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Desde pequeno fora acostumado a ser sempre o seu braço direito, mas
agora, depois de anos sendo sempre o segundo em tudo, Enzo finalmente
assumirá seu cargo de chefe da máfia Francesa, casando-se com a não tão
bela jovem Luana.
Seu único parente vivo é o seu primo, na qual o respeita e o tem como
irmão.
ENZO GREGO
Era injusto Enrico ter se casado com uma mulher linda, de arrancar
suspiros até mesmo de mim, e eu ter que me casar com uma medusa, um
bicho papão. Uma bruxa de contos de terror.
Sempre ficou em evidência que meu pai sempre preferiu o meu irmão
do que a mim, ele sempre o preparou para herdar a liderança da máfia. Já eu,
tive que aprender muitas coisas ensinadas pelo meu irmão, e não pelo meu
próprio pai.
Desde a sua morte, a nossa vida vem tentando voltar ao normal. Meu
pai não era um bom homem, pelo menos não com a máfia e muito menos
com a família.
Se hoje sou o braço direito do meu irmão, é porque lutei para isso. O
fato de ser um Grego não garante nada nesse mundo, só o respeito. Como por
exemplo o meu tio, que foi morto pelo próprio irmão. O meu pai não tinha
limites, nunca teve, e isso meu irmão herdou dele.
Sou inconformado por ter que me casar com aquela mulher que me
causa nojo, repugnância. Odeio o fato de que até nisso meu pai deu um jeito
de me ferrar.
A minha vida não era fácil, era bastante tensa. Fora tudo isso, ainda
tinha o casamento na próxima semana, e ainda tinha o peso da máfia nas
minhas costas já que Enrico estava de "férias".
Tinha que ser implacável com tudo, e ao mesmo tempo, ser frio. Ter
que fingir que estava tudo bem, mas não era bem assim. Eu conviveria bem
se não fosse pelo casamento, mas como era um casamento de interesses, eu
estava disposto a esquecer que a noiva era mais feia do que assombração. Eu
seria herdeiro de toda máfia francesa deixada por seu pai, seria tão importante
quanto Enrico.
Seria capaz de qualquer coisa para ter os status de chefe, até mesmo me
casar com Luana. Seria um grande esforço, na qual teria que me sacrificar.
Daria orgulho a minha família, e levaria o nome Grego dessa vez para a
França.
CAPÍTULO 1
ENZO GREGO
— Mãe...
— Que jantar?
Minha mãe era uma mulher forte, nunca foi de passar a mão na cabeça
dos filhos, nem mesmo com Enrico. Ela sempre era dura conosco, mas com
Luana e Giovanna ela as tratava com carinho. E isso era duro. Nossa mãe
quase nunca demonstrava atenção para conosco, não desse tipo!
Puts.
Eca!
Sentia nojo, jamais seria capaz de tocar naquela mulher. Nem mesmo
para a minha salvação. Aquilo não era humano, e sim um E.T, sem ofender a
nenhum da espécie.
— Estava passando aqui por perto e resolvi vir ver como está o meu
irmão favorito — disse, sentando-se na poltrona a minha frente.
Ergui as sobrancelhas. Ela diz isso para mim e para Enrico, varia de
quando ela precisa mais de um de nós dois, e nesse caso, ela precisa de mim
para alguma coisa, se não teria ido direto atrás do nosso irmão.
— Mamãe disse que sou extravagante, mas não foi nada disso.
— Tudo bem.
— Espero que não esteja gastando esse dinheiro todo com toucas e
cachecóis.
Ela bufou.
—O que eu não faço pelo meu irmão favorito. Que tal uma joia?
— Um dia ainda irei vê-lo de quatro pela Lu, e quando esse dia chegar,
se prepare, você irá ouvir muito de mim.
Não podia esperar nada de bom desse maldito jantar, nem deveria
aparecer, mas sei que se assim o fizesse, minha mãe era capaz de me bater
assim como fez por causa da Erika. Foram tantas emoções junto com a minha
prima que ainda bem que meu irmão lhe deu um fim digno, senão, seria mais
problemas para o meu casamento. Já não basta Helena pedindo para que eu
não case, como se eu tivesse alguma escolha. E mesmo que tivesse, ainda sim
teria que me casar e finalmente poder ser o chefe de alguma merda, sem ter
que viver na sombra do meu irmão.
Poderia até ser um pouco de ciúmes, mas não era nada exagerado, e
muito menos perigoso. Eu não seria como meu pai, que foi capaz de matar o
próprio irmão por poder, e por causa de uma mulher. Assim que vi Giovanna,
confesso que senti algo diferente. A ruiva era um espetáculo de mulher; linda,
atraente e tinha um olhar perfeito. Meu irmão era o homem mais sortudo do
mundo.
No começo fiquei com tanta raiava por isso, que jurei para mim mesmo
que iria ter alguma coisa com ela, mas com o tempo, conforme fomos nós
aproximando, percebi que não valia apena. Minha cunhada era uma pessoa
especial, e jamais teria coragem de trair Enrico. Devo admitir que no dia do
casamento deles, quando ela surpreendeu meu irmão transando com Erika no
escritório, foi eu que mandei darem o recado a ela de que meu irmão queria
conversar lá com sua querida mulher. Até hoje ela deve pensar que foi um
truque da Erika. Era um segredo que apenas eu saberia, e iria continuar assim.
Foi um erro da minha parte, isso causou várias brigas entre eles. Me
arrependi disso depois de um tempo, mas agora, estava tudo estragado entre
eles e a culpa não era minha.
ENZO GREGO
Sorri de lado.
— Não quero saber que a distratou. Quero que a trate bem, e lembre-se
do quanto seu pai fazia gosto por esse casamento. Se ele estivesse aqui, não
teríamos que estar tendo está conversa.
Vesti uma calça jeans azul escura e um camisete preto. O preto realçava
mais a minha cor, era uma obsessão dos Grego usar preto. Passei perfume e
penteei meu cabelo, estava bonito. Nada me deixava feio, nem mesmo
usando roupas de mendigo. Eu sempre era bonito.
— Enzo.
— Obrigado.
Ela não parecia acreditar. Segurou as flores com as duas mãos, e sentiu
o perfume delas. Diferentes das que eu comprei, essas tinham um perfume
embriagador.
Ela ficava ainda mais feia quando sorria. Tentei disfarçar minha
expressão de espanto, mas parece que a minha mãe não gostou muito, porque
logo ela me lançou um olhar de reprovação.
— Infelizmente, sim.
Ela parecia querer entender o que eu disse, porque fez uma careta de
curiosidade. Às vezes não sei segurar a minha língua, nada que eu não
pudesse concertar.
— Não se preocupe, meu amor, tudo o que eu mais quero é estar ao seu
lado para todo sempre.
Para todo o sempre, eca! Quase vomitei quando ela disse isso.
Fomos todos para a mesa, puxei a cadeira para Luana, que agradeceu
com aquele sorriso que tanto me causava repugnância. Sentei-me ao seu lado,
minha mãe estava na cadeira do Enrico, e o primo dela ao lado da minha mãe,
junto com minha irmã.
— Claro, Enzo.
Fomos até o escritório, o servi de uma dose que ele tomou rapidamente.
— Claro — sorri.
Voltamos para a sala, sentei-me ao lado dela que estava contando algo
sobre a sua vida, que não me interessava em nada.
Parei de caminhar e ela parou, ficando de frente para mim. Luana era
baixinha, mal batia no meu ombro, diferente de Helena. Ela era toda pequena,
até mesmo delicada. Até que ela tinha olhos lindos, nunca tinha percebido o
quanto ela era tímida diante de mim.
— Você mudou desde a última vez que nos vimos — ela comentou.
— Em que?
ENZO GREGO
Seus olhos estavam atentos em mim, agora mais do que antes. Ela tinha
um pequeno sorriso nos lábios, e uma respiração ainda mais eufórica.
— Eu sei que não sei beijar. É muito diferente do que treinar com uma
laranja, ou com um copo de água. Oh, meu Deus! — se tocou que estava
falando algo que deveria ser apenas um segredo dela. — Por favor, diz que
você não ouviu isso — ela estava ficando vermelha de vergonha.
— Eu quis dizer que estava tão nervosa que não sabia como agir. Eu
esperei a minha vida toda para isso acontecer algum dia — seus olhos
brilhavam.
— Verdade?
— O que é verdade?
— Claro que sim. Seremos marido e mulher, e lhe devo todo o meu
respeito.
— Não falo nesse sentido. — ela parecia não entender. — Você deve
ter esperado muito por esse beijo. — falei enquanto refletia.
— Não imagina o quanto esperei por tudo isso, pelo dia do nosso
casamento. Poder deixar aquele internato, e melhor, poder ter uma família
novamente. Iremos morar aqui, não é?
Para mim, Luana não significava nada, mas eu para ela, significava
muito mais do que conseguia imaginar. Ela me tinha como um refúgio na sua
vida, percebia o quanto ela ficava triste ao falar dos pais. Ela ainda devia
sentir bastante a ausência deles, o que era normal pelo fato de ser filha única.
Sem irmãos, sem família. Tirando seu primo Felipe, que ficava a maior parte
do tempo cuidando dos negócios dela, que a partir do nosso casamento
seriam responsabilidade minha, ela completamente sozinha.
A minha noiva francesa era uma mulher de muitas posses, por isso
nossos pais faziam tanta questão desse casamento. É uma pena eles não
estarem aqui para verem tudo isso acontecer.
Teríamos que honrar esse acordo da melhor maneira possível, que seria
casando e tento bastantes filhos. Herdeiros para dar continuidade ao nosso
sobrenome.
Ela ainda estava um pouco aérea com tudo o que tinha acontecido. Me
parecia bastante feliz pelo fato do nosso beijo ter acontecido. Não que eu não
fosse acostumado com esse tipo de reação, mas com ela eu percebia que era
algo diferente. Ela tinha uma alegria a mais, seus olhos brilhavam e todo seu
jeitinho de menina estava sendo exposto nesse momento.
Não era comum eu me sentir culpado por isso, até porque eu não tinha
culpa desse acordo ter sido firmado por nossos pais.
Não iria pensar nessas coisas, afinal de contas, eu não seria o merda
que meu irmão era em relação a mulher. Enzo Grego não permitiria jamais
que uma mulher mandasse no seu coração, e muito menos uma mulher feia
como minha noiva.
Estava na hora de dar um fim em tudo isso. Já tinha lhe dado flores,
trazido para um passeio no jardim, e ainda lhe dei um extra com o beijo.
Não iria mais tolerar esse papelão que havia cometido beijando essa
feiosa.
— Já?
— Sim.
— Tudo bem, se você assim quer — ela sorri da maneira mais fofa que
já vi em toda minha vida.
Luana era capaz de tudo para me agradar. Era bom saber que teria uma
esposa que sua prioridade seria sempre as minhas em primeiro lugar.
Voltamos para a sala e logo ela se despediu de todos nós, junto com o
primo.
Queria dizer que foi igualmente, mas não consegui. Apenas sorri e ela
saiu junto com Felipe.
— Escuta bem, garoto. — Minha mãe segurou meu queixo com força.
— Eu não irei falar novamente, por isso preste bem atenção: se você magoar
essa moça por causa de alguma vadia, eu juro que sou capaz de lhe bater,
menino ignorante. Por isso, bota na sua cabeça, Enzo Gabriel, que se você der
algum vexame no dia do seu casamento, eu juro que não respondo por mim
— ela deu um leve tapinha no meu rosto e se afastou. Iria sair da sala.
Ela olhou para mim séria e com muita raiva no olhar. Ela ia dizer algo,
mas eu a interrompi.
LUANA GARNIER
Eu era apenas uma criança que gostava de brincar e muito amada pela
minha mãe. Mesmo sendo de família mafiosa, não erámos tão tradicionais
como as demais, a começar pelo fato da única herdeira ser uma mulher. Por
isso que meu pai tratou de firmar um casamento muito antes que eu pudesse
imaginar. Antes dos cincos anos, eu já era noiva, e sabia disso porque ouvi
meus pais uma vez falando sobre o assunto.
Por sorte, eu tenho o melhor homem ao meu lado, que é o meu primo.
Ele para mim é como o irmão que eu nunca tive, e nunca poderei ter. Somos
apenas nós dois, e em breve, eu poderei novamente ter uma família.
Lágrimas rolavam dos meus olhos ao imaginar essa situação
acontecendo novamente. Eu teria um marido, cunhados, uma sogra, e em
breve, filhos. Seria a realização de um sonho que eu não queria mais acordar.
Estava muito ansiosa para o dia do meu casamento com Enzo Grego.
Interiormente eu sou doce e gentil. Serei uma boa esposa para o meu
marido, serei obediente como uma mulher da máfia deve ser, como mamãe
era com papai. Lhe darei muito amor e todo o meu respeito, e acima de tudo,
espero poder lhe dar muitos filhos.
Quero ter muitos para poder preencher todo o vazio que um dia eu senti
por ser praticamente sozinha. Eu tinha o meu primo, mas ele era homem. Eu
não podia falar de menstruação com ele, nem o que achava de Enzo. Tudo
isso eu guardava apenas para mim.
A saudade era algo que doía e machucava, eu nem ao menos tive tempo
para me despedir. Em uma dia pedia uma boneca, e no outro, estava
enterrando a minha mãe e o meu pai.
Mas, se tem algo que aprendi nessa vida, é que não devemos sempre
estar se lamentando, devemos procurar viver bem, e sempre ser gentis. Eu
gostava de ser gentil, me sentia bem. Tinha certeza de que deveria ser um
pouco mais séria, mesmo assim eu não conseguia. Chorava até lendo livros
de romances.
Não via a hora de poder me casar com Enzo e ter ele apenas para mim.
Um homem lindo daqueles... eu estava ganhando na loteria. Se eu não fosse
milionária, diria que era a pessoa mais sortuda do mundo por me casar com
um homem bonito e bilionário.
A fama dos Gregos não era uma fama muito boa. Alguns diziam que
eles comiam carne humana dos seus inimigos. Eu sentia muito medo no
começo, e os boatos sobre eles é esquisito, como a das roupas e da casa com
decoração toda preta. Dizem que é porque eles matam pessoas todos os dias e
usam essas roupas pretas para mostrarem que com eles não se brinca. Eu
tinha muito medo, mas tudo mudou quando conheci Enzo pela primeira vez.
Me apaixonei por ele desde sempre, aqueles olhos azuis... De todos os
Gregos, os olhos dele eram os mais azuis.
Desde que ele me beijou, eu estou agindo assim, como uma pessoa
despercebida. Passo horas lembrando do nosso último encontro, do nosso
beijo apaixonado. Antes eu tinha dúvida se ele gostava de mim, mas depois
daquele beijo, tive certeza. Ele me beijou por um único motivo; por gostar de
mim, já que ele não tinha obrigação nenhuma de fazer isso. Me sentia nas
nuvens de tão feliz que estava.
— Espero de verdade que Enzo Grego não a faça sofrer. Não irei
permitir que ele a destrate.
Ele não gostava que eu comece besteiras antes de ir dormir, já que uma
vez eu comi chocolate depois do jantar e passei mal. Tive que ser socorrida.
Desse dia em diante, sempre maneirava em tudo que comia. Por isso era
magra assim, se meu peso estivesse em quarenta e cinco quilos, ainda era
muita coisa.
Tinha meus ombros largos, e um bumbum que não era normal para a
minha magreza. Era um pouco grande e arredondado. Digamos que ele veio
parar aqui e eu não sei dizer como foi.
Minha pele era tão pálida quanto a de Enzo. A diferença era que a dele
era mais, e os meus cabelos eram escuros.
— Concordo.
ENZO GREGO
Estava tão duro pelas beldades que nem ao menos lembrava que tinha
marcado um encontro com Helena. Que se foda! Ela me proporcionava muito
prazer, mas não era a minha mulher para querer ter direitos sobre mim. Ela
era pegajosa e isso me irritava.
Ele bebia com alguns amigos que lhe empurravam as mais belas
beldades e meu irmão estava agindo como um veado.
Se ele não queria, seu irmão mais novo assumiria seu papel de homem.
Enrico estava sentado ao meu lado. Ele estava sóbrio, mesmo tendo
bebido um pouco. Ele mantinha o controle facilmente sobre seu organismo
para qualquer coisa. Pelo menos isso ele não havia esquecido.
— Não precisa fazer tanto drama assim. Até parece que será capaz de
abandonar a vida de solteiro que tanto gosta.
— Você está ansioso. — Desde que essa semana tinha iniciado, ele
havia ficado assim. — Tem notícias de Giovanna?
— Nada relevante.
— Sabe muito bem que ela não está sozinha. Eu sei cada passo seu, até
mesmo sua rotina.
— Mesmo assim, irmão, não a deixava longe por muito mais tempo.
— Giovanna precisa sentir o que é ser livre, mesmo ela não sabendo
que tudo isso não passa de uma falsa liberdade. Ela gosta de se sentir
independente e autoritária em algumas situações.
— Você foi capaz de lhe dar milhões de dólares para fazê-la acreditar
que estava recebendo a herança do nosso titio. Não quero nem imaginar como
será quando ela descobrir que você tem direito sobre tudo dela, e até mesmo
sobre a vida dela. Mesmo ela sendo a filha do Guido, você é o herdeiro da
máfia.
Recusei a voltar para casa junto com ele, tinha uma bela morena
piscando para mim enquanto se despia no poli dance. Sabia bem o que ela
queria e eu tinha muito para dar a ela.
Transar com uma vadia sempre era a mesma coisa. Elas pediam para
meter forte e duro, e eu fazia exatamente isso. Era prazeroso machucar
aqueles lindos rostinhos cheios de impurezas, até mesmo minha Helena
gostava de um sexo selvagem.
Isso só podia ser obra de alguém que estava inconformado com o fim
do noivado, e eu sabia bem de quem se tratava. Tudo isso era culpa de Enrico
por apoiar Anastácia em todas as suas loucuras! Mas isso não iria ficaria
assim.
Ele só mostrou que não estava nada satisfeito com tudo o que estava
acontecendo e eu sabia que ele não iria parar por aqui. Não sabia qual seria o
seu próximo passo, mas sabia de algo; minha irmã corria perigo nesse
momento.
— Anna.
Não tinha cabeça para encarar a minha mãe. Do jeito que ela é, aposto
que deveria estar em casa me esperando para me dar uma bronca e me tratar
como um garoto de cinco anos.
— Eu gosto muito de transar com você, minha deusa, mas agora tudo o
que eu quero é poder dormir.
Abri os meus olhos lentamente, sentido minha cabeça doer junto com
cada nervo das minhas mãos. Parecia que estava amarrado ou algo do tipo.
Espera!
— Se refere as algemas?
— Tudo o que precisa saber é que sua noiva vai ficar plantada no altar.
Quem manda ela ser feia.
Sempre soube que Helena era apaixonada por mim, mas não ao ponto
de agir como uma louca. Deveria faltar menos de cinco horas para o meu
casamento. Nem sabia dizer ao certo se ainda era de manhã, as cortinas
escuras não permitiam que o sol entrasse no ambiente.
Isso não vai ficar assim. Helena vai me pagar por essa afronta.
Teria que sair daqui o quanto antes. Esse casamento era de suma
importância para mim, e não seria Helena que iria me impedir de me tornar
uma pessoa grande e poderosa.
CAPÍTULO 6
LUANA GARNIER
Gostava da luz que tinha aqui. Era o único cômodo da mansão que não
era cercado de coisas pretas. Por sorte meu marido era diferente dos demais.
Ouvi batidas na porta, me assustei pensando que fosse Enzo, mas por
sorte era meu primo. Não pega bem o noivo ver a noiva antes do casamento.
Felipe estava lindo, vestia um dos seus ternos mais elegantes. Seus
cabelos estavam para o lado, algo que ele não gostava de usar, mas tudo isso
para que combinasse com os demais padrinhos.
— Prometo.
Sorri.
— Felipe, estou tão nervosa.
— Não o vi ainda.
— Felipe, não fala assim do Enzo. Pode ter acontecido alguma coisa
com ele.
Felipe tinha razão, não era comum o noivo se atrasar. Estava tão
nervosa que não sabia o que fazer. Em vinte minutos começaria meu
casamento e meu o noivo já deveria estar pelo menos passeando entre os
convidados.
Enzo era o homem da minha vida, e eu não suportaria saber que ele não
pensasse o mesmo de mim, nem que ele nunca se declarasse como eu tanto
espero. Mesmo assim, eu precisava tê-lo ao meu lado e poder construir uma
família.
A palavra que me definia nesse momento era: agoniada. Não conseguia
ficar mais nenhum minuto nesse quarto sem saber o que se passava lá fora.
Precisava sair e ver como estava as coisas. Tive que ter cuidado para não
amassar meu vestido. Se é que ainda iria ter casamento.
— Anastácia, não vou tolerar que fale assim do seu irmão. E ainda mais
no dia de seu casamento — disse preocupada. — Sabe que os homens podem
fazer o que eles quiserem.
— É isso que você quer, não é mesmo? Torce para que nossa família
seja vista como uma família sem prestígio algum. Quer fazer da sua vida o
que bem entender, mas não é assim que as coisas funcionam — gritou. —
Giovana vai voltar para o seu irmão. E Luana e Enzo viverão felizes.
Tinha lágrimas escorrendo por todo o meu rosto. Meu Enzo tinha
passado a noite em uma despedida de solteiro com outras mulheres. Sempre
soube que ele tinha suas amantes, mas isso era antes de podermos ficar
juntos. Será que ele tinha desistido do nosso casamento?
ENZO GREGO
Nesse momento deveria estar sendo xingado por todos. Não que isso
me importasse.
Meu casamento era apenas um negócio e ela sabia disso, mesmo assim
vivia insistindo para que eu não me casasse com Luana, e sim com ela. Que
futuro ela poderia me oferecer? Nem da máfia ela era.
Ela só não estava morta por causa de Jason, que não soube fazer o
trabalho que lhe foi dado. E agora eu estava completamente apaixonado por
essa feiticeira de cabelos curtos. A morena mais bonita e atraente que existe
em toda a face da terra.
Foram muitos dias até que ela pudesse me perdoar. Quando a levei para
o hospital, ela estava assustada. No começo vivia com medo de que eu a
atacasse, e com razão, eu tinha ordenado sua morte.
Remorso não era algo com que eu sabia lidar. Ela teria a lição que
merecia. Quando todo esse bafafá do meu casamento passasse, eu lhe daria
seu castigo por me desobedecer e me enfrentar da maneira que fez.
Peguei um táxi até a mansão. Por sorte não pegamos muito trânsito, e a
minha carteira estava em meu bolso da calça.
Lhe dei as costas, mas fui surpreendido quando ele me puxou pela
camisa, me fazendo encarar sua expressão de primo protetor.
— Presta bem atenção no que irei te dizer. Você pode ser um Grego, eu
não me importo. Para mim você não passa de um merda — seus olhos
pareciam que saltariam a qualquer minuto. — Se magoar a minha prima, juro
que acabo com você.
Tirei suas mãos imundas de cima de mim. Quem esse idiota pensava
que era para se referir a mim daquela maneira? Um simples empregadinho!
Seu pouco parentesco com uma herdeira milionária não lhe dava o direito de
tocar em mim.
— Não importa. Vamos indo, tenho um terno para vestir e sabe que
ainda não sei fazer bem um laço na gravata.
Ele deu um último olhar para Felipe, e fomos juntos para casa.
Vestia aquele terno como se estivesse colocando uma coleira por todo
meu corpo. Não que eu fosse ser fiel a esse casamento, mas era pelo menos a
imagem que deveria passar diante de todos.
— Espero que a Giovana venha. — Ele nada disse. — E que vocês dois
possam voltar ainda hoje.
— Não iremos voltar hoje — disse convicto. — Minha bambina precisa
voar mais um pouco para poder perceber que seu lugar é, e sempre será, ao
meu lado.
— Me deseja sorte.
Helena me olhava com bastante ódio. Não podia acreditar que ela ainda
teve a ousadia de vir ao meu casamento. Minha morena tinha passado de
todos os limites. Aquela boquinha pagaria caro por tamanha coragem.
Adorava torturá-la.
Anastácia disse no meu ouvido que Luana já deveria ter chegado. Não
sabia o porquê da demora, mas se eu atrasei quase uma hora, ela certamente
tinha o direito de atrasar também.
Não queria imaginar que Helena tinha feito algo para isso acontecer.
Até porque ela sabe que isso seria o fim da nossa relação.
De longe avistei ela vindo de braços dados com seu primo. O som da
marcha nupcial tocava avisando que a noiva iria entrar.
Observei-a de longe. Ela não tinha aquela alegria no olhar que tanto
demonstrava ter quando estava comigo. Sou o amor da vida dela, e nem um
sorriso Luana tinha nos lábios no dia do nosso casamento. Ela parecia estar
sentindo algo ruim, seu olhar transparência dor.
Felipe me entregou sua mão sem dizer uma palavra. Os olhos dela
estavam vermelhos, sabia que havia chorado por algum motivo,
provavelmente relacionado comigo. Podia ver dor no seu olhar, sofrimento.
Sua mão não estava gelada, ela não estava nervosa como deveria estar.
Queria entender o porquê de ela estar assim.
Finalmente a hora dos votos tinha chegado e depois disso tudo, estaria
encaminhando para o final dessa cerimônia chata.
— Eu, Enzo Grego, recebo a ti, Luana, como minha legítima esposa.
Prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na
doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias das nossas vidas, até que a
morte nos separe.
— Eu, Luana, recebo a ti, Enzo, como meu legítima esposo. Prometo
ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença,
na riqueza e na pobreza, por todos os dias da nossas vidas, até que a morte
nos separe.
Por via das dúvidas, olhei para trás e vi que Helena chorava nesse
momento. Ela saia do jardim praticamente correndo. Aquilo me doeu. Não
queria que ela sofresse por minha causa, e sim que entendesse que nunca
poderia amar Luana. Que ela era quem me fazia feliz.
— Eu...
Não pude acreditar no que tinha acabado de ouvir. Eu iria acabar com
essa desgraçada, literalmente.
CAPÍTULO 7
ENZO GREGO
Somente hoje tive que encarar o ciúmes de uma amante possessiva que
não sabia qual era o seu lugar. Ameaças de um primo apaixonado que parecia
inconformado por perder a sua amada prima feia. E agora, tinha que ouvir um
provável sermão da minha mãe que havia parado o casamento.
Ela voltou para o lugar ao meu lado. A fuzilei, que nada fez. O padre
deu continuidade à cerimônia, e enfim, nos declarou marido e mulher.
Meu Deus, se não conseguia nem beijar, imagina ter que cumprir com
minhas obrigações de marido.
Sem expectativas nenhuma, pude notar que meu beijo havia pegado
mau diante dos olhares dos convidados. Então ergui o seu queixo e lhe dei
um beijo de leve na boca. Ela não correspondia da maneira como esperava
que fosse.
Luana não deu uma palavra comigo, parecia magoada com algo. Nem
mesmo quando lhe ofereci champanhe ela me respondeu, apenas negou com
a cabeça. Era melhor assim. Não era obrigado a ouvir sua voz irritante.
Se tinha algo que odiava nela, mais do que a sua própria cara feia, era
sua voz. Uma voz manhosa, dengosa, me irritava em todos os sentidos.
— Um pouco.
Não me importei de dizer isso na frente de Luana. Ela não parecia nada
feliz, ainda sim, era tão insignificante que não me importei de dizer tudo o
que disse.
— Chega! — Minha mãe apertou meu queixo com força. — Não irei
tolerar que se comporte como se tivesse dezesseis anos. Agora é um homem
casado. Se porte como tal. Leve sua noiva para dançar.
— Eu estou feliz...
O que era aquilo em seus olhos? Lágrimas! Por que ela teria lágrimas
em seus olhos no dia do nosso casamento?
Ela não queira passar a noite comigo? Ela havia perdido o juízo? Não
era possível que a medusa estivesse rejeitando um deus do olímpio.
— Não.
— Obrigado.
Antes dela ir para o quarto, Luana jogou o buquê de flores para ver qual
solteira iria pegar. Vi quando minha irmã praticamente derrubou duas
adversárias para segurar o ramo. Se Anastácia não fosse tão bobona, o
próximo casamento seria o dela. Não com aquele moleque que ela chama de
namorado, e sim com Andrei Barkov.
Já que minha noiva havia deixado a festa, aproveitei ainda mais para
beber. Não me sentia confortável para encarar os convidados. Por isso,
peguei um litro de champanhe, uma taça e fui beber mais afastado de todos.
Eu conhecia aquele perfume. Sabia que tinha uma mulher irritada bem
atrás de mim. Não olhei porque não iria gostar de ter que bater nela. Estava
mais irritado ainda.
— Pensei que tinha deixado claro que não era para vir.
— Desejo que você sofra sabendo que irei passar a noite com outra
mulher que não seja você. — Nesse momento ela fechou a cara. Pude ver que
ela queria chorar, mas ela era forte e jamais derramaria uma lágrima na minha
frente. — Pensou mesmo que aquelas algemas me prenderiam?
— Foda-se, Enzo.
— Irei sim, meu amor. Com uma virgem intocada apenas para mim —
disse pervertido.
— Faz isso mesmo. Só assim você vai se ver longe de mim. E antes que
eu me esqueça, terá que explicar muitas coisas a sua esposa — disse maldosa.
Ela saiu ainda mais irritada. Estava satisfeito, tinha conseguido deixá-la
mal. Ainda teria seu castigo por ter me prendido em sua casa.
Luana Grego
Da janela do meu quarto, podia ver meu marido com sua amante no
jardim. Ele era muito cínico. Como foi capaz de me trair todo esse tempo? Eu
sei que não podia esperar que ele se mantivesse virgem para mim, assim
como me mantive para ele, mas ao menos esperava que ele não fosse
apaixonado por ela.
O pior de tudo não era ele ter uma amante, e sim ele a amar. As
palavras daquela mulher foram palavras duras. Descobrir tudo isso no dia do
casamento não era nada agradável.
— Como disse?
— A verdade, queria. Não finja que não entendeu. Eu não sou o tipo de
amante que vem fazer barraco no dia do casamento do meu homem.
Ela era amante do Enzo? Ela era linda. Um corpo malhado, morena,
cabelos curtos, baixinha, os olhos verdes quase castanhos.
— A cinco anos estamos juntos. Enzo me ama, sabe por que ele se
atrasou? Estava comigo, em minha cama.
Ela era o tipo de mulher que fazia uma pergunta e respondia no mesmo
instante.
Tinha descoberto toda a verdade sobre meu marido, tudo o que ele
havia feito para aquela mulher e de como ele a amava. Deitada com a cabeça
em meu travesseiro, me permiti chorar até sentir que tinha lavado minha
alma. Deus, eu o amava tanto. Por que ele tinha que fazer isso comigo?
Retirei todo aquele vestido que marcava toda minha história. Agora,
tinha um marido, alguém para cuidar e ser fiel por toda minha vida. Não sei
se seria possível eu assimilar tudo o que estava acontecendo, porque, lá no
fundo, eu sabia que nada podia fazer. Meu marido pertencia a outra mulher, e
isso me deixava totalmente sem entusiasmo para esse casamento.
Sempre fui fiel, e serei até o dia de minha morte. Se Enzo tinha outra,
eu teria que me conformar e aceitar que meu marido era homem e pode fazer
tudo o que quisesse. Além de tudo, ele agora era um chefe muito respeitado
por todos. Tudo o que eu preciso fazer e lhe dar um filho, e poderei viver em
paz o resto de minha vida.
Teria que encarar essa situação da maneira mais fria possível. Só assim
não me machucaria ainda mais.
Como amar alguém que não sente o mesmo por mim? Eu teria que ser
forte e amar por nós dois, apenas assim nosso casamento poderia significar
alguma coisa.
— Desculpe por isso. Sei que são por minha causa — vendo-o falar
assim, senti que facilmente o perdoaria. Afinal de contas, eu o amo com todas
as minhas forças.
ENZO GREGO
Por mais que eu a odiasse, era naquela maldita que eu estava pensando
agora. Só de imaginar aquela bunda grande rebolando para mim, fazia com
que todas as minhas veias se dilatassem como em uma frequência de 220
volts.
Aquela danada teria um castigo a sua altura. Mas, enquanto isso não
acontecia, tinha que encarar o olhar do meu irmão que me reprendia. Logo
ele se aproximou, tomando de mim a garrafa quase seca, junto com a minha
taça.
A prova de uma virgindade não está no sangue, até porque nem todas
sangram na primeira vez. Os homens sabem quando transam com uma
virgem, e isso é o suficiente para dar seu veredito sobre a índole da moça.
— Me conta como foi com Giovana que eu te conto sobre mim. — Isso
o deixou irritado. Ninguém podia dizer nada da sua amada.
Lembrei que ela poderia estar no quarto de hóspedes que ela costumava
ficar. Cambaleando, caminhei até lá, meio que apoiando nas paredes em
determinados momentos. A luz do quarto estava apagada, eu sabia que ela
estava deitada. Tirei os sapatos com cuidado, deixando em algum lugar do
quarto. Retirei minha camisa social, ficando apenas de calça e meias.
Me encostei junto ao seu corpo, sentindo que ela estava usando uma
camisola de seda. Suspirei baixinho com nojo por estar tocando nela. Estava
prestes a vomitar quando meu nariz bateu em seu pescoço quando me mexi
para mais perto dela, senti um perfume bom vindo de sua pele, que me
parecia ser lisa. Então coloquei minha mão sobre seu braço e pude sentir
como sua pele era delicada e sensível ao toque.
Ignorei minha raiva sem sentido e continuei com meus toques sobre seu
braço. Minhas mãos tocaram o seu rosto, notei que estava banhado em
lágrimas.
Ela havia chorado? Posso apostar que foi pelo que Helena lhe disse.
— Desculpe por isso. Sei que são por minha causa — falando assim,
sentia que facilmente ela me perdoaria. Sabia o quanto minha esposa me
amava, e ansiava por esse casamento.
Que pergunta foi essa? Não estava óbvio que somos casados e que a
máfia exige a consumação do casamento o mais rápido possível? Como se
fosse uma obrigação transar antes da festa acabar.
Se tivesse escolha, optaria por não consumar nunca essa união. Nem
teria casado, para ser sincero.
Não era um cara forte como Enrico, era um magro com conteúdo.
Sempre que dava fazia musculação. Não conseguia me excitar diante de
Luana, e se a luz estivesse acesa, seria ainda pior.
— Nada com que deva se preocupar. Agora vamos voltar para nossa
cama?
Ela olhou para minha mão aberta na sua direção, em seguida para a
cama na qual dormia. Óbvio que não iria transar com ela nessa cama, gosto
do meu quarto.
Vendo sua falta de reação, tomei a atitude de segurar sua mão, que
estavam geladas. De repente ela soltou-se de mim num ato de pura rebeldia.
O que estava acontecendo com ela para agir daquela maneira? Tudo isso por
causa das asneiras de Helena? Luana não podia imaginar que eu ficaria todo
esse tempo sem me relacionar com alguma mulher. Ela sabe de minhas
necessidades por ser homem.
— Não é isso... Só não gostei que tenha convidado aquela mulher para
vir ao nosso casamento.
No instante que disse aquilo, notei lágrimas em seu olhar. Helena não
tinha freios. Mandei que a eliminassem a alguns anos, por causa dessa sua
mania de querer ser mais que amante. Ela já deveria estar satisfeita por eu a
ter escolhido como amante e pronto. Jason e seus serviços maus feitos.
— Enzo, eu amo você! Mas não sou cega. Mesmo usando aqueles
óculos com grau elevado, eu sei que você não gosta de mim. Sei também que
esse casamento é apenas um acordo. Se não fosse com você, seria com
qualquer outro e nenhum me amaria por eu ser do jeito que sou. — caminhou
até o centro do quarto. — Não estou pedindo que me ame. Seria louca demais
por pensar nessa possiblidade remota — finalmente olhou para mim. — Eu
só queria que me respeitasse, assim como sempre te respeitei.
— Luana...
— Enzo, passamos anos como noivos e você nunca foi me visitar.
Nunca se importou comigo, com o meu bem-estar. Nunca me mandou nem
um cartão de aniversário... eu sei que aqueles presentes foi a sua mãe que
mandou em seu nome.
Suas mãos uniam uma a outra como forma de prender suas emoções.
Gostava de ouvir o que ela tinha a me dizer, sempre soube que sua vida não
era fácil, e mesmo assim nunca me importei, e ainda não me importava. Ela
tinha razão em tudo o que dizia. Eu era um idiota, mesmo ela não me dizendo
isso, sabia que ela não pensava o contrário.
Sou um completo idiota. Ela não merecia tudo que a fiz passar.
— Não sei...
— Enzo...
Ela tinha um gosto bom. Seus lábios tinham o gosto de creme dental
infantil.
— Vamos para o meu quarto e vamos transar logo de uma vez. Vou
gozar dentro de você, e espero que engravide ainda na primeira semana de
casados.
LUANA GREGO
— Enzo, nunca vai amar você. Olha para mim e olha para você, eu sou
linda. Você não sabe o que essa palavra significa. Não imagina o quanto
Enzo e eu rimos de você.
"O quanto Enzo e eu rimos de você ". Nunca esperei amor de sua parte,
o mínimo que eu queria e desejava era respeito. Sempre soube que ele tinha
suas amantes, só não queria acreditar que realmente fosse verdade. Sempre o
idealizei como um príncipe encantado. Para mim, ele não tinha defeitos, até
hoje.
Esse era para ser o momento mais feliz de minha vida, mas acabou se
tornando o mais triste. Ele convidou a amante para a nossa festa, e não
adianta negar, eu sei que sim, ela me disse tudo. Por esse motivo, deixei a
festa mais cedo. Não me importei com os convidados e muito menos com o
que iriam dizer, eu só queria dormir e ele tinha concordado.
— Não deixa Enzo me atacar. Ele está agindo como um louco — disse
nervosa.
— Solte a moça, Enzo. Onde já se viu tratar sua esposa dessa maneira?
— Mãe, não vou aceitar que a senhora me diga como agir com a minha
esposa.
— Ele a machucou?
— Não toquei um dedo nela. Tudo isso não passa de drama. Uma
menina assustada com a realidade que deve encarar agora.
— Luana, pare de agir assim! Parece que estou usando violência com
você.
Seu tom de voz era duro. Ninguém nunca tinha falado assim comigo
antes.
— Você fez pior, machucou meu coração convidando sua amante para
o nosso casamento. — Disse, com a voz embargada pelo choro.
Ele ainda segurava minha mão forte, quando sua mãe fez uma
expressão de descontentamento. Tudo o que eu mais queria nesse momento
era não ver nenhum deles. Sempre fui enganada por todos, minha sogra
sempre me fazendo acreditar que eu era alguém especial para Enzo, sendo
que o filho dela nunca me olhou, nem como uma amiga e quem dirá como
esposa.
Eu sempre amei Enzo, mesmo sem ter tido muito contato com ele. Me
apaixonei pelo o que eu inventei daquele lindo homem alto, magro, com seus
músculos definidos. Todas as minhas colegas de internato diziam que os
irmãos Grego eram uns pecados. Nunca tive olhos para homem nenhum que
não fosse ele. Nunca nem notei a beleza do seu irmão. Para mim, o único que
existia era o meu marido.
Seria eternamente grata a ela por todas às vezes que foi me visitar no
internato, principalmente pelas vezes em que ela ia nos dias das mães. Seus
gestos eram nobres. Ela teria o meu respeito e minha lealdade para todo
sempre.
Soltei meu braço das mãos fortes do meu marido. Fiquei ao lado da
dona Sandra, que olhava para o filho como se quisesse esganá-lo. Não sei o
que ele fez para deixá-la nesse estado.
Não me atrevia a olhar para o rosto de Enzo, logo não veria nada com
muita clareza. Eu não era cega, mas a noite, sem meus óculos, era difícil ver
alguma coisa nítida.
— Essa é a sua escolha? — perguntou, duro. Nada disse, apenas deixei
que as lágrimas escorressem por meus olhos.
— Você fez sua escolha. Não reclame das consequências — disse, indo
para o lado oposto do nosso quarto.
Chorei mais ainda por saber que ele iria se encontrar com ela. Desabei
nos braços de dona Sandra, que fazia carinho nos meus cabelos.
" — Quando ele se cansar de você, é para mim que voltará — disse
com maldade. — Se bem que... — me olhou com repugnância. — não vai
levar muito tempo para isso acontecer".
Tinha feito minhas higiene matinal. Um banho com água quente me fez
relaxar mais, como se tivesse levado todo peso em minhas costas.
O dia se tornou longo enquanto eu estava deitada nessa cama, sem ter
nada para a fazer além de conversar com Felipe pelo celular. Meu primo tinha
viajado hoje de madrugada. Lamentei por não ter me despedido dele. Sentiria
falta da única pessoa que se importava comigo de verdade, ele era um irmão
de ouro. Meu primo sempre teria seu lugar em meu coração.
Ouvi batidas na porta do meu quarto. Era Anastácia, ela veio me deixar
algumas revistas para me entreter. Pobrezinha, jurava que eu não sabia usar
um aparelho celular, até tentou me ensinar. Ela era divertida e me parecia ser
alguém na qual eu poderia confiar.
Desde ontem à noite que ele estava na casa da amante? Isso me fez
sentir muito mais triste. Essa dor nunca iria passar?
Ele tinha uma maleta em mãos. Será que tinha ido a empresa? Fiquei
com vergonha de perguntar alguma coisa para Ana. Ela me deu um sorrisinho
sem graça, olhou para ele e acenou. Ele a ignorou, como se não tivesse visto
nenhuma de nós aqui.
Convenhamos que a última coisa que ele vai querer nesse momento
serão os meu beijos, e aposto que ela sabia disso mais do que eu.
Essa foi a primeira vez que ri depois de ter chegado nessa casa. Minha
cunhada era corajosa! Todos a descreviam como uma menina mimada,
acostumada a ter tudo na hora que quer, mas eu não a via assim. Para mim,
seu ato de desfazer seu noivo faltando pouco tempo para o seu casamento, me
fez pensar no quanto eu deveria agir mais como ela. Ter personalidade. Eu
sempre encarava tudo o que as pessoas me diziam com a cabeça baixa.
Anastácia não era assim, ela até cursava faculdade. Meu sonho poder fazer
algum dia.
Me senti aliviada por ela não ter insistido mais no assunto da minha
primeira vez, até porque eu não saberia nem o que responder.
A comida não tinha sabor para mim. Tudo o que eu desejava era poder
me entregar a minha dor, colocar para fora tudo o que estava me machucando
nesse momento. Estava tão concentrada com a minha dor que nem ao menos
ouvi as batidas na porta de meu quarto.
Só podia ser Anastácia. Ela era a única que vinha até aqui e sempre
batia na porta. Procurei as chaves em meu criado mudo, sem meus óculos
ficava difícil encontrar alguma coisa. Caminhei até a porta, fiz várias
tentativas para abri-la, até conseguir derrubar a chave no chão.
Tentei fechar a porta novamente, mas ele era forte e não me deixou
completar meu ato. Me afastei dele como se tivesse levado um choque.
Caminhei até o centro do quarto, cruzando meus braços na defensiva.
Notei o perfume forte que ele usava. Tinha acabado de tomar banho, os
cabelos ainda estavam molhados. Uau! Ele estava deslumbrante em uma
calça de moletom e uma camisa de manga comprida, que desenhavam seus
braços definidos.
Putz grilos... Estava totalmente prendida naquele olhar sedutor que ele
tinha de maneira natural.
ENZO GREGO
Luana era a mulher mais feia de todo o planeta terra, e ainda sim, tinha
a capacidade de se negar a mim.
Maldita hora que disse sim para o padre. Minha esposa estava
merecendo um castigo por ser tão ignorante ao ponto de não cumprir com
suas obrigações de esposa. Que tipo de Capô eu sou? Aquele que nem
conseguiu levar para cama a mulher mais insignificante do mundo! O que
diriam de mim se soubessem dessa minha incapacidade? Minha mãe era a
única culpada por tudo isso!
Ela fazia isso para me irritar. Que prova levaria? Minha esposa para
transar na frente de todos?
— Que diabos deu em você para trazer sua amante para festa de
casamento?
— Quero que durma em casa essa noite! — Aquilo não foi um pedido,
e sim uma ordem.
— Pensei que não vinha mais, irmão. — Enrico colocou a mão sobre
meu ombro.
Ignorei todas as chamadas perdidas de Helena. Ela não iria me ver por
uns bons dias. Estava irritado com ela por sua atitude infantil de importunar
minha esposa com suas paranoias.
Nosso casamento era vantajoso para mim e para minha família. Minha
esposa tinha um patrimônio equivalente a dois bilhões de euros. Tudo isso
agora me pertencia, minha única obrigação com ela era não permitir que lhe
faltasse nada.
Tudo o que eu mais queria era poder chegar em casa, tomar banho e
poder dormir, mas teria que ter uma conversa séria com minha esposa. Dirigi
até em casa, estava exausto. Estacionei no jardim e pude notar que ela
passeava com Ana no jardim. As duas me pareciam ótimas amigas, minha
irmã tinha um carisma que todos os Gregos tinham, a única diferença era que
ela não queria agir como uma.
Bati na porta e ouvi sua voz animada do outro lado como se estivesse
contando algo para alguém, era para Anastácia, ouvi quando ela disse o nome
da minha irmã. Sua voz era doce e ao mesmo tempo carinhosa, uma voz,
digamos que, manhosa.
Quando ela abriu a porta, e pode constar que não era minha irmã, seu
sorriso desapareceu por completo. Ela ficou branca como papel, como se
estivesse vendo um fantasma.
— Vou pensar sobre o assunto — ela franziu o cenho. — Acho que não
veio aqui para falar sobre isso.
Encarei seu braço magro e pude notar que ela ainda carregava a cicatriz
com ela.
— Nem doeu tanto assim. Há coisas na vida que doeram muito mais...
— Ela não completou a frase. Sabia que estava se referindo a mim. — Será
que você poderia adiantar o assunto da nossa conversa? Eu estou com sono.
— Meu quarto.
Ela arregalou os olhos. Senti vontade de rir da sua reação. Ela tinha
medo de ficar sozinha comigo? Para quem era perdidamente apaixonada, me
senti como um leão admirando sua presa.
Ela não teve escolhas. Consegui convencer minha esposa de que era
melhor conversamos em nosso quarto. Ela tinha receio de entrar nele quarto,
era engraçado vê-la nervosa. A fiz sentar na cama, para poder sentir toda a
sua maciez. Peguei uma cadeira e me sentei de frente para ela.
— Luana, vou ser sincero com você. Não gostei de sua atitude ontem à
noite — ela me encarava sem jeito. — Uma esposa deve ser obediência ao
seu marido, e você não se portou como deveria.
— Não precisa sentir ciúmes daquela mulher. Ela não significa nada
para mim — segurei sua mão. — Ela não é a minha esposa, e nunca será.
— Será preciso que diga isso, a menos que queira que eu a tome para
mim agora?
Ela engoliu em seco, buscava o pouco de ar que ainda tinha. Sorri com
aquilo.
— Tudo bem.
— Como lhe disse, não irei forçá-la a nada. Esperarei o tempo que for
para que seja minha. Só não demore muito, porque eu quero ter um filho o
quanto antes — ela sorriu sem jeito. Tudo seria questão de tempo para tornar
ela minha submissa. Foi para isso que ela foi criada. — Amanhã a empregada
irá trazer suas coisas para cá. Pode escolher o lado da cama que preferir
dormir. Agora vamos jantar? Ainda não jantei e gostaria de ter companhia.
— Melhor ainda.
LUANA GREGO
Mas como suportar a ideia de que ele tem outra? Saber que todas os
dias ele estará com ela e depois vira para casa, era horrível. Minha primeira
semana de casados se resumiu nisso. Como dormimos juntos no mesmo
quarto, eu sabia exatamente qual o horário que ele chegava em casa.
Lágrimas rolavam pelo meu rosto. Era doloroso essa situação e eu não
poderia fazer nada, tinha que aceitar meu destino. Sozinha no mundo, minha
única família agora era a família Grego. Meu primo nada podia fazer por
mim.
Sou mulher, e não tenho o direito de exigir uma separação. Passei anos
imaginando como seria minha vida de casada, e em todos os meus sonhos,
jamais pude supor que ele teria amantes, e que amava uma delas mais que
todas as demais.
Enzo não merecia o meu amor, e eu sabia disso. Não era tão submissa
como ele desejava que fosse.
Me sentia útil quando ele aceitava minha ajuda para resolver problemas
de contabilidade. Era boa com cálculos, sempre tirei notas altíssimas.
— Caramba! Se pelo menos Enrico estivesse aqui para me ajudar —
reclamava enquanto eu organizava alguns papéis em cima da mesa. Ele
estava sentado na cadeira da mesa do escritório, que tem em casa. — Não que
sua ajuda não seja útil para mim.
— Entendo.
— Acho que esse cálculo está errado — entreguei a folha para ele.
Olhei incrédula para ele. Enzo falava sério ao dizer que cabeças iriam
rolar. Não soube conter meu espanto diante do seu comunicado um tanto
peculiar.
— Por favor.
Desde ontem não parava de pensar que meu marido estava marcando
um encontro com uma mulher, que apostava ser Helena. Aquilo me doia por
dentro, ao ponto de querer chorar ali na frente de todos. Mas antes que isso
pudesse acontecer, pedi licença e me retirei.
Corri de volta para o meu quarto, deixando todos sem entender minha
reação. Deitei minha cabeça sobre meu travesseiro macio com plumas, meu
rosto esquentava com as lágrimas que insistiam em sair contra minha
vontade.
Meu peito se apertava, meu coração batia mais forte que uma moto. Sei
que ele não sabe de mim, mas ainda irei contar sobre meu amor.
— Como se sente?
— Bem...
— Te espero lá embaixo.
Ao todo foram dez vestidos novos, ambos pouco centímetros acima dos
joelhos. Nunca fui de usar nada provocante, e não seria agora que faria isso.
Se Enzo quisesse me notar, teria que ser pelo que eu sou interiormente, e não
fisicamente. Esperava não estar errada. Meu coração se enxia de esperanças
quando imaginava a possiblidade de um dia ter sua atenção para mim.
— Esse daqui vai deixar meu filho de quatro por você. Ela vai levar
esse — comunicou a vendedora.
Tudo o que eu fazia era rir. Dona Sandra era uma mulher de
personalidade forte, e ao mesmo tempo conseguia ser engraçada quando
queria.
Lia era minha empregada particular. Ela tinha em média vinte e quatro
anos, era mais velha do eu. Algumas vezes ela vinha e arrumava meu closet.
Não tínhamos diálogo. Gostaria que ela me dirigisse a palavra, mas isso
nunca acontecia.
— De alguém que me escute — disse, mais para mim do que para ela.
Por que Enzo proibiria algo assim? Será que ele tem preconceito com
pessoas de classe inferior à nossa? Essa era a reposta mais óbvia.
Hoje foi uma daquelas noites em que ele chegava tarde e com o
perfume de outra mulher. Sempre que ele adormecia, eu me levantava para ir
chorar no banheiro. Estava ficando com o rosto fundo, com olheiras em meu
rosto.
Eu mesmo me desprezava por agir dessa maneira. Ele não merecia uma
lágrima sequer minha! Mas a gente não escolhe por quem se apaixona, e
ainda mais quando sua única opção em toda sua vida sempre foi apenas um
homem. É uma pena que tenha que ser assim.
Essa manhã antes de sair para empresa, ouvi ele falar no celular com
ela novamente, tinha prometido para mim mesmo que não iria mais chorar
por ele, mas sempre que me dava conta, estava enxugando alguma lágrima.
Mandei que Felipe comprasse um lindo arranjo de flores para levar para
o túmulo de meus pais. Sempre fazia orações durante esse dia para que eles
estivessem em paz. Preferia ficar sozinha em meu quarto afogando as
lágrimas.
Estava passeando pelo jardim com minha sogra, ela falava de minha
mãe e no quanto elas eram amigas. Soube que estudaram juntas durante cinco
anos, mas foram separadas para ambas se casarem com seus respectivos
maridos.
O significado era assustador. Por que eles teriam algo assim em casa?
Me parecia ser uma grande área de floresta escura como o próprio nome
dizia. Me aproximei com cuidado para observar do que se tratava.
— O que faz aqui? — dei um grito quando ouvi a voz dele atrás de
mim.
O que fazia em casa a essa hora? Meu coração só faltava sair pela boca.
Ele era sorrateiro, nem ao menos tinha ouvido seus passos atrás de mim.
Putz!
Perguntei, na esperança dele falar algo útil para me tirar essa grande
curiosidade. Minha curiosidade ainda me deixaria em maus lençóis.
Ele franziu o cenho, fez isso de maneira tão linda. Na verdade, nada
nele o deixava feio.
— Não prefere não. Eu também perdi meu pai, e isso me dói até hoje.
Sempre dizia para mim mesmo que o melhor era ficar sozinho, mas nunca
era. — Ele estava desabafando comigo? — Um dia espero que consiga
superar essa perda.
LUANA GREGO
Não tinha muito contato com Enrico Grego, mas sempre despertava no
meio da noite para beber água e o encontrava sozinho em seu escritório,
ouvindo música italiana e bebendo champanhe. Aquele homem amava sua
esposa! Soube do que aconteceu com eles por causa de Anastácia, que nunca
me escondia nada. Tinha vontade de dizer para ele lutar por ela, mas não
queria ser intrometida a tal ponto.
— Se ele está solteiro, deveria olhar para mim — uma das três
mulheres que conversavam no banheiro disse.
— Ou para mim — disse a loira sem sal que estava de olho no meu
marido desde o momento em que havíamos chegado.
Não dei mais atenção a elas e sai do banheiro. Estava quase voltando
para a sala de recepção quando lembrei de ter esquecido minha bolsa no
banheiro. Voltei e as ouvi rirem de mim e da maneira como eu me vestia.
Sabia que ela tinha tido algo com ele! Infelizes. Onde quer que eu vá,
sempre terá alguma mulher que ele já teve relações sexuais.
— Me diz uma coisa, os irmãos Grego não são bons com escolhas.
Enzo principalmente. Aquela sua esposa é horrível. Se eu fosse ele, sentiria
vergonha de sair com ela.
Aquela noite foi bastante desagradável, não apenas por causa das três
mulheres que conversavam no banheiro, e sim pelo fato do meu marido ter
demonstrado interesse na mesma mulher que disse ter passado uma noite com
ele. Me segurei para não esbofetear os dois.
●
Enzo era o tipo de marido que não me deixava faltar nada. Eu tinha
casa confortável, cartões ilimitados, motorista a minha disposição. Menos o
mais importante: o amor. Eu daria minha vida para ter um pouco de sua
atenção.
— Que não sei que horas irei voltar da reunião. Não me espere para o
jantar.
— Ok. Essa noite irei sair com Anastácia — afirmei pela primeira vez.
— Se importa?
Sei que para uma mulher da máfia é feio esse tipo de comportamento.
Se bem que mais feio era ele ter um amante!
Ele nunca se importava comigo mesmo, não sei nem porque perguntei.
— Não deve ser nada demais. Agora me conte, como você está? Me
parece um pouco triste.
— Tenho certeza de que um dia, se você pedir com jeitinho, ele vem
com você — piscou para mim.
Thiago voltou para à mesa avisando que seu amigo estava tendo
problemas em uma balada aqui perto. Pelo o que eu entendi, foi uma
confusão entre bêbados, e agora ele estava em apuros e precisando da ajuda
de alguém como Thiago, que além de fazer parte de uma máfia importante de
família renomada, tinha seus conhecimentos para tirá-lo do apuro.
— Você precisa vir com a gente, Luana. Não posso chegar em casa
depois de você — Ana pediu, nervosa.
Não tinha convicção de que isso era uma boa ideia. Preferia ficar
esperando-os do lado de fora do carro, mas não foi possível graças a minha
cunhada que não sabe fazer nada diferente do seu jeito. Esse era o mal da
família Grego! Eles sempre querem tudo no tempo deles.
Dei um grito quando suas mãos tocaram meu pescoço. Ele disse algo
em meu ouvido, me fazendo sentir nojo. Thiago tentou me ajudar, mas o
homem o empurrou, fazendo com que machucasse seu braço. Ana correu
para ajudar o namorado, esquecendo totalmente de mim.
Putz! Estava me sentido sufocada com toda aquela música alta, aquele
homem me prendendo contra seu corpo. Queria chorar porque ele estava
passando suas mãos pela minha cintura, e apertando minha coxa. Tentei
empurrá-lo por diversas vezes, em vão.
ENZO GREGO
Luana tinha lágrimas escorrendo pelo rosto, ela estava apavorada com a
situação, provavelmente por me ver apontando uma arma para a cabeça de
um idiota.
— Levem ele para fora daqui, antes que eu não consiga me controlar —
rosnei.
O sangue tinha subido para a minha cabeça tão rápido que nem pensei
em minhas reações. Estava irritado, louco para atirar contra aquele maldito
que ousou tocar no que é exclusivamente meu. Mas não podia fazer isso na
frente da minha esposa, ela ficaria semanas com isso na cabeça, me
perturbando sobre o porquê ter feito.
— Será que você pode me explicar que porra é essa? Pensei que
estavam no cinema!
Aquilo não era da sua conta. Luana estava atrás de mim, com a
respiração acelerada, e se me esforçasse, poderia ouvir os batimentos do seu
coração. Supostamente ela deveria imaginar que eu iria brigar com ela por
estar aqui, mas eu conhecia bem minha irmã e sabia que, se ela estava com
eles, era porque Ana a convenceu.
— Não estou com bom humor, Ana. Agora me diz o que fazem aqui.
Olhei para Luana, que estava branca como papel. Olhei para o seu
braço desnudo e havia marcas das mãos daquele homem. Mais um motivo
para acabar com a vida dele.
—Enzo...
— Não posso. Agora você precisa ir. O motorista irá te levar — disse,
duro.
Ela sabia que não tinha como me convencer. Não iria insistir. Então,
me deu um selinho antes de sair, rebolando aquela bunda incrivelmente
grande e apetitosa.
— Você é um babaca, irmão. Luana não fez nada. Já disse que eu sou a
culpada e ainda age como um bruto com ela.
Paramos próximos a escada, quando minha mãe chegou querendo saber
o motivo de tanto alvoroço.
Ana explicou mais uma vez todo o acontecido. Minha mãe pareceu não
gostar da confusão que fiz. O que ela queria? Que eu deixasse aquele idiota
tocar na minha esposa?
— Obrigado, Sandra.
Ela passou por mim, sem me olhar nos olhos, encolhida, assustada.
Oras! Se não tivesse ido para a balada, nada disso teria acontecido entre nós.
— Não quero saber quem começou. Não quero que isso se repita —
respondeu, irritada. — Você, Enzo, pare de sair desfilando com outra mulher
que não seja sua esposa. Você sabe as consequências de sua atitude.
Minha irmã foi para o seu quarto satisfeita. Agora a culpa era minha?
Luana não se dava ao respeito ao não evitar certos lugares, e eu era errado!
Às vezes agia duro demais com ela. Tudo culpa da minha paixão
doentia por aquela diaba de curvas de pilão.
Luana saiu do meu abraço, indo para o banheiro. Ela estava magoada, e
não pretendia chorar na minha frente. Helena e sua maldita mania de
atrapalhar minha vida.
Não tinha com que me preocupar. Minha esposa não fugiria de casa.
Retirei toda a minha roupa, meu pau pulsava por aquela morena apenas
em lembrar da sua bunda maravilhosa rebolando para mim. Ela me recebeu
entre suas pernas, bastante molhada. Seus olhos reluziam luxuria. Eu a queria
possuir.
— Olha para mim, meu amor. Me beija — exigiu. — Eu sei que sou a
única mulher que desperta desejos em você.
Se inclinou para mim, ficando na posição certa para ser penetrada. Iria
comer ela até sentir seu corpo desmaiar de prazer.
— Não vai — ela pediu, assim que me viu levantar e procurar minhas
roupas espalhadas pelo chão. — Tenho mais sede de você — mordeu os
lábios.
Me controlei para não voltar para a cama e foder o resto da noite com a
maldita diaba. Mas não podia, tinha uma esposa me esperando em casa, e
satisfações para prestar a máfia caso não dormisse em meu lar.
Deixei a dúvida no ar. Não gostava de fazer suas vontades, ela era
mimada demais por mim, sempre vivendo com mordomia em minhas
propriedades e com cartões de créditos recheados para gastar. Não que eu
faça questão, mas esse mês ela andou gastando muito com marcas de roupas
e calçados famosos.
Gostaria que Luana fosse mais como Helena. Que fosse vaidosa,
comprasse roupas sexys e provocantes, e quem sabe um dia, pudesse passar
por uma cirurgia e então revelar aqueles lindos olhos azuis que ela tem.
— O que disse?
— Que quero você para mim todos os dias. Que deveria ter me
escolhido como sua esposa em vez daquela feiosa — bufou de raiva. — Por
favor, me diz que você não sente prazer algum com ela quando estão
transando?
Não! Eu não disse a ela que não mantenho relações com Luana. Esse
segredo era apenas nosso. Imagina como isso mancharia minha imagem.
Iriam zombar de mim por não ter conseguido domar a “feinha”. Helena, se
soubesse, daria um jeito de espalhar. Ela sempre alimentou a ilusão de que
um dia casaria com ela.
— Porque você é o meu homem. Diz para mim que aquela mocreia não
te deixa nenhum pouco duro por ela.
— Olha como eu estou agora — suas mãos tocaram meu membro duro.
Fechei a porta com cuidado para que não me ouvisse. Apoiei minhas
costas na parede, os olhos admirados nem ao menos piscavam. Os cabelos
presos em um coque certamente era para não molhar no banho. Ela passava
cremes hidratantes nas pernas torneadas, sem ainda me perceber.
Nunca imaginei o quanto ela podia ser bonita sem aquele óculos que a
deixavam parecendo uma pateta. Não consegui controlar meus instintos,
caminhei até minha mulher, a surpreendendo com um beijo quente e
molhado.
CAPÍTULO 14
LUANA GREGO
Seu beijo molhado tinha o sabor de menta e vinho tinto, sua língua
invadia minha boca de maneira provocante. Suas mãos deslizavam pela
minha cintura, apertando todo meu corpo junto ao seu, quando senti sua
ereção contra minha barriga. Não era tão baixinha, mas era mais baixa que
ele, poucos centímetros. Suas mãos tocavam meu rosto, fazendo um carinho
gostoso. Suas carícias eram capazes de provocar sentimentos jamais sentidos
antes.
Estava cansada dessa situação, e não seria um beijo que acabaria com a
minha raiva.
Virei-me de costas para ele, buscando o ar que parecia fugir dos meus
pulmões. Não seria aquela mulher que se rendia com apenas um beijo. E daí
que ele era bonito? E daí que ele era Enzo Grego? Não queria dizer nada.
Eu posso não ser a mulher da sua vida, mas também não seria a mulher
que ele faria de gato e sapato.
— Deveria procurar sua amante, ela sim merece sua ereção. Você mais
do que ninguém sabe que eu não sou capaz de fazer as coisas que ela faz —
disse, amarga. — Já que não se importa de frequentar eventos na companhia
dela, não deveria nem ao menos pensar na possiblidade de me beijar —
limpei meus lábios do seu beijo. — Você é muito cínico. Beija aquela imunda
e depois vem me beijar.
— Nossa! Onde está todo aquele amor que você dizia sentir por mim?
— Você não...
— Quando essa hora chegar, eu lhe darei esse filho — disse, amarga.
Pela primeira vez na vida, eu consegui ser dura com alguém. Meu
marido não tinha noção do quanto que me magoava com suas atitudes idiotas.
Ele estava com ela! Seu perfume estava impregnado em suas roupas. O
terno que ele usava ontem pela manhã, que agora estava pendurado sobre o
cabide da parede de nosso quarto, estava em minhas mãos, que por acaso
estava passando e resolvi pegar para sentir o perfume, que não era o dele!
Por que aquilo ainda me surpreendia? Ele não fazia questão de
esconder a amante mesmo! As chamadas perdidas em seu iPhone, as noites
que chegava tarde em casa...
Se ele queria ficar com ela, por que não me dispensou? Tudo isso por
interesse em meus patrimônios e poder executivo? Essa era a resposta mais
óbvia, a que mais doía, e a que mais se aproximava da realidade vivida.
Enzo não tinha noção do quanto eu o amava. Era doloroso saber que ele
estava passando mais tempo com ela do que comigo mesma. Não queria mais
minha ajuda com os relatórios, já não jantamos mais juntos a alguns dias.
Os últimos dias não estavam sendo fáceis. Além de aturar toda sua
infidelidade, tive que conviver com seu mal humor que, aos poucos, estava
dando as caras. Aquilo me deixava levemente pronta para explodir. Não
gostava de pessoas que descontavam a raiva em quem não tinha nada a ver
com a história.
— Ele a ama, Sandra, e eu não posso fazer nada. Olha só para mim! —
falei, com dificuldade, prendendo o choro. — Eu sou horrível! Já ela, é tão
linda e delicada. Eu não o culpo pôr a ter escolhido ao invés de mim, no seu
lugar, eu faria o mesmo. Mas de qualquer jeito, ainda dói tanto.
Franzi o cenho sem entender o que ela queria dizer com aquilo. Será
que ela queria minha morte? Ou a morte do filho?
— Quero dizer que a união de vocês será para sempre. Já a deles... ela é
apenas uma amante, um dia ele vai se cansar dela. E quando esse dia chegar,
quero que esteja preparada para se tornar o único e verdadeiro amor da vida
do meu filho.
Sorri, contente com suas palavras. Mesmo sabendo que essa realidade
estava longe de se tornar algo vantajoso para mim. Talvez todos tenham
razão: minha aparência não me ajuda em nada. Precisava mudar! Não por
Enzo, e sim por mim.
Encarei minha imagem pelo espelho do quarto. Olhos fundos de viver
chorando pelos cantos; sobrancelhas largas, necessitadas por serem feitas
com urgência; a vermelhidão em meu rosto demonstrava o quanto vivia triste.
Não tinha um dia sequer que eu não sonhasse com o dia em que ele
demonstraria algum tipo de sentimento por mim. Mais precisamente amor.
O amor era o sentimento mais puro que existia no mundo. Seria capaz
de quebrar barreiras? Poderia o belo se apaixonar pela fera?
Seria pedir muito que o meu marido tivesse o coração da bela, podendo
um dia enxergar o que a fera tinha demais bonito, que não sua beleza
exterior, mas sim sua beleza interna? A beleza interna diz o tipo de pessoa
que você é, e isso é o que importa.
Ouvi uma batida na porta. Era Ana, que acabava de despertar assim
como eu. Ela veio me convidar para tomar café da manhã, tinha voltado de
viagem antes de ontem.
Apenas sorri, travessa para ela. Podia dizer que minha cunhada era uma
ótima motorista. Ela dirigia com um ar de superioridade enorme, exalava
confiança ao conduzir o carro pelas ruas. Senti vontade de aprender, assim
como ela.
Observei atentamente a decoração do estabelecimento de luxo. Não
lembro de ter entrado alguma vez em um lugar como esse. Gostaria apenas de
não me arrepender por ter tomado essa decisão, poderia ser normal para as
outras mulheres, mas para mim não era.
Fui criada naquele internato, passando a maior parte do meu tempo lá.
Eu nem sabia o quanto o mundo era moderno, tinha adorado conhecer o
mundo além do que as freiras me ensinavam. Talvez, se a minha mãe fosse
viva, eu não teria me fechado tanto para os meus desejos de mulher. Nunca
pensei que agora estaria parada na frente de um salão, querendo cortar o
cabelo.
Arregalo os olhos com a ideia de que terei que fazer a sobrancelhas. Fiz
careta. Tinha certeza de que doia, já que os fios são puxados para ficar
alinhados e modelados.
— As sobrancelhas?
— Sim, vai arrasar. E assim que terminar, vamos mostrar para o meu
irmão o quanto você é linda.
— Não sei se é uma boa ideia... — Antes de completar minha frase, ela
praticamente me empurrou até o local. Por pouco não tropecei no piso de
entrada.
— Ela quer cortar o cabelo — Ana disse, firme. — Pode dar um banho
de brilho também — me empurrou na direção da cadeira, me fazendo sentar
contra minha vontade. — Não faz franjinha não, e vamos querer que pinte as
unhas dela.
Era loucura! E eu estava nervosa. Não tinha como ficar pior do que já
estava! Ou tinha?
A água fria molhava minha raiz, fechei meus olhos e deixei aquilo tudo
acontecer, sem criar expectativas.
Estava fazendo isso por mim! Queria poder me sentir bonita, sem
precisar que ninguém me dissesse o contrário.
Ana me olhava de boca aberta. Ela fez sinal de joinha para mim. Seu
gesto me deixou mais tranquila.
LUANA GRAGO
O corte era perfeito. Quase não acreditava no que estava vendo à minha
frente.
— Obrigado — sorri.
Usava uma gravata borboleta na cor rosa pink, seu terno no tom rosa
chiclete e suas meias, que iam até a canela, também eram rosas. A calça
estavam dobradas quatro dedos acima do calcanhar, e ele mascava um
chiclete de morango. Até mesmo seus equipamentos do trabalho seguiam as
mesmas cor das suas roupas. Ele era uma graça de pessoa.
— Existe sim.
Ana me levou até uma loja que ficava próximo ao salão de beleza.
Segundo ela, eu deveria usar algo mais jovem, colorido. Concordei com ela,
desde que não tivesse que usar nada curto. Roupas curtas não combinam
comigo.
O que meu primo diria dessa nova Luana? Fiz uma selfie e mandei para
ele, que menos de um minuto, me respondeu com elogios.
Sorri com o seu jeito bobo de falar comigo. Meu primo sempre dizia
que me amava, era algo sem malícia alguma. Algo como dois irmãos que se
amam fazendo declarações fofas.
— Sim — sorri.
Ela saiu do carro, deu a volta, abriu a porta ao meu lado e me puxou
com força. Praticamente tive meu braço deslocado. Ela pediu desculpas e
sorriu.
— Ele sempre fazia todos meus desejos — ela enxugou uma lágrima, e
sorriu logo em seguida.
Não gostei do sorriso daquela mulher quando minha cunhada disse para
anunciar a esposa de Enzo. Ela era tão bonita, as pernas torneadas, como se
as malhasse diariamente, os fios castanhos combinavam com os olhos claros.
A voz dela era de uma mulher dengosa. Me parecia uma atriz de filme
pornô fazendo drama.
Por fora eu estava tão surpresa quanto a funcionária, mas por dentro,
estava dando gargalhadas. No final de tudo, minha cunhada parecia uma
criança de cinco anos argumentando o seu direito de degustar doces antes do
jantar.
Não consegui prestar mais atenção em nada do que elas diziam. Notei
que a porta do escritório estava entre aberta, resolvi deixar as duas batendo
boca por algo banal. Caminhei em direção a porta, toquei a maçaneta gelada
por conta do clima frio. Não entendia como um ar-condicionado podia estar
ligado sendo que o clima estava congelante.
Não sei se a vida estava brincando comigo. Eles tinham todos os dias
para transarem sem que eu precisasse ver essa situação desagradável, mas
justamente hoje, no único dia que resolvi vir a empresa ver meu marido,
descobri que ele estava transando com a amante até mesmo na empresa,
diante de todos os funcionários.
Essa mulher sobe, vem até sua sala e tudo parece normal?
A infeliz tinha as mãos sobre os ombros dele, e ele tinha uma sobre a
cintura dela, a outra apertando a enorme bunda que ela possuía. Ele chupava
de vez em quando os seios siliconados, arrancando gemidos de prazer dela.
Respirei fundo, passando as mãos pelos cabelos curtos. Por que diabos
eu fui cortar eles justo agora? Pestanejei.
Ana ainda discutia com a secretaria, que parou de falar assim que me
viu passando, chorando em direção ao elevador. Ela entrou ao meu lado antes
que ele fechasse. E tudo o fez foi me abraçar e permitir que eu chorasse até
chegarmos no térreo.
Tudo o que eu queria neste momento era poder ficar sozinha. Fui direto
para o meu quarto, onde me tranquei e com muito esforço, empurrei a
poltrona para que tomasse a frente da porta.
A leve maquiagem que usava tinha saído do meu rosto por causa das
lágrimas. Meus olhos ardiam pelo choro que já levava algumas horas. Ignorei
as batidas na porta do meu quarto de Ana, e até mesmo as de Sandra.
Sempre me deixei levar por esse sentimento. Minha maior ilusão foi
amar quem não merecia meu amor.
Um dia ele iria sentir a dor da indiferença que tanto cometia comigo,
iria aprender a dar valor a quem o ama de verdade. O que ele sentia por
aquela mulher não era amor, eles não se amam. Amor não era apenas sexo!
Um dia ele vai cair na real e notar que eu sou a única mulher que o ama, mas
enquanto esse dia não chegar, não queria nunca mais ter que chorar por um
homem que não merecia nada.
Eu sou uma mulher! Não mais a menina que vivia no colégio de freiras.
Como a madre disse, o mundo aqui fora era totalmente diferente do mundo
que estava acostumada. As pessoas aqui não se importam com os sentimentos
do próximo.
Fiquei surpresa ao ver que não era um bandido, e sim meu marido, que
tinha escalado até a sacada do meu quarto, caindo sobre uma cadeira que
estava próximo ao local onde ele se apoiou para entrar. Ele acabava de
levantar do chão, pude notar que suas costas estava doloridas por causa da
batida... bem feito!
Ele me olhou um pouco duvidoso por me ver segurando o abajur.
— Eu sei que deseja me matar, mas não precisa fazer isso desse modo.
Sua expressão não mudava. Por que ele sempre tinha que esbanjar
confiança? A postura séria me intrigava, os olhos azuis estavam escuros,
sombrios. Tinha necessidade de falar, mas as palavras não vinham com tanta
facilidade como eu imaginava que fosse vir. Não entendi como eu conseguia
manter meus olhos fixos nos dele. Deveria ter jogado aquele abajur contra
ele, ferindo a cabeça para que sangrasse até a morte.
Passei a mão pelo meu pescoço, sentindo que meu corpo estava frio.
Como se aquela situação fosse capaz de me deixar nervosa.
— Você é como um animal no cio. Não é culpa minha que não consiga
controlar seu pau, enfiando-o em qualquer merda que encontra por aí. Sempre
foi assim: Erika, Helena, Ava... quantas mais irei descobrir? Não me diga que
você transa com as mulheres dessa casa também? — fingi surpresa.
— Não seja irônica, sua boba. Se fosse minha mulher, controlaria mais
meus instintos de homens, mas nem isso você se dá ao luxo de querer ser.
Quem ele pensa que eu sou? Uma de suas conquistas que ele diz
palavras bonitas e elas o abraçam?
— Não toque em mim — rosnei. Tentei me afastar dele, mas ele era
forte.
— Você não imagina o quanto isso me diverte, esse pânico que tem nos
olhos toda vez que eu a toco — ele tirou o cabelo que caia nos meus olhos.
— Acho que eu nunca tinha notado antes o quanto você é bonita.
— Antes era seu príncipe... agora sou seu idiota? — disse, divertido.
Não podia ser, ele deveria estar se sentido agora com tudo isso. Eu o
chamava de príncipe, de meu amor e todas as demais demonstrações melosas
de carinho.
— Não vejo nada engraçado nisso. Antes eu era uma menina que
acreditava no amor, não passava de uma boba que acreditava que você
gostava de mim. Mas saiba que isso não significa mais nada para mim.
— Sei que sou todo errado, mas só te peço uma chance para que o
nosso casamento não continue da maneira como está.
— Uma chance? Você sair com todas as mulheres que quer, e eu tendo
que me manter exclusivamente para você? Isso é ridículo.
— Não serei sua enquanto estiver envolvido com essa mulher. Agora
me solte — ordenei, e ele assim fez.
— Nossa...
— Sabe como?
ENZO GREGO
Realmente, minha mãe tinha razão. Luana estava encantadora. Ela tinha
um sorriso lindo e espontâneo. Na maioria das noites, escalava até a sacada
do seu quarto, graças a uma técnica que Enrico me ensinou quando éramos
crianças. A observava ler. Ela sorria com cada frase engraçada que havia no
livro, como se aquilo realmente fosse importante.
Gostava de pregar sustos em minha irmã caçula, e durante anos fiz isso
sem que ela soubesse que era eu.
Luana tinha se juntado a mesa conosco. Minha mãe deve ter notado que
ela nem ao menos me cumprimentou. Tomávamos nosso café tranquilamente,
quando minha mãe lançou a seguinte pergunta diante de toda a família.
Luana conseguiu engasgar-se com o suco que degustava. Foi algo que
chamou a atenção de todos, principalmente a do meu irmão, que me olhou
como se soubesse de toda a verdade. Minha família não era boba, ainda sim
morreria negando.
— Estranho...
— Enrico irá cuidar dela como uma filha — minha mãe assegurou.
Meu irmão tinha resolvido ir a empresa comigo. Sei que ele queria me
confrontar, mas ele sabia que eu sempre acabava desabafando tudo com ele.
— Nunca transamos — disse, colocando tudo para fora, como se
estivesse lavado minha alma.
Estava cogitando essa ideia a alguns dias atrás. Sabia dos riscos que
corria com essa falha.
— Não use o plural, irmão. Todos sabemos que é apenas Helena que
consegue te prender. Eu sei que ela é muito atraente, se Giovana não fosse
tão gostosa, eu teria feito coisas interessantes com ela — quase fui pra cima
do meu irmão quando ele disse essa bobagem. Como assim ele quer uma
mulher que é minha? — Calma irmão! Falei tudo apenas para ver como você
reage diante de uma situação como essa. Você deve entender que sua esposa
merece mais sua atenção do que sua amante. Não estou dizendo que deva
abandoná-la, mas pense primeiramente no nosso mundo. O que as pessoas
dirão? Que um Grego está perdidamente apaixonado por uma mulher sem
sangue azul? Pense bem no tamanho do erro que está cometendo. Luana é sua
esposa até que a morte os separe. Já sabe o que fazer com sua amante.
Mesmo chateado com tudo o que meu irmão dizia, eu sabia que ele
estava coberto de razão. Diabos de vida! Como pude me deixar levar assim
por uma mulher? Jason, infeliz! Ele vai me pagar por isso algum dia. Se
Jason tivesse a matado quando eu o paguei, nada disso estaria acontecendo.
— Posso te pedir para não comentar isso com ninguém? Muito menos
com a nossa mãe?
— E perder o show que a dona Sandra vai dar quando descobrir por
conta própria? Nem pensar que irei estragar essa surpresa. Pode contar
comigo, irmão.
— No que exatamente?
— O que me diz?
— Mas impede que eu viaje com outra mulher que não seja a minha.
Ela levantou da cama, vestindo meu camisete. Helena ficava ainda mais
bonita quando sentia ciúmes.
— Eu amo você, Enzo. Você não sabe o quanto me dói saber que você
está casado com outra mulher que não seja eu. Mesmo ela sendo horrível, eu
ainda sinto ciúmes.
— É um charme dela.
— Enzo Grego, não me diga que você está se apaixonado pela sua
esposa?
Senti suas mãos baterem contra meus ombros, tapas leves. Ela era
fraca, não tinha força nas mãos e em outro lugar algum do corpo pequeno.
— Você só pode estar ficando louco. Não ouse se apaixonar por sua
esposa, senão eu juro que sou capaz de...
Pude notar que em seus olhos haviam ódio. Mesmo assim, ela não era
capaz de fazer mal a uma mosca. Minha esposa era cercada de seguranças
que dariam suas vidas pela a dela. Ninguém seria capaz de triscar um dedo se
quer nela. Nem mesmo meu pior inimigo, quem dirá uma amante como
Helena.
O que aquilo significava? Quem Luana pensava que era para me fazer
de idiota dentro de minha própria casa? Não me lembrava de ter convidado o
priminho apaixonado para estar em minha casa tarde da noite, aproveitando
da generosidade da minha mulher que não conseguia notar o quanto ele era
louco por ela.
Engoli em seco para não quebrar sua cara. Mesmo com minha
presença, ele ainda segurava a mão de minha esposa.
— Como meu marido quase nunca está em casa, decidi que não estou
disposta a passar todos os dias de casada sozinha. Felipe, além de meu primo,
é o meu mais fiel amigo — ela sorriu para o primo, que retribuiu.
— Não fale assim com a minha prima, seu insolente. Ela é sua esposa,
e não uma de suas "amiguinhas".
— Ah, olha só! — fui à sua direção, bastante furioso. A sorte dele foi
que Luana tomou a frente me segurando. — Acho bom você não ficar dando
palpites em como devo ou não tratar minha esposa. Ela é minha mulher,
minha!
— Como primo de Luana, eu sei que devo sempre estar lutando pelo
bem dela...
— Ninguém pediu sua opinião. Por isso, se quiser ficar em minha casa,
contenha-se com comentários desse tipo.
— Você nunca está em casa, Enzo. Sua mãe disso que poderia convidar
meu primo.
— No papel — esbravejou.
— Tenha uma boa noite. E se por acaso você tratar meu primo com
grosserias, eu juro que vou embora com ele.
Sem dizer mais nada, ela me deu as costas, entrando em seu quarto.
Isso não iria ficar assim. Ela ainda iria suspirar de amores por mim, ou eu não
me chamava Enzo Grego.
— Eu não posso acreditar que você está implicando com algo tão
simples. Até onde eu sei, eles não foram criados como irmãos?
— Ele não me engana com aquele olhar dissimulado. Eu sei que ele é
completamente apaixonado por ela. A maneira como ele a olha me faz querer
atirar contra o seu peito.
— Eu não vou ficar ouvindo você falar ofensas. Sua língua é venenosa.
— Adeus.
Vesti minha camiseta, lhe dando as costas.
— O convidei porque ele é muito importante para sua esposa. Não vejo
problema algum dele ficar aqui em nossa casa.
Olhei para minha mãe novamente, estava prestes a dizer algo quando
ela me interrompeu.
— Não ouse perder a paciência com sua esposa, e muito menos com o
primo dela. Lembre-se de que quando ela estava sozinha, você nunca foi vê-
la, ou se importou com o seu bem-estar. Era Felipe que estava ao seu lado, e
não você, meu filho. Por isso, você vai demonstrar toda sua educação e
respeito para com ele.
Ela entrou em seu quarto, me deixando a ver navios. Ninguém estava
prestando atenção em mim, isso me deixava puto. De algo tinha certeza,
Felipe não sairia vitorioso. Se ele queria jogar, iríamos jogar.
ENZO GREGO
O passeio não durou mais que meia hora, terminou quando uma
empregada foi avisar que o almoço seria servido.
— Então, Felipe, por acaso não pensa em mudar-se para nosso país?
Digo isso porque assim poderia ver sua prima com mais frequência.
Tudo o que eu mais desejava nesse momento era provar para mim
mesmo que nenhuma mulher brincava comigo, muito menos a minha esposa.
Ela me devia fidelidade, e acima de tudo, respeito e obediência. Devia estar
acostumando minha mulher a ser minha. As coisas iriam mudar de agora em
diante.
— Claro.
Ele me seguiu até a sala de jogos. Quando era mais jovem, gostava de
jogar na companhia de meu irmão, era melhor jogador de sinuca do que ele
próprio. Apostávamos dinheiro e até mesmo mulheres, na maioria das vezes
eu ganhava e meu irmão fica chateado comigo por dois dias. Sua pior derrota
na sinuca foi perder dois milhões para mim. Ele me entregou o cheque muito
irritado. Apenas paramos de apostar quando minha irmã nos entregou para
nossa mãe. Se tinha algo que minha mãe odiava, era que se apostassem algo
entre família.
Meu pai e meu tio tinham esse costume, e o final da história não foi
uma das mais felizes.
Servi uma taça de conhaque para Felipe, coloquei uma das doses mais
fortes que tinha, conhecia sua pouca experiência para beber. Com duas taças
dessas ele cairia bêbado no chão. Essa não era minha intenção, mas se isso
acontecesse, ele não ficaria o resto da tarde com a minha mulher.
Como bom anfitrião que sou, permiti que ele jogasse primeiro. Um
verdadeiro show de espetáculos ele mostrou acertando duas bolas.
— Então, Felipe, o que pretende com sua viagem inesperada até meu
país?
— Não foi inesperado. Sua mãe me convidou, disse que sou bem-
vindo.
Eu a conhecia muito bem. Tinha algo à mais por trás do convite, minha
mãe não era a boa samaritana nessa história. Ela sempre preservava a paz,
fazendo de tudo para que não houvesse escândalos na família. O motivo pelo
qual ela trouxe Felipe era totalmente ridículo. Assim como eu, ela já devia ter
percebido que o primo era louco de amores pela prima. A única razão dele
estar aqui devia ser para me provocar.
Estava com ódio da minha própria mãe. Como ela era capaz de tudo
isso? Só tinha uma única razão: ela devia ter desconfianças sobre minhas
relações íntimas com minha esposa. Podia afirmar que ela devia ter, no
mínimo, algumas suspeitas na cabeça, isso indicava que ela queria que eu
tomasse uma atitude rapidamente.
Ela não media esforços, nem que para isso tivesse que usar o primo da
minha esposa para me provocar. Isso era ridículo, ela poderia pensar que
Luana seria capaz de me trair, e ainda mais com o primo que ela tem como
um irmão.
Luana já era uma brisa fria, que batia em meu rosto soado, me
causando um refrescamento divino. Ela era calma em tudo o que fazia, não se
importava em demostrar fraqueza. Ela era inteligente e sempre disposta a me
ajudar e a me ouvir.
— Belos óculos.
— Você não...
Ela tentou passar por mim, mas eu a impedi, dessa vez segurando-a
junto ao meu corpo. Que olhar doce que ela tinha. Se não fosse tão brava...
meu pau ganhou vida quando sua pele tocou sobre a minha. Pela vermelhidão
em seu rosto, notei que ela percebeu.
Ela ficava ainda mais linda quando estava brava. Luana era muito
inocente, o vermelho nas suas bochechas indicavam que ela era tímida.
— Não precisa sentir medo. Eu não sou o lobo mal... — toquei em seu
queixo fino, liso. A fiz olhar nos meus olhos. — Mas estou louco para
derrubar a porta do seu coração e te fazer minha.
Consegui ver lágrimas em seus olhos. Lágrimas que ela fazia de tudo
para prender dentro de si. Agora sim tinha certeza de que estava me tornando
um mulherzinha cheio de sentimentos puros e bons. Sentia remorso em vê-la
assim, tão triste e magoada por minha culpa.
— Até perfume caro você compra para ela — engoliu em seco. — Ela
deve ser muito valiosa para você, já que é colocou seguranças para protegê-la
— ela olhou para o anel em seu dedo, retirou e me entregou. — Isso aqui
nunca significou nada para você. Por que não dá a ela? Eu prometo que não
vou fazer escândalos, e que me conformo com uma pensão todos os meses.
Não precisa ser muita coisa... Eu só preciso de algo que permita que eu...
Não consegui prestar atenção em mais nada que ela dizia, meu único
instinto foi o de beijar seus lindos lábios rosados.
Com cuidado, coloquei meu dedo indicador sobre seus lábios, fazendo
com que ela parasse de falar. Retirei seus óculos com cuidado, os olhos
pequenos me encaravam com receio. Segurei sua mão, devolvendo o anel ao
dedo que ele pertencia. Os cabelos curtos, que tomava a frente de seus rosto,
fiz questão de colocar atrás. Como eram sedosos! Eram únicos.
Aproximei meus lábios dos seus até que tocassem nos dela, sua
respiração ofegante me fazia querer ser o lobo mal da história, louco para
devorar a chapeuzinho vermelho. Um passo de cada vez. Nunca tive que me
controlar diante de uma mulher antes, ser cauteloso e cuidadoso faziam parte
do pacote bônus para conquistar minha adorável esposa.
Nunca havia beijado uma mulher assim antes, com beijos suaves como
as nuvens. Acariciava seu rosto com delicadeza, queria ver o vermelho
escarlate esculpido nele, então abri meus olhos, encarando a mulher que
estava em estado de pura perfeição. Não poderia parar por aqui, não
conseguia mais me controlar... então a beijei com todo o meu desejo.
O doce de seu beijo era quente, e ao mesmo tempo, conseguia ser puro.
A pressionei contra a parede, querendo tirar toda sua roupa ali mesmo.
Minhas mãos estavam por baixo do seu vestido, apertei seu bumbum durinho
e ela gemeu mais alto com isso.
Nada nesse mundo poderia me interromper, a não ser uma tosse de uma
pessoa que estava pedindo para ser morta no exato momento. Com muita
raiva, abri meus olhos, encarando minha mãe que estava bem atrás de mim.
Minha esposa não sabia aonde enfiar a cara. Mamãe me olhava satisfeita,
contente.
— Perdão, mas não tinha como passar sem ser notada. Vocês estão ao
lado da porta do meu quarto.
— Não.
Era divertido ver seu desespero quando fechei a porta do quarto com a
chave. Ela estava sentada na cama, encarando o chão, parecia apavorada.
Aquilo foi capaz de me desarmar por completo, me aproximei, me abaixando
para ficar próximo a ela.
— O que houve?
— Eu não quero...
— Tudo o que eu mais quero é ser sua mulher, Enzo — aquilo fez meu
coração transbordar de alegria. — Mas não dessa maneira. Você não me ama,
sabe disso! Não quero ser só mais uma na sua cama.
— Depois o que?
— Tudo bem.
Engoli todo o meu orgulho e entreguei a chave para ela, me afastei para
que pudesse ir embora. Sem pensar duas vezes, ela fez isso, me abandonou
facilmente. Isso não ficaria assim, ela não tinha o direito de se negar a mim, e
eu sabia muito bem como conseguir meu objetivo.
CAPÍTULO 18
LUANA GREGO
O frio, o vazio, nada mais era doloroso do que não ter conseguido
realizar meu maior sonho. Tudo o que eu mais desejava nesse mundo, era
poder formar uma família ao lado do meu marido, ter crianças para correr
pela casa e contar como foi seu primeiro dia de aula. Ninguém disse que seria
fácil.
— Como está sendo sua vida de casada? — suas mãos estavam dentro
dos bolsos do seu casaco.
— Como você já deve ter notado, não está sendo nada fácil.
— Não queria dizer isso, primo, mas eu não aguento mais essa vida.
Esse não é o casamento dos meus sonhos.
— Só Deus sabe como gostaria de poder tirar você daqui, mas não
posso. O casamento de vocês está consumado, agora mais do que nunca você
pertence a ele.
Quase falei tudo para o meu primo, meu único desejo era gritar que
nunca tinha ido para cama com meu marido, mas precisei me conter para não
colocar tudo a perder.
Enzo seria humilhado diante de todos, e pior, ele me odiaria pelo resto
das nossas vidas. Não fazia isso apenas pelo bem-estar dele, e sim pelo bem-
estar da nossa família. Querendo ou não, agora eu pertencia a essa família.
— Primo, irei pedir que não entre em conflitos com Enzo. Não quero
que ninguém saia machucado nessa história.
— Você sabe que eu te amo, e que faria qualquer coisa por você.
— Faz tempo que não jogamos cartas. Devo estar enferrujada — Ana
disse, fazendo charme. — Eu jogo se me deixar jogar com você, irmão — ela
agarrou o ombro do irmão, em um sinal claro de posse. Aquilo era divertido,
ela sabia que ganharia ao lado dele.
Não poderia ser a única a dizer não. Enzo não tirava os olhos de mim
em momento algum. Tinha em pensamento que ele não estava querendo
apenas jogar baralho, isso não fazia parte de sua índole.
Um homem malvado querendo se divertir com jogos de adolescentes?
Se ao menos estivéssemos em um cassino luxuoso apostando milhões, eu
poderia entender. Mas como não fazia ideia do que ele queria com tudo isso,
acabei aceitando.
Ana foi pegar as cartas que eles tinham guardado em algum lugar das
prateleiras com muitos troféus do tempo em que os garotos jogavam
basquetebol. Era divertido a ideia de que dois mafiosos conseguiam jogar
sem agredir os companheiros.
Focar no ódio... que patético. Se pelo menos ele fosse feio, mas o
homem parece um deus do olímpico até mesmo quando deveria parecer um
palhaço, que não sabe combinar as roupas que usa.
— Ficou feliz por que vai fazer dupla com seu primo? — não dei
ouvidos a sua provocação. — Pois saiba desde já que não vão vencer!
Ninguém nunca consegue me vencer.
— Por exemplo...
O jogo iniciou com dez cartas para cada jogador. Jogaríamos sueca. O
trunfo da partida era copa, ou como eu prefiro chamar, os corações
vermelhos. Advinha quem trouxe o As de copa? Se alguém apostou em mim,
perdeu. Foi Enzo que trouxe, não somente o As, como sete de copas e o Reis,
também o valete, e ele só perdeu uma única vez, que foi para mim na dama.
Ele já tinha começado ganhando e fazendo mais pontos.
Grunhi baixinho com essa derrota. Uma melhor de três se ele já havia
ganhado duas, não tinha como me tornar vencedora.
O pior não era isso, era ter que encarar seu ar de vitória sobre mim.
Respirei fundo quando meu primo tocou meu ombro, dizendo que iríamos
ganhar essa apenas para não passar em branco.
— Foi uma boa partida — Felipe disse, apertando a mão dele. Pelo
menos eles não se mataram ao final do jogo.
Ana recolhia todas as cartas e meu primo tinha se oferecido para ajudar.
Enzo me olhava satisfeito, era claro que sim. Ele apenas mostrou que sempre
consegue tudo aquilo que quer. Estava prestes a xingá-lo, quando ele veio até
mim com o seu olhar incrivelmente sexy molhador de calcinhas. Inclusive a
minha deveria estar transbordando no momento.
Será que era pedir muito para que um meteoro caísse sobre a terra, bem
em cima da mansão, precisamente no quarto dele? Não que eu desejasse que
atingisse ele, poderia cair em um horário em que todos estivéssemos
jantando.
Precisei engolir todo o meu orgulho para bater na porta daquele quarto.
Ouvi sua voz do outro lado pedindo que eu entrasse, engoli em seco,
precisando buscar forças para não colocar tudo a perder com meu
nervosismo. Só iríamos beber e nada mais, certo?
Meus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, a porcaria do meu
óculos não me proporcionava uma visão tão agradável como o antigo. Sentia
que esse não tinha tanto grau como o outro. Esse que usava, era o modelo de
uma marca famosa, um pouco moderno demais. Meu vestido era apropriado
para o calor, de alças, soltinho até o joelho, na cor branca. O único acessório
que usava era o lindo brilhante que tinha em minha mão esquerda, no dedo
anelar, que indicava que eu estava casada.
Tentei voltar para trás, mas acabei esbarrando nele, que me olhava com
seus olhos azuis escuros. Meu coração acelerou quando ele me segurou pela
cintura, me prendendo a ele, sem violência e demonstração de posse alguma,
apenas por prender.
Seus olhos me devoravam, não era tão boba ao ponto de não perceber
qual eram suas reais intenções.
— Enzo...
LUANA GREGO
Ele soltou minha cintura, todo elegante e cavalheiro, algo que sempre
foi. O desgraçado conseguia ser gentil quando precisava de mim para alguma
coisa.
— Cortei o cabelo por mim, e não por você — disse, ríspida, deixando
tudo bem claro para ele. — Mudei o óculos porque meu primo trouxe um
novo para mim. E sobre as roupas, eu não preciso estar despida para mostrar
que sou atraente.
— Fico feliz por você. — aquele olhar impactante não seria capaz de
me derrubar... não agora!
Ele pegou uma caixinha no bolso da sua calça, e entregou para mim.
Fiquei com medo de abrir e me decepcionar, mas acabei abrindo, e meus
olhos se depararam com uma linda pulseira de ouro branco com vários
pingentes.
— O casal é a gente.
Foco Luana! Não iria ficar assim por uma simples pulseira que ele me
deu, mesmo ela sendo linda.
Enzo serviu uma taça para mim. O champanhe era a bebida que eu mais
me identificava entre todas as outras. Não gostava de beber, mas quando se
fazia necessário, gostava de tomar champanhe.
— Tudo o que você faz sempre é pensando em alguma coisa. Não sou
tão boba quanto imagina. — respirou fundo.
Meu marido tinha um olhar de bebê quando não estava agindo feito o
idiota que era. Enzo era mimado, um filhinho de mamãe acostumado com
tudo sempre acontecendo do jeito dele. Ele não suportava ouvir um não de
uma mulher, principalmente de mim, que sou sua esposa.
Algo me dizia que tudo isso não passava de um plano medíocre pra me
levar para a cama. Sinto muito decepcioná-lo, mas eu não iria cair no seu
joguinho, não como hoje à tarde que fui convencida a jogar contra ele, apenas
para me irritar e conseguir me trazer até o seu quarto.
Sério que ele me trouxe aqui apenas para conversar? Tudo bem, vou
entrar no seu jogo.
— Sua mãe é a matriarca dessa família, mas ela precisa entender que
nem tudo é no tempo dela. Giovana e Enrico vão voltar algum dia, eu sei que
vão. Quando isso acontecer, eles não vão perder tempo e vão poder dar
quantos netos sua mãe quiser.
Sua mão tocou a minha por cima da mesa. Olhei para a sua atitude.
Tudo isso por um corte de cabelo? Custava acreditar em suas palavras, por
isso afastei minha mão da sua.
Ele me olhava com aquele maldito olhar sexy. Por que Enzo não podia
ser feio? Obrigado pai, por escolher o homem mais bonito do mundo para
ser meu marido. Sempre fui apaixonada por Enzo, e durante toda minha vida,
passei anos sonhando acordada com o dia de nosso casamento, mas tudo o
que ele saia fazer era me machucar.
— Não te prometo nada. Como você mesmo disse: você conhece meus
motivos.
— Você é a minha esposa. Quero que possamos viver em paz, sem que
ninguém nos interrompa.
— Eu prometo.
— Enzo, por que essa mudança? Ninguém muda da noite para o dia.
— Você se cobra demais, Enzo. Você é bom em tudo que faz, sempre
toma decisões importantes para o bem da máfia e da família. Não deveria se
impor da maneira que faz.
Enzo apenas riu de mim. Comecei a rir junto com ele. Ficar bêbada não
era nada de outro planeta, rir até mesmo do vento era divertido.
— Vou me afastar daqui para não correr o risco de ser jogado no chão.
— Não vou te jogar daqui. Não é alto suficiente para matar alguém.
— Vamos dançar?
— Eu também.
— Me dá um beijo? — pediu.
Suas mãos tocaram em meus cabelos, ele parecia gostar dos meus fios
ondulados. Notei que ele estava carente, e o abracei, lhe dando conforto.
Não esqueci a raiva que sinto por ele e suas atitudes. Nesse momento
sentia que ele precisava de mim como a amiga que ele nunca teve para
desabafar. Pelo menos agora ele não tinha o perfume dela. Por que Enzo,
você é tão lindo?
— Só mais um minuto.
— Quando você fizer o que me disse, irei dormir com você todos os
dias. Até lá, continuo no meu quarto.
À tarde, aproveitei para ficar um tempo com Felipe. Contei para ele que
Enzo queria mudar comigo, ele não ficou muito feliz como eu imaginei.
— Não se preocupe. Eu sei o que estou fazendo. Enzo não vai brincar
comigo.
Enzo estava sério. Ele sentia ciúmes de Felipe? Fechei a porta sem
fazer barulho, ele me puxou para um beijo molhado e quente.
— Não fale despachar. Dá para entender que vai matá-la. Eu não quero
que a mate, só quero ela longe de nós.
— Agradeço — sorri.
Voltei a assistir o filme com Felipe. Enzo estava com sede demais no
pote, não seria bem do jeito que ele estava imaginando. Eu precisava sentir
certeza de que ele colocaria essa mulher para bem longe de mim. Queria ter
certeza de que ela iria mesmo embora.
Tinha uma pessoa nessa casa que era muito próximo dele. Espero poder
contar com a sua ajuda.
Ele deu espaço para mim. Enrico fechou a porta do quarto, vestiu uma
camisa que estava em cima da cama.
Ele me olhou surpreso por eu ter vindo até seu quarto. Eu sei da ligação
que ele tem com Enzo, aposto que ele sabe que não sou nenhuma esposa
perfeita e que vivo me negando ao meu marido.
— Ele me falou sobre esse assunto. Não se preocupe, ele está decidido,
e como irmão mais velho dele, irei me encarregar pessoalmente para que essa
moça posa viajar o mais rápido possível.
— Seja tudo para ele. Acredite, Enzo precisa muito de uma mulher
como você.
Agradeci meu cunhado mais uma vez, e voltei para o meu quarto. Pude
dormir o resto da noite tranquila sem me preocupar com Helena. Essa mulher
iria sumir de uma vez por todas.
CAPÍTULO 20
ENZO GREGO
Olhei para ele curioso. Por qual motivo ela iria atrás dele?
— Ela tem medo de que você não cumpra com sua promessa.
— Luana é muito desconfiada. Eu sei que ela tem razão. E o que você
disse?
— Giovana o ama, irmão. Vai de uma vez por todas atrás dela.
Respirei fundo.
— Sim, senhor.
Meu ódio era tanto que precisava descarregá-lo em alguma coisa. Tiro
ao alvo me relaxava e me fazia sentir prazer toda vez que ouvia o barulho
estrondoso do tiro. Era um dos melhores atiradores da organização, nunca
errava um alvo na vida.
Veja só, estava prestes a mandar a mulher que me deixava louco para o
outro lado do mundo, apenas para conseguir a confiança da minha esposa.
Luana estava mexendo comigo de uma maneira diferente. A pressão em ter
um herdeiro estava acabando comigo, as pessoas me cobravam já que boatos
corriam a solto de que meu irmão era estéril, pelo simples fato de não ter
gerado um filho com Giovana. Por sorte, ninguém sabia que eles estavam
separados. Seria um inferno se essa informação vazasse.
Treinei sem parar por quase duas horas. Estava soado e precisando de
um banho. Tomei banho no banheiro do escritório, por sorte tinha algumas
roupas minhas guardadas na gaveta da cômoda. O camisete atacou meu
braço, me fazendo acreditar que agora estava pronto para encarar Helena.
— Estou ouvindo.
— Não façam nada por enquanto. Tragam-no para cá. Avisem Enrico.
— Sim, senhor.
Ela estava tão distraída que levou alguns instantes para notar minha
presença. Quando isso aconteceu, Helena levantou-se rapidamente do chão,
apertando o botão da descarga, correndo em seguida para a pia e lavando o
seu rosto e boca com enxaguante bocal.
Na cama, tinha algumas malas que ela estava arrumando. Pelo menos
tinha me obedecido. Ela enxugava o rosto com uma toalha.
— Creio que sim. A empregada não pode vir hoje, sou uma péssima
cozinheira. O resultado foi esse.
Luana não iria me aceitar sabendo que engravidei a minha amante. Ela
não ia querer continuar casada comigo, e com razão. Isso não podia estar
acontecendo comigo. Não agora!
Helena continuava apavorada com a mão sobre a barriga. Ela estava tão
assustada quanto eu, só que no seu caso, Helena parecia ainda mais nervosa,
pois sabia sua posição. Me aproximei dela, a vi recuar ainda mais, com
medo.
— Doze semanas.
Ela quase não tinha barriga. Haviamos transado ainda essa semana e eu
não tinha percebido diferença alguma em seu corpo. Mas agora, vendo as
coisas com clareza, posso notar um pequeno volume em sua barriga, quase
que insignificante.
— Eu não sei o que você vai fazer comigo. Você pediu que eu viajasse
e... eu estou com muito medo — disse, desabando em lágrimas.
— Levanta daí...
Ajudei Helena a ficar de pé, suas mãos tremiam. A levei até a cama,
onde se sentou e continuou chorando em desespero, repetindo palavras de
que não queria morrer. A que ponto chegamos? Todos tinham razão. Tudo
isso era por minha culpa! Eu deixei essa situação chegar aos extremos.
Busquei forças para não surtar! Eu precisava ser mais homem, quem
chorava era mulher... homem não chorava... o que eu devia fazer? Não tinha
coragem o suficiente para entregar Helena ao Conselho. Não suportaria vê-la
morrendo com um filho meu em seu ventre. Era cruel demais, até mesmo
para mim, que era acostumado a causar dor nas pessoas.
Luana.
— Não.
— Eu sei, ele não foi feito apenas por você. Não se preocupe, irei
cuidar pessoalmente da segurança de vocês.
— Obrigado.
Meu celular começou a tocar. Não tinha cabeça para falar com
ninguém. Era Enrico, querendo saber que horas eu chegaria no galpão.
Respondi em uma mensagem que logo estaria de volta.
— Cara, você está bem? — Ele colocou a mão sobre meu ombro.
— Estou sim.
— Irmão, o que...
— Deixa comigo.
Será possível que ele nunca iria confiar em mim? Só o irmãos mais
velho era inteligente? Iria provar para ele de uma vez por todas que não.
— Eles falam espanhol, não é mesmo? Não sou bom com o idioma, não
ligue se eu pronunciar errado — ajeitei minha gravata. — ¿Qué pasará
cuando vaya a Montevideo después de ellos? Su esposa tiene el pelo rizado,
como el de su hija. Ella debe ser hermosa como la madre. Responde una
cosa, ¿ ella gime de placer o dolor cuando están follando? Porque garantizo
que si mis hombres la atrapan, ella tendrá un dolor frente a sus hijos.
— Senhor, por favor, minha filha só tem treze anos. Ninguém sabe
sobre eles... como o senhor...?
— Que homem?
— Eu não sei o nome dele, tudo o que eu sei é que ele faz parte de uma
grande organização. O lema deles é “Kraft, Klaue und Waffen. Alles um der
Sache willen”.
Não tínhamos dúvidas. Andrei Barkov estava por trás de todos nossos
problemas. Aquele homem deveria estar caçando minha irmã, com certeza
planejava fazer algo de ruim com ela e com nossa família.
— Temos que protegê-la, sem que ela saiba. Não quero deixar Ana
assustada.
Tudo para nós sempre se resumia em disputa. Nossa mãe odiava isso na
gente, ela sempre quis que fossemos unidos, sem competir em nada. Dona
Sandra acreditava que isso poderia gerar revoltas algum dia. Tudo tem que
estar acontecendo ao mesmo tempo.
Sem dizer mais nada, ele me deu as costas, jogando o papel no chão.
Tudo o que eu fiz foi voltar para casa logo atrás dele.
Como gostaria de passar a noite com Luana. Precisava sentir o gosto do
seu beijo doce, o calor de uma mulher que me amava de verdade. Agora esse
maldito teste vinha para acabar com minha vida. Fui direto para o escritório,
fazer aquilo que eu sabia fazer de melhor: me foder sozinho!
Um filho!
Queria afogar minha dor no álcool, mas nem isso estava funcionado.
Mesmo bêbado, eu não conseguia parar de pensar em como as consequências
seriam negativas. Só de imaginar que outro dia estava pensando em viajar em
uma lua de mel com Luana... Agora estou aqui, completamente desesperado,
imaginando as piores possibilidades do que vai acontecer.
O soco em meu olho doia. Maldito irmão! Isso não ficaria assim.
— Lógico que não. Você é a vítima dessa história. — sua vez saiu
irônica, me acertando outro tapa na face.
— Mãe, não conta nada para Luana. Ela não pode saber se não vai
querer me deixar.
— Mãe...
— Enzo, eu não sei onde eu errei com você. Meus filhos só me dão dor
de cabeça. Só falta você me dizer que não vai se livrar da mulher e do bebê.
LUANA GREGO
Meu coração estava aflito, precisando de respostas. Tudo o que fiz foi
correr até o escritório, já que era o único cômodo que não havia os procurado.
Antes tinha ido nos quartos da minha sogra e minha cunhada, mas elas não
estavam em seus quartos.
Ele foi longe demais com aquela mulher! Não aguentei ouvir mais nada
e sai correndo daquele lugar, me trancando no quarto. Ignorei todas as vezes
que meu marido gritou para que abrisse a porta. Apenas mandei uma
mensagem para Felipe, pedindo que ele voltasse urgentemente para minha
casa. Ontem à noite ele saiu para uma balada, e me disse que iria ficar na casa
de um amigo.
Enzo batia forte na porta do quarto, mais cedo ou mais tarde ele a
arrombaria e entraria no quarto, se não parasse com as agressões. Meu peito
se apertava cada vez mais e mais.
Meus olhos inundaram nas lágrimas que escorriam pela minha face,
pareciam mais duas cachoeiras que nunca secavam. Meu coração estava
dilacerado, a sensação que tinha era a de que todo meu ar estava indo
embora, me deixando sufocada.
Tentei não pensar em nada, queria apenas poder ficar em silêncio, sem
que os meus pensamentos me martirizassem. A maldita angústia estava me
matando lentamente. Preferia mil vezes estar sendo torturada do que ter que
encarar essa situação de frente. Estava arrasada! Meus pensamentos gritavam
para que eu acabasse com a vida de Enzo, mas meu corpo não me obedecia.
Não era mais aquela menina frágil que vivia em um colégio interno
com as freiras, estava casada... ou não? Isso não importava mais, não podia
ficar me escondendo entre as paredes desse quarto. Tinha que encarar todos
de frente, e era exatamente isso que faria.
Lavei meu rosto no banheiro, ainda muito vermelho por conta da minha
palidez natural. Minha pele clara entregava que havia chorado horrores, e
mesmo assim não me importei! Passei uma pequena quantidade de base no
rosto e corretivo, que ajudaram um pouco.
Aquele idiota do meu marido não merecia nada que viesse de mim.
Como me arrependo de ter dito sim no altar. Como não percebi antes que
Enzo não valia nada? Eu o odeio tanto que seria capaz de cometer uma
loucura.
Pensar naquele maldito de olhos azuis me fazia querer matá-lo
vagarosamente, torturá-lo e a amante até a morte.
— Luana...
Enzo levantou assim que me viu. Ele tinha os olhos vermelhos, a roupa
era a mesma que usava ontem, não deveria nem ter tomado banho. O cheiro
de álcool era forte, devia ter ficado até tarde bebendo com a amante para
comemorar o esperado bebê. Ele tentou se aproximar, mas eu o bloqueei com
um sinal de “pare” feito pelas minhas mãos geladas.
Não queria ouvir nada vindo dele. Ele era bom com palavras e
facilmente me enganaria em outra oportunidade, mas dessa vez, não seria
como ele estava imaginado.
Agora ele queria ficar comigo? Filho de uma mãe! Não houve um dia
se quer nesses dez meses que ele não tenha ido para os braços daquela
mulher, em vez dos meus. Ela me tirou tudo, a começar pela minha noite de
núpcias. Ela tirou o amor da minha vida, transformou meu príncipe encantado
em um sapo feio.
Que tipo de pessoa eu sou? Não devo culpar somente ela, meu marido
tem culpa. Ele a preferiu em vez de mim.
— Não sou sua esposa, Enzo. Você sabe disso, sabe que nós nunca... —
fechei meus olhos, e com muita vergonha, disse: — Nunca tivemos relações
de marido e mulher.
Enzo travou, nada disse, nada fez. Assim era melhor. Eu sabia que ele
não imploraria pelo casamento, nunca me amou e nunca me amará na vida.
Estava lhe dando um presente e não um desgosto. Ele não iria se impor.
Ela olhou para Enrico que negou com a cabeça, olhou para Enzo e
sorriu. Veio na minha direção, me abraçando empolgada, me desejando os
parabéns.
Felipe reagiu feliz com a notícia, parecia que tinha ganhado na loteria.
Ele me abraçou, empolgado, dizendo que me ajudaria no que fosse preciso.
Dê repente ele foi arrancado dos meus abraços pelo meu marido, que lhe deu
um soco no rosto.
— Nunca mais chegue perto da gente, seu idiota. Filho de uma mãe! O
que deu em você?
— Você não percebe que esse idiota morre de amores por você?
— Pelo amor de Deus, Enzo. Pare de ver coisas que não existem. Você
é o traidor nessa história.
— Agora você decidiu que somos um casal? Sinto muito Enzo, não
tenho nada para falar com você. — ajudei Felipe a levantar do chão.
Travava uma batalha interna contra mim mesma. Meus princípios não
eram esses, ninguém me disse que as pessoas eram tão perversas como eu
estava constatando.
Enzo deixou um olho roxo no meu primo. Tudo o que Felipe sempre
fez, foi me ajudar, por isso não vou permitir que Enzo o faça mal algum.
— Por favor...
Sem dizer mais nada, ele se retirou. Esse assunto era para ser resolvido
em família. Não que ele não fizesse parte, pelo contrário, não queria metê-lo
na mira dos Grego. Meu marido já implicava bastante com ele, a loucura de
Enzo o fazia ver coisas que não existia. Já imaginou, inventar que meu primo
era apaixonado por mim?! Isso não fazia o menor sentido, éramos como
irmãos.
E eu, todo esse tempo, pensando que ele realmente seria capaz de
deixar aquela mulher. Eu sou muito idiota!
— Já disse: não. — falei, dura. — Ana, por favor, pega minha bolsa
que está dentro do meu closet? Uma preta.
Logo estaria bem longe dessa mansão Dark. Odiava tudo nessa casa.
As cores pretas, a pouca iluminação que tinha, nada aqui era alegre, assim
como as pessoas que aqui viviam. Cada um deles carregavam uma dor em
seus peitos. Talvez esse fosse o motivo da casa ser do jeito que era.
— Por favor, pensa bem no que está fazendo. Eu sei que meu irmão
não vale nada, mesmo assim eu gosto muito de você. Não tenho muitas
amigas, você e Giovana são perfeitas para mim. Fica bem.
— Acho que ainda tenho direito a algum dos imóveis do meu pai nesse
país. Senão, fico em algum hotel por aí.
— A senhora foi minha mãe todos esses anos. Senão fosse pelo seu
apoio, eu não sei se teria conseguido superar tudo sozinha. Obrigado, senhora
Grego. Por tudo.
Por fim, foi a vez de meu cunhado. Ele sempre era sério, quase nunca
conversamos, mas ele não era tão monstruoso como eu pensava ser.
— Você está segura onde quer que vá. Sempre será uma Grego para
nós.
Retirei o anel do meu dedo. Essa era a segunda vez que fazia isso nessa
semana, mas dessa vez, seria definitivamente. Caminhei tranquilamente até
Enzo, depositei o anel na sua mão grande e quente. Seu aroma continuava
único, mesmo entre o cheiro do álcool. Como eu desejava que as coisa
tivessem sido diferentes, sem lamentações!
— Eu nunca vou dar esse anel para ela, porque, no que depender de
mim, nunca iremos nos separar.
Tinha problemas suficientes para ficar enfeitando minha vida com algo
poético. Claro que meu marido não queria o divórcio, eu continuava sendo a
melhor opção para a família e sua posição social.
A única herdeira de um grande empresário. Meu pai era influente e
poderoso no mundo da máfia. Isso sempre foi vantajoso para Enzo, mas
agora seria, vantajoso para mim.
Não faria nada escondido dele, não faria surpresas. Gostava de ser
direta, avisar o aniversário do perigo se tornava mais divertido. Vê-lo
tentando fazer as coisas não saírem negativas era divertido.
Estava decidida a voltar para casa quando resolvesse todo esse assunto.
— Adeus, Enzo.
Lhe dei as costas, sem dizer mais nenhuma palavra. Saí pela porta da
frente, de cabeça erguida e expressão fechada.
LUANA GREGO
Sentia saudades do meu país, do clima único que ele tem. A primeira
coisa que irei fazer quando retornar, será ir a torre Eiffel, fazer algumas fotos
e publicar nas minhas redes sociais para que todos vissem que eu não estava
chorando como nesse momento.
Tinha sorte por contar com a ajuda de meu primo. Uma das suas mil
funções, era que ele tinha se formado em direito, sendo um ótimo advogado,
que me representaria no conselho por ser homem. Tudo o que eu precisava
fazer era ensaiar o meu discurso de mulher humilhada, e assim, teria o
documento da anulação do casamento. Era claro que eles exigiriam um
exame de toque, que foi feito ontem mesmo em uma clínica administrada por
eles.
Minha vida nunca foi algo esplêndido de se contar, sempre foi remota e
pacata. As freiras sempre me ensinaram sobre o amor. Ensinamentos errados.
O amor não existia da maneira como elas falavam. O único amor verdadeiro
nesse mundo, era o amor de Jesus Cristo. O resto não passava de meros
interesses.
Era tão nova e já tinha vivido uma das piores experiências que existe no
mundo. A dor da traição era tão dura, que nos fazia querer ficar dura junto
com ela.
Essa manhã ignorei todas as vezes que Enzo me ligou. Ele sempre me
ligava, e em nenhuma das vezes eu atendia as chamadas. Ele não tinha nada
útil para me contar, deveria apenas estar querendo que eu não denunciasse
sua amante no conselho, deveria estar temendo a morte dela. Eu não desejava
a morte de Helena, nem poderia por isso. Conhecia algumas leis da máfia e
uma delas dizia que a esposa devia, no caso eu, decidir o que vai acontecer
com a amante. No meu caso, eu só queria poder me separar de Enzo, nada
mais.
Me aprofundei mais em alguns direitos que tinha sobre tal
acontecimento. Se fosse comprovado que permanecia virgem, as chances de
conseguir a anulação eram ainda maiores. Desde ontem que Felipe vem me
preparando para essa reunião. Sem o seu apoio, eu não sei o que faria.
Vesti minha melhor roupa, escovei meu cabelo, fiz minha melhor
maquiagem que aprendi vendo um vídeo no YouTube. Tutoriais de
maquiagem eram para ser ensinados nas escolas, para as meninas crescerem
sabendo que podem ser bonitas sem que nenhum homem precisasse dizer
isso.
Ele não tirava os olhos de mim, e eu não tirava os olhos dele. Não olhe
Luana, não agora, iremos até o fim com tudo.
— Quero ressaltar que essa reunião foi pedida pela senhora Luana
Grego, que alega ter provas de que seu marido, o senhor Enzo Grego, tem um
caso com uma mulher chamada Helena Dallas. E segundo ela, a mulher está
grávida. Sabemos que isso não é motivo suficiente para pedir anulação do
casamento, por tanto, a senhora Grego afirmou ainda ser virgem. Segundo
ela, eles nunca tiveram relação alguma durante os dez meses de união. — Um
outro homem entregou um envelope lacrado. Era o meu exame, que
constataria que ainda sou virgem. Apenas a declaração do médico que fez
meu exame de toque. O homem abriu e analisou. — Tenho aqui em mãos o
exame que afirma se ela é, ou não, virgem. Mas antes de revelar, vamos ouvir
as versões de ambas as partes, a começar pela senhora Grego que convocou a
reunião. Em seu nome, fala o senhor Felipe Garnier.
Meu primo levantou-se todo elegante em seu terno. Em mãos, ele tinha
um teste de gravidez que comprovava a gravidez de Helena. Não perguntei
como ele conseguiu isso, mas não importava. Isso era uma prova para
derrubar Enzo.
Felipe se sentou ao meu lado. Ele tinha se saído bem com seu
pronunciamento. Agora era a vez de Enzo, que ficou de pé, pronto para
começar suas lamentações. Gostaria de não o olhar e não poder ouvir suas
palavras, mas não tinha outra opção.
— Ela está magoada, e com razão, mas isso não é motivo para ela pedir
a anulação da nossa união.
Analisei cada palavra sua, me contendo para não voar minha mão na
sua face. Ele estava merecendo algo mais doloroso. Se pudesse transferir toda
minha dor para ele, faria isso com prazer.
Sem tirar os olhos de mim, ele continuou com o seu discurso fajuto de
que o casamento era algo importante e que não queria separar.
Por fim, o juiz disse que iria revelar o resultado do meu exame.
O quê?
Me levantei da cadeira em choque. Fiquei louca de raiva quando o
homem leu todas aquelas mentiras, me segurei para não explodir de raiva.
Como ele era capaz de dizer algo tão mentiroso, há não ser que... meu marido
estivesse por trás de tudo isso, e eu apostava que sim, estava.
— Isso está errado. Eu nunca tive relação sexual com meu marido.
Vocês todos estão contra mim. Estão compactuando com meu marido. Isso é
uma fraude.
Enzo tinha um olhar vitorioso sobre mim. Aquilo me fez ficar ainda
mais irritada.
Eu sabia que o prédio não estava prestes a pegar fogo. Eu sabia quem
estava por trás de tudo isso.
O pior de tudo era o olhar vitorioso que ele tinha sobre mim.
Enzo me beijou com urgência, seu beijo era quente e molhado. Ele me
prendia entre seus braços, tentei me soltar, mas ele era forte. Deveria estar
sentido nojo do seu beijo, mas tudo o que fiz foi aceitar.
— Você não quer que eu pare. — Suas mãos subiram pelas minhas
costas, por dentro da blusa.
O calor das suas mãos me preenchiam ainda mais. Sua boca me beijava
com uma pressa fora do comum. Senti que nossos corpos precisavam um do
outro, eles estavam se conectando ainda mais. Seus lábios lambiam meus
pescoço, e ao mesmo tempo, distribuíam beijos capazes de me fazer
enlouquecer.
Ele sorriu.
— Tenho um lugar perfeito para possuir você. Você será minha para
sempre, nem que para isso tenha que prendê-la de uma vez por todas.
CAPÍTULO 23
ENZO GREGO
Meus dedos abriam o fecho do seu sutiã, não perdia tempo. Beijei seus
lábios rosados com muita sede no pote. Me controlei o máximo que pude,
agora a faria minha e ninguém iria me impedir disso.
Suguei os seus seios com todo o cuidado para não acabar perdendo o
controle. Ela arfou de prazer, e sem perder tempo, me livrei da sua calça,
voltando a me concentrar nos seus seios. Me sentei na cama e a fiz se sentar
no meu colo, observei mais uma vez seus lindos seios. Com a ponta dos meus
dedos, massageei os mamilos, enquanto beijava seus lábios com gosto de
mel.
Seu rosto ruborizou com meu comentário. Queria vê-la revirar os olhos
de prazer para mim, enquanto teria seu primeiro orgasmo. A toquei primeiro
com os dedos, sua intimidade estava lubrificada. Sua entrada apertada não
permitia que meu dedo fosse muito longe. Ela deu um pequeno pulo ao senti-
lo, a tranquilizei introduzindo a minha língua em sua intimidade rosada.
Luana era como uma boneca de porcelana. Ela era perfeita, e eu sentia
medo de quebrá-la. Estava quase não conseguindo me controlar diante de um
corpo tão maravilhoso como o dela. Nunca precisei me controlar com mulher
alguma antes. Confesso que tudo com Luana era novidade para mim.
Seu beijo era doce, o mais saboroso. Sua pele era macia e perfumada.
Estava ficando louco de tesão.
Percebi que ela ficou admirada com o meu tamanho, deveria estar
pensando em coisas como: será que vai caber? É tão grande.
Isso baby!
Ela parou de me tocar assim que percebeu que não conseguia tirar os
olhos dela. Luana sorriu tímida para mim, a inocência dela me deixando
ainda mais louco de desejo.
— Sim...
Beijei seus lábios novamente, ela seria minha para sempre, de uma vez
por todas.
Não era uma simples realização sexual, era algo que jamais senti antes
em toda a minha vida. Nem em meus vinte e oito anos de vida, eu senti tanto
prazer em viver como estou sentido agora, em apenas cinco minutos dentro
da minha esposa.
Apalpei sua bunda durinha, a penetrei com rapidez. Senti que ela estava
pronta para gozar novamente, só que dessa vez, seria no meu pau. Queria me
lambuzar com o seu mel doce, e ao mesmo tempo, apimentado.
Ela descansava serena em meus braços, o único som que se ouvia era o
das nossas respirações profundas e ofegantes. Não me importei com a droga
do lençol sujo de sangue, não tinha que provar nada para ninguém, eu a
amava e isso bastava. Agora que era mulher, ninguém iria me fazer ficar
longe dela. Não estava disposto a perder minha mulher para ninguém. Que se
foda os problemas! Viva o amor! Isso basta.
A noite se tornava pequena para nós dois. Quanto mais a possuía, mais
desejo sentia por aquela mulher. Não sabia explicar qual era a sensação de
vê-la revirar os olhos de prazer para mim. Tudo nela me agradava. O fato
dela ter se tornado minha, me fazia querer protegê-la de todos. Ninguém iria
levá-la para longe de mim. O plano dela voltar para França estava cancelado.
Minha garota era esperta o suficiente para não sair correndo como os
demais. Ela sabia que eu estava por trás de tudo isso. Seu instinto foi me
bater, mas por sorte, ela se rendeu aos meus encantos, se entregando em meus
braços.
Agora, tinha ela com a cabeça sobre meu peito, o relógio marcava duas
da manhã. Não queria dormir e acordar pensando que tudo isso não passava
de um sonho.
Não fazia nem vinte minutos que terminamos de fazer amor, só parei
porque não queria machucá-la. Para uma virgem, não era fácil ter muitas
relações seguidas. Não a queria deixar muito dolorida.
LUANA GREGO
Tudo isso não passou de um plano seu para me fazer desistir? Não
podia acreditar que ontem à noite tinha me entregado a ele.
Enzo foi tão delicado, tão fofo, que nem em meus melhores sonhos
teria sido tão perfeito quanto ontem à noite. Perdi a conta de quantas vezes
revirei os olhos de prazer em seus braços firmes e fortes. Ele me fazia querer
subir pelas paredes.
Odiava ter que admitir que ele era bom demais. Ele não errava em
nada, nem mesmo quando eu estava cansada e fraca, ele sabia reacender todo
meu fogo. Ele me fazia queimar de desejo, sentimentos jamais sentidos antes
de ontem.
Boa pergunta, eu arruinei tudo. Parabéns, Luana, por ser tão idiota e
ter se entregando ao seu marido, agora ele me teria de volta para o seu bel
prazer.
Senti vontade de quebrar alguma coisa que não fosse o meu óculos.
Limpei as lentes antes de colocá-lo no rosto. O lençol cobria meu corpo nu.
Adormeci em seus braços e nem se quer me vesti.
Isso era algum tipo de brincadeira? Sem pensar duas vezes, corri até o
banheiro em busca das minhas roupas, e quando passei pela porta, ouvi o
barulho dela se fechando. Era meu marido.
Enzo era o tipo de homem que sabia conquistar uma mulher. Ele usava
seu dom no sexo para enlouquecer qualquer uma, inclusive a mim. Ele não
era romântico, eu não esperaria por flores e café da manhã na cama, mas por
um convite para fazer sexo, sim, isso era normal vindo de sua parte.
Só então percebi que estava totalmente nua, sem peça de roupa alguma.
Meu primeiro instinto foi me cobrir com as minhas mãos, e mesmo assim,
ainda mostrava demais. Ele apenas riu, divertido. Não, ele gargalhava. Essa
foi a primeira vez que o vi assim, tão contente com alguma coisa.
— Suas roupas? Para que você as quer? O que vamos fazer agora não
necessita de roupas — ele me tomou em um beijo.
Enzo tinha um imã, capaz de me prender no seu corpo quente e forte.
Meu marido me tocava em todas as partes do meu corpo, ele gostava de me
sentir.
— Enzo...
Ele tinha que ser tão possessivo? Claro que sim, era pedir demais que
ele fosse meu príncipe. Como disse a minha cunhada: essa de príncipe não
existia. Teria que aceitar de uma vez por todas.
Por que tem que ser tão gostoso? Meu corpo o queria, não tinha como
negar, ele tinha conhecimento de que eu estava louca de desejos por ele.
Sem aviso algum, ele penetrou seu pênis duro e grosso dentro de mim.
Aquilo me fez ter um pequeno susto. Ele segurou meu pescoço com força,
apertando ao ponto de me fazer perder um pouco de ar. Aquilo não era para
doer, certo? Porque sua atitude me fez sentir ainda mais tesão, ao ponto de
liberar muitos gemidos.
Ele colou seu rosto no meu, a sensação era ótima. Logo fui atingida
pelos seus jatos quentes. E quando pensei que acabou, o senti ainda duro.
Enzo me fez ficar de costas para ele, com as mãos na pia e me penetrou sem
dizer nada. Ele era insaciável, nunca se continha apenas com uma transa.
Meu marido me invadiu por completo, uma, duas, três vezes. Era nova
nesse assunto, logo ficava cansada, querendo deitar e descansar.
— Não como nada desde as três da tarde, e ainda tive que fazer sexo
todas essas vezes. Estou faminta e cansada.
Assenti. Queria ver até onde ele iria com todo esse teatro. O conto de
fadas tinha acabado por aqui. Assim que ele saiu do quarto, após tomar uma
chuvarada, aproveitei para fazer minha higiene matinal; escovar meus dentes,
pentear meus cabelos, fazer coisas de mulheres. Tomei banho, e em seguida
vesti a única peça de roupa que encontrei aqui. O camisete que ele usava
ontem à tarde. A roupa cobria pouca coisa abaixo do meu bumbum.
Sai do quarto, procurando pelo meu celular. Imaginei que meu primo
estivesse preocupado, querendo saber notícias de mim. Mas nem isso eu
encontrei. Sabia que ele tinha pegado. Sem meus óculos, eu não era ninguém.
Precisava deles até mesmo para dormir.
Ri de meu pensamento.
Assim que me viu, sorriu. Ele desfilava pela cozinha em uma box
branca, com muita naturalidade, enquanto eu ficava babando. Ele estava
tranquilo. Pelo menos ele tinha se esforçado para arrumar a mesa, já que
colocara algumas xícaras alinhadas. Enzo foi até a sala e voltou na minha
direção, me entregando um lindo buquê de rosas.
— Você não vai me comprar com um buquê de rosas.
— Isso o quê?
Não confunda!
Droga! Acabei de admitir que ele era bom até fazendo café.
Analisei atentamente cada palavra que ele disse. Como se aquilo fosse
possível... meu marido falava como se não tivéssemos nenhum problema para
resolver.
Seu sobrenome deveria ser cínico, ao invés de Grego. A personificação
da palavra cinismo estava bem a minha frente, tomando café, vestido apenas
em uma cueca box que marcava todo o seu bumbum empinado... A linha de
raciocínio não era essa, retomando. Ele era Enzo Grego.
— Não pense que eu esqueci de toda a raiva que sinto por você, apenas
porque transamos. Assim como eu não signifiquei nada para você, saiba que
o mesmo digo eu.
— Assim você me ofende. Quem disse que você não significa nada
para mim?
— Eu amo você.
Não poderia viver feliz ao lado do homem que seria pai de outra
criança, que não estava em meu ventre. Não suportava essa ideia em hipótese
alguma. Não era madura suficiente para assumir essa responsabilidade. Não
era obrigação minha ceder a tudo isso.
— Eu jamais irei te obrigar a ser minha. Por mais que eu a ame, eu sei
que não é nada fácil para você — ele segurou a minha mão. — Eu não posso
matar o filho que Helena carrega em seu ventre, não porque eu a ame, e sim
porque é o meu filho. Claro que não iremos conviver com ela e a criança,
mesmo assim irei providenciar que nada nunca os falte.
Com um peso sobre minhas costas, por tudo que vinha passando nos
últimos dias, permiti que aquelas lágrimas levassem consigo todos os meus
anseios, todos os meus medos de um futuro inserto. Não tinha mais
argumentos para lutar contra essa separação, mas tinha alguém ao meu lado
disposto a fazer tudo para me ver bem. Irônia ou não, essa pessoa era
justamente aquela que mais me feriu.
Enzo Grego.
Levantei da cadeira, tirando todo aquele peso das minhas costas. Uma
mulher da máfia jamais deveria abandonar sua casa, seu marido, e
principalmente, suas obrigações. Mas eu estava fazendo justamente isso. Se
minha mãe fosse viva, morreria de desgosto ao ver que nada deu certo.
Não foi por falta de amor da minha parte, o único culpado foi o tempo,
por ter nos feitos nos encontrar na época errada.
Ele veio até mim em passos lentos, suas mãos tocaram o meu rosto, os
olhos azuis profundamente tristes, e até mesmo frustrados consigo mesmo.
Enzo depositou um beijo sobre minha testa.
— Eu não sei de onde você tira essas coisas. Felipe é como um irmão
para mim...
ENZO GREGO
Antes, não entendia todo o sacrifício que meu irmão passava tendo que
viver longe da sua esposa, sem poder sentir o seu perfume, sem poder tocá-la.
Não compreendia as razões pela qual meu irmão nunca foi buscar Giovana,
pouco mais de três anos longe dela... ele fazia tudo isso por amor.
Hoje, eu sei que por amor, somos capazes de fazer grandes sacrifícios
em nome dele. Luana tinha voltado para França no dia seguinte após termos
nos amado como dois amantes apaixonados. Eu estava louco de amor pela
minha petit.
A deixei partir para que pudesse ter um tempo só seu. Podia imaginar o
quanto ela sofreu sabendo que seu marido não a amava da maneira que ela
merecia. E como se isso não fosse suficiente, ainda tinha que conviver
sabendo que todos os dias ele se encontrava com a outra.
Não podia apagar todo o sofrimento que causei, mas podia reescrever
uma nova história ao seu lado, e era isso que estava disposto a fazer.
— Tive uma grande ideia, irmão. Se por acaso fossemos para aquela
ilha deserta com nossas esposas, elas não teriam como fugir. O mar as
devorariam ou seriam os tubarões?
O som da música que tocava no celular dele era a velha "Bella cioa".
Desde que Itália é a Itália.
Fui despertado pelas risadas da minha irmã caçula, ela segurava seu
aparelho celular, provavelmente filmando o sofrimento dos seus irmãos.
— Quem diria que eu viveria para ver isso. Meus dois irmãos sofrendo
de amor, abandonados por não serem bons maridos. Como estou feliz.
A loira era irritante quando queria ser. Se não fosse pelo fato dela ser
minha irmã, teria atirado nela nesse momento. Irmãos eram sagrados!
Joguei um pouco da bebida na sua direção, foi uma pena não ter a
sujado. Minha irmãzinha tinha reflexos muitos rápidos, capazes de desviar
até mesmo de um tiro. Grego!
Nesses dois meses longe da minha esposa, nem tudo o que eu fiz foi só
beber, eu também fumava um ótimo charuto vindo da França. Tudo me fazia
querer ir para França, senão fosse pelo maldito conselho que me impede de
sair do país, como uma das punições, eu já teria ido a tempos.
Além de ficar três meses sem poder viajar, estava afastado das minhas
funções até o dia vinte desse mês. Tive sorte de ter recebido uma punição
branda, já que meu irmão limpou a minha barra diante todos aqueles vermes
conselheiros.
Concordei que Luana voltasse para a França, mas isso não significava
que eu havia desistido dela. Ela era minha mulher, e agora, mais do que
nunca, iria lutar por nossa felicidade.
Ninguém iria nos separar, nem mesmo Helena. Assim que ela desse à
luz, irei mandá-la para o Uruguai junto a criança. Nada iria faltar para eles,
farei questão de que a criança estude nas melhores escolas, que seja alguém
importante na vida. Não poderia negar meu próprio sangue, mesmo que ele
fosse um bastardo. Minha intuição de pai me fazia acreditar que era um
menino. Amanhã essa dúvida acabaria quando ela realizasse a ultrassom para
saber o sexo do bebê.
Nossa cama ainda tinha o seu perfume, o perfume das flores não se
comparavam em nada com o perfume da sua pele. Por instante algum deixei
de pensar em nossa primeira vez juntos, em como foi sensacional a possuir,
os olhos revirando de prazer... aquilo não tinha explicação. Minha felicidade
resumia-se em estar do seu lado, pena ter notado tarde demais.
Quando penso que a única coisa que fiz foi magoar minha petit... Luana
sofria bem diante de mim, e tudo o que fazia, era lhe causar ainda mais
sofrimento. Em nada ela se parecia com aquela menina apaixonada, eu a
matei! Fui o único responsável por tirar o brilho dos seus olhos. Ela estava
tão feliz quando nos encontramos em minha casa poucos dias antes do
casamento, ela me dizia o quanto queria ser uma boa esposa, e tudo o que eu
fiz foi machucar o seu coração.
Tudo que eu pensava que sentia por Helena não passava de sexo, desejo
que qualquer homem sentia por uma mulher como ela. Me deixei secar pelo
meu orgulho, me arrependo por todas às vezes em que a deixei dormindo
sozinha em nossa cama para ir me encontrar com minha amante.
Luana era linda por dentro e por fora, sua beleza era incomparável.
Sempre quis ter um filho homem, era uma pena que ele jamais seria
meu herdeiro. A máfia não reconhecia bastardos.
— Você não parece nada feliz com a descoberta do sexo do nosso filho
— Helena parecia empolgada, mas logo ficou séria.
— Calma? Você não me disse isso! Como posso ter calma? Você só
pode estar brincando comigo! — gritei, enquanto ela sentava em uma cadeira
da clínica mesmo. Estávamos na sala da ultrassom. — Você não sabe o
martírio que estou sofrendo.
— De onde você tirou isso? — Helena ficou branca como papel. O que
ela estava escondendo de mim? — Estou esperando uma explicação.
Ela encarava meu rosto, esperando que algo acontecesse para que ela
conseguisse fugir antes de dar sua explicação. Helena estava estranha nos
últimos dois meses, ela quase nunca saía de casa, e em compensação, a fatura
do seu cartão de crédito praticamente tinha triplicado comparado aos últimos
meses. A pergunta não era como ela estava gastando esse dinheiro, e sim com
quem? Tinha algo muito estranho nessa história, e eu iria descobrir.
— Me arrependo de cada palavra que saiu da minha boca para falar mal
de Luana. Se pudesse, voltava no tempo e faria as coisas diferentes. — A dor
em seu olhar me fazia sentir culpado.
Pelos meus cálculos, não tinha como esse filho não ser meu, já que ela
engravidou justamente em um período que ainda mantínhamos relação
sexual. Sempre fiz questão de que ela tomasse a pílula injetável todos os
meses na mesma clínica. E a última vez que tivemos relação sexual, foi a
quase três meses e meio. Ela estava grávida de três meses e meio.
Por mais que eu não aceitasse isso, não tinha como algo milagroso
aparecer para me salvar dessa. Tudo o que eu queria, era cair na escuridão
dos meus pensamentos. Beber até desmaiar.
Mesmo ela estando habituada com o nosso mundo, ainda assim não
deixava de ser algo novo para ela. Desde o dia que Helena entrou na minha
vida, tudo começou a dar errado para ambas as partes.
— Não precisa sentir medo, não irei permitir que ninguém nunca faça
mal a você e muito menos ao nosso filho.
— Obrigado por tudo que vem fazendo por mim. Por ter salvado minha
vida quando todos queriam me matar.
— Você está viva não graças a mim! Foi Luana que intercedeu pela sua
vida, e pela vida do bebê — Ela franziu o cenho.
— Você não fez nada. Eu apenas descobri que não era amor, Helena.
Tivemos uma ligação muito forte, mas nada passou de desejo sexual. Amor é
o que eu sinto por Luana.
— Quando o bebê nascer, a única coisa que irá fazer é permitir que o
Conselho faça um exame de DNA.
Sem dizer mais nada, a deixei sozinha. Dirigi de volta para casa, me
aconchegando em meu edredom com o perfume de Luana. Não permiti que
ninguém o lavasse, era a única coisa que ela não tirou de mim... o seu
perfume.
Não mantinha contato algum com minha esposa, mas tinha seguranças
meus a protegendo de qualquer forma de perigo, e até mesmo de Felipe. Não
queria aquele idiota rondando minha princesa.
LUANA GREGO
Foi assim que selei minha autoestima. Eu era linda, e madura suficiente
para encarar todos os meus problemas.
Não ficaria chorando pelo leite derramado por toda a minha vida!
Com o passar dos meses, tinha aprendido que podia ser bonita da
maneira como eu era. A maquiagem e os cortes de cabelo eram apenas um
enfeite, como em uma árvore de Natal. A árvore por si só já era muita bonita,
mas quando se enfeitava com bolinhas e meias de Natal, tudo ficava ainda
mais bonito. Assim era eu, como uma árvore de natal, sempre poderia ser
mais bonita.
No começo? Parei para pensar nos motivos pelo qual nosso casamento
não teria dado certo. Em uma delas: cheguei á conclusão de que meu marido
não era um homem fácil, além de ser chato na grande maioria do tempo, ele
também era egocêntrico, irritante, fechado, e muitas outras características que
ainda poderia citar como: folgado, sincero demais, possessivo em relação ao
Felipe.
Enzo era tudo, menos um ser humano sensato. Ele não era um príncipe
como eu sempre tinha sonhado, ele ainda estava na fase do sapo. Sua princesa
ainda não tinha lhe dado o beijo da transformação, o encanto ainda não tinha
se quebrado.
Podia imaginar que nesse momento ele deva estar aproveitando a vida
com alguma beldade, enquanto eu estou aqui, completamente triste, por meu
conto de fadas não ter dado certo. Essa era a primeira vez que uma princesa
não tinha conseguido fisgar o príncipe.
Olhei para janela, admirando o belo jardim que tinha em casa, notei que
algumas flores estavam ficando sem vida, conversei com o jardineiro e
consegui resolver esse problema. Comprei adubo necessário para todas elas, e
para as árvores da frente da casa. Não suportava ver plantas morrerem por
falta da ação do homem. Deveríamos preservar o meio ambiente, a começar
pela casa, a mãe natureza agradecia.
Desde aquela noite, que ele me fez sua, não paro de sonhar acordada
com seus beijos, seus toques. Não sei como consegui transar com ele. Meu
marido era enorme em todos os sentidos da palavra, lembro de ter ficado
dolorida por quase duas semanas.
— Como não? — perguntei surpresa. Eu comprei ele não tem nem dois
meses!
Devia ter encolhido na hora de lavar, mas a etiqueta mostrava que ele
não tinha sido lavado, então lembrei das panquecas que comia quase todas as
tardes. Quando era mais nova, tinha problemas com a balança. Tive que
passar uma fome grande para poder emagrecer, e agora, o peso estava
voltando a me incomodar novamente.
— Não, obrigado.
Será que eu estava realmente grávida? Sorri, feito uma boba pensando
nessa possibilidade. Então lembrei de que não serei a única mãe de um filho
do meu marido. A frustação me fez querer esmagar a cabeça dele, mas
lembro que sou muita nova para ir para a cadeia, prefiro viver minha
"liberdade".
Não sabia se sorria ou se chorava. Tudo o que eu fiz foi respirar fundo,
e tentar não congelar. Eu estava realmente grávida! How! Isso era novo para
mim, não me imaginei sendo mãe tão cedo assim. Massageei minha barriga,
sentindo que há muito amor dentro de mim.
Corri para meu quarto, procurando algo para vestir, precisava esconder
minha barriga de todos, principalmente de Felipe. Ninguém pode saber da
minha gravidez. Minha sorte era que quase não dava para notar minha
gravidez. Estava fazendo meu pré-natal como manda o figurino, tudo
certinho, a saúde do meu bebê estava impecável, assim como a minha. Não
via a hora de poder ver o rostinho do meu filho, às vezes me pegava
emocionada, pensando em qual nome darei ao meu bebê. Na verdade,
gostaria que Enzo estivesse aqui ao meu lado, me apoiando em meio a todos
os meus medos e inseguranças. Ser mãe de primeira viagem não era nada
fácil.
Essa noite Felipe disse que vinha jantar comigo. Ele me convidou para
assistir o novo filme de romance que tinha saído a poucos dias no cinema. O
jantar aconteceu normalmente, ele me contava como estava indo com as
coisas da empresa, tudo o que eu fazia era dizer para ele pegar leve, não ficar
tanto tempo trabalhando.
Ele me olhou com aquele olhar pacífico de sempre. Sorri de lado, ele
tinha um certo brilho nos olhos, totalmente diferente de tudo que eu já tinha
visto antes, observava atenta cada movimento em seu rosto. Felipe sempre foi
imprevisível, fechado na maioria das vezes. Por mais que fossemos próximos,
às vezes eu sentia que ele precisava de um ombro amigo, como se ele
sofresse em silêncio por alguma coisa.
Minha primeira reação foi não fazer nada. Ele me beijava com carinho,
buscando minha permissão. Senti minha cabeça pousar sobre os travesseiros
no chão, seu corpo por cima do meu me fez sentir vontade de empurrá-lo, no
entanto, ele era forte. Eu não conseguia corresponder aquele beijo.
O que estava acontecendo com ele? Sempre fomos amigos! Irmãos! Por
que ele estava fazendo aquilo comigo? Tentei sair debaixo do seu corpo, ele
não permitiu, suas mãos fazendo com que meu rosto ficasse unido ao seu. Era
agoniante.
Não sentia nada com seu toque. Meu único sentimento era de
repugnância.
— O quê?
Não ouvi mais nada, sai correndo antes que ele pudesse me fazer algum
mal. Estava tão nervosa que comecei a gritar feito uma louca. Como assim
não tinha ninguém em casa? Ele dispensou os empregados?
O barulho dos seus passos ecoavam logo atrás de mim. Antes que eu
conseguisse passar pelo corredor que dava acesso às escadas, fui brutalmente
empurrada contra a parede, minhas costas bateram fortemente nelas, fazendo
com que eu soltasse um grito agudo de dor.
— Não precisa chorar, Lú, eu não sou o Enzo! Não seria capaz de te
machucar como ele fez te traindo todas aquelas vezes. Eu sempre te amei, e
agora você irá sentir todo o meu amor.
Suas mãos tocavam a minha cintura, ele tinha um olhar predador sobre
minha. Eu não queria ser dele! Quanto mais eu suplicava, mais ele me tocava
da maneira que não devia. Sentia toda sua ereção contra meu abdômen.
Sua língua brincava com meu pescoço, ele me mordia, lambia, e até
mesmo sussurrava palavrões de baixo escalão no meu ouvido. Tentei
empurrá-lo, em vão.
HELENA DALLAS
Tinha sorte por ter minha tia Eva. Ela era uma mulher de temperamento
forte, decidida, e a única pessoa que tinha da minha vida. Podia contar com
ela para tudo.
Para quem não queria ser mais uma notícia triste para a família, não
estava sendo muito esperta.
— Olha por onde anda, moça — ouvi uma voz grave vindo na minha
direção. Estava apavorada demais para abrir meus olhos e encarar o dono da
voz. Esperava não ter arranhado o carro dele, porque eu não podia pagar pelo
concerto. — Está tudo bem? — perguntou. — Pode abrir os olhos, eu não
vou devorar você.
Nunca tinha visto alguém tão bonito quando ele era. Os olhos azuis
combinavam com os cabelos claros, a pele branquinha só fazia com que
transparecesse ser ainda mais jovem do que era. Ele deveria ter mais ou
menos a minha idade. Eu tinha dezessete anos, ele deveria ter no máximo
vinte anos, talvez não chegasse nem a tudo isso.
Ele não era de Trivoli. Nunca tinha esbarrando com ele por aí antes.
Não conseguia disfarçar a baba que escorria pela minha boca, ele sorriu
de maneira tão linda que foi capaz de me afetar. Ele me ajudou com os pães,
colocando de volta na cesta, e me entregando-a em seguida.
— Obrigado.
— Posso sim. Minha tia tem uma pensão a duas ruas daqui.
Meus olhos eram grandes demais, isso era motivo suficiente para todos
meus colegas rirem de mim.
Nunca me importei com as ofensas. Tinha motivos para não me
entregar a depressão. A morte do meu pai há dois anos quase me levou ao
fundo do poço. Graças a minha tia, hoje eu estava firme e forte.
Minha tia era boa para mim. No que eu pudesse ajuáa-la, eu ajudaria.
Devo tudo a ela.
— Pode sim. Mas antes, quero que leve o jantar do quarto 312.
— Sim, senhora.
O quatro 312 deveria ser de uma senhora que sempre gostava de jantar
sozinha. Às vezes eu gostava de fazer companhia para ela.
Era Enzo!
— Seu jantar.
— Pode colocar em cima da cabeceira, por favor. Não estou com fome
agora.
Ouvi o barulho da porta sendo fechada e trancada. Por que ele tinha
feito isso? O encarei assustada, com aqueles olhos azuis lindos me olhando
com algum tipo de sentimento na qual eu não sabia dizer qual era.
Uma vez eu vi esse tipo de olhar. Foi de um garoto da minha turma, ele
me beijou e depois quis algo a mais... será que ele também queria algo a
mais?
— Não precisar sentir medo. Eu não vou fazer nada que você não
queira — ele se aproximou de mim, tocando em meu rosto.
Me arrepiei com seu toque. Nunca senti isso antes em toda minha vida.
Ele não tinha nem me beijado e eu já podia sentir uma pequena vontade de
senti-lo dentro de mim. Foi então que ele me tomou em um beijo envolvente,
cheio de toques sobre minhas coxas e bumbum.
O seu beijo tinha o gosto de menta, não queria parar nunca de beijá-lo.
Foi então que ele rapidamente se desfez das minhas roupas, e das suas
também. Ele sugou um dos meus seios, me fazendo ficar bastante excitada.
Me jogou na cama sem a menor delicadeza, e voltou a me chupar com desejo.
Senti algo querendo me invadir, foi então que cai na real, percebendo
que estava prestes a fazer sexo com um homem que eu mal conhecia. Apenas
sabia seu nome e nada mais.
— O que...
Foi um caminho sem volta. Depois daquele dia, eu nunca mais tinha
conseguido tirá-lo dos meus pensamentos.
Dias atuais...
Eu não era a vilã dessa história, mas também não era a mocinha. Todos
os Grego iriam me pagar por terem me feito de boba por todos esses anos.
Meu plano era infalível. Precisava transar com o primeiro homem que
encontrasse para poder gerar um filho dele. Enzo não teria dúvidas de que o
filho era dele.
Enzo foi o único homem da minha vida até eu conhecer Felipe. Ele era
mais velho que Enzo, alguns anos, e muito bobinho também. Caiu no meu
papo furado de que tomava pílulas e transou comigo sem camisinha,
despejando em mim jatos quentes do seu gozo, cheios de espermatozoides.
Em menos de duas semanas, comecei a sentir os sintomas da gravidez.
Sentia vontade de matá-lo, mas como isso não era possível, iria pelo
menos acabar com seu casamento. A notícia iria chegar aos ouvidos de Luana
alguma hora. Ela era fraca, iria abandonar Enzo, e então, ele voltaria para
mim.
Nas semanas seguintes, notei que Enzo parecia sempre pensativo, como
se estivesse procurando algo. Ele estava muito estranho. Foi então que recebi
a ligação da clínica, dizendo que Enzo esteve lá fazendo muitas perguntas
indesejadas aos funcionários.
Tinha sorte por ter uma aliada que trabalhava na clínica. Tínhamos sido
colegas na escola, tinha a ajudado a passar de ano, e agora era sua vez de
retribuir um favor para mim, me ajudando a enganar todos os otários que
acreditavam que o filho era do Enzo.
O único problema era ter que submeter meu filho a um exame de DNA.
Todos iriam descobrir que eu menti. Estava ficando sem saída, precisava
encontrar uma solução o mais rápido possível, caso contrário, eu seria morta
pelo próprio Enzo.
Minha sorte era que ela estava muito longe de nós, e se tudo desse
certo, hoje mesmo Felipe a possuiria. Assim o idiota do Enzo desistisse sela,
já que não iria querer uma mulher tocada por outro homem.
Hoje meu filho resolveu que me faria ficar dolorida. Pensando bem, eu
mesmo tinha acabado com a minha vida. Maldita hora que engravidei! Os
dias se passavam e meu Enzo não retornava para mim.
Estraguei meu corpo com essa gravidez ridícula. Ainda não sabia como
fazer para provar que esse filho era de Enzo, precisava manter a calma!
— Enrico Grego esteve na clínica hoje de manhã. Ouvi bem quando ele
disse que sabia que o filho não era de Enzo. Eu estou quase embarcando para
um país onde não tem leis de extradição, você deveria fazer o mesmo.
FELIPE GARNIER
Minha adorável prima não era uma das mulheres mais vaidosas que
existia no mundo, e ainda sim, ela tinha uma beleza que não dava para ser
ignorada. Mesmo usando saias longas que não marcavam seu lindo corpo
cheio de curvas, o cabelo em um tamanho exagero para a modernidade, os
óculos de grau... ela era linda. Nunca a instrui a se produzir porque temia que
o playboy pudesse se apaixonar por ela.
Ele a repudiava por sua falta de beleza natural, o que era muito
vantajoso para mim. Ele jamais teria coragem de a tornar sua mulher, o que
seria ainda mais perfeito para mim.
Não podia negar que a morena era de tirar o fôlego. Tão apertada... e
agora tinha sido minha! Pelo menos o idiota do Enzo era tão corno quanto
minha prima. Nesse ponto eu me vinguei por ela.
Não levou muito tempo para que Luana o deixasse ao descobrir que
Helena estava grávida. Pensei na possibilidade do filho ser meu, mas
realmente não era. Ela havia me confirmado isso antes de Luana e eu
voltamos para Paris.
Esperei muito tempo para tomar o que me pertencia. Estava louco para
devorar a minha priminha virgem. Amor reprimido só dava nisso.
Depois que ela se tornasse minha mulher, nunca mais pensaria no idiota
do marido. Luana se apaixonaria por mim, daríamos um jeito de conseguir o
divórcio, já que aquele trapaceiro do Enzo conseguiu enganar a todos do
conselho.
Sentia ódio por Luana agir assim, se negar a mim. Eu não queria ser
grosseiro, nem desrespeitá-la. Esse momento era para ser mágico para ela, um
momento na qual eu a respeitaria mais do que tudo, mas ela preferiu as coisas
da maneira mais difícil.
Sempre imaginei que fosse tão bela. Logo após a mudança de visual,
ela se tornou ainda mais bonita do que já era.
— Não precisa chorar, Lú, eu não sou o Enzo! Não seria capaz de te
machucar como ele fez te traindo todas aquelas vezes. Eu sempre te amei, e
agora você irá sentir todo o meu amor.
A beijava, minhas mãos segurando sua cintura firme. Ela era tão
pequena que sentia medo de quebra-la, tão delicada.
Estava quase conseguido levá-la para o quarto, quando ela foi mais
rápida e me acertou um chute bem nos meio de minhas pernas. Aquilo doeu
muito. Senti como se fosse ficar aleijado para o resto dos meus dias, mas isso
não iria ficar assim. Tinha alguns homens meu, de minha inteira confiança, lá
fora fazendo minha proteção. O máximo que Luana chegaria seria na sala.
Ninguém a deixaria passar.
ENZO GREGO
Meus homens o tiraram das minhas vistas. A raiva que tinha em mim
era tanta, que seria capaz de matá-lo com minhas próprias mãos. Se ainda não
fiz isso, foi por respeito à minha esposa. Ela não merecia ver um ato de
crueldade, não no estado em se encontra, abalada com tudo que aconteceu.
Ela estava com a cabeça deitada sobre meu peito, nos meus baços,
assustada. O seu quarto era muito luxuoso, cheio de objetos rosas. Típico
quarto de uma adolescente na puberdade.
Inicialmente, quis levá-la para o hospital, queria ter certeza de que suas
emoções não tinham afetado o nosso filho. Estava tão feliz por saber que
seríamos pais. Não contei para ela que descobri da sua gravidez.
Acariciava seu rosto, que ela logo retirou a minha mão com delicadeza.
Ela saiu dos meus braços, calçando as pantufas no chão. Podia notar
que ainda estava tensa, ela tinha o olhar de decepção, nunca duvidei das reais
intenções dela com Felipe, mas as dos desgraçado não eram as melhores com
ela.
Foi logo dando para ele, numa tentativa boba de me prender a ela.
Comecei a desconfiar de que o filho não era meu quando ela se mostrou
nervosa diante das revelações que fiz sobre a questão de ter que fazer o
exame de DNA, quando a criança nascesse.
Foi então que passei a investigar na clínica, descobri que ela tinha uma
ajudante lá dentro, por isso conseguiu evitar de tomar o anticoncepcional
injetável. Eu sei que era errado por ter mantido um relacionamento com ela
mesmo estando casado, mas eu jamais seria capaz de engravidar uma amante
intencionalmente, não apenas por motivos da máfia, e sim porque uma
amante era apenas uma amante!
A dor que causei na minha esposa não tinha como calcular, não tinha
direito de exigir que ela ficasse comigo, não tinha argumentos para justificar
que serei um bom marido. Um bom pai. Eu amo Luana, amo tanto que sou
capaz de fazer tudo por ela, inclusive aceitar sua decisão.
— Você já sabe... — ela disse, meio sem graça. Em sua mente, deveria
estar passando várias teorias, ela deveria estar pensando em alguma
justificava para se explicar. — Enzo, eu juro que não fiz por querer... Eu...
Ela realmente estava nervosa? Pensando que eu iria culpá-la? Se ela
soubesse o quanto eu estava feliz, tão feliz que sentia meu coração acelerar
pelo simples fato de saber que ela carregava um filho meu em seu ventre.
— Se for uma menina, irei amá-la tanto quanto amo a mãe dela. Mas é
um menino, um garoto como o pai — disse convencido.
Não tinha como ser uma menina, meu instinto de pai me dizia que eu
faria muitos filhos homens na minha esposa.
Deixei Luana descansar por alguns instantes. Precisei fazer uma ligação
para saber como estava o infeliz do Felipe, não que eu me importasse com o
seu estado de saúde, o problema era que Luana tinha muita estima pelo
miserável, senão, já teria o matado. Segundos os médicos, ele estava com um
ferimento grave no perna direita, onde tinha acertado o tiro apenas para
imobilizar. Não tinha coração, por mim ele poderia perder a perna que não
me importava.
Passei à noite em claro velando seu sono. Ela ressonava tranquila, por
causa do calmante que a fiz beber sem ao menos perceber. Não queria que ela
ficasse a noite em claro, preocupada sem necessidade. Ela carrega meu filho
no ventre, agora mais do que nunca cuidaria dela.
— Um pouco.
Sentei ao seu lado, e comecei a cortar uma fatia do bolo. Ela me olhava
admirada, como se não estivesse acreditando que eu estava prestes a lhe dar
comida na boca.
No final, ela acabou cedendo. Precisei sair do quarto para que Luana
pudesse tomar banho e se trocar, esperei ansiosamente ela descer as escadas.
Nunca me imaginei nessa situação, ao auge dos meus vinte e oito anos,
ficar ansioso por uma mulher. Minhas mãos suavam dentro da calça jeans
azul escura, parecia uma adolescente de quinze anos em busca de sua
primeira relação sexual.
Com Luana, tudo era tão novo para mim. Seu sorriso tímido me fazia
sentir ainda mais tesão. Sabia que parecia um doente falando assim, mas a
inocência dela me fazia querer agir de maneira pervertida.
— Anjo! Me dói saber que você não queira ficar perto de mim.
— Anjo, você não sabe como estou feliz em saber que serei pai do seu
filho. Eu sempre sonhei em ser pai, e você está realizando meu maior sonho.
Contei tudo para Luana. Ela praticamente não acreditou em quase nada,
parecia tão surpresa quanto eu fiquei no dia em que descobri toda a verdade.
— Nunca pensei que Felipe fosse capaz de fazer algo assim contra
mim.
— Não ameniza mesmo — afirmou. — Mas eu não irei viver com esse
ódio, para o bem do nosso filho. — ela caminhou na minha direção. —
Quando o bebê nascer, o que vai acontecer com ela?
— Quero que esqueça aquele infeliz. Preciso que você foque somente
no nosso filho — segurei em suas mãos. — Quero que vá à um médico e se
permitir, quero ir junto com você.
— Você é o pai, Enzo! Pode me acompanhar sempre que quiser.
Minha mulher era a pessoa mais bondosa que existia na face da terra.
Tudo nela era perfeito, e eu tão fodido, não merecia seu carinho, e muito
menos o seu amor.
À noite, quando tínhamos voltado para sua casa, depois do jantar, ela
estava deitada na cama quando resolvi questionar.
— No Felipe — admitiu.
— Não quero que você faça nada de ruim contra ele, Enzo. Ele é meu
único parente vivo.
— Eu sei que não mereço seu perdão, meu anjo, mas entenda meu
ponto de vista. Eu não posso deixar você aqui sozinha. Agora que está
grávida, tudo se torna mais perigoso, porque querendo ou não, você é a
minha esposa. Meus inimigos algum dia irão descobrir sobre sua gravidez, e
tenho medo de algo ruim possa lhe acontecer se ficar aqui.
Ela respirou fundo, os olhos claros me fitavam cheios de luz. Se ela
soubesse como me sentia bem quando estava ao seu lado... Jamais irei me
perdoar por todo o mal que causei a Luana.
Luana exigia algo de mim que eu não era capaz de cumprir. Minha
vontade era de acabar com o desgraçado do Felipe, matá-lo junto a Helena
com minhas próprias mãos, como se fazia com alguns animais.
Ela ergueu uma sobrancelha. Sorri com aquilo, sua expressão de dúvida
chegava a ser engraçada. Sabia que eu não parecia ser a pessoa mais
confiável do mundo, por isso provaria para ela que era capaz de mudar em
nome de todo o amor que sentia.
ENZO GREGO
Minha esposa não merecia o marido que tinha, nunca fui um modelo
exemplar de nada. Na adolescência, era viciado em êxtases. Foi dureza para
eu ter que admitir que precisava de ajuda, o apoio da minha família foi
fundamental para mim naquela época.
Hoje não era mais um viciado, e mesmo assim, sempre estava à procura
de problemas.
Eu estraguei tudo, a começar pelo dia do nosso casamento. Sei que ela
me odiava incondicionalmente por ter exibido Helena como um troféu
caríssimo. Em momento algum pensei na dor que minhas atitudes causavam
nela, sempre fui um homem egoísta, um troglodita.
Como ela tinha exigido, a deixei mais vontade em uma das minhas
propriedades no centro: uma mansão com mais de cem metros quadrados,
com área de lazer, piscina e hidromassagem. Era tudo o que ela precisava
para relaxar.
Ela foi recebida como uma heroína que voltava de uma guerra. Minha
família a paparicava muito, minha mãe não conseguia esconder a felicidade
por saber que teria um neto, sangue do seu sangue.
Todos sempre esperaram que Enrico fosse ser o primeiro a ter filhos.
Confesso que essa responsabilidade me fazia ainda mais querer ser alguém
melhor, pelo meu filho! Tanto minha família, assim como eu, fazia questão
de que nada faltasse para ela. Agora mais do que nunca ela recebia toda
atenção devida.
Luana não era de falar muito sobre si, na maioria das vezes em que nos
vimos, ela limitava-se a falar apenas do bebê e da saúde dele, pouco falava
dela mesmo. A única coisa que me dizia era que a gravidez a fazia ficar com
os pés inchados, e sempre que podia, gostava de fazer massagens nela para
ajudá-la a ficar relaxada.
Minha mãe a ajudava com a parte psicológica. Temia que minha esposa
ficasse abalada com as emoções da gravidez.
Sei que falhei com ela. Me considerava um miserável por ter falhado
em minha própria vida pessoal, no meu casamento, com minha família.
Poderia ter a vida que sempre desejei, se meu orgulho não tivesse sido maior
que as minhas necessidades.
Segurava em sua mão suada e gelada, ela estava tão nervosa que não
havia prestado muita atenção quando a médica confirmou que seríamos pais
de um menino. A emoção em seus olhos foi capaz de me desarmar por
completo.
Onde estava aquele homem forte? Aquele que não baixava jamais seu
ego? Havia morrido no momento em que se deu conta de que estava a
amando de uma maneira incondicional.
Luana era o sol do meu planeta. Sem ela, jamais seria capaz de tentar
ser um homem melhor.
Queria poder ter mais contato íntimo com minha esposa, sentir o gosto
do seu beijo, o calor de suas carícias. Porém prometi não pressioná-la. Era
duro vê-la todos os dias e não poder me aproximar. Às vezes ela deixava que
eu sentisse nosso bebê chutando em sua barriga, eram momentos únicos.
Ela me implorou para que não o matasse, o idiota não deixava de ser o
único membro de sua família de sangue ainda vivo. No que dependesse de
mim, ele estaria morto, mas em nome dos bons momentos, ela foi capaz de
perdoá-lo e seguir em frente.
Helena estava presa em uma das salas do Conselho desde quando voltei
da França, descobri que ela tinha fugido. Em seu apartamento, havia sangue e
drogas para um aborto. A vadia tinha se livrado do bebê como se ele não
significasse nada para ela. Com todo o seu plano descoberto, sua única saída
foi fugir.
Estive cego por tantos anos, acreditando que ela fosse uma menina
doce e inocente. Nunca imaginei que ela fosse capaz de abortar, e muito
menos de me enganar da maneira como fez.
Assim que ela cruzou a fronteira, foi presa e aprisionada em uma das
salas do Conselho. Era uma espécie de cadeia que ficava concentrada em uma
área afastada da cidade. Meus homens tinham me informado de sua chegada
a dois dias, não que eu me importasse com ela, mas o fato dela que tinha
retornado me irritava.
Deixei bem claro através dos meus homens de confiança que nunca
mais queria vê-la. E de repente, ela decidiu voltar. Com qual propósito?
Não pensei duas vezes para decidir que não deveria procurá-la, não
daria motivos para Luana pensar que fui atrás de Helena com esperanças de
algum reencontro romântico.
Minha esposa estava na reta final da gravidez, não iria preocupá-la com
essa volta inesperada de Helena. Aquela mulher tinha morrido para mim,
definitivamente.
A minha mulher era a mais bela de todas, disso não tinha dúvidas. Bela
por fora, e ainda mais bela por dentro.
Era um homem de sorte por ter recebido ela como a minha prometida.
Mas infelizmente, levei tempo demais para perceber isso.
CAPÍTULO 30
LUANA GREGO
Notei que Enzo se sentia culpado pelo meu estado. De fato eu estava
muito triste por tudo que tinha acontecido entre a gente, por todas suas
traições. Mas isso não era motivo suficiente para me derrubar. Tinha
aprendido a ser forte, a encarar meus problemas de frente, não permitir que
uma relação disfarçada pudesse me abalar. Tinha conseguido perdoá-lo, mas
não aceitei voltar com ele. Não porque eu não o amava mais, e sim por amá-
lo incondicionalmente. Precisava sentir mais firmeza em suas atitudes.
De certo que ainda tínhamos muitos problemas para resolver, por isso
resolvi focar na minha gravidez, ao invés de ficar remoendo os problemas da
vida. Estava tão feliz e completa por ser mãe de um menino. Confesso que
estava esperando uma menina, mas fiquei feliz por saber que seria um
menino. Meu marido se enchia de orgulho por ter feito um garotão. Seu ego
se tornou ainda maior depois que descobrimos o sexo do bebê.
Queria ser uma boa mãe para o meu filho, por isso não podia ter ódio
em meu coração. Por mais que as ações do passado tenham me magoado, eu
resolvi seguir em frente, sem olhar para trás.
Meu casamento não foi como eu imaginava, mas nem por isso me
tornaria uma mulher amarga. Aprendi a amadurecer, Ficar chorando pelos
cantos da casa já não fazia mais parte de minha rotina.
Minha barriga não era tão grande assim, às vezes tinha dúvida de que
realmente estava grávida. Em alguns momentos eu permitia que Enzo
sentisse nosso filho me chutar. Meu pequeno mafioso parecia que seguiria a
carreira de jogador de futebol, o que não deixaria de ser uma excelente ideia.
Não queria que meu filho fosse criado da mesma maneira que Enzo foi. Não
queria ver meu filho sendo cruel, matando pessoas.
Tinha receios sobre de como seria a criação dele. Por mais que Enzo
me passasse segurança em relação a maneira como seria a educação do nosso
filho, ainda sim, tinha medo de que ele se tornasse uma pessoa cruel.
Tinha o apoio de todos os Gregos. Minha sogra era a mãe que tanto
precisava, uma conselheira de primeira. Seus conselhos valiam ouro. Minha
cunhada era minha melhor amiga, aquela com quem eu podia desabafar sobre
minhas revoltas. Até mesmo Enrico vinha se mostrando prestativo.
Ele ficou feliz por saber que seria tio de um menino, a felicidade foi
tanta que todo conselho fez uma grande festa para comemorar a chegada de
mais um Grego do sexo masculino. Poderia até ser injusto, mas as leis não
podiam ser mudadas. Não importava o quanto o mundo estivesse moderno,
para a máfia, a única coisa que valia eram as velhas tradições e costumes que
jamais seriam mudadas.
Tinha engordado pouco mais de cinco quilos com a gravidez, quase não
se notava.
Não irei mentir que não desejava poder estar na mansão dos Gregos.
Aquela casa para mim significava uma família unida. Mas não poderia dar o
braço a torcer, mesmo Helena não estando mais com Enzo. As lembranças
eram muito recentes, capazes de me abalar em determinados momentos.
Havia dias que sentia vontade de me jogar em seus braços e poder dizer
que o amava, mas se fizesse isso agora, não teria certeza de que algum dia ele
poderia me levar a sério. Se ele me amava de verdade como dizia, iria saber
respeitar o meu tempo. Quando isso acontecer, prometi que seremos uma
família feliz.
— Mas acordou.
Digamos que quase sempre acordo de mal humor quando outra pessoa
decide fazer isso por mim.
— Ela me disse que você está bem, ainda sim resolvi que era melhor
constatar pessoalmente. Uma desculpa para ficar mais tempo perto de você.
Ele era o pai do meu filho, do nosso Dylan, e eu não tinha forças a para
encarar uma separação longa, não pretendia ficar nem mais um dia longe
dele.
— Eu aceito.
— Enzo, eu volto para você, mas saiba que eu tenho minhas exigências.
Não vou tolerar que você me traía nunca mais, senão, juro que desapareço do
mundo com o meu filho. E você nunca mais nos verá novamente.
Ele tomou meus lábios em um beijo molhado, podia sentir todo meu
corpo entrar em uma adrenalina capaz de me fazer relaxar, totalmente
entregue em seus braços. Enzo me fazia sentir segura, sabia que ao seu lado
nada de ruim iria acontecer comigo e com o bebê. Ele nós protegeria, não
permitiria que ninguém nos tocasse.
Enzo era o amor da minha vida, mas se ele faltasse comigo novamente,
jamais seria capaz de perdoá-lo.
Confiança era algo que se concertava aos poucos. Pude notar que
realmente ele estava tentando mudar. Soube que sua amante estava bem longe
de nós dois, por isso creio que seja melhor nos darmos uma segunda chance.
Segurei na gola da sua camisa quando ele me puxou para seus braços
fortes, me completando com um abraço. Nosso beijo estava se tornando
erótico, meu marido sabia como me tocar sem que machucasse. Ele distribuía
uma trilha de beijos molhados em volta do meu pescoço. Logo agarrou a
minha cintura, me puxando ainda mais para o seu corpo musculoso. E que
músculos ele tinha! O físico estava de dar inveja a qualquer um. Tudo nele
era perfeito.
Sua fome por mim era tanta, que ele chegou a rasgar minha camisola,
me deixando totalmente exposta. Ele me comia com os olhos cheios de
luxúria.
No início, senti receios pelo bebê, mas logo ele derrubou todos como a
um murro, me fez sentir segura, amada e desejada.
— Espero que goste do que está por vim. — estimulava meu clitóris.
ENZO GREGO
Esse sentimento chamado amor, até então era desconhecido por mim.
Talvez eu nunca tivesse amado alguém, nem mesmo Helena, e muito menos a
mim mesmo. O ego dos Grego haviam subido muito nas minhas cabeças.
Suas mãos arranhavam as minhas costas, com as pontas dos dedos ela
fazia uma espécie de carinho em mim. Me virei e prendi sua respiração na
minha através de um beijo suave, que ela correspondia totalmente entregue.
Agora que a tinha novamente para mim, não estava disposto a perde-la
por causa das minhas atitudes infantis. Aquele garoto inconsequente tinha
falecido, e renascido em seguida um novo homem.
Ela levou minha mão até o seu coração, que batia forte e acelerado.
— Eu sei que sou todo fodido, mas estou disposto a mudar por você.
Pelo nosso filho.
— Acredito em você. Por isso estou nos dando essa chance de sermos
felizes.
Era uma nova etapa da minha vida. Esperava conseguir lhe dar tudo de
novo que estava por vim.
— Me deve um chocolate.
Ela sentou-se na cama, tocando em sua barriga. Notei que ela não usava
nossa aliança de casamento a muitos dias. Não poderia exigir que usasse
antes, mas agora que retomamos nossa relação, ela teria que usar. Assim
como eu nunca deixei de usar a minha um dia se quer.
— Você nem está usando a sua... — ela parou de falar assim que
mostrei a aliança em meu dedo. — Você nunca tirou?
— Meu ego me dizia que algum dia você voltaria para mim.
— Convencido. Seu ego ainda vai ocasionar nossa separação.
— Quando lhe disse que iria despachá-la para o Uruguai, não estava lhe
enganando.
— Eu sei que não. Enrico me mostrou a passagem. Ela foi mais esperta
armando a gravidez justamente no dia que você iria terminar tudo. Nós
mulheres somos espertas, sabemos quando devemos acreditar no homem.
Onde iríamos parar com isso? Ela estava cansada por causa da
gravidez, não poderia exigir sexo toda hora. Ela que estivesse pronta para
quando se recuperasse do resguardo. Aposto que esses sim serão os dias mais
difíceis da minha vida. Ter uma mulher linda ao meu lado e não poder tocá-
la. Maior tortura não há.
Pouco me importei com as reuniões que tive que cancelar para poder
passar o dia ao seu lado. Memorava cada movimento seu, cada suspiro que
ela dava ficava guardado na minha mente. Meu coração batia acelerado como
nunca. Essa era a primeira vez que amava alguém de verdade.
Nunca imaginei que fazer coisas simples de casal fosse tão prazeroso.
Assistir um filme juntinhos era gostoso, poderia beijá-la sempre que quisesse,
principalmente se o filme fosse de terror, eu a tinha em meus braços bem
juntinho ao meu corpo. Já quando o filme era um clichê romântico, ela nem
queria me olhar.
Fazer refeições na companhia dela sempre era uma comédia. Seu gosto
peculiar para os alimentos me faziam rir. Ela sentiu desejo de comer: pão
com geleia, sopa de cebola com suco de morango e uma porção de iogurte
sem açúcar. Vontade de comer tudo isso ao mesmo tempo.
— Grazie, mamma.
Concordamos em ficar na mansão Grego até que ela tenha o bebê. Não
gostava da ideia de sair e deixá-la sozinha em casa. Aqui pelo menos ela teria
companhia, estaria mais segura.
— Não acho uma boa ideia, ele já está acumulando ódio demais. Essa
carta é uma espécie de provocação.
— Pois que ele saiba que com os Grego não se brinca. — Enrico estava
enfurecido. Ele tinha nossa irmã como uma bebezinha inocente. Jamais
seríamos capazes de entregá-la para um homem como Barkov.
Nosso pai devia estar louco quando firmou o acordo. Juramos em seu
leito de morte proteger ela acima de qualquer outra coisa. Nossa irmã era
nosso maior tesourou, principalmente por sua história, um segredo que
envolvia sua origem que jamais seria revelado.
Como se não bastasse todos os meus problemas, ainda tive que fazer
um pequeno favor para meu amigo Louis. Bons tempos aqueles de farra que
tínhamos em Londres. Sua esposa tinha fugido a alguns dias. Nós homens e
seus problemas com suas esposas. O que elas pensam quando fogem? Que
nunca iremos encontrá-las? Enzo Grego sabia de tudo o que acontecia, nada
ficava escondido por muito tempo.
— Eu sou seu marido, você não pode continuar desfilando pela casa
como se não houvesse mais homens além de mim para te olharem.
— Ontem ele olhou para você! Maldito vestido vermelho que mostra
quase a sua bunda.
— Sem exageros, meu amor. Irei usar essas roupas, por isso não irei
tolerar seus ciúmes bobos.
Não iria tolerar que ela continuasse usando esses minis shorts, vestidos
e saias. Se ela queria ficar à vontade, que ficasse assim em nosso quarto,
apenas para mim.
Não gostava de dividir nada meu com ninguém. Quase matei meu
irmão com socos por ele ter olhado para minha esposa. Hoje pela manhã,
quando nossa mãe perguntou por que estávamos com o rosto vermelho,
precisamos inventar uma desculpa esfarrapada.
Provoquei ele por ter olhado para minha esposa de maneira indelicada.
Ele não gostou da maneira como falei de Giovana.
Ela saiu usando aquela roupa que me fazia sentir vontade de tranca-la
no quarto. Anastácia sorria de mim, e ao ver minha expressão de raiva, se
trancou no quarto.
— Tudo bem. Mas não vou mudar meu estilo apenas porque o está
incomodado. Enrico me falou dos socos que deu nele.
— Ele mereceu.
LUANA GREGO
Bala trocada não doía. Agora ele sabia o quanto sofri por não tê-lo só
para mim.
Não pensaria no passado nunca mais. A única coisa que importava para
mim era o futuro, minha felicidade e a felicidade do nosso filho.
Estava passando pelo corredor que dava acesso aos nossos quartos,
quando ouvi Enrico falar algo sobre Anastácia, e o ex noivo maluco que ela
tinha rompido a união.
— Ele que não ouse tocar na nossa irmão. Maldito! — Enzo fechou os
punhos, batendo na parede com força. Aquilo deveria ter causado um
ferimento em sua mão.
Meu Deus! Minha cunhada estava correndo perigo. Não podia acreditar
que ele tinha me escondido isso!
— Enzo, não irei tolerar mentiras. Da próxima vez que esconder algo
tão grave de mim, eu juro que te mato.
Quando meu marido entrou por aquela porta, pensei que ele iria
derrubar tudo. Ele estava tão nervoso que já tinha passado por cima da mãe e
da irmã com seu tom de voz idiota. Lhe dei um beliscão para ele parar de ser
tão agressivo.
— Já lhe disse para não se preocupar, seu idiota. Pare de ser agressivo
com sua família.
Ele me pegou nos braços, me colocou sobre a cama e não saiu do meu
lado até que eu adormecesse.
— Por isso que eu não te contei nada. Minha querida, não precisa ficar
preocupada. Nada de ruim irá acontecer. Eu te prometo.
Por mais que eu estivesse com medo, eu lutaria para ter ele em meus
braços com muita garra. Conforme ficava mais pesada, mais aumentava
minha ansiedade para ter o meu filho nos meus braços.
Nossa relação nunca esfriava, mesmo sem termos relações sexuais, ele
sempre conseguia me estimular de outras maneiras. Digamos que ele sabia
fazer mágica com a língua.
Outro aspecto que valia à pena ser lembrado, era sobre seu ego. Ele
vinha tentado melhorar isso. Às vezes chegava a sentir vontade de arrancar
meu cabelo de tanta raiva que sentia. Os Gregos eram muito convencidos em
tudo que faziam. Quase matei meu marido por se gabar para todos da família
que tinha feito um filho homem. Como se ele tivesse o dom de escolher o
sexo do nosso filho.
Finalmente tive coragem para fazer algo que há muito tempo estava
querendo saber. Não tinha tido mais notícias sobre Felipe, soube que ele não
tinha aceitado minha ajuda financeira. Ele estava acostumado a administrar
meus bens, talvez tenha conseguido acumular uma pequena fortuna me
roubando. Essa notícia me abalou, jamais imaginei que ele, sangue do meu
sangue, fosse capaz de cometer tal atos.
Fazia muito frio, e o sol não tinha nem saído quando comecei a sentir
algumas contrações. Não foi nada alarmante. Tomei um banho para ajudar a
relaxar, não pensar na dor. Minha médica me disse que dias antes de
completar as quarenta semanas, eu sentiria uns alarmes falsos, e pelo que eu
pude perceber, esse era o primeiro deles.
Senti tanta fome que não esperei o café ficar pronto e, arrumado sobre a
mesa, comi na cozinha, na companhia da empregada. Ela me servia da
maneira que podia, nervosa e preocupada pensando que cabeças iriam rolar.
Ela pediu desculpas e implorava para que não mandassem-na para o Dark
Hill.
Penteava meus cabelos quando senti mais uma contração, ela veio
como uma espécie de pontada. Podia sentir uma pequena dor se formar na
minha barriga, como facas entrando e saindo. Me sentei na cama e controlei
minha respiração, esperei alguns minutos para ter certeza de que era mais um
alarme falso.
Enzo saiu do banheiro, vestindo uma box branca que marcava o seu
lindo bumbum empinado e durinho. Mordia meus lábios tentando controlar
meus desejos impulsivos. Ele foi logo pegando sua máscara e colocando
sobre os olhos. Ele deveria estar subindo pelas paredes. Acho até que ele
nunca passou tanto tempo sem sexo como agora.
Lhe dei um beijo nos lábios, que logo me ignorou. Já podia notar o
volume excessivo em sua cueca. Ri baixinho no intuito de irritá-lo. Acabei
conseguido, pois ele retirou a máscara e me lançou um olhar profundo. Enzo
estava duro e louco por sexo.
— Enzo, eu acho que nosso filho vai nascer — falei, sentido algo
molhado descer pelas minhas pernas.
— Ah, princesa, você não sabe o quanto sou louco por vocês — ele
parecia não ter me ouvido. — Geme para mim, meu amor, geme muito alto.
Ele estava tão nervoso que errou o buraco da calça duas vezes, vestiu a
camiseta ao contrário duas vezes para poder conseguir acertar. Nem sequer
calçou as meias.
Saiu do quarto acordando todos da casa. Minha sogra me ajudou para
que eu não ficasse nervosa.
Fiz uma força maior quando a última contração veio. Minha cabeça
doeu muito por consequência da força bruta, então eu ouvi o chorinho dele. O
choro do amor da minha vida.
CAPÍTULO 33
LUANA GREGO
A enfermeira se retirou.
Percebi que minha sogra não apoiava o desejo da menina por ela querer
casar com Thiago.
Todos sorrimos das criancices de Ana. Ela era uma adolescente com a
mente de criança.
Os três dias que passei internada no hospital foram necessários para que
eu conseguisse recuperar minhas energias perdidas no parto normal.
Agradecia a Deus por ter conseguido.
— Tudo bem, não iremos contratar uma babá. Mas se algum dia você
precisar, teremos que fazer isso.
— Você fica linda quando fica com ciúmes — me deu um selinho nos
lábios, em seguida apertando minhas bochechas. Ele sabia que eu odiava
aquilo.
— Se prepara, meu amor, porque quando esse dia chegar, nada vai me
impedir de te possuir. Irei transar com você até que suas pernas fique bambas
e você desmaie de prazer em meus braços.
A pior parte era ver ele chorando quando precisava tomar alguma
vacina, ou fazer o teste do pezinho e do olhinho. Meu filho era tão perfeito,
tão lindo.
Estava tudo correndo tão bem, a não ser pela ligação que Enzo recebeu
as duas da manhã avisando que alguém tinha explodido um dos galpões dos
Gregos. Pelo o que eu entendi, o local estava em chamas, e pela imagem que
mandaram para o celular do meu marido, podia ver a grama pegando fogo.
Os símbolos eram inseridos nas letras A e B, isso era um sinal de que ele
estava querendo vingança.
Não controlei meu choro, pensando no que ele poderia fazer a Ana.
Minha cunhada estava correndo perigo, assim como toda a nossa família.
— Eu tenho medo do que esse homem possa fazer contra ela. Sua irmã
é apenas uma garotinha inocente, malcriada ela é, mas é inocente. Não
merece nada de ruim que aquele homem possa fazer contra ela.
Enzo vestiu seu colete a prova de balas. Eu não queria que ele saísse de
casa a essa hora da madrugada, tinha medo de que alguma coisa pudesse
acontecer contra ele. O abracei fortemente, algo me fazia querer estar presa
naquele abraço para sempre. Seu abraço me passava toda sua tensão.
Tentei convencê-lo a não ir, ainda assim ele não me ouviu. Estava tão
preocupado com a nossa segurança que estava disposto a ir atrás dos
culpados. Enrico bateu na porta do nosso quarto, ele também usava colete e
entregava uma pistola para o meu marido. Aquela cena para eles podia
parecer normal, mas para mim, estava longe de ser algo natural.
Sei que faz parte dele, como líder dessa família, proteger todos. Mesmo
que eles fossem os melhores atiradores, eu tinha receio de que algo de ruim
pudesse acontecer com algum dos dois. Meu filho começou a chorar de uma
maneira desesperadora, levei algumas horas para conseguir acalmá-lo.
Não podia acreditar no que via a minha frente, não podia ser verdade.
Eram eles!
Já Helena tinha um olhar superior para mim. Sem meus óculos, não
conseguia ver com muita nitidez, mas sabia do seu ódio por eu ser a esposa e
não ela. Meu Deus, o que seria de nós? Eles com certeza vieram aqui para
nos exterminar.
— Eu estou louco para derramar o precioso sangue dos Grego. Que tal
eu fazer as honras com a velha aqui — Felipe parecia ser outra pessoa. Ele
sempre se comportava como um cavalheiro e agora parecia um assassino em
série.
Não conseguia pensar em mais nada a não ser em proteger meu filho de
alguma maneira.
Eles tiraram a arma de suas mãos e a morena atirou duas vezes contra o
peito dele. Meu primo sangrava enquanto agonizava de tanta dor. Os homens
o levaram para fora, não controlei meus gritos que saíram como um instinto.
A última imagem que tive do meu primo, foi dele sendo carregado para
fora, após jorrar sangue pela boca. Helena era uma traidora, se livrou dele
como se fazia a um animal peçonhento.
— Está me olhando por quê? Quem lhe deu permissão para me encarar,
vadia?
— Eu tenho nojo de você, sua cobra. Por sua culpa Enzo me abandonou
— ela bateu no meu rosto, me fazendo gritar alto. — Cala a boca, vadia!
Você não sabe como eu sofri. Eu só quero matá-lo, fazer com que ele sinta a
mesma dor que eu senti.
— Eu não tenho culpa de nada. Eu não pedi para casar com ele. Meu
pai que planejou tudo juntamente com pai de Enzo.
Essa mulher era uma doente, uma psicopata que não soube lidar com a
separação. Enzo não tinha o direito de iludi-la, assim como ela não tinha o
direito de me culpar por tudo que estava acontecendo.
— Éramos para termos sido tão felizes, tudo culpa sua... Ele ria de
você, lhe chamava de medusa, de patinho feio, por que você teve que virar
um cisne?
— Helena, meu marido não me ama. Ele ama você, ele me disse isso
várias vezes. O único problema é Enrico, ele não quer que vocês dois sejam
felizes. Eu sou contra a decisão dele, vocês dois se amam e precisam estarem
juntos. Deixa-me te falar mais uma coisa: meu marido vai me deixar para
ficar com você.
— Eu falei para o Enzo que ele deve ficar com você. Ele me disse que
iria fazer isso assim que meu filho nascesse. Você conhece as regras da
máfia, todo homem precisa de um primogênito.
— Eu poderia ter dado esse filho para ele — ela disse chorando, a voz
por um fio.
— Você vai dar. Ele me disse que deseja ter muitos filhos com você.
Enzo não me ama, ele ama você, vocês vão ficar juntos e...
— Olá, Enzo.
Ela sentia tanto ódio nesse momento que ouvi o barulho da arma sendo
destravada.
Ouvi o barulho do tiro, que acertou seu peito. Meu marido caiu no
chão, a cena seguinte aconteceu em câmera lenta. Enrico derrubou Helena no
chão, conseguindo desarmá-la. Os soldados logo se aproximaram, a
segurando pelo braço. Corri na direção de Enzo que estava caído no chão,
meu coração parou de bater neste momento.
CAPÍTULO 34
ENZO GREGO
Ter que deixar minha esposa sozinha e no estado nervoso que ela
estava, me fazia sentir o pior marido de todos, principalmente quando
descobri que o acidente provocado em um de nossos galpões era apenas um
alarme falso. Não tinha sido arquitetado somente por Andrei Barkov, havia
mais pessoas envolvidas. O homem que tocou fogo foi preso e acabou
entregando o nome dos mandantes.
Não consegui pensar em mais nada a não ser poder chegar em casa e
encontrar minha família a salvo, estava dirigindo tão rápido que certamente
perderia minha carteira, não respeitava nenhuma lei de trânsito. Que se foda
as leis! Minha família estava em perigo.
Senti meu peito se apertar ao ver Luana toda machucada, com o rosto
sangrando. Ela estava de joelhos, muito nervosa, estava passando por
emoções fortes. Ela não sabia lidar com situações de risco, nunca passou por
treinamento necessário para isso.
Fiz Helena entrar no meu jogo, a convenci de que ela deveria atirar
contra mim, e foi o que ela fez. Para nossa sorte, eu estava de colete.
— Meu Deus! Pensei que você estava ferido — ela deferiu alguns tapas
contra mim. A deixei preocupada, mas eu não poderia simplesmente gritar
que estava usando colete. Assim o tiro não teria sido contra mim, e sim
contra ela.
Em nome do que tivemos algum dia, tinha resolvido lhe dar uma
chance para seguir em frente, mas desperdiçou tudo vindo até aqui. Ter
tentando destruir a vida da minha família era motivo suficiente para morrer.
Ele tinha razão. Não sujaria o tapete da mansão com o sangue dela.
Ordenei que a levassem para o Dark Hill, assim como os demais soldados
que ela havia contratado. Agora estava explicado o autovalor dos cartões de
créditos que haviam estourados. Ela planejou tudo isso com bastante
antecedência.
— Amanhã, quando tudo estiver mais calmo, irei lembrar do soco que
está merecendo levar.
A levei para nosso quarto, que antes de dormir, beijou nosso filho e
disse três vezes que o amava muito. Velei seu sono, preocupado, pensado que
ela acordaria assustada durante a noite. Mas pelo que via, o calmante estava
fazendo efeito.
Enfurecido, não esperei que o sol saísse. Peguei minha arma e caminhei
em passos largos até Dakr Hill. Enrico estava de prontidão, antes de dizer
alguma coisa, passei por ele apressado, indo em direção a sala de isolamento.
Após meu irmão torturá-la, devia ter a mandado para lá.
— Resolver essa história, e por favor, irmão, não me impeça, dessa vez
eu quero resolver tudo sozinho.
— Também penso que você tem esse direito, mas tome cuidado para
não deixar se envolver por ela.
— Enrico, por Dío. Você sabe que eu não sinto mais nada por ela. Meu
único desejo é poder matá-la.
— Não sei se você percebeu, mas eles tiveram alguma relação com...
Pude notar que seu psicológico estava muito abalado, ainda assim, não
me causava comoção. Era um homem frio, acostumado a matar quando
necessário.
— Seu joguinho não funciona comigo. Não mais. Mesmo assim, quero
te dizer que sua irmãzinha vai sofrer muito nas mãos do Andrei. Ele vai
estuprá-la. Sua irmãzinha virgem vai sentir todos os tipos de dores físicas e
psicológicas.
— Você só pode ter enlouquecido por ter se aliado a ele. Você teve a
chance de ser feliz, sua idiota.
Ela levantou do chão, puder notar o sangue que havia no meio de suas
pernas, certamente foi violentada por alguns soldados. As roupas rasgadas, os
cortes nos braços e nas pernas. Podia parecer uma crueldade, mas esse era um
dos castigos mais leves que haviam.
Ela estava doente? Uma bomba relógio no cérebro, por isso seus atos
inconsequentes nos últimos tempos. Ela parecia estar morrendo pelo simples
fato de estar agindo como uma louca.
— Sua irmãzinha vai agonizar de dor quando ele a deflorar. Ele está
vindo, Enzo. Tick tack, tick tack.
Não sentia remorso pelo que fiz, nem ao menos me importava com ele.
O culpado de tudo isso era eu por ter me envolvido com ela, por permitir que
nossa relação tivesse chegado tão longe.
— Você precisa se alimentar, princesa, não apenas por você, mas pelo
nosso filho também. Ele precisa dos seus carinhos e cuidados.
Me doia ver que ela estava abalada. Nos primeiros dias, ela parecia
uma pessoa sem vida, totalmente sem ações. Havia falhado com ela, prometi
proteção e não consegui protege-la das armadilhas daqueles dois.
Luana era a mulher da minha vida, iria lutar por nossa felicidade
sempre.
CAPÍTULO 35
LUANA GREGO
TODOS PENSAM QUE EU estou louca, uma pessoa apta para poder
criar meu filho. Ouvi alguns murmúrios do meu marido pelos corredores
falando que precisava me ajudar para poder me recuperar desse trauma.
Confessava que tudo aquilo me pegou de surpresa, descobrir que Helena era
capaz de fazer algum mal contra minha família... O choque maior foi ver
Felipe apontar uma arma para mim. Não tivemos nem tempo de dar o último
adeus, ele foi morto por aquela vadia da Helena, os dois mereciam o final que
tiveram.
Enzo não sabia que, algumas horas antes dele ir ao encontro de Helena
em Dark Hill, nos duas tivemos uma conversa. As lembranças daquele dia
voltavam à tona na minha mente.
Os soldados não queriam me deixar passar pelo portão. Não sabia ser
grossa com ninguém, mas foi necessário.
Marcas roxas em seus braços e pernas denotavam que ela foi violentada
das piores maneiras possíveis. A crueldade se fazia presente nesse ambiente
escuro e apavorador.
— Eu não sou esse tipo de pessoa que você imagina. Eu nunca desejei
o seu mal.
— Claro que não. Você é boa demais para desejar o mal ao próximo.
— respondeu, debochada.
— Estou ouvindo.
Ela deu uma gargalhada alta e divertida. A mulher nem parecia mais
estar entre nós, como se algo maligno tivesse ocupado toda sua sanidade. Me
sentia totalmente incrédula com sua falta de sanidade.
— Você é muito bobinha, patinho feio. Nunca pensou que aquele idiota
sempre foi completamente apaixonado por você?
— Morrer?
— Eu sinto muito.
— Cala a boca, patinho feio. Você nem deveria estar viva. Eu não sei
que feitiço você usou nele, Enzo me amava até você aparecer em nossas vidas
e estragar tudo.
— Beleza física não é tudo. Como você mesmo diz, é mais bonita do
que eu, e ainda assim não conseguiu o amor dele. A pergunta a se fazer é:
onde está o seu amor próprio? O seu caráter e dignidade? Você não respeita o
próximo e muito menos a si mesma. Você sempre soube que Enzo tinha uma
noiva e ainda sim nunca se colocou em meu lugar, não pensou na dor que eu
sentia ao saber que ele estava ao seu lado.
Aquilo era uma espécie de provocação. Não lhe dei ouvidos, caminhei
em direção a saída, até ouvir ela falar novamente sobre Felipe.
— Você sempre engana todos ao seu redor. Você não tem amor no seu
coração. Você matou seu filho e o pai do dele.
— Felipe nunca soube que o filho era dele. Seu primo ainda consegue
ser mais bobinho que você, é algo que vem de família.
— Luana, você nunca será uma mulher forte. Eu sei que sou carta fora
do baralho, mas irão aparecer novas amantes. Seu marido nunca será
inteiramente fiel a você.
Horas depois, descobri que Enzo tinha eliminado Helena de uma vez
por todas. Confesso que me senti um pouco aliviada por saber que ela nunca
mais tentaria fazer algo contra a minha família.
●
— Vocês dois são tão fofos — Ana dizia enquanto trocava a fraude de
Dylan.
Nosso bebê estava com quase cinco meses. Enzo e eu resolvemos fazer
uma viagem romântica para o Canadá, o país era frio e bastante lindo nessa
época do ano.
A primeira era que ele não estava nada bem. A segunda era que ele me
escondia alguma coisa.
Me aproximei dele, tocando em seu ombro, ganhei seu olhar
internamente para mim. Um brinde a ser colecionado!
Encarei suas órbitas azuis escuras com todo meu amor e carinho, estava
predestinada a amar aquele homem para todo sempre. Foi amor à primeira
vista, a primeiras palavras. Tinha certeza que antes mesmo de ter o
conhecido, ainda menina, eu já o amava. Mamãe falava o nome de Enzo
todos os dias, aquilo me fazia sentir sua, em uma espécie de ímã que me
levava para ele.
— Perfeita.
Ainda estava envolvida apenas na cintura pelo robe, com o resto que
ele não havia removido do meu corpo. Enzo gostava de surpresas, nunca
fazíamos as mesma coisas. Sempre com algo novo para me mostrar e
demonstrar o quanto eu era somente sua.
— O único lugar para onde desejo correr essa noite, é para os seus
braços.
Enzo me tomou em um beijo quente, suas mãos grandes e potentes
apertavam toda a minha cintura, me fazendo sentar em seu colo.
Enzo para sempre seria ele mesmo. Estava predestinada a ele desde
sempre, o amava com todas as minhas forças. Vê-lo mudar para me fazer
feliz, era a maior prova de amor que eu poderia receber. Por isso minha
felicidade tinha nome e sobrenome.
Enzo Grego.
EPÍLOGO
LUANA GREGO
O que queria dizer era: nem todo padrão devia ser seguido.
Cada uma de nós éramos lindas da maneira como nos sentimos lindas.
Nosso pequeno Dylan corria pela casa fazendo uma grande bagunça.
As risadas podiam ser ouvidas do alto da escada, onde observava a cena com
os olhos atentos em cada detalhe. Não queria perder nada.
Enzo se tornou um ótimo pai para Dylan, nosso filho não tinha do que
reclamar. Meu marido mimava aquela criança de uma maneira exagerada. O
nosso filho era o dono da casa, nada podia aborrecê-lo.
O senhor perfeito tinha reproduzido a cópia perfeita. Nosso filho
apoiava o pai de uma maneira assustadora, ambos se pareciam muito, tanto
fisicamente, como psicologicamente. O gênio deles eram iguais.
Todos os dias ouvíamos o som da guitarra. Esse era o mais novo passa
tempo de Dylan, que agora estava com quase oito anos. Ele e o primo Alex,
filho de Enrico e Giovana, formavam a dupla perfeita.
Era notável o quanto Enzo tinha mudado ao longo desses anos. Meu
marido havia se tornado um homem mais calmo, pelo menos quando
estávamos na companhia da nossa princesa Selena. Nossa bebê estava apenas
com dois anos, a única que lhe deixava brincar era a minha pequena e amada
filha Katherine.
— Não fique assim, pelo menos não na frente de Enzo. Ele foi o mais
abalado com tudo isso.
Enzo se culpava por não ter contado nada sobre suas suspeitas para a
irmã. Por sorte, ele estava conseguindo não pensar tanto nisso. A culpa não
era dele, e sim exclusivamente de Andrei Barkov.
— Pelo amor que eles sentem pela família, eles irão trazer Ana de volta.
Pelo menos sabemos que ela está viva.
—A que preço?
— Manda um abraço para Sandra. Amanhã prometo que farei uma visita
a ela.
Giovana sorriu.
— Tia, por favor, não leva o Dylan. Ele adora puxar meus cabelos —
— Obrigado.
— Você não sabe como isso me deixa feliz. Ser o único homem da sua
vida.
— Sou homem, princesa. Não poderia esperar minha vida toda por você.
— Estou exausta de tanto correr atrás da nossa bebê. Ela está crescendo
tão rápido. Sinto falta de quando ela preferia os meus braços ao em vez do
chão.
— Dylan, deixe sua irmã em paz. Não quero saber que estava a
irritando.
— Sim, senhor.
Foi a primeira vez que ele falou nesse tom com Dylan. Lhe dei um
abraço caloroso, lhe passando todo meu apoio nesse momento.
ENZO GREGO
Já a minha filha era o meu maior tesouro. Katherine era doce como um
bombom, pequena e delicada. Jamais iria permitir que alguém a fizesse mal
algum dia.
Minha mãe veio logo atrás de mim, sem entender o que acontecia.
— Presente do Barkov.
— Ele não mandaria uma bomba relógio para nós, não agora que está
com Anastácia em suas mãos.
Meus olhos duvidavam do que via. Não podia ser real, tinha que ter
alguma irregularidade. Porém, infelizmente, aquela era a assinatura da minha
irmã.
Minhas mãe não segurou o choro. Sua pressão andava baixa, ela se
sentou sobre o sofá com uma expressão totalmente desolada. Sabíamos o
significado desse documento. Estávamos perdidos. Todos negariam apoio a
nós.
Anastácia estava toda ferida, com hematomas por todo corpo. E pelo
que pude perceber, estava desacordada.
rosnou. — Eu juro por tudo que há demais sagrado nesse mundo que eu irei
acabar com a vida daquele infeliz, nem que seja a última coisa que eu faça
nesse mundo.
— Ele sabe do nosso segredo sobre Ana. Ele pode estar usando-o para
fazer da vida dela um inferno.
— Que ele não ouse a revelar nada para Ana. — Enrico estava pensativo.
—O maldito ainda ousou tomar ela como sua.
— E lenta.
●
Dylan estava deitado ao meu lado, entre mim, Katherine e Luana, que
se encontrava na ponta da cama assim como eu, que segurava nossa bebê
enquanto mamava gulosamente.
Meu filhos eram a coisa mais importante para mim nessa vida. Graças a
eles, sou um homem feliz, completo, disposto a me vingar do russo.
Pela minha família, seria capaz de enfrentar qualquer coisa.
FIM.
AGRADECIMENTOS
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