Você está na página 1de 226

Copyright © 2023 Morgana Salvatore

PERFECTION
1ª EDIÇÃO
Está é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com a realidade é mera
coincidência.

Betagem: Megan Santos


Revisão: Aline Duderes e Megan Santos
Capa, Diagramação e Ilustrações: M. S Design

Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida


sob quaisquer meios existentes – tangíveis ou intangíveis – sem
autorização da autora. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do código
penal.

Todos os direitos reservados.


Edição digital | Criado no Brasil.
Indice
Indice
Entenda
Carta da autora
Avisos
GATILHOS
Epígrafe
Prólogo
Prólogo 2
Prólogo 3
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Extra
Capítulo 19
Epílogo
Epilogo
Epilogo
Prólogo
Redes Sociais
Entenda

DIVISÃO CONTINENTAL
Carta da autora
O personagem desse livro é o VILÃO da série inteira, ler a história pelo
ponto de vista dele não vai fazê-lo deixar de ser o vilão.
Eu sempre conheci essa história, mas nunca pensei em escrever ela, mas
aqui está e eu tenho certeza de que pedir para gostar e esperar que vocês
gostem é demais.
Porém aqui está....
Avisos
O PERSONAGEM PRINCIPAL DESSE LIVRO É O VILÃO...
Esse não é um livro para todos, leiam os gatilhos, os levem a sério e
principalmente entenda que eu apenas escrevo, a voz na minha cabeça tem
todo o crédito (positivo e negativo) por criar esses enredos, personagens e
situações. Gosto de ter a certeza de que somos pessoas diferentes
convivendo no mesmo corpo. Portanto os personagens são os únicos
culpados e os únicos que devem ser responsabilizados pelos caminhos que
escolhem seguir e pela maneira que fazem as coisas. Eu já tentei mudar os
enredos, para encaixá-los (personagens) no publicamente esperado,
politicamente correto, porém não funciona. Já entendi e aceitei que meus
personagens são filhas da puta quebrados e com visões de mundo
distorcidas e... está tudo bem.
EU me responsabilizo pelo que ESCREVO e VOCÊ se
responsabiliza pelo que escolhe LÊ. Por isso existe os gatilhos
então os leia, reflita e DECIDA se vale ou não a pena iniciar a
leitura.
Partindo disso fica óbvio que esse não é um livro para qualquer um e seu
público é bem específico, se você não gosta "desse tipo de livro" ou não se
sente à vontade com esse tipo de conteúdo NÃO LEIA porque os
personagens são problemáticos, com atitudes problemáticas e aqui está a
lista de gatilhos que seguir com a leitura pode provocar e todos eles de
alguma forma podem ser romantizados.
O FINAL DESSE LIVRO ASSIM COMO DE TODOS (OU QUASE
TODOS) DA SERIE LA MÁFIA TERÁ UM FINAL “ABERTO” COM
GANCHOS PARA O PRÓXIMO LIVRO DESSE UNIVERSO.
GATILHOS
💷 Violência Doméstica;
💷 Tentativa de suicídio;
💷 Violência contra crianças;
💷 Aborto induzido;
💷 Agressão física, psicológica e verbal;
💷 Abuso psicológico e físico;
💷 Consentimento duvidoso;
💷 Romantização da máfia e de crimes (inclusive os hediondos);
💷 Sexo explícito e descritivo;
💷 Personagem menor de idade, ela tem 17 anos;

Se depois disso tudo você decidir seguir boa


leitura!
Não se trata de um livro sobre o amor.
Ao menos não entre um homem e uma mulher,
mas o amor pelo poder e tudo que alguém é capaz
de fazer para consegui-lo.
Epígrafe
Talvez eu acorde uma vez
sem estar atormentada diariamente, derrotada por você
Justo quando eu pensei que já tinha chegado ao fundo
Eu estou morrendo novamente...
Going Under - Evanescence
Prólogo
“Se a Amazon lhe fez cair direto aqui volte algumas páginas. Para trás ficou epígrafe, a
hierarquia, divisão territorial, a ilustração, avisos e gatilhos. Esses dois últimos muito importantes
para seguir lendo.”

Lara
Encarei-o do outro lado do pátio desfilando ao lado dos seus respectivos
amigos, Frederico Barone futuro consigliere e Enrico Moretti futuro capo
da Cosa Nostra. Meu alvo era o ponto mais alto da hierarquia, era o homem
que comandaria a máfia italiana. Minha missão não era fácil, mas nada na
minha vida foi e eu era muito competente para me deixar intimidar por algo
assim.
No segundo em que passaram por mim virei de bruços como se a presença
deles não fosse nada demais, pelo canto dos olhos eu conseguia perceber o
olhar do Enrico na minha bunda e nos meus movimentos, mas quem eu
queria que olhasse permanecia focado do que o Frederico dizia como se
tudo ao redor não importasse. Contive a vontade de bufar e permaneci de
cabeça baixa aproveitando o sol. Não podia ser tão descarada, para o que eu
queria precisava ser mais do que uma foda, precisava ser um desafio, algo
que ele tinha que conquistar e não apenas mais uma das que se jogavam aos
seus pés.
Prólogo 2
Domenico
Encarei minha irmã gêmea me deliciando enquanto ela escutava a notícia de
que tinha sido trocada por alguém de mais baixa posição hierarquia que ela.
Não dava para negar que ela era bonita, seus cabelos claros, olhos azuis a
dava uma aparência boa e apenas sua altura era algo que não era tão
feminino e delicado. Mas nada disso importava, o flerte com o meu amigo
tinha sido quebrado por mim que jamais permitiria que o idiota do
Frederico tivesse a vantagem sobre mim de estar casado com a minha irmã.
O melhor era meu pai casar ela com algum inimigo e a jogasse para bem
longe de mim e
—Você é o responsável por isso não é Domênico? —Dei de ombros, não
era segredo que eu nunca aprovei aquela aproximação que meu pai quis
forçar. Então ter ela rindo para o meu melhor amigo como se ele fosse o ser
mais engraçado do mundo não me deixou nada feliz e ela sabia que eu não
gostava de não estar feliz então até que teve sorte que eu descontei minha
frustração do maldito Frederico e não nela.
—Como eu posso ser o responsável pelo seu flerte falido? Você é a sem
graça dá família e a culpa é minha?
—Domenico não fale assim com a sua irmã.
Encarei meu pai cogitando desafiá-lo, mas a idiota não merecia tanto e até
que eu estivesse no poder precisava deixar ele acreditar que mandava e que
mandaria em mim depois que eu me tornasse o chefe só assim para que ele
renunciasse e me deixasse assumir antes de sua morte.
—Desculpa, mas como eu posso estar por trás de um pedido de casamento
de outra pessoa? Ela flertou com o Frederico e ele percebeu como seria
infernal estar casado com ela tanto que se apressou pedindo outra em
casamento antes que você e o pai dele definissem as coisas e ele não tivesse
mais opção. —Não tinha sido assim, depois da tarde que ele passou com a
minha irmã ele era todo sorrisos dizendo o quanto ela era fofa e divertida
então eu tive que intervir e garantir que ele ficasse longe dela
definitivamente.
—Falando em coisas que eu defini você e a Francesca se casarão no final
desse semestre então faça o papel de bom noivo e vá visitá-la. —Estampei
um sorriso no rosto enquanto sentia tudo definhar por dentro, eu odiava
tudo naquela garota, sua voz, seu sorriso, a forma que com ela era tudo
perfeito demais, certinho demais, como ela tinha sido criada para ser a
esposa perfeita. Era bonita, algo espetacular de se olhar, quase irreal de tão
bela, porém eu queria mais, muito mais, queria alguém quente, alguém que
desafiasse as regras, alguém real e não a boneca construída para a perfeição.
—Farei isso hoje mesmo. —Seria a maior tortura de todas me submeter a
companhia daquela garota, sim, garota, com seus dezessete anos e sendo
criada dentro de uma redoma podia-se prever que sua companhia era
horrível, mas eu ainda não podia decepcionar e estar casado com a filha do
líder do conselho me ajudaria no momento certo.
Prólogo 3
Francesca
Encarei mais uma vez meu vestido, ele era comportado, meus cabelos
estavam penteados e brilhavam – o vermelho vivo ainda me incomodava,
eu sempre me destacava, ninguém por ali tinha um cabelo daquele tom, na
escola as meninas falavam e eu não sabia o que fazer. Papai jamais me
deixaria pintar os fios então eu tinha que lidar com isso. Receber o
Domenico para um jantar, sabendo que ele era meu noivo servia para me
envergonhar o suficiente para quase desejar que aquilo não acontecesse.
Eu sabia que em um momento ou outro meu pai escolheria um homem
honrado para que eu me cassasse, mas eu nunca imaginei que seria o futuro
chefe da máfia. Mamãe sempre deixou claro que depois do que aconteceu
com a Vitoria eu não teria muitas chances e teria que me contentar com o
que o papai arrumasse e devia torcer para que fosse bom o suficiente para
que representasse um bom casamento.
Então o chefe da máfia era muito mais do que eu podia considerar.
—Posso entrar? —Encarei a Elena na porta do meu quarto e sorri
assentindo.
Ela parou atrás da penteadeira e pegou a escova da minha mão passando no
meu cabelo.
—Você acha que eu estou bem-vestida? —Ela odiava minhas preocupações,
mas eu precisava que ela lidasse com isso agora e me deixasse calma.
—Claro que sim, está deslumbrante e muito nervosa —riu, — é só um
jantar.
Um jantar para conhecer meu noivo.
—Não sei como reagir a isso, será que o papai e o tio Salvatore fizeram a
escolha certa? Será que serei uma boa esposa para o Domenico? Uma boa
primeira-dama da máfia?
—Francesca você é a pessoa perfeita para tudo isso, conhece tudo que se
espera de uma princesa e já é uma então vai ser fácil se adaptar.
—Não sei e se eu fizer alguma coisa de errado? Disser alguma coisa? —
Minha insegurança gritava.
Girei em sua direção.
—Francesca antes de qualquer outra coisa vocês serão marido e mulher,
então esqueça só um pouquinho do que se espera de você e se preocupe em
mostrar a ele você mesma.
—Eu mesma? —Esse conselho realmente era útil? Eu amava a Elena, mas
naquele momento eu só queria a mamãe para me dizer o que fazer, ela
saberia indica como eu devia me comportar.
—Sim, porque será fácil você desempenhar um papel para agradá-lo hoje,
mas você não conseguiria manter esse papel por uma vida toda.
Será que não? E se ele não gostasse de mim sendo eu mesma?
[...]
Capítulo 01
Lara
Eu já conhecia tanto da rotina dele que eu podia me antecipar momentos
como aquele, podia estar ali e saber que ele apareceria. Mas para assegurar
tinha uma outra equipe seguindo-o de perto para garantir que as coisas
sairiam como eu queria e como eu precisava que acontecesse. Três meses
envolvida no meio dele e ainda assim ele parecia que não me notava e
quando notava o interesse apenas não era o suficiente para atraí-lo a mim.
Eu estava quase perdendo aquela missão, quase estavam colocando outra no
meu lugar então aquela era uma das minhas últimas chances e voltar de mão
vazia me deixava em uma situação ruim. Era minha primeira missão de
campo e meu trabalho era coordenado por resultados, sem eles eu estaria
em maus lençóis.
Observei o quadro sem entender muito da pintura abstrata, eu tinha passado
duas semanas com um especialista em artes que estava tentando me ensinar
a fazer leitura dos quadros – uma das grandes paixões do meu alvo – porém
eu era péssima naquilo, não conseguia entender os sentimentos expressos
através das escolhas de cores, texturas e traços já que para mim tudo se
resumia a ser ou não bonito, mas dizer isso para um admirador de obras de
artes não me faria ganhar a atenção que eu precisava.
—Eu fiquei me perguntando quando você vai desistir de atrair minha
atenção? —Simulei um susto que verdadeiramente não tinha levado, eu era
consciente demais ao meio para me assustar com tanta facilidade.
—O que? —Girei nos calcanhares ficando de frente a ele que estava perto
demais, quase nos encostávamos.
O cheiro dele, amadeirado, atiçou meu olfato fazendo eu me surpreender
em quão bem ele cheirava, não que aparentasse feder, sua aparência sempre
limpa era um bom indicativo de que tinha sua higiene pessoal em dia,
porém não imaginei que fosse tão bom.
—Você tem me seguido, no clube, caminhadas, baladas, museus. —Sim,
cada um dos lugares que eu estive para que ele me notasse e ignorada em
todos eles.
—Eu já estava aqui e foi você que chegou então algo na sua frase não faz
sentido, como posso segui-lo estando um passo na sua frente? —Dei de
ombros e voltei a atenção ao quadro na minha frente. —Devo me preocupar
em estar sendo seguida?
Sua risada melodiosa me alcançou me fazendo ri junto.
—Se eu estivesse lhe seguindo você não saberia, nem mesmo desconfiaria.
—Sim, se eu não fosse uma agente treinada que acompanhava até o vento
ao meu redor. —Mas eu ainda fico curioso sobre o porquê você tem se
esforçado para chamar minha atenção.
—Meu Deus! —Joguei as mãos para o alto exagerando nos movimentos. —
Você não está noivo? Por que eu ficaria tentando chamar sua atenção? Eu
posso ser novata por aqui, mas tenho certeza sobre o funcionamento das
coisas e sei que quando o Dom fala sua palavra é lei e pelo que eu tenho
ouvido ele definiu que você vai se casar. Sinceramente eu sou muito para
me contentar com um posto de amante. —Ele arregalou os olhos estudando
minhas palavras antes de sorri de um jeito perigoso, os olhos azuis
brilhavam me convidando a um confronto. —Mande lembranças minhas ao
Frederico.
Passei por ele fazendo questão de jogar meus cabelos loiros em sua direção,
nossa proximidade fez com que os fios encostassem em seu peito.
Tocar no nome do único solteiro, ainda, do trio me fazia arriscar demais, o
meu objetivo não era o amigo, eu o queria, eu precisava chegar nele, perto o
suficiente para derrubar todos. Mas eu confiei demais apenas nos meus
olhos e deixei que ele e sua aparência constantemente desinteressada me
influenciasse e o deixasse perceber demais.
—Se arrume eu te busco às oito.
Não era ele que estava dando as cartas.
—Repasse minhas palavras e você vai saber que a minha resposta é não. —
Nem mesmo me virei e continuei caminhando para longe dele. Talvez ele
ainda não tivesse percebido, mas tinha acabo de aceitar meu desafio.
Me seguia sem esforço nenhum.
—Talvez você não esteja tão bem informa quanto acha já que pensa que
pode me negar alguma coisa. —Ele foi mais rápido que eu e passou por
mim. —Às oito, não gosto de atrasos.
Fiz um esforço para manter meu sorriso para mim e forcei uma expressão
incrédula enquanto observava ele deixar o museu.
[...]
Meu vestido alcançava meu joelho, era pressionado ao corpo e deixava
meus ombros completamente amostra graças ao decote ombro a ombro. Era
uma escolha sexy ao mesmo tempo que era uma roupa elegante e segura.
Eu estava agradável para se olhar o que naquele segundo era minha
prioridade.
Retoquei mais uma vez o batom nos meus lábios aplicando mais uma
camada de brilho logo em seguida.
O relógio marcava sete e cinquenta e nove, se ele fosse pontual estaria ali
em poucos segundos. Forcei uma reação nervosa enquanto me sentava no
sofá. Já tinha passado todas as especificações, estudado todas as
probabilidades do que significaria aquela noite, provavelmente era a minha
única chance de me inserir na vida dele e se eu falhasse ali não teria mais
escapatória e eu estaria fora daquela missão e não conseguia aceitar algo
assim.
A campainha tocou no segundo exato em que o relógio marcava oito horas.
Sorri e permaneci sentada apenas pelo prazer de fazê-lo esperar. Antes que
eu pudesse finalmente levantar e ir até a porta a madeira cedeu ao impacto
abrindo deixando-o adentrar minha sala de estar, muito maior do que uma
mulher que morava sozinha pudesse precisar. Ele tinha acabado de
arrombar minha porta. Apertei o batom em minhas mãos e caminhei até ele,
dessa vez não precisei simular uma reação porque eu realmente estava
surpresa com sua atitude.
—Por que isso? Eu já estava vindo.
—Eu falei oito.
Cruzei os braços realmente irritada que ele tivesse tido a capacidade de
estragar minha porta apenas porque me atrasei.
—Você arrombou minha porta, que droga! Eu estava apenas retocando meu
batom, levou um minuto. —Busquei a confirmação no relógio que pendia
na parede.
—A próxima vez você retoque o batom um minuto antes.
—Como que eu passarei a noite com a porta estragada? —Isso não era
realmente uma preocupação.
—Não se preocupe assim que você voltar para casa estará tudo no devido
lugar. —Eu não duvidava disso. —Agora vamos. —Me estendeu a mão.
Odiava aquele tipo, odiava-o com todas as minhas forças, odiava
prioritariamente como ele se sentia superior apenas por ser homem, mas ele
era a minha missão e tudo que eu pensava e achava não contava ali naquela
situação.
[...]
O restaurante escolhido era um dos melhores da região, não podia ser
diferente, eu estava sentada ao lado do futuro chefe da máfia. Nossa
recepção deixava claro que aqueles era um dos lugares associados ou
pertencentes a máfia.
Ele foi cavalheiro e fez questão de puxar a cadeira para mim.
Observando a nossa volta eu conseguia perceber algumas outras pessoas da
máfia, membros do topo da hierarquia, um dos underboss inclusive estava a
apenas duas mesas de nós. Ele não estava se preocupando em ser discreto.
—Você não está noivo? —A pergunta escapou dos meus lábios enquanto eu
ajeitava o guardanapo.
—Não quero conversar sobre esse assunto.
Se sentou na minha frente e deu um longo gole no vinho. Sua postura
revelava que sua noiva era mais do que um assunto que ele não queria falar
naquele momento, sua noiva era um assunto que ele não gostava e eu não
duvidava que o não gostar fosse de maneira geral.
—Mas eu quero, porque não estou muito animada com o que podem falar
sobre mim. —Meu papel me permitia algo assim, uma preocupação
inexistente com o que diriam sobre a minha honra já que não era lucido
uma jovem órfã e solteira saindo para jantar com um homem
comprometido.
—Já falam sobre você, está se esforçando para se enturmar querendo um
marido porque não sabe o que fazer com as dívidas que o papai deixou. —
Cruzei os braços fingindo um constrangimento que eu não sentia enquanto
observava ele.
—Sim, não vejo nenhum problema em querer um noivo já estou na idade de
casar.
Ele sorriu e voltou a pegar a taça levando aos lábios.
Desviei os olhos por alguns segundos observando seus seguranças a alguns
metros de distância próximos a porta.
—Já passou da idade de casar, seu pai não devia ter criado você tão livre, se
ele tivesse a mantido por perto quando ele ainda mantinha a pose de
milionário você não teria tido problemas em conseguir um noivo até mesmo
um dentro da máfia.
A história publica, ser uma jovem filha de um dos associados da máfia que
faleceu ano passado, uma jovem mulher solteira, sem família com uma
dívida gigantesca e pior de tudo devendo a máfia, era a oportunidade que eu
precisava para conseguir me infiltrar no território deles. O que sabíamos,
era diferente do que podíamos provar. Eu podia testemunhar sobre a dívida
e as ameaças que eu sofri, mas isso não seria o suficiente para prendê-los
por mais do que alguns anos e principalmente para prender apenas mais um
peão, quem me ameaçou foi um dos seus underboss o que significava que
alguém substituível seria preso e outro ocuparia seu lugar no mesmo
instante, o que precisávamos era algo grande algo que conseguisse derrubar
o topo da hierarquia ou todos eles, uma prova real e incontestável de como
funcionava, dos crimes que todos eles cometiam. Era a missão mais
desafiadora e eu adorava um desafio.
—Eu aprendi muito estudando pelo mundo. —Defendi a idiota que tinha
sido criada livre das influências da máfia e dos costumes morais do mundo,
a mesma idiota que se suicidou ao descobrir das dívidas que possuía - uma
crise de overdose.
—Sim, imagino que tenha aprendido, mas duvido que algo que aprendeu
seja útil para sua atual situação. —Ele tinha me chamado ali para me
humilhar, não estava entendendo. Não foi por esse caminho que achei que
iriamos durante o jantar.
—Darei um jeito.
Ele gargalhou atraindo a atenção de todos que estavam a nossa volta.
—Eu soube disso, seu prazo está acabando e pelo que ouvi sua dívida é alta.
—Darei um jeito. —O dinheiro não era o problema, um orçamento
impecável e imaginável tinha sido disponibilizado para aquela operação.
—Eu quero comprar a sua casa. —Avancei sobre a taça de vinho tinto
bebericando.
Era óbvio a intenção dele, comprando minha casa ele estaria me ajudando,
mas eu não podia sair, mover-me do meio do território da máfia para um
apartamento ou qualquer outro lugar apenas me distanciaria do meu
objetivo.
—Não tenho onde morar e gosto da piscina, vou dar um jeito e conseguir o
dinheiro agora se me der licença eu pensei que iriamos nos divertir e não
que era um jantar para que você me cobrasse. —Fingi descontentamento e
afastei o tecido do guardanapo caro.
—Não ouse levantar e criar uma cena. —Sua voz era uma ameaça. —Se
houvesse a necessidade de que eu pessoalmente cobrasse você eu não seria
tão legal assim para trazê-la a um restaurante quatro estrelas, meus métodos
não são tão delicados. —Não sabia se era apenas um aviso ou uma ameaça.
—Você tocou em um assunto delicado para mim e eu fiz o mesmo com
você, podemos apenas ter um jantar bom sem falarmos de coisas chatas ou
podemos continuar nos levando ao desagrado habitual de falar sobre nossos
problemas.
Ele ergueu a taça em um brinde enquanto eu fingia considerar. Ergui a taça
e encostei na dele escutando o tilintar.
Não era novidade, mas era uma coisa extra ver a forma como se
comportava em relação a noiva.
—Quero apenas ajudar, você pode me vender a casa e eu permito que você
more lá até que consiga recuperar o dinheiro para tê-la de volta. —Sorri, a
proposta era interessante, algo que eu não podia esperar não tão cedo assim.
—Isso estará em contrato? —desafiei-o, para um homem o poder de sua
palavra era o que mais valia, para um homem da máfia isso era ainda pior.
—Minha palavra vale mais do que qualquer pedaço de papel.
—Podemos conversar sobre a venda em outro momento. —Não queria
passar o jantar inteiro conversando sobre negócios. —Me conte algo legal
sobre você.
—Não. Vamos falar sobre você, me conte o que tanto você aprendeu
estudando pelo mundo? —Sua pergunta me levava ao ofício confortável.
—Eu falo fluentemente três línguas.
—Morei a vida toda aqui e consigo a mesma proeza, na verdade faço até
melhor, me surpreenda, algo que você fez que eu não poderia fazer daqui.
—Sendo o príncipe da máfia, eram poucas coisas que ele não podia fazer
em qualquer lugar do mundo.
—Eu já visitei uma praia de nudismo na França —sussurrei como se fosse
um segredo que ninguém mais podia saber o que realmente para qualquer
outra mulher deveria realmente deveria ser. —Foi a coisa mais louca e
desafiadora da minha vida.
—Você ficou nua ou apenas foi lá para olhar? —Sua expressão e a forma
que examinou me corpo naquele instante deixava evidente que ele estava
imaginando a situação.
—Eu fiquei nua é meio que uma regra você não pode ir lá só para olhar, tem
que se exibir também.
—Seu pai realmente deveria ter mantido você presa aqui.
Dei de ombros, se meu pai se importasse mesmo com essa merda eu
realmente estaria casada e completamente longe do cargo que eu ocupava,
mas a verdade era que meu pai amava a ideia de me ter acima de qualquer
homem e me colocar como esposa modelo não era algo que ele entendia
como o certo para mim então cresci para ser o que eu era e isso que me
fazia tão boa. Mas ele não estava falando de mim, mas do personagem que
eu interpretava da mulher que me proporcionou a sorte ou o azar de termos
o mesmo nome, uma aparência parecida e me deu a maior chance da minha
profissão.
—Foi um passeio divertido, pretendo fazer mais vezes.
—Se você se casar com um dos homens da máfia você com certeza não
poderá visitar praias de nudismo. —E voltamos a esse assunto.
O silêncio se instalou no segundo em que os garçons surgiram trazendo o
que parecia ser entradas, mesmo que não tivéssemos feito nenhum pedido
pelo menos não que eu tivesse conhecimento.
Encarei a bela montagem do prato e agradeci ao garçom antes que ele se
afastasse, sabia que seria desnecessário perguntar quando me parecia óbvio
que tinha sido ele que tinha feito a escolha do prato com antecedência e
brigar pelas escolhas que ele estava me tirando era desproporcional levando
em conta o posto que eu pretendia ocupar ali.
—Então você acha que eu tenho alguma chance com algum dos seus
homens? —Fingi interesse.
—Não são meus homens... —Corrigiu tendo o cuidado com as palavras,
inteligente. —Mas sim, o capo da camorra acabou de se tornar viúvo e ele
tem dois filhos gêmeos e pequenos que vai precisar de uma mãe e ele seria
um bom marido para você e o único que estaria realmente com condições
de aceitar uma associada como esposa ele é viúvo e ninguém se importa
com quem será a segunda esposa desde que a primeira seja alguém da
família. —Claro que sim, os casamentos da máfia aconteciam dentro da
máfia, escolher alguém de fora era sempre visto como uma quebra de regras
e protocolos. Já aconteceu, mas foram tão poucas vezes que essas vezes
podiam ser contada nos dedos.
—Então eu vou ter que esperar você ficar viúvo. —Era uma cantada pouco
discreta, mas que evidenciava bem o que eu queria. Um capo da américa do
sul não era nem mesmo do meu interesse por mais que Jacopo Caccini
merecesse uma visita minha. As investigações evidenciavam como ele
machucou e torturou tanto a esposa o suficiente para que ela se suicidasse
ele inclusive foi investigado pela máfia, mas nada que provasse o que todos
sabiam e ele acabou sendo inocentado e continuou vivo e no seu cargo
graças apenas a forma impiedosa que comandava seu território.
—Não me provoque sobre isso. —Ele sorriu de um jeito que eu tinha
certeza não ser algo ruim, ele realmente considerava matar a futura esposa.
Eu sabia que ele não queria estar casado, mas aquele tipo de certeza sobre
como ele se sentia sobre a noiva me despertou para uma nova situação e fez
com que meus alertas se tornassem ainda maiores enquanto eu percebia que
ele era mais perigoso do que eu achava, sua aparência angelical não podia
me confundir por nenhum segundo.
[...]
Capítulo 02
Domenico
Observei-a enquanto ela parecia distraída, seus olhos brilhavam enquanto
continuava misturando substâncias químicas. Podia não perceber, porém
estava muito mais confortável perto de mim do que era no começo quando
era óbvio que ela estava por ali apenas para ser esposa e conseguir alguém
para ajudá-la com suas dívidas. Depois que eu comprei a casa dela em um
contrato verbal em um valor muito acima do preço de mercado a tinha
deixado confortável sobre o dinheiro e parecia o suficiente para deixá-la
mais à vontade comigo.
Deslizei os dedos sobre a pele dela apreciando os arrepios que a tomaram.
—Você vai passar a noite? —a resposta que eu queria dar a ela era sim, eu
queria passar a noite com ela como fizemos muitas das vezes durante
aqueles dois meses que passamos juntos, mas não seria lógico faltar a
minha própria festa de noivado. Considerei a hipótese e sorri imaginando
como meu pai ficaria irritado em estar sendo contrariado de maneira
publica, mas era o meu futuro em jogo e eu não podia e não queria arriscar
tanto. Nem mesmo a Lara era o suficiente para que eu recuasse das estimas
que eu tinha em relação ao cargo que em breve eu ocuparia, muito mais
breve do que o idiota do meu pai previa e se eu precisava me casar com a
miss perfeição para isso eu faria, não era nem de longe a pior coisa que o
velho tinha me obrigado a fazer.
—Infelizmente não, você sabe que hoje...
Me interrompeu:
—Sim, eu sei que hoje é sua festa de noivado. —Dei de ombros e manteve
os olhos fixos no que fazia, querendo não me deixar perceber como aquele
assunto parecia demais com ela. Não me fazia pedidos além dos que eu
conseguia cumprir, mesmo que tivesse dito em algum momento que não se
contentaria com um papel de amante era isso que ela estava fazendo desde
que começamos a nos envolver e mesmo que se incomodasse parecia não
disposta a ceder e me deixar perceber isso, não me deixava perceber o
quanto se incomodava com o que éramos hoje. —Se divirta.
—Eu me divertiria se você estivesse lá. —Mas ela não era bem-vinda,
principalmente depois de se envolver comigo publicamente, ela já era uma
associada e agora tinha a negativa fama de amante.
—Não recebi um convite —provocou me fazendo gargalhar.
—Ela é apenas minha obrigação, se eu tivesse escolha eu não estaria indo
noivar, não com ela. —Não tive problemas em afirmar o óbvio, ela tinha
conseguido provocar em mim um tipo de sentimento que eu nunca tinha
experimentado antes, mas era tão real e tão intenso que eu queria sempre
mais, mais do que tínhamos e mais dela, muito mais. Em um mundo ideal
eu já teria os joelhos não chão e a pediria em casamento, talvez até mesmo
já tivesse até engravidado ela, mas aquele era o mundo real e eu não tinha
aquela possibilidade por isso eu teria que colocar o joelho no chão e pedir a
mão de outra, de uma que era perfeita e mesmo assim não chegava aos pés
da mulher que eu queria.
Deixei mais um beijo no pescoço dela e dei as costas antes que eu acabasse
deixando os meus pensamentos me levarem a um caminho que não tinha
volta e um caminho que eu não queria seguir, não iria colocar meu cargo em
risco por causa de uma mulher. Meu pai não iria admitir ser contrariado e eu
precisaria me esforçar para não fazer isso, ainda não. E a possibilidade de
matar a minha esposa quando eu já tivesse o que eu queria ainda era uma
das coisas que eu me prendia para seguir com aquele noivado.
[...]
Sorri para a garota do outro lado da mesa tentando fingir uma sensação que
eu não sentia. Nem mesmo estava conformado com aquele casamento para
que aquilo fosse menos ruim do que era, mas eu era bom fingindo e
conseguia fazer aquilo ali em público enquanto ajoelhava na frente dos
membros mais importantes da família e fazia um discurso padrão enquanto
pedia Francesca em casamento.
Hoje ela estava ainda mais deslumbrante, como se isso fosse possível. Seus
olhos brilhavam com uma emoção que eu não conseguia saber se era ou não
verdadeira. Seu vestido longo abraçava as curvas de um jeito confortável e
atraente. Eu podia perceber a forma que os homens ao redor olhavam para
ela, o desejo refletido em suas íris e aquilo me alcançava com a felicidade
de saber que era minha, querendo ou não, gostando ou não e até mesmo
diante da minha reluta. Era minha. Todos podiam olhar, desejar e até
mesmo fantasiar. Aquele era o meu prêmio e eu nem tinha me esforçado
para ganhar.
—Você podia disfarçar e pelo menos sorrir verdadeiramente no seu
noivado, a coitada da sua noiva não tem culpa. Lembre-se que de todos os
envolvidos ela é a que tem menos culpa e menos ainda poder de escolha —
encarei o Enrico sabendo que ele tinha um interesse na Francesca, um
interesse maior do que apenas o de amizade, porém ele seria outro que teria
que lidar com o meu casamento com a miss perfeição.
Ergui a cabeça e encarei a minha noiva do outro lado da mesa e assim que
percebeu minha atenção ela desviou os olhos, seu rosto ganhou uma
tonalidade rosada. Até aquilo parecia uma reação esperada de alguém como
ela. Desviei o olhar e foquei no meu amigo sentado ao meu lado.
—Ela nem consegue olhar na minha direção. —Peguei a taça de vinho
bebendo um longo gole torcendo para que aquela festa acabasse logo e eu
pudesse sair dali. Meu destino era óbvio e mesmo assim eu não tinha
problemas com isso.
—Claro que não, ela foi criada para ser a garota perfeita, provavelmente ela
nem deve ter contato com algum homem além do pai então releve e seja o
maduro da relação.
—Por que você não casa com ela e seja o príncipe que ela espera?
—Porque ela é sua noiva e eu já sou casado. —Ele deu dois tapinhas nas
minhas costas e arrastou a cadeira para trás se afastando de mim.
Eu não esperava por aquela confissão, não mesmo. Ele parecia muito
consciente do que significava dar em cima da minha noiva e ele não era
louco para isso, não mesmo. Algo assim nem mesmo nossa amizade de
infância perdoaria e mesmo que tenha sido exatamente o que ele tenha me
dito e ainda parecia demais que ele tocasse naquele assunto, para que ele
ousasse dizer algo assim para mim.
Puxei a taça solvendo todo o líquido e deixei meus olhos voltarem a mulher
ruiva que me espiava com interesse de maneira contida sobre os seus
cabelos de maneira discreta. Mantive meus olhos nela mesmo quando
abaixou o rosto forçando algum sentimento além da raiva que parecia
corromper tudo, mas falhei miseravelmente percebendo que não
funcionava, nada parecia mais poderoso do que odiar minha futura esposa.
—Salvador darei uma volta com a Francesca pelo jardim —informei ao pai
dela sem me curvar para fazer um pedido o que seria mais lógico naquele
momento, porém sendo minha futura esposa eu ganhava alguns pontos
extras e podia me dá ao luxo de um passeio no jardim.
A mulher ao lado da minha futura esposa sorriu e cochichou algo no ouvido
dela que a deixou ainda mais corada. Estendi a mão lembrando que eu
precisava ser cavalheiro ao menos onde os olhos curiosos nos alcançava.
Percebi que sua mão suava no exato momento em que tocou a minha.
—Atenção com o que você vai fazer com a minha filha rapaz vocês ainda
não são casados.
A risada dos homens presentes fez a minha esposa corar ainda mais, se
entendia o que estava sendo insinuado por trás das palavras do pai
significava que não era tão inocente quando eu achava. Um ponto a seu
favor.
O caminho até o bonito jardim dos meus pais foi feito de forma rápida e em
alguns segundos ela estava tendo que correr sobre seus saltos para
conseguir me alcançar.
—Senhor Salvatore por favor vá devagar. —Seu pedido me fez fechar os
olhos e conter a vontade que eu sentia de gritar com ela.
Salvatore era o meu fodido pai.
—Você pode me chamar pelo nome? —Pedi pegando um cigarro do bolso,
acendendo e levando aos lábios dando uma longa tragada enquanto pensava
nas minhas palavras. Não podia e não queria soar como eu me sentia,
desesperado.
—Claro. —Sua palavra não transmitia muita confiança.
—Você sabe meu nome? —Ela balançou a cabeça e quando a negação se
fez presente eu senti meu estomago embrulhar. —Nós vamos nos casar —
lembrei o óbvio, ela não precisava ser intima para saber a droga do meu
nome, mesmo que fosse privada da maioria das interações e que em todas
suas aparições estivesse cercada pela sua madrasta e pai ainda tinha formas
dela saber uma merda tão simples.
—Desculpa, todos sempre chamam o senhor pelo sobrenome.
—Você —gritei e percebi ela se mantendo firme mesmo diante do meu
descontrole o que lhe dava pontos. —Me chame de você —intimidade era a
definição máxima de um casamento. A constatação fria disso me fez sentir
arrepios pelo meu corpo.
Joguei o cigarro no chão pisando sobre as brasas e me aproximei dela
segurando seu rosto entre as mãos e aproximei meu rosto do seu deixando
um beijo nos seus lábios. Ela abriu os lábios surpresa pelo meu toque e o
gosto de vinho misturado com um cheiro de menta me fez mergulhar a
língua na boca dela pela primeira vez durante nossa interação ela pareceu
assustada.
—Pare de pensar e me beije de volta. —Suguei o lábio inferior dela
recebendo um suspiro enquanto ela parecia tomar sentindo do que
estávamos fazendo e forçou o rosto contra minha mão afastando sua boca
da minha.
—Meu pai disse que só podemos nos tocar depois do casamento. —Senti
suas mãos tremulas no meu peito e ela parecia inclinada a tentar me afastar.
—Eu sou seu futuro marido —daqui a menos de um mês eu seria
exatamente aquilo, seu futuro e ela já podia começar a me obedecer
exatamente como aparentava fazer com o pai e era apenas a droga de um
beijo eu tinha o direito de reivindicar isso, de saber pelo menos ela oferecia
algum calor de baixo da fachada imaculada de menina perfeita.
—Não sei fazer isso —olhou nos fundos dos meus olhos e sua confissão
parecia demais, não cabia na realidade que a miss perfeição não soubesse
fazer algo. Minha consciência zombou de mim quando eu percebia que ela
apenas seguia firme no seu papel, a inexperiência era necessária para ser
perfeita e a imagem de ser o primeiro dela não me era tão ruim, inclusive
me agradava.
—Apenas relaxe e siga meus movimentos.
Colei os lábios nos dela novamente, dessa vez com calma deixando-a
perceber meus movimentos. Seu toque no meu peito relaxou enquanto ela
parecia se entregar ao meu toque pelo menos não seria tão fria quanto achei
que seria. A ideia de ter que ensinar tudo a ela na cama despertou
finalmente algum interesse a alguma positividade para aquele casamento.
—Isso é bom —o gemido no fundo da sua garganta indicava o quanto
aquilo não era apenas dá boca para fora. —Mas não devíamos estar fazendo
isso, o meu pai vai ficar chateado se descobrir isso.
—Só não conte a ele, você é minha noiva eu posso beijar você. —Ela sorriu
e abaixou os olhos de um jeito tímido e eu fiz um esforço para não deixar
que aquilo me incomodasse.
—Domenico —bufei e soquei a parede ao lado da cabeça da Francesca
antes que eu descontasse a raiva que eu sentia pela interrupção da minha
irmã ou na outra mulher presente. A mulher na minha frente ergueu os
olhos de maneira assustada e se encolheu.
—Vou voltar a festa —A Francesca gemeu e se abaixando e passando por
baixo dos meus braços fugindo do clausulo que eu a tinha prendido.
—O papai mandou eu vir atrás de você —minha irmã se defendeu assim
que ficou sozinha comigo. Sorri com a convicção de que aquilo custaria
caro para ela e ela sabia bem disso, assim como sabia o que aconteceria se
desobedecesse a meu pai.
—Você já veio e a noiva em perigo já está de volta a festa então eu
aconselho você a voltar também antes que eu a afogue no lago. —Não seria
a primeira vez e isso era o suficiente para manter minha irmã longe de
superfícies com água e longe de andar por aí de biquíni que era o que
realmente me deixava irritado.
Ela me deu as costas e saiu correndo. Sorri passando a língua pelos lábios
sentindo o gosto da Francesca ali, eu tinha começado a encontrar os
motivos para gostar daquele casamento.
Capítulo 03
Francesca
Encarei meu reflexo no espelho enquanto observava meu vestido. O decote
em v chamava toda atenção, ainda me parecia uma escolha mais ousada do
que eu faria se tivesse escolhido sozinha, mas a elena me convenceu de que
o Domenico iria gostar, ter usado os modelos ousados de vestidos que a
amante dele vestia para me convencer foi o golpe sujo que minha madrasta
tinha usado para me convencer e agora era tarde para voltar atrás quando eu
tinha tanto pouco tempo para recuar e conseguir uma nova peça. Não podia
envergonhar meu pai chegando na igreja com nada além da roupa perfeita.
—Ele foi visto ontem jantando com a tal Lara. —Tentei não deixar que essa
informação me afetasse. “Ele é homem e não éramos casados ainda, ele
podia se comportar assim e ter suas companhias femininas” tentei deixar
que as palavras do meu pai e a forma que ele colocou a situação quando
falei com ele sobre isso me afetasse, mesmo que doesse saber que meu
marido não estava muito inclinado a fidelidade. Ainda não tínhamos
conversado sobre isso, mas eu esperava que depois que casássemos ele
mudasse de comportamento. —Mas não se preocupe com isso, amanhã é o
casamento e você vai ter a oportunidade de esfregar na cara dela que você
ganhou.
Gemi odiando ainda mais aquela ideia. Ter a amante do meu marido no meu
casamento não me parecia muito indicado, mas a Elena tinha certeza de que
essa era a forma perfeita de mostrar a ela que eu tinha ganhado e de
ameaçar ela para ficar “distante do meu homem” palavras da Elena. Ainda
não o via assim, podia ser que em algum momento quando nosso casamento
acontecesse o veria como tal.
—Não sei se quero ela no meu casamento, você não acha melhor pedir a um
segurança para impedir sua entrada de uma forma constrangedora que a
lembre seu lugar e terminar isso sem causar um constrangimento.
—Claro que não, isso apenas vai deixá-la saber que tem algum poder sobre
você e não apenas ela, mas todas as outras que vão ocupar a cama do seu
marido, porque você já sabe que serão muitas então as deixe saber que não
importa, que você não se importa o suficiente com a presença dela porque
ela será apenas a mulher que ele leva para a cama. —Mas eu me importava,
me importava muito que ele não conseguisse ser fiel a mim.
Ela se aproximou por trás e me abraçou deixando ver nosso reflexo no
espelho. Ela tinha apenas quatro anos a mais que eu e desde que se casou
com o meu pai a alguns anos e era meu porto seguro e minha conselheira
assim como eu fui a dela, erámos amigas, melhores amigas e mesmo que o
papai quisesse que ela fosse uma mãe pra mim – como se uma menina de
dezessete anos fosse ser uma mãe para uma de treze.
—Você será a esposa dele, a mulher que terá sua aliança, seu sobrenome e
será a mãe dos seus filhos. As outras serão apenas distrações, sexo fácil e
mostrando a elas que você não se importa é o jeito certo de agir
principalmente se casando com o chefe da máfia assim elas vão saber
exatamente qual lugar elas ocupam e qual é o seu lugar.
Segurou meu queixo com delicadeza e ergueu meu rosto.
—Casar-se com ele é o que você quer, não é? — Assenti, era tudo que eu
mais queria. —Então você será uma rainha e elas apenas sexo descartável.
Não brigue por homem querida, brique por você e pela forma que você quer
ser tratada, as coisas já são complicadas demais para nós mulheres para que
fiquemos brigando por causa de homem. Mas não admita e não aceite
menos do que você merece.
Senti meus olhos marejarem pelas suas palavras. Nem mesmo minha mãe
me amou como a Elena parecia fazer, afastei os pensamentos negativos e
foquei meus olhos no espelho adorando minha imagem um pouco mais, eu
estava deslumbrante naquele vestido nenhum sinal de imperfeição.
—Não quer mesmo conversar sobre a sua noite de núpcias? —Gemi e me
afastei dela querendo apenas fugir daquele assunto que ela já tinha falado
antes assim que o papai comunicou que eu estava noiva.
—Por favor não —implorei.
—Não entendo o porquê você está com vergonha de falar sobre algo assim
comigo será bem mais vergonhoso na hora que acontecer e você não saber
de nada. —Gemi novamente apenas querendo que ela entendesse o que o
não significava. Não queria imagem que ela pintou de volta ao foco dos
meus pensamentos, ficar sem roupa com outra pessoa também nu e todo o
resto parecia demais para lidar. —Você devia ter aceitado as revistas para
entender como é o corpo masculino.
Senti meu rosto quente enquanto voltava a imagem na capa da revista que
ela me entregou a algumas semanas atrás. Um homem vestindo nada além
de uma cueca, o corpo bronzeado e muito óleo pelo corpo.
—Elena —sorri agradecendo a interrupção do meu pai que acabava de
invadir meu quarto. Ele parecia irritado e qualquer pessoa que observasse
de fora podia achar realmente que ele era uma ameaça para a pequena
mulher, mas ela era uma força da natureza desde sempre e nunca
demonstrou medo do papai e agora o tinha nas palmas da mão ou como ela
gostava de dizer entre as coxas e eu me arrependia amargamente de ter
pedido uma explicação sobre isso.
—Salvador nem adianta brigar comigo é muito melhor que ela saiba o que
esperar do que chegue na hora e seja surpreendida por tudo, digo por
experiência própria. —Sorriu para ele como se compartilhasse uma piada
particular e eu voltei a gemer não querendo imaginar do que se tratava.
—Você pode explicar as coisas ela sem ser tão direta e sem envolver fotos
mia cara e nós já conversamos sobre isso. —Eles tinham brigado por causa
da revista que ela tentou me mostrar, mas nada que durou mais do que um
dia.
—Amanhã será o casamento dela e não estamos com tempo já que ela foge
diante de cada oportunidade que tem. —Me olhou de um jeito que deixava
claro todo o seu julgamento.
—Francesca você quer conversar com ela sobre isso? —Neguei balançando
a cabeça e me virei para minha madrasta sorrindo para ela sabendo que não
seria o melhor que ela podia querer mais era o que eu queria. Aquele era um
momento íntimo entre mim e meu futuro marido, ela tinha feito um bom
trabalho me mostrando o básico e tudo que eu podia esperar e era o
suficiente.
—Então a deixe em paz Elena e você tem visita a decoradora está lá
embaixo. —Meu pai não tinha ido até ali apenas para avisar ela sobre isso e
senti um aperto na minha barriga lembrando que a última vez que ele esteve
no meu quarto foi para falar do casamento.
—Mas Salvador eu andei fofocando e a fama do Domenico não é das
melhores e se ele não for paciente com ela e... — Deixou a frase morrer no
ar, mas eu conseguia entender nas entrelinhas. Se ele me machucasse seria
muito ruim, mas nada que eu não pudesse suportar, foi assim com muitas
mulheres ali na máfia. “Feche os olhos e fique quieta que passa rápido” esse
foi o conselho que minha madrinha me deu, já a Elena me garantia que
aquilo podia ser tão bom para mim quando para ele desde que ele tivesse
um pouco de paciência e cuidado comigo o que sinceramente me deixava
confusa não sabia se podia esperar algo assim do Domenico por mais que o
beijo que ele me roubou no jardim de sua casa me fizesse ter certeza de que
sim, estar com ele podia ser bom, muito bom.
Toquei nos meus lábios sentindo-os quente, era como se o beijo tivesse
acabado de acontecer, eu quase conseguia sentir ele me tocando.
—Ela tem família Elena e eu jamais deixaria que ele a machucasse,
concordei com um casamento e não com uma tortura. Ela não é um
brinquedo para ele e ele conhece suas obrigações que envolve cuidar e
proteger ela, machucá-la não está no pacote e eu o mataria se fosse preciso
para garantir a segurança da Francesca.
Ela cruzou os braços e um brilho de emoção transcendeu seus olhos antes
que ela disparasse a passos duros para próximo ao meu pai.
—Recado recebido.
Passou por ele saindo do quarto e batendo a porta no processo.
Um dos seus pontos fracos o fato da sua família ter trocado-a como um
pagamento pelas dividas e simplesmente ter virado as costas deixando-a
para ele, se o papai não fosse um homem decente, se ele fosse cruel com ela
e a machucasse ela teria que aceitar calada porque nem mesmo tinha para
onde voltar.
—Porca miséria! —Caminhei até a minha cama me sentindo culpada pela
briga deles. —Sinto muito.
—Não sinta pequena, ela é temperamental daqui a pouco volta a razão. —
Ele se aproximou da minha cama e se sentou ao me lado.
—Por que você já está com o vestido?
—A costureira está vindo fazer os últimos ajustes para garantir que esteja
tudo perfeito para amanhã.
Ele assentiu e pegou minha mão apertando-a de leve.
—Você será a noiva mais bonita do mundo.
Sorri para ele e meus olhos voltaram ao espelho nos observando no reflexo.
Eu não tinha puxado muito do meu pai, apenas parecia uma cópia da minha
mãe, eu via isso através das fotos. Mesmo que eu fosse uma adolescente
quando ela morreu eu não tinha muitas memórias dela, tudo que tinha e que
eu levava comigo era a forma que ela exigia que eu fizesse tudo
perfeitamente para que eu não corresse o risco de me tornar minha irmã
mais velha que se apaixonou por um homem de fora, fugiu com ele para
alguns meses depois ser encontrada e morta pela máfia por traição já que
ela estava prometida para outro homem. Ela se envergonhou e envergonhou
nossos pais e morreu sendo a desgraça da família e a suspeita que todos
tinham sobre mim, que eu me tornaria ela, o medo que a mamãe tinha que
eu me tornasse ela acabou contaminando muito nossa relação porque ela se
culpava pela liberdade que lutou para que minha irmã tivesse e que ela não
soube aproveitar.
Desviei os olhos fugindo de onde meus pensamentos tentavam me levar,
não seria útil ficar pensando coisas assim, apenas me deixaria triste e aquele
não era o momento de ficar remoendo o passado e culminando sentimentos
negativos.
—Minhas palavras foram sinceras, eu concordei com o casamento porque
ele é o futuro Dom e não tem nada melhor do que isso por aqui, ele é jovem
e vocês dois tem potencial de formarem uma família bonita e forte, mas eu
não admito e não aceito que ele a trate com nenhum tipo de violência
mesmo sendo seu marido. —Assenti, mesmo sabendo que isso ficava meio
fora de foco sendo meu marido ele que responderia por mim, seria meu
responsável e daria as ordens e o papai querer se meter nisso significaria
problemas que eu não tinha certeza se queria arriscar. As coisas teriam que
estar muito ruins para que eu pedisse por socorro a ele.
—Obrigada papai. —Abracei ele me sentindo mais confortável e calma
com esse casamento.
—Eu amo você querida. —Não era sempre que ele me dizia aquelas
palavras e em todas as poucas vezes que disse eu sentia no fundo do meu
coração a veracidade de sua declaração.
[...]
Apertei a palma da mão do meu pai quando percebia aquilo se tornando
real. Aquele era o meu casamento, a igreja cheia, todos os olhos em mim e
na minha entrada, ergui meus olhos até o altar percebendo-o ali me
esperando. Seu smoking cinza claro o deixava deslumbrante, o azul dos
seus olhos brilhava de um jeito quente que me deixou confortável e me deu
vontade de correr em direção a ele.
Escutei a risadinha do meu pai e senti meu rosto quente por não ter
percebido que estava reagindo.
Ele enlaçou meu braço e me conduziu até o altar respeitando a valsa nupcial
no momento certo exatamente como tínhamos ensaiado.
Assim que chegamos em frente ao altar meu noivo desceu as escadas e
aceitou minha mão que meu pai ofereceu me conduzindo pelos dois degraus
parando em frente ao padre.
Eu mal conseguia respirar e me concentrar nas palavras do padre, sentia
minha mão suar enquanto percebia que agora era definitivo. Aquele homem
alto e bonito ao meu lado pegando minha mão era o meu marido.
Ele cochichou no meu ouvido ignorando as palavras do padre e quebrando
todos os protocolos. —Por que você está suando tanto?
Senti meu coração acelerar me sentindo muito nervosa e envergonhada em
não conseguir disfarçar aquilo.
—Desculpe, estou apenas muito nervosa. —Não era realmente algo ruim e
nem inesperado que eu estivesse nervosa no dia do meu casamento.
—Não precisa miss perfeição. —Olhei para ele buscando seus olhos e
tentando entender de onde tinha surgido o apelido.
A cerimônia passou tão rápida que eu mal tive tempo de processar as
palavras do padre até que fosse o momento de juras de amor e fidelidades
eternas da minha parte e proteção e cuidado da parte dele.
No momento de me beijar eu sentia meu rosto em chamas pela proximidade
e contato ali em público, eu ainda lembrava perfeitamente como foi o toque
dos seus lábios nos meus quando nosso primeiro beijo aconteceu. Aquele
momento, aquele único toque permeou meus pensamentos durante as
semanas que se seguiu. Não tinha nem mesmo contado a Elena com medo
do que ela diria sobre isso.
A necessidade de sentir ele novamente daquele jeito com aquele grau de
intensidade, intensidade que apenas nosso beijo parecia ser capaz de
provocar.
A escolha de não usar um véu pareceu muito inteligente naquele segundo
em que ele se aproximava de mim segurando meu rosto entre as mãos e
encostava o nariz no meu. Seus movimentos eram tão lentos que eu sentia
uma necessidade imperar e me inclinei na sua direção arrancando um
sorriso seu, ele se iluminava enquanto sorria. Seus lábios tocaram os meus
com gentileza em um breve roçar de lábios antes que ele se afastasse e nos
virasse em direção aos nossos convidados que aplaudiam.
Frustação irradiava dos meus poros enquanto a expectativa cortada se fazia
presente. Passei dias imaginando o toque dele, um novo beijo e com toda
certeza não era algo assim que eu esperava para o momento, algo tão
simples e gentil.
De todas as características que eu podia definir para o meu marido gentileza
parecia a mais distante de todas elas. Meu marido aquilo pareceu se infiltrar
em mim enquanto sentia seu toque na minha mão, a aliança parecia pesar
uma tonelada enquanto a veracidade das minhas palavras me deixava
consciente, agora não tinha mais volta. Estamos casados
[...]
—Posso dançar com a noiva? —Senti meu rosto esquentar quando o Enrico
se aproximou de mim e do meu pai logo depois da dança.
—Claro, cuide bem da minha filha. —Ele passou minha mão para a do
Enrico e eu já sentia minha pele quente pelo toque dele em mim e as
pequenas gotículas de suou se acumulando na minha palma.
Ele me puxou para perto mantendo-me perto o suficiente para que eu
sentisse sua respiração. Ele era muito mais alto do que eu.
—Se não quiser dançar comigo basta apenas dizer, jamais a obrigaria a algo
assim. —Eu jamais iria dizer algo assim, principalmente porque era demais
negar uma dança a qualquer membro da máfia no meu casamento, eu
apenas causaria uma cena desnecessária e o Enrico sempre foi gentil
comigo.
—Não tem nenhum problema eu gosto de dançar e você é um bom
dançarino. —Ele sorriu e me puxou para mais perto e senti meu coração
disparar pela proximidade inesperada e a forma que os músculos firmes em
contato direto com o meu corpo pareciam uma proximidade impropria para
o momento.
Ele continuou me conduzindo pela pista de maneira experiente e seguindo o
ritmo da música cantarolando a letra o que me fez rir.
—Ninguém nunca tinha elogiado meu jeito de dançar antes, acho que você
é a primeira a fazer isso o que me concede novas chances de dançar com
você.
Sorri sem saber o que dizer e sem saber qual era o limite ali. Ele era um dos
amigos do meu marido, um dos mais íntimos pelo que parecia e desapontá-
lo podia ser algo ruim, mas concordar em novas danças assim podia parecer
estranho.
—Deixei você envergonhada apenas por convidá-la para dançar em uma
festa? —Ele sorriu de um jeito perigoso, era bonito demais. Os olhos
escuros brilhavam em um desafio e naquele segundo eu não tinha dúvidas
que eu era o desafio e que ele estava se divertindo com aquilo de alguma
maneira. —Imagina quando eu a convidar para jantar.
—Senhor Moretti isso é impróprio. —Me movi gentilmente para mais
distante dele sem abandonar a dança, lembrei novamente que aquilo seria
impróprio e causaria uma cena. Ele era um dos padrinhos de casamento e eu
a noiva.
Ele sorriu ainda mais.
—Enrico querida, apenas Enrico —sua voz era firme enquanto ele se
aproximava e sussurrava no meu ouvido. —E se me permite um conselho
não chame o Domenico de senhor senão ele vai gostar da ideia e você não
vai querer seguir as ordens dele.
Se afastou no segundo exato que a música terminou imitando uma
reverencia e me deixando cheia de pensamentos. Antes que eu conseguisse
fazer o caminho até a mesa e me sentar um pouco senti um braço em torno
da minha cintura e meu corpo foi puxado sem muita delicadeza em direção
a um corpo duro e forte e antes que eu conseguisse me assustar sua voz me
alcançou:
—Acho que já dividiu sua atenção demais com nossos convidados. Chegou
a hora de dançar com seu marido. —Senti minhas bochechas corando e
assenti cedendo ao seu toque e relaxando deixando-o me conduzir seguindo
a valsa que começou a tocar.
Ele se aproximou de mim o suficiente para que eu escutasse seus
batimentos ritmados. Seu perfume dominou meu olfato. O cheiro
amadeirado e forte era maravilhoso.
—Seu perfume é bom —antes que eu conseguisse processar as palavras já
tinham sido disparadas em sua direção.
Ele sorriu de um jeito convencido e eu relaxei percebendo que minhas
palavras tinham sido bem interpretadas.
—Se não fosse você me faria trocar? —Ergui os olhos procurando pelos
seus olhos percebendo a diversão ali.
—Não acho que tenho esse poder —dei de ombros, mesmo que a Elena
afirmasse que uma mulher tinha armas poderosas contra seus homens eu
duvidava muito de que qualquer uma dessas armas funcionasse com o meu
marido.
—Concordamos sobre isso.
Não sei por que mais sua resposta me surpreendeu de um jeito negativo.
—E concordamos também que eu não quero você perto do Enrico, não ria
das piadas dele, não o deixe tocá-la nem mesmo para um cumprimento e
não ouse voltar a dançar com ele —apertei os lábios sem saber o que dizer,
eu sabia que muito da dança minha com o seu amigo foi inapropriado, mas
ele podia ter dito tudo aquilo de um jeito diferente.
Apertei os olhos com medo de manchar minha maquiagem, não podia e não
iria chorar naquele instante.
—Cansei dessa dança —afastou os braços de mim e me deixou plantada no
meio da pista de dança.
Abaixei a cabeça e caminhei tentando ignorar a atenção indesejada dos
convidados em nós. Ele não tinha nenhuma preocupação em ser discreto.
Ele tinha acabado de proporcionar a maior humilhação que eu podia sofrer
na vida simplesmente porque eu aceitei dançar com um de nossos
convidados.
—Francesca erga a cabeça —levantei os olhos buscando pela minha
madrasta que planava ao meu lado. —Independente do que aconteça não
abaixe a cabeça —sussurrou sua ordem e pegou minha mão apertando e me
dando todo o apoio que eu precisava.
—Preciso ir ao banheiro —comuniquei, o que eu queria mais que tudo era
ficar sozinha por alguns segundos e permitir que as lágrimas escorressem.
Mantê-las nunca era uma tarefa fácil.
—Não precisa não, você precisa de uma taça de champanhe ou alguma
coisa mais forte e eu também antes que eu mate o seu marido e você se
torne viúva muito jovem.
Me arrastou em direção ao bar quebrando mais alguns protocolos e eu quis
morrer quando pediu Vodka ao garçom.
—Eu nunca bebi —lembrei.
—Sim, mas agora é oficialmente adulta e pode tomar seu primeiro shot sem
que seu pai fique chateado comigo. —Me estendeu a taça com o drink
colorido e sorriu para mim.
—Não sei se quero ficar bêbada —pontuei.
—É uma taça você não vai ficar bêbada eu jamais iria querer deixar você
bêbada antes da sua lua de mel com aquele idiota. —Bufei, não iria
conseguir convencer ela naquele momento a parar de falar dele daquele
jeito e naquele segundo eu tinha certeza de que ele merecia.
Aceitei e beberiquei percebendo que era mais doce do que eu imaginava, o
calor na garganta que ficava era desagradável e não me deixaria esquecer
que era uma bebida alcoólica.
O copo estava vazio e o como o da Elena ainda estava acima da metade
indicava que talvez eu tivesse bebido rápido demais o meu.
—Sua madrasta quer dançar com você. —Ela me arrastou de volta para a
pista já era um costume ela se referir a si mesmo na terceira pessoa, na
verdade era comum ela fazer isso toda vez ela se falava de si como minha
madrasta. Chegava a ser engraçado.
Ela me girou na pista e o Dj como se pudesse antecipar nossa necessidade
colocou uma música com a batida mais animada.
Ela grudou o corpo no meu me fazendo rir por não esperar algo assim dela.
—Agora que você já voltou a sorrir me diga o que aquele idiota fez para
deixá-la cabisbaixa. —Revirei os olhos. Era louca e isso era óbvio, mas
existia um abismo entre ser louca dentro de casa comigo e com o meu pai
que já estávamos acostumados e ser louca se referindo ao futuro Dom, se
alguém escutasse ela falando assim as consequências poderiam ser
inimagináveis.
—Eu acho que ele ficou com ciúmes da forma que o Enrico dançou
comigo, eu não tenho certeza ele apenas disse que eu não devo chegar perto
do Enrico para nada.
Ela revirou os olhos e parou os movimentos descoordenados que
seguíamos.
—Por favor não faz uma cena —implorei, ela melhor do que ninguém sabia
como eu odiava toda a atenção negativa que provocar uma cena causaria e
ter sido deixada no meio da pista de dança já era demais não precisava de
um pouco mais.
Ela voltou a nos conduzir de maneira desajeitada pela pista, mas não aliviou
sua expressão por nenhum segundo.
—Ele já quer te dá ordens? Ele mal colocou uma aliança no seu dedo. —
Dei de ombros.
—Eu também não gostei da forma que o Enrico chegou em mim, ele se
aproximou demais e fez comentários que não foram nem um pouco
apropriados então talvez o Domenico não esteja tão errado.
Ela deu de ombros.
—Você precisa me contar as coisas de forma cronológica eu já estava
começando a odiar seu marido. —Sorri sabendo que com ela era tudo muito
fácil. Principalmente porque ela tinha seu próprio jeito de lidar com as
coisas.
[...]
Três músicas dançando com ela e eu já sentia meus pés doerem, não sabia
como o papai aguentava todas as pisadas de pé que ela dava. Se a minha
nona estivesse viva ela teria uma grande tarefa em ensiná-la dançar sem ser
uma completa desajeitada.
Nos aproximamos da longa mesa onde todos os membros do conselho e os
capôs estavam e percebi que meu lugar ao lado do Domenico estava
ocupado pelo Frederico, sua mesa não era ali, mas seria indelicado pedir
para que ele saísse e seria delicado da parte dele perceber minha
aproximação e ceder o lugar, mas isso não aconteceu.
—Sente-se no meu lugar você precisa descansar um pouco. Daqui a pouco
o bolo será cortado, terá que jogar o buquê e todos os detalhes finais da
cerimônia. —Quase gemi agradecendo-a. Já não suportava mais meus pés
no salto alto que eu escolhi para a ocasião e mesmo que eu tivesse tido a
sugestão de trocar por um sapato mais baixo e confortável eu não queria
estragar em nada minha vestimenta. Eu podia lidar com uma dor nos pés
desde que tivesse tudo perfeito.
Ocupei a cadeira ao lado do meu pai percebendo a forma animada que os
homens a nossa volta caçoavam do Frederico pelo seu casamento que seria
em breve.
Minha madrasta se posicionou atrás do meu pai e sussurrou alguma coisa
no seu ouvido que o fez afastar sua cadeira e ela se sentou no seu colo e
descansou a cabeça no seu ombro. O contraste era gritante, meu pai e seus
cinquenta anos e ela com seus vinte, mas eles se amavam e compartilhavam
de uma cumplicidade e intimidade que me fazia invejá-los e desejar algo
assim para mim e para o Domenico, por mais que eu tivesse absoluta
certeza de que jamais teria aquela ousadia de se sentar no colo dele em
público como ela estava fazendo naquele instante.
—Como estão minhas garotas?
—Eu estou quase bêbada então provavelmente em algum momento você
terá que cuidar de mim. —Ele riu e alisou o rosto dela com a ponta dos
dedos, ela retribuiu o olhar e eu desviei os olhos sentindo uma intrusa
observando a troca de carinho.
Meus olhos focaram na mulher de preto caminhando em direção a nossa
mesa e prendi a respiração tendo a confirmação de que tinha sido uma ideia
terrível ter enviado o convite. Só a tinha visto uma única vez e parecia que
ela tinha conseguido ficar ainda mais bonita naquele meio tempo. Os
cabelos loiros dourados pareciam brilhar ainda mais em contato direto com
o sol, sua maquiagem estava impecável e ela vestia um vestido de tule preto
que marcava o corpo perfeito. Ela estava deslumbrante, impressionante e
ousada o suficiente para vir na nossa direção.
Meu marido não disfarçou seu espanto ao ver ela por ali, levantou atraindo
ainda mais atenção como se a presença da sua amante não fosse espetáculo
suficiente para todos eu me sentia congelada no lugar a cada passo que ela
dava para mais perto de nós.
—Parabéns aos noivos, queria ter chegado antes, porém não sou muito
religiosa e conscientemente eu evitei a cerimônia na igreja. —Ela sorria
mostrando todos os dentes de um jeito que a deixava carismática.
—Que sacrílego —Encarei minha sogra que se abanava com um leque
como se fosse desmaiar a qualquer momento.
Meu olhar cruzou com o da Elena por alguns segundos e foi o suficiente
para que eu soubesse o que ela esperava de mim.
Forcei um sorriso mais natural que eu consegui e levantei, assim como o
meu marido – que permanecia de pé encarando a mulher como se ela fosse
uma assombração.
—Seja bem-vinda e muito obrigada pelas felicitações. Espero que se divirta
na festa, eu e o meu marido apreciamos sua presença. —Mentira, nada
daquilo tinha nem um pingo de verdade, mas fiz questão de ressaltar o meu
marido como se isso mudasse o que eles tinham e sinceramente eu esperava
que mudasse.
—Muito obrigada. —Solicitou passando a língua pelos lábios ressaltando o
batom vermelho que usava.
Naquele instante eu quis esganar a Elena porque em nada parecia que eu
estava ganhando algo com a presença daquela mulher ali.
Assim que ela nos deu as costas eu voltei a sentar me sentindo
extremamente constrangida por aquela cena, apertei os lábios contendo
minha vontade de fazer algo que eu nunca tinha experimentado antes e
xingar alguém.
—Sente-se —a ordem partindo do Guiseppe Salvatore fez meus pelos se
arrepiarem e a mesa entrar em um silêncio tão profundo que me assustou.
Ergui os olhos e observei meu marido cumprindo a ordem de seu pai e
voltando ao seu lugar.
Péssima ideia Elena, péssima.
Peguei a taça de champanhe que não me pertencia e dei um longo gole
querendo alguma coisa para acalmar a agitação no meu íntimo.
[...]
O restante da festa passou como um borrão, os momentos próximos ao meu
marido serviram apenas para que a cada segundo eu sentisse uma raiva
emanando dele que parecia físico. Não conseguia decidir se era direcionado
a mim ou a presença de sua amante, já que a cada segundo que eu olhava
em sua direção eu flagrava-o olhando para ela.
Os gritos e incentivo para a lua de mel começaram e eu não sabia o que
fazer para evitar a vontade que eu tinha de sair correndo e me esconder de
todo o constrangimento.
—Essa daí não precisa nem de apresentar os lençóis —senti meu rosto em
chamas diante da frase do Frederico.
A Elena me puxou para os braços dela e me apertou com força. Não queria
deixá-la perceber nada porque sabia que se pressentisse ou achasse qualquer
coisa seria o suficiente para ela ser ela e eu não queria mais atenção
negativa no dia de hoje.
—Fica calma e tenta se divertir, quando mais calma você estiver melhor vai
ser —assenti.
—Francesca —a voz do Domenico vibrou atrás de mim e eu estampei um
sorriso no rosto não querendo deixar perceber meu anseio e nervosismo por
aquele momento.
Me afastei dos braços da Elena e fiquei de pé permitindo que ele afastasse
minha cadeira para que eu saísse da mesa de nossa família.
Ele pegou minha mão me conduzindo pelos jardins, ignorei cada um dos
comentários sexuais que se seguiu enquanto fazíamos o caminho até dentro
da mansão de sua família.
Só me permiti respirar aliviada quando estávamos dentro da mansão
protegidos da festa que seguia acontecendo do lado de fora.
Contrariando minhas expectativas ele não seguiu para o andar superior, mas
em uma direção completamente oposta, estávamos indo para o lado
administrativo da casa.
—Aonde estamos indo? —Não consegui me conter e perguntei sentido meu
coração disparar diante das possibilidades.
—Para nossa casa. —As dúvidas permaneciam ali, mas me esforcei para
manter para mim.
Eu tinha quase certeza de que iriamos morar com os seus pais e já tinha
programado minhas expectativas para lidar com isso, lidar com a
necessidade de dividir a casa com várias pessoas desconhecidas que por
melhor que me tratassem nos nossos encontros esporádicos, seria algo
diferente esse contato constante se dividíssemos a casa.
Mas isso não iria acontecer e teria um lugar só meu e dele, nossa casa. Esse
pensamento fez com que a constatação se tornasse real e aquilo foi tão
intenso e feliz que eu queria me sentir intima o suficiente dele para abraçá-
lo por está me proporcionando aquilo, era o melhor presente de casamento
que ele podia me dar e eu nem sabia que queria isso até ter.
—Não é muito longe daqui, mas nos dará privacidade o suficiente —assenti
contendo minha felicidade, não sabia como soaria minha euforia e não
queria que ele tivesse a impressão errada sobre o que eu achava de dividir a
casa com seus pais.
Atravessamos o jardim pela parte de trás da casa e um pequeno portão se
abriu assim que nos aproximamos e um dos soldados sorriu para nós e nos
cumprimentou pelo casamento enquanto seguíamos em direção a nossa
casa.
A mansão era deslumbrante, uma construção elegante e que parecia já está
ali a muito tempo.
—Não fiz nenhuma alteração no que já estava aqui porque deixarei para
reformar depois.
Parecia meio fora do ponto fazer obra quando já estivéssemos morando aí.
—Quando estivermos morando? —Não consegui controlar minha língua.
—Não exatamente —algo na minha expressão o deixou consciente sobre a
minha dúvida. —Quando meu pai morrer, eu serei o chefe e juntarei a nossa
casa com a dele, quero criar um tipo de fortaleza que nos dê mais proteção e
permita que algumas transações sejam feitas aqui.
Forcei a minha expressão a naturalidade diante das suas palavras. Meio que
tinha parecido que estávamos esperando esse momento, mas desejar algo
assim devia inclusive ser crime.
—Transações dentro de casa? —Nossa casa devia ser um lugar seguro para
nós dois e para os nossos filhos.
—Não se preocupe, quando eu assumir será tudo tão seguro que não será
um risco trazer os negócios para perto. —Ele estava afirmando com tanta
convicção que não tinha espaço para dúvidas e questionamentos.
Segurou minha mão com mais firmeza e seguimos pelo jardim muito bem
cuidado, o sol estava se pondo, inundando-nos com uma luz laranja e nos
presenteando com toda sua magnitude. Espiei ao redor permitindo que meus
olhos capturassem o máximo possível das, era um lugar perfeito. Eu podia
me ver facilmente ali com nossos filhos, as crianças correndo pelo quintal,
ele chegando do trabalho e nos encontrando ali em um final de tarde tão
bonito como aquele.
O sorriso estampou meu rosto naturalmente, todo o medo que eu sentia pelo
que estava por vir foi substituído pela ânsia de ter mais, de ter logo tudo
aquilo que meu imaginário me permitia criar.
—Tem bastante espaço para os nossos filhos.
—É
Sua resposta me fez apertar os lábios sem ter certeza de que estava tendo
uma boa leitura dele.
—Você quer ter filhos? —Eu simplesmente tinha assumido que sim, ele iria
querer um herdeiro, mas naquele instante eu parecia sentir a necessidade de
ouvir isso dele.
—Isso é uma necessidade do nosso casamento então essa pergunta não tem
o menor sentido. —Não era a resposta que eu esperei receber dele, mas não
tive a oportunidade de perguntar por que alcançamos a porta dos fundos que
estava semiaberta, entramos em uma sala de jantar com uma mesa longa de
mogno que abrigaria confortavelmente doze pessoas. A decoração do
ambiente era de muito bom gosto e trazia aconchego, não era só um lugar
bonito, era a nossa casa.
—Posso ter um tour? —queria conhecer cada cantinho daquele lugar. A
Elena iria adorar e poderíamos ter algum trabalho redecorando alguns
ambientes para deixar mais com a minha personalidade, mas eu já amava o
que conseguia ver.
—Não, estamos aqui para consumar o casamento depois você terá tempo
para conhecer a casa. —Aquela frase não me deixava mais assustada, eu
queria aquilo, queria tanto que sentia nos meus ossos e talvez eu
conseguisse engravidar de primeira como tinha acontecido com alguma de
minhas amigas e mesmo que eu soubesse que eu ainda era nova e tínhamos
tempo para engravidar, eu queria o mais breve possível e essa vontade ia
muito além da pressão que eu sentia estando casado com ele, sendo o chefe
era óbvio que todos os membros da máfia iriam esperar que tivéssemos o
próximo herdeiro.
Sua frase pareceu relembrá-lo do que tínhamos ido fazer ali e ele apressou
nossos passos nos levando para o segundo andar, toda a casa passou como
um borrão enquanto quase corríamos em direção ao nosso quarto, eu teria
meu tempo para lidar com toda a estética da casa depois.
Nosso quarto era a escolha lógica, o último quarto do corredor e pela
localização parecia ser o maior.
Antes que eu conseguisse me concentrar a qualquer coisa ao nosso redor ele
me girou me deixando de frente a ele fazendo minha respiração pesar pela
proximidade inesperada. Engoli em seco e ele sorriu de um jeito provocante
me deixando ainda mais nervosa.
—Eu fiquei pensando por alguns dias no beijo que eu roubei de você. —
Sua confissão levou calor as minhas bochechas e um certo alívio por não ter
sido a única a se comportar daquela maneira, seu beijo roubado tinha sido a
coisa mais emocionante que eu já tinha experimentado e me roubou
algumas noites de sono lembrando do seu toque. —Ansiei por experimentar
novamente, para saber se o gosto era tudo aquilo que eu lembrava ou se era
minha imaginação.
Engoli em seco.
Encarei o fundo dos seus olhos lendo o desejo estampado ali. Minha
empolgação se tornou mais enunciada enquanto eu me inclinava em sua
direção, elevada sobre os meus saltos eu quase conseguia alcançar sua
altura, encostei nossos lábios, me sentindo corajosa para aquele ato, para
algo que eu tanto desejei.
Seu toque na minha cintura se tornou firme enquanto ele me puxava em sua
direção fazendo nossos peitos se encostarem enquanto me beijava com
afinco, parecia muito mais entusiasmado do que no nosso primeiro beijo.
Eu o beijava exatamente como eu me lembrava de ter que fazer.
Afastou os lábios deixando o rastro de seu toque pelo meu rosto enquanto
deslizava os lábios pelo meu pescoço.
—Como tira esse vestido?
Sentir o calor se acumulado nas minhas bochechas enquanto convencia o
meu consciente de que aquilo era normal e afastava toda a timidez para
permitir que aquilo acontecesse.
Girei odiando me afastar dele e indiquei a longa fileira de botões na parte
de trás do vestido. Tentei me convencer de que seria bom ficar sem o
pesado vestido.
Senti seu toque nas minhas costas enquanto soltava os botões demonstrando
uma boa experiência com isso, afastei meus pensamentos que queria me
lembrar de como toda aquela experiência tinha sido adquirida.
[...]
—Você vai sair? —Não resisti a perguntar enquanto via ele se vestir
novamente. A probabilidade de ele fazer algo assim me assustou.
—Sim.
Não entendia o que significava, o medo de ter feito algo errado se instalou e
minha próxima frase soou sem muita confiança.
—Mas é nossa lua de mel.
—Sim, nós já consumamos o casamento. —Me encolhi me sentindo idiota
por estar forçando aquele assunto.
—Nós devíamos passar a noite toda junto —mordi os lábios sem saber se
eu estava indo longe demais, ele era o futuro chefe e homens no nosso meio
não gostava de serem questionados.
—Você acabou de dizer que está sentindo dores o que tecnicamente não vai
me permitir fodê-la novamente e sinceramente o sexo nem foi tudo isso
para que eu queira repetir agora —se ele tivesse me dado um tapa talvez
não tivesse doido tanto quanto suas palavras.
—Se você puder me explicar eu posso aprender e...
Ele me interrompeu: —Não tenho paciência para explicar nada a ninguém,
por isso gosto de mulheres experientes que saibam se comportar na cama e
não fiquem apenas paradas como um corpo morto.
Engoli em seco sentindo suas palavras me machucarem ainda mais.
Observei ele fechar os últimos botões de sua camisa sem entender por que
ele tinha que me machucar daquele jeito, porque ele não podia ser carinhoso
como tinha sido a alguns minutos atrás.
—Aonde você vai? —Eu sentia no fundo dos meus ossos que eu me
arrependeria daquela pergunta, mas eu precisava da confirmação.
—Você não quer saber a resposta dessa perguntar? —Soou como uma
pergunta e eu fiquei firme encarando-o aguardando a resposta que eu tinha
plena certeza seria capaz de partir meu coração.
—Encontrar com a Lara —a forma que falou o nome dela me causou
enjoou —e vamos ter uma conversinha do porquê ela estava no nosso
casamento, mas não hoje porque sinceramente minha cota de paciência para
lidar com você acabou.
Não me deu tempo virando as costas e saindo me deixando ali sozinha
sobre nosso leito nupcial sem saber como reagir as coisas que ele tinha dito.
Me senti uma completa estupida em não ter percebido que ele não estava
gostando, em não ter tido a capacidade de perceber que ele estava apenas
cumprindo seu papel.
A porta foi aberta e eu senti um filete de esperança enquanto recebia sua
presença novamente no nosso quarto.
—Esqueci minhas chaves —ele capturou algo sobre o aparador e me deu as
costas ladrando ordens. —Não saia do quarto até que eu volte. —Bateu à
porta com força e seria mais emblemático se ele tivesse passado a chave.
Capítulo 04
Lara
Era óbvio o porquê minha presença naquele casamento tinha sido para que
eu recebesse um recado e eu tinha recebido, mas era ousada o suficiente
para estar ali. Minha mesa era junto com outro grupo de associados que eu
não conhecia muito e não me importava.
Não conseguia desviar os olhos da mesa principal onde a palavra perigo
estava destacada em neon, ali tinha todos os membros do alto escalão da
máfia, capôs, subchefes, chefe e seus herdeiros. Se pertencêssemos a outro
grupo aquele seria o momento perfeito para explodir uma bomba ali e
dizimar a todos, mas nosso objetivo era outro...não seriamos melhores do
que eles se agíssemos da mesma forma que agiam.
Eu imaginei que o Domenico iria falar comigo, imaginei realmente diante
da sua reação ao me ter ali, mas ele permaneceu sentado em sua mesa até
que os momentos em que a presença dos noivos foi requisitada para seguir
o script da festa.
Mesmo sem olhar na minha direção, eu conseguia perceber que algo
naquele dia não o estava agradando e eu não sabia o que significaria aquele
momento para a nossa relação. Não só a minha presença no seu casamento,
mas seu casamento em si. Ser noivo era diferente de estar casado, de estar
casado e principalmente de estar casado com uma mulher tão perfeita
quanto a Francesca. Eu não conseguiria o acesso que eu precisava se todos
me odiassem e parecia que era óbvio que continuar desfilando por aí com o
nariz erguido como se me orgulhasse de ser amante não me traria uma boa
visualização aos olhos de nenhum deles.
Peguei minha bolsa e me afastei da mesa no mesmo instante em que o
Domenico e ela saiam do salão de mãos dadas sobre o burburinho em
relação a consumação do casamento. Aquele devia ser um momento deles,
mas pertencia a família, todos pareciam tão afetados por isso que chegava a
ser engraçado, um bando de idiotas. Afastei o sentimento negativo que me
dava vontade de socar alguma coisa, mais precisamente alguém.
—Senhorita —um dos soldados diretos do chefe me parou assim que eu
estava distante de toda comoção pública e eu forcei um sorriso sem querer
deixar que aquele momento em que eu não consegui prever me afetasse.
Saber a descrição e posição de todos que eram peças importantes daquele
jogo de tabuleiro era fundamental e ter um dos homens de confiança de
Salvatore no meu pé me deixava sem muita expectativa.
—Sim.
—O chefe quer falar com você, me siga por favor.
Movi meus passos pela grama seguindo a indicação do homem com o dobro
de minha altura, estudei toda sua estatura me preparando para um confronto
físico, por mais que eu soubesse que minha capacidade física não teria
nenhuma importância ali, não conseguiria sair viva daquela festa sem que o
homem para que eu caminhava autorizasse. Não era só seu exército, quase
todos os seus homens estavam reunidos naquela festa hoje, seus homens,
suas crianças e famílias, uma constatação óbvia de que aquele ambiente era
seguro para quem era bem-vindo e que tudo seria feito para quem não era
bem-vindo se mantivesse distante e naquele momento eu tinha certeza de
que me encaixava muito mais na segundo categoria.
Entramos no que parecia ser uma garagem no subsolo e eu forcei minha
expressão querendo ficar mais calma, necessitando que nada na minha
fisionomia entregasse como eu estava me sentindo e da sensação de perigo
que gelava meus ossos.
Uma única cadeira de ferro estava no meio do lugar e parecia
completamente deslocada, ao mesmo ponto que parecia pertencer
exatamente ali já que as marcas no chão inticava sua posição.
—Pode sentar ali se quiser ficar mais confortável.
Olhei para o meu salto odiando a escolha, mesmo que eu conseguisse fazer
muitas coisas sobre aquela perfeição que enfeitava o meu pé não
conseguiria ir muito longe em um confronto físico e muito menos se eu
tivesse que correr e todas as tiras simplesmente evidenciavam o quão difícil
seria livrar meus pés daquele calçado sem chamar atenção e sem precisar de
alguns segundos.
Caminhei até a cadeira e sentei cruzando as pernas sem me preocupar em
tentar parecer sexy, com aquele soldado minha aparência física não
importaria por melhor que eu fosse. Eu simplesmente não tinha um pênis
para me encaixar nos seus gostos.
O tempo passou e eu usei todos os segundos para não deixar que a espera
mexesse com o meu psicológico, aquela espera fazia parte da tortura e eu
não cederia tão fácil assim, eu tinha sido criada pelo meu pai, eles não
faziam ideia do que era realmente ser torturados. Abrir minha bolsinha e
peguei uma lixa que eu tinha sempre por lá, precisava me distrair de alguma
maneira. A atenção que ele depositou em mim assim que eu abrir a bolsa
demonstrava que ele, mesmo com sua aparência desinteressada estava
atento a cada movimento meu e me temia, eu ser mulher em nada
modificava seu alerta e isso me fez considerar muito mais o homem parado
me observando.
Quando descobri sua orientação sexual joguei muitos pensamentos
preconceituosos ao seu respeito, inclusive eu não tinha ideia de como o
Chefe da máfia podia permitir algo assim tão perto de si mesmo, mas eu
não estava com vontade e nem interação o suficiente para me aprofundar na
história deles e entender as regras por trás daquela relação, nem mesmo
podia afirmar com certeza se o Chefe sabia daquilo, principalmente porque
o seu segurança era extremamente discreto em seus encontros sexuais.
—Levanta —não pensei seguindo sua ordem.
Abaixei a cabeça assim que percebi a movimentação para dentro da
garagem e eu sabia quem causaria todo aquele alvoroço.
Aquela seria a primeira vez que eu falaria diretamente com o chefe e era
impossível conter o nervosismo e o orgulho de saber o quão longe eu tinha
conseguido ir. Ninguém do nosso meio tinha chegado tão perto, tinha
conseguido aquilo. Eu estava dentro do seu território, não só na cama do
seu filho, mas dentro de sua casa e de frente a ele.
—Olhe para mim porque eu vou falar apenas uma vez e eu espero para o
seu bem que você escute e siga o que eu estou falando. —Ergui os olhos
encontrando os olhos azuis claro me encarando, ele possuía o mesmo olhar
do filho, era intenso e frio. —Não ligo para com quem meu filho transa, não
ligo mesmo, mas você nunca mais vai ousar desrespeitar minha família
então quando minha nora estiver em um ambiente, não importa onde seja,
você sai, você sai sem pensar, não leve um segundo inteiro para se retira
senão eu vou ficar muito irritado com você e você não vai me querer
irritado. —Uma ameaça aceitável
—Eu só vim porque fui convidada. —Ainda era uma surpresa eu está ali,
não acreditei e relutei muito sobre vim ou não, mas aquela seria minha
melhor chance de estar dentro e eu não podia perder independente de saber
que isso era uma provocação da noiva.
—Você nem vai ter tempo de me dizer essas palavras novamente se
acontecer de novo. Porque eu pouco me importo que você tenha ou não sido
convidada, se a minha nora pessoalmente for até você, o resultado será o
mesmo. —Encarei o homem velho sentindo um ódio no fundo do meu ser
pelas suas palavras, pela forma que ele queria fazer com que eu me sentisse
menos, para que eu sentisse abaixo dele e de sua fodida nora.
Balancei a cabeça fingindo assentir apenas porque eu não confiava nas
minhas palavras naquele momento para dizer qualquer coisa a ele,
principalmente porque sabia que independente do que eu dissesse apenas
uma pessoa estava em risco ali e não era ele.
—E um outro aviso porque talvez meu filho não tenha avisado e você sendo
nova aqui não saiba. Não vou admitir bastardos na família, engravide —ele
se aproximou de mim tão perto que quase nos tocávamos —e eu vou fazer
você conhecer seu filho antes da hora, melhor farei meu filho abrir sua
barriga com uma faca de cozinha e tirar lá de dentro a merda que vocês dois
fizerem e isso não é uma ameaça, mas um fato, não me desafie.
Engoli em seco não conseguindo disfarçar o pavor diante de suas palavras,
eu não pensava em engravidar, na realidade eu tomava todos os cuidados
para que isso não acontece, mas considerar a cena, considerar aquela
crueldade e principalmente saber que não era dá boca para fora, que ele
realmente faria algo assim, mesmo que a criança tivesse o sangue dele me
causou náuseas.
Ignorei o tremor dos meus lábios secos e o arrepio gelado que sua sentença
provocou em mim.
—Agora saia da minha casa.
Passei por ele de cabeça baixa precisando esfriar a cabeça antes de qualquer
outra coisa, ele me deu muito o que pensar, ele principalmente abriu meus
olhos para uma coisa que já devia ser óbvia para mim, mas que eu
simplesmente ignorei.
[...]
—O que foi? —A pergunta do Domenico parecia deslocada, ele nem
deveria estar ali era sua lua de mel de qualquer forma.
Ignorei-o realmente irritada com tudo que tinha acontecido, aquela puta
tinha ganhado bem mais do que conseguia prever com o seu convite
estupido. Não tive nenhuma vitória em ter comparecido naquele casamento,
nenhuma, apenas o estresse de saber que ela tinha ganhado mais uma, que
ela tinha conseguido mais do que eu poderia imaginar com a minha
presença ali. Só se eu fosse louca eu desafiaria o chefe da máfia, só sendo
louca eu realmente não fugiria correndo quando a miss perfeição aparecesse
onde eu estivesse e essa merda podia ser em qualquer lugar, eu teria que
ficar ainda mais atenta para não deixar tudo ir para água abaixo porque eu
não vi a presença daquela vaca.
Foquei minha atenção no cálculo químico que eu fazia tentando encontrar
um reagente ideal para o eu fazia, se desse certo eu teria uma substância
revolucionária e útil eu só precisava resolver aquele cálculo.
—Eu que acabei de ser condenado ao casamento com a miss perfeição e
você está com mal humor. —Ele tirou a camisa e se jogou na minha cama,
era bom que ele se sentisse confortável, mas eu não estava com nenhum
pouco de paciência para ele e seu bom humor constante.
—Você não devia estar apreciando sua lua de mel?
—Vim apreciar. —Ignorei sua frase e tentei me concentrar no cálculo do
meu quadro branco, lua de mel se aproveitava quando se era casado e ele
não era casado comigo, era casado com ela. Tentei ignorar o quanto aquilo
parecia me incomodar, muito além de uma missão. —Essa conta está um
pouco grande —comentou o óbvio no segundo que planava atrás de mim e
me abraçava.
—Eu estou irritada Domenico por favor volte para sua esposa. —Peguei o
apagador e exclui todo o cálculo do quadro sabendo que jamais conseguiria
resolver aquela equação com a cabeça fervendo do jeito que estava, eu
precisava de algo um pouco mais agressivo.
—Você está irritada porque eu me casei? —Sua pergunta era idiota assim
como ele.
—Claro que não. —Girei encarando seus olhos já convicta de que ele não
me deixaria em paz, pelo menos não tão cedo.
—Aparentemente sim, aparentemente está muito irritada por causa de uma
coisa que sabe que não tenho controle. —Segurou meu queixo me
obrigando a olhar para ele. —Agora pode me explicar o que você estava
fazendo lá hoje?
—Fui convidada —em algum momento.
—Droga! —Ele me puxou para um beijo e eu não resisti deixando-o me
tocar da forma que queria, eu precisava relaxar e existia duas formas de
conseguir isso e aquela era uma das melhores.
[...]
Tracei o formato de uma estrela no seu peito com a ponta dos dedos, não
sabia se devia ou não contar sobre a ameaça do seu pai, em momento
nenhum eu tinha sido proibida de falar nada, mas sabia que as coisas iriam
ser mais complicadas que isso.
—Por que você não usa todas as palavras e me deixa saber o que está
incomodando? —Ergui a cabeça e apoiei o queixo no peito dele e estudei as
palavras com calma enquanto sentia a decisão de ser sincera com ele se
firmando.
—Seu pai me ameaçou.
—Você não devia ter aparecido —bufei irritada que ele tivesse mesmo
tendo a coragem de me ameaçar diante da atitude de bosta do seu fodido
pai.
—Eu sei, mas fiquei curiosa sobre o convite, eu sei que você não é meu e
que dificilmente será, então eu imaginei que ela fosse um pouco mais
corajosa e segura disso, quando o convite chegou apenas me empolguei.
—Sou mais seu do que dela! —Sua afirmação fez com que um sorriso bobo
estampasse o meu rosto, antes que eu forçasse uma expressão contida.
Aquilo não significava nada, eram apenas palavras que ele estava usando
para me manter. Era isso que os homens faziam e eu não podia esquecer
disso por nenhum segundo ou ele me devoraria. —Agora o que meu pai
disse?
Relatei a primeira parte da ameaça insegura de deixá-lo saber de tudo, a
ameaça a um filho que eu nem pensava em ter parecia demais e parecia
pertencer apenas a mim, ao menos naquele instante.
—Isso não vai demorar muito, logo as coisas irão mudar, para todos nós.
Suas palavras como sempre eram cercadas de enigmas que eu não
conseguia decifrar, nem conseguia entender o nível de importância que eu
precisava ter sobre aquilo e insistir por uma explicação apenas o deixaria
irritado, eu já tinha tentado antes e não conseguia evitar fazer novamente:
—O que isso significa?
Segurou minha cintura girando o corpo e ficando por cima de mim. Senti-o
se animar no meio das minhas pernas e a ausência de preservativo conosco
naquela posição me fez repensar nas palavras de seu pai e ficar
momentaneamente tensa.
Mesmo com os meses ali, os meses com ele eu não tinha nada real para nem
mesmo iniciar uma acusação, era tudo muito especulativo para sequer
conseguir um promotor para aceitar a causa.
—Muita coisa, preciso que você confie em mim, confie que meu pai não vai
dar as cartas por muito tempo e que quando eu for o chefe as coisas serão
muito mais fáceis para todos, inclusive para nós dois. —Eu não tinha
certeza, mas sentia no fundo do meu ser que ele tinha acabado de ameaçar
seu pai, não parecia só uma espera natural. O ártico dos seus olhos me
confirmava isso, porém se ele estivesse armando um golpe tudo estava
perto de ruir e estar perto, tão perto me afetaria diretamente. E eu não tinha
certeza se era de uma maneira positiva.
—Isso não muda o que já aconteceu, isso não muda que ela é sua esposa e
que para a máfia isso é definitivo. Agora você é dela e ela é sua, talvez eu
deva entender o óbvio e me afastar. Vim para a Itália atrás de um marido
não de me acomodar no papel de amante. Não consegui um e me envolver
com você de maneira publica me tirou o pouquinho de chance que eu tinha,
talvez se você puder me ajudar, você disse que o Caccini precisa de uma
esposa por causa das crianças, eu os vi acho que posso me encaixar no calor
do México, lá tem praias incríveis e não sei se serei boa mãe, mas posso me
esforçar...
Parei de falar quando sentia sua mão apertar meu pescoço com força. Seus
olhos raivosos me encaravam deixando-me ver toda sua raiva.
—Ninguém toca em você, eu mato todos que ousarem tentar. —Senti as
batidas firmes do meu coração animado com sua ameaça estupida.
—Você não está sendo justo comigo.
Eu era o alvo naquele instante.
—Estou pedindo apenas um pouco de paciência, que você confie em mim
por algum tempo e prometo que você será recompensada.
—E se não der certo? Se o que você acha que vai acontecer quando seu pai
deixar de ser o chefe não mudar nada? Como vamos ficar? Como eu vou
ficar? Já estarei velha o suficiente para que até me casar seja um desafio
maior do que já é. —Nada disso era realmente uma preocupação, não para a
minha missão, a garota do coração bobo que disparava ouvindo-o se
declarar podia sentir alguma coisa com suas promessas, mas a muito tempo
eu tinha aprendido a separar as duas versões de mim.
—Se não der certo nós fugiremos, eu e você, para algum lugar onde as
ordens do meu pai não tenha poder sobre nossas decisões. —Aquela
confissão me pegou de surpresa, não conseguia acreditar que ele desistiria
de ser o herdeiro de tudo aquilo para ficar comigo.
—Então iremos morar na Rússia —ele sorriu e abaixou o rosto
descansando-o na linha do meu pescoço. Sua risada provocava arrepios na
minha pele. —Porque sabe que apenas lá seu pai ainda não controla todo o
território então teríamos uma ou outra cidade para nos esconder.
—Já temos um plano B se o plano A falhar.
Deslizei a unha com delicadeza por seu coro cabeludo provocando-o.
—Mas se o plano A funcionar eu vou mandar construir um laboratório
gigantesco para você e não vamos nos importar com as recomendações de
segurança além disso vou garantir que você tenha uma equipe de gênios
para fazer os malditos cálculos que você odeia. —Gargalhei não
conseguindo evitar imaginar o cenário que ele pintava.
—Não me parece justo alguém fazer meus cálculos e eu levar os créditos.
—A vida não é justa. Agora coloque uma roupa que temos que fazer uma
coisa agora e quero que você vá comigo.
Estudei com atenção sua expressão tentando decifrar seus planos.
—Não falarei nada vista uma roupa e vamos.
Levantou da cama e eu não resistir admirando-o sem roupa, ele era
deslumbrante, os músculos do corpo muito bem definito, parecia não ter
uma molécula de gordura pelo corpo. Diferente do que se imaginava ao
falar de mafiosos sua aparência era completamente angelical, seus cabelos
loiros, seus olhos azuis, tudo compunham sua aparência de bom moço. O
sorriso sempre no rosto e o jeito galante confundiriam qualquer um, mas a
grande tatuagem no braço esquerdo com o brasão de sua família indicava o
que ele realmente era e o que podia fazer sem muito esforço.
—Pare de me admirar e se vista ou vou levar você pelada o que vai fazer
com que eu tenho que arrancar vários olhos pelo caminho e eu sou muito
bom com facas. —Ele sorriu e eu afastei o pensamento da descrição que
tive sobre sua iniciação.
—Não fale esse tipo de coisa perto de mim. —Levantei-me da cama. —
Tenho um tempo para um banho?
—Nem pensar —caminhou até meu closet e pegou um vestido vermelho
jogando na minha direção. —Vista esse e fique sem calcinha, quero acesso
ao seu corpo sem muitos impedimentos.
[...]
Encarei a fachada do estudo de tatuagem e senti meus pelos se arrepiarem.
Aquilo era uma missão e uma tatuagem era algo definitivo.
—Não farei uma tatuagem —nem fodendo que ele me convenceria a algo
assim. Era uma missão, marcar ele no meu corpo de maneira definitiva não
estava nos planos.
—Isso não está no seu poder de escolha. —Gemi enquanto ele pegava
minha mão e me arrastava para dentro do lugar escuro. As paredes pretas
com desenhos coloridos dava um ar pesado ao ambiente, mesmo com a
quantidade de luzes ainda parecia claustrofóbico demais.
—Domenico —o homem atras do balcão sorriu de um jeito que deixava
nítida a intimidade deles dois. O jeito de sorri do tatuador me deixava ainda
mais nervosa.
—O que você quer dessa vez? —Ele atravessou o balcão e caminhou até
uma das cortinas e abriu exibindo o estúdio, pelo menos o cheiro de
limpeza era forte o que aumentava as chances de eu não pegar uma doença
ali.
Ele soltou minha mão e caminhou até a cadeira se acomodando ali.
—Quero que você faça uma aliança no meu dedo —meu coração disparou
quando eu entendia a dimensão do seu pedido. —Ela precisa ser maior do
que essa e que apareça mesmo quando eu tiver com a aliança de ouro.
O tatuador estudou a mão dele por alguns segundos e fez uma marcação no
seu dedo anelar.
—Algum desenho específico? É para recriar essa aliança? —Observou
enquanto o Domenico guardava a joia de ouro no bolso da calça.
—Nada disso importa. —Seus olhos claros e tranquilos não me
abandonavam. Apertei uma mão na outra tomando ciência do quanto aquele
gesto seria definitivo para a gente, um símbolo eterno que nos marcaria para
todo a nossa vida.
—Isso não deve levar nem vinte minutos decida como você quer a sua ou
eu o farei —odiava aquele tom de voz, odiava ainda mais quando ele fazia
isso em público, mas seu humor era assustador quando contrariado então
apenas dei de ombros sabendo que processar ele por violência não chegava
nem perto dos planos que eu tinha para ele.
Peguei um álbum de modelos que estava em algum lugar ali enquanto
observava os traços dos desenhos do homem, os traços eram brutos e eu não
duvidaria que ele tivesse aprendido aquilo na prissão.
—Decidiu? —Me assustei quando ele me abraçou por trás e deixou um
beijo no meu pescoço.
—Sim, quero um aro fino entrecortado com flores e que o traço seja fino
em todo o desenho. —Algo bonito e discreto, diferente do traço preto que
agora ele ostentava no dedo minha intenção era que uma futura aliança
fosse capaz de esconder.
—Sabe que não gosto de tatuar mulheres, exatamente por esse motivo. —O
Domenico ignorou-o e nos conduziu até a cadeira voltando a se sentar e me
sentando sobre o seu colo.
—Faça o que ela pediu.
O homem bufou e se levantou para trocar as agulhas e eu verdadeiramente
me surpreendi que ele seguisse todos os protocolos de segurança.
A ousadia me fez segurar a mão dele, ele não podia mesmo achar que eu o
deixaria me tocar enquanto tinha outra pessoa dentro daquela sala.
—Não.
Sua risada alcançou meu ouvido enquanto seu hálito batia no meu pescoço
pela sua proximidade.
Puxou minha mão com a sua livre e prendeu para trás pressionando suas
costas.
—Eu avisei que queria acesso completo ao seu corpo —sussurrou e ergueu
meu vestido até o meio da minha coxa deslizando a mão lentamente para
dentro das minhas coxas trazendo arrepios na minha pele.
—Não com outra pessoa na sala.
—Ele não se incomoda. —Aquilo ativou os alarmes de que talvez eu não
fosse única que ele trazia ali com aquele papinho, mesmo que até poucos
segundos atrás ele só possuísse duas tatuagens e que o significado de ambas
fosse muito conhecido por mim. O símbolo da sua família no braço direito e
a estrela no seu coração, ambas com significados internos da máfia. Afastei
os ciúmes me lembrando de que ele não era meu, era apenas uma ideia,
minha missão, os sentimentos envolvidos ali eram apenas para garantir o
sucesso do meu plano.
Sem que eu pudesse reclamar mais um pouco o homem voltou a sala e
passou por nós ocupando sua cadeira como se não tivesse a percepção do
que ele estava fazendo, o que era difícil já que a mão do Domenico se
perdida dentro do meu vestido.
—Vou apenas te distrair da dor —cochichou no meu ouvido de uma
maneira a provocar arrepios pelo meu corpo.
Senti meu rosto esquentar pela vergonha que eu me sentia pelo seu toque no
meio das minhas pernas, mas o calor que eu abrigava ali parecia ainda mais
importante e tomava toda a necessidade de atenção.
Circulou meu clitóris de uma maneira tão leve que eu solucei me
encolhendo em direção ao seu toque.
—Pouco me importa se ele vai fodê-la aqui sobre a minha cadeira desde
que você não mova a mão. —Encarei o tatuador que estava de costas para
nós completamente focado na minha mão, higienizando meu dedo anelar.
E respirei fundo tentando me conter enquanto o Domenico continuava a
caricia no meu clitóris. Era evidente que o homem sabia perfeitamente o
que estávamos fazendo e nem assim eu me sentia à vontade de proporcionar
um espetáculo ainda maior a ele então contive todos os meus gemidos.
Joguei a cabeça para trás apoiando no ombro do Domenico enquanto sentia
a onda de prazer crescer enquanto seu toque na minha boceta se tornava
mais intenso.
—Domenico por favor... —a frase morreu quando o sentia intensificando a
caricia. Minha respiração estava pesada, já sentia uma fina camada de suor
cobrindo minha pele enquanto me esforçava para não gozar enquanto
aquele homem tivesse na sala. Segurar o prazer parecia tornar tudo ainda
mais intenso.
Senti sua mão no meu pescoço enquanto apertava com firmeza.
—Levante o vestido até a cintura.
Sua caricia continuava firme sobre meu clitóris me fazendo levar alguns
segundos para entender o que significava sua ordem.
—Mas... —Abaixei os olhos em busca do tatuador e encontrei a cadeira que
ele antes ocupava vazia, puxei minha mão olhando o resultado da tatuagem.
Vendo que ele tinha seguido exatamente minha recomendação e a referência
que eu encontrei em seu livro. As flores eram lindas e bem discretas.
—Agora você é definitivamente minha e apenas a morte é capaz de nos
separar. —Suas palavras eram assustadoras e ao mesmo tempo tão reais,
definitivamente ele estava marcado em mim, definitivamente seriamos um
do outro, estaríamos marcados um no outro. —Agora me obedeça.
Ergui meu vestido precisando mais do que nunca dele, do seu sexo gostoso
e agressivo para me livrar de toda a merda de consciência que espreitava
meu íntimo, aquele não era o momento de questionar o quão longe eu
estava indo por causa daquela missão.
Abandonou o aperto no meu pescoço para livrar seu pau da calça jeans. Sua
ereção cutucou minha bunda antes de ele guiá-la para minha entrada que já
latejava desejando-o ali. Esfregou a cabeça do pênis sobre meu clitóris
enquanto eu tateava seu bolso atrás de um preservativo. Antes que eu
conseguisse ter sucesso ele me penetrou fazendo-me gemer alto sentindo-o
bater em um ponto específico dentro de mim.
[...]
Capítulo 05
Domenico
Fechei os olhos por alguns segundo e pisei no acelerador aproveitando a
adrenalina. O nervosismo não me deixava dormir então isso significava que
eu já estava algumas noites acordado e esse cansaço era prazeroso e apenas
me provocava sobre tudo que eu teria que enfrentar e o quanto estava perto
meu golpe no meu pai. Tinha certeza de que ele nem mesmo esperava por
isso, eu não estaria vivo e bem se ele ousasse desconfiar, mas estava vindo e
o atingiria bem no meio do seu ego estúpido. Ainda não tinha certeza de
que conseguiria fazer as coisas do jeito que eu idealizava, pelo menos não
tão rápido, a Lara precisaria ter um pouco mais de paciência comigo para
que eu conseguisse proporcionar o que ela esperava de mim.
Mesmo com o meu pai fora ainda teria o maldito conselho, ainda teria a
Francesca e seu maldito pai que comandava o conselho com mãos de ferro
como o maldito que era. Me livrar de três ao mesmo tempo causaria muitas
suspeitas e tudo que eu não precisava era de uma merda dessas então teria
que aguentar mais um pouco aquela irritante e fazer por mais algum tempo
o papel de marido. Porém jogava o jogo, mal parava em casa, minhas
tarefas sendo um dos melhores torturadores da máfia me mantinha sempre
em ação e o tempo livre eu passava com a Lara. Uma vez na semana eu
jantava com a Francesca e transava com ela, apenas para cumprir meu papel
de marido nada além disso e era isso que eu estava fazendo ali.
Entrei e encontrei ela parada no meio da sala, parecia nervosa e forçou um
sorriso assim que me viu.
—Seja bem-vindo marido —revirei os olhos pela maneira piegas que ela se
referia a mim. Mesmo sabendo da Lara, mesmo sabendo que ela era apenas
uma obrigação que eu tinha ainda sim se comportava como se eu fosse a
melhor coisa da vida dela.
—O jantar já está pronto? —A cozinheira que ela tinha contratado era
excelente e isso tornava minha presença ali um milhão de vezes mais
prazerosa.
—Sim, já irá ser servido. Mas antes eu queria conversar uma coisa com
você.
Tirei o terno e desabotoei alguns botões da camisa social. Hoje tinha tido a
merda de uma reunião que eu odiei cada segundo e não passaria os únicos
minutos de paz tendo que fingir me interessar por qualquer merda que ela
fazia durante o dia todo.
—Agora não Francesca estou morrendo de dor de cabeça e preciso ficar um
pouco em silêncio, depois do jantar quando minhas energias estiverem
renovadas quem sabe podemos conversar sobre o que você quiser.
Ela sorriu ainda dentro da sua versão nervosa e quase foi o suficiente para
me provocar curiosidade.
Caminhei até a sala de jantar com ela no meu encalço passo a passo e eu
fingi algum cavalheirismo puxando sua cadeira para que ela se sentasse
antes de me acomodar no meu lugar. Meu simples gesto rotineiro parecia
significar muita coisa para ela que sorria como se tivesse ganhado o dia.
[...]
Parei por alguns segundos observando ela descendo os beijos além do que
normalmente fazia, seus lábios abaixo do meu umbigo me fizeram arregalar
os olhos notando o que ela faria, não era algo que eu esperava da miss
perfeição, não mesmo e sentir seus lábios quente em torno da minha ereção
fez eu travar o maxilar e fechar os olhos pela onda de prazer que seu
movimento provocava. Sua boca era quente e apertava meu pau com a
firmeza necessária para me levar ao êxtase, seus movimentos eram firmes e
confiantes enquanto deslizava-se sobre minha ereção. O prazer não era
suficiente para que me passasse despercebido que ela fazia aquilo com
muita experiencia e habilidade para alguém que foi dada para mim como
uma inocente virgem. Eu sabia que algumas meninas de família usavam
alguns truques para satisfazerem suas necessidades sexuais sem perder a
virgindade, sexo oral e anal são um desses truques e a Francesca iria se
arrepender de achar que podia me enganar assim. Mas antes ela precisaria
continuar me chupando do jeito que ela estava fazendo porque aquele era o
melhor boquete que eu já tinha recebido.
[...]
—Só você me dizer com quem foi e eu prometo que vou matar outro e não
você. —Um fodido truque, se ela confessasse eu teria motivos para
devolver ela para o miserável do pai dela e finalmente poderia me ver livre
dela e de toda a merda que era estar casado com ela.
—Não foi ninguém —tossiu com dificuldade enquanto tentava respirar
sobre meu aperto no pescoço dela, mas um pouquinho de força e eu podia
apenas quebrar o pescocinho lindo dela.
—Não minta para mim ninguém chupa um pau assim sem ter treinado e
muito antes.
—Eu pedi conselhos a Elena para te agradar, eu juro que foi ela que me
explicou o que fazer, ela disse que você iria gostar e só Deus sabe como eu
queria que você gostasse de ir para a cama comigo e quem sabe assim
parasse de procurar por ela. —Relaxei um pouco a pressão quando percebi
a pele em volta da minha mão estava começando a ganhar uma coloração
roxa. Seria a merda de um problema, sem uma confissão fazer qualquer
merda. O fodido do pai dela era um pé no saco normalmente e eu não
precisa que ele fosse um pé no saco naquele momento.
Soltei ela com cuidado e segurei-a pelos braços quando percebi que não
parecia firme sobre os próprios pés.
—Você disse que não ia fazer mais isso —me acusou.
Não apresentei resistência quando fugiu do meu toque e não evitei
preocupação quando se curvou vomitando copiosamente no chão do nosso
quarto.
—Francesca! —exclamei preocupado e me aproximei dela que ergueu a
mão em um claro impedimento. —Você precisa deitar-se um pouco e
respirar com calma você está vomitando porque ficou muito tempo sem ar.
Ter a minha esposa morta por asfixia seria meu fim literalmente.
—Eu estou vomitando porque eu estou grávida. —Suas palavras me
atingiram como se ela tivesse me dado um soco no estomago. Naquela
posição, seus olhos cheios de lágrimas curvada abraçando sua barriga
deixou claro que ela não estava brincando, aparentava estar mais frágil do
que de costume.
—Droga! —Minha exclamação pareceu mexer com ela que se encolheu em
direção ao vomito e fez uma nova ânsia. Ela está preferindo ficar perto da
sujeira que tinha causado a ficar perto de mim e isso atingiu meu ego.
—Francesca por favor.
—Me deixe em paz Domenico por favor, vai ver a Lara e me deixe sozinha.
—Era a primeira vez desde muito tempo em que ela falava o nome da Lara,
sempre se referia como ela ou a outra – como se não entendesse que ser
minha esposa no papel não trazia nenhum benefício lógico a ela, era apenas
a droga de um papel.
Me aproximei ignorando a necessidade que ela sentia em me afastar.
Puxei seu corpo, sem precisar fazer esforço, para os meus braços. Ela não
se debateu e me deixou conduzi-la até nossa cama. Deitei ela acomodando-
a sobre o meu peito. Posição que eu sabia que ela queria desde a nossa
primeira vez, onde esperou algum carinho depois da consumação do
casamento, todas as outras vezes que transamos não foi diferente, ela me
teve apenas no aspecto físico e eu sabia que seria o máximo que eu podia
proporcionar e agora ela me faria pai. Eu não estava preparado para aquela
merda, não mesmo, não me alegrava em nada ter herdeiros, ter uma criança
no meio de uma transição me deixaria ainda mais expostos as fodidas
exigências do conselho, mas não o ter poderia causar surpresas que eu não
tinha certeza se podia lidar, odiava o inesperado, odiava a perda de controle
e sentia no fundo do meu ser que era isso que aquela criança representaria
para mim. Era algo evitável, eu devia ter feito o inesperado e usado
preservativo ou obrigado que ela tomasse as devidas precauções para nos
poupar daquilo, mas ela parecia animada com a possibilidade de engravidar,
de ser a mãe dos meus filhos – como se isso fosse mudar qualquer coisa na
nossa maldita relação.
—Por favor me deixe sozinha —ela estava inerte sobre o meu colo e
percebi apenas naquele momento as lágrimas banhando seu rosto enquanto
ela mantinha os olhos fechados.
—Não é assim que funciona as coisas, vamos conversar, seremos pais agora
e temos que pensar nesse bebê dentro da sua barriga.
Ela abriu os olhos claros para mim e uma centelha de culpa se instalou
enquanto eu percebia a fagulha de esperança refletida ali.
—Você disse que não faria mais isso, que não me machucaria mais —a
droga de um disco arranhado repetindo a mesma coisa. Eu disse, mas não
achei que ela iria me irritar a ponto de me fazer perder a cabeça novamente
com ela.
—Eu sinto muito, mas o ciúme me cegou —acariciei seu cabelo com o
máximo de delicadeza, afastei os fios percebendo a marca da minha mão
ali. Sua pele muito clara marcava com facilidade, a última vez levou mais
de um mês para sair a marca que eu tinha deixado em seu rosto quando
acertei um tapa depois de ela se sentir no direito de exigir alguma coisa, de
se sentir no direito de querer ditar como eu iria conduzir minha vida, seus
gritos e as verdades que jogou na minha cara me fizeram perder o pouco do
controle que eu tinha.
Ela podia se sentir muito confiante porque era a única que tinha a
capacidade de me fazer perder o controle daquele jeito.
—Sou um homem da máfia e você sabe como funciona isso, somos
violentos por natureza crescemos para isso e você me fez perder o controle.
—Meu pai não perde o controle dentro de casa. —Bufei, era claro que ela
traria seu fodido pai para a conversa, a perfeição de pai e marido.
—Que você saiba...
Me interrompeu. Ergueu o rosto do meu peito e me encarou abertamente,
não tinha dúvidas da defesa que viria.
—A Elena me contaria se ele a machucasse, somos melhores amigas. —
Claro que eram, não tinha como ser diferente já que a madrasta tinha sua
idade. Eu estava lá quando o pai dela quis a menina para pagar as dívidas,
eu vi o jeito malicioso que o pervertido olhou para a garotinha e eu não
tinha nada contra, mas me irritava profundamente ter que receber
comparações quando o pai dela não chegava nem perto de ser perfeito, nem
perto de ser um ser humano bom.
—Sua madrasta não estragaria a visão que você tem do seu pai,
principalmente porque ela sabe como você admira o homem e nem eu faria
isso dizendo nada do que sei —alisei o rosto dela com as pontas do dedo
sabendo que qualquer migalha de carinho era o suficiente. Não sabia muito
do seu maldito pai além do que fazíamos na máfia, das coisas que ele fazia
pela nossa causa, muito menos detalhes da sua relação conjugal, mas eu me
sentia confiante para usar aquilo ao meu favor. —Um casamento é feito de
cumplicidade, temos que guardar os segredos um do outro e nos
responsabilizar pelas coisas que nós fazemos eu estou me responsabilizando
pelas coisas que eu faço. Sinto muito pela minha reação sei que exagerei,
mas esse é o meu temperamento. Posso prometer que farei o melhor para
tentar me controlar se você prometer parar de me provocar, para de
provocar reações que você sabe que são ruins e que provocam coisas ruins
em mim. Eu sou um homem dá máfia, minhas reações são quase sempre
explosivas, mas conscientemente eu não quero machucar você, você sabe
disso.
Me estudou com atenção suficiente para me fazer duvidar de que cairia nas
minhas desculpas costumeiras, ela ainda não precisava saber exatamente
como eu me sentia em relação a ela e ao bebê que esperava.
—Me dê uma chance eu prometo que irei me esforçar.
Sua resposta não foi em palavras apenas voltou a cabeça para o meu peito e
para mim era o suficiente.
Intensifiquei a caricia no couro cabeludo dela torcendo para que dormisse e
não quisesse iniciar mais nenhum tipo de conversa.
—Você promete que não vai fazer isso nunca na frente do nosso filho, que
nunca vai perder o controle na frente dele.
—Prometo —ela descobriria em algum momento que minha palavra não
valia tanto assim em algumas situações e aquela era uma delas, não tinha
nem mesmo certeza se teria algum filho para que eu precisasse me
preocupar com aquilo. Mesmo precisando de um herdeiro não era dela que
eu queria, não era com ela que eu criaria aquele tipo de vínculo. Precisava
dar um jeito antes de se tornar um problema.
—Você está com quantos meses? —Independente da resposta eu tinha
certeza de que não eu não teria muito tempo.
Precisava de uma solução rápida e segura. Talvez a Lara conseguisse ajudar
com alguma de suas fórmulas malucas.
—Quatorze semanas. —Não tão avançado ainda, se eu esperasse um pouco
mais talvez eu conseguisse a sorte de que os dois morresse durante um
aborto. —Você não parece muito feliz com a notícia —sussurrou as
palavras como se tivesse medo da minha reação.
—Claro que eu estou, apenas fui pego de surpresa estou processando a
notícia. Não me force muito. —Sorri forçando uma diversão quando
percebi que a frase final soou como uma ameaça.
[...]
Puxei minha arma da mesa de cabeceira quando o grito me acordou. Acendi
as luzes e observei ela curvada em cima da cama se contorcendo de dor.
—Domenico eu estou sangrando. —Isso era óbvio, o lençol branco em
volta dela tinha uma grande mancha de sangue. Contive a vontade que eu
tinha de sorrir quando percebi que por aquele estrago na nossa roupa de
cama não tinha mais volta e eu nem precisei ir tão longe ou fazer qualquer
coisa para eliminar aquele problema.
—Vamos para o hospital.
Por mim eu iria permanecer mais um tempo apenas ali me divertindo em
como o universo estava sendo gentil comigo, mas não podia fugir do papel
que eu ainda precisaria desempenhar e fingir ser um marido preocupado e
culpado me ajudaria a manter a Francesca onde eu queria por mais um
tempo.
[...]
—Sabe-se o sexo? —a pergunta dela era inútil, pouco importava se o feto
que estava morto dentro dela era uma menina ou menino.
—Uma menina. —A Francesca soluçou alto e se encolheu se escondendo
contra o travesseiro, já não sentia mais dor porque ordenei que fosse
injetado alguma coisa para aliviar o que sentia. Não queria ela gemendo
além de todo o choro que ela estava tendo por ter sofrido um aborto
espontâneo.
—Você pode nos deixar sozinhos, tenho certeza de que esse tipo de
informação não muda nada agora. —Encarei a médica que apenas assentiu
nervosamente e nos deixou. O medo dela era aceitável já que eu a tinha
ameaçado assim que eu cheguei
Me aproximei da cama pronto para interpretar um pouco mais o papel de
marido preocupado, depois de hoje eu tinha certeza de que se eu fosse um
ator eu teria me saído muito bem.
—Eu sinto muito —forcei uma emoção ao dizer as palavras que eu não
sentia. —Provavelmente foi minha a culpa do aborto, se eu não tivesse
perdido o controle e deixado você nervosa.
Seu choro se tornou mais intenso enquanto ela apertava o rosto contra o
travesseiro.
—Vou ligar para o meu pai e contar o que fiz e espero ser punido por isso
porque não sei se consigo viver com essa dor. —Se eu forçasse mais um
pouco tinha certeza de que inclusive conseguiria chorar naquele instante,
mas não queria chegar a tanto.
Ela ficou em silêncio, esperei que ela me dissesse palavras de conforto, era
ali que cabia sua personalidade, seu silêncio realmente me deixou
desesperado. Se em algum momento realmente chegasse aos ouvidos do
meu pai que eu tinha qualquer coisa relacionada ao aborto ele podia
interpretar aquela merda do jeito que quisesse e eu conhecia as
consequências do que significava atentar contra os nossos dentro da nossa
família, principalmente sendo de uma linhagem direta eu estaria muito
fodido se ela não jogasse conforme o meu jogo.
Forcei ainda mais uma emoção no segundo exato em que ela ergueu o rosto
do travesseiro, uma única lágrima escorreu dos meus olhos e eu limpei com
pressa como se não quisesse que ela visse. Foi o suficiente para os soluços
se tornarem ainda mais fortes.
[...]
—Senhor o pai dela está aqui e quer entrar. —Eu tinha sido específico sobre
não permitir a entrada de ninguém. —Ele e a esposa estão meio
barulhentos.
Sabia que não conseguiria manter as famílias longe da fofoca que corria
rápido demais. Uma madrugada tinha sido o tempo que eu consegui e
mesmo com quase oito horas eu ainda não estava nem um pouco seguro de
que as coisas seriam como esperadas. Eu nem mesmo tinha ligado para o
meu pai ainda e eu sabia que escutaria muito quando ligasse e ele já tivesse
sido informado do acontecido por outros, mas antes de qualquer passo e
antes mesmo da presença do seu fodido pai eu precisava da certeza de que
ela não jogaria contra mim, que não me atearia ao fogo.
—Pode pedir ele dez minutinhos e depois ele pode entrar. —Sua voz
sonolenta me surpreendeu e a ordem que deu também, mas mantive calmo
sabendo que qualquer coisa que eu fizesse agora apenas jogaria contra mim.
O segurança me encarou esperando minha ordem e eu assenti.
Esperei ele sair do quarto e fechar a porta para voltar a me aproximar da
cama e tocar o rosto dela com as pontas do dedo em uma caricia. A marca
no seu pescoço era visível e assim que seu fodido pai passasse por aquelas
portas eu teria muito que me explicar, não só para ele, mas para a merda do
conselho.
—Vou aproveitar que você vai estar com a sua família e segura com todo o
conforto que merece e vou falar com o meu pai. —Ela permaneceu em
silêncio, imóvel como uma estátua, não sabia mais o que fazer para
provocar uma reação dela, para provocar a reação que eu precisava que ela
tivesse. —Espero que você seja feliz Francesca.
Me inclinei sobre ela deixando um beijo na sua testa como se aquilo fosse
realmente uma despedida.
—Você pode pegar minha bolsa para mim? —Ergui os olhos não
entendendo o que significava aquilo, depois de todo o meu showzinho tudo
que eu recebia era um pedido pela porcaria da bolsa dela.
Me afastei até a cadeira pegando a maldita bolsa e voltando-me entregando
o maldito objeto a ela.
Ela abriu a bolsa procurando alguma coisa e tirou um tubo de maquiagem e
me encarou no fundo dos olhos, tão profundo que parecia capaz de ler
minha alma.
—Sua última chance, e eu não estou nem perto de perdoar você, mas não
vou condenar você a morte, só que se acontecer de novo eu não serei tão
benevolente. Não vou mais perdoar você.
Abaixei a cabeça fingido mais um pouco enquanto observava ela começava
a cobrir as marcas que eu tinha deixado no seu pescoço. Era tudo que eu
precisava, um pouco mais de tempo e eu daria um jeito de me livrar dela
dessa vez.
[..]
Capítulo 06
Francesca
Ele puxou meu braço e antes que eu conseguisse fugir do seu toque ele
segurou meu pescoço com força me mantendo ali.
—Você vai continuar agindo como se eu não existisse? —Deslizou o dedo
indicador da mão livre pelos meus lábios com cuidado. Desde minha alta do
hospital eu vinha evitando-o o máximo que eu podia, inclusive ficava feliz
pelo tempo que ele passava com a outra mulher.
—Eu estou bêbada, preciso parar de seguir a Elena, então agora eu vou
dormir e não quero conversar com você. —Coloquei a mão por cima da
dele que ainda mantinha em volta do meu pescoço. Ele apertou um pouco
mais, não com força para me machucar apenas força para me manter ali.
Se inclinou sobre mim. Seus olhos brilhavam de um jeito que eu nunca
tinha visto antes. Ele parecia inteiramente feliz. Seus lábios tocaram os
meus de um jeito experiente e faminto. Me puxou para ele gemendo contra
a minha boca me pegando de surpresa, ele nunca era tão expressivo no
sexo, mantinha-se quase sempre no controle e uma ou outra vez eu tive a
impressão de que ele fazia isso para cumprir algum tipo de requisito. Por
isso nem mesmo procurei por ele durante esse tempo, não queria seu toque
se de alguma maneira isso estivesse ligado a uma obrigação.
Afastou os lábios dos meus beijando meu pescoço, fazendo-me fechar os
olhos pela sensação prazerosa que seu toque me provocava.
—Vamos subir —propus, sem me dar o trabalho de pensar demais sobre o
que faríamos, se eu o fizesse poderia simplesmente perder a coragem e
vontade de ficar com ele.
—Seja menos perfeita Francesca, essa é a nossa casa e só estamos nós dois
aqui.
Voltou os lábios aos meus me beijando com uma paixão avassaladora.
Segurei seu pescoço me mantendo firme enquanto ele devorava minha
boca.
—Ajoelha —sua ordem me pegou desprevenida e me fez hesitar por um
instante enquanto eu entendia o que ele queria com aquela ordem. Era
constrangedor o modo que eu aprendi a fazer aquilo, até as palavras saírem
da boca da Elena eu não acreditaria que aquilo pudesse proporcionar algum
tipo de prazer até ver o quão entregue ele parecia sentir enquanto eu o tive
na boca naquela vez.
Encarei seus olhos enquanto ele abria sua calça, sem duvidar de que eu
seguiria sua ordem.
—Ou você ajoelha ou vou fazer você ajoelhar —acentuou com seu tom
raivoso e aquilo me excitou de um jeito que eu não consegui acreditar.
Abaixei os olhos enquanto me curvava, ergui o tecido do vestido acima do
joelho para ficar na posição que ele exigia.
Segurou meu cabelo em um puxão enquanto eu abria os lábios para recebê-
lo.
[...]
Enfiei a colher no sorvete levando mais um pouco a boca, era difícil me
livrar da frustração em não saber o que fazer com os sentimentos que eu
nutria pelo Domenico, eu só podia ser uma completa idiota. Era assim que
eu me sentia por mais uma vez está deixando ele entrar na minha cabeça e
me fazer culpada por suas ações.
—Você guarda os segredos do meu pai? —Começar aquele assunto com a
Elena era sempre um perigo porque ela normalmente parecia capturar cada
detalhe meu, inclusive os que eu mantinha para mim a sete chaves.
Pensar naquele assunto me deixava triste, porque me levava até o bebê que
eu perdi e de todas as promessas que ele me fez e nunca as cumpriu.
—Claro que sim, eu sou algo como o diário e ele me conta tudo, sempre me
deixou conhecer sua melhor e pior versão e eu aprendi a enfrentar e lidar
com todas as elas. —O sorriso apaixonado no final fez com que eu me
sentisse menos idiota, principalmente por tudo que vinha acontecendo, por
eu me sentir assim mesmo quando ele mostrava o seu pior. —Mas porque
essa pergunta?
Dei de ombros e comi mais um pouco do meu sorvete.
As palavras que o Domenico despejou sobre mim em algum momento no
passado voltaram a fazer sentindo. Se ela conseguia lidar com o pior do
meu pai e conseguiu fazer isso desde o começo eu também poderia fazer
isso, eu conseguiria só precisava de uma saída para tirar aquela Lara do
meu caminho.
—Você acha que o papai me ajudaria a dar um sumiço na Lara? —Ela
arregalou os olhos e gargalhou se aproximando de mim e comendo mais um
pouco do sorvete que dividíamos direto do pote.
—Não acho que essa seja uma boa solução.
Claro que não era e eu tinha absoluta convicção disso, mas eu queria tentar,
precisava fazer qualquer coisa para sentir que eu estava lutando pelo meu
casamento. Os últimos meses eu passei apenas tentando lidar com a dor que
foi perder o meu bebê. Meses depois e eu ainda tinha a sensação de que não
passava de um sonho e que logo eu acordaria e teria aquela felicidade
completa que foi descobrir que eu seria mãe.
—Você não respondeu minha pergunta.
—Provavelmente não, seu pai não vai querer se indispor assim com o
Domenico afinal seu marido é o futuro dom e eles trabalham diretamente.
—Bufei irritada, apenas por saber daquilo antes mesmo de precisar
perguntar. —Mas eu tenho certeza de que se você, a filhinha preferida dele,
insistir muito ele cede e te ajuda com isso, só que isso não vai melhorar seu
casamento talvez até piore e inclusive vai piorar a relação do seu pai e do
Domenico então esteja pronta para isso.
Aquilo sim tinha me surpreendido.
—E se meu conselho vale de alguma coisa, você não deveria se rebaixar
assim. Você já fez de tudo por esse casamento, bem mais que a maioria, já
fará um ano e se com todo esse tempo o idiota do Domenico não consegue
fazer o mínimo deixe-o com ela até que quebre a cara ou aprenda.
—E eu vou ser sempre a outra? —Por mais que ela e todas as mulheres do
nosso ciclo me garantisse que ela era a outra eu não me sentia assim, nem
um pouquinho, era como se eu fosse a intrusa da relação e não o inverso.
—Você é a esposa dele.
Interrompi ela: —E isso não muda nada.
—Eu sinto muito.
[...]
Encarei a doutora sem conseguir acreditar em suas palavras, tínhamos feito
amor apenas uma vez desde que eu perdi o bebê, eu estava bêbada e tenho
certeza de que ele também não estava no seu estado normal e agora eu
estava grávida.
—Quer saber o sexo?
Tentei forçar meus sentimentos a fim de me acalmar para que minha reação
não prejudicasse o bebê.
—Sim, por favor.
—Uma menina, você já pode começar a preparar o quartinho dela porque
essa princesinha está muito adiantada, é uma surpresa que você não tenha
tido sintomas antes.
Sim, uma completa surpresa, na primeira gestação o que tinha me mostrado
a gravidez foi o enjoou que eu sempre sentia quando a Elena se aproximava
com seu perfume. Ela logicamente chegou à conclusão e me obrigou a fazer
um teste caseiro e depois confirmamos com uma consulta de emergência
que ela tinha me obrigado a ir. Ginecologista era um tema complexo para
mim e eu morria de vergonha de me submeter as consultas, mesmo que eu
soubesse a importância que tinha para a minha saúde e só por isso que eu
tinha vindo a essa consulta hoje, algo que já estava marcado a meses e se
ela não tivesse pedido um teste de gravidez porque eu não soube informar a
data da minha última menstruação eu nem mesmo saberia que estava
grávida. Que o destino tinha me dado uma segunda chance de ter a
garotinha que eu sempre sonhei.
—Eu farei isso.
Não conseguia deixar de me empolgar com a possibilidade. Deus estava me
dando uma segunda chance e eu não iria desperdiçar.
[...]
Se eu tivesse demorado um minutinho a mais eu não teria o encontrado,
isso era óbvio. Ele já estava de banho tomado, o cheiro do seu sabonete e
perfume exalavam por todo o ambiente e eu já estava tão acostumada com
esse ritual sempre que ele ia vê-la que eu apenas sabia exatamente o que
significava aquele padrão.
—Onde você estava? —A pergunta me fez querer revirar os olhos, ele não
se importava realmente comigo ou onde eu estava apenas queria o controle
da minha vida, o sim que eu disse a ele na igreja o dava o poder para tal
coisa então dei de ombros e resolvi ser sincera.
—Tinha uma consulta de rotina hoje. —Nenhuma mentira, mas eu não o
deixaria saber ainda sobre nossa filha, só contaria depois, ainda não queria
que ele soubesse. —E depois fui ao shopping.
—Foi tudo bem na sua consulta? —Novamente eu não sentia que ele se
importava realmente com isso a ponto de que minha resposta fizesse
alguma diferença em sua vida.
—Sim. —Ele deu dois passos para perto de mim e antes que eu conseguisse
raciocinar sobre o que eu fazia dei dois passos para trás me afastando dele.
O desafio brilhou em seus olhos e eu me encolhi com medo. Me encarava
como se de alguma maneira minha reação provocasse seu pior e eu não
podia cometer aquele erro novamente. Dei um passo em sua direção
recuando do desafio que eu mesma tinha imposto.
—Você precisa de alguma coisa? —Não estava nem um pouco disposta a
fazer nada por ele, mas duvidava muito de que ele me deixasse sair com
facilidade então eu precisava jogar o jogo dele que consistia principalmente
em deixa-lo ganhar e controlar tudo, até mesmo minhas respirações, mas eu
não colocaria minha filha em risco.
—Não —sua resposta era cercada de desconfiança.
—Vou tomar um banho e guardar as compras que fiz foi um dia exaustivo.
—Passei o mais próximo que eu consegui dele e contive o suspiro de alívio
quando ele não fez nada para impedir minha passagem.
Nem sei por que me surpreendia já que ele normalmente agia assim, quase
nunca se importava com o que eu fazia além da necessidade básica que ele
sentia em me controlar.
Capítulo 07
Lara
Encarei o Domenico tentando decifrar o que significava sua reação. Ele
estava muito irritado e pouco concentrado, nem mesmo o sexo parecia ser o
suficiente para que eu tivesse a atenção dele sem por cento nele.
—Posso saber o que você tanto pensa? —Ele permanecia distraído.
Normalmente sua companhia era cercada de falatório e atenção agora não
estava assim.
—Precisamos ir a um lugar. —Encarei ele sem acreditar que ele queria sair
naquele horário eu já tinha tomado banho e estava pronta para dormir só
queria terminar de fazer aqueles cálculos e que ele definisse que queria
dormir também.
—Agora? Eu estou muito ocupada fazendo os cálculos.
—Você está a meses fazendo esses cálculos acho que já está na hora de
mudar seus projetos e entender que seu plano é ótimo na teoria, porém é
difícil colocar em prática. —Isso é o que ele sabia, na realidade minha
fórmula tinha dado tão certo que eu inclusive já tinha sido testada em
humanos e completamente aprovada, alguns efeitos colaterais, porém nada
que uma pessoa não pudesse lidar. Agora eu estava trabalhando em algumas
melhorias, mas ele era leigo o suficiente para que eu pudesse fazer aquilo
na frente dele sem que ele soubesse o que eu realmente fazia.
—Eu vou conseguir —reiterei com convicção.
Ele deu de ombros.
—Faça isso depois agora precisamos sair. —Não esperou que eu lidasse
com sua ordem e agarrou meu braço me fazendo ficar de pé. Odiava quando
ele agia daquele jeito, quando usava sua força física para me obrigar a fazer
o que ele queria. Ninguém me tiraria o prazer de poder dar uma surra nele
assim que eu não precisasse mais esconder meu disfarce por todas as vezes
que ele agiu com violência e eu precisei aceitar sem reagir.
[...]
Olhei ao redor com medo do que significava minha presença ali. Não fazia
ideia de onde estávamos e o que significava está ali, não fazia ideia de
quem morava ali e eu tinha estudado muito sobre cada passo dele e não
fazia ideia de quem morava naquela casa e pela forma que entramos ali
duvidava de que fosse alguém que ficaria feliz com a nossa presença.
—De quem é essa casa Domenico?
Ele deu de ombros antes que eu conseguisse insistir a porta foi aberta e uma
mulher entrou carregando algumas bolsas. Ela era mais velha do que a
gente e se vestia de um jeito contido. Não conseguia reconhecer ela do ciclo
social que ele frequentava, podia dizer que ela não fazia parte da máfia.
—Quem são vocês? —Seus gritos confirmavam minhas suspeitas. Ficava
agora a grande questão que tinha nos levado ali.
—Preciso saber o que você e a minha esposa conversaram durante a
consulta dela hoje, cada maldito detalhe. —Olhei para ele tentando
identificar qualquer resquício de que aquilo fosse algum tipo de piada, mas
não era. Ele realmente tinha me arrastado no meio da noite para resolver os
problemas matrimoniais dele.
—Isso é algo privado e eu jamais violaria a confidencialidade médico e
paciente, agora por favor saia da minha casa —deixou as bolsas em cima da
mesa e caminhou até o telefone residencial em uma clara evidencia de que
seguiria suas palavras, o que era um péssimo jeito de conseguir qualquer
coisa, ela não tinha ideia de quem ele era para achar que aquilo estava
sendo inteligente ou que chamar a polícia seria o suficiente para pará-lo.
Nem vi o segundo exato em que ele tinha uma lâmina na mão, apenas
quando o objeto voou em direção ao fio do telefone acertando-o. Era a
porra de algo impressionante, mas a tatuagem no seu peito mostrava que
seu treinamento devia ter sido implacável para conseguir aquele tipo de
controle.
—A próxima lâmina vai atingir seu pescoço, vou garantir que seja bem ao
lado da jugular.
A mulher encarava-o sem reação o telefone ainda na mão sem se mexer.
—E se você me fizer repetir eu prometo que antes de sair daqui eu vou
estripá-la como se você fosse um animal —o jeito que falava deixava claro
que não seria a primeira vez. Caso ele realmente seguisse por aquele
caminho eu não saberia o que fazer, em como eu conseguiria impedi-lo e o
quão longe eu teria que ir, comprometer meu disfarce por causa dessa
mulher inocente e idiota ou apenas deixá-lo fazer e usar a minha presença
ali para testemunhar e conseguir uma condenação por homicídio por motivo
torpe.
—Quem é sua esposa? —Ela perguntou tremendo tanto que mesmo a dois
metros de distância eu conseguia perceber. —Porque eu nunca vi essa
mulher ao seu lado. —Ela nem pensou em me proteger, simplesmente me
ateou ao perigo, se eu fosse a esposa dele, se eu estivesse mentindo para ele,
com aquele óbvio sinal de insanidade que ele a demonstrava devia ter ao
menos tentado me proteger, mas era lógico que ela não era solidaria como
eu estava cogitando a ser com ela. A humanidade era realmente uma causa
perdida.
—Ela não é minha esposa —deu de ombros e seu jeito de se referir a mim e
o jeito que a negativa soou provocou a Lara que em alguns momentos
acreditava em suas promessas e suas palavras de amor. —Francesca D’Arco
é minha esposa.
A expressão de reconhecimento inundou o rosto da mulher.
—Sua esposa esteve em meu consultório para uma consulta de rotina.
Ele bufou com a obviedade que ela apresentava naquela frase.
—Isso eu sei, eu controlo cada maldito passo dela, agora eu quero saber o
que vocês tramaram para que ela estivesse feliz quando chegou em casa. —
Apertei os lábios contendo a risada ao perceber que tudo aquilo era apenas
porque a mulher estava feliz. No mesmo segundo não consegui deixar de
sentir pena dela porque se sua felicidade era motivo de surpresa ao
Domenico não podia nem mesmo cogitar o inferno que ela vivia sendo
esposa dele.
—Fizemos alguns exames e eu diagnostiquei uma gravidez.
O Domenico seria pai, isso ia contra tudo o que ele dizia para mim, ou
melhor para a Lara apaixonada que confiava em suas promessas e em todas
as vezes que disse que o casamento com a Francesca não era real, mas ele
teria a droga de um filho. Um herdeiro. O império criminoso continuaria
forte por mais gerações e eu não estava nem perto de conseguir nenhuma
prova realmente válida para condená-lo, para condenar seu maldito pai ou
qualquer um deles. Tudo que eu tinha era as coisas que ele me dizia, sem
provas e sem evidências, apenas palavras ao vento que em um julgamento
real não valeria de nada. Nem mesmo aquela ameaça explicita poderia ser
provada, ele daria um jeito, eles sempre davam.
—Impossível nós não mantemos relações sexuais a muito tempo e ela não é
louca de me trair. —A possibilidade parecia aterrorizá-lo, nada além disso.
—Quatro meses e duas semanas é o tempo de gestação.
Pela expressão no rosto dele e a forma que relaxou com aquele novo dado
era óbvio que a quatro meses e duas semanas atrás eles tinham trepado. Eu
não sabia o que fazer com esse novo dado, isso precisava ser replanejado e
minha presença ali precisaria ser revista, precisávamos de um novo
caminho rápido antes que não conseguíssemos o que queríamos, antes que o
herdeiro nascesse e fosse consagrado, se era difícil conseguir provas contra
um homem adulto seria impossível fazer isso contra uma criança e
conhecendo como a máfia funcionava não levaria muito tempo até que o
neném fosse introduzido nos negócios e começasse a ser treinado para
assumir tudo.
Capítulo 08
Domenico
Encarei a Francesca na mesa tomando o café da manhã ignorando
completamente minha presença, sua escolha de alimentos era
completamente saudável, inclusive evitando açúcar que usava para adoçar
seu café. A criança nem tinha nascido e era possível identificar como ela já
apresentava mudanças nítidas, seu corpo não denunciava em nada sua
gravidez, o vestido colado nem mesmo deixava nenhuma barriga a mostra.
Eu precisava de um plano para evitar que aquilo se tornasse mais real do
que era, que aquela criança realmente nascesse. Passei a noite inteira lendo
para saber que eu precisava provocar um aborto, medicá-la para isso era a
opção mais lógica, porém eu não podia ser lógico e muito menos óbvio –
não naquele momento em que eu teria toda a atenção em mim, seria muitos
detalhes para que eu tivesse que correr o risco de o maldito conselho
conseguir algo contra mim e contra a minha subida ao trono. Então
precisava que fosse algo natural e que não tivesse a menor chance de
respingar em mim, que pudesse ter outro culpado.
—Tudo bem? —Aquela era a primeira vez que ela falava comigo
diretamente durante aquele período. Nos últimos dias ela vinha apenas
ignorando minha presença e agindo fazendo de tudo para me ignorar, era
quase como se eu pudesse sentir o que eu planejava.
—Sim, por que não estaria?
Levou uma nova colher de iogurte com frutas a boca, até mesmo comendo
ela conseguia elevar o nível de perfeição, tudo milimetricamente estudado,
seguindo todas as malditas regras de etiqueta com primor mesmo quando
apenas eu e ela estávamos no ambiente, nenhum deslize em sua camada de
esposa perfeita.
—Você vai precisar de mim para alguma coisa hoje? Pensei em passar o dia
com a Elena. —Ela parecia estar se esforçando para não me deixar irritado,
seguindo o que achava me fazer bem e dar ordens me deixava muito bem.
—Fique à vontade. —"Aproveite seus malditos últimos dias felizes”
completei em pensamento enquanto ela se levantava e saia da sala de jantar
quase correndo. O prazer que seu medo me provocava era mais afrodisíaco
do que sua bunda arrebitada de costas para mim.
[...]
—Queria te fazer uma pergunta. —Traguei o charuto enquanto observava o
homem atrás de sua mesa que desde que eu cheguei ali me ignorava. Ele era
um elo fraco na hierarquia do meu pai, o velho obviamente não sabia disso,
uma maçã podre dentro do seu maldito conselho que com a influência certa
serviria para estragar todos os demais. —O que aconteceria se eu perdesse o
controle durante uma discussão matrimonial?
—O pai da Francesca iria implicar querer retalhar com você.
—Ela é minha esposa —isso me dava direitos sobre ela.
—Sim, mas o pai dela é um homem da máfia e eu não tenho dúvidas de que
faria de tudo para honrar e proteger sua família até mesmo matar você e
morrer por isso.
—Não me importo com o maldito pai dela, nele eu dou um jeito depois,
mas se tivesse uma morte nessa discussão matrimonial.
—Você iria pagar com a vida, sabe como funciona as regras, mesmo que eu
ache idiotas elas existem e é a nossa obrigação garantir que seja cumprida.
—Se não fosse a Francesca a morrer?
—Fale abertamente Domenico eu não tenho paciência para esses jogos de
palavras. —Claro que não tinha.
—Se o bebê que ela espera morresse quando eu perdesse o controle? —Ele
arregalou os olhos percebendo a monstruosidade na minha fala, sorri
tragando mais uma baforada do charuto.
—Ela está grávida de novo? —Assenti. —Pensei que vocês não tivessem
uma boa relação matrimonial.
—Não temos, mas ela sabe ser perfeita inclusive na cama então eu a fodo
quando estou com tesão e isso a fez engravidar de novo, dessa vez ela acha
que está escondendo de mim para que eu não a deixe estressada e para que
ela não perca o bebê, mas eu sou muito volátil você sabe disso.
—Se você não sabia sobre o bebê você não pode machucá-lo ou protegê-lo.
—Ele sorriu acenando era as palavras que eu queria ouvir.
—Mas você ainda vai ter que lidar com o maldito pai dela.
—Um problema de cada vez meu caro.
[...]
Sorri para os papeis que ele me apresentava e sorri vendo que estava a
poucos passos de conseguir aposentar meu pai.
—Isso não me parece o bastante, sinceramente se eu fosse do conselho esse
motivo não seria o suficiente para depor um capo.
—Por isso que você nunca fará parte do conselho.
Ele riu e puxou um cigarro fedorento levando a boca.
—Estou satisfeito em ser capo. —Claro que estava, ainda não era oficial e
oferecer um cargo como aquele para ela ainda era arriscado, mas eu
precisava de ajuda, precisava de alguém naquele território e ele se tornou a
pessoa perfeita.
[...]
Puxei o braço dela com força querendo qualquer reação para que eu
conseguisse culpá-la depois pela minha explosão. Já tinha levado mais
tempo do que eu esperava e ela já estava com malditos cinco meses. A cada
segundo que eu demorava diminuía a possibilidade de ela sofre um aborto,
não queria e nem podia arriscar um bebê prematuro, isso apenas me traria
mais problemas para me livrar.
—Domenico você está me machucando.
—Onde você passou a tarde? —Era uma pergunta estupida já que ela
passava a maior parte do tempo na casa do pai com a maldita madrasta.
—Com a Elena, ficamos em casa o dia todo. —Contive o sorriso quando
captei a mentira no seu roteiro, elas não tinham ficado em casa, sua consulta
durante a tarde com a maldita ginecologista tinha acontecido naquele dia.
—O dia todo em casa? —Ela soluçou quando forcei ainda mais o braço
dela, não me incomodava em ser bruto, não tinha nenhum sentimento por
ela, nada.
—Por favor solta o meu braço, você está me machucando. —Nada que
dissesse seria o suficiente para me convencer então eu apenas ignorei
fingindo uma raiva que eu não sentia.
—Por que você está mentindo para mim? O que está escondendo? —Não
deixei que ela respondesse girando o braço até ouvir o estalo do osso
quebrando e fazendo-a gritar.
—Eu só fui acompanhar a Elena em uma consulta, nossos seguranças
estavam comigo o dia todo não fiz nada demais. Por favor para você está
me machucando. —Gemeu tentando se livrar do meu aperto. Saber que
mesmo comigo machucando-a ela continuava mentindo para mim fez com
que a raiva realmente tomasse conta das minhas ações. O primeiro tapa
acertou seu rosto sem que ela pudesse se defender e o que veio a seguir foi
um descontrole total da minha parte e uma tentativa falha por parte dela de
proteger a barriga dos golpes.
Capítulo 09
Francesca
Abri os olhos assim que senti a brisa fria batendo contra a minha pele.
Forcei meus olhos a abrirem mesmo com o inchaço que eu sentia e a dor
que o movimento provocava.
—Davide por favor sai daqui —implorei. Não conseguia deixar de
considerar o que iria acontecer se o Domenico entrasse ali e o encontrasse
dentro do meu quarto. Eu vinha fugindo de todas as investidas do homem
bonito que era o meu chefe de segurança, ele nunca tinha me faltado
respeito, mas a forma que me olhava e a proposta que me fez mais de uma
vez era o indicativo perfeito que eu precisava ficar longe e dele.
—Não se preocupe com isso ele não está em casa. —Ele me virou na cama
com tanta delicadeza que eu mal conseguia sentir o toque dele, mesmo com
todo o meu corpo doendo. O Domenico nunca tinha sido tão agressivo.
—Eu pensei que ele ia me matar e eu não fiz nada, eu sei que não devia ter
mentido para ele, devia ter contado sobre o nosso bebê ele não faria isso se
soubesse. —Ele tocou meus lábios com um pano e eu gemi alto com a dor
que aquilo me provocou.
—Ele teria feito do mesmo jeito.
Não entraria naquela conversa novamente, ele não entendia e nem estava se
esforçando para compreender o meu lado.
Não devia ter deixado aquela amizade chegar aonde chegou, não devia ter
perdido que o gentil segurança se aproximasse conversasse comigo, me
desse flores roubadas e muito menos me roubasse sorrisos. Seria apenas
mais um motivo para o Domenico.
—Não consigo respirar direito —toda vez que eu me esforçava para inspirar
sentia uma dor profunda.
—Você precisa ir para um hospital, precisa cuidar do seu bebê. —Arregalei
os olhos sem acreditar que ele sabia sobre o meu bebê, a única pessoa que
eu tinha contado sobre ele foi a Elena e mesmo assim implorei para que ela
não deixasse ninguém saber. Eu levaria algum tempo para conseguir
confessar que no fundo eu sentia medo de acontecer exatamente aquilo, de
que ele voltasse a me machucar e eu perdesse meu bebê.
—Não —tentei dizer e não tinha certeza se ele não ouviu ou apenas
escolheu me ignorar enquanto me carregava no colo para fora do quarto.
—Ele vai ficar irritado —gemi quando ele começou a descer as escadas.
—Estou levando você para a casa do seu pai e eu tenho certeza de que o
Domenico não conseguirá alcançar você lá e se conseguir seu pai e eu
daremos a vida para garantir que você esteja bem.
Ele se incluir nisso era desesperador e só pioraria a forma que o Domenico
iria reagir, mas naquele segundo eu não podia não aceitar a ajuda que ele
me oferecia. Meu bebê precisava disso.
Fiquei em silêncio deixando que ele me levasse.
Apertei o rosto contra o peito dele quando algumas vozes nos alcançaram.
Os seguranças do meu marido querendo de alguma forma entender o que
ele estava fazendo.
—Davide isso não vai acabar bem —a voz grossa nos alcançou e eu me
apertei contra ele, sabia que se ele desistisse as coisas piorariam ainda mais.
—Não ficarei inerte vendo-o matar ela.
—Isso não é dá sua conta —o outro homem lembrou.
A dor era tanta que o gemido escapou sem que eu tivesse como controlar no
segundo em que ele me afastou do seu peito me colocando no banco do
carro.
Me deitou no banco na parte de trás tendo tanto cuidado.
Não consegui evitar o gemido que escapou dos meus lábios quando aquela
emoção desconhecida tomou conta de mim, nem mesmo a dor parecia o
suficiente para evitar que eu me sentisse daquele jeito.
Encarei seus olhos escuros e meu reflexo refletido ali, quando me dei conta
do que ele provavelmente via. Simplesmente me afastei me encolhendo
contra o couro.
Não devia me permitir sentir assim, era errado. Se minha mãe estivesse ali
era com certeza estaria desapontada comigo.
Fechei os olhos sentindo a dor forte no meu abdômen.
A dificuldade em respirar apenas tornava ainda pior.
[...]
—Por que você não me contou nada? —Encarei a Elena sem saber o que
falar. A vergonha era o que imperava naquele momento, o sentimento de
impotência de ter deixado chegar a tanto.
Dei de ombros.
—Eu queria que o meu casamento desse certo.
Ela bufou e se sentou na minha cama se aproximando e me abraçando sem
se incomodar com o meu estado físico. Contive o gemido não querendo
afastá-la, o analgésico e a bolsa de gelo ajudaram demais e eu só sentia um
desconforto, mas nada comparada ao que eu senti antes.
—O casamento não pode ser assim Francesca, cadê a parte de amar,
respeitar e cuidar que ele prometeu estando ali na igreja? —Eu me apertei
contra ela sentindo a culpa. —Eu queria ter percebido algo, estou me
sentindo muito mal por ter deixado isso passar.
Ela não tinha culpa nenhuma em nada daquilo ali.
[...]
Observei do meio da escada o Dom da máfia passar por aquelas portas.
Independente do que o papai tivesse dito a palavra dele era o que mais
valia, o que ele dissesse seria cumprido e eu não conseguia deixar de sentir
medo principalmente pelo meu pai.
Não tinha tido coragem de perguntar sobre o Davide, eu esperava que ele
não tivesse sido culpado ou responsabilizado por me ajudar.
—Salvatore pelos nossos anos de amizade nem tente. —Meu pai deu as
costas para ela e saíram parcialmente do meu campo de visão, se eu
quisesse espiar mais eu precisaria me expor e eu não queria ser o centro das
atenções e mesmo que o assunto fosse sobre mim, ficar ali escondida
parecia mais seguro.
—Salvador eles são casados.
—E isso não dá o direito do seu filho espancar a minha. —Me encolhi
diante da fúria no tom do meu pai.
—Não, isso não dá, mas você sabe que acontece, ele não é o primeiro
marido a bater na esposa e provavelmente não será o último.
—Garanto que depois que eu o matar ele será o último a ousar levantar a
mão para ela.
O meu sogro bufou e se aproximou do meu pai tocando seu ombro.
Desde sempre eu lembrava do homem ali dentro, a amizade dele e do papai
era antiga então vê-los discutir não me causava boas coisas.
—Irei desconsiderar essa ameaça em nome da nossa amizade, mas não
esqueça que ele é o futuro Dom da máfia e seu afilhado, ele apenas cometeu
um erro.
—A Vitoria era sua afilhada e você não teve nenhum problema em explodir
a cabeça dela.
Mordi os lábios surpresa com aquela revelação, eu sabia que a máfia tinha
matado a minha irmã por consequência das escolhas que ela fez, mas nunca
poderia imaginar que tinha sido o tio Salvatore a fazer isso.
—Não vamos entrar nesse assunto por favor.
—Claro que não vamos fingir que não aconteceu como viemos fazendo a
anos o que mais você sugere? Que tal fingirmos que seu filho não espancou
a minha?
As palavras acidas do meu pai fez um incrível silencio se abater na sala. Eu
queria ver suas expressões para entender o que tocar naquele assunto
significava para eles.
A culpa corroeu mais uma parte das minhas emoções, não queria que eles
dois brigassem, muito menos por minha causa.
—Você melhor do que ninguém sabe dos meus motivos, sabe que ela me
levou a fazer aquilo e mesmo sabendo que era o certo não tem um dia na
minha fodida vida que eu não me arrependa do que eu fiz com ela. Mas o
destino dos nossos filhos não precisa ser fodido como o nosso e por isso a
melhor coisa que podemos fazer agora é tentar ajudar eles dois a consertar a
merda que eles causaram.
—Minha filha não fez nada foi seu maldito filho. —Eu ainda não conseguia
me acostumar com o meu pai falando com tanta raiva assim.
—Claro que sim, veja só pelo lado dela e ignore a porra do segurança a
trazendo até sua casa para protegê-la, porque ele deve ser apenas o amigo
dela né? O meu filho não é idiota, ele pode ser muitas coisas, mas qualquer
homem consegue perceber os sinais e infelizmente ele não lidou com isso
do jeito certo.
Não importava o quanto eu tenha tentado evitar, não importava o quanto
não tivesse acontecido nada não mudava como eu involuntariamente me
sentia sobre o Davide. Não queria que fosse assim, mas era, era a maldita
forma como eu me sentia.
—Não foi a primeira vez, você sabe disso? Ele matou o outro bebê.
Ter meu pai tocando naquele assunto partiu algo dentro de mim. Levei as
mãos aos olhos enxugando os olhos.
—Ele me contou e vai ser punido pela mentira e você pode até levar essa
merda ao conselho, mas dificilmente você vai conseguir encontrar uma
motivação para que isso seja algo planejado. Sua filha contou os motivos
que o levou a perder a cabeça? —Eu jamais teria coragem de narrar algo
assim.
—Imaginei que seu filho fosse homem suficiente para lidar com as próprias
merdas o suficiente sem precisar correr para a barra da calça do papai, se eu
soubesse o covarde que ele era jamais teria permitido que se cassasse com a
minha filha.
—Ele queria vir, mas eu impedi. Não quero que isso se torne uma tragedia
maior do que já é.
—Esse garoto não chegará perto da minha filha.
—Salvador eles são casados, ela pertence a ele e será bem melhor para
todos nós se pudermos fazer isso sem uma guerra. Eles perderam mais um
bebê...
Meu pai interrompeu:
—Um bebê que o seu filho matou.
Meu sogro bufou parecia estar perdendo a paciência e eu conseguia
pressentir que isso não acabaria bem.
—Um bebê que ele não sabia sobre a existência já que a sua filha fez
questão de esconder isso dele e sabe lá por qual motivo. —A insinuação
prendia nas entrelinhas.
O que ele insinuava era horrível, eu jamais seria esse tipo de mulher e eu
nunca tinha traído o Domenico e nunca faria, mesmo que não fosse
recíproco, mesmo que ele me traísse publicamente e ninguém parecesse
importar com isso.
Um barulho alto que eu não conseguia identificar e um silêncio que parecia
cortar a alma de tão frio.
—Salvador pelo amor de Deus —o grito da Elena me fez reunir uma
coragem que eu não sabia ter e descer as escadas correndo em direção a
eles.
Tio Salvadore tinha a mão no rosto e uma expressão que me fez ofegar
assustada.
—Eu vou ignorar isso porque sei que os sentimentos nesse momento estão
confusos, mas eu acho bom você permitir que o Domenico converse com a
Francesca aqui dentro da sua casa enquanto ele está sendo tolerante para
permitir que ela fique aqui. Porque como pai dele e como Dom eu não
ficarei contra ele e se talvez não tenha ficado claro não considere mais a
nossa amizade.
Meu tio virou as costas e saiu pisando duro.
Eu sentia meu coração bater mais forte enquanto encarava o lugar por onde
eu tinha saído sentindo o arrependimento por cada uma das atitudes que eu
tomei e me levaram ali.
—Salvador —o tom de voz preocupado da Elena me fez voltar a atenção a
eles. —Você não está considerando mesmo deixar que ele entre aqui e fale
com a Francesca não é Salvador?
Eu cruzei os braços quando os olhos do papai focaram em mim e senti-os
lacrimejar enquanto percebia a expressão desapontada que meu pai exibia.
Ele nunca tinha me olhado assim antes e eu nunca imaginei que olharia.
—Isso não vai acontecer Salvador —a Elena gritou e eu me encolhi mais
ainda, tudo que eu não queria era que eles dois brigassem por minha causa.
—Eu não sei o que fazer Elena.
—Faça qualquer coisa, mas não permita que ele se aproxime dela
novamente. Mate ele se for preciso.
Matar o Domenico.
Suas palavras me provocaram um gosto amargo, mesmo depois de tudo eu
não tinha certeza se era isso que eu queria para ele.
—Não é tão simples assim.
—Me parece muito simples.
—Eu mato o Domenico e aceito que o meu destino também é a morte e
tudo bem eu já vivi o suficiente para que isso nem mesmo me afete, porém
eu não posso morrer sem garantir que você e a Francesca estarão seguras, o
que não vai acontecer se eu apenas agir impulsivamente como você quer
que eu faça? Porque assim que eu não estiver mais aqui você a Francesca
passam a ser responsabilidade do Salvatore e depois de matar seu único
filho não é difícil imaginar o que ele poderá fazer com ela e com você e se
você acha que o que o Domenico fez foi ruim você não pode imaginar o que
alguns outros homens podem fazer com ela e com você. —Ele tocou o rosto
dela com ternura. —Então por favor me deixe pensar e leve a Francesca
para a cama e garanta que ela tomou todos os remédios corretamente.
Ele não me olhava e eu não tinha coragem de me aproximar, nem mesmo
para me desculpar. Eu tinha feito tudo errado, eu tinha quebrado todas as
regras e eu não sabia o que fazer para se aproximar do meu pai.
Virei as costas para eles pronta para seguir sua recomendação e ir ao meu
quarto. Eu precisava pensar e colocar as coisas no lugar já que eu tinha
causado toda aquela confusão.
—Venha cá Francesca —a ordem do meu pai me fez apertar os olhos com
força tentando controlar minhas lágrimas o que foi falho já que eu senti o
líquido quente escorrendo dos meus olhos. —Venha aqui filha.
O soluço rompeu meu peito enquanto eu sentia a vontade de correr dali e
me esconder de tudo, me esconder do mundo até que tudo aquilo deixasse
de existir.
Senti seus braços em torno de mim em um abraço apertado.
—Não se preocupe com isso querida eu darei um jeito.
As lágrimas transbordaram e eu solucei nos braços do meu pai.
Capítulo 10
Lara
Encarei o positivo do teste sentido um enjoo e uma tontura que apenas
evidenciava os sintomas que eu já vinha experimentando a algum tempo e
tentando ignorar como se isso de alguma forma pudesse modificar o que
era.
Eu tinha cometido a droga de um erro fatal e depois da última reunião em
que comuniquei a gravidez da Francesca eu sabia que não iria conseguir
sair de maneira limpa independente do motivo, isso foi fixado com todas as
letras. Nada me tiraria daquela missão, não enquanto eu já tinha chegado
tão longe e, agora, ainda mais com aquele bebê na barriga, aquele feto seria
visto pelos meus chefes como uma peça a ser usada para me colocar ainda
mais dentro e eu não podia permitir isso. Ainda não tinha certeza se seguiria
com a gestação, eu não tinha certeza de nada, porém independente de
qualquer coisa eu jamais deixaria que usasse aquele bebê, nenhum dos dois
lados, nem a polícia e muito menos a máfia mesmo que meu filho fizesse
parte dela.
O barulho da porta batendo me fez enfiar o teste embaixo do colchão e me
deitar na cama forçando minha expressão a uma naturalidade que eu não
sentia. Eu só queria ter tido um pouco mais de tempo para surtar em paz.
Conseguia ouvir os passos dele indo até mim. Era firmes sobre o piso
amadeirado do corredor.
Os últimos dias o vinha deixando estressado, seus problemas matrimonias
que ele escolhia não dividir comigo o deixava desligado para que não
percebesse os sintomas que eu vinha tentando disfarçar.
Ele entrou no quarto e voltei a sentar observando-o. Estava bebendo e seus
olhos me fazia ficar completamente alerta. Ele não disfarçava como se
sentia. Não disfarçava nem um pouco o monstro que escondia dentro de si.
—O que foi? —Era algo grande, apenas seu estado emocional era o
suficiente para que eu soubesse disso. Algo que nem os outros infiltrados
sabiam o que dizia que fosse lá qual era o problema envolvia a parte de
cima da pirâmide.
—Eu vou matar a minha esposa exatamente como fiz com o bebê que ela
esperava. —O arrepio percorreu minha nuca enquanto entendia que as
palavras dele não eram apenas da boca para fora. —Se a surra que dei nela
não foi indicativo o suficiente quando eu a matar vou garantir que seja com
tanta dor e de um jeito tão bruto que nem mesmo o maldito pai dela terá a
capacidade de reconhecê-la.
Ele tinha feito de novo, ele tinha feito-a perder o bebê novamente e agora
queria matar ela e realmente iria fazer isso se ninguém impedisse. Ele
mataria a garota que foi obrigada a casar com ele, uma garota que era
inocente, uma garota contaminada por escolhas que nem a ela pertenciam e
eu nada podia fazer, talvez tentar incriminá-lo por esse crime. Ele tinha
feito uma confissão que estava gravada, eu podia esperar ela morrer e
testemunhar contra ele, mas do que adiantaria? Quanto tempo realmente
conseguiria deixá-lo preso por isso? E o mais importante sem ele na jogada
a quem ficaria a responsabilidade de conduzir o império da máfia depois
que Guiseppe Salvatore morresse? “Meu filho”. O pensamento bagunçou
meu equilíbrio e eu precisei fechar os olhos contendo mais um enjoo.
—O que aconteceu? —Perguntei, precisava dele falando e os seus
problemas o deixava irritado demais para que ele não me percebesse e eu
precisava da sua desatenção até que o enjoou passasse e eu conseguisse ser
mais eu mesma. Isso acontecia sempre por volta da hora do almoço. —
Tenho certeza de que não é para tanto.
—Claro que é... Ela não devia ter envolvido seu maldito pai nos nossos
problemas, eu não conseguirei fazer nada se eu tiver o conselho contra mim
e aqueles malditos velhos simplesmente fazem o que o Salvador quer como
se não tivessem capacidade de tomar decisões sozinhos. —Ele bebeu todo o
conteúdo do copo e jogou o vidro contra a parede acima da minha cabeça,
me obrigando a fechar os olhos me protegendo dos cacos de vidros que
caíram sobre mim. —Se ela não tivesse engravidado de novo eu poderia ter
continuado ignorando sua presença como tenho feito por todo esse tempo,
mas ela precisou engravidar, precisou foder minha vida e agora eu não sei
mais o que fazer. Preciso dar um jeito e tirar ela de cena.
Ele não fazia questão de esconder seu descontrole, não comigo.
—Mas se você fizer isso eles podem se vingar de você. —Fingi uma
preocupação.
Me sentei na cama tomando o cuidado com os vidros.
—Eu não sou idiota Lara, não vou cometer um erro amador como esse tudo
será feito no momento certo e do jeito certo, não irei correr riscos. —Ele riu
como se algum plano estivesse sendo formado na sua cabeça.
Todos os meus alertas de alto preservação se ativaram naquele momento.
—Eu sinto muito pelo bebê —eu devia ter mantido a boca fechada, mas eu
precisava saber, precisava entender exatamente como ele se sentia sobre
isso para tomar a minha decisão e por mais que fosse óbvio eu precisava
ouvir antes de decidir e viver a vida inteira sobre a possibilidade do que
poderia ser.
—Não sinta, eu não estou sentindo. Só consigo me sentir aliviado. Aquele
bebê seria apenas um problema na minha vida. Eu não quero e não vou ser
pai —Soou como era uma ameaça. —Não até que eu tenha controle de tudo
e defina o momento oportuno.
Naquele instante eu não consegui deixar de me perguntar se ele não sabia
sobre mim, se assim como ele fazia com a esposa se de alguma forma que
eu desconhecia ele não sabia sobre o bebê. Se ele soubesse não restava
dúvidas que não levaria muito tempo até que ele fizesse algo para tirar o
bebê de mim, para se livrar do problema e eu devia ficar feliz com esse fim.
Podia imaginar o que meu pai diria se desconfiasse que eu engravidei
durante uma missão, mesmo que eu tenha tomado todos os cuidados, eu
precisava de uma consulta para entender como eu tinha engravidado, mas
naquele momento minha única preocupação seria em como eu não podia
deixar que ele fizesse comigo o mesmo que fez com a esposa. Eu ainda não
tinha certeza do que faria com o bebê, mas tinha total certeza de que
independente do fim não seria de um jeito violento como eu podia imaginar
que ele tinha feito com ela.
—Por que você está tão distante? —Me arrastei pelo colchão sendo
cuidadosa com os pedaços do copo e me aproximei dele sabendo que o
evitar ou me comportar de qualquer jeito além do que para nós era o
comum e nossa relação desde sempre foi fundamentada pelo sexo
constante. O desejo um pelo outro e o prazer que conseguíamos tirar do
sexo.
Sentei-me no seu colo e enlacei seu pescoço exigindo seus lábios. O beijo
não foi tímido, suas mãos na minha cintura serviam para me apertar
trazendo meu corpo para mais próximo ao dele.
[...]
—Você vai aonde? —Eu não resisti a perguntar mesmo que eu tivesse total
consciência de que ele odiava quando eu “fazia perguntas demais.” Porém
eu não conseguia deixar de sentir o que significava sua ausência, o medo de
que isso significaria, o que ele podia fazer com aquela garota. Eu tinha que
me lembrar constantemente de que a garota não era um problema meu e eu
tinha problemas suficientes para querer lidar com os problemas dela
também.
Óbvio que eu não conseguiria salvar ela e não importava o quanto eu me
achasse capaz disso naquele momento eu tinha problemas muito mais
graves para me preocupar e aproveitar a ausência dele e me aproveitar da
sua desatenção para sair daquela confusão era tudo que eu precisava para
entender e desistir o que fazer com as coisas que eu tinha naquele momento.
—Preciso fazer uma coisa hoje enquanto eu não mato a Francesca eu
preciso fingir que eu me importo com ela então estou indo vê-la. Quais são
as suas flores favoritas?
—Você vai me comprar flores? —Isso não fazia parte da sua personalidade,
nem um pouquinho e naquele momento eu não podia deixar de sentir o
medo do que podia significar uma atitude assim por parte dele.
—Claro que não. —Ele parecia horrorizado diante da possibilidade.
Pareceu considerar por alguns segundos antes de se aproximar de mim na
cama e tocar meu pescoço com força. —Você quer flores? —a pergunta
veio acompanhada de um sorriso presunçoso e eu não resisti rindo junto
com ele.
Ele me puxou com força se infiltrando entre as minhas pernas seu sorriso
deixava claro onde a posição nos levaria.
O zíper da sua calça desceu enquanto ele tirava o pau de dentro das calças e
levava até a minha boceta ainda melada pelo sexo que tivemos a poucos
minutos atrás.
Respire fundo relaxando enquanto ele me penetrava com força até que
estivesse completamente dentro de mim.
—Tatuagens; —Estocou mais fundo fazendo-me resmungar um gemido
ainda entre a dor da invasão inesperada e o prazer que seu corpo era capaz
de me proporcionar. —Alianças; —Eu gritei quando ele beliscou meu
clitóris e senti lagrimas nos meus olhos pela força que com que ele tinha
feito aquilo. —Flores e o que mais você vai querer? —O medo do que ele
sabia, parecia demais, parecia que ele estava envolto demais em algo que eu
desconhecia e eu não estava nem um pouco a fim de me tornar uma versão
da esposa dele, uma versão que permitia que ele matasse um bebê inocente
apenas porque ele não era homem para lidar com as consequências dos seus
atos, dos nossos atos. E eu não tinha certeza se ele sabia ou não, mas
naquele instante eu tinha absoluta convicção de que não importava aquela
missão já tinha acabado para mim e eu precisava sair dela o mais rápido
possível.
[....]
Encarei a única que podia me ajudar naquele momento. Eu estava
arriscando demais, sabia disso, devia ter esperado mais, ter tido certeza de
que ele não voltaria rapidamente, porém eu estava sufocada para
permanecer na casa como se eu não tivesse muitas coisas para resolver e
muito pouco tempo.
—Você está equivocada, isso não é possível. Tomamos todas as garantias
Anna Lara para que isso não acontecesse. —Meu nome completo era a
garantia de que meu problema era realmente grande.
Eu tinha a porcaria de um DIU no meu útero e um exame com um positivo
embaixo do meu colchão, algum dos dois estavam errados e eu não iria
arriscar.
—Eu sei, mas de alguma forma eu estou com todos os sintomas possíveis e
fiz um teste que constou positivo.
Ela se sentou na cadeira ao seu lado sem me encarar completamente. Era
bom estar com alguém que compreendia quão encrencada eu estaria se
aquilo realmente fosse verdade. Ainda tinha uma possibilidade, o exame
podia ser apenas errado e eu estaria surtando atoa.
—Se for verdade você sabe o que tem que ser feito. —Claro que sim, era o
que estava escrito no maldito contrato que eu assinei. Mas eu não
considerava que isso realmente podia acontecer, para mim sempre foi uma
possibilidade inexistente quando tomávamos todos os cuidados antes de
qualquer missão.
—O quanto você é minha amiga?
Uma pergunta estupida, porém que eu precisava fazer, além de colegas
profissionais éramos amigas intimas e pessoais.
—Por favor Lara não faz isso, não me diga que você está realmente
considerando ter esse bebê.
—Ele não tem culpa de nada.
—Você quer ser a mãe do primeiro filho do herdeiro da máfia? —Ela quase
gritava, se não estivéssemos dentro de um prédio da polícia federal e tivesse
vários agentes em volta ela provavelmente estaria fazendo isso. Mas aquele
era nosso local seguro, local que ninguém de fora sabia o que significava e
nem os reis da cidade tinha ideia do que realmente funcionava ali. Então
mesmo escondidas em uma sala fechada ela precisava controlar a voz se
não quisesse que ninguém descobrisse, se quisesse me proteger e ela era a
pessoa que eu confiava de olhos fechados para me proteger e por esse
motivo ela estava ali.
—Não, claro que não. Você me ver como mãe? —Eu não precisava que ela
me respondesse para saber que era uma negativa. Desde sempre todo o meu
foco foi na minha carreira, abandonar tudo que eu vinha conquistando por
um filho, ainda mais ter um filho sem poder contar com o pai. Eu nem tinha
dinheiro o suficiente para isso. Um filho é algo muito caro. —Eu só não
acho isso justo.
—A vida não é Lara —me lembrou.
—Eu sei, mas não quero ser eu a matar um bebê inocente apenas porque um
acidente aconteceu. Fazer isso não me tornaria melhor do que o Domenico.
Ela bufou e se levantando e vindo até mim e segurou meu ombro me
confortando.
—O que você pretende fazer? —Eu não tinha pensado sobre nada daquilo.
—Talvez deixar essa criança no orfanato. —Não tinha certeza nem daquilo
e nem e nada. —Você me ajuda com isso? —A pergunta soou com a
insegurança que eu sentia.
Naquele minuto me senti como a muito tempo que eu não sentia, como a
garota que a muito tempo já tinha deixado de ser. Alguém que não tinha
controle das próprias emoções e a última vez foi quando meu pai morreu.
—Claro que sim Lara, você sabe que eu te ajudaria com qualquer coisa até
mesmo se você surtar e querer ficar com esse bebê. —Sorri me sentindo
confortável.
—Isso não vai acontecer, não tenho vocação para ser mãe apenas não quero
matar um bebê que é inocente.
Ela deu dois passos para trás e mordeu os lábios como se considerasse suas
palavras o que era incomum já que ela não tinha problemas nenhum em
dizer o que pensava.
—Apenas fale Thyra.
—Você sabe que se decidir seguir com a gravidez mesmo que para doar o
bebê isso coloca um ponto final na sua missão e pela forma que teremos
que fazer isso coloca também um ponto final na sua carreira?
Apertei as mãos uma na outra sem saber o que dizer a ela.
Eu sabia, sabia que jamais seria autorizada a seguir com a gravidez e doar a
criança. Só seguiria com a gravidez se de alguma forma meu bebê pudesse
ser usado para algum ganho na nossa missão e nem tinha certeza se algo
assim seria autorizado, mas deixar um dos herdeiros da máfia solto pelo
mundo também não seria autorizado. Então as palavras dela só tornava real
algo que eu tinha total conhecimento.
—Não me dê uma resposta agora. Pense com cuidado e com calma,
pondere tudo que pode acontecer e depois se for isso mesmo que você quer
nós faremos. Mas primeiro precisamos confirmar a gravidez.
Capítulo 11
Domenico
Contive meu sorriso quando recebi a informação do meu pai. Não estava
sendo tão difícil para mim já que o chefe da família estava responsável por
nos manter em contato e cuidar para que seu amigo maluco não me matasse
o que eu podia apostar que era o que ele queria fazer.
—Domenico por favor tenha cuidado com a Francesca é um momento
delicado. —Encarei minha mãe contendo a vontade de mandá-la calar a
boca e se meter na própria vida.
—É um momento delicado para mim também só quero estar do lado da
minha esposa—lembrei do posto que ela ocupava como se fosse real.
Ela se inclinou me abraçando com força. Eu era um bom mentiroso e
conseguia manipular inclusive emoções que eu nunca experimentei sentir
como a culpa e a dor. Não era novidade ter ela me consolando a cada
oportunidade que tinha e era culpa minha já que meu pai estava muito puto
comigo e eu precisava dele ao meu lado então chorar no colo da mamãe era
o que eu precisava para que ele fosse convencido e não era segredo que
minha mãe tinha muito poder sobre o meu pai e eu não tinha me enganado
em usar ela para conseguir o que eu queria foi mais rápido do que qualquer
outra coisa que eu pudesse ter feito.
—Vou lá até ela —falei. Impondo uma pressa que eu realmente sentia.
Queria lembrar ela que ela era minha e independente do que fizesse não
estaria livre e nem seu maldito pai tinha a capacidade de afastar ela de mim.
—Eu vou com você Domenico, quero garantir que nada saia do controle.
Sorri assentindo, enquanto internamente odiava aquilo. Eu precisaria ser
bem mais cuidados com o velho por perto.
[...]
O caminho até ali foi feito em um absoluto silencio. Meu pai estava
publicamente do meu lado, mas algo sobre romper com o seu melhor amigo
o estava desagradando mais do que ele admitiria.
—Por favor Domenico seja respeitoso. —O pedido dele, principalmente
não vindo como uma ordem me pegou desprevenido. Meu pai não
costumava ser assim.
—Serei, quero apenas conversar com a Francesca, quero garantir que ela
está minimamente bem e que saiba o quanto eu me arrependo. —A emoção
transbordava no meu tom de voz.
—Tudo bem.
Saímos do carro lado a lado. Os seguranças do Salvador nos
acompanhavam de perto como se de alguma forma representeássemos
algum tipo de risco. Minha atenção foi automaticamente atraída para o
homem nas sombras que observava tudo sem fazer questão de disfarçar. Ele
seria punido por ter se metido onde não era chamado, ele seria punido por
desejar minha esposa e sua punição não seria nada física, seria obrigar a ele
a olhar ela comigo, saber que mesmo tratando-a da forma que eu tratava ela
era minha e tão perfeita que nem mesmo daria confiança a ele, mesmo
tendo salvado o dia.
Ignorei sua presença e segui os passos do meu pai, alguns centímetros atrás
longe de onde seus olhos alcançavam. O sorriso discreto brincou nos meus
lábios enquanto eu sabia que ele estava me olhando, enquanto sabia que ele
não deixaria nada passar inclusive aquilo.
No hall de entrada eu fui obrigado a ignorar minha diversão enquanto
Salvador D’Arco planava na minha frente, sua expressão podia me
transformar em pedra se ele tivesse essa capacidade.
—Boa noite —minha voz soou baixa, calma e até mesmo temerosa. Nada
daquilo era realmente real, eu não tinha medo dele, não mais, durante muito
tempo eu o admirei, o segui e fiz ensinar-me tudo que ele sabia e eu tinha
aprendido e melhorado cada uma de suas técnicas e se fosse um confronto
físico eu ganharia sem nem mesmo precisar me esforçar.
O silêncio se manteve enquanto ele mudava o peso do corpo de uma perna
para a outra como se estivesse estudando suas ações. Tudo que eu queria era
que ele me atacasse, me desse a justificativa de poder revidar e me desse a
justificativa de tirar ele do meu caminho sem precisar me arriscar muito.
—Ela está no quarto você vai poder falar com ela de porta aberta e por
exatos vinte minutos. —Muitas exigências para que eu tivesse que falar
com a minha esposa isso não me agradava nem um pouco.
—Ela é minha esposa e estamos passando por uma fase complicada —
lembrei torcendo para que minhas palavras fossem o suficiente para fazê-lo
perder o controle que ele se esforçava para manter. A respiração do meu pai
atrás de mim me lembrou do papel que eu tinha que desempenhar. —Então
irei ficar com ela pelo tempo que ela quiser que eu fiquei.
Parecia até que eu era realmente um cavalheiro que me importava com o
que ela queria quando me comportava assim.
—Já que é assim ela não quer você por perto então a deixe em paz e vá
embora. —Encarei a morena no canto, os cabelos longos estavam soltos e o
vestido justo marcava suas malditas curvas. Aquilo era muito para o
Salvador e o seu temperamento de merda demonstrava que ele não a estava
fodendo como ela merecia.
—Assim que ela pessoalmente me disser isso eu vou embora, mas antes
quero vê-la e ter certeza de que ela está bem. —Talvez até mesmo fodê-la
antes de sair, usar o tesão que sua madrasta me proporcionava no corpinho
perfeito da minha esposa parecia uma boa ideia. Algo na Lara não estava
me satisfazendo completamente e seria injusto não admitir que eu sentia
falta do sexo com a Francesca para equiparar as coisas.
—Então felizmente sua presença aqui não irá durar muito.
—Elena por favor —o pedido do Salvador a esposa apenas me poupava de
uma discussão. Eu não estava ali por isso e queria fazer logo o que
importava. Eu tinha consciência de que devia ter seguido meu plano inicial
e ter trazido flores para a Francesca, mas a Lara me distraiu e me atrasou o
suficiente para que eu não tivesse tempo para passar em uma floricultura.
—Domenico vamos que eu irei levar até a Francesca e podemos encerrar
esse assunto por hoje.
Assenti e dei um passo à frente na direção que ele apontava.
—Deixe que eu o leve até o quarto dela fique aqui com o Salvatore.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa para impedir ela continuou.
—Ela pode querer companhia durante a conversa e vai ficar muito mais à
vontade comigo do que com você. —Sua sentença me deu algumas novas
informações, ela não podia perceber, porém sua maneira de falar me
deixava com a certeza de que a Francesca e o Salvador vinham se
desentendendo e isso era muito importante para mim, se ela perdesse o
apoio do pai eu a teria facilmente de volta para mim. —Tenho certeza de
que o Domenico sabe se defender de mulheres, inclusive muito bem. —A
crítica acida quase me fez rir, mas aquilo seria inapropriado então apenas
fechei a expressão o máximo que consegui como se sua frase me
incomodasse de alguma maneira.
A mulher se inclinou na direção do marido e deixou um beijo castro nos
lábios dele antes de tomar a frente me fazendo segui-la.
—Relaxa que ele pode lidar comigo e eu posso perfeitamente lidar com ele.
—Naquele instante eu não tinha dúvidas de que ela realmente poderia. Com
aquele corpo ela podia fazer o que quisesse. Acompanhei pelo canto dos
olhos seu rebolado no vestido curto e segui ela até o andar de cima.
O quarto da Francesca era um dos primeiros do corredor e a porta já estava
aberta como se ela já estivesse me esperando.
—Espere aqui —ordenou a morena entrando no quarto e batendo a porta na
minha cara. Naquele segundo qualquer resquício de graça que eu estivesse
sentindo pelo seu comportamento foi substituído por um sentimento
negativo. Tinha chegado o fim de onde ela achava que tinha algum poder de
dar as cartas.
Girei a maçaneta e entrei no quarto antes que ela tivesse qualquer
possibilidade de tentar me impedir. A Francesca estava sentada em frente a
uma poltrona em sua penteadeira escovando os cabelos. Aparentava não ser
nada demais, porém seus olhos inchados do choro indicavam o contrário.
A Elena estava sentada na cama dele e se levantou assim que percebeu
minha presença.
Sua expressão era irritada e nada me dizia sobre isso. Ela podia dar ordens
ao Salvador que era um idiota que se permitia receber aquele
comportamento de uma mulher que ele tinha comprado isso não se estendia
a mim.
—Eu disse para você esperar lá fora.
—Eu e a Francesca vamos conversar por favor saia do quarto.
—Seu idiota quem você acha que é para mandar eu sair de dentro de
qualquer ambiente na minha casa. —Ela se aproximou de mim e no
segundo que ergueu a mão para acertar meu rosto eu capturei seu braço
impedindo que ela fizesse isso. Eu segurava-a com delicadeza para não
deixar marcas pelo seu corpo e piorar a situação em que eu me encontrava.
Não podia e não queria mais um problema com o Salvador e machucar a
esposa dele com certeza era um grande problema.
—Elena por favor nos deixe sozinhos —o pedido da Francesca vinha
acompanhado de uma confiança que ela não apresentava antes. Aquilo era
um tipo de novidade que eu não estava preparado para que ela tivesse. O
medo pela madrasta estava estampado em seu rosto, mas apenas isso.
Minha esposa se levantou da poltrona e caminho até estar perto o suficiente
de nós dois para tocar minha mão em um pedido mudo. Soltei o braço da
sua madrasta que me encarava irritada. Todos os meus reflexos estavam
ativos para que se ela tentasse algo naquele momento eu conseguisse evitar.
—Por favor Elena deixe-nos conversar e encerrar logo esse assunto. —Não
tão simples assim querida, mas se servisse para tirar a insuportável da sua
madrasta de perto me servia.
—Eu estarei ali na porta qualquer coisa apenas me grite eu sei onde seu pai
guarda as armas e não vou hesitar em usar. —Minha esposa sorriu de uma
forma que eu não sabia identificar se feliz pela sugestão ou algo mais e a
madrasta a abraçou saindo do quarto batendo os saltos contra o piso de um
jeito irritante. Sua ameaça não me significava nada, não adiantava saber
onde as armas estavam se ela não sabia usar apenas iria arrumar um jeito de
se machucar.
Caminhei atrás dela e bati a porta passando a chave para garantir que eu
teria privacidade com a Francesca.
—O que você quer conversar comigo Domenico? —Nada ali parecia
pertencer a versão dela que eu estava acostumado.
—Como você está? —Perguntei seguindo o roteiro que eu já tinha ensaiado.
—Eu perdi um bebê como você acha que eu estou? —O deboche realmente
não fazia parte da personalidade dela e aquilo me impressionou ainda mais.
—Eu estou bem Domenico —Sua voz não tinha energia, parecia que estava
usando toda a sua força para me dar uma resposta, para conversar comigo e
aquilo me preocupou, da outra vez ela não ficou assim. Alguns meses
chorando sozinha, mas logo parou e seguiu em frente não foi nada perto do
jeito que ela estava agora. —Pode ir embora agora.
Caminhou até a cama e sentou cruzando os braços com força o suficiente
que sua pele já estava vermelha onde apertava.
Me aproximei dela e segurei seu pulso com cuidado desfazendo seu aperto.
—Eu sinto muito pelo que aconteceu com nosso filho.
Ela sorriu e tocou minha mão por cima da sua.
Seu rosto ainda estava roxo onde eu tinha acertado e podia imaginar que a
coloração se estendia pelo seu corpo.
—Não sinta, eu estou feliz. —Sua frase fez com que todo o roteiro que eu
tinha planejado seguir fosse pelo ralo. Como assim ela estava feliz? —Eu
sei que foi um livramento você ter matado essa criança e a outra, agora eu
consigo ver como seria horrível que você fosse pai dos meus filhos, o
quanto eu só estaria condenando uma criança a sofrer a ter que lidar com
você.
Afastei meu toque dela com medo do que a emoção que eu sentia pudesse
me fazer reagir e acabar machucando-a, sabia que ela tinha sempre o meu
pior.
—Você não sabe o que está dizendo. —Só podia estar ficando louca, talvez
eu tenha batido forte demais na cabeça e não reparei na hora.
—Sei sim, graças a Deus eu não sou mãe dos seus filhos, talvez a pobre
Lara tenha essa desgraça para ela. —Ela estava ficando louca. A Lara não
iria engravidar, a Lara não podia engravidar e um filho meu com ela
apresentaria apenas mais problemas na minha vida. Ele seria um maldito
bastardo que eu não permitiria existir.
—Você é minha esposa —forcei o que eu conseguia lembrar do roteiro que
eu tinha criado, era para isso que eu estava ali, eu estava ali para lembrar a
ela que me pertencia e não para deixar que ela colocasse um monte de
coisas na minha cabeça. Não podia deixar ela inverter os papeis ali. —Nós
tentaremos outras vezes, você devia ter me contado, eu teria sido cuidadoso,
eu teria protegido você e ele.
Toque seu rosto tentando passar alguma veracidade no meu tom de voz. Eu
não me sentia tão confiante assim de que apenas as minhas palavras tinham
sido o suficiente para convencer a ela.
—Era ela —informou, mas uma garota? Melhor que tivesse morrido. —Eu
não posso mais engravidar —Se ela tivesse me dado um tiro teria doido
menos do que suas palavras frias.
Uma lágrima escorreu dos seus olhos enquanto eu ficava de pé precisando
de espaço para lidar com o que ela estava me dizendo.
Isso não podia ser verdade, isso não fazia parte da droga dos meus planos e
eu não iria aceitar essa merda. Eu seria responsabilizado, podia imaginar
tudo que meu pai falaria na minha cabeça, podia imaginar como seria
complicado ser o Dom e se eu conseguisse tirar minha culpa disso e podia
imaginar toda a pressão do império da minha família terminar em mim
porque eu não era capaz de fazer o simples que era ter um herdeiro. Ou pior
eu teria que treinar um bastardo qualquer que minha irmã tivesse para
assumir tudo.
Ela sorria, não parecia feliz, apenas vitoriosa.
—Vou deixar que você conte ao seu pai, podemos anular o casamento e
cada um seguir a sua vida. — Precisei de um segundo para entender que ela
estava achando que não poder engravidar a livraria de mim. —Você vai
encontrar uma nova esposa e eu seguirei minha vida.
Sorri sem achar graça e me aproximei dela segurando seu queixo com força.
Fodasse o cuidado que eu prometi ter com ela. Aquela história não
terminava assim.
—Você é minha esposa e já passou tempo demais fora de casa, se prepare
porque a partir dessa semana você volta para casa. —Só não levaria ela
agora porque eu precisava pensar em cada aresta das coisas que ela tinha
me dito e principalmente pensar bem em tudo que eu faria, cada passo a
partir de agora seria decisivo. Sair arrastando-a pelos cabelos como era a
minha vontade não daria certo. —Assim que você voltar para casa nos
vamos em um médico da minha confiança e você verá que quem te disse
isso não sabe de nada.
—Foi o médico da família que me diagnosticou —informou como se isso
mudasse alguma maldita coisa.
Virei as costas ignorando tudo que ela estava me dizendo e precisando me
afastar dela.
[...]
Desci as escadas correndo e a presença do meu pai na minha frente
impedindo a minha passagem quase me fez ignorar tudo e seguir em frente
inclusive se eu tivesse que passar por cima dele para isso. Mas era muito
cedo para um confronto assim, nada ainda estava no maldito lugar.
—O que aconteceu? —Me descontrole provavelmente era nítido naquele
momento.
—Nada —menti. Ele ainda não podia saber sobre nada do que ela me disse
ainda, não sem que eu tivesse certeza do que seria feito. —Eu e ela
conversamos e ficou combinado que ela volta para casa ainda essa semana.
Não me dei o trabalho de olhar para o pai dela, ele sabia que eu já tinha sido
tolerante demais em permitir que ela ficasse ali por todo esse tempo.
—Domenico eu preciso falar com você —o Salvador disse, soava como
uma ordem e eu me sentia pronto para recuar, mas parecia curioso que ele
quisesse falar comigo. Não podia deixar passar, talvez fosse a oportunidade
que eu estava esperando.
—Claro.
—Domenico...
Dei de ombros diante do alerta do meu pai. Não era a mim que ele devia
estar tentando controlar e sim seu primo.
—Me siga por favor.
Ele andando na minha frente. Confiante e seguro demais, a presença do
meu pai ali tinha seu peso afinal de contas.
Não fomos muito longe, uma sala de jantar a alguns metros dali foi o
suficiente para que tivéssemos alguma privacidade.
—Eu estou convicto que você vai levar minha filha embora novamente e
que isso vai significar que você vai ter a carta livre para continuar
machucando-a da forma que quiser porque não tem nada que eu possa fazer
que não vai significar que ela será ainda mais machucada. Porém eu quero
lembrar que ela é uma das coisas mais importantes da minha vida e que se
você ainda não percebeu eu vou fazer da sua vida um inferno.
Eu já esperava por algo assim, mas ter ele dizendo com todas as letras assim
na minha cara era diferente do que eu imaginava e muito mais perigoso.
—Se você estiver vivo até lá, porque você é tão velho quanto o meu pai. —
Não podia ameaçar ele diretamente. —Quando o coroa se aposentar vocês
dois já não estarão nem sãos realmente e pelo que eu sei quem ficará no seu
lugar já que você não teve a capacidade de ter um herdeiro será o marido da
minha irmã até que ela tenha um herdeiro e manteremos as coisas em
família titio. Enquanto eu sou apenas um soldado eu posso descontar as
frustrações do dia na minha linda esposa. —Dei as costas a ele mantendo
todo o meu reflexo ativo enquanto eu seguia para longe. Era uma
provocação, eu tinha certeza de que ele sabia que eu queria que ele tentasse,
que ele puxasse sua arma e tentasse atirar em mim. Se não eu ia precisar de
um outro jeito de tirar ele da jogada, mas até o meu pai permitir que eu
assumisse eu teria bastante tempo.
[...]
—O que o Salvador queria? —Eu sabia que ele iria perguntar, sinceramente
eu contei que ele perguntasse.
—Me ameaçar, deixar evidente que enquanto ele for o conselheiro eu não
vou conseguir liderar em paz pelo que eu fiz com a filha dele. —Bebi o
líquido âmbar do copo apreciando a queimação, queria estar sozinho para
pensar em tudo que eu tinha que fazer, mas eu não podia recuar da ajuda
que meu pai me traria.
—Você precisa se entender com ele Domenico. —Simples assim.
—Um problema de cada vez pai, eu estou focado em me entender com a
minha esposa, depois eu vejo o que fazer com o pai dela. —Ele achava o
casamento o pilar para qualquer coisa e saber que meu foco estava no meu
me faria pontuar o que naquele momento era o mais importante. —Você
ainda vai comandar a família por muito tempo e sabe lidar com o Salvatore
melhor do que ninguém.
—Meus planos não envolvem ficar muito mais tempo no comando, já estou
velho e cansado quero aproveitar o resto da minha vida ao lado da sua mãe
desfrutando dos prazeres do mundo. —Aquilo era uma surpresa. —Eu
realmente achei que um casamento era o que você precisava para
amadurece, estou fazendo de tudo, mas enquanto eu não sentir que você
está pronto eu não vou conseguir sair e deixar você no meu lugar.
—Eu estou pronto —treinei minha vida inteira para isso, fui ao inferno e
voltei, me provei de todas as maneiras, como ele podia achar que eu ainda
não estava pronto.
—Palavras que para mim não significavam nada, porque eu não consigo ver
essa preparação. O que adianta você me dizer que está preparado se não
demonstra isso. Você gasta toda sua energia e tempo com aquela puta.
Ter ele falando assim da Lara me irritava.
—Eu faço tudo que você ordena.
—Sim, tudo que eu ordeno qualquer um dos nossos soldados, faz posso
entregar a liderança para qualquer um deles então? —Ele tinha a merda de
um ponto. —Observe como eu lidero, observe como sua mãe lidera, isso
não é só um exército de homens prontos para seguir cegamente suas ordens
porque você é o herdeiro você tem que demonstrar que está pronto, você
tem que se esforçar, tem que fazer além do que é ordenado, tem que ter
atitude e principalmente entender que somos todos família, alguns de nós
tem laços de sangue outros não, mas nós tratamos como se tivéssemos e nos
importamos como se fossemos. E você não pode ser o chefe dessa família
se não consegue gerenciar a sua própria família que é composta de duas
pessoas Domenico.
—Eu posso gerenciar a minha família.
Deu de ombros e encostou o corpo no banco se acomodando. Meu pai
nunca tinha sido tão sincero comigo, nunca tinha me deixado participar
tanto das decisões que tomava.
—Pare de falar e me prove, mande essa puta que você mantém embora e
foque na sua esposa, me dê netos, se você estiver por perto será muito
difícil que outro homem se aproxime, que outro homem queira o que é seu e
que outro homem trate sua esposa da forma que você deveria tratar e se
esses foram mesmo os motivos por você machucar ela será solucionado e
será o suficiente para que não aconteça novamente.
Mandar a Lara embora? Lhe dar netos? Tratar a Francesca como se ela
fosse algo que ela não era? Porque ele estava apenas me pedindo coisas
quase impossíveis.
—Bater na sua esposa só transforma você em um maldito covarde
Domenico e eu não sei de onde você tirou que isso é um comportamento
aceitável dentro de um casamento eu não criei você para isso. Até alguns
anos atrás nem mesmo usávamos violência contra mulheres que nos traiam
olha o salto que é você simplesmente espancar a sua. —Ele só não me bateu
como fazia quando eu era menino porque eu já podia facilmente revidar,
mas seu comportamento indicava que seria o que ele faria. Já tinha escutado
aquele sermão antes, mas não daquele jeito. —Você já me viu fazer algo
parecido com a sua mãe? —Não esperou minha resposta. —E olha sua mãe
sabe ser muito irritante quando quer e mesmo assim eu nunca levantei a
mão para ela, nosso casamento foi tão confuso como o seu, eu também
tinha a minha puta favorita quando fui obrigado a casar com a sua mãe que
era uma maldita criança e nem por isso eu a desrespeite. Tenha suas
amantes, mas não exponha sua esposa, não desfile por aí com a sua puta
como se fosse grande coisa. Gaste mais tempo estruturando sua família,
sendo diplomático e estudando do que se divertindo.
—Se eu mandar a Lara embora... —ainda parecia demais.
Ele bufou alto me interrompendo:
—Não se trata só da puta, se fosse ela não estaria ainda aqui. —Senti um
gosto amargo enquanto via ele falar dela assim. —Eu espero que a forma
que eu lidero de alguma maneira te inspire, você obviamente fará suas
mudanças na forma de governar, mas que algo que eu fiz durante todo esse
tempo seja útil para te inspirar.
—Claro que é —afirmei, não era da boca para fora.
—Então observe o jeito que eu faço as coisas, quanto mais cedo você
aprender que a diplomacia é a melhor forma de liderança você vai chegar
longe. O medo, o respeito, tudo isso importa, mas não tanto quanto você ter
o apoio que precisa, por mais louco que seja os seus planos, antes mesmos
que você precise pedir. Você precisa se comportar como adulto, como um
homem feito.
—Eu me comporto assim... —Me calei quando percebi a expressão dele
pronto para me corrigir novamente sobre atitudes contarem mais do que
palavras.
—Você precisa que as pessoas o vejam como um homem, que as pessoas o
respeitem. Comece com o conselho, se você não pode resolver seu
problema com o Salvador agora seja mais diplomático do que ele. Porque o
conselho é composto por votos se você tiver a maioria não importa só o
voto dele, o voto dele normalmente é decisivo, e se você o tiver melhoria
muito as coisas, mas não é supremo. Então faça as pazes com a sua esposa e
a faça, com gentileza por favor, ajudar você nisso. Ela é bonita, inteligente e
uma excelente anfitriã. Observe como mesmo quando ela não está bem ela
faz as pessoas se sentirem bem, se sentirem bem-vindas. Sua mãe sempre
teceu elogios a Francesca e eu confio muito no julgamento da sua mãe
então traga sua esposa para o seu lado, use-a para te ajudar.
Eu ainda não conseguia entender na prática o que ele estava dizendo,
precisava pensar, precisava ficar sozinho e colocar a cabeça no lugar,
observar tudo que eu tinha conquistado hoje e principalmente entender qual
seria a lógica que eu precisava seguir depois de tudo que eu ouvi.
—Eu não sou bom nessa parte de ficar puxando o saco e fazer as pessoas se
sentirem bem-vindas, mas sua mãe é e ela tem todo o trabalho de cuidar das
coisas, ela dá jantares, festas e reuniões e a única coisa que eu preciso é
estar lá rindo de piadas de conteúdo duvidoso e comendo. Ela tem todo o
trabalho nessa parte. As mulheres são muito convincentes então milhares de
vezes que eu achei que algo que eu queria estava perdido sua mãe foi lá e
deu o jeito dela e tudo apenas em uma conversa de mulheres em uma tarde
qualquer com chá sendo servido.
Ele sorriu como se a frase provocasse uma memória boa.
—Observe como as coisas funcionam Domenico, pare de se comportar
como se ainda fosse um adolescente que ficava me seguindo e perturbando
meu conselho, pare com os apelidos, pare com as provocações. Prepare-os
para a transição, os faça desejar que eu morra logo para trabalharem
diretamente com você ou ao menos os deixem tranquilos sobre as
mudanças.
—Isso não é possível, todos eles endeusam você.
—Você descobrirá que não é tão difícil assim. Eu tinha essa mesma imagem
que você tem, mas quando eu comecei a me aproximar eu vi que era só
saber o que eu estava fazendo. Saia para jantar com os mais tradicionais,
saia para beber com os alcoólatras, vá aos puteiros, se torne parte e logo
você está dominando o jogo. —Ele sorriu orgulhoso. —Você é manipulador
filho então não será difícil fazer aqueles velhos te amarem e te apoiarem,
não esqueça dos filhos deles porque alguns dos velhos estão com o pé na
cova e outros vão viver até os duzentos anos para te perturbar.
Sorri e ele me acompanhou. Meu pai estava me dando muita informação
boa e eu não podia deixar passar.
—Volte as reuniões do conselho, volte a dar sua opinião mesmo que
ninguém a tenha pedido e mesmo que ela seja ignorada a maior parte das
vezes, porque algo fica e é assim que os velhos vão saber como serão as
coisas quando for você no meu lugar e isso é muito mais importante do que
você pode imaginar.
Ele realmente estava se comportando e me deixando esperançoso sobre
coisas que antes eu jamais considerei. Meu pai realmente sairia antes do
tempo ou ele apenas estava querendo me manipular?
—Aprenda a tirar o que de melhor um casamento pode oferecer. Eu tive
meus filhos tardiamente porque sua mãe tinha apenas dezesseis anos
quando nos casamos, mas você e a Francesca não parecem preocupados
com isso já que ela já engravidou duas vezes. Então tenha seus herdeiros,
foque no seu trabalho e as coisas irão ser da forma que você espera. —
Aquela conversa toda era para isso, ele estava colocando condições para eu
me tornar o chefe e a maioria delas começavam e terminavam com a
maldita Francesca.
Capítulo 12
Francesca
O silêncio era preenchido com os meus soluços enquanto eu chorava
copiosamente. Queria que meu pai tivesse impedido a presença do
Domenico aqui, não queria vê-lo, sua presença apenas me lembrava do que
eu tinha perdido, do que ele tinha tirado de mim. Eu sempre soube que seria
mãe, que eu teria minha família e que isso seria a coisa mais preciosa do
mundo. Era a minha única certeza, era o que eu tinha desde sempre treinada
para ser e agora não existia mais. Falar a ele, contar o que o médico tinha
me dito apenas fazia tudo ser real.
—Fran abre a porta por favor.
—Eu preciso ficar sozinha Elena por favor —gritei, se eu precisasse
implorar eu faria.
—Se você quer ficar sozinha tudo bem eu prometo que não vou te perturbar
mais você, mas eu estou aqui na porta o que você precisar é só me chamar.
Apertei o rosto contra o travesseiro e me permiti gritar, só queria tirar
aquela dor do meu peito. Não devia doer tanto, não mesmo, eu nem
conhecia o meu bebê e mesmo assim perdê-lo fazia o meu mundo ruim,
nem mesmo quando a mamãe morreu eu me senti assim tão desolada.
[...]
“Elena vamos para a cama ficar dormindo aí sentada no corredor não vai
ajudar a Francesca em nada. Ela já parou de chorar e o quarto está em
silêncio ela deve ter caído no sono, vamos fazer o mesmo.” A voz do meu
pai era baixa, mas a acústica do meu quarto nunca foi muito boa – mamãe
dizia que era para que eles conseguissem me ouvir se eu chorasse quando
eu era bebê.
“Está doendo tanto ver ela assim.” Minha madrasta disse.
“Em mim também, eu não vou deixar que ele tire ela daqui já tenho um
plano e amanhã irei conversar com você e com ela sobre isso.”
Eu não tinha certeza se queria ouvir o que o papai tinha a dizer. Não sabia
como as coisas funcionavam, mas tinha a convicção de que ser infértil faria
com que o Domenico pedisse a anulação do casamento. Era o que ele
sempre quis e agora sem dúvidas era o que eu queria também. Ele sairia
vencendo, não era uma competição e mesmo assim ele me tirou tudo. Nesse
momento ele já devia ter contado ao pai dele e eu precisava ser corajosa
para contar ao papai e a Elena as coisas que o médico disse. Sobre como ele
me garantiu que eu não poderia engravidar mais e que se por um milagre
acontecesse eu e a criança estaríamos correndo um sério risco de vida.
“Nós não podemos deixar que ela volta para ele e ele continue
machucando-a.”
“Eu morro antes que isso aconteça novamente.” Senti meu coração apertar
diante da declaração. Eu sabia que o papai estava chateado comigo, então
jamais imaginei que ele diria algo assim.
Sai da cama me arrastando sem muita vontade. Precisava garantir que ele
não faria nada que o colocaria em perigo por minha causa. O destino tinha
se encaminhado disso ou melhor o Domenico tinha se encaminhado disso e
garantindo a nossa separação.
Abri a porta e ambos me encararam surpresos.
—Meu bebê —a Elena se levantou do chão e enlaçou meu pescoço de um
jeito tão apertado que não me restava dúvidas do quanto aquela mulher que
durante os primeiros dias eu vi como uma intrusa tinha ganhado o meu
coração e se tornado uma das pessoas mais especiais da minha vida.
—Não precisa se preocupar pai o Domenico irá pedir a anulação, nesse
momento ele já deve ter falado com o pai dele e logo você será
comunicado.
Afinal a anulação do nosso casamento só seria possível se o conselho
autorizasse então o papai teria que votar.
—Casamentos não são anulados assim filha, se fosse tão simples eu já teria
tentado.
Afastei meus olhos para os meus pés com vergonha.
—Por causa do aborto eu não poderei ter novos filhos, acho que o conselho
será unanime em aceitar nossa separação já que ter um herdeiro é minha
principal função.
O silêncio absoluto dos dois me fez ergue o rosto buscando por suas
expressões. A Elena estava nitidamente incrédula, assustada. Já o papai
tinha sua expressão de sempre congelada em algo que eu não conseguia
realmente compreender.
—Eu sinto tanto Francesca, tanto. —A Elena me apertou nos seus braços e
eu nem precisei me esforçar para controlar minhas lágrimas porque eu
sentia que tinha secado completamente.
—Não sinta é o melhor para todos nós —não era não, eu podia viver a vida
inteira com o Domenico me tratando da pior maneira que ele conseguisse se
eu pudesse ter um filho. Era uma constatação doentia, mas era o que estava
inteiramente dentro do meu coração. Algo que eu jamais iria expor,
ninguém nunca saberia, mas... —Eu vou lá embaixo pegar um copo de água
e vou voltar para a cama, não se preocupe comigo e vá dormir também
Elena.
Lhes dei as costas querendo apenas fugir de qualquer confronto
principalmente com o papai que agora teria duas filhas manchadas na
família. Talvez ele conseguisse convencer a Elena a engravidar como ele
vinha tentando a algum tempo, mas os estudos da minha madrasta
impediam de realizar a vontade dele de ter mais filhos. Talvez com ela ele
acertasse e os filhos não o decepcionassem tanto como eu e a Vitoria
tínhamos feito.
Capítulo 13
Lara
Encarei os detalhes do plano, repassando os detalhes mais uma vez. O
Domenico tinha me dado a abertura que eu precisava. Ele estava cada vez
mais distante o que quer que tenha sido a consequência dos seus atos o
estava afastando de mim, e descobrir que seu pai lhe deu uma ordem para se
manter longe de mim era o objetivo que eu precisava para conseguir
escapar. De qualquer maneira eu teria que fazer isso, teria que ir embora,
sem nem mesmo deixar rastros. Usar a fórmula que eu tinha desenvolvido
era ainda mais arriscado, não tinha sido testado em mulheres e muito menos
mulheres grávidas então eu não fazia ideia dos efeitos colaterais, mas eu
não tinha escolha.
Eu já estava entrando na décima segunda semana de gestação e meu corpo
já estava tendo um salto de desenvolvimento que eu não podia controlar
como a barriga saliente que estava começando a se destacar então eu não
tinha muito mais tempo.
—Já pensou em alguma coisa? Se você simplesmente morrer vai levantar
suspeitas, se ele é louco como você diz ele pode e vai desconfiar.
—Eu tive uma ideia, mas isso gastaria mais dinheiro do que eu tinha
planejado.
Eu não queria pedir, por mais que fosse exatamente isso que eu estivesse
fazendo.
Devia ter economizado mais, porém sempre gostei da boa vida que o
dinheiro podia proporcionar então minhas economias eram ridículas, e ter
que passar os próximos seis meses me movendo de cidade em cidade
fugindo não seria algo barato e eu teria que diminuir muito o meu critério
avaliativo e admitir ficar em algumas espeluncas pelo trajeto.
—Apenas fale Lara.
—Eles estão jurados de vingança pela máfia russa, algo sobre mulheres e
crianças e sequestro. Eu sou publicamente amante dele e sou um alvo mais
fácil do que sua esposa.
—Se ele gosta de você pode sentir-se culpado e perder alguns detalhes
importantes. Mas realmente isso vai sair caro, não sei se terei essa quantia
disponível, porém não se preocupe com isso. Vou dar um jeito.
Eu tinha medo de quando ela prometia dar um jeito. Isso no passado nos
significou problemas. Seu filtro entre certo e errado não funcionava muito
bem e nunca teve problemas em apenas seguir o que queria sem se importar
que as coisas fossem de um jeito diferente do que eram habitualmente
esperados.
—Você não está em posição de querer fazer as coisas apenas do jeito certo
Lara. Podemos usar seu plano para os nossos superiores também, podemos
deixar o Domenico acreditar que você foi morta, mas para os nossos nós
deixaremos eles acreditarem que os russos a raptaram pelo que você criou,
você sabe que sua fórmula vale muito e que seria útil a qualquer idiota. Isso
lhe dará uma brecha de voltar quando esse bebê nascer e tentar refazer sua
carreira.
Seus planos eram tão óbvios que eu nem precisava perguntar.
—Você não vai me levar para a Rússia, você não vai me jogar nos braços
dos inimigos com um filho do Domenico na barriga. Não quero que essa
criança nasça para sofrer e ser usada como utensilio de chantagem do meio
de uma guerra sem sentindo.
—Não pensei nisso.
Sorri porque era claro que ela tinha pensado e se eu não tivesse impedido
ela também teria feito exatamente isso e eu não podia suportar algo assim.
Não iria trazer uma criança ao mundo para sofrer e por esse motivo, pela
certeza de que eu seria uma péssima mãe que eu deixaria em um orfanato e
cuidaria para que fosse adotado por uma família boa que daria uma vida
decente a ela.
—Tudo bem darei outro jeito, não será a primeira vez que eu roubo alguém.
—Sim, suas habilidades tecnológicas nos salvavam na mesma proporção
que nos colocavam em perigo.
—Roube de alguém que tenha muito por favor. —Era o mínimo que eu
podia exigir dela.
Seu sorriso brincou no canto dos seus lábios.
—Sempre, que idiota eu seria se eu roubasse de pobres? —Era uma
pergunta que ela não queria uma resposta.
Repassei os papeis, ela já tinha conseguido novos passaportes para mim, um
novo sobrenome já que eu aceitava correr os riscos e usar meu nome de
batismo sempre que possível alterando apenas o meu sobrenome. Aquele
era um desses momentos, ninguém conhecer a filha do velho e ela não ser
publicamente exposta me permitia escolher o nome que eu quisesse. Os
homens por ali não se importavam o suficiente para se importarem com
nomes, eu era uma mulher e só o meu sobrenome contava.
As fotos dos passaportes me apresentavam com diferentes tons e tamanhos
de cabelo e era um trabalho tão bem-feito que se justificava todos eles
serem originais. Ser dos serviços secreto nos dava acesso a esse tipo de
coisa.
—Tem certeza de que esses passaportes são seguros, ter os feito aqui dentro
é perigoso.
—Confie em mim, não tem como ninguém saber eles são seguros e
impossíveis de rastrear.
[...]
Encarei minha barriga no espelho. A Leticia me garantia que era só uma
barriga simples e que se eu dissesse estar inchado por causa da minha
menstruação seria aceito, que eu ainda não estava com uma barriga de
grávida.
—Lara —o Domenico chamou por mim no mesmo segundo que a porta da
sala batia.
Abaixei a blusa rápido e peguei a escova na penteadeira fingindo pentear o
cabelo enquanto encarava meu reflexo e tentava normalizar minha
respiração pelo susto que eu tinha tomado. Minha cabeça não conseguia
deixar de considerar as possibilidades do que teria acontecido se ele
chegasse silenciosamente como fez tantas outras vezes. Eu tinha que
esquecer aquela gravidez enquanto estivesse dentro de casa, enquanto
estivesse em qualquer lugar que seu acesso fosse assim facilitado.
—Oi. —Deixei a escova em cima da cama e caminhei até ele ficando na
pontinha dos pés e deixando um beijo nos seus lábios.
Era bom voltar a rotina e a um lugar seguro. Os enjoos tinham diminuído e
eu até arriscava dizer que já tinham parado, porém no começo tudo me
enjoava e ainda assim nada me enjoava mais que seu perfume e foi muito
difícil disfarçar. Se a Francesca não estivesse causando tantos problemas eu
podia ter certeza de que ele desconfiaria.
Suas mãos apertaram a minha cintura com força suficiente para um gemido
de dor escapar dos meus lábios. Ele sorriu contra a minha boca
aprofundando ainda mais o beijo e me arrastando até a cama.
Era óbvio seu intensão, sua presença ali significava apenas que ele queria
transar. Nossas conversas diminuíram muito desde que ele confessou que
iria matar a esposa – aquela provavelmente tinha sido nossa última conversa
intima. Eu ainda esperava pelo dia que ele realmente fizesse isso, a
convicção no seu tom de voz naquele dia eram evidências suficientes de
que não foi uma ameaça vazia. Não tinha certeza do que mudou, do que
entre nós dois foi desfeito, mas algo foi e eu não tinha tempo de
verdadeiramente me importar com isso.
Nos conduziu até a cama e sentou-se. Uma de suas mãos foram para a
minha nuca e sua outra enlaçou minha cintura me puxando para ele até que
nosso corpo estivesse grudado novamente, eu por cima dele.
Abri as pernas acomodando sua ereção.
—Eu gosto muito do seu constante entusiasmo Lara —sua voz vibrou
contra a minha pele enquanto eu sentia sua boca contra o meu pescoço.
Eu queria me convencer de que era apenas por ele ser minha missão, minha
obrigação, mas isso não explicaria a umidade entre minhas pernas toda vez
que ele tinha as mãos em mim.
Segurou o cabelo na base da minha nuca em um puxão firme fazendo um
gemido escapar dos meus lábios.
Sua mão foi para a minha coxa apertando com força por cima do jeans que
eu vestia.
Seus lábios alcançaram meu pescoço, os chupões marcavam minha pele.
Segurei seu rosto exigindo seus lábios novamente. Minhas mãos
alcançaram os botões de sua camisa tirando-a do seu corpo.
Toquei o peito musculoso deslizando a ponta dos dedos pelo seu tronco,
barriga e até a cintura onde peguei a arma que ele mantinha ali e tirando-a
do coldre e jogando a sobre a cama longe de onde estávamos, sua faca
favorita teve o mesmo destino enquanto eu a jogava longe. Abri seu cinto
com tranquilidade. Deslizei a boca por seu pescoço, os pelos da barba por
fazer pinicam minha língua e lábios enquanto provoco-o.
Deslizo a boceta coberta por seu pau adorando a sensação que o estímulo ali
provoca.
Ele me deixa usar seu corpo, dessa vez não está com presa.
Sigo descendo os lábios por seu peito e barriga.
Desço do seu colo mesmo que minha boceta implore para que eu mantenha
o contato e ajoelho no chão. Ele mesmo afasta a calça e a cueca permitindo
que eu acesse seu pau. Estímulo sua ereção brincando com a gotícula de
esperma que escorre da cabeça, esfrego a fenda delicadamente. Preciso
apertar os joelhos um contra o outro necessitando de alívio, mas aquele
ainda não é o meu momento. Inclino a boca colocando a cabeça do seu pau
entre meus lábios estimulando-o com a língua.
Pressiono os lábios na pele quente deslizando a boca para cima e para baixo
querendo sentir seu gosto. Até mesmo, a droga do, seu sabor era bom.
Sua respiração pesada indicava que o que eu o tinha sobre controle naquele
instante. Não era sempre que isso acontecia. Então me permiti aproveitar.
Agarrou meu cabelo apertando firme, meu coro cabeludo ardia com o
puxão que ele dava. Mas a adrenalina e o prazer faziam com que nada disso
importasse.
Estocava violentamente contra a minha garganta sem se importar que eu
engasgasse vez ou outra enquanto forçava seu pau entre os meus lábios. Ele
estava fodendo minha boca.
Seu orgasmo veio revolto enquanto ele soltava um palavrão entredentes e
me sufocava com o líquido quente enquanto fazia questão de gozar na
minha garganta me obrigando a engolir tudo.
Seu tratamento rude me irritava, mas meu corpo era traidor demais para se
preocupar com isso.
Me sentia tão molhada que não me surpreenderia se já estivesse marcando
minha calça jeans.
Passei a língua pelo seu comprimento que já amolecia nos meus lábios
precisando dele.
—Levanta e tire a roupa lentamente —a ordem me fez travar por alguns
segundos enquanto eu pensava. A barriga estava ali, mesmo que a Thyra me
garantisse que era imperceptível o Domenico era observador demais e se ele
percebesse minhas chances de conseguir fugir dali e proteger aquele bebê
dos riscos que ser meu filho e filho dele provocaria iriam para o ralo.
O tapa de mão aberta acertou meu rosto com força o suficiente para que eu
me desequilibrasse sobre os joelhos e caísse para o lado no chão.
—Agora Lara —sua voz era perigosa. Eu não tinha medo dele, era muito
bem treinada para que em um confronto físico ele não tivesse tanta
vantagem como pensava ter, mas o meu papel ali no me permitia revidar.
Levantei do chão apertando os lábios para me livrar do ardor na bochecha e
levei as mãos ao jeans abrindo o botão e descendo o zíper sem me
preocupar em ser sensual como sabia que ele esperava. Ele sabia que eu não
gostava quando ele me batia de verdade então ficar chateada cabia no papel
que eu desempenhava.
Desci o tecido jeans pelas pernas e me livrei dele rápido ficando apenas
com a minha calcinha branca de renda.
Encarei ele como se estivesse chateada, o único sentimento real era a raiva
de ter que sair antes de finalmente conseguir destruir ele, mas eu não seria
mais eu se eu permitisse um aborto. As lágrimas chegaram aos meus olhos
e eu me sentia tremer enquanto pensava sobre a ordem dele, enquanto
tentava fazer o que ele queria. A bagunça dos pensamentos me imobilizou o
suficiente para que eu não me afastasse quando ele se livrou totalmente das
suas calças e se aproximou de mim.
—Droga Lara! —Sua exclamação era a evidência clara que ele faria como
sempre e de alguma maneira tentaria me culpar por algo que tinha sido
inteiramente culpa dele. —Apenas me obedeça sem pensar e isso não
acontece.
Um de seus muitos avisos sobre o mesmo tema.
Não iria acontecer, eu não era um robô sem sentimentos e sem opinião, nem
eu e nem ninguém que passasse pela vida dele. Mas era exatamente o que
ele queria, alguém que simplesmente estivesse ali para apenas cumprir suas
ordens sem questionar ou hesitar. O que eu tentei ser no começo para
agradá-lo sem correr o risco, não deu certo. O que ele queria era irreal e
inexistente ele não encontraria nunca em ninguém. Nem mesmo na sua
perfeita esposa que tinha sido criada para isso.
Ele tocou meu rosto, onde tinha batido, com a ponta dos dedos. Tão
delicadamente que nem mesmo parecia que ele tinha sido o responsável por
isso.
—Está doendo —não tanto e nem mesmo era o pio do que eu já tinha
suportado.
Segurou meu queixo erguendo meu rosto. Antes que ele conseguisse me
beijar virei o rosto querendo mais reação dele. Fodasse a lógica naquele
momento eu precisava de algo, do seu pior, para afastar os pensamentos e
relaxar.
—Não quero mais —pontuei. Ele nunca respeitava um não, provavelmente
não os escutava muito também. —Você já se divertiu então pode ir embora.
A risada fria me fez dar dois passos para trás antes que ele segurasse meu
pescoço e pressionasse meu corpo contra o pilar atrás de mim.
—Não cheguei nem perto de realmente me divertir, você devia ter umas
aulinhas com a minha esposa porque ela sim sabe chupar um pau com
excelência.
—Seu porco imundo —Sem que eu pensasse muito sobre ergui a mão e
acertei seu rosto fazendo-o gargalhar e apertar tanto o meu pescoço que eu
tinha certeza de que ele queria quebrar meu pescoço.
Bateu minha cabeça contra o pilar e sorriu de um jeito que fez algo se
acender dentro de mim.
O gemido escapou dos meus lábios enquanto eu tentava manter minha
cabeça concentrada no que ele faria, suas reações eram sempre
imprevisíveis.
Sua mão foi parar no meio das minhas pernas, ele afastou minha calcinha
alcançando meu clitóris inchado e apertou entre os dedos com força o
suficiente para que eu tentasse fugir do seu toque.
—Um porco imundo te deixa molhada assim? —a pergunta soou animada e
foi o suficiente para que eu automaticamente relaxasse. Ele estava levando
o que aconteceu melhor do que eu esperava.
Desenhou o contorno dos meus pequenos lábios me arrancando um suspiro
sofrido.
Bater nele tinha sido demais.
Ele abaixou na minha frente e senti sua língua contra o meu clitóris
aliviando a dor que ele mesmo tinha causado. O gemido soou alto enquanto
sentia sua língua bater contra meu ponto inchado e sensível. Puxou uma de
minhas pernas passando-a sobre o seu ombro me deixando aberta o
suficiente para que ele tivesse o acesso que queria.
Lambeu meus lábios de uma forma lenta e longa. Seus dedos abriram minha
boceta e sua língua deslizou para dentro de mim, me penetrando em um
movimento firme de vai e vem. O grito saiu sem que eu controlasse, o
prazer do seu toque era incrível.
O tesão aumentou fazendo minha consciência se tornar uma nuvem cinza
nublada.
Rebolava de maneira desordenada contra o rosto dele atrás do prazer que
ele me prometia.
Seu polegar alcançou meu clítoris estimulando o musculo e naquele
segundo eu tinha a certeza de que eu iria explodir. O prazer parecia demais
para mim.
Por que ele tinha que ser tão bom naquilo?
Levei a mão para a boca tentando conter meus gritos, mordendo a pele da
minha palma sem me preocupar em ser cuidadosa. Não queria dar esse
prazer de ele me ter gritando por ele, já era convencido demais.
Afastou o toque da minha boceta levantando segurando minha coxa,
mantendo minhas pernas abertas enquanto se encaixava entre elas.
Sua ereção me tocava sem realmente me tocar da forma que eu preciso, da
forma que meu corpo implorava para acontecer. Mas eu não daria o gosto
de ele em ver implorar por seu fodido corpo.
—Eu preciso estar dentro de você —Sem que eu tivesse tempo de impedir
ele me penetrou de uma vez só fazendo com que o grito ficasse preso no
fundo da minha garganta.
A pressão voltou ao meu baixo ventre enquanto seus movimentos dentro de
mim eram duros, certeiros.
Puxou meus braços, tirando minha mão da boca e levou para trás de mim
prendendo entre a pilastra e o meu corpo. Me apertou com força contra a
construção dura para que eu não conseguisse usar as mãos e eu sabia que
era apenas para evitar que eu me contivesse;
—Eu realmente me surpreendo que um porco possa fazer você gritar assim.
Rebolou dentro de mim acertando um ponto que ele parecia conhecer o
caminho perfeitamente.
Ele continuou fazendo tocando aquele ponto sensível até que eu precisasse
morder os lábios com força para conter o grito que queria escapar da minha
garganta.
Arqueei o corpo em sua direção, ao modo que eu queria mais daquilo eu
queria que ele fugisse, que ele saísse de perto de mim, a pressão era demais.
Sua mão acertou meu rosto em outro tapa que fez com que eu sentisse um
zumbido no meu ouvido que me afastou completamente das sensações que
ele provocava e fez meu rosto arder e lágrimas aos meus olhos.
Era por estar privando-o dos meus gemidos.
Rebolou novamente voltando a bater firme contra o ponto que funcionava
perfeitamente dentro de mim me fazendo gritar pela sensação prazerosa.
Meu corpo era um traidor, como ele podia responder tão bem a penetração
depois de toda dor que o Domenico tinha provocado. Como eu podia me
sentir assim? Era tudo tão errado e tão gosto.
Seus movimentos continuaram fazendo pressão naquele mesmo local
sensível, eu sabia que não duraria muito mais. Seus movimentos se
tornaram mais rápidos, erráticos e firmes.
Eu não conseguia me conter, as ondas de prazer se espalhavam pelo meu
corpo. O nó na garganta, meu corpo em convulsões, meu ventre pulsava.
Conseguia senti-lo em todos os lugares.
—Domenico —o grito escapou dos meus lábios enquanto eu sentia a
explosão de prazer dominar o meu corpo.
Ele não levou muito mais tempo para gozar dentro de mim.
A respiração pesada contra o meu pescoço indicava que tinha sido tão bom
para ele quanto para mim.
—Agora você vai me deixar entender o que está te incomodando?
Não queria ele percebendo nada, nem mesmo o quanto parecia ruim estar
abandonando o grande sonho da minha vida por causa de um erro que desde
o começo eu tentei evitar.
Ele tocou meu rosto afastando os cabelos. Os dois lados da face doíam
pelos tapas que ele tinha acertado, pela força que bateu eu não tinha dúvidas
de que ficaria marcado.
—Seu rosto está vermelho. Provavelmente ficará marcado —informou.
Claro que ficaria. Quando não se poupava a força com que me batia era isso
que acontecia, o pior era eu ter gostado, eu ter gozado para esse filho da
puta.
—Você me machucou —informei o óbvio.
Não era algo novo, ele sempre se comportava do mesmo jeito quando sentia
que algo estava saindo do seu controle e compensava tudo com um sexo
bem-feito, com orgasmos que fosse bons o suficiente para que eu
esquecesse todo resto, ou para que eu fingisse esquecer todo o resto.
—Você sabe como fico quando você me deixa irritado.
Saiu de dentro de mim com delicadeza voltando minha perna para o chão
com cuidado. Em nada se parecia com o homem que tinha feito sexo
comigo agora pouco.
—Agora me deixe saber o que está te incomodando? —Caminhou até a
cama sentando-se de frente para mim.
Alonguei os braços sentindo meus músculos protestarem pela posição que
eu tinha ficado.
Eu precisava de um banho e dormir um pouco. Aquilo era um dos sintomas
da minha fodida gravidez qualquer exercício físico já me deixava exausta
como eu nunca tinha me sentido antes.
—Você tem passado todo o tempo distante e quando chega aqui
simplesmente fica me comparando com a miss perfeição que é a sua esposa.
—Não vamos falar sobre a Francesca —deixou o tronco caindo colchão
ficando de barriga para cima. Fugindo de onde meus olhos podiam alcançá-
lo. —Não vamos trazer ela para a nossa cama.
—Foi você que a trouxe —acenei.
Bufei e deu um passo para longe da pilastra em direção ao banheiro. Não
adiantava insistir, ele só faria o que queria, só falaria o que queria. Se eu
conseguisse algo bom realmente antes de sair facilitaria quando eu quisesse
voltar, mas era difícil, era complicado demais, eu nunca achei que seria fácil
entrei sabendo que aquela era uma missão que duraria anos – todos nós
sabíamos, mas me envolver tanto.
—Eu só queria entender, queria ser preparada para o que vai e o que está
acontecendo. —Busquei seus olhos. Não tinha certeza se tinha algo
relacionado a mim, mas eu precisava insistir e eu precisava saber. —Se
nosso relacionamento acabou apenas me deixe saber e eu vou embora. Não
sou idiota Domenico entrei nisso que temos sabendo o meu lugar, sabendo
que eu era apenas sua amante e mesmo odiando isso eu quis seguir em
frente, foi uma escolha que fiz. Se acabou me deixe saber, seguirei em
frente sem te perturbar.
Seria mais fácil sair se fosse ele a me mandar embora. Não tinha o que fazer
se fosse ele a me dispensar, assim eu não precisaria nem fugir. Depois de
uma missão como essa eu ganharia umas férias antes de ser designada a
próxima.
—Isso não está nem perto de terminar Lara e não volte a falar nesse
assunto. Você é minha. Não existe a possibilidade de seguir em frente —
simulou aspas com o dedo no segundo em que repetiu minhas palavras. —
Você deveria desejar que eu nunca me canse de você...
Ignorei a ameaça entrando no banheiro. Se não tinha a possibilidade de ser
do jeito simples seria do complicado.
Capítulo 14
Domenico
Eu estava tentando agradar o meu pai, seguindo seu maldito conselho e
fazendo tudo que eu precisava para que ele se sentisse confiante. Ainda era
uma surpresa suas palavras, em alguns momentos inclusive eu me peguei
questionando se não tinha sido um maldito sonho, porque era exatamente
tudo que eu passei boa parte da vida querendo ouvir.
Assumir a família era o que eu sempre fui treinado para fazer e eu faria de
tudo para que isso acontecesse o mais rápido possível e eu não queria matar
meu pai, não até que isso fosse a última opção e não porque eu precisaria
ficar refém do conselho e não queria isso. Não podia permitir que o maldito
conselho tivesse as cartas para definir se eu era ou não capaz de ser o Dom,
ainda mais agora com o Salvador contra mim. Uma transição natural não
precisava dessas mesmas nuances e era bem mais prático desse jeito.
—Domenico —encarei a Letizia que me observava na porta da sala de
música sem parecer ter coragem de entrar. O que a tornava bastante esperta.
—O que foi? —Afastei os dedos das teclas do piano concentrando toda a
minha atenção nela, para estar vindo até mim devia ser no mínimo
interessante já que ela só fazia isso quando não tinha mais nenhuma
alternativa.
—Eu queria te pedir um favor. —Apertou as mãos em frente ao corpo
evidenciando todo o seu nervosismo. Não entendia como ela podia ser
minha irmã e ainda mais gêmea. Além da aparência não nos parecíamos em
nada.
—O que? —A pergunta veio apenas rondada da curiosidade, eu não estava
nem um pouco inclinado a fazer favores, muito menos para alguém que não
tinha nada para retribuir.
—Por favor me deixa casar? —Gargalhei quando percebi que era para isso
que ela estava ali perdendo o seu e o meu tempo.
Seu último flerte, como todos os outros, misteriosamente deu errado. Todos
tinham medo do que eu podia fazer e eu fazia questão de abertamente ir até
todos os seus pretendentes e ameaçá-los um inclusive morreu quando se
perdeu em uma trilha e nunca mais foi achado e nem seria.
Ela não entendia que nenhum deles eram dignos dela, nenhum deles
mereciam estar casados com a minha irmã.
—Todas as minhas amigas já estão casadas e com filhos e eu já estou
ficando velha —o choro manchando seu rosto me fez abrir ainda mais um
sorriso. Esse era o plano deixar que ela fosse velha o suficiente para que
não corrêssemos mais o risco de ter algum idiota dando em cima dela se
achando no direito de cortejar minha irmã.
—Isso vai acontecer quando você arrumar um pretendente digno. —Ou um
que a mantenha bem longe de mim.
—Mas os melhores pretendentes já tentaram e você... —sua frase morreu
no ar antes que ela verbalmente me acusasse.
—Se você não está casada eles com certeza não eram os melhores agora
chega desse assunto você já me atrapalhou o suficiente por hoje.
—Mas minhas amigas estão me zoando...
E o que eu tinha com isso?
—Letizia você está me irritando —engrossei a voz para que ela não tivesse
dúvidas sobre o alerta.
Ela soluçou alto chorando ainda mais copiosamente.
—Eu odeio você, odeio realmente você. —Saiu batendo os pés como se eu
me importasse com isso. Eu a odeio bem antes do que ela possa prever. Se
não fosse sua presença eu seria o filho mais velho, mas por alguns segundos
eu era o segundo filho sem contar que viver a vida inteira na sombra da
princesinha da família não tinha sido a experiencia que eu mais apreciei
então era o momento de ela experimentar um descontentamento e se eu não
podia ter o que queria ela também não teria.
E se meu pai tentasse novamente casar ela com algum idiota eu estaria
pronto para fazer de tudo para impedir isso de acontecer exatamente como
eu tinha feito com o primeiro até que o recado fosse óbvio e ninguém mais
tentasse.
[...]
—Domenico você fez alguma coisa que possa ser descoberta? —Repassei
todas as minhas atitudes dos últimos dias, foram bastante coisas erradas,
mas não tinha como me ligarem a elas. Tudo que eu fazia era com cada
maldito passo calculado e por esse motivo não tinha como ser culpado por
nada porque eu nunca fazia realmente nada, apenas garantia que outros
fizessem.
Encarei as armas que tínhamos roubado do meu pai conferindo tudo. A
revenda encheria meus bolsos e obrigaria o meu pai a melhorar nosso
armamento o que eu faria questão que fosse exatamente o que eu queria
para o meu exército.
—Não, claro que não você sabe que eu ando na linha —menti. Se de
alguma forma ele estivesse tentando me sacanear eu precisava estar um
passo à frente. Atualmente ele era de confiança, mas nunca se realmente
sabe o que esperar de um filho da puta como ele.
—Fodasse essa merda Domenico, o Salvatore pediu uma reunião secreta
com o conselho porque ele tem uma coisa importante para definirmos, nem
mesmo seu pai sabe que é. Você sabe que o Salvatore tem gastado toda a
maldita energia querendo livrar a filha de você eu conversei aqui com um e
outro e parece que ele vai trazer algo grande o suficiente para propor a
anulação do seu casamento e isso significa que você deve ter feito alguma
coisa para provocar isso.
Meus pensamentos não paravam enquanto eu considerava o que podia ser,
só havia uma coisa que ele podia querer usar contra mim e eu tinha absoluta
certeza de que aquela merda não era de verdade. Se ele queria livrá-la de
mim ele precisaria de mais do que isso, muito mais. Não ficaria de braços
cruzados vendo-a se casar com outro e ser feliz depois de bagunçar tudo
para mim.
—Relaxa isso não vai acontecer.
—Pensei que você ia ficar feliz com a notícia —por que eu ficaria feliz com
algo desse tipo? Ela era a minha esposa e ninguém faria nada para que isso
fosse diferente. Não ia permitir que isso fosse bagunçado, que ela se
tornasse a coitadinha e eu o vilão, meu pai ia ficar irritado, meu pai me
culparia e eu nada podia fazer porque tinha sido minha culpa.
—Isso não vai acontecer —encarei o homem que observava os armamentos
comigo. Um dos poucos homens que eu confiava cem por cento e ele me
deu muitos motivos para isso.
Desliguei o telefone focando e tentando organizar melhor meus planos,
seria um risco que sinceramente eu estava mais do que disposto a correr.
—Não me envolva nas suas confusões —ignorei ele, no fundo eu tinha
certeza de que ele faria o que eu precisava.
—Preciso que você providencie um ataque russo de preferência com essas
armas.
Ele puxou um cigarro fedorento acendendo, toda vez que estava nervoso era
a mesma coisa eu já estava tão acostumado que nem mesmo me importava
como tinha acontecido vez ou outra no passado.
—Contra quem? —Essa era a melhor parte de trabalhar com ele,
dificilmente ficava me fazendo perguntas idiotas.
—Meu sogro, se possível mande matar ele e a puta que ele chama de esposa
vai facilitar muito minha vida, principalmente em relação a Francesca que
ficaria sozinha. Ela não tinha amigas além da madrasta e sem o conforto
que o pai provocava seria tudo muito mais fácil e eu conseguiria manter ela
com muito mais conforto do que antes.
—Você sabe que eu não mato mulheres e muito menos crianças e não
mando matá-los. Posso garantir o seu sogro, mas nada além disso. —O que
ele fazia com esse sentimento idiota? Eu realmente não entendia como ele
podia se sentir culpado por especificamente esses dois pontos. Não matar
mulheres e crianças com certeza não o levaria ao céu, não depois de tudo
que fizemos.
—Vai ser o suficiente por enquanto, depois eu dou um jeito na Elena.
Talvez eu nem precise matá-la se colaborar comigo —divaguei.
Sem o Salvatore tudo iria ficar muito mais fácil, eu poderia manipular ela e
inclusive usá-la para fazer sua enteada colaborar da forma que eu precisava.
Fazer qualquer coisa com a Francesca seria desafiador por causa do meu
pai, mas com a maldita puta que o Salvador comprou seria mais fácil,
ninguém se importaria com ela e conhecendo minha esposa como eu
conhecia podia apostar que ela não teria problema nenhum em se matar
para garantir que a madrasta fosse bem cuidada.
—Mas eu preciso que o Salvador seja morto e que realmente pareça um
atentado russo. Melhor ainda faça parecer que vocês estão interessados na
Elena como se quisessem levá-la e heroicamente o Salvador vai dar a vida
pela esposa.
Não era difícil prever seu comportamento idiota. Ele era mais previsível do
que podia imaginar.
—Quando?
—Amanhã. —Precisava ser antes que o conselho se reunisse.
—Como que vamos saber que ele estará com a esposa amanhã? Esse seu
plano é falho demais Domenico, muitas pontas soltas.
Não, não era.
—Amanhã ele vai se reunir com o conselho, essas reuniões sempre
acontecessem na casa do meu pai, mas é uma maldita reunião secreta então
não tem como eu saber disso. Por esse motivo eu vou exigir ter um almoço
com a minha esposa que está fugindo de mim e para que ela fique
confortável iriei propor que seja na casa do meu pai com a presença da
minha mãe, ela não terá como negar e conhecendo sua madrasta eu posso
imaginar que ela vá querer vir junto. Estarão todos juntos a caminho da
minha casa, isso vai facilitar o processo, vocês podem escolher uma das
duas para transformar em alvo e eu tenho absoluta certeza do
comportamento que o Salvador terá.
—E como isso me coloca perto das coisas que você prometeu?
—Eu ainda não sou o maldito chefe então eu não posso cumprir nada que
prometi Aleksandr e pare de me cobrar, sabe que eu sou grato a você, mas
não vou admitir que fique me pressionando até porque sabe como reajo a
pressões. —Odiava ter que ameaçá-lo, mas vez ou outra isso era necessário.
Eu não podia dar a ele o comando de um continente que nem nos pertencia
ainda, mas quando acontecesse eu não hesitaria, ele era o melhor para fazer
aquilo.
—Mas se você garantir que isso pareça um ataque russo eu prometo a você
que será um passo grande em direção ao nosso objetivo, meu pai e o
Salvador são amigos íntimos, além de que são primos, somos família e eu
não tenho dúvidas de que o meu pai vai querer se vingar será nossa porta de
entrada para o território russo. Levará tempo até que tenhamos algo
realmente sólido e quando acontecer eu já serei o capo e você tem minha
palavra.
Ele assentiu olhando nos meus olhos.
—Eu confio em você.
—Mas eu preciso que o maldito Salvador saia de cena antes que ele consiga
me atrapalhar.
—Pode considerar feito, mas precisaremos de uma grande remessa de
dinheiro, não posso enfrentar a segurança de um dos membros do conselho
sozinho e você sabe que isso custará caro.
—Dinheiro não será um problema.
[...]
—Mãe eu queria convidar a Francesca para passar o dia comigo amanhã,
mas temo que ela não queira vir se for só eu —fingi algum tipo de
constrangimento que eu não sentia. —Posso chamar ela para um almoço
aqui, —Percebi a negativa que viria antes de que falasse qualquer coisa e
me antecipei. —Já faz quase uma semana que eu não a vejo e quero tentar
me aproximar dela e sei que ela estará confortável com a sua presença e a
da Letizia, por favor?
Eu sabia que ela não me negaria, por isso tinha ido diretamente a ela, ao
invés de usar meu pai. O sentimentalismo tornava minha mãe muito mais
manipulável.
—Ok, pedirei seu pai para intermediar esse convite, mas se comporte
Domenico não a ameace novamente, não importa que ele é sua esposa, você
não irá arrastar ela de volta para casa se ela não quiser.
Abaixei a cabeça como se estivesse me sentindo culpado.
—Eu só fiquei nervoso prometo que não farei mais isso. —Não aguentaria
mais nenhuma palavra sobre aquilo.
Levantei-me sobre o olhar atento da minha mãe sabendo que estava
cometendo um erro, mas precisava falar com o Aleksandr garantir que
estava tudo certo.
Ele já tinha conseguido os homens que fariam parte do atentado e inclusive
tinha colocado um vigiando a propriedade do Salvatore, felizmente ele tinha
se mudado depois da morte da esposa e chegar até ali em casa representava
um trajeto único seria fácil criar uma emboscada.
—Aonde você vai? —a crítica era nítida, ninguém ali em casa gostava da
Lara. Eu sabia que precisava tirar ela de jogada por um tempo para ganhar
alguns pontos com a minha família. Apenas diminuir meu contato com ela
não estava dando certo.
—Encomendar flores para a Francesca amanhã e comprar um presente para
ela.
O sorriso no rosto da minha mãe demonstrava todo o orgulho que ela estava
sentindo naquele momento.
—Eu acho que ela vai gostar? —Fingi uma insegurança que eu não sentia.
—Claro que vai, faça isso e traga também doces para ela a Carmella sempre
disse o quanto a Francesca gosta de chocolates.
Sorri assentindo, minha mãe tinha facilitado muito minha vida. Flores e
chocolates era o presente mais clichê do mundo e seria o que minha esposa
teria inclusive ela podia usar as flores que eu compraria para o funeral do
pai dela.
Capítulo 15
Francesca
Olhei mais uma vez para o vestido que eu usava sentindo. Odiava a ideia de
passar a tarde com o Domenico, de almoçar com ele. Mas meu pai tinha
aceitado a ideia do Salvatore e ali estava eu vestida para um compromisso
que eu não queria ir.
Ao menos a Marie e a Letizia estariam lá e elas tornariam o dia mais
confortável e a Elena que me deixaria preocupada, o papai devia ter
mandado ela ficar em casa, se ele estaria em uma reunião do conselho ele
não estaria por perto para garantir que ela manteria seu temperamento e se o
Domenico fizesse algo para machucá-la eu não iria conseguir me perdoar.
—Filha fique tranquila hoje provavelmente essa história termina. —Depois
de todo aquele tempo eu não consegui entender por que o Domenico não
tinha dito nada, porque o meu pai que teria que expor aquela história. Era
óbvio para mim que eu teria a anulação assim que o Domenico descobrisse
que eu não poderia dar um herdeiro a ele. Mas não foi o que aconteceu, nos
dias que se passaram eu não tive nenhuma notícia e a preocupação do meu
pai me fez contar a ele o que o médico tinha dito. Ele também não entendia
por que o Domenico não tinha dito nada ao pai e muito menos ao conselho
então meu pai faria isso, meu pai apresentaria minha incapacidade e eu
conseguiria me livrar do Domenico.
Hoje seria o último dia que eu precisaria lidar com tudo aquilo, então eu só
precisava ser forte e aguentar socializar por um único dia e tudo se
resolveria. Mas um único dia.
—Eu preciso mesmo ir? —Queria continuar em casa, deitada na minha
cama e esquecendo de tudo como eu vinha fazendo.
—Precisa, pense nisso como um convite da Marie e não do Domenico. Ela
é uma boa pessoa e eu a farei prometer que não deixava você sozinha com
ele.
—Eu não tenho medo do Domenico —a veracidade daquela informação
ainda me assustava. Mas eu não conseguia sentir medo do Domenico, não
quando ele já tinha me tirado tudo que era importante. O que de mais ele
podia fazer? Me bater? Ele já tinha feito isso e eu sobrevivi. Me matar? Eu
já não sentia que estava viva mesmo. Nem mesmo suas ameaças
significavam nada.
—Minha garotinha corajosa —me abraçou deixando um beijo na minha
testa.
Toda minha vontade naquele momento era chorar, chorar até que tudo
sumisse e eu me sentisse ao menos um pouquinho como eu novamente.
—Iremos em carros diferentes para não comprometermos nossa segurança
você e a Elena irão com sua equipe e eu vou em outro carro. —Informou e
eu balancei a cabeça negando, não daria conta de ficar sozinha com a elena
enquanto já estava nervosa demais. Ela iria apenas me deixar mais ansiosa.
—Vá você com a Elena e convença ela a não ficar discutindo com o
Domenico, já será estressante demais hoje para que eu tenha que ficar me
preocupando também com ela.
Ele sorriu de um jeito que indicava o óbvio, ele estava apenas tentando me
deixar confortável e eu sinceramente não tinha certeza se qualquer coisa no
dia de hoje seria capaz de algo assim.
[..]
Sorri timidamente para o Davide enquanto entrava no carro. Eu ainda tinha
medo do que iria acontecer com ele, de qualquer maneira ele tinha
descumprido ordens, agido por conta própria e eu sabia que isso tinha
consequências graves. Consequências que até agora não tinham acontecido
porque ele estava ali comigo, cuidando de mim na casa do meu pai onde o
Domenico não o alcançava ainda. Quando eu deixasse de ser esposa eu
perderia a segurança que o Domenico tinha designado para mim e o Davide
teria que voltar para o Domenico, apenas eu estaria livre e era inevitável o
medo do que o meu marido pudesse fazer com o homem que era
inteiramente gentil comigo.
—Eu fico triste que você tenha que estar voltando para ele.
—Não se preocupe comigo você já fez muito mais do que deveria.
—Mas eu me preocupo, me preocupo muito.
Ele bateu à porta assim que outro segurança se aproximou tomando a
direção do carro. Meu pai e a Elena já saiam no carro da frente.
[...]
—Estamos sendo seguidos —a frase vinda do segurança que eu não
conhecia fez todos os pelos do meu corpo se arrepiarem.
Em segundos já tinha um telefone na viva voz conectando-nos ao carro que
ia na frente.
“Passe na frente e independente do que aconteça leve a Francesca para a
casa do Salvatore, não pare por nada.” A ordem do meu pai me fez avançar
em direção ao telefone no mesmo segundo em que o motorista do nosso
carro acelerava e ultrapassava o meu pai ficando na frente.
Olhei pelo retrovisor tentando ver o que eles tinham conseguido ver, mas
nada. Eu só via o carro do papai atrás.
—Papai o que está acontecendo?
—Não se preocupe filha eu estou logo atrás de você.
Assenti e o Davide pegou o telefone da minha mão encerrando a ligação.
Eu olhava para todos os lados, principalmente para o carro onde eu pai e a
Elena estavam.
—Fique tranquila Francesca ninguém por aqui é doido de atentar contra o
seu pai. De repente é só um equívoco, excesso de proteção.
O olhar que ele trocou com o segurança indicava que não, nenhum deles ali
acreditavam que era realmente isso.
—Estamos cercados.
Apertei a mão uma na outra assim que entendi o que isso significava.
—Coloque o cinto Francesca —obedeci a ordem do Davide e no segundo
em que estava devidamente presa o carro girou invadindo o acostamento e a
parte verde que cercava a pista. A velocidade duplicou enquanto as árvores
perto demais passavam por nós.
Voltamos a pista no segundo exato em que uma explosão nos alcançou
fazendo o carro girar. Fechei os olhos apertando os dedos contra o estofado.
O medo preenchia minhas veias trazendo lágrimas aos meus olhos. O carro
colidiu e eu abri os olhos para me arrepender em seguida quando percebia o
carro girando no ar, estávamos capotando.
Eu queria virar o rosto, queria encontrar o carro do papai, ter certeza de que
ele e a Elena estavam bem. Mas tudo tinha rapidamente se tornado um
borrão.
O movimento parou e eu me permiti abrir os olhos tentando entender
qualquer coisa. Sentia uma dor forte na cabeça e um enjoo.
—Davide —chamei, minha voz estava fraca e eu não conseguia manter os
olhos abertos por muito tempo.
Tentei mexer meu corpo, mas sentia tudo doer.
Eu conseguia ouvir tiros próximos a nós, o crepitar do fogo também, não
tinha certeza se era o nosso carro, mas o cheiro de fumaça já nos alcançava
e tornava difícil respirar.
—Ajuda —gritei quando percebi o rosto do motorista ensanguentado. Não
era só resquício do acidente, ele tinha sido baleado na cabeça, talvez por
isso nosso carro tenha capotado.
—Davide acho que nosso carro está pegando fogo —disse o óbvio para o
homem que eu não conseguia ter certeza se estava vivo, eu estava sentada
atrás dele, o cinto pendia meu corpo no banco, o carro estava de cabeça
para baixo e eu já sentia a dor pelo aperto do cinto contra o meu corpo.
Minha cabeça girava por está pendurada de cabeça para baixo. Eu não
conseguia me segurar.
Forcei a trava do cinto tentando me soltar, mas estava presa.
—Papai —gritei. Eu estava sendo idiota, ele provavelmente estava sendo
atacado também.
Os tiros do lado de fora me fizeram me encolher contra o banco me
entregando a tontura que eu sentia e fechando os olhos iniciando uma prece,
não por mim, mas pelo meu pai e pela Elena. Só queria que eles estivessem
bem. Eu aceitaria qualquer coisa, permaneceria casada com o Domenico,
ignoraria todo o resto se meus pais estivessem bem. A promessa saiu sem
que eu precisasse pensar muito sobre ela.
O soluço sacudiu meu corpo.
—Ela está viva —abri os olhos e girei a cabeça em direção ao desconhecido
que estava próximo ao carro. O singular da sua frase fez o desespero tomar
conta de mim. Não, não, não. Deus não podia ser tão cruel assim comigo,
depois de tudo que eu já tinha sofrido? Isso não era justo, sempre fiz tudo
certo, eu ia a igreja, eu respeitava os mandamentos, eu era uma boa filha...
Solucei quando senti a mão dele no meu corpo.
O grito escapou da minha garganta enquanto eu sentia tudo ruir.
Disse algo em um idioma que eu não entendia, mas a conotação indicava
que ele estava irritado. Me sacudiu fazendo-me encolher contra o banco
enquanto ele continuava tentando soltar meu cinto.
Eu conseguia ver a bota de um outro homem, um novo diálogo começou
entre eles no idioma desconhecido. Antes que o segundo homem se
abaixasse próximo onde estava o Davide. Ele era incrivelmente alto, forte e
careca, provavelmente o maior homem que eu já tinha visto na vida.
Enfiou a mão no carro e puxou o meu cinto com força.
—Melhor a deixarmos aí. O cinto está preso, levaremos muito tempo para
tirar ela daí e o carro já está pegando fogo. Se o reforço deles chegar e
estivermos aqui nenhum de nós sairá vivo, não vale a pena Iuri. —Dessa
vez falaram em inglês e eu conseguia entender o que dizia.
O outro assentiu e eles se afastaram de mim.
Me encolhi sentindo um alívio. Aquele era o meu fim. Eu morreria
queimada e se o meu pai e a Elena tinham morrido eu não tinha motivos
para querer estar viva.
Fechei os olhos aceitando aquilo. Internamente agradecendo por ser assim,
seria mais fácil do que viver em um mundo onde eles não existiam. Eu não
tinha mais nada.
[...]
—Domenico não —o grito conhecido me fez abrir os olhos, não fazia noção
do tempo que tinha se passado, me sentia tonta como se tivesse acabado de
acordar.
A fumaça nublava minha visão, mas eu ainda estava dentro do carro. Não
era um maldito pesadelo, ainda estava presa e o carro parecia realmente em
chamas agora. O calor trazia gotículas de suor ao meu corpo.
—O carro vai explodir Domenico pelo amor de Deus. —Era o Salvatore,
sua voz era tomada por uma emoção que eu não conseguia decifrar.
—Ei —Senti o toque no meu rosto e girei o pescoço em sua direção. Ele
parecia irritado, muito irritado. Isso fez com que eu me encolhesse contra o
estofado com medo do que ele pudesse fazer.
—Pressione a trava do cinto —sua ordem fez com que eu reagisse
entendendo que o carro estava queimando, se ele não me soltasse dali eu
realmente morreria queimada, isso devia doer. —Francesca rápido —seu
grito me fez levar as mãos a trava, mas nada acontecia.
—Está preso, eles iam me levar, mas não conseguiram me soltar —solucei,
o desespero me deixava imóvel. Não sabia o que fazer, meus pensamentos
se misturavam em uma bagunça entre aceitar e desejar a morte e o medo de
como seria se eu morresse daquele jeito, se eu morresse queimada.
—Fodasse essa merda.
Ele se afastou e eu me permitir chorar mais enquanto entendia que era meu
fim, eu ia morrer ali, sozinha e queimando.
Fechei os olhos desejando apagar novamente, desejando que aquilo
acontecesse quando eu não tivesse mais consciente para sentir a dor.
—Que droga Francesca —abri os olhos percebendo que ele tinha entrado no
carro pela outra janela e estava ao meu lado, ele tinha entrado na droga do
carro em chamas. Ele só podia estar ficando doido.
—O que você está fazendo aqui? O carro está pegando fogo.
—Seja menos óbvia Francesca —ele seguia irritado. —Vou cortar o cinto.
Apoie o peso do seu corpo nos braços.
Ele moveu minhas mãos me fazendo apoiar as mãos espalmadas no teto do
carro. Não sentia confiança de que eu conseguiria me segurar daquele jeito.
Passou o ombro de um jeito que ele fazia força para que meu corpo parasse
de pressionar o cinto enquanto ele tinha uma de suas lâminas na mão livre.
A lâmina era tão afiada que ele conseguiu cortar o cinto em algumas
passadas, mas como eu previa não consegui segurar meu peso e cai sobre o
ombro dele fazendo-o xingar um palavrão.
—Desculpa —implorei tentando encontrar uma posição confortável que
não fosse em cima dele.
O jeito que eu tinha caído era óbvio que tinha machucado o ombro dele.
—Pare de pedir desculpas —me sacudiu e antes que eu pudesse me afastar
dele segurou minha mão e se arrastou para fora do carro me levando junto
sendo o Domenico de sempre e nem um pouco cuidadoso.
—Você está me machucando —me afastei dele quando ele me colocou de
pé já do lado de fora do carro.
—Eu estou salvando sua vida —gritou segurando meu braço e me puxando
para longe do carro que já tinha a parte da frente inteira coberta por chamas.
Tropecei para longe enquanto ele me arrastava cada vez para mais longe do
carro.
Quando estávamos perto do seu pai que tinha uma expressão indecifrável eu
puxe meu braço do seu.
—Que merda você pensa que está fazendo moleque? —Meu sogro bufava
encarando o filho e eu não conseguia me importar o suficiente para prestar
atenção enquanto olhava ao redor procurando o meu pai.
—Agora não pai, deixe o esporro para outra hora. —Ele parou na minha
frente, sua altura tampando completamente minha visão.
Tocou minha testa com cuidado que não pertencia a ele.
—Cadê o meu pai e a Elena? —perguntei me afastando dele olhando a
destruição ao redor. Meus olhos acharam onde estava o carro dele. No meio
da pista, eu conseguia ver as marcas de tiro por toda a parte e antes que o
Domenico conseguisse me segurar eu corri em direção ao carro, ignorei
meu nome sendo chamado e corri o mais rápido que eu conseguia.
Dei a volta no carro e parei quando vi meu pai sentando no chão, a porta do
carro estava aberta.
Me ajoelhei me aproximando dele.
—Papai —solucei percebendo o buraco na sua barriga, assim como em seu
ombro e perna.
Ele tinha sido baleado.
—Socorro Domenico? —gritei, meu pai precisava de ajuda, ele precisava ir
a um hospital. Urgentemente.
—O que você está fazendo aqui bambina?
Eu me aproximei dele ainda mais querendo saber o que fazer até que o
socorro chegasse.
Minha atenção foi atraída para dentro do carro, o grito escapou dos meus
lábios enquanto eu via a Elena deitada no banco, no meio da sua testa um
tiro.
—Papai a Elena...
Senti as mãos pegajosas do meu pai no meu rosto forçando que eu olhasse
para ele.
—Ela me pediu para dizer a você que te amava muito e que era para você
continuar sendo a menina forte e corajosa de sempre. —Ele tocou meu rosto
e seus olhos fecharam me fazendo ficar ainda mais desesperada.
—Papai eu...
Se tornou óbvio enquanto meu pai se mexeu porque o socorro não estava ali
ainda e porque ele não chegaria. As costas do meu pai tinham muitos tiros,
muitos buracos de bala, sangue vazava de cada um deles, alguns escorriam,
outros em jatos. Meu pai estava morrendo.
—Eu amo você bambina, —se engasgou e cuspiu sangue —sei que falhei e
que algumas vezes eu fui rude demais com você, mas saiba que eu a amo
mais que tudo e que tudo que fiz foi porque eu queria seu melhor.
—Nunca duvidei disso papai.
Abracei ele o mais apertado que eu consegui.
Meu mundo estava ruindo naquele instante.
—Vitoria filha —ele me apertou de volta e o choro se tornou mais intenso.
—Eu sinto tanto pelo que aconteceu, se eu tivesse a capacidade de voltar no
tempo eu jamais teria deixado o Salvatore fazer o que fez com você, eu teria
ficado mais atento, eu teria entrado na frente daquela bala, minha garotinha
não chora se algo do que você disse foi verdade você pelo menos foi feliz
antes de morrer.
Eu não conseguia ouvir aquilo.
—Ei pai sou eu a Francesca.
Os pecados de um homem o confrontam sempre na hora da morte e eu não
queria testemunhar aquilo, era demais para mim.
—Você também está aqui querida? —Ele sorriu para mim de olhos
fechados, não adiantaria tentar trazer ele para a realidade.
—Estou papai —solucei.
—Lembre ao Salvatore a promessa que ele fez a mim. Ele vai cuidar de
você filha.
Como ele podia estar se preocupando com isso naquele momento.
—Não esqueça nunca que eu te amo.
[...]
Capítulo 16
Lara
Encarei a casa que eu tinha morado durante todos esses meses, era o mais
perto que qualquer um deles já tinham chegado daquela área e eu estava
abandonando tudo porque estava sendo egoísta e não conseguia fazer o que
se era esperado de mim. Não era a primeira mulher que tinha cometido o
erro de engravidar durante uma missão e eu simplesmente precisava abortar,
algo que tantas outras já fizeram e seguir na missão que mudaria a minha
carreira, mas eu me despedindo de tudo.
—Lara isso é arriscado.
Claro que era, mas eu precisava disso, precisava olhar para tudo e
considerar pela última vez, só assim eu conseguiria partir sem o peso da
dúvida sobre os meus ombros. Até porque seria definitivo.
Peguei a máquina fotográfica capturando a fachada da casa pela última vez.
Seria a memória que eu levaria, a única, todo o resto ficaria, porque era
assim que um sequestro ocorria e era isso que eu estava desempenhando,
era esse papel.
—Podemos ir —minha voz demonstrou tudo que eu sentia, não seria difícil
para ela que me conhecia tão bem perceber que eu não estava nem um
pouco convicta da decisão que eu estava tomando.
—Por que não começamos essa nova vida com você sendo sincera consigo
mesma e assim se precavendo de surpresas no futuro? —Encarei ela sem
entender o que estava dizendo.
Acelerou pela pista naquela noite escura enquanto eu me afastava de tudo,
de tudo que durante muito tempo foi minha zona de conforto, meu porto
seguro e onde eu me sentia bem.
—Do que você está falando?
—De você ter se apaixonado pelo Domenico Salvatore e que é por isso que
você não tem coragem de fazer um aborto e por isso também que eu acho
muito difícil que você vá realmente dar essa criança.
Eu apaixonada? Eu apaixonada pelo Domenico? Ela só podia estar louca.
—Eu vou deixar essa criança em um orfanato Thyra não tenha dúvidas
disso, só não quero me tornar uma assassina de bebês. —Coloquei a mão no
ventre sentindo o chute tímido contra a palma da minha mão e sorri para o
bebezinho que se desenvolvia dentro de mim.
Eu já sabia, no fundo do meu ser que ele era um menino, mas tive a
confirmação a alguns dias atrás, o que tornava tudo ainda pior. Eu não podia
correr o risco de ficar com aquela criança, a ameaça do Guiseppe Salvatore
ainda me aterrorizava e vendo o que o Domenico era capaz de fazer para
conseguir o poder eu não duvidava nada de que ele poderia fazer algo assim
com o nosso filho se o pai ordenasse.
—As coisas ficaram confusas com o Domenico pelo tempo que passei
infiltrada, mas eu sei diferenciar uma missão dos meus sentimentos reais. A
missão acabou e tudo que eu sentia por ele também.
Ela gargalhou e eu revirei os olhos sabendo que seria uma longa viagem de
carro com ela.
—Lara, Lara... Você nem mesma consegue se convencer disso e muito
menos me convencer. Mas tudo bem eu estarei por perto para vê-la
quebrando a cara quando perceber a verdade.
E me infernizaria para sempre com isso.
—Esse plano vai dar certo? —Eu gostava mais da minha versão, porém ela
não queria arriscar, minha gravidez estava muito avançada para que eu
usasse algo que iria diminuir drasticamente meus batimentos cardíacos.
Uma fórmula que só tinha sido testada em outros dois humanos que tinham
porte físico muito melhores do que eu estando grávida, então ela tinha
criado outro plano um que contaria com os planos do Domenico para matar
Salvador D’Arco e aqui estávamos.
Usar o plano dele para colocar toda a culpa nos russos, culpa de matar o
líder do conselho e culpa por me sequestrar e me devolver meu corpo de
uma forma que só poderia ser identificado através de DNA que facilmente
ela conseguiria manipular invadindo os sistemas que precisava.
Então era um plano muito mais arriscado de ser descoberto, porém um que
era mais seguro para mim e para o bebê na minha barriga.
—Pare de pensar em tudo que pode dar errado e durma um pouco Lara,
daqui a pouco você assume o volante. Sabe que nesse começo precisamos
ficar nos movendo para o caso de ter alguém atrás da gente. —Ela iria me
acompanhar, tinha solicitado um tempo afastada das suas funções e podia
trabalhar de longe.
Mesmo que eu tenha garantido a ela que não precisava de companhia e que
podia me virar sozinha nesses meses que eu passaria sozinha era bom ter a
companhia dela mesmo que fosse apenas por esses dias iniciais.
—Não posso colocar uma grávida para dirigir se ela estiver com sono.
—Ele está se mexendo muito eu não consigo dormir enquanto ele não
sossegar.
Eu tinha lido que o sono era um dos sintomas da gravidez e nos primeiros
meses isso realmente aconteceu, mas agora eu não me sentia mais assim.
Na verdade esse bebezinho estava me tirando o sono.
—Será uma péssima mãe se deixar ele fazer tudo o que quiser.
Sorri com a imagem que ela pintava. Eu seria uma péssima mãe de qualquer
jeito, não tinha nada que eu pudesse fazer que evitaria isso, por isso o
melhor seria doar aquela criança para alguém que a quisesse, alguém que
saberia lidar com ele, que o educaria para ser alguém decente, que o
afastaria da vida que eu levava e principalmente da vida que o pai dele
levava, alguém que tivesse nascido para ser mãe. O que com certeza não
tinha sido o que eu nasci para fazer.
—Ele já é o herdeiro da máfia, não o mime mais do que isso —suas
palavras adentraram meu sistema enquanto eu sentia a leve taquicardia
enquanto eu considerava suas palavras. Meu filho não era herdeiro de nada
e nem nunca seria se dependesse de mim.
—Por favor não fale mais isso. Ele não é herdeiro de nada.
Ela me olhou e seus olhos indicava o óbvio. Ele era o herdeiro eu querendo
ou não e escolher não o abortar apenas definia isso ainda mais, ele era o
primeiro filho e era homem. Bastardo ou não.
“Esqueça isso” pensei acalentando a minha barriga, não sabia até onde meu
bebê era capaz de ouvir de entender as coisas que eu dizia e o quanto isso o
marcaria, mas se dependesse de mim, ninguém nunca mais usaria aquela
palavra para defini-lo. “Você não é um bastardo e a mamãe vai cuidar de
você e garantir que você nunca se sinta rejeitado”.
Capítulo 17
Domenico
Eu segurava o corpo dela quase que inteiramente sustentando seu corpo
enquanto seu pai e sua madrasta eram enterrados. O grito dela tinha tanta
dor que eu não consegui deixar de me emocionar junto. Eu já tinha
torturado muitas pessoas, feito muitos gritar de dor e nada nunca chegou
perto daquilo.
—Eu sinto muito Francesca —minhas palavras saíram sem que eu
conseguisse pensar sobre elas.
Se o Salvatore tivesse me dado escolha, se ele não tivesse se envolvido em
algo que não lhe dizia respeito, me deixado em paz com a minha esposa
nada disso teria acontecido.
Eu ainda não tinha conseguido me afastar da Francesca ela estava em um
estado que estimava todos os cuidados e meu pai me mataria se eu ousasse
deixá-la sozinha e agora que eu tinha dado minha cartada de mestre e me
transformado no maldito herói. Ter entrado naquele carro em chamas foi
algo que eu não calculei bem os riscos, algo que eu fiz por puro impulso,
mas não podia deixá-la morrer queimada. Se eu tivesse pensado conseguiria
reconhecer que eu tinha sido magnifico na escolha de ação, se eu ficasse lá
parado vendo-a queimar eu seria visto como um maldito covarde agora
todos me olhavam como o maldito herói que tinha salvado minha princesa e
eu não iria correr o risco de perder isso e se eu precisava passar minhas
fodidas noites sentando em uma cadeira nada confortável vigiando seu
estado de inercia eu faria até que ela tivesse bem.
Segurei ela com mais firmeza sentindo meus músculos protestarem, não era
tão leve como parecia quando eu estava a quase quarenta minutos
segurando-a enquanto toda cerimonia acontecia. Minha mãe tinha vestido
ela com um vestido preto que não combinava em nada como seu tom de
pele e seu cabelo. Pela primeira vez ela não era a princesinha perfeita que
eu estava acostumado. Os cabelos estavam bagunçados, o rosto sem
maquiagem, olheiras fundas, a pele parecia seca.
Minha mãe se aproximou de nós trazendo um lenço e enxugando os olhos
dela que não reagia, era como se minha mãe não tivesse ali, como se não
tivesse nada só o lugar onde a terra era jogada sobre o seu pai.
—Vou pedir para trazerem uma cadeira para ela —trocou um olhar comigo
como se esperasse minha autorização.
Estava sendo muito difícil segurar ela com um braço só, mas eu jamais
confessaria isso.
—Deixe-a mãe, assim que isso terminar vou levar ela para casa. Ela se
acidentou, quase morreu e está enterrando o pai e a madrasta ela não quer
permanecer aqui fazendo sala. —Agora com o Salvador fora da jogada o
que seria feito era política pura, o próximo líder do conselho teria que ser
definido e uma cadeira ficava vaga. Se a Letizia estivesse casada a escolha
seria óbvia, mas nem para isso ela servia então muitas peças teriam que ser
movidas e eu precisava me mover também. Meus olhos foram para o Caius
do outro lado do salão, ele precisava ganhar essa e tornar minha vida mais
fácil.
[...]
—Mãe você pode cuidar da Francesca eu preciso fazer uma coisa? —Não
aguentava mais ficar naquele quarto, ela não se mexia para nada. Eu estava
começando a me preocupar que ela realmente tivesse se ferido
definitivamente naquele maldito acidente e que aquele seria seu normal
para sempre, por mais que minha mãe e os médicos que a atenderam me
garantiram que ela iria retornar a si assim que a dor que sentia suavizasse o
que parecia que nunca iria acontecer.
—Onde você vai Domenico? —Seu tom de voz me desagradou. Ela não
podia falar assim comigo, independente se eu tivesse saído de sua boceta.
—Resolver algumas coisas —precisava resolver muitas coisas,
principalmente com o Caius e o Aleksandr e precisava entender quem eram
os cotados para a cadeira vaga, precisava ver quem me traria vantagem
estando lá.
—Algumas coisas com a piranha da Lara?
Lembrei de tudo que eu tinha feito para chegar naquele ponto onde eu
estava, sobre o quão perto eu estava para deixar tudo ir para o ralo. Sorri
para ela simulando um sentimento que eu não tinha.
—Se você prestasse atenção um pouquinho em mim saberia que faz
semanas que eu não vejo a Lara e saberia que nesse momento eu tenho
problemas muito mais graves do que ir me encontrar com a minha amante.
Ela suavizou sua postura, era óbvio que ela estava se sentindo culpada pelo
que tinha dito.
—Desculpa filho —parecia muito constrangida. —Aonde você vai?
—Resolver algumas coisas.
—Que coisas? —Porque eu estava deixando-a me atrapalhar quando o
óbvio seria virar as costas e ir aonde eu queria.
—Vou descobrir quem fez essa merda e vou me vingar —não contive o
ódio que eu sentia, deixei-a participar de tudo enquanto percebia o quanto
irritado eu estava. Realmente iria me vingar do idiota que tinha a deixado
dentro daquele carro para morrer, a droga do meu braço quebrado indicava
perfeitamente o sacrifício que eu tive que fazer para que ela estivesse viva e
bem. Seu peso tinha lesionado o meu fodido ombro.
—Você não vai fazer nada disso Domenico —a ordem do meu pai me fez
virar a cabeça em sua direção odiando que ele estivesse ali, odiando ainda
mais que ele não estivesse fazendo isso, era para ele estar focado na
vingança, mobilizando todos para encontrar e matar o desgraçado do
Maksim.
—Pare de ficar me dando ordens como se eu fosse a merda de um garoto —
gritei perdendo o controle que eu achava ter. —Se eu fosse qualquer outro
você não estaria fazendo nada para me impedir de fazer isso, de buscar
vingança em nome da minha esposa.
—Já passou dá idade de você entender que você não é qualquer outro.
A mesma história de sempre, a mesma história que sinceramente eu não
estava a fim de ouvir.
—Vamos combinar assim então, a partir de agora você me trata da forma
que você trataria qualquer outro.
—Você vai se machucar Domenico —avisou.
—Não eu não vou pai. —Até porque cada maldito passo que eu já dei nessa
vida foi milimetricamente calculado e eu tinha sobrevivido. —E talvez
assim você perceba que eu não sou de porcelana e que não quebro, não tão
fácil assim. Talvez vocês devessem ter tentado ter outro filho. —Eu odiaria
com todas as minhas forças essa ideia, mas eles não precisavam saber
naquele momento. Já tinha sido completamente ruim dividir a atenção com
a Letizia, seria ainda pior se eles tivessem outro filho.
Virei para a minha mãe:
—Se você puder cuidar da Francesca enquanto saio eu irei ser grato, se não
puder tudo bem no estado que está talvez nem perceba que eu saí, volto
antes do dia amanhecer. —Deixei um beijo em sua testa.
Lhes dei as costas descendo as escadas correndo. Eu iria achar o desgraçado
do Maksim, mas não agora. Agora minhas prioridades eram outras.
[...]
—Precisava fazer tudo isso? —Encarei todos mortos ao meu redor, não,
talvez não, mas eu não conseguia perdoar tão fácil. E Aqueles desgraçados
tinha deixado a Francesca lá para queimar viva. Nem tinham tido a
misericórdia de matá-la com um tiro para poupá-la de ficar consciente
enquanto queimava.
—Precisava, eu não mandei machucar a minha esposa, eu não mandei esses
desgraçados deixarem-na lá para queimar viva. Então eles mereceram. —E
eu queria meu dinheiro de volta.
Voltei meu braço para a tipoia e engoli três comprimidos para dor. Forçar
meu braço deslocado não era a melhor maneira de conseguir que ele
melhorasse.
—Não sabíamos que era o carro dela, ela ficou presa no cinto de segurança
e o reforço estava chegando eles não tiveram tempo de soltar ela então a
deixaram confiando que vocês chegariam a tempo.
Ele se aproximou dos homens mortos no meio do seu galpão. Ele teria a
merda de um longo trabalho para limpar toda aquela bagunça que eu tinha
causado.
—Se eu não estivesse chegado ninguém iria se arriscar a entrar em um carro
em chamas para salvá-la, meu pai depois de prometer ao seu maldito pai
que cuidaria dela estava pronto para atirar nela e poupá-la da dor. Então
fodasse o que eles acharam.
—Eu ouvi algo assim, mas eu achei que os homens do meu pai estavam
exagerando. Você realmente entrou em um carro em chamas por ela? —Sua
expressão indicava o óbvio, assim que ele tivesse sua resposta faria mais
um milhão de perguntas.
—Eu não iria deixar que ela morresse, não assim.
Revirou os olhos antes de gargalhar.
—Você percebe o quão doente você é, não percebe? Até uns dias atrás eu
estava aqui mesmo escutando o quanto você queria matar ela e todos os
planos que você tinha para que isso fosse o mais doloroso possível e quando
finalmente chegou o momento de você deixar ela morrer com dor o
suficiente, porque morrer queimado com certeza é uma das piores formas
de morrer, você apenas a salva?
—Eu matar ela é uma coisa outra pessoa fazer isso é diferente e não me
traria prazer nenhum.
—Doente, doente, doente —cantarolou.
Ele não era muito diferente disso.
—O que aconteceu com não mato mulheres e crianças? —Provoquei de
volta. Não tinha sido difícil descobrir quem tinha matado a Elena, era quase
que uma assinatura para quem sabia ler. O tiro bem no meio dos olhos, seu
jeito preferido de matar, o tipo de tiro que ele nunca errava.
Ele se encolheu quase como se eu tivesse o atingido com um soco na boca
do estomago.
—Ela puxou minha touca, ela me viu, se eu não tivesse feito aquilo ela teria
me reconhecido porque a piranha olhou bem nos meus olhos. Não ia deixá-
la estragar tudo.
—Não se preocupe com isso, ela mereceu e eu realmente fiquei orgulhoso
que você fez o que precisava ser feito. —Se não tivesse feito teríamos
problemas, teríamos muitos problemas.
—Isso não é algo para se orgulhar —resmungou.
Dei de ombros, fomos criados de maneira muito diferente. Ele pela mulher
que ele considerava ser sua mãe em uma cidade qualquer na Rússia e ela
era uma mulher que fazia muita questão de que o filho jamais normalizasse
esse tipo de coisa. Até os dez anos, que foi até quando ele morou com ela,
ele era rechaçado sobre tudo que ser um mafioso significava, matar, roubar,
trair, mentir. Tudo visto e aceito como inconcebíveis a ele ao mesmo tempo
que o exército russo o treinava incansavelmente. Quando veio morar com o
pai simplesmente muita coisa mudou, ser tratado como um intruso bastardo
fez com que deixasse algumas dessas coisas enterradas no passado. Foi
criando regras para que conseguisse fazer o que precisava e conseguir
dormir sem ter a consciência pesada. Obvio que depois do que fez ontem
ele passaria algumas noites sem dormir, mas depois passaria. Não é como se
a Elena pudesse infernizar eternamente a vida dele né?
Antes que eu pudesse seguir no assunto a vibração no meu bolso do meu
celular tocando me fez enfiar a mão no bolso e tirar o aparelho.
Não era uma ligação, mas uma mensagem de um número desconhecido.
Abri e senti meu estomago embrulhar diante da foto que tomava a tela do
meu aparelho.
Eu não precisava de uma confirmação, não enquanto eu tinha uma foto e
todos os erros que eu tinha cometido jogados na minha cara.
Em momento eu me preocupei com a segurança dela, apenas a deixei lá
exposta. Não percebi que meu plano abria a droga de uma brecha para um
ataque real nos nossos pontos fracos e agora a mulher que eu amava estava
nas mãos do meu inimigo, na mão do homem que eu tinha quebrado de um
jeito tão profundo que não tinha volta, eu nem mesmo tinha esperança sobre
a Lara.
—Domenico o que aconteceu? —Fechei os olhos ignorando sua pergunta
estupida e tentando tirar aquela sensação do meu peito, nunca tinha
experimentado nada assim. Os sentimentos eram normalmente algo que eu
imitava, que observando eu sabia o que fazer em cada momento, mas nunca
sentindo de verdade, não com aquela intensidade. Como pessoas normais
viviam assim? Aquilo era paralisante.
—Domenico? —Senti as mãos do Aleksandr nos meus ombros me
sacudindo.
Ele tirou o celular das minhas mãos olhando o que tinha na tela.
Aquela imagem jamais abandonaria minha memória.
Ela estava amarrada, o rosto muito machucado, e as marcas vermelhas e
roxas espalhadas por cada centímetro de pele visível.
—Pronto para se tornar capo? —Eu colocaria fogo na Rússia se precisasse,
mas eu acharia a Lara e quando a tivesse de volta eu a tornaria minha. Nada
mais importava, nem meu pai, nem ser capo e nem mesmo a Francesca, eu
ficaria com ela, ficaria com a Lara e a tornaria minha.
—Não dessa forma. —Ele apertou meus ombros com mais força.
Nossa diferença física era gritante, sempre foi. Ele era puro musculo,
pesando mais de cento e cinquenta quilos era óbvio que ele tinha uma
aparência amedrontadora. O que naquele momento não importava muito, eu
mataria qualquer um que tentasse me impedir.
—Você está ou não comigo? —Aquela era uma pergunta que eu não queria
estar fazendo, que eu não devia estar precisando estar fazendo.
—Sempre, até mesmo quando você aparenta não está raciocinando direito,
porém se vamos fazer isso não dá para sermos só nos dois, somos bons, mas
não o suficiente para tomarmos a Rússia sozinhos. —Isso era óbvio.
—Eu tenho dinheiro guardado é muito e se precisarmos posso conseguir
mais. —Eu tinha certeza de que era mais do que suficiente para
conseguirmos um pequeno exército e teria que ser o suficiente.
—Precisaremos de mais do que o dinheiro possa comprar, precisamos de
homens de confiança, precisamos de soldados leais, precisamos dos
soldados do seu pai.
Ele só podia estar de sacanagem, era óbvio que meu pai nunca concordaria
com isso.
—Você é a pessoa mais manipuladora que eu conheço, se tem alguém nesse
mundo capaz de convencer seu pai a algo esse alguém é você.
—Não tenho tempo para isso, a Lara está sendo torturada nesse exato
momento.
—E você melhor do que ninguém sabe que não vamos chegar a tempo, não
importa o quão cedo sairmos. Você estudou como Maksim funciona, como
ele se comporta, sabe que assim que ele desconfiar que estamos próximos
ele vai matar ela e deixá-la no seu caminho para ter tempo de fugir. Ele está
nos esperando e se formos vamos nos colocar em uma armadilha.
—Eu não posso deixá-lo machucar ela —meu tom de voz era rouco, tudo
que ele dizia fazia sentindo. Eu e ele gastamos boa parte da nossa
adolescência estudando o homem, seus métodos e estilo.
—Ele já machucou, o máximo que você pode oferecer a ela agora é
vingança e uma morte rápida. —Apertou meu ombro como se estivesse me
confortando, como se eu precisasse dessa merda.
Minha cabeça não parava de calcular o que significava escutar o que ele
estava me dizendo, eu conhecia o nosso inimigo a tempo suficiente para
saber que ele tinha razão, não importava o que eu fizesse se ele tinha posto
as mãos nela era tarde. O território dele era grande demais, eu nem saberia
onde procurar e ele não queria nada, além de vingança, nada do eu
oferecesse seria o suficiente para ele me devolver ela com vida.
—Podemos fingir uma invasão e isso deve ser o suficiente para fazer com
que ele a mate e devolva a você para que tenha um enterro pelo menos.
Era o fim, eu tinha tido minha cota de vitória e para isso eu tinha perdido
mais do que eu podia suportar.
—É o melhor, faça isso —o peso dessas palavras parecia romper o meu
peito.
—Convença o seu pai Domenico, você tem total capacidade de manipulá-lo
para isso.
Eu tinha?
[...]
Entrei na casa dos meus pais aproveitando o escuro, eu já tinha deixado o
Aleksandr em casa a muitas horas atrás e passei muito tempo na casa da
Lara, os sinais de invasão era obvieis. Ela lutou para não ser levada e isso
provavelmente prejudicou ainda mais ela. Não queria imaginar o que ela
estaria passando na mão daquele desgraçado, mas as possibilidades não me
abandonavam o suficiente para que eu odiasse a ideia de ser tão criativo em
todas as torturas que eu já tinha feito, de gastar tanto tempo nisso, pensando
sobre isso, estudando as técnicas, estudando anatomia.
Caminhei até o bar pegando a garrafa de uísque e levando aos lábios.
O Aleksandr estava certo o que me restava era aceitar sua morte e buscar
vingança e eu faria isso, eu dizimaria cada maldito descendente daquele
filho da puta e eu o levaria diretamente ao inferno. Se ele achava que o que
fiz com o desgraçado do seu filho foi ruim era porque ele não podia
imaginar o que eu faria com qualquer pessoa que tivesse seu sangue e
aparecesse no meu caminho.
Ele não perdia por esperar.
[...]
Abri os olhos odiando a claridade irritante queimando meus olhos.
Minha cabeça pesava, além da irritante sensação de que tinha alguém
batendo com um martelo em algum lugar ali dentro. Eu não devia ser tão
suscetível a bebida.
Girei na cama e paralisei quando percebi que a Francesca estava ali ao meu
lado, tinha esquecido completamente que ela estava ocupando o meu
quarto, na realidade eu tinha esquecido completamente dela. Nem mesmo a
percebi quando entrei no quarto ontem bêbado o suficiente para me
preocupar se ela já tinha voltado a si ou se precisaria internar ela em um
hospital já que não estava falando, nem se alimentando ou mesmo indo ao
banheiro.
Seus olhos estavam abertos e me encarava sem parecer realmente me ver,
eu não entendia o que era a dor que ela sentia, não tinha certeza se o que eu
experimentei ontem chegava perto de como ela se sentia, mas se fosse eu
entendia o porquê ela estava fugindo da realidade.
—Eu sinto muito Domenico —sua voz era distante, tão baixa que se eu não
tivesse certeza da minha sanidade podia achar que estava imaginando
coisas.
—Pelo que?
—Pela Lara, onde você me contou que ela morreu. —Contei? Não
lembrava dessa merda. Tentei buscar na memória o que eu tinha dito a ela,
mas era tudo uma nevoa confusa que eu não conseguia ultrapassar.
Provavelmente falei pensando que ela estava dormindo ou no seu estado,
não devia ter achado que ela pudesse me ouvir.
—Não entendo por que você sente, pelo que me lembro você a odiava.
Deu de ombros.
—Não odiava ela, eu a invejava. Queria que você me amasse como ama ela,
mas eu entendi que você nunca fará isso.
Eu não sabia o que dizer, não queria mentir para ela.
—Eu sinto muito de verdade, se está doendo em você um pouquinho de
como doí em mim eu lamento muito pela sua perda.
Suas lágrimas grossas escorreram dos olhos claros não me deixando
duvidar de suas palavras.
Toquei seu rosto com carinho afastando os fios de cabelo e me aproximei
até que eu estivesse perto o suficiente para abraçá-la.
—Eu matei os homens que machucaram seu pai —sussurrei como se
confidenciasse um segredo. —Os fiz sentir muita dor antes de morrerem.
Senti seu soluço contra o meu peito enquanto ela chorava copiosamente.
[...]
Capítulo 18
Domenico
Desci para o café assim que a Francesca apagou ainda nos meus braços
depois de passar mais de quarenta minutos chorando. Parecia que saber que
eu tinha matado os homens a fez reagir, já era mais do que ela estava
fazendo antes.
Minha mãe entrou no meu caminho assim que eu passei pela soleira da
porta da cozinha, pelo horário sabia que a mesa não estava mais posta.
Minha mãe tinha regras bem claras sobre o horário das refeições.
—Bom dia.
Ela me abraçou e deixou um beijo no topo da minha cabeça. Não tentei
afastar como de costume porque eu sabia que não adiantaria muito, não até
ela ter o que queria.
—Sei que não tomou café ainda e por essa cara está de ressaca, porém eu
queria que você fosse até seu pai. —Seu pedido era incomum.
—Por quê? —Me afastei dela adentrando na cozinha e pegando uma xícara
e me servindo com o café. Não era dos melhores, não estava forte o
suficiente e nem quente o suficiente, mas teria que servir naquele momento.
—Recebemos uma encomenda hoje, algo grande, está em uma caixa e sem
remetente. Seu pai chamou os especialistas em bomba, mas eu estou com
medo do que possa ser e de como isso pode afetar seu pai.
Me afastei dela quase correndo para o lado de fora aonde obviamente
estaria a encomenda.
Assim que passei pela porta.
Senti meu estomago embrulhar quando percebi a caixa aberta, ali dentro o
corpo sem vida da mulher que eu amava.
Seu corpo inteiro estava coberto de manchas roxas, seus cabelos estavam
curtos, ela estava com uma camisa masculina longa e rasgada.
—Que merda é essa Domenico? —Ignorei meu pai e me aproximei de
mulher encaixada de qualquer jeito dentro da caixa. Me aproximei da caixa
tocando no braço dela que escapava do retângulo de madeira.
Não era justo que ela tivesse aquele fim.
—Domenico? —Meu pai estava mais perto do que antes. Quase grudado
em mim, me surpreendendo completamente que nem tinha percebido que
ele tinha avançado. —Vou perguntar novamente que droga é essa?
Não podia deixar ele de fora, não disso.
—Recebi uma mensagem ontem de um número desconhecido com uma
foto da Lara em um cativeiro, a mensagem em russo que acompanhava
dizia algo sobre o início de uma vingança e deixa bem claro o quem é o
responsável por isso.
Algo ali não estava batendo.
O Aleksandr não tinha tido tempo de fazer nada para que ela já estivesse ali,
para que o maldito Maksim já estivesse deixando-a livre. Era pouco, muito
pouco, para os métodos daquele desgraçado.
—E por que eu estou descobrindo isso só agora? —Meu pai com toda sua
autoridade de chefe gritou me fazendo ignorar o cadáver e me virar para
ele.
—Era tarde quando eu cheguei, você já estava dormindo e eu não queria
acordá-lo por causa disso.
Ele segurou meu colarinho com força o suficiente para que eu sentisse a
privação de ar.
—Não queria me acordar? Que merda você acha que está fazendo
Domenico? Você não tem poder para tomar decisão nenhuma e muito
menos para decidir sobre algo assim sem me consultar. —Claro, eu não
podia ir à esquina sem que o Dom autorizasse.
—E o que merda você podia fazer pela minha amante? Hum? Se fosse
minha esposa já seria complicado o suficiente e nem mesmo com todo o
nosso exército seria o suficiente para garantir que conseguiríamos trazer ela
com vida, você acha que teria alguma chance de resgatá-la sendo a mulher
que eu fodo esporadicamente? Você nem mesmo teria se movido em
direção a isso. Então eu já sabia qual fim ela teria, não fazia sentindo perder
uma noite de sono por algo que não controlamos, tanto que dormi
perfeitamente a noite toda e estou aqui pronto para retalhar, mas para isso
você precisa parar de deixar que esse homem ganhe. Ele matou o líder do
nosso conselho e a esposa dele, dentro do nosso território. Ele matou uma
mulher inocente com um tiro na testa, e esse desgraçado quase matou minha
esposa tudo dentro do nosso território, ele se aproveitou da confusão que
causou para sequestrar uma mulher que era associada a nós, aqui a algumas
ruas da nossa casa.
—Eu já disse que não vamos agir de cabeça quente —me cortou.
Afastou as mãos de mim. As verdades que eu explanava no meio de seus
soldados se não servisse para convencê-lo ao menos servia para dividir seus
homens e seria tudo que eu precisava.
—Então olhe bem para essa mulher dentro da caixa, olhe bem o final que
ela teve e saiba que a próxima pode ser a Francesca, a Letizia ou a mamãe e
a culpa será sua. —Sai dali precisando pensar.
Provavelmente o Aleksandr odiaria a forma que eu fiz tudo. Não foi assim
que ele imaginou que eu manipularia as coisas, mas agora era tarde para
voltar atrás. As palavras já tinham sido ditas e eu não teria como retirá-las.
[...]
—O que o bastardo está fazendo aqui? —Encarei o Frederico pensando
qual seria a consequência de acertar o queixo dele com força o suficiente
para deslocar seu maxilar.
Balancei de leve a cabeça e traguei mais uma vez meu cigarro controlando
toda e qualquer ação. Já tinha ultrapassado a cota, agora era o momento de
agir de cabeça fria.
—Frederico você está muito velho para essas brincadeiras sem sentido,
você sabe bem que ele não é um bastardo é filho de um casamento legitimo
—até porque bastardos não eram aceitos na família.
—Ainda sim, ele é filho de uma porca russa e passou boa parte da vida com
eles —Dei de ombros enquanto o Enrico despejava todo seu veneno.
Sorri quando o Aleksandr se aproximava.
—Deixe-o escutar você falando isso e eu tenho certeza de que você ficará
sem os dentes da boca. Então o pequeno Moretti achará muito engraçado o
pai sem os dentes.
Ele bufou e se afastou irritado. Não tinha comparação, o treinamento que o
Aleksandr recebeu era superior ao nosso, ele ganhava na maioria das coisas,
mas no confronto físico sem armas ele era imbatível. Queria que meu pai
tivesse me poupado menos, queria que ele tivesse pegado pesado como o
maldito Maksim pegava com seus homens, queria que meu pai me
quebrasse tanto que depois os nossos inimigos não tivessem o que quebrar.
—O que eu estou fazendo aqui? —Sua pergunta era inteiramente
direcionada a mim.
—Preciso de ajuda.
Ele olhou para meus dois melhores amigos indicando o óbvio.
—Eles estão com medo —resumi.
—Não é medo —o Enrico se calou quando o Aleksandr olhou em sua
direção com evidente nojo.
—O que eu tenho que fazer? —Por isso o Aleksandr desde sempre estava
comigo, ele não tinha problemas com as coisas.
—Eu quero ver o corpo da Lara, preciso eu mesmo considerar algumas
coisas, porém meu pai a mandou para a equipe médica e eu não fui
autorizado a me aproximar, como agora eles estão em reunião é a chance
que eu preciso para checar.
—Ela morreu Domenico —era quase como se ele pudesse identificar o que
eu pensava a respeito. O jeito que o Frederico olhou indicava o óbvio, ele
estava achando que eu tinha ficado doido.
—Vocês não a conheciam, o Maksim a liberou muito rápido o que não é
normal para ele.
—Ou ele apenas precisava voltar para o seu maldito país antes que seu pai
percebesse que ele estava aqui e fechasse as estradas e começasse uma
caçada animal. —Uma possibilidade.
—Sim, mas a Lara era metida a inteligente, ela pode ter feito alguma coisa,
sua fórmula pode ter funcionado. Quando eu fui a casa dela, estava tudo
revirado, algumas coisas quebradas, mas nenhum sinal dos soros que ela
vinha tentando produzir.
—Se vai te fazer se sentir melhor vamos fazer logo isso que eu não gosto
dessas pessoas. —Olhou em volta com desdém. Seu comportamento não o
ajudava a ser aceito no nosso meio.
—Como se essas pessoas gostassem de você —o Enrico sussurrou e todos
nos decidimos sabiamente ignorar. Uma briga ali dentro de casa não
deixaria meu pai feliz e já tínhamos passado da época de ficar tomando
esporro e sendo castigados em públicos.
—Qual é a minha parte nisso Domenico? —Perguntou, não era difícil
perceber que ele estava perdendo a paciência. O que fazia sentindo. Ele
nunca se sentiu bem-vindo ali.
—Eles dois irão distrair quem importa e eu e você vamos até a Lara.
—Então tecnicamente eu só estou aqui para que você não receba um
esporro sozinho?
Sorri percebendo que ele tinha entendido sua parte rapidamente.
—Sim, mas sei que você não se importa com isso.
—Claro que não eu não tenho medo do papai. —Era óbvia a provocação
com o Enrico.
—Deve ser porque eu sou filho realmente e respeito meu pai —Enrico
rebateu e eu sorri, o confronto deles era o mesmo sempre e nunca deixava
de ter graça.
—Como está a Emma? —A pergunta certeira que sempre servia para
desestabilizar o Enrico. —Porque se eu fizesse tudo que o meu pai manda
ela estaria nesse momento ajoelhada chupando um pau grande não essa
mixaria que você tem entre as pernas.
O Aleksandr e a Emma foram prometidos quando não tinham nem mesmo
nascido, no ventre de suas mães durante uma bebedeira dos pais um acordo
tinha sido selado, depois do que aconteceu com o meu amigo ela passou
para o Enrico não muito antes dos seis anos. Quando o Aleksandr voltou era
óbvio que o primeiro acordo valesse mais do que o segundo, mas meu
amigo foi contra a ideia de casar com uma desconhecida e a Emma e o
Enrico acabaram em um casamento que os dois odiavam e ainda assim ele
não gostava da ideia de que ele tinha sido a segunda opção.
No segundo em que o Enrico ia avançar no Aleksandr eu entrei na frente
deles impedindo o confronto, o rosnado do homem que eu segurava
indicava que o outro seguia provocando nas minhas costas.
—Deixe isso para outro momento, agora eu preciso que vocês sigam o
plano e nos deem o máximo cobertura que conseguirem —indiquei para o
Frederico arrastar o Enrico dali. Algumas pessoas já olhavam e eu não
queria atenção para mim naquele momento.
—Eu devo para de ser seu amigo se você continua apenas me envolvendo
em suas confusões.
Gargalhei tentando dissolver a tensão que eu ainda sentia no ar pelo quase
confronto.
—Qual graça da amizade se não isso?
Ele deu de ombros e bocejou. Era óbvio que depois que o deixei em casa
ele não foi dormir.
—Fez o que durante a noite?
—Sexo. —Me recusei a perguntar, até porque eu já sabia a resposta e não
queria ser cumplice da idiotice que ele estava fazendo desvirtuando logo a
filha de um dos conselheiros e melhor amigo do seu pai, conhecida como
irmã do Frederico que surtaria assim que descobrisse.
Era um sexo consentido, a garota desde sempre quis o meu amigo e o tentou
tanto até conseguir o que queria, porém seria muito difícil explicar isso ao
pai dela e mais difícil ainda explicar ao seu irmão.
—Bora logo fazer isso porque eu quero dormir e mesmo que eu não importe
terei eu escutar o seu pai e depois o meu pai enchendo minha cabeça com
coisas que eu não me importo.
E eu ainda lamentava por ela porque quando ele se cansasse do sexo com a
garota que tinha entregado sua virgindade a ele. E ela seria apenas uma
desonra e vergonha para sua família e não tinha sido por falta de aviso
porque eu, que nem deveria me importar, alertei ela mais vezes do que
devia. Seus planos de casamento e amor eterno com o Aleksandr era uma
fantasia que ela mantinha e que não daria certo muito menos por ela já ter
entregado o prêmio muito antes de qualquer vitória.
[...]
Entrei no ambiente frio e estéril odiando o que o cheiro de álcool e qualquer
outra merda que eles usavam para higienizar o ambiente provocava no meu
nariz.
Me aproximei da mesa onde o corpo da Lara estava sem dar chance para
qualquer outra coisa que não o que eu tinha ido fazer ali.
Não teríamos muito tempo, os médicos tinham acabado de sair e o
Aleksandr amarrou o jovem enfermeiro que os auxiliava e que tinha sido
colocado ali para vigiar ela dentro de um dos quartos desse andar, logo o
médico voltaria e eu não teria uma segunda chance.
Peguei o estetoscópio que estava por ali buscando pelas artérias, eu
conhecia seu plano, conhecia o objetivo que ela mantinha com sua fórmula.
Se desse certo ela estaria viva, mas com os batimentos tão lentos que a faria
ter aquela pele fria e que tornaria muito difícil perceber seus batimentos
cardíacos.
O silêncio do corpo sem vida me buscar por outra artéria, testei todas até ter
o silêncio como resposta. Eu tinha certeza de que ela tinha criado a fórmula,
mas o antidoto eu não fazia ideia, não tinha como saber se tinha dado certo.
Me odiava por não ter prestado mais atenção nas coisas que ela dizia, mas
era fantasioso demais para dar certo, sempre foi. Deixei o estetoscópio cair
no chão quando percebi que aquilo era apenas eu buscando uma saída de
algo que já estava definido.
—Eu sinto muito Lara —ela já não mais me ouvia, era um corpo sem vida.
Me inclinei sobre ela tomando seus lábios para mim mais uma vez. De
perto como eu estava algo não fazia sentindo, o formato dos lábios não
eram os mesmos que eu estava acostumado, o nariz também não eram os da
Lara. Me afastei olhando de longe, querendo encontrar o que eu estava
deixando passar. Examinei o corpo na camisola hospitalar, deslize as mãos
pelos seus braços segurei seu queixo olhando de perto, faltava algo no seu
rosto para que ela fosse a Lara que eu tinha deixado a poucos dias atrás, os
tapas que eu tinha acertado no seu rosto estariam ali mesmo com todos os
novos hematomas. Peguei sua mão olhando sua aliança, um desenho
parecido, mas traçados finos delicados demais para pertencer ao homem
que tinha tatuado a minha mulher, as irregularidades de toda vez que ele
tremia tentando manter a mão firme enquanto tatuava não estavam mais ali.
Puxei sua perna já não sentindo a necessidade de ser tão delicado, não tinha
como ele modificar aquilo e fodasse aquela era a parte dela que eu conhecia
com perfeição.
—Domenico por Deus o que você está fazendo? —Ignorei o Aleksandr
inspecionando sua boceta.
A gargalhada escapou do fundo do meu pulmão enquanto eu percebia o
óbvio.
—Essa não é a Lara —sentenciei.
Os pelos escuros cobrindo sua boceta denunciava o óbvio.
A Lara era naturalmente loira e mantinha sua depilação em dia, do último
dia que eu a tinha visto até hoje era impossível ter crescido tantos pelos
assim.
—Como assim.
—Domenico por Deus esse não é o momento de você surtar, a Lara morreu
aceite isso e vãos partir para a próxima parte.
Dei de ombros me afastando daquela mulher desconhecida.
—Essa não é a Lara —me aproximei dele para que ele pudesse identificar
nos meus olhos a verdade. —Então vamos realmente passar para a próxima
fase e rápido porque mesmo que eu tenha que revirar a Rússia casa por casa
eu vou encontrá-la —seria a missão da minha vida.
Se aquele desgraçado não a tinha matado e tinha tido todo aquele trabalho
para criar uma socia para que eu achasse que ela estava morta ele não tinha
planos de matar ela. Eu ainda não entendia o que ele queria com ela, mas
ela valia mais viva.
[...]
—Então? —Desde o meu surto mais cedo eu não tinha falado com o meu
pai.
—Se despediu da defunta?
Assenti, não teria vantagem contar para o meu pai que a Lara estava viva se
ele desconfiasse que meu interesse na Rússia estava em achar ela e não só
em vingança ele poderia recuar de algo que ele nem tinha aceitado ainda.
—Sim. E o que o conselho definiu?
—O Caius é o novo líder, não consegui fazer nada em relação a isso —
mordi os lábios tentando controlar o sorriso com essa nova informação.
Meu pai não gostava dele, quase como se pudesse perceber suas motivações
pessoais em muita coisa que ele fazia. —E o Mario se tornou um membro
provisório do conselho, ele já tem noventa anos não vai viver muito e vai
ser tempo o suficiente para que eu defina de uma vez por todas o destino da
sua irmã. Ele é um membro honrado e confiável, apenas não poderá passar
seu acento para seus filhos.
Assenti, não era nada ruim. Ele tinha muito dinheiro, diretamente a mim ele
nada representava e não tinha nada que eu soubesse e pudesse manipular, já
não podia dizer o mesmo sobre seus filhos e se as coisas seguissem seu
curso natural a Letizia jamais se casaria e o herdeiro mais velho do Mario
ocuparia o lugar de honra e me deixaria dois votos certos no conselho.
—E sobre Maksim? —Perguntei sendo direto. Era o assunto que eu queria
saber.
—Isso é o que ele quer de nós Domenico.
—E por que não dar a ele? Pai me deixe comandar essa missão e eu
prometo que vou tomar a Rússia daquele maldito e nós vingar.
Ele bebeu um gole longo do seu uísque enquanto parecia considerar minhas
palavras. Era óbvio que pela sua expressão ele tinha perdido e o conselho
tinha definido algo diferente do que ele queria.
—Isso é perigoso demais Domenico, muito perigoso para que você faça.
Você é o futuro chefe não faz sentido estar em uma missão como essa,
muito menos no comando. Já está decidido e o Aleksandr ficará de frente.
Ele tem mais conhecimento de como os russos funcionam, pouco apego
emocional, é um bom líder e de confiança.
—Pai isso não vai dar certo, eu estou cansado de ter você me podando
como se eu fosse uma garotinha que precisasse de cuidado e proteção o
tempo todo. Eu sou um homem feito, um soldado honrado e vou nessa
missão independente do que isso signifique, mesmo que eu tenha que
abdicar do meu posto como futuro Dom. Sim, isso é pessoal pra mim, claro
que é porque foi o meu tio e sogro que foi morto, eles mexeram com a
minha noiva e agora com a minha esposa, até a minha amante foi envolvida
nisso e pagou com a própria vida então sim, é muito pessoal e eu vou estar
em qualquer missão de vingança mesmo que eu tenha que passar por cima
de suas ordens e se eu morrer durante essa missão é o sinal óbvio que eu
não estou preparado para ser chefe de nada.
—Sua mãe vai me matar Domenico.
Dei de ombros e me sentei na poltrona em sua frente.
Meus pensamentos iam e vinha com os planos, com tudo que eu faria
quando estivesse na Rússia.
—Você pode lidar com ela. Mas preciso da sua garantia que você pode
cuidar da minha esposa.
—Prometi ao Salvador que cuidaria da Francesca com a minha própria vida
e vou cumprir Domenico. —Eu lembrava do momento que teve nos últimos
minutos de vida do amigo.
—E eu quero que você prometa também a mim, ela é minha esposa e eu
estarei longe quero ter certeza de que ela estará e será bem cuidada.
—Prometo que cuidarei bem da sua esposa filho, ela estará aqui quando
você voltar.
Extra
Narrador
Uma festa de despedida para trazer boa sorte aos homens que embarcariam
no que alguns ali viam como uma missão suicida. O Dom tinha sido
cauteloso ao extremo ao disponibilizar alguns poucos homens, uma
quantidade aceitável para que eles conseguissem enfrentar os homens do
Maksim com dignidade, mas nada que prejudicasse as cidades e que
deixassem o território que a máfia já possuía desprotegido.
Um grupo de cada cidade, Aleksandr e Domenico teriam que lidar com isso
e conseguir vitória com o pouco que tinham ou seriam a vergonha. O futuro
dom estava confiante, confiante o suficiente para arriscar sua posição de
chefe, porque se perdesse não seria apenas a honra que seria afetada, ele
tinha jogado com o pai e agora teria que honrar as coisas que disse. Então
além da necessidade que sentia de achar a mulher que amava e que já
tornava aquilo pessoal, ele só precisaria voltar se fosse vencedor e com
muito mais território para a família do que eles já tinham atualmente.
Então toda a atenção estava nos homens que bebiam e riam desde que
aquela festa tinha começado, com foco nos amigos improváveis e que
estavam indo em direção a morte na concepção da maioria dos homens ali.
Então quando o maior deles se afastou e foi em direção onde os membros
mais antigos do conselho estavam reunidos bebendo foi logico a surpresa de
todos, inclusive o silêncio absoluto que tomou conta da festa evidenciava
isso.
—Senhor Ricci —o jeito educado que ele se referiu ao homem usando
inclusive o sobrenome o que ele não fazia nem com o próprio chefe fez
todos ficarem ainda mais atentos. Se não fosse atenção suficiente a filha
mais velha do homem, Anastasia Ricci correndo em direção aos dois
alarmou ainda mais a todos.
—Sim Aleksandr.
Independentemente da idade, o sobrenome russo que tinha permanecido
com a mãe e passado para os filhos tinha sido uma das exigências do
Maksim quando cedeu uma de suas primas para o casamento que
simbolizava a paz entre as duas máfias. A diferença do filho mais velho do
Conti, um dos membros do conselho, para o mais novo além do nome desse
último ser um nome típico russo era o fato que ele se orgulhava de sua
descendência. Então todos os viam como uma parte de fora, algo que
mesmo fazendo parte não se encaixava completamente no que eles eram,
como se realmente fosse um maldito bastardo.
—Eu queria pedir a mão de sua filha em casamento. —Ela era a única filha
do homem, então ele não precisou especificar.
A menina que já estava próxima o suficiente para ouvir paralisou sem saber
como agir, durante boa parte da vida, principalmente quando começou a
perceber o sexo masculino com interesse ela imaginou que ele um dia
pudesse fazer um pedido, quando mais velha foi ficando mais foi
percebendo que isso não iria acontecer. Então usou seu corpo para atraí-lo e
se entregou a ele disposta a ter pelo menos um pouco do homem que
amava, mesmo que esse pouco pudesse envergonhar a si e a sua família
depois.
—Estou indo para uma guerra sem garantias de que voltarei com vida, mas
se voltar quero me casar com ela —sua voz soava exatamente como ele se
sentia, confiante, ele tinha certeza de que ficaria com a garota. Fosse por
bem ou por mal. Ele não era acostumado a perder.
—Infelizmente ela já está prometida ao Mariano Belucci —aquilo era algo
que ainda estava sendo conversado, um dos muitos filhos do Mario não era
um casamento muito vantajoso para uma Ricci, mesmo com a quantidade
de dinheiro que a família Belucci tinha não significava muito por ali, mas
entre o Belucci e o outro que pedia a mão da filha Umberto não tinha mais
dúvidas de quem escolher.
A expressão do Mariano indicava o óbvio ele não queria se casar, mesmo
que soubesse que isso uma hora ou outra aconteceria, não era nada contra a
garota em específico, mas com garotas de modo geral.
—Não é nada pessoal —disse Aleksandr especificamente para o Mariano
que ainda não tinha conseguido disfarçar a expressão horrorizada. —Mas
sua filha precisa de um homem de verdade para que tenha um casamento
que dê certo. Se eu voltar serei um capo, sou um homem honrado e serei o
homem certo para sua filha.
O silêncio era tanto que era possível ouvir as moscas voando em algum
lugar próximo ali.
Ser capo era a condição que ele impôs ao próprio chefe para aceitar assumir
aquela missão, para usar as coisas que conhecia por já ter sido do exército
russo. Ele não se importava realmente com poder de ser chefe de um
continente inteiro, ele apenas queria, internamente, que todos o respeitasse e
que se não respeitasse ao menos ele estaria distante o bastante para não
receber mais olhares de desdém que era o que ele tinha desde sempre e
principalmente não precisaria decepcionar a mãe e o pai que já tinha sofrido
o suficiente por causa dele deserdando da máfia italiana.
—Eu lamento, mas já dei minha palavra a família Bellucci e não volto atrás
nas minhas palavras.
O homem apaixonado odiou a atitude que teria que tomar, mas não era do
tipo que recuaria.
—Senhor Bellucci o que acha do seu filho se casar com uma desonrada? —
Olhou para o outro velho, de todos ele era ainda mais tradicionalista e era
óbvio que a hipótese que o outro levantava estragava qualquer possibilidade
de um casamento.
—Aleksandr —a forma que a garota, que não alcançava nem o peito do
homem avançou sobre ele com confiança e intimidade o suficiente
enquanto as letras do nome do amado dançavam pelos seus lábios servia
melhor do que qualquer palavra para confirmar alguma verdade no que o
homem dizia. Ela acertou o peito dele com um tapa antes que ele prendesse
seus pulsos com uma única mão impedindo o ataque que sabia que viria.
Sempre foi toda tomada por impulsos.
—Babochka eu me casarei com você nem que eu tenha que raptá-la e levá-
la comigo para uma guerra. —A declaração fez a garota se derreter nos
braços do homem e não recuar enquanto ele tomava sua boca em um beijo
público.
Antes que qualquer um dos dois pudessem processar o que acontecia a
garota foi tomada dos seus braços e um homem tão alto quando Aleksandr
parou na frente dele escondendo a irmã em suas costas como se apenas a
aproximação com o homem pudesse feri-la.
—Como você ousa? —Frederico socou o homem sem que pudesse dar
tempo de qualquer um ali impedir.
Quando o Aleksandr ia avançar sobre o outro a mulher pequena entrou na
frente sem medo nenhum, provocando o espanto de todos ali com medo do
que ele podia fazer a ela. Seu pai já tinha a mão na pistola que ele mantinha
na cintura e o pai do Aleksandr, Fausto Conti, já se aproximava pronto para
interceder pelo filho mais novo.
—Por favor Alek não faça isso —ele odiava o apelido, odiava com todas as
forças e desde a primeira vez que ela o chamou assim pela dificuldade de
pronunciar seu nome completo, ela era uma menina de dez anos quando
isso aconteceu. Ele simplesmente nunca mais conseguiu fazê-la chamá-lo
pelo nome certo e assim era até hoje, atualmente ele até conseguia achar
fofo quando ela o fazia, mas uma exceção aberta somente a ela e mais
ninguém.
Ele aceitou seu toque e sem que percebesse encaixou ela no seu corpo de
modo protetor entre seus braços.
—Tudo bem eu mereci o soco —ela tocou o maxilar vendo o inchaço que
começava a se formar e limpou o filete de sangue que escorria do corte.
Enquanto o Aleksandr encarava com firmeza o irmão e pai da mulher que
pareciam horrorizados com ela tocando-o daquela forma, demonstrando a
nítida intimidade que tinham.
—Podemos conversar em particular? —Ele propôs ao homem mais velho o
único que podia consentir algo e depois do que ele tinha feito e do jeito que
a filha estava se comportando ela apenas estava confirmando suas palavras.
—Você abusou da minha irmãzinha seu bastardo nojento —por mais que
ele mantivesse o sorriso debochado no rosto fingido não se importar as
palavras do homem o atingiram, no começo foi exatamente esse os motivos
que o fizeram afastar a garota como se ela tivesse algum tipo de doença
contagiosa. Ele morria de medo que de alguma forma pudesse prejudicar
ela por estarem juntos, mas a noite passada o fez entender que ele não
conseguiria viver se ela se casasse com outro, ele não viveria em um mundo
onde ele não tivesse cem por cento de certeza de que ela era feliz e segundo
suas palavras a ele na noite passada ela só seria feliz com ele.
Frederico se aproximou segurando o braço da irmã e afastando-a do homem
sendo bruto no processo, sem nenhum cuidado com a garota.
O que resultou no mais forte entre eles avançando em sua direção e
segurando o seu pulso com força suficiente para fazê-lo se encolher.
—Não ligo para as merdas que diz e nem as que faz contra mim, mas se
você fizer qualquer coisa que possa machucar a Anastasia novamente eu
mesmo irei arrancar o seu braço e nem mesmo Deus será capaz de me
impedir disso. —A ameaça não era vazia e qualquer um ali era capaz de
perceber.
—Você me propôs uma conversa rapaz —o futuro sogro ressaltou.
Era tanto pela necessidade de acabar com aquela cena direcionada a sua
família, como também para evitar a iminente brigar que estava para
acontecer e ele não confiava muito de que o filho pudesse sair vencedor em
comparação ao outro rapaz.
—Você ficará bem? —Perguntou diretamente a garota que não alcançava
seu peito acariciando onde seu irmão tinha apertado.
—Sim, não foi nada. O Frederico jamais me machucaria —garantiu. O
homem ali não confiava muito nisso. —Vá conversar com o meu pai.
Ela estava empolgada, confiante que o pai a deixaria se casar com o homem
ele assentiu e seguiu o homem para distante dos olhos curiosos das pessoas
presentes na festa.
Assim que observou sua mãe se aproximando Anastasia tentou fugir mais
foi impedida por seu irmão que a segurou, agora com muita delicadeza
impedindo que ela fugisse do esporro que sabia que sua mãe daria. Sabia
que não teria como fugir, mas desde o momento que entregou seu corpo ao
homem ela sabia e estava pronta para lidar com as consequências disso.
[...]
Capítulo 19
Francesca
Dois anos depois
Hoje todos estavam ansiosos pela volta dos homens que saíram para a
guerra, entre eles o meu marido. Dois anos depois ele orgulhosamente podia
dizer que tinha quase que completamente dizimado os russos e que agora o
território deles pertencia à la máfia. Eu não tinha detalhes, isso não me
importava de verdade, nem mesmo a vingança, tudo aquilo em nome da
memória do meu pai. Não gostava da ideia de que toda sua vida fosse
anulada em prol da magnitude que a vingança do seu nome tinha alcançado.
Meu marido tinha se tornado uma lenda, e eu desejava que fosse realmente
assim, uma lenda, algo que existisse apenas no imaginário. Mas seu retorno,
hoje, mostrava que de algum jeito era real. Ele estava voltando para casa e
eu não teria como evitar sua presença.
Passei muito tempo apenas existindo, depois que ele se foi, nada aprecia
forte o suficiente para me tirar do limbo que a inconsciência me provocava.
A preocupação de sua família me fez consultar uma médica e aí eu
descobrir o poder que era está constantemente drogada. Os remédios
receitados que eram para me fazer voltar a vida serviram para me deixar
ainda mais presa na inconsciência.
Dois anos, eu não tinha certeza sobre esse tempo todo. Parecia que tinha
sido dias, no máximo um mês. A existência vazia e sem perspectiva me
tornava refém da minha própria cabeça e das fantasias que eu criava para
amenizar a dor que eu sentia. Não funcionava o tempo todo, não mesmo e
foi assim a primeira tentativa de tirar minha própria vida. Uma overdose de
ansiolíticos, soníferos e a cocaína que eu tinha roubado do escritório do
meu sogro, tudo ingerido em grandes quantidades apenas me fez vomitar
até que eu colocasse tudo aquilo para fora.
Na segunda vez eu fui mais inteligente, dosei tudo para que meu corpo não
recusasse e fui parar na emergência porque a Letizia me encontrou caída no
chão do quarto e uma lavagem estomacal me fez ficar viva.
A “queda” do quarto andar da mansão dos meus sogros fez com que eu
quebrasse o joelho e o pescoço.
O corte na minha coxa em direção a artéria femoral me fez passar por uma
cirurgia, uma transfusão e me deixou uma cicatriz horrorosa.
Nem para me matar eu servia.
E agora eu tinha companhia o tempo todo para que nem mesmo conseguisse
tentar.
Meus olhos foram para minha acompanhante que não tirava os olhos de
mim.
Limpei as lágrimas e congelei um sorriso no rosto assim que eu escutei os
passos da minha sogra surgiram na porta.
—O Domenico já deve estar chegando vamos esperar ele lá embaixo —sua
voz era calma, tão tranquila que parecia que ela estava falando com uma
criança. Era a forma que ela tinha para agir comigo.
—Claro —abaixei o rosto e assenti. Não adiantaria nada tentar retrucar ela
usaria de toda sua lábia para tentar me convencer e se não conseguisse
mandaria sua filha e por último seu marido que apenas me daria uma ordem
que eu não conseguia recusar. Quando irritado ele se parecia demais com o
meu pai. Parecia tanto que eu apenas cedia quando ele dizia qualquer coisa.
E eu não estava pronta para lembrar do meu pai hoje, não se eu teria que
suportar uma festa.
[...]
—Olá Francesca —sua voz fez os pelos do meu corpo se arrepiarem, eu não
lembrava que era assim tão grossa, tão poderosa assim.
Não resisti erguendo os olhos e buscando seu rosto, era muito do que eu me
lembrava. A barba grande era novidade e a maturidade nos seus olhos me
assustou. Para mim pareciam que tinham se passado alguns dias, para ele
com certeza foram décadas.
Sem que eu esperasse, ele abraçou minha cintura e colou os lábios nos meus
tomando um beijo profundo e intenso que não conseguir evitar, não
consegui deixar de sentir o toque dele em mim, de sentir a paixão refletida
naquele toque.
Ele se afastou e senti o meu coração bater tão rápido que pela primeira vez
eu me sentia viva.
—Espero que você tenha sentido minha falta —ele sussurrou tão perto,
deixando o seu hálito banhar meu rosto que eu não entendia o poder que ele
estava tendo sobre mim.
Quis correr de volta para o meu quarto, tirar aquela roupa desconfortável e
deitar na minha cama e fechar os olhos até que tudo passasse.
Desviei meus olhos dos dele e olhei em volta para as pessoas que nos
encaravam sorrindo como se fossemos um casal de filme, apaixonados e
entregues um ao outro, não era assim que eu me sentia. Ele não era meu
príncipe, era o cara que me bateu, que tirou toda a chance que eu podia ter
de ser mãe.
—Francesca? —Ele apertou minha mão com força e meus olhos foram para
nossas mãos unidas, o ouro da nossa aliança uma próxima a outra
identificando nosso casamento, mas tudo se perdia quando a aliança que
pertencia a outra mulher, assim como seu coração, muito mais evidente e
destacado. —Tudo bem?
Sua pergunta não parecia exigir de mim completamente a verdade, eu não
iria estragar sua festa de volta de qualquer jeito.
—Sim —recoloquei o sorriso no rosto lembrando do papel que eu precisava
desempenhar hoje. Um dos garçons passando carregando uma bandeja com
champanhe atraiu minha atenção me fazendo desejar o álcool, por mais que
apenas o champanhe não fosse exatamente meu tipo de bebida favorita para
aqueles momentos em que eu me sentia cedendo.
—Você quer uma bebida? —Sua pergunta me pegou desprevenida, ele não
sabia sobre as medicações que eu tomava? Se não o que mais seus pais
esconderam dele.
—Eu não posso beber —comuniquei.
—Por causa dos remédios que você está a anos tomando e não resolvem
nada? —Então ele sabia.
Chamou um dos garçons pegando uma das taças e me entregando.
—Hoje é dia de festa Francesca beba à vontade.
Não resisti a taça que ele me oferecia e bebi controlando a vontade de virar
toda a taça em um único gole, não seria educado.
—Irei falar com a minha mãe antes que ela surte, se divirta e se alguém
falar algo diga que eu autorizei.
Assenti. Um sorriso de verdade brincava no meu rosto naquele instante.
Enquanto eu sentia o poder do álcool no meu corpo.
[...]
Ele me manteve por perto durante toda a festa. Me conduzindo para lá e
para cá como uma bonequinha, me obrigando a passar pelas rodas de
conversas e escutar a mesma histórica heroica diversas vezes seguidas.
Mas a quantidade de álcool no meu sistema depois de todo aquele tempo
limpa me fazia achar tudo um máximo, risos que não eram sinceros,
abraços que eu não daria se estivesse sóbria e beijos que ele me roubava a
cada oportunidade que tinha e eu estava permitindo não tinha certeza ainda
dos motivos que estavam me fazendo ceder, mas eu estava cedendo.
Por isso agora ele tinha os braços em volta da minha cintura, pressionava
seu corpo ao meu, conseguia sentir o começo de uma ereção contra a minha
bunda e tinha certeza de que não estava pronta para ir para a cama com ele,
mas parecia que eu não tinha opção.
[...]
Acordei sentindo a ânsia que me fez levantar da cama e correr em direção
ao banheiro vomitando todo o álcool que ainda restava no meu corpo. O
reflexo do meu corpo no espelho forçou um novo vomito enquanto eu
percebia que minha pele tinha várias marcas espalhadas por cada cantinho.
Não lembrava em como tinha vindo para o quarto e nem de nada que tinha
acontecido durante a noite. Ele tinha me levado para sair com o Enrico e o
Frederico para um lugar que eu jamais imaginei que estaria. Uma boate
qualquer e a cada copo novo que ele colocava na minha mão eu me sentia
mais solta isso sem contar a cocaína que em algum momento eu consumi.
Deixei meu corpo cair no chão do banheiro e puxei as pernas me abraçando
sentindo uma coisa estranha enquanto considerava a noite de ontem.
Me arrastei até o box acionando a água e deixando-a cair sobre mim para
ver se tirava aquilo de mim, aquela sensação. Fechei os olhos deixando as
lágrimas molharem o meu rosto.
Eu sabia que a culpa era minha, não devia ter de aceitar seus convites, mas
eu não podia controlar o apelo que o álcool tinha, já tinha sofrido pela
abstinência uma vez então ter voltado a beber me fazia fazer de tudo por um
gole.
Durante o dia o Domenico não estava por perto, então as enfermeiras que
meu sogro colocava para ficar me vigiando não me permitiam chegar perto
de nada alcoólico muito menos drogas, tudo mudava quando o Domenico
chegava, ele era meu marido e eles confiavam que ele cuidaria de mim.
—Francesca —levantei rápido pegando a toalha e escondendo meu corpo
marcado.
A ausência do Domenico fez com que nos aproximássemos muito, com a
intimidade que ela pudesse invadir meu quarto. Mas naquele momento eu
não queria saber disso, queria que ela tivesse usado a educação que sabia
que sua mãe tinha dado e ter batido na porta para que eu tivesse a
possibilidade de negar sua entrada. Para que não tivesse me visto assim.
—O que aconteceu? —Ela correu na minha direção tocando meu ombro.
Sua expressão denunciava o quão ruim estava as marcas que ele deixava em
mim.
—Nada.
Lhe dei as costas e sai do boxe vestindo o meu roupão que esconderia boa
parte do meu corpo dos seus olhos curiosos.
Caminhei até a cama e mudei de ideia quando notei os lençóis ainda
bagunçado, o cheiro do seu perfume ainda estava por toda parte. Aquela
cama me lembrava do que tinha acontecido, mesmo que eu não quisesse
estar com ele.
Contive a vontade que eu sentia de chorar sabendo que eu precisaria esperar
ela sair para que aquilo não se tornasse um acontecimento para a família
toda.
—O que ele fez com você Francesca?
Já era um costume culpar seu irmão. Ela nunca tinha me revelado o que ele
tinha feito com ela para que tivesse e esperasse sempre o pior do Domenico.
Ela pelo menos o conhecia bem o suficiente. O que era diferente de sua mãe
que sempre achava que era uma atitude isolada e que ele não era assim de
maneira geral.
—Você pode confiar em mim Francesca?
Podia mesmo?
Balancei a cabeça afastando aquele pensamento, não podia confiar
realmente nela. Ela não me deixaria em paz se eu realmente falasse tudo
que eu sentia, como eu me sentia, principalmente depois das noites em que
o Domenico se aproveitava do meu estado para transar comigo. Eu queria
ser forte, queria resistir aos seus convites, conseguir dizer não, mas não
conseguia sempre que ele me chamava uma parte que era muito mais forte
controlava tudo e eu acabava cedendo e indo com ele para que depois
tivesse o mesmo arrependimento e não era justo só culpar ele, eu que
aceitava, ele apenas oferecia, mas eu que dizia sim ou não, eu que queria e
eu que fazia, eu que fazia de tudo por algumas gotas de álcool e aquele pó
branco.
Meu pai com certeza não estava orgulhoso de mim. Se a Elena estivesse ali
era provavelmente surtaria.
—Ei —não contive o soluço quando seus braços me embalaram. —Você
voltou a se drogar não voltou? —Era uma pergunta mesmo que sua voz
estivesse repleta com certezas.
Engoli em seco sem querer negar, queria que ela soubesse, eu precisava de
ajuda, porque não conseguia fazer aquilo sozinha.
As lágrimas se intensificaram e os soluços também enquanto eu me sentia
perdida, completamente deslocada.
—Vou falar com ele para que fique de olho em você e não deixe mais isso
acontecer.
Ela estava entendendo tudo errado e a culpa era minha, mas não podia
arriscar, sabia como ele ficava quando era contrariado ou irritado e não
queria ele irritado comigo. Desde que voltou ele não tinha me batido, uma
ou outra vez, com ciúmes, segurava meu braço com força ou me arrastava,
mas nada perto do que ele já tinha feito antes.
Agora eu não tinha mais expectativa, talvez se eu o irritasse o suficiente ele
podia me bater de um jeito que seria definitivo, de um jeito que tiraria essa
dor de mim para sempre.
Balancei a cabeça evitando pensar nisso, já fazia algum tempo desde a
última vez que me permiti considerar.
Minha vida no inferno não podia ser pior do que a que eu vivia atualmente
então devia valer o risco.
—É ele que está te dando essas coisas? —Sua pergunta certeira me fez
considerar se eu não tinha pensado alto. —Que droga o Domenico está
pensando? Como ele pode te drogar assim?
—Por favor não conte para ninguém, eu quis. Todas as vezes eu que pedi
por isso —não era mentira, eu não podia me abster da culpa.
—Ele sabe muito bem o quanto essas coisas viciam Francesca. Ele sabe que
isso é perigoso e o quanto faz mal, a mamãe nos levava em centros de
recuperação para vê como as pessoas perdiam tudo por causa das drogas,
como era difícil abandonar o vicio e tudo que elas perdiam no processo.
—Dói muito Letizia, eu não consigo lidar com a dor. —Era o sentido
natural das coisas, mas a culpa tornava tudo ainda pior. Eles estavam ali por
mim, para me levar, meu pai e a Elena tinham sido efeitos colaterais, como
ouvi vez ou outra, meu sogro dizendo. Se não fosse por mim, se meu pai
não tivesse tentado impedir que eles me levassem eles ao menos estariam
vivos. Não sei como eu estaria, não sei o quanto sofreria nas mãos dos
inimigos, mas pelo menos eu teria para onde voltar se sobrevivesse, teria
minha família ainda ali.
—Consegue sim, você é casada com o meu irmão e atura ele, tenho certeza
de que pode fazer tudo basta querer. —Eu queria certo? —Se você quiser eu
irei estar aqui para te ajudar sempre, cada vez que você cair eu ajudarei
você a levantar.
Era tudo que eu precisava, de alguém que não desistiria de mim.
[...]
—Vamos a um jantar com alguns amigos Francesca. —Era a desculpa que
ele normalmente usava para sairmos de casa toda vez que ele chegava.
Saiamos antes do jantar e só voltávamos no meio da madrugada, onde na
maioria das vezes eu estava tão louca que nem tinha memorias disso.
Senti o aperto da Letizia no meu braço me lembrando do nosso combinado,
ela não podia impedir que eu saísse com ele então eu precisaria dar o
primeiro passo e negar.
—Eu e a Letizia marcamos de ter uma noite de garotas —minha voz
demonstrava todo o medo que eu sentia por estar negando algo a ele e
principalmente a falta de confiança que eu sentia. Não seria a primeira vez
que eu tentaria lutar contra isso.
—Nós iremos jantar com os meus amigos Francesca. Então vá se arrumar
—ordenou. Levantei sabendo que não podia negar, não importava o que a
Letizia dissesse não valia o risco de ter ele estressado comigo.
Ele sempre gostava de me ter deslumbrante, independente de onde fosse o
lugar que ele me levaria. Já tinha entendido que ele gostava de causar inveja
nos seus amigos.
—Domenico por favor você vê seus amigos todos os dias, deixe que
tenhamos uma noite —ela implorou, sabia que não adiantaria de nada. Ele
faria apenas o que queria.
—Se envolva nas suas merdas Letizia, vá procurar um marido e deixe
minha esposa em paz e eu não vou falar de novo. —A última frase era
inteiramente direcionada a mim.
—Domenico não seja rude nem com a sua irmã e muito menos com a sua
esposa. —A voz da Marie atrás de mim fez com que eu pulasse de susto por
sua aproximação repentina. Ela caminhou até que estivesse no nosso meio e
forçou um sorriso educado enquanto observava os filhos. —O que está
acontecendo? —Sua pergunta era para o Domenico.
—Eu e a Francesca temos um compromisso hoje com o Frederico e o
Enrico. Já a Letizia quer que ela abandone tudo para ficar fazendo sei lá o
que dentro de casa. —Era óbvio que ele odiava ter que dar satisfação a mãe
e mesmo assim era respeitoso.
—Teremos uma noite de garotas, a Francesca está com cólicas e quer ficar
em casa mamãe. —Eu não estava com cólicas, desde o último aborto a mais
de dois anos eu não sentia cólicas e meu período era desregulado.
—Se ela quer ficar aqui não tem sentido essa discussão —sua voz era firme
e quase me dava a certeza de que estava tudo garantido, quase.
—Ela é minha esposa e tem que me acompanhar em lugares públicos.
—Sair com o Enrico e o Frederico não é um compromisso público. Você e
ela devia ficar mais em casa, tentarem um herdeiro —sua crítica era óbvia,
quase quatro anos de casados e mesmo com todos os abortos provocados
pelo seu filho a culpa de ainda não termos filhos era minha. Eu nunca
revelei o que o médico disse e como ela sempre falava sobre filhos era
muito provável que ela não soubesse e eu não sabia como dizer isso naquela
altura. Era para o Domenico ter contado aos seus pais. Encarei ele tentando
entender por que ele não tinha dito nada. Porque ele deixou seus pais de
fora daquela parte tão importante do nosso casamento. —A sua irmã
convidou também a Emma então elas terão uma noite de garotas e você
uma noite de rapazes. A presença do pequeno Piero pode despertar a
Francesca para a maternidade e quem sabe seja a inspiração que vocês
precisam. —Eu não sabia sobre a presença da Emma e nem do seu filho,
não tinha certeza de como eu me comportaria com um bebê. Na maior parte
das vezes eu apenas procurava esquecer que eu não podia mais engravidar.
Que aquela sensação que eu experimentei com a minha pequena Amábille
não voltaria mais. —Até porque os lugares onde você tem levado sua
esposa não são lugares apropriados para uma dama e nós vamos conversar
melhor sobre isso no momento mais oportuno porque preciso ir até o seu
pai agora.
—Teremos uma noite de garotas. —Ela parecia apenas está debochando do
irmão.
Ela nos deu as costas nos deixando sozinhos e eu tentei seguir ela com
medo do quanto irritado ele pudesse estar pela negativa que recebeu.
Mas ele sorriu e eu relaxei.
—Aqui —o saquinho que colocou na palma da minha mão não me fazia ter
dúvidas do que era e me fez apertar com força escondendo dentro da palma.
Por que ele estava fazendo isso comigo? —Para alegrar sua noite e fazer
com que você consiga lidar com a insuportável da minha irmã e a Emma
sem pular da janela novamente.
[...]
Forcei meus olhos contra a claridade tentando encontrar de onde vinha o
bipe insistente que não parava de me incomodar. A claridade era tanta que
fazia meus olhos doerem, puxei a mão tentando cobrir os olhos e parecia
que eu estava presa me obrigando a apertar os olhos, fechando-os. A náusea
trouxe um gosto ruim a minha língua, mas parecia que meu estomago
estava vazio para que eu tivesse o que vomitar. Uma cólica persistente no
meu abdome me fez lembrar do que tinha acontecido.
O resultado que eu esperava quando tomei aquela decisão depois de um
comentário ácido da Emma sobre filhos e gravidez. A constatação de que eu
estava no hospital fez tudo parecer no lugar, o bipe, o enjoou e até a
contenção. Dessa vez o objetivo era diferente, quando eu cheirei todo o
conteúdo do saquinho que o Domenico tinha me dado eu apenas queria
conseguir lidar com tudo aquilo melhor, com a crítica da amiga da minha
cunhada, com a crítica da minha sogra que mesmo sem dizer nada parecia
concordar com tudo que ela dizia e principalmente com a minha cabeça que
não me deixava esquecer onde eu tinha deixado a droga que meu marido me
deu. A necessidade era tanta que eu sentia como se fosse um chamado,
como se a droga tivesse vida própria e estivesse sussurrando no meu
ouvido.
—Eu quero descobrir quem deu essa merda a ela? —A voz Guiseppe soava
tão irritava que fez com que eu me encolhesse.
—Se ela estivesse comigo isso não tinha acontecido a mamãe mandou que
ela ficasse com a Letizia e a fodida Emma e deu nisso.
Como ele podia culpar sua mãe? Ele tinha me dado a droga, ele tinha
permitido que aquilo acontecesse comigo.
—Não quero saber, não importa qual desculpa você vai usar para tentar me
convencer. Eu vou descobrir quem deu essa droga tão modificada a ela e
vou punir o desgraçado e você vai assumir sua responsabilidade com isso.
Algum tempo atrás você disse que já tinha chegado o momento de tratar
você como homem e é o que eu farei. Se acontecer alguma coisa com esse
bebê ou com a Francesca você será responsabilizado, será verdadeiramente
responsabilizado e eu não irei querer saber se você tem ou não culpa.
De que bebê eles se referiam?
A ânsia não me deixava e mesmo que eu quisesse continuar ouvindo a
discussão deles eu precisava tentar vomitar nem que eu tivesse que enfiar o
dedo na garganta para isso.
—Domenico? —chamei sentindo minha garganta arder o suficiente para
levar lágrimas aos meus olhos.
Ele entrou no quarto e caminhou até mim, sua expressão indicava o quanto
as palavras do seu pai o tinha deixado descontente.
—Solta minhas mãos por favor eu preciso ir ao banheiro.
Forcei a contenção nada naquele momento fazia muito sentindo. O
Domenico tocou o tecido da atadura e antes que ele conseguisse desfazer o
nó a voz do meu sogro rompeu o ambiente:
—Ela só tirará a contenção quando o médico ordenar Domenico e isso é
uma ordem.
Me encolhi diante da irá presente no seu tom de voz, ele nunca esteve tão
irritado como naquele momento não comigo.
—Aproveitando que você está acordada eu vou perguntar apenas uma vez
quem te deu aquela porcaria? —Encarei o Domenico sem saber o que dizer,
o que ele queria? Que eu contasse que o filho dele tinha me dado a droga?
Eu não podia fazer isso o toque duro do Domenico no meu braço indicava
isso
—Ande Francesca me diga quem te forneceu aquela cocaína? —Ele gritou
fazendo eu me encolher ainda mais. Naquele instante tudo nele lembrava
meu marido, lembrava a forma que meu marido se comportava quando era
contrariado, quando estava pronto para descontar em mim suas frustrações
pessoais. —Me diga onde você conseguiu aquela droga.
—Eu roubei no seu escritório —já tinha feito isso uma vez.
Ele sorriu e chegou tão perto de mim, seu jeito tão perigoso que até o
Domenico deu alguns passos para longe assustado.
—Você está tão viciada que não consegue diferenciar uma cocaína pura
com essa porcaria que você enfiou o nariz. —Solucei quando senti sua mão
no meu cabelo em um puxão que me obrigava encará-lo. Seu rosto tão perto
de mim que as gotículas de saliva que escapavam dos seus lábios enquanto
ele cuspia as palavras na minha cara. —Eu jamais venderia algo tão
misturado assim e muito menos tão quimicamente instável, a dose que você
usou foi o suficiente para fazer com que tivesse uma overdose que quase a
matou, se você não tivesse sido socorrida a tempo não estaria aqui sua
garota estupida.
Afastei meus olhos dele buscando o rosto do Domenico. Era isso que ele
queria me dando acesso as drogas? Ele queria me matar? Sorri sem achar
graça nenhuma, fazia muito tempo que eu realmente não tinha motivos para
sorrir.
—Não entendo por que vocês se dão o trabalho, devia ter me deixado
morrer —gritei diante do seu rosto, não era a morte que eu queria? Aquele
com certeza era o melhor jeito de conseguir.
—Eu fiz uma promessa ao seu pai, uma promessa que eu levarei pelo tempo
em que eu viver então até que eu morra você estará viva e segura
principalmente agora carregando o meu neto.
Se afastou de mim e eu congelei enquanto suas palavras faziam sentido,
aquilo era impossível e devia ser um joguinho do Domenico, um joguinho
muito sujo.
—Não posso ter filhos, depois do aborto não existe mais essa possibilidade
—fodasse se o Domenico queria manter aquilo em segredo. Não tinha
como, eu não podia permitir algo assim, que ele brincasse com aquilo, que
ele brincasse com algo tão importante para mim, não mais do que ele já
tinha feito.
—Reclame com Deus —ele saiu do quarto batendo a porta que o quarto
inteiro tremeu com o impacto.
—Eu não estou grávida? —Desespero, o único sentimento cabível para
aquele momento.
—Que droga fizemos? —Naquele momento ele parecia tão desesperado
quanto eu. —Se você perder esse bebê meu pai vai me matar e não é um
modo de dizer, ele realmente vai fazer isso, ele já comunicou o conselho
para que não tivesse como voltar atrás de sua palavra.
—Mas eu não posso ter filhos —fui lógica.
—É Francesca você não pode ter malditos filhos, foi isso que você me
disse, porém esqueceu de mencionar as letras pequenas no maldito contrato.
—O que ele estava dizendo? Minha dúvida deve ter ficado óbvia porque ele
continuou: —O médico nunca disse que você não podia engravidar, ele
disse que você não teria filhos, porque seria quase impossível seu útero
funcionar do jeito certo e manter a gravidez pelo tempo que é necessário.
Você engravidaria, mas abortaria logo em sequência. Mas você não me
disse que tinha alguma possibilidade maldita de engravidar e agora meu pai
sabe de um bebê que tem chances mínimas de sobreviver e ele colocou a
droga de um alvo na minha cabeça por causa disso. Quando você perder
esse bebê sendo doente do jeito que é tem possibilidade de se matar junto e
eu morrei por sua causa.
A felicidade que sua frase me provocou não podia ser explicada. Eu não
conseguia acreditar que aquele seria nosso fim e a felicidade em saber que
ele não sairia ileso pelo que fez aos nossos filhos.
Epílogo
Francesca
Encarei ele deitado no sofá lendo seu maldito livro enquanto pelo canto dos
olhos não tirava os olhos de mim. Ele tinha se tornado minha maldita
sombra. Nem mesmo eu ia ao banheiro sem que ele estivesse
constantemente atrás de mim, seu medo era real e eu nunca imaginei que
viveria o suficiente para ver o Domenico com medo de qualquer coisa. Mas
essa era a definição perfeita para como ele estava se comportando desde
que saímos do hospital.
Mesmo que tivéssemos uma equipe médica ali a prontos para qualquer
interferência ele não confiava em ninguém para cuidar de mim,
principalmente depois que eu tentei atentar contra mim e o bebê, já que a
constatação de que aquele bebê, um menino, seria filho do Domenico, que
provavelmente seria como ele, um homem mau que mentiria, roubaria e
destruiria tudo que tocasse exatamente como o pai dele era.
Eu ainda não conseguia me arrepender do que fiz, mas eu tinha absoluta
certeza de que não conseguiria fazer novamente. Não depois de ter escutado
os batimentos do meu bebezinho e pior ainda desde hoje de manhã quando
senti ele se mexendo pela primeira vez.
O medo ainda estava ali, tão forte que eu não consegui guardar apenas para
mim e acabei desabafando com a Letizia, que me garantiu que ninguém
nasce inteiramente ruim e nem inteiramente bom, que era tudo uma questão
de educação e que a educação do meu bebê definiria como ele seria. Suas
palavras infiltraram teias de esperança dentro de mim.
Aquele era o meu tempo seguro, onde ele não faria nada contra mim, mas
quando aquele bebezinho crescesse, se eu deixasse o Domenico educá-lo,
não teria volta. Eu perderia meu filho, eu seria mãe de um monstro como o
Domenico era.
Toquei a barriga sentindo seu movimento ainda mais intensamente. Como
aquela sensação era boa, queria manter ele o tempo todo dentro de mim, ali
protegido onde nenhum tipo de mal pudesse atingi-lo.
—O que você está fazendo? —Sem que eu conseguisse evitar ele afastou
minha mão da barriga, não tinha percebido sua aproximação então meu
susto foi óbvio.
Sua respiração acelerada indicava o pique que tinha dado para chegar até
ali, isso combinado com todo o estresse que ele vinha sofrendo
impulsionava aquela aparência de quem estava sempre no limite.
—Sentindo meu bebê se mexer —respondi apenas querendo que ele
voltasse ao seu lugar de guarda e me deixasse em paz aproveitando meu
momento.
Ele examinou minhas palavras como se tentasse encontrar algo na minha
voz que indicasse algo diferente. Não achou, se ele fosse um bom
observador ele já teria percebido minha mudança em relação ao bebê.
Sua mão se inclinou em direção a minha barriga como se fosse tocá-la, mas
recuou pisando duro como se a possibilidade de fazer isso o irritasse e
voltou a cadeira abrindo o livro novamente.
Eu precisava pensar, precisava conseguir alguma coisa para ter poder sobre
ele, alguma coisa para proteger meu bebê.
[...]
Não consegui disfarçar meu nervosismo, não conseguia ignorar que aquilo
era um plano arriscado meu e da Letizia, contar com o fato de que ele não
podia me machucar agora era arriscado, arriscado demais, arriscado o
suficiente para que eu me sentisse inteiramente nervosa.
Ele saiu do banheiro só com uma toalha em volta do corpo e a enfermeira
que me acompanhava para que ele tomasse banho abaixou os olhos
concentrando toda sua atenção no chão. Já eu mantive meus olhos nele,
observando bem seus traços, para que aquilo não me fosse atrativo de
maneira nenhuma.
Ele era bonito, ele era muito bonito, mas o externo não servia para esconder
sua feiura interna.
—Você pode nos deixar sozinhos —pedi torcendo para que pelo menos ela
fizesse o que eu pedia dessa vez, normalmente todos os meus pedidos por
privacidade eram ignorados, porém o Domenico estava ali e eu estava me
comportando.
—Senhora...
Antes que ela pudesse completar a óbvia negativa o Domenico voltou ao
quarto vestindo apenas uma cueca.
—Deixe-nos a sós —gritou com a mulher que saiu do quarto em segundos.
—Querendo transar Francesca?
Olhei para ele de cima abaixo buscando qualquer coisa que me atraísse, mas
nada, ele realmente era um ser estragado para mim. Nos primeiros dias de
abstinência eu até realmente buscava por ele, queria usar o sexo como
moeda de troca, como uma forma de convencer ele a me deixar usar nem
que fosse um pouquinho e isso me fez fazer coisas humilhantes que não me
orgulhavam em nada, mas eu conseguia perceber que eram apenas efeito
das malditas drogas e que se naquela época pedissem um membro em troca
de uma dose eu poderia ter dado.
—Mas saiba que não darei drogas a você em troca da sua boceta para que
depois não haja todo o chororó de abuso.
Ele sabia bem que tudo que fazia comigo era abuso, que até mesmo a
concepção do nosso filho tinha partido de uma noite de sexo que eu não
tinha como consentir, mas isso não importava ele inclusive achava isso
engraçado.
—Seu pai veio novamente me perguntar onde eu consegui as drogas, ele
disse que iria ajudar a descobrir quem estava distribuindo isso no território
dele, quem estava roubando dele.
Ele deu um passo na minha direção e parou, ele não era louco, não quando
conseguia agir assim, com esse tipo de controle. Isso me fazia cada vez
mais confiante de que tudo que fazia era consciente, que ele escolhia ser
assim, que gostava de fazer as coisas que fazia.
Se ele não tivesse o controle ele já podia ter me machucado a muito tempo,
independente das consequências que isso teria para ele.
—Eu quase disse que era você —isso ainda era uma ideia, mas ele era filho
único eu não tinha certeza se o Guiseppe teria coragem de matá-lo e se não
tivesse apenas eu e o meu bebê seriamos prejudicados. Agora eu não podia
mais ignorar que seria a única que seria capaz de ensinar aquela criança
sobre o certo e errado. Não podia confiar na Marie e no Guiseppe porque
eles tinham falhado demais na criação do Domenico.
—Se você fizer isso...
Interrompi:
—O que você vai fazer? Me bater? Me matar?
Coloquei a mão na barriga sabendo que ali estava minha garantia, pelo
menos era sobre isso que eu me apoiava.
—Já chegamos em uma parte da sua gravidez que é possível tirar esse bebê
de dentro de você e deixar ele vivendo em uma incubadora se você não
percebeu. —Chegou tão perto que eu o sentia seu hálito contra o meu rosto.
—E você vai perceber que eu sou muito bom com facas, tão bom que posso
eu mesmo tirar meu filho de dentro de você.
Me arrastei para longe dele com medo da sinceridade de suas palavras. Me
apoiei contra a cabeceira não tão mais confiante que eu conseguiria seguir
com o plano.
—Conte ao meu pai e vou dizer que você é louca, com os últimos indícios
que você tem apresentado não vai ser muito difícil ele acreditar além de que
não tem motivos para que eu faça algo assim, o que eu ganharia roubando
meu próprio patrimônio?
Eu não tinha como responder aquela pergunta.
—Mas foi você que me deu a droga, então você sabe onde encontrar.
Ele gargalhou e se aproximou de onde sua única arma que entrava naquele
quarto estava, sua faca preferida dançou entre os dedos enquanto ele me
encarava sorrindo. Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram com aquele
jeito que ele sorria.
—Claro que eu sei onde encontrar, já que sou eu que produz —a revelação
vinha acompanhada de um brilho nos olhos, ele estava orgulhoso demais.
—Na verdade eu apenas mando produzir já que química não é muito meu
forte, porém tenho me especializado cada vez mais e meu pai nem mesmo
considera isso porque seria traição imagina o escanda-lo de ser traído pelo
próprio filho?
Não fazia sentindo. Ele tinha tudo que queria. Ele era o futuro chefe. Seria
ele a comandar tudo.
—Agora vá dormir antes que eu a lembre o porquê não devo ser irritado.
[...]
O sorriso da gêmea boa me mostrava que tínhamos conseguido muito,
conseguido o suficiente para destruir seu irmão definitivamente. Para que
nós duas pudéssemos nos ver livre dele.
—O papai vai ficar horrorizado quando escutar isso, quando mostrarmos do
que o Domenico é capaz de fazer e nos duas e o pequeno GuianLucca nos
veremos livre dele definitivamente.
Aquilo devia colocar as coisas no lugar certo?
Eu poderia ser feliz com o meu filho.
—Assim que o papai chegar nos vamos mostrar essa gravação a ele e nada
do que o Domenico dizer depois disso será o bastante para desfazer as
coisas que ele fez.
Sim, meu medo era que de alguma forma ele conseguisse inverter a situação
ai eu não tinha dúvidas de que estaríamos muito mais ferradas que agora e
eu precisa pensar no meu bebê. Se acontecesse alguma coisa comigo e o
Domenico se tornasse responsável por ele, uma criança inocente sobre o
domínio doentio do Domenico.
—Se algo der errado?
—Nada vai acontecer Francesca, com o áudio que você conseguiu gravar o
papai não vai ter dúvidas.
Os passos da Marie entrando no ambiente a fez esconder o gravador
embaixo da minha bunda enquanto tentávamos disfarçar nosso
comportamento.
—O que seu pai não terá dúvidas? —A Marie parecia cansada enquanto se
sentava na nossa frente, nos olhava como se soubesse que estávamos
aprontando algo se ela tivesse escutado muito mais da nossa conversa não
estaria tão calma assim e isso foi o suficiente para me relaxar.
—Nada.
—Que realmente seja, por favor vocês duas parem de levar problemas para
o Guiseppe —a preocupação ficou ainda mais evidente.
—Aconteceu alguma coisa? —No café da manhã o homem parecia bem.
—Sim, contarei a vocês, mas peço que esse assunto permaneça aqui dentro
de casa enquanto for possível não ser público. O Guiseppe está com uma
fraqueza muscular no coração, já sabemos disso a muitos anos, porém agora
está muito mais grave do que já era então podemos perder seu pai a
qualquer momento —ela se aproximou da filha que observava tudo
incrédula. Senti meus batimentos dispararem enquanto considerava isso.
Seria mais uma perca para nossa família. Mesmo que nos últimos anos o tio
Salvatore tenha sido duro comigo nos momentos em que mereci ele não
merecia a morte.
Só percebi que estava chorando quando os dedos as Marie tocaram meu
rosto afastando minhas lágrimas.
—Não fique nervosa querida, não precisamos que esse garotinho queira se
apressar —ela tocou minha barriga gingante com carinho. —Até porque o
Salvatore não pode tomar um susto desses, a partir de agora precisamos ser
cuidadosas com ele, pensar no que é dito para que nenhuma notícia
sobressalte seu coração porque será definitivo.
Olhei para Letizia que olhava tudo incrédula como se fosse muito para
assimilar e era, eu não tinha conseguido lidar com a morte do meu pai, a dor
partiu me coração e deixou um pedacinho que só o GuianLucca estava
sendo capaz de reconstruir não podia imaginar o quão ruim era saber disso
com antecedência.
—Mas o papai é forte, ele ainda tem que viver muito, ver o GuianLucca
nascer, educar ele para ser o futuro chefe e ele nem conseguiu um noivo
para mim —sabia que nada disso era realmente importante para ela, era
apenas o desespero habitual. —Deve ter algum tratamento disponível por
aí, temos muito dinheiro e...
—Não querida, não a nada que possamos fazer além de tentar que seu pai
não tenha nenhum estresse. Por esse motivo ele vai começar a transição do
Domenico hoje mesmo e vai tentar prolongar sua vida vivendo feliz e em
harmonia com a nossa família, ele estará muito mais tempo em casa, está
ansioso para conhecer o neto e por isso precisamos ser cuidadosas com as
coisas que faremos a partir de agora.
O jeito que a Letizia me olhou indicou o óbvio, não podíamos arriscar
naquele momento, não podíamos correr o risco do seu pai morrer. Teríamos
que fazer outra coisa, outro plano porque descobrir o porco que o filho era
podia ser demais para o seu coração, se fosse o meu com certeza seria.
[...]
O Domenico já estava agindo como o maldito capo, o jeito feliz que ele
estava durante o jantar enquanto o pai falava evidenciava como ele se
sentia, o quanto aquilo era a realização da vida dele. Ainda levaria um
tempo até que ele assumisse definitivamente, mas seria por pouco tempo,
alguns meses nada além disso.
—Preciso falar com você —não estava confiante de que aquele era o
momento certo, mas eu não conseguia mais vê-lo feliz e não fazer nada. Ele
estava ganhando novamente, até mesmo ter sorte o suficiente para que eu
tivesse um filho, para que contrariando todas as expectativas médicas meu
pequeno guerreiro estivesse ali no meu ventre, crescendo, bem e perfeito.
—Fale Francesca o que você quer? Hoje eu estou tão feliz que eu estou
disposto a fazer qualquer coisa.
Isso era muito incomum.
—Quero que você me prometa que ficará longe do meu filho —era a única
coisa que me importava naquele momento.
—Você quer dizer meu filho?
—Eu faço o que você quiser e você fica longe do GuianLucca, vai me
deixar criar ele como um ser humano com regras e limites e conhecendo o
que é o amor, depois que ele tiver idade você pode iniciar ele na máfia, mas
enquanto for criança eu quero cuidar dele.
—Vou fingir que não escutei nada do que você falou e vou tomar meu
banho para dormir.
Apertei o botão de play no gravador deixando-o escutar a própria voz na
gravação que eu tinha conseguido.
Ele não me deixava ver como ele se sentia sobre o áudio, sua expressão
estava congelada em algo sem expressão.
—Em troca de você deixar que eu cuide do meu filho e consiga um marido
decente para a Letizia eu faço o que você quiser inclusive guardo essa
gravação para sempre. Você pode destruir essa, temos outras, muitas outras
e deixamos uma com alguém de confiança caso algo de ruim aconteça com
nós duas.
Eu podia lidar com ele, se ele deixasse meu filho de fora seria o suficiente
para que eu fosse feliz até no inferno.
Epilogo
Lara
Olhei o pequeno Miguel correndo no jardim com o seu carinho e sorri me
permitindo pensar no passado, coisa que eu quase nunca fazia.
“—Não vou conseguir Thyra. —Odiava que ela tivesse razão, odiava ainda
mais que eu tivesse ignorado tudo que me disse tantas e tantas vezes.
—É claro que não Lara, o mundo inteiro já sabia que você não conseguiria
deixar esse garotinho para a adoção. —Ela tocou o cabelinho loiro do meu
filho com tanta delicadeza que era como se ele pudesse quebrar —E não
precisa se preocupar que é óbvio que eu aceito ser madrinha desse
príncipe.
Estudei os traços do bebezinho nos meus braços sabendo que eu faria de
tudo para cuidar daquele pequeno ser que cabia perfeitamente nos meus
braços.”
Ter decidido ficar com o meu bebê foi a maior loucura da minha vida, até o
momento que aquele bebê saiu de dentro de mim depois de me provocar a
dor mais brutal que eu senti na vida o que até hoje não fazia o menor
sentindo em como eu sofri para trazer aquele menino e assim que ele nasceu
nada mais parecia importar.
Meu único objetivo na vida se tornou proteger meu filho, do pai dele e de
quem mais fosse, por isso nunca mais voltei ao trabalho que eu amava e
nunca considerava voltar. Diferente da Thyra que mesmo tendo sua filha
seguiu no trabalho, não tinha como ser assim para mim, nosso caso era
muito diferente. Então eu estava me fazendo feliz dando aulas de química,
era o suficiente para me conectar com o que eu gostava e me dava um
laboratório para uso prático de algumas teorias, não era o mais seguro usar
uma escola para testar minhas teorias, porém eu não conseguia me manter
distante.
Desviei meus olhos do Miguel que movia seu carinho pelo gramado e
continuei fazendo meus cálculos. Aquele era o momento em que era apenas
eu e ele, a Jade por ser mais velha que o meu bebê tinha seus compromissos
extras na escola e a Ingrid, mãe da Thyra, tinha ido ao mercado e mesmo
que eu fosse muito grata pela hospedagem eu ainda sentia a necessidade de
um momento como aquele onde estivéssemos eu e o Miguel apenas. Já
tinha cogitado arrumar um local para nós dois, mas eu ainda estava fugindo
e sabia que não poderia relaxar ainda então ali era muito mais seguro
principalmente me aproveitando do sistema que a Thyra tinha montado para
proteger a filha para proteger também meu filho.
E foi assim que o movimento de um carro preto desconhecido estacionando
no Jardim me despertou e me fez pegar o Miguel no colo, nossa saída de
segurança estava a alguns passos de mim.
—Lara fica calma apenas escute o que ele tem a dizer —o tom de voz da
Thyra soando no sistema sonoro da casa me fez erguer os olhos em direção
a uma das muitas câmeras de segurança ali no jardim. Esperava que ela
estivesse conseguindo perceber minha chateação com ela apenas pela minha
expressão, independente da nossa confiança uma da outra ela não tinha o
direito de me expor, de expor a minha localização e muito menos a
localização do Miguel. Era a nossa segurança em jogo, era a segurança do
meu filho em risco.
—Olá Lara. —Encarei o homem que foi meu chefe durante toda a minha
vida como uma agente federal, depois de ter desistido de tudo eu tinha a
certeza de que nunca mais o veria. —Fico feliz que esteja bem, durante
algum tempo realmente achamos que tínhamos falhado na sua segurança e
permitido que algo terrível tivesse acontecido com você, fico
verdadeiramente feliz que esteja bem.
—Precisei fazer o que fiz e saiba que eu não irei permitir que você use meu
filho para atingir o Domenico, sei das coisas que ele está fazendo, sei de
como ele está fazendo, sei com tem expandido o território da La Máfia e
lamento que eu tenha falhado na minha missão, mas agora apenas a
segurança do meu filho importa e ele não vai ser usado.
Um jeito de garantir que o Domenico tinha acreditado na minha morte era
vigiando-o então a Thyra me mantinha por dentro do andamento da missão
que ela ainda fazia parte.
—Não sei que tipo de monstro você acha que eu sou Lara, mas eu jamais
deixaria uma criança ser usada desse jeito, porém estou aqui para te
oferecer uma proposta.
O Miguel chorou no meu colo por eu estar impedindo-o de brincar.
—Que proposta.
Olhei em volta estudando o ambiente e aceitei que ele estava sozinho. Eu
não teria opção a não ser escutar o que ele tinha para falar então abaixei
deixando o Miguel próximo ao seu carrinho e encarei o homem. Se ele
tentasse alguma coisa era melhor ter as mãos livres para me defender e para
defender o meu bebê.
—Eu quero que você volte ao trabalho.
Era uma péssima ideia e ele sabia disso.
—Não vai funcionar
—Não o trabalho em campo, sua fórmula segue funcionando muito bem,
porém está apresentando alguns efeitos colaterais indesejados, mas você
pode melhorá-la e desenvolver outras coisas que nós serão uteis. Sempre foi
uma das nossas melhores desenvolvedoras químicas e ter colocando-a em
campo em uma missão como essa foi algo demais, ninguém a culpa pelo
que aconteceu.
Eu nunca imaginei algo assim, ainda estava atrás de alguma pegadinha que
eu não tinha percebido.
—E o meu filho?
—Ele segue sendo sua responsabilidade e decisão, se quiser levar ele para
perto leve, se quiser uma situação assim como a Thyra mantem com a Jade
e criar ele afastado de tudo. Não temos nada em relação ao seu filho,
podemos oferecer alguma proteção se você necessitar, porém não mais do
que isso. Só a queremos a nossa melhor desenvolvedora de volta Lara.
Epilogo
Domenico
Encarei o garoto dentro do berço, ele era diferente dos outros bebês. Quase
nunca chorava, mesmo ali quando já estava acordado a quase uma hora e
ninguém tinha ido até ele. Seu choro sempre vinha em momentos pouco
compreensíveis, então era difícil saber o que ele queria em qualquer
momento, e por isso sua mãe mantinha seus horários milimetricamente
controlos com direito a despertador, mesmo com a promessa estupida a
Francesca eu observava bem ele.
Era apavorante saber que o menino era meu filho, que era parte de mim.
O pequeno GuianLucca Salvatore D’Arco me encarava com desconfiança.
Eu era um desconhecido para ele, mantive minha palavra e nos últimos dois
anos não me aproximei do garoto. Mas agora o jogo tinha mudado, as cartas
me pertenciam e a Francesca e a Letizia não podiam me chantagear
novamente porque eu não cometeria o mesmo erro novamente.
O primeiro passo já tinha sido dado ontem, quando fiz uma visitinha a
Letizia e seu recém marido, ele era o underboss de Veneza muito menos do
que minha irmã merecia, porém foi o que meu pai conseguiu e ela parecia
muito feliz com o homem ou muito feliz por estar deixando aquela casa e se
livrando de mim. Nada disso importava, não mais.
Na visita que fiz a minha irmã usei seus próprios remédios para dormir para
dopá-la antes de sair, ela não percebeu, nem seu maldito marido então horas
depois quando retornei a casa escondido eu a encontrei desmaiada ao lado
do idiota que despertou assim que ouviu minha entrada pela janela aberta.
Não tive muito trabalho, para um underboss ele era muito ruim para se
defender e a surpresa minha irmã tinha tido quando acordou de manhã com
o grito de uma das empregadas que foi conferir se o casal estava bem
porque já tinha passado muito da hora em que eles normalmente
acordavam.
A polícia tinha sido chamada e agora minha irmã estava em uma delegacia
respondendo pelo assassinato do seu próprio marido. O que era crime para a
maldita polícia e era crime para o conselho.
E era lá que eu estava indo agora, precisava testemunhar sua derrota.
—Vamos dar uma volta? —Me aproximei do GuianLucca e peguei ele de
dentro do berço acomodando-o nos meus braços. Já tinha aprendido segurar
um bebê graças ao filho do Enrico, então era simples.
Era mais pesado do que eu imaginei e ele sorriu para mim nos meus braços.
—Vamos deixar sua mãe saber que ela nunca controlou nada.
Antes que eu saísse do quarto tive que parar meus movimentos evitando
esbarrar na minha mãe que entrava no quarto com uma mamadeira na mão.
Seus olhos demonstravam a surpresa que era me ter ali, principalmente com
seu neto no colo.
—Ele estava chorando? —Ela perguntou de uma maneira idiota já que ela
sabia que não era isso.
Ela estendeu os braços para pegar ele e inverti as coisas pegando a
mamadeira de sua mão sabendo que seria o recado óbvio.
—Nós dois estamos saindo.
Seu temor era visível.
—Onde você vai levar o GuianLucca ele ainda está de pijama, está frio lá
fora? —Olhei para a roupa do menino e bufei estendendo-o a ela, não tinha
pensado nisso.
—Se não quiser que eu o leve assim mesmo coloque uma roupa decente e
quente nele rápido que temos que sair. —Principalmente porque eu queria
fazer isso antes da Francesca acordar, meu objetivo dependia de ela acordar
sem ter o filho ali precisava do desespero que ela sentira quando acordasse
sem o garoto por perto, sem saber o que eu tinha feito com o garoto. Era o
susto que eu precisava que ela tomasse.
—Filho chame a Francesca para ir com vocês. —Quase podia perceber o
arrependimento nos seus olhos. —Ele é muito pequeno, precisa de
cuidados.
—Eu e o GuianLucca faremos um passeio de garotos não tente nos
atrapalhar mãe —ameacei-a, sem meu pai por perto eu era o único a dar
ordens por ali. —E troque-o rápido.
[...]
Olhei para seu estado descabelado e quase cedi a vontade de rir enquanto
percebia seu fim sendo aquele. Um péssimo jeito de terminar a vida, seria
mais fácil se ela tivesse parado de lutar contra mim bem mais cedo e
aceitado as coisas a minha maneira.
Entrei na cela fazendo ela erguer os olhos e me encarar. O alívio que sentiu
vendo que era eu era nítido como se eu fosse ajudar ela naquele momento.
—Domenico eu não sei o que aconteceu, estava tudo bem quando fomos
dormir, mas quando eu acordei com os gritos da Kiara ele estava morto,
alguém entrou no nosso quarto e... —Parecia demais para ela contar como
eu tinha aberto a barriga do seu marido, como deixei os órgãos para fora e
ela estava deixando de fora como montei tudo para que ela recebesse a
culpa.
—Porque você fez isso Letizia? Você quis tanto se casar e quando consegue
seu casamento dura três meses e você resolve matar seu marido enquanto o
pobre coitado dorme.
—Não fiz isso, não teria a capacidade de matar nem ...
Sua frase morreu enquanto ela parecia entender o que tinha acontecido,
quando entendia o que estava bem na sua frente.
—O que você está fazendo com o GuianLucca? O papai pode ter morrido,
mas as provas seguiram para o conselho Domenico.
—E o que o conselho vai fazer com isso além de atestar como o papai foi
um péssimo chefe, um que não conseguiu perceber a traição do seu próprio
filho? —Dei de ombros, de qualquer forma se minhas suspeitas estivessem
certas isso não chegaria a tanto, se estivesse errado não me preocupava
tanto. Eu já era chefe a dois anos, um chefe com muitos ganhos para a nossa
família, a expansão na Rússia fez com que nos tornássemos ainda mais
temidos, estávamos faturando como nunca e inclusive eu tinha convencido
eles a modificarem algumas drogas para se tonarem mais viciantes, com
uma produção mais baratas o que fazia com que lucrássemos muito mais.
Então eu tinha certeza de que não seria deposto por uma gravação daquelas.
—Mas se vocês quiserem manchar a memória do papai sigam em frente eu
não irei impedir.
—Vamos ver o que o conselho vai pensar, assim que eu não voltar a
gravação que eu deixei com a minha pessoa de confiança será entregue ao
conselho.
Gargalhei fazendo o GuianLucca se assustar nos meus braços.
—Sua pessoa de confiança... —Eu ainda me sentia um idiota por não ter
percebido antes, não ter chegado aquela conclusão óbvia, se tivesse feito
minha irmãzinha não teria se casado com aquele idiota, mas elas me
pegaram de surpresa com aquela chantagem, mas a descoberta que o papai
estava finalmente deixando eu assumir meu lugar não me deu tempo de
raciocinar completamente. —Você e a Francesca não tem amigas ou
amigos, tem as bajuladoras que aturam vocês porque são interesseiras, mas
não são de confianças. O segurança apaixonado pela Francesca infelizmente
morreu durante um confronto com um russo. —Quem o matou não foi um
russo, todos sabiam disso, mas não agíamos tão descarados assim ainda
então seguíamos com a história. —Quem seria a única pessoa que vocês
confiariam?
Ela arregalou os olhos percebendo que todo o seu plano genial tinha
falhado.
—A mamãe depois da morte do papai não conseguiu mais guardar o
segredo que a filhinha confidenciou a ela, se você fosse um pouco mais
atenta saberia que a mamãe faz de tudo para que nossa família continue no
topo ela não deixaria você e a Francesca estragarem isso. Então ontem
depois de matar o seu marido eu revirei sua casa e não foi difícil achar a sua
cópia da gravação, a Francesca nunca fez questão de esconder a dela então
eu acho que essa história acabou.
—O que vai acontecer comigo?
Essa coragem era novidade, gostava mais da Letizia que corria de mim.
—Você sabe o que significa matar um membro da sua família, sabe o que o
conselho faz.
A morte era o destino sempre.
—Pelo menos eu me verei livre de você.
Ela achava que seria fácil assim.
—Eu jamais deixaria ser tão fácil assim, eu apelei por você, contei como
você estava abalada com a morte do papai e que isso deve ter mexido com a
sua cabeça então eles definiram que você permanecerá em uma clínica
psiquiátrica até que se cure. —Isso levaria muito tempo, principalmente
porque eu jamais a deixaria em uma clínica psiquiátrica.
—Domenico não faça isso por favor eu faço qualquer coisa que você quiser.
—Examinei seu desespero enquanto forçava o pulso preso pelas algemas.
Ela ainda não entendia que seria exatamente isso que iria acontecer? Ela
faria exatamente o que que queria, o que eu sempre quis.
Caminhei até ela tocando seu rosto com delicadeza.
—Seremos só eu e você irmãzinha.
Já tinha passado da hora de ela me der o que me pertencia.
[...]
O voo tinha sido cansativo, até mesmo para o GuianLucca que chorou nas
últimas horas fazendo a aeromoça me olhar desesperada enquanto o garoto
esperneava nos seus braços e ela não sabia o que fazer.
Assim que ela conseguiu uma mamadeira para ele e desembarcamos ele
parou de chorar e o jeito que o pequeno bebê olhava para ela, com uma
raiva genuína me fez sentir um orgulho que eu nunca imaginei sentir por
causa de uma ação de outra pessoa. Não acreditava que essas coisas
passassem como uma característica genética, não mesmo, mas aquele tipo
de olhar eu conhecia perfeitamente.
—Você demorou —já não aguentava mais esperar por ele naquele local
inóspito que ele usava para nossas reuniões de planejamento.
—Estou em lua de mel e não vejo sentindo que a cada quinze dias você
venha me visitar —ele era um bom amigo, mas minhas visitas nada tinha
relação a isso. Era um território novo que ainda não tinha sido
completamente tomado e isso significava que ele constantemente era
atacado e por isso tinha muito mais trabalho que qualquer outro capo.
—Ainda fazendo sexo com hora marcada? —Provoquei. Era ridículo que
ele se submetesse a fazer sexo daquela forma apenas pela necessidade que
sua esposa estupida tinha de ter um filho.
—O que seu filho está fazendo aqui? —Ele se aproximou do garoto que
estava no chão brincando com alguns cartuchos que tinha encontrado por
ali. Ele tomou o objeto da mão do GuianLucca colocando no lugar. —Isso é
perigoso para uma criança brincar.
Ele pegou o GuianLucca no colo recebendo o mesmo olhar que a aeromoça
e eu sorri.
—Ele está olhando para mim do mesmo jeito que você faz. Isso é
problemático para cacete.
Ao menos não era só eu que consegui ver aquilo.
—Por que você ainda não invadiu o fodido território do Dimitri? —Isso era
uma ordem de meses que ele vinha tentando evitar. Seus motivos eram
desconhecidos a mim, era uma cidade próxima demais de onde ele tinha
escolhido para ser sua base então era um risco que ele estava correndo atoa.
—Não consegui uma estratégia que funcione cem por cento ainda —uma
fodida desculpa do Aleksandr que não me importava mais, ele parecia
esquecer naquele momento que eu era seu melhor amigo e conhecia-o
melhor do que ninguém.
—Vou te passar uma estratégia que funciona perfeitamente, entre na droga
do território dele e mate todos, ele, sua fodida família e quem mais entrar
em seu caminho.
—Não mato mulheres e crianças. —Acariciou a cabeça do GuianLucca com
carinho fazendo meu filho apoiar a cabeça no seu ombro.
Depois da Elena eu tinha certeza de que ele pararia com isso.
—Isso não me importa, quero todos mortos e aquela cidade para nós.
Eu só pararia minha expansão quando todas as cidades daquele maldito país
fossem minhas e quando eu cumprisse minha promessa de achar ela.
—Cara aceite que ela morreu, pare com essa busca que não vai levar a lugar
nenhum.
Ignorei suas palavras, não entraria naquela conversa com ele novamente. Já
tinha escutado tudo que ele pensava sobre aquele assunto, considerado cada
ponto, mas nada disso importava. Eu iria achar a Lara.
Me aproximei pegando o GuianLucca dos seus braços.
—Você tem uma semana para me trazer os resultados que eu quero ou eu
acharei outra pessoa para fazer isso.
Não gostava de ameaçá-lo, mas ele não estava me dando escolha. Nossa
amizade não podia fazer ele se sentir confiante para ignorar minhas ordens
como chefe.
Ignorei ele pegando meu celular e ligando o aparelho. Hora de resolver
outra coisa que precisava da minha atenção.
—Vamos ver se sua mãe está pronta para fazer as coisas do meu jeito agora
Guianlucca?
Assim que o telefone ligou uma chamada chegou me fazendo me divertir
com a certeza de que ela tinha passado um dia muito estressante sem ter
notícias nossa.
—Olá Francesca.
—Cadê o meu filho Domenico? —Sua voz soava desesperada exatamente
da forma que eu queria que ela estivesse. —Ele precisa comer, tomar banho,
trocar a fralda...
—Estamos dando um passeio de pai e filho o que serão muito comuns a
partir de agora.
Aceitei quando ela quis alterar para uma ligação de vídeo e deixei que ela
visse o garoto no meu colo. Sabia que ele se parecer comigo era seu maior
pesadelo.
—Eu ainda tenho sua gravação e se o GuianLucca não chegar em casa em
vinte minutos eu vou entregar ela ao conselho. Inclusive já até chamei o
Lettiere aqui e vou entregar a ele.
Gargalhei enquanto ela se mostrava uma idiota como padrão.
—Faça isso Francesca e eu e o pequeno GuianLucca nos tornaremos
fugitivos —isso não iria acontecer, tinha certeza disso, mas gostava de
provocar ela, seu medo seria meu melhor aliado. —Porque eu adorei o
poder e nada nesse mundo me fará abrir mão dele. Será que o GuianLucca
vai conseguir sobreviver a uma guerra? Talvez a máfia até deixei você
enterrar ele depois de você se provar tão fiel entregando seu marido e filho.
—Domenico por favor me devolva ele, por favor, eu faço o que você quiser
—seu choro me fez sorrir enquanto eu encarava o garoto e percebia que
seria mais fácil do que eu imaginava controlar a Francesca.
—Amanhã é o meu aniversário então quero que minha esposa organize uma
festa surpresa.
—Como você quer dar uma festa depois do que aconteceu com a Letizia?
Será o aniversário dela também e ela...
Ela precisava me lembrar dessa merda, precisava me lembrar que eu dividia
esse dia com alguém.
—Esqueça a Letizia, esqueça que um dia ela existiu, logo todos também
esqueceram e vamos seguir nossa vida.
—Domenico por que você fez isso com ela? —Era bom que ela não tivesse
dúvidas disso.
—Vocês acharam que podiam me chantagear e saírem ilesas? Eu vou
destruir vocês duas e a partir de agora Francesca cada vez que eu ficar
irritado com você eu descontarei nesse garotinho —Olhei para o meu filho
evidenciando o que eu faria e apertei a perna dele até que ele gritasse.
Ignorei o olhar crítico do meu melhor amigo e continuei. —Uma pergunta
estupida, uma recusa, uma respiração errada e ele paga.
Suas lágrimas me fizeram sorrir.
—Eu farei tudo certo.
—Eu sei que fará você é perfeita.
Prólogo
Spoliation VEM AÍ
Aleksandr Semenov Conti
Encarei a mulher na minha frente não escondendo o sorriso perverso. Ainda
era tudo uma grande bagunça, eu tinha sangue por todo o meu corpo, mas
aquele era o meu problema e eu não teria um banho antes de resolvê-lo.
Então ela e aquelas crianças teriam que lidar com essa merda.
—Você precisará me matar antes de encostar nos meus filhos. —Ela já tinha
demonstrado toda sua irá para os meus soldados, os primeiros que tiveram
contato com ela.
Examinei cada pedaço de si confirmando que minhas ordens tinham sido
seguidas e ela não aparentava nenhum ferimento. Sua camisola branca de
cetim estava impecável, como se não tivesse nem mesmo dormido, as
crianças atrás de si também vestiam pijamas. A menininha que tinha os
olhos grudados em mim tinha os olhos pesados como se tivesse sido
acordada pela nossa bagunça. Eu queria ter feito tudo aquilo longe da casa,
mas o pai dela era um covarde filho da puta que achou que podia usar
minhas próprias leis para impedir meu ataque. Não era segredo que eu não
tocava em mulheres e crianças então ele achou que manter seus filhos e
esposa por perto o protegeria de alguma coisa.
—Mantenha seus olhinhos fechados meu amor. —Suas mãos tocaram no
rosto da menininha que parecia mais velha das três crianças ali, uma ainda
na barriga e o outro que era apenas um bebê e estava em um carrinho, que
ela escondia atrás de si, sua posição não a deixava perceber que os olhos da
menina estavam bem atentos a mim, os olhos tão azuis quanto os meus.
Abri ainda mais o sorriso e fui presenteado com um sorriso de volta da
criança.
—Vocês ficaram na minha casa até que eu decida o que fazer. —A surpresa
foi geral e nem meus homens disfarçaram e os burburinhos se tornaram
altos o suficiente para que eu tivesse que olhar para trás exigindo silêncio
apenas com um olhar. Não podia simplesmente deixá-los livres, eu não era
um monstro e o marido dela abandonou muitos problemas e muitos
inimigos que não tiveram a chance que eu reivindiquei para mim ao matá-
lo, eles poderiam buscar vingança nos seus herdeiros e na sua mulher e nem
todos eram como eu e o problema mais importante de todos, Domenico
Salvatore.
[...]
Redes Sociais
Gostou da história? Não esqueça de deixar uma avaliação!
O livro do Aleksandr, Anastasia e a Ekaterina sai em novembro me siga nas
redes sociais para ser avisada quando. E sim, eles serão um TRISAL .
https://morganasalvatore1.blogspot.com
https://instagram.com/MorganaSOficial
https://facebook.com/MorganaSOficial

Você também pode gostar