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Copyright © 2020 MARIA AMANDA DANTAS

Enzo Grego: O Príncipe da Máfia

Capa: Cenna Nunes


Revisão ǀ Diagramação: P. L. Revisões

Todos os direitos reservados.


Está é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nome, datas
e acontecimento reais é mera coincidência.
Essa obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer
meios — tangível ou não intangível — sem o concentimento por escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.

1ª Edição ǀ Criado no Brasil.


SUMÁRIO
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
REDES SOCIAIS DA AUTORA
OUTRAS OBRAS
SINOPSE

ENZO SEMPRE VIVEU NA sombra do seu irmão mais velho, o


poderoso Enrico Grego.

Desde pequeno fora acostumado a ser sempre o seu braço direito, mas
agora, depois de anos sendo sempre o segundo em tudo, Enzo finalmente
assumirá seu cargo de chefe da máfia Francesa, casando-se com a não tão
bela jovem Luana.

Luana sempre criou expectativas em relação ao seu casamento. Ela o


viu apenas algumas vezes, mas isso foi motivo suficiente para se apaixonar
perdidamente pelo belo Grego.

Sempre sozinha, Luana busca nesse casamento poder ter novamente


uma família de verdade, já que seus pais morreram em um acidente de carro a
alguns anos.

Seu único parente vivo é o seu primo, na qual o respeita e o tem como
irmão.

Um casamento de interesses poderá um dia passar além disso e se


tornar algo mais?

Você seria capaz de viver um amor em vez de querer ser o chefe?


PRÓLOGO

ENZO GREGO

QUEM FOI O IDIOTA QUE ME arrumou essa esposa que mais se


parece um monstro de sete cabeças? Lembrei. Foi o meu querido papai. Não
era justo ele ter feito isso comigo.

Era injusto Enrico ter se casado com uma mulher linda, de arrancar
suspiros até mesmo de mim, e eu ter que me casar com uma medusa, um
bicho papão. Uma bruxa de contos de terror.

Sempre ficou em evidência que meu pai sempre preferiu o meu irmão
do que a mim, ele sempre o preparou para herdar a liderança da máfia. Já eu,
tive que aprender muitas coisas ensinadas pelo meu irmão, e não pelo meu
próprio pai.

Desde a sua morte, a nossa vida vem tentando voltar ao normal. Meu
pai não era um bom homem, pelo menos não com a máfia e muito menos
com a família.

Nos encarregamos de guardar o segredo que mudaria a vida do meu


irmão, até sua esposa descobrir tudo e o abandonar. Meu irmão parecia um
bêbado largado as traças. Durante os primeiros meses que ela o deixou,
Enrico parecia um lobisomem dentro de casa, e com todo respeito, um
mendigo era mais perfumado do que ele próprio.

Neste momento, eu me encontrava na sacada do meu quarto,


observando a luz da lua, que na verdade, era a luz do sol refletindo nela. Eu
sempre fui meio complexo, no começo pensei que nunca iria superar a morte
do meu pai, não porque éramos apegados, e sim porque nunca fomos como
eu sempre desejei. Se não fosse pela minha mãe ter segurado a barra durante
muitas vezes, eu teria desistido de tudo.

Se hoje sou o braço direito do meu irmão, é porque lutei para isso. O
fato de ser um Grego não garante nada nesse mundo, só o respeito. Como por
exemplo o meu tio, que foi morto pelo próprio irmão. O meu pai não tinha
limites, nunca teve, e isso meu irmão herdou dele.

Já eu e minha irmã Anastácia sempre fomos muito nas nossas, ambos


acostumados com o sucesso de Enrico. Sempre foquemos apenas em nossas
vidas, e diferente de Anna, eu sou ainda mais complicado.

Sou inconformado por ter que me casar com aquela mulher que me
causa nojo, repugnância. Odeio o fato de que até nisso meu pai deu um jeito
de me ferrar.

Se não fosse por todos os problemas que estavam passando aqui em


casa, agora eu estaria nos braços da mulher que me desperta sentimentos
estranhos. Helena devia estar morta, se não fosse pelo filho da mãe do Jason,
ela estaria sendo comida pela terra. Mas não, agora estava sendo comida por
mim quase todos os dias.

Com a ajuda da minha cunhada — ou ex-cunhada, não sei dizer ao certo


se eles estão separados, mesmo ainda casados no papel — consegui tirar Helena
das mãos do meu irmão e a levar para um hospital, onde passou alguns dias
internada e quando recebeu alta, a levei para uma das minhas propriedades no
centro. Um apartamento de luxo, onde ela pode me satisfazer como ninguém.

A boca atraente; os olhos que me deixavam puto só de olhá-los; as


malditas curvas de uma deusa me deixavam malditamente louco por aquela
mulher. Eu deveria matá-la. Isso era brincar com fogo, se bem que essa
brincadeira eu conhecia e gostava.

No começo ela me odiava por ter descoberto que eu mandei que a


matassem, mas agora, ela geme feito uma cadela no cio na minha cama. A
deixei insistentemente louca por sexo.

A minha vida não era fácil, era bastante tensa. Fora tudo isso, ainda
tinha o casamento na próxima semana, e ainda tinha o peso da máfia nas
minhas costas já que Enrico estava de "férias".

Tinha que ser implacável com tudo, e ao mesmo tempo, ser frio. Ter
que fingir que estava tudo bem, mas não era bem assim. Eu conviveria bem
se não fosse pelo casamento, mas como era um casamento de interesses, eu
estava disposto a esquecer que a noiva era mais feia do que assombração. Eu
seria herdeiro de toda máfia francesa deixada por seu pai, seria tão importante
quanto Enrico.

Seria capaz de qualquer coisa para ter os status de chefe, até mesmo me
casar com Luana. Seria um grande esforço, na qual teria que me sacrificar.

Daria orgulho a minha família, e levaria o nome Grego dessa vez para a
França.
CAPÍTULO 1

ENZO GREGO

ENTREI NO BANHEIRO, ligando o chuveiro. A ducha soltava jatos


de água quentes sobre o meu corpo, era tão potente que me fazia relaxar.
Após uma transa de derrubar qualquer um, eu precisava desse banho, tirar o
perfume daquela maldita da minha pele.

Podia-se ouvir o toque do celular entrando no banheiro, vindo do


quarto. O ignorei e continuei meu banho com tranquilidade. Aposto que não
era nada de tão importante, poderia ser Ana para me informar de mais uma
das crises do nosso irmão. Aquele homem iria enlouquecer sem a mulher, de
certo que a menina era linda — perfeita —, mas era coisinha de veado. Eu o
apoiava sempre que dava, mas as vezes sentia vontade de lhe dar umas
bofetadas ao o ver assim, decadente. Nem ao menos parecia ser um Grego.

Peguei uma toalha e me enrolei apenas da cintura para baixo. Escovei


os meus dentes, lavei minha boca com enxaguante bocal, ajeitei meu cabelo
para cima e saí do quarto indo direto para o closet. Havia algumas roupas
minhas aqui, peguei um terno preto e o vesti devagar. Passei perfume antes
de sair do cômodo.

Helena ainda dormia completamente nua, a cobri até a sua cintura e


peguei o meu celular, retornando à ligação para a minha mãe.

— Onde você está, garoto? — perguntou irritada.

— Estou indo para a empresa.


— Perguntei onde está que não foi buscar sua noiva no aeroporto.

— Mãe...

— Assume as suas responsabilidades, garoto. Ela é a sua noiva, e falta


três dias para o seu casamento. Não quero saber que dormiu fora de casa
outra noite, se não teremos uma conversa séria. E aliás, compre flores para
dar a ela no jantar de hoje à noite.

— Que jantar?

— Apenas esteja aqui para o jantar — encerrou a ligação.

Minha mãe era uma mulher forte, nunca foi de passar a mão na cabeça
dos filhos, nem mesmo com Enrico. Ela sempre era dura conosco, mas com
Luana e Giovanna ela as tratava com carinho. E isso era duro. Nossa mãe
quase nunca demonstrava atenção para conosco, não desse tipo!

Puts.

Só de imaginar que daqui a três dias estaria casado com um monstro,


meu corpo tinha calafrios. Nesse caso, eu preferia lutar com bandidos com as
duas mãos amarradas, em vez de ter que passar uma noite com aquela
mulher.

Eca!

Sentia nojo, jamais seria capaz de tocar naquela mulher. Nem mesmo
para a minha salvação. Aquilo não era humano, e sim um E.T, sem ofender a
nenhum da espécie.

Tomei café da manhã na empresa. Mesmo sendo da máfia, tinhamos


nossas empresas de faixada, e agora eu tinha que assumir o lugar do meu
irmão aqui e na máfia.
A tarde ainda teria uma reunião com aqueles trogloditas que iriam
encher o meu saco com essa de casamento. Não queria nenhum deles na
cerimônia. Na verdade, não queria nem festa, mas a minha mãe era
intrometida, e se queria algo, sempre dava um jeito de conseguir.

Os preparativos para o casamento seriam uma droga. Eu não fiz parte


de nada, deixei tudo por conta da minha irmã Ana e da minha mãe.

Não me importava com nada daquela merda de casamento. Tudo o que


eu queria fazer naquele momento era desaparecer e esquecer toda a vida de
merda que tinha.

No meu celular, haviam mensagens da Helena, me elogiando pela noite


de ontem. Só ela para me fazer sorrir neste momento.

O telefone da empresa tocou, era a minha secretaria.

— Senhor Grego, a senhorita Ana.

— Mande-a entrar! — ordenei.

Ana usava um cachecol e uma touca na cabeça, parecia estar se


escondendo de alguma coisa, ou de alguém. Pelo menos essa foi a impressão
que tive ao vê-la um pouco assustada. Seus olhos estavam atentos, e suas
mãos estavam inquietas, assim como suas pernas que se mexiam sem parar.

Poderia dizer que era uma grande surpresa ela aqui?

— Ao que devo essa honra, querida irmã?

— Estava passando aqui por perto e resolvi vir ver como está o meu
irmão favorito — disse, sentando-se na poltrona a minha frente.

Ergui as sobrancelhas. Ela diz isso para mim e para Enrico, varia de
quando ela precisa mais de um de nós dois, e nesse caso, ela precisa de mim
para alguma coisa, se não teria ido direto atrás do nosso irmão.

— Do que você está precisando?

— Estourei meu cartão de crédito.

— Não é problema meu!

— Mamãe disse que sou extravagante, mas não foi nada disso.

— Você precisa de quanto? — perguntei, pegando o talão de cheques da


gaveta.

— É por isso que você é o meu irmão favorito — disse empolgada. —

Preciso de vinte mil dólares.

— Tudo bem.

Assinei o cheque e entreguei a ela.

— Espero que não esteja gastando esse dinheiro todo com toucas e
cachecóis.

— Não, é com algo importante, eu juro — sorriu. — Sobre o jantar,


mamãe intimou sua presença. — Fiz careta. — Ela é sua noiva, Enzo.

— Um monstro de sete cabeças é mais atraente do que ela.

— Você é insensível demais, Enzo. Muito cuidado, Luana tem


sentimentos e ama você, meu irmão.

— Sorte a dela que eu sou lindo e gostoso.

— Convencido! — Agora foi a vez dela de fazer careta. — Mulher como


Luana você não vai encontrar em nenhum lugar.
— Tem razão irmã, mais feia impossível.

— Compre flores para ela. De preferência rosas — disse, levantando-se.

— Já que eu te dei o dinheiro, pode fazer esse favor para mim?

Ela bufou.

—O que eu não faço pelo meu irmão favorito. Que tal uma joia?

— Tome o meu cartão — falei sem nenhuma satisfação.

— Um dia ainda irei vê-lo de quatro pela Lu, e quando esse dia chegar,
se prepare, você irá ouvir muito de mim.

— Você é mesmo uma Grego, sem dúvida alguma.

— Te amo — soltou mil beijos na minha direção e saiu.

Não podia esperar nada de bom desse maldito jantar, nem deveria
aparecer, mas sei que se assim o fizesse, minha mãe era capaz de me bater
assim como fez por causa da Erika. Foram tantas emoções junto com a minha
prima que ainda bem que meu irmão lhe deu um fim digno, senão, seria mais
problemas para o meu casamento. Já não basta Helena pedindo para que eu
não case, como se eu tivesse alguma escolha. E mesmo que tivesse, ainda sim
teria que me casar e finalmente poder ser o chefe de alguma merda, sem ter
que viver na sombra do meu irmão.

Poderia até ser um pouco de ciúmes, mas não era nada exagerado, e
muito menos perigoso. Eu não seria como meu pai, que foi capaz de matar o
próprio irmão por poder, e por causa de uma mulher. Assim que vi Giovanna,
confesso que senti algo diferente. A ruiva era um espetáculo de mulher; linda,
atraente e tinha um olhar perfeito. Meu irmão era o homem mais sortudo do
mundo.
No começo fiquei com tanta raiava por isso, que jurei para mim mesmo
que iria ter alguma coisa com ela, mas com o tempo, conforme fomos nós
aproximando, percebi que não valia apena. Minha cunhada era uma pessoa
especial, e jamais teria coragem de trair Enrico. Devo admitir que no dia do
casamento deles, quando ela surpreendeu meu irmão transando com Erika no
escritório, foi eu que mandei darem o recado a ela de que meu irmão queria
conversar lá com sua querida mulher. Até hoje ela deve pensar que foi um
truque da Erika. Era um segredo que apenas eu saberia, e iria continuar assim.

Foi um erro da minha parte, isso causou várias brigas entre eles. Me
arrependi disso depois de um tempo, mas agora, estava tudo estragado entre
eles e a culpa não era minha.

No começo me culpei por ver o meu irmão completamente destruído,


arrasado. Mas depois percebi que isso tinha a ver com o fato dele ter
escondido a verdade dela, e não pelo que eu fiz ela descobrir sobre o caso
dele com a Erika.

Tudo isso era passado. Agora viveríamos novos tempos e eu não


poderia fazer mais nada a não ser continuar no lugar do meu irmão até que
ele voltasse ao normal, se é que isso um dia iria acontecer.
CAPÍTULO 2

ENZO GREGO

NO CAMINHO PARA CASA, tive que passar numa floricultura para


comprar um buque de flores. Escolhi as menos perfumadas que tinha, afinal
de contas, não era para uma pessoa especial. Aquela aberração nem merecia
receber flores, quanto mais casar comigo. Eu sou um homem bonito, e não
merecia casar-me com uma medusa.

Dirigi até em casa, larguei o buque de flores em cima da minha cama.


Tomei uma chuveirada e me enrolei na toalha, saí do quarto distraído, não
tinha notado a presença da minha mãe até a senhora Grego pigarrear levando
minha atenção para si. Ela tinha uma postura séria e elegante. Estava vestida
num belo vestido preto, seus lábios tinham um batom nude que combinou
com a sua pele.

— Mãe, o que faz aqui? — perguntei. — Ainda irei me trocar — falei,


apontando para a toalha enrolada na minha cintura.

— Estou vendo que sim, Enzo.

— Então a senhora poderia sair para isso acontecer?

— Onde passou as últimas duas noites?

Sorri de lado.

— Mãe, eu não tenho mais quinze anos.

— Tem razão, quando tinha, não agia assim, como um inconsequente.


— Mãe, de verdade, se a senhora não sair, irei me atrasar para o jantar.

— Vista-se adequadamente. Luana e seu primo já estão lá na sala, todos


estamos esperando por você — se levantou, os saltos finos a deixando ainda
mais alta. — E quando descer, quero que a comprimente como um cavalheiro,
e após o jantar, a leve para passear no jardim.

Fiz careta e ela ficou ainda mais séria.

— Não quero saber que a distratou. Quero que a trate bem, e lembre-se
do quanto seu pai fazia gosto por esse casamento. Se ele estivesse aqui, não
teríamos que estar tendo está conversa.

— Não se preocupe, mãe. Eu não irei desistir, afinal de contas, todos os


meus irmãos podem romper um casamento e um noivado, mas eu tenho que
dar o exemplo como sempre.

— Faça apenas o que eu disse, garoto. E leve as flores que eu comprei


para a sua noiva, essas daí nem parecem ser flores.

Minha mãe às vezes tinha o dom de pegar no meu pé, e em relação a


Luana, ela fazia isso muito bem. Sempre me pressionando a fazer coisas que
eu não quero, mas como sempre, eu teria que engolir tudo em silêncio.

Vesti uma calça jeans azul escura e um camisete preto. O preto realçava
mais a minha cor, era uma obsessão dos Grego usar preto. Passei perfume e
penteei meu cabelo, estava bonito. Nada me deixava feio, nem mesmo
usando roupas de mendigo. Eu sempre era bonito.

Nenhum Grego era desprovido de beleza.

Peguei as flores que a minha mãe comprou, rejeitei uma ligação da


Helena e desci as escadas. Pude ver Luana ainda no andar de cima. Ela estava
ao lado do primo, usando um vestido muito abaixo dos joelhos, os cabelos
lisos soltos, e ainda tinha aqueles óculos. Assim que me viu, ela sorriu e pelo
menos tinha tirado o aparelho. Ela estava contente por me ver.

Seu primo tomou a frente, me cumprimentando e apertando a minha


mão.

— Enzo.

— Felipe — disse sem nenhuma empolgação. — Sejam bem-vindos ao


nosso país e a nossa casa.

— Obrigado.

Luana estava parecendo uma criança. Ela tinha os olhos atentos em


cada movimento meu, parecia estar admirada com a minha beleza, e sem
exageros algum, ela tem muita sorte de se casar com alguém tão belo como
eu. Suas mãos estavam juntas, me parecia um sinal de nervosismo. Me
aproximei dela e pude ouvir sua respiração ofegante.

— São para você — disse entregando a ela.

Ela não parecia acreditar. Segurou as flores com as duas mãos, e sentiu
o perfume delas. Diferentes das que eu comprei, essas tinham um perfume
embriagador.

— Obrigado — disse sorrindo.

Ela ficava ainda mais feia quando sorria. Tentei disfarçar minha
expressão de espanto, mas parece que a minha mãe não gostou muito, porque
logo ela me lançou um olhar de reprovação.

— Estou feliz que esteja aqui — disse sem a menor empolgação.


— Também estou feliz. Não vejo a hora de nos casarmos. Falta tão
pouco.

— Infelizmente, sim.

Ela parecia querer entender o que eu disse, porque fez uma careta de
curiosidade. Às vezes não sei segurar a minha língua, nada que eu não
pudesse concertar.

— Infelizmente, sim. Está pronta para se tornar a senhora Grego? É um


mundo totalmente diferente do mundo que está acostumada, eu temo que não
se adapte.

— Não se preocupe, meu amor, tudo o que eu mais quero é estar ao seu
lado para todo sempre.

Para todo o sempre, eca! Quase vomitei quando ela disse isso.

Minha mãe convidou todos para irmos à mesa. Todos estavámos


presentes, menos Enrico. Ele, como sempre, nunca se juntava a nossa família.
Tinha medo de que ele não comparecesse ao casamento, já que ele era um
dos meus padrinhos, junto com a minha irmã.

Fomos todos para a mesa, puxei a cadeira para Luana, que agradeceu
com aquele sorriso que tanto me causava repugnância. Sentei-me ao seu lado,
minha mãe estava na cadeira do Enrico, e o primo dela ao lado da minha mãe,
junto com minha irmã.

— Espero que gostem da nossa comida — minha mãe disse.

— Com certeza iremos gostar, senhora Grego — Luana disse.

— Não me chame de senhora Grego. Pode me chamar pelo meu nome;


Sandra.
— Como quiser, Sandra.

As empregadas serviram o jantar. Eu mal via a hora de tudo isso


acabar, eu só queria que eles fossem embora. Pelo menos ela tinha educação
a mesa e sabia como se comportar diante de cada prato apresentando, não me
causaria vergonha em relação a isso.

— Nos conte sobre sua vida, Luana — Anna perguntou.

— Minha vida é muito normal, Anastácia. Eu gosto muito de estudar e


adoro números. Nada de empolgante acontece nela.

— Legal, números. Eu também sou muito boa com eles.

— Posso imaginar que sim, já que cursa uma ótima faculdade.

— Quem sabe poderá fazer uma algum dia.

— Quem sabe — disse com um meio sorriso.

Era só o que me faltava, minha própria irmã colocando asneiras na


cabeça da minha noiva. Claro que esse horror não vai fazer faculdade e me
expor ainda mais com ela por aí anunciando que é a minha esposa. A
humilhação no dia do casamento já bastaria para compensar tudo isso.

Após o jantar, a sobremesa foi servida; um doce de chocolate muito


bom. Fomos todos para a sala de estar, onde fomos servidos de um café
quente. Cafeína tira o meu sono a noite, por isso não aceitei.

— Que tal um drink, Felipe? — perguntei.

— Claro, Enzo.

— Vamos até o escritório, lá tem mais opções.


Na verdade, eu não queria lhe oferecer um dos meus melhores whisky,
mas não queria ficar na presença dela, e a velha desculpa da dose tomaria
algum tempo.

Fomos até o escritório, o servi de uma dose que ele tomou rapidamente.

— Obrigado pela bebida, Enzo. Mas creio que é melhor voltarmos, a


minha prima e você tem que conversar um pouco.

Escondi meu descontentamento em relação a isso. Imagina, quero


muito conversar com a sua prima, filhos da puta.

— Claro — sorri.

Voltamos para a sala, sentei-me ao lado dela que estava contando algo
sobre a sua vida, que não me interessava em nada.

— Que tal irem passear um pouco no jardim? — minha mãe sugeriu. — A


noite está linda para um casal de noivos passearem.

Senti vontade de sair correndo para o lugar mais longe possível. A


minha mãe estava me testando. Ela sabe que não quero ficar sozinho com a
minha noiva e ainda sim fica criando oportunidades para isso. Irei lembrar de
cortar a mesada da dona Sandra por causa disso.

— Gostaria de ir, Luana? — perguntei.

— Eu não sei — ela olhou para o primo.

— Deveria ir, prima.

— Tudo bem — ela sorriu.

Levantei e esperei por ela, e então seguimos para o jardim em silêncio.

Ela caminhava admirando tudo. Eu estava tranquilo, apenas me


divertindo com o nervosismo dela. Minhas mãos estavam dentro do bolso da
minha calça, eu sabia o quanto ela ficava nervosa ao estar do meu lado.
Luana era intocada, nunca nem se quer foi beijada e isso era divertido; deixá-
la nervosa.

Parei de caminhar e ela parou, ficando de frente para mim. Luana era
baixinha, mal batia no meu ombro, diferente de Helena. Ela era toda pequena,
até mesmo delicada. Até que ela tinha olhos lindos, nunca tinha percebido o
quanto ela era tímida diante de mim.

— Você mudou desde a última vez que nos vimos — ela comentou.

Arqueei uma das sobrancelhas, curioso.

— Em que?

— Está mais forte — disse, ficando com as bochechas vermelhas.

Sorri por dentro ao ver ela assim, tímida.

— Me dediquei mais a musculação.

— Eu mal consigo caminhar meia hora, imagina fazer musculação.

Disse e rimos juntos com a maneira como ela se referiu.

— Você também mudou — comentei.

— Eu? — perguntou. estranhando.

— Você tirou o aparelho. — ela parecia esperar um elogio e não isso. —


E está mais magra — comentei.

— Passei muita fome para conseguir isso — disse sem jeito.

— Você é engraçada — comentei.


— Você também — disse.

Ela tinha um olhar apaixonada sobre mim. Eu não sentia compaixão.


Ela estava toda menininha me olhando, eu não sei dizer que loucura deu em
mim, tudo o que fiz foi trazer ela para mais perto do meu corpo, e a beijei
antes que eu me arrependesse.
CAPÍTULO 3

ENZO GREGO

NUNCA FUI UM HOMEM GENEROSO. Caridade não era a minha


praia, nem mesmo quando a empresa tinha que doar alguns dólares para
instituições de caridade. Sempre quem fazia isso era a minha mãe. Não sei
por qual motivo resolvi fazer isso com ela.

Sentir o gosto do seu beijo só me fez perceber ainda mais o quanto eu


odeio tudo o que está relacionada a ela. Além de não ser atraente em nenhum
sentido, ela ainda beijava mal pra caramba. Certo que esse era o seu primeiro
beijo, até entendo. Mesmo ela tendo um gostinho de tutti-frutti, ainda sim foi
o meu pior beijo. Ela mal sabia para onde ir.

Seus olhos estavam atentos em mim, agora mais do que antes. Ela tinha
um pequeno sorriso nos lábios, e uma respiração ainda mais eufórica.

— Foi tão ruim assim? — ela perguntou.

— Não — disse, duro.

— Eu sei que não sei beijar. É muito diferente do que treinar com uma
laranja, ou com um copo de água. Oh, meu Deus! — se tocou que estava
falando algo que deveria ser apenas um segredo dela. — Por favor, diz que
você não ouviu isso — ela estava ficando vermelha de vergonha.

— Não ouvi, se quiser — disse.

— Eu quis dizer que estava tão nervosa que não sabia como agir. Eu
esperei a minha vida toda para isso acontecer algum dia — seus olhos
brilhavam.

— Verdade?

— O que é verdade?

— Eu sou muito importante para você?

— Claro que sim. Seremos marido e mulher, e lhe devo todo o meu
respeito.

— Não falo nesse sentido. — ela parecia não entender. — Você deve
ter esperado muito por esse beijo. — falei enquanto refletia.

— Não imagina o quanto esperei por tudo isso, pelo dia do nosso
casamento. Poder deixar aquele internato, e melhor, poder ter uma família
novamente. Iremos morar aqui, não é?

— Sim — respondi um pouco mexido com tudo isso.

Para mim, Luana não significava nada, mas eu para ela, significava
muito mais do que conseguia imaginar. Ela me tinha como um refúgio na sua
vida, percebia o quanto ela ficava triste ao falar dos pais. Ela ainda devia
sentir bastante a ausência deles, o que era normal pelo fato de ser filha única.
Sem irmãos, sem família. Tirando seu primo Felipe, que ficava a maior parte
do tempo cuidando dos negócios dela, que a partir do nosso casamento
seriam responsabilidade minha, ela completamente sozinha.

A minha noiva francesa era uma mulher de muitas posses, por isso
nossos pais faziam tanta questão desse casamento. É uma pena eles não
estarem aqui para verem tudo isso acontecer.

Teríamos que honrar esse acordo da melhor maneira possível, que seria
casando e tento bastantes filhos. Herdeiros para dar continuidade ao nosso
sobrenome.

Ela ainda estava um pouco aérea com tudo o que tinha acontecido. Me
parecia bastante feliz pelo fato do nosso beijo ter acontecido. Não que eu não
fosse acostumado com esse tipo de reação, mas com ela eu percebia que era
algo diferente. Ela tinha uma alegria a mais, seus olhos brilhavam e todo seu
jeitinho de menina estava sendo exposto nesse momento.

Meu Deus! Como isso seria complicado. Ela era completamente


apaixonada por mim, o que é normal pelo fato de ter crescido com a ideia
desse casamento.

Não era comum eu me sentir culpado por isso, até porque eu não tinha
culpa desse acordo ter sido firmado por nossos pais.

Não iria pensar nessas coisas, afinal de contas, eu não seria o merda
que meu irmão era em relação a mulher. Enzo Grego não permitiria jamais
que uma mulher mandasse no seu coração, e muito menos uma mulher feia
como minha noiva.

Estava na hora de dar um fim em tudo isso. Já tinha lhe dado flores,
trazido para um passeio no jardim, e ainda lhe dei um extra com o beijo.

Não iria mais tolerar esse papelão que havia cometido beijando essa
feiosa.

— Creio que já esteja na hora de nos juntarmos aos demais.

— Já?

— Sim.

Ela parecia descontente com a ideia de sair de perto de mim.

— Tudo bem, se você assim quer — ela sorri da maneira mais fofa que
já vi em toda minha vida.

Luana era capaz de tudo para me agradar. Era bom saber que teria uma
esposa que sua prioridade seria sempre as minhas em primeiro lugar.

Voltamos para a sala e logo ela se despediu de todos nós, junto com o
primo.

— Foi um prazer rever você, Enzo.

Queria dizer que foi igualmente, mas não consegui. Apenas sorri e ela
saiu junto com Felipe.

Me sentei no sofá assim que ouvi o barulho da porta se fechando.


Graças a Deus, tudo isso tinha acabado, levantaria as mãos para o céu e
cantaria "amém". Bufei de raiva com tudo isso, estava sentido repugnância
dentro de mim.

— Enzo Gabriel Grego. — Minha mãe costumava falar comigo assim


quando eu era criança, ela sempre gostava de chamar nosso nome completo.

Tirei o braço de cima dos meus olhos e a vi em pé diante de mim, com


a mão na cintura, me olhando com uma certa raiva.

— Lembro-me de ter pedido para tratar bem a sua noiva.

— E foi isso que eu fiz, mamãe.

— Você me envergonha, Enzo. Nem ao menos consegue disfarçar que


não suporta estar na presença dessa moça.

— A senhora quer que eu sambe de alegria quando ela estiver aqui?


Porque se for isso, não vai acontecer nunca, senhora Grego.

— Olha o tom como você fala comigo, garoto - esbravejou.


Me levantei do sofá, falando em um tom de voz ainda mais alto.

— Mãe, a senhora pode me obrigar a casar, agora a fingir alegria, não.


Nem que a Luana se transformasse na Kim Kardashian, até porque é mais
fácil ela virar o elfo do Harry Potter do que ficar bonita.

— Escuta bem, garoto. — Minha mãe segurou meu queixo com força.
— Eu não irei falar novamente, por isso preste bem atenção: se você magoar
essa moça por causa de alguma vadia, eu juro que sou capaz de lhe bater,
menino ignorante. Por isso, bota na sua cabeça, Enzo Gabriel, que se você der
algum vexame no dia do seu casamento, eu juro que não respondo por mim
— ela deu um leve tapinha no meu rosto e se afastou. Iria sair da sala.

Sempre foi assim, a dona Sandra sempre passou a mão na cabeça do


Enrico, e nunca interferiu nas decisões malucas da minha irmã, mas eu não!
Ela sempre me tratou assim, com arrogância. Sempre com punhos firmes, me
fazendo cobranças que não fazia aos demais dos seus filhos.

— A senhora diz isso mãe, porque me odeia. Se você se importasse


comigo, iria querer a minha felicidade — ela parou de caminhar e ainda de
costas para mim, continuou me ouvindo. — Se fosse com Enrico, certamente
a senhora já teria dado um jeito de eliminar a noiva feia. Claro, ele pode se
casar com a mulher mais bonita da Itália, e eu não. Anastácia, ela pode
desafiar Andrei Barkov e tudo fica bem. Agora eu... eu não posso nem ao
menos ter uma noiva bonita. Quer saber, eu quero que todos vocês se fodam.

Ela olhou para mim séria e com muita raiva no olhar. Ela ia dizer algo,
mas eu a interrompi.

— E só mais uma coisinha, eu me caso com Luana, mas na minha vida


de casado, a senhora não manda.
Disse ríspido, lhe dando as costas e a ignorando me chamar
repetitivamente.
CAPÍTULO 4

LUANA GARNIER

O MEU PRIMEIRO BEIJO foi a melhor sensação que eu já


experimentei em anos. Minha vida sempre foi cercada de altos e baixos,
principalmente de baixos. Desde que perdi meus pais, não consigo mais ser
eu mesma. Tinha por volta de cinco anos e tudo o que me lembro foi do meu
primo Felipe dizendo que agora erámos apenas nós dois. Na época, não
entendi bem o que ele quis dizer com isso, até hoje essa foi a pior coisa que
me aconteceu em toda a minha vida.

Fatalidades acontecem todos os dias, com diversas pessoas, mas nunca


imaginamos que possa acontecer com a nossa família.

Eu era apenas uma criança que gostava de brincar e muito amada pela
minha mãe. Mesmo sendo de família mafiosa, não erámos tão tradicionais
como as demais, a começar pelo fato da única herdeira ser uma mulher. Por
isso que meu pai tratou de firmar um casamento muito antes que eu pudesse
imaginar. Antes dos cincos anos, eu já era noiva, e sabia disso porque ouvi
meus pais uma vez falando sobre o assunto.

Eu sempre detive de muita inteligência. Se tivesse nascido homem,


faria grandes revoluções no nosso mundo. Pena que metade das minhas ideias
serão ignoradas por todos os patriarcas e homens machistas.

Por sorte, eu tenho o melhor homem ao meu lado, que é o meu primo.
Ele para mim é como o irmão que eu nunca tive, e nunca poderei ter. Somos
apenas nós dois, e em breve, eu poderei novamente ter uma família.
Lágrimas rolavam dos meus olhos ao imaginar essa situação
acontecendo novamente. Eu teria um marido, cunhados, uma sogra, e em
breve, filhos. Seria a realização de um sonho que eu não queria mais acordar.
Estava muito ansiosa para o dia do meu casamento com Enzo Grego.

Enzo era o meu príncipe encantado, o homem mais bonito que já vi em


toda a minha vida. Me parecia que ele na verdade agia sempre como um
verdadeiro cavalheiro, um legítimo príncipe da realeza. Nem eu mesma
acreditava que iria me casar com um homem tão bonito quanto ele. Sei que
não sou muito provida de beleza, mas as minhas qualidades internas superam
todas as minhas qualidades exteriores.

Interiormente eu sou doce e gentil. Serei uma boa esposa para o meu
marido, serei obediente como uma mulher da máfia deve ser, como mamãe
era com papai. Lhe darei muito amor e todo o meu respeito, e acima de tudo,
espero poder lhe dar muitos filhos.

Quero ter muitos para poder preencher todo o vazio que um dia eu senti
por ser praticamente sozinha. Eu tinha o meu primo, mas ele era homem. Eu
não podia falar de menstruação com ele, nem o que achava de Enzo. Tudo
isso eu guardava apenas para mim.

Podia dizer que a vida no colégio interno me preparou para o mundo.


Eu sabia me comportar bem diante das pessoas, conhecia um pouco sobre as
leis do nosso país. Apesar de ser de origem Francesa, sempre fui criada nos
territórios da Itália, me considerava uma cidadã deste país. Viver em um
colégio interno nem sempre era às mil maravilhas, por exemplo; no dia das
mães, ver todas minhas colegas com suas mães me fazia ir para o banheiro
chorar durante uma hora seguida.

A saudade era algo que doía e machucava, eu nem ao menos tive tempo
para me despedir. Em uma dia pedia uma boneca, e no outro, estava
enterrando a minha mãe e o meu pai.

Mas, se tem algo que aprendi nessa vida, é que não devemos sempre
estar se lamentando, devemos procurar viver bem, e sempre ser gentis. Eu
gostava de ser gentil, me sentia bem. Tinha certeza de que deveria ser um
pouco mais séria, mesmo assim eu não conseguia. Chorava até lendo livros
de romances.

Não via a hora de poder me casar com Enzo e ter ele apenas para mim.
Um homem lindo daqueles... eu estava ganhando na loteria. Se eu não fosse
milionária, diria que era a pessoa mais sortuda do mundo por me casar com
um homem bonito e bilionário.

A fama dos Gregos não era uma fama muito boa. Alguns diziam que
eles comiam carne humana dos seus inimigos. Eu sentia muito medo no
começo, e os boatos sobre eles é esquisito, como a das roupas e da casa com
decoração toda preta. Dizem que é porque eles matam pessoas todos os dias e
usam essas roupas pretas para mostrarem que com eles não se brinca. Eu
tinha muito medo, mas tudo mudou quando conheci Enzo pela primeira vez.
Me apaixonei por ele desde sempre, aqueles olhos azuis... De todos os
Gregos, os olhos dele eram os mais azuis.

Eu já não ouvia mais boatos e só prestava atenção em uma coisa; na


minha felicidade, e seria ao lado dele, do homem da minha vida.

— Luana, está na hora. — Felipe me tirou dos meus devaneios.

Estava na hora de irmos jantar, o meu primo e eu estavamos


hospedados em um dos hotéis da família Grego. Era muito lindo e
aconchegante. Espero que um dia Enzo e eu possamos ter nossa própria casa.
Gostaria de poder cozinhar para ele e nossos filhos, mudar um armário de
lugar, e até mesmo trocar os panos de cama. Mas também, se ele não quiser,
eu respeitarei sua decisão. Como disse, nunca irei pressioná-lo a nada. Minha
função era acrescentar na sua vida, e não diminuir.

Desde que ele me beijou, eu estou agindo assim, como uma pessoa
despercebida. Passo horas lembrando do nosso último encontro, do nosso
beijo apaixonado. Antes eu tinha dúvida se ele gostava de mim, mas depois
daquele beijo, tive certeza. Ele me beijou por um único motivo; por gostar de
mim, já que ele não tinha obrigação nenhuma de fazer isso. Me sentia nas
nuvens de tão feliz que estava.

— Prima, me parece que viu um passarinho verde — Felipe disse assim


que nós fizemos nosso pedido, e o garçom se retirou.

Um pouco sem jeito, eu sorri e lhe respondi:

— Impressão sua, primo. Eu estou normal, assim como em todos os


dias de minha vida. Não é porque vi Enzo que estou assim — expliquei.

Sempre fui muito direta quando se tratava de dar explicações.

— Eu não disse nada, Luana — sorriu. — Me conte como está se


sentindo sabendo que está tão perto de se casar.

— Muito feliz, primo.

— Espero de verdade que Enzo Grego não a faça sofrer. Não irei
permitir que ele a destrate.

— São apenas boatos primo. Não devemos dar importância e nem


acreditar em tudo que saem contando por aí.

— Desde que seu pai faleceu, a minha maior obrigação é te proteger e


defender de todo perigo.
— Acontece primo, que eu não estou em perigo.

— Espero que não.

Felipe era muito precavido quando o assunto se tratava de mim. Ele


sempre foi o meu maior protetor e amigo fiel de todas as horas. Nele eu tinha
mais do que um primo, tinha um irmão e um grande e verdadeiro amigo.

— Posso pedir uma sobremesa depois do jantar? — perguntei, sapeca.

Ele não gostava que eu comece besteiras antes de ir dormir, já que uma
vez eu comi chocolate depois do jantar e passei mal. Tive que ser socorrida.
Desse dia em diante, sempre maneirava em tudo que comia. Por isso era
magra assim, se meu peso estivesse em quarenta e cinco quilos, ainda era
muita coisa.

Tinha meus ombros largos, e um bumbum que não era normal para a
minha magreza. Era um pouco grande e arredondado. Digamos que ele veio
parar aqui e eu não sei dizer como foi.

Minha pele era tão pálida quanto a de Enzo. A diferença era que a dele
era mais, e os meus cabelos eram escuros.

— Prometo que dividimos ela — disse.

— Irei comer bem mais do que a metade.

— Concordo.

E assim foi nosso jantar.


CAPÍTULO 5

ENZO GREGO

NÃO PODERIA TER MELHOR despedida de solteiro do que essa.


Na verdade, a parte dois da despedida foi a mais interessante.

Meus amigos da máfia e do clã principal, que a um ano era comandado


por mim, resolveram fazer uma pequena surpresa me proporcionando uma
verdadeira festa com strippers e modelos gostosas.

Estava tão duro pelas beldades que nem ao menos lembrava que tinha
marcado um encontro com Helena. Que se foda! Ela me proporcionava muito
prazer, mas não era a minha mulher para querer ter direitos sobre mim. Ela
era pegajosa e isso me irritava.

Como se eu precisasse de uma despedida de solteiro. Jamais irei


abandonar a minha carreira profissional como maior pegador da família
Grego. Meu irmão havia aposentado esse cargo desde que conheceu
Giovanna. É um verdadeiro milagre ele ter deixado aquele quarto onde
passava dias trancado, e que estava ficando com cheiro de mofo, para vir me
prestigiar.

Ele bebia com alguns amigos que lhe empurravam as mais belas
beldades e meu irmão estava agindo como um veado.

Um Grego rejeitando mulher? Meu irmão era de outro planeta.


Envergonhando nossa família a esse ponto. O nível em que ele próprio se
colocava era humilhante, e eu não sabia até quando a máfia iria tolerar.

Ouvia murmúrios onde eles diziam que Enrico tinha separado da


mulher. Poucos sabiam que Giovanna era filha do Guido, mas os poucos que
tinham esse conhecimento, estavam começando a espalhar intrigas pela
máfia.

O relógio marcava quase uma da manhã quando o show mais esperado


da noite havia começado. A famosa dançarina de stripper, Lana Cristina,
iniciava sua apresentação. Ela era capaz de levantar até defunto.

A mulher tinha um corpo exuberante, uma beleza estonteante. Se não


fosse uma vadia, já teria despertado o interesse de muitos homens para o
casamento da máfia, inclusive o meu.

Pude notar o interesse do meu irmão na moça. Providenciei tudo para


que ele a levasse para cama para tentar estimulá-lo em alguma coisa, mas foi
em vão. Meu irmão estava doente de amor e nada e nem ninguém, que não
fosse a ruiva, o traria a cura novamente.

Se ele não queria, seu irmão mais novo assumiria seu papel de homem.

A mulher era incrivelmente gostosa, gemia de maneira enlouquecida,


capaz de estimular o prazer de diversas maneiras.

Ao final da nossa brincadeira, lhe paguei o suficientemente para ela


viajar para a América e passar um ano desfrutando dos mais belos lugares do
continente.

No meu celular, havia vinte chamadas perdidas da minha mãe e duas da


Helena. Não estava a fim de falar com nenhuma das duas. Mulheres não eram
algo com que eu deveria me preocupar.

— Enzo, creio que está na hora de voltarmos, irmão.

Enrico estava sentado ao meu lado. Ele estava sóbrio, mesmo tendo
bebido um pouco. Ele mantinha o controle facilmente sobre seu organismo
para qualquer coisa. Pelo menos isso ele não havia esquecido.

— Vamos aproveitar mais, meu irmão. Dentro de algumas horas estarei


casado com o monstro do Lago Ness. — O garçom servia mais uma dose da
minha bebida. — Tudo o que eu desejo nesse momento é poder esquecer tudo
isso.

— Não precisa fazer tanto drama assim. Até parece que será capaz de
abandonar a vida de solteiro que tanto gosta.

— Como se existisse algum Grego fiel.

— Tem razão. Mesmo assim acho que devemos voltar.

— Você está ansioso. — Desde que essa semana tinha iniciado, ele
havia ficado assim. — Tem notícias de Giovanna?

— Nada relevante.

— Se eu fosse você, já teria ido buscá-la. Mulher como Giovanna não


se deixa sozinha por todos esses meses.

— Sabe muito bem que ela não está sozinha. Eu sei cada passo seu, até
mesmo sua rotina.

Meu irmão gastava milhões com a proteção da sua esposa rebelde.


Ainda assim, se mantinha calmo diante a distância que eles tinham um do
outro.

— Mesmo assim, irmão, não a deixava longe por muito mais tempo.

— Giovanna precisa sentir o que é ser livre, mesmo ela não sabendo
que tudo isso não passa de uma falsa liberdade. Ela gosta de se sentir
independente e autoritária em algumas situações.
— Você foi capaz de lhe dar milhões de dólares para fazê-la acreditar
que estava recebendo a herança do nosso titio. Não quero nem imaginar como
será quando ela descobrir que você tem direito sobre tudo dela, e até mesmo
sobre a vida dela. Mesmo ela sendo a filha do Guido, você é o herdeiro da
máfia.

— Isso não é assunto para uma despedida de solteiro. Vamos deixar a


minha pombinha voar por algum tempo, mesmo que signifique muito para
mim ficar longe dela. Mas será por uma causa maior, e em breve a terei
novamente para sempre.

Enrico era um sortudo. Casou-se com uma mulher linda, é um dos


homens mais respeitados do mundo, e ainda consegue satisfazer sua mulher
se sacrificando por ela. Se fosse comigo, eu a traria de volta e a prenderia
amarrada sobre a cama. Não sairia nem para ir ao banheiro.

Recusei a voltar para casa junto com ele, tinha uma bela morena
piscando para mim enquanto se despia no poli dance. Sabia bem o que ela
queria e eu tinha muito para dar a ela.

Transar com uma vadia sempre era a mesma coisa. Elas pediam para
meter forte e duro, e eu fazia exatamente isso. Era prazeroso machucar
aqueles lindos rostinhos cheios de impurezas, até mesmo minha Helena
gostava de um sexo selvagem.

Eram quase três da manhã, eu estava tendo um orgasmo intenso quando


a merda do meu celular me fez desconcertar-me. Esperava que fosse algo de
suma importância, senão, seria capaz de torturar até a morte a pessoa que me
ligou.

— Que merda está acontecendo, Xavier?


— Senhor Grego, acabamos de ser atacados. Nosso D.P. acaba de ser
atacado.

Parei imediatamente o que estava fazendo. A modelo me olhava sem


entender muita coisa, Vesti minha roupa e deixei a festa fulminando de raiva.

Dirigi até nosso departamento e pude constatar a destruição que havia


ficado no local. Foi uma explosão com bomba. Os resto de paredes caindo e
fumaça intoxicante ainda estavam presentes no lugar.

Alguns de nossos homens ainda gemiam de dor caídos no chão. Outros


já haviam partido dessa vida para melhor.

Xavier me deu uma máscara para me ajudar a caminhar entre os


vestígios. Ele queria que eu visse o recado que foi nos dado.

Na parede que ficava no final do galpão, tinha um símbolo russo e


algumas letras que diziam: Vingança.

Isso só podia ser obra de alguém que estava inconformado com o fim
do noivado, e eu sabia bem de quem se tratava. Tudo isso era culpa de Enrico
por apoiar Anastácia em todas as suas loucuras! Mas isso não iria ficaria
assim.

Andrei Barkov acabava de colocar o fim em um trato na qual


completava décadas. Ele estava brincando com fogo, ninguém ofende a
família Grego nesse nível e sai imune.

— Xavier — o chamei com muita raiva.

— Pois não, senhor.

— Nosso amigo Barkov precisa receber nossos agradecimentos. Mande


nosso melhor presente.
— Agora mesmo, senhor.

Me abaixei, sem encostar meus joelhos no chão, e paguei o resto de


tijolos destruídos. Sentia tanto ódio nesse momento que seria capaz de matar
Andrei com minhas próprias mãos.

Ele só mostrou que não estava nada satisfeito com tudo o que estava
acontecendo e eu sabia que ele não iria parar por aqui. Não sabia qual seria o
seu próximo passo, mas sabia de algo; minha irmã corria perigo nesse
momento.

Liguei para Enrico.

— Qual o problema de vocês Grego? Não sabem fazer uma ligação


antes da meia noite?

— Enrico — disse sério. — Andrei Barkov nos atacou agora a pouco.


Sabe o que isso significa?

— Anna.

— Já sabe o que fazer — disse, encerrando a ligação.

Não tinha cabeça para encarar a minha mãe. Do jeito que ela é, aposto
que deveria estar em casa me esperando para me dar uma bronca e me tratar
como um garoto de cinco anos.

Tinha as chaves do apartamento de Helena, e era para lá que iria.

Ela dormia serena agarrada ao travesseiro, me deitei ao seu lado. Fechei


os olhos e comecei a relaxar, quando senti que suas mãos agarraram minha
cintura.

— Pensei que não viria nunca mais.


Suas mãos desciam para o meu membro o fazendo despertar.

— Eu gosto muito de transar com você, minha deusa, mas agora tudo o
que eu quero é poder dormir.

— Não se preocupe querido, por mim você ficará tranquilo.

Na manhã seguinte despertei com uma dor de cabeça daquelas. O


cheiro forte de café impregnava nas minhas narinas, me causando vontade de
vomitar. Toda vida fui um homem fraco para bebida, já deveria ter escutado
os conselhos de minha mãe.

Abri os meus olhos lentamente, sentido minha cabeça doer junto com
cada nervo das minhas mãos. Parecia que estava amarrado ou algo do tipo.

Espera!

Como isso foi acontecer? Onde eu estava?

Meus pulsos estavam adormecidos e minhas pernas estavam com


câimbras. Estava preso sobre a grade da cama, algemado. Isso só podia ser
uma brincadeira de mau gosto.

Helena entrou no quarto trazendo consigo uma bandeja com café e


algumas torradas. Não lembro de termos feito sexo com algemas ontem à
noite, e nem creio que usei algemas com ela.

A morena tinha um semblante tranquilo no olhar, seus olhos verdes


estavam brilhantes. Ela usava um dos seus vestidos transparentes, que eu
havia lhe dado dinheiro para comprar.

— Helena, o que significa isso?

— Bom dia, meu amor. Trouxe café na cama.


— Helena, lhe fiz uma pergunta — disse ríspido.

— Se refere as algemas?

— E ao que mais seria?

— Eu lhe disse que não se casaria.

Puts, meu casamento era hoje. E eu nem ao menos lembrava.

— Vamos parando com isso. Já lhe disse que é um casamento de


interesses.

— Mesmo assim, ela será a esposa.

— Não quero discutir sobre isso novamente. É melhor me soltar antes


que eu mesmo consiga fazer isso e tenha que acabar lhe machucando.

— Eu não me importo se vai me machucar, mas com aquela vadia você


não casa — disse firme.

— Que horas são?

— Tudo o que precisa saber é que sua noiva vai ficar plantada no altar.
Quem manda ela ser feia.

Sempre soube que Helena era apaixonada por mim, mas não ao ponto
de agir como uma louca. Deveria faltar menos de cinco horas para o meu
casamento. Nem sabia dizer ao certo se ainda era de manhã, as cortinas
escuras não permitiam que o sol entrasse no ambiente.

— Agora, vamos comer, meu bem. Eu te ajudo.

Me recusei a ingerir qualquer comida. Ela se retirou e voltou toda


produzida, estava elegante demais.

— Helena, me tira daqui — pedi impaciente.


— Já disse: você não vai se casar com ela. — passou batom. — Agora,
se me der licença, tenho um casamento para ir. Não vejo a hora de ver as
lágrimas da noivinha feia — gargalhou alto e saiu.

Que ousada! Ainda iria no meu casamento.

Isso não vai ficar assim. Helena vai me pagar por essa afronta.

Ninguém desafia Enzo Grego.

Teria que sair daqui o quanto antes. Esse casamento era de suma
importância para mim, e não seria Helena que iria me impedir de me tornar
uma pessoa grande e poderosa.
CAPÍTULO 6

LUANA GARNIER

O DIA MAIS IMPORTANTE da minha vida tinha chegado.


Finalmente meu casamento com o amor da minha vida.

Estava tão feliz que nada destruiria minha felicidade. Lamentava


apenas não ter a presença dos meus pais aqui, minha mãe certamente estaria
orgulhosa e meu pai feliz por me ver bem.

Me sentia uma princesa dentro do meu próprio conto de fadas.


Finalmente o dia mais esperado de toda a minha vida havia chegado, mal
consegui dormir ontem à noite imaginando tudo.

Tudo teria que sair perfeito.

Seria um casamento ao ar livre, uma cerimônia religiosa realizada pelo


padre mais requisitado do país. Seria no jardim da minha futura casa, com
poucos convidados. Infelizmente Enzo não gostava de muita agitação. Nem
teria uma despedida de solteiro, sua mãe havia lhe proibido.

Em dona Sandra eu sentia perseverança e confiança, nos daríamos


muito bem. Quanto a Enrico e Anna, seria fácil conviver com ambos. Eu não
sou uma pessoa difícil e eles não teriam problemas comigo.

Estava terminado de me arrumar em meu novo quarto. Era um


ambiente lindo, um pouco masculino, mas nada que eu não pudesse resolver.

Gostava da luz que tinha aqui. Era o único cômodo da mansão que não
era cercado de coisas pretas. Por sorte meu marido era diferente dos demais.
Ouvi batidas na porta, me assustei pensando que fosse Enzo, mas por
sorte era meu primo. Não pega bem o noivo ver a noiva antes do casamento.

Felipe estava lindo, vestia um dos seus ternos mais elegantes. Seus
cabelos estavam para o lado, algo que ele não gostava de usar, mas tudo isso
para que combinasse com os demais padrinhos.

— Nossa, prima! Conseguiu ficar ainda mais bonita do que já é.

— E você tem que aprender a mentir melhor.

Rimos um do outro. Felipe era um cavalheiro e por mais que eu fosse


desprovida de beleza, ele jamais iria me dizer isso, porque ele é como um
irmão que nunca tive.

— Lamento ter que te deixar aqui nessa casa.

— Você não pode ficar nem mesmo no País?

— E o que eu faria aqui? A empresa é na França, e como seu marido


não vai abandonar a Itália, ele me pediu para que fosse seu braço direito.

— Fico feliz que sua impressão em relação a Enzo tenha mudado.

— Não mudou! Eu só não tive oportunidades para justificar uma


agressão contra ele. Mas, caso ele a machuque, sou capaz de matar aquele
filho da mamãe.

— Enzo jamais me machucaria.

Segurei em suas mãos quentes e acolhedoras. Sentiria muita falta dele.

— Promete vir me visitar?

— Prometo.

Sorri.
— Felipe, estou tão nervosa.

— Posso acreditar que sim.

— Me diga, Enzo já chegou?

— Não o vi ainda.

— Estranho! Ele já deveria ter chegado.

— Não é normal o noivo se atrasar, mas se tratando de Enzo Grego,


podemos esperar tudo.

— Felipe, não fala assim do Enzo. Pode ter acontecido alguma coisa
com ele.

— Claro — ironizou. — Irei ver como estão as coisas — e saiu do


quarto.

Confesso que estou angustiada, e preocupada.

Felipe tinha razão, não era comum o noivo se atrasar. Estava tão
nervosa que não sabia o que fazer. Em vinte minutos começaria meu
casamento e meu o noivo já deveria estar pelo menos passeando entre os
convidados.

Precisava relaxar! E não tentar pensar em coisas negativas como: ele


não quer ser meu marido, e por isso não apareceu. Ou que ele possa estar
com outra. Não queria e nem podia pensar isso.

Enzo era o homem da minha vida, e eu não suportaria saber que ele não
pensasse o mesmo de mim, nem que ele nunca se declarasse como eu tanto
espero. Mesmo assim, eu precisava tê-lo ao meu lado e poder construir uma
família.
A palavra que me definia nesse momento era: agoniada. Não conseguia
ficar mais nenhum minuto nesse quarto sem saber o que se passava lá fora.
Precisava sair e ver como estava as coisas. Tive que ter cuidado para não
amassar meu vestido. Se é que ainda iria ter casamento.

Não tinha ninguém pelos corredores, então tive fácil acesso a


escadarias. Ouvi vozes alteradas da minha sogra discutindo em voz alta com
minha cunhada.

— Entenda mamãe! Esse casamento para Enzo não significa


exatamente nada. Meu irmão é um babaca que passou a noite em uma
despedida de solteiro se relacionando com outras mulheres para ver se
conseguia obter o sucesso do Enrico. Ah! Tudo isso por eles pensarem que
ficar com muitas mulheres é algo incrivelmente vantajoso. Até porque pegar
"AIDS" é algo muito bom.

— Anastácia, não vou tolerar que fale assim do seu irmão. E ainda mais
no dia de seu casamento — disse preocupada. — Sabe que os homens podem
fazer o que eles quiserem.

— A senhora apoia tudo de ruim que seus filhos fazem. Sinceramente


mamãe, fico feliz que a Giovana tenha deixado o Enrico, e ficaria ainda mais
feliz se a Luana fizesse o mesmo com Enzo.

— É isso que você quer, não é mesmo? Torce para que nossa família
seja vista como uma família sem prestígio algum. Quer fazer da sua vida o
que bem entender, mas não é assim que as coisas funcionam — gritou. —
Giovana vai voltar para o seu irmão. E Luana e Enzo viverão felizes.

Tinha lágrimas escorrendo por todo o meu rosto. Meu Enzo tinha
passado a noite em uma despedida de solteiro com outras mulheres. Sempre
soube que ele tinha suas amantes, mas isso era antes de podermos ficar
juntos. Será que ele tinha desistido do nosso casamento?

Não podia permitir que o homem da minha vida me enganasse desse


jeito. As pessoas lá fora deveriam estar comentando o quanto eu sou uma
idiota. Devem estar rindo da minha cara nesse momento.

O que se esperar de uma mulher desprovida de beleza como eu. Enzo


não! Ele era lindo. Não apenas por ser o meu noivo, ele sim era o homem
mais bonito que já vi em toda a minha vida. Seus olhos azuis eram
encantadores. Seus cabelos claros, e aquela boca vermelha era linda. Eu o
amava tanto.

Sempre fui apaixonada por ele.

Meu coração se apertava contra o peito. Eu não podia acreditar nas


palavras de Anastácia, ele não poderia estar com outras mulheres. Meu
mundo havia desabado nesse instante.

O homem que tanto amava e venerava não me amava. E nem ao menos


tinha consideração no dia do nosso casamento.

ENZO GREGO

Tinha conseguido me soltar. Tive um pequeno inconveniente com meus


pulsos feridos e sangrando, mas não tinha tempo para fazer um curativo.
Todos deveriam estar me esperando. Estava atrasado, e o meu celular tinha
muitas chamadas perdidas de minha mãe e irmã.

Nesse momento deveria estar sendo xingado por todos. Não que isso
me importasse.

Helena tinha levado as chaves do meu carro para que eu não as


encontrasse. Aquela filha da puta vai me pagar caro por isso, por ter me
prendido. Ela passou de todos os limites dessa vez. O fato de gostar de foder
com ela não lhe dava o direito de me impor limites e exigir algo sobre o
nosso “relacionamento”.

Meu casamento era apenas um negócio e ela sabia disso, mesmo assim
vivia insistindo para que eu não me casasse com Luana, e sim com ela. Que
futuro ela poderia me oferecer? Nem da máfia ela era.

Ela só não estava morta por causa de Jason, que não soube fazer o
trabalho que lhe foi dado. E agora eu estava completamente apaixonado por
essa feiticeira de cabelos curtos. A morena mais bonita e atraente que existe
em toda a face da terra.

Foram muitos dias até que ela pudesse me perdoar. Quando a levei para
o hospital, ela estava assustada. No começo vivia com medo de que eu a
atacasse, e com razão, eu tinha ordenado sua morte.

Por sorte ela me amava, e isso facilitou bastante a nossa convivência.

Remorso não era algo com que eu sabia lidar. Ela teria a lição que
merecia. Quando todo esse bafafá do meu casamento passasse, eu lhe daria
seu castigo por me desobedecer e me enfrentar da maneira que fez.

Peguei um táxi até a mansão. Por sorte não pegamos muito trânsito, e a
minha carteira estava em meu bolso da calça.

Fui recebido pelo olhar fulminante do meu arque rival Felipe. Só um


bobo não percebia que ele era completamente apaixonado por minha noiva. A
defendia com unhas e dentes. Se não fosse pelo poder envolvendo esse
negócio, eu a daria facilmente para ele.

Ele me lançava raios de ódio. Pacificamente, me aproximei do loiro que


estava prestes a me interrogar. Levantei minha mão em um claro sinal de que
nem ao menos começasse.

— O que importa é que estou aqui!

— Está uma hora atrasado — rangeu. — Alguns convidados foram


embora. E minha prima está pensando que foi abandonada no altar.

— Esse casamento irá acontecer hoje. Se me der licença, tenho um


terno para trocar.

Lhe dei as costas, mas fui surpreendido quando ele me puxou pela
camisa, me fazendo encarar sua expressão de primo protetor.

— Presta bem atenção no que irei te dizer. Você pode ser um Grego, eu
não me importo. Para mim você não passa de um merda — seus olhos
pareciam que saltariam a qualquer minuto. — Se magoar a minha prima, juro
que acabo com você.

Tirei suas mãos imundas de cima de mim. Quem esse idiota pensava
que era para se referir a mim daquela maneira? Um simples empregadinho!
Seu pouco parentesco com uma herdeira milionária não lhe dava o direito de
tocar em mim.

Sorri de lado com o tamanho da sua ousadia. Ajeitei minha camisa no


lugar de antes, agora amassada.

— Só não te mato agora mesmo, por não querer criar um escândalo no


dia do meu casamento. — O sangue subia para a minha cabeça. Estava
prestes a pegar minha arma e atirar nele quando avistei meu irmão se
aproximando. — Mas... eu acho bom não te encontrar por aqui amanhã. Para
o seu próprio bem.

Enrico me olhava preocupado. Parecia ter percebido o clima estranho


que estava no ar.

— Onde você estava, cara?

— Não importa. Vamos indo, tenho um terno para vestir e sabe que
ainda não sei fazer bem um laço na gravata.

Ele deu um último olhar para Felipe, e fomos juntos para casa.

— O que houve entre você e Felipe?

— Nada com que deva se preocupar — sorri.

Minha mãe estava na sala me esperando como se aguardasse a sua


presa. Estava pronto para o ataque quando Enrico me salvou dela.

— Não temos tempo para discussão. Esse casamento precisa acontecer


ainda hoje.

Nada mais foi dito.

Vestia aquele terno como se estivesse colocando uma coleira por todo
meu corpo. Não que eu fosse ser fiel a esse casamento, mas era pelo menos a
imagem que deveria passar diante de todos.

Só de imaginar que em alguns instantes receberia aquela mulher como


minha esposa, sentia arrepios por todo o meu corpo. Minha expressão diante
do espelho era a de velório.

Não esbouçava reação alguma diante de tudo o que estava acontecendo.


Isso eu aprendi com meu irmão.

Enquanto ele fazia o laço da minha gravata, comentei:

— Espero que a Giovana venha. — Ele nada disse. — E que vocês dois
possam voltar ainda hoje.
— Não iremos voltar hoje — disse convicto. — Minha bambina precisa
voar mais um pouco para poder perceber que seu lugar é, e sempre será, ao
meu lado.

— Se eu fosse você, já teria a obrigado voltar.

— Não é assim que as coisas funcionam. Precisa entender muitas


coisas, irmão.

— Me deseja sorte.

— Boa sorte — bateu com as duas mãos em meu ombro.

No altar enfeitado com flores e velas brancas, havia o padre juntamente


comigo, minha mãe e minha irmã. Os nossos padrinhos eram apenas os
amigos mais próximos.

Pude notar que minha cunhada tinha comparecido ao meu casamento.


Ela não tirava os olhos de Enrico, e ele não tirava os olhos dela.

Helena me olhava com bastante ódio. Não podia acreditar que ela ainda
teve a ousadia de vir ao meu casamento. Minha morena tinha passado de
todos os limites. Aquela boquinha pagaria caro por tamanha coragem.
Adorava torturá-la.

Anastácia disse no meu ouvido que Luana já deveria ter chegado. Não
sabia o porquê da demora, mas se eu atrasei quase uma hora, ela certamente
tinha o direito de atrasar também.

Não queria imaginar que Helena tinha feito algo para isso acontecer.
Até porque ela sabe que isso seria o fim da nossa relação.
De longe avistei ela vindo de braços dados com seu primo. O som da
marcha nupcial tocava avisando que a noiva iria entrar.

Observei-a de longe. Ela não tinha aquela alegria no olhar que tanto
demonstrava ter quando estava comigo. Sou o amor da vida dela, e nem um
sorriso Luana tinha nos lábios no dia do nosso casamento. Ela parecia estar
sentindo algo ruim, seu olhar transparência dor.

Por que aquilo me incomodou?

Felipe me entregou sua mão sem dizer uma palavra. Os olhos dela
estavam vermelhos, sabia que havia chorado por algum motivo,
provavelmente relacionado comigo. Podia ver dor no seu olhar, sofrimento.
Sua mão não estava gelada, ela não estava nervosa como deveria estar.
Queria entender o porquê de ela estar assim.

O padre deu início a cerimônia, ressaltando os votos de casamento. A


cerimônia seria longa por envolver assuntos religiosos que eu não prestava
atenção. A todo instante direcionada meu olhar para minha noiva, que estava
distraída, como se pensasse em algo muito longe.

Finalmente a hora dos votos tinha chegado e depois disso tudo, estaria
encaminhando para o final dessa cerimônia chata.

— Eu, Enzo Grego, recebo a ti, Luana, como minha legítima esposa.
Prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na
doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias das nossas vidas, até que a
morte nos separe.

Coloquei a aliança sobre o seu dedo anelar esquerdo.

Luana tinha lágrimas no olhar, mas não eram de alegria, e sim de


tristezas.
Na sua vez, ela teve que engolir o choro para não demonstrar na frente
de todos.

— Eu, Luana, recebo a ti, Enzo, como meu legítima esposo. Prometo
ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença,
na riqueza e na pobreza, por todos os dias da nossas vidas, até que a morte
nos separe.

Ela praticamente gaguejava, como se estivesse sendo obrigada a fazer


tudo isso. Suas mãos tremiam e ela quase derrubou minha aliança no chão.

— Se alguém tem algo contra, fale agora ou calasse para sempre.

Por via das dúvidas, olhei para trás e vi que Helena chorava nesse
momento. Ela saia do jardim praticamente correndo. Aquilo me doeu. Não
queria que ela sofresse por minha causa, e sim que entendesse que nunca
poderia amar Luana. Que ela era quem me fazia feliz.

— Eu...

Não pude acreditar no que tinha acabado de ouvir. Eu iria acabar com
essa desgraçada, literalmente.
CAPÍTULO 7

ENZO GREGO

LITERALMENTE, HOJE NÃO ERA o meu dia de sorte. Se tivesse


que marcar uma data do ano para ser meu dia de azar, o dia do meu
casamento certamente ficaria no topo da lista como um dos piores.

Somente hoje tive que encarar o ciúmes de uma amante possessiva que
não sabia qual era o seu lugar. Ameaças de um primo apaixonado que parecia
inconformado por perder a sua amada prima feia. E agora, tinha que ouvir um
provável sermão da minha mãe que havia parado o casamento.

— Eu... — minha mãe caminhou até o centro do jardim entre os


convidados, e me olhando friamente, começou seu discurso. — Em nome de
toda a família Grego, saibam que fico agradecida por todos terem
comparecido ao casamento do meu filho Enzo. Apesar do pequeno atraso,
quero deixar bem claro que esse casamento vai acontecer e que com ele, meu
filho vai poder, enfim, torna-se um homem respeitado por todos — deu
ênfase na última parte. — Quero que ele saiba que a mordomia agora acabou
— dizia de uma maneira engraçada, os convidados apenas riam e tinham
aquilo como um momento descontraído, mas eu sabia que ela queria me
envergonhar. — Espero de verdade que eles possam ser muito felizes.

Ela voltou para o lugar ao meu lado. A fuzilei, que nada fez. O padre
deu continuidade à cerimônia, e enfim, nos declarou marido e mulher.

— Eu os declaro marido e mulher. O que Deus uniu, o homem não


separa.
O homem não separa, pois Luana jamais irá me trair. Mas a mulher, no
caso a minha Helena, pode ser que separe.

O padre nos deu a bênção final, e infelizmente chegou o momento em


que se beija a noiva. Eu odiava ter que fazer isso. Por isso, lhe dei um
beijinho na testa, quase sem encostar meus lábios na sua pele. Tudo nela me
causava repugnância.

Meu Deus, se não conseguia nem beijar, imagina ter que cumprir com
minhas obrigações de marido.

Sem expectativas nenhuma, pude notar que meu beijo havia pegado
mau diante dos olhares dos convidados. Então ergui o seu queixo e lhe dei
um beijo de leve na boca. Ela não correspondia da maneira como esperava
que fosse.

As mulheres realmente eram seres que não tinham explicação. Luana


deveria se sentir agradecida apenas por receber um olhar meu, deveria
agradecer de joelhos e não ficar bancando a difícil. Se ela pensava que
poderia agir dessa maneira comigo, ela estava muito enganada.

Saímos de mãos dadas, passando pelos convidados que jogavam arroz


sobre nós. A tradição originou-se na China e na Índia, e surgiu com base na
crença de que os grãos traziam prosperidade e fertilidade ao casal.

Casamentos na máfia tinham apenas um interesse: gerar herdeiros.

A mulher servia apenas para abrir as pernas e gerar herdeiros. Só de


imaginar que teria que me deitar com uma mulher como Luana, sentia
vontade de vomitar. Preferia mil vezes que nosso filho viesse ao mundo
através de inseminação do que ter que possuir aquela menina recém-saída de
um convento.
Seus pais deveriam tê-la entregado para a vida religiosa, e não para
estragar os meus dias de agora em diante. Era minha esposa agora, me
pertencia. Eu era o responsável legal por ela.

Caminhamos até a parte da mansão onde aconteceria a festa.

Luana não deu uma palavra comigo, parecia magoada com algo. Nem
mesmo quando lhe ofereci champanhe ela me respondeu, apenas negou com
a cabeça. Era melhor assim. Não era obrigado a ouvir sua voz irritante.

Se tinha algo que odiava nela, mais do que a sua própria cara feia, era
sua voz. Uma voz manhosa, dengosa, me irritava em todos os sentidos.

Alguns amigos vieram me parabenizar, alguns com umas piadas muito


sem graças. Quase puxei meu revólver da cintura para estourar os miolos de
alguns babacas.

Tudo o que eu queria nesse momento era beber e esquecer desse


maldito casamento, e foi isso que eu fiz. Tomei todas e algumas mais. Minha
mãe estava preocupada que eu pudesse dar algum show, por isso mandou que
meu irmão me levasse para o quarto. Eu não queria, por isso o driblei e fui
dançar com sua esposa. Giovana era linda, a apanhei de surpresa, levando-a
praticamente a força até o centro da pista de dança.

— Enzo, você está bêbado — disse chateada.

— Um pouco.

— Vem, vamos procurar sua noiva.

— Ah, não! Deixa aquela medusa longe de mim. Eu quero me divertir,


e você deveria dançar com meu irmão. Ele está louco de saudades. Sabia que
ele se masturba todas as noites pensando em você?
Ela fez uma expressão de chateada. Eu não havia mentido, meu irmão
deveria fazer isso mesmo. Com uma mulher linda como essa, eu era capaz de
qualquer coisa.

Minha mãe se aproximou junto com a minha noiva. A senhora Grego


tinha um olhar pronto para guerrear. Estava cansado dela me tratar como
criança.

— Madrinha. — Giovana sorriu para minha mãe. — A senhora precisa


tirar ele daqui. Ele está começando a falar coisas sem sentidos.

— Só disse que você é muito gostosa, mano.

Não me importei de dizer isso na frente de Luana. Ela não parecia nada
feliz, ainda sim, era tão insignificante que não me importei de dizer tudo o
que disse.

— Irmão, se não quiser que eu quebre todos os seus dentes agora, é


bom ir dançar com sua noiva. — Enrico colocou a mão sobre meu ombro.
Meu irmão tinha uma cara de poucos amigos.

Ele e Giovana trocaram alguns olhares apaixonados. Dois idiotas que


estavam perdendo tempo em vez de ficarem juntos.

— Relaxa, irmãozinho — coloquei minha mão no seu ombro. — Não


vamos dividir sua esposa como fazíamos com a Erika.

— Chega! — Minha mãe apertou meu queixo com força. — Não irei
tolerar que se comporte como se tivesse dezesseis anos. Agora é um homem
casado. Se porte como tal. Leve sua noiva para dançar.

Estava irritado com a maneira como minha mãe me tratava na frente


das pessoas. Um dia não iria responder por mim. Não era moleque para ela
me tratar como um.
Eu tive que sair dali segurando as mãos da minha noiva, que agora
estavam geladas. Ela tinha uma expressão de morta. Tinha certeza de algo,
Luana era feia, mas sempre me pareceu contente e ansiosa pelo dia do nosso
casamento.

A música era romântica. As pessoas tinham seus olhares de merda


direcionados a nós. Queria meter bala em todos eles.

— É impressão minha... — Seus olhos fitavam os meus. — ou você


preferia estar em um velório do que em meus braços?

— Eu estou feliz...

— Não é o que parece! — afirmei.

O que era aquilo em seus olhos? Lágrimas! Por que ela teria lágrimas
em seus olhos no dia do nosso casamento?

— Estou cansada. Se importa se eu for dormir no meu quarto? — ela


perguntou, encarando os meus sapatos.

Ela não queira passar a noite comigo? Ela havia perdido o juízo? Não
era possível que a medusa estivesse rejeitando um deus do olímpio.

— Não.

— Obrigado.

— Mas antes, termine essa dança comigo — pedi.

Antes dela ir para o quarto, Luana jogou o buquê de flores para ver qual
solteira iria pegar. Vi quando minha irmã praticamente derrubou duas
adversárias para segurar o ramo. Se Anastácia não fosse tão bobona, o
próximo casamento seria o dela. Não com aquele moleque que ela chama de
namorado, e sim com Andrei Barkov.
Já que minha noiva havia deixado a festa, aproveitei ainda mais para
beber. Não me sentia confortável para encarar os convidados. Por isso,
peguei um litro de champanhe, uma taça e fui beber mais afastado de todos.

Eu conhecia aquele perfume. Sabia que tinha uma mulher irritada bem
atrás de mim. Não olhei porque não iria gostar de ter que bater nela. Estava
mais irritado ainda.

— Pensei que estaria com a sua noivinha.

— Pensei que tinha deixado claro que não era para vir.

— Tivemos uma conversa agradável. Ela é mais horrível de perto, sem


dúvidas. Por isso te desejo um casamento infeliz.

— Desejo que você sofra sabendo que irei passar a noite com outra
mulher que não seja você. — Nesse momento ela fechou a cara. Pude ver que
ela queria chorar, mas ela era forte e jamais derramaria uma lágrima na minha
frente. — Pensou mesmo que aquelas algemas me prenderiam?

— Foda-se, Enzo.

— Irei sim, meu amor. Com uma virgem intocada apenas para mim —
disse pervertido.

— Espero que ela sinta muita dor, e não te dê prazer.

— Espero que você seja atropelada na volta para casa.

Ela se aproximou de maneira sexy. A maldita infeliz era uma baita de


uma vadia gostosa. Lembro que também era virgem quando nos conhecemos.
Talvez seja por isso que sou gamado nela, apenas eu fodi sua boceta apertada.
O seu único defeito era querer mandar em mim.

— Não me procure mais, seu desgraçado.


— Não me irrite. Senão, juro que dessa vez eu mesmo te mato.

— Faz isso mesmo. Só assim você vai se ver longe de mim. E antes que
eu me esqueça, terá que explicar muitas coisas a sua esposa — disse maldosa.

— Luana me ama — sorri cafajeste. — E antes que eu me esqueça,


ficará em casa sem sair para lugar algum, enquanto me divirto com meu novo
passa tempo.

Ela saiu ainda mais irritada. Estava satisfeito, tinha conseguido deixá-la
mal. Ainda teria seu castigo por ter me prendido em sua casa.

Luana Grego

Da janela do meu quarto, podia ver meu marido com sua amante no
jardim. Ele era muito cínico. Como foi capaz de me trair todo esse tempo? Eu
sei que não podia esperar que ele se mantivesse virgem para mim, assim
como me mantive para ele, mas ao menos esperava que ele não fosse
apaixonado por ela.

O pior de tudo não era ele ter uma amante, e sim ele a amar. As
palavras daquela mulher foram palavras duras. Descobrir tudo isso no dia do
casamento não era nada agradável.

— Nem vestida de noiva você fica bonita. — Uma morena se


aproximou de mim enquanto eu estava sentada na mesa dos noivos, sem o
meu noivo, que dançava com Giovana.

— Como disse?

— A verdade, queria. Não finja que não entendeu. Eu não sou o tipo de
amante que vem fazer barraco no dia do casamento do meu homem.
Ela era amante do Enzo? Ela era linda. Um corpo malhado, morena,
cabelos curtos, baixinha, os olhos verdes quase castanhos.

— Você está me dizendo que tem um caso com meu marido?

— A cinco anos estamos juntos. Enzo me ama, sabe por que ele se
atrasou? Estava comigo, em minha cama.

Ela era o tipo de mulher que fazia uma pergunta e respondia no mesmo
instante.

Tinha descoberto toda a verdade sobre meu marido, tudo o que ele
havia feito para aquela mulher e de como ele a amava. Deitada com a cabeça
em meu travesseiro, me permiti chorar até sentir que tinha lavado minha
alma. Deus, eu o amava tanto. Por que ele tinha que fazer isso comigo?

Retirei todo aquele vestido que marcava toda minha história. Agora,
tinha um marido, alguém para cuidar e ser fiel por toda minha vida. Não sei
se seria possível eu assimilar tudo o que estava acontecendo, porque, lá no
fundo, eu sabia que nada podia fazer. Meu marido pertencia a outra mulher, e
isso me deixava totalmente sem entusiasmo para esse casamento.

Sempre fui fiel, e serei até o dia de minha morte. Se Enzo tinha outra,
eu teria que me conformar e aceitar que meu marido era homem e pode fazer
tudo o que quisesse. Além de tudo, ele agora era um chefe muito respeitado
por todos. Tudo o que eu preciso fazer e lhe dar um filho, e poderei viver em
paz o resto de minha vida.

Teria que encarar essa situação da maneira mais fria possível. Só assim
não me machucaria ainda mais.

Era impossível. Ele havia dilacerado meu pobre coração de menina


apaixonada.
Ouvir da boca da sua amante que ele me acha uma "medusa", ou um
"bicho de sete cabeça", doia muito. Quantas vezes eles não devem ter
debochado de mim, e eu trancada naquela internato, convivendo com as
freiras que me ensinavam a amar meu marido acima de tudo. Menos de Deus,
é claro.

Como amar alguém que não sente o mesmo por mim? Eu teria que ser
forte e amar por nós dois, apenas assim nosso casamento poderia significar
alguma coisa.

Adormeci depois de chorar bastante.

Tinha o sono bastante leve, por isso despertei ao sentir alguém se


deitando ao meu lado. Me virei para ver, não conseguia enxergar nada, tudo
estava escuro, mas eu sabia de quem se tratava. Pensei que ele me deixaria
dormir sozinha.

— Enzo... é você? — perguntei, ainda sonolenta.

Suas mãos tocaram o meu rosto, que ainda estava banhado em


lágrimas.

— Estava chorando? — Ele não me parecia tão bêbado como estava


quando dançamos.

— Não foi nada.

— Desculpe por isso. Sei que são por minha causa — vendo-o falar
assim, senti que facilmente o perdoaria. Afinal de contas, eu o amo com todas
as minhas forças.

— O que está fazendo aqui?

— Desculpe acordar você, mas eu preciso consumar nosso casamento.


CAPÍTULO 8

ENZO GREGO

A MAIORIA DOS CONVIDADOS tinham ido embora. Os únicos


que restaram eram amigos mais íntimos do meu irmão. Ele conversava em
uma mesa com alguns, e eu sabia que em breve meu irmãozinho ocuparia seu
cargo de chefe novamente, o que era uma tremenda injustiça para eu voltar a
ser o vice em tudo novamente.

Já se passava das duas da manhã, tinha ingerido muitas taças de


champanhe. Não costumo beber para encher a cara, como dizem na
faculdade. Tinha bebido apenas com o intuito de não me lembrar da
desgraçada da Helena.

Por mais que eu a odiasse, era naquela maldita que eu estava pensando
agora. Só de imaginar aquela bunda grande rebolando para mim, fazia com
que todas as minhas veias se dilatassem como em uma frequência de 220
volts.

Aquela danada teria um castigo a sua altura. Mas, enquanto isso não
acontecia, tinha que encarar o olhar do meu irmão que me reprendia. Logo
ele se aproximou, tomando de mim a garrafa quase seca, junto com a minha
taça.

O que ainda faz aqui?

— Estou bebendo, irmão — disse o óbvio.

— Sua noiva se recolheu cedo, como manda os costumes. Você deveria


ter feito o mesmo.
— Não quero transar com aquilo — deixei evidente todo o meu
desconforto.

— Entendo, irmão — colocou uma mão sobre meu ombro. — Se fosse


comigo, diria o mesmo que você. — Claro. Ele se casou com uma gata! —
Mas, agora que está casado, não pode descumprir com suas obrigações de
marido. Lembre-se, tem que mostrar um tecido branco manchado de sangue
amanhã na reunião do conselho.

Como não me lembrar dessa tradição do tempo dos homens das


cavernas. Era ridículo a maneira como era exposto a mulher perante todos os
demais homens. Não que me importasse com minha esposa, mas eu tinha
uma mãe que passou por isso, e uma irmã, que passará.

Não me imaginava um dia vendo o lençol machado de sangue da minha


filha. Teria que pôr um fim nessa tradição.

A prova de uma virgindade não está no sangue, até porque nem todas
sangram na primeira vez. Os homens sabem quando transam com uma
virgem, e isso é o suficiente para dar seu veredito sobre a índole da moça.

— Tudo bem, irmão... — respirei fundo. — Você ganhou.

Ele sorriu satisfeito.

— Se ela estiver dormindo, acorde-a. — piscou para mim. — Quero


detalhes amanhã — disse debochado.

— Me conta como foi com Giovana que eu te conto sobre mim. — Isso
o deixou irritado. Ninguém podia dizer nada da sua amada.

Ele bem que mereceu ouvir essa!

— Idiota — resmungou antes que eu saísse.


Encarei o caminho até o meu quarto como um corredor da morte. Abri
a porta sem fazer barulho, tudo estava iluminado, mas a minha mulher não
estava deitada sobre a nossa cama. Procurei por ela no banheiro, e na sacada,
onde ela também não estava.

Onde ela tinha ido?

Seu quarto agora era o meu!

Lembrei que ela poderia estar no quarto de hóspedes que ela costumava
ficar. Cambaleando, caminhei até lá, meio que apoiando nas paredes em
determinados momentos. A luz do quarto estava apagada, eu sabia que ela
estava deitada. Tirei os sapatos com cuidado, deixando em algum lugar do
quarto. Retirei minha camisa social, ficando apenas de calça e meias.

Pensei um pouco antes de me deitar naquela cama. Não queria ficar


perto dela nem para fazer uma refeição, muito menos para transar. Eu, Enzo
Grego, acostumado com as mulheres mais bonitas do mundo, tendo que me
saciar com a mais feia de todas. Luana não tinha encanto algum, não sabia
caminhar com postura, não falava coisas coerentes. Sempre no mundo da lua.

Me encostei junto ao seu corpo, sentindo que ela estava usando uma
camisola de seda. Suspirei baixinho com nojo por estar tocando nela. Estava
prestes a vomitar quando meu nariz bateu em seu pescoço quando me mexi
para mais perto dela, senti um perfume bom vindo de sua pele, que me
parecia ser lisa. Então coloquei minha mão sobre seu braço e pude sentir
como sua pele era delicada e sensível ao toque.

Luana nunca foi tocada! Interessante.

Para quem era feia, até que tinha o perfume bom.

— Enzo... é você? — perguntou, com a voz sonolenta.


Quem mais seria? Por acaso ela esperava por outra pessoa que não
fosse o seu marido? Como o seu primo apaixonado?

Ignorei minha raiva sem sentido e continuei com meus toques sobre seu
braço. Minhas mãos tocaram o seu rosto, notei que estava banhado em
lágrimas.

Ela havia chorado? Posso apostar que foi pelo que Helena lhe disse.

— Estava chorando? — perguntei, calmo.

Eu não aparentava estar tão bêbado.

— Não foi nada...

Eu era o culpado por derramar lágrimas inocentes do seu rosto de


inocência.

— Desculpe por isso. Sei que são por minha causa — falando assim,
sentia que facilmente ela me perdoaria. Sabia o quanto minha esposa me
amava, e ansiava por esse casamento.

— O que está fazendo aqui? — perguntou.

Que pergunta foi essa? Não estava óbvio que somos casados e que a
máfia exige a consumação do casamento o mais rápido possível? Como se
fosse uma obrigação transar antes da festa acabar.

Se tivesse escolha, optaria por não consumar nunca essa união. Nem
teria casado, para ser sincero.

— Desculpe acordar você, mas eu preciso consumar nosso casamento...

Luana nada disse. Continuou imóvel, não movia um músculo e parecia


que não respirava mais. Fiquei por cima dela, senti que ela se assustou com a
minha aproximação. Senti seu corpo endurecer com meu contato físico.

Não era um cara forte como Enrico, era um magro com conteúdo.
Sempre que dava fazia musculação. Não conseguia me excitar diante de
Luana, e se a luz estivesse acesa, seria ainda pior.

Senti sua respiração quente contra meu queixo, estavamos com os


lábios a poucos centímetros um do outro. Eu já a tinha beijado antes, não foi
tão ruim como eu imaginava. Um beijo seria fácil para mim.

Colei nossas bocas sem a menor empolgação. Sentia-a me corresponder


de maneira tranquila, tinha algo que não estava certo. Suas mãos bloqueavam
o nosso contato físico, ela apenas me dava leves selinhos, e quando menos
esperei, a senti me empurrar para o lado e se levantar.

Em um movimento rápido, ela acendeu a luz, caminhou até a porta,


cruzou os braços e me olhou um tanto nervosa.

— Eu não quero! — falou decidida.

Sentado na cama, observava aquele ser repugnante me dizer não. Ela


tinha batido a cabeça em algum lugar? Só podia ser! Me controlei para não rir
alto da sua expressão de confusão no olhar, nunca havia percebido que ela
tinha olhos bonitos, azuis. Prendia minha atenção naquela pequena mistura
francesa com brasileiro.

De vestido soltinho, notava-se ainda mais sua magreza, e


principalmente, as curvas da cintura. Apesar de ser magra, ela tinha pernas
torneadas de um jeito interessante. Sem aquele óculos fundo de garrafa que
ela usava, pude notar que ela tem o nariz fininho, além de bochechas
levemente rosadas.

Viajei geral! Obviamente o efeito do álcool não estava me fazendo


nada bem. Não era possível que eu estivesse vendo algo bonito nela...
realmente, era o efeito do álcool.

— Não quer... — levantei-me da cama, e caminhei lentamente na sua


direção. — o que? — perguntei em seu ouvido.

Ela manteve seu olhar cabisbaixo. Não me parecia confortável com


minha aproximação. Mesmo não sendo tão forte, meu corpo perto do dela era
enorme. Luana era baixa, sua cabeça mal batia em meu peito.

— Te fiz uma pergunta. Gostaria que me respondesse.

— Enzo... — ela olhou para o lado. Todos os lados eram mais


interessantes do que olhar para o meu rosto. — Você está bêbado? — Aquilo
saiu meio duvidoso.

— Nada com que deva se preocupar. Agora vamos voltar para nossa
cama?

Ela olhou para minha mão aberta na sua direção, em seguida para a
cama na qual dormia. Óbvio que não iria transar com ela nessa cama, gosto
do meu quarto.

Luana tinha um olhar apreensivo, e ao mesmo tempo abatido, como se


eu estivesse a obrigando a ir para o corredor da morte. Isso estava muito
errado. Eu que deveria me sentir assim. Ter que transar com uma mulher
como ela não era nada interessante, mas ela estava ganhando na loteria por ir
para a cama com um homem como eu.

Vendo sua falta de reação, tomei a atitude de segurar sua mão, que
estavam geladas. De repente ela soltou-se de mim num ato de pura rebeldia.
O que estava acontecendo com ela para agir daquela maneira? Tudo isso por
causa das asneiras de Helena? Luana não podia imaginar que eu ficaria todo
esse tempo sem me relacionar com alguma mulher. Ela sabe de minhas
necessidades por ser homem.

— Qual o problema? — perguntei, erguendo seu olhar para mim. —


Não gosta mais de mim?

— Não é isso... Só não gostei que tenha convidado aquela mulher para
vir ao nosso casamento.

No instante que disse aquilo, notei lágrimas em seu olhar. Helena não
tinha freios. Mandei que a eliminassem a alguns anos, por causa dessa sua
mania de querer ser mais que amante. Ela já deveria estar satisfeita por eu a
ter escolhido como amante e pronto. Jason e seus serviços maus feitos.

— Não a convidei. Ela se convidou.

— Claro, te deixou preso na cama dela? — disse irritada.

— Vai mesmo se importar com o que ela disse? — Ela balançou a


cabeça que sim. — Quem é a minha esposa?

— Você a ama, Enzo!

— Com quem eu me casei?

— Enzo, eu amo você! Mas não sou cega. Mesmo usando aqueles
óculos com grau elevado, eu sei que você não gosta de mim. Sei também que
esse casamento é apenas um acordo. Se não fosse com você, seria com
qualquer outro e nenhum me amaria por eu ser do jeito que sou. — caminhou
até o centro do quarto. — Não estou pedindo que me ame. Seria louca demais
por pensar nessa possiblidade remota — finalmente olhou para mim. — Eu
só queria que me respeitasse, assim como sempre te respeitei.

— Luana...
— Enzo, passamos anos como noivos e você nunca foi me visitar.
Nunca se importou comigo, com o meu bem-estar. Nunca me mandou nem
um cartão de aniversário... eu sei que aqueles presentes foi a sua mãe que
mandou em seu nome.

Ela caminhava de um lado para o outro, estava nervosa e tinha chorado


em determinado momento. Não me senti bem vendo-a daquele jeito. Ela era
só uma menina que tinha chegado na maior idade sem a menor expectativa do
que seria sua nova realidade. Ela tinha um olhar inocente, gostoso de se ver.

Suas mãos uniam uma a outra como forma de prender suas emoções.
Gostava de ouvir o que ela tinha a me dizer, sempre soube que sua vida não
era fácil, e mesmo assim nunca me importei, e ainda não me importava. Ela
tinha razão em tudo o que dizia. Eu era um idiota, mesmo ela não me dizendo
isso, sabia que ela não pensava o contrário.

Sou um completo idiota. Ela não merecia tudo que a fiz passar.

Antes que ela desabasse no choro novamente, eu a abracei, lhe dando


todo carinho que ela necessitava nesse momento, e que talvez eu jamais
pudesse dar novamente. Eu não era carinhoso, e ela já deve ter notado isso.

— Por que me abraça?

— Não sei...

— Não deveria me iludir dessa maneira...

— Eu sei. Não consegui te ver machucada por minha culpa.

— Você a ama — disse, com a voz embargada.

— Você é minha esposa.

— Isso não significa nada. Seu amor é todo para ela.


Surpreendi minha esposa com um beijo de língua quente e molhado.
Meu corpo reagiu no mesmo instante em que ela se entregou totalmente em
meus braços. Senti-a estremecer em meu braços quando minhas mãos
tocaram sua nuca. Estava duro por ela! Dava para acreditar nisso? Tudo isso
em nome da máfia, do maldito lençol sujo de sangue. Esse sacrifício iria valer
apena quando meu filho nascesse.

— Enzo...

— Fica caladinha e me deixa trabalhar. — resmunguei.

— Estou com medo...

— Não vou te machucar — disse entre o beijo.

Ela tinha um gosto bom. Seus lábios tinham o gosto de creme dental
infantil.

— Enzo... eu não quero — disse afrontosa. Aquilo me deixou irritado.

— Qual o seu problema?

— Eu não consigo... você dormiu com ela.

Segurei em seu braço com força. Ela me olhou amedrontada. Se eu


quisesse forçá-la, já teria feito isso, mas não sou assim. Nunca precisei usar a
força para transar com ninguém, não seria dessa vez que faria.

— Vamos para o meu quarto e vamos transar logo de uma vez. Vou
gozar dentro de você, e espero que engravide ainda na primeira semana de
casados.

— Você é um monstro — disse chorona.

— Não sou nenhum príncipe encantado, já devia saber disso.


Ela soltou-se de mim e saiu correndo para algum lugar da casa. Isso
não iria ficar assim. Ela iria aprender de uma vez por todas que me pertence.
CAPÍTULO 9

LUANA GREGO

TINHA NOÇÃO DA BESTEIRA que estava cometendo em não me


entregar ao meu marido. Não sei de onde veio tamanha coragem para fazer
isso. Lhe dizer um não foi a coisa mais difícil que fiz em toda a minha vida.
Mesmo tendo noção das consequências que isso me traria, eu preferi fazer da
maneira mais difícil.

— Enzo, nunca vai amar você. Olha para mim e olha para você, eu sou
linda. Você não sabe o que essa palavra significa. Não imagina o quanto
Enzo e eu rimos de você.

"O quanto Enzo e eu rimos de você ". Nunca esperei amor de sua parte,
o mínimo que eu queria e desejava era respeito. Sempre soube que ele tinha
suas amantes, só não queria acreditar que realmente fosse verdade. Sempre o
idealizei como um príncipe encantado. Para mim, ele não tinha defeitos, até
hoje.

Ótimo dia para descobrir os defeitos, no dia do casamento.

Esse era para ser o momento mais feliz de minha vida, mas acabou se
tornando o mais triste. Ele convidou a amante para a nossa festa, e não
adianta negar, eu sei que sim, ela me disse tudo. Por esse motivo, deixei a
festa mais cedo. Não me importei com os convidados e muito menos com o
que iriam dizer, eu só queria dormir e ele tinha concordado.

Corri até o único lugar onde me sentiria segura. O quarto da senhora


Grego me parecia uma fortaleza nesse momento. Bati na porta duas vezes e
ela abriu. Sorte a minha que não estava dormindo.

Respirei aliviada ao ver que ela abriu.

— O que houve? — perguntou preocupada.

Ela estava de pijama, me encarando com uma certa desconfiança.

— Não deixa Enzo me atacar. Ele está agindo como um louco — disse
nervosa.

— Encontrei você — disse bem atrás de mim. Congelei quando ouvi


sua voz rouca. — Vamos parando com esse show e me acompanhe até o
nosso quarto.

Pegou em meu braço, apertando com força, e iria me arrastar se dona


Sandra não tivesse intervindo.

— Solte a moça, Enzo. Onde já se viu tratar sua esposa dessa maneira?

— Mãe, não vou aceitar que a senhora me diga como agir com a minha
esposa.

Vendo que eu estava chorando, ela perguntou:

— Ele a machucou?

— Não toquei um dedo nela. Tudo isso não passa de drama. Uma
menina assustada com a realidade que deve encarar agora.

— Não me deixa ir com ele — pedi, chorosa.

Estava constrangida diante dessa situação, pedindo ajuda para a minha


sogra para não ir para cama com o seu filho. Isso não era uma experiência
nada agradável.

— Luana, pare de agir assim! Parece que estou usando violência com
você.

Seu tom de voz era duro. Ninguém nunca tinha falado assim comigo
antes.

— Você fez pior, machucou meu coração convidando sua amante para
o nosso casamento. — Disse, com a voz embargada pelo choro.

Ele ainda segurava minha mão forte, quando sua mãe fez uma
expressão de descontentamento. Tudo o que eu mais queria nesse momento
era não ver nenhum deles. Sempre fui enganada por todos, minha sogra
sempre me fazendo acreditar que eu era alguém especial para Enzo, sendo
que o filho dela nunca me olhou, nem como uma amiga e quem dirá como
esposa.

Sentia um frio na barriga como cólicas se formando em meu abdômen.


Nunca me senti tão triste como hoje, o dia mais especial e feliz da minha vida
se tornou mais um ponto negativo para minha jornada. Me perguntava
quando teria alegrias, estava farta de tantas tristezas.

Poderia suportar tudo nessa vida, menos isso.

Eu sempre amei Enzo, mesmo sem ter tido muito contato com ele. Me
apaixonei pelo o que eu inventei daquele lindo homem alto, magro, com seus
músculos definidos. Todas as minhas colegas de internato diziam que os
irmãos Grego eram uns pecados. Nunca tive olhos para homem nenhum que
não fosse ele. Nunca nem notei a beleza do seu irmão. Para mim, o único que
existia era o meu marido.

Passei anos de minha vida imaginando o dia em que nosso casamento


aconteceria. Sonhava todas as noites com o dia em que ele me tomaria em
seus braços e me faria sua.
Meus sonhos são totalmente diferentes da realidade. Aqui estava eu,
casada com o amor de minha vida, que se encontrava bêbado, que trouxe a
amante para nosso casamento, e que insiste em me tomar a força.

— Enzo, você está bêbado — ela constatou apenas o que eu já sabia. —


Sinto muito, mas hoje você não toca nessa menina.

— A senhora pode fazer tudo mãe, menos me impedir de passar o resto


da noite com a minha mulher.

— Não só posso, como não irei permitir. Vem, Luana, comigo —


ordenou.

— Não, Luana você não vai — Enzo disse arrogante.

Fiquei totalmente perdida. Estava entre a cruz e a espada. De um lado o


meu marido, aquele a quem eu deveria ser fiel e obediente. Do outro, minha
sogra, que nesses anos todos foi como uma mãe para mim. Sempre me
visitando, me levando presentes e me chamando de filha quando eu tanto
precisava dela.

Seria eternamente grata a ela por todas às vezes que foi me visitar no
internato, principalmente pelas vezes em que ela ia nos dias das mães. Seus
gestos eram nobres. Ela teria o meu respeito e minha lealdade para todo
sempre.

Soltei meu braço das mãos fortes do meu marido. Fiquei ao lado da
dona Sandra, que olhava para o filho como se quisesse esganá-lo. Não sei o
que ele fez para deixá-la nesse estado.

Não me atrevia a olhar para o rosto de Enzo, logo não veria nada com
muita clareza. Eu não era cega, mas a noite, sem meus óculos, era difícil ver
alguma coisa nítida.
— Essa é a sua escolha? — perguntou, duro. Nada disse, apenas deixei
que as lágrimas escorressem por meus olhos.

Minha sogra apenas colocou suas mãos em meus ombros, apoiando


minha decisão. Aquilo me fez sentir mais forte, mesmo sabendo que não
poderia fugir desse momento para sempre. Pelo menos por hoje eu havia
ganhado.

— Você fez sua escolha. Não reclame das consequências — disse, indo
para o lado oposto do nosso quarto.

Chorei mais ainda por saber que ele iria se encontrar com ela. Desabei
nos braços de dona Sandra, que fazia carinho nos meus cabelos.

— Venha querida, entre! É mais seguro que durma aqui — disse.

— Ele foi se encontrar com ela — disse, consciente de que nada


poderia fazer.

— Ele tem compromissos amanhã cedo. São quase quatro da manhã,


ele não vai a lugar algum.

— Eu agradeço o convite de dormir com a senhora, mas eu prefiro ir


para o meu quarto... eu tranco a porta. — Ela assentiu minha decisão.

Me joguei na cama e desabei mais ainda no choro quando ouvi o


barulho dele tirando o carro da garagem. Era ele! Não tinha dúvidas.

" — Quando ele se cansar de você, é para mim que voltará — disse
com maldade. — Se bem que... — me olhou com repugnância. — não vai
levar muito tempo para isso acontecer".

Levou menos tempo do que ela mesmo imaginou. Como sempre, eu me


dei mal nessa história. Não nasci para ser feliz!

Na manhã seguinte, tinha despertado cedo, antes mesmo do sol


iluminar todo o quarto. Na verdade, eu não tinha dormido muito bem. Sempre
que acordava, começava a chorar e levava minutos para dormir novamente.

Tinha feito minhas higiene matinal. Um banho com água quente me fez
relaxar mais, como se tivesse levado todo peso em minhas costas.

Sequer cogitei a ideia de descer para tomar café com a família.


Ninguém tinha vindo ver como eu estava durante todo o dia. A única pessoa
na qual eu vi, foi uma empregada que veio me deixar o café da manhã e o
almoço. A pobre coitada, em dúvida, tinha perguntado se deveria levar
minhas roupas para o quarto do meu marido. Para evitar comentários, eu
tinha autorizado que ela levasse todas elas para o quarto dele.

O dia se tornou longo enquanto eu estava deitada nessa cama, sem ter
nada para a fazer além de conversar com Felipe pelo celular. Meu primo tinha
viajado hoje de madrugada. Lamentei por não ter me despedido dele. Sentiria
falta da única pessoa que se importava comigo de verdade, ele era um irmão
de ouro. Meu primo sempre teria seu lugar em meu coração.

Ouvi batidas na porta do meu quarto. Era Anastácia, ela veio me deixar
algumas revistas para me entreter. Pobrezinha, jurava que eu não sabia usar
um aparelho celular, até tentou me ensinar. Ela era divertida e me parecia ser
alguém na qual eu poderia confiar.

No fim da tarde, depois de muita insistência de sua parte, aceitei ir com


ela até o jardim. Algumas voltas fariam bem para expulsar essa tristeza em
meu coração. Sempre que me lembrava das palavras duras daquela mulher,
meu coração se apertava, e minha cunhada tinha percebido isso.
— Meu irmão te fez alguma coisa para você ficar assim? — perguntou,
preocupada.

— Seu irmão é um... — estava preste a xingá-lo quando notei que o


carro chegava em casa.

Desde ontem à noite que ele estava na casa da amante? Isso me fez
sentir muito mais triste. Essa dor nunca iria passar?

Enxuguei minhas lágrimas, e o vi sair do carro vestido em um terno


impecável. Ele havia dobrado as mangas da camiseta branca e segurava a
jaqueta no antebraço. Seus cabelos levemente bagunçados me faziam pensar
que ele gostava de dirigir com o vidro do carro aberto.

Ele tinha uma maleta em mãos. Será que tinha ido a empresa? Fiquei
com vergonha de perguntar alguma coisa para Ana. Ela me deu um sorrisinho
sem graça, olhou para ele e acenou. Ele a ignorou, como se não tivesse visto
nenhuma de nós aqui.

— Que grosso! A síndrome de Enrico Grego já começa a afetar meu


irmão preferido.

Enzo caminhou em direção a entrada da casa, e nem ao menos olhou


para trás. Anastácia franziu o cenho de maneira sutil.

— O que está esperando para ir dar uns beijinhos nele? — perguntou,


animada.

Convenhamos que a última coisa que ele vai querer nesse momento
serão os meu beijos, e aposto que ela sabia disso mais do que eu.

— Me conta uma coisa. Como foi a primeira vez de vocês? —


perguntou, animada. — Não quero invadir a privacidade de vocês, e muito
menos imaginar meu irmão transando — disse fazendo careta. Ela era
divertida! Podíamos ser amigas. — Mas me diz, doeu? — perguntou, com
receio.

— Você por acaso não está pensando em...

— Claro que não — ela arregalou os olhos. — Já cometi a loucura de


terminar meu noivado, não posso correr o risco de cometer duas loucuras
perto uma da outra.

Essa foi a primeira vez que ri depois de ter chegado nessa casa. Minha
cunhada era corajosa! Todos a descreviam como uma menina mimada,
acostumada a ter tudo na hora que quer, mas eu não a via assim. Para mim,
seu ato de desfazer seu noivo faltando pouco tempo para o seu casamento, me
fez pensar no quanto eu deveria agir mais como ela. Ter personalidade. Eu
sempre encarava tudo o que as pessoas me diziam com a cabeça baixa.
Anastácia não era assim, ela até cursava faculdade. Meu sonho poder fazer
algum dia.

Me senti aliviada por ela não ter insistido mais no assunto da minha
primeira vez, até porque eu não saberia nem o que responder.

Me tranquei novamente em meu quarto. Tomei banho e vesti uma dos


meus baby-dolls preferidos, com estampas de ursinhos.

A comida não tinha sabor para mim. Tudo o que eu desejava era poder
me entregar a minha dor, colocar para fora tudo o que estava me machucando
nesse momento. Estava tão concentrada com a minha dor que nem ao menos
ouvi as batidas na porta de meu quarto.

Só podia ser Anastácia. Ela era a única que vinha até aqui e sempre
batia na porta. Procurei as chaves em meu criado mudo, sem meus óculos
ficava difícil encontrar alguma coisa. Caminhei até a porta, fiz várias
tentativas para abri-la, até conseguir derrubar a chave no chão.

— Merda! — O palavrão escapou sem que eu nem percebesse. Fui


criada por freiras, era terminantemente proibido falar palavrões.

Peguei a chave no chão e finalmente consegui abrir a porta.

— Desculpa a demora, não estava conseguindo encaixar a chave no...


— parei de falar quando vi quem era.

Tentei fechar a porta novamente, mas ele era forte e não me deixou
completar meu ato. Me afastei dele como se tivesse levado um choque.
Caminhei até o centro do quarto, cruzando meus braços na defensiva.

Notei o perfume forte que ele usava. Tinha acabado de tomar banho, os
cabelos ainda estavam molhados. Uau! Ele estava deslumbrante em uma
calça de moletom e uma camisa de manga comprida, que desenhavam seus
braços definidos.

Quase babei... não, eu babei mesmo!

— O que você quer? — perguntei, quebrado o silêncio que reinava no


quarto.

Me assustei quando ele fechou a porta. Aposto que nesse momento


parecia uma criança amedrontada. Era assim que me sentia. Aqueles olhos
escuros me encaravam, sua confiança sempre era a mesma.

Putz grilos... Estava totalmente prendida naquele olhar sedutor que ele
tinha de maneira natural.

— Precisamos conversar — disse firme.


CAPÍTULO 10

ENZO GREGO

IRRITADO. ESSA ERA A palavra que me definia neste exato


momento. Estava cansado de minha mãe sempre se intrometer na minha vida,
tomando decisões em meu lugar.

Tinha passado a noite dirigindo pela cidade, pensando na audácia de


Luana ao negar ser minha esposa. A infeliz estava me saindo problemática
para quem era uma donzela apaixonada.

Sou um homem experiente, tenho relação sexual desde os meus


quatorze anos, quando meu pai me deu de presente de aniversário minha
primeira transa. Não esperava que ele fosse me dar uma prostituta para me
ensinar a transar.

Na época, eu era um moleque, estava nervoso e com medo de não


conseguir comer aquela mulher. Ela já era experiente e soube contornar
aquela situação direitinho. Fiquei com ela por mais de um ano, até meu pai
matá-la, sem apresentar motivo algum. Vanessa tinha me preparado para o
sexo. O rosto dela era lindo e inocente, aquilo me encantou. Tinha me
apaixonado por ela, talvez esse tenha sido o motivo da sua morte repentina.

Nunca, em toda a minha vida, mulher alguma tinha se negado a ir para


a cama comigo. Confesso que ouvir da boca dela que não queria transar
comigo me afetou.

Luana era a mulher mais feia de todo o planeta terra, e ainda sim, tinha
a capacidade de se negar a mim.
Maldita hora que disse sim para o padre. Minha esposa estava
merecendo um castigo por ser tão ignorante ao ponto de não cumprir com
suas obrigações de esposa. Que tipo de Capô eu sou? Aquele que nem
conseguiu levar para cama a mulher mais insignificante do mundo! O que
diriam de mim se soubessem dessa minha incapacidade? Minha mãe era a
única culpada por tudo isso!

Antes de ir para a grande reunião do conselho, para mostrar a droga de


um lençol sujo de sangue, na qual eu não tinha, passei em casa para tomar
banho e trocar de roupa. Estava abatido, meu olhar entregava meu cansaço.
Meu quarto era um cômodo iluminado e cheio de cores, não era como os
demais de minha família. As demais cores existiam na minha vida.

Luana certamente tinha dormido com minha mãe, ou naquele quarto de


hóspedes. Sai do banho enrolado na toalha para me trocar, quando minha mãe
entrou em meu quarto segurando algo em mãos que eu não me importei em
prestar atenção.

— Não posso conversar. Estou de saída para o Conselho.

— Não pode ir sem levar a prova da consumação do casamento.

— Você é muito engraçada mãe — entrei no meu closet.

Ela fazia isso para me irritar. Que prova levaria? Minha esposa para
transar na frente de todos?

— Providenciei tudo para que não seja humilhado no conselho — me


entregou um lençol branco que estava dobrado. — Aqui está o que precisa
mostrar! Aja como se tudo tivesse acontecido naturalmente. Essa noite
poderá consumar seu casamento.

— Devo agradecer a senhora?


— Se soubesse agir como um homem de verdade, não estaria passando
por momentos como esse.

— A senhora me privou de cumprir com minhas obrigações de marido,


ajudando minha esposa a fugir de mim! Se o conselho soubesse que ela
dormiu com a senhora, seria motivo de piada, toda nossa familia!

— Luana não dormiu comigo — ergui uma sobrancelha. — Se não


tivesse ido encontrar com sua amante, teria percebido que ela dormiu no
quarto dela.

— Não me arrependo de ter passado algumas horas com Helena —


disse confiante. Queria que Luana sentisse a dor da humilhação. Mesmo que
eu não tivesse ido encontrar com ela, minha adorável esposa não precisava
saber de nada. Queria apenas que ela sentisse a dor já rejeição!

— Que diabos deu em você para trazer sua amante para festa de
casamento?

— Estou atrasado mãe, me deixe me trocar!

— Quero que durma em casa essa noite! — Aquilo não foi um pedido,
e sim uma ordem.

Sem mais delongas, me troquei e fui para o maldito conselho. Enrico


estava lá conversando com alguns membros quando eu cheguei. Encarei
olhares de satisfação, agora que era casado, seria mais respeitado.

— Pensei que não vinha mais, irmão. — Enrico colocou a mão sobre
meu ombro.

— Estava cansado — me limitei a dizer mais alguma coisa.

Durante a reunião do conselho, abri o lençol machado de sangue para


mostrar aos demais homens, que aplaudiram como se estivessem venerando
um Deus presente na terra. Discutimos algumas coisas sobre os caminhões
que iríamos transportar para o Sul da França e para o Oeste do Reino Unido.

Ignorei todas as chamadas perdidas de Helena. Ela não iria me ver por
uns bons dias. Estava irritado com ela por sua atitude infantil de importunar
minha esposa com suas paranoias.

Amantes não tem o direito de querer mandar na vida dos homens.


Mostraria isso da pior maneira possível para ela. Se antes ela pensou que
podia me ter a todo instante, agora ela nem ao menos chegaria perto de mim.
Proibi sua entrada na empresa caso ela tentasse ir me procurar aqui. Ela não
podia ir em minha casa, e muito menos me importunar em algum lugar
público. Meus seguranças não a deixariam tocar em mim.

Passei à tarde na empresa resolvendo assuntos de suma importância.


Não deveria pensar nela e na sua dor, mas ela tinha razão, eu nunca me
importei de saber como estava naquele lugar. Minha mãe me aconselhou
algumas vezes a permitir que ela morasse em nosso país, assim teríamos mais
contato. Luana para mim nunca significou nada, um bom acordo e nada mais
além disso.

Nosso casamento era vantajoso para mim e para minha família. Minha
esposa tinha um patrimônio equivalente a dois bilhões de euros. Tudo isso
agora me pertencia, minha única obrigação com ela era não permitir que lhe
faltasse nada.

Depois que seus pais morreram, foram poucas as vezes em que a


procurei para dizer alguma palavra de conforto. Não sou bom com essas
coisas de mulherzinha, não sei abraçar alguém e dizer que a dor vai passar.
Eu sei causar dor! E como sei.

Tudo o que eu mais queria era poder chegar em casa, tomar banho e
poder dormir, mas teria que ter uma conversa séria com minha esposa. Dirigi
até em casa, estava exausto. Estacionei no jardim e pude notar que ela
passeava com Ana no jardim. As duas me pareciam ótimas amigas, minha
irmã tinha um carisma que todos os Gregos tinham, a única diferença era que
ela não queria agir como uma.

As duas caminhavam lado a lado, quando Luana me encarou com um


semblante abatido. Ela fingiu não ter me visto. Ignorei a presença das duas,
até mesmo quando acenaram.

Tomei um banho quente para espantar um pouco do frio que fazia.


Vesti uma camisa de tecido para o frio, e uma calça moletom. Engoli todo
meu ego indo até o quarto dela. Estava casado e essa situação não podia
continuar assim, não podíamos dormir em quartos separados. O que o
Conselho diria de mim?

Bati na porta e ouvi sua voz animada do outro lado como se estivesse
contando algo para alguém, era para Anastácia, ouvi quando ela disse o nome
da minha irmã. Sua voz era doce e ao mesmo tempo carinhosa, uma voz,
digamos que, manhosa.

Quando ela abriu a porta, e pode constar que não era minha irmã, seu
sorriso desapareceu por completo. Ela ficou branca como papel, como se
estivesse vendo um fantasma.

— O que você quer? — perguntou, amedrontada.

Seus olhos sondavam os meus de maneira intrigante. Ela tinha olhos


bonitos quando não estavam usando aqueles óculos horrorosos.

— Precisamos conversar. — disse firme.

Fechei a porta logo atrás de mim, e ela caminhou até o centro do


quarto, como se estivesse com medo de que a atacasse. Pobre garota inocente,
se soubesse dos meus sentimentos de repugnância contra ela, não pensaria
essas bobagens.

— Sobre o que quer conversar? — perguntou, procurando aquele


óculos em cima da mesa da cabeceira. Ela não tinha a visão perfeita. Passou
as mãos por cima dele como se não conseguisse enxergar bem, e ela
realmente não enxergava. Quando o encontrou, colocou no rosto e voltou a
me encarar.

— Nunca pensou em fazer uma cirurgia? — perguntei, curioso.

— Não — disse mordendo os lábios.

— Deveria. Conheço um ótimo especialista. Se quiser, marco para você


ainda esse mês.

— Vou pensar sobre o assunto — ela franziu o cenho. — Acho que não
veio aqui para falar sobre isso.

— Tem razão — disse, enquanto estava sentada.

Observei a pequena bagunça em cima da sua cama. Me aproximei


quando algo me chamou atenção. Era uma agenda cor de rosa, onde tinha
uma foto nossa colada no verso da capa. Sorri ao encarar aquela foto.

— Ainda tem essa foto?

— Gosto de guardar boas recordações — deu de ombros.


Essa foto foi tirada em um momento engraçado da minha vida. Tinha
dezenove anos, e na época, era um moleque que só pensava em aprontar com
meus irmãos. A foto foi tirada na casa dela em Paris, em um banco onde ela
costumava se balançar. Nesse dia, aprontei uma para Anastácia cair, mas por
fim, quem acabou se machucando foi Luana.

Encarei seu braço magro e pude notar que ela ainda carregava a cicatriz
com ela.

— Sinto muito por esse dia.

— Nem doeu tanto assim. Há coisas na vida que doeram muito mais...
— Ela não completou a frase. Sabia que estava se referindo a mim. — Será
que você poderia adiantar o assunto da nossa conversa? Eu estou com sono.

Coloquei a agenda sobre a cama, olhei a hora no meu relógio de pulso,


sempre gostei de andar com um, para nunca me perder na hora.
Perfeccionista!

— Não é hora de dormir...

— Sempre dormia antes das dez. Regras do internato.

— É verdade. Será que podemos conversar em um lugar mais


tranquilo?

— Mais tranquilo que aqui? — perguntou, nervosa.

— Meu quarto.

Ela arregalou os olhos. Senti vontade de rir da sua reação. Ela tinha
medo de ficar sozinha comigo? Para quem era perdidamente apaixonada, me
senti como um leão admirando sua presa.

— Não vamos fazer nada que não queira. Só quero conversar. Eu


prometo.

Ela não teve escolhas. Consegui convencer minha esposa de que era
melhor conversamos em nosso quarto. Ela tinha receio de entrar nele quarto,
era engraçado vê-la nervosa. A fiz sentar na cama, para poder sentir toda a
sua maciez. Peguei uma cadeira e me sentei de frente para ela.

Suas mãos estavam unidas uma na outra, em uma tentativa de tentar


controlar seu nervosismo.

— Luana, vou ser sincero com você. Não gostei de sua atitude ontem à
noite — ela me encarava sem jeito. — Uma esposa deve ser obediência ao
seu marido, e você não se portou como deveria.

— Fiquei magoada com você — disse com um olhar triste.

O pijama dela era engraçado. Parecia uma menina, em todos os


sentidos.

— Não precisa sentir ciúmes daquela mulher. Ela não significa nada
para mim — segurei sua mão. — Ela não é a minha esposa, e nunca será.

Tentava transparecer sinceridade em minhas palavras, afinal de contas,


ela foi criada em um internato de freiras, aprendeu que deve respeitar o
marido, e sempre dar uma chance para o nosso casamento. Essa era minha
vantagem sobre ela.

— O que você espera de mim?

— Que aja naturalmente, como se estivéssemos recém-casados, assim


como realmente estamos. Sei que sou um idiota, que eu não a mereço, mas
também não sou nenhum estuprador, se é isso que está imaginado — ela
sorriu de lado. — O que me diz de fazermos um acordo que beneficie ambas
as partes?
— O que você me sugere?

— Quero que durma no meu quarto. Somos casados! Precisamos evitar


comentários — ela assentiu. — Ninguém pode saber que nosso casamento
ainda não foi consumado, nem mesmo minha mãe pode saber.

— Eu não sei mentir, Enzo...

— Será preciso que diga isso, a menos que queira que eu a tome para
mim agora?

Ela engoliu em seco, buscava o pouco de ar que ainda tinha. Sorri com
aquilo.

— O que preciso dizer?

— Que essa noite dormimos juntos, como marido e mulher.

— Tudo bem.

— Como lhe disse, não irei forçá-la a nada. Esperarei o tempo que for
para que seja minha. Só não demore muito, porque eu quero ter um filho o
quanto antes — ela sorriu sem jeito. Tudo seria questão de tempo para tornar
ela minha submissa. Foi para isso que ela foi criada. — Amanhã a empregada
irá trazer suas coisas para cá. Pode escolher o lado da cama que preferir
dormir. Agora vamos jantar? Ainda não jantei e gostaria de ter companhia.

— Já trouxeram minhas roupas. Mais cedo.

— Melhor ainda.

Fomos para a sala de jantar. Todos já haviam feito a refeição, ficamos à


vontade, apenas nos dois. Iniciamos nosso primeiro diálogo como casal.
Descobri coisas sobre ela que nem imaginava que fosse capaz de fazer.
Estava satisfeito por hoje. Amanhã, já seria outro dia, novas
oportunidades.
CAPÍTULO 11

LUANA GREGO

MEU MARIDO NÃO TINHA o direito de exigir que eu fosse para


ele algo que ele jamais seria para mim, mesmo sabendo que Enzo tinha razão.
Sabia meu papel na máfia, que era ser fiel ao meu marido e sempre obedecê-
lo em todos os sentidos da minha vida.

Mas como suportar a ideia de que ele tem outra? Saber que todas os
dias ele estará com ela e depois vira para casa, era horrível. Minha primeira
semana de casados se resumiu nisso. Como dormimos juntos no mesmo
quarto, eu sabia exatamente qual o horário que ele chegava em casa.

Tarde como sempre! E com perfume de mulher.

Lágrimas rolavam pelo meu rosto. Era doloroso essa situação e eu não
poderia fazer nada, tinha que aceitar meu destino. Sozinha no mundo, minha
única família agora era a família Grego. Meu primo nada podia fazer por
mim.

Sou mulher, e não tenho o direito de exigir uma separação. Passei anos
imaginando como seria minha vida de casada, e em todos os meus sonhos,
jamais pude supor que ele teria amantes, e que amava uma delas mais que
todas as demais.

Enzo não merecia o meu amor, e eu sabia disso. Não era tão submissa
como ele desejava que fosse.

Me sentia útil quando ele aceitava minha ajuda para resolver problemas
de contabilidade. Era boa com cálculos, sempre tirei notas altíssimas.
— Caramba! Se pelo menos Enrico estivesse aqui para me ajudar —
reclamava enquanto eu organizava alguns papéis em cima da mesa. Ele
estava sentado na cadeira da mesa do escritório, que tem em casa. — Não que
sua ajuda não seja útil para mim.

— Entendo.

Continuei o que estava fazendo. Quando seu celular começou a tocar,


ele olhou para o aparelho e desligou a chamada. Era ela! Fingi que não tinha
nem notado o toque do celular. Foquei-me nas folhas em minhas mãos. Tinha
algo de errado quando relacionaram a espessura das terras que ele estava
negociando com os Holandeses.

— Acho que esse cálculo está errado — entreguei a folha para ele.

— Inferno! — disse irritado. — Definitivamente cabeças irão rolar. Não


pago aqueles imbecis para cometerem erros.

Olhei incrédula para ele. Enzo falava sério ao dizer que cabeças iriam
rolar. Não soube conter meu espanto diante do seu comunicado um tanto
peculiar.

— Algum problema? — me questionou.

— Não — disse, fingindo estar tranquila. — Vou tomar água, você


quer?

— Por favor.

Peguei água na cozinha e pude respirar aliviada. Ficar na mesma sala


que ele era agonizante, ver toda aquela beleza esplendida concentrada no
trabalho era maldade. Deus! Que lábios eram aqueles. Ele os mordia a todo
instante, enquanto quebrava a cabeça com os malditos cálculos.
Entendo que toda mulher queira se jogar em seus braços. Ontem à
noite, quando ele saiu do banho, não se importou em me mostrar como seu
corpo ficava perfeito molhado. Ele usava apenas uma cueca box branca, que
se adequava perfeitamente no lindo corpo magro com músculos torneados.
Minha vontade era de me tornar sua mulher e poder dizer que eu era a mulher
mais sortuda do mundo. Mas não podia. Eu era a esposa, mas jamais seria seu
amor.

Levei seu copo de água para o escritório, e quando parei na porta, o


ouvi dizer algo no celular.

— Amanhã não dá. Estarei ocupado — pausou. — Na sexta prometo


que irei te ver, sem falta.

Ele parou de falar ao notar minha presença no ambiente. Coloquei o


copo sobre a mesa e voltei para o meu lugar, analisei os papéis até tarde da
noite quando fui dormir.

Na manhã seguinte, estávamos todos tomando café na mesa de jantar.


Dona Sandra dizia algo para Enrico que tinha voltado de viagem hoje pela
madrugada. Prestava atenção apenas em meu prato com torradas e geleias.

Desde ontem não parava de pensar que meu marido estava marcando
um encontro com uma mulher, que apostava ser Helena. Aquilo me doia por
dentro, ao ponto de querer chorar ali na frente de todos. Mas antes que isso
pudesse acontecer, pedi licença e me retirei.

Corri de volta para o meu quarto, deixando todos sem entender minha
reação. Deitei minha cabeça sobre meu travesseiro macio com plumas, meu
rosto esquentava com as lágrimas que insistiam em sair contra minha
vontade.
Meu peito se apertava, meu coração batia mais forte que uma moto. Sei
que ele não sabe de mim, mas ainda irei contar sobre meu amor.

O restante da manhã passei trancada no meu quarto. Quando ouvi


batidas na porta, ignorei e fingi que estava dormindo, mesmo assim vi
quando dona Sandra entrou em meu quarto. Me sentei na cama. Esperava que
ela não tivesse vindo reclamar de meu comportamento de hoje de manhã.

— Como se sente?

— Bem...

— Vim convidar você para irmos ao shopping. Não comprou nada


desde que chegou aqui.

— Obrigado pelo convite, mas...

— Te espero lá embaixo.

No final, tive que aceitar seu convite.

Não tinha o costume de passear em shoppings. Minhas roupas sempre


foram compradas por catálogos de revistas ou por alguém que meu primo
contratava para fazer isso por mim. Nunca tive vaidade na vida, não achava
necessário, até perceber que eu estava lutando contra uma mulher linda e
produzida como aquela meretriz era.

— Dona Sandra, o que a senhora acha de me ajudar com alguns


vestidos... Bem, algo mais... que não se pareça tanto comigo.

Ela sorriu satisfeita.

— Vamos, querida. Tenho algo em mente para te deixar muito bonita.

Ao todo foram dez vestidos novos, ambos pouco centímetros acima dos
joelhos. Nunca fui de usar nada provocante, e não seria agora que faria isso.
Se Enzo quisesse me notar, teria que ser pelo que eu sou interiormente, e não
fisicamente. Esperava não estar errada. Meu coração se enxia de esperanças
quando imaginava a possiblidade de um dia ter sua atenção para mim.

Foi uma tarde divertida comprando coisas pessoalmente. Agora


entendo o porquê de minhas colegas sempre gostarem de irem ao shopping
quando iam visitar suas famílias nas férias. Se eu algum dia precisasse de um
emprego, gostaria ser como essas vendedoras que sempre passavam
motivações para pessoas como eu, que não tinham muita beleza.

Me divertia com os comentários picantes que minha sogra dava na hora


que estava comprando lingerie.

— Esse daqui vai deixar meu filho de quatro por você. Ela vai levar
esse — comunicou a vendedora.

Tudo o que eu fazia era rir. Dona Sandra era uma mulher de
personalidade forte, e ao mesmo tempo conseguia ser engraçada quando
queria.

Meu sorriso morreu no instante em que vi aquela mulher passeando


enquanto levava algumas sacolas de compras em mãos. Um homem, que me
parecia ser um segurança, vinha logo atrás dela. Eu conhecia aquele logotipo,
era o símbolo da família Grego estampado no bolso do terno daquele homem.
Todos os funcionários têm esse logotipo no peito.

A observei caminhar com aqueles saltos gigantescos. Ela usava um


óculos escuro da marca famosa que todos sonham em ter, um vestido curto
que marcava suas curvas.

Fiquei chocada ao ver que meu marido pagava um segurança para


vigiar sua amante preferida. Não consegui conter algumas lágrimas que
insistiram em vir. Enxuguei antes mesmo que alguém ao meu redor pudesse
notar, mas minha sogra percebeu.

— O que houve, minha querida?

Não disse nada, apenas acompanhei com o olhar a mulher passar


próximo da loja em que estávamos. Através do vidro, podia-se notar que ela
tinha muita confiança ao caminhar, e ao falar no celular principalmente.

— É ela? — minha sogra perguntou, e eu apenas confirmei. — Está na


hora de voltar para casa.

Chegamos na mansão e Lia arrumou as compras no closet.

Lia era minha empregada particular. Ela tinha em média vinte e quatro
anos, era mais velha do eu. Algumas vezes ela vinha e arrumava meu closet.
Não tínhamos diálogo. Gostaria que ela me dirigisse a palavra, mas isso
nunca acontecia.

— Precisa de mais alguma coisa, senhora?

— De alguém que me escute — disse, mais para mim do que para ela.

— Sinto muito, senhora. Sou apenas a empregada. Não tenho


autorização para falar nada com a senhora. São ordens do seu marido.

Por que Enzo proibiria algo assim? Será que ele tem preconceito com
pessoas de classe inferior à nossa? Essa era a reposta mais óbvia.

Hoje foi uma daquelas noites em que ele chegava tarde e com o
perfume de outra mulher. Sempre que ele adormecia, eu me levantava para ir
chorar no banheiro. Estava ficando com o rosto fundo, com olheiras em meu
rosto.
Eu mesmo me desprezava por agir dessa maneira. Ele não merecia uma
lágrima sequer minha! Mas a gente não escolhe por quem se apaixona, e
ainda mais quando sua única opção em toda sua vida sempre foi apenas um
homem. É uma pena que tenha que ser assim.

Tudo piorava ainda mais com a chegada da data do aniversário de


morte de meus pais. Malditos pneus de carros que estouraram. Se pelo menos
minha mãe estivesse aqui comigo para me abraçar... Esse seria o primeiro ano
que não iria visitar os túmulos deles.

Essa manhã antes de sair para empresa, ouvi ele falar no celular com
ela novamente, tinha prometido para mim mesmo que não iria mais chorar
por ele, mas sempre que me dava conta, estava enxugando alguma lágrima.

Derrotada, cansada, desanimada e completamente triste. Esse dia


sempre me deixava assim! Despertava chorando, passava o dia todo
chorando, e antes de dormir, chorava também.

Mandei que Felipe comprasse um lindo arranjo de flores para levar para
o túmulo de meus pais. Sempre fazia orações durante esse dia para que eles
estivessem em paz. Preferia ficar sozinha em meu quarto afogando as
lágrimas.

A única pessoa que me conseguiu tirar daqui foi Sandra. Ela se


importava comigo mais do que qualquer outra pessoa nessa casa. Às vezes
me sentia uma estranha cercada por decoradores do medo. Essa mansão
sempre era escura. O lugar mais iluminado era o meu quarto, e eu não
gostava de ficar nele.

Estava passeando pelo jardim com minha sogra, ela falava de minha
mãe e no quanto elas eram amigas. Soube que estudaram juntas durante cinco
anos, mas foram separadas para ambas se casarem com seus respectivos
maridos.

Mais um motivo para meu casamento com Enzo ter se realizado.


Amizade entre famílias.

Em um determinado momento, ela precisou voltar para casa para


atender uma ligação importante. Fiquei sozinha no jardim, quando notei que
mais à frente tinha um enorme portão de ferro com grades largas onde estava
escrito Dark Hill.

O significado era assustador. Por que eles teriam algo assim em casa?
Me parecia ser uma grande área de floresta escura como o próprio nome
dizia. Me aproximei com cuidado para observar do que se tratava.

— O que faz aqui? — dei um grito quando ouvi a voz dele atrás de
mim.

O que fazia em casa a essa hora? Meu coração só faltava sair pela boca.
Ele era sorrateiro, nem ao menos tinha ouvido seus passos atrás de mim.

Putz!

— Não queria assustá-la — disse, colocando as mãos nos bolsos da


calça jeans. Ele não estava de terno. Ele estava lindo! Quase babei, ainda bem
que lembrei de parar a tempo dele perceber. — Dark Hill é proibido para
você.

— Eu não iria entrar...

Mentira! Teria entrado se ele não tivesse chegado.

— O que faz aqui?


— Ãn? Ah, nada! Eu estava passeando quando esse lugar me chamou
atenção. O que é?

Perguntei, na esperança dele falar algo útil para me tirar essa grande
curiosidade. Minha curiosidade ainda me deixaria em maus lençóis.

— Um lugar proibido. — Ele só sabia me dizer isso? — Você não vai


gostar de saber.

— Aconteceu alguma coisa para você ter chegado mais cedo?

Ele franziu o cenho, fez isso de maneira tão linda. Na verdade, nada
nele o deixava feio.

— Resolvi passar a tarde com minha esposa. Não posso?

— Se for pelos meus pais, eu prefiro ficar sozinha.

— Não prefere não. Eu também perdi meu pai, e isso me dói até hoje.
Sempre dizia para mim mesmo que o melhor era ficar sozinho, mas nunca
era. — Ele estava desabafando comigo? — Um dia espero que consiga
superar essa perda.

Ele estendeu os braços para mim, e eu o abracei. Senti todo o seu


perfume amadeirado meu confortar em braços quentes. Por quê, Enzo, você
consegue ser malditamente atencioso e compreensivo quando eu menos
preciso ser iludida?
CAPÍTULO 12

LUANA GREGO

ENZO TINHA PASSADO TODA aquela tarde ao meu lado. Fomos


para o nosso quarto, e lá conversamos sobre nossa infância. Ele me disse
como gostava de irritar os irmãos, e eu sabia disso mais do que ninguém.
Carregava em meu braço a cicatriz feita por ele em uma de suas travessuras
com seus irmãos.

Não tinha muito contato com Enrico Grego, mas sempre despertava no
meio da noite para beber água e o encontrava sozinho em seu escritório,
ouvindo música italiana e bebendo champanhe. Aquele homem amava sua
esposa! Soube do que aconteceu com eles por causa de Anastácia, que nunca
me escondia nada. Tinha vontade de dizer para ele lutar por ela, mas não
queria ser intrometida a tal ponto.

Em umas das conferências que fui acompanhar meu marido na semana


passada, ouvi murmúrios sobre o fim do casamento de meu cunhado com
Giovana. Alguma coisa por ela ser filha do Guido.

Achei melhor sair em defesa da minha nova família.

— Se ele está solteiro, deveria olhar para mim — uma das três
mulheres que conversavam no banheiro disse.

— Ou para mim — disse a loira sem sal que estava de olho no meu
marido desde o momento em que havíamos chegado.

— Sinto muito informar, meninas, mas meu cunhado continua casado,


e bem casado. Giovana está afastada por causa da doença — optei por
continuar com essa mentira. — Logo ela estará de volta.

Uma delas me olhou sem satisfação alguma pela minha presença. As


outras duas ficaram tristes com minha informação. Nem sei por que disse que
ela voltaria logo, eu apenas senti que isso um dia iria acontecer, afinal de
contas, os dois se amavam.

— Isso sim é uma péssima notícia — a que me encarava disse.

Não dei mais atenção a elas e sai do banheiro. Estava quase voltando
para a sala de recepção quando lembrei de ter esquecido minha bolsa no
banheiro. Voltei e as ouvi rirem de mim e da maneira como eu me vestia.

— Em qual circo Enzo foi buscar essa maltrapilha? — a loira disse. —


Eu sou muito mais bonita e tudo o que ele fez foi me comer uma única vez.

Sabia que ela tinha tido algo com ele! Infelizes. Onde quer que eu vá,
sempre terá alguma mulher que ele já teve relações sexuais.

— Me diz uma coisa, os irmãos Grego não são bons com escolhas.
Enzo principalmente. Aquela sua esposa é horrível. Se eu fosse ele, sentiria
vergonha de sair com ela.

As três riram. Me escondi quando elas saíram do banheiro e então pude


chorar ao ouvir aquelas difamações contra minha falta de beleza. Que culpa
eu tinha se não era como elas? Eu sei que, lá no fundo, meu marido sente
vergonha de sair comigo. Eu mais pareço uma maluca do que a sua esposa.

Aquela noite foi bastante desagradável, não apenas por causa das três
mulheres que conversavam no banheiro, e sim pelo fato do meu marido ter
demonstrado interesse na mesma mulher que disse ter passado uma noite com
ele. Me segurei para não esbofetear os dois.

Enzo era o tipo de marido que não me deixava faltar nada. Eu tinha
casa confortável, cartões ilimitados, motorista a minha disposição. Menos o
mais importante: o amor. Eu daria minha vida para ter um pouco de sua
atenção.

Em frente à penteadeira, distraída com meus pensamentos, não ouvi


quando ele me perguntou algo.

— Perdão. O que disse? — encarei aquela bela imagem dele vestindo


uma camiseta branca.

— Que não sei que horas irei voltar da reunião. Não me espere para o
jantar.

— Ok. Essa noite irei sair com Anastácia — afirmei pela primeira vez.
— Se importa?

Ele franziu o cenho. Obviamente ele sabia a irmã maluquinha que


tinha, mas apesar de tudo, éramos boas amigas. Iríamos sair apenas para ver
um filme e depois fazer algum lanche.

Sei que para uma mulher da máfia é feio esse tipo de comportamento.
Se bem que mais feio era ele ter um amante!

— Tem minha permissão para sair quando quiser — disse, sorrindo.

Ele nunca se importava comigo mesmo, não sei nem porque perguntei.

— Tenha um bom dia... — disse, sem empolgação. No final ele saiu


sem nem ao menos me dar um tchau ou um beijo no rosto.

Anastácia era mesmo uma menina maluquinha, estava nesse momento


fazendo uma maquiagem em meu rosto. Tinha certeza de que estaria
parecendo uma palhaça como no dia da conferência em que fui com meu
marido.

— Não vai mesmo permitir que eu tire suas sobrancelhas?

— Não, estou bem assim.

Ela deu de ombros e voltou a se concentrar na minha maquiagem. No


final, não tinha ficado tão ruim assim. Não sentia que era eu nessa produção
toda. Tudo isso para ir a um cinema? Era ridículo. Estava prestes a tirar
quando ela me impediu e me ameaçou caso eu tirasse sua obra de arte.

No fim das contas estavamos no cinema. Tinha conhecido Thiago, o


cara por quem Ana tinha enfrentado a família. Ele era um rapaz bonito de
quase um metro e sessenta de altura. Era magro como meu marido, a
diferença era que Enzo era mais forte.

O filme escolhido foi: Os parças. Era um filme brasileiro com um


youtuber muita famoso. Demos boas risadas com tudo que foi mostrado. A
sensação de ver tudo isso em uma tela grande era magnífico.

Confesso que senti ciúmes em ver minha cunhada no escurinho do


cinema namorado, algo que eu nunca iria ter com meu esposo.

— E aí Luana, gostou do filme? — Thiago perguntou enquanto dava


uns beijos em Ana na saida do cinema.

O beijo era lindo, e muito apaixonado!

— Foi legal — sorri, sem jeito.

Era estranho sair em companhia de um outro homem que não fosse


Enzo, ou meu primo. Na lanchonete, pedimos hambúrguer e refrigerante.
Thiago respondia mensagens no celular preocupado, pediu licença para
atender uma ligação.

— Ele parecia preocupado.

— Não deve ser nada demais. Agora me conte, como você está? Me
parece um pouco triste.

— Gostaria que seu irmão estivesse me beijando na saida do cinema —


confessei, tendo noção de que estava vermelha como pimentão.

— Tenho certeza de que um dia, se você pedir com jeitinho, ele vem
com você — piscou para mim.

Thiago voltou para à mesa avisando que seu amigo estava tendo
problemas em uma balada aqui perto. Pelo o que eu entendi, foi uma
confusão entre bêbados, e agora ele estava em apuros e precisando da ajuda
de alguém como Thiago, que além de fazer parte de uma máfia importante de
família renomada, tinha seus conhecimentos para tirá-lo do apuro.

— Você precisa vir com a gente, Luana. Não posso chegar em casa
depois de você — Ana pediu, nervosa.

— Tudo bem. Espero que possamos resolver isso rapidamente.

Não tinha convicção de que isso era uma boa ideia. Preferia ficar
esperando-os do lado de fora do carro, mas não foi possível graças a minha
cunhada que não sabe fazer nada diferente do seu jeito. Esse era o mal da
família Grego! Eles sempre querem tudo no tempo deles.

O local estava lotado, entramos sem nenhuma dificuldade. Esbarramos


em algumas pessoas. O som da música era muito alto. Como as pessoas
conseguiam conversar em meio a esse barulho?

Colocava as minhas mãos sobre meus ouvidos para não enlouquecer


com aquele barulho horrível. Acabei esbarrando em um homem que me
olhou um tanto diferente, suas mãos tocaram na minha cintura, me puxando
para junto do seu corpo musculoso.

Dei um grito quando suas mãos tocaram meu pescoço. Ele disse algo
em meu ouvido, me fazendo sentir nojo. Thiago tentou me ajudar, mas o
homem o empurrou, fazendo com que machucasse seu braço. Ana correu
para ajudar o namorado, esquecendo totalmente de mim.

— Que tal uma dança, gatinha? — disse, praticamente gritando em meu


ouvido.

— Me solta — disse, tentando me soltar. Mas ele era muito forte.

Putz! Estava me sentido sufocada com toda aquela música alta, aquele
homem me prendendo contra seu corpo. Queria chorar porque ele estava
passando suas mãos pela minha cintura, e apertando minha coxa. Tentei
empurrá-lo por diversas vezes, em vão.

O homem tinha os olhos incrivelmente azuis como os do meu marido, a


única diferença era que não eram os deles, e por esse motivo, ele não podia
me tocar.

Gritei alto, mas ninguém me ouvia.

Thiago ainda atentou me ajudar mais uma vez, tudo em vão. De


repente, a música parou de tocar e o barulho de um tiro foi ouvido. As
pessoas correram se afastando de nós, o homem levou um soco no rosto do
meu marido.

Enzo estava aqui! E a conferência? Era em uma balada?

Fiquei assustada quando todos saíram correndo, fazendo barulho. Me


assustei ao ver Enzo segurando uma arma.
Meu Deus! O que ele estava preste a fazer?
CAPÍTULO 13

ENZO GREGO

ÓDIO ME CONSUMIU quando avistei ao longe minha mulher sendo


agarrada por um homem que estava louco para morrer. Me aproximei deles,
ordenei que um dos meus homens parassem a música, e sem me importar
com mais nada, atirei para cima fazendo com que as pessoas saíssem
correndo.

Luana tinha lágrimas escorrendo pelo rosto, ela estava apavorada com a
situação, provavelmente por me ver apontando uma arma para a cabeça de
um idiota.

O que diabos ela estava fazendo aqui?

Me certifiquei de que todas aquelas pessoas tinham ido embora, meus


homens se aproximaram levantando o cara do chão, o rosto dele banhava em
sangue. Infeliz! Iria me pagar por tudo.

Anastácia estava ao lado de Thiago, que também sangrava pelo nariz.


Olhei para ela com a expressão irritada, ela iria me explicar o porquê de ter
trazido minha esposa para um lugar como esse. Luana era inocente demais
para querer vir se divertir em uma lugar como esse. Se a conheço bem, ela
queria estar em casa fazendo suas orações.

— Levem ele para fora daqui, antes que eu não consiga me controlar —
rosnei.

O sangue tinha subido para a minha cabeça tão rápido que nem pensei
em minhas reações. Estava irritado, louco para atirar contra aquele maldito
que ousou tocar no que é exclusivamente meu. Mas não podia fazer isso na
frente da minha esposa, ela ficaria semanas com isso na cabeça, me
perturbando sobre o porquê ter feito.

Tinha vindo me divertir com Helena. Depois de muita insistência sua e


humilhações me procurando em todos os lugares que eu podia estar, tinha
resolvido lhe dar mais uma chance, afinal de contas, ela tinha uma boceta que
me proporcionava muito prazer.

Estava no camarote quando meus olhos bateram em minha irmã


acompanhada do seu namorado, observei eles até poder notar Luana. Ela
estava diferente, e pelo que pude perceber, usava batom. Levei alguns
instantes para assimilar que aquela mulher era a minha esposa, e que não
tinha ficado tão feia como costumava ser.

Quando o homem saiu gritando implorando pela vida, Ana se


aproximou com aquela intensidade forte que apenas ela tinha. Mas isso não
iria me proibir de gritar com ela, não mesmo!

— Será que você pode me explicar que porra é essa? Pensei que
estavam no cinema!

— E eu pensei que meu irmão estava em uma reunião.

Aquilo não era da sua conta. Luana estava atrás de mim, com a
respiração acelerada, e se me esforçasse, poderia ouvir os batimentos do seu
coração. Supostamente ela deveria imaginar que eu iria brigar com ela por
estar aqui, mas eu conhecia bem minha irmã e sabia que, se ela estava com
eles, era porque Ana a convenceu.

— Não estou com bom humor, Ana. Agora me diz o que fazem aqui.

— Enzo, desculpe por tudo isso. É culpa minha! — Thiago se


aproximou com a mão sobre o nariz para conter o sangramento. —
Estávamos em uma lanchonete quando um amigo me ligou pedindo ajuda, as
meninas não têm culpa.

Fuzilei aquele moleque com o olhar. Não o odiava como os demais da


minha família, até apoiava de certa maneira o namoro, mas isso não iria me
impedir de ficar chateado pelo acontecido. Minha irmã melhor do que
ninguém sabia que não podíamos chamar atenção.

— Veremos isso quando chegarmos em casa — falei irritado.

Olhei para Luana, que estava branca como papel. Olhei para o seu
braço desnudo e havia marcas das mãos daquele homem. Mais um motivo
para acabar com a vida dele.

—Enzo...

— Em casa nos falamos — disse, duro.

Caminhamos em direção a saída. Elas iriam voltar comigo. Minha irmã


estava soltando fumaça pelo nariz, já minha esposa só fazia chorar e isso já
estava me fazendo perder ainda mais a droga da paciência que não tinha.

Anastácia entrou no banco de trás, juntamente com Luana, assim que


abri a porta, quando ouvi aquela voz vindo logo atrás de nós.

— Enzo... — Era Helena.

Meus homens ficaram na dúvida se deixavam ela passar ou não. A


mulher era imparável! Passou por eles sem a menor dificuldade. Minha
esposa tinha parado junto comigo e não tirava os olhos de Helena, que nem
ao menos deu importância para a presença de Luana ao meu lado.

— Indo embora sem se despedir? — disse, agarrando meu pescoço.


Não sei por que, mas me importei em tirar suas mãos dele. — Algum
problema? — fez biquinho.

— Estou indo para casa.

— Pensei que dormiríamos juntos, repetir o que fizemos a pouco no


camarote antes de tudo... — olhou para Luana com desprezo. — começar. O
que me diz de ir lá para casa?

— Não posso. Agora você precisa ir. O motorista irá te levar — disse,
duro.

Ela sabia que não tinha como me convencer. Não iria insistir. Então,
me deu um selinho antes de sair, rebolando aquela bunda incrivelmente
grande e apetitosa.

Luana me encarava incrédula com a cena. Realmente minha amante


havia passado dos limites, mas eu não me importava com a merda dos
sentimentos dela. Ignorei seus olhos lacrimejados, enquanto prendia o choro
que deveria estar rasgando a sua alma apaixonada.

Ela saiu caminhando na frente, ignorando às vezes que a chamei para


dizer que não tinha o direito de revirar os olhos para mim. Ela entrou atrás, ao
lado de Ana, se negando a ir ao meu lado na frente. Não me importei! Dei
partida e logo chegamos em casa.

Anastácia praticamente gritou quando passamos pelo hall da casa. Pela


vigésima vez, ela dizia que a culpa era dela, e que eu não tinha o direito de
discutir com Luana, isso porque ela não deveria nem ter ido para o cinema
sem a minha companhia.

— Você é um babaca, irmão. Luana não fez nada. Já disse que eu sou a
culpada e ainda age como um bruto com ela.
Paramos próximos a escada, quando minha mãe chegou querendo saber
o motivo de tanto alvoroço.

— O que está acontecendo aqui?

— Mãe, esse seu filho é um bruto. Permitiu que a esposa fosse ao


cinema comigo e com meu namorado.

— Disso eu sei! Qual o problema em ela ter ido se ele permitiu?

— Quando saímos do cinema, aconteceu um imprevisto com um amigo


de Thiago, e ele precisou ir ajudar. Com isso, eu e Luana fomos com ela.
Quando chegamos lá, descobrimos que Enzo estava desfilando com a amante.

— Fala para a “mamãe” que eu estou irritado porque um idiota tentou


agarrar minha esposa na balada — disse irritado. — Dá para parar de chorar,
Luana? — falei, ainda mais irritado.

Ana explicou mais uma vez todo o acontecido. Minha mãe pareceu não
gostar da confusão que fiz. O que ela queria? Que eu deixasse aquele idiota
tocar na minha esposa?

— É melhor sua esposa subir — disse, confortando-a. — Não fique


assim, querida. Não é sua culpa.

— Obrigado, Sandra.

Ela passou por mim, sem me olhar nos olhos, encolhida, assustada.
Oras! Se não tivesse ido para a balada, nada disso teria acontecido entre nós.

— Vê só a confusão que vocês dois fizeram com a moça.

— Foi tudo culpa da Ana.

— Não quero saber quem começou. Não quero que isso se repita —
respondeu, irritada. — Você, Enzo, pare de sair desfilando com outra mulher
que não seja sua esposa. Você sabe as consequências de sua atitude.

Minha irmã foi para o seu quarto satisfeita. Agora a culpa era minha?
Luana não se dava ao respeito ao não evitar certos lugares, e eu era errado!

Ótimo, tudo era culpa de Enzo Grego.

— É melhor não discutir com sua esposa — disse, antes de me dar as


costas.

Ela estava deitada sobre a cama, encolhida, abraçada contra o próprio


corpo. Estava tão irritado com o que aquele homem fez que não dei a menor
importância para os sentimentos dela. Claro que ela não tinha culpa. Ela me
amava, e não desejava ninguém que não fosse o seu marido.

Me aproximei dela, deitando sobre a cama, e trouxe seu corpo para


junto do meu, em um abraço. Aqueles olhos claros me olhavam com
intensidade, estava escrito no seu olhar que ela me amava. Toquei em seu
rosto com delicadeza, ela sorriu para mim. Iria me dizer algo, mas eu não
permiti.

Às vezes agia duro demais com ela. Tudo culpa da minha paixão
doentia por aquela diaba de curvas de pilão.

— Me perdoa... — disse baixinho. — Não é culpa sua. Fique tranquila


— falei, calmo. Eu sabia que a única culpada era minha irmãzinha sem freios.
Se papai fosse vivo...

Luana saiu do meu abraço, indo para o banheiro. Ela estava magoada, e
não pretendia chorar na minha frente. Helena e sua maldita mania de
atrapalhar minha vida.

Fiquei horas em pé diante da porta, esperando-a sair. Ela não queria


sair e me encarar, então resolvi, por fim, ir dormir.

Na manhã seguinte, despertei e ela não estava na cama ao meu lado.


Abri a porta do banheiro e não a encontrei lá. Tomei meu banho relaxante e
vesti um dos meus paletós pretos. Grego que é Grego sempre tem algo preto
no armário. Peguei uma de minhas maletas, fui até meu carro e dirigi até a
empresa.

Não tinha com que me preocupar. Minha esposa não fugiria de casa.

À tarde, só por precaução, liguei para casa e uma das empregadas me


confirmou que ela estava lá.

Helena me esperava deitada na cama, apenas com uma lingerie


vermelha, uma das mais sexys que tinha. Essa mulher ficava bonita em todos
os ângulos.

Retirei toda a minha roupa, meu pau pulsava por aquela morena apenas
em lembrar da sua bunda maravilhosa rebolando para mim. Ela me recebeu
entre suas pernas, bastante molhada. Seus olhos reluziam luxuria. Eu a queria
possuir.

Transávamos como coelhos.

— Olha para mim, meu amor. Me beija — exigiu. — Eu sei que sou a
única mulher que desperta desejos em você.

— Cala a boca, filha de mãe — bati em seu rosto de leve. Adorávamos


um sexo selvagem.

Seus mamilos eram incrivelmente doces. Os lambia e mordia com


precisão, para atingir seu ponto mais sensível. Conhecia seu corpo como a
palma de minha mão.

— Isso amor! Mais — ela revirava os olhos de prazer.

— Se prepara que eu quero te comer de quatro.

Se inclinou para mim, ficando na posição certa para ser penetrada. Iria
comer ela até sentir seu corpo desmaiar de prazer.

As horas ao seu lado passavam voando. Já eram quase dez da noite


quando percebi que deveria estar em casa, jantando com minha família a duas
horas atrás. Não queria dar motivos para que minha mãe ficasse me enchendo
o saco como os pais fazem com os seus filhos adolescentes.

— Não vai — ela pediu, assim que me viu levantar e procurar minhas
roupas espalhadas pelo chão. — Tenho mais sede de você — mordeu os
lábios.

— Não posso ficar, gatinha. — disse, vestindo minha cueca preta.

— Você fica lindo de box, gatinho — disse sexy.

— Não me faça voltar aí e te comer até desmaiar novamente.

— Tudo o que eu mais quero é você. — ela sorriu, sexy.

Me controlei para não voltar para a cama e foder o resto da noite com a
maldita diaba. Mas não podia, tinha uma esposa me esperando em casa, e
satisfações para prestar a máfia caso não dormisse em meu lar.

— É uma pena, gatinha. Quem sabe amanhã?

Deixei a dúvida no ar. Não gostava de fazer suas vontades, ela era
mimada demais por mim, sempre vivendo com mordomia em minhas
propriedades e com cartões de créditos recheados para gastar. Não que eu
faça questão, mas esse mês ela andou gastando muito com marcas de roupas
e calçados famosos.

Gostaria que Luana fosse mais como Helena. Que fosse vaidosa,
comprasse roupas sexys e provocantes, e quem sabe um dia, pudesse passar
por uma cirurgia e então revelar aqueles lindos olhos azuis que ela tem.

Me peguei distraído pensando na mocreia, quando minha morena me


tirou dos meus devaneios.

— O que houve, gatinho? — franziu o cenho. — Estou falando com


você e nada de me responder — disse, chateada.

— O que disse?

— Que quero você para mim todos os dias. Que deveria ter me
escolhido como sua esposa em vez daquela feiosa — bufou de raiva. — Por
favor, me diz que você não sente prazer algum com ela quando estão
transando?

Não! Eu não disse a ela que não mantenho relações com Luana. Esse
segredo era apenas nosso. Imagina como isso mancharia minha imagem.
Iriam zombar de mim por não ter conseguido domar a “feinha”. Helena, se
soubesse, daria um jeito de espalhar. Ela sempre alimentou a ilusão de que
um dia casaria com ela.

— Ela não me pergunta de você. Por que quer saber dela?

— Porque você é o meu homem. Diz para mim que aquela mocreia não
te deixa nenhum pouco duro por ela.

A morena agarrou o meu pescoço, me cobrindo de beijos molhados.


Por dentro, eu ria da sua reação espontânea de ciúmes. Apesar de toda posse
que ela tem sobre mim, eu sou louco por ela. Ninguém nunca mexeu tanto
assim comigo como Helena mexe.

— Olha como eu estou agora — suas mãos tocaram meu membro duro.

Ela ajoelhou-se, me olhando com aquele olhar que me enlouquecia.

— Se prepara para o melhor boquete de todos que eu já fiz.

As horas ao lado de Helena passavam voando. À noite, estava em casa,


no escritório, organizando alguns relatórios quando passou uma ideia pela
minha cabeça. Gostaria que Luana estivesse me ajudando como costumava
fazer.

Abri a porta do nosso quarto e a encontrei vestida apenas com uma


lingerie preta, bastante sensual. Era possível essa combinação? Luana tinha
curvas incrivelmente delineadas. Sua silhueta era fina, não havia uma marcas
sequer.

Ela era perfeita!

Fechei a porta com cuidado para que não me ouvisse. Apoiei minhas
costas na parede, os olhos admirados nem ao menos piscavam. Os cabelos
presos em um coque certamente era para não molhar no banho. Ela passava
cremes hidratantes nas pernas torneadas, sem ainda me perceber.

Nunca imaginei o quanto ela podia ser bonita sem aquele óculos que a
deixavam parecendo uma pateta. Não consegui controlar meus instintos,
caminhei até minha mulher, a surpreendendo com um beijo quente e
molhado.
CAPÍTULO 14

LUANA GREGO

SEU BEIJO ME ENVOLVIA de maneira impactante, fazendo com


que todo o meu corpo entrasse em um choque térmico. Minha mente ficou
confusa, não sabia se sedia aos seus encantos ou se simplesmente o
empurrava.

Seu beijo molhado tinha o sabor de menta e vinho tinto, sua língua
invadia minha boca de maneira provocante. Suas mãos deslizavam pela
minha cintura, apertando todo meu corpo junto ao seu, quando senti sua
ereção contra minha barriga. Não era tão baixinha, mas era mais baixa que
ele, poucos centímetros. Suas mãos tocavam meu rosto, fazendo um carinho
gostoso. Suas carícias eram capazes de provocar sentimentos jamais sentidos
antes.

Uma sensação de prazer começava a irradiar por todo o meu corpo.


Queria me entregar para ele neste momento, mas me contive. Do que
adiantaria se ele também tinha outra para lhe proporcionar prazer?

Me afastei dele, pegando a toalha em cima da cama. Tentei evitá-lo por


essas semanas, falando pouco, mas ele sempre estava querendo conversar
comigo, e isso me irritava. Se queria desabafar, ele que procurasse a amante.

Estava cansada dessa situação, e não seria um beijo que acabaria com a
minha raiva.

— Luana, eu sou seu marido...

— Eu sei que é meu marido, mas eu não quero — falei, decidida.


— Essa é a sua resposta final? — perguntou, esperando algum
pronunciamento meu.

Virei-me de costas para ele, buscando o ar que parecia fugir dos meus
pulmões. Não seria aquela mulher que se rendia com apenas um beijo. E daí
que ele era bonito? E daí que ele era Enzo Grego? Não queria dizer nada.

Eu posso não ser a mulher da sua vida, mas também não seria a mulher
que ele faria de gato e sapato.

— Deveria procurar sua amante, ela sim merece sua ereção. Você mais
do que ninguém sabe que eu não sou capaz de fazer as coisas que ela faz —
disse, amarga. — Já que não se importa de frequentar eventos na companhia
dela, não deveria nem ao menos pensar na possiblidade de me beijar —
limpei meus lábios do seu beijo. — Você é muito cínico. Beija aquela imunda
e depois vem me beijar.

Ele franziu o cenho. Ignorei.

— Nossa! Onde está todo aquele amor que você dizia sentir por mim?

— Você o matou — sorri, tristemente. — Agradeço realmente por isso.


Eu era boba demais pensando que você me amava, mas não! Você se divertia
as minhas custas, e ainda me humilhava com aquela mulher. Eu deveria era
pedir a cabeça dela em uma bandeja para o conselho, mas eu não consigo ser
assim como vocês.

— Você não...

— Eu não terminei de falar. — Pela primeira vez, me impus. — Ou


melhor, gostaria de ter voz no conselho para pedir a anulação do nosso
casamento. Afinal de contas, nunca tivemos relações de marido e mulher.
Seria fácil conseguir a anulação.
Enzo teve a audácia de se aproximar de mim e tocar meu rosto. E o pior
de tudo, foi que eu tinha permitido tal afronta contra minha pessoa. Ele
realmente não pensava em outra coisa além de si mesmo. Certamente o medo
de que eu levasse minhas palavras a sério o fez se controlar para não acabar
surtando.

— Não duvido de que esteja magoada. Sei também que se decepcionou


muito comigo. Anormal seria se tivesse ocorrido o contrário — continuei
observando-o atentamente. — Eu lhe disse que respeitaria, e se não quer ser
minha mulher, eu entendo, mas irá chegar uma hora que precisará me dar um
filho.

— Quando essa hora chegar, eu lhe darei esse filho — disse, amarga.

— Nunca a vi tão amarga como agora. Tudo isso por causa...

— Enzo, eu sempre te amei. Isso nunca foi segredo para ninguém. Às


vezes eu me perguntava se era normal eu o amar da maneira como amava —
ele me encarava sério. — Hoje eu sei que tudo isso não passou de um sonho
abobalhado de uma menina que não tinha noção do tipo de ser humano que
você é. Agora, se você me der licença, irei continuar usando meus cremes no
meu closet, e não se atreva a vir atrás de mim.

Pela primeira vez na vida, eu consegui ser dura com alguém. Meu
marido não tinha noção do quanto que me magoava com suas atitudes idiotas.

Ele estava com ela! Seu perfume estava impregnado em suas roupas. O
terno que ele usava ontem pela manhã, que agora estava pendurado sobre o
cabide da parede de nosso quarto, estava em minhas mãos, que por acaso
estava passando e resolvi pegar para sentir o perfume, que não era o dele!
Por que aquilo ainda me surpreendia? Ele não fazia questão de
esconder a amante mesmo! As chamadas perdidas em seu iPhone, as noites
que chegava tarde em casa...

Se ele queria ficar com ela, por que não me dispensou? Tudo isso por
interesse em meus patrimônios e poder executivo? Essa era a resposta mais
óbvia, a que mais doía, e a que mais se aproximava da realidade vivida.

Enzo não tinha noção do quanto eu o amava. Era doloroso saber que ele
estava passando mais tempo com ela do que comigo mesma. Não queria mais
minha ajuda com os relatórios, já não jantamos mais juntos a alguns dias.

Anastácia, minha única companhia jovem, tinha ido visitar as primas


nos Estados Unidos. Soube a poucos dias que sua tia, recentemente, tinha
perdido uma sobrinha porque Enrico, meu cunhado, a matou.

Na verdade, eu ouvi essa conversa sem querer enquanto passava pelo


corredor de meu quarto. Os Grego discutiam sobre terem que trazer Giovana
de volta par casa, e então, no final da conversa, acabaram comentando sobre a
morte da prima.

Me parece que ela tentou contra a vida da esposa de Enrico. E se não


me engano, ouvi-os dizer que ela foi amante de ambos os irmãos. O que não
era novidade. Meu marido era um safado. Mas, agora dividir a mesma mulher
com o irmão? Isso era nojento, principalmente essa mulher sendo alguém da
família.

Com quantas mais irei descobrir que fui traída?

Os últimos dias não estavam sendo fáceis. Além de aturar toda sua
infidelidade, tive que conviver com seu mal humor que, aos poucos, estava
dando as caras. Aquilo me deixava levemente pronta para explodir. Não
gostava de pessoas que descontavam a raiva em quem não tinha nada a ver
com a história.

Meu príncipe encantado estava se transformando em um sapo mais


rápido do que eu podia imaginar. Primeiro a traição, segundo seu
descaramento em rir de mim junto com aquela mulherzinha, e em terceiro,
seu mal humor. O que mais faltava para eu descobrir? Isso sem falar que ele
também era um assassino.

Que família era essa? Sempre um passo à frente de todo mundo.

Era hora do almoço, e como sempre, fazia minha refeição sozinha.


Maria servia um camarão fresquinho acompanhado de uma salada de alface e
tomate, quando ouvi a voz de minha sogra se aproximando. Ela me
cumprimentou com um boa tarde, sentou à mesa e me olhou com seu jeito
curiosa.

— Luana, o que houve dessa vez? — perguntou. — Não me diga que


Enzo continua com aquela mulher?

Respirei fundo para não surtar mais ainda com a informação


desagradável.

— Ele a ama, Sandra, e eu não posso fazer nada. Olha só para mim! —
falei, com dificuldade, prendendo o choro. — Eu sou horrível! Já ela, é tão
linda e delicada. Eu não o culpo pôr a ter escolhido ao invés de mim, no seu
lugar, eu faria o mesmo. Mas de qualquer jeito, ainda dói tanto.

Enxuguei uma lágrima solitária que insistiu em descer. Nesse


momento, gostaria de não poder chorar, ficar com os olhos ardendo pelo
acontecido. Não demonstrar fragilidade, não era meu ponto forte. Sempre fui
essa menina frágil, sem defesas contra si mesmo.
— Posso te dar um conselho? — assinto. — Beleza inferior não é tudo.
Se você um dia quiser e optar por essa opção, pode tentar se auto ajudar.
Cortar o cabelo é uma boa opção, trocar os óculos por lentes de contato...
quem sabe até mesmo mudar seu estilo de roupas. — sorri pelas dicas que ela
me dava. — Isso é algo que você pode fazer por você, mas não significa que
ele vai deixar a outra. Faça quando estiver pronta, mas por você.

— Se nem isso me ajudar, o que eu posso fazer além de chorar?

— Querida, acredite em mim, não é fácil. Eu sei disso porque já passei


pela mesma situação. Meu marido me traiu durante todo nosso casamento.
Aquilo me machucava, pois eu o amava mais do que amava a mim mesma.
Depois de sua morte, quando me vi sozinha com três crianças para educar, foi
então que percebi que eu passei anos de minha vida me lamentando por algo
que eu mesmo nunca poderia evitar — ela suspirou. — Casamentos da máfia
são para sempre! Esse é o trunfo que você tem, e ela não.

Franzi o cenho sem entender o que ela queria dizer com aquilo. Será
que ela queria minha morte? Ou a morte do filho?

Percebendo minha dúvida, ela acrescenta.

— Quero dizer que a união de vocês será para sempre. Já a deles... ela é
apenas uma amante, um dia ele vai se cansar dela. E quando esse dia chegar,
quero que esteja preparada para se tornar o único e verdadeiro amor da vida
do meu filho.

Sorri, contente com suas palavras. Mesmo sabendo que essa realidade
estava longe de se tornar algo vantajoso para mim. Talvez todos tenham
razão: minha aparência não me ajuda em nada. Precisava mudar! Não por
Enzo, e sim por mim.
Encarei minha imagem pelo espelho do quarto. Olhos fundos de viver
chorando pelos cantos; sobrancelhas largas, necessitadas por serem feitas
com urgência; a vermelhidão em meu rosto demonstrava o quanto vivia triste.

Enzo tinha o perfume daquela mulher impregnado em sua pele. Não


temos muito contato físico, mas sempre que encontro suas roupas largadas
nos cabides do banheiro, ou até mesmo no chão do quarto, não deixo de
sentir o perfume da mesma. Será que eu deveria usar o mesmo perfume que o
dela?

Não tinha um dia sequer que eu não sonhasse com o dia em que ele
demonstraria algum tipo de sentimento por mim. Mais precisamente amor.

O amor era o sentimento mais puro que existia no mundo. Seria capaz
de quebrar barreiras? Poderia o belo se apaixonar pela fera?

Seria pedir muito que o meu marido tivesse o coração da bela, podendo
um dia enxergar o que a fera tinha demais bonito, que não sua beleza
exterior, mas sim sua beleza interna? A beleza interna diz o tipo de pessoa
que você é, e isso é o que importa.

Ouvi uma batida na porta. Era Ana, que acabava de despertar assim
como eu. Ela veio me convidar para tomar café da manhã, tinha voltado de
viagem antes de ontem.

— Ana, me leva em um lugar? — pedi, ansiosa.

— Que lugar? — perguntou, curiosa.

Apenas sorri, travessa para ela. Podia dizer que minha cunhada era uma
ótima motorista. Ela dirigia com um ar de superioridade enorme, exalava
confiança ao conduzir o carro pelas ruas. Senti vontade de aprender, assim
como ela.
Observei atentamente a decoração do estabelecimento de luxo. Não
lembro de ter entrado alguma vez em um lugar como esse. Gostaria apenas de
não me arrepender por ter tomado essa decisão, poderia ser normal para as
outras mulheres, mas para mim não era.

Fui criada naquele internato, passando a maior parte do meu tempo lá.
Eu nem sabia o quanto o mundo era moderno, tinha adorado conhecer o
mundo além do que as freiras me ensinavam. Talvez, se a minha mãe fosse
viva, eu não teria me fechado tanto para os meus desejos de mulher. Nunca
pensei que agora estaria parada na frente de um salão, querendo cortar o
cabelo.

— Não é hora de desistir, Lú — Ana colocou a mão sobre meu


ombro. — Vamos lá, você é linda. Um corte de cabelo e as sobrancelhas
feitas vão te deixar ainda mais bonita.

Arregalo os olhos com a ideia de que terei que fazer a sobrancelhas. Fiz
careta. Tinha certeza de que doia, já que os fios são puxados para ficar
alinhados e modelados.

— As sobrancelhas?

— Sim, vai arrasar. E assim que terminar, vamos mostrar para o meu
irmão o quanto você é linda.

— Não sei se é uma boa ideia... — Antes de completar minha frase, ela
praticamente me empurrou até o local. Por pouco não tropecei no piso de
entrada.

As pessoas me olhavam diferente, algumas deveriam estar se


perguntando o porquê das saias tão longas, ou o motivo de eu não usar calça
jeans como a minha cunhada. Não me importei. Continuei caminhando na
direção da moça que iria fazer o meu corte de cabelo.

— Bom dia. Em que posso ajudar? — perguntou de maneira simpática.

— Em nada. Entramos no lugar errado... — disse, dando um passo para


atrás. Ana me impediu.

Essa era a primeira vez que vinha a um salão de beleza.

— Ela quer cortar o cabelo — Ana disse, firme. — Pode dar um banho
de brilho também — me empurrou na direção da cadeira, me fazendo sentar
contra minha vontade. — Não faz franjinha não, e vamos querer que pinte as
unhas dela.

Era loucura! E eu estava nervosa. Não tinha como ficar pior do que já
estava! Ou tinha?

A água fria molhava minha raiz, fechei meus olhos e deixei aquilo tudo
acontecer, sem criar expectativas.

Estava fazendo isso por mim! Queria poder me sentir bonita, sem
precisar que ninguém me dissesse o contrário.

— Esse corte definitivamente é um dos melhores que já fiz.


Comprimento que valoriza muito os fios lisos e cria uma bela moldura para a
face. Não tem como errar! — disse o homem, satisfeito.

Ana me olhava de boca aberta. Ela fez sinal de joinha para mim. Seu
gesto me deixou mais tranquila.

— Pronta para o resultado? — perguntou.

— Sim — respondi, nervosa.

— Um, dois, três... e voilà. Contemple sua beleza.


CAPÍTULO 15

LUANA GRAGO

— ESSA SOU EU? — perguntei, totalmente admirada com o meu


reflexo no espelho.

O corte era perfeito. Quase não acreditava no que estava vendo à minha
frente.

— Cunhada, você está linda.

— Obrigado — sorri.

— Está quase perfeito — o homem, metido a mulher, disse de maneira


engraçada. — Minha florzinha, falta um pequeno detalhe aqui... — passou a
mão sobre minhas sobrancelhas.

— Nem pensar — disse, levantando da cadeira.

Os dois me olharam como se eu fosse de outro planeta, pelo simples


fato de não gostar que toquem nas minhas sobrancelhas. Cortar os cabelos já
havia sido um grande sacrifício para mim, imagine ter quer tirar a
sobrancelhas. Sei que garotas comuns estavam acostumada com esses truques
de beleza diariamente, mas eu não estava! Tentei não demonstrar como
aquilo me afetava.

— Sua amiga me parece assustada — o homem dizia, discretamente. —


Fala para ela que eu sou gay. Minha mão é delicada, boba — sorriu, de
maneira escandalosa.

— Ela cresceu em um convento, cercada de freiras.


O homem colocou a mão sobre a boca, dando um gritinho fino que
quase me deixou surda. Ele era uma figura.

Usava uma gravata borboleta na cor rosa pink, seu terno no tom rosa
chiclete e suas meias, que iam até a canela, também eram rosas. A calça
estavam dobradas quatro dedos acima do calcanhar, e ele mascava um
chiclete de morango. Até mesmo seus equipamentos do trabalho seguiam as
mesmas cor das suas roupas. Ele era uma graça de pessoa.

— Que horror. Isso ainda existe? — perguntou, incrédulo.

— Existe sim.

— Vocês não precisam falar como se eu não estivesse aqui — eles


deram de ombros. — O cabelo assim está ótimo. Eu agradeço ao senhor —
segurei em sua mão, e ele sorriu. — Outro dia prometo que deixo o senhor
fazer minhas sobrancelhas.

— Querida, você é linda. Nunca deixe que te digam o contrário — ele


deu um beijo na minha mão. Sorri.

Ana me levou até uma loja que ficava próximo ao salão de beleza.
Segundo ela, eu deveria usar algo mais jovem, colorido. Concordei com ela,
desde que não tivesse que usar nada curto. Roupas curtas não combinam
comigo.

Diferente de Helena, que sempre estava com roupas curtas que


marcavam suas belas curvas, eu não me sentia à vontade. Era como se
estivesse totalmente despida.

Optei em comprar algumas saias longas que estavam na moda, e calças


jeans com alguns rasgados. Sério que isso era moda? Usar roupa rasgada para
mim era estranho.
Minha cunhada só permitiu que deixássemos a loja com duas
condições: primeira, soltar o cabelo, e segunda, usar uma calça jeans rasgada,
com uma camiseta branca com emojis apaixonado. Concordei para que ela
não criasse escândalos.

As pessoas se vestiam de maneira despojada, simples. Saias coloridas,


shorts jeans escuros, vestidos curtíssimos... não eram algo convencional para
o meu dia a dia.

Com o cabelo curto, me sentia um pouco despida. Sempre fui


acostumada com minhas raízes longas.

O que meu primo diria dessa nova Luana? Fiz uma selfie e mandei para
ele, que menos de um minuto, me respondeu com elogios.

“Linda como sempre! Cada vez mais apaixonado. :^”

Sorri com o seu jeito bobo de falar comigo. Meu primo sempre dizia
que me amava, era algo sem malícia alguma. Algo como dois irmãos que se
amam fazendo declarações fofas.

— Tudo bem? — Ana perguntou. Estávamos sentadas no banco de trás


do carro.

— Sim — sorri.

— Agora que cortou seu cabelo e está usando uma roupa


superinteressante... — ela piscou para mim. — vamos dar um bom dia ao
meu irmão na empresa.

Definitivamente, a última pessoa para quem eu gostaria de dar bom dia,


era o meu marido. Há dias não sabia o que era ter um diálogo com ele. Seria
estranho ir lá apenas para que ele me visse e talvez elogiasse alguma coisa em
mim. Eu não sou o tipo de mulher que precisa receber elogios para se sentir
bem.

Estava me sentido bem exatamente como eu era, e agora como eu sou.


Não que eu tenha mudado muito, mas o corte de cabelo me deixou com um ar
mais maduro, um olhar firme. Tinha gostado desse novo estágio de minha
vida, podia dizer que me sentia um pouco mais confiante.

O relógio em meu pulso marcava exatamente dez e meia. Enzo deveria


estar ocupado, ou quem sabe até mesmo em alguma reunião de negócios.

— Ana, se quiser ir, eu não me importo de esperar aqui no carro —


avisei, calma.

Ela saiu do carro, deu a volta, abriu a porta ao meu lado e me puxou
com força. Praticamente tive meu braço deslocado. Ela pediu desculpas e
sorriu.

— Vamos conhecer a empresa — disse, empolgada. — Lembre-se de


que essa também é sua empresa.

Por fim, acabei fazendo sua vontade. Pegamos um elevador até o


vigésimo primeiro andar, onde ficava a sala do meu marido. Não pude deixar
de notar como o prédio era luxuoso, os detalhes eram pensados
minuciosamente, a modernidade combinava com a ideia de aprimorar os
costumes da máfia.

Alguns símbolos nas paredes, desconhecidos pela maioria das pessoas


que trabalhavam aqui, eram facilmente reconhecidos por mim que tinha
noção do que essa empresa realmente se apresentava.

No nosso mundo, negócios como esse são apenas de faixada. Empresas


fantasmas, na maioria das vezes. Mas essa empresa realmente tinha se
superado. Era uma das maiores de toda Europa, o orgulho da Itália. Roma era
uma cidade importante para todo o mundo, e um dos motivos se dava a
famosa empresa Grego.

Fiquei encantada com toda a decoração e brilho que o ambiente tinha.


Imaginava que esse lugar tivesse cheiro de sangue e pessoas amarradas por
correntes entre os corredores. A fama dos Gregos não me fazia enxergar esse
paraíso de lugar. Se fosse uma cidadã comum, iria adorar trabalhar aqui.
Queria uma sala de frente para as grandes janelas de vidros.

Coloquei o crachá sobre a minha camiseta, Ana desfilava com o dela,


dando uma volta no pulso. Ela caminhava tranquilamente, me contando a
história da empresa e sobre os seus ancestrais. No vigésimo primeiro andar,
tinha um corredor com fotos de todos os presidentes da empresa.

Fiquei orgulhosa ao ver a bela foto do meu marido na parede, em um


terno azul escuro, que realçava ainda mais seus olhos azuis. Ele estava todo
contente nessa foto, diferente da foto do irmão ao lado, que estava sério.

Ana olhava emocionada para a fotografia de seu pai.

— Ele sempre fazia todos meus desejos — ela enxugou uma lágrima, e
sorriu logo em seguida.

Caminhamos em direção à recepção para a sala do meu marido. Essa


parte conseguia se superar diante de todo o prédio. Era ainda mais elegante, a
luxúria predominava no enorme lustre de vidro, nos quadros de pintores
famosos. E a secretaria parecia mais uma modelo. Avah!

Não gostei do sorriso daquela mulher quando minha cunhada disse para
anunciar a esposa de Enzo. Ela era tão bonita, as pernas torneadas, como se
as malhasse diariamente, os fios castanhos combinavam com os olhos claros.

— Me perdoem, senhoras, mas o senhor Grego está ocupado nesse


momento.

A voz dela era de uma mulher dengosa. Me parecia uma atriz de filme
pornô fazendo drama.

— Ocupado? Ocupado fazendo o quê?

— Não tenho permissão para dizer nada, o senhor...

— Vamos entrar — Ana disse, confiante.

— Não posso permitir a entrada de ninguém, senhoras...

— Minha querida, eu sou uma das donas dessa empresa. Ninguém me


proíbe de entrar no que é meu, e essa é a minha cunhada. O marido dela,
querida, é o atual presidente dessa merda — bateu a mão com força sobre a
mesa da moça, que se espantou com a atitude da minha cunhada.

Por fora eu estava tão surpresa quanto a funcionária, mas por dentro,
estava dando gargalhadas. No final de tudo, minha cunhada parecia uma
criança de cinco anos argumentando o seu direito de degustar doces antes do
jantar.

Não consegui prestar mais atenção em nada do que elas diziam. Notei
que a porta do escritório estava entre aberta, resolvi deixar as duas batendo
boca por algo banal. Caminhei em direção a porta, toquei a maçaneta gelada
por conta do clima frio. Não entendia como um ar-condicionado podia estar
ligado sendo que o clima estava congelante.

Comecei a ouvir vozes de dentro da sala. Murmúrios de excitação,


como se duas pessoas estivessem se beijando apaixonadamente. Espera! Abri
a porta um pouco mais para que pudesse ver melhor, e a imagem que vi me
fez paralisar.
Meu marido estava agarrado com a amante, bem diante dos meus olhos.
Ele estava sentado sobre a mesa de trabalho, alguns papéis espalhados pelo
chão para proporcionar mais espaço. Ela, completamente sem blusa e sutiã.
Vi as mãos de Enzo tocando as costas dela com precisão, apertando como se
não quisesse soltar nunca mais.

Não sei se a vida estava brincando comigo. Eles tinham todos os dias
para transarem sem que eu precisasse ver essa situação desagradável, mas
justamente hoje, no único dia que resolvi vir a empresa ver meu marido,
descobri que ele estava transando com a amante até mesmo na empresa,
diante de todos os funcionários.

Essa mulher sobe, vem até sua sala e tudo parece normal?

Contemplei a cena digna de cinema. Notava-se a química entre os dois.


Ele beijava os lábios dela como se desejasse arrancá-los apenas para ele. No
estado em que estavam, pareciam que os dois queriam devorar um ao outro.

A infeliz tinha as mãos sobre os ombros dele, e ele tinha uma sobre a
cintura dela, a outra apertando a enorme bunda que ela possuía. Ele chupava
de vez em quando os seios siliconados, arrancando gemidos de prazer dela.

Não controlei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto naquele


momento. Meu peito se apertou de uma maneira que cheguei a ficar sem ar
por alguns segundos. Ele estava beijando-a bem diante dos meus olhos. Era
como se alguém estivesse enfiado uma adaga no meu coração.

Respirei fundo, passando as mãos pelos cabelos curtos. Por que diabos
eu fui cortar eles justo agora? Pestanejei.

A raiva me consumiu naquele momento, as lágrimas começavam a


embaçar a lente dos meus óculos. Já não conseguia ver a coisas claramente,
foi quando ouvi a voz dele me chamar.

— Luana — Enzo se afastou de Helena, como se aquilo fizesse alguma


diferença.

Helena apenas sorria vitoriosa e me olhava com os seios amostra, com


os mamilos excitados e molhados pelo contato que estavam tendo dos lábios
do meu marido. Eu quem deveria estar naquele momento com ele, e não essa
vadia.

— Não queria atrapalhar vocês. Licença — disse, saindo dali e


fechando a porta.

Meu coração deu uma pequena pontada. A emoção tomou conta do


meu ser. Me sentia frustrada como mulher ao ver que meu marido preferia
estar nos braços de uma qualquer ao estar nos meus, recebendo todo meu
amor e carinho.

Minha vontade era de esbofetear ambos por tamanha angústia que


sentia neste momento. Ela era uma descarada mesmo, sabendo que ele era
comprometido, estava totalmente entregue aos seus braços. Putz! Como eu
queria poder voltar para a França.

Ana ainda discutia com a secretaria, que parou de falar assim que me
viu passando, chorando em direção ao elevador. Ela entrou ao meu lado antes
que ele fechasse. E tudo o fez foi me abraçar e permitir que eu chorasse até
chegarmos no térreo.

Algumas pessoas não deixaram de notar meu rosto vermelho pelo


choro. Ignorei tudo e voltei para casa junto com Ana. No caminho até em
casa, havia contado tudo para ela.

Tudo o que eu queria neste momento era poder ficar sozinha. Fui direto
para o meu quarto, onde me tranquei e com muito esforço, empurrei a
poltrona para que tomasse a frente da porta.

Como Enzo era capaz de me destruir dessa maneira?

A leve maquiagem que usava tinha saído do meu rosto por causa das
lágrimas. Meus olhos ardiam pelo choro que já levava algumas horas. Ignorei
as batidas na porta do meu quarto de Ana, e até mesmo as de Sandra.

Era ainda mais humilhante que minha cunhada e minha sogra


soubessem de toda minha dor.

Em meu celular, tinha algumas chamadas perdidas de Enzo e de Felipe.


Como gostaria de abraçar meu primo nesse momento.

“Estou bem. Não se preocupe. :)”

Enviei a mensagem para Felipe, e desliguei meu celular. Adormeci


depois de ficar exausta.

Sentia minha garganta seca, necessidade de beber água me fez tomar


banho e vestir o roupão que sempre deixava pendurado no banheiro, para
emergências como essa.

Era noite e já devia ter passado do horário do jantar, e ainda sim, as


lembranças de hoje à tarde não saiam de minha mente. A intensidade de
como ele a beijava me fez querer ser aquela mocreia por alguns segundos. Ela
definitivamente tinha sorte!

Sempre me deixei levar por esse sentimento. Minha maior ilusão foi
amar quem não merecia meu amor.

Um dia ele iria sentir a dor da indiferença que tanto cometia comigo,
iria aprender a dar valor a quem o ama de verdade. O que ele sentia por
aquela mulher não era amor, eles não se amam. Amor não era apenas sexo!
Um dia ele vai cair na real e notar que eu sou a única mulher que o ama, mas
enquanto esse dia não chegar, não queria nunca mais ter que chorar por um
homem que não merecia nada.

Eu sou uma mulher! Não mais a menina que vivia no colégio de freiras.
Como a madre disse, o mundo aqui fora era totalmente diferente do mundo
que estava acostumada. As pessoas aqui não se importam com os sentimentos
do próximo.

Me sentei na cama, começando a sentir minha barriga roncar. Tentaria


me controlar para não ter que sair do quarto atrás de comida. Uma noite sem
jantar não me mataria.

Peguei o travesseiro e apoiei minha cabeça nele, refletia um pouco


sobre como as mulheres tinham pouca voz na máfia. Se eu tivesse voz,
certamente já teria anulado meu casamento.

Ouvi um barulho vindo da sacada do meu quarto, como se algo tivesse


quebrado. Pulei da cama e caminhei até as portas de vidros que estavam
abertas, permitindo que todo o vento entrasse no ambiente.

Pelo estrondo, pensei que fosse um ladrão ou algo do tipo. E em um


impulso, peguei o abajur, disposta a quebrar a cara do idiota que ousasse
tocar um dedo se quer em mim.

Fiquei surpresa ao ver que não era um bandido, e sim meu marido, que
tinha escalado até a sacada do meu quarto, caindo sobre uma cadeira que
estava próximo ao local onde ele se apoiou para entrar. Ele acabava de
levantar do chão, pude notar que suas costas estava doloridas por causa da
batida... bem feito!
Ele me olhou um pouco duvidoso por me ver segurando o abajur.

— Eu sei que deseja me matar, mas não precisa fazer isso desse modo.

Lhe dei as costas, colocando o abajur no chão e tentando fechar as


portas, mas ele tinha mais força e o resto da história se resume nele
conseguindo entrar no meu quarto. Cruzei os braços, ficando séria. Era muita
cara de pau dele vir me procurar, assim, como um adolescente apaixonado
escalando até a sacada do quarto da amada. Era patético.

— O que você viu hoje? — perguntou, cínico.

— O suficiente para saber que você não vale nada.

Sua expressão não mudava. Por que ele sempre tinha que esbanjar
confiança? A postura séria me intrigava, os olhos azuis estavam escuros,
sombrios. Tinha necessidade de falar, mas as palavras não vinham com tanta
facilidade como eu imaginava que fosse vir. Não entendi como eu conseguia
manter meus olhos fixos nos dele. Deveria ter jogado aquele abajur contra
ele, ferindo a cabeça para que sangrasse até a morte.

Passei a mão pelo meu pescoço, sentindo que meu corpo estava frio.
Como se aquela situação fosse capaz de me deixar nervosa.

— Você não vê que a única culpada disso é você?

Arregalo meus olhos com a crueldade de suas palavras, meu sangue


fervendo. Apesar de amá-lo, não entendo o porquê dele me acusar por algo
que ele não conseguia se controlar.

— Você é como um animal no cio. Não é culpa minha que não consiga
controlar seu pau, enfiando-o em qualquer merda que encontra por aí. Sempre
foi assim: Erika, Helena, Ava... quantas mais irei descobrir? Não me diga que
você transa com as mulheres dessa casa também? — fingi surpresa.
— Não seja irônica, sua boba. Se fosse minha mulher, controlaria mais
meus instintos de homens, mas nem isso você se dá ao luxo de querer ser.

— Não vou ser mulher de um homem como você. Ainda tenho


consciência. Você transa com as piores vadias desse planeta. Não quero
correr o risco de ser contagiada por alguma doença.

Virei-me de costas, e o ouvi se mover, vindo na minha direção. Me


controlei para não lhe dar um soco no rosto. Senti sua respiração no meu
pescoço, só agora notei que estou usando um roupão.

— Você não sabe o quanto me deixou duro ao vê-la com o cabelo


cortado, e usando roupas sexy — ele mordeu o lóbulo de minha orelha.

Quem ele pensa que eu sou? Uma de suas conquistas que ele diz
palavras bonitas e elas o abraçam?

— Não toque em mim — rosnei. Tentei me afastar dele, mas ele era
forte.

Enzo me prendia contra seu corpo forte e musculoso. Tentei me debater


para me soltar dele, mas foi tudo em vão.

— Você não imagina o quanto isso me diverte, esse pânico que tem nos
olhos toda vez que eu a toco — ele tirou o cabelo que caia nos meus olhos.
— Acho que eu nunca tinha notado antes o quanto você é bonita.

Era para as minhas pernas tremeram? E soltar um gritinho de


felicidade? Porque se fosse, ele não teria esse gostinho, não de mim.

Ele me encarava com toda sua masculinidade excessiva. Era demais


para um homem só. Seus músculos definidos transbordavam calor para junto
do meu corpo. Quis me soltar novamente, mas ele não permitiu.
— Me solta, seu idiota...

— Antes era seu príncipe... agora sou seu idiota? — disse, divertido.

Só um minuto... para tudo Itália!

O encarei com aquele olhar medroso, de incerteza. Ele apenas sorriu e


confirmou o que eu tinha mais medo nesse momento. Ele leu meu diário!
Putz! Ele não tinha o direito de fazer isso! Um diário era algo pessoal, de uma
única pessoa, por isso se chama diário.

Não podia ser, ele deveria estar se sentido agora com tudo isso. Eu o
chamava de príncipe, de meu amor e todas as demais demonstrações melosas
de carinho.

Nesse instante queria cavar um buraco e me enterrar viva só para não


ter que ouvir suas palavras de superioridade.

— Não vejo nada engraçado nisso. Antes eu era uma menina que
acreditava no amor, não passava de uma boba que acreditava que você
gostava de mim. Mas saiba que isso não significa mais nada para mim.

— É uma pena — disse, todo cavalheiro. — Gostaria tanto que me


chamasse de meu amor — ele sorriu. E não parecia estar brincando. —
Sempre sonhei com uma esposa como você! — ele só podia estar me zoando.
Onde estavam as câmeras? — Que me amasse, que me ouvisse sempre...
inteligente. E acima de tudo, companheira.

— Definitivamente, você só me decepciona...

— Sei que sou todo errado, mas só te peço uma chance para que o
nosso casamento não continue da maneira como está.

— Uma chance? Você sair com todas as mulheres que quer, e eu tendo
que me manter exclusivamente para você? Isso é ridículo.

— Não fui eu quem criei as leis da máfia.

— Como presidente atual, deveria mudar muitas coisas.

— Não posso. Enrico em breve vai voltar a assumir seu posto. E


quando isso acontecer, quero que seja exclusivamente minha.

— Não serei sua enquanto estiver envolvido com essa mulher. Agora
me solte — ordenei, e ele assim fez.

Respirei fundo para não desabar em lágrimas. Nem morta eu aceitaria


ele na minha cama sabendo que ele estava envolvido com outra mulher.

— Se não tiver mais nada a falar, pode sair do meu quarto?

— Eu não terminei de falar — disse, duro. — Você só está se fazendo


de difícil, e eu vou provar isso para você mesmo.

— Nossa...

— Sabe como?

— Não sou vidente. E se eu fosse, já teria previsto antes que esse


casamento não daria certo e teria pensado em um jeito de fugir de tudo isso.

Ele sorriu, safado.

— Vou te conquistar. Não me importa quanto tempo leve, eu vou


conquistar você, baby.

Isso era uma promessa!


CAPÍTULO 16

ENZO GREGO

NUNCA, EM TODA MINHA vida, uma mulher havia se negado a


mim todo esse tempo. Hoje comemorávamos seis meses de casados, e minha
mulher se mantinha intocada. Isso era um absurdo! O que a máfia diria de
mim? Não podia tolerar mais essa situação. Passamos a dormir em quartos
separados e isso veio chamando a atenção de minha mãe.

— Vocês são casados! Não pega bem cada um em um quarto — disse,


enquanto tomávamos café.

— O que eu posso fazer?

— Passe a agradar mais sua esposa. Faça todos os seus caprichos, a


mime como um bebê. Convenhamos que depois da mudança do cabelo e da
roupa, sua esposa está ainda mais bonita.

Realmente, minha mãe tinha razão. Luana estava encantadora. Ela tinha
um sorriso lindo e espontâneo. Na maioria das noites, escalava até a sacada
do seu quarto, graças a uma técnica que Enrico me ensinou quando éramos
crianças. A observava ler. Ela sorria com cada frase engraçada que havia no
livro, como se aquilo realmente fosse importante.

Gostava de pregar sustos em minha irmã caçula, e durante anos fiz isso
sem que ela soubesse que era eu.

Nunca tinha percebido o quanto aquele patinho feio podia se tornar um


lindo cisne branco. O corte de cabelo a deixou com um olhar mais sexy, as
roupas que usava, mesmo sendo longas como a maioria das saias e vestidos
eram, ainda sim a deixavam belíssima. Se não fosse aqueles óculos fundos de
garrafa... Se ela optasse por lentes de contato, ou até mesmo em fazer uma
cirurgia, seria tudo mais fácil.

Luana tinha se juntado a mesa conosco. Minha mãe deve ter notado que
ela nem ao menos me cumprimentou. Tomávamos nosso café tranquilamente,
quando minha mãe lançou a seguinte pergunta diante de toda a família.

— A propósito, quero saber quando terei um netinho?

Luana conseguiu engasgar-se com o suco que degustava. Foi algo que
chamou a atenção de todos, principalmente a do meu irmão, que me olhou
como se soubesse de toda a verdade. Minha família não era boba, ainda sim
morreria negando.

— Então Luana... — minha mãe olhava sorridente para ela.

— Se me derem licença, esqueci que tenho que ir ao banheiro — ela


saiu da mesa praticamente correndo.

Enrico me encarou como se estivesse lendo meus pensamentos, e


certamente meu irmão tinha esse dom.

— Estranho...

— Ela é tímida — disse, sem pestanejar, enquanto tomava meu café


com naturalidade. — A senhora já tem uma neta, mamãe. Jenifer pode não
ser filha de sangue da Giovana, mas ela a ama como se fosse. Eu pude notar o
quanto as duas se amam.

— Enrico irá cuidar dela como uma filha — minha mãe assegurou.

Meu irmão tinha resolvido ir a empresa comigo. Sei que ele queria me
confrontar, mas ele sabia que eu sempre acabava desabafando tudo com ele.
— Nunca transamos — disse, colocando tudo para fora, como se
estivesse lavado minha alma.

Ele apenas largou os papéis sobre a minha mesa, caminhou na minha


direção, sentando de frente ao meu corpo, com aquele olhar de repreensão.
Ele não costumava brigar comigo desde que completei meus dezoito anos.

— Você sabe do risco que está correndo? Isso é um falha, irmão.

— Eu sei que é. Mas o que eu posso fazer? Usar a força?

Estava cogitando essa ideia a alguns dias atrás. Sabia dos riscos que
corria com essa falha.

— Óbvio que não. Você é um Grego! Qualquer mulher quer transar


com você.

— Luana... não — disse, sem conseguir esconder meu desapontamento.


— Ela cismou que não vai ser minha até que eu deixe minhas amantes.

— Não use o plural, irmão. Todos sabemos que é apenas Helena que
consegue te prender. Eu sei que ela é muito atraente, se Giovana não fosse
tão gostosa, eu teria feito coisas interessantes com ela — quase fui pra cima
do meu irmão quando ele disse essa bobagem. Como assim ele quer uma
mulher que é minha? — Calma irmão! Falei tudo apenas para ver como você
reage diante de uma situação como essa. Você deve entender que sua esposa
merece mais sua atenção do que sua amante. Não estou dizendo que deva
abandoná-la, mas pense primeiramente no nosso mundo. O que as pessoas
dirão? Que um Grego está perdidamente apaixonado por uma mulher sem
sangue azul? Pense bem no tamanho do erro que está cometendo. Luana é sua
esposa até que a morte os separe. Já sabe o que fazer com sua amante.

Mesmo chateado com tudo o que meu irmão dizia, eu sabia que ele
estava coberto de razão. Diabos de vida! Como pude me deixar levar assim
por uma mulher? Jason, infeliz! Ele vai me pagar por isso algum dia. Se
Jason tivesse a matado quando eu o paguei, nada disso estaria acontecendo.

— Posso te pedir para não comentar isso com ninguém? Muito menos
com a nossa mãe?

— E perder o show que a dona Sandra vai dar quando descobrir por
conta própria? Nem pensar que irei estragar essa surpresa. Pode contar
comigo, irmão.

Passei o resto do dia ocupado com os relatórios e pensando na decisão


que deveria tomar. No fim da tarde, dirigi de cabeça quente até o luxuoso
apartamento que Helena morava.

Até um lugar de luxo eu dei para ela! Seguranças a cercam... onde eu


cheguei por uma simples mulher?

Desde que vi aqueles olhos claros pela primeira vez, me encantei. A


moça tímida de Tivoli, que vivia fugindo de mim, se entregou facilmente
naquele chão sujo da pousada onde ela morava com a velha que sempre me
olhava torto. Perdi a conta de quantas vezes quis atirar nela.

Fui um inconsequente me hospedando diversas vezes naquela pensão


precária, apenas numa tentativa boba de converter a menina que ia a missa
todo domingo à minha amante. Com o passar dos anos, ela se tornou
controladora, usando sexo para ter tudo o que desejava, e eu bobo, caindo em
suas armadilhas como um menino.

Passei a mão na cintura, me segurando de que minha arma estava bem


posicionada na cintura. Estava pensando em qual lugar daria o primeiro tiro.
Seria na cabeça ou no peito? Os dois lugares matam rápido demais.
O elevador abriu, me mostrando a visão da diaba vestida em uma
lingerie vermelha que tanto me dava tesão, segurando uma taça de vinho nas
mãos. Ela me recebia sempre com aquele sorriso sexy, e meu pau ganhava
vida automaticamente com a visão do seu sorriso.

— Que surpresa! Whisky? — ofereceu algo para que eu bebesse.

— Uma dose — pedi, me sentando no sofá.

Ela rebolava a bunda grande envolvida em apenas um fio dental. Tudo


o que eu mais queria agora era poder lamber sua bunda redondinha, lhe dar
umas palmadas até que ficasse vermelha...

A morena sentou ao meu lado, me entregando a bebida. Beberiquei um


pouco antes dela sentar no meu colo, me provocando da maneira que só ela
sabia.

— Sentiu saudades de mim, meu amor?

— Você sabe que sim — disse, olhando seus olhos claros.

— O que quer que eu faça primeiro? — ela não me deixou responder.


Se ajoelhou e começou a desabotoar os botões da minha calça, de maneira
sexy.

Como tirar os olhos desta mulher? Seus lábios vermelhos de batom


sugavam todo o meu membro, que estava ereto. Seus movimentos de vai e
vem me deixavam cada vez mais duro e louco por ela. Maldita!

Ela desceu minhas calças e cueca para continuar com os movimentos


precisos. Revirava meus olhos de prazer. Ouvi o barulho da minha arma
caindo no chão, ela se quer se importou com aquilo.

Eu só deveria pegar e mirar na cabeça dela, e foi o que eu fiz. Peguei a


arma, mas não consegui mirar na linda cabeça que me fazia um boquete
incrível. Suas mãos deslizavam pela minha cintura, pressionando, ela
arranhava minhas costas.

A puxei pelos cabelos com certa força, os olhos cheios de luxúria me


encaravam com desejo. Mordia seus lábios com força. Ela sabia que me
deixava louco por sua boceta.

Sem mais delongas, ela caminhou até a poltrona, retirando a calcinha e


abrindo bem as pernas para que eu a penetrasse. Senti toda sua intimidade
transbordando, lubrificada, pronta para me receber.

Estocava sem a menor piedade, gostava de sexo selvagem e ela


também. Os gemidos me faziam querer cada vez mais.

Meu pau pulsava de desejo. Sentia que meu limite me proporcionaria


um dos meus melhores orgasmos de todos os tempos, eu não poderia me
livrar dessa delícia assim tão facilmente.

Deitado sobre sua barriga, ela descansava depois de um orgasmo


intenso. Não me cansava de foder a sua boceta apertada, apenas minha. Seus
dedos faziam cafuné nos meus cabelos, esses eram um dos nossos melhores
momentos juntos.

— Estava pensando em uma coisa.

— No que exatamente?

— Gostaria que viajasse comigo para um lugar paradisíaco, como


fizemos na virada do ano de dois mil e quinze.

— Naquele dia minha mãe me ligou dezenas de vezes.


— Você era só um garoto — disse, sexy.

— Um garoto — pensei, alto.

— O que me diz?

— Sabe que não posso. Agora sou um homem casado.

— Mas isso não te impediu de vir até mim.

— Mas impede que eu viaje com outra mulher que não seja a minha.

Ela levantou da cama, vestindo meu camisete. Helena ficava ainda mais
bonita quando sentia ciúmes.

— Até quando essa mulherzinha vai continuar atrapalhando nossa


relação?

Sentei na cama, vestido minha cueca e calça.

— Eu não aguento mais isso — esbravejou.

— Cuidado com o tom de voz — disse, fechando o zíper da minha


calça.

— Eu amo você, Enzo. Você não sabe o quanto me dói saber que você
está casado com outra mulher que não seja eu. Mesmo ela sendo horrível, eu
ainda sinto ciúmes.

— Ela não é tão horrível...

Ela me olhou como se eu tivesse falado a pior besteira de minha vida.


Sua mão tocou a minha testa, como se para verificar minha temperatura.
Deveria pensar que eu estava delirando por achar minha esposa bonita. Ela
era bonita, a mudança no estilo de se vestir me fez perceber o quanto ela tem
um corpo bonito, gostoso.
— Você só pode estar louco... Ela nem as sobrancelha faz!

— É um charme dela.

— Enzo Grego, não me diga que você está se apaixonado pela sua
esposa?

— E se eu estiver, qual o problema nisso? — ela me fuzilava com


muito ódio. — Ela é uma mulher!

Senti suas mãos baterem contra meus ombros, tapas leves. Ela era
fraca, não tinha força nas mãos e em outro lugar algum do corpo pequeno.

— Você só pode estar ficando louco. Não ouse se apaixonar por sua
esposa, senão eu juro que sou capaz de...

Fiquei sério, esperando sua resposta. Do que a minha pombinha era


capaz de fazer contra minha esposa? Matar? Será que era isso que ela queria
dizer?

— Do que você é capaz?

— Eu sou louca por você, meu amor. Nunca duvide da capacidade de


uma mulher, principalmente quando ela estiver com o orgulho ferido.

Pude notar que em seus olhos haviam ódio. Mesmo assim, ela não era
capaz de fazer mal a uma mosca. Minha esposa era cercada de seguranças
que dariam suas vidas pela a dela. Ninguém seria capaz de triscar um dedo se
quer nela. Nem mesmo meu pior inimigo, quem dirá uma amante como
Helena.

Lhe dei um último beijo na boca antes de ir para casa.

Tinha o discurso preparado para dizer a minha mãe e a quem mais


estivesse me esperando para me contrariar pelo horário que chegava em casa.
Abri a porta da sala, ouvindo risadas. Coloquei minha pasta sobre o aparador
de vidro com uma vaso de rosas brancas.

Caminhei até a sala e pude ouvir a voz de Felipe. O primo da minha


mulher estava sentando no sofá, ao lado da mesma, que segurava sua mão
com carinho.

O que aquilo significava? Quem Luana pensava que era para me fazer
de idiota dentro de minha própria casa? Não me lembrava de ter convidado o
priminho apaixonado para estar em minha casa tarde da noite, aproveitando
da generosidade da minha mulher que não conseguia notar o quanto ele era
louco por ela.

Todos direcionaram seus olhares para a minha figura de homem sério


diante de todos. Minha cara era de poucos amigos, minha vontade era de
colocar esse idiota para fora.

— Não vai cumprimentar o primo de sua esposa? — minha mãe


perguntou.

Engoli em seco para não quebrar sua cara. Mesmo com minha
presença, ele ainda segurava a mão de minha esposa.

— Quem o convidou? — fui grosso, como na maioria das vezes.

— Perdoe os modos do meu filho, ele sempre chega estressado quando


volta tarde do trabalho — minha mãe me repreendeu com o olhar.

Quem eles pensam que sou? Um palhaço? Eu exigia uma resposta.

— Eu fiz uma pergunta e estou esperando a resposta.

Luana se levantou do sofá. Finalmente ela soltou a mão dele. Quem


autorizou ela a usar esse vestido curto? De todos que ela tinha, esse era o
mais justo no seu corpo e o mais curto. Mulher minha não usaria roupas de
vadias.

— Eu o convidei. Algum problema?

— Deveria ter me consultado antes, esposa.

— Como meu marido quase nunca está em casa, decidi que não estou
disposta a passar todos os dias de casada sozinha. Felipe, além de meu primo,
é o meu mais fiel amigo — ela sorriu para o primo, que retribuiu.

— Espero não estar causando nenhum inconveniente para o seu marido,


prima.

— Claro que não...

— Não responda por mim, Luana. — disse, ríspido.

— Não fale assim com a minha prima, seu insolente. Ela é sua esposa,
e não uma de suas "amiguinhas".

— Ah, olha só! — fui à sua direção, bastante furioso. A sorte dele foi
que Luana tomou a frente me segurando. — Acho bom você não ficar dando
palpites em como devo ou não tratar minha esposa. Ela é minha mulher,
minha!

— Como primo de Luana, eu sei que devo sempre estar lutando pelo
bem dela...

— Ninguém pediu sua opinião. Por isso, se quiser ficar em minha casa,
contenha-se com comentários desse tipo.

— Você não tem o direito de...

— Por favor, primo — Luana pediu, de maneira doce. — Peço


desculpas a todos por isso. Agora vamos todos nos retirar para descansar.
okay?

Ela praticamente me puxou até o corredor que dava acesso para os


nossos quartos. Pela sua respiração, notei que ela estava irritada comigo.

— Luana, pensei que como seu marido, você deveria me pedir


autorização para convidar alguém para ficar alguns dias em nossa casa.

— Você nunca está em casa, Enzo. Sua mãe disso que poderia convidar
meu primo.

— Eu sou seu marido.

— No papel — esbravejou.

— Porque você quer assim — disse, me aproximando. Meu olhar


causava pânico na minha doce esposa, veja só que ironia.

— Tenha uma boa noite. E se por acaso você tratar meu primo com
grosserias, eu juro que vou embora com ele.

Sem dizer mais nada, ela me deu as costas, entrando em seu quarto.
Isso não iria ficar assim. Ela ainda iria suspirar de amores por mim, ou eu não
me chamava Enzo Grego.

— Enzo, o que houve com você? — Helena perguntou, depois de mais


uma tentativa frustrada.

Não sei o que estava acontecendo comigo. Eu nunca havia broxado


com uma mulher antes, principalmente essa mulher sendo Helena.

— Estou cheio de problemas em casa — disse, levantando da cama,


levando as mãos à cabeça. Suspirei fundo.

— Com sua esposa?

— Também... ela me desobedeceu. Não tinha o direito de trazer aquele


primo irritante para dentro da nossa casa.

A mulher me olhava de maneira intrigante, ela parecia admirada com o


meu comportamento. A última coisa que queria nesse momento era ser
confrontado por uma mulher.

— Eu não posso acreditar que você está implicando com algo tão
simples. Até onde eu sei, eles não foram criados como irmãos?

— Ele não me engana com aquele olhar dissimulado. Eu sei que ele é
completamente apaixonado por ela. A maneira como ele a olha me faz querer
atirar contra o seu peito.

Helena parecia ter visto um fantasma. O olhar pasmo era como se


estivesse irritada, e ao mesmo tempo, querendo tocar fogo em alguém,
possivelmente em mim mesmo.

— Eu não posso acreditar que você está morrendo de ciúmes? Enzo,


por Deus, aquela mulher parece mais uma...

— Não admito que fale mal de minha esposa!

— Por que não? Se somos acostumados a rir daquela infeliz.

— Eu não vou ficar ouvindo você falar ofensas. Sua língua é venenosa.

— Você é um idiota, Enzo. Eu não permito que me trate assim. Eu sou


o único amor de sua vida.

— Adeus.
Vesti minha camiseta, lhe dando as costas.

Ninguém me faria de idiota nessa história.

— A senhora não tinha o direito de convidar Felipe para nossa casa.

Confrontava a minha mãe no corredor que dava acesso ao nossos


quartos. Ela não estava se importando com nada que eu dizia, e isso me
deixava irritado.

— O convidei porque ele é muito importante para sua esposa. Não vejo
problema algum dele ficar aqui em nossa casa.

— Eu juro que se ele ousar...

— Calma irmão. Tudo isso é ciúmes? — Anastácia perguntou,


debochada.

— Ninguém a convidou para essa conversa, irmã.! — disse, furioso.

— E nem precisa. Só em ver meu irmão morrendo de ciúmes pela


minha cunhada favorita, me faz sentir vontade de rir feito uma louca. Espero
te ver todo bobinho — ela saiu correndo e rindo de mim.

Olhei para minha mãe novamente, estava prestes a dizer algo quando
ela me interrompeu.

— Não ouse perder a paciência com sua esposa, e muito menos com o
primo dela. Lembre-se de que quando ela estava sozinha, você nunca foi vê-
la, ou se importou com o seu bem-estar. Era Felipe que estava ao seu lado, e
não você, meu filho. Por isso, você vai demonstrar toda sua educação e
respeito para com ele.
Ela entrou em seu quarto, me deixando a ver navios. Ninguém estava
prestando atenção em mim, isso me deixava puto. De algo tinha certeza,
Felipe não sairia vitorioso. Se ele queria jogar, iríamos jogar.

Ninguém passa a perna em Enzo Grego, muito menos um ser humano


da espécie dele: um oportunista, prestes a dar um golpe fatal. Luana era
minha esposa e seria minha, nem que para isso tivesse que passar por cima de
tudo e de todos.

Não estava acostumado a perder, e não seria dessa vez ainda.


CAPÍTULO 17

ENZO GREGO

ACOMPANHAVA DA JANELA DO meu quarto o passeio que


minha esposa fazia ao lado do primo. Ela usava uma calça preta de tecido,
com uma blusa soltinha, os cabelos presos em um rabo de cavalo. Ambos não
paravam de rir. Confessava que gostaria de ser uma mosquinha apenas para
poder me aproximar e poder ouvir o que eles tanto comentavam ao ponto de
rirem sem parar.

O passeio não durou mais que meia hora, terminou quando uma
empregada foi avisar que o almoço seria servido.

A mesa, todos comíamos em silêncio, até que minha irmã resolveu se


pronunciar:

— Então, Felipe, por acaso não pensa em mudar-se para nosso país?
Digo isso porque assim poderia ver sua prima com mais frequência.

— Seria uma ótima ideia, mas infelizmente tenho assuntos a tratar em


Paris. Não posso simplesmente largar tudo para vir morar aqui.

— Seria tão bom se pudesse ficar aqui comigo — Luana segurou em


sua mão, e sorriu.

Aquela simples atitude me fazia ter um ataque de ciúmes. Minha


vontade era de pegar minha arma e atirar contra o infeliz, mas não seria assim
que resolveria as coisas. Se quero conquistar minha esposa, tenho que
conquistar também a confiança do seu estimado primo.
Antes da hora do almoço, notei que minha esposa subiu possivelmente
para tomar banho, teria um tempo disponível para confrontar Felipe. Só um
cego não via que ele caia de amores pela feiosa, que não está mais tão feia
assim. Depois do corte de cabelo, e ter mudado o estilo das roupas, ela estava
ficando bonitinha. Fora aquele sorriso que demonstrava toda sua pureza.
Aquilo estava me deixando completamente louco.

Tudo o que eu mais desejava nesse momento era provar para mim
mesmo que nenhuma mulher brincava comigo, muito menos a minha esposa.
Ela me devia fidelidade, e acima de tudo, respeito e obediência. Devia estar
acostumando minha mulher a ser minha. As coisas iriam mudar de agora em
diante.

Felipe estava entretido com o celular em mãos, o homem tinha um


semblante concentrado, focado no que estava fazendo.

— Me acompanha em uma partida de sinuca?

Ele me olhou, e sem pestanejar, respondeu.

— Claro.

Ele me seguiu até a sala de jogos. Quando era mais jovem, gostava de
jogar na companhia de meu irmão, era melhor jogador de sinuca do que ele
próprio. Apostávamos dinheiro e até mesmo mulheres, na maioria das vezes
eu ganhava e meu irmão fica chateado comigo por dois dias. Sua pior derrota
na sinuca foi perder dois milhões para mim. Ele me entregou o cheque muito
irritado. Apenas paramos de apostar quando minha irmã nos entregou para
nossa mãe. Se tinha algo que minha mãe odiava, era que se apostassem algo
entre família.

Meu pai e meu tio tinham esse costume, e o final da história não foi
uma das mais felizes.

Servi uma taça de conhaque para Felipe, coloquei uma das doses mais
fortes que tinha, conhecia sua pouca experiência para beber. Com duas taças
dessas ele cairia bêbado no chão. Essa não era minha intenção, mas se isso
acontecesse, ele não ficaria o resto da tarde com a minha mulher.

O propósito era outro.

Como bom anfitrião que sou, permiti que ele jogasse primeiro. Um
verdadeiro show de espetáculos ele mostrou acertando duas bolas.

— Onde aprendeu a jogar assim? — perguntei, debochado.

— Um bom jogador nunca revela suas estratégias.

— Tem razão — concordei.

— Digamos que minha vida não se resumiu apenas em cuidar dos


interesses da minha prima.

— Obviamente que não.

Na segunda dose, o homem estava para lá de embriagado.

— Então, Felipe, o que pretende com sua viagem inesperada até meu
país?

— Não foi inesperado. Sua mãe me convidou, disse que sou bem-
vindo.

Traído pela minha própria mãe!

Eu a conhecia muito bem. Tinha algo à mais por trás do convite, minha
mãe não era a boa samaritana nessa história. Ela sempre preservava a paz,
fazendo de tudo para que não houvesse escândalos na família. O motivo pelo
qual ela trouxe Felipe era totalmente ridículo. Assim como eu, ela já devia ter
percebido que o primo era louco de amores pela prima. A única razão dele
estar aqui devia ser para me provocar.

Estava com ódio da minha própria mãe. Como ela era capaz de tudo
isso? Só tinha uma única razão: ela devia ter desconfianças sobre minhas
relações íntimas com minha esposa. Podia afirmar que ela devia ter, no
mínimo, algumas suspeitas na cabeça, isso indicava que ela queria que eu
tomasse uma atitude rapidamente.

Ela não media esforços, nem que para isso tivesse que usar o primo da
minha esposa para me provocar. Isso era ridículo, ela poderia pensar que
Luana seria capaz de me trair, e ainda mais com o primo que ela tem como
um irmão.

Luana me amava incondicionalmente, isso nunca iria mudar. Seu


coração batia acelerado toda vez que me via. Ela sempre ficava nervosa, com
aqueles olhos arregalados que tanto me divertiam.

Olha só... que ironia! Justo eu que tanto a desprezava, sentindo


sentimentos de homem por ela. Desde o dia em que ela apareceu com aquele
cabelo cortado, sinto algo novo dentro de mim. Ela era muito bonita, e nunca
tinha percebido antes.

Ela não fez aquela repaginada completa. O fato de não tirar as


sobrancelhas era um charme. Já havia saído com muitas mulheres modelos, e
algumas delas diziam que não fazer a sobrancelha era moda.

Luana tinha algo a mais nela. Quando a vi de lingerie vermelha, meu


pau ficou louco para possuí-la. Quase que por um minuto pensei que deveria
forçá-la. Não seria bem forçado, ela me amava e logo iria ceder a mim.
Helena era o fogo ardente que queimava em minhas veias, me fazendo
enlouquecer com um simples olhar. Com ela, eu tinha sexo prazeroso, sexo
selvagem, sexo de todas as formas possíveis. Ela sabia me agradar em todos
os sentidos, com ela nada nunca caia na rotina, sempre com algo novo para
me mostrar.

Luana já era uma brisa fria, que batia em meu rosto soado, me
causando um refrescamento divino. Ela era calma em tudo o que fazia, não se
importava em demostrar fraqueza. Ela era inteligente e sempre disposta a me
ajudar e a me ouvir.

Duas mulheres completamente diferentes uma da outra, ambas capazes


de despertar sentimentos em mim jamais sentidos antes. Ambas capazes de
me levar a extrema loucura.

Precisei ajudar Felipe a subir as escadas, e a abrir a porta do seu quarto.


Ele estava tão desnorteado que havia se deitado sobre o chão mesmo. Fechei
a porta e encarei a minha esposa, que me olhava desconfiada.

O que era aquilo... óculos novos? Tinha algo mais.

— Belos óculos.

— O que faz no quarto do Felipe? — cruzou os braços, desconfiada.

— Ajudando-o a dormir — respondi, calmo.

— Deixe-me ver — pediu, e eu não dei passagem.

— Nem pensar — seus olhos claros me olhavam cada vez mais


desconfiados e assustados.

— Você não...

Não deixei com que conclui-se a frase.


— Teria motivos para matá-lo?

— Óbvio que não.

Ela tentou passar por mim, mas eu a impedi, dessa vez segurando-a
junto ao meu corpo. Que olhar doce que ela tinha. Se não fosse tão brava...
meu pau ganhou vida quando sua pele tocou sobre a minha. Pela vermelhidão
em seu rosto, notei que ela percebeu.

— Não se preocupe com ele. Logo estará curado — assegurei. —


Agora que está aqui, que tal irmos para o nosso quarto conversar um pouco...

— Você tem o perfume daquela mulher — disse irritada, se afastando


de mim. — Não ouse me tomar a força. Eu juro que grito.

Ela ficava ainda mais linda quando estava brava. Luana era muito
inocente, o vermelho nas suas bochechas indicavam que ela era tímida.

Minha menina tímida!

— Não precisa sentir medo. Eu não sou o lobo mal... — toquei em seu
queixo fino, liso. A fiz olhar nos meus olhos. — Mas estou louco para
derrubar a porta do seu coração e te fazer minha.

Consegui ver lágrimas em seus olhos. Lágrimas que ela fazia de tudo
para prender dentro de si. Agora sim tinha certeza de que estava me tornando
um mulherzinha cheio de sentimentos puros e bons. Sentia remorso em vê-la
assim, tão triste e magoada por minha culpa.

— Até perfume caro você compra para ela — engoliu em seco. — Ela
deve ser muito valiosa para você, já que é colocou seguranças para protegê-la
— ela olhou para o anel em seu dedo, retirou e me entregou. — Isso aqui
nunca significou nada para você. Por que não dá a ela? Eu prometo que não
vou fazer escândalos, e que me conformo com uma pensão todos os meses.
Não precisa ser muita coisa... Eu só preciso de algo que permita que eu...

Não consegui prestar atenção em mais nada que ela dizia, meu único
instinto foi o de beijar seus lindos lábios rosados.

Com cuidado, coloquei meu dedo indicador sobre seus lábios, fazendo
com que ela parasse de falar. Retirei seus óculos com cuidado, os olhos
pequenos me encaravam com receio. Segurei sua mão, devolvendo o anel ao
dedo que ele pertencia. Os cabelos curtos, que tomava a frente de seus rosto,
fiz questão de colocar atrás. Como eram sedosos! Eram únicos.

Aproximei meus lábios dos seus até que tocassem nos dela, sua
respiração ofegante me fazia querer ser o lobo mal da história, louco para
devorar a chapeuzinho vermelho. Um passo de cada vez. Nunca tive que me
controlar diante de uma mulher antes, ser cauteloso e cuidadoso faziam parte
do pacote bônus para conquistar minha adorável esposa.

Sua pele era lisa, branquinha e rosada, me deixavam louco. A beijava,


dando pequenos selinhos, até iniciar um beijo doce.

Ela correspondeu, me deixando cada vez mais louco. O perfume na


pele dela era único, queria morder e lamber cada centímetro.

Nunca havia beijado uma mulher assim antes, com beijos suaves como
as nuvens. Acariciava seu rosto com delicadeza, queria ver o vermelho
escarlate esculpido nele, então abri meus olhos, encarando a mulher que
estava em estado de pura perfeição. Não poderia parar por aqui, não
conseguia mais me controlar... então a beijei com todo o meu desejo.

Luana correspondeu da mesma intensidade, me fazendo enlouquecer


com cada gemido que deixava escapar de seus lábios apetitosos. Suas mãos
seguravam o meu pescoço com desejo, senti que poderia fazer o que quisesse
com a minha esposa no momento. Ela estava tão entregue quanto eu estava.
Nossos corpos estavam conectados através de uma corrente elétrica muito
forte.

O doce de seu beijo era quente, e ao mesmo tempo, conseguia ser puro.
A pressionei contra a parede, querendo tirar toda sua roupa ali mesmo.
Minhas mãos estavam por baixo do seu vestido, apertei seu bumbum durinho
e ela gemeu mais alto com isso.

Nada nesse mundo poderia me interromper, a não ser uma tosse de uma
pessoa que estava pedindo para ser morta no exato momento. Com muita
raiva, abri meus olhos, encarando minha mãe que estava bem atrás de mim.
Minha esposa não sabia aonde enfiar a cara. Mamãe me olhava satisfeita,
contente.

— Perdão, mas não tinha como passar sem ser notada. Vocês estão ao
lado da porta do meu quarto.

— S-senhora G-grego, me perdoa-a.

Luana gaguejava de um jeito divertido. Mesmo na presença de minha


mãe, não a deixei sair de perto de mim, mesmo ela tentando. A prendi em
meus braços, que ficou de costas para mim. Poderia morder o lóbulo da sua
orelha se desejasse agora.

— Não fique envergonhada, querida. Ele é seu marido. Mas se


quiserem me dar um neto, sugiro que vão para o quarto de vocês. Com
licença — disse, entrando em seu quarto.

Luana se afastou de mim, colocando as mãos sobre a cabeça,


organizando todos os fios assanhados. Ela estava divertida, nervosa e
envergonhada.
A puxei de volta para mim, que me olhava com aquele olhar
apaixonado que só ela tinha.

— Vamos para o nosso quarto.

— Não.

— Por favor — pedi.

— Não, Enzo... por favor — pedia, enquanto eu a arrastava.

Era divertido ver seu desespero quando fechei a porta do quarto com a
chave. Ela estava sentada na cama, encarando o chão, parecia apavorada.
Aquilo foi capaz de me desarmar por completo, me aproximei, me abaixando
para ficar próximo a ela.

— O que houve?

— Eu não quero...

— Lá fora parecia que você queria.

— Tudo o que eu mais quero é ser sua mulher, Enzo — aquilo fez meu
coração transbordar de alegria. — Mas não dessa maneira. Você não me ama,
sabe disso! Não quero ser só mais uma na sua cama.

— Você é a minha esposa. Jamais será só mais uma. Será a única


mulher que eu realmente levarei a sério.

— Você faz amor comigo, e depois? — perguntou.

— Depois o que?

— Nem você mesmo sabe — disse, confusa. — Não quero me entregar


para você, sendo que depois continuará se encontrando com aquela mulher...
nem o nome dela eu consigo pronunciar, porque me machuca, Enzo. Eu não
quero ser sua segunda opção toda vez que estiver em casa longe dela.

Aquilo me tocou profundamente.

— É isso que pensa de mim?

— Me deixar ir... por favor...

— Tudo bem.

Engoli todo o meu orgulho e entreguei a chave para ela, me afastei para
que pudesse ir embora. Sem pensar duas vezes, ela fez isso, me abandonou
facilmente. Isso não ficaria assim, ela não tinha o direito de se negar a mim, e
eu sabia muito bem como conseguir meu objetivo.
CAPÍTULO 18

LUANA GREGO

TENTEI NÃO FICAR SONHANDO acordada com nosso último


encontro. Só de imaginar que quase me entreguei a ele, fico constrangida.

O frio, o vazio, nada mais era doloroso do que não ter conseguido
realizar meu maior sonho. Tudo o que eu mais desejava nesse mundo, era
poder formar uma família ao lado do meu marido, ter crianças para correr
pela casa e contar como foi seu primeiro dia de aula. Ninguém disse que seria
fácil.

A melhor parte do meu dia era quando tinha a companhia de meu


primo. Fiquei tão feliz por dona Sandra ter permitido que ele viesse me
visitar, mesmo passando por cima da vontade de Enzo. Sempre fazia questão
de passar a maior parte do meu tempo ao lado do meu primo, como agora,
que passeávamos pelo jardim.

Felipe finalmente me abordou com a pergunta que eu tanto evitava.

— Como está sendo sua vida de casada? — suas mãos estavam dentro
dos bolsos do seu casaco.

— Como você já deve ter notado, não está sendo nada fácil.

— Eu não sei de nada — ele deu de ombros. Parei de caminhar,


tomando a sua frente e olhando para ele séria. — Tudo bem. Eu ouvi
rumores.

— Sobre o que exatamente?


— Digamos que seu marido não costuma ser discreto no que faz.

Sorri de lado, um sorriso amarelo.

— Não queria dizer isso, primo, mas eu não aguento mais essa vida.
Esse não é o casamento dos meus sonhos.

— Só Deus sabe como gostaria de poder tirar você daqui, mas não
posso. O casamento de vocês está consumado, agora mais do que nunca você
pertence a ele.

Quase falei tudo para o meu primo, meu único desejo era gritar que
nunca tinha ido para cama com meu marido, mas precisei me conter para não
colocar tudo a perder.

Enzo seria humilhado diante de todos, e pior, ele me odiaria pelo resto
das nossas vidas. Não fazia isso apenas pelo bem-estar dele, e sim pelo bem-
estar da nossa família. Querendo ou não, agora eu pertencia a essa família.

— Primo, irei pedir que não entre em conflitos com Enzo. Não quero
que ninguém saia machucado nessa história.

— Você sabe que eu te amo, e que faria qualquer coisa por você.

— Você é o irmão que eu sempre quis ter — disse, segurando suas


mãos. Notei que ele não reagiu bem com meu comentário, como se o que eu
tivesse falado fosse capaz de o deixar... triste? Talvez tenha sido o clima frio
que o deixou assim.

Retornamos para casa depois de relembrarmos alguns momentos


engraçados das nossas infâncias. Mesmo ele sendo mais velho, nunca fez
distinção com minha idade quando era criança, sempre me deixava brincar
com ele e seus amigos. Na maioria das vezes, os garotos mais velhos me
faziam chorar e ele sempre estava lá para fazer todos pararem de me
machucar.

Era tarde de domingo, o casaco de frio não estava sendo


suficientemente capaz de me livrar de todo o frio italiano. Tinham acabado de
servir chocolate quente para nós, minha cunhada adorava conversar com
Felipe sobre viagens. Ela era fascinada em conhecer o mundo, e como ele
conhecia boa parte dele, os dois passavam horas falando dos pontos
turísticos.

Se não fossemos de famílias mafiosas, ambos ganhariam muito


dinheiro trabalhando como guias turísticos.

Bebericava meu chocolate quente quando pensei em propor em


jogarmos xadrez. Eu era a melhor jogadora de todos, adoraria ganhar deles.
Foi quando o diabo de olhos azuis entrou na sala de jogos, sugerindo que
jogássemos outra coisa.

— Xadrez me parece algo muito sério. Que tal um jogo de cartas? —


sugeriu, com aqueles lindos olhos azuis voltados para mim. Como conseguir
dizer não?

— Faz tempo que não jogamos cartas. Devo estar enferrujada — Ana
disse, fazendo charme. — Eu jogo se me deixar jogar com você, irmão — ela
agarrou o ombro do irmão, em um sinal claro de posse. Aquilo era divertido,
ela sabia que ganharia ao lado dele.

— Luana e eu somos a outra dupla — meu primo me olhou com um


sorriso modesto.

Não poderia ser a única a dizer não. Enzo não tirava os olhos de mim
em momento algum. Tinha em pensamento que ele não estava querendo
apenas jogar baralho, isso não fazia parte de sua índole.
Um homem malvado querendo se divertir com jogos de adolescentes?
Se ao menos estivéssemos em um cassino luxuoso apostando milhões, eu
poderia entender. Mas como não fazia ideia do que ele queria com tudo isso,
acabei aceitando.

Ana foi pegar as cartas que eles tinham guardado em algum lugar das
prateleiras com muitos troféus do tempo em que os garotos jogavam
basquetebol. Era divertido a ideia de que dois mafiosos conseguiam jogar
sem agredir os companheiros.

Me sentei na mesa de jogos, colocando meu corpo sobre a mesa, e senti


que alguém se aproximava. Pelo perfume, era meu marido! Continuei focada
em qualquer coisa que pudesse me distrair, como os detalhes em xadrez da
minha blusa, muito bem desenhados... o modo como a cor se encaixava entre
as lista era algo impressionante... putz! A quem eu estava querendo enganar?
Cabeça erguida!

Encarei a imagem do meu marido sem aqueles ternos ou roupas sócias,


que diferentemente dos outros dias, estava usando uma bermuda com
detalhes de ondas, uma camiseta estilo Zac Efron, os cabelos sem o gel que
os deixavam com aparência de mais velho, e a barba por fazer era encantador.
A imagem à minha frente me fazia sentir ainda mais atraída pelo filho da
mãe.

Foca no ódio Luana!

Fiquei vermelha só de pensar que ele poderia estar querendo tirar


vantagem sobre o que quase fizemos.

Focar no ódio... que patético. Se pelo menos ele fosse feio, mas o
homem parece um deus do olímpico até mesmo quando deveria parecer um
palhaço, que não sabe combinar as roupas que usa.
— Ficou feliz por que vai fazer dupla com seu primo? — não dei
ouvidos a sua provocação. — Pois saiba desde já que não vão vencer!
Ninguém nunca consegue me vencer.

— Por isso escolheu esse jogo. Isso é trapaça.

Não poderia esperar outra atitude vinda de um covarde estilo Enzo


Grego. Claro que ele nunca entraria em um jogo para perder. Essa era apenas
mais uma oportunidade dele tentar me humilhar.

— Trapaça é quando alguém rouba intencionalmente. Eu não preciso


roubar para ganhar, pode comprovar isso quando começamos a jogar.

— Não entendo — disse confusa. — Se você não gosta do meu primo,


e nem de estar na minha companhia, o que diabos faz aqui?

— Eu nunca disse que não gostava do seu primo — disse, cínico. — Só


o acho inconveniente! Apenas isso.

O encarava de boca aberta. Gostaria de saber dizer algumas ofensas,


palavrões, mas infelizmente não aprendi isso no colégio de freiras.

— O que você pretende com esse jogo?

— Adoro quando minha esposa mostra inteligência — ele mastigava


um dos biscoitos que pegou da bandeja. — Eu só quero mostrar para vocês
que sou um ótimo jogador.

— Além de chato, você também é convencido.

— Se acha que pode me ganhar, vamos apostar.

Ergui a sobrancelha. Ele só poderia estar querendo me irritar, mas eu


não pretendia cair nas suas provocações.
— Quanto quer?

— Não quero dinheiro. — disse, puxando a cadeira para que ficasse ao


contrário. Ele sentou, depositando sua cabeça no apoio da cadeira. — Quero
outra coisa — disse malicioso.

— Por exemplo...

— Se eu ganhar, e eu vou ganhar, vou querer que me acompanhe para


uma noite do champanhe — ele sorriu no final.

— O que seria uma noite do champanhe?

— Só me diz se aceita. O resto você verá quando for.

— Tudo bem! Eu aceito — ele sorriu, vitorioso. — Mas se eu ganhar,


também irei querer algo em troca.

— O que você quiser — ele apertou a minha mão.

Ana e Felipe se juntaram a nós. Seria uma competição bastante


acirrada. Nenhum dos dois lados estavam dispostos a perder, principalmente
eu. Mesmo estando curiosa para saber o que era a tal noite do champanhe, eu
não entregaria o jogo facilmente nas mãos de Enzo.

O jogo iniciou com dez cartas para cada jogador. Jogaríamos sueca. O
trunfo da partida era copa, ou como eu prefiro chamar, os corações
vermelhos. Advinha quem trouxe o As de copa? Se alguém apostou em mim,
perdeu. Foi Enzo que trouxe, não somente o As, como sete de copas e o Reis,
também o valete, e ele só perdeu uma única vez, que foi para mim na dama.
Ele já tinha começado ganhando e fazendo mais pontos.

A segunda partida começou comigo puxando o trunfo, eu sorri ao ver


que trouxe o sete de ouros. Estava torcendo para o As estar nas mãos do meu
primo, mas não estava. Droga! Enzo trouxe essa carta levando o meu valioso
sete. Não tínhamos perdido ainda, tinha em mãos um As de espada e um sete
de copas.

Meu primo iniciou a rodada com o As de copas, sorri ao colocar meu


sete sobre a mesa. Ana trazia consigo uma dama com pontos, Enzo me olhou
pensativo. Meu ar de deboche sobre ele era cômico, com essa jogada, iríamos
ganhar e empatar o jogo em um a um. Seria uma melhor de três, mas meu
sorriso morreu ao ver que ele levou vinte e três pontos com apenas uma carta
de dois de ouros que era o trunfo da partida.

Grunhi baixinho com essa derrota. Uma melhor de três se ele já havia
ganhado duas, não tinha como me tornar vencedora.

O pior não era isso, era ter que encarar seu ar de vitória sobre mim.
Respirei fundo quando meu primo tocou meu ombro, dizendo que iríamos
ganhar essa apenas para não passar em branco.

O trunfo era ouro novamente, tinha apenas duas cartas de ouro, um


cinco e um seis, ou seja, mais uma derrota para a conta. Enzo jogava muito
bem, ou melhor, ele trapaceava bem. Conhecia os segredos do baralho
melhor do que qualquer pessoa.

— Se tivéssemos apostado, vocês me deveriam uma pequena fortuna.


— disse, divertido.

— Foi uma boa partida — Felipe disse, apertando a mão dele. Pelo
menos eles não se mataram ao final do jogo.

Ana recolhia todas as cartas e meu primo tinha se oferecido para ajudar.
Enzo me olhava satisfeito, era claro que sim. Ele apenas mostrou que sempre
consegue tudo aquilo que quer. Estava prestes a xingá-lo, quando ele veio até
mim com o seu olhar incrivelmente sexy molhador de calcinhas. Inclusive a
minha deveria estar transbordando no momento.

— A noite, em meu quarto.

Ele não disse mais nada, sorriu e me deu as costas, caminhando


tranquilamente até a saída. Como ele conseguia ser malditamente delicioso?
Sexy. Um filho da mãe que era um pedaço de mal caminho.

As horas passaram quase que voando. Parecia que o tempo estava


querendo me pregar uma peça, só poderia ser obra do maligno! As horas
nunca passaram tão rápidas como hoje, tudo isso para a noite cair sem aquele
frio que estava fazendo mais cedo, obrigando-me a vestir algo mais curto,
sem precisar cobrir meus braços e muito menos minhas pernas.

Será que era pedir muito para que um meteoro caísse sobre a terra, bem
em cima da mansão, precisamente no quarto dele? Não que eu desejasse que
atingisse ele, poderia cair em um horário em que todos estivéssemos
jantando.

Estava ansiosa, pensando em tudo que poderia acontecer nessa tal


“noite do champanhe”. Por que ele exigiu que eu fosse a esse “encontro”, se
poderíamos evitar qualquer tipo de contato já que ele preferia o contato de
outra mulher que não o meu? As lembranças de Enzo agarrando a vadia na
sala de seu escritório ainda estavam bastante vivas nas minha memórias, algo
assim não se apagava da noite para o dia.

Precisei engolir todo o meu orgulho para bater na porta daquele quarto.
Ouvi sua voz do outro lado pedindo que eu entrasse, engoli em seco,
precisando buscar forças para não colocar tudo a perder com meu
nervosismo. Só iríamos beber e nada mais, certo?
Meus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, a porcaria do meu
óculos não me proporcionava uma visão tão agradável como o antigo. Sentia
que esse não tinha tanto grau como o outro. Esse que usava, era o modelo de
uma marca famosa, um pouco moderno demais. Meu vestido era apropriado
para o calor, de alças, soltinho até o joelho, na cor branca. O único acessório
que usava era o lindo brilhante que tinha em minha mão esquerda, no dedo
anelar, que indicava que eu estava casada.

Abri a porta, encarando o ambiente pouco iluminado. Fechei a porta e


procurei alguma tomada para acender a luz, e quando encontrei, fiquei
totalmente desnorteada com o que via a minha frente. Poderia isso ser real?

Um caminho de rosas pelo chão do quarto indicava uma trilha onde


deveria seguir até a sacada do quarto. Cruzei meus braços e caminhei
lentamente, com medo de pisar em falso. Minhas novas lentes não podiam
estar mostrando tudo isso. Ele só poderia querer zombar de mim...

Na sacada do quarto, havia uma mesa com apenas duas cadeiras


brancas, velas sobre à mesa, algumas luzes vermelhas sobre a varanda, e a luz
natural da lua. Não poderia negar que tudo era muito bonito. Agora já não
tinha mais certeza se tinha entrado no ambiente certo.

Tentei voltar para trás, mas acabei esbarrando nele, que me olhava com
seus olhos azuis escuros. Meu coração acelerou quando ele me segurou pela
cintura, me prendendo a ele, sem violência e demonstração de posse alguma,
apenas por prender.

Era impressão minha, ou todo meu ar tinha viajado apenas com


passagem de ida para onde ele não está nem aí para mim?

Seus olhos me devoravam, não era tão boba ao ponto de não perceber
qual eram suas reais intenções.
— Enzo...

— Noite do champanhe — e levantou sua taça, que eu não sabia de


onde havia surgido.
CAPÍTULO 19

LUANA GREGO

HAVIA UMA MESA AO centro da varanda do quarto com algumas


garrafas de champanhe caríssimos, taça de vidros importadas da Inglaterra.

— Podemos começar logo com essa noite do champanhe? Eu não gosto


de dormir tarde.

Ele soltou minha cintura, todo elegante e cavalheiro, algo que sempre
foi. O desgraçado conseguia ser gentil quando precisava de mim para alguma
coisa.

Enzo puxou a cadeira para que eu me sentasse, e em seguida sentou-se


de frente para mim, me olhando de um jeito único.

— Você está muito bonita — ergui as sobrancelhas. — Gostei muito


que tenha cortado o cabelo, e trocado o óculos, as roupas...

— Cortei o cabelo por mim, e não por você — disse, ríspida, deixando
tudo bem claro para ele. — Mudei o óculos porque meu primo trouxe um
novo para mim. E sobre as roupas, eu não preciso estar despida para mostrar
que sou atraente.

Admirada eu estava comigo. Eu disse tudo isso mesmo?

— Fico feliz por você. — aquele olhar impactante não seria capaz de
me derrubar... não agora!

— Então podemos começar a noite do Champanhe?


— Claro, mas antes, quero te dar uma coisa.

Ele pegou uma caixinha no bolso da sua calça, e entregou para mim.
Fiquei com medo de abrir e me decepcionar, mas acabei abrindo, e meus
olhos se depararam com uma linda pulseira de ouro branco com vários
pingentes.

Era sobre a minha vida.

Tinha um pingente de diário, outro de óculos, um com os nomes “pai e


mãe”, dois corações unidos, uma flor e um casal de mãos dadas.

— O casal é a gente.

Olhei para os seus lindos olhos azuis.

— É linda. Obrigado. — disse fechando a caixinha.

— Aceita uma taça de Champanhe?

— Meia taça — respondi, sorrindo.

Foco Luana! Não iria ficar assim por uma simples pulseira que ele me
deu, mesmo ela sendo linda.

Ele conhecia algumas coisas sobre mim, e isso me deixou feliz.

Enzo serviu uma taça para mim. O champanhe era a bebida que eu mais
me identificava entre todas as outras. Não gostava de beber, mas quando se
fazia necessário, gostava de tomar champanhe.

Beberiquei minha bebida suavemente, não costumava a beber, por isso


tinha o cuidado de ir devagar e não acabar dando algum vexame.

— Deve estar achando a noite do Champanhe muito chata, não é


mesmo?
— Não entendo o objetivo dela.

— Por que pensa que tem um objetivo?

— Tudo o que você faz sempre é pensando em alguma coisa. Não sou
tão boba quanto imagina. — respirou fundo.

Meu marido tinha um olhar de bebê quando não estava agindo feito o
idiota que era. Enzo era mimado, um filhinho de mamãe acostumado com
tudo sempre acontecendo do jeito dele. Ele não suportava ouvir um não de
uma mulher, principalmente de mim, que sou sua esposa.

Algo me dizia que tudo isso não passava de um plano medíocre pra me
levar para a cama. Sinto muito decepcioná-lo, mas eu não iria cair no seu
joguinho, não como hoje à tarde que fui convencida a jogar contra ele, apenas
para me irritar e conseguir me trazer até o seu quarto.

— Gostaria de conversar com você.

Sério que ele me trouxe aqui apenas para conversar? Tudo bem, vou
entrar no seu jogo.

— Sobre o que quer conversar comigo?

— Vou começar falando dos meus problemas na empresa. Eles me


deixam irritado — pude notar isso nele nos últimos dias. — Enrico quem
deveria estar quebrando a cabeça e não eu. Sou o filho do meio, meu irmão
mais velho que deveria assumir tudo, mas ele prefere ficar o dia todo no
quarto, trancado, pensando em como reconquistar Giovana.

— Seu irmão ama aquela mulher. Eu gostei de Giovana, apesar de ter


passado poucos dias na companhia dela, ela me parece ser uma boa mulher.

— Se meus problemas fossem apenas sobre a empresa... A minha mãe


não me deixa em paz. Como você mesmo sabe, ela quer um neto, você sabe
que não posso dar um a ela agora.

— Sua mãe é a matriarca dessa família, mas ela precisa entender que
nem tudo é no tempo dela. Giovana e Enrico vão voltar algum dia, eu sei que
vão. Quando isso acontecer, eles não vão perder tempo e vão poder dar
quantos netos sua mãe quiser.

— Minha mãe fala de mim e você, Luana.

— Você sabe que não estou pronta.

— Sei os motivos e dou toda razão para você. Mas, se eu prometer


nunca mais ver aquela mulher, você promete que será minha? Como mulher?

Tentei encontrar a mentira no seu olhar, algum vacilo na voz, algum


movimento que demonstrasse insegurança, mas não encontrei nada. Enzo
poderia ser um grande ilusionista, ele sabe mentir como ninguém.

Sua mão tocou a minha por cima da mesa. Olhei para a sua atitude.
Tudo isso por um corte de cabelo? Custava acreditar em suas palavras, por
isso afastei minha mão da sua.

Ele me olhava com aquele maldito olhar sexy. Por que Enzo não podia
ser feio? Obrigado pai, por escolher o homem mais bonito do mundo para
ser meu marido. Sempre fui apaixonada por Enzo, e durante toda minha vida,
passei anos sonhando acordada com o dia de nosso casamento, mas tudo o
que ele saia fazer era me machucar.

— Não te prometo nada. Como você mesmo disse: você conhece meus
motivos.

— Prometa me dar pelo menos uma chance para poder te conquistar.


— Me prove que você vai deixar aquela mulher. Quero que a mande
para bem longe de nós, não quero morar no mesmo país que ela.

Enzo travou nesse momento. Esperei alguma decisão sua, algum


pronunciamento, mas ele deveria estar pensando se tudo isso valia à pena.
Sua atitude serviu apenas para me mostrar o quanto ele a amava. Não iria
insistir mais nesse assunto, ele não era capaz de deixá-la. Essa era minha vida
desgraçada, tudo se movia contra mim.

— Estou disposto a fazer tudo o que me pedir. Basta ordenar.

— Quero que mande sua amante para um país em outro continente.

Se pudesse, a mandava para outro planeta, com passagem apenas de


ida.

— Como você desejar.

— Eu entendo que não quer se livrar dela... — meu mundo parou de


girar quando consegui assimilar o que ele havia dito. — Você está mesmo
disposto a se livrar dela?

Não podia acreditar em suas palavras. Eram realmente sinceras?

— Você é a minha esposa. Quero que possamos viver em paz, sem que
ninguém nos interrompa.

— Enzo, se você for realmente capaz de se afastar dessa mulher, eu


prometo que irei me dedicar ao máximo para ser sua esposa. Serei seu pilar
para tudo nessa vida. Você tem certeza de que conseguirá cumprir com tudo
o que está me prometendo?

— Eu prometo.

Ele me serviu mais uma taça de champanhe. Tentava assimilar tudo o


que ele estava dizendo. Gostaria de que tudo isso realmente fosse real. Tinha
medo de que fosse um sonho, que logo acordaria assustada em minha cama,
pensando que tudo aconteceu, mas de fato nada acontecendo.

— Enzo, por que essa mudança? Ninguém muda da noite para o dia.

— Não suporto ver você chorando. Me sinto culpado, e realmente eu


sou culpado por todo seu sofrimento. Eu sei que não sou o melhor dos
maridos, mas prometo que não serei o pior. — ele parecia dizer a verdade. —
Eu sou um homem fodido em todos os sentidos. Sou capaz de destruir tudo
nessa vida, tenho medo de que consiga fazer isso com você também. Sempre
vivia na sombra do meu irmão mais velho, e agora que estou no seu lugar, só
quero poder sentir paz.

— Você se cobra demais, Enzo. Você é bom em tudo que faz, sempre
toma decisões importantes para o bem da máfia e da família. Não deveria se
impor da maneira que faz.

— Você sempre está me ouvindo quando preciso. Ninguém nunca me


escuta como você faz.

Acabei ficando sem jeito. Ele sempre tinha um olhar penetrante.

— Independente se você é ou não o meu marido, eu sempre vou te


ouvir e te ajudar quando for preciso.

— Eu quero beber muito — disse. — Esquecer os problemas, me


ajuda?

Quer saber? Eu cansei de ser sempre certinha, comportada, como uma


verdadeira dama. Nunca dei vexame na balada, nunca bebi para ficar com a
cabeça rodando. Por que não quebrar as regras só uma vez na vida? A vida
era muito curta para se fazer tudo certinho. Se eu fosse para o inferno, seria
por causa de Enzo Grego. Ele sabia convencer alguém a beber como
ninguém.

Havíamos tomado quase metade da garrafa de vidro. Será que ela


quebrava se eu a derrubasse no chão? A garrafa eu não sabia, mas a taça que
estava em minhas mãos quebrou facilmente quando a deixei cair por querer.

Enzo apenas riu de mim. Comecei a rir junto com ele. Ficar bêbada não
era nada de outro planeta, rir até mesmo do vento era divertido.

Meu marido levantou de sua cadeira e caminhou até as grades da


sacada. Ao seu lado, recebi sua taça, bebendo o restante da bebida. Olhei para
o chão lá embaixo, jogando mais uma taça. Ele riu da minha atitude
novamente.

— Vou me afastar daqui para não correr o risco de ser jogado no chão.

— Não vou te jogar daqui. Não é alto suficiente para matar alguém.

Ele riu novamente.

— Vamos dançar?

Ele me puxou para os seus braços. Estávamos dançando sem música


alguma, parecíamos dois idiotas rindo um do outro. Pisei em seus pés umas
cinco vezes, no mínimo.

— Essa é a primeira vez que danço sem música.

— Eu também.

— Me dá um beijo? — pediu.

— Não, vamos dançar — fiz biquinho. Ele me deu um selinho.

Suas mãos tocaram em meus cabelos, ele parecia gostar dos meus fios
ondulados. Notei que ele estava carente, e o abracei, lhe dando conforto.

Não esqueci a raiva que sinto por ele e suas atitudes. Nesse momento
sentia que ele precisava de mim como a amiga que ele nunca teve para
desabafar. Pelo menos agora ele não tinha o perfume dela. Por que Enzo,
você é tão lindo?

— Queria muito te levar para cama — confessou no meu ouvido. —


Mas você não me merece. Eu não vou te obrigar a nada. Irei cumprir com
minhas obrigações, vou me afastar de Helena, e nós dois teremos a vida que
você sempre sonhou.

Poderia ser o efeito do álcool ou não, mas eu acreditava em suas


palavras, não via o dia de tudo isso acontecer. Sempre quis ser feliz ao lado
do meu marido.

— Preciso ir embora. Estou com sono.

— Só mais um minuto.

— Estou cansada de dançar sem música.

— Dorme comigo — pediu, com aquela cara de cachorro sem dono.

— Quando você fizer o que me disse, irei dormir com você todos os
dias. Até lá, continuo no meu quarto.

— Amanhã mesmo irei resolver esse problema.

Me afastei dos seus abraços quentes. Por mais que eu desejasse me


jogar neles, e fazer amor com ele, eu tinha noção de que tudo poderia dar
errado se eu me deitasse ao seu lado nesse momento.

— Quero algo para lembrar-me de você.


Com um movimento sexy, levantei uma parte do meu vestido até a
altura da coxa, comecei a dançar de um lado para o outro, movendo a cintura.
Sem mostrar nada da minha intimidade, eu retirei minha calcinha
vagarosamente. Rodei ela entre meus dedos, estava morrendo de rir por
dentro. Quando encarei meu marido, ele tinha um olhar predador sobre mim.

Ele obviamente estava duro, com desejo e tesão, querendo me devorar.


Joguei a calcinha na sua direção. Meu rosto ruborizou quando ele sentiu o
perfume da minha calcinha, sorrindo em seguida, safado.

— Você não perde por esperar, mon petit.

Sorri, ouvindo-o falar a última parte em francês. Enzo estava mesmo se


esforçando para ficar de bem comigo.

Após a noite do champanhe, na manhã seguinte, recebi um lindo buquê


de rosas que meu marido me mandou. Me derreti com aquelas flores, eram as
minhas preferidas. Mesmo ele não sabendo, ele se esforçou para comprar
minhas favoritas. Meu primo deve ter dito algo a ele.

— O mundo é engraçado. Meus dois irmãos se tornando dois bobões —


Ana disse, divertida.

— Vai dizer que seu namorado não te manda flores?

— São tantas flores que tenho um jardim botânico para guardá-las — ri


do seu jeito de falar.

À tarde, aproveitei para ficar um tempo com Felipe. Contei para ele que
Enzo queria mudar comigo, ele não ficou muito feliz como eu imaginei.

— Não se deixe enganar por ele, prima.

— Não se preocupe. Eu sei o que estou fazendo. Enzo não vai brincar
comigo.

Continuamos conversando sobre filmes, adorávamos fazer isso quando


éramos mais novos. Ele me convidou para assistir um filme de heróis.

Estávamos tão distraídos com o filme, que nem tivemos noção do


tempo. Quando me dei conta, meu marido estava ao lado da porta nos
observando. Meu primo estava tão distraído que nem percebeu que eu havia
saído.

Enzo estava sério. Ele sentia ciúmes de Felipe? Fechei a porta sem
fazer barulho, ele me puxou para um beijo molhado e quente.

— Boa noite — disse, baixinho.

— Boa noite, minha esposa.

— Quer me dizer algo? Estou assistindo um filme com meu primo.

— Pude perceber — falou, revirando os olhos.

— Tive uma dia exaustivo na empresa. Amanhã prometo que irei


despachar Helena.

— Não fale despachar. Dá para entender que vai matá-la. Eu não quero
que a mate, só quero ela longe de nós.

— Comprei passagens para o Uruguai, fica na América do Sul.

— Muito longe — sorri.

— Vê do que eu sou capaz só por você?

— Agradeço — sorri.

— Que tal irmos para o quarto?


— Ela ainda não viajou. Se quiser companhia para jantar, tome um
banho que eu desço com você. Agora, se me der licença, vou terminar de
assistir o filme.

—Você me deixa louco, minha Petit.

— Até mais tarde — sorri.

Voltei a assistir o filme com Felipe. Enzo estava com sede demais no
pote, não seria bem do jeito que ele estava imaginando. Eu precisava sentir
certeza de que ele colocaria essa mulher para bem longe de mim. Queria ter
certeza de que ela iria mesmo embora.

Tinha uma pessoa nessa casa que era muito próximo dele. Espero poder
contar com a sua ajuda.

Quando todos foram dormir, caminhei em direção ao quarto do meu


cunhado Enrico. Bati duas vezes na porta, encarei o homem com barba por
fazer me encarando surpreso.

— Acho que você bateu na porta do irmão errado — disse, sonolento.

— Desculpa... quer dizer... Eu preciso falar com você. Posso entrar?

Ele deu espaço para mim. Enrico fechou a porta do quarto, vestiu uma
camisa que estava em cima da cama.

Diferente do quarto de Enzo, o quarto do irmão era escuro demais, tudo


aqui era preto. O cheiro de álcool fazia-se presente no ambiente. Havia
bebidas em garrafas espalhadas pelo chão do quarto. Meu cunhado vivia
numa situação precária dentro de uma mansão de luxo.

Ele me olhou surpreso por eu ter vindo até seu quarto. Eu sei da ligação
que ele tem com Enzo, aposto que ele sabe que não sou nenhuma esposa
perfeita e que vivo me negando ao meu marido.

— Em que posso ajudar?

— Enzo me disse que se livrará de Helena. Eu quero confiar nele, mas


tenho minhas dúvidas.

— Ele me falou sobre esse assunto. Não se preocupe, ele está decidido,
e como irmão mais velho dele, irei me encarregar pessoalmente para que essa
moça posa viajar o mais rápido possível.

— Fico grata, Enrico.

— Somos da mesma família, Luana. O seu casamento com meu irmão


é algo que deve ser respeitado e preservado. Irei ajudá-la.

— Enrico, não sei nem como te agradecer.

— Seja tudo para ele. Acredite, Enzo precisa muito de uma mulher
como você.

Senti vontade de incentiva-lo a procurar Giovana, mas não quis me


intrometer.

Agradeci meu cunhado mais uma vez, e voltei para o meu quarto. Pude
dormir o resto da noite tranquila sem me preocupar com Helena. Essa mulher
iria sumir de uma vez por todas.
CAPÍTULO 20

ENZO GREGO

TODOS TINHAM RAZÃO! Eu não poderia ficar agindo como um


adolescente apaixonado que se envolve com uma mulher ao ponto de perder a
cabeça por ela. Não somente Enrico, como minha mãe vinham me enchendo
nos últimos dias. Agora deveria mais do que nunca deixar Helena.

A morena não tinha o direito de mandar em mim da maneira como as


coisas estavam indo. Prometi para Luana que nunca mais iria me encontrar
com Helena, e para o bem do meu casamento, eu prometi que mandaria
Helena para o Uruguai, e assim seria.

Estava na empresa, sentado em minha cadeira, encarando aquela


passagem somente de ida para o Uruguai. Seria capaz de deixar aquela diaba
ir para tão longe assim? Obviamente sim! Não tinha outras opções, essa
relação já chegou longe demais, estava na hora de dar um ponto final a tudo
isso de uma vez por todas.

Enrico estava me ajudando com alguns relatórios, quando me


confessou:

— Sua esposa me procurou ontem à noite.

Olhei para ele curioso. Por qual motivo ela iria atrás dele?

— Por qual motivo?

— Ela tem medo de que você não cumpra com sua promessa.

— Luana é muito desconfiada. Eu sei que ela tem razão. E o que você
disse?

— Que ela não precisa se preocupar, porque eu mesmo irei me


encarregar de que essa mulher viaje ainda essa semana. Espero que não se
importe.

— Não me importo. Só não quero que você toque nela.

— Eu só tenho olhos para Giovana. Não se preocupe irmão — ele riu


de mim.

Meu irmão e eu tinhamos uma ligação muito forte, nunca escondíamos


nada um do outro, por isso tive a necessidade de lhe dizer algo.

— Giovana o ama, irmão. Vai de uma vez por todas atrás dela.

— Não é o momento, ela não quer nem me ver.

— No dia do meu casamento, ela me disse que estava com saudades de


você — meu irmão parecia uma criança que acabara de ganhar algum doce.
— Giovanna quase me bateu por causa do vexame que dei com a bebida,
então ela me disse que só não me batia em respeito a você, porque ela o ama.

— Obrigado por me falar. Não se preocupe, no momento certo, eu a


terei de volta.

Aproveitei meu horário de almoço para mandar uma mensagem à


Helena, dizendo que ela deveria fazer as malas.

Observava os monitores a minha frente, em busca de alguma pista que


pudesse provar que o atentado ao nosso pessoal fosse obra de Andrei Barkov.

Um dos homens que atacou os meus soldados no mês passado, foi


encontrado e torturado. Ele não sabia quem era o mandante, a única
informação útil que nos deu foi o nome do contratante: Paolo Gonzáles.
Trabalhávamos melhores que o FBI, esse homem seria encontrado nem que
para isso tivéssemos que buscá-lo no inferno.

Causar dor nas pessoas me fazia relaxar. E tudo o que eu precisava


nesse, era poder relaxar.

— Senhor, temos informações vindas do Sul. Paolo Gonzáles foi visto


circulando pela área — o homem me mostrou a imagem no tablet. — Ele foi
filmado por uma câmera em um metrô. Estamos aguardando as ordens.

— Meu irmão disse algo sobre o assunto?

— Ele disse que o senhor ia resolver.

Respirei fundo.

— Quero homens no local. Cerquem a aérea. Quero ele aqui, vivo ou


morto.

— Sim, senhor.

Meu ódio era tanto que precisava descarregá-lo em alguma coisa. Tiro
ao alvo me relaxava e me fazia sentir prazer toda vez que ouvia o barulho
estrondoso do tiro. Era um dos melhores atiradores da organização, nunca
errava um alvo na vida.

Precisava treinar sempre para o dia em que me encontrasse com o


Barkov, para assim poder matá-lo como se mata um animal peçonhento. Ele
que não se atrevesse a vir atrás de minha irmã, sou homem e sei bem o que
orgulho ferido proporciona.

Veja só, estava prestes a mandar a mulher que me deixava louco para o
outro lado do mundo, apenas para conseguir a confiança da minha esposa.
Luana estava mexendo comigo de uma maneira diferente. A pressão em ter
um herdeiro estava acabando comigo, as pessoas me cobravam já que boatos
corriam a solto de que meu irmão era estéril, pelo simples fato de não ter
gerado um filho com Giovana. Por sorte, ninguém sabia que eles estavam
separados. Seria um inferno se essa informação vazasse.

Treinei sem parar por quase duas horas. Estava soado e precisando de
um banho. Tomei banho no banheiro do escritório, por sorte tinha algumas
roupas minhas guardadas na gaveta da cômoda. O camisete atacou meu
braço, me fazendo acreditar que agora estava pronto para encarar Helena.

Ia em direção ao meu carro, quando um dos meus homens me fez parar.

— Senhor, temos notícias sobre Paolo Gonzáles.

— Estou ouvindo.

— Ele foi encontrado, o que devemos fazer?

— Não façam nada por enquanto. Tragam-no para cá. Avisem Enrico.

— Sim, senhor.

Antes de chegar ao apartamento da Helena, meu irmão me mandou


uma mensagem dizendo que a noite deveria estar no galpão, junto com ele e
os demais homens para interrogarmos o suspeito.

O elevador abriu, mostrando-me uma sala vazia. A morena não estava


me esperando na sala como das outras vezes, vestida em uma linda e sexy
lingerie. Ouvi um barulho vindo do banheiro, corri até o ambiente. Encontrei
Helena de joelhos, com as mãos apoiadas no vaso sanitário. Ela estava pálida
e muito fraca, estava vomitando toda a comida que comeu durante o dia. Os
cabelos estavam assanhados, essa definitivamente não era ela.

Ela segurava a barriga com força, como se estivesse sentido dor na


região do abdômen. Helena estava doente e não procurou um médico? Estava
ficando louca? Não era atoa que pagava uma das melhores clinicas para ela ir
sempre que precisasse.

Ela estava tão distraída que levou alguns instantes para notar minha
presença. Quando isso aconteceu, Helena levantou-se rapidamente do chão,
apertando o botão da descarga, correndo em seguida para a pia e lavando o
seu rosto e boca com enxaguante bocal.

Ela estava escondendo alguma coisa de mim. Tinha uma expressão


nervosa. Estranho! Ela nunca usava roupas folgadas, nem mesmo quando
estava sozinha em casa. Sempre usava tops, que cobriam apenas seus seios,
que percebia estarem maiores.

— Pensei que só vinha à noite — comentou, me olhando. Seu olhar


estava quebrado. Ela não usava maquiagem alguma, nem mesmo um brilho
labial. Logo ela, que sempre dormia e acordava maquiada.

— Você está bem? — perguntei.

— Sim — disse nervosa, saindo do banheiro. Fui atrás dela.

Na cama, tinha algumas malas que ela estava arrumando. Pelo menos
tinha me obedecido. Ela enxugava o rosto com uma toalha.

— Comeu algo estragado? — perguntei, olhando para o envelope em


cima da cômoda.

— Creio que sim. A empregada não pode vir hoje, sou uma péssima
cozinheira. O resultado foi esse.

Segurava o envelope em mãos. Era de uma clínica de exames. Sem que


ela percebesse, eu abri e comecei a ler. Não era um exame comum, e sim um
teste de gravidez, e o resultado era positivo.
Olhei o nome da paciente... não podia ser! Comecei a ter vertigens
quando li o nome da Helena naquele papel. Ela estava grávida, esperando um
filho.

— Enzo, me dá esse papel — tomou o papel das minhas mãos,


começando a chorar. — Meus Deus, está saindo tudo errado. Você não era
para estar aqui agora, muito menos ter visto esse papel — a voz embarga pelo
choro, o rosto vermelho. — Você quer que eu viaje, eu vou fazer isso. Nunca
mais volto para você, mas não mata o meu filho, por Deus!

Ela me encarou amedrontada, com as mãos tremendo. A mulher estava


apavorada, nunca a vi assim antes em todo nosso relacionamento. Ela nunca
estava triste, assustada, e sim sempre feliz.

Me encontrava em um estado catastrófico. Meu cérebro havia


paralisado, precisei me sentar na cama para poder tentar assimilar tudo que
estava acontecendo.

Pensei nos problemas, no meu casamento, na reação da minha família.


Dona Sandra iria me matar, Enrico surtar, minha irmã me xingar horrores, e o
mais importante, Luana. Não podia ser! Justo agora que estava prestes a
terminar com Helena, a dar um ponto final em nossa relação. Não podia
acreditar que tudo estava prestes a desmoronar por causa do resultado desse
teste de gravidez.

Luana não iria me aceitar sabendo que engravidei a minha amante. Ela
não ia querer continuar casada comigo, e com razão. Isso não podia estar
acontecendo comigo. Não agora!

Estava petrificado, sem reação alguma, até mesmo para piscar. Um


filho fora do casamento significava problemas, era algo perigoso. Se Helena
fosse denunciada, ela seria morta, juntamente com o filho que carrega em seu
ventre. As consequência seriam grandes, mas não tinha como não encarar
essa situação de frente.

Helena continuava apavorada com a mão sobre a barriga. Ela estava tão
assustada quanto eu, só que no seu caso, Helena parecia ainda mais nervosa,
pois sabia sua posição. Me aproximei dela, a vi recuar ainda mais, com
medo.

— Eu não vou te machucar. — assegurei. — Quanto tempo faz?

— Doze semanas.

Ela quase não tinha barriga. Haviamos transado ainda essa semana e eu
não tinha percebido diferença alguma em seu corpo. Mas agora, vendo as
coisas com clareza, posso notar um pequeno volume em sua barriga, quase
que insignificante.

— Iria esconder de mim? — perguntei diante dos fatos. Se eu não


tivesse vindo mais cedo, não teria visto o exame sobre a cômoda dando
bobeira.

— Eu não sei o que você vai fazer comigo. Você pediu que eu viajasse
e... eu estou com muito medo — disse, desabando em lágrimas.

A abracei, passando toda minha proteção. Um filho! Merda! Por que


isso estava acontecendo comigo? Helena tomava anticoncepcionais injetáveis
todos os meses. Ela ia na clínica acompanhada de um segurança para se
submeter a tal procedimento. O que saiu errado?

— Você não tomou...

— Eu juro que tomei, pode ligar para a clínica se duvidar.

— Não duvido. Eu só...


— Enzo, eu não quero morrer. Me perdoa — ajoelhou-se diante de
mim. — Não me mata, por favor. Não mata meu filho, por favor. Eu prometo
que ninguém nunca vai saber de nós. Eu suplico por tudo que há de mais
sagrado...

— Levanta daí...

Ajudei Helena a ficar de pé, suas mãos tremiam. A levei até a cama,
onde se sentou e continuou chorando em desespero, repetindo palavras de
que não queria morrer. A que ponto chegamos? Todos tinham razão. Tudo
isso era por minha culpa! Eu deixei essa situação chegar aos extremos.

Busquei forças para não surtar! Eu precisava ser mais homem, quem
chorava era mulher... homem não chorava... o que eu devia fazer? Não tinha
coragem o suficiente para entregar Helena ao Conselho. Não suportaria vê-la
morrendo com um filho meu em seu ventre. Era cruel demais, até mesmo
para mim, que era acostumado a causar dor nas pessoas.

Luana.

— Enzo, o que vai acontecer comigo? Devo viajar?

— Não... você vai ficar aqui. — disse, tentando desmontar


tranquilidade. — Não precisa chorar, ninguém vai matá-los. Eu não vou
permitir que ninguém machuque você, e muito menos nosso filho.

— Você está com raiva de mim?

— Não.

— Eu não tive culpa.

— Eu sei, ele não foi feito apenas por você. Não se preocupe, irei
cuidar pessoalmente da segurança de vocês.
— Obrigado.

Meu celular começou a tocar. Não tinha cabeça para falar com
ninguém. Era Enrico, querendo saber que horas eu chegaria no galpão.
Respondi em uma mensagem que logo estaria de volta.

— Helena, eu vou precisar sair. Quero que fique aqui, e se precisar de


alguma coisa, ligue para mim — me aproximei dela. — Não tenha medo —
lhe dei um beijo na testa. — Tenta ficar calma. Eu vou te proteger e ao nosso
filho também.

Não disse mais nada. Peguei o resultado do exame, dobrei e guardei no


bolso do paletó. Essa noite eu chegaria em casa e teria minha primeira noite
de amor com minha esposa, mas tudo tinha que sair errado. Por que Helena
ficou grávida? Se eu descobrir que a falha foi daquela clínica, mandarei matar
todos.

Dirigi desrespeitando umas vinte regras de trânsito até chegar no


galpão. Era fora da cidade, levou alguns minutos, que foram essenciais para
me decidir sobre Helena.

Carreguei minha pistola calibre trinta e oito antes de descer do carro.


Estava com tanto ódio, que seria capaz de matar qualquer infeliz que me
negasse informações.

A sala estava cheia de homens da nossa equipe. Enrico estava ao centro


da sala, próximo do tal Paolo Gonzáles, que estava amarrado em uma cadeira
de madeira. O rosto do homem estava machucado, ele recebeu nosso
tratamento especial.

— Finalmente irmão. Onde estava?

Respirei fundo. Estava quase tendo um ataque de pânico, só de


imaginar as consequências do meu deslize. Um deslize que custaria vidas
inocentes, colocaria meu casamento em jogo.

— Estou aqui. Vamos começar — disse, duro.

— Cara, você está bem? — Ele colocou a mão sobre meu ombro.

A maldita ligação entre irmãos.

— Estou sim.

Enrico começou com o interrogatório. Tudo o que o homem fazia era


negar, dizia ser inocente. Toda pessoa culpada se declara inocente. Nunca
devemos acreditar na palavra de um homem que certamente deva ter família.

Não importava quantas vezes meu irmão socava o rosto do desgraçado,


ele não iria contar nada. Foi quando peguei minha arma e atirei na sua perna.
Ele grunhiu de dor, não me importei.

— Irmão, o que...

— Deixa comigo.

Será possível que ele nunca iria confiar em mim? Só o irmãos mais
velho era inteligente? Iria provar para ele de uma vez por todas que não.

— Como são seus filhos? — perguntei.

— Eu não tenho família, senhor. Tudo isso não passa de um engano.

— Eles falam espanhol, não é mesmo? Não sou bom com o idioma, não
ligue se eu pronunciar errado — ajeitei minha gravata. — ¿Qué pasará
cuando vaya a Montevideo después de ellos? Su esposa tiene el pelo rizado,
como el de su hija. Ella debe ser hermosa como la madre. Responde una
cosa, ¿ ella gime de placer o dolor cuando están follando? Porque garantizo
que si mis hombres la atrapan, ella tendrá un dolor frente a sus hijos.

— Senhor, por favor, minha filha só tem treze anos. Ninguém sabe
sobre eles... como o senhor...?

— Não importa. Eu posso poupar a vida deles se me disser quem


contratou você.

— Foi um homem russo.

Olhei para Enrico. Nesse momento, só conseguíamos pensar em um


único homem.

— Que homem?

— Eu não sei o nome dele, tudo o que eu sei é que ele faz parte de uma
grande organização. O lema deles é “Kraft, Klaue und Waffen. Alles um der
Sache willen”.

— Andrei Barkov — falamos ao mesmo tempo.

Não tínhamos dúvidas. Andrei Barkov estava por trás de todos nossos
problemas. Aquele homem deveria estar caçando minha irmã, com certeza
planejava fazer algo de ruim com ela e com nossa família.

— Eu nunca deveria ter apoiado a loucura de Ana.

— Aquele infeliz que não se atreva a tocar na minha irmã! — rosnei.

— Temos que protegê-la, sem que ela saiba. Não quero deixar Ana
assustada.

— Tem razão, Enrico. Mamãe e Anastácia não precisam saber de nada.


Iremos nos encarregar de tudo, e se for preciso, eu sou capaz de matá-lo com
minhas próprias mãos.
— Se eu não o matar antes.

Tudo para nós sempre se resumia em disputa. Nossa mãe odiava isso na
gente, ela sempre quis que fossemos unidos, sem competir em nada. Dona
Sandra acreditava que isso poderia gerar revoltas algum dia. Tudo tem que
estar acontecendo ao mesmo tempo.

— Enzo, estou falando com você, irmão.

— O que disse? — sai dos meus devaneios.

— Estou perguntado se resolveu seu assunto com Helena.

Peguei o papel do exame e mostrei a ele. Enrico leu atentamente cada


linha, cada detalhe e número estatístico. Meu irmão me olhou com aquele
olhar de quem dizia: "você está errado". Esperei sua reação, algum
xingamento pelo menos, mas tudo o que ele fez foi servir um copo de café
para mim. Só o meu irmão para tomar café a noite. Isso tirava o sono de
qualquer um, principalmente o meu e ele sabia disso ao me dar. Obviamente
ele queria que eu ficasse bem acordado para pensar bem na besteira que fiz.

Tomei o café, ele guardou o copo sobre a mesa do escritório, ainda


estavamos no galpão.

— Enrico, diz alguma coisa, irmão. Me ajuda!

Ele sorriu, e me acertou um soco no olho direito. Aquilo doeu pra


cacete. Tentei acertar um nele em seguida, mas meu irmão tinha reflexos
rápidos como ninguém. Com dureza, ele disse:

— O problema é seu. Resolva-o.

Sem dizer mais nada, ele me deu as costas, jogando o papel no chão.
Tudo o que eu fiz foi voltar para casa logo atrás dele.
Como gostaria de passar a noite com Luana. Precisava sentir o gosto do
seu beijo doce, o calor de uma mulher que me amava de verdade. Agora esse
maldito teste vinha para acabar com minha vida. Fui direto para o escritório,
fazer aquilo que eu sabia fazer de melhor: me foder sozinho!

Abri uma garrafa de whisky, tomando tudo de uma vez, sem me


importar em sujar meu terno ou molhar algum papel na mesa. Não teria sono
para essa noite, não poderia ir atrás de Luana por não ter cumprido com o
prometido.

Um filho!

Deveria ter filhos com Luana. Um menino, de preferência, me ajudaria


com tudo. Como me tornaria alguém importante na máfia e respeitado, se
nem ao menos consigo dormir com minha mulher? Não quero imaginar o que
vai ser de mim se todos descobrirem.

Queria afogar minha dor no álcool, mas nem isso estava funcionado.
Mesmo bêbado, eu não conseguia parar de pensar em como as consequências
seriam negativas. Só de imaginar que outro dia estava pensando em viajar em
uma lua de mel com Luana... Agora estou aqui, completamente desesperado,
imaginando as piores possibilidades do que vai acontecer.

O soco em meu olho doia. Maldito irmão! Isso não ficaria assim.

Despertei na manhã seguinte, sentido minha cabeça doer. Meu mundo


girava, nesse momento a imagem a minha frente era de uma mulher
extremamente irritada esperando por mim. Caminhei até a minha mãe, que
me agrediu com um tapa no rosto. Eu sei que mereci.

— Como foi capaz de engravidar aquela vadia — minha mãe rosnou,


irritada. — Você é um homem casado, não é mais uma criança de seis anos
que eu possa bater até não querer mais. Seu irresponsável. Filho da mãe!

— Mãe, eu sei que estou errado, mas eu não tive culpa.

— Lógico que não. Você é a vítima dessa história. — sua vez saiu
irônica, me acertando outro tapa na face.

— Mãe, não conta nada para Luana. Ela não pode saber se não vai
querer me deixar.

— Por que outro motivo ela o deixaria? — permaneci em silêncio. —


Ela não é a sua mulher? — seu tom de dúvidas era evidente. Vi o momento
exato que o choque passou pelos seus olhos. — Seu irresponsável! Sua
esposa continua intocada todos esses meses... eu deveria era te surrar.

— Mãe...

— Enzo, eu não sei onde eu errei com você. Meus filhos só me dão dor
de cabeça. Só falta você me dizer que não vai se livrar da mulher e do bebê.

— Não tenho coragem de matar um filho meu.

— Enzo, você não passa de um tremendo idiota, deixando-se seduzir


por uma mulher qualquer. Essa relação não deveria ter passado de uma noite.
Você é homem, meu filho, mas não é um homem qualquer. Um homem da
nossa família não pode agir da maneira como você agia. O que Luana vai
fazer quando descobrir que você engravidou a sua amante?

— Enzo, você o quê? — Luana perguntou, com a voz embargada em


lágrimas, assim que abriu a porta escritório.

Certamente a gritaria chamou a sua atenção.

E agora? Como iria sair dessa? Estava entre a cruz e a espada.


CAPÍTULO 21

LUANA GREGO

NÃO CONSEGUIA ACREDITAR NAS palavras que acabei de ouvir


da boca de minha sogra. Ela dizia que meu marido tinha engravidado a
amante. Eu não consegui me segurar e desabei em lágrimas.

Estava passando perto do escritório, procurando alguém da família que


pudesse me dar informações sobre Enzo, já que seu celular se encontrava
desligado, quando ouvi a voz alterada de Sandra, dizendo que Enzo teria um
filho com a amante. Estava aflita pensando que ele poderia ter viajado com
Helena para o Uruguai. Ele havia saído de casa pela manhã do dia anterior, e
não havia retornado até hoje.

Meu coração estava aflito, precisando de respostas. Tudo o que fiz foi
correr até o escritório, já que era o único cômodo que não havia os procurado.
Antes tinha ido nos quartos da minha sogra e minha cunhada, mas elas não
estavam em seus quartos.

Ele foi longe demais com aquela mulher! Não aguentei ouvir mais nada
e sai correndo daquele lugar, me trancando no quarto. Ignorei todas as vezes
que meu marido gritou para que abrisse a porta. Apenas mandei uma
mensagem para Felipe, pedindo que ele voltasse urgentemente para minha
casa. Ontem à noite ele saiu para uma balada, e me disse que iria ficar na casa
de um amigo.

“Felipe, me ajuda, por Deus!” enviei.

Enzo batia forte na porta do quarto, mais cedo ou mais tarde ele a
arrombaria e entraria no quarto, se não parasse com as agressões. Meu peito
se apertava cada vez mais e mais.

Ele vai ter um filho com ela.

Meus olhos inundaram nas lágrimas que escorriam pela minha face,
pareciam mais duas cachoeiras que nunca secavam. Meu coração estava
dilacerado, a sensação que tinha era a de que todo meu ar estava indo
embora, me deixando sufocada.

Não escutei mais barulho algum. Ele parou de bater, finalmente.

Tentei não pensar em nada, queria apenas poder ficar em silêncio, sem
que os meus pensamentos me martirizassem. A maldita angústia estava me
matando lentamente. Preferia mil vezes estar sendo torturada do que ter que
encarar essa situação de frente. Estava arrasada! Meus pensamentos gritavam
para que eu acabasse com a vida de Enzo, mas meu corpo não me obedecia.

Não era mais aquela menina frágil que vivia em um colégio interno
com as freiras, estava casada... ou não? Isso não importava mais, não podia
ficar me escondendo entre as paredes desse quarto. Tinha que encarar todos
de frente, e era exatamente isso que faria.

Lavei meu rosto no banheiro, ainda muito vermelho por conta da minha
palidez natural. Minha pele clara entregava que havia chorado horrores, e
mesmo assim não me importei! Passei uma pequena quantidade de base no
rosto e corretivo, que ajudaram um pouco.

Aquele idiota do meu marido não merecia nada que viesse de mim.
Como me arrependo de ter dito sim no altar. Como não percebi antes que
Enzo não valia nada? Eu o odeio tanto que seria capaz de cometer uma
loucura.
Pensar naquele maldito de olhos azuis me fazia querer matá-lo
vagarosamente, torturá-lo e a amante até a morte.

Mesmo nervosa, caminhei até a sala tranquilamente, sem demonstrar


nenhuma irregularidade em meu organismo. Não deixaria transparecer a dor
que sentia, caminhava igual a um robô, programado para ser fria e calculista.

Enzo estava sentado no sofá, cabisbaixo. Deveria estar preocupado


pelas consequências do seu ato, talvez com medo da punição que sua amante
teria se ela fosse descoberta pelo conselho. Ao me ver, minha sogra parou de
falar, me lançou um sorriso curto. Podia ver a decepção em seu rosto. Enzo
nunca foi o que ela esperava.

Minha derrota foi eminente, eu nunca consegui o amor de meu marido


e nunca o teria para mim. Por qual motivo ainda lutava por esse casamento?
Quando não há amor, não há motivo para haver uma união. Estava decidido,
não lutaria por mais nada.

Helena tinha vencido.

— Luana...

Enzo levantou assim que me viu. Ele tinha os olhos vermelhos, a roupa
era a mesma que usava ontem, não deveria nem ter tomado banho. O cheiro
de álcool era forte, devia ter ficado até tarde bebendo com a amante para
comemorar o esperado bebê. Ele tentou se aproximar, mas eu o bloqueei com
um sinal de “pare” feito pelas minhas mãos geladas.

Não tinha percebido a presença de Enrico ao canto da sala. O homem


estava sério, com os braços cruzados, e assim como os demais, me olhava
com um olhar de pena que estava me dando nos nervos. Não preciso da pena
de ninguém.
— Luana, eu...

— Vai se foder, Enzo — rosno, irritada com ele. Fazia questão de


demonstrar isso no tom de minha voz.

— Por favor, me escuta — pediu.

Não queria ouvir nada vindo dele. Ele era bom com palavras e
facilmente me enganaria em outra oportunidade, mas dessa vez, não seria
como ele estava imaginado.

Olhei para dona Sandra, ela era a única capaz de me ajudar.

— Eu quero ir embora, por favor... — comuniquei, controlando minhas


lágrimas.

— Fique tranquila, minha querida. Estou com você nessa — Ela


segurou minha mão, passando algum tipo de conforto bom para mim. — Te
apoiarei no que decidir.

— Eu não vou ficar mais nenhum minuto nessa casa. Eu desisto de


tudo, não quero ter que conviver com uma criança filho de outra mulher, que
não seja eu. Eu quem deveria estar grávida! Não ela... Eu sei que ele a ama, e
por mais que isso me machuque, eu abro mão de tudo para que ele fique com
Helena de uma vez por todas.

— Eu não quero ficar com Helena, Luana! Você é a minha esposa.

Agora ele queria ficar comigo? Filho de uma mãe! Não houve um dia
se quer nesses dez meses que ele não tenha ido para os braços daquela
mulher, em vez dos meus. Ela me tirou tudo, a começar pela minha noite de
núpcias. Ela tirou o amor da minha vida, transformou meu príncipe encantado
em um sapo feio.
Que tipo de pessoa eu sou? Não devo culpar somente ela, meu marido
tem culpa. Ele a preferiu em vez de mim.

— Não sou sua esposa, Enzo. Você sabe disso, sabe que nós nunca... —
fechei meus olhos, e com muita vergonha, disse: — Nunca tivemos relações
de marido e mulher.

— Isso é um absurdo! — dona Sandra disse, revoltada.

— Por isso, eu quero a anulação desse casamento.

— Você não pode fazer isso — acusou.

— Eu não posso, Enzo, mas o Conselho pode — afirmei. — Estou


decidida, não irei voltar atrás. Quero a anulação desse casamento.

A expressão da minha sogra, agora ex-sogra, foi de desfalecimento. Ela


precisou sentar por conta da emoção que passou. Entendia seu lado. Primeiro
Enrico, agora seu filho Enzo, ambos não tinham conseguido sucesso com o
casamento. Sem falar na Anastácia, que desfez um noivado. Era muita
pressão para a matriarca da família carregar sozinha.

Enzo travou, nada disse, nada fez. Assim era melhor. Eu sabia que ele
não imploraria pelo casamento, nunca me amou e nunca me amará na vida.
Estava lhe dando um presente e não um desgosto. Ele não iria se impor.

A porta da sala se abriu, revelando meu primo e Ana, que acabaram de


chegar juntos.

— Nossa família! Que caras de velórios são essas? — Ana perguntou,


preocupada. — Aconteceu alguma coisa que eu não sei?

Ninguém disse nada. Pela objeção da família, resolvi eu mesma lhe


contar a novidade.
— Você vai ser tia.

Ela olhou para Enrico que negou com a cabeça, olhou para Enzo e
sorriu. Veio na minha direção, me abraçando empolgada, me desejando os
parabéns.

— Estou muito feliz — sorriu. — Por que tenho a impressão de


ninguém mais está feliz?

— O filho é da Helena. — disse, indo para os braços de Felipe, que me


acolheu em um abraço apertado. Ele nada disse.

O conforto dos braços de um amigo-irmão não tinha preço, o valor era


inexplicável. Ele fazia carinho nos meus cabelos, me reconfortando. Fiz de
tudo para não chorar, mas acabei não conseguindo. Ana gritava com Enzo, eu
não prestava atenção em nada, apenas ouvia murmúrios.

Segurei nas mãos de Felipe.

— Me leva daqui, por favor.

— Lú, como eu faço? Você é casada com ele.

— Nunca tivemos nenhuma relação sexual. Eu quero a anulação desse


casamento.

Felipe reagiu feliz com a notícia, parecia que tinha ganhado na loteria.
Ele me abraçou, empolgado, dizendo que me ajudaria no que fosse preciso.
Dê repente ele foi arrancado dos meus abraços pelo meu marido, que lhe deu
um soco no rosto.

— Solta a minha mulher, seu desgraçado — rosnou.

Me enfureci com a atitude sem justificava alguma. Não pensei duas


vezes quando fechei meu punho e soquei o nariz de Enzo, fazendo pingar
sangue. Ele me olhou sem acreditar no que aconteceu, eu mesma não
acreditava que havia agredido o homem que mais amei na vida, mas que
agora, tinha se tornado o homem que mais odiava.

— Nunca mais chegue perto da gente, seu idiota. Filho de uma mãe! O
que deu em você?

Dona Sandra não merecia esse xingamento, mas acabou saindo de


maneira natural. O gosto amargo da dor invadia meus lábios. Tinha mordido
fortemente meu lábio inferior, o sangue era o resultado de como estava no
momento. Esfreguei meus olhos, só então percebendo que chorava.

— Você não percebe que esse idiota morre de amores por você?

— Pelo amor de Deus, Enzo. Pare de ver coisas que não existem. Você
é o traidor nessa história.

— Luana, precisamos conversar como um casal. Sozinhos.

— Agora você decidiu que somos um casal? Sinto muito Enzo, não
tenho nada para falar com você. — ajudei Felipe a levantar do chão.

Travava uma batalha interna contra mim mesma. Meus princípios não
eram esses, ninguém me disse que as pessoas eram tão perversas como eu
estava constatando.

Enzo deixou um olho roxo no meu primo. Tudo o que Felipe sempre
fez, foi me ajudar, por isso não vou permitir que Enzo o faça mal algum.

— Você está bem?

— Não se preocupe, prima.

— Me espera lá fora, por favor — pedi, olhando nos seus olhos.


— Mas...

— Por favor...

— Qualquer coisa, grita.

Sem dizer mais nada, ele se retirou. Esse assunto era para ser resolvido
em família. Não que ele não fizesse parte, pelo contrário, não queria metê-lo
na mira dos Grego. Meu marido já implicava bastante com ele, a loucura de
Enzo o fazia ver coisas que não existia. Já imaginou, inventar que meu primo
era apaixonado por mim?! Isso não fazia o menor sentido, éramos como
irmãos.

A ilusão havia crescido dentro de mim com o passar dos anos,


acreditando que algum dia, eu teria o amor do meu marido. Meu pior erro foi
ter transformado um sapo em um príncipe, mas esse não era o momento de
ficar me lamentando, precisava mostrar o quanto era forte.

— Luana, por favor, vamos conversar — ele insistiu.

E eu, todo esse tempo, pensando que ele realmente seria capaz de
deixar aquela mulher. Eu sou muito idiota!

— Já disse: não. — falei, dura. — Ana, por favor, pega minha bolsa
que está dentro do meu closet? Uma preta.

— Pego sim. — ela subiu.

Logo estaria bem longe dessa mansão Dark. Odiava tudo nessa casa.
As cores pretas, a pouca iluminação que tinha, nada aqui era alegre, assim
como as pessoas que aqui viviam. Cada um deles carregavam uma dor em
seus peitos. Talvez esse fosse o motivo da casa ser do jeito que era.

Em todo o tempo do nosso casamento, sempre estivemos distantes um


do outro. Mas nessa última semana, ele realmente parecia estar se esforçando,
querendo ser um bom marido, e futuramente, um bom pai. O destino havia
sido cruel demais comigo, não seria eu a mãe do filho dele. Apostava que
seria um menino, para completar tudo. Só faltava isso.

Pensei por um segundo que, senão tivesse ouvido a conversa deles, eu


saberia algum dia. Enzo sempre me escondia alguma coisa. Agora entendia
por que Giovana foi embora. Ninguém suportava viver ao lado dos irmãos
Grego, nenhum deles sabiam reconhecer o valor das esposas, e por isso, os
dois agora estavam sozinhos e abandonados.

Anastácia voltou com a minha bolsa. Ela me deu um abraço apertado, e


com os olhos em lágrimas, disse:

— Por favor, pensa bem no que está fazendo. Eu sei que meu irmão
não vale nada, mesmo assim eu gosto muito de você. Não tenho muitas
amigas, você e Giovana são perfeitas para mim. Fica bem.

Sorri de volta para ela. Dona Sandra me abraçou.

— Mandarei entregar suas coisas assim que você se estabelecer.

— Acho que ainda tenho direito a algum dos imóveis do meu pai nesse
país. Senão, fico em algum hotel por aí.

— Qualquer coisa que precisar, não excite em me ligar.

— A senhora foi minha mãe todos esses anos. Senão fosse pelo seu
apoio, eu não sei se teria conseguido superar tudo sozinha. Obrigado, senhora
Grego. Por tudo.

— Você é como uma filha para mim. Nunca se esqueça disso.

Por fim, foi a vez de meu cunhado. Ele sempre era sério, quase nunca
conversamos, mas ele não era tão monstruoso como eu pensava ser.

— Você está segura onde quer que vá. Sempre será uma Grego para
nós.

Sorri curto para ele.

Retirei o anel do meu dedo. Essa era a segunda vez que fazia isso nessa
semana, mas dessa vez, seria definitivamente. Caminhei tranquilamente até
Enzo, depositei o anel na sua mão grande e quente. Seu aroma continuava
único, mesmo entre o cheiro do álcool. Como eu desejava que as coisa
tivessem sido diferentes, sem lamentações!

Foi apenas um pensamento rápido.

A saudade podia consumir uma mulher apaixonada antes mesmo dela


sair de uma vez por todas da vida de alguém? Me controlei para não
esbofetear seu rosto novamente. Sem objeções, era melhor assim. Ele recebeu
o anel de volta.

— Agora você pode dar para ela — falei, dura.

— Eu nunca vou dar esse anel para ela, porque, no que depender de
mim, nunca iremos nos separar.

Por um breve momento, uma luz de esperança fez meu coração


reacender, mas logo fiz questão de esmagar tudo com um grande terremoto
de rochas caindo por cima do sentimento lindo que pudesse ainda sentir por
ele. Tudo virou cinzas após o fogo da minha paixão destruir o que ainda
restava de bom.

Tinha problemas suficientes para ficar enfeitando minha vida com algo
poético. Claro que meu marido não queria o divórcio, eu continuava sendo a
melhor opção para a família e sua posição social.
A única herdeira de um grande empresário. Meu pai era influente e
poderoso no mundo da máfia. Isso sempre foi vantajoso para Enzo, mas
agora seria, vantajoso para mim.

Não faria nada escondido dele, não faria surpresas. Gostava de ser
direta, avisar o aniversário do perigo se tornava mais divertido. Vê-lo
tentando fazer as coisas não saírem negativas era divertido.

— Esteja pronto para assinar o papel da anulação do nosso casamento


no conselho ainda essa semana. No que depender de mim, não quero passar
mais que uma semana nesse país.

Estava decidida a voltar para casa quando resolvesse todo esse assunto.

— Luana, não vai... — pediu.

— Adeus, Enzo.

Lhe dei as costas, sem dizer mais nenhuma palavra. Saí pela porta da
frente, de cabeça erguida e expressão fechada.

Ninguém saberia que por dentro, eu estava arrasada.


CAPÍTULO 22

LUANA GREGO

NÃO CONSEGUI PREGAR OS olhos a noite toda, virava de um


lado para o outro na cama. Não que estivesse acostumada a dormir com
alguém ao meu lado, mas sim porque tinha problemas demais para encarar
amanhã. Felipe tinha conseguido o apoio do Conselho.

Através de fontes confiáveis, ele soube que a maioria estavam do nosso


lado, o que significava que conseguiríamos votos a favor da anulação do meu
casamento.

Essa era a segunda noite que dormia no apartamento em que Felipe


tinha conseguido para nós. Era uma grande cobertura, que pertencia ao meu
pai, e agora fazia parte de mais um dos negócios da família Grego. Esperava
conseguir reaver alguns dos meus imóveis, pelo menos a casa que morava na
França.

Sentia saudades do meu país, do clima único que ele tem. A primeira
coisa que irei fazer quando retornar, será ir a torre Eiffel, fazer algumas fotos
e publicar nas minhas redes sociais para que todos vissem que eu não estava
chorando como nesse momento.

Eram quase seis da manhã quando decidi levantar da cama. Tínhamos


uma empregada que fazia nossas refeições, então tudo já se encontrava
pronto.

Tinha sorte por contar com a ajuda de meu primo. Uma das suas mil
funções, era que ele tinha se formado em direito, sendo um ótimo advogado,
que me representaria no conselho por ser homem. Tudo o que eu precisava
fazer era ensaiar o meu discurso de mulher humilhada, e assim, teria o
documento da anulação do casamento. Era claro que eles exigiriam um
exame de toque, que foi feito ontem mesmo em uma clínica administrada por
eles.

Minha vida nunca foi algo esplêndido de se contar, sempre foi remota e
pacata. As freiras sempre me ensinaram sobre o amor. Ensinamentos errados.
O amor não existia da maneira como elas falavam. O único amor verdadeiro
nesse mundo, era o amor de Jesus Cristo. O resto não passava de meros
interesses.

Depois de encerrar meu café da manhã, praticamente sem comer nada,


porque meu estômago não conseguia digerir sequer minhas panquecas
favoritas, ou as torradas com o creme que tanto gostava, cheguei a conclusão
de que coração partido era ótimo para quem estava querendo perder alguns
quilos a mais. Deveria escrever sobre isso em algum tabloide e compartilhar
com alguns seguidores online.

Era tão nova e já tinha vivido uma das piores experiências que existe no
mundo. A dor da traição era tão dura, que nos fazia querer ficar dura junto
com ela.

Essa manhã ignorei todas as vezes que Enzo me ligou. Ele sempre me
ligava, e em nenhuma das vezes eu atendia as chamadas. Ele não tinha nada
útil para me contar, deveria apenas estar querendo que eu não denunciasse
sua amante no conselho, deveria estar temendo a morte dela. Eu não desejava
a morte de Helena, nem poderia por isso. Conhecia algumas leis da máfia e
uma delas dizia que a esposa devia, no caso eu, decidir o que vai acontecer
com a amante. No meu caso, eu só queria poder me separar de Enzo, nada
mais.
Me aprofundei mais em alguns direitos que tinha sobre tal
acontecimento. Se fosse comprovado que permanecia virgem, as chances de
conseguir a anulação eram ainda maiores. Desde ontem que Felipe vem me
preparando para essa reunião. Sem o seu apoio, eu não sei o que faria.

A reunião estava marcada para às três da tarde. Estava inquieta pela


manhã. Queria poder me livrar desse problema de uma vez por todas, e
enfim, um dia poderia ter paz e me livrar de toda essa confusão.

Vesti minha melhor roupa, escovei meu cabelo, fiz minha melhor
maquiagem que aprendi vendo um vídeo no YouTube. Tutoriais de
maquiagem eram para ser ensinados nas escolas, para as meninas crescerem
sabendo que podem ser bonitas sem que nenhum homem precisasse dizer
isso.

Eu me sentia bonita, não porque tinha cortado o cabelo e feito uma


maquiagem, e sim porque eu me sentia bem comigo mesmo. Ninguém tinha o
direito de me chamar de feia e me colocar para baixo por ter uma opinião
diferente à minha. O que eu sou, não diz respeita a ninguém. Aprendi que a
minha beleza vem do meu pensamento, da minha mente e não do olhar de
algum homem.

Felipe dirigia até a “empresa”, onde aconteceria a tal reunião.


Confessava que esperava um lugar escuro, com murros cobertos por cercas
elétricas, alguns cães da raça pitbull prontos para atacar as pessoas. Mas
acabei me deparando com um prédio luxuoso com uma grande faixada
escrita: “Grego Internation”.

Por que a reunião aconteceria em uma das empresas do meu marido?


— Vamos sair vitoriosos — Felipe me garantiu. Sempre confiei nele.

Pegamos o elevador até o último andar. Tentei mostrar tranquilidade,


fazendo de tudo para que minhas pernas não ficassem bambas. Entramos em
uma sala enorme com uma grande mesa redonda ao centro, algumas pessoas
nos esperavam. Meu primo cumprimentou a todos, e eu apenas fiquei em
silêncio. Era mulher e não podia ficar sorrindo para ninguém, senão, seria
vista com maus olhos.

Meu subconsciente me fazia querer atacar meu marido, me abordando


com pensamentos negativos. Ele estava todo confiante em seu belo terno
preto, tinha que admitir que Enzo ficava bem de com a cor, realçava a cor dos
seus olhos. Tão lindo por fora, mas por dentro, tão podre.

A personificação da palavra beleza se definia em Enzo Grego.

Ele não tirava os olhos de mim, e eu não tirava os olhos dele. Não olhe
Luana, não agora, iremos até o fim com tudo.

Ao todo, eram vinte e um conselheiros, e um deles era Enrico Grego,


meu cunhado. Esperava que ele não interferisse em nada, e como membro da
minha família, ele não deveria dar opinião alguma.

O líder de todos eles era o senhor Vasque, o homem que conduziria a


reunião.

— Quero ressaltar que essa reunião foi pedida pela senhora Luana
Grego, que alega ter provas de que seu marido, o senhor Enzo Grego, tem um
caso com uma mulher chamada Helena Dallas. E segundo ela, a mulher está
grávida. Sabemos que isso não é motivo suficiente para pedir anulação do
casamento, por tanto, a senhora Grego afirmou ainda ser virgem. Segundo
ela, eles nunca tiveram relação alguma durante os dez meses de união. — Um
outro homem entregou um envelope lacrado. Era o meu exame, que
constataria que ainda sou virgem. Apenas a declaração do médico que fez
meu exame de toque. O homem abriu e analisou. — Tenho aqui em mãos o
exame que afirma se ela é, ou não, virgem. Mas antes de revelar, vamos ouvir
as versões de ambas as partes, a começar pela senhora Grego que convocou a
reunião. Em seu nome, fala o senhor Felipe Garnier.

Meu primo levantou-se todo elegante em seu terno. Em mãos, ele tinha
um teste de gravidez que comprovava a gravidez de Helena. Não perguntei
como ele conseguiu isso, mas não importava. Isso era uma prova para
derrubar Enzo.

— Boa tarde a todos, senhores — cumprimentou. — Estou aqui para


representar minha cliente e prima, a senhora Luana Grego. Como todos
sabemos, ela alega que o marido a trai com uma mulher na qual se chama
Helena Dallas, até aí, homens, nada demais. A não ser pelo fato dele preferir
estar todos os dias nos braços da mulher que não é a sua esposa. A amante
possui privilégios, como seguranças vinte e quatro horas por dia, e ele
também paga clínicas caríssimas para ela. Ou seja, deixa de cumprir suas
obrigações com a esposa para ficar com a amante. Isso é inadmissível! E
como se tudo isso não fosse o suficiente, ele ainda a engravidou, sendo que
deveria ter feito com a esposa.

— Uma pergunta, Luana Grego é estéril? — O condutor perguntou.

— Não, senhor. Tenho exames que comprovam sua fertilidade —


mostrou os exames a ele. — Retomando o assunto, alego que minha prima foi
deixada de lado. Por isso, ela exige o divórcio.

Felipe se sentou ao meu lado. Ele tinha se saído bem com seu
pronunciamento. Agora era a vez de Enzo, que ficou de pé, pronto para
começar suas lamentações. Gostaria de não o olhar e não poder ouvir suas
palavras, mas não tinha outra opção.

— Senhores, eu não irei negar todas essas acusações. Realmente vinha


me encontrando com outra mulher que não era minha esposa, até aí nada
demais. O problema é que fomos descuidados e ela acabou engravidando.
Mas quanto a essa gravidez, garanto que não será problema algum para o
meu casamento. Irei mandar Helena para outro país, e todos os meses pagarei
uma pensão para ela viver com a criança. Vocês têm a minha palavra de que
nunca mais irei encontrar com ela.

— Senhor Grego, considera as acusações de sua esposa verídicas?

Ele me olhou com aquele olhar confiante.

— Ela está magoada, e com razão, mas isso não é motivo para ela pedir
a anulação da nossa união.

Ele era muito cínico!

Analisei cada palavra sua, me contendo para não voar minha mão na
sua face. Ele estava merecendo algo mais doloroso. Se pudesse transferir toda
minha dor para ele, faria isso com prazer.

Sem tirar os olhos de mim, ele continuou com o seu discurso fajuto de
que o casamento era algo importante e que não queria separar.

Por fim, o juiz disse que iria revelar o resultado do meu exame.

— Senhora Grego, senhores, o resultado do exame é negativo. A


senhora Grego não é virgem. O laudo médico afirma que ela perdeu seu
hímen, sendo assim, teve relações sexuais.

O quê?
Me levantei da cadeira em choque. Fiquei louca de raiva quando o
homem leu todas aquelas mentiras, me segurei para não explodir de raiva.
Como ele era capaz de dizer algo tão mentiroso, há não ser que... meu marido
estivesse por trás de tudo isso, e eu apostava que sim, estava.

— Isso está errado. Eu nunca tive relação sexual com meu marido.
Vocês todos estão contra mim. Estão compactuando com meu marido. Isso é
uma fraude.

Meu primo me fez sentar novamente na cadeira e pediu calma. Ele


tinha razão, esse não era o momento de perder a cabeça. Eu precisava deles
ao meu favor, e não contra mim. Esperava não ter estragado tudo, estava tão
irritada que não medi as palavras medíocres.

Enzo tinha um olhar vitorioso sobre mim. Aquilo me fez ficar ainda
mais irritada.

A palavra de uma mulher não tinha valor? O que eu precisava fazer


para mostrar que era virgem? Abrir as pernas para todos verem? Isso foi uma
ofensa contra mim, uma grande falta de respeito.

Me sentia derrotada diante de tudo isso. Eu não podia me controlar,


precisava gritar a verdade para todos, não poderia guardar nada para mim.
Todos estavam contra mim, mas eles iriam me ouvir.

Me levantei, prestes a dizer um monte de ofensas, quando o som do


alarme de incêndio soou por todo o prédio, fazendo com que todos os homens
saíssem correndo da sala como loucos. Meu primo recolheu seus papéis e me
chamou para sair do prédio, estava com tanto ódio que não dei a mínima
atenção.

Eu sabia que o prédio não estava prestes a pegar fogo. Eu sabia quem
estava por trás de tudo isso.

O culpado tinha permanecido na sala junto comigo. Enzo tinha o olhar


dissimulado diante de mim. Minha vontade era de esmagá-lo como se fazia
com um inseto.

— Você não tinha o direito de trapacear.

— O que você queira que eu fizesse? Me diga, Luana!

— Eu só queria que tivesse aceitado que dessa vez eu iria ganhar.

— Eu sempre ganho todas, meu amor. Sempre consigo tudo o que


quero.

O sangue subiu na minha cabeça. Fui na sua direção, acertando vários


tapas em seu peito, que não movia um músculo para se livrar de mim.
Apostava que nem doendo estava, tinha falhado novamente. Ódio me
consumia.

O pior de tudo era o olhar vitorioso que ele tinha sobre mim.

— Você é a minha esposa — ele apertou a parte de cima do meu braço.


— Você é minha, e eu vou tomá-la para mim.

Enzo me beijou com urgência, seu beijo era quente e molhado. Ele me
prendia entre seus braços, tentei me soltar, mas ele era forte. Deveria estar
sentido nojo do seu beijo, mas tudo o que fiz foi aceitar.

Ele era muito bom em tudo que fazia, e isso me irritava.

Em seus braços, me encontrava totalmente entregue. O homem era


capaz de despertar sentimentos em mim jamais sentidos antes. Era óbvio que
eu o amava incondicionalmente.
Estava sentido o clima esquentar entre nós dois, o único som que estava
na sala era o estalo de nossos beijos quentes. Seus lábios eram os mais
delicioso de todos, não precisava beijar outros rapazes para saber que os seus
era especiais. Sua boca tinha o gosto de mel.

Em seus braços, me derreti de prazer. Minhas pernas moles entregavam


o quanto estava entregue a esse homem.

— Você jamais vai se livrar de mim, minha petit — ele lambeu o


lóbulo de minha orelha, me fazendo arrepiar da cabeça aos pés.

— Enzo... para, por favor — pedi, ofegante.

— Você não quer que eu pare. — Suas mãos subiram pelas minhas
costas, por dentro da blusa.

O calor das suas mãos me preenchiam ainda mais. Sua boca me beijava
com uma pressa fora do comum. Senti que nossos corpos precisavam um do
outro, eles estavam se conectando ainda mais. Seus lábios lambiam meus
pescoço, e ao mesmo tempo, distribuíam beijos capazes de me fazer
enlouquecer.

Sentia minha intimidade latejar de desejo, nunca tinha sentido isso


antes.

Enzo quis se livrar da minha blusa, mas eu não o permiti, e ofegante,


disse:

— Perder a virgindade na sala do conselho não é algo que eu sempre


sonhei.

Ele sorriu.

— Tenho um lugar perfeito para possuir você. Você será minha para
sempre, nem que para isso tenha que prendê-la de uma vez por todas.
CAPÍTULO 23

ENZO GREGO

DURANTE TODO O CAMINHO da empresa até um dos meus


prédios mais próximos, foram quase vinte minutos. Estava duro como uma
pedra pela minha mulher. Tudo o que mais precisava no momento era possuí-
la. Há dias ela vinha me deixando louco, me fazendo querer ultrapassar a
barreira da sua virgindade e a possuir até vê-la desmaiar de prazer.

Meus dedos abriam o fecho do seu sutiã, não perdia tempo. Beijei seus
lábios rosados com muita sede no pote. Me controlei o máximo que pude,
agora a faria minha e ninguém iria me impedir disso.

Retirei sua blusa e o seu sutiã, contemplando toda a perfeição a minha


frente. Os seios rosados eram incrivelmente do tamanho perfeito. Ela fechou
os olhos para esconder sua vergonha.

Ela era tão linda, tão minha.

— Linda, princesa — sussurro em seu ouvido.

Suguei os seus seios com todo o cuidado para não acabar perdendo o
controle. Ela arfou de prazer, e sem perder tempo, me livrei da sua calça,
voltando a me concentrar nos seus seios. Me sentei na cama e a fiz se sentar
no meu colo, observei mais uma vez seus lindos seios. Com a ponta dos meus
dedos, massageei os mamilos, enquanto beijava seus lábios com gosto de
mel.

Meus lábios revessavam entre seus seios e sua boca.


A surpreendi, livrando-a da sua calcinha e abrindo suas pernas para
mim, tendo a visão do verdadeiro paraíso. Contemplei a bela vista. Ela tentou
se fechar para mim com vergonha. Sem o menor pudor, a olhei nos olhos e
disse, faminto pelo desejo:

— Vou te chupar até que grite meu nome, minha petit.

Seu rosto ruborizou com meu comentário. Queria vê-la revirar os olhos
de prazer para mim, enquanto teria seu primeiro orgasmo. A toquei primeiro
com os dedos, sua intimidade estava lubrificada. Sua entrada apertada não
permitia que meu dedo fosse muito longe. Ela deu um pequeno pulo ao senti-
lo, a tranquilizei introduzindo a minha língua em sua intimidade rosada.

Lambia, beijava suavemente, me sentia empolgado quando ela se


esquivava de desejo. Sentia que ela teria um orgasmo rapidamente. Luana
gemia baixinho, controlando todos os seus instintos de gritar de prazer.
Intensifiquei os movimentos quando senti que ela chegava a seu limite, o
gosto dela me deixava ainda mais com desejo.

Luana era como uma boneca de porcelana. Ela era perfeita, e eu sentia
medo de quebrá-la. Estava quase não conseguindo me controlar diante de um
corpo tão maravilhoso como o dela. Nunca precisei me controlar com mulher
alguma antes. Confesso que tudo com Luana era novidade para mim.

Seu beijo era doce, o mais saboroso. Sua pele era macia e perfumada.
Estava ficando louco de tesão.

Suas unhas arranhavam meu pescoço. Os olhos claros famintos de


desejo. A beijei novamente nos lábios, e sem mais delongas, retirei toda
minha roupa, ficando totalmente exposto a ela. Nudez para mim não era
problema, mas para minha doce petit, era sim.
Podia imaginar como ela devia se sentir constrangida diante de um
homem completamente nu, mesmo esse homem sendo seu marido. Uma
moça pura, nunca tocada antes por ninguém, ouvindo ensinamentos de
freiras... para ela deveria ser pecado se entregar ao seu marido assim.

Percebi que ela ficou admirada com o meu tamanho, deveria estar
pensando em coisas como: será que vai caber? É tão grande.

“Eu sei, baby, que é. Eu sou um homem extraordinário, tudo em mim é


perfeito.” Pensei.

Um bom Grego jamais perde seu ego.

Luana me olhava admirada, gostava da maneira como minha menina


me olhava. Minha pequena flor queria desabrochar nos braços de seu marido.
Me aproximei dela, que estava sentada na cama, tocando em seu rosto liso,
sem nenhuma imperfeição. Os olhos tímidos me olhavam atentos, como se
esperassem algum comando.

— Que tal me mostrar o que sabe fazer?

— Eu não sei fazer nada — disse envergonhada, mordendo os lábios.


Aquilo me deixava louco.

— Gostaria que me tocasse, anjo.

Me sentia um demônio corrompendo um anjo. Eu era o maldito nessa


história! O bom mocinho não existia, tudo não passava de uma farsa de
muitos. Era um homem que sempre buscou o bom da vida, e nesse momento,
Luana era tudo de bom para a minha vida.

Timidamente, ela me tocou, sentindo todo meu membro pulsar em sua


mão. Ela fazia movimentos calmos, sincronizados. Apenas seu toque era
capaz de me dar prazer de uma maneira inexplicável.
Como eu necessito dela.

Fechei os meus olhos para ajudá-la a ficar mais tranquila, e fui


surpreendido por sua boca molhada que começava a me tocar, como se
provando um novo sabor de picolé.

Isso baby!

Ela parou de me tocar assim que percebeu que não conseguia tirar os
olhos dela. Luana sorriu tímida para mim, a inocência dela me deixando
ainda mais louco de desejo.

Beijei seu pescoço, causando nela o famoso efeito gelatina. Os pelos


dos seus braços estavam todos ouriçados por causa de meu toque. Não me
cansava de sentir o seu perfume, era algo natural, tinha cheiro de rosas.

— Preparada para se tornar minha mulher? — perguntei, com a voz


rouca.

— Sim...

— Esse é um caminho sem volta, meu amor. Depois que eu estiver


dentro de você, nunca mais irei permitir que vá para longe de mim.

— Você vai me destruir, droga! Eu o desejo muito, quero ser sua


mulher.

Beijei seus lábios novamente, ela seria minha para sempre, de uma vez
por todas.

Suguei seus seios novamente, me encaixei na sua entrada, e senti que


seria difícil para ela. Por isso, tentei ser o mais delicado possível. Não forçava
tudo de uma vez, e quando percebia que ela sentia dor, me continha e voltava
a estimular seu clitóris. Foi assim que consegui entrar nela de uma vez.
Apertada! Gostosa!

Ela arqueou o corpo na minha direção, para me ajudar com a


penetração. Minha menina era uma mulher de coragem, não era uma
garotinha medrosa que fugia assustada. Ela era meu orgulho.

Comecei a me movimentar dentro de Luana, com movimentos firmes.


Ela começava a se acostumar com meu tamanho quando passei a
movimentar-me com precisão. Logo minha petit estava se contorcendo de
prazer nos meus braços. Aquilo foi a realização de um sonho. Foi algo que
me deixou completo como homem, em todos os sentidos.

Não era uma simples realização sexual, era algo que jamais senti antes
em toda a minha vida. Nem em meus vinte e oito anos de vida, eu senti tanto
prazer em viver como estou sentido agora, em apenas cinco minutos dentro
da minha esposa.

Eu não reconhecia esse sentimento, já havia sentido ele algumas vezes.


Tinha medo de admitir que estava apaixonado pela minha bela esposa. Eu a
amava!

Apalpei sua bunda durinha, a penetrei com rapidez. Senti que ela estava
pronta para gozar novamente, só que dessa vez, seria no meu pau. Queria me
lambuzar com o seu mel doce, e ao mesmo tempo, apimentado.

Luana conseguia me tirar do inferno e me levar direto para o céu, sem


passar por purgatório.

Ela era a princesa da minha vida, uma feiticeira disfarçada de princesa,


incrivelmente sexy. Meu único instinto era fode-la até não ter mais forças
para viver.

Ela descansava serena em meus braços, o único som que se ouvia era o
das nossas respirações profundas e ofegantes. Não me importei com a droga
do lençol sujo de sangue, não tinha que provar nada para ninguém, eu a
amava e isso bastava. Agora que era mulher, ninguém iria me fazer ficar
longe dela. Não estava disposto a perder minha mulher para ninguém. Que se
foda os problemas! Viva o amor! Isso basta.

— Obrigado por ser carinhoso comigo — agradeceu, me olhando com


seus belos olhos claros, que agora a pouco reviravam de prazer por mim.

— Você é muito gostosa, minha petit — seu rosto ficou vermelho. —


Não sinta vergonha, meu anjo! Essa não será a única vez que irei te elogiar.
Espero que esteja recuperada para ter seu marido novamente dentro de você.
Estou louco para fazer amor novamente e dessa vez, até que você desmaie em
meus braços — ela sorriu. — Vera que não estou para brincadeira quando
digo que você é minha. Eu lhe disse que não tinha volta.

Tomei seus lábios em um beijo profundo, eram tantos pensamentos que


tinha com ela. A faria gozar de todas as maneira possíveis, a começar
ensinado minhas posições preferidas.

— Goza para mim, minha princesa — pedi, enquanto entrava na sua


boceta com tesão.

A noite se tornava pequena para nós dois. Quanto mais a possuía, mais
desejo sentia por aquela mulher. Não sabia explicar qual era a sensação de
vê-la revirar os olhos de prazer para mim. Tudo nela me agradava. O fato
dela ter se tornado minha, me fazia querer protegê-la de todos. Ninguém iria
levá-la para longe de mim. O plano dela voltar para França estava cancelado.

Durante os dois dias que ela passou longe de mim, em um apartamento


no centro sobre o mesmo teto que Felipe, aquele infeliz desgraçado estava se
aproveitando da situação para se aproximar da minha esposa. Ele que não
tentasse tocar um dedo se quer nela, que seria o seu fim. Estava farto dele
sempre estar rodeando-a, como se fosse um predador prestes a dar o bote.
Não confiava nele em absolutamente nada quando o assunto era relacionado a
Luana. Um homem apaixonado, rejeitado por anos, pode muito bem perder o
controle.

Quando soube que Luana iria me acusar em frente de todos do


Conselho, expondo nossa intimidade, precisei entrar em contato com alguns
“amigos”, pessoas que me deviam favores importantes. Justamente o diretor
da clínica que fazia parte do Conselho da máfia, me devia um. Foi fácil
conseguir alterar o resultado do laudo médico de minha esposa, o exame
mostraria que ela não era mais virgem.

Não consegui conter minha expressão de alegria quando leram o


resultado perante todos, a satisfação em meu olhar me fez querer gritar o grito
da vitória diante todos. Precisei me conter para não aborrecer ainda mais
minha esposa. Com a ajuda do meu irmão, que saiu da sala sem ser notado
por ninguém, o alarme de incêndio foi acionado. Todos saíram correndo da
sala em desespero, até mesmo o seu estimado primo a deixou sozinha, não se
preocupando o suficiente com a vida minha petit.

Minha garota era esperta o suficiente para não sair correndo como os
demais. Ela sabia que eu estava por trás de tudo isso. Seu instinto foi me
bater, mas por sorte, ela se rendeu aos meus encantos, se entregando em meus
braços.

Ela era minha perdição.

Agora, tinha ela com a cabeça sobre meu peito, o relógio marcava duas
da manhã. Não queria dormir e acordar pensando que tudo isso não passava
de um sonho.
Não fazia nem vinte minutos que terminamos de fazer amor, só parei
porque não queria machucá-la. Para uma virgem, não era fácil ter muitas
relações seguidas. Não a queria deixar muito dolorida.

Voltei a velar o seu sono, adormecendo em seguida, com os


pensamentos em recomeçar tudo de novo assim que acordássemos.
CAPÍTULO 24

LUANA GREGO

TUDO FOI TÃO... MÁGICO!

Acordei na manhã seguinte com um sorriso bobo nos lábios.


Lembranças da noite passada me faziam sentir feliz, e ao mesmo tempo, triste
e muito irritada por ter cedido tão facilmente a ele. Enzo finalmente
conseguiu o que queria e agora eu era apenas mais uma em sua cama.

Meu sorriso desapareceu assim que lembrei de todos nossos problemas.


Estava querendo o divórcio, e agora, tinha colocado tudo a perder.

Tudo isso não passou de um plano seu para me fazer desistir? Não
podia acreditar que ontem à noite tinha me entregado a ele.

Enzo foi tão delicado, tão fofo, que nem em meus melhores sonhos
teria sido tão perfeito quanto ontem à noite. Perdi a conta de quantas vezes
revirei os olhos de prazer em seus braços firmes e fortes. Ele me fazia querer
subir pelas paredes.

Odiava ter que admitir que ele era bom demais. Ele não errava em
nada, nem mesmo quando eu estava cansada e fraca, ele sabia reacender todo
meu fogo. Ele me fazia queimar de desejo, sentimentos jamais sentidos antes
de ontem.

E agora, como seriam as coisas?

Boa pergunta, eu arruinei tudo. Parabéns, Luana, por ser tão idiota e
ter se entregando ao seu marido, agora ele me teria de volta para o seu bel
prazer.

Senti vontade de quebrar alguma coisa que não fosse o meu óculos.
Limpei as lentes antes de colocá-lo no rosto. O lençol cobria meu corpo nu.
Adormeci em seus braços e nem se quer me vesti.

Me levantei e procurei minhas roupas pelo quarto, mas não as


encontrei, e sim apenas um bilhete em cima da cabeceira da cama, dizendo:
"Suas roupas estão no banheiro".

Isso era algum tipo de brincadeira? Sem pensar duas vezes, corri até o
banheiro em busca das minhas roupas, e quando passei pela porta, ouvi o
barulho dela se fechando. Era meu marido.

Ele estava totalmente nu, me olhando com um sorriso safado.


Estremeci quando percebi que caí no jogo como uma patinha bobinha.

Enzo era o tipo de homem que sabia conquistar uma mulher. Ele usava
seu dom no sexo para enlouquecer qualquer uma, inclusive a mim. Ele não
era romântico, eu não esperaria por flores e café da manhã na cama, mas por
um convite para fazer sexo, sim, isso era normal vindo de sua parte.

— Bom dia — disse, sem tirar os olhos de mim.

Só então percebi que estava totalmente nua, sem peça de roupa alguma.
Meu primeiro instinto foi me cobrir com as minhas mãos, e mesmo assim,
ainda mostrava demais. Ele apenas riu, divertido. Não, ele gargalhava. Essa
foi a primeira vez que o vi assim, tão contente com alguma coisa.

— Enzo, me dê as minhas roupas. Isso não tem graça.

— Suas roupas? Para que você as quer? O que vamos fazer agora não
necessita de roupas — ele me tomou em um beijo.
Enzo tinha um imã, capaz de me prender no seu corpo quente e forte.
Meu marido me tocava em todas as partes do meu corpo, ele gostava de me
sentir.

— Enzo...

— Você não pode se negar ao seu marido.

Ele tinha que ser tão possessivo? Claro que sim, era pedir demais que
ele fosse meu príncipe. Como disse a minha cunhada: essa de príncipe não
existia. Teria que aceitar de uma vez por todas.

Com o coração disparado, ele me fez sentar sobre a pia do banheiro, em


uma parte que deveria estar os shampoos e produtos de higiene pessoal. Ele
estava faminto de desejo.

Em meio aos meus protestos, ele enfiou a língua na minha boca, me


conduzindo para um beijo possessivo e cheio de tesão. Ele fez com que eu
abrisse as minhas pernas cada vez mais e mais. Sua boca indo para o meu
seio esquerdo, que era completamente sugado por ele. Sua mão começava a
massagear minha parte íntima, ui!

Por que tem que ser tão gostoso? Meu corpo o queria, não tinha como
negar, ele tinha conhecimento de que eu estava louca de desejos por ele.

Nada o faria parar, e eu não queria que ele parasse, nunca!

Ele começou a massagear meu clitóris com delicadeza, havia suavidade


em seus toques. Quando eu menos esperava, sua língua estava lá novamente,
me chupando com bastante vontade. Tudo o que fiz foi me deixar levar pelo
prazer que isso me causava. Ele sabia do efeito que causa em mim e estava se
aproveitando disso novamente.

Pude sentir o quanto estava molhada, ardendo de desejos pelo meu


marido. Se isso era capaz de fazer com que seu ego aumentasse ainda mais,
eu não me importava, só queria gozar e nada mais. E ele era tão bom, merda!
Poderia gritar isso alto, mas me convite.

Sem aviso algum, ele penetrou seu pênis duro e grosso dentro de mim.
Aquilo me fez ter um pequeno susto. Ele segurou meu pescoço com força,
apertando ao ponto de me fazer perder um pouco de ar. Aquilo não era para
doer, certo? Porque sua atitude me fez sentir ainda mais tesão, ao ponto de
liberar muitos gemidos.

Seus movimentos se intensificaram, se tornando cada vez mais rápidos.


Diferente de ontem, ele não estava mais tão cuidadoso, ele estava selvagem e
aquilo me fez querer gritar de prazer. E foi o que eu fiz quando senti meu
orgasmo explodir.

Ele colou seu rosto no meu, a sensação era ótima. Logo fui atingida
pelos seus jatos quentes. E quando pensei que acabou, o senti ainda duro.
Enzo me fez ficar de costas para ele, com as mãos na pia e me penetrou sem
dizer nada. Ele era insaciável, nunca se continha apenas com uma transa.

Meu marido me invadiu por completo, uma, duas, três vezes. Era nova
nesse assunto, logo ficava cansada, querendo deitar e descansar.

Enzo me conduziu até uma banheira luxuosa com espuma, me fez


relaxar em seus braços, enquanto acariciava meu rosto. O resto era efeito da
água sobre nossos corpos, fazendo com que todos os nossos músculos
relaxem.

— Está com fome? — ele perguntou, falando baixinho no meu ouvido.


Ele aproveitou para saber e morde-lo também.

— Não como nada desde as três da tarde, e ainda tive que fazer sexo
todas essas vezes. Estou faminta e cansada.

— Eu não a obriguei a fazer nada. — nisso tinha que concordar com


ele. Eu amei transar com meu marido. — Fica aqui relaxando enquanto
preparo algo para nós.

Assenti. Queria ver até onde ele iria com todo esse teatro. O conto de
fadas tinha acabado por aqui. Assim que ele saiu do quarto, após tomar uma
chuvarada, aproveitei para fazer minha higiene matinal; escovar meus dentes,
pentear meus cabelos, fazer coisas de mulheres. Tomei banho, e em seguida
vesti a única peça de roupa que encontrei aqui. O camisete que ele usava
ontem à tarde. A roupa cobria pouca coisa abaixo do meu bumbum.

Sai do quarto, procurando pelo meu celular. Imaginei que meu primo
estivesse preocupado, querendo saber notícias de mim. Mas nem isso eu
encontrei. Sabia que ele tinha pegado. Sem meus óculos, eu não era ninguém.
Precisava deles até mesmo para dormir.

Ri de meu pensamento.

Sai do quarto, e fui totalmente abordada pelo aroma vindo da cozinha.


Não podia acreditar no que meus olhos viam a minha frente. Meu marido
tinha preparado uma linda mesa de café da manhã, com pães, torradas, bolos
e suco. Agora sim, tinha certeza de que tudo foi planejado por ele! A não ser
que ele tenha pedido comida na recepção.

Assim que me viu, sorriu. Ele desfilava pela cozinha em uma box
branca, com muita naturalidade, enquanto eu ficava babando. Ele estava
tranquilo. Pelo menos ele tinha se esforçado para arrumar a mesa, já que
colocara algumas xícaras alinhadas. Enzo foi até a sala e voltou na minha
direção, me entregando um lindo buquê de rosas.
— Você não vai me comprar com um buquê de rosas.

— Não preciso comprar minha mulher — deu ênfase nessa última


parte.

Ainda assim, ganhar flores do meu marido era aterrorizante, assustador.


Qual o sentindo de tudo isso?

— Você vai usar isso contra mim?

— Isso o quê?

Odiava quando ele fingia que saber do que estávamos falando.


Tranquilidade não era problema para ele, tudo nele parecia tão natural. Eu o
conhecia, não podia me deixar levar pelo calor da emoção.

Coloquei o buquê sobre o sofá, e me sentei na cadeira da mesa que ele


havia puxado para mim. Agora além de me dar flores, também era
cavalheiro?

Não confunda!

— Espero que goste do café. Eu que fiz.

— Agora você também faz café? — perguntei, bebericando um gole da


bebida. — Até que está bom.

Droga! Acabei de admitir que ele era bom até fazendo café.

— Quando estivermos morando em uma casa só nossa, irei preparar


muito café para você.

Analisei atentamente cada palavra que ele disse. Como se aquilo fosse
possível... meu marido falava como se não tivéssemos nenhum problema para
resolver.
Seu sobrenome deveria ser cínico, ao invés de Grego. A personificação
da palavra cinismo estava bem a minha frente, tomando café, vestido apenas
em uma cueca box que marcava todo o seu bumbum empinado... A linha de
raciocínio não era essa, retomando. Ele era Enzo Grego.

— Não pense que eu esqueci de toda a raiva que sinto por você, apenas
porque transamos. Assim como eu não signifiquei nada para você, saiba que
o mesmo digo eu.

Ele me olhou um pouco abalado pela minha resposta, a carinha de


cachorrinho sem dono quase me fez acreditar que ele realmente tinha ficado
decepcionado depois de tudo.

— Assim você me ofende. Quem disse que você não significa nada
para mim?

— Você engravidou aquela mulher — esbravejei.

— Não significa que eu a amo.

— Você não ama ninguém, só a si mesmo.

— Eu amo você.

— Sim, eu sei que você...

Meu mundo parou de girar quando consegui assimilar as palavras que


haviam saído da sua boca. Não era como as três palavrinhas mágicas, e sim
uma declaração de sentimentos. Ou eu ouvi mal, ou imaginei que ele disse
que me amava. Precisei respirar fundo para não desmontar felicidade diante
de seu comentário, não sabia se dê certo era verdade.

Os olhos azuis escuros me fitavam de maneira diferente. Não era como


as outras vezes que ele me olhava com desdém, não parecia ser algo forçado.
Os olhos estavam firmes em mim, ele nem ao menos os piscava. Sua mão
tocou a minha, segurando junto da sua com carinho.

— Desculpe não ter percebido antes que você é a mulher da minha


vida. Eu sou um tremendo idiota, não me importo que me xingue. Se tivesse
como você sentir o quanto estou arrependido por não ter dado o devido valor
que você merecia...

Respirei fundo e levantei o rosto na sua direção. Que Deus me ajudasse


nesse momento. Precisava ter forças e não ficar deslumbrada com as suas
palavras mais ou menos poéticas. Meu marido não estava mentindo, podia
notar isso no seu olhar. Os olhos fixos em mim me faziam querer me jogar
em seus braços, mas tudo era questão de tempo até minha raiva voltar a
incomodar nossa relação.

Não poderia viver feliz ao lado do homem que seria pai de outra
criança, que não estava em meu ventre. Não suportava essa ideia em hipótese
alguma. Não era madura suficiente para assumir essa responsabilidade. Não
era obrigação minha ceder a tudo isso.

— Você chegou a essa conclusão antes de ter engravidado sua amante,


ou depois?

— Eu não fiz de propósito — tentou se justificar. — Sei que estou


errado. Levei minhas necessidades acima da nossa união. Fiz tudo errado, sou
um covarde.

— Enzo, eu sempre te amei, e teria feito de tudo para que fossemos


felizes — ele sorriu. — Mas antes de cortar o meu cabelo, e comprar algumas
roupas novas, você se quer me olhava. No dia do nosso casamento, quando
aquela mulher veio até mim me falando abertamente da relação íntima que
vocês tinham um com o outro, eu fiquei despedaçada. A única coisa que eu
conseguia pensar era: “aonde eu tinha errado?” Eu sofri por semanas, meses,
sabendo que você estava nos braços dela. Não consigo esquecer isso do dia
para à noite. Fui fraca em ter me entregado a você, esse era meu maior trunfo
para conseguir a separação.

— Eu jamais irei te obrigar a ser minha. Por mais que eu a ame, eu sei
que não é nada fácil para você — ele segurou a minha mão. — Eu não posso
matar o filho que Helena carrega em seu ventre, não porque eu a ame, e sim
porque é o meu filho. Claro que não iremos conviver com ela e a criança,
mesmo assim irei providenciar que nada nunca os falte.

— É o seu filho, você está certo em querer os ajudar — fechei os meus


olhos, tomada pela ardência. Pior era a dor que sentia em meu peito.

— Eu te amo, minha princesa. Serai sempre il proprietario del mio


cuore.

Com um peso sobre minhas costas, por tudo que vinha passando nos
últimos dias, permiti que aquelas lágrimas levassem consigo todos os meus
anseios, todos os meus medos de um futuro inserto. Não tinha mais
argumentos para lutar contra essa separação, mas tinha alguém ao meu lado
disposto a fazer tudo para me ver bem. Irônia ou não, essa pessoa era
justamente aquela que mais me feriu.

Enzo Grego.

Levantei da cadeira, tirando todo aquele peso das minhas costas. Uma
mulher da máfia jamais deveria abandonar sua casa, seu marido, e
principalmente, suas obrigações. Mas eu estava fazendo justamente isso. Se
minha mãe fosse viva, morreria de desgosto ao ver que nada deu certo.

Não foi por falta de amor da minha parte, o único culpado foi o tempo,
por ter nos feitos nos encontrar na época errada.

— Tudo bem, não se sinta culpada. Eu saberei respeitar todo o tempo


que precisar.

Essa foi a primeira vez que o vi com os olhos lacrimejados. Estive


prestes a desmoronar naquele instante, nada que o apoio da cadeira não
resolvesse. Algo em mim achou que não restaria mais motivos para que eu
permanecesse nesse país. O deixaria resolver todos os seus problemas com a
máfia, afinal de contas, eu expus seu relacionamento com a amante. Ele teria
muitas coisas para explicar e se entender com todos os conselheiros. Não
estava cantando vitória por isso, a decisão da punição era minha. E eu não
estava desejando a morte de ninguém.

O tempo permitiria que eu esfriasse a cabeça e conseguisse buscar paz


algum dia.

Ele veio até mim em passos lentos, suas mãos tocaram o meu rosto, os
olhos azuis profundamente tristes, e até mesmo frustrados consigo mesmo.
Enzo depositou um beijo sobre minha testa.

— Promete não se envolver com Felipe?

— Eu não sei de onde você tira essas coisas. Felipe é como um irmão
para mim...

— Você o vê assim, mas ele não.

— Ele tem seu apartamento no centro, eu posso me virar sozinha na


minha casa.

— Eu amo muito você.

Lhe dei um último abraço. Nosso destino de agora em diante era


inserto.
CAPÍTULO 25

ENZO GREGO

— DEVERÍAMOS IR ATRÁS DELAS. Elas não têm o direito de


abandonar seus marido por tanto tempo — disse, embriagado pela vodka que
tomava na companhia do meu irmão. Estava frio a noite aqui fora, não me
importava com nada, apenas queria afogar minhas mágoas na bebida. —
Temos poder para buscá-las. O que estamos esperando?

— Precisamos ter paciência, meu irmão — diferente de mim, meu


irmão tinha paciência e sabia esperar dia após dia para rever seu amor.

— Luana não podia ter me abandonado. Eu amo aquela mulher —


fechei os olhos para não chorar.

Quem diria que hoje, Enzo Grego, estivesse afogando as mágoas na


bebida. Desde quando ela foi embora, minha vida se tornou um inferno.

Antes, não entendia todo o sacrifício que meu irmão passava tendo que
viver longe da sua esposa, sem poder sentir o seu perfume, sem poder tocá-la.
Não compreendia as razões pela qual meu irmão nunca foi buscar Giovana,
pouco mais de três anos longe dela... ele fazia tudo isso por amor.

Hoje, eu sei que por amor, somos capazes de fazer grandes sacrifícios
em nome dele. Luana tinha voltado para França no dia seguinte após termos
nos amado como dois amantes apaixonados. Eu estava louco de amor pela
minha petit.

A deixei partir para que pudesse ter um tempo só seu. Podia imaginar o
quanto ela sofreu sabendo que seu marido não a amava da maneira que ela
merecia. E como se isso não fosse suficiente, ainda tinha que conviver
sabendo que todos os dias ele se encontrava com a outra.

Não podia apagar todo o sofrimento que causei, mas podia reescrever
uma nova história ao seu lado, e era isso que estava disposto a fazer.

— Tive uma grande ideia, irmão. Se por acaso fossemos para aquela
ilha deserta com nossas esposas, elas não teriam como fugir. O mar as
devorariam ou seriam os tubarões?

— Definitivamente, nós somos os Grego mais fodidos de toda a


história. — Enrico murmurou alto.

O som da música que tocava no celular dele era a velha "Bella cioa".
Desde que Itália é a Itália.

“O partigiano, portami via

O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

O partigiano, portami via

Ché mi sento di morir”

Me peguei cantando os versos da música. Estava igual a letra da


canção, sentia que iria morrer sem minha Luana.

Fui despertado pelas risadas da minha irmã caçula, ela segurava seu
aparelho celular, provavelmente filmando o sofrimento dos seus irmãos.

— Quem diria que eu viveria para ver isso. Meus dois irmãos sofrendo
de amor, abandonados por não serem bons maridos. Como estou feliz.
A loira era irritante quando queria ser. Se não fosse pelo fato dela ser
minha irmã, teria atirado nela nesse momento. Irmãos eram sagrados!

— Eu atiro primeiro ou você prefere fazer as honras?

— Ela ainda é muito nova para morrer.

— Os bobões dos meus irmãos, agindo como dois viadinhos — ela


gargalhava alto.

Joguei um pouco da bebida na sua direção, foi uma pena não ter a
sujado. Minha irmãzinha tinha reflexos muitos rápidos, capazes de desviar
até mesmo de um tiro. Grego!

Nesses dois meses longe da minha esposa, nem tudo o que eu fiz foi só
beber, eu também fumava um ótimo charuto vindo da França. Tudo me fazia
querer ir para França, senão fosse pelo maldito conselho que me impede de
sair do país, como uma das punições, eu já teria ido a tempos.

Além de ficar três meses sem poder viajar, estava afastado das minhas
funções até o dia vinte desse mês. Tive sorte de ter recebido uma punição
branda, já que meu irmão limpou a minha barra diante todos aqueles vermes
conselheiros.

Helena tinha pouco mais de três meses de gravidez. A morena usava


isso para me ter próximo, sempre me informando como ela estava. Não nos
víamos a muito tempo, desde que tive minha esposa. Minha mulher não
merecia isso de minha parte, não depois de nos amarmos.

Esse filho deveria ser meu e de Luana, agora estaríamos felizes e


loucos para nos amar todos os dias. Lembranças da nossa primeira noite de
amor me fazem acreditar que nunca serei capaz de abrir mão dela. Era lindo
que eu não tinha o direito de poder tê-la todas as noites em meus braços.
Se arrependimento matasse... Eu já estaria morto e enterrado com flores
secas sobre mim.

Minha irmã se divertia com meu sofrimento, já a minha mãe, ela me


evitava desde o dia que Luana foi embora. Ela estava se controlando para não
me bater até a morte. Era duro saber que minha própria mãe defendia mais
suas noras do que os próprios filhos de merda que ela tinha.

Concordei que Luana voltasse para a França, mas isso não significava
que eu havia desistido dela. Ela era minha mulher, e agora, mais do que
nunca, iria lutar por nossa felicidade.

Ninguém iria nos separar, nem mesmo Helena. Assim que ela desse à
luz, irei mandá-la para o Uruguai junto a criança. Nada iria faltar para eles,
farei questão de que a criança estude nas melhores escolas, que seja alguém
importante na vida. Não poderia negar meu próprio sangue, mesmo que ele
fosse um bastardo. Minha intuição de pai me fazia acreditar que era um
menino. Amanhã essa dúvida acabaria quando ela realizasse a ultrassom para
saber o sexo do bebê.

Nossa cama ainda tinha o seu perfume, o perfume das flores não se
comparavam em nada com o perfume da sua pele. Por instante algum deixei
de pensar em nossa primeira vez juntos, em como foi sensacional a possuir,
os olhos revirando de prazer... aquilo não tinha explicação. Minha felicidade
resumia-se em estar do seu lado, pena ter notado tarde demais.

Quando penso que a única coisa que fiz foi magoar minha petit... Luana
sofria bem diante de mim, e tudo o que fazia, era lhe causar ainda mais
sofrimento. Em nada ela se parecia com aquela menina apaixonada, eu a
matei! Fui o único responsável por tirar o brilho dos seus olhos. Ela estava
tão feliz quando nos encontramos em minha casa poucos dias antes do
casamento, ela me dizia o quanto queria ser uma boa esposa, e tudo o que eu
fiz foi machucar o seu coração.

Tudo que eu pensava que sentia por Helena não passava de sexo, desejo
que qualquer homem sentia por uma mulher como ela. Me deixei secar pelo
meu orgulho, me arrependo por todas às vezes em que a deixei dormindo
sozinha em nossa cama para ir me encontrar com minha amante.

Me arrependo por todas às vezes que a chamei de feia, de medusa e


monstro de sete cabeças. Estava cego, não conseguia ver que a beleza não se
média fisicamente, e sim pelo interior dela.

Luana era linda por dentro e por fora, sua beleza era incomparável.

Eu nunca erro com minhas suposições. Helena teria um menino forte e


saudável. O único motivo pelo qual a acompanhei até o médico, era porque
sua gravidez era de risco. Ela reclamava de dores nas costas e sempre estava
enjoada.

Sempre quis ter um filho homem, era uma pena que ele jamais seria
meu herdeiro. A máfia não reconhecia bastardos.

— Você não parece nada feliz com a descoberta do sexo do nosso filho
— Helena parecia empolgada, mas logo ficou séria.

— O que você queria, Helena? Eu deveria estar pulando de alegria


como uma criança pulando em um pula-pula? Você não tem ideia dos
problemas que esse filho vem me causando. Isso está errado! Nunca
deveríamos ter ido tão longe — passei as mãos nos meus cabelos.
Não queria colocar toda culpa nela, não era cínico a esse ponto. Se ela
estava grávida, eu tinha uma participação nisso.

— Não precisa falar assim comigo. Você precisa ter calma.

— Calma? Você não me disse isso! Como posso ter calma? Você só
pode estar brincando comigo! — gritei, enquanto ela sentava em uma cadeira
da clínica mesmo. Estávamos na sala da ultrassom. — Você não sabe o
martírio que estou sofrendo.

— Eu não tive culpa se sua esposa o abandonou.

Como ela sabia que minha esposa tinha me abandonado? Nunca


comentei nada com ela, e absolutamente ninguém que não fosse da minha
família, sabia a verdade. A pergunta era, como essa informação chegou até
ela?

— De onde você tirou isso? — Helena ficou branca como papel. O que
ela estava escondendo de mim? — Estou esperando uma explicação.

Ela encarava meu rosto, esperando que algo acontecesse para que ela
conseguisse fugir antes de dar sua explicação. Helena estava estranha nos
últimos dois meses, ela quase nunca saía de casa, e em compensação, a fatura
do seu cartão de crédito praticamente tinha triplicado comparado aos últimos
meses. A pergunta não era como ela estava gastando esse dinheiro, e sim com
quem? Tinha algo muito estranho nessa história, e eu iria descobrir.

— No lugar dela, eu faria o mesmo — deu de ombros, pegando a bolsa


em cima da mesa do médico. — Podemos ir?

Nunca a vi tão nervosa em toda minha vida.

— Luana não me deixou. Ela me pediu um tempo e eu dei esse tempo a


ela. Logo ela vai voltar e seremos muito felizes.
— Você não sabe como está ridículo. Não reconheço mais você.
Apaixonado pela feiosa, um monstro de sete cabeças, como você mesmo a
descrevia.

— Me arrependo de cada palavra que saiu da minha boca para falar mal
de Luana. Se pudesse, voltava no tempo e faria as coisas diferentes. — A dor
em seu olhar me fazia sentir culpado.

Eu a iludi tanto quanto iludi Luana. As duas não mereciam o tipo de


homem que eu era.

— Não vejo a hora de poder ir para o Uruguai, poder ficar longe de


você. Já que tudo o que você sabe fazer é magoar corações.

Ela saiu caminhando na frente, os olhos lacrimejados me faziam sentir


raiva por tudo que eu fiz. Eu nunca prometi amor a Helena, sempre deixei
tudo bem claro. Desde o primeiro momento, ela sabia que não era amor o que
eu procurava nela, e sim sexo.

Foram ótimos anos de sexo, não me arrependia de nada do que


vivemos. A única coisa que me arrependia era de não ter dado um basta nessa
história quando se fez necessária. Helena se tornou chata depois que me
casei, sempre querendo me controlar, sair comigo como se fossemos um casal
comum, e eu, fraco, cedendo a todos os seus desejos.

Pelos meus cálculos, não tinha como esse filho não ser meu, já que ela
engravidou justamente em um período que ainda mantínhamos relação
sexual. Sempre fiz questão de que ela tomasse a pílula injetável todos os
meses na mesma clínica. E a última vez que tivemos relação sexual, foi a
quase três meses e meio. Ela estava grávida de três meses e meio.

Por mais que eu não aceitasse isso, não tinha como algo milagroso
aparecer para me salvar dessa. Tudo o que eu queria, era cair na escuridão
dos meus pensamentos. Beber até desmaiar.

De volta ao apartamento de Helena, resolvi vir para conversamos sobre


alguns procedimentos normais que a máfia exige.

— Não se preocupe, irei passar por todos os procedimentos. Sei que


vocês são pessoas perigosas. Há mais soldados por aí atrás de mim, eu sei
que nem todos são os que você paga para a minha proteção. — ela sentou na
cama e confessou cabisbaixa. — Eu estou com medo.

Mesmo ela estando habituada com o nosso mundo, ainda assim não
deixava de ser algo novo para ela. Desde o dia que Helena entrou na minha
vida, tudo começou a dar errado para ambas as partes.

Só de pensar que terei um filho na qual serei privado de tudo ao lado


dele, me faz sentir errado! Culpado! Era o certo a se fazer, a criança bastarda
não tinha o direito de conviver com a minha família

— Não precisa sentir medo, não irei permitir que ninguém nunca faça
mal a você e muito menos ao nosso filho.

— Obrigado por tudo que vem fazendo por mim. Por ter salvado minha
vida quando todos queriam me matar.

— Você está viva não graças a mim! Foi Luana que intercedeu pela sua
vida, e pela vida do bebê — Ela franziu o cenho.

— Pensei que tinha sido você.

— Agora sabe que não fui eu. — disse, duro.

— Enzo, eu pensei que você me amava. — falou, se pondo de pé, vindo


até mim. — O que eu fiz para acabar com esse amor? Me diz, eu preciso
saber!

— Você não fez nada. Eu apenas descobri que não era amor, Helena.
Tivemos uma ligação muito forte, mas nada passou de desejo sexual. Amor é
o que eu sinto por Luana.

— Aquela feiosa, Enzo? Pelo amor de Deus! Perdeu o juízo?

— Pelo contrário. Eu recuperei o juízo que havia perdido.

— Me diz: é porque fiquei gorda com essa gravidez? Meus seios


caíram, foi por isso? Eu posso concertar tudo quando o bebê nascer.

— Quando o bebê nascer, a única coisa que irá fazer é permitir que o
Conselho faça um exame de DNA.

Ela voltou a ficar branca como papel.

— Você dúvidas de mim?

— Eu não duvido, mas o Conselho sim.

— E se eu não quiser passar por esse procedimento?

— Você não tem escolhas, por isso, vai se preparando.

Sem dizer mais nada, a deixei sozinha. Dirigi de volta para casa, me
aconchegando em meu edredom com o perfume de Luana. Não permiti que
ninguém o lavasse, era a única coisa que ela não tirou de mim... o seu
perfume.

Retomei minhas atividades normais a dois dias. Evitei ficar muito


tempo em casa, tudo naquela casa me fazia lembrar de Luana, na verdade,
tudo o que eu queria era poder me distrair, assim não manteria meus
pensamentos presos na mulher da minha vida.
Tinha mais problemas para me preocupar, fora todos os outros que já
me afetavam. Tinha notícias de que Andrei Barkov tinha sido visto em
Florença, na semana passada. Me preocupava com Anastácia, por isso fiz
questão de colocar mais seguranças atrás dela, sem que ela percebesse, claro.
Não queria preocupar minha irmã atoa. Andrei ainda tinha noção de que não
poderia se aproximar da minha irmã, ele estava em meu país e aqui quem
manda sou eu.

Não mantinha contato algum com minha esposa, mas tinha seguranças
meus a protegendo de qualquer forma de perigo, e até mesmo de Felipe. Não
queria aquele idiota rondando minha princesa.

Analisava alguns contratos quando recebi uma ligação de um dos meus


homens.

— Senhor Grego, descobrimos algo e achamos que o senhor vai querer


saber.

Continuei ouvindo atentamente cada palavra, ficando satisfeito ao final


da ligação.
CAPÍTULO 26

LUANA GREGO

MINHA BELA E AMADA PARIS.

Lar doce lar.

Finalmente estava de volta em casa depois de quase um ano sem vir


aqui. A Itália era adorável, um país lindo e acolhedor, mas nenhum se
igualava a minha boa e velha Paris. O perfume de minha casa era único,
exclusivamente meu.

A sala de visitas se encontrava vazia como sempre. A única pessoa que


me fazia companhia durante os jantares era Felipe, e sempre na presenças dos
seguranças que meu marido fez questão de colocar atrás de mim. Às vezes
me irritava saber que Enzo via coisas aonde não tinha.

O ano que se passou desde o dia do meu casamento até o hoje, me


ajudaram a amadurecer como esposa da máfia, e principalmente, como
mulher. Já não era mais aquela garotinha boba que sonhava acordada com
Enzo, já não sentia mais toda euforia de antes, e a culpa de tudo isso era dele.
Desde que soube que Helena estava grávida, pensei que nunca mais sentiria
paz novamente, pelo contrário, minha paz não estava em ter um casamento
perfeito, e sim na minha boa vontade de querer superar todos os meus
problemas.

Foi assim que selei minha autoestima. Eu era linda, e madura suficiente
para encarar todos os meus problemas.

Busquei na pintura um refúgio para meus problemas. Pintar me fazia


sentir paz. Nos quadros que pintava, expressava toda a minha vida com as
cores e pincéis.

Não ficaria chorando pelo leite derramado por toda a minha vida!

Com o passar dos meses, tinha aprendido que podia ser bonita da
maneira como eu era. A maquiagem e os cortes de cabelo eram apenas um
enfeite, como em uma árvore de Natal. A árvore por si só já era muita bonita,
mas quando se enfeitava com bolinhas e meias de Natal, tudo ficava ainda
mais bonito. Assim era eu, como uma árvore de natal, sempre poderia ser
mais bonita.

Mantive pouco contato com os demais membros da família Grego,


assim era mais fácil. Soube apenas por fontes confiáveis, no caso meu primo
Felipe, que meu marido tinha recebido uma punição branda, graças a Enrico.
Foi melhor assim, não me perdoaria nunca se algo de ruim tivesse acontecido
com Enzo. Apesar de tudo, eu não sentia mágoa nenhuma por ele ter feito
tudo o que fez, eu senti que ele me amava na noite em que fizemos amor pela
primeira vez.

No começo? Parei para pensar nos motivos pelo qual nosso casamento
não teria dado certo. Em uma delas: cheguei á conclusão de que meu marido
não era um homem fácil, além de ser chato na grande maioria do tempo, ele
também era egocêntrico, irritante, fechado, e muitas outras características que
ainda poderia citar como: folgado, sincero demais, possessivo em relação ao
Felipe.

Enzo era tudo, menos um ser humano sensato. Ele não era um príncipe
como eu sempre tinha sonhado, ele ainda estava na fase do sapo. Sua princesa
ainda não tinha lhe dado o beijo da transformação, o encanto ainda não tinha
se quebrado.
Podia imaginar que nesse momento ele deva estar aproveitando a vida
com alguma beldade, enquanto eu estou aqui, completamente triste, por meu
conto de fadas não ter dado certo. Essa era a primeira vez que uma princesa
não tinha conseguido fisgar o príncipe.

Olhei para janela, admirando o belo jardim que tinha em casa, notei que
algumas flores estavam ficando sem vida, conversei com o jardineiro e
consegui resolver esse problema. Comprei adubo necessário para todas elas, e
para as árvores da frente da casa. Não suportava ver plantas morrerem por
falta da ação do homem. Deveríamos preservar o meio ambiente, a começar
pela casa, a mãe natureza agradecia.

Tudo à minha volta me fazia voltar aonde eu parei, no meu marido.

Desde aquela noite, que ele me fez sua, não paro de sonhar acordada
com seus beijos, seus toques. Não sei como consegui transar com ele. Meu
marido era enorme em todos os sentidos da palavra, lembro de ter ficado
dolorida por quase duas semanas.

Semana passada fui em uma ginecologista, a doutora Andreia, que me


pediu alguns exames laboratoriais de sangue e urina com urgência. Não havia
entendido o porquê da pressa toda.

Felipe estava expondo alguns dos quadros antigos da nossa família no


Museu do Louvre. Eram quadros que valiam fortunas. Ele precisou da minha
ajuda para conseguir organizar tudo para hoje à noite. Acabei me esquecendo
que deveria ter voltado na médica na sexta. Acabei pedindo para remarcar
para segunda.

— Lamento, senhora, mas esse vestido não sobe mais na senhora.

— Como não? — perguntei surpresa. Eu comprei ele não tem nem dois
meses!

Devia ter encolhido na hora de lavar, mas a etiqueta mostrava que ele
não tinha sido lavado, então lembrei das panquecas que comia quase todas as
tardes. Quando era mais nova, tinha problemas com a balança. Tive que
passar uma fome grande para poder emagrecer, e agora, o peso estava
voltando a me incomodar novamente.

Realmente, tinha ganhado alguns quilos a mais, principalmente na


região da barriga. Quase três meses depois, e apenas agora venho notar esse
acúmulo de gordura? De repente aquela tontura que me vinha atormentando a
algumas semanas me fez quase cair, por sorte minha empregada me ajudou a
sentar na cama.

— Senhora, é melhor que procure um médico.

— Eu estou bem, Maria, obrigada.

— Quer que eu avise ao seu primo?

— Não, obrigado.

Voltei a encarar o acúmulo de gordura na minha barriga. Meus seios


também tinham crescido algo, quase que insignificante, e se não fosse apenas
um acúmulo de gordura? E se.. claro que fazia sentido, minha menstruação
não vinha a três meses. Pensei que fosse pela onda de estresse que vinha
enfrentando nos últimos dias, mas não era. Eu só poderia estar grávida!
Transamos sem camisinha durante muitas vezes seguidas naquela noite, e na
manhã seguinte, lembro dele ter me possuído pelo menos duas vezes, sem
camisinha.

Será que eu estava realmente grávida? Sorri, feito uma boba pensando
nessa possibilidade. Então lembrei de que não serei a única mãe de um filho
do meu marido. A frustação me fez querer esmagar a cabeça dele, mas
lembro que sou muita nova para ir para a cadeia, prefiro viver minha
"liberdade".

O evento no Louvre reuniu diversas pessoas vindas de todo o


continente, famílias de grandes prestígios, como os Thenoples e Verlades, até
mesmo os Harrison compareceram no evento de caridade que minha família
fazia todos os anos. Resolvemos retomar esse evento, precisava me ocupar
com alguma coisa, nada melhor do que me engajar em causas sociais, poder
ajudar o próximo era algo muito bom.

Na segunda pela manhã, estava no consultório da minha ginecologista.

— Você está grávida de quatorze semanas. Parabéns mamãe! —


confirmou o que eu já suspeitava.

Não sabia se sorria ou se chorava. Tudo o que eu fiz foi respirar fundo,
e tentar não congelar. Eu estava realmente grávida! How! Isso era novo para
mim, não me imaginei sendo mãe tão cedo assim. Massageei minha barriga,
sentindo que há muito amor dentro de mim.

A médica me chamou para ouvirmos o coração do meu bebê. Não


contive as lágrimas, me emocionei com aquelas batidas. Eu teria um filho!
Aquilo me fez querer sair correndo para contar para todo mundo,
principalmente para o meu marido, mas então lembrei que não queria que ele
estivesse comigo por pena. Se pedi esse tempo para ele, foi para que ele
tivesse certeza do que sente por mim.

Não usaria um filho para prender ele a mim. Independente de qualquer


situação, eu ainda era a mãe do meu bebê, e ninguém iria tirá-lo de mim, nem
mesmo a máfia. Por enquanto, achei melhor guardar a notícia apenas para
mim, nem mesmo meu primo ficaria sabendo.
Pelo jeito, eu faria pouca barriga. Não daria para esconder para sempre,
mas pelo menos por enquanto, eu conseguiria.

A primavera chegou com todas as flores mais lindas da estação. Estava


com quase quatro meses e meio, já dava para sentir mais os sintomas, como
enjoos e desejos. Certa noite, Felipe precisou sair quase dez da noite para me
comprar pera. Fiz ele acreditar que era para passar na minha pele, um novo
tratamento de beleza, pela qual eu estava alucinada.

Para minha infelicidade, soube que Helena seria mãe de um menino, o


tão sonhado filho homem que meu marido tanto desejava seria fruto do amor
dele com a amante.

Corri para meu quarto, procurando algo para vestir, precisava esconder
minha barriga de todos, principalmente de Felipe. Ninguém pode saber da
minha gravidez. Minha sorte era que quase não dava para notar minha
gravidez. Estava fazendo meu pré-natal como manda o figurino, tudo
certinho, a saúde do meu bebê estava impecável, assim como a minha. Não
via a hora de poder ver o rostinho do meu filho, às vezes me pegava
emocionada, pensando em qual nome darei ao meu bebê. Na verdade,
gostaria que Enzo estivesse aqui ao meu lado, me apoiando em meio a todos
os meus medos e inseguranças. Ser mãe de primeira viagem não era nada
fácil.

Acabei escolhendo um vestido soltinho.

Sai do quarto, seguindo o cheiro maravilhoso vindo da cozinha. Maria


estava preparando uma deliciosa sopa de legumes. Com a gravidez, tinha
organizado uma dieta saudável para a segurança do meu filho.

Essa noite Felipe disse que vinha jantar comigo. Ele me convidou para
assistir o novo filme de romance que tinha saído a poucos dias no cinema. O
jantar aconteceu normalmente, ele me contava como estava indo com as
coisas da empresa, tudo o que eu fazia era dizer para ele pegar leve, não ficar
tanto tempo trabalhando.

Meu primo era sozinho desde sempre. Nunca o vi apaixonado por


mulher alguma. Se minha cunhada não fosse comprometida, teria dado uma
forcinha para eles ficarem juntos, ambos são inteligentes, bonitos, e
obcecados por matemática. A combinação perfeita.

O filme era de partir o coração, principalmente no final, quando o casal


terminava separados por conta do orgulho de ambos, isso me lembrava
alguém... Felipe parecia muito concentrado nas letras finais do filme, ele não
desgrudava os olho da TV. Toquei em seu braço, divertida, vendo-o todo
abobalhado com o final.

— Ei, não me diga que o final te deixou emocionado? — zombei.

Ele me olhou com aquele olhar pacífico de sempre. Sorri de lado, ele
tinha um certo brilho nos olhos, totalmente diferente de tudo que eu já tinha
visto antes, observava atenta cada movimento em seu rosto. Felipe sempre foi
imprevisível, fechado na maioria das vezes. Por mais que fossemos próximos,
às vezes eu sentia que ele precisava de um ombro amigo, como se ele
sofresse em silêncio por alguma coisa.

— Essa é a hora. — disse, nervoso.

— Hora de quê? — perguntei, extremamente confusa.

— Disso... — fui surpreendida com um beijo na boca.

Minha primeira reação foi não fazer nada. Ele me beijava com carinho,
buscando minha permissão. Senti minha cabeça pousar sobre os travesseiros
no chão, seu corpo por cima do meu me fez sentir vontade de empurrá-lo, no
entanto, ele era forte. Eu não conseguia corresponder aquele beijo.

O que estava acontecendo com ele? Sempre fomos amigos! Irmãos! Por
que ele estava fazendo aquilo comigo? Tentei sair debaixo do seu corpo, ele
não permitiu, suas mãos fazendo com que meu rosto ficasse unido ao seu. Era
agoniante.

Não sentia nada com seu toque. Meu único sentimento era de
repugnância.

Meu corpo não parava de tremer, minhas mãos começaram a soar.


Para! Eu pedia para que ele parasse, ainda sim, ele não me obedecia.

— Felipe para... Por favor.

— Você não entende, Luana, eu sempre te amei. — disse irritado.

— O quê?

Meus sentidos não estavam raciocinando bem. Ele disse que me


amava? Ele estava confuso, sempre tivemos carinho de irmãos um pelo outro.
Ele estava confundido as coisas, não fazia sentido o que dizia. Por Deus!

Fiquei tensa diante da situação. Meus músculos se contraíram e uma


breve ideia passou pela minha cabeça, Com muito esforço, consegui morder
seus lábios e consequentemente, o empurrei para o lado. Levantei do chão,
encarando o homem obcecado, me olhando com uma olhar maligno.

Ele não era meu primo?

— Estamos sozinhos, Luana. Ninguém vai te ajudar, você será minha


de uma vez por todas.

— Você está louco, Felipe. Nós somos como irmãos...


— Você me vê assim, princesa. Mas não é assim que eu te vejo. Eu
sempre te amei, e meus tios resolveram casar você com o idiota do Grego.
Você não imagina como eu sofri sabendo que você seria dele, mas felizmente
ele não te fez mulher — disse, convencido. — Mas eu irei te fazer mulher.
Garanto que você nunca mais vai pensar nele.

Não ouvi mais nada, sai correndo antes que ele pudesse me fazer algum
mal. Estava tão nervosa que comecei a gritar feito uma louca. Como assim
não tinha ninguém em casa? Ele dispensou os empregados?

O barulho dos seus passos ecoavam logo atrás de mim. Antes que eu
conseguisse passar pelo corredor que dava acesso às escadas, fui brutalmente
empurrada contra a parede, minhas costas bateram fortemente nelas, fazendo
com que eu soltasse um grito agudo de dor.

Em seus olhos havia ódio, sentimentos possessivos. Ele me segurava


apertando meus braços, fazendo meu corpo sacudir várias vezes. Sem o
menor pudor, ele rasgou as alças do meu vestido, me fazendo ficar exposta na
região dos seios. Tentei me cobrir, mas ele não permitiu.

— Felipe, para com isso...

— Foram anos pensando em você, Luana. Anos sofrendo por você, e


você pensando naquele maldito filho de uma mãe que nunca foi capaz de te
amar da maneira como eu te amo.

— Não me machuca Felipe, eu te imploro.

— Não precisa chorar, Lú, eu não sou o Enzo! Não seria capaz de te
machucar como ele fez te traindo todas aquelas vezes. Eu sempre te amei, e
agora você irá sentir todo o meu amor.

Fechei meus olhos numa tentativa de tudo não passar de um grande


pesadelo. Nunca imaginei que Felipe, aquele que eu sempre tive como um
irmão, o meu melhor amigo, me traindo como estava fazendo agora.

Comecei a chorar, aceitando a situação. Tudo que eu pensava era no


meu bebê. Esperava que ele não pudesse sentir minhas emoções, nem o meu
medo.

Suas mãos tocavam a minha cintura, ele tinha um olhar predador sobre
minha. Eu não queria ser dele! Quanto mais eu suplicava, mais ele me tocava
da maneira que não devia. Sentia toda sua ereção contra meu abdômen.

Sua língua brincava com meu pescoço, ele me mordia, lambia, e até
mesmo sussurrava palavrões de baixo escalão no meu ouvido. Tentei
empurrá-lo, em vão.

Estava ficando totalmente exposta a ele, foi quando consegui, em um


movimento rápido, dar um chute no meio das suas pernas, o derrubando no
chão. Desci as escadas correndo.

— Socorro, alguém me ajuda.

Estava tão assustada que acabei esbarrando em um paredão de


músculos, que me segurou contra si. Foi algo aliviador. Os olhos azuis me
olhavam surpresos, de maneira protetora. Me abracei ainda mais contra ele,
tudo o que eu mais queria nesse momento era o seu abraço quente.

Depois da minha respiração, a última coisa que ouvi foi o barulho de


um tiro.
CAPÍTULO 27

HELENA DALLAS

Alguns anos antes...

MINHA TIA GRITAVA PARA que eu fosse o mais rápido possível


na padaria atrás de pão. Em breve os hóspedes iriam acordar, e não teria pães
para servimos o café da manhã. Tudo culpa de minha tia. Eu avisei a ela que
deveríamos ter comparado ontem à noite.

Sem mais demoras, corri até a padaria, apressada, me livrando de um


possível atropelamento. Não queria ser mais uma notícia trágica para nossa
família. Minha mãe morreu no parto, e eu nunca a conheci. Meu pai
trabalhava em outra cidade, vinha me visitar apenas uma vez por ano, isso
antes dele ter novos filhos. Foi doloroso, mas eu tive que aceitar meu destino.

Tinha sorte por ter minha tia Eva. Ela era uma mulher de temperamento
forte, decidida, e a única pessoa que tinha da minha vida. Podia contar com
ela para tudo.

O moço da padaria já me conhecia desde que tinha oito anos, sempre


vinha aqui com minha tia, e ele me dava balinhas de mascar.

Corri apressadamente de volta para casa, quando ouvi o freio brusco de


um carro que vinha na minha direção. Minha única reação foi ficar parada no
mesmo lugar, sem mover um dedo sequer. Acabei derrubando o cesto de pães
no chão.

Para quem não queria ser mais uma notícia triste para a família, não
estava sendo muito esperta.
— Olha por onde anda, moça — ouvi uma voz grave vindo na minha
direção. Estava apavorada demais para abrir meus olhos e encarar o dono da
voz. Esperava não ter arranhado o carro dele, porque eu não podia pagar pelo
concerto. — Está tudo bem? — perguntou. — Pode abrir os olhos, eu não
vou devorar você.

Ele era algum comediante? Me devorar, por acaso ele gostava da


história da chapeuzinho e do lobo mal?

— Desculpa — abri meus olhos, olhando o moço a minha frente.

Socorro! Alguém abriu a porta do céu? Porque um anjo acabou de cair


bem na minha frente.

Nunca tinha visto alguém tão bonito quando ele era. Os olhos azuis
combinavam com os cabelos claros, a pele branquinha só fazia com que
transparecesse ser ainda mais jovem do que era. Ele deveria ter mais ou
menos a minha idade. Eu tinha dezessete anos, ele deveria ter no máximo
vinte anos, talvez não chegasse nem a tudo isso.

Ele não era de Trivoli. Nunca tinha esbarrando com ele por aí antes.

Não conseguia disfarçar a baba que escorria pela minha boca, ele sorriu
de maneira tão linda que foi capaz de me afetar. Ele me ajudou com os pães,
colocando de volta na cesta, e me entregando-a em seguida.

— Obrigado.

— Posso te dar uma carona se quiser...

— Não precisa, eu moro aqui perto.

— Poderia me dizer seu nome, bela morena?

Ele me chamou de bela morena? Ou meus ouvidos estavam sujos


demais? Ele disse que eu era bela... Acho que já estava apaixonada.

— Me chamo Helena — respondi. — Qual o seu nome?

— Helena — ele parecia saborear meu nome. — Pode me chamar de


Enzo.

Ele era lindo, e tinha um nome apresentável. O que mais poderia


esperar?

— Já que mora aqui perto, poderia me informar onde fica a pensão


mais próxima?

Era o destino ou uma mera coincidência?

— Posso sim. Minha tia tem uma pensão a duas ruas daqui.

— Ótimo, assim podemos nos ver mais vezes — disse, colocando os


óculos escuros novamente no seu belo rosto.

Ele queria me ver mais vezes? Só podia ser um sonho.

À tarde, quando fui recolher algumas roupas lavadas dos hóspedes,


quase cai para trás ao ver que o rapaz estava fazendo uma reserva com minha
tia. Tinha algo nele tão sexy, e ao mesmo tempo tão misterioso, que me fazia
sentir vontade de descobrir.

Quando ele saiu, eu me aproximei da minha tia, perguntei se ele iria


dormir aqui e ela me respondeu que ele ficaria duas semanas na pensão. Essa
era minha chance de me aproximar dele. Logo eu, que sempre fui a garota
mais descolada de toda a escola... só que não!

Meus olhos eram grandes demais, isso era motivo suficiente para todos
meus colegas rirem de mim.
Nunca me importei com as ofensas. Tinha motivos para não me
entregar a depressão. A morte do meu pai há dois anos quase me levou ao
fundo do poço. Graças a minha tia, hoje eu estava firme e forte.

— Tia, posso recolher o jantar? — perguntei.

Minha tia era boa para mim. No que eu pudesse ajuáa-la, eu ajudaria.
Devo tudo a ela.

— Pode sim. Mas antes, quero que leve o jantar do quarto 312.

— Sim, senhora.

O quatro 312 deveria ser de uma senhora que sempre gostava de jantar
sozinha. Às vezes eu gostava de fazer companhia para ela.

Bati na porta do quarto, me surpreendendo com o rapaz que a abrira.

Era Enzo!

— Bo-a noit-e — gaguejei como nunca.

Que papelão foi esse Helena?

— Boa noite — ele sorriu, mostrando todos os seus dentes branquinhos


e alinhados. Tudo nele era tão perfeito.

— Seu jantar.

— Pode colocar em cima da cabeceira, por favor. Não estou com fome
agora.

— Licença — pedi, entrando no quarto. Fiz tudo da maneira como ele


mandou.

Ouvi o barulho da porta sendo fechada e trancada. Por que ele tinha
feito isso? O encarei assustada, com aqueles olhos azuis lindos me olhando
com algum tipo de sentimento na qual eu não sabia dizer qual era.

Uma vez eu vi esse tipo de olhar. Foi de um garoto da minha turma, ele
me beijou e depois quis algo a mais... será que ele também queria algo a
mais?

— Não precisar sentir medo. Eu não vou fazer nada que você não
queira — ele se aproximou de mim, tocando em meu rosto.

Meus cabelos curtos, na altura dos ombros, estavam atrapalhando


alguma visão sua, porque ele os jogou para trás. Fiquei totalmente
hipnotizada por aquele olhar sedutor. Seu nariz tocou em meu pescoço,
sentido o meu perfume. Eu nem ao menos tinha tomado banho, já ele tinha
um cheiro amadeirado.

Me arrepiei com seu toque. Nunca senti isso antes em toda minha vida.
Ele não tinha nem me beijado e eu já podia sentir uma pequena vontade de
senti-lo dentro de mim. Foi então que ele me tomou em um beijo envolvente,
cheio de toques sobre minhas coxas e bumbum.

O seu beijo tinha o gosto de menta, não queria parar nunca de beijá-lo.
Foi então que ele rapidamente se desfez das minhas roupas, e das suas
também. Ele sugou um dos meus seios, me fazendo ficar bastante excitada.
Me jogou na cama sem a menor delicadeza, e voltou a me chupar com desejo.

Senti algo querendo me invadir, foi então que cai na real, percebendo
que estava prestes a fazer sexo com um homem que eu mal conhecia. Apenas
sabia seu nome e nada mais.

— O que...

— Fica quietinha — resmungou.

— Enzo... eu sou virgem!


— Prometo ser delicado.

Foi um caminho sem volta. Depois daquele dia, eu nunca mais tinha
conseguido tirá-lo dos meus pensamentos.

Depois daquele dia, nos encontrávamos todas as noites em seu quarto.


Sempre depois que minha tia dormia, eu saia na portinha dos meus pés para
transar com ele. Eu estava completamente apaixonada por ele, não entendia o
porquê dele não me ter me pedido em namoro.

Enzo tinha sumido depois daquelas semanas, e só retornou depois de


quase seis meses. A única coisa que eu fiz, foi me entregar novamente.

Nosso relacionamento nunca foi fácil, principalmente depois de


descobrir que ele queria me matar. Foi então que eu jurei à mim mesma que
me vingaria dele.

Dias atuais...

Eu não era a vilã dessa história, mas também não era a mocinha. Todos
os Grego iriam me pagar por terem me feito de boba por todos esses anos.

Meu plano era infalível. Precisava transar com o primeiro homem que
encontrasse para poder gerar um filho dele. Enzo não teria dúvidas de que o
filho era dele.

Dopei os seguranças para poder sair de casa sozinha. Ofereci um suco


de laranja, e os homens acreditaram que dormiram no serviço. Eu prometi
não contar nada a Enzo, se eles também não falassem.

Conheci Felipe no shopping a quase quatro meses atrás. Inicialmente


não sabia que ele era primo de Luana, e assim que descobri, tudo se tornou
ainda mais fácil, já que ele morria de amores pelo patinho feio.

Enzo foi o único homem da minha vida até eu conhecer Felipe. Ele era
mais velho que Enzo, alguns anos, e muito bobinho também. Caiu no meu
papo furado de que tomava pílulas e transou comigo sem camisinha,
despejando em mim jatos quentes do seu gozo, cheios de espermatozoides.
Em menos de duas semanas, comecei a sentir os sintomas da gravidez.

Armei o lance de deixar o teste de gravidez de propósito em cima da


cômoda. Quando Enzo me ligou pedindo que fizesse as malas, eu sabia que
ele queria se livrar de mim. Tudo isso porque resolveu que a esposa horrorosa
era a mulher da sua vida.

Sentia vontade de matá-lo, mas como isso não era possível, iria pelo
menos acabar com seu casamento. A notícia iria chegar aos ouvidos de Luana
alguma hora. Ela era fraca, iria abandonar Enzo, e então, ele voltaria para
mim.

Um dia antes de voltar para França, Felipe entrou em contato comigo,


me avisando que iria embora. Ele também queria saber se era o pai do meu
filho, e claro que eu neguei. O bobo acreditou como sempre.

Nas semanas seguintes, notei que Enzo parecia sempre pensativo, como
se estivesse procurando algo. Ele estava muito estranho. Foi então que recebi
a ligação da clínica, dizendo que Enzo esteve lá fazendo muitas perguntas
indesejadas aos funcionários.

Tinha sorte por ter uma aliada que trabalhava na clínica. Tínhamos sido
colegas na escola, tinha a ajudado a passar de ano, e agora era sua vez de
retribuir um favor para mim, me ajudando a enganar todos os otários que
acreditavam que o filho era do Enzo.
O único problema era ter que submeter meu filho a um exame de DNA.
Todos iriam descobrir que eu menti. Estava ficando sem saída, precisava
encontrar uma solução o mais rápido possível, caso contrário, eu seria morta
pelo próprio Enzo.

Veja só o que esse amor doentio me fez fazer. Fiquei completamente


obcecada em destruir o casamento de Luana. Ela não era bonita, e mesmo
assim, estava ganhado essa batalha, conquistando cada vez mais aquele
idiota.

Minha sorte era que ela estava muito longe de nós, e se tudo desse
certo, hoje mesmo Felipe a possuiria. Assim o idiota do Enzo desistisse sela,
já que não iria querer uma mulher tocada por outro homem.

Uma sorriso satisfatório tomou conta do meu rosto. Ainda tinha


esperanças de que meu amor voltasse para mim.

Hoje meu filho resolveu que me faria ficar dolorida. Pensando bem, eu
mesmo tinha acabado com a minha vida. Maldita hora que engravidei! Os
dias se passavam e meu Enzo não retornava para mim.

Estraguei meu corpo com essa gravidez ridícula. Ainda não sabia como
fazer para provar que esse filho era de Enzo, precisava manter a calma!

Meu celular começou a tocar em cima da cômoda. No terceiro toque,


atendi. O que aquela idiota queria? Mais dinheiro? Tinha gastado muito nos
últimos meses pagando-a pelos seus serviços.

— Helena, fomos descobertas — Lídia disse do outro lado da linha.

— Como assim "fomos descobertas"?

— Enrico Grego esteve na clínica hoje de manhã. Ouvi bem quando ele
disse que sabia que o filho não era de Enzo. Eu estou quase embarcando para
um país onde não tem leis de extradição, você deveria fazer o mesmo.

Não disse mais nenhuma palavra. Encerrei a ligação focando no meu


plano B.

FELIPE GARNIER

A responsabilidade de cuidar de uma garotinha que só chorava e me


pedia colo não era nada fácil. Meus tios faleceram em um acidente de carro
apenas dois anos da morte de meu pai, fiquei totalmente sem chão. Eles eram
minha única família. Agora só existiam eu e Luana.

Dediquei anos da minha vida aos seus negócios. A família Grego


decidiu que ela seria cuidada melhor em um convento onde houvesse aulas
para as garotas que lá estudavam. Havia discordando das suas decisões, ela
era só uma criança que tinha acabado de perder os pais, não merecia viver
trancada em um convento.

Péssima escolha a do meu tio escolher um Grego como futuro marido


da minha prima. Com o passar dos anos, fui descobrindo cada vez mais sobre
a família. Eles eram muito poderosos, em toda Europa só ouvia falar no poder
da prestigiada família italiana.

Todas as minhas tentativas de acabar com esse acordo foram em vão.

Conforme Luana estava amadurecendo, ficando mais madura com o


passar dos anos, a menina aos poucos estava se tornando uma linda
adolescente. Claro que o óculos modelo antigo e o aparelho nos dentes não
causavam uma boa imagem, ainda sim, conseguia ver algo de belo em seu
olhar.

Era injusto que eu trabalhasse todos esses anos tornando os negócios


dos Garnier cada vez mais sólidos, para enfim passar tudo para aquele
playboy que nem ao menos vinha visitar a minha prima em seus aniversários.
Enquanto isso, a boba não parava de pensar nele. Seu mundo girava em torno
de Enzo Grego. Às vezes sentia tanto ódio que acabava interceptando muitos
presentes que vinham em seu nome para ela. Os únicos que deixava passar
eram os da senhora Grego.

Minha adorável prima não era uma das mulheres mais vaidosas que
existia no mundo, e ainda sim, ela tinha uma beleza que não dava para ser
ignorada. Mesmo usando saias longas que não marcavam seu lindo corpo
cheio de curvas, o cabelo em um tamanho exagero para a modernidade, os
óculos de grau... ela era linda. Nunca a instrui a se produzir porque temia que
o playboy pudesse se apaixonar por ela.

Ele a repudiava por sua falta de beleza natural, o que era muito
vantajoso para mim. Ele jamais teria coragem de a tornar sua mulher, o que
seria ainda mais perfeito para mim.

Inicialmente, eu não sabia como separar os dois, já que minha prima


era perdidamente apaixonada pelo idiota que desprezava sua companhia. Mas
o destino quis me ajudar nessa.

Quando transei com aquela garota no banheiro de um shopping, jamais


imaginei que ela fosse a tal amante na qual Enzo era capaz de deixar Luana
para estar em sua companhia.

Não podia negar que a morena era de tirar o fôlego. Tão apertada... e
agora tinha sido minha! Pelo menos o idiota do Enzo era tão corno quanto
minha prima. Nesse ponto eu me vinguei por ela.

Não levou muito tempo para que Luana o deixasse ao descobrir que
Helena estava grávida. Pensei na possibilidade do filho ser meu, mas
realmente não era. Ela havia me confirmado isso antes de Luana e eu
voltamos para Paris.

Esperei muito tempo para tomar o que me pertencia. Estava louco para
devorar a minha priminha virgem. Amor reprimido só dava nisso.

Havia colocado algo para dormir na comida dos seguranças. Os demais


empregados tinha lhes dado folga. Estaríamos apenas nos dois acordados,
sozinhos.

Depois que ela se tornasse minha mulher, nunca mais pensaria no idiota
do marido. Luana se apaixonaria por mim, daríamos um jeito de conseguir o
divórcio, já que aquele trapaceiro do Enzo conseguiu enganar a todos do
conselho.

Estávamos apenas nos dois, sóbrios e bem acordados. Esse seria o


momento de tê-la em meus braços. A tomei em um beijo inesperado,
surpreso. Luana agiu como se estivesse cometendo o pior erro da sua vida.

Ela não tinha o direito de se negar a mim, que sempre fui


completamente apaixonado por ela. Não adiantaria correr, ninguém me
impediria de torná-la minha.

— Estamos sozinhos, Luana. Ninguém vai te ajudar, você será minha


de uma vez por todas.

— Você está louco, Felipe. Nós somos como irmãos...

— Você me vê assim, princesa. Mas não é assim que eu te vejo. Eu


sempre te amei, e meus tios resolveram casar você com o idiota do Grego.
Você não imagina como eu sofri sabendo que você seria dele, mas felizmente
ele não te fez mulher — disse, convencido. — Mas eu irei te fazer mulher.
Garanto que você nunca mais vai pensar nele.
Ela correu como se aquilo fosse me impedir de tomá-la em meus
braços. Meu desejo por ela era tão grande, que chegava a sufocar-me.

Sentia ódio por Luana agir assim, se negar a mim. Eu não queria ser
grosseiro, nem desrespeitá-la. Esse momento era para ser mágico para ela, um
momento na qual eu a respeitaria mais do que tudo, mas ela preferiu as coisas
da maneira mais difícil.

Rasguei quase todo seu vestido de alças soltas.

Ela era tão linda, tão perfeita.

Sempre imaginei que fosse tão bela. Logo após a mudança de visual,
ela se tornou ainda mais bonita do que já era.

Os olhos amedrontados me fazia sentir culpado, mas nada me faria


parar.

— Felipe, para com isso...

— Foram anos pensando em você, Luana. Anos sofrendo por você, e


você pensando naquele maldito filho de uma mãe que nunca foi capaz de te
amar da maneira como eu te amo.

— Não me machuca, Felipe. Eu te imploro.

— Não precisa chorar, Lú, eu não sou o Enzo! Não seria capaz de te
machucar como ele fez te traindo todas aquelas vezes. Eu sempre te amei, e
agora você irá sentir todo o meu amor.

Ela fechou os olhos, como se pudesse mudar alguma coisa em mim.


Estava duro por ela, meu pau pulsava dentro de minhas calças. Era um desejo
reprimido.

A beijava, minhas mãos segurando sua cintura firme. Ela era tão
pequena que sentia medo de quebra-la, tão delicada.

Estava quase conseguido levá-la para o quarto, quando ela foi mais
rápida e me acertou um chute bem nos meio de minhas pernas. Aquilo doeu
muito. Senti como se fosse ficar aleijado para o resto dos meus dias, mas isso
não iria ficar assim. Tinha alguns homens meu, de minha inteira confiança, lá
fora fazendo minha proteção. O máximo que Luana chegaria seria na sala.
Ninguém a deixaria passar.

Me recuperei da dor. E pude correr novamente atrás dela. Estava


descendo as escadas quando o vi com uma arma apontada na minha direção.
O barulho foi o último som que ouvi antes de cair rolando escada abaixo.
CAPÍTULO 28

ENZO GREGO

TINHA ACABADO DE ATIRAR contra o infeliz do Felipe.


Infelizmente, foi um tiro apenas para imobiliza-lo no chão. Maldito! Eu
sempre soube que algum dia ele tentaria algo contra minha esposa, minha
vontade era de acabar com a sua vida de uma vez por todas.

Meus homens o tiraram das minhas vistas. A raiva que tinha em mim
era tanta, que seria capaz de matá-lo com minhas próprias mãos. Se ainda não
fiz isso, foi por respeito à minha esposa. Ela não merecia ver um ato de
crueldade, não no estado em se encontra, abalada com tudo que aconteceu.

Ela estava com a cabeça deitada sobre meu peito, nos meus baços,
assustada. O seu quarto era muito luxuoso, cheio de objetos rosas. Típico
quarto de uma adolescente na puberdade.

Senti sua respiração próxima ao meu rosto, suas mãos pequenas e


delicadas estavam entrelaçadas entre as minhas. Os dedos pequenos
brincavam com os meus, travando uma pequena batalha de soldadinhos.
Minha adorável Luana preferia ficar em silêncio. Confesso que isso me
incomodava um pouco, pelo menos sabia que ela estava melhor.

Inicialmente, quis levá-la para o hospital, queria ter certeza de que suas
emoções não tinham afetado o nosso filho. Estava tão feliz por saber que
seríamos pais. Não contei para ela que descobri da sua gravidez.

Minha petit as vezes me subestimava. Tinha informantes por todas as


partes do mundo, infiltrados até mesmo no FBI e na cia. Sei até quando o
presidente espirra. Descobrir sobre a gravidez da minha esposa não foi dificil,
e me deixou emocionado. Serei pai! Um filho consentido com a bênção do
casamento. Eu não pediria mais nada aos céus.

Acariciava seu rosto, que ela logo retirou a minha mão com delicadeza.

— Tem certeza de que não precisa de mais cafuné?

Ela saiu dos meus braços, calçando as pantufas no chão. Podia notar
que ainda estava tensa, ela tinha o olhar de decepção, nunca duvidei das reais
intenções dela com Felipe, mas as dos desgraçado não eram as melhores com
ela.

O semblante abalado me fazia sentir culpado por ter a deixado tanto


tempo sozinha. Tinha receios de que ela pudesse me odiar por isso. Não
deveria tê-la deixado vir para outro país na companhia daquele desgraçado.

Os homens que faziam a segurança da mansão estavam todos


desmaiados sob o efeito de algum calmante para dormir. Eles teriam que se
ver comigo quando acordassem, o infeliz do Felipe planejou tudo, nos
mínimos detalhes. Ele só não contava com minha vinda na noite em que ele
tentaria tocar na minha mulher.

— O que você fez com Felipe? — perguntou, receosa. Os olhos


amedrontados.

— Eu não o matei, apesar dele merecer.

— Não entendo, por que... — os olhos banhados de lágrimas. Lhe dei


conforto em meus braços, já ouvi um sábio dizer que para a dor, o melhor
remédio era um abraço.

— Não precisa sentir medo, princesa. Eu nunca vou permitir que


ninguém te faça mal algum, você e o meu filho estão seguros.
Ela franziu o cenho, surpresa pela minha declaração! Sorri meio
abobalhado, teria um filho da mulher que amo. Tinha tantas coisas para
contar a ela, Luana ficaria feliz por saber que o filho que a Helena esperava
não era meu, e sim do idiota do primo dela.

Os dois vinham mantendo um relacionamento as escondidas. Meus


homens tinham imagens do dia que eles transaram no banheiro do shopping,
em um dia qualquer que ela havia ido fazer compras. Pela gravação feita,
tudo levava a crer que ela tinha acabado de conhecer ele naquele dia. Uma
vadia!

Foi logo dando para ele, numa tentativa boba de me prender a ela.
Comecei a desconfiar de que o filho não era meu quando ela se mostrou
nervosa diante das revelações que fiz sobre a questão de ter que fazer o
exame de DNA, quando a criança nascesse.

Foi então que passei a investigar na clínica, descobri que ela tinha uma
ajudante lá dentro, por isso conseguiu evitar de tomar o anticoncepcional
injetável. Eu sei que era errado por ter mantido um relacionamento com ela
mesmo estando casado, mas eu jamais seria capaz de engravidar uma amante
intencionalmente, não apenas por motivos da máfia, e sim porque uma
amante era apenas uma amante!

A dor que causei na minha esposa não tinha como calcular, não tinha
direito de exigir que ela ficasse comigo, não tinha argumentos para justificar
que serei um bom marido. Um bom pai. Eu amo Luana, amo tanto que sou
capaz de fazer tudo por ela, inclusive aceitar sua decisão.

— Você já sabe... — ela disse, meio sem graça. Em sua mente, deveria
estar passando várias teorias, ela deveria estar pensando em alguma
justificava para se explicar. — Enzo, eu juro que não fiz por querer... Eu...
Ela realmente estava nervosa? Pensando que eu iria culpá-la? Se ela
soubesse o quanto eu estava feliz, tão feliz que sentia meu coração acelerar
pelo simples fato de saber que ela carregava um filho meu em seu ventre.

— Não se preocupe, princesa. Não irei te pressionar a nada. Tudo o que


eu quero é que descanse, pelo nosso filho.

— Pode ser uma menina... — deu de ombros.

— Se for uma menina, irei amá-la tanto quanto amo a mãe dela. Mas é
um menino, um garoto como o pai — disse convencido.

Não tinha como ser uma menina, meu instinto de pai me dizia que eu
faria muitos filhos homens na minha esposa.

Deixei Luana descansar por alguns instantes. Precisei fazer uma ligação
para saber como estava o infeliz do Felipe, não que eu me importasse com o
seu estado de saúde, o problema era que Luana tinha muita estima pelo
miserável, senão, já teria o matado. Segundos os médicos, ele estava com um
ferimento grave no perna direita, onde tinha acertado o tiro apenas para
imobilizar. Não tinha coração, por mim ele poderia perder a perna que não
me importava.

Passei à noite em claro velando seu sono. Ela ressonava tranquila, por
causa do calmante que a fiz beber sem ao menos perceber. Não queria que ela
ficasse a noite em claro, preocupada sem necessidade. Ela carrega meu filho
no ventre, agora mais do que nunca cuidaria dela.

Minha petit despertou um pouco confusa e cansada. Ela estava vestida


em uma camisola de seda bege, que após dormir, eu a troquei. Olhava
admirado para sua barriga redondinha no tamanho certo para seu corpo. Ela
estava grávida de quase três meses, ainda sim, seu corpo continuava esbelto.
Luana não engordou quase nada, apenas o bebê.

— Bom dia, minha petit.

— Bom dia — ela sorriu de lado. — Você passou a noite aí?

— Você dormindo consegue ser muito atraente. — sorri. — Está com


fome? — perguntei.

— Um pouco.

— Você precisa se alimentar bem, principalmente agora que está


grávida — levei a bandeja com o café da manhã até a cama.

Sentei ao seu lado, e comecei a cortar uma fatia do bolo. Ela me olhava
admirada, como se não estivesse acreditando que eu estava prestes a lhe dar
comida na boca.

— Eu posso comer sozinha.

— Deixa de ser orgulhosa e me deixa cuidar de você.

No final, ela acabou cedendo. Precisei sair do quarto para que Luana
pudesse tomar banho e se trocar, esperei ansiosamente ela descer as escadas.

Nunca me imaginei nessa situação, ao auge dos meus vinte e oito anos,
ficar ansioso por uma mulher. Minhas mãos suavam dentro da calça jeans
azul escura, parecia uma adolescente de quinze anos em busca de sua
primeira relação sexual.

Com Luana, tudo era tão novo para mim. Seu sorriso tímido me fazia
sentir ainda mais tesão. Sabia que parecia um doente falando assim, mas a
inocência dela me fazia querer agir de maneira pervertida.

Ela usava um vestido soltinho e folgado, que não mostrava o contorno


da sua barriga. Tinha um sorriso tímido no rosto. Deus, como aquilo me
enlouquecia!

— Podemos conversar — ela disse, com seriedade.

— Anjo! Me dói saber que você não queira ficar perto de mim.

— Eu só fiquei surpresa por você ter vindo assim, tão de repente.

— Eu não confiava em deixar você sozinho aqui com aquele... idiota!

Ela sentou no sofá de couro ao meu lado, mesmo ela preferindo


distância. Não iria pressioná-la.

— Custo a acreditar no que aconteceu ontem à noite. Tudo parece tão


surreal. Felipe é como um irmão que nunca tive.

— Você é doce demais, anjo. Inocente. Nem sempre consegue ver a


maldade nas pessoas. Você é tão boa!

— Obrigado por ter me salvado ontem. Se você não...

— Não pensa nisso, princesa. Eu jamais irei permitir que alguém


machuque você.

— Enzo, sobre a gravidez...

— Anjo, você não sabe como estou feliz em saber que serei pai do seu
filho. Eu sempre sonhei em ser pai, e você está realizando meu maior sonho.

Ela franziu o sonho, e levemente abalada, disse:

— Você conseguiu realizar seus sonhos. Terá dois filhos homens.

A raiva, o ciúmes, eram características suas. Isso significava que ela


ainda me amava.
— O filho que a Helena espera não é meu.

— Não? — perguntou, muito confusa.

— A história é longa, princesa.

Contei tudo para Luana. Ela praticamente não acreditou em quase nada,
parecia tão surpresa quanto eu fiquei no dia em que descobri toda a verdade.

— Nunca pensei que Felipe fosse capaz de fazer algo assim contra
mim.

— Obviamente o plano deles era nos separar, e eles conseguiram isso.

— Então, o filho que a Helena disse ser seu, na verdade é do meu


primo?

— Confesso que os dois são muito inteligentes por terem elaborado um


plano tão ardiloso como esse. Eu sei que isso não ameniza minha culpa por
ter lhe traído por todo aquele tempo.

— Não ameniza mesmo — afirmou. — Mas eu não irei viver com esse
ódio, para o bem do nosso filho. — ela caminhou na minha direção. —
Quando o bebê nascer, o que vai acontecer com ela?

— Não se preocupe com isso, anjo. Não é problema nosso.

— O bebê não tem culpa do que está acontecendo — ela parecia


preocupada. — Estou muito decepcionada com Felipe.

Havia um sentimento de frustação nos seus olhos. Ela estava magoada.

— Quero que esqueça aquele infeliz. Preciso que você foque somente
no nosso filho — segurei em suas mãos. — Quero que vá à um médico e se
permitir, quero ir junto com você.
— Você é o pai, Enzo! Pode me acompanhar sempre que quiser.

Minha mulher era a pessoa mais bondosa que existia na face da terra.
Tudo nela era perfeito, e eu tão fodido, não merecia seu carinho, e muito
menos o seu amor.

Luana estava sendo acompanhada por uma ginecologista, que me


explicou que a saúde dela e o do meu filho estavam em perfeito estado. Ainda
assim, tinha receios de voltar para a Itália e deixá-la sozinha.

À noite, quando tínhamos voltado para sua casa, depois do jantar, ela
estava deitada na cama quando resolvi questionar.

— No que você está pensando?

— No Felipe — admitiu.

Aquilo me encheu de ódio. Como ela podia pensar em um desgraçado


que tentou violenta-la?

— Não quero que você faça nada de ruim contra ele, Enzo. Ele é meu
único parente vivo.

— Prometo não o machucar se você voltar comigo para a Itália.

— Não quero ficar na mesma casa que você — afirmou.

Ela estava magoada.

— Eu sei que não mereço seu perdão, meu anjo, mas entenda meu
ponto de vista. Eu não posso deixar você aqui sozinha. Agora que está
grávida, tudo se torna mais perigoso, porque querendo ou não, você é a
minha esposa. Meus inimigos algum dia irão descobrir sobre sua gravidez, e
tenho medo de algo ruim possa lhe acontecer se ficar aqui.
Ela respirou fundo, os olhos claros me fitavam cheios de luz. Se ela
soubesse como me sentia bem quando estava ao seu lado... Jamais irei me
perdoar por todo o mal que causei a Luana.

— Aceito voltar para a Itália com você, se me prometer que além de


não machucar o meu primo, vai respeitar o meu tempo.

Luana exigia algo de mim que eu não era capaz de cumprir. Minha
vontade era de acabar com o desgraçado do Felipe, matá-lo junto a Helena
com minhas próprias mãos, como se fazia com alguns animais.

— Prometo fazer as coisas exatamente da maneira como você quer.

Ela ergueu uma sobrancelha. Sorri com aquilo, sua expressão de dúvida
chegava a ser engraçada. Sabia que eu não parecia ser a pessoa mais
confiável do mundo, por isso provaria para ela que era capaz de mudar em
nome de todo o amor que sentia.

— Você pode escolher o nome do nosso filho.

— Está falando sério? E se for um menino, não vai querer colocar o


nome do seu pai nele?

— Que se foda as tradições. Você é quem manda, princesa! Pode


escolher o nome que preferir.

— E se o conselho não aceitar o nome que eu decidir?

— Eles vão aceitar — ela sorriu.

Luana tinha o sorriso mais sincero do mundo, e esse sorriso, eu não


estava disposto a perder nunca.
CAPÍTULO 29

ENZO GREGO

SE EU TIVESSE INSISTIDO mais na nossa relação, talvez hoje tudo


fosse diferente. Pensar na vida como se ela pudesse ser refeita, era algo
complicado. Óbvio que todos nós tinhamos o direito de tentar se feliz, de
corrigir nossos erros do passado, mesmo essa pessoa sendo um merda como
eu, que sempre fazia tudo errado.

Minha esposa não merecia o marido que tinha, nunca fui um modelo
exemplar de nada. Na adolescência, era viciado em êxtases. Foi dureza para
eu ter que admitir que precisava de ajuda, o apoio da minha família foi
fundamental para mim naquela época.

Hoje não era mais um viciado, e mesmo assim, sempre estava à procura
de problemas.

Meu envolvimento com Helena no início era apenas algo prazeroso. A


jovem me causava um efeito parecido com os êxtases que usava. Tudo para
mim estava indo bem, até chegar a maldita data do casamento. Uma noiva
feia, sem estilo, capaz de me fazer sentir ânsia de vomito só de imaginar nos
dois juntos.

O que mudou em mim nesses um ano e meio? Praticamente nada.

Agora pagava o preço de toda minha infidelidade. Eu quebrei toda


confiança que Luana tinha em mim. Nunca parei para pensar que ela era só
uma garotinha órfã, sozinha no mundo. Sua única esperança estava
depositada em mim, e eu quebrei tudo. Fui um egoísta que me deixou levar
apenas pelo sexo e outros desejos fúteis. Tudo que minha petit queria era
poder encontrar segurança ao meu lado, e principalmente, o meu carinho.

Eu estraguei tudo, a começar pelo dia do nosso casamento. Sei que ela
me odiava incondicionalmente por ter exibido Helena como um troféu
caríssimo. Em momento algum pensei na dor que minhas atitudes causavam
nela, sempre fui um homem egoísta, um troglodita.

Me martirizar não resolveria minha situação.

Tinha que começar a agir diferente.

Minhas atitudes causavam nela insegurança, não tirava sua razão. Se eu


estivesse no seu lugar, faria a mesma coisa. Ela pensava que eu só queria
incluí-la na minha vida por causa do nosso filho, e isso não era verdade.
Luana tinha receios de que eu estivesse apenas a usando para passar uma
imagem perfeita de mafioso que conseguia ter uma família unida e amorosa.

A convenci de que o melhor era voltarmos para Itália, pelo menos em


meu país eu conseguia ter total certeza de que ela estaria seguir. Não havia
mulher no mundo mais protegida que minha Luana.

Isso não era um sinal de pose, pelo contrário, era um sinal de


segurança. Tinhamos muitos inimigos declarados por todas as partes do
mundo. Toda segurança sempre era vista com bons olhos no nosso mundo.

Como ela tinha exigido, a deixei mais vontade em uma das minhas
propriedades no centro: uma mansão com mais de cem metros quadrados,
com área de lazer, piscina e hidromassagem. Era tudo o que ela precisava
para relaxar.

Ela foi recebida como uma heroína que voltava de uma guerra. Minha
família a paparicava muito, minha mãe não conseguia esconder a felicidade
por saber que teria um neto, sangue do seu sangue.

Todos sempre esperaram que Enrico fosse ser o primeiro a ter filhos.
Confesso que essa responsabilidade me fazia ainda mais querer ser alguém
melhor, pelo meu filho! Tanto minha família, assim como eu, fazia questão
de que nada faltasse para ela. Agora mais do que nunca ela recebia toda
atenção devida.

Luana não era de falar muito sobre si, na maioria das vezes em que nos
vimos, ela limitava-se a falar apenas do bebê e da saúde dele, pouco falava
dela mesmo. A única coisa que me dizia era que a gravidez a fazia ficar com
os pés inchados, e sempre que podia, gostava de fazer massagens nela para
ajudá-la a ficar relaxada.

Minha mãe a ajudava com a parte psicológica. Temia que minha esposa
ficasse abalada com as emoções da gravidez.

Sei que falhei com ela. Me considerava um miserável por ter falhado
em minha própria vida pessoal, no meu casamento, com minha família.
Poderia ter a vida que sempre desejei, se meu orgulho não tivesse sido maior
que as minhas necessidades.

Eram tantas falhas que nem sabia como começar. Me considerava um


homem frustrado. Eu deveria ter cuidado de Luana, a protegido de qualquer
bombardeio, mas ao invés disso, eu mirei contra ela uma chuva de asteroides
pesados, e acertei todos.

Seu psicológico era o mais importante no momento. Ela não estava


preparada para ter tantas decepções como as que teve. Todas as minhas
traições a deixaram abalada ao ponto de estar passando por uma grande
confusão mental. Os médicos disseram não ser nada sério, mesmo assim me
preocupava como um louco. Estava completamente apaixonado por ela! Tudo
que pudesse atingir sua saúde, me fazia sentir ainda mais culpado.

Ela tinha um bom coração. No final de tudo, foi capaz de me perdoar,


ainda sim, eu mesmo não conseguia me perdoar por ter sido um canalha.
Faria o possível para que nosso casamento dessa vez pudesse dar certo, e se
eu falhasse, aí sim prometia deixá-la viver sua vida longe de mim. Eu não a
merecia. e ainda sim, a queria para mim.

Seria pai de um menino, um menino como eu havia dito algumas vezes.


Minha intuição de pai não falhou, estava tão feliz por saber que meu filho
nasceria da mulher que mais amei em toda minha vida. Felicidade me
descrevia no momento. Lembrei-me dos dia em que ouvimos seu coração
bater pela primeira vez juntos.

Segurava em sua mão suada e gelada, ela estava tão nervosa que não
havia prestado muita atenção quando a médica confirmou que seríamos pais
de um menino. A emoção em seus olhos foi capaz de me desarmar por
completo.

Onde estava aquele homem forte? Aquele que não baixava jamais seu
ego? Havia morrido no momento em que se deu conta de que estava a
amando de uma maneira incondicional.

Meu único desejo era poder satisfazer todas as suas vontades. A


começar pelo nome do nosso filho, que se chamaria Dylan. Dylan Grego.
Meu filho certamente seria tão belo quanto a mãe, ou até mais se juntar
nossas belezas. Estava brincando...

Luana era o sol do meu planeta. Sem ela, jamais seria capaz de tentar
ser um homem melhor.

Cheguei em casa as cinco da tarde. Na gaveta da cômoda, havia uma


blusa que guardava com o seu cheiro. Tinha virado rotina para mim sentir o
aroma todas as noites. Às vezes adormecia com a blusa em volta dos meus
braços. Era como se pudesse sentir sua presença comigo.

Queria poder ter mais contato íntimo com minha esposa, sentir o gosto
do seu beijo, o calor de suas carícias. Porém prometi não pressioná-la. Era
duro vê-la todos os dias e não poder me aproximar. Às vezes ela deixava que
eu sentisse nosso bebê chutando em sua barriga, eram momentos únicos.

Tudo o que aconteceu a deixou abalada, mas nada se comparava com a


traição vinda de seu primo. Aquele miserável infelizmente estava vivo,
permiti que continuasse na França, desfrutando de algumas regalias por
insistência de Luana. Eu sempre o vi como o infeliz desprezível que ele era,
mas ela sempre o viu como um irmão, mesmo não querendo vê-lo nunca
mais.

Ela me implorou para que não o matasse, o idiota não deixava de ser o
único membro de sua família de sangue ainda vivo. No que dependesse de
mim, ele estaria morto, mas em nome dos bons momentos, ela foi capaz de
perdoá-lo e seguir em frente.

Éramos tão opostos. Eu era o mal, ela era o bem. Um anjo, já eu um


demônio!

Anastácia passou a ficar mais tempo na casa da minha esposa. Confiava


plenamente na minha irmã para ajudar no que fosse preciso, e assim, teria
mais certeza de que ela também estava protegida. Algo me dizia que ela não
estava totalmente segura, como se estivesse sendo vigiada.

Enrico e eu resolvemos contar sobre nossas suspeitas para nossa mãe,


que também optou por não contarmos nada a Ana. Não queríamos que ela
vivesse com medo.
— Vocês não podem permitir que algo de mal aconteça com a irmã de
vocês.

— Maldita hora em que eu apoiei essa maldita decisão de romper o


acordo.

— Você fez o certo, irmão — dei um tapinha no ombro dele. — Aquele


homem é um monstro. Não quero imaginar como seria a vida de nossa irmã
ao lado do desgraçado. Soube que ele gosta de matar a maioria das mulher
com quem trepa.

Minha mãe me olhou horrorizada. Sou italiano, sinceridade nunca foi


problema para mim.

— Anastácia é o que tenho de mais precioso nessa vida, assim como


vocês dois. Não consigo imaginar minha filha nas mãos daquele homem —
minha mãe levantou da poltrona. — Honrem a família de vocês. Não
permitam que aquele russo consiga colocar as mãos na nossa Ana.

Minha irmã estava segura, estava rodeada de seguranças. Para todo


lugar que fosse, sempre estaria bem protegida. Ninguém encostaria um dedo
sequer na minha irmã, e se por acaso Barvok tentasse, ele iria se arrepender
amargamente.

Helena estava presa em uma das salas do Conselho desde quando voltei
da França, descobri que ela tinha fugido. Em seu apartamento, havia sangue e
drogas para um aborto. A vadia tinha se livrado do bebê como se ele não
significasse nada para ela. Com todo o seu plano descoberto, sua única saída
foi fugir.

Estive cego por tantos anos, acreditando que ela fosse uma menina
doce e inocente. Nunca imaginei que ela fosse capaz de abortar, e muito
menos de me enganar da maneira como fez.

Pensei em ser benevolente em nome de tudo que vivemos algum dia,


em nome daquilo que um dia me parecia ser verdadeiro. A deixei livre para
seguir seu caminho, tinha a enviado para o Uruguai, como tinha pensando em
fazer antes de tudo isso acontecer, mas então ela resolveu desperdiçar a
oportunidade que dei a ela retornando para Itália.

Assim que ela cruzou a fronteira, foi presa e aprisionada em uma das
salas do Conselho. Era uma espécie de cadeia que ficava concentrada em uma
área afastada da cidade. Meus homens tinham me informado de sua chegada
a dois dias, não que eu me importasse com ela, mas o fato dela que tinha
retornado me irritava.

Deixei bem claro através dos meus homens de confiança que nunca
mais queria vê-la. E de repente, ela decidiu voltar. Com qual propósito?

Não pensei duas vezes para decidir que não deveria procurá-la, não
daria motivos para Luana pensar que fui atrás de Helena com esperanças de
algum reencontro romântico.

Minha esposa estava na reta final da gravidez, não iria preocupá-la com
essa volta inesperada de Helena. Aquela mulher tinha morrido para mim,
definitivamente.

Organizei alguns relatórios da empresa para não perder tempo


pensando em besteiras. Precisei de um tempo para poder beber e afogar todas
as minhas mágoas, optei por uma bebida que não fosse tão forte. O teor de
álcool em minhas veias nos últimos meses estava alto, não pretendia me
tornar um viciado.

Minha mãe havia me ligado e dito que passou o dia na companhia da


minha esposa. Cada dia que passava, mais linda ela ficava. A gravidez estava
fazendo bem para ela, seu corpo estava se desenvolvendo de maneira que a
deixava fofa, e gostosa.

A minha mulher era a mais bela de todas, disso não tinha dúvidas. Bela
por fora, e ainda mais bela por dentro.

Aprendi que beleza não estava apenas no físico, e sim no interior de


cada um de nós. Luana tinha tanta beleza que não cabia em seu peito. Ela
transbordava em bondade, em alegrias, em sorrisos, e principalmente, em
amor.

Era um homem de sorte por ter recebido ela como a minha prometida.
Mas infelizmente, levei tempo demais para perceber isso.
CAPÍTULO 30

LUANA GREGO

LITERALMENTE HÁ ALGO de muito estranho acontecendo


comigo. As emoções da gravidez me deixaram levemente perturbada. Me
tornei uma pessoa ansiosa, na maioria das vezes me encontrava chorando
pelos cantos da casa. Minha médica me disse que era normal ficar emotiva
durante a gravidez, às vezes parecia que tinha rios e rios de água dentro dos
meus olhos. Quanto mais eu chorava, mais sentia necessidade de chorar.

Notei que Enzo se sentia culpado pelo meu estado. De fato eu estava
muito triste por tudo que tinha acontecido entre a gente, por todas suas
traições. Mas isso não era motivo suficiente para me derrubar. Tinha
aprendido a ser forte, a encarar meus problemas de frente, não permitir que
uma relação disfarçada pudesse me abalar. Tinha conseguido perdoá-lo, mas
não aceitei voltar com ele. Não porque eu não o amava mais, e sim por amá-
lo incondicionalmente. Precisava sentir mais firmeza em suas atitudes.

De certo que ainda tínhamos muitos problemas para resolver, por isso
resolvi focar na minha gravidez, ao invés de ficar remoendo os problemas da
vida. Estava tão feliz e completa por ser mãe de um menino. Confesso que
estava esperando uma menina, mas fiquei feliz por saber que seria um
menino. Meu marido se enchia de orgulho por ter feito um garotão. Seu ego
se tornou ainda maior depois que descobrimos o sexo do bebê.

Enzo vinha tentando se tornar uma pessoa melhor. O impiedoso e


malvado Enzo Grego estava se tornado um homem mais compreensível
comigo. Tinha sua total atenção para mim nesse momento. Mesmo não
morando na mesma casa que ele, todos os dias ele fazia questão de vir me
visitar. Enzo se preocupava comigo e com o nosso filho, isso me deixava
feliz.

Havia decidido não lamentar mais pelo passado. No momento em que


decidi perdoá-lo, eu abri mão de todo o meu orgulho. Por mais que tentasse,
não conseguia guardar mágoa em meu coração. Podia ser chamada de boba e
iludida, eu não me importava com a crítica alheia. Essa era minha
personalidade, não tinha como mudar. Me orgulhava de ser uma mulher
integra, sem ódio no coração.

Queria ser uma boa mãe para o meu filho, por isso não podia ter ódio
em meu coração. Por mais que as ações do passado tenham me magoado, eu
resolvi seguir em frente, sem olhar para trás.

Meu casamento não foi como eu imaginava, mas nem por isso me
tornaria uma mulher amarga. Aprendi a amadurecer, Ficar chorando pelos
cantos da casa já não fazia mais parte de minha rotina.

Os meses se passavam e cada vez a ansiedade me consumia. Não via a


hora de poder segurar meu filho em meus braços. Havia escolhido o nome
dele, Enzo havia me dado total apoio diante da família. Resolvi por um nome
fora das nossas tradições. Dylan me parecia algo novo.

Dy significava "grande", e llanw queria dizer "fluxo", "correnteza". Em


meio a toda essa maré forte, meu filho era tão grande, tão forte quanto uma
correnteza.

Minha barriga não era tão grande assim, às vezes tinha dúvida de que
realmente estava grávida. Em alguns momentos eu permitia que Enzo
sentisse nosso filho me chutar. Meu pequeno mafioso parecia que seguiria a
carreira de jogador de futebol, o que não deixaria de ser uma excelente ideia.
Não queria que meu filho fosse criado da mesma maneira que Enzo foi. Não
queria ver meu filho sendo cruel, matando pessoas.

Tinha receios sobre de como seria a criação dele. Por mais que Enzo
me passasse segurança em relação a maneira como seria a educação do nosso
filho, ainda sim, tinha medo de que ele se tornasse uma pessoa cruel.

Tinha o apoio de todos os Gregos. Minha sogra era a mãe que tanto
precisava, uma conselheira de primeira. Seus conselhos valiam ouro. Minha
cunhada era minha melhor amiga, aquela com quem eu podia desabafar sobre
minhas revoltas. Até mesmo Enrico vinha se mostrando prestativo.

Ele ficou feliz por saber que seria tio de um menino, a felicidade foi
tanta que todo conselho fez uma grande festa para comemorar a chegada de
mais um Grego do sexo masculino. Poderia até ser injusto, mas as leis não
podiam ser mudadas. Não importava o quanto o mundo estivesse moderno,
para a máfia, a única coisa que valia eram as velhas tradições e costumes que
jamais seriam mudadas.

Encarei o sétimo mês de gestação com bastante dificuldades para


dormir. Se alguém tivesse o segredo, poderia vendê-lo encarecidamente. Eu
precisava dormir. Essa fórmula valia ouro. Sentia os meus pés inchados e
pesados. Minha barriga estava começando a ficar um pouco maior.

Tinha engordado pouco mais de cinco quilos com a gravidez, quase não
se notava.

Os cuidados agora deveriam ser maiores. Sete meses e o risco de uma


criança nascer prematura não era uma possibilidade muito boa. Essa manhã,
senti tantos chutes que jurei que estava acontecendo um torneio de futebol
dentro da minha barriga, com várias cobranças de pênaltis.
Sandra me acompanhou até o shopping, onde pude comprar algumas
roupinhas que faltava para completar o enxoval de Dylan. Ela não conseguia
esconder a expressão de felicidade, algo me dizia que ela seria uma avó
atenciosa.

Precisei de alguns instantes no banheiro para então poder me aliviar um


pouco mais. Estava muito pesada, me sentido gorda. Os meus vestidos mal
me cabiam, esperava não engordar tanto assim.

Voltamos para casa, e ela permaneceu até o almoço, quando decidiu ir


embora.

Não irei mentir que não desejava poder estar na mansão dos Gregos.
Aquela casa para mim significava uma família unida. Mas não poderia dar o
braço a torcer, mesmo Helena não estando mais com Enzo. As lembranças
eram muito recentes, capazes de me abalar em determinados momentos.

Havia dias que sentia vontade de me jogar em seus braços e poder dizer
que o amava, mas se fizesse isso agora, não teria certeza de que algum dia ele
poderia me levar a sério. Se ele me amava de verdade como dizia, iria saber
respeitar o meu tempo. Quando isso acontecer, prometi que seremos uma
família feliz.

À noite, me deitava na cama, estava quase cochilando quando senti um


carinho na minha barriga. Meu marido depositava alguns beijos na região.
Ele tinha uma ligação muito forte com nosso bebê, já conseguia sentir alguns
chutes, como se ele pudesse sentir a presença do pai. Não tinha dúvidas de
que eles dois seriam melhores amigos.

— Perdão, não quis te acordar.

— Mas acordou.
Digamos que quase sempre acordo de mal humor quando outra pessoa
decide fazer isso por mim.

— Precisava te ver. — A expressão de cachorrinho sem dono me fazia


sentir vontade de o acolher em meus braços.

Controle Luana! Foco!

Nossa, que peitoral era aquele... preciso voltar a dormir logo.

— Passei o dia com a sua mãe — comentei.

— Ela me disse que você está bem, ainda sim resolvi que era melhor
constatar pessoalmente. Uma desculpa para ficar mais tempo perto de você.

Sorri. Quando ele demonstrava preocupação, me sentia tão contente.


Podia parecer algo bobo, mas para mim, me fazia sentir tão bem.

— Por que não me deixa ficar aqui, bebê?

— Pode dormir aqui comigo, mas só dormir.

Ele se deitou ao meu lado, me envolvendo em seus braços. Não poderia


virar de lado e nem dormir de bruços por causa da barriga. Com seu jeitinho
carinhoso, ele conseguiu me domar apenas por essa noite. O lance da
gravidez me deixava sensível algumas vezes, e ele sabia muito bem como se
aproveitar de tanta fragilidade.

O dia amanheceu e ele continuava abraçado ao meu corpo. A claridade


fazia com que meus olhos ardessem um pouco, me incomodava.

Podia dizer que tentamos nos aproximar um pouco durante os últimos


dias. Por mais que eu sentisse receio de que algo ruim estivesse para
acontecer, meu único instinto era me apegar a Enzo. Sei que ele traiu minha
confiança, destruiu tudo de bom que poderia existir entre nós dois. Mesmo
assim, eu ainda o amava, percebia que esse amor era tão grande que não cabia
em meu peito.

Ele era o pai do meu filho, do nosso Dylan, e eu não tinha forças a para
encarar uma separação longa, não pretendia ficar nem mais um dia longe
dele.

— Espero não ter machucado vocês.

Os cabelos bagunçados, os olhos azuis me fitando de maneira intensa.


Como alguém conseguia ser tão lindo, tão perfeito?

— Eu aceito.

— O que você aceita? — O corpo ficou em alerta, esperando-me


pronunciar. Deus, me ajude para que eu não esteja tomando a decisão
errada.

— Eu quero ficar com você — disse.

— Você está falando sério? — pareceu não acreditar.

— Enzo, eu volto para você, mas saiba que eu tenho minhas exigências.
Não vou tolerar que você me traía nunca mais, senão, juro que desapareço do
mundo com o meu filho. E você nunca mais nos verá novamente.

Ele tomou meus lábios em um beijo molhado, podia sentir todo meu
corpo entrar em uma adrenalina capaz de me fazer relaxar, totalmente
entregue em seus braços. Enzo me fazia sentir segura, sabia que ao seu lado
nada de ruim iria acontecer comigo e com o bebê. Ele nós protegeria, não
permitiria que ninguém nos tocasse.

Suas mãos tocavam minhas coxas, me proporcionado um desejo cru.


Minha intimidade latejava em antecipação por ele, podia sentir minha
calcinha molhar com o simples beijo. Ele só me fazia sentir tesão, me fazia
querer arrancar todos os meus cabelos.

Me sentia vulnerável diante de toda a sua masculinidade, o desejo da


paixão ardendo como fogo entre nós dois. Estava dando uma chance a nossa
história pelo nosso filho, que não merecia vir ao mundo com os seus pais de
mal um com o outro. Minha prioridade sempre seria meu filho, não
importava o que acontecesse. Sempre seria por ele.

Enzo era o amor da minha vida, mas se ele faltasse comigo novamente,
jamais seria capaz de perdoá-lo.

Confiança era algo que se concertava aos poucos. Pude notar que
realmente ele estava tentando mudar. Soube que sua amante estava bem longe
de nós dois, por isso creio que seja melhor nos darmos uma segunda chance.

Segurei na gola da sua camisa quando ele me puxou para seus braços
fortes, me completando com um abraço. Nosso beijo estava se tornando
erótico, meu marido sabia como me tocar sem que machucasse. Ele distribuía
uma trilha de beijos molhados em volta do meu pescoço. Logo agarrou a
minha cintura, me puxando ainda mais para o seu corpo musculoso. E que
músculos ele tinha! O físico estava de dar inveja a qualquer um. Tudo nele
era perfeito.

Sua fome por mim era tanta, que ele chegou a rasgar minha camisola,
me deixando totalmente exposta. Ele me comia com os olhos cheios de
luxúria.

No início, senti receios pelo bebê, mas logo ele derrubou todos como a
um murro, me fez sentir segura, amada e desejada.

O que mais poderia querer?


Sua língua lambeu meus mamilos, tendo todo o cuidado para não feri-
lo. Com a gravidez, eles ficavam doloridos com muita fragilidade. Em
questões de segundos, ele retirou toda sua roupa, ficando exposto da maneira
que me fez paralisar. Admirava toda sua beleza.

— Gosta do que vê, amor? — sorri sem jeito.

Ele caminhou até mim, retirando minha calcinha com delicadeza...


Como assim? Ele me chamou de amor?

— Espero que goste do que está por vim. — estimulava meu clitóris.

Quando fiquei preparada para recebe-lo, ele introduziu seu membro


grande e duro, me proporcionado um prazer inexplicável.

Meu marido era um homem incrivelmente bom de cama, capaz de levar


uma mulher ao céu em menos de dois segundos. Perdi a conta de quantos
orgasmos tivemos naquela manhã. Esse era apenas o início da nossa nova
vida.

Todos mereciam uma segunda chance, até os piores criminosos tinham


direito a ela. Por que o meu marido não teria? Antes que eu pudesse me
arrepender, optei em mudar de pensamento. Esperava não me arrepender por
ter tomado essa decisão.
CAPÍTULO 31

ENZO GREGO

O CHEIRO DO SEXO estava impregnado no ambiente. O som


constante das nossas respirações unidas em uma perfeita sintonia. Se
houvesse um título para a minha história, ele seria: rendido ao amor. Luana
veio, não apenas para mostrar o quanto a vida poderia ser doce, mas sim o
quanto podia me sentir amado. Ela me ensinou a amar. Isso foi o mais
importante.

Esse sentimento chamado amor, até então era desconhecido por mim.
Talvez eu nunca tivesse amado alguém, nem mesmo Helena, e muito menos a
mim mesmo. O ego dos Grego haviam subido muito nas minhas cabeças.

Em seu olhar, podia encontrar a paz que tanto necessitava. O peso de


ser quem eu era me tornou amargo, frio e calculista.

Suas mãos arranhavam as minhas costas, com as pontas dos dedos ela
fazia uma espécie de carinho em mim. Me virei e prendi sua respiração na
minha através de um beijo suave, que ela correspondia totalmente entregue.

Minhas emoções não cabiam mais em mim, todas pertenciam a ela. A


menina tímida que chegou na minha vida como a pretendente indesejada,
estava me pregando uma peça. Estava totalmente entregue a ela.

Minhas limitações estavam apenas entre fazer o certo. O errado para


mim não era mais o certo, como antigamente. Devo isso e muita coisa a ela.

Agora que a tinha novamente para mim, não estava disposto a perde-la
por causa das minhas atitudes infantis. Aquele garoto inconsequente tinha
falecido, e renascido em seguida um novo homem.

Estava disposto a ser um bom homem e marido, alguém que fosse


capaz de fazer minha mulher feliz. Esse era meu único propósito.

O calor do seu corpo me fazia sentir sensações jamais sentidas antes.


Seu sorriso era capaz de me fazer esquecer todos os meus problemas, uns
putos problemas.

Ela levou minha mão até o seu coração, que batia forte e acelerado.

— Você sempre foi o responsável pelos batimentos dele — sorri, como


o bobo apaixonado que era. — Agora, divide esse espaço com nosso filho.
Vocês são tudo o que eu tenho de mais precioso nessa vida. — acariciei seu
rosto.

— Eu sei que sou todo fodido, mas estou disposto a mudar por você.
Pelo nosso filho.

— Acredito em você. Por isso estou nos dando essa chance de sermos
felizes.

— Eu prometo que você não vai se arrepender nunca.

Nada era capaz de comover meu coração. Estava acostumado a matar


por prazer, foder com quem desejasse, ter tudo sempre na hora que eu
quisesse. Sempre fui um homem frio, alguns diziam que nem ao menos tinha
um coração.

Um homem fechado, acostumado com os altos e baixos da vida, a


perda de entes queridos. Tudo contribuiu para que eu me fechasse cada vez
mais. Desde a morte de meu pai, tudo se tornou ainda pior.

Sempre vivia na sombra do meu irmão mais velho, Enrico sempre


tomava as decisões de tudo, eu sempre ficava excluído das atividades e
encontros da família. A máfia pertencia ao meu irmão. Sempre invejei seu
posto.

Precisei amadurecer para compreender que nem tudo girava em torno


de mim e das minhas necessidades. Crescer doia, machucava. Era um
caminho pelo qual todos deveríamos passar, não tinha como recusar ou pegar
um atalho. Amadurecer trazia consigo responsabilidades ainda maiores que a
vida na máfia trazia.

Era uma nova etapa da minha vida. Esperava conseguir lhe dar tudo de
novo que estava por vim.

— Você anda pensativa. Um chocolate por seus pensamentos.

— Dois chocolates pelo seu — ela sorriu.

— Deve estar imaginando que eu só estou querendo brincar com você.


Mas eu garanto que não. Eu amo você.

— Me deve um chocolate.

— Compro a fábrica inteira para você, petit.

Ela sentou-se na cama, tocando em sua barriga. Notei que ela não usava
nossa aliança de casamento a muitos dias. Não poderia exigir que usasse
antes, mas agora que retomamos nossa relação, ela teria que usar. Assim
como eu nunca deixei de usar a minha um dia se quer.

— Anjo, quero que use sua aliança.

— Você nem está usando a sua... — ela parou de falar assim que
mostrei a aliança em meu dedo. — Você nunca tirou?

— Meu ego me dizia que algum dia você voltaria para mim.
— Convencido. Seu ego ainda vai ocasionar nossa separação.

— Nunca mais iremos nos separar.

— É só quando um de nós falecer...

— Assim fica difícil ser romântico. — ironizei, enquanto ela revirava


os olhos.

Um dos termos que ela impôs em nosso relacionamento seria a


confiança que teríamos que depositar um no outro, principalmente em mim.
Por isso, optei por contar toda a verdade para ela sobre a vinda de Helena
para o nosso país. Ela não ficou admirada como imaginei que ficaria, me
parecia tranquila, como se já soubesse.

— Dona Sandra me contou — explicou. — Também sei que o filho que


ela esperava não era seu. Afinal de contas, você não é tão burro ao ponto de
engravidar a amante. Sei que ela armou tudo para nos separar, e ela
conseguiu. Agradeço a ela por isso — franzi o cenho. — Se ela não tivesse
planejado tudo isso, possivelmente agora estaria em casa enxugando minhas
lágrimas por saber que você estaria na companhia dela.

— Quando lhe disse que iria despachá-la para o Uruguai, não estava lhe
enganando.

— Eu sei que não. Enrico me mostrou a passagem. Ela foi mais esperta
armando a gravidez justamente no dia que você iria terminar tudo. Nós
mulheres somos espertas, sabemos quando devemos acreditar no homem.

Ela caminhou até a gaveta da cômoda, pegando a nossa aliança de


casamento. Se sentou ao meu lado, me entregando o objeto.

— Eu prometo que serei o melhor marido para você. Prometo te amar,


te respeitar todos os dias da minha vida — coloquei em seu dedo.
Segurei sua nuca, envolvendo-a em um beijo intenso. Seu beijo tinha o
sabor do meu, melhor não havia.

Sua mão tocou em meu rosto, as ondas de desejo se formando dentro de


mim. Ela definitivamente tinha o dom de me enlouquecer, de me fazer pulsar
de desejo sem nem ao menos estarmos transando.

Onde iríamos parar com isso? Ela estava cansada por causa da
gravidez, não poderia exigir sexo toda hora. Ela que estivesse pronta para
quando se recuperasse do resguardo. Aposto que esses sim serão os dias mais
difíceis da minha vida. Ter uma mulher linda ao meu lado e não poder tocá-
la. Maior tortura não há.

Pouco me importei com as reuniões que tive que cancelar para poder
passar o dia ao seu lado. Memorava cada movimento seu, cada suspiro que
ela dava ficava guardado na minha mente. Meu coração batia acelerado como
nunca. Essa era a primeira vez que amava alguém de verdade.

Nunca imaginei que fazer coisas simples de casal fosse tão prazeroso.
Assistir um filme juntinhos era gostoso, poderia beijá-la sempre que quisesse,
principalmente se o filme fosse de terror, eu a tinha em meus braços bem
juntinho ao meu corpo. Já quando o filme era um clichê romântico, ela nem
queria me olhar.

Fazer refeições na companhia dela sempre era uma comédia. Seu gosto
peculiar para os alimentos me faziam rir. Ela sentiu desejo de comer: pão
com geleia, sopa de cebola com suco de morango e uma porção de iogurte
sem açúcar. Vontade de comer tudo isso ao mesmo tempo.

Minha família comemorou a notícia da nossa reconciliação, um jantar


foi dado para comemorar. Não cabia tanta alegria e satisfação em minha mãe.
Ela tocou nas minhas bochechas, apertando.
— Il mio bambino è finalmente cresciuto. È diventato un uomo che
onora le sue decisioni. Sono fiero di te.

— Grazie, mamma.

— Devemos comemorar essa união com um brinde. — Enrico propôs.


— Ao bebê que em breve vira ao mundo, ao casamento do meu irmão, e
também por mim, que em breve terei minha mulher novamente.

— A felicidade — disse, contemplando nossa felicidade.

— Aos meus irmãos por terem se apaixonado.

Concordamos em ficar na mansão Grego até que ela tenha o bebê. Não
gostava da ideia de sair e deixá-la sozinha em casa. Aqui pelo menos ela teria
companhia, estaria mais segura.

Retomei minhas obrigações no Conselho.

— Aqui está a carta que enviaremos ao Barkov. Que isso sirva de


exemplo para ele deixar nossa irmã em paz.

— Não acho uma boa ideia, ele já está acumulando ódio demais. Essa
carta é uma espécie de provocação.

— Pois que ele saiba que com os Grego não se brinca. — Enrico estava
enfurecido. Ele tinha nossa irmã como uma bebezinha inocente. Jamais
seríamos capazes de entregá-la para um homem como Barkov.

Nosso pai devia estar louco quando firmou o acordo. Juramos em seu
leito de morte proteger ela acima de qualquer outra coisa. Nossa irmã era
nosso maior tesourou, principalmente por sua história, um segredo que
envolvia sua origem que jamais seria revelado.

Como se não bastasse todos os meus problemas, ainda tive que fazer
um pequeno favor para meu amigo Louis. Bons tempos aqueles de farra que
tínhamos em Londres. Sua esposa tinha fugido a alguns dias. Nós homens e
seus problemas com suas esposas. O que elas pensam quando fogem? Que
nunca iremos encontrá-las? Enzo Grego sabia de tudo o que acontecia, nada
ficava escondido por muito tempo.

Levei pouco menos de um mês para descobrir o paradeiro da moça, da


brasileira que roubou o coração do britânico. Ele me devia uma agora.

— Não irei tolerar que use essas roupas curtas — esbravejei.

— Você não manda em mim, Enzo. Eu visto o que bem entender.

— Eu sou seu marido, você não pode continuar desfilando pela casa
como se não houvesse mais homens além de mim para te olharem.

— Enrico só tem olhos para Giovana.

— Ontem ele olhou para você! Maldito vestido vermelho que mostra
quase a sua bunda.

— Sem exageros, meu amor. Irei usar essas roupas, por isso não irei
tolerar seus ciúmes bobos.

O rosto tranquilo enquanto falava me deixava irritado. Minha esposa


tinha um corpo de fazer inveja a qualquer uma. Mesmo estando grávida, não
havia acúmulo de gordura, pelo contrário, ela continuava ainda mais gostosa
do que antes.

Não iria tolerar que ela continuasse usando esses minis shorts, vestidos
e saias. Se ela queria ficar à vontade, que ficasse assim em nosso quarto,
apenas para mim.
Não gostava de dividir nada meu com ninguém. Quase matei meu
irmão com socos por ele ter olhado para minha esposa. Hoje pela manhã,
quando nossa mãe perguntou por que estávamos com o rosto vermelho,
precisamos inventar uma desculpa esfarrapada.

Provoquei ele por ter olhado para minha esposa de maneira indelicada.
Ele não gostou da maneira como falei de Giovana.

Confessava que éramos ciumentos. Esse poderia ser nosso maior


defeito, logo após nosso ego.

— Que barulho é esse? — Ana saiu do quarto, irritada. Os cabelos


assanhados, sonolenta.

— O idiota do seu irmão implicando com minhas roupas. Eu já falei


que não vou ficar agindo como uma submissa. Se não gostou, que se exploda,
meu amor. Foca no meu rebolado.

Ela saiu usando aquela roupa que me fazia sentir vontade de tranca-la
no quarto. Anastácia sorria de mim, e ao ver minha expressão de raiva, se
trancou no quarto.

Resolvi ir atrás da minha esposa. Encontrei-a com meu irmão subindo a


escadas, me olhando com aquele olhar pervertido que estava me dando nos
nervos.

— Adorei o short da sua esposa. Ela combina com preto.

— Giovana fica linda quando usa aqueles decotes provocantes.

— Fala da minha esposa novamente e eu te quebro inteiro.

— Não fale da minha e tudo estará resolvido.

Poderia ser algo engraçado, mas realmente estava discutindo da nossa


maneira. Sempre gostávamos de provocar um ao outro. Meu olho ainda doia
dos socos que ele me deu, pelo menos ele ficaria alguns dias de molho sem
aparecer em público por conta dos machucados no rosto.

Luana estava no jardim, sentido a brisa bater no rosto delicado.


Precisava manter o controle, aquele mine short só me fazia sentir desejos
pervertidos por minha esposa. Não poderia me comportar como um imoral,
principalmente agora na reta final da gravidez.

— Princesa, me perdoa — disse, agarrando-a por trás, com carinho.

— Você não pode agir assim comigo.

— Tem razão, amor. Me perdoa?

— Tudo bem. Mas não vou mudar meu estilo apenas porque o está
incomodado. Enrico me falou dos socos que deu nele.

— Ele mereceu.

— Mania estranha a de vocês. Nossos filhos não serão assim.

— Tudo do jeito que você quiser. Agora, vamos entrar e descansar.

Depositei um beijo na sua testa. Tinha certeza de que ela conseguiria


tudo com seu jeitinho manhosa de ser.
CAPÍTULO 32

LUANA GREGO

PRECISEI DE TERAPIAS para poder conseguir tolerar o ciúmes


obsessivo que meu marido estava sentido nos últimos dias. Um absurdo ele
ter agredido o irmão por ter me elogiado, ambos não passavam de dois
homens possessivos que não estavam preparados para o casamento. Se Enzo
pensava que iria me comportar como uma submissa, estava muito enganado.
Meu marido não perdia por esperar.

Tinha lhe preparado uma surpresa. Comprei algumas roupas mais


aconchegantes, capazes de me deixar a vontade com a gravidez, e com a
permissão de Sandra, podia desfilar por aí como bem entendesse. Sabia que
meu cunhado não tinha olhos para outra mulher que não fosse a sua ruiva, ou
a diaba vermelha, como ele tanto dizia.

Confessava que era engraçado ver aquele homem se contorcendo de


ciúmes.

Havíamos combinado que não teríamos relação sexual nas minhas


últimas semanas de gestação. Enzo tentava se controlar de todas as formas
possíveis, havia até mesmo comprado uma máscara para os olhos apenas para
não olhar para mim durante a noite. Fazia questão de usar minhas lingeries
mais provocantes, meus vestidos mais curtos, apenas para vê-lo louco de
tesão.

Bala trocada não doía. Agora ele sabia o quanto sofri por não tê-lo só
para mim.
Não pensaria no passado nunca mais. A única coisa que importava para
mim era o futuro, minha felicidade e a felicidade do nosso filho.

Estava passando pelo corredor que dava acesso aos nossos quartos,
quando ouvi Enrico falar algo sobre Anastácia, e o ex noivo maluco que ela
tinha rompido a união.

— Temos informações de que Andrei esteve na Itália a alguns meses


atrás. Nossos homens encontraram imagens dele no centro da cidade.

— Ele que não ouse tocar na nossa irmão. Maldito! — Enzo fechou os
punhos, batendo na parede com força. Aquilo deveria ter causado um
ferimento em sua mão.

Enrico notou minha presença no corredor, passou por mim como se


nada tivesse acontecido. Já o meu marido estava com um semblante de
preocupação. Estava desconfiada de umas ligações que ele estava recebendo
tarde da noite, o número era local, algumas vezes conseguia ver quem era.
Sempre uma ligação da máfia.

Agora entendo tudo o que estava acontecendo. A preocupação dele em


me manter aqui na mansão, certamente tinha medo de que o russo tentasse
fazer alguma coisa contra mim para se vingar da família.

Meu Deus! Minha cunhada estava correndo perigo. Não podia acreditar
que ele tinha me escondido isso!

Me aproximei dele com uma expressão de raiva. Como ele pode


esconder algo assim de mim? Lhe dei alguns tapas e beliscões. Ele merecia
tudo e muito mais.

— Por que fez isso?

— Você não podia ter me escondido isso. Onde está a parte da


confiança? A sinceridade não vale mais?

— Me desculpa, amor. Eu só não quis preocupar você. Sua gravidez


está na reta final.

— Enzo, não irei tolerar mentiras. Da próxima vez que esconder algo
tão grave de mim, eu juro que te mato.

— É isso que dá deixar a mulher tomar as decisões. — resmungou,


baixo. Mas eu ouvi!

— O que você disse? — perguntei, irritada.

— Que você está coberta de razão — Ele depositou um beijo sobre a


minha bochecha.

— Ana está correndo perigo?

— Ninguém vai encostar um dedo na minha irmã. Não se preocupe,


princesa, e por favor, não comente nada com ela.

— Na minha opinião, ela deveria saber. — Se fosse comigo, eu iria


querer saber.

— Ela já vive preocupada demais com os estudos. Iremos eliminar


aquele rato.

Tentei não ficar pensando no assunto. Sentia medo pela minha


cunhada, eu não queria que nada de mal acontecesse com ela. Falei para o
meu marido que não iria me preocupar com esse assunto, mas não consegui,
passei a ficar paranoica com qualquer coisa que Anastácia fazia. Como na
vez que ela derrubou um vaso de flores no chão, ela gritou tão alto que tive
uma queda de pressão pensando que o russo tinha feito alguma coisa com ela.

Minha sogra tinha me ajudado a controlar minha respiração. A


pobrezinha da Ana estava nervosa, pensado que eu iria perder o bebê. Tentei
explicar para ela que o susto não foi tão grande assim, mesmo assim a
pobrezinha chorava horrores diante de mim.

Quando meu marido entrou por aquela porta, pensei que ele iria
derrubar tudo. Ele estava tão nervoso que já tinha passado por cima da mãe e
da irmã com seu tom de voz idiota. Lhe dei um beliscão para ele parar de ser
tão agressivo.

— Eu estou bem. Não foi nada — o tranquilizei.

— Você está muito pálida, amor.

— Já lhe disse para não se preocupar, seu idiota. Pare de ser agressivo
com sua família.

— Me perdoem. Eu não quis ser grosso.

— Me leva para o nosso quarto.

Ele me pegou nos braços, me colocou sobre a cama e não saiu do meu
lado até que eu adormecesse.

Despertei me sentindo melhor. Minha pressão já tinha normalizado.


Acabei contando tudo para ele, que ficou chateado por eu ter ouvido a
conversa dele com o irmão.

— Por isso que eu não te contei nada. Minha querida, não precisa ficar
preocupada. Nada de ruim irá acontecer. Eu te prometo.

Confiava inteiramente no meu marido quando o assunto era nossa


segurança. Ele nunca deixou que nada de mal nos acontecesse. Sei que ao seu
lado, toda família Grego estaria segura.

Ocupava minha mente com a leitura. As últimas semanas estavam


sendo as mais tensas da minha vida. Completava trinta e nove semanas de
gestação, o cuidado excessivo do meu marido estava me deixando louca, ele
não me deixava sozinha por nenhum instante. Segundo ele, eu poderia passar
mal e não aguentar a dor do parto. Mal ele sabia que eu estava sendo
preparada para isso a minha vida toda. Minha médica me disse que meu filho
nasceria em um parto normal.

Por mais que eu estivesse com medo, eu lutaria para ter ele em meus
braços com muita garra. Conforme ficava mais pesada, mais aumentava
minha ansiedade para ter o meu filho nos meus braços.

Consegui aliviar um pouco dessa tensão fazendo algumas simulações


de parto. Assisti alguns na internet e confesso que não me parecia nada fácil.
Tentei me imaginar naquela situação.

Meu marido continuava mal-humorado, nunca conheci ninguém que


fosse tão irritado quanto ele. Não apoiava seus atos de maldade, ele queria
matar uma empregada por ter derrubado café em seu terno. A pobrezinha só
não morreu porque eu cheguei a tempo para intervir. Isso resultou em dois
dias sem conseguir conversar com ele.

Eu sabia que não seria fácil nossa relação, faltava um pouco de


experiência, que ganharíamos conforme o tempo fosse passando. Aprender
com nossos erros fazia com que nos tornássemos pessoas melhores.

Os atos do meu marido eram capazes de me deixar horrorizada. Em


pleno século vinte e um, ele se comportava como um verdadeiro homem das
cavernas. Era inaceitável.

Algumas discussões foram geradas, pequenos conflitos entre casais que


sempre se resolviam com beijos e carícias. Sempre soube que ele era um
homem vivido, tinha tido as mais diversas experiências, estava acostumado
com as mais belas beldades do planeta. Aprendi que eu não era só uma
menina inocente capaz de deixá-lo louco, aprendi que o meu jeitinho de ser
também poderia conquistar um homem.

Nossa relação nunca esfriava, mesmo sem termos relações sexuais, ele
sempre conseguia me estimular de outras maneiras. Digamos que ele sabia
fazer mágica com a língua.

Os beijos molhados eram capazes de me enlouquecer. Não poderia


querer mais nada além disso. O amor dele me completava, me fazia sentir
protegida.

Outro aspecto que valia à pena ser lembrado, era sobre seu ego. Ele
vinha tentado melhorar isso. Às vezes chegava a sentir vontade de arrancar
meu cabelo de tanta raiva que sentia. Os Gregos eram muito convencidos em
tudo que faziam. Quase matei meu marido por se gabar para todos da família
que tinha feito um filho homem. Como se ele tivesse o dom de escolher o
sexo do nosso filho.

Finalmente tive coragem para fazer algo que há muito tempo estava
querendo saber. Não tinha tido mais notícias sobre Felipe, soube que ele não
tinha aceitado minha ajuda financeira. Ele estava acostumado a administrar
meus bens, talvez tenha conseguido acumular uma pequena fortuna me
roubando. Essa notícia me abalou, jamais imaginei que ele, sangue do meu
sangue, fosse capaz de cometer tal atos.

Sempre fomos grandes amigos, irmãos certamente. Nunca pensei que


ele fosse tão cínico. Segundo meu marido, alguns milhões das empresas do
meu pai tinham sido desviados. Todas as pistas dos desfalques apontavam
para o meu primo. Ele era o único que tinha total controle sobre tudo.

A decepção que sentia no momento era capaz de fazer meu coração


ficar apertado. Ser apunhalada dessa maneira me feriu bastante. Não pelo
valor econômico. Dinheiro nunca foi importante para mim. Um dos
ensinamentos que aprendi com as freiras foram que dessa vida eu não levava
nada. Ele agiu de maneira imperdoável tentando me violentar, jamais irei
esquecer daquela noite terrível, que por sorte, meu marido tinha impedido.

Fazia muito frio, e o sol não tinha nem saído quando comecei a sentir
algumas contrações. Não foi nada alarmante. Tomei um banho para ajudar a
relaxar, não pensar na dor. Minha médica me disse que dias antes de
completar as quarenta semanas, eu sentiria uns alarmes falsos, e pelo que eu
pude perceber, esse era o primeiro deles.

Senti tanta fome que não esperei o café ficar pronto e, arrumado sobre a
mesa, comi na cozinha, na companhia da empregada. Ela me servia da
maneira que podia, nervosa e preocupada pensando que cabeças iriam rolar.
Ela pediu desculpas e implorava para que não mandassem-na para o Dark
Hill.

Odiava o fato daquela organização ser dentro da propriedade da nossa


casa. Lá acontecia coisas horríveis, algumas escapadas do meu marido com a
prima falecida me deixava irritada. Jamais iria colocar os pés naquele lugar.
Soube que Giovana fez isso e quase se ferrou, e olha que Enrico era
completamente apaixonado por ela.

Acariciava minha barriga, quando acabei me lembrando do dia em que


Giovana sofreu o aborto por culpa da corja da Erika. Ela teve o final que
merecia. Dylan teria um primo mais velho se não fosse pela a atitude
inconsequente daquela vadia. Na verdade, meu filho já tinha uma prima, a
pequena Jenifer, filha adotiva que Giovana escondeu de Enrico por alguns
anos.
Ele era muito benevolente por aceitar aquela menina como sua. Soube
até que eles a registraram como uma Grego. Isso sim era uma grande
demonstração de amor.

Lembrei de quando era menina, e minha mãe fazia transas em meu


cabelo. Ela adorava colocar laços de fita para enfeitar, gostaria de um dia
poder fazer isso com alguma filha minha. Senão, poderia fazer na Jenifer. Ela
era uma criança linda e encantadora. Pelo menos foi isso que Sandra me
contou quando foi visitar ambas mês passado.

Penteava meus cabelos quando senti mais uma contração, ela veio
como uma espécie de pontada. Podia sentir uma pequena dor se formar na
minha barriga, como facas entrando e saindo. Me sentei na cama e controlei
minha respiração, esperei alguns minutos para ter certeza de que era mais um
alarme falso.

Enzo saiu do banheiro, vestindo uma box branca que marcava o seu
lindo bumbum empinado e durinho. Mordia meus lábios tentando controlar
meus desejos impulsivos. Ele foi logo pegando sua máscara e colocando
sobre os olhos. Ele deveria estar subindo pelas paredes. Acho até que ele
nunca passou tanto tempo sem sexo como agora.

Lhe dei um beijo nos lábios, que logo me ignorou. Já podia notar o
volume excessivo em sua cueca. Ri baixinho no intuito de irritá-lo. Acabei
conseguido, pois ele retirou a máscara e me lançou um olhar profundo. Enzo
estava duro e louco por sexo.

— Agora você vai me estimular até eu gozar nessa sua boquinha


rosada.

— Você vai ter que me convencer — me fiz de inocente. Aquilo o


deixava louco.
Ele tinha o gosto bom. Sexo oral me fazia sentir vergonha, não gostava
que ele me olhasse, mas ele era tão bom no que fazia que acabava me fazendo
perder a vergonha. Tudo o que eu mais queria nesse momento era poder dar
para ele, transar até desmaiar de prazer, mas infelizmente não podia.

— Você vai engolir toda a minha porra, princesa.

Continuava lambendo, chupando seu membro com precisão. Meu


marido revirava os olhos de prazer, as veias pulsando de pelo sangue quente.
O gosto do seu prazer despejado na minha boca, e como uma boa menina que
sou, engoli tudo sem fazer careta.

Ele me olhava surpreso. Suas mãos puxavam meus cabelos com


possessão. Aquilo era bom, seus lábios lambiam meu pescoço e orelha,
minha pele estava arrepiada com seu toque majestoso.

— Não me faça perder o controle, princesa.

— Enzo, eu acho que nosso filho vai nascer — falei, sentido algo
molhado descer pelas minhas pernas.

— Ah, princesa, você não sabe o quanto sou louco por vocês — ele
parecia não ter me ouvido. — Geme para mim, meu amor, geme muito alto.

— Aíiiii — gritei tão alto que meu marido se assustou.

Uma pequena camada de suor começou a se formar no meu rosto. Uma


dor aguda se formava dentro de mim cada vez se tornado mais forte. A cena
seguinte seria engraçada se não fosse pela dor que sentia. Meu marido
vestindo a roupa.

Ele estava tão nervoso que errou o buraco da calça duas vezes, vestiu a
camiseta ao contrário duas vezes para poder conseguir acertar. Nem sequer
calçou as meias.
Saiu do quarto acordando todos da casa. Minha sogra me ajudou para
que eu não ficasse nervosa.

— Enzo, tira o carro da garagem — sua mãe ordenou.

— Eu acho que não consigo. — Ele estava tremendo e parecia piorar


conforme eu gritava.

— Eu consigo — Ana quem fez todo trabalho de dirigir até o hospital.

Estava nervosa, e ao mesmo tempo confiante. Meu filho estava vindo


ao mundo, meu marido revirava em minhas mãos. Eu apertava tanto que
quase consegui quebrar a mão dele.

Os médicos me faziam fazer forçar, e falavam como se eu tivesse o


poder de aguentar tudo sozinha. Por um instante pensei que meu marido fosse
matar o doutor, mas tudo foi resolvido.

Fiz uma força maior quando a última contração veio. Minha cabeça
doeu muito por consequência da força bruta, então eu ouvi o chorinho dele. O
choro do amor da minha vida.
CAPÍTULO 33

LUANA GREGO

ELE ERA TÃO PEQUENO, tão indefeso, tão meu.

A emoção tomou conta de mim ao sentir seu pequeno corpo contra o


meu. Ele era o fruto do meu amor com Enzo, nunca imaginei que fosse tão
parecido com o pai. Os olhos azuis escuros, o cabelo levemente em tons
loiros... meu filho tinha nascido cabeludo.

Ele chorava, a enfermeira me ensinou a melhor maneira para


amamentá-lo. Não pensei que machucava. Mas era uma pequena dorzinha
que eu poderia aguentar. Consegui ver a magia do nosso primeiro contato.
Meu marido admirava a nossa cena, ele estava praticamente paralisado.

— Irei deixar o casal sozinhos com o bebê. Se precisarem de alguma


coisa, basta tocar o botão.

A enfermeira se retirou.

Enzo se aproximou de mim, depositando um beijo sobre a minha testa.


Deveria estar horrível, tinha certeza de que perdi muito líquido, por isso
precisei tomar soro, para recuperar minhas energias.

— Você foi muito forte, princesa. Nunca duvide de sua capacidade.

— Você precisa sentir ele. Tão indefeso...

— Eu não sei como segurar.

— Não se preocupe, eu te ensino. Também a trocar a fralda dele, e a


dar a mamadeira quando eu precisar sair.

— Por vocês dois eu sou capaz de fazer qualquer coisa.

Sandra me ajudou a convencer meu marido a segurar nosso filho pela


primeira vez. Enzo tinha um sorriso satisfatório no olhar, o medo de
machucá-lo era tão grande que ele sequer movia um músculo. A satisfação de
Ana ao segurá-lo foi emocionante. Ela parecia bem animada com a
possibilidade de se tornar mãe algum dia.

Percebi que minha sogra não apoiava o desejo da menina por ela querer
casar com Thiago.

— Quando vocês nasceram, o pai de vocês estava numa situação pior


que a do Enzo. Ele tinha medo de derrubar.

— Papai sempre gostou de me segurar nos braços — Ana parecia


lembrar.

— Ele sempre te mimou, por isso que é tão mal-educada. — Enzo


provocou.

— Por isso que o Enrico é o meu irmão preferido — disse, sorrindo.

— Não me procure mais quando seu cartão de crédito estourar.

— Então, você que é o meu irmão preferido.

Todos sorrimos das criancices de Ana. Ela era uma adolescente com a
mente de criança.

— Obrigado por ter me dado esse presente. Saberei recompensá-la pelo


resto de nossas vidas — seu tom de voz era malicioso.

Os três dias que passei internada no hospital foram necessários para que
eu conseguisse recuperar minhas energias perdidas no parto normal.
Agradecia a Deus por ter conseguido.

Meu marido dormiu todos os dias ao meu lado, me ajudando a cuidar


de Dylan a noite quando precisava amamentar. Nunca pensei que ele pudesse
ser tão prestativo e carinho comigo algum dia.

A melhor coisa de poder chegar em casa, era poder deitar na minha


aconchegante, espaçosa e confortável cama.

Que tipo de pais Enzo e eu éramos? Nem havíamos preparado um


quarto para o nosso filho. Tinha escolhido alguns móveis pela internet, e eles
tinham chegado na semana passada. Mas nem haviam sido montados, por
isso tivemos que providenciar um berço em nosso quarto. Não queria nosso
filho longe.

Fui contra a decisão do meu marido que deveríamos contratar uma


babá. Eu poderia muito bem cuidar do meu filho, não tinha nenhuma
ocupação para me preocupar no momento, e nada era mais importante do que
a atenção que deveria dar ao meu bebê. Precisava passar pelo repouso de
trinta dias, mas isso não seria incômodo algum para mim, poderia muito bem
cuidar do meu filho.

— Tudo bem, não iremos contratar uma babá. Mas se algum dia você
precisar, teremos que fazer isso.

— Se ela tiver acima de cinquenta anos, pode contratar quantas quiser.

— Você fica linda quando fica com ciúmes — me deu um selinho nos
lábios, em seguida apertando minhas bochechas. Ele sabia que eu odiava
aquilo.

— Não é ciúmes, estou apenas cuidando do que é meu.

Sou muito possessiva quando desejo.

— Sou exclusivamente seu, princesa.

Ele me envolvia em seus braços musculosos, seus lábios tocaram os


meus ombros, fazendo com que todo meu corpo sentisse desejos por ele.
Tinha acabado de sair do hospital, não tinha condições para fazer nada. E ele
sabia disso, por tanto parou de me provocar.

— Só mais um mês, amor — o provoquei.

— Se prepara, meu amor, porque quando esse dia chegar, nada vai me
impedir de te possuir. Irei transar com você até que suas pernas fique bambas
e você desmaie de prazer em meus braços.

As primeiras noites se tornavam longas. Meu filho durante o dia


parecia um anjinho, se quer chorava, dormia tranquilo. Já durante a noite, ele
gostava de ficar acordado recebendo atenção da mamãe dele. Meu marido
perdia alguns momentos lindos quando nosso filho sorria. Algumas vezes eu
o acordava para que pudesse ver algumas das risadas que ele dava.

A pior parte era ver ele chorando quando precisava tomar alguma
vacina, ou fazer o teste do pezinho e do olhinho. Meu filho era tão perfeito,
tão lindo.

Estava tudo correndo tão bem, a não ser pela ligação que Enzo recebeu
as duas da manhã avisando que alguém tinha explodido um dos galpões dos
Gregos. Pelo o que eu entendi, o local estava em chamas, e pela imagem que
mandaram para o celular do meu marido, podia ver a grama pegando fogo.
Os símbolos eram inseridos nas letras A e B, isso era um sinal de que ele
estava querendo vingança.

Não controlei meu choro, pensando no que ele poderia fazer a Ana.
Minha cunhada estava correndo perigo, assim como toda a nossa família.

— Enzo, você precisa contar para Ana.

— Eu não posso. Ela vai ficar preocupada.

— Eu tenho medo do que esse homem possa fazer contra ela. Sua irmã
é apenas uma garotinha inocente, malcriada ela é, mas é inocente. Não
merece nada de ruim que aquele homem possa fazer contra ela.

— Nada vai acontecer.

Enzo vestiu seu colete a prova de balas. Eu não queria que ele saísse de
casa a essa hora da madrugada, tinha medo de que alguma coisa pudesse
acontecer contra ele. O abracei fortemente, algo me fazia querer estar presa
naquele abraço para sempre. Seu abraço me passava toda sua tensão.

Tentei convencê-lo a não ir, ainda assim ele não me ouviu. Estava tão
preocupado com a nossa segurança que estava disposto a ir atrás dos
culpados. Enrico bateu na porta do nosso quarto, ele também usava colete e
entregava uma pistola para o meu marido. Aquela cena para eles podia
parecer normal, mas para mim, estava longe de ser algo natural.

— Por favor, tomem muito cuidado.

— Não quero que fique preocupada, logo estarei em casa.

— Eu prometo cuidar dele — Enrico assegurou.

Sei que faz parte dele, como líder dessa família, proteger todos. Mesmo
que eles fossem os melhores atiradores, eu tinha receio de que algo de ruim
pudesse acontecer com algum dos dois. Meu filho começou a chorar de uma
maneira desesperadora, levei algumas horas para conseguir acalmá-lo.

A essa altura do campeonato, já havia perdido todo o meu sono. Não


pensava em outra coisa que não fosse o meu marido. Lágrimas escorriam
pelo meu rosto, precisava me acalmar.

Vesti um sobretudo que fazia parte da minha camisola de seda, prendi


meu cabelo em um rabo de cavalo, mas não consegui encontrar a droga dos
meus óculos. Após meu filho dormir, resolvi ir até a cozinha atrás de um
copo de água com açúcar.

Acabei que derrubando alguns copos por conta do nervosismo que


sentia, minhas mãos tremiam. Psicologicamente eu não estava preparada para
casar com um mafioso, não tinha psicológico para encarar essas situações de
confrontos como algo natural.

Precisei me acalmar um pouco para não acabar ficando sem pressão,


quando ouvi um barulho vindo da sala, como se a porta tivesse sido colocada
abaixo. Logo em seguida veio o barulho dos tiros.

O que estava acontecendo? Será que estava tão nervosa ao ponto de


ouvir tiros? Enzo tinha voltado? Corri até a sala preocupada, passava-se um
filme pela minha cabeça.

Não podia acreditar no que via a minha frente, não podia ser verdade.

Eram eles!

Helena e Felipe lado a lado, acompanhados de alguns soldados que


obviamente deveriam ter sido contratados por ele. Onde estava os nossos
seguranças? Pude ouvir mais alguns barulhos de tiros vindo de fora.

Paralisei quando meu primo apontou a arma na minha direção. Aquele


sem dúvidas alguma não era ele. O corpo pertencia a ele, mas a mente estava
dominada por sentimentos malignos, ele obviamente queria vingança por
tudo que Enzo o fez.

Helena obviamente queria a mesma coisa, ambos estavam armados e


protegidos com alguns coletes e equipamentos de choque.

A inteligência do meu primo foi capaz de elaborar o plano perfeito. Eu


não conseguia nem ao menos piscar, tudo o que eu conseguia pensar era no
meu filho que estava no quarto dormindo tranquilo.

Será que ele acordou com o barulho dos tiros?

Pensei em correr, mas não consegui, a voz da mulher era de possessão,


de ódio, rancor, os piores sentimentos possíveis, os mais perigosos, capazes
de fazer qualquer um cometer uma loucura. Pude ver isso no olhar de ambos,
mas entre os dois, Felipe era o que mais parecia descontrolado. O olhar
doentio era o mesmo daquela noite em que ele queria me violentar.

Já Helena tinha um olhar superior para mim. Sem meus óculos, não
conseguia ver com muita nitidez, mas sabia do seu ódio por eu ser a esposa e
não ela. Meu Deus, o que seria de nós? Eles com certeza vieram aqui para
nos exterminar.

— Olá, Luana. Vejo que a gravidez te deixou mais “jeitosinha”. É um


prazer rever você.

— O que vocês fazem aqui?

— É assim que sou recebido por você, prima? Logo eu?

Felipe se fazia de ofendido. Helena parecia gostar da tensão que se


formava entre nós dois.

— Acho melhor vocês irem embora e fingirem que nada disso


aconteceu. Meu marido é capaz de matar vocês se os encontrarem aqui.

— Sabemos que os Grego não se encontram em casa. Estão apenas as


mulheres, e o bebezinho que iremos matar lentamente bem na sua frente,
mamãe — levei a mão a minha boca para não gritar. Helena se divertia com
meu pânico, dando uma boas gargalhadas.

Eles eram loucos! Como podiam pronunciar tamanho absurdo? Meu


filho era inocente, não tinha culpa de nada.

Sandra descia as escadas sem entender o que estava acontecendo, a


matriarca tomou um susto ao ver Helena apontando a arma na direção dela,
que logo levantou as mãos, mostrando que estava sem arma alguma.

— Senta no sofá, sua velha chata — Helena ordenou. — Antes que eu


resolva matar você primeiro.

— Luana? — ela me olhou sem entender o que estava acontecendo.

Sandra sentou no sofá, assim como eles haviam mandando. Fora


Helena e Felipe, tinha mais seis homens fortemente armados com armas
apontadas na nossa direção. Essa noite não acabaria muito bem.

— Eu estou louco para derramar o precioso sangue dos Grego. Que tal
eu fazer as honras com a velha aqui — Felipe parecia ser outra pessoa. Ele
sempre se comportava como um cavalheiro e agora parecia um assassino em
série.

Anastácia descia as escadas amedrontada. Pude perceber que ela foi


mais esperta escondendo o aparelho celular dentro do bolso do seu moletom,
creio que eles não perceberam a ação rápida que ela fez.

— Fica quietinha, e se senta no maldito sofá antes que eu mesmo


estoure seus miolos, minha quase cunhadinha — Helena era realmente muito
louca. — Por consideração ao meu quase marido, eu matarei você e sua mãe
por último. Minha prioridade é o bebê.

— Não faz mal ao meu filho, eu te imploro — pedi, aos prantos.

— Cala a maldita boca, sua vagabunda.

Helena caminhou na minha direção rapidamente, desferindo alguns


tapas contra o meu rosto. Ela estava louca, certamente eu seria a primeira a
morrer. Sandra e Ana nada podiam fazer para me ajudar, a não ser orarem.

Tentei me defender de todas as formas possíveis, mas ela era forte e


sabia como me bater para me machucar. Tentei revidar alguns tapas, só que
ela era mais rápida, segurava a minha mão com bastante força. Minha sorte
foi que Felipe acabou separando a nossa briga, eu estava só apanhando,
acabei sendo beneficiada.

— Levem as duas para o escritório. Quando eu lhes der a ordem, vocês


atiram nelas — um soldado levou as duas em direção ao escritório.

Não conseguia pensar em mais nada a não ser em proteger meu filho de
alguma maneira.

Felipe se aproximou de mim, me puxando forte pelo braço. Ele tinha


um olhar de causar arrepios.

— Se você não matá-la, eu mato.

— Combinamos que Luana ficaria para mim — ele disse, irritado.

— Sinto muito, meu querido. Eu te enganei — ela fez um sinal para


dois soldados que o seguraram.

Eles tiraram a arma de suas mãos e a morena atirou duas vezes contra o
peito dele. Meu primo sangrava enquanto agonizava de tanta dor. Os homens
o levaram para fora, não controlei meus gritos que saíram como um instinto.

A última imagem que tive do meu primo, foi dele sendo carregado para
fora, após jorrar sangue pela boca. Helena era uma traidora, se livrou dele
como se fazia a um animal peçonhento.

Ela sorriu, de maneira diabólica.

— Está me olhando por quê? Quem lhe deu permissão para me encarar,
vadia?

Nada disse, apenas continuei chorando. Ela veio na minha direção, me


puxando pelos cabelos, me arrastando para o meio da sala. Não me importei
com a dor, meu filho era minha única preocupação. Ela me fez ficar de
joelhos diante dela, e deferiu alguns tapas contra meu rosto.

Aquilo ardia muito.

— Eu tenho nojo de você, sua cobra. Por sua culpa Enzo me abandonou
— ela bateu no meu rosto, me fazendo gritar alto. — Cala a boca, vadia!
Você não sabe como eu sofri. Eu só quero matá-lo, fazer com que ele sinta a
mesma dor que eu senti.

— Eu não tenho culpa de nada. Eu não pedi para casar com ele. Meu
pai que planejou tudo juntamente com pai de Enzo.

— Pouco me importa, de todo jeito você estragou meus planos. Eu era


apenas uma menina inocente quando ele me seduziu, ele sempre foi bom com
as palavras. Eu era virgem! Virgem! Me entreguei para ele desde o primeiro
momento para depois ele me trocar por você? Se pelo menos você fosse
bonita... eu sou mais gostosa que você. Não é verdade?

Os soldados todos concordaram. Podia notar facilmente que ela estava


perturbada do juízo. Os olhos vermelhos certamente por efeito de alguma
droga ilícita, ela estava parecendo uma zumbi, parecia que não dormia bem a
dias. As olheiras fundas, o olhar quebrado, abatido e abalado.

Essa mulher era uma doente, uma psicopata que não soube lidar com a
separação. Enzo não tinha o direito de iludi-la, assim como ela não tinha o
direito de me culpar por tudo que estava acontecendo.

— Éramos para termos sido tão felizes, tudo culpa sua... Ele ria de
você, lhe chamava de medusa, de patinho feio, por que você teve que virar
um cisne?

— Helena, meu marido não me ama. Ele ama você, ele me disse isso
várias vezes. O único problema é Enrico, ele não quer que vocês dois sejam
felizes. Eu sou contra a decisão dele, vocês dois se amam e precisam estarem
juntos. Deixa-me te falar mais uma coisa: meu marido vai me deixar para
ficar com você.

O olhar dela havia mudado, sua reação foi de felicidade ao ouvir


minhas palavras.

Me senti mais aliviada ao perceber que meu marido tinha acabado de


entrar na sala junto com alguns soldados, eram mais de vinte, eles
imobilizaram os demais soldados facilmente. Enrico apontava a arma para ela
que continuava armada. Ele fez menção de silêncio para mim, precisava
manter a calma para continuar com meu jogo.

— Eu falei para o Enzo que ele deve ficar com você. Ele me disse que
iria fazer isso assim que meu filho nascesse. Você conhece as regras da
máfia, todo homem precisa de um primogênito.

— Eu poderia ter dado esse filho para ele — ela disse chorando, a voz
por um fio.
— Você vai dar. Ele me disse que deseja ter muitos filhos com você.
Enzo não me ama, ele ama você, vocês vão ficar juntos e...

— Espera... você está falando isso para me enganar. Aposto que...

Em um movimento rápido, ela conseguiu me imobilizar e apontar a


arma para a minha cabeça, fui empurrada contra o chão, ficando de joelhos
novamente. Ela apontava a arma sem se mover, podia sentir o cano pesado
sobre ela. Comecei a chorar nesse momento, pensando na possibilidade de
nunca mais poder ver o meu filho.

— Olá, Enzo.

— Helena, não se atreva a tocar um dedo se quer na minha esposa.

— Se aproxime de mim, e eu atiro nela.

— Você só pode estar louca. O que deu em você?

— VOCÊ ME ENGANOU TODO ESSE TEMPO — ela gritou. —


Você me destruiu e eu irei destrui-la, porque você ama esse patinho feio que
agora se tornou um cisne. Por acaso você lembra da história da bela e da fera?
Você me contava ela enquanto lambia e sugava os meus seios. Eu era a bela e
ela a fera, mas depois você inverteu tudo. Me fez fera e tornou ela uma bela.

Ela sentia tanto ódio nesse momento que ouvi o barulho da arma sendo
destravada.

— A Bela agora vai morrer.

— Por favor, não faz isso.

— Você conhece essa palavra, "por favor". É assustadora a maneira


como ela te mudou. Você se tornou um covarde.
— Eu faço o que você quiser. Seu ódio é contra mim, atira em mim.
Luana não tem culpa de nada, mate a mim e ela fica sem meu amor.

Ela levou alguns segundos par pensar, e em um movimento rápido, ela


pegou uma outra arma que tinha na cintura apontando-a para Enzo.

— Você tem razão. Adeus, Enzo Grego.

Ouvi o barulho do tiro, que acertou seu peito. Meu marido caiu no
chão, a cena seguinte aconteceu em câmera lenta. Enrico derrubou Helena no
chão, conseguindo desarmá-la. Os soldados logo se aproximaram, a
segurando pelo braço. Corri na direção de Enzo que estava caído no chão,
meu coração parou de bater neste momento.
CAPÍTULO 34

ENZO GREGO

ESTAVA TÃO FELIZ PELO nascimento do meu filho que quase


surtei quando recebi a mensagem me avisando sobre o incêndio no galpão.

Ter que deixar minha esposa sozinha e no estado nervoso que ela
estava, me fazia sentir o pior marido de todos, principalmente quando
descobri que o acidente provocado em um de nossos galpões era apenas um
alarme falso. Não tinha sido arquitetado somente por Andrei Barkov, havia
mais pessoas envolvidas. O homem que tocou fogo foi preso e acabou
entregando o nome dos mandantes.

Não consegui pensar em mais nada a não ser poder chegar em casa e
encontrar minha família a salvo, estava dirigindo tão rápido que certamente
perderia minha carteira, não respeitava nenhuma lei de trânsito. Que se foda
as leis! Minha família estava em perigo.

Helena e Felipe queiram apenas nos distrair. O plano foi bom,


conseguir tirar Enrico e eu de casa, assim eles poderiam invadir a mansão
com mais facilidade.

Vasquez me informou que havia cerca de trinta homens na minha casa,


alguns dos seguranças estavam feridos por terem sido surpreendidos.
Tínhamos em torno de cem homens armados, e ninguém melhor do que eu
para conhecer minha casa. Fomos atirando e matando todos que estavam em
nosso caminho.

Ao entrar em casa, encontrei Helena apontando uma arma para Luana.


Minha esposa era esperta, estava tentando convencê-la de que eu não a
amava, e sim a Helena. O sangue subiu na minha cabeça, quase agi por
impulso atirando contra ela. Por sorte Enrico me conteve, mas logo ela
percebeu nossa presença.

Senti meu peito se apertar ao ver Luana toda machucada, com o rosto
sangrando. Ela estava de joelhos, muito nervosa, estava passando por
emoções fortes. Ela não sabia lidar com situações de risco, nunca passou por
treinamento necessário para isso.

Fiz Helena entrar no meu jogo, a convenci de que ela deveria atirar
contra mim, e foi o que ela fez. Para nossa sorte, eu estava de colete.

O tiro foi capaz de me derrubar, senti todo impacto da bala contra o


meu peito. Mesmo com colete, aquilo doia pra caramba.

Luana correu na minha direção, preocupada, logo após Enrico derrubar


Helena.

Minha princesa estava machucada, sentindo dor e ainda mantinha toda


sua preocupação em mim.

— Enzo, você está bem? — suas mãos tocavam em meu rosto.

— Estou bem, princesa. Estou usando colete, a bala não me atingiu,


apenas me fez sentir uma pequeno impacto que logo irá passar.

— Meu Deus! Pensei que você estava ferido — ela deferiu alguns tapas
contra mim. A deixei preocupada, mas eu não poderia simplesmente gritar
que estava usando colete. Assim o tiro não teria sido contra mim, e sim
contra ela.

— Nem assim você para de me bater.


Ela me deu um abraço apertado, e beijou os meus lábios de maneira
urgente. Retribui o beijo, logo conseguindo levantar com sua ajuda. A dor no
peito me incomodava, a pancada havia sido forte, mas como tinha bastante
resistência, tinha conseguido me acostumar com a dor. O treinamento me
ajudou a ignorar qualquer ferimento que tivesse em meu corpo.

Os soldados seguravam Helena que se debatia, mas não o suficiente


para se soltar. Ela poderia ter seguido com sua vida, mas não, ela preferiu
fazer as coisas da maneira mais difícil.

Em nome do que tivemos algum dia, tinha resolvido lhe dar uma
chance para seguir em frente, mas desperdiçou tudo vindo até aqui. Ter
tentando destruir a vida da minha família era motivo suficiente para morrer.

Mirei a arma contra o seu peito, os olhos escuros me olhando


friamente. De longe me fazia lembrar daquela garota alegre e tímida que
conheci na pensão. Ela tinha se tornado uma mulher possessiva, cheia de ódio
e rancor. Estava prestes a atirar nela quando Enrico me impediu, baixando a
minha arma.

— Não na nossa casa.

Ele tinha razão. Não sujaria o tapete da mansão com o sangue dela.
Ordenei que a levassem para o Dark Hill, assim como os demais soldados
que ela havia contratado. Agora estava explicado o autovalor dos cartões de
créditos que haviam estourados. Ela planejou tudo isso com bastante
antecedência.

Minha mãe e Anastácia tinham sido libertas do escritório, ambas


estavam tensas. Anastácia tinha desmaiado por conta do nervosismo, foi
preciso uma assistência médica vir até nossa casa para atender as três. Luana
só conseguia pensar em nosso filho, havia a tranquilizado ao falar que uma de
nossas empregadas estava com ele. Ela não via a hora de poder ir para o
quarto e segurá-lo nos braços novamente.

Enrico me chamou em um canto de parede para me contar a real


situação. Parecia que Felipe estava envolvido nessa, ele estava baleado em
um estado de falência por consequência dos tiros que levou no peito. Além de
tudo, Helena foi capaz de atirar no seu ajudante.

— Eu quero matar aquela desgraçada.

— Não agora. Sua esposa precisa de sua atenção e, principalmente, do


seu carinho.

— Como sempre você tem razão.

— Amanhã, quando tudo estiver mais calmo, irei lembrar do soco que
está merecendo levar.

Minha mãe e Ana estavam mais calmas. Já Luana só tremia e parecia


que não suportaria por muito tempo. O médico aplicou um calmante injetável
nela que eu mesmo pedi. Fiz ela acreditar que era apenas um analgésico.

A levei para nosso quarto, que antes de dormir, beijou nosso filho e
disse três vezes que o amava muito. Velei seu sono, preocupado, pensado que
ela acordaria assustada durante a noite. Mas pelo que via, o calmante estava
fazendo efeito.

Meu pensamento estava em Dark Hill, em como eles tinhas conseguido


elaborar um plano tão ágil, ao ponto de saberem que estávamos sendo
ameaçados por Barkov. Tudo me levava a pensar que ele estava envolvido
em tudo isso, como em um aviso, uma oportunidade de se livrar de nós.
Soube que no escritório estavam presas mamãe e Ana, só que a minha irmã
estava trancada no banheiro, sem ordens de execução. Com nosso família
morta, seria bem mais fácil para ele conseguir se vingar dela.

Enfurecido, não esperei que o sol saísse. Peguei minha arma e caminhei
em passos largos até Dakr Hill. Enrico estava de prontidão, antes de dizer
alguma coisa, passei por ele apressado, indo em direção a sala de isolamento.
Após meu irmão torturá-la, devia ter a mandado para lá.

— Enzo, onde pensa que vai?

— Resolver essa história, e por favor, irmão, não me impeça, dessa vez
eu quero resolver tudo sozinho.

— Também penso que você tem esse direito, mas tome cuidado para
não deixar se envolver por ela.

— Enrico, por Dío. Você sabe que eu não sinto mais nada por ela. Meu
único desejo é poder matá-la.

— Não sei se você percebeu, mas eles tiveram alguma relação com...

— Barkov. Eu também percebi. Se eles se envolveram com aquele


crápula, eu irei descobrir. Não se preocupe, eu sei concertar as merdas que
faço.

Lhe dei as costas, destravando a porta que dava acesso a sala de


isolamento. A fechei em seguida, enfiei a pistola na minha cintura.

Helena estava sentada no chão, com os cabelos bagunçados, molhados.


Ela tinha alguns hematomas no rosto e nos braços, não parecia abalada e nem
estava reclamando da dor. Ela sempre foi uma mulher forte, lembro de como
admirava isso nela.

Ela me olhou de relance, me ignorando logo em seguida. Me controlei


para não ir atirando logo nela, precisava usufruir de toda minha inteligência.
— Por que não me obedeceu? — ela se quer deu o trabalho de me olhar
nos olhos. — Eu lhe dei uma chance de ser feliz, você tinha dinheiro. Por que
preferiu as coisas da maneira mais difícil?

— Eu só queria ter conseguido matar você.

Pude notar que seu psicológico estava muito abalado, ainda assim, não
me causava comoção. Era um homem frio, acostumado a matar quando
necessário.

— Quanto ele te pagou? — ela me olhou, admirada. — Não negue, eu


já sei de tudo.

— Seu joguinho não funciona comigo. Não mais. Mesmo assim, quero
te dizer que sua irmãzinha vai sofrer muito nas mãos do Andrei. Ele vai
estuprá-la. Sua irmãzinha virgem vai sentir todos os tipos de dores físicas e
psicológicas.

— Para a sua informação, minha irmã está segura. Esse deslize de


segurança não vai voltar a acontecer, a mansão conta com mais de duzentos
homens armados, ninguém vai ser capaz de conseguir derrubar nossa
fortaleza.

— Se você quer acreditar nisso... — ela deu de ombros.

— Você só pode ter enlouquecido por ter se aliado a ele. Você teve a
chance de ser feliz, sua idiota.

Ela levantou do chão, puder notar o sangue que havia no meio de suas
pernas, certamente foi violentada por alguns soldados. As roupas rasgadas, os
cortes nos braços e nas pernas. Podia parecer uma crueldade, mas esse era um
dos castigos mais leves que haviam.

— Enzo, Enzo, Enzo... — ela se divertia com meu nome. — Você


sempre foi bobinho. Não vê que eu sou mais esperta que você? Não lhe darei
o prazer de me matar, sabe por quê? Eu já estou morrendo. Tenho pouco mais
que alguns meses de vida, minha cabeça é uma bomba relógio. Tumores e
tumores, eles sim vão conseguir me derrubar. Eu só lamento uma coisa: não
ter conseguido matar o patinho feio. Pelo menos fui feliz nos braços daquele
russo delicioso, ele é muito melhor de cama que você.

Ela estava doente? Uma bomba relógio no cérebro, por isso seus atos
inconsequentes nos últimos tempos. Ela parecia estar morrendo pelo simples
fato de estar agindo como uma louca.

— Você fodeu com a minha vida — ela começou a aplaudir. —


Obrigado, meu amor. Agora fique à vontade para me matar.

Voltou a sentar no chão, começando a cantar uma música em russo.


Pelo que via, sua ligação com Andrei era muito forte. Fiz bem em apoiar
minha irmã a deixar aquele homem, nossa princesinha não merecia viver ao
lado dele.

— O que ele está planejando? Me conta, Helena.

Ela continuava a cantarolar, fazendo com as mãos um sinal de arma,


em seguida apontado para a própria cabeça, fazendo uns somos estranhos
com a boca.

— Sua última chance, me conta — ordenei.

— Sua irmãzinha vai agonizar de dor quando ele a deflorar. Ele está
vindo, Enzo. Tick tack, tick tack.

Sem pensar duas vezes, eu atirei contra a cabeça dela, explodindo as


bombas relógios de uma vez por todas. Minha raiva era tanta que mesmo
depois de vê-la morta, continuei atirando na sua direção por diversas vezes,
até que meu irmão entrou na sala me confortando com um abraço.

Não sentia remorso pelo que fiz, nem ao menos me importava com ele.
O culpado de tudo isso era eu por ter me envolvido com ela, por permitir que
nossa relação tivesse chegado tão longe.

— Você fez o certo, irmão.

— Precisamos proteger nossa irmã. Ele está vindo.

— Você precisa se alimentar, princesa, não apenas por você, mas pelo
nosso filho também. Ele precisa dos seus carinhos e cuidados.

Havia se passado duas semanas desde todo o ocorrido. Minha mulher


precisou se submeter a algumas sessões de terapias intensivas, andei
pensando bem e assim que ela estivesse melhor, iniciaria um treinamento
apropriado com ela, para que aos poucos ela fosse se tranquilizando.

Me doia ver que ela estava abalada. Nos primeiros dias, ela parecia
uma pessoa sem vida, totalmente sem ações. Havia falhado com ela, prometi
proteção e não consegui protege-la das armadilhas daqueles dois.

Por sorte, ambos estavam mortos, nunca mais incomodariam nossa


família. Luana não sabia da notícia da morte de seu primo, mas tinha minhas
dúvidas se ela já não estava sabendo. Ela era muito inteligente, capaz de
conseguir desvendar qualquer mistério.

Algumas noites ela acordava assustada, gritando em pânico por


recordar da terrível noite que passou graças aqueles idiotas.

Enrico providenciou o funeral de Felipe na França, alguns amigos


compareceram, o desgraçado foi enterrado com todas as honras que se deve
por conta do sangue nobre que carregava nas veias. Já Helena foi enviada
para a pensão da tia, ela que tomasse alguma atitude.
Minha preocupação era em poder dar meu apoio a minha mulher, parei
de ir a empresa e ao Conselho para poder passar mais tempo na sua
companhia. Aos poucos ela vinha apresentando melhoras, tudo isso era por
minha culpa.

Os psicólogos garantiram que em alguns meses ela estaria curada desse


surto psicótico que ela apresentou. Depois disso, nada mais impediria nossa
felicidade.

Luana era a mulher da minha vida, iria lutar por nossa felicidade
sempre.
CAPÍTULO 35

LUANA GREGO

TODOS PENSAM QUE EU estou louca, uma pessoa apta para poder
criar meu filho. Ouvi alguns murmúrios do meu marido pelos corredores
falando que precisava me ajudar para poder me recuperar desse trauma.
Confessava que tudo aquilo me pegou de surpresa, descobrir que Helena era
capaz de fazer algum mal contra minha família... O choque maior foi ver
Felipe apontar uma arma para mim. Não tivemos nem tempo de dar o último
adeus, ele foi morto por aquela vadia da Helena, os dois mereciam o final que
tiveram.

Soube que Enzo foi o responsável pela morte da moça, me comovia


saber que ela o amava, mas sua loucura havia passado de todos os limites,
não era dessa maneira que as coisas se resolveriam.

Enzo não sabia que, algumas horas antes dele ir ao encontro de Helena
em Dark Hill, nos duas tivemos uma conversa. As lembranças daquele dia
voltavam à tona na minha mente.

Os soldados não queriam me deixar passar pelo portão. Não sabia ser
grossa com ninguém, mas foi necessário.

— Me deixem passar, ou juro que eu mesmo ordeno a morte da família


de vocês. Agora mesmo!

Os homens se entre olharam, indecisos se me deixavam passar ou se


comunicavam a Enzo minha presença em Dark Hill.

— Nem pensem em avisar ao meu marido, ou os únicos culpados serão


vocês por não me obedecerem.

— Acesso livre para a senhora Grego — um dos homens falou ao


rádio.

— Eu ordeno que me levem até a sala onde está Helena.

— Sim, senhora Grego.

Esse lugar me causava arrepios por toda a espinha, me faziam lembrar


dos castelos antigos que haviam na França. As paredes de madeiras
fortificadas com aço reluziam todo o lado sombrio do ambiente, a iluminação
era num tom mais escuro, era capaz de perturbar a mente humana.

Ao abrir a porta da sala onde estava Helena, me deparei com uma


imagem assustadora de uma mulher acorrentada pelos braços em um canto de
parede sujo. Havia vômito, e o cheiro da sala estava horrível, como se a
muitos dias não fosse limpa.

Objetos de torturas estavam espalhados pelos arredores do lugar, aquilo


era uma das piores situações que existia. Nem mesmo o pior ser humano
merecia aquele tratamento, nunca fui a favor de torturas e violências físicas.

Quando a morena notou a minha presença, rapidamente se pôs de pé.


Um olhar demoníaco se fazia presente em seus olhos, que transpareciam todo
seu ódio sobre mim.

Ela me culpava por Enzo não ter a escolhido como esposa.

Marcas roxas em seus braços e pernas denotavam que ela foi violentada
das piores maneiras possíveis. A crueldade se fazia presente nesse ambiente
escuro e apavorador.

— O que você veio fazer aqui? Debochar de mim? — perguntou,


irritada.

— Eu não sou esse tipo de pessoa que você imagina. Eu nunca desejei
o seu mal.

— Claro que não. Você é boa demais para desejar o mal ao próximo.
— respondeu, debochada.

— Eu não me importo com o que você pensa sobre mim. Eu só vim


aqui para te perguntar uma coisa.

Ela me olhava curiosa.

— Estou ouvindo.

— Como você convenceu Felipe a se aliar a você?

Ela deu uma gargalhada alta e divertida. A mulher nem parecia mais
estar entre nós, como se algo maligno tivesse ocupado toda sua sanidade. Me
sentia totalmente incrédula com sua falta de sanidade.

— Você é muito bobinha, patinho feio. Nunca pensou que aquele idiota
sempre foi completamente apaixonado por você?

— Você não poderia ter o matado...

— Eu mato quem eu quiser. Só não te matei porque não consegui. A


única que deveria ter morrido era você, assim Enzo perderia nos duas. —
Definitivamente, não entendia o que ela queria dizer com perder nos duas. —
Eu vou morrer, Luana. Satisfeita?

— Morrer?

— Há uma bomba relógio no meu cérebro, que vai me matar o quanto


antes. Talvez eu ainda tenha alguns meses, ou talvez não. Por isso, não conte
vitória se seu marido resolver me matar antes, ele só vai acelerar o inevitável.

— Por isso planejou se livrar de mim...

— Teria conseguido se não fosse por aquele idiota do seu marido.

— Eu sinto muito.

— Cala a boca, patinho feio. Você nem deveria estar viva. Eu não sei
que feitiço você usou nele, Enzo me amava até você aparecer em nossas vidas
e estragar tudo.

— Eu o conquistei com meu esforço e dedicação ao nosso casamento.

— Você é horrorosa... um patinho feio, um bicho de sete cabeças, uma


medusa. O que você tem que eu não tenho? Eu sou muito mais bonita que
você. — Se lamentou.

— Beleza física não é tudo. Como você mesmo diz, é mais bonita do
que eu, e ainda assim não conseguiu o amor dele. A pergunta a se fazer é:
onde está o seu amor próprio? O seu caráter e dignidade? Você não respeita o
próximo e muito menos a si mesma. Você sempre soube que Enzo tinha uma
noiva e ainda sim nunca se colocou em meu lugar, não pensou na dor que eu
sentia ao saber que ele estava ao seu lado.

— Você alguma vez se preocupou na dor que eu sentia quando ele


estava com você?

— Eu o abandonei para que ele pudesse ser feliz com você.

— Você não me convence. Muito cínica.

— Não me importo se você acredita ou não. Eu já lhe disse tudo o que


tinha para dizer.
— Antes de ir, Luana, saiba que ele me amou muito.

Aquilo era uma espécie de provocação. Não lhe dei ouvidos, caminhei
em direção a saída, até ouvir ela falar novamente sobre Felipe.

— Felipe não queria matar você. Eu o enganei facilmente, o bobo


pensou que iria levá-la daqui e que vocês dois seriam felizes.

— Você sempre engana todos ao seu redor. Você não tem amor no seu
coração. Você matou seu filho e o pai do dele.

— Felipe nunca soube que o filho era dele. Seu primo ainda consegue
ser mais bobinho que você, é algo que vem de família.

— Não irei permitir que você ofenda a minha família.

— Me perdoa, Luaninha — ela debochada.

— Para você, é senhora Grego. Eu exijo que me respeite.

— Luana, você nunca será uma mulher forte. Eu sei que sou carta fora
do baralho, mas irão aparecer novas amantes. Seu marido nunca será
inteiramente fiel a você.

— Você me roubou muito tempo de felicidade, por isso, te garanto que


no que depender de mim, ninguém nunca mais irá estragar minha felicidade.
Isso é uma promessa.

Lhe dei as costas, sem olhar para trás.

Horas depois, descobri que Enzo tinha eliminado Helena de uma vez
por todas. Confesso que me senti um pouco aliviada por saber que ela nunca
mais tentaria fazer algo contra a minha família.


— Vocês dois são tão fofos — Ana dizia enquanto trocava a fraude de
Dylan.

Nosso bebê estava com quase cinco meses. Enzo e eu resolvemos fazer
uma viagem romântica para o Canadá, o país era frio e bastante lindo nessa
época do ano.

— Essa viagem fará muito bem para mim.

— Espero que consigam se divertir, mesmo levando o bebê.

— A babá vai cuidar bem dele juntamente conosco.

Anastácia era muito apegada ao sobrinho.

A imagem vinda da janela do avião era magnífica. Existia muita


perfeição em todo aquele gelo nas montanhas. Parecia algo surreal. Algo tão
tranquilo e confortável para a vida humana. Agora entendo o porquê de as
pessoas viverem tão bem nesse país incrivelmente lindo.

Enzo me levou para jantar e depois para patinar em um lago congelado.


Ele reservou a pista apenas para nós dois. Uma das minhas paixões era
patinar quando criança, isso era antes da morte de meus pais. Hoje, sabia que
eles estavam olhando por mim e torcendo cada vez mais pela minha
felicidade.

À noite, quando havíamos voltado do nosso passeio, acabava de sair do


banheiro quando notei algo estranho. Meu marido estava em pé, com os
braços cruzados, observando a noite.

Enzo pensativo significava duas coisa.

A primeira era que ele não estava nada bem. A segunda era que ele me
escondia alguma coisa.
Me aproximei dele, tocando em seu ombro, ganhei seu olhar
internamente para mim. Um brinde a ser colecionado!

— Está tudo bem?

— Na verdade, não — franzi o cenho. Enzo admitindo que não estava


bem, era como se fosse um motivo para uma grande rebelião.

Encarei suas órbitas azuis escuras com todo meu amor e carinho, estava
predestinada a amar aquele homem para todo sempre. Foi amor à primeira
vista, a primeiras palavras. Tinha certeza que antes mesmo de ter o
conhecido, ainda menina, eu já o amava. Mamãe falava o nome de Enzo
todos os dias, aquilo me fazia sentir sua, em uma espécie de ímã que me
levava para ele.

— Preciso do seu amor. — Seu tom de voz completamente malicioso


me fez sentir completamente sua, sem ao menos tê-lo dentro de mim.

Fechei os meus olhos e deixei que ele me possuísse lentamente, a


começar pelos meus seios. Os gêmeos nunca foram lá essas coisas todas,
tamanho mediano, modesto para não ser tão injusta comigo mesma. Algo me
dizia que ele adorava o tamanho deles.

Enzo sugava meus seios, me levando ao delírio total. Estar em seus


braços era a melhor sensação do mundo.

— Perfeita.

Seus comentários durante nosso ato sexual me deixavam


completamente constrangida. Ele sabia o poder que tinha sobre mim, fazia
tudo isso apenas para ver meu rosto vermelho.

Ainda estava envolvida apenas na cintura pelo robe, com o resto que
ele não havia removido do meu corpo. Enzo gostava de surpresas, nunca
fazíamos as mesma coisas. Sempre com algo novo para me mostrar e
demonstrar o quanto eu era somente sua.

Ele sentou na cama, me olhando com aquele olhar de molhar calcinha.


Os olhos azuis transbordavam desejo, o rosto vermelho por causa da palidez
da sua pele.

— Mostre-me mais, princesa — A voz rouca me fez arrepiar por


completo.

Em um movimento sensual, que consistia em colocar um pé em frente


do outro, levantei minhas mãos ao alto, como se estivesse dançando uma
dança árabe, o que o deixou completamente paralisado em meu corpo. Minha
cintura era bastante leve, conseguia fazer movimentos parecidos com os
mesmo da dança árabe.

Lentamente, caminhei na sua direção, ficando próximo ao seu colo, e


sem perder tempo, ele retirou o roupão do meu corpo, jogando-o no chão.

Os olhos azuis reluziam desejo. Ele estava hipnotizado, me olhando


como se eu fosse um joia rara.

— Onde aprendeu a dançar assim? — curioso, perguntou. Dei de


ombros, sorrindo descaradamente. — Não importa, eu quero que dance assim
para mim mais vezes.

— Como o senhor, meu marido, desejar — falei, divertida.

— Não me provoque, anjo. Lembre-se de que nosso filho passará a


noite sobre os cuidados da babá, você não tem para onde correr.

— O único lugar para onde desejo correr essa noite, é para os seus
braços.
Enzo me tomou em um beijo quente, suas mãos grandes e potentes
apertavam toda a minha cintura, me fazendo sentar em seu colo.

Por que diabos ele ainda estava vestido?

Comecei a desabotoar os botões da sua camisa apressadamente. Nossa


agilidade para livrar-se das roupas estava cada vez melhor.

Gritei de prazer ao tê-lo dentro de mim, completamente meu. Ele


grunhiu, me pedindo passagem. Abri minhas pernas ao máximo, sentido toda
sua invasão potente, os movimentos intensos me levando da terra ao paraíso.

— Quer dizer alguma coisa, esposa?

— Pelo amor de Deus, me faz gozar — implorei.

O sorriso malicioso tomou conta da sua face. Enzo era capaz de me


fazer gozar até mesmo quando sorria para mim. O seu jeito de garoto me
fazia sentir muito sortuda por tê-lo somente para mim.

Erros eram cometidos todos os dias, bastava querermos e impor nossa


vontade de acertar. Apostei em Enzo todas as minhas fichas, estava
apostando algo nele e no meu filho. Em nome da nossa felicidade.

Meu Enzo era um homem sensato e ao mesmo tempo insensato. Era


doce e gentil comigo e com Dylan, mas com o resto do mundo, ele era o
grosseiro e arrogante. Eram características que podiam andar juntos lado a
lado.

Não exigiria que ele deixasse a máfia. Nascíamos nesse mundo e


nossos filhos seriam criados nele. Seriamos felizes nesse jogo do amor, não
tinha dúvidas.

Enzo para sempre seria ele mesmo. Estava predestinada a ele desde
sempre, o amava com todas as minhas forças. Vê-lo mudar para me fazer
feliz, era a maior prova de amor que eu poderia receber. Por isso minha
felicidade tinha nome e sobrenome.

Enzo Grego.
EPÍLOGO

LUANA GREGO

SER MULHER EXIJIA SER bonita, estar sempre apresentável,


demonstrar um belo sorriso na face mesmo não estando bem. Complicado. A
sociedade exigia uma percepção de nossa parte, claro que podíamos ser
totalmente independentes, realistas e nem sempre estarmos devidamente
apresentáveis. Ninguém dormia com maquiagem no rosto, pelo motivo de
causar espinhas e manchas na pele. Ninguém conseguia escovar os fios todos
os dias, nem definir os cachos diariamente.

O que queria dizer era: nem todo padrão devia ser seguido.

Não importava se você estava com uns quilinhos a mais, ou se estava


magra demais. Essa palavra, “demais”, não devia existir para o nosso mundo
feminino. Poderíamos trocá-la por sensacional.

Cada uma de nós éramos lindas da maneira como nos sentimos lindas.

Levei um tempo para entender e compreender isso. Eu era bonita


porque eu me sentia bonita. Uma base ou um batom me deixariam ainda mais
sofisticada, mas a minha beleza não estava em cosméticos.

Nosso pequeno Dylan corria pela casa fazendo uma grande bagunça.
As risadas podiam ser ouvidas do alto da escada, onde observava a cena com
os olhos atentos em cada detalhe. Não queria perder nada.

Enzo se tornou um ótimo pai para Dylan, nosso filho não tinha do que
reclamar. Meu marido mimava aquela criança de uma maneira exagerada. O
nosso filho era o dono da casa, nada podia aborrecê-lo.
O senhor perfeito tinha reproduzido a cópia perfeita. Nosso filho
apoiava o pai de uma maneira assustadora, ambos se pareciam muito, tanto
fisicamente, como psicologicamente. O gênio deles eram iguais.

Todos os dias ouvíamos o som da guitarra. Esse era o mais novo passa
tempo de Dylan, que agora estava com quase oito anos. Ele e o primo Alex,
filho de Enrico e Giovana, formavam a dupla perfeita.

Até tentamos morar um tempo com a senhora Grego, mas a


convivência acabou tirando toda a nossa privacidade. Uma mansão, por
maior que seja, não estava sendo suficiente para comportar Enrico e Giovana
com seus três filhos, e Enzo e eu com os nossos.

Quase surtei ao descobrir que estava grávida novamente. Tudo culpa do


meu marido que não me deixava descansar por nem um segundo. Ele era
incontrolável. Segundo ele, estávamos tirando o atraso por todo o tempo em
que nos comportávamos como dois estranhos.

Era notável o quanto Enzo tinha mudado ao longo desses anos. Meu
marido havia se tornado um homem mais calmo, pelo menos quando
estávamos na companhia da nossa princesa Selena. Nossa bebê estava apenas
com dois anos, a única que lhe deixava brincar era a minha pequena e amada
filha Katherine.

Aproveitei que estava na sala de cirurgia para poder operar minha


visão. Tinha miopia, e depois da cirurgia, tinha conseguido recuperar minha
completa visão, se a necessidade de usar óculos de grau, apenas o de
descanso.

A única parte triste em meio a tudo isso é de não podermos mais


disfrutar da companhia de Ana, minha cunhada estava nas mãos do
desgraçado do ex-noivo. Enzo e Enrico estavam fazendo de tudo para
conseguir trazê-la de volta à Itália. A notícia do sequestro de Ana acabou
pegando todo mundo de surpresa. Até meu filho sentiu a falta dela, já que os
dois eram muito apegados.

— Está pensativa, Lú. — Nada passava despercebido pela Gio. — Não me


diga que Enzo continua ciumento?!

Esse acabou sendo um dos motivos para deixarmos a mansão. Os


irmãos Gregos adoravam se provocar, isso resultava em olhos roxos, queixos
cortados, hematomas nas costas e nos braços. Antes que os dois se matassem,
foi melhor termos saído.

— Estava pensando em Ana.

— Não fique assim, pelo menos não na frente de Enzo. Ele foi o mais
abalado com tudo isso.

Enzo se culpava por não ter contado nada sobre suas suspeitas para a
irmã. Por sorte, ele estava conseguindo não pensar tanto nisso. A culpa não
era dele, e sim exclusivamente de Andrei Barkov.

— Pelo amor que eles sentem pela família, eles irão trazer Ana de volta.
Pelo menos sabemos que ela está viva.

—A que preço?

— Como já lhe disse: os garotos têm um plano.

As crianças odiavam o momento em que teriam que acabar a


brincadeira, pois Gio levaria seus filhos para casa. Ela e Enrico também
haviam se mudado, mas para demonstrar apoio e solidariedade a senhora
Grego, eles resolveram passar um tempo na mansão, assim minha sogra não
se sentia sozinha.
Depois do sequestro de Ana, dona Sandra entrou em um quadro de
depressão. Não sabíamos como ajudá-la, foi então que as crianças entraram
em ação. Um pouco da alegria dela estava nos netos.

— Manda um abraço para Sandra. Amanhã prometo que farei uma visita
a ela.

Giovana sorriu.

— Tia, por favor, não leva o Dylan. Ele adora puxar meus cabelos —

Jenifer era a mais prejudicada com as brincadeiras chatas das crianças.

Fiquei feliz com a notícia de que Giovanna tinha finalmente perdoado


meu cunhado. Os dois estavam muito felizes.

— Ele não vai mais fazer isso. Eu te prometo.

— Obrigado.

Enzo chegou só a noite para o jantar. Meu marido estava um pouco


abatido, cansado de tanto trabalhar.

Apesar de tudo, tentávamos manter a aparência. Não podíamos jamais


demonstrar fraqueza, mesmo diante dos últimos acontecimentos. Meu marido
ainda era um dos mafiosos mais importantes de toda Itália.

Nesse evento, representávamos toda a família Grego. Enrico precisou


viajar, fazia parte do plano para resgatar Ana. O tempo estava passando e as
coisas não estavam indo nada bem.

Dançávamos uma daquelas músicas lentas e românticas. O evento era


sobre coleção de joias, os organizadores estavam comemorando o aniversário
de seu casamento, por isso o clima romântico.
— Parece tenso, meu amor.

— Estou pensando seriamente em atirar contra o garçom infeliz que não


tira os olhos de você.

Sempre possessivo. Não importava quanto tempo se passasse, ele


sempre seria o mesmo Enzo ciumento, controlador e obcecado por matar.

— Você sabe que eu exclusivamente sua. Sempre fui.

O sorriso safado se fez presente em seu olhar.

— Você não sabe como isso me deixa feliz. Ser o único homem da sua
vida.

Revirei os olhos. Isso era tão ridículo.

—É uma pena eu não poder dizer o mesmo.

— Sou homem, princesa. Não poderia esperar minha vida toda por você.

E eu podia? Claro! O mundo da máfia sempre será igual. As mesma


regras.

Havia passado uma borracha em todo nosso passado. Os dias de luta,


de sofrimento, não existiam mais. Todos os dias meu marido tentava ser um
homem melhor, compreensivo.

Brincava com Selena no quarto de brinquedos. Lembro que quando


criança, eu tinha um muito parecido com esse, a única diferença eram os
brinquedos modernos. Dylan adorava provocar sua irmãzinha mais nova,
definitivamente me lembrava Enzo quando mais novo. Ele adorava provocar
a pequena Ana.

Notei que meu marido estava em pé ao lado da porta observando a cena


com os olhos cheios de lágrimas. Ele era forte, jamais choraria na minha
frente, ele sempre se preocupava em não demonstrar suas emoções. Me
levantei do chão caminhando na sua direção.

— Eles adoram fazer isso — comentei. — Nunca se cansam. Já eu...

— Como foi o seu dia, querida? — perguntou, depositando um beijo


suave em meus lábios.

— Estou exausta de tanto correr atrás da nossa bebê. Ela está crescendo
tão rápido. Sinto falta de quando ela preferia os meus braços ao em vez do
chão.

— Podemos ter outro filho. Quantos quiser, basta me falar e


providenciaremos o mais rápido possível.

— Quero aproveitar eles mais um pouco.

— Dylan, deixe sua irmã em paz. Não quero saber que estava a
irritando.

— Sim, senhor.

Foi a primeira vez que ele falou nesse tom com Dylan. Lhe dei um
abraço caloroso, lhe passando todo meu apoio nesse momento.

À noite, estava debruçada sobre a varanda do meu quarto, sentindo a


brisa da lua bater no meu rosto. Senti quando braços fortes me agarraram pela
cintura, meu marido usava apenas uma cueca box branca, podia sentir todo
seu volume contra meu bumbum.

— Preciso de você, anjo — sussurrou em meu ouvido.

— Sou toda sua, amor.


Ele tomou meus lábios em um beijo quente, suas mãos deslizaram pela
minha cintura, se livrando rapidamente do meu vestido. Estava em seus
braços completamente nua, meu marido me fodia com força, me penetrado
com bastante tesão. Gemia de prazer.

— Eu vou gozar, porra — rosnou. — Você é muito gostosa.

E assim eram nossas noites. Cada dia eu me tornava mais feliz.

ENZO GREGO

A minha vida estava voltando ao normal. Tinha uma família perfeita,


uma esposa carinhosa que me amava, dois filhos incrível. Dylan era o meu
orgulho, o meu filho homem, aquele que um dia ocuparia o meu lugar. Seria
temido e respeitado por todos. Um verdadeiro Grego.

Já a minha filha era o meu maior tesouro. Katherine era doce como um
bombom, pequena e delicada. Jamais iria permitir que alguém a fizesse mal
algum dia.

Falhei com Ana, tudo era culpa minha.

Observava minha mulher dormir, tão perfeita, inocente...


exclusivamente minha!

Luana era a única pessoa responsável por eu ainda me manter de pé


depois de tudo que aconteceu. A culpa de Ana ter sido sequestrada por aquele
perverso era minha, deveria ter avisado a minha irmã sobre os
acontecimentos dos últimos dias. Pelo menos ela não teria confiado em
ninguém.

Soube que o desgraçado se disfarçou de psicólogo para enganar minha


irmã. Ele havia conseguido sua confiança para poder, enfim, dar-lhe o bote.

Nossa mãe estava arrasada. Apesar de todas suas desavenças com


minha irmã nos últimos dias, ela amava a garotinha mais do que tudo neste
mundo. Anastácia sempre foi a menina que ela sempre quis ter e nunca pode.

— Salvem a irmã de vocês daquele desgraçado — mamãe ordenou.

— Enrico está conseguindo bons aliados para nós. Em breve teremos


nossa caçulinha em casa novamente. È una promessa, mamma.

O som do computador avisou que alguém tinha mandado um novo e-


mail. Podia ser de Enrico, corri rapidamente para ver do que se tratava. Era
anônimo.

“Tenho uma surpresinha para meus cunhados e minha querida sogra


os esperando em cima da mesa de centro da sala.”

O infeliz estava tendo acesso a mansão Grego? Corri rapidamente em


direção a sala, onde uma linda caixa de papelão enfeitada com um grande
laço vermelho estava depositada como o e-mail dizia.

Minha mãe veio logo atrás de mim, sem entender o que acontecia.

—E essa caixa? — perguntou.

— Presente do Barkov.

— Não se aproxime Enzo. Pode ser uma bomba.

— Ele não mandaria uma bomba relógio para nós, não agora que está
com Anastácia em suas mãos.

Sem pensar duas vezes, fui na direção da caixa, abrindo-a rapidamente,


me livrando do maldito laço vermelho. Havia um papel, uma pequena
almofada em baixo para preservar o documento. O analisei incrédulo.

Meus olhos duvidavam do que via. Não podia ser real, tinha que ter
alguma irregularidade. Porém, infelizmente, aquela era a assinatura da minha
irmã.

— Que papel é esse?

— Ele a tomou como sua esposa — falei, sentindo-me um derrotado.

Anastácia agora se chamava Anastácia Barkov. Andrei certamente a


obrigou a assinar o documento de união cível. Ele tinha forçado minha irmã a
ser sua mulher, infeliz! Senti vontade de largar tudo e ir atrás dele.

Aquele homem era um covarde. Agia de maneira sigilosa, passou anos


planejando esse dia, e finalmente ele havia vencido. Depois que o mundo da
máfia reconhecesse esse casamento, ninguém mais nos daria apoio. Minha
irmã agora era a senhora Barkov, mulher dele por lei.

Minhas mãe não segurou o choro. Sua pressão andava baixa, ela se
sentou sobre o sofá com uma expressão totalmente desolada. Sabíamos o
significado desse documento. Estávamos perdidos. Todos negariam apoio a
nós.

Comuniquei Enrico sobre o ocorrido. Meu irmão estava enfurecido,


pegou o primeiro voo de volta para casa. Continuava observando a caixa,
quando percebi que havia mais coisas dentro dela.

Eram fotos de minha irmã.

Anastácia estava toda ferida, com hematomas por todo corpo. E pelo
que pude perceber, estava desacordada.

Escondi as fotos para que minha mãe não as visse.


Voltei para casa inconformado com o que tinha presenciado. Em todos
esses anos vivendo como o assassino que sempre fui, nunca tinha visto nada
como naquelas fotos. Meu peito se apertava em ver a minha irmã naquele
estado, como se ela fosse uma qualquer.

Andrei havia comprado uma briga feia. Não tínhamos desistido de


recuperar nossa irmã, mesmo ela sendo sua esposa. O sangue dos Gregos
poderia não correr em suas veias, e ele sabia disso, mas ela foi criada como
uma, e enquanto fossemos vivos, minha irmã teria nosso apoio para qualquer
situação.

Enrico observava as fotos enfurecido. Ele jogou a taça de whisky sobre


o chão, quebrando-a em pequenos pedaços.

— Ele não tem o direito de cometer essas atrocidades com Ana —

rosnou. — Eu juro por tudo que há demais sagrado nesse mundo que eu irei
acabar com a vida daquele infeliz, nem que seja a última coisa que eu faça
nesse mundo.

— Nós dois iremos acabar com a vida daquele desgraçado — rosnei.

— Ele sabe do nosso segredo sobre Ana. Ele pode estar usando-o para
fazer da vida dela um inferno.

— Que ele não ouse a revelar nada para Ana. — Enrico estava pensativo.
—O maldito ainda ousou tomar ela como sua.

— Iremos derrubar todo o exército dele. E quando esse dia chegar,


iremos torturá-lo até a morte.

— Será uma morte dolorida.

— E lenta.

Luana me abraçou fortemente após termos feito amor de maneira


intensa. Ela era minha calmaria, a mulher da minha vida, aquela que era
capaz de despertar a luz em mim, em meio a toda minha escuridão.

Estávamos deitados sobre a cama, Luana me beijava com intensidade,


suas carícias me faziam forte em meio a todos os meus problemas.

O clima começava a esquentar quando a porta do nosso quarto foi


aberta. Dylan entrou de mãos dadas com nossa pequena Kathy.

— Mamãe, a bebê estava chorando. Eu ouvi do meu quarto.

— Onde está a babá? — perguntei irritado.

Minha vontade era de atirar na babá por ter deixando as crianças


sozinhas. Luana me acalmou com o olhar sereno.

Odiava quando alguém me impedia de possuir minha esposa.

— Vem com a mamãe, minha princesa. — Luana pegou Kathy no colo,


deitando-se com ela em seus braços. — Você parece cansado, filho. Deite-se
aqui com a gente — disse.

Dylan estava deitado ao meu lado, entre mim, Katherine e Luana, que
se encontrava na ponta da cama assim como eu, que segurava nossa bebê
enquanto mamava gulosamente.

Adorava admirar a cena.

Meu filhos eram a coisa mais importante para mim nessa vida. Graças a
eles, sou um homem feliz, completo, disposto a me vingar do russo.
Pela minha família, seria capaz de enfrentar qualquer coisa.

FIM.
AGRADECIMENTOS

Pessoal, muito obrigado por aturarem as minhas paranoias durante


os meses de escrita. Sei que às vezes sou muita emotiva e exagerada em
demonstrar os sentimentos dos protagonistas, e às vezes fria ao não descrever
muitas das emoções. Mesmo assim, muito obrigado por me apoiarem pela
minha trajetória do Wattpad até a Amazon.
Obrigado pelas críticas. Tantos as construtivas quanto as de ódio
hahaha. Não sinto rancor de ninguém que escreveu mensagens de ódio, pelo
contrário, me diverti com cada uma.
Obrigado pela paciência que tiveram comigo. Pelo carinho e
atenção.
Não sei o que seria de mim sem vocês.
Agradeço por gostarem e me apoiarem com o livro. Poucas pessoas
na minha vida fazem isso, além do meu esposo. Encontrei em algumas de
vocês verdadeiras amigas e amigos.
Amo vocês.
- M.A.D.
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OUTRAS OBRAS

LIVRO 1: UM MAFIOSO - OCCHI NON AZZURI

Enrico Grego é o chefe da máfia. Desde cedo aprendeu a ser um


homem frio e calculista. Foi criado para despejar ódio pela terra, ser
implacável com os inimigos, e frio com as pessoas que o cerca. Temido por
todos a sua volta.
Convicto das suas responsabilidade desde que veio ao mundo, sabe
que está na hora de tomar sua prometida, aquela que escolheu para ser sua
esposa. Um homem sombrio, cercado de mistérios trevosos, aprenderá que
nem tudo na vida acontece da sua maneira.
Giovana Prattes, uma menina indefesa e inocente, ser vê numa
situação indelicada ao descobrir que foi prometida a um temido chefe da
máfia italiana. Contra a sua vontade, ela e sua família se mudam para Roma,
onde aprenderá que nem tudo sempre foi mágico, e que seu mundo de faz de
contas não passa de uma grande ilusão.
Um romance movido por segredos do passado.
" Ela é minha desde o dia em que nasceu" - Enrico Grego
"Mesmo não aceitando, eu pertenço a ele" - Gio Prattes.
LIVRO 2 DOS SPIN OFFS DE UM MAFIOSO- OCCHI NON AZZURI

Anastácia sempre foi a revoltada da família, nunca teve direito a


nada por nascer mulher. Inconformada com a realidade em que vivia, sempre
foi a mais direta da família. A única capaz de dizer tudo o que pensa das
pessoas, uma menina mulher de língua afiada.
Cansada de ver os irmãos sempre tendo tudo o que querem e
tratando suas esposas como capachos, principalmente seu irmão Enzo, que
faz da vida da sua mulher um verdadeiro inferno, tomou uma grande decisão.
Em fim decidiu que iria enfrentar todos os seus medos, e iria ser
feliz acima de tudo. Sempre viveu um amor escondido ao lado do seu amado
Thiago, até que um dia seu irmão Enrico autorizou esse namoro e desfez o
compromisso que ele mesmo tinha selado com Andrei Barkov. Chefe da
Máfia Rússia.
Até aí tudo bem! Compromisos são desfeitos todos os dias, mas não
no mundo da máfia. O terrivél Andrei Barkov inconformado com o
rompimento, tinha apenas um objetivo, se vingar da família Grego através da
jovem e bela irmã caçula.

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