
— Vocês não sofreram tanto, ao
contrário de mim, que não sei se terei filhos
algum dia — reclamou Calebe entrando no
corredor ainda mancando pelo que eu lhe
tinha feito.
— Você chutou as bolas dele? — Nasx
caiu na gargalhada e gemeu, pondo
novamente a mão na barriga.
— Eu acho que foi mais espremer com
a mão — sussurrei. Notei que todos os
homens estremeceram com a ideia de ter
suas bolas esmagadas. — Eu sinto muito
por ter feito o que fiz a vocês, mas precisava
saber se Bryan estava bem após ouvir os
tiros. — Virei-me para ele, que estava de
olhos arregalados, impressionado com o que
eu tinha feito àqueles homens. Embora eu
não sabia se tinha sido corajosa ou tola.
— Onde aprendeu a se defender
assim? — questionou Nasx. — Porque é a
porra de uma lutadora. Não sei como luta
com saltos dessa altura.
— Frequento a academia Falcon —
informei. — Bryan, você ouviu a voz no
alto-falante? Eu não entendo. Não era para
ser Steve Lutner que ia aparecer? Então por
que ouvi a voz de Samuel?
Bryan suspirou, e sua expressão se
tornou sombria.
— Ele fugiu antes que pudéssemos
chegar até ele. Alguém o estava ajudando,
por isso a troca de tiros. Agora vamos para
casa, a polícia continuará cuidando do caso.
— Ele pegou minha mão para me tirar dali.
— Eu não posso deixar Jack aqui
sozinho, e se esse… resolver aparecer?
— Têm guardas o protegendo, não se
preocupe com isso — avisou o cara de
terno. — E você aqui não seria de serventia
nenhuma, só correria mais perigo e nos
traria problemas…
Eu ri, amarga.
— Não vi resultado algum em sua
presença aqui, já que deixou Samuel
escapar. E quem diabos é você afinal?
Seus olhos se tornaram escuros.
— Você é uma…
— Dennis… — alertou Bryan, mortal
— é melhor controlar o que diz.
Dennis suspirou.
— Vamos acabar com isso logo,
depois falo com você. Temos negócios a
fazer — disse e saiu.
— Quem é esse idiota?
Todos riram.
— Meu chefe — respondeu Bryan e
sussurrou em meu ouvido: — Agora vamos
embora, querida, porque temos que
conversar.
Capítulo 7
Alexia
Assim que chegamos à casa de Bryan,
fomos para o quarto. Seus amigos não
tinham vindo conosco. Depois de conversar
um pouco com os MCs, eu já gostava deles.
Todos eram legais e tinham protegido, junto
a Bryan, tanto a mim quanto Jack e meus
outros amigos. O pai de Jack iria transferi-
lo para outro hospital, onde ele ficaria até
receber alta, depois seria levado por guardas
para ser protegido, já que era uma
testemunha fundamental para pegarmos
Samuel e Steve Lutner. Isso estava me
deixando confusa.
Bryan me olhava o tempo todo,
parecia esperar que eu fosse entrar em
choque com tudo que acontecera.
— O que foi? — perguntei me
sentando na sua cama, levantando as pernas
e tirando minhas sandálias de salto.
Notei que seus olhos escureceram ao
olhar minhas coxas expostas.
— Você não está surtando com o que
viu e ouviu hoje no hospital?
— Por que eu deveria? Às vezes é
melhor deixar a raiva se apossar de mim em
vez da dor que tenho ao reviver as
lembranças obscuras do meu passado —
expliquei, tirando meu vestido e me
deitando sem nunca tirar os olhos dele.
Bryan pairou em cima de mim,
beijando meu pescoço, traçando os lábios
sobre ele com desejo, então me esqueci de
tudo, apenas desfrutei dos seus beijos e
carícias. Suas mãos eram labaredas no meu
corpo, fazendo-me gemer de prazer. Tirei
sua jaqueta e camisa e logo desabotoei suas
calças, louca para senti-lo dentro de mim e
nos fundir em um só.
— Alexia… — ele disse meu nome
como um louvor. Entretanto, ao invés de
entrar em mim, sua boca desceu para os
meus seios, lambendo-os e os degustando
com fome, enquanto uma de suas mãos ia
até entre minhas pernas e esfregava meu
clitóris. — Molhada pra cacete!
— Sim, e querendo você dentro de
mim… — Gemi ao sentir sua boca descer
pela minha barriga. Abri minhas pernas em
um convite silencioso. Porém, antes que
seus lábios chegassem ao meu centro, que já
estava pulsando de desejo por ele, senti-o
tenso. Bryan se afastou, e logo entendi o
que ele estava vendo ali, algo que ninguém
nunca vira antes. Ninguém sabia o que tinha
acontecido comigo além de meu irmão,
meus pais e a equipe médica.
— Alexia, isso é… — seu tom estava
assombrado.
Expirei para controlar a dor e as
lembranças daquele dia. Precisava ser forte
para não me deixar sucumbir como no
passado.
— Sim, eu tive uma filha. — Meu
coração doeu ao recordar o bebê que eu
tinha perdido. Provavelmente fora por isso
que eu tinha pirado ao acordar e não a ver
comigo, quando descobrira o que havia
acontecido com ela. — Então, Bryan, não
fique preocupado que eu queira prender
você com uma gravidez…
— Alexia… eu fui um idiota ao dizer
aquilo. O que existe em mim… é algo
escuro. Não queria manchar sua luz…
Então busco sempre uma forma para fazer
você se afastar de mim, e ao mesmo tempo
não quero. É impossível conciliar os dois
desejos.
— Bryan, todos temos escuridão
dentro da gente… — comecei, mas ele me
cortou:
— Luz do Sol, a sua escuridão não tem
comparação com a minha. Se eu contasse…
você não ficaria comigo, iria fugir para
longe.
— Nada vai me afastar de você a não
ser uma traição; o resto, aturo tudo — falei
com intensidade, querendo deixar bem claro
que ele podia confiar em mim. Se para isso
fosse preciso que eu lhe contasse a minha
história, que assim fosse.
Ele riu com amargura, sentou-se na
cama e me admirou com seus olhos
brilhantes e meio tristes.
— Eu nunca trairia você, Lex, nunca!
— Tocou meu rosto assim que me sentei ao
seu lado.
— Confio em você — sussurrei.
Levantei-me e fui até a janela, olhando a
vista lá fora. Peguei uma camisa dele e a
vesti, já que não faríamos mais nada, não
naquele instante, com as lembranças me
consumindo por dentro a ponto de me
deixar sem ar.
— Alexia, o que houve? Cadê ela? —
ele murmurou. — O que aconteceu? Sabe
que pode confiar em mim sempre, estou
aqui e não vou deixar nada acontecer com
você, eu prometo.
— Eu poderia dizer o mesmo a você.
— Virei-me e apontei para suas cicatrizes
profundas. Algumas pareciam costuradas de
forma grosseira, como se ele não tivesse
recebido pontos de modo profissional.
Seus olhos viraram sombras de novo.
Eu sabia que ele não diria nada, não naquele
momento.
— Quanto à minha história, ou
pesadelo, como preferir… eu conheci
Samuel quando ainda estava na escola.
— O nome dele é Steve Lutner, não
Samuel. Ele usa vários nomes diferentes
para fazer o que faz, para conquistar
mulheres indefesas e as capturar, depois
abusar e matar. Até agora foram 18, 19 com
você, a única que sobreviveu a ele. Por isso
esse fodido sádico está atrás de você.
— Você está dizendo que Samuel
Lewis é na verdade Steve Lutner, o mesmo
que matou a irmã de Angelina? — minha
voz saiu rouca.
— Sim, ele é um serial killer
procurado pelo FBI, e não só aqui, um dos
mais procurados no mundo.
Ele me pediu para continuar a contar
minha história, mas eu precisei de uns
minutos para pôr a cabeça no lugar, pois
estava confusa. Também não conseguia
entender como um ser abominável como
aquele existia, alguém que deveria estar
morto e no inferno.
— Samuel, ou Steve, era atencioso
comigo como ninguém jamais tinha sido.
Eu era jovem e ingênua, acreditava no que
ele dizia e declarava a mim. Eu era uma
adolescente que não me arrumava, não me
enturmava muito com as pessoas, e, quando
um cara carinhoso se aproximou e disse que
eu era linda… eu acreditei. — Olhei para a
janela sem nada ver. — Eu sei que fui tola
em acreditar nisso…
Senti seus braços à minha volta,
abraçando-me por trás. Sua atitude era
reconfortante.
— Você não foi idiota, caras como
esse sabem como chegar em uma garota,
conquistá-la e conseguir o que querem —
falou num tom calmo, mas senti, por trás de
sua calma, que ele estava borbulhando de
raiva.
— Eu o namorei por dois meses, e
tudo estava indo bem, mas não estava
pronta para me entregar a ele. Eu tinha
sonhos de me casar antes, sabe… Lia nos
livros histórias bonitas relacionadas a
casamento e sonhava em me casar na neve,
porque amo a neve. Adoro vê-la caindo…
— Fechei os olhos por um momento,
desfrutando de um sonho que nunca
aconteceria.
Bryan estava tenso ao meu lado, mas
não me interrompeu.
— Ele não aceitou isso muito bem…
— Estremeci quando as lembranças
sombrias cobriram as boas.
— O que ele fez? — tinha um tom
mortal em sua pergunta, como se ele
quisesse matar o meu algoz. E eu não
duvidava disso, mas não o deixaria sujar
mais sua alma matando alguém, mesmo que
fosse um ser monstruoso como Steve. Já
bastava o que Bryan tivera de fazer ou
aturar que trouxera aquela escuridão que
havia dentro dele, como ele mesmo tinha
dito. Eu não podia deixá-lo ter mais daquilo.
— Um dia eu fui a uma loja perto de
casa, e ele apareceu e me mandou entrar no
seu carro. Eu sabia que ele estava nervoso,
tenso, não parecia o mesmo cara que eu
namorava e gostava. Não entrei, mas então
ele apontou uma arma para mim e me
forçou a ir com ele… Lembro-me de ficar
com tanto medo… — minha voz era só um
sussurro.
— Se você não quiser falar agora, tudo
bem — disse ele baixinho e alisando meus
cabelos, talvez tentando me acalmar.
— Eu preciso desabafar com
alguém… Isso parece estar marcado em
minha pele. Pois bem, ele me levou a um
calabouço em um lugar bem afastado, como
uma fazenda, eu acho. Não reparei na hora,
pois estava com muito medo. Sabia que
algo terrível estava para acontecer. —
Respirei fundo, ainda de olhos fechados. —
Fiquei lá por cinco dias, mas me pareceu
um ano, ou uma eternidade. Quando ele me
colocou na cama e algemou minhas mãos e
pés…
— Alexia…! — a dor e a raiva
estavam em seu tom e em suas mãos em
punhos fechados.
— Me deixa terminar por favor… —
supliquei com meus olhos molhados. —
Lembro-me da dor que senti ao ter meu
corpo não só violado, mas chicoteado
enquanto eu gritava, mas sabia que a ajuda
não ia chegar. Desejei morrer naquelas
horas. Ele me xingava e me mandava ser
obediente. Às vezes, para me livrar da dor,
eu fazia o que ele queria, então gritava, mas
o fodido achava que eram gritos de prazer.
Depois de dois dias seguidos, já não
aguentava mais. Seu toque, seu corpo e tudo
nele me causavam repulsa. Caso não fizesse
o que ele queria, seus castigos iam ficando
piores. Ele me prendeu em uma gaiola, nua,
sem água ou comida, e, quando eu ficava à
deriva, vagando em minha própria mente,
ele me jogava água gelada, fazendo-me
gemer, porque nem forças para gritar eu
tinha mais. Também não tinha mais
esperança de ser encontrada. Não viva, pelo
menos. Eu pensava: por que estava ali? Que
pecado tão grave eu cometi para suportar e
aturar tudo aquilo? Depois de cinco dias de
cativeiro, ele ficou bravo e falava sozinho.
Eu já vi pessoas com problemas mentais,
ele tinha esses sintomas. Eu desmaiei.
Quando acordei, estava em um hospital,
com pessoas me tocando. Depois tudo ficou
confuso. Foi quando fui levada para uma
clínica psiquiátrica, na Suíça. Meus pais não
queriam especulações sobre mim aqui.
— E sua filha…?
Meu peito se apertou tanto que parecia
que estava sendo esmagado e triturado. Saí
do seu abraço sem responder, porque não
conseguia falar mais. Algo enorme estava
entalado em minha garganta. Cheguei ao
banheiro e liguei o chuveiro com água
gelada. Precisava dela agora, e de me lavar,
porque me sentia suja, mas, antes que eu
pegasse a esponja para esfregar meu corpo,
Bryan me impediu e me puxou para seus
braços.
— Meu Deus, Alexia! — seu tom era
devastado e cheio de impotência.
Foi quando eu chorei. Chorei pela
perda da minha bebezinha. Não importava
como ela tinha sido concebida, eu a amava
profundamente.
Bryan não me disse nada, apenas
desligou a água e me deixou chorar em seus
braços. Sentou-se no chão e me colocou em
seu colo.
— Eu a amava — sussurrei, encolhida
em seus braços. — Seus chutes, seu choro
quando nasceu… mas então, quando acordei
no outro dia, papai disse que ela tinha
morrido… Eu não vi seu corpinho, porque
surtei e me internaram de novo.
— Você não estava internada quando a
teve? — sondou ele com a voz grossa.
— Sim, estava, mas em outra ala, pois
me sentia melhor por causa da gravidez. Ela
me deu motivos para viver. — Limpei as
lágrimas. — Eu ansiava por ver seu
rostinho, sentir seu cheiro, mas então ela se
foi após ter ficado minutos comigo. Eu não
me importava com a forma como ela foi
concebida e nem com quem era seu pai,
apenas a amava. Por ela, eu daria minha
vida se fosse preciso. Eu estava muito mal
até dois anos atrás… mas decidi que
precisava reagir, não podia ficar daquele
jeito para sempre. Alex sofria com aquilo,
meus pais também. Então lutei e fiquei boa.
Não curada, pois isso jamais… irá acontecer
— minha voz falhou.
Ele franziu a testa.
— Por que não a deixaram vê-la? —
seu tom estava confuso e parecia
desconfiado. Do quê, eu não sabia.
Suspirei.
— Eu não sei. Pedi ao papai para vê-la
uma última vez, mas ele disse que já a
tinham enterrado. Achei estranho, pois
tinham se passado só seis horas. Depois que
fiquei boa, quis saber onde ela tinha sido
enterrada, mas ele morreu antes de poder
me contar, e Alex estava no Japão na época,
então não soube informar, já que papai não
disse nada a ele. — Respirei fundo,
controlando a minha dor.
Ele suspirou.
— Então até hoje você não só não
pôde vê-la antes do enterro, como também
não sabe de seu paradeiro?
— Sim, papai não me disse. Por esse
motivo todo ano, no dia do seu aniversário,
vou a Zurique, na Suíça, porque sei que foi
lá, em algum lugar, que meu pai a enterrou,
mesmo eu não sabendo o local. Fui para lá
no dia do casamento da Sam, por isso não
participei dele. Eu sempre digo às pessoas
que vou assistir a palestras, mas vou para lá
para ficar nem que seja por umas horas
perto dela.
— Deve ter um atestado de óbito em
algum lugar na clínica em que você ficou,
não é? — sondou, levantando-se e me
levando junto.
— Eu tentei conseguir uma cópia, mas
eles não me deram — falei com amargura.
— Eu vou ver o que consigo descobrir,
OK? Qualquer coisa, te aviso.
Arregalei os olhos, fitando-o.
— Faria isso por mim?
— Por você, eu faço tudo, Luz do Sol!
— assegurou com ferocidade. — Agora
quero pedir que nunca mais se machuque de
novo porque pensa que está suja. Jamais
faça isso! — Ele pegou meu braço e me
levou para fora do quarto.
— Bryan, eu estou molhada —
sussurrei, olhando para ele, cuja calça jeans
semiaberta também estava molhada.
Ele sorriu travesso.
— Eu gosto de você molhada, querida
— sua voz estava sexy e rouca, fazendo-me
queimar entre as pernas. Se fosse em outro
tempo, ainda mais depois de eu ter
recordado tantas lembranças ruins, suas
palavras me fariam surtar, mas Bryan tinha
algo que fazia a dor ficar suportável. Nunca
parava de doer, claro, mas eu me sentia
confortada ao lado dele.
— Aonde vamos? — inquiri confusa,
seguindo-o para o corredor.
Bryan não respondeu, apenas pegou a
maçaneta da porta do quarto que ele disse
que ninguém podia entrar e a abriu.
— O que estamos fazendo aqui? Que
quarto é esse?
— É um quarto que uso para trabalhar
e me exercitar — respondeu assim que
entramos.
O quarto não era bem um quarto, e sim
uma sala gigantesca, com uma parte voltada
para jogos, ringue de luta, outra com muitos
computadores instalados e várias telas, em
que, no momento, eu conseguia ver imagens
de câmeras de vários pontos da cidade e
daquela casa, inclusive do quarto que eu
estava ocupando.
Uma parede atrás do ringue tinha um
arsenal de fora a fora com vários tipos de
armas.
— Nossa, você tem um arsenal aqui. É
liberado ter tantas armas assim?
Ele riu, pegando a minha mão e me
levando para o ringue.
— Sim, tenho posse sobre elas, então
não são ilegais.
— Por que estamos em um ringue de
luta? — perguntei avaliando o lugar.
Ele não respondeu e foi até onde
estava um saco de areia. Pegou duas luvas
de boxe e me entregou.
— Quando estiver com raiva e com
dor e sentir vontade de machucar a si
mesma, não faça isso. Venha aqui e bata
nesse saco até cansar. Mas nunca fira a si
mesma. — Ele tocou meu rosto. — Não
suporto vê-la machucada.
— Certo — sussurrei, estremecendo
com seu toque. — Faço isso com Ramiro.
— Ramiro…? — seu tom tinha algo
sombrio, como se quisesse matar alguém.
— Ele é o personal trainer da
academia que frequento, a do Jason. Ele
disse que, quando eu for bater no saco —
gesticulei para o saco de areia ali,
pendurando por correntes — para eu
levantar a perna assim. — Fiz o movimento
e dei um high kick no saco.
— Eu vou matá-lo — rosnou,
puxando-me para seus braços fortes.
Pisquei e afastei o rosto, fitando seus
olhos brilhantes, mas ferozes.
— Por quê? — sussurrei ofegante pelo
fogo em meu corpo causado pelo seu toque.
— Esse miserável diz isso porque
adora ver você levantando as pernas
gostosas numa calça justa e ver sua bunda.
— Ele apertou minha bunda, virou-me de
costas e me pressionou em suas calças.
Pude sentir que ele estava a todo vapor,
quase tão duro como granito.
— Eu uso short, Bryan… — Revirei
os olhos.
— Querida, já viu sua bunda? Se,
nesses vestidos que usa, você fica sexy,
imagine com um shortinho curto? Porra,
você não vai mais treinar lá para esse merda
te comer com os olhos! Quando quiser
treinar, eu te ajudo.
Eu estava prestes a reclamar, mas ele
me beijou e me deitou no chão do ringue,
pairando em cima de mim. Seus lábios eram
urgentes nos meus, ferozes e famintos,
parecia que não tínhamos o suficiente um
do outro.
Ele deixou os meus lábios e foi para o
meu pescoço. Eu estava ofegante, mas não
liguei, apenas queria aquele homem mais do
que tudo no mundo. Queria tê-lo para
sempre, amava-o tanto que, se eu o
perdesse, não sabia o que seria de mim.
Bryan puxou a camiseta que eu estava
usando – dele – e a rasgou, e logo foi a vez
do meu sutiã. Seus olhos azuis eram brasas
vivas. E logo abocanhou meu seio,
desfrutando dele e o sugando forte. Senti-
me arrebatada. Meu corpo queimava devido
ao seu toque e às carícias, que me faziam
gemer como nunca, sem me importar com
quem escutasse.
— Bryan! — gritei assim que sua boca
estava me devorando. Ele sugava e lambia
cada canto, mas fui ao delírio quando
chupou meu clitóris.
Prendi sua cabeça com minhas coxas e
levantei a bunda do chão, querendo mais de
sua boca, de sua língua mágica, que me
levava quase a um arrebatamento. Eu ia às
nuvens e voltava.
— Você é saborosa demais! — Ele deu
um último chupão e logo depois colocou
dois dedos dentro de mim enquanto
esfregava meu clitóris com a língua, até que
eu gozei gritando seu nome e fiquei mole no
chão.
— Então, como foi? — sussurrou,
beijando meus lábios. — Sinta seu gosto,
que, de hoje em diante, será minha melhor
vitamina.
— Cara, você é bom — falei, toda
mole, e o empurrei até ele se deitar e eu
ficar por cima. — Agora é a minha vez de
chupar você, querido.
— Alexia…
— Eu nunca fiz isso, mas acredito que
vou amar, afinal, quando leio livros com
cenas assim, me dá um baita tesão. —
Prendi meu cabelo em um coque e me
abaixei para beijar seus lábios, que estavam
sorrindo. — O que foi?
— Você com tesão por ler um livro.
Gosto disso. — Ele me beijou, apertando-
me mais em seus braços.
— Seus beijos são bons, mas eu quero
outra coisa — sussurrei, depois algo me
veio à mente. — Aqui têm câmeras que
estão nos filmando?
Ele riu.
— Querida, todos os cômodos têm
câmeras, mas este aqui não, afinal, ninguém
entra aqui se eu não quiser, então não se
preocupe, porque jamais filmaria o que
acontece entre nós — falou, beijando minha
bochecha.
— Que alívio! Agora vou treinar um
boquete em você — avisei, beijando seu
tórax e me deliciando com seu corpo
saboroso, que eu amava. Então dei de cara
com os nomes em seu peito, sobre os quais
eu estava supercuriosa. O que acontecera
com as donas daqueles nomes?
— Emília e Emma? Quem são elas? —
Notei que seu corpo ficou tenso com minha
pergunta e que ele fechou os olhos de dor e
tormento. — Bryan, quem são elas?
Ele me tirou de cima de si, sentou-me
ao seu lado e se levantou, passando por uma
porta que só então eu percebi. Supus que era
um banheiro. Peguei uma camisa, que
estava em cima de uma cadeira, até estava
com o cheiro de Bryan, vesti-a e o segui.
Era mesmo um banheiro. Pela toalha
no chão, ele tinha acabado de se secar e
estava se vestindo.
— Bryan…
— Não, Alexia, eu não posso falar
agora — sua voz estava grave e irritada.
— Me diz o que está havendo, porque
esses nomes devem significar algo para
você, senão não teria agido assim, correndo
desse jeito. — Peguei seu braço. — Olha
para mim, droga! Eu não vou deixá-lo sair
sem ao menos me dizer o que está havendo
com você.
Ele respirou fundo e puxou o braço.
— Não tenho que dizer nada a você —
retrucou.
— É claro que tem. Nós estamos
juntos, não é? Temos que contar tudo um
para o outro.
— Você acha que só porque estamos
fodendo tem algum direito de saber sobre
mim? Não tem! Não se meta no que não é
da sua conta, caralho! — rugiu e saiu do
banheiro e da sala.
Eu não tinha ideia de quanto tempo
fiquei no banheiro em estado de choque,
dolorida, porque aquelas palavras eram
como um tapa. Acreditei que teria doído
menos se ele tivesse me batido, porque era
como se ele tivesse enfiado as mãos em meu
peito e esmagado meu coração até não
restar mais nada, apenas vazio.
Eu não vou me quebrar agora, não de
novo! Como ele pôde me dizer isso após eu
ter me aberto para ele, após dizer tudo o
que sentia a ele?! Chegou a hora de eu
tomar as rédeas da minha vida. E para isso
preciso tirar Bryan da minha vida.
Capítulo 8
Alexia
— Alexia, querida, o que foi?
Robert era o meu braço direito. Na
verdade, aquele homem era meus pés e
mãos na escola.
Fazia alguns minutos que eu tinha
chegado ali, e minha expressão devia o ter
alertado de que alguma coisa havia
acontecido comigo. Minha cara devia estar
pior do que eu imaginara. Tentara melhorar,
mas provavelmente não tinha sido bem
sucedida.
Depois que Bryan saíra desgovernado
no dia anterior, eu o esperara por ele o resto
do dia e da noite, até a manhã do dia
seguinte, mas ele não aparecera, então eu
pegara parte de minhas coisas e fora embora
da sua casa, não querendo estar lá quando
ele voltasse. Se não tinha voltado ainda, era
porque não se importava comigo. Não
queria vê-lo por enquanto, não depois do
que ele havia me dito. Meu peito doía com a
possibilidade de não o ver mais, mas talvez
fosse bom, afinal, ele só vivia me
magoando, dizendo coisas que me feriam.
Eu sabia que ele as falava somente para eu o
deixar, que eu não devia ouvi-las, mas não
podia. Aquelas palavras ainda corroíam
minha mente a cada segundo.
— Eu estou bem, Rob, apenas…
problemas — menti para o homem de meia-
idade moreno e de cabelos grisalhos. — Eu
sei que vai viajar esse fim de semana.
Enquanto isso posso ficar na sua casa? —
pedi enquanto via as crianças comerem.
Era sexta-feira, por isso elas estavam
animadas, pois o fim de semana estava
chegando. Eu não sabia como o meu seria,
porque, desde que revira Bryan na boate,
minha vida se transformara em um reboliço,
sendo perseguida por dois homens. Um
deles ainda estava em meu encalço.
Eu amava aquele lugar, adorava ver as
crianças correndo pelo jardim, brincando,
alimentando-se, suas risadas e sorrisos.
— Tia Lex, isso é para você. Uma flor
para uma flor — disse Ariane.
Ela tinha quatro anos, cabelos louros e
olhos azuis intensos. Sempre que eu estava
perto dela, meu coração batia forte. Eu não
entendia o motivo disso. Gostava de todas
as crianças ali, mas sentia algo a mais por
Ariane. Sua avó era a dona Aria, a
cozinheira da escola, uma ótima pessoa que
eu admirava de coração. Eu soube que os
pais de Ariane morreram quando ela era
pequena, então ela era criada pela avó. Aria
era conhecida dos meus pais desde a minha
adolescência. Eu achava que era por isso
que ela ainda trabalhava ali, apesar da
idade.
Abaixei-me na frente dela e peguei a
flor que ela me deu de presente. Eu
guardava todas que ela me dava. Era claro
que murchavam, mas eu não me importava.
Seu carinho por mim alegrava minha alma.
— Oh, minha princesinha linda,
obrigada! — Eu a abracei, beijando seus
cabelos lindos e sedosos. Seu cheiro era
maravilhoso e me fazia lembrar da minha
bebê, que eu perdera. Se ela estivesse viva,
estaria com a idade de Ariane. Eu não me
importaria com quem ela se parecesse,
mesmo que fosse com aquele monstro,
contanto que estivesse viva.
— Por que está chorando, tia? —
perguntou Ariane um tanto magoada. —
Não gostou da rosa?
Eu me afastei e sorri para tranquilizá-
la; não queria que ela ficasse triste, parecia
doer em mim.
— Não, querida, eu amei a rosa,
apenas estou feliz, então não liga, OK?
Agora vá brincar com seus coleguinhas —
falei, cheirando a rosa.
Ela sorriu radiante com minha resposta
e foi brincar com suas colegas no pátio. Já
eram quase 2h da tarde. Eu queria ir aonde
Jack estava para ficar com ele e Claire, mas
não podia, já que eles corriam perigo. Eu
também corria perigo na escola, tinha vindo
somente para deixar tudo organizado.
Precisava me afastar das crianças. E se
aquele lunático do Steve tentasse fazer algo
a elas? Eu não podia deixar isso acontecer.
— Ela ama muito você, sabia? —
disse Rob ao meu lado. Até tinha me
esquecido dele.
Fitei-o.
— Eu sei. A conheço há um ano e
meio, desde que vim para cá, e não
largamos uma da outra. De vez em quando a
levo para passar uns dias comigo. — Eu
amava quando isso acontecia, quando Aria
me permitia levar Ariane para minha casa.
Rob me deixou ficar em sua casa
naquele fim de semana. Eu precisava de um
momento a sós para pensar no que iria fazer,
já que não voltaria para a proteção de
Bryan.
Aria entrou na minha sala quase já no
fim do expediente. Mais cedo ela tinha dito
que precisava falar comigo. Pelo seu tom,
parecia sério. Eu esperava que não fosse
nada grave. Eu a conhecia desde que tinha
15 anos e ela viera trabalhar com papai e
mamãe quando fundaram a escola.
— Oi, menina Alexia — disse ela e
tossiu. Ela sempre me chamava assim.
Corri até ela e a ajudei a se sentar. Ela
tinha uns sessenta anos, e seus cabelos
estavam grisalhos.
— O que foi? Está doente? Por que
veio trabalhar, então? Devia descansar —
falei com minha voz alterada, vendo-a
assim e não sabendo o que fazer.
Ela sorriu para mim, meio abatida.
Com ela perto de mim, percebi como estava
sem cor, como se estivesse exangue. Aria
parecia doente.
— Eu estou bem — disse ela, mas
tossiu e colocou uma toalhinha na boca.
— Eu vou chamar um médico — falei,
pegando o telefone para ligar para um
médico conhecido.
— Não, eu não preciso de médico, mas
sim falar com você. — Ela pegou um papel
na bolsa e me entregou. — Isso pertence a
você, menina Alexia. Eu não tenho mais
ninguém a quem recorrer, só você.
Peguei o papel sem ter a mínima ideia
do que se tratava. Seria alguma receita
médica e ela precisava de ajuda para a
compra dos remédios? Porém, se fosse isso,
por que ela teria dito que pertencia a mim?
— O que é isso? — indaguei, então li
o documento, em que ela falava que estava
me dando a guarda definitiva de Ariane.
Arregalei os olhos e olhei para Aria,
encolhida na cadeira.
— Eu tenho câncer nos pulmões. Não
tem cura, é terminal. Os médicos me deram
dias de vida. Nem era para eu estar aqui,
mas não quero passar meus últimos dias em
um quarto de hospital, e sim ao lado de
Ariane e dessas crianças, que são a minha
vida — sua voz foi fraquejando enquanto
falava.
— Não fala — pedi. — Fica quieta
para não piorar. Por que não me disse antes?
E por que dar a mim a custódia de Ariane?
Você deve ter algum parente vivo.
— Não tenho, menina, só você. Vejo
como gosta dela, e ela de você, então pode
cuidar bem dela e amá-la como se fosse sua
filha. Por favor, não tenho mais ninguém a
quem confiar sua segurança e educação.
O que eu faria? Eu queria Ariane para
mim, porque amava aquela garotinha
esperta demais para sua idade, mas
conseguiria ficar com ela sem que as
lembranças me dominassem, sem pensar na
minha filha, que era para ter a idade dela?
E, se eu ficasse com ela, jamais teria Bryan.
Não que eu fosse ficar com ele depois que
me havia dito que o que tínhamos era só
sexo. Sexo, não; foda, o que era pior. Eu
não conseguia entender por que ele reagira
daquela maneira quando eu lhe perguntara
sobre os nomes tatuados em seu tórax.
Quem eram aquelas mulheres? Sam não
mencionara que ele já fora apaixonado por
alguma mulher ou que havia tido uma filha.
Seria por isso sua aversão a filhos, tanto que
até chegara a dizer que faria uma mulher
abortar caso ficasse grávida para prendê-lo?
Como se eu fosse fazer algo assim…
Ao olhar para o documento mais uma
vez, eu já tinha tomado a decisão. Jamais
deixaria uma garotinha desprotegida por
causa de um cara.
— Eu vou tomar conta dela, prometo
— jurei, assinando os papéis, embora
imaginasse que aquilo não tinha bases
legais, mas, se aquela era a única coisa que
deixaria Aria feliz e tranquila, eu não me
importava. Depois entregaria o documento
nas mãos do advogado dos meus pais. Ele
me diria o que eu precisava fazer para ter
Ariane legalmente.
Aria sorriu, contente, mas logo
começou a tossir. Para meu horror, a
toalhinha ficou vermelha de sangue.
— Oh, meu Deus!
Ignorei quando ela disse que estava
bem e chamei a emergência. Quem está bem
cuspindo sangue de seus pulmões?
Ninguém!
Capítulo 9
Alexia
Assim que chegamos ao hospital, a
levaram para a emergência e um médico a
consultou. Meia hora depois, ele confirmou
o que ela me tinha dito, mas os dias que ela
tinha haviam se transformado em horas de
vida. Por que ela não descansara ao invés de
fingir estar bem para ir trabalhar? Ela
precisava de repouso.
Ariane estava comigo e chorava pela
sua avó, embora ela não soubesse o que
estava acontecendo, apenas que Aria estava
dodói. Eu queria poder livrá-la daquela dor,
mas não podia. Jurava que a protegeria e
tomaria conta dela como se fosse minha
filha, porque eu já a amava dessa forma.
— Precisa tomar conta dela, menina
Alexia… — a voz de Aria estava muito
fraca ao pedir isso, mais moribunda do que
antes.
Ela estava num leito de hospital,
cercada de aparelhos para ajudá-la a
respirar, mas, mesmo com eles, estava
ofegante. Olhou para a neta ao meu lado.
— Obedeça à tia Alexia em tudo que
ela pedir. Faz isso para vovó?
— Sim, vovó, eu faço. — Ariane
pegou a mão da avó e a beijou. — Você vai
ficar boa, não vai?
— Estou doente, meu bem, não vou
mentir. Depois que vovó for para o Céu,
ainda vai olhar você de lá e desejar que seja
feliz aqui ao lado da menina Alexia. — Aria
me olhou com os olhos cansados. Eu sabia
que ela não queria ir embora na presença da
neta. — Pode ficar com ela lá fora? Mas
antes pegue a minha bolsa. Tem uma carta
dentro dela. Eu quero que a leia, mas só
quando eu me for, tudo bem?
Franzi a testa, confusa, mas não disse
nada, só assenti. Sabia que ela não seria
capaz de responder as perguntas que eu
tinha no momento. Peguei a carta de dentro
da sua bolsa e a coloquei na minha, a fim de
cumprir minha promessa. Talvez aquela
missiva tirasse minhas dúvidas.
— Eu prometo que só vou abrir…
depois… — minha voz falhou por causa do
choro, mas me segurei, porque precisava ser
forte por Ariane. Deixaria minha dor para
depois, naquele momento só a queria
segura, e comigo a menininha não teria
segurança, não até que Steve fosse preso ou
morto. Eu sabia que não devíamos desejar a
morte dos outros, mas não me incomodaria
nem um pouco se ele morresse.
Lutner era um hacker, então só outro
hacker poderia encontrá-lo. Bryan ainda não
conseguira localizá-lo. Eu só conhecia outro
cara fera em computadores, que podia
localizá-lo para que Ariane ficasse segura,
porque Steve com certeza seria capaz de
matar uma garotinha, se descobrisse que eu
estava com ela. Eu duvidava que ele se
importasse com a idade de suas vítimas.
Sabia que estava exposta demais
naquele hospital. Por instinto, olhei ao redor
à procura de algo suspeito, mas o que vi foi
um par de olhos caramelo me fitando e um
sorriso sexy.
Já eram quase 18h, e eu estava
cansada. Desde o dia anterior eu não
descansava, mas não me importava. Não
sairia dali até… Não queria pensar no fim
de Aria. Queria que existisse uma cura para
que ela pudesse criar sua neta, mas sabia
que era impossível.
Fui até Daemon – fora assim que Nasx
o chamara no hospital. Deixei Ariane
sentada em um sofá perto de mim, pois não
queria perdê-la de vista um segundo.
— O que faz aqui? Está me seguindo?
Se está aqui a pedido do Bryan, mande
aquele filho da puta ir para o raio que o
parta, que não quero saber dele — grunhi
sem alterar a altura da voz, afinal,
estávamos num hospital, e não queria que a
criança ouvisse meus palavrões.
Seu sorriso me deu vontade de socá-lo
na cara. Eu estava grilada, mas não podia
descontar em todos o que Bryan fizera
comigo, ou melhor, o que dissera antes de
me deixar sozinha, afinal, ninguém tinha
culpa, só Bryan.
Havia ligado para Alex da escola
dizendo que estava com problemas, e estava
prestes a contar sobre Aria quando Bryan
tomou o telefone da mão do meu irmão.
Percebi que era ele porque ouvi sua voz do
outro lado da linha. Na hora desliguei na
sua cara, segurando o choro e a raiva. Quem
ele pensava que era para querer falar
comigo depois do que tinha feito?
— Você não está com seu celular.
Bryan está louco atrás de você. O que tem
na cabeça? Não sabe que está sendo caçada
por um lunático? — rosnou Daemon,
perdendo o sorriso.
— Eu não quero saber nada do Bryan.
Se você veio aqui porque ele pediu, pode
dar meia volta e ir embora — sibilei. Olhei
para o outro lado bem a tempo de ver um
cara passando a alguns metros de nós,
vestido com roupas de médico. Usava
óculos e tinha barba, mas eu conhecia
aquele rosto muito bem, dos meus pesadelos
e lembranças. — É ele…
Não soube como Daemon ouviu
alguma coisa, pois meus lábios estavam
rígidos ao dizer aquilo. Ele me colocou atrás
de si bem a tempo de ver Steve virar o
corredor. Entretanto, antes disso, seus olhos
encontraram os meus. Ali tinha tanta
frieza… Era como se estivesse me dando
um recado: logo nos encontraríamos.
— Aquele cara vestido de médico? —
Daemon inquiriu com a voz grossa de fúria
e saiu correndo atrás dele assim que assenti
sem falar nada, chocada demais para isso.
Peguei Ariane no colo para caso
precisasse correr com ela e tirá-la dali.
Esperava que ele não tivesse me visto com
ela, já que a menina havia estado sentada no
sofá. Ele me vira com Daemon, e seus olhos
ficaram escuros de raiva.
Antes que eu pensasse mais sobre isso,
houve uma correria de médicos e
enfermeiros para o quarto de Aria. Corri
para lá com meu coração acelerado de medo
de que ela já tivesse partido.
Entretanto, assim que passei por
algumas pessoas que pareciam congeladas,
parei de súbito e ofeguei. Nas paredes
estava escrito em vermelho, como se a tinta
usada fosse sangue: Imunda, mentirosa,
traidora! Sua alma vai queimar no inferno!,
e muitas palavras de baixo calão. Ainda
bem que, ao passar pela porta, eu tinha
tampado o rosto de Ariane para que ela não
visse a avó se essa tivesse falecido. Estava
prestes a olhar para Aria, torcendo para ela
estar bem, mas meus instintos diziam que
não; inclusive sabia quem era o responsável
por tudo aquilo.
Todavia, a mão de alguém cobriu meus
olhos para que eu não visse nada. Estava a
ponto de gritar e lutar se fosse preciso, pois
não iria embora dali com quem quer que
fosse, mas ouvi a voz baixa:
— Sou eu, Nasx, então não me bata,
porque até agora a minha barriga dói
daquela surra de vassoura. — Puxou-me
suavemente dali.
Oh, Deus! Ela morreu por minha
causa! Se eu não estivesse perto dela, Aria
não teria sido assassinada, teria morrido
por causa de sua doença! Quem aquele
cretino pensa que é para fazer algo assim e
ainda desejar a danação da alma de
alguém? Era ele que deveria estar
queimando no inferno!
— O que aconteceu com vovó? —
perguntou Ariane com a voz fininha.
— Lembra de ela dizer que ia para o
Céu? — Ela assentiu, então continuei: —
Pois é, meu amor, ela foi agora, mas Aria
sempre vai estar conosco.
Quando ela estivesse mais velha, eu
explicaria melhor sobre perdas e tudo mais.
Naquela hora só queria sair dali e levá-la a
algum lugar seguro, longe das vistas de
Steve. Eu queria ficar ali e cuidar do velório
e enterro de Aria, mas, pelo que eu
imaginava, já que não havia visto seu corpo,
acontecera um assassinato, então demoraria
um pouco para liberarem o cadáver. Eu me
sentia como um robô, ligada no automático.
Não sabia como estava de pé ainda.
— Vai ficar tudo bem, gatinha —
assegurou Nasx com os braços em meus
ombros. — Estamos aqui para protegê-la
desse… — ele se conteve, olhando para
Ariane, que estava com a cabeça no meu
ombro.
Percebi que estava tremendo, mas me
esforcei para não tremer mais, para ser forte
pela criança. Não queria chorar na sua
frente. Depois choraria em minha casa…
Quase ri. Eu não tinha mais casa, já que não
podia ir para lá. O lugar mais seguro para
mim era a casa de Bryan, que era reforçada
no quesito segurança. Eu ficaria lá só para
ficar segura? Não. Porém, eu ficaria lá para
ver Ariane segura? Sim, sem pensar duas
vezes. Sabia que seria difícil a minha estada
lá depois de tudo. Só esperava que ele não
levasse outras mulheres para lá enquanto me
acomodava, mas acreditava que não. Bryan
podia ser um mulherengo, mas não era um
canalha.
Assim que saímos do hospital,
Daemon ia entrando, com a expressão
furiosa.
— Você o pegou? — sondei, embora
sem esperança.
Ele suspirou.
— O cara é rápido, devo admitir.
Acredita que ele fez a porra de um sinal
abrir só para eu não o alcançar? Acho que
ele não está agindo sozinho, porque, para
controlar os semáforos, ele teria que
hackear um computador, mas, pelo que
pude ver, a única coisa que ele tinha era
uma faca… — calou-se devido a Ariane,
que estava dormindo nos meus braços. Por
sorte ela não era pesada.
Daemon me mostrou uma faca que
estava dentro de um saquinho.
— Acredito que esteja com digitais,
porque ele estava sem luvas. Não parece se
importar mais em se esconder…
Cortei-o:
— Isso é bom ou ruim?
— Não sabemos, porque esse cara é
louco de pedra.
— É um assassino que matou uma
mulher doente a sangue-frio, e o pior,
escreveu com sangue dela nas paredes um
monte de expressões horríveis, maldições,
xingamentos — declarou Nasx de modo
sombrio.
— Espere, ele matou alguém lá
dentro? — rosnou Daemon furioso. — Eu
liguei para Bryan, ele… — calou-se quando
Bryan estacionou seu carro perto das motos
dos MCs. Notei que tinham mais, uns 15,
mais ou menos, quase fechando a rua
inteira. Havia carros de polícia também.
Bryan me olhou em pânico e me
checou dos pés à cabeça para ver se eu
estava bem enquanto vinha em minha
direção. Quando viu Ariane, deteve-se.
Notei dor em seus olhos, como se aquela
cena o ferisse. Isso me fez pensar que os
nomes que estavam em seu peito fossem de
uma mulher e talvez uma criança, sua filha.
Não sabia como reagir a isso. No entanto,
não o acusaria se fosse algo assim, afinal, eu
também havia tido uma filha… Ela só não
estava ali. Provavelmente, a dele também
não. Eu só queria que ele confiasse em mim
e me dissesse a verdade em vez de me
machucar para me afastar.
— Encontrou o desgraçado? —
perguntou Bryan a Daemon com os dentes
trincados.
— Acho que temos que conversar. —
O cara me olhou de lado. — A sós se
possível.
Eu poderia retrucar, mas estava
cansada demais para fazer tal coisa.
— Certo, essa é minha deixa para sair
— falei olhando para Nasx e Daemon. —
Obrigada a vocês dois por estarem aqui,
senão não sei o que teria acontecido.
Nasx veio até mim e me abraçou, mas
logo me soltou após o rosnado que Bryan
deu. Ignorei isso e fui até Daemon para
abraçá-lo, mas ele se afastou.
— Eu valorizo o que tenho no meio
das minhas pernas, mulher — comentou
sorrindo para mim, depois olhando de forma
sombria para Nasx, que revirou os olhos.
— Somos amigos, não é, gatinha? —
Sorriu para mim, depois para Bryan. — Eu
a chamo assim não por ela ser gata, embora
seja, mas pela porrada que ela nos deu.
— Não precisa dizer nada ao Bryan.
— Olhei para seus olhos azuis, escuros
como uma tempestade. — Afinal, não
somos namorados, não é? Apenas foda.
Capítulo 10
Alexia
Saí de lá antes que voasse em sua face
linda e o beijasse. Às vezes achava que era
idiota por aceitar tudo que ele fazia e me
dizia, fazendo-me chorar, como acontecera
no dia anterior. E eu tinha um forte
pressentimento de que não seria a última
vez. Queria poder estar errada quanto a isso.
Fui até o carro de Bryan, não ao meu,
que estava no estacionamento do hospital.
Depois teria que vir buscá-lo. Estava com
Ariane nos braços e não queria acordá-la.
Eu iria com ele para sua casa, porque era o
lugar mais seguro para ela naquele
momento, bem como para mim.
— Onde vai deixar a criança? —
questionou ele assim que entrou no carro.
— O nome dela é Ariane, e ela vai
ficar comigo. Se você não quiser, me avisa,
que saio do carro e vou com Nasx para o
clube dele — meu tom era frio, aliás, eu me
sentia fria devido a um misto de dor, raiva e
medo.
Bryan rosnou de um jeito mortal e
apertou as mãos com força no volante.
— Isso não vai acontecer, porra! —
grunhiu, depois respirou fundo. — Eu te
liguei o dia todo desde que desligou na
minha cara quando telefonou para Alex, e
você não atendeu o maldito celular.
— Por que eu atenderia depois do que
disse a mim, Bryan? Queria falar com você
ontem, mas sumiu. Agora quer que atenda
suas chamadas? É muita cara de pau a sua
— sibilei e olhei pela janela, tentando me
controlar, ou esganaria aquele homem, que
era minha razão de viver. Esperava ser algo
assim para ele também.
Senti sua mão em meu ombro como se
estivesse me reconfortando. Eu não queria
sua pena, então me esquivei do contato, não
querendo suas mãos em mim naquela hora.
Quando eu poderia pensar que um dia
fugiria do toque de Bryan? Nunca. Bem,
tudo tem sua primeira vez.
— Não toque em mim… — Se ele me
tocasse, eu não iria me controlar, não
conseguiria me afastar dele e me quebraria à
sua frente. Isso não podia acontecer, pois eu
não queria sua pena. Apenas iria para sua
casa porque Ariane precisava ser protegida.
— Eu sinto muito, Alexia… — sua
voz estava tão baixa que eu quase imaginei
a ter ouvido.
A voz frágil como vidro estilhaçado
quase me fez esquecer da minha própria
dor, mas eu não podia fingir que nada tinha
acontecido, não depois do que ele me havia
dito. Ele precisava decidir se eu era
importante para si ou não, porque, pela
forma como sempre me feria, parecia que eu
não significava nada para ele.
— Eu tive um dia longo e estou
cansada. Não quero discutir com você hoje.
Bryan ficou em silêncio depois disso.
Achei bom, precisava arejar a cabeça.
Assim que entramos na casa, ele foi
para a sala de computadores, acredito que
socar alguma coisa, pela raiva em sua
expressão, toda dirigida a si mesmo, não a
mim ou a outra pessoa, eu tinha certeza.
Queria poder tirar aqueles sentimentos dele,
mas não podia, só se ele me deixasse entrar
em seu coração.
Segui para o quarto ao lado do dele;
não iria para o seu quarto, já que não
estávamos juntos, não éramos namorados
como eu tinha pensado. Se ele quisesse
foder, teria que procurar outra pessoa, uma
idiota que aceitasse qualquer coisa que ele
quisesse dar. Se bem que eu era uma tola
também, pois amava havia tanto tempo
aquele homem que não suportava ficar
longe dele. Sua dor parecia doer em meu
peito. Eu devia tentar esquecê-lo, afinal, se
ele não ligava para a minha dor, por que eu
deveria ligar para a dele?
Também havia Ariane, a garotinha
linda que eu amava desde que a conhecera.
Como Bryan parecia não se dar bem com
crianças e eu estava ali de favor, não queria
incomodá-lo, então ficaria no meu canto.
Esperava que isso funcionasse. Rezava para
ter capacidade de vê-lo a todo o momento
sem tocá-lo, sem querer estar ao seu lado,
beijá-lo e amá-lo. Havia uma montanha
gigante nos separando, porque era isso o
que seus segredos eram, uma maldita
montanha intransponível.
Coloquei Ariane ainda dormindo na
cama de casal que havia no quarto, com
janelas que davam para o jardim da frente.
Não tinha muita coisa no cômodo, só a
cama, um guarda-roupas e uma TV.
Fui para o quarto de Bryan, já que
algumas de minhas coisas estavam lá,
algumas que eu não tinha levado quando
partira dali naquela manhã. Tinha de levá-
las para o quarto onde eu ficaria com
Ariane, assim não precisaria entrar ali a
todo momento e sentir o cheiro dele.
Resolvi tomar banho no quarto dele
para não acordar Ariane. Minha garota
passara por muita coisa naquele dia. Tão
pequena e já enfrentara tanto… Entrei no
chuveiro e peguei a esponja de banho,
querendo tirar tudo de mim, libertar-me do
que tinha acontecido, da dor, das perdas, de
tudo que me corroía viva, como se chamas
invisíveis me queimassem.
Mãos que eu conhecia bem pegaram as
minhas e tiraram delas a esponja que eu
esfregava em minha pele. Eu sabia que era
Bryan atrás de mim, sentia seu calor, tão
forte que parecia que iria me queimar, mas
de forma boa, pois aquilo significava que
seu corpo estava moldado ao meu.
— Não pode se machucar por minha
causa, Luz do Sol. — Ele me virou e
escondeu seu rosto em meu pescoço, na
cortina do meu cabelo, abraçando-me forte.
Bryan respirou meu cheiro como se fosse
algo que adorava. — Eu não valho isso, na
verdade, não valho nada… — sua voz
estava tão quebrada que eu me encolhi por
dentro. Deixei de lado minha dor, porque
sentia que a dele era maior, tão intensa que
me tirou o fôlego.
— Eu não ia me machucar, Bryan —
garanti apertando meus braços à sua volta,
sentindo seu calor irradiando pelo meu
corpo, coração e alma.
— Eu quero que saiba que não queria
dizer aquilo, só falei para afastá-la, para
você não saber nada sobre o meu passado…
É tão escuro que não consigo nem
recordar… Essas lembranças me
assombram e vão assombrar para sempre.
Meu peito doeu com sua dor. Eu faria
de tudo para ajudá-lo. Esperava que ele me
permitisse entrar em sua alma. Não
suportava quando me afastava só para eu
não ter conhecimento do seu sofrimento e
sua dor. Fosse o que fosse que acontecera
com as donas daqueles nomes, marcara-o
para sempre.
— Seja o que for que aconteceu com
você, eu vou estar sempre ao seu lado — fui
firme em minha promessa. Precisava que
ele soubesse que eu não o deixaria nunca,
não importava o quão grave fossem seus
segredos.
Bryan não se afastou de mim, apenas
me apertou mais em seus braços e gemeu
como se sentisse dor. Com certeza estava
preso em seu próprio pesadelo.
— Não vai, porque a escuridão está
aqui dentro, os demônios que me
atormentam estão aqui. — Senti seus lábios
em meu pescoço. — É por causa disso que
vou perdê-la no final… quando descobrir.
— Não vai, Bryan! — insisti com
ferocidade. — Eu juro! — Afastei-me dele e
fitei seus olhos lindos e atormentados. —
Confie em mim.
— Eu confio em você, mas o que há
em mim é grande demais, por isso não
quero que se aproxime de mim, é escuro
demais e vai poluir você e sua luz…
Eu o interrompi:
— Acha que não tenho escuridão? Eu
tenho, Bryan. Quando fecho os olhos,
sempre vejo os demônios que me
atormentam. — Respirei fundo.
Ele sacudiu a cabeça.
— Não são iguais aos meus. Você foi a
vítima. Quanto a mim, fui o algoz; elas
foram as vítimas. — Apontou para os
nomes femininos em seu peito.
Olhei para as letras que formavam os
nomes “Emília” e “Emma” em seu peito nu,
já que ele estava sem camisa. Depois de
ouvir que elas tinham sido vítimas, perdi o
fôlego ao imaginar o que ele tinha feito com
elas.
— Está vendo o pavor em seus olhos?
E nem sabe os motivos. Imagina quando
souber… Você não vai aceitar nunca…
Olhei suas íris em chamas.
— Deixa que isso eu decido, não você
— retruquei. — Só me diz uma coisa, você
estuprou alguma delas?
Ele arregalou os olhos e arfou como se
eu tivesse batido nele, então se afastou de
mim.
— O quê?! Não! Eu jamais faria isso
com alguém! Posso ser um monstro, mas
não a esse ponto! — declarou com
ferocidade, mas o tormento ainda estava lá.
Suspirei aliviada.
— Acredito em você. Não queria te
acusar, Bryan, apenas quero entender a sua
dor para eu poder ajudar você. — Toquei
seu rosto com barba por fazer. — Não pode
me afastar sempre que a situação ficar ruim.
E não pode me machucar no processo.
Ele me abraçou de novo.
— Não desista de mim! — suplicou.
— Você é a única luz capaz de apagar a
escuridão que há em meu interior!
Meu peito se aliviou por saber que ele
me queria, que só não estava sabendo lidar
com todos os sentimentos e segredos que o
dominavam.
— Eu não vou, também não vou
perguntar o que houve em sua vida que o
assombra até hoje, mas quero que saiba que,
se os nomes em seu peito forem de uma
mulher que você gostou e uma filha que
perdeu, entendo e aceito.
Quando ele me olhou, parecia ter uma
chama de vida em sua face. Era bom ele
saber que eu jamais iria deixá-lo, não
importavam os motivos que o haviam
levado a se fechar.
— O quê? Não! Eu nunca engravidei
ninguém, muito menos fui apaixonado,
antes, por nenhuma mulher — sua voz era
sincera. — É só que…
— Quando estiver pronto para falar, eu
vou estar aqui para você, tudo bem? —
Beijei seu rosto em ambos os lados. — Seja
o que for, eu não vou correr, Bryan, porque
amo você.
Ele me beijou e me possuiu debaixo do
chuveiro, mas uma coisa não me passou
despercebida: ele não devolveu minha
confissão.
Capítulo 11
Bryan
Passado
Havia acabado de sair da minha casa,
ou melhor, da casa dos meus fodidos pais.
Nem podia chamar de pais uma mãe louca
que odiava os filhos, até os chamava de
“sementes do mal”, e um pai bêbado que só
sabia jogar, beber e gastar o salário do seu
antigo trabalho, do qual, por sinal, tinha
sido demitido devido às faltas e à bebedeira.
Apenas quem valia alguma coisa
naquela família, sua única luz, era minha
irmã, Samantha, e minha avó, Julia. Sam
havia estado com vovó até pouco tempo
antes. Estava na faculdade, terminando
psicologia. Ela finalmente realizaria seu
sonho de ser psicóloga e ajudar crianças que
necessitavam de auxílio. Um gesto nobre da
parte dela. Eu a amava ainda mais por isso.
Eu só tinha vindo ao Kentucky
naquele dia porque precisava pegar algumas
coisas minhas que haviam ficado para trás
quando eu saíra de lá após terminar a
faculdade de ciências da computação e fora
recrutado pela CIA, mas descobrira que a
cadela da minha mãe as jogara fora. Eu
sabia que era cruel pensar nos pais dessa
forma, mas era verdade. Os dois não valiam
um dólar.
Uns 15 caras mais ou menos,
montados em Harleys, pararam em frente à
casa dos meus pais. Todos, pelo que vi,
estavam armados até os ossos, eram
tatuados, e alguns me olhavam com raiva,
como se quisessem me matar, embora eu
não soubesse quem eram eles. Pelo que
estava escrito em suas jaquetas, eram
motoqueiros da gangue Scorpion. Eu já
tinha ouvido falar deles, mas nunca os
conhecera pessoalmente.
Parei na varanda, a uns 10m deles, não
por medo, porque eu já tinha enfrentado
coisa igual ou pior. Lembrei-me de ser
parado pelo chefe da máfia russa e obrigado
a ir com seus capangas até Nikolai, um
garoto de 19 anos na época, mas com poder
imenso nas mãos, dono de milhões de euros
e chefe de milhares de mafiosos pelo
mundo. Suas palavras eram ouvidas nos
quatro cantos do mundo, e quem o
desobedecesse acabava sob sete palmos de
chão. Não era à toa que seu apelido era
Dark.
Os quatro que apearam de suas motos
estavam com armas apontadas para mim.
Eram fortes, com cara de assassinos; não
lhes custaria nada puxar o gatilho de suas
armas e acabar comigo. Na verdade, eu
apostava que estavam doidos para isso
acontecer.
Senti um certo temor, claro. Não
achava que admitir temer por minha vida
era uma fraqueza. Contudo, não era covarde
e não demonstrei qualquer receio na frente
deles.
— Venha conosco agora. O chefe quer
falar com você em outro lugar — ordenou
um cara moreno e barbudo com uma
cicatriz na testa. Pelo seu tom, eu não tinha
poder para recusar.
Olhei os caras que estavam sentados
em suas motos e identifiquei o chefe deles,
um homem moreno, forte, com olhos
mortais. Em sua jaqueta estava escrito
“Presidente” e “MC Scorpion”. Seus olhos
negros me avaliavam como se sondassem o
que eu diria.
— Quem são vocês para aparecerem
aqui e me obrigarem a ir falar com seu
chefe? — perguntei, mas sabia que não me
dariam uma resposta.
— Nós fazemos as perguntas aqui, não
você — rosnou um cara cabeludo, com
dentes amarelos e dedos no gatilho, loucos
para puxarem. — Vem com a gente, ou será
que vou ter que atirar em você?
— Não perderemos uma noite de sono
com isso — sibilou o cara da cicatriz.
Estreitei os olhos, varrendo os rostos
de cada um, por último, o chefe.
— Cara, se quiser atirar, vá em frente,
mas não vou falar com você sem saber o
motivo e para onde quer me levar —
desafiei-o.
O líder tirou seus óculos escuros e
gritou, já que estava um tanto longe de
mim.
— Você é um cara corajoso ou tolo!
— Posso ser os dois — respondi ainda
calmo. Na minha vida, já tinha aturado
tudo, já participara de lutas livres e até
ilegais, já tivera armas apontadas para mim,
então nem me mexi. As armas dos
motoqueiros me davam calafrios, lógico,
mas não demonstrei.
— Entre no seu carro e nos siga,
garoto. Só queremos conversar.
Fiz o que ele disse, não sabendo que,
naquele dia, seria o meu fim, que eu
perderia o resto de luz que ainda havia em
mim e a chance de ser alguém algum dia,
diferente dos imundos dos meus pais.

Na sede do MC Scorpion, Black, o


líder, falou-me da dívida enorme que meu
pai tinha com ele e que, se eu não a pagasse,
Sam e vovó seriam as únicas que pagariam
o preço. Ou seja, eu não tinha escolha, já
que preferia morrer a deixar alguém
machucá-las. Sabia que, quando ele falara
que as machucaria, não estava se referindo
apenas a um arranhão, e sim a coisas
terríveis, que deixariam a alma delas na
escuridão, num abismo negro e sem fundo,
assim como eu ficaria ao trabalhar para ele
para salvar as duas mulheres que amava.
Uma semana depois da minha visita a
Black, pedi uma licença na agência e passei
a ser forçado a trabalhar para ele em prol da
proteção de Sam e vovó, além de meus pais.
Nenhum dos dois merecia aquilo, já que
tinham sido eles que haviam nos colocado
em risco. Descobri que minha mãe dissera a
Black que eu pagaria a dívida deles, pois já
havia crescido e era capaz de sujar as mãos.
Pelo menos foi isso que ela me disse
quando a confrontei após saber o que tinha
feito.
— Você ficou maluca? Já não fez o
suficiente transformando a vida da
Samantha em um inferno, tanto que ela teve
que sair de casa? — sibilei entredentes, com
os punhos cerrados para não fazer besteira.
— Ela é uma puta que estava se
insinuando para o seu pai, o meu marido…
Cortei-a:
— Você ouve o que diz?! Qual a porra
do seu problema?! Ela é sua filha! — rugi,
louco para quebrá-la ao meio, só não o fiz
porque não batia em mulheres, não por ela
ser minha mãe. Até uma cadela de rua era
melhor do que ela.
— Você e ela não deveriam ter
nascido! Por culpa de vocês, seu pai não
liga para mim e não me ama mais! — ela
esbravejou com os punhos cerrados. —
Vocês são sementes do mal!
— Você é louca! Devia estar em um
hospício! Ou talvez seja só um monstro
mesmo! Porque nunca vi uma mãe querer a
maldade para os seus filhos por inveja! —
Sacudi a cabeça com raiva.
— Eu não sou louca, apenas amo mais
seu pai do que uns filhos ingratos como
vocês! — Ela deu um passo em minha
direção, mas parou e me fuzilou com o
olhar. — Como você pode ter acreditado
naquela cadela da Sam dizendo asneira
sobre seu pai? Acha que ele algum dia iria
querer ficar com ela, uma sonsa sem graça?
Não, por isso não acreditei em nada do que
ela disse!
— Filhos ingratos? O que fizemos de
tão ruim? Você, por ser nossa mãe, deveria
ter nos protegido, não mentido dizendo que
Sam não era filha dele só porque ele gostava
dela como pai! Você disse mentiras que o
destruíram e o transformaram no monstro
que ele é hoje! — esbravejei. — Você
preferiu a porra de um homem fodido e
bêbado que anda com putas em zonas aos
seus próprios filhos!
Eu não estava preparado ou pensava
que ela viesse a fazer o que fez. Voou em
cima de mim para me bater por eu ter falado
mal do seu marido desgraçado. Não permiti.
Peguei seus pulsos e a joguei no sofá
pequeno da casa.
Eu não a machucaria, afinal, não
encostava a mão em mulheres, mas não a
deixaria me bater por causa de um
desgraçado. Sorte minha Dylan não estar
ali, ou eu não sabia o que aconteceria,
porque com certeza o quebraria ao meio
caso ele dissesse algo.
— De hoje em diante, vocês dois, seus
malditos, estão mortos para mim. Avise
àquele crápula pinguço do seu marido que,
se eu o vir perto da minha irmã, vou matá-
lo, esquartejá-lo e transformá-lo em comida
de tubarões. — Era verdade; se ele se
aproximasse de Samantha, eu o mandaria
para o inferno, onde era o seu lugar, o lugar
para homens que tentavam abusar de suas
próprias filhas.
Ela arregalou os olhos castanho-claros
e grandes. Lisa era uma mulher formosa, ou
tinha sido um dia, mas estava envelhecida e
aparentava ter mais do que sua idade.
— Você não ousaria! — gritou ela se
pondo de pé e me fuzilando com ódio no
olhar.
Ela não deveria sentir aquele
sentimento por nós, pois éramos seus filhos
de sangue. Na verdade, nunca nos amara.
Ela nem sabia o que era esse sentimento.
— Não? Você não me conhece. —
Sorri de modo frio. — Espere para ver o que
faço se ele se aproximar nem que seja um
quilômetro dela. Isso será seu fim, e, se
você se meter no caminho, também será o
seu.
— Eu dou parte de você se algo
acontecer ao meu marido, seu moleque!
Levantei as sobrancelhas e sacudi a
cabeça, deixando passar, porque discutir
com alguém cego era perda de tempo.
Esperava que um dia ela acordasse e visse a
burrada que estava fazendo ao ficar do lado
de um homem ao invés do lado dos filhos.
Também torcia para, se isso acontecesse,
não fosse tarde demais, porque o que eu lhe
dissera era verdade. Se Dylan se
aproximasse de Sam, eu acabaria com ele, e
não de maneira fácil, mas lenta e dolorosa.
Saí daquela maldita casa e daquela
família para sempre, sem olhar para trás. A
minha única família agora era vovó e Sam.
Por elas eu morreria e mataria, como estava
fazendo ao trabalhar para Black.
Para eu poder pagar a dívida do filho
da puta do Dylan, teria de eliminar sete
homens para o líder do MC Scorpion. Não
importava se fossem bandidos, traficantes e
gente da pior espécie no mundo, eu não
achava certo matar pessoas. Mesmo assim,
estava tirando a vida delas.
Já tinha eliminado quatro dos sete, mas
o quinto homem era gente boa, um
trabalhador honesto, não um bandido que já
matara mais do que eu podia imaginar,
como os anteriores. Aquele cara tinha
família, mulher e criança pequena, apenas
estava envolvido com Black porque o primo
de sua esposa devia uma nota preta a ele dos
jogos e apostas em cassinos clandestinos
que ele possuía. Então, ao invés de cobrar
do devedor, Black queria cobrar de seus
parentes.
Eu não podia eliminar aquela família
apenas porque Pietro – nome verdadeiro de
Black – queria. Podia ter feito várias coisas
para ele das quais jamais teria alguma
redenção ou perdão de Deus ou da minha
família, coisas que nunca me imaginara
fazendo antes de Black me cobrar a dívida
de Dylan, coisas que talvez me impedissem
de voltar a trabalhar ao lado da lei, mas não
teria a morte de um inocente em minha alma
escura e cheia de trevas. Não podia fazer
aquilo, ou perderia o que restava da minha
alma, isso se restasse ainda algo dentro de
mim, porque Black levara tudo.
Entretanto, se eu não fizesse o que
Black queria, ele iria atrás da minha irmã e
da minha avó e as mataria, porque não era
homem de não cumprir sua palavra. O cara
era um demônio em pessoa na Terra.
Entrei no clube do MC Scorpion, que
ficava afastado da cidade, Louisville, perto
de uma mata, com certeza para fazer o que
quisessem sem serem notados ou presos por
isso. Além disso, o maldito tinha quase
todos os policiais em sua folha de
pagamento.
Eu sabia que estava selando minha
morte ao aparecer no clube para dizer que
não faria mais serviços para ele. Black não
ficaria feliz com isso, mas eu não me
importava mais com aquele fodido de merda
Já tinha ido a um motoclube antes, ao
de Shadow, o MC Fênix. Sabia o que eles
faziam com as prostitutas, mas no Fênix
elas estavam lá porque queriam, não
obrigadas, como eu via em alguns rostos ao
entrar no clube Scorpion. Seus rostos
pareciam mortos e sem esperança de um dia
saírem daquele inferno. Eu também
esperava sair em breve daquele maldito
purgatório.
Tinha pensado em denunciá-lo às
autoridades da cidade, mas não faria isso,
pois ele tinha comprado a maior parte da
polícia. Inclusive alguns policiais salafrários
estavam no antro quando entrei lá naquela
noite. Segurei a raiva para não os matar ali,
naquele momento, porque aqueles caras
deviam ser a lei, não trabalharem no mundo
do crime.
Black estava com duas mulheres, uma
em cada lado, e uma terceira ajoelhada à sua
frente como se fosse um cachorro, não uma
pessoa.
Soltei um ruído de raiva e nojo ao ver
a cena, ainda mais quando ele puxou os
cabelos da garota ajoelhada para forçá-la a
colocar a boca nele, mas me controlei.
— Coloca logo essa maldita boca em
mim, sua puta! Vamos ver o quão bem você
sabe chupar um pau — rosnou e parou de
falar quando olhou para mim.
Esforçava-me para não me meter
naquilo, vendo-o forçar a menina, que
parecia estar ali obrigada.
Encarei o monstro diante de mim,
embora eu fosse um monstro também, mas
jamais faria o que ele fazia, não só ele, mas
também seus malditos seguidores de merda.
Eu jamais tocaria em uma garota sem sua
vontade, mesmo se aquela menina ali fosse
maior de idade, mas eu tinha certeza de que
não era. Meu Deus!
Não sabia o que fazer sobre aquilo,
mas não tinha a mais remota chance no
inferno de eu sair e deixar aquela criança à
mercê daquele bando de demônios.
Se Shadow estivesse ali, a salvaria,
porque caras como Black manchavam os
nomes dos MCs. O pessoal do MC Fênix
não era em nada parecido com aquele.
Parei em frente a ele, com alguns dos
seus homens me ladeando como leões
prontos para darem o bote. Contudo, eu não
cairia sozinho; caso fosse atacado, levaria
alguns comigo, mas primeiro tiraria a garota
dali.
— Seu serviço não foi confirmado —
comentou ele, empurrando a garota.
— Isso porque eu não fiz — respondi
enquanto segurava a garota para ela não se
machucar, o que foi um erro de minha parte
naquele momento.
— Você a quer? — ele apontou para a
garota ao meu lado. Ela estava nua e
encolhida, tentando se cobrir do olhar
faminto daqueles MCs desgraçados.
Soltei a menina, que não saiu do meu
lado, e olhei para Black.
— Você sabe que não sou estuprador
como vocês — sibilei. — E você disse que
os caras eram gente ruim, da pior espécie, e
não trabalhadores, que se esforçam dia e
noite para ganhar o próprio sustento. Pelo
amor de Deus! Eles são inocentes e não têm
nada a ver com vocês aqui.
— Eles não são inocentes, Scott, e o
primo da mulher dele me deve uma nota
preta. Se você não me pagar, sua família
paga o preço! Devia pensar nisso antes de
fazer besteira, porque você tem uma irmã
linda de quem poderíamos usufruir muito
aqui, não é, rapazes? — Ele olhou para seus
fodidos e asquerosos homens, que sorriram
como os demônios que eram.
Controlei-me; não cairia em sua
provocação. Sam estava escondida dos
radares de todos. Ela estava na faculdade,
mas eu trocara seus dados. Mesmo um
hacker mais brilhante que eu não
conseguiria descobrir seu paradeiro, muito
menos aqueles monstros.
— Vocês nunca vão tocá-la! E, se você
quiser acabar com alguém, então vá atrás
desse cara que deve a você, e não da sua
família inocente, que nem sabe o que está
acontecendo — grunhi com os punhos
cerrados. Eu avisara aos integrantes daquela
família que sumissem por um tempo, senão
seriam mortos.
Senti uma pancada em minhas pernas
que me fez curvar para frente. Controlei a
raiva e a dor e não gemi. Não daria aquele
gosto a eles.
— Respeite o chefe, seu merda! —
esbravejou o cara da cicatriz, cujo nome eu
sequer queria saber.
Black riu amargo.
— Alguns meses atrás, quando o
peguei para fazer essas tarefas, eu não sabia
que ia ser um bunda mole — disse de modo
frio. — Achava você petulante e cheio de
marra, mas agora? Vejo que me enganei,
pois não passa de um coitado todo
sentimental.
Respirei fundo, mas me controlei.
— Pode me chamar do que quiser, mas
não vou tirar a vida de pessoas inocentes,
ainda mais crianças e mulheres. — Encarei
seus olhos mortais. Naquele instante, não
tive medo daquilo, nem das armas
apontadas para mim. — Sem chance no
inferno!
Ele levantou as sobrancelhas.
— Não? Vamos ver isso.
Preparei-me para fosse lá o que ele iria
fazer comigo. Eu não o temia, viera armado
para caso nossa conversa saísse do controle.
Entretanto, o que ele disse a seguir fez
gelar até a minha alma. Meu coração se
encheu de pavor, como nunca havia sentido,
nem quando estivera perto da morte
algumas vezes, como quando Nikolai me
levara consigo, ou em uma de minhas
poucas missões para a agência antes de meu
pedido de licença, pois a maior parte de
meu trabalho era relacionado a invasão de
sistemas de computador.
— Peguem essa garota — falou
olhando para a menina ao meu lado.
Ela estava muito perto de mim, como
se eu fosse seu bote salva-vidas. Não sabia
por que ela não havia ido embora. Seus
olhos pousaram em mim como se
suplicassem que eu a protegesse de qualquer
coisa. Maldição! No final, morreríamos nós
dois.
Ela gritou assim que o cara da cicatriz
a pegou pelos braços e a jogou no chão,
pondo-se sobre ela como se fosse possuí-la
ali mesmo, e eu não duvidava nada disso, já
que era um demônio estuprador fodido.
— Revezem essa puta. Vamos ver o
quanto uma virgem aguenta. Quem quer ser
o voluntário? Eu queria me candidatar a
romper esse hímen, mas negócios primeiro,
depois o prazer. Se ela resistir a vinte
homens, eu ficarei por último. — Ele me
encarou, desafiando-me a interferir em seus
planos doentios.
Trinquei os dentes, ainda de joelhos,
tentando controlar meu ódio por aqueles
estupradores desgraçados. Naquele
momento, meus sentimentos em relação à
morte de pessoas cruéis assim mudaram. Se
fosse por mim, mataria cada um deles sem
perder uma noite de sono por isso. Aliás,
provavelmente seria capaz de dormir
cantando só por acabar com a vida daqueles
vermes imundos. O primeiro seria Dylan,
meu próprio pai, por ter tentado mexer com
a própria filha. Uma pessoa assim era
humana? Não tinha como ser. Eu só não o
matara porque fizera uma promessa a Sam.
Porém, vendo o que ocorria à minha frente,
não podia simplesmente ir embora como se
nada tivesse acontecido, como se eu não
tivesse visto uma barbaridade assim. Eu não
era esse tipo de homem. A garota era quase
uma criança, e o pior, virgem, no meio
daquele bando de abutres.
Maldição! O que eu faço? Se eu me
meter, nós dois vamos acabar mortos, mas
se não fizer nada, esses caras vão matar
essa menina. Não posso deixar isso
acontecer.
Mesmo se eu não saísse dali com vida,
resolvi ajudá-la. Não me importava comigo,
mas com ela, com Sam e vovó, que ficariam
desprotegidas caso eles soubessem onde
elas estavam. Eu protegera Sam a tornando
impossível de ser rastreada, mas aqueles
bandidos certamente sabiam que minha avó
Julia tinha uma fazenda em Nova Jersey. O
primeiro lugar onde eles iriam buscar
informações ou fazer coisa pior seria lá. Eu
não podia deixar isso acontecer. Precisava
ficar vivo para protegê-las.
O cara desdenhoso da cicatriz estava
prestes a tirar seu pau de merda de dentro
das calças para estuprar a garota, mas eu
não deixaria isso acontecer. Oh, porra, não
mesmo. Não sou desumano a esse ponto,
não sou capaz de ver uma crueldade dessa
e não fazer nada.
Levantei-me com os meus punhos
cerrados e nocauteei dois que a rondavam e
o desgraçado que estava em cima dela. Um
deles estava a ponto de chutá-la, mas o
joguei longe e dei uma voadora em um,
derrubando o da cicatriz em cima de uma
mesa, que se espatifou. Desejava que cacos
de vidro tivessem se enfiado na bunda
daquele fodido.
Depois tudo pareceu acontecer ao
mesmo tempo. Os caras me cercaram
enquanto eu levantava a menina, que estava
chorando e ficou colada em mim, olhando
os caras à nossa volta.
Vários policiais de merda estavam lá,
calados todo o tempo, sem fazer nada ou
tentarem proteger a menina. Os desgraçados
pareciam animados com o que fariam com
ela. Eu só não os derrubei porque estava
longe deles e cercado de vários MCs. Além
disso, proteger a garota era o mais
importante naquele momento.
Coloquei-a atrás de mim e olhei para
todos à minha frente, cujas armas estavam
apontadas em nossa direção. Estavam
doidos para puxar o gatilho e olharam para
Black em busca de confirmação.
A menina se grudava ainda mais às
minhas costas e gemia baixinho.
Sorri para eles. Todos me olharam
como se eu fosse louco. Não sabiam de meu
“plano B”. O cara da cicatriz estava se
levantando meio tonto e cheio de sangue e
pegou um taco de bilhar da mesa que tinha
ali. Depois fitei Black, que parecia furioso.
Contudo, não dei a mínima; deixaria para
me preocupar com isso depois. Queria
apenas sair com vida dali e levar aquela
garota para os seus pais.
— Nos deixe sair daqui sem lutar,
Black. Vai ser melhor assim. — Queria sair
dali sem mortes, tanto da minha parte como
da dele, mas, se ele escolhesse errado, eu
teria que fazer o que tinha planejado, e isso
não seria nada bom.
Ele riu. Aliás, todos ali riram,
zombando de meu pedido.
— Acha que vou deixá-lo livre depois
que você não cumpriu o que deveria e ainda
por cima bateu em meus homens por essa
puta desgraçada? — rosnou Black,
estendendo a mão para o maldito da cicatriz,
pedindo o taco.
Eu podia imaginar o que ele estava
pensando. Não queria me matar com uma
bala, afinal, assim eu não sofreria. Ele
queria me espancar e fazer coisa pior,
ensinar-me uma lição por eu não lhe ter
obedecido. Eu sabia disso porque já o vira
fazendo algo assim com um cara que não
fizera o que ele tinha mandado.
A ira me dominou ainda mais do que
antes quando ele chamou a garota assim,
pois fora ele que a trouxera para aquele
lugar.
— Feche os olhos e segure em mim —
pedi à menina, mas nem precisava, porque
ela já se agarrava a mim igual macaco a
uma árvore.
— Oh, Senhor, eu nem tive a chance
de conhecer meu filho ainda — sussurrou.
Isso me pegou de surpresa, porque
Black dissera que ela era virgem.
— Você não é virgem? — perguntei,
não que isso tivesse feito alguma diferença
na hora de escolher protegê-la. Eu a teria
ajudado não importava o tipo de mulher que
ela fosse.
— Não. Estou grávida de dois meses
— murmurou para os caras não a ouvirem.
— Uma menina aqui disse que, se eu
dissesse que era virgem, demoraria mais
tempo para eles me tocarem…
Praguejei baixinho. Como isso só
acontece comigo?, pensei.
Foquei em dois caras ao lado de Black,
peguei minhas adagas atrás de mim e as
lancei no peito deles ao mesmo tempo. Eles
caíram no chão, provavelmente mortos.
Então apertei o detonador que estava em
meu bolso. E tudo explodiu lá fora, afinal,
eu não queria matar as mulheres que
estavam ali dentro, que eram, em sua maior
parte, inocentes. A distração ajudaria em
nossa fuga, ainda mais pelo fato de as motos
dos MCs estarem destruídas naquele
instante, pois parte dos explosivos estava
nelas.
A explosão foi tão grande que as
paredes e o chão tremeram. Black latiu
ordens para ver o que estava acontecendo.
Eu apostava que ele estava pensando que
era a invasão de alguma gangue qualquer
das redondezas, afinal, o cara era cheio de
inimigos.
Os asseclas de Black que estavam no
salão correram para fora. Peguei a mão da
garota, e corremos para os fundos.
Atravessamos alguns corredores e cômodos,
e tive que derrubar alguns caras no
processo.
Quando eu montara as bombas do lado
de fora do clube, pensava que fugiria
sozinho dali, não com uma garota, ainda por
cima grávida. Meu Deus! Em que mundo
estamos? Ela é quase uma criança! Esses
jovens não conhecem a maldita camisinha?
Não podia me acontecer mais nada,
porque eu tinha acabado de cutucar o
demônio, e, quando ele viesse atrás de mim,
não estaria sozinho, mas com centenas de
seguidores. Porque, quando Black tinha
uma coisa, ele ia até o fim do mundo para
buscar, e a garota, em sua mente de merda,
pertencia a ele.
Senti algo molhado em minha roupa
preta enquanto corríamos pela mata nos
fundos do clube. Deixara meu carro não
muito longe dali. Ignorei a ferida e corri
com a menina pelas árvores e moitas.
Capítulo 12
Bryan
Presente
Depois que saí de casa após ter dito
palavras cruéis a Alexia, passei a noite no
loft que eu tinha no Centro da cidade. No
dia seguinte fui visitar Samantha no intuito
de me acalmar e aliviar a dor que estava
apertando meu peito, sufocando-me de
dentro para fora, desde que as portas das
lembranças tinham sido abertas.
Havia algum tempo, Sam tinha a
capacidade de tirar um pouco da escuridão
que havia em mim. Atualmente havia
Alexia, a mulher de boca quente que me
enlouquecia, fascinava-me. Toda a
escuridão, quando eu estava perto dela,
desaparecia, como se ela fosse o sol, o meu
sol, a minha luz.
Entretanto, após ela querer saber o que
tinha havido comigo e a menção dos nomes
que estavam tatuados em meu peito,
praticamente surtei.
Antes de voltar para casa, acabei na
cobertura de Sam e Lucky, seu marido.
Quando Sam começara a namorar
Lucky, eu não queria, afinal, ele quase
praticamente obrigara minha irmã a ficar
com ele, tanto que ela se demitira da
empresa dele, onde trabalhava, a Vênus.
Contudo, ele a salvara de ser morta pelo pai
de Shaw, o garotinho que ela adotara com
Lucky. Isso me fizera dar o braço a torcer e
aceitar o relacionamento deles.
Ao olhar para a morena de olhos azuis
como os meus e ver sua felicidade, eu me
enchia de júbilo. Eu a via pouco, porque
gravidez era algo em que eu não queria
pensar. Gravidez e crianças me traziam
vários pesadelos. Sam estava grávida, teria
sua filha em março. Eu sorria e brincava
com isso, chamando a bebê de “sobrinho”,
mas meu peito se apertava com a dor que
quase me sufocava, impedindo o ar de ir
para os meus pulmões.
Ela não sabia o que acontecera
comigo, nem o que eu tinha feito pela
segurança dela, de minha avó e de… parei
nesse pensamento, porque era um terreno
perigoso, que me enchia de fúria e dor ao
mesmo tempo, raiva por eu não ter
conseguido fazer nada para salvá-las…
— Oi, sumido — falou Sam me
abraçando assim que entrei em sua casa,
forrada de imensas janelas e móveis
elegantes.
Lucky estava sentado no sofá, assim
como todos. Eu não sabia que era uma
reunião familiar. Se soubesse, nem teria
vindo. Rayla estava perto de Alex, irmão de
Alexia. Angelina também estava ali com
Ryan, seu namorado, bem como Jordan.
Todos estavam no sofá em forma de L,
conversando entre si. Eu queria dar meia
volta e ir embora, mas Sam agarrava meu
braço apertado, o que me impedia de fazer
tal coisa.
Fazia dias que eu não ia à Vênus, que
gerenciava com ela, embora eu fizesse bem
meu serviço de longe, tanto que a empresa
estava lucrando. Samantha não ligava para
dinheiro, nunca ligara, mas eu ficava feliz
por ela ter conseguido tudo que um dia
sonhara e não pudera alcançar devido aos
nossos pais.
Algum tempo antes, Ryan me dera
umas fotos de um cara chamado Franklin
Salazar com menores de idade. Estávamos
trabalhando para prendê-lo. Aquele fodido
usava a editora Luxem, que era de Ryan e
de Daniel, para contrabandear menores. Ele
usava os livros para isso; fazia pedidos
grandes de mercadoria, mas levava meninas
no lugar. Só em pensar nisso me fazia
querer matá-lo antes de prendê-lo. Era uma
pena que, desde 2007, em Nova Iorque não
tinha mais corredor da morte, porque era
isso que ele merecia.
Ryan comprara a editora havia algum
tempo para Angelina trabalhar, um gesto
nobre de sua parte. Nobreza, pelo visto, era
algo de família, porque Lucky dera a Vênus,
que valia bilhões, a Sam. Outro Donovan
não podia ser diferente.
Jason também estava ali, meio distante
das pessoas e cabisbaixo. Eu queria dizer a
ele que estava trabalhando disfarçado com
Tabitta Rodrigues no caso de Franklin
Salazar e seu chefe, Sebastian Ruiz. Eu
apostava que Jason e Tabitta haviam tido
um lance e se amavam, ainda mais depois
que de ter visto a foto de Jason no
computador dela. Entretanto, não podia
revelar aquilo a ninguém, já que era meu
disfarce. Eu e Tabitta havíamos jurado ficar
em silêncio sobre aquilo. Era um dos
problemas que eu tinha. Quase ri ao pensar
no termo “problema”, porque eu estava
lotado deles. Meus demônios me
consumiam, a mulher que eu amava estava
sendo perseguida por um lunático que
deveria estar morto, e eu tinha de esconder
dela onde de fato eu trabalhava. Ela pensava
que eu era um simples policial, quando eu
era um agente da CIA. Não eram muitas as
pessoas que sabiam disso.
Antes da época em que eu havia tido
que pagar a dívida de meu pai a Black, eu
era um aluno com inteligência acima do
normal e me formei cedo em computação.
Era um hacker excepcional, por isso, ainda
quando era estudante, fui sondado e
recrutado pela CIA e me tornei um agente.
Na época em que eu havia tido de lidar com
Black e proteger Emília e minha família,
tirara uma licença. Então, quase ao fim dela,
a agência me recrutara para uma missão na
qual eu trabalharia disfarçado contra uma
rede de pedofilia que tinha ramos em cerca
de oito países.
Dennis e eu havíamos ido à sede do
FBI recrutar Tabitta para a tarefa de pegar o
chefe mafioso mexicano Sebastian Ruiz,
que era um grande chefe do crime
organizado junto a Franklin Salazar.
Sebastian era pai de Tabitta, que o odiava,
pois ele matara sua avó. Ela era a única que
podia nos ajudar a ter sucesso na
empreitada, porque policiais de vários
departamentos de vários estados e o FBI
tentaram prendê-lo, mas não conseguiram.
Quando chegavam perto dele, outra pessoa
assumia a culpa e ia para a cadeia no lugar
daqueles salafrários desgraçados.
Tabitta era uma agente dedicada,
amava seu trabalho, assim como eu. Por
isso eu aceitara trabalhar para a CIA tão
jovem, para fazer a diferença. Sabia que
havia muitos policiais corruptos, como eu
mesmo já vira. Ela trabalhava duro para
colocar o pai na cadeia, assim como o meu
estava.
Nós dois ultimamente estávamos
trabalhando em um clube de BDSM
chamado Fetish, em Manhattan, como um
casal, mas não fazíamos nada, pois era
apenas um disfarce. Além disso, apenas
uma mulher me importava dessa forma,
como apenas um homem importava para
ela.
— Bryan? — chamou Sam, trazendo-
me para o momento, ali em sua casa.
— Apenas trabalhando muito —
respondi, beijando sua testa.
Tudo naquela sala gritava elegância e
grã-finesse. Eu também tinha bastante
dinheiro, ganhara muito trabalhando para
Black, embora não pudesse dizer que aquilo
tinha sido um trabalho de verdade. Eu não
tinha mexido naquela grana até Sam
começar a correr perigo. Por isso construíra
minha casa e a equipara com todo tipo de
segurança, para o caso de ela precisar de
novo. Graças a Deus não precisara. Pelo
menos aquela casa, erguida com dinheiro
sujo, estava servindo para manter a Luz do
Sol segura. Eu esperava em breve pegar
aquele estuprador que estava atrás dela.
Tinha dó de sua pele quando eu colocasse
minhas mãos nele e fizesse tudo que
desejava.
— Você trabalha demais, meu irmão,
fazendo dois serviços, para a Vênus e na
polícia — disse ela, aproximando-se do
marido.
Não disse nada. Queria lhe dizer o que
eu realmente era, que não era um simples
policial, mas um agente da CIA, que
trabalhava infiltrado em muitos casos, mas
não podia, nem para Alexia, embora eu
visse a curiosidade em seus olhos. Eu me
sentia mal por isso, por esconder a verdade
das duas, principalmente de Alexia, mas não
podia dizer nada.
Lucky ajudou Sam a se sentar. Olhava
para ela com adoração, como se ela fosse
uma rainha.
— Que bom, Bryan, que você chegou.
Eu estava pensando em você — disse
Angelina sorrindo animada com alguma
coisa. Só podia ser a maldita aposta, na qual
não queria pensar, afinal, eu estava com
Alexia porque queria, não por causa de um
desafio. Um mês antes, no Belas Country,
havíamos feito uma aposta sobre quem seria
domado primeiro. Ela iria conseguir
mulheres para Jason, Jordan, Daniel e mim.
Começara com Jason e Tabitta, que ainda
estavam se acertando, mas eu acreditava
que logo chegariam lá. Apostava que eu e
Alexia seríamos o próximo casal a se
formar e que era disso que Angelina estava
falando.
Levantei as sobrancelhas e sorri,
embora forçado, tanto que eu apostava que
o sorriso saía meio desfigurado. Enquanto
isso, Ryan grunhia olhando para sua
namorada.
— Anjo, que porra é essa? — seu tom
saiu mortal na imensa sala.
Ela riu e sussurrou algo em seu ouvido
que o deixou calmo, porque sua expressão
sombria foi embora. Só Ryan para pensar
que uma mulher daquelas iria olhar para
mim ou para alguma outra pessoa. Angelina
o adorava, eu podia ver em seu olhar o seu
amor por Ryan, porque era o mesmo olhar
que eu notava nos olhos de Alexia quando
direcionados a mim.
O amor é um troço perigoso e
complicado, mas é bom, porque traz paz e
alegria… pensei. Bem, isso quando estamos
perto de quem amamos, mas, como sou um
idiota, fico magoando Alexia para fazê-la se
afastar de mim no intuito de protegê-la. Isso
acaba me quebrando, porque, se causo dor
a ela, mesmo que seja para o seu bem, fico
arrasado.
Sentei-me perto de Jordan e olhei para
Angelina.
— Sério? O que estava pensando? —
provoquei, falando algo que jamais
aconteceria, mas não consegui parar, apenas
saiu: — Está querendo uma dose de um cara
quente?
— Ryan, não! — Angelina tentou
detê-lo antes que um soco fosse desferido
na minha boca.
Eu não sabia no que eu estava
pensando para arrumar confusão. Estaria tão
fodido que caçaria briga com qualquer um,
até um amigo? Lembrei-me de uma época
sombria da minha vida, em minha
adolescência, em que brigava muito, por
isso eu tinha várias cicatrizes. Participava
de lutas livres e ilegais no intuito de aliviar
minha dor interna, mas ela nunca ia embora,
assim como jamais iria.
Senti o sangue escorrendo pelo soco
bem dado e merecido por eu não respeitar
uma mulher comprometida, embora eu não
tivesse pensado muito no que ia falar. Eu
podia ver Ryan falando alguma coisa para
mim, ouvia uma cacofonia de outras vozes,
mas elas pareciam tão distantes… ou talvez
fosse eu que estivesse longe.
Fechei os olhos, esperando mais de
seus socos. Precisava sentir mais dor. Eu
não fizera Alexia sofrer? Então precisava de
sofrimento também. Aquilo era pouco
comparado ao que eu tinha feito a ela.
A surra que eu tanto esperava não
veio, então abri as pálpebras e fitei os olhos
cor de uísque, que me perscrutavam,
estreitos.
— Você quer isso, não é? Por isso
disse aquilo, para eu bater em você — não
era uma pergunta, mas uma declaração. —
Maldição!
Ele devia ter visto em meus olhos a
dor que estava ali, consumindo-me como
uma erva daninha, embora ninguém
soubesse os motivos.
— Bryan… — a dor na voz de Sam
era evidente. Outra mulher que sofria por
mim.
Respirei fundo, tentando me controlar,
porque Samantha estava chorando. Eu
preferia sofrer sozinho, não suportava ver
aquelas mulheres que eu amava sofrendo.
Eu era a porra de um fodido que deveria
consertar suas merdas, não ficar por aí
caçando confusão.
Angelina se aproximou de Ryan e o
tirou de perto de mim. Ele se afastou sem
reclamar ou dizer alguma coisa. Era como
se entendesse o que eu sentia, por isso não
me atacou mais.
Todos estavam calados. O silêncio era
cortante.
Levantei-me sem dizer nada e saí, ou
melhor, tentei, pois Sam pegou meu braço.
— Bryan, o que está havendo com
você? — sussurrou com voz dolorida. —
Você tem andado sumido e agora aparece
aqui assim, estranho e caçando briga. O que
houve?
— Eu sinto muito por tudo, mas
preciso sair. — Tentei sair de novo, mas ela
novamente me impediu.
— Não, você não precisa. O que
precisa é dizer o que está havendo com
você. Olha para você, parece tão
atormentado… — Ela me olhava quase
suplicante. — Por favor, Bryan, você
precisa me dizer…
Cortei-a, peremptório:
— Não preciso nada, droga! — Joguei
as mãos para cima num gesto exasperado.
— Será que todos querem saber o que está
havendo comigo?! Maldição, eu só quero
que não façam tantas perguntas!
— Fale baixo com ela, cara, ou eu juro
que vou acabar com você, não me importa
se é seu irmão — rosnou Lucky com os
punhos cerrados.
Gostei de ele tomar as dores de Sam e
a proteger de mim, um maldito bastardo
imundo. Eu queria bater em mim mesmo
por ter gritado com ela, algo que nunca
acontecera, bem como por ter sido tão
grosso com Alexia, que devia estar sozinha
e sofrendo em minha casa, não atendendo a
nenhum telefonema, enquanto eu estava ali,
arranjando confusão.
Porra! O que há de errado comigo?
Por que estou aqui ainda? Preciso ir para
casa e dizer a Alexia que só ela me importa,
que nunca foi foda entre nós, e sim amor.
Todo sexo com ela é feito com amor.
Ignorei todos ali e mirei os olhos
molhados da minha irmã.
— Eu sinto muito, Sam, por ter gritado
com você. Minha cabeça não está muito boa
hoje, embora isso não seja desculpa para o
que fiz. — Cocei a testa, tentando aliviar a
minha dor de cabeça. Tudo em mim doía
como uma cadela.
— Está tudo bem, meu irmão, mas,
seja o que for, quando estiver pronto, estarei
aqui para você. — Ela me abraçou forte. —
Eu amo você, nunca se esqueça disso.
Respirei fundo, fechando os olhos por
um momento. Ela me amava, assim como
Alexia. Uma era minha irmã querida,
enquanto a outra era a minha razão de viver.
— Eu também te amo, Sam, e lamento
ter perdido a cabeça com você e ter
provocado vocês dois. — Afastei-me dela e
olhei para Angelina, que parecia triste, e
para Ryan ao seu lado, cuja expressão
estava séria.
— Tudo bem, às vezes todos nós
explodimos de vez em quando — falou
Angelina sorrindo de leve. — Está
perdoado. Além disso, eu sabia que você
estava brincando, afinal, não sou uma loura
linda com pernas longas que conheço. —
Piscou para mim como se estivesse cheia de
segredos.
Se eu não estivesse todo fodido, teria
revirado os olhos, porque sabia que ela
estava falando de Alexia, a minha Luz do
Sol.
— Alexia querida, respire e fale
devagar, OK? — Alex falou.
Arregalei os olhos ante esse nome e
olhei para ele, que estava ao telefone com
sua irmã. Voei em sua mão, tomei-lhe o
celular e o comprimi em minha orelha.
Talvez tivesse acontecido algo com ela,
além de eu ter sido um idiota.
— Alexia! — chamei, depois ouvi seu
suspiro, e a linha ficou muda. Liguei de
novo, ignorando o olhar furioso de Alex.
Maldição, ela não atende!
— Que droga está fazendo?! —
esbravejou ele, pondo-se de pé na minha
frente.
— O que ela disse a você? —
perguntei-lhe, ignorando sua pergunta,
porque estava parecendo um louco varrido,
mas não me importei, apenas precisava
saber se tinha acontecido algo com minha
garota.
— Eu não vou dizer nada, porra! —
rosnou, cerrando os punhos. — Você está
desequilibrado, precisa ser internado em um
hospital psiquiátrico!
Dei um passo até ele, louco para
quebrar sua cara, mas pensei em Alexia. Ela
não iria gostar disso, com certeza brigaria
comigo para proteger seu irmão. Quando
uma pessoa me colocaria em primeiro lugar
em sua vida? No entanto, como Alexia me
colocaria, se eu não deixava, se a afastava?
Sam tinha Lucky; vovó, sua fazenda e os
animais. A única pessoa que eu tinha era
Alexia, mas, como um idiota, eu a estava
afastando da minha vida. Uma vida que,
sem ela, era só trevas.
Eu esperava que ela estivesse bem,
porque, se algo lhe acontecesse, não sabia o
que eu faria. Talvez derrubasse aquela
cidade inteira e matasse quem entrasse em
meu caminho. Ela está bem. Se tivesse
acontecido algo, Calebe teria me ligado
para avisar, pensei, desejando intensamente
que aquilo fosse verdade.
Alexia com certeza ligara para o irmão
para pedir ajuda. Talvez quisesse sair da
minha casa. Se fosse isso, eu não poderia
deixar que acontecesse. Minha propriedade
era o único lugar em que ela ficaria segura,
longe das garras de Steve Lutner. Havia
várias pessoas atrás daquele cara, mas
ninguém o localizara ainda. Eu jogara
arquivos e fotos nas mãos de Johnny, o
melhor amigo de Angelina. O cara era bom
em computadores, e, como eu não podia
ficar o tempo todo trabalhando naquilo,
pedira ajuda a ele, bem como a Joshua, que
também era fera nisso. Acreditava que em
breve eles me dariam boas notícias, então eu
poderia respirar melhor, sabendo que Lutner
estaria a um passo de ser capturado.
— Bryan, o que está acontecendo
aqui? O que você quer com Alexia?
Aconteceu algo com ela? — a voz de Sam
soou alarmada.
Não respondi, apenas liguei para
Calebe para aquietar meu coração, ou
ficaria mais louco do que já estava.
— Ora, se não é…
Cortei-o, porque não estava com bom
humor para aceitar ou ouvir suas gracinhas.
— Alexia está aí? Porque ela acabou
de ligar para Alex, seu irmão. — Peguei
meu celular e avistei as câmeras do quarto,
sala, cozinha, e nada de vê-la.
— Claro que ela está. Estou no portão
da frente, e, por aqui, ela não saiu —
assegurou ele.
Suspirei frustrado.
— Dê uma olhada na sala dos
computadores e nos banheiros, porque são
os únicos lugares que não têm câmeras. Ela
não está nos outros cômodos, estou olhando
para eles — falei enquanto me encaminhava
para a porta, mas Alex pegou meu braço.
Até pensei que era por causa de seu
telefone, ao qual eu ainda estava falando
com Calebe. Todavia, ao ver sua expressão
sombria, percebi que era por Alexia.
Enquanto eu estava falando com Calebe,
acabara me esquecendo que estava cercado
de pessoas, que me olhavam de olhos
arregalados.
— O que você quer com minha irmã?
E o que significa “ela não está nos outros
cômodos”? Está mantendo minha irmã
presa? — Chegou mais perto de mim,
olhando-me com ferocidade. Parecia capaz
de me matar.
Fuzilei-o com os olhos.
— Vai responder o que ela falou a
você? — devolvi a pergunta.
Ele suspirou.
— Ela está na escola e me disse que
teve um problema, por isso estava
chorando. Isso é verdade, ou vocês têm
algum lance e você a fez chorar?
— Que tipo de problemas? Ela disse a
você? — sondou Rayla, sua namorada, em
tom preocupado.
— Ela não me disse, já que alguém fez
o favor de pegar meu telefone… — rosnou
Alex tomando o aparelho da minha mão e
mandando uma mensagem, certamente para
a irmã. Depois me olhou com os olhos
estreitos. — É por sua causa que ela estava
chorando? Porque, se você a fez chorar, eu
vou acabar com você.
Não respondi, porque uma sensação
gelada desceu pelo meu corpo, fazendo-me
encolher. Alexia não estava mais segura,
ainda mais estando em um lugar sem
vigilância alguma.
Liguei para Calebe de volta, de meu
próprio celular.
— Ela não está aqui, deve ter saído
pelos fundos — respondeu ele assim que
atendeu.
— Encontre-a — rosnei, embora ele
não tivesse culpa. Alexia era uma mulher
engenhosa; quando queria algo, não
descansava até conseguir. Ela com certeza
não queria que ninguém soubesse que tinha
saído. Ela não sabia dos riscos?
— Farei isso, mas, se ela saiu, com
certeza Daemon está atrás dela. Sabe que
ele não a deixa fora da sua vista um
segundo — ele disse com um suspiro.
Tentei não pensar naquilo, porque
sabia que Daemon tinha uma queda por
Alexia, mas, quando sua segurança estava
em jogo, a proteção que ele poderia lhe dar
era mais importante do que meu ciúme.
Liguei para Daemon.
— Por favor, me diz que você está
com ela à vista agora — falei assim que ele
atendeu.
— Sim, eu estava vigiando os fundos
da casa, já que Calebe estava na frente,
quando ela pegou o carro dela, que Nasx
trouxe, e saiu. Já faz algumas horas que ela
entrou na escola, mas uma ambulância
chegou faz pouco tempo.
Ofeguei de pavor, mas ele continuou:
— A ambulância não é para ela, mas
para alguém que passou mal lá dentro, acho
que uma senhora. Os paramédicos a
levaram para o hospital mais próximo da
escola.
— Fique de olho nela, não a perca de
vista um segundo.
— Sim, irmão.
Alex tornou a segurar meu braço para
evitar que eu saísse.
— Me solta — sibilei entredentes.
— Porra, isso não vai acontecer! Você
não vai sair daqui sem dizer nada! Quero
saber por que você anda vigiando minha
irmã e por que ainda têm outros caras a
seguindo! Quero saber de tudo agora!
— Você quer a verdade? Pergunte a
ela, porque não vou dizer nada a você, nem
a ninguém! — grunhi, puxando meu braço.
— Se você não sair por bem do meu
caminho, eu juro que vai sair por mal.
Ficamos nos encarando mortalmente.
Eu sabia que ele merecia saber, mas aquela
história tinha que ser contada por Alexia.
Rayla foi até ele e pegou seu braço,
obrigando-o a sair do meu caminho.
— Alex, meu amor, deixe Bryan ir.
Depois você fala com Alexia e descobre o
que está acontecendo, por favor — suplicou
ela, com medo de nós dois brigarmos.
Ele não queria, mas ela insistiu, então,
sem olhar para mim, pegou seu celular para
ligar para a irmã.
Dei as costas a todos e fui embora
quase correndo para o hospital a fim de
buscar minha mulher.
Capítulo 13
Bryan
Acordei cedo e saí, deixando Alexia
dormir, já que o dia anterior tinha sido
longo para ela. A perda de sua cozinheira
pelas mãos de Lutner a abalara. Na verdade,
os últimos três dias haviam sido pesados
para minha garota, com a invasão a seu
apartamento, o que tinha acontecido no
hospital onde o garoto amigo dela fora
internado, também atingido por seu algoz, e
o assassinato de Aria, bem como a maneira
como eu a tinha tratado.
Eu, Shadow e os outros tínhamos que
montar uma estratégia para pegar Steve
Lutner logo, porque ele sempre estava em
sua cola quando ela saía, e eu não podia
deixá-la presa para sempre em minha casa.
Alexia precisava ter uma vida sem medo,
seguir em frente… comigo ao seu lado.
Queria que ela andasse contente, livre, não
com um alvo em sua testa.
Eu precisava falar com Alex também e
resolver as coisas que tinham ficado
pendentes na casa de Sam, depois falar com
Joshua e Johnny, que eram ótimos hackers.
Eles precisavam me dar uma maldita luz
para encontrar aquele psicopata desgraçado.
Daemon também era bom nisso, mas eu
precisava dele na proteção de Alexia.
Precisava organizar tudo, já que, nos
últimos meses, eu estava tendo de trabalhar
disfarçado e não podia estar 24 horas por
dia com ela. Eu não sabia qual era pior,
Sebastian Ruiz ou Steve Lutner. Os dois
deviam estar queimando no inferno, e eu
teria prazer em mandá-los para lá, pelo
menos Steve, depois que conseguíssemos
descobrir seu paradeiro.
Também precisava manter meu
disfarce para Alexia não descobrir onde eu
estava trabalhando, primeiro, porque ela não
entenderia, segundo, eu não queria caras
como Salazar e outros fodidos que
trabalhavam para ele colocando os olhos
nela. Já bastava Lutner, que era meu
pesadelo vivo, um do qual eu não estava
conseguindo me livrar.
Emprestei meu apartamento para Nasx
e Daemon enquanto eles estivessem na
cidade. Shadow os liberara por quanto
tempo eu precisasse. Eu agradecia ao meu
amigo, ou melhor, irmão, porque, mesmo
não tendo o mesmo sangue, nós éramos
irmãos, parceiros para tudo que viesse.
A porta vermelha se abriu assim que
bati, mas não foi Alex que a abriu, e sim
Rayla, com seus cabelos platinados presos
em um rabo de cavalo. Parecia que ela ia
sair, mas, pelo que eu sabia, ela gostava de
estar arrumada o tempo todo, não importava
onde e com quem estivesse.
— Oh, Bryan! — Parecia surpresa e
preocupada ao mesmo tempo, talvez pelo
que tinha acontecido na casa do Lucky. —
Aconteceu algo com Alexia?
Quase revirei os olhos ante isso. Como
se eu estaria ali caso tivesse acontecido algo
com minha Luz do Sol… Nós estávamos
bem, ela me prometera que não desistiria de
mim, que, não importava o que acontecesse,
estaria ao meu lado. Eu não podia ficar mais
feliz do que quando ouvira suas palavras,
embora temesse lhe contar tudo que já
fizera, as coisas feias e cruéis, como matar
pessoas.
— Não aconteceu nada com Alexia,
ela está bem — tranquilizei-a. Ela estava
parada à porta, ainda segurando a maçaneta,
impedindo-me de entrar. — Alex está?
Posso entrar para falar com ele?
Ela piscou, parecendo só então
perceber que eu estava à porta e ela não me
convidara a entrar.
— Oh, desculpe! Claro, entre. — Deu-
me espaço para passar.
A sala da casa de Alex era grande,
com sofá em forma de L num canto e uma
TV enorme. Não reparei em mais nada,
porque naquele momento ele entrou no
cômodo. O que tínhamos para conversar
não era fácil, mas ajudaria a nossa relação,
afinal, eu não queria brigar com a família de
Alexia.
— Rayla, quem era na porta… — Ele
parou assim que me viu e franziu a testa. —
O que faz aqui?
Suspirei. Não merecia nada menos que
isso, por isso não reclamei de seu tom seco.
Olhei para Rayla, que tinha ido para perto
dele.
— Pode me deixar sozinho com Alex,
Rayla? — pedi a ela num tom calmo, assim
não a assustaria mais. Já bastava o receio
que estava vendo em seus olhos.
— Eu não acho bom… — Ela olhava
entre nós dois, preocupada com seu
namorado, com certeza com medo de que
brigássemos.
— Eu não tenho segredos com ela,
então, seja qual for o motivo para você estar
na minha casa a essa hora da manhã, pode
dizer na frente dela. De qualquer forma, eu
contarei tudo a ela depois… — começou,
mas eu o interrompi:
— Jura? Então ela sabe o que houve
há cinco anos com Alexia? Os motivos de
ela ter sido internada em um hospital
psiquiátrico?
Ele ficou branco, parecia que o sangue
tinha fugido de sua pele bronzeada. Alex
não se parecia em nada com Alexia. Ela era
loura, enquanto ele tinha cabelos escuros,
era coberto de tatuagens e com brincos em
sua orelha.
— Alex…? — sussurrou ela. Pela
forma como franzia o cenho, não parecia
saber de nada.
Ele piscou, saindo do estado
catatônico em que se encontrava.
— Rayla, pode ir. Depois te conto
tudo, OK? — falou com a voz aguda.
— Tudo bem. — Ela parecia mais
preocupada que nós dois brigássemos que
pelo fato de ele não lhe ter dito a verdade
sobre Alexia.
— Não vamos brigar, pode ir tranquila
— informei. Eu não tinha ido até ali para
brigar, era justamente o contrário. Precisava
fazer as pazes com meu cunhado, já que não
renunciaria a Alexia.
Assim que Rayla saiu da sala, Alex me
fitou com cenho franzido.
— Como sabe sobre o passado de
Alexia?! Anda investigando a vida dela?!
Por quê?! Não é suficiente persegui-la por
aí?! — esbravejou, cheio de ira.
Eu estava calmo, diferente do dia
anterior, então relevei seus gritos e
acusações, até porque eu merecia, de certa
forma, pela forma como o tinha tratado.
Apesar da calma, estava com medo de que
viesse a acontecer alguma coisa a Alexia,
ainda mais depois de ambos os episódios
em hospitais, quando aquele merda tivera
oportunidade de a levar consigo. Caso
Daemon não a tivesse seguido, eu nem
podia imaginar o que teria acontecido.
Tremia só de pensar na possibilidade de que
ela se machucasse. Mesmo a proteção de
Daemon e Nasx não fora suficiente para
proteger Aria, a cozinheira de Alexia, da
morte. Lutner, além de matar a mulher com
requintes de crueldade, ainda escrevera um
monte de coisas horrendas sobre ela com
seu próprio sangue. Aquelas palavras
demonstravam que ele tinha bastante raiva
da mulher; fora isso o que dera a entender
ao chamá-la de usurpadora, traidora,
mentirosa, imunda e desejar que a alma dela
queimasse no inferno. Isso me fazia
perguntar como Lutner conhecia Aria e por
que a odiava tanto. Os xingamentos e o
sangue esparramado pelo quarto do hospital
demonstravam isso. Eu esperava que
Johnny descobrisse para mim o que havia
por trás daquele assassinato.
— Ela me contou sua história, não
investiguei nada sobre sua vida…
Alex ofegou.
— Espere, o quê? Alexia te contou
toda a verdade sobre o seu passado? Mas
como, se ela não conta isso a ninguém? —
Estreitou os olhos. — O que está
acontecendo entre vocês? Perguntei a ela
ontem, mas não quis me dizer nada, e você
também não me disse.
Suspirei, então lhe contei tudo que
Alexia havia me dito acerca da sua vida, os
momentos ruins, a dor, a perda, sua alma
quebrada aos pedaços por causa de Steve
Lutner, o cara que abusara dela e quase a
matara e tinha voltado para terminar o
serviço.
— O desgraçado do Samuel na
verdade é Lutner? E está atrás dela? — seu
tom parecia magoado. — Por que ela não
me contou e veio até mim, que sou seu
irmão?
Respirei fundo. Entendia Alexia. Ela
queria proteger o irmão, assim como eu
tinha protegido a minha irmã de algumas
coisas sombrias que já me haviam
acontecido. Nunca lhe havia dito nada, pois
não sabia como ela iria reagir. Talvez me
aceitasse e me redimisse dos meus pecados,
mesmo que eu achasse que nunca seria
absolvido.
— Porque esse cara toca nas pessoas
próximas a ela, assim como fez com Aria e
Jack. — Passei a mãos nos cabelos,
tentando relaxar.
— Meu Deus! Eles estão bem?
Conseguiram sobreviver a esse cara? Pelo
que ele fez com Alexia, não parece ter uma
gota de humanidade — sondou preocupado.
— Deus me perdoe por pensar dessa forma,
mas homens assim deveriam estar mortos e
no inferno.
Espero mandá-lo para o inferno em
breve, pensei. Entretanto, de certo modo,
aquilo me preocupava, porque eu acreditava
que, se eu fizesse com aquele maníaco o
que tinha vontade de fazer, Alexia não me
aceitaria, pois eu me afundaria ainda mais
no abismo escuro de minha alma. A luz de
Alexia amenizava a escuridão, mas não a
eliminava totalmente, esse era o preço a
pagar por meus pecados. E eu temia que, se
me afundasse ainda mais, nada poderia me
fazer retornar à luz.
— Jack está bem, foi operado e está
sendo protegido por policiais, mas, em
relação a Aria, não conseguimos chegar a
tempo. Ele a matou. Disfarçou-se de médico
e chegou perto dela sem que ninguém o
visse. Ele poderia ter levado Alexia, se
Daemon não estivesse com ela.
— Então Alexia não me disse nada
sobre isso para ele não chegar até mim e
Rayla?
— Sim. O foco dele são mulheres,
então tome conta da sua e deixe que eu
protejo Alexia. Juro que não vou deixar
nada acontecer a ela! — prometi com
fervor.
Esperava estar certo, porque, se eu não
conseguisse protegê-la e ela se
machucasse… Não, eu não podia admitir a
possibilidade. Tinha que pensar que o
prenderíamos ou o mataríamos.
— O que houve ontem? Vocês
brigaram? Porque ela parecia com raiva
quando perguntei sobre você.
— Mais ou menos…
— Como assim “mais ou menos”?
Você a deixou sozinha, por isso ela saiu, não
foi? — seu tom agora era acusatório. —
Porque ela me disse que está ficando em sua
casa, mas que não era para eu fazer
perguntas, que, quando pudesse, ia me
contar tudo. Que droga isso significa?
— Eu preciso contar a ela algo sobre
meu passado que nunca contei a ninguém,
mas não aceitei isso bem quando ela cobrou
de mim. — Apenas Shadow sabia sobre o
que me acontecera, de onde viera a
escuridão que eu tinha. — Mas prometo que
isso não vai mais se repetir.
Ele assentiu.
— Eu suspeitava que Alexia amava
você desde a faculdade, ainda mais depois
de saber que ela queria colocar seu nome
em sua pele. Seria sua primeira tatuagem,
mas eu não deixei, já que você nem sabia
que ela existia.
Eu não sabia sobre a tatuagem.
Esperava em breve poder colocar seu nome
em meu coração também, porque aquela
mulher chegara ali para ficar.
— Eu sabia, mas estava fodido na
época, não podia me envolver com alguém
assim, como estou pronto hoje — isso era
verdade. Eu desistira de Alexia uma vez no
passado porque Emília e sua filha, Emma,
precisavam de mim. Depois, quando as duas
se foram, uma parte de mim se fora junto
com elas.
— Você a ama? Faria qualquer coisa
por ela? Como acabou de dizer que a
protegeria, me pergunto: até que ponto? —
Ele me avaliava.
Eu não precisava pensar na resposta, já
que sabia havia muito tempo. Até gostava
de sentir o que eu sentia por ela.
— Sim, eu a amo como nunca amei
ninguém na minha vida e sou capaz de
qualquer coisa por ela.
Suspirei. Quando ela declarou que me
amava, eu gelei por dentro, não por não
sentir o mesmo por ela, mas por Alexia ser
a primeira mulher a dizer aquilo para mim,
além de Sam e vovó. Eu esperava me
confessar para ela naquela noite, no jantar
ao qual iria levá-la. Calebe ficaria com
Ariane, a neta de Aria, para que eu e Alexia
pudéssemos ter um encontro.
Quando Alexia disse que só ficaria em
minha casa se Ariane também ficasse, eu
achei que a perderia para sempre, já que
tinha certeza de que não conseguiria ficar
em um lugar com uma criança me fazendo
lembrar da princesinha linda que era Emma.
Pensar nela me fazia refletir no que eu tinha
sido capaz de fazer, na vida dela e de sua
mãe, que eu tinha destruído.
Acariciei os nomes sobre o meu peito
para tentar aliviar a dor insuportável que eu
carregava havia quase um ano. O estranho
era que eu não tinha pensado nisso na noite
anterior e mais cedo naquela manhã, quando
vira Ariane na cozinha tomando leite. Ela
não chamara Alexia para preparar seu café
da manhã, ela mesma fora até a geladeira,
pegara a bebida e a tomara. Eu lhe
perguntara se queria açúcar, mas ela dissera
que não podia tomar nada doce porque tinha
uma doença, então supus ser diabetes. Mais
tarde, pesquisei sobre ela e descobri que ela
realmente tinha a doença. Gostei dela e me
senti aliviado, porque as dores dos traumas
não me assombraram como sempre faziam
quando eu estava perto de uma criança.
O enterro de Aria seria naquela manhã.
Eu tentara dar um jeito de Alexia não ir,
mas ela não aceitara. Como parecia gostar
realmente da mulher, eu não insistira. E,
pelo que eu tinha sabido, Aria não tinha
parentes vivos. Entretanto, o que me
angustiava era que eu teria de trabalhar
naquele dia e não poderia acompanhá-la.
Por isso estava buscando um jeito de
prolongar o funeral a todo custo, para que
nada desse errado em relação aos esquemas
de proteção.
Alex aceitou o meu namoro com sua
irmã. Fiquei contente com isso, embora eu
não a deixaria mesmo se ele não
concordasse, porque amava Alexia.
Estava para sair da casa de Alex para
ir falar com Shadow, mas, antes de sair,
deparei-me com um porta-retratos de uma
menininha loirinha com cabelos lisos e
olhos violeta ao lado de uma mulher que eu
achava ser a mãe de Alex e Alexia. Tinham
fotografias dos pais deles em toda parte na
sala, um homem moreno e uma mulher
loura.
— O que foi? — questionou Alex
seguindo meu olhar e riu amorosamente. —
Alexia. Ela tinha quatro anos quando papai
tirou essa foto dela.
A menina da foto era a fotocopia de
Ariane, loura, pele branca, nariz bem-feito.
Peguei o porta-retratos e o trouxe para mais
perto. Elas eram quase idênticas, a única
coisa diferente era a cor dos olhos, porque
os de Alexia eram violeta, já os de Ariane,
azuis.
— Mas como isso é possível? —
sussurrei comigo mesmo, ainda em choque.
— O que não é possível, cara? Essa
menina na foto é, sim, Alexia…
— Não é isso. A neta de Aria é a cara
de Alexia nessa foto. — Levantei o porta-
retratos.
— Eu não era amigo dela, já que mal a
conhecia, viajava muito trabalhando como
DJ, até construir a Rave, mas Aria era
“amiga” dos meus pais desde que
construíram a escola. Bem, eu soube que,
pouco antes de papai e mamãe morrerem,
eles não estavam se dando bem com ela.
Acho que a amizade deles foi abalada por
alguma coisa. — Ele coçou o queixo,
pensativo. — Mas Alexia levava Ariane
para casa consigo às vezes, em suas férias.
Foi assim que vi a garotinha e notei que ela
era a cópia de Alexia, até na inteligência,
alta para sua idade. Fico triste por Aria ter
partido, ainda mais de um jeito tão cruel.
— Então Aria era próxima de vocês?
— sondei, minha mente girando com uma
suspeita incabível, mas provável.
— Um pouco. Como eu disse, não
tinha muito contato com ela. Mas Alexia
sempre foi próxima dela e da neta, mesmo
quando a amizade entre Aria e meus pais
ficou abalada. Lex até levou a menina em
uma viagem ao Alasca quando ambas
estavam de férias a fim de verem a Aurora
Boreal. Eu inclusive chamei sua atenção,
porque ela estava se apegando demais a
Ariane, talvez pensando na sua bebê, que
morreu — seu tom no final estava triste.
— Por que seus pais não a deixaram
ver a criança depois de morta? Afinal,
independentemente de como Alexia estava,
merecia saber de tudo.
— Eu não estava no país nessa época,
estava em Tóquio. Nem sabia quando ela ir
dar à luz. Quando soube, papai e mamãe
disseram que a criança tinha morrido e que
os dois a enterraram para Alexia não sofrer
mais, mas isso era impossível, porque nunca
vi minha irmã tão quebrada, assim que
voltei ao país com urgência poucos dias
depois. — Ele estremeceu, provavelmente
recordando o sofrimento de Alexia. —
Estava mil vezes pior do que antes… depois
do que aquele ser abominável fez com ela.
— Seus pais não disseram onde
enterraram o bebê. — Tudo o que eu ouvia
me fazia suspeitar ainda mais de que minhas
suposições estavam certas.
— Não. Até achei estranho na época,
porque nenhum dos dois disse nada, apenas
que era melhor assim para Alexia não sofrer
mais do que já estava sofrendo e que, dessa
forma, ela se curaria mais rápido. — Ele
deu um suspiro frustrado. — Eu não
concordei com isso, uma, porque ela ficou
pior, não melhorou em nada, e outra, porque
ela amava aquela criança em sua barriga.
Você devia ter visto o sorriso dela e o brilho
em seus olhos. Tentei achar o lugar em que
a criança foi enterrada, certidão de óbito,
mas não consegui.
Como os pais de Alexia tinham feito
aquilo com a própria filha? Eles não haviam
percebido que, ao fazer aquilo, fariam com
que ela sofresse ainda mais? Se ela tivesse a
menina ao seu lado, talvez teria recebido
alta do hospital psiquiátrico. Eles haviam
tirado dela a única coisa que a faria ter
forças para lutar contra os traumas.
Lembrei-me de ela dizer que não se
importava com a forma como a criança
tinha sido gerada, que a amava quando
ainda estava dentro dela. Esse amor seria
ainda maior quando o bebê nascesse.
Eu queria entender o que levava os
pais a fazerem tantas tolices pensando que
estavam protegendo os filhos, mas, na
verdade, estavam lhes trazendo dor e
sofrimento, como os pais de Alexia tinham
feito ao esconder que a neta havia
sobrevivido, dando a criança para outra
pessoa cuidar. Isso me fez perguntar: Lutner
sabia disso? Fora por esse motivo que ele
matara, xingara e amaldiçoara Aria?
— O que foi? — perguntou Alex,
avaliando-me. — O que está pensando?
Você está com essa expressão sombria,
como se quisesse matar alguém.
Eu quero mesmo, mas eles já estão
mortos, pensei amargamente.
— Se minhas suspeitas estiverem
certas, isso vai acabar com Alexia — falei e
ergui o porta-retratos. — Posso ficar com
essa foto dela?
— Claro, eu tenho outra no meu
quarto. Mas de que suspeita está falando?
Até que ponto isso afetará Alexia? — Ele
arregalou os olhos, fitando a foto, depois a
mim. — Não, eles não seriam loucos a esse
ponto, não é?
— Eu vou apurar tudo e descobrir a
verdade. Assim que souber, conto a você.
Mas me diz uma coisa. Seus pais morreram
em um acidente de avião, não é?
Descobriram os motivos da queda?
— Eles estavam indo para a Suíça para
buscar Alexia, que ia receber alta da clínica,
quando o avião teve um problema e caiu,
matando cem pessoas… — Ele estremeceu.
— O que está suspeitando?
— Acredito que Lutner está por trás
disso, assim como fez com Aria. De um
jeito distorcido e desumano, ele achou um
jeito de se vingar das pessoas que mentiram
para Alexia. — Franzi a testa. — Sua mente
é doentia, acredito que ele queira Alexia só
para si. É bem possível ser por isso que ela
seja a única de suas vítimas que ele não
tenha matado.
— Você está dizendo que esse cara
pode ter assassinado meus pais? Mas por
que não fazer isso só com os dois e deixar
as outras 98 pessoas inocentes a salvo?
— Eu vou investigar direito, mas não
duvido de nada vindo daquele psicopata.
Agora preciso ir embora. — Olhei para a
porta por onde sua namorada tinha sumido.
— Fique perto de Rayla e a mantenha sob
segurança 24 horas por dia. O forte dele são
as mulheres. Inclusive vou falar com Lucky
para vigiar Sam. Acredito que Simon faz
isso bem, mais dois seguranças são
melhores.

Cheguei a casa depois de organizar


tudo com Daemon, falar com Lucky e
fechar as pontas soltas em relação à
segurança de todos durante o funeral de
Aria. Eu não podia deixar passar nada,
afinal, um erro seria fatal, e vidas poderiam
ser tiradas, então evitaria isso a todo custo
para proteger meus amigos e minha razão
de viver.
Calebe e Ariane estavam sentados no
sofá, mas não vi Alexia. A menina me
olhou e perdeu o sorriso radiante que tinha,
resultado de algo que Calebe lhe tinha dito.
Ela era tão parecida com a Alexia da
foto que eu não tinha dúvidas; aquela
menina era a bebê que Alexia pensava que
tinha morrido, mas acabara por voltar para
ela quatro anos depois.
— Cadê Alexia? — perguntei
checando ao redor, procurando minha
mulher.
— A titia entrou naquela sala. — Ela
acenou para minha sala de computadores.
— Ela disse para eu ficar com o tio Calebe.
Calebe riu e alisou seus cabelos.
— Tio, hein? Gostei disso, princesa —
falou piscando para ela.
Ela sorriu. Até sua risada parecia
demais com a de Alexia.
— E quanto a ele, como devemos
chamá-lo? — Calebe apontou o dedo para
mim.
Ariane seguiu seu gesto e franziu os
lábios em forma de coração.
— Acho que de Lobo.
— Lobo? — Ergui as sobrancelhas.
— Você tem os olhos azuis iguais aos
lobos que a professora Anna mostrou pra
gente. Seus olhos são bonitos, mas frios,
sabe? Você nunca ri. — Ela sorriu. — A tia
Lex disse que você está ficando velho e
ranzinza.
Ri alto com o que ela disse. Depois eu
mostraria a Alexia quem era o “velho”.
— Eu gostei do apelido — declarei. —
Agora vou falar com Alexia.
Fui até a sala onde ela estava. Assim
que entrei, vi algo que quebrou meu
coração. Alexia estava socando o saco de
areia. Ela socava tão forte, era como se
estivesse batendo em alguém. Eu temia que
ela se machucasse.
De repente, Alexia soltou um grito de
furar os tímpanos, tomada de dor e raiva.
Depois caiu de joelhos no ringue com as
mãos em punhos. Corri até ela e, ao me
aproximar, vi uma carta caída no chão.
Capítulo 14
Alexia
Depois de ter me entendido com Bryan
na noite anterior, eu estava mais calma ao
acordar na manhã seguinte. Ainda estava
triste pelo assassinato de Aria, mas me
sentia bem com Bryan e Ariane naquela
casa segura.
Lembrei-me da carta que Aria deixara
para mim. Ao abri-la e começar a leitura,
minha calmaria se dissipou como poeira no
vento.

Querida menina Alexia.

Eu não tenho muito tempo de vida,


então estou deixando esta carta para você
saber toda a verdade. Eu sei que, assim que
a ler, jamais terei seu perdão, mas tudo
bem, o que importa é que você saiba de
tudo.
Há quatro anos minha filha, Amanda,
sofreu um acidente de carro junto ao seu
esposo. Ela esperava um filho, mas nenhum
deles resistiu ao acidente. Foi bem na época
em que você teve sua filha.
Seus pais, Igor e Isabel, me
perguntaram se eu podia ficar com sua
bebê… Eles me disseram o que tinha
acontecido com você, a crueldade que lhe
tinham feito. Então, pensando que você, ao
ver a criança, não conseguiria seguir em
frente, eles resolveram se desfazer dela. Eu
lhes avisei que isso podia ser pior, mas não
quiseram me ouvir.
Menina Alexia, você estava tão feliz
pela gravidez, eu sentia isso quando nos
falávamos pelo telefone. Me parecia
impossível que não amasse a criança. Seus
pais disseram que, se eu não ficasse com
ela, iriam entregá-la a um lar adotivo,
então fiquei com ela. Sabia que, comigo,
você teria a chance de ter sua filha de volta
no futuro.
Há seis meses descobri que tenho
câncer. Eu poderia ter buscado a cura, mas
não o fiz, porque acredito que mereço isso,
mereço ser castigada por toda a dor que
você sofreu, menina. Lamento muito por
isso. Eu queria poder voltar no tempo e
fazer o certo, mas não podemos mudar o
passado, apenas tentar consertar os erros
no presente.
Se estiver lendo esta carta, é porque
fui embora para sempre. Eu não preciso
pedir para você proteger Ariane e amá-la,
porque você já faz isso. Espero que um dia
me perdoe.
Lamento por tudo.
Aria.

Fiquei cega de dor, de raiva. Como


meus próprios pais haviam tido a coragem
de tirar a minha filha de mim? Eles não
tinham se importado com meu sofrimento?
Senti um desejo imenso de me machucar
fisicamente para que a dor interna, mil
vezes maior, fosse embora, mas me lembrei
do saco de areia que Bryan havia me falado
para usar naqueles momentos e corri até o
rinque na sala, disparando socos e mais
socos com toda a força que eu possuía.
Quando senti que não era suficiente, dei um
grito forte e me deixei cair, chorando.
Braços fortes me ergueram e me
abraçaram.
— Deus, Alexia! Eles não podiam ter
feito isso com você — Bryan sussurrou,
beijando meus cabelos.
Eu me agarrava forte a ele, chorando,
sentindo seu cheiro, que sempre me
iluminava, para me controlar. Antes, pensar
em Bryan me ajudava a me livrar das
lembranças que me atormentavam; naquele
instante, sua presença também ajudava a
aliviar a dor de ser traída pelos meus
próprios pais, a dor que as suas mentiras
haviam me causado por todos aqueles anos.
— Como eles puderam fazer isso
comigo?! O tanto que eu sofri pensando que
ela estivesse morta… Oh, Deus! Enquanto
ela estava lá o tempo todo, tão perto de
mim, e eu não sabia! Mas eles, sim! —
minha voz falhava.
Ele respirou fundo.
— Não queria que soubesse assim…
Afastei-me dele depressa, pensando
que ele também sabia e omitira a verdade.
— Você também sabia e não me
disse?! Mentiu para mim, Bryan?!
Ele arregalou os olhos.
— Claro que não, suspeitei agora há
pouco, quando vi isso. — Ele me entregou
uma fotografia de quando eu era pequena.
Olhei o rosto da menina loura igual
Ariane, a única diferença estava na cor dos
nossos olhos. Como eu não tinha suspeitado
antes? Como não percebera? Éramos
idênticas!
— Você não tinha como saber disso,
Alexia, eles foram errados ao fazer isso com
você, querida… te negar a acompanhar a
vida de sua menina — disse ele
respondendo à pergunta que eu não sabia
que tinha feito em voz alta.
— Não, não deviam ter mentido para
mim, nenhum dos dois! — Olhei para
Bryan, que me fitava com olhos
preocupados. — Onde conseguiu essa foto?
— Na casa do Alex…
Cortei-o:
— Será que ele sabia…? — Encolhi-
me por dentro. Se ele também tiver me
traído assim…
— Pelo que conversamos, ele não sabe
de nada, nem suspeitou da menina, mas eu,
sim.
Um pensamento triste de repente
passou por minha mente. Era hora de
seguirmos em frente, cada um para um lado.
Bryan, sabendo que eu tinha uma filha, não
iria querer ficar comigo, por causa de sua
aversão a crianças. Ariane era tudo para
mim. Eu sempre iria preferi-la a ele, mesmo
antes de descobrir que ela era minha filha.
Afastei-me de Bryan, fiquei de pé e
limpei minhas lágrimas. Queria muito que
ele me aceitasse com Ariane, mais do que
qualquer coisa no mundo, mas sabia que era
algo impossível.
— Alexia…? — seu tom estava
confuso por eu ter me afastado dele, mas
senti algo mais ali, como uma pontada de
dor.
— Eu não vou desistir dela, Bryan,
então, como você não pode aceitá-la,
acredito que tudo acabou entre nós, mesmo
eu não querendo isso — falei com a voz
mais firme que pude, mas só eu sabia como
estava por dentro.
Bryan me puxou para seus braços e me
beijou, não, devorou a minha boca,
degustando e lambendo cada canto dela com
uma fome incontrolável. Eu estava prestes a
seguir adiante e puxá-lo para o banheiro da
sala a fim de terminarmos o que tínhamos
começado, mas primeiro precisava ouvir o
que ele tinha a dizer. Além disso, ouvi um
pigarro e uma risada.
Afastei-me, toda vermelha, e olhei
para a porta. Calebe se encontrava ali, com
um sorriso torto, e Ariane estava ao seu
lado, mas ele tampava seus olhos para ela
não ver nada.
Meu coração bateu forte ao vê-la ali,
diante de mim, tendo consciência de que era
minha filha. Eu nem acreditava que, depois
de anos, a teria de volta, quando sequer
sabia que estava viva até aquele dia.
— Ela ouviu você gritando e não me
deixou em paz até trazê-la — disse Calebe
ainda sorrindo.
Ele não vira nada, afinal, nem
tínhamos começado, só havíamos nos
beijado enquanto Bryan, com as mãos em
minha bunda, apertava-me contra si. Meu
rosto esquentou ao sentir seu desejo ali,
estampado em suas calças. Ele se escondeu
atrás de mim para Ariane não ver nada, já
que Calebe tirou a mão de seus olhos.
— Oi, querida — minha voz estava
rouca, então pigarreei para me recompor
diante dela.
Ela estreitou os olhos ao olhar de mim
para Bryan.
— Você fez ela chorar? — Cerrou os
punhos pequenos.
Sorri.
— Não, querida, ele não fez, aliás, ele
é o meu suporte. Se não fosse por Bryan,
não sei o que seria de mim… mas não liga,
é problema de gente grande, OK? — falei
indo até ela sem olhar para Bryan. Percebi
que ele prendeu a respiração ante o que eu
havia dito, sobre ele ser meu suporte, mas
era verdade. Eu ainda estava sofrendo, mas,
em seus braços, tudo tinha melhorado. A
dor estava ali, mas suportável, como se ele
fosse meu bálsamo.
— Se importa de me ajudar a preparar
o almoço? — chamei-a, saindo da sala onde
estávamos. E olhei para Bryan, de pé atrás
de mim. — Conversaremos depois sobre
aquele assunto.
Ele se aproximou e sussurrou em meu
ouvido para ninguém mais ouvir:
— Não importa o que aconteça, eu
quero você. Sempre irei querer você. — E
se afastou. Sorriu para Ariane, que nos
olhava curiosa. — Vai fazer algo para o
Lobo comer, porque ele está faminto.
Ela sorriu brilhante.
— Lobo? — Ergui as sobrancelhas
para os dois.
Bryan beijou meu rosto.
— Ela me apelidou assim, já que não
sorrio muito e tenho olhos azuis —
respondeu, depois olhou para a menina. —
Mas eu sorrio, viu? E vou sorrir mais com
você morando conosco.
— Eu vou morar com vocês agora?
Olhei dela para Bryan.
— Tem certeza de que pode lidar com
isso? — sondei, ainda em dúvida.
Ele ainda sorria.
— Por você, eu faço tudo. — Ele
beijou a minha testa. — Agora posso ter
uma palavra com Calebe…? — Ele me
olhou de lado. — Você sabe cozinhar, Lex?
Revirei os olhos.
— Claro que sei, moro sozinha, se
esqueceu? — Peguei a mãozinha de Ariane,
e fomos para a cozinha.
Eu queria saber sobre o que ele falaria
com Calebe. Teriam descoberto alguma
coisa acerca de Steve…? Pensar nele gelou
minha alma. E se ele soubesse que
tivéramos uma filha? E se ele quisesse vir
atrás dela e de mim? Bem, de mim, ele já
estava. Quanto a Ariane, não podia saber
dela nunca! Ainda bem que estávamos
seguras dentro daquela casa.
Enquanto cozinhava com minha filha
ao meu lado, minha cabeça girava com
tantos pensamentos. Pensei que, naquele
mesmo dia, aconteceria o funeral de Aria.
Eu não sabia o que sentiria ao ir ao seu
velório, afinal, ela mentira para mim, assim
como meus pais. Contudo, evitara que meus
pais colocassem Ariane em um orfanato,
então isso a redimia. Eu não podia guardar
mágoa dela, afinal, morrera por minha
causa.
Coloquei o espaguete na mesa grande,
deixei Ariane comendo e fui ao quarto de
Bryan, que seria o meu também enquanto
estivesse ali. Precisava me arrumar para ir
ao enterro, porque Aria não tinha nenhum
parente. Seríamos só eu, Alex e algumas
pessoas da escola que amavam nossa
cozinheira e amiga.
Capítulo 15
Alexia
Meu telefone tocou enquanto eu tirava
a roupa e ia tomar banho. Estava suada
devido aos socos no saco de areia. Inclusive
meus braços doíam por causa disso.
— Alô? — saudei sem olhar a tela e
liguei o chuveiro.
— Isso que está caindo é água? Está
no chuveiro? — perguntou Jack com riso na
voz.
— Droga! Espere. — Desliguei a
água, corada pelo fato de estar nua, embora
ele não pudesse me ver. — Desculpe por
isso, Jack, achei que fosse umas das
meninas.
— Está se desculpando por estar no
banheiro e…
Cortei-o, acalorada:
— Certo, o que deseja? Como está a
ferida? — Coloquei o celular no viva voz
para prender o meu cabelo, já que não
queria molhá-lo. — Estão todos bem?
— Você está perguntando se o lunático
apareceu por aqui querendo nos matar? —
seu tom estava sombrio, cheio de raiva. —
Eu queria estar bem para protegê-la.
— Não precisa me proteger, Jack,
estou bem, mas preciso desligar. Tenho que
ir ao enterro de Aria…
— Ela morreu?! — gritou. — Ai… —
queixou –se.
— Jack, fica quieto, OK? Não se
mexa, está tudo bem — tranquilizei-o.
Nesse instante a porta se abriu e Bryan
entrou, calado, todo nu, coberto de
tatuagens e gloriosamente duro, inclusive
ficou mais duro aos meus olhos, porque,
assim que fitei seu pênis, ele ficou ainda
mais ereto, como se sentisse meu olhar.
Ele não disse nada, só se agachou à
minha frente com os olhos em meu centro
nu. Balancei a cabeça, pedindo
silenciosamente para ele não fazer o que eu
pensava que iria, não com Jack do outro
lado da linha, podendo ouvir tudo.
— Droga, eu queria estar com você
nessa hora… — a voz de Jack se perdeu
quando Bryan esfregou a língua em meu
clitóris.
Segurei seus cabelos, tentando afastá-
lo, mas isso o motivou a continuar. Segurei-
me na pia enquanto ele pegava uma das
minhas pernas e a colocava em seu ombro a
fim de poder me devorar mais.
— Alexia, está aí? — sondou Jack.
Eu me esforcei para me controlar, para
lhe responder sem gemer conforme tudo
queimava em mim.
— Sim… — Saiu um barulho estranho
da minha garganta assim que Bryan enfiou a
língua dentro de mim e em seguida
mordiscou meu clitóris. — Maldição!
— O que foi, Alexia? — inquiriu Jack
em tom preocupado.
Olhei para baixo e encontrei um par de
olhos azuis me espiando, e seus lábios se
curvaram em um sorriso lindo e safado que
me deixou de pernas bambas. A cada
estocada de língua, ficava mais difícil
segurar os gemidos, porque minha vontade
era de gritar tamanho o prazer.
— Estou… bem… apenas o xampu,
que caiu no chão… — Respirei fundo. —
Tenho que ir, Jack.
Desliguei o celular e fechei os olhos,
querendo mais daquele homem que estava
me consumindo. Puxei seus cabelos e
apertei sua cabeça em meu centro. Para
onde fora a minha vergonha? Para o espaço!
Quem pensaria em vergonha com um desejo
daqueles queimando no corpo? Ninguém!
Até uma freira cairia sem se arrepender
depois.
Bryan deu mais um chupão em meu
clitóris, então gozei intensamente. Segurei-
me para não gritar, ou Ariane apareceria ali
para saber o que estava havendo comigo.
— Então, gostou? — indagou,
erguendo-se aos poucos e seguindo com a
língua em minha pele. Mordiscou meus
seios, depois me beijou, deixando meu
gosto, meio salgado, em minha boca.
Gemi de novo, com meu desejo
florescendo novamente por aquele homem.
Afastei-me com bastante sacrifício assim
que ele ia enfiar sua delícia de pau em mim,
mas eu tinha outra ideia.
— Alexia? — sondou confuso.
Peguei sua mão, levei-o para debaixo
do chuveiro e me ajoelhei à sua frente,
admirando-o. Eu amava tudo naquele
homem.
— Alexia… não precisa fazer isso…
— Eu sei que não, mas quero. —
Segurei seu membro duro e o apertei,
deslizando para cima e para baixo.
Ele gemeu, escorando-se na parede e
me fitando com adoração.
Passei a língua em sua cabeça rosada,
lambendo o pré-sêmen que escorria e não
desperdiçando uma gota, e logo coloquei o
membro inteiro em minha boca, ou melhor,
o que consegui, já que ele não era pequeno.
Eu adorava o seu pau, que me fazia gritar de
prazer.
Quanto mais ele gemia, mais forte eu o
sugava, levando-o à loucura. Suas mãos
apertavam meus cabelos, mas não me
forçavam a ir mais fundo. Bryan me deixava
tomar dele o quanto eu conseguia. E eu o
amava ainda mais por isso.
O fogo se reacendeu em mim,
fazendo-me gemer com ele. Segurei o que
não coube em minha boca de seu membro e
o movimentei para cima e para baixo.
Coloquei minha mão direita entre as minhas
pernas e circulei meu clitóris, levando-me
ao limite. Eu já tinha me tocado antes
pensando nele, então estava familiarizada
com isso, mas, com seu pau em minha boca,
as sensações eram mais intensas.
— Estou perto de gozar… — sua voz
falhou no final, assim que dei uma sugada
forte, levando-o à borda.
Acelerei os movimentos em meu
clitóris enquanto chupava Bryan com tudo
que eu tinha. Então senti seu gozo bater no
fundo de minha garganta conforme eu
gozava também.
— Porra, Luz do Sol! Eu estou mole
aqui — sussurrou ele com a voz fraca.
— Porra digo eu! Estou até com as
pernas bambas — murmurei.
Ele me levantou e me escorou de
frente para a parede e de costas para ele. Eu
sabia o que ele ia fazer, mas aquela era uma
posição em que eu não conseguia ficar.
Tentei bloquear as lembranças das mãos
sujas de Steve me segurando assim e da dor
que sentira…
— Bryan…
Ele afastou os lábios do meu pescoço e
se afastou, virando-me de frente para si.
Acreditava que ele ouvira a dor na minha
voz, confirmando-a ao ver as lágrimas em
meu rosto.
— Alexia, o que foi? Machuquei
você? — seu tom era preocupado.
Abracei-o e aspirei seu cheiro,
tentando me acalmar e bloquear as
lembranças sombrias.
— Não, mas podemos fazer outra
posição? — tentei manter minha voz calma
para não o deixar chateado.
Talvez, com o tempo, Bryan me deixe,
já que eu não posso fazer muita coisa com
ele, não o que ele está acostumado a fazer e
gosta, como ser algemada, fazer sexo por
trás e outras coisas, como ser chicoteada.
Isso eu jamais vou poder fazer!
Um ruído saiu de seu peito, e
reconheci a fúria, e não era pouca,
inteiramente dirigida ao monstro que me
estragara para sempre. Seria irreversível?
Eu esperava um dia ficar curada.
— Tudo bem, vamos tomar banho —
falou, beijando meus cabelos.
— Bryan, nós podemos seguir, só não
assim… — comecei, mas ele me cortou
com a voz calma, embora eu sentisse a raiva
fervilhando em seu peito:
— Alexia, já estamos atrasados para o
velório. Depois continuamos. — Beijou
meus lábios de leve.
— Mas… — temi que ele ficasse com
raiva de mim por não ter continuado.
— Luz do Sol, não há a menor chance
de ficarmos juntos depois de eu ver a dor
em seus olhos com a lembrança… Só
vamos tomar banho agora, tudo bem?
Assenti, mas meu peito doía por não
ser uma mulher completa para ele, tudo por
culpa daquele desgraçado que me arruinara.
Escondi minha dor e meu medo, mas
parecia que Bryan me conhecia bem,
porque, assim que terminamos o banho, ele
me puxou para seus braços e beijou a minha
testa.
— Você não sabe como eu me sinto ao
ver a dor em você e não poder fazer nada,
não conseguir chegar à pessoa… que te
causou isso — sua voz soou atormentada no
fim da frase. — Mas vou pegá-lo, eu juro, e,
quando isso acontecer…
Gelei ao ouvir seu tom mortal.
— Você vai entregá-lo às autoridades,
Bryan. Promete… — falei com a voz um
pouco grossa demais e trêmula.
— Eu não posso prometer isso, porque
não sei o que farei caso o encontre
pessoalmente.
Meu coração disparou, temendo o que
ele viesse a fazer com Steve. Ele merecia,
mas Bryan não podia se afundar no desejo
de vingança. Eu via a escuridão em seus
olhos. Se ele deixasse a ira dominá-lo,
haveria mais dela em seu olhar, e eu não
podia deixar isso acontecer.
— Bryan…
— Alexia, não vamos discutir isso
agora, tudo bem? É irrelevante — seu tom
era duro.
Suspirei e saí irritada do banheiro.
Como ele podia me dizer que aquilo não
tinha importância? Eu também queria Steve
morto, mas não queria a alma de Bryan
morta. Chateada e preocupada, não disse
nada enquanto me arrumava.
Saímos de casa ainda calados e
continuamos assim até chegarmos à igreja
que Aria frequentava todos os domingos.
Ariane ficara em casa com Calebe. Eu não
podia deixá-la à vista de Steve.
Algumas pessoas já estavam ali.
Alguns rostos eram conhecidos da escola,
outros deviam ser conhecidos dela, talvez
frequentadores da igreja. Eu esperava que
não tivéssemos problemas ali como
tivéramos no hospital.
Bryan, ainda calado, deu-me um beijo
casto quando me deixou no templo. Eu
também não disse nada, mas queria que ele
mudasse de ideia ou que Steve morresse
pelas mãos de outra pessoa.
Os MCs estavam ali. Alguns eu não
conhecia, somente Nasx, Daemon, Shadow
e Michael, cujo apelido eu descobrira que
era Kill. Até parecia, pela expressão
sombria que ele demonstrava de vez em
quando, que ele matara mil vezes, o que eu
não duvidava, mas não podia julgar
ninguém sem conhecer sua história.
— Está tudo coberto. Tentei transferir
o velório para outro lugar, mas não consegui
— disse Daemon olhando ao redor como se
caçasse alguém, ou melhor, o monstro
chamado Steve Lutner. — Cobriremos você,
Alexia. Não se preocupe. Há irmãos nossos
aqui disfarçados, checando movimentos
suspeitos.
Suspirei aliviada ao ouvir isso, mas
esperava que acabasse logo e que aquele
criminoso fosse preso antes de Bryan
colocar as mãos nele.
Aproximei-me do caixão lacrado.
Daemon disse que não podiam deixá-lo
aberto porque o que tinham feito com ela
assombraria as pessoas. Estremeci. Eu não
vira como ela tinha ficado no hospital, pois
Nasx não deixara. Senti-me aliviada, porque
já bastavam os pesadelos que eu tinha; não
queria ter mais nenhum.
Meu coração doía por Aria. Sabia que
ela me enganara por quatro anos, mas não
me afastara de Ariane. Ela me deixava levá-
la nas férias comigo para onde quer que eu
fosse, até fora do país. Que pais ou avós
fariam isso? Então eu supunha que ela não
me queria longe de minha filha.
— Eu perdoo você, então vá em paz
— sussurrei alisando o caixão de madeira.
Eu não sabia o que acontecia com as
pessoas quando morriam. Sempre ouvira a
parte de “ir para o Inferno ou para Céu”
dependendo do que tinham feito enquanto
estavam vivas. Porém, fosse como fosse, eu
não acreditava que Aria iria para o Inferno.
Eu precisava acreditar que ela seria
redimida, afinal, cometera erros, mas quem
não os comete nessa vida? Além disso, ela
tinha pedido perdão e dito a verdade no fim
da vida.
O padre ministrou algumas palavras
para a redenção e salvação da alma de Aria.
Eu estava chorando. Então senti braços à
minha volta, mas não eram os que eu
ansiava, e sim os de Daemon. Bryan não
podia estar comigo, uma vez que estava
trabalhando e não conseguira tirar folga.
Mesmo assim, senti-me confortada por
Daemon e protegida por seus amigos MCs.
Daemon não saía do meu lado. Sua proteção
estava cerrada. Eu queria entender por que
ele era tão presente. Seria só por ser amigo
de Bryan? Porque mal nos conhecíamos.
Ele era um cara legal. Eu acreditava que
seríamos grandes amigos depois que tudo
aquilo terminasse.
Após as palavras do padre, meus
colegas da escola me incentivaram a falar
alguma coisa também. Eu não tinha
vergonha disso. Adorava falar, embora com
certeza choraria na frente de todos os meus
colegas e dos amigos de Aria, uma pessoa
amada.
— Oi, pessoal. Estamos reunidos aqui
por um motivo triste, a morte de uma pessoa
querida por todos nós. O que posso dizer
sobre Aria, ou mama, como as crianças a
chamavam na escola? Ela era uma pessoa
maravilhosa, meiga, gentil e caridosa. Não
havia nada que pedíamos a ela que nossa
querida Aria não se esforçasse para fazer. —
Olhei para sua foto sorridente perto do
caixão, que estava no altar da igreja.
Imaginava que fosse a sua bondade que a
fizera aceitar o pedido dos meus pais para
que ficasse com minha menina.
As pessoas estavam sentadas nos
bancos em frente e me fitavam com seus
olhos molhados pela perda de uma amiga,
assim como eu, mas me controlei para
terminar meu pequeno discurso, que era de
coração.
— Todos nós cometemos erros,
inclusive ela, mas ninguém merece o que
lhe fizeram. Eu não sabia que Aria estava
doente até ontem, quando foi levada para o
hospital e cruelmente assassinada… —
estava prestes a continuar quando senti uma
sensação estranha. Sentia-me observada. A
igreja inteira estava me fitando, mas era
diferente. Era uma atenção que me deixava
inquieta.
Olhei discretamente para cada canto
do recinto e cada pessoa à minha frente,
mas não vi ninguém que não deveria estar
ali, não Steve, pelo menos.
De repente, no coro[2] da igreja, acima
da entrada, deparei-me com o monstro, que
me fitava sorrindo de forma cruel, como se
gostasse de me ver chocada. Expulsei todas
as lembranças sombrias que eu tinha dele;
não lhe daria o gostinho de mostrar meu
medo, afinal, aquele desgraçado amava isso.
Respirei fundo, ignorando seus olhos em
mim, e encontrei o olhar de Daemon,
torcendo para ele perceber que algo estava
errado.
Para meu alívio, Daemon devia ter
notado, porque olhou para os outros MCs
ali, que assentiram, comunicando-se entre si
em sua linguagem de sinais própria.
Sabendo que eles estavam alertados, deixei
minha raiva tomar conta de mim e disse
tudo que pensava de Steve Lutner, olhando-
o diretamente:
— O monstro que fez isso não deveria
estar solto. Aliás, desculpe-me por dizer
isso, padre, esse homem merecia estar
queimando em um caldeirão de fogo, não
falo no Inferno, porque sei que ele vai para
lá por sua desumanidade, mas sim aqui na
Terra, como suas vítimas sofreram, porque
eu soube que Aria não foi a única vítima
desse demônio desgraçado. Se eu tivesse
uma chance, o mataria da pior maneira
possível, mas ele se esconde atrás dos
outros. É um covarde.
Seus olhos estavam cheios de raiva,
suas mãos em punhos e os dentes trincados.
Apesar do receio, ergui mais a cabeça; não
deixaria aquele monstro saber que eu estava
tremendo por dentro, porque uma coisa eu
aprendera nos meus dias de cativeiro com
ele: aquele cara gostava de ver o medo das
pessoas, a impotência delas ao estarem à sua
mercê. E eu não lhe daria aquele gostinho;
não mesmo.
— Covarde, é isso o que ele é… — fui
interrompida pela boca de Daemon na
minha. Senti gosto de menta, porque meus
lábios estavam abertos devido ao choque.
Capítulo 16
Alexia
Meus olhos estavam abertos de
choque, e, pela minha visão periférica, notei
que não era a única, afinal, estávamos em
uma igreja velando uma amiga. O que dera
em Daemon? Por que fizera isso? Não era
por gostar de mim, então supus que fosse
algum plano que eles tinham bolado.
Perguntei-me se Bryan estava ciente
daquilo. Se estivesse, o que eu faria a
respeito? Porque, se ele deixara uma pessoa
me beijar, seus sentimentos não eram fortes
como os meus, porque eu o mataria se me
traísse.
O beijo durou alguns segundos, então
Daemon me virou, e ouvi um tiro próximo
de nós. Recuperei-me do choque do beijo,
que me encheu de fúria. Olhei para cima e
vi Steve correndo. Não soube o que deu em
mim, só saí correndo atrás dele.
Antes de ir para ali, havia pegado uma
das armas de Bryan. Eu não sabia usá-la
muito bem, mas aprenderia atirando naquele
monstro que tivera a audácia de ir até a
igreja onde estava sendo velada uma mulher
que ele matara. Ouvi um xingamento de
Daemon, mas não liguei, saí do templo bem
a tempo de ver o crápula pulando uma
janela. Ficamos nos olhando, um de frente
para o outro. Rosnei, furiosa, assim como
ele, que parecia um daqueles bois bravos,
soltando fumaça pelas ventas.
Levantei a arma e puxei o gatilho,
então ouvi o som do tiro e um gemido.
Steve me fitou com os olhos arregalados,
como se não acreditasse que eu tivesse feito
aquilo. Ele não me conhecia; por Bryan, eu
era capaz de tudo, até de matá-lo se fosse
preciso.
De repente motos apareceram de todos
os lados, atirando em mim, mas não me
acertaram.
— Se ela levar um tiro, mato vocês! —
gritou Steve para os caras, que pareciam ser
MCs também, mas com coletes com o nome
Scorpion escrito. — Ela é minha para eu
fazer o que quiser e castigá-la da forma
como ela merece!
Não liguei para isso, estava prestes a
dar outro tiro nele; se estava falando, então
ainda estava vivo. Contudo, não fui muito
longe, porque os MCs Fênix apareceram e
revidaram os tiros com outros. Eu não sei
bem o que houve, porque Daemon me jogou
dentro do carro, e partimos. Enquanto isso,
os MCs Fênix e Scorpion lutavam, tudo por
minha causa. Se algo acontecesse aos meus
amigos, que me protegiam, seria minha
culpa.

— Oh, Deus, o que eu fiz?! Eu só o


queria morto para Bryan não ter que fazer
isso! Não posso deixá-lo matar Steve… —
Eu chorava deitada na cama de Bryan, ou
melhor, nossa.
Ainda bem que Ariane está dormindo
no outro quarto, assim ela não vê isso…
pensei angustiada.
Daemon estava sentado ao meu lado,
alisando meus cabelos, que estavam sobre
um travesseiro todo molhado de lágrimas.
— Vai ficar tudo bem, todos estão bem
agora, a situação foi controlada — Limpava
minhas lágrimas, que não paravam de cair.
— Não sabíamos que esse cretino estava
aliado ao MC Scorpion. O desgraçado
fugiu, mas vamos dar um jeito de pegá-lo,
eu prometo.
— Bryan não pode matá-lo,
Daemon… Isso encheria de mais sombras a
sua alma… Já é difícil trazer luz para ele…
Como posso impedir isso? — Observei seus
olhos caramelo.
— Eu juro que nunca vou deixar isso
acontecer. Prometo que o impedirei de fazer
isso — jurou abaixando a cabeça como se
fosse me beijar.
— Daemon, por favor, não… —
supliquei, não sabendo seus motivos para
me beijar àquela hora, mas não queria que
as coisas se complicassem ou ficassem
esquisitas entre nós. Então achei melhor
esclarecer as coisas. — Daemon, sobre o
beijo…
Ele sorriu e beijou minha testa.
— Era preciso beijar você…
Ele se interrompeu quando foi tirado
de perto mim e preso na parede por um
Bryan mortal. Eu já o vira sombrio, mas
daquele jeito, nunca. Parecia que mataria
alguém, no caso, Daemon, que deu um
gemido com a pancada.
— Você, seu maldito, como ousa beijá-
la?! Porra! — Deu um soco na boca de
Daemon, que cerrou os punhos e empurrou
Bryan.
— Você está preocupado com um
beijo? Deveria pensar na dor que Alexia
está sentindo agora! — esbravejou. — Por
sua culpa ela atirou em um cara,
contrariando o que ela é, só para você não
ter que fazer isso! Então devia pensar antes
de me ameaçar por tê-la beijado, porque era
preciso algo assim para deixar Steve furioso
e fazer besteira…
Bryan o cortou, feroz:
— E matar todos à volta dele?! — Deu
um passo até Daemon.
Os olhos de Daemon estavam mortais
também. Pelo que eu percebi, ele não
parecia temer a ira de Bryan.
— Escuta, Bryan, você é meu irmão…
Ele riu amargo.
— Irmãos não tentam roubar a
namorada do outro! Acha que não percebi
como olha para ela?! Você a quer!
Eu estava paralisada vendo a discussão
dos dois, mas prendi a respiração ante o que
Bryan disse. Não, isso era impossível!
— Sim, eu a quero, aliás, gosto dela…
Ofeguei, porque eu não tinha
percebido isso, afinal, fazia poucos dias que
o conhecia, mas descobrira que ele estava
havia meses me vigiando. Então Daemon
sentia mais por mim do que amizade?
Não fui a única a ofegar com isso;
percebi que tinha mais gente à porta, vendo
tudo. No entanto, não reparei em quem era,
já que estava temendo pelos dois, que
pareciam prestes a se matar.
— Eu vou matar você, seu desgraçado!
— Bryan se lançou sobre Daemon, mas
Shadow entrou no meio para impedir a
catástrofe.
Também me levantei na tentativa de
acalmar os dois, mas minhas pernas
pareciam travadas no chão, enquanto os
fitava de olhos arregalados.
— Maldição, o que está havendo?! —
rosnou o presidente do MC, um tanto
sombrio. Enfim eu entendia por que o
chamavam de Shadow; seu olhar estava
cheio de sombras ameaçadoras ao olhar
entre os dois. — Daemon.
Daemon não olhou para ele, só fitava
Bryan.
— Eu não roubo mulher de irmão,
independentemente se gosto dela ou não.
Jamais entraria no meio de vocês dois, mas,
se não resolver suas merdas e a perder, vou
lutar por ela, cara, e não vou desistir até
conseguir — seu alerta estava em cada
palavra que ele dizia. Entretanto, ao falar
novamente, sua voz soou calma: — Todos
temos escuridão, Bryan, só temos que
escolher entre deixar a luz dominá-la ou as
sombras nos comandarem. Será a sua
escolha, então a faça bem, porque, se
escolher a escuridão, você a perde. — Seu
dedo apontou para mim. — Porque ela sofre
por você não a deixar entrar e consertar o
que está quebrado.
Bryan olhou entre nós dois.
— Você contou a ele os nossos
problemas? — seu tom saiu magoado, mas
o meu soou raivoso por ele pensar que eu
diria aos outros algo que só dizia respeito a
nós:
— Claro, disse até quantas vezes
transamos por dia! — sibilei furiosa e senti
Daemon se encolher. Fui até ele e peguei
suas mãos. — Desculpe, eu não sabia o que
estava sentindo por mim. Lamento por isso,
mas não posso. — Olhei para Bryan, que
parecia controlado, braços cruzados, depois
olhei para o rosto triste de Daemon. —
Eu…
— Não precisa dizer nada, loura, eu
sei que o ama. Não é toda mulher que tenta
matar um homem para salvar a alma de
outro ao impedir que ele venha a fazer isso.
— Ele deu um passo até mim e caiu para
frente, nos meus braços.
— Daemon? — chamei caindo de
joelhos com o peso do homem, afinal, ele
tinha 1,90m de altura e uns 100kg de peso.
Senti algo molhado em minha mão, que
estava em seu tórax, e a olhei, ofegando a
seguir. — É sangue! Oh, Deus! Ele foi
baleado!
Capítulo 17
Alexia
Shadow o tirou de cima de mim e o
colocou na minha cama, estendido e
desmaiado.
— Maldição, Daemon, por que não
nos disse que estava ferido? — criticou
abrindo sua jaqueta preta e vendo a mancha
de sangue por toda a sua camiseta. Por isso
não víamos o sangue, por causa da cor de
sua roupa.
— Precisamos de um médico, ou levá-
lo a um hospital — afirmei chorando, vendo
meu amigo estirado na cama, ferido e
inconsciente.
— Não podemos levá-lo ao hospital,
porque isso incluiria boletim de ocorrência,
e teríamos que contar o que houve na igreja
— disse Nasx olhando o amigo desmaiado.
— Precisamos conseguir um bom médico.
— Conheço um confiável, já que não
podem aparecer — avisei, pegando meu
telefone e ligando para um amigo meu que
estava se formando em medicina.
15 minutos depois, Paulo Figueiredo,
meu amigo de ascendência brasileira,
chegou e entrou no quarto, que parecia
muito apertado por estar tomado de homens
fortes, Nasx, Shadow e Michael, bem como
Bryan ao meu lado, e ainda tinha mais gente
na sala, cerca de uns 16.
Os olhos de Paulo se arregalaram ao se
deparar com tantos homens, um deles
ferido. Estudávamos na mesma
universidade antes de eu sair.
— Lex, o que está havendo? Quem são
esses homens? — sondou com os olhos
estreitos.
— Você está aqui para cuidar dele, não
para fazer perguntas — sibilou Michael.
Percebi que Paulo prendeu a
respiração. Senti-o tremendo, afinal,
provavelmente ele não tinha visto nada
assim na vida. Fechei a cara para Kill,
ignorando suas sobrancelhas me desafiando
a dizer algo. Bem, ele não me conhecia,
pois eu não fugia de um desafio.
— Paulo, não ligue para esses homens
e seu jeito grosseiro de falar.
— Grosseiro…? — inquiriu Michael
revoltado.
— Kill, fica frio — ordenou Shadow
para ele, que ficou quieto.
Paulo ofegou e pegou meu braço como
se fosse me tirar dali na marra. Seus pais
eram brasileiros, mas ele nascera ali.
— Kill? Meu Deus! Eles são
assassinos e estão te obrigando a ficar aqui,
não é?! — sua voz saiu alta e trêmula ao
encarar cada rosto.
Paulo sempre fora uma criatura
estudiosa e bondosa. Quando eu precisava
dele, lá estava para me ajudar, mesmo
quando ainda estava no pre-med.
Nasx riu.
— Cuidado para não mijar nas calças,
garoto, e calma, que ninguém aqui vai te
machucar. Ignora Kill, esse é seu jeito de ser
— falou ele, tranquilizando meu amigo.
— Paulo, estamos perdendo tempo —
informei com o coração acelerado. — Salve
meu amigo, por favor. Ele se machucou
para me salvar.
Ele assentiu e foi averiguar o estado de
Daemon. Depois de alguns minutos de
averiguação, olhou-nos.
— Ele levou um tiro…
— Não diga, Sherlock — rosnou Kill e
olhou para Shadow. — Estamos perdendo
tempo com esse garoto, não podemos deixar
Daemon morrer.
— Eu não sou um garoto, tenho 25
anos — a voz de Paulo saiu alta e irritada.
— Se me deixasse terminar de falar, saberia
o que estou tentando dizer. Ele levou um
tiro pelas costas, e a bala atravessou. Isso é
bom. Agora vamos estancar a hemorragia.
Se possível, podem esvaziar o quarto para
eu trabalhar?
Shadow acenou para todos, que
assentiram, ficando só ele ali, além de mim
e Bryan.
— Vamos, Alexia — chamou esse.
Paulo me observou com os olhos
arregalados, depois fitou a cara fechada de
Shadow. Ele não queria ficar sozinho com
eles.
— Eu vou ficar aqui com eles. Se
quiser, pode ir — falei, sentando-me no sofá
do quarto, o que fez Paulo respirar
normalmente.
Bryan estreitou os olhos e foi ficar ao
lado de Shadow perto da porta,
cochichando, com certeza sobre o que
acontecera naquele dia.
Ignorei-os e ajudei Paulo a suturar a
ferida da bala de Daemon. Eu limpava o
sangue em sua pele morena com um pano
úmido. Ele possuía muitas tatuagens e
cicatrizes, como Bryan.
— O que aconteceu com você? —
indaguei baixinho e alisei sua testa, que
estava quente. Seus cabelos negros estavam
sobre seu rosto bonito, tão sereno enquanto
estava apagado.
— Pelos cortes, são facadas, e não
foram poucas. Parece que alguém estava
amolando a faca em sua pele — Paulo
estremeceu ao dizer isso enquanto costurava
a abertura que a bala deixara perto de seu
ombro. Então o virou de bruços, e o que vi
me assombraria para sempre.
— Oh, Deus! Daemon… — Suas
costas estavam grossas, como madeira
riscada a faca. A tatuagem da fênix que
tinha nas costas não conseguia encobrir
isso, as coisas horríveis que tinham feito
com ele. — O que fizeram com você?
— Ele nunca contou sua história.
Ninguém sabe — disse Shadow,
respondendo a minha pergunta.
— Por isso ele disse sobre a
escuridão… Ele sabe disso, porque já viveu
na pele — minha voz falhou devido ao
sofrimento do meu amigo.
— Todos nós temos um passado
escuro, só temos que ter certeza de se
queremos viver no presente ou no passado,
ou seja, deixar a escuridão tomar ou não
conta de nós — declarou Shadow com um
suspiro preocupado. — É fácil amar
Daemon e se apegar a ele. Ele é calado,
mas, quando precisamos dele, o cara dá sua
vida por um irmão ou por quem gosta, não
pensando no que vier a acontecer consigo.
— Assim como fez comigo, porque ele
estava ao meu lado quando me beijou. —
Um ruído saiu da garganta de Bryan;
reconheci a raiva. — Então ele me
rodopiou, e depois eu ouvi um tiro. Ele com
certeza previu o que aconteceria, por isso
foi atingido no meu lugar… para me salvar.
— Sim, como eu disse, ele daria a vida
pelas pessoas que ama, e você é uma delas.
Eu não sabia que ele estava sentindo isso
por você; se soubesse, teria dado a função
de te vigiar e proteger a Nasx. Sei que você
não sente o mesmo por ele, afinal, é mulher
de um irmão e ama seu homem.
Paulo não disse nada enquanto
trabalhava. Quando ele cuidava das pessoas,
não pensava em nada, só se concentrava no
seu serviço. Por isso eu o chamara, sabia
que ele podia lidar com Daemon e sua
ferida e salvá-lo sem ser necessário a ida a
um hospital.
— Me sinto mal com tudo que
aconteceu hoje, esse cara atrás de mim,
matando pessoas como Aria e atirando em
outras, como Jack e Daemon…
— Jack Milles levou um tiro? —
interrompeu-me Paulo com a voz alterada
enquanto aplicava uma injeção em Daemon.
— Ele está bem agora, não se
preocupe com isso — falei para tranquilizá-
lo.
— Agora é só esperar e ver como ele
reage, mas parece que a bala atravessou a
parte superior do tórax e das costas, não
acertando nenhum órgão vital ou
articulação. Acredito que ele ficará bem,
afinal, já deve ter aturado coisa pior que
isso. — Paulo olhou para as cicatrizes de
Daemon e estremeceu, certamente pensando
no que acontecera em sua vida. Eu
acreditava que não teríamos nenhuma
explicação, porque Daemon não parecia o
tipo que se abria com as pessoas.
— Obrigada por ter vindo, e confio
que não dirá nada a ninguém do que viu e
ouviu aqui — falei o abraçando.
— Vai custar caro, afinal, me deve um
encontro que furou no dia da graduação,
quando foi para casa com Jack. — Ele
franziu o cenho. — Ficaram juntos naquele
dia?
Ri.
— Não ficamos juntos. Satisfeito? —
falei, afastando-me dele, porque senti a
tensão de Bryan, e, para ele perder a
paciência depois de já ter passado por tanto,
não demoraria. — Ele não tinha um par de
olhos azuis e a boca avermelhada que eu
conheço.
— Ele? Então é o irmão da Sam? —
sondou checando Bryan. — Faz tempo que
não a vejo. Soube que ela se casou com
Lucky Donovan.
Revirei os olhos. Todos nós
estudávamos na mesma universidade – eu,
Luana, Claire, Sam, Jack, Mike, Julian e
Paulo – e, apesar dos diferentes cursos,
tanto no college quanto na pós, éramos
amigos.
— Que tal fazermos um dia de
fraternidade quando eu resolver alguns
problemas que tenho? Assim todos nos
reunimos e comemoramos, sim?
Paulo ficou de me ligar depois para
organizar a reunião, afinal, eu não tinha
cabeça para isso, não com tudo que estava
acontecendo comigo e com as pessoas que
eu amava.
Os MCs ficariam ali por enquanto, até
Daemon se restabelecer, e bolariam um
plano mais completo, agora que sabiam que
Steve estava aliado ao MC Scorpion. Pelo
que notei das conversas deles, aquele MC
era inimigo mortal do MC Fênix. Eles não
me disseram nada, mas eu sabia que a
situação estava preta para o nosso lado. Meu
medo era perder gente do nosso lado. Eu
não podia aceitar nunca algo assim.
Precisava fazer alguma coisa, mas o quê?

Dois dias se passaram depois que


Daemon foi baleado. Ele ainda estava ali,
mas parecia ter melhorado. Fiquei aliviada
com isso. Shadow foi embora e deixou
Nasx ali conosco. Eu não ligava, já que
Bryan não ficava muito tempo em casa.
Cada vez saía mais, principalmente à noite.
Eu sabia que ele estava trabalhando em algo
da polícia, então não me incomodei, mas
sentia falta de estarmos juntos.
Ariane estava animada com a casa
cheia de gente, ou melhor, de homens.
Antes só tinha o Calebe, depois tinham mais
dois, já que Michael resolvera ficar também.
Eu o chamava assim quando ele estava
calmo, e de Kill quando assumia sua
expressão furiosa. Ele brincava muito com
Ariane, e gostei de que ela fosse capaz de
fazer aquele homem sorrir.
Fui ao quarto de Bryan, onde Daemon
estava. Eu dormia com Ariane no outro
quarto, já que Bryan não passava a noite
mais em casa. Tentei não pensar nisso.
Assim que entrei, vi Daemon gemer e
murmurar alguma coisa incoerente.
Aproximei-me dele e toquei seu ombro para
acordá-lo.
— Daemon… — eu me interrompi ao
ser jogada na cama, e ele pairou em cima de
mim com as mãos em meu pescoço como se
quisesse me sufocar.
Devo ter gritado, porque de repente a
porta se abriu. Entretanto, não me importei
com quem era, apenas mirava o olhar de dor
de Daemon. Aquela dor vinha do mais
profundo do seu ser, algo que eu via no
espelho todos os dias. Fosse o que fosse que
acontecera com ele, tinha sido algo sério,
que deixara marcas profundas, e não só em
sua pele, mas também em sua alma.
Antes de ele me sufocar, voltou a si e
percebeu o que estava fazendo. Saiu de
cima de mim, ficou de pé e gemeu. Talvez
tivesse se movimentado rápido demais e seu
machucado se inflamara.
— Maldição, Nasx! Por que a deixou
próxima de mim? — rosnou Daemon com
os dentes trincados.
— O que está acontecendo? —
questionou Bryan entrando no quarto e me
olhando sentar na cama, onde Daemon
estava antes. Abaixei meu vestido, que tinha
se levantado um pouco. — Que porra está
acontecendo aqui?
Levantei-me e corri assim que Bryan
se lançou sobre Daemon, mas Nasx foi mais
rápido e se colocou na frente, impedindo
seu caminho.
— Bryan, não foi culpa dele. Eu o vi
tendo um pesadelo e toquei nele…
— Ele atacou você? — sua voz estava
fria como uma geleira.
— Me desculpe, loura, não achei que
fosse você… — Ele estremeceu e olhou
para Nasx. — Droga, eu poderia tê-la
machucado.
— Lamento, cara, eu só fui à cozinha.
Não achei que ela apareceria aqui e esqueci
que isso não podia acontecer — falou de
modo triste.
Respirei fundo, segurando firme o
braço de Bryan, que estava calado,
avaliando Daemon, mas pensei ter visto
entendimento ali, porque o vi relaxando.
Olhei para Daemon, que estava triste
ao me observar. Fui até ele e peguei sua
mão, apertando-a. Ele estava vestindo
apenas uma calça jeans, e as gazes
tampavam seu ferimento. Ignorei suas
cicatrizes; muito possivelmente ele não
gostava que as pessoas as vissem.
— Daemon, não precisa se desculpar
por isso, OK? Eu devia…
— O quê? Falar de longe? — seu tom
estava ácido. — Estou feliz que não sinta
nada por mim. — Tentou soltar minha mão,
mas não deixei. — Quem iria querer sentir?
Fitei Nasx e Bryan.
— Podem me deixar a sós com ele? —
pedi, principalmente ao Bryan, que fechou a
cara.
— Não conte com isso…
— Bryan, por favor, preciso conversar
com Daemon — supliquei. — Nós já vamos
sair.
Ele não queria, mas saiu; antes, porém,
alertou-nos:
— Cinco minutos.
Fiz uma careta assim que eles saíram,
em seguida olhei para Daemon.
— Daemon, se eu não amasse o Bryan,
teria o maior orgulho de te amar, seria um
privilégio. Não me importaria o que
aconteceu em seu passado. É claro que eu
iria querer saber o que se sucedeu e tudo
mais, para você reagir assim quando estava
dormindo e ter tantas cicatrizes — sussurrei
apertando suas mãos.
— Eu contaria se dividisse a minha
cama… mas sabemos que isso não vai
acontecer, não é? Porque você o ama assim
como ele a ama. Por isso a preocupação e os
ciúmes dele por você.
Arregalei os olhos, admirando seus
olhos intensos, que esboçavam um sorriso.
— Eu sei, e torço para aparecer uma
pessoa que seja especial e o ame muito,
porque você merece. Espero que não
demore muito; tudo que sente por mim,
você vai ver que será fichinha em
comparação ao que sentirá por ela —
sussurrei, beijando sua bochecha macia,
depois me afastei.
— Agora vamos para a sala. Preciso
sair deste quarto e ver alguma coisa após
anos nesta cama. Além disso, logo ele vai
aparecer aqui. — Daemon sorriu, mas o seu
sorriso não chegou aos olhos.
— Não foram anos, e sim dois dias —
respondi sorrindo.
Eu só esperava que tanto ele quanto
Jack um dia fossem felizes, afinal, eram
garotos lindos. Almejava que as garotas
sortudas que apareceriam nas suas vidas
viessem a ver o que eles tinham por dentro,
não somente sua beleza física, assim como
eu vira em Bryan.
Capítulo 18
Alexia
Um mês e meio depois de sermos
alvejados em frente à igreja, ainda não
tínhamos descoberto o paradeiro de Steve.
Para meu azar, o cara não fora morto. Assim
disse Nasx, que soube por uma pessoa que
ele estava na sede do MC Scorpion. Os
federais estavam atrás dele desde então. Eu
esperava que os prendessem logo, antes de
Bryan o pegar e fazer o que disse que faria.
Enquanto isso, tinha algo que estava
me deixando inquieta. Bryan estava
esquisito. Desde que eu disse que não
conseguia ficar naquela posição, no
banheiro, ele não me tocava mais. A
princípio, eu achei que fosse porque Nasx e
Daemon estavam na casa, mas pouco depois
eles foram embora. Mesmo assim, ele não
tentou mais.
— O que foi, Bryan? — sondei em
uma noite em que ele chegou tarde. Isso não
era surpresa, já que seu trabalho ocupava
horas da sua noite.
— Estou cansado — disse, como em
todas as vezes em que vinha para casa e se
deitava ao meu lado.
Aceitei isso até a noite em que peguei
uma conversa dele com Calebe, no qual
mencionavam que ele estava trabalhando
em um clube de BDSM chamado Fetish
com uma mulher chamada Tabitta. Na hora
em que soube disso, pareceu que parte de
mim foi destruída. A dor era insuportável,
mas eu não cairia; precisava saber o que
estava havendo e por que ele estava
trabalhando disfarçado. Ele se submeteria a
tudo pela sua profissão, até me trair?
Enfim eu estava em frente ao clube
Fetish, meio afastado de Manhattan. Nunca
tinha ido a um local assim antes. Talvez
aquela fosse a praia de Bryan. Afinal, ele
fazia sexo duro antes de mim, que era
quebrada, não conseguia fazer o que ele
gostava. Tinha sido por isso que ele não
ficava comigo havia tanto tempo? Talvez
não conseguisse mais levantar seu maldito
pau em minha presença, por isso dava a
desculpa de que estava cansado.
Entrei no clube olhando ao redor, para
suas luzes vermelhas e mulheres nuas para
todos os lados, algumas de joelhos em
frente aos homens. Uma mulher estava
suspensa de ponta-cabeça e envergada como
um arco. Sinistro. Algumas das garotas
estavam algemadas enquanto eram
espancadas por homens mal-encarados.
Eu tremia conforme lembranças
assombrosas me assolavam, mas me
mantive firme; não ia surtar, precisava
descobrir a verdade fosse ela qual fosse.
Precisava ver com meus próprios olhos.
Dei mais alguns passos, então vi Bryan
sorrindo e conversando com uma mulher
morena e alta. Ela colocou uma de suas
mãos no peito dele, mas ele a tirou.
— Eu soube que ficou quase uma hora
no quarto com sua submissa. Posso saber o
que fizeram lá de tão especial? — inquiriu a
mulher com voz melosa.
Ele deu seu sorriso normal, mas que
fazia qualquer mulher cair de quatro.
Aquela com certeza o queria de todo jeito.
Meu coração batia alto e despedaçado ante
o que ouvi, mas, finalmente estando ali, eu
precisava ouvir tudo até o fim.
— Quer mesmo ouvir? Bem, eu a
algemei na cama, de bruços, com sua bunda
para o ar, então a chicoteei e devorei sua
boceta ao mesmo tempo, depois a fodi com
força — seu tom era provocativo.
— Isso me deixou até molhada —
disse a mulher, colocando a mão no meio
das pernas. — Quer ver?
Não fiquei para ouvir sua resposta.
Corri, chorando e com um nó no estômago.
Vomitei ao imaginar Bryan fazendo o que
disse com outra mulher…
— Alexia?
Por um momento achei que fosse ele,
mas não era sua voz. Limpei a boca e olhei
para Jason Falcon, que estava saindo da
boate também.
— J-Jason? — minha voz falhou,
então pigarreei para limpá-la e controlar o
que estava sentindo.
— O que faz aqui? — sua voz também
parecia igual à minha. Seus olhos castanhos
chocolate estavam cheios de chamas de uma
dor profunda.
Não perguntei por que, afinal, se eu
mal dava conta do que estava sentindo, não
aguentaria sequer pensar no sofrimento dos
outros. A dor estava me consumindo.
— Está indo embora? Pode me dar
uma carona? Acho que não vou conseguir
dirigir… — minha voz estava grossa pelo
choro, e minhas lágrimas me cegavam. Se
eu fosse de carro, correria o risco de
cometer um acidente.
— Você viu Bryan com outra, não é?
— indagou, avaliando-me.
Não respondi, afinal, não conseguiria
falar sem gritar ou xingar, e o único que
merecia aquilo era Bryan, que estava lá
dentro, talvez até pensando em fazer um
ménage com duas mulheres.
Jason não disse mais nada. Apenas
saímos dali, mas o notei, antes de dar
partida, olhando com dor para uma loura
com saia curtíssima e jaqueta por cima,
saindo do clube. Ela era linda.
Eu a fodi com força, essas palavras
arranhavam meu cérebro, fazendo-me
querer gritar. Era para eu ir para a casa de
Bryan, onde estava hospedada, mas
precisava falar com ele sozinha e botar um
fim em nosso relacionamento como adultos,
e lá, com Calebe – ao qual despistara ao
fugir da casa – e Ariane, não seria possível.
Minha cabeça pegava fogo.
Perguntava-me sem cessar se Bryan estava
no clube apenas disfarçado ou se ele queria
aquilo e deva a desculpa do disfarce para
fazer o que realmente gostava.
Jason me deixou no prédio do
apartamento de Bryan em Manhattan, já que
eu não podia ir para o meu. Eu sabia que,
assim que ele chegasse a casa, iria procurar
por mim, então, quando me ligasse, eu lhe
diria onde estava. Todavia, ele nem sonhava
o que estava para acontecer consigo. Eu
acabaria com aquele traidor de merda!
Chorei, gritei, mas com as mãos na
boca para abafar o som enquanto subia pelo
elevador e entrava no corredor do andar do
apartamento, ou os vizinhos logo
chamariam a polícia para descobrir o que
estava acontecendo. Depois de tanto chorar
e lamentar, em vez da dor, eu estava com
raiva de Bryan por ter me usado. Se ele não
me queria, era bom ter dito isso antes de ir
procurar outra mulher. Mesmo se fosse algo
necessário para a conclusão de um caso, eu
não aceitaria algo assim. Jamais me
submeteria àquilo, mesmo o amando como
o fazia.
Estava quase alcançando a porta
quando alguém pegou meu braço. Prestes a
gritar, percebi quem era.
— Daemon? O que faz aqui? —
questionei, enxugando meu rosto molhado.
Ele estreitou os olhos.
— Eu é que pergunto isso. O que faz
aqui a essa hora da noite? E como
conseguiu sair da casa sem Calebe ver? —
sondou confuso e irritado.
Pigarreei.
— Eu precisava ver uma coisa e não
podia esperar — falei tentando controlar o
choro.
— O que você viu? Alexia… me diz o
que viu! — pediu preocupado,
aproximando-se mais de mim.
— Eu não quero falar sobre isso agora.
— Esquivei-me, então acrescentei assim
que ele estava prestes a retrucar: — O que
está fazendo aqui?
Ele suspirou.
— Alguns de nós, MCs, estamos aqui,
no apartamento do Bryan, já que ele não
está usando esse lugar por enquanto. Vamos
entrar.
Assenti e entrei no apartamento de
Bryan, que era como um loft. Logo na
entrada tinha um sofá tão grande que uma
pessoa podia dormir confortavelmente nele.
Em frente a ele havia uma estante com uma
TV imensa, na qual estava passando um
filme pornô ao qual Nasx estava assistindo.
Logo adiante havia uma cozinha com
balcão de mármore a separando da sala.
Tinha uma escada que dava para um andar
acima, onde eu podia ver uma cama e um
guarda-roupa. Gostei dali, aconchegante e
simples.
Nasx se colocou de pé e olhou de mim
para Daemon, franzindo a testa.
— O que está fazendo aqui?
Não respondi; sentei-me no sofá,
peguei uma cerveja que estava em cima da
mesinha de centro em frente ao sofá e tomei
um gole bem grande. Eu gostava de cerveja,
mas a bebida me deixava bêbada rápido, de
modo que eu fazia coisas das quais não me
lembrava no dia seguinte.
— Daemon… — insistiu Nasx indo
para perto dele. Os dois ficaram me
olhando.
— Eu não sei. Eu estava chegando
aqui quando a vi à porta, chorando. Disse
que saiu porque precisava ver uma coisa,
mas não disse o que era — murmurou em
tom confuso.
Ignorei-os e assisti ao filme. Na cena
de sexo da vez, uma mulher estava nua e
presa a uma cruz em forma de X. Um
homem à sua frente, só de calça jeans e com
um chicote, a açoitava. Levantei-me e
cheguei mais perto da TV, ouvindo-a gritar,
mas seus gritos não eram de dor.
— Por que eu não posso fazer isso?!
Por que não posso ser suficiente para ele?!
— gritei meio histérica, pegando os dois de
surpresa, mas não liguei.
— Alexia, do que está falando? —
sondou Daemon. — Está se referindo ao
Bryan?
Olhei para ele com lágrimas se
derramando pelas minhas bochechas.
— Por que não sou mulher suficiente
para ele? — Olhei para a tela onde, naquele
momento, o casal transava com a garota
ainda presa, sendo fodida com força. —
Não posso dar o que ele precisa…
— O que Bryan fez? — ele insistiu.
Sequei uma cerveja e peguei outra,
assim a dor passaria, já que eu ficaria
bêbada logo, logo.
— Buscou fora o que não pude dar a
ele… — minha voz estava morta, assim
como eu.
— Você está dizendo que ele a traiu?
— o tom da voz de Daemon era fatal.
— Isso não é possível! Bryan é louco
por você, mulher — disse Nasx.
— Se ele fez isso, eu vou matá-lo —
rosnou Daemon com os olhos sombrios.
— Não pode — minha voz saiu meio
enrolada. — Eu é que vou matá-lo.
— Vai matar quem? — perguntou
Bryan entrando na sala.
Encarei-o de modo feroz, peguei a
primeira coisa que vi à frente e joguei nele.
— Seu desgraçado traidor! Por que
não me disse que estava fodendo por aí?! —
Voei em seu pescoço, mas tropecei em razão
das pernas bambas. Daemon me impediu de
cair e quebrar a cara.
Bryan rugiu, mas não me importei.
— Acho que bebeu demais —
Daemon falou baixo para mim, depois com
acusação para Bryan, que estava tampando
um olho com uma das mãos: — Espero que
tenha uma explicação muito boa para isso.
Estreitei os olhos, firmando-os nos de
Bryan.
— O que foi? Não está querendo nem
me ver mais… É por isso que está
tampando o olho? — murmurei, mordendo
o lábio, magoada, e fitei Daemon ao meu
lado, ainda me firmando. Minha voz saiu
arrastada: — Eu sou… assim tão feia, que
não querem olhar para mim?
Nasx riu, então me fitou com um
sorriso sexy. Eu não devia estar tão bêbada,
se conseguia diferenciar um sorriso sexy de
um normal.
— Querida, você é perfeita, mas está
vendo isso? — Ele pegou algo no chão e o
levantou.
Fui até ele meio cambaleando,
contente por não cair. E peguei a coisa
brilhante, então notei que era um globo de
neve de cristal.
— Mas está errado… — comentei,
olhando-o de perto. — A terra está de
cabeça para baixo…
Ele riu de novo e virou o globo, então
vi a neve caindo e me lembrei do meu
casamento, que eu queria que fosse na neve.
Olhei para Bryan, ainda tampando seu olho.
— Por que tinha que estragar tudo?
Era para nós nos casarmos na neve… mas
então você mentiu e me traiu, tudo porque
não fiz o que gosta… — acusei-o, chorando
e observando a neve cair.
— O que eu gosto? — sua voz parecia
embargada, como se tivesse algo nela.
Suspirei irritada, peguei seu braço e o
levei até a TV. Na cena da vez, a mulher
estava algemada à cabeceira da cama e com
a bunda no ar enquanto o cara a chicoteava.
Era a mesma cena que ele descrevera para a
mulher no clube.
— Seu desgraçado, como pôde fazer
isso comigo?! — Voei nele e esmurrei seus
peitorais, fazendo-o arfar e cair sentado no
sofá, provavelmente de susto ou surpresa,
pois eu não era forte assim, ainda mais meio
bêbada.
Percebi que ainda estava com o globo
de neve na mão. Talvez fosse por isso que
ele se encolhera. Continuei o esmurrando
até que ele pegou meus pulsos e me
rodopiou, deitando-me no sofá e pairando
em cima de mim.
— Maldição, Alexia — grunhiu e
olhou para cima. — Vocês poderiam nos
deixar a sós? Podem ir para minha casa.
Aproveitem e digam o que aconteceu ao
Calebe, que deve estar surtando por ela ter
saído escondida de novo.
Não liguei para aquilo, só queria
aliviar a dor que estava em meu peito.
— Por que eu não fui suficiente para
você?! Por que não me disse que precisava
de mais do que só sexo?! — choraminguei,
encolhida sob ele.
— Por Deus, Alexia! Acha mesmo que
eu trairia você depois de tê-la em meus
braços, depois de sentir seu gosto, seu
cheiro, que tanto adoro?
Meus olhos molhados se arregalaram,
e alguma esperança inundou meu peito.
— Eu ouvi você conversando com
uma morena que estava te tocando…
— Mas eu tirei a mão dela de cima de
mim.
Franzi a testa.
— Isso é verdade, mas depois você
começou a dizer o que fez no quarto com
outra mulher, uma submissa… — Encolhi-
me por dentro ao pensar nessa cena.
— A mulher com quem eu disse que
fiquei é uma policial do FBI infiltrada,
assim como eu por parte da CIA, naquele
clube para prender um pedófilo desgraçado
que não vai ver o sol nascer nunca mais, e
não ficamos juntos como você pensa.
Aquela mulher que estava conversando
comigo trabalha no clube, estava
desconfiada de Tabitta e de mim, porque
éramos para entrar lá como um casal, mas
não ficávamos juntos ao vivo, o que gerou
desconfiança…
— Mas então…?
— Ficávamos, sim, em um quarto, mas
sem fazer nada. Tabitta não é dessas, e eu
também não. Por mais que eu goste do meu
trabalho, jamais vou ficar com outra pessoa
para concluir um caso, porque eu amo você,
Alexia, só você. — Então ele me beijou
intensamente, mas gemeu de dor e se
afastou.
— O que foi? — Foi então que notei
seu olho inchado. — O que houve com seu
olho… Oh, Deus! O globo! — Alisei seu
rosto lindo e sereno. — Sinto muito por ter
machucado você. Acho que agora estou
pensando no que fiz. Eu sou mole para
bebida, uma vez fiz strip-tease. Minha sorte
era que só tinham mulheres.
Os olhos dele tinham ficado escuros
no início de minha última frase, mas, após
ouvir o final, ele relaxou e beijou meu rosto.
— Que bom, porque, quando você
tiver que fazer um strip-tease, quero que
faça apenas para mim — comunicou com a
voz abrasadora e beijou minhas pálpebras.
— Lamento que tenha sofrido ao ouvir o
que falei, mas quero que saiba, Alexia, que,
independentemente de como façamos sexo,
você me realiza em todos os sentidos,
porque você é a única que me tem dentro de
você. — Ele remexeu seus quadris para
enfatizar o que dizia.
Gemi, sentindo-o pronto ao se
encaixar entre minhas coxas abertas. Eu
estava latejante por ele. Fazia muito tempo
que estava seca e faminta por aquele
homem.
— Você não me tocou todo esse tempo
— acusei, acariciando seus cabelos negros e
barba por fazer.
— Sinto muito, Luz do Sol, mas,
depois do episódio no banheiro, eu não
sabia como faria isso. Fiquei com medo de
que, quando eu ficasse com você, trouxesse
alguma lembrança ruim. Eu prefiro mil
vezes morrer ao ver aquela dor de novo em
seus olhos e voz, não se eu puder evitar.
Suspirei.
— Bryan, nós já transamos antes
várias vezes, e isso não aconteceu. Apenas
sexo por trás é complicado, mas podemos
tentar… Eu quero fazer tudo com você…
— Alexia, eu nunca vou fazer algo que
traga lembranças que irão atormentá-la e lhe
causar dor…
— Mas sexo comum não é suficiente
para você… — falei num choramingo. Eu
vira sua reação ao olhar aquela cena na TV,
parecia que seus olhos brilhavam como
fogos de artifício. Eu precisava superar meu
medo de ficar amarrada.
Ele levantou as sobrancelhas ante o
que eu disse.
— Como sabe do que gosto ou não?
— retrucou. — Eu sei que ouviu muitas
coisas de mim da Sam, por serem amigas,
mas nada daquilo importa mais. Você,
Alexia, é importante, não entende? Eu só
quero você.
Eu estava prestes a replicar dizendo
que não tinha entendido se ele queria mais
ou não. Entretanto, Bryan me soltou e nos
despiu. Logo ele estava dentro de mim,
enchendo-me, saciando-me de algo pelo que
eu estava faminta: aquele homem.
— Isso é o paraíso, Luz do Sol. Com
você, tudo é perfeito, ou melhor,
esplêndido. — Ele me beijou novamente,
trazendo-me à borda do prazer. Colocou a
mão entre nós e circulou meu clitóris. — Eu
te amo mais que a qualquer coisa no mundo.
Sexo, foda, trepar.. com você, tudo é fazer
amor.
— Eu também amo você, Bryan… Eu
sei que posso não lembrar muita coisa
amanhã, mas espero me lembrar de você me
dizer que me ama — sussurrei.
— Amanhã, depois e depois eu digo
de novo — sussurrou, dando uma última
estocada dentro de mim, levando-me ao 4
de julho em pleno mês de dezembro.
Contudo, eu tinha em mente que só
seria feliz por completo quando superasse o
meu medo e pudesse dar tudo ao meu
homem lindo e gostoso.
Capítulo 19
Alexia
Após minha ida ao clube Fetish e a
reconciliação com Bryan na mesma noite,
nós voltamos a fazer sexo normal. No
entanto, eu precisava controlar meu medo
de ser amarrada, então pedi ajuda ao Nasx.
Eu ia pedir ao Daemon, mas, como ele tinha
sentimentos por mim, decidi não o magoar,
porque eu não gostaria que o garoto que eu
amasse pedisse minha ajuda para superar
algo em prol de sua namorada. Eu ficaria
destruída ante algo assim.
Fui jantar uma noite com Bryan e
nossa filha. Ele disse que já gostava dela
assim, e a tratava dessa forma. Quem não
amaria uma garotinha como aquela, esperta
e carinhosa? Fosse qual fosse o motivo da
aversão dele a crianças, estava passando, e
eu dava graças aos Céus por isso. No
restaurante a que fomos, conheci Tabitta, a
policial que estava trabalhando disfarçada e
parceira de Bryan. A loura era
deslumbrante, mas o que me chocou foi ver
que ela estava com Jason. Bryan me disse
que os dois estavam juntos e que haviam
tido um lance no passado. Olhando os dois
juntos, era notável que se amavam muito.
Eu desejava que os dois fossem felizes.
Como não tivéramos mais notícias de
Steve, resolvi fazer minhas tarefas normais.
O Natal estava chegando, então eu
precisava comprar muitos presentes para
todos, um em especial para Ariane, pois
seria o primeiro que eu lhe daria como mãe,
não como amiga. Ela passara a me chamar
assim, e eu apostava que fora Calebe quem
a incentivara. Eu ainda não lhe dissera que
era sua mãe de verdade, afinal, ela era
pequena. Eu a deixaria crescer um pouco
mais, ou talvez lhe contasse depois que os
problemas passassem.
— Ainda está decidida? — sondou
Nasx assim que estávamos na casa que ele
alugara, num lugar ermo, sem vizinhos
muito próximos para não ouvirem meus
gritos, porque isso iria acontecer, eu não
tinha nenhuma dúvida.
— Claro — falei firme. — Vamos
começar. Eu sei que no começo posso entrar
em crise, então não entre em pânico e
espere até… bem, até a situação ficar pior.
Ele respirou fundo.
— Ficar pior?! O que isso quer dizer?
— sua voz soou alta na sala grande e vazia.
— Eu desmaiava algumas vezes
quando era algemada; talvez isso aconteça
— murmurei com o corpo trêmulo.
Ele ofegou e olhou para uma porta
fechada. Imaginei que, naquele cômodo, ele
deveria ter colocado tudo o que eu precisava
para perder o medo de bondage de uma vez
por todas.
— Talvez não devêssemos… —
começou Nasx com tom preocupado, mas o
cortei, ficando de frente para ele:
— Por favor, Nasx, preciso controlar
esse medo que vive dentro de mim, não só
para dar ao Bryan tudo que ele anseia, mas
também por mim. Quero ser uma mulher
normal, sem ter crises, ainda mais durante
o… hum, você sabe. — Corei ao insinuar
aquilo ante um homem.
— Se Bryan souber, vai me matar —
afirmou, mas não parecia ter medo. — Não
quero perder sua confiança em mim, porque
somos irmãos.
— Não vai, e você não está me
obrigando a isso, eu estou te implorando
para me ajudar — garanti, apertando suas
mãos. — Por favor.
Ele assentiu e abriu a porta, deixando-
me ir na frente para ver tudo o que ele
organizara. Não era nada do que eu tinha
pensado, totalmente diferente dos meus
pesadelos, do que eu tinha vivido.
Havia uma cama king size com lençóis
vermelhos e cabeceira de ferro, onde
estavam algemas. Na parede ao lado tinham
fileiras de correntes e, perto delas, uma cruz
em X como a que eu vira na TV. Além
disso, o quarto estava decorado, havia
cortinas vermelhas. Tudo parecia lindo.
— Eu achei melhor mudar o cenário,
deixar o quarto parecendo uma sala de
prazer, não de tortura, porque sexo assim —
ele gesticulou para os objetos — pode ser
prazeroso, mas algumas pessoas fodidas
confundem prazer com escravidão e
suplício. Você só tem que pensar que aqui é
um local de prazer, tudo bem?
Assenti, respirando fundo ao olhar ao
redor.
— O que vou fazer primeiro? — tentei
deixar minha voz estável.
— Qual dos objetos ativa mais seus
traumas? — sondou me avaliando.
Minha respiração acelerou ao olhar por
mais tempo para as algemas na cama.
— Alexia…
— A cama. Eu ficava muito nela com
as mãos e pés algemados, enquanto… —
minha voz falhou, tentando bloquear a visão
daquelas cenas, daqueles momentos
terríveis de agonia e tortura.
— Talvez seja melhor começar com
outra coisa e deixar essa por último — disse
ele com a voz preocupada, possivelmente
com medo de que eu surtasse.
Não respondi, mas assenti, tentando
estabilizar a respiração, que parecia cada
vez mais aguda e ofegante, como se eu
tivesse subido uma ladeira quilométrica
correndo.
Ele me levou até as correntes que
estavam presas na parede e olhou nos meus
olhos.
— Tem certeza? — perguntou de
novo.
Assenti, mas não respondi, não
sabendo como minha voz sairia. Então Nasx
prendeu meus braços e pernas abertos, e
tudo escureceu, levando-me de volta ao
pesadelo.

Minhas mãos e pernas estavam


acorrentadas, prendendo-me à cama. Eu
estava nua, meu corpo todo doía pelas
cintadas que recebera de Samuel (durante o
pesadelo, eu ainda não o via como Steve
Lutner). Porém, o doente não achava isso
suficiente, ele tinha que violar mais do meu
corpo e da minha alma, que estavam
quebrados.
Fechei os olhos, não querendo ver
nada, mas ele bateu em meu rosto, fazendo-
me fitá-lo. Seu sorriso cruel estava em sua
boca, que tinha uma marca que eu causara
nele com meus dentes logo que me prendera
ali, mas era impossível lutar.
Seu cheiro de cerveja e cigarro, seus
dedos em minha pele, seu membro em
mim… Então surtei novamente, gritando,
porque isso me enojava ao ponto de querer
vomitar. E desmaiei.

Abri os olhos; estava deitada no banco


de trás do meu carro, com Nasx dirigindo.
Suas mãos brancas apertavam tão forte o
volante que eu achei que o quebrariam.
— Nasx? — Sentei-me e olhei para os
meus pulsos vermelhos, quase em carne
viva. — Maldição! Eu surtei, não foi?
Como vou explicar isso ao Bryan?
Ele respirou fundo.
— Nunca vi nada assim antes, seus
gritos torturantes… — Ele estremeceu, mas
senti raiva em seu tom. Eu sabia a quem se
destinava essa fúria. — Do que se lembra?
— Lembro-me de estar algemada, mas
não naquela parede e com as correntes, em
uma cama, e ele estava lá… — Sacudi a
cabeça, expulsando as lembranças sombrias.
— Talvez seja melhor deixar isso
quieto. Bryan te ama, Alexia, ele jamais vai
deixá-la independentemente do que fizerem
ou não — falou quase suplicante. — Talvez
você possa frequentar psicólogos; eu soube
que eles ajudam muito nesses casos.
Respirei fundo, porque parte de mim
queria desistir, mas parte não queria, a
maior. Eu queria ser uma mulher normal,
sem medo de provar tudo com Bryan.
— Eu sei, mas já frequentei demais
psicólogos na clínica psiquiátrica em que
fiquei internada, e isso não resolveu nada —
informei, suspirando e olhando os pulsos
machucados. — Vamos continuar até eu
conseguir me controlar, mas primeiro
preciso resolver esse problema com meus
pulsos. Podemos ir ao shopping?
— Mulher, você acabou de desmaiar
por causa de um trauma e quer ir ao
shopping? — Ele sorriu descrente e
sacudindo a cabeça loura.
— Preciso comprar braceletes que
cubram essas feridas, que inclusive podem
se tornar hematomas, ou ele vai desconfiar.
Não quero que Bryan saiba de nada até eu
conseguir me fortalecer.
— Tudo bem, eu vou fazer isso por
você e pensar em algo que não machuque
mais a sua pele — concedeu, e seguimos
para o shopping.
A partir daquele dia, passamos a ir
todas as tardes à casa para treinar. Nas
primeiras vezes, eu desmaiava e era levada
para dentro do pesadelo das lembranças. Era
como se eu estivesse viajando de volta ao
passado e vivendo aquilo tudo de novo.
No quarto dia de treino, imergi em um
pesadelo em que estava amarrada de bruços
à mesa, com os braços abertos, a bunda para
cima e os pés no chão.
Você é minha puta, falava aquele
demônio, batendo em minhas nádegas nuas
com um chicote de montaria. As chicotadas
eram tão fortes que eu gritava de dor e
desespero.
A névoa das lembranças passou a se
misturar com o presente, e eu não sabia
mais o que era real ou não. De repente, uma
voz inconfundível me trouxe ao presente.
— Alexia… — chamava Bryan a todo
momento o meu nome, desesperado.
Aquela voz era capaz de me tirar dos
piores pesadelos. Eu podia estar no inferno,
que ela tinha o poder de me resgatar de lá.
Abri os olhos e estava no cômodo que
Nasx arrumara para mim, presa a Cruz de
Santo André. Pesquisara sobre ela, já que
me deixara curiosa o fato de uma cruz com
nome de santo ser usada para aquele tipo de
coisa. Lembrava-me de ser colocada ali
antes de surtar de novo, como sempre, mas
havia sido trazida de volta pela voz do único
homem que era capaz de me ressuscitar dos
mortos.
Não era Nasx à minha frente, embora
eu pudesse vê-lo todo machucado num
canto. Parecia que tinha levado uma surra, e
não fora leve, pelo sangue que saía de sua
boca.
Meu coração gelou ao tomar
consciência de que tinha sido por minha
causa que ele apanhara de Bryan, que estava
à minha frente com os braços cruzados,
olhando-me.
— Saiam os dois agora — rosnou
Bryan sem tirar os olhos de mim.
Percebi que ele falava com Nasx e
Daemon – esse estava perto da porta.
— Porra, eu não vou deixar você
assim, como está, com ela — grunhiu
Daemon, olhando furioso para Bryan.
Bryan suspirou e puxou a arma,
apontando-a para Daemon, que não parecia
preocupado com isso.
— Shadow, leve-os agora daqui, ou
não respondo por mim — sibilou num tom
mortal.
— Daemon, venha conosco, deixe
Bryan resolver isso com sua garota — falou
Shadow, cuja presença só então notei,
olhando com expressão triste para Bryan. —
Lembre-se, Bryan, a luz sempre vence a
escuridão.
Assim que todos saíram – inclusive da
casa, já que eu ouvi o som de motos se
afastando –, foquei em Bryan, que guardou
a arma. Eu ainda estava chocada por ele ter
puxado a pistola para um dos seus amigos.
— Bryan… — comecei, mas parei ao
ser interrompida por sua fúria.
— O que acha que pode me dizer
quanto a isso?! Acha que não vi as marcas
nos seus pulsos e pés?! Porra! Sabe o que
estou sentindo agora?! Eu quase matei o
Nasx hoje! Não sabe o quanto me segurei
para não fazer isso!
— Mas não fez, você é bom…
Ele riu sem vida.
— Bom? Acha que sou bom ao deixá-
lo viver? Você não entende, não é? Ver você
amarrada e gritando… e aquele fodido
assistindo a tudo e não fazendo nada!
— Porque eu pedi a ele para me ajudar
a acabar com o medo das lembranças e ser
completa para você… — Chorei e tentei
respirar fundo para me controlar.
Ele se aproximou de mim e colocou as
mãos nos meus cabelos, puxando-os para
trás com força, embora não a ponto de me
machucar. Por incrível que pareça, eu gostei
disso.
— Você quer ser fodida assim? —
sibilou, pegando uma faca na sua bota e
deslizando a folha suavemente em minha
pele, então passou a lâmina no vestido,
cortando-o em duas metades e o arrancando
do meu corpo.
Ofeguei tanto pela lâmina quanto por
estar sendo despida. O sutiã e a calcinha
foram as próximas peças a serem rasgadas.
— Ainda vai me deixar fazer tudo que
quero com seu corpo? É isso que você quer?
Você ainda vai querer um monstro fazendo
isso?
— Você não é um monstro…
— Não? Você não sabe como está
minha mente agora; se soubesse, iria fugir
de mim, Alexia — declarou de um jeito
sombrio. — Olhe dentro dos meus olhos; os
demônios estão aí dentro, loucos para serem
soltos e matar sua fome.
— Eu confio minha vida e minha alma
a você — afirmei com forte convicção.
Seus olhos escureceram.
— Você não devia dizer isso a alguém
como eu. — Ele se afastou, pegou um
chicote e veio até mim com os olhos me
pedindo para pará-lo, mas eu não ia fazer
isso.
— Pois eu digo, quero que faça
comigo tudo que fez com as mulheres que já
passaram pela sua vida, não me importa o
que seja! — garanti com a voz segura.
Tinha algo nos olhos dele que estava
diferente, mas não me deu medo, porque eu
acreditava que Bryan nunca me machucaria
de nenhuma forma.
Ele rosnou e assentiu, com seus olhos
azuis escuros como uma tempestade. Ele
veio até mim e me beijou, mordendo meu
lábio tão forte que senti o sabor de sangue,
mas não liguei. Estava amando ver o fogo
em seus olhos lindos e raivosos. Esperava
que meus treinos tivessem tido efeito.
Então seus lábios seguiram para minha
orelha, mordiscando o lóbulo e me fazendo
gemer, ansiando por ele, por aquele homem,
que me curava até de um trauma que sempre
me atormentara, ainda mais depois daqueles
quatro dias de enfrentamento das
lembranças. Ouvindo sua voz, tudo ficava
suportável. Eu nem imaginava que sua voz,
seu cheiro e seu olhar eram a arma que eu
precisava para não cair nas profundezas do
abismo que fora aquela semana nas mãos de
um psicopata, e acreditava que poderia estar
com Bryan completamente sem surtar.
Ele se afastou e escorou a ponta do
chicote em minha pele, fazendo meus
braços mexerem e as correntes tilintarem. O
som me fez estremecer, mas foquei na
imagem de Bryan ali, e não naquelas que
me causavam medo e dor.
— Quer isso, Alexia? — inquiriu
como se sentisse que eu precisava ouvir sua
voz para aquietar meu coração e meu medo
das correntes.
— Sim; com você, eu quero tudo —
falei a verdade, porque meu corpo e minha
alma queriam aquele homem mais do que
eu precisava comer e respirar.
— Bom — disse em tom quase
orgulhoso e bateu em meus peitos com a
ponta do chicote.
Ele fazia isso várias vezes enquanto
meus olhos se fechavam, sentindo o prazer
se apossando de mim dos pés à cabeça,
quase me fazendo entrar em combustão.
Meus gemidos eram altos, porque nunca
sentira nada daquilo antes, o prazer, o fogo
me devorando, me consumindo. Essa
palavra descrevia tudo. Bryan me consumia.
— Olhos em mim. — Bateu em minha
boceta, da qual meus sucos escorriam,
deslizando pelo interior de minhas coxas
devido ao meu prazer, desejo e fogo. —
Você quer minha boca? Ou o chicote?
Abri os olhos e fitei suas íris
brilhantes.
— Sua boca, eu a adoro. — Olhei sua
boca avermelhada, que esboçou um sorriso.
Então ele se agachou à minha frente e
devorou minha boceta, lambendo-a,
degustando-a tanto que logo vi milhares de
estrelas. Ele já havia colocado a boca em
mim muitas vezes, mas daquela vez foi fora
do normal, tanto que logo gozei em sua
boca.
E não parou por aí. Em vez de entrar
em mim, como sempre fazia, ou de me
deixar colocar a boca nele, soltou minhas
mãos e pés e me pegou nos braços, já que
eu estava mole pelo orgasmo. Levou-me
para a cama, deitando-me nela, e se afastou,
olhando-me de pé perto da cama.
— Deite de bruços agora — ordenou,
e, assim que estremeci, pois essa posição
era a pior, porque eu tinha medo de não
conseguir ultrapassar o medo e deixar o
prazer e o amor por aquele homem me
consumirem, acrescentou: — Ouça a minha
voz, a siga, OK?
— Sim, Bryan. — Respirei fundo e fiz
o que ele mandou, deitando-me de bruços
nua e abrindo os braços na direção das
algemas. Ofeguei ao sentir o medo começar
a me dominar ao ser algemada. Flashes de
lembranças acometeram minha mente, mas
a voz de Bryan, como sempre, trouxe-me de
volta.
— Luz do Sol, sou eu aqui… — Pôs-
se sobre mim, puxou meu cabelo e lambeu
minha orelha. — Ouça minha voz, sinta
meu cheiro e meu pau duro querendo se
apossar de seu corpo enquanto levanta essa
sua bunda linda e gostosa.
Meu coração bateu forte com sua voz
sexy expulsando todo o medo que queria me
governar. Aquele homem era a luz que
iluminava a minha escuridão, assim como
eu sonhava um dia ser para ele.
— Hummm, nunca fiz nessa posição,
mas com você, quero tudo — sussurrei.
— Mas eu pensei que, devido ao seu
trauma dessa posição… era isso que tinha
acontecido — falou em tom grave, mas
respirou fundo para se controlar.
— Não, ele só gostava de me pôr
assim para me bater com o cinto… —
minha voz tremeu.
Ele me interrompeu.
— Não pense nisso agora, pense só em
mim e no meu toque e saiba que, se eu bater
em sua bunda assim, será para o seu prazer,
não para lhe causar dor, tudo bem? Quer
tentar? — Beijou minhas costas. — Se você
não quiser, eu paro. Jamais vou fazer algo
que não queira ou que a machuque.
— Eu quero, Bryan! — garanti com
ferocidade, para ele ter certeza de que eu
não estava mentindo. Gritei assim que ele
deu um tapa na minha bunda, mas não senti
apenas dor – leve –, e sim um fogo ainda
maior me consumindo, tanto que acreditei
que gozaria se ele continuasse. — Oh,
Deus!
— Gostou? Quer mais? — Senti outro
tapa, perto de minha boceta, e gemi,
querendo juntar as minhas pernas para
aumentar o atrito, mas suas mãos
impediram que isso acontecesse.
— Bryan, por favor! — Eu me remexi
e levantei os quadris, querendo e ansiando
por ele onde latejava, a cada toque no meu
clitóris. — Eu quero você dentro de mim
agora!
— Seu desejo é uma ordem, minha
Luz do Sol! — Então ele estava dentro de
mim, possuindo-me por trás, mas, pela
primeira vez tendo um homem contra
minhas costas, eu não estava sendo levada
pelas sombras, mas sim pela luz chamada
Bryan. Ele era a minha luz na escuridão.
— Eu te amo, Luz do Sol. Com você
aqui, a escuridão se aquieta dentro de mim
— sussurrou quando eu estava deitada em
seu peito e quase dormindo.
— Um dia quero poder tirar toda ela…
Quero ser a luz no abismo escuro que às
vezes domina sua alma. — Dormi antes de
ouvir sua resposta.
Capítulo 20
Bryan
Passado
Quando levei um tiro no clube MC
Scorpion, achei que eu e a garota que eu
tinha salvado não conseguiríamos fugir,
mas, graças ao Shadow, que viera me
ajudar, conseguimos escapar. Eu precisava
protegê-la dos monstros que a queriam.
Black não deixava a sua “mercadoria” nas
mãos de outras pessoas, porque era assim
que ele via aquela menina, uma mercadoria
que estava à sua disposição para qualquer
coisa que ele quisesse, sem poder de recusa.
— Você tinha que se meter em
problemas, não é? — acusou Shadow. —
Toda vez vou ter que aparecer e limpar a
sujeira que faz?
Eu estava sentado em seu Cadillac
preto. O bastardo tinha mais ciúmes daquele
carro do que um dia já sentira de alguém.
Isso quase me fez rir, já que ele nunca se
interessara de verdade por uma mulher. Para
ele, assim como para mim, era só foda e
curtição.
— O que ia fazer? Deixar aqueles
caras estuprarem a garota? Porra, eu não
tenho sangue frio para isso, e você também
não. — Olhei de lado para ele. — Não é?
Shadow suspirou e olhou para o banco
de trás, onde a menina estava dormindo.
— Como ela pode dormir assim depois
de quase ter sido atacada? — seu tom era
incrédulo.
— Ela disse que está grávida, então
deve ser isso — respondi, sentindo o buraco
de bala doer. Estava sob um pano, mas ele
não conseguia estancar o sangue, tanto que
pensei que logo desmaiaria devido à
hemorragia. Eu havia pensado que fosse de
raspão, mas parecia que não.
Shadow ofegou.
— Caralho, me diz que o filho não é
seu! — sua voz saiu duas oitavas mais alta,
fazendo a garota se mexer no banco de trás,
mas não acordou com o seu chilique. —
Droga, cara, se fez isso, eu mesmo decapito
você e jogo sua cabeça aos porcos, porque
ela deve ter só uns 15 ou 16 anos, não mais
do que isso.
Revirei os olhos.
— Não é meu filho, aliás, eu nem
conheço essa garota. Além disso, pedofilia
não é minha praia, odeio quem faz esse tipo
de coisa, como você deve saber.
Shadow sabia tudo o que acontecera
comigo e minha família torta, então estava
por dentro do porquê eu odiava abusadores
de crianças e adolescentes.
— Eu sei, desculpe, cara. Será que é
filho de algum deles? Se for, vamos ter uma
luta feia pela frente — falou, entrando na
cidade de Middletown. — Vamos parar aqui
e dar um jeito nesse seu ferimento.
Suspirei.
— Eles achavam que ela era virgem.
Mesmo se for algo assim, eu não me
importo. Não vou deixá-la com eles. Só
preciso escondê-la em algum lugar seguro.
Não posso ficar com uma menina grávida
andando sem rumo, já que não sei bem o
que fazer agora — disse e saí do carro,
chamando a garota. — Acorda. Vamos ficar
aqui alguns minutos, depois seguimos
adiante.
Ela piscou, olhou para mim e saiu do
carro, então viu Shadow e pegou meu braço,
apertando-o e se escondendo atrás de mim.
— Por favor, não me dê para outros
homens! — suplicou agarrada a mim.
Shadow riu.
— Querida, saiba que eu nunca
enfiaria o meu…
— Shadow — cortei-o, um alerta em
meu tom, já que estávamos diante uma
garota que era quase uma criança e que,
ainda por cima, estava grávida. Olhei para
ela. — Não liga para ele. Não vamos te
machucar, não tem a mais remota chance de
nem eu, nem ele encostarmos um dedo em
você, OK?
Ela assentiu, aliviada.
Nós nos hospedamos numa pousada de
beira de estrada e entramos no quarto, que
tinha duas camas de casal e um sofá grande.
Shadow saiu e comprou roupas para nós
dois, em seguida me costurou. A bala
atravessara meu abdome, não pegando em
nenhum órgão, ou pelo menos eu esperava
que não. O sangramento havia parado, e
isso me tranquilizou, porque, se eu
desmaiasse ou ficasse muito fraco, não teria
como proteger aquela menina, minha irmã e
vovó. Shadow disse que tinha alguém de
confiança cuidando de Sam na faculdade,
mesmo que eu tivesse apagado os rastros
dela. Estava feliz por isso, porque não podia
estar em dois lugares ao mesmo tempo.
— O que faremos agora? — sondou
Emília – era esse o seu nome, conforme nos
avisara havia pouco tempo –, vestida com
calça e suéter de moletom azul.
Suspirei.
— Eu vou te levar à casa de um amigo
meu, que tomará conta de você até eu
resolver tudo isso — falei, indo olhar a
janela para ver se alguém nos seguira até
ali.
De repente senti braços em minha
cintura me apertando por trás.
— Por favor, não me afaste de você!
Eu não confio em mais ninguém neste
mundo! — suplicou ela, chorando e me
abraçando ainda mais.
Meu coração doeu por ela. Sabia que
não podia deixá-la sozinha. Olhei para
Shadow, que observava a menina agarrada a
mim como um carrapato.
— Cadê seus pais? Não pode ficar
com eles? — sondou meu amigo.
Segurei delicadamente as mãos sobre a
minha cintura, afastando-as de meu corpo,
virei-me e fitei os olhos dela, molhados de
lágrimas.
— Por favor, não me leve de volta para
aquele monstro! — implorou limpando as
lágrimas. — Ele não me deixava sair de
casa, nem mesmo para ir à escola e há
pouco tempo me deu àqueles homens para
pagar uma dívida!
Meus pulmões travaram. Parecia que
eu tinha levado um soco no tórax, pior do
que o tiro que havia recebido na barriga.
Maldição! Uma suspeita me veio à mente.
— Se não saía de casa, quem é o pai
do seu filho? — sondou Shadow, com
certeza tendo a mesma desconfiança que eu.
Ela se sentou no sofá e se encolheu
num canto, levantando as pernas como se
estivesse se protegendo.
— Minha mãe morreu há alguns
meses, então ele bebe muito e diz que me
pareço com ela…
— Você está querendo dizer que esse
filho é do fodido do seu pai?! — Cerrei os
punhos, com as suspeitas sombrias se
confirmando. Eu queria esmurrar alguma
coisa devido à minha ira, mas não queria
assustá-la, então me controlei.
— Onde ele mora? — perguntou
Shadow mortalmente, com os dentes
trincados.
Ela o fitou com olhos assustados.
— Não vai me entregar a ele, não é?
Por favor, não faz isso comigo! Eu faço o
que vocês quiserem! Não reclamo de nada e
não critico sobre comida ou roupas, serei
boa, apenas não o deixe…
— Não vamos dar você a esse fodido,
apenas vamos dar uma lição a ele que esse
desgraçado nunca vai esquecer em sua vida
— sibilou Shadow.
Ela suspirou aliviada e nos deu o
endereço daquele bêbedo e estuprador, que
logo estaria no inferno que estava preparado
para gente como ele. Eu não me
incomodava em tomar a vida de merda de
pessoas desumanas como aquela, de dar
mais um pedaço de minha alma para o
abismo ao fazer aquilo.
Deixei-a no quarto e saí da espelunca
de beira de estrada. Precisava falar com
Shadow sozinho, sem Emília por perto. O
que eu tinha a dizer não era para seus
ouvidos.
— Shadow, ele é meu assim que o
pegarmos — avisei, escorando-me em seu
carro ao seu lado.
Ele suspirou e olhou para a pousada
desbotada pela chuva e para a janela do
quarto onde ela estava.
— Deus, me deparo com cada tipo de
homem que minha vontade é matar cada
um! Só não eliminei os MCs fodidos do
Scorpion porque meu presidente não
deixou; se eu pudesse ir contra Black e o
maldito pai de Emília, eu iria, Bryan, mas
não sou o chefe e sigo as ordens de Berry
— ele me disse com um suspiro
desalentado.
— Eu sei, cara, e quero agradecer por
ter cuidado das minhas costas todos esses
meses em que eu estava pagando a dívida
dos meus pais. Você ficou comigo e me
ajudou em várias situações. — Cocei meu
queixo barbudo. — Não tinha como eu ir lá
e fazer o que ele me pediu àquele casal. Eles
são pessoas boas, você viu, não é?
— Sim. Eles estão cobertos agora, e o
primo está arrumando um jeito de pagar sua
dívida para Black deixar sua família em paz.
Pelo menos o cara tem colhões — falou ele
e me olhou de lado. — Não pode se apegar
a essa menina e sabe disso, não é? Não pode
ficar com ela para sempre. Você tem
sonhos, Bryan, e precisa ir atrás deles.
— Eu não estou me apegando a ela, só
a protegendo de caras que lhe querem fazer
mal. Isso não vai acontecer enquanto eu
viver. — Suspirei, não me importando com
o que eu queria naquele momento. — E
quanto a voltar a ser agente da CIA? Isso
pode esperar um pouco, até ela completar a
maioridade e poder cuidar de si e da criança
que vai nascer. Enquanto ela ainda for
menor de idade, eu a protegerei.
Shadow riu, mas era uma risada tensa.
— É disso que estou falando, Bryan,
você desiste dos seus sonhos pelo bem dos
outros. Com o serviço que fez hackeando
uma conta para Dark, o chefe da máfia
russa, você ganhou uma bolada preta, e o
que fez? Investiu na sua irmã, fazendo-a ser
aceita na faculdade — seu tom era ao
mesmo tempo de reprovação por eu sempre
me dedicar aos outros e de orgulho por eu
fazer o que era certo.
— Como sabe sobre isso? Conhece
Nikolai? — perguntei curioso.
O homem, ou melhor, o garoto de
apenas 19 anos era uma das pessoas mais
influentes da Rússia.
— Sim, já fizemos negócios juntos.
Apenas um moleque e já nesse ramo. Por
isso pense bem, Bryan. Você ainda tem uma
chance de realizar seus sonhos, como Dark
e eu não tivemos — disse baixo e
suplicante.
— E o que faço com ela? Não posso
simplesmente deixá-la sozinha, uma garota
de 15 anos grávida do fodido pai, que logo
vai para o inferno, porque eu vou mandá-lo
para lá — garanti num tom mortal.
Ele deu um suspiro triste.
— Não posso deixar isso acontecer —
contestou ele, avaliando-me de perto.
— O que você fez? — Afastei-me do
carro, olhando para ele, que cruzou os
braços. Não parecia preocupado com meu
tom; ele se garantia, mas eu também.
— Você escolheu essa vida, cuidar de
uma garota e de um bebê, voltar a ser um
agente da lei e defender seu país, então não
pode ficar por aí matando pessoas, não
importa o que tenham feito. Precisa se
estabilizar, cara, e seguir seu sonho.
Eu ri, amargo, passando as mãos nos
meus cabelos para não atacar meu amigo.
— Então vou deixá-lo simplesmente
escapar disso? Não vou fazer nada? Cara, eu
não posso deixar por isso mesmo, tenho
que… Ele tem que pagar pelo que fez a ela.
— Não se preocupe, Bryan, porque
agora, nesse exato momento, esse merda
está tendo o que merece, com juros e de
jeito bem lento — falou sombriamente. —
Apenas tome conta da garota e do bebê,
pegue o dinheiro que você tem e tenha uma
vida normal como todo mundo. Nem todos
têm uma segunda chance.
Depois da conversa com Shadow, eu e
Emília nos mudamos para a Carolina do
Norte, onde comprei uma fazenda e
algumas cabeças de gado leiteiro. Passamos
a morar lá com novos nomes – Christopher
e Christina Wolf –, e eu trabalhava como
fazendeiro. Ela fingia que era minha esposa
e que era maior de idade.
Emília já fazia parte da minha família,
como Sam e vovó. Assim que a criança
nasceu, Emília a chamou de Emma, e gostei
disso. Fazia muito tempo que eu não era
feliz assim, estando com alguém que já
considerava uma irmãzinha, que era mãe de
uma bebezinha linda que eu via como uma
sobrinha.
Dois anos passaram voando, e Emma
estava com um ano e cinco meses e Emília,
com quase 18 anos. Tornara-se uma mulher
inteligente e perspicaz, muito madura para
sua idade. Eu a amava como uma irmã tanto
quanto amava Samantha.
Sam estava indo bem na faculdade.
Um dia fui visitá-la e conheci uma de suas
amigas, uma loura chamada Alexia, tão
linda e formosa que tudo em mim gritava
querendo aquela mulher, mas tinha algo de
diferente nela, e eu não sabia o que era. Não
aprofundei o contato, já que não queria
contaminá-la e trazê-la para a escuridão que
me cercava. Além disso, eu não podia ter
um relacionamento naquela época, afinal,
tinha Emília e Emma na minha vida.
Não tínhamos mais notícias do MC
Scorpion, mas eu sabia que eles estavam
nos procurando. Quando alguém traía
Black, era caçado e eliminado sem direito a
perdão. Na sua mente fodida, eu o traíra,
tanto por não ter terminado de pagar a
dívida do meu pai quanto por lhe subtrair
um pagamento que recebera do pai de
Emília.
Eu sabia que Shadow estava segurando
as pontas para mim, para não sermos
encontrados ali. Agradecia a ele por isso,
por ir contra seu chefe para me proteger.
Esperava que um dia pudesse lhe agradecer
pessoalmente, quando tudo aquilo passasse.

— Como foi no serviço hoje? —


Emília perguntou colocando um prato de
arroz e frango na minha frente. Ela sabia
que eu adorava aquela combinação.
Sorri para ela.
— Foi bom, consertei a cerca, que
estava caindo, assim o gado não foge —
respondi enquanto comia.
Ela franziu o cenho.
— Quando vai sair? Quero dizer…
sair com uma mulher. Desde quando nós
viemos para cá, você não sai, só trabalha
nesta fazenda, de que você nem gosta…
— O quê? — Nós já havíamos falado
sobre aquele assunto várias vezes, mas eu
sempre me esquivava.
— Já conversamos antes, Bryan, quero
que saia e se divirta com alguma mulher.
— Não quero sair…
— Bryan, eu sei que está fugindo de
Black, mas você precisa ter uma vida lá
fora, não em uma fazenda — insistiu,
pegando uma carta no bolso e me
entregando.
— Onde a encontrou? — Era uma
carta da agência me convocando para uma
missão. Eu tinha que encerrar minha
licença, que já durava demais, e retornar ao
trabalho, sob pena de ser exonerado.
— A achei no bolso da sua calça. Eu
nem sabia que você era um agente da CIA.
Posso ver que é algo que você ama fazer.
Está vendo? Seus olhos brilham querendo
isso, Bryan. Você só não voltou por minha
causa e de Emma. Por isso viemos morar
aqui, não foi? Não precisa desistir de nada
por nós, pode seguir seus sonhos. Já
renunciou demais, não acha?
— Olha, eu não vou aceitar isso e fim
de conversa — avisei. — Eu escolhi essa
vida e vou vivê-la.
— Mas, Bryan… — começou ela em
tom suplicante, mas a cortei de modo
definitivo:
— Não vamos mais falar sobre isso,
tudo bem?
— Pelo menos saia esta noite e
encontre alguém, já que faz muito tempo
que…
Eu a fuzilei com os olhos, mas ela
sorria tranquilamente, feito uma pestinha.
— Certo, eu vou, mas não quero mais
falar desse negócio de CIA e tudo mais,
porque eu não me arrependo de estar aqui
com você e com Emma. Jamais pense isso,
Emília. — Não me arrependia mesmo, só de
não ver Sam e vovó com a frequência que
eu gostaria.
— Ok. Enquanto você estiver fora, eu
vou costurar algumas roupas para Emma,
que está a cada dia maior. Também preciso
consertar uma roupa para a dona Laura. —
Sorriu animada.
— Só espero que leve a roupa na casa
dela; não gosto daquela mulher aqui. —
Dona Laura era a dona da fazenda vizinha à
nossa. Fiz uma careta.
— Não gosta que ela belisque suas
bochechas? — Ela riu.
Sacudi a cabeça enquanto ela lavava a
louça suja e eu a enxugava.
— Não sou uma criança para ela fazer
isso, e aquela história de filhos? Meu Deus!
Ela me disse para ter uns nove, como ela. —
Estremeci ao imaginar aquilo.
Os olhos de Emília se arregalaram.
— Só espero que, quando se casar,
você se divirta fazendo seus filhos —
brincou ela.
Fazer não era o problema, mas com
quem eu queria fazer, uma loira que não
saía da minha cabeça: Alexia.
— Querida, não esqueça que ela pensa
que somos casados, então isso vale para
você também. — Saí da cozinha, e ela me
seguiu.
— Cruz-credo, não estou a fim de ter
filhos por um bom tempo. Além disso, eu
nem tenho um namorado, alguém para
chamar de meu.
— Um dia terá — falei, beijando sua
testa.
Tomei banho e me arrumei para sair. Já
eram quase 7h da noite. Estava pensando
em ir a um bar e pegar alguma garota. Já
fazia um bom tempo que eu não ficava com
ninguém. A última vez fora quando eu tinha
ido comprar ração para o gado e ficara com
uma garota no banheiro de sua loja. Eu nem
sabia seu nome, nem me importava, pois a
única mulher que eu queria de verdade não
podia ter.
Pelas últimas notícias que eu tivera
dela, Alexia estava indo bem na faculdade,
junto a Sam, e se formaria no ano seguinte.
Cheguei à sala e olhei para Emília, que
estava costurando. Ela era boa nisso.
Alegrava-me o fato de o seu passado não a
ter traumatizado, como acontecia a muitos
por aí, como também me deixava feliz que
ela amasse Emma, não importando o modo
como ela fora concebida. Emília agradecia a
Deus por Emma ter nascido perfeita e
saudável, já que ambas eram filhas do
mesmo pai, um homem que estava
queimando no inferno, graças a Shadow,
que dera um jeito de alguém o mandar para
lá. Entretanto, nem sempre havia sido
assim; logo no início de nossa convivência,
eu a via lutar contra seus pesadelos.
Finalmente ela se acalmara.
Emília olhou para mim sorrindo assim
que entrei no cômodo.
— Ficou bom sem aquela barba que o
fazia parecer mais velho do que é de fato.
— Veio até mim e bagunçou meu cabelo. —
Esse é o seu charme, não o deixe de lado.
Vai conquistar todas esta noite.
Ri e a abracei rapidamente.
— Só quero que saiba que você e
Emma são muito importantes na minha
vida.
— Bryan, eu também amo você, como
irmão. Agora vá se divertir. Ou está
tentando se tornar um monge?
— Isso não é minha praia — respondi,
indo para o quarto de Emma. — Agora vou
me despedir da minha boneca. — Fui ao
quarto onde a menina estava dormindo e vi
minha princesinha linda. Como podemos
amar uma coisinha tão pequena assim? —
Boa noite, princesa linda. Eu te amo
demais!
— Nós também amamos você — disse
Emy escorada à porta. — Agora vá para seu
encontro.
Capítulo 21
Alexia
Presente
Quando acordei de manhã, estava em
êxtase, tão feliz por ter ficado com Bryan
algemada sem surtar ou entrar em pânico.
Ele fora maravilhoso. Todo o momento em
que o medo ameaçava me dominar, ele me
tranquilizava com sua voz, com seus beijos
de mel, que eu tanto amava.
Contudo, assim que me levantei, senti
minhas pernas bambas e uma dorzinha
estranha entre as pernas. Eu nunca transara
tanto em minha vida, sem contar quando eu
estivera com Steve, afinal, aquilo não era
sexo, mas estupro.
Olhei para o meu corpo e ofeguei ao
ver machas roxas por todo lado, mas não era
de se estranhar, afinal, eu era muito branca e
ficava marcada com facilidade. Dei alguns
passos, sentindo meu corpo rígido, como se
tivesse feito muita musculação e não
aguentasse andar no dia seguinte.
Olhei ao redor, no quarto da casa que
Nasx alugara para eu treinar bondage. O
treino só fora efetivo e perfeito com Bryan.
Quando pensei em seu toque, fiquei com
vontade dele de novo, com uma fêmea no
cio.
Enverguei um vestido azul que estava
em uma cadeira. Eu não sabia quem o
trouxera, mas não me importava, afinal, o
que eu usava tinha sido inutilizado por
Bryan.
Procurei-o no banheiro, já que ele não
estava no quarto, depois segui para a sala
vazia e o vi de pé à janela de vidro, olhando
para fora.
Fui até ele para abraçá-lo e lhe
agradecer pela noite mais maravilhosa da
minha vida.
— Não toque em mim — falou com a
voz gélida, virando-se e me fitando com
olhos sombrios.
— O quê? Por que não posso tocá-lo?
Ainda está bravo por eu ter pedido ajuda a
Nasx? Quero que saiba que ele só me
algemava, não me tocava, então não precisa
ter ciúmes. — Sorri. — Nossa! Foi a melhor
noite da minha vida…
— Você ainda sorri?! — esbravejou,
afastando-se de mim. — Eu praticamente
estuprei você!
Arregalei os olhos com descrença.
— Espere, o quê? Você não me
estuprou, Bryan. Não se lembra do que
tivemos? — Franzi o cenho. — Ontem tinha
algo a mais em seus olhos, mas não
consegui identificar o que era.
— E ainda assim me deixou tocar em
você, porra! Alexia, não sabe o que sinto
quando à minha mente vêm flashes de você
gritando “pare”…
— Como não se lembra do que houve,
do que aconteceu ontem?! Enquanto estive
com você, só gritei de prazer! — Alguma
coisa em seu olhar me fez suspeitar de algo.
— Fora você ter me encontrado aqui com
seu amigo, aconteceu mais alguma coisa?
— Dei um passo até ele, mas ele recuou, e
parei onde estava.
Bryan respirou fundo.
— Meus pais foram mortos ontem.
Dylan foi espancado até a morte na prisão, e
minha mãe, em sua casa — sua voz soou
sem vida ao dizer isso.
— Oh, meu Deus! — Cobri a boca
com uma das mãos tamanho o choque. —
Sinto muito, Bryan. Sabe quem foi? Será
que foi Steve?
— Pelas câmeras na prisão, que
filmaram, sim. Ele se vestiu de guarda,
entrou e fez o que fez. Acredito que também
tenha sido ele que fez isso com minha mãe,
mas em sua casa não há câmeras.
Meu estômago embrulhou, e só não
vomitei por não ter nada no estômago, mas
aquela informação me encheu de fúria. Por
que eu não o matara quando atirara nele?!
Se eu tivesse feito aulas de tiro, teria
acertado precisamente, não teria errado.
— Maldição! Bem que eu podia o ter
matado! — rosnei com os punhos cerrados.
— Queria tê-lo matado? Você não sabe
o que está dizendo para falar algo assim.
— Por quê? Só porque você me acha
perfeita? Eu não sou perfeita, Bryan, e eu
queria tê-lo matado, porque agora você vai
fazer isso, não é?
— Sim, eu vou matá-lo e de maneira
dolorosa — sua voz era fria e desumana.
— Não pode! Por favor, Bryan! Eu sei
que ele matou seus pais, mas não faz isso!
Não deixe a escuridão vencer você… —
comecei, mas ele me interrompeu:
— Meus pais? Você acha que eu quero
vingá-los? Não, não me importo com eles,
mas com o que esse verme fez a você e
tantas mulheres inocentes. Por isso vou
matá-lo de maneira lenta e torturante, como
ele fez com todas as outras vítimas.
— Bryan, você não é um monstro
como ele. Eu sei que está sofrendo pelos
seus pais, mas não fique assim, vamos dar
um jeito nisso… — Eu queria tocar nele
para tranquilizá-lo, mas seus olhos pareciam
um abismo escuro e profundo, como se a
escuridão estivesse vencendo.
— Não estou assim por meus pais.
Alexia, eu sou um monstro, que a violou
como esse imundo. Acha que sou diferente
dele? Você gritava, e eu não ouvia! A minha
alma estava negra naquela hora. Shadow e
Daemon não deviam ter me deixado sozinho
com você! — Colocou as mãos nos cabelos
como se fosse arrancá-los e fechou os olhos
ante a dor. — Seus gritos me assombram, e
será assim para sempre.
— Bryan, meus gritos quando você
chegou aqui eram de dor e medo, mas
porque eu estava imersa num pesadelo
lúcido com aquele demônio! Depois que
você me tocou, eu gritei de prazer, não de
outra coisa! Pode confiar em mim? —
inquiri em tom magoado.
— Por quê, se você diz isso apenas
para eu não sofrer e não me sentir culpado
por algo que fiz? Maldição, você tem
trauma de ser algemada e fazer sexo por
trás, e eu fiz tudo isso! Não vê o monstro
que sou?!
— Não, não vejo! Se você se lembra
dessas partes, por que não se lembra das
outras, quando eu pedia e ansiava para ter
seu toque, seus beijos e tudo que estava me
dando? — sussurrei. — Ficamos várias
vezes assim, e eu não surtei, amei cada
momento. Você não é um monstro. Nunca
pense isso.
— Eu não sou? E esses demônios que
estão aqui dentro de mim há tanto tempo?
Quer ouvir minha história?
Então ele narrou sobre o MC Black, do
motoclube Scorpion, que ameaçara sua
família caso ele não matasse algumas
pessoas. Disse que assassinou quatro, mas
que não pôde fazer isso com um, que era
inocente, e, que quando foi dizer ao chefe
do MC que não trabalharia mais para ele, as
coisas saíram do controle.
Contou que salvou uma menina de 15
anos que fora estuprada e que estava
grávida e à qual Black via como sua posse.
Após isso, Bryan fora viver com outros
nomes junto a essa menina, chamada
Emília, e sua bebê, Emma. Falou sobre a
noite estranha em que tivera uma conversa
com Emília sobre seus sonhos deixados de
lado para protegê-las.
— Sabe o que é mais estranho? Eu não
queria realizar sonhos. Eu as amava, embora
como irmã e sobrinha, e isso bastava para
mim.
Assenti.
— O que aconteceu depois? — sondei,
porque algo acontecera com elas, já que ele
tatuara o nome de ambas em seu peito,
como uma lembrança e homenagem.
— Recebi uma ligação informando
que Sam tinha sido atacada. Aquela vez em
que ela ficou no hospital, lembra? E Fui
ajudar minha irmã. — Ele não me esperou
responder e continuou, mas eu me lembrava
desse dia, tinha estado muito preocupada
com minha amiga: — Quando voltei para a
fazenda, a casa tinha virado pó; havia
pegado fogo com elas dentro… — Ele
fechou os olhos por um segundo, depois
respirou fundo e os abriu. — Shadow disse
que elas morreram.
Meu peito se apertou. Sentia tanto sua
dor que fiquei sem ar por um momento. Fui
até ele e passei os braços à sua volta,
mesmo que ele tentasse não me deixar
abraçá-lo.
— Por favor, Bryan… — supliquei,
olhando seus olhos em chamas. — Eu sinto
muito pela perda que teve, mas isso não é
sua culpa.
— Estou cansado de ouvir que não é
minha culpa… — falou com os olhos
molhados.
— Mas não é, e sim de quem fez isso
com elas, assim como também não é sua
culpa que a gente tenha transado várias
vezes nessa noite — garanti ainda o fitando.
— Foi tudo de bom, Bryan. Espero que se
lembre.
— Eu não posso ficar perto de você
agora… Toda vez que vejo esses flashes e
olho para você, me sinto um desumano
igual a esse cara de quem estamos atrás,
Lutner. — Afastou-se de mim, e deixei, já
que estava chocada com suas palavras. —
Acabou tudo entre nós, Alexia.
Perdi o fôlego, algo parecia me
sufocar, e meu coração bateu tão rápido que
era como se o estivessem esmagando. Eu
não aceitaria isso, não depois do que
tivéramos naquela noite, quando ele provara
que me amava de verdade ao não deixar a
escuridão dominá-lo.
— Eu não aceito isso…
— Você não precisa aceitar; apenas
acabou tudo entre nós — cortou-me,
sombrio.
Ele estava me afastando, sempre fazia
isso quando a situação se apertava.
— Então me diz uma coisa: quando
você estiver sozinho sem mim e sofrendo,
porque é isso que vai acontecer quando me
deixar, vai ficar com outras mulheres? Diga
a verdade, Bryan, não aquela que vai me
ferir para me afastar de você, como fez no
começo.
Ele prendeu a respiração e olhou para
o chão.
— Eu sei que não vai, Bryan —
continuei assim que ele não respondeu. — E
sabe por quê? — Seus olhos atormentados
pousaram em mim. — Porque você me ama
e não quer outra pessoa, e sabe como sei?
Porque meu corpo e meu coração são
apenas seus, Bryan. Só você me importa
assim. — Fui até onde ele estava,
paralisado, e dei um selinho em seus lábios.
— Tome seu tempo, mas não acabamos. Eu
não aceito isso, não depois do que me
provou e me disse essa noite. E você vai
ficar feliz quando se lembrar de tudo. Você
sabe onde me encontrar.
Saí da casa chorando, claro, e fui
embora, abandonando alguém que amava
mais do que tudo em minha vida, mas não
era para sempre. Eu lhe daria tempo, porém,
não aceitaria o fim do nosso
relacionamento.
Eu e Ariane fomos passar o Natal na
casa de Samantha, assim como Daemon,
que era minha sombra. Sua marcação em
mim era cerrada, não me deixava sozinha
um segundo. Bryan não apareceu. Eu sabia
que lhe dera tempo, mas estava preocupada
que ele acabasse fazendo uma besteira para
a qual não houvesse mais volta.
Então tive uma ideia e sorri. Bati
palmas, chamando atenção.
— Pessoal, quero pedir a ajuda de
vocês, mulheres, com o meu casamento…
— Casamento? — indagou Alex. —
Aquele cretino do Bryan não terminou com
você?
— Bryan não é um cretino —
dissemos Sam e eu em uníssono. — Ele
teve alguns problemas dos quais ninguém
precisa saber, já que não é da conta de
ninguém.
— Mas eu tenho o direito de saber,
afinal, sou irmã dele — disse Sam. Ela era
muito parecida com ele, cabelos negros e
olhos azuis, boca avermelhada.
— Quando ele estiver pronto, contará
a você — falei. Pelo que eu descobrira, ela
ainda não sabia que seus pais tinham sido
mortos por um lunático doentio. Quem
deveria lhe contar aquilo era Bryan, não eu.
— O que quero é que me ajudem a preparar
o casamento para a semana que vem.
— Por que a pressa? — indagou Alex
com o olhar estreito na minha barriga,
talvez pensando que havia uma criança ali
dentro e prestes a nascer.
— Não tem nada a ver com filhos,
gente, não estou grávida — falei. Ainda não
tinha contado a ninguém que Ariane era
minha filha, apenas a Alex, e lhe pedira
segredo até tudo se resolver.
— Bryan sabe que vai se casar? —
indagou Nasx com um sorriso e os olhos
revirando.
Dei de ombros.
— Ele vai saber quando vocês,
homens, o trouxerem até mim, para o nosso
casamento, porque quero me casar na neve,
como sempre sonhei. E, de acordo com a
previsão do tempo, vai nevar dentro de uma
semana. Vão me ajudar ou não? — Olhei
para todos na sala da casa de Lucky
Donovan, esposo de Sam, um homem lindo,
moreno, de olhos verdes como uma floresta.
— Estamos nessa, cunhada! Vamos
realizar o casamento em dois segundos! —
disse Rayla sorrindo. — Poderíamos até nos
casar juntas, mas quero me casar numa
catedral, não sob a neve.
As mulheres ficaram animadas por
mim e disseram que estariam comigo.
A expressão de alguns homens estava
chocada, enquanto outros sorriam.
— Vocês vão levar o noivo até o altar
ou não? — sondei levantando as
sobrancelhas.
— E se ele não quiser casar? —
questionou Nasx. — Afinal, Bryan está
sumido.
— Garanto que você e Daemon sabem
onde ele está, não é? E, se ele não quiser vir,
tragam-no na marra, amarrado ou até
nocauteado. Somente não machuquem seu
rosto. Mas ele vai se casar querendo ou não
— fui decisiva.
Tinha se passado uma semana que
Bryan havia sumido. Eu estava lhe dando
tempo, mas descobri naquela noite que não
podia esperar mais. Ele precisava sair de sua
concha e ver o que nós dois tínhamos, não
fugir de mim por algo que ele não fizera.
Todos se prontificaram a me ajudar em
tempo recorde para organizar tudo. Rayla,
Samantha, Angelina e Tabitta iriam ajeitar
tudo. Também chamei Luana e Claire para
participarem da organização da cerimônia e
da festa.
Eu sabia que os rapazes levariam
Bryan para o casamento, que seria feito no
jardim da casa dele. Era o lugar mais
seguro, pois ninguém de fora poderia entrar
e atrapalhar a cerimônia.
— Como você está? — perguntou
Daemon chegando até mim e se sentando ao
meu lado. — Nasx disse que ligou agora
para Bryan, falando sobre o casamento, mas
ele disse que não vai se casar.
— Isso é tolice, Daemon, ele não me
forçou a nada, como pensa. Se eu tivesse
uma forma de provar isso a ele, que, mesmo
dominado pela sua escuridão, ele jamais me
machucaria… — sussurrei limpando as
lágrimas que começaram a cair. — Não
suporto que ele sofra, é como se minha alma
estivesse se desfazendo.
— Se for por isso, eu tenho as
gravações daquele dia. Instalei câmeras no
quarto para gravar tudo e mostrar a você
depois, mostrar seu sucesso — disse Nasx
se aproximando de nós. — Estão no meu
computador. Juro que não assisti nada.
Levantei-me com esperança de aquela
gravação mostrar toda a verdade ao Bryan.
— Onde ele está agora?
Capítulo 22
Alexia
Assim que desci do carro junto a
Daemon, que se recusara a me deixar
sozinha, depois de uma viagem que durou
mais de 12 horas, olhei para a casa pequena
da fazenda, em Culberson, Carolina do
Norte. Então fora ali que tudo acontecera,
onde ele perdera sua amiga e a menininha
Emma. Pelo visto, ele estava sofrendo mais
do que antes e tinha ido para ali justamente
para se torturar. Ele deveria ter construído
outra casa no lugar após o incêndio que
acontecera havia cerca de um ano.
— Só quero lhe agradecer por tudo
que fez por mim e pela minha filha, e saiba
que amo você… — ouvi uma voz de mulher
ali perto.
Entrei na casa e vi Bryan de costas
para mim, diante uma mulher de cabelos
escuros em estilo chanel. Arfei, talvez muito
alto, porque os dois se viraram e olharam
para mim.
— Não é o que pensa, Alexia — ele
veio até mim com os olhos em chamas.
Eu tinha tanta certeza de que ele não
ficaria com ninguém, de que apenas eu
importava para ele, que fiquei chocada. Pelo
visto, eu havia me enganado. Todos os meus
projetos para o casamento viraram pó, assim
como eu. Apenas a dor existia.
— Você a largou e veio transar com
uma puta qualquer? — sibilou Daemon
olhando para a mulher.
Ela o olhou indignada.
— Veja como fala comigo, seu cretino!
— rosnou de volta.
Ignorei-os, virando as costas para sair
dali, enterrar-me em algum lugar e deixar a
dor me consumir. Contudo, Bryan pegou
meu braço.
— Espere, Luz do Sol, não é o que
pensa — falou baixinho e suplicante.
— Me larga! — Puxei meu braço. Ele
se afastou como se eu tivesse batido nele.
— O que tem para explicar? Que você não
quer casar comigo porque anda fodendo por
aí?
— Maldição! Eu não estou fodendo
ninguém…
— Não era o que parecia,
principalmente depois de eu ouvir um “amo
você”! — Lancei-me contra ele, batendo em
seu peito com meus punhos cerrados. —
Seu desgraçado! Como pôde fazer isso
comigo?! Como você ousa?!
Ele segurou meus pulsos, mas chutei
sua canela com meu Louboutin, o que o fez
praguejar.
— Ela é a Emília…
Parei de lutar e olhei entre os dois.
— Mas você disse que ela tinha
morrido…
— Eu não estou morta, também não
sou nenhuma puta. — Fuzilou Daemon com
o olhar.
— Ele sofreu durante todos esses
meses enchendo sua alma de escuridão por
pensar que você estava morta. — Afastei-
me de Bryan. — Como ousa, sua vadia?! —
Voei para cima dela, mas não fui muito
longe, porque Bryan me segurou. — Você
não tinha esse direito!
— Eu não sabia que Bryan pensava
que eu tinha morrido, porque, se soubesse,
teria vindo antes e dito a verdade.
— Por que fugiu dele, então? Você não
devia ter feito isso, sua…
— Olha, eu lamento pelo que fiz, mas
tinha meus motivos, e Bryan sabe quais são.
— Ela o encarou. — Sabe onde me
encontrar.
— Luz do Sol, acalme-se — pediu
Bryan depois que a tal Emília foi em
direção à porta da casa.
— Ela se fingiu de morta? —
perguntei assim que ela e Daemon saíram
da sala.
— Não, só foi embora. Não sabia que
eu pensava que elas estavam mortas… —
Ele se encolheu.
— Não entendo… Então como?
— Shadow mentiu para mim — a dor
pela traição se revelava em seu tom.
— Espere, o quê? Como aquele
motoqueiro de araque fez algo assim? Vou
estripá-lo com uma pá! — Cerrei meus
punhos. — Como ele pôde ficar calado
enquanto via você se afundando cada vez
mais? Não só ficar calado, não houve
omissão! Ele mentiu deliberadamente!
Bryan riu. Era o som que eu amava
ouvir.
— Você não pode bater em um
homem, porque, se algum deles encostar em
você, eu o mato, entende? Mas vou resolver
as coisas com ele depois. Agora me diz, de
onde vem essa selvageria?
— Acho que treinei muito na
academia essa semana em que você fugiu de
mim, e isso me dá mais garra…
— Com certeza aqueles babacas só
ficam olhando para você em seu shortinho
curto.
Ergui minhas sobrancelhas.
— Está com ciúmes?
— Não é porque terminamos que
deixei de amar você — falou calmamente.
Eu sorri.
— Não acabamos, querido. Eu lhe
disse que apenas lhe havia dado um tempo.
Então vamos nos casar?
— Eu não posso, não depois do que fiz
a você. Sei que está tentando aliviar a minha
culpa, mas isso não vai acontecer. — Ele
cerrou os punhos.
— Lembra dos treinos que eu fazia
com Nasx? — Continuei rapidamente ao
notar que ele abriu a boca para xingá-lo: —
Então, ele estava gravando tudo para me
mostrar depois. — Peguei o pen drive. —
Aqui estão todos os detalhes dos nossos
momentos juntos, desde o instante em que
eu estava gritando na escuridão e segui sua
voz me chamando e me trazendo de volta ao
presente até a manhã seguinte. Você não me
estuprou, Bryan. Eu sabia que jamais faria
isso. Você preferia morrer a me machucar.
Mesmo na escuridão em que se encontrava,
você pediu a minha opinião, nunca me
subjugou, e, quando eu sentia medo, sua
voz me trazia ao presente, me norteava, era
minha bússola.
— Eu… — Ele pegou o pen drive e o
olhou com esperança.
— Vamos ver o que tem aqui dentro,
porque eu não assisti ainda, já que
praticamente voei para cá.
Ele me levou para um dos quartos, no
qual havia alguns computadores, já que ele
era fera em computação.
— Então como tem certeza do que eu
fiz? — sua voz estava cheia de dúvida. —
Sempre que essa escuridão chega, não me
lembro de muita coisa. Por isso, quando ela
me domina, venho para cá e deixo Shadow
avisado para não me deixar fazer besteira,
mas ele não me impediu naquele dia.
— Ele confia em você, Bryan, assim
como eu confio, e não preciso assistir,
porque me lembro de cada detalhe daquela
noite, querido, cada toque, beijo, gemido e
sua voz, que tem o poder de me tirar do
abismo. — Sentei-me num sofá. — Desde
quando essas sombras o controlam?
— Desde o dia em que soube que elas
estavam mortas — sua voz falhou, mas ele
respirou fundo, sentou-se ao meu lado,
encaixou o pen drive num laptop e acionou
o arquivo de vídeo que havia nele.
— E a notícia da morte dos seus pais
desencadeou tudo, não foi? Você se
importava com eles.
— Eu não ligo… — Seus ombros se
encolheram, mostrando que ele estava
mentindo, talvez até para si mesmo.
— Não importa como nossos pais são,
Bryan, eles sempre serão nossos pais. É
bom você se importar, isso significa que é
humano e tem sentimentos — expliquei,
vendo a cena em que eu me debatia na Cruz
de Santo André e gritava de dor, medo e
asco, mas ele me despertava do pesadelo
com sua voz linda e sedosa.
— Eu a trouxe de volta! — Seus olhos
estavam muito abertos e impressionados.
— Mesmo antes do encontro no Belas
Country, ainda na época da faculdade,
quando eu entrava em surto, pensava no seu
rosto, nos seus olhos, boca e voz. Eram
como um mantra para me manter
controlada. — Olhei para ele e para a tela
que mostrava nós dois juntos, cada detalhe
ali.
Como o vídeo era longo, pois
havíamos transado por horas, aceleramos o
filme. O sorriso que Bryan deu assim que
ele terminou foi maravilhoso, mais lindo
que o sol ao nascer.
— Cinco vezes? Isso explica as
minhas pernas bambas. Foi a foda do ano!
— Sorri para ele. — Não sabia que tinha
tanta energia assim. Fiquei andando torta
por uma semana, mas adorei.
— Eu também achei que não seria
capaz. — Ele fechou o notebook e o
colocou no chão, então me deitou no sofá e
pairou em cima de mim, beijando meu
pescoço. — Mas gostei. Estou louco para
fazer de novo, já que estamos secos há uma
semana.
— Damon me manteve entretida…
Seu corpo ficou rígido, e ele se afastou
para me olhar. Vi fúria ali, assim como dor.
— Que porra está dizendo?! Se aquele
desgraçado a tocou, eu vou matá-lo!
Ri e toquei seu rosto.
— Eu estou falando de vibradores em
forma de pênis que tenho…
Ele ficou ainda mais furioso e já ia se
afastar, mas não deixei, prendendo-o com
minhas pernas à sua volta. Já ficara longe
dele por tempo demais.
— Você usou vibradores com nomes
de outros homens? De Daemon?
Cortei-o:
— Eu disse Damon, não Daemon.
Estou falando do ator Ian Somerhalder, de
Diários do Vampiro. — Beijei seus lábios.
— Eu estava brincando, não usei minha
coleção de vibradores, por isso estou aqui,
quente e molhada por você. O que vai fazer
a respeito disso?
Ele se afastou, mas continuou com os
olhos escuros, apesar das íris azuis.
— Porra! Quando voltarmos, vou
jogar todos fora! O único pau que vai entrar
nessa boceta maravilhosa é o meu! — Ele se
remexeu para se encaixar mais em minha
boceta, que estava ansiando por ele cada vez
mais. — E você só irá pensar em mim
quando eu foder você.
— Seu desejo é uma ordem, querido.
Mas, por mais que eu queira ficar com você,
Daemon está lá fora, e não quero magoá-
lo… — meu tom era triste.
Durante todo aquele tempo ele ficara
comigo, protegendo-me. Eu até pedira que
fosse embora, assim seria mais fácil me
esquecer, mas o cara era turrão, disse que
não iria até tudo se resolver. Parecia que
tinha esperança, caso eu não ficasse com
Bryan.
— Ele tem que aceitar, querida, afinal,
você é minha, sempre foi desde que bati os
olhos em você, a loura perfeita usando
saltos e vestido elegante — disse me
beijando, não, me devorando.
Eu estava prestes a me deixar levar por
suas carícias e amor, quando ouvi barulho
de moto, e não era só uma, pareciam várias
de uma vez.
Bryan saiu de cima de mim e correu
para a janela. Logo praguejou, correndo até
a sala.
— O que foi, Bryan? — perguntei,
seguindo-o para o cômodo. Bem na hora
Daemon entrou carregando uma menininha
nos braços, e Emília vinha logo atrás.
— É o Black — disse Daemon com
um rosnado.
— Acho que eles descobriram que
estou viva — ela murmurou.
— Meu Deus! Será que Steve está
junto?! — minha voz saiu duas oitavas mais
alta. Eu já ia espiar pela janela, mas Bryan
pegou meu braço e me puxou para perto de
si.
— Não. Shadow foi até o Black para
perguntar o motivo de ele estar com Steve
Lutner, um dos homens mais procurados do
FBI.
— E esse cara disse por que se aliou
com aquele monstro? — inquiri.
— Black não sabia quem ele era. Steve
pagou para que eles o protegessem ao ir à
igreja, mas não sabiam que os MCs Fênix
estariam lá e que você era protegida deles…
— Mas o que isso tem a ver? Quero
dizer, pelo que ouvi desse Black, ele não
parece ser diferente de Steve. Por que Black
não lutaria contra Daemon e Shadow? Ele
tem medo de vocês? — Olhei para Daemon.
— Black não tem medo de ninguém —
ele respondeu. — Shadow o obrigou a sair
de cena não por medo, mas para ele pagar o
marcador que devia. E, antes que pergunte o
que é marcador, é uma dívida que nós, MCs,
prezamos em cumprir, e, se ele não
fizesse… — ele deu de ombros — bom,
teria que lidar com as consequências e
enfrentar Shadow. Nesse caso Black
perderia, já que ele tem vários aliados, e não
somos procurados como ele. Um erro, e
Shadow o mandaria para a cadeia.
— Eu sei que você está aí dentro! Saia
e nos enfrente como o homem que você não
é, Scott! — ouvi gritos lá fora.
Eu sabia que o segundo nome de
Bryan era Scott, porque Sam me dissera
uma vez.
O cara louco lá fora continuou
gritando, mas tanto Bryan quanto Daemon o
ignoraram.
Daemon entregou Emma, que estava
querendo puxar seu brinco na orelha, para
Emília.
— Não pode puxar isso, princesa —
disse em tom suave.
Gostei de ver o sorriso em seu rosto ao
olhar para a menininha, que era a cara da
mãe.
Bryan arrastou o sofá para um canto.
Aproximei-me dele quando tirou o carpete
do chão.
— O que está fazendo? O que tem
nesse alçapão? — Ele puxou a argola,
abrindo a tampa no chão, então assoviei. —
Querido, eu espero ser sua amiga para
sempre — falei olhando várias armas de
variados modelos. A única que eu conhecia
era o revólver calibre 38.
Ele sorriu para mim.
— Você será mais do que isso, minha
linda, vai ser minha esposa e mãe dos meus
filhos. E, por falar nisso, como anda nossa
filha? — Ele me olhou de lado enquanto
pegava as armas. — Sinto falta dela.
— Vocês dois têm filhos? — sondou
Emília nos olhando. — E vão se casar?
— Não é minha filha de sangue, mas
eu a amo como se fosse. E vou me casar
com essa mulher semana que vem, já que
uma danada de uma loura não desistiu de
mim. — Ele sorriu para ela. — Estou louco
para você ser minha esposa, senhora
Scott…
— Eu também, querido. E não vão ser
uns bastardos de MC que andam
pendurados em motos que farão com que
isso não aconteça. — Peguei uma arma e
puxei a trava. — Nem que para isso eu
tenha que atirar em todos eles.
Bryan riu e tomou a arma da minha
mão.
— Luz do Sol, você não vai atirar em
ninguém, OK? Porque, se alguns desses
merdas tocarem em você, aí, sim, teremos
um Apocalipse na Terra, pois não restará
nenhum deles vivo. — Tocou meu rosto. —
Você é a única luz que ilumina a minha
escuridão; se eu perder você, perco tudo: a
vida, o ar que respiro. Entendeu? — Ele se
levantou e olhou para Emília, que nos fitava
chocada. — Vocês duas fiquem quietas.
Deixem que Daemon e eu resolveremos
isso.
— Mas, Bryan, se eles quiserem atirar
em você…
Ele me interrompeu:
— Não vão, confie em mim.
Eu não gostava disso, mas acataria sua
ordem para resolver logo as coisas e ir
embora para minha filhota linda, que eu
deixara com Rayla. Calebe e o segurança
dela estavam de olho nas duas, o que me
deixava mais tranquila.
— Vamos resolver isso logo — ele
falou, saindo da casa seguido por Daemon,
ambos empunhando armas.
Capítulo 23
Alexia
— Estou curiosa… — falei,
observando Emília. Tinha ficado ao seu lado
olhando pela janela, enquanto Emma
brincava no chão. Era linda, com pele
branquinha e olhos escuros.
— Sobre o quê?
Olhei pela janela novamente e vi os
mesmos homens que eu vira na igreja, mas
lá não reparara muito neles, já que balas
voavam para todos os lados. O principal,
claramente o líder, era moreno, tinha
cabelos negros e usava uma jaqueta de MC
com o nome Scorpion escrito. Daemon e
Bryan estavam a uma certa distância deles.
Não tinha muita certeza se era isso, mas
achei que o pessoal do MC abaixou as
armas ao ver Daemon e seu colete com o
nome do MC Fênix.
— Você não parece amá-lo, quero
dizer, não parece estar apaixonada por ele.
A forma como o olha é como eu olho para
um amigo meu. Nunca gostou dele de outra
forma? Se já, eu não sou contra, só estou
curiosa, afinal, isso seria no passado.
— Eu não o amo assim e nunca amei,
só tenho Bryan como um irmão que nunca
tive na vida. Não sei, era bom me sentir
protegida e querida, porque não me lembro
de alguma vez ter tido algo assim. —
Suspirou.
— Você se sacrificou para que ele
tivesse uma vida e pudesse realizar os
sonhos, como acabou fazendo. Eu faria o
mesmo por Bryan se estivesse no seu lugar.
— Sorri, depois fiz uma careta. — Já o
Shadow, eu vou chutá-lo quando o vir.
— Acredito que Shadow se sacrificou
bastante por Bryan. Sei que não justifica o
fato de ele ter mentido dizendo que morri.
Mas ele com certeza deve ter feito coisas
horrendas para Black apenas para que Bryan
ficasse livre.
Sacudi a cabeça.
— Não quer dizer que ele não mereça
ter sua bunda chutada.
— Vamos nós duas chamá-lo para um
duelo. — Sorriu com um revirar de olhos.
— Bryan sempre amou você, até tinha uma
foto sua na carteira. Sempre que pensava
que eu não estava vendo, ele olhava para
ela. Pode conferir, que ainda deve estar lá.
Estou feliz por vocês. Vejo como ele olha
para você; é como se estivesse em um mar,
se afogando, e de repente você aparecesse;
como se estivesse em um deserto sem nada
para beber e comer, e de repente
encontrasse um oásis. Você é a salvação
desse homem, Alexia. Ele a venera. —
Sorriu e olhou para fora. — Quero que um
cara me olhe assim um dia, como se eu
fosse seu mundo inteiro, ou fazer parte dele.
— Com o pai de sua filha não foi
assim? Bryan me disse que você foi
estuprada. Foi pelo pai de seu filho ou
algum outro cara? Eu sei que tinha 15 anos,
mas… — sondei, curiosa em relação ao
assunto, porque Bryan fora vago ao me falar
sobre ele.
— Ele era meu pai… Me vendeu como
pagamento de uma dívida para Black. Por
isso ele está aqui, querendo “o que é dele”
— sibilou com a voz cheia de ira.
— Oh, Deus! Sinto muito por isso.
— Não gosto da piedade das pessoas
— sussurrou.
Coloquei a mão em seu ombro.
— Não é pena, é entendimento. A
minha filha também veio de um estupro, de
um lunático serial killer. Ele conquista
mulheres idiotas, como eu fui, e as leva para
um cativeiro por semanas, mas o que ele
faz… é como se estivéssemos no inferno.
Eu não conseguia ficar presa em correntes;
Bryan me ajudou a superar isso. Ele é como
um anjo que apareceu na minha vida.
Ariane e ele são meu mundo inteiro.
— Nunca me arrependo de ter
escolhido ter Emma. Mas confesso que
pensei em tirá-la quando descobri a
gravidez. As lembranças e pensamentos
pelo fato de ter sido violentada eram
demais. Devo dizer que foi uma época
muito perturbada a que passei. Mas, quando
senti Emma chutar, tudo mudou, sabe? Não
sei explicar. Hoje, eu adoro ver o sorriso
dela, ouvi-la me chamando de mamãe. Não
há nada mais lindo do que isso.
Então contei sobre a minha história,
que tivera de ficar internada em uma clínica
psiquiátrica e pensara que minha filha
estava morta. Eu já a amava tanto, mesmo
antes da descoberta. Sim, eu também não
me arrependia de ter minha menina.
— Meus pais queriam que eu
abortasse. Eu não sou contra quem opta
pelo aborto após ter sido violentada, mas
acho que a decisão deve ser da mulher,
como também a decisão de ficar ou não com
a criança. Devia ter partido de mim a
decisão de não criar minha menina, não dos
meus pais. — Meus olhos estavam úmidos.
— Por culpa do meu pai, eu perdi quatro
anos com Ariane. Mesmo depois que pensei
que ela estivesse morta, eu ainda a amava.
Graças a Deus, ela voltou para mim. Assim
que tudo isso acabar, vou registrá-la como
minha filha.
— Nossa filha. Eu serei pai dela —
afirmou Bryan, entrando na sala com
Daemon, que parecia muito chateado.
Olhei para os caras, que iam embora
em suas motos. Graças a Deus ninguém
saíra ferido ou morto. Isso era muito
estranho. Por que tinham partido sem lutar?
— O que aconteceu? — perguntei,
indo até Bryan e o abraçando, aliviada por
ele estar bem.
Ele me abraçou forte por uns segundos
e se afastou, tomando a arma que eu
segurava.
— O que eu falei sobre armas, Luz do
Sol? — repreendeu-me.
— Era por garantia, sabe? Para o caso
de eles atirarem em vocês dois —
murmurei.
Ele balançou a cabeça.
— Estava pensando em atirar neles?
— seu tom era descrente. — Ainda bem que
não houve luta então, né?
— O que vai fazer para o filho da puta
em troca da minha liberdade e da de Emma?
— questionou Emília preocupada. —
Porque Black não faz nada de graça, e seu
preço é alto, Bryan.
Ele suspirou e olhou para ela e
Daemon.
— O que propôs, Bryan? Sabe que não
pode fazer nada para eles. Se a CIA souber
que você está metido com esses caras, a sua
carreira vai acabar. Seus sonhos… —
sussurrei ansiosa, preocupada que ele
tivesse mais uma vez dado sua alma ao
diabo.
Ele beijou minha testa.
— Não vou fazer nada para eles. —
Afastou-se e observou Daemon. — Daemon
fez um acordo com Black que ele não pôde
recusar.
— Você? Que tipo de acordo alguém
como você faria para me salvar? Matar
alguém? — Parecia muito chateada ao
piscar chocada para Daemon. Achei que
fosse por ele a ter chamado de puta quando
mal colocara os olhos nela. Eu também
estaria furiosa no lugar de Emília caso
acontecesse comigo.
Daemon a fitou com expressão de
poucos amigos.
— Alguém como eu? Acha que sou
assassino? Você, sua ingrata, deveria me
agradecer, já que salvei sua bunda, salvei
você de ser levada por aqueles homens para
servir como prostituta deles.
Eu nunca vira Daemon assim, tão
irritado. Já o vira calmo e calado,
atormentado, chateado, mas nunca furioso,
ainda mais por aquele sentimento ser
direcionado a uma mulher que acabara de
conhecer. Era estranho.
— Você me chamou de puta, se
esqueceu? — ela grunhiu, parecendo tão
raivosa quanto ele. — Você não sabe nada
sobre a minha pessoa, seu crápula, para me
xingar.
Ele cerrou as pálpebras e respirou
fundo, como se tentasse se acalmar. Em
seguida voltou a fitá-la.
— Pegue sua filha e vamos embora
agora — era uma ordem. Não deixei de
notar que ele não se desculpou com ela por
xingá-la.
— Eu não vou a lugar algum com
você! Nem se eu fosse louca — contrariou-
o.
— Você não tem uma maldita escolha.
Ou vem comigo, ou vai voltar para o Black
e seus homens. E, quando uma pessoa é
dele, o que ela tem também é considerada
dele, entende o que quero dizer?
Ela arregalou os olhos, fitando Bryan
em pânico.
— Bryan… sei que me odeia…
— Odiar você? — ele indagou bruto.
Pelo que eu conhecia de meu homem, ele
ainda estava com raiva por ela ter ido
embora. — Eu apenas estou furioso pelo
que fez, mas minha raiva mesmo é por outra
pessoa.
Eu sabia que Shadow estava frito, mas
não tinha pena dele, afinal, fizera Bryan
padecer por um ano inteiro.
— Olha, Emília, os MCs têm uma lei
que seguem claramente e que não pode ser
quebrada, nem por Black, que não liga para
nenhuma regra — continuou Bryan.
— Qual lei é essa? Todos esses MCs
fodidos são bandidos e estupradores, não
ligam para a lei — afirmou ela.
Bryan se adiantou para lhe responder,
porque, pela expressão de Daemon, não
sairia nada de bom se ele abrisse a boca
naquele instante, o que parecia ser sua
intenção.
— Sim, tem uma lei que não pode ser
quebrada por nenhum deles: ninguém pode
mexer com a mulher de um irmão, porque é
contra as regras fazer isso. Se mexer com
sua mulher, mexerá com todos os membros
do clube, e, como Daemon mencionou
antes, Shadow é bem conhecido, mais do
que Black, então ele não tem escolha a não
ser obedecê-la. — Ele olhou dela para
Daemon.
— Oh, Deus! Você está querendo dizer
que disse ao Black que sou mulher desse
cara? — Apontou para Daemon. — Nem
morta fico com esse homem.
— Querida, eu preferia cortar meu pau
a enfiá-lo em alguém como você — rosnou
Daemon. — Afinal de contas, não curto
crianças mimadas. — E saiu batendo a
porta.
Emília pegou um cinzeiro e o jogou na
porta, despedaçando-o, depois gritou
quando ele a chamou de forma grosseira
para irem embora, lá de fora.
Capítulo 24
Alexia
Meu casamento tinha sido organizado
para aquele dia, e tudo estava ocorrendo
maravilhosamente bem. Minhas melhores
amigas eram perfeitas; tinha sido uma
correria com os preparativos, pois se
passara apenas uma semana entre minha
decisão e o dia marcado.
Rayla me comprara um vestido dos
sonhos, branco com pedrinhas brilhantes,
com um ombro só e uma capa por cima.
Olhei-me no espelho vestida com ele. Meus
cabelos louros estavam encaracolados e
presos para cima, mas com algumas mechas
soltas ao lado do meu rosto maquiado.
— Linda! Mas, querida, acho melhor
andarmos logo. Algumas pessoas estão
reclamando do frio — falou Samantha. —
Como eu poderia supor que um dia veria
você casada com meu irmão? Que tivesse
alguma mulher que o domasse? — Ela
sorriu. — Fico feliz que tenha sido você.
— Eu também estou feliz por isso,
mas agora vamos; não quero as bolas do
meu marido geladas, afinal, vou precisar
muito dessa parte essa noite — comentei
saindo do quarto e seguindo para o meu
grande dia.
— Eca! Não quero imaginar algo
assim a respeito do meu irmão. — Sam
estremeceu.
Alex se posicionou ao meu lado.
Vestia um terno preto com gravata. Ficara
encarregado de me levar até o altar que
fizéramos no jardim para aquele grande dia,
um dos mais felizes da minha vida. O outro
fora o dia em que eu soubera que minha
filha estava viva.
— Muita felicidade, minha irmã. Você
merece, após tantas coisas que lhe
aconteceram. — Beijou minha testa, depois
olhou à nossa frente, para minha princesa.
Ariane estava com um vestido branco
rendado e rodado, parecendo uma boneca
loura. Ela segurava um buquê de flores com
cores sortidas. — Não acredito que sou tio e
pai ao mesmo tempo.
Rayla tinha descoberto havia pouco
tempo que estava grávida. Eu estava feliz
demais. Tinha minha filha e o homem dos
meus sonhos, com o qual iria me casar, teria
uma sobrinha e meu irmão tinha encontrado
sua felicidade.
Ariane, como dama de honra, seguiu
adiante com seus passinhos curtos, e eu e
meu irmão fomos logo atrás. Assim que saí
da casa, olhei para o céu, sentindo a neve
beijar meu rosto. Ainda bem que minha
maquiagem era à prova d’água.
Olhei ao redor para a vista magnífica.
Por causa do gelo e da neve, estava tudo
branco e parecendo cheio de cristais. O altar
estava mais à frente, e, dos dois lados do
corredor até ele, havia algumas filas de
cadeiras decoradas com guirlandas de flores
coloridas, contrastando com o branco
predominante daquele dia de inverno. Meus
amigos estavam nas cadeiras do lado
esquerdo. Olhei à direita; ali estavam os
MCs, tanto os Fênix de Chicago quanto os
Fênix de Nova Iorque (aos quais eu não
conhecia muito) e as mulheres daqueles que
tinham namoradas ou eram casados.
Shadow se encontrava ao lado de sua
namorada, uma ruiva esquentada que só
faltara bater em Bryan por seu acerto de
contas com o motoqueiro, por ele ter
mentido sobre Emília. Ele até estava com o
olho inchado.
Pensar em Emília me fez lembrar que
tinha chamado Daemon para vir ao
casamento. Ele dissera que precisava de um
tempo, e eu o entendia. Bryan tinha tentado
entrar em contato com eles no dia anterior,
mas não conseguira. Eu sabia que meu
futuro marido estava com raiva dela, mas
queria sua amiga e a filha, que ele
considerava uma sobrinha, em seu
casamento. Eu só esperava que Emília e
Daemon não estivessem se matando.
Todos se levantaram assim que pisei
no corredor, onde havia um tapete que ia até
o altar de madeira coberto por camurça
verde, mas branco pela neve que caía.
Olhei para o meu futuro marido no
altar e me controlei para não tropeçar pela
fraqueza nas pernas. Ele estava de terno
preto, e seus cabelos negros molhados e
penteados para cima, mas os flocos de neve
em sua roupa e nas mechas de cabelo o
faziam ficar mais lindo do que já era. Seus
olhos azuis se iluminaram ao me ver ali,
adorando o homem que eu tivera a sorte
grande em encontrar.
Assim que chegou ao altar, Ariane foi
para onde estavam as crianças, em uma
tenda feita especialmente para elas, afinal,
não queríamos nenhuma delas pegando um
resfriado devido à baixa temperatura.
Bryan pegou minha mão, que meu
irmão lhe entregou, e a levou aos lábios sem
tirar os olhos de mim.
— Espero que a faça feliz, ou te faço
em picadinho — alertou Alex.
— Eu farei — a promessa estava em
cada palavra que ele dizia.
O padre pigarreou, provavelmente
querendo apressar as coisas para não
congelar. Também ouvi Nasx gritar:
— Casa logo com ela, Bryan, porque
estou congelando aqui, ou vou subir no altar
e tomar seu lugar!
Bryan revirou os olhos. Então o padre
passou a ministrar a cerimônia. Fiquei de
frente para Bryan para lhe dizer o que ele
significava para mim, o que trouxera para
minha vida, mas ele falou antes:
— Alexia, você viu luz em mim
quando tudo que eu via eram trevas,
escuridão, dor e desespero. Você me salvou
do abismo em que eu me encontrava. Você
me ensinou a ser feliz e a amar a mim
mesmo, alguém que eu desprezava, porque
acreditava que não tinha redenção. Mas lá
estava você, lutando, me amando e me
dando uma felicidade que jamais pensei que
pudesse sentir ou merecer. — Tirou um
floco de neve que caíra no meu nariz. —
Você é alguém que quero para sempre, a
mulher, mãe dos meus filhos, a minha Luz
do Sol, e prometo amá-la enquanto eu
respirar neste mundo.
Respirei fundo em meio às lágrimas,
porque ele tinha dito tudo o que eu
pretendia e ainda mais.
— Querido noivo, você também foi
meu anjo, minha luz, meu suporte, meu
milagre. Eu já estava pensando que não
existia mais felicidade, não depois do que
houve comigo, mas estava errada, porque,
quando eu tinha pesadelos, você estava
comigo, me resgatando deles, me trazendo
para a luz — sussurrei com meus olhos
marejados. — Você me ensinou o
verdadeiro significado do amor, um amor
verdadeiro e puro, capaz de superar tudo, a
dor, as lembranças ruins, os pesadelos. Você
me resgatou do abismo e restaurou tudo que
estava quebrado em mim. — Levei sua mão
que eu segurava ao meu peito, bem sobre
onde batia o meu coração. — Bryan Scott,
eu sou a mulher mais sortuda deste mundo
por ter um homem maravilhoso como você
ao meu lado, um homem capaz de fazer
sacrifícios, como fez pela sua irmã, por
Emília e por Emma. Um homem que
desistiu de seus sonhos por amor a elas.
Como não amar um homem assim? Você é o
meu milagre, e, se eu visse Deus
pessoalmente, lhe agradeceria dia e noite
por você ter entrado em minha vida. Eu vou
te amar para sempre.
Mal terminei de falar, ele já estava me
beijando com ferocidade. Logo ouvi
assovios vindos de todos os lados.
— Já que se beijaram antes de eu
concluir, eu vos declaro marido e mulher —
disse o padre.
Dirigimo-nos para dentro da casa, que
parecia pequena para todos que estavam ali,
mas demos um jeito.
Todo mundo nos desejou felicidades.
Os primeiros foram meu irmão e minha
cunhada.
— Sejam felizes, minha querida —
disse Rayla com os olhos vermelhos. Com
certeza tinha chorado ao assistir à
cerimônia.
— Obrigada.
Samantha e Lucky se aproximaram.
Ela também estivera chorando, mas, pela
tristeza em seus olhos, não parecia que era
apenas emoção.
— Bryan… — Ela mordeu o lábio.
Ele a puxou para seus braços.
— Assim que terminar a minha lua de
mel, preciso te contar sobre o que ouviu
hoje. Não agora. Pode esperar? — Beijou
sua testa e se afastou um pouco, olhando-a
atentamente.
Samantha assentiu ainda chorando.
Sua barriga estava enorme, ela ganharia o
bebê dentro de três meses. Seu marido a
abraçou, reconfortando-a. Não seria fácil
quando ela soubesse de toda a verdade
acerca da morte de seus pais.
Angelina e Ryan vieram também.
— Parabéns aos dois — cumprimentou
Angelina, abraçando-me e depois
estendendo os braços para Bryan, mas Ryan
a puxou para longe dele. Ele era um louro
bonito; não, bonito era eufemismo. Lindo
seria a palavra certa.
— Anjo, você quer que eu mate o
noivo em seu casamento? Para desejar
felicidades, não precisa de abraços, é só
dizer.
— Eles são nossos amigos, Ryan, não
precisa ter ciúmes — disse Angelina.
— Anjo, ele queria ficar com você, se
esqueceu? Quando penso nisso, me dá
vontade de esganá-lo — rosnou encarando
Bryan, que estava sorrindo.
— Eu não ia ficar com ela, só disse
aquilo para você e Alexia saírem de suas
conchas e mostrarem o que sentiam, você
por Angelina, e Alexia por mim.
Arregalei os olhos para ele.
— Eu não demonstrei ciúmes
nenhuma vez naquele dia. — Embora tenha
sido difícil me controlar diante tudo o que
ele havia dito a ela.
— Você acha que não, mas se
esqueceu de que sei ler seu corpo? Você
tentou esconder, mas eu senti tudo, por isso
a beijei naquele dia. — Ele me puxou para
seus braços e me beijou até ouvirmos um
pigarro próximo a nós.
Shadow se aproximou com Evelyn,
que estava de cara fechada para Bryan, mas
o MC estava sorrindo, mesmo meio torto e
com um olho inchado devido aos socos que
levara. Pelo que eu soube, o cara até havia
estado acamado.
— Felicidades aos dois,
principalmente a você, Bryan. Tinha
esperança de que sua vida mudaria no
futuro, e mudou para melhor. Seja feliz,
meu amigo. Mesmo que esteja com raiva de
mim, espero que um dia possa me perdoar.
— Amigo?! Esses dois brutamontes
não são seus amigos! É bom que nunca
mais os veja! — rosnou Evelyn olhando
para Jason e Bryan. — Eles bateram em
você! Como um amigo faz isso?
— Ele mereceu — responderam Bryan
e Jason em uníssono, o que foi esquisito. Eu
não sabia que Jason também já havia batido
em Shadow.
Evelyn voou em cima de Bryan, mas
foi pega pelo namorado, que a manteve no
lugar.
— Por que não batem em mim, seus
cretinos? Façam isso, que acabo com os
dois! — ela sibilou. — Mesmo sem minhas
facas, eu os esquartejo.
— Mulher, se eles fizessem isso,
ambos estariam mortos, porque ninguém
toca em você — declarou Shadow em tom
calmo, levando-a para longe de Bryan e
Jason.
— Eu pensava que eu era uma fera,
mas sou um gato manso em comparação a
essa leoa enfurecida — comentou Tabitta
sorrindo e bateu com carinho no peito de
seu namorado. — Não se preocupe, querido,
eu te protejo dela.
Depois disso, tudo voltou ao normal,
mas eu queria mesmo era estar com meu
marido, por isso saímos da festa mais cedo.
Samantha ficaria com Ariane para mim.
Nós ficaríamos em um hotel, que já estava
fortemente protegido. Bryan averiguara
tudo com Johnny, um cara legal que conheci
na casa de Ryan quando Angelina falou
sobre seu passado para nós. Era lindo, cheio
de músculos e tatuado; um desperdício, pois
era gay. Tinha se casado com um homem
chamado Charles.
Eu esperava que tudo ocorresse bem,
porque não queria ser incomodada na minha
lua de mel.

Entramos no quarto de hotel, branco,


com uma cama de casal elegante, redonda e
com espelho no teto. Não reparei em mais
nada assim que Bryan me puxou para seus
braços firmes e devorou minha boca,
mordendo meus lábios com força, mas não
liguei. Apenas queria que meu marido
matasse o fogo que me consumia dos pés à
cabeça.
— Então, querida esposa, o que você
quer? Sexo normal ou mais quente? Sabe
que só vou fazer o que você quiser —
sussurrou, mordendo de leve minhas
orelhas.
— O que quiser, marido; com você, eu
supero tudo. — Segurei seu rosto. — Eu sei
que, se eu começar a sentir algum medo,
você me trará de volta, como fez naquela
vez. Vamos treinar até tudo ser superado.
Ele sorriu e beijou minha testa.
— Primeiro vamos tirar esse vestido.
— Ele me virou de costas e abriu os botões,
beijando minha pele a cada vez que
desabotoava um botão, até que terminou
tudo, e o vestido caiu no chão aos meus pés.
Ele assoviou. — Porra, sem calcinha.
— Bryan… — sussurrei assim que ele
deu um beijo em minha bunda, seguido por
um tapa. Gemi pelo fogo que se gerou entre
as minhas pernas, que me fez remexer as
coxas em busca de mais atrito. — Estou
molhada…
— Eu vou te ajudar com isso, minha
linda… — murmurou tirando suas roupas, e
olhei seu peito, onde tinha o nome de
Emília e Emma, mas também tinha o de
Ariane, o meu e o da sua irmã, o que me
deixou surpresa, pois ainda não tinha visto a
tatuagem.
— Quando fez? — sussurrei alisando
os nomes em seu tórax. — São lindas.
— Hoje de manhã. Quando estava
afastado de vocês, senti tanto a sua falta…
Então decidi fazer a tatuagem para sempre
ter vocês aqui também, perto do meu
coração, apesar de que também estão dentro
dele. — Ele acariciou minha face. — Esse
rosto é um sem o qual não posso viver mais,
nem quero.
— E não vai! — prometi abraçando
seu pescoço e o beijando com ferocidade.
Ele me colocou na cama ainda me
beijando e me rodopiou, deixando-me por
cima dele.
— Monte em minha boca, querida,
quero provar esse mel que está escorrendo
— ordenou com a voz rouca.
Arregalei os olhos, mas assenti. Faria
qualquer coisa por aquele homem. Ajoelhei-
me com seu rosto entre minhas coxas e me
abaixei. Meus pensamentos,
constrangimento, tudo o mais foram para o
espaço assim que sua boca me consumiu.
Ele circulava sua língua experiente em
minha vagina e sugava meu clitóris, tanto
que eu rebolava sobre seus lábios. Suas
mãos amassavam meus peitos e beliscavam
os bicos, trazendo-me para a borda, até que
gozei gritando seu nome. Passaram-se
alguns segundos até que fui trazida de volta
para a Terra.
Olhei para baixo e encontrei as íris
azuis brilhantes me admirando com
adoração. Corei e me deitei sobre seu corpo
sem tirar meus olhos dos dele. Sentia-o duro
entre minhas pernas.
— Céus! Eu nunca vi ninguém mais
linda e maravilhosa que você na minha
vida! Foi incrível ver você rebolando em
minha boca enquanto eu comia sua boceta
deliciosa… — Ele me beijou, e senti meu
gosto em sua boca, então, sem aviso, ele me
penetrou, fazendo-me gemer, saciando-me e
me enchendo com aquela parte do seu corpo
que eu tanto amava, assim como ele inteiro.
— Me cavalgue — ordenou com os
lábios roçando os meus.
Passei a me mexer para frente e para
trás sem nunca tirar os olhos dele. Ali tinha
amor, devoção, adoração e paixão, tudo o
que eu também sentia.
— Ah, Bryan…
— Geme, minha linda, geme o meu
nome! — pediu. Sua mão direita foi para o
meu clitóris, esfregando-o de forma cada
vez mais acelerada. — Goza no meu pau,
minha esposa!
Suas palavras foram como um gatilho
direto ao meio de minhas pernas, então
gozamos juntos e chamando um pelo outro.
Eu estava no céu.
Capítulo 25
Alexia
Quatro meses depois
— Quando papai vai chegar? —
perguntou Ariane assim que nos sentamos à
mesa de jantar.
— Não vai demorar — respondi.
Quando Bryan disse que iria para a
Rússia a trabalho e que não podia me dizer
mais nada sobre o assunto, porque era
sigiloso, que só pedia que confiasse nele, eu
concordei, apesar da saudade e do medo que
sentiria de que algo lhe acontecesse. Eu
confiava cegamente nele, sabia que jamais
iria me trair, nem por seu trabalho.
Fazia quatro meses que ele estava
naquele caso, e já estávamos em abril. Eu
esperava que tudo terminasse logo para ele
voltar para casa. Ele tirara uma semana de
folga para ficar com Ariane e comigo.
Minha menina me chamava de mamãe e a
Bryan de papai. O amor dele por minha
filha me fazia amá-lo e adorá-lo ainda mais.
Durante esses meses aconteceram
muitas coisas, tanto ruins quanto boas.
Angelina engravidara, embora não pudesse,
pois tinha um tipo de cardiopatia. Ryan não
aceitara muito bem isso, e eu achava que
eles tinham discutido por ela não querer
abortar. Ela fora embora, e ninguém sabia
de seu paradeiro, mas eu acreditava que
Tabitta sabia, já que as duas eram melhores
amigas. No entanto, mesmo se ela soubesse,
jamais trairia Angelina.
Ryan ficara destruído com sua partida,
nem era mais aquele rapaz alegre e vibrante
que um dia fora, parecia apenas um zumbi,
sem vida. Sam, Lucky, todos tentavam tirá-
lo do abismo em que estava, mas ninguém
conseguia.
Lucky o levara ao médico para dar
pontos em sua mão, que ele machucara ao
destruir seu apartamento, mas, pelo que eu
via, ele não parecia se importar se estava
ferido ou não. Eu já tinha estado assim uma
vez, quando pensara que Ariane tinha
morrido. Para mim, tanto fazia estar operada
ou não, ter de tirar os pontos da cesariana
depois. Aqueles pontos e a dor eram as
únicas lembranças de que ela havia existido.
Eu soube que Daemon e Johnny
estavam atrás dela para descobrirem seu
paradeiro e trazê-la de volta. Estava
torcendo que a encontrassem, ainda mais
pelo fato de que sua gravidez era arriscada.
Eu sabia que ela jamais desistiria de um
filho, nem em prol de sua própria vida e a
pedido do homem que amava. Eu mesma
não fizera isso, embora o pai de Ariane
fosse um psicopata, então não imaginava
que ela consentiria em abortar o filho do
homem da sua vida.
No mês de março, Sam teve sua
bebezinha. Todos fomos ao hospital visitá-
las, exceto Ryan.
— Ele disse que não consegue vir aqui
e ver minha filha, quando não sabe como a
dele está, como estão as duas — disse
Lucky olhando para Sam, que segurava a
bebê nos braços. Era uma linda menina,
puxara aos dois.
— Eu o entendo, querido — disse ela
acalentando sua bebê.
Bryan lhe contara toda a história sobre
seus pais. Eu a vira chorando pela morte dos
dois, mesmo sendo eles quem eram, porque
não importavam o que tinha feito, ainda
eram seus pais. Bryan e Lucky a
consolaram. Depois disso, ela passara a ir
quase diariamente ao cemitério. A seu
pedido, os dois tinha sido enterrados em
Nova Iorque.
— Eu também, Rosa Vermelha. Só
espero que eles consigam localizar
Angelina, para o bem do meu irmão —
falou Lucky em tom preocupado.
— Daemon é bom em localizar
pessoas. Ele vai encontrá-la, e nós vamos
ver que ela está bem, que nada aconteceu
com ela e com seu bebê. — Assim eu
esperava.
— O pior é que Tabitta com certeza
sabe. Isso até causou algumas brigas entre
Jason e ela, mas… — eu tinha certeza de
que Lucky a xingaria, mas, após um
rosnado de aviso de Jason, prosseguiu em
tom calmo: — ela não vai dizer.
— Eu tentei fazê-la falar, mas não
consegui. Sua amizade com Angelina a faz
ser bastante leal — falou Jason com um
suspiro triste. Seus olhos estavam fundos,
como se não dormisse havia dias.
Ele acabara de saber que sua mãe tinha
estado viva por todos aqueles anos e que ele
tinha dois irmãos. Contudo, ela estava
doente e morrera havia pouco tempo. Ele
mal a reencontrara, e ela se fora. E ainda se
juntava a isso os problemas com Tabitta, por
isso suas olheiras fundas.
— Eu não tiro sua razão, faria o
mesmo por Sam, Luana e Claire, que são
minhas melhores amigas — sussurrei.
Luana e Claire tinham visitado Sam
também, mas haviam ficado pouco tempo,
já que ainda não podiam sair livremente.
Steve ainda estava solto, e não sabíamos
onde ele estava, nem o que planeja fazer.
Não tínhamos como saber o que uma mente
doentia como a dele era capaz de elaborar.
Bryan me havia dito que, após Black
expulsar Steve do seu clube depois que
descobrira que ele era um serial killer,
também não o vira mais.
Nasx e Calebe eram meus guarda-
costas e de Ariane, seguiam-me para todo
canto, inclusive na escola, porque eu não
deixara de ir, já que fazia meses que não
sabíamos de Steve. Estava torcendo para ele
aparecer logo para assim o pegarmos de
uma vez por todas, porque era horrível ficar
sempre preocupada e olhando por cima do
ombro.
— Tem certeza de que quer fazer isso?
— sondou Brenda.
Ela e um cara chamado Bruno, colega
de trabalho seu, haviam me chamado para
me usar como isca para capturarem Steve
Lutner de uma vez por todas. Eu também
queria isso, queria Steve preso e não morto
pelas mãos de Bryan, algo que estragaria a
vida dele para sempre, e a minha também, já
que éramos um só.
— Sim, tenho certeza de que quero
fazer isso. Quero esse desgraçado preso, de
preferência longe das pessoas que amo —
asseverei com firme convicção.
— Estamos todos equipados, e vamos
protegê-la de Steve Lutner — garantiu
Bruno. Ele era forte, moreno e vestia terno,
mesmo não estando frio no momento. Pelo
visto, gostava de se vestir bem.
— Precisamos fazer isso o quanto
antes, porque Bryan chega amanhã, e ele
não vai deixar isso acontecer — assegurei a
eles.
Nós três estávamos em um banheiro de
um restaurante no centro de Manhattan.
Brenda me ligara marcando encontro ali. Eu
deixara Nasx no salão e viera ao banheiro.
Calebe ficara com Ariane em casa, já que eu
não podia trazê-la.
Duas semanas antes, Brenda me
visitara no intuito de pedir desculpas, e
havíamos ido à sala de computadores, único
lugar da casa que não tinha câmeras e onde
poderíamos conversar sem que ninguém nos
ouvisse. Ela me falara que seu chefe
precisava da minha ajuda para pegar Steve.
Eu aceitara mesmo sabendo dos riscos para
minha vida.
Bruno assentiu para mim e me
entregou dois pequenos objetos.
— O que é isso? — perguntei olhando
para os dois agentes.
— Um é uma escuta para ouvirmos
tudo que vocês falarem. O outro é um
rastreador para sabermos onde quer que
você vá. Se ele conseguir te raptar,
saberemos onde estão. Apenas precisa
esconder muito bem isso para que Steve não
descubra — respondeu Bruno.
Assenti, porque, se Steve descobrisse
que eu estava sendo rastreada, seria o meu
fim. Eu não sabia se seria capaz de controlar
os pesadelos lúcidos se fosse levada e
algemada, porque era isso o que ele faria se
conseguisse pôr as mãos em mim e me
sequestrar novamente.
— Mas como vamos fazer isso? Como
vou escapar de Nasx? Porque ele não vai me
deixar sair sozinha daqui.
Eu gostaria de dizer a verdade a ele,
mas não podia, não quando sua lealdade
estava com Bryan, por isso tinha que fazer
aquilo sozinha. Bem, não sozinha, mas com
Bruno e Brenda. Além disso, ele tinha dito
que havia mais agentes envolvidos no caso.
A maioria não concordava em me usar, mas
era a única forma de pegarmos Steve, já que
ele me queria tanto para terminar o que
começara.
Eu aceitara fazer parte daquilo porque
pensava o tempo todo no que aconteceria se
Bryan o encontrasse e matasse, porque era
isso o que aconteceria caso ele colocasse as
mãos em Steve. Eu não podia deixar isso
acontecer, não podia deixar que ele acabasse
com sua carreira e sua vida. Bryan valia
mais do que qualquer coisa que viesse a
acontecer comigo.
Brenda sorriu e baixou mais o decote
de sua blusa branca.
— Eu dou um jeito nisso enquanto
você foge. Não perca o rastreador, porque,
senão, estaremos mortos quando Bryan
descobrir. Aquele cara é capaz de tudo por
você, até matar colegas e agentes da lei. —
Ela deu um suspiro.
Esperei alguns minutos depois que ela
saiu com seu plano para distrair Nasx. Que
homem heterossexual não se distrairia com
ela? A mulher era uma morena exuberante,
com seios fartos, um colírio para os
homens. Ainda bem que Bryan não se
interessara por ela.
— Vai dar tudo certo. Têm agentes de
confiança nesse caso e vão ficar de olho em
você — atestou Bruno, preparando-se para
sair do banheiro, quando uma senhora
entrou.
— Vocês, jovens, não podem esperar
chegar em sua casa? Aqui é o banheiro de
um restaurante, pelo amor de Deus —
rosnou a mulher, possivelmente pensando
que nós havíamos transado ali.
Olhei para Bruno, que fingia arrumar
suas calças. Quase revirei os olhos ante a
cena; só não o fiz porque estava tensa pelo
que ia acontecer.
— Com uma mulher dessas, eu não
conseguiria nem chegar à esquina —
replicou Bruno dando um sorriso para a
senhora, que estava na casa dos sessenta
anos.
Assim que saímos do banheiro
ignorando os olhos arregalados da mulher,
olhei para a mesa onde Nasx estava sentado
de frente para o banheiro, mas Brenda se
aproximou dele e fingiu que tropeçava.
Nasx a segurou para impedir que ela caísse
no chão.
— Agora vai — falou Bruno.
Aproveitei a distração de Nasx e saí do
restaurante movimentado. Talvez fosse por
isso que Brenda escolhera aquele local.
Capítulo 26
Alexia
Olhei para meu antigo prédio em Nova
Iorque. Eu venderia meu apartamento, já
que estava morando com Bryan em nossa
casa segura. Mesmo depois que tudo aquilo
passasse, eu continuaria lá, já que amava o
lugar. Tinha sido nele que eu descobrira que
Bryan me amava, bem como onde fora
realizado meu casamento com ele.
Respirei fundo e entrei na portaria,
depois subi pelo elevador até o meu andar.
Não podia fraquejar. Apesar disso, um
arrepio desceu por minha coluna, mas me
controlei. E se Steve tivesse hackeado as
câmeras do prédio, estivesse me observando
e, ao me ver tremer, desconfiasse de algo?
Nada podia dar errado naquela noite.
Assim que entrei em meu apartamento,
ouvi a música tocar na minha caixinha de
música. Tudo dentro de mim gritava para
fugir, como acontecera quando Bryan me
seguira depois da boate naquela noite em
que Steve estivera ali. Eu sabia que, se ele
estivesse me vigiando assim que saísse
sozinha do restaurante e pegasse meu carro,
seguindo o caminho mais comum para meu
prédio, ele me seguiria e se apressaria a
entrar ali antes de mim. Bem, assim eu
esperava.
— Eu me pergunto se você é estúpida
por se livrar de seu guarda-costas e vir aqui
sozinha — ouvi a voz do meu pesadelo, mas
daquela vez era real.
Virei-me e olhei para o cara que um
dia destruíra minha alma, que felizmente
fora reconstruída por Bryan. Eu não
deixaria aquele imundo desgraçado
destroçá-la de novo, nem que para isso
tivesse que matá-lo com minhas próprias
mãos.
Eu ainda estava perto da porta, e ele,
sentado confortavelmente no meu sofá,
como se fosse o dono do lugar. Vestia jeans
e camiseta, seus cabelos estavam longos e
oleosos, bem como sua barba cheia e
desgrenhada. Eu não achava que era um
disfarce, apenas que ele era um imundo que
não ligava para nada, nem para sua higiene.
— Samuel? Ou devo te chamar de
Steve? — ironizei, fuzilando-o com os
olhos.
— Então já sabe sobre mim — disse,
apontando uma arma para mim, como já
tinha feito outras vezes.
— Que você é um desgraçado,
desumano e estuprador de mulheres? Que
usa de disfarces e outros nomes para
conseguir seu intento? Você não vale nada,
não passa de um fodido imundo que
merecia estar morto! — sibilei com os
dentes cerrados, louca para voar nele. Como
eu tinha aprendido a lutar, não tinha medo
de ter de enfrentá-lo no mano a mano, mas
ele estava armado, o que dificultava as
coisas.
Sua expressão se modificou, revelando
sua ira, que era tanta que ele pulou do sofá
com a arma em punho. Suas mãos tremiam
tanto que achei que ele estava prestes a
puxar o gatilho.
Meu sangue gelou, mas não
demonstrei meu receio, afinal, não queria
que ele pensasse que eu era fraca e medrosa
como antes. Precisava ser forte, porque ele
gostava de fraqueza e impotência.
— Sua puta desgraçada, você é minha
e faço com você o que eu quiser! Minha
puta, não daquele fodido de merda! —
vociferou. — Agora venha aqui, tire as
roupas e se dobre no sofá, que eu vou te
ensinar uma lição!
Tentei esconder meu pavor e asco. Eu
nunca mais me submeteria àquilo.
— Você só pode estar louco se acha
que vou deixar você me tocar — desafiei-o.
Eu sabia que estava sendo idiota, afinal, ele
estava armado, mas não deixaria o medo
tomar conta de mim, e sim a raiva que eu
sentia daquele monstro. — O único homem
que me toca é meu marido!
— Você vai fazer o que eu mandar,
porra! — rosnou, vindo para cima de mim.
Pensei em correr, mas, como não podia
estragar o plano, fiquei quieta e o deixei
pegar meu braço e me jogar no sofá. —
Agora tire suas roupas, ou eu tiro!
— Não vou me despir! Acha que sou
aquela idiota medrosa que fazia tudo que
você mandava? Se quiser atirar em mim, vá
em frente, seu cretino de merda, mas não
vou fazer isso! — Cerrei meus punhos,
louca para acertar sua cara imunda.
Esperava que os agentes entrassem logo e o
prendessem, mas eles precisavam de uma
confissão da localização de alguns corpos
de garotas que nunca haviam sido
encontrados.
Ele levantou a mão direita como se
fosse bater em meu rosto, mas seu telefone
tocou.
— O que você quer, Olivia? —
questionou colocando a ligação no viva voz,
falando num tom meloso, como falava
comigo antes de me raptar no passado.
— Estou no hospital. Já vou entrar
para fazer o que você quer — falou uma voz
feminina. — Depois vamos ficar juntos, não
é?
Eu não estava entendendo nada. O que
a mulher faria em um hospital? Quem era a
tal de Olivia? Aquela louca parecia gostar
dele. Certamente não sabia nada sobre o
monstro que ele era.
— Sim, apenas mate aquela cadela da
Angelina e sua filha bastarda — ele
respondeu e desligou.
Meu sangue gelou a ponto de meu
corpo tremer. Angelina estava em um
hospital e, pelo que parecia, ganharia sua
filha. Aquele monstro queria matá-las? Eu
precisava saber tudo sobre aquilo, então
olhei para ele. Eu sabia que fazer aquele ser
abominável ficar com raiva não ajudaria em
nada. Então resolvi fazer um jogo diferente.
Só esperava que, quem quer que estivesse
ouvindo pela escuta, alertasse Angelina.
— O que você tem contra Angelina?
Ela não te fez nada! Você que matou a irmã
dela e a fez sofrer — perguntei num tom
tranquilo, embora fosse difícil manter a
calma.
Ele me olhou de lado.
— Eu sou o que sou por culpa dessa
vadia desgraçada e da puta da irmã dela! —
sibilou, abrindo dois laptops nos quais eu
não tinha reparado ainda. Nas telas, as
imagens pareciam captadas em tempo real
das câmeras de um hospital. Seria onde
Angelina estava?
— Você matou a irmã dela, quase
estuprou minha amiga e ainda saiu impune
por ser rico…
Ele me fitou com os olhos sombrios de
um demônio capaz de matar qualquer um.
— Impune? Acha que não fui
castigado, porra? Aqueles desgraçados dos
meus pais me levaram para um colégio
interno na Inglaterra só para não causar
problemas para eles, já que eram políticos!
— Ele se levantou e pegou uma garrafa de
bebida no meu aparador. — Aqueles
imundos nem checarem o lugar para saber
se era realmente uma escola de confiança!
Não, eles só queriam se livrar do estorvo
que eu era!
Um nó apertou minha garganta ao
imaginar o que tinha acontecido lá. Com
certeza não fora boa coisa. Eu podia ver
pela sua expressão colérica e atormentada,
cheia de asco e dor, que algo terrível
acontecera com ele naquele lugar. Eu até
podia imaginar o que era.
— O que houve lá? — perguntei,
depois acrescentei, não o querendo com
mais raiva, afinal, precisava ouvir a verdade
dele: — Pode me dizer?
Ele se sentou perto de onde deixara os
computadores, ainda bebendo e apertou um
botão. As imagens que vi, captadas de
câmeras, me assombrariam para sempre. Só
não vomitei porque não tinha comido nada
no restaurante, afinal, tinha ido lá para me
encontrar com Brenda e Bruno, não para
comer.
No vídeo que passava, havia
adolescentes presos em correntes em uma
fileira, todos nus, enquanto alguns homens
abusavam deles. Minha vontade era de
acabar com todos eles.
— Oh, meu Deus! — sussurrei,
engasgada como se tivesse alguma coisa na
garganta ou no peito.
— Deus não existe! Sabe o quanto
gritei por ele para me salvar daquilo?!
Muitas vezes, assim como você e as garotas
que matei gritavam pedindo socorro, mas
Ele não as ouviu, nem a mim! — Seus olhos
pousaram nos meus. — Por culpa de
Angelina e meus pais, fui parar naquele
inferno e me tornei esse monstro que sou!
— Por isso matou seus pais? — era
uma pergunta retórica, porque eu sabia que
tinha sido ele que matara os próprios pais,
como também as garotas, como se fosse
uma vingança distorcida pelo que lhe
acontecera. — Por que não ir atrás dos caras
que te fizeram sofrer, em vez de torturar e
matar garotas inocentes, com sonhos pela
frente? — Apontei o dedo para a tela do
notebook sem olhar para ela. Não
conseguiria ver mais aquelas cenas
horrendas. Eu pensava que não existia
monstro pior do que aquele que estava à
minha frente, mas acabava de descobrir que,
sim, existia.
— Por que eu não faria isso? E os
meus sonhos, que foram destruídos?
Alguém pensou em mim? Meus pais? Não,
ninguém pensou, então não me importo com
ninguém! — esbravejou mexendo no
teclado, então vi um casal nu e acorrentado
a uma parede. Eles estavam cobertos de
sangue, como se tivessem sido espancados
de tantas formas diferentes que sua pele fora
arrancada, como se estivessem esfolados.
Por sorte ele não colocara o som, só as
imagens.
Desviei os olhos da cena, porque não
podia mais ver aquelas atrocidades. Um
tremor passou por mim assim que uma
suspeita terrível se instalou em minha
mente.
— Você grava todas as torturas e
assassinatos? Todas aquelas garotas? Eu…?
Ele sorriu de modo doente. Meu
estômago se contorceu.
— Sim, precisava assistir a tudo
depois e ver o que precisava ser melhorado,
aperfeiçoado.
— Meu Deus, você é um demônio!
— Sim, eu sou — respondeu como se
eu o tivesse elogiado. — Eu coloquei fogo
naquele colégio de merda para o qual meus
pais me mandaram, mas, antes, fiz todos
que cometiam as atrocidades e os que
sabiam o que acontecia ali e não faziam
nada pagar na mesma moeda.
— Oh, Deus! — Engasguei-me ao
pensar em algo horrível. — E os garotos
vítimas como você? Os salvou?
— Por que me daria a esse trabalho?
Aqueles moleques tinham medo dos
guardas, por isso não os denunciavam,
então também mereciam morrer queimados
— respondeu em tom frio. — Assim como
meus pais e os pais de Angelina. Eu ia tirar
tudo dela, até seus irmãos. Aquela maldita
criança era para morrer com sua mãe, mas
sobreviveu.
Dei graças a Deus por Lira, uma das
irmãs de Angelina, ter sobrevivido ao
acidente que aquele desgraçado causara à
família. Até o momento, todos pensavam
que tinha sido um simples acidente, mas
fora um assassinato.
Outro pensamento me ocorreu, e meu
sangue gelou.
— Matou meus pais também? Porque
não descobriram as causas da queda do
avião até hoje. — Estava tremendo de raiva,
tanto que faltava pouco para eu voar na cara
dele. Pelo menos ele deixara a arma sobre a
mesinha de centro, onde estava os laptops.
— Aqueles desgraçados? Ainda os
chama de pais? Eles te mandaram para uma
clínica psiquiátrica e falaram que nossa filha
tinha morrido! Do mesmo modo fez aquela
cadela velha da sua cozinheira, que cuidou
de nossa filha como se fosse dela, não
ligando uma vez para você! — Mexeu no
teclado do PC, e ali estava o vídeo de ele
matando Aria, mas não o olhei; não podia
lidar com aquilo.
— Como sabe disso? Andava me
vigiando? Então por que não apareceu
antes? Por que se contentou matando outras
garotas inocentes? Os corpos de algumas
delas sequer foram encontrados! — A
menção aos cadáveres das garotas fora
planejada com Bruno e Brenda, que
precisavam da informação.
Ele me fitou com os olhos estreitos.
— Acha que sou idiota? Que não sei
que está com escuta? Você não ia vir aqui à
toa, não é? Não sabendo o que eu faria com
você. — Ele se levantou e me olhou de
lado. — Tire as roupas e mostre a escuta.
Fiquei de pé também, olhando-o de
igual para igual. Não fugiria dele, afinal, ele
já tinha falado tudo, menos a localização
das meninas assassinadas. Resolvi, então,
barganhar com ele, ou ao menos tentar.
— Se eu tirar a roupa e provar que não
tenho escuta, vai me dizer onde estão os
corpos? — tentei colocar persuasão em meu
tom de voz. — Steve, você já destruiu os
corpos dessas meninas; por favor, me diz
onde eles estão, para suas almas terem um
pouco de sossego.
— Acha que vou dar sossego às almas
delas?! — gritou, voando sobre mim, que
caí de costas no sofá com ele por cima.
Estava furioso demais. Pelo visto, meu
plano não dera certo. — Alguém pensou em
minha alma?! — Ele pegou meu vestido e o
rasgou. Então ficou mais furioso ainda ao
ver o nome de Bryan e o de Ariane em meus
seios. — Você é minha, sua puta! Essa filha
é minha, não daquele policial de merda!
Eu não soube bem o que houve, estava
preparada para tudo, mas, quando ele me
tocou, fiquei imobilizada. Devia ter surtado,
porque não ouvia nada, só sua voz me
xingando no passado e suas mãos imundas
me agredindo, como se estivesse entrando
num pesadelo lúcido… Oh, meu Deus! Isso
não pode acontecer de novo! Tentei lutar
contra as lembranças daquela época
horrível, nas quais estava me afundando,
mas não consegui.
Bryan! Ele podia me salvar da minha
mente presa nas lembranças sombrias. Seu
rosto lindo, sua boca de mel, seu toque, que
aquecia minha pele, seu cheiro, que
inebriava minha vida. Sua voz, então, que
era capaz de me trazer do inferno em que
estava vivendo ao me lembrar daquelas
cenas, do meu corpo acorrentado, algemado,
de suas mãos cruéis… Bryan! Ele era meu
salvador, minha fortaleza.
— Alexia… — chamou sua voz a
pouca distância de mim. Seu tom estava
calmo e carinhoso, mas senti fúria e
preocupação nele com o que estava
acontecendo comigo.
Segui a sua voz e abri meus olhos,
deparando-me com os olhos azuis que eram
capazes de me trazer para a luz de volta.
Aquele homem era o meu milagre.
— Bryan… — notei que minha voz
estava rouca, provavelmente pelos gritos
que eu dera no pesadelo e na realidade
também. Ele estava em cima de mim no
sofá, prendendo minhas mãos para cima,
com a testa na minha e os olhos nos meus.
— Oh, Deus, Bryan… eu…
Ele soltou minhas mãos, e o abracei
forte, sentindo o seu cheiro rico, inundando-
me em sua luz e tentando acalmar a
escuridão que havia se apossado de mim.
Fazia meses que eu não surtava assim. A
última tinha sido quando eu fora presa por
Nasx na Cruz de Santo André. O toque de
Steve desencadeara tudo, as lembranças, a
dor, as perdas.
— Eu estou aqui, Luz do Sol. Sinta o
meu cheiro e ouça a minha voz, ouça e volte
para mim. Sinto muito, querida —
sussurrou com a voz sem vida.
Antes que eu lhe perguntasse por que
sentia muito, quando ele não tinha nada a
ver com o que havia acontecido comigo,
pois havia sido eu que aceitara servir de isca
para prender Steve, percebi, enfim, a
movimentação ao meu redor. Olhei em
torno e me deparei com a sala cheia de MCs
e agentes da lei. Shadow, Daemon, Nasx,
Bruno e Brenda e alguns outros, mas não
me importei, porque Steve estava de
joelhos.
Bryan saiu de cima de mim assim que
me remexi debaixo dele. Olhei para meu
corpo, para meu vestido em pedaços. Na
parte de cima estava quase nua, só com meu
sutiã branco. Bryan tirou sua jaqueta e a
colocou sobre mim.
— Obrigada — pigarreei para
conseguir falar, então olhei para Steve, que
me encarava furioso.
— Não adianta me prenderem! Eu vou
voltar e acabar com o resto das pessoas que
você ama uma a uma!
— Cale a sua boca! Tirem esse cara da
minha frente antes que eu perca o resto do
meu juízo! — rosnou Bryan.
Os agentes o levaram dali. Fiquei
aliviada depois que ele saiu carregado,
xingando e me ameaçando. Eu não queria
me aproximar daquele cara nunca mais.
Cheguei mais perto de Bryan, como se
buscasse mais conforto, mas também para
acalmá-lo.
Alguns dos agentes pegaram os
laptops onde estavam os vídeos que aquele
lunático fizera de suas vítimas.
Bruno estava com a face machucada.
Eu apostava que tinha sido Bryan quem
fizera aquilo, por ele ter me colocado
naquela situação.
— Eu quero ir para casa — falei a
Bryan, colocando a cabeça em seu ombro.
— Alexia! — um grito agudo, de furar
os tímpanos, soou.
Olhei para a porta e vi meu irmão
tentando entrar no apartamento, mas um
policial não permitia. Seu rosto estava
tomado de dor, pavor e medo. Sorri de leve
para ele. Eu só queria estar perto da minha
família, da qual Alex fazia parte.
— Vamos para casa, meu amor —
afirmou Bryan e olhou para Bruno. —
Depois falo com você.
Epílogo
Alexia
Dois meses e meio depois
Durante os últimos meses, superei a
minha crise, graças a Deus e a alguém, que
matara Steve com um tiro na cabeça quando
ele estava sendo transferido para um
presídio.
— Foi você? — perguntei a Bryan
assim que li no jornal sobre a morte dele.
Nós estávamos em casa. Ele mal
parava lá devido ao caso em que estava
trabalhando. Não perguntei a ele que caso
era, mas Tabitta me disse que estavam
tentando prender o líder de uma máfia russa,
Andrey Jacov.
— Luz do Sol, se eu fosse matá-lo,
não seria com um tiro na cabeça, quando ele
não sofreria nada; seria lento e doloroso —
sua voz soou fria ao dizer isso.
Quando Bryan me resgatara de Steve,
disse que soubera que eu estava no meu
apartamento porque colocara câmeras lá
para caso Steve resolvesse voltar. Sua
viagem da Rússia para os Estados Unidos
tinha sido adiantada porque conseguira
resolver o que quer que tinha ido fazer lá.
Daemon, que tinha acesso às imagens das
câmeras em tempo real, vira o que estava
acontecendo e ligara para ele, que já estava
a caminho de casa.
Bryan me disse que ouviu meus gritos
de longe e que tinha sido perturbador.
Vários agentes já tinham tentado, mas
ninguém conseguia me trazer de volta. Eu
só despertara do pesadelo ao ouvir a voz
dele, que tivera de escolher entre matar
Steve e me trazer de volta. Por um
momento, agradeci por minha crise; por
causa dela, Bryan não matara ninguém, e
sua alma estava completa.
A filha de Ryan e Angelina era uma
bonequinha linda, parecida com os dois.
Estava cada vez mais forte e esperta. Ela
nascera prematura, e, graças a Deus,
Angelina sobrevivera à cirurgia cardíaca
que precisara fazer.
Olivia Savvy era a garota que fora
presa em flagrante tentando matar Angelina
porque Steve pedira a ela. A garota era uma
louca varrida. Como pudera fazer isso só
porque um cara desequilibrado lhe pedira?
Bryan, eu e Ariane fomos visitar
Angelina assim que ela saiu do hospital com
sua bebezinha, Victoria. Contudo, Ryan mal
nos deixava chegar perto dela. Aquele cara,
que um dia fora mulherengo, tornara-se o
maior papai coruja que eu já conhecera na
minha vida. Eu mal peguei Victoria um
pouquinho, e ele já tentou tomá-la de mim,
mas Angelina se meteu no meio,
repreendendo-o.
Ela estava sentada em um sofá na sua
nova casa, que ele construíra para ela,
grande e magnífica. Ryan tinha muito bom
gosto.
— Ela é minha — reclamou ele como
uma criança e não um homem de 27 anos.
Angelina lhe estendeu a mão, e ele foi
de bom grado até ela.
— Eu sei, querido, mas eles são nossos
amigos e querem ficar um pouco com ela.
Depois dessa suave reprimenda, ele
não se meteu em nossa “paparicação” com
Victoria, o milagre vivo. Era em momentos
como aquele que eu tinha ainda mais
certeza da existência de Deus e nunca me
arrependia de ter mantido a minha fé,
porque Ele também fizera milagres na
minha vida: permitira que eu fosse a única
sobrevivente quando raptada por um serial
killer; devolvera-me minha filha; curara-me
do trauma, da dor e da escuridão que eu
sentia; e me dera um marido maravilhoso e
amigos incríveis que eu adorava ter por
perto.
Eu e Bryan resolvemos esperar para
ter filhos. Eu queria um menino, mas
primeiro terminaria a faculdade de
marketing e faria um curso de designer de
moda, uma coisa que eu amava, mais do que
o balé, que um dia fora meu sonho, mas não
estava curada para voltar a dançar ainda.
Talvez um dia conseguisse ouvir música
clássica ou ver espetáculos de balé sem
sentir calafrios. Há um ditado que diz que o
tempo cura tudo. Eu acreditava nisso,
porque já havia sido curada de muitos
traumas, de feridas profundas e dores que
me assombravam.

Estávamos trancadas dentro de um


cômodo na igreja onde fora realizado o
casamento de Ryan e Angelina. No entanto,
as coisas haviam se complicado havia meia
hora. Tabitta colocara Jason Falcon para
dormir com Boa noite, Cinderela e saíra
com os MCs e Bryan.
Eu não queria deixá-lo ir, mas confiava
nele para cuidar de si mesmo e se proteger,
afinal, logo ele prenderia os homens de
Jacov, aquele caso seria finalizado e ele
poderia voltar para mim e Ariane.
— Você sabia disso? — rosnou Jason
assim que acordou e foi direto até Evelyn,
que estava sentada em um sofá. — Sua
desgraçada, eu vou acabar com você!
— Ela me pediu, e eu a ajudei. —
Evelyn se levantou também com dois
punhais nas mãos. A garota manejava facas
que era uma beleza.
Tripper, parente adotivo de Isabelle,
esposa de Kill, entrou no meio dos dois. O
garoto de uns 19 anos mais ou menos era
um prospector do clube pela jaqueta que
usava, mas pareceu mais velho ao falar
sombriamente para Jason:
— Se tocar nela, sabe que teremos
mortes aqui. Shadow não deixa ninguém a
tocar, muito menos Kill.
Lucky segurou Jason, mas eu sabia
que ele não encostaria o dedo em Evelyn,
tanto por ela ser uma mulher quanto por ser
namorada de seu melhor amigo.
Depois disso, tudo ocorreu bem. Os
federais e a CIA, com a ajuda dos MCs,
prenderam vários mafiosos de quem
estavam atrás. Dois morreram, e um deles
era o pai de Tabitta, Sebastian Ruiz, mas
não vi tristeza da parte dela por isso.
Assim que o MC Landon e Chris, o
guarda-costas de Tabitta, que estava do lado
de fora da porta, nos protegendo, entrou e
disse que tudo tinha acabado e que todos
estavam bem, enfim pude respirar aliviada.
Liguei para Bryan, e ficamos de nos
encontrar em casa.
Bryan
Depois de tudo acabado após meses de
investigação, prendemos vários bandidos
mafiosos, e outros foram mortos ao trocar
tiros com os federais e agentes da CIA. Fui
agradecer aos meus amigos MCs,
principalmente a Shadow, que era meu
melhor amigo. Ele sempre guardara minhas
costas. Eu confiava na polícia, mas tinham
muitos infiltrados nela, por isso eu pedira
ajuda a Shadow. Também sabia que ele
estava protegendo Tabitta para Jason. Se
acontecesse algo com ela, Jason morreria.
Aquele cara adorava aquela mulher, assim
como eu amava Alexia.
— Obrigado, irmão. — Apertei sua
mão. — Espero que tenhamos paz e sossego
por enquanto.
— Deus lhe ouça! — exclamou Nasx.
— Não vejo a hora de voltar para casa e me
divertir com a mulherada. Eu te convidaria,
mas você já tem uma, não é? — Ele piscou
para mim.
Revirei os olhos. Só pensava em
Alexia. Eu nem podia acreditar que chegara
o fim das perseguições, bandidos e chefes
de máfias. Queria ir para casa e relaxar com
minha mulher.
— Sim, e a minha me ligou e disse que
está me esperando em casa — respondi e
olhei para Daemon, que estava em sua
Harley preta. Fui até ele e dei um tapa de
leve em suas costas.
— Obrigado, Daemon, por sua ajuda.
Sei que fez isso por ela, mesmo assim
agradeço de coração — falei a verdade.
Ele deu de ombros.
— Não foi só por Alexia, mas tudo
bem — respondeu. — Tome conta dela.
— Eu cuidarei, prometo — jurei. — E
você cuide de Emília e Emma.
— Eu as protegerei, não se preocupe.
Agora preciso ir encontrá-las — respondeu
ligando sua moto e partindo.

Quando cheguei a casa, as luzes de


nosso quarto estavam acesas. Eu sabia que
Alexia não dormiria antes que eu tivesse
chegado. Eu falara com Dennis, meu chefe,
havia algumas semanas e dissera que só
trabalharia nos casos de Sebastian Ruiz e
Andrey Jacov e depois me demitiria. Aquele
fora meu último dia. Não podia trabalhar em
um emprego que sempre me impedia de
dizer a verdade à mulher que eu amava e
que me fazia ficar tempos longe de casa.
Assim que abri a porta, deparei-me
com uma cena que até hoje custo a acreditar
que era real. Alexia estava algemada na
cama, gloriosamente nua e exposta para
mim. Ela sorriu assim que entrei no quarto.
— Olá, querido marido. Como eu sei
que teve um dia difícil, vou te dar o que
precisa para relaxar e trazer sua mente de
volta de onde quer que ela esteja.
— Isso é inacreditável… — sussurrei
abobado por ela estar presa sem gritar ou
surtar.
— O que foi? Vai ficar aí parado ou
vai entrar em ação? — indagou abrindo
mais as pernas, mostrando sua boceta
gostosa para mim.
Eu estava louco para tê-la, mas
precisava de um banho antes de ficar com a
minha garota, tirar toda aquela sujeira de
mim, o que acontecera naquele dia, as
mortes dos bandidos em que eu atirara.
Foi o banho mais rápido da minha
vida. Saí nu do banheiro e fui até Alexia,
ainda esparramada na cama, com seus
cabelos caídos no colchão, um pulso
algemado na cama e o outro só encaixado
no aro. Gostei que ela fizesse aquilo por
mim. Só ela me conhecia quando minha
mente escurecia, e ultimamente isso
acontecia bastante, muito possivelmente
pelas garotas que acháramos em um
contêiner num navio, algumas mortas,
outras vivas, outro caso que tínhamos
concluído. O tráfico humano era chefiado
pelo rato disfarçado no FBI, Lincoln, que
devia estar no inferno naquele momento. Se
dependesse de Dark, eu acreditava que não
seria uma morte lenta… Nikolai era
conhecido por não perdoar.
Chega de pensar nisso, agora só tenho
de me dedicar à minha musa, à mulher mais
linda do planeta, que está aqui fazendo de
tudo para eu não me fechar na escuridão.
— Por mais que eu ame ver você
presa, minha querida esposa, hoje eu só
quero fazer amor com a minha mulher. —
Tirei suas algemas e subi em cima dela,
enterrando-me em sua boceta apertada. —
Agora estou no paraíso.
— Você também é meu paraíso,
querido — disse, beijando-me e prendendo
suas pernas na minha bunda enquanto eu a
penetrava centímetro a centímetro.
— Espero que amanhã se lembre do
que tivemos, mas, se não lembrar, mostro a
você — falou ela, beijando meu rosto e
minhas pálpebras com carinho. — Espero
um dia ser a luz no meio da sua escuridão.
Eu ainda estava dentro dela, depois de
ter gozado sem pressa. Não queria fazer
mais nada com pressa, afinal, teríamos
muito tempo para foder, mas naquela noite
eu só queria amar aquela mulher
maravilhosa. Admirei seus olhos lindos.
— Luz do Sol, você já é a luz que
incendeia toda a minha escuridão. Com
você ao meu lado, ela não existe. Você me
salvou, assim como salvei você. — Olhei
para as algemas jogadas num canto da
cama. — Nós completamos um ao outro. —
Mexi meu pau já duro de novo dentro dela.
Com Alexia, nunca era suficiente. — Eu
amo você. Você é minha, e nada, nem
ninguém vai tirá-la de mim.
— Para sempre, Bryan — jurou,
beijando-me com um gemido que eu amava,
adorava, venerava, idolatrava.
Naquele momento, agradeci a Deus
por Ele me dar mais uma chance de me
redimir dos meus pecados, porque eu estava
feliz como nunca fora em toda a minha
vida, ao lado da minha mulher, que me
trouxera luz, paz, esperança e,
principalmente, amor.
Fim
Sinopse
Jordan sempre foi acostumado a ter a mulher que
desejasse. A sua vida era regada a muito sexo e curtição.
Arrepiava a ideia de se prender a apenas uma mulher, assim
como via acontecer aos seus companheiros de festas.
Entretanto, esse seu modo de enxergar a vida caiu por
terra no momento em que conheceu a irmã do seu melhor
amigo.
“Aquelas botas de cowboy em contraste com seu
sotaque sulista estavam me levando à loucura.
Até quando conseguirei esconder a verdade dela?”
Tudo o que Laurel desejava na vida era ter o amor de
seu meio irmão, no qual sempre fora apaixonada. Com o
coração partido, ela foge de homens, que agem como seus
irmãos, que possuíam uma banda de rock — as mulheres
choviam aos pés deles.
“Cafajeste? Depravado? Devasso? Mulherengo? Eu
simplesmente queria distância, pois era tudo o que meus
irmãos eram. Contudo, eu os amava.
Entretanto, toda essa minha convicção mudou no
momento em que conheci Tay. Loiro, olhos azuis, forte,
másculo e dono de um incrível sorriso encharca calcinha.
Imagina sentir aquele boca mandona em meu corpo? Será que
eu finalmente tinha encontrado o cara, no qual sempre desejei
e sonhei? O meu cowboy?”
Capítulo um
Laurel
— Oh, meu Deus! — gemi agarrando a mão do
homem, que estava ao meu lado no avião assim que ele
decolou.
— Fique calma, e respire fundo, caipira — pediu ele
alisando minha mão, que segurava no intuito de me acalmar,
assim pensei.
Eu estava indo para Las Vegas, ao casamento do meu
irmão Shade. Andar de avião sempre me deixava nervosa e
tremendo, porque foi em um acidente aéreo que minha mãe
morreu há cinco anos. Evitava isso o quanto podia, mas às
vezes, não era possível evitar.
Antes de o avião decolar, um rapaz louro sentou ao
meu lado; ele era alto, cabelos grandes, mas estavam
amarrados num rabo de cavalo. Seus olhos eram tão azuis
quanto o céu em um dia de verão. Ele tinha a aparência do
Thor.
― Me desculpe, é que aviões me deixam trêmula de
medo, mas tenho que ir para Vegas para um evento importante
― sussurrei envergonhada. Porque uma mulher de vinte e
quatro anos não era para ter esse tipo de medo, pensei
amargamente. Certamente ele me acharia estranha.
Evento importante? Quase ri com esse pensamento. O
casamento de Shade, definitivamente não era importante, não
para mim, era o contrário, ele era a minha cruz, meu calvário.
― O que você vai fazer em Vegas, para andar em algo
que te amedronta? ― sondou curioso, ou foi o que me
pareceu.
Eu suspirei, porque isso era um assunto que não queria
conversar, não agora com a dor em meu peito, capaz de
esmagá-lo.
Shade era o meu irmão, ou meio irmão, ele era filho do
homem que casou com a minha mãe antes dos dois morrerem
no acidente aéreo. O meu padrasto Louis, o considerava um
pai, já que o meu pai verdadeiro desapareceu quando era
criança, e nunca deu as caras na minha vida. E acredito que
nem faria isso.
Desde que Shade veio morar conosco, junto com
Louis, eu me apaixonei por ele perdidamente. Até meus quinze
anos, pensei que fosse uma paixonite de adolescente. Mas
conforme o tempo passava, o que eu sentia foi ficando mais
forte.
Eu o amei em segredo, porque ele não sentia o mesmo
por mim, Shade me amava como uma irmã, assim como
faziam meus irmãos, Nilan e Gave.
Hoje, Shade estava se casando com uma mulher que
nem o amava, e nem ele o fazia também, não sabia o
verdadeiro motivo para ele se casar com ela, já que não tinha
nenhum sentimento pela cadela. Eu falo isso da Melissa, não
por inveja por ela estar se casando com ele, mas porque aquela
mulher era uma verdadeira golpista de fama, pensei
amargamente.
Shade era vocalista da Banda King, junto com meus
irmãos. Os três tocavam há mais de seis anos, e eram
conhecidos internacionalmente, por isso viviam viajando pelo
mundo. Quase nem os via.
― Você está bem? Está tremendo ― sondou o louro,
me trazendo de volta ao presente.
Eu suspirei para me controlar, afinal, vivia com esse
sentimento por Shade há tantos anos, que nem podia imaginar
não o sentindo mais. Embora fosse mais saudável se o
esquecesse, porque agora, ele pertenceria a outra.
Eu fitei os olhos azuis do cara ao meu lado, ele ainda
estava segurando minha mão, e por incrível que pareça seu
toque me deixou bem calma. Talvez fosse seu sorriso educado,
embora também fosse sexy e sensual. Ele parecia saber o
poder que exercia com as mulheres assim como eu, que por
um segundo até me esqueci do Shade. Gostei da sensação.
Talvez eu e esse cara, podíamos ser amigos no futuro. Eu
devia estar louca, porque nem o conhecia.
Embora que o meu medo de avião, ele não conseguisse
tirar, pensei.
― Me distraia, por favor ― pedi a ele com a voz
rouca.
Ele me lançou um sorriso tão lindo, que tive que piscar.
Eu só podia ficar olhando, embasbacada e de boca aberta.
Acho que esse homem me distrairia apenas com aquele
sorriso. Lábios perfeitos, se curvando um pouco para baixo.
― Você que pediu ― Eu pensei que ele fosse contar
quem era e inventar alguma coisa. Mas então, olhou ao redor
como se estivesse checando se estava vindo alguém, e me
beijou. Eu devo admitir que tudo dentro de mim se desfez,
meu coração palpitou forte, minha pele formigava como
labaredas e uma eletricidade me tomou forte, que pensei que
seria consumida pelo prazer, no qual senti.
Seus lábios eram macios e deliciosos como um sorvete
de morango. Seus braços eram fortes em minha cintura, como
se quisesse me colocar dentro dele, no sentido figurado claro,
acredito que teria feito caso estivéssemos sozinhos. Eu não sei
como, mas ele tirou o cinto de segurança e se aproximou mais
de mim.
Eu apertei minha mão direita em suas costas querendo-
o mais contra mim, mas o assento não permitia, e com a mão
esquerda, eu alisava seus cabelos lisos e sedosos, que
cheiravam a shampoo.
Esse foi o meu primeiro beijo de verdade, porque não
contava com o que tive com Samuel, que me beijou no baile
da escola, aquele beijo foi roubado. Este aqui? O cara estava
devorando minha boca de forma selvagem e faminta.
Eu aproveitei o máximo daquele momento
maravilhoso, porque estava gostando muito, sua língua
acompanhando cada canto de meus lábios fazendo-me
estremecer e quase gemer, só não fiz pelas pessoas que se
encontravam ali.
Uma parte do meu cérebro me dizia para não o beijar,
afinal de contas, eu nem o conhecia, mas a outra falou vai e
aproveita, você já sonhou demais com alguém que não pode
ter. Bom, isso é verdade. Porque antes sonhava que Shade
seria o meu primeiro em tudo, mas isso não aconteceria, nem
agora e nem nunca, ainda mais depois que ele se casasse com
Melissa.
O cara alisava minhas costas num gesto de carinho,
tanto que tive que apertar minhas pernas uma na outra para
tirar o atrito que estava sentindo, tanto que gemi baixinho. O
bom que não estávamos perto de ninguém, perto de nós dois
estava praticamente vazio. Embora, se eu gemesse alto como
era minha vontade, as pessoas ouviriam com certeza.
Ele se afastou, porque eu não tinha mais forças para
fazer tal coisa, aliás, estava mole, e não era a única, seus olhos
eram abrasadores nos meus.
― Não geme assim, ou vou esquecer que estamos em
público ― sua voz também estava quente assim como seu
olhar.
Eu assenti, muda, porque acredito que perdi minha voz,
com certeza não sairia nada, não formalmente e composta. Eu
não sabia que beijos arrebatavam você do lugar, porque foi
isso que aconteceu comigo.
Ele me deu mais um selinho e me abraçou de lado, e
colocou minha cabeça em seu ombro. Ele ajeitou o cinto de
segurança.
― Isso é estranho, beijei um cara que nem sei o seu
nome ― sussurrei com a voz ainda fraca, aliás, se eu estivesse
de pé com certeza teria caído, com as pernas bambas como as
minhas estavam.
Ele riu, o som fez seu corpo tremer. Tão gostoso como
uma risada de bebê.
― Taylor ― disse, senti seus lábios em minha testa. ―
E o seu qual é, linda?
― Laurel.
― Muito prazer em conhecê-la, Law. ― Ele piscou de
lado para mim. ― Apesar de que adorei a forma como nos
conhecemos.
Eu corei.
― Já abreviando meu nome? ― Sorri e afastei o meu
rosto do dele.
― Fica mais lindo ― comentou. ― É claro que você
também é.
― Jura? Ninguém nunca me disse isso antes, além dos
meus irmãos e meus pais ― falei a verdade. ― Mas, obrigada.
― Só estou dizendo a verdade ― disse triscando na
ponta do meu nariz com seu dedo.
― Por que me beijou? ― sondei corando e curiosa, fui
incapaz de não perguntar. ― Você tem um jeito de que não se
interessa pelo tipo de mulher como eu.
― Tipo de mulher como você? ― Ele estreitou os
olhos.
― Você parece ser o tipo de homem que só pega louras
formosas, com pernas lindas. ― Suspirei. ― Eu não sou nada
dessa forma.
Olhei minhas roupas, saia jeans, bota de cowboy, blusa
xadrez. Embora, as adorasse e não mudaria, porque eu queria
que o cara em questão, ficasse comigo por quem eu era, e não
por me vestir na moda. Meus cabelos eram compridos, mas
estavam presos em um rabo de cavalo.
Eu não era feia, mas não era como aquelas mulheres
que ficavam horas no espelho se embelezando para sair.
Taylor tocou meu rosto.
― Você é mais do que linda, caipira; tão sexy com
essas malditas botas de cowboy, que fez todos os malditos
bastardos do aeroporto virarem o pescoço para olhá-la. ―
Sorriu torto para mim. ― E não fique zangada com o apelido,
apenas acho que combinou com você. Gostei desse seu jeito, e
peço para que não mude nunca.
Ele era tão diferente de todo os homens que já vi,
diferente dos meus irmãos, suas palavras derreteram meu
coração. Nunca conheci um homem assim antes, mas gostei,
não ligava por ser chamada de caipira, mas isso no bom
sentido, claro.
― Obrigada ― sussurrei constrangida, e me ajeitei no
banco. ― Mas e você, o que faz? Vamos conversar, assim não
penso aonde estou.
― Tudo bem. ― Ele ficou segurando minha mão como
se fosse o meu namorado. Seu tom de voz despertava algo em
meu corpo, no qual não entendia muito bem. ― Você tem
namorado?
Eu ri amarga.
― Acha que eu teria deixado você me beijar se tivesse
um? ― Meu tom era seco.
Eu não era santa, claro, mas também não era uma
vadia, que namorava um e saia beijando outros homens. Eu fui
tirar a minha mão da dele, mas ele não permitiu.
― Eu não quis ofendê-la, só queria entender, nunca
conheci ninguém igual a você ― Ele parecia realmente
curioso.
― Igual a mim, como? Que não se atira em você
rasgando suas roupas? E devorando seu corpo sexy? ― Corei,
mas era verdade, apesar de eu tê-lo beijado sem conhecê-lo, se
meus irmãos soubessem matariam o Taylor. Para eles, eu ainda
era uma adolescente desprotegida, e não uma mulher de vinte
e quatro anos.
Ele riu.
― Isso é meio exagerado. ― Revirou os olhos. ―
Corpo sexy, hein? Não sou tudo isso.
Ele era cego, porque o cara era um Adônis em pessoa,
formoso, sexy, atraente e sedutor.
― Que tipo de mulher costuma namorar? ― sondei
curiosa, mas já imaginava, igual a Melissa.
Ele sacudiu a cabeça, divertido.
― Nunca namorei ninguém na minha vida ― disse.
Eu pisquei.
― Nunca? Mas você é lindo… oh, meu Deus! Você é
mulherengo, cafajeste, safado e salafrário, não é? Você só pega
mulher pelo sexo ― meu tom saiu alto, então diminui. Eu não
sabia o motivo da minha surpresa, o cara era um tremendo
deus grego. ― Um homem assim, eu quero distância.
― Nossa! Você odeia tanto assim, esse tipo de
homem? ― Ergueu as sobrancelhas, e depois sorriu. ― Não se
preocupe, eu não sou esse tipo de homem. Eu só a beijei,
porque precisava acalmá-la, e não me arrependo, porque
também queria beijá-la.
Não parecia ter mentira em seu tom, e nem em sua
expressão.
― Desculpe, mas acontece que meus irmãos são assim,
eu os amo mais do que tudo, mas a forma como eles ficam
com mulher, descartando-as logo em seguida, me deixa
irritada.
― Você é contra o modo de eles agirem? ― não era
uma pergunta, acho que ficou evidente pela minha reação, que
não gostava daquilo.
― Sim, mas tudo bem, mesmo se você fosse assim ―
olhei para ele ― Você me ajudou ao me distrair com o beijo,
embora isso não vá se repetir.
― O prazer foi meu ― respondeu, e depois fez a
mesma pergunta, no qual fez antes, uma que eu estava
evitando responder, mas agora vi que não teria como burlar
mais ― Mas o que pretende fazer em Vegas?
Eu suspirei triste, e pensando no que aconteceria em
Vegas.
― O meu irmão vai se casar hoje… ― sussurrei.
― Você não parece feliz ― observou.
Eu sacudi a cabeça.
― Não estou, a mulher é uma cadela fria e interesseira,
só está com ele pela fama ― meu tom era amargo.
Ele arqueou as sobrancelhas.
― E o que seu irmão é? Jogador de futebol ou algo
assim?
― Ele é vocalista da banda King, uma banda de rock
― respondi.
― Eu li em uma revista, que dizia que esses caras da
banda King são irmãos.
Eu suspirei.
― E são, Nilan e Gave são meus irmãos de sangue, já
o Shade é…
― Oh, esse tom não é nada bom ― falou meneando a
cabeça de lado. ― O que realmente sente por esse Shade?
Você gosta dele, não é?
― Eu o amo há quase dez anos, mas nunca tive uma
chance. ― Limpei uma lágrima, que caiu pela bochecha. ―
Ele só me vê como sua irmãzinha caçula, que precisa ser
protegida. Eu só estou aqui nesse avião, algo que me faz
temer, porque o amo, independentemente do que ele vai fazer
hoje.
Taylor deu um tapinha na minha perna de leve, mas
onde ele tocou ficou queimando como brasa viva. Uma reação
bem estranha, porque se eu amava o Shade, então não deveria
sentir isso por ninguém, não é?
― Ele é cego, eu devo dizer. ― Sorriu. ― Você é
linda, ainda mais com esses olhos cor de chocolate. Essa
boca… ― ele aproximou os lábios dos meus, mas não me
beijou ―, me dá vontade de beijá-la e nunca mais deixá-la
partir.
Eu sorri da sua tentativa em me fazer sentir bem
naquele momento.
― Eu adorei beijá-lo, nem acredito que foi meu
primeiro beijo, ainda mais com um cara, no qual conheci em
um avião.
Ele me olhou de soslaio.
― Primeiro beijo? ― indagou. ― Mas você é perfeita,
ainda mais com esse sotaque sulista. Você é de Dallas?
― Sim, e não sou perfeita, bonita pode ser. E quanto
ao beijo, estava esperando por Shade, pensando que um dia ele
viesse a olhar para mim. Mas alguns dias atrás, ele chegou lá
em casa e disse que ia se casar com Melissa. Fiquei sem chão,
acredito que ainda estou… ― expirei ― Um amor impossível.
― Por que me deixou beijá-la? Se não quisesse, não
teria feito, eu juro ― falou passando a mão direita em seus
cabelos.
― Eu sei, mas está tudo bem. De qualquer forma, eu
jamais teria uma chance mesmo, para beijar Shade ―
murmurei pesadamente.
― Eu diria que sinto muito, mas estaria mentindo,
porque adorei ser o primeiro ― ele sorriu de lado. ― Poderia
ser o primeiro em outra coisa também.
― Não acha que está pedindo muito? Eu mal o
conheço para fazer isso, o beijo tudo bem ― peguei uma
bebida, na qual a aeromoça nos trouxe momentos antes, e bebi.
Eu realmente estava desesperada para conversar, porque
acabei de falar com um estranho, bom, um estranho sexy e
lindo.
― E você, senhor Tay, posso te chamar assim já que
me apelidou por Law? ― Ergui as sobrancelhas.
― Claro que sim, caipira. ― Piscou de lado para mim.
― Pode me chamar do que achar melhor.
Eu bebi mais um gole do champanhe.
― Isso é bom, me deixa alegre. Eu preciso ficar alegre
ao ver aqueles dois se casando. ― Eu olhei de lado para ele.
― Você poderia me acompanhar no casamento.
― Dificilmente, já que o meu amigo também vai casar
em Vegas ― respondeu.
― Oh, está bem então ― murmurei.
― Podemos nos encontrar depois, num lugar chamado
Vergas Hotel. Ele é um hotel, mas tem restaurante e boate nele
também. Lá tem de tudo, então podemos nos divertir, o que
acha? É melhor do que ficar trancada em um quarto chorando.
― Ele suspirou. ― Posso te fazer esquecer as coisas um
pouco, isso será minha meta essa noite, prometo que vai se
divertir.
― Você tem razão, você falando comigo nem reparei
nada… oh, merda ― Era nessa hora que me dava um frio na
barriga, e me fazia querer gritar, mas claro que não fiz isso.
― Está pousando ― comentou, apertando a minha
mão, no qual segurava.
― Não me diga Sherlock. É nessa hora que me dá mais
medo.
― Eu sei de algo que vai acalmar você. ― Ele pegou
minha cabeça enfiando os dedos em meus cabelos e devorou
minha boca, aliás, consumiu.
Por um instante, eu me esqueci de onde estava, das
pessoas, pena não esquecer o meu amor por Shade também,
pensei. Isso seria maravilhoso.
― Senhores, já pousamos ― disse a aeromoça, eu nem
vi a hora em que pousou e nem ouvi as instruções de
segurança O meu cinto estava no lugar, mas do Tay não, por
isso seu beijo estava explosivo, e seu corpo colado ao meu.
Eu afastei dos seus lábios, que pareciam com mel de
tão bom.
A mulher olhava para o Taylor, mas que garota não
faria o mesmo? Mas ele nem ligou só me fitava com um
sorriso lindo.
― Desculpe-me, nós já estamos saindo ― respondi
com a voz um pouco fraca.
Esse homem era definitivamente uma força da
natureza. Como era capaz de me deixar toda mole e fraca com
um beijo?
Eu deixei o avião com Tay ao meu lado, mas sem nos
tocarmos. Eu vi o Milton me esperando, ele era o segurança
dos meus irmãos, mas não queria ir com ele para o hotel, onde
todos estavam, principalmente Shade com Melissa.
― Acho que o segurança do seu irmão está aqui ―
falou Tay, fitando Milton.
― Como sabe que ele é um segurança? ― Franzi a
testa.
― Simples, o cara é forte, parece ser do exército, olhos
sérios, e também você o encarava como se o conhecesse, então
chutei, mas pelo visto é ― comentou. ― Só não entendo, eles
devem saber que você tem medo de avião, então por que não
vieram com você?
― Porque era para eu vir com uma amiga minha, mas
ela teve que fazer outra coisa. ― Suspirei. Na verdade, eu
nunca contei a nenhum dos meus irmãos sobre esse meu medo
de avião. Escondia muito bem isso quando estava com eles. ―
Não quero ir com ele, preciso ficar um tempo longe de todos e
preparar minha expressão.
― Vou te ajudar com isso. ― Pegou minha mão. ―
Venha comigo.
Capítulo dois
Laurel
Meu telefone tocou enquanto estava no carro com Tay.
― Onde está? Milton ficou te esperando no aeroporto,
mas você não apareceu ― falou Nilan, com tom preocupado.
Eu expirei.
― Eu só preciso de um tempo, sozinha, antes de ir para
o lugar da cerimônia ― falei.
O casamento ia acontecer no salão do hotel, onde eles
estavam. Como pode casar com alguém, sem nem mesmo ser
na igreja? Grávida, a Melissa não estava, porque se tivesse, ele
teria nos contado, então por que se casar se ele não a amava?
Nilan suspirou.
― Eu sei que as coisas estão difíceis para você agora,
ainda mais vir aqui e fingir que tudo está bem ― falou com
sua voz um pouco grossa ―, fingindo que não está doendo
enquanto assiste o Shade indo se casar com outra.
Nilan sabia do que eu sentia, porque uma noite, ele me
pegou chorando quando vi Shade se pegando com uma garota,
após o término de um dos shows deles. Eu tinha ido lá com a
ideia de dizer a ele o que sentia, mas o mesmo estava com
outra.
― Está chorando? Me diz onde está e, eu vou te
buscar. ― Ouvi impotência na sua voz.
Eu não queria que ninguém me visse assim, só queria
ficar sozinha, mas Tay não deixou isso acontecer, e meu irmão
faria o mesmo se soubesse aonde eu estava. Nem eu sabia, mas
também não liguei.
― Estou bem ― falei e depois corrigi: ― Eu vou ficar,
vou tentar ir ao casamento, mas se não conseguir, eu te ligo,
ok?
― Nesse momento, não é bom você ficar sozinha ―
falou Tay, assim que desliguei.
― Eu sei, mas realmente preciso de um momento
sozinha ― pedi a ele. ― Mas obrigada por tudo, caso não nos
vermos mais.
― Não vou embora sem antes procurá-la ― disse
olhando o hotel onde iria ficar, não o que estavam meus
irmãos e vovó.
Tay não queria me deixar, mas assentiu, sensato da
parte dele. Mas acho que ele viu que, eu realmente queria
aquilo, gostei da forma que ele estava me ajudando, mesmo
sem me conhecer.
Eu entrei no quarto pequeno do hotel, ainda mais em
comparação com o que eles estavam hospedados para o
casamento.
Os meus irmãos ficavam torcendo para que eu
vendesse a fazenda, onde morava em Dallas, mas não podia,
ali era o único lugar onde mamãe viveu sua vida inteira e, eu
não conseguia desfazer, e também amava tudo naquele lugar.
Muitas pessoas já haviam me procurado para tentar comprar a
fazenda com o intuito de fazer um hotel, meio afastado da
cidade, ainda mais com o lago no coração da fazenda. Devo
dizer que, não é porque é minha, mas o lugar era paradisíaco.
Apaixonante, agora vêm essas pessoas querendo comprar e
destruir para fazer hotel? Eu expulsava todos eles.
Entretanto, não era burra, sabia que ali tinha o dedo
dos meus irmãos, eles que falavam sobre a fazenda para os
outros querendo que eu vendesse, mas isso não aconteceria. Eu
não permitiria que algum engomadinho a tirasse de mim.
Todos da minha família queriam que eu saísse da
fazenda para ir viajar, fazer algo para mim, mas até agora não
consegui descobrir qual era minha paixão, além de montar um
haras.
Antes de me apaixonar por Shade, eu sonhava em casar
com um cowboy, embora isso não se perdeu, porque ele vestia
calça jeans apertada e botas de cowboy. Sempre achei isso
sexy em um homem.
Depois de banho tomado, eu vesti um vestido com
costas nuas, mas não dispensei minhas botas de cowboy, no
qual ganhei do Nilan.
Eu me arrumei, mas não para Shade, já que ele nunca
me notou, nunca fez. Soltei meus cabelos deixando-os cair em
minhas costas.
Chegou a hora de colocar um ponto final nisso, desistir
dele e parar de ficar sonhando com Shade. Não era para ser eu
a ficar com ele, mas não deixava de doer. Talvez se ele a
amasse, eu aceitaria mais fácil, mas nenhum dos dois se
amavam para tal compromisso.
Eu peguei um táxi, não querendo ir com o Milton.
Precisava ficar sozinha e longe de suas famas de certa forma.
Eu gostava do fato dos meus irmãos terem realizado seus
sonhos, como serem cantores famosos e andarem pelo mundo,
inclusive, eles fariam uma turnê durante dois meses na Europa.
Ser famoso também tinha suas chatices, como andar
nas ruas e ver aquele bando de mulher barulhenta gritando por
eles.
Eu evitava ser filmada o quanto podia, os três me
ajudam com isso, não deixando sair nada sobre mim na mídia.
Esperava que hoje eu passasse despercebida também, não
queria que ninguém visse minha expressão, pelo menos as
câmeras. Por isso coloquei um casaco escuro para ninguém me
reconhecer.
Eu fiquei escondida durante toda a reunião, não falo
cerimônia, porque todos ali pareciam estar participando de um
velório e não de um casamento, isso me deu mais raiva, por
que ele vai casar, então?
Ele estava na frente, onde haviam feito um altar
improvisado; ali no salão não tinha muita gente, essa reunião
era simples, sem tanto luxo, fiquei surpresa quando disseram
que não iam casar na igreja, ainda mais por Melissa aceitar
isso, claro.
Shade estava vestido de preto, cabelos castanhos
escuros, bagunçados, mas ele não tirou suas roupas de cowboy
para vestir terno. Ficou lindo do mesmo jeito. Tinha barba por
fazer e olhos tão negros como a noite.
Sua expressão era como se fosse para um enterro.
Queria sacudi-lo para não fazer essa besteira, mas não
conseguia fazê-lo enxergar a verdade. Então com aperto no
peito, eu o vi destruir sua vida.
Melissa estava com um vestido de noiva, ficou bem em
sua pele branca, e cabelos vermelhos fogo. Ela não era feia, e
sim uma ruiva deslumbrante, pena que estava levando o
homem que eu queria para mim. Ela estava sorrindo, mas eu
não sei, parecia forçado. Embora eu pudesse estar vendo
coisas onde não existiam e, ou querendo buscar respostas, que
não teria.
A dor estava me consumindo, aliás, ela já tinha me
consumido, tanto que foi impossível ficar ali por mais tempo,
por isso saí sem que ninguém me notasse, acho que eles nem
me viram chegar ao casamento. Mas o que eu ia dizer aos
noivos? Muitas felicidades, ou meus pêsames? Não sou de
pensar e querer o mal dos outros, então deixei quieto e fui
embora.
Eu limpei meu rosto assim que entrei em um bar, não
reparei o nome e também não me importava, só queria beber
para esquecer.
― Me dá uma bebida, por favor ― pedi quando
cheguei ao bar.
O rapaz me trouxe a bebida e não fez nenhum
comentário, acho que já estava acostumado a ver uma mulher
chorando assim em seu bar, afinal de contas, isso é Las Vegas.
A cidade do pecado e fortunas. Dizem que quem tem azar no
amor, tem sorte em jogos, ou o contrário vai saber.
― Você não devia estar sozinha aqui ― comentou uma
voz conhecida ao meu lado.
Eu levantei a cabeça e vi Tay do meu lado de braços
cruzados.
― Sim, eu preciso, e você não tinha um casamento
para ir? ― retruquei indo beber mais um gole da bebida, mas
ele não deixou e tomou o copo da minha mão.
― Acho que já bebeu demais ― falou ele de um jeito
mandão.
― Ei, isso é meu ― rosnei tentando pegar de volta,
mas ele a levou para longe colocando-a no balcão.
Ele me puxou para um canto escuro e meu corpo bateu
no dele me fazendo ofegar com o impacto.
― O que está fazendo? ― fitei seus olhos azuis e
lindos.
― Eu disse que você bebeu demais, e está na hora de
parar ― seu tom pareceu uma ordem.
― Você não é meu dono, se eu quiser beber todas as
bebidas daqui, então vou beber ― rosnei chorando e batendo
nele. ― Você não pode me dizer o que fazer da minha vida.
Ele pegou minhas mãos.
― Eu sei que está sofrendo, mas ficar chorando e
bebendo não vai resolver nada, seja uma mulher decidida e
não uma fraca ― disse sem tirar os olhos dos meus. ― Então
faça o que nunca fez na vida, mas que sempre quis, embora
não tenha feito por achar impróprio ou errado, e não ficar triste
e desesperada.
Eu pisquei contendo as lágrimas.
― O que eu mais queria fazer? ― Mordi o lábio
pensando.
― Sim, me diz qualquer coisa, vou te ajudar a fazer. ―
Seu sorriso agora era travesso. ― Prometo que não deixarei
você sofrer essa noite.
― Jura? Qualquer coisa?
― Qualquer coisa.
― Hummm, fazer uma tatuagem, casar com um
cowboy e fazer sexo, esses três sempre foram os meus desejos.
― Sonhava em fazer isso com Shade, um sonho ao qual não
podia realizar, aliás, nunca pude, não com ele pelo menos.
Ele piscou.
― Essas três coisas? ― Meneou a cabeça de lado. ―
Não quer mais nada?
― Só essas três, mas não tem como fazer nenhuma
dessas ― sussurrei com derrota. ― Talvez a tatuagem, ela é
mais simples do que as outras coisas.
― Claro que tem, eu te prometi tudo que você
quisesse, e por que não podemos fazer, não é? ― Ele me
puxou para fora da boate deixando uma nota de cem dólares ao
cara do bar.
― Vai me ajudar a realizar? A tatuagem tudo bem, mas
se casar e ter sexo? ― Corei, mas ele não viu, pois me
rebocava dali.
― Não irei reclamar quanto ao sexo. ― Sorriu me
levando a um carro preto.
― Eu sempre sonhei em casar na igreja, e depois fazer
amor com meu marido ― Minha voz estava meio arrastada,
acho que a bebida tinha culpa pela coragem, no qual estava
tendo naquele momento, porque se não tivesse bebido, eu não
teria coragem, fraquejaria com certeza.
― Vamos cuidar disso hoje, mas primeiro vamos fazer
a tatuagem, conheço um lugar ótimo, já fiz algumas das
minhas tatuagens lá. O cara é meu amigo.
Olhei seu braço, que tinha uma tribal e algumas outras
tintas. Eu queria uma âncora, pensei.
Nós chegamos a uma lojinha de tatoo, era pequena,
mas gostei.
― Olá Jordan, há quanto tempo ― falou um homem
coberto de tatuagens assim que entramos na salinha.
― Jules. ― Jordan sorriu.
― Espera, seu nome não era Taylor? ― perguntei
pensando que ele tivesse mentido.
― Tenho os dois nomes, mas gosto quando você me
chama de Tay. ― Piscou para mim e depois olhou para o cara
e a mim de novo. ― Laurel, esse é Jules, um amigo meu. Fiz
várias tatuagens dele, e ele fez algumas das minhas.
― Olá, Jules ― o cumprimentei. ― Me chamo Laurel.
Ele sorriu.
― Prazer em conhecê-la. ― Ele nos levou a uma sala,
acredito que ali seria realizado tudo. ― O que deseja fazer?
― Eu quero uma tatuagem de âncora ― pedi.
― Por que uma âncora? ― sondou Tay com os olhos
estreitos já parecendo saber o significado.
― Ela simboliza firmeza, segurança, convicção, mas
também pode significar atraso e um fardo a ser carregado. ―
Suspirei com pesar. ― Acho que esse final combina comigo.
― Não combina ― retrucou. ― Mas para simbolizar a
âncora e ficar mais linda, vamos colocar uma flor-de-lis, que
significa poder, você precisa ter para conseguir tudo o que
deseja. Soberania e honra, você já tem com seus irmãos, e
acredito que com qualquer pessoa. E também lealdade. ― Ele
sorriu com a última palavra. ― Você é pura e tem uma alma
bondosa.
― Eu não tenho…
― Sim, você tem ― contra-atacou. ― Eu vi o que fez
com aquele senhor que ia atravessando a rua, você foi ajudá-lo
antes de entrar ao hotel. E o levou a uma igreja a cinco
quarteirões de lá.
Eu pisquei chocada.
― Você estava me vigiando? ― sondei com tom
incrédulo.
Ele sorriu enquanto Jules esboçava a arte que ia em
meu corpo.
― Sim, fui ao seu hotel onde está hospedada, mas a vi
saindo e vindo para cá. E a segui, enquanto você ia à igreja
com o senhor, não podia deixar você sozinha em uma cidade
desse tamanho sendo que não conhece ninguém ― comentou.
Eu fiquei de boca aberta por ele querer me proteger e
me fazer apreciar tudo que faríamos hoje. Por isso antes de
entrar ali, eu desliguei meu celular para não ser encontrada por
ninguém, nem mesmo por Nilan e Gave. Mas deixei uma
mensagem dizendo que havia ido embora, para casa, não
gostava de mentir, mas o que eu diria a eles? Estava ali
fazendo uma loucura, só torcia para que não me arrependesse
de nada.
Eu só viveria o agora, não pensaria no Shade, e nem no
que ele estava fazendo com sua mulher. Precisava esquecê-lo
de uma vez por todas.
― Onde vai querer a tatuagem? ― perguntou Taylor
olhando meu corpo. Vi seus olhos pegarem fogo com desejo.
Antes que eu respondesse, Jules trouxe a arte para eu
ver se havia ficado do meu gosto.
― Veja se este desenho está bom ― falou me
entregando o desenho.
A flor-de-lis entrelaçava a âncora, vermelha, verde e
preta, ao invés de ficar feio ou esquisito tantas cores juntas,
ficou lindo.
― Uau, ficou linda! Agora vê como vai ficar depois de
feita na minha virilha ― comentei comigo mesma
averiguando se ia ficar bem no meu corpo.
― Porra! ― grasnou Taylor. ― Vai ficar
deslumbrante, só que é uma região, no qual ninguém consegue
ver, a não ser se estiver de biquíni. Não quer em um local
visível?
― Não, quero que seja aqui mesmo ― falei apontando
o local, mas estava nervosa ao fazê-la, porque meus irmãos
tinham bastante tatoo e diziam que doía na hora de fazer.
― Está nervosa? ― Taylor alisou minha mão num
gesto calmo. ― Não fique, eu estarei do seu lado caipira.
Sempre.
― Cavalheiro ele, não? ― Sorriu Jules. ― Agora tire a
calcinha e deite ali. ― Isso não está acontecendo ― rosnou
Tay com a cara fechada. ― Eu faço a tatoo, só me dê as
coisas, nos quais preciso.
― Acha que vou deixar outra pessoa tatuar no meu
estúdio? ― Jules arqueou as sobrancelhas negras.
― Lembra do que me deve? Me deixe tatuar minha
garota, e a dívida estará encerrada ― disse Tay.
Jules avaliou Tay e depois deu de ombros, sorrindo.
― Ótimo, agora o estúdio é seu.
Eu fitei o Tay.
― Você está dizendo isso para que eu não fique nua na
frente do cara? Aliás, eu acho que não preciso tirar a calcinha,
apenas abaixar e mostrar o local onde quero ― falei a ele.
― Sim, mas pelo tamanho, nós podemos só esboçar e
tatuar depois…
Cortei.
― Eu aguento, pode fazer completa ― disse com
firmeza e não deixando minha voz fraquejar.
― Tem certeza?
― Sim, vamos nessa ― Tentei soar com confiança
assim ele não deixaria para outro dia, porque talvez eu não
estivesse mais ali.
Jules saiu deixando tudo que precisava para que o Tay
fizesse a tatoo. Eu não sei o que ele devia ao Tay para nos
deixar aqui sozinhos em seu estúdio, mas devia ser algo
grande, porque ele parecia gostar de tatuar.
― Deita nessa mesa ― Taylor ordenou.
Eu fiz o que ele mandou sem reclamar, e também
curiosa para saber como ficaria. Eu sempre quis fazer uma
tatuagem, mas meus irmãos diziam que não, que isso deixaria
a pele da mulher feia, até Shade. Por isso, eu nunca fiz. Mas
agora, que tudo encerrou entre mim e o que sentia por ele,
mudaria essa página. Ao menos até quando acordasse no outro
dia, eu não pensaria mais em Shade, repeti isso como um
mantra a todo o momento.
― Posso? ― Ele pegou a barra do meu vestido, e
suspendeu para cima assim que eu assenti, corando, é claro,
mas não ia ficar com vergonha agora.
Seu toque provocou chamas em meu corpo, me
fazendo remexer. Seus dedos em minha pele eram como brasas
ardentes. Meu peito subia e descia, e o fitei enquanto fazia o
processo.
― Não fique com vergonha de mim. ― Ele deixou o
vestido na minha cintura, e seguiu com seus dedos traçando
minha barriga até minha calcinha.
Eu ofegava, mas me controlei para não gemer.
― O que está sentindo? ― Sua voz parecia controlada,
apesar de que senti seu divertimento com meu estado. O
homem sabia o efeito que tinha nas mulheres, só podia ser.
― Garanto que os tatuadores não fazem isso com seus
clientes, ou iriam presos… ― minha voz falhou quando seu
dedo roçou em cima da renda branca da minha calcinha.
― Vai me prender? ― sondou com um sorriso
amarelo.
Eu fechei os olhos sentindo seu toque e apertei minhas
pernas querendo tirar o atrito. Gemi e perdi a capacidade de
falar e também de controlar meu corpo, ele parecia ter vontade
própria. Devia me preocupar com o lugar em que estava, mas
não liguei menos.
Ele riu perto do meu pescoço, senti seu hálito em
minha pele, o que a fez formigar.
― Posso aliviar você? ― ele não esperou uma
resposta, e começou a esfregar por cima da calcinha, depois a
puxou de lado e devo dizer que fui arrebatada.
Seus dedos circulavam meu clitóris me fazendo gritar,
mas logo me calei devido ao lugar em que estávamos, e
também por seus lábios que foram para o meus e devoraram
minha boca com tanta fome que meu corpo se lançou para
cima querendo mais do que apenas seus dedos e lábios.
Eu gritei tamanho era meu êxtase, mas sua boca abafou
impossibilitando de alguém ouvir. Minhas mãos apertavam
seus cabelos apertando-o mais contra mim. Meu gozo chegou
com ímpeto capaz de quase explodir, e no fato o fiz assim que
vi milhões de estrelas.
Ele ficou me beijando mais alguns segundos e com a
mão em minha boceta, até que parei de tremer após o orgasmo.
― O que achou? ― sondou alisando minha face com
carinho.
Eu abri os olhos e me deparei com os seus e com um
sorriso no canto da sua boca.
― Nossa! Não é nada parecido quando gozo com meus
vibradores… ― comentei. ― Estou até mole.
Ele praguejou.
― Cristo! Você faz isso? ― Sua voz estava rouca com
desejo. ― Um dia, eu gostaria de vê-la se tocando.
Pela forma que Tay falava, parecia que íamos nos ver
de novo, embora quisesse isso, esse homem era muito bom,
isso por que ainda nem tivemos sexo, imagina depois? Acho
que ficaríamos a noite inteira.
― Sim. ― Corei.
Ele me deu mais um selinho, mas parecia
impressionado, claro que era virgem, de homem pelo menos,
tudo por ficar esperando um homem, no qual nunca iria ter,
mas não era de tudo já que tirei minha virgindade com
vibrador na forma de pênis. Minha amiga que me deu de
presente, depois disso uso direto.
― Você é uma caipira muito linda, ainda mais com
essa cor vermelha em seu rosto ― falou abaixando um pouco
minha calcinha. ― Vamos terminar logo isso para podermos ir
embora.
Tay era um homem lindo, disso não tinha dúvida, tinha
algo nele que me fazia ser eu mesma, e não uma menina
calada aceitando o que seus irmãos queriam, aquela jamais
diria o que falava com Taylor. Fora a parte de ele me fazer
esquecer tudo a minha volta, de me animar para não ficar
chorando com um pote de sorvete nas mãos.
Então ele começou a fazer a tatuagem, e a coisa doía,
mas não liguei, apenas estava fazendo o meu renovo, após
tudo o que houve.
Eu fiquei calada olhando seus olhos azuis, enquanto
fazia o serviço. Assim que ele terminou passou um remédio ou
algum creme, eu não sei, mas sei que era para não infeccionar
o local.
Ele me ajudou a levantar e me deu um espelho, então a
vi no meu corpo, ela pegava do meu quadril direito até virilha.
A âncora preta, com talos verdes trançando-a e a flor vermelha
deixando-a bem feita e perfeita.
― É tão linda! ― sussurrei pasma.
― Sim, é linda ― concordou, mas pelo seu tom não
parecia estar falando da tatuagem.
Eu levantei a cabeça e vi que os seus olhos estavam em
mim. Sorri.
― Você tem talento. Pois ficou perfeita.
― Obrigado, agora vamos para o próximo passo, o
casamento ― falou me ajudando a baixar o vestido. ― Já
preparei a igreja.
― Como? Se não saiu do meu lado? ― Arqueei as
sobrancelhas. Eu só o vi conversar com Jules antes de ele sair.
― Tenho um amigo aqui que fez um favor para mim
― respondeu.
Ele tinha um toque delicado, mas também um pouco
misterioso, eu gostava disso, nunca conheci alguém como ele.
― Jules?
― Não, outro, mas deixa pra lá e vamos aproveitar.
― Tudo bem, mas e depois que nos casarmos, como
vamos nos separar? ― sondei.
Ele arqueou as sobrancelhas.
― Nem casamos e já quer se separar de mim? ―
fingiu estar espantado.
― Vamos nos casar e mal me conhece, e outra, não
estamos apaixonados um pelo outro ― comentei assim que
estava perto de uma igrejinha, que não ficava muito longe da
loja de tatoo.
― Não se preocupe, eu cuidei disso também, amanhã
vai ter um segundo papel, o do divórcio para assinarmos, o que
acha?
Eu devia estar louca para concordar com isso, podia
culpar a bebida, mas não estava assim tão chapada, mas ela me
dava coragem, já que era muito medrosa para enfrentar o que
eu queria.
― Ok, então. ― Sorri. ― Se meus irmãos soubessem
que vou me casar, eles matariam você, principalmente, o
Nilan, ele é o mais protetor de todos.
― Então, não vamos dizer a eles, não é? ― Piscou
para mim. ― Agora vamos nos vestir apropriados para um
casamento.
― Não posso me casar assim? ― Apontei para o meu
vestido. ― Não tenho vestido de noiva.
Ele balançou a cabeça.
― Eu disse para não ligar para isso que já ajeitei tudo,
incluindo o vestido que vai caber perfeitamente nesse seu
corpinho sexy. ― Ele varreu os olhos sobre mim com um
sorriso sexy.
Capítulo três
Laurel
Tay tinha razão, o vestido coube perfeitamente em
mim, pena não ser real, mas o cara era bom em escolher,
porque ficou perfeito.
O vestido branco, tomara que caia, tinha pedras
brilhantes na região dos seios, colado no corpo mostrando
minhas curvas.
Segui para o salão da igreja sem ninguém para me
levar. Meus irmãos me matariam se soubessem o que eu estava
fazendo sem eles. Bom, eu ia parar de me preocupar com os
outros um instante, e me preocupar comigo mesma, fazer algo
para mim.
Quando eu me casasse de verdade, os deixaria me
levarem ao altar, agora não poderia convidá-los, porque todos
eles matariam Taylor por me ajudar com isso, incluindo Shade,
mas não queria pensar nisso, e sim neste momento lindo.
Sempre quando via os casamentos nos filmes, eu ficava
louca para um dia ser eu a estar entrando na igreja, enquanto o
meu noivo me esperava chegar até ele, sem tirar os olhos de
mim.
Entretanto, ao entrar no salão quase tive uma síncope, e
arregalei os meus olhos, incrédulos.
Tay estava no altar da mesma forma, no qual sonhava
que um homem estivesse me esperando, mas o que me chocou
e me fez gostar ainda mais, foi ver que ele estava vestido de
cowboy, cinto com fivela estilo country e camisa xadrez e com
chapéu.
Seu sorriso era deslumbrante ao me ver ali de boca
aberta, ainda mais ao varrer seus olhos sobre mim, era como se
eles fossem laser, porque meu corpo ficou como brasa.
― Você está lindo! ― falei a verdade, porque essas
vestes eram bem diferentes do que ele estava antes, jeans e
camisa branca.
Ele sorriu.
― Sou eu que devo dizer isso, você está magnífica,
caipira ― seu tom era orgulhoso e quente. ― Nossa! Você está
de tirar o fôlego, é isso, estou sem fôlego só em olhá-la.
― Obrigada, cowboy. ― Fiquei na sua frente.
― Adorei esse vestido, ainda mais com essas fodidas
botas sexy de cowboy.
O reverendo ministrou nosso casamento.
― Devemos dizer os votos? Não é errado jurar em
uma igreja sendo que não vamos cumprir depois? ― comentei
baixinho.
― Aqui é Vegas, nada conta ― respondeu ele me
olhando de lado.
― Para mim conta quando é juramento, ainda mais na
casa de Deus. ― Franzi os lábios. ― Que tal assim? ― Fitei
seus olhos lindos e divertidos. ― Eu, Laurel Mary King,
aceito você Taylor, como meu marido nessa noite, prometo
amá-lo hoje e respeitá-lo, e fazer todas as suas vontades
enquanto permanecermos casados.
Ele sorriu gostando do que eu disse e repetiu o mesmo.
― Eu, Jordan Taylor Johnson, aceito Laurel como
minha esposa nesta noite, prometo amá-la hoje e respeitá-la, e
fazer todas as suas vontades, enquanto permanecermos
casados.
O reverendo nos declarou casados.

― Como está se sentindo, senhora Johnson? ― Ele me
pegou nos braços assim que chegamos a porta de um quarto no
hotel.
― O que está fazendo? ― Dei um grito. ― Me
coloque no chão.
― Não é isso que os maridos fazem? Pegar sua querida
e amada esposa e passar com ela nos braços pela soleira da
porta?
Eu sorri pegando seu chapéu.
― Tão cavalheiro, meu cowboy.
― Gostei disso, minha caipira ― sua voz soou doce,
mas cheia de luxúria.
Eu nem reparei no quarto ou para as mobílias, só
conseguia vê-lo ali, e também sentir meu corpo pegando fogo
dos pés à cabeça
Ele me colocou sentada na cama e ficou na minha
frente.
― O que disse nos votos, é verdade? ― sondou ele. ―
Você vai fazer tudo que eu pedir?
― Sim, o que deseja que eu faça? ― corei, mas fui
firme.
Ele abriu os braços.
― Quero que me dispa.
Engoli em seco, mas assenti e me levantei indo até ele.
Coloquei minhas mãos na sua camisa e desabotoei os botões
um por um, me deparando com uma cruz preta no peito, que
pegava de cima até abaixo do umbigo, e outras tintas nos
braços e no ombro esquerdo, parecida com uma tribal preta,
aliás, era uma tribal.
― Lindas! ― Alisei as tatuagens dele e desci com
meus dedos por sua barriga até a fivela do cinto. ― Gostei
dessa fivela. ― Sorri meio tímida, mas não deixaria isso me
consumir, agora só queria me divertir.
Eu me ajoelhei na sua frente e tirei seu cinto, depois
olhei para ele beijando o V perfeito da sua barriga. Tudo isso
era novo, mas estava adorando, ainda mais depois que o senti
estremecer.
― Botas primeiro ― ordenou rouco.
Eu tirei suas botas e fui abaixar sua calça ainda
depositando beijos em sua barriga com quatro gominhos
perfeitos. Tirei sua calça e cueca boxer, então vi seu pau duro
na minha cara, apertei-o com a mão.
― Sua pele fica mais linda quando cora. ― Ele afagou
meu rosto.
― Eu sempre quis fazer isso em carne e osso, porque
nos vibradores não é bom…
― Você chupou um pênis de borracha? ― indagou
incrédulo.
Eu dei de ombros.
― Sim, estava aprendendo a fazer um boquete, aprendi
em uma banana também, ela ajuda muito. ― Eu comecei a
fazer isso quando soube que Shade gostava muito dessas
coisas em uma mulher, e que gostava delas experientes…
expirei, não querendo pensar nisso.
― Bom, então chupa o meu pau e engula tudo o que
sair, vai fazer isso? ― Alisou meus lábios. ― Agora vamos
ver o quão experiente você é, com um pênis de verdade,
caipira.
Ele pegou meus cabelos e enrolou nas mãos e deu um
puxão para trás, não o suficiente para me machucar, mas o
bastante para deixar minha calcinha molhada.
Eu coloquei seu membro grosso, no qual saía pré-
sêmen na minha boca, e fiz tudo o que fazia com a banana;
lambia e degustava daquele sabor meio salgado, mas não era
de todo ruim, gostei. Uma mão segurava o que restou do seu
pênis, que não consegui colocar na boca, e a outra apertei suas
nádegas puxando-o mais para perto de mim.
Suas mãos eram firmes em meus cabelos, mas não me
forçou a colocar mais dele em minha boca.
― Porra, você é tão perfeita com esses lábios em torno
do meu pau ― grasnou rouco.
Eu olhei para cima encontrando os seus olhos, que
estavam vidrados e excitados assim como os meus. Ele ainda
me segurava, enquanto eu balançava a cabeça para frente e
para trás.
― Eu estou quase gozando, se não quiser que eu goze
em sua boca, então precisa tirar…
Eu tirei minha boca por um breve segundo fazendo-o
gemer, porque dei uma apertada em volta dele.
― Não era para fazer o que você quisesse? Por que
está me dando uma escolha? ― Arqueei minhas sobrancelhas.
Ele sorriu.
― Você tem razão ― ele pegou seu membro na mão e
estendeu para mim ― Agora abre essa boquinha linda e suga
tudo.
Eu fiz o que ele mandou e voltei a sugar mais forte
trazendo seu orgasmo, e fazendo com que eu apertasse minhas
pernas de desejo e atrito. Nossos gemidos e gracejos eram
altos, mas não liguei menos, não tirei a minha boca dele até
engolir tudo e não restar mais nada.
― Nossa, estou todo mole. ― Ele me puxou para seus
braços e me beijou com fome. ― Você faz um boquete
excelente, valeu as aulas que praticou ― sussurrou nos meus
lábios. ― Agora chegou a minha vez de despi-la e saborear
esse corpo lindo.
Ele foi rasgar meu vestido.
― O que está fazendo? Não pode rasgar o meu vestido,
ele é lindo ― falei e depois sorri. ― Posso ficar com ele?
― Por que iria querer um vestido de noiva sendo que
não vai usar mais? ― Ele me avaliava. ― Pode virar de costas
que não vou rasgar.
― Apenas o quero, talvez possa me casar no futuro. ―
Eu fiz o que ele mandou, mas olhei por cima do ombro. ―
Quando tiver um casamento de verdade.
Tay estreitou os olhos.
― Acho que o seu novo marido não iria gostar que
usasse um vestido, no qual usou para se casar com outro. ―
Ele desabotoou o vestido e beijou minhas costas no processo
fazendo minha pele se arrepiar.
― Você tem razão ― concordei ofegante ao ficar só de
calcinha na sua frente já que não usava sutiã. Seus lábios
foram para meus seios. ― Esses seios são saborosos. ― Ele
sugou e mordiscou um deles como se fosse seu alimento
preferido no mundo.
Peguei seus cabelos apertando sua cabeça para ir mais
ao meu encontro, tamanho era a luxuria. Ele me pegou e me
levou para cama pairando sobre mim.
― Seu toque é como brasa, Tay ― sussurrei.
― Gosto de saber disso ― sussurrou na minha pele
descendo para minha barriga. ― Estou louco para te lamber
toda, pena que a tatuagem atrapalha. Eu sei que está dolorido.
― Não ligo menos para isso, só quero sentir sua boca e
matar esse fogo que está me consumindo ― respondi
ofegante.
Ele riu na minha barriga e o som me fez remexer na
cama, então começou o trajeto com a língua até perto da
minha tatoo e beijou perto dela, mas de leve.
Ela estava dolorida, eu sei, mas não deixaria isso
estragar aquele momento lindo, que estava me queimando por
dentro.
Tay circulou com a língua em volta do meu umbigo,
mas precisou firmar meu quadril, pois salpiquei para cima com
um desejo abrasador.
― Fique quieta ou eu posso encostar no local da sua
tatoo sem querer ― ordenou com a voz rouca.
Minhas pernas se abriram em um convite silencioso,
como se elas tivessem vida própria.
― Tay ― gemi.
― Eu vou cuidar de você, caipira ― disse rasgando
minha calcinha. ― Acho que isso, eu posso rasgar, não é?
― Sim ― gritei quando ele sugou meu clitóris.
Eu tracei minhas pernas com as botas em seu pescoço,
pois acabei me esquecendo de tirá-las antes. E peguei sua
cabeça apertando-a mais contra meu centro. Sua língua andava
em cada canto da minha boceta me fazendo clamar seu nome
até que gozei forte.
― Puta que pariu.
― O que achou? Ou ainda não voltou para a Terra? ―
sondou com um sorriso na voz.
Eu abri meus olhos e encontrei os azuis brilhantes dele.
― Você é bom, parece ter muita experiência ― falei
beijando seus lábios. ― Agora vamos para o essencial.
― Eu achava que minha língua era essencial. ―
Sorriu. ― E você tem uma boca mágica.
― Você é ótimo ― garanti.
― Que bom que pensa assim ― disse enquanto
colocava a camisinha e se encaixava. ― Eu não devia
perguntar isso, já que preciso que faça o que mando, mas você
quer mesmo ficar comigo?
― Sim ― respondi sem tirar os olhos dele. ― Estou
certa de que quero fazer isso com você, então não hesite e
vamos em frente.
Ele assentiu.
― Tudo bem, mas enquanto estivermos transando,
quero que pense em mim e em mais ninguém, pode fazer isso?
― O senti na minha entrada.
Eu assenti, mas era verdade, porque até o momento,
tudo o que tivemos não me fez pensar em ninguém a não ser
nele. Nos seus beijos e caricias, e na fome de ele possuir meu
corpo.
― Sim ― prometi traçando minhas pernas em sua
cintura. ― Não quer que eu tire as botas?
― Gosto delas ― falou me beijando com ardor e
doçura enquanto me penetrava, mas eu prendi sua bunda
fazendo-o enfiar de uma vez. Ele parou de se mover e me
observou com os olhos estreitos. ― Pensei que fosse virgem.
― De homem, eu sou, mas perdi com o dildo ―
respondi ofegante.
Ele arregalou os olhos com seu sorriso sexy de molhar
calcinha.
― Você é outra coisa, mas como está se sentindo com
a sensação de um pênis de verdade? ― Ele se remexeu dentro
de mim, me fazendo gemer.
― Puro êxtase. ― Balancei meus quadris. ― Agora se
mexa e prove o quanto é bom de cama.
Ele sorriu.
― Seu prazer é uma ordem ― declarou e depois estava
me beijando com fome e se movimentando, me levando ao
paraíso.
De repente, eu não queria que esse momento acabasse,
mas como todo o conto de fadas, há um prazo de validade. O
meu terminaria no outro dia, então aproveitaria desse homem
muito bem essa noite.
Capítulo quatro
Laurel
Eu acordei cedo com um corpo forte e malhado do meu
lado. Também com uma baita dor de cabeça por ter bebido no
dia anterior. Mas não me arrependia de ter ficado com Tay.
Olhei para ele, enquanto o mesmo dormia, cabelos um
pouco jogados para frente do rosto, feições tão suaves quanto
pluma, olhos fechados, mas seus lábios saborosos estavam
entreabertos. Tão lindo que eu queria ficar olhando-o a todo o
momento.
Eu franzi a testa ainda admirando-o, porque em
nenhum momento da noite passada, eu pensei nos meus
problemas ou em Shade, estava tão fascinada que só pensava
em Tay.
Embora ainda amasse o Shade, só desisti dele, porque
o homem era carta fora do baralho, aliás, sempre foi. Mas Tay
também não era homem para compromisso, afinal de contas,
eu não sabia nada sobre ele e nem o que fazia.
Eu tinha que ter em mente que essa noite havia sido
maravilhosa, mas que não iria se repetir. Como um homem é
capaz de tirar outro do seu pensamento? Queria poder ficar
com ele, mas isso seria impossível. Afinal, eu não o amava,
apesar da química entre nós ser boa, aliás, explosiva.
Eu me levantei devagar para não o acordar, já que
parecia estar em sono profundo. Mas também, havia sido
formidável as quatro vezes em que ficamos juntos. Fora o sexo
oral esplêndido.
Depois de vestida com meu vestido, eu peguei o de
noiva; não importa se no futuro me casaria com outra pessoa,
agora só queria levá-lo para guardar de lembrança dos
momentos maravilhosos que tivemos.
Só quando eu estava no avião, de volta para Dallas,
que me recordei do fato de não ter assinado o contrato do
divórcio.
― Puta merda! ― falei em voz alta, e um senhor ao
meu lado fechou a cara. ― Desculpe.
Agora era tarde demais para voltar e procurar Taylor.
Como não estava pensando em casar tão cedo, então não
liguei, apesar de que não contaria a ninguém, porque se minha
família soubesse a forma, no qual me casei, acabariam
comigo. Meus irmãos iam caçá-lo até o fim do mundo.
Talvez nosso casamento não tivesse validade, afinal de
contas, lá é Vegas, não é? Pensei com esperança. Mas por via
das dúvidas mandaria procurá-lo, para divorciarmos. Não
queria ter problemas no futuro.
Meu telefone tocou. Merda, por que ele tinha que
ligar? Não podia simplesmente casar?
― Onde você está? ― perguntou Shade assim que
atendi. ― Você não foi ao casamento…
Eu suspirei controlando a dor, porque mesmo ficando
com Tay, o meu peito ainda doía como uma cadela.
― Por que iria dar os parabéns sendo que parecia que
vocês estavam indo para um enterro? ― retruquei enquanto
saía do aeroporto de Dallas.
― Não começa.
― Shade, eu sei que teve um motivo para casar com
aquela mulher fria como uma maldita geleira, não vou
reclamar ou criticar, mas você merecia coisa melhor do que
ela. ― Suspirei. ― Preciso desligar.
― Pequena estrela…
Eu desliguei, porque ouvir sua voz estava me fazendo
sufocar com a dor em meu peito, mas expirei para me
controlar e não deixar a dor me consumir, afinal de contas, não
existia ruptura sem dor.
O meu telefone tocava sem parar, mas ignorei, até que
vi outro número, ao qual não podia rejeitar, então atendi.
― Shade disse que não quis falar com ele, você está
bem? ― Nilan perguntou num tom preocupado. ― Te liguei
ontem, mas você não atendeu. Posso ir para Dallas agora se
precisar de mim.
― Se você vier todos vão querer vir junto e, eu não
posso vê-lo agora, preciso de tempo ― sussurrei com um
suspiro.
― Eu sei, mas posso…
― Nilan, vocês terão uma turnê pela Europa durante
esses dois meses, então não precisa vir, eu vou ficar bem, e
também tenho a Sabrina aqui, e a vovó ― controlei minha
voz. ― Coração partido não é doença. É claro que você não
sabe nada sobre o que diz em suas canções ― brinquei para
não o deixar preocupado.
― Isso não é verdade ― resmungou.
― Sabemos que é assim Nilan, mas vou ficar bem,
meu irmão, não se preocupe comigo. ― Meus irmãos nunca se
apaixonaram, eles só catam mulheres e depois as dispensam
como um objeto. Talvez um dia, eles se apaixonassem de
verdade, eu torcia por isso.
― Tudo bem, mas se precisar, me chama, tudo bem?
― falou com um suspiro triste.
Eu fui para a casa da Sabrina no centro de Dallas, ou
melhor, na sua lanchonete Dália, o nome de sua filha. A minha
princesinha linda.
Sabrina era uma loura linda, corpo curvilíneo, que
deixava os homens babando, mas ela não ligava, só Rome, o
seu marido, que importava para ela. Ele era policial.
Eles não foram ao casamento, porque a mãe do marido
dela estava doente, e também ela não quis ir já que não
gostava de Shade, e nem de Melissa.
Nenhum deles perdeu nada já que aquele casamento foi
tão real quanto o meu com o Tay, acho que o nosso foi mais
verdadeiro, pelo menos foi assim ontem à noite. Taylor
poderia estar comigo, pois com ele perto, eu não pensava em
Shade.
Entrei na lanchonete pequena, que ela tinha, cercada de
vidros, e com cadeiras dos dois lados. Formando um corredor
no meio.
Sabrina e eu éramos amigas desde crianças, seus pais,
os Bennett, eram donos da fazenda ao lado da minha, e com
isso íamos brincar quando criança nos pastos verdejantes, e
banhar no lago.
Dália estava sentada em uma mesa, desenhando, a
menina de oito anos era loura como a mãe, mas com os olhos
azuis como os do seu pai. Ela sorriu assim que entrei no salão.
― Titia, olha o que eu desenhei ― apontou para o seu
desenho ― O príncipe da senhora vai vir montado em um
cavalo branco.
Na folha tinha um cavalo e um homem em cima dele, e
perto do animal estava a figura de uma mulher. Ela só disse
isso, porque sua mãe ficava falando que me casaria com um
príncipe.
― É lindo, minha princesa ― falei bagunçando seus
cabelos. ― Eu trouxe um presente para você.
― Presente? O que é? ― gritou ela eufórica assim que
abriu e viu uma boneca com botas de cowboy, ela adorava
colecionar todos os tipos de bonecas, acredito que a menina
tinha mais ou menos umas trezentas.
― Como é que se diz quando recebemos algo das
pessoas, Dália? ― falou Sabrina para ela assim que chegou
perto de nós.
― Obrigada, titia ― respondeu e saiu rumo a cozinha,
aposto que foi mostrar para Júlia, a cozinheira do lugar.
― Ela adorou a boneca como imaginei que reagiria ―
falei com um suspiro.
Sabrina me avaliava.
― Foi muito difícil lá, não foi? ― Ela me puxou para
um canto vazio do restaurante. ― Queria ter ido com você,
mas…
― Eu sei, mas vê-lo se casando com outra, ainda mais
com aquela garota fria. ― Sentei-me na cadeira de frente para
ela.
Eu já chorei tanto no colo dela, após ver Shane com
outras mulheres, que já perdi a conta, mas fiz uma promessa
depois dessa noite que não iria mais chorar e não iria. Não
seria fraca para fazer isso.
― Oh, minha amiga ― sussurrou.
― Mas não quero falar dele agora, porque preciso te
contar uma coisa. ― Expirei para me controlar. ― O que fiz
em Las Vegas.
― O quê? Não me diga que transou em Vegas? Se o
cretino do Shade fez isso e ainda se casou, eu vou matá-lo,
esquartejá-lo e dar aos porcos ― sua voz se elevou, então ela
baixou o tom.
― Sim, transei, mas não foi com Shade, jamais ficaria
com um homem casado ou comprometido ― respondi. ― E
não grite, quer chamar a atenção de todos? Fique calma, e vou
dizer.
― Se não é o Shade, quem é? Foi algum
desconhecido? Sabe o que falamos sobre isso? Não é pelo fato
de Vegas ser a cidade do prazer, que você vai andar por aí
fazendo loucuras ― recriminou ela.
― Eu conheci esse cara no avião, enquanto estava indo
para lá… ― comecei.
― Então ele é daqui de Dallas? ― Ela franziu o cenho.
― Creio que sim ― Não tinha pensado nisso, porque
se nós fomos para Vegas no avião que saiu de Dallas, então
com certeza ele morava aqui, isso ficava mais fácil para
encontrá-lo e assinar o papel do divórcio.
― O que aconteceu depois?
― Ele me ajudou com o meu medo de avião,
segurando minha mão. O homem é tão lindo, louro com olhos
azuis ― falei com um suspiro. ― E também me ajudou a
passar por tudo ontem à noite. Me fez realizar três desejos, dos
quais eu queria há muito tempo. Mas acho que exagerei no
segundo…
― O sexo? Ou fez mais alguma coisa… ― ela
começou a falar, depois se interrompeu com os olhos grandes.
― Você não fez isso.
― Sim, além do sexo, eu fiz uma tatuagem de âncora
entrelaçada com uma flor-de-lis. ― Olhei ao redor para ver se
não tinha ninguém nos observando, tinha um coqueiro na
frente. Então abaixei um pouco o meu short mostrando a
tatuagem.
― Nossa, ficou linda! ― exclamou ela de boca aberta
assim que viu. ― Você sempre quis essa âncora, mas por que a
flor-de-lis?
― Foi ideia dele, ele me disse que alguns significados
da âncora não combinavam comigo, então deu a ideia de fazer
uma flor-de-lis, porque os dois combinavam. Eu também achei
lindo. ― Sorri. ― Foi o Tay mesmo quem tatuou.
― Esse cara é bom mesmo em tatuar, porque ficou
linda. Bem que podia fazê-la em algum lugar visível ―
comentou me avaliando.
― Isso porque você nem chegou a ver o restante dela,
depois te mostro ela inteira.
― Claro, mas o outro desejo é o que estou pensando?
Não vai me dizer que se casou, porque sempre sonhou com
isso ― seu tom era incrédulo no final.
Eu assenti.
― Sim, eu me casei com Tay.
Ela ofegou.
― Casou? ― Ela pegou a minha mão vendo a aliança
ali. Eu achei tão linda que não quis tirar, mas deixei um
cheque com ele no valor do vestido e das joias que comprou,
correntes, brincos e anel. ― Menina, esse anel vale uma
fortuna.
Eu franzi o cenho.
― Não deve ser verdadeiro ― Não podia ser diamante
puro, se fosse o cheque que deixei não ia fazer nem cócegas.
Eu não era rica, claro que meus irmãos eram, mas o que era
deles era dos três, e não meu, pensei.
― Laurel, isso é uns 10 quilates, mais ou menos ―
sussurrou espantada. ― Cadê esse cara? Afinal de contas, qual
seu nome completo? Por que acho que ele já a conhecia e
gostava de você, porque ninguém dá um diamante desses para
quem viu apenas uma vez na vida. Você não o conhecia de
algum lugar?
― Não o conheço, e nos casamos em uma noite, mas
esqueci de assinar o papel do divórcio hoje de manhã. Eu só
lembrei quando estava chegando aqui ― sussurrei passando as
mãos nos cabelos. ― Se ele for daqui, como acho esse
homem?
― Posso saber de que homem está falando? ― sondou
uma voz atrás de mim.
Eu me virei na direção da voz, no qual achei que não
ouviria tão cedo. Mas ele estava ali, vestido com roupas de
cowboy, cabelos louros e soltos ao lado do belo rosto, e com
um sorriso que fazia minha calcinha ficar molhada só de olhar
para ele. Peguei meu telefone e bati uma foto, era impossível
não fazer isso. Isso o fez sorrir, o que me deixou de boca
aberta, porque gostava daquele sorriso lindo e sexy.
― O que foi? Vai ficar aí me olhando com a boca
aberta? ― Tinha humor em seu tom.
― Uau, Laurel, por acaso esse é ele? O seu marido? ―
ela comentou e depois brincou. ― Oh, se não amasse meu
esposo, eu pegaria você.
― Sabrina! ― falei, mas revirei os olhos e depois o
fitei. ― O que faz aqui? Como me achou?
― Primeiro, eu vim aqui, porque moro em Dallas, e
estou nesse ― ele olhou em volta e depois para mim ―, lugar,
porque precisamos conversar.
De certa forma, ele tinha razão, acho que estava ali
pelo divórcio, para que eu assinasse os papéis como era para
ter feito antes, ou talvez pegar seus diamantes de volta, ainda
mais se valesse uma fortuna como disse Sabrina.
― Eu vou deixar vocês a sós ― disse Sabrina. ― Mas
estarei aqui se você precisar de mim ― falou para e saiu.
― Então fugiu sem deixar rastro? ― comentou com
tom de acusação e, em seguida, sentou na minha frente. ― Por
quê? Não gostou da noite que tivemos?
Eu estreitei meus olhos.
― Você ainda não respondeu, como sabia que minha
amiga morava aqui, ou melhor, tinha uma lanchonete aqui? ―
comentei. ― Por acaso você é um investigador particular ou
algo assim?
― Bom, Laurel Mary, eu sei tudo sobre você, mas não
precisa se assustar, pois não sou nenhum lunático que anda
perseguindo presas inocentes para abusar delas. ― Ele
colocou as mãos na mesa e sorriu. ― Você viu a forma como
abusei de você com minha boca, língua e…
Cortei me remexendo na cadeira, porque cada palavra
ia direto ao meu centro.
― Entendi. ― E como fazia por que jurava que ainda
o sentia na minha pele era como se uma grande labaredas me
consumisse.
― Está incomodada com minhas palavras? Posso
cuidar disso se você quiser ― seu tom era meloso quase me
fazendo gemer.
― Não vai acontecer, foi bom o que tivemos na noite
passada, mas foi só, porque não posso sair transando por aí
sem estar apaixonada, não posso culpar a bebida por ontem,
porque eu também queria aquilo. ― Suspirei pensando no seu
toque.
― Me diga uma coisa. Quando está comigo, você não
gosta? ― Meneou a cabeça de lado. ― A atração, o desejo e a
fome que via nos seus olhos quando estava me olhando ou
quando ficamos juntos?
Engoli em seco.
― Pode ser, mas como fico com um cara se amo
outro?
Seus olhos apesar de azul ficaram escuros.
― Pensou nele, enquanto estava comigo? ― Tinha um
gosto amargo ao dizer isso, não entendi.
Passei as mãos nos cabelos evitando me remexer na
cadeira com o peso do seu olhar sobre mim.
― Não, mas não daria certo, não sei se nasci para
amizade colorida.
Dessa vez, ele desatou a rir alto, não se importando que
alguém ouvisse e visse. Percebi Sabrina me olhando como se
me perguntasse o que estava havendo.
― Mulher, você acha que fui até Vegas à toa? Só para
uma noite de foda? Isso poderia ter feito em qualquer lugar,
mas não foi isso que aconteceu ― me disse assim que parou
de rir.
― Você foi para um casamento do seu amigo ―
comentei confusa, por que foi isso que ele me disse.
― Não, eu fui, porque sabia que você sofreria estando
lá por amar o Shade, fui para ajudá-la a passar por tudo, e foi o
que fiz, mas só aquela noite não foi suficiente ao seu lado, eu
quero mais. ― tocou minha mão sobre a mesa.
Franzi o cenho, evitando como minha pele esquentou a
uns cem graus com seu toque.
― Mas você nem me conhece. Porque não conheço
você ― Eu com certeza teria me lembrado de alguém como
ele.
― Lembra há dois meses, em Manhattan, no
apartamento do Shade? Na noite em que ele ficou com Melissa
― ele continuou assim que eu assenti, em choque, me
perguntando como ele sabia sobre isso.
― Como sabe sobre isso? Não lembro de ter dito nada
a você ― será que tinha bebido demais ontem e esqueci
algumas coisas?
― Te encontrei no terraço aquela noite e conversamos
por horas… ― ele recostou na cadeira.
Eu franzi a testa, lembro de ter ido para o aniversário
de Shade, então quando eu ia dizer o que sentia para ele, eu o
vi com a Melissa indo para o quarto. Naquele dia, eu bebi
demais, depois só me lembrava do outro dia, quando acordei
com uma ressaca danada.
― Você estava no aniversário de Shade? Eu bebi muito
naquela noite e não me lembro de nada ― falei com um
suspiro.
― Eu sei, você reclamou que o amava, mas que ele
não retribuía e ficou com Melissa. Por isso estava bebendo
sozinha no terraço. Eu fiquei lá ouvindo sua lamentação até
você adormecer. ― suspirou. ― Foi a primeira vez que quis
bater em Shade.
― Desde quando o conhece? Porque no avião, você
demonstrou que não o conhecia ― acusei.
― Somos amigos há muito tempo, mas fiquei com
raiva, por ele não ter notado que você o amava ― falou com
uma pontada de raiva. ― Lamento não ter dito a você antes
que o conhecia, mas quero que saiba que fui a Vegas no intuito
de ficar ao seu lado, porque sabia que sofreria e, eu não queria
isso, já vi demais naquela noite em Manhattan.
Pisquei, chocada com isso, agora o que fazer? Ficar
com ele para esquecer o Shade? Não achava justo usar uma
pessoa assim, mas talvez eu começasse a gostar dele de
alguma forma. Mas Tay não parecia me amar, apenas se
importava comigo, tanto que foi a Vegas na noite passada só
para me ajudar.
Eu queria me lembrar dele naquela noite, mas não
conseguia, tudo ficava branco quando insistia no assunto. Por
isso, ele impediu que bebesse no bar na noite passada, sabia o
que tinha acontecido da outra vez em que bebi e não me
lembrava do que fiz? Creio que sim.
― Tudo bem, mas como vamos fazer isso? Tipo, eu
me esqueci de assinar o papel do divórcio, então supostamente
somos casados, apesar de isso não importar, pois não sei nada
sobre você. Se você é amigo de Shade e dos meus irmãos, com
certeza é um mulherengo como eles, não é? ― Arqueei as
sobrancelhas. ― Então mentiu para mim? Odeio mentiras.
Ele suspirou.
― Não sei como posso dizer isso, mas fiquei com
poucas mulheres na minha vida. Não é porque sou amigo
deles, que sou igual a eles. Quando a vi, eu não parei de pensar
em você um segundo, por isso me mudei para Dallas, assim
ficaria mais próximo de você. ― Ele colocou a mão sobre a
minha. ― Vamos tentar, não precisa namorar se não quiser, só
tentar e ver como vai ser.
― Se ficarmos juntos, você vai sair por aí a procura de
outras mulheres? ― se fosse assim não iria aceitar ficar com
ele.
― Eu sou casado, lembra? Não vou trair minha esposa,
uma caipira linda e gostosa. ― Sorriu travesso para mim.
Sorri também e depois fiquei séria.
― Não quer se divorciar? Pensei que tivesse vindo
aqui para isso. ― meu coração balançou por dentro ao ouvir
isso.
― Não, eu vim aqui recuperar a minha esposa fujona.
― Piscou.
Eu revirei os olhos.
― Posso estar louca por fazer isso, mas tudo bem,
você fica comigo durante dois meses, essa é o tempo que meus
irmãos vão levar para voltar da turnê, e também será bom para
termos certeza do nosso caso…
― Caso não, o que temos é luxúria e prazer, apesar de
que o que sinto seja mais do que apenas sexo, eu gosto de você
de verdade ― falou com intensidade na voz. ― Você também
parece gostar de mim, você mesma disse, só não se lembra
disso.
― Será que é por isso que quando estou com você, eu
esqueço tudo? ― sondei mais para mim mesma. Gostei disso,
estava contando que o usaria só para não pensar em Shade,
talvez com a ajuda de Tay, eu pudesse esquecer o meu amor
não correspondido por meu irmão, e amá-lo só dessa forma,
como uma família.
Capítulo cinco
Taylor

Dois meses antes


Eu fui à casa de Shade, um amigo meu. Ele e seus
irmãos, Nilan e Gave, formavam uma banda muito famosa.
Era aniversário do Shade naquela noite.
Eu estava animado, pois íamos nos divertir muito, mas
não contava que fosse conhecer uma caipira linda e sexy com
botas de cowboy. Ela era a única que se vestia diferente na
festa, todos com vestidos e roupas chiques, mas essa garota
estava com saia jeans e uma camisa xadrez. Fora as fodidas
botas. Cabelos castanhos soltos em cascatas em suas costas.
Ela nem notava que todos os caras olhavam para ela
com desejo e loucos para entrar em suas calças, ou melhor, em
sua saia jeans. Mas nenhum se aproximava ou conversava com
ela.
Seus irmãos eram protetores demais com ela, foram
eles que colocaram “intocada para todos” na testa dela, mas
olhando-a sentada mais afastada da sala, vi que ela olhava de
forma diferente para Shade, com grande interesse, mas o
mesmo nem notava, ainda mais ficando com Melissa. Uma
cantora pop.
Eu vi a caipira indo para o terraço, acho que estava
difícil demais para ela ver os dois juntos e indo para o quarto.
Despistei seus irmãos e fui para o terraço do prédio
acompanhá-la, precisava saber o que ela estava fazendo lá em
cima, ainda mais que ela foi com uma garrafa de bebida nas
mãos. Já a tinha notado tomar algumas bebidas antes de subir
para o terraço.
Assim que entrei, eu a vi em cima de um banco e, ela
caiu para frente, corri e a peguei nos braços.
― Shade ― sussurrou com a voz um pouco grogue.
― Desculpe desapontá-la, mas não sou o Shade, e sim
Taylor ― respondi.
Ela piscou e depois saiu dos meus braços, mas vi dor
ali. Eu a ajudei a se sentar.
― Senta ou vai cair. ― a garota fez o que pedi. E eu
me sentei ao seu lado tomando o cuidado de ela não cair. ―
Quer conversar sobre estar assim? Sou um ótimo ouvinte.
― Uma vez, Shade me salvou quando ia caindo de
uma árvore, depois desse dia meu coração começou a bater por
ele de um jeito diferente ― comentou com a voz grogue.
― Desde quando é apaixonada por ele? ― Sentei ao
seu lado.
Ela limpou as lágrimas.
― Desde os meus quatorze anos ― respondeu. ― Mas
ele nunca me notou.
― Cristo! Ele é cego com certeza ― falei, mas era
verdade, quem iria olhar para alguém com essa mulher por
perto? Ninguém. Em poucos segundos essa caipira já estava os
meus pensamentos.
Ela riu triste.
― Você é um cavalheiro, não parece ser como eles. ―
Apontou o dedo para a escada que ia para o andar de baixo.
Se essa garota soubesse não diria isso, claro que sou
cavalheiro, mas não sou diferente dos irmãos dela.
― Por que não gosta de homens que ficam com
mulheres, a torto e a direito? ― Não era bem uma pergunta,
pois ficou claro que ela não gostava disso, acho que todas as
mulheres do mundo odiavam homens assim. Isso nunca me
incomodou antes, aliás, sempre gostei, mas vendo a reação
dela, me fez ficar confuso pelo modo, no qual levava a vida.
― Eles são uns fodidos prostitutos que andam fodendo
com qualquer uma. Se ele fode com todas, porque não pode
me foder também? ― Ela me olhou de lado. ― Tem algo de
errado comigo? Será que vou ter que ser igual a essas
mulheres? Vou ter que ser uma groupie vadia?
Eu a cortei.
― Primeiro, não tem nada de errado com você, e
também não precisa ser igual a elas para um homem notá-la.
Veja, eu estou até bobo, porque nunca conheci alguém igual a
você. ― Toquei seu rosto lindo com as pontas dos dedos. ―
Você é fascinante demais acredite em mim.
― Como assim igual a mim, uma caipira sem graça?
― Fungou.
― Você não é sem graça, e sim uma garota linda
demais. ― Alisei sua pele macia como seda. ― Nunca pense o
contrário.
― Você me acha linda? ― Piscou chocada. ― Ficaria
comigo?
― Sem pensar duas vezes ― comentei a verdade. ―
Se não fosse esquecer o que estamos conversando, eu ia te
provar agora beijando essa boca linda.
― Não vou me esquecer disso. ― Ela sacudiu a
cabeça, ferozmente. ― Pode me beijar, já que nunca fiz isso,
não conto com Samuel, que roubou sem minha vontade.
― Me diz onde ele está, que acabo com ele ― Meu
tom saiu duro.
Ela riu, a risada e voz com sotaque sulista me deixaram
perdido. Laurel era esse o seu nome. Algumas pessoas a
chamavam pelo apelido, Law.
― Meus irmãos acabaram com ele, pode ficar
tranquilo. ― Ela tocou meu cabelo. ― São tão macios,
parecem com os de Bec.
― Bec? É alguma amiga sua? ― Sorri, porque estava a
fazendo esquecer um pouco o que sentia, a dor de um coração
partido. Eu nunca me apaixonei para sentir algo assim, mas já
vi amigos meus sofrendo por isso.
Lucky estava um caco quando pensou que Sam o havia
traído, seu mundo ficou sem chão.
Ryan quase ficou louco a ponto de se machucar quando
Angelina foi embora e o deixou.
Jason foi pior, sofreu nove anos pela mulher que
amava, e agora que foi ser feliz.
Olhando para essa caipira linda, por mais que gostasse
dela, e de ficar perto dela, não queria sentir nada parecido com
o que meus amigos sentiam. Isso seria um maldito carma.
― Não é minha amiga, mas minha égua, ela tem a
crina tão loura quanto a sua ― Ainda sorria.
Dessa vez, eu gargalhei, porque já fui chamado de
gostoso, gato, lindo e tudo mais, mas nunca disseram que
meus cabelos eram parecidos com o de uma égua.
― Não ria, ela é linda, ― ela sussurrou, colocando a
cabeça no meu ombro. ― Se eu não me lembrar de você
amanhã, promete que vai me contar sobre esse momento, no
qual estamos tendo agora?
― Não quer me esquecer? ― Arqueei as sobrancelhas
para ela.
― Não, você parece ser um cara legal, podemos ser
amigos…
― Não sou amigo de mulheres, se você realmente me
quiser por perto, então teríamos que transar. ― Passei o braço
em sua volta.
― Transar? ― Ela beijou meu pescoço. ― Posso fazer
isso. Já que ele não me quer, você pode me ter a hora que
quiser.
Eu queria poder dizer que não ia ficar com ela, afinal
de contas, eu estaria morto se tentasse alguma coisa, os irmãos
dela iam acabar comigo, embora pudesse arriscar, mas minha
vida era toda bagunçada.
Horas atrás, recebi a notícia de que meu pai quase
sofreu um acidente.
Depois da morte da minha mãe, ele ficou assim
pulando de mulher em mulher, pior do que eu que era novo.
Mas o pior, ele ficava bebendo direto, quase se acidentou hoje,
após estar bêbado. Eu tive que contratar um motorista
particular para ele e evitar que ele se machucasse ou acabasse
machucando alguém.
Olhando para aqueles olhos em tom de chocolate me
fitando com ansiedade, como se quisesse aquilo, mas eu não
podia beijá-la sendo que no outro dia seria bem capaz de ela
não se lembrar de nada. Quanto a beijá-la, eu queria que Law
ansiasse por isso, assim como eu estava louco para tê-la.
― Não posso beijá-la…
― Mas por quê? ― sua voz falhou no final. ― Você é
igual a ele, não sente nada por mim ou sequer deseja me
beijar…
Eu a cortei, beijando-a. Minha língua acompanhou
cada canto da sua com gosto de bebida. Mas não liguei, porque
estava como aquelas corsas que anseiam por água assim como
fiquei ansiando, necessitando por mais dela do que apenas
beijos e amassos.
Ela sentou no meu colo e me abraçou forte colocando
uma mão em meus cabelos e a outra nas minhas costas,
apertando-me mais contra si.
Eu estava como um viciado querendo uma droga, e
nesse momento essa menina era a minha. Como podia ficar
assim com um beijo? Já beijei bastante na minha vida, mas
como isso? Nunca. Estava me deixando com luxúria e também
mole e ofegante.
Ela gemeu se remexendo no meu colo, tive que
controlar tudo de mim para não a possuir ali mesmo,
ignorando meu bom senso de que ela não estaria sóbria, isso
era incorreto; gosto da mulher ativa para fazer tudo que eu
quisesse e muito mais para o seu prazer.
Afastei-me sem querer, foi preciso muita força para
fazer isso.
― Preciso parar ou vai ficar pior e, eu não poderei me
controlar ― Merda, quando perdi o fôlego por beijar uma
mulher?
― Mas está tão bom… ― ela puxou meu cabelo e se
escancarou em mim com sua boceta em cima do meu pau duro
como rocha.
Segurei seus quadris tentando parar seus movimentos,
pois ela rebolava em meu colo. Maldição!
Cara se concentra, pedi mentalmente, como um
maldito mantra. Não podia deixar isso acontecer, podia ser um
mulherengo, e muita coisa, mas jamais ficaria com uma
mulher embriagada, ainda mais se ela não se lembraria de mim
no outro dia. Isso seria abusar e, eu jamais faria isso.
― Tay… ― gemeu.
Eu me afastei um pouco respirando com dificuldade,
mas me controlei.
― Não podemos fazer isso, e não é porque você não
seja linda, pois você é, mas porque está bêbada, e amanhã não
vai se lembrar do que houve, então, não posso. ― Toquei seu
rosto e com os olhos arregalados. ― Mas se você se lembrar,
podemos continuar de onde paramos. Você estando sóbria.
― Mas e se eu não lembrar… então não vou ter você.
― Ela fez biquinho.
― Se não se lembrar, eu a faço lembrar e depois
ficamos juntos ― menti, porque não poderia tocá-la. Meus
amigos, os irmãos dela acabariam comigo. E também, porque
ela merecia alguém melhor do que eu, afinal de contas, eu era
como os irmãos dela e ela disse que odiava isso.
― Promete? ― Ela escondeu o rosto em meu pescoço.
― Sim, agora dorme, que cuidarei de você. ―
sussurrei ajeitando-a em meu braço como se fosse uma
criança, embora fosse uma mulher linda. Olhando para seu
rosto adormecido e sereno, tão perfeito que poderia admirá-lo
para sempre.
Eu a carreguei para dentro da casa ignorando o fato de
ter ficado com pau duro. Merda, esperava que ele voltasse ao
normal para que ninguém percebesse, principalmente os
irmãos dela.
Assim que entrei na sala, com ela em meus braços,
Nilan e Gave, que estavam com uma garota, não estavam sem
roupas, mas não ia demorar muito para isso acontecer. Assim
que me viram com Laurel nos braços, eu enxerguei
preocupação, os dois largaram a mulher que estavam e vieram
correndo para mim.
― Por que sempre me deixa por causa dessa garota
sem graça? ― rosnou a mulher.
Nilan fechou a cara para ela e vi raiva em seus olhos,
que eram da mesma cor dos de Laurel.
― Chegou a hora de você ir embora, se não gosta da
minha irmã, que é a pessoa que mais amo no mundo, então
não serve para estar conosco ― rosnou a fuzilando, mas ela
não foi embora, então Gave que se parecia com o Nilan,
moreno e cheio de tatuagem, algumas foram até feitas por
mim, bradou:
― Seguranças? Tirem essa mulher daqui, e não a
deixem entrar mais ― sibilou e depois veio correndo até mim.
― Por que ela está apagada? Law está bem?
Eu os tranquilizei, porque suas vozes se alteraram e
podiam chamar atenção de Shade. Não queria vê-lo agora ou
acabaria com ele não, me importando se eu não tinha direito
para isso.
― Laurel está bem, só bebeu demais. Eu vi quando ela
foi para o terraço, e a segui, porque ela não parecia bem, então
notei que ela estava bêbada ― Não contei que a beijei, ou
seria linchado.
Nilan a olhou com tristeza e depois para uma porta, no
qual Shade estava, então soube que ele sabia que sua irmã
estava apaixonada pelo seu meio-irmão, porém Gave não
parecia saber disso.
― Eu fico com ela ― disse Nilan, estendendo as mãos
para tomá-la nos braços. ― Law é fraca para bebidas.
― Ela também fala muito. Ela disse algo a você? ―
sondou Gave.
Eu balancei a cabeça enquanto a entregava ao Nilan.
Queria colocá-la eu mesmo na cama, mas não podia, então a
entreguei.
― Não, só estava falando coisas sem sentido. Bom,
agora tenho que ir ― Eu não queria ir, mas se ficasse ali, eles
iam acabar me enchendo de perguntas, nos quais eu não podia
responder. Se Law não disse a eles o que sentia por Shade,
então eu que não diria nada.
― Obrigado por estar com ela cara, e não a deixar
fazer uma besteira ― comentou Gave.
Eu assenti, me lembrando de tê-la salvado de pular do
banco, aposto que ia fazer aquilo com o intuito de Shade
salvá-la de novo, assim como havia feito uma vez. Acho que
de um jeito maluco em sua mente bêbada, ela queria que
aquilo se repetisse.
― Não foi nada, mas acredito que ela vá acordar com
uma baita dor de cabeça ― comentei olhando mais uma vez
para ela, que agora estava nos braços de Nilan. Tão serena que
eu só queria protegê-la em meus braços e não deixar mais
ninguém a magoar, nem mesmo meu melhor amigo.
― Têm mulheres, pode pegar uma e se divertir ―
falou Nilan. ― Eu vou levá-la para o quarto.
Olhei as mulheres no salão, todas lindas e gostosas,
mas tão diferentes da mulher que estava em meus braços há
alguns minutos, seu cheiro de lavanda. Seus gemidos…
Vendo aquelas mulheres, eu percebi que não queria
nenhuma delas, por isso fui embora, esperando ver aquela
caipira novamente e cumprir a promessa de lembrá-la do que
tivemos, caso ela se esquecesse.
Capítulo seis
Taylor

Dias atuais
― Porra cara, onde você está indo? ― sondou Daniel,
meu amigo de balada.
Antes, eu tinha Lucky e Ryan Donovan, e também
Jason Falcon, nós quatro saíamos para festas e pegávamos
garotas, adoidado. Mas agora todos eles estavam casados e
felizes com suas mulheres. Menos Daniel e eu, que ainda
continuávamos solteiros.
― Estou indo para Dallas, mas assim que chegar lá, eu
te dou um toque ― falei.
― Atrás dela de novo? Você sabe que está ferrado, não
sabe? ― disse com uma risada. ― Os irmãos dela vão acabar
com você.
― Obrigado ― resmunguei.
Há dois meses, após ver Laurel e a sentir em meus
braços, eu descobri que não tinha tido o suficiente daquela
mulher, por isso fui para Dallas. Olha que nem tínhamos
ficado juntos ainda. Mas prometi a ela que quando a caipira
estivesse sofrendo, eu estaria ao seu lado.
Amanhã seria o grande dia, o dia que meu amigo
Shade iria para a forca. Há dois meses, após o aniversário dele,
no qual ficou com Melissa, os dois resolveram namorar. Eu
não sei o que tinha acontecido para ele estar se casando com
ela.
Shade era calado, não era de se abrir muito, o único
que ele contava tudo era o Gave, que também não disse nada
sobre isso. Eu não o forcei a me contar seus motivos por se
casar com alguém que não amava.
Melissa não era vagabunda, mas era fria com todos.
Ela era conhecida como a dama de gelo. Não sei o que ele viu
nela, a menina era uma maldita geleira. Bom, gosto não se
discute.
― Você é louco. ― Ele sacudiu a cabeça.
Daniel era dono da editora Luxem, mas a vendeu para
o Ryan Donovan, que deu de presente para sua mulher,
Angelina. Louco, devo dizer, jamais faria algo assim, bom,
pensava isso antes de conhecer Laurel.
― Vai ficar tudo bem, não se preocupe com isso ―
falei. ― Esta tudo resolvido, depois que chegar lá, eu dou um
toque. Infelizmente você não pode ir, já que precisa treinar
para a próxima corrida.
― Sim, enquanto isso tome cuidado cara, os irmãos
dela vão matá-lo caso souberem que você anda louco pela
irmãzinha deles.
Depois que a conheci pessoalmente, eu passei a nutrir
sentimentos por Law, também vi como ela era bondosa. A
cidade inteira parecia gostar dela. Mas quem não gostaria?
― Droga Jordan, você sabe da furada e encrenca que
isso pode te causar? ― falou Daniel assim que eu fiquei
calado. ― Se os irmãos dela souberem, eles vão te castrar.
― Shade pediu que eu fosse para Dallas, convencer
Law a vender sua fazenda, ele quer que eu compre, para que
ela vá fazer alguma coisa fora da fazenda. ― Suspirei.
Eu fiquei chocado quando Shade veio até mim me
pedindo para comprar a fazenda de Laurel, ele me disse que
gostaria que ela viajasse e descobrisse o que mais gostava de
fazer.
O cara por ser meio irmão dela era bem cego, Laurel
atravessava a cidade para ir a um haras, que fica longe de sua
fazenda, podia ver seus olhos brilhando ao ver os cavalos
correndo nos pastos verdejantes, vi que aquilo era sua paixão.
Eu só não sabia o motivo de ela não fazer o mesmo em sua
fazenda, lá era tão lindo. Perfeito para fazer isso.
― Sim, pediu, mas não para você ficar cobiçando a
irmã dele, que por sinal, morre de amores por ele. ― Daniel
suspirou enquanto entrava em seu carro de corrida. O cara era
bom nisso.
― Não posso deixá-la apaixonada por ele. Amanhã é o
casamento dele, você sabe como me sinto e como ela está?
Machucada e sofrendo, não vou deixá-la se afundar em dor
enquanto Shade casa com Melissa. ― Passei as mãos nos
cabelos. ― Prometi que não a deixaria sofrer, não por ele,
igual será amanhã.
― Está apaixonado por ela, cara? ― perguntou
surpreso.
― Não, claro que não! ― respondi, não existia amor à
primeira vista, então eu não podia estar apaixonado, como isso
aconteceria comigo que era totalmente contra? Todos os meus
amigos caíram por mulheres, e agora estavam casados. Isso
não podia acontecer comigo, podia?
― Não? Cara, você ficou mais em Dallas do que aqui
durante esses dois meses, aposto que atrás dela, não é? ―
Arqueou suas sobrancelhas. ― Não venha me dizer que era
por trabalho, porque isso é besteira.
Daniel tinha razão quanto a isso, mas eu só estava
preocupado com ela, e também queria vê-la e saber o que fazia
da vida. Isso não podia ser paixão, não é? Sempre quando a
via, o meu coração acelerava como se fosse sair do peito.
Reação estranha, no qual nunca senti antes na minha vida,
assim como senti quando a beijei naquela noite.
― Isso não significa que seja amor ― retruquei.
Ele riu.
― É o que então? Perseguição? Jordan pensa bem, e se
for mesmo se aproximar da garota, diga a ela o que Shade
pediu para você, porque depois que ela souber que está perto
dela apenas com a intenção de tentar convencê-la a vender a
fazenda, as coisas não vão ficar bonitas ― falou ligando o
carro. ― Agora vou treinar, pois tenho uma corrida semana
que vem.
Eu assenti, ainda chocado, mas o que eu diria a ela?
Que ficaria perto dela para convencê-la a vender a fazenda?
Mas, eu não estava indo para fazer isso e sim para ficar ao
lado dela e tomar conta dela, por quê? Não fazia ideia, apenas
sabia que queria fazer isso.
Eu fui para Dallas para ir ao casamento de Shade, sabia
que agora teria que me aproximar dela e contar a verdade, no
fundo, eu torcia para que se lembrasse de mim assim que me
visse, mas ela não fez. Assim que entrei e sentei ao seu lado,
ela nem notou.
Eu perguntei ao Nilan se ela se lembrou de algo no dia
seguinte em que a deixei na casa deles, adormecida e bêbada.
Ele disse que não. Por isso fiquei afastado, caso ela se
lembrasse, eu teria ido até sua fazenda ao invés de ficar a
observando de longe.
Eu já tinha uma rede de hotel em Dallas, comprei
quando fechei um negócio ali para Lucky Donovan. Ele era
meu amigo e chefe, porque fechava muito negócio para o
mesmo. Não era à toa que o homem era bilionário. Agora pedi
a ele, há alguns meses, um tempo para que eu pudesse abrir
minha própria rede de hotéis. Mas o ajudava quando precisava
de mim. Agora com um hotel ali era bom. Era uma desculpa
para ficar perto da caipira.
Quando eu pensava em me aproximar de Laurel, pensei
que fosse ser como amigo e dar conselhos. Eu quase ri disso,
porque porra! Eu nunca tive uma amiga mulher, sempre foram
só homens. Eu só usava as mulheres para sexo e nada mais. E
gostava de fazer isso. Como uma bêbada caipira foi capaz de
mudar isso? O pior é que ela nem tinha noção do que me
causou, aliás, nem eu sabia, pensei amargo, mas não conseguia
tirá-la da minha cabeça nenhum segundo.
No avião para Vegas, era para eu ir apenas a
acompanhando, mas não sabia que a menina tinha medo de
avião, nenhum dos irmãos King me avisou sobre isso. Mas
como eles avisariam se não sabiam que eu andava seguindo a
irmã deles feito um louco? Se soubessem, eles me matariam
com certeza. Shade tinha noção de que fui para Dallas, mas
mesmo assim não me falou nada sobre Laurel e seu medo de
avião.
Eu sabia que a mãe dela tinha morrido em um acidente
de avião há alguns anos. Depois disso, Laurel foi morar na
fazenda e não havia quem a tirasse de lá. Pude ver que ela
amava aquele pedaço de terra, e não era só pelo fato de que
sua mãe gostava de lá, ela adorava tudo aquilo.
No avião, eu fiquei ao seu lado, mas estava com raiva,
porque ela andou em uma coisa, no qual temia, apenas por
amor ao Shade. Assim, ela também fez no aniversário dele há
dois meses, em Manhattan. Pelo que soube, ela não viajava
muito em aviões, só em carros e ônibus. Mas por ele, ela
enfrentava o medo, acredito que entraria na frente de uma
maldita bala, pensei amargo.
Uma coisa, no qual fiquei feliz foi beijá-la para que
não pensasse no local em que estava, e funcionou, mas aquele
beijo me consumiu mil vezes mais, do que a primeira vez em
que a beijei. Sabia que estava longe de ficar saciado por aquela
mulher. Se não estivéssemos em um avião perderia a cabeça e
a possuiria.
Minha função era ir para Vegas, e ficar ao lado dela
para não a deixar triste. Eu estava pensando como um doido,
pois podia sair por aí e foder à vontade, assim como fiz na
última vez em que estive ali para o casamento de Lucky e
Samantha. Mas agora não queria ninguém, só uma caipira, que
amava outro. A vida era realmente uma cadela.
Depois de deixá-la no hotel, fui ver meus amigos antes
do casamento. Só a deixei, porque ela queria ficar sozinha.
Aposto que para chorar por ele de novo.
Assim que entrei no salão onde seria ministrada a
cerimônia, eu o vi de pé com a expressão igual de quem estava
indo para um enterro.
― Devia melhorar essa cara, homem ― falei assim
que cheguei até ele. ― Parece que está em um enterro e não
no seu casamento.
Shade me olhou e suspirou.
― Que bom que chegou, hoje a Law vai estar aqui, e
quero que fique perto dela, eu sei que não faz sentido dizer
isso, mas quero que você não a deixe sofrer por minha causa
― falou ignorando meu comentário.
Embora não fosse preciso pedir, porque eu já iria fazer
justamente isso, mas não precisava mencionar, talvez depois.
― Você sabe o que ela sente, então? Por que nunca
disse nada, é pelo fato de que não a ama dessa forma? ―
sondei.
Ele balançou a cabeça.
― Sim, eu sei, mas não posso retribuir o mesmo, só
quero que ela viva e seja feliz; que corra atrás de seus sonhos,
e não ficar enfurnada em uma fazenda por ser herança de sua
mãe.
― Ela pode não querer tudo isso, e sim viver na
fazenda por ela mesma e não por causa de ninguém. Já pensou
nisso?
Ele balançou a cabeça.
― É porque você não viu o desenho arquitetônico de
uma casa que ela fez para sua amiga, o modo que Law fazia
era tão intenso como se amasse fazer aquilo, inclusive, ela ia
se formar nisso, mas veio o acidente e tudo mais, então
desistiu e se afundou na fazenda ― sussurrou. ― Eu quero
que Laurel não desista de nada por pensar que sua mãe iria
querer ela lá, casar e ter filhos naquele lugar.
Arquitetura? Então ela é boa nisso? Acho que sabia
exatamente o que fazer.
― Me diga uma coisa, você realmente não a ama como
mulher? ― falei baixo, tomando o cuidado para a noiva dele
não ouvir. Não queria problemas ali, embora a cara dela não
parecesse feliz por estar se casando.
Ele olhou para Melissa, que estava perto da porta
conversando com uma mulher. Ela vestia um vestido branco,
mas também não parecia feliz. Estranho esses dois estarem se
casando sem gostar um do outro.
― Não, eu não a amo dessa forma ― disse voltando
seus olhos para mim.
Suspirei, porque se ele gostasse dela, eu não poderia
fazer minhas investidas. Embora se Shade a amasse e não
ficasse com ela, eu arrebentaria sua cara por fazê-la sofrer.
Eles se prepararam para começar a cerimônia, Melissa
veio com Gave, segurando seu braço. Pelo que soube, ela não
tinha irmãos ou família. Ingressou na carreira musical cedo.
Muito famosa, uma cantora pop de sucesso, quase igual à
banda King.
Shade e Melissa estavam falando seus votos de
casamento, prometendo amor a vida inteira e todas essas
merdas, contudo ele jamais conseguiria ser feliz se os dois não
se amavam. Talvez fosse um negócio de publicidade, porque
grávida, ela não estava, por que se tivesse com certeza me
contariam, não é?
Laurel não apareceu, notei que toda a sua família
olhava para ver se ela estava presente, mas nada disso
aconteceu. Shade e Nilan pareciam preocupados, supus que só
os dois sabiam sobre o que ela sentia, o amor dela por um
homem, no qual não podia ter.
Eu estava a ponto de sair dali quando olhei para o
canto do salão, e a vi com os olhos molhados e vermelhos de
chorar. Ninguém pareceu notá-la ali, porque ela estava
escondida atrás de uma planta. Eu só a vi, porque varri meus
olhos pelo lugar a sua procura.
Quando o ministro os declarou casados, Law foi
embora quase correndo. Porque acredito que isso era difícil
para ela.
Eu saí antes de desejar parabéns aos noivos, mas
ninguém ali sentiria falta disso, afinal, nenhum dos dois
parecia querer estar ali.
Quando a vi destruída, naquele bar, eu quis matar o
Shade, porque já a vi sofrendo por ele em Manhattan, mas não
como agora. A dor estava evidente em seus olhos, mas como
naquela noite em que fiquei ao seu lado, pude ver que a ajudei
a esquecer a dor, agora também faria isso, se fosse preciso lhe
dar prazer, então faria com certeza.
Cheguei nela e falei que faria tudo por ela naquele dia,
que realizaria seus desejos, embora quando soube do que Law
queria, devo dizer que fiquei chocado por um segundo. Porque
a menina era linda, e se fosse em circunstâncias diferentes,
aposto que ela não seria virgem, não por ser sem vergonha,
mas pelo fato de Law ter cara de que faria isso, mas não fez
apenas por amar e querer o Shade, e no fundo estava se
guardando para ele.
Eu não estava triste por isso, porque após tê-la em
meus braços, na noite anterior, eu a senti toda linda e com
toque de inocência. Jamais fiquei com uma virgem antes, mas
também nunca me casei na minha vida. Se meus amigos
soubessem diriam que eu estava louco, talvez estivesse. Quem
se importa? O bom era realizar todos os meus sonhos e desejo.
Apesar de inexperiente na cama, a mulher foi
excepcional, só de pensar em seus lábios em volta do meu pau,
sugando-o e lambendo-o com fome, como se fosse seu
alimento mais saboroso do mundo. Nossa! Nunca me senti
assim como se fosse um adolescente em meio à puberdade,
louco e ansioso por sua bela namorada.
Capítulo sete
Laurel
Quando Taylor entrou na fazenda para ficar comigo,
achei que ele não ia gostar dali, dessa vida, porque o mesmo
tinha cara de ser rico, aliás, Tay era rico; suas roupas e o gasto
que teve com o casamento, as joias e tudo mais comprovava
isso.
Ele parecia admirado com o lugar como se gostasse de
ficar ali. Estava gostando disso, esse homem era o único que
me falava para fazer o que gostava, meus irmãos sempre
diziam que isso ficava bom e, ou que ficava maravilhoso, mas
nunca perguntavam de fato o que eu gostava de fazer.
Uma vez, Shade perguntou isso para mim, o que eu
gostaria de fazer da minha vida. Eu menti, dizendo que não
queria nada da vida. Mas isso não era verdade, porque eu tinha
um sonho, um que não contei a ninguém. Isso antes da minha
mãe morrer, depois veio a tragédia, agora eu só vivia para a
fazenda, embora amasse aquilo como nunca.
Mas fiquei feliz por ver como Tay agiu em minha casa.
Um homem que parecia entender e saber o que eu queria,
antes mesmo de eu falar algo ou demonstrar o que desejava de
fato. Acho que é por isso que eu adorava estar com ele, o
mesmo me fazia esquecer tudo a minha volta. Os problemas.
Era egoísmo querê-lo apenas para amenizar a dor. Talvez no
futuro me apaixonasse por ele.
Taylor era um homem que parecia ser correto, pelas
coisas que fazia ou sentia em relação a mim, só se eu fosse
uma idiota por ignorar e rejeitar ficar com ele. Tay era alguém
que mamãe aprovaria com certeza, um homem que ela
escolheria para ser meu namorado.
― Você me impressiona a cada momento em que passo
ao seu lado, caipira. ― Ele alisou meu queixo. ― Sua avó já
chegou de Vegas? Ela costuma vir aqui direto?
― Por que você quer saber? ― Eu estava ofegante
com o seu toque, aliás, ele me deixava toda mole como
marshmallow.
― Por que acho que ela não aprovaria as coisas que
farei com você agora. Ainda mais se ela chegar aqui para
atrapalhar o que pretendo fazer ― falou, também com
dificuldade de respirar.
― O que seria? ― comentei com um sorriso maroto.
― Porque vovó não está em casa, e também não vem hoje, ela
foi visitar minha tia, que mora perto de Vegas.
Ele me empurrou no sofá branco com rosa, minha sala
não era grande, tinha duas janelas de madeira, que se abriam
para os dois lados. Dois sofás de dois e três lugares, mas tinha
um sofá cama no meio da sala, foi nesse que Tay me jogou e
caiu de joelhos no chão na minha frente com um sorriso
pecaminoso e sexy.
― Está louca para ter meu toque? ― Pegou minha
blusa com botões na frente e puxou para os lados como se
fosse um pano velho. Botões voaram para todos os lados, mas
o gesto me fez ofegar, tanto que gritei. ― Lindo, meus bebes.
― expirou com o nariz no meu sutiã branco.
Meu peito subia e descia com ardor e prazer, seu toque
me queimava por dentro de forma prazerosa e intensa, que me
deixava tremulando por todos os lados, principalmente, no
meio de minhas pernas.
O meu centro pulsava querendo esse homem, ansiando
por ele com desejo, prazer e luxuria. Não me importei que
estivesse com vergonha, não liguei por corar, eu apenas o
queria como nunca quis nada na minha vida, só precisava
senti-lo mais dele ou surtaria.
― Taylor… ― sussurrei ofegante e com ardor.
― Sente-se quente? ― Sorriu passeando com seus
dedos sobre meu decote e minha barriga plana indo na direção
de onde eu ansiava por ele.
― E como! Por favor…
― O que deseja que eu faça? Me diz que farei qualquer
coisa ― disse com desejo na voz. ― Realizarei suas fantasias
mais profundas.
Eu pisquei.
― Jura?
― Sim, o que deseja?
― Ser algemada na cama enquanto sinto sua boca…
― gaguejei ao falar.
― Onde quer minha boca e língua? ― o seu tom era
abrasador.
― Por todo o meu corpo… ― eu não era puritana, e
ele despertava desejos escondidos, nos quais jamais pensei ter
na vida.
― Vamos ter um problema, não tenho algemas
comigo, mas posso providenciar uma com certeza ― garantiu
rouco.
― Eu tenho no meu quarto ― comentei com a voz
fraca.
Ele franziu a testa.
― Seu quarto? Posso saber por que as tem? ― Agora
tinha um gosto amargo ao pronunciar isso.
― Não é pelo motivo que está pensando ― falei,
porque aposto que essa sombra escura em seu rosto se devia ao
fato de ele pensar que eu queria fazer isso com Shade, ou
desejava isso, mas o estranho é que nunca pensei sobre isso, é
claro que me imaginava estar transando com ele, mas não
dessa forma que queria com Tay. Estranho.
― Fiz uma promessa com minha amiga, sempre que
perco uma aposta, no qual fazemos, sou obrigada a comprar
algo de sex shop.
― Sempre? Quer dizer que tem mais coisas além de
algemas? ― Sorriu se levantando e me levando com ele. ―
Me mostre o que tem.
― Agora? ― reclamei. ― Mas estávamos bem no
momento…
Ele riu do meu tom relutante.
― Sim, agora vamos conferir o motivo de eu estar
louco para possuir você ― Seu olhar era quente ao varrer os
olhos sobre o meu corpo.
Não reclamei mais, só o levei para o meu quarto no
final do corredor a direita. O quarto era grande, com uma cama
king size e janelas de vidros, antes era madeira, mas mudei,
porque gostava de ver o Sol nascendo através dela. A vista era
magnífica.
Tinha um guarda-roupa perto da porta do banheiro e
uma penteadeira com minhas coisas, que usava no dia a dia,
embora não fosse chegada a me maquiar, às vezes fazia isso.
― Quarto lindo! ― observou olhando ao redor. ―
Com uma vista linda para um riacho.
― Obrigada, adoro a cachoeira, e também é onde o Sol
nasce no horizonte ― sussurrei olhando lá fora, para o verde, e
para a cascata que caía, não muito longe da casa. Tinha outra
cachoeira maior, mas ficava mais acima, lá era onde ficavam
meus cavalos durante o dia. Onde sonhava em construir um
haras futuramente.
― Linda mesmo ― falou, mas agora olhando para
mim. ― Agora onde está tudo o que comprou? Quero ver
tudo.
Eu assenti e fui até o armário pegar a grande caixa
quadrada, no qual guardava todos meus pertences adquiridos
por causa das apostas perdidas. Entreguei a ele enquanto o
mesmo a abria.
― Nossa! Quis usar isso? ― Sorriu pegando um creme
anal.
Eu corei.
― Aposta perdida, lembra? Por isso comprei ―
declarei.
Ele riu.
― Sim, mas você com certeza pegou o que ansiava
usar, não é?
― Pode ser, mas não estou pronta para isso hoje ―
falei e depois emendei, porque sua expressão desmoronou um
pouco. ― Talvez outra hora?
Sorriu, tão lindo! Aposto que ele imaginou que eu
estava pensando em fazer isso com Shade. Mas nunca me
imaginei fazendo isso com ele e nem com ninguém, por isso
esclareci.
― Claro ― disse e pegou um dildo e me olhou com os
olhos estreitos. ― Foi com esse que rompeu seu hímen tirando
sua virgindade?
― Sim, há alguns meses, fiquei curiosa e fiz ―
sussurrei envergonhada.
― Sente-se curiosa com mais alguma coisa, além das
algemas? Se tiver vamos fazer depois.
― Tudo bem ― respondi indo para ele, mas o mesmo
se afastou sacudindo a cabeça. ― O que foi?
Não sei se ele percebeu o tom magoado na minha voz,
mas me puxou para seus braços e beijou minha testa sem
nunca tirar os olhos dos meus.
― Nada, só quero que deite na cama e coloque as
mãos para cima e faça o que eu mandar, vai fazer isso? ―
Seus olhos estavam brilhantes.
Fiquei aliviada por ele ainda me querer, quando me
afastou senti algo que não entendi direito o que era, mas meu
coração deu uma pontada dolorida. Esperava que no futuro ele
não me machucasse caso me apaixonasse por ele. Por que
queria que nosso caso desse certo, porque ele era alguém que
eu podia ter.
Seu toque sempre me deixava quente e necessitada por
ele, de forma que me fazia quase suplicar por seus beijos e
abraços, aliás, por ele inteiro.
Eu fiz o que ele me mandou, me deitei na cama só de
sutiã e calcinha, e botas. Não as tirei, pois ele gostava de me
ver assim.
Tay tinha tudo que um homem precisava para fazer
uma mulher realizada, porque eu me sentia assim de forma
irrevogável.
― Tay…
― O que deseja, minha caipira linda? ― Seus dedos
esquadrinhavam entre meus seios me deixando louca e
remexendo na cama como uma lagarta na areia quente, isso, eu
estava quente. ― Me diga e vou ver se posso fazer, ou deseja
que eu seja criativo?
Eu ofeguei com seu toque.
― Seja criativo, sei que vou gostar do que tem para
mim ― minha voz falhou devido ao fogo que me consumia.
Ele sorriu.
― Bom saber, minha linda. ― Tocou na ponta do meu
nariz com o dedo e se afastou mexendo nas gavetas, até que
achou o que procurava.
― Uma echarpe? ― Eu arqueei as sobrancelhas para
ele.
― Tenho que improvisar já que você não tem uma
venda. ― Chegou perto de mim. ― Vou cobrir seus olhos,
assim vai aproveitar mais.
Olhei em seus olhos azuis lindos, e ali parecia ter
diversão, mas tinha excitação também. Gostei muito disso.
Assenti.
― Confio em você ― declarei, embora o tivesse
conhecido ontem, ainda sim confiava nele. Talvez, eu não me
lembrasse do que tinha acontecido há dois meses, em
Manhattan, mas talvez de alguma forma, meu subconsciente
soubesse, seja como for, eu estava adorando realizar tudo isso
com ele.
Eu fechei os olhos enquanto sentia seus dedos e
echarpe cobrindo-os.
― Obrigado, linda ― sua voz era quente, aliás, ele
parecia uma fornalha. Seus lábios depositaram um beijo suave
na ponta do meu nariz, um gesto tão simples, mas muito
intenso devo dizer.
Eu adorava sentir seu calor, seu cheiro, era um
sentimento estranho, mas bom, como se tivesse sentido isso a
minha vida inteira. E não queria deixar de sentir nunca.
― Tay… ― chorei abrindo minhas pernas como se
não tivesse controle sobre elas.
― Está molhada para mim? ― Senti um dedo em
minha entrada.
― Sim, e como! Quero que você mate esse fogo que
está entre minhas pernas ― falar com os olhos fechados me
dava mais coragem.
― Estou contando com isso, agora vou tomar conta de
você, caipira ― sussurrou com a voz rouca próximo da minha
pele e ainda com seus dedos sobre a minha calcinha, e depois
subiu sobre minha pele. Onde tocava, um rastro quente surgia
me fazendo salpicar para cima.
― Vire-se de costas com as mãos para cima, e levante
essa bundinha, linda caipira ― ordenou com a voz intensa e
sexy.
Eu ofeguei com meu corpo pegando fogo. Seu toque
era como um vulcão em erupção.
― Isso, minha linda, agora com o rosto no colchão e as
mãos para cima, levante sua bunda no ar ― ordenou ele.
Eu tentei não corar ao imaginar a cena de como me
pareceria nessa posição, mas fiz o que me foi mandado com
certeza.
― Cristo, você é linda demais ― arrulhou quase
abobado.
Eu estremeci ao sentir seu hálito quente na minha
bunda. Eu estava pronta para tocá-lo quando as algemas
vieram para os meus pulsos, e ele os prendeu na cabeceira da
cama.
― Você presa é como um sonho deslumbrante, no qual
jamais quero perder ― rosnou dando um tapa na minha bunda.
Eu juro que gozei na hora, ou estava perto de isso
acontecer.
― Acredita que fiquei mais molhada do que já estou?
― minha voz era fraca.
― Bom ― ouvi o sorriso em sua voz sexy, ele deu um
puxão e minha calcinha se foi. ― Sua boceta está brilhosa, e
escorregando o meu sabor preferido por entre os lábios dela.
Uma visão dos céus.
Eu corei ao imaginar a cena, e estremeci remexendo
minha bunda, tamanho era o atrito.
― Puta merda! ― gritei quando do nada, sua língua
me cobriu, puxando meu clitóris e degustando-o. Suas mãos
fixaram-se em meus quadris para mantê-lo no lugar, pensei.
Porque eu me remexia feito louca, querendo mais dele.
― Não puxa muito suas mãos para não ferir seus
pulsos ― rosnou e enfiou um dedo em mim, me fazendo
ofegar. ― Isso, geme, minha caipira.
Eu não puxei minhas mãos, mas minha vontade era
mexer e tocar nele. Gritei quando senti seu polegar esfregar
meu clitóris.
― Porra, você está tão molhada para mim. ― De
repente, seus dedos mágicos se foram, mas antes que eu
protestasse, senti sua língua me invadir.
― Puta que pariu! — gritei e empurrei mais a minha
bunda em sua boca não me importando com a vergonha. ―
Isso é bom…
― Goza na minha boca, linda ― sua ordem foi direto
no meu centro, porque tudo explodiu comigo gritando seu
nome.
Eu ainda estava tremendo quando senti seu pênis em
mim, e afundou tão fundo que gritei com êxtase e começou a
bombear dentro de mim.
― Mais forte ― pedi.
― Você quer ser fodida com mais força? ― Beijou
minhas costas me fazendo arrepiar ainda mais.
― Sim… ― suas mãos pegaram meu cabelo e os
puxou para trás me fazendo gritar enquanto me estocava com
mais força.
― Oh, Deus! Isso é bom… ― chorei com clamor.
Seus dedos apertaram meus quadris, e depois os senti
em meu clitóris esfregando-o com força.
― Isso, caipira, goza no meu pau ― rosnou rouco
dando uma última estocada quando tudo brilhou e fui
arrebatada. Ele seguiu logo atrás com um rugido prazeroso.
Eu caí na cama, com ele em cima de mim e ainda
dentro de mim. Seus lábios estavam em meu pescoço e em
meus lábios me fazendo tremer.
― Mulher, assim você me mata ― declarou nos meus
lábios.
Eu sorri.
— Eu digo o mesmo, querido.
Ele tirou a echarpe que cobria meus olhos e pisquei
vendo seus olhos brilhantes. Tay saiu de mim, mas ficou do
meu lado.
Eu toquei seu glorioso rosto assim que ele retirou as
algemas de mim.
― Obrigada.
Ele arqueou as sobrancelhas.
― Pelo quê? Por fode-la com força? ― Sorriu
libidinoso. ― Isso é um privilégio.
― Você é bom ― falei tentando não pensar nas
mulheres que ele teve antes de mim.
― Então, eu acho que vou ter que melhorar meus
quesitos na cama, já que recebi somente um “bom”. Eu estava
pensando mais na categoria de “maravilhoso e esplêndido”. ―
Ele me virou e pairou em cima de mim.
Eu ri tocando seus cabelos que estavam caindo na
frente de seu rosto e no meu.
― Acho que vai ter que provar mais um pouco ―
brinquei, porque se ele melhorasse, eu teria dificuldade de
andar depois, embora estivesse adorando fazer tudo com ele.
― Então se prepare ― disse sorrindo.
***
Acordei de noite com o som de uma voz linda
cantando na escuridão com o som Ed Sheeran - Photograph.
Ele estava tocando no meu violão, que havia ganho da
minha mãe. A voz do Tay soava como a brisa do vento, tão
leve e tão intenso; algumas palavras da música tinham um
significado intenso, como se ele estivesse sofrendo por amor.
Não acho que estivesse apaixonado por outra, será que era por
mim? Por que um cara aceitaria ficar com uma mulher
enquanto a mesma gostava de outro? Só podia ser por me
amar, se fosse pelo sexo, ele poderia ter qualquer mulher.
Meu coração se comoveu ao ver a forma em que ele
pensava que podia sair machucado dessa relação. Mas também
tinha a promessa de nunca me deixar sozinha, e para esperá-lo
voltar para casa. Será que ele pensava em ir embora? Não
conseguiria esperar até que meus sentimentos por Shade
estivessem resolvidos? Porque era isso o que eu queria, e
lutaria para ter somente o Tay na minha vida e em tudo de
mim.
Ele cantava na canção que amar podia curar sua alma.
Será que era isso que ele estava se referindo? Que através do
amor, ele poderia me curar? Queria poder perguntar a ele, mas
não queria estragar o momento de sua melodia intensa. Eu
fechei meus olhos e fingi estar dormindo.
Assim que a canção terminou, ele expirou como se
estivesse com dificuldade de respirar ou doesse. Senti seus
dedos em meus cabelos.
― Você tem essa capacidade de me machucar como
nunca ninguém teve ― falou, e por breve segundo, pensei que
soubesse que eu estivesse acordada. Mas ele continuou: ― Eu
vou correr o risco, porque não posso ficar longe de você. Eu
nunca vou deixá-la ir embora.
Ele se afastou após um segundo e se levantou da cama,
ouvi um baque surdo como se tivesse guardando o violão,
depois uma porta sendo aberta e fechada.
Eu abri os olhos e olhei para a porta fechada, no qual
ele havia saído. Meu coração estava doendo com o que acabei
ouvindo. Ele realmente gostava de mim, mas o que isso fazia
de mim? Eu era uma cadela que o aceitava correndo o risco de
não me apaixonar por ele, ou terminava o que tínhamos?
Estremeci só de pensar nisso.
Eu sacudi a cabeça e me levantei, e fui procurá-lo,
precisava dizer a ele tudo o que eu sentia naquele momento.
Tay estava na cozinha, sentado com um copo de água
sobre a mesa.
― Eu não vou machucá-lo ― sussurrei.
Ele me olhou, mas não disse nada, então fui até ele e
me sentei em seu colo e coloquei os braços em volta de seu
pescoço.
― Eu juro que não vou machucá-lo, mas quero que me
prometa o mesmo para quando eu me apaixonar por você ―
pedi, alisando seu rosto.
Ele me pegou pela cintura e me colocou na mesa
puxando minha camisola para fora do meu corpo e logo estava
me possuindo, me preenchendo com seu bem precioso, pelo
menos era para mim.
― Com meu pau dentro de você, eu juro que não vou
machucá-la ao se apaixonar por mim. Que a amarei em cada
segundo e a farei a mulher mais feliz do mundo. ― Ele me
beijou selando a promessa.
Capítulo oito
Laurel
Os dias seguintes foram os mais felizes que já tive. Ele
não falou sobre o momento em que cantou algumas noites
atrás. Mas notei que ele estava feliz com o que eu disse a ele.
Eu também estava, afinal de contas, isso era verdadeiro.
Com o passar dos dias ao lado dele, eu não pensava
mais no que sentia por Shade, aliás, nem pensava mais nele.
Não com interesse, claro. Era isso que eu queria ter, apenas o
Tay na minha mente.
Eu estava deitada em frente a cachoeira, sobre um
cobertor fino, que coloquei no chão. Tay estava ao meu lado,
de short de banho, e eu com meu biquíni preto.
Nós estávamos sozinhos neste lado da fazenda. Sentei-
me e olhei para frente admirando a beleza do lugar, os pastos
do outro lado do riacho. Tinha uma cerca que impedia de meus
cavalos chegarem ao riacho.
― Esse lugar é magnífico, você já pensou alguma vez
em vendê-lo? ― sondou ele. ― Por que seria um desperdício.
Eu suspirei.
― Não, eu nunca vou vender. Até já tive propostas
tentadoras, mas está vendo aqueles cavalos lá? Aquele preto?
― apontei para frente ― Eu o chamo de corcel negro, às vezes
venho aqui e o vejo correr, ele é tão lindo que adoraria montá-
lo.
― Por que não o faz? ― Ele olhava para o animal
belo, correndo com suas crinas voando com o vento.
― Porque ele é selvagem, não consegui domá-lo, mas
gostei dele desde a primeira vez que o vi. Seu antigo dono ia
sacrificá-lo por ele quase ter matado a filha dele, que tentou
montá-lo. ― Eu apertei as mãos com raiva, lembrando. ― Ela
sabia que ele era um cavalo selvagem, e foi avisada para não o
montar, mas sabe aquelas pessoas turronas, que não ouvem
ninguém?
― Sim.
― Então, essa mulher era assim, por que ela tinha
vinte três anos, então sabia o que estava fazendo, não é? Por
que montá-lo? O pior foi que depois que ela caiu, os pais dela
queriam sacrificá-lo, mas não deixei e briguei com eles. Eles
eram amigos da minha mãe. Falei que ia comprá-lo. ― Eu ri
amarga. ― Sabe o que o fodido fez? Ele ia matá-lo, mas
quando falei em comprar, ele pediu uma quantia exorbitante.
Shade comprou para mim.
Ele ficou calado por um segundo, então olhei para ele,
que estava sério.
― O que foi?
Ele sacudiu a cabeça.
― Nada ― falou e mudou de assunto. ― Por que vai
ao haras do outro lado da cidade? Por que não faz um aqui?
Esse lugar é simplesmente perfeito para fazer isso. Há espaço.
Eu pisquei
― Sabe que sempre quis fazer um aqui, mas as coisas
não saíram conforme planejei ― comentei.
Ele estava prestes a falar alguma coisa, mas fomos
interrompidos com o meu celular.
― Alô? ― atendi sem olhar na tela, porque estava com
os olhos em Tay. Eu deitei no pano de costas.
― Como está a minha princesa? ― perguntou Nilan
com tom preocupado.
― Eu estou bem, Nilan, ficaria melhor se parasse de
perguntar isso ― falei com um suspiro.
― Não pode me culpar por me preocupar com a minha
irmãzinha linda ― disse com um sorriso na voz. ― Sabe que
se precisar de mim é só gritar e, eu irei correndo para você.
― Eu sei que viria correndo se eu precisasse, mas
agora não preciso, porque estou mais do que bem ― garanti e
toquei o rosto de Tay, com a barba um pouco grande, no qual
estava adorando na hora do sexo oral. Alisei-as com as pontas
dos dedos.
Ele sorriu para mim, adivinhando o que eu estava
pensando. Agachou-se na minha frente e abriu minhas pernas.
No dia anterior, eu disse que adorava o que estava sentindo
com sua barba grande. Ele sorriu e disse que ia mantê-la
assim.
Eu sacudi a cabeça para que ele não fizesse o que
estava pensando. Tentei fechar as pernas, mas Tay não deixou
e abriu mais.
― Tudo bem, querida ― disse Nilan. ― Como está na
fazenda?
― Bem… ― minha voz tremeu assim que Tay puxou
a calcinha do biquíni para baixo e a tirou de mim.
― Não ― falei para Tay, mas sem que saísse som da
boca, para Nilan não ouvir.
Ele não disse nada, mas abaixou o rosto na minha
boceta e sugou meu clitóris me fazendo reprimir um gemido
de puro prazer.
― Você está bem? ― perguntou Nilan com
preocupação.
― Sim…
― Você parece estar ofegante ― observou com tom
confuso.
― Estou malhando, o exercício é bem pesado… ―
merda. Peguei os cabelos de Tay e puxei, mas ele não me
deixou, apenas me degustou mais.
― Você não precisa fazer essas merdas, seu corpo é
perfeito ― disse com orgulho, mas também com tom amargo.
― Não sabe o tanto de garotos na escola que tive que bater,
quando diziam que você era quente.
O quente ele acertou em cheio, porque agora cada uma
das minhas células parecia estar em erupção.
― Obrigada…
― Escuta, eu soube de um leilão de cavalos que vai ter
em Dallas hoje ― disse ele.
― Hummm, eu soube ― Não entendi o motivo de ele
ter perguntado, mas estava com a mente vaga por causa da
boca de Tay em mim, isso não me deixava pensar direito.
― Bom, providenciei dois ingressos para você, basta
pegar na entrada, pode levar a Sabrina, eu soube que vai ter
dois cavalos árabes lá, se você quiser fazer o lance pode fazer,
que eu pago o preço que for.
Eu pigarreei.
― Obrigada, Nilan. ― Pigarreei, comovida e minha
voz falhou devido a uma língua vagando dentro de mim. ―
Preciso ir… ― desliguei e gemi encontrando os olhos de Tay
― Merda, isso é bom demais, mas fazer isso, enquanto falo
com meu irmão é constrangedor.
Ele tirou a boca de mim um segundo, e sorriu de modo
pervertido.
― Caipira, é só pensar que ele não poderá vê-la e nem
ninguém. ― Ele gesticulou ao redor. ― Estamos sozinhos, e
você ficou tocando minha barba desejando-a entre suas pernas,
estou só fazendo seu desejo.
― Quando foi que eu disse que o queria entre minhas
pernas? ― Ofeguei puxando-o para mim e o beijando com
fome.
― Hummm, ontem à noite ― sussurrou nos meus
lábios.
Eu sorri.
― Certo você venceu, e adoraria ficar a tarde inteira
aqui, mas… ― eu o empurrei de costas e abaixei seu short e
subi nele e, em seguida, me encaixei em seu bem precioso
duro. Montei nele com as mãos em seu peito e as suas vieram
para os meus seios, massageando e apertando-os de forma
enlouquecedora.
― Cristo, essa visão é deslumbrante ― rosnou ele. ―
Rebole em meu pau, linda.
Eu fiz o que ele me mandou, porque seu tom usado,
enquanto estávamos transando era enlouquecedor e, eu
adorava cada momento. Não queria perder isso nunca. Uma
sensação de calor entrou em meu peito ao encontrar seus olhos
preciosos, igual ao céu sobre nossas cabeças.
Seus dedos foram para o meu clitóris me fazendo
tremer e gemer com um orgasmo alucinante, ele veio logo
atrás e me puxou para um beijo quente e selvagem.
― Você me tira o fôlego ― falei dando um selinho
antes de sair de cima dele e olhei minhas pernas molhadas. ―
Não usamos camisinha.
Ele ajeitou seu short e pegou minha parte de baixo do
biquíni e depois olhou para mim.
― Bom, você começou a tomar anticoncepcional,
então pensei em parar de usar camisinha e sentir a sua boceta
quente apertar o meu pau quando goza. A quentura é
sensacional. ― Sorriu me entregando a calcinha. ― A não ser
que não acredite que estou só com você. E antes, eu sempre
usei caminha, então não tenho quaisquer doenças.
Eu me remexi com suas palavras intensas demais. Mas
sobre a doença, ele me fez franzir o cenho.
― Eu acredito que você não está vendo ninguém, Tay,
não é isso, é só que eu me esqueço de tomar os comprimidos
às vezes, isso pode causar um efeito colateral, já imaginou?
― Vou lembrá-la todos os dias, mas se acontecer, eu
estarei aqui para você, embora queira aproveitar cada segundo
com você antes de ter filhos ― disse se levantando e me
puxando para a cachoeira. ― Agora vamos dar um mergulho.
Eu assenti, ainda de boca aberta por ele querer ficar
para sempre ao meu lado. Então cada dia comprovava que ele
cumpriria a promessa expressa naquela música, que estaria
comigo.
Eu vesti minha calcinha e olhei para ele que estava
com os olhos em mim.
― Você é tão linda que eu podia ficar o dia todo
olhando para você ― disse admirado e me puxou para seus
braços beijando a minha boca.
Eu retribuí e me afastei, meio ofegante.
― Você que é lindo ― afirmei e saí da água. ― Agora
vamos embora?
― Por que a pressa? ― perguntou enquanto me seguia.
Eu peguei minha roupa e vesti, e o fitei ainda de short e
peito nu. Isso me fazia babar por ele o dia todo e não me
cansaria de forma alguma, aliás, eu amaria cada segundo. Tay
era esplêndido. Quanto mais eu tinha dele, mais queria ter,
nunca era suficiente, não com ele.
― Adoro esse olhar em seu rosto ― comentou com
um sorrio maroto.
Eu corei.
― Parece que nunca é suficiente estar em seus braços
― falei a verdade, o fazendo aumentar o sorriso. ― Mas tenho
um compromisso hoje, então vamos ter que esperar para
aproveitar nossa lua de mel.
Ele riu caloroso.
― Lua de mel, hein? ― Ele piscou. ― Estou adorando
isso.
― Eu também. ― Sorri também.
― Que compromisso é esse, já que estamos no fim de
semana? ― sondou enquanto vestia a camiseta sem tirar os
olhos dos meus.
― Tem um leilão de cavalos acontecendo hoje, aqui
em Dallas, Nilan me disse que comprou os ingressos ― falei a
ele. ― Estou há muito tempo querendo ir para comprar um
cavalo árabe. Já tenho o Persa, Andaluz, que é original da
Espanha, e alguns outros, mas estava louca por um árabe.
― Você vai a um leilão de cavalos, hoje? ― Ele me
avaliava, tinha algo em seu tom que estava o incomodando. ―
Por que não me falou antes?
― Sim, eu já sabia há alguns dias. ― Franzi o cenho.
― O que foi? Por que parece estar incomodado com isso?
Ele suspirou.
― Nada.
― Se vamos fazer nosso casamento funcionar, nós não
devemos mentir um para outro, porque odeio mentiras ― falei
de braços cruzados.
Ele assentiu e respirou fundo.
― Desculpe, você tem razão. ― Ele chegou perto e
tocou meu rosto. ― Eu só tinha um jantar planejado para nós
dois.
Eu franzi o cenho.
― Que horas estava marcado o jantar? ― sondei
enquanto passava os meus braços a sua volta.
― Sete da noite ― respondeu.
Eu sorri.
― Bom, podemos ir ao leilão, que será quatro da tarde
e depois poderemos ir jantar ― eu falei. ― Isso se você não se
incomodar em ficar horas ouvindo todos falarem de cavalos…
Nós já conversamos sobre seus hotéis em Dallas, pela
forma que ele falava parecia amar aquilo, eu fiquei ao seu lado
ouvindo uma noite. Eu iria com ele, caso tivesse esses
coquetéis em hotéis, e não reclamaria. Mas ir a um leilão de
cavalos? Nem todos gostavam disso.
― Acha que eu não iria, só por ser um leilão de
cavalos? ― perguntou e continuou, assim que eu assenti: ―
Então me diga uma coisa, quando eu tiver uma festa ou
inauguração de algum hotel, você iria comigo, ou isso iria
chateá-la por achar ruim?
Eu suspirei.
― Entendo seu ponto, porque iria com você, e se a
festa fosse ruim, eu a faria ficar interessante. ― Passei o dedo
em sua barriga.
Ele sorriu e pegou minha mão, que descia para seu
short.
― Então faço o mesmo, caso não goste de leilões de
cavalos. ― Beijou minha mão e minha aliança no dedo. ―
Agora vamos embora.

Chegamos ao local em que seria realizado o leilão de
cavalos. Seria no Haras Dallas, e ao ar livre, o que adorei. O
lugar era belo sim, sempre vinha apreciar as beldades do lugar.
― Lindo, não acha? ― falei assim que entramos no
lugar.
Tay me olhou de lado.
― A que está se referindo? Ao lugar ou a você? ―
Sorriu de lado.
Eu dei um tapa nele.
― Estou falando do lugar, sempre venho aqui, mas
hoje vai ter uns cavalos, nos quais adoraria ter, e poder levar
comigo. Só espero que ninguém dê muito lances, não posso
usar muito o cartão de Nilan, e meus fundos de investimentos
são poucos, mas estava guardando para comprar esse cavalo,
desde que o vi na internet, e soube que eles o leiloariam. ― Eu
me sentei ao seu lado em uma fileira de cadeiras. A nossa
ficava debaixo de uma árvore. Nilan pensou em tudo. ― Eu
queria Clydesdale, ele é da Escócia, mas não posso levar os
dois, então vou ficar com o Árabe.
― Por que não pode usar os fundos de investimento de
Nilan? Aposto que ele disse para gastar o valor que desejasse,
não é? ― disse folheando o mostruário com os animais para
leilão.
Eu vi que estava na página de Clydesdale. Esse cavalo
era mágico.
― Ele é original da Escócia, essa raça é muito famosa
pelo seu temperamento. São cavalos muito afetuosos com seus
donos, podem apresentar-se nas pelagens zaino, zaino negros,
negro ou tordilho, esse é negro com pintas brancas nas patas
cobertas de pelos ― falei passando os dedos na forma de sua
crina. ― Seu rabo e crina são lindos, como os do Árabe.
― Por que não leva os dois? Eles realmente são belos
― disse.
― Como eu disse, não gosto de usar muito o dinheiro
dos meus irmãos, só quando acho algum cavalo que me
interessa.
Ele sacudiu a cabeça.
― Você é outra coisa ― falou e olhou para frente
quando o apresentador começou a falar de cada raça do leilão.
― O cavalo Árabe é uma das raças equinas mais
antigas, com evidências arqueológicas que remontam a cerca
de 2500 a.C. Ele se difundiu pelo mundo mediante a guerra e o
comércio, sendo usado também na melhoria de outras raças.
Atualmente, as linhagens árabes são encontradas em quase
todas as raças modernas de cavalos de montaria. Conhecido
também como Puro-Sangue Árabe, é utilizado principalmente
em esportes equestre olímpicos, onde apresenta desempenho
superior a outras raças. A calda como podem ver ― o cara do
leilão apontou para o cavalo no cercado andando como se
fosse um modelo de passarela ―, é alta e o formato da cabeça
faz dessa raça única no mundo dos cavalos e a mais cara no
mercado mundial. Por isso seu lance inicial é de cinquenta mil.
Tinha muitos cavalos lindos e arrebatadores, mas os
que eu queria eram dois, então dei os meus lances, mas quando
chegou a quinhentos mil dólares, eu estava desanimada,
porque era uma quantia muito alta para usar o cartão de Nilan,
e o que eu tinha na conta.
― Merda, isso é muito dinheiro ― reclamei baixinho.
― Não vou poder levá-lo.
O cara do Texas, James Blod, estava quase
arrematando o meu árabe. Ele era o que dava mais lances.
Com certeza estava querendo o Árabe para esportes olímpicos
ou coisa do tipo.
― Oitocentos mil dólares ― disse Tay ao meu lado me
fazendo ofegar.
Eu olhei para ele de olhos arregalados, que estava
sorrindo.
― Tay… ― comecei, mas o cara do leilão gritou,
vendido, para ele.
― Bom, agora você tem um cavalo Árabe ― disse
ainda sorrindo.
― Eu não posso aceitar ― eu disse.
Sua expressão linda desmoronou.
― Por que não? Você aceitou o corcel negro de Shade
e não pode aceitar o meu? ― Tinha algo em seu tom que
apertava meu peito. ― Aceitou o presente dele, por que não
pode aceitar o que estou dando a você? Afinal de contas, eu
sou seu marido, e ele não.
Foi por isso que ele ficou calado quando mencionei
sobre Shade ter me dado o corcel negro? Com certeza estava
pensando que recebi apenas por que amava o Shade, mas isso
não era verdade, foi pelo fato de que ele seria sacrificado e, eu
não poderia pagar na época.
― Tudo bem, apesar de que quando aceitei o corcel
negro foi porque não tinha opção, não podia deixá-lo morrer
― comentei e peguei sua mão alisando sua aliança. ― Vai te
fazer feliz dar ele a mim de presente?
Ele sorriu tão brilhante e lindo, quanto o Sol de fim de
tarde.
― Excepcionalmente. ― Beijou meu rosto. ― Eu só
quero que aceite algo meu também.
― Obrigada.

― Ainda está com raiva? ― perguntou assim que
sentamos no restaurante Dallas Hills.
Ele era cercado de vidro e toalhas de linho fino. Com
certeza, caro.
Eu o fuzilei.
― Não queria que eu ficasse? Você comprou dois
cavalos que custaram mais de oitocentos mil cada, e você nem
gosta de cavalos.
― É claro que gosto, eu só não sou apaixonado por
eles como você, e você concordou em receber o Árabe…
― Sim, eu o aceitei para deixá-lo feliz, porque gosto
de vê-lo feliz, mas não dois, pois isso é loucura ― reclamei.
Ele suspirou.
― Vamos fazer o seguinte: já que gosta de me ver
feliz, você vai fazer isso para mim, você recebe só o Árabe, e
quanto ao Clydesdale?
― O escocês ― rosnei. ― O que tem ele?
Ele sorriu.
― Já deu nome para o meu cavalo? ― seu tom parecia
alegre. ― Ele é meu, mas vou deixá-lo na sua fazenda, já que
só tenho hotel. O que acha?
Eu pensei nisso por um segundo.
― Então você comprou um cavalo para você, mas vai
deixá-lo na minha fazenda?
― Sim, você toma conta dele já que não entendo de
cavalos.
― Tenho Pietro, o veterinário e adestrador da fazenda.
Ele trabalha lá desde que eu era criança e cuida muito bem dos
meus cavalos ― respondi. ― Eu aceito, mas você não vai
vendê-lo depois, porque me apego fácil.
― Eu juro. ― Ele sorriu e enfiou a mão nos meus
cabelos e puxou o meu rosto para o dele, e me beijou com
fome, até que me esqueci de onde estávamos.
No final, eu percebi que de qualquer forma havia
ganhado dois cavalos e tudo por ele ter me dado. Porque Tay
não ia querer algo que ele não entende e não era apaixonado
como eu. Um trapaceiro e tanto, no final das contas, ele teve o
que quis. E, eu também, porque amava seu sorriso.
Capítulo nove
Taylor
Acordei com um fogo, um calor quente tomando conta
de mim, um lábio gostoso me sugando e me fazendo gemer.
Abri os olhos e olhei para baixo para me deparar com
uma visão, no qual jamais iria esquecer na minha vida. Eu já
tive boquetes antes, mas porra, uma visão igual a essa, nunca!
― Puta que pariu!
Seus lábios estavam em volta do meu pau, sugando,
lambendo-o como se tivesse com muita fome. Uma de suas
mãos estava ao redor do meu pau, o que ela não conseguiu
colocar inteiro na boca.
― Porra, adoraria ter uma câmera para filmar isso,
nunca vi nada mais lindo. ― Sua respiração engatou e seus
olhos foram para mim tão quentes e famintos, que meu peito
parecia querer explodir.
Estava doido por essa mulher magnífica, sorte minha
que ela estava sentindo o mesmo, esperava que ela logo se
apaixonasse por mim e esquecesse o Shade completamente.
Estava ansioso por isso.
Há dois meses, eu acordei a noite, após ter um
pesadelo com ela me deixando, então olhei para o lado e a vi
ali toda linda, adormecida. Foi onde me deu vontade de cantar.
Fazia anos, que não tocava em um violão, desde que minha
mãe faleceu.
Aquela música descrevia o que eu sentia naquele
momento, mas não achei que Law estivesse ouvindo, apesar de
que fiquei feliz por isso. E esses dois meses com ela foram
tudo de bom, aproveitamos cada segundo. Acredito que
estávamos tendo nossa lua de mel na fazenda.
Nunca na minha vida quis ter um sentimento assim por
uma mulher, ela veio e arrebatou meu mundo, de tal forma,
que não conseguiria sair dessa sem me machucar e, ou também
machucá-la. É claro que faria de tudo para não fazer isso.
Precisava conquistá-la e depois diria a verdade a ela,
porque, se ela descobrisse que Shade me pediu para vir tomar
conta dela para depois convencê-la a vender a fazenda, isso
não ficaria nada bem, embora não fosse por isso que eu estava
com ela. A mulher conquistava todos por onde passava, sem
ao menos fazer esforço.
Expulsei os pensamentos ruins, lidaria com isso mais
tarde, agora só queria aproveitar o que tinha em mãos, mesmo
que precisasse usar meu corpo e meu charme para conquistá-
la, e ter somente eu em seu coração e em sua mente.
Peguei seus cabelos em minhas mãos, mas não a forcei
a ir mais fundo, só amei a sensação de tê-la com a boca
sugando o meu pau.
― Eu vou gozar nessa boquinha linda, caipira ―
anunciei, porque era incapaz de me afastar. Seria como um
viciado, essa mulher era meu maldito vício. Um muito bom,
no qual adoraria ter para sempre.
Ela gemeu e acelerou mais os movimentos. Então
fechei meus olhos e me libertei com um grunhido feroz no
meu peito.
Assim que gozei em sua boca, eu a puxei para deitar de
costas e fiquei em cima dela.
― Bom dia. ― Sorriu com o rosto corado. ― Vou
ficar mais prática a cada dia.
― Você é linda! ― Beijei sua boca. ― Adoraria
acordar sempre assim.
― Então é ótimo que somos casados, não acha? ―
disse com um sorriso.
Esse sorriso doce me deixava todo mole, adorava vê-la
sorrir e pensar em nosso casamento. Para ela, no começo foi
um negócio, mas nesses dois meses, enquanto estávamos
juntos, eu percebi que ela estava levando nosso casamento a
sério, como eu gostaria que ela fizesse. Porque desde o início,
eu o considerava assim, verdadeiro como os meus sentimentos
por ela.
― Sim, estamos, então agora vamos tomar banho e
cuidar da lida. ― Beijei seus lábios. ― Mas antes, eu vou
fodê-la no banheiro.
― Estou contando com isso ― respondeu ela se
levantando da cama, nua. A cada dia, ela perdia a vergonha
comigo, embora sempre corasse quando olhava para ela.
Alisei sua tatuagem linda da âncora, no qual eu mesmo
fiz.
― Tão linda ― comentei.
― Ainda bem que tenho um tatuador lindo e sexy para
o caso de eu desejar fazer outra, não é? ― falou me olhando
de soslaio.
Eu sorri.
― Lindo e sexy? ― Puxei-a para os meus braços e a
beijei.
Entramos no chuveiro e a coloquei sentada sobre a
enorme bancada da pia. O banheiro era grande, com banheira
branca e mármore da cor de areia da praia.
Eu me inclinei na sua frente e abri suas pernas e me
desfrutei da vista, no qual já amava, lábios rosados e brilhantes
de excitação.
― Tay ― clamou com um gemido.
― Uma visão linda, caipira, e só eu tenho a sorte de ter
visto isso ― rosnei e coloquei meus lábios naquela perfeição,
lambendo, degustando e peguei seu broto rosa e chupei.
― Porra, isso é bom ― gritou ela, pegando minha
cabeça e empurrando-a mais para si.
Eu dei mais a ela conforme era sua necessidade e a
minha também de certa forma, porque adorava chupar sua
boceta deliciosa.
Ela era uma mulher, que não se envergonhava fácil,
não na hora do sexo, em outras horas, ela até corava, mas não
nesse momento onde ela estava ludibriada. Amava vê-la
assim, eufórica e faminta.
Ela explodiu na minha boca e degustei até ela parar de
tremer, depois a beijei e enfiei meu pau em sua entrada e a
fodi. Suas unhas entravam em minha pele apertando-me mais
contra seu corpo.
― Mais forte ― gritou em minha boca.
Eu grunhi e a fodi mais forte. Puxei seus cabelos,
levando sua cabeça para trás e meus lábios foram para sua
garganta.
― Isso, minha caipira, goza para mim ― rosnei
apertando mais sua bunda em mim e a trazendo para a borda e
entrei mais fundo nela, tanto que estava na porra das nuvens
em questão de segundos.
― Puta merda! Você me deixa louco. ― Respirei com
dificuldade após termos gozado.
― Fico feliz com isso ― respondeu ela me dando um
selinho. ― Agora preciso falar com Rick e dizer o que precisa
fazer com Bec e meus outros cavalos, incluindo os que ganhei
de você.
Eu estreitei meus olhos. Os cavalos, árabe e escocês
chegaram há alguns dias após eu tê-los comprado.
― Rick?
― Sim, o rapaz, filho de Pietro, ele me ligou e disse
que precisava viajar, mas que seu filho viria no lugar, ele
também é veterinário e adestrador, como o pai dele ―
respondeu ela.
Nós tomamos banho juntos e nos vestimos. Ela foi para
receber Rick e, eu fui atender uma ligação importante, depois
iria acompanhá-la nos estábulos.
― Onde você está? ― perguntou Lucky, meu melhor
amigo, ou um deles, e também meu chefe. ― Ouvi o recado de
que não vai trabalhar por um mês… já passa de dois meses e
você não retornou.
― Acredito que não irei tão cedo ― falei saindo para a
varanda da casa e olhando para a cachoeira. Não aquela, na
qual ficamos no mês passado, essa era mais embaixo, uma
cascata na verdade. Ao redor tinha bastante coqueiros
tornando o lugar um paraíso bem diferente da fervorosa Nova
York.
― Você está ferrado sabe disso, não é? ― comentou
com um sorriso na voz.
Quando falei o que ia fazer para ele e Ryan, o seu
irmão, os dois quase se mataram de tanto rir, mas não liguei
muito. Todos sabiam da proteção que os King depositavam em
relação a sua irmã.
Eu estava ferrado sim, mas não liguei, porque minha
vontade de ficar com ela superava tudo em minha vida, até
levar uma surra dos meus colegas, e agora cunhados.
― Só para saber, quando os irmãos King forem
decapitar você, estarei ao seu lado e poderemos enfrentar os
três juntos ― disse.
Revirei os olhos, mas ele teria minhas costas assim
como eu teria a dele.
― Vou ter que passar por isso sozinho, mas não me
arrependo de nada, nunca me senti assim na minha vida, até
conhecê-la ― falei passando as mãos nos cabelos. ― Porra!
Eu estou ferrado.
Ele riu.
― Sim, você está ― concordou entre risadas. ― Nem
acredito que foi fisgado, porra! Isso merece fogos de artifício e
rojões.
― Muito engraçado ― rosnei. Não lamentava ter me
apaixonado por ela, o que estava me deixando inquieto é que,
às vezes, quando eu dizia que a amava, ela não dizia de volta.
― Vai ter o aniversário de Shaw, você virá, não é?
Traga ela se quiser, aposto que Angelina vai ficar louca em
conhecê-la.
O bastardo ainda estava rindo e gozando as minhas
custas.
― Sim, eu vou ― respondi. ― Como está minha
florzinha linda? ― perguntei mudando de assunto.
Beatriz era sua filha, uma garotinha esperta e fofa. Eu
adorava ficar com ela e com Victória, a filha de Angelina e
Ryan, mas o bastardo era muito ciumento com sua filha, que
mal deixava as pessoas a pegarem.
Eu via meus amigos cercados de sua família e filhos.
Na hora, eu não queria algo assim para mim, mas após
conhecer a Law, percebi que o que estava faltando na minha
vida era isso, uma família, onde pudesse chamá-la de minha,
filhos onde me chamariam de papai.
Olhei para o estábulo e a vi do lado de fora, perto de
uma égua com as crinas louras.
Bec. Foi assim que ela me apresentou, na hora, eu ri,
porque foi com essa égua que ela comparou meu cabelo
quando nos conhecemos. Definitivamente, a égua era linda
com crinas longas.
Law estava de short jeans e botas de cowboy e uma
camisa xadrez dobrada e amarrada no meio dos seios,
deixando sua barriga linda exposta. Seus cabelos estavam
amarrados em um rabo de cavalo. Linda!
― Divina, olhando para ela agora, eu agradeço a todos
os santos…
― Você não acredita em santo ― destaquei sorrindo
vendo minha garota penteando a crina da égua.
― É verdade, mas seja quem for que enviou a minha
rosa vermelha a mim, eu agradeço, através dela sou
completamente feliz e completo com nossa filha linda, no qual
amo demais ― seu tom era orgulhoso.
― Fico feliz por você, cara ― falei a verdade. ―
Quando que um dia estaríamos aqui, dominados por uma
mulher? Que você e Ryan fossem domados…
― Você também não se esqueça disso ― lembrou-me.
― É verdade.
Ele suspirou.
― Mas tem certeza que vai investir nela sendo que ela
ama outro cara? O irmão?
Esfreguei minha têmpora. Ali estava o medo que eu
sentia a cada dia. Eu sabia que ela gostava de mim, mas não
tinha certeza se tinha esquecido o Shade. Queria que estivesse
somente eu em seu coração.
― É um risco, eu sei, mas sinto que ela gosta de mim.
Nesses dois meses que estamos juntos, raras às vezes, eu a
peguei sozinha e pensativa, embora quando isso acontecia, eu
ficava imaginando se ela estava pensando nele… isso é uma
maldita droga.
― Precisa resolver essa merda, Jordan. Isso não pode
continuar assim. Você a ama ou apenas gosta dela? ― sondou
ele.
Vendo-a sorrir para sua égua e louco para tê-la de
novo, sentir seu corpo embaixo do meu e gemendo por mais.
Não podia imaginar alguém a tocando da forma que eu, aliás,
não queria que ninguém a tocasse de forma alguma. Acho que
era capaz de acabar com qualquer um que a tocasse.
― Acho que esse silêncio prova que sim, pensa bem
cara, mentiras sempre são reveladas do jeito errado, nunca
vem como esperamos.
― Não estou mentindo para ela, só omitindo algumas
coisas, ela odeia homens mulherengos, acredito que ela só
queria Shade, porque o amava, apesar de que dos três irmãos,
ele é o mais quieto. ― Eu suspirei. ― Se ela souber quantas
mulheres tive, não quero nem pensar. Porra, eu nem sei a
soma, imagina o que ela pensaria?
― Nessas horas é que lamentamos por ter ficado com
tantas mulheres ― disse Lucky. ― Mas ela tem que entender
que isso faz parte seu passado, e pelo que soube, depois que a
conheceu não ficou com mais ninguém, não é?
― Sim, mas não sei como vou dizer a ela. Talvez eu a
leve para jantar esse fim de semana, assim revelo a verdade ―
Eu só torcia para que no final, ela me quisesse como eu a
queria, pensei. Porque não queria ficar longe dela de forma
alguma.
― Tenho um negócio para fechar em Dallas, podemos
nos encontrar no seu hotel mais tarde ― ele comentou.
― Se precisar de mim qualquer dia para fechar
negócios, pode contar comigo ― falei. ― Eu também tenho
um lugar em que estou de olho para comprar e fazer um hotel,
não vai acreditar, mas o lugar é mágico ― Era melhor falar de
outra coisa sem ser o que precisava fazer logo, isso ajudaria
nas coisas.
― Dallas é uma cidade linda ― concordou. ― Se
precisar de mim, eu estou aqui para qualquer coisa.
― Eu sei cara, valeu. Eu encontro você no hotel mais
tarde ― respondi e desliguei.
Eu olhei para a caipira e a vi tão animada e alegre, bem
diferente de quando a conheci, tão triste e bêbada, mas ainda
deslumbrante. Ela era alguém, no qual iria manter e enfrentaria
todos por isso.
Tinha dois caras olhando para minha garota, mas quem
não olharia? Mas Law não parecia perceber o que ela causava
nos homens ao seu redor. Ela me lembrava muito Angelina, a
mulher era uma tremenda gata, mas não via isso.
Um era Rick, e o outro estava com ele ao seu lado, os
dois eram jovens, da minha idade mais ou menos, um moreno
e outro loiro. Só não sabia quem era quem.
Eu fui na direção dela assim que um dos caras chegou
até ela.
― Ela parece estar se divertindo ― disse o cara
sorrindo olhando a égua.
Law olhou para cima e sorriu.
― Sim, ela me ama. ― Voltou sua atenção para a
égua. ― Bec é linda.
― Sim, ela é ― disse o cara, mas olhando para minha
mulher. ― Escuta, eu queria saber se você quer jantar lá em
casa hoje, mamãe está sentindo sua falta.
Eu fechei a cara. E cheguei até onde os dois estavam.
― O que está acontecendo? ― perguntei com voz de
aço.
Ela me olhou e sorriu tão deslumbrante, que amenizou
um pouco a minha raiva, que estava desse cara por usar sua
mãe para fazê-la ir comer na casa dele.
― Oi, Taylor, esse é Rick, de quem te falei ― disse ela
olhando nós dois e depois para o loiro ― Aquele é Scott. Rick,
esse é Taylor… um amigo meu.
Olhei para ela, que alisava o cavalo e notei que sua
mão direita estava sem a aliança. Senti como se minha alma se
partisse, nunca senti tal sentimento como o que estava
sentindo agora.
― Seu amigo? ― meu tom era duro ao pronunciar essa
palavra. Porra! Essa palavra parecia ter um maldito veneno,
que me rasgava por dentro.
Até hoje nunca imaginei ou pensei nas garotas em que
fiquei, embora todas que eu tivesse ficado não passaram de
uma foda fácil, não me lembrava de ter almejado algo mais
com alguma delas sem ser apenas sexo. Se quis, eu não liguei
na época, será que elas sentiam a mesma decepção que eu
estava sentindo agora? Usado, era como me sentia no
momento.
Ela olhou para mim e seu sorriso lindo morreu.
― Tay…
― Então todo esse tempo em que estamos juntos, eu
não passei de um amigo? ― dizer isso era como se tivesse
brasas vivas em minha garganta.
Ela se encolheu.
― Eu…
Eu ri amargo.
― Eu não acredito nessa porra! ― Tirei o anel do meu
dedo e peguei sua mão e, em seguida, o coloquei nele. ―
Bom, já que somos apenas isso nesse tempo todo, não
precisamos de aliança, não é? Faça um bom aproveito. Porque
eu não quero ser seu amigo.
Eu virei as costas e saí de lá antes que perdesse minha
fodida mente, embora a única coisa que perdi foi meu coração.
Capítulo dez
Laurel
Tinha se passado alguns minutos após Tay sair da
fazenda usando sua Mercedes. Meu peito estava doendo tanto,
que achei que estava faltando ar em meus pulmões ou que eles
estivessem com defeitos.
― Algo está acontecendo entre vocês, além da
amizade, não é? ― Não era uma pergunta de Rick. ― Posso
ver que você o ama devido as lágrimas que estão descendo
pela sua face. Papai mencionou que estava namorando, mas
pela aliança que ele te deu, vocês se casaram? Por que não
sabemos disso?
Rick sempre foi um bom amigo, éramos assim desde
criança.
Eu nem notei que estava chorando, apenas segurei a
aliança em minha mão. Quando tirei a minha mais cedo antes
de vir para cá, foi porque precisava falar com as pessoas
primeiro, meus amigos antes de eles verem a aliança de
casados, porque alguns podiam contar aos meus irmãos antes
que eu falasse com eles.
Ali todos sabiam que eu estava namorando, mas não,
casada.
Não era porque sentia que éramos amigos, Tay era
mais do que isso, a dor em meu peito comprovava, mas ele
devia ter me deixado explicar as coisas e não ter partido.
― É complicado, mas agora preciso ir ― falei a ele. ―
Depois conto tudo com calma.
Fui para casa e fiquei esperando algumas horas para
ver se ele voltava, mas Tay não voltou, será que agora o perdi
de vez? De repente me lembrei da música que ele havia
cantado e do seu medo. Jurei que nunca o machucaria, mas fiz
isso hoje.
Já senti dor profunda quando vi Shade com outras
mulheres e ao se casar, mas nada igual ao que sentia agora,
dois meses com Taylor e já sentia que o amava, mais do que
um dia senti por alguém.
Meu telefone tocou enquanto estava de saída da minha
casa. Precisava falar com Sabrina, para ver o que podia fazer
para encontrar Tay, já que ele se recusava a atender seu
telefone.
― Alô? ― Atendi sem olhar, mas minha voz estava
falha devido ao choro.
― Laurel? O que minha bambina tem? Parece que está
chorando muito ― disse vovó.
Vovó morava em Dallas, do outro lado da cidade, em
uma fazenda onde plantava suas ervas medicinais, nas quais
vendia para as pessoas. Às vezes, ela até dava para àqueles que
não tinham como comprar seus remédios, que por sinal, eram
excelentes.
Eu me xinguei por dentro por não verificar no visor, o
nome de quem estava ligando. Eu ia quase todo fim de semana
na sua casa, ela até conheceu Tay, mas não fez perguntas
quando fui lá, o que era bem estranho já que ela era pior do
que uma casamenteira. Na visão da vovó, ela queria todos os
seus netos casados antes dos vinte anos.
― Só estou gripada…
― Não me venha com isso, conheço quando você está
chorando. Diga o que houve? ― pediu vovó. ― Pensei que
estivesse bem com aquele seu namorado lindo, que veio me
visitar semana passada.
Eu não sei o motivo de ter dito isso a vovó, apenas
soltei do nada:
― Eu me casei com Taylor, em Las Vegas, no dia do
casamento de Shade… ele não é meu namorado, mas sim,
marido.
Ela gritou do outro lado da linha e, eu tive que afastar o
aparelho da orelha.
― O quê? Como assim, você se casou? ― ouvi
barulho de uma TV sendo desligada. ― Menina, então quando
vieram aqui, vocês tiraram a aliança?
― Quer me deixar surda? ― Entrei em meu carro
conversando com ela. Coloquei no viva voz e dirigi para
cidade. ― Tive um desentendimento com Tay.
― Quem é esse cara? Algum impostor querendo seus
bens? Por que razão, ele casou com você no primeiro dia em
que a conheceu? ― Ela suspirou. ― Ele pareceu ser boa
gente.
― Vovó, eu não tenho bens, só a fazenda, mas não é
isso, eu que dei mancada e o magoei, então, ele foi embora e
me deixou ― Então contei a ela tudo o que aconteceu entre
mim e Tay, desde Vegas até agora, só não dei detalhes do sexo,
porque isso não importava a ela.
― Me deixe ver se entendi: você casou há dois meses,
pensando ser um casamento de uma noite só, e foi embora,
mas ele bateu na sua porta e você decidiu ficar com ele,
porque assim não pensaria mais em Shade, mas você não tinha
certeza que o amava até ele deixá-la, porque não gostou da
forma que você se referiu a ele como amigo ― disse ela. ―
Você não notou que ele estava com ciúmes do Rick ou algo
assim? Porque aquele garoto está louco para entrar em sua
calcinha.
― Ele não está, além disso, nós somos amigos desde
crianças ― comentei. ― Mas não tive a intenção de magoá-lo
ao dizer que somos amigos, eu não estava pensando na hora,
eu sou uma idiota.
― Você é uma idiota ― concordou vovó.
― Vovó, era para a senhora estar do meu lado ―
retruquei.
― Ficar do seu lado significa que estou do lado errado,
esse cara parece gostar realmente de você pela forma que a
olhava, então me diz, você teve alguma intenção de magoá-lo?
― Não, mas…
― Se ele amar você vai perdoá-la pela mancada que
deu. ― Ela suspirou. ― Você está apaixonada por ele? Por
que razão se casaria com um homem sem conhecê-lo? E por
que não me contou?
Vovó não sabia que eu amava Shade. De todos, apenas
o Nilan sabia. Esperava que continuasse assim.
― Quando estou com Tay, me sinto alguém no qual
nunca fui antes, me sinto viva, sabe? Como se eu quisesse
gritar e cantar para o mundo que ele é meu marido e que estar
ao lado dele me enche de luz e paz. Sinto vontade de ficar
sempre ao seu lado. ― Limpei meus olhos. ― O que vou fazer
se ele não me perdoar?
― Você teve alguma intenção de magoá-lo? ― repetiu
a pergunta e respondeu antes que eu dissesse algo. ― Não,
então não pense nisso, e pela forma que disse, você o ama,
querida, até pensou em cantar? Você apenas precisa dizer a ele
a verdade.
Desde que minha mãe morreu, eu não cantava mais,
acho que tirou até a minha vontade de me entregar realmente
para vida e deixar acontecer. Mas agora com Tay, a minha
vontade de pegar o violão e deixar minha voz sair e gritar para
todos que conhecia, era imensa. Eu queria realizar meus
sonhos.
Eu queria meu haras, para cuidar dos cavalos, vê-los
galopando por todos os lugares, desenhar projetos e vê-los
sendo concretizados. Mas, o mais importante: eu queria isso
com Tay na minha vida. Realizar tudo isso com ele, ao meu
lado.
― Estou indo ver se o encontro na cidade. Tay me
disse que possui negócios aqui, então… ― minha voz falhou
com medo de ele não querer me desculpar.
― Não precisa temer, se ele realmente gostar de você,
vai aceitar suas desculpas. Se não, depois acabo com ele por
tocar em minha menina.
Eu ri.
― Obrigada, vovó ― sussurrei entrando na cidade. ―
Depois ligo de volta, e não conta aos meus irmãos o que fiz,
porque eles vão ter uma úlcera estourando, principalmente,
Nilan e Gave.
― De qualquer forma, mais cedo ou mais tarde, eles
vão saber de tudo, querida.
Eu suspirei.
― Eu sei, mas quero contar a eles pessoalmente e não
por telefone, e eles estão fazendo show neste momento, não
quero atrapalhar o trabalho deles ― eu disse e depois
perguntei: ― Como acho uma pessoa em uma cidade desse
tamanho? Por que nunca fui a nenhum canto com ele, em todo
esse tempo, nem mesmo procurei saber sobre seus negócios.
Eu sou uma aberração de esposa.
Tay me falou sobre seus hotéis, mas não perguntei o
nome de nenhum deles, como fui tola assim? Devia dar mais
atenção aos seus negócios.
― Você tem esse jeito que amo em você por não se
interessar em dinheiro, mas às vezes, se preocupar ou querer
saber dos negócios do seu marido não faz de você interesseira,
querida ― disse e depois suspirou. ― Ele disse que é dono de
um hotel aqui, então geralmente a maioria coloca o sobrenome
ou algo assim.
Estava andando no centro e vi um hotel luxuoso com o
nome Johnson Hotel.
― Acho que achei vovó, e devo dizer que o lugar é
bem chique, feito só para celebridades ou algo assim. ―
Minha boca estava aberta em choque. ― Acho que ele deve
ter mais dinheiro do que meus irmãos juntos ou empatava.
― Vá lá garota, qualquer coisa, eu estarei aqui para
você ― disse com ferocidade. ― Amo você.
― Eu também, vovó ― respondi e desliguei o carro, e
saí.
Nunca me senti tão nervosa e com medo assim na
minha vida, queria tanto que ele estivesse ali, naquele hotel e
me perdoasse.
O hotel era cercado por vidros de cima a baixo, tudo
gritava luxo, não sei se conseguiria entrar ali, porque com
certeza seria cercado por seguranças.
Fui à recepção do hotel, e vi um casal elegante perto do
balcão, uma morena, de olhos igual a de um lobo, embora sua
pele fosse branca, só seus cabelos que eram negros. O cara ao
seu lado não ficou atrás, um moreno de olhos verdes intenso e
um sorriso sexy ao olhar para a morena linda.
Cheguei à recepção e vi uma loira linda, sentada
olhando o casal também.
― Ele disse que já vai descer ― falou ao casal que se
encontrava ali.
― Tudo bem, obrigada ― falou a mulher morena e foi
se sentar no sofá, que ficava no salão, o cara, acredito ser
marido dela, já que os dois estavam juntos foi com ela.
Eu me aproximei do balcão.
― Oi ― minha voz estava fraca, então pigarreei para
falar um pouco mais alto.
― Pois não? ― disse a loira e piscou. ― Você não é a
irmã dos irmãos da Banda King?
Droga, não queria ser reconhecida ali, mas talvez isso
me ajudasse a conseguir descobrir sobre Taylor e se ele estava
ali.
― Sim ― respondi sorrindo. ― Você é fã deles?
Ela fez uma careta.
― Nem de longe ― respondeu com gosto amargo na
voz.
Eu pisquei.
― Oh, meu Deus, você é alguma de suas namoradas?
― fui incapaz de não perguntar. Embora nenhum deles tivesse
namorada, apenas ficantes, essa mulher não parecia ser alguém
de ficada.
― Namorada? Algum dia, algum deles já namorou? ―
bufou. ― Não sei como o mais velho casou. ― Ela sorriu
baixinho e piscou para mim. ― Eu sei que eles são seus
irmãos, mas jamais ficaria com algum deles, sou mais em
entrar em um convento e me tornar freira, ou então me tornar
lésbica.
Eu ri disso, ri alto. Essa garota era engraçada.
― Gostaria de dizer isso ao Nilan, aposto que não seria
nada bom para seu ego enorme, mas então, como me conhece
como irmã deles? Geralmente quem sabe disso são os fãs
deles, que xeretam tudo ― pensei em algumas ocasiões que
isso aconteceu.
― Minha irmã faz aniversário mês que vem, ela é fã
deles, então estou tentando conseguir com que ela os conheça
pessoalmente em um dos shows, que terão na região, durante o
próximo mês.
― Eu vou conseguir os ingressos para você ― falei a
ela, embora não soubesse como, isso era algo, no qual nunca
pedi aos meus irmãos. Mas acredito que eles me dariam.
― Yup! ― gritou ela batendo palmas ― Ela ficará
feliz com isso.
― Você está aqui para trabalhar e não para conversar
― rosnou uma voz conhecida atrás de mim, e parecia muito
irritada. ― Se não quiser ser demitida, eu sugiro que faça seu
trabalho.
Eu olhei para ele e pisquei ao ver a forma com que ele
falava com a menina. Eu até me esqueci o motivo de estar ali,
porque fiquei com raiva pela grosseria dele.
― Você não pode falar com ela assim ― rosnei com os
punhos cerrados.
Tay arqueou as sobrancelhas para mim.
― Não? Ela é minha funcionária ― destacou Tay. Pelo
visto ele ainda estava com raiva.
― Isso não lhe dá o direito de falar assim com a garota
― rosnei e olhei para ela. ― Se você quiser se demitir ou se
ele o fizer, eu vou pegar você para trabalhar para mim.
― Hummm ― ela pigarreou olhando entre mim e
Taylor ― Só por curiosidade, o que eu faria para você?
Sorri.
― Vou montar um haras e vou precisar de uma
secretária como você, extrovertida e boa no que faz ― fuzilei
Tay. ― Se seu patrão não te dá valor, eu garanto que vou dar.
Ele estreitou os olhos, mas tinha um brilho ali que não
entendi.
― Quando decidiu montar o haras? ― seu tom era
surpreso no final.
― Eu decidi neste momento. ― Pigarreei me sentindo
nervosa.
Eu já sonhava em ter um haras, ele sabia disso, mas
nunca arrecadei dinheiro suficiente para isso, meus irmãos
ajudariam, mas não queria a ajuda deles. Parecia egoísta, mas
eu queria fazer por mim mesma. De fato, não lutei o bastante
para conseguir antes.
Ele piscou.
― Você vai montar um haras, uma coisa que sempre
sonhou, porém que nunca fez, e decidiu fazer hoje, apenas
para dar emprego a minha funcionária e pegá-la de mim? ―
Não sabia se tinha humor em seu tom ou incredulidade.
― Sim ― respondi mexendo nos meus dedos, nervosa.
Notei que sua atenção estava em nossa aliança em
meus dedos. Coloquei as duas ali, era como ficar ao lado dele
e telo por perto mesmo que estivesse longe.
― Como me descobriu aqui? Nesses dois meses, você
nunca se interessou em saber sobre o que faço ou para
conhecer o hotel.
Nesse ponto, ele tinha razão. Eu teria que me redimir e
ser uma esposa melhor —, pensei.
― Na verdade, foi por acaso, estava te caçando, mas a
cidade é imensa para achar alguém, então falando com a vovó,
ela me disse que na maioria das vezes, as pessoas usam o
próprio sobrenome para nomear suas empresas, então passei
nesse hotel e o vi, então entrei. ― Eu divagava, nervosa, e
apontei para a secretária. ― Então entrei aqui e conheci,
hummm… qual seu nome mesmo?
― Brithany Wolf ― ela respondeu.
Tay riu, a risada que eu amava.
― Convidou minha secretária para trabalhar para você
e nem sabe o nome dela? ― criticou.
Eu dei de ombros.
― Ela é legal, e não está afim dos meus irmãos, o que
é um milagre ― respondi. ― Então, não devo me preocupar
que esteja fingindo ser minha amiga para tentar fisgar um
deles.
― Oh, meu Deus! Isso já aconteceu? ― indagou
Brithany e olhou para o Tay. ― Desculpe.
― Um par de vezes, mas eles têm regras, que incluem
não ficar com minhas amigas, então elas caíram do cavalo e
foram embora depois que souberam que não iam conseguir
nada. ― Dei de ombros fingindo que isso não havia me
machucado na época.
Ele me puxou um pouco para longe do balcão, acredito
que para conversarmos em particular. Senti seus dedos no meu
queixo e ele levantou para meus olhos colidirem com os dele.
Estavam ternos e puros, e também tinha algo que não consegui
identificar.
― Por que veio me procurar? ― Seu hálito quente
banhou meu rosto.
― Eu queria me desculpar, não queria dizer aquilo
daquela forma. Só pensei em dizer a todos primeiro, afinal de
contas, eles são meus amigos… ― sussurrei com os olhos
úmidos.
― O cara…
― Rick? Somos amigos desde crianças… ― comecei
mais ele me cortou como se tivesse gosto amargo na boca.
― Ele quer entrar em suas calças e gosta de você, mas
não como amigo. ― disse azedo.
― Eu gosto dele como um irmão. ― Mordi os lábios.
― Lamento pelo que disse.
Ele me abraçou beijando minha cabeça. Escorei meu
rosto em seu peito e o apertei forte sentindo seu cheiro, que
tanto amava. Aqui nos seus braços me senti confortada e
ansiando por mais desse homem.
― Não quero sentir de novo o que senti quando foi
embora ― sussurrei.
Seus braços se estreitaram em minha cintura.
― O que sentiu? ― sua voz parecia rouca.
― Como se meu coração tivesse partindo ao meio e
um medo, no qual nunca senti antes… ― minha voz falhou no
final.
Ele se afastou, então temi que fosse me afastar dele
para sempre. Mas ele estava sorrindo e levantou sua mão
direita.
― Acho que você está com algo que é meu ― falou
ainda sorrindo. ― Eu quero de volta, agora juro que por mais
que briguemos não vamos tirar de nossos dedos, por motivo
nenhum.
Eu sorri, agora com meu coração batendo normal de
novo. Eu peguei o seu anel, que ficou meio frouxo no meu
dedo e coloquei em sua mão estendida.
― Sim, eu prometo. ― Joguei meus braços em seu
pescoço e o beijei me esquecendo do lugar e de todos a minha
volta.
― Será que vou ter que encomendar seu caixão quando
os irmãos dela descobrirem que vocês se casaram em Vegas?
― sondou uma voz divertida perto de nós.
Foi onde fui trazida para o hotel. Parei de beijar Tay e
olhei para o casal, que estava ali desde quando cheguei. Eles
se aproximavam de nós dois.
― Não seja estraga prazeres ― disse a mulher dando
um tapinha em seu peito de leve. ― Estou mais do que feliz
por ele ter se apaixonado e casado.
Tay sorriu para a mulher com doçura.
― Obrigado, Sam. Esses são meus amigos, Samantha e
Lucky Donovan, ― disse e depois a eles ― Essa é Laurel,
vocês já devem saber quem é já que conhecem os irmãos dela.
― Na verdade, eu não sei quem são eles… ―
começou Sam, mas se interrompeu ― Espera, esses da banda
King, são os mesmos que conheci na boate do Alex? ― Ela
olhou para Lucky.
O cara era lindo, mas tinha um rosto um tanto sombrio
às vezes, e notei que ele não gostava dos meus irmãos, fiquei
curiosa para saber o porquê.
― Sim, eles mesmo ― grunhiu.
― Posso saber o que eles fizeram para não gostar
deles? ― sondei.
Lucky olhou para mim.
― Na verdade, eles são legais, é só que…
― Quando conheci Lucky e achei que ele não me
amava e tinha brincado comigo, eu fui ao clube, foi quando vi
seus irmãos, bom os vi de longe, então Lucky soube que os
achei bonitos e ficou bravo. ― Sam sorriu e beijou a face de
seu marido. ― Mas ele sabe que o amo com toda minha alma.
Isso pareceu aliviar a cara sombria do homem, porque
ele parecia querer matar alguém, dei graças a Deus que meus
irmãos não estavam ali.
― Vamos almoçar, ou não? ― falou ele abraçando a
mulher de lado e olhou para mim. ― Você vai se juntar a nós?
Olhei a forma como eles estavam vestidos, todos
elegantes, e eu com meu jeans velho e botas. Não me parecia
nada chique.
― Eu acho que não estou vestida apropriadamente
para a ocasião ― falei e olhei para o Tay, que franzia a testa.
― Pode ir almoçar com seus amigos, mas depois você pode ir
lá em casa?
― Não precisa trocar de roupa, você está linda ― disse
com um sorriso. ― Mas se quiser trocar de roupas e ir
conosco, tem uma loja aqui no hotel, vamos lá comprar
alguma coisa para você, acho melhor, porque andar vestida
assim, eu sou capaz de parar na cadeia.
― Assim como? ― Olhei para mim e depois para ele.
― Deixa para lá, vamos? ― ele me puxou antes que eu
respondesse.
Olhei uma última vez para Brithany.
― Ligo para você depois ― anunciei falando um
pouco alto já que ela estava um pouco longe de onde Tay e eu
estávamos.
Capítulo onze
Laurel
Na loja, Tay queria entrar comigo, mas fui com a Sam,
pois com outra mulher seria mais fácil para escolher roupas,
porque nunca liguei para vestidos elegantes, sempre gostei do
habitual.
Eu também queria deixar o Tay de queixo caído na
hora em que saísse dali.
Devo dizer que tive medo de ele não me querer depois
da nossa discussão, mas me enganei e, agora estávamos juntos
de novo, e jantaria com ele e com seus amigos.
Sam era uma mulher legal, ela era psicóloga infantil, e
parecia amar o que faz. Sua alegria era contagiante quando
falava de seu trabalho.
Ela era mãe da Beatriz e do Shaw, um garotinho, no
qual adotou.
― Um gesto nobre, devo dizer ― comentei quando
estávamos nas araras de vestidos.
― Ele é uma criança que amei desde o início, sabe? ―
Tinha muito amor ali em sua voz. ― Agora tenho a Bia, a
minha bonequinha linda.
― Onde ela está?
― Com Angelina, a mulher de Ryan, irmão do Lucky
― ela respondeu. ― Não gosto de ficar longe dela, mas
viagens longas cansam, e Lucky tinha uma reunião aqui, no
qual precisava de mim.
Eu assenti vendo um vestido prata, no estilo tomara
que caia. Ele batia no meio das coxas. No meio dos seios era
amarrotado como duas conchas. Lindo, o bom é que
combinaria com minhas botas. Embora um vestido desse, daria
certo com sapatos de salto.
― Não tire suas botas ― Tay disse, antes de eu entrar
na loja.
― Ficará lindo em você, com salto alto ― disse Sam,
enquanto analisava o vestido também e apontava para um
sapato do outro lado da loja.
― Tay me disse para manter as botas ― sussurrei
corando por obedecê-lo, mas em seu tom quente, ele me dizia
que íamos aproveitar depois.
Ela sorriu.
― Oh, eu ouvi, o fogo crepitava entre vocês dois de
longe, nunca imaginei que ele fosse tão intenso assim ― ela
parecia falar consigo mesma no final.
― Ele é intenso ― pensei nas noites em que tivemos e
cada uma havia sido melhor do que a outra. Acredito que por
isso me apaixonei perdidamente.
― Estou vendo. ― Sorriu de lado para mim e apontou
para o vestido. ― Veste ele.
Eu assenti e fui ao provador. Tirei minhas roupas
quando sua mão surgiu com um conjunto de lingerie branca e
de renda.
― Fique com esse, acredito que seja seu número. Sei
que depois disso, haverá fogos de artifício pela forma em que
se olhavam no salão. ― Senti um riso na sua voz.
Eu os peguei e vesti aquelas peças sexy; o sutiã era
tomara que caia também. Coloquei o vestido, que coube
perfeitamente em meu corpo. Soltei meus cabelos anelados
sobre os ombros e me olhei de corpo inteiro. Gostei, acho que
teria uma boa foda com Tay hoje, só de pensar nisso minhas
entranhas se apertavam com desejo.
― Mulher, você está um maldito avião ― comentou
Sam assim que eu saí.
Eu sorri.
― Obrigada ― agradeci e suspirei, e sondei assim que
estávamos pagando pela roupa ― Pode me dizer uma coisa?
― Claro ― respondeu ela.
― Você ia ficar com algum dos meus irmãos? Qual
deles? Porque seu marido parecia com raiva, e não parecia ser
só por você os achá-lo bonitos.
Ela riu.
― Como disse antes, soube que Lucky tinha se casado,
então imaginei que estava em outra e, eu precisava tirá-lo de
dentro de mim. Foi quando fui à boate de um amigo meu, foi
lá que vi Nilan e Gave, pelo menos foi assim que Lucky os
chamou depois que soube que eu os achei bonitos. ― Ela me
olhou de lado. ― Alex disse que eles só fazem em ménage,
uma coisa interessante, mas não é minha praia.
― A minha também não, não gosto de dividir nada,
ainda mais um homem.
― Sim, eu também, mas fui lá nesse intuito de
esquecer, então fui para um amigo dele. Na hora, eu não sabia
que os dois eram amigos. Só depois, quando Jason Falcon me
disse, e Lucky chegou e, em seguida, me levou embora. Mas
no fundo, eu não ficaria com ninguém, porque somente Lucky
me importa dessa forma.
― Jason Falcon? Já assisti algumas lutas dele, mas
soube que ele se aposentou e agora é um treinador. ―
comentei. ― Ele é lindo, embora meus irmãos também. Só são
mulherengos.
Ela arqueou as sobrancelhas.
― A maioria dos caras é assim, antes de se apaixonar.
― Ela sorriu. ― Talvez um dia, eles consertam, não é?
― Tay não é assim. Ele disse que teve poucas
mulheres, e não um milhão como meus irmãos. ― Suspirei
indo pegar meu cartão.
― Ele disse isso? ― sua voz tinha um tom que não
entendi.
Eu olhei para ela.
― Sim, por quê?
Ela sacudiu a cabeça.
― Nada, vamos pagar isso e ir embora, eles devem
estar impacientes ― disse, mas seu tom parecia enraivecido.
― A roupa é por conta da casa ― respondeu a mulher
da loja antes que eu perguntasse o motivo da reação de Sam,
que estava séria.
Eu pisquei olhando para a mulher.
― O quê?
― Essa loja pertence ao senhor Johnson, ele disse que
tudo que você quiser, será seu ― respondeu ela. ― E já que
são casados, tudo que é dele, também é seu.
Eu não sabia o que dizer, uma parte de mim estava
feliz por ele dizer que eu era mulher dele, mas tinha uma
coisa, no qual não pensei antes: nós havíamos casado, com
comunhão de bens.
― Meu Deus! ― Coloquei minha mão no rosto. ―
Nem notei que casamos com comunhão de bens. Por que não
mudei isso antes?
― Esses caras são feras em nos enganar assim ― disse
Sam com um sorriso. ― Casei em Vegas com Lucky e pedi
sem comunhão de bens, mas na hora, ele trapaceou me
beijando e, eu não li o contrato de casamento. Eu fui saber
disso depois.
Parecia que tinha um saco em minha cabeça me
sufocando. Nunca pensei nisso, mas vendo o que ele tinha,
será que ele pensava que eu queria o dinheiro dele?
Chegamos ao lugar em que eles estavam nos
esperando, na frente da loja. Eles estavam sentados em uma
lanchonete que tinha ali.
Cheguei até Jordan e soltei.
― Vamos nos separar ― informei a ele, que estava
bebendo um café e se engasgou, e olhou para mim com cenho
franzido.
― Repete?
― A mulher da loja disse que tudo o que é seu,
também é meu, então pensei, será que nós dois nos casamos
com comunhão de bens? Não li o papel ― minha voz estava
irritada comigo mesma.
Algo cintilou em seus olhos, mas foi tão breve que foi
impossível identificar.
― Sim, mas o que tem isso?
― O que tem isso? ― minha voz se elevou. ― Oh,
meu Deus! Todos vão achar que quero seu dinheiro, uma
caipira dona de fazenda, casada com um cara que é dono disso.
― Apontei ao hotel, que mais parecia um shopping. ―
Merda! Vamos nos divorciar, eu assino aqueles papéis,
dizendo que não quero seu dinheiro, nada dele, e podemos nos
casar de novo, mas sem comunhão de bens, o que acha?
Ele piscou parecendo chocado por eu propor isso a ele.
― O que eu acho? ― sua voz saiu aguda.
― Sim, isso facilita as coisas, não é? ― minha voz era
urgente. ― Podemos ir a Vegas, e casar de novo.
Ele sacudiu a cabeça como se fosse para clarear sua
mente.
― Me deixa ver se entendi. Você quer assinar um
papel, que diz que não quer nada meu, depois disso, nos
divorciamos para em seguida casar de novo, porém sem
comunhão de bens.
― Sim, não precisava repetir, mas dizer que aceita. ―
Eu mexia minhas mãos, nervosa.
― Não aceito ― respondeu.
Eu arfei.
― Mas, por quê? Sabe o que todos vão dizer quando
souberem que estamos casados? ― tentei persuadi-lo.
― Sim, vão dizer que tive uma puta sorte por estar
casado com você. ― Ele pegou minha mão. ― Querida, você
também tem bens.
― Eu só tenho a fazenda e não isso… ― gesticulei ao
redor. ― Aposto que você tem mais do que hotéis em Dallas.
― Sim, tenho vários em outros estados também, e
pretendo ter mais. ― Seus dedos alisavam minha mão no
intuito de me acalmar. ― Você também tem muitos bens, uma
casa no Havaí e em Veneza, uma em Los Angeles, perto da
Disneylândia. Um apartamento em frente à Torre Eiffel.
Eu estava ofegante com os olhos arregalados com isso.
― Oh, Deus, você não…
― Eu? Não, foram seus irmãos, devo dizer que são
generosos em relação a você.
― Oh, senhor! ― meus olhos estavam molhados. ―
Nilan sabia que meu sonho era casar em Veneza e passar a lua
de mel lá.
― Aposto que ele não ficou alegre com a parte da lua
de mel ― ele comentou sorrindo.
Eu sorri também.
― Na verdade não, ele disse que não queria pensar em
alguém me tocando, porque ele seria capaz de me deixar viúva
antes da hora. Mas mesmo assim, ele comprou uma casa lá.
― Quem deu a casa do Havaí?
― Nilan também, ele sabia que eu sonhava em ter uma
casa lá, pois é um paraíso, tão vivo. Eu assisti muito hawaii
five-0. Amo esse programa, cada paisagem linda ― meu tom
era chocado. ― A casa de Los Angeles foi o Gave, teve uma
vez que eu assistia a Disney e comentei que um dia queria uma
casa lá perto, onde eu pudesse levar meus filhos nas férias.
Não achei que ele fosse fazer isso para mim, achei que nunca
ia realizar esse sonho.
― Eu vou agradecê-lo depois que tivermos os nossos
filhos e levá-los lá. ― Sorriu para mim.
Eu arregalei os olhos.
― Você quer ter filhos? Porque me lembro de você
dizendo que seria mais para frente.
― Claro que sim, assim que contarmos aos seus
irmãos que estamos casados, e irmos a nossa lua de mel, em
Veneza. ― seu tom era divertido. ― Talvez daqui uns três
anos ou quatro, prefiro desfrutar você todo esse tempo só para
mim.
Eu não imaginei que ele já estaria fazendo planos para
nós no futuro, ainda mais para ter filhos. Eu queria filhos sim,
ainda mais parecidos com Tay, loiro de olhos azuis brilhantes.
Seria a coisa mais linda do mundo.
― E a casa de Paris, quem deu?
― Shade, li sobre Jane Austen, e amava Paris, tudo
romântico, uma vez disse à vovó que queria ter um
apartamento lá para ir com meu marido, e passear por todos os
lugares. Ele estava perto, deve ser por isso que comprou.
― Aposto que queria passear com ele ― seu tom foi
um resmungo.
― Ei… ― toquei seu rosto. Foi quando percebi que
estávamos sozinhos na mesa. ― Não posso mudar o passado e
nem tirar o que pensei na época, mas o que sei agora é que
quero você, e hoje, eu tive medo que não me quisesse mais…
Ele me beijou, me interrompendo, sua boca estava
faminta sobre a minha.
― Isso não vai acontecer ― respondeu nos meus
lábios. ― Sua prisão comigo é irrevogável, jamais deixarei
você ir. Eu apenas estava te dando um tempo.
― Eu sou ruim com tempo, logo já penso o pior ―
comentei.
Ele sorriu e se levantou com os braços a minha volta.
― Vou me lembrar disso ― respondeu. ― Agora
vamos comer, porque depois quero a tarde inteira com você,
onde desfrutarei de cada momento.
Fomos para o restaurante de frente a esse hotel. Eu já
tinha estado ali com meus irmãos, quando eles estavam na
cidade, embora gostasse de coisas simples, como uma carne
assada e galinhada, mas não disse nada, apenas desfrutei do
momento.
Meu chilique com seu dinheiro havia passado, uma:
porque ele não pensava que eu era interesseira, e outra, com
tudo que meus irmãos compraram para mim, eu não me sentia
tão inferior perto do dinheiro do Tay.
Frisei em mente, que quando meus irmãos chegassem à
cidade, eu brigaria com os três, por me comprarem algo que
nem sabia que eram meus. Se não fosse por Tay me dizer, eu
jamais saberia. Isso me lembrou de uma coisa.
Eu olhei para ele, sentado ao meu lado na mesa. Lucky
e Sam estavam do outro lado.
― Como sabia sobre as coisas que meus irmãos me
deram, sendo que nenhum deles me disse nada? ― perguntei.
Ele deu ombros enquanto chamava o garçom.
― Eu fiz uma pesquisa sobre você ― disse Lucky. ―
Assim que soube que ele estava namorando você.
Eu pisquei e o olhei de olhos arregalados.
― Por que isso importaria a você? Por acaso achou
que eu fosse interesseira? ― Tentei esconder a raiva, mas Sam
não escondeu a dela.
― Não acredito que fez algo assim, Lucky ― seu tom
era descrente.
Ele suspirou.
― Não fiz isso por pensar que ela fosse uma golpista
ou algo assim, conheço Shade e seus irmãos, sei o quanto
faturam por show, fora as propagandas, mas não os investiguei
também ― falou assim que arregalei os olhos. ― Sou amigo
do agente deles, que é dono do Studio Musyc, e ele comentou
o cachê deles. Uma quantia exorbitante. Então pensei, se eles
ganham tanto dinheiro assim, por que deixam você enfurnada
numa fazenda? Achei que eles estavam se divertindo por aí e
não pensavam em você.
― Então você pensou que pelo fato de eu viver em
uma fazenda, meus irmãos não tomavam conta de mim? ―
meu tom era descrente.
― Sim, mas ainda bem que me enganei, pois isso me
impede de quebrar a cara deles quando os vir ― comentou e
depois olhou para sua esposa. ― Sinto muito rosa vermelha.
Eu notei que ele se desculpou com ela e não comigo, já
que estavam falando dos meus irmãos. Eu achei que ele não
parecia ser gentil a esse ponto com outras pessoas, mas com
sua mulher sim.
― Eles querem que eu viaje o mundo, que conheça
lugares e tudo mais, ao invés de ficar na fazenda. ― Eu
suspirei. ― Minha mãe morou lá, acho que foi uma forma que
descobri, ou de pensar, que isso me deixava mais perto dela.
Apesar de eu ter sonhos, um deles é fazer o haras, e uma
imensa pousada com vista para a cachoeira, que tem na
fazenda. Por isso, eu nunca quis vendê-la, ali é o lugar perfeito
para fazer o haras e a pousada ― Eu disse. ― Estava
pensando em obter algum empréstimo ou coisa assim no
próximo ano.
― E seus irmãos? ― Lucky arqueou as sobrancelhas
para mim.
― Eu quero fazer por mim mesma…
― Mas ninguém começa do zero, sempre tem uma
porta que pode ajudar ― disse Lucky. ― Quando montei o
meu primeiro negócio, foi meu pai que me emprestou, ele
daria, mas eu fiz questão de pagá-lo depois, isso faz a gente
dar mais valor no nosso trabalho.
Eu pisquei com isso, não tinha pensado na ideia de
pedir aos meus irmãos, até fui ao banco uma vez, mas como
não tinha renda, além da fazenda para dar garantia, fiquei com
medo. Mas talvez meus irmãos pudessem me emprestar e, eu
pagaria assim como Lucky fez com seu pai.
― Você pode estar certo, obrigada, vou falar com eles
essa noite, porque quando falar que me casei em Vegas, eles
vão surtar. ― sorri para os três na mesa. ― A única que amou
a notícia foi a vovó. Ela adora isso, sempre foi doida para nos
ver casados, meus irmãos principalmente, acho que ela terá
que rezar muito.
― Shade se casou ― observou Lucky. ― Isso ainda a
incomoda?
― Lucky, isso não é da sua conta ― rosnou Sam. ―
Só diz respeito aos dois.
― Eu concordo ― sibilou Tay o fuzilando. ― Você
verificou a vida dela, o que não deveria ter feito, agora só se
afasta cara, estou falando sério, fica fora disso.
Eu estreitei os olhos, avaliando Lucky e vi que ele
parecia preocupado com o amigo dele, essa parecia sua forma
torta de ajeitar as coisas.
Eu estava perto de responder que não gostava mais de
Shade, não assim, somente Tay me importava dessa forma e
além. Mas a garçonete chegou e fiquei rígida no lugar.
Raquel me lançou um sorriso de galinha. E sabia que
ali vinha coisa.
― Laurel? Faz tempo que não a vejo aqui ― disse ela.
― Cadê o Shade? Soube do casamento dele com a cantora
Melissa.
― Sim, eles se casaram há dois meses ― respondi com
tom leve não aceitando suas provocações.
― Eu achei que você estaria em sua fazenda, chorando
junto com suas vacas por um cara que nunca quis você ―
falou ela. ― Eu e Priscila pretendíamos ir lá nessa semana
para oferecer apoio a você.
Eu estreitei meus olhos e fiquei com raiva, porque sua
pergunta deixou Tay tenso, ainda podia ver que a pergunta de
Lucky estava mexendo com ele e agora vinha essa cadela
depravada para dizer que era para eu estar chorando pelo cara,
no qual um dia gostei.
― Eu não crio vacas, e sim cavalos de raças. Na
verdade, eu estou ótima e não estou chorando pelo Shade, só
desejo que ele seja feliz ― eu disse. ― Talvez, eu tenha tido
uma paixonite por ele, mas amar de verdade, só amei e amo
um único homem, e ele está aqui do meu lado, o meu marido
lindo, sexy e gostoso. ― Sorri para ele.
Tay enfiou uma mão em meu cabelo e me puxou para
ele, com os olhos pregados nos meus e abrasadores.
― Repete? ― sua voz estava ansiosa.
― Eu disse que amo você, e só tem espaço para você
em meu coração e mais ninguém ― declarei com fervor, mas
antes que eu terminasse de falar, ele estava me beijando com
amor, doçura, mas também com fome parecendo se esquecer
de onde estávamos.
Ele se afastou e expirou, e fuzilou a Raquel ainda que
estava atônita.
― Você está aqui para trabalhar e não para fofocar
sobre a vida dos outros nem para causar intrigas. Se não está
interessada em trabalhar, devia ir embora, ― rosnou ele. ―
Agora leve seu traseiro daqui e traga nossos pedidos, o
especial da casa. Antes que faça uma reclamação com Cristian,
eu garanto que ele não vai gostar nada de que sua funcionária
venha infernizar a minha esposa.
Ela saiu, ainda chocada com o que ouviu dele, não
liguei por ele ter sido rude, porque essa cobra peçonhenta
merecia isso.
Eu sussurrei em seu ouvido.
― Se estivéssemos sozinhos, você já estaria todo nu e,
eu agradeceria a você por me ajudar de uma forma
extremamente quente. ― Eu me afastei assim que ele gemeu.
― Você é uma trapaceira, caipira.
Sorri e olhei para o sorriso de Lucky.
― Acho que você teve sua resposta.
― Sim, eu tive ― comentou.
O almoço foi legal, após o episódio da cadela. Lucky e
Tay comentaram de negócios, enquanto Sam e eu falávamos
sobre o meu projeto.
Capítulo doze
Taylor
Eu só tinha uma coisa em mente depois de ouvir que
ela me amava, porque há muito tempo estava esperando por
isso. Devo dizer que gostei de termos nos desentendido, pois
só assim ela descobriu que me amava.
Meu peito parecia estar mais do que aliviado ao
descobrir, estava com medo de não ser a resposta que eu
queria, por isso não queria o Lucky insistindo no assunto.
Porra, o cara já fez muito vasculhando a vida dela, e ainda
sondando se ela me amava. Eu sei que ele se preocupava
comigo, mas ele exagerou.
O bom foi que Law não se zangou, só vi que ela ficou
um pouco irritada, mas se controlou, acredito que ela também
notou que ele queria me proteger, Lucky tinha isso nele.
Mas devo dizer que sabia o motivo de ela ficar na
fazenda, notei isso assim que a vi falando da sua mãe e do
lugar em que morava. Aposto que seus irmãos não notaram
isso, nenhum deles, ou não teriam me pedido para convencê-la
a vender a fazenda.
Estava louca para possuí-la de todas as formas
possíveis, e amá-la do modo que eu desejava tanto, desde que
saí cedo.
Ela veio na frente com seu carro e, eu com o meu logo
atrás dela.
Lucky e Sam ficaram no Hotel. Law os convidou para
virem ali no outro dia, ou melhor, hoje, eu que sugeri que eles
viessem no outro dia, pois hoje eu passaria a maior parte do
tempo com ela no quarto.
Porra! Estava louco para esse momento chegar, estava
parecendo um adolescente quicando no carro. Quando meu
telefone tocou, pensei em deixar ir para a caixa de mensagem,
mas conhecia esse toque.
Eu não me dava bem com meu pai, isso acontecia antes
da mamãe morrer, depois disso, ele se lançou em bebidas e
mulheres, teve uma época que houve drogas, mas o coloquei
na reabilitação e as coisas melhoraram. Isso fazia três anos, até
então, não teve recaída.
Eu nunca namorei, mas fiquei com algumas garotas,
que ficaram comigo para chegar até ele. O pior é que ele
pegava todas elas, embora não ligasse para isso, só não
tolerava que ele bebesse, porque já sofreu dois acidentes, ainda
bem que saiu ileso e também não feriu ninguém.
― O que você quer, papai? ― falei assim que apertei o
botão do painel para responder no viva voz. ― Estou meio
ocupado.
― Notei isso. Com uma mulher exuberante com botas
de cowboy, não é? ― pela forma que ele falava parecia estar
bêbado. ― Ela é sexy pra caralho.
Eu pisei no freio sem querer, e meu corpo foi lançado
para frente.
― Porra, o que você disse?
― Você se casou em Vegas e nem para convidar seu
pai, você é um ingrato igual sua mãe quando foi embora ―
sussurrou ele.
― Mamãe morreu papai, você deveria aceitar isso,
agora me diz como soube que me casei? ― perguntei com os
dentes trincados. ― Não chame minha mulher de sexy, ela não
é como as putas que gostam de você pela fama.
― Calma, só estou dizendo que quando os irmãos dela
souberem, eles vão acabar com você ― disse. ― Você vai
levar uma surra por um rabo de saia?
Eu expirei, porque não ia discutir quando ele estava
bêbado, ainda mais por telefone.
― Como descobriu?
― Está em todos os jornais, televisão e revista, não
falam em outra coisa…
― Porra! ― rosnei chegando na fazenda. Parei o carro
na entrada. ― Maldição! Quem vazou isso?
― Eu não sei, mas não se fala em outra coisa, só no
casamento do playboy mais cobiçado dos Estados Unidos. Eu
não sabia que você era tão cobiçado assim. ― ele riu. ― Você
é meu filho.
Eu suspirei e ouvi uma buzina.
― Onde você está? ― perguntei preocupado.
― Indo para o carro para voltar para casa, fiz um show
na noite passada, agora estou morto. ― Ele pareceu suspirar.
― Acho que estou ficando velho.
― Você é velho ― falei. ― Cadê o Brad? Ele dirige
quando você bebe, onde ele está?
― Ele está do meu lado, sabe que posso dirigir e você
não precisa ficar tão preocupado, não sei o motivo de tanta
histeria.
― Além de você se matar? Ou matar um inocente?
Você não quer isso e, eu também não, então deixe Brad dirigir.
― Passei as mãos nos cabelos. ― Agora tenho que ir.
― Se os irmãos da garota o deixarem vivo, traga essa
garota para me apresentar.
Nem fodendo, pensei. Desliguei e fui para casa, onde
Law estava na varanda, me esperando com um sorriso lindo
estampando seu rosto.
Como será que ela vai reagir depois de descobrir tudo
o que não disse a ela? Quem sou realmente, filho de um cantor
famoso, com isso eu sei que ela pode lidar, o pior será
descobrir sobre as mulheres que tive na minha vida, e não
foram poucas, como disse a ela.
Eu liguei para o Lucky.
― Acabou de vazar na íntegra sobre mim, você viu?
― perguntei com tom irritado.
― Sim, estava cercado de paparazzi lá, já que um dos
garotos do rock se casou, se você queria a coisa bem
escondida deveria ter tomado mais cuidado ― respondeu ele.
― Ou me chamado, pois eu o ajudaria. Mas falando sério,
conta tudo, essa garota ama você, ela vai entender tudo, fique
tranquilo.
― Preciso de mais tempo com ela antes de contar ―
falei um pouco nervoso. ― Preciso ir para algum lugar
afastado com ela, tipo uma maldita ilha onde não tenha celular
e nem ninguém que me conheça ou a ela.
― Sério Jordan, não é para tanto ― ele riu. ― Vai dar
certo.
― Conta tudo você mesmo, porque vai ser pior se ela
descobrir pela boca dos outros ― disse Sam. ― Lembra
quando não contei sobre mim e Bryan? A forma que Lucky
descobriu nos machucou muito. Ela vai ficar com raiva sim,
mas depois vai ver a razão, afinal você não ficou com ninguém
depois dela.
Sam se referia a ela não contando que era irmã de
Bryan, e Lucky pensou que os dois fossem amantes.
Os bastardos dos seus pais morreram pelas mãos de um
assassino frio, buscando vingança por Bryan estar casado com
Alexia. Stiven era um fodido doente mental, que prendeu
Alexia e a violentou na sua adolescência, e depois voltou
buscando vingança, então matou o pai de Bryan, que estava na
cadeia, e também a cadela da mãe da Sam.
― Sim ― respondi. ― Eu vou dizer a ela essa noite,
antes de irmos para cama. Lucky só impeça de os paparazzi
entrarem ou virem à fazenda, até amanhã.
― Sim cara, eu farei isso ― respondeu ele e desligou.
Eu cheguei na varanda e a puxei para os meus braços
devorando sua boca, que amava. Não podia perder isso, não
mesmo. Precisava fazê-la entender que seríamos felizes e que
não havia ninguém que a amaria mais do que eu.
Eu peguei-a pela cintura enquanto ela colocava as
pernas a minha volta e a levei para dentro da casa, seguindo
para o quarto. Eu a escorei na porta e rasguei sua calcinha, e
abaixei minha calça e soquei fundo nela fazendo-a gritar e
apertar minhas costas com suas mãos.
― Me fode mais forte ― pediu levantando o rosto para
cima, a cabeça escorada na porta e olhos fechados, mas com
sua boca aberta e gemendo.
Eu a penetrei com mais força e puxei seu vestido para
baixo expondo seus seios fartos e coloquei um em minha boca,
lambendo-o mais forte enquanto acelerava mais as minhas
estocadas.
― Tay, eu…
Eu grunhi sentindo sua boceta espremer meu pau com
sua necessidade, eu sabia que ela estava perto, então
mordisquei seu mamilo e puxei com mais força trazendo-a
para borda assim como eu estava.
― Isso, goza para mim, minha caipira ― grasnei e a vi
se desmanchar em minhas mãos, nunca vi nada mais lindo na
minha vida.
Eu a segui logo atrás e escondi meu rosto em seu
pescoço, seu cheiro de lavanda, que se tornou minha essência.
Não podia perder isso, não podia ficar longe dela de maneira
alguma.
― Nossa! Isso foi maravilhoso, apesar de você ter
estragado a lingerie nova, no qual estava pronta para estrear
com você ― comentou ela rindo e beijando meu pescoço. ―
Mas amei mesmo assim.
Eu afastei meu rosto e a olhei, e depois para o pedaço
de pano no chão.
― Eu devia dizer que sinto muito, mas isso não é
verdade. ― falei e, a coloquei sentada na cama.
― Você está bem? Parece nervoso desde o telefonema
que recebeu, quem era? ― sondou tirando o vestido e foi para
o banheiro.
Olhei para a janela lá fora pensando que a qualquer
hora algum repórter apareceria e ela descobriria realmente
quem eu era.
― Pode me dizer ― falou ela com os braços em minha
cintura me abraçando por trás. ― Sempre vou estar do seu
lado.
Eu queria poder acreditar em suas palavras, mas temia
pelo pior, assim que eu contasse tudo. Sabe quando temos algo
único e tememos perder? É assim que estava me sentindo.
Com medo.
― Jura? Porque fiz uma coisa e não sei se você vai ser
capaz de me perdoar, pois menti para você ― eu disse. ― Eu
espero fervorosamente que me perdoe.
Seus braços sumiram da minha cintura levando seu
calor consigo e me deixando vazio.
― Mentiu? ― ouvi a dor e o medo na sua voz. ― O
que fez?
Doía fundo em meu peito ver a dor e o medo em seu
rosto e na sua voz. Saber que fui o causador disso me matava.
Eu suspirei e fitei seus olhos.
― Eu conheci você no aniversário de Shade, em Los
Angeles, como já comentei antes, bom, eu já tinha visto você
algumas vezes antes disso, nunca tinha conhecido uma mulher
desse jeito sabe? Você não se importava em se vestir na moda
ou ligar para opinião dos outros. ― Passei as mãos nos
cabelos.
― Não me lembro de você… ― sua voz era só um
sussurro ― Eu queria.
― Você estava muito bêbada para isso, conversamos e
você contou sobre o haras, sobre o sonho de ser arquiteta, e
também sobre sua paixão por Shade. Depois nos beijamos,
então você disse que era seu primeiro beijo ― expirei ― Não
sabe a alegria que senti por ser o primeiro.
Ela engoliu em seco.
― O que houve depois?
― Eu vim para Dallas depois disso, já tinha hotéis
aqui, mas estava querendo mais para fazer uma imensa rede de
hotéis. Eu tinha perguntado ao Shade antes de conhecê-la, se
você venderia a fazenda, ele disse que não, mas que queria que
você vendesse. ― Olhei para ela, que estava de olhos
arregalados. ― Eu fui ao casamento, porque não queria deixá-
la sozinha como disse antes, mas o Shade me pediu para me
aproximar de você e convencê-la a vender suas terras.
― Oh, meu Deus! ― gritou ela, chorando com a mão
na boca. ― Você ficou do meu lado e me fez te amar para
conseguir minha fazenda? E Shade pediu que me lavasse para
cama para conseguir…
Eu pisquei.
― Claro que não! Eu falei que Shade me pediu para
convencê-la a vender, mas não liguei para isso, porque já
estava vindo ficar com você de qualquer forma… E quanto a
fazenda, alguma vez me ouviu pedindo para você vendê-la?
Ela sacudiu a cabeça.
― Não, mas isso deve estar em seus planos, já que me
fez casar com você com comunhão de bens, porque agora ela
também é sua ― sua voz estava sem vida. ― Eu não acredito
nisso, como fui idiota.
― Você não é idiota, e não me casei com você
querendo nada seu, eu quero que você transforme essa fazenda
em um haras como era seu sonho, e não em um projeto que eu
tinha antes de conhecê-la, posso conseguir outro lugar, mas
esse é único para você ― falei a ela. ― Um sonho que precisa
realizar mesmo não me querendo ao seu lado…
― Então é isso, você solta essa bomba em cima de
mim e depois vai embora? ― gritou. ― Você é um tremendo
filho da puta. Você disse que nunca ia me deixar, você falou na
música que tocou naquela noite.
― Eu não vou embora, mesmo se me pedir, mas isso
não é tudo…
Ela riu amarga.
― Oh, meu Deus! O que tem mais para contar? Que
Shade te pagou para ficar comigo?
Eu recuei como se ela tivesse me dado um tapa.
― Porra! Você acha que eu seria capaz disso? Posso
ser um merda e não ter dito algumas coisas, mas quis estar
com você em cada segundo, gostei de você à primeira vista.
― Jeito bem estranho de demonstrar isso, ainda mais
mentindo para mim ― ela disse amarga. ― O que tem mais?
Vamos acabar com isso.
― Conhece o James Johnson? Cantor da banda Clave?
― Fiquei rodando minha aliança.
Ela piscou.
― Ouvi falar, o que tem ele? ― ela parecia confusa
com minha pergunta.
― Eu sou filho dele.
Ela estreitou os olhos.
― E? Por que o fato de você ser filho de um cantor de
rock é motivo para estar mentindo para mim? Nós nem
conversamos sobre seus pais ainda. Definitivamente, eu sou
uma esposa terrível. ― a amargura estava na sua voz.
Isso ia ser mais difícil do que eu pensava de fato, mas
estava disposto a tolerar e dar seu tempo como Sam disse, mas
não estava desistindo dela, isso não era uma opção de modo
algum.
― Eu menti sobre ter ficado com poucas mulheres, a
minha vida antes de conhecê-la era regada a festas e sexo…
tudo isso mudou a partir do momento em que a vi, e a quis
para mim.
Ela não parecia estar ouvindo.
― Você está dizendo que é igual a meus irmãos? Vive
com mulherada? Fodia tudo o que se movia?
― Vivia, não faço mais isso depois de conhecê-la e vir
para Dallas atrás de você ― falei a verdade. ― Não me
arrependo de vir para você.
Ela expirou e seus olhos estavam molhados, não
suportava vê-la chorando. Isso me doía fundo. O pior era ser o
causador disso e não Shade, como presenciei outras vezes, e
tinha vontade de quebrar sua cara.
― Eu quero que vá embora, meu advogado vai entrar
com os papéis do divórcio…
Quando ela disse sobre o divórcio o meu peito se
apertou me sufocando por um segundo. Eu me lancei para ela
e a prendi na parede pegando-a de surpresa.
― O que está fazendo? ― notei que ela estava se
segurando para não chorar. ― Me solta agora.
― Você pode ter seu tempo sim, mas não vou dar a
porra do divórcio, entendeu? Não vou deixá-la por causa de
um passado de merda, e que não tem como eu voltar atrás para
mudá-lo…
― Você mentiu para mim ― chorou. ― Me fez amá-
lo…
Aquilo foi como uma facada na porra do meu peito.
― Lamento por isso, mas eu só quero você e sempre
quis. Sei que está confusa e traída, por isso vou deixá-la
sozinha, mas não me peça o divórcio, porque isso eu não darei.
― Toquei seu rosto fazendo-a estremecer. ― Perder você não
é uma opção.
― Nosso casamento foi uma farsa todo esse tempo, eu
sou a mais completa estúpida por ter caído em sua conversa e
me apaixonado por você. ― Ela se afastou do meu toque
como se fosse veneno e a ferisse.
― Não era uma farsa, o que sentimos não é uma farsa,
e o que tivemos também não, nunca pense isso. Você e eu não
acabamos, depois que colocar sua cabeça no lugar e ver que
não pode me acusar pelas mulheres que tive no passado, você
pode me acusar por não ter contado a você, vamos ter nossa
lua de mel e farei muitos filhos em você, essa é nossa vida, e
não outra, porra.
― Me solte. Não posso confiar em você ― cuspiu. ―
Você mentiu para mim, como posso acreditar que me ama? Eu
quero ficar sozinha ― pediu quase suplicante.
― Trabalhei muito para ter seu coração, fui através de
seus sentimentos por outro cara, lutei até que você o
esquecesse e agora que tenho seu coração e seu amor, eu não
vou deixar que nada me faça perdê-la. Você é a única coisa
boa que tenho e, eu vou até o maldito inferno buscá-la.
Lamento por ter mentido, e vou consertar isso. O que não
posso e não vou, é perdê-la, porque fui idiota, e temi que não
me perdoasse ― eu a soltei e fui até a porta, mas olhei para
ela, encolhida na parede. ― Eu amo você Laurel e a partir do
dia que a conheci você se tornou todo o meu mundo.
Eu saí porta afora, embora não quisesse fazer isso, só a
queria em meus braços e ama-la.
Cheguei ao meu carro e fiquei olhando para casa, na
esperança de ela vir atrás de mim, mas ela não veio. Meu
telefone tocou.
― Papai, nós acabamos de nos falar…
― Seu pai teve uma overdose e está sendo levado pela
ambulância ― respondeu Brad.
Porra!
Capítulo treze
Laurel
Estava deitada na cama não querendo ver ninguém, e
nem sair dali.
Taylor havia ido embora, me deixando com o coração
despedaçado e estraçalhado. Ele não cumpriu sua promessa de
nunca me deixar. Bastou mandá-lo embora uma vez e ele logo
foi.
Eu sei que sou idiota por ter acreditado nele, mas
mesmo o amando, eu não podia perdoá-lo pelo que ele fez, não
agora, quando as feridas estavam abertas e me matando a cada
pulsação.
Na minha vida, eu sempre fui cercada de amigos que
não me queriam de fato, só aos meus irmãos pela sua fama.
Sempre fui usada, agora me sentia da mesma forma, mas o
pior é que agora era pelo homem que eu amava mais do que
um dia amei alguém.
Meus olhos estavam vermelhos e molhados, porque
pesquisei sobre ele na internet e o vi em festas com mulheres
loiras, morenas, ruivas e de todos os tipos, todas lindas e
algumas até modelos, pois cheguei a ver nas festas dos meus
irmãos. Acho que eles faziam rodízio com as mulheres, pensei
amarga.
Em toda minha vida, eu sonhei em ter um homem só
meu, embora isso fosse impossível, pois estávamos em pleno
século 21, mas tinha que ser um playboy mulherengo como as
pessoas o chamavam, e chamavam meus irmãos?
Merda! Eu era muito azarada com isso. Primeiro, eu
gostei do Shade, que só vivia com mulheres em seu pescoço,
embora nenhuma vez ligou para alguma delas, até se casar
com Melissa. Mas será que ele a amava? Se amasse, então os
Bad Boys definitivamente podiam ser capazes de amar e
mudar?
― É claro que os Bad Boy são capazes de amar e
mudar ― respondeu vovó, entrando no quarto.
Eu nem sabia que havia feito essa pergunta em voz
alta, minha mente devia estar longe, porque nem a vi chegando
ou a sua picape barulhenta, que parecia um trem enferrujado.
Mas ela amava mesmo assim.
Eu olhei para ela do lado da minha cama. Vovó era
uma mulher linda, pele branca, e cabelos grisalhos.
― Levanta e vá tomar um banho, porque precisamos
conversar ― mandou ela sem dar um poder de recusa.
Eu me encolhi nos travesseiros sem ânimo para nada,
não sem Tay do meu lado, o seu sorriso, sua animação era
contagiante. Não posso perdê-lo, mas como posso esquecer
que ele mentiu?
― Não quero me levantar, aliás, eu quero ficar aqui
para sempre ― choraminguei encolhida nos travesseiros.
― Você cheira a sexo, então precisa tomar banho… ―
comentou vovó perto de mim e puxando a coberta.
― Sexo? ― rugiu Nilan entrando no quarto seguido
por Gave. ― Eu vou matar aquele filho da puta.
― Como ele ousa tocar em você e ir embora depois?
― sibilou Gave. ― Eu vou acabar com ele.
Eu fechei os olhos tentando me controlar.
― Ele não foi embora, eu o mandei ir… ― minha voz
falhou devido a realidade que bateu à porta da minha mente.
Ela parecia que ia explodir.
― Você o mandou embora depois de ele tê-la tocado e
desonrado você? ― indagou Gave com asco na voz. ― Só de
pensar nele tocando em você, me dá vontade de matá-lo.
Eu me sentei na cama e estreitei os meus olhos para
eles.
― Desonrado? Você quer matar um cara por ter fodido
comigo? Vocês não fazem isso o tempo todo? Não saem
fodendo tudo o que se move?
― Você é nossa irmãzinha linda…
― Eu sou adulta, tenho vinte e quatro anos, e não
preciso que me tratem com uma adolescente imatura ―
interrompi Nilan. Peguei a toalha e fui para o banheiro.
Depois do banho, eu coloquei uma camiseta de Tay,
que estava no banheiro, até tinha o seu cheiro e um short.
Eu não vi ninguém no meu quarto, mas não significava
que haviam desistido e, ou que me deixaram sozinha com
minha dor e saudade de Tay. E também minha humilhação.
Fui para a cozinha onde estavam todos sentados,
incluindo Shade, que frisou os olhos na camiseta que eu usava,
aposto que sabia que era do Tay. Não consegui ler seus olhos,
mas também não liguei.
Eu fui até o armário e peguei uma garrafa de bebida,
mas ela sumiu da minha mão. Olhei para Nilan.
― Que porra é essa? ― rosnei. ― Me deixe beber,
pois, preciso para aliviar a dor.
― Você não vai beber, agora senta sua bunda aqui
nessa cadeira e fala o que aconteceu, porque na minha cabeça
há vários cenários, e todos acabam comigo matando o Jordan.
― Ele me puxou e me sentou de frente para ele.
― Você não pode matá-lo, eu o amo ― rosnei
fuzilando todos.
― Você sabe quem é ele…
Cortei Gave.
― Ele me contou…
Estreitou os olhos.
― Me deixe reformular a pergunta, você sabia quem
ele era antes de se casar em Vegas?
Eu me encolhi.
― Não, o conheci no avião, mas ele me disse que nos
conhecemos na festa de aniversário do Shade. ― Olhei para
ele, que estava calado. ― Mas só soube disso depois de nos
casarmos já que tinha bebido muito naquela noite.
― Para aonde ele foi? Era para estar aqui e termos uma
conversa ― falou vovó. ― Porque se vocês são casados, eu
preciso saber qual a intenção dele com a minha neta.
― Ele disse que ia me dar tempo para assimilar o que
me falou sobre ele, mas que depois voltaria, e que não
aceitaria o divórcio.
― Divórcio? Você pediu o maldito divórcio? ―
perguntou Gave com uma faca na mão com certeza queria
matar alguém, ou seja, Tay.
― Sim, mas ele não aceitou e disse que não ia me dar
― respondi olhando a mesa sem nada ver.
― Ótimo, pois isso prova que ele ama você, minha
querida. ― falou vovó sentando do meu lado.
― Eu não entendo, eu sei que saiu muitas coisas na
televisão a respeito do casamento de vocês dois, mas por que
pedir o divórcio se você sabe que ele… ama você? ― sondou
Nilan confuso.
Eu expirei.
― Ele era como vocês três, ficava com muitas
mulheres… e também…
― Não somos assim ― retrucou Gave com um
suspiro.
Eu franzi o cenho.
― Não? Gave e Nilan, vocês ficam com uma mulher
só, já imaginou o que é isso? A porra de ménage. Eu sei que os
roqueiros fazem isso, foi isso que papai fez quando nos deixou
― sussurrei colocando a mão na testa. Na verdade, não são as
mulheres que ele teve, que estava me incomodando, porque
agora depois de pensar, isso faz parte do seu passado, e ele não
sabia que eu ia aparecer, mas o que faz meu peito doer, é ele
ter mentido para mim, uma coisa que odeio que façam.
Percebi que Nilan e Gave se engasgaram, embora não
tivessem nada na boca.
― Onde ouviu isso? Foi dele? ― indagou Nilan com a
voz grossa.
― Não, foi de uma colega minha, a Samantha
Donovan, o Alex disse a ela e ela me disse. Embora já
soubesse, porque ouvi de outras pessoas também. ― Dei de
ombros.
― Essa Samantha é a esposa de Lucky Donovan? ―
sondou Shade falando pela primeira vez.
― Sim, nós almoçamos hoje, no Pleylis ― respondi.
― Você sabe quem é o dono do Pleylis e do prédio em
frente? ― sondou Gave.
― Do hotel, eu descobri que é do Tay, e o… oh, meu
Deus, o Pleylis também é dele? ― minha voz saiu duas
oitavas a mais.
― Sim, assim como mais sete hotéis aqui. Ele queria
fazer um aqui na fazenda. ― inquiriu Nilan.
Eu encolhi os ombros.
― Eu sei, ele me contou que Shade o pediu para ficar
comigo, e me convencer a vender minha fazenda. ― Alisei
minha aliança enquanto olhava para ele. Os outros também
fitaram.
― Você o mandou para ela? ― indagou Gave com
raiva como se tivesse pensando em esmurrar Shade.
― Porra, me diz que você não fez isso só para
empurrá-la para longe, e para fazê-la esquecer que era
apaixonada por você. ― Os punhos de Nilan estavam
destacados.
― Apaixonada? O que você quer dizer com isso? ―
vovó olhou para cada um de nós. ― Você amava o seu irmão?
Oh, meu Deus! ― Ela colocou a mão na boca como se eu
tivesse dito que ia sair nua na Times Square.
― Não somos irmãos de sangue, então não precisa
olhar como se eu tivesse cometido um pecado terrível ―
comentei baixinho. ― Mas não amo mais o Shade assim,
apenas o Tay.
― Depois nós vamos falar sobre isso, mocinha ― ela
disse e depois olhou para Shade ― Você sabia do que ela
sentia?
Shade suspirou.
― Sim, mas achei que era uma paixão adolescente, até
que soube que ela bebeu muito no meu aniversário…
― Até eu esmurrá-lo na boca e dizer a verdade ―
disse Nilan e me olhou. ― Eu sei que não era para dizer nada,
mas não podia continuar vendo você daquela forma e não
fazer nada.
― Então resolveu bater nele? ― rosnou vovó
fuzilando os três. ― Sua mãe criou vocês melhor do que isso,
ela reviraria no túmulo caso visse seus filhos brigando um com
o outro.
― Desculpe vovó, não queríamos brigar, e não vamos
fazer de novo ― disse Shade envergonhado. ― Mas eu
precisava acordar e ver o estrago que estava acontecendo.
Nilan me levou no quarto e, eu a vi bêbada e dormindo. Soube
que não podia ficar no escuro. Mas…
― Você não podia fazer nada, já que me amava como
uma irmã, não é? ― comentei. ― Pode dizer, está tudo bem.
Ninguém manda no coração. Embora você não tivesse o
direito de mandá-lo para mim.
― Eu não mandei, só pedi para ele convencê-la a
vender a fazenda, e não para dormir com você, ou pior, casar.
Eu fiz isso não com a intenção de fazer você superar sua
paixão por mim, mas para viver uma vida fora dessa fazenda,
conhecer pessoas, namorar e outras coisas ― disse ele. ― Não
tive a intenção de machucá-la, mas Jordan é um cara legal, o
cara perfeito para você, melhor do que um dia desejei.
Olhando para ele agora, eu me perguntei: onde foi
parar aquele amor que eu sentia por ele? Era como se tudo
tivesse desaparecido. Foi quando pensei no que Tay me disse.
Sobre ter trabalhado duro para me fazer esquecer o Shade, e
agora que me tinha inteira para ele, que não ia desistir de mim.
― Se ele se aproximou de você para que vendesse a
fazenda, eu vou…
Cortei Nilan porque sua ameaça era mortal, com
certeza ele cumpriria e acabaria com Tay, mas não podia
deixar isso acontecer, por mais brava que eu estivesse, não
podia deixar ninguém o machucar, parecia doer em mim ao
imaginar isso.
― Ele não quer que eu venda a fazenda para fazer um
dos seus prédios. ― falei a verdade. ― Na verdade ele me
aconselhou o contrário.
― Não? ― Shade sondou.
Eu suspirei e coloquei minhas mãos sobre a mesa e
rodava o anel, nervosa. Notei os olhos de todos na minha
aliança.
― Um minuto comigo na festa do seu aniversário
Shade, Tay soube o que era minha paixão, o que sonho em
fazer aqui na fazenda.
― E que sonho é esse que não sabemos? ― indagou
Gave.
― Fazer um imenso haras, e uma pousada. Tenho tudo
arquitetado. Esperem que vou buscar. ― Corri para fora da
cozinha e peguei a planta do lugar, onde marcava o celeiro, os
estábulos, e tudo mais. Limpei uma brecha na mesa e estendi o
papel sobre ela, mostrando tudo.
― Aqui… ― indiquei a área plana da fazenda ―, vai
ficar o campo e o haras. Do lado direito, eu quero fazer a
pousada. Do lado esquerdo, pretendo reformar os estábulos e
aumentá-los ainda mais.
Notei o silêncio no lugar e vi que todos estavam com
os olhos em mim. Pareciam chocados, impressionados.
― O quê?
― Isso é fantástico, porra, não sabia que minha
irmãzinha era tão talentosa assim. ― Nilan piscou. ― Esse
projeto, no qual arquitetou está fantástico.
― Nilan, olha a boca ― repreendeu vovó.
― Desculpe, vovó ― Sorriu para ela.
― Por que nunca nos disse que esse era seu sonho? ―
indagou Shade.
― Não achei que conseguiria realizar algum dia… ―
Sentei-me.
― Por que não, po…? ― Gave se interrompeu
olhando vovó, que fechou a cara.
Eles sempre falavam palavrão, mas na frente de vovó
todos refreavam, embora muitas vezes, esqueciam.
― Bom, eu tentei fazer um empréstimo, mas eles
queriam hipotecar a fazenda, então tive medo e deixei quieto,
mas aí Tay chegou e me incentivou a lutar por isso. Para não
desistir do que eu queria ― minha voz falhou ― Ele parece
enxergar dentro de mim.
― Isso se chama amor, minha neta ― disse vovó. ―
Eu vi nos olhos dele quando foi nos visitar, o amor era
evidente ali.
― Eu sei, mas como esqueço tudo? Ele se aproximou
de mim como um pedido de Shade, apesar de que Tay tenha
dito que se aproximaria de qualquer forma, mas ele mentiu
para mim, como posso confiar em alguém assim? ― Enrolei
meu projeto do haras e o deixei na mesa.
― Duvida do que ele sente por você? Acha que ele a
enganaria algum dia? ― sondou Shade. ― Conheço Jordan,
ele não é esse tipo de homem.
Eu suspirei, porque Tay não merecia isso, afinal de
contas, depois que ficamos juntos, ele só esteve comigo e mais
ninguém, isso provava que o mesmo realmente me amava, e
também ninguém ficaria com uma mulher, enquanto ela amava
outro. No começo era assim, mas ele ficou do meu lado.
― Você tem razão ― suspirei, já fazia quase seis horas
que ele havia saído. ― Ele me deu um tempo para pensar e
pensei, agora vou atrás dele.
Vovó sorriu como se tivesse ganhado na loteria.
― Isso minha neta, vá atrás do seu futuro e seja feliz
― disse.
― E quanto ao projeto, vamos dar o dinheiro a você
para fazê-lo ― disse Nilan.
Eu olhei para ele, Gave e Shade e os vi assentindo para
mim.
― Se vocês querem me emprestar…
― Por que faríamos essa merda? Vamos dar e você vai
aceitar ― disse Gave. ― Somos uma família.
― Lucky Donovan disse que quando começou, ele
pegou dinheiro emprestado do seu pai, o mesmo não queria
que o filho pagasse, mas mesmo assim Lucky pagou, ele me
disse que quando fazemos algo com sacrifício damos mais
valor no que é nosso. ― Suspirei. ― Eu quero assim, quero
fazer isso por mim mesma, lutar por aquilo que quero, se
vocês me emprestarem assim, eu aceito.
Eles ficaram em silêncio um segundo, o primeiro a
sorrir foi Nilan e, em seguida, me puxou para seus braços.
― Claro que sim, minha princesa, o que você quiser
pode fazer, só me fale que envio o dinheiro ― disse beijando a
minha cabeça. ― Agora vá ser vestir para ir atrás de Jordan,
porque tenho umas coisas para falar com ele.
Eu me afastei e o fuzilei.
― Vocês não vão lutar ― avisei. ― Isso só diz
respeito a mim e a ele.
― Não vamos brigar, mas temos coisas para dizer a
ele, porque você é nossa irmã ― disse Gave, também me
abraçando.
Depois fui me trocar e optei por uma calça jeans, mas
fiquei com sua camiseta, quando o meu telefone tocou, pensei
que fosse ele, mas era a Sabrina.
― Oi, minha amiga, como você está? ― sondou ela.
― Acabei de ver na televisão que aquele loiro, é na verdade, o
filho do astro do rock, James Johnson.
― Ele me disse isso hoje cedo ― respondi. ― Por isso
brigamos, porque não quis aceitar que ele mentiu para mim.
― Estou na minha tia, em Seattle, mas quando chegar
aí vou na sua casa.
― Ok, agora estou bem, estou indo procurá-lo no seu
hotel…
― Querida, você não assiste televisão? O pai dele teve
uma overdose de remédios ou algo assim, e Tay está com ele
no hospital, em Los Angeles.
Enquanto ela falava, eu corri para sala pegando o
controle da TV, que estava em um jogo e mudei para o canal
CNN.
― Ei, estou assistindo ― disse Gave.
Assim que mudei, estava passando uma reprise do
caso; cenas da ambulância levando o cantor. Depois no
hospital sendo levado para dentro.
― Oh, porra! É o James ― Gave gritou, Nilan e Shade
entraram na sala junto com a vovó. ― O pai de Jordan teve
uma overdose.
― Aquele cabeça dura sabe que não pode beber,
porque tem diabetes ― rosnou Shade. ― Maldição! Jordan
deve estar um caco, ele tem pavor de hospital…
― Por quê? Não que me agrade também ― falei, e
nem percebi que Sabrina ainda estava na linha.
― Law?
― Tenho que ir, depois nos falamos ― respondi e
desliguei.
Na TV, mostrava bem o momento em que Tay chegou
ao hospital com Lucky e Sam do seu lado. Ouvi as perguntas
que faziam Tay endurecer e encher seus olhos de dor.
― Senhor Jordan, esse incidente vai atrasar a sua lua
de mel? Sua esposa não vem com você? ― perguntou um
cara. ― O que está sentindo nesse momento vendo seu pai
indo para o hospital do mesmo jeito que sua mãe foi há nove
anos? Na ocasião, ela não saiu com vida, acha que seu pai vai
sair?
― Bando de abutres ― rosnou Shade. ― Não pode
perder nada.
― Oh, meu Deus, o hospital o faz lembrar a mãe dele,
não é? A dor que vi nos olhos dele assim que entrou, e veio
essas perguntas para ele ― minha voz quebrou. ― Preciso ir
para Los Angeles. Vocês podem me levar? Ele está precisando
de mim.
― Sim, ele está, agora mais do que nunca ―
respondeu Shade.
― Vamos levar você ― disse Gave.
― Sim, nós iremos ― concordou Nilan.
Eu olhei para os três.
― Obrigada, amo vocês ― declarei.
Agora só me faltava chegar ao meu homem para dizer
tudo que estava sentindo, e que ele era o homem, no qual
estava completamente apaixonada.
Capítulo quatorze
Jordan
Eu saí da casa da caipira sem querer, mas precisava
saber como o papai estava, precisava acreditar que estava bem.
Que nada ia derrubá-lo.
Eu sei que não era muito amigo dele, mas porra! Eu
amava aquele velho. Um dia, ele foi mais carinhoso, embora
agora, ele também fosse. Apenas ficou meio distante por causa
da minha mãe, que morreu do mesmo jeito que ele foi
hospitalizado hoje.
Meu pai estava no auge da sua carreira há mais de nove
anos e, eu não sei o que levou minha mãe a tomar remédios
sem necessidade. No começo, eu culpei a fama do meu pai,
mas conforme fui ficando mais velho, eu vi que não podia
odiá-lo como gostaria.
Nós dois já tivemos várias discussões feias aonde
quase chegamos a nos agredir fisicamente, foi onde me mudei
de sua casa, em Los Angeles, para Manhattan. Com a distância
nos entendemos mais.
Ele foi pego dirigindo bêbado, algumas vezes, e teve
uma porrada de multas, então para não se acidentar ou ferir
alguém, eu contratei o Brad para dirigir e tomar conta dele,
querendo ele ou não.
― Espero que tenha uma boa explicação para essa
merda, ou vou chutar sua bunda ― rosnei assim que ele me
informou sobre meu pai ter tido uma overdose.
― Chefe, ele estava festejando com seus amigos
depois do show ontem, e acabou dormindo na boate, nos
quartos que tem lá, depois que ele acordou hoje, eu só o vi
beber, e não achei que os caras da banda fossem loucos para
dar algo a ele.
― Descubra quem deu, estou chegando aí ― desliguei
e liguei para o Lucky.
― Porra, cara! A coisa aqui está feia, repórteres por
todos os lados, mas eu os impedi de irem à fazenda, então fica
tranquilo, mas contou tudo a ela? A mulher reagiu bem? ―
falou antes que eu perguntasse algo.
― Sim, eu conversei com ela e disse tudo, mas não
reagiu bem como eu sabia que ia acontecer caso descobrisse.
Dei um tempo a ela, mas porra, eu estou ficando louco! Agora
isso acontece com meu pai.
― Vai dar tudo certo, cara. Acabei de ver na TV sobre
seu pai, preparei o jatinho, está pronto para irmos a Los
Angeles…
― Você sabe que… ― minha garganta apertou com
seu gesto.
Desde que conheci Lucky, em Harvard, ficamos
melhores amigos, todos os outros também, Jason, Ryan e
Daniel. Somos inseparáveis, devo dizer, eles tinham minhas
costas e, eu tinha as deles.
― Jordan, nós somos mais do que amigos, somos
irmãos, então só vamos nessa. Já falei com Ryan e Jason, os
dois estão indo pra lá também. Eu tenho uma casa lá, caso não
queira ficar na do seu pai, com a banda dele. ― Lucky
suspirou.
― Obrigado. Estou indo para onde o jatinho está, já
chego lá e partimos.
― Não vai levar a Law? Porque mesmo que ela esteja
irritada com você, aquela mulher vai querer estar lá para você.
Ela é dessas ― disse. ― Estamos saindo do hotel agora.
― Valeu cara, mas não a quero no meio disso, dessa
porra de abutres de repórteres. ― Suspirei. ― Agora entendo
o motivo dos irmãos a deixarem bastante isolada.
― Certo cara, estamos esperando você lá.

Sentei-me no jatinho equipado, me lembrando da
última vez que entrei aqui, foi quando fui para o casamento de
Lucky e Sam, em Vegas. Foi o dia mais feliz para o meu
amigo.
Sam sentou do meu lado e segurou minha mão dando
um aperto firme.
― Seu pai vai ficar bem ― sussurrou ela. ― Não o
conheço, mas Lucky disse que ele é um cara forte.
― Obrigado. ― agradeci, porque não queria falar
sobre isso agora, por isso fiquei feliz que ela mudou de
assunto.
― Eu sei que não é da minha conta, mas Lucky disse
que Laurel não aceitou bem o que disse a ela sobre a
mulherada, no qual teve na sua vida. ― Ela olhou de lado para
mim. ― Não se preocupe, ela vai lidar com isso, afinal de
contas, é o seu passado.
― Ela foi criada vendo seus irmãos viverem cercados
de mulheres e descartando-as, então tomou algum tipo, não
chega a ser trauma, é mais para…
― Um escape, eu sei, ela não queria ser uma dessas
meninas, que se apaixonam por um Bad Boy e depois acabam
quebradas, essa é a sina por se apaixonar por um ― disse com
tom suave. ― Mas muitas coisas não são preto no branco,
quando o cara se apaixona, ele fica de quatro.
Eu sorri.
― Uma posição bem interessante ― brinquei e depois
falei sério: ― Eu não queria paixão ou procurava por ela, por
isso fugi de meninas puras como ela, você e Angelina. Mas
quando vi aquela coisa pequena vestida naquela sainha jeans e
naquelas malditas botas, eu não pude deixá-la de lado. ―
Passei as mãos nos cabelos. ― Ela tinha visto o Shade com
Melissa, eu vi a dor nos olhos dela, enquanto todos festejavam,
inclusive seus irmãos. A segui para o terraço e fiquei com ela,
vendo sua dor, ouvindo-a falar de seus sonhos, que ninguém
sabia, mas ela confiou em mim.
― Você é um cara legal e amigo Jordan, e mesmo
bêbada, ela enxergou isso ― Sam me disse. ― Pouco tempo
que passei com ela, eu percebi o motivo de você ter gostado
dela desde o início, e também por ter se apaixonado, espero
que não desista dela.
― Desistir? Nunca, jamais a deixaria ir assim, eu sei
que ela me ama, só está confusa e sofrendo por ter descoberto
que menti. Ela odeia mentiras…
― É um gesto nobre de sua parte não querer envolvê-
la nisso ― comentou.
― Ela também tem medo de avião, só foi em um
quando precisou ir ao casamento de Shade, e no seu
aniversário. ― Apertei minha têmpora tentando aliviar a dor
de cabeça.
― E você acha que ela não faria o mesmo por você?
Jordan, eu vi a forma que ela o olhava, e foi correndo para
você na outra briga de vocês. ― Ela sorriu de lado. ― Assim
que ela souber o que está acontecendo, Laurel vai estar lá com
você.
― Estou contando com isso, porque sei que se ela for
lá e andar de avião, eu vou saber que ela é a rocha no nosso
relacionamento. Entretanto se não for, eu vou atrás dela e
trabalhar mais, mas perdê-la, não está nos meus planos de
forma alguma.
Ela sorriu e passou a mão no meu cabelo.
― Vai dar certo querido, e fico feliz que não desistirá
nem agora e nem nunca.
Depois disso, nós ficamos em silêncio, estava querendo
que Law viesse para mim, e ao mesmo tempo, não querendo
por causa desse bando de urubus. Nossa! Eu os odiava, queria
poder fazer de tudo para que nenhum deles estivesse no meu
pé me enchendo o saco ou interferindo na minha vida como
fizeram ao me casar.
Cheguei a Los Angeles e fui direto ao hospital. Brad
estava me esperando na entrada, cercada de repórteres.
Saí do carro junto com Sam e Lucky e entrei no prédio
do hospital, então vieram as perguntas e câmeras foram
posicionadas, e filmaram e tiraram fotos. Tudo para uma porra
de manchete de primeira página.
― Não ligue para nenhum deles ― falou Sam baixinho
indo para o meu lado.
― Senhor Jordan, será que esse incidente vai atrasar
a sua lua de mel? Sua esposa não venho com você? ―
perguntou um dos repórteres fodido.
Eu ignorei, porque se eu dissesse algo corria o risco de
voar na cara desse merda e o quebraria. Como ele ousa dizer
que, o que aconteceu com meu pai iria atrapalhar a minha lua
de mel? Porra, ele é meu pai, queria que ele saísse dessa logo,
e não ligava para a lua de mel, depois teria isso de sobra. Mas
fiquei com raiva, era como se estivesse falando que eu só
ligava para sexo e mais nada. Nessa hora, eu senti mais
vontade de vomitar.
― O que está sentindo nesse momento vendo seu pai
indo para o hospital do mesmo que sua mãe foi há nove anos?
Ela não saiu com vida, acha que seu pai vai sair? ―
continuou assim que não respondi.
Meu corpo ficou duro como rocha e uma dor lacerante
me atravessou dos pés à cabeça me fazendo querer gritar ou
matar alguém.
Eu sei que hospitais me trazia várias lembranças, nas
quais não queria recordar de nenhuma delas. Mas as portas se
abriram e elas entraram.
Eu estava a ponto de enlouquecer como aconteceu
quando descobri sobre minha mãe, derrubei vários repórteres,
que faziam perguntas idiotas. Hoje, eu estava fazendo tudo
para me controlar. Uma, porque sabia que violência não levava
a nada, pois seria melhor processá-los.
― Vamos. ― Lucky pegou meu braço e me puxou
para longe deles e entramos no prédio.
― Jesus, eu não pensava que esses repórteres eram tão
sem noção ― rosnou Sam. ― Não ligue, meu amigo, seu pai
vai ficar bem.
Eu assenti, controlando minha raiva e dor, que estava
tentando me derrubar. Nesse momento, eu só queria uma
pessoa ali do meu lado, mas ela estava longe e ainda com raiva
de mim.
― Senhor ― disse Brad ao meu lado. ― Peguei as
câmeras do lugar e vi qual foi o motivo da discussão, o
baixista Treves Willon, não aceitou muito bem que seu pai ia
sair da banda.
Eu arregalei os olhos.
― O quê?
― Sim, depois que falou com o senhor, ele retornou
para dentro do clube de Treves e falou que não ia mais ser
cantor de banda, que estava cansado dessa vida e que agora ia
sossegar. Falou também que não ia viver cantando por aí longe
de você ― ele me olhou ― Que perdeu muito tempo até
agora, e você nem o chamou para o casamento. Ele queria ser
um pai melhor, para ir viver em algum lugar tranquilo perto de
você.
Acho que meus pulmões estouraram com essa notícia,
tanto que eu quis que ele fizesse isso antes de tudo acontecer
com a mamãe. Mas agora ele estava no hospital, e tudo por eu
não o convidar para o casamento? Ele achou que eu o excluí
da minha vida? Maldição! Nem eu sabia que ia me casar.
― Você disse que Treves não aceitou bem? O que ele
fez? ― Meus punhos cerraram com força. ― Onde está a
gravação de tudo que aconteceu? Vou ver como meu pai está,
então vou ver as gravações.
― Hummm, um cara disse que era do FBI, e falou que
era seu amigo, então pegou as gravações, disse também que
checaria os fatos. ― Ele parecia meio nervoso.
― FBI?
― Sim, mas eu só dei depois que ele mostrou o
distintivo. ― Ele me seguiu para irmos para sala de espera. ―
Bryan Scott. Fiz errado em dar a gravação a ele? Só entreguei,
porque ele me ouviu falando com um amigo meu, dizendo que
desconfio que seu pai não tentou se matar e foi tentativa de
homicídio pela crise que seu parceiro de banda teve.
Eu suspirei, Bryan era um agente e conhecia muitas
pessoas que podiam chegar ao fundo disso sem causar
alvoroço.
Estava furioso por alguém querer matar meu pai, ou
melhor, um cara que ele jurava ser nosso amigo e chamava
meu pai de irmão, como a cegueira da fama deixa isso
acontecer com uma pessoa?
Bryan e Alexia estavam na sala de espera, e também
Daemon, de braços cruzados e, escorado na parede.
― Ryan e Jason estão vindo de avião ― disse Bryan
assim que cheguei até ele. ― Eu cheguei mais cedo com
Alexia, porque estávamos perto, e Daemon já estava conosco.
Daemon era o membro do MC da Fênix, eu o conheci
há alguns anos, na faculdade, bom, eu conheci Dominic e
Michael. Daemon já conheci quando Angelina deixou Ryan,
ele ajudou Ryan a localizá-la.
― Deixa que eu cuido de tudo com Bryan sobre o que
aconteceu com seu pai, você precisa saber como seu pai está
― disse Lucky.
― Obrigado gente. ― Assenti e fui até a recepção à
procura de informação.
Tinha uma jovem loira com óculos de grau.
― Oi, eu sou filho de James Johnson e preciso saber
como ele está? ― perguntei.
Ela me olhou e avaliou como se estivesse sondando se
era eu mesmo.
― Sim, conheço você da televisão ― disse ela. ― Seu
pai foi levado para fazer uma lavagem estomacal, assim que
terminar o médico vai entrar em contato. Também já avisei aos
integrantes da banda. Só tinha um deles que estava sóbrio.
― Me deixe adivinhar? Treves? ― meu tom era seco e
com asco.
― Sim, ele parecia preocupado e perguntando se ele ia
sobreviver ― ela comentou.
Preocupado? Porra, se aquele fodido de merda fez algo
para o meu pai, eu acabaria com ele, pensei.
― Se ele chegar e perguntar de novo, mande-o vir me
procurar, mas não diz nada, ok?
Ela parecia confusa, mas assentiu. Eu voltei para a sala
onde estavam os outros. Contei o que a menina da recepção
disse sobre Treves.
― Com certeza está com medo de seu pai sobreviver
― rosnou Daemon. ― Só vamos esperar para saber o estado
de seu pai, aí vamos procurar mais pistas.
― As gravações não são suficientes para colocá-lo na
cena e prendê-lo? ― sondei.
― Não, precisamos de mais provas, porque eles
estavam discutindo e nada mais, mas tem um lugar entre o
salão e um corredor comprido, que chega a porta da frente, que
não tem câmeras, e foi ali que tudo aconteceu, tenho certeza.
Isso não faz dele um assassino, e não ia ser preso. Precisamos
de algo concreto para não o deixar solto, novamente ― disse
Bryan com um suspiro.
― Então você acredita que o crápula é realmente
culpado só por que meu pai quis deixar a banda? ― meu tom
era um rosnado de fúria.
― Sim, tenho alguns amigos meus da polícia, que
estão cuidando disso, estamos deixando por baixo dos panos,
estava esperando você chegar para saber o que faríamos. Eles
acham que é melhor você entregar na mídia a discussão deles,
assim todos vão saber que esse cara é um tremendo de um
desgraçado fodido. Talvez assim ele faça alguma besteira e
nós o pegamos.
― Ele não matou meu pai, porque ainda está vivo,
então certamente, Treves sairia por bonzinho e arrependido
por ter brigado com meu pai. ― Suspirei. ― Preciso de provas
concretas, assim jogamos na mídia. Tipo, ele ameaçando meu
pai ou coisa assim.
― Certo, mas puxei mais fundo o que aconteceu com
sua mãe e houve uma semelhança nos remédios e substâncias
que encontrei no lugar. Eram os mesmos que sua mãe tomou
há nove anos…
― Que porra você quer dizer? ― perguntei com meu
coração batendo forte no peito.
Ele me olhou.
― Também soube que há nove anos, o seu pai queria
deixar a banda como fez agora, ele queria se mudar para
Austin e viver com você e sua mãe lá… então uma semana
depois, ela tomou remédio em uma tentativa de suicídio? ―
Ele sacudiu a cabeça. ― Não faz sentido.
― Você está dizendo que ele pode ter matado minha
mãe? ― minha voz se elevou, então abaixei.
― Tudo indica que sim ― respondeu ele. ― Eu vou
mais a fundo, preciso saber que local ela ia na época, assim
posso ver as câmaras daquela época, preciso de provas
concretas.
― Ela tinha uma floricultura na mansão, uma estufa
melhor dizendo. Tinha câmeras lá e na casa, mas elas sumiram
no dia. Os polícias da época pensaram que ela havia desligado
para não verem o que ela ia fazer. ― Passei a mão no rosto. ―
Não acreditei, pesquisei fundo na época também, mas não
cheguei a nada.
― Vou mais a fundo, acho que a mídia deve saber em
relação a isso, assim o deixamos de mãos atadas e acredito que
cometa um erro, aí o pegamos ― falou Bryan e depois
apontou para Daemon. ― Estamos nós dois nisso, vamos
fechar o círculo e pegarmos esse cara e descobriremos toda
essa podridão de merda. ― Ele me olhou. ― O que acha?
Devemos falar com a mídia e soltar nossas suspeitas?
― Eu acho bom também Jordan, isso ajudará a
pegarmos o cara. ― concordou Lucky.
Assenti para eles.
― Pode soltar essa bomba se vocês possuem provas
em relação a isso, assim eles vão focar nisso e me deixarão de
lado com o meu pai. Quando acordar, ele não precisa dessa dor
de cabeça. ― Eu rodei a aliança num gesto para me controlar.
― Assim que James estiver bem, nós vamos ter que
deixar um guarda 24 horas, não podemos deixar o Treves vir
terminar o serviço. Vamos deixar uma enfermeira, o médico e
você entrar no quarto e mais ninguém, todos têm que mostrar a
identificação para entrar, concorda com isso?
― Sim, concordo ― fiquei mais aliviado que todos
estivessem cuidando de sua proteção, porque minha cabeça
estava lá naquele quarto com meu pai.
― Acha que se Treves ficar acuado pode querer
vingança? ― sondei ao Bryan.
― Puxei sua ficha antes da fama, ele foi preso quando
tinha dezesseis anos, por drogas, e também era muito
briguento, causava confusão onde passava. Quando fez
dezessete, ele e um amigo dele se juntaram e bateram em um
garoto, que roubou a namorada de seu amigo, e estuprou a
garota. Mas nunca foi provado nada, os dois tinham álibi.
Apesar de que descobri que os dois tinham grana, e isso
compra muitas pessoas, porque tive que cavar bem fundo para
conseguir descobrir isso.
Ele olhou para minha aliança, que eu rodava no dedo.
― Soube do casamento, meus parabéns ― disse com
um sorriso. ― Se está preocupado com ela, não precisa, soube
que seus irmãos estão ao lado dela nesse momento.
― Obrigado ― sussurrei, e olhei para ele. ― Os três
estão com ela?
Porra, eu ficaria doido ali, porque nesse momento em
que Law estava com raiva de mim, Shade estava lá com ela, eu
sei que a caipira gostava de mim, sentia isso toda vez que nos
tocávamos, na forma que ela me olhava. Mas ela o amou
primeiro, e agora ele estava talvez a segurando, enquanto ela
chorava pelo que fiz.
― Não faz isso com você ― falou Lucky, sentado na
minha frente com Sam do seu lado.
Eu me levantei e fitei a janela, mas sem nada ver
realmente.
― O quê? ― me fingi de desentendido, mas sabia ao
que ele estava se referindo.
― Agora aquela mulher ama você, então não pense o
que não existe. ― Chegou perto de mim e deu um aperto em
meu braço.
Eu assenti, mas dentro ainda restava a dúvida de que
talvez em seu coração restasse algum sentimento por Shade,
mesmo que ela pensasse que não.
Capítulo quinze
Laurel
Eu sentei no avião particular dos meus irmãos, o que
eles tinham para levá-los aos shows em vários lugares. Estava
inquieta com o voo, sempre ficava assim quando viajávamos,
o que era raro esses momentos.
Eu expirei segurando firme no assento e fechei os
olhos por um momento.
― Está inquieta? ― sondou Shade vindo sentar ao
meu lado.
Eu abri os olhos e olhei para ele.
― Sim, um pouco ― respondi.
― Não fique, Jordan vai ficar bem, ele é um cara durão
― disse e depois suspirou. ― Queria pedir desculpas por não
ter notado que o que sentia por mim era verdadeiro, e não uma
paixonite.
― Uma paixonite que doía como uma cadela quando o
via com mulheres, e até com Sabrina, apesar de esse
sentimento não ser nada comparado com o que sinto por Tay,
eu o amo como nunca amei ninguém na vida. Ele ficou ao meu
lado no seu aniversário, depois que vi você com Melissa. E
você não tem culpa por nada, afinal ninguém manda no
coração.
― Lamento por você sofrer… ― ele suspirou num tom
triste. ― Aquela foi uma noite difícil, Melissa chegou e disse
que estava grávida, e porra, a minha vida ficou balançada, de
cabeça para baixo. ― Ele passou a mãos nos cabelos. ― Sabia
que não podia deixá-la sozinha nisso, tinha que pensar no meu
filho.
Eu acho que meus olhos saltaram das órbitas, mas
depois pensei, bem que tinha imaginado que era algo assim,
porque só assim para casar com uma garota fria como ela.
― Oh, meu Deus! Eu vou ser tia. ― Sorri para ele. ―
Acho que vou ter que fazer as pazes com a rainha do gelo, não
é?
Ele me avaliava, e depois sorriu.
― Acredito que sim, no começo foi difícil ficar
casado, ainda mais com ela sendo tão distante, que parece a
muralha da china.
― Ela parece uma princesa do gelo, a única coisa que
você tem quer ser é o príncipe do fogo e derreter a geleira que
ela construiu a sua volta. ― Sorri.
― Príncipe do fogo, hein? Vou pensar nisso ― disse e
suspirou. ― Ela não me deixa entrar.
― Se esforça mais, eu não sou psicóloga, isso é
trabalho da Sam, mas se uma pessoa não deixa a outra entrar,
talvez tenha acontecido algo que a machucou, e ela não quer
passar por isso de novo, ainda mais, com um cantor de rock
mulherengo.
Ele empurrou meu ombro com o dele e sorriu.
― Ei, não sou mais assim, sou responsável quando
tenho um compromisso. ― Ele alisou sua aliança de
casamento.
― Agora chegou a sua vez de ralar e ir à luta por ela,
já que precisa de uma união estável para um casamento
funcionar e ser feliz
― Sim, eu sei. Eu vou fazer isso assim que voltar para
ela — disse.
― Quando amamos algo temos que ir atrás, assim
como vou atrás de Tay ― sussurrei.
― Tay… sabia que ele não gosta que ninguém o
chame assim? Era como sua mãe o chamava, mas para você,
ele se apresentou assim, não foi?
― Sim, naquela noite, eu estava bêbada, então não me
lembro, mas sei que nos beijamos, falei sobre meus sonhos.
Depois o vi no avião para Vegas, ele ficou ao meu lado após
descobrir sobre meu medo de avião…
― Medo de avião? ― sondou Nilan chegando até nós
e sentando no banco ao lado do corredor.
Ele era moreno, com cabelos como os meus, castanhos
escuros, olhos cor de chocolate. Nós nos parecíamos muito.
Seu corpo era forte e forrado de tatuagem. Gave não ficava
atrás, sua pele era mais clara, olhos castanhos esverdeados
intensos.
Gave sentou ao lado dele. Pelo visto os dois tinham nos
deixado a sós para conversarmos, talvez eles quisessem que
nos entendêssemos, claro, afinal éramos irmãos.
― Sempre tive, só não demonstrei na frente de vocês,
pois não queria parecer fraca ― sussurrei. ― Depois que
mamãe morreu, isso aconteceu comigo. Tay sabia e ficou ao
meu lado, na minha viagem para Vegas.
― Por isso não viaja muito ― falou Gave. ― Porra,
não acredito que um cara que conheceu você, e em menos de
dois segundos, soube mais de você do que nós, os seus irmãos.
― Isso é verdade ― rosnou Nilan concordando. ―
Seus sonhos e tudo mais…
― Gente, eu me escondi de todos, não foi culpa de
vocês, até de mim mesma, não estava disposta a ir com unhas
e dentes para o que eu queria. Ele me ajudou com isso, algo
nele me fazia querer ter mais e ser alguém para ser compatível
com ele, além de uma caipira.
― Que porra está dizendo? ― rosnou Shade.
― No começo, não achei que alguém tão perfeito
como ele ia me querer, então quando isso aconteceu, eu não
podia deixar escapar. ― Olhei para Shade do meu lado. ―
Parte da minha vida, eu fui apaixonada por você, mas nunca
tive a chance…
― Lamento por isso… ― sussurrou ― Mas fico feliz
por você amar o Jordan, ele é um cara de sorte ― disse ele
com um sorriso gentil.
― Sabe, desde o dia em que ele me conheceu, antes
mesmo que eu o conhecesse, Tay não ficou com ninguém, e a
partir do momento em que soube que me amava, ele não
queria mais ninguém, isso acontece quando a gente ama.
Todas as mulheres e homens não significam nada, só a pessoa
que amamos importa. ― Sorri dos olhos arregalados dos meus
irmãos, Nilan e Gave pelo menos. ― Um dia vocês vão
entender do que estou falando.
― Nem fodendo quero que isso aconteça ― falou
Gave estremecendo.
Nilan sacudiu a cabeça, pensei ter visto uma pontada
de dor em seus olhos, mas foi tão breve, que devo ter
imaginado isso.

Cheguei em frente ao hospital com um monte de
repórteres do lado de fora. Fiquei nervosa de repente, sentindo
um monte de câmeras sendo viradas para mim e meus irmãos,
enquanto passava através dos seguranças no local e dos meus
irmãos. Conosco estava Milton e Jared.
Eu vi o repórter que falou com Tay quando ele chegou
ali, era o mesmo que vi na TV. Evitei-o para controlar minha
raiva por ele ter causado dor no meu marido.
Havia muitas perguntas relacionadas ao que eu achava
sobre o que James estava passando ou Tay, algumas eram
legais, mas outras eram pesadas.
― Laurel, eu soube do seu casamento com o homem
mais cobiçado entre as mulheres. Como se sente em relação a
isso?
― Onde você estava, que não veio com seu marido?
― Você está grávida? Por isso casou em Vegas e
escondida de sua família?
― Acha que Jordan odeia o pai? Por isso não o
convidou para o casamento? Foi por isso que ele tomou os
remédios?
Eu estava ignorando as perguntas, assim como Nilan
me disse para fazer, mas endureci ao ouvir algo assim. Mesmo
não sabendo da relação entre Tay com seu pai, não acreditava
que ele o odiasse assim. Esses caras estavam colocando
intrigas aonde não havia.
Eu fuzilei o cara, que era o mesmo que provocou dor
no Tay com aquelas perguntas.
― Olha aqui, seu babaca, você fica fazendo perguntas
sobre a recuperação do James, se ele vai sobreviver ou morrer,
como a mãe do Tay. O que há na porra da sua mente? É o pai
dele lá em cima. ― Apontei para o hospital. ― Meu marido
está sofrendo e você fica fazendo perguntas estúpidas como
essa? Por que ao invés de dizer asneiras, você não pega uma
vela e vai rezar para o James viver? ― percebi que gritava. ―
E quanto a minha vida e a de Tay, não é da maldita conta de
vocês.
Shade passou a mão na minha cintura e me tirou da
multidão, que estava de boca aberta com câmeras clicando.
Mas não liguei menos para isso. Só soltei minha raiva.
― Tigresa, se controla ― pediu Nilan com um sorriso
e piscou para mim.
― Maninha, eu adorei aquilo ― falou Gave,
orgulhoso. ― Vovó vai surtar com você xingando na TV.
Eu corei.
― Eles vão falar de vocês também, que têm uma irmã
bocuda ― sussurrei.
― Quem liga para isso? ― falou Shade com um
sorriso.
Eu parei assim que chegamos à sala de espera e olhei o
lugar recheado de rostos desconhecidos, só conhecia Lucky e
Sam. Mas tinha uma morena linda parecida com um anjo
sentada ao lado de um cara com os olhos cor de uísque. E duas
loiras fabulosas, uma com vestido elegante, estava ao lado de
um cara de olhos azuis e cabelos negros. A outra estava
vestida com um espartilho e calça de couro preta bem apertada
definindo suas curvas perfeitas.
Ela estava abraçada com Taylor, foi um choque vê-lo
com outra…
― Se acalma, aquela é Tabitta Rodrigues, mulher de
Jason Falcon ― respondeu Shade me dando um aperto na
cintura. Ele ainda me abraçava, não tirei sua mão, pois agora
éramos irmãos de verdade.
Assim que Shade falou, todos da sala olharam para
nós, mas eu só estava vendo uma pessoa ali e seus olhos
estavam em Shade com o braço em minha cintura, vi dor
neles. Isso quase me matou por lhe causar mais dor.
Eu me afastei dos braços de Shade e fui seguindo para
Tay, enquanto falava. Seus olhos me seguiam, atentos.
― Podemos conversar sozinhos?
Ele assentiu, mas não respondeu, só deu as costas e foi
a uns oito metros de onde seus amigos estavam no corredor
comprido. Ali ninguém nos ouviria. Tay parou e se virou para
mim, mas não disse nada. Acredito que me esperando dizer
algo. Eu respirei fundo.
― Sabe o que eu fiz depois que você foi embora? ―
não esperei sua resposta. ― Conhece a música Lonely is the
night air supply? Ela revela o que eu estava sentindo sem
você. O vazio, a solidão, a perda, isso era algo que estava
acontecendo comigo, essa letra mostra tudo isso, e não quero
viver assim.
― Eu… ― a dor era evidente ali.
Cortei.
― Eu não ligo que antes de me conhecer, você teve um
milhão de mulheres, que era um cafajeste, mulherengo,
depravado… Sabia que não tinha caras perfeitos e puros no
mundo, acho que nem os padres são. ― Eu franzi a testa.
Quando ficava nervosa, eu falava demais. ― Acho que os
monges, mas eles não gostam de mulheres, não é?
Ele começou a abrir a boca, mas falei antes que
respondesse.
― Deixa pra lá, o que quero dizer é que a partir do
momento em que o conheci, eu me apaixonei perdidamente
por você, então não ligo para o passado, o que você viveu
antes de eu aparecer na sua vida. ― Cheguei perto dele. ―
Você não sabia que eu existia. ― Peguei sua mão, que estava
com a aliança. ― Se por acaso você mentir para mim de novo,
eu chuto sua bunda com as minhas botas e te mando para a
Lua.
― Não vou ― jurou e alisou meu anel no dedo. ―
Você está usando a aliança. Achei que fosse tirar.
― Tirar? Lembra que prometemos que por mais que
brigássemos não íamos tirar as nossas alianças? Então não
tirei… ― toquei seu dedo com a aliança ― Você também não
tirou a sua.
― Não, ela vai ficar no meu dedo para sempre, caipira
― prometeu.
Eu sorri e joguei meus braços em seu pescoço. Tay
sorriu um pouco.
― Eu amo você. ― Beijei sua boca de leve, mas ele
me apertou mais em seu corpo aprofundando mais o beijo até
que fui puxada para longe dele e abri os olhos, vendo a cara
enojada de Nilan e Gave.
― Cristo! Não se peguem assim na nossa frente,
porque minha vontade é de matá-lo ― rosnou Gave com os
punhos cerrados.
― Isso, e nós estamos em um hospital ― grunhiu
Nilan.
Eu pisquei, porque por um breve segundo tinha me
esquecido de onde estava. Tay me puxou para perto dos seus
amigos. Meus irmãos nos seguiram com caras de poucos
amigos. Eles tinham que entender que eu cresci.
― Desculpe, como ele está? ― sussurrei e passei os
braços em sua volta. ― Você está bem?
Era uma pergunta idiota, mas ele parecia mais calmo,
só um pouco irritado. Não entendi.
― É bom esquecer um pouco as coisas. ― Ele foi se
sentar em um sofá e me puxou para seu colo. ― Estou bem na
medida do possível.
― Não ligue para aqueles jornalistas idiotas, acabei
com eles assim que entrei aqui. ― Passei a mão em seu cabelo
liso e longo. ― Não gostei da forma que eles falaram com
você, eu vi na TV.
Ele se afastou e me olhou.
― Você lidou? O que você fez?
Eu dei ombros.
― Só disse umas verdades, embora ache que logo
todos os jornais e TV, vão estar dizendo que você se casou
com uma caipira louca ― sussurrei. ― Mas não me arrependo
por ter defendido meu marido.
Seu sorriso era ofuscante.
― Marido, hein?
― É, o que você é ― declarei gostando de vê-lo
sorrindo um pouco.
― Sim, obrigado por estar aqui comigo, até veio de
avião, superando seu medo. ― Ele alisou meu rosto. ― Amo
você caipira, como nunca amei ninguém na minha vida.
― Isso é bom, porque vim atrás do meu marido, antes
que alguma vagabunda o roubasse de mim e, eu tivesse que
matá-la ― falei para distrai-lo e, não por ciúmes, afinal
confiava nele.
Seus olhos brilharam divertidos, mas vi emoção ali.
Gostei.
― Eu fui domado por você.
Eu gargalhei.
― Sou boa domadora.
Desta vez foi a vez de ele gargalhar. Eu só fiquei o
olhando, e fiquei feliz por ele esquecer um pouco os
problemas.
Ouvi algumas pessoas suspirarem, foi quando notei
que todos na sala me olhavam de olhos arregalados, alguns
agradecidos e outros impressionados.
― O que foi? ― sondei corada.
― Eu agradeço por fazê-lo sorrir um pouco ― disse a
morena com um sorriso.
Eu assenti.
― Caipira, esses são os meus amigos, essa morena
linda é Angelina, a esposa de Ryan Donovan, que está do seu
lado.
― Prazer em conhecer a mulher que domou meu
amigo ― disse Ryan com um sorriso. ― Fico contente por
isso.
― Eu também. ― Sorri para ele.
Tay revirou os olhos.
― Essa loira ― ele apontou para a mulher, que estava
com o vestido chique ― Ela é Alexia, é casada com Bryan, o
irmão da Sam…
― Isso explica a familiaridade entre você dois. A cor
dos olhos. ― Olhei de um para outro, que estavam sorrindo.
― Eu sou Tabitta, mas você já deve saber disso, já que
seu irmão falou meu nome ― disse a loira do espartilho.
Ela estava ao lado de Jason Falcon. Lindo casal, eu
devo dizer. Ele era alto, forte e olhos da cor dos meus.
Eu assenti.
― Eu sou Laurel, prazer em conhecer vocês ― falei e,
olhei para uma TV, que estava ligada baixinho perto de nós.
Estava passando a reprise do meu bate-boca com o repórter.
Ou melhor, eu brigando com ele. E olhei para Tay, que estava
com os olhos fixos na tela.
― Porra, essa mulher é uma fera… ― disse um cara
entrando no lugar.
Ele vestia terno caro e cabelos negros. Lindo, devo
dizer. Seus olhos piscaram em mim, sentada no colo de Tay.
― Merda Jordan, agora entendo o motivo de você tê-la
escondido de nós ― disse ele com um sorriso. ― Uma mulher
valente, e ainda por cima, linda. ― Ele chegou até mim e
estendeu a mão. ― Eu sou Daniel Luxem. Amigo de Jordan.
Eu peguei sua mão e apertei falando meu nome, mas
acho que ele já sabia disso. Corei enquanto Jordan bufava com
um sorriso.
Daniel olhou para Tay.
― Lamento pelo seu pai cara, como ele está? ―
sondou.
Tay apertou seu braço em minha cintura, como se eu
fosse seu amuleto da sorte.
― Ele foi levado para o quarto, após fazer uma
lavagem estomacal, mas o pior passou, ele vai sobreviver ―
tinha um tom emocionado na sua voz.
Eu o vi endurecer assim que três caras roqueiros
chegaram, já os vi na festa de aniversário de Shade. Eram os
integrantes da banda Clave, do pai dele.
― Como ele está? ― perguntou um cara moreno de
meia idade, aliás, os três eram assim, na faixa dos quarenta e
cinco a cinquenta e cinco anos, mais ou menos.
― Vai sobreviver, Silver ― respondeu Tay, tinha algo
no seu tom, que ele tentou esconder, mas notei sua raiva
controlada.
― Podemos vê-lo? ― sondou o outro cara, que era
ruivo e com sardas.
― Não, Martins. Entrada, no quarto dele, está
permitida somente para mim, o médico e a enfermeira ―
respondeu Tay.
― Por quê? ― sondou o outro cara moreno. ― Porque
ele ao tomar os comprimidos e bebidas, ia ser mantido em
quarentena? Somos seus amigos.
Tinha algo acontecendo ali, que eu não sabia, mas
tinha a ver com o pai de Tay hospitalizado. Por que ele
proibiria todo mundo de entrar no quarto, sendo que também
eram seus amigos?
― O médico acha que foi tentativa de assassinato, sua
garganta estava machucada, como se tivesse empurrado os
remédios a força para ele engolir. ― Seus punhos destacaram
a minha volta.
Os três homens arregalaram os olhos.
― Eu também acho isso, o cara estava feliz por
terminar sua carreira ― disse Silver. ― Tivemos uma reunião
ontem, mas ele já vinha há dias falando nisso, em deixar tudo
isso para trás. Eu estava feliz por ele.
― Eu também, só nunca entendi, porque há nove anos,
ele ia fazer o mesmo, mas então houve o incidente com a
Julieta e, ele ficou na banda, mas se jogou na bebida e
mulheres ― falou Martins. ― Ele tem que sair agora ou vai
afundar mais no fundo do poço.
Todo tempo em que eles falavam, eu notei Bryan,
Lucky e Tay observando o outro cara, que por sua vez, tinha
um toque ruim, ainda mais ao olhar para Taylor e eu.
Estremeci e me aproximei mais de Tay.
― Você não tem nada a dizer, Treves? ― perguntou
Bryan. ― Você é o único calado.
Seus olhos foram para ele, notei aço neles, mas foi
breve, que foi mudado depois para um sorriso. Percebi que era
falso.
― Claro que concordo, ele é nosso amigo ―
respondeu.
― Bom ― disse Bryan. ― Estamos investigando
todos que estavam na boate, a nossa sorte é que o lugar possui
câmeras, e isso vai nos ajudar a descobrir o que houve.
Não acho que Treves ficaria branco, ainda mais em sua
pele morena. Mas ele parecia um fantasma.
― Quem é você? ― perguntou.
Bryan sorriu. E meu, o cara era lindo demais. Embora,
Taylor fosse o mais perfeito de todos os homens que conhecia.
― Eu sou amigo de Jordan, mas também um agente do
FBI, e estou trabalho junto com a polícia para entender o que
realmente aconteceu naquele clube ― falou ele. ― Deixarei
debaixo dos panos até ter as provas, aí soltarei na mídia quem
é o assassino.
― Solta? ― indagou Treves, parecendo engasgado ou
algo do tipo.
― Sim ― respondeu somente.
― Você está dizendo que alguém tentou assassinar o
James? ― perguntou Silver.
― Mas quem faria isso? ― Martins piscou, chocado.
― Acha que é algum fã maluco?
― Não sabemos ― falou Bryan, mas pelo seu tom, ele
parecia estar mentindo. ― Mas saberemos em breve, não se
preocupe.
Ficamos em silêncio mais alguns minutos. Então,
Treves pediu licença dizendo que tinha que fazer algo, o que
achei muito nervoso. Os outros dois também foram embora.
― O que há com aquele cara? ― perguntei baixinho
para Tay.
― Nada ― disse ele e acenou para Bryan, que se
levantou e foi embora.
Eu não me queixei por ele mentir, mas estava confusa
com tudo que aconteceu. Mas se ele não disse nada, é porque
tinha seus motivos. Uma, que não tinha ideia do que seria, mas
com certeza tinha a ver com seu pai e a tal tentativa de
assassinato.
Capítulo dezesseis
Laurel
Quando cheguei na cidade na noite anterior, eu estava
exausta, tanto que Tay queria que eu fosse embora para
descansar, mas não o deixei em nenhum momento. Eu
descansei hoje durante o dia, mas só por algumas horas, depois
voltei ao hospital para o lado de Tay. Não queria deixá-lo
sozinho.
Já estava anoitecendo quando Tay me levou para
visitar seu pai, mas ele estava dormindo. Ele se parecia com o
Tay, mais velho, claro. Era cheio de tatuagens também. Tinha
soro em sua veia e uma sonda no nariz.
Tay teve que dar uma saída para falar com alguém,
então eu fiquei no quarto com seu pai.
― Oi, olha não sei se você está ouvindo, mas queria
que soubesse que o Tay não o convidou para o casamento,
porque nenhum de nós dois sabíamos que íamos nos casar, foi
repentino. ― Eu me sentei na cadeira e olhei a figura
acamada. ― Ele me ajudou quando me conheceu, não me
deixou chorar por algo que tinha acontecido, ele me ajudou a
realizar os meus desejos, que sempre quis na minha vida. Um
deles era o casamento, foi coisa de momento, sabe? Vegas e
tudo mais, mas por causa desse momento, nós estamos casados
até hoje, e também me fez apaixonar por ele perdidamente.
Eu olhei para a janela e depois para o James.
― Quando você acordar, nós vamos realizar uma
reunião com minha família e a dele, isso inclui você, tudo
bem? Então levanta dessa cama logo para isso acontecer.
Agora somos uma família. ― Eu me inclinei mais e cheguei
perto do seu ouvido, e sussurrei: ― Seu filho ama você, sabia?
Pude ver a forma que ele olhava para você nessa cama, eu vi a
dor e o medo que sentiu ao pensar que você poderia não voltar
mais para ele, assim como a mãe.
― O que você está fazendo? ― perguntou Tay
entrando no quarto.
Eu me levantei e sorri.
― Conversando com seu pai, não sei se ele ouve, já
que está dopado, mas não custa tentar. ― Fui até ele e peguei
sua mão.
― Sério? O que estava dizendo? ― Deu um selinho.
― Bom, como foi nosso casamento, que no caso, ele
não foi convidado, eu prometi que assim que ele melhorar, nós
vamos fazer uma festa de casamento com meus amigos e os
seus ― anunciei.
Ele sorriu e me beijou, mas me afastei dando um tapa
nele.
― O quê?
― Se comporta, não vamos nos agarrar na frente do
seu pai.
Ele sacudiu a cabeça.
― Seus irmãos vão levar você para a casa, que você
tem aqui ― informou.
Eu franzi a testa.
― E você?
― Seus irmãos disseram que não estamos dormindo
juntos até que estejamos casados com o mesmo padre, que
casou seus pais, e que era para eu ficar em um hotel e não
junto com você.
― Meus irmãos não têm nada a dizer sobre minha
vida, sou maior de idade e vacinada, portanto, vou dormir ao
seu lado essa noite ― falei de modo decisivo. ― Não preciso
casar de novo com você, aquele nosso casamento, de Vegas, é
valido para sempre.
― Não quero brigar com eles, afinal de contas,
comecei do jeito errado ao me casar com você sem eles
estarem perto, então…
― Então você não vai dormir comigo para não magoar
meus irmãos? ― indaguei.
Ele triscou no meu nariz com a ponta dos dedos.
― Não é bem magoar, mas se eles quiserem me
derrubar e, eu revidar, a única ferida nisso tudo será você, eu
não quero isso. Não vou fazer isso. ― Beijou meu rosto. ―
Agora vamos embora.
― Sim, vamos, mas vou dormir com você, e não
sozinha, se vai para um hotel, eu vou junto, não vou deixá-lo
sozinho. ― Peguei sua mão. ― Deixe que cuido dos meus
irmãos.
― Obrigado, linda. Eu adoraria passar a noite com
você, mas antes tenho que resolver algumas coisas.
― Eu sei que deve estar sendo difícil para você, ser
traído assim por alguém, no qual julgava amigo de seu pai ―
falei baixo para James não ouvir caso acordasse.
Tay descobriu que foi Treves quem tentou matar seu
pai, um homem que era amigo do James desde adolescente, e
juntos fundaram a banda. Às vezes, eu me perguntava: Por que
as pessoas fazem algo assim? Trair um amigo de longa data.
Porque foi isso que Treves fez.
Bryan e Tay colocaram na mídia tudo o que aconteceu,
as provas e o suspeito. Mas antes que a polícia o prendesse, o
fodido fugiu.
― Sim, está. Bryan vai me contar o que eles acharam
até agora, parece que estão armando um plano para encontrar a
localização dele ― disse enquanto andávamos pelo corredor.
― A noite vai ser praticamente chata. Todos meus amigos vão
estar lá.
Antes de sair do quarto, Tay se despediu do seu pai
dizendo que voltaria cedo, pela manhã. Dois seguranças
ficaram na porta. Acredito que seu pai acordaria logo.
― Eu não ligo, só quero estar do seu lado. Posso ficar
com a Sam e as outras meninas, não tive muito tempo para
conversar com elas. Aonde vai se encontrar com Bryan e os
outros? ― perguntei.
Desde a noite anterior, os amigos de Tay tinham ficado
ao lado dele. Isso que eram amigos valiosos —, pensei. Os
meus irmãos também, eles cancelaram alguns shows para ir
me procurar em Dallas, após as fotos do meu casamento com
Tay terem sido vazadas. Ainda bem que eles pararam de falar
sobre isso. Agora só falavam da tentativa de assassinato de
James.
― No salão do Hotel Mystic, lá estão hospedados
todos os meus amigos. Lucky vai estar lá também, assim ele
faz a segurança não só da Sam, mas de Angelina e das outras
meninas, incluindo Rayla, que chegou hoje à tarde com seu
marido Alex.
― Rayla e Alex?
― Sim, Rayla é irmã de Lucky e Ryan. Alex, de
Alexia ― informou. E depois me olhou de lado. ― Já que vai
ficar conosco, então avise seus irmãos.

Estávamos no salão do lado direito, eu e as meninas.
Acabei conhecendo um pouco delas. Tabitta era uma ex-agente
do FBI, agora ela era mãe de duas meninas e dona de casa.
Também cuidava dos irmãos do Jason. A mãe dele morreu e
deixou os dois para ele tomar conta.
Alexia era dona e diretora de uma escola, que seus pais
deixaram para ela.
Angelina era autora e, dona de uma editora, que antes
era de Daniel, agora era de Ryan, que só comprou para ela
trabalhar no lugar.
― Não creio! Ele comprou uma editora para você
trabalhar? ― meu tom saiu aturdido.
Ela sorriu e assentiu.
― Sim, mas não deve ficar espantada ― ela disse e
apontou para Sam. ― Com ela foi pior, ele deu uma empresa a
ela.
Eu arfei.
― Céus, isso é demais, não é? ― falei a verdade. ―
Gosto de conseguir e ter as coisas suando e ralando.
Elas sorriram.
― Eu também ― disseram as duas em uníssono, o que
foi esquisito, e depois Angelina disse sozinha: ― Eu soube
muito tempo depois que ele tinha comprado a editora.
Ela me contou que o conheceu fazendo uma aposta, ele
queria a Sam para desfilar para sua agência de moda, então os
dois fizeram uma aposta de que ele ficaria com uma mulher,
mas sem transar, só não contava que fossem se apaixonar.
Depois, ela engravidou, e não podia ter filhos, pois sofria de
cardiopatia, mas mesmo arriscando sua vida, ela teve Victória,
a filha dos dois.
― Mas soube que ele comprou dois cavalos para você
― começou Angelina com um sorriso.
― Cavalos? ― indagou Alexia.
― Sim, um árabe e um escocês, só de pensar no valor
que Tay pagou neles, eu fico toda encolhida.
― Quanto mais ou menos? ― sondou Angelina. ―
Tenho um, chamado Neve, ele fica no haras do Ryan, em
Manhattan. Eu vou lá sempre, e pelo que sei de cavalos, que
também amo, eles não são baratos.
― Não são ― concordei. ― Ainda porque os
compramos em um leilão que teve em Dallas. Oitocentos mil
dólares cada.
Todas arfaram.
― Céus! ― Tabitta bebeu uma bebida.
― Cristo ― concordou Sam.
― Sim, isso é…
― Sim ― interrompi Alexia. ― Concordo que é
demais. Nilan tinha me dado um cartão para isso, para gastar o
quanto quisesse com cavalos. ― Olhei para elas ― Eu não sou
assim, não sou aquela irmã fresquinha, que gasta todo o
dinheiro do irmão a torto e a direito. Gosto de conseguir por
mim mesma. Por isso ia perder o leilão com aquele valor
exorbitante, então Tay deu o seu lance e comprou os cavalos
que eu mais queria. Um, ele me deu de presente, mas o outro
surtei, então o mesmo diz que comprou para ele, mas que vai
deixar na fazenda para que eu tome conta.
― Oh, o garoto sabe fazer as coisas ― disse Tabitta
com um sorriso.
― Concordo com isso ― falei tomando uma bebida.
― Jordan é uma fera em fazer negócios, já fechou
muitos contratos para Lucky, e grandes ― comentou Sam
sorrindo. ― Ele é bom.
Concordei com isso também.
A história da Sam já foi um pouco mais pesada, ela não
se entendia com Lucky nem com seu jeito autoritário, pois ele
a queria de qualquer jeito. Ela trabalhava para ele, mas se
demitiu, após o mesmo fazer uma proposta idiota a ela.
Depois, ele conseguiu trabalho a Sam, mas não contou e
mandou uma imensa e vasta cesta de rosas vermelhas… então
seu pensamento mudou em relação a ele, após descobrir sobre
suas caridades e ações.
Tabitta foi uma antiga namorada de Jason nos tempos
de escola, mas aí seu pai, o chefe de um Cartel, matou sua avó
e ia atrás dela e de Jason, mas ela foi embora antes e o deixou
para a própria proteção dele. Após nove anos, ela o
reencontrou e os dois tem uma filha de nove anos juntos, que
ele nem sabia que existia. Depois que derrotou um Cartel de
drogas da máfia russa, ela se demitiu, e agora era somente
dona de casa.
Alexia era uma mulher exuberante, ela ficou com
Bryan depois de ele salvá-la de um psicopata doente, que
havia a sequestrado anos atrás.
Rayla era uma loira fabulosa, parecida com seu irmão
Ryan. Casou há alguns meses com Alex, o irmão de Alexia.
Ele não tinha vindo, pois estava no Japão, ele era DJ em
boates de luxo.
― E você? ― perguntou Angelina.
― Eu? ― franzi a testa.
― Sim, contamos sobre nós, agora fala como conheceu
o Jordan.
Eu suspirei e contei sobre o aniversário de Shade,
quando o vi com a Melissa, e minha paixão adolescente por
ele. Era assim que o intitulava agora que amava o Tay, de uma
maneira, no qual nunca imaginei amar alguém.
― Nossa! ― disse Tabitta.
― Sim, Tay veio para mudar tudo. ― Sorri pegando a
bebida e, em seguida, tomei um gole.
― Como conheceu Jordan e se casou com ele no
mesmo dia? ― Sorriu Angelina. ― Isso é demais, não é?
Casamentos geralmente levam meses.
― Sim, mas nesse dia era o casamento de Shade, então
a coisa estava bastante ruim, eu estava sofrendo, e com Tay ao
meu lado foi como um porto seguro. Ele não me deixou ficar
triste ou chorar, então me perguntou qual era o desejo que eu
tinha, mas que nunca realizei ou tentei fazer. ― Olhei para ele,
que conversava com os homens do outro lado do salão. ― Eu
tinha três desejos: casar, fazer uma tatuagem e perder minha
virgindade.
― Oh, meu Deus! ― gritou Tabitta, animada. ― Deve
ter sido magnífico ou foi desconfortável por não ser quem
você queria?
Eu olhei para ela.
― Na verdade, o casamento e, cada momento que tive
com Tay, não pensei hora nenhuma em Shade, por incrível que
pareça, eu pensei em Tay a cada segundo e não no Shade. ―
Passei a mão nos cabelos. ― Foi mágico! Tanto que no outro
dia era para nos divorciarmos, mas esqueci de assinar os
papéis e fui me lembrar disso quando estava no avião.
― Cristo! ― indagou Alexia com a mão na boca, mas
sorrindo.
― Sim, você não imagina a surpresa que tive ao vê-lo
chegando na lanchonete da minha amiga. Ele estava
magnífico, botas de cowboy com cinto de fivela de um boi,
camisa xadrez e chapéu. A mesma aparência do nosso
casamento. ― Peguei meu celular e mostrei a elas as fotos que
tirei no nosso casamento e no dia em que o vi em Dallas. ―
Olha, da mesma forma que ele casou comigo. Lindo, não
acham?
Mostrei as fotos de nós dois juntos nos jornais, mas ele
não estava vestido de cowboy.
― Oh, meu Deus! ― Tabitta olhou para Tay e gritou.
― Você é o cara Jordan!
Todos os homens que estavam lá olharam para nós,
meio confusos.
Sorri para ele.
― Ela está falando de você vestido de cowboy sexy. ―
Peguei a bebida e levantei como se tivesse brindando com ele.
Seu olhar amoleceu meus ossos, se não estivesse
sentada, eu estaria de pernas bambas como uma bêbada, isso,
ele me deixava bêbada mesmo sem estar de fato.
Jason se levantou de onde estava e veio em nossa
direção com os olhos em sua esposa. Ele parecia sério e um
pouco com raiva, para não dizer mortal.
Eu estava prestes a perguntar qual era o problema dele,
mas ele pegou o celular da mão da Tabitta e olhou por meio
segundo, acredito que a foto de Tay, vestido de cowboy, e o
jogou na mesa.
― Cowboy sexy?
Ela não parecia preocupada, só estava sorrindo.
― A parte sexy foi eu que disse ― Apressei-me em
dizer para o homem não ficar furioso demais.
Ela o abraçou e disse algo em seu ouvido baixinho,
mas isso o deixou calmo, e sua expressão sombria se foi como
uma lâmpada sendo apagada.
Eu me levantei sorrindo para as meninas e fui na
direção de Tay, que abriu os braços para mim e me sentei em
seu colo.
― O que foi tudo isso? ― sondou beijando minha
bochecha.
― Meu cowboy sexy. ― Peguei e foto e mostrei a
todos. ― Ele não é lindo?
Todos riram.
― Desculpe querida, mas não tenho fantasias com
homem, meu negócio é mulher ― disse Daniel com um
sorriso.
Todos da mesa concordaram com isso. Deixei passar.
― O que se passa? Conseguiram pegar o Treves? ―
sondei mudando de assunto.
Quando Treves foi ao hospital, eles não tinham provas,
e quando acharam as provas que precisavam, o cara
desapareceu. Soube que Bryan estava montando uma
armadilha para ele, mas o mesmo sumiu.
― Não, mas estamos perto. Daemon é um bom
rastreador, e vai encontrá-lo ― disse Bryan.
Eu assenti e olhei para Tay, e falei que ia ao banheiro e
já voltava, mas antes que eu chegasse em uma das cabines do
banheiro, tudo escureceu.
Capítulo dezessete
Laurel
Acordei e vi que estava sentada em uma cadeira em
um… olhei ao redor e vi que era um galpão abandonado ou
algo assim. Havia duas mulheres do meu lado, uma de meia
idade e uma mais ou menos entre vinte e cinco e vinte e oito
anos, acho que ela era filha da mulher mais velha. Elas
estavam com mordaças.
O medo se infiltrou em mim e vi o que tinha
acontecido. Merda, eu fui sequestrada pelo assassino da mãe
de Taylor. Tentei não imaginar as coisas horríveis que
sequestradores costumavam fazer.
Eu vi que minhas mãos e pés estavam amarrados.
― A Bela Adormecida acordou ― disse uma voz na
minha frente.
Eu levantei a cabeça e tentei não hiperventilar ou
perderia, e não faria isso. Precisava estar no controle ou
surtaria.
Ali na minha frente estava o homem que enganou o
Tay e seu pai durante anos, fingindo ser amigo e irmão, mas
no final tudo era mentira.
― Você… ― tentei controlar minha raiva por esse
cara.
Treves estava sentado em uma cadeira na nossa frente.
― O que tem eu? Eu sou um cantor de Rock, sou
famoso e meus fãs me adoram ― disse ele com uma risada e
depois ficou sério. ― Mas a cadela da Julieta tinha que se
meter e convencer James a deixar a banda.
Meu coração parou sabendo o que esse fodido de
merda ia confessar, embora já soubesse disso, mas estava com
medo e com raiva dele, por ter traído o pai de Tay desse jeito.
― Você matou a Julieta, não foi? ― rosnei lutando
contra as cordas.
Ele me olhou de lado e depois apertou o play de uma
TV, que estava ali perto de nós, então as imagens me fizeram
ofegar de pavor e raiva. Não só eu, mas as duas mulheres ao
meu lado também.
Eu queria perguntar quem elas eram, mas talvez ele
pudesse ficar furioso e nos machucar.
― Isso é o que a cadela me obrigou a fazer com ela,
mas eu não queria isso ― ele comentou. ― Ela só precisava
convencê-lo a não deixar a banda, o que a puta fez? Me disse
que não ia fazer isso, e que essa decisão era de James e não
dela.
Eu não disse nada, estava chocada demais vendo
Julieta conversando com esse traste em uma estufa, mas vi que
esse vídeo era do dia em que ela morreu, então o pior estava
por vir, eu não queria ver. Ela era uma mulher linda, pele
branca, cabelos castanhos na altura das costas.
― Porra, aquela puta controlava ele, e James faria tudo
por ela caso a mesma pedisse, custava fazer isso? ― rosnou
sombrio.
― Ela o amava e percebeu que James estava infeliz
com a vida que levava ― falei.
Seus olhos hostis me fuzilaram, se fosse um laser teria
me matado.
― Amor não existe, ela era uma mulher cheia de
frescura, e só o queria para ela…
― Você é louco, às vezes a fama deixa as pessoas
assim. Eu não sou psicóloga para saber disso, mas é um fato, e
você estava no auge da fama e mulheres, nunca teve nada
parecido, então James diz que vai sair da banda e tudo parece
desmoronar para você, não é? Afinal de contas, ele era o
cantor principal. ― Não era uma pergunta, sabia que era
assim. ― Você poderia ter feito carreira solo.
Ele estreitou os olhos e a raiva brilhava ali.
― Carreira solo? ― gritou se lançando para mim.
Meus olhos se arregalaram pensando que ele iria me bater,
mas o mesmo parou. ― Eu tentei, mas minha voz não é como
a dele. Eu sou baixista. Então, não podia deixar toda nossa
carreira acabar e voltar para minha antiga vida.
― E com isso sentiu a necessidade de matar a Julieta
no passado, e agora James? Já pensou que de qualquer jeito,
você perderia tudo o que tinha? Porque com a morte do James,
a banda acabaria. Os outros integrantes da banda com certeza
não vão querer mais olhar para sua cara ― falei sem hesitar,
embora tudo dentro de mim estivesse com medo do que estava
acontecendo ali, e o que poderia acontecer comigo.
Ele olhou para a tela.
― Ela não me deixou escolha ― disse bem a tempo de
eu vê-lo imobilizando-a e a puxando para o quarto. Pegou
alguns remédios e a forçou a beber, não queria ver essas
imagens da morte de Julieta. ― Ela usava comprimidos para
dormir, eu só acelerei o processo.
― Você a matou ― rosnei querendo ficar livre e
acabar com aquele verme imundo.
― Sabe, quando temos uma vida dura, pais violentos, e
dívidas para pagar, não queremos voltar para essa vida, depois
que nos cercamos do bom e do melhor, ninguém quer isso ―
falou e depois acenou para as mulheres. ― Olhe para elas.
― Quem são elas? ― perguntei.
Ele olhou para a senhora. Ela o fuzilava e rosnava
através da mordaça.
― Essa mulher ficou durante todos esses anos
escondida, e não abortou a filha que eu disse para ela tirar, há
vinte e seis anos. James ficou sabendo delas e as localizou, e
me perguntou que porra eu fiz para fazer algo tão cruel. Por
culpa dela não ter feito o que mandei, James ficou furioso e
disse que não queria trabalhar mais comigo, porque eu era um
monstro. ― Ele riu com raiva. ― Então ele quis sair da banda,
mas eu não podia deixar isso acontecer.
― Meu Deus, você é um monstro mesmo, como pôde
a mandar abortar sua própria filha? ― meu tom saiu enojado.
― Você não entende, não é? Vocês três são as culpadas
― rosnou ele.
― Culpada de quê? Eu nem o conheço ― rosnei de
volta.
― Jordan, Mirian e Sara, os três são culpados pelo
James tentar deixar a banda, e vou fazer os três pagarem com
juros por tudo que perdi, minha carreira acabou e tudo por
causa deles.
― Você vai nos matar? ― sondei tremendo.
― Você é um monstro desgraçado, matou meu
namorado, e me estuprou diariamente quando me levou com
você ― sibilou a mulher falando pela primeira vez, assim que
Treves tirou sua mordaça. ― E quando fiquei grávida me
mandou abortar só pelo fato de estar no auge de sua carreira?
Acha que quero seu maldito dinheiro? Eu não quero nada seu,
a não ser sua morte, seu filho da puta.
Ele ficou furioso e se lançou para ela, mas antes que eu
gritasse houve um estrondo na entrada.
Finalmente!
Taylor
― Vamos prender o fodido assassino que matou minha
mãe e tentou acabar com o meu pai ― falei assim que Bryan
disse que tinha descoberto a localização do Treves.
Tinha policiais indo para lá agora e, eu estava feliz
com isso.
Olhei para o corredor, que dava para o banheiro onde a
caipira tinha ido há alguns minutos, mas achei que ela já tinha
voltado e estava com as meninas.
Eu fui até as meninas para saber se elas tinham visto a
Laurel. Meu peito estava apertado com algo que não entendia.
― Vocês viram a caipira? ― perguntei a elas, que
negaram e ficaram preocupadas.
Minhas entranhas se apertaram. Algo não estava nos
eixos. Então corri para o banheiro, talvez ela tivesse passado
mal ou algo assim. Mas ele estava vazio, exceto por uma
mensagem no vidro.
James tirou meus sonhos e minha felicidade, agora vou
tirar o que seu filho mais ama.
Meus músculos travaram e minhas mãos se apertaram
em punho. Aquele desgraçado pegou a minha mulher e iria
machucá-la.
Pessoas falavam ao meu redor, mas meus ouvidos
pareciam tampados.
Ouvi Bryan gritar com alguém no telefone.
― Treves está com ela? Estou indo pra aí, entra no
lugar agora, não o deixa machucá-la ― pediu.
Eu olhei para ele.
― O que está acontecendo? Eles sabem onde minha
esposa está? Ela está bem? Como ele entrou aqui sendo que
estava sendo vigiado? ― minha voz se elevou. ― Porra, me
diz que eles têm isso sob controle… estou a um segundo de
perder minha mente.
― Sim, ela está bem, sei onde eles estão, e vão entrar
agora no lugar. Se quiserem ir, então vamos ― disse ele. ―
Mas parece que ela não é a única refém, também há uma
mulher e filha dele no lugar.
― Filha? Nunca soube que Treves tinha filhos ―
indaguei seguindo-o para uma Mercedes.
― Sabe aquela história que eu disse sobre ele e um
amigo terem espancado o namorado de uma garota no
passado, e que depois o mesmo a estuprou, mas nada foi
comprovado de fato? ― perguntou enquanto dirigia.
Eu assenti.
―Porra! Se ele a tocar…
― Não vai, os policiais estão entrando lá agora. Se
tivesse acontecido algo a ela, eles já teriam nos dito ― disse
Bryan.
Ficamos em silêncio enquanto nos aproximávamos de
uma casa não muito longe do hotel em que estávamos. Parecia
mais com um casarão ou galpão, não sei, estava escuro, mas vi
os policiais. Meu coração martelou nas costelas, porque essas
sirenes e policiais me fizeram lembrar de quando encontraram
minha mãe morta há nove anos.
Eu saí correndo do carro e fui na direção dos policiais,
e a vi do lado de duas mulheres, um policial estava tomando
seu depoimento.
― Tay… ― sussurrou ela e veio correndo para os
meus braços.
Eu a peguei firme e abracei forte, não querendo soltá-la
nunca mais na minha vida. A partir dali, ela andaria com
segurança, pensei. Não queria e não passaria por isso de novo.
― Você está bem? Ele não a tocou ou machucou você?
― perguntei com tom preocupado.
Ela suspirou.
― Estou bem, só quero sair daqui e ficar com você ―
disse com a voz tremendo.
― Vamos embora.
Capítulo dezoito
Laurel

Dois meses depois


Depois do meu sequestro em Los Angeles, o cantor da
banda, Treves Willon foi preso por assassinato e tentativa de
assassinato e estupro.
A mulher, mãe da filha de Treves, depôs contra ele e
contou tudo o que houve em todos esses anos, o medo que
tinha de Treves encontrá-la e machucar a sua filha de alguma
forma.
Eu fiquei um dia, em Los Angeles com Tay, porque
quando meus irmãos souberam do sequestro me trouxeram de
volta para fazenda, eu não queria, mas Tay concordou com
eles de que em Dallas seria mais seguro.
Até aí tudo bem, mas quando acordei no dia seguinte
estava com Milton me vigiando e outro cara moreno. Ramires.
― Seus guarda-costas ― disse Tay assim que
perguntei o motivo para ter dois homens na minha fazenda. ―
Milton foi contratado por seus irmãos, e Ramires por mim.
― Eu não preciso de um guarda-costas, ainda mais
dois. Nunca precisei.
― Não, mas agora precisa, não vou correr o risco de
perder você, ou pensar nessa hipótese como aconteceu ―
falou Tay com a voz rouca. ― Vai ficar com eles até eu chegar
aí.
― Mas você mora em Manhattan, então não vai estar
sempre comigo… oh, meu Deus, nós dois nunca conversamos
realmente sobre isso, porque você sempre morou lá e, eu aqui.
Não posso deixar a fazenda…
Ele me cortou.
― Eu moro aonde você mora, se vai ficar na fazenda,
então eu também, além disso, a maneira que administro os
meus negócios, me dá autonomia, não preciso estar lá todos os
dias, e também tenho alguns negócios em Dallas ― ele me
disse com doçura. ― Vai ficar tudo bem, caipira. Vamos fazer
funcionar.
Depois disso, ele realmente se mudou para fazenda. O
que me deixou feliz.
Seu pai, James, estava se curando, ele foi traído por um
cara que jurava ser seu amigo, e esse homem matou sua
esposa, que ele tanto amava.
― Eu fico feliz por Jordan ter você na sua vida, a
forma como ele reage a você é mágica ― James me disse uma
noite, quando o trouxemos para a fazenda.
― Tay é bom, e lindo, mas também me ama e eu faço
o mesmo ― respondi.
― Tay… ― falou o nome e fechou os olhos por um
momento e depois me olhou. ― A mãe dele o chamava assim.
Depois que ela se foi, quando o chamávamos dessa forma, ele
se enraivecia e às vezes até brigava. Então o chamamos de
Jordan.
― Shade me disse.
― Mas você? Eu vejo a forma que ele reage ao ser
chamado assim, sua expressão brilha de felicidade, amor e
devoção.
― Eu sinto o mesmo por ele ― confessei pigarreando.
― Tay é meu tudo, meu porto seguro, minha fortaleza.
― Fico feliz com isso, sei que minha cabeça não está
em um bom lugar agora, mas vou superar, essa fazenda parece
mágica, então vou lidar com tudo ― respondeu ele.
Depois disso ficamos cada vez mais próximos, Tay e
eu ficamos ao lado dele e mostramos a verdadeira razão da
felicidade. Acho que um dia, teríamos o privilégio de ver
James assim, feliz, por agora as feridas estavam cruas ainda.
Brithany, realmente saiu do hotel de Tay e trabalharia
comigo. Ele não a demitiu, foi ela, a mesma disse que adorava
trabalhar no campo.
Isso levou a briga que tive com Tay, porque eu tinha
pegado o dinheiro dos meus irmãos como empréstimo, mas
Tay já tinha pagado tudo da obra. Eu tentei dar o dinheiro a
ele, mas o mesmo não aceitou. Essa foi nossa primeira briga,
ou melhor, discussão.
― Nós somos casados, ou não? ― perguntou ele com
os dentes trincados.
― Claro que sim, mas isso não quer dizer…
Ele me interrompeu.
― Quer dizer que tudo que você tem é meu, a fazenda,
os cavalos, e até você mesma é minha ― quando ele disse isso
um fogo atravessou meu corpo de forma que me fez ofegar e
remexer onde estava sentada, à mesa do café da manhã.
― Então não me critique por querer tomar conta do
que me pertence ― rosnou vindo até mim. ― Se seus irmãos
não estivessem logo em casa, eu a colocaria sobre meus
joelhos e te ensinaria a não ir contra mim.
Naquele dia, ele realmente me ensinou uma lição com
suas palmas em minha bunda.
Estava fazendo dois meses desde que tudo que
aconteceu, e quatro meses que o conhecia, e ele mudou minha
vida da água para o vinho.
― Tay ― chamei assim que saí do quarto a procura
dele para mostrar minha surpresa.
Ele estava vendo as obras da pousada e do haras, então
mandei uma mensagem a ele e esperei no quarto, sentada.
Tinha tirado uma foto minha com a roupa que eu usava.
Após uma noite em que estava navegando na internet,
eu me deparei com uma fofoca sobre ele ser um homem
controlador na cama e gostar de coisas de BDSM, porque tinha
uma foto dele saindo de um clube com esse nome, pesquisei
sobre isso e vi as posições que faziam lá, nós nunca fizemos
nada parecido.
É claro que fui algemada e tudo mais, mas jamais algo
assim. Então comprei uma coisa para iniciar o que queria,
porque queria tudo com ele, desejava que ele não se
controlasse comigo só porque eu era sua esposa. Se ele
gostava de jogos, eu também gostaria.
― Caipira ― disse meio ofegante e entrando no
quarto.
Eu sorri.
― Oi.
Seus olhos estavam arregalados me vendo com um
conjunto de lingerie vermelha de renda.
― Espero não ter interrompido o meu marido em uma
hora ruim ― comentei com tom sexy.
― Nilan e Gave estão checando algumas coisas, e meu
pai está com eles ― respondeu.
Nilan e Gave estavam vendo a obra, eles não tinham
show agora. Shade foi atrás de Melissa em Austin. Ainda não
sabia o que tinha acontecido entre eles. Depois ligaria para
saber. Precisava ter uma conversa com Melissa e ser amiga
dela, só estava dando tempo para os dois se acertarem.
― Mas o que é tudo isso? Não que esteja reclamando.
― Sorriu com os olhos quentes.
― Que bom, porque comprei um brinquedinho para
você usar em mim, e jogarmos. Soube que gosta disso.
― Soube?
― Vi uma foto onde você estava saindo de um clube
assim, então pensei, por que não? Acredito que vou gostar,
porque só de pensar naquelas posições, eu me sinto quente. ―
Apertei minhas pernas uma na outra.
― Puta merda! ― Ele olhou para a cama,
especificamente para o que íamos usar, uma correia parecida
com cinto, mas que prendia as duas coxas, mantendo-as aberta
e dobradas, e passava em volta do pescoço.
― Eu vi na internet e fui comprar, sabe como colocar
isso? Não li as instruções ainda, mas se não quiser, então…
Ele trancou a porta e veio na minha direção sem tirar
os olhos dos meus.
― Você quer jogar? ― sua voz estava rouca.
― Sim ― respondi ofegante, as bolas de prata dentro
de mim estavam me deixando louca. Mas ele não sabia sobre
elas.
― Tire a calcinha e sente-se na beirada da mesa com
as mãos apoiadas para trás.
Eu fiz o que ele mandou. Tirei minhas coisas da
mesinha e sentei ali.
― Ótimo! ― disse e pegou uma venda, que estava na
cama e veio até mim colocando-a em meus olhos. ― Vai dar
mais excitação.
Eu assenti, muda, ele me deu um selinho e se afastou
um pouco, porque seu calor sumiu.
― Agora, erga as pernas como se fosse dobrá-las no
peito, mas as deixe abertas. Faça isso sem tirar as mãos do
lugar, na mesa ― ordenou.
Minha respiração engatou, assim que estava exposta
para ele, embora Tay já tivesse visto cada parte de mim. Senti
a correia em volta do meu pescoço e prendendo minhas coxas,
mantendo-as bem abertas e meus joelhos dobrados.
― Puta que pariu, isso é bola de prata? ― agora foi
sua vez de respirar descompassado.
Eu gritei assim que ele a puxou para fora.
― Puta merda!
― Isso resume querida, está escorrendo meu mel aqui,
pronto para mim ― ouvi uma cadeira sendo puxada e depois
seu hálito próximo a minha boceta exposta. ― Linda demais.
― Você está me matando Tay ― sussurrei com um
gemido.
― Eu vou comê-la agora e não grite, porque se seus
irmãos chegarem para nos atrapalhar, eu sou capaz de esganá-
los ― falou, e então sua boca estava em mim e acredito que
fui arrebatada no mesmo instante.
Ele me sugava com uma fome que quase me fez perder
as forças, mas me controlei e tentei não gritar, mas estava
difícil.
― Tay…
Ele não respondeu, só acelerou mais o movimento da
sua língua mágica em mim. Eu queria tocar sua cabeça e
enterrá-lo mais em mim, tamanho era o meu desejo.
― Goza para mim, linda ― rosnou e deu um puxão em
meu clitóris, que me fez gritar e me trouxe para a borda do
orgasmo.
No último segundo ele estava dentro de mim me
enchendo com seu pau, que adorava. Suas mãos puxaram meu
sutiã para fora e desceu por minha garganta.
Sua boca estava em meus peitos, lambendo-os e
chupando um depois o outro com força.
― Mais forte, Tay ― gritei.
Ele deu um puxão em meu cabelo me fazendo gemer, e
me beijou com um rosnado me impossibilitando de gritar e
alguém ouvir, embora nesse momento não estava ligando para
ninguém.
Aprofundei mais o beijo enquanto ele me fodia com
força, assim logo explodimos.
― Está satisfeita agora, minha esposa linda? ― Ele me
beijou tirando minha venda.
Eu pisquei e encontrei seus olhos azuis brilhantes e
sorri.
― Muito, tanto que vou ceder sobre as construções na
fazenda, vou tentar não surtar com o seu dinheiro…
― Nosso, e dos nossos filhos, que ainda vamos ter ―
ele me disse com um sorriso.
Eu fiquei feliz por ele querer filhos, embora ele tivesse
me dito isso antes, mas agora as coisas eram diferentes.
Alguns dias, eu fui fazer os exames, porque minhas
regras estavam atrasadas, então fiz o teste de farmácia, e deu
positivo e depois confirmei com o exame de sangue hoje de
manhã. Por isso organizei uma reunião de família ali, para
revelar a todos, mas antes precisava dizer ao Tay.
Ele tirou as fivelas da cinta, que me prendia e saiu de
mim me ajudando a alongar minhas pernas, que ficaram
rígidas devido à posição, mas amei cada segundo. E fui ao
banheiro me limpar.
Assim que voltei para o quarto, eu o vi ajeitando suas
roupas. Ele sorriu para mim.
― Era para eu estar lá fora trabalhando ― disse.
Eu dei ombros.
― Essa é a valência por ser o chefe. ― Sorri. ― Além
disso, sua prioridade é satisfazer sua esposa, não importa a
hora.
― Satisfazer minha esposa, hein? ― Beijou meus
lábios.
― Claro, é sua prioridade.
Ele riu.
― Notei que seu apetite por sexo aumentou durante os
últimos dias, nós transamos de três a quatro vezes por dia, ou
mais. ― Ele me olhou de lado.
― Está reclamando? ― Arqueei minhas sobrancelhas.
Esse apetite, a ginecologista disse que era por causa da
gravidez.
― Imagina, estou amando cada segundo disso ―
respondeu dando um aperto na minha bunda. Eu estava com
sua camiseta preta.
― Que bom ― falei e suspirei. ― Preciso te dizer uma
coisa, mas não sei se você vai ficar com raiva.
Ele se afastou e estreitou os olhos.
― O que foi?
― Não sei por onde começar. ― Meu coração batia
forte no peito.
― Laurel me diz que porra está havendo, você está
tensa. ― Tocou meu rosto.
― Lembra quando paramos de usar camisinha, porque
eu tomava anticoncepcional, mas eu disse que me esquecia de
tomar os comprimidos às vezes? ― falei num jato. ― Bom, eu
esqueci, e descobri que estou grávida.
― O quê? ― sua voz se elevou.
Eu me encolhi.
― Eu sinto muito, era para eu ser mais cuidadosa,
mas…
Ele pegou meu rosto em suas mãos.
― Por que está com medo? Acha que eu não quero
filhos?
― Mas você falou que queria filhos daqui há dois ou
três anos, e agora eu estou…
― Laurel, eu amo você de uma forma que nunca
imaginei ser capaz de amar, e estou completamente feliz por
termos um filho ou filha, seja o que for será bem-vindo.
Eu limpei meus olhos molhados.
― Eu me sinto a pessoa mais feliz do mundo ―
sussurrei. ― Também amo você, meu cowboy.
Ele sorriu.
― Bom, deixei Manhattan para viver em uma fazenda
em Dallas, com uma caipira linda e sexy, então acho que
mereço o título. ― Piscou.
― Linda e sexy? ― Sorri passando a mão em seu
peito. ― Essa gravidez vai me matar de tesão, acha que
consegue mais uma?
Ele me olhou com desejo.
― Vamos antes que seus irmãos cheguem. ― Ele me
pegou nos braços e me colocou na cama e, em seguida, pairou
em cima de mim. ― Eu amo você.
― Também amo você para sempre. ― Então o beijei
me rendendo a esse amor e agradecendo a quem o enviou para
minha vida.

Fim
Epílogo
Lucky
Já fazia dias que meu telefone tocava direto com uma
ligação, no qual não queria saber.
Mary deixou de ser minha mãe no momento em que
me abandonou quando era criança. Até hoje, eu não sabia seus
motivos, e se tinha algum. Talvez ela fosse apenas uma cadela
fodida mesmo, não é?
Três semanas e, eu estava sendo perseguido com
ligações do advogado dela, até falei com meu advogado para
que tentasse impedi-lo de me atormentar com esses malditos
recados. Porque não queria saber dela de forma alguma.
Mas ela persistiu com o recado de que precisava falar
comigo sobre uma coisa importante, e se eu não fosse visitá-la,
eu jamais saberia o que realmente aconteceu comigo e seus
motivos por me deixar.
Eu falei a mim mesmo que não queria saber, mas no
fundo ainda restava a dúvida dos motivos que a levou a me
odiar e ainda desejar minha morte.
Sentei-me à mesa, em frente a pessoa, que um dia amei
e chamei de mãe.
― O que tem de tão importante para falar comigo? ―
falei com tom duro.
Ela olhou para mim e Bryan, ao meu lado.
― Por que não veio sozinho? Achou que eu mataria
você? ― seu tom era incrédulo e raivoso.
― Você fez isso uma vez, se esqueceu? Deixou-me
sozinho em uma casa com fome para morrer naquele lugar ―
rosnei. ― Vá direto ao ponto, pois tenho mais o que fazer ao
invés de olhar para sua cara.
Ela estreitou os olhos.
― Preciso que me tire daqui…
Eu ri sacudindo a cabeça com raiva.
― Você é louca? ― sibilei com fúria. ― Você e o
bastardo do Kevin me roubaram, acha que vou deixá-los
soltos? Ninguém me rouba e fica impune. ― Eu me levantei.
― Se for apenas isso que tinha a dizer, eu estou indo embora e
você não vai ver a luz do dia fora dessas celas.
Ela suspirou.
― Você é um homem arrogante, mas tudo bem… vá
embora sem saber onde sua irmã vive.
Eu me virei, porque tinha começado a ir embora. Olhei
para a víbora.
― Irmã? Eu não tenho irmã e você não tem nenhuma
filha, porra! Então não me venha com essa merda ― rosnei.
― Não? Se você não acredita, o problema é seu, mas
ela existe.
Eu estreitei meus olhos.
― Então, onde ela está?
Ela sorriu.
― Acha que vou dizer a troco de nada? Tire-me desse
lugar e eu falo, ou você nunca saberá onde ela mora, nem o
que faz ou como ela está. Será que ela está bem ou passando
dificuldade? E você cercado do bom e do melhor…
A porra do meu peito parecia ter sido socado no meio,
com muita força. Eu não podia soltá-la, mas como descobriria
sobre minha irmã? O que ela fazia? Será que estava bem? Será
que sofreu como eu, sendo deixada em um lugar ruim?
Porra! O que vou fazer agora?

EM BREVE
O próximo, e último livro da Série Dilacerados, será
Sempre foi você, o livro de Daniel e Sophie.
[1]
O Gato de Cheshire, Gato Risonho, Gato Listrado ou Gato Que Ri é um gato
fictício, personagem do livro Alice no País das Maravilhas de Lewis Carrol. Ele se
caracteriza por seu sorriso pronunciado e sua capacidade de aparecer e desaparecer.
[2] Nota da autora: nas igrejas, local destinado aos ofícios divinos e aos cânticos,
situado em diversos lugares consoante a época (à frente do altar, sobre a porta de
entrada principal etc.).

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