Você está na página 1de 338

M.

C Mari Cardoso
2020 – 1º Edição
Informações
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida ou
fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico e mecânicos
sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de citações, resenhas e
alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, alguns
lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais é
apenas espelho da realidade ou mera coincidência.

Capa: Touch Designers


Imagem licenciada pela Adobe.
Título da obra: Realeza Selvagem

Copyright © 2020 por Mariana Cardoso


Este livro contém cenas de sexo e violência,
recomendado para maiores de dezoito anos.
Dedicatória

Para todas as leitoras que aguardaram e torceram por essa histórias desde
que ela era uma fanfic há muitos anos. Chegamos até aqui pela força e
apoio de vocês!
O choro da minha filha ficava cada vez mais alto. Ela estava
gritando de fome, por aconchego e vermelha, podia sentir o seu desespero e
isso estava me consumindo. Abby tinha apenas um mês e dois dias, nunca
havia mamado em uma mamadeira na vida e agora, seria a sua primeira vez
com a fórmula porque a sua mãe incrível a deixou com a babá, junto de um
envelope com uma carta e os papéis do divórcio.
Victória sequer ficou para uma conversa. Não era como se o nosso
casamento estivesse bom pelos últimos três anos, mas com a gravidez e o
nascimento da Abby, imaginei que teríamos tempo pela nossa filha. Imaginei
que a nossa filha fosse mais importante que tudo e que poderíamos chegar a
um acordo de paz – juntos ou separados. O fato de ela me abandonar não era
doloroso, abandonar a nossa filha recém-nascida era.
A sorte que a pediatra me atendeu quando me dei conta que não sabia
do que a Abigail poderia se alimentar se a mãe dela estava amamentando-a.
Comprei a fórmula, algumas mamadeiras e a primeira tentativa foi um
completo fracasso. Ela mamou muito pouco, menos que a fórmula orientava e
a própria pediatra. Dormiu depois de tanto chorar, fiquei horas ao seu lado,
relendo a carta da sua mãe e assinando a merda do divórcio. Se a Victória
queria ir embora, ótimo.
Eu me certificaria que ela nunca mais voltasse.
Com a mamadeira pronta, segurei a Abby em meus braços e levou
umas cinco tentativas para que ela aceitasse o bico e mais uma hora para
mamar completamente. Ela parecia satisfeita e calma, com o estômago cheio,
só esperava que ela não vomitasse, rejeitasse a mamadeira ou tivesse alguma
reação alérgica. Segurei a sua mãozinha, beijei os seus dedinhos e prometi
que ela ficaria bem.
Nós ficaríamos bem.
— É a terceira vez que a mamãe vai ajeitar aquele maldito vaso de
flores. — Snow resmungou do seu lugar no sofá e olhei para a minha
irmãzinha, soprando os cabelos da sua franja, toda descabelada e de pijamas.
— Um dia ela vai ter um completo ataque com as flores. — Esticou a mão e
bagunçou as rosas brancas atrás dela, no aparador que ficava próximo ao
sofá.
— Snow! — Mamãe entrou na sala e alinhou as rosas novamente
colocando o vaso no lugar. — Vocês poderiam vestir qualquer coisa que não
sejam esses pijamas? E que tal pentear o cabelo?
— Por quê? — Snow resmungou. Ela tinha quatorze anos, tudo era
um motivo para questionar e revirar os olhos.
— O papai está voltando hoje e eu queria que ele fosse recepcionado
por suas três belas filhas vestidas como as princesas que são.
Ao ouvir a palavra princesa, minha outra irmã, Jasmine, tirou a
almofada do rosto e soltou um completo bocejo. Mamãe respirou fundo,
exasperada. Nós não nos mexemos rápido o suficiente. Meu cabelo estava
empilhado no alto da minha cabeça e poderia ser confundido com um ninho
de passarinho, com os meus fios loiros das pontas meio ressecados porque
adormeci depois de usar um xampu antirresíduo e não fiz nenhuma
hidratação. Meu pijama rosa era curtinho e no meu rosto, uma máscara facial
verde. Minhas irmãs caçulas não estavam muito diferentes, tirando a máscara.
Papai estacionou o carro na frente da nossa casa e buzinou, saindo em
seguida. Subiu os degraus, abrindo a porta da frente e nós quatro avançamos
nele. Estávamos com saudades, papai passou as últimas duas semanas
viajando e, como a Snow estava doente, a mamãe não o acompanhou. Foi
bom, assim eu não precisaria cuidar das pentelhas. Jasmine tinha dezesseis
anos e a Snow quatorze. Eu tinha dezenove, completaria vinte anos em três
dias e estava ansiosa pelo jantar de aniversário.
Nós tomamos um café da manhã em família, papai nos deu presentes e
em seguida, voltei para o meu quarto para tomar um banho, hidratar o meu
cabelo e terminar o meu tratamento facial. Fiquei no meu quarto por horas,
me preparando para o meu trabalho do dia. Tomaria conta de um casal de
gêmeos para uma vizinha do condomínio, a babá regular dela estava de férias
e eu estava cobrindo sempre que ela precisava sair ou fazer algum trabalho.
Nós vivíamos em uma região luxuosa de Baltimore, meu pai era um
lobista imobiliário e minha mãe uma dona de casa, esposa troféu. Ela era
professora do primário quando eles se casaram e chegou à posição de
diretora, mas deixou o trabalho quando os filhos ficaram numerosos e o papai
com condições de nos sustentar. Nós éramos uma família rica, mas não muito
rica. Nos últimos dois anos, a mamãe passou a controlar nossos gastos e
nossos cartões de créditos foram recolhidos, ela nos dava uma mesada e
qualquer coisa além disso precisava ser analisada.
Jasmine e Snow não perceberam, mas eu vi a mudança dos carros.
Papai sempre trocava por um modelo luxuoso, ele trocou pela última vez há
dois anos e vendeu o da mamãe, então, só havia o meu, que na verdade, a
mamãe usava muito mais que eu, para as compras de mercado e levar minhas
irmãs na escola. Eles disseram que já éramos grandinhas e não precisávamos
mais de uma empregada e governanta, então, elas foram demitidas. Mamãe
passou a preparar todas as refeições e nos ensinou a cozinhar, limpar e lavar.
No começo, me irritou, não estava acostumada, mas eu entendi que eles
estavam tentando segurar a crise financeira ao máximo. Quando eu disse que
não queria ir à universidade imediatamente, eles respiraram aliviados e não
me forçaram como normalmente forçariam. Minha irmã mais velha, Bella,
casou-se há dois anos e foi uma grande festa. Eu acho que meus pais
gastaram mais do que poderiam para dar a ela o casamento dos sonhos e não
dar corda às línguas que falavam muito sobre ele estar falindo.
Comecei a trabalhar para ajudar em algumas coisas, ou pelo menos,
para dar a eles menos gastos. Não ganhava muito por hora, mas, eu podia
manter o meu cabelo, maquiagens e coisas íntimas. E as roupas que queria
comprar, juntava e comprava. Como eles não falaram comigo sobre a
situação financeira, não tive coragem de chegar e dizer que estava disposta a
trabalhar para ajudar no sustento. Sequer imaginava o quanto eles gastavam
para manter a nossa enorme casa.
Eu podia lidar com a nossa mudança financeira, não seria fácil porque
não conhecíamos nenhuma vida além dessa, mas as minhas irmãs iriam surtar
completamente e a mamãe, rainha da perfeição, teria um colapso nervoso. Ela
estava levando as tarefas da casa muito bem e mantinha a nossa vida em
ordem. Na verdade, a mamãe era o pilar da nossa casa. Ela nos mantinha em
ordem, unidos, alimentados, bem vestidos, saudáveis e nos amava
intensamente. O papai era importante, mas sem ela... Não tinha certeza se
seríamos tão... Nós.
— Aurora? — Mamãe bateu na porta do meu quarto no momento
que estava terminando de arrumar a minha cama. Ela abriu e enfiou a cabeça
dentro. — Tem alguns minutinhos antes de sair? Seu pai e eu gostaríamos de
falar com você.
— Claro, mãe.
— Estaremos na biblioteca. — Sorriu e foi embora.
Todas as vezes que fui chamada na biblioteca foi para reclamarem das
minhas notas, da minha insolência e teimosia. A última vez foi para ter
certeza se eu não queria ir para faculdade e para dizer que não daria para
viajar com as minhas amigas porque eles não confiavam na minha segurança.
Apesar de saber que eles eram muito cuidadosos conosco, sabia que o papai
não podia bancar uma viagem a Paris no qual iria gastar rios de dinheiro
desnecessariamente. Eles optaram por ser os vilões ao invés de abrir o jogo.
Terminei de me arrumar, usando uma camisa longa e calças de
ginástica com os meus tênis de corrida. Eu precisava estar preparada porque
os gêmeos eram muito agitados e me deixavam esgotada. Duas pessoinhas
lindas e com gênios malignos. Aprendi a domá-los, com calma, paciência,
mas eu já saí chorando da casa deles. Adorava crianças, de todo meu coração
e acreditava muito no poder da educação, do amor e carinho. Minhas irmãs
me chamavam de super nanny, mas eu só buscava entendê-los.
Desci as escadas e derrapei no corredor, batendo na porta da biblioteca
antes de entrar. Meus pais estavam sentados juntos, de mãos dadas, como se
eles precisassem do apoio do outro e eu fiquei me perguntando que diabos
iriam soltar em cima de mim. Com a saída da Bella, eu era a filha mais velha
e minhas irmãs eram muito cabeça de vento, não por querer, todo mundo era
meio cabeça de vento com menos de dezesseis anos.
— Está tudo bem? — Sentei-me na poltrona em frente a eles. Ela
existia há tanto tempo que chegava dar melancolia.
— Sim, querida. — Mamãe se adiantou.
— Aurora... Talvez você não tenha percebido, mas os negócios
andam bem difíceis. Algumas coisas aqui em casa foram cortadas e a
primeira parte da minha viagem foi bastante complicada, perdi o apoio de
muitas empresas devido às novas diretrizes apoiadas pelo Senador Vaughn.
— Papai começou e eu mantive o meu olhar neles. — Na segunda semana,
me reuni com eles e outros senadores, além de empresários do meio. Vaughn
e eu conseguimos chegar a um acordo, mas ele pareceu interessado em fazer
negócios a longo prazo com um tipo de contrato mais antigo, não mais tão
comum.
— Um casamento. — Murmurei. Eu sabia como as coisas
funcionavam. Uma das minhas melhores amigas casou-se com um homem
mais velho porque seus pais acordaram um negócio.
Mamãe me deu um olhar e eu sabia que ela não estava de acordo, mas
acreditava no papai. Confiava nele. E eu também.
— Vince Vaughn é o filho mais velho do senador. Ele divorciou-se
há um ano e meio. Ou quase isso. Ele tem uma filha muito pequena e o
senador tem planos realmente ambiciosos nos quais o seu filho está
envolvido. Sabe como as coisas são... Um pai solteiro, no qual a mãe foi
embora sem explicações…
— Não cai bem para a imagem. — Falei baixo e encarei as minhas
mãos.
— Um casamento entre as nossas famílias seria extremamente…
— Se eu me casar, as coisas vão melhorar para vocês? Existe
alguma maneira que possa se certificar disso? — Cortei o seu discurso,
agindo friamente. — O quão ruim está?
Papai parecia envergonhado e eu odiei vê-lo daquela maneira. Ele não
era desonesto, não sonegava impostos ou roubava. Ele era um lobista,
dependia do seu argumento e boas conexões para viver.
— Precisaríamos entregar a nossa casa em seis meses. —
Confessou. — Isso não será um problema, poderíamos viver em outro lugar e
é o que iremos fazer, para economizar e tentar reerguer os nossos fundos.
— Não haverá como reerguer se não fizer negócios com os Vaughn?
— Minha filha, é uma opção. Você não está sendo obrigada ao
casamento, achamos que poderíamos ser honestos com você e prometo que
não vamos ficar chateados se você não quiser. — Mamãe soltou as mãos do
meu pai e me agarrou.
— Calma, mãe. Eu só quero entender todo o cenário, não sou
estúpida. Se o papai falir publicamente ele não vai conseguir se reerguer. Eu
vi o que aconteceu com os nossos vizinhos, as pessoas dão as costas e fingem
que não conhecem. Você lembra o quanto cochicharam sobre nós por que
ainda mantemos amizade? E o Sr. Calahan não arrumou um novo trabalho até
hoje.
Mamãe suspirou, preocupada. Eu entendia que era errado se apegar
às aparências, mas eu também sabia que um lobista não sobreviveria se não
tivesse o que mostrar. Quem iria acreditar em um homem falido? Papai
explicou que o motivo da nossa falência vinha de uma das empresas que ele
trabalhou por anos e que não pagou os seus devidos débitos antes de falir. A
empresa dos nossos vizinhos. Os Calahan. E meus pais ainda mantinham a
amizade mesmo assim.
— Como vai ser?
— Se você aceitar, Vince e seus pais estarão no seu jantar de
aniversário e eu pensei que vocês poderiam se conhecer no jardim, conversar
um pouco e após isso, você pode me dar uma resposta.
— Eles querem um grande circo?
— O que você quer dizer? — Papai ficou confuso.
— Um grande casamento. — Não haveria nenhuma maneira de que
meus pais pudessem pagar por isso.
— Acho que eles vão seguir o show que você determinar, amor. Não
chegamos a esse ponto... — Papai respirou fundo. — É muita
responsabilidade em seus ombros, eu só... Nós vamos colocar a casa à venda,
sua mãe encontrou uma casa não muito longe daqui, mas você precisará
dividir o quarto com uma das suas irmãs.
Meus pais construíram essa casa do jeito que eles sonhavam.
— Não será preciso, papai. Eu vou me casar.
— Independente do casamento, querida.
— Por favor, não faça nada ainda. Você pode me dar alguns dias?
Apenas confiem em mim. — Pedi e eles me olharam. Meu telefone vibrou,
estava atrasada. Merda. — Por favor. Se eu vou me casar, eu tenho os meus
próprios termos a serem acertados com o meu noivo. E sinto muito, preciso
ir. Falamos sobre isso depois?
Mal tive tempo de ouvir a resposta, saindo de casa e garantindo para a
mãe dos gêmeos que estava a caminho. Fui de carro, a minha mãe poderia
esperar se precisasse sair. Estacionei na frente e a mãe já estava de saída. Ela
sempre queria correr deles e eu entendia. Ficar com aqueles endiabrados vinte
e quatro horas por dia deveria ser muito para qualquer mãe mesmo com todo
amor do mundo. Felizmente eles não seriam pequenos para sempre embora
eu tinha certeza de que precisariam de um calmante.
Por seis horas a minha mente ficou concentrada em mantê-los vivos,
nada poderia acontecer com aquelas pestes. Quando o pai deles apareceu na
porta, meu corpo estava dolorido e eu toda suada só de correr atrás deles e
impedir que se jogassem ou pendurasse em algum lugar. Peguei o meu
pagamento e saí sem mais delongas. Evitava ficar sozinha com os pais – não
queria problemas com as mães e muito menos que interpretem a minha
simpatia erroneamente.
Estacionei o carro na garagem e olhei para a minha casa. Não podia
permitir que a minha família perdesse tudo, eu poderia me casar,
principalmente que eu sabia muito bem quem era Vince Vaughn. A família
dele era a realeza americana e sem nenhum esforço. Não era nada como o
exibicionismo forçado da família Kardashian, eles eram benfeitores, ricos,
bonitos, vivem num eterno conto de fadas que as pessoas admiravam e ficam
obcecadas.
Vince era o filho mais velho e um colírio aos olhos. Não sabia que ele
tinha se divorciado, na verdade, sabia que ele tinha uma filha que ninguém
nunca viu o rosto, mas que ele foi casado era uma informação totalmente
nova. Pesquisei sobre o primeiro casamento dele, vendo as fotos pelo meu
telefone e sem coragem de sair do carro. Ele não teve uma festa de casamento
e a informação foi a público apenas um ano depois. Havia rumores que ela
não era bem vinda na família. Não havia fotos da mulher, que era muito
bonita. Ela tinha cabelos ruivos, pareciam pintados para realçar a cor e os
olhos claros. Era muito bonita.
Desde então, Vince não foi visto com nenhuma companhia feminina.
Quando ele não estava com a sua assistente, que era uma mulher que parecia
ter a idade da sua mãe, estava com suas irmãs ou mãe. Ele era muito
cuidadoso porque eu duvidava que um homem bonito como ele estivesse
sozinho. Era alto, malhado, do tipo loiro australiano que surfava, com um
corpo definido que ficava muito bem em um terno de três peças. Ele não
tinha nenhuma dificuldade de ter uma mulher e esse casamento era
puramente por questões táticas. Um homem como Vince era poderoso demais
para se dar o trabalho de conquistar uma mulher.
Saí do carro, respirei fundo e entrei pela cozinha, tirando os meus tênis.
Mamãe estava olhando fixamente para a panela e parecia não perceber que o
fundo estava queimando. Desliguei o fogo e a abracei.
— Mãe…
— Deus, Aurora. Não foi assim que imaginei que seria o seu
casamento. Isso é tão estúpido e eu já pedi para o seu pai cancelar tudo. Não
importa o que irá acontecer, nós vamos ficar bem.
— E ele já cancelou?
— Estava no telefone para falar com o senador.
— Tudo bem. — Beijei a sua bochecha.
Saí da cozinha e entrei no escritório do papai. Ele estava distraído
lendo um documento, me deu um sorriso tenso e disse que já havia mandado
um recado porque o senador estava ocupado e retornaria.
Na dica, o telefone começou a tocar.
— Sei que a mamãe vai ficar magoada com você, mas não cancele.
Pai, eu posso fazer isso por vocês. Não é como se eu estivesse indo para a
forca. A sua carreira depende disso e o futuro das minhas irmãs também. —
Segurei a sua mão impedindo que atendesse. — Por favor, papai. Me dá a
chance de tentar. Nós nem sabemos se ele vai gostar de mim, além do mais,
eu sei que tenho boa formação, educação, tenho experiência com crianças e
falo três línguas fluentes. Sou viajada e sei me portar em eventos, se eles
querem uma mulher como eu, eles podem pagar por isso.
— É a sua felicidade, Aurora. Um casamento já é difícil com amor,
imagine sem?
— Não precisa ser um casamento real no começo, no momento, ele
só precisa de uma esposa para eventos políticos. Eu posso ser essa esposa e
ao mesmo tempo, nos tirar do buraco. Me deixa tentar, papai. Confia em
mim. — Pedi desesperada. Se o papai perdesse o seu poder, podíamos
esquecer toda a vida que tivemos. Não era o fim do mundo, pessoas viviam
sem dinheiro no mundo inteiro, mas eu era orgulhosa e não queria que meus
pais perdessem tudo que lutaram muito para conquistar.
Era mais que dinheiro. Era sobre o trabalho de suas vidas e eu era capaz
de fazer qualquer coisa pela minha família.
Os Vaughn eram uma dinastia poderosa e já haviam pisado em
muitas famílias ao longo dos anos. Os Calahan eram uma prova disso. Se o
papai tinha algo que eles queriam: uma garota bonita para ser esposa do mais
velho, eles teriam. A minha família não seria massacrada por eles. Não
podíamos contra... O jeito era nos unir.
Na manhã do meu aniversário de vinte anos, meus pais e minhas três
irmãs invadiram o meu quarto com um bolo de chocolate repleto de velas.
Ainda bem que eu tinha guardado o meu vibrador ou a cena seria
constrangedora. Aceitei os parabéns com amor e assoprei as velas,
compartilhando um café-da-manhã divertido com a minha família, as pessoas
que eu mais amava no universo.
Minha irmã mais velha me deu um dia no spa de presente. Ela também
pagou para nossas duas irmãs mais novas, então, foi um dia muito divertido.
Fizemos nossos cabelos, unhas e depilação, passando por massagens e
tratamentos corporais estéticos. Minha mãe não se juntou a nós porque estava
envolvida com os preparativos do jantar. Eles contrataram uma mulher para
ser a governanta do dia, uma empregada e dois garçons. Apesar de discordar,
ela não deu espaço para dar opiniões.
Me fiz ser ouvida mesmo assim. Não era o tipo de pessoa que engolia
muito tempo calada e gastar demais em um simples jantar de aniversário
apenas para continuar ostentando era palhaçada. Eu não queria que os meus
pais perdessem tudo porque as minhas irmãs sofreriam com isso – e eu
também. Mas talvez eles precisassem aprender sobre a importância de ser e
não o ter.
Com meu cabelo escovado e cachos suaves nas pontas, escolhi um dos
muitos vestidos que tinha no armário e nunca havia usado. Meu cabelo tinha
mechas loiras do meio para as pontas, não totalmente claro, deixava boa parte
da minha raiz loira escura, quase castanho bem natural. Eram mechas para
clarear o rosto, meu tom de pele e os meus olhos verdes escuros. Meu pai
tinha olhos azuis, minha mãe tinha os cabelos loiros escuros como os meus,
mas ela pintava de loiros desde a adolescência. Minhas irmãs variavam...
Bella nasceu e permaneceu loira, eu nasci com um loiro claro e foi
escurecendo, já a Jasmine e a Snow nasceram com o cabelo castanho escuro
como do papai.
Meu vestido era vermelho, de alças finas, sem um decote embora desse
para ver que tinha seios. Não eram volumosos, nem enchiam uma mão, mas
eram bonitos. O vestido marcava a cintura fina que dois pedaços de bolo e
um pão me deixava com uma barriga enorme – sem brincadeira, farinha
branca me dava dor de barriga ou prisão de ventre. Evitava comer porque
tinha alergia a glúten comprovada por vários médicos. Não que eu abandonei
as massas e pizzas como deveria, apenas reduzi e me refugiava sozinha
quando o caos acontecia.
Minhas pernas eram torneadas e bonitas, meus pais criaram garotas na
prática de esportes. A minha mãe corria maratonas e o meu pai era viciado
em esportes radicais. Eles nos levavam a competições desde novinhas e as
únicas coisas que eu realmente gostava era do pilates, ioga, corrida e natação.
Não curtia muito a história de pegar peso e praticar repetições. Era mais de
colocar fones de ouvido e correr o máximo que meu corpo poderia aguentar.
Esse ano participaria de uma maratona, só não tinha muita certeza com todas
as mudanças que iriam acontecer.
Ouvi a campainha e imaginei ser a minha amiga, Eloisa, que avisou que
estava quase chegando. Saí do quarto depois de tirar algumas fotos sozinha
e coloquei a mão no corrimão para descer a escada quando reparei que não
era a minha amiga e sim a família Vaughn. Eles eram pontuais, caramba. Não
tinha mais como voltar porque a Sra. Vaughn me viu e sorriu.
Ela era uma mulher alta, usava os cabelos curtos, loiros e uma
maquiagem leve. Sua roupa era clássica de mulheres da alta sociedade que
sabiam se vestir, mas não fugiam do código de vestimenta da idade. Um
vestido social azul escuro, até os joelhos, com saltos realmente altos e jóias
delicadas que pagariam a dívida de países pequenos. Ao seu lado estava o seu
marido, ela era do seu tamanho, mas com seus saltos, ele estava menor e isso
não parecia ferir a sua masculinidade e muito menos a sua posição de
comando. Ele era o alfa dominante.
Calvo, usando um terno de três peças e ficava claro que era um homem
com dinheiro. A única peça extremamente chamativa era o relógio de ouro da
cartier, muito antigo, mas qualquer pessoa com conhecimento sabia que
custava a hipoteca de uma casa regular. Atrás deles, estava o outro macho
alfa dominante, porque ele não estava intimidado e sim me olhando com
intensidade. Seus cabelos loiros estavam cuidadosamente penteados e senti
uma vontade enorme de enfiar a mão, bagunçar tudo.
Suas sobrancelhas loiras eram bem grossas e o terno cinza lhe caía tão
bem que com toda certeza foi feito sob medida.
Papai se afastou da porta e esticou a mão quando me aproximei dos
últimos degraus. Abri um sorriso educado.
— Essa é a minha filha, Aurora. — Papai apresentou com orgulho. Não
era pelos Vaughn, ele tinha muito orgulho das suas quatro belas filhas.
Minhas irmãs se aproximaram. — E minhas duas caçulas, Jasmine e Snow.
— Bella, Aurora, Jasmine e Snow? — A Sra. Vaughn sorriu
abertamente. — Princesas? — Seus olhos brilharam de alegria. — Por que eu
não pensei nisso?
— Sou uma fã das histórias da Disney desde... sempre. — Mamãe
assumiu e ela não tinha vergonha disso.
— Cristo. Eu vou sair daqui se você cantar aquela música irritante. —
Sr. Vaughn resmungou e eu ri. — É um prazer conhecê-las, senhoritas. Em
especialmente você, Srta. Sinclair. Feliz aniversário.
— Muito obrigada, Senador Vaughn. Eu adorei a iniciativa Educação
Comunitária, fiquei feliz em ser aprovada para participar do projeto. —
Apertei a sua mão com firmeza. Seus olhos arregalaram de surpresa.
— Você é uma voluntária?
— Sim, eu leciono francês.
— Muito obrigada por se dedicar a esse projeto, foi idealizado pela
minha esposa. — Sorriu e olhei para a Sra. Vaughn, que me deu um sorriso
feliz e foi verdadeiro. — Devo apresentar o meu filho, com toda essa
conversa, esqueci-me dele.
— É um pouco difícil me esquecer, pai. — Vince se adiantou e esticou
a mão. — É um prazer conhecê-la, Aurora. Feliz aniversário.
— Igualmente e muito obrigada. — Dei-lhe um sorriso polido, não
querendo que percebesse que o seu olhar poderia inundar a minha calcinha.
Meus pais conduziram a família Vaughn para a sala de estar, meus avós
maternos chegaram e eu os enchi de beijos e abraços. Minha avó teve a
minha mãe com dezesseis anos, porque se casou aos quinze, fugida com meu
avô, que teve uma extensa carreira militar. Eles tiveram seis filhos, então, a
minha casa não demorou a ficar cheia com todos os meus parentes de ambos
os lados e amigos da escola, do trabalho voluntário e da minha academia.
Snow ficou responsável pela playlist, o que foi uma péssima ideia. Ela
conseguiu enfiar todas as músicas agradáveis que encontrou, mas ela era
terrível e amava pregar peças. De repente, entre uma música pop suave e
outra eletrônica, as batidas de funk começaram. Meu cunhado cuspiu a sua
bebida, escondendo o rosto no cabelo da minha irmã e a Bella ficou
vermelha. Ri, de nervoso, porque nós pesquisamos o significado das letras de
funk que dançávamos na academia. Duas das nossas professoras eram
brasileiras e nos ensinaram a rebolar do jeito que elas faziam.
Snow estava rindo no canto, algumas pessoas estranharam o ritmo, mas
eu não tinha certeza se todo mundo entendeu as insinuações sexuais. Mamãe
estava lívida. Mudei de música e eliminei todas as perigosas da playlist,
desejando afogar a minha irmãzinha. Eu ri porque a sua expressão falsamente
arrependida me matava. Beijei a sua bochecha e fui até a minha tia, que
acenava para me aproximar.
— Posso usar um dos quartos para trocar o seu primo? Não quero
atrapalhar a sua mãe, ela parece ocupada na cozinha.
— Claro, tia. Meu quarto está destrancado, pode usar à vontade. —
Andei com ela até a escada. — Se precisar, posso pedir para a Snow te
acompanhar.
Snow vomitaria se visse uma fralda aberta e ela merecia por zoar a
minha festa.
— Não, querida. Eu me viro com esse menino. — Tia Clara sorriu e
meu priminho soltou bolhas de baba antes de abrir um sorriso desdentado.
Beijei a sua bochecha e ela subiu, estava voltando para a festa quando Vince
saiu da sala de estar. — Oi... Precisa de ajuda?
— Na verdade, estava me perguntando se podíamos conversar por um
momento?
Meu estômago agitou em ansiedade. Snow apareceu na porta, ficou
parada sem saber se deveria sair ou continuar ali, como se eu precisasse da
sua proteção. Minha irmã era brava como muitos gatos sem vacina para
raiva.
— Sim, é claro. Snow, pode avisar ao papai que mostrarei o jardim ao
Vince?
Achei meio esquisito chamá-lo de senhor se iríamos conversar sobre
um possível casamento, porque eu não iria chamá-lo de meu senhor depois de
casada. Nem fodendo.
Liderei o caminho até o jardim, as luzes se acenderam conforme
passávamos e ele não parecia muito interessado ao redor, seu olhar o tempo
inteiro concentrado em mim. Parei próximo a um banquinho que costumava
ficar no final da tarde lendo, e sinalizei para sentar-se.
— É um jardim muito bonito.
— Obrigada. É o orgulho da minha mãe. — Não comentei que ele não
parecia interessado.
— Imagino que seus pais tenham conversado com você sobre...
— O casamento? Sim. Estou a par de tudo.
— Isso é bom, porque seria realmente constrangedor agora. — Ele deu
uma risada irônica e pegou o seu telefone, mostrando uma foto. — Essa é
Abigail, minha filha. Ela tem um ano e quatro meses, é adorável e perfeita. —
Seu tom era apaixonado e eu me senti aliviada que ele era um pai que amava
a sua filha. — Sei que não é comum casamentos assim, mas eu preciso de
alguém para ser mãe da Abby. É estranho fazer parecer uma entrevista de
emprego, só que um casamento de forma convencional não está em pauta no
momento.
Vince Vaughn não tinha tempo para conquistar uma mulher.
— Entendo. Imagino que ficarei com ela?
— Sim. Tenho uma babá e uma governanta que vivem comigo em
tempo integral, então, não ficará sem um suporte, mas eu também preciso de
uma mulher para me acompanhar. Enquanto a Abby é pequena, ela viaja
comigo e espero que até a fase escolar, não precise viajar tanto a trabalho. —
Refletiu e entendi que ele participava ativamente da vida da sua filha. Talvez,
ele estivesse participando ativamente em todos os lados da sua vida e
provavelmente falhando em todos. — Meu pai tem planos políticos
ambiciosos e eu empresariais, então, ter uma esposa ajudaria no quadro da
família.
— Entendo. Não é uma novidade um casamento político, minha melhor
amiga foi casada por essa maneira e eu estou disposta a aceitar, mas tenho
algumas condições.
Seu olhar parou no meu, surpreso.
— Estou disposto a ouvi-las, é claro.
— Como sabe bem, meu pai é um lobista e no momento, estamos
enfrentando um iminente desastre financeiro com a queda da Calahan
Imobiliária, graças ao trator que você passou por cima da família Calahan ao
barrar as construções dos hotéis e construiu os seus condomínios no lugar.
— Devo pedir desculpas por isso? — Ele riu de um jeito cínico e
imaginei o quanto ele deveria enervar seus concorrentes com aquela
expressão debochada.
— Não, mas deve pagar por isso. Serei uma boa esposa e
definitivamente, uma excelente mãe para a Abigail. Eu amo crianças e
sempre sonhei em ter a minha família, não vou me importar em começar com
uma filha de um ano e quatro meses, pelo menos não vou passar pela parte
assustadora da gravidez e o parto. — Brinquei para suavizar o golpe. — Sei
muito bem que uma mulher como eu tem um valor muito alto, não me
colocando como mercadoria devido o meu currículo, mas porque eu tenho
certeza do meu caráter e sou leal. E por ser muito leal, estou fazendo tudo
isso pela minha família. Entendo que fazendo negócios com vocês e sendo
imediatamente associado ao sobrenome, papai poderá se reerguer, mas não
rápido o suficiente para que as minhas irmãs não sofram com isso. Sei que
somos mimadas, não nego e eu quero que elas continuem sendo mimadas.
Vince arqueou a sobrancelha.
— E o que você quer que eu faça a curto prazo para ajudar o seu pai?
— O que achar melhor e sensato, é um homem de negócios, imagino
que possa chegar a uma conclusão que seja agradável, certo? — Falei como
uma boa moça, porque eu tinha a sensação que lhe dizer o que fazer seria um
tiro no pé. Vince era o típico macho que não gostava que uma mulher
pequena e com aparência de burra delicada como eu lhe dissesse o que fazer.
Usei a tática da mulherzinha que precisava de um príncipe.
— Creio que poderei pensar em algo.
— Obrigada.
— Então, isso é um sim?
— Você não me pediu nada. — Brinquei e ele riu. — Sim, é um sim.
Só que... Não sei o que a sua família espera, mas, poderíamos não fazer um
grande casamento? — Estava preocupada que os Vaughn quisessem uma
grande festa, não haveria chance que os meus pais pudessem pagar por isso e
eles jamais aceitariam ajuda.
— Você gostaria de um casamento discreto?
— Seria ideal para a situação. Uma cerimônia intimista está bem na
moda e poderíamos apenas enviar as fotografias para a imprensa.
— Sim, uma cerimônia intimista será o ideal. Tenho um evento aqui em
Baltimore na próxima semana e na outra, aniversário de um amigo, acredito
que poderemos fazer uma aparição pública.
— E o noivado?
— Logo que possível? Eu não queria estender isso por muito tempo.
— Tudo bem, é sensato.
Minha mãe apareceu na porta dos fundos e percebi que ficamos fora
tempo demais. Voltamos para a festa e apenas sorri para os meus pais, sem
demonstrar nada. Esperava que o Vince não dedurasse os meus termos,
porque o papai poderia ter um ataque cardíaco. Não estava preocupada com o
seu orgulho e sim com a nossa vida.
Na hora dos parabéns, eu estava rodeada pelas minhas irmãs e com o
meu pai filmando, assim como ele fez em todos os nossos aniversários desde
que nascemos. Assoprei as velas, fechando os meus olhos e fiz um pedido.
Esperava que se realizasse.
— Papai, nãaaaaaaao! — Abby soltou uma gargalhada, molhando o
meu peitoral com a sua baba e me bateu repetidas vezes. — Não. — Seu riso
era agoniado e parei de arrastar os meus dedos na sua barriguinha. Ela estava
com o cabelo todo em pé, a boca suja do seu café-da-manhã de banana com
aveia e apenas com a fralda. — Papai!
— Desculpa, princesa. Papai ama a sua risada. — Beijei a sua
bochecha e peguei o pano, para limpar a sua boquinha fofa. Ouvi uma batida
suave na porta. — Entra!
Minha mãe enfiou a cabeça dentro, sorrindo.
— Estou acordada esperando vocês descerem. — Reclamou, ansiosa
para ficar com a sua neta. — Bom dia, amor da vovó. — Esticou os braços e
Abby foi com alegria. — Bom dia, querido. Dormiu bem?
— Sim... Ela, milagrosamente, só acordou uma vez reclamando da
sua fralda cheia. — Sentei-me e encostei na cabeceira. — Meu pai está
melhor?
— Um pouco. Ele fica insuportável quando está gripado. Você já
tem o anel?
— Sim... busquei ontem. — Abri a minha gaveta e puxei a caixa,
abrindo. — O que acha? Eu não sei se ela é ostentosa, em todas as suas
fotografias está com as joias certas, nada muito chamativo e eu pensei que
esse anel seria adequado.
— Muito bom, digno de uma futura Sra. Vaughn. — Minha mãe me
deu um aceno. — Vai levá-la para jantar?
— Fiz reservas.
— Embora seja contra esse casamento, entendo o seu lado e o do seu
pai. Assim como eu também aprovo a noiva, que me parece ser uma garota
com a cabeça no lugar certo. — Comentou e eu sabia que ela queria dizer que
a Aurora era totalmente diferente da minha ex-mulher. — Os Sinclair não são
a família mais rica, mas são educados e com uma reputação impecável. E
infelizmente, inocentes, porque não conseguem enxergar o quão perigosos e
ardilosos são os Calahan.
— Aurora parece acreditar que eles são inocentes.
— Bem, não seremos nós que iremos mudar essa visão. — E eu não
comentei com meus pais que paguei as dívidas no banco, a hipoteca da casa e
ainda mexi alguns pauzinhos para que o próximo projeto fosse aprovado mais
rápido que o habitual. — Você está ansiosa para ficar com a vovó sem o
papai? — Minha mãe brincou com a Abby. — Faremos uma festinha de
garotas.
— Não dê doces a ela, mãe.
Minha mãe sequer disfarçou a sua revirada de olhos.
— Estou falando sério.
Saí da cama e fui ao banheiro, precisando aliviar a minha bexiga, me
arrumei para o dia e quando voltei para o quarto a minha mãe já tinha
desaparecido com minha filha. Fiquei à procura delas até encontrar toda a
minha família no pátio. Minhas irmãs, Lígia e Cleo, tinham vinte e um e
dezoito anos, respectivamente, e eram garotas irritantes até seus últimos fios
de cabelos loiros como os meus e da minha mãe.
— Olha só quem acordou... O todo poderoso Vince. — Ligia
debochou.
— Cale-se.
— Oi noivinho. — Cleo cruzou as pernas.
— Cale-se. — Resmunguei e me joguei na cadeira, me servindo
com café. Abby estava com o rosto afundado em uma laranja, com o suco
escorrendo pelos seus braços e camisa, que a minha mãe colocou ao sair do
meu quarto. Sentada em sua cadeira alta, esfregava a outra metade já
mastigada em todo lugar.
Ligia deu à Abby um pedaço de panqueca, lambuzada de syrup e bufei.
Minha família tinha dificuldades de entender que eu não queria que a Abby
comesse doces. Sua pediatra disse que fazia mal ao seu crescimento e
desenvolvimento mental, então, eu seguia absolutamente a risca. Eu odiava
que não respeitassem isso apenas porque milhares de crianças no mundo
comeram doces e não morreram.
Terminei o meu café-da-manhã e passei o dia em casa, o que era bem
raro, mas estava na casa dos meus pais nas últimas semanas. Apesar de ter
alguns trabalhos na cidade, estava organizando toda parte burocrática do meu
futuro casamento. Além do acordo com o pai da noiva, acatei os pedidos dela
e precisávamos de umas aparições públicas antes do noivado.
Fomos a um evento de gala no qual ela ficou sozinha a maior parte do
tempo, mas agiu muito bem, sempre educada, com um sorriso agradável,
dominando as conversas com delicadeza e simpatia. Ela estava linda, usando
um longo vestido verde, seus cabelos presos em um coque e tranças, com
uma sandália alta, mesmo assim a sua cabeça não chegava ao meu ombro.
Aurora era linda. Apesar de jovem, muito mais nova do que eu me
atreveria a me envolver, ela era linda. Cabelos castanhos claros com as pontas
loiras de um jeito delicado e elegante, o tipo de cabelo tratado e cuidado em
salão de beleza extravagante. Sua pele era clara, olhos verdes escuros e lábios
tentadores. Aurora era a típica garota perfeita, alguém que meus pais estavam
sedentos que me casasse quando fugi para me casar com a Victória. Ela era
ruiva, chamativa, não tinha um pingo de trejeito social e zero educação em
uma mesa – não digo educação que a maioria dos ricos esnobes exigiam,
apenas educação mesmo.
Mesmo assim, eu me apaixonei por ela. Talvez por ser o avesso ao que
os meus pais queriam, por sair da minha zona de conforto, por ser a porra de
um desafio. Nosso namoro foi bem rápido, porém, ficamos casados por
quatro anos. O primeiro ano foi uma maravilha, o segundo começou a decair,
o terceiro pensei que iríamos nos matar e então, ela engravidou. Victória não
escondeu a sua infelicidade com o bebê. Fiquei preocupado e sempre por
perto.
Quando a Abigail nasceu, pensei que a minha vida nunca teve
sentido. Não até aquela coisinha pequena, gosmenta e chorando estar em
meus braços. A Vic mal deu uma olhada, reclamou todas as vezes que
precisou amamentar e ficou sem dormir por causa da Abby. Ela passou a
desaparecer por alguns dias, eu estava tão focado na minha filha que pensei
que em algum momento a Victória cairia em si e se apaixonaria pela Abby.
— Posso escolher a sua roupa para mais tarde? — Cleo começou a
andar atrás de mim no fim do dia. — Você não vai sair de terno, certo? É um
jantar de noivado.
— Um noivado não muito real.
— Poderia ser, ela é linda. Estou seguindo-a no instagram, todos nós
estamos e não se esqueça que graças as minhas montagens, a mídia pensa que
vocês estão juntos há meses. — Cleo continuou falando.
— Sei me vestir e não irei de terno.
— Vai me deixar dar uma olhadinha na sua roupa antes de sair? —
Pediu e suspirei. — Te amo, bro! — Me deu um beijo e saiu correndo.
Quando a Cleo nasceu e eu descobri que era outra menina, reclamei
com a minha mãe: outra, poxa vida! A Ligia era muito irritante, andando
atrás de mim o tempo todo e eu tinha quase dez anos quando a mamãe
engravidou da Cleo. Eu estava ansioso por um irmão. Meus pais não
quiseram tentar mais um menino, porque três já estava bom e eles já tinham
um e primogênito, o sonho de todo casal com uma linhagem tão extensa
quanto a nossa.
Não me importava com isso, se a Abby quisesse a presidência da
empresa, seria dela. Seria tão capacitada quanto um menino, mas se ela não
quisesse, seria um problema. Minhas irmãs não pareciam muito inclinadas a
filhos. Ligia sequer gostava de homens, para começo de conversa e mantinha
a Abby a um metro de distância do corpo quando a fralda estava cheia. A
Cleo gostava de ter muitos namorados – ao mesmo tempo – e era jovem
demais para pensar em qualquer coisa séria.
Abby estava dormindo no centro da minha cama, olhei para o seu
rosto pacífico e tirei uma foto. Ela era linda. Sentia a minha falta, porque
mesmo levando-a nas minhas viagens longas, ainda passava a maior parte do
tempo trabalhando e quanto mais ela crescia, mais barulhenta ficava e mais
queria atenção.
Odiava a sensação de falhar com a pessoa que eu mais amava no
mundo.
Deixei-a dormindo e fui me arrumar, escolhendo uma calça jeans,
sapatos, uma camisa social azul escura e um suéter preto porque o restaurante
era arrumado, elegante, mas não tanto. Era italiano, ela tinha muitas fotos
comendo pizza ou massas, então, imaginava que poderia gostar. Saí antes que
a Abby acordasse da sua soneca, ela costumava fazer um escândalo nada
agradável quando me via saindo.
Escolhi o carro mais caro do meu pai, não para impressionar a Aurora,
ela não me pareceu ser do tipo deslumbrada. Aparentava ser a típica rica
muito mimada que tinha noção dos seus privilégios e fazia questão de lutar
por um lugar melhor para outras pessoas – eu ainda não a conhecia o
suficiente para saber se era algo genuíno ou apenas uma fachada de moça
bonita muito caridosa.
Pegar o Aston Martin Vanquish V12 do meu pai era para irritá-lo
mesmo.
Meu pai odiava que encostassem nos seus carros favoritos.
Em um percurso com um carro normal, a viagem de D.C para
Baltimore levava em torno de uma hora, mas com aquela belezinha, fiz em
trinta minutos. Talvez devesse comprar um quando voltasse para Nova
Iorque.
Minha entrada foi autorizada na mansão dos Sinclair e estacionei
próximo a garagem. Marcus Sinclair abriu a porta, subi os degraus e apertei a
sua mão, mas antes que pudesse falar qualquer coisa, Aurora desceu as
escadas usando uma calça jeans bem justa, sapatos pretos altos e uma camisa
social branca, dobrada até os cotovelos, bem sofisticada. Ela sorriu ao me ver
e parou ao lado do pai.
— Vocês vão retornar tarde? — O pai dela quis conferir.
— Iremos jantar e dar uma volta depois, meia noite ela estará de
volta. — Garanti.
— Certo, divirtam-se. — Ele lhe deu um beijo nos cabelos e um
aceno para mim, com um estreitar de olhos. Achei engraçado, mas respeitei.
Não importava que esse casamento tinha um propósito específico, Aurora não
era uma mercadoria e muito menos uma garota qualquer. E eu nunca a
trataria com falta de respeito ou mancharia a sua honra.
— Você está muito bonita. — Falei olhando em seus olhos. E
cheirando muito bem. Não sabia qual era o seu perfume, mas era muito
gostoso.
— Você também. — Ajeitou a gola da minha camisa.
— Vamos?
Abri a porta do carro para ela e dei a volta, arrancando da
propriedade em alta velocidade e ela riu, prendendo o cinto.
— Meu pai pode ter infartado.
Imaginava e fiz de propósito. Não é porque eu respeitava sua proteção
como pai que eu não iria provocá-lo.
— Bonito carro.
— É do meu pai. Eu não possuo uma residência aqui. — Dei um olhar
de esguelha e ela estava mordendo o lábio.
— Você mora em Nova Iorque, certo?
— Sim, na verdade, em Hamptons. Mantenho um apartamento na
cidade, apenas para ser o meu endereço público e moro no balneário desde
que a Abigail completou quatro meses. Achei que lá seria mais tranquilo e
seguro para criá-la.
— E manter longe dos olhos públicos. — Completou.
— Enquanto fosse possível.
— Posso tirar uma foto? Eu tenho uma paixão secreta por carros...
Sabe se o motor é original ou o seu pai deu algum desenvolvimento? —
Passou a mão no banco, admirada.
— Sim, pode tirar uma foto e eu duvido muito que meu pai tenha
mexido em algo, ele costuma manter os seus carros intactos e o mais original
possível.
— Hum... É bom de conduzir?
Aurora me surpreendeu com o seu conhecimento sobre carros, no sinal,
pediu para tirar uma foto comigo e postou no seu instagram. Eu sabia que a
fofoca sobre o nosso relacionamento estava correndo. Minha irmã fez
algumas publicações com um tal de #tbt como se a Aurora estivesse
convivendo comigo e minha família há alguns meses, soltamos os boatos e a
mídia parecia interessada.
Ninguém questionaria o casamento no começo do verão.
Parei em frente ao restaurante e vi a careta que a Aurora fez. Será
que ela não gostava do lugar? Saí do carro, entregando a chave ao manobrista
e abri a porta dela. Segurei a sua mão na minha e entramos no local, que já
tinha algumas mesas ocupadas e uma fila no bar. Com a reserva, logo fomos
levados a mesa. Aurora sentou-se ao meu lado ao invés de na minha frente,
era uma mesa redonda de quatro lugares, isso nos fez próximos o suficiente
para manter uma conversa sem ter que aumentar o tom.
O garçom nos serviu água, trouxe os menus e voltou com as entradas.
Um mix de torradas e queijos.
Aurora analisou o cardápio rapidamente e pediu salada. Não consegui
disfarçar o quão irritante era uma mulher como ela, com o corpo em forma,
pedir salada para não comer na frente de um homem.
— Pensei que gostasse de massas.
— Eu adoro. — Resmungou como uma criança, de olho na lasanha
da outra mesa e suas bochechas ficaram em um tom rosado que não era da
maquiagem. — Tenho alergia a farinha branca e se eu comer qualquer coisa
com farinha branca ou glúten, de modo geral, nosso encontro pode acabar de
maneira constrangedora.
— Ah, desculpe. Não sabia.
— Como pizza ou massas em casa, assim eu estou um passo do
sofrimento depois com bastante privacidade.
— Como é a reação?
— Fico com algumas bolinhas nos braços, axilas e pernas... E posso
ter outros sintomas que não é muito agradável falar antes de uma refeição. —
Me deu um olhar esperto.
Folheei o menu e encontrei alguns itens sem glúten, sem farinha branca
e até opções veganas. Aurora sequer escondeu a sua felicidade, não retirou a
salada, apenas acrescentou alguns itens a mais e deixou o vinho por minha
conta. Encerrado os pedidos, o garçom nos deu privacidade.
Aurora não era uma mulher difícil de conversar, ela sabia falar sobre
tudo, era bem eloquente e dominava a atenção sobre si mesma sem forçar a
barra. Sua beleza chamava atenção, isso nos tornava um alvo bastante curioso
para os demais clientes do restaurante. O vinho me deixou mais à vontade e
mais atraído, me afastando do meu controle habitual. Esse casamento não era
por amor, mas podia ser muito físico.
Tirei a caixinha do meu bolso quando as nossas sobremesas foram
servidas. Aurora parou de falar sobre o quanto sua pêra caramelizada estava
deliciosa e olhou, aturdida.
— Você tem um anel?
— Pensei que ficaríamos noivos.
— Não imaginei que fosse me dar um anel. — Mordeu o lábio e me
olhou nos olhos, abri a caixinha. — Uau, Vince. É um anel muito bonito. —
Seu sorriso era tímido.
— Posso? — Tirei o anel da almofada.
— Sim, por favor. — Esticou a mão e deslizei a aliança em seu
dedo. — Caramba... É perfeito. — Admirou e me deu um sorriso muito
bonito. Seus olhos desceram para a minha boca e ela não precisava de
nenhuma outra dica. Inclinei o meu rosto, tocando os seus lábios gentilmente
e ela me beijou de volta, com vontade, brincando com a sua língua na minha
e segurou o meu rosto.
Porra, a garota sabia como beijar.
VINCE VAUGHN ESTÁ FORA DO MERCADO.
Um dos solteiros mais cobiçados da atualidade está noivo e a felizarda é
Aurora Sinclair. O casal manteve o relacionamento em segredo nos últimos
meses, com poucas aparições juntos ou com fotos até que a informação veio
a público.
Vince informou que eles não estavam se escondendo, apenas não falando
sobre isso e não negou ou confirmou o noivado. Aurora ostenta uma
belíssima aliança enquanto ainda mantém sua rotina em Baltimore, onde
vive com os pais.
Será que os pombinhos irão viver em Manhattan ou próximo à família?

Desliguei a tela do meu telefone depois de ler mais uma matéria sobre o
meu noivado. O engraçado foi que não precisamos forjar a informação.
Alguém no restaurante o reconheceu e publicou as fotos na internet,
marcando algumas páginas de fofoca e viralizou. Meus pais viram a foto do
anel e do beijo antes que eu chegasse em casa, porque ao sairmos do
restaurante, ele me levou para o píer, passeamos em frente ao Hard Rock
Café, no mesmo prédio da Barnes & Noble – Booksellers.
Compartilhamos um sorvete e em um cantinho escuro, bons beijos e um
amasso que me fez crer que o senhor pedra de gelo sabia bem como aquecer
uma mulher. Ele foi muito respeitador, como se eu fosse uma garotinha
virgem e ele um homem experiente. Bem... Certamente ele tinha mais
experiência que eu, mas eu não era virgem. Esperava que os meus pais não
tivessem prometido uma noiva virgem, porque eu transei com meu primeiro e
único namorado. Ficamos juntos por dois anos, dos dezesseis aos dezoito.
Terminamos quando ele se mudou para a Flórida.
— Oi! — Snow explodiu pela porta, sem bater, me assustando e me
pegando a meio caminho de vestir uma calcinha. — Uma mulher pelada,
legal. — Se jogou na minha cama. — Então, posso ficar com o seu quarto
quando você sair?
— Não. Será o meu quarto quando vier visitar vocês.
Snow franziu o cenho.
— Como assim?
— Vince vive em Nova Iorque e ele está com uma agenda de
viagem apertada até o fim do ano, então, é bem provável que só apareça aqui
nas festas, eu acho. — Mordi o meu lábio com a sensação muito esquisita de
ficar muito tempo longe da minha família. Tentei me lembrar quando fiquei
longe das minhas irmãs e não achei nada na minha mente ansiosa.
— Pensei que fosse viver perto. A Bella saiu de casa, mas vive aqui.
Nem parece que se casou, coitada. — Fez uma falsa expressão solene e
joguei uma almofada nela. — A mamãe vai precisar redecorar o seu quarto.
Não sei se o seu marido vai querer dormir nessa decoração tão patricinha. —
Sentou-se e cruzou as pernas. — Você vai dar para ele?
Mamãe passou pela porta no mesmo instante.
— Deus, Snow. Por que eu sempre chego nesses momentos? —
Reclamou e eu ri. Snow não parecia arrependida. — Isso não é da sua conta.
— Por que não? Eu quero saber se ela vai transar com o marido.
Não é como se ela fosse apaixonada por ele. — Snow continuou.
Mamãe resolveu ignorar.
— Sua futura sogra me ligou, ela quer marcar um encontro para
falarmos do casamento e todos os detalhes importantes. Você tem aulas essa
semana? Ou vai tomar conta de alguém?
— Não, estou livre. Pode agendar o horário que for melhor para
você, mamãe. E por favor, não convide a Bella.
— Por quê? Sua irmã será a sua madrinha, por que ela não pode
participar dos preparativos? — Mamãe colocou a mão na cintura.
— Apenas inicialmente, quando estiver com tudo acertado, ela
poderá nos acompanhar. A Bella tem um estilo diferente do meu e quero que
os meus desejos sejam respeitados. — Falei com a mamãe e virei para a
Snow. — Não vou te responder sobre o sexo, porque ele será o meu marido,
mas pessoas não precisam estar apaixonadas para transar.
— Aurora! — Mamãe gritou e virou para a Snow. — Deixa de ser
curiosa e sim, para fazer amor é preciso amar.
— Tá certo, mãe. — Snow foi debochada. — Estou esperando o
momento que encontrarei sete anões, irei comer uma maçã envenenada e
deitarei em um caixão de vidro esperando um idiota vir a cavalo e me beijar.
Assim vou ficar apaixonada, não é?
— Sim? — Mamãe estava incerta. Ela odiava esse tipo de conversa.
— Hum, mãe? O cara chega do nada e beija a garota inconsciente
sem o seu consentimento. Acho que não é muito bem a referência para essa
peste aí. — Apontei para minha irmãzinha e ela sorriu. — Você é muito
jovem para esse assunto e por gentileza, me procure quando quiser entender o
sexo. Até lá serei uma senhora respeitada e vou poder te ajudar com o que
precisar.
Bella era a única que sabia que eu não era virgem e pretendia continuar
assim. Não precisava que Jasmine e Snow falassem para a mamãe que eu
transei aos dezesseis. Nunca tomei anticoncepcional e sempre me preveni
com camisinhas. Minha mãe me mataria se engravidasse fora de um
casamento ou no mínimo, tão adolescente quanto eu era.
Snow saiu correndo quando a mamãe disse que era a vez dela de lavar
as roupas e eu terminei de me vestir para praticar um pouco de corrida.
Estava necessitada por um pouco de adrenalina e ficar em paz com os meus
pensamentos, apenas ouvindo um pouco de música. Como não tinha previsão
para o casamento ainda, não tinha certeza se poderia participar da maratona,
iria manter o ritmo e se não pudesse, tentaria a de Nova Iorque ano que vem.
— Papai? Mãe? — Gritei da escada. — Estou saindo para correr
daqui até o parque, vou passar pelo píer e voltar pela estrada de cima!
— Vem aqui, mocinha! — Papai chamou do seu escritório.
Bufando, dei a volta na escada e empurrei a porta que estava meio aberta. —
Sente-se.
— O que eu fiz? — Me joguei na cadeira.
— A hipoteca em aberto desapareceu... O banco está acusando que
não há nenhuma dívida em aberto e todos os meus outros débitos sumiram
como fumaça. Você sabe o que isso significa?
— Um milagre de páscoa? — Arregalei os meus olhos para dar
ênfase.
— O que você fez, Aurora?
— Nada. O que eu poderia ter feito? Meu salário de babá não
cobriria os custos, sinto muito.
Papai me olhou severamente e me mantive firme.
— Então se eu investigar melhor, não vou descobrir que o Vince
teve algo a ver com isso? — Apoiou os cotovelos na mesa e me olhou
intensamente.
Fiquei de pé, ajeitando a minha roupa.
— Se descobrir, talvez ele esteja muito grato com a mulher
maravilhosa e linda que ele irá se casar em alguns meses. — Sorri e dei uma
voltinha. — Linda. — Soprei um beijo e saí em disparada do seu escritório.
— Garota... volta aqui! Aurora! — Papai gritou e eu caí fora de
casa.
Coloquei os meus fones de ouvido, me aqueci e disparei pelo meu
caminho, correndo em um ritmo mais lento no começo, no parque trotei, fiz
alguns passos mais rápidos, outros mais curtos e por fim, mantive um único
ritmo balançando os braços ao som do DJ Alessio. Na última volta no parque,
subi as escadas para voltar pela estrada que dava na parte superior do meu
condomínio e eu passava pelo cantinho do quintal do Sr. Davis.
A rua era relativamente tranquila, nunca me senti insegura, mas por
algum motivo os pelos da minha nuca ficaram arrepiados. Olhei ao redor e só
vi um carro. O que me deixou ainda mais desesperada foi que ele estava
andando bem devagar. Droga. Olhei ao redor, tentando não entregar que
estava assustada e faltavam alguns quilômetros para chegar ao meu
condomínio. Eu poderia correr mais rápido, mas eles estavam de carro e
poderiam esperar que cansasse.
Tirei o meu telefone do braço e digitei uma mensagem para o meu pai,
mas o meu telefone vibrou e era o Vince.
— Oi, eu não posso falar agora. — Atendi extremamente ofegante,
precisava parar para recuperar o fôlego.
— O que aconteceu?
— Sai para a minha corrida matinal e acho que tem um carro me
seguindo, estou em uma estrada longa e não sei o que fazer. Preciso ligar para
o meu pai, ele vai conseguir chegar aqui em minutos.
— Não desligue, fique falando comigo e eu estou ligando para ele
agora mesmo. Você consegue ver a placa?
— Não quero que eles percebam que estou assustada. — Murmurei
ainda ouvindo o carro andar devagar.
— Tudo bem, seu pai já respondeu a minha mensagem e ele está
saindo de casa. Está na estrada acima do seu condomínio?
— Sim, mas ainda estou um pouco longe. Faltam três quilômetros.
Continuei correndo, com os fones de ouvidos e o telefone na mão.
Consegui ver o carro do meu pai avançando com bastante velocidade na
minha direção e eu respirei aliviada, com as pernas tremendo e morrendo de
vontade de chorar. Assim que ele se aproximou ao ponto que pude parar de
correr, o outro carro, um audi de vidros escuros, parou e simplesmente foi
dando ré pela estrada. Me joguei dentro do carro e abracei o meu pai,
chorando.
— Aurora, seu pai chegou?
— Sim, estou no carro com ele. — Funguei, falando baixo e papai
acariciando as minhas costas.
— Você pode me ligar quando chegar em casa?
— Sim, eu irei. Obrigada.
Minha mãe e irmãs estavam histéricas quando cheguei em casa. Papai
estava no telefone, dando à polícia a placa do carro e falando com os seus
conhecidos. Bebi bastante água, tremendo da cabeça aos pés e comi algumas
bananas para tentar me fortalecer. Subi devagar para o meu quarto, querendo
tomar um banho e me acalmar. Minha mãe ficou atrás de mim, meu abdômen
estava dolorido assim como as minhas coxas, de tão tensa fiquei retraindo os
músculos enquanto corria.
Após o meu banho, me enrolei no roupão e disse que me deitaria um
pouco.
— Quer tomar um relaxante muscular? — Jasmine ofereceu. — É
bom que você dorme um pouco e vai acordar sem dor. Acho que o papai não
vai te deixar correr sozinha de novo. Ele não me deixa pegar táxi sozinha
desde que me perdi.
Meus pais eram muito protetores, isso não era exatamente bom porque
eu e minhas irmãs não sabíamos nos virar. A Bella dependia do marido para
tudo e eu não queria ser esse tipo de esposa, mas eu não conhecia o mundo e
não era maldosa. Esse era o maior mal de ser tratada como uma princesinha o
tempo todo.
Snow entrou com um remédio e um copo de água que a Jasmine pediu
que ela subisse. Bebi e elas ficaram comigo. Peguei o meu telefone e mandei
uma mensagem ao Vince avisando que estava em casa e bem.
— Papai estava falando com o seu noivo quando subi e ele fechou a
porta quando me viu na escada ouvindo. — Snow comentou. — Eles estão
verificando a placa do carro e parece que o Vince quer que você ande com
guarda-costas.
— Sério? Por que?
— Bem... Você foi seguida. Acho que isso é motivo o suficiente e
querida, você será uma Vaughn em algumas semanas. Você vai ser mais
assistida que a família real. Sabe como nós, povo americano, somos
obcecados com a vida dos outros. Se não fosse assim, muitos famosos não
iriam promover reality shows das suas vidas. — Jasmine revirou os olhos.
— O que vocês duas estão fazendo? — Mamãe abriu a porta do meu
quarto. — Pelo que sei, Jasmine está atrasada para sua aula de piano e a
senhora Snow deveria estar terminando sua apresentação de Inglês.
— Melhoras. — Snow me deu um beijo molhado e barulhento,
saindo rápido. Jasmine foi mais devagar. Ela adorava suas aulas de piano,
mas a sua professora regular estava de férias e um substituto muito exigente
estava tirando a minha irmã do sério. Jasmine costumava ser muito calma,
para ela estar reclamando, o homem deveria ser muito chato.
Sozinha em meu quarto, respondi as mensagens pendentes no meu
telefone e quando estava quase dormindo, recebi uma do Vince. Visualizei,
mas dormi. Acordei com uma batida suave na minha porta.
— Aurora? — Papai estava falando baixo.
— Oi pai, entra. Estou vestida. — Murmurei sonolenta.
— Sua mãe saiu, ela foi fazer compras de mercado e em seguida vai
buscar a Jasmine. Snow e eu almoçamos, mas acho que está dormindo há
muito tempo. Por que não levanta para comer alguma coisa?
Olhei a hora e fiquei horrorizada o quanto dormi.
— O que a Snow me deu? Eu nunca durmo com relaxante
muscular.
Vesti uma roupa, saindo do meu roupão de banho para um short jeans e
uma camiseta cropped curtinha sem sutiã. Papai estava de volta ao escritório
e a Snow na mesa da sala de jantar, fazendo seu dever de casa. Peguei um
pote de salada e joguei alguns pedaços de queijo por cima, com tanto sono
que não pensei em pegar mais nada. Comi, lavei a louça e bocejei.
— O que você me deu? — Questionei a Snow.
— O antialérgico da Jasmine. — Falou sem tirar os olhos dos
cadernos.
— O quê, garota? Eu vou te matar!
— Por que?
— Era para me dar um relaxante muscular! Estou caindo de sono,
doida!
— Ela me enviou uma mensagem pedindo para subir com um
remédio para você relaxar! Jasmine sempre fica calma quando o toma. —
Deu de ombros.
E eu não conseguia ficar brava por muito tempo. Bufei e saí da sala de
jantar, me deparando com o papai no corredor, olhando o seu telefone.
— Seu noivo está aqui. — Falou distraído e abriu a porta. — Vince.
— Desculpa vir sem avisar previamente, mas tenho algumas
informações e achei por bem discutirmos pessoalmente. — Vince falou com
polidez e seu olhar caiu em mim. — Você está bem? — Balancei a cabeça,
imediatamente lembrando que o seu beijo era bom. — Eu vou conversar com
o seu pai e depois nos falamos. — Me deu um beijo na testa e seguiu para o
escritório.
Os dois ficaram no escritório por quase uma hora quando o papai saiu e
abriu a porta para um cara alto, forte e todo de preto entrar. Snow e eu
olhamos curiosas, escondidas e eu fiquei cansada de esperar, decidindo fazer
um bolo sem glúten, de banana com farinha de coco. Queria um de chocolate
com tudo que tinha direito, mas depois da corrida matinal, eu não queria a
adrenalina de passar a noite com dor de barriga.
Bati a massa e coloquei no forno. Estava começando a derreter o
chocolate quando o Vince bateu na soleira da porta.
— Oi, tudo bem? — Olhei-o, muito curiosa, querendo captar todas
as suas expressões.
— Sim, tudo bem. Algo cheira bem aqui.
— Estou assando um bolo e derretendo chocolate para jogar por
cima. — Apontei para a panela e ele se aproximou. Seu olhar desceu para os
meus mamilos arrepiados, sorri e cruzei os braços.
— Gostaria de te apresentar o seu guarda-costas. Ele trabalha
comigo há anos e estará com você aqui até o casamento.
— Tudo bem, pode chamá-lo.
Vince sinalizou para o corredor e um homem corpulento apareceu, o
mesmo que estava no escritório com eles o tempo todo. De braços cruzados,
parei ao lado do Vince.
— Oi, eu sou Aurora. — Estiquei a minha mão e ele apertou depois
de dar um olhar ao Vince. — Prazer conhecê-lo e espero que possamos nos
dar bem.
— Estarei a sua disposição, a propósito, sou Mylles Gates, mas
todos me chamam de Gates. — Sua voz era grave e baixa, como se ele falasse
pouco ou tivesse um problema nas suas cordas vocais. — É um prazer,
senhora.
Senhora, cruzes.
— Obrigado, Gates. — Vince disse, o homem assentiu e saiu. Assim
que ele sumiu, Vince tocou a minha cintura. — O carro que te seguiu hoje,
supostamente, pertence a uma editora que tem várias revistas online. Ainda
vou apurar melhor. — Acariciou o meu rosto.
— Tudo bem... Você me ligou por algum motivo especial?
— Sim, fui convidado para um jantar amanhã, gostaria que fosse
comigo.
— É claro.
— Venho te buscar às 19h — Se inclinou e me deu um beijo nos
lábios.
Segurei o seu ombro, aprofundando o beijo porque eu não era idiota
e não teria um homem daqueles nos meus braços sem aproveitar. Vince
correspondeu o beijo com vontade, descendo a mão da minha cintura para
minha bunda e eu estava louca que ele agarrasse com vontade. Infelizmente,
ele se afastou.
— Te vejo amanhã.
Meu Deus, um beijo e eu queria montar nele.
— Definitivamente, vocês vão transar. — Snow comentou atrás de
mim, me fazendo pular de susto. — O que? Eu estava aqui o tempo todo,
vocês que não me viram no cantinho. — Ergueu o seu caderno.
— A mamãe deve estar voltando e você ainda não terminou essa
coisa, Snow. Se concentra e deixa de ser fofoqueira. — Ralhei, tentando não
rir e voltei para o meu chocolate. Minha irmãzinha tinha razão, se dependesse
de mim, Vince e eu iríamos s transar e muito.
Vince estava dirigindo com segurança e dessa vez ele estava com um
Porsche Cayenne cinza. O carro estava escuro, apenas com a luz do player do
rádio tocando Maroon 5, que transmiti do meu celular enquanto ele parecia
concentrado na estrada. Estava chovendo e havia muitos carros. Ao contrário
do dia anterior, o tempo amanheceu nublado e uma chuvinha chata começou
no final da tarde, o que me fez mudar toda a minha roupa.
O jantar era na casa de um amigo dele dos tempos de faculdade. Ele
estava em uma carreira promissora como deputado e era o seu aniversário.
Vince disse que eles foram colegas de quarto por um tempo e fizeram parte
da mesma fraternidade, sem muitos detalhes, o restante precisei buscar na
internet, usar o meu pai de fonte e me preparar mentalmente para o tipo de
conversa que poderia acontecer essa noite.
Investi em um look meio retrô. Não sabia o que esperar, a esposa do
aniversariante parecia mortalmente tradicional e sem graça nas suas fotos no
instagram e com um estilo bem desinteressante nas fotos dos jornais. Ela
parecia a cópia sem nenhum sal da Duquesa de Cambridge, como se o
congresso pedisse que as esposas dos deputados não atraíssem atenção para si
mesmas exatamente como a realeza fazia.
Estava com uma calça jeans boyfriend, até a cintura, com uma blusa
branca e um blazer de mangas ¾ preto como os meus sapatos e a minha
bolsa. Não estava desarrumada e muito menos parecendo tão mais velha, o
que não era minha intenção porque a minha blusa tinha um decote agradável.
Vince estava todo de preto e muito cheiroso. Me perguntei se ele bateria com
o carro se lambesse o seu pescoço como estava morrendo de vontade...
Snow boca grande contou para Jasmine e para a mamãe que Vince me
deu um beijo “desentupidor de pia” como nos filmes e ainda apertou a minha
bunda. Eu precisei aguentar a conversa da mamãe sobre sexo antes de ir
dormir e eu não sabia se ela fazia o que falava, duvidava muito, ninguém
tinha quatro filhos sem prática. Ela estava preocupada que eu pulasse na
cama do Vince antes do casamento e a família dele achasse que eu estava
tentando prendê-lo de alguma maneira.
Minha mãe tinha as ideias mais bizarras.
Assenti como uma boa filha, me sentindo mal por ela não ter ideia de
que o lacre havia sido rompido com o namorado que ela detestava. Preferia
que ela pensasse que era virgem da cabeça aos pés. Quer dizer... O sexo era
adolescente e eu tive mais orgasmo com o meu vibrador na escuridão do meu
quarto do que com ele porque sempre acabava muito rápido e no fim, eu
estava mais confusa do que com prazer.
— Está muito quieta. — Vince quebrou os meus pensamentos.
— Pensativa. Como está a Abby?
Vince me mostrou algumas fotos dela e não fez nenhum movimento
para me apresentar a sua filha. Ele me informou que ela não estará no
casamento, porque não estava acostumada com eventos noturnos e poderia
ficar chorando, querendo ficar com ele e apesar de a babá ser de confiança,
ele preferia que não houvesse funcionários durante o evento. Não fiquei
ofendida. Ela era pequena demais para entender.
— Bem... Ela está dormindo pouco e isso é meio estressante.
— Ela dorme com você?
— Depende do lugar. Aqui na casa dos meus pais, a babá não está
comigo, minhas irmãs e minha mãe se revezam tomando conta dela quando
preciso sair. Nas viagens, a babá fica comigo e dorme com ela. Em casa,
costumo dormir sozinho, ela em seu quarto e eu no meu. Tenho medo de
virar na cama e machucá-la. — Comentou concentrado no trânsito e fez uma
ultrapassagem. — Apesar de ter um quartinho montado aqui, prefiro que ela
durma no berço do meu quarto.
— Entendo... Ela está andando?
— Sim, começou a andar com um ano, na mesma semana do seu
aniversário. Ela é bem agitada quando está no chão e eu sinto saudades de
quando ela ficava no meio da cama quieta, eu podia trabalhar com ela ali sem
sair do meu campo de visão. Agora é impossível mantê-la no ambiente ou as
coisas no lugar.
— Estou louca para conhecê-la. — Comentei casualmente.
— Estive pensando... Meu pai pretende fazer um churrasco, para
convidar os seus pais e suas irmãs. Será um bom dia para conhecer a minha
pequena. Meus horários de trabalho estão muito loucos aqui e parece que
todas as pessoas estão me convidando para eventos que eu não posso declinar
sem parecer um completo babaca. — Resmungou e sorri. Ele parecia estar
mal humorado.
— Será perfeito.
Chegamos na residência em um caro condomínio que reunia pessoas
ricas de D.C que de alguma maneira estavam envolvidas com política. Eram
casas geminadas de tijolo vermelho e janelas quadradinhas muito bonitinhas.
Vince guardou o telefone e as chaves do carro no bolso, segurando a minha
mão. Eu estava segurando uma garrafa de vinho e ele o presente para o
aniversariante.
A porta verde escura foi aberta por um homem bem apessoado, usando
uma camisa social cinza, calças jeans e sapatos lustrosos que provavelmente
eram italianos. Ele sorriu abertamente, recebendo um abraço muito masculino
do Vince.
— Feliz aniversário, Bruce. — Vince me puxou para perto. — Minha
noiva, Aurora Sinclair.
— Olha só, parabéns pelo noivado! — Bruce me deu um rápido abraço.
— Seja bem-vinda.
Entreguei a ele o vinho e o Vince o presente, com um pouco mais de
conversa amigável fomos conduzidos à sala onde havia outros três casais.
Vince parecia conhecer todos e me apresentou como a sua noiva. As
mulheres pareciam ter saído de uma versão moderna de Desperate
Housewives, pelo menos elas não estavam com penteados iguais e colares de
pérola. E obviamente, elas mal conseguiram disfarçar a curiosidade.
Em menos de quarenta minutos, respondi vagamente, com simpatia e
bom humor milhares de perguntas, mas antes do jantar a minha cabeça já
estava doendo. Elas estavam ruidosas como as revistas de fofoca, querendo
saber como Vince e eu conseguimos esconder um relacionamento.
— Nós não escondemos nada. — Rebati meio impaciente. — Só não
colocamos um anúncio no jornal. Estávamos vivendo normalmente até que de
repente, acharam interessante falar sobre isso. — Bebi um pouco do meu
vinho.
— Para quando será o casamento? Sei que será o casamento do ano. —
Kylie, esposa do Bruce perguntou avidamente. Mal sabia ela que se
dependesse de mim, ninguém além da nossa família seria convidada.
— Ainda estamos discutindo as possíveis datas, são muitas agendas
para sincronizar, dá um pouco de trabalho. — Sorri polidamente.
— E você já conheceu a fofura da Abby? Ela é tão linda. — Alexia,
esposa de um dos caras falou empolgada. Ela era a que mais estava me
irritando.
Mesmo que eu nunca tivesse visto a Abby na vida, senti um ciúme
desmedido da maneira que ela parecia íntima. Eu vi a maneira como abraçou
e beijou o Vince. Ele manteve um braço de distância, mas ela deu um jeito de
bancar a querida pegajosa e no momento, falava da Abby sobre coisas que eu
não sabia. Mantive a minha expressão doce, eu podia ser enervante com
aquilo, meus próprios pais diziam que sentiam vontade de arrancar o meu
rosto de tão irritante que era.
Antes que ela pudesse terminar de falar, os homens voltaram para a
sala. Vince sentou-se ao meu lado e passou o braço no meu ombro, meio que
me puxando na sua direção e me mantendo perto. Aproveitei a oportunidade
e beijei o seu pescoço. Provavelmente deveria alertar a ele que era muito
possessiva. Ele olhou para baixo, sorriu e me deu um beijo suave e
educado pelo fato de estarmos acompanhados.
Pelo resto da noite tentei ignorar a tal da Alexia, sendo educada, mas
nunca dando profundidade aos seus assuntos. Após o bolo, ainda
conversamos por uma hora e finalmente nos levantamos junto com outro
casal para irmos embora. Vince me manteve a sua frente enquanto se
despedia dos demais, literalmente me usando como escudo para não receber
abraços e beijos indesejados. Hum... Então ela não era íntima porcaria
nenhuma, deveria ser do tipo que forçava a barra.
— Legal essa Alexia. Conhece faz tempo? — Comentei no carro.
— Sim.
— Dos tempos da escola?
Vince tossiu.
— Ela foi uma namorada da escola. — Comentou como se estivesse
falando da previsão do tempo.
— Caramba. E ela conseguiu se casar com um dos seus amigos de
fraternidade?
— Hum, sim. É um círculo realmente pequeno...
— Ela tentou se aproximar quando você ficou sozinho com a Abby? —
Questionei olhando-o e ele me olhou.
— Como você sabe? Alexia comentou algo?
— Você dormiu com ela depois disso?
— O quê? Não! Eu dispensei as suas muitas ofertas de ajuda e nos
encontramos em eventos assim. Acho que o Byron sabe que a mulher dele é
meio peculiar e não se importa. — Encolheu os ombros.
— Interessante. Gostei da noite, foi divertida. — Mentira, foi um
mártir. Meus jantares de aniversário eram infinitamente mais divertidos. Se
todos os eventos que ele era convidado seriam daquele tipo, estava
preparando a minha morte lenta por tédio. Aquelas pessoas me fariam ter um
derrame com um sorriso falso no rosto.
Mesmo noiva e a um passo do casamento, meu pai determinava um
horário para voltar para casa. Eu estava louca para que o Vince parasse em
qualquer lugar só para que eu pudesse pular em seu colo e tirar uma
casquinha. Já era onze e meia, estávamos longe, então, ele dirigiu para minha
casa sem nenhuma parada. Liberei os portões com o meu controle e ele foi
direto para uma vaga de visitantes no canto.
Olhei para a porta, a luz da varanda não acendeu, o que significava que
não havia ninguém na porta me esperando. Voltei o meu olhar para o Vince e
automaticamente nossas cabeças se encontraram. O beijo começou calmo,
exploratório, timidamente deixei as minhas mãos vagarem pelos seus braços,
louca para bagunçar aquele cabelo e deixar a sua boca inchada. Meus
mamilos estavam duros contra o meu sutiã e afastei a minha boca ao ouvir a
porta ser aberta e a luz acender.
Porra. Nem deu para dar um amasso.
— Nos falamos amanhã. — Me deu mais um beijo e abri a porta do
carro, saindo com calma e passei pelo meu pai dando boa noite e subindo
diretamente para o meu quarto. Tirei a minha roupa, lavei o meu rosto para
limpar toda maquiagem e vesti um pijaminha rosa curto, parei na frente do
espelho e tirei uma foto.
Mastiguei o meu lábio enquanto considerava enviar a foto para o Vince.
Ele ainda levaria mais alguns minutos para chegar na casa dos seus pais, em
Maryland. Deitei-me na cama e mandei a foto, desejando boa noite e que
estava pronta para dormir. Fiquei sem mexer no telefone até que ele vibrou.
Era uma mensagem dele
“Provocadora”.
Em resposta direta a foto. Ele ainda estava digitando e enviou uma foto.
Merda.
“Definitivamente não sou bom nisso, mas estou pronto para dormir”.
Porra. Ele poderia não ser bom em tirar fotos de si mesmo, mas ele
tirou de cueca – apenas com ela – na frente de um espelho que parecia ser do
seu closet.
“Não se preocupe com o talento para fotografias, o restante
compensa”.
Enviei junto com uma carinha piscando porque estava mordendo o meu
lábio, ampliando a foto o máximo que conseguia para olhar tudo bem de
perto. Que homem gostoso... Minha mente não precisava de ajuda para ser
pervertida. Dormi e fui presenteada com sonhos molhados. Um homem alto,
loiro, com aquela cara de quem sabia muito bem o poder que tinha no mundo
me deixou excitada só de pensar.
Me arrumei para o encontro com a sua mãe ainda me sentindo ligada e
estranhamente louca para me tocar, mas não tinha tempo e não queria chegar
atrasada. Minha mãe e eu chegamos em menos de vinte minutos no The Line
D.C. Era uma das minhas primeiras opções de casamento, porque havia
muito espaço privado e assim reduziria as chances de ter as fotos do
casamento espalhadas na mídia.
— Olá, querida! — A Sra. Vaughn me deu um abraço. — Essas são as
suas futuras cunhadas, Ligia e Cleo.
— Estou feliz em finalmente conhecê-las. — Abracei as duas. — Essa
é a minha mãe, Jacqueline, mas todos a chamam de Jackie.
Após as apresentações, a gerente do local nos encontrou e deu um tour
completo. Todas nós concordamos que era um local perfeito para abrigar os
convidados, um bom esquema de segurança e impediria que os paparazzis
tivessem qualquer acesso. Fiquei apaixonada pela capela onde poderia
acontecer a cerimônia a apenas alguns corredores do salão de festa.
— Por mim não há dúvidas, é um local lindo. Eu já posso imaginar uma
decoração com algumas flores... — A Sra. Vaughn olhou ao redor.
— Gosto daquelas cascatas de flores com luzes mais amareladas.
Ficariam perfeitas nessas pilastras.
— Aqui é tão antigo e ao mesmo tempo tão romântico. — Ligia
comentou.
— Então, se a noiva quer, vamos ver a data. — Mamãe estava com os
olhos brilhando, porque ali era um lugar muito bonito, sofisticado e nem de
longe tão caro quanto o espaço que a Bella quis se casar.
Não existia a ideia de levarmos mais um ano para o casamento e o local
parecia bem procurado, mas nós conseguimos ajustar uma data para treze de
junho, apenas dois meses a frente. Seria uma completa loucura a correria,
mas a minha mãe e a Sra. Vaughn já tinham uma lista de fornecedores que
estavam acostumadas a trabalhar. No final do dia, muitas coisas foram
acertadas, o mais complicado de todos foram as flores e quando a Bella
chegou, fez uma expressão muito emburrada por ver tantas coisas decididas.
— Traidora. — Cochichou.
— Prática, totalmente diferente. — Retruquei e beijei a sua bochecha.
Vince se recusou a ter três padrinhos e sua mãe explicou que ele não
tinha muitos amigos próximos, apenas um, que era o seu melhor amigo e
então, ele seria seu único padrinho. Meu cunhado ficaria chateado se a Bella
fosse a minha madrinha sem que ele fosse o seu par, então, escolhi a Jasmine.
Snow daria um ataque, mas ela seria minha dama junto com a irmã caçula do
Vince, a Cleo.
Bella e Ligia estariam com o mesmo tom de vestidos, por serem irmãs
do casal e obviamente, ficariam conosco na mesa da família, mas eu não
tinha amigos para preencher o lado dos padrinhos. Foi um dia muito
exaustivo, fiz a pré-seleção do meu vestido de noiva, tendo uma noção que
nem todos os modelos ficariam bons em mim. Um estilo sereia estava fora de
cogitação, eu tinha curvas, mas não tanto. Um bufante me faria parecer um
bolo com um palito enfiado.
Todos os modelos que escolhi a minha mãe fez uma ligeira careta
porque não eram exatamente conservadores. Não queria me estressar com ela,
como ainda não tinha certeza, não dei nenhum voto definitivo. Não que eu
tivesse muito tempo para encontrar o vestido. No final do dia, estava com um
planner da noiva que a Ligia, irmã do Vince, me deu de presente e estava
satisfeita por ter muitas coisas preenchidas. Essa era a vantagem de ser uma
Sinclair casando com um Vaughn.
Mais uma noite sonhei com o peitoral definido do meu futuro marido.
Abby estava andando na minha frente, segurando seu copinho de
água com bico e apontou para as flores do jardim dos meus pais com um
sorriso encantador. Ela franziu os olhos com a claridade e me abaixei,
pegando-a no colo e voltando para a área da piscina, percebendo que os
nossos convidados estavam sendo recebidos pela minha família. O olhar da
Aurora imediatamente encontrou o meu e ela logo desviou para a minha filha,
demonstrando muita ansiedade com a proximidade.
Aurora estava linda em um vestido amarelo com flores coloridas, seus
cabelos presos em um rabo de cavalo e sandálias rasteiras. Suas três irmãs
estavam ao seu lado e o seu cunhado cumprimentava o meu pai. Apertei a
mão do Marcus e ele sorriu com alegria para a minha tímida filha. Jackie me
deu um sorriso e esfregou as costas da Abby, falando docemente e se afastou.
A irmã mais velha da Aurora, Bella e o seu marido, Jacob Bowan,
arrulharam e a Abby sorriu timidamente, mas logo se escondeu. Jasmine e
Snow me deram um sorriso e logo saíram com a Cleo, que chamou as
meninas para trocarem de roupa para ir na piscina. Cleo sentia muita falta de
ter amigas e imaginava que elas poderiam ser próximas mesmo com a idade
diferente.
— Oi. — Aurora soou tímida. Nossa família inteira estava nos olhando,
passei o meu braço nos seus ombros e beijei a sua testa, porque era o máximo
que eu podia fazer com plateia. — Olá, Abby.
Abby me deu um olhar e voltou a encarar a Aurora com curiosidade.
— Diga oi, princesa. — Cochichei e a minha filha riu, mas não falou
nada, voltando a encarar a todos com curiosidade.
— Flô. — Apontou para o vestido da Jackie. — Flô. — apontou
para o vestido da Aurora. — Flô! — Apontou para o seu maiô cheio de
flores. Ela me olhou como se tivesse descoberto o mundo e eu pensei que
explodiria ali mesmo. Beijei a sua bochecha.
— Muito bem, são muitas flores!
— Abby. — Apontou para si mesma. — Papai. — Enfiou o dedo na
minha bochecha.
— Aurora. — Minha noiva sorriu.
— Rora. — Abby repetiu e nós rimos.
Abby não falava muito, seu vocabulário se reduzia a repetir
absolutamente tudo que falávamos e se fazer entender no que queria. Ela
chamava meus pais de vovô e vovó respectivamente e as minhas irmãs com o
nome que ela achava que entendia, cada vez reproduzia de alguma maneira
diferente. Não tinha nenhuma dificuldade em demonstrar seus sentimentos,
principalmente os acessos de raiva e muita birra.
Ao contrário das suas irmãs mais novas, Aurora não trouxe um biquíni,
para a minha completa infelicidade. Ela estava tímida sobre ficar com pouca
roupa em um lugar desconhecido. Felizmente Cleo, Jasmine e Snow se
revezaram para brincar com a Abby dentro de suas boias e protegida pela
área que a piscina ficava na sombra.
Fiquei na churrasqueira, preparando as carnes enquanto o meu pai e o
pai dela me atrapalhavam mais do que ajudavam, pelo menos a conversa
estava boa. Marcus não era nada do que eu esperava. Conhecendo-o apenas
no trabalho, ele era irritante e definitivamente o tipo de pessoa que eliminaria
do meu caminho com um peteleco, exatamente como fiz com o desonesto
John Calahan. Como eles eram amigos, deduzi que eram farinha do mesmo
saco.
Quando o meu pai disse que havia proposto um casamento ao Marcus,
quase o matei. Entendia os fins políticos, mas existia outras mulheres
solteiras no meio. Quando vi a foto da Aurora, me interessei imediatamente e
sequer disfarcei. Marcus parecia relutante e preocupado, era um acordo, eu
não ia machucar ou desaparecer com a filha dele. Eu tinha uma filha e
entendia o sentimento de proteção e medo.
Dei uma olhada com mais intensidade sobre os Sinclair e me perguntei
porque tantas coisas deram errado para eles nos últimos anos. Marcus não
estava envolvido com negócios ruins, tudo o que tinha foi construído pelo
trabalho. Não enriqueceu absurdamente da noite para o dia, tinha quatro
filhas muito educadas e que jamais se envolveram em escândalos, eles iam à
igreja toda quarta-feira e domingo, pagavam os impostos, eram positivamente
vistos na sociedade e não havia uma única pessoa falando mal deles.
Enervante.
Convivendo um pouco mais, podia entender que ele era um homem que
sabia se posicionar com cuidado e educação. Não escorregava com facilidade
e muito menos mudava de ideia. Não era de adulações, apenas um homem
que sabia usar as palavras de modo que ninguém saía ofendido. Isso era um
dom que eu não tinha. Marcus se encaixava na categoria “bom homem” e ele
não era burro, sabia que me dar a sua filha em casamento significaria que ela
estaria se casando com um homem “bom”, mas nem sempre tão bom.
Pelos meus interesses, agia conforme o necessário.
Aurora saiu da cozinha carregando uma vasilha grande de vidro
cheia de folhas verdes. Nossas mães saíram em seguida. Jacob, meu futuro
cunhado, me entregou uma cerveja aberta porque as minhas mãos estavam
ocupadas e não levou muito tempo para o almoço ficar pronto e nos
sentarmos ao redor da grande mesa para compartilhar a comida. Aurora
sentou-se ao meu lado e a Abby no meu colo.
Dei para minha filha uma batata cortada que a minha mãe fazia assada
ao invés de fritar. Ela mastigou avidamente e então, Aurora deu a ela uma
fatia de cenoura cozida ao ponto. Abby mordeu, desconfiada e agarrou em
seus dedinhos. Aos pouquinhos, Aurora conquistou a minha filha,
entregando-lhe comida e no final, ela estava aceitando generosas colheradas
de purê de ervilha com pedaços de frango.
— Eu disse... Aurora é uma encantadora de crianças. — Jasmine
brincou.
— Sempre gostou de crianças? — Minha mãe perguntou sem
esconder a curiosidade.
— Acho que sim... É algo natural, eu não tenho certeza de onde
surgiu. Lembro do nascimento da Jasmine, mas foi o da Snow que me
marcou muito mais e eu amava cuidar dela com a mamãe. Hoje em dia nem
tanto. — Aurora olhou engraçado para sua irmã. — Infelizmente, ela cresceu.
Snow deu a língua.
— Aurora sempre foi a minha filha mais paciente e determinada.
Cada uma tem a sua particularidade mais forte, enquanto a Bella era tudo
sobre o agora, a Aurora tinha mais parcimônia e não parava até conseguir, já
a Jasmine é um doce e eu ainda não encontrei palavras para definir o que é a
Snow. — Jackie olhou divertida para a sua filha caçula.
— Talvez o próximo furacão se chame Snow. — Bella brincou e
puxou o cabelo da sua irmã.
— Isso seria um terrível engano, porque eu tenho certeza de que será
Ligia. — Papai comentou e minha irmã bufou.
Aurora voltou a dar atenção à minha filha, que estava encantada com as
suas brincadeiras e até chegou mais perto, mas sem sair do meu colo. Depois
da sobremesa, inventei uma desculpa para ficar sozinho com a Aurora e a
Abby, que estava sonolenta e não levaria muito tempo para cair no sono.
Andei com ela nos meus braços, com a cabecinha no ombro e segurei a
mão da Aurora. Nós paramos próximo ao gazebo.
— Ela é tão perfeita. — Aurora sussurrou e esfregou as costas da
Abby. — Um pouco tímida e desconfiada.
— Não está acostumada com muitas pessoas e acaba ficando
retraída, passamos muito tempo sozinhos ou ela sozinha com a babá.
— Essas dobrinhas... Que vontade de morder. — Aurora beijou a
perna da minha filha e senti o sorriso da Abby, soltou um ronquinho de uma
risada conforme Aurora seguia beijando e brincando.
Minha filha foi ficando ainda mais pesada e sabia que tinha dormido,
em silêncio, sinalizei para Aurora me seguir e ao invés de passar pela área da
piscina, dei a volta no jardim e entrei pela sala de jantar, subindo a escada até
o quarto da Abby. Ela não chorou quando troquei a sua fralda e a ninei no
berço sob o olhar atento da minha noiva. Aurora tirou os ursos do berço e
deitou a Abby de modo que ela estava mais elevada.
— Acabou de comer e é a melhor posição para sua digestão. —
Explicou e se afastou. Segurei a sua mão e puxei, saindo silenciosamente do
quarto.
Sem voltar para a escada, levei a Aurora para o corredor do meu
quarto e sem delongas, segurei a sua cintura e beijei a sua boca. Ela ficou na
ponta dos pés, correspondendo o meu beijo com avidez, segurando a minha
nuca e desci as minhas mãos para a sua bunda louco para dar um bom aperto,
mas eu me segurava porque Aurora era extremamente protegida e eu
precisava saber se ela tinha alguma experiência para me preparar
mentalmente para as nossas núpcias.
— Precisamos conversar... — Falei baixinho contra os seus lábios.
— O quê? — Aurora estava desorientada.
— Preciso saber algumas coisas sobre nós. — Olhei em seus olhos.
— Você tem alguma objeção sobre toda a parte física?
— Definitivamente não. — Riu e tentou ficar séria. — Desculpe.
— Tudo bem. — Sua resposta me deixou muito animado também.
— E você tem algum método contraceptivo?
Aurora mordeu o lábio.
— Não, ainda não. Já marquei a consulta com a minha mãe para
fazer alguns exames pré-nupciais necessários e pedir a receita de uma pílula
ou outro anticoncepcional. — Falou baixo e beijei o seu pescoço. — Sua mãe
mencionou que você iria decidir a nossa lua-de-mel. — Gemeu e minha
mente estava mergulhando na sarjeta.
— Na verdade, espero que não fique chateada. — Soltei os meus
lábios da sua pele macia e cheirosa, voltando a olhar em seu rosto. — Na
semana do nosso casamento precisarei estar no Hawaii e a viagem deve se
estender por duas ou três semanas. Imaginei que poderia alugar uma casa,
assim a Agatha e a Hayley poderiam ficar conosco. Realmente tenho que
estar presente nesse empreendimento.
— Parece maravilhoso. — Sorriu e mordeu o lábio.
Sem mais cabeça para conversar, ataquei seus lábios macios,
beijando-a com intensidade e desejo. Agarrei a sua cintura, colocando-a
sentada em uma mesa aparadora e passei as minhas mãos nas suas coxas
torneadas. Aurora era torneada e tinha um grande apreço por atividades
físicas. Ela parecia perfeita e eu não tinha certeza como seria na convivência,
porque ninguém era perfeito e chegava me assustar a ideia de que teríamos
grandes problemas.
— Não briguem comigo. — Cleo apareceu no corredor. —
Mandaram vir atrás.
— Merda. — Aurora falou baixinho e eu ri.
— Vai na frente, nós iremos em seguida. — Falei com a minha irmã,
que deu meia volta e sumiu no corredor. — Temos que descer.
Aurora nunca reclamava dos seus pais protetores, mas eu podia ver a
frustração no seu olhar. Voltamos de mãos dadas e não dei nenhuma
satisfação. Ela era minha noiva e seria minha esposa, eles precisavam se
acostumar com o fato que não teriam mais controle sobre ela ou sobre nosso
tempo juntos. Era muito irritante, não estava acostumado a agir precisando
dar tamanha satisfação, principalmente com alguma namorada.
Antes da Victória, tive diversas namoradas, desde a escola e com
nenhuma delas tive que pedir permissão. A própria Victória, só conheci seus
pais após o nosso casamento e eles não sabiam muito sobre a vida dela. Após
ela, tive apenas casos sexuais porque não estava disposto a entrar em outro
relacionamento desastroso.
Meu casamento com a Aurora tinha um propósito e ela não fugiria
disso, porque era criada para ser esse tipo de esposa. Não tinha certeza se era
o que me faria feliz, mas na atual linha da minha vida, era importante que os
negócios fossem bem sucedidos e a minha filha estivesse feliz. A minha
felicidade era conto de fadas. Aurora e eu não precisávamos amar um ao
outro, só precisávamos de muito respeito e companheirismo. Amor se provou
descartável.
No final do dia, me despedi dela com um beijo tranquilo, ela se
juntou à sua irmã e cunhado em um Audi e foi embora. Precisaria voltar para
Nova Iorque no dia seguinte e só retornaria na semana do casamento com a
minha agenda de trabalho tomada a cada segundo possível porque ficaria no
Hawaii por mais tempo que o programado, apenas para fazer política em
favor do meu pai.
— Vou sentir a sua falta. — Minha mãe reclamou ao me ver
arrumando as malas. — Esse tempo com você aqui me fez lembrar do tempo
em que vocês cresciam debaixo das minhas asas.
— Faz tanto tempo que saí de casa, mãe. A senhora está ficando
velha e nostálgica. — Provoquei e ouvi os gritos da Abby no quarto da Cleo.
— Velha é a sua avó, eu vou aproveitar meus últimos minutos com a
minha neta.
— Nós não vamos embora para sempre, cruzes. — Resmunguei com
o seu drama e ela foi embora, emburrada. Meu telefone vibrou e era o Gates.
— Já assumi minha posição, senhor. A Srta. Sinclair está saindo com
suas amigas essa noite. Elas vão jantar em um restaurante japonês.
— Terá algum homem?
— Não que tenha informado, mas informo se tiver.
— Não precisa expulsar todos os fotógrafos, mas não deixe que
cheguem perto dela e definitivamente impeça qualquer homem que queira se
aproximar.
— Sim, senhor. Boa noite.
— Boa noite.
Não era por não confiar na Aurora, além de ser um idiota possessivo,
a mídia estava em cima. Qualquer fotografia tirada em um ângulo errado,
para mudar a imagem dela para esposa infiel seria um completo inferno e
fugia totalmente do propósito de ter uma família capaz de estrelar comerciais.
Nós nos preocupamos e manipulamos o que a mídia fala sobre a família, já
varremos muitos escândalos para debaixo do tapete e tivemos que lidar com
situações de maneiras bem drásticas.
Muita gente acreditava que a nossa vida era o perfeito conto de fadas
e era assim que precisávamos que nos vissem. Eles não podiam descobrir a
verdade.
Me olhei no espelho, com o meu vestido de noiva, analisando
cuidadosamente porque era a minha última prova. Meu vestido era lindo. O
estilista era novo, o que provavelmente iria alavancar a sua carreira, mas ele
foi o único capaz de desenhar a minha ideia, com o tecido e o bordado
exatamente do jeito que eu queria e ainda no tempo certo. Encontrei-o no
google, seu ateliê era pequeno e em um lugarzinho que a minha mãe e sogra
ficaram horrorizadas, mas elas estavam mudas atrás de mim, então eu só
podia supor que aprovaram.
— Embora esteja exibindo mais pele que eu me sinto confortável,
caramba, Aurora. Você está linda. — Mamãe colocou as mãos no meu
ombro. — Uma noiva perfeita.
— Você precisa se movimentar. — A Sra. Vaughn falou com
emoção. — Tem que sentar, levantar, tente dançar... Precisamos ter certeza
de que nenhum acidente vai acontecer com a costura. — Tirou um lenço da
sua bolsa. — Me desculpem, eu sei que esse casamento não é por amor como
sonhei para o meu filho, mas você está tão linda.
— Está tudo bem, também estou emocionada. — Garanti e voltei a
me olhar.
O vestido estava tão bonito que não conseguia desviar o olhar, andei
pelo ateliê, me sentei, agachei, me movi de um lado ao outro percebendo que
o tecido era meio pesado, mas perfeitamente ajustado. Ficou ótimo nos seios,
o decote era profundo, as alças finas, mas ter peitos pequenos tornou-se uma
vantagem. Experimentei os sapatos e decidi por não trocar de roupa até o
momento que fôssemos embora, dessa vez usaria um vestido branco muito
bonito, mas não exatamente de festa.
Era apenas bonito o suficiente para sair do casamento e confortável
para a viagem longa que enfrentaria até o Hawaii.
Após a prova do vestido, passei no salão para incluir mais dois nomes
na minha reserva do dia da noiva e mamãe nos conduziu para casa. Faltavam
três dias para o casamento e eu precisava terminar toda a minha mudança até
o fim da noite, porque o avião que levaria minhas coisas para Nova Iorque
partiria de madrugada.
Assim que cheguei em casa, por longas horas, mergulhei na tarefa
exaustiva de separar o que iria levar, o que iria doar e o que ficaria na casa
dos meus pais. Arrumei as caixas, etiquetei e empilhei no corredor. Gates me
ajudou a transportar e quando tudo foi embora, comecei a fazer minha mala
de roupas para a lua-de-mel, em seguida a mala para o final de semana do
casamento, terminando extremamente exausta.
Tomei um banho e me joguei na cama, respondendo as mensagens
pendentes um pouco chateada que já fazia alguns dias que não conversava
direito com o meu futuro marido. Ele andava ocupado e me perguntei se seria
assim após o casamento. Me preparei para não esperar muito dele, mesmo
com todo o desejo, nós não nos conhecíamos profundamente e isso era
inquietante. Não o suficiente para me fazer ter medo, porque era bastante
persistente para quebrar todas as barreiras dele.
Meus últimos dias em casa foram preenchidos com melancolia e
muito grude com meus pais e minhas irmãs. Até dormi na sala em um grande
acampamento com elas. Não paramos de falar e rir a noite inteira, tirando
fotos, lembrando dos nossos momentos mais divertidos e prometemos nos
encontrar para termos momentos de irmãs sempre que possível.
Na manhã do meu jantar de ensaio, passei o dia no salão adiantando
alguns tratamentos necessários para o casamento. Pela lei, já era uma
Vaughn. A segunda Sra. Vaughn. Nicole, minha sogra, obviamente era a
primeira. A mãe do Sr. Vaughn faleceu no começo do ano passado e já era
bem idosa.
— A mamãe me pediu para conversar com você. — Bella sentou-se
ao meu lado após a minha depilação. Estávamos aguardando a nossa vez de
fazer as unhas. — Ela disse que você faz aquela cara de miss simpatia sempre
que tenta falar sobre o sexo. Como você já foi ao médico, está tomando
pílulas e eu sei que você sabe o que é transar, vou falar sobre o sexo no
casamento que é bem diferente do sexo namorando.
— É mesmo?
— Bem... Ele não vai embora depois. Vocês dormem na mesma
cama, dividem o mesmo quarto e se o seu marido não for egoísta, a coisa toda
não é rápida, envolve bastante preliminares, beijos... Outras coisas que
aquecem e levam um tempo. A noite passa em um piscar de olhos. — Sorriu
marota. — Como você terá uma criança em casa, talvez não seja muito
inteligente fazer sexo a noite toda, mas não pense que sexo se resume a papai
e mamãe, ao quarto e outras coisas. Se divirta, se dê prazer, dê prazer e não
permita ser uma boneca inflável viva. Goze bastante.
— Caramba, Bella. Estou pensando que você e o Jacob fodem como
coelhos.
— Quase isso. — Me provocou e eu ri. — Eu amo ser casada com
aquele homem.
Sorri e mantive a expressão neutra, porque não queria que ela pensasse
que me magoou falando do seu casamento, mas a Bella se casou por amor.
Ela e o Jake namoravam há anos e o casamento foi um conto de fadas. Eu
estava me casando por negócios, para salvar a nossa família do buraco e
precisaria lutar para tirar disso algo real e uma família. Estava assumindo a
responsabilidade de ser fonte de amor, conforto, estabilidade e paz para uma
menininha.
Eu seria como a mamãe. O pilar. Se eu falhasse... Vince iria falhar de
novo e por algum motivo, eu não queria que nós dois falhássemos em nossas
missões. Mesmo que não houvesse amor, queria que fosse um bom
relacionamento e com o tempo, talvez as coisas pudessem evoluir para nós
dois.
Meu cabelo estava escovado e liso, minha maquiagem era toda em
tons terrosos e estava usando as joias delicadas que a minha futura sogra me
deu de presente. Era um par de brincos de diamantes muito delicados, um
colar com três correntinhas finas e a cada correntinha tinha pedrinhas de
diamante, dando um brilho agradável ao meu pescoço. Ao invés de um
vestido, usava um macacão rendado que tinha uma saia bordada com um par
de sandálias prateadas de salto fino e tiras.
O jantar de ensaio estava sendo oferecido pelos meus pais e o quintal
estava realmente bonito com a linda decoração rústica que a minha mãe
escolheu. Não havia muitos convidados, apenas a família mais próxima,
como meus tios por parte de pai e mãe com seus respectivos pares, meus
primos mais velhos que quatorze anos e o mesmo para a família do Vince.
Decidi que seria desnecessário ter crianças no ensaio.
— Você está pronta, amor? — Papai bateu na porta do meu quarto.
— Sim, pai.
— Eu vou descer e te esperar lá fora. A maioria dos convidados já
chegou e o seu noivo está te aguardando lá embaixo. — Avisou e ouvi seus
passos se afastando.
Passei o meu gloss de cereja e me olhei pela última vez, pegando o meu
telefone e enfiando no bolso. Voltei para o quarto ao me dar conta que
esqueci de passar perfume. Finalmente pronta, desci a escada e o meu noivo
ergueu o olhar do telefone e sorriu, me analisando de cima a baixo com
bastante calma, mordeu o lábio e antes que chegasse ao último degrau,
agarrou a minha cintura porque estava na sua altura. Nossos narizes estavam
bem próximos e sorri.
— Oi, baby. — E me beijou.
Nossa... Podia estar brava por ele ter sumido e me tratado friamente por
mensagem, mas com aquele beijo, esquecia até o meu nome. E só de pensar
que no domingo estaria felizmente nua e em cima dele, meu coração
palpitava forte no peito. Ele desceu as mãos para a minha bunda, acariciando
no começo e segurei firme o seu cabelo, me aproximando o máximo e soltei
um gemido com o aperto gostoso nas minhas nádegas.
— Você está linda, noiva. — Segurou o meu rosto.
— Oi, noivo. Você está muito bonito.
— Só bonito? — Brincou e me deu mais um beijo.
— E gostoso. — Ele ficava muito bem com uma camisa social, jeans
e sapatos sociais. Era como se ele tivesse nascido para ser bonito, gostoso e
caber perfeitamente em um smoking de um jeito sexy. — Como está a Abby?
Estava louca para ter aquela menina nos meus braços e enchê-la de
beijos. Imaginava que era uma criança linda, mas ao vê-la pessoalmente, o
meu coração foi tomado. Abigail tinha as bochechinhas gordinhas,
naturalmente rosadas, uma pele clara, narizinho arrebitado e seus cabelos
loiros escuros como os meus. Seus olhos eram redondos, brilhantes e a
boquinha com os dentinhos mais lindos do mundo se exibiam quando abria a
boca para rir, tentar falar ou apenas gritar.
— Estava chorando quando saí. Ela vai ficar bem.
— Dê um beijo naquelas bochechas por mim. Eu juro que vou
morder as pernas dela...
— Você precisa ver seu ataque de riso por cosquinhas, é o momento
mais lindo e mais engraçado do mundo. — Ele sorriu e eu sabia que para
entrar na sua vida, eu precisava entrar na vida da Abby. E eu pretendia estar
na vida dos dois. — Acho que precisamos ir lá fora, ensaiar e jantar.
— Sim, precisamos.
Nos beijamos mais uma vez e passei o gloss novamente, usando o
espelho da sala como apoio e de mãos dadas, aparecemos no quintal. Nossos
convidados aplaudiram e antes de cumprimentar a todos, fomos conduzidos
ao jardim para algumas fotografias. Vince estava de bom humor, porque ele
dançou comigo quando o fotógrafo pediu, me beijou muitas vezes para a
repetição das fotos e eu tive algumas sozinhas enquanto ele fazia algumas
ligações de trabalho.
— Me enviem as fotografias sem edição. — Pediu ao fotógrafo sem
explicação.
— Estou enviando para o senhor agora mesmo. — Ele respondeu
prontamente.
— O que foi? — Olhei para o Vince.
— Estão dissecando sobre o nosso casamento, não quero nenhum
fotógrafo te perseguindo amanhã, então eu vou informar publicamente, fechei
um acordo com uma equipe, eles vão te fotografar a uma distância e vão
poder acampar do lado de fora da cerimônia, isso vai reduzir as loucuras e os
riscos que alguém se machuque. — Explicou e fiquei meio emburrada. —
Ninguém vai fotografar o nosso casamento, apenas do lado de fora.
— Tudo bem. Eu realmente não queria que as fotografias vazassem
antes que nós pudéssemos escolher...
— Não vai, prometo.
— Obrigada. — Apertei a sua mão e voltamos para o nosso jantar.
Foi maravilhoso reunir as nossas famílias e eu pude avaliar exatamente
como seriam os futuros eventos, o que fazer, o que servir e quem convidar.
Não podia esquecer que estava com os holofotes em cima de mim e com o
avanço da campanha não-oficial do meu sogro, seria responsável por muitos
eventos e alguns de alcance público. Minha família adoraria fazer parte do
círculo, mas se eles não se comportassem, não poderiam.
Para um jantar de ensaio, foi divertido. Dancei com meu pai, com meu
cunhado, me diverti com meu avô e todas as vezes que estive nos braços do
Vince, aproveitei. Era a minha última noite como uma mulher solteira, fiquei
tão nervosa que mal consegui dormir, mesmo com a minha mãe vindo me
verificar e por fim, ela decidiu me dar umas gotinhas de calmante para
conseguir relaxar.
Fui acordada por último, minhas irmãs já tinham comido e já estavam
prontas para o meu dia da noiva. A primeira parada foi o salão de beleza, no
qual fui recebida em uma área vip, com um lindíssimo café da manhã e com
os preparativos dignos de uma princesa. Após a massagem e o cabelo feito,
seguimos para o local do casamento. Vince estava se arrumando em casa,
para aproveitar todo tempo possível com a Abby e de tempos em tempos ele
me mandava fotografias com ela.
Quando me vi pronta, fiquei sem fôlego. Estava muito bonita. Meu cabelo
estava com um penteado tão charmoso, que deixava o meu pescoço todo à
mostra e uma joia delicada adornava o meu pescoço com uma pedra azul. Era
o meu algo azul, dado pela minha avó e o meu algo emprestado, era a liga
branca que a minha irmã usou em seu casamento, o algo novo, os sapatos
dados pela minha sogra e eu estava tentando seguir todas as tradições.
Quando as meninas desceram, fiquei sozinha com a minha mãe. Até a
fotógrafa saiu para me dar um momento de privacidade com ela. Ela estava
emocionada e muito linda com o seu vestido azul escuro. Seu olhar encontrou
o meu através do espelho e suspirou, colocando as mãos nos meus ombros.
— Você está tão linda, Aurora. — Falou baixinho, com a voz
embargada e seus olhos estavam brilhando. — Estou orgulhosa de você. Não
é o meu sonho, sei que muito menos o seu, mas também sei que você está se
doando pela nossa família e disposta a começar uma família. Saiba que você
sempre terá um lar e uma família que te ama incondicionalmente. Você está
indo e tem para onde voltar.
— Obrigada, mamãe. Eu amo você.
— Te amo muito, minha menininha. — Virei-me e nos abraçamos
bem apertado.
A organizadora bateu timidamente na porta e nós nos afastamos.
Minhas irmãs estavam esperando no corredor para me ajudar a descer as
escadas com o meu vestido. Papai estava parado no pequeno lobby antes do
salão que aconteceria a cerimônia. Seu olhar para mim era o mais
emocionado possível. Segurei a sua mão, dando um beijo leve na sua
bochecha para não manchar com o batom e nos posicionamos.
— Você está incrível, filha.
— Obrigada, papai.
As portas se abriram e eu respirei fundo antes de seguir, ouvindo uma
versão adorável de All You Need Is Love, canção dos Beatles. Meu
casamento não chegava a cem convidados e o que pude constatar
rapidamente era que não teve nenhuma falta. Todas as cadeiras pareciam
preenchidas e eu podia manter o meu olhar no Vince, me aguardando com
um sorriso bonito enfeitando seu rosto. Sonhei que o meu marido choraria
com a minha entrada, que ele se derreteria ao me ver de noiva e teria os olhos
brilhando de paixão, mas eu fiz a minha escolha e aquele sorriso era mais do
que imaginei receber nas circunstâncias do nosso matrimônio.
Meu pai me entregou ao Vince, pedindo com a voz embargada que ele
cuidasse de mim.
— Eu cuidarei, Sr. Sinclair. — Vince foi doce e respeitoso, ele não
era obrigado a isso. Seu olhar encontrou o meu. — Você está deslumbrante,
Aurora. — Beijou os nós dos meus dedos.
— Você também, Sr. Vaughn.
— Obrigada, Sra. Vaughn.
A cerimônia foi muito bonita, curta e doce. Eu não queria uma longa
cerimônia, apesar do Pastor Joseph me conhecer desde o berço, não havia
sentido em fazer uma mensagem baseada no amor de um casal que estava em
um relacionamento há pouquíssimos meses. Ele nos declarou marido e
mulher, Vince me deu um beijo suave e gostoso até ouvirmos os aplausos dos
nossos familiares e amigos.
Me tornei uma mulher casada.
— Seja bem-vinda ao meu mundo, Sra. Vaughn. — Vince
cochichou no meu ouvido e segurou o meu queixo, me beijando de verdade,
um tipo que poucas pessoas fariam na frente de um público tão conservador.
Um beijo desafiador e eu aceitei o desafio.
Ergui o meu vestido, dançando até o chão com as minhas irmãs, rindo e
me jogando ao som das batidas do funk. Coloquei as minhas mãos nos
joelhos, quicando com a Bella e a Jasmine. Snow estava rindo e filmando,
mas ela sabia que não podia publicar tudo. Meus pais estavam rindo, porque
eles sabiam que não podiam nos controlar em uma festa e desviei o olhar para
o meu noivo que parecia muito interessado na maneira que a minha bunda se
mexia. Ele deixou a taça de espumante em cima de uma mesa e invadiu a
pista de dança, me pegando pela cintura e dançando comigo.
Rebolei contra ele, virando de frente e joguei os meus braços no seu
pescoço, abraçando-o e ele me ergueu pela cintura, rodando na pista, me
fazendo rir. Nós já tínhamos passado por quase todas as obrigações: fotos,
dança, cumprimentar os convidados, o jantar e em pouco tempo iríamos jogar
o buquê, a liga, cortar o bolo e então subiria para trocar de roupa.
Partimos o bolo e voltamos a dançar.
— Sra. Vaughn, é hora de jogar o buquê. — Vince me deu mais um
beijo e me colocou no chão. O DJ reuniu as mulheres solteiras e minha mãe
obrigou a Snow a participar. Emburrada, de braços cruzados, me deu um
olhar ameaçador caso decidisse jogar para ela. Eu peguei o buquê da Bella e
realmente fui a próxima a casar.
Rindo, mirei na Eloisa, mordi o lábio e joguei. Ela pegou, assustada e
uma prima minha quase arrancou da sua mão, mas elas se contiveram a
tempo. Ergui a barra do meu vestido para mostrar que coloquei o nome da
mulherada que estava louca para casar e colei um floco de neve só para
deixar a minha irmãzinha nervosa. Sentiria muita saudade de vê-la pisando
duro pela casa.
Após o buquê, os homens solteiros se reuniram para pegar a liga. Ergui
a minha perna na coxa do Vince, ele franziu o cenho, olhando para minha
perna e em seguida para a quantidade homens ao redor, que se misturavam
entre o seu melhor amigo e padrinho, o simpático e muito engraçado Carrick
Flynn Jr. e os nossos primos. Um dos seus primos assobiou para a minha
coxa, Vince o olhou, abaixou o meu vestido e de supetão me pegou e jogou
sobre os seus ombros como um saco de batatas saindo da pista de dança.
Registrei o olhar chocado da minha mãe e a risada generalizada. Ele me
colocou no chão antes de subir a escada e não conseguia parar de rir.
— Dá azar não jogar a liga. — Comentei reunindo a minha saia longa
para subir.
— Eu não me importo, mas aquele bando de tarados não ia ficar com
ela.
Rindo, empurrei a porta da suíte que nossas roupas estavam arrumadas.
Ele fechou a porta e trancou, abrindo os punhos da camisa social e eu parei
na frente do espelho, me inclinando e começando a soltar o meu cabelo,
dando um jeitinho rápido em mantê-lo arrumado preso na parte de cima e
fluído embaixo. Parei de me olhar quando vi o Vince passear de cueca pelo
quarto.
— Continue me olhando assim e nós vamos começar a lua-de-mel
agora mesmo.
— Acho que temos um voo para pegar. — Soltei um riso nervoso.
— Não seria um avião?
— Tanto faz. — Bufei e mordi o lábio. — Você precisa me ajudar com
o vestido.
— Preciso estar vestido para tirar a sua roupa. — Vestiu a calça jeans e
eu ri, começando a guardar minhas coisas, abrindo a mala e organizando tudo
enquanto ele se vestia. Pronto, parou atrás de mim e começou a soltar botão
por botão com paciência. — Porra, eu sabia que tinha que me vestir, mas pelo
visto deveria estar fora desse quarto. — Seu dedo passou pela tira fina da
minha calcinha.
— Paciência, Sr. Vaughn. — Provoquei e me livrei do vestido, pegando
a minha necessaire e indo até o banheiro com a capa do meu outro vestido.
Usei o sanitário, troquei as minhas roupas íntimas porque estava suada e não
ficaria horas dentro do avião com a mesma calcinha.
Meu vestido branco era simples, modelo princesinha, com a saia
volumosa e escolhi um sapato nude para manter a casualidade. Retoquei a
maquiagem, renovando meus cremes e perfumes porque não daria tempo para
tomar banho e voltei cheirosa para o quarto. Vince estava sentado na cama,
joguei minha bolsa dentro da mala e ele me puxou para ficar entre as suas
pernas.
Abaixei o meu rosto, sorrindo contra a sua boca e fiz o que tinha
vontade desde o primeiro dia que coloquei os meus olhos sobre ele. Baguncei
aquele cabelo e tomei a sua boca. Ele era meu marido, eu podia. Vince soltou
um gemido rouco, subindo as mãos por trás das minhas coxas por dentro do
meu vestido e quando estava prestes a tocar minha bunda, batidas bruscas
soaram na porta.
— Estou cansada de ser a eleita em acabar com a pegação, por favor,
parem de foder e desçam. Está tudo pronto para irem embora! — Cleo socou
a porta mais algumas vezes.
— Foda. — Ele grunhiu.
Sorri e fechei as minhas malas, guardando tudo e revisando. Vince
ajeitou a calça, abrindo a porta e entregou ao Gates, que desceu na frente para
levar as minhas coisas para o carro. Vince e eu saímos de mãos dadas, ao
descermos a escada, convidados estavam espalhados para jogar pétalas de
rosas. Abracei meus pais muito apertado e ambos me beijaram muito.
— Eu amo vocês mais do que tudo. — Sussurrei para os dois.
— Nós te amamos, Aurora. — Papai me abraçou.
Minhas irmãs me agarraram ao mesmo tempo e prometemos que nos
falaríamos todos os dias. Esperava poder cumprir essa promessa. Me despedi
dos pais e das irmãs do Vince, ainda me sentia um pouco retraída ao redor
deles, mas eu sabia que precisaria me acostumar ou no mínimo agir com
naturalidade.
Vince me segurou para sairmos e ri da chuva de arroz misturada com as
pétalas somando com a gritaria dos fotógrafos do lado de fora. Os flashes me
deixaram meio confusa e o Gates abriu caminho assim como o Vince, me
protegendo e guiando nos degraus da antiga igreja, que se tornou um hotel
para casamentos. No carro, olhei para minha família com o coração
apertadinho.
— Você vai vê-los em breve e a sua família pode nos visitar sempre
que quiser. — Vince prometeu e assenti, mas não seria a mesma coisa e eu
precisava me acostumar com isso.
Na viagem até o aeroporto, Gates manteve o silêncio e foi discreto com
os beijos que estavam rolando no banco de trás. Nunca havia passado para a
área particular do aeroporto e fiquei meio impressionada com a aeronave
branca com um V em dourado na lateral. A escada estava coberta com um
tapete vermelho e a tripulação alinhada do lado de fora.
Vince saiu e eu reparei a mudança da sua postura. Ali ele era o chefe, o
dono de tudo e eles os seus funcionários. Gates descarregou as malas e
esperei até o Vince abrir a porta para mim, segurar a minha mão e depois de
me apresentar ao piloto e comissário, me conduziu para dentro da aeronave.
Abby estava seguramente dormindo em uma cadeirinha, enroladinha e com
uma ursinha rosa nos braços.
Uma jovem mulher de cabelos pretos e olhos castanhos escuros me deu
um sorriso inseguro antes de esticar a mão e se apresentar como Hayley, babá
da Abby e então, uma senhora com um jeito amável se apresentou como
Agatha, governanta da família. Da minha família. Ambas nos parabenizaram
pelo casamento e eu fiquei meio sem graça que elas não estavam lá, agradeci
e não falei muito mais.
A primeira hora da viagem foi tranquila. As luzes ficaram acesas, cobri
as minhas pernas com um cobertor, tirei os sapatos e conversei baixinho com
o Vince sobre o casamento. Em algum momento nós dois adormecemos e
acordamos com a Abby choramingando. Acostumada a dormir com crianças
no meu trabalho de babá, mesmo desorientada, me estendi a ela e parei, sem
graça, percebendo que ela ainda não me conhecia direito. Para minha
surpresa, não chorou.
— Está tudo bem, você pode ficar à vontade com ela. — Vince me
garantiu. A mamadeira dela estava pronta e foi previamente aquecida pelo
comissário, a peguei, após um agradecimento. Abby não queria conversar,
estava com fome e aceitaria qualquer coisa pela maneira que agarrou o corpo
da mamadeira levando o bico à boca.
— Desculpa, é automático.
— Ela vai sujar o seu vestido. — Hayley comentou preocupada.
— Não tem problema, é só um vestido. — Garanti. Eu sabia que seu
uniforme era prático, o tipo de roupa que eu usaria, mas não tão em branco.
Talvez pudesse mudar isso, porque além de ridículo, a roupa branca era como
um papel para as crianças. Elas eram capazes de nos sujar com coisas que até
Deus ficaria surpreso.
Abby era o tipo de criança que te fazia querer agarrá-la o tempo todo.
Minha mãe sempre me disse que a minha paixão pelos pequeninos era
bastante peculiar já que ela, mesmo sendo professora, não tinha muito. Gostar
de crianças, ser boa com elas e ser mãe eram coisas totalmente diferentes e
sempre senti isso no meu coração, porque era a única dentre as minhas irmãs,
amigas e primas que falava sobre filhos antes mesmo de falar sobre maridos.
Desejava ardentemente ser uma boa mãe para Abby mesmo que não
fosse uma boa esposa para o Vince. Ele era adulto, podia se virar, mas aquela
linda garotinha foi deixada. Me perguntava o que a mãe dela sentiu, porque
nada parecia justificar abandonar um filho. Talvez ela soubesse que não
poderia cuidar da filha – mas o Vince tinha condições de lhe dar suporte para
isso. Ou talvez ela tenha entendido que a Abby estaria mais segura com o pai.
Mas por que não aparecer nunca mais? Por que não visitar a própria filha que
foi gerada em seu ventre?
O que realmente aconteceu com essa mulher?
Abby adormeceu novamente e Vince lhe deu um beijo antes de
devolver para a cadeirinha. Ele voltou para sua cadeira, relaxado e a Hayley
para o seu lugar atrás de nós. Peguei no sono novamente, acordando na
primeira parada e fui ao banheiro, ainda estava maquiada, mas com os olhos
inchados de sono. Quando decolamos de novo, a pressão e o solavanco fez
com que a Abby chorasse e seu pai lhe deu um suco, para ajudar com os
ouvidos e distrair dos efeitos da decolagem.
Toda viagem foi extremamente cansativa, quando pousamos e todos os
procedimentos foram terminados, fiquei ansiosa para sair logo. Meu vestido
estava me machucando, minha calcinha sexy de lua-de-mel se perdeu na
minha bunda e eu estava desesperada para tirar toda aquela maquiagem. Dois
carros nos aguardavam com a equipe de segurança local que Vince contratou.
Eu, ele e a Abby fomos em um carro com o Gates e mais um homem,
chamado Tim, ele era local.
Estava sem sono embora muito cansada, o dia estava tão bonito,
ensolarado, mil vezes mais quente do que estava acostumada e a Abby estava
atenta a tudo. Vince enviou algumas mensagens, peguei o meu telefone e o
liguei pela primeira vez. Levou um tempo para conseguir enviar mensagens
aos meus pais avisando que estava bem e finalmente em terra. Dei uma
olhada nas redes sociais, recebi milhares de felicitações sobre o casamento.
Algumas fotos printadas das redes sociais dos convidados já estavam
circulando na imprensa assim como as fotos feitas por paparazzi. No
instagram do Vince tinha muitos comentários na sua última foto, pessoas
perguntando quando ele postaria algo e eu acho que nunca me acostumaria
com o fato que da noite para o dia, bati a marca de um milhão de seguidores.
Eu tinha dois mil antes de conhecer o Vince.
— Uau! — Suspirei ao ver a linda casa que ficaríamos hospedados.
Ficava um tanto afastado de todos os prédios, como se estivesse na ponta de
uma pequena ilha e tinha uma praia particular. Era enorme. — É linda... Um
paraíso.
Vince sorriu, me ajudando a sair do carro e me inclinei na sua frente
para tirar a Abby da cadeirinha. Ela veio no meu colo sem nenhuma
dificuldade, sorridente e mostrei a ela o mar, a piscina e todo espaço enorme
para brincar. Empolgada, quis descer e a Hayley a levou pelo gramado.
Entramos na casa e havia uma senhora uniformizada lá.
— Sejam bem-vindos, Sr. e Sra. Vaughn. Sou Elena, responsável pela
propriedade. — Esticou a mão e apertei. Vince deu um aceno. Certo... —
Gostaria de um tour detalhado das dependências, Sra. Vaughn?
— Isso será comigo. — Agatha se adiantou. — Sou Agatha Jones,
governanta da família.
Deixei que as duas saíssem, olhei a Abby sentada na grama na parte da
frente e decidi que poderia sair daquela roupa, me refrescar, comer alguma
coisa e fui em direção à escada. Levei um tempo para me orientar até o quarto
principal, que era uma beleza e decidi que o quarto da Abby poderia ser o
mais próximo. Pedi ao Gates para colocar todas as coisas dela ali dentro e em
seguida, entrei no principal, abrindo a minha mala e pegando as minhas
coisas íntimas.
O sol estava muito forte para ficar na praia com a Abby ou até mesmo
sozinha, já que não estava acostumada. Tomei um bom banho, sem ter ideia
de onde Vince se enfiou e vesti uma camiseta azul escura, com short jeans e
chinelos. Deixei o meu cabelo molhado, tirei o que sobrou da maquiagem
fazendo uma limpeza profunda e finalizei com um sérum.
Desci a escada me sentindo outra pessoa, eu podia até dançar sem
aqueles cílios irritantes nos meus olhos e os vinte quilos de base. Alguém
ligou a climatização da casa, estava uma delícia. Na cozinha, encontrei
Agatha e a Hayley com a Abby sentada em uma cadeira alta comendo uma
banana amassada.
— Gostaria de um café da manhã, Sra. Vaughn? — Agatha me
ofereceu. — A responsável pela residência fez algumas compras para a casa
principal.
— Você pode me chamar de Aurora quando estivermos apenas nós,
com visitantes ou algum membro da família, pode ficar dentro da etiqueta, sei
que faz parte do seu escopo de trabalho. — Ela sorriu e assentiu. — Você
também, Hayley. — A babá concordou com um sorriso nervoso. Ela estava
com medo de mim, a nova patroa que ambas não faziam ideia do que esperar.
— Imagino que conheceram suas acomodações?
— Sim, nós duas vamos ficar na casa de hóspedes mais próxima.
— E têm tudo que precisam lá?
Agatha sorriu.
— É como um palácio a casa de hóspedes.
Olhei ao redor, aquela casa era incrível e podia imaginar como eram as
outras.
— Hoje vocês duas vão ficar de folga. Foi uma viagem muito cansativa
e precisam descansar. Amanhã podemos começar com calma, nos sentar para
fazer uma lista de compras, ir ao mercado e quem sabe até passear um pouco.
— Avisei e elas me olharam surpresas. Eu não ia dar espaço para discussões.
— Se precisarem de qualquer coisa, podem nos procurar ou ao Gates.
Aproveitem a piscina ou a praia, durmam, enfim, fiquem livres para relaxar.
Agatha não conseguia disfarçar a surpresa e a Hayley o alívio, porque
deveria estar exausta. Peguei a colher para terminar o café da manhã da
Abby, que aceitou alguns biscoitos e suco após a sua fruta. Limpei a sua
boquinha, lavei a louça e a tirei do cadeirão. Seu olhar estava desconfiado,
principalmente quando percebeu que estava sozinha comigo e quando seu
lábio inferior se projetou para fora da maneira mais fofa possível, fui rápida
em distraí-la.
— Vamos tirar esse monte de roupas e guardar as nossas coisas,
mocinha. Depois vamos a praia!
— Papai?
— Eu gostaria de saber. — Cantarolei com um sorriso.
Fechei a porta do quarto dela para que não fugisse e abri a sua mala de
brinquedos. Abby praticamente se jogou dentro e ficou me seguindo, ouvindo
a minha voz, rindo das minhas perguntas e repetindo as palavras como uma
espécie de papagaio muito fofo. Eu tinha que tomar cuidado com os
palavrões, era impressionante o quanto ela repetia muito bem. Ela era teimosa
e mexia em tudo como toda criança de um ano e meio.
Tentei não rir quando se irritou ao tentar enfiar uma boneca em uma
gaveta pequena demais. Só de fralda e camiseta, ficou empurrando com toda
a sua força.
— Não cabe aí, que tal colocar aqui? — Ofereci uma maior.
— Aurora? — Ouvi o Vince chamar.
— Aqui! Porta fechada! — Respondi e logo ele abriu a porta do quarto.
— Papai! — Abby gritou de alegria.
— Oi, amor. — Ele abaixou e a pegou. — Ajudando na tarefa de
desfazer as malas? — Beijou a sua bochecha e levantei-me do chão. As
roupinhas estavam guardadas, fraldas e o berço portátil eu não sabia montar.
— Onde está a Hayley?
— Ela e a Agatha foram dispensadas para descansar. Eu vou preparar
algo para comermos e depois nós duas iremos à praia.
— Fui excluído? — Me deu um olhar brincalhão e meio avaliador.
— Não. Sei que está aqui a trabalho e como não me passou a sua
agenda... — Arqueei a sobrancelha.
— Já no comando de tudo, Sra. Vaughn? — Ele se inclinou e beijou os
meus lábios.
— Não é para isso que estou aqui, Sr. Vaughn?
— Vou te passar a minha agenda, estava alinhando as questões de
segurança com o Gates e os demais.
— Certo. Então, vai se refrescar que nós duas estaremos na cozinha,
quando subir irei desfazer as nossas malas. Optei por arrumar as coisas dela
primeiro, só não sei montar esse berço e o carrinho. — Apontei para os itens
no canto.
— Eu vou montar. Preciso tomar um banho, te encontro na cozinha.
Abby se distraiu com os utensílios que dei a ela para brincar. Toda
criança adorava brincar com coisas que não eram brinquedos, principalmente
coisas de cozinha. Ela bateu repetidas vezes com uma colher de silicone no
balcão, rindo da sua travessura e enquanto fritava os ovos, me dei conta que
aquela era a minha vida. Casada e responsável por aquela criaturinha fofa.
— Pão! — Abby apontou para o saco e lhe dei uma fatia para comer.
Sua mãozinha segurou firme, mordendo e fiz torradas. Vince apareceu na
cozinha, de bermuda, camisa branca, cheiroso e com os cabelos molhados.
Ele pegou a colher de silicone dela, que ia bater firme no balcão. — Não, é
meu!
— Não é muito ideal que ela brinque com coisas que não sejam
brinquedos. Ela vai querer sempre.
— Acostume-se, nem sempre ela vai querer brincar com o que deve e
são só utensílios de cozinha. Quando ela começar a bagunçar será o momento
de começar a ensinar a guardar, com paciência, é claro. — Arrumei os pratos
na ilha e o encarei. — Ela assiste televisão ou tem contato com telas?
— A Hayley costuma colocar desenhos para ela se distrair.
— Tudo bem, mas eu gostaria que tivesse um horário e a noite, de
nenhuma maneira será acostumada a dormir assistindo algo. — Comentei
servindo os ovos, ele serviu café nas canecas e riu. — O que foi?
— A senhora é mandona. — Brincou e dei a língua. — Muito maduro.
— Me provocou. — Tudo bem... Abby ainda não mostrou muita fixação por
televisão, ela gosta de música e livros coloridos. Geralmente sou eu quem a
coloca para dormir, um pouco mais tarde do que gostaria, como não tenho
costume de ficar assistindo televisão, ela acaba não assistindo também.
— Ótimo. — Concordei do meu jeito autoritário, isso o fez rir ainda
mais.
— Parece que a propaganda de jovem, doce e quietinha foi enganosa.
— Eu sou jovem, doce e não sei de onde tirou o quieta. — Rebati e ele
segurou o meu rosto, me beijando. Suspirei porque estava louca por mais e
ainda parecia um longo tempo até o anoitecer.
Olhei para a aliança no meu dedo e ainda era estranho estar usando um
anel como aquele novamente. Dessa vez o aro era mais grosso, ouro branco e
com o nome da Aurora gravado no seu interior. Abaixei a minha mão ao
olhar a minha nova esposa voltar do oceano carregando dois baldinhos de
água e a minha filha estava parecendo um pequeno bife à milanesa, com seu
maiô roxo com florzinhas amarelas e uma pazinha rosa nas mãos. Aurora
ajoelhou na areia onde a Abby sentou-se e elas voltaram a brincar.
Ainda estava me perguntando se toda essa ligação com a Abby era
forçada, para me agradar ou se era o seu jeito. Aurora tinha milhares de cartas
de recomendações como babá e era até muito disputada. Eu ouvi lamentos
sobre ela não estar trabalhando mais em um jantar. Uma das esposas de um
deputado disse que seus filhos eram muito agitados e a Aurora conseguia
mantê-los calmos, entretidos, era como se a voz dela fosse uma canção de
ninar.
A Abby estava desconfiada, mas ela estava se vendendo por comida
e brincadeiras. Aurora sempre explicava o que elas iriam fazer e como.
Falava com a minha filha reconhecendo a sua pequena presença com afeto e
paciência. E em alguns momentos, agia assim comigo, como se eu fosse uma
criança que ela precisasse explicar alguma coisa. Esperava que as duas se
dessem bem, a Abby poderia ser feliz sem uma mãe, porque eu a amava mais
do que tudo no mundo e por isso, eu sabia que ela merecia ter um amor
maternal. Aurora não parecia ter essa dificuldade.
Ergui meu telefone e tirei uma foto das duas cavando a areia. Aurora
estava com um biquíni vermelho que era um atentado ao pudor. Apesar da
praia ser praticamente particular porque não havia outro acesso além da
residência, haviam homens na casa dos seguranças e a calcinha do seu biquíni
era minúscula. Literalmente um triângulo expondo as suas nádegas perfeitas,
redondas e durinhas. A parte da frente cobria o essencial. Seu corpo era muito
mais bonito do que imaginava, seios pequenos, uma cinturinha fina e coxas
torneadas.
Era obviamente jovem, mas era gostosa. Sem roupas, melhor ainda.
Eu estava com tanto tesão que meu pau estava a meia bomba sem nenhum
esforço e me perguntei por quê. Não ficava assim há muito tempo. Depois do
divórcio, todas as minhas transas foram boas, não memoráveis, apenas boas.
E eu estava com tesão desde cedo sem que a Aurora tenha feito qualquer
coisa, nós mal nos beijamos depois do casamento.
Enviei uma mensagem para o Flynn.
“O que tinha nessas cápsulas que você me deu?”
O idiota levou um minuto para responder.
“Não leu o rótulo?”
Babaca.
“Tinha um monte de nome científico, não, eu não li”.
Flynn era um filho da puta.
“Deveria ter pesquisado”.
Irritado, peguei a porra da foto que tirei do frasco e pesquisei nome por
nome científico. Aurora me pediu água e entreguei, aproveitando para passar
a mão na sua bunda e dar uma mordida suave no seu quadril porque eu não
conseguia mais me conter. Voltando para minha pesquisa, eu vi que o idiota
me deu uma cápsula de estimulante vitamínico no qual um dos componentes
era um estimulante sexual. Era por isso que eu não estava cansado da longa
viagem e quase tirando sangue do nariz.
“Eu vou te matar”.
“Como seu médico e melhor amigo, me certifiquei que a sua jovem (e
provavelmente virgem) esposa não ficasse frustrada com a sua falta de
interesse sexual devido ao seu cansaço extremo nos últimos meses e baixa
produção hormonal. Agora seu sangue quente está prontíssimo para foder.
De nada.”.
Não me dignei a responder. Flynn era meu amigo desde que me
entendia como pessoa. Ele era um cirurgião, mas me atendia quando
precisava e passava alguns exames. Reclamei que não me sentia mais o
mesmo já havia alguns meses e ele me passou uma série de exames, com o
resultado, intensifiquei minha rotina de exercícios, voltei a dormir cedo e
tomei um primeiro suplemento vitamínico junto com uma série de batidas
proteicas por causa da academia.
Antes do casamento ele me entregou essas cápsulas manipuladas e eu
tomei depois de reconhecer alguns nomes científicos. Meu sangue estava
fervendo pela Aurora e ela não fazia ideia, rindo e brincando com a minha
filha na areia. Decidi tirar a minha mente da sarjeta e me juntei a elas na
brincadeira. Abby me entregou uma pazinha, me pedindo para cavar e ajeitei
o seu chapéu antes de acatar a sua ordem.
Eventualmente, ela cansou de brincar na areia.
— Cadê bola, papai?
Estiquei o meu braço e peguei a sua bola azul.
— Vem, vamos jogar.
— Vou dar um mergulho para lavar toda essa areia. — Aurora ficou de
pé, se batendo um pouco e a Abby quase foi atrás dela – e eu também – para
o mar, mas consegui distraí-la a tempo, sem chorar.
Abby estava desenvolvendo a sua coordenação motora muito bem, mas
jogar bola na areia fofa a fez cair muitas vezes e em uma delas, começou a
chorar de um jeito que eu sabia que era sono. Aurora ainda estava
mergulhando como um peixinho e era fim de tarde, horário da soneca da
Abby. Entrei com ela no mar, na parte rasa, para lavar toda a areia e saí
rapidamente, envolvendo-a em uma toalha.
Aurora saiu do mar, espremendo o cabelo e olhei para as gotas
escorrendo pelo seu corpo e os mamilos arrepiados.
— Vamos entrar? Está começando a ventar. — Pegou uma toalha e se
enrolou. — Vai entrando com ela que eu vou recolher essa bagunça.
— Vamos fazer o contrário. Não quero que fiquem resfriadas, eu vou
recolher tudo, encontro vocês lá em cima. — Me inclinei e beijei seus lábios.
— Tudo bem.
Aurora pegou a Abby e foi fazendo gracinha. Minha filha gritou e quis
descer, indo na frente, andando com as mãos apontando por todo lado e eu
não conseguia ouvir o que estava dizendo, mas seja lá o que fosse, fez a
Aurora sorrir e pegar a mãozinha dela. Elas sumiram dentro da casa, recolhi a
bagunça, dobrando as toalhas na bolsa, as garrafas de água, pacotes de
biscoito e protetor solar, lavando todos os brinquedos e guardando na grande
bolsa transparente.
Deixei tudo na lavanderia, lavando as mãos na cozinha e preparando a
mamadeira da Abby, que provavelmente dormiria após o seu banho e mamar
ajudaria a manter sua soneca longa o suficiente para os meus planos. Que
minha filha me perdoasse, mas o papai precisava brincar com a Aurora
também.
Ouvi o som do chuveiro no nosso quarto e a vozinha suave da Aurora.
Entrei no banheiro e parei com a cena. Abby estava quase adormecendo no
colo da Aurora debaixo do chuveiro. Seus olhos estavam fechados e ela
estava relaxada. A água quente caía nas duas, que balançavam de um lado ao
outro. Aurora estava nua, abraçando a minha filha, dando amor e carinho.
Vê-la com a minha filha foi uma tijolada no rosto, cheguei a ficar tonto.
Abby nunca foi segurada daquela maneira por ninguém além de mim.
— Ela pediu a mamadeira. — Aurora comentou e eu não sabia se as
suas bochechas vermelhas eram pelo vapor do chuveiro ou por estar nua na
minha frente. — Desculpa estar sem roupa na frente dela, mas é que não fez
nenhum sentido ficar de biquíni se nós duas somos meninas. — Sorriu
timidamente.
— Isso não é um problema. — Porra, definitivamente não era.
Peguei a toalha grande, girando a torneira e envolvi as duas. Aurora
pegou a mamadeira e sentou-se na almofada ligada à banheira, amamentando
a minha filha. Encostei na parede, quase sem ar.
— Você tem muita experiência com crianças.
— Comecei a trabalhar como babá aos quinze anos e eu logo tive uma
carteira de clientes bem cheia. — Comentou sem desviar os olhos da Abby.
— Sempre gostei de crianças, elas só precisam de amor, carinho e atenção.
São mágicas, se você prestar bem atenção. A magia se perde quando se
tornam adolescentes, porque a Snow ficou nojenta. — Brincou e eu sorri,
ainda sentindo um nó na garganta. — Ela está quase terminando.
— Deixe-me levá-la para o seu berço. — Abaixei e peguei a Abby
dormindo tão pesado que nem protestou.
— Eu vou continuar o meu banho. — Aurora avisou e saí do quarto
com a minha filha. Coloquei a sua fralda com cuidado, vesti uma camisetinha
e isso fez com que chorasse, mas logo voltou a dormir aninhada no meu
peito. Esperei que suas mãozinhas caíssem para colocá-la no berço. Encostei
a porta do seu quarto, ligando a babá eletrônica e voltei para o meu quarto.
Aurora ainda estava no banho e minhas pernas me levaram ao banheiro,
encostei na soleira e ela reparou em mim, tirando um pouco de água dos
olhos. Eu queria ser aquelas gotas e poder estar em todo maldito lugar do seu
corpo.
— O que foi? — Ela perguntou baixo e respirou fundo.
— Posso entrar aí?
— Sim...
Puxei o laço do meu calção de banho, tirei e fiquei nu. Meu pau não
estava nada comportado. Aurora mordeu o lábio sem desviar o olhar e deu
um passinho para trás quando pisei na área do chuveiro.
— Porra, está muito quente. — Fugi do chuveiro, ela riu e agarrei a sua
cintura. — Não precisamos cozinhar aqui. — Abri um pouco a torneira da
água fria. — Vem aqui, baby. — Comecei o beijo devagar, porque existia
uma parte da minha mente que dizia que deveria ir com calma. Aurora tinha
outros planos. Ela arranhou a minha nuca, me puxando para ainda mais perto
e a ergui, envolvendo as suas pernas no meu quadril. Ela rebolou contra o
meu pau, sedenta, gemendo cada vez que tinha o seu clitóris pressionado.
— Vince... — Gemeu, escorregando um pouco e desliguei as torneiras
e mesmo molhados, andei até o quarto. Coloquei-a na cama, tomando meu
tempo em explorar seu corpo com a língua, chupando seus peitos bonitos,
provocando os mamilos pequenos, delicados e levei a mão para entre as suas
pernas, tocando sua buceta, sentindo o quão estava molhada.
Aurora ficou arrepiada, gemendo e afastou os joelhos para me dar
ampla visão dos seus grandes lábios molhados, o clitóris inchado e a trilha de
pelos curtos. Minha boca encheu de água, olhei para o seu rosto e só havia
expectativa. Ela me queria e eu não conseguia lembrar a última vez que
realmente senti vontade de chupar uma buceta. Eu chupei, por chupar, mas
sem tesão. Aurora me fazia sentir febril.
Ela gritou, um gemido alto e gostoso, segurando o meu cabelo e não
levou muito tempo para começar a balançar o quadril contra a minha língua.
A minha mulher gostava de ser chupada e eu me certificaria de manter a
minha língua nas suas dobras tanto quanto fosse humanamente possível.
Aurora gozou, agarrando o lençol, se contorcendo e mostrando que a sua
boca bonita era muito suja.
— Você gosta disso, sua safada... — Gemi com seu peito na minha
boca. — Deus, eu quero tanto você.
Aurora beijou a minha boca sem nenhum nojinho de sentir o seu gosto,
mas eu percebi que era a primeira vez. Seus olhos brilharam nos meus.
— Quero você.
Entrei devagar ao sentir que ela era muito apertada. Agarrou o meu
braço, fazendo uma expressão meio dolorida. Parei para dar-lhe um tempo,
respirando fundo e tentando manter o controle da situação, mas além de fazer
um bom tempo que não transava sem camisinha, fazia muito tempo que não
sentia tanto prazer. Aquilo me fez perceber que fiz sexo por fazer nas últimas
vezes, por vaidade e por necessidade, não por tesão.
— Pare de se conter, estou bem. — Aurora gemeu.
— Não quero te machucar.
— Para de se controlar comigo, por favor. — Choramingou e beijei a
sua boca. — Vince... Me fode logo.
Caralho.
E eu fodi. Porra... E como fodi. Aurora gritou, me prendendo com as
suas pernas, aceitando as minhas estocadas. Porra, fazia tanto tempo, que eu
não consegui segurar. Minhas bolas se apertaram e gozei violentamente.
Ergui o meu rosto, sendo contemplado com um sorriso maravilhado. Aquele
sorriso me fez sentir o homem mais incrível do mundo.
— Você está bem?
— Estou perfeita. E você?
— Meu cérebro é incapaz de desenvolver um pensamento coerente. —
Murmurei contra o seu peito, levando o mamilo a boca e provoquei com a
minha língua.
Ficamos aos beijos na cama, mãos bobas e eu não aguentei de
curiosidade, perguntando sobre sua vida sexual. Porque ela não era virgem,
não parecia muito experiente, mas sabia o que fazer e como fazer. Contou
que teve um namorado por dois anos e que de vez em quando, eles faziam
sexo. Não foram muitas vezes porque seus pais marcavam em cima, então,
todas as vezes foram rápidas e confusas.
— E você? Namorou alguém depois da sua ex-mulher? — Apoiou o
queixo no meu peito. Seu olhar era apenas curioso e não tão ciumento quanto
eu fiquei ao pensar em um merdinha adolescente tocando seu corpo perfeito e
ainda por cima, sem fazê-la gozar. Sequer tinha o direito de me sentir
ciumento, nós não estávamos juntos ainda.
— Não. Tive alguns casos, mas não foram muitos. Entre o trabalho e a
Abby, tinha sorte de permanecer acordado por mais de uma hora depois do
jantar.
— Quando foi a última vez? — Arqueou a sobrancelha.
— Hum...
— Relaxa... Eu só quero saber a última vez... — Foi escorregando na
nossa cama e puxou o lençol. — É tão legal poder tocar alguém sem ter o
medo de ser pega. — Riu e revirei os olhos. — Não vai me responder? —
Olhou em meus olhos, agarrando o meu pau e deu uma boa lambida. Fechei
os olhos, suspirando. Cacete. — Vincent Vaughn... Me responda quando fizer
uma pergunta. — E enfiou meu pau inteiro na boca, chupando e soltando com
um estalo. Seus olhos se arregalaram com a minha reação.
— Você nunca fez isso, não é? — Grunhi.
— Não. Estou experimentando. — Sorriu timidamente. — Está bom?
— Chupa as minhas bolas.
— Me responda. — Ordenou e lambeu a cabeça, provocante.
— Foda-se. — Murmurei segurando seu cabelo.
Aurora ficou de joelhos, respirou fundo e me enfiou todo na boca,
levando até a garganta e soltando devagar. Seu olhar vitorioso me fez sorrir.
Eu queria que fizesse de novo, suspirei e mordi o lábio.
— Seis meses.
— Sério?
— Qual a maldita surpresa?
— Você é um homem, bonito, físico em dia e... Seis meses. Eu não
ficaria. Se não fosse os meus pais no meu pé, faria sexo o tempo inteiro,
porque se o que fizemos foi uma pequena amostra, espero que a gente faça o
tempo todo. — Disparou a falar e soltei uma gargalhada.
— Sou pai e não sobrou muito tempo, mas eu adoraria que você
voltasse a me chupar bem gostoso como estava... — Passei o meu polegar no
seu lábio. — E sim, baby. Nós vamos fazer isso em todo maldito tempo
possível.
Aurora tinha um rostinho de princesa e eu estava profundamente
encantado e aliviado que existia um lado louco para ser pervertido. Não seria
um maldito problema transformá-la em uma completa devassa na nossa cama
porque certamente não faria mal nenhum a nós dois e ao nosso casamento.
Antes que gozasse, pedi que parasse e montasse em mim.
Me sentia o homem mais sortudo do mundo.
— Você gosta mesmo de purê de ervilhas. — Comentei com a Abby,
ela abriu a boca e aceitou mais uma colher. — Eu adoro menininhas que
comem tudo. — E pelo visto, ela não tinha problemas ou escolha de comida.
Vince me disse que a Abby aceitava tudo – até o que não devia –, mas eu
imaginei que fosse exagero, porque crianças normalmente rejeitam alimentos
que não entendem.
Não havia muito na geladeira, eram compras básicas, talvez para que
pudéssemos chegar e comer alguma coisa, então, ao encontrar um saco de
ervilhas no congelador, cozinhei alguns ovos, fiz um purê com as ervilhas e
misturei os dois. Ela estava comendo com prazer.
Abby acordou, chorou e seu pai sequer se mexeu. Acho que derrubei o
homem. Sorri para mim mesma ao lembrar do sexo quente, gostoso e
alucinante que tivemos no período da soneca dela. Foi intenso e eu amei isso.
Queria muito mais. Era tão bom ter liberdade para simplesmente transar sem
ter medo de ser pega. E o Vince era tão gostoso... Eu nem podia descrever o
quão gostoso ele era e eu estava doida pelo seu pênis. A anatomia dele era
maior que a do meu ex. Era bem maior, de um jeito mais... maduro, grosso,
com veias, e foi muito gostoso chupar.
Montar nele foi tão bom que eu faria novamente essa noite.
Antes, precisava manter a Sra. Vaughn Mirim ativa. Limpei a sua boca,
a peguei no colo, aninhando no meu quadril e peguei o meu telefone, olhando
as fotografias que saíram na mídia sobre o casamento, as especulações e olhei
o instagram do Vince. Ele postou uma foto minha, ajoelhada na areia,
cavando um buraco com a Abby. Ela estava de costas para ele, então, seu
rostinho estava protegido. A legenda era “Momento em família”.
Eu sabia que os Vaughn investiam muito nas mídias sociais, mantendo
a imagem perfeita e tinha que me acostumar com a exposição. Cleo me
marcou em algumas fotografias no seu instagram e comentei em todas, assim
como no da Ligia e os pais dele. Minha família foi mais discreta, porque
definitivamente não éramos de usar as redes sociais para nos exibir. As
nossas contas sempre foram meio privadas. Minhas irmãs estavam ganhando
milhares de seguidores apenas por serem minhas irmãs.
Abby perdeu a paciência com uns blocos de madeira e jogou longe,
rindo. Ela saiu do seu tapete lotado de brinquedos e foi até o bloco,
agachando, pegando e voltando rápido para... arremessar de novo. Filmei a
sua descoberta, a sua força e elogiei a sua coordenação motora.
— Cadê papai? — Olhou para a escada.
— Papai é velho e está cansado. — Respondi rindo.
— Eu ouvi isso. — Vince desceu as escadas, de camisa e bermuda. —
Você não me acordou. — Bocejou e sentou-se no chão, pegando a Abby em
um abraço.
— Parecia que precisava mesmo descansar. — Provoquei e ele mordeu
a minha coxa. Abby enfiou o dedo no seu ouvido, rindo, começando a falar
sem parar. Nem todas as suas palavras eram compreensíveis. Enquanto eles
brincavam, recebi umas fotos oficiais do casamento e fiquei emocionada. —
As fotos ficaram lindas. Olha só essa aqui...
— Esse fotógrafo é muito bom, mas só ficaram lindas porque a noiva
era a mais linda de todas. — Vince falou todo galante. Ele estava mais
próximo, me tocando mais e o sexo quebrou todo o seu medo e cuidado. Eu
pensei que ele iria resistir no chuveiro, já não fazia ideia como atraí-lo. Seria
obrigada a agarrá-lo.
— Galante. — Beijei seus lábios e olhei para a Abby, enfiando na boca
um bloco. — Deveríamos fazer um ensaio fotográfico com ela. Quando
crescer, vai se perguntar porque não estava no nosso casamento. Ela vai
sentir falta de estar nesse momento.
Vince olhou para a Abby e depois para mim.
— Você a queria lá?
— Claro que sim, Vince. Me casei com você para ser sua esposa e mãe
dela, mas me desculpe, eu serei mãe dela antes de ser a sua esposa. Você é
um homem adulto e ela é uma criança que precisa de amor e cuidados. Quero
que ela se sinta amada. — Expliquei olhando em seus olhos para que não
houvesse dúvidas.
— Contrate um fotógrafo e veja tudo que precisa para fazermos essas
fotos com a Abby. Tenho certeza de que ela vai amar.
Postei uma foto do casamento, da cerimônia, no qual o fotógrafo me
capturou olhando para o Vince e ele estava desfocado. Foi durante os nossos
votos. Vince aproveitou e postou o mesmo tipo de foto, mas ao inverso e
nossas legendas eram iguais: “O nosso grande dia”.
Vince brincou com a Abby no chão por horas. Fiz o pedido do nosso
jantar. Estava sedenta por comida japonesa. Fiz um longo pedido, como
dinheiro não era um problema para o Vince, não economizei. Encontrei dois
pinot grigio na adega, não tinha muitas garrafas e eu gostava de beber vinho,
então, seria preciso comprar mais. Abri um e servi duas taças, voltando para a
sala.
— A comida estará aqui em quarenta minutos.
— Eu vou fazê-la dormir em meia hora. Vou tentar mantê-la dormindo
esse horário... Espero conseguir.
— Quando voltarmos para o continente todos nós iremos sofrer de jet-
lag. — Entreguei a ele a taça de vinho e brindamos.
Snow estava me enchendo de mensagens. Era duas da manhã em
Baltimore e eu não fazia ideia porque essa garota estava acordada. Ela estava
de férias, mas a mamãe costumava tomar o telefone dela na hora de dormir
ou minha irmãzinha viraria a noite nas redes sociais e conversando com as
suas amigas.
Sua mensagem me fez rir.
“A primeira vez dói?”
“Sim”. Fui sucinta.
“E você vai fazer de novo?”
Com toda certeza.
“Sim, porque vai ficar melhor. Se a mamãe souber que te respondi,
ela vai me matar e depois te matar”.
“Só porque tenho curiosidade sobre sexo não quer dizer que eu vá
fazer. Além do mais, eu não tenho certeza se gosto de meninos”.
Snow estava destinada a matar a mamãe.
“Tudo bem... Você tem tempo para se descobrir, é muito importante ser
consciente do seu coração e desejos. Estarei sempre ao seu lado”.
“Obrigada, eu vou dormir. Eu te amo”.
— O que foi? — Vince percebeu o meu olhar para o telefone.
— Minha irmãzinha acabou de me perguntar se o sexo dói e ainda
adicionou que não tem certeza se gosta de meninos. — Comentei e ele me
encarou. — Meus pais são extremamente conservadores e não sei se a palavra
“homofóbicos” seria o correto para definir, porque eles jamais tratariam mal
ou machucariam intencionalmente, mas, eles são cristãos e acreditam
fielmente que é pecado.
— Ligia é gay, lésbica, não sei o termo correto. Ela vive tentando me
ensinar e confesso que não sei. Para mim, não faz a mínima diferença, só
quero que ela seja amada e feliz. Eu odiava a ex-namorada dela, uma garota
escrota e fofoqueira. — Reclamou de um jeito tão protetor que me fez rir. —
Meus pais aceitam... Com relutância. Tanto que não é um assunto explorado.
Ligia mantém seus relacionamentos em segredo porque ela sabe que nossos
pais não estão prontos para isso e é melhor assim, porque a partir do
momento em que eles estiverem, isso será explorado politicamente.
Escondi a minha careta. Existia alguma coisa que a família Vaughn não
usasse politicamente? Talvez a Ligia mantivesse os seus relacionamentos em
segredo porque ela não estava pronta para ser o centro das atenções pela sua
sexualidade.
A comida chegou antes do previsto, Vince decidiu fazer a Abby dormir
no quarto. Agradeci ao Gates por receber e ele, como sempre, sequer desviou
o olhar do meu rosto. Estava usando um vestido azul clarinho, sem sutiã,
porque era de alças e justo, longo até os pés com um lascado até os joelhos.
Encontrei louças de porcelana muito bonitas e decidi arrumar todas as peças
de comida de maneira elegante, organizando na sala, na mesinha de café e
peguei todas as almofadas, organizando no chão.
Enquanto Vince ainda fazia a Abby dormir, vesti o meu conjunto de
lingerie de núpcias e um vestido creme de cetim, soltando os cabelos,
passando um pouco de gloss e desci a escada novamente encontrando-o na
sala servindo mais vinho nas taças.
— Perdi o memorando para me arrumar.
— Não se preocupe, não vai ficar vestido por muito tempo. — Atirei e
seu olhar surpreso me fazia rir. O que ele esperava? Uma mulherzinha
tímida? Não era totalmente.
— Uau, Aurora.
— Desconcertado? Desculpe. Não é o meu lugar de esposa te deixar
tão... — Tentei passar por ele.
— Ora, sua peste. — Vince me agarrou, rindo e me beijou. — Esse
tecido parece bom... — Suas mãos tentavam agarrar a minha bunda.
— Vem, vamos comer. — Empurrei o seu peito.
Nos sentamos nas almofadas e o Vince ficou atrás de mim, me
alimentando com seus pauzinhos e comendo também. Tirei uma foto da
mesa, com nossas pernas, as taças e escrevi “jantar de lua-de-mel” e outra
uma selfie de nós dois na escuridão. Postei apenas no stories, para sumir em
24 horas, mas o Vince riu e disse que a mídia tirava print de tudo e existia um
aplicativo que baixava os vídeos.
Nós comemos até ambos ficarem satisfeitos, a comida estava deliciosa
e bebemos quase duas garrafas de vinho, mas logo ficamos aos beijos e cada
beijo era melhor que o outro. Montei em seu colo, com meu vestido
amontoado na minha cintura e suas mãos na minha bunda, amassando
enquanto rebolava sem nenhuma vergonha contra ele. A alça do meu vestido
caiu e com o decote frouxo, meu sutiã ficou exposto e meu mamilo estava
endurecido.
Empurrei-o para se deitar, sorri, mordendo o lábio. Ele tirou a camisa,
jogando longe, arranhei o seu peitoral, tomando o meu tempo para admirar.
Tirei o meu vestido, ficando com a minha calcinha e sutiã brancos como de
uma noiva. Vince subiu as mãos para os meus peitos, apertando e puxou o
meu sutiã, sentando-se o suficiente para chupar os meus mamilos.
Nós nos perdemos ali, montei nele de novo e fiz um movimento que
aprendi nas aulas de dança. Acho que dividi a mente dele em duas porque ele
gozou.
— Aurora! — Grunhiu e caiu de volta nas almofadas. — Isso foi cruel.
— Na verdade, eu não sabia que seria tão intenso. É um movimento
que aprendi nas aulas de dança...
— Dança? — Sussurrou recuperando o fôlego, mas o seu polegar
estava preguiçosamente indo de um lado ao outro. Mordi o meu lábio,
gostando muito daquilo. Ele beliscou quando não respondi e saltei.
— Sim, eu fazia aulas de todos os ritmos quando cansei do ballet. —
Murmurei e ele parou. — Não... Continua. — Choraminguei.
— Quem disse que vou parar?
Esse casamento poderia se tornar um desastre de proporções cósmicas
por inúmeros motivos, mas não seria por causa do sexo. Foi uma noite
intensa, fiquei dolorida, com as coxas ardendo e com uma dor no corpo que
pensei que estava gripando. Acordei e me deparei com a Abby dormindo ao
meu lado. Ela estava de fraldinha e camiseta, uma mamadeira vazia na
mesinha atrás dela. Arrastei o meu nariz no seu cabelinho, sentindo seu
gostoso cheirinho de bebê.
Abby sentiu a minha proximidade, abrindo os olhos e sorriu sonolenta,
colocando a mãozinha no meu pescoço. Ela estava acordada apenas curtindo
a preguiça na cama depois de mamar. Beijei a sua testinha e acariciei a sua
bochecha, apaixonada pelas suas feições perfeitas. Desci a minha mão para o
seu bumbum, ninando-a novamente. Ficamos agarradinhas e eu estava tão
derretida por ela que não queria me mover.
Vince entrou no quarto segurando uma bandeja.
— Café da manhã na cama, Sr. Vaughn?
— A minha senhora me fez acordar muito inspirado. — Retrucou e me
sentei, ele acomodou a bandeja e me deu um beijo. — Bom dia, Sra. Vaughn.
— Bom dia. — Seus lábios tinham um gostinho de café.
Abby acordou o suficiente para comer comigo, enfiando as suas mãos
onde não era convidada e sujando a cama. Sua bagunça para comer era
bonitinha e mesmo sabendo que não podia incentivar aquele comportamento,
não chamei a sua atenção. Vince tinha trabalho a fazer e ele iria para o
escritório no centro de Honolulu e eu precisava organizar a casa para
ficarmos ali por três semanas.
Depois que ele saiu, cheiroso e perfeitamente arrumado, troquei a
Abby, coloquei uma roupinha fresquinha e agradável, descendo com ela e
pronta para ir ao mercado. Hayley levou a Abby para brincar no quintal e eu
passei quase uma hora fazendo uma lista completa de tudo que poderíamos
precisar, não só do mercado como de outras coisas no dia-a-dia de uma casa.
— Uau. Atravessar o oceano faz com que um cereal custe uns quatro
dólares a mais. — Olhei o preço da marca que a minha mãe costumava
comprar. Agatha me olhou surpresa, mas logo disfarçou, concordando. Ela
provavelmente pensou que eu era uma garotinha burra que nunca havia
pisado em um mercado antes. Não era o meu caso e mesmo que o Vince
tivesse dinheiro – e eu não sabia o quanto -, não precisava fazer compras
estupidamente sem me importar com o preço.
Passei boa parte do dia na rua, ao voltar, estava exausta. Agatha e eu
guardamos tudo, lavamos o que era preciso e criamos um cardápio. Como eu
tinha alergia a glúten, ela disse que precisaria aprender a como usar as outras
farinhas. Pensei em preparar as minhas refeições, separadas, mas faria bem a
todos ter uma alimentação mais balanceada e saudável. Como não queria que
a Agatha ficasse na defensiva comigo, acreditando que a dispensaria,
concordei que aprendesse a preparar a minha comida.
Esperava que ela não esquecesse ou se confundisse, ou seria desastroso
para mim. Dei privacidade para seguir trabalhando no preparo do jantar, –
que ela deixaria pronto e iria se recolher – indo brincar com a Abby para
continuar criando laços. Hayley disse que ela passou o dia bem, mas chorou
diversas vezes querendo o papai.
— Eu vou ficar com ela agora, Hayley. Obrigada por hoje. — Peguei a
Abby no colo. — Vamos brincar com seus livros coloridos agora. Treinar
algumas novas palavrinhas para surpreender o papai.
Falar do Vince atraiu a atenção da Abby e ela sorriu.
— Papai munito.
— Claro que seu pai te ensinou a chamá-lo de bonito. — Murmurei e
não contive a risada. Ela aceitou sentar-se no tapete de brincadeiras, ficando
animada ao ver os livros. Abby era extrovertida, passando as páginas e
apontando as gravuras que mais gostava. Prestei atenção se elas repetiam
algum padrão de cor, felizmente, eram todas diferentes e muito coloridas.
Peguei papel e giz de cera, ensinando-a a pintar no papel. Em pouco
tempo ela pegaria qualquer coisa para pintar as paredes, porque para crianças,
um mísero pedaço de papel não se compara a uma imensidão branca como
uma parede limpinha. Estava louca para brincar com ela com tintas, ver seus
dedinhos gordinhos espalhando cor por todo lugar, mas aquela casa não era
nossa e eu não queria manchar os sofás e os tapetes.
— Cadê as meninas dessa família? — Vince passeou pelo corredor.
Abby ergueu o rosto, rindo e eu sabia que ela iria gritar.
— PAPAI!
— Princesa! — Vince sorriu, abrindo os braços.
— Tô cororindo com a Rora.
— Nunca vi tanto som de R saindo de forma tão bela dessa boquinha.
— Vince sorriu, empolgado e beijou a bochecha dela com carinho. — Papai
ama você.
Droga. Um pai apaixonado e carinhoso! Derreti ali mesmo, no
tapete do quarto.
A noite no Hawaii era uma das mais belas. O céu estava estrelado,
bonito e o som das ondas batendo firme contra a areia era atrativo. Abby
estava dormindo há quase uma hora e o Vince não estava em casa ainda. Ele
foi á um jantar com investidores, só iriam homens e não havia a mínima
necessidade de que eu estivesse presente, ao contrário do jantar da noite
passada, que foi até bem divertido, mas puramente social.
Foi a primeira vez que fiz a Abby dormir. Vince insistiu que a Hayley
ficasse para dormir com ela, mas eu disse que não. Era melhor que ele
aprendesse a não me desafiar. Abby e eu ficamos muito bem, jantamos
juntas, ouvimos músicas e a incentivei a repetir as palavrinhas, brincamos
com seus livros de figuras e em seguida, caminhei com ela no colo de um
lado ao outro até que dormisse.
Levou quase o triplo do tempo que o Vince ou a Hayley levavam,
mas eu não ia desistir assim tão fácil . Já venci crianças piores.
Ainda estava cedo para dormir e a Abby era uma criança que deixava
qualquer um se rastejando. Ela só tinha um ano e meio. Falava pelos
cotovelos o tempo todo e queria comer tudo que via pela frente. Decidi curtir
a noite com um pouco de vinho, mas estava calor e o vinho intensificou. O
som do oceano estava cada vez mais tentador. Subi a escada de fininho,
coloquei um biquíni, vesti um roupão e recolhi algumas toalhas de banho.
A babá eletrônica da Abby funcionava à distância e eu ainda podia vê-
la perfeitamente de onde apoiei na mesinha e o meu telefone celular iria
apitar se ela acordasse. Forrei a toalha em uma das espreguiçadeiras que
ficava ali, apoiei a taça e a garrafa na mesinha, tirando o roupão e corri em
direção ao oceano.
O mar estava uma delícia! Ri como uma criança, dando uns bons
mergulhos e ao emergir, vi o meu marido parado no fim do gramado, mas
sem pisar na areia. Fiquei parada, com as ondas batendo na minha cintura e
sorri ao perceber que ele estava se despindo, ficando de cueca e eu cruzei os
meus braços. Coloquei um biquíni porque ele iria arrancar os cabelos se eu
estivesse aqui fora com as minhas roupas íntimas.
Não levou alguns segundos para ele estar avançando nas ondas. Deu
um mergulho e emergiu bem na minha frente, com as mãos subindo pelas
minhas coxas, agarrando a minha bunda, beijando a minha barriga e meus
seios. Ri do seu ataque de beijos, abraçando-o e ele me pegou no colo,
tomando a minha boca com um beijo voraz de quem estava com saudades.
— Oi, marido.
— Oi, esposa. — Me beijou mais uma vez.
— Como foi o seu jantar?
— Enfadonho e lucrativo. Estou um pouco mais rico essa noite.
Passei a minha mão molhada no seu cabelo e olhei bem para o seu
rosto iluminado apenas com a luz da lua. Ele parecia feliz.
— Ganhar dinheiro parece te deixar muito feliz.
— Sim, mas eu me considero mais feliz por conseguir executar
todos os meus planos sem fazer muito esforço. O baile no sábado será
interessante. — Cantarolou beijando o meu pescoço e me perguntei o que ele
estava falando de verdade, mas não parecia querer falar diretamente e não
queria fazer muitas perguntas. — E ao chegar em casa, vejo minha mulher
com esse tapa sexo que chama de biquíni bem à luz do luar.
Eu não podia negar que quando ele se referia a mim como sua
mulher em um tom bem possessivo me deixava maluca e excitada.
— Ouvi dizer que sexo no mar não é uma boa ideia.
— Sério? — Ele fez uma expressão desapontada que foi engraçada.
— Sim, eu poderia ficar excitada, mas a água poderia tirar a minha
lubrificação e ficar assada na nossa lua-de-mel não é uma boa ideia. Certo?
— Olhei em seus olhos. Nós fizemos sexo todas as noites desde a primeira
vez, há quase uma semana.
— Seria uma péssima ideia.
Escorreguei do seu colo e fiquei de pé, empurrando-o um pouco
mais para trás, até que a água estava bem abaixo do seu quadril. Enfiei meus
polegares na sua cueca e puxei para baixo. Seu pênis era impressionante
mesmo não tão ereto. Acariciei as suas bolas, descendo e ficando de joelhos
com as ondas batendo suavemente nas minhas costas. Acariciei as suas coxas
antes de levar seu pau a boca.
Nunca imaginei que faria um boquete em plena praia, muito menos
que faria sexo em uma espreguiçadeira, mas eu fiz e faria de novo porque foi
muito gostoso.
Acordei com o meu telefone vibrando. Tirei a minha cabeça do peito
do Vince e me movi com cuidado, porque a Abby estava em cima de mim,
dormindo. Peguei-a no meio da noite e a intenção era devolvê-la ao berço,
mas nós duas apagamos e o Vince nunca a tirava da cama. Estiquei o meu
braço e peguei o meu telefone. Bella estava me enviando milhares de
mensagens no grupo, assim como Jasmine e Snow.
Fotos granuladas, mas nítidas o suficiente para nos ver na praia. Puta
que pariu. As fotos eram nossas na água e depois na espreguiçadeira, mas não
do boquete ou do sexo, apenas dos beijos e mãos bobas. As mais picantes
eram das mãos dele na minha bunda e o rosto nos meus seios onde
claramente estava chupando os meus peitos. Se tinham fotos daqueles
momentos, tinham fotos de tudo e o TMZ estava avisando que soltariam uma
bomba sobre os Vaughn ainda essa tarde.
— Vincent! — Sacode seu corpo, ele acordou assustado e ficou
ainda mais preocupado quando me viu.
— Você está sentindo-se mal?
— Olha isso... — Entreguei o meu telefone.
— Porra. — Ele grunhiu e saiu da cama, agarrando o seu telefone.
Abby rolou para o lado, ainda em um sono profundo porque ficou quase duas
horas brincando com o pai no meio da madrugada. Vince desapareceu dentro
do closet e voltou vestido com uma calça jeans e camisa, um par de tênis nas
mãos e o telefone no ouvido. — Eu vou resolver, já volto. — Abaixou para
beijar os meus lábios e saiu.
Corri atrás dele, mas já estava na escada, então, eu fui até o quarto
que dava para garagem olhando-o entrar no lado do motorista de uma das
SUV's com o Gates. Voltei para o meu quarto correndo e peguei o meu
telefone, aceitando a chamada de vídeo em grupo com as minhas irmãs.
— Entrou areia na sua pepeca? — Snow perguntou e ouvi o barulho
de um copo caindo e a mamãe gritando ao fundo. Jasmine, Bella e eu caímos
na gargalhada. — O que foi? Ela fez sexo na praia, quero saber se entrou
areia.
— Snow Claire Sinclair! — Mamãe estava lívida e pegou o telefone.
— Aurora Marie Sinclair, você tinha que prestar esse papel? Está em todo
lugar!
— Mãe... Estou em lua-de-mel. O que você pensou que estaríamos
fazendo? — Revirei os olhos e minhas irmãs riram.
— Eu não imaginei que vocês fariam sexo, afinal, o casamento foi
muito rápido. Pensei que vocês iriam se conhecer e com o tempo...
— Mãe. — Comecei a rir. — Desculpe, mas você viu a espécie de
homem gostoso que me casei? Você achou que ia ficar chupando o dedo
esperando conhecê-lo melhor? A intimidade sexual ajudou bastante, já sei um
monte de coisas que ele gosta. — Balancei as sobrancelhas. Bella estava
rolando na sua cama de tanto rir.
— Desisto de você e pare de dar mau exemplo às suas irmãs mais
novas.
— Que mau exemplo? Fiz sexo depois de casada! Sou uma mulher
adulta agora e a título de conversa... Meu nome agora é Vaughn.
— Aurora, pare de fazer sexo em público, sendo casada ou não. —
Mamãe grunhiu e jogou o telefone de modo que vimos a tela toda tremida.
— Ela saiu. — Snow pegou o telefone. — Então, entrou areia ou
não?
— A única coisa que entrou foi parte da anatomia do Vince.
Snow fez uma expressão confusa.
— Não entra tudo?
Nós nos perdemos de vez na risada. Até a Jasmine, que era a mais
tímida de nós três, estava vermelha de tanto rir. Abby acordou com as minhas
risadas e mal humorada, rastejou para cima de mim com o cabelo todo em pé,
ficando com o rostinho escondido no meu pescoço e eu reparava que ela
sempre buscava aconchego, precisava de contato físico quando estava com
sono ou dengosa.
Conversei com as minhas irmãs, falando baixo e rindo até que a
coisinha pequena grudada em mim ergueu o rosto, olhou para o celular e
sorriu. Minhas irmãs quase derreteram. Encerrei a chamada, troquei a fralda
dela e me cobri com um roupão de cetim antes de descer com ela no colo.
Hayley e Agatha estavam na cozinha, minhas bochechas ficaram vermelhas
porque eu sabia que elas já tinham visto as novas.
— Ela mamou de madrugada e de manhã. Estou achando que a
fórmula não está alimentando-a mais, vou marcar uma consulta com a
pediatra para me orientar melhor sobre a sua alimentação. — Comentei com a
Hayley, que começou a preparar o café da manhã dela enquanto eu me servia
com o meu.
— Nanana! — Abby cantou a música dos Minions. — Potetô aaa. —
Gritou e coloquei a música no meu telefone, fazendo-a rir e morder a sua
banana.
— Você quer? — Ofereci uma colher da minha salada de frutas.
Abby fez uma careta com o gosto do mamão, mas comeu todo restante. Ela
era muito boa com as frutas. — Menina, você come tudo.
— Testei uma receita de panquecas com aquela farinha de arroz.
Você quer provar? — Agatha me ofereceu timidamente.
— Claro que sim, obrigada. — Fiquei feliz que ela não estivesse
chateada por ter que mudar seus hábitos na cozinha por minha causa. —
Você gostou de salada de frutas, princesa?
— Mais... — Abriu a boquinha.
Vince demorou a voltar para casa. Estava na piscina com a Abby,
brincando com uma bola e incitando a sua bagunça com a companhia da
Hayley. Ele apareceu no pátio, piscou e sorriu, desaparecendo dentro de casa
novamente. Estava curiosa demais para deixar de lado e saí da piscina, me
secando e pedindo para a babá ficar ali com a Abby. Me enrolei no roupão e
o encontrei no escritório, bebendo água.
— O que aconteceu? — Encostei a porta atrás de mim.
— O TMZ tinha o nosso vídeo fazendo sexo. Está um pouco longe,
mas certamente dá para entender. — Jogou um chip em cima da mesa. —
Quer assistir? — Seu olhar brilhou de diversão.
— Só isso? Eles não vão publicar?
— Claro que não. Eles e ninguém mais, as fotos foram removidas,
infelizmente tem os arquivos salvos, mas ninguém vai republicar nada.
— Eles vão ficar vigiando a casa?
— Não mais. Talvez devêssemos manter algumas das nossas
atividades dentro de casa. — Sorriu torto.
— Foi você que me atacou.
— Vou tentar te atacar dentro de casa.
Peguei o chip, coloquei no computador e dei play no vídeo. Não
tinha um áudio, mas tinha minha performance no oceano e em seguida, as
duas posições que praticamos na espreguiçadeira. Ele por cima foi
interessante de assistir, mas quando fiquei por cima ficou ainda mais legal.
— Eu adoro quando você rebola assim. — Vince sussurrou no meu
ouvido e sorri. Ele abriu o meu roupão.
— Nós não deveríamos fazer sexo tão cedo...
— Não?
— Não.
— É um não sério ou um não dengoso?
Parei para pensar e ri.
— Estou brincando, mas se você for sair, eu prefiro que passe esse
tempinho lá fora. — Fui sincera.
— Hum, eu vou passar o dia em casa. — Beijou o meu pescoço.
— Sendo assim... — Puxei-o contra mim e o beijei, provocando com
minha língua. Fiquei toda arrepiada com os seus dedos peritos nos meus
mamilos. Meus peitos eram pequenos e as minhas irmãs sempre zoavam que
não tinha muito a oferecer. Cresci e ganhei só um pouquinho, quase nada,
mas isso não parecia problema para o meu marido, porque ele estava sempre
tocando e olhando como um tarado.
Após nosso interlúdio maravilhoso no escritório, brincamos na
piscina com a Abby, almoçamos e passeamos na praia no fim da tarde,
fazendo uma caminhada e finalmente, conversando. Coisa que deveríamos ter
feito como um casal normal antes do casamento, mas fizemos ali, de mãos
dadas, em alguns momentos com a Abby nos braços ou correndo atrás dela
quando ousava ir longe demais.
Vince não gostava de carne de porco e por isso, não comia de jeito
nenhum, ele não tinha nenhuma alergia conhecida e comia quase todos os
legumes. Desde que a Abby nasceu, ele mudou seus hábitos alimentares
porque ele e a sua primeira esposa só pediam comida. Victória não cozinhava
e ele não tinha muita experiência, fazendo o básico e aprendeu depois que
ficou sozinho com a Abby. A Agatha trabalhava na casa da sua mãe como
uma das funcionárias regulares e aceitou se mudar para viver com ele quando
ficou viúva. Ela não tinha filhos por opção, nunca quis ter.
Hayley era uma estudante, cursava literatura e filosofia. Abby ficava
pelas manhãs com a Agatha até a Hayley chegar da universidade, assim
permanecia até o Vince chegar. Às vezes ela ficava para dormir, mas não era
regra. Vince não costumava dormir fora de casa, mas às vezes trabalhava até
tarde.
Parecia bobo fazer o jogo de vinte perguntas, até meio inútil
considerando que já estávamos casados e divórcio não era exatamente algo
em pauta com uma semana de matrimônio (ou uma língua que os Vaughn
suportariam falar). Eu estava disposta a construir uma família com o Vince e
para isso, precisava conhecê-lo.
Terminamos o dia com a Abby tendo uma soneca tardia em um sofá
na varanda, coberta e nós dois deitados em uma espécie de balanço enorme,
indo de um lado ao outro com calmaria, abraçados e admirando o sol
sumindo no mar. Era um cenário bem romântico e eu esperava que as coisas
entre nós fossem como aquele dia: com muita calmaria e conexão.
Aurora estava colocando os brincos na frente do espelho e parei atrás
dela, terminando de fechar os botões do meu punho. Ela estava linda usando
um longo vestido azul claro, os cabelos escovados e arrumados de um lado,
com uma presilha com várias pedrinhas de safira. Disse que foi presente da
minha mãe e eu não duvidava. Minha mãe tinha mais jóias que a realeza e as
minhas duas irmãs salivavam por elas, mas a mamãe controlava bem o que
dava para cada uma.
De alguma maneira, minha mãe gostava da Aurora. Talvez por a minha
esposa ser a típica mulher que eles sempre quiseram ao meu lado, porque
meus pais nunca deram um presente a Victória. Eles se mantinham educados
e muito distantes, sem disfarçar que não gostavam e a Vic, por sua vez, era
desprezível com eles cada vez que podia. Estar com ela e a minha família era
exaustivo.
Aurora era tão calma que chegava a me dar um desconforto que em
algum momento ela poderia explodir. Victória era tão chantagista, sobre
gritos e choros. Nosso relacionamento era estressante. Em poucos dias com a
Aurora, dormi bem, acordei bem, passei o dia ainda melhor e a Abby... Ela
estava tão feliz. Minha garotinha estava em estado de amor completo pela
praia, a piscina e pela Aurora, que dedicava muito do seu dia para cuidar da
Abby e eu via que era verdadeiro. Um carinho que era natural.
— Você está linda. — Toquei a sua cintura e lhe dei um beijo suave no
ombro.
— Obrigada, Vince. — Sorriu lisonjeada. — E você está magnífico.
Quando você penteia o seu cabelo para trás assim, fica muito bonito, mas me
dá um tesão querer te bagunçar todo.
— Sei bem o quanto você adora puxar o meu cabelo. — Provoquei
porque a Aurora ficava enlouquecida com uma boa chupada. E eu amava
chupar a sua buceta perfeita e só de pensar nisso, minha boca estava cheia
d’água. — Acho que não é uma boa ideia pensar nisso antes de sairmos.
— Não mesmo, não quero ninguém de olho no seu pacote. —
Reclamou e eu ri da sua carinha de ciumenta. — Estou pronta.
Passamos para olhar a Abby dormindo e a Hayley estava na sala,
assistindo televisão e saímos com Gates e mais um segurança. O baile de gala
era um evento oferecido pelo governador e havia um leilão beneficente entre
as milhares de programações da noite. Estava ali para representar a empresa,
que estava inaugurando um empreendimento caro na ilha e a minha família,
já que o meu pai não podia estar presente no evento.
Meus pais não falaram nada sobre as fotografias na praia, o pai da
Aurora sim e eu precisei lembrar a ele que o que eu fazia com a minha esposa
não era mais da conta dele. Aurora poderia estar constrangida, mas não fez
nenhum drama. Acordou, descobriu, quase chorou quando me acordou e
ficou bem. Após resolvido, ela agiu normalmente e poderia até não querer
comparecer a esse evento tão próximo. Ao sairmos do carro, a imprensa
avançou.
Gates tomou cuidado para que nenhum deles se aproximasse.
— Aurora! Aurora! O que você explica sobre as fotografias na praia?
— Uma repórter enfiou o microfone no rosto dela e eu estava pronto para
jogar longe quando a minha esposa riu.
— Estamos em lua-de-mel, mas já nos comprometemos em manter
nossas atividades dentro de casa. — Aurora brincou e foi andando.
— Seu pai reagiu bem a esse escândalo?
— Não teve o que reagir porque não foi um escândalo. Como a minha
esposa disse, estamos em lua-de-mel e olhe só o quanto ela é linda, ninguém
pode me culpar por não conseguir manter as minhas mãos longe. — Segui na
linha da provocação e passei o meu braço na sua cintura, paramos no tapete
vermelho e posamos para as fotos. Ela ficou sozinha em algumas e tirei um
olhar irritado para os gritos safados.
Elogiar era uma coisa, chamar de gostosa era outra totalmente
diferente.
Entramos no salão de baile, cumprimentamos o governador, sua esposa
e filhos, sendo conduzidos até a mesa que estávamos atribuídos. Aurora ficou
tensa com um sorriso de miss simpatia no rosto quando viu a Alexia com seu
marido, Byron Barrett e Kylie e o Bruce. Barrett e Bruce eram meus colegas
dos tempos da faculdade. Bruce seguiu carreira política e o Barrett era um
advogado.
Kylie era fofoqueira, mas não era irritante como a Alexia. Aurora não
gostou muito de nenhuma das duas. Após os cumprimentos, nos sentamos
para a primeira parte da cerimônia. Olhei em seus olhos e sorri, para relaxar e
segurei a sua mão na minha coxa o tempo todo. Após uma apresentação de
dança local, as mulheres começaram a falar. As unhas da Aurora enfiaram na
minha coxa e era a única reação de que a conversa estava tirando-a do sério.
Fingi estar enviando uma mensagem para poder ouvir, assim os dois
tagarelas mantiveram a conversa baixa e eu prestei atenção nas mulheres.
Alexia estava falando sobre a Abby com doçura e intimidade. Do jeito que
ela soava, parecia uma frequentadora assídua da minha casa. Em seguida, ela
comentou sobre o tempo que namoramos como se tivesse sido longo ou que a
minha versão adolescente tivesse tido uma performance inesquecível.
Alexia estava tentando fazer com que a Aurora pensasse que nós dois
tivemos uma história e eu não ia permitir.
O jantar foi servido e eu olhei o prato da Aurora antes de permitir que
ela comesse. Informei a produção do evento que ela era alérgica a glúten e
não havia nenhuma maneira que permitira que comesse qualquer coisa que
lhe fizesse passar mal. Era algo novo e fiz algumas pesquisas, além de ter
perguntado ao Flynn. Ele pediu para tomar cuidado com a alimentação dela,
porque em grande escala, a doença celíaca poderia causar danos realmente
ruins ao corpo.
— Essa sopa de abóbora está deliciosa. — Aurora comentou comigo.
— Quando for ao banheiro, não importa o quão seja estranho, troque de lugar
comigo.
— Calma... Logo iremos dançar e participar do leilão, não precisaremos
mais voltar para a mesa.
— Graças a Deus ou eu vou enfiar um garfo no silicone dessa abusada.
Se ela ousar falar da Abby mais uma vez... — Aurora cochichou e eu ri
baixinho.
— Ciumenta. — Beijei os seus lábios. Aurora riu e me ofereceu uma
colher da sua sopa e eu um pedaço do meu bife.
Terminamos o jantar e ela pediu licença para ir ao banheiro. Bruce me
chamou para ir ao bar pegar uma bebida e concordei, aproveitando que o
Barrett havia ido ao banheiro também. Gates estava de olho na Aurora, para
não deixá-la sozinha. Kylie se aproximou do marido, deixando a Alexia
olhando um quadro.
— Alexia.
— Oi, Vince. — Sorriu abertamente. — Você está muito bonito essa
noite.
— Corta essa merda. Eu vou te avisar uma única vez: para de fingir que
nós somos próximos, para de falar da minha filha e para de insinuar para a
minha esposa ou qualquer pessoa que nós somos mais que meros conhecidos.
Namoramos na adolescência e isso faz anos. — Dei um passo a frente e seus
olhos arregalaram. — Devo lembrá-la que os negócios dos seus pais
sobrevivem porque estão sob a minha proteção e que o seu marido tem
clientes porque tem o nome ligado a mim. Não pense nem por um segundo
que se você continuar me irritando, eu não vou foder com a sua família... Eu
vou sim. Quando a minha esposa se aproximar, seja simpática, seja legal, se
eu sonhar que você soltou qualquer comentário que possa magoá-la ou me
enfurecer, dê adeus a vida que conhece.
Alexia engoliu seco e olhou nervosamente para Kylie, que me encarava
assustada. Bruce disse algo em seu ouvido e ela desviou o olhar. Sua amizade
pela Alexia não superava seja lá o que o seu marido cochichou. Bruce me
conhecia muito bem. Ele sabia como foi eleito e não estava disposto a arriscar
isso por alguém como a Alexia. Assim que o Gates se aproximou, soube que
a Aurora estava voltando.
Encontrei-a no meio do caminho, já agarrando a sua cintura e
entregando sua bolsinha para o Gates.
— Sra. Vaughn, dance comigo.
— É uma honra, Sr. Vaughn.
Aurora sabia dançar de verdade. Não era nada de um passinho para lá e
outro para o outro lado, no ritmo calmo. Ela sabia valsar. E eu só sabia
porque a minha mãe me obrigou a aprender para a festa de aniversário de
casamento deles, ano passado, no qual completaram trinta anos juntos. Nós
rodopiamos pela pista, dançando e eu sabia que éramos o centro das atenções.
Se fosse qualquer outra mulher, aquela cena teria que ser armada, mas com a
Aurora... Tudo com ela era natural.
— Você quer uma bebida?
— Apenas vinho branco, não sou de beber muito e não quero passar
mal.
Segurando o meu braço, a conduzi até o bar, onde pedi uma dose de
uísque escocês e uma taça de vinho branco suave.
Levei minha esposa pelo salão para apresentar a conhecidos. Ela foi
muito bem recebida, porque era adorável. Arrematei um par de brincos para
ela, fizemos mais um pouco de conversa e estava prestes a dizer que iríamos
embora quando uma garota pé no saco entrou na minha frente.
— Como você conseguiu entrar aqui? — Disparei, irritado.
Ela sorriu.
— Espantado que tenha conexões?
— Preocupado com o velho tarado que você enganou para estar aqui.
— Rosnei e a Aurora me olhou esquisito. — Vai embora, Lindsey.
— Acabei de chegar. — Abriu um sorrisinho.
— Vincent? — Aurora me chamou pelo nome e não pelo apelido. —
Olá, eu sou Aurora Vaughn.
— Não ouse. — Avisei severamente para Lindsey.
— Não quer que a sua esposinha perfeita me conheça? Isso me ofende.
— Lindsey me deu um sorriso provocante.
— Você não deveria estar aqui. Vai embora, agora! — Sinalizei para
Gates. — Certifique que ela esteja no primeiro voo para Nova Iorque.
— Não vai me arrastar daqui assim. Eu vou gritar e atrair todas as
atenções que você quer evitar com a minha presença. — Lindsey ergueu o
nariz. Meu Deus, por que ela cresceu? — Estou acompanhada.
— Eu vou te matar.
— Não vai não, você me ama. — Apertou o meu nariz. — Foi um
prazer, Aurora. — Acenou para minha esposa. — Tchau, tchau.
Virei para a Aurora.
— Me espera no carro. Não vou demorar.
Aurora assentiu, seguindo Gates e dei a volta pelo palácio para chegar
do outro lado do salão de baile, parando no caminho do homem que vi a
Lindsey conversar.
— Steve. — Parei na sua frente. — Não sei o que ela te disse, mas sei
que ela tem 20 anos e está sob a minha proteção. Você vai voltar lá, se
despedir e vai colocá-la dentro do carro que estará lá fora. Fui claro?
— Não sabia que ela estava ligada a você.
— É melhor que tenha tratado aquela garota como uma dama.
— Ela disse que era uma acompanhante, sinto muito. Mas eu não fiz
nada, planejava fazer depois... — Steve comentou pensativamente e eu
considerei matá-lo. Ninguém ia sentir falta. — Tudo bem, sinto muito.
— Agora, Steve. — Ordenei e ele deu meia volta e saiu.
Respirei fundo algumas vezes, enviei uma mensagem para o Gates e fiz
o meu caminho para o carro. Aurora estava sentada no banco da frente, me
esperando, seus lábios estavam firmes um no outro. As mãos tensas. Assumi
a direção e nos conduzi para casa. Ela estava muda.
— Aurora...
— O que é? — Cruzou os braços.
— Pode me dar uma luz?
— Sua cabeça enorme não consegue decifrar?
— Normalmente você não reclama do tamanho da minha cabeça. —
Fiz piada e se o seu olhar fosse uma metralhadora, estaria tão furado quanto
uma peneira.
— Quem é ela?
— Ninguém em especial.
— Ninguém? Não parecia ninguém. Ela disse que você a amava, Vince.
Ela é sua amante? Você parecia muito preocupado em tirá-la de perto. Escuta
bem, não vou tolerar esse tipo de coisa e muito menos bancar a boa esposa
enquanto você mantém amantes. Isso não estava no nosso acordo e eu... — E
para minha surpresa, começou a bater no meu braço.
— Cristo, Aurora. Lindsey não é minha amante! — Explodi, rindo do
seu ataque. — Isso jamais aconteceria e eu tenho a total pretensão de seguir
os nossos votos de casamento. Prometi ser fiel e eu vou.
— Então, quem é ela?
— Lindsey é minha irmã. Ela é filha do meu pai, fora do casamento. —
Confessei a verdade. Aurora ficou muda. — A garota é um atentado terrorista
com pernas. A mãe dela morreu quando ela era pequena. Meu pai não sabe
que eu sei, na verdade, ele sequer sabe que ela é sua filha. Lindsey não quis
saber o resultado do exame e muito menos que eu contasse a alguém. Tentei
tomar conta dela, fazer com que tivesse o que precisasse, mas a garota não
tem limites.
— Como você descobriu?
— Foi sem querer. Meu pai ainda era o CEO e eu estagiava, no ensino
médio ou antes. Ia para empresa para aprender porque sabia que um dia
trabalharia ali. Um gerente me recrutou para ajudar em uma auditoria e eu
achei recibos de hotéis. — Olhei para a estrada vazia a minha frente, o
caminho tranquilo para a casa que aluguei na ilha. — Fiquei curioso... E esse
foi o problema. Descobri que meu pai teve uma amante. Ao confrontar, ele
disse que a minha mãe sabia, foi no período que eles haviam decidido separar
e não nos contaram por um tempo... Foi na época que eu pensei que meu pai
estava viajando a trabalho, na verdade, ele estava fora de casa e vivendo
nesse hotel.
— Então ele conheceu a mãe da sua irmã?
— Ela era assistente dele, os dois dormiram juntos por uma noite, se
arrependeram, ela pediu transferência do trabalho algumas semanas depois e
por fim, demissão. Meus pais acabaram conversando e decidindo seguir
adiante com o casamento. Eu lembro que eles fizeram terapia...
— Como chegou até a Lindsey?
— Quis saber o que tinha acontecido com a assistente, aí eu vi que ela
tinha uma filha que era quase a cópia da Ligia quando pequena. Algum
tempo depois a mãe dela morreu, a garota foi viver com a avó e eu me
aproximei. Lindsey é um cão chupando manga com uma alma demoníaca
porque desconfiou. Fizemos um teste, mas ela decidiu não saber. Eu sei.
— Não contou para ninguém? — Aurora quase gritou comigo. —
Como você sabe que seu pai tem uma filha e não contou a ele?
— Preciso respeitar o desejo da Lindsey. Sabe o que vai acontecer
depois que uma “traição” ... — Fiz aspas com os dedos. — Vier a público?
Uma que gerou frutos? E a mídia vai acabar com a vida da Lindsey e com a
dos meus pais. Ela quer viver completamente no anonimato e por isso não
quer nada, mas isso não vai me impedir de cuidar dela. Mesmo que seja
impossível.
— O que ela faz? — Aurora estava rindo de mim.
— Ativista do contra. Se uma coisa é de um jeito, ela vira do avesso.
— Ativista do contra? — Aurora soltou uma gargalhada. — Se ela é
maior de idade, você não pode fazer nada a não ser apoiar. — Me deu um
beijo na bochecha e agarrou a minha orelha. — Se você arrumar um filho
fora do nosso casamento eu vou te castrar. — Falou entredentes.
“Ela é doce e compassiva, Vince”. Foram as palavras do meu pai sobre
a Aurora. Assustadora e ciumenta não estavam na descrição do pacote. Sorri
e a beijei, estacionando o carro na garagem.
Vince estava me beijando dentro do carro como se nós não tivéssemos
uma cama dentro de casa. Olhei ao redor, constatando que estávamos
totalmente sozinhos e protegidos pela privacidade da garagem. Subi o meu
vestido, suas mãos imediatamente agarraram as minhas coxas, puxando e eu
mal me dei conta como fui parar montada no seu colo.
— Tem noção do quanto você é perfeita? — Vince grunhiu e abri o seu
cinto, puxando o zíper para baixo e a sua cueca me deu um pouco de
trabalho. — Você me deixou excitado a noite inteira, te quero o tempo todo...
— Não fiz nada e estava te batendo há cinco minutos.
— Só preciso te olhar. — Me beijou e agarrou a minha bunda,
chegando a minha calcinha para o lado, puxei todo o vestido para não ficar no
caminho e aninhei seu pau com cuidado, descendo a primeira vez devagar
para ajustar. As seguintes não foram nada cuidadosas. Transamos gostoso e
de maneira bem desleixada no carro, sem querer o meu cotovelo bateu na
buzina e nós rimos, ele afastou ainda mais o banco e continuamos até que
gozamos.
— Definitivamente temos sérios problemas.
— Por que?
— Já fez isso aqui antes?
Vince me deu um olhar engraçado.
— Não sei porquê você pensa que eu tive uma vida sexual intensa. Eu
tive que ser um bom garoto para assumir o lugar do meu pai e quando
namorei sério, me casei. E não foi lá o momento de aventuras sexuais.
Olhei-o incrédula.
— Nunca fez sexo no carro?
— Eu nunca fiz sexo fora de um quarto antes de você. O máximo que
me aventurei foi no banheiro, sim, me chama de careta, mas é você que me
deixa tão maluco que eu sequer me importo onde estamos. Tudo que quero é
estar dentro de você. — Chupou o meu pescoço e suspirei. — Temos que
entrar. Não quero que ninguém te veja tão linda pós-coito. — Me deu um
selinho.
Saímos do carro e eu fui direto para o banheiro. Hayley estava na sala
assistindo filme, comendo pipoca e nos desejou boa noite mesmo quando
afirmamos que ela poderia continuar à vontade assistindo televisão. Corri
para o chuveiro me dar uma lavada, tirar a maquiagem e prendi o meu cabelo,
vestindo o pijama. Vince entrou no quarto abrindo a roupa, disse que a Abby
estava dormindo.
— Ela vai acordar muito cedo. — Olhei a babá eletrônica e a bichinha
estava aberta como uma estrela.
— Vai sim e com energia. — Concordou e foi para o banheiro.
— Como os seus pais nunca descobriram sobre a Lindsey? — Encostei
na soleira da porta. Ele ficou nu e entrou no chuveiro, porque a nossa
aventura no carro nos deixou suados.
— Aurora...
— Agora me conta tudo, já sei da existência dela mesmo.
— Eu escondi a existência dela, ok?
Aquilo me deixou muito mais chocada que ele ter uma irmã fora do
casamento dos seus pais.
— Estou na dúvida se esconder a Lindsey é porque ela quer ou porque
você tem medo de que o castelo perfeito da sua família comece a ruir como
areia. — Dei de ombros e saí do banheiro. Arrumei a cama para dormimos.
— O que você acha que deveria fazer? Preciso da sua opinião muito
experiente. — Saiu do banheiro todo molhado e eu ignorei a provocação.
— Seu pai tem o direito de saber que tem uma filha. A sua mãe tem o
direito de saber que o interlúdio do seu pai com uma assistente gerou frutos e
a Lindsey tem o direito te der tudo que uma Vaughn tem. E assim ela vai
escolher se quer o anonimato, mas a sua família tem o direito da verdade. —
Joguei as almofadas no chão, puxei a colcha e peguei o edredom no armário,
ligando o ar-condicionado.
— Não vou fazer isso e você não vai falar nada.
— Não vou trair a sua confiança, mas quando a merda bater no
ventilador e rodar por todo lado, eu vou dizer que te avisei.
Vince deu as costas de volta para o banheiro. Voltou dois segundos
depois, parecia que ia falar algo e foi embora. Sorri.
— O que você quer dizer com a merda bater no ventilador?
— Não reconheci imediatamente, mas quando falou que a Lindsey era
ativista do contra, lembrei que ela era a garota que estava gritando com você
em um vídeo que saiu essa semana. Não foi? — Questionei e ele bufou.
— Ela estava no protesto da construção. — Grunhiu.
— Foi por causa dela que você mandou que os operários recuassem e
não destruíssem o antigo templo sagrado e prometeu que iria restaurar o
lugar, criando um jardim ali ao invés de uma piscina. A sua irmã aproveitou
que você não iria contrariá-la e eu me pergunto, quantas vezes isso
aconteceu?
Vince não respondeu nada.
— Você sente que tem uma dívida com a sua irmã e por isso que ela
aparece em qualquer lugar que esteja e apronta. No pouco que você me
contou, deu para perceber que ela chama atenção e consegue. Isso é atitude
de uma criança que cresceu sentindo-se de fora. E sabe por que ela não quer
ser reconhecida? — Coloquei as minhas mãos na cintura. — Medo. Será que
vai ser aceita? Será que as outras irmãs irão amá-la? Como será a reação da
sua mãe? E do pai que ela sequer teve a chance de conhecer?
Vince puxou o cabelo.
— Você está molhando tudo, ou vai tomar banho ou vai se secar para
continuarmos essa conversa. Estou sentindo que se continuar falando vou
fritar o seu cérebro. — Apontei para o chão molhado.
Vince me deu um olhar irado antes de sair. Me aninhei na cama,
confortável e dei uma olhada nas minhas redes sociais até que ele voltou,
enrolado na toalha e trazendo mais uma para secar o chão. Jogou ambas no
cesto de roupa suja.
— Então você acha que as atitudes da Lindsey são por que ela quer
chamar atenção? — Deitou-se ao meu lado com a sua calça do pijama.
— Se não for, você precisa tomar cuidado, porque o rosto dela vai
começar a ficar marcado na mídia. O que vai acontecer quando alguém
desconfiar? — Cruzei as minhas mãos na barriga.
Vince apagou a luz do abajur, encerrando a conversa, provavelmente
irritado porque em cinco minutos joguei na sua cara tudo que ele não queria
dar razão. Esconder a sua irmã foi uma besteira, um erro grave e muito
egoísta. Apesar de não ser da minha conta, não concordava. Sem sono, abri
meu aplicativo de livros e comecei a ler um romance bem hot que estava
quase na metade quando ele me abraçou.
Ficou quieto, talvez querendo dormir próximo e continuei lendo. Vince
grunhiu, sem conseguir pegar no sono.
— Que merda, Aurora. — Sentou-se na cama.
— O que foi agora?
— Não foi egoísmo, eu só não queria foder com tudo, porque eu
descobri a Lindsey por ser curioso. Meus pais sempre se preocuparam muito
com a imagem e mesmo nessa época, meu pai estava se preparando para a
campanha...
— Falando assim parece um caso clássico e bem babaca de egoísmo.
Primeiro ele escondia que a Ligia era lésbica e segundo, a sua irmã
“bastarda”. Vince era tão obcecado com a imagem perfeita quanto os seus
pais. Não era por eles, era por si mesmo, por não falhar com a coroa de
príncipe que a mídia colocou na sua cabeça. Mas eu não podia negar, ele
amava suas irmãs e havia uma parte dele que tinha medo do sofrimento que
elas poderiam ter com suas histórias vindo a público.
Vince se jogou em cima de mim e sorri, acariciando o seu cabelo. Ele
falou alguma coisa que não compreendi.
— Não entendi. — Ergui a sua cabeça pelos cabelos.
— Caralho. — Reclamou e acariciei onde machuquei. — Estou me
sentindo um idiota. Nunca percebi o padrão.
— Não quis ofender o seu intelecto e muito menos dar curto-circuito
nas suas sinapses, mas poderia explicar o padrão?
— A Lindsey... No fundo, ela quer atenção. Ela sabe que eu vou até ela
no segundo que precisar... Quando foi divulgado que a Cleo estava doente, a
Lindsey agrediu o seu vizinho. Deixei D.C na mesma noite e fiquei me
dividindo entre as duas.
Preocupante.
— A avó dela morreu?
— Há alguns meses.
— Ela precisa de uma família... De afeto, carinho, conforto. A sua irmã
precisa se sentir incluída. Se os seus pais ou as suas irmãs não puderem dar
isso a ela, nós daremos. Aceitei me casar com você para construir uma
família.
Vince ficou quieto e senti que estava remoendo algo que não queria
compartilhar.
— Fale comigo, por favor.
— Falhei com a minha irmã, isso é inegável e ao mesmo tempo, vou
falhar com a minha família. — Beijou a minha barriga e sorri.
— Os danos podem ser controlados se vocês agirem juntos e criarem
uma história. Vai ser pior se a mídia descobrir primeiro.
— Está falando como uma verdadeira Vaughn. — Ergueu o rosto e me
deu um beijo. — Hora de dormir, Sra. Vaughn.
— Boa noite, Sr. Vaughn.
Escorregamos na cama, apagamos as luzes e eu peguei no sono.
Acordei sozinha na cama. Abby já estava no andar de baixo, tomando o seu
café da manhã e eu me juntei a ela, arrulhando para a sua boquinha suja e
ainda ganhei um pedaço de mamão. Vince não estava em casa e eu pensei
que tudo que conversamos ontem nos fez próximos, mas eu estava enganada.
Apesar da nossa aparição positiva no baile no qual todos os comentários era
que nós parecíamos muito apaixonados, ele se afastou.
Ainda estava conversando comigo, ficando ao meu lado, gastando
tempo em família e compartilhando noites de sexo intensas. Ele só estava
diferente. Não falamos mais sobre a Lindsey e comecei a ficar irritada com a
maneira que falava comigo. Era muito sutil. Sempre me informando e não
perguntando a minha opinião. Passou a reclamar sobre dispensar a Hayley
antes de ele chegar à noite e mesmo assim, estava chegando em torno de duas
horas mais tarde.
Decidi dar um desconto, porque o empreendimento estava pronto, nos
ajustes finais e na montagem do evento. Imaginava que além de ter algo
incomodando-o, estava ocupado de verdade. Gastei o meu tempo e energia
com a Abby. Eu adorava ficar com ela, sua energia, seus bracinhos gordinhos
agitados a frente enquanto corria de mim, a risada gostosa, a boca sempre
brilhando de baba e os dentinhos que deixavam o seu sorriso ainda mais
bonito.
Ficar com a Abby não me fazia sentir falta de trabalhar, porque ela
consumia o meu tempo e era uma criança só.
Para a inauguração do empreendimento, escolhi uma mais jovem para o
Vince. Não havia a mínima necessidade de comparecer de terno e gravata,
porque ele tinha vinte e oito anos. O evento seria como um festival, com
montanha russa, roda gigante, tirolesa, vários shows de pessoas famosas e
barraquinhas de comida.
Seria o primeiro evento da Abby e eu estava ansiosa para a sua reação
com os brinquedos no parquinho infantil. Como pretendia brincar com ela,
troquei o meu vestido por uma bermuda modelo clochard amarelo canário,
com a corda em branco e uma blusinha verde clara e sandálias plataformas.
Deixei o meu cabelo solto e fiz uma maquiagem simples.
Para Abby, um vestido florido de fundo branco, um par de tênis all star
brancos com um lacinho rosa no tom de uma das flores.
— Estão prontas? — Vince saiu do nosso quarto pronto, cheiroso e
daquela vez, não estava com o cabelo loiro perfeitamente penteado para trás e
sim, bagunçado. — Você está linda, princesa!
— Linda Abby! — Ela gritou e soprou um beijo.
— Muito linda, meu amor. — Ele a beijou na bochecha. — E você,
minha rainha, está maravilhosamente linda. — Me deu um beijo doce. — Eu
acho que as pessoas vão sentir muita inveja ao me ver chegar com as duas
damas mais lindas do universo.
Abby e eu derretemos como duas bobas.
O empreendimento não ficava muito longe da casa que alugamos e
estava cheio. Vince precisava fazer as suas obrigações e eu tinha que estar ao
seu lado. Abby estava em seu colo, ela puxou o microfone, cantou no ouvido
do seu pai enquanto ele dava uma entrevista e do nada, se jogou em mim,
querendo ir em uma barraca que tinha uns brinquedos pendurados.
Com Gates nos acompanhando enquanto Vince trabalhava, brinquei
com a Abby na barraquinha de pescaria e falhei miseravelmente com tiro ao
alvo. Gates era um ex-fuzileiro, então, ele ganhou um urso enorme para a
Abby. Ela amou, chegando a se jogar nele, agarrando e dando um beijo.
Levei-a no escorrega, descendo diversas vezes. Vince parou próximo a
cerca, filmando e ela acenou para ele, rindo.
— Muu. — Apontou para o desenho da vaca. — Muuu.
— E esse aqui, que som faz? — Apontei para o galo.
— Cocoritó! — Ergueu os braços, me fazendo rir.
— E esse aqui? — Apontei para o cachorro.
Ao invés de latir, Abby rosnou.
— Rawn! Rawwwwwwn!
— Você é muito inteligente, garota! — Ergui-a no colo e beijei a sua
bochecha diversas vezes, apertando sem nenhuma vergonha. Vince me
abraçou por trás, dando um beijo no meu pescoço.
Abby queria comer tudo que não podia. Ela queria os doces coloridos
que as barracas vendiam e fez uma birra enorme, chegando a se jogar no chão
por causa de um algodão doce. Vince e eu trocamos um olhar, todo mundo
estava olhando e isso não era um problema para mim. Agachei e esperei que
ela extravasasse a sua fúria, batendo os pés e tudo. Um pingo de gente
furioso.
— Vem aqui, amor. — Abri os meus braços, ela fez um beicinho e os
olhos cheios de lágrimas. Dei um abraço para acalmar e acalentar. Ela tinha
um ano e meio, não entendia nada sobre o real motivo da sua birra, só não
gostou de ser contrariada. — Não pode se jogar no chão, mas você pode
chorar e quando ficar maior, vai poder comer algodão doce. — Sequei seu
rostinho e olhei para o Vince. O olhar estava lá de novo. Como se ele
estivesse em conflito e ao mesmo tempo, emocionado.
— E se o papai levar as mulheres da vida dele para comer bife com
batata frita? — Ele ofereceu com um sorriso.
— Potato na-ah-ah! — Cantarolei para animá-lo com a batata frita.
Abby sorriu e a crise foi abortada.
E o Vince nos segurou com carinho e eu ainda queria saber o que
estava deixando-o tão confuso, que causava aquela expressão conflituosa
para que pudesse resolver. Em público, não era possível, por isso só segurei a
sua mão e saímos da área externa do evento para um dos restaurantes ter o
nosso almoço em família com milhares de olhos bem atentos em nós.
Vince entrou em casa pela porta da cozinha e estava tudo meio escuro,
ele não me viu na sala. Fez uma barulheira na cozinha, derrubando algumas
coisas e soltou um palavrão, o que me fez rir. Abby se mexeu em seu sono,
resmungando, mas não acordou. Ele apareceu na sala e me viu no sofá, com
as pernas esticadas em um banquinho acolchoado com ela aninhada no meu
colo.
— O que aconteceu? — Sentou-se ao meu lado e beijou a cabeça da sua
filha.
— Nada demais, eu acho. Ela só não queria ficar sozinha. Chorou
milhares de vezes... Acho que estava muito cansada para entender os seus
sentimentos, foi um dia muito cheio.
Nós fizemos uma sessão de fotos com ela, usei o vestido branco que saí
do meu casamento, comprei algumas flores para fazer de buquê e vesti nela
um vestidinho rosa bufante. Vince usou branco e fotografamos na praia.
Levou um bom tempo porque a Abby não queria colaborar e foi preciso que a
fotógrafa conquistasse a sua amizade assim como a Agatha e a Hayley
incentivando-a a olhar para a câmera e sorrir.
Quando o ensaio acabou, ele precisou sair e nós duas brincamos com
seus cartões coloridos, ela fez uma pequena birra na hora do banho e daí seu
humor foi ladeira abaixo. Ela chorou por quase uma hora. Não havia nada de
errado com ela. Sem febre, suas gengivas não pareciam inchadas e a sua
barriguinha não estava dura. Ela queria colo e carinho. E eu dei com todo o
meu coração.
— Onde está a Hayley? — Vince me perguntou e eu não respondi,
levantando-me com a Abby nos braços. — Aurora... — Ele suspirou e subi as
escadas, caminhei devagar até o quartinho dela, coloquei no berço com muito
cuidado, peguei a babá eletrônica e voltei para a sala. — Não era...
Coloquei o dedo na boca dele, ergui o meu vestido e montei em seu
colo.
— Vou perguntar uma única vez e espero honestidade crua. Não tenha
medo se vai me magoar, mas eu tenho direito de entender o que você está
sentindo sobre ficar sozinha com a sua filha. — Coloquei as minhas mãos nos
seus ombros. — Qual é o problema? Você tem medo de que a machuque? —
Meu coração doía só de pensar que ele poderia ter medo de que eu ferisse a
Abby.
— Não! Claro que não! — Vince me agarrou bem apertado e beijou os
meus lábios repetidas vezes. — Não é isso. — Respirei fundo tendo a certeza
de que tinha alguma coisa. — Ainda preciso me acostumar... Foi tão fácil
para a mãe dela deixá-la. Quando ela foi embora, eu pensei que voltaria, que
sentiria saudades, não de mim, mas da Abby. Imaginei que ela estava com
depressão pós-parto. Não estava tudo bem ela acabar o nosso casamento sem
me falar absolutamente nada, mas abandonar a nossa filha? Não podia
imaginar um segundo da minha vida sem a Abby, como poderia ser diferente
para ela?
— Eu sinto muito, Vince. Só a Victória poderia explicar o que ela
estava sentindo. Você nunca mais a encontrou?
— Não. O divórcio foi feito por meio de advogados, nós tínhamos um
acordo nupcial no qual ela não tinha direito a nada e eu ainda ofereci pagar-
lhe uma pensão, porque sabia que ela não trabalhava. Ela negou e seguiu
adiante.
— Sinto muito. — Acariciei o seu rosto.
— E aí você...
— Fiz algo de errado?
— Não. Você segura a Abby como se ela tivesse saído do seu ventre.
Isso me deixa maluco... — Vince soltou o ar. — Você sorri como se ela fosse
a coisa mais preciosa da sua vida, se preocupa com o seu sono e lhe dá beijos
doces de boa noite que ela nunca teve porque a mãe dela foi embora.
— Não quis te magoar, esse é o meu jeito. Eu adoro a Abby, sei que
nós nos conhecemos agora, mas eu sempre fui assim, carinhosa e maternal.
Ela é a sua filha, você é o meu marido e eu quero fazer parte da vida dos
dois.
Vince segurou o meu rosto e me beijou. Foi um beijo doce, carinhoso e
encostei a minha testa na sua.
— Não vou embora. — Prometi, agarrando a sua camisa. — Quero
ficar com vocês, não me empurra para longe.
— Aurora...
— Sei que o nosso casamento foi um acordo, que eu preciso
desempenhar um papel, mas nós três podemos ser uma família real. Temos
que tentar...
Vince me beijou de novo e intensamente.
— Sim, baby. Vamos tentar... Somos uma família agora e sempre
seremos.
Nós ficamos no sofá até que o meu estômago roncou muito alto. Vince
afastou a boca do meu pescoço, rindo, sem se controlar e as minhas
bochechas estavam vermelhas. O jantar estava pronto e aquecido, o filé ficou
um pouquinho fora do ponto devido o tempo que ficou no aquecedor. Servi
as duas saladas que preparei, uma cozida e outra com folhas verdes cruas.
Pela primeira vez, fiz arroz vermelho, para experimentar.
— Está delicioso.
— Agatha ainda se surpreende que eu seja capaz de cozinhar.
— Você não parece ter metade das habilidades que tem, não é uma
crítica, é que o seu estilo preenche o estereótipo de menininha muito mimada,
que nunca encostou em uma comida crua na vida. — Vince sorriu. — Você é
uma surpresa ambulante. Ninguém imagina que você não se intimida com
birras ou com catarros.
— Acho que tem muito a ver com a minha família ser grande. Quatro
meninas em casa... E eu sempre fui a mais menininha de casa, tanto que eu
sequer sabia o que fazer na faculdade. Queria um diploma que eu pudesse
trabalhar com educação, pensei em psicologia e em seguida, algo relacionado
a pedagogia infantil. — Comi mais um pedaço do meu bife. — Levei um
tempo para me achar e pedi para os meus pais esperarem. Acho que eles
ficaram aliviados, porque o casamento da Bella secou as economias.
— Seu pai não deveria ser tão orgulhoso.
— Eu também acho, mas é difícil para um homem como ele que saiu
do nada, ter tudo e voltar para o nada. Além do mais, sempre fui romântica,
não almejava uma carreira, um trabalho ou algo assim, eu queria ser mãe.
Desde nova.
Vince se moveu na cadeira, engoliu seco.
— O quão rápido você quer ser mãe?
— Ah, não. A Abby é muito pequena. Talvez... Quando ela chegar aos
três ou quatro anos?
— Bom... Acho que é uma distância ideal. — Inclinou-se e me deu um
beijo.
Após o jantar, lavei a louça, não gostava de deixar nada sujo. Ainda
sem sono, peguei um pote de sorvete sabor chocolate belga. Olhei a
embalagem para ter certeza de que era sem glúten, enfiando a colher e enchi a
boca. Chegou a doer a minha testa. Vince estava jogado em um sofá na
varanda, ainda com a sua taça de vinho e aceitou a colherada que ofereci.
Eu tinha más intenções com aquele sorvete, dei-lhe um beijo aquecido e
abri alguns botões da sua camisa, expondo seu peitoral e arrastei a colher,
deixando cair um monte de sorvete. Lambi tudinho, sem deixar uma gota
sequer e podia sentir seu pau crescendo na minha mão.
— Vamos para o quarto... — Ele falou, rouco.
Aprendemos a lição com a exposição. No quarto, ele usou a língua
muito bem em mim, me chupando, derramando uma quantidade grande de
sorvete nos meus mamilos e, apesar de sujarmos a cama inteira e alguns
travesseiros, foi muito gostoso e bruto. Muito bruto. Ainda bem que não era
tão branca e não ficava marcada com facilidade, mas ainda podia ver as
marcas dos tapas e dos seus dedos na minha bunda. Se eu usasse biquíni
qualquer um saberia que meu marido me fodeu de quatro, segurando com
firmeza.
No dia seguinte, olhei a minha bunda e ri.
— Caramba... seu marido se empolgou. — Vince entrou no banheiro de
cueca e me segurou exatamente onde estava marcado. — Sinto muito, eu vou
me policiar para não te machucar.
— Então você não vai me pegar desse jeito. E eu gosto. De vez em
quando não tem problema nenhum. — Fiquei na ponta dos pés e beijei os
seus lábios. — Vou terminar de me arrumar.
Era um dos nossos últimos dias na ilha e iríamos passear em família.
Estava ansiosa para passarmos um tempo de qualidade juntos. Escolhi um
vestido bem romântico, rosa escuro, minhas sandálias plataformas favoritas e
deixei o meu cabelo solto. Abby acordou, chamando pelo seu pai e ele a
arrumou com uma roupinha fofa: shorts jeans azul claro, uma camisa branca
escrito MENINA DO PAPAI e uma tiara branca. Ela escolheu tênis dentre as
opções que ele colocou na sua frente.
Tomamos café-da-manhã juntos e saímos, com um roteiro bem turista
em mente. Foi divertido e cansativo. Havia muito o que ver na ilha e eu quis
fotografar quase tudo. Abby foi a primeira a ficar sem saco. Vince ainda teve
mais paciência, mas até ele chegou um momento que ficou exasperado
comigo e a minha vontade de bancar a turista. Voltamos para casa no final do
dia, alimentados e enquanto ele brincava com a Abby na cama, comecei a
fazer as nossas malas lentamente.
Fiquei impressionada com o quanto consegui espalhar minhas coisas
em três semanas. A casa era confortável e bonita, não foi difícil ficar à
vontade. Esperava que pudéssemos voltar nas próximas férias. Esperava que
Vince e eu tirássemos tempo para viajarmos juntos apenas por lazer.
Estava ansiosa para conhecer a minha nova casa, organizar a minha
rotina e entender como será a minha vida nos próximos meses. Abby dormiu
após o seu jantar, ela quis andar sozinha e fazer coisas por conta própria nos
lugares, o que significava um monte de corrida nossa atrás dela e nós dois
ficando igualmente sujos com as suas traquinagens. Quando ela dormiu, o
silêncio reinou novamente e Vince sorriu de um jeito tão orgulhoso e
apaixonado que meus ovários entraram em choque.
Cresci com um pai muito presente, amoroso e incrível, ver outro
homem se dedicando a ser um bom pai, mexia muito comigo e me deixava
incrivelmente confiante que no futuro, com a evolução do nosso
relacionamento, ele seria um pai ainda mais maravilhoso.
— Você vai terminar todas as malas hoje?
— Sim.
— E por que não quer a minha ajuda?
— A não ser que você arrume exatamente do jeito que eu quero, você
pode vir, caso contrário, não me atrapalhe. — Avisei severamente.
— Não me subestime, mulher.
Vince não se cansou com as minhas exigências e entendeu a
importância de organizar as malas, principalmente separando as roupas sujas,
das limpas e das roupas que deveriam ficar de fácil acesso. Com ele, o
trabalho ficou bem rápido e nós terminamos de arrumar tudo em poucas
horas. Suada, tomei um banho rápido, mas como ele entrou no chuveiro
comigo, dormir foi a última coisa que fizemos. Eu tinha que estar descansada
para enfrentar uma viagem muito longa com a Abby cheia de energia.
O dia amanheceu rápido, as malas foram enviadas antes de nós. Dei
uma última olhada na casa antes de pegar a minha bolsa. Abby estava
andando atrás de mim e ficou entre as minhas pernas.
— Promete que iremos voltar?
— Prometo. — Vince beijou meu pescoço rapidamente. — Vem,
bolinha de energia. — Pegou a Abby e jogou para o alto, ela riu e abriu os
braços. Senti, no meu frágil coração, que aquela menina adoraria esportes
radicais. — Você adora uma bagunça.
— De novo, papai!
— Não, chega disso. — Me intrometi e a peguei dele. — Seu pai quer
acabar com o meu coração te jogando assim.
— Ela não vai cair. — Vince garantiu.
Como ele poderia ter certeza? Sequer me dei o trabalho de responder,
saindo com a Abby no colo para o carro que nos aguardava.
A Abby quase derrubou o avião nas primeiras horas de voo e graças a
Deus aterrizamos em Seattle por umas horas, ela correu pelo aeroporto e eu
comprei uns livros de colorir para distraí-la, mas foi o Vince brincar de correr
pelos corredores até sermos autorizados a voar novamente que a cansou.
— Colinho, colinho... — Ela cantarolou, esticando os braços e eu me
senti a pessoa mais importante do mundo em ser a pessoa que ela queria colo.
Não era a Hayley ou o seu pai. Ela me queria. — Nananana.
A safadinha queria que eu cantasse a música dos Minions e eu cantei,
de um jeito mais lento, beijando a sua mãozinha e observando os seus
olhinhos fechando, pálpebras pesadas e a cada segundo que passava, ela
entrava no meu coração, florescendo e criando uma raiz profunda. Ergui o
meu olhar e o Vince estava encostado na parede de vidro, com os olhos
vidrados.
— O que foi?
— Nada. Eu acho que preciso me acostumar com o sentimento de te ver
com ela. — Sorriu torto e olhou para alguém além de mim. — Hora de ir.
Vamos para casa. — Me deu um beijo e recolheu as nossas bolsas.
Esperamos a Hayley e a Agatha terminarem de comer porque foram
passear no aeroporto e finalmente decolamos para Nova Iorque. Pousamos no
JFK às dezoito horas, Abby estava acordada, porque não deixei que ela
dormisse muito. Com toda a diferença de fuso horário e o tempo de voo, seu
corpo ficaria confuso. Era melhor aguentá-la acordada dentro do avião do que
a noite inteira sem dormir.
A caminho de casa, Vince fez um pedido para o nosso jantar e eu
dispensei a Agatha e a Hayley pelos próximos três dias, elas precisavam
descansar. Agatha vivia em uma casa na mesma propriedade e a Hayley no
centro da cidade, então, nós a deixamos em casa com as suas malas antes de
seguir para Hampton. Eu podia sentir a diferença no clima quando nos
aproximamos, estar perto do oceano deixava o ar mais salgado.
Gates virou o carro em uma estradinha cercada por árvores bonitas e vi
a placa indicando que já era a propriedade. A residência era linda. Uma
mansão de tirar o fôlego, poderosa e erguida no meio de um gramado bem
cuidado, com caminhos detalhados no chão, para o jardim, a casa dos
seguranças, da Agatha e para o quintal dos fundos.
Vince tirou as malas, fazendo duas viagens, abriu a porta e digitou o
código do alarme. Ele acendeu a luz, mostrando a sala de estar e ao levarmos
as malas para o segundo andar, me deu um tour completo. A casa tinha cinco
quartos espaçosos, um sótão que tinha estrutura para se tornar mais um e a
suíte principal era linda, com um closet grande, piso de madeira, decorado em
tons terrosos e a decoração do seu quarto era bem crua, imaginei todas as
alterações que poderia fazer.
A parte debaixo era composta por sala de estar, sala de televisão, uma
pequena biblioteca e escritório, sala de jantar, uma cozinha enorme que dava
diretamente para o pátio dos fundos com churrasqueira, uma ilha, fogão, uma
ilha para refeições e o quintal estava escuro, deixei para explorar no dia
seguinte, mas podia ouvir o som do oceano e a luz azul da piscina refletida à
certa distância.
— É um lugar realmente bonito, Vince.
— Comprei assim, quero fazer algumas reformas, mas eu ainda não
parei para fazer isso apesar de ter o projeto pronto. — Se apoiou no balcão.
— Espero que goste de viver aqui.
— Vai ser estranho no começo, estou acostumada a viver com meus
pais e as minhas irmãs, mas sei que vou gostar de viver aqui. — Me inclinei
no balcão e parei a minha boca milímetros da sua. — A parte boa é que
iremos batizar cada centímetro dessa casa. — Beijei seus lábios rapidamente.
— Beijo eu também! — Abby falou entre nós.
Vince beijou de um lado e eu do outro, esmagando as suas bochechas
gordinhas com nossos lábios cheios de amor.
Estacionei o carro na minha garagem, grato por estar em casa depois
de um dia exaustivo e mais feliz ainda por estar na minha casa. Adorava o
Hawaii, mas não existia melhor lugar que a nossa casa, o conforto da nossa
cama e as nossas coisas pessoais à disposição. Trabalhar no meu escritório,
com a minha assistente e poder voltar para casa antes de colocar a Abby na
cama era o adicional perfeito.
E agora, eu tinha uma esposa me esperando em casa.
Fazia apenas alguns dias desde que chegamos da nossa improvisada
lua-de-mel e até o momento, parecia tudo bem. Aurora estava mudando a
casa inteira de lugar, arrastando móveis, mudando quadros, revelando
fotografias e cheguei a brincar que ela estava com o espírito da fita métrica.
Salivando por mudanças.
Tinha que admitir que era refrescante ter uma mulher em casa. Nosso
quarto estava sempre cheiroso... Não que fedesse antes. Era o cheiro dela.
Gostoso, floral e convidativo. Era muito bom acordar com a sua bunda
aninhada em mim ou virar na cama, podendo enfiar o rosto no seu pescoço ou
beijar seu mamilo arrepiado em sua camisolinha de dormir.
Aurora estava mudando tudo tão rápido que estava me deixando muito
assustado. Sentindo medo de verdade. Ela estava me invadindo sem pedir
licença. A maneira que era capaz de ser carinhosa e apaixonada, mesmo que
ainda não existisse sentimentos além de afeição entre nós, me assustava
muito. Levei muito tempo para me apaixonar perdidamente e quando o fiz,
foi pela Victória, resultando no desastre que foi.
Meu telefone tocou e atendi antes de sair do carro.
— Oi, mãe.
— Olá, querido. Estou com saudades de você. — Minha mãe
cantarolou. — Já está em casa? Quero ver a Abby por vídeo.
— Acabei de estacionar na garagem, ainda não a vi e não sei se está
acordada. Aurora tem deixado a menina exausta. — Comentei e desliguei o
rádio. — Como estão todos?
— Ligia voltou com o assunto de morar sozinha e seu pai ficou meio
mal humorado. No mais, todos bem. E como está o seu casamento? Quase
não nos falamos, estou curiosa sobre a Aurora.
— E vai continuar, porque eu não vou te dizer nada além de que ela é
maravilhosa e está sendo uma mãe incrível para a Abby. Meu casamento está
fora da jurisdição de vocês e eu falo bem sério. — Avisei. Meus pais se
metiam muito no meu relacionamento com a Victória e eu não ia repetir o
mesmo erro.
— Não ia me intrometer, já disse que gosto da Aurora, embora
sonhasse que o seu casamento não fosse por questões políticas, ela é uma
menina adorável. Sei que será uma boa esposa e estou feliz em ouvir que está
sendo uma boa mãe para minha netinha. Em falar nisso, quando terei mais
netinhos?
— Boa noite, mãe. Amo você.
Ela riu e encerrei a chamada. Guardei meu telefone no bolso e peguei a
minha pasta, saindo do carro. A garagem dava para os fundos da casa, fiz o
meu caminho por ali e entrei pela cozinha, sendo imediatamente tomado por
um cheiro de comida delicioso. Aurora estava mexendo algo em uma
frigideira chinesa e a Abby estava lavada de molho de tomate. Havia
macarrão espalhado por toda a sua cadeira alta, seu peito e rosto tomado pela
cor vermelha.
— O que foi isso? — Joguei a minha pasta em um sofá no canto.
— Abby comendo sozinha. — Aurora riu. — Comeu um pratinho de
macarrão bem cheio, assim como o chão, os móveis ao redor e todo o seu
corpo.
— Ela comeu com a colher? — Olhei para a minha filha e tirei uma
foto.
— E com as mãos.
Parei atrás da Aurora e lhe dei um beijo na bochecha. Ela estava
mexendo frango com brócolis na panela, havia vagem e cenoura prontos em
uma assadeira. Ela virou o rosto e beijei seus lábios macios, dando uma breve
apalpada nos seus seios, fazendo-a rir ainda mais. Ela usava uma camisa
branca dentro de uma calça jeans de cintura alta, os cabelos presos no alto e
os pés descalços.
— Se você subir com ela, o jantar estará pronto na hora que voltar.
— Tudo bem.
— Macarrão, papai. — Abby finalmente falou, depois de engolir o que
tinha na boca.
— Oi, amor. — Beijei a sua bochecha toda suja. — Vamos tomar
banho, princesa.
Abby fez uma bagunça infernal no seu banho, ela bateu os braços e
espalhou água por todo lado, fiquei todo molhado e precisei trocar de roupa.
Aquela garota estava ficando impossível de controlar. Colocar a sua fralda foi
outra aventura, aprendendo a fugir, engatinhou na cama com seu bumbum
todo branco, rindo e eu mal havia passado sua cabeça no pijama quando ela
tentou descer da cama.
— O que tinha no maldito macarrão?
— Brincar, papai.
— Você dormiu o dia inteiro?
— Brincar bola, dedo, Minions e de batom! — Contou o seu dia.
— É mesmo? E a soneca?
— Não xei.
Tentei fazê-la dormir milhares de vezes e não deu certo, voltei para a
sala e desci a escada, voltando para cozinha com ela no colo.
— Ela dormiu de tarde?
— Apenas o horário normal, por que?
— Normalmente esse horário ela está caindo de sono e a garota parece
que engoliu a bateria de um caminhão. — Coloquei a Abby no chão e fechei
a porta da cozinha. — Estou faminto. — Porra, era muito bom chegar e ter
comida pronta. Era até idiota e machista, mas a Aurora gostava de cozinhar.
Ela estava empolgada em ter a sua própria casa e a sua família, até porque,
tínhamos a Agatha para tal função, porém, ela queria conversar comigo sobre
as novas regrinhas de funcionalidade da casa. — Isso está cheirando muito
bem.
Aurora olhou para a Abby tentando subir na cadeira para puxar uma
colher de pau e mordeu o lábio. Peguei um pano, limpei a cadeira alta da
minha filha e prendi-a ali. Aurora deu a ela um monte de colheres de silicone
e um pote, para bater e fazer a bagunça que bem entendesse. Servi o vinho
nas taças e montei o meu prato.
— Franguinho, papai. — Abby apontou para o meu prato. Cortei um
pedaço, assoprei até esfriar e dei a ela. — Outro.
— Abigail, você já comeu. — Aurora foi severa e a Abby projetou o
beicinho para fora, com os olhos cheios de lágrimas. — Fofinha.
— Fofinha não, franguinho. — Abby rebateu e eu sufoquei a risada.
— Fofinha sem franguinho.
Dei uma vagem assada para a Abby, ela agarrou e ficou mastigando,
mas não era bem o que queria. Ela conseguiu se distrair com seus brinquedos
improvisados e começamos a jantar. A comida da Aurora era muito boa.
— Estive pensando... Poderíamos mudar o quarto da Abby? — Aurora
cortou o seu frango e me olhou com expectativa. — O quarto dela está
pequeno... Talvez ela devesse ficar com o mais próximo ao nosso e o atual
ser uma espécie de brinquedoteca. Misturar as suas coisas com os brinquedos,
que são muitos, não está sendo uma boa ideia. Tentei arrumar o quarto dela
de mil maneiras e não consegui.
— Vou trabalhar em casa essa semana porque o escritório precisa de
uma reforma. Os carpetes serão tirados e os antigos papéis de parede
também, então, eu vou tirar um tempo para mover os móveis.
— Perfeito. Ainda preciso sair para explorar uma academia, preciso
voltar com a minha rotina de exercícios.
— Costumava malhar perto do trabalho, mas se você for malhar todos
os dias, podemos procurar alguma aqui perto e irmos juntos ou podemos
correr na praia alguns dias da semana.
— Eu adoraria ter companhia para correr na praia, mas eu não sou boa
com exercícios de peso, faço aeróbica e dança. — Furou uma cenoura e
comeu. Abby esticou a mão e tomou um brócolis do meu prato. — Mão
rápida, garota.
— Garota não. Abby. — Minha filha rebateu e nós rimos.
Lavei a louça quando terminamos de comer, deixei o vinho e a
sobremesa para quando a Abby dormisse, para ter um tempo sozinho com a
Aurora. Aproveitei para tomar banho, ter meu momento sozinho no banheiro
e relaxar depois de um dia de trabalho. Ao sair do banheiro, enrolado na
toalha e ainda meio molhado, Abby estava dormindo em cima da Aurora, no
sofá próximo à varanda.
Ainda me deixava maluco ver a minha filha, tão carente de amor
materno, estar tão bem nos braços de uma mulher que poderia apenas tratá-la
bem, mas a Aurora estava disposta a dar amor sem ter nada em troca. Talvez
nunca me acostumasse.
— Eu vou me vestir. — Beijei a minha filha e em seguida, beijei os
lábios da minha mulher.
— Tudo bem, vou colocá-la no berço.
Nos encontramos no corredor e descemos de mãos dadas. Ela se jogou
no sofá, colocando os pés para o alto, fui até a cozinha, pegando uma garrafa
de vinho, duas taças e me equilibrei com um pote cheio de mousse de
chocolate. Era tão estranho ter outra pessoa em casa. Quando a Abby dormia,
ficava sozinho em silêncio, com a escuridão e o barulho do oceano de
companhia. Era extremamente solitário e não sabia o quanto sentia falta de
uma companhia até ter Aurora sentada ao meu lado, falando sobre o seu dia.
Enquanto ouvia com calma – e com prazer –, sugeri que saísse da sua
calça jeans e para o meu deleite, ela disse que estava incomodando mesmo,
mas estava com preguiça. Apoiei minha taça na mesa, pedi que deitasse e abri
a sua calça, puxando pelas suas pernas maravilhosas e dei um beijo em cada
coxa e na sua virilha, jogando a calça longe. Ela ficou deitada com as pernas
em cima de mim.
— O que pode me dizer sobre os Calahan?
Aurora me deu um olhar muito cuidadoso.
— O que você quer saber?
— O quão seus pais são amigos deles?
— Acho que são bons amigos, mas as coisas ficaram estremecidas nos
últimos anos. Meu pai interviu muito no caso deles, porém, eu sei que no
final, vocês venceram.
— Não foi uma questão de vencer. Enfim, acha que seus pais estariam
dispostos a cortar relações?
— Seria realmente necessário?
— Não existe nenhuma maneira de uma Vaughn estar minimamente
relacionada a eles. Você é minha mulher e seu pai estará imediatamente
relacionado aos meus negócios, além de um óbvio favorecimento do meu pai
e seus associados no senado. Isso não vai se estender aos Calahan, acredite
em mim. — Acariciei sua coxa.
— Acho que meu pai vai fazer o que é certo. Se ele entender que para a
nossa família e os negócios o melhor é se afastar dos Calahan, ele fará. Papai
não costumava compartilhar os negócios conosco, apenas com a minha mãe e
ela o influenciava muito. Josie Calahan estudou com a minha mãe, elas são
amigas há anos... — Aurora deu entender que os laços se mantinham por
causa da minha adorada sogra. Então eu precisaria usar Aurora para
influenciar a sua mãe.
Jackie sempre me tratou bem, mas o seu olhar não escondia o temor por
sua filha estar casada comigo. Em todo caso, não haveria nenhuma maneira
que os Calahan iriam ganhar dinheiro comigo. Eles jogaram sujo no passado,
receberam dinheiro o suficiente para quitar a dívida e honrar a amizade com
os Sinclair. Eles usaram a amizade e inocência do Marcus, que obviamente,
ao fazer um investimento em uma empresa que era só fachada, iriam falir.
Meu pai interveio, por isso que o FBI e a Receita Federal não invadiu a
casa dos Sinclair no meio da noite e algumas gravações telefônicas deixaram
claro que os Calahan estavam dispostos a incriminar o Sinclair por lavagem
de dinheiro. Eles aceitaram um excelente cala boca do meu bolso, porque eu
estava interessado na porra do terreno e porque meu pai tinha planos. Acho
que desde aquela época ele queria fazer negócios com Marcus Sinclair e não
sabia como afastá-lo de pessoas que não deveriam fazer parte do nosso
círculo.
Marcus era bom e do nosso lado, ficaria ainda melhor. Futuramente,
seria avô dos meus filhos.
— Existe uma parte dessa história toda que nós não sabemos, não é? —
Aurora brincou com os seus dedos no meu braço e se ela não estivesse só de
calcinha e camiseta, talvez não falasse nada sobre isso. Aurora sem roupa
transformava o meu cérebro em mingau.
— Eles não são quem vocês pensam e definitivamente não estão falidos
de verdade. Eu paguei a eles três milhões para ficarem fora do caminho, se
eles fossem minimamente honestos, tanto quanto dá para ser nesse tipo de
negócios...
— Eles receberam para sair da disputa?
— Não existia uma disputa.
Aurora revirou os olhos.
— Se pudesse ser interpretado dessa forma, sim.
Aurora mordeu o lábio.
— Talvez não tenha sobrado muita coisa... — Falou meio incerta.
Me inclinei sobre ela e beijei os seus lábios.
— Não seja tão inocente. — Dei mais um selinho.
Ela sentou-se, pegou seu vinho, deu um gole e comeu um pouco do
mousse. Puxei as suas pernas bruscamente, de modo que ficasse totalmente
no meu colo. Tirei o seu cabelo do meu caminho, beijando a junção do seu
pescoço e ombro, dando uma mordida.
— E se eu te provar que eles estavam dispostos a incriminar os seus
pais?
Aurora arregalou os olhos e me olhou assustada, sentindo o peso das
minhas palavras. Peguei o meu telefone e acessei o meu drive, disparando as
mensagens gravadas.
— Não preciso dizer que estou confiando em você e não quero que
detalhes sejam ditos aos seus pais, porque eu não tenho certeza se seu pai
teria sangue frio para lidar com tamanha traição. — Expliquei ciente que ela
poderia se sentir manipulada, mas eu não teria sangue frio, iria arrebentar o
homem pessoalmente e isso seria um escândalo que nós não precisávamos
com o condomínio prestes a ser inaugurado.
— Nossa... Isso foi cruel. Meus pais não fazem ideia de com quem
estão lidando. — Murmurou e parei a gravação. — Não vou contar e vou
pensar em algo, porque não quero mais a minha mãe abrindo o seu coração
para uma mulher que trocou a estabilidade emocional e financeira da sua
suposta melhor amiga por um iate.
Beijei a sua bochecha e joguei o meu telefone longe. Aurora ficou triste
e eu me dediquei em consolar e animar seu estado de espírito. Os Calahan
seriam esmagados até a inauguração do meu condomínio, até lá, precisava
garantir que eles mantivessem suas bocas fechadas. Eles estavam
desconfortáveis com o meu casamento, não sabiam se apoiavam ou ficavam
contra. A dica foi não os ter convidados para o casamento, mas eles
realmente acreditavam na história que só havia membros da família.
— Por que seu pai decidiu proteger a minha família?
— Essa é uma pergunta que eu não sei responder, talvez ele já estivesse
interessado nesse acordo. Meu pai joga de um jeito que só ele entende...
— Você era casado e a sua filha estava quase nascendo quando tudo
isso aconteceu.
— Meus pais sempre odiaram a Victória. Eles não ficaram felizes no
começo, mas tentaram e a minha ex-mulher não era a melhor de se conviver.
O relacionamento deles era muito ruim e eu aprendi algumas lições também.
Aurora não falou mais nada, apenas me beijou e depois de alguns
minutos em silêncio, mudou de assunto, perguntando sobre a possibilidade de
trocar a mesa da sala de jantar que era tenebrosa, na sua opinião. Não a
conhecia em sua totalidade, mas sabia que não era burra, seja qual fosse a
conclusão que teve de todo assunto, não quis compartilhar comigo e eu deixei
estar, não queria mais conversar, queria fazer amor.
Não sabia que praticar ioga com uma criança de um ano e meio seria
tão difícil. Encontrei um espacinho iluminado entre a biblioteca/escritório do
Vince e o corredor, tinha uma parede de vidro e entrava uma iluminação
maravilhosa. Estendi o meu tapete ali e comecei a minha prática, mas a Abby
estava se pendurando em mim, subindo nas minhas costas, se enfiando entre
as minhas pernas e falando sem parar.
Vince estava soltando várias gargalhadas do escritório. Desistindo de
me desvencilhar dela, a usei como peso, incluindo nas posições e testando a
minha capacidade de segurar uma criança enquanto me equilibrava. Mais de
uma hora depois, me joguei no tapete suada e ela riu, feliz, pedindo para fazer
tudo de novo.
— Tenha dó de mim, Abby. — Beijei a sua cabeça.
— De novo.
Instrui que colocasse as costinhas nas minhas pernas e o bumbum nos
meus pés. Fiz abdominais, revezando entre erguer o bumbum do chão,
contraindo os músculos e erguendo as pernas, segurando os braços dela para
não cair. Não levou muito tempo para as minhas panturrilhas começarem a
pegar fogo e a minha barriga arder. Exausta, sentei-me e a Abby quis água,
dividi a minha garrafa com ela.
Peguei o meu telefone e vi que haviam algumas marcações. Vince
gravou um vídeo da minha ioga, usando um efeito acelerado, dando para ver
as artes da Abby e outro dando zoom, na minha bunda e barriga, colocando
um diabinho. Idiota. Rindo, nós duas invadimos seu trabalho e sentamos em
cima dele. Abby queria mexer no computador do seu pai, eu queria ficar na
reta do ar condicionado e ele queria olhar os meus peitos, puxando meio
decote e mordendo meu peito por cima da roupa quando a Abby se distraiu
com o telefone dele.
Alguma coisa me dizia que ele teria muitas distrações trabalhando em
casa. Deixei-o sozinho, respondendo sua gracinha na internet e tirei uma foto,
toda suada, com a Abby aninhada no meu quadril e a chamei de meu peso
favorito. Ela era gordinha, pesada e comia de tudo, muito saudável. Marquei
uma consulta com a sua pediatra, para entender bem sobre a sua fórmula e se
estava tudo bem.
Tomei banho com ela, vesti um short jeans e uma camisetinha fresca.
Mais tarde brincaria com ela na piscina, talvez quando a Hayley chegasse.
Agatha ainda estava de folga, como Vince estava devendo-lhe férias, decidi
adiantar e fiquei a par de todos os pagamentos da casa, que eu passaria a
controlar. Vince abriu uma conta em meu nome, no qual eu tinha minha
mesada e o fundo para gastos relacionados a casa.
Preparei um almoço leve e fiz a Abby dormir, sua soneca era muito
importante, quando ela não dormia, ficava insuportável e quando dormia
demais, era um furacão que nem o pai dela aguentava. Um mês e uma
semana convivendo com aquela garotinha, já sabia alguns macetes.
Aproveitei que estava sozinha no quarto para ligar para minha mãe. Ela
andava meio chateada comigo, principalmente depois que sutilmente andei
falando sobre a necessidade dela se afastar da Josie para que o papai pudesse
fazer parte dos negócios dos Vaughn. Ainda joguei na cara que se não
soubéssemos como ceder, o meu casamento não faria sentido nenhum.
Depois, ela andou meio fria, mas sentia certo desespero dela em sempre
querer notícias minhas, exigindo que desse bom dia e boa noite, perguntando
sutilmente se o Vince me tratava bem.
Para ser bem sincera, até o momento, Vince me tratava como uma
princesa. Ele me irritava quando chegava e comunicava alguma coisa sem
perguntar a minha opinião, mas eu decidi mudar isso sutilmente, porque se eu
me estressar, ia jogar alguma coisa na cara dele por me avisar as coisas e não
me consultar como a sua esposa.
— Oi, querida. Você não responde as minhas mensagens há horas. —
Mamãe reclamou.
— Mãe... Esqueceu que tenho uma casa, marido e uma criança para
cuidar? — Brinquei e ela riu, meio nervosamente. — Está acontecendo algo
que não sei?
— Claro que não. Só sinto a sua falta... Então, me conta como está a
sua vida aí?
Passei quase meia hora com a minha mãe em chamada de vídeo, seu
sorriso e falsa animação não me deixaram nada feliz e ainda brinquei que ela
seria vovó – só para testar a sua reação e ela quase gritou que era cedo
demais. Não gostava de esconder coisas da minha família, eu ouvi as
gravações e reconheci a voz do Sr. Calahan. Mas eu não estava gostando da
maneira que a minha mãe parecia com medo que eu fosse desaparecer a
qualquer momento.
Assim que ela desligou, liguei para a minha irmã.
— Olá, Sra. Vaughn. Acabei de ver o vídeo do seu marido te tarando
no instagram. — Bella sorriu. Jake falou alguma coisa com ela, deu um beijo
nela e um oi rápido. — Ele está indo comprar umas coisinhas para fazermos
um jantarzinho romântico a dois mais tarde.
— Hum, isso é uma boa ideia. Como você está?
— Estou bem, você parece bem também. Está feliz? Vince é um bom
marido?
— Até agora sim, mas ainda estamos em lua-de-mel, não brigamos e
ele é muito educado, não é bagunceiro, só perde a noção do tempo
trabalhando, no mais, está tudo bem. — Me ajeitei na cama. — Bella, o que
está acontecendo com a mamãe?
Minha irmã me deu um olhar preocupado.
— Está com os seus fones de ouvido?
— Sim, espera aí. — Peguei os meus fones e coloquei, conectando
rapidamente. — Pode falar.
— Sei que você falou que os Calahan mentiram, ela ficou chateada e
jogou algumas indiretas, acho que a Josie deu a entender que nós estávamos
fazendo um pacto com o diabo, que a mamãe sempre tão zelosa deu a filha de
bandeja para o filho do diabo e que se ela não acreditasse, deveria procurar
sobre a primeira esposa dele, que desapareceu deixando a filha. — Bella
explicou com uma expressão preocupada. — Enquanto acho muito estranho a
mulher ter sumido do mapa, não acredito que eles tenham feito algo, talvez o
Vince possa simplesmente ter impedido a mulher de ver a filha, tirar a
guarda, mas desaparecer? Ela não teria uma família para reclamar?
— Ela não desapareceu, foi embora, mas eu vou descobrir onde ela está
e deixar a mamãe tranquila. Que isso fique entre nós, o Vince tem muito
ressentimento da Victória ter deixado a filha. Isso é real. Sinceramente, acho
que ele também ficou com o coração partido por ter sido abandonado, aquela
dor não se inventa. — Murmurei e mordi o lábio. — Jake ainda tem aquele
amigo que é detetive particular?
— Você não tem que provar nada a mamãe e muito menos à Josie.
— Bella, eu tenho... certeza de que os Calahan fariam algo realmente
ruim conosco. Você precisa acreditar em mim.
Minha irmã ficou séria.
— Merda, Aurora. Vince tem provas?
— Por favor, eu não posso contar detalhes porque prometi a ele, mas
você sabe que eu não faria nada apenas porque ele me falou. Sabe que não
sou assim, eu iria dar uma chance para que todos os lados provassem a
verdade.
Bella mordeu o lábio.
— Eu vou pedir para o Jake fazer uma varredura com seus amigos da
polícia, além de encontrar a Victória, eu vou dar um jeito de provar que você
está falando a verdade sem que esteja diretamente envolvida, assim o Vince
não vai pensar que você traiu a confiança dele. — Bella explicou. — Hoje a
noite, depois que deixar o Jake bem mole depois do nosso jantar irei falar
com ele.
— Obrigada. É por isso que você é a minha melhor amiga.
Bella riu, conversamos mais um pouquinho e encerramos a chamada.
Abby ainda estava dormindo, desci a escada em passos rápidos e rodopiei
para dentro do escritório, meu marido parecia concentrado analisando uma
planta 3D no computador e desviou o olhar quando me sentei na pontinha da
sua mesa.
— Gosta de fondue?
— Bastante.
— Pensei em fazermos um jantarzinho, mas ainda faltam algumas
coisas. Você poderia ir ao mercado?
— Só fazer a lista. — Me deu um sorriso. Beijei seus lábios e fui para a
cozinha fazer a lista. Bella me mandou um print das redes sociais, procurando
a Victória e eu sabia que ela deixou o Vince por um homem, mas não tinha
certeza e eu precisava da certidão de nascimento antiga da Abby para ter
acesso ao nome todo da mãe biológica.
Com o casamento, adotei a Abby legalmente, mas eu não tinha a guarda
dela. Era compartilhada com o Vince e havia um contrato rígido acerca de
milhares de coisas. Terminei a lista, entreguei para ele e menos de quinze
minutos depois, saiu de casa para o mercado. Esperei que saísse para invadir
o seu escritório, procurando nas gavetas de documentos e achei uma pasta
intitulada Victória.
Ali tinha a certidão de casamento deles, algumas fotos, certidão do
nascimento da Abby e dei uma olhada no nome dela. Tirei foto e enviei para
a Bella pesquisar, guardei tudo e saí de lá como se não tivesse entrado. Fiquei
no quarto, deitada, mexendo no telefone e algum tempo depois, ouvi a Abby
acordar e a Hayley dizer que sairia com ela para passear na praia.
— Vou esperar o Vince voltar e irei encontrar com vocês. — Dei um
beijo na Abby. — Se divirta, florzinha.
Vince ainda encontrou com as duas, colocou as compras no balcão e
me olhou.
— O que você queria no meu escritório?
Merda.
— Tem câmeras?
— Sim... — Ele inclinou a cabeça para o lado.
— Hum... — Comecei a tirar as coisas das bolsas de papel. —
Precisava do nome completo da Victória e eu procurei pela primeira certidão
da Abby.
Vince franziu o cenho.
— O que você quer com isso, Aurora? — Seu tom foi duro e muito
irritado.
— Descobrir onde ela está. — Mordi o lábio. — Vince... Só preciso
saber onde ela está e ponto final.
— O que não está me contando? Eu quero saber e agora.
— Depende. Eu vou te contar se você prometer confiar em mim.
Ele parou para pensar, muito puto.
— Fala.
— Josie deu a entender para minha mãe que vocês desapareceram com
a Victória e eu queria saber onde ela está agora, além de sanar a minha
curiosidade, provar que ela está errada. — Encolhi os ombros, tentando
diminuir toda a situação.
— Eu sei onde a Victória está, Aurora. Não sou idiota, não ia perdê-la
de vista. Tenho pessoas monitorando, principalmente para que ela não decida
voltar e tentar chegar perto da Abby. Ou sei lá, pegar a Hayley de surpresa no
parquinho, na praia, enfim... Victória não é santa. — Vince apoiou as mãos
no balcão. — Deveria ter me falado e me perguntado, Aurora.
Droga, ele tinha razão.
— Não existe mais a sua família e eu, nós somos uma família. Nós
dois.
— Vince, eu sinto muito, você tem razão. Eu não queria te chatear, mas
eu queria sanar a minha curiosidade, calar a boca da Josie e tranquilizar a
minha mãe desesperada.
Ele me encarou e suspirou.
— Eu não desapareci com a minha ex-mulher, nunca fiz nada e muito
menos a machuquei. — Afirmou ainda sentindo-se ofendido.
— Sinto muito.
Dei a volta no balcão e o abracei. Eu não queria causar uma guerra com
o Vince, mas eu estava curiosa e precisava deixar as coisas claras.
— Quer saber onde ela está agora? — Pegou seu telefone, abriu um
aplicativo e eu vi a imagem de uma lanchonete e uma mulher ruiva servindo
mesas. — Esse é o trabalho dela. Meu pessoal invadiu o sistema de câmeras.
Puta, me afastei.
— Você fica olhando para a sua ex-mulher o tempo todo?
Vince revirou os olhos.
— Primeiro você acha que eu sumi com ela e agora está com ciúme?
— Claro que sim, Vicent. Que merda é essa? Eu não sou estepe de
ninguém!
Vince puxou o cabelo.
— Eu não fico olhando, até esqueço de fazer isso, porque eu pago
alguém para manter a vigilância. Victória fez a escolha dela ao sair, mas a
Abby não vai sofrer as consequências disso, eu já te disse: ela não vai voltar
para bagunçar os sentimentos da minha filha.
— E pelo visto, os seus também. — Resmunguei e dei as costas, mas
parei. — Me desculpe por mexer nas suas coisas e por agir nas suas costas
sobre isso, mas eu queria te proteger e provar que ela foi embora porque quis,
mas você ficar assistindo a sua ex-mulher no vídeo? Inacreditável!
— Aurora...
Vince me pegou antes que saísse e me jogou no sofá, deitando-se por
cima, segurando as minhas mãos e me beijou.
— Não estou vigiando por um sentido romântico, eu te juro que não
tem ninguém na minha cabeça além de você. — Escovou os lábios nos meus.
— Desde o primeiro dia, você me surpreende e toma cada espaço disponível
dentro de mim para si. Victória está no meu passado, mas ela não deixa de ser
uma preocupação. — Deixei que me beijasse. — Acredita em mim?
— Eu acredito, mas não gosto disso. Eu não sei o que sentir quanto a
isso, Vince. Não quero...
— Não existe nenhuma possibilidade que a Victória e eu sejamos um
casal novamente. Nosso casamento já estava um completo desastre antes
mesmo da Abby nascer. — Esfregou o nariz no meu. — E Aurora, não
esconda nada de mim, você não precisa me proteger. Eu posso lidar com a
Josie e toda família Calahan.
— Eu queria deixar os meus pais despreocupados.
— Vou lidar com isso e no futuro, se precisar de qualquer coisa, fale
comigo.
Tinha que fazer uma escolha e com o beijo seguinte, escolhi o Vince.
Me senti uma traidora, escolhendo um homem que entrou na minha vida há
poucos meses ao invés da minha família, mas era por causa deles que esse
casamento realmente aconteceu e se todos nós ficássemos do mesmo lado,
seria mais fácil. De repente, fazer uma escolha não seria tão difícil se eu
eliminasse o que poderia nos separar.
Os Calahan.
Vince me deu um beijo que me deixou com vontade de dar para ele ali
mesmo no sofá com a Abby podendo voltar a qualquer momento, mas ele
tinha que voltar a trabalhar. Levou um tempo para Bella me responder,
quando pude contar a ele o que sabia, ela veio com o que sabia e por
coincidência, era o mesmo. Sem aguentar esperar, pediu por conta própria ao
melhor amigo do Jacob e ele respondeu alguns minutos depois.
Não percebi o quão tensa estava até que o alívio me dominou. Victória
estava no mesmo lugar que o Vince me disse. Em Los Angeles, vivendo com
o namorado, trabalhando em uma lanchonete de dia e no mesmo bar que ele a
noite. Ela parecia feliz. Encontrei as suas redes sociais, eu e minha irmã
passamos horas fuxicando as suas fotos e não havia qualquer menção que um
dia ela foi casada com o Vince e teve uma filha.
Isso era triste e muito estranho. Se ela não tivesse uma filha, fingir que
nunca teve um marido, tudo bem. Mas fazer parecer que nunca teve uma
filha?
Bella enviou para mamãe e me mandou o print da conversa que elas
tiveram. Provando que a Josie só queria jogar uma sementinha da discórdia,
mamãe parecia aliviada e mais calma. Me senti mal por ter agido pelas costas
do Vince, não foi por mal, felizmente ele tinha me perdoado e esperava que
não ficasse desconfiando de mim como eu não queria ficar desconfiando
dele.
Encontrei com a Hayley na praia, brincando com a Abby e me juntei à
elas, cavando buracos, fazendo formas e brincando de bola. Nós entramos
quando o vento começou a ficar frio. Fui ao banheiro, adorando a privacidade
de ficar sozinha porque a Abby não podia me ver indo ao banheiro que vinha
atrás. Fiz a minha higiene completa e, com fome, desci para a cozinha.
Preparei um sanduíche para mim e, pensando que o Vince provavelmente não
comeu nada, fiz um para ele. Espremi laranjas na super potente máquina para
um suco bem fresquinho para nós dois. Bati uma vitamina de banana com
morango para a Abby.
Hayley deu para Abby a vitamina e montei uma bandeja com o lanche,
indo até a biblioteca. Vince estava concentrado no computador, seus olhos
estavam vermelhos de tanto trabalhar e os esfregou, parecendo exausto.
Coloquei a bandeja em uma mesa pequena próxima a uma estante cheia de
livros de arquitetura, me aproximei dele e beijei sua bochecha. Já estava na
hora de encerrar o expediente. Devagar, abaixei a tela do seu notebook e
segurei suas mãos, puxando para a mesa.
— Hayley está com a Abby e ela só irá embora em algumas horas, por
que não vamos descansar? — Sugeri acariciando a sua coxa.
— Ainda preciso enviar um e-mail, mas não preciso fazer agora, então,
eu acho que podemos descansar um pouco. Minha cabeça está explodindo.
Deixei a bandeja na cozinha, disse a Hayley que iria subir com o Vince
por um momento. Ainda precisava gerir a questão do horário dela, achava
totalmente desnecessário ter uma babá em tempo integral, mas, ela era uma
universitária e precisava do seu emprego para seguir estudando com
tranquilidade. Deixando esse detalhe para depois, fechei a porta do meu
quarto. Vince tirou a camisa e a calça, se jogando na cama. Liguei o ar para
ficarmos fechados e isolados.
Deitei-me ao seu lado, ele rolou para cima de mim, abriu o meu short e
olhei o tempo todo para o seu rosto, mordendo o lábio para conter o meu
sorriso. Se livrou do meu short e abriu as minhas pernas, com meus joelhos
batendo em seus ombros e o seu rosto quase na minha virilha. Vince beijou o
interior das minhas coxas, plantando um beijinho suave em cima da minha
calcinha, chegando para o lado, dando um beijo em cada lábio.
— Você não estava com dor de cabeça? — Murmurei e gemi com a sua
língua explorando o meu clitóris.
— Estou querendo melhorar. — Sorriu torto e voltou a me chupar.
Soltei um gemido alto, com os meus mamilos arrepiados roçando contra o
meu sutiã. Vince me levou ao orgasmo bem gostoso, ajoelhou na cama e tirou
a cueca, com seu pau saltando firme, com a cabeça brilhando e as veias
salientes.
Tirei a minha camisa e o sutiã. Nós namoramos no fim da tarde, cheios
de tesão, foi muito bom. Ficamos na cama e o fiz dormir, acariciando seus
cabelos e massageando as suas têmporas com carinho. Tomei um banho e me
vesti com a mesma roupa de mais cedo, exceto a calcinha e saí do quarto para
me despedir da Hayley, dei o jantar da Abby e nós brincamos um pouco no
tapete da sala, mas ela caiu e se machucou.
O escândalo foi certo e a feridinha nos lábios a fez parecer a Angelina
Jolie com menos de dois anos. Coloquei gelo e a mantive no meu colo,
lembrei da minha infância, todas as vezes que caí, minha mãe estava lá,
assoprando os meus machucados, dando colinho e meu pai sempre me dava
um beijo e um abraço. Pensando neles, tirei uma foto minha com a Abby na
cozinha, enviando no grupo da família e agradecendo meus pais por todo o
amor e carinho.
— Ouvi um choro? — Vince entrou na cozinha, usando jeans e nada
mais.
— Abby caiu, papai. — Ela choramingou e foi para o colinho do seu
papai.
— Eu vou começar a preparar o nosso jantar. — Sorri para as minhas
pessoinhas favoritas e peguei os itens para o fondue. Pensei que o Vince
fosse ficar sozinho com a Abby na sala, mas eles optaram em ficar comigo na
cozinha, criando um momento familiar bastante agradável porque a Abby
esmagou a maioria das frutas e o Vince beliscou o queijo que deveria ser
derretido, bebendo o vinho.
Deveria ficar irritada, mas não me importei, porque nós conversamos,
brincamos, ouvimos música e ainda dançamos com a pequenininha. Ela
adorava bagunçar e gastou tanta energia entre nós, que ao levá-la para dormir,
não levou muito tempo para pegar no sono.
— Ela é maravilhosa. — Me inclinei no berço, cobrindo-a direito e
beijei a sua testinha. Acariciei a sua bochecha e ela gemeu no seu sono,
virando de lado e coloquei a sua bonequinha ao seu lado.
— Você também é. — Vince acariciou as minhas costas. — Vamos,
baby.
Voltamos para o primeiro piso, montei o aparelho de fondue que ganhei
de presente de casamento da minha tia, até tirei uma foto e mandei para ela,
agradecendo mais uma vez. Ganhei presentes realmente lindos, apesar de não
precisar e deixei claro para todos, a minha família não quis saber e me deram
utensílios lindos. Usei o aparelho de jantar de porcelana portuguesa que a
minha irmã Bella me deu.
— Espero que tenha queijo o suficiente porque o meu marido fez
questão de comer. — Murmurei e organizei tudo. — Então, vamos comer.
— Hum, tudo parece bom. — Vince enfiou um pedaço de carne no
queijo derretido, assoprou e me ofereceu. Estava delicioso. — Vou instituir a
lei: Aurora sempre de calcinha. — Apontou para o meu short. — Ficar de
calcinha é muito mais eficiente para esse jantar a dois.
— Isso significaria que você deveria ficar de cueca.
— Seria um problema, porque não estou usando uma. — Sorriu torto,
me inclinei, beijei os seus lábios e fiquei de pé, tirando o meu short jeans e a
minha camisa, sem sutiã, fiquei de calcinha e com os seios expostos. Vince
agarrou o meu quadril e me colocou sentada em seu colo. — Agora sim
parece muito melhor.
— É claro, estou sentada em uma tora. — Movi o meu quadril e rimos.
Comemos toda a fondue, a salgada e a doce. Bebemos duas garrafas de
vinho e fizemos sexo deliciosamente, começando na sala e terminando no
quarto. Acordei no dia seguinte toda gosmenta, suada, tomei banho e vesti o
meu short-cueca de corrida, um top branco e prendi o meu cabelo.
Agatha estava na cozinha quando desci.
— Bem-vinda de volta, desculpa a bagunça na sala.
— Está tudo bem, eu já fui recém-casada. — Piscou e me deu um
sorriso.
— Abby ainda está dormindo, você poderia dar uma olhadinha nela
enquanto saio em uma corrida com o Vince?
— Claro que sim, gostariam de uma vitamina antes de saírem?
— Eu adoraria, obrigada. Vou acordar o Vince.
Subi a escada correndo, olhei a Abby, entrei no meu quarto e o meu
marido estava de bruços, com a coberta caída na sua bunda e puxei, expondo
a sua bunda branca. Me inclinei e dei um beijo, em seguida uma mordida, ele
ergueu o rosto e soltou um resmungo sonolento. Beijei as suas costas até
chegar na sua nuca, ele riu e virou-se, me jogando de lado e nu, me deu um
beijo.
— Pensei que iríamos sair para correr.
— Nós vamos. — Me deu mais um beijo gostoso.
Fiquei na cama enquanto ele se vestia, vesti as minhas meias e calcei os
meus tênis favoritos de corrida. Vince saiu do closet só de calção de basquete
e mais nada.
— Cadê o restante da sua roupa? — Apontou para o meu short. — Isso
é um biquíni?
— Vou correr na praia, por que estaria vestida? E essa é a minha roupa.
— Dei uma voltinha. Vince estapeou a minha bunda, mandando ir na frente.
Tomamos a vitamina na cozinha e não bebi muito, apenas meio copo,
detestava correr de barriga cheia. Estava um dia quente para agosto, nos
alongamos no quintal e dei uns pulinhos no lugar para me aquecer.
Vince costumava correr os três quilômetros da praia e voltava. Daria
um total de seis, seria moleza para mim. Nós mantivemos um ritmo e em
dado momento, brincamos de perseguir ao outro. Ele me gravou correndo
dele e quase me jogou na água, voltei para ele, jogando areia e pulei em seus
braços. Vince me pegou no colo, ainda nos filmando e beijei a sua boca.
Ele me convenceu a fazer alguns exercícios aeróbicos na areia fofa,
dando voltas e competindo quem fazia mais rápido. Nunca me exercitei com
ninguém. Bella odiava a prática, Jasmine já estaria desmaiada e a Snow
sequer tem um par de tênis, mesmo que o papai fosse apaixonado, elas
sempre choramingavam o tempo todo.
Voltamos correndo e eu estava muito suada, errática e com a cabeça
doendo. Lavei o meu rosto, peguei uma toalha e fui me secando. Abby estava
acordada na cozinha, ainda de pijama, com os cabelos em pé e correu até nós
dois com os bracinhos para o alto. Peguei-a e beijei a sua bochecha. O
movimento de abaixar e levantar com ela me fez tonta. Cambaleei e a Agatha
imediatamente veio ao meu lado, agarrando a Abby e o Vince me impediu de
cair no chão.
— Ei, calma. — Vince me ergueu no colo e me levou para a sala,
ligando o ar e me refrescando.
— Parece ser queda de pressão, ela só bebeu dois dedos de vitamina e
vou preparar um suco de laranja. Tire os sapatos dela e eleve as pernas.
Vince obedeceu, elevando as minhas pernas e colocou uma almofada
atrás de mim. Lambi os meus lábios, ainda me sentindo pegajosa. Abby
apoiou as mãos no sofá, agarrando firme e tentando subir.
— Rora! — Chamou e estiquei os meus braços, dando apoio.
— Oi, amor. — Ela subiu em cima de mim.
— Aqui, beba uns goles. — Vince me deu um pouquinho de água. —
Você deveria ter tomado toda vitamina.
— Não consigo correr de estômago cheio. — Fiz um pequeno beicinho.
— Faz muito tempo que não tenho queda de pressão.
— É melhor que você coma direito, Aurora. — Me deu um beijo suave
nos lábios.
Me sentindo melhor, sentei-me à mesa da cozinha, tomei o suco de laranja
todinho, me refrescando por dentro e devorei o prato de torrada, ovos, bacon
e queijo branco. Lambi os meus dedos.
— Acho que a combinação de não jantar muito, beber vinho, correr na
praia e quase desmaiar te deixa com um apetite voraz. — Vince brincou.
— Comi demais. — Gemi com a mão no meu estômago. Abby riu,
mordiscando uma torrada e me ofereceu um pedaço. Mordi bem
pequenininho só para não fazer desfeita e em seguida, fingi que iria comer a
mãozinha dela.
— Tem certeza de que está melhor? Acho que deveria deitar-se um
pouco.
— Só se for para digerir tudo que comi.
Abby ainda estava de pijama e eu precisava de um banho, Vince subiu
conosco e olhou com diversão o meu banho com ela. Nós lavamos o cabelo e
a Abby jogou quase todos os vidros de xampu e condicionar dentro da
banheira. Meu cabelo precisava urgente de um dia no salão e pensei em tirar
as pontas loiras, ficava muito ressecado. Sequei a Abby, colocando uma
fralda, escolhi uma roupinha e a prendi no closet comigo enquanto me vestia.
— Vai sair? — Vince entrou, só de cueca e pegou uma calça.
— Vou procurar uma academia, um salão de beleza, porque eu preciso
me depilar caso não tenha reparado e fazer as minhas unhas.
— Não depilar não faz a mínima diferença para mim. Não vai me
impedir. — Piscou e me deu um beijo. — Gates pode te levar e por gentileza,
coma antes de sair. Vai levar a Abby?
— Se você permitir.
Vince sorriu.
— Abby, bagunceira! — Vince a pegou do chão. Ela já tinha espalhado
todos os meus sapatos e puxado duas bolsas. — Você vai ter um dia de
menina.
Terminei de me arrumar, enquanto ele a vestia, arrumei a sua bolsa.
Estava feliz que o Vince confiou que saísse sozinha com a Abby, porque nós
duas tivemos um dia muito divertido na rua e apesar da sua agitação,
consegui fazer as unhas, meu cabelo e me depilar. Ainda visitei uma
academia de dança no nosso bairro, não estava muito cheia e fiz minha
matrícula, conheci uma mulher chamada Juliet, ela era ruiva, simpática e,
após alguma conversa, descobri que éramos vizinhas bem próximas.
Ela era dona do labrador que a Abby ficava enlouquecida quando via
correndo na praia. Juliet tinha três filhos pequenos e combinamos um horário
para virmos às aulas juntas e levar as crianças para brincar. Fazer uma nova
amizade me deixou empolgada, porque eu sentia falta das minhas irmãs e
amigas, ficar o tempo inteiro em casa com o Vince e a Abby iria me
enlouquecer.
Entrei em casa com a Abby no colo. Ela tirou um rápido cochilo no
carro e não parecia disposta a dormir novamente. Agradeci ao Gates pela
companhia paciente e joguei minhas chaves na mesinha. Reparei que havia
um carro na vaga de visitantes.
— Estou em casa! — Chamei da porta da frente.
— Papai! — Abby gritou no meu colo.
Andei com ela no colo.
— Seja bem-vinda de volta, Sra. Vaughn. — Agatha me recebeu
formalmente. — O Sr. Vince está no escritório com a Srta. Bishop e esse é o
Sr. Francis, ele trabalha com a Srta. Bishop para o Sr. Vaughn.
O tal Sr. Francis deveria ser apenas alguns anos mais velho que eu,
parecia nervoso em me conhecer, apertei a sua mão com firmeza e na dica,
uma estonteante mulher saiu do escritório com o meu marido. Ela usava um
vestido branco, decotado, cabelos loiros perfeitamente escovados sem um
maldito fio fora do lugar e os seus peitos eram redondos, duros como se
tivesse silicone, seu colar se perdia entre as duas bolas. Ela usava uma
sandália de tiras, carregava uma pasta grande que seu assistente
imediatamente pegou.
— Você deve ser a Aurora. — Esticou as mãos e apertou as minhas. —
Olá, Abby. — Sorriu doce e a Abby seguiu encarando as suas mãos. —
Vince, você tem uma família adorável. — Ela tocou o braço dele com muita
familiaridade.
Vince percebeu o meu olhar.
— Espero as correções amanhã cedo. Façam uma boa viagem de volta.
— Vince disse com firmeza. Ela sorriu e saiu com o seu assistente,
acompanhados pela Agatha. — Oi, baby.
— O que ela estava fazendo aqui? — Meu tom não estava para
brincadeira.
— Tinha uma reunião agendada. — Ele tinha o desplante de ficar
confuso.
— E por que não me falou nada?
— Não achei necessário, era sobre o trabalho.
Arqueei a minha sobrancelha.
— Só para deixar claro, você está trabalhando em casa e nessa casa,
quem manda sou eu. Você manda no seu escritório e para eventos futuros, me
avise quando irá receber qualquer pessoa aqui e eu vou te dizer se será um
bom momento, ou, se deverá agendar a reunião em outro lugar. Seja com a
Srta. Peitos de Pedra ou com qualquer pessoa. — Coloquei a Abby no chão e
ela foi andando para a sua caixa de brinquedos. Vince ainda estava mudo. —
Você entendeu?
— Entendi. — Vince murmurou.
— Obrigada. — Dei um tapinha no seu peito e segui para a cozinha.
— A propósito, você está linda. — Gritou atrás de mim, mas não lhe
dei confiança. Ele iria pensar bem antes de trazer uma mulher para dentro da
nossa casa quando eu não estiver presente. Podia ser bobeira minha, mas
fiquei incomodada e não queria esconder isso.
Agatha estava rindo, trocamos um olhar e ela fez uma cara de paisagem
quando Vince passou para pegar uma garrafa de água. Comecei a falar sobre
o cardápio, mantendo um olhar na Abby espalhando brinquedos pela sala.
Ainda precisava trocá-la de quarto e doar alguns brinquedos, alguns sequer
eram para a sua idade. Vince continuou me olhando e eu o deixaria sofrer por
um tempinho.
Meu telefone vibrou em cima do balcão e era a minha irmã Bella,
avisando que precisava conversar comigo. Pedi licença e me refugiei no
banheiro. Ela me mandou dois áudios e dei play no primeiro.
“Sei que você já esclareceu as coisas com o Vince, mas o Jake pediu
para o Leon dar uma investigada. Ele não pode ir muito longe, porque não
queria ser pego ou rastreado pela família Vaughn. Victória realmente foi
embora para Los Angeles com seu antigo namorado e vive lá nos dias de
hoje. — Bella deu uma pausa. — Dois dias antes da Victória ir embora,
Vince transferiu trezentos mil dólares para a conta do namorado dela. Isso é
muito estranho, certo? Em todo caso, Leon recuou, além de ele não ter uma
causa provável para mexer nos registros de uma família como os Vaughn, ele
ficou preocupado em nos causar problemas”.
Seu segundo áudio era mais curto.
“Achei muito estranho, talvez você devesse perguntar a ele? Pode
colocar a culpa no Jake, se o seu marido descobrir, imediatamente vai ligar
o Leon ao Jake. Não acho uma boa ideia mentir para o seu marido, se vocês
podem ser um time, todos nós iremos trabalhar nisso. Precisamos ter certeza
com o que estamos lidando. Eu te amo, se cuida. Me dê notícias”.
Cada segundo, cada nova informação e cada novo pensamento me fazia
sentir mergulhando diretamente em uma teia de aranha venenosa.
Aurora ainda estava me tratando friamente. Nós jantamos juntos,
fizemos a Abby dormir e no momento, ela estava no banheiro passando um
creme hidratante que cheirava muito bem. Encostei na soleira da porta,
olhando-a e admirei a sua camisolinha sexy.
— Sei que você vai ficar chateado, mas eu não me importo muito no
momento, só sinto a necessidade de ser honesta com você. — Esfregou algo
nos cotovelos. — Desde que a Bella e eu conversamos sobre a sua ex-mulher,
meu cunhado fez umas pesquisas. Ele descobriu que você transferiu trezentos
mil para o ex-namorado da sua mulher, que no caso, o atual que ela fugiu.
— Por que ainda estão fuxicando isso?
— Eu não estou fuxicando nada e pedi para minha irmã parar, mas ela
não quis esconder o que descobriu e eu estou sendo honesta com você.
Gostaria de honestidade também.
Respirei fundo, porque aquele assunto me irritava muito e esfreguei o
meu rosto.
— Ele estava me chantageando e eu paguei pelo seu silêncio.
— Pelo quê? — Aurora me encarou. — Vince, por favor. Isso é
exaustivo, só me fala a droga da verdade.
— Ele estava ameaçando enviar para a mídia que a Abby não é minha
filha biológica. — Soltei e ela me encarou.
— Abby não é sua?
— Ela é minha, não importa o DNA, mas biologicamente falando, sim,
ela é. Na verdade, a Victória tinha certeza de que ela era do seu namorado,
porque estava transando com nós dois ao mesmo tempo. — Aurora parou na
minha frente. — Na época, isso me feriu e eu acreditei nele. Por um
momento, me bateu o desespero de que ela não poderia ser minha. Isso me
devastou e eu paguei.
— Sinto muito.
— Quando a Victória foi embora, me preocupei sobre isso, além de
algumas doenças sexualmente transmissíveis já que eles não eram
cuidadosos. Nesse meio tempo, tomei coragem de fazer um exame de DNA e
deu positivo para mim e conforme ela cresce, mais parecida com a minha
família ela fica. — Abracei-a bem apertado. — Eu fui um idiota em dar
dinheiro aos dois, mas a Abby estava comigo e não me importei com mais
nada.
— Será que a Victória sabia das ameaças do namorado?
— Acho que eles armaram tudo, ela sabia que a Abby era o meu ponto
fraco e abusou disso. — Acariciei o cabelo sedoso da Aurora. —
Eventualmente, precisei da ajuda dos meus pais porque eu estava
emocionalmente esgotado, muito cansado de estar totalmente sozinho com
um bebê e eu não me preocupei com o que meus pais iriam fazer. Só
precisava de ajuda e não pensar mais na Victória. Não me pergunte o que
meus pais fizeram, o que deram a ela ou o que ofereceram, porque não quis
saber.
— Entendo porque não quis, você precisava de um tempo.
Ficando na ponta dos pés, me deu um beijo. Pensei que estava tudo
bem, mas ela ainda me olhou torto sobre a reunião com uma das minhas
arquitetas. Elena tinha aquele jeito de loira fatal que não me atraía em
absolutamente nada. No passado, ela tentou, mesmo sendo casado e ela
também. Quando me divorciei, ela tentou de novo. Então, eu a ameacei com
um processo de assédio sexual e uma demissão sem nenhum direito. Eu
nunca tive um caso no meu trabalho. Absolutamente nunca.
Ao invés de ficarmos na sala até tarde como todos os dias, ficamos na
cama, ela lendo com seu kindle e eu respondendo e-mails. Meu pai me
enviou uma mensagem, para ligar no dia seguinte logo cedo. Apaguei a tela
do telefone, deixando de lado e decidi mendigar o perdão porque eu estava
me tornando um dependente da Aurora. Escorreguei na cama, virando de lado
e enfiei a minha cabeça entre seus braços e o Kindle. Fiquei quietinho, ela
começou a escovar os meus cabelos distraidamente, relaxando a sua postura.
— Você vai me desculpar?
— Já te desculpei há muito tempo.
— Então por que ainda está me olhando torto?
— Não estou não. — Ergui o meu olhar e ela sorriu. — Deve ser a sua
consciência pesada. Vamos analisar uma coisa... Se eu trabalhasse fora, por
algum motivo, precisasse trabalhar em casa e aí, recebesse uma pessoa sem
ter te falado nada. Talvez você não se importasse, mas eu sou a dona dessa
casa, a sua esposa, deveria estar preparada e consciente que receberíamos
visitas. Ninguém pode entrar nessa casa sem o meu consentimento e eu levo
isso muito a sério. Entendeu agora?
— Entendi. Sinto muito. Estou acostumado a fazer tudo sozinho.
— Por isso que te desculpei.
— Os olhares eram coisa da minha cabeça agora? — Soltei uma risada.
— Como disse, consciência pesada. — Me provocou e beijei o seu
peito. — A Abby se divertiu tanto no salão de beleza. Ela queria passar
maquiagem, enfiou as mãos nos grampos, espalhou um monte de coisa e
ainda escolheu a cor do esmalte. Quando fui me depilar, ela ficou sentada na
minha barriga e foi uma manobra fazer toda a minha virilha até o bumbum
com ela quase derrubando a sala.
Eu deveria prestar atenção nas gracinhas da minha filha, mas tudo que a
minha mente muito tarada conseguia ouvir era que a minha esposa estava
recém-depilada. Não que eu me importasse, na verdade, não era algo que me
impediria de chegar a terra prometida, caindo de boca com vontade.
— O rapaz do salão chegou a fingir que estava fazendo uma massagem
no cabelo dela e acredita que ficou paradinha? Pintei as unhas dela com
esmalte para crianças transparente, ela achou um máximo. Acho que vou
criar uma pequena miss vaidosa.
— Estou fodido. Abby já é uma criança cara.
— Continue trabalhando, papai. — Me provocou e peguei o seu kindle,
jogando na mesinha ao lado. — O que você quer?
Olhei em seus olhos.
— A mamãe. — Sorri e ergui a sua camisola. Ela estava sem calcinha o
tempo todo. — Ah, baby. — Aurora afastou as pernas e me deu uma ampla
visão dos seus lábios depilados. Porra, eu amava chupá-la. — Você tem
compromissos amanhã cedo?
— Além da nossa corrida na praia? — Seu semblante era confuso.
— Não espere por acordar cedo... Já fez um meia nove antes?
Aurora arregalou os olhos e sorriu torto, tirando a camisola empolgada.
Ela ficou por cima, porque eu não tinha certeza se poderia controlar o meu
peso por cima e não queria machucá-la. Ela ganhou vantagem, me
provocando com a língua, da cabeça do meu pau às bolas. Aurora me matava
fazendo a garganta profunda, chupando as minhas bolas do jeito que
entendeu que me fazia perder os sentidos.
Rebolando contra a minha boca, começou a se balançar ao atingir o
primeiro orgasmo e não parou de me chupar até me drenar a última gota.
Amava que entre nós não havia palhaçadas, nojinhos, ela gostava de sexo e se
entregava, confiando em mim para lhe dar prazer. Ela tinha um vibrador e por
umas duas vezes trouxemos para cama.
— Fique no centro da cama. — Pedi e abri a gaveta, pegando seu
vibrador.
— Ele vai participar da festinha hoje? — Sorriu torto.
— Vai... — Meu sorriso era perverso.
Liguei a coisinha roxa e brinquei nas suas dobras, espalhando a sua
umidade e adorando os gemidos que pareciam uns miados sem fôlego.
Aurora estava se perdendo na própria nuvem de prazer. Empurrei um dedo,
começando a fodê-la enquanto o vibrador estava pressionado no seu clitóris,
mantive o ritmo, sentindo-a tremer, ter espasmos e literalmente gritar,
empurrando seu prazer para explodir.
Ela agarrou o lençol, em seguida me segurou e empurrou as unhas
no meu braço. Soltou um grito alto e olhou assustada para os esguichos de
ejaculação.
— Eu fiz...
— Não fez xixi, você... Gozou de verdade.
— Uau... Pensei que fosse explodir. — Sussurrou e me aproximei. —
Está tudo molhado. Isso... Estou sem palavras. Devemos trocar os lençóis?
— Foda-se, baby. Vamos foder primeiro. — Beijei a sua boca, puxando
as suas pernas e meu pau deslizou com muita facilidade, foi quase
estrangulado pela maneira que ela já era naturalmente apertada e inchada pelo
orgasmo avassalador. — Você é tão gostosa, baby. Eu te quero o tempo todo.
— Vince... Deus, Vince! — Cantarolou, empurrou o quadril de
encontro ao meu. Mantive as minhas estocadas brutas que ela adorava e pedia
por mais. Ela me mordeu durante o seu orgasmo e gozei tão forte que as
minhas bolas doeram. — Porra.
— Boca suja. — Beijei os seus lábios.
— É você que me faz xingar. — Respirou fundo e ficamos abraçados
na cama.
Nós não dormimos muito naquela noite e tiramos mais algumas noites
nas semanas seguintes para praticar todo tipo de putaria. Quanto mais juntos
ficávamos, mais me sentia conectado e mais criamos uma rotina em família.
Aurora e Abby eram como uma pessoa só, minha filha estava começando a
achar que a minha esposa era quem pendurava a lua todas as noites e para
falar a verdade, eu também.
Aurora era doce a maior parte do tempo, a sua perspicácia me deixava
andando na ponta dos pés ao seu redor. Era inteligente e determinada,
raramente tivemos um tempo ruim e quando comemoramos o meu
aniversário em setembro, eu soube que estava perdidamente apaixonado por
ela. Três meses de casado, cinco ao todo e ela me tinha na porra da palma da
mão. Ela me respeitava tanto que era impossível não comparar o meu atual
relacionamento com o antigo.
Apesar do primeiro ano de casamento ter sido uma maravilha, eu podia
perceber o quanto as coisas estavam destinadas a dar errado ali. Victória era
chantagista, manipuladora, todas as nossas questões eram resolvidas com
sexo – para me convencer ou a privação do sexo para me punir. Ela me
chantageava sobre os seus sentimentos, me manipulava com a culpa e com o
tempo, ficou insuportável até para ela, que adorava o joguinho.
Aurora me deixou em alerta e muito chateado quando pediu que fosse
ao mercado para mexer no meu escritório. Fiquei puto. Mas eu entendi. Eu
tinha que dar o braço a torcer porque ela não me conhecia e era a sua família
com medo. E eu dei essa oportunidade de nos conhecermos e principalmente,
confiarmos no outro. Desde então, ela tem compartilhado comigo cada nova
informação e dúvida. Mesmo me doendo, falo a verdade sobre tudo que
aconteceu com a Victória.
Felizmente, minha ex-mulher não estava mais em pauta e seguia
vivendo a sua vida em Los Angeles e eu construindo uma nova vida com uma
mulher maravilhosa.
Pensando nela, conduzi para casa, ansioso para vê-la e dar um beijo na
minha filha. Estacionei em casa reparando que o carro da Aurora estava todo
torto. Dei a ela uma SUV da Porsche há algumas semanas, equipei com
cadeirinha, vídeo player e um equipamento de som maravilhoso. Ela era boa
motorista, só era péssima em estacionar. Sorte que a garagem era espaçosa o
suficiente para entrarmos e sairmos sem arranhar o carro do outro.
— Olá, Agatha.
— Oi, Vince. Como você está? — Agatha sorriu do fogão, mexendo
em uma panela. — Estou fazendo sopa para o jantar.
— Parece delicioso. E as minhas meninas?
— Lá em cima.
Guardei minhas coisas no escritório e as encontrei no quarto. Abby
estava só de fralda, com o cabelo molhado, mas parecia ter chorado. Ela fez
um beicinho quando me viu, esticando os bracinhos e imediatamente a
peguei, embalando em meus braços.
— O que houve?
— Dentinho nascendo. A gengiva está inchada e percebi que está com
dificuldade de comer. Está sensível e chorando por qualquer coisinha. —
Aurora explicou. — Foi um longo dia. — E mesmo assim, ela não parecia
impaciente. Essa mulher não era normal. Me inclinei e dei-lhe um beijo nos
lábios.
Dei a Abby o seu jantar, como não havia necessidade de mastigar e a
temperatura estava boa o suficiente, comeu tudo, não chorou e logo dormiu,
cansada de um dia inteiro estressada. Fiquei um pouco sentido de não ter
muito tempo com ela acordada, por ser sexta-feira, passaria o final de semana
em casa, de folga.
— A sua mãe me ligou hoje. — Aurora sentou-se no meu colo e sorri.
— Ela meio que acusou, muito sutilmente, que estou afastando o filhinho
favorito dela.
— Ela está chateada que não convidamos para o meu aniversário ou
não fomos até lá.
— Foi você que não quis. — Aurora me deu um olhar severo. — Não
vou levar a culpa. Converse com os seus pais e explique.
— Eu vou, prometo.
— Preciso tirar essa roupa, tomar um banho e então poderemos jantar.
Estou louca para tomar um vinho...
— Posso tomar banho com você?
Ela sorriu.
— Depende.
— Do que, baby?
— Se você vai fazer uma massagem completa em mim.
— Sabia que existe um lado meu que é massoterapeuta? — Brinquei e
ela fez uma expressão chocada, entrando na minha besteira.
— É tão bom ser casada com um homem de muitos lados,
principalmente os que tem dons espetaculares de relaxamento e prazer. Vem,
bonitão.
Gostava dos nossos momentos, de ficarmos sozinhos, de fazer amor ou
foder como coelhos até o amanhecer, gostava de conversarmos sobre tudo e
beber um bom vinho na companhia do outro. Eu não sabia que precisava
disso tudo até me casar com ela. Aurora me surpreendia, ela era como uma
princesa, muito feminina, delicada, mas era astuta como uma rainha.
Dominava a arte da guerra.
Naquela mesma noite, depois que dormiu, recebi uma ligação do meu
pai.
— Oi pai, o que houve? — Ele nunca me ligava tarde. Meus pais
costumavam dormir cedo e acordar muito cedo.
— Marcus acabou de me ligar. — A voz rouca do meu pai estava
tranquila. — O quão rápido poderia estar aqui?
Era um assunto que não podia ser tratado por telefone.
— Em dois dias.
— Saudades de você, meu filho.
Algo aconteceu. Eu simplesmente sabia pela sua maneira de falar.
— Eu também.
— Estou realmente feliz pelo seu casamento, você parece um novo
homem.
Algo bom havia acontecido e tinha tudo a ver com os Sinclair.
— Nos vemos em breve, eu te amo.
Encerrei a chamada e olhei para Aurora, que estava acordada e me
observando.
— O que aconteceu?
— Meu pai não pode falar por telefone, mas deve ser algo bom pelo seu
tom de voz e precisaremos ir à D.C. — Expliquei e ela assentiu. — Vou
alugar uma casa por alguns dias, não quero ficar com os meus pais ou com os
seus.
— Por que?
— Privacidade. Somos casados agora e eu não quero ninguém
enchendo o saco.
Aurora sorriu e me deu um beijo no peito, deitada de bruços, dei um
tapa estalado na sua bunda. Definitivamente não ficaria com meus pais
ansiosos querendo analisar cada comportamento do meu casamento ou com
os pais conservadores dela. Não havia nenhuma chance que manteria as
minhas mãos longe da minha mulher.
Imaginei que levaria mais tempo para voltar a Baltimore, mas em
meados de setembro, alguns meses após o meu casamento, nós alugamos uma
casa charmosa para passarmos alguns dias. Vince detestava hotéis e não
queria ficar hospedado com nossos pais e compreendi todos os seus motivos.
Privacidade. Ele queria ficar sozinho comigo e com a Abby, agindo como um
pai de família, o pai da nossa família e não queria se submeter a nada que
nossos pais poderiam querer.
Chegamos pela manhã após um voo bastante tranquilo, o tempo estava
fechado e não levou muito tempo para chover. Seus pais chegariam no final
da tarde e ficariam para o jantar, então, nós três fomos ao mercado pela
primeira vez. Abby estava com um ano e nove meses, o verdadeiro
significado da independência e da teimosia aberta. Ela só ficou sentada na
cadeirinha do carrinho porque estava interessada em mexer em tudo.
Parei na sessão de chocolates, Vince parou atrás de mim, literalmente
me pressionando no carrinho. Sorri e beijei o seu braço, voltando a olhar as
marcas. Abby arremessou seus biscoitos no chão ao se assustar com um
trovão e as luzes do mercado chegaram a piscar. Peguei-a no colo, porque seu
susto e medo eram genuínos. Esfreguei as suas costas, acalmando-a.
— Está tudo bem, amor. — Beijei a sua bochecha.
— Vamos embora, baby. — Vince empurrou o carrinho para o caixa,
começando a passar as compras e mantive a Abby no meu colo.
Percebi que havia uma mulher que de vez em quando, levantava o
telefone na minha direção. Ignorei, parei na porta do mercado enquanto o
Vince corria na chuva para trazer o carro para o mais próximo da entrada. Ele
guardou as compras no porta malas e cobri a Abby, entrando no banco de trás
com ela, a coloquei em sua cadeirinha, prendendo com o cinto.
— Chuva. — Abby apontou para a janela molhada.
— Bastante chuva.
Um trovão rasgou o céu e ela gritou, apertando a mãozinha em mim.
Vince nos deu um olhar pelo retrovisor e só não a tirei da cadeirinha porque
estava chovendo muito e ela precisava ficar segura. Abby não parou mais de
chorar, primeiro por medo, segundo por birra. Seus gritos ficaram estridentes
e seu olhar magoado, cheio de lágrimas, encontrava o meu e partia o meu
coração.
Quando Vince estacionou na garagem, soltei-a da cadeirinha e a
mantive em meus braços. Saímos do carro e justamente no momento que
chegamos na sala, outra trovoada. Estava chovendo muito e parecia meio
assustador, mas a casa inteira era cheia de janelas e paredes de vidro. Na hora
que aluguei, parecia maravilhoso, em um dia de tempestade, estava um
pesadelo. Vince guardou as compras e eu peguei o controle das persianas,
deixando a casa toda escura.
— Viu só? Está chovendo lá fora e eu entendo que é assustador, mas
nós estamos seguras aqui dentro. — Apontei para o teto. — Não está
chovendo aqui. Estamos protegidas. — Sentei-me no chão ao seu lado. Abby
manteve os bracinhos no meu pescoço.
— Você vai temperar os filés agora? — Vince saiu da cozinha.
— Sim. — Tentei ficar de pé e a Abby gritou. — Eu vou estar na
cozinha, bebê. Por que não assiste um desenho com o papai?
Abby ameaçou chorar, ela ainda estava tentando assimilar a chuva e
o seu pai a pegou, consolando. Ele deixou a sala escura, ligou a televisão e
procurou no aplicativo de streaming o filme dos Minions que ainda era o seu
favorito. Ele se deitou de modo que ela ficasse em cima dele, confortável e
meu coração mal conseguia sobreviver com aquela cena.
Na cozinha, temperei os filés, separei os legumes e o arroz para o
risoto, arrumando tudo no balcão e ainda tinha um tempinho para começar o
preparo. Quando voltei para a sala, os dois estavam dormindo. Tirei uma foto
e os cobri, doida para me deitar ali, mas não queria atrapalhar. Decidi
começar a sobremesa, torta de limão com cobertura de chocolate. Ficava
pronto relativamente rápido.
Me distraí na cozinha, entrando no meu modo chef, quase em coma,
porque eu amava cozinhar. O cheiro dos legumes sendo refogados acordou a
minha família. Vince apareceu fazendo sons realmente engraçados e a Abby
logo soltou que estava com fominha e queria papar.
— Peça ao papai para te ajudar a lavar as mãos. Eu vou te dar um
lanche para você poder jantar com os seus avós. — Beijei a pontinha do seu
nariz.
— Lavar as mãos, papai. Agora. — Abby comandou, puxando a
calça do pai.
— Sim, senhora. Você está ficando autoritária igual a uma pessoa
que eu conheço. — Vince me deu um olhar engraçado.
Meu marido ainda estava acostumando que existia algumas partes da
nossa vida que ele não mandava em nada. Ele estava acostumado a
determinar tudo, mandar e desmandar e eu dei um bom freio nele. Coisas
relacionados à casa, ele não apitava, era a minha decisão e qualquer mínima
coisinha que interferisse na nossa rotina de família, ele tinha que me
consultar. Sobre o seu trabalho e o restante, não iria me intrometer, mas seria
legal conversarmos sobre.
Gostava de deixá-lo andando na ponta dos pés ao meu redor. Era
divertido.
— Abby, não. — Vince falou do banheiro. — Abigail, não! — E então,
ouvi o som de coisas caindo e um barulho de água. — Por que tudo com você
é um banho enorme?
Curiosa, apareci no banheiro e ele estava tentando fechar a torneira que
não parava de explodir água. Enquanto isso, Abby jogava o que podia para o
alto, fazendo espuma com o sabonete líquido que entornou. Comecei a rir,
mas ao tentar pegá-la, escorreguei e fui direto ao chão, batendo com a cabeça
na porta.
Vince conseguiu desligar a água e me dar apoio para levantar enquanto
equilibrava a Abby para que ela não escorregasse da pia. Abby ficou
assustada com o meu tombo e parou de fazer bagunça, mas estava lavada de
sabonete líquido.
— Acho que isso foi um completo desastre. — Vince murmurou e
escondi o meu rosto no seu peito, escondendo a risada.
Vince ficou limpando o banheiro e eu fui até o quarto, a casa era linear
e de dois quartos, então, tomei banho com a Abby, coloquei nela uma calça
de moletom rosa escuro, uma blusinha preta escrito GAROTAS
ARREBENTAM e um arquinho preto. Enquanto o pai dela se arrumava,
tentei mantê-la intacta, porque seus avós estavam chegando e eu não queria
que ficasse bagunçada.
Era o meu primeiro encontro com a família do Vince depois do
casamento. Entre nós dois estava tudo bem. Os pais dele ligavam de vez em
quando para ver a Abby e saber um pouco sobre nós, mas o Vince mantinha
uma óbvia distância. Eu falava com meus pais todos os dias, principalmente
com a minha mãe, o meu pai mandava mensagens e ligava no fim do dia.
Sempre fui grudada com a minha família e a saudade era grande.
Com um vestido verde escuro, longo, deixei o meu cabelo solto, fiquei
descalça e com pouca maquiagem. Vince escolheu jeans e camiseta, deu
à Abby uma salada de frutas para aplacar a sua fome e me ajudou com a
montagem da mesa. Ele amava o meu filé, os legumes assados bem
temperados e ficou atrás de mim, preparando o risoto.
Suas mãos safadas não paravam, mesmo que estivesse em uma
categoria leve devido a presença da Abby, sua boca estava me dando
arrepios.
— Você é tão cheirosa. — Esfregou o nariz no meu pescoço.
— Vince... Não quero errar. É o primeiro jantar que estou cozinhando
para os seus pais, quero que tudo fique perfeito.
— É a melhor cozinheira que eu conheço, não conte à minha mãe, ela
vai ficar puta e ciumenta, mas o que quero dizer é que você pode fazer
qualquer coisa que vai ficar muito bom.
— Afague o meu ego e você terá... uma noite muito boa. — Murmurei
e ganhei uma mordida no ombro. — Baby... — Grunhi e ele riu.
— Vou pegar as taças.
Bella sempre me disse que sua vida sexual com o Jake ficou ainda
melhor depois do casamento. Ela estava a dois anos na minha frente e eu
tinha que acreditar nisso, porém, eu sabia que nem tudo seria um mar de
flores. Já não era. Mas eu podia acreditar que o Vince e eu teríamos essa
conexão mesmo quando tudo estivesse ruim. Não seria perfeito para sempre e
muito menos o tempo inteiro.
Ouvi o barulho do carro entrando na propriedade. Meu estômago
apertou de ansiedade. Lavei as minhas mãos, sequei e peguei a Abby no colo,
indo até a porta com o Vince para receber a sua família. Seus pais e suas
irmãs saíram do carro, sorridentes e logo saíram da chuva. Com beijos e
abraços, Vince os levou para a sala.
— Você está maravilhosa, Aurora. — Nicole Vaughn, conhecida como
mãe do meu marido, sorriu. — Vem com a vovó. — Ela pegou a Abby.
— Oi, Vovó. — Abby sorriu e deu um beijo na sua avó.
— Ai, eu também quero! — Sr. Vaughn sorriu para a neta.
— Algo cheira muito bem aqui, Aurora. — Cleo choramingou. —
Parece bife.
— Tem uma opção vegana também, Ligia. — Fui rápida em acabar
com a sua careta. — Eu fiz legumes e encontramos no mercado um bife feito
com berinjela e grão de bico. Temperei como encontrei na internet, espero
que esteja gostoso.
— Obrigada por se importar. — Ligia me deu um sorriso aliviado.
— Gostariam de uma bebida? — Vince ofereceu. — Comprei vinho,
licor e trouxe algumas garrafas de casa. Começou a chover quando estávamos
no mercado e descobrimos que a Abby tem medo de trovões.
— É mesmo, bebê? — Nicole brincou com a Abby.
— Eu vou terminar o jantar.
Nicole, Cleo e Ligia me seguiram para a cozinha. Ligia serviu vinho
nas taças e provou um pedacinho da “carne” vegana, na verdade, era uma
imitação de bife que eu grelhei conforme as instruções de uso.
— Ela está muito esperta, cresceu tanto nos últimos meses e está ainda
mais bonita. — Nicole arrulhou com a Abby. — Queria ficar pertinho dela.
— Só se mudar para Nova Iorque. — Brinquei e a Cleo bufou.
— Não seria o ideal ficar perto da sogra. — Ligia sorriu.
— Não sou uma sogra intrometida. — Nicole se defendeu.
Soltei uma risada e tirei a carne do forno. Não retruquei porque não a
conhecia, mas ela dava muitos indícios que era o tipo de mãe controladora.
Coloquei tudo na mesa, chamando os homens na sala e montei o pratinho da
Abby. Nós trouxemos a sua cadeira alta, ela ficou entre seu pai e eu, fazendo
gracinha para os seus avós e tias.
A conversa girou em torno dela, das suas palavrinhas e artes. Falamos
brevemente sobre o nosso casamento, mas logo Vince deu um jeito de guiar o
assunto para os próximos eventos. Meio que foi decidido que Vince e eu
iríamos a um evento beneficente no lugar dos seus pais para que eles
pudessem comparecer a outro evento com alguns senadores.
Me reservei durante a conversa, mantendo a casualidade e simpatia,
mas eu fiquei muito aliviada ao perceber que apesar de todo poder que eles
tinham em mãos, agiam como uma família carinhosa que se amava muito.
Era por isso que eu sabia que eles aceitariam a Lindsey, mesmo que causasse
um pouco de dor e desconforto, o elo entre eles seria mais forte que a
decepção.
— O jantar estava divino, Aurora. Vince não estava exagerando quando
disse que você cozinhava muito bem. — Sr. Vaughn me deu um sorriso. —
Seu pai está com saudades. Imagino que irá encontrar com a sua família,
certo?
— Sim... Quando Vince for trabalhar amanhã, ele irá me deixar na casa
dos meus pais.
— Pensei que a Abby fosse ficar comigo. — Nicole fez uma expressão
confusa. — Você quer ficar com a vovó, amor?
— Não, não. — Abby cantarolou de boca cheia.
— Garota! — Ralhei e limpei a sua boca. — Podemos organizar um dia
para Abby ficar com você. — Falei com educação, porque não havia
nenhuma chance que despejaria a Abby lá para passear com a minha família.
Nicole fez um beicinho.
— Estou percebendo que ficarei sem a minha neta.
— Mãe... — Vince sorriu. — Abby tem que ficar com a Aurora.
Podemos passar um sábado juntos, assim vai matar toda saudade possível da
Abby antes de irmos embora. — Contrapôs.
— Fazer o que? Me resta aceitar. — Nicole suspirou de um jeito bem
dramático.
Abby me olhou e pediu suco. Vince levantou-se para buscar e eu a tirei
da cadeirinha, mantendo sentada no meu colo e aceitei seu copo de bico com
suco de laranja. Ainda estávamos na transição da mamadeira para o copo de
bico, ela se sujava muito mais, porém, não aparentou dificuldade exceto que
ainda queria a mamadeira antes de dormir.
Fiquei satisfeita com o jantar e a reunião. Eles foram embora tarde da
noite, Abby não dormiu com a agitação e estranhando a casa, então, ela ficou
no meu colo o tempo inteiro. Não quis mais ficar com seus avós e muito
menos olhou na direção das suas tias. Era o seu mau humor de sono, que
durou a noite inteira. Abby não dormiu direito, chorando a cada uma hora,
me deixando maluca e preocupando o pai dela.
— Será que é o dente?
— Pode ser. A gengiva está inchada, mas ela não está com febre, só
irritada. Já está quase amanhecendo. — Falei baixo da cama. Ele estava
andando com ela no colo, de um lado ao outro. — Por que você não dorme
um pouco? Eu vou distraí-la. Eu poderei dormir quando ela dormir na casa da
minha mãe, você não vai ter essa opção trabalhando o dia inteiro. — Estiquei
os meus braços.
— Vamos ficar aqui na cama. — Ele a deitou em cima de mim. Fiquei
sentada, quieta e a Abby procurou a minha mão, querendo segurar. Beijei os
seus dedinhos, olhando com carinho e o Vince deitou-se de lado, me
abraçando e beijou minha coxa e o pezinho dela. Não tinha muita certeza se
ele dormiu profundamente, tirei alguns cochilos sentada.
Vince abriu os olhos e ergueu o rosto, querendo saber se a Abby tinha
dormido. Seu telefone vibrou, ele pegou, olhou a tela e suspirou.
— Lindsey está aqui. — Grunhiu e esfregou o rosto.
— Cleo postou fotos ontem à noite, ela deve ter comprado uma
passagem no primeiro voo da madrugada ou veio dirigindo. Vince, me
escuta... Se a imprensa descobrir antes da sua família, isso vai dar um
problema enorme. — Olhei em seus olhos
— Eu sei, Aurora. Vou falar essa semana, vou contar ao meu pai
primeiro e dar a chance para ele encontrar a melhor maneira de contar à
mamãe e às minhas irmãs.
— Tudo bem, vai ser o melhor. — Me inclinei e beijei os seus lábios.
— Minha mãe enviou uma longa mensagem dizendo que o jantar
estava maravilhoso, que você é muito gentil e que estava muito feliz por
termos um jantar em família depois de tanto tempo.
— Eu sei que sou a esposa perfeita. — Revirei os olhos e ele riu.
— Você é e não pelos motivos que está sendo debochada. — Mordeu o
meu braço e ri, Abby resmungou em seu sono, reclamando que seu pai estava
atrapalhando. — Fique aqui na cama com ela, vou arrumar as bolsas e me
vestir. Tente dormir mais um pouco.
Observei-o sair da cama e voltei a olhar para Abby. Se alguém, ano
passado, me dissesse que eu estaria sem dormir por causa de uma criança que
eu não estava sendo paga para tomar conta, não iria acreditar. Era a minha
própria criança. E em tão pouco tempo, aquela menina tomou todo o meu
coração ao ponto de não conseguir imaginar a minha vida sem ela.
Vince estava dirigindo a SUV que alugamos para ficar na cidade. Ele
estava me levando para a casa da minha mãe, pegaria o meu pai e voltaria
para me buscar no final do dia. Talvez ficaríamos para jantar com os meus
pais, assim ficaríamos livres de cumprir o mesmo evento com a minha
família. Digitei o código de entrada, com cuidado, porque a Abby estava
dormindo em mim.
Os portões se abriram e ele seguiu até a garagem coberta. Meu pai
apareceu ali, segurando uma caneca. Vince abriu a minha porta, me ajudou a
sair e fui diretamente para o meu pai. Ele me deu um abraço desajeitado e eu
fiquei parada, sentindo o seu cheiro bom.
— Senti a sua falta, papai.
— Eu também, princesa. — Me deu um beijo na testa. — E essa
princesinha?
— Ela está com o dentinho nascendo. — Expliquei.
Vince estava com os braços cheios, uma mala completa para Abby e eu,
o carrinho dela e mais a minha bolsa. Meu pai nos conduziu para dentro,
subimos a escada para o meu antigo quarto. Entrar ali estando casada foi
diferente. Vince olhou ao redor, me deu um sorriso e colocou as bolsas no
chão.
— Sua mãe foi levar as meninas na escola e buscar a Bella. — Meu pai
explicou quando voltamos para o pátio. — Preparei o café da manhã para
vocês.
— Eu já comi, Aurora ainda não.
— Podemos ir se você estiver pronto, estava apenas esperando por
vocês.
— Então vamos, será um longo dia. — Vince olhou em seu relógio e se
aproximou de mim. — Se cuida, baby. Não fique sem falar comigo. — Se
inclinou e me deu um beijo doce nos lábios. — Vou sentir a sua falta.
— Eu vou sentir a sua falta. Se cuida, marido. Nós duas vamos ficar
bem. — Trocamos um beijo mais profundo, ele beijou a Abby e sorrimos.
Fiquei meio corada ao perceber que meu pai estava observando, mas
ele apenas sorriu. Gates ficou comigo, meu pai ofereceu o seu escritório para
que ficasse à vontade, mas ele optou por ficar na sala de televisão com seu
notebook, trabalhando. Fiquei na cozinha esperando a minha mãe, tentei
colocar a Abby no carrinho duas vezes e a última tentativa fez com que ela
gritasse ainda mais.
Minha mãe e irmã entraram em casa no momento que a Abby estava
dando o seu maior show. Se debatendo, fazendo pirraça e chorando.
— Sinto muito.
— O que ela tem, coitadinha? — Bella se aproximou com cuidado.
— Dente nascendo.
— Tem algum mordedor gelado? — Minha mãe se aproximou.
— Trouxe alguns e frutas para fazer picolés, ela não dormiu a noite
inteira, fiz uma massagem antes de sairmos que aliviou, mas ela quer ficar no
colo.
— Tenho picolés sem açúcar da Jasmine, tenho certeza de que ela não
vai se importar em dar um para a sua nova sobrinha. — Mamãe ofereceu e
pegou um no freezer. Desembalou e me entregou. Foi preciso esfregar só
algumas vezes no lábio para que Abby aceitasse. O silêncio foi maravilhoso e
um alívio aos meus ouvidos. Ainda com ela no colo, abracei a minha mãe e
irmã. Peguei uma fralda, para impedir que o suco do picolé rosa me sujasse
toda, mas, eu não estava me importando se ela ficasse quieta.
— Nós ainda não tomamos café-da-manhã e você? — Bella pegou um
lugar e logo encheu um prato.
— Não muito, pode me servindo também ou vai comer tudo. —
Apontei as coisas que gostaria. — Bella... Mais ovos, estou com fome.
— Está grávida?
— Claro que não, idiota. Só não comi muito, passei a noite acordada e
não tomei café da manhã. — Reclamei e a minha irmã riu.
— Se você está dizendo... — Ironizou.
— Estava com saudades dessas brigas idiotas. — Mamãe colocou
bolinhos na mesa e imediatamente peguei um. Abby acabou o picolé, lambeu
os dedinhos e usei lenços umedecidos para limpá-la. Relaxada e
provavelmente com o alívio do picolé, dormiu em meus braços. — E como
ela está se adaptando a você?
— Vince brinca que ela acha que eu penduro a lua, mas nós estamos
nos conectando. Ela é tão amorosa e inteligente. — Acariciei o seu rostinho.
— Nós falamos sobre bebês... Vince também quer ter mais filhos.
— Sério? Que doce. — Bella sorriu.
— Mais filhos? Quer uma casa cheia e enlouquecida como a nossa?
Sempre imaginei que as minhas filhas não teriam mais de um filho. —
Mamãe riu.
— Vince cresceu com duas irmãs e eu com três, acho que poderemos
lidar com uma casa cheia, mas não são planos imediatos.
Nós três ficamos conversando até que minhas irmãs mais novas
voltaram da escola. Meus pais estavam finalmente permitindo que elas
voltassem de ônibus. Snow explodiu porta adentro, chorando e a Jasmine
estava atrás, mais devagar. A discussão das duas acordou a Abby e eu
comecei a andar de um lado ao outro, tentando acalmar a criança e entender o
que as outras duas crianças discutiam.
— Calem a boca agora mesmo! — Mamãe gritou tão estridente que até
a Abby parou de chorar, escondendo o rosto no meu pescoço. — Jasmine, por
ser mais velha e estar mais calma, vai falar primeiro.
Jasmine estava chorando.
— Mãe, eu não tive culpa. Ainda não entendi direito, porque a Snow
não para de gritar comigo.
— Tudo bem. Snow, explique-se.
Minha irmãzinha desabou a chorar.
— O Tyler se aproximou de mim esse tempo todo porque queria sair
com a Jasmine. Eu pensei que ele fosse me chamar para o baile de halloween,
mas ele teve a coragem de me perguntar se a Jasmine estava gostando de
alguém ou já tinha algum convite, porque ele gostava dela. — Snow estava
aos prantos. — Ele se aproximou de mim para sair com ela! — Gritou e senti
o seu jovem coração partir em mil pedacinhos. — Eu odeio os homens!
— Ah, querida. Eu sinto muito. — Bella lhe deu um abraço. — Ele é
um idiota, não é culpa da Jasmine e sim dele, que não deveria te usar para
chegar nela.
— Eu sinto muito, Snow. Eu não sabia, nem falava com ele e naquele
dia fui ao cinema porque o papai não queria que você saísse sozinha com um
garoto. — Jasmine explicou e secou o rosto. — Não quero nada com ele,
nunca quis, sabia que você estava apaixonada por ele.
— Não estou mais, não gosto de homens! — Gritou e saiu correndo
para escada.
Abby escolheu esse momento para soltar uma gargalhada.
Mamãe me olhou.
— Espero que ela não esteja falando sério sobre não gostar de homens.
— Suspirou e sufoquei uma risada.
Abby aceitou sair do meu colo para brincar, forrei seu tapete de
atividades e espalhei seus brinquedos, passando um dia divertido com a
minha família. Senti falta dos gritos, que tiveram muitos ao longo do dia.
Jasmine e Snow ainda gritaram com a outra, bateram portas, Abby soltou
risada nos melhores momentos, comeu a sua comida e socializou com a
minha família. Meu velho dentista passou uma medicação para amenizar a
dor do nascimento dos dentinhos, enviei uma mensagem ao Vince e ele
comprou no caminho para nos buscar.
— Papai! — Abby gritou assim que ele passou pela porta e correu para
ele. Nós duas corremos. — Comi morango!
— Você comeu morango? Estava gostoso? — Deu um beijo nela.
— E colé também!
— Picolé? — Vince me olhou confuso.
— Para amenizar a dor. — Me aproximei e ele passou o braço na
minha cintura e me beijou. — Como foi o seu dia?
— Foi bom e o seu?
— Estou louca para dormir. Espero que com essa medicação, ela durma
a noite toda. — Esfreguei o meu nariz na bochechinha dela. — Minha mãe
preparou o jantar.
Nós não percebemos o quão observados estávamos até que olhei para
trás. Minha família tentava disfarçar, mas não esconderam o óbvio interesse.
Bella foi a primeira a quebrar o clima gritando que o Jacob estava no portão.
Era o primeiro jantar do Vince com a minha família e ele deu boas risadas
com a bagunça.
— Quatro meninas, eu não sei como seu pai sobreviveu. — Comentou
enquanto dirigia para a casa que alugamos. — Vocês falam muito e ao
mesmo tempo. Não entendi metade dos motivos das brigas.
— É assim mesmo... Meu pai mal tinha voz, coitado.
— Por um momento, achei que a Snow fosse avançar em cima da
Jasmine.
— Elas brigam muito mais que eu e a Bella brigamos. Somos meio
diferentes, mas não brigávamos muito. Já a Snow... Ela é terrível. Com seu
coração partido, está decidida a odiar os homens. Ela publicou em seu twitter
“morte aos embustes”. Abby adorou, com as minhas irmãs brigando e
correndo atrás da outra, ela achou super engraçado. — Olhei para a pequena
dormindo. Esperava que dormisse a noite toda. — Então... Qual motivo que
seu pai queria a sua vinda com urgência?
Vince me olhou pelo retrovisor.
— Você não esquece nada.
— Dificilmente. Então? Conta!
Vince soltou uma risada e disse que conversaríamos na cama, antes de
dormir e eu quase avancei nele de tão ansiosa. Chegamos na casa, fugimos da
chuva e colocamos a Abby na cama. Verifiquei se as janelas do quarto que
ela dormia estavam bem fechadas e tirei a minha roupa, tomando um banho
quentinho com o meu marido. Foi só um banho, estávamos exaustos. Deitei-
me em cima dele, beijando seu peitoral.
— Seu pai trabalhou em um financiamento imobiliário que uma
empresa concorrente a nossa iria se beneficiar. Entramos na corrida essa
manhã e já pegamos mais da metade do terreno. — Explicou e balancei a
cabeça. — Acho que teremos alguns problemas.
— Por quê?
— Vou financiar a construção, mas a ideia é construir apartamentos de
até quatro andares de baixo custo. Não será um condomínio luxuoso, porém,
a maioria desses condomínios de baixo custo acabam virando conjuntos
habitacionais perigosos. Ninguém quer um na cidade. — Esfregou as minhas
costas. — E eu apresentei a proposta de fazer um condomínio comum, com
alguns atributos, não tão caro e muito menos tão barato. Com isso, vencemos
a licitação de parte do terreno.
— Politicamente falando, seria uma boa ideia manter o condomínio de
baixo custo. — Murmurei sonolenta.
— Sim, a população se apegaria a ideia de realizar o sonho da casa
própria, mas sabemos que não funciona assim.
— Entendi... — Suspirei e subi um pouco mais nele, beijando seu
pescoço e ficando ali. Ele colocou as mãos na minha bunda e apertou. — Não
sei o que vestir amanhã. Iremos levar a Abby?
— É um parque, ela vai amar se divertir.
— Espero que esteja bem humorada. Você encontrou a sua irmã?
— Lindsey não está me atendendo.
Adormeci em cima dele, acordei de manhã cedo com a Abby chamando
e ainda estávamos grudados no outro, em uma posição totalmente diferente.
Ele foi buscá-la e como não havia tempo para enrolação, sai da cama e
comecei a me arrumar. Abby ficou chorando entre as minhas pernas, jogando
minhas maquiagens e uma hora ela ria, outra ela escalava a cama ou subia na
cadeira próximo a janela. Vince e eu nos revezamos entre nos arrumar e
impedir que ela causasse um incêndio.
— Olha só! — Abby gritou apontando para a janela. Estava começando
a chover. — É a suva!
— Chuva. — Corrigi suavemente. — Vem aqui, seu pai vai te vestir.
Ela fugiu dele. Simplesmente saiu correndo e quanto mais ele batia os
pés no chão, fazendo alarde sobre persegui-la, mais ela corria, caiu e sequer
chorou, levantando com agilidade e encontrou um esconderijo: atrás das
almofadas do grande sofá branco da sala.
— Baby, você viu a Abby? — Vince andou devagar. — Meu Deus,
acho que a Abby saiu. Será que está na garagem?
— Eu não acredito que ela fugiu, Vince! — Entrei na brincadeira. Ela
estava rindo de se acabar.
— ACHEI! E te peguei, espertinha! — Ele puxou a almofada e a pegou
antes que escorregasse para o chão.
— Papai me achou!
Sorri para a sua alegria e voltamos à correria de nos arrumar para sair.
No carro, ela estava cantando, animada e eu senti uma fisgada do meu peito,
meu coração ficou apertado. De repente, eu não queria que a Abby fosse.
— Vince... Estou com um pressentimento ruim, podemos deixá-la com
a minha mãe? Ou talvez com uma das suas irmãs?
— Minhas irmãs estão na faculdade, veja se a sua mãe pode ficar com
ela por algumas horas. O que está sentindo?
— Eu não sei, mas não quero que a Abby vá. Na verdade, eu não quero
ir mais. Me bateu um aperto no peito, sabe? Como se algo fosse acontecer. —
Ele pegou a minha mão e beijou.
— Nada vai acontecer, mas, não vamos ignorar o seu sexto sentido.
Minha mãe adorou a ideia de ficar com a Abby, assim elas poderiam
criar laços e como não precisaríamos ficar o dia inteiro no evento, apenas
algumas horas, ela não ficaria muito tempo separada de nós dois. Vince
desviou o caminho para casa dos meus pais. Minha mãe estava tão ansiosa
que esperou na porta.
Sabia que a Abby iria chorar, mas não o tempo todo. Esperei que se
distraísse com um desenho e fui saindo de fininho. Vince sequer saiu do carro
ou ela faria um show. Voltei para o carro, aliviada que ela não percebeu. Não
conseguiria sair se começasse a gritar.
— Ela vai ficar bem, baby. — Vince garantiu. Eu sabia que ela ficaria
bem com a minha mãe. Coloquei minha mão na coxa dele, acariciando e
coçando a minha palma na sua calça jeans.
Gates já estava no evento e nos conduziu onde estacionar. A
organizadora do evento falou sobre o repertório, já tinha bastante repórteres
para coletiva de imprensa e uma multidão se formando com as barracas
começando a servir comida. Estava nublado, um pouco abafado e não parecia
que ia chover. A assessora de imprensa dos Vaughn e a assistente do meu
sogro repassaram o discurso do Vince duas vezes.
— Eu vou para as entrevistas. — Vince me deu um beijo suave nos
lábios.
— Vou esperar aqui no carro e depois vamos para as fotografias no
jardim.
O evento beneficente estava acontecendo em um jardim que era aberto
ao público. A intenção era arrecadar fundos para fuzileiros que precisavam de
tratamento psicológico após eventos de guerra. Vince e eu fizemos uma
doação de duzentos mil dólares e por isso, estávamos ali no lugar dos seus
pais. Meu avô materno foi um fuzileiro, ele estava orgulhoso da minha
doação e entendia muito bem o quanto a causa era necessária.
Uma garota loira passeando entre a imprensa chamou a minha atenção.
Ela olhou para mim, eu sorri e sinalizei para se aproximar. Surpresa, veio
andando com calma.
— Oi cunhada. — Sorri e seu olhar foi engraçado.
— Então, ele falou sobre mim. — Lindsey encostou no carro, ao meu
lado.
— Claro que sim, seu irmão não tem vergonha de você e na mente dele,
está respeitando o seu desejo de não ser reconhecida. — Bati meu ombro de
leve no dela. — O que faz aqui, Lindsey?
— Não sei. Vim ver o evento? — Deu de ombros, olhando para frente.
— Você veio ver o seu pai, não é?
— Pensei que ele estivesse aqui... Sou tão óbvia assim? — Me deu um
olhar engraçado e voltou a olhar para frente. — Vince é bom nisso.
— Por que você não quer ser reconhecida? — Minha curiosidade
estava além de tudo. Precisava entendê-la.
— Não quero falar sobre isso, desculpe. Você parece ser muito legal e
não quero ativar o meu modo cadela. Deixo essa parte reservada para o
cabeçudo do seu marido. — Sorriu torto exatamente como o Vince e a Cleo
sorriam. Caramba, eles eram muito parecidos.
Estava prestes a falar alguma coisa quando um estrondo forte me
arremessou contra o carro. De repente, estava no chão e pedaços de coisas
voavam. Pessoas estavam caídas. Carros pegavam fogo. Não conseguia ouvir
nada, minha mente estava girando e a minha visão turva. Ao meu lado,
Lindsey olhava para a sua barriga sangrando.
Vince. Havia um carro em chamas exatamente onde ele estava.
Tentei ficar de pé, com as minhas pernas falhando e toquei a coisa
gosmenta que escorria no meu pescoço. Sangue. Gates estava ferido e
ajoelhou ao lado da Lindsey, ele gritava em seu telefone e falava alguma
coisa comigo, pressionando a ferida da Lindsey.
Vince. Onde ele estava? Havia tanta fumaça. Estava tudo tão confuso...
Olhei ao redor, engatinhando e me sentei, procurando por ele. Tinha
alguém gritando histericamente ao meu lado. Era a assistente do meu sogro.
Eu não conseguia lembrar o seu nome. Me apoiei em um bloco de cimento,
ficando de pé com dificuldade, um homem correndo quase me derrubou. Meu
corpo doía em lugares diferentes, eu precisava dormir, mas antes, eu tinha
que encontrar o meu marido.
Meu estômago estava embrulhado, coloquei minha mão na cabeça e
saindo atrás de um carro em chamas, Vince colocou a mão na cabeça. Ele
estava ferido, mas estava de pé e cambaleou até a mim. Segurou o meu rosto
e eu sabia que estava chorando devido a falta de ar e o coração explodindo no
peito. Toquei seu peito, cansada e nós caímos. Vince me abraçou, se ele
estava falando, não estava ouvindo.
Recostei minha cabeça nele e adormeci.
Minha cabeça estava com um zumbido doloroso terrível, mas enquanto
andava no corredor do hospital, gritando que tirassem a imprensa do meu
caminho, não estava me importando com mais nada. Alguém me disse que a
Aurora foi levada para outro andar e eu procurei um elevador, uma menina
que trabalhava no hospital me ajudou a chegar lá .
— Minha irmã, seu nome é Lindsey Kim, eu preciso que você me dê
notícias dela. — Falei com a garota que de olhos arregalados, assentiu e saiu
correndo.
— Sr. Vaughn? — Um médico parou na minha frente. — Sou Dr.
Jones. Você precisa de cuidados médicos. Esse ferimento precisa de pontos e
deve fazer uma tomografia.
— Minha mulher. — Rosnei porque eu estava pronto para quebrar um
no meio.
— Ela está aqui. — Empurrou a porta de um quarto.
Aurora estava sentada em uma cama, com uma enfermeira fechando
uma camisola hospitalar. Ela ergueu o rosto e respirou fundo, aliviada e seu
olhar para mim foi o mais grato possível. Nós fomos separados quando as
ambulâncias chegaram. Aurora desmaiou em mim, mas eu a sacudi até que
acordasse novamente e a mantive acordada enquanto Gates mantinha a minha
irmã viva.
A explosão me jogou alguns metros longe. Foi tão rápido. Estava
falando com a assessora de imprensa quando voamos longe. Meu corpo
parecia em chamas e alguém se jogou em mim. Um homem. Ele bateu os
estilhaços que estavam incendiados em mim e foi socorrer outra pessoa.
Sentei-me desorientado, tudo o que pensava era em encontrar a Aurora.
Encontrei-a de pé em meio a escombros, com a sua camisa branca lavada em
sangue, a calça jeans rasgada e olhando ao redor, me procurando.
A partir daí, eu não tinha certeza do que havia acontecido.
Ela foi levada para um lado e eu para o outro. Tive que brigar para sair
da ala que estava sendo atendido e para alguém me dizer onde a Aurora
estava.
— Você precisa cuidar disso, baby. — Segurou o meu rosto. Apertei
meus lábios nos dela. — Precisa ser medicado. Vou ficar bem aqui, prometo.
— Não vou te perder de novo.
— Vincent? Aurora? — Ouvimos alguém nos gritar e Marcus Sinclair
invadiu o quarto. — Cristo! Eu estava tão nervoso e não os encontrava! —
Ele nos abraçou ao mesmo tempo. — Os hospitais estão lotados... Aconteceu
em três lugares ao mesmo tempo.
— Outros lugares? — Aquilo atraiu a minha atenção.
— Sim, está um horror. Precisei procurá-los em milhares de hospitais.
— Marcus passou a mão no rosto. — Aqui está um caos. Eu vou... Levá-los a
um andar mais reservado. Fiquem aqui. — Apontou e saiu, parecendo tão
desorientado quanto nós.
— Vince... Por favor, deixa a enfermeira cuidar de você. — Aurora me
pediu com calma. Seu rosto estava limpo, ela tinha um curativo na nuca e
outro na testa. — Estou bem, preciso de repouso e provavelmente remédio
para elefante para superar a dor no corpo, mas estou bem.
— Deus... Estava morrendo de medo de perder você. — Beijei a sua
testa e ela me segurou firme. Aurora começou a chorar com o rosto enterrado
no meu peito. Uma enfermeira entrou e disse que seríamos movidos para as
suítes masters no último andar. A imprensa estava nos perseguindo no
segundo andar e enquanto a polícia não conseguia contê-los, a equipe médica
precisava nos esconder.
Fomos estabelecidos em uma suíte de parto, que tinha uma sala, um
banheiro enorme e parecia quase um hotel. Aurora foi levada para cama e
mais uma foi deixada ao lado. A enfermeira estava me olhando com
expectativa. Gates nos encontrou com o ombro enfaixado. Ele deslocou o
ombro na explosão.
— Sr. Vaughn, já chamei a equipe. Abby está segura na casa dos seus
sogros, enviei uma equipe de segurança para lá e mandei buscar as suas irmãs
na faculdade e as irmãs Sinclair na escola. Elas serão levadas para a casa dos
seus sogros. — Ele me deu um olhar. — Ainda não encontrei os seus pais.
— O quê?
— Teve uma explosão no evento deles. Ainda não os encontrei.
— Ai meu Deus! — Aurora chorou de novo.
— Eu vou ligar para todos os meus conhecidos. — Marcus pegou o
telefone. — Oi, amor. Aurora está bem, ela foi examinada e medicada. Vince
recusa atendimento médico. Amor, eu preciso desligar, eu te ligo em breve.
Estava tentando processar que os meus pais estavam desaparecidos
após outra explosão. Marcus ficou andando de um lado ao outro, falando ao
telefone e então, a porta foi aberta bruscamente. Flynn respirou aliviado
quando me viu, me dando um abraço apertado, mas algo no modo como ele
me segurou me fez cair.
— Ele está recusando atendimento médico, faça alguma coisa, Flynn!
— Aurora gritou e o Flynn me colocou na cama, mas eu apaguei, sentindo a
minha cabeça explodir de dor.
— Aurora? — Chamei baixinho. — Minha cabeça dói.
— Oi, baby. — Ela segurou a minha mão. — Você desmaiou. Teve
uma concussão ou contusão, eu não sei a diferença. Foi feito uma tomografia
e está medicado, dormiu por algumas horas.
Abri os meus olhos, meio desorientado e olhei para o rosto da minha
mulher acima do meu. Ela estava com o cabelo preso e parecia usar um
pijama.
— Meus pais? — Porra, minha cabeça estava pesada.
— Eles estão ali na sala. Estão bem... Seu pai precisou de atendimento
médico porque a pressão dele subiu com o susto da explosão, quase teve um
ataque cardíaco, mas está muito bem. — Ela sentou-se na pontinha da cama.
— Você não deveria ter recusado o atendimento médico, Vince. Quase me
matou do coração. Sou muito jovem e bonita para ficar viúva.
— Não vai ficar viúva nada, você tem a sorte que me deram
tranquilizantes para cavalos, porque eu ia dar uns tapas nessa sua bunda. —
Sorri torto. Aurora me deu um beijo. — Como está a Abby?
— Minha mãe fez uma chamada de vídeo, ela está chorando muito e eu
espero que possamos ir embora logo. As coisas estão complicadas, Vince. Foi
um atentado, mas não terrorista, pelo menos, não foi ninguém externo e sim
interno.
— Algo político?
— Sim... Contra a política imobiliária do seu pai.
Abri os meus olhos mais atentamente.
— Sério? Tentaram nos matar?
— Sim. O FBI veio aqui duas vezes...
— E a minha irmã?
— Ainda em cirurgia. O estado dela é grave e Vince... Publicaram um
vídeo seu, gritando por mim e pedindo ajuda para a sua irmã. Já sabem que as
suas irmãs publicamente conhecidas não estavam no evento, a mídia está
cavando.
— Merda. E os meus pais?
— Não quis falar com eles sem você.
— Certo...
— Joanne está aqui. Ela chegou há algumas horas, nossos telefones
estavam na minha bolsa no carro e o Gates recuperou. O carro sofreu avarias,
mas nossas coisas estão intactas.
Lambi os meus lábios secos e segurei o seu rosto.
— Você está bem?
— Agora que você acordou, sim. — Sorriu e se inclinou para minha
mão. — Ainda bem que deixamos a Abby em casa. Eu não sei o que...
Não gostava de pensar nas possibilidades. As lágrimas da Aurora
molharam os meus dedos. Sequei o seu rosto, congelado com a ideia de que
se a Abby estivesse lá...
— Ainda bem que ela tem uma mãe com um sexto sentido do caralho.
— Brinquei para aliviar o clima. — Você foi a melhor coisa que nos
aconteceu, Aurora. Obrigado por mudar a minha vida em tão pouco tempo...
Quero te fazer feliz pelo resto da minha vida. Quando tudo explodiu, na
minha mente, só havia você. Acho que nunca me apaixonei tão rápido na
minha vida.
Meu peito parecia apertado com as palavras que queriam fugir da
minha boca, mas depois de pensar que ela havia morrido na explosão, eu não
podia segurá-las.
— Eu amo você, minha princesa Aurora.
— Ah, Vince. — Ela se deitou em cima de mim. — Vocês são tudo
para mim. — Segurou o meu rosto delicadamente. — Eu te amo.
Nós nos beijamos e ouvimos um pigarro. Flynn estava encostado na
porta, com um sorriso divertido e eu sabia que ele ia falar merda.
— Então... O que eu disse sobre deixar o homem descansar, Aurora? —
Cruzou os braços e soltei uma risada com as bochechas vermelhas da minha
mulher. — Eu vim ver se o paciente teimoso tinha acordado e encontro esse
quase sexo em um hospital. Tenha respeito pelo lugar.
— Vamos encomendar um irmão para a Abby. — Brinquei e a Aurora
me bateu, saindo de cima de mim. — Coloque essa cama sentada. Dormi
tempo demais e tenho coisas a fazer. Você tem notícias da minha irmã?
Flynn abaixou e apertou o botão. A cama se moveu e fiquei sentado.
— Está saindo do centro cirúrgico, foi um sucesso, ela está dentro do
risco comum após uma cirurgia tão invasiva, mas acredito que vai ficar bem.
Daqui a pouco posso levá-lo lá, mas na cadeira de rodas.
— Tenho pernas. — Grunhi e olhei para a Aurora. Ela estava com o
olhar de alerta. Meus pais estavam lá fora e eu podia ouvir a discussão baixa.
— Tudo bem, peça para Joanne entrar primeiro e depois vou falar com meus
pais.
Meus pais não respeitaram que gostaria de ver a Joanne primeiro. Eles
avançaram em mim, me abraçaram e beijaram, preocupados. Minha mãe
estava pálida e chorosa. Papai estava nervoso e me preocupei com a sua
saúde ao soltar a bomba que ele tinha mais uma filha e eu sabia há mais de
dez anos.
— Joanne, eu preciso que você ligue para Sienna Miller.
— Eu vou resolver isso. — Joanne me deu um tapinha na mão. — Sra.
Vaughn precisa de mais alguma coisa?
— Não, estou bem. Obrigada, Joanne. — Aurora respondeu e a minha
assistente saiu. — Assim que a Sra. Miller atender, aviso a vocês.
— Vince, quem é essa menina que você aparece gritando no vídeo?
Estou tão confusa. — Mamãe andou de um lado ao outro. Meu pai me olhava
fixamente.
— Não acredito. — Ele gemeu. — Eu não acredito.
— O quê? — Mamãe estava confusa. — Dá para vocês dois pararem de
se olhar e me falar o que está acontecendo?
— Alana teve uma filha? — Meu pai perguntou, ainda chocado.
Mamãe praticamente caiu no chão, mas Flynn a segurou a tempo. Não
tive alternativa a não ser contar absolutamente tudo. Meu pai parecia que ia
ter um infarto e a minha mãe começou a chorar. Aurora ficou consolando,
mas não havia tempo para resolver as dores do passado. Lindsey precisava de
nós como uma família.
— Lindsey foi até lá para te ver. — Aurora comentou, olhando para o
meu pai. — Ela se sente inferior e tem muito medo de ser rejeitada por todos
vocês. Agora, ela só precisa de cuidados.
— Você tem razão. — Minha mãe secou o rosto. — Ela não está
sozinha na vida. Apesar de isso ser algo inesperado, seu pai e eu estávamos
separados e eu nunca fui enganada sobre o relacionamento com a Alana.
Agora não importa mais: precisamos cuidar da nossa família. Espero que a
Sienna nos ajude a lidar com isso e com a mídia.
Aurora me deu um olhar e me preocupei como os meus pais poderiam
explorar a imagem da Lindsey, caída contra o carro, ferida por milhares de
estilhaços. Da cama, trabalhei para lidar com os danos. O FBI entrou para
fazer milhares de perguntas e mostrar fotos, em algumas horas, a investigação
avançou bastante, até o momento, parecia um ataque de ódio contra a minha
família.
Aurora e eu estávamos passando pelas fotografias quando a Sienna
chegou. Ela trabalhava para minha família como nossa advogada. Antes dela,
trabalhava com Nicola Biancchi, mas eles eram como uma única pessoa.
Marcus chegou, com notícias da Abby e das minhas irmãs, todas estavam
bem e preocupadas.
— Reconhece alguém, Sra. Vaughn? — A Agente do FBI Taylor Hill
perguntou quando a Aurora parecia olhar a mesma foto.
— Não tenho certeza se é relevante. — Aurora mordeu o lábio. — Esse
homem era jardineiro do condomínio dos meus pais. Ele trabalhava nos
jardins das áreas comuns e em algumas casas. Por um tempo, trabalhou
conosco, mas a minha mãe passou a cuidar do nosso jardim.
— Deixe-me ver. — Marcus colocou os óculos e pegou a foto. — Sim,
é verdade. Ele era funcionário da empresa que cuidava da jardinagem.
— Não era impossível ele estar envolvido no evento, porque é um
jardineiro e lá era um jardim. — Aurora adicionou rapidamente. — É a única
pessoa que reconheço, sinto muito. Não sei quem são os outros.
— Não conheço nenhum deles. — Comentei desinteressado. Qualquer
um deles poderia ser um executor e eu estava interessado nos mandantes.
— Alguém sabia que o seu filho iria no seu lugar, Senador Vaughn?
— A informação ficou disponível no meu website. Minha agenda é
pública, para que os eleitores possam saber como estou gerindo o meu
tempo.
— Péssima ideia no momento, gostaríamos que os seus compromissos
fossem cancelados e sua agenda se tornasse privada até a resolução desse
caso. Nós voltaremos com mais informações. — A Agente informou e saiu
com o seu parceiro.
Minha cabeça estava explodindo e do nada, Aurora vomitou,
desmaiando. Pulei da minha cama junto com o Flynn. De repente, as
enfermeiras entraram no quarto e brigaram que estava muito cheio e que nós
dois precisávamos descansar. Ambos estávamos com ferimentos graves na
cabeça. Meu pai disse que ficaria no CTI, onde a Lindsey estava internada no
pós-operatório e a minha mãe prometeu cuidar da Abby enquanto estávamos
ali, sem previsão de alta.
— Você pode colocar a cama dela aqui ao meu lado? — Pedi ao Flynn.
Havia uma mesinha com um vaso de flores. Marcus rapidamente tirou e meu
amigo empurrou a cama da Aurora, tirando a proteção e passando com
cuidado todas as intravenosas dela para o lado. — Obrigado.
— Não sou médico daqui e eles me deixaram ficar para ajudar. Tem
muitos feridos. Eu vou entrar em cirurgia, por favor, me chama se precisar.
— Obrigado por vir. — Batemos nossos punhos juntos. Flynn saiu do
quarto e olhei para o meu sogro. — Vá em casa descansar e tranquilizar a
Jackie, eu prometo ligar se acontecer qualquer coisa.
— Eu vou, a mãe dela está enlouquecendo... — Marcus passou a mão
no rosto. — Vince, eu acho que eu sei quem fez isso. Acho que o jardineiro
estava trabalhando para o Josh.
Joshua Calahan. Filho da puta.
Sienna escolheu esse momento para voltar para o quarto e parecia séria.
— O que houve? — Arqueei minha sobrancelha.
— Descobri quem fez as bombas, o jardineiro realmente estava
envolvido... Joshua Calahan. — Respirou fundo, exasperada. — Essa merda
vai feder. Eles têm muitas informações podres de vocês e estão ameaçando
jogar na mídia ou entregar ao FBI por um acordo. Vou pensar em algo e
vocês vão fazer exatamente o que eu mandar.
Sienna saiu andando rápido e falando ao telefone. Marcus me encarou.
— É hora de saber como nós agimos, sogro. Bem-vindo à família.
Recostei a minha cabeça no ombro do Vince, olhando a Lindsey
deitada, respirando com a ajuda dos aparelhos. Ela ainda não tinha acordado
da cirurgia. Foi levada ao coma após algumas complicações. Todos nós
estávamos muito preocupados, apesar dos médicos garantirem que o coma
era para o corpo dela descansar e se curar mais rápido. Vince e eu recebemos
alta e viemos visitá-la antes de irmos embora. Eu não aguentava mais estar
longe da Abby.
De mãos dadas, ignoramos as cadeiras de rodas e saímos pelos fundos
com o meu pai e o Gates, dois que não aceitavam ficar longe. Por incrível
que pareça, a única casa segura era a dos meus pais, já que as informações
vazadas sobre a família eram extremamente sigilosas e não entendi como
vazou, Vince foi extremamente vago, mas a casa dos pais dele não era segura
até que fosse minuciosamente verificada.
A casa que alugamos foi esvaziada e devolvida. Abby estava sob os
cuidados da minha mãe, sogra, cunhadas e irmãs, mas ela chorava o tempo
todo e pedia pelo papai e por mim. Eu estava morrendo por segurá-la em
meus braços e agradecer por ela estar a salvo. No carro, escorreguei a minha
mão no banco e segurei a mão do Vince. Ele beijou e me deu um sorriso. Eu
o amava.
— Você está sentindo-se bem?
— Só com um pouquinho de dor no corpo, no mais, eu estou bem. —
Ele se inclinou e me deu um beijo doce nos lábios.
Fiquei chocada ao perceber que a casa dos meus pais parecia a Casa
Branca com tantos seguranças e carros. Eu não fazia ideia de como todos
estavam se virando, mas era muito importante estarmos juntos e dando forças
ao outro como uma família. Gates estacionou na garagem e eu saí do carro
com cuidado. Entrei pela cozinha, minha mãe soltou o pano que secava as
mãos e me abraçou tão apertado que fiquei sem ar. Ela segurou o meu rosto e
não precisou dizer nada, seu rosto transparecia toda a sua emoção.
— Eu sei, mãe. Eu também te amo e estou bem. — Garanti e ela me
deu um beijo. Trocamos mais um abraço apertado.
— Ah, eles chegaram. — Nicole apareceu na cozinha e imediatamente
abraçou o Vince, que entrava com as malas. Ela me deu um abraço apertado
também.
Minhas três irmãs entraram na cozinha correndo e me abraçaram tão
bruscamente que eu quase caí e soltei um gemido de dor. Elas estavam
falando ao mesmo tempo e eu não conseguia entender, apenas fiquei feliz de
estar com elas. Ligia foi a última a me receber com alegria. Eu ouvi a vozinha
suave da Abby e me afastei, me preparando, ela virou a esquina da cozinha
comendo um biscoito, usava uma calça roxa, uma blusinha branca com
respingos de suco de laranja.
Me ajoelhei no chão e abri os meus braços. Ela jogou o biscoito e
correu, gritando, com o dedinho apontado na minha direção com o seu sorriso
lindo e as bochechas naturalmente rosadas.
— Oi, meu amor. — Eu a abracei apertado. — Estava com tantas
saudades, meu bebê. — Beijei seu rostinho e ela sorriu, me abraçando de
volta. Ah, que linda. Vince ajoelhou-se ao meu lado, Abby riu e segurou a
mão dele. — Não quer falar?
— Papai, amor. — Ela soprou um beijo. Vince iria derreter ali mesmo.
— Mamãe é amor também. — Ele falou baixinho, Abby me encarou
com os seus lindos olhos brilhantes e me deu um beijo, voltando a me
abraçar. Ela se agarrou em mim tão apertadinho, eu nunca mais iria soltá-la.
— Eu te amo, princesa.
Abby não quis sair do meu colo por nada no mundo e eu estava muito
bem com isso. Nós conversamos, trocamos abraços e eu até brinquei com ela,
ignorando todo restante. Nada mais me importava. Quando sua fralda
precisou ser trocada, eu subi as escadas para o meu antigo quarto. Minhas
coisas estavam ali, assim como o bercinho portátil da Abby. Rapidamente
encontrei as suas fraldas, troquei tudo, até a sua roupinha, ela estava com
sono e eu mandei uma mensagem para o Vince preparar uma mamadeira.
Ele estava em reunião com os nossos respectivos pais, enquanto as
nossas mães preparavam o jantar e as nossas irmãs estavam espalhadas pela
casa.
— Eu te amo, Abby. — Acariciei o seu rostinho perfeito.
— Amor. — Ela repetiu, sonolenta.
— Mamãe te ama. — Beijei a sua testinha.
— Mamãe... — Seus olhinhos estavam pesados.
Vince entrou devagar, com a mamadeira nas mãos e me deu um sorriso
lindo, enquanto eu só conseguia chorar. Ele deitou do outro lado, oferecendo
a mamadeira a ela, que aceitou e começou a sugar de olhinhos fechados e os
dedinhos enrolando o meu cabelo. Olhei para o meu marido e nos beijamos,
tão próximos, que ela estava quase esmagadinha. Eles eram a minha vida.
— Quero ir embora.
Vince desviou o olhar da Abby.
— Não quero ficar aqui. Quero voltar para nossa casa e a nossa vida o
mais rápido possível, por favor. — Ele colocou a mão no meu rosto. —
Quero esquecer esse pesadelo. Eu quase te perdi. — Comecei a chorar.
— Shh, baby. Vai ficar tudo bem e eu te prometo que assim que
possível, nós iremos embora. — Debruçou-se sobre a Abby e me deu um
beijo.
Acabei adormecendo com a Abby e ela me acordou, dando tapinhas no
meu braço, de joelhos na cama e eu sorri, ainda com sono, sentindo dor nas
costas e me sentei com cuidado querendo tomar um banho. Ela não tinha
altura para abrir a porta do quarto e sair, então eu preparei um banho
quentinho na minha banheira e entrei com ela.
— Abby, sem bater na água. — Orientei, porque ela parecia um
patinho, jogando água para todo lado. Lavei o meu cabelo com cuidado,
porque ainda estava com pontos na nuca, mas eu não aguentava ficar mais
um dia com o cabelo seboso. Lavei o cabelinho dela e ficamos aproveitando a
água quentinha, sozinhas.
Quando a água ficou fria, sequei-a primeiro e deixei que saísse
correndo pelada. Me sequei e ouvi o pai dela rindo. Ele apareceu com ela no
colo, deu um olhar brincalhão para a minha nudez e eu me envolvi na toalha.
Sequei o meu cabelo, me perfumei e procurei uma roupinha confortável.
Peguei os remédios prescritos e tomei, necessitada, o banho me fez sentir
ainda mais dolorida.
Vince ficou bom rapidamente, talvez porque ele caiu em uma grama
fofinha e eu voei contra o carro.
Ele arrumou a Abby e deu a ela uma boneca para se distrair.
— Já temos informações oficiais, nenhum óbito. Algumas pessoas com
ferimentos graves, como a Lindsey, mas todos fora de risco. — Vince me
abraçou. — Decidimos que uma pessoa será presa e culpada pelos atos
publicamente, será forjado, porque ainda não sabemos até que ponto as
informações que os Calahan tem em mãos são prejudiciais. Mudamos todos
os nossos códigos de segurança, senhas de acesso, aplicativos, bancos,
absolutamente tudo.
— Os Calahan... Por quê? É algo tão drástico.
— Eu ainda não sei explicar. É simplesmente fora do contexto
machucar tantas pessoas...
— Eles só podem estar planejando algo pior.
— Eles devem ficar de rédea curta e eu espero conseguir provar que
estão envolvidos, assim, ficaremos livres. Meu pai não vai parar, Aurora.
Nada vai impedi-lo de conseguir o que quer e se ele tiver que passar por cima
dos Calahan, isso vai acontecer. — Vince me deu um beijo. — E se for
melhor para a nossa família se afastar, eu vou dizer ao meu pai que eu estou
fora.
— Vince...
— Não vou arriscar a sua vida e muito menos a da Abby pela ambição
política. Eu sei que eu fiz parte, eu alimentei a ambição do meu pai visando
levar a minha empresa a um nível mundial, mas eu não vou fazer isso se
significa perder vocês.
Nós ficamos abraçados olhando a Abby brincar. Quando me casei, eu
sabia que haveriam momentos difíceis, que eu precisaria dar suporte ao Vince
de muitas maneiras, mas eu estava sem palavras e sem conseguir formar um
pensamento coerente. Beijei o seu peito e fiquei quieta, era melhor não falar
nada do que aconselhá-lo a algo que poderia causar um conflito.
Ele pegou a Abby e descemos juntos. Toda família estava na cozinha,
um falatório, pratos passando de um lado ao outro. Meu pai conversava baixo
com o meu sogro, ambos com as cabeças próximas e de cenhos franzidos.
Nossas mães colocavam comida nos pratos e as minhas irmãs andavam de
um lado ao outro, servindo-se. Jake me deu um abraço apertado e um beijo na
testa, carinhoso como sempre. Eu amava o meu cunhado.
Vince colocou a Abby na cadeirinha e eu peguei purê, cortei a carne em
pequenos pedaços, misturando com a cenoura em rodelas, brócolis e as
vagens inteiras que ela gostava de comer com a mão. Assim que coloquei o
prato na sua frente, ela agarrou um brócolis e mordeu, me dando um sorriso
cheio de dentes. Sorri e beijei a sua cabecinha, sem fome, apenas me sentei
ao lado dela.
— Você está tão quieta. — Bella sentou-se ao meu lado. Seu prato
estava cheio de comida. — Não vai comer nada?
Antes que pudesse dizer que estava sem fome, Vince colocou um prato
de comida na minha frente. Ele selecionou os legumes que eu gostava, um
pouco de purê de batata com queijo e duas fatias da carne assada da minha
mãe que eu amava. Ele me entregou um garfo e suspirei, cutucando uma
cenoura. Abby estava comendo uma vagem e me encarando com expectativa.
— Come, vai. — Ela sorriu e eu ri.
— Viu, incentiva a mamãe a comer. — Vince puxou uma cadeira do
outro lado. Cortei um pedaço da carne, comi e a Abby me ofereceu a sua
vagem mordida. Aceitei e beijei a sua mãozinha. Ela pegou a colher e levou a
boca, cheia de purê.
Comi a minha comida e permaneci quieta, esperei que a Abby comesse
até que ficou satisfeita, mas ela quis sair da cadeirinha para ficar no meu colo.
Dei a ela um milho pequeno para comer, ficou tomada de caldo e pequenos
pedaços. Ela ficou cansada do milho, limpei o que consegui e desisti porque
seria preciso outro banho.
Cansada, me levantei com a Abby e pedi licença. Eu sabia que eles
estavam me encarando como se eu fosse uma bomba relógio prestes a
explodir e era exatamente assim que eu me sentia. Entrei no meu quarto com
ela, fechei a porta e nos lavei, decidi que não precisava descer novamente.
Fiquei com a Abby na cama, falando sem parar, mexendo em tudo e eu não
sabia se podia amá-la ainda mais com a sua energia.
Para acalmar o seu fogo, coloquei Moana para testar a sua paciência
com um filme que não era o que ela gostava. No começo, ela ficou
desconfiada, olhando para a televisão e para mim, quando começou a
cantoria, ela se rendeu de vez, hipnotizada e até abraçou o seu ursinho de
dormir no berço.
— Voana, mamãe. Olha!
Fechei os meus olhos, com o meu coração explodindo no peito.
— É a Moana, filha. — Sorri sem esconder a minha emoção.
Sabia de todas as músicas da Moana, porque uma menininha que eu
costumava tomar conta era viciada e a Abby achou o máximo que eu estava
cantando algo que era novidade para ela. Quando TK apareceu na tela, seus
olhos arregalaram e eu observei todas as suas reações assistindo o filme.
Quando acabou, ela estava elétrica, falando da Voana bebê, a Voana mãe, a
Voana velha e quando cantei a música do Maui, ela gritou de prazer se
jogando em mim.
— É hora de dormir, bonequinha. — Beijei a pontinha do seu nariz. Em
meus braços, eu a ninei calmamente, falando baixo, acalmando o seu fogo e
ela foi ficando com os olhinhos pesados, a boquinha se abrindo e quando
pesou, eu sabia que tinha dormido.
Vince entrou no quarto devagar, me olhando atentamente e a pegou no
colo, dando o seu beijo de boa noite e a colocando no berço perto da cama.
Ele tirou a sua roupa, indo de cueca para o banheiro. Ele tomou banho e saiu
enrolado na toalha. Mordi o meu lábio e apreciei o meu marido trocando de
roupa discretamente no meu closet. De pijama, cheiroso e com o cabelo
molhado, deitou-se em cima de mim e o abracei.
Ele beijou a minha barriga, cada um dos seios e me fez rir, beijando o
meu pescoço e por fim, a minha boca. Não levou muito para o tesão explodir
e o beijo ficar todo aquecido com as mãos bobas, mas mantivemos em nível
baixo, porque a Abby estava dormindo no berço ao lado da cama. Vince me
deu um olhar e apontei para o banheiro. Ele concordou e escorregamos para
fora da cama.
Entramos no banheiro, encostamos a porta e voltamos a nos beijar
cheios de urgência. Tirei a minha blusa, ele encaixou os dedos na minha
calcinha e empurrou para baixo. Ele tirou a calça e me apoiou na pia,
agarrando os meus peitos enquanto me chupava. Soltei um gemido alto e me
controlei, segurei os seus cabelos, me apoiando. Ele estava me devorando,
adorava quando me chupava daquele jeito, feroz e cheio de tesão.
— Ah, amor. Me fode. — Pedi baixinho. — Vamos para a banheira.
A banheira ainda estava meio molhada da chuveirada dele, mas nós não
estávamos nos importando. Nós quase explodimos. Tinha uma família
lunática querendo nos matar e tudo que podia fazer para me ajudar, era fazer
amor com o meu marido. Como dois adolescentes, rimos baixinho por transar
dentro da banheira. Montei nele devagar, gemendo, me sentindo cheia e ele
agarrou a minha bunda, rebolei contra ele, começando um ritmo frenético que
logo me levou ao orgasmo e ele gozou em seguida.
— Eu te amo, minha doce Aurora. — Me deu um beijo nos lábios.
— Eu te amo, meu príncipe. — Beijei-o de volta.
Ainda ficamos na banheira, namorando, ligamos o chuveiro para tomar
banho e acabamos transando mais uma vez. Eu nunca pensei que um dia faria
sexo no meu quarto de solteira. Minha mãe nunca deixaria um homem passar
da porta, mas como era o meu marido, ela não podia fazer nada e eu ainda
faria sexo com o Vince na minha cama. Só para ter o gostinho.
Assim que bati na cama, dormi. Estava exausta. De manhã cedo, ouvi a
Abby nos chamar. Vince levantou, a colocou na cama e eu a abracei. Abby
colocou a mãozinha na minha bochecha e beijei a sua testinha.
— Bom dia, meu amor. Você dormiu bem? — Ela ainda estava cheia
de sono. Ela assentiu e bocejou. Vince voltou para o quarto com a
mamadeira. Abby costumava acordar faminta, porque ela dormia a noite
inteira. — Nossa, que vontade.
— Uma mistura de sede e fome. — Vince deitou-se do outro lado da
cama. — Snow estava acordada. Sua irmã é muito louca. — Soltei uma
risada.
— O que ela estava fazendo?
— Comendo escondido. Quando entrei na cozinha, quase pulou e
grudou no teto como um gato. Implorou que não contasse para sua mãe que é
ela que está devorando o leite em pó com o brigadeiro. — Sorriu torto.
— A mamãe tem uma política rígida sobre comer doces ou comer fora
de horário. — Expliquei e ele assentiu. — A Snow tem um prazer enorme em
quebrar todas as regras. Ela é única.
— A boca dela estava cheia de leite em pó, eu estava com muita
vontade de rir, mas imaginei que ela fosse ficar puta. — Comentou e eu ri.
Ela ficaria muito irritada. — Será que teremos mais uma menina?
— Não sei. Você se importa com o sexo?
— Não. Eu só terei o mesmo destino que o seu pai, uma casa cheia de
meninas e muito falatório.
— Independente do que for, sei que teremos uma casa cheia. — Dei-lhe
um beijo. — Mas nada de falar de filhos ou iremos atrair. Não me faça fechar
as minhas pernas de forma permanente.
Vince passou o dedo na boca como se estivesse fechando um zíper e
jogou a chave a fora. Engraçadinho.
Me encarei no espelho e eu estava bonita o suficiente para participar de
uma importante reunião no escritório dos advogados da família e em seguida,
ficar junto com toda família para a coletiva de imprensa. Uma semana após o
atentado, meus sogros finalmente puderam voltar para a sua casa e ela estava
seguramente verificada, assim como todos os funcionários analisados umas
trinta mil vezes.
Dei um passo atrás, verificando a minha aparência. Meus cabelos
estavam soltos, escovados, minha maquiagem era bem básica, sem delineado,
apenas rímel, a pele bem feita e um batom matte claro. No meu pescoço, um
colar delicado, com a letra V e uma bonequinha, representando a Abby.
Estava com um conjunto social todo branco, representando a paz que tanto
desejava.
Abby estava dormindo, ela ficaria com a minha mãe e eu tinha que sair
antes que acordasse. Peguei a minha bolsa e saí do quarto de fininho. Snow e
Jasmine estavam prontas para a escola, o novo guarda-costas dos meus pais
era responsável por cuidar delas na rua. Eu não tinha certeza se os meus pais
já podiam assumir tanta responsabilidade financeira, então enquanto eles se
ajustavam com o dinheiro, pedi ao Vince para assumir a segurança das
meninas.
Com o casamento, o Vince quitou as dívidas do meu pai e toda
hipoteca, mas eu sabia que a nossa casa precisava de uma reforma e que
existiam outras questões a serem resolvidas que eu não queria preocupá-los.
A família do Vince estava em um caso de amor pela minha, que nesses dias
juntos, mostraram que poderiam ser unidos em uma potência.
Desci a escada com cuidado por causa dos meus saltos e a Snow passou
por mim, quase me levando junto. Ela queria chegar primeiro no carro para
sentar no banco da frente. Revirei os olhos e quando estava prestes a brigar,
Jasmine desceu correndo, tentando derrubar a outra. Soltei uma risada,
porque aquelas duas pareciam que nunca iriam crescer. Talvez eu devesse ter
outro bebê logo para a Abby ter uma relação como a Jasmine e a Snow
tinham.
Vince saiu da cozinha, mexendo no seu relógio e me olhou com
admiração.
— Você está linda, Sra. Vaughn.
Ele ficava incrivelmente doce após nossas aventuras sexuais. Essa noite
nós fugimos do quarto para um dos quartos de hóspedes no final do corredor.
Era um quartinho pequeno, com uma bicama de solteiro que no começo fez
uns barulhos infernais e nós precisamos ir para o chão. Sorri e trocamos um
olhar muito cúmplice.
Nos despedimos dos meus pais e entramos no carro com o Gates e o
novo guarda-costas, Harry, nos bancos da frente. Vince estava concentrado
no seu celular. Ausente de Nova Iorque e com tantos problemas, ele estava
com muito trabalho acumulado e eu sabia que quando voltássemos para casa,
precisaria trabalhar muito. Meia hora depois, chegamos a um prédio
comercial no centro, do lado de fora, a imprensa estava nos aguardando.
Vince e eu passamos sem falar nada. No elevador, senti a tensão me
dominar, porque eu não fazia ideia o que seria decidido e eu insisti estar
presente, porque eu tinha o direito de participar de qualquer decisão que
envolvesse a minha imagem. Ao sairmos em um dos últimos andares, reparei
na sofisticada placa escrito BIANCCHI & ASSOCIADOS. Os pais do Vince
estavam conversando com a Sienna Miller.
Não fazia a mínima ideia porque eu morria de ciúmes daquela mulher.
No hospital, no começo, não lhe dei muita atenção. Com o passar do tempo,
fiquei meio receosa. Tudo que ela falava, Vince e o meu sogro aceitavam
como se fosse Jesus andando sobre as águas. Tinha que admitir, ela era
bastante profissional, sempre direta ao ponto e não tivemos enrolação, logo
nos reunimos em uma sofisticada sala de reuniões com uma linda visão para
o Capitólio.
Por uma hora, foi discutido como seria anunciado a existência da
Lindsey. Foi decretado que a família sempre soube da existência, fruto de um
rápido relacionamento do meu sogro com a sua mãe em um período que
estava separado da sua esposa, mas por um acordo com a mãe (que não
estava viva para desmentir), era proibido que a menina ficasse conhecida
como uma Vaughn.
Não concordava, mas não pensei em nada melhor para sugerir.
— Então, Vince. Como está a sua agenda pública?
— Confusa.
— Aconselho que vocês mantenham as redes sociais alimentadas, mas
voltem progressivamente em respeito a todas as vítimas. Em seguida,
começaremos um plano de distração, mantê-los em evidência, com a
exposição natural, calma e talvez devêssemos trabalhar na sua agenda para
colocar a Aurora em mais evidência. — Sienna falou como se eu não
estivesse ali. Arqueei a minha sobrancelha. Ela seguiu falando de todas as
coisas que eu deveria fazer, sem perguntar a minha opinião ou se eu estava
confortável em fazer.
Limpei a minha garganta, ela parou de falar e todos me encararam.
— Eu não vou expor a Abby desnecessariamente, não irei proporcionar
jantares sem que eu esteja confortável e eu não vou acompanhar o Vince na
viagem ao Canadá, porque serão apenas dois dias e isso vai deixar a Abby
extremamente cansada sem nenhuma necessidade. — Pontuei calmamente.
— Eu aceito lidar com a boa imagem politicamente e tenho empatia o
suficiente com todas as vítimas, porque eu estava lá e fui arremessada contra
um carro e o meu marido estava muito perto do carro que explodiu.
Sienna se ajeitou.
— Sinto muito se pareço fria, apenas costumo ir direto ao ponto. — Ela
olhou para a sua agenda. — Alguma oposição em comparecer ao evento
anual de mulheres na luta contra o câncer no MET mês que vem?
— Não, nenhuma. Pode confirmar a minha presença.
A partir daí, ela passou a me perguntar sobre quaisquer eventos e de
uma maneira muito cansativa, estruturamos os próximos passos. Estava perto
da hora do almoço quando terminamos e a Sienna preparou o meu sogro para
a coletiva de imprensa. Fui ao banheiro me refrescar, tentar ensaiar uma
expressão neutra e simpática. Minha sogra entrou no banheiro poucos
minutos depois e me deu um olhar compreensivo.
— Você está exausta.
— Estou. — Não tinha como mentir.
— Quando for para casa, tire uns dias para ficar quieta com a sua
família. — Ela retocou o batom. — Se você não recarregar as suas energias,
não vai aguentar a batida de ser uma Vaughn. Às vezes parece que é demais
para suportar e eu só não tenho mais rugas porque uso botox. — Sorriu e
guardou o batom. — Vai ficar tudo bem. — Ela deu um tapinha suave na
minha mão e saiu.
Aproveitei que estava sozinha para verificar a Abby e a minha mãe
enviou uma foto da minha pequenininha ainda de pijama, descabelada,
comendo banana e assistindo televisão. Pela imagem excessivamente
amarela, só podia ser Minions. De vez em quando eu tinha pesadelos com
esses bonequinhos de tanto que a Abby me fazia assistir. Esperava que ela se
viciasse em outro desenho logo.
Saí do banheiro e o olhar do Vince imediatamente encontrou o meu.
Ele estava conversando com um homem alto, muito bonito, com um olhar de
arrepiar e um sorriso desafiador.
— Nicola, essa é a minha linda esposa, Aurora.
— É um imenso prazer conhecê-la, Sra. Vaughn. — Ele foi polido. Seu
olhar para Sienna, no entanto, não era frio como o seu olhar para mim. Ele
estava observando-a como um falcão. Interessante.
— Hora de ir.
A coletiva de imprensa foi organizada em um dos salões de conferência
do prédio. Havia todo tipo de veículo de informação. Vince e o seu pai
sentaram-se no centro, sua mãe e eu ficamos nas pontas, ao lado dos nossos
maridos. Ela usava preto e eu branco. Os dois usavam tons de azul escuro
muito parecidos. Fiquei com dor de cabeça em dez minutos de coletiva, a
mídia estava sedenta e cruel sobre um senador tão defensor da família
tradicional esconder uma filha.
Eu sabia que seria ruim, só não calculei a dimensão.
Mesmo assim, eu precisava dar créditos ao meu sogro por não perder a
postura, continuar sendo suave, gentil e ele fez até uma expressão de choro ao
falar sobre o quanto a Lindsey era um espírito livre, aventureiro, mas que
pela tragédia, estava em uma cama de hospital e ele não ia parar até que o
culpado fosse levado à justiça. No final, os jornalistas estavam divididos
entre o ceticismo e a emoção de um pai preocupado. Nicole merecia um
prêmio de atriz do ano.
Ela foi breve sobre a Lindsey, mas falou com a emoção maternal que
comoveu o mundo, talvez por isso que eles deixaram de soar agressivos e
passaram a ficar curiosos.
— Aurora! O que tem a dizer para as vítimas do atentado?
Vince moveu o seu microfone para minha direção.
— Como uma das vítimas, eu posso entender o quão difícil é passar por
algo confuso. Ainda parece surreal que de fato aconteceu. A noite é o pior
momento, eu ainda consigo ouvir tudo e é difícil dormir. — Fiz uma pausa
para reunir os meus pensamentos. Era difícil estar com tantos olhos cheios de
expectativas em mim. Vince segurou a minha mão. — Felizmente, eu tenho
uma família maravilhosa, um marido compreensível e pensando nisso, nós
fizemos uma doação para o Centro de Psicologia de Georgetown e todas as
vítimas do atentado poderão ter um tratamento adequado para passar por esse
momento, de forma gratuita. Sabemos que somos afortunados e apesar do que
aconteceu não ter sido nossa culpa, sentimos a responsabilidade por quem
sofreu. Espero que todos possam se recuperar.
Houve uma pequena salva de palmas espontânea que me deixou
vermelha de vergonha. Sienna encerrou a coletiva e nós saímos pela lateral.
— Uau, Aurora. Você foi incrível, querida. — Meu sogro me
parabenizou como se eu estivesse fingindo. Eu estava lá, será que eles
esqueceram? — Nos comícios, você certamente terá o seu momento para
discursar. Com essa fala doce e apaixonada, vai arrastar multidões.
Apenas sorri. A ideia de doar foi do meu pai, para amenizar o golpe
negativo da nossa imagem, mas eu gostei e aprovei. Vince e eu doamos, na
verdade, ele doou, porque o dinheiro era dele... Nosso. Era tão confuso. Eu
queria fazer algo que pudesse ajudar as vítimas de alguma maneira. Da minha
parte, não foi pensando na política, mas eu precisava começar a agir tão
friamente quanto o restante da família.
Vince se despediu dos seus pais e eu apenas sorri. Estava esgotada.
Queria me deitar e dormir. Queria a minha casa. Era tão irônico que eu
morava há muito menos tempo em Nova Iorque do que em Baltimore, onde
passei toda a minha vida, mas eu já sentia a diferença de estar na casa dos
meus pais e na minha própria casa, no aconchego da minha cama e a minha
privacidade.
— Tenho duas surpresas para você. — Vince comentou no carro. Se ele
viesse com presentes, eu ia arremessar no rosto dele. — A primeira é que a
sua mãe gentilmente concordou em ficar com a Abby por mais uma hora para
que eu possa levar a minha linda mulher para almoçar.
Ele estava me agradando...
— E a segunda... — Se aproximou e cochichou no meu ouvido. — Nós
temos um voo noturno para casa.
— Ah, Vince. — Segurei o seu rosto e o beijei. — Muito obrigada.
— Eu estou tão louco para ir embora quanto você. — Beijou a minha
bochecha. — Infelizmente não vou poder tirar folga, está tudo embolado, mas
eu prometo estar em casa toda noite para o jantar e colocar a Abby na cama.
Podia supor que a empresa estava pipocando de problemas que
precisavam da sua atenção. Esperava que ele pudesse tirar o final de semana
de folga, não queria que ficasse doente por exaustão. Acariciei o seu rosto já
fazendo planos mentais em como arrumar tudo o mais rápido possível para
irmos embora.
Sorri feito uma boba apaixonada quando o Gates estacionou em frente
ao restaurante que ficamos noivos. Nós pudemos escolher uma mesa no
jardim dos fundos, que estava vazio e pudemos namorar bastante. Eu nunca
imaginei que poderia sentir tanta conexão com Vince e ter momentos tão
doces. Ele beijou a minha mão, com as alianças de noivado e casamento.
— Precisamos sair juntos mais vezes.
— Gosto dos nossos momentos em casa. — Beijei os seus lábios. —
Devemos tirar um dia ou outro para sairmos juntos. Até dormir fora... —
Pisquei e ele sorriu.
— Estamos agindo como adolescentes, fazendo sexo escondido,
precisamos voltar para casa. — Balançou as sobrancelhas, me fazendo rir. Eu
parei, respirei fundo e as lágrimas escorreram pelo rosto. — Ah, meu amor.
— Escondi o meu rosto no seu pescoço. — Não chora, baby.
— Eu sinto muito, não consigo controlar. — Ele secou as minhas
lágrimas.
— Entendo, baby. Nós vamos para casa e eu te prometo, que vamos
ficar bem.
— Nada pode acontecer com a Abby, Vince. Eu vou enlouquecer se
algo acontecer com ela... — Usei o guardanapo para secar o meu rosto. —
Não me importo se eu me machucar trinta ou mil vezes, mas eu vou surtar se
ela se machucar.
A expressão amedrontada e dolorosa dele era o reflexo da minha.
— Não vai acontecer. — Ele me beijou.
Aceitei a sua promessa para acalmar o meu coração e terminamos o
nosso almoço. Fiquei de pé, ajeitando a minha roupa e o rádio começou a
tocar My Girl – The Temptations e o Vince sorriu, me puxando para os seus
braços e me levando para dançar no pátio vazio do jardim do restaurante. Ele
me rodopiou, me fazendo rir e o beijei, embalada na canção e no seu desejo
de melhorar o meu humor e me fazer feliz a todo custo.
Quando a música acabou, eu o beijei apaixonadamente. Gates sorriu ao
nos ver saindo juntinhos e nos levou para casa dos meus pais. Abby estava no
colo da minha sogra, que não conseguia ficar longe da neta e meio ciumenta
com a proximidade da Abby com a minha mãe, que ganhou o nome de Vovó
também. Meus pais estavam na lua com a Abby andando atrás deles e
chamando-os o tempo todo.
— Seu pai está com o seu sogro no escritório. — Ela informou ao
Vince, que deu um aceno e foi até lá.
— Aconteceu alguma coisa? — Tirei os meus sapatos.
— Não. Só precisava de um pouco de amor dessa menina antes de irem
embora. — Ela beijou a Abby.
— Minha casa vai ficar tão vazia. — Minha mãe choramingou um
pouquinho.
Abby me deu um olhar feliz e o meu coração sempre se enchia de amor
ao vê-la sempre tão alegre. Esperava manter essa mini-pessoa com esse olhar
incrível. Ela esticou os braços na minha direção, me querendo e a minha
sogra bufou, rindo. Como estava com sono, apoiei a sua cabecinha no meu
ombro e me balancei, do jeitinho que gostava de ser ninada.
— Ninguém bate a Aurora na preferência dessa menina. — Nicole
grunhiu.
— Ela ainda chama o papai para tudo. — Esfreguei as suas costinhas.
Na dica, ela colocou a mãozinha no meu rosto.
— Mamãe... — Murmurou baixinho.
— Tem certeza? — Minha mãe riu.
— Eu nunca pensei que pudesse amar tanto uma pessoa na minha vida,
até a Abby. Achei que levaria tempo, que desenvolveríamos um laço de
afeição e até uma amizade, mas não que o meu coração fosse tomado por
tanto amor. — Abracei a Abby. — Ela é tudo para mim.
— Bem-vinda a maternidade. — Minha mãe esfregou os meus braços e
eu sorri. — É um mundo mágico, cheio de amor e ao mesmo tempo, doloroso
com preocupações e medos. É sempre um misto de sensações que tiram o
sono, mas vale a pena cada segundo.
Deitei a Abby no meu braço, já meio adormecida e olhei para o seu
rostinho.
Sim, valia a pena.
SEBASTIAN VAUGHN É QUEM DIZ SER?
— O homem conhecido pela verdade e voracidade em seus atos, foi
recentemente vítima de um atentado e com isso, veio à luz a existência de
uma filha fora do seu perfeito casamento. — A mulher pausou, com um ar
dramático. — E acreditem, tem muito mais por trás desse palco de família
tradicional perfeita... Segundo a nossa fonte, Ligia Vaughn tem preferência
por meninas e a caçula uma alta rotatividade de namorados. — Piscou para
a câmera. — A nossa fonte tem um dossiê completo de atividades
extracurriculares por parte do mais velho, Vince Vaughn. E eu me pergunto,
como será que Aurora Sinclair foi parar em uma família tão tóxica? Hoje, às
20h, todos os segredos sujos da família em primeira mão. Conto com você.

Vadia.
Joguei o meu telefone na mesa ou eu iria quebrá-lo em muitos pedaços.
Joshua Calahan era a fonte. Ele se entregou à polícia quando soube que nós
estávamos desviando a investigação da sua ameaça de soltar as merdas no
ventilador. O que essa apresentadora estava ameaçando era facilmente
contornável, o problema era que nós não sabíamos o que ele de fato tinha em
mãos.
Meu telefone vibrou e eu peguei.
— Sim.
— Estou subindo.
— Ok.
Não levou dois minutos para minha assistente anunciar a chegada
inesperada de agentes federais. Liberei a entrada e duas mulheres passaram
pela minha porta, acompanhadas da minha secretária. Joanne era tão
profissional que não deixava transparecer absolutamente nada.
— Sr. Vaughn, eu sou Kyra Bennigton. — Ela esticou a mão e eu
apertei, segurando a vontade de rir. — Essa é a minha parceira, Kate Hunter.
Olhei para a mulher desconhecida e apertei a sua mão.
— Obrigado por acompanhá-las, Joanne.
Minha assistente saiu e a Kyra me encarou, mas deixou que a sua
parceira falasse. Kyra estava como consultora no caso, porque ela era uma
perfiladora contratada pelo FBI para casos de terrorismo, mas eu sabia da
verdade e o real motivo pelo qual ela estava participando. Fiz o meu papel de
ser um babaca e evasivo, beirando o irritante e quando elas foram embora, eu
soube que o Joshua seria preso. O FBI estava sedento pelas informações que
eles estavam negociando.
Liguei para Sienna.
— Nicola não aceita a ideia de que ele seja preso, Vince. Eu sei que
vocês não queriam mais um escândalo e definitivamente não seria o ideal,
mas o plano já está feito e o poderoso chefão deu a martelada final.
— Eu não me importo nem um pouco, preciso saber o que faremos a
seguir.
— Um passo de cada vez. Primeiro, eu vou alinhar com o Nicola,
depois eu vou agir sobre a atitude dele. Em todo caso, fique em casa, faça
coisas normalmente, não aparente suspeita ou preocupação excessiva. Todos
terão álibis e é isso que importa. — Ela explicou e apenas grunhi. — Não
estranhe o silêncio nos próximos dias, ele será necessário. Até mais.
Assim que encerrei a chamada, vi que tinha mensagens não lidas da
Aurora. Ela viu a mesma coisa que eu na internet e estava irritada,
preocupada e nervosa. Sabia que a porra do programa não iria ao ar, não
importava o quanto eles ameaçassem. Eu avisei ao meus pais que a Ligia não
era obrigada a assumir publicamente, ela não era obrigada a nada e a Cleo era
jovem, saudável e podia namorar quantos quisesse sem ter que dar
satisfação.
Não queria que elas precisassem dar uma declaração sobre o que faziam
com as suas vidas. Isso não importava.
Passei a tarde trabalhando, discutindo no grupo da família, por fim, a
Ligia postou um esclarecimento no seu stories e deixou claro que ela vivia a
sua vida do jeito que achava melhor e não tinha obrigação de dar satisfações,
que nossos pais a apoiavam – o que não era totalmente verdade. A Cleo optou
por fingir que nada estava acontecendo, como sempre.
Me distraí com o vídeo que a Aurora mandou da Abby mergulhando
como um peixinho na sua aula de natação. Ver a minha filha e a minha
esposa ajudou no meu humor e pude trabalhar melhor. No final do dia, assisti
a emissora se retratando com a minha família, a apresentadora foi demitida e
as supostas informações negadas e não publicadas. Encerrei meu dia no
trabalho, porque ainda faltava um longo caminho para casa e eu ficaria preso
no trânsito.
Dirigi com cuidado para casa, fiquei aliviado quando entrei na minha
rua, cansado, louco para tirar a roupa do trabalho, beber umas boas doses de
uísque e relaxar no sofá, mas o meu telefone tocando me indicava que eu
teria muito trabalho ao chegar em casa. Estacionei na garagem e ouvi um som
de algo quebrando.
— Abby! — Aurora gritou e rapidamente entrei em casa.
Dois copos finos estavam no chão e quebrados.
— Cuidado. — Aurora apontou. — Mãos ágeis derrubou os copos,
porque parece uma gata. — Grunhiu e a Abby estava com os olhos
arregalados, com o dedo indicador na boca. — Segure-a para que possa
limpar.
— Eu limpo, você está descalça, fique aí.
Abby chorou quando Aurora brigou com ela sobre não obedecer e a
colocou sentada no seu cadeirão alto. Sem querer, Aurora pisou em um caco
de vidro e respirou fundo para não xingar, fechando os olhos. Limpei com
cuidado e passei o aspirador para ter certeza de que não sobraria nenhum
caquinho de vidro.
— Será que posso dar oi para as minhas meninas? — Me aproximei e
beijei a minha esposa. — O que foi, amor?
— Apenas estressada. — Suspirou e me beijou de volta.
— Oi, filha. — Beijei a sua bochecha. — Você aprontou muito com a
mamãe hoje? — Abby me olhou com os cílios molhados e fez um beicinho.
— Sua mãe brigou?
— Mamãe brigou. — Ela chorou de novo e escondi a risada. — Abby
derrubou copo. — Apontou para o balcão.
— Não pode desobedecer a mamãe e não pode mexer em vidros. —
Beijei a sua bochecha.
— O jantar vai atrasar um pouco. Agatha estava sentindo-se mal, eu
disse para descansar e eu tentei começar a fazer algo, mas a Abby estava
quase incontrolável. — Ela foi para a geladeira.
— Vamos pedir pizza. Estou louco para comer uma boa pizza.
— Mamãe... — Abby ainda estava chorando, coçando os olhos.
— Ela está com sono, tentei mantê-la acordada para que pudessem se
ver. — Aurora explicou, mas a Abby estava irritante e não queria conversa.
Eu tinha que aceitar que a minha filha estava com a sua pessoa favorita e essa
pessoa não era eu.
— Está tudo bem, eu vou pedir a pizza enquanto ela dorme e vou tomar
um banho, ok? — Beijei os seus lábios e saí.
Fiz o pedido do nosso jantar, separei uma garrafa de vinho e fui tomar
banho, o tempo todo ouvindo a Abby chorar. Meu telefone vibrou e precisava
enviar a aprovação urgente de um projeto. Desci as escadas rapidamente, me
refugiando no escritório por um momento, trabalhando no projeto de uma
casa-museu no centro da cidade e concentrado, não vi a hora passar.
Ouvi uma batida na porta e ergui o meu rosto.
— A pizza chegou, bonitão. — Aurora estava com os cabelos presos no
alto e enrolada em um roupão vermelho de cetim. — Chega de trabalhar... —
Puxou o laço. — Sua esposa exige a sua total atenção. — Revelou um body
transparente preto e nada mais. Ela virou de costas, saindo do meu escritório.
Levantei correndo e fui atrás dela, pulando o roupão e a peguei no meio do
caminho.
— Que gostosa, baby. — Apertei a sua bunda.
— Eu preciso de uma noite divertida, safada e relaxante. — Me pediu e
beijei a sua boca, levando-a para o sofá e dando exatamente o que a minha
mulher precisava.
No meio da madrugada, ela finalmente dormiu e eu levantei para olhar
a Abby, que estava tossindo. A tela do meu telefone acendeu e peguei. Meu
pai estava me ligando àquela hora da madrugada, não poderia ser coisa boa.
— O que aconteceu?
— Ele está fora. Rédea curta nos próximos dias... Precisamos nos falar
pessoalmente. Sua mãe e eu chegaremos a Nova Iorque amanhã cedo.
— Certo. Até amanhã.
Ele encerrou a chamada e a minha cabeça estava explodindo. Liguei a
televisão e deixei no mudo, esperando o noticiário da madrugada e logo o
plantão urgente começou noticiando a morte de Joshua Calahan, assassinado,
supostamente, por um pai que teve os filhos feridos no atentado. Como o
homem era um fuzileiro, a mídia não estava duvidando das habilidades em
conseguir invadir o local que ele estava em prisão domiciliar. Na verdade, foi
tudo armado.
Sabia bem quem estava por trás de tudo aquilo.
Esperava que viesse um pouco de calmaria depois dessa tempestade.
Meu pai não iria parar, as pessoas que estavam financiando a sua carreira não
iriam parar, era uma guerra selvagem em troca de muito dinheiro e poder. Os
próximos passos seriam ainda mais agressivos e eu só podia pensar na mulher
deitada na minha cama e no meu bebê dormindo no quarto ao lado.
— Vince? — Aurora acordou ao sentir a minha falta na cama. —
Amor, está tudo bem? — Sentou-se e o lençol escorregou, revelando a sua
nudez. — Vem para c0ama.
Me deitei atrás dela, abraçando seu corpo perfeito, sentindo a carícia
suave no meu braço e logo adormeci. Acordei com a Abby chamando
e Aurora não estava na cama. Levantei e vesti a calça do pijama, indo até o
quarto da minha filha e a peguei.
— Cadê mamãe? — Ela bocejou.
— Eu não sei, vamos descobrir. — Saí do seu quarto e desci a escada.
Agatha estava na cozinha, preparando o café da manhã.
— Bom dia, Agatha.
— Bom dia, meu querido. — Ela sorriu e pegou a Abby. — Bom dia,
florzinha. Sua mãe deixou o seu café-da-manhã pronto.
— Em falar nisso, onde está a minha mulher?
— Fazendo exercícios no quintal. — Apontou para o gramado e vi a
minha mulher sentada de pernas cruzadas, olhando para o alto, pegando um
sol matinal. Fiquei parado, encostado na pilastra da varanda e eu nunca me
cansaria de admirá-la.
Aurora não estava mais se exercitando, apenas contemplando o bom
tempo, olhando o céu azul e eu a deixei relaxar sozinha, colocando a sua
mente no lugar e voltei para a cozinha. Abby estava tomando a sua vitamina e
comendo as panquecas cortadas em formato de coração do tamanho da palma
da sua mão e mordendo.
— Ela fez mini panquecas de coração para a Abby. — Agatha me viu
olhar o café da minha filha, admirado e ainda mais apaixonado. Aurora
colocava amor nas pequenas coisas.
— Oi, bom dia. — Ela entrou em casa, usava um short curto branco e
um top azul claro, com os cabelos presos e me abraçou. Estava quentinha do
sol e beijei os seus lábios macios mais de uma vez. — Você está atrasado,
baby. O que aconteceu?
— Vamos conversar no escritório. — Segurei a sua mão e desconfiada,
me seguiu em silêncio. Fechei a porta. — Joshua Calahan foi assassinado
ontem à noite.
Aurora deu um passo atrás, com um respirar fundo e me encarou,
assustada.
— Preciso saber como ou por quem? — Gaguejou e eu tentei segurar a
sua mão, ela não permitiu.
— Precisa saber apenas o que vai passar nos noticiários... E confiar em
mim. — Olhei em seus olhos e assentiu. — Eu não fiz nada.
— Sei que não, estava comigo o tempo todo, mas me preocupa...
— Tenho a mesma preocupação e é por isso que eu vou ficar em casa,
trabalhar daqui e os meus pais devem chegar a qualquer momento, porque o
meu pai precisa conversar comigo pessoalmente. Eles possuem uma
residência na cidade, não muito longe daqui, então não precisa se preocupar
com as acomodações. — Segurei as suas mãos. — Eu sei que todos nós
estamos envolvidos até o pescoço com o plano da presidência, mas a nossa
família sou eu, você, a Abby e o nosso futuro bebê.
— Futuro bebê?
— Aurora... — Olhei em seus olhos. — Nós não vamos demorar a ter
outro bebê.
— Você está maluco? — Soltou uma risada.
— Dessa vez, você não deveria ignorar o meu sexto sentido. — Sorri e
ela me abraçou. Esfreguei as suas costas e beijei a sua bochecha. — Seria tão
ruim assim termos um bebê? Meses atrás era você quem estava empolgada e
eu com medo.
— Eu vou amar termos um bebê, só estou com medo em como vamos
manter a nossa família segura e acho que seria estupidez engravidar com
tanta evidência. — Aurora acariciou o meu rosto. — Não posso negar que
estou com medo... Mas estive pensando em não levar muito tempo para que a
Abby possa crescer com um irmão ou irmã. Ela vai fazer dois anos em
breve...
— Hum... Eu vou amar tentar.
— Nossos ensaios são os melhores. — Me beijou e subiu no meu colo,
continuando com o seu beijo gostoso. Agarrei a sua bunda, levantando do
meu lugar e a deitei no sofá. — Podemos começar um ensaio agora mesmo...
— Abaixei o seu top, expondo o seu mamilo e chupei. Ela gemeu baixinho,
se esfregando em mim.
— PAPAI? — Ouvimos a Abby gritar. — Mamãe?
— Ou nós vamos parar por aqui mesmo, porque a nossa filha está nos
caçando. — Ergui o meu rosto ao ouvir seu punho bater na porta. Saí de cima
da Aurora e abri a porta. Abby entrou correndo, rindo e sinalizei para Agatha
que estava tudo bem. — Você fugiu, garota?
— Ela aprendeu a descer do cadeirão. — Aurora riu e abrigou a
pequena nos braços. — Comeu tudo?
— Uhum. — Abby sorriu.
— Então vamos escovar os dentes e tirar esse pijama.
Nós subimos com a Abby e compartilhamos a arrumação dela com
muita bagunça e risadas. A minha filha sempre foi a parte mais importante da
minha vida e dona do meu coração. Me tornei um homem melhor quando ela
nasceu e a chegada da Aurora em nossas vidas me levou a um nível
totalmente diferente. Pela primeira vez eu entendi a importância de ser o
homem da minha casa, o pai da família, o protetor e não mais o filho, o
protegido.
Por mais que eu tivesse planos tão ambiciosos quanto os do meu pai,
estava na hora de cercar e proteger o meu próprio reino.
Estava na hora de me tornar o rei.
Abby estava correndo no gramado, com as mãos esticadas na frente, ela
ainda tinha receio de correr depois que caiu duas vezes. Dei folga a Hayley,
porque ela precisava estudar e a faculdade era mais importante que tudo.
Espalhei uma infinidade de brinquedos no gramado dos fundos, próximo ao
jardim e piscina, mas ela não chegava perto da piscina.
Um dos motivos pelo quais eu insisti que a Abby começasse a fazer
natação, além de ser uma aula mãe-e-filha, era que ela soubesse nadar desde
nova. Era importante que ela não tivesse medo, mas que também não
desafiasse a profundidade e entendesse que deveria me obedecer quando eu
dissesse para não se aproximar da borda. Abby gostava de desafiar. Ela era
obediente a maior parte do tempo, mas tinha coisas que ela fazia questão de
me encarar e dizer que não ia me obedecer.
Eu amava que ela falasse pelos cotovelos, com quase dois anos, muitas
das suas palavras ainda eram confusas e as suas conversas bastante aleatórias,
mas ela podia ser bem eloquente quando queria argumentar contra um castigo
simples, ou chorar sabendo que o Vince iria aparecer para ver o que estava
acontecendo. Sozinha, comigo, ela apelava para o beicinho. Me chamando de
mamãe, eu era capaz de fazer qualquer coisa ao som daquela palavrinha.
— Olha, mamãe! — Ela gritou, apontando para os pássaros voando no
céu.
— O que é aquilo?
— Um vião. — Por incrível que pudesse parecer, ela soou debochada
como o pai dela. Arqueei a minha sobrancelha. — Passarinhos, mamãe.
— Muito engraçado. — Rebati e ela riu, soprando um beijo e saiu
correndo com as suas pernas gordinhas maravilhosas.
Voltei a minha atenção para o meu planner, não conseguia ignorar o
comichão de organizar a minha agenda. Vince saiu para encontrar com os
seus pais e eu estava tentando não soar tão preocupada, porque o avião dos
pais dele pousou cedo e eles foram impedidos de sair, porque a polícia
recebeu uma denúncia que havia drogas com eles. As pessoas que trabalham
para a família impediram que isso chegasse à mídia.
Ouvi um barulho na porta dos fundos e pensei que fosse a Agatha vindo
me verificar. Ela andava atrás de mim, preocupada, porque sentiu a tensão
quando o Vince saiu. Tentei distrair a Abby para que ela não ficasse
estressada e me ocupei com qualquer coisa para poder passar o tempo.
Felizmente, quem estava saindo da cozinha era a minha sogra. Ela tirou
os sapatos de salto de fino quando chegou na grama, arremessando na
varanda e desceu com cuidado. Abby gritou de alegria quando viu a sua avó e
esticou os bracinhos, querendo ser pega. Nicole quase chorou ao abraçar a
neta e sentou-se na cadeira ao meu lado, com uma expressão cansada,
mantendo a Abby nos braços.
— Está tudo bem agora. — Esfreguei os seus braços.
— Sim... Tudo vai ficar bem. — Ela me deu um sorriso e a Abby quis
voltar para o chão. Ela estava totalmente suja de grama e lama, porque a
mangueira estava vazando há alguns dias e eu pedi para o Vince consertar,
mas ele não teve tempo. — Foi simplesmente muito humilhante ter todos
aqueles policiais revirando as nossas coisas, invadindo o avião, mexendo no
meu saco de calcinhas! Eu mandei tudo para lavar, porque não posso usar
nada depois que eles jogaram no chão do nosso avião. Eu sei que a nossa
família está envolvida com pessoas com todo tipo de negócios, mas nós
nunca contrabandeamos nada, nunca usamos droga e eu nunca nem baixei
filme de graça na internet.
Percebi que a Nicole não parava de tremer e precisava desabafar. Não
sabia o que dizer, então a abracei bem apertado e esfreguei as suas costas
enquanto chorava. Enviei uma mensagem à Agatha para trazer a garrafa de
vinho branco que estava na geladeira e duas taças, porque eu precisava beber
também.
— Vince e o Sebastian estão na delegacia de polícia, querendo saber a
fonte do mal entendido e exigindo desculpas por parte dos investigadores que
tinham provas que estávamos contrabandeando drogas. — Nicole bebeu
quase todo seu vinho. — Eu precisava ver a Abby e ter um pouco do seu
amor para acalmar o meu coração. — Suspirou. — Fomos ver a Lindsey
ontem, os médicos disseram que ela está indo bem.
— Vince se recusa a falar sobre ela. — Comentei dando um gole. —
Ele está se culpando. — Servi mais vinho. — Ele acha que deveria ter falado
sobre ela mais cedo. Eu tinha prometido que iria dizer “te avisei” quando a
merda explodisse no ventilador, mas na atual situação, não tenho coragem.
— É lamentável que o Vince tenha pensado que deveria esconder algo
tão grave. Eu não vou negar, quando soube da Alana, me magoou muito.
Nunca tive outro homem na minha vida sem ser o Sebastian e eu me
orgulhava de ser a única mulher da vida dele. Doeu saber que em um curto
período, ele ficou com outra pessoa, tão rápido quanto foi. — Ela colocou a
sua taça na mesa e gritei para Abby tirar a mão da lama. — A Lindsey não
tem nada a ver com isso. Eu não vou fazê-la sentir-se mal ou menos bem-
vinda na nossa família pela escolha que o meu marido fez. Sinto culpa que o
Vince tenha sentido a necessidade de proteger a sua irmã de nós, sendo que
deveríamos cuidar e proteger os dois.
— Ele é muito protetor com as suas irmãs.
Nicole sorriu com amor.
— Sempre foi. Nunca precisei ensinar... Ele é um homem bom, Aurora.
Não deixa de ser um Vaughn, mas é um bom homem. Nunca me deu
trabalho, estudioso, responsável, levava e buscava as irmãs na escola, saía
normalmente, se divertia, tenho certeza que passou por todas as fases de
forma saudável e até não me encheu de preocupação quando se mudou para
faculdade, fazendo parte de uma tenebrosa fraternidade. — Cruzou as pernas
e me encarou. — Nunca foi muito namorador. Pelo menos, não era de ter
escândalos, sempre reservado e respeitador. Eu nunca o vi falando das suas
conquistas, mesmo com o Flynn, que tem uma porta giratória no seu
apartamento.
Soltei uma risada, porque o Flynn me apresentou quatro garotas
diferentes no curto período que estava casada com o Vince. Eu não sabia
quantas mais ele iria aparecer e tomava muito cuidado em não errar o nome.
— Ele é um marido tão bom. — Suspirei e ela sorriu. — Eu sei que nós
nos casamos há pouco tempo, mas ele é um marido excepcional. Teimoso,
meio cabeça dura, muito teimoso. — Bebi o meu vinho. — Já disse teimoso?
— Ele é sim. Esse menino sofreu muito na mão daquela mulher,
incapaz de magoá-la de volta, foi fiel, manteve o casamento e deu tudo o que
ela quis. Até hoje não entendo o que ela realmente queria.
O primeiro casamento do Vince me incomodava, parte pelo ciúme,
porque ele a amava e parte porque nada do que a Victória fazia tinha um
sentido. Algo sobre ela e a maneira que entrou na vida do Vince me deixava
muito desconfiada, mas era um assunto delicado que ele se recusava abrir
para que eu pudesse saber mais.
Vince e o seu pai chegaram bem na hora que o almoço ficou pronto.
Compartilhamos a refeição sem falar dos problemas, concentrados na Abby e
nas suas graças com a comida. Ela era um amor de tão terrível. Após o
almoço, os homens se reuniram no escritório e eu levei a minha sogra para o
quarto da Abby. Nós a mudamos de quarto e eu ainda estava decorando, não
queria pintar as paredes, manteria branco como todo restante da casa e estava
inserindo objetos coloridos, ursinhos e bonecas.
O outro quarto estava uma zona de brinquedos que eu ainda estava
separando para doar. Os pais dele foram embora quando a Abby dormiu e o
Vince estava trabalhando no escritório. A imprensa estava acampada nas duas
entradas e eu fechei todas as cortinas, porque não estava com paciência para
ser observada. Com a minha agenda nas mãos, desci a escada segurando a
babá-eletrônica, embora ela fosse desnecessária, porque a Abby fazia questão
de gritar para ser ouvida.
Entrei no escritório do Vince e bati na porta. Ele estava sério, com o
cenho franzido e um olhar preocupado, mas me deu um sorriso doce.
— Atrapalho?
— Não, baby. Nunca atrapalha. — Afastou um pouco a cadeira. —
Apenas sente-se no meu colo e me dê um beijo.
Soltei uma risada e atravessei a sala, me sentei no seu colo e beijei a
sua boca apaixonadamente. Nos afastamos e sorrimos. Beijei a sua bochecha
e peguei a minha agenda de volta, abrindo onde estava marcado.
— Gostaria de oferecer o jantar de ação de graças para a nossa família.
— Tudo bem. Meus pais têm o próprio lugar e temos quartos o
suficiente para receber a sua família.
— Eu não vou entrar na briga do natal, esse ano seria na casa da Bella.
Podemos jantar em um lugar e passar o dia em o outro. É muito provável que
ela convide a sua família, se eles aceitarem, vai ser mais fácil ainda. — Sorri
e passei para o mês do aniversário da Abby. — Nossa princesa vai fazer dois
anos e como vai estar meio frio, penso em uma festinha mais privada, mas eu
quero comemorar a todo custo e já escolhi o tema. Ela está apaixonada por
unicórnios, além dos Minions e da Moana.
— Você tem os meus compromissos na sua agenda?
— Só os parciais e os de longo prazo. Eu preciso saber onde o meu
marido está e isso não é um crime. — Dei-lhe um beijo. — Em seguida, eu
gostaria de comemorar o meu aniversário... E no verão, uma lua-de-mel a
dois.
— E se passarmos o ano novo em Baltimore e dar uma fugida para
Vermont para dois dias sozinhos? — Buscou o meu olhar.
— Vou ver se a minha mãe pode ficar com a Abby. Talvez sábado e
domingo entre as datas comemorativas? — Fiz uma anotação já meio ansiosa
em ter um momento sozinha com o meu marido. Apesar de termos bastante
tempo juntos para namorar, viajar era bem diferente.
— Sim e escolha o lugar que quer viajar no verão, que eu vou organizar
a viagem e o hotel. — Beijou a minha bochecha e o seu telefone tocou. Era a
Sienna.
Revirei os olhos e saí do seu colo, porque ele precisava atender. Peguei
a minha agenda e fui para a cozinha. Agatha estava separando os ingredientes
para o jantar. Ela costumava deixar tudo separadinho antes de ir embora,
mesmo que eu dissesse que não precisava. Conversamos e compartilhamos
um café, ela encerrou o seu horário, acordei a Abby e deixei que brincasse na
sala, porque os pais do Vince iriam jantar conosco e eu queria fazer algo mais
elaborado. Fiz uma lasanha com várias camadas de molho a bolonhesa e
outra de frango ao molho branco.
As duas massas eram sem glúten, assim eu poderia comer a vontade.
Levei um tempo, porque não estava acostumada e precisei ligar para a minha
mãe quando não acertei o ponto do molho branco. Enfiei no forno e esperei,
pegando a Abby para nos arrumar enquanto o pai dela ainda trabalhava.
Deixei-a pronta e zoneando as minhas bolsas enquanto me vestia.
— Aurora? — Vince subiu as escadas correndo e entrou no quarto com
um olhar feliz. — Lindsey acordou. Ela até me enviou uma mensagem e tirou
uma foto de si mesma.
— Ai que bom! — Levei a minha mão ao coração. — Vou pedir para
minha mãe ficar com ela até podermos transferi-la para casa. Vou arrumar o
quarto de hóspedes próximo à biblioteca...
— Joanne tem uma irmã que é enfermeira, talvez ela aceite o trabalho.
— Ele estava feliz que a sua irmã estava acordada.
Nós fizemos uma chamada de vídeo. Ela estava meio grogue e
assustada, mas os médicos estavam com ela e a minha mãe não levou quinze
minutos para chegar ao hospital. Ligia se comprometeu em dormir com a
Lindsey e o Flynn voltaria para D.C para ser o médico responsável pela
transferência dela para casa.
Os pais dele chegaram no meio dessa comoção.
— Não. — Sebastian franziu o cenho. — Lindsey vai ficar conosco.
Ela é minha filha, é a minha responsabilidade e eu agradeço a intenção de
vocês, mas nós vamos cuidar da Lindsey. Temos muito tempo para recuperar
juntos.
— Tem certeza, pai? — Vince estava no modo protetor.
— Tenho sim, meu filho. Obrigado por isso.
Nos reunimos na mesa e a Abby estava tagarelando, querendo atenção e
conseguindo com muito prazer. Coloquei as travessas quentes com o molho
borbulhando no centro da mesa, no aparador e todo mundo soltou sons
apreciativos. Vince abriu o vinho, servindo e eu cortei o pão, rindo da Abby
chamando a avó dela de “Voana Velha”. No caso, se referindo a avó da
Moana.
— Eu preciso fazer mais botox. — Nicole soltou uma risada.
— Não, vovó.
— Diga que a vovó é linda. — Falei com a Abby.
— Vovó é linda. — Abby soprou um beijo molhado.
— Você que é linda, meu amor. — Nicole a beijou.
Apesar dos pais do Vince serem muito gentis, eles não conseguiam
falar de outro assunto a não ser política. Era um pouco estressante a maneira
que eles pareciam agressivos e obcecados. Com toda certeza chegariam a
algum lugar, mas eu não tinha certeza se tudo aquilo era saudável ou de modo
geral, me fazia bem. Vince estava envolvido até o último fio de cabelo em
todos os planos, mas pela primeira vez eu vi o seu olhar de desconforto e
respondendo os seus pais de maneira evasiva.
Quando eles foram embora, senti o Vince inquieto. Ele fez a Abby
dormir e ficou quase uma hora com ela no colo, na cadeira de balanço do
quarto dela e lhe dei privacidade. Me preparei para dormir, sem ânimo de
ficar lá embaixo bebendo vinho como toda noite e me enrolei na cama com o
meu edredom, conversando com as minhas irmãs. Snow estava falando
merda e fazendo perguntas indiscretas, que me faziam chorar de rir. Eu a
respondia com mais paciência que a Bella.
“Como vocês sabem que gostam de uma pessoa?” Ela enviou e a
Jasmine descreveu um texto que deu na cara que estava apaixonada. “Eca,
Jas. Você está apaixonada ou doente?” Soltei uma risada. “Se eu ficar assim,
por favor, me internem. Eu nunca vou me apaixonar assim, que horror”.
“Sei que estou apaixonada quando olho para o Vince ou penso nele,
sinto vontade de sorrir e quando não, o jogo do segundo andar por ter
bagunçado o closet.”
Minhas irmãs riram e eu o olhei entrando no quarto devagar. Deixei o
meu telefone de lado para dar atenção ao meu marido. Muitas coisas estavam
acontecendo ao mesmo tempo e eu entendia que estava estressado.
— Converse comigo, amor. — Acariciei as suas costas.
— Tomei uma decisão que quero compartilhar com você. — Ele
segurou a minha mão. — Eu decidi dar um passo atrás nos projetos políticos
publicamente. Vou afastar a nossa imagem pública dos meus pais, parar de ir
a reuniões, eventos, comícios e lidar com os planos nos bastidores, focando
na empresa e nos novos empreendimentos.
Aquilo me deixou muito surpresa. Nós nos casamos para que o Vince
tivesse a imagem de família perfeita... Ser mãe da sua filha e acompanhá-lo
nos eventos.
— Tem certeza? Seu pai conta conosco...
— Eu sei. Talvez seja por um tempo, quando a campanha começar
oficialmente, mas agora, eu preciso preservar a minha família. — Ele olhou
nos meus olhos. — Você e a Abby são a minha família. Eu amo os meus pais
e amo as minhas irmãs, mas eu amo vocês duas muito mais. A minha
prioridade é construir um lar saudável e estruturado com você, criar a Abby e
estabelecer a minha carreira no mercado. Eu sei que sempre vou ser um
empresário sendo CEO da empresa, mas eu sou um arquiteto e eu amo o que
faço. Sinto que está na hora de cuidar da nossa vida.
Não deveria estar surpresa. Vince era um macho alfa. Em algum
momento, ele sentiria a necessidade de quebrar as correntes e guiar o seu
destino, mas eu pensei que a ambição subjugaria o seu instinto. Estava errada
e de alguma maneira, me sentia feliz pela sua decisão de priorizar a sua
carreira e a nossa família.
Me arrastei na cama e o abracei.
— Estou do seu lado em qualquer decisão. Eu te amo e vou te apoiar.
— Segurei o seu rosto e o beijei. Ele me agradeceu com um sorriso doce.
Vince estava pronto para sair da cadeira de príncipe e me sentar no
trono de rei, me restava saber até que ponto ele estava disposto a ir para
conquistar o seu lugar independente dos seus pais. Ele era ambicioso e
controlava uma companhia de bilhões de dólares, tinha associados dentro do
crime organizado e sabia manipular o que o mundo sabia sobre ele e a sua
família.
O fato de ele ser um bom homem para mim e para a nossa família
não significava que ele era um homem santo incapaz de ignorar as leis. Vince
fazia as suas leis quando se tratava de negócios e por isso, eu ia me preparar
para governar ao seu lado. Se o meu marido queria conquistar o seu território,
eu iria governar ao seu lado.
Vince saiu da cama no meio da madrugada e correu para o banheiro.
Ele vomitou, o que me deixou extremamente surpresa. Fui atrás dele,
umedecendo uma toalha e coloquei na sua testa, dando descarga e fiquei
preocupada com a sua palidez. Apoiei seu peso de volta para cama e o cobri,
acreditando que o mal estar do dia finalmente deu as caras.
Não entendi quando ele chegou mais cedo do trabalho, alegando estar
com dor de cabeça. Mal jantou e logo deitou para dormir. Ele soltou um
gemido de dor, reclamando que a sua cabeça estava doendo e peguei um
analgésico e antitérmico, apenas no caso de ele estar com febre. Fiquei meio
dormindo, tomando cuidado com ele e beijei a sua testa ao perceber que
estava melhor.
— Acho que o sushi no almoço me fez mal. Meia hora depois comecei
a ficar estranho e eu sabia que tinha descido mal. — Falou baixinho.
— Você pediu naquele pé sujo deplorável?
— Sempre foi o mais gostoso. — Sorriu torto. — Eu vou escovar os
dentes.
— Está sentindo-se melhor mesmo?
— Sim, de verdade.
Perdi um pouco do sono e saí da cama, verifiquei a Abby dormindo,
toda aberta, descoberta e reparei que a sua janela estava com as cortinas
afastadas e ela ia choramingar se acordasse com o sol no rosto. Fechei e saí
do seu quarto, descendo as escadas e acendi a luz da cozinha. Faltava pouco
para amanhecer, estava com sede e doida para comer um doce. Não levou um
minuto para o Vince descer atrás de mim. Sempre que eu demorava a voltar
para a cama, ele saía para me buscar.
— Quer café ou um chá?
— Talvez chá seja melhor.
Preparei duas canecas de chá de camomila, coloquei duas gotinhas de
um concentrado de maracujá que era muito doce e nos sentamos na varanda,
assistindo o nascer do sol abraçadinhos e eu soltei um suspiro, fotografando
com o meu celular, porque era uma visão esplêndida. Um mês após o
atentado, eu finalmente me sentia em paz e podendo viver a minha vida.
— Vai passar o dia em casa hoje? — Acariciei a sua perna.
— Estou bem, amor. — Vince sorriu.
— Não é só porque você passou mal, mas é quase ação de graças, a
minha família vai chegar a noite e nós finalmente vamos nos reunir. — Me
arrastei para o seu colo.
— Tenho muito o que fazer. Essa coisa de me afastar dos
compromissos públicos irritou os meus pais e eu foquei em vários projetos.
— Me deu um sorriso. — Quero terminar o projeto da reforma.
— Não precisa se preocupar com isso agora, ainda temos tempo para a
expansão e não quero que você fique estafado. — Beijei a sua bochecha.
Meu marido me deu um lindo sorriso e apenas me abraçou. Ele estava
focado nos seus planos e não queria abrir mão deles. Desde que anunciou que
daria um passo atrás nos planos, o pai dele ficou muito chateado e a discussão
foi calorosa o suficiente para ouvir do meu quarto. Eles deram ao Vince o
tratamento do silêncio, agindo com frieza e só me ligavam, falavam com a
Abby e não perguntavam pelo Vince. Não queria me intrometer e dar uma
opinião inflamada, porque toda família tem problemas. Minha sogra deu a
entender que queria que eu fizesse o Vince voltar atrás, porque não era
inteligente se afastar agora.
Jamais iria me virar contra o Vince, nem pela família dele ou pela
minha. Nós éramos um time agora.
Após o café da manhã reforçado, ele foi trabalhar e eu arrumei a Abby
porque queria me arrumar para o jantar de ação de graças. Era o primeiro que
ofereceria como anfitriã depois de casada e estava muito ansiosa para receber
a nossa família com toda pompa e carinho necessário. Dirigi com calma até o
salão de beleza que agendei um horário e deixei a Abby em casa com a
Agatha, porque ela ficava muito agitada na rua.
Gates estava me observando de longe, era uma das muitas táticas de
segurança, mas eu sabia que estava sendo seguida pela imprensa. Ignorei e
entrei no salão, sendo recebida pela recepcionista e logo levada para a
depilação. Fiquei distraída, conversando, fazendo os tratamentos e mal
peguei no meu telefone.
Vince me enviou diversas mensagens, parecendo meio carente e ele
estava todo grudento desde que decidiu se afastar dos planos. Acreditava que
parte era insegurança, parte porque era um novo mundo e a última
parte porque estava apaixonado. Eu entendia, estava me sentindo estranha por
estar tão apaixonada e com medo de que os meus sentimentos tão
avassaladores por ele me machucassem.
Terminado o meu horário no salão, voltei para o carro e o paparazzi se
aproximou para me fotografar, outro filmando, eu desejei um bom dia de
ação de graças para os dois e mantive o meu sorriso. Dirigi até um mercado
de frutas, estacionei bem pertinho da porta e o carro ficou todo torto. Peguei
um carrinho e fiquei mais de uma hora escolhendo frutas e legumes frescos,
assim como várias folhas verdes que ficariam incríveis no jantar dessa noite.
Vince me ligou para avisar que estava saindo mais cedo, achei que era
porque estava sentindo-se mal, mas era porque eu pedi que ele chegasse em
casa mais cedo. Sorri e lembrei de todas as vezes que o meu pai mimava a
minha mãe, feliz por ter um marido tão doce quanto meu pai foi. Ele sempre
foi o meu exemplo, porque a minha mãe sempre demonstrou amor e
felicidade. De vez em quando, era insuportável vê-los melosos, mas no
fundo, eu amava.
Minha mãe mandou uma mensagem avisando que toda família estava
indo para o aeroporto. Ansiosa com a chegada deles, terminei as minhas
compras e voltei para casa, cantando Katy Perry a toda altura, entrei em casa,
buzinando para o Gates que me seguia de moto. Entrei na garagem e o Vince
saiu, com um sorriso, pulei do carro e o beijei, ainda com o meu bom humor.
— Oi, amor. — Ele sorriu e pegou as bolsas das compras.
Nós entramos em casa e a Abby apareceu correndo, com as mãos sujas
de tinta e pelas marcas na camisa do Vince, eles estavam pintando, mas o
gênio do meu marido saiu e deixou a criança sozinha com tintas na sala
poucas horas antes da minha família chegar. Havia marcas de dedinhos no
meu sofá, nos tapetes e nas paredes. Abby estava rindo, mostrando as suas
artes, apontando com prazer e eu coloquei as minhas mãos na cintura, muito
brava com os dois.
— Eu vou limpar. — Vince ergueu as mãos e me abraçou. — Desculpa,
amor. — Me deu um beijo e pegou a Abby. — Nós vamos limpar.
— O papai vai limpar. — Abby corrigiu e soltei uma risada.
— Nada disso, mocinha. Nós vamos limpar, afinal, foi você que sujou.
— Vince falou com ela, incrédulo da sua resposta.
— Não, não, papai. — Ela sorriu. Virei de costas, porque eu sabia que
não conseguia segurar a risada. Enquanto o Vince lutava para ensinar Abby a
limpar a sua bagunça, guardei as compras e no final, precisei dar uma
supervisionada na limpeza porque queria a sala impecável.
Quando ela começou a chorar, eu sabia que era sono. Levei-a para o
quarto para tirar um cochilo, era necessário mantê-la calma e sociável mais
tarde. Meus pais estavam sem visualizar as mensagens há algum tempo e eu
decidi que iria me arrumar para adiantar o jantar. Dei folga à Agatha, ela
queria viajar para ver a sua irmã e deve ter saído quando Vince chegou em
casa mais cedo.
Prendi o meu cabelo e tirei a minha roupa. Vince entrou no banheiro,
tirando a roupa e me empurrou para o chuveiro, rindo e me beijando. Nós só
tomamos banho com mãos bobas e fiquei com um desejo ardente por mais.
Me arrumei olhando-o o tempo todo. Vince sabia que tinha me deixado
excitada, ficou deitado na cama, só de cueca, ajustando o seu volume muito
atraente e mordendo o lábio.
Escolhi um vestido cinza clarinho, fiquei descalça e com os meus
cabelos soltos. Enquanto ainda faltava um tempinho, porque eles já tinham
pousado, me arrastei para cima do meu marido. Subi o meu vestido e o beijei.
— Quer isso agora?
— Não vai dar tempo, só me beija.
— Beijar você é o meu vício. — Vince falou contra a minha boca. Ele
beijou o meu pescoço, apertando os meus seios e rebolei contra a sua ereção.
— Assim você quer me atentar. — Ele gemeu e puxou o meu decote,
expondo os meus peitos e chupou. — Quero você.
Eu estava pronta para dizer que daria tempo de uma rapidinha quando o
meu telefone tocou e a minha mãe estava avisando que estavam chegando.
Pulei do colo do Vince, me ajeitando e ele foi ao banheiro cuidar dos seus
assuntos. Desci a escada empolgada, ajeitei a minha aparência em frente ao
espelho da sala e abri a porta quando o Vince desceu as escadas com uma
calça jeans e uma camisa preta justinha.
— AURORA! — Snow correu para os meus braços e apertei a minha
irmãzinha. — Uau, a sua casa é tão linda! Parece um sonho! — Ela sorriu e
apertei as suas bochechas. — Oi, Vince.
— Oi, pequena. — Meu marido sorriu carinhosamente.
Jasmine se aproximou e me abraçou, mais tímida na frente do meu
marido e ela sempre corava. Vince saiu para cumprimentar os meus pais e
ajudar meu pai com as malas. O carro com o Jacob e a Bella entrou na
propriedade, minha mãe se aproximou, olhando ao redor e eu sabia que ela ia
comentar o tamanho da minha casa. Nós não morávamos em uma casa
pequena, meus pais levaram anos para expandir ao que era hoje em dia e eu
nunca mencionei que havia outras casas dentro da mesma propriedade.
Trocamos um abraço apertado e eu levei todo mundo para dentro,
dando um tour rápido no primeiro andar e subimos as escadas, mostrando os
quartos. Snow e a Jasmine dividiriam um dos quartos que tinha duas camas
de solteiro, Bella e o Jacob ficariam no quarto de hóspedes no fim do
corredor e os meus pais no quarto que tinha a janela virada para o mar.
Apenas o meu quarto e o da Abby tinham uma varanda virada para a praia.
Minha família queria olhar a praia, enquanto o Vince mostrava a nossa
nova adega ao meu pai e ao meu cunhado, levei as minhas irmãs e mãe para a
praia. Estava um frio, um vento gelado, mesmo assim, Snow e Jasmine
queriam olhar o fim do dia. Eu estava acordada desde cedo e estava esgotada.
Soltei um bocejo e disfarcei.
— Ainda em lua-de-mel? — Bella ligou o braço no meu.
— Sempre. — Pisquei. — Mas não foi por isso que eu não dormi
muito.
Vince e eu éramos íntimos com frequência, mas tinha dias que nós
simplesmente dormíamos antes de fazer qualquer coisa. Sorte que a Abby
não era acostumada a dormir na cama conosco, ou seria bem complicado.
Nós entramos e nos espalhamos na cozinha, começando um preparo coletivo
do jantar.
— Como você está? — Reparei que a Bella não parava de olhar para o
Jake, que mexia em seu telefone. — Está tudo bem?
— Jake e eu brigamos muito antes de sair de casa e não deu tempo de
fazer as pazes... Estou meio chateada e não gosto do clima estranho entre nós.
— Encolheu os ombros. — E vocês dois?
— Nós nunca tivemos uma briga realmente séria, apenas alguns
desentendimentos bobos... Ele fica na ponta dos pés comigo, não deixo passar
muita coisa e ele fica tenso.
— Jake e eu quase não brigamos, sabe disso, foi besteira minha.
— Que tipo de besteira?
— Depois eu conto. — Bella desconversou quando a mamãe passou a
prestar atenção em nós. Sorri e mudei de assunto, servindo vinho, ouvi a
Abby me chamar, melhor dizendo, gritar, batendo no seu berço como uma
prisioneira furiosa.
Subi a escada rindo, o que a deixava ainda mais puta da vida por estar
presa no berço e eu estava considerando comprar uma cama, porém, ainda
havia o medo de ela sair sem que víssemos. Peguei-a e beijei sua bochecha,
trocando sua roupa rapidamente e ajeitando seu cabelo. Desci a escada e ela
fez uma grande festa ao ver a família. Meu pai a agarrou.
— Oi, vovô! — Abby sorriu, retribuindo o abraço.
— Oi, meu amor. — Meu pai sorriu. — Não existe nada mais gostoso
do que segurar a sua netinha. — Ele olhou para o Jake. — Se empolgue. —
Falou bem sério.
— Calma, sogro.
Deixei a Abby na sala, ela começou a causar uma pequena comoção,
mas o pai dela se virava com ela e ainda conseguia ser um bom anfitrião. Para
o jantar de boas-vindas, eu queria pedir comida japonesa, mas depois que o
Vince passou mal, decidi mudar o cardápio e preparei uma travessa enorme
de salada, sobrecoxas assadas, arroz, purês e todo mundo devorou com
prazer, muita conversa e vinho ajudou bastante.
Snow, como sempre, soltou as suas pérolas que deixavam a mamãe
doida e o meu pai divertido. Ela e a Jasmine entraram em uma discussão
inútil sobre comer ou não a pele do frango. Elas eram adoráveis e irritantes,
mas eu amava e sentia falta de cada momento com eles. Abby era o centro
das atenções, não importava o assunto, ela comeu toda a sua comida,
bagunçando um pouco e prestando atenção em tudo.
Observei a minha mãe olhar para Abby com adoração.
— É tão bom não precisar ficar em cima dela para comer. — Comentou
e eu me senti grata por ver o vínculo entre as duas crescendo. Minha mãe
relutou em aceitar a Abby como sua neta e se tornou a avó mais coruja de
todas.
— Ela é um tratorzinho. — Limpei a boquinha da minha filha. —
Puxou ao pai. — Provoquei ao ver o Vince servindo-se mais uma vez, ele riu
e me deu um beijo na bochecha.
— É porque a sua comida é maravilhosa, amor.
Mamãe mandou que as minhas duas irmãs mais novas cuidassem da
louça, mas eu ajudei porque elas não conheciam a minha casa e não queria
que brigassem, quebrando qualquer uma das minhas louças de porcelana
portuguesa. Vince levou os nossos convidados para a sala, servindo vinho,
licor e a sobremesa, sendo doce, atencioso e divertido, eu não podia amá-lo
mais por ser tão carinhoso com a minha família.
Tarde da noite todo mundo se dividiu em seus quartos, eu fiz a Abby
dormir três horas mais tarde que o seu horário usual e ela estava intragável de
mau humorada. Quando dormiu, a minha cabeça estava explodindo. Vince
não estava no quarto e eu podia ouvir as vozes baixas nos quartos do pessoal
se preparando para dormir, mas eu desci a escada à procura do meu marido.
Andei devagar e ouvi o seu telefone vibrar.
— Vince Vaughn. — Atendeu e eu parei. — Quem é? — Ele fez uma
pausa. — O que você quer, Victória? — Fiquei toda arrepiada e entrei no seu
escritório. Ele sinalizou para ficar quieta e colocou a chamada no viva-voz.
— Vince, você precisa me ouvir. — Victória parecia estar correndo.
— Eu não tenho que te ouvir. — Vince rebateu.
— Eles vieram, pegaram o meu namorado... Eles querem... — A
ligação falhou. — A Abby precisa... — Ela parecia desesperada. Ouvimos um
ruído e a ligação parecia ter caído.
— Alô? Victória?
Nós nos encaramos.
— Que diabos aconteceu? — Eu estava em pânico que ela falou sobre a
Abby e eu não conseguia entender. — Vince... O que ela falou sobre a Abby?
— Meu coração pulava no peito.
— Nada vai acontecer, pode ser uma graça dela querendo me
desesperar e pedir dinheiro. Eu vou pedir para o Gates entrar em contato com
a equipe que fica de olho nela. — Vince ficou de pé e fechou o seu notebook.
— Amor, nada vai acontecer.
— E se alguma coisa aconteceu com a Victória?
— Em primeiro lugar, esse número é pessoal, eu não sei como ela pode
ter conseguido. Troquei quando nos casamos, lembra? — Assenti e ele me
encarou. — É alguma armadilha. Eu não vou cair. Vou reforçar a segurança e
nós vamos viver a nossa vida. — Me segurou e me deu um beijo. — Vem,
você está gelada. Vamos para a cama. — Me puxou e eu podia ver que ele
estava preocupado, mas estava se esforçando para me dar paz e segurança.
Entramos no quarto da Abby antes de ir para o nosso. Verifiquei as
janelas e as portas da varanda, ele acionou o alarme bem na minha frente e
ligou para o Gates, relatando o que aconteceu. Antes de dormir, senti no meu
coração que uma onda gigante estava se levantando e vindo na nossa direção.
Aurora estava deitada na minha frente, me olhando com ternura, e
beijei a sua testa, olhando para o seu corpo nu arrepiado do orgasmo.
Precisávamos sair do quarto para começar o dia já que tínhamos visitas e eu
precisaria sair por algumas horas. Eu tinha que colocar algumas coisas em
seus devidos lugares antes de poder confraternizar com a minha família o dia
de Ação de Graças.
— Vai ficar tudo bem, não vai? — Ela olhou em meus olhos.
— Claro que vai. Eu amo você. — Dei um beijo em seus lábios.
Saímos da cama e nos arrumamos separadamente. Enquanto ela tomava
banho, recebi a mensagem que esperava e entrei no chuveiro enquanto ela
secava o cabelo, nua na frente do espelho e saiu enrolada no roupão quando a
Abby chamou do seu quarto. Ouvi a vozinha sonolenta da minha filha e me
enrolei na toalha, indo para o quarto. Ela estava coçando os olhos, emburrada
e dei um beijinho na sua bochecha fofa.
Aurora trocou a fralda, arrumando-a para passar o dia com a família e
eu me vesti no closet. Abby ficou na cama, fazendo drama para sua mãe e
mordi o meu lábio para não rir da sua cara de pau tão pequena.
— O que você quer, Abigail? — Apareci no quarto. A safadinha riu.
— Pizza.
— Pizza no café? — Aurora colocou a mão na cintura.
— Batatinha frita? — Abby fez um beicinho.
— Nada disso. Frutas, panquecas e talvez um pouco de ovos. — Aurora
retrucou, firme e ela nunca, nunca mesmo, vacilava na alimentação da Abby.
Eu pensava que era muito exigente, mas ela era um general. — Da onde você
tirou pizza para o café?
Abby apenas sorriu. Deveria ser de algum filme que viu, ela prestava
atenção em tudo e estava cada dia mais esperta. Eu me perguntava se as
outras crianças de quase dois anos eram assim também. Ela era uma menina
muito inteligente e me orgulhava dos seus avanços. Aurora e eu nunca
falamos com ela com vozinha de bebê ou incentivamos que fale errado,
então, ela ainda tinha algumas palavras complicadas.
Descemos os três juntos, ajudei no preparo do café e logo a minha
sogra apareceu com o meu sogro. A mesa estava quase completa quando a
Bella e o Jake apareceram. Aurora subiu para acordar a Snow e a Jasmine ou
elas nunca sairiam da cama. Com a mesa cheia, o falatório foi certo e a Abby
estava até com os pés para o alto, comendo e prestando atenção em todas as
conversas.
— Ela é inacreditável. — Aurora tirou uma foto da nossa menina rindo
da conversa animada da Snow com a Bella como se entendesse alguma coisa.
Olhei a hora e limpei a minha boca. — Você já vai sair? Eu vou ficar
infinitamente mais tranquila se o meu pai for com você.
— Não quero envolver o seu pai nisso.
— Meu pai já está envolvido desde o momento que esse acordo de
casamento foi feito. Eu te conheço, Vince. Você vai perder a cabeça. — Ela
me deu um olhar severo. — Quero que o meu pai vá.
— Tudo bem, eu vou conversar com ele no caminho.
— Obrigada. — Se inclinou e me deu um beijo. — Eu te amo. —
Sorriu.
Afastei a minha cadeira e perguntei se o Marcus poderia me
acompanhar. Ele prontamente aceitou, sem fazer perguntas e estava um
pouco ansioso em precisar envolvê-lo nisso, embora ele não fosse idiota e
soubesse que os meus amigos reais não eram pessoas que cheiravam bem em
um jardim.
Marcus esperou estarmos longe para começar a falar.
— O que está acontecendo? Você rompeu com seu pai?
— Não rompi, embora ele pense que sim, só pedi um tempo. Um
afastamento. Tudo que aconteceu foi demais para mim, eu percebi que
precisava reajustar os meus planos pessoais e colocar a minha família em
primeiro lugar. — Mantive o meu olhar no trânsito. — Ele não aceitou muito
bem porque a mídia tem um interesse imenso na minha vida com a Aurora.
— Sim, isso é verdade. — Concordou. — E o que aconteceu agora?
— Ontem a noite recebi uma ligação da Victória parecendo estar em
perigo, isso deixou a Aurora histérica porque ela mencionou a Abby.
— Acha que é armação?
— Vindo da Victória, não duvido de nada, mesmo assim, estou
desconfiado e vou me reunir com algumas pessoas que possam me dar
algumas respostas.
— Por que seria uma armação? — Marcus estava me avaliando.
— Porque nem tudo são flores. Eu sei que os meus pais fizeram coisas
muito erradas no passado, eles estavam dispostos a tudo para entrar na
política e compraram esse passe perigoso. — Passei a mão no meu cabelo. —
Eu os apresentei a essas pessoas, mas nunca concordei com tudo. Nem todos
concordaram.
— O que você fez?
— Eu fiz algo contra os meus pais e isso pode explodir. Não vai ser
bom para eles, não vai ser bom para ninguém. — Suspirei.
Contei ao meu sogro o que fiz no passado, uma contramão pelo que
meus pais fizeram e ele ficou em silêncio, provavelmente digerindo. Deu
tempo de chegarmos até o prédio da minha empresa. Estacionei na minha
vaga costumeira e estava bem vazio, considerando que a maioria estava de
folga para o dia de Ação de Graças. Saí no elevador e encontrei o Enzo
encostado na parede, com as mãos no bolso e o outro homem estava do outro
lado da sala.
— Vamos entrar. — Sinalizei para a sala de reuniões. — Esse é meu
sogro, Marcus Sinclair. — Apontei para o meu sogro. — Enzo Rafaelli. —
Apresentei e eles trocaram um aperto de mão. — Esse é Jackson Bernard.
Nos sentamos ao redor da mesa.
— Conseguiu alguma coisa?
— Isso vai ser bom. — Enzo riu.
— O que vai ser bom? — Olhei para o Jackson. — O que você fez?
— Vince, devido ao seu rompimento com o seu pai, nós decidimos que
seria melhor tirar a Victória de circulação. — Jackson começou devagar.
— O quê? Porra! Ela está fora, foi embora e estava vivendo a vida dela,
caralho. — Eu estava pronto para voar nele.
— Victória não é quem você pensa que é. Seu pai me procurou no
passado e nós a encontramos. Ela tinha um papel a ser executado e falhou. O
planejamento era acontecer exatamente o que aconteceu com o seu casamento
com a Aurora. — Jackson explicou. — Ele estava preocupado com a imagem
que você passaria como CEO. Eu dei à Victória exatamente o que precisava
para te conquistar, foi tudo armado. Ela recebeu um pagamento para ser a sua
esposa, mas ela não agiu dentro do combinado. Era incontrolável, até que eu
ofereci cinco milhões para sair, no fim, ela saiu por conta própria. — Jackson
reuniu as mãos na frente. — Entenda, a ideia era preparar a sua família para o
senado e eu fiz...
Senti todo meu sangue gelar e aquecer em um segundo. Não pensei,
apenas avancei, derrubei a mesa e o soquei tantas vezes que o Enzo me jogou
no chão, me prendendo.
— Soube disso segundos antes de chegar, se acalme que vamos
resolver de outra maneira. — Enzo falou baixo e me levantou do chão.
— Eu quero que você solte a Victória, quero que ela vá viver a vida
dela bem longe de mim e da minha filha e quero você fora dos meus
negócios. — Gritei e o Jackson segurou o nariz. Marcus lhe deu um lenço
para estancar o sangramento. — Porra, Jackson, como você pôde?
— Você sabia muito bem quando nos procurou para financiar a
campanha.
— Você não está financiando porra nenhuma, seu babaca. O dinheiro é
meu.
— E me deu para gerenciar da melhor maneira. — Ele retrucou e
avancei de novo. — Vince, se acalma. Eu nunca disse que concordei com a
ideia do seu pai, apenas fiz o que ele pediu e na época, parecia a melhor
alternativa. Mídia vende uma imagem.
Foda-se, não conseguia nem pensar.
— Além do mais, na segunda tentativa, seu pai achou melhor te
envolver e parece ter dado certo. Muito mais que a primeira vez.
— Jackson, cala a porra da boca. Vai lavar esse nariz e vai embora. —
Enzo não aguentava mais me segurar no lugar. Revirando os olhos como se
tivesse certo, saiu com o lenço no nariz. — Isso é muito fodido. — Ele me
soltou e chutei a cadeira. A traição estava ardendo nas minhas veias. — Eu já
mandei soltar a garota logo que soube.
— Quero que ele saia.
— Eu posso tirá-lo da campanha, mas não posso tirá-lo do restante.
Não de um bom jeito, mas concordo que isso foi totalmente fora dos limites.
— Fora dos limites? Caralho, o meu próprio pai. — Puxei o meu
cabelo.
— Enquanto eu possa entender o seu lado, é tarde demais para recuar.
Eu entrei nessa por sua causa, não tenho laço nenhum com o seu pai, mas
você sabe como lidamos com a política e não vamos recuar. — Enzo
levantou uma cadeira e sentou.
— Não quero que desistam da campanha. Sei que é tarde demais, mas
eu não quero esses jogos fodidos do Jackson. Daqui a pouco ele vai pensar
que pode brincar com a minha esposa e filha para me forçar a algo e eu vou
matá-lo.
Enzo sorriu.
— Eu não sou um homem de fazer promessas, Vince. E você sabe que
eu jamais permitiria que a sua família seja envolvida, se eu descobrir algo,
Jackson vai pagar. Ele sabe disso. Essa coisa toda com a Victória vai ter uma
consequência, mas, a do seu pai vai caber a você. — Me deu um sorriso torto.
— Jackson é muito ambicioso, ele se perde facilmente, mas o que aconteceu
no passado, ainda está seguro, talvez seja um bom momento para jogar. Vai
sacudir a campanha, mas não vai derrubar.
— Eu vou pensar sobre isso. — Era muito tentador.
— Além do mais, de todas as coisas que eu não preciso é que vocês se
dividam, Jackson deveria saber melhor. Se vingue, mas não saia do jogo,
porque se você sair, eu também vou e tudo que investimos vai ser em vão.
Sabe que não gosto de jogar meu dinheiro fora. — Enzo me deu um sorriso
torto.
— Meu dinheiro não é capim para ser jogado fora. — Suspirei e olhei
para os nós dos meus dedos. Enzo olhou no seu telefone, enfiou no bolso e
ficou de pé.
— Eu vou cuidar de tudo. — Sorriu e saiu.
Marcus desvirou a mesa e peguei as cadeiras, ainda tão furioso que as
minhas mãos não paravam de tremer. Meu sogro me olhou, mas não disse
nada por um tempo.
— Você ama a minha filha?
— Não faz ideia do quanto. — Suspirei e puxei os meus cabelos.
— Vai fazer de tudo para mantê-la segura?
— Com toda a minha vida.
— Tudo bem, você não pediu a minha opinião, mas eu vou dar mesmo
assim. Esse homem, Jackson, é muito mais perigoso do que deixa
transparecer. Ele é cínico e pode facilmente passar por cima de você para
conseguir o que quer. Está na hora de estreitar laços com aliados mais
poderosos que ele. — Apontou para a porta. — Esse homem que acabou de
sair é um mafioso notório e muito poderoso, está do seu lado. Faça o seu
próprio plano de jogo.
— É isso que irritou o meu pai e ao Jackson. Mas eu vou garantir o
meu lugar.
— Estarei do seu lado, você é minha família agora. — Apertou o meu
ombro. — Sinto muito com toda a história da Victória.
— Eu sinto e não sinto. Sinto porque eu fui enganado e traído, isso me
deixa furioso, mas eu tenho a Abby e hoje a Aurora. Ainda assim, meu pai
vai sentir um gostinho da minha irritação. — Sorri torto.
— Vamos para casa. — Ele me puxou e na volta, dirigiu porque eu
estava estressado e queria passar com o meu carro por cima de algumas
pessoas que adoraria encontrar no caminho.
Fiquei pensativo, meu telefone vibrou e era o Callum. Nós estudamos
juntos e ele era um dos investidores da campanha.
— Oi, cara.
— Enzo acabou de me contar. E aí, o que vai fazer?
— Vou pensar com calma para não ter furos, na minha fúria, posso
deixar passar alguma merda que nos envolva.
— Me deixe a par e me avise se precisar de algo.
Esse era o Callum, quieto e conciso. Nunca falava além do necessário.
Ainda com o meu telefone em mãos, pensei em um plano rápido para essa
noite. Rolei a minha lista de chamadas.
— Fala.
— Diga ao imbecil do Jackson para não falar sobre a reunião de hoje
cedo ao meu pai. Não vou pagar por isso, ele está me devendo.
— Ele não vai.
— Vamos fingir que eu não sei sobre a Victória.
— Vamos brincar? Eu gosto.
Mesmo puto com meu pai, ficava arrepiado com a ideia do Enzo
brincar com ele. Os joguinhos do Enzo deixavam qualquer um sem a
sanidade.
— Ainda não. Eu vou te avisar. — Encerrei a chamada e olhei para o
meu sogro. — Vou fingir que não sei de nada, deixar o meu pai pensar que o
único problema entre nós é o meu afastamento.
— Vai deixar vazar o que aconteceu? — Marcus desviou o olhar do
trânsito intenso apenas por um momento.
— Só uma parte. Tem que ser bem articulado ou vai dar merda para
muita gente. Não quero prejudicar quem me ajudou a limpar a bagunça.
— Entendo. Lembre-se que há pessoas inocentes envolvidas, então, tem
que ser bem articulado.
— Casei com uma mulher que o pai dela é um lobista. Articulação faz
parte. — Sorri torto e ele riu, finalmente, entrando no meu bairro.
Ao chegarmos em casa, enviei uma mensagem para o Gates. Eu tinha
vários imóveis ao longo da cidade, inclusive, uma cobertura luxuosa em
Manhattan e precisava que ela ficasse limpa e das chaves. Entrei em casa,
havia um falatório fora do comum, Abby estava gritando com a Snow,
dançando uma música pop que explodia nos altos falantes da sala e o Jake
estava filmando, rindo.
Aurora estava amassando algum tipo de massa na ilha da cozinha e a
minha sogra mexia algo no forno. Jasmine e a Bella picavam coisas na mesa.
Atravessei a bagunça, indo imediatamente para a minha esposa, meu
pedacinho de paz e beijei o seu pescoço, bochecha e ela virou o rosto me
dando um beijo nos lábios. Seu olhar encontrou o meu e perguntou se eu
estava bem.
— Conversamos mais tarde.
Não podia contar para Aurora porque ela não conseguiria disfarçar o
seu ranço. Normalmente ela precisava mais que algumas horas para colocar
uma expressão neutra no rosto e já estava chateada com os meus pais.
Quando soubesse, conhecendo-a como conhecia, sabia que nunca mais
permitiria que a Abby ficasse perto do meu pai. Eu ainda não podia acreditar
que ele me traiu dessa maneira.
Sempre soube que o meu pai não tinha nenhuma dificuldade em passar
por cima do que ele bem entendia para conseguir o que queria. Avisei a
Aurora que precisava me afastar por um tempo e entrei no meu escritório,
procurando um número de telefone. Fiz uma chamada.
— Christian Price.
— Olá, Christian. Vince Vaughn falando.
— Caramba, quanto tempo. Como você está?
— Estou bem, na verdade, peço desculpas por incomodar no dia de
Ação de Graças. Como está a Sofia?
— Muito bem casada. — Rebateu secamente.
— Relaxa, eu também estou muito bem casado. — Soltei uma risada.
— Na verdade, estou ligando sobre aquela questão.
— Porra.
— Relaxa. Parte dela vai a público, achei justo avisar.
— Bem... Talvez eu possa me beneficiar disso. Ainda pode jogar um
nome a mais no ventilador?
— Vamos conversar sobre isso.
Risquei o primeiro nome da lista ao começar a formar o meu próprio
círculo de associados. Se o meu pai ousou brincar com o meu destino, eu ia
mostrar que eu estava jogando com o dele há muito mais tempo. A diferença,
é que eu estava pensando na nossa família, e ele apenas em si mesmo.
Vince estava no escritório falando ao telefone há mais de uma hora.
Meu pai não demonstrou absolutamente nada, mas os nós dos dedos do meu
marido estavam inchados e ele parecia mortalmente irritado, porém, não
tratou ninguém mal, foi doce e educado como normalmente era e não se
estressou com o fogo da Abby com as minhas irmãs. Snow e a Jasmine
estavam causando um caos na minha sala, se divertindo com a minha
pequena, e eu não me importei. Estava com saudades da barulheira.
Meu pai estava de óculos de grau e no seu computador, anotando algo
em sua inseparável agenda e então, ele foi até o escritório do meu marido e lá
ficou. Deviam estar trabalhando. Estava curiosa sobre o que aconteceu na rua,
irritada que o Vince não me contou imediatamente e se isolou, de segredinho
com o meu pai. Como estava ocupada, não pude ir atrás dele me fazer ser
ouvida.
Minha mãe saiu da cozinha para chamar atenção da Snow. Eu vi a
Bella e o Jake conversando no quintal. Eles se abraçaram e assim ficaram,
fiquei feliz porque parecia que estavam fazendo as pazes. Vince entrou na
cozinha e me deu um sorriso amoroso, me pegou pela cintura e me abraçou
apertado, me enchendo de beijos, o que me fez sorrir.
— Está tudo bem? — Segurei o seu rosto e ele sorriu.
— O que não fica bem com você?
— Deixa de ser galante, você sabe do que estou falando.
— Está tudo bem porque tenho você, mas, eu vou te contar tudo
mais tarde, no nosso quarto. Quero que tenha um bom dia. — Me deu mais
um beijo. — Te amo.
— Te amo muito. Você está ouvindo esses gritos? — Apontei para a
sala. Jasmine estava pulando no Just Dance com a Abby no colo, que gritava
de prazer.
— Estou. Acho que até os vizinhos estão. — Ele sorriu. — Ela está
feliz.
— É dia de dar graças.
Minha mãe voltou para a cozinha, Vince deu a ela um sorriso e saiu
com uma garrafa de água. Fiquei observando o meu marido e olhando para
sua bunda que ficava muito bonita naquele jeans e percebi que a minha mãe
estava me olhando.
— O que foi? — Sorri e voltei a amassar as batatas.
— Você está bonita. Parece feliz, sua casa é linda, mas não é só
externo, não é a beleza, é uma casa doce. Uma casa de amor. — Seus olhos
se encheram de lágrimas. — Isso me deixa tão feliz e tranquila. — Me deu
um abraço apertado. — Faz parecer que tudo que era errado, se tornou certo.
Você e o Vince se encontraram por um acordo, mas foi a maneira que Deus
conduziu. Eu sei que ele te ama só pela maneira que te olha.
— Ah, mamãe. Eu o amo muito também.
— Eu sei, amor. Só desejo a sua felicidade. — Ela me deu um
abraço apertado.
— Estamos melancólicas hoje? — Bella passeou para dentro da
cozinha e nos deu um sorriso. — Aurora, adivinha? — Me pegou
bruscamente do abraço da mamãe. — Jake recebeu uma proposta de trabalho
aqui em Nova Iorque. Ele estava tentado a aceitar, mas estava preocupado em
me tirar do lugar que eu sempre vivi e por isso estava tão estranho. Brigamos
à toa.
— Você vai vir morar aqui?
— Ao que tudo indica, sim! — Ela gritou e me deu um abraço
apertado. — Vamos ficar juntas! — Pulamos no lugar e rimos. — Ah, mãe,
disfarça esse beicinho. — Puxamos a mamãe para um abraço também. —
Você ainda terá a Jasmine e a Snow em casa, as duas valem por dez filhos.
— Isso eu não posso negar.
— Mamãe, fiz cocô! — Abby gritou da sala, e soltei uma
gargalhada.
— E dos fedidos. — Snow completou.
— Vá trocar a fralda da sua sobrinha, Snow. — Coloquei as minhas
mãos na cintura e a minha irmã fez uma expressão enojada. — Estou fazendo
comida. Quem vai cuidar disso?
— Eu cuido. — Vince apareceu rindo e pegou a Abby. — Você
soltou uma bomba, garota. — Ele fez cosquinhas nela e subiu as escadas.
Passei o dia arrumando a casa para o jantar de ação de graças e
quando tudo ficou pronto, nos dividimos entre os quartos para descansar um
pouco e trocar de roupa para mais tarde. Vince tinha uma câmera profissional
e coloquei a bateria para carregar. Abby estava cansada e dormiu sem tomar
um banho, deixei que tirasse um cochilo no seu berço e fiquei na minha
cama, pesquisando uma caminha para ela e uma decoração atraente. Não
queria dormir ou acordaria mau humorada.
Vince entrou no nosso quarto tirando a camisa, trancou a porta,
fechou as cortinas, tirou a calça e se jogou na cama, deitando-se parcialmente
em cima de mim. Ele fechou os olhos, reclamando que a sua cabeça estava
explodindo e fiz um cafuné, fazendo-o dormir. Ele precisava ir ao
oftalmologista e ao cardiologista, eu não tinha certeza se as suas dores de
cabeça constantes eram sobre o uso excessivo do computador ou sobre sua
pressão arterial. Teimoso como era, ia pedir para o Flynn convencê-lo a ir ao
médico porque o meu marido empacava como uma mula nesse quesito.
Deixei que ele dormisse por meia hora, peguei um remédio e o
acordei, dando para tomar e fui me arrumar. Abby ainda estava dormindo,
essa noite saímos totalmente da nossa rotina e queria que ela aproveitasse,
sem ficar mal humorada. Com tantos adultos para lhe dar atenção, sabia que a
Abby estaria no céu, porque ela era uma garotinha que tinha todo mundo na
palma da mão.
— Amor, levanta. — Passei pelo quarto depois do meu banho.
— Já vou levantar. — Ele reclamou e escondeu o rosto. Igualzinho a
Abby.
Fiz o meu cabelo e maquiagem, tirei o meu roupão e ele entrou no
closet nu, recém-banhado e ficou escolhendo uma roupa, enquanto eu me
vestia.
— Pode fechar, por favor?
— Uau. — Ele assobiou e puxou o meu zíper. Seu olhar encontrou o
meu. — Já disse que você é a mulher mais linda do mundo inteiro?
— Não hoje. — Sorri lisonjeada.
— Você é a mulher mais linda do mundo inteiro. — Desceu o olhar
para o decote dos meus seios, balançou as sobrancelhas e sorri para a sua
bobeira.
Terminei de me arrumar e fui para a tarefa de acordar a Abby. Ela
chorou, ainda cansada da correria e brincadeira com as minhas irmãs. Dei-lhe
um banho de gato, porque estava toda arrumada e ela iria gritar ainda mais se
a colocasse no chuveiro. Consegui distraí-la escolhendo um lindo vestido,
meias brancas e sapatinhos que pareciam de boneca que comprei na semana
anterior.
Abby ficou quieta o suficiente para fixar os lacinhos no seu cabelo,
que era muito fino. Pronta, tirei uma foto e a incentivei a fazer milhares de
poses. Vince finalmente saiu do quarto pronto, às vezes ele levava uma vida
para escolher uma camisa. Eu amava que ele era vaidoso o suficiente para
manter a sua boa aparência.
— Você está linda, filha! Uma princesa! — Ele comemorou.
Abby sorriu e pulou no lugar. Esticou a mãozinha e saiu andando
com o seu papai. Peguei a câmera e desci com eles, tirando algumas fotos
pela casa. Quando a Jasmine desceu, ficou empolgada com a câmera e tirou
fotos minhas com a minha família. Era o nosso primeiro dia de ação de
graças e eu estava tão feliz por proporcionar o jantar na minha casa.
Aos pouquinhos minha família foi descendo. Eu fotografei Jasmine e
a Snow juntas, quando a Bella desceu, Vince tirou fotos das minhas irmãs
comigo. A Abby quis participar, sorrindo, fazendo gracinha para a câmera.
Nós servimos as bebidas, mas estava todo mundo à vontade, pegando as
entradas que estavam na mesa e meia hora depois, as irmãs do Vince
chegaram.
Lindsey estava andando bem devagar, nos abraçamos apertado e ela
sorriu, mas quase chorou quando Vince a abraçou apertado. Ligia e a Cleo
pareciam muito bem com a irmã, ajudando a andar e se estabelecer no sofá.
As três eram muito parecidas com o Vince e eu o fiz sentar e tirar fotos com
as irmãs e a Abby. Do jeito que eu estava, seria preciso um álbum exclusivo
para a data.
Senti que o Vince e o meu pai ficaram tensos por alguns segundos
quando a portaria avisou a chegada dos meus sogros. Ele colocou um sorriso
no rosto logo que abri a porta. Seus pais me trataram muito bem, como
sempre. Nicole abraçou e beijou o filho, já o Sebastian e o Vince foram mais
concisos um com o outro. Abby se aproximou, o que gerou alegria nos pais
dele, mas pela primeira vez eu vi certa irritação por parte do Vince e eu
estava muito confusa.
Percebendo o meu olhar avaliador, me deu uma piscada brincalhona
e a chegada do Flynn com uma mala para fazer bebidas me distraiu. Nós nos
sentamos para jantar e o meu pai fez uma linda oração.
Vince esperou o meu terminar para fazer os agradecimentos.
— Quero agradecer a todos vocês por essa noite maravilhosa. Sou
extremamente grato pela esposa maravilhosa que eu tenho e pela filha linda,
agradeço a presença de toda família Sinclair esse ano. — Ele sorriu e pegou
uma caixinha no bolso. — Sei que não é Natal, mas para as minhas irmãs,
estou dando um apartamento. Sei que a Lindsey mora aqui e será incrível se
as três dividissem o meu espaço. Reservei uma cobertura especialmente para
as minhas meninas favoritas. — Ele entregou a caixinha para Ligia e ela tirou
a chave, gritando e abraçando a Lindsey e a Cleo. — Como vocês ainda vão
precisar arrumar um emprego, todas as despesas da cobertura são por minha
conta.
— Ai, Vince! — Ligia pulou nele. — Obrigada! Obrigada!
— Eu nem acredito nisso. — Cleo estava muito feliz.
Eu sabia que o pai do Vince ameaçava cortar a mesada das meninas
se elas saíssem de casa. Ele não queria que ambas morassem sozinhas.
Presenciei mais de uma briga da Ligia querendo mais liberdade e a Cleo
querendo estudar teatro aqui em Nova Iorque e tentar uma vaga no ballet da
Broadway. A felicidade das meninas deixou todo mundo com sorrisos no
rosto e eu percebi o maxilar trincado do meu sogro e a minha sogra dividida
entre estar feliz e preocupada.
O jantar estava uma delícia e a minha família sabia como se divertir.
Flynn fez bebidas e eu aproveitei, bebendo, dançando, tentando competir com
as meninas na dança. Vince estava me olhando dançar com diversão, seu
sorrisinho safado dizia muito sobre o quanto dançar o divertia. Mesmo
dançando, eu estava de olho e em momento nenhum, conversou com o seu
pai, apenas com o Flynn, Jake e de vez em quando, com o meu pai. Nossas
mães estavam tentando afogar a Abby de baba.
No final da noite, estava exausta e bêbada. Abby dormiu comendo
um bolinho no colo do padrinho dela. Flynn tirou uma foto, todo bobo que
ela dormiu no seu colo. Ele era muito bobo com ela, ligava sempre, mesmo
quando o Vince não estava em casa, ele me ligava só para falar com a Abby e
revelava a maioria das fotos dela. O consultório dele tinha uma foto dela,
parte porque ele realmente a amava e parte porque a mulherada ficava doida
com um homem bonito segurando uma criança.
— Jasmine está vermelha olhando para o telefone. — Bella me
cutucou quando me joguei no sofá para descansar. — Será uma paixonite?
— Acho que sim. — Sorrimos. Snow estava dançando com o Flynn,
moleca demais para se importar com a sua aparência, além do Flynn ser mais
velho e tratando-a como uma irmãzinha. Vince estava rolando de rir do seu
amigo tentando seguir a coreografia. — Deus, a Snow tem muita energia.
— Eu não consigo acompanhar essa garota, minha coluna dói. —
Flynn começou a rir e a Snow ergueu os braços, se declarando invencível na
competição de dança. — Como os seus pais te aguentam?
— Não aguentamos. — Minha mãe saiu da cozinha com uma taça de
vinho. — Sobrevivemos.
Snow riu e desafiou o Vince. Ele me entregou o seu copo de uísque e
se posicionou. Cleo começou a filmar, porque o Vince dançando era algo
extremamente único. Quando ele deu o primeiro passo, a risada começou.
Um homem tão grande, dançando daquele jeito desengonçado, sacudindo a
cabeça e fazendo passinhos muito bizarros. Minha barriga estava doendo de
tanto rir.
Mesmo com a bagunça, os pais dele foram embora cedo e as irmãs
ficaram. Meu jantarzinho só terminou pela manhã, Bella e eu na praia, de
casaco, descalças, bebendo espumantes e tirando fotos. Vince estava jogado
na areia com o Flynn e o Jake. Jasmine e a Snow não aguentaram, tão
novinhas e muito cansadas, foram dormir às três da manhã.
— Abby vai acordar e encontrar os pais intragáveis. — Dei meu
último gole. — Preciso parar de beber.
— Agora? — Vince riu e me deu água. — Vamos entrar, Sra.
Vaughn. Eu duvido que você vá conseguir acordar nas próximas doze horas.
— Vou sim. — Dei a língua e caí na areia.
Tomei um banho quentinho e me joguei na cama de roupão, com a
cabeça girando, enjoada e fiquei quieta para dormir ao invés de passar mal.
Acordei com tanta dor que mal conseguia abrir os olhos. Abby estava deitada
ao meu lado, mamando e com os pés em cima do pai, que estava dormindo.
Levantei-me devagar, encontrei água, bebi tudo e precisava de mais.
Busquei uma roupa para vestir e voltei para o quarto.
— Quero ir com você. — Abby esticou os braços.
Deixei o Vince dormindo, quando capotasse de tarde, ele precisaria
estar acordado caso a Abby não dormisse. A casa estava silenciosa, desci a
escada e encontrei os meus amados pais limpando a cozinha. Eles já tinham
limpado tudo.
— Vocês não precisavam...
— Eu vi a hora que as mocinhas foram dormir. — Minha mãe sorriu.
— Flynn está desmaiado no sofá.
— Normal. Ele dorme no meu sofá sempre que bebe demais. —
Revirei os olhos. Soltei a Abby e ela correu para a sala, gritando na cabeça do
seu padrinho e eu ri. — Minha cabeça está explodindo.
— Tenho um remédio que pode te ajudar. — Meu pai sorriu. — Mas
eu preciso de um beijo e de um abraço da minha menina.
— Ah, papai. — Abracei-o apertado, beijei a sua bochecha e ele me
deu um remédio que já tinha dado para Bella.
Preparar o café com os meus pais me deu a sensação de estar em
casa, mas era um pouco diferente. Era a minha casa e eles ainda ficariam todo
o final de semana comigo. Eu pensei que quase não veria a minha família
depois do casamento e estava muito feliz que até o momento, parecíamos
viver juntos todos muito bem. No final da tarde, Abby estava brincando de
bola com o Jake e a Bella. Jasmine e a Snow estavam deitadas juntas, cada
uma lendo um livro. Meus pais estavam na sala, bebendo café e conversando.
— Vamos dar um passeio na praia? — Vince me chamou e quase
pulei no lugar, ansiosa. Sem aguentar mais a minha curiosidade.
— Claro que sim. — Vesti o meu casaco e peguei a sua mão.
Andamos na parte mais durinha da areia, em silêncio por um tempo
e ele passou o braço no meu ombro. Vince me contou que seus pais pagaram
a Victória para casar com ele, que havia um homem chamado Jackson
Bernard no meio das transações e que ele era envolvido na campanha nos
bastidores. Tudo soava muito confuso aos meus ouvidos, era um universo
obscuro e ilegal, mas o que mais me surpreendia em tudo era a audácia e falta
de amor do pai dele em fazer tal coisa.
— Então ela era paga para ser sua mulher?
— Ao que parece, sim. Não tenho motivos para duvidar, na verdade,
muita coisa faz sentido. Meu pai queria que ela interpretasse um papel e com
o tempo, ela não conseguiu sustentar.
— Eu sinto muito, sei que você a amava e não posso pensar o quanto
está se sentindo traído com o seu pai. Estou estarrecida que ele tenha ido tão
longe...
— Não deveria ser uma surpresa para mim. Conheço o meu pai, eu
tinha que ter sido mais esperto. — Ele me abraçou apertado. — Fui o perfeito
ingênuo filhinho que o papai resolvia todos os problemas. Me deixei levar
quando deveria saber que a ambição dele sempre foi além de qualquer senso
familiar.
— Não tem explicação, não para mim e a única parte boa de tudo
isso foi a Abby. Ainda bem que a Victória teve consciência de sair e deixar a
menina. Todas as atitudes dela fazem sentido agora.
— Além da Abby, essa história me levou diretamente a você e
assim, eu pude despertar para a vida. Antes tarde do que nunca. — Ele se
inclinou e me deu um beijo. — Vai ser diferente. A nossa família vai vir em
primeiro lugar... Mas eu não vou deixar assim. Ele não vai sair dessa tão
fácil.
— Vai sabotar a campanha? — Me afastei, assustada.
— Não, claro que não. Mas eu vou mostrar que eu não gostei que ele
brincou com a minha vida. Ele já não tem mais controle sobre mim e agora,
não terá nas minhas irmãs. Elas estão livres para se tornarem mulheres
adultas e eu vou fazer o que estiver no meu alcance para que sejam felizes.
Vince entrelaçou nossos dedos.
— Não me importo mais com a Victória, isso passou, mas eu me
importo que ele pense que pode brincar com a minha vida. Vou deixar um
recado claro porque você e a Abby não são peças no joguinho dele. — Me
deu um beijo e assenti, mas acabei soltando um espirro. — Vem, vamos
voltar. Está muito frio aqui.
Ele começou a andar e eu parei.
— Promete me deixar a par de todos os seus passos a partir de
agora? Não quero que você se perca no jogo. — Olhei em seus olhos. —
Vince, é sério.
— Eu prometo. — Ele disse de coração.
Satisfeita, voltamos a andar lado a lado. Apesar do nosso casamento
ter sido um acordo, nós dois estávamos muito conscientes e nos
apaixonamos. Algo me dizia que o pai dele deveria estar de olho na minha
família há muito tempo e eu me perguntava por qual motivo ele decidiu me
escolher? E se toda ruína financeira do meu pai não fosse exclusivamente
culpa dos Calahan? E se tudo que aconteceu nos últimos quatro anos têm
tudo a ver com um joguinho do meu sogro?
Precisava descobrir a verdade.
Encostei na soleira da porta e observei o Vince fazendo abdominais.
Ele estava só com um calção que caía muito bem, todo suado e senti falta do
seu cabelo grande, que ficava molhado, agora estava curto, bem batido.
Estressado, estava malhando para desestressar e a Abby estava gritando tanto
que a sua soneca foi muito bem-vinda. Ele me viu ali e sorriu, pegando uma
toalha e secou o rosto.
— Oi, linda.
— Estava vendo as fotos das festas de fim de ano, foram festas tão
bonitas e tão doces. — Dei um sorriso a ele e me sentei ao seu lado. — Foi
mágico.
— Foi sim, baby. — Me deu um beijo na bochecha. — Abby estava
muito agitada hoje, pensei que fosse surtar com a gritaria. — Sorriu. Ela
estava nos enlouquecendo, mas eu não trocava a barulheira por nada no
mundo. — Quero voltar para Aspen.
As últimas semanas foram intensas em alguns momentos e tranquilas
em outros. Após o dia de ação de graças, minha família ainda ficou para o
final de semana e nas semanas seguintes o Vince viajou duas vezes para se
reunir com pessoas associadas. Ele estava fazendo um plano de jogo que eu
achava muito perigoso e fiquei nervosa, mas confiava na sua experiência e o
apoiei. Ao mesmo tempo, fiquei bastante confusa, querendo reunir todos os
pontos.
Estava desconfiada de tudo e todos. Não conseguia aceitar que nada ao
meu redor era real, tudo pensava que era armado. Mesmo com todas as coisas
acontecendo paralelamente, Vince e eu conseguimos viajar por cinco dias
para Aspen. Foi incrível, romântico e eu pude tirar milhares de fotografias da
Abby na neve. Fizemos um boneco de neve e como a Hayley foi conosco, eu
e ele pudemos esquiar. Foi muito divertido.
Voltamos e passamos o Ano Novo em uma festa oferecida pelo Nicola
Biancchi. Conheci a esposa dele, uma mulher alta, bonita, com um sorrisão e
a Sienna também estava lá. Ela era infinitamente melhor fora do ambiente do
trabalho, divertida, dançamos, brincamos e bebemos. Abby ficou com os
meus pais, nós só voltamos para casa perto da hora do almoço, eu estava com
tanto tesão que fiz o meu marido alugar um quarto de hotel para transar de
um jeito bem safado e barulhento.
Voamos de volta para Nova Iorque há dois dias, minha atenção ficou
dividida em dar atenção ao Vince nesse período que ele estava fazendo
conexões e preparando o aniversário de dois anos da Abby em duas semanas.
— A sua reunião por telefone foi tudo bem? — Bati o meu ombro no
dele.
— Foi sim. — Ele sorriu. — Ele está dentro.
— Faltam poucos?
— O restante não é comigo, como eu disse, apenas três são fora de
negócios ilícitos, os demais, tem os seus próprios interesses e vão fazer o que
o principal investidor determinar. — Piscou e mordi o lábio. — O que te
preocupa?
— Os Calahan.
— Eles vão sair de cena. Eu acho que o meu pai gosta dessa guerra de
gato e rato, mas eles levaram isso além com a explosão. — Vince ficou
quieto. — Para ser bem sincero, o único jeito de lidar com eles é bem contra
os meus princípios, mas não é contra os princípios dos demais. Desde que o
Joshua foi morto, eles recuaram e basicamente desapareceram.
— Isso é pesado demais para decidir.
— É assim que o mundo funciona, amor. É uma corrida bem cruel.
Precisava parar e fazer uma linha do tempo para entender toda essa
relação Vaughn x Calahan x Sinclair. Sentia que havia muitas lacunas e eu
não sabia exatamente como formular a pergunta, não tinha certeza se o Vince
estava me contando tudo, mas se eu não soubesse o que perguntar, eu não
podia brigar com ele por ocultar.
— Quer um lanche? — Ofereci ainda no chão.
— Estou faminto. Quer sair para jantar mais tarde? Posso fazer uma
reserva.
— Eu vou, se a Hayley puder dormir aqui hoje. — Saí do chão e
encontrei a Hayley na cozinha com a Agatha. Ela aceitou ficar, empolgada,
avisei ao Vince. Ele foi tomar banho, fiquei na cozinha conversando e
preparando um lanche. Agatha estava adiantando alguns temperos e o cheiro
estava delicioso.
Gates bateu na porta da cozinha e ele segurava várias caixas e
correspondências. Soltei um gritinho ao abrir as caixas com as borboletas e
arco-íris de glitter que encomendei na internet para a decoração do
aniversário da Abby. Guardei tudo novamente porque queria que fosse
surpresa, peguei as correspondências, vi o convite para o casamento do
Dominic King com uma moça chamada Katherine e separei para perguntar ao
Vince se iríamos.
Separei as contas, dei uma olhada nas cartas de bom fim de ano e recebi
o cartão atrasado de algumas famílias. Vince e eu fizemos uma foto com a
Abby em frente à nossa árvore, bem informal, arrumados, porém não muito e
escrevemos uma mensagem no verso enviando para algumas famílias e
postando na internet. Todo ano ele posava com a sua família e esse ano,
fizemos separados, o que gerou um burburinho imenso, mas segundo as
pesquisas da Sienna foi importante separar a nossa imagem.
Havia um postal comum sem remetente para mim. Rasguei o envelope
e era uma foto do Vince com a Victória no dia do casamento deles. Estavam
cortando um pequeno bolo, ela usava um vestido branco curto e eles
pareciam muito felizes. Atrás, estava escrito: Como se sente sendo a segunda
opção?
— Chegou alguma coisa legal? — Vince desceu as escadas recém-
banhado.
— Sim, as coisas do aniversário da Abby. — Respondi e ele pegou as
correspondências, olhando, riu de algumas fotos dos cartões.
— O que está segurando aí? — Apontou para o envelope.
— Nada demais. — Murmurei e me levantei, recolhendo as caixas.
Subi a escada sem falar mais nada e guardei as caixas no armário do
quarto de brinquedos da Abby. Eu não queria falar sobre o postal com o
Vince, precisava, mas eu não ia conseguir esconder que me abalou e feriu a
minha maior insegurança. Vince amava a Victória, eu fui o casamento de
acordo e literalmente a segunda opção para os seus pais. Não era uma
insegurança sobre a minha aparência ou coisa parecida. Se a Victória
voltasse, o Vince a perdoaria?
Ele podia dizer que não, mas eu não tinha certeza.
Sentei na pontinha da cama e comecei a chorar. Não consegui controlar,
as lágrimas estúpidas desceram e eu não tive tempo de esconder quando ele
entrou no quarto atrás de mim. Ajoelhou na minha frente e puxou com
delicadeza o papel das minhas mãos, analisando e colocou de lado na cama.
— Aurora... — Ele suspirou e passou o polegar no meu rosto, secando
as lágrimas.
— O que foi? — Funguei.
— Você não é uma segunda opção. Eu te amo por você ser você, única
com os seus sorrisos, a sua bondade, doçura, o seu amor incondicional, a sua
linda devoção e o seu caráter. Te amo porque esse casamento poderia ser um
desastre, mas você, linda por dentro e por fora começou a lutar por nós desde
o primeiro segundo após o sim no altar. — Ele beijou a minha bochecha. —
Nada no nosso casamento tem a ver com ter opções ou não. Você é a minha
mulher perfeita, a minha escolha diária e eu vou te escolher todos os dias da
minha vida.
Abracei-o apertado, escondendo o meu rosto molhado no seu ombro.
— Não deixe que essas coisas nos afastem. — Pediu baixinho e assenti.
— Olha para mim, amor. — Segurou o meu rosto. — Acredita que eu te
amo?
— Eu acredito.
— Sei que você tem ciúme do meu primeiro casamento, mas ele não
era real. Eu não era eu mesmo e a Victória definitivamente não era quem ela
é de verdade. Foi uma farsa mal ensaiada de ambos os lados e o único bom
fruto foi a Abby. Eu me interessei por você no segundo que te vi, te achei
linda e gostosa, não vou negar. — Sorri um pouco. — Eu me apaixonei pela
mulher incrível que você é. Me atropelou totalmente porque estava esperando
uma patricinha fútil e ganhei uma esposa poderosa.
— Ah, Vince. — Beijei-o com todo meu amor. — Me desculpa ser tão
insegura quanto a isso, quando vi a foto, não consegui evitar.
— Mamãe? — Ouvi a vozinha da Abby.
— Oi, amor. Eu já vou. — Avisei do quarto. — Temos que comprar
uma cama para ela. Vai lhe dar mais independência.
— Meu bebezinho está crescendo. — Vince fez um pequeno beicinho.
Saímos do quarto e entramos no quartinho dela. Abby estava com os
cabelos em pé e abriu um sorrisão, esticando os braços, doida para sair do
berço. Vince a pegou no colo e descemos juntos, compartilhando um lanche
rápido e a Hayley a levou para brincar um pouco no quintal, bem agasalhada.
Vince ficou concentrado no seu telefone, tentando fazer uma reserva.
— Deve estar com o atendimento reduzido por causa do frio, não tem
problema, vamos pedir alguma comida. — Me debrucei pelo balcão para
olhar. — Não comemos comida japonesa desde o ano passado.
— Engraçadinha. — Me deu um beijo nos lábios. — Piquenique
nudista?
— Combinado. Vou avisar que a Hayley pode ir embora. Harry pode
levá-la?
— É claro. Eu vou fazer uma ligação e já volto. — Piscou e foi para o
seu escritório.
Agatha se despediu quando deu o seu horário, liberei a Hayley e fiquei
com a Abby na sala. Peguei a minha agenda, ligando para os fornecedores do
aniversário dela e quando terminei, virei uma página em branco, fazendo uma
linha do tempo para colocar as minhas teorias em ordem. Quando os Calahan
romperam com os Vaughn, os negócios do meu pai começaram a decair, mas
nem sempre o meu pai esteve envolvido, já a relação Calahan X Vaughn era
diretamente atrelado a outra família, os Price. Vince andou falando com um
homem chamado Christian Price, dando uma olhadinha no google, ele era o
CEO da Price Corp.
Pesquisei as palavras chaves no computador e encontrei alguns
empreendimentos em comum. A Price e a V costumavam construir os prédios
dos hotéis Alexandria no país, mas eles trabalharam juntos na construção de
um resort no México. Eu não tinha certeza se o resort existia, não encontrei
nada realmente claro e anotei sobre isso também. O que aconteceu?
— Você parece concentrada. — Vince me deu um beijo na nuca. —
Uau. Aurora Serviço de Investigações. — Sorriu e me abraçou. Pegou a
minha caneta e corrigiu algumas informações, circulou que o resort foi
construído, mas nunca inaugurado e os pagamentos foram feitos.
— Por que o resort nunca foi inaugurado?
— Decisão dos donos...
— Hum... misterioso. Tem alguma lacuna para preencher?
Vince me virou no lugar e apoiou as mãos na mesinha atrás de mim.
Abby estava brincando com os seus blocos coloridos, parecendo distraída o
suficiente para conversarmos sem os seus gritos. Ela era muito mais agitada
pela manhã até o horário da sua soneca. Voltei a minha atenção para o Vince.
— Essa construção foi financiada por um cartel de drogas. O Grupo
Alexandria foi apenas uma fachada, toda a coisa em si foi uma gigante
lavagem de dinheiro das organizações criminosas. — Mordeu o lábio, eu
estava parada, tentando absorver tudo. — Meu pai estava envolvido até o
último fio de cabelo. Ele não aceita isso, mas é basicamente um fantoche nas
mãos dessas pessoas. Na época, ele sequer era candidato oficial ao senado,
para que Jackson Bernard o levasse para dentro, ele tinha que provar a sua
capacidade. Jackson é como um recepcionista, você precisa passar por ele
para entrar no clubinho.
— O seu pai precisou fazer o quê?
— Um cartel rival soube que na construção, havia drogas. Os aviões e
caminhões na fronteira eram basicamente uma desculpa para entrar uma
quantidade de droga sem fiscalização. Os oficiais da fronteira sabiam,
estavam na folha de pagamento, mas nem todos os funcionários da
construção eram pessoas envolvidas. — Vince sentou-se no sofá e endireitei
a minha postura. — Houve um tiroteio, três operários inocentes foram mortos
e a missão do meu pai era encobrir qualquer tipo de escândalo. Nada podia
explodir envolvendo a V, a Price, o Alexandria e muito menos expor as
organizações envolvidas. Ele conseguiu encobrir o escândalo, mas as famílias
desses homens começaram a fazer perguntas.
— Vince...
— Meu pai tinha que desaparecer com eles também, eu era jovem e
estava aprendendo para assumir o lugar, então, eu pedi para cuidar daquilo.
Eu estava horrorizada.
— Vince, por favor. — Entrei em pânico que ele pudesse ter feito algo
inimaginável com pessoas inocentes.
— Eu realmente desapareci com as famílias... — Falou e fechei os
meus olhos. Por um segundo, senti que o nosso casamento estava condenado.
— Pedi ajuda a três amigos, porque eu era totalmente inexperiente e
convenhamos, inocente. Callum e eu estudamos juntos, assim como Enzo,
mas como a Sra. Price, na época, CEO da Price estava histérica com os
acontecimentos, o filho dela assumiu. Nós escondemos as famílias. Enzo não
queria, porque não é assim que ele é, mas não resistiu à ideia de me ter
devendo um favor a ele a vida toda.
— Você escondeu as famílias?
— Sim. Eu os levei para um lugar fora do radar, pago o sustento e os
estudos dos filhos e me comprometi a isso até a faculdade. Mantenho uma
vigilância apertada, mas duas das esposas são imigrantes e elas perceberam a
dimensão do problema e aceitaram ficar caladas. — Ele passou a mão na
cabeça. — De todas as coisas, eu não podia tolerar a ideia de assassinar
mulheres e crianças apenas porque elas sabiam demais.
O alívio pesou com tanta intensidade que me joguei nele. Esse era o
Vince que eu conhecia e amava.
— Em pouco tempo, isso vai explodir na mídia. Eu vou agitar a
campanha do meu pai, ele mal pode esperar o que vem pela frente. — Sorriu
torto.
— Vai expor?
— Alguns corpos serão encontrados, uma breve investigação e talvez o
seu nome bem atrelado à construção. Vai sacudir bastante, mas não vai
derrubar porque todas as pessoas envolvidas estão cientes e de acordo. — Ele
segurou as minhas mãos. — Não sou santo, mas não sou assassino. Eu sei
que pessoas ao meu redor lidam com isso de muitas maneiras.
— Eu não me importo com os outros, só com você. — Fiquei de
joelhos e segurei o seu rosto. — Não sou ingênua, é um jogo perigoso, mas
saber que tal atitude partiu de você me deixou em pânico por alguns
segundos.
Abby andou até nós, pedindo biscoito, eu fui pegar, entregando uma
vasilha com cookies de banana e aveia que a Agatha preparou especialmente
para a pequena. Voltei para o meu lugar no chão, de frente para o Vince e
prestei atenção em tudo o que ele me contou sobre os próximos passos. Uma
coisa era certa, Sebastian errou em subestimar o Vince, não conseguia
visualizar um futuro no qual pai e filho voltassem a ser um time tão unido
quanto era. A ruptura seria ainda maior no futuro.
Gates bateu na porta antes de entrar e pediu o postal, ele iria levar para
tentar rastrear quem me enviou. Vince e ele conversaram por um momento e
eu tomei um remédio para dor de cabeça. Sienna me ligou, nós falamos sobre
o evento que participaria na próxima semana, fiquei de escrever toda a minha
palestra sozinha e ela revisaria. Encerrei a chamada, olhei para o meu caderno
e fiquei pensativa.
Vince deu a volta no pai dele com tanta facilidade e isso me mostrou
um lado dele que não tinha impedimentos para fazer o que tivesse que fazer.
Era uma corrida selvagem, venceria o mais esperto, não necessariamente o
mais cruel. Por fora, o mundo lá fora acompanhava os nossos passos com
sede e curiosidade e nos bastidores... era tudo sobre dinheiro e poder.
Abby estava deitada no meio da minha cama, espalhada, com a
mãozinha na testa como se estivesse pensando em algo realmente
complicado. Seus cílios estavam molhados, assim como as bochechas. A
boca ainda formava um beicinho, mas ela estava dormindo. Aurora saiu do
banheiro e me deu um sorriso compreensivo, era meia noite e vinte e cinco,
horário exato que a minha filha nasceu por cesariana. Eu a segurei em meus
braços depois de cortar o cordão umbilical e soube que estava com o maior
presente de todos em meus braços.
Levei-a para Victória, que chorou e foi a sua única reação amorosa em
relação a Abby, depois ela ficou mortalmente assustada, arisca e confusa com
o bebê. Eu nunca iria entender o que ela sentia em relação a nossa filha. Abby
era toda a minha vida e eu estava pronto para ter mais bebês, principalmente
depois que a Aurora chegou na minha vida e me mostrou o quão poderoso é o
amor maternal.
— Tão linda. — Aurora se aproximou e se inclinou beijando a
barriguinha da Abby. — Feliz aniversário, meu amor. — Sorriu e começou a
fazer uma oração bem baixinho. Aurora foi criada na igreja, eu raramente
pisei em uma ao longo da minha vida, mas não me importava que ela orasse,
achava bonito e sempre me trazia paz.
— Eu nunca iria imaginar que ela seria tão ela. — Sorri e sequei a
lágrima que estava acumulada abaixo dos seus olhos.
— Uma birra imensa por causa de um controle. — Aurora sorriu. —
Ela já estava com sono, mau humorada e querendo mamar.
— Vou levá-la para sua nova cama.
Peguei-a no colo e verifiquei se a grade para a escada estava fechada.
Aurora comprou uma nova cama, foi difícil ver a minha menininha dormindo
fora do berço, mas ela amou e ao acordar, saía sozinha da cama e ia direto
para o nosso quarto, batendo na porta e chamando, ou já dizendo que estava
com fome. Deitei-a na cama, tirei a calça que usava, deixando de fralda e
camiseta. Ela rolou para o lado e a cobri, a cada segundo mais apaixonado.
Meu bebezinho estava crescendo e ao ouvir risadinhas no corredor, eu
sabia que o tempo passaria muito rápido. Snow soltou uma risada mais alta e
limpei a garganta, elas ficaram em silêncio, mas logo as risadinhas voltaram.
As duas irmãs mais novas da minha esposa estavam no quarto de hóspedes e
os meus sogros chegariam apenas no dia seguinte. As meninas vieram mais
cedo, junto com a Bella que havia acabado de se mudar para uma charmosa
casa não muito longe.
Jacob não queria a minha ajuda, porém, a Aurora ficaria feliz em ter a
irmã por perto, fiz questão de mexer alguns pauzinhos para que eles
conseguissem um bom financiamento. Era uma casa realmente bonita, com
um grande quintal e se eles quisessem, desenharia a expansão com prazer.
Minha mulher ficou explodindo de felicidade em ter a irmã morando a menos
de dez minutos de caminhada e com isso, ganhei noites de sexo bem
empolgantes.
— Aquelas duas safadinhas ainda estão online. — Aurora estava com o
telefone na mão quando voltei para o quarto.
— Estão rindo como duas hienas bobinhas. — Fechei a porta do quarto.
— Elas são fodas. Mamãe vai falar na minha cabeça que deixei virarem
a noite, mas eu não vou lá, já são bem grandinhas. — Bufou.
— Deixa as meninas.
— Bella e eu nunca dormimos fora, acredita? — Aurora ficou
pensativa. — Nossa! A mamãe deve confiar mesmo em mim, porque ela
nunca deixou que dormisse em casa de amigas, nem nas nossas tias...
— Sendo um pai, eu entendo muito a preocupação. Cada vez que vejo o
noticiário e aparecem reportagens de parentes que fazem atrocidades, é
melhor ser a pessoa surtada e manter os filhos em casa do que pagar para ver.
— Me joguei na cama, peguei o seu telefone, apaguei a tela e coloquei na
mesinha.
— O que o meu lindo e amado marido quer?
— Amado? — Sorri e ganhei um beijo.
— Muito amado. — Falou contra a minha boca.
Gostava de todas as fantasias sexys que ela vestia, os conjuntos de
lingerie ou quando aparecia sem roupa, mas eu amava dormir abraçado.
Amava a sua voz suave e os seus carinhos calmos. Amava observar o seu
rosto perfeito demonstrando serenidade ao dormir. Acordei antes dela e ainda
fiquei na cama, pensativo sobre o dia, ela virou de lado, ficando praticamente
em cima de mim e beijou o meu peito.
Nós ouvimos os sons de pezinhos correndo e risadinhas. Snow
soltou uma gargalhada mais alta e em seguida, a Abby.
— Sua irmã está levando a minha filha pelo mau caminho.
— Abby não precisa de incentivo para ser bagunceira. Snow é a tia
legal que ensina besteira, felizmente a Jasmine está junto e vai impedir
qualquer desastre. Ainda podemos ficar aqui por um tempo. — Voltou a
deitar a cabeça no meu peito e assim ficamos conversando baixinho,
organizando a programação do dia e ouvimos uma batida na porta.
Os pequenos punhos da minha filha eram bem fortes.
— Papai, eu acordei e já fiz xixi! — Ela chamou baixinho.
— Garotinha fofa. — Aurora saiu da cama. — Bom dia, meu amor!
— Abby gritou de alegria. — De quem é o aniversário?
— Abby faz dois! — Minha filha respondeu com os olhos
brilhando.
Aurora pegou a fralda limpa e a colocou na cama, aproveitei para
encher a minha menininha de beijo e cosquinhas. Vesti uma camisa e com a
Abby no colo, segui a Aurora, que do corredor, gritou para suas irmãs
descerem para o café da manhã. Agatha já estava na cozinha e com uma mesa
caprichada, em especial para a nossa menininha, que era a luz da casa.
— Senhor. — Gates apareceu na cozinha com um embrulho. — Para
a menina.
— Seu primeiro presente, filha. — Sorri e a Abby agarrou a caixa.
— O que dizemos?
— Obrigada, Gates! — Ela soprou um beijo, ele sorriu e saiu.
— Eu fiz os bolinhos de chocolate favoritos dela. — Agatha pegou a
Abby. — Feliz aniversário, bebê.
Snow desceu a escada correndo e de meias, patinou pelo piso,
fazendo uma voltinha engraçada. Jasmine estava filmando e rindo. As duas
imediatamente abraçaram a Aurora, dando bom dia, eu achava a relação delas
como irmãs uma das mais bonitas do mundo. Ganhei abraços e beijos de bom
dia, nos reunimos para comer e o falatório começou. Snow não ficava quieta
um mísero segundo e ela tinha assunto para todas as pessoas. Ela era um
furacão, uma força da natureza sem controle.
Aurora terminou de comer e recrutou as irmãs para ajudar na
decoração. Bella chegou apenas alguns minutos depois. Lindsey foi a
primeira das minhas irmãs a chegar. Ela estava andando melhor, embora
ainda estivesse muito magra. Ligia estava na rua comprando os balões que a
minha esposa esqueceu e a Cleo estava no seu primeiro dia em seu emprego.
Conseguiu uma vaga como assistente de uma compradora pessoal.
Meus pais não estavam nada felizes com as minhas irmãs morando
em Nova Iorque e trabalhando. Obviamente eu não as deixaria pela cidade
sem seguranças, eles mantinham a vigilância de longe e as seguiam por todo
lugar. Elas sabiam e não queriam um guarda-costas por perto o tempo todo.
Se as minhas irmãs queriam uma vida normal, tão normal quanto ter o
sobrenome Vaughn era possível, elas teriam.
— Eu não me responsabilizo por esses docinhos perto de mim. —
Lindsey brincou e roubou um sem que a Aurora visse.
— Ela é assustadora quando está no modo organizadora. — Avisei.
Aurora era assustadora de verdade. — O advogado falou comigo, disse que
ele vai dar entrada na papelada para te fazer uma Vaughn.
— Foi o que ele disse. — Lindsey desviou o olhar.
— O que está acontecendo? — Me aproximei e me apoiei no balcão.
— Quando estava de fora, pensei que fosse um mundo totalmente
diferente, mas estando dentro, a única coisa que consigo sentir é medo. Tudo
é tão assustador. — Suspirou e segurei a sua mão. — O atentado, vocês dois
brigando, disputando algo tão sério e ele tentando fazer com que as meninas
se sintam péssimas por querer viver as suas vidas, não foi assim que pensei
que seria ter uma família.
— Nenhuma família é perfeita. Você idealizou algo e eu sempre te
disse que não era como parecia, mas eu realmente te amo e sempre será bem-
vinda na minha casa. Aurora e eu somos a sua família. — Dei um beijo na
sua bochecha.
— Eu sei. — Ela sorriu e olhamos para Abby jogando as almofadas
no chão, espalhando o que a Jasmine havia acabado de arrumar.
— Abby! — Aurora chamou. Ela riu e saiu correndo. Jasmine
arrumou tudo de novo e saiu de perto, não deu dois segundos para Abby
voltar e tirar tudo do lugar de novo, rindo, estava implicando com a sua tia e
querendo brincar a todo custo. — Amor, essa mesa é muito pesada, me ajuda
aqui!
Aurora me fez mudar a sala inteira de lugar. Mesas para um lado,
cadeiras, poltronas e no canto, começou a organizar onde ficaria o bolo e toda
decoração que estava em caixas empilhadas no meu escritório. Toda a coisa
estava na sua mente e com isso, eu tinha que esperar as suas ordens e
determinações. Ligia chegou com os balões e cilindros, levei um tempo
enchendo a coisa e olhando para que a Abby não destruísse a casa.
— Cupcakes estão prontos. — Bella avisou. — Jake vai buscar o
bolo. Nossos pais e avós já estão no hotel com a Tia Carol e eu vou subir para
arrumar as roupas. Quem precisa de algo para passar?
Levantei a minha mão, rindo. Eu odiava passar as minhas camisas e
a Aurora até passava se eu fizesse muito dengo e implorasse, porque ela
também odiava. Agatha costumava passar as roupas e deixar os armários
alinhados, mas a Abby costumava derrubar tudo e pisotear quando fazia
bagunça no closet enquanto a sua mãe se arrumava.
— Senhor. — Gates se aproximou. Larguei as ferramentas que
estava usando para fixar os arames que pendurariam umas decorações.
Aurora ergueu o olhar, prestando atenção, sinalizei que falasse. — Victória
deixou uma caixa na recepção da empresa. Ela quer vê-lo.
— O que tinha na caixa? — Aurora soltou a toalha da mesa.
— Uma boneca endereçada a Abby. Nós verificamos, não tem nada
no brinquedo. Ela o aguarda no centro de Hampton em duas horas.
— O que diabos ela quer? — Aurora fez a pergunta que pintava na
minha mente.
— Pode ser uma armadilha.
— Ou pode ser apenas um encontro. — Dei de ombros. — Em todo
caso, eu não vou. Mande alguns homens e pergunte o que ela quer.
— Sim, senhor. — Gates saiu.
— Por que não quer ir? — Aurora passou a mão no meu braço.
— Hoje é aniversário da Abby. O que ela pode querer? Não vai ver a
minha filha e muito menos vai me tirar do sério. — Dei-lhe um beijo nos
lábios. — Se ela quiser mandar recado, que seja. Não me importo.
Aurora ia dizer alguma coisa, mas correu rapidamente, me pulando e
pegou a Abby antes que ela se jogasse do encosto do sofá para a mesa.
— O que você ia fazer, garota? Que susto. — Acariciou as costas
dela.
— Eu quero ver.
Snow estava com os olhos arregalados.
— Eu juro que dessa vez não fui eu quem ensinou isso. — Sorriu
torto. — Garotinha esperta.
— Até demais. — Aurora suspirou. — Se você quiser ver algo, tem
que pedir e não pode subir no sofá. — Deu um beijo na bochechinha dela, a
devolvendo para o chão.
Nós dois não tivemos oportunidade de falar sobre a Victória
novamente, concentrados na decoração porque o dia estava passando rápido.
Pedi ao Gates para buscar tudo que foi encomendado, enquanto a Agatha
seguia cozinhando o jantar que seria oferecido aos nossos poucos
convidados.
Terminei de arrumar as mesas e peguei o meu telefone, lotado de
mensagens e ligações perdidas. Respondi alguns contatos, mas não me
esforcei muito. Folga era folga. Com a casa cheia, a gritaria das meninas e a
ansiedade da Aurora em ter tudo pronto logo, seria impossível trabalhar de
casa.
Gates entrou no meu escritório enquanto guardava meus arquivos
mais sigilosos e importantes no cofre.
— Ela insistiu em enviar a caixa com a boneca, mas eu deixei na
casa de segurança. — Ele enfiou as mãos no bolso. — Queria falar com você
porque acredita que você tem a ver com o desaparecimento do namorado
dela. Jason sumiu apenas duas noites depois que ela foi liberada.
— Merda.
— Entrei em contato com Jackson Bernard e dessa vez, ele garante
que não tem nada a ver com isso, que o senhor mandou não interferir nessa
questão.
— Nem mesmo o meu pai faria tal coisa?
— Ele disse que não. — Gates deu de ombros. — Por que faria?
Jason nunca representou um perigo e não se envolveu em nada.
— Diga a Victória que irei investigar e é tudo que farei em relação a
isso.
— Sim, senhor. — Ele saiu e eu contei os segundos para a Aurora
derrapar para dentro, com o seu clássico olhar curioso e fechou a porta atrás
dela.
— Vamos fazer um bebê hoje? — Provoquei.
— Hoje não, mas em maio sim.
Surpreso, afastei a minha cadeira e ela sentou-se no meu colo.
— Se tudo der certo, quero ter certeza de que o bebê nascerá dentro do
mapa astral. Eu não quero um bebê virginiano ou libriano, vai dar choque
com a Abby, que é de Capricórnio.
— Eu não sei do que você está falando, mas eu topo mesmo assim. —
Sorri e contei exatamente o que o Gates me falou e o que determinei, ela
assentiu, mas não deu a sua opinião, o que era comum. Muitas vezes ela
ficava pensando na informação antes de me dar alguma opinião.
Meu telefone vibrou em cima da mesa, era o meu pai e eu esperava que
ele não fodesse a minha paciência no dia do aniversário da minha filha.
Ainda estava muito puto, com o sangue fervendo sobre tudo o que aconteceu
em relação à Victória. Ele me viu sofrendo com a Abby pequena nos braços e
sabia que era sua culpa, nunca fez nada. Sinalizei para Aurora ficar em
silêncio.
— Sim.
— É esse o jogo que você quer jogar? — Ele explodiu. — Sienna
acabou de ligar. Sua mãe foi desconvidada do evento para que a Aurora
possa discursar em seu lugar.
— O efeito será o mesmo. — Cobri a boca da Aurora.
— Aurora não será a primeira-dama. Esse marketing deveria ser da
sua mãe e não dela. Além do mais, Aurora não é mãe da Abby. É bonitinho
que vocês brinquem de casinha e façam a menina chamá-la de mãe, mas ela
não é mãe de verdade. — Enfatizou e a minha esposa ficou puta. — Não
deveria ser assim, Vincent. Sua mãe merecia mais consideração da parte de
vocês dois. — Encerrou a chamada.
A velha cartada de me fazer sentir culpa por ferir os sentimentos da
minha mãe. Aquilo era política, não tinha nada a ver com o meu amor e
respeito como filho. No mundo dos grandes, vencia o mais rápido. Soltei a
mão da boca da Aurora.
— Eu não sou mãe? — Guinchou, furiosa. — Seu pai vai comer bolo
com sal.
— Relaxa, amor. Você é a melhor mãe do mundo. — Dei-lhe um beijo.
— Não se importe com isso. Abby tem sorte de ter você e eu também.
Dei uma olhada nas mesas, todos pareciam comer, peguei um copo de
água para o meu avô, voltando a verificar a festa por alto. Meu pai e o meu
sogro conversavam amigavelmente. Assim que abri a porta, eu proibi
qualquer assunto desconfortável ou de trabalho, já estava muito irritada com
a insinuação de que eu não era mãe da Abby. Brincando de casinha? Idiota.
Eu estava furiosa.
Parei na cozinha para pegar mais vinho e encontrei a minha sogra.
— Entornei um pouco de vinho na minha blusa nova. — Explicou
esfregando a pontinha. — A festa está linda, Aurora. Você é tão criativa. —
Sorriu e devolvi, meio atravessada, mas devolvi. — O que você tem? É um
dia feliz, é aniversário da sua filha.
— Você acha que a Abby é minha filha? — Rebati, sem conseguir me
conter.
— Quem tem que achar é a Abby e se ela te reconhece como mãe,
então, todo restante tem que engolir. — Piscou e voltou para a sala. — Eu
não estou chateada sobre o evento, na verdade, estou aliviada. Pode parecer
difícil, mas eu tenho opiniões e sentimentos diferentes do meu marido. Sinto
orgulho do Vince reagindo e mal posso esperar para ver até onde ele pode ir
para mostrar ao pai dele que cresceu. Todos os nossos filhos cresceram, ele é
o único travado nisso. — Sorriu e saiu.
Enchi a minha taça de vinho e bebi quase a metade. Vince entrou na
cozinha com algumas garrafas vazias e colocou dentro das caixas de madeira
no canto.
— Está tudo bem? Vi que a minha mãe acabou de sair daqui.
— Está sim. — Sorri e lhe dei um beijo. — Vem, vamos voltar para a
festa.
Abby estava tão feliz e linda. Seu vestido era bufante, como uma
pequena princesa, era brilhante e rosa claro. Já estava meio sujo de tanto que
estava brincando com algumas crianças da vizinhança. Poucos pais vieram,
porque não os convidei, era uma festa para crianças e a família. O único casal
de pais que convidei foram os nossos vizinhos, Juliet e Romeo Blackburn,
que estavam conversando com a Bella e o Jake.
O tanto que a Abby estava se divertindo, valeu a pena cada minuto
decorando a casa inteira para que ela tivesse uma festinha memorável. Pouco
antes de cantar parabéns, troquei a sua fralda e roupa. Ela estava tão suada
que precisei passar um lenço umedecido. Não daria um banho ou ela poderia
querer dormir ao invés de curtir as palmas e assoprar as velas.
Todo mundo aplaudiu quando voltamos para a sala. Bella tirou novas
fotos antes de cantarmos parabéns. Treinei com a Abby nas últimas semanas.
Deixei-a de pé em uma cadeira e a minha pimentinha ficou dançando,
adorando a atenção, se apoiou na mesa e ficou sacudindo a bundinha de um
lado ao outro, sorrindo.
Vince me deu um olhar e rimos. Ela era única. Sapeca, ficou batendo
palmas junto com todo mundo e me olhou antes de assoprar a vela cheia de
baba. Eu amava tanto essa menina que o meu coração parecia que iria
explodir ao vê-la tão feliz. Coloquei-a de volta no chão e correu para as
crianças, sinalizei para Snow ficar de olho. Agatha começou a cortar o bolo e
a minha mãe a servir.
Foi uma das noites mais felizes da minha vida e eu estava grata em ter
uma família tão linda.
Durante a semana seguinte, eu me preparei para participar de um
simpósio sobre maternidade e eu discursaria sobre mães de laço afetivo, não
por ligação sanguínea. Escrevi milhares de vezes, separei por tópicos, fotos,
situações e levou quase cinco dias para Sienna e eu chegarmos a um acordo.
Para que não chegasse desacompanhada, Kourtney, que trabalhava na equipe
da Sienna e a Joanne, assistente do Vince, me acompanhariam.
Com o material pronto, fiquei presa na roupa. Não queria ser
conservadora demais e muito menos tão jovem que ninguém me levasse a
sério. Nas últimas semanas, Vince e eu estávamos propositalmente em
evidência, postando muitas coisas em redes sociais, até mostramos parte do
aniversário da Abby para os seguidores. Os comentários faziam o meu dia:
tinha gente com o prazer genuíno de nos odiar, outros de discutir com quem
nos odiava e pessoas que pareciam torcer por nós de verdade.
Era uma incógnita. Quem odiava, seguia curtindo e acompanhando,
gerando ainda mais buzz em nossos nomes do que as pessoas que diziam
amar. Cada imagem, legenda, mensagem, foi propositalmente pensada para
criar um caminho de marketing, separando a imagem do Vince do seu pai,
dando a ele um novo tipo de olhar, saindo da esfera de filho do Senador
Vaughn para o seu próprio nome.
Para o evento, escolhi um lindo vestido rosa escuro, elegante, sem
decote, com uma saia plissada até os tornozelos e sapatos nudes. Para o
cabelo, fiz um coque elaborado, com brincos em formato de gota e um colar
simples. Minhas unhas estavam pintadas de preto, porque eu não seria eu
mesma se estivesse com tudo tão nude.
— Diga que a mamãe está linda. — Vince falou com a Abby da cama.
— Linda, mamãe. — Ela soprou um beijo, deitada, descabelada de
tanto bagunçar enquanto eu me vestia.
— Você está maravilhosa, meu amor. — Vince saiu da cama e colocou
as mãos nos meus ombros. — Vai ser um tremendo sucesso.
— Estou nervosa. — Confessei e ele me virou, abaixou o rosto e me
encarou.
— Confia no seu marido aqui, belezinha. Vai arrasar e deixar todo
mundo de queixo caído. Você é uma Vaughn, mas é filha de Marcus Sinclair.
Abri um sorriso imenso, porque o meu pai tinha o dom de atrair atenção
e mantê-la. Eu tinha orgulho dele e desejava ter um pouquinho da mesma
qualidade. Pronta, peguei o meu iPad e a minha bolsa, dei um beijo no meu
marido e outro na minha princesinha, saindo de casa junto com o Gates. Me
sentei no banco de trás, costumava sentar na frente, mas ao chegar no evento,
haveria uma quantidade de fotógrafos e atrás ficaria um pouco mais protegida
dos flashes.
Minhas mãos estavam molhadas de suor, eu podia sentir um leve
tremor, mas ao estacionar na frente do evento, coloquei um sorriso no rosto,
encontrei com a equipe e andei com calma pelo tapete azul escuro. Meu
vestido foi enviado pela esposa de um amigo do Vince, Isla, sua marca estava
crescendo no mercado e era alta costura. Foi uma cortesia para divulgar a sua
nova coleção, então, havia alguns fotógrafos para fazer fotografias certas da
roupa.
Encontrei pessoas conhecidas, tirei fotos com quem a Kourtney
determinava e logo fui levada para o meu lugar, em uma mesa com outras
mulheres que variavam de psicólogas, mães, especialistas e educadoras.
Todas me receberam muito bem. Houve um breve rumor de que eu era a
única não especialista no meio, mas a ideia da minha participação era
justamente essa. Para a campanha, eu tinha que falar sobre políticas justas no
processo de adoção, ainda haviam muitas crianças que sofriam abusos,
muitas crianças que eram devolvidas e parte do processo era facilmente
corrompido.
Quando finalmente chegou a minha vez, eu não estava mais tão
nervosa, falei com calma, naturalidade, exibi fotografias da Abby no telão e
até alguns vídeos das suas mais puras birras ou manhãs que amanhecia
chorando. Falei sobre a importância do cuidado com as emoções dos nossos
filhos, a compreensão e a dose de amor diária, porque não era fácil. Em dez
tópicos, fui aplaudida de pé e depois, foi aberto para discussão. Várias
perguntas foram feitas por jornalistas ou mães convidadas.
— Seu marido ajuda nos cuidados da sua filha? — Uma jornalista
perguntou.
— Vince e eu compartilhamos os cuidados com a Abby igualmente. Ele
não me ajuda, porque a filha é nossa e ele deve fazer parte ativamente da vida
dela, tanto quanto eu. — Respondi com um sorriso, mas eu odiava que o
Vince recebesse uma coroa por assumir a sua responsabilidade. Ele não fazia
mais que a obrigação.
Após as perguntas, um desfile beneficente começou e eu aplaudi cada
uma das mães que passou na passarela. Na confraternização, me senti mais à
vontade para falar com as outras mulheres. Kourtney avisava quem era quem,
o que me ajudava muito a fazer uma conversa e criar alguns laços políticos
necessários para o meu marido. Infelizmente, para o meu sogro também, eu
ainda estava com raiva e queria soltar umas verdades que estavam entaladas
na garganta.
Ao voltar para casa, eu estava com uma sensação de realização imensa
no peito. Tirei as sandálias assim que entrei em casa, joguei a minha bolsa no
sofá e encontrei o meu marido na cozinha, bebendo uma cerveja, comendo
amendoins e olhando para o nosso quintal. Me joguei nele sem aviso, ficando
abraçada e compartilhamos um beijo apaixonado.
— Eu te vi chegando e acompanhei todas as lives. — Beijou a minha
testa. — Incrível. Você foi maravilhosa.
— Senhor. — Gates entrou pela cozinha. — Chegaram flores para a
Sra. Vaughn.
Ansiosa, corri para a porta da frente e abri, dois imensos buquês foram
entregues. Um era dos meus pais com um cartão lindo e o outro era da minha
irmã com o seu marido. Em seguida, foi entregue uma caixa com rosas e
bombons da minha sogra. Ela não assinou o cartão colocando o nome do meu
sogro.
— Será que os seus pais estão brigados?
— Eu achei que estavam frios com o outro no aniversário da Abby, mas
isso não é exatamente uma ocorrência incomum. — Deu de ombros.
— Enviar essa caixa mostra que ela não compartilha das opiniões do
seu pai.
— Ou é um joguinho. Eles gostam de brincar, não se esqueça.
Fiz um pequeno beicinho, pensativa e decidi arrumar as flores em
vasos. Antes, fotografei e agradeci. Tomei um banho e troquei de roupa,
enquanto a Abby ainda dormia, fiquei no sofá com os pés no colo do meu
marido e olhando as minhas redes sociais. Respondi quase todas as fotos
marcadas, comentários e ainda me distraí absorvendo cultura inútil, enquanto
o Vince analisava com a Sienna o reflexo da minha participação.
Me sentindo corajosa, debati com o Vince todos os aspectos que eu não
concordava na campanha do seu pai, principalmente os que eu me
interessava.
— Se um dia te pedirem para se candidatar, você faria isso? —
Perguntei ao Vince, que massageava os meus pés.
— Não acredito que aceitaria, a não ser se não conseguisse me
desvencilhar. Em alguns aspectos, a vida política pode ser atraente, mas eu
gosto de controlar o que vão saber sobre a minha vida. Não me interessaria
ser um cargo público. — Apertou o peito do meu pé. — Você quer se
candidatar, Sra. Vaughn? Eu seria o seu primeiro-cavalheiro com prazer.
— Bobo.
— Mamãe? — Abby chamou da grade lá em cima.
— Eu vou. — Vince me deu um beijo e saiu do sofá, subindo a escada
e continuei deitada. Gates avisou que mais uma entrega estava chegando e
fiquei de pé, abrindo a porta. Recebi uma cesta de chocolates da Juliet
Blackburn.
Os meses seguintes passaram em tranquilidade conforme a agenda.
Vince e eu viajamos para D.C várias vezes, ele participou de reuniões e teve
semanas que mal conseguimos nos ver durante o dia. Abby crescia na
velocidade da luz, ela estava tão esperta, tagarela, abusada e divertida.
Diferente dos primeiros meses do meu casamento, no qual ficava em casa
com ela o tempo todo, passei a trabalhar com o Vince.
Nós entendemos a necessidade de falar a mesma língua e cuidar da
nossa imagem em conjunto. Eu passei a lidar com todas essas questões, cada
evento, mensagem, legenda, foto, tudo era pensado e trabalhado com cuidado
para que não fugisse do nosso escopo programado. Ganhei uma assistente e
trabalhava diretamente com a equipe de marketing da empresa. Antes, era
uma empresa que cuidava disso, depois, foi necessário assumir o controle,
assim não acontecia influência externa.
Vince conseguiu base para processar Jonatas Calahan e a sua esposa,
por calúnia, difamação, perseguição pública e entre outras coisas. No fundo,
sabíamos que a culpa era do pai dele, que mal falava conosco, mas tudo que o
Vince queria era afastar o interesse dos Calahan em nós e quem sabe, criar
um álibi público de tamanha rivalidade.
— Aqui está, papai. — Coloquei uma xícara de café fresquinho na sua
frente. Eu amava que os meus pais estavam sempre aparecendo.
— Obrigado, minha princesa. — Ele me deu um sorriso. Mamãe e a
Bella estavam na minha cozinha fazendo um bolo. Jasmine e a Snow estavam
no quarto, no segundo andar. Abby estava brincando com o pai e o Tio Jake
no quintal. Era um sábado de sol, fizemos um churrasco para o almoço e
aproveitamos o dia em família.
Com a Bella morando perto, a mamãe estava o tempo todo indo e
vindo. Meu pai e o Vince se tornaram sócios em uma nova empresa
imobiliária, eu também era uma das sócias, mas todo o meu rendimento era
depositado em uma conta para os estudos das minhas irmãs.
— Ouvi dizer que o seu sogro está ganhando nas pesquisas. — Bella se
debruçou no balcão quando voltei e me sentei ao seu lado.
— Ao que parece, sim. — Sorri, mas eu não tinha certeza se ele
ganharia.
— Nora do futuro presidente. — Me provocou, mas eu estava enjoada
demais para brincar. — Por favor, faça um teste logo.
— Ainda não estou atrasada. — Reclamei. — Pode ser coisa da minha
cabeça.
— Pode não ser. — Mamãe colocou um copo de água na minha frente.
— Nós não começamos a tentar direito. Eu só parei de tomar as pílulas
no meu último ciclo e namoramos bastante no período fértil, mas a minha
médica disse que poderia demorar.
— Isso não quer dizer nada, Aurora. — Mamãe riu. — Eu engravidei
da Snow tomando pílulas, não se esqueça disso.
— Jake e eu pensamos em começar a tentar no final do ano. Iríamos
tentar nesse último ano, mas ele recebeu a promoção e teve toda a coisa da
mudança, eu não queria engravidar no meio de tanta confusão. Nossos filhos
terão idades próximas e serão melhores amigos. — Ela sorriu e não resisti,
abraçando-a. Bella era a minha melhor amiga.
— Mamãe! — Abby empurrou a porta da cozinha. — Tô com sede. Me
dá suco, por favor.
— Minha menininha educada. — Lhe entreguei o seu copo com suco
de laranja fresco. Ela pegou, bebeu quase tudo e me devolveu com um sorriso
de gratidão.
— Te amo, mamãe. — Falou e saiu correndo de volta para o quintal.
Aquilo era muito melhor que qualquer obrigada.
Dois minutos depois, o Vince entrou em casa com o seu telefone e
sinalizou para o acompanhar. Deixei as meninas na cozinha e o segui para o
escritório, ele fechou a porta e eu pensei que fosse algo realmente sério, mas
apenas me pegou bruscamente e me deu um beijo de me deixar tonta de
tesão.
— Uau. O que foi isso? — Suspirei.
— Saudades. — Sorriu e me deu mais um selinho. — Recebi um
telefonema da Sienna. Ela conseguiu uma entrevista em um talk-show.
Vamos falar sobre a nossa iniciativa em financiar bolsas de estudos e como
os estudantes podem se inscrever.
— Televisão ao vivo?
— Assustador, mas você vai se sair bem. A ideia foi sua e merece todo
destaque por isso. Não vou deixar ninguém tirar o seu brilho. — Beijou a
pontinha do meu nariz.
— Isso é grande, Vince. Vamos atrelar à campanha?
— Sim, nós vamos, mas ainda não foi decidido o futuro dela. Novas
questões importantes surgiram e está sendo deliberado.
— Seu pai está participando dessa decisão? — Arqueei a sobrancelha.
— Não do jeito que ele pensa. Suas atitudes em conjunto com Jackson
Bernard deixaram alguns dos associados bem nervosos. Coisas aconteceram
no passado e eles não querem que o problema aconteça novamente. —
Colocou o meu cabelo atrás da orelha. — Já disse que você está linda hoje?
— Não. Por favor, diga.
— Você está linda hoje. — Me deu um beijo doce.
— Eu te amo, Vincent Vaughn.
— Te amo, minha rainha.
— Tem certeza de que não quer que eu fique aqui? — Sentei-me na
pontinha da mesa do Vince. — Eu posso participar da reunião e manter o
meu rosto de princesa.
— Não quero que fique perto dele. — Vince murmurou. Nicola abriu a
porta da sala. — E aí, ele está vindo?
— Sim. Enzo e Dominic devem chegar em dez minutos. — Ajeitou o
seu relógio. — Sra. Vaughn, irá participar da reunião?
— Não, mas eu queria. — Reclamei. Vince sorriu.
— Cheguei! — Sienna dançou para dentro da sala e trombou no Nicola.
Foi a primeira vez que o vi sorrir. — Podemos ouvir a reunião da sala ao
lado.
— Essa ideia eu gostei ainda mais. — Fiquei de pé. Vince costumava
resumir tudo e eu queria ouvir o que o Jackson tinha a dizer nos mínimos
detalhes. — Até daqui a pouco. — Sorri para o meu marido e acompanhei a
Sienna para a sala ao lado.
Liguei o sistema de imagem e som, fechando as persianas para ocultar a
nossa presença ali e peguei os fones de ouvido. Joanne encaminhou Enzo
Rafaelli e Dominic King, dois dos principais investidores da campanha. Não
era a primeira vez deles financiando candidatos, era uma prática de muitos
anos. Uma conversa amigável foi feita enquanto aguardavam a chegada do
Jackson Bernard. Tudo que eu sabia era que ele queria voltar a gerenciar a
campanha pelos bastidores.
Vince não gostava da maneira que ele agia, na minha opinião, o
Jackson fazia o que era pago para fazer. Se você pagasse para que ele
convencesse uma multidão a se jogar de uma ponte, ele faria isso. Não era
certo, mas o que era realmente certo nesse meio?
Jackson chegou sozinho. Ele nunca andava acompanhado. Entrou na
sala, cumprimentou a todos e uma série de coisas foram faladas. Coisas que
eu não sabia, fiquei um pouco assustada com a ferocidade que o Nicola
lidava com a reunião. Jackson estavam fora da campanha, não dos demais
negócios, por algum motivo, ele não estava bem em ser jogado de fora.
— Vocês sabem que os meus interesses na campanha são tantos quanto
vocês. A maioria dos serviços foram executados pela minha agência.
— Nossa agência. — Enzo corrigiu rapidamente. — Você não é o
único gerindo aquele lugar.
— Além do mais, a família Vaughn paga por esses serviços.
Lembrando, que a parceria com os Vaughn é diretamente com a família e
não com a agência. — Nicola falou calmamente. — Entendemos que queira
voltar para a campanha, seus serviços são sempre úteis e bem executados,
mas precisa entender que não vamos tolerar que a explosão do passado se
repita.
— Eu não sou o Bryant.
— Pare de agir como um fodido maluco como ele. — Dominic bufou.
— Você disse que tinha informações que poderiam prejudicar a campanha.
O que é?
Jackson abriu um notebook e virou a tela.
— Recentemente, recebi 3 vídeos interessantes. Ligia Vaughn
cheirando cocaína em uma festa dentro dos dormitórios do campus de
Georgetown, Cleo Vaughn em um vídeo de sexo com um homem e uma
garota, as duas são menores de idade e por último, Lindsey Vaughn, antes de
ser uma Vaughn, mas ninguém vai se importar, roubando roupas em uma
loja de luxo. — Falou pausadamente.
— É isso? — Vince ficou ereto. — Você quer me chantagear? — Sua
voz mudou. — Acha que eu vou me dobrar com uma chantagem?
— Não é uma chantagem. Estou mostrando que posso eliminar a
ameaça.
Sienna bufou ao meu lado e logo cobriu a boca.
— Se isso vazar, seus esforços serão em vão. Todos vocês investiram
na campanha. Estão seguindo a vingança do Vince em relação a Victória,
estão fechando os olhos para as outras ameaças. — Jackson ainda estava
convicto que o Vince cederia. Ele escolheu a artimanha errada.
— Não é uma vingança, Jackson. — Enzo falou calmo. — Sebastian
precisava lembrar que ele não manda nesse jogo, ele é a imagem pública,
mas é um fantoche. O seu problema é que você não está manuseando as
cordas. — Inclinou-se e abaixou a tampa do notebook. — Eu quero que esses
vídeos desapareçam, não pela campanha, mas porque nós temos um acordo
de não envolver nossas famílias. Esse é o acordo mais importante de todos.
Jackson ergueu as mãos.
— Eu jamais exporia as meninas. Minha intenção foi mostrar que
existem podres debaixo do tapete que poderiam ganhar a luz do dia.
— Não foi o que pareceu. — Vince estava com os punhos fechados e o
Nicola estava posicionado como se precisasse pular para separar uma briga.
— Minha resposta segue sendo não e eu estou representando Callum Lowell
e Christian Price.
Enzo e Dominic ficaram em silêncio, se olharam e voltaram a encarar o
Jackson.
— Nunca mais use qualquer membro das nossas famílias. — Dominic
foi firme. — Você odiaria que o mesmo fosse feito com a sua filha. Eu
odiaria ter que fazer o mesmo, mas não hesitaria se você repetir essa graça.
— Não para a campanha, mas você receberá para eliminar esses
vídeos e resolver todas as questões que os envolvam. — Enzo determinou.
A reunião não levou muito para encerrar. Jackson foi embora sozinho.
— Não sei o que está havendo. — Enzo refletiu. — O Jackson que eu
conheço jamais envolveria a família. Ele não é desses, até porque, a família
dele é o seu calcanhar de aquiles.
— Estou dizendo, ele está ficando maluco e obcecado como o Bryant.
Deixamos que ele controlasse tudo na confiança, esquecendo que ele fica
viciado em adrenalina e poder. — Dominic foi até a cafeteira e encheu uma
caneca. — Essa porra me deixou com dor de cabeça. Se ele quisesse nos
expor dessa maneira, usaria o que aconteceu com a Olivia. Em falar nisso, o
articulador do caso da minha irmã é muito bom. Deveríamos usá-lo.
— Ele é um irlandês. — Enzo bufou.
— Ele é britânico, descendente de irlandês e criado nos Estados
Unidos. Dá um tempo. — Dominic sorriu. Sienna cochichou que a máfia
irlandesa era inimiga da máfia italiana. — Além do mais, ele não é associado
a nada, apenas é um bom articulador e um ótimo caçador. Sempre que
preciso encontrar alguém, ele caça.
Quando todos foram embora, minha cabeça estava explodindo e queria
deitar em posição fetal. Minhas cunhadas tinham vídeos comprometedores e
eu não estava preocupada com um possível escândalo que poderia abalar a
campanha, mas sim com o que esses vídeos poderiam fazer com elas. Esperei
que a Joanne terminasse de falar com o Vince e fui ao banheiro, quando saí,
ele estava sério, com o rosto vermelho e falando no telefone.
— Eu quero vocês três na minha casa hoje. — Vociferou. — Eu não
quero saber, Ligia. — Encerrou a chamada e jogou o telefone na mesa. —
Porra.
— Amor, se acalma. — Me aproximei devagar. — Elas são livres para
fazer o que quiserem, tirando o roubo e as drogas, tenho certeza que foram
momentos com uma explicação, que não vai justificar, mas pode dar uma
compreensão. — Apertei os seus ombros.
— Caralho... — Ele ainda estava furioso. — Porra.
— Vince...
— Puta que pariu...
Ok. Ele queria xingar e deixei. De repente, me abraçou apertado e
escondeu o rosto no meu pescoço. Meu telefone apitou, avisando que era
hora de partir para liberar a Hayley. Decidindo ir embora também, esperei
que arrumasse as suas coisas e peguei a minha bolsa. Saímos de mãos dadas
para a garagem e entramos no carro. Tinha planejado fazer uma parada no
meio do caminho, porque precisava de umas coisas de farmácia. Ainda
irritado, reclamou sobre achar uma vaga e ignorei.
— Se quiser, espera aí.
— Eu vou com você. — Saiu irritadinho e revirei os olhos.
Peguei uma cesta, recolhendo o que precisava, pomadas, lenço
umedecido, um pacote de fralda para piscina e entrei no corredor que eu
realmente precisava: teste de gravidez. Vince parou, olhando bem ao redor e
eu peguei o modelo que indicava semanas. Ele riu, divertido e pegou mais
três do mesmo modelo.
— Só para ter certeza. — Sorriu e jogou na cesta.
Voltamos para casa e da garagem podíamos ouvir os gritos da Abby
com a babá. Elas estavam brincando de pega-pega, a nova brincadeira
favorita da minha menina. Às vezes ela queria brincar disso no meio da
madrugada ou de manhã bem cedo. Assim que virei a esquina da cozinha
para a sala de televisão, ela apareceu correndo, suada, com os cabelos
grudados na testa e um sorriso enorme no rosto.
— Mamãe! Papai! Hayley pega eu! — Gritou e as suas perninhas se
moviam em velocidade. Abaixei, abri os meus braços e ela se jogou em mim.
— Mamãe vai te proteger.
Hayley colocou a mão nas costas e ri. Entendia bem. Rindo, se jogou
no sofá, recuperando o fôlego. A sala estava uma zona, mas eu não me
importava. Aquela bagunça era sinal de vida e alegria na minha casa. Vince
liberou a Hayley e pediu que o Harry a levasse em casa. Agatha estava na
cozinha e avisou que o jantar ficaria pronto em meia hora, então, levantei do
chão com a minha fedidinha.
— Vamos tomar banho para jantar.
— Oi, papai. — Ela sorriu, acenando para o Vince.
— Oi, amor. — Ele nos seguiu escada acima.
Abby estava com muito fogo para se aquietar no banho. Ela cantou,
espalhou espuma, jogou água fora, brinquedos para o alto e amorosa, me
dava beijos e abraços. Em menos de meia hora em casa, minha cabeça estava
zonza de tanto que falava e gritava. Terminei o meu banho sozinha, Vince a
vestiu e como todo dia, atiçou a sua bagunça. Me vesti e esperei que ele
tomasse o seu banho, descemos juntos e compartilhamos o jantar.
Agatha preparou risoto de espinafre e medalhões de filés com batatas
assadas. Estava uma delícia e eu comi com gosto.
— Não vai fazer hoje? — Vince segurou a minha mão antes que eu
bebesse o meu vinho. — Se está desconfiada, não deveria beber nada.
— Não. Sossega. — Dei um gole desafiador. Eu sabia que o vinho não
era prejudicial a não ser que eu me embriagasse. — E é só um pouco.
Terminamos de comer e estávamos lavando a louça quando o Gates
avisou que as minhas cunhadas estavam chegando. Fiquei na cozinha com a
Abby enquanto ele levava as três para o escritório, e eu quase colei o meu
ouvido na porta. Não queria que elas ficassem sem graça com a minha
presença e ao mesmo tempo me preocupei que o Vince pudesse ser severo
demais porque estava muito chateado.
Nunca diria em voz alta, a Cléo ter um vídeo de sexo não me
surpreendia, muito menos a Lindsey roubando algo em uma loja. Eu não
duvidava que fosse para chamar atenção do Vince ou para si mesma porque
ele nunca deixou de dar a ela tudo que podia. Já a Ligia usando drogas me
deixou muito chocada. Ela parecia ser bem centrada, querendo agradar a todo
mundo e basicamente a mais responsável entre as três.
— Minha neneca vai mimir agora, mamãe. — Abby cobriu a sua
boneca.
— Muito bem. Daqui a pouco a bonequinha da mamãe também vai
dormir. — Apertei o seu narizinho.
Ouvi passos no corredor e os quatro apareceram juntos. Ligia estava
com o rosto inchado, olhos vermelhos e as outras duas pareciam apenas
arrependidas. Como tinham que trabalhar no dia seguinte, não ficaram muito
tempo, brincaram com a Abby e se despediram. Abby estava quase
dormindo, deitada em cima de mim e eu amava o nosso momentinho juntas
antes de pegar no sono. Vince e eu sempre revezamos a hora de dormir para
que nós dois pudéssemos curtir enquanto ela é tão pequena.
— Foi tudo bem? — Observei-o servir-se com mais vinho, enchendo a
taça até a boca e entendia que ele precisasse beber um pouco.
— Foi. O vídeo da Lindsey é antigo, da Cleo nem tanto, mas ela não
sabia que estavam filmando e ficou bem chateada, além de muito
envergonhada. — Sentou-se ao meu lado. — Ligia foi no período que ela
estava namorando aquela menina que eu não gostava. Ela disse que
experimentou, mas passou muito mal e ficou com medo. Jurou que nunca
mais fez nada do tipo, tanto que terminou com a menina e está arrasada que
existe um vídeo sobre isso.
— Eu disse que todas elas tinham uma explicação.
— Cleo me mata com esse jeito... Eu tive que ter a conversa sobre
doenças sexualmente transmissíveis e mostrei todas as fotos horríveis que
encontrei na internet. Eu nunca imaginei que veria a minha irmãzinha em
algo como aquilo, quero deletar as imagens da minha mente e só me faz ter
ódio do Jackson por me mostrar. — Virou a taça e bebeu quase toda.
— Eu vou colocar a Abby na cama. — Avisei e subi a escada com ela,
arrumando-a na cama e ao voltar, fechei a grade da escada. Ela sabia subir e
descer segurando nas laterais ou de bundinha, mas eu tinha medo que ela
caísse ao tentar descer com sono. — Você está muito estressado. — Sentei-
me em seu colo. — Precisa se acalmar. Não quero perder o meu marido por
pressão alta.
— Sei de algo que pode me ajudar a melhorar... — Puxou um pouco o
meu decote. — Treinar para aqueles testes darem positivo. — Sorriu torto e o
beijei. Estar com o Vince, mesmo nos momentos mais simples como um fim
de noite em um dia de semana, era especial como qualquer data
comemorativa ou um evento extravagante. Nossa conexão era completa,
olhares, sorrisos, gostos, beijos, toques... tudo entre nós era perfeito e me
fazia muito feliz.
Fizemos amor apaixonadamente na nossa cama. Dormimos abraçados,
mas eu perdi o sono no meio da madrugada. Sem querer rolar na cama e
acabar acordando-o, peguei o meu notebook e fiquei na sala, escrevendo
algumas ideias para o projeto de um livro que eu queria escrever no futuro.
Ainda não me sentia pronta, nem com experiência ou com habilidade para
escrever um livro.
Senti vontade de ir ao banheiro pouco antes de amanhecer e peguei o
teste, minha menstruação estava atrasada por dez dias e eu estava com medo
de ser precipitada ou estar ansiosa demais. Rasguei o pacote, seguindo as
instruções e fiz xixi no potinho, enfiando o bastão, esperando dar o resultado
e terminei de me aliviar.
Eu estava terminando de lavar as mãos quando vi o resultado. Ficou
bem claro antes que finalizasse o tempo. A carinha sorrindo deixou bem claro
que eu estava grávida.
— Ai meu Deus. — Sorri e coloquei a minha mão na barriga.
Vince e eu decidimos ter um bebê antes da Abby completar três
anos, para que a diferença de idade não fosse tão grande e os nossos filhos
pudessem ser amigos. Nos preocupamos com todos os contras, porém,
optamos por focar nos prós e lutar pela segurança da nossa família
diariamente. Ele se recusava a deixar de viver por medo.
— Aurora? — Ele me chamou da cama. — Você está bem?
Apareci na porta do banheiro sem esconder o meu sorriso. Ele
sentou, meio confuso de sono e olhou para minha mão.
— Sim? — Jogou as cobertas para o lado. — Positivo?
— Positivo. Muito positivo.
Vince atravessou o quarto, me segurou pela cintura e me ergueu.
Abracei-o apertado e nos beijamos. Meu marido me olhou de um jeito tão
lindo, emocionado, com um sorriso amoroso que me fez chorar, com o
coração transbordando amor.
— Eu te amo tanto, Aurora. Obrigado por me dar essa família linda.
— Obrigada a você, amor. Por ser um marido tão apaixonado e um pai
tão incrível, eu mal vejo a hora de termos uma família tão grande quanto eu te
amo.
Aurora estava deitada na cama, nua, com um doce sorriso nos lábios e
os olhos fechados enquanto eu beijava a sua barriga.
Acordei preocupado que ela estivesse sentindo-se mal, porque não
estava na cama e sim no banheiro, fungando. Na verdade, ela estava chorando
de felicidade porque o teste deu positivo. Nós conversamos sobre termos
mais um bebê agora ou esperar mais um ano, porém, decidimos que seria
bom para nossa família ter um bebê neste momento.
Ela foi ao médico, deixou de tomar a pílula e namoramos muito nas
noites em que estava em seu período fértil. A sua médica disse que nós
poderíamos ser abençoados logo ou não. Eu não fazia ideia de quanto tempo
poderia levar para engravidar, éramos jovens, saudáveis, mas eu conhecia
casais que tentaram por muitos anos. Abby foi uma surpresa. Victória e eu
não queríamos filhos naquela época, nosso casamento estava uma merda.
— Temos que agendar uma consulta.
— Sr. Ansiedade... eu vou agendar. Tem duas horas que eu descobri
que estou grávida. — Ela sorriu e abriu os olhos. — Acalme-se.
— Vamos contar para nossa família?
— Depois da consulta, mas não quero que vá a público logo.
— Não. Só quando não puder esconder a barriga. — Dei mais um beijo
na sua barriga totalmente plana.
— Vamos descer? Estou com fome.
— Vai sair para correr? — Meu tom de voz saiu bem preocupado.
— Não, bobo. Vou fazer alguns exercícios aqui em casa mesmo e
talvez mais tarde, farei uma caminhada. Hoje tem natação com a Abby e é
exercício o suficiente para um dia. Ela me deixa exausta. — Suspirou, e me
inclinei, beijando os seus lábios.
Com preguiça, saímos da cama, eu decidi trabalhar de casa apenas
porque estava feliz demais para sair. Eu queria passar o dia com a minha
mulher e filha, comemorando o nosso bebê e não fodendo a minha paciência
com problemas que poderiam esperar mais um dia. Tudo poderia esperar
quando se tratava da minha família. Acordamos a Abby e ela abriu os olhos,
sonolenta, mas com um lindo sorriso.
— Bom dia, meu amor. — Aurora beijou a sua bochecha gordinha.
— Bom dia, mamãe. — Ela bocejou.
— Oi, princesa. Bom dia. — Beijei o seu cabelinho loirinho.
— Bom dia, papai amor. — Abby coçou os olhos de maneira adorável.
O chamego matinal e da hora de dormir eram os momentos favoritos da
Aurora. Durante o dia, a Abby não era muito fofinha, a garota estava
mostrando que tinha uma personalidade única, uma agitação sem fim e
bagunceira toda vida. Ela amava brincar de pega-pega, de pique-esconde, ou
corria aleatoriamente tirando tudo do lugar.
Quando a Agatha entrou na cozinha, eu estava fazendo ovos mexidos, a
Aurora cortando os avocados e a Abby só dava para ver os pés de tão enfiada
dentro do armário. Ela estava mexendo em todas as vasilhas, soltando as
tampas e mostrando como se fosse uma novidade.
— Você está fazendo bagunça na minha cozinha, Abby? — Agatha
pegou um pote da mão dela. — Vai guardar tudo no lugar certo?
— Vou sim. — Abby garantiu. — Papai vai.
Virei o meu rosto.
— Eu não estou fazendo bagunça e terei que guardar tudo? — Virei os
ovos no prato grande. Aurora estava rindo. — Isso é coisa da sua mãe, não é?
— Papai tem que ajudar. — Abby repetiu o que a Aurora vivia falando.
Nós rimos e peguei o projeto de pessoa abusada, colocando na sua cadeira.
Aurora arrumou o seu prato com panquecas, frutas, um copo de vitamina com
banana, minha filha esticou a mão, pegou um pedaço de bacon e enfiou na
boca.
— Do que adianta planejar uma alimentação saudável e a sua filha
enfiar um pedaço de bacon na boca por conta própria? — Aurora suspirou.
— Ela sabe o que é bom.
Após o café da manhã, fiquei no quintal com a Abby enquanto a Aurora
enrolava mais do que se exercitava. Pulamos na piscina para brincar um
pouco e eu comecei a trabalhar, colhendo os reflexos da reunião do dia
anterior. Só de lembrar, a minha cabeça explodia, mas eu estava certo de que
conseguiria proteger as minhas irmãs e ao mesmo tempo, manter os meus
interesses em financiar toda a campanha intactos.
Tive longas reuniões por telefone e outras em chamadas de vídeo.
Minha relação com o meu pai estava muito estremecida. Eu não confiava
mais nele e estava muito puto que não teve um pingo de consideração como
pai. Se ele queria me manipular como fazia com os parceiros de negócios, eu
faria o mesmo.
Quando a Abby era menor, era fácil trabalhar em casa, porque ela
costumava ficar quieta. Ela e a Aurora estavam fazendo uma bagunça
barulhenta e eu não tive coragem de chamar atenção, porque pareciam se
divertir. A alegria da minha casa me fazia sentir o homem mais feliz, e não
mais perdido, com o sentimento de estar falhando com a minha filha e
comigo mesmo.
Aurora conseguiu guardar segredo da sua gestação por um mês.
Fomos ao médico, fizemos exames, ouvimos o coração do bebê e vimos o seu
tamanho. Com dez semanas, ela não conseguia mais esconder o quanto estava
sensível e muito enjoada. As manhãs eram ruins, mas as noites eram piores,
ela ficava deitada, respirando fundo, tentando acalmar a náusea e a azia.
Sempre tão ativa, ficou bem óbvio que a indisposição era um bebê. Agatha
percebeu e logo se tornou guardiã da Aurora.
Em uma tarde em casa, Abby estava deitada com a cabeça na minha
coxa assistindo um filme, eu estava lendo em meu tablet e Aurora recebeu
uma ligação em vídeo da sua mãe. Jackie surgiu com os olhos marejados.
— Aurora! Você não vai acreditar! — Ela estava emocionada. —
Jasmine foi selecionada para um solo no concerto de verão. Ela vai tocar uma
peça inteira sozinha!
— Ai meu Deus! — Aurora começou a chorar e eu comecei a rir.
— Ah, querida. — Jackie imediatamente percebeu. — Você está
grávida?
Aurora soluçou e balançou a cabeça. Eu não conseguia conter a
risada, suas oscilações de humor estavam me enlouquecendo. Puta com a
minha risada, me bateu e secou o rosto.
— Estou com dez semanas, mamãe. Estamos tão felizes. — Ela
explodiu um sorriso lindo, que me fazia sentir ainda mais paixão.
— Ah, meu amor. Não sabe o quanto gostaria de te abraçar agora. —
Jackie chorou junto com a Aurora. Jasmine apareceu com o rosto vermelho,
Snow estava emocionada, mas não chorando. Marcus surgiu ao fundo,
confuso. — Aurora está grávida.
Todos eles comemoraram, e o que me deixou mais feliz foi
mencionar que seriam avós e tias novamente. Para a Aurora a gravidez seria
uma nova experiência, mas ela já era mãe de corpo, alma e coração. Nessa
comoção, adicionaram a Bella na ligação e fizemos um brinde à distância
para comemorar o novo bebê. Não contei aos meus pais e irmãs, não queria
que a informação vazasse. Meus pais poderiam jogar na mídia para fazer
publicidade e as minhas irmãs apenas porque poderiam deixar escapar com os
seus amigos.
As irmãs mais novas da Aurora tinham todos os passos na internet
bem controlados. Meus sogros olhavam tudo o que postavam e eram muito
bem orientadas, ainda mais depois que passaram a ganhar mais seguidores.
Bella mantinha as suas redes sociais privadas, devido ao trabalho do Jake,
eles optavam em não se expor além do necessário. Aurora estava controlando
absolutamente tudo sobre a nossa imagem e pela primeira vez em anos estava
finalmente tranquilo sobre isso.
Meu telefone tocou com uma mensagem, havia uma simples
mensagem e eu sabia que precisaria ter uma conversa com o meu pai. Ele não
gostaria nada do que foi resolvido, mas foi a melhor decisão. Com isso,
Sienna enviou uma aprovação. Na mídia, Aurora e eu estávamos em alta.
Nossas postagens nas redes sociais estavam com um engajamento realmente
alto e as aparições em programas de televisão com uma boa recepção.
— Terei que ir à D.C me reunir com os meus pais. Quer ir junto e
ficar na sua mãe? Tenho certeza de que ela vai querer te paparicar. —
Brinquei com o meu telefone.
— Claro que sim. — Aurora sorriu. — Jake vai viajar, ele tem que ir
à Tóquio e eu acho que a Bella talvez queira ir conosco.
— Eu vou organizar os detalhes da ida e você combina com a sua
irmã. Não vamos passar de dois dias, mas, vai ter bastante tempo para ficar
com a sua família. — Dei-lhe um beijo na bochecha e me levantei. Abby
reclamou, porque estava bem acomodada e se arrastou para o colo da mãe.
Ela só estava quieta porque estava com sono.
No meu escritório, informei ao meu pai a necessidade de uma
reunião para discutir os próximos passos da campanha e ele ficou meio puto,
irritado que a notícia partiria de mim. Era a minha última lição. Eu não ficaria
em pé de guerra com o meu pai, mas aprendi a necessidade de manter os
meus planos em primeiro lugar. Tive uma reunião de vídeo com Christopher
Eros, sobre a construção de um hotel e a reforma da sua residência principal
em Nova Jérsei.
Ao receber os detalhes do voo, enviei por mensagem para Aurora, e
ela apareceu na porta do escritório, sorrindo.
— Você me enviou uma mensagem? — Passeou para dentro e
sentou-se no meu colo. Coloquei a minha mão na sua barriga e lhe dei um
beijo na bochecha.
— Não quis falar muito alto para não acordar a Abby.
— Ela dormiu assistindo o filme, dei pausa para não perder ou ela
ficaria chateada. Já encaminhei a mensagem para a Bella e vou arrumar as
nossas coisas. Não vou levar muito. — Seu olhar desceu para a minha boca e
lhe dei um beijo. — Sua esposa grávida solicita a sua presença na nossa cama
em alguns minutos. Ainda dá tempo de agendar esse horário? — Falou
baixinho contra os meus lábios, me dando uma mordidinha no lábio inferior
que me deixou todo arrepiado.
— Sim... você tem prioridade na minha agenda.
Segurando a minha mão, me puxou até o nosso quarto, encostou um
pouco a porta e tirei a minha blusa, observando-a sair do curtinho vestidinho
azul. Aurora ainda não tinha uma barriga, ela estava com o rosto levemente
mais inchado e os seios maiores. As evidências no seu corpo de uma gravidez
eram poucas, mas nós dois sabíamos e era o suficiente.
Deixei a minha mulher satisfeita na cama, tirando um cochilo pós-
sexo e para adiantar, comecei a arrumar as coisas da Abby. Fiz tudo com
calma porque eu não queria que ela acordasse antes do tempo. Assim que
fechei a sua mala, Aurora acordou, enjoada e ficou sentada tentando se
acalmar. Ela tentou me ajudar arrumando as coisas, dizendo o que pegar
enquanto permanecia repousando, dei-lhe um chá e só piorou.
Quando a Abby acordou, dei o seu lanche, um banho e a deixei
pronta para sairmos. Ela ficou no meio da cama, olhando para a televisão,
quieta, e saímos em seguida. Paramos para buscar a Bella com uma pequena
bagagem de mão e seguimos para o aeroporto de Hampton, onde a minha
aeronave estava aguardando.
— Coitadinha de você. — Bella sorriu para a Aurora nauseada na
poltrona. — É muito ruim?
— Tem horas que sim, acho que depende do que como, almoçar
aquela carne de hambúrguer com cebola caramelizada não ajudou
absolutamente em nada na azia. — Suspirou e fechou os olhos. Abby estava
no seu lugar, passando um livro de gravuras, Aurora sonhava que ela se
tornasse uma menininha que gostasse de ler.
As irmãs passaram o voo inteiro conversando e eu trabalhando. Enzo
me enviou uma mensagem, ele estava fora de Nova Iorque, mas não deixava
de controlar tudo. Ele adorava uma boa confusão familiar como uma velha
fofoqueira. Estava ansioso para saber a reação do meu pai ao saber da notícia
que lhe daria. Eu estava ansioso.
Pousamos próximo a Baltimore e levamos vinte minutos de carro até
a casa dos pais da Aurora. Jackie estava no quintal, aguardando e fez a sua
usual festa de boas-vindas. Abby amava os seus avós porque era tão mimada
quanto os meus pais a mimavam. Fui bem recebido, como se eu fosse um dos
filhos e não só um genro. Nós entramos e guardei as malas no quarto. Aurora
ficou com a mãe e as irmãs na cozinha, eu segui o meu sogro até o seu
escritório.
— Parabéns. — Marcus me deu um abraço. — Eu fiquei explodindo
em cada gestação da Jackie. A primeira não foi planejada, mas já estávamos
casados por um ano. Jackie estava no seu último ano da universidade e ela
enfrentou o restante dos seus estudos e o trabalho com a Bella pequena.
Quando conseguiu um emprego, nós decidimos ter mais um e veio a Aurora.
— Serviu uma dose de uísque. — Ter duas menininhas em casa foi uma
loucura no começo.
— Com a Abby já é uma loucura. — Sorri e aceitei o copo.
— Sempre quisemos ter três filhos e secretamente, queria tentar um
menino. Tivemos a Jasmine. Três estava ótimo, minha preocupação era
separar quinhentos mil para cada filha ir à universidade. — Rimos juntos. —
Então, veio a Snow. — Demos um brinde. — E bem...
— Não há como definir.
Continuamos rindo e logo fomos chamados para jantar. Aurora
estava com fome, então, ela atacou a comida mesmo que eu a tenha lembrado
que comer demais e muito rápido não ajudava em nada a sua náusea. Todo
mundo riu do olhar bravo que me deu. Foi bem no estilo “não se mete”. Era
difícil não me meter quando ficava a noite toda acordado com ela passando
mal.
— Desculpa ser tão teimosa. — Fez um ligeiro beicinho pela manhã.
— Sorte a sua ser linda. — Dei-lhe um beijo. — Continue dormindo.
— Vai me ligar logo que a reunião terminar?
— Eu vou estar em casa logo que terminar. — Ajeitei a minha
gravata.
Marcus queria me acompanhar e não discuti, normalmente ele
conseguia ser a voz da razão. Fomos conduzidos pelo Harry, que ao contrário
do Gates, era mais falador. Minha mãe me recebeu com um abraço carinhoso
e um beijo na bochecha. Ela foi simpática com o Marcus, e, como iria
participar da reunião, logo seguimos para o escritório onde o meu pai mal se
deu o trabalho de sair. Ele agia assim quando queria mostrar o seu desagrado.
— Olá, pai. — Deixei a minha pasta em um canto. — Como está?
— Vamos direto ao ponto, estou sem dormir de tamanho mistério.
— Ele estava agitado. Deu um aperto de mão no Marcus e nos sentamos. —
O que foi decidido?
— Jackson Bernard está fora e não há nada que possam fazer em
relação a isso. Um novo articulador entrará na campanha e esse não será
conhecido publicamente. — Abri um botão do meu terno e cruzei as pernas.
— Você não vai ganhar essa eleição.
Meus pais me encararam ao mesmo tempo.
— O que você quer dizer? — Minha mãe perguntou meio
gaguejando. Meu pai estava lívido.
— Quero dizer que vocês seguirão o trabalho no senado, irão chegar
em segundo lugar nessa eleição. Porém, nós conseguimos entrar na campanha
do seu oponente e ele vai ganhar no estado com maior número de delegados.
A popularidade da família continuará em alta mesmo após o escândalo que
acontecerá nos próximos dias.
— Escândalo? Você votou para que eu não ganhasse? Como pôde
me trair dessa maneira? Esperava mais de você, Vincent. Primeiro escolheu
se afastar e depois me passou a perna. Eu sou o seu pai! — Bateu com o
punho na mesa.
— Não te passei a perna, estou fazendo o melhor para todos nós,
inclusive, discutimos a necessidade de aumentar as nossas conexões dentro
do congresso. Enquanto outro como você não é levantado, precisará
continuar e os seus dias fazendo escolhas perigosas como pagar a Victória
para se casar comigo, terminaram. — Ajeitei a minha gravata, minha mãe
virou para o meu pai, que crispou os lábios. — É, eu sei. Inicialmente isso me
deu muita raiva, com o passar das semanas, todos concordaram que você se
tornou perigoso com poder demais. Tentar me manipular, pagar o Jackson
Bernard para sequestrar a Victória quando sentiu medo que eu descobrisse,
fazer com que ele desviasse dinheiro da campanha para que você fizesse
contatos fora do combinado. Você teve noção do quão perigoso isso se
tornou? Acha que um homem como Enzo Rafaelli aceita ser passado para
trás?
— Sebastian, o que você fez? — Minha mãe ficou de pé e foi para
janela.
— Eu não ia nos colocar em problemas, só achei por bem agir
quando achei necessário. E quanto a Victória...
— Não tem desculpas. Aceite a minha intervenção como preservar a
campanha e nos manter a salvo das suas atitudes sem supervisão.
— Você pagou a Victória? — Minha mãe ainda estava parada nisso.
— Você pagou uma mulher para conhecer o Vince?
— Não só para conhecer, como para me fazer apaixonar e casar. Ela
tinha um papel a seguir e falhou. Não aguentou e foi embora. — Expliquei e
o meu pai ficou mudo.
— Você não vai me dizer nada? — Minha mãe pegou um vaso e
arremessou. Marcus e eu abaixamos. — Você teve coragem de pagar uma
completa estranha para entrar na vida do nosso filho?
Não contava que a minha mãe não soubesse ou que ficaria tão
histérica. Ela arremessou mais algumas coisas antes que eu a segurasse.
Marcus deu a ela um copo de água para se acalmar. A discussão entre os dois
não parou mais. Eu tinha mais o que fazer, do que assistir meus pais brigando
e aí, peguei a minha pasta e saí com o meu sogro. A maior parte do que eu
tinha para falar já tinha falado e estava me sentindo vingado.
Aurora me mandou uma foto, estava fazendo uma caminhada com a
Abby no carrinho, junto com a Bella e a Jasmine. Mostrei ao Marcus e ele
riu, dizendo que a Snow não dava dois passos sem reclamar.
Meu telefone vibrou.
— Caramba, cara. Eu acabei de sair...
— Nicola foi morto. — Enzo me cortou. — Estou saindo de casa,
estarei em D.C o mais rápido possível.
— Porra. Estou indo para lá agora.
— Não. Você vai para casa com a sua mulher, fiquem em
segurança, tem algo grave acontecendo e até descobrir, todos devem ficar
em segurança.
Encerrei a chamada e liguei para o Gates. Aurora precisava voltar
para casa imediatamente. A ligação para ele chamou até cair, em seguida,
liguei para ela. Nada. Liguei para Bella e não fui atendido. Entrei no carro e
gritei para o Harry dirigir o mais rápido possível para Baltimore.
O telefone do Marcus tocou.
— O que está acontecendo, Jackie? — Ele colocou no viva-voz.
— Eles a levaram, Marcus! Levaram a Aurora! Deixaram a Abby e
a Bella no parque, e a levaram, meu Deus, levaram a minha filha! — Jackie
estava gritando.
Meu coração explodiu em uma dor tão forte que eu não conseguia
respirar.
Levaram a minha mulher.
Amanhecer na casa dos meus pais tinha um gostinho diferente. Ainda
mais quando a minha menininha me acordava aos beijos, dizendo que me
amava e queria o seu café da manhã. Enquanto a minha mãe ainda estava
preparando tudo, fui ordenada a ficar na cama e só aproveitei o meu chamego
matinal favorito. Tirei uma foto nossa, descabeladas e felizes.
Descemos para comer. Snow e a Jasmine estavam na escola. Bella e eu
comemos com a mamãe, conversamos e decidimos sair com a Abby para
aproveitar o sol no parque. Avisei ao Gates, mandei uma mensagem ao Vince
e trocamos de roupa. O caminho era longo, Abby cansaria se fosse andando e
montei o seu carrinho.
Aproveitar o sol e a tranquilidade da vizinhança foi gostoso. Abby
correu na grama, pegou flores, filmei e fotografei os seus momentos de
gracinha. Sorridente, chamava atenção de todo mundo com o seu carisma. A
ausência do enjoo me deixou feliz e disposta, caminhar me deu energia e
fome, então, Bella e eu decidimos voltar para casa.
— Tem uma barraquinha de sorvete ali. — Bella apontou. — Quer
uma casquinha?
— Hum, sim. Abby adora sorvete de morango. — Me abaixei na
frente da Abby e ajeitei o seu bonezinho, passei um pouco mais de protetor
solar nas suas bochechas, e ela sorriu. Beijei a pontinha do seu narizinho. —
Tia Bella foi comprar sorvete.
Gates estava alguns metros distante, fazendo a segurança e nos
dando privacidade. Virei para falar com ele quando vi uma mulher sair
correndo. Gates caiu no chão, segurando a barriga e então, me dei conta que
mais um disparo foi feito. Arranquei a Abby do carrinho e corri. Bella deixou
cair os sorvetes e me abraçou ao perceber que fomos encurraladas.
Quatro pessoas encapuzadas estavam com armas apontadas para nós.
— Para frente, andem. — Uma voz feminina comandou. Eu não
permitiria que a Abby ficasse em qualquer situação de risco.
— Eu vou fazer o que vocês quiserem se deixarem a minha filha e a
minha irmã aqui. — Falei com calma e passei a Abby para a Bella. — Darei o
dinheiro que quiserem.
De repente, um deles me puxou e cobriu o meu rosto, me arrastando
pela grama. Eu não conseguia ver a Bella, mas podia ouvi-la gritar e a Abby
chorar histericamente. Minha boca estava firmemente pressionada e fui
jogada em um chão frio, uma porta bateu, meus braços foram amarrados para
trás e os meus tornozelos unidos. Logo senti o carro em alta velocidade.
Tentei me segurar, mas só escorregava, batendo nos cantos conforme faziam
curvas acentuadas.
Algum tempo depois, o carro parou, a porta foi aberta e eu fui
puxada e jogada contra um ombro. Senti vontade de vomitar, mas segurei a
bile, respirando fundo, mantendo os meus olhos abertos para tentar enxergar
o máximo pelas tiras do pano cinza escuro que cobria todo o meu rosto.
Me jogaram em um acolchoado que fez um barulho de mola
rangendo e uma grade sendo arrastada, fechada. De repente, puxaram o capuz
do meu rosto, o lugar estava escuro, com cheiro de umidade e eu não
consegui ver quem tirou o meu capuz porque sumiu na escuridão. Estava em
uma cela pequena, havia um sanitário de metal, uma pia pequena, uma cesta
com biscoitos, frutas e muitas garrafas de água.
A cama era pequena, de solteiro, mas estava com um travesseiro e
um lençol limpos que aparentavam ser novos. Me encolhi no canto, com
medo e sem saber o que pensar. O que eles exigiram de resgate? Quanto? Eu
estava sem nada. Sem telefone celular e dinheiro. Minha bolsa estava no
fundo do carrinho da Abby. Sem joias, porque estava inchando e tirei as
minhas alianças, dormi sem brincos e não coloquei de volta de manhã.
O que eles poderiam querer?
Sequestro por dinheiro era uma atitude muito arriscada. Sequestrar
uma pessoa tão conhecida quanto eu poderia significar que não havia a
intenção de um resgate, apenas uma vingança. Encostei na parede ao
constatar que nunca mais sentiria o cheirinho da minha filha, ouviria a sua
risada doce ou ganharia o seu olhar de amor. Eu não disse que amava o meu
marido o suficiente... e o bebê em meu ventre? Ah, o meu coração estava
esmigalhado.
A agonia estava me enchendo de pavor. Por muito tempo, fiquei
sozinha no escuro. Não sabia se estava sendo observada ou não, em
determinado momento, cedi a fome e a sede, soltando o lacre de uma garrafa
de água e comendo duas bananas. Encolhida no canto da parede, minhas
pernas estavam rígidas até que ouvi um barulho suave de passos. Da
escuridão, surgiu uma mulher que eu não conhecia pessoalmente, mas sabia
bem quem era.
— Por que você está fazendo isso? O que você quer? — Me
levantei, na defensiva.
— Olá, Aurora. — Victória apareceu completamente.
— Olá? Vai se foder. O que você quer?
Victória arqueou a sobrancelha.
— Uau. A patricinha tem garras. — Sorriu torto e me olhou com
cuidado. — De você, não quero nada. Na verdade, o Vince vai precisar
entregar o que os outros querem e o que eu quero em troca.
— Isso não respondeu a minha pergunta. Se entendeu bem...
Ela sorriu.
— Quero o Jason de volta. Eu estava muito bem na minha até que
vocês me pegaram e em seguida, desapareceram com o meu namorado.
— Não temos nada a ver com o desaparecimento do seu namorado,
meu marido prometeu ajudar a encontrá-lo e ele estava cumprindo a
promessa mesmo sem te dever nada. — Me aproximei da grade. — Você foi
a única a se aproximar dele por dinheiro e ainda abandonou a sua filha com
um mês de vida.
Victória se afastou sem falar nada. Aquilo era um problema e me
deixou ainda mais aflita, porque eu sabia que o Vince não tinha nada a ver
com o desaparecimento do Jason. Não tinha certeza sobre o pai dele ou se o
Jackson Bernard fez alguma coisa fora do combinado, em todo caso, como o
Vince ia encontrar o homem para me resgatar? Eles não queriam dinheiro.
Nervosa, minhas mãos estavam suadas, prendi o meu cabelo no alto
e andei de um lado ao outro até cansar. Voltei para o cantinho, minha cabeça
estava doendo e tentei me manter calma para a minha pressão arterial não
subir. Voltei a ouvir sons de passos e a Victória voltou com uma cesta de
coisas.
— Não tente nenhuma gracinha. — Avisou severamente. Ela abriu a
grade e colocou a nova cesta com comida, pegou a antiga e fechou a grade
novamente.
— Por que você acha que foi o Vince que pegou o Jason?
— Não se faça de inocente, você sabe como a família dele é.
— Ainda assim, aceitou fazer parte dela? — Apoiei as minhas mãos
na grade.
Victória soltou a cesta no chão e se aproximou.
— Olha só, eu não vou aceitar julgamentos de uma patricinha como
você. Cresceu tendo tudo na vida, não sabe nada do lado do mundo onde as
pessoas precisam fazer qualquer coisa por dinheiro. — Apontou, irritada.
— É difícil não te julgar. Não dá para entender as suas ações e pelo
visto, são bem dúbias. Eu não fiz nada contra você, pelo contrário, sempre
tentei te entender. O próprio Vincent escolheu te esquecer, seguir em frente e
como bem sabe, ele tinha muitas oportunidades de foder com a sua vida.
Victória ofegou.
— Você não sabe nada sobre o meu casamento com o Vince.
— Acho que nem você sabia o que estava fazendo. — Dei de
ombros e voltei para o meu lugar, me sentando. — Por que enviar o cartão
postal?
— Não fui eu, foram eles. Queriam brincar com você.
Victória saiu sem falar mais nada. Minha bexiga estava me matando
e se estivesse sendo observada ou não, não tinha opção a não ser me
equilibrar e praticar malabarismo ao usar o sanitário. Ficar sem relógio e sem
ter noção do tempo era enlouquecedor. Eles deram um prazo para o Vince?
Estava com medo de comer qualquer coisa, felizmente, havia frutas e água
dentre as opções. Eles queriam me manter bem e isso podia significar que
planejavam ficar comigo por um longo tempo.
Talvez quisessem brincar com o Vince.
Puxei o travesseiro e me enrolei na colcha, cochilando sentada, para
não relaxar. Eu queria estar atenta a tudo, mas em dado momento, o cansaço
venceu. Fiquei dormindo e acordando até ouvi-la novamente. Estava com
frio, minha roupa de ginástica não era nada além uma calça leggin, tênis, uma
camiseta fina e um top por baixo.
Victória se aproximou com um homem grande de aparência
assustadora.
— Você precisa vir comigo. Fique de pé contra a grade e coloque as
suas mãos para trás. — Comandou e eu obedeci porque não queria ser
machucada. Eu tinha que pensar no meu bebê e não faria nenhuma besteira
que me colocasse em risco.
Ele amarrou as minhas mãos com braçadeiras e estava muito
apertado. Ele foi andando na frente e a Victória atrás de mim. Eu sabia que
havia outras pessoas na sala que fui levada, mas não conseguia vê-las.
Haviam duas cadeiras em frente a uma câmera com uma luz forte.
— O que vocês estão fazendo? — Ouvi a Victória chiar, não
consegui vê-la e dei um passo para trás ao ver o que seria colocado em mim.
— Me solta! Não!
— Cala a boca. — Uma voz masculina ordenou.
O homem colocou o colete com uma bomba em mim. Eu não tinha
certeza se era real ou não, só comecei a chorar e tremer. E se fosse real? Se
dependesse do Vince para que ela não fosse acionada? Eles queriam acabar
com o psicológico do meu marido através de imagens, estavam conseguindo
foder com o meu em poucos segundos. Tudo que me mantive calma evaporou
com o tique-tac do pequeno relógio no meu peito, acoplado a um monte de
explosivos.
Na outra ponta da luz, Victória foi empurrada usando o mesmo tipo
de colete explosivo que eu. Seu rosto espelhava o tamanho do pavor que
sentia. Fomos ordenadas a sentar de costas para a outra, de lado para a luz, eu
podia sentir as suas mãos tremendo contra as minhas. Nossos dedos se
tocaram, ela estava suada e gelada.
As lágrimas escorriam do meu rosto sem esforço e quando o colete
vibrou, quase entrei em colapso. Tentei controlar os soluços, não mostrar o
quanto eles estavam me assustando, falhei miseravelmente. Depois de
algumas fotos e vídeos, apagaram as luzes, eu não conseguia ver nada.
Respirei aliviada quando tiraram o colete de mim e fui empurrada pelo
corredor praticamente às cegas.
Ele me empurrou para dentro da cela, fechando a grade bruscamente
e me encolhi na parede, nauseada, corri para o sanitário e só vomitei água.
Lavei a minha boca e voltei para o canto. Fiquei horas na mesma posição,
ficando com o quadril dolorido de tanta rigidez. Minha cabeça estava doendo
muito.
Victória se aproximou devagar, ela segurava uma bandeja.
— Eu que fiz, eles me autorizaram trazer um pouco. — Empurrou
uma tigela de sopa. Eu olhei com desinteresse, mas com o estômago faminto.
— Por que eu comeria algo que você fez?
— Eu não vou te envenenar.
— Sou valiosa viva? — Ironizei.
— Não tenho tanta certeza. — Murmurou e colocou uma cestinha de
pães ao lado. — Mas eu não envenenei a comida.
— Vince não pegou o Jason, mas ele estava certo sobre você o
tempo todo. — Empurrei a vasilha de volta. — Não confio em você.
Victória fechou os olhos.
— Não foi fácil deixar a Abby. — Falou baixo. — Eu não quis
filhos com o Vince porque tudo era uma mentira. — Suspirou e sentou-se no
chão, do outro lado da grade. — Eu e o meu irmão fomos deixados a nossa
própria sorte ainda pequenos. Não é fácil crescer nas ruas e foi dormindo em
muitos becos que eu conheci a família do Jason. Eles eram mecânicos e nos
acolheram, crescemos juntos, mas o Jason e o meu irmão encontraram o
caminho mais fácil... começaram a vender drogas. Não satisfeitos,
começaram a usar, o meu irmão entrou em um nível de vício quase
impossível. Ele teve uma overdose e morreu dentro de uma boate.
— Eu sinto muito.
— Foi ruim perdê-lo, pior ainda foi descobrir que ele estava devendo
aos russos. Eu nem sabia que o meu irmão foi aliciado pela máfia russa,
estava tentando sobreviver, trabalhando como garçonete, fazendo teatro nas
horas vagas e sonhando com uma vida que uma garota como eu nunca teria.
— Parou por um momento, e fazia todo sentido a sua raiva em relação a mim.
— A dívida não morreu com o meu irmão. Eles começaram a vir atrás de
mim e do Jason. Começaram a ameaçar toda família que me acolheu, meus
colegas de trabalho e até destruíram o pequeno teatro que eu me apresentava
porque ninguém deve à máfia e sai impune. Foi assim que o Jackson me
encontrou. Ele ofereceu quitar a minha dívida e me dar um gordo pagamento,
se eu fingisse um papel na vida de um homem.
Sempre o Jackson...
— Eu aceitei, por que não aceitaria?
— Eu também aceitaria. — Falei baixinho.
— Achei que estava fazendo o melhor por todas as pessoas que eu
amava. Achava que o Vince era um garoto desajustado, não que fosse um
homem bonito, gentil, apaixonante. Eu me apaixonei por ele, por um tempo,
foi como viver em um conto de fadas, mas era tudo uma mentira. — Ela
secou o rosto. Na escuridão, eu não podia ver que estava chorando. — Jason
estava me esperando, eu tinha uma vida, uma Victória real, quando tentei
sair, o Jackson me disse que eu estava devendo a ele. Então, eu engravidei e
me senti o pior tipo de pessoa do mundo. Como eu poderia trazer uma criança
para uma vida mentirosa? Eu sofri pensando que ela me odiaria por ser uma
mentirosa. Eu estava tão apavorada.
Sequei o meu rosto, chorando com ela.
— Decidi que ir embora era o melhor que podia fazer pelos dois. Eu
amava o Vince, mas ele não me conhecia de verdade, como poderia continuar
com aquilo? A Abby nasceu tão linda, o bebê mais lindo do mundo inteiro e
eu vivo para ver as fotos dela. Eu ficava ansiosa querendo vê-la. Eu me tornei
obcecada com o seu instagram porque podia ver a minha filha e sentir o
alívio que ir embora foi o melhor.
— Ainda assim, você os ajudou a me pegar.
— Não foi assim. Quando eu fui embora, a família do Vince não
estava mais interessada, porque eu causei um belo estrago para que me
odiassem e ao mesmo tempo, ficaram com medo de que eu contasse a
verdade para o Vince. — Ela sorriu um pouco. — Jason e eu conseguimos
viver em Los Angeles. Pensei que essa parte tinha ficado para trás, eu soube
do casamento e até acompanhei tudo pelas redes sociais.
— Você podia ter ficado para ver a Abby de vez em quando...
— Sério? Uma mãe que não tem nada?
— Ela te amaria por ser mãe dela e não pelo que você tem.
— Depois do que eu fiz com o Vince, ele jamais aceitaria
compartilhar a guarda ou me liberar para visitas. — Soltou uma risada
irônica.
— Sim, ele ficaria com raiva, mas, veria a razão pela Abby.
— Eles são uma dinastia poderosa que me esmagaria facilmente em
um tribunal. Achei que era mais justo para a minha filha ser feliz, eu poderia
ir embora com ela, mas que vida poderia dar? Crescer com uma mãe
garçonete, um padrasto com um sonho de ser rockstar e viciado em drogas?
Eu não queria essa vida para mim, dirá para minha filha.
Olhei para as minhas mãos.
— Ela é uma menininha maravilhosa. — Soltei um soluço. — Eu a
amo tanto.
— A primeira coisa que você pediu foi que ela ficasse em segurança.
Você se deu por ela e é isso que mães fazem. — Victória chegou para frente,
ficou de pé e saiu. Eu mal me sentei, ela voltou e ficou recuada no corredor.
Fez sinal para ficar quieta e obedeci. Podia ouvir vozes, mas não conseguia
definir o que era. Ela saiu de novo e relaxei, sentando na pequena cama, bebi
água e me enrolei, com frio.
Dormi pesado porque acordei assustada, quase caindo da cama, olhei
ao redor e estava sozinha. Parecia que eu tinha dormido por um longo tempo,
Victória voltou com mais frutas e água.
— Você deveria comer. — Ela comentou casualmente. — Eu cometi
um erro grave e vou tentar acertar.
— O que você quer dizer?
— Acabei de descobrir quem pegou o Jason e sei que não foi o
Vince.
— Eu já disse isso.
— Aurora... Você não está entendendo. — Victória colocou o cesto
no chão. — Eles vão nos matar. Aquela coisa com a bomba não foi apenas
para o Vince escolher entre a esposa e a mãe da filha, eles me enganaram.
Não existe um resgate. Eles estão brincando com o Vince. — Sua voz
tremeu. — Eu entrei nessa porque eles me garantiram que o Vince estava
com o Jason, me apresentaram provas e eu acabei de ver que as fotos foram
manipuladas. A ideia era que eles pedissem o Jason em troca da sua
liberdade, assim como as exigências deles.
— Quem são eles?
— Não sei o nome de quem está aqui, eles se chamam por apelidos,
mas o nome da mulher que está mandando tudo é Josie.
Josie Calahan. A ex-melhor amiga da minha mãe.
Victória ficou visivelmente agitada nas visitas seguintes. Ela estava
desgrenhada e com os olhos arregalados, foi nessa aparência de quem estava
com medo de que me avisou que seria transferida de lugar.
Se aproximou da grade.
— Nós vamos fugir. Apenas um deles irá na mesma van conosco para
não chamar atenção da polícia. — Cochichou. — Eu vou atrás com você,
quando te soltar, nós vamos fugir com a van e teremos que correr por um
trecho porque os carros têm rastreadores. Eu pesquisei que tem um posto no
caminho que é o ponto de parada de patrulheiros.
— Você vai ser presa.
— É melhor ser presa do que assassinada. Eu não quero morrer.
— Por favor, não brinque comigo. Eu tenho uma filha e um marido, eu
os amo loucamente e sei que eles me amam muito. — Sussurrei.
— Não é uma brincadeira.
Ela saiu de novo e eu me agarrei ao fiapo de esperança. Passei o tempo
me alimentando bem, comendo as frutas, bebendo água e eu sabia que uma
noite inteira se passou porque ficou muito frio de novo.
— Levante-se. — O homem bateu na grade me assustando. — Seja
boazinha. — Me virou de costas e amarrou os meus pulsos novamente, mas
não os meus tornozelos. Ele passou o saco fedido na minha cabeça, me
causando uma náusea violenta e me puxou com brusquidão, me conduzindo
a andar para frente, empurrando pelos ombros.
Senti a diferença de estar do lado de fora com os sons e os cheiros.
Tropecei antes de cair na van e escorreguei para o lugar. Me encolhi no canto.
Não ouvi quem estava na van, mas as portas bateram ao mesmo tempo e o
carro começou a andar. No começo, estava bem devagar e depois, foi
aumentando a velocidade como se estivesse em uma estrada. Não havia
solavancos ou paradas, apenas uma sequência direta que pareceu levar horas.
O tecido era mais escuro que o primeiro e eu não conseguia ver nada.
Quando a van parou, eu ouvi o som de algo dando choque e um grito
estrangulado. De repente, o capuz foi arrancado. Victória empurrou o corpo
do motorista para fora da van e saiu arrancando.
— Pula para o banco da frente. — Gritou, dirigindo, e me movi com
dificuldade, mas consegui passar. — Vira de costas. — Ordenou e soltou as
braçadeiras com um canivete. — Droga, droga. Eles estão mais perto do que
previ.
Um disparo foi dado contra van e eu gritei, bateram na traseira, nos
impulsionando, e ela conseguiu criar uma distância, forçando a van ao
máximo.
— Faltam poucos quilômetros. Temos que conseguir.
— Você sabe atirar?
Ela me olhou, sua expressão era de pânico.
— Não, e você?
Olhei para a arma no console. Não sabia como segurar uma.
O dia estava amanhecendo e ela parou na beira de uma estrada
qualquer.
— Nós temos que subir. — Apontou para a encosta. — É um longo
caminho, mas precisamos chegar na civilização.
Pegou a arma no console, nós corremos entre a mata. Ela parecia não
fazer ideia como andar dentro de uma, então, eu passei a frente, indicando
onde pisar e subir. Em dado momento, tivemos que escalar algumas pedras e
isso nos deixou exaustas. Me encostei em uma árvore, com o coração a mil e
ouvimos sons de carros e vozes. Olhamos uma para outra e voltamos a correr.
De repente, ela escorregou e caiu, rolando alguns metros abaixo.
Sua calça rasgou e desci com cuidado.
— Acho que quebrei a minha perna. — Gemeu de dor. Toquei a sua
perna e gritou. — Não vou conseguir.
— Vai sim, falta pouco para chegarmos no topo. — Peguei o braço dela
nos meus ombros. — Vem, vamos correr.
Nós subimos o que rolou e ela não estava aguentando pisar. Eu podia
ouvir que eles estavam perto e isso só me deixou ainda mais histérica.
— Não, Aurora. — Victória parou. — Me deixa aqui. Eu vou me
esconder ali. — Apontou para um conjunto de pedras. — Falta pouco para o
topo, você é atlética e vai chegar rápido. Eu vou atrasá-los com isso. — Tirou
a arma da cintura. Pegou algo no seu sutiã. — Gravei tudo que encontrei nos
computadores. Entregue à polícia. — Me deu um olhar esperançoso. — Volte
para me buscar, por favor.
— Podemos fazer isso juntas.
— Estamos perdendo tempo. Vai. Eu não vou deixar a minha filha sem
mãe. — Me empurrou para longe. — Vai ou eu vou atirar em você. Vai
agora, Aurora.
Eu não queria abandoná-la, mas eu podia chegar ao topo sozinha com
mais rapidez. Respirei fundo, tomando fôlego e passei pelas árvores. Eu já
podia ver a estrada quando ouvi os sons de disparo. Olhei para trás,
tropeçando e os meus braços estavam todos arranhados, cortados e alcancei a
estrada. Policiais que estavam no posto de patrulha estavam atravessando a
rua com arma em punho quando ouviram os disparos.
— Por favor, ajudem. — Estava sem fôlego. — Ajudem, ela ficou para
trás. — Gaguejei, e um deles simplesmente me puxou para longe. — Não!
Ela ficou! Vocês precisam voltar!
— Senhora! Senhora! — Uma oficial agachou na minha frente. —
Quem ficou para trás? Quem é você?
— Eu sou Aurora Vaughn. — Minha voz era só um sussurro fraco. Ela
me deu um olhar assustado e rapidamente olhou para o lado. Na televisão,
passava a minha foto.
AURORA VAUGHN É SEQUESTRADA EM PARQUE EM
PLENA LUZ DO DIA.
— Tudo bem, você está bem.
— Tem outra mulher, vocês precisam voltar. Ela ficou escondida em
umas pedras, sua perna estava quebrada, eles vão matá-la. Por favor, vocês
precisam encontrá-la. — Agarrei o seu uniforme, minhas pernas estavam
tremendo e não sentia mais forças.
Encolhida no chão, próxima a um carro, eu via a movimentação e uma
ambulância chegou. Paramédicas abaixaram na minha frente, aferindo a
minha pressão, me carregando em uma maca para dentro e eu não conseguia
ouvir absolutamente nada, me sentindo fraca, tremendo muito, sem controle
das minhas emoções. A paramédica estava falando comigo.
— Estou grávida. — Murmurei. — Vocês voltaram para buscá-la?
Victória está bem? — Tentei me sentar, mas ela me empurrou de volta. — Eu
preciso voltar...
— Deixe que a polícia irá encontrá-la. — A paramédica bateu na
lateral. — Vamos! Ela precisa estar no centro de tratamento logo! Avise que
é uma gestante.
Fiquei o trajeto inteiro lutando contra a cabeça pesada e a vontade de
dormir. Chegamos a um hospital, e uma equipe médica tentou me tocar, mas
eu não deixei. Não conseguia parar de gritar.
— Por favor, não me toquem. — Era um lugar estranho, estava escuro e
eu só queria o meu marido. — Por favor, não.
— Tudo bem. — A enfermeira mais velha se aproximou. — Fique
calma, nós não vamos tocá-la. Você vai ser transferida para Baltimore por
helicóptero e verá a sua família.
Eles não me permitiram sair da maca para nada e me prenderam em um
cinto bem firme, empurrando para dentro de um helicóptero que estava no
último andar do hospital. Não parecia ser um grande lugar, dois médicos e
uma enfermeira entraram comigo. Havia um piloto. Olhei para as minhas
mãos e estava tremendo. O chip que a Victória me deu estava seguramente
dentro do meu top.
— Nós vamos pousar em quinze minutos.
Eu podia ouvir uma voz no rádio, mas só conseguia entender o que o
piloto respondia.
— Sim, identidade confirmada. É a própria Aurora Vaughn e solicito
reforço policial. — Ele falou e teve uma resposta. Olhei para o médico, mas
ele estava olhando fixamente para os números da pequena tela acoplada no
meu braço.
— Pressão arterial muito elevada.
— Eu vou me acalmar, por favor, não me dê nenhuma medicação antes
que eu veja o meu marido. — Pedi tomando respirações profundas.
Ele não me fez nenhuma promessa.
Agarrei o acolchoado quando o helicóptero começou a descer. Ele
pousou tranquilamente no topo de um prédio alto e a porta do elevador se
abriu. Duas pessoas saíram correndo, uma delas era um homem fardado.
Todos saíram e me puxaram, a ventania me deixou assustada e a maneira
como me empurravam também, quando entramos no espaçoso elevador,
fiquei ereta, tentando me soltar dos cintos.
Estava ignorando o que estavam falando comigo, batendo nas mãos que
tentavam me impedir de me soltar. Não conseguia controlar as minhas ações,
eu só queria ficar livre do aperto. As portas do elevador se abriram.
— AURORA! — Ouvi a voz do Vince e virei. — Aurora! — Ele se
aproximou muito rápido e me abraçou. — Ah, amor. — Chorei e me agarrei a
ele, enfiando o rosto no pescoço dele, soluçando e não queria soltá-lo nunca
mais. — Eu te amo, amo tanto. — Segurou o meu rosto e estava chorando
tanto quanto eu. — Eu tentei negociar, tentei dar tudo o que eles queriam,
mas não me pediram nada. Nós te procuramos em todo lugar... Muitas
pessoas foram mobilizadas...
— Eu sei, amor. Eu sei. — Beijei seus lábios. — Abby?
— Ela está bem, ficou assustada e está perguntando por você o tempo
todo.
— Eu preciso vê-la, Vince. Preciso tanto...
— Senhor... Ela recusou os primeiros atendimentos. Nós precisamos
verificá-la agora. — Agarrei o seu braço, desesperada em perdê-lo de vista.
— Não me deixa sozinha.
— Eu não vou.
— Filha? — Meu pai virou a esquina do corredor. — Aurora!
— Ah, papai. — Abracei-o apertado, e ele praticamente me pegou no
colo. Meu pai não falou nada, sentia o seu peito subir e descer.
— Ela precisa ir. — O médico me puxou delicadamente. — Você vai
ficar com a sua família em breve, eu prometo. — Garantiu e foi me
empurrando.
Vince ficou ao meu lado o tempo todo, mesmo nas salas de exames que
não era autorizado acompanhantes. Entreguei a ele a minha roupa com o chip,
ele não entendeu nada, mas enfiou no bolso. Comecei a chorar ao ouvir os
perfeitos batimentos cardíacos do bebê. Eu estava com tanto medo e foi tão
gratificante ouvir do médico que tudo parecia bem. Pude tomar um banho,
uma enfermeira atenciosa cuidou dos meus ferimentos e eu comi uma tigela
de sopa de frango com batata.
— Quanto tempo fiquei fora? Que dia é hoje?
— Dois dias inteiros para a minha completa agonia. — Vince acariciou
o meu rosto e sentou-se na pontinha da cama. — Meu amor, me desculpa por
não te manter segura.
— Gates está bem?
— Ele passou por duas cirurgias e agora está estável. — Me deu um
beijo na testa. — Eu vi as filmagens. Ele sequer teve uma chance...
— Encontraram a Victória?
Vince não conseguiu esconder a expressão dura e o olhar de pesar.
— Encontraram, amor. — Ele segurou a minha mão.
— Ela me ajudou a fugir.
— A polícia vai entrar para falar com você...
— Eu não sei se devemos mencionar o chip, não sei o que tem lá dentro
e será preciso verificar antes.
— Não mencione inicialmente. Não se preocupe com nada, apenas
fique bem e logo iremos para casa ficar com a nossa filha. — Me deu um
beijo nos lábios. — Eu te amo tanto. Pensar em te perder quase me matou.
— Foi tudo tão confuso, mas tudo que eu queria era voltar para você.
Nós estávamos nos beijando quando uma batida na porta soou. Um
policial entrou com mais duas pessoas, que se apresentaram como detetives
locais. Eles começaram fazendo perguntas e depois me deixaram contar
conforme ia lembrando de acordo com a linha do tempo. Eu deixei claro não
só para eles, como para os agentes do FBI, o Vince e o meu pai, que a
Victória afirmou que a mandante era a Josie Calahan.
Vince não pareceu surpreso, o meu pai ficou visivelmente
decepcionado. Infelizmente, a Victória estava morta e ela não podia
corroborar com o meu depoimento. Quando a polícia foi embora, meu pai
entregou um notebook para o Vince. Eu estava curiosa para saber o que tinha
ali.
— Sua mãe precisa te ver. — Meu pai se aproximou com o celular. Ele
fez uma chamada de vídeo, assim que a minha mãe atendeu e me viu,
começou a chorar. Minhas irmãs estavam atrás dela. Eu não conseguia falar,
soluçava e encostei o rosto no meu pai. — Ela está bem, Jackie. O bebê
também. Um pouco desidratada e precisando comer, mas está bem. Querem
deixá-la em observação antes de liberá-la para casa.
— Me mostrem a Abby, por favor.
Devagar, minha mãe andou para a sala e a minha menininha estava
dormindo em uma cama feita no chão. Com muito cuidado para não acordá-
la, filmou o seu rosto e os cílios molhados, prova de que dormiu de tanto
chorar. Meu pai encerrou a chamada depois que a enfermeira entrou e disse
que eu precisava descansar.
A última visita do médico foi um pouco preocupante. Ele disse que a
minha pressão arterial estava elevada além do saudável, mesmo depois de
estar mais calma. Ele ainda queria me deixar em observação, ter certeza de
que era uma condição temporária devido ao intenso estresse emocional ou se
eu deveria começar um tratamento imediato.
Vince estava muito quieto, sua expressão era muito alterada e soltou
um suspiro, esfregando o rosto ao fechar a tampa do notebook.
— Eu vou entregar tudo o que está aqui para o FBI.
— O que tem lá?
— Coisas que incriminam o meu pai, nada realmente profundo, mas é
um grande motivo para a família Calahan. — Se aproximou e abaixou a
grade da cama, sentando-se ao meu lado. — Tem conversas, e-mails,
basicamente o meu pai prometeu mundos e fundos, depois tirou…
literalmente tirou tudo.
— Está falando do empreendimento milionário que o meu pai também
investiu?
— Sim. Agora eu tenho certeza de que ele faliu o seu pai de propósito.
— Suspirou. — Me fez acreditar que os Calahan desviaram dinheiro. Ele
armou tudo. Assim eu fui como um diabo atrás deles, tomei o
empreendimento, fiz o seu pai falir e é bem provável que ele tenha
arquitetado isso porque na época, seu pai estava ativamente contra nós e mais
de uma vez, meu pai perdeu votos nos seus projetos devido à campanha do
Marcus.
— Ele fez o meu pai ficar sem recursos e com a carreira destruída para
que o nosso casamento fosse a única solução.
— Eu sinto muito.
— Enquanto sinto um ódio mortal do seu pai, eu não me arrependo de
me casar com você. — Ergui o meu rosto e beijei os seus lábios. — Eu te
amo por quem você é, pela família que temos e estamos construindo. No
final, o seu pai só está se ferrando.
— Depois dessa, ainda não acabou. Ele não percebeu que todas essas
atitudes só amarraram ainda mais cordas nos seus braços. — Vince me
abraçou. — Eu sinto muito por tudo que você passou.
— Não vi muita coisa, eu só tive contato com a Victória e não posso
afirmar que tudo que ela falou era verdadeiro. O outro homem eu poderia
reconhecer, espero que o retrato falado ajude a 1ncontra-lo. — Suspirei e
estava tão cansada, com o corpo dolorido. — Victória disse que te amava,
que não podia ficar porque tudo era uma mentira. Ela entrou na sua vida em
troca de alguns pagamentos... foi o Jackson. Ela deixou a Abby porque
acreditava ser o melhor. — Contei com mais detalhes que para polícia.
— Depois que eu descobri a verdade, Jackson me contou tudo e parece
bater as informações. Mesmo assim, eu não sei se compartilharia a guarda da
Abby.
— Eu acredito nela. Sei que não deveria, mas eu acredito. Ela era uma
mulher perdida. Jason era o seu porto seguro, ela o amava tanto que era capaz
de fazer qualquer coisa, assim como entrou na sua vida e saiu dela. Foi
enganada. — Vince fez uma careta. — Ela estava errada, não estou dizendo o
contrário, mas tudo que fez, metendo os pés pelas mãos, foi por amor. O
amor é uma força poderosa, Vince. Se a gente não prestar atenção, ele deixa
de ser bom e vira uma maldição.
— Não consigo ver dessa maneira, amor. Você romantiza demais as
situações. Victória estava errada ao entrar na minha vida e em tudo, a única
coisa que ela acertou, foi ter ido embora e deixado a minha filha. — Beijou a
pontinha do meu nariz.
— Ela me salvou.
— Ela ajudou a te sequestrar. — Rebatou no mesmo segundo.
— Quando ela descobriu que eles pretendiam matar a nós duas, poderia
ter fugido sozinha. Ela estava bem mais livre do que eu, presa em uma cela,
sem nem saber se era dia ou noite.
Vince me olhou com amor e paciência.
— Seu coração é admirável, mas essa discussão você não vai vencer.
Tudo que me importa é a sua segurança e bem-estar, então, está na hora de
descansar. Amanhã temos que voltar para nossa casa e viver a nossa vidinha.
— Me deu um beijo e ajeitou as cobertas em cima de mim. Diminuiu as luzes
do quarto e deitou-se ao meu lado. Me aconcheguei entre os seus braços,
relaxando pela primeira vez em um longo tempo.
Eu podia dizer que conhecia a expressão “ir do céu ao inferno”, porque
quando soube que a Aurora foi sequestrada, cheguei na casa dos pais dela e
encontrei a Bella histérica, a Abby chorando sem parar e um monte de
policiais. Assisti o vídeo da Aurora sendo arrastada para dentro de um carro
grande, como uma van de alimentos, meu segurança ficou no hospital em
estado grave, passando por uma cirurgia de risco.
Mal consegui dar conta de tudo o que estava acontecendo, pessoas
queriam falar comigo, minha filha precisava de mim e levou muito para se
acalmar. Meu coração parecia que ia explodir no peito. A imprensa começou
a dissecar tudo que estava acontecendo, causando um verdadeiro caos na
entrada do condomínio e tentando ter um vislumbre da casa. Helicópteros
sobrevoavam causando um barulho infernal.
Com a morte do Nicola, o Enzo sumiu do mapa, ninguém respondia as
minhas ligações e a Kyra não me dava respostas satisfatórias. Quando os
meus pais chegaram, eu estava fervendo de raiva. Levou horas, longuíssimas
horas para receber uma merda de um vídeo da minha esposa encolhida no
canto de uma cela escura, enrolada em uma manta e parecendo terrivelmente
assustada. Não importava o que eles pedissem, eu daria.
A polícia dizia para não pagar o resgate, mas eles não avançaram em
nada nas investigações. Minha vontade era sair pela cidade procurando-a
pessoalmente, tinha tanta gente em cima de mim e cada passo que eu dava era
monitorado. Quando enviaram o vídeo da Aurora com uma bomba acoplada
ao corpo e a Victória contra ela, eu senti o gosto do desespero. Eu nunca
escolheria a Victória ao invés da Aurora.
Não era assim que as autoridades trabalhavam, e com tantos de olho em
mim, eu sequer pude enviar uma resposta de volta. Eles rastrearam o celular e
chegaram a uma localização. No segundo dia, eu estava perdendo a minha
paciência. Não dormi, não comi, tomei um banho apenas porque a Abby
jogou comida em mim, fazendo birra e eu imaginava que para a minha
menininha, deve ter sido uma visão assustadora ver a sua mãe arrastada para
um carro. Ela não entendia tudo, mas entendia o suficiente.
Foram as quarenta e oito horas mais assustadoras da minha vida.
Mantive a esperança, mesmo que eles nunca tivessem me pedido um resgate,
mesmo que eles estivessem dispostos a brincar comigo e me deixar em
desespero, e mais ainda, eu realmente tinha fé que não viveria sem a Aurora.
Ignorei todas as estatísticas. Ignorei as sugestões que depois do quarto dia,
seria busca por um corpo e não uma operação de resgate.
No amanhecer do segundo para o terceiro dia, o telefone tocou. Eu
pensei que eles finalmente pediriam algo em troca, mas era a polícia de um
condado vizinho informando que estavam com a Aurora, que houve uma
perseguição, troca de tiros, que ela aparentava ter fugido e estava a caminho
do hospital local por helicóptero. Eu nunca saí tão rápido na minha vida,
correndo para estar lá quando ela chegasse.
Agora, horas depois, vendo-a tão bela, com os cabelos enrolados no
alto, usando um pijama rosa claro, ninando a nossa filha em seu quarto na
casa dos pais, eu estava no céu de novo. Ela recebeu alta naquela manhã,
nosso bebê estava bem, mas a Aurora precisaria ficar de repouso nas
próximas semanas. Não foi liberada para viajar, o que estava tudo bem,
estávamos em família. Seus pais não queriam ficar longe dela.
— E você tomou café da manhã com a vovó?
— E o vovô também.
Aurora fez uma expressão doce.
— O vovô também? Ah... — Sorriu e elas ficaram se acariciando.
Abby soltou um bocejo e levou mais dez minutos tagarelando, quase
adormecendo e finalmente, começou a tirar a sua soneca da tarde. Eu ia fazê-
la dormir de tarde até que se tornasse grande o suficiente para decidir se iria
dormir ou não. Era bom para ela e para nós, como pais. Aurora se inclinou e a
deixou na cama arrumada ao lado da nossa.
— Vem aqui, amor. — Puxei-a para os meus braços. — Você precisa
descansar.
— Quero ir ao velório do Nicola.
— Não. Prefiro que fique em casa... — Dei um beijo na sua bochecha.
— Nicola foi assassinado e eu não sei como a família está.
— Enzo está sumido mesmo?
— Falei com a Juliana ontem à noite, ela disse que ele está fora do país
resolvendo uns problemas, ela vai ficar à frente.
— Isso é inédito, não é?
— Muito. — Sorri torto. — É incrível. Só o Enzo para ter uma mulher
mais perigosa que ele. É bom, revanche da vida.
Aurora riu e me deu uma cotovelada.
— É muito estranho que você conheça pessoas como essas...
— Meu pai sempre foi um homem rico, então eu fui para uma
fraternidade de filhos de homens ricos. Lá eu conheci o Callum, ele conhecia
o Enzo. Foi assim.
— Hum, ainda bem que não fui para a faculdade. — Me deu um
sorrisinho provocante. Desci a minha mão para sua barriga, a acariciei e
ficamos agarradinhos na cama até o momento que precisei sair.
Me vesti para o velório, todo de preto e deixei a Aurora dormindo. Ela
pegou no sono rápido, ainda cansada e dolorida dos últimos dias. Saí do
quarto com cuidado, parei no quarto da Bella e avisei que elas estavam
dormindo. Snow estava em um sofá, Jasmine no outro, ambas estudando, me
deram sorrisos. Meus sogros estavam na cozinha, conversando baixo e bati na
soleira antes de me aproximar.
— Ela dormiu? — Jackie se aproximou.
— Sim, mas ela passou a noite agitada.
— Eu vou ficar de olho, pode ir tranquilamente. — Me deu um sorriso.
— Estou pronto, vamos? — Marcus ajeitou o seu terno.
Encontrar com os meus pais depois do sequestro da Aurora me deixou
meio irritado. Não muito pela minha mãe, ela estava abatida e cansada. Me
deu um abraço apertado e pediu para visitar a minha esposa e filha.
— Mãe, você está bem?
— Estou cansada, meu filho. Preciso apenas de umas férias. — Segurou
o meu rosto e me deu um beijo. — Vendo aquela mãe chorar no primeiro
banco, meu coração fica tão apertado. É uma dor...
Dei um beijo na sua testa, toquei o ombro do meu pai, mas ele me
surpreendeu com um abraço. Os pais do Nicola eram pessoas ricas e
perigosas. Nicola fazia parte de uma vida de riscos, mas isso não anulava a
dor. Sua esposa estava pálida, sentada ao lado da sogra. Dante, o irmão
adolescente, estava emburrado, de braços cruzados, olhando fixamente para o
caixão. Me aproximei da família e lhes dei as minhas condolências.
Sienna estava no banco de trás, me sentei ao seu lado. Jamie, seu filho,
estava chorando baixinho. Sienna e eu tivemos um encontro há muitos anos,
não passou de alguns beijos, Nicola me perseguiu até terminar tudo. Ele era
insuportável quando se tratava dela, e como eu realmente não queria nada
sério, não fomos a frente. A amizade e a parceria de trabalho continuaram.
Assisti o velório e segui para a recepção fúnebre com um sentimento de
pesar. Juliana se aproximou com calma e tocou o meu braço.
— Estou indo embora, precisamos nos reunir. — Falou baixo e assenti.
Encontramos a Sienna em uma sala na mansão dos Biancchi. Juliana
começou a falar. Ela parecia cansada e indisposta, mas estava mantendo a
cabeça erguida.
— Depois de analisar cuidadosamente o conteúdo do chip, chegamos a
uma conclusão. Vamos seguir com o plano de manchar um pouco a
campanha e recuperar com novas ações. — Cruzou as pernas. — Quanto aos
Calahan e todo esse dossiê, a culpa é única e exclusivamente do Sebastian.
Ele precisa entender que só não haverá uma consequência porque todos ainda
mantém um interesse na campanha e não queremos jogar o dinheiro fora. Eu
não vou tolerar nenhuma gracinha, ou ele dança conforme a música, ou estará
morto. — Arqueou a sobrancelha me desafiando a reagir à ameaça. — A
nossa parceria é valiosa. Sebastian é apenas um reflexo.
— Eu vou controlar todos os aspectos dessa próxima fase. Como a
Aurora fugiu, e com a polícia tão em cima, os Calahan estão recuados. Josie
tentou sair do país e uma equipe a impediu. Estamos à procura do marido, em
todo caso, não permitiremos que eles saiam impunes. — Sienna completou.
— Meu pai está ciente das consequências dos seus atos. Não está feliz,
mas irá recuar. Você precisa de algo mais? — Olhei para Juliana.
— Sim. Irei enviar os detalhes assim que os tiver, as coisas ficaram um
pouco confusas esses dias, mas, preciso de uma lista de imóveis antigos fora
da cidade.
Ela não precisava dizer mais nada. Estava acostumado a procurar
aquele tipo de imóvel para o Enzo ao longo dos anos.
— Já sei o que precisa.
— Obrigada, Vince. — Ela sorriu.
Me aproximei da Sienna, dei-lhe um abraço e me afastei, saindo da
sala. Meu sogro estava conversando com Luigi Bianchhi. Parei ao seu lado,
fui introduzido na conversa e não levou muito tempo para nos despedir.
Aurora acordou sentindo-se mal, eu queria estar em casa o mais rápido
possível.
— Mesmo sabendo o que eles fazem para viver, é horrível ver um pai
enterrando um filho. — Marcus comentou no carro. — Não é a ordem natural
da vida, não importa o que aconteça, mas aquele menino, o Dante...
— Ele não é mais um menino. Na cultura deles, não sei bem como
exemplificar, ele já é um homem. — Dei de ombros. — Com a morte do
Nicola, ele é o herdeiro agora.
— É algo realmente sinistro. Falando nisso, convidei os seus pais para
o jantar.
— Ficou muito sensível em um velório. — Provoquei de olho nas
minhas mensagens. Snow era a minha espiã. Estava vigiando a Aurora por
mim. — Não vou cortar relações com os meus pais, mas eles não vão fazer
parte da minha vida como antes. Eu não vou contar com eles para nada, será
negócios em sua maior parte e amigável em momentos necessários. Eles só
sabem da gravidez porque a notícia vazou, mas eu não contaria até ser
inevitável.
— A mídia está dissecando o sequestro da Aurora com prazer. A
notícia da gravidez e que ela fugiu do cativeiro tornou tudo ainda mais
dramático. A entrevista dos patrulheiros rodoviários foi a cereja no topo do
bolo.
— Foi sim. Eu vi o vídeo de um dos carros patrulhas que estavam
filmando a estrada. Ela foi tão corajosa... — Esfreguei o meu rosto, ainda
apavorado com tudo que aconteceu. — Esses últimos dias parecem até um
pesadelo.
— Já acabou.
Entramos em casa pelos fundos. Aurora estava na cozinha e a Abby
empurrando uma cadeira. Fui tomar um banho antes de me aproximar delas,
por estar em um cemitério e em contato com muitas pessoas diferentes.
Voltei para a cozinha e a minha filha estava com o rosto enfiado em uma
vasilha de sorvete. Aurora estava rindo, filmando, e a Bella segurava a minha
filha.
— Sua Tia Bella só te ensina besteira, não é?
— Ei, foi a Snow. — Bella se defendeu.
Snow estava rindo de se acabar.
— A Abby come tudo o que a gente oferece, mas ela fica louca com
sorvete. — Snow se defendeu. Minha filha ergueu o rosto sujo de sorvete e
riu, feliz da vida.
— Vocês não têm responsabilidade? — Jackie pegou a Abby. — Vem,
vou limpar o seu rosto e te dar uma comida de verdade.
Aurora me mostrou o vídeo e era realmente muito fofo. Ela estava sem
postar nada nas suas redes sociais desde o sequestro e as pessoas estavam
pedindo por alguma mensagem, querendo saber se ela estava bem e quais
detalhes de tudo que a mídia estava falando eram verdadeiros. Emitimos um
comunicado raso.
— Podemos nos reunir antes do jantar? — Aurora me pediu e seguimos
para o escritório do seu pai. Ela fechou a porta e se sentou na poltrona. — Eu
sempre me sentava nesse lugar quando era chamada aqui. Normalmente era
repreendida por ser insolente.
— Isso não mudou muito.
— E nem vai. — Sorriu. — Como foi lá?
— Triste...
— Eu posso imaginar. Enquanto você saiu, fiquei pensando em
algumas coisas que podemos fazer e até trabalhei um pouco aqui. Dormi
apenas meia hora. — Pegou o seu inseparável planner. — Quero fazer um
vídeo bem simples, sem maquiagem, usando roupas comuns, quero passar a
imagem do meu sentimento no momento, nada de ostentação e luxo. Se
enviar um comunicado bem montado talvez possa passar a imagem de que
tudo que aconteceu foi ensaiado ou foi vazio.
— Quer usar um pouco de manipulação pública no caso?
— Sim. Pode ajudar em tudo. De modo geral, a descoberta dos corpos
na construção e as informações que os Calahan tinham no dossiê vão
manchar a imagem da família. — Mordeu a pontinha da caneta. — Talvez
não a nossa imagem como casal. Podemos criar uma pequena curva para um
movimento ao nosso favor.
— Vítimas ao invés de culpados.
— Seu pai é o único culpado, ele manipulou os Calahan e depois a
você, porque ele queria o meu pai do seu lado no jogo. Quanto a Victória,
não quero colocá-la como a ex-ciumenta, mas contar a verdade vai expor
muita gente. — Respirei fundo. — Ela errou muito, mas merecia algo além
do que isso.
— Não vou mudar a versão. — Dei de ombros. — Ela vai sair como a
ex-ciumenta que se uniu à ex-melhor amiga da sua mãe em uma vingança
contra a minha família. Em algumas semanas outra grande coisa vai
acontecer, meu pai vai perder as eleições e nossos planos vão seguir
normalmente.
— Tudo bem. — Suspirou e ficou de pé, parando entre as minhas
pernas. — Eu queria vê-la. Sei que você não entende, mas tudo o que
aconteceu foi tão intenso. Ela sabia que ia morrer e sabia que errou o
suficiente para ser presa. Estava armada e podia me manter de refém, tentar
uma troca ou uma redução de pena, mas não fez. Victória não queria que a
Abby ficasse sem a mãe. — Segurou as golas da minha camisa, abracei-a e
encostei a minha cabeça no seu ombro. — Se não quiser ir comigo, tudo bem.
— Eu vou com você.
Aproveitamos o tempo sozinhos para que gravasse o vídeo. Aurora
tinha uma eloquência muito boa, uma mente firme e tranquilidade no seu
coração, assim dificilmente precisava de um script ou de uma orientação
sobre o que não dizer. Ela estava totalmente à frente da imagem que o
público sabia sobre a nossa família. Seus olhos lacrimejaram no momento
certo e não editamos o vídeo, publicamos gravado de uma maneira grosseira
para dar credibilidade.
— Preciso tirar esse pijama antes que os seus pais cheguem.
— Não precisa. Fique confortável, você está de repouso.
— Eu não sei se vou conseguir esconder a minha irritação com o seu
pai. O que ele fez foi muito grave, brincar com a vida da minha família e com
o futuro das minhas irmãs é algo que eu não posso perdoar. — Ela soltou
uma risada seca. — Você tinha razão, para sobreviver nesse meio é preciso
ser selvagem. — Seu olhar encontrou o meu. — Tanto que não me importo se
os próximos passos sejam derrubar o seu pai.
Segurei o seu queixo e beijei seus lábios macios.
— Eu te amo, minha rainha.
Ajeitei os travesseiros atrás do Gates, e o Vince o ergueu na cama com
força. Ele havia acabado de receber alta, e o trouxemos para casa,
contratamos um enfermeiro para ajudar nos cuidados. Minha mãe preparou
um quarto de hóspedes que ficava na casa do caseiro, que por um tempo ficou
desativada. Imaginamos que o Gates merecia um pouco de privacidade e
silêncio para descansar, as meninas gritavam muito e a Abby era bem agitada.
Ele fazia parte da nossa família.
Deixei o Vince com o enfermeiro para lidar com a troca de roupa.
Atravessei o jardim e parei no banquinho que costumava ficar quando
morava com os meus pais. O mesmo banquinho que conversei com o Vince
pela primeira vez. O sol estava batendo ali, me inclinei para trás e ergui a
minha blusa para acariciar a minha barriga. Só tinha um montinho muito
sutil, que eu amava completamente, estava ansiosa para ficar com um
barrigão enorme e sentir mexer.
Apreciei um pouco do silêncio, a beleza do jardim e a paz enquanto o
Vince não aparecia. Depois do sequestro, tudo que eu queria era ficar com a
minha família, sentir todo amor e encontrar paz. Ainda não estava liberada
para viajar, mesmo que fosse uma viagem curta e o Vince não queria arriscar
uma viagem de carro porque tinha medo de que passasse mal. Era uma
preocupação à toa. Minha pressão arterial seguia elevada nas verificações
diárias e os médicos tinham medo de que o meu estresse emocional
desenvolvesse eclampsia.
Estava me esforçando em ficar calma e era muito difícil. O medo de
sair de casa era grande. Não queria ficar exposta com a Abby e sentia que
nunca mais poderia passear em um parque. Não queria viver com tanto medo,
eu tinha certeza de que precisava de um tratamento para superar o
acontecimento e conseguir seguir a minha vida sendo feliz e amando a minha
família.
— Uma das flores mais bonitas do meu jardim. — Minha mãe se
aproximou com o seu balde de jardinagem e deixou no chão, sentando-se ao
meu lado. — Sabe o que estava lembrando esses dias? — Segurou a minha
mão. — O seu nascimento.
— É mesmo?
— Desde que a Abby entrou nas nossas vidas, passei a ter muita
melancolia em relação a infância de vocês. Ter uma neta em casa me fez
lembrar do tempo que os pés que batiam no piso eram os das minhas
garotinhas. Quando você nos contou que estava grávida, eu lembrei do dia
que fui ao médico e ele disse “Jackie, você não fez um teste? É claro que está
grávida”. Nunca pensei que engravidaria tão rápido. — Soltou uma risada. —
Sou grata pela sua vida. Sua chegada foi especial e trouxe ainda mais amor
para os meus dias. Cada uma das minhas meninas tem um temperamento...
Você sempre foi a mais corajosa.
— Ah, mamãe.
— Me escuta. — Ela me puxou e deu um beijo nos meus cabelos. —
Você se entregou pela sua irmã e filha, aguentou calada e resiliente uma
situação assustadora, fugiu quando surgiu a oportunidade e ainda tem coração
para perdoar a mulher que ajudou no seu sequestro. De todas as coisas que
cercam a nossa vida, essa nova empreitada que é fazer parte da família
Vaughn, eu tenho orgulho da mulher que você se tornou. Minha princesa tem
o coração de uma rainha.
— Vince me chama assim o tempo todo.
— Ele está certo em reconhecer a esposa que tem. — Esfregou o meu
braço. — Como mãe, pensei que o meu coração não poderia suportar se você
ficasse mais um minuto longe dos meus braços e com isso, estou grata que
está bem. Seja grata também.
— Eu estou grata, mamãe. Grata e muito assustada.
— Mamãe? — Abby estava na varanda dos fundos e desceu os degraus
com pressa, correndo pela grama com diversão. — Titia deu biscoito.
— Titia é muito boa. — Peguei-a no colo e beijei a sua bochecha.
— Titia está ficando com a coluna arrebentada. — Snow se jogou ao
meu lado dramaticamente. — Não sei como você conseguia trabalhar com
isso.
— E eu pensando que te levaria para Nova Iorque para me ajudar a
cuidar das crianças. — Provoquei, e o seu olhar foi cômico.
— Deus me livre. — Levantou e saiu pisando duro. Mamãe deu um
tapa na bunda dela, nos fazendo rir.
— Ela encontra o nome de Deus apenas nos momentos mais
convincentes.
— Ela e todo mundo. — Brinquei, Bella surgiu nos fundos, acenando
loucamente. Com a Abby no colo, atravessei o jardim com a minha mãe. —
O que foi?
Bella estava com os olhos arregalados.
— Um escândalo horrível envolvendo o seu sogro está passando no
plantão noticiário. Parece que foram encontrados corpos de operários que
desapareceram em uma antiga construção financiada pela empresa. —
Explicou e fomos para a sala de televisão. Jasmine aumentou o volume da
televisão.
A reportagem passava exatamente o que a Sienna nos informou na
noite anterior. Envolvia a empresa, o nome do Sebastian seria repetido
algumas vezes, uma coletiva de imprensa seria marcada para o dia seguinte
pela manhã. Vince falaria e já estava com o discurso pronto, e eu ficaria ao
seu lado como um apoio silencioso e pela primeira vez, uma aparição pública
após o sequestro. Eu não queria sair tão cedo, mas isso era importante e eu
não deixaria de pisar com meus saltos quinze na imagem do meu sogro,
mesmo que fosse um pouquinho.
— Eu adoro fazer parte dessa família. — Snow estava lixando as unhas.
— Me sinto dentro de um livro cheio de conspiração e tretas. Eu amo tretas.
— Cala a boca, garota. — Soltei uma risada. — Sem redes sociais hoje,
ok? Até para os melhores amigos. Amanhã, depois da coletiva, vocês podem
voltar a usar normalmente.
— Tudo bem. — Jasmine sorriu e virou no sofá. — Eu vou praticar um
pouco agora, vai atrapalhar?
— Claro que não. Eu amo te ouvir tocar. — Garanti. Jasmine estava
mudando tanto, crescendo rápido e de uma beleza sem igual.
— Todo mundo tem um talento nessa casa, eu me sinto inútil. — Snow
reclamou. Mamãe cruzou os braços, esperando a bomba a seguir. — A Bella
é a perfeita garota americana. Alta, loira, peituda, super gostosa e esposinha
dedicada. Aurora é quase uma mestre manipuladora com um sorriso no rosto,
Jasmine toca piano e é toda fofinha. Eu sou um gremlin.
— Pelo menos você é um gremlin bonitinho. — Bella provocou. Snow
bufou, contrariada. — Você vai completar quinze anos em algumas semanas
e tem muito tempo para encontrar o seu próprio talento, além do mais, eu sou
mais que uma garota bonita.
Bella não trabalhava porque ela não queria e não precisava. Jacob tinha
um bom emprego que podia proporcionar a ela a oportunidade de escolher.
Eu poderia não me envolver nos negócios do Vince e muito menos trabalhar
para isso, mas eu gostei e queria me inserir cada vez mais. A melhor parte era
que eu podia fazer a minha parte de qualquer lugar, em casa ou no escritório
com ele.
Abby me pediu comida, estava na hora da sua fruta matinal. Ela era um
reloginho. Minha boquinha nervosa favorita, do jeito que não parava, ainda
bem que comia bastante. Minha mãe, sendo avó babona como era, preparou
uma salada de frutas. Coloquei-a em sua cadeira alta para comer e iria
observar, a minha presença inibia a sua bagunça.
— Eu vou começar o almoço. — Mamãe anunciou. Com a Jasmine
diabética e eu com intolerância a glúten, ela gostava de cuidar das nossas
refeições. O interfone tocou. — Snow! Deve ser a sua encomenda!
Minha irmãzinha apareceu correndo, tropeçou no tapete e bateu na
parede, rindo. Bella revirou os olhos e sentou-se ao meu lado.
— Sua sogra está no portão. — Snow avisou.
Olhei o meu telefone e não havia nenhuma mensagem.
— Estranho. Ela não costuma aparecer sem avisar, mas acho que não
tem problema nenhum liberar a entrada.
Não levou muito tempo para Nicole aparecer na porta da cozinha. Ela
estava sozinha, sem segurança e usava apenas uma calça jeans e camiseta,
sem maquiagem, sem estar com os cabelos perfeitamente escovados.
— Posso ficar aqui um pouco?
— Claro que sim. — Minha mãe se aproximou dela. — Está tudo bem?
— Estou estressada e queria um tempo de amor com a minha neta.
— Oi, vovó! — Abby falou de boca cheia. — Frutinhas da Abby.
Quer?
O sorriso apaixonado da minha sogra me deixou tranquila que era
apenas uma visita tranquila. Eu não queria problemas e não podia me
estressar. Alguma coisa estava acontecendo, mas depois do embate no último
jantar, estávamos meio ressentidas com a outra. Assim como o Vince, Nicole
não aceitava a história da Victória. Minha tolerância para os pais do meu
marido estava bem curta e acabei sendo grosseira.
— Sinto muito pela nossa discussão. — Nicole segurou a minha mão.
— Eu estou com os nervos à flor da pele, com tudo que está acontecendo,
perdi a minha razão. Você estava certa.
— Está tudo bem. — Sorri e dei mais uma colher de frutas para a
Abby. — Nem sempre vamos concordar. Quer falar sobre o que está
acontecendo?
— Precisa de mais? — Arqueou a sobrancelha.
— Não precisamos de mais.
Nicole levou a Abby para brincar no jardim, aproveitando o sol e eu vi
que ela e o Vince conversaram tranquilamente, até riram juntos. Eu decidi
que poderia aproveitar a piscina dos meus pais e peguei um biquíni velho,
que quando era solteira, ficava em um bom tamanho. Engordei depois do
casamento e ganhei peso no último mês, então, ele ficou minúsculo. Me
enrolei no roupão e desci com as coisas da Abby porque assim que ela me
visse, iria querer entrar na piscina também.
— Abby! Vem mostrar para a vovó que você sabe nadar! — Chamei ao
pisar no quintal. Ela veio andando toda empolgada. — Calma aí, menina. —
Segurei-a pela camisa. — Deita ali que vou colocar a sua roupa de banho.
— Eu já volto. — Nicole se afastou para atender o seu telefone.
— Uau, mamãe gostosa. — Vince me abraçou. — Esse biquíni está
uma...
— Eita, papai. — Abby soltou e eu ri alto. — Tira a mão da mamãe!
Vince e eu caímos na gargalhada.
— Não consigo tirar as mãos da mamãe! — Vince retrucou.
— Vai pedir para fazer xixi, Abby? — Mostrei a sua fralda de banho e
ela negou. Ela avisava depois que fazia e não queria ficar com a fralda depois
de fazer um xixizinho. — Tudo bem.
Terminei de arrumá-la e entrei na piscina, ficamos abraçadas primeiro e
logo ela quis se soltar. Ela mergulhava bem sozinha e ainda era metida o
suficiente de se afastar, batendo as perninhas de um jeito lindo. As boias nos
braços lhe davam segurança e ia nadando como um peixinho. Nicole enrolou
a calça para sentar na beirada, minhas irmãs saíram de biquíni, entrando na
piscina comigo e foi uma bagunça que deixou o quintal todo molhado.
No final do dia, antes de deitar para dormir, recostei na cama e comecei
a chorar. Vince saiu do banheiro, preocupado e me puxou para um abraço.
— Ei, o que foi?
— Foi um dia tão feliz e tão bonito. — Suspirei secando as minhas
lágrimas.
— Está chorando por que está feliz?
— Sim. Hormônios malditos. — Reclamei e ele riu, me mantendo em
seus braços. Procurei o seu rosto e beijei-o profundamente, passeando com as
minhas mãos pelo seu torso nu e fui descendo devagar, bem intencionada,
mas ele me segurou. — Não... — Choraminguei.
— Qual a parte que a mocinha está de repouso você está ignorando?
— Toda parte. Estou ignorando qualquer coisa que me impeça de fazer
amor com o meu marido.
— Você extrapolou hoje.
— Não mesmo, estou bem.
— Suas alianças sequer entram nos dedos. — Pontuou e lhe dei a
língua.
— Se o inchaço for indicador de não sexo, eu vou morrer de frustração.
— Bufei, cruzando os braços, ele riu. — Não tem graça nenhuma deixar a sua
esposa com tesão.
— Hormônios, amor. Hormônios. — Sorriu e se inclinou, me dando um
beijo doce nos lábios. — Agora, vá dormir. Siga o exemplo da sua filha e
fique como um anjinho. Eu vou me barbear agora para não atrasar a nossa
saída amanhã.
— Ou porque você sabe que não vai resistir se ficar aqui. — Puxei o
decote da minha camisola. — Podemos ir até o antigo escritório, o que você
acha?
— Não. — Ele riu. — Vá dormir.
Apesar da minha vontade de passar a noite praticando posições
diferentes, dormi como uma princesa e na manhã seguinte, Abby me acordou
reclamando da sua fralda cheia. Troquei e desci para bebermos água. Minha
mãe estava na cozinha, ainda de pijama, cabelos presos, bebendo chá e
escrevia algo.
— Caiu da cama, mamãe?
— Bom dia, vovó. — Abby correu até ela.
— Perdi o sono, fui dormir muito cedo e decidi adiantar alguns dos
preparativos do jantar atrasado do seu aniversário.
— Esse ano eu queria comemorar porque estou grata por mais um ano
de vida, por tudo que aconteceu e estou bem, mas estou tão sem paciência
para fazer a social... — Dei uma olhada na lista. — Ainda bem que só tem
familiares ali. Estou me preparando mentalmente para fazer cara de miss
simpatia durante a coletiva de imprensa.
— Os comentários na internet estão fervorosos.
— Eu avisei para não ficar lendo. Só causa estresse, em pouco tempo
essas mesmas pessoas vão estar nos elogiando. — Abri um sorriso. — O
povo esquece muito fácil...
Mamãe apoiou o queixo nas mãos e me analisou.
— Você está gostando disso, não é?
— Quando aceitei me casar com o Vince, foi como aquele velho
ditado: “se não pode contra eles, junte-se a eles”. — Encolhi os ombros. —
Não podia ser apenas uma esposa. Nunca foi o plano.
— Certamente você é a esposa. — Vince entrou na cozinha. — Aquela
que está de repouso e faz tudo, menos o repouso. — Me abraçou, e a minha
mãe riu.
Deixamos a Abby com a minha mãe e subimos para nos arrumar. O
máximo que consegui foi um banho safadinho, mas sem muita coisa. Escovei
o meu cabelo, fiz a minha sobrancelha sozinha e uma maquiagem bem
básica, porque apesar de desejar esconder todas as manchas de espinhas e as
olheiras, eu não tinha certeza se ia aguentar ficar com tanta maquiagem no
calor.
Escolhi um vestido azul claro, de mangas três quartos e um decote em
V. Ele tinha um caimento bonito até os joelhos, marcado na cintura e
combinei com sapatos pretos comuns de salto quadrado.
Vince ficou pronto muito mais rápido do que eu. Não comi muito no
café-da-manhã para não ficar enjoada, optei por chás e biscoitos sem sal. Era
muito estranho sair de casa sem o Gates, não que não confiasse no Harry e no
Stuart, o segurança que trabalhava com os meus pais. Gates era apenas o
Gates, um homem muito quieto e que me fazia sentir segura.
Não era justo o que fizeram com ele para me ferir.
— Você está preparada? — Vince segurou a minha mão e beijou. — A
imprensa está lotando o lugar.
— Estou preparada. — Respirei fundo e aprumei a minha postura,
mesmo dentro do carro.
Harry teve dificuldade de passar pela imprensa ansiosa em fotografar o
carro. Eles estavam gritando e apontando as câmeras. A polícia conseguiu
abrir um caminho e conteve a multidão histérica. Vince saiu primeiro e me
ajudou a sair. Dei acenos e sorrisos contidos no caminho, mantendo uma
distância cuidadosa do empurra-empurra, porque não queria que me
machucassem. Estava protegida entre três homens grandes.
O salão de conferências de um hotel executivo estava cheio de
jornalistas, curiosos, e quem mais conseguiu entrar. Como representante atual
da empresa, Vince falou sobre estar aberto a quaisquer investigações e que
tinha como meta ser o mais transparente possível. Ele não podia responder
por atos do passado, mas podia garantir que a empresa não se
responsabilizaria por atos de terceiros.
Nós dois sabíamos que a investigação chegaria até uma guerra entre
cartéis de drogas que não existiam mais. Foram dizimados há anos, e eu não
tinha ideia do motivo, porque não entendia absolutamente nada, e no
momento, não queria entender.
Tudo que me importava era que o mundo entendesse que Vince e eu
não estávamos jogando para perder.
Minha barriga redondinha de gestação estava muito linda. Me olhando
de lado, sentia que era a mulher mais bonita de todas. O bebê se moveu e
sorri, colocando a mão onde seu chute ondulou a minha barriga. Meu
menininho. Através do espelho, vi o Vince entrar no banheiro só de cueca e
trocamos um sorriso. Suas mãos imediatamente acariciaram a minha pele
esticada, abaixou e deu um beijo.
— Esse rapazinho está se comportando?
— Ele ainda está feliz com o jantar. Ela dormiu?
— Na terceira página da historinha. Minha menina está ficando
mocinha, não precisa mais ser ninada. Meu coração não estava preparado.
— Deixa de ser bobo. Ela ainda não dorme sozinha e está começando a
se despedir das fraldas. — Peguei o meu creme para passar na barriga e
coloquei na mão dele. — Faça o seu trabalho e me conte sobre a sua reunião
hoje.
— Foi tudo bem. É difícil acostumar com essa coisa de falar com o
Enzo e com a Juliana, mas é bem melhor assim. Ela é mais fácil de lidar do
que o bronco idiota.
— Só você para não ter medo de chamar um mafioso de bronco idiota.
— Ele não seria um se não tivesse o meu dinheiro, então, eu posso
chamar do que quiser. — Soltou uma risada e terminou de esfregar a minha
barriga. — Eu amo o seu corpo carregando o nosso bebê. É tão lindo.
— Minha coluna está doendo, preciso deitar, essa parte não é muito
bonita. — Fiz uma careta. Vince e eu tivemos uma performance sexual de
tarde que me deixou esgotada. Abby acordou em seguida e não pude
descansar, principalmente porque recebi umas ligações do assessor de
campanha do meu sogro.
Vince preparou a cama para que eu pudesse me deitar confortável, com
o travesseiro na base da minha coluna, que me ajudava a ficar conversando
na cama com ele até pegar no sono. Falamos sobre o trabalho primeiro. A
empresa estava com dois grandes projetos ao mesmo tempo, e eu totalmente
inserida na vida política do meu sogro, controlando todos os aspectos e
aprendendo os bastidores.
Era um mundo totalmente novo. Letal. Pessoas ferozes e perigosas que
faziam ameaças em um piscar de olhos. O público não sabia nem a metade e
quanto mais as minhas mãos afundavam nesse meio, não me via trabalhando
em qualquer outra coisa. Meus dois projetos de educação infantil foram
aprovados. Como uma Vaughn, eu não podia trabalhar diretamente, mas
escolhi uma fundação a dedo e o Vince fez com que ela fosse controlada por
uma das empresas fantasmas dos seus associados, assim eu podia dar pitaco
em tudo.
— Tem certeza que quer cancelar a nossa lua-de-mel? Depois que o
bebê nascer, vamos demorar a sair sozinhos. — Vince beijou o meu pescoço.
— Para ser bem sincera, eu não quero cancelar. — Suspirei com a sua
boca fazendo maravilhas e me deixando toda arrepiada. — Estou insegura em
viajar e deixar a Abby. Ainda estou com um pouco de medo de sair de casa.
Vince me olhou com amor e acariciou o meu rosto.
— A terapia tem ajudado muito, o trabalho me mantém ocupada assim
como a espera pelo bebê, cuidar da Abby, da casa e da nossa família ajuda
muito a me dar força de seguir em frente. — Respirei fundo. — Ontem eu
fiquei nervosa com a van da entrega de alimentos. Me tranquei no quarto com
a Abby e fingi que nada estava acontecendo lá fora.
— De todas as coisas, o que você tem medo?
— O fato de um deles ainda estar foragido me estressa. Depois do que
aconteceu com a Sienna, sinceramente, estou em pânico. Josie não fala nada,
não confessa, não afronta, fica apenas calada, o processo vai se arrastar por
tanto tempo. O que eles podem fazer ainda? Isso tudo me assusta.
— Nada vai acontecer... — Vince massageou o meu couro cabelo.
— Quando você faz isso no meu cabelo, eu fico maluca. — Gemi, e ele
me beijou, mas algo na sua fala me chamou atenção. — Como você sabe que
nada vai acontecer? — Me afastei e olhei em seus olhos. — Ele está morto?
— Sussurrei e arregalei os meus olhos.
— Não precisamos falar sobre isso.
— Vincent.
— Cuidaram disso do jeito que sempre cuidam. Eu queria que ele
pagasse por isso de outra maneira, mas, eles seriam condenados a alguns anos
de prisão e poderiam conseguir um bom acordo em troca de informações.
— Quando você ia me contar? — Empurrei-o gentilmente. — De novo
essa palhaçada de me proteger por que estou grávida?
— Grávida com hipertensão. — Ele adicionou e quis dar-lhe um soco.
— Não é desculpa. Ficou sabendo disso hoje?
— Sim. — Bufou com derrota. — Você é como um trator.
— Melhor para você. Iria ficar com os ouvidos sangrando até a minha
chateação passar. — Fiz uma careta. — Então, todos os envolvidos
conhecidos estão fora?
— Estão. Se você não sentir segurança, podemos levar a Abby conosco.
Ela vai se divertir e vai dormir.
— Não. Precisamos de um momento a sós como marido e mulher. O
bebê vai nascer e vai ficar ainda mais complicado. Pode agendar a viagem.
Tinha certeza que quando o bebê nascesse e duas crianças pequenas
começassem a nos enlouquecer, precisaríamos da lembrança de uma lua-de-
mel a dois para aguentar a adrenalina. Peguei no sono no meio do assunto,
não era exatamente uma novidade depois que passei do primeiro trimestre.
Acordei no meio da madrugada, bexiga cheia e com fome. Fui ao banheiro e
saí do quarto de fininho.
Desci a escada com cuidado e evitei fazer barulho para o Vince não me
impedir de fazer meu lanchinho da madrugada.
— Aurora?
Merda. Ele desenvolveu um sono leve irritante.
— Oi, estou na cozinha. — Abri a geladeira e peguei um pote de geleia
e o saco de torradas. Vince acendeu a luz. — Me encontrou. Seu filho está
com fome.
— Tenho que ficar vigiando a minha senhora sorrateira. — Apoiou-se
no balcão. — O bebê não te deixou dormir?
— Mais ou menos. Ele me acordou com fome e a minha bexiga estava
cheia. — Sorri e passei um pouco mais de geleia, dando uma boa mordida. —
Estava pensando no quão difícil é acreditar que os envolvidos estão presos e
agora, mortos. O plano em si é muito triste...
— Queriam me fazer sofrer, causar na mídia, cobertura especial e ainda
por cima, jogar com o que meu pai fez. — Vince se aproximou. Um dos
sequestradores confessou que foram pagos para ficar comigo por seis dias.
Haviam diversas imagens e fotografias que seriam expostas na mídia. Era por
isso que estavam me alimentando, não era um sequestro por um resgate.
Talvez nunca houvesse um resgate. Victória tinha razão ao perceber
que eles nos matariam e ainda fariam parecer que o Vince que estava por trás
de tudo. As informações no chip eram constrangedoras. Meu sogro era um
homem sem escrúpulos, ou achou que não precisava ter para alcançar o que
ele queria. Era imperdoável o que fez com os Calahan para atingir o objetivo
de levar o meu pai para o seu lado.
O problema de mexer com pessoas perigosas era que eles revidaram de
acordo com os seus princípios. Primeiro uma bomba e depois um sequestro
com planos realmente macabros.
— Ele não planejou o sequestro. Entendo e aceito que se afaste do
relacionamento como era antes, mas, ele é o seu pai. A sua mãe está me
preocupando, seu abatimento e a maneira como está emagrecendo...
— Ligia conversou comigo. As meninas também estão preocupadas...
— E se a convidarmos para viajar conosco? Ela vai poder dormir com a
Abby, sabe que a sua mãe passa qualquer tempo com a netinha e fica
renovada.
— Nossa lua-de-mel vai virar uma viagem em família?
— E se alugarmos duas casas? Nossa família fica em uma, e nós em
outra, assim, todos poderão sair um pouco do estresse e nós teremos milhares
de parentes para tomar conta da Abby para podermos namorar. — Sorri para
a minha solução perfeita.
— Você pensa em tudo, mulher. — Me deu um beijo na bochecha.
— Sou um gênio.
Terminei de comer, voltamos para o quarto e lavei a minha boca para
voltar para cama. Deitei de lado, com a barriga encaixadinha na lateral do
Vince e nós sentimos o bebê mexer. Ele sorriu com os chutes do nosso
menininho agitado. Eu amava estar grávida. Descobrimos que era um menino
por imagem e não decidimos o nome. Vince tinha uma lista, e eu outra, ainda
chegaríamos a um acordo.
De manhã cedo a Abby andou até o nosso quarto, bateu na porta
timidamente e subiu na cama. Deu um beijo e abraço no pai, em seguida, se
inclinou e beijou a minha barriga.
— Bom dia, irmão. — Falou baixinho. Meu coração derretia de amor
por ela. — Bom dia, mamãe.
— Bom dia, meu amor. — Beijei a sua bochecha. — Você dormiu
bem?
— Dormi sim, mamãe.
— Eu vou descer e preparar o café da manhã. — Vince nos deu um
beijos e saiu do quarto. Ele já estava com o seu telefone na mão e
provavelmente começaria a trabalhar logo que terminasse de comer. Ele
estava ficando mais em casa depois do sequestro, principalmente para
aproveitar a minha gravidez ao máximo.
— Quero fazer xixi. — Abby avisou. Ela estava de fralda, mas nós
corremos para o banheiro e coloquei o seu assento no sanitário, ela fez xixi e
batemos palmas, fazendo a dancinha feliz de fazer xixi no vaso. Escovamos
os dentes, trocamos de roupa e penteamos o nosso cabelo juntinhas.
Ensinar a Abby a rotina de cuidados matinal era muito divertido porque
ela lembrava de tudo e ainda ficava me corrigindo se eu trocasse a ordem.
Descemos de mãos dadas.
— Papai, estou sem fralda! — Comemorou quando entrou na cozinha.
— Bom dia, Agatha!
— Bom dia, princesa. — Agatha pegou-a no colo e colocou na cadeira
alta.
— Tem que lembrar de avisar quando sentir vontade de ir ao banheiro.
— Vince beijou sua cabeça e colocou o prato com o café da manhã. — Você
está com vontade de comer o quê? — Me olhou divertido.
— Tudo. Pode colocar a comida na mesa que o seu filho está pronto
para comer. — Sorri e puxei uma cadeira, me sentando.
Após o nosso café em família, Vince foi trabalhar no escritório e eu fui
caminhar na praia com o Gates. Ele estava tão recuperado que ficava
implicando comigo, correndo ao meu redor, provocando a Abby e eu
conseguia fazer o meu exercício tranquilamente. Voltamos para casa, o
professor de natação já estava nos aguardando, fiz a aula matinal com a Abby
me deixando maluca querendo afundar muito ou pular na parte mais funda.
Fiquei muito cansada, precisei deitar no sofá por um tempo enquanto a
Hailey dava um banho e o almoço dela.
— Você precisa colocar os pés para o alto. — Agatha colocou
almofadas nos meus pés. — Talvez a Hailey devesse fazer as aulas com a
Abby.
— No terceiro trimestre, por enquanto, posso aguentar.
Tirei um cochilo no sofá e acordei com fome, o que não era uma
novidade. O almoço estava pronto, Abby estava brincando no quintal e eu
queria comer com companhia. Devagar, andei até o escritório do Vince e
parei ao ouvi-lo falar no telefone.
— Quantas flores você acha que é necessário? — Ele perguntou. —
Então, você pode resolver essa parte também? Ok. Eu vou fazer os
pagamentos.
Esperei que terminasse de falar, morrendo de curiosidade, mas podia
ser uma surpresa. Vince ficou cheio de segredinho nos dias seguintes. Ele
estava apagando seu histórico de mensagens, deletando algumas ligações e
falando baixo no banheiro, no escritório ou se afastando. Ele sabia que não
estava com muita mobilidade para segui-lo com rapidez.
Organizamos toda a viagem, separei roupas, biquínis, comprei alguns
sapatos confortáveis e estava ansiosa para uma viagem em família. Minhas
irmãs estavam no final das férias. Com cinco meses, eu tinha apenas algumas
semanas para poder viajar. Dois dias antes da nossa viagem, Bella entrou na
minha casa toda animada. Ela era outra que estava esquisita. Sorridente e
falando pelos cotovelos. Conhecia a minha irmã como conhecia a palma da
minha mão: ela estava 100% envolvida no que o Vince estava armando e isso
me deixava ainda mais curiosa.
— Jake me deu um dia inteiro no SPA.
— É mesmo?
Se essa fosse a surpresa do Vince, eu ia arremessar alguma coisa nele.
— Ele também me deu um convite para gestante, então, poderei levar a
minha irmã favorita. — Dançou na minha frente.
— Se a Snow te ouvir falar, ela vai surtar. — Brinquei. Snow queria ser
a irmã favorita de todas as irmãs. — Estou precisando de um dia de mimo.
Vou pedir para Hailey vir mais cedo para ficar com a Abby.
— Maravilhoso. Faz tempo que não conseguimos fazer algo juntas.
Fiz uma pequena careta. Meu medo de sair de casa me afastou um
pouco das atividades que eu mais amava. Estava na hora de voltar a viver a
minha vida sem medo. Um dia de meninas era uma excelente maneira de
recomeçar. Na manhã seguinte, mal conseguia me conter de ansiedade. Vince
ficou dormindo com a Abby, o que era um evento raro, já que ele gostava de
sair da cama bem cedo.
Gates me levou para o Spa com a minha irmã, ficava a uns trinta
minutos da minha casa e nós aceitamos o tratamento completo. Massagem,
depilação, cabelo, unhas, tratamento de pele e ainda ganhamos uma
maquiagem. As refeições foram servidas nos horários, eu estava na sala de
massagem, maquiada e cheia de bob no cabelo quando a Bella voltou
enrolada em um roupão.
— Como sei que você é extremamente perspicaz, sei que percebeu que
não foi uma simples vinda ao spa.
— Imaginei que sim.
— Vince me chamou para organizar uma linda surpresa para você e
espero que siga os próximos passos como uma boa menina e sem fazer
muitas perguntas. Confie em mim que vai valer muito a pena. — Sorriu e os
seus olhos brilhavam.
— Eu prometo.
Apesar da ansiedade, fui levada para um quarto e o meu cabelo foi
preso em um coque elegante com a franja de lado. Minha irmã me entregou
uma caixa de jóias delicadas. Vince enviou um bilhete fofo dizendo ser o tipo
de jóia que poderia deixar para os nossos filhos como herança.
— Escolhi o seu vestido, acho que é maravilhoso e vai comportar muito
bem esse meninão aí. — Bella abriu a capa do vestido. Ela deixou tudo
organizado no spa.
Meu vestido era branco, simples, longo e com uma cauda redonda. Era
rendado, parecia do tipo bordado à mão e simplesmente perfeito. No corpo,
ficou ainda mais bonito. Prontas, descemos a escada com cuidado e eu estava
pensando que o Vince deveria estar aprontando alguma coisa sobre o nosso
aniversário de casamento. Foi há três semanas, saímos para jantar e tivemos
uma noite bem sexy.
Gates estava arrumado, me levando de volta para casa e pela
quantidade de carros no meu quintal ficou claro que não era algo totalmente
íntimo. Uma mulher de preto falou em seu comunicador que eu cheguei,
atravessei a sala admirada com o quanto o meu quintal estava decorado com
mesas e cadeiras, flores, toalhas brancas e toalhas lindas.
— Eu vou para o meu lugar agora. — Bella me deu um beijo. — Você
está linda. — Ela já estava chorando.
A mulher me entregou um pequeno buquê com lírios rosa-claro com
alguns brancos e lilás, que representava matrimônio e maternidade. Meu pai
apareceu da cozinha e ele parou, me olhando segurar o buquê com uma mão e
a outra na barriga.
— Você está linda, amor. — Se aproximou e me deu um beijo. — Com
muita honra e gratidão, vou te entregar para o Vince. Dessa vez, com um
sentimento de paz, ele é um bom marido e um excelente filho para mim.
— Ah, papai. É uma renovação de votos? — Respirei fundo para não
chorar.
— Seu marido quer te dizer algumas coisas.
Segurei o seu braço, atravessamos o gramado do meu quintal e havia
um arco de flores do portão do quintal para a praia. Nossas famílias estavam
espalhadas entre os bancos de madeira na areia, flores e guirlandas
decoravam os lugares. Vince estava sozinho no final do corredor, parado
próximo a um lindo arranjo de flores, era o casamento na praia mais lindo de
todos.
Uma mulher tocava a minha música favorita, “A Thousand Years” da
Christina Perri
Ao contrário da primeira vez, no qual estava estoico me esperando,
dessa, estava emocionado. Seus olhos brilhavam como os meus, com
lágrimas de amor e emoção escorrendo pelo meu rosto. Não vi a Abby e
estava curiosa. Meu pai me entregou ao Vince e abracei o meu
marido.
— O que é isso tudo?
— Um novo casamento. Eu amo o nosso primeiro dia, mas eu queria
que você tivesse tudo o que sempre sonhou, inclusive, um noivo no qual te
ama incondicionalmente, te esperando com prazer e ansiedade. — Segurou as
minhas mãos. — Preparada?
— Sim, sempre.
A mulher se aproximou e colocou um pequeno microfone entre nós
dois, fincado na areia, assim mesmo com o vento os nossos convidados
poderiam nos ouvir. Meus avós estavam sentados na primeira fileira com os
meus pais. Os pais dele e as irmãs do outro lado, no qual os bancos estavam
preenchidos com os membros mais próximos da sua família assim como o
meu lado. Acenei para os meus priminhos tão lindos arrumadinhos no banco
ao lado dos pais.
— Aurora Vaughn. — Vince chamou a minha atenção. — Desde a
primeira vez que te vi, me encantei com a sua beleza, mas apenas quando te
conheci de verdade que eu soube o quanto apenas sobrevivi por aí. Eu amo os
seus sorrisos, amo a sua sinceridade, inteligência e o seu carisma. Amo o
quanto é capaz de amar e se entregar por isso. Amo a sua índole e a sua força
em passar por todos os momentos com positividade. Você me ensinou a ser
um homem melhor, um pai melhor e a desejar uma vida intensamente feliz
que achava impossível. Antes de você, acreditava que estava tudo bem viver
uma vida sem amor, depois de você, eu sei que te amar é a melhor parte da
minha vida. Espero passar todos os dias da minha vida ao seu lado, te amo
incondicionalmente.
— Ai amor, eu te amo. — Ele me entregou um lenço e sequei o meu
rosto. — Você quer me matar com uma surpresa dessas. — Solucei e me
abanei, precisando me acalmar. — Eu sei que no começo do nosso casamento
nós precisamos aprender a lidar com o outro muito rápido e passamos por
muita coisa em um curto período de tempo. Aceitar me casar com você foi a
melhor decisão da minha vida, porque encontrei o homem da minha vida, a
minha filha amada e agora, mais um bebê a caminho. A vida ao seu lado é
maravilhosa, todos os dias me sinto a mulher mais feliz do mundo inteiro. Sei
que coisas aconteceram e todas elas nos fizeram mais fortes. — Me
aproximei um pouco mais. — Você é um homem de coração generoso,
apaixonado e destemido. Um homem que sabe o que quer e não tem medo do
seu destino. Tenho orgulho de você todos os dias. Espero passar todos os dias
da minha vida ao seu lado, com nossos filhos e sendo felizes. Te amo muito.
Vince segurou o meu rosto e me deu um beijo apaixonado.
A música voltou a tocar e nos afastamos, olhando a Abby caminhar na
areia com um lindo vestidinho rosa claro, todo bufante, com um laço na
cintura e uma cestinha cheia de flores. Ela estava arremessando com cuidado,
sorridente e soprando beijos para os convidados. Soltei uma risada para as
suas gracinhas e ela se aproximou.
— Papai, eu trouxe a cesta! — Jogou as pétalas para o alto.
— E a nova aliança da mamãe. — Vince pegou a caixinha. —
Obrigada, meu amor.
— Você está linda, mamãe. — Abby sorriu e lhe soprei um beijo.
— Obrigada, minha princesa.
— Agora vá se sentar com o vovô. — Vince apontou para o meu pai.
Vince abriu a caixinha e mostrou as alianças. Eram lindas. Estiquei a
minha mão, balançando os meus dedos. Ele tirou a primeira aliança, um aro
dourado com uma pedrinha de brilhante e deslizou a nova, que tinham
milhares de pedrinhas e combinava com a minha aliança de noivado.
— Prometo te amar em todos os momentos da nossa vida.
Peguei a sua aliança, ele tirou a antiga e segurei o seu dedo, deslizando
a nova em ouro branco.
— Prometo te amar para sempre. — Fiquei na ponta dos pés e, mesmo
com a minha barriga entre nós, joguei os meus braços no seu pescoço e o
beijei com todo meu amor. — Obrigada por essa surpresa. Eu me casaria com
você todos os dias.
Vince chegou na minha vida para transformar tudo. Em um casamento
para salvar a minha família da ruína, encontrei o homem da minha vida e o
meu próprio lugar na vida.
O planejamento do Vince para a nossa renovação de votos foi perfeito,
mas não se comparava com a surpresa para a nossa segunda lua-de-mel. Ele
me enganou o tempo todo dizendo que iríamos para um lugar de praia, mas
na verdade, alugou uma linda casa na França, em Provence, uma das regiões
mais românticas no sul do país. A casa tinha dois quartos e era bem pitoresca,
com aspecto antigo por fora, conservado e moderno por dentro.
Abby ficou em casa com os meus pais. Foi muito difícil sair e deixá-la,
chorei por todo caminho até o aeroporto, me conformei porque o momento a
dois era muito importante para o nosso casamento. Quando chegamos,
percebi o quão incrível seria passar sete dias sozinha com o Vince,
explorando a culinária local, os campos de lavanda, as casas históricas e
usando o meu francês para nos comunicar, porque ele era uma negação
completa.
Estava tão feliz e apaixonada pelo meu marido. Sua surpresa romântica
foi inesperada. Ele era doce e gentil diariamente, um marido realmente
companheiro, mas, um casamento e uma viagem romântica era um feito e
tanto.
— Fica bem aí. — Ele me parou no final de um passeio. — Faz uma
pose. — Incentivou e se afastou. Todas as minhas poses evidenciavam o
quanto estava grávida, então, era inevitável não ajudar a mostrar ainda mais
colocando a mão na barriga. Fiz uma pose bonita e ele me mostrou a foto. O
sol estava se pondo, fiquei debaixo de uma roseira, o chão estava cheio de
pétalas e o meu vestidinho amarelo claro combinava perfeitamente com todo
cenário rústico. — Ficou perfeito.
— Obrigada, amor.
— Vem, vamos voltar para casa. Andamos demais, precisa descansar
um pouco, não quero que fique toda inchada. — Beijou a minha
bochecha, caminhamos de volta, de mãos dadas e apreciando toda paisagem.
Sair da rotina e do dia-a-dia cheio de compromissos foi muito bom.
Apesar da oportunidade, tivemos excelentes momentos namorando, fazendo
sexo do jeito que a gente nunca conseguiu controlar, mas também
aproveitamos para dormir e recarregar as energias. Voamos para casa em um
clima tão gostoso. Bastava um olhar que tinha um sorriso, um beijo aquecido
e suspiros apaixonados.
Fomos direto para nossa casa, a nossa menininha estava na porta
esperando. Ela pulou no lugar, feliz e estava linda usando um vestido
vermelho com uma tiara branca. Minha mãe fazia da Abby a sua boneca. O
tempo todo arrumada como uma princesinha. Era muito fofo.
— Mamãe voltou! — Ela esticou os braços e a segurei.
— Awn, amor. Saudades de você. — Esmaguei-a.
— Ai, mãe. Calma. — Me repreendeu, e ri. — Oi, papai.
— Vem aqui, lindinha. — Ele a pegou de mim. — Você se comportou
com os seus avós? Foi uma boa menina?
— Sim.
— Eu imagino que ela foi terrivelmente mimada e muito paparicada
nos últimos dias, isso sim. — Murmurei e entramos em casa.
Meus pais prepararam o jantar para a nossa chegada. Snow e a Jasmine
estavam sozinhas em casa, em D.C, pela primeira vez. Elas brigaram muito
sobre quem lavaria a louça, porém, meus pais estavam com uma funcionária
novamente, que aceitou dormir enquanto estávamos viajando.
— Muito obrigada por ficar, mãe.
— Foi um prazer, Aurora. Ser avó mudou a minha vida. — Me deu um
abraço apertado. — As fotos estão lindas. Estou feliz em te ver vivendo um
momento tão mágico.
Meus pais foram embora no dia seguinte, enquanto eu amava ser
paparicada pelos meus pais e ficar literalmente com os pés para o alto, eu
tinha mais o que fazer. Logo que saíram, recebi uma ligação da Kourtney,
precisando ajustar o discurso do Sebastian em um jantar de contribuintes na
Virgínia.
— Ele não vai gostar muito da parte no qual ele nega falar sobre a
construção do condomínio de luxo próximo à reserva. — Kourtney
murmurou.
— Vou avisar a ele que não deve sair do escopo programado, não se
preocupe com isso e me ligue se precisar de qualquer coisa. — Falei
calmamente e encerrei a chamada de vídeo com um sorriso. Em seguida,
liguei para o meu sogro. — Olá. Como vai você?
— Estou bem, minha querida. E você? — Ele sorriu. Sebastian não
estava nada feliz em ter todos os aspectos da campanha controlados, mas ele
entendeu o recado ao se afastar dos seus planos ambiciosos, principalmente
depois que colocou a família inteira em risco. Apesar de odiar que parte do
seu plano deu certo, eu não me arrependia de ter me casado com o Vince.
Depois de me pedir perdão pelo sequestro, não falou nada sobre me ter
trabalhando na campanha e determinando cada novo passo. Tudo era
estrategicamente estudado junto com a Sienna que era paga para gerenciar a
campanha. Ele não pediu perdão ao Vince por tudo que envolveu a
Victória, eles mal se falavam. Vince sentia falta do pai, mas não estava
disposto a voltar o relacionamento como era antes, e entendia ele.
Aceitando a minha sugestão de discurso, não discutiu como ele
discutiria com a coitada da Kourtney que precisava aturar os rompantes dele.
Encerrei a minha parte e desliguei o meu computador. Um programa
investigativo passaria uma matéria completa sobre o meu sequestro,
aproveitei que a Abby estava na sua atividade em grupo em uma creche perto
junto com a babá e o guarda-costas, fiz um balde de pipoca e liguei a
televisão.
A vida política me fascinava e era interessante o quanto podíamos
controlar a imagem que gostaríamos de passar para o mundo. Todo cenário
da rixa da família Vaughn com a família Calahan, as informações de
transações bancárias, depoimentos, absolutamente tudo foi armado para nos
fazer vítimas com um pouco de culpa. A última parte caiu nas costas dos
meus sogros mesmo.
“AURORA VAUGHN DIZ QUE PERDOA JOSEPHINE
CALAHAN PELO SEQUESTRO: A MALDADE ESTÁ NO CORAÇÃO
DELA, NÃO NO MEU. DESEJO QUE SIGA EM PAZ”.
— Saiu conforme o planejado? — Vince entrou em casa, deixou a
sua pasta na mesa e tirou a gravata. — Tentei assistir no carro, mas a conexão
estava caindo muito.
— Sim. Foi exatamente como planejado e vou esperar a Sienna me
enviar o termômetro da reação do público mais tarde. Já estou recebendo
milhares de mensagens nas redes sociais e comentários positivos. — Abri um
sorriso. — Alguns até dizem que podem perdoar o seu pai por ter feito
escolhas ruins.
— Eu te disse: tudo é a maneira como as coisas são feitas. — Me
deu um beijo. — Soube que trabalhou o dia inteiro. Como está se sentindo?
— Estou bem e juro que não extrapolei. — Ergui as minhas pernas.
— Não estou inchada. Na verdade, estou bem disposta em levar o meu
marido para o quarto enquanto a pequenininha não volta do seu
compromisso.
— Seu marido não vai se opor.
Larguei metade do balde de pipoca e o meu refrigerante na sala e
subimos a escada. Vince com as suas roupas de trabalho me dava um tesão
fora do comum, principalmente depois de grávida. Me sentei na pontinha da
cama apenas observando-o se despir com o olhar atento nas minhas reações.
Tirei o meu vestido, estava sem sutiã e os meus novos peitos de mamãe
fizeram o meu marido sorrir.
— Eu vou te manter grávida muitas vezes.
— Acho que prefiro colocar um silicone. — Soltei uma risada.
— Não, gosto de peitos naturais. Peitos de mamãe. — Sorriu e
balançou as sobrancelhas. Ajoelhou entre as minhas pernas, me deu um beijo
gostoso e desceu o rosto para os meus seios, provocando os meus mamilos
com a língua, fechei os meus olhos e deixei que tirasse a minha calcinha. —
Você está tão gostosa, baby. Já me deixava maluco antes, agora então,
porra...
Fizemos amor deliciosamente, sexo ficou mais intenso depois da
gravidez e eu estava aproveitando porque nos informaram que eu poderia
deixar de estar confortável a partir do terceiro trimestre. Tirei um cochilo até
o momento que a Abby invadiu a casa gritando que estava de volta,
exatamente como eu fazia. Sorrindo, Vince desceu para vê-la e eu despertei
mais devagar, indo até o quarto em frente ao nosso, guardando as roupinhas
do bebê que a minha mãe lavou enquanto estava aqui.
Se fosse uma menina, eu tinha um monte de decoração, mas como
era menino, estava comprando tudo. Não escolhi nenhum tema, mantive as
paredes brancas, encomendei um berço que virava cama, um trocador, uma
nova banheira de pé e alguns quadros. Não queria um quarto cheio de coisas
específicas de meninos e muito menos pelúcias em excesso. Queria decorá-lo
sozinha, se continuasse no ritmo lento, o bebê iria nascer e o quarto estaria
incompleto.
— Mamãe... — Abby entrou no quarto. — Eu fiz bolo!
— Você fez bolo?
— Sim, vem! — Esticou a mão, peguei e descemos a escada juntas.
Na cozinha, em cima do balcão, estava um bolo de aparência
duvidosa que o Vince fotografava como um bobo. Foi aula de culinária e a
Abby assou um pequeno bolo com os seus amiguinhos, com a supervisão da
babá e da professora. Era um bolinho de banana e apesar de parecer que foi
amassado para caber na forma, estava uma delícia. Saber que a minha
menininha teve os seus dedinhos gordinhos maravilhosos esmagando as
bananas ali tornou ainda melhor.
— Será que teremos uma confeiteira na família? — Brinquei ao
terminar de comer o bolo.
— Abby arrasa. — Vince fez com que ela batesse na sua mão. —
Agora é hora do banho. Você brincou muito?
— Sammy bateu no Theo. — Abby contou. Ela falava tudo, menina
esperta.
— Eles são irmãos. Espere só até o seu irmão nascer. — Vince riu e
a levou para o segundo andar.
Pensando em irmãos, senti saudades das minhas pentelhas favoritas.
Vince estava sempre vendo as irmãs e elas apareciam em casa sem aviso, o
que não era um problema. Ligia estava indo muito bem no trabalho. Nos
apresentou uma namorada, terminou e começou a namorar um amigo do
Flynn. Ele foi seu acompanhante na minha renovação de votos, não pude
falar muito, mas ele era bem bonito.
Cleo estava se dando muito bem no trabalho apesar de ser algo que
ela não gostava muito. Estava se dedicando aos ensaios de uma peça. Já a
Lindsey não sossegava em nenhum emprego. Ela não gostava de receber
ordens e eu até brinquei que não vivíamos no seriado Friends para que
pudesse ficar até às onze da manhã em uma cafeteria no centro da cidade. No
entanto, ela foi uma surpresa ao se manter fiel e grudada no Vince.
Devido à ânsia que tinha com o pai, imaginei que ela ficaria cega
para as atitudes do Sebastian, era difícil não ser manipulado quando ele fazia
uma expressão de choro e colocava a mão no peito, cheio de pesar. Lindsey
até convivia muito bem com o pai e a Nicole, mas, ela não caía em nenhum
dos golpes dele em se fazer de vítima. Ela era divertida, carinhosa, apenas
louca de um jeito bom.
Pensando nas minhas irmãs, enviei uma mensagem para cada uma,
mas foi a Jasmine que me ligou de volta em chamada de vídeo.
— Oi! Como você está?
— Estou com saudades de comer comida japonesa. E você?
— Estava ensaiando um concerto, tirei uns minutos para descansar
os meus dedos e os ouvidos irritantes da Snow.
As duas começaram a brigar e eu só fiquei com a câmera ligada
assistindo a discussão com diversão. O primeiro concerto da Jasmine foi um
sucesso e ela foi chamada para outros, estava ganhando destaque e um cachê.
Ela estava feliz com o reconhecimento e esperançosa de conseguir uma vaga
em Julliard no próximo ano. Minha irmã tinha talento para entrar por mérito
próprio, mas se por algum acaso não acontecesse, iria interferir sem nenhuma
culpa.
Snow era uma força da natureza. Ela continuava implicante, soltando
as melhores pérolas, sempre furiosa e chamativa. Causava um incêndio, agia
como uma tempestade e passava por aí como um furacão. Vince deu a ela
uma câmera profissional e desde então, se animou em fazer parte do jornal da
escola. Suas matérias eram muito boas, objetivas e bem críticas. Seu humor
ácido corroborava com a linguagem jovial.
Alguém que podia causar o caos em um piscar de olhos como a
Snow, com toda certeza seria uma excelente jornalista do futuro.
Bella e o Jake estavam terminando de reformar a casa para começar
as tentativas de ter filhos. Estava exultante que depois de alguns pesadelos, a
nossa família estava encontrando caminhos felizes.
Me joguei no sofá e curti alguns momentos de silêncio, conversando
com o meu bebezinho.
As semanas seguintes se passaram com muito trabalho. Vince e eu
participamos ativamente dos últimos comícios. Foi tão exaustivo quanto às
primárias, mesmo que soubéssemos o resultado, ainda era preciso
desempenhar um papel e grávida, meu humor estava bastante perigoso. Nos
dois últimos, minha pressão arterial estava elevada e fiquei de fora, assistindo
pela televisão.
Todos os discursos, legendas das fotografias, entrevistas e até alguns
ângulos de imagem foram planejados por mim. Eu tinha consciência que não
podia apelar demais ou seria difícil impedir a vitória do Sebastian. Na noite
do resultado das eleições, Vince e eu não fomos para D.C porque eu não
podia mais viajar e a minha pressão arterial estava descontrolada, o que me
impedia de fazer muitas coisas como eu gostaria.
— Ele teve mais votos do que o esperado. — Vince estava atrás de
mim e eu recostada no seu peito. Abby estava dormindo. — Ganhou mais
votos que o seu oponente.
— E perdeu nos estados que já sabíamos. Essa porcentagem é fácil
de recuperar, certo?
— Temos alguns anos para recuperar, será sempre algo sutil e apesar
de achar algo péssimo, o povo tem uma memória realmente curta quando se
trata dos defeitos dos seus candidatos. Vamos ficar bem. — Deu um gole do
seu vinho. — Agora é só descansar, seu trabalho está feito e poderá descansar
e se preparar para a chegada do nosso menininho. Ele é mais importante que
tudo.
Ergui a minha blusa e olhei para a minha barriga redonda,
apaixonada e ansiosa para a chegada do meu filho. A vida era feita de etapas
e eu estava pronta para encarar a parte da maternidade que eu ainda não
conhecia.
Algumas semanas depois.
— Com cuidado, amor. — Orientei a Abby ao tocar o seu irmãozinho.
Com os olhos arregalados, assentiu e encostou a mãozinha na cabecinha
cabeluda do seu irmão. — Diga olá para o Noah. — Incentivei. Abby
projetou o lábio e começou a chorar. — Ei, querida. O que foi?
Sem querer falar, só sacudiu a cabeça. Aurora sinalizou para colocá-la
em seu colo. Devolvi o Noah para o bercinho, peguei a Abby e coloquei ao
lado da sua mãe com cuidado. Aurora passou por uma cesariana, nós
tentamos o parto natural, mas ela não evoluiu conforme o esperado e a sua
pressão arterial estava muito elevada. Os médicos decidiram pela cesariana,
ela não queria e ficou bem chateada, mas, eu estava aliviado que ela e o bebê
estavam bem.
Passamos a primeira noite tranquilamente, de manhã cedinho ela
acordou bem, Bella trouxe a Abby para conhecer o Noah antes de toda nossa
família entrar para conhecê-lo. Minha filha estava chorando no colo da mãe,
não era um choro de birra ou de drama, era um choro sensível.
— Você está feliz em conhecer o seu irmão? — Aurora conferiu e a
Abby assentiu rapidamente. — Está emocionada, filha?
— Ele é bonitinho. — Sussurrou, eu sorri, com os olhos marejados.
Abby estava chorando por conhecer o Noah. Peguei o meu lindo
menininho e me aproximei da cama, sentando na pontinha, a Aurora mostrou
os dedinhos das mãos, dos pés, a boquinha pequena e o narizinho que era
igual ao meu. Noah era carequinha, com uma penugem clarinha muito rala e
estava menos inchado que as primeiras horas depois do nascimento. Ele era
um menino grande, Aurora ficou de cama nas últimas semanas de gestação e
a sua barriga ficou imensa.
Ficar na cama com a minha família me fez sentir uma felicidade tão
grande que as lágrimas transbordaram.
— O papai está chorando. — Abby falou baixinho. Aurora ergueu o
rosto, sorriu emocionada e me deu um beijo nos lábios.
— Papai está muito feliz. — Aurora explicou. — Estamos felizes
porque você e o seu irmão nos fazem sentir muito amor.
Noah soltou um resmungo, mexendo as mãozinhas, paramos para
observar tamanha fofura e perfeição. Quando a Abby nasceu, eu estava com
tanto medo. Apesar de não ter perdoado a Victória pela vida mentirosa que
ela construiu, finalmente entendi todo o seu conflito. O nascimento da minha
filha nunca deixaria de ser o primeiro momento mais feliz da minha vida, ela
abriu as portas para o homem que sou hoje. Foi por ela que me casei com a
Aurora e encontrei o amor, podendo construir a família que sonhava e achava
impossível.
Observando-a segurar o nosso menino e conversar com a nossa menina,
eu só podia agradecer que mesmo as piores atitudes do meu pai me levaram
diretamente para aquele momento único e quanto a isso, não existiam
arrependimentos. Me tornei um homem diferente. Evolui e amadureci,
encontrei o meu lugar, deixei de ser conduzido para conduzir e expandi o
meu alcance. Com a minha própria força e influência, conquistei o meu reino.
Lá fora, as pessoas eram viciadas em acompanhar cada passo da minha
vida, me chamavam de o novo rei, porque elas enxergaram a mudança e
estavam sedentas por mais. Tudo aconteceu por causa da Aurora. Sutilmente,
com um sorriso no rosto e um olhar de menina, foi movimentando o jogo sem
que ninguém percebesse. Começou quando aceitou o casamento e teve os
seus próprios termos, assim em diante, eu nem percebi o quanto ela me
empurrava na direção certa até que abri os meus olhos.
Aurora era a verdadeira peça importante.
Ela era a rainha, a minha rainha.
O mundo ainda iria se surpreender com o poder que Aurora Vaughn
tinha em mãos e, por mim, estava tudo bem. Eu a amava e iria apoiá-la em
tudo.
Alguns anos depois...

— Sr. Vaughn, você está gostoso. — Aurora ajeitou a minha gravata e


sorri. — Acho que devemos batizar os novos carros. — Piscou e me inclinei,
beijando os seus lábios com cuidado, sussurrei no seu ouvido o que eu faria
com ela dentro do carro novo a caminho de casa. Seu olhar excitado
encontrou o meu e ela mordeu o lábio. — Podemos ir embora agora?
— Não falta muito. — Prometi. Ela parou ao meu lado quando a
Kourtney entrou na sala que estávamos e colocou as primeiras pastas em
cima da mesa.
Aurora se aproximou, olhou a capa e me deu um aceno, confirmando
que era o que esperava. O acordo de financiamento da agência, assim muita
coisa passaria por baixo dos panos, longe dos olhos do público e manteria
todos os negócios necessários em pleno funcionamento.
Minhas irmãs estavam do lado de fora, conversando e o meu pai
estava pronto, na varanda, tirando algumas fotografias oficiais. Minha mãe
entrou no salão oval e olhou ao redor. Era um lugar lindo, único, que
nenhuma fotografia ou filme realmente fazia jus à importância de estar ali.
Era o primeiro dia oficial do meu pai, Sebastian Vaughn, como Presidente
dos Estados Unidos.
— Qual dos dois você quer? — Minha mãe mostrou dois broches de
rubis para a Aurora.
— Esse aqui vai combinar mais. — Aurora escolheu e a minha mãe
colocou em seu vestido azul escuro. — Ficou bom?
— O que não fica bom em você? — Mamãe sorriu e saiu, indo
colocar o outro broche na Ligia. A relação entre a minha mãe e a Aurora
estreitou muito nos últimos anos. Na verdade, minha esposa era a única
pessoa que tinha uma boa relação com todas as pessoas ao meu redor.
Todos sabiam que era ela quem determinava cada aparição pública,
ela controlou todos os aspectos da vida política dos meus pais e planejou a
campanha presidencial com precisão e frieza. Aprendeu muito e se superou.
Ela foi surpreendente em muitos aspectos, deixou a maior parte dos nossos
associados de boca aberta e me encheu de orgulho.
Encostei na parede, olhando-a passear pela sala, passar a mão na
mesa de madeira, dar a volta e encostar na grande cadeira de couro. Puxou,
sentou e cruzou as pernas me dando um olhar.
— Acho que eu fico muito bem nesse lugar aqui. — Deu um tapinha
na mesa. — A faixa presidencial bem ajustada ao meu vestido branco.
— Branco? — Não era uma escolha muito comum.
— Sim. Serei a primeira mulher a ocupar esse lugar, não vou usar as
cores dos partidos ou da bandeira. Eu vou usar algo que represente o
novo, nada melhor que branco. — Sorriu, eu amava aquele sorriso. Era o que
mostrava a quão inteligente e determinada ela era.
— Aurora Vaughn, Presidente dos Estados Unidos... soa muito bem
aos meus ouvidos. — Me aproximei da mesa, me inclinei e beijei os seus
lábios. — Minha gostosa mulher poderosa.
— É isso que eu quero. — Confirmou.
Aurora ficou de pé e deu a volta, me abraçando apertado.
— Se é o que você quer, você terá.
Fim
Agradecimentos

Agradeço imensamente a companhia e dedicação das minhas amigas e


betas: Gabrielly Moretti, Paula Guizi e Augusta Pacheco. Sem o carinho e
trabalho das minhas assessoras, esse trabalho não seria possível, portanto, o
meu muito obrigada à KF Assessoria Literária. Obrigada a Touch Designers
pela capa e a autora Van Ianovack pela parceria nos surtos de escrita. Um
livro é um trabalho de muitas pessoas, inclusive, até da minha amada mãe
que me dá suporte para escrita e as minhas irmãs por todo incentivo no dia-a-
dia. E por fim, agradeço a todas as minhas leitoras.
[Sobre a autora]

Mari Cardoso tem 28 anos, nasceu em Cabo Frio e


atualmente mora no Rio de Janeiro com sua mãe, uma gata
e um cachorro. Formada em fotografia, trabalha como
fotografa e design gráfico, possui uma loja de papelaria
personalizada.
Até o momento, tem algumas histórias publicadas na
Amazon e estas são:
Em Outra Vida
A Valentia do Amor
Caminhos do Coração
Legalmente Apaixonados
Bem Me Quer
Uma Segunda Chance Para o Amor
O Melhor Presente
Apenas Entre Nós
Curvas do Destino
Alguém Como Você
Diga Que Me Ama
Perigoso Amor
Império Perigoso
Perigosa Tentação
Prontos Para o Amor
Suas redes sociais:
www.instagram.com/mcmaricardoso
www.twitter.com/mcmaricardoso

Você também pode gostar