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F.

EMERSON

CEO
ENTRE O AMOR
E A OBSESSÃO
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode
ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônicos ou
mecânicos, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem autorização escrita do
autor.
Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da
imaginação. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, locais,
fatos ou situações da vida real deve ser considerado mera
coincidência.
Copyright 2022 (1 edição) – FRANCISCO EMERSON
Prólogo

O dia estava ensolarado, tinha certeza de tal fato pelos raios


solares serem os responsáveis pelo meu corpo estar repleto de
suor. Eu havia acabado de terminar a faculdade e estava buscando
uma vaga na minha área em qualquer empresa do estado, mas
parece que ter um vasto currículo e vários prêmios não adiantava de
nada se não estivesse disposta a dormir com o chefe.
Me alimentava de esperanças de que nesse mundo machista
conseguisse conquistar minha própria carreira sem precisar me
deitar com ninguém. As pessoas na rua passavam ao meu lado,
andando, às vezes correndo com seus ternos chiques e roupas
caras.
Me sentir humilhada era um jeito horrível de procurar emprego,
os entrevistadores notavam a faceta derrotada de cada entrevistado,
tinha que me manter estável ou pelo menos disfarçar alguma
empolgação na hora de responder as perguntas.
Meu terno comum talvez não chamasse muito a atenção,
contudo, preocupei-me mais em como responder as perguntas do
que com as roupas, e isso era um dos meus defeitos, preocupação
demais em ser a melhor e esquecer da aparência. As pessoas
sempre esperam que uma mulher como eu esteja sempre linda e
cheirosa, de cabelo arrumado e pernas à mostra.
Nunca liguei muito para as opiniões de desconhecidos, usava
somente o básico que minha área pedia: um terno fechado preto,
uma calça jeans e tamancos comum. Minha bolsa, com um pequeno
rasgo no fundo, já estava um pouco deteriorada, mais por dentro do
que por fora. Meus pés já doíam de tanto caminhar, fui de uma
empresa a outra, desesperada e ansiosa para ser contratada.
Depois das quatro viagens que fiz de um prédio a outro, onde
sabia que não havia nenhuma chance de ter ficado nem entre os
dez melhores, parei em meu ponto de ônibus.
A minha sorte foi que em menos de um minuto em pé, o ônibus já
parara em frente. Esperei os passageiros descerem, quando as
passagens ficaram vazias, entrei e sentei no primeiro assento que
vi. Fechando os olhos, finalmente, pude respirar um pouco. Como
era bom relaxar um bocadinho. Demoraria pelo menos uns quarenta
e cinco minutos até que o ônibus passasse perto do quarteirão de
onde minha casa se localizava, daí em diante teria de ir a pé.
É... nada na vida vinha fácil, amanhã repetiria o mesmo
processo, diferente de hoje, teria de ir apenas em duas empresas, e
jamais queria falar mal de nenhum estabelecimento, mas os que iria
considerava como um dos piores da sua cidade. Podia ver pelo
reflexo do vidro do veículo, minha expressão triste, por algum motivo
pensei que ninguém me contrataria, e eu não sabia bem o porquê.
— Com licença senhora, posso me sentar do seu lado? —
Perguntou um velhinho de bengala, seu sorriso deixou impossível
que um “não” saísse da minha boca.
— Oh, claro. Sinta-se à vontade. — Me afastei para perto da
janela, deixando meu lado esquerdo vago.
O velhinho simpático sentou-se com bastante dificuldade, era
sempre triste imaginar uma pessoa no fim da vida. Ele nem
conseguia manter-se de pé sem apoio, mas a velhice abatia a todos
sem exceção.
Enquanto meus olhos observavam os prédios que passavam
rapidamente, fiquei com muito sono ali, quase deitada na cadeira.
Tratei de ficar acordada no maior tempo possível, seria um enorme
mico uma mulher responsável como eu perder a minha parada. O
vagão estava quase cheio, corpos esfregavam-se uns nos outros
sempre que alguém entrava ou movia-se para sair do transporte.
Minha maior sorte foi que mais nenhuma pessoa de idade
apareceu, fiquei no assento até que o ônibus parou e precisei
levantar e tomar bastante cuidado para não pisar no pé de ninguém.
Uma mulher loira na minha frente, também de terno, inclinou a
cabeça bem na hora que passava por ela, percebi seu julgamento
nas expressões faciais, com certeza eu não estava à altura das
suas roupas caras e visual padrão, mas no fim estávamos as duas
num transporte público.
Quando coloquei meus pés na calçada, o ônibus fechou as
portas e saiu em disparada, deixando um rastro de fumaça que
invadiu meu nariz e garganta, os outros que passavam por mim se
afastavam depressa, com medo de que pudessem pegar uma
doença, no entanto, só estava tossindo um pouco. No momento
que, finalmente, consegui respirar normalmente de novo, precisei
andar um bocadinho. Minhas canelas doíam e minhas coxas ardiam
ao, por fim, chegar em casa.
Tirei as chaves do bolso da minha calça e revirei os olhos, já
podia ouvir os gritos de minha mãe e irmã. As duas discutiam mais
uma vez.
— Você só tem dezessete anos, garota! — Disse minha mãe,
aparentemente da sala. — Não pode sair com homens mais velhos.
Já para o seu quarto!
— Ele só tem vinte anos, que coisa! Nunca posso sair para me
divertir. Charlotte sempre sai por aí e nunca vejo a senhora
reclamando. — Respondeu Alexandra, mais uma vez metendo a
mim nas suas discussões.
— Se aparecer grávida chamarei a polícia e mandarei prendê-lo
por estupro. — Falou minha mãe, como sempre, exagerada.
— Ficou louca? Ele não faz nada de que eu não queira.
— Então, já estão transando?
Alerta vermelho, tive que entrar o mais depressa, pois pressenti
que a partir dali a situação pioraria. Deixei bem claro minha chegada
quando deixei as chaves caírem propositalmente no chão, causando
um barulho incômodo e chamando a atenção das duas.
— Ótimo, chegou na hora certa! — Esbravejou mamãe,
colocando os dois braços na cintura.
— É, Charlotte, conte para ela que não é nada demais ter um
namorado de pouca diferença de idade! — Alexandra cruzou os
braços.
— Melhor, por que não chama ele para vir aqui? Assim mamãe
pode vigiar vocês dois e vocês passam o tempo juntos.
As duas se encararam por um momento, pensando bastante na
possibilidade. No fim, as duas só se viraram e saíram, cada uma
para um lado, felizmente eu sabia que haviam concordado comigo.
Fiquei feliz por ter acabado uma discussão das duas cedo, naquele
dia só queria dormir sem ser incomodada.
Andei na direção da escada, e, no momento que meu pé
esquerdo encostou no segundo degrau, ouvi a voz da minha mãe
chamando:
— Charlotte, venha já aqui! Tem algo de que talvez goste!
A dúvida encheu minha mente. Curiosa demais com as palavras,
a encontrei na cozinha para saber do que se tratava. Ela segurava
uma carta destinada ao meu nome, mandada por... Empresas
Marrone.
— Me lembro de ter ouvido você falar que seu sonho era
trabalhar numa dessas empresas poderosas, bem... aí está sua
chance. — Minha mãe sorriu. — Me deixe orgulhosa e trate de
passar nessa entrevista.
Ela me abraçou, também pareceu nem se importar quando não
retribui. Estava chocada demais com a notícia, abri a carta
rapidamente, vendo o que me escreveram.
Aqui é Beatriz Hernandes das Empresas Marrone. Venho por meio desta lhe
informar que recebemos o seu currículo e ficamos interessados em conhecê-la,
esteja no endereço citado acima as oito horas da manhã. Será entrevistada, então
esteja calma e tranquila, testaremos se você é realmente capaz de fazer parte da
nossa equipe.
Minha boca ficou aberta, não consegui emitir nenhum som, falar
sequer uma palavra. A minha expressão facial de espanto já
demonstrava tudo. Segurei o papel com tanta força que quase
rasguei uma das pontas que segurava. Guardei a carta de volta no
envelope e subi para o meu quarto. Pesquisaria tudo quanto
pudesse da empresa, se por algum milagre eu passasse na
entrevista meu futuro estava feito.
Capitulo 1
CHARLOTTE

Foi difícil dormir com os muitos pensamentos rondando minha


cabeça. Estava abraçando meu próprio corpo com a carta entre os
braços, de tão feliz que estava. Uma chance, pedi aos céus por uma
chance e o pedido foi realizado. Antes da noite terminar, passei
duas ou três horas, não me lembro bem, pois estava com tanto
sono, pesquisando sobre a empresa. Tinha de me preparar para
qualquer tipo de pergunta que o entrevistador decidisse fazer.
Meus olhos lutavam para se sustentar na tela do pequeno
notebook, que adquiri com bastante esforço e trabalho duro. O sono
me consumia, mesmo tentando resistir, minha mente começou a
não conseguir trabalhar nas pesquisas e estudos, então optei por
dormir. Uma noite em paz era necessário para reunir energia para
um novo dia.
Quando a acordei, esfreguei os olhos e bocejei bastante,
espreguicei-me esticando os braços primeiro, depois as pernas. O
desespero começou a tomar conta de mim, por sorte meu celular
estava na cabeceira da cama, o peguei e olhei as horas. Acordei
duas horas antes do combinado. Logo pude sentir o alívio, havia
bastante tempo para minha higiene. Removi o lençol de cima do
meu corpo e coloquei meus pés no chão frio, quando senti um
arrepio pensei logo em colocar uma água para ferver, não tinha
condições financeiras para ter água quente num chuveiro e não
seria maluca de molhar meu corpo com água gelada.
Desci para o corredor de baixo, vendo minha irmã falando
animadamente no celular sentada no sofá da sala, de repente franzi
o cenho ao ver a expressão dela, mas nada falei, provavelmente se
tratava do namorado. Caminhei em direção a cozinha e vi minha
mãe limpando o chão.
— Quer que eu prepare o café da manhã? — Perguntei.
— Quero sim, muito obrigada.
Minha mãe sempre foi uma ótima dona de casa, menos quando
se tratava de cozinhar. Quando meu pai nos deixou eu só tinha dez
anos, tive de aprender a fazer o café da manhã, almoço e jantar, ou
então a família morreria de fome. Peguei 6 pedaços de pão integral
e os unifiquem, fazendo uma espécie de três sanduíches sem
recheio. Quebrei os ovos na frigideira e comecei a mexe-los, quase
no final coloquei uma pitada de sal, e o que iríamos comer estava
pronto.
— Alexandra, se quiser já pode comer! — Disse suficientemente
alto para ela ouvir.
Ela só voltou a rir ainda com o olhar pregado na tela do celular,
provavelmente por uma mensagem engraçada do namorado.
Revirei tanto os olhos que podia confundi-los com as pupilas
brancas da Tempestade dos x-men. Meninas dessa idade deveriam
estar se preocupado com o primeiro emprego e não com namorados
passageiros.
— Obrigado, minha filha. — Minha mãe falou, respirando
pesadamente depois do esforço de ter limpado a casa. Sentou-se e
pegou um dos pães com ovos.
— Já terminarei de fazer o café. — Falei, rapidamente fiz os
preparativos e coloquei minha água para ferver. Em menos de trinta
minutos os dois estavam prontos.
Comi o que preparei e minha mãe também, a comida da minha
irmã ficaria ali, a deriva, em cima da mesa por um bom tempo. Voltei
ao meu quarto com a panela com água morna e derramei num balde
com água fria, a mistura fez com que o líquido ficasse morno o
suficiente para que meu corpo não sofresse nenhuma queimadura.
Terminei até que rápido de me banhar, levei menos tempo para
escovar os dentes também.
No quarto, somente com uma toalha, tive que escolher as roupas
que usaria, nunca dei sorte das últimas vezes que tentei ir de terno
ou de modo mais comum. Dessa vez optei por um vestido azul
marinho, que comprei para meu primeiro e horrível encontro, um par
de brincos de argolas, nos lábios algo bem vermelho e por fim,
saltos altos. Penteei meus cabelos um pouco e já estava preparada,
minha autoestima foi ao máximo quando contatei o mulherão que eu
era, uma pessoa digna de ser admirada.
Pegando minha bolsa com os principais documentos e enfiando
meu celular no sutiã, me despedi da minha mãe e peguei o primeiro
ônibus numa parada um pouco lotada. Dentro do veículo, consegui
um assento vago. Em menos de segundos um homem sentou-se ao
meu lado, quando ele abriu as pernas automaticamente fez encolher
as minhas, olhei raivosa para o sujeito e minha expressão pareceu
não surtir efeito.
Já passei por isso algumas vezes, homens folgados tinham essa
mania de abrir as pernas, ocupando mais de seu espaço. Forcei
minha perna direita contra a esquerda dele, então sem nos
olharmos começamos uma intensa batalha, onde no final ele acabou
se rendendo e deixando meu espaço livre.

Pude notar também que um senhorzinho ficava me olhando de


cima a baixo com um olhar repugnante, o velho andou
discretamente na minha direção, ficando do lado do homem. Como
que esperando que o cara cedesse o assento. Rezei para que
aquele desconhecido fosse um completo filho da puta e fingisse que
o velho não estava lá, pois eu conhecia aqueles tipos, ele procurava
uma mulher desatenta com que pudesse se esfregar. Caso me
levantasse seria pior, já sabia que ninguém acreditaria em mim caso
contasse, minha única chance de não descer do transporte seria se
o meu vizinho ignorasse o velho, e o foi o que fez, fingindo que
estava dormindo.
O senhor bufando de ódio, dirigiu-se as cadeiras traseiras do
ônibus. Já eu, respirei aliviada, e nunca fui tão agradecida a alguém
como fui com o desconhecido, mesmo que ele próprio não
soubesse. Pelo resto da viagem não vi nada de grave, no entanto,
continuei disfarçadamente olhando para o senhorzinho de vez em
quando, para ter certeza de que ele não tentaria nada com um
grupo de alunos ali perto.
Mulheres não estavam seguras em nenhum lugar.
O ônibus parou algumas vezes e mais pessoas subiram, dando
mais uma olhada — e graças a Deus foi a última — no velho, ele
havia descido. Com um sorriso escrachado no rosto, fiquei feliz
pelas meninas ainda estarem conversando animadamente sobre
qualquer coisa.
Percebi que o ônibus parou novamente e se eu não tivesse
parado de olhar as garotas, não teria conseguido descer a tempo.
Rapidamente levantei e falei alto para o motorista que iria descer,
pedi licença ao homem do meu lado e corri para as portas.
Já na calçada do centro da cidade, muitas pessoas passavam
por mim ignorando minha existência, e eu não os julgo. A maioria
devia estar atrasada para o trabalho ou enfrentando imprevistos.
Ajeitando minha bolsa no ombro, olhei discretamente o meu celular,
vendo que se não corresse chegaria atrasada na empresa, saí em
disparada. O problema foi que as palavras “desculpas” saíam da
minha boca facilmente, pois inevitavelmente, devido a minha
velocidade, meu corpo se chocava com alguns outros.
— Com licença. Desculpe. — Vi uma mulher olhando raivosa
para mim. — Desculpe. Desculpe novamente.
O sol quente já me fez suar bastante, só esperava que o suor
não estivesse se impregnado ou então o mau cheiro atrapalharia
meu resultado na entrevista. Cansada e exausta, depois de três
quarteirões e bastante gente, parei. Era impossível reunir forças
para correr novamente.
Minha sorte foi que consegui parar em frente a empresa. O
prédio era enorme, tanto de largura como de altura. Os vidros eram
simplesmente lindos, brilhavam em contraste do sol, no alto, no final
da torre do meio entre três, estava o logo da empresa MMB, ou seja:
Matteo Marrone Bertolucci.
Ser um homem com tanto poder devia ser incrível, sendo capaz
de fazer qualquer coisa e ter qualquer um aos seus pés. Aquilo me
deixou animada e concentrada, precisava daquele emprego para
conseguir um pouco desse poder. Olhando alguns outros entrarem,
percebi que as mulheres não estavam muito diferentes de mim, o
fato me deixou mais feliz, consegui escolher a roupa certa.
Entrei no prédio ansiosa, tentando ao máximo me manter
equilibrada nos saltos altos. Andava meio torta, mas ninguém
pareceu sequer notar. O lugar era tão incrível que fiquei ali parada,
dando voltas e mais voltas, olhando ao meu redor, as pessoas
caminhando com papéis na mão e celulares no viva-voz. Vendo a
primeira secretária, meus olhos cintilaram na sua direção, o
emprego que eu almejava tanto. Faltava pouco, engoli em seco
quando tomei a coragem necessária para andar na direção dela.

Chegando na mesa da mulher, abri a boca, contudo nenhuma


palavra saiu. No momento que a secretária levantou o olhar,
mexendo nos seus óculos ela tentou decifrar minha expressão
idiota, depois recostou na cadeira e cruzou os braços.
— Posso ajudar?
— Vim para uma e-entrevista... — Gaguejei de tal forma que
minhas bochechas ficaram muito rosadas. — Meu nome é Charlotte
Bela Galvão.
A secretária moveu-se tão rápido que pisquei e já a vi mexendo
no mouse de seu computador. Nem um minuto completo se passou
e ela deu um meio sorriso.
— Seja bem-vinda, senhora Galvão, chegou na hora certa. Por
favor, me acompanhe. Um de nossos sócios irá entrevista-la. — A
mulher levantou-se com elegância e pude ver sua beleza, branca
como neve, podiam dizer que ela era quase albina. Os olhos verdes
a deixavam mais charmosa.
Nunca conseguiria chegar naquele nível. Obviamente ela
também se vestia melhor do que eu, usava um vestido vermelho
com saltos médios, e quando começou a andar, parecia ter muito
alto controle do seu corpo para não se desequilibrar nenhuma vez.
Os cabelos amarrados num lindo rabo de cavalo dançavam de um
lado a outro. Os homens não perdiam tempo de olhá-la
disfarçadamente, e conhecendo mulheres desse tipo, diria que ela
fingia não notar.
Entramos no elevador com mais dois homens, que pelas
enormes maletas e ternos bonitos podiam ser advogados. Estava
tão nervosa que timidamente olhava para os dois homens e
desviava de volta para as costas da mulher, motivos: nenhum.
Estava tão nervosa que já sentia raiva. Minhas mãos suavam e tive
de ter muito autocontrole para que minhas pernas não começassem
a tremer.
As portas se abriram e eles saíram, restando apenas eu e a
mulher no elevador. Ela inclinou a cabeça para mim e disse:
— Meu nome é Melissa. Eu é que te ligarei de volta. Claro, se
conseguir passar.
O pequeno sorrisinho ao inclinar a cabeça de volta a posição
normal me fez estremecer. Ela fizera de propósito, podia apostar
todas as minhas fichas nisso. Cruzei os braços e tentei ao máximo
transparecer calma, se ela queria me ver nervosa, me encarregaria
de frustra-la.
As portas enfim se abriram e nós duas saímos num corredor
longo, havia no mínimo cinco salas, e mais uma de reuniões que era
maior do que as outras. Caminhamos até a última sala do fim do
corredor, onde podia-se notar uma mesa em frente a porta, vazia.
Provavelmente tratava-se da minha tão sonhada vaga.
— Bem, espero que esteja com todos os seus documentos... —
Ela virou-se e falou, procurando um papel. — Aqui está, preencha
tudo e sente-se junto as outras.
Pareceu o início de um pesadelo. conforme a mão dela levantou-
se no ar e o dedo indicador apontou na direção de cadeiras onde
havia mais cinco mulheres sentadas. Estava tão distraída com a
mesa maravilhosa que nem percebi minhas concorrentes. A culpa
da inocência de achar que seria a única chamada era só minha, fui
ingênua.
Sem esbanjar minha tristeza, caminhei sem reclamar para o
último assento vago. As mulheres tinham os mais variados tipos de
idade, do meu lado praticamente uma adolescente de vinte e um ou
vinte e dois anos, até uma que podia ter por volta dos cinquenta.
Nenhuma delas teria chance contra mim, pelo menos foi o que
pensei como tentativa de alavancar minha autoestima.
Vi no segundo que a secretária pediu educadamente para que a
primeira mulher entrasse no escritório para ser entrevistada, que
talvez ele devesse ter algum tipo de preferência, a que passou por
mim era magra e loira. Me perguntei como esse homem devia ser, já
que em breve, pelo menos era o que esperava, trabalharia para ele.
A segunda mulher na cadeira tremia os pés e a quarta abria e
fechava as mãos repetidamente, pareciam mais nervosas.
Tentar ficar calma num momento crucial como aquele seria
burrice, a pressão de ter a chance de trabalhar numa empresa como
aquela poderia matar qualquer uma.
O tempo passava e as mulheres começaram a deixar seus
assentos vagos, pelo menos consegui ficar um pouco mais calma.
Melissa ainda se mantinha séria, sua expressão não deixava
transparecer nada, nem quando as mulheres saíam desesperadas
da sala. Quando enfim a última saiu, a secretária me encarou com
um sorriso simpático, movendo a mão na direção da porta, insinuou
que era minha vez.
Respirei fundo uma última vez e entrei. Havia um homem de
terno bege de costas numa cadeira giratória olhando alguns papéis.
Não sabia o que dizer, podia estar ocupado com algo importante.
Logo franzi o cenho, mesmo podendo ser urgente, minha entrevista
tinha de ser feita.
Pigarrei e chamei sua atenção quando a cadeira foi girada, ele
me encarou com seus cristais azuis e jogou os papéis na mesa. O
cabelo curto, mas arrepiado e a expressão curiosa me lembrou
alguém, uma pessoa famosa. Uma pessoa que trabalhava na
empresa.
Minhas pernas tremeram, nem soube como ainda conseguia ficar
de pé. Por isso as mulheres saíram quase chorando, devem ter
ficado surpresas, assim como eu, de serem entrevistadas
pessoalmente pelo próprio dono da empresa: Matteo Marrone
Bertolucci.
— Sente-se, por favor. — Ele disse, e por algum momento pensei
em revirar os olhos, quando meus ouvidos captaram o som daquela
voz grossa. Meus pelos ficaram todos em pé.

Timidamente, puxei a cadeira e sentei desajeitadamente,


coloquei minha bolsa no colo e dei um meio sorriso bobo. Por Deus,
aquela barba feita poderia roçar no meu pescoço...
— Seja bem-vinda, senhorita... deixe-me ver. Charlotte Bela
Galvão. — Falou ele.
— Bom dia, obrigada. — Não seria isso que iria dizer, mas agora
era tarde, e, ele nem sequer se deu ao trabalho de me olhar.
— Por qual motivo acha que devo te contratar?
Arregalei um pouco os olhos, uma pergunta que costumavam
fazer no fim da entrevista estava sendo feita ali e agora. Demorei
segundos para responder, e, isso finalmente atraiu o olhar dele,
colocando minha ficha em cima da mesa junto de outros papéis,
cruzou os braços em cima da mesa e inclinou o corpo um pouco
para frente, como se quisesse enxergar melhor minhas expressões.
— Nunca tirei menos do que oito na faculdade, quase sempre fui
a primeira da turma em muito projetos e provas. — Tinha mais o que
dizer, no entanto minha mente ficou absurdamente branca, como se
tudo que eu aprendi tivesse sido apagado da memória, por isso
fiquei um tempo pensando. — Tem pouco tempo que consegui meu
diploma, só não consegui emprego por não ter experiência e não
posso ter experiência sem oportunidade.
Tive certeza de que minha expressão séria não fraquejou em
nenhum minuto, pelo menos uma vitória.
— Ninguém deve tê-la contratado por ter aparecido pessoas
melhores, disse que nunca tirou menos do que oito na faculdade. A
última entrevistada que saiu daqui não tinha nem vinte e quatro
anos direito, nunca tirou menos do que dez. Jennifer, a segunda
mulher que entrevistei, sempre foi a melhor de toda a turma em
absolutamente tudo. Seus últimos chefes deram excelente
recomendações, então pergunto mais uma vez, por qual motivo
acha que devo contratá-la?

Nossa, aquela reviravolta me pegou desprevenida, achei que


havia ido muito bem. Podia entender agora o motivo de algumas
mulheres terem saído da sala segurando o choro, o empresário não
estava ali para brincadeiras. Bom...eu também não estava.
— Deve me contratar pelo simples motivo de que não precisará
mais se preocupar em marcar reuniões ou perder horários. Meus
serviços serão essenciais, pois nem precisa me pedir nada, uma
técnica que aprendi é que uma boa secretária sempre escuta a
conversa dos seus chefes. Assim você nem tem que se preocupar
em me dar ordens de quando marcar as reuniões, nenhum cliente
desaforado passará por mim sem sua permissão, caso aconteça,
chamarei rápido a segurança.
— Me chamou de “você” — Ele sorriu, como se eu tivesse
acabado de cometer um erro.
— E quando me contratar me dirigirei a você como “senhor”. —
Dei o mesmo sorriso cínico. Numa pequena fração de segundos
pude ver um olhar chocado.
Matteo recostou na sua cadeira mil vezes mais confortável do
que a minha, começou a batucar seus dedos irritantemente na ponta
da mesa. Parecia pensar numa próxima pergunta, uma que me
deixasse constrangida ou sem ter o que dizer. No entanto pareceu
desistir e continuar no básico.
— Me diga quais são suas principais qualidades? — Ele estreitou
disfarçadamente os olhos.
— Sou pontual, evito incomodar meu chefe se não for
extremamente necessário e sou esforçada. — Fiquei feliz por mim
mesma, não gaguejei e respondi na hora.

— São qualidades boas, espero que superem os seus defeitos,


que são...
— Não sou muito sociável, concentro-me mais no meu trabalho.
Sou bastante introvertida, por último, não gosto de puxar o saco de
ninguém para conseguir ou pedir favores.
— Esses defeitos são qualidades ao meu ver. — Ao arregalar os
dentes tive medo de não conseguir mais respirar, talvez esse fosse
o intuito dele.
— Minha última pergunta, e quero que responda com
sinceridade. Caso minta, saberei na hora. Eu sempre sei. — Matteo
ficou de pé, dando as costas, caminhou para a janela, aproveitando
a bela vista enquanto eu ainda continuava temerosa no meu lugar.
— Por que quer trabalhar nesta empresa?
Aquela seria fácil, tentaria não ser arrogante e não puxaria muito
o saco dele ou entraria em contradição com minhas palavras
anteriores.
— Essa é uma das melhores empresas do ramo de finanças e
trabalhar aqui seria ótimo para a minha carreira agora e a longo
prazo. — Pronto, respondi tudo. Esperar pelo resultado daquele
homem era como saber se passei nas provas da faculdade ou não.

Ele não se virou quando terminei de falar, só continuou ali


parado, imóvel. Nada falei, ficaria calada, por algum motivo eu tinha
receio de estragar tudo. Passei por inúmeras empresas e muitos
escritórios, ficaria deprimida se mais uma vez tivesse falhado. Assim
que o corpo de Matteo girou, fiquei mais tensa, fechei os punhos e
podia sentir minhas unhas penetrando minha pele.
— Muito obrigado, minha secretária temporária te dará uma
resposta amanhã. Você já conhece a saída. — Disse simplesmente.
Sem mais nem menos voltou a sentar na cadeira, agarrou uma
caneta e começou a escrever, esquecendo totalmente de minha
existência.
Meio aturdida, me levantei, afinal, aparentemente a entrevista
havia terminado. Sem falar nada, simplesmente me virei na direção
da saída, quando passei por Melissa percebi um meio sorriso, sem
saber o que a expressão significava, se me saí bem ou não.
Continuei andando com o rabinho entre as pernas. Nem esperei a
secretária, ela conhecia o caminho obviamente, e eu também. Entrei
no elevador e apertei o botão do primeiro andar sentindo a tristeza
inundar meus pensamentos.

E se eu tivesse sido horrível como das outras vezes? Minha


aparência podia não ter sido o bastante para convencê-lo. Matteo
talvez tivesse sentido um ar de mentira nas minhas palavras,
mesmo que todas que saíram de minha boca fossem verdadeiras.
Voltar novamente até minha casa sem saber se fui aprovada ou não
me deixava inquieta, eles podiam me ligar amanhã, na próxima
semana ou nunca mais.
Essa última opção estava fora de cogitação.
Já no corredor vi novamente todas as pessoas que trabalhavam
ali, na correria do dia a dia. Aquela empresa era o meu sonho,
precisava ter fé de que iria conseguir a vaga. No lado de fora havia
mais um amontoado de gente na calçada, o problema mesmo foi
conseguir chegar na minha parada e conseguir pegar o ônibus a
tempo.
Os transportes públicos sempre eram lotados no começo do ano,
o ano novo havia terminado há dez dias e as pessoas estavam
desesperadas para conseguir um trabalho. Sinceramente, espero
que a maioria delas consiga, eu irei me jogar na cama assim que
chegar em casa, o dia teoricamente não acabou, mas para mim que
enfrentei mais uma batalha, dormiria até amanhã.
Capitulo 2
CHARLOTTE

Mais uma vez, triste, desolada, com vontade de desistir de tudo,


chego em casa sobrecarregada. Queria apenas me jogar na cama,
mas obviamente as outras duas mulheres da casa não deixaram.
Consegui ouvir outra discussão, mais uma vez relacionada a
homem.
— O que há dessa vez? — Gritei da sala.
Alexandra veio com passos pesados da cozinha, com uma
expressão transtornada. Parecia uma criança de cinco anos que não
conseguiu o que queria.
— Mamãe não quer deixar meu namorado vir aqui, como
tínhamos combinado ontem. — Alexandra deu ênfase nas últimas
palavras, forçando a me lembrar do dia anterior onde falei que seria
uma boa opção ela e o namorado passarem um tempo aqui em
casa, sob supervisão de minha mãe.
Antes que pudesse falar, minha mãe surgiu na sala com um ar
impaciente, como na maioria das vezes que não conseguia manter
um diálogo normal com minha irmã. Sua expressão mostrava que
ela queria esganá-la. Eu também tinha de admitir que as vezes
Alexandra podia ser muito chata.
— Esqueceu de falar que ele iria dormir aqui, no seu quarto! —
Minha mãe colocou as mãos na cintura, aguardando uma resposta
minha.
Mas antes que eu pudesse falar minha irmã a encarou, cruzando
os braços e batendo várias vezes o pé esquerdo no chão.
— Não aconteceria nada, só dormiríamos!
Até eu tive que revirar os olhos com a mentira deslavada.
Ninguém podia ser tão burro no ponto de cair naquela lábia, mais
uma vez eu me metendo numa briga que nada tinha a ver comigo, e
mais uma vez eu tentando arrumar uma solução.
— Faça o que eu disse ontem, traga ele aqui. — Percebi um
sorriso no rosto de Alexandra, então tratei de continuar. — E mande-
o embora às nove.
Dessa vez minha mãe foi quem sorriu, eu também não
concordava de uma menor idade dormir com um adulto, somente
depois de fazer dezoito anos. Aí a responsabilidade não era mais
minha.

As duas ainda tiveram mais uma pequena discussão, minha


cabeça no momento estava doendo por estar pensando em muitas
coisas em um curto espaço de tempo. Deixei as duas a sós e subi
para o meu quarto, lamentar o fato de que provavelmente nunca me
ligariam. Bem que desabafar com uma amiga seria uma boa ideia,
mas não tenho nenhuma amiga por muitos motivos: já foram falsas,
não entenderam o fato de eu ser bastante estudiosa e às vezes não
ter tempo para elas, inveja...
Só me joguei na cama e fiquei pensando em como seria minha
vida se eu começasse a trabalhar na empresa. Muito glamour,
colegas espetaculares e um salário altíssimo, onde poderia me
ajudar a ter uma vida melhor. Depois, toda noite beberia uma taça
de um vinho caríssimo. Ri igual a uma lunática, meus pensamentos
exagerados me faziam rir nesse mar de tristeza que estava minha
vida. Nunca pensei que mesmo com um diploma a vida continuava a
ser difícil.
A noite parecia um pouco densa lá fora, caminhei para a janela
do meu quarto e a abri, encarei o céu escuro com cautela, muitas
nuvens. O calor de repente dava margem ao frio... tive a certeza de
que iria chover, o que era um grande problema se eu não soubesse
com antecedência. Rapidamente fechei as janelas e corri ao andar
debaixo, minha irmã já recebia o namorado na porta, mas eu não
tinha tempo de conhece-lo naquele momento.
— Mãe! — Chamei, um pouco apavorada.
— Pelo amor de Deus, o que foi? — A mulher apareceu com um
pano na mão e um prato na outra, desesperada pelo tom do
chamado.
— Temos que colocar baldes onde possa dar goteira e proteger
os móveis e objetos para que a chuva não destrua nossos
pertences. — Falei. A primeira coisa de que fiz foi dar um rápido “Oi”
a Osvaldo, namorado de Alexandra. Peguei um plástico enorme, o
suficiente para proteger o guarda-roupas e fiz questão de colocar
em cima, onde praticamente serviria para proteger todo o resto.
Ajudei minha mãe a colocar os baldes onde possivelmente ficaria
alagado. Minha irmã ao contrário de mim, já estava sentada no sofá
com o namorado, nem sequer lembrando de ajudar a manter a
maldita casa onde ela própria passava todas as noites desde seu
nascimento. — Alexandra?

Chamei, mas a garota apenas deu uma olhada sorrindo e fez um


gesto de desdém com a mão, em seguida voltou-se ao namorado
que não era lá grandes coisas além de um corpinho bonito.
— Ótimo, minha filha. Coloque isso ali. Muito bem!
Segui ordens da minha mãe com maestria, em seguida peguei
mais alguns plásticos e protegi objetos e móveis importantes, como
minha cama, televisão e mesa de jantar. Lugares que já presenciei
fortes gotas de chuva.
As condições que minha vida tinha não era das melhores,
contudo nunca reclamei. Sempre fui uma criança feliz, esforçada em
melhorar de vida. Sempre tentei tirar o melhor da situação, não
importasse o quão ruim fosse. Só que nesses últimos dias o
fracasso tem tomado minhas energias, deixando-me fraca e com
insônia. Finalmente saí da sala quando ouvi um “você é muito
gostosa” da boca do namorado da minha irmã, infelizmente pude
ouvir da escada o som de beijos.
Aquilo podia me lembrar de quando eu mesma tive namorados,
uns três, com exceção de Paulo, os outros dois foram inúteis e não
acrescentaram em nada na minha vida. O meu relacionamento com
Paulo teve fim quando ele preferiu terminar comigo por ter se
apaixonado por outra pessoa, foi triste, no começo revoltante, mas
pelo menos ele foi sincero e não me traiu para depois dar uma
desculpa esfarrapada. Uma pena, fui insuficiente até para o melhor
homem que já apareceu na minha vida, devia ter lutado mais, eu
devia... droga, fazê-lo sentir algo por mim novamente. Num
relacionamento de muitos anos era normal o sentimento ficar morno,
mas nada acabava, nunca acabava quando ainda se convivia ao
lado do outro.
Pelo menos essas lembranças dolorosas eram insuficientes para
me fazerem ficar desolada ou muito triste na minha fase de vida
atual. Minhas preocupações eram outras. Já precisava acrescentar
mais qualidades no meu currículo e fazer mais cursos, quem sabe
assim consigo entrar no mercado de trabalho.
Não fiquei surpresa quando minha previsão foi certeira, e a
barulheira no telhado começou, eu soube que o céu chorava, de
raiva pelo tom forte da chuva. Chegando no meu quarto pela última
vez, fechei a porta e a tranquei. Odiava ter que deixar meu quarto
destrancado, isso inclusive causou uma discussão enorme com
minha mãe, bastante desnecessária onde ela achava que eu não
devia ter privacidade.

Tirei minha roupa, deixando apenas a calcinha e sutiã, queria


dormir. Mas o tempo só passou enquanto eu rolava pelo colchão no
tempo frio, meus pensamentos angustiantes me impediam de pegar
no sono. A possibilidade de ter perdido a chance da minha vida
estava sendo um incômodo na minha cabeça.
De madrugada, levantei e fiquei sentada na cama, sem fazer
absolutamente nada. Só olhando para o vazio como se estivesse no
modo catatônico. A chuva aumentou bastante, seria impossível ouvir
uma discussão da minha mãe ou irmã no andar de baixo, por
exemplo. Pensei em ler um livro ou maratonar uma série num
aplicativo de entretenimento. Simplesmente sabia que me entreter
não daria certo no estado que eu me encontrava.
Em vez disso calcei meus chinelos, evitando colocar meus pés
nus no chão frio para não desencadear minha horrível rinite. Vesti
uma camisola e saí do quarto quase tremendo de frio, passando
pelo quarto da minha irmã que tinha a porta aberta, parei
abruptamente percebendo algo. De algum modo Alexandra
conseguira convencer minha mãe a deixar o namorado dormir ali.
Alexandra estava dormindo, roncando alto inclusive, mas
ele...mexia no celular do lado dela, soltado muitas risadas baixinhas.
Me aproximei da lateral e observei mais um pouco, o garoto estava
sem camisa, no entanto, pareciam que os dois não fizeram nada
demais. Os dedos dele moveram-se rapidamente, provavelmente
enviando alguma mensagem, quando o barulho da notificação soou,
soube que ele recebeu mais uma mensagem de quem quer que
fosse, suas bochechas ficaram vermelhas e seu sorriso tornou-se
safado.
Fiquei chocada, saí dali antes que ele percebesse que eu estava
espiando. Minhas suspeitas eram altas, infelizmente minha irmã não
acreditaria, então para evitar mais discussões eu não falaria nada,
até porque não tenho nenhuma prova. Só desci as escadas e
continuei meu rumo até a cozinha, escutando os fortes pingos de
água que caíam nos baldes e nos plásticos protegendo os objetos.
Ainda me perguntava qual foi a tática usada por Alexandra para
convencer minha mãe a deixar o namorado passar a noite aqui.
Talvez ela nem soubesse... se isso fosse verdade, Alexandra estava
se arriscando muito, pois tirando as inúmeras brigas recentes, até a
paciência da minha mãe tinha limite.
Tirei do armário um pão integral e duas fatias de presunto da
geladeira, demorei um pouco para fazer o suco de laranja. Quando
terminei, me servi, enchendo meu estômago e ganhando um pouco
mais de peso, desse modo nem conseguiria mais entrar em roupas
nenhuma.
Me recostei na cadeira de madeira, observando a cozinha
desgastada e podre em alguns lugares da parede, com o salário que
eu receberia poderia reformar em pouco tempo aquele espaço onde
fazíamos as refeições. Na verdade, com alguns meses, poderia
reformar toda a casa, enfim, só saberia se poderia realizar meu
pequeno sonho amanhã ou depois de amanhã, isso se fossem me
ligar.
Levantei e lavei o prato e copo sujos. Demorei menos de cinco
minutos, mesmo com a barriga cheia, o sono parecia estar em falta
naquele dia. Terminando de secar tudo, os coloquei no lugar e voltei
para o andar de cima, a porta do quarto da minha irmã continuava
aberta. Queria poder dizer que não era uma curiosa, no entanto não
resisti, voltei a espiar pela brecha.
O namorado de minha irmã continuava com o olhar vidrado no
celular, digitando rapidamente, depois de algum tempo sua
expressão voltou a ser safada como eu já havia visto antes. De
repente arregalei os olhos, ele discretamente olhou para ver se
minha irmã estava mesmo dormindo, então rapidamente levantou o
lençol e o flash do celular indicou que ele tirara uma foto das partes
íntimas.
Não sei o que era pior: ele enviando fotos íntimas para uma outra
pessoa ou ter de saber que ele estava completamente nu. Eu devia
entrar lá e colocar o garoto para fora a pauladas, mas Alexandra
acordaria assustada indagando sobre a situação, e, quando eu
contasse seria capaz dele ser perdoado e os dois continuarem a
relação, portanto a minha pessoa seria a errada da história.
Só respirei profundamente, pensando no quão irresponsável
seria deixar minha própria irmã quebrar a cara, no final das contas
era o mais correto, ela precisava ver com os próprios olhos que o
namorado a estava traindo. Pelo que eu já passei posso afirmar que
nenhuma traição fica escondida por muito tempo. Uma hora ou outra
Alexandra irá descobrir, nesse momento a garota terá de passar por
uma das piores escolhas da vida, perdoar e continuar ou terminar.
Alguns me julgariam por deixar a situação se desenrolar por mais
tempo, mas não posso me intrometer na vida dos outros, isso já me
deixou sequelas. Principalmente foi motivo de amizade desfeita,
uma amiga preferiu acreditar no noivo do que em mim, deve estar
sendo corneada até hoje, a idiota.
Saí de lá a passos lentos e sem querer chutei minha porta
quando cheguei próximo a ela. Contendo uma risadinha, tive a
certeza de que o hospede havia escutado, não deu outra, a porta do
quarto de Alexandra lentamente foi fechada. Entrei dentro do meu
quarto e me joguei na cama, enfiando a cara no travesseiro e
soltando minha risada.
O idiota deve ter tomado um susto achando que alguém podia ter
visto o que ele fez, e os medos estavam certos, eu presenciei tudo.
Me sentia péssima por não contar para minha irmã, ainda tinha o
nervosismo se iria ou não trabalhar no escritório de Matteo.

As memórias do homem voltaram a minha mente, ele era tão


belo, tinha olhos tão lindos que quase fiquei muda na sua frente. As
roupas caras mostravam o quanto ele era rico e poderoso. Pensar
nele me deixava excitada, e eu não sentiria culpa, pois ele ainda
não era meu chefe, posso fantasiar à vontade. Ri mais uma vez,
para um homem daquele me querer só em sonho mesmo.
Mas eu não ligava, minha preocupação estava em conseguir um
emprego, os homens poderiam ficar sempre para depois.
...
Abrindo os olhos, normalmente me senti um pouco tonta, tive de
ficar piscando até me acostumar com a claridade. Não soube a hora
exata que dormi, mas vendo o relógio na parede percebi que podia
desistir de procurar qualquer emprego que estivesse
disponibilizando uma vaga. Sair e chegar no centro uma hora da
tarde não era uma boa ideia, principalmente para alguém que
morava longe como eu, chegaria lá duas horas da tarde.
Vesti um short jeans e uma camisa da cor vermelha, ainda
morrendo de sono, só escovei os dentes para que meu hálito não
incomodasse ninguém. Passei a mão na testa, tirando muito suor, o
mais estranho foi que ontem à noite choveu como se o mundo fosse
acabar, e agora o calor podia matar alguém de desidratação.
No corredor percebi que a porta do quarto de Alexandra estava
escancarada, nem precisei olhar para saber que os dois não
estavam mais lá. Desci as escadas e a encontrei na sala, comendo
um pedaço de pão com café, que supus ter feito sozinha.
Minha mãe só estava sentada na cozinha pintando as unhas. Eu,
por outro lado, dei bom dia às duas e me dirigi para o lado da minha
irmã, praticamente sentei na outra ponta. Cuidadosamente pensei
em como lançar a pergunta.

— Onde está seu namorado? — Fingi que os acontecimentos da


noite anterior não aconteceram ou ela perceberia algo de estranho
na minha face.
— Ele saiu para a faculdade. — Alexandra falou, arrancando um
pedaço de pão em seguida. — Por que quer saber?
— Por nada. — Rapidamente decidi ter respostas de uma dúvida
envolvendo quase que a mesma situação. — Como conseguiu
convencer mamãe a deixá-lo ficar aqui.
Alexandra olhou para minha mãe na mesa, como que com receio
dela ter escutado alguma de minhas palavras. Voltando para mim,
ela praticamente engoliu o pão.
— Quando ela disse que já estava na hora dele ir embora, ele
realmente saiu da casa, mas eu já havia falado antes para ele
aguardar alguns minutos. — Alexandra engoliu em seco enquanto
sussurrava. — Mamãe foi dormir, desci do meu quarto e abri o
portão para ele.
Arregalei os olhos, se a nossa mãe soubesse disso seria capaz
de expulsar Alexandra de casa, no pior dos casos agredi-la. Nunca
em nenhuma hipótese concordaria com que a garota fizera, mentir e
chegar no ponto de enganar a própria mãe? Ela já estava
exagerando nas atitudes.
— Você não pode fazer isso...
— Quem é você para me dizer o que posso ou não fazer!

Ela me interrompeu, deixando meus nervos à flor da pele. Odiava


ser interrompida.
— Deixe-me terminar, estou quase concordando com minha mãe
em achar que o garoto é uma má influência, você já está
começando a mentir.
— Fale mais baixo. Ela pode escutar. — Sussurrou Alexandra.
— Você não pode fazer isso com nossa mãe, garota. Tenha
respeito, porque se não tiver eu mesma faço questão de expulsar
esse garoto a vassouradas toda vez que ele vier aqui! —
Terminando de informa-la do que iria acontecer, saí do ambiente
querendo evitar mais uma briga desnecessária.
Voltando ao corredor escutei o toque do meu celular e corri para
dentro do meu quarto, as chances eram mínimas, no entanto a
esperança continuava. Olhei na tela o número que aparecia, era
desconhecido. Sem muita enrolação atendi de uma vez.
— Alô, quem fala? — Perguntei sem tentar parecer ansiosa.
— Olá, bom dia. Aqui quem fala é Melissa, a secretária das
empresas MMB. Venho aqui dizer que está aprovada e que será um
enorme prazer ter você como colega de trabalho. Seus serviços
serão necessários já amanhã. Não se atrase, ou será demitida.
Tenha uma ótima manhã.
— Espere um pouco, por favor, Melissa!
— Pois não?
Ela realmente esperou, pensei que ela fosse do tipo de secretária
que falava o necessário e desligava na cara do cliente. Para minha
sorte ela também não desligou quando não falei nada por uns
longos dez segundos.
— Você ainda está aí? — Perguntou Melissa.
— Estou sim. Só queria saber, quais foram os critérios da minha
aprovação. Não estou duvidando de você nem nada disso. Só
pensei que aquele homem havia me odiado, tinha sentido nas
expressões corporais e visto nos seus olhos. — Falei um pouca
rápida, perdendo o disfarce de não parecer nervosa.

Escutei uma risada do outro lado da linha e soube que havia sido
demitida.
— Não é nada disso, na verdade ele na maioria das vezes odeia
todo mundo, tem uma frase que ele costuma dizer sempre, mas só
poderei falar se por um acaso do destino ficarmos mais íntimas. —
Melissa continuou a rir por mais tempo.
Esperei até que ela parasse, mesmo sendo feita de idiota. Queria
tirar mais dúvidas.
— Sei que não somos amigas, mas pode me dar umas dicas de
como não ser demitida nos primeiros dias?
Tive de ouvir mais um minuto de longas risadas. Dei graças a
Deus que ela não conseguia ver minha reviradas de olhos.
— Não o atrapalhe, não se intrometa nos seus assuntos íntimos
e tente não fazer amizade. Ele prefere que a secretária faça seus
deveres e nada mais. E sempre reserve um tempinho caso ele
queira algo extra. — Melissa falou de tom sério, e tentei descobrir
em que momento ocorreu a troca repentina.

— Só isso? — Perguntei, já conseguindo respirar um pouco mais


tranquilamente. Eram tarefas das quais conseguiria realizar sem
problemas.
— Nada de levar conhecidos no horário de trabalho, evite
atender o celular, só quando extremamente for necessário. Não
venha feia, uma secretária tem de ter uma aparência agradável,
principalmente para os clientes masculinos, acrescento que ele
próprio não gosta dessa parte. E quanto mais facilitar o trabalho
dele, mais agradecido Matteo ficará com você. — Melissa suspirou,
parecendo cansada de ter falado rapidamente. — Acho que só isso,
siga essas dicas e talvez não seja demitida.
— “Talvez não seja demitida”? — Indaguei.
— Não afirmei que ele a deixaria lá se seguisse essas dicas, só
posso lhe assegurar um talvez. — Melissa deu mais uma risada
forçada e desligou.

Não me importei se ela estava caçoando da minha cara ou se


Matteo parecia ser um homem difícil. Me parecia fácil seguir o que
as dicas pediam, no entanto ficaria cuidadosa por não conhecer
Melissa a fundo. Até onde eu sabia aquilo podia ser uma armadilha,
Melissa tinha muitos motivos para querer minha vaga, pois não era
de uma simples secretária, era a secretária do próprio Matteo
Marrone Bertolucci.
— Muitas tentariam me derrubar. — Falei em voz alta para ter
certeza de que aquilo não podia ser loucura da minha cabeça.
Eu consegui.
Eu realmente consegui a vaga. E não só isso, é a melhor vaga
que eu poderia ter conseguido em toda minha vida. Preparei a
melhor roupa que tinha para o dia de amanhã, como falou Melissa,
precisava estar bonita. Queria não só estar apresentável, mas
deixar o dono da empresa MMB de queixo caído por mim. Rezei
para que ele não fosse casado, logo ri de mim mesma,
comprometido ou solteiro eu não teria nenhuma chance mesmo.
De qualquer maneira, amanhã começaria meu primeiro dia como
secretária.
Capitulo 3
MATTEO

Pisando do lado de fora da minha empresa, ajeitei o meu paletó


caríssimo. Devia estar bonito para a reunião daquela tarde. Estava
cheiroso, bonito como sempre e preparado para qualquer desafio
que surgisse. Desmarquei minha agenda hoje para que não
houvesse imprevistos, homens como eu, que trabalham muitas
horas por dia, e que ficam estressados com facilidade, precisavam
de um tempo de lazer.
Depois de pedir pessoalmente a secretária do primeiro andar que
contratasse Charlotte, a mais competente dentre as outras que
compareceram, decidi que meus estagiários cuidassem de tudo que
houvesse para resolver naquele dia.
Andei por entre as pessoas do centro, desesperadas com os
imprevistos dos seus trabalhos ou com famílias em casa que
precisavam de ajuda, sorri. O sentimento de saber que tinha mais
dinheiro que qualquer um ali me agradava a tal ponto de risadas
baixas saírem involuntariamente.

A sensação de poder era ótima.


No meio da rua olhei o meu relógio, faltava trinta segundos para
duas horas. Olhei para a esquerda e depois para a direita, então
consegui ver uma limousine preta linda passando na rua. Os
pedestres nem disfarçavam os olhares curiosos, impressionados e
de surpresa. Quando o carro parou na minha frente, senti os
admiradores invejosos desejando o meu carro. Estendi a mão e abri
a porta, tão brilhosa que rapidamente chequei minha aparência.
Entrando no veículo, a portinha que separava o motorista e a mim
desceu.
— Aonde quer ir, Senhor Marrone?
Minha expressão alegre morreu no mesmo momento, assumindo
uma de desdém. Minha reunião secreta sempre acabava comigo
estressando e com alguma mulher na cama para me aliviar. Aqueles
desgraçados me assombram desde o dia que fundei minha
empresa, praticamente fiz um pacto com o diabo.
Peguei a garrafa de vinho Bourbon dentro de uma bacia com
gelo e agarrei um copo médio de vidro. Abri a bebida e derramei até
encher metade do copo, peguei umas pedras de gelo do balde e
joguei dentro, impedindo o liquido de ficar quente.
— Para o prédio de Jeferson Ozimandias. — Falei com um gosto
amargo na boca. Me convenci de que era do próprio vinho.

Notei o temor na cara de Michael, o motorista. Ele mais do que


eu odiava aquele lugar, o prédio era bonito por fora, mas por dentro
era regado a drogas e prostitutas, além de ser um grande ponto em
que se encontravam os maiores traficantes brasileiros, quase como
uma máfia.
— Fique tranquilo, me deixe um quarteirão antes do prédio.
Depois vá passear, pode ser um bairro muito bonito, mas se
começar um tiroteio não quero que minha limousine tenha buracos.
— Falei ríspido, pois um carro como aquele não costumava ser
barato. E mesmo sendo muito rico, eu sabia poupar dinheiro.
— Como quiser, chefe.
Michael fechou a janela que nos separava e com um pequeno
impulso, o carro começou a se mover e os prédios e lojas que meus
olhos podiam ver pela janela também. Beberiquei um pouco do
vinho já pensando no que faria depois da estressante e fiada
conversa com Jeferson.
Se havia algo que me arrependia nessa vida foi ter feito um
acordo com aquele desgraçado, por sorte eu não estava nas mãos
dele, mas se Jeferson quisesse, ele poderia me prejudicar bastante.
E isso não podia acontecer.
Saquei meu celular, o movimentando com uma mão só, mandei
uma mensagem para o meu próximo encontro.
Te encontro às cinco.
No momento que tive a certeza da visualização da outra pessoa,
desliguei o celular sem perder tempo em saber o que ela estava
digitando. Bebi mais um pouco de vinho, e gosto antes amargo
pareceu melhorar um pouco.

Em menos de vinte minutos meu motorista havia passado por


trinta quarteirões e já estava no outro bairro. Senti o carro
desacelerando, até ficar lento, e então parou em frente ao prédio.
Lindo onde se podia ver, jardins bem cuidados, pessoas felizes
andando de um lado a outro, um pequeno laguinho construído com
uma finalidade desconhecida até para mim.
Abri a porta e dei sinal pelo retrovisor para que Michael saísse
dali. Passando por entre algumas mulheres na calçada e sentadas
no banco que sorriam para mim, sorri de volta, logo percebi que se
tratavam de prostitutas.
E prostitutas das mais belas que já vi na vida. Jeferson tinha bom
gosto no final das contas.
Entrei no prédio e nem precisei dizer o meu nome, um dos dois
seguranças pessoais de Jeferson parou na minha frente e fez
questão de me escoltar até seu chefe.
— Por aqui, senhor Matteo.
Pelo menos foi educado...

Caminhei pela recepção, observando os trabalhadores fazendo


suas funções: faxineiros, recepcionista, seguranças na portaria, tudo
aparentemente normal. Eles nem deviam fazer ideia do que se
passava no próprio local de trabalho. Pobres coitados.
Entrei no elevador com mais dois homens parecidos com o
primeiro que me abordou. Pelo visto eles pareciam menos robustos
e tinham poucos músculos. Provavelmente deviam ser seguranças
de outra pessoa ou andar.
— Faz muito tempo que não o vejo, empresário. — Disse o
homem com voz de desdém depois que os outros dois saíram. —
Pensei que teria de busca-lo pessoalmente onde quer que
estivesse.
Sorri, uma ameaça vazia e que não me passara nenhum medo.
Que decepção, aquele homem devia ser assustador, temível, um
verdadeiro assassino.
— Teria de lutar com meus seguranças particulares, muito mais
fortes que você. E não se preocupe, honro meu acordo. — Desviei o
olhar do guarda pessoal, evitando que visse meu
descontentamento. — Principalmente quando estou preso a um
maldito contrato.
Escutei a risada colossal do homem no momento que as portas
se fecharam e voltamos a subir. Passar mais um minuto naquele
lugar fechado com alguém da qual não tenho afeição me
enlouqueceria, odiava a sensação de estar desarmado e indefeso.
Se eu viesse com os meus seguranças eles seriam obrigados a ficar
fora da área do prédio.
Ou seja...
Não serviriam de nada.
Estava sozinho, somente com meu poder de lábia e os interesses
dos inimigos no meu dinheiro. As portas se abriram e nós saímos
num corredor bastante estreito e longo. Andamos por pouco tempo,
o suficiente para uma pequena tensão percorrer minha espinha.
Todos os quartos pareciam ter sido esvaziados para que minha
reunião com Jeferson não corresse o risco de ser interrompida.
Na última porta, no final do corredor. O segurança abriu a porta,
dentro pude ver um homem com um cabelo loiro curto, olhos verdes
fortes que faziam sua expressão ser como a de um lunático. Havia
outro homem, bem atrás dele, olhando para mim como se fosse me
matar ali mesmo, caso fosse necessário.
— Chegou na hora, por favor, entre. — Pediu Jeferson, parando
de escrever o que quer que fosse na mesa de madeira. — Vejo que
conhece, Eduardo e Lucas, meus seguranças pessoais.
Olhei para Eduardo, que fechara a porta dando-me um último
olhar de advertência. Fitei Lucas no mesmo instante que ajeitei meu
terno. Sentei-me na cadeira de visitantes — pelo menos foi o que
presumi — sem a permissão de Jeferson e sorri.
— Estamos aqui mais uma vez, prestes a iniciar mais uma
conversa, longa e chata. — Falei, ainda mantendo meu sorriso
cínico.
Percebi que Jeferson começara a batucar o dedo indicador na
mesa, ele parecia não aguentar desaforos, como a mim, mas
precisava, pois estávamos no mesmo nível, e uma briga só acabaria
em acordos rasgados e perda de dinheiro.
— Acredite, Matteo. Se eu pudesse evitar olhar na sua cara, eu
faria. Infelizmente, meu acordo foi feito diretamente com você, e é
só você que me deve. — Recostando-se na cadeira Jeferson me
encarou, olhava-me tão intensamente que parecia querer descobrir
meus podres. — Onde está meu dinheiro? Um milhão esse mês ou
você esqueceu? Porque posso fazer você lembrar.
Jeferson levantou as mãos e moveu o dedo indicador e o do
meio para frente rapidamente, fazendo com que seu guarda pessoal
colocasse a mão na cintura e avançasse discretamente.
— Claro que trouxe. — Falei rapidamente, vendo o guarda
pessoal se afastar. — E se me ameaçar novamente nunca mais
verá a cor desse dinheiro. Quero que saiba que o acordo poderia
ser desfeito a qualquer momento, mas como quero manter a paz,
posso vir aqui sempre que você quiser!
Jeferson desmanchou o sorriso bem devagar, consegui um
pouco de conhecimento sobre o seu temperamento, principalmente
quando sabia que alguém tinha o mesmo ou mais poder sobre ele.
— Bem, onde está? Não estou vendo cheque nenhum. —
Jeferson abriu os braços, depois voltou a cruzá-los. — Qual é,
Matteo, sabe como funciona. Você me dá o cheque, cuido para que
a empresa não seja denunciada e tem de passar aqui uma vez a
cada dois meses.
— Poupe-me de suas explicações, estamos nisso há tanto tempo
que não aguento mais ouvir sua voz. Tenho que ouvir sua voz
irritante a cada dois meses.

— Acredite, o sentimento é recíproco. — Jeferson cuspiu no


chão, contorcendo sua expressão na mais pura raiva.
Dei um sorriso de lado, para assustar um homem como a mim ele
precisaria de muito mais.
— Sabe, bem que poderia ser educado e me servir um drinque...
— Comentei, ainda sorrindo, o que pareceu deixá-lo mais irritado.
— São bem tratados na minha casa aqueles que merecem.
Falando em casa... Dei uma olhada ao redor, sem me importar
nos outros dois, o pequeno escritório de Jeferson podia ser maior do
que aquele pequeno espaço, obviamente ele devia atuar em outro
lugar, mantendo aquele local como disfarce. Mas o cômodo não era
de todo ruim, o suficiente para um casal com quatro filhos ficarem
acomodados.
— Não se esqueça. — Voltei a fita-lo, fazendo questão de
desmanchar meu sorriso e unir as duas mãos em cima do joelho
das pernas cruzadas. — Essa é a penúltima parcela, depois o
acordo será cumprido e encerrado. Nada mais me prenderá a você
e finalmente serei livre.
— Tenho de admitir que vou sentir saudades de ter você na
minha coleira. — Jeferson olhou para baixo momentaneamente, um
riso rápido foi emitido, parecia estar relembrando algum momento
em que me deixou sem saída. — Até lá poderemos ter muitos bons.
A ironia nas palavras me deixou um pouco irritado, confesso. O
desgraçado sabia irritar a mim do mesmo jeito que eu conseguia
irritá-lo, dois homens poderosos costumavam nunca se darem bem,
mas se suportavam pelo sucesso dos negócios. No final das contas
o dinheiro fazia com que ele não me matasse e que eu não fizesse o
mesmo.
— Acho que já me enrolou muito, pode me dar o cheque agora?
— Ele perguntou.
Fiz questão de demorar a tirar o papel do bolso da minha calça.
Com as duas mãos coloquei o papel no ar e passei os olhos até
pelas letras minúsculas, só para garantir que nenhuma assinatura
faltava. Quando finalmente coloquei o cheque na mesa, ele tentou
agarrá-lo e rapidamente movi minha mão para trás.
— Parece apressado. — Rindo pelos resmungos de Jeferson
continuei. — Só quero sua palavra de que manterá sua parte no
acordo.
— Mas que droga! — Jeferson se inclinou e arrancou o cheque
da minha mão. — Sabe que mantenho todos os meus acordos.
Jeferson assim como eu, passou os olhares por tudo,
certificando-se de que aquilo não fosse falso. Dando de ombros,
enfiou o cheque no bolso da camisa e sorriu para mim.
— Agora que está tudo resolvido. Boneca, venha aqui! —
Chamou ele.
Uma mulher loira vestindo um espartilho preto com meias
apareceu e apoiou-se no ombro direito de Jeferson, dando uma
pequena piscadela a mim.

— Pensei que quisesse curtir um pouco antes de ir para casa. —


Jeferson fez um sinal para que a mulher se aproximasse de mim.
Ela andou rebolando até mim, sem nenhuma cerimônia sentou-
se no meu colo com uma expressão de mulher inocente, que não
fazia ideia do que estava fazendo.
Uma verdadeira safada!
Educadamente a fiz levantar, depois me ergui, removendo
qualquer fluído que aquela mulher tenha deixado nas minhas
roupas.

— Dessa vez tenho que dispensar. Já tenho encontro marcado.


— Comentei.
— Pobre coitada.
— Mulher sortuda, qualquer uma que tivesse a sorte de se deitar
comigo deveria agradecer aos céus. — Gargalhei. — Além do mais,
você paga para ter mulheres. Já eu, as conquisto.
Abri a porta e a fechei no mesmo instante e antes que Eduardo
conseguisse falar, fui mais apressado.
— Conheço o caminho de volta, obrigado!
...

Do lado de fora liguei para meu motorista e em segundos ele


para o carro na minha frente, sem guardar o celular, entrei e disquei
outro número. Depois daquela reunião estressante vinha a parte
boa, a curtição.
— Olá, meu docinho. Tenho tempo livre agora, pode me dizer
onde posso pegá-la.
— Finalmente ligou, achei que havia me esquecido. — Disse a
estagiária novinha que tive de dispensar ontem.
Mesmo ela não servindo para ser secretária, podia me servir de
várias outras formas. Não podia deixar uma lindeza daquelas dando
sopa.
— Não esqueceria de você nunca. É impossível não lembrar de
uma garota bonita. — Falei, revirando os olhos.
No auge dos meus trinta anos, preciso usar de elogios poucos
criativos para que a garota continuasse hipnotizada por mim, o que
não era tão difícil se você era um homem de terno caro, tivesse um
nome que todos conhecessem e mantivesse uma conta com muito
dinheiro.
— Você um fofo. Ainda conversaremos sobre a minha vaga? —
Perguntou ela.
Droga!
Rapidamente tive de mudar o tom da minha voz.
— Com certeza, você tem muitas chances de consegui-la. —
Menti.
Pobre coitada, não chegou nem entre as melhores. Mas pela sua
beleza ganhou bons pontos comigo. Me recostei no banco
confortável, ela tinha sorte de ter conseguido despertar meu
interesse, poucas conseguiam fazer isso. Normalmente homens
com muito poder financeiro contratavam inúmeras prostitutas, mas
eu achava esse ato fácil demais, eu preferia seduzir mulheres
comuns, principalmente as inocentes.
São meigas, belas e desconhecem as safadezas feitas na cama.
As vezes pensava em parar com isso, achar uma mulher que me
ame e viver uma vida mais saudável e feliz, entretanto, muitas só
querem meu dinheiro ou uma vida de luxo que eu poderia
proporcionar. Tornando assim uma aposta difícil encontrar uma
mulher em que os sentimentos sejam recíprocos.
Enquanto isso não acontecia, me divertir tornava-se essencial.
O carro parou, abri a porta e a vi, uma mulher loura com curvas
lindas. Um vestido vermelho até as coxas, um batom da mesma cor
que adoraria que marcasse minhas partes quando a colocasse de
joelhos, e um cabelo longo o suficiente para que pudesse segurá-lo
em minhas mãos.
Ela rebolou bastante nos dez passos que ela deu para entrar no
carro, a mesma fechou a porta, inclinando-se para o meu lado, fez
questão de sorrir, mostrando seus dentes brancos perfeitos.
Nem foi tão difícil seduzi-la, talvez eu tenha dado a entender que
suas chances de conseguir a vaga de secretária aumentariam se
dormisse comigo. A culpa não é minha se a garota não entendeu.
Soltei um pequeno riso que passara despercebido dela, mas com
certeza era minha culpa não esclarecer a situação.

— Então, docinho. Aonde vamos? — Perguntou ela, enrolando o


topo da minha gravata no dedo, forçando-me a ficar a centímetros
do seu rosto, podendo sentir o hálito quente.
— A um lugar especial e fantástico. Meu amor. — Avancei, lhe
tascando um beijo feroz. Soube que estava mandando bem quando
ela agarrou meu pau por cima da calça, me deixando excitado.
Infelizmente o ato pararia por ali, nunca faria sexo com uma
pessoa na frente de outra, no caso, o meu motorista, que a qualquer
momento poderia olhar pelo retrovisor já que não ordenei que
fechasse a janela, e nem tinha a intenção.
Deixando-a molhada naquele momento o meu trabalho estava
feito, o resto seria bem fácil.
— Prometo te impressionar. — Falou a loura, sussurrando no
meu ouvido.
Eu duvidava muito que qualquer ato me surpreendesse na cama,
durante a minha vida experimentei quase tudo. O que aquela mulher
poderia me oferecer era um sexo prazeroso e só. Tive de fingir que
estava ansioso.

Um longo tempo se passou e, entre beijos e amassos, o carro


começou a parar numa rua chique. Onde lojas com produtos
caríssimos e restaurante com comidas magníficas se encontravam.
Precisei disfarçar o incômodo que sentia ao tentar separar a garota
de mim, só queria afastá-la um pouco, mas a jovem era grudenta,
emiti um sorriso meio torto e isso pareceu funcionar, ela parou de
me agarrar e começou a observar.
— Chegamos! — Falei educadamente, me inclinando e abrindo a
porta para que ela saísse primeiro. — Bem-vinda a meu motel.
Soltei pequenas risadas pela surpresa dela. Pensei em ganhar
um dinheirinho extra, e o produto que dava bastante dinheiro era o
sexo, por isso construí meu próprio motel. Nunca levaria uma
mulher com quem teria uma única noite de sexo para a minha casa,
era canalhice, mas eu não ligava.

Nenhuma podia conhecer meu íntimo, por isso o melhor seria


mantê-las afastadas.
— Tem seu próprio motel, isso é incrível.
Envolvi sua cintura com meu braço e a puxei para mim.
— Sim, é. Pode pedir o que quiser e fazer o que quiser, está com
o dono, tem minha permissão por hoje. — Satisfeito por ter
conseguido fazê-la sorrir, a levei para a entrada, depois de acenar
ao funcionário, para o interior do lugar.
A garota esqueceu do homem maravilhoso do seu lado para
apreciar a decoração, e eu jamais a culparia. Fiz questão de investir
muito dinheiro para que o prédio fosse lindo por fora e
principalmente por dentro.
— Está gostando do que vê? — Indaguei.

— É incrível, as árvores, as cores, os quartos lindos. — A mulher


me encarou. — É praticamente um cinco estrelas. Estou louca de
curiosidade, quero conhecer o melhor quarto.
— E vai, fique despreocupada. Comigo aqui você só terá o
melhor.
Peguei as chaves no meu bolso direito da calça e abri a porta no
fim do corredor. Entramos e a deixei examinar o lugar com os olhos.
O cheiro como sempre estava ótimo, as faxineiras sempre faziam
suas tarefas com louvor, me lembraria de aumentar seus salários.
Jogando-se na cama, a mulher pareceu uma garotinha de quinze
anos, divertindo-se e rindo. Aquilo me deixou um pouco mais
tranquilo, vê-la suave, alegre, me fazia sentir menos culpado por
trata-la como uma prostituta de luxo.
Ela ergue-se até ficar sentada.

— Podemos começar?
Sorri.
Hora de fazer com que aquela jovem se lembrasse de mim pelo
resto da vida.
Lentamente avancei, inclinando-me para a cama, fiquei por cima
do corpo dela e a beijei. E porra, a garota sabia o que estava
fazendo. Meus pensamentos haviam mudado, não havia nada de
inocente naquela jovem.
Aquela surpresa me deixou excitado, de modo que meu pau ficou
tão duro que definitivamente ela pôde sentir na sua coxa esquerda.
Desgrudando meus lábios dos do dela, passei a língua no seu
pescoço para em seguida dar leves chupadas.
— Aaaaaa! Muito bem Matteo. — Gemeu ela, agarrando nos
meus cabelos.

Fiquei um pouco tenso, pois não sabia o nome dela, e nem fiquei
interessado em perguntar naquele momento. No final das contas
esqueceria dela em dois ou três dias no máximo, mas enquanto isso
não acontecia, o jeito seria curti-la agora.
Desci as alças do seu vestido e sorri ao ver os lindos seios fartos
com alguns fios dos seus cabelos enormes nele. Removi as pontas
do cabelo e tirei o sutiã, ter enlouquecido seria pouco para
descrever os sentimentos que tive ao ver os bicos dos peitos dela,
rodados e sem nenhum defeito.
Levantamos rapidamente para que ela pudesse jogar seu vestido
no chão, subimos em cima da cama e eu nela, enfiei a boca no bico
direito e comecei a sugar, o gemido de surpresa deixou meu pênis
mais duro que uma barra de ferro.
Ela rapidamente desabotoou meu terno fazendo com que eu, na
mesma velocidade, tirasse minha camisa branca e jogasse tudo no
chão. Tirei meus sapatos e a calça, somente de cueca, voltamos
aos beijos ferozes em cima da cama. Fluídos e safadeza eram
trocados entre um beijo e outro.

— Linda. — Disse por de trás dela, chupando mais uma vez seu
pescoço.
A mulher se moveu tão rapidamente que, quando percebi, suas
mãos já trabalhavam na minha peça íntima. Ela removeu e eu
obviamente deixei. Meu pau, que já estava duro, saltou para fora e
bateu bem no rosto dela, causando uma cena engraçada. Por sorte
o tesão não foi quebrado, só aumentou quando inclinei a cabeça
para trás ao sentir a boca dela no meu membro.
Usando uma de suas mãos no meu pênis, ela subia e descia
rapidamente. Uma ótima boqueteira. Agarrei os longos cabelos
longos louros dela e assumi o controle da situação, puxando-a para
cima e para baixo.
Minha cabeça avermelhada encontrava-se lambuzada, isso
jamais me incomodaria, só significava que estava lubrificada e
pronta para satisfazê-la. No entanto, antes de qualquer movimento,
a garota pareceu continuar o que estava fazendo. Por isso a deixei
prosseguir.
A soltei com intuito de deixa-la puxar as rédeas, o barulho de
sucção começou a aumentar.
— Ai, meu Deus. Não pare! — Ordenei.
Não tinha jeito.
Precisava encher aquela boca.
Discretamente comecei a mover os quadris de modo que o ato
sexual se tornou mais rápido e gostoso. A cada gemido, a cada
sucção, minha respiração tornava-se mais ofegante. Nunca pensei
que começaria fantástico logo no começo do ato sexual, estava
sendo um dos meus melhores sexo, e apostava que era o melhor
dela também. Pelo jeito ela queria me impressionar, e estava
conseguindo.

Senti uma pequena onda de choque através do meu membro, e


então, um calor mínimo se alastrou pelos meus testículos, por fim,
me derramei dentro dela, enchendo sua boca de gozo. Segurei nos
cabelos mais uma vez, prensando-a no meu pau e fazendo-a engolir
tudo.
— Boa garota! — Disse, num arfar estonteante.
A jovem ergueu-se, olhando diretamente para mim. Ela limpou
um pouco do meu esperma escorrendo na lateral da sua boca com
o polegar direito. Deitando-se na cama momentaneamente, tirou a
calcinha e a jogou no chão, ficando nua.
— Que tal retribuir o pequeno favor? — Pediu ela, abrindo as
pernas, deixando um caminho livre até suas partes íntimas.
Não faria aquilo MESMO.
— Tenho uma ideia melhor. Por que não partimos para os
finalmente?
O descontentamento no seu rosto foi óbvio, e obviamente a
atitude não me importava. Só saí da cama rapidamente e peguei
dentro da minha calça uma camisinha. Um homem rico jamais podia
se dar ao luxo de talvez sofrer o golpe da barriga de qualquer
estranha.
Joguei o pequeno envelope e a moça agarrou rapidamente,
entendendo o recado.
— Ponha em mim.
Como uma perfeita submissa, ela rasgou o saco com a boca e
tirou o produto. Delicadamente segurou no meu pau grosso e inseriu
a camisinha com cuidado, os olhos cheios de luxúria. Precisava de
alguns minutos antes de conseguir voltar com meu vigor sexual
total, então voltamos para a cama e começamos a nos beijar, forte,
indecente e prazeroso.

Logo introduzi meu dedo indicador na buceta dela, devagar no


início. Podia sentir os pelinhos aparados espetando minha mão, ela
gemia mais e mais alto, dando a dica para que eu continuasse os
movimentos com mais velocidade.
— Isso, continua. AAAA, MEU DEUS! — Gritou ela, por sorte
ninguém ouviria. — Caralho!
Enfiei mais dois dedos, e antes apertadinha já estava um pouco
mais larga. Sentia meus dedos já molhados pela lubrificação natural
de uma mulher. Aquele gosto devia ser bom, mas nunca provei e o
dia que faria aquilo não era aquele. Podia jurar que a estava
matando, no entanto eram contorções e gemidos que quase nunca
vi e ouvi.
Removi meus dedos e ajoelhei na cama, agarrei as extremidades
de suas coxas e a puxei até mim, de modo que sua vagina ficasse
exposta ao meu pau. Segurei-o com uma mão, e levemente
esfreguei nos enormes lábios. Devagar e cuidadosamente, enfiei
tudo.
Ela arfava, tentando relaxar para suportar. Me inclinei um pouco,
colocando as palmas de minhas mãos na cama, cada uma de um
lado da cabeça dela. Nos olhamos nos olhos, movi meu quadril
devagar, ver que ela gemeu enquanto se contorcia, como se
estivesse sofrendo, me deixou ainda mais duro dentro dela.
— Geme mais para mim! — Me afoguei em seu pescoço e
segurei seus cabelos, enquanto metia mais rápido. — Droga, isso é
bom pra cacete. — Arfei ao falar.
Movendo meu quadril para frente e para trás, escutei o melhor
barulho que podia durante uma transa, o de pele contra pele.
Prazeres inundaram meus ouvidos, passei a língua nos lábios e me
deliciei com os sons sofríveis da mulher, nem tendo mais forças
para gemer.
Ela agarrou meus cabelos e me puxou para um beijo, feroz,
impaciente, atordoante... Quando gozei, a moça pareceu ter
chegado no máximo também. Caí de lado e a deixei suspirando,
nada como um dia comum, minhas mulheres sempre saíam
satisfeitas.

...
Fiquei uns trinta minutos naquela cama, esperando. Virei minha
cabeça e ela dormia silenciosa ao meu lado, a respiração suave
como uma borboleta. Levantei e vesti minhas roupas, tirando um
pouco de poeira do meu terno, peguei a carteira e joguei trezentos
reais na cama, ela poderia pegar um taxi para casa e quem sabe
umas roupas novas.
Ela não me servia mais.
Por isso, saí do motel sem falar ou deixar algo escrito. Não eram
necessárias nenhuma palavra, quando acordasse sozinha saberia
que tudo não passara de uma simples transa casual.
Um longo dia estressante e cansativo me esperava amanhã.
Precisava de um descanso.
Capitulo 4
CHARLOTTE

Acordei mais cedo do que minha mãe e irmã, obviamente devido


ao meu entusiasmo incomum. Nunca havia sentido tal sensação,
muitas pessoas reviravam os olhos ao saber que tinham a obrigação
de ir trabalhar, já eu estava finalmente orgulhosa de algo,
principalmente do meu novo emprego.
Pelo tempo quente, provavelmente não choveria, e isso seria
bom, principalmente naquele primeiro dia. Tudo parecia estar ao
meu favor. Estava usando terninho preto com uma saia da mesma
cor, saltos um pouco altos e o cabelo amarrado num rabo de cavalo,
coloquei meus óculos e pude me orgulhar de mim mesa. Uma
secretária severa e que aparentava nunca levar desaforo de
ninguém.

Peguei minha bolsa, que foi o único objeto que não troquei por
um mais caro, e coloquei no meu ombro esquerdo com tudo de que
precisava no interior. Demorei um tempo para sair do meu quarto,
tamanho o nervosismo. Quando finalmente criei coragem, controlei
minha respiração e consegui me acalmar, desci as escadas. Na
cozinha vi minha irmãzinha tomando um copo de café, suspirava
bastante.
Pude ver seu celular aberto, vária mensagens trocadas.
Alexandra pareceu perceber meu olhar curioso então simplesmente
apertou um botão, a tela ficou escura e minha curiosidade morreu.
Os cabelos assanhados dela me fizeram perder um pouco de
concentração, neste instante minha mãe cruzou a sala e apareceu
na cozinha.
— Bom dia, meninas. — Vendo o café posto na mesa, logo sorriu
para mim. — Obrigada, filha.
— Não foi eu que fiz. — Franzi o cenho no mesmo tempo que
sorri.
Minha mãe e Alexandra se encararam, estreitaram os olhos e
então disse a matriarca:
— Como conseguiu fazer? E aproveite para responder também
como está viva depois de beber.
Alexandra pôs o copo na mesa, com um pouco de violência,
sorte que o objeto era de plástico.
— Podia me elogiar, sabe, é isso que mães boas fazem.
— E é por isso que vivem menos. — Minha mãe cruzou os
braços. — Mais um gole não me fará mal, acho.
Alexandra optou por ignorar a situação, aquelas brincadeiras
deviam a machucar de verdade. Ela levantou-se, jogou o resto de
café na pia, pegou seu celular e foi para a sala. Jogou-se no sofá,
seus dedos moviam-se tão rapidamente pela tela do celular que
imaginei mais de um milhão de mensagens enviadas em segundos
apenas.
— Não quer que eu faça algo, querida? — Perguntou minha mãe,
segurando um riso.
— Acordou bem engraçadinha. — Revirei os olhos. — Hoje irei
almoçar no trabalho, bom dia.
Minha mãe abraçou-me de repente.
— Estou orgulhosa da minha garotinha, tão rápido, cresceu e já
está trabalhando numa das melhores empresas da cidade. — Ela
afastou-se de mim o suficiente para me encarar, com as duas mãos
em cada lado do meu rosto, seu sorriso aumentou. — Você é uma
mulher maravilhosa.
— Obrigada, mãe. Agora tenho de ir ou chegarei atrasada. E não
quero passar uma má impressão no meu primeiro dia. — Beijei-a na
testa e saí.
Na rua vazia e perigosa, esperei pelo meu ônibus. Olhava para
um lado e outro constantemente, as esquinas desertas me
deixavam em alerta, a qualquer momento poderia ser um alvo de
assalto. Já houve muitos casos por ali, a porcaria do meu transporte
público bem que poderia chegar mais rápido. Cruzei os braços e
batucava meu pé esquerdo no chão, várias vezes tamanho o
nervosismo.
O sol emitia seus raios, fortes e bem na minha cara. Sem
nenhuma sombra ou cantinho para me esconder, tive de continuar
exposta, já suando bastante. Logo no meu primeiro dia de trabalho
chegaria suja e fedorenta. Passei tanto tempo perdida em
pensamentos que nem percebi uma velhinha do meu lado esquerdo,
e um adolescente gorducho com muitas espinhas na cara no lado
direito. Percebi que mais pessoas iam lotando a parada, de modo
que ficava mais calma.

Já quase desidratada e prestes a ter ilusões, meus olhos quase


se encheram de lágrimas ao ver o maldito ônibus. Ao dar por mim,
muitas pessoas estavam atrás de mim e do meu lado, as chances
de pegar uma cadeira diminuíram bastante. Tinha de me contentar
em ficar em pé, no meio de pessoas que provavelmente estariam
suadas.
Não me importei, subi no meio de muitas pessoas, senti
empurrões e gente passando na minha frente sem um pingo de
educação. Desgraçados sem respeito, segurei a vontade de dar
uma cotovelada numa criança quando meu pé quase foi esmagado
pela mesma.
Infelizmente tive de ir em pé durante todo o trajeto, as mães com
filhos e os idosos ocupavam quase todos os lugares. Eu às vezes
suspeitava que algumas mães levavam os filhos exatamente com
intuito de furar filas e pegar assentos dos desavisados.
Pediria perdão a Deus pelo meu pensamento sujo depois.
Naquele momento ficaria com raiva daquele privilégio todo. Tentei
pensar nos trabalhos fantásticos que poderia fazer, agendar
reuniões muito importantes, falar com caras ricos que nunca
falariam comigo no dia a dia. Podia saber sobre os assuntos de
Matteo, talvez alguns podres de gente rica, aposto que muitos
desses casados traem as esposas... isso se as próprias esposas
não os traem nessas festas regada a orgia e drogas.
Minha excitação voltou, só de pisar naquele escritório como
empregada da empresa já me sentiria realizada. O ônibus demorou
horas para chegar no centro, o trânsito estava horrível naquele dia,
justo no meu primeiro dia o tempo parecia brincar comigo. Para
minha sorte, as pequenas janelas encontravam-se aberta, de modo
que pelo menos um pouco de vento aliviava o calor do meu corpo.
Quando finalmente o transporte parou, tive de me segurar com
força para não cair. As duas portas da frente e as do meio se
abriram, pisquei e a multidão se digladiava para sair. Apressadas,
desengonçadas, desesperadas. Esperei até que fui a última ainda
no local, desci com elegância, me esqueci que quando um ônibus
partia sempre um rastro de fumaça ficava no lugar.
Tossi várias vezes e, mesmo andando entre a multidão de gente
na calçada esburacada, levei um pouco de tempo para conseguir
respirar normalmente. O sol continuava a me matar aos poucos, já
estava cansada, com sede e desacreditada que podia chegar no
horário certo.
No entanto, achei exagero tais pensamentos, eles podiam
perdoar cinco ou dez minutos de atrasos...
Sentindo ardência nos meus pés, soube que havia chegado no
local ao avistar um dos maiores prédios do quarteirão. Engoli em
seco a cada passo, as pessoas saíam e entravam sem se
importarem com minha existência, obviamente tinham de focar sua
atenção nos trabalhos da empresa e não numa novata que
provavelmente seria demitida nos primeiros dias.
Abri a porta de vidro e vi advogados, empresários de ternos
passando de um lado a outro. Algo normal do dia a dia naquele
lugar. O ar frio do ar condicionando me refrescou de tal maneira que
pude ficar um pouco mais calma e tranquila.
Vi Melissa em pé escrevendo em muitos papéis e de vez em
quando parava para digitar algo no seu computador. Caminhei até
ela e esperei que ela levantasse a cabeça para me notar e me
permitisse um aceno, isso não aconteceu. A mulher parecia mesmo
ocupada.
— Bom dia. — Tentei parecer educada na medida do possível,
normalmente só a ignoraria e pegaria o elevador, mas ter aliados
seria uma boa jogada. — Como vai?
— Vou bem e trabalhando. — Melissa ergueu a cabeça, seus
olhos debaixo dos óculos parecem incomodados. — Está três
minutos atrasada.
— Desculpe, onde eu moro é difícil pegar um ônibus....
— Não interessa! Matteo confiava que fosse uma boa secretária,
e boas secretárias chegam trinta minutos antes. — Disse Melissa,
voltando ao que estava fazendo. — Agora se me dá licença, preciso
terminar de agendar três reuniões importantes e ainda entrevistar
muitas pessoas.
Pensei em pedir desculpas, no entanto, seria burrice. Ela não
queria contato comigo e eu é que não forçaria nada. Só saí
ligeiramente de perto dela, alguns homens olharam para mim de
cenho franzido, as mulheres também. Pensei que estivesse vestida
muito bem, contudo, parecia estar equivocada.
Danem-se!
Não entendia de moda mesmo. Vim trabalhar numa empresa e
não desfilar numa passarela.
Entrei no elevador, por sorte, ninguém se encontrava lá. Quando
as portas estavam prestes a fechar, fiquei aliviada por
aparentemente ninguém aparecer.
Como estava enganada...
Uma mão impediu que as portas se fechassem.

Tentei não arregalar os olhos quando o próprio Matteo entrou no


elevador, ajeitou seu paletó e nem se dignou a me olhar, dizer uma
palavra educada nem nada, só virou para a porta, e assim como eu,
aguardou o nosso andar.
— Bom dia, s-senhor Matteo... — Pigarrei um pouco depois das
palavras saírem baixas e entrecortadas.
Ele olhou-me de maneira estranha, como se tentasse decifrar o
que acabei de dizer. Franziu o cenho e seus olhos miraram nos
meus pés e subiram até a cabeça.
— Desculpe? — Perguntou ele.
Burra, burra. Imbecil! Pagando mico na frente do chefe logo no
primeiro dia!
Preferi encerrar o assunto antes de ter começado.
— Nada, senhor. Tenha um bom dia.
— Bem... obrigado, eu acho. — Virou-se novamente para as
portas, provavelmente me achando uma louca.
Baixei a cabeça, com as bochechas vermelhas iguais a de um
tomate. Quando as portas se abriram, não chegamos no nosso
andar, mas pelo menos mais três pessoas entraram e fiz questão de
me afastar o quanto podia de Matteo. Ficava nervosa só em vê-lo.
Tentei pensar racionalmente que logo teria de me acostumar com
a presença do homem, pois no final das contas seria sua secretária.
O convívio passaria a ser necessário e quase que obrigatório. Um
dia após o outro teríamos que ver os rostos uns dos outros, Melissa
ou Matteo, teria de aprender a conviver com os dois.
As portas se abriram e Matteo foi o primeiro a sair, então percebi
que também era meu andar, por isso o segui. O homem parecia ser
um poço de arrogância, passava por salas e funcionários jamais
trocando nenhuma palavra educada. Não que fosse sua obrigação
ser um mar de amor e compaixão, mas ser um pouco simpático não
doeria nada.
Cheguei na minha mesa e coloquei minha bolsa em cima. Sentei-
me na cadeira giratória e abri o computador.
— Preciso que consiga uma reunião com Fallon Cruz. — Disse
Matteo, folheando alguns papéis.
— De quem se trata?
Ele me olhou de cenho franzido mais uma vez, como se eu não
tivesse permissão de dirigir uma só palavra.
Que ótimo. Uma secretária muda deveria ser perfeita para o
idiota!
— Uma dona de roupas de uma marca própria em ascensão, vi
muito potencial. Quero uma reunião para oferecer algumas
propostas. — Ele cruzou os braços atrás das costas. — Além de
cuidar de finanças, sou um ótimo investidor.
Sorri como se entendesse desses assuntos, só dei as costas e
pesquisei no computador o número dessa Fallon Cruz. Quando
achei o número, rapidamente liguei para ela. Nem na primeira e nem
na segunda a mulher atendeu, devia estar bem ocupada.
Na terceira, entretanto...

— Olá, aqui é a secretária de Matteo Marrone Bertolucci. — Não


ouvindo nenhuma resposta, decidi continuar. — Ele deseja que
tenham uma reunião para falar sobre negócios.
— Não quero nenhum empresário tentando me enrolar para me
roubar.
— Mas...
— Adeus!
Engoli em seco, nervosa. Olhei para trás e Matteo não estava
mais lá, levantei-me um pouco nervosa. Estava na empresa o quê?
Há uns quarenta minutos? E já falhei nos primeiros cinco minutos
exercendo minha profissão.
Entrei na sala dele e ele olhava algo no computador, depois
verificava alguns papéis, no momento que percebeu minha
presença, seus olhos moveram-se lentamente até mim, como se
conseguisse prever minha derrota.
— O que foi?
— E-eu... é.... hum....
Droga! Droga! Droga!
— Eu marquei a reunião para amanhã, três horas da tarde, está
bem? — Perguntei, rezando para que a mentira não transparecesse
nas minhas expressões.
— Muito bem. Fez um ótimo trabalho. — Matteo falou, e
novamente voltou a fingir que eu não existia.
Me virei com um grande peso nas costas, queria fugir dali o mais
rápido possível, em dez minutos já falhei e menti para o meu chefe.
Estava completamente ferrada, amanhã já iriam abrir vagas para
secretárias de Matteo.
Como pude ser tão burra!
O semblante de felicidade assumiu meu rosto espantado, como
se uma luz tivesse sido aberta no fundo da minha mente. Havia
alguém que poderia me ajudar. Melissa.
Passei rápido pelo corredor, apertei o botão do elevador e entrei
no momento que as portas se abriram, por sorte não havia ninguém
para me incomodar. O fato de ter falhado em marcar a reunião
estava me gerando muito medo, tinha de permanecer nesse
emprego, meu sonho dependia disso. As portas se abriram e num
piscar já se encontrava atrás dela, cutucando nas suas costas.
A mulher virou com uma raiva nítida, pelo visto odiava que lhe
tocassem sem permissão.
— Você de novo. — Suas palavras saíram afiadas, mas seu tom
foi de exausta.

— Bom, preciso de sua ajuda. — Falei com um sorrisinho


constrangido.
— Com o que, exatamente?
— Bem.... Vamos dizer que hipoteticamente eu tinha de marcar
uma reunião importante para Matteo e não consegui. E para não o
decepcionar eu menti, informando que sim, havia marcado a
reunião. O que devo fazer?
— Primeiro, que hipoteticamente você é muito burra. Segundo,
imaginando essa situação hipotética absurda, o que deve fazer é ir
atrás dessa pessoa importante e dar um jeito de agendar essa
reunião ou será despedida com certeza, pois Matteo odeia quem
mente para ele. — Encerrou Melissa, voltando aos seus afazeres,
que ao meu ver, pareciam bastante complicados.
Voltei correndo para o meu andar, usando as escadas mesmo.
Rapidamente me joguei na cadeira e procurei o endereço da casa
de Fallon, depois de muitos minutos perdidos, optei por outro
caminho. Busquei pelo endereço de uma de suas lojas, bingo.
E o melhor, ficava no centro da cidade, um pouco longe, mas
seria o melhor que conseguiria. Fiquei lá sentada organizando
pastas e preenchendo algumas informações que Matteo
recorrentemente me pedia. A situação estava controlada, ele nem
desconfiava.

A todo momento meu coração martelava forte, o pensamento de


que se eu não conseguisse convencer aquela mulher acabava
comigo aos poucos. Tinha de obriga-la de alguma forma, minhas
formas de mudar as ideias de uma pessoa eram boas, tinha fé, isso
era o necessário. Muito tempo passou enquanto tive de continuar
cuidando de muita papelada, atrás de arquivos e conferindo as já
marcadas reuniões pela secretária anterior. Vendo que já estava no
meu horário de almoço, finalmente uma energia emergiu no meu
corpo, agora eu tinha exatamente uma hora para ir e encontrar essa
mulher e então voltar como se nada tivesse acontecido.
Peguei minha bolsa e saí, passando por Melissa, ela me olhou de
maneira estranha, mas nada falou. Suspirei de alívio, quanto menos
perguntas, melhor. Do lado de fora, abri meu celular rapidamente, o
GPS me mostraria o caminho, só esperava que ninguém me
roubasse, me sentia tão desesperada que meus pensamentos
chegavam a me confundir.
Com fome, novamente suada e com o sol mais forte do que
antes, tive de comprar uma garrafinha de um homem com uma
banquinha, paguei 1 real. E como o dinheiro foi bem gasto, me
hidratei e consegui um pouco mais de forças para continuar a
viagem.

Depois de passar por muitos quarteirões — parei de contar no


terceiro — finalmente cheguei no local, respirando ofegante e
apoiando-me nos joelhos. A loja tinha vária manequins elegantes,
admito que fiquei com um pouco de inveja. Além de ser um local
enorme, uma peça de roupa deveria valer todo o meu salário. Abri a
porta e pude ver várias mulheres olhando vestidos, saltos altos e
vestidos de casamentos. Aquela marca vendia de tudo, por isso o
interesse de Matteo, uma clientela de todos os gostos se
encontravam ali.
— Olá, com licença! — Sorri para uma atendente, ela me olhou
de cima abaixo e se virou de costas, para a madame riquíssima que
estava atendendo.
Desmanchei meu sorriso na hora, talvez outra...
— Oi, com licença. Poderia me...ajudar. — Tentei falar, mas a
próxima passou direto por mim quase como se não me visse.
Procurei pela Fallon, sabia sua aparência por ter visto sua foto no
Google imagens. Corria o risco dela nem estar mais lá. Olhei no
meu celular, faltava menos de meia hora para o fim do meu almoço,
ainda tinha de encontrá-la e convencê-la.
Quando vi uma mulher loura vestida toda de preto, corri até ela
com um sorriso impossível de esconder, tamanha felicidade.
Contorci meu pé na pequena corrida, devido ao maldito salto alto,
caindo no chão logo fechei os olhos. As mulheres ali deviam estar
rindo ou estavam chocadas.

Levantei-me depressa, ignorando os olhares julgadores, e, para a


minha surpresa. Fallon estava na minha frente, de braços cruzados.
— Posso ajuda-la em algo? — Indagou a mulher, de cenho
franzido. Perguntando-se como uma pessoa como eu estaria
fazendo numa loja como essa.
— Sou secretária de Matteo. Espere... — corri na direção dela
quando a mesa se virou. — Só ouça a proposta, se falar com ele,
independente de aceitar ou não o que ele tem a oferecer, nunca
mais a incomodarei.
Fallon pareceu mover a língua por dentro da boca, com uma
revirada de olhos deu de ombros, e foi ali, que soube que havia
conseguido.
— Se ele for um desses que finge me ajudar para depois dar um
golpe, denunciarei vocês dois a polícia. — Seu tom de ameaça foi
muito forte.
Mas não me afetou, me preocupava mais em me manter no meu
emprego.

— Faça o que quiser se não gostar dele, mas escute-o. Terá a


melhor proposta da sua vida. Ele é um homem incrível e
provavelmente sua marca só tem a ganhar com a ajuda dele. —
Disse de maneira séria.
Jamais poderia demonstrar fraqueza na frente de alguém ou ela
poderia querer tirar vantagem de mim. Ela pareceu pensar mais um
pouco, perguntando-se sobre o que aconteceria se recusasse a
oferta ou se manteria sua palavra em pelo menos ouvi-lo.
Pareceu continuar com a segunda decisão.
— Quando posso falar com ele? — Perguntou Fallon.
— Amanhã à tarde. — Parecia que eu havia falado em câmera
lenta, cada palavra que saiu pude ver o semblante dela mudando.
Eu já esperava o que viria a seguir.
— Já tenho compromisso, marque para um outro dia. — Fallon
cruzou os braços, com um meio sorriso.
Parecia que quanto mais ela adiasse o encontro com Matteo
mais feliz ficava.
— Sinto muito, é o único horário disponível para ele. — Falei,
tentando acreditar na minha própria mentira.
— Por qual motivo desmarcar meu compromisso importante para
falar com Matteo, sendo que só TALVEZ eu consiga algo?
Engoli em seco e fechei os olhos por segundos rápidos, só queria
ter um dia tranquilo de trabalho, tinha de acabar com aquilo e voltar.
Meu horário de almoço já estava no fim, faltava apenas dez minutos.
— Escute, Matteo é um homem mais ocupado do que você, mais
rico do que você, se ele está considerando investir no seu negócio,
então qualquer reunião que tenha, mesmo que seja com o maior
estilista do mundo, não vai chegar nem aos pés quando escutar a
proposta do meu chefe na reunião que terá. — Disse, bebendo mais
um pouco da água dentro da garrafinha de plástico, e não me
importando mais em qual seria sua resposta, pois caminhei para a
saída.
— Espere!
Me virei ansiosa novamente.
— Desmarcarei todas as minhas reuniões da tarde, Matteo terá
toda a minha atenção. — A dona Fallon sorriu, admitindo a derrota
numa boa.
Também fiquei feliz e retribuí o sorriso. No momento faltavam
cinco minutos para acabar meu horário de almoço, e nem tinha
comido nada, meu estômago roncava em força total. Saindo da loja,
praticamente saí correndo na maior velocidade que conseguia, o
que não era muito graças aos saltos altos. Meus cabelos arrumados
esvoaçavam no vento forte, quando esbarrei em alguém que estava
num carrinho de cachorro quente, pude jurar que vi algo vermelho
voando na minha direção. Nada disso importava, eram distrações,
precisava chegar no horário.
Três minutos.
Chegando no quarteirão da empresa, quase caí diversas vezes,
por sorte continuei em pé e me locomovendo. Matteo odiava
atrasos, apostava que iria conferir se eu estava lá um minuto depois
do horário do meu almoço ter acabado.
Dois minutos.
Entrei no prédio e observei olhares curiosos sobre mim.
Obviamente nem tempo eu tinha mais para perguntar, de relance só
consegui ver Melissa segurando o riso na minha direção. Pensei em
pegar o elevador, mas podia demorar e me faltava tempo.
Um minuto.
Abri a porta das escadas e agilizei meus passos, mesmo
sabendo que meu pé poderia torcer nessa hora apropriada, me
desiquilibrando e fazendo meu corpo rolar pelas escadas até que
meu pescoço quebrasse quando chegasse ao chão. No corredor da
minha mesa olhei meu relógio e faltava menos de dez segundos,
quando sentei na cadeira ouvi a maçaneta na porta de Matteo.
— Charlotte... — Matteo arregalou os olhos de modo que nunca
vi.
Havia algo de errado, muito errado.
— O que aconteceu com você?
Desliguei momentaneamente a tela do meu computador e pude
ver meus cabelos assanhados como se eu não os tivesse lavado,
uma mancha vermelha no meu terno caro da ponta do meu ombro
direito até a costela do lado esquerdo, era Ketchup. Respirei
profundamente decepcionada, por isso todos estavam rindo de mim.
— Havia saído para comprar meu almoço e tive uns
probleminhas. — Sorri desengonçada.
Pelo menos ele não ria de mim.
— Dê um jeito no cabelo e venha a minha sala, agora! — Falou
ele.
Matteo entrou e deixou a porta de madeira, mais linda do que
meu estado atual, entreaberta. Infelizmente nada que eu pudesse
fazer melhoraria a situação, então só tentei baixar o volume do meu
cabelo assanhado pelo vento. Levantei-me com toda força de
vontade do mundo e entrei.
Sentei na cadeira de visitante igual da última vez que estive ali,
na entrevista.
— Qual assunto quer tratar comigo, senhor? — Perguntei.
— Sorte a sua que não é sobre sua aparência. — Falou ele,
pigarreando.
Está bem, aquele comentário foi um pouco desnecessário. Pelas
expressões contidas dele, percebi que o desgraçado também
segurava uma risada. Fiquei com tanta vergonha que já podia sentir
minha cara esquentando.
— Queria saber o motivo de eu ter ligado há meia hora atrás para
a Fallon e ela me informar que não sabia nada de nenhuma reunião
comigo. Pode me responder isso? — O semblante de Matteo mudou
repentinamente.
Quase engasguei com minha própria saliva, mas por milagre
consegui controlar meu desespero e sorri.
— Por que não liga para ela agora? — Perguntei, fazendo
questão de que minha voz cínica fizesse perceber o desprezo.
Matteo rapidamente inclinou sua mão esquerda e pegou o
telefone fixo, digitando rapidamente o número de Fallon, colocando
o aparelho no ouvido, aguardou.
— Olá Fallon... — Matteo ia começando. — Nossa.... Hurum....
Entendi. Que bom que repensara sua decisão, nos vemos amanhã,
então.
Matteo desmanchou o sorriso assim que desligou o telefone.
— O que você fez?
— Vamos dizer que eu falei a verdade quando disse na entrevista
sobre ser uma boa secretária. — Sorri. Levantei dando um aceno
com a cabeça para sair, e prestes a me virar ele decidiu olhar-me da
cabeça aos pés.
— Sorte que não tenho ninguém marcado para hoje. Se vissem
minha secretária desse jeito pensariam que sou pobre e que não sei
administrar uma empresa desse porte. — Disse ele cruzando os
braços em cima da mesa.

Fiquei ereta pelo comentário desconfortável, nem sabia como


responder aquele deboche. Além do mais não queria ser demitida,
ele deve ter se dado conta de que menti para ele. Bom, resolvi a
situação e era isso que importava.
— É só isso. — Disse ele, voltando a escrever nos papeis em
cima da mesa.
Virei-me muito desconcertada, sentir-se feia no primeiro dia,
depois de ter passado horas me arrumando, me deixou um pouco
triste, admito. Pelo menos quem quisesse marcar comigo não
precisaria olhar para a minha cara, teria de mandar um e-mail ou
falar por telefone.
Pelo menos consegui evitar um erro, o que obviamente, pelo
menos naquele dia, não seria demitida. E quanto a Matteo, teria de
tomar cuidado, pois tinha a impressão de que outros erros não
seriam mais tolerados, podia sentir que ele sabia da mentira. Um
homem inteligente como ele só precisava somar um mais um e
chegar na resposta.
Voltei a verificar se todas as reuniões que eu marquei estavam
sem nenhum erro de horário ou outro qualquer, odiaria dar ainda
mais motivos para ser odiada.
Capitulo 5
CHARLOTTE

No outro dia, cuidei para ficar mais atenta no trabalho, na


aparência e na atitude. Cheguei antes do horário, deixando Melissa
momentaneamente de boca aberta. Cheguei na minha mesa e
conferi se não havia nada de errado com a reunião que marquei
para Matteo. Fallon viria hoje à tarde, e rezava para que chegassem
em um acordo. Desse modo meu chefe poderia ser um pouco mais
bonzinho comigo.
Dessa vez optei em deixar meus cabelos soltos, me achava mais
linda daquele jeito. Matteo saiu do elevador com muito papéis na
mão e ficou surpreso ao me ver, ter chegado antes dele foi um ponto
a mais. Vi um sorriso discreto quando ele ergueu o outro braço para
beber o seu cappuccino.
— Bom dia...

— Preciso que busque meu café da manhã no restaurante aqui


perto. Se chama Carne Em Chamas. — Falou ele, logo entrando na
sua sala.
Tentei perguntar o que queria comer e Matteo fechou a porta na
minha cara. Praticamente fiquei chupando o dedo, sem saber o que
fazer. Obviamente corri a passos lentos, graças aos malditos saltos,
e novamente estava na mesa de Melissa, sorrindo descaradamente.
Melissa cuidava de algumas revistas de moda, talvez
pretendesse comprar roupas novas. Depois de um minuto inteiro,
ela notou minha presença e suspirou.
— O que quer?
— Matteo me pediu seu café da manhã....
Ela arregalou os olhos e levantou-se da cadeira num salto,
rodeou sua mesa e ficou de frente a mim.
— Ele disse o que queria?
— Na verdade não.
— Ele quer peito de frango assado na brasa com muitos legumes
e um suco de abacaxi. — Melissa colocou as duas mãos nos meus
ombros, como se quisesse se certificar de que tivesse entendido. —
Não peça nada mais ou esqueça de algum ingrediente, o que
Matteo mais gosta nessa vida é de comida.
— Quem é que come isso a essa hora da manhã?
— O Matteo. — Falou ela, piscando várias vezes, como se fosse
todo dia que alguém pedia praticamente um almoço no café da
manhã. — O único restaurante que faz isso a essa hora é Carne Em
Chamas.
— Ele comentou... — Dei uma risada entrecortada e curta,
estava um pouco desconfortável. — Parece conhecer ele muito
bem, são íntimos?
— Fui sua secretária, todas nós somos íntimas de algum modo
com nossos chefes, não é? — Ela sorriu, deu meia-volta e sentou-
se na sua cadeira.
— Você é a secretária que peguei o cargo. — Disse um fato,
muito chocada. — Por qual motivo saiu?

Melissa olhou para mim, revirando os olhos, a informação que


me daria agora deveria ser óbvia demais para justificar suas
expressões sociais.
— Tem que saber que Matteo é um pouco mulherengo, às vezes
dorme com mulheres que tem uma reunião, raras as vezes, mas
acontece. Não me leve a mal, sou uma boa secretária, é claro, só
que ele ficou com ciúmes, então me pôs aqui. Mesmo salário e
benefício, nada mudou muito.
— Ele tinha ciúmes de você? — Perguntei, chocada.
— Ele tinha ciúmes das mulheres que ele tinha sexo casual.
Eu franzi o cenho, confusa, perguntando-me em como aquilo se
conectava com Melissa.
Ela revirou os olhos mais uma vez.
— Ele tinha ciúmes porque algumas paravam na minha cama
também. Outras que ele queria dormir, eu as conseguia primeiro.
Por isso me pôs aqui, porque eu andava comendo mais mulheres do
que ele!
Abri a boca, Melissa era lésbica e uma verdadeira predadora
sexual. Poderia dizer que me sentia passada, no entanto essa
palavra seria pouco para descrever minha surpresa. Ela pegava
mais mulheres de que Matteo, tentei de todas as formas impedir que
risadas saíssem. Matteo estava perdendo no quesito quantidade
para Melissa, isso sim parecia uma piada.
— O que ainda está fazendo aqui? — Indagou Melissa.
— Ah, verdade. Obrigada. E boa sorte.
— Boa sorte para quê? — Perguntou ela.

— Na sua vida.... Sexual, eu acho. — Tentei não falar nada tão


ofensivo. — Sei que sexualidade pode causar enormes problemas
em alguns empregos.
— É verdade, sabe, estou muito triste esses dias. Bem que você
podia me consolar. — Melissa usou um tom de voz sedutor.
Fiquei com as bochechas rosadas e simplesmente saí dali
apressada, não sabia nem o que dizer, e ainda consegui ouvir
Melissa falar:
— Ela não é de se jogar fora.
Ignorando completamente aquele comentário, fui direto para o
restaurante Carne Em Chamas. Tive de perguntar para algumas
pessoas que passavam por mim, pois esqueci de procurar o
endereço no computador. Atravessando a rua, nem parei para
escutar os xingamentos de um motorista que parou o carro
apressado para não passar por cima de mim, tinha de pegar a
comida do chefe.
Entrando no restaurante, vi poucas pessoas, obviamente o lugar
acabara de abrir, e já mandava um entregador deixar algumas
quentinhas. Fui ao balcão e chamei a atenção do primeiro homem
de roupa branca e um chapéu de cozinheiro na cabeça.
— Preciso de frango assado na brasa, com muito legumes e um
suco de abacaxi. — Falei batucando meu pé direito insistentemente
no chão, nervosa.
— Irá demorar, ainda está no horário de café da manhã, onze
horas passe aqui. — Falou o homem, dando-me as costas.
Fiquei surpresa de um jeito ruim, no meu segundo dia e já
poderia me ferrar.
— Meu chefe é Matteo Marrone Bertolucci. Ele me disse que
faziam um prato desses a essa hora.
O homem se virou, sorrindo.
— Devia ter dito esse nome antes.
Como ele mesmo disse, foi só falar o nome de Matteo e a comida
já estava pronta na minha frente trinta minutos depois. Foi incrível,
parecia um truque de mágica, onde a qualquer momento pudesse
tirá-lo da cartola.
Peguei o saco e mais uma vez saí apressada. Na empresa, fui na
lanchonete e peguei uma bandeja, um prato, garfo e uma faca. Corri
para o andar de cima e, espiando pela porta, vi que Matteo não se
encontrava, então coloquei a bandeja frágil em cima de sua mesa,
depois o prato. Coloquei o frango e depois as verduras ao redor, de
um lado depositei o garfo e do outro a faca.
Matteo entrou na sala sem levantar o olhar, colocou uns papéis
na mesa ao lado de seu notebook, olhou para mim numa das raras
vezes e colocou sua jaqueta preta em cima da cadeira, ficando com
uma camisa branca majestosa.
— Quero estar apresentável quando Fallon vir me ver. — Matteo
encarou a comida e simplesmente se virou. — O horário do café da
manhã já passou, não comerei isso.
Fiquei um pouco desconcertada, esperando que fosse uma
brincadeira infantil. Logo lembrei que aquele homem frio e calculista
não brincava, e quando saiu pela porta soube que falava sério.
— Agora terei de me encontrar com Marcos Cross para uma
reunião. — Disse ele, deixando a porta aberta, provavelmente para
sua secretária tomar seu rumo.
Foi o que fiz, voltei com o rabinho entre as pernas para a cadeira
da minha mesa. Pensando em todo trabalho, o vigor gasto em
conseguir essa comida. Tudo em vão. Olhei na agenda dele, e
realmente havia uma reunião com Marcos Cross, mentiroso ele
também não era. E consegui outra informação, esse homem odiava
atrasos, era possessivamente pontual.
O dia no trabalho mal havia começado e já me sentia cansada,
exausta. O tempo parecia correr lentamente, minha mente parecia
enlouquecer a cada segundo, então cuidei para terminar logo o que
tinha de fazer antes do meu almoço. Soube que terminei uma hora
antes ao retirar meus dedos do teclado e ver as horas, ainda faltava
muito. Mais trabalho só depois do meu intervalo.
Por isso pesquisei um site pirata de filmes e séries, tinha de
matar o tempo de alguma forma, que seja vendo besteiras e
aproveitando um descanso. Coloquei um episódio aleatório de um
seriado americano de comédia, pelo que entendi, um cara rico tinha
de aturar o irmão fracassado na própria casa com o filho que ele
trouxera de um casamento desastroso. Havia uma emprega mais
louca que os protagonistas e uma mãe tão narcisista que poderia
facilmente compará-la a Matteo, a única diferença estava no gênero.
O episódio tinha menos de trinta minutos, ainda faltava mais de
meia hora para que eu pudesse sair um pouco. Então
simplesmente, levantei e saí para a cantina, agora em vez de uma
hora, teria trinta minutos a mais. No andar debaixo, onde havia a
comida, muitos estavam com bandejas nas mãos, escolhendo o que
comeriam. Por algum motivo só as mulheres comiam menos, isso é,
não havia quase nada na bandeja da maioria delas.
Balancei a cabeça, tentando preocupar-me comigo mesma
apenas. O que os outros faziam de nada me interessava.
— Carne frita com muito óleo.
Me virei e vi Melissa olhando decepcionada o pedaço de carne
que coloquei na minha bandeja.
— Cuidado com as celulites, querida, poderá ser mal vista na
empresa. — Advertiu ela enquanto pegava somente uma maçã.
A olhei chocada com tais palavras.
— Esse local é gordofóbico? — Perguntei, nunca me importei
muito com a gordura no meu corpo, estava no meu peso ideal e, na
minha opinião, extremamente magra.
— Por favor, me poupe desse fato. Faço parte de uma minoria,
lembra? E nesse emprego temos de sobreviver. — Melissa me
olhou tristonha. — O que acha que vai acontecer se ficar fora dos
padrões que a sociedade espera de uma secretária? Será trocada
num piscar. E para ser sincera, gostei de você. — Ela sorriu ao
passar por mim. — Quero que dure pelo menos um mês.
Um mês? Era muito pouco tempo. Me senti até mal pela comida
que escolhi, mas como já estava no meu prato, iria comer, mas a
partir daquele momento ficaria bastante atenta com minha
alimentação. Desde o início sabia que teria de estar apresentável
para a empresa e a todos que marcassem reunião com Matteo, mas
ficar seca igual as mulheres das mesas ao meu redor, parecia uma
tarefa impossível, me perguntei como tinham forças para carregar
uma bandeja.
Deixando o corpo e a aparência dos outros de lado, concentrei-
me na minha comida. Um pedaço de carne com arroz e um pouco
de verdura, acompanhando havia um suco de maracujá natural.
Simplesmente não podia descrever os gostos maravilhosos de tão
perfeitos que eram na minha boca. Aquelas mulheres não sabiam o
que estavam perdendo
Percebi que os homens não comiam muito também, talvez para
manter o corpo sarado. Aquelas pessoas deviam ter uma vida
bastante fútil, onde era necessária cuidar minuciosamente da
aparência para que pudessem viver naquele mundo cheio de
glamour.

Demorei bastante para acabar com minha comida, eu tinha


tempo de sobra. Logo revirei os olhos por ter de voltar a minha
mesa e aguentar desaforos de Matteo, infelizmente teria de me
acostumar daqui em diante. Observei muitos cochichos e risadas, os
engravatados aproveitavam a hora do almoço e jogavam conversas
fora, me senti no ensino médio. Onde as pessoas, principalmente os
rebeldes, deixavam de estudar ou matavam aula para namorar ou ir
ao cinema escondido, fumar drogas ou fazer muito sexo. Ainda bem
que nunca fui esse tipo de mulher.
Quando finalmente meu horário terminou, saí do refeitório da
empresa e voltei ao meu entediante trabalho. Devia sentir essa
vontade de me matar daqui uns três meses ou mais, contudo,
aquelas pessoas eram difíceis de conviver, insuportáveis seria um
elogio para descrevê-los perto do que realmente eu imaginava.
Passei mais um tempo atendendo ligações, impedindo que
homens que Matteo não queria falar viessem até o escritório,
revirando os olhos ao escutar “cantadas” dos mais velhos. Recostei-
me na cadeira, levantei o braço e olhei meu pulso, o relógio
marcava quase três horas.
Em breve Matteo chegaria e Fallon logo depois.
Liguei para um homem chamado Mathew Almeida, dono de uma
firma de advocacia no Rio De Janeiro, uma das melhores de lá. Fui
informada que esse homem estava de passeio pela cidade e que
meu chefe queria uma reunião. Obviamente os motivos eram
desconhecidos, também não eram da minha conta.
Na maioria das pessoas em que Matteo se reunia minha
curiosidade implorava para que entendesse algo de que eles
falavam, nas três reuniões de ontem ouvi todas pelo telefone. No
entanto ele parecia saber disso e falava em códigos com os
prováveis clientes.
As portas dos elevadores se abriram e lá vinha Matteo
novamente, esbanjando uma arrogância desnecessária, isso
significava que havia fechado um negócio bom. Poderia lhe dar os
parabéns, mas tive um pressentimento de perigo, talvez ele
desgostasse de minha atitude. Só continuei pesquisando futuros
clientes ou investidores, trazer pessoas importantes para cá poderia
me dar alguns pontos com Matteo.
Mais uma vez ouvi as portas do elevador se abrirem, e por
coincidência, era Fallon. Com toda sua elegância, usando um
vestido preto até abaixo dos joelhos, segurava uma bolsa Prada na
mão esquerda e eu podia ouvir os sons de seus saltos autos pelo
corredor. Ela caminhou na minha direção, parando, sorriu.
— Vim ver Matteo, ele está?
Senti um pouco de cinismo nas palavras, no entanto, continuei a
sorrir. Olhei de relance o horário no computador, a mulher tinha
chegado meia hora antes do combinado. Matteo iria adorá-la, já que
o homem amava pontualidade.
— Está sim, me acompanhe. — Levantei da cadeira e abri a
porta do escritório. Matteo nos olhou, rapidamente sorriu para
Fallon. — Senhor, ela veio antes do que o combinado, aposto que
ansiosa pelo que tem a dizer.
Saí sem dizer mais nada, deixando-os a sós. Obviamente corri
até minha cadeira e me joguei nela, dando uma volta completa, abri
o telefone com conexão direta com a do escritório de Matteo. Ouvi o
normal no começo, os dois se apresentando, mesmo que já se
conhecessem. Falaram sobre como tinham metas a atingir, depois
Matteo falou em como queria investir na marca de roupas dela, foi
bem persistente, informando que Fallon jamais se arrependeria.
A conversa continuou normal por uns bons quarenta minutos. Já
estava ficando com tédio, eles não marcavam nada, ou diziam nada,
mas continuei atenta, prometi a Matteo que não precisaria pedir
nada referente a compromissos, só de pensar já estava feito. A
conversa entediante prosseguiu com risadas tímidas de Fallon e
alguns elogios bastantes sutis da parte dele.
Logo lembrei-me da breve conversa com Melissa, informando
sobre a falta de escrúpulos do próprio chefe. Não podia acreditar no
que ouvia, ele estava dando em cima de Fallon. Ter certeza era
difícil já que os dois pareciam preocupados em deixar algo escapar
e Matteo devia saber que eu estava escutando.

Homem esperto.
— Sabe, você é muito bonita. — Falou Matteo.
Fallon só continuou com suas risadinhas tímidas.
— Já que vai pensar na minha oferta com carinho, que tal
sairmos? Assim posso te convencer melhor da minha oferta. —
Falou ele. Pude ouvir algo, como se estivesse forçando uma risada.
Fiquei um pouco chocada, provavelmente só queria sexo com ela.
Que canalhice. — Posso entender se a resposta for um não, pois sei
que gente como nós não tem tempo todo dia.
Revirei os olhos, ele podia ser melhor do que isso.... Continuei
escutando atentamente. Matteo não podia ser tão arrogante ao
ponto de confiar que só porque era um dos homens mais ricos do
país as mulheres estariam aos seus pés.
Fallon não podia aceitar o convite, ela parecia ter odiado quando
fui falar sobre Matteo...
— Podemos nos encontrar sim, desse modo posso conhecê-lo
melhor. — Disse Fallon.
Fiquei de boca aberta, por sorte uma outra secretária quase que
no final do corredor estava muito ocupada para notar minhas
expressões faciais, Fallon podia ter relutado um pouco mais, ter
dado uma de difícil, seria um charme a mais.

— Perfeito, tem algum lugar especifico que queira ir? — Indagou


ele, com uma voz quase mansa.
— Na verdade, pensei em apressar as coisas aqui e sair depois,
se é que me entende. — Disse Fallon.
Fiquei sem entender, confirmou que queria um encontro, no
entanto, tem o desejo de apressar as “coisas”.
De repente comecei a escutar sons de beijos, minha mente não
raciocinou de primeira o que estava acontecendo. Mas ouvi uns
gemidos fortes dela e uma pancada, provavelmente se agarravam e
ele a empurrou em algo. Engoli em seco, ansiosa, não sabia o
motivo por estar escutando aquilo.
A ficha só caiu ao escutar palavras que me deixaram
horrorizadas.
— Tira a calça! — Falou a voz de Fallon, animada.

— Que foi, quer me agarrar, é? — Matteo indagou entre risos.


— Pensando bem, posso assumir o controle um pouco. —
Sussurrou Fallon, e o motivo que me leva a crer que eles estavam
em cima da mesa do telefone do escritório, foi que consegui escutar
muito bem as palavras.
Mais sons de beijos, dessa vez mais altos, muito animados
deviam estar.
— Hum.... Já está no ponto. — Pronunciou Matteo, pelo que
escutei, bastante animadinho. — Levanta o vestido vai. Olha só,
está sem calcinha, né, safadinha.
— Eu vim pronta para você!
— Que delícia.

Eu abri a boca e a tapei na mesma hora, reprimindo uma risada.


Me encontrava completamente passada, nem sabia como descrever
os meus sentimentos. Meu chefe era um completo galinha sem um
pingo de vergonha naquela cara.
— Quase sem pelos, gosto desse jeito. — Matteo nem conseguia
mais falar sem meter muitos gemidos entre cada palavra.
— Me preocupo com minha higiene.
— Então deixa eu te chupar.
Aquela foi a gota d'água. Coloquei o telefone de volta no lugar e
saí dali o mais depressa que consegui. Pude ver a secretária me
olhando como se eu fosse uma louca varrida, pois bem, tenho
certeza de que ela ficaria com o mesmo espanto se ouvisse pelo
menos metade das barbaridades sendo proferidas dentro daquele
escritório.
Meu coração batia rápido, minhas pernas começavam a doer, e
mesmo com o ar condicionado a mil, meu corpo suava muito. Fui
pelas escadas mesmo, mais uma vez. No final, estava exausta, se
Melissa reclamava do meu peso, então nunca mais iria fazer. Devo
ter perdido muito peso só hoje.

No andar debaixo, emergi como se nada tivesse acontecido, com


minha postura ereta, passei por meus colegas de trabalho
retribuindo alguns sorrisos. Eu poderia ir atrás de Melissa, pensando
nela em específico, com certeza caçoaria de mim. Não podia contar
o que sei para minha única amiga nesse lugar enorme. Mudei de
direção, em vez de ir ao encontro da mesa dela, fui ao refeitório,
ficar um pouco sentada e quem sabe beber algo que estivesse livre
de álcool.
Fiquei sentada lá um bom tempo, até que meu celular vibrou.
Estava tão chocada que nem atendi, já na segunda vez foi
inevitável, quando dei por mim já estava com o aparelho no ouvido.
— Quero saber o motivo de não estar aqui na sua mesa,
trabalhando! — A voz de Matteo soou nos meus ouvidos.
Me perguntei como ele tinha o meu número, logo revirei os olhos.
Ele é o meu chefe, claro que tinha de ter meu número.
— A-a.... eu.... Senti dor de barriga, por isso decidir caminhar um
pouco. — Falei sorrindo.
— Bem, trate de voltar agora, preciso de você!
Andei depressa até o elevador no momento que ele desligou. Foi
uma má ideia ter saído de lá, bastava ter desligado o telefone. As
portas se abrem e vejo Fallon abrindo um sorriso e passando por
mim como se nada tivesse acontecido. Só baixei meu olhar, não
suportando ver sua face de tão envergonhada que me encontrava
agora.
As portas fecharam sozinhas, lá dentro, esperando o meu andar,
fiquei em volta de meus próprios pensamentos imorais. Por mais
que tentasse esquecer as imagens de sexo que eu imaginava, elas
voltavam com mais força. Meu próprio chefe, no seu escritório, a
poucos metros de mim.
Tenho de admitir, o homem tem coragem.
As portas abriram, e dando o primeiro passo virei-me na direção
da minha mesa, e lá, sentado na cadeira estava Matteo. Imaginei
que levaria mais uma bronca, que não seria justa, ele fizera muito
pior. Tinha muita sorte dos sons de gemidos serem tão baixos que
ninguém os escutara.
Antes de levantar, Matteo ajeitou seu terno bege e com toda sua
imponência me encarou de uma maneira hostil, podia ver raiva no
seu olhar e no modo como se portava.
— Gostou do que ouviu. — Foi uma afirmação.
— E-eu, o quê?
— Sei que escutou porque saiu, e saiu por estar chocada. E isso
não teria acontecido se estivesse fazendo o seu trabalho, que não
incluía escutar meus momentos íntimos. — Disse ele, sorrindo de
lado. Provavelmente adorando ver que suas palavras deixaram as
duas maçãs da minha face, rosadas.
— Sinto muito. Isso não se repetirá. — Falei.
— Veremos. — Respirando profundamente, Matteo baixou a
cabeça por um instante, logo me encarou. — Preciso que me
consiga dois ingressos para Romeu e Julita, uma peça do Teatro do
Centro da Terra. Perdi o prazo de compra-los e agora estão
esgotados.
— Espere. — Franzi o cenho, simplesmente um absurdo. — Quer
que eu consiga um par de ingressos esgotados?
— Sim. — Matteo começou a caminhar, depois de cinco passos,
parou e virou-se para mim. — O espetáculo é no sábado, hoje é
quinta, tem até amanhã para conseguir. E caso falhe, não precisa
por mais os pés nessa empresa.
Quando ele desviou seus olhos de mim, arregalei os meus.
Matteo queria me demitir, deu-me uma tarefa quase impossível,
sentia uma espécie de retaliação pelo maldito sexo que ele mesmo
fez. Está apenas esperando que eu falhe em algo, assim terá uma
desculpa para me demitir.
Capitulo 6
MATTEO

O dia para mim já estava acabando depois de perceber que


minha secretária havia escutado meu momento íntimo com Fallon
no telefone. Queria demiti-la e precisava dar-lhe um trabalho
impossível. Não sei o motivo, mas senti um pouco de
arrependimento, um sentimento incomum por uma funcionária.
Nunca senti culpa, mas tratando-se de Charlotte, me senti
estranho...
Sorri, devia ser só o calor afetando minha cabeça.
Conseguir algo esgotado seria difícil, a menos que fosse um
homem rico que portasse alguns contatos, como eu.

Já podia ver a lua crescendo na janela do meu andar, era hora de


ir embora. Tirei meu paletó por conta do suor, ficando apenas com a
camisa social branca listrada, o ar condicionado não estava dando
conta da temperatura daquela região. Terminei de mandar alguns E-
Mails e avisei para Melissa que demitisse Charlotte se ela não
aparecesse amanhã até o fim do seu turno com meus ingressos.
Pude ver uma certa decepção na face de minha antiga secretária,
mas nada falei, não era da minha conta.
Alguns funcionários trabalhariam até mais tarde, sorri me
lembrando que nunca mais precisava ficar até tarde, pelo menos
não todo dia. As portas se abriram e pude presenciar o grande céu
noturno, lindo e magnifico. Minha linda limusine preta e com
motorista particular parou na minha frente. Passei por alguns
engravatados da minha própria empresa e quando abri a porta do
carro, percebi que meu motorista particular precisava de um
aumento por conseguir a proeza de cumprir uma ordem peculiar.
— Fallon! Pensei que não aceitaria meu convite para sairmos. —
Disse, forçando um sorriso.
Nem havia como me recusarem depois de provarem de um sabor
maravilhoso: Meu corpo.
— Pensei bem, acho que posso tirar uma pequena folga do
mundo da moda. — Ela abriu espaço para mim. — E você?
— Posso dizer o mesmo do mundo dos negócios, além do que,
todo homem precisa relaxar um pouco. — Com uma piscadela
minha, percebi que a deixei excitada. Entrei no carro e coloquei meu
paletó de lado. Fechei a porta e sorri ao perceber algo quente na
minha coxa, próxima da virilha. Era fácil deduzir de quem era a mão,
então só abri minhas pernas ainda mais, facilitando o acesso.
Pelo retrovisor acenei para Michael, ele logo fechara a porta e
deu partida no carro caro, na direção da minha casa.
— Então...o que quer fazer enquanto não chegamos no lugar que
está me levando? — Perguntou Fallon, a voz bastante áspera.
— O que quer fazer? — Perguntei, para mim tanto faz quais
seriam as preliminares se eu conseguisse chegar nos finalmente.
— Que tal isso? — Fallon aproximou-se devagar, tocando meus
lábios com os dela, segurando os dois lados do meu rosto, enfiando
a sua língua na minha boca. — Gostou?
Perguntou ela, parando o beijo e me encarando nos olhos de
forma intensa.

Tudo bem. Ela conseguiu me deixar excitado dentro do carro, um


feito que poucas conseguiam.
— Sabe, não acho que devemos fazer aqui o que iremos fazer no
motel. — Sussurrei no seu ouvido, colocando minha mão sobre sua
coxa direita, alisando até minha mão conseguir entrar debaixo da
sua saia.
— Calma, garotão. Aqui só faremos as preliminares. — Fallon
falou, rindo de maneira tímida.
As tímidas eram as melhores, contudo, já fiz sexo com ela no
meu escritório, aquela timidez era teatro, o que não deixava de ser
bom. A mulher sabia seduzir um homem, perfeitamente sagaz e
doce. E boa o suficiente para que o meu pau quisesse se divertir
com a vagina dela mais uma vez.
Porra!

Só alisá-la não estava adiantando, por isso recolhi minha mão de


volta, caso prosseguisse poderíamos acabar ali mesmo dentro do
veículo. Tentei pensar em qualquer outra coisa, mas quando
Charlotte apareceu na minha mente, do nada, peguei uma garrafa
de vinho que sempre tenho reservada e a abri.
— Quer?
— Com certeza! — Ela falou animada, dando curtas palmas.
Peguei duas taças e as enchi, entreguei uma nas mãos dela logo
em seguida, brindamos a qualquer besteira que não me importei
muito, quase que no mesmo instante demos outro beijo, e depois
mais outro, e assim seguimos a viagem, com beijos curtos, mas
potentes, que nos deixavam cada vez mais excitados.
Na segunda taça, Fallon moveu-se na direção da porta esquerda,
pousando o corpo no assento e movendo sua cabeça na direção da
janela, seu olhar pareceu acompanhar a paisagem de um bairro
rico, o bairro em que se encontrava me moradia. O motel viria
algumas quadras depois.
— Sabe, ainda não ganho o suficiente para conseguir me manter
num lugar como esse. — Disse ela, bebericando a taça.

E quem liga? Revirei os olhos enquanto ingeria mais um pouco


de vinha.
— Tenho certeza que logo conseguirá o sucesso que almeja. —
Coloquei a mão na coxa dela mais uma vez, percebendo que dessa
vez não houvera hesitação, comecei a invadir a sua saia. — É uma
mulher forte, independente, pode conseguir tudo que quer...
Ela sorriu percebendo o que eu estava fazendo, abriu suas
pernas bem devagar, como um homem igual a mim não fosse notar.
Conseguindo sentir sua área macia com pelos raspados, percebi
que estava sem calcinha. A mulher sabia o que fazia, tal atitude me
deixou louco, e pensar que estava conseguindo conduzi-la, então
me toquei que poderia ser muito bem ao contrário. Minha admiração
por Fallon crescia muito, assim como meu pênis.
Estava sendo impossível afastar os pensamentos safados de
minha cabeça, queria aquela mulher, queria muito. Já estamos
quase perto, só preciso espera mais um pouco. O clima amoroso
continuaria se dependesse de mim e da taça de vinho que estava
pela metade. Meu plano seria ficar um pouco bêbado, e pelo visto o
dela também.
— Gostaria de conhecer sua casa. — Ela sorriu para mim, com
aqueles dentes brancos lindos.
— Quem sabe um dia.
O que seria nunca. Fallon podia ser bonita, inteligente, mas no
futuro se tornaria alguém como eu, frio, calculista e narcisista. Caso
eu fosse realmente ter uma companheira ela não podia ser assim,
dois com os mesmos atributos juntos era um mau sinal. A mulher
serviria apenas para encontros casuais talvez, dependendo daquela
noite, eu talvez nunca mais a viria se não fosse a trabalho.
— Olha só, chegamos! — Minhas palavras saíram rapidamente.
O carro foi parando bem devagar para conseguir fazer a volta e
entrar na entrada. Michael falou com a recepcionista no lado direito
da parede. As portas do meu motel se abriram, o teto parecia sugar
os materiais de ferro. Entramos e Michael parou no lugar onde
estacionavam os carros. Como perfeito cavalheiro, abri a porta para
sair e depois, com elegância desnecessária da minha parte, dei a
volta e abri a porta para que Fallon pudesse sair.
— Muita obrigada, senhor. — Fallon sorriu, fingindo ser uma
dama de filmes dos anos 70. — Aonde me levará exatamente?
Perguntou ela, passando o olhar por vários quartos chiques, em
seguida seus olhos passaram por toda a área que conseguia
enxergar, aproveitando a linda visão. Nenhuma mulher jamais
deixou de ficar parada vendo os enormes arbustos bem cortados ou
as folhas de bananeiras enormes. O cheiro do lugar não fedia a
sexo, pelo menos não do lado de fora, o aroma deixava a todos que
saiam de seus carros, mais excitado.

— Isso daqui é o paraíso! — Exasperou Fallon, com uma risada


chocada. — Amei.
Recebi um abraço, e tudo que consegui fazer foi sorrir e levantar
as sobrancelhas, pois senti que sua virilha roçava na minha. A
mulher a todo momento queria me conduzir, estragando o meu
trabalho de tentar fazer o mesmo. Ela também devia ser uma
pessoa vivida, sexualmente ativa, onde aprendera a fazer de tudo.
Particularmente mulheres desse tipo não me incomodavam, na
verdade essas sãos as que me proporcionavam grande prazer, e
agora, dentre todos os homens, eu seria lembrado como o melhor
que já teve. Adorava essa competição travada por mim mesmo, me
deixava mais revigorado.
— Podemos? — Perguntei, inclinando meu braço na direção da
porta do quarto que estaríamos.
— Claro, senhor. — Ela sorriu, dando uma pequena voltinha
andou para a porta, abrindo-a, olhou-me de relance, e então deixou
a porta entreaberta para que pudesse ser espiada.
No entanto seus planos falhariam, pois nunca tive essa fantasia
de olhar alguém por qualquer brecha ou buraco que fosse. Meus
negócios eram a ação. Entrando sem cerimonias, vi que o sutiã e a
blusa estavam no chão, e que a saia foi a última peça a ser
removida. Fallon assim como a mim, queria agir rápido.
Perfeito.
— Tão rápida. — Sussurrei, desamarrado minha gravata azul.
— Por qual motivo esperar? — Ela se deitou na cama, erguendo
o dedo indicador e o movendo para frente e para trás, me chamando
de uma forma que fiquei hipnotizado.
Quando as pernas dela se abriram, só tive tempo de descer as
calças, jogando-as para longe, esqueci-me de tirar a camisa. Que se
foda, tenho algo mais importante para ficar preocupado: em como
satisfazê-la.
Ficando por entre as pernas dela e por cima de seu corpo,
nossos lábios se encontraram rápido demais. Conseguia sentir os
seios dela debaixo do meu peitoral, ela fazia questão de roça-los em
mim. Deixando meu pau mais duro, chegando a encostar em sua
coxa. Esperta, inteligente, conduzindo o jogo.
Sentindo seus dedos finos no meu órgão duro, fechei os olhos e
afastei minha boca, emitido um longo gemido quando Fallon
esfregou minha glande nos grandes lábios da sua vagina. Usando a
outra mão, agarrou o colarinho da minha camisa e me puxou de
volta, para mais um beijo. Podia sentir o líquido pré-gozo vazando,
meu corpo já estava no ponto certo.
— Aaaarrr, isso é tão bom. — Disse ela, acelerando os
movimentos.
Tive de segurar o braço dela, forçando-a parar com os
movimentos, me envergonharia muito gozar só com aquele ato
simples. Por isso levantei e tirei minha última peça de roupa: a
camisa. Voltei a deitar sobre seu corpo, cobrindo-a de beijos pelo
pescoço. Fallon agarrou meu cabelo com força e arranhou de leve
minhas costas.
A mulher gostava de selvageria.
— Sabe... — Fallon começou a sussurrar no meu ouvido —
mulheres educadas perante a sociedade, perante aos olhos de
outras pessoas, adoram ser tratadas como uma puta na cama de
vez em quando.
Eu fiquei sem palavras, não sabia se continuava chocado ou se
prosseguia com os pequenos beijos, decidi fazer os dois. Aquela
mulher me impressionava, deixava meu coração acelerado, meus
pelos arrepiados e os sentimentos aquecidos. A cama não era do
tipo que fazia muito barulho, mas estávamos tão conectados que foi
impossível ocultar o ranger alto quando ela tomou o controle e virou
meu corpo.
— Hahahaha. — Ela soltou risadinhas.

Segurando meu pau mais uma vez, introduziu ela mesma na sua
vagina, sentindo-a por dentro revirei os olhos por um bom tempo. Os
movimentos dela começaram lentos, logo tornaram-se regulares, os
rebolados me davam tanto prazer que nem gemidos saiam mais de
mim. Só fiquei lá dando tapas na sua bunda enquanto ela me dava
prazer. Fallon colocou suas duas mãos no meu peito, servindo como
apoio, e ela começou a quicar, as bandas da bunda dela chocando-
se contra minha cintura fazia barulhos de atritos.
Nós dois arfávamos muito, já suados, mas incansáveis, pelo
menos até que o sexo tivesse acabado. Ela curvou o corpo o
suficiente para me beijar, seguimos nesse estado por um bom
tempo. Até que, novamente, prestes a gozar, mudei nossas
posições, coloquei-a de quatro e introduzi minha língua na sua
boceta. Com pequenos movimentos circulares percebi que suas
pernas tremiam, dando-me a dica que fazia o certo. Senti um certo
líquido, que servia para lubrificar o local, não sendo de todo ruim.
Rapidamente encostei minha barriga nas costas dela, introduzi
meu pau, dei início a pequenos beijos no seu pescoço. Em seguida,
comecei a estocar lentamente para que ela se acostumasse.
Segurei os seus cabelos em minhas mãos e puxei sua cabeça para
trás, enquanto fiquei de joelhos. Fallon queria ser tratada com muita
safadeza, o pedido teria de ser garantido por mim. As estocadas
ficaram mais fortes, o choque de pele contra pele ficou mais alto, os
gemidos tornaram-se comum, e o prazer virou descomunal.
— Isso continua metendo. Fode! Fode! Arrgghhhh! — Ela gemeu
mais alto.
Um sorriso escapou de meus lábios, queria que ela lembrasse de
mim, que o sexo para Fallon fosse magnífico. O efeito acontecia ao
contrário, estava sendo o melhor sexo da minha vida, eu com toda a
certeza do mundo me lembraria dela por um bom tempo. O contato
de nossos corpos fazia algum sentido, não era sexo só por sexo,
havia carinho ali, sentimentos que nunca pensei que teria.

Uma pena não ser o suficiente para considera-la uma futura


companheira.
Mais uma vez, mudamos a posição, o modo mais comum de
fazer sexo, o que combinava com a situação naquele instante já que
estávamos ficando cansados. Ela deitou de barriga para cima e eu
por cima dela, no meio de suas pernas. Papai e mamãe, introduzi
meu pênis dentro de sua vagina, devagar. Gememos na medida que
meu corpo se conectava com o de Fallon por completo.
As unhas da mão esquerda dela encontraram as bandas da
minha bunda, quando senti um forte arranhão, o gemido de dor que
emiti me serviu para ficar mais duro. Movimentando-me por dentro
do corpo da bela mulher, senti as unhas passando por minhas
costas nuas, quase entrando na minha pele. Beijei-a com fervor,
seus braços rodearam meu pescoço, em seguida ela segurou minha
cintura, ajudando-me a meter mais rápido. Entres risadas e lamúrias
o choque nas minhas bolas revelou o óbvio, meu corpo estava perto
de terminar com o de Fallon.
Minhas forças quase esgotadas me impediam de trocar nossas
posições novamente. Tive de continuar até o final, o que pude fazer
foi desacelerar um pouco. A dança de mobilidade fazia com que a
circulação no meu órgão ficasse estável, demorando para atingir
meu orgasmo minha preocupação maior se tornou fazê-la gozar
primeiro.
Alisei seus cabelos, deixando-a arrepiada, em seguida meus
dedos grossos passaram pelo seu pescoço fino, o corpo dela
encaixou-se no meu mais facilmente à medida que as estocadas
continuavam. Chegando nos seus seios fartos e macios, os apalpei
um de cada vez, quando percebi que a machucava interceptava os
movimentos no mesmo instante, depois continuava da maneira
certa.
De repente o telhado foi inundando com um barulho de várias
coisas cocando-se contra a cerâmica, a chuva emergiu, instaurando
o clima frio. Fazendo com que o calor de nossos corpos virasse algo
agradável, amantes aquecidos eram pessoas felizes. O chuvisco
aumentou e o sexo prosseguiu por mais um tempo, minhas mãos
passearam por todo o corpo dela antes do fim, e Fallon fizera o
mesmo.
Os movimentos antes lentos ficaram muitos frenéticos, os
gemidos saiam ao mesmo tempo, a mulher simplesmente se deixou
ser possuída por mim. Adorável, fantástica, espetacular. Os
sinônimos pareciam poucos para descrevê-la. A onda de choque
voltou mais intensa, mais forte dessa vez, tive que me inclinar para
ter certeza de que meu pau estava fundo, quando gozei vários jatos,
meu corpo tremeu, uma sensação boa, de satisfação. Retirei meu
órgão e vi a porra vazando da abertura dela, deixando-a melada.

Deitei ao lado dela, cansado, exausto. Prestes a dormir, no


entanto não faria isso, pelo menos não naquele momento. Nossas
respirações estavam altas, ofegantes. Rapidamente peguei meu
celular nas roupas no chão sem sair da cama, só precisei esticar o
braço, mandei uma mensagem para que o serviço de quarto
trouxesse água. Poderia ser qualquer bebida, mas minhas intenções
com Fallon acabavam naquela noite.
— Esse foi o melhor sexo da minha vida. — Fallon falou, olhando
para o teto, sorrindo e quase passando mal tentando puxar mais ar.
— Meu estresse me atormentava há muito tempo, acho bom que
você conseguiu resolver esse problema.
— Não há de quê. — Engoli em seco em alguns momentos,
também puxando bastante ar, meu peito subia tanto que podia ver o
suor escorrendo já pelo abdômen. — Essa noite foi incrível, algo
completamente inesquecível.
A chuva continuava a cair, raios explodiram no céu, causando um
som assustador. Contudo, os dois amantes nem ligavam, estavam
mais preocupados se conseguiriam transar uma segunda vez na
mesma noite.
— Quero tomar banho, tem água quente nos chuveiros daqui? —
Indagou Fallon.

Depois de minha confirmação ela levantou-se da cama, nua, com


um corpo maravilho que tive o prazer de experimentar, e caminhou
na direção do banheiro. Mesmo feliz em ter me satisfeito com uma
bela mulher, minha mente só continuava refazendo a mesma
pergunta desde quando eu saí da empresa: por qual motivo não
despediu logo Charlotte?
Em vez disso dei uma chance, considerada por mim mesmo
como impossível, mas uma chance. Talvez quisesse tê-la por perto,
no entanto, por quê? Por qual motivo meu interesse repentino nela?
Saí de cima da cama pensativo, caminhei até a janela de quarto,
virada num ponto que a paisagem pudesse ser apreciada, e vi a
chuva caindo. O clima nublado enterrava minhas perguntas em mais
mistérios. Que belo homem eu era, dormindo com uma mulher e
pensando em outra. Uma canalhice sem tamanho, Fallon é uma
mulher fantástica, atenciosa e busca conseguir o que quer. Mesmo
já tendo pensado nos motivos para rejeitá-la, ela merece uma
chance.
Uma chance que eu não estava disposto a conceder.
Num minuto estava feliz e satisfeito, no outro queria pegar o
celular e dizer para Charlotte desistir daqueles ingressos, que fui um
completado desgraçado de ordenar tal absurdo. Todavia, voltar atrás
com minhas palavras não era do meu feitio. Tudo dependia das
habilidades dela, quaisquer que fossem os resultados, minha torcida
estava do lado dela.
— Amorzinho, vá tomar um banho para tirar esse suor e limpe
esse pau mole! — Disse Fallon, revirando os olhos.
Soltei uma risada gutural que foi abafada pelos trovões na
mesma hora. A deixei no quarto para me lavar no banheiro, e porra!
Como a água morna estava magnífica. Senti um alivio pelo meu
corpo quase como se estivesse gozando pela segunda vez. Retirei o
suor com sabonete, lavei meus cabelos com o xampu especial que
mandei colocar em todos os quartos e lavei minhas partes intimas
rindo pelo comentário anterior de Fallon.

...
Já estávamos dentro do carro, Michael dirigia devagar por causa
da chuva que ameaçava a estrada. Fallon e eu estávamos
sentados, calados, sem trocar nenhuma palavra, no fundo os dois
sabiam que depois da última parada dela, nosso relacionamento
seria somente profissional. Algo me dizia que os sentimentos dela
por mim eram grandes, mas em algum momento durante o sexo ela
percebeu não passar disso: só sexo.
— Espero que tenha gostado do pequeno passeio — falei de
forma despretensiosa, tentando enxergar qualquer paisagem no
vidro embaçado.
Encomendei mais uma taça de vinho, estávamos bebendo
enquanto meu motorista ainda dirigia para o seu destino: a casa de
Fallon. Queria dizer que uma mulher bonita como ela arranjaria um
homem que a queira, que a aceitasse e que a amasse. No entanto,
a conhecia há pouco tempo, sua vida particular era da conta dela e
somente.
— Adorei, pensei em repetirmos. — Fallon soltou uma risada
triste. — Receio que essa opção não existe.
Virei-me para a mulher, toda a sinceridade na minha expressão
séria.
— Não, jamais acontecerá de novo.
Fallon pareceu segurar uma emoção que passou despercebida
por mim quando esta bebeu todo o vinho da sua taça. Cruzando as
pernas, percebi que ela queria minha mão na sua coxa de novo, e
quando acabei de terminar o que tínhamos, o tesão acabou, assim
como o coração. Normalmente seria pouco improvável me importar
se a mulher que estava apaixonada por mim ficara triste, com raiva
ou abalada. As deixava em casa e pronto, fim. Com essa do meu
lado a história se provava traiçoeira. P elo menos eu havia certeza
de uma coisa, só queria o bem-estar desta curta companheira, nada
mais.

— Posso aceitar isso, você já me ofereceu tudo que tinha. —


Fallon sorriu. — Graças a Deus tive a confirmação de que não
queria mais... sabe, isto. — O sorriso se arregalou. — Seria ruim
para os meus negócios.
Fiquei impressionado, acima de tudo pensando no que estava
construindo, seu império em ascensão. Fantástica, de amante
fabulosa para uma ótima parceira nos negócios. Foi uma das
transições mais rentáveis que consegui. Michael estacionou em um
local difícil de identificar pelo clima nublado. Quando ouvi e vi a
porta do meu lado sendo aberta soube que a rua era o lar de Fallon.
— Tchauzinho. — Sussurrou ela.
— Até mais.
No mesmo momento que o carro voltou à pista, meu celular
tocou. Um número desconhecido, minha mão tremeu, meu coração
parou. Logo naquela hora da noite? O desgraçado não tinha mesmo
o que fazer além de me atormentar.
— O que quer?
— Essa é a hora que terminou de transar com uma de suas
prostitutas, não é? — A ironia na voz dele me deu vontade de
vomitar.
— Jeferson!
— Sem mais delongas, quero só informar que estarei na sua
empresa amanhã pessoalmente para resolvermos alguns negócios.
— Disse o homem, parecendo bastante entediado.

— O combinado não era esse.


— Sei qual era o combinado, mais planos mudam. — Podia jurar
que o desgraçado bocejou. — Estarei no seu trabalho amanhã, não
esqueça. Temos negócios a resolver. Até mais, é sempre bom falar
com meu melhor “investidor”.
— Já eu, não posso dizer o mesmo. — Desliguei o celular tendo
muita raiva, tanta que meu celular caiu no banco. Aquele
desgraçado viria ao meu encontro, pelo menos devia dar graças a
Deus que meus negócios com Jeferson chegavam ao fim.
Engoli em seco, tinha de fazer de tudo para o mínimo de pessoas
cruzarem seu caminho nos corredores. A conversa será muito breve
da minha parte, tinha de cuidar também de fazê-lo ir embora o mais
rápido possível, a má energia dele podia afetar os negócios.
A tempestade soou mais uma vez, como me avisando de um
presságio ruim. Ficar com um gosto amargo na boca parecia bem
comum depois de terminar de falar com aquele verme. Não gostava
de admitir nem para mim mesmo, mas no dia que meu caminho
cruzou com o de Jeferson foi o início da minha catástrofe, o pior erro
que cometi foi fazer um acordo para ele.
— Tudo bem senhor? — Indagou Michael, pelo retrovisor.
— Estou ótimo, só um pouco...inquieto. — Batuquei os dedos na
minha taça de vidro.
Já tentei de várias formas quebrar o acordo, mas o desgraçado
conseguiu fechar a mais das pequenas brechas que me desse a
chance de fugir. Pelo menos, tenho um pouco de poder, pois se eu
caísse, podia o levar junto, contudo, isso ele nunca saberia.
— Quer que eu o deixe em casa? — Perguntou Michael.
Percebi agora que meu motorista parece realmente preocupado
comigo. Mas é claro que ficaria, funcionários leais sempre se
preocupavam com sua fonte de dinheiro.
— Isso, me leve para casa. — Disse de forma seca. — Meu dia
começou normal, depois ficou ótimo, e agora, terminou péssimo.
Primeiro Charlotte, depois Fallon e finalmente Jeferson. Três
pessoas que mexeram muito com meus pensamentos hoje, e
esquecerei de todos eles momentaneamente no intuito de ter um
sono feliz e que me desse energia para um novo amanhã.
Capitulo 7
CHARLOTTE

Sentada no escritório em plena manhã de sexta-feira, cheguei


mais cedo que o habitual. Nem consegui dormir à noite pensando
em como conseguiria as drogas desses ingressos para essa peça
idiota de Romeu e Julieta. Fiquei um pouco triste por não ter tido
nem tempo de me despedir da minha mãe, a mulher sempre ficava
triste quando as filhas saíam sem avisá-la.
Tinha medo de acontecer o mesmo que acontecera com nosso
pai...
Procurei em site de vendas se alguém havia desistido dos
ingressos, mas ninguém parecia querer deixar de assistir aquela
peça. Procurei perfis que consegui descobrir das pessoas que
compraram os ingressos, tive de praticamente me humilhar nas
palavras, rezando para que houvesse uma chance de me venderem
aqueles papéis pequenos. Nenhum deu o braço a torcer, mesmo
com oferta de dinheiro feitar por mim.
Meu futuro na empresa já estava selado.
Recostei minhas costas na cadeira giratória e levei uma mão à
boca, decepcionada. Mesmo já tendo passado três horas do meu
turno, o sentimento de exaustão estava acabando comigo. Lutava
pelo meu emprego, pois se não o fizesse seria como me render a
Matteo. E isso jamais aconteceria.
Voltei a digitar no computador, buscando uma forma de conseguir
os malditos ingressos. Nada, simplesmente não havia nada,
ninguém queria me vender e tudo estava esgotado. Mesmo assim
continuei, cheguei a pensar em procurar na Deep Weeb.
Erguendo meu olhar por escutar as portas do elevador se
abrindo, senti a sensação de embrulho no estômago.
— B-bom dia senhor...
— Marque uma reunião para mim com Sebastian Connor, um
homem que as empresas de finanças rivais estão de olho. — Disse
Matteo, mexendo nas mangas de seu terno.
— Sim senhor...
— Está quase na hora do almoço, preciso que me traga carne ao
ponto, com bastante salada e um suco de frutas. — Matteo saiu por
mim rispidamente.
— Pode deixar...
— E Charlotte! — O encarei e ele fez o mesmo. — Hoje sairei da
empresa às três horas da tarde, tem até lá para me dar os
ingressos.
Com uma expressão séria, virou para seu escritório e entrou, me
deixando sozinha com meu desespero. Em vez de me dar uma folga
de seus pedidos, o maldito homem me enche com mais trabalho.
Pesquisei pelo tal teatro onde a peça aconteceria, entrei em contato
com alguns atores que me disseram não terem como me ajudar e os
outros eu anotei os números num papelzinho, pois levantei-me da
cadeira e saí.
Correndo pelos corredores quase bati em Melissa, que soltou um
“cuidado por onde anda” com o cenho franzido de curiosidade. Na
rua desviei das pessoas tendo muito cuidado para evitar esbarrar
em um engravatado.
Tinha o celular em uma das mãos já digitando um dos números.
— Olá, você vai fazer a árvores em Romeu e Julieta, será que
me conseguiria um ingresso? Posso aumentar seu cachê... ah! Não
pode me ajudar, tudo bem.
Desliguei e teclei outro número já atravessando a pista em
movimento, quando coloquei o celular na orelha um carro freou
rapidamente com o motorista quase quebrando a buzina para mim.
— Alô, soube que estará na peça de Romeu e Julieta, aumento
seu cachê se me conseguir dois ingressos ... sei que não me
conhece, eu trabalho na... alô?
Dei graças a Deus que o sinal estava vermelho e os carros
parados, seria mais fácil me embrenhar entre eles e atravessar.
Tentei ligar para o terceiro número, que chamou e chamou, mas
ninguém atendeu. Meu dia ficava mais péssimo, me alegrava por ter
conseguido uma chance de conseguir o ingresso, e as chances
acabavam num piscar. Triste e desgastada, continuei correndo de
saltos altos até o restaurante conhecido por fazer as comidas de
Matteo.

Entrei e pedi para que o cozinheiro fizesse o seu almoço, fiquei


aliviada por ele já me conhecer e ter dado uma piscadela,
certificando que meu pedido seria o primeiro. Enquanto isso
continuei ligando para mais pessoas, sem parecer desesperada. Os
minutos passaram, quando recebi o saco com minha comida,
lembrei-me de Melissa.
Ela poderia me ajudar.
Dei toda uma volta por dois quarteirões, passando pelos carros
que por diversas vezes quase me atropelaram, e voltei ao prédio
mais movimentado do que antes. O calo imenso não foi o suficiente
dessa vez para me deixar desorientada, pois precisava manter
minha mente focada a qualquer custo. Avistando Melissa fiz um
sinal de que precisava falar com ela, depois peguei uma bandeja. O
elevador do meu andar foi mais rápido dessa vez, para minha sorte
Matteo parecia estar na sua sala. Cheguei sem rodeio enquanto ele
lia alguns papéis, levantou o olhar, prestes a dizer algo, mas
praticamente joguei a bandeja em cima da mesa, fingindo
preocupação e cansaço.
— Aqui está, como pedido. — Ainda fiz questão de colocar tudo
separado, como uma mãe fazia para uma criança birrenta. Matteo
pareceu perceber a mensagem.
— Eu...
— Já marquei sua reunião, fique despreocupado. Amanhã o
senhor Sebastian virá aqui. — Disse respirando um pouco,
recuperando um pouco do meu fôlego.
— Tem que...
— Os ingressos já estão sendo providenciados, antes das três
horas os receberá aqui na sua mesa. — Falei numa alegria forçada,
então antes que o homem pudesse pedir qualquer outra coisa
absurda, saí de sua sala. Sentei-me na cadeira desejando que ele
permanecesse na sua.
Os minutos passavam, o batucar no chão pelas minhas pernas
ficava mais alto. Minha ansiedade estava muito alta, nem conseguia
raciocinar direito, precisava me acalmar, mas parecia ser impossível
naquele ambiente. Logo me lembrei de Melissa, claro, como podia
tê-la esquecido? Levantei e fui rápida ao andar debaixo onde ela
conversa animadamente com um homem estranho.
— Com licença e desculpe a intromissão. — Precisei dizer para o
homem na frente dela. — Preciso de sua ajuda.
— É urgente, pois...
— Sim é urgente. — A puxei para longe, até a sua mesa
especificamente. — Matteo me pediu para conseguir ingressos para
a peça de Romeu e Julieta, o problema é que está impossível de
conseguir essas porcarias.
Melissa pareceu pensar, e, quando ela mordeu os lábios,
provavelmente pensando no passado, percebi que Matteo já deve
ter dado um ultimato a ela, como fizera comigo na quinta.
— O cretino já me fez passar por isso. — Melissa encheu as
bochechas rapidamente, depois soprou todo o ar na boca. — Já viu
em site de vendas?
— Já.
— Ligou para alguém da peça, funcionário, atores?
— Sim.
— Não conseguiu nada, né? — Melissa pôs as mãos na cintura.
— Droga. É difícil dizer o que fazer, quase impossível. Sinto muito.
Pela expressão de Melissa, ela realmente não sabia o que fazer.
A tristeza dela não era maior do que a minha, já me contentava na
demissão que Matteo faria as três da tarde. Escondendo meus
sentimentos como uma boa secretária fazia, voltei para minha mesa.
Suspirei muitas vezes, o que eu poderia fazer? Faltam vinte minutos
para a hora do almoço e não sei se mereço um descanso, pois
ainda precisava cumprir uma ordem impossível.
Desanimada, completamente derrotada, tentei pesquisar mais
algumas vezes, digitando na barra de pesquisa mais e mais páginas
onde não me levavam a lugar nenhum. Franzi o cenho em ver um
homem bonito, de terno, com os cabelos loiros raspados, que já
cresciam. Olhos de um verde fortíssimo, me fizeram ficar arrepiada,
admito. Ele possuía dois alargadores pequenos em cada orelha, um
verdadeiro bad boy. Mas o que um homem bonito daqueles fazia
nesse prédio? Logo revirei os olhos, era óbvio, negócios com meu
chefe.
Fiquei um pouco ofendida por vê-lo passar por mim, sem falar
nada. Levantei-me depressa e coloquei uma mão em seu peito.
— Desculpe, senhor. Sem hora marcada você não pode entrar aí.
— Falei, séria. Meu sorriso era para os educados.

Ele olhou-me com desprezo no início, prestes a falar algo, a


expressão mudara para uma mais contente, os olhos saborearam
meu corpo com uma fome animalesca. O homem estava tão
confiante que nem disfarçou.
— Marrone devia ter me falado que tinha uma secretária tão
bonita. — De completo estúpido passara a ser educado e quase um
cavalheiro.
Engoli em seco, muito surpresa.

— Bem, obrigada. — Cruzei os braços. — Ainda sim, precisa


marcar uma reunião.
— Normalmente eu faria você ser despedida, mas como gostei
de você, farei aquele Marrone aumentar o seu salário. — Disse ele,
com um sorriso de lado.
Fiquei sem palavras, estava recebendo uma cantada, no meu
local de trabalho. Muitas considerariam assédio, no entanto fiquei
apenas com as bochechas vermelhas, e no meu caso, não era algo
ruim.
— Vejo que está um pouco triste, por qual seria o motivo?
Deveria ser crime uma mulher linda derramar lágrimas que não
sejam de felicidades.
Procurei no meu rosto onde as lágrimas estavam, não
encontrado percebi que se tratava de outra cantada. Eu poderia
dividir meus problemas com um estranho que obviamente só queria
uma noite de prazer comigo, talvez falar me ajudasse a diminuir o
estresse, mesmo que fosse com aquele estranho.
Voltei à minha cadeira num longo suspiro, ele logo ficou de frente
para mim, curvou-se e colocou o cotovelo na mesa para que a mão
pudesse apoiar sua cabeça, enquanto me encarava usando a magia
do seu olhar. Uma magia que foi capaz de deixar o lugar entre
minhas pernas bem quente.

— Meu chefe me ordenou que conseguisse dois ingressos para a


peça de Romeu e Julieta, que será amanhã, até as três horas de
hoje. — Suspirei. — Obviamente é impossível conseguir algo já
esgotado.
— Acho que a ordem já foi feita com o propósito de que falhasse.
— Falou o homem de maneira curiosa. — Matteo deveria se
envergonhar disso. A propósito, meu nome é Jeferson.
— O meu é Charlotte. E terminando minha história, só estou
esperando os meus minutos acabarem para ser despedida. —
Disse, ignorando seu olhar enigmático, estava conferindo algumas
reuniões.

— Sinto muito. — Quando ele disse isso se levantou depressa.


— Ah, Matteo! Finalmente!
Girando a cadeira, vi Matteo de braços cruzados com uma
expressão nada boa na face. Os olhos maldosos desviaram de
Jeferson para mim.
— Pensei que não deixasse ninguém entrar se não tivesse hora
marcada. — Erguendo uma sobrancelha ele esperou uma resposta,
que na sua cabeça não vinha.
— E não deixei, ele está aqui no corredor, não é? Fora de sua
sala.
A resposta o fez franzir o cenho, voltando ao computador, percebi
o sorriso estonteante na face de Jeferson. Em menos de um minuto,
percebi que os dois se odiavam, se suportavam apenas pelos
negócios. Dei graças a Deus que não era da minha conta, por mim
os dois poderiam darem as mãos e caminharem juntos para o
inferno.
— Venha, acho que temos tempo agora antes de minha próxima
reunião. — Disse Matteo.

— Mesmo se tivesse alguma reunião, você e eu sabemos que a


desmarcaria para me atender. — Falou Jeferson.
Gravei o tom e as palavras de Jeferson na minha mente quando
ele sumiu da minha frente, o homem parecia ter um certo poder
sobre Matteo Marrone, interessante... lembraria disso. No momento
só estava encerrando meu trabalho da melhor forma possível.
Pensei em escutar a conversa do escritório pelo telefone, contudo,
minha mente permanecia exausta, estressada e me fazia ficar com
raiva.
Na hora do almoço, coloquei na minha bandeja macarrão, arroz,
feijão, muita bisteca de porco e um suco de laranja. No momento
estava pouco me ferrando para os olhares acusadores daquelas
mulheres magras, soltei uma risada de desdém, com certeza as
vadias fizeram lipoaspiração. Só precisava de um boato desses
correr pelas paredes desse prédio e suas carreiras poderiam
acabar, a sorte delas era que minha consciência do bem me forçava
a ser bondosa.
Mastiguei tão lentamente as proteínas que pude jurar que horas
se passaram e que provavelmente meu turno do dia havia acabado,
infelizmente só se passaram vinte minutos quando acabei tudo. Bebi
meu suco com grandes pausas, levando exatamente dez minutos
para que o copo fosse esvaziado. Restava trinta minutos, nada mais
podia fazer naquele lugar, limpei meus lábios com o guardanapo na
mesa e devolvi a bandeja.
Antes de subir as escadas, no corredor, avistei Melissa, que
tentara sorrir alegremente, parecia mais um sentimento de pena. Só
continuei galgando os degraus, sentando-me finalmente na minha
cadeira, percebi que a sala de Matteo estava bastante silenciosa,
obviamente cheguei à conclusão de que Jeferson havia ido embora.
Algo em minha mente pareceu sussurrar no meu ouvido na forma de
um suspiro, que fizesse o mesmo. Ir embora agora, evitar ficar cara
a cara com Matteo e nunca mais voltar.
Desistir de tudo pela qual batalhei.
De repente meu celular humilde começou a tocar, um número
desconhecido. Obviamente desliguei o aparelho, colocando-o em
cima da mesa, quando o toque recomeçou, meus nervos ficaram à
flor da pele. Quem poderia me ligar naquela hora da tarde?
Peguei o celular mais uma vez e atendi de uma forma um pouco
arrogante.
— Alô?

— Eu não sou incrível? — A voz de um homem pareceu feliz, ele


soltara algumas gargalhadas.
— Quem é? — Perguntei um pouco apreensiva.
— Jeferson, consegui seus dois ingressos esgotados! — Sua
felicidade me deixou aturdida.
Fiquei em estado catatônico, milhares de pensamentos rondando
minha cabeça, fazendo uma simples pergunta, como? O homem foi
capaz de sair da sala de Matteo e em pouco tempo conseguira os
ingressos. Poderia dizer obrigada, que lhe deveria qualquer favor.
No entanto, não consegui, e quando consegui, decidi ser um pouco
mal-educada.
— Onde está você? Pode vir aqui?
— Nenhum “obrigado, Jeferson” vindo de você? — Indagou ele,
parecendo triste ou forçando a voz.

Não tinha tempo para aquela besteira.


— Pode me dar o ingresso ou não? Aliás, você é um ser humano
incrível. — Tive de dizer, o que não era mentira.
— Obviamente te darei... contanto que saia num encontro
comigo.
Ele pareceu ouvir meu som de surpresa, pois começara a rir.
Prestes a dar tudo errado, quase na hora de perder o meu emprego,
e minha vida consegue me surpreender em mais uma reviravolta do
destino. Primeiro um homem maravilhoso surge do nada querendo
uma reunião com Matteo, depois os ingressos que salvariam meu
emprego estão nas mãos daquele mesmo homem, e este homem
novamente me deixa sem palavras me convidando para sair.
Meu coração palpitou depressa, assustada. Jeferson estava num
nível maior do que eu e ainda sim quer sair comigo, e naquele
momento, esperava uma resposta, agora. Precisei pensar por um
segundo, logo os segundos pareceram incontáveis minutos. Pensei
nas mais variadas desculpas esfarrapadas para usar, todavia, um
pensamento minúsculo no mar de toda aquela negação me fisgou.
“Não existe motivo para dispensá-lo”

“ É um bom partido, salvou seu emprego, é bonito...”


Fechei os olhos, imaginando-o sem roupas. Deveria ser bem
apetitoso. Abrindo os olhos, sorri, estonteante, como uma
adolescente.
— Tudo bem. Sairei com você. Somente se conseguir me
entregar os ingressos antes das três horas e me contar como os
conseguiu. — Falei, um pouco mais alegre do que o esperado.
— Ainda faltam duas horas. Levarei no mínimo trinta minutos
para chegar aí. — Soltou mais uma gargalhada. — Será um dos
melhores encontros da sua vida, pelo menos isso eu posso garantir.
— Você conseguiu os ingressos já pensando em comprar a
minha confirmação para esse encontro, não é? — Sorri.
— Foi exatamente isso. Na maioria das vezes, Charlotte, sempre
consigo o que quero.

— Na maioria das vezes, não sempre.


— Essa foi uma dessas vezes.
Soltei uma gargalhada, despedindo-me de meu salvador.
Respirei aliviada. Meu emprego foi salvo e ainda teria um encontro,
só esqueci de perguntar em qual dia seria. Bem, qualquer noite
seria bom. Se Matteo de alguma forma mandasse milhares de
trabalho para mim na exata noite do encontro eu mesma me
encarregaria de esganá-lo. Um pouco mais feliz, atendi alguns
telefonemas, confirmando com alguns investidores e empresários as
reuniões de hoje.
Matteo ficaria bem ocupado.
Dane-se, no momento queria esfregar minha vitória na sua face.
Na verdade, isso seria feito.

Como prometido, em menos de meia hora, Jeferson apareceu no


corredor, abrindo os braços e alargando o sorriso. Aproximando-se
de mim, levantei e o abracei no calor da emoção.
— Como os conseguiu?
— Foi fácil, conheço um amigo que conhecia o dono da peça, o
encarregado do show.
— Muito obrigada, agradeço de verdade. — Peguei os dois
ingressos da mão estendida dele, atônita. Feliz.
— Está livre hoje á noite? — Colocando a mão para trás, ele fez
a pergunta ainda com o sorriso.
— Você quer sair hoje á noite?

— Não vejo motivos para ser outro dia. Estou livre, e se você
também estiver podemos sair.
Ele foi direto, espontâneo, a personalidade dele me cativava.
Jeferson poderia estar mostrando somente o lado amável para me
seduzir, como já deve ter feito com outras, mas só se conhecia uma
pessoa passando um pouco de tempo com ela. Desistindo de tentar
inventar qualquer desculpa, somente sorri em desistência.
— Está bem, Jeferson. Tenho um tempo livre a essa noite, sim.
— Disse de forma fofa, surpreendo até a mim mesma.
— Te vejo ainda hoje, então. — Jeferson deu meia volta e
acenou com a mão. — Tchauzinho.
Só acenei de volta, sem falar nada.
Olhei meu relógio e já era uma e meia da tarde. Sorrindo,
maldosa, caminhei para a sala de Matteo. Tive de aproveitar a
deixa, estava sozinho e a próxima reunião seria em uma hora.
Como sempre, olhando alguns papéis. Não me importei com isso,
antes que ele levantasse o olhar, joguei os ingressos em cima da
mesa, pegando-o de surpresa.
— Estão aqui, como queria. E não esqueça, tem uma reunião
com um homem muito importante...

— Como conseguiu?
— Conheço um cara que conhece outro cara e por aí, nesses
caminhos de muitos contatos, consegui os dois ingressos. — Cruzei
os braços, sorrindo. — Aproveite a peça amanhã, tenho certeza de
que irá gostar.
— Claro que irei, até porquê, você virá comigo. — Matteo
recostou-se na cadeira, sorrindo.
— O quê? — Arregalei os olhos. Devia ter tomando um tipo de
droga na bebida do refeitório daquele prédio.
Só podia ser isso ou o cansaço me afetava de tal forma que
estava me causando alucinações.
— Fui bem claro, você quer ir comigo ao show?

O encarei por longos minutos, abismada, chocada.


Isso não é possível.
Dois homens do altíssimo nível da sociedade me convidaram
para sair, um hoje e o outro amanhã. Quais eram as chances dessa
situação acontecer? Tive muita sorte, os dados estavam ao meu
favor naquele dia.
Um encontro hoje, e, caso eu aceitasse este, um encontro
amanhã.
— Eu não sei... — De feliz e satisfeita pelo que tinha feito, eu
estava agora envergonhada e sem ter o que dizer. — Talvez não
seja uma boa ideia.
— E por que não?
— Sou sua secretária. — Ter de falar o óbvio para um homem de
finanças, rico e inteligente pareceu baboseira, é claro que ele sabia
disso.

— Considere uma recompensa por ter cumprido uma das ordens


mais difíceis que já dei a uma secretária. — Matteo Marrone se
levantou, ajeitando o terno. Deus três passos e depois sentou-se em
cima da mesa, uma forma bastante fofa. — Tem certeza de que não
quer sair comigo?
O que estava acontecendo naquele dia? De repente os homens
mais bonitos da cidade decidiram dar em cima de mim. Agora eram
dois, seriam três quando entrasse no ônibus e quatro no momento
que eu abrisse o portão de casa. A coincidência realmente
começara a me assustar. Respirei calmamente, tentando pensar de
forma clara. Não tinha nada sério com nenhum daqueles dois
homens, poderia facilmente sair com um hoje e o outro amanhã.
Além do mais Jeferson queria um encontro e Matteo... bem, ele
queria me recompensar pelo bom trabalho.
Mesmo que tenha sido outra pessoa que conseguira os ingressos
de fato.
Algo que seria desnecessário mencionar.
— Sim, aceito sair com você.
Capitulo 8
CHARLOTTE

Mais uma vez cá estou dentro de um ônibus, completamente


exausta indo em direção a minha casa, sentada num dos assentos
vagos. Desejei que o transporte não ficasse lotado e precisasse
ceder o meu lugar, minhas pernas despencariam se tivessem de
sustentar meu corpo. A correria pelos malditos ingressos acabou
com meus membros, tanto que quase dormi no momento que
consegui sentar de tão cansada.
Dizer que estava suja e suada seria pouco para descrever meu
estado, mas promessa é dívida, teria de achar forças para que
pudesse aguentar mais algumas horas acordada. Além do mais,
Jeferson poderia me manter entretida, claro, se ele fosse realmente
um bom galanteador. No momento abanava minha cabeça com
alguns papéis importantes do trabalho que decidi levar para minha
casa, esses veículos bem que poderiam ter ar-condicionado.
— Olá, minha criança. Posso me sentar ao seu lado? —
Perguntou uma velhinha educadamente.

— Claro...
— Trudy, meu nome é Trudy.
Um nome bem incomum no Brasil.
A doce mulher sentou ao meu lado e agradeci por ela ser uma
tagarela, pois conseguia me fazer ficar concentrada nas suas
histórias e não nesse calor infernal. E como ela falou por longos e
longos minutos. Em menos de meia hora já tinha a informação de
que seu primeiro namorado, Edvan, a traiu com a irmã sem
vergonha, nunca mais olhara na cara dos dois. Mas em
compensação, o segundo amor foi por toda uma vida, segundo ela.
O misterioso Tomas, no auge de seus vinte e sente anos, o
conheceu no parque quando estava chorando quando tomou a
decisão de se divorciar do outro traste. O amor surgiu num simples
olhar, e com a primeira conversa deles ela já sabia que o queria.
Alguns anos se passaram, tiveram um filho apenas, quando
planejavam o segundo, ela com trinta e cinco e ele com quarenta,
Tomas sofrera um acidente.
Desde então vivera somente pelo seu filho, fruto de seu
verdadeiro amor. Sempre fazia sexo quando tinha vontade, o que foi
uma informação bastante desnecessária para mim, mas o ponto foi
que Trudy nunca mais casou ou namorou, apenas encontros
casuais para satisfazer seus instintos carnais. Me deu um conselho
bastante útil, um que pensei nunca ouvir de uma completa estranha.
— Minha jovem, quando sentir o amor, não fuja dele ou tente
negar. Aproveite, a vida é curta para você desperdiçar com medo de
traições ou mentiras. — Disse Trudy. — Seu namorado ou marido te
meteu um chifre? Encontre outro amor, um amor pode morrer e
outro pode durar para sempre.

— Espero que encontre um novo amor, Trudy. — Falei, realmente


interessada naquela conversa.
— Não criança, o amor para sempre eu já tive. Com Tomas,
nunca me traiu e as mentiras eram bobas, do tipo “já almocei”
quando na verdade não tinha ou “não estou sentido dores” quando
estava com dor de barriga. — Tagarelou ela, relembrando do
passado. — O importante que foi fiel a mim até sua morte, o para
sempre dele se cumpriu e eu o amei durante esse tempo, assim o
meu amor por ele durou. Poderei encontrar outro, é lógico, mas o
amor de Tomas a mim, ainda permanecerá enquanto eu viver.
Aquelas palavras me deixaram surpresas. A mulher realmente
sabia o que fazia. Olhando de relance paras as janelas, levantei-me
rapidamente. Quase perdendo minha parada, apertei o botão
sinalizador, indicando que o motorista parece na próxima parada.
— Desculpe, Truddy. Foi bom falar com você, mas desço aqui.
— Foi bom falar com você também, criança.
Desci com cuidado, seria péssimo levar um tombo entre a porta
do ônibus e a calçada, os saltos altos poderia ser um perigo para a
mulher que não os soubesse usar. Bem rapidinha tirei minhas
chaves da bolsa e abri a entrada da minha casa, do lado de dentro
vi minha irmã, sua melhor amiga e o namorado. Assistiam a um
filme ridículo de comédia romântica na televisão, ignorei-os,
passando por eles em busca de minha mãe.
Encontrando-a na cozinha me preparei mentalmente para contar
a novidade. Um sorriso tímido surgiu nos meus lábios, bem no
momento que nossos olhares se cruzaram, como de costume, a
mulher logo ficou animada.

— Conheço esse sorriso, uma notícia boa, espero. — Minha mãe


falou, tirando os óculos e colocando sua revista de fofoca na mesa.
— Sim, dois... homens me convidaram para sair. — Achei melhor
não dizer o nome deles, de tantas revistas de fofoca minha mãe
podia conhecê-los. — E sim mãe, são bonitos, charmosos...
— E o mais importante?
Revirei os olhos, soltando uma risada.
— Mesmo que esse fato não seja uma das minhas prioridades
que busco num homem, sim, eles são podres de dinheiro. —
Coloquei minha bolsa em cima da mesa, andei até a pia, lavei as
minhas mãos e depois virei de costas, apoiando-me na cerâmica. —
Encontrarei um daqui a pouco e o outro amanhã.
— Quem diria, minha garotinha conquistou dois homens, e ricos.
— A mulher colocara os óculos de volta. — Já sabe qual o critério
principal quando chegar a hora de escolher um dos dois, não é?

— Não irei escolher o mais rico. Além disso, nenhum dos dois
pode ser o cara certo.
— Se um homem pode comprar tudo que quer, então sim, ele é o
cara certo. — Minha mãe olhou para mim novamente. — Sabe que
estou brincando.
Ela começou a gargalhar e eu também.
— Sei muito bem ou então você não teria casado com o papai e
teria tido duas filhas lindas — falei, caminhando para o meu quarto.
Tirando o meu celular do sutiã, procurei o contato de Jeferson.
Peguei seu número numa das chamadas perdidas que ele fez
durante minha pequena viagem no transporte público. Mandei uma
mensagem do meu endereço, assim poderia vir me buscar no
horário que desejasse. No mesmo momento recebi uma resposta,
que dizia um simples “ok”.
Estava na hora de me preparar para o encontro, vestida daquele
jeito seria a receita básica para o desastre. Precisava usar um
vestido chamativo para centrar sua atenção em mim, mas não
chamativo o suficiente para atrair os olhares de outros. Nada de
batom vermelho, meu estilo naquele encontro seria da secretária
tímida e não a vadia desesperada por um homem rico, nunca a
segunda opção. Escolhi um vestido branco o que obviamente me
forçava a tomar o dobro de cuidado, aquela cor sujava fácil. Seria
horrível ir suja ou desarrumada num encontro com um homem
daquele, e ele devia ser bastante detalhista em como uma pessoa
deveria estar bem arrumada dependendo da ocasião.
Escolhi uns brincos de argola um pouco grandes, saltos médios
para que pudesse dar a impressão de que minha altura não fosse
tão baixinha. Me despi rapidamente, jogando as roupas em cima da
cama, e corri para o banheiro. Passei xampu, condicionador e tudo
que meu corpo tinha direito para estar bela, charmosa e limpa. Fiz
questão de remover todo o meu suor.
Escutei o barulho de notificação no meu celular e logo pensei que
deveria me apressar, provavelmente era Jeferson avisando-me que
já vinha me buscar. Continuei mantendo a calma, ele devia saber a
demora das mulheres em ficarem prontas, principalmente para se
sentirem bem consigo mesmas. Devia ter esperado uma mensagem
minha, por algum motivo, mesmo sendo Jeferson com quem
passaria minha noite, meus pensamentos também me lembravam
do encontro inesperado com Matteo, meu chefe.
Ainda tentava resolver o enigma de como um homem daquele
notara uma mulher tão comum como eu. Tudo estava acontecendo
em tão pouco tempo... esse sentimento queimando no meio do meu
peito, me entregando sensações estranhas, cada parte, cada fibra
fazendo com que meus pensamentos estivessem focando-se nele
me assustava. Mesmo ali, hidratando meu cabelo, preparando meu
vestido, com brincos lindos ou saltos altos para estar com Jeferson,
minha paixão poderia ser na verdade por outra pessoa.
Então lembrei a mim mesma.

“Fez uma promessa”


“ Só precisa sair com ele uma vez”
“Não é como se fôssemos casar depois do encontro”
Levantei o braço, erguendo a mão girei a torneira na parede,
desligando a água que caía sobre o meu corpo sem parar, enquanto
meus pensamentos me distraíam. Peguei minha toalha confortável,
sequei meu rosto primeiro, depois o resto do corpo. Estava na hora
de me vestir. Coloquei o vestido branco, em seguida vieram os
saltos altos. Finalmente fiquei na frente do espelho preparando o
final, meus brincos, os cílios e o resto da maquiagem. Por fim, meu
cabelo, que já é bem ondulado, então o deixei mais ainda. Segurei
nas pontas do meu vestido e dei uma pequena voltinha, sentindo
uma felicidade que há muito tempo não sentia.
Meu semblante voltou a ficar triste por um minuto, desde a última
vez que saí não me sentia assim tão especial.
Da última vez que me arrumei assim, antes de um encontro, me
lembro de suas exatas palavras.
“Tão linda”
“Esse homem tem sorte de sair com você”
“Minha filha linda”
Senti uma lágrima escorrer do meu olho direito, mas não ergui
nenhum dedo para impedi-la que descesse pela minha bochecha.
Dois dias depois meu pai saiu e nunca mais voltara, como se
simplesmente nunca tivesse existido. Deixando familiares tristes,
minha mãe sozinha e suas filhas sem uma figura paterna.
Deixando as lembranças de que nada iriam me servir no
passado, peguei o celular e esfreguei o dedo na tela, liberando o
meu acesso. Vi de cara a mensagem de Jeferson perguntando se
podia me buscar. Bem, pelo menos teve o mínimo de educação.
Mandei um “já pode vir me buscar” para ele.
Desci as escadas timidamente, atraindo olhares dos três
adolescentes no sofá da sala. Pelo visto minha aparência estava
mais interessante do que o filme na televisão. Minha mãe em
contrapartida não ficou só de boca aberta, correu até mim saltitando
de alegria.
— Que linda!
Minha mãe pensou que eu tivesse cinco anos de novo e encheu
minhas bochechas com beijos. Tive de revirar os olhos até que ela
ficasse cansada. Enfim, quando o amor maternal terminara, pensei
em sentar numa das cadeiras da cozinha, esperar na sala com
aqueles três parecia ser uma péssima ideia.
— Posso fazer companhia a senhora? — Perguntei sem esperar
uma resposta, pois já sentara no lugar.
— É claro, a casa também é sua. — Falou ela, ajeitando os
óculos na cara, pegou sua revista de fofoca e voltou a folheá-la.
Estava com fome, todavia, seria melhor esperar para comer no
lugar que Jeferson me levaria. Jamais comeria sem vontade só para
agradar o próximo. De repente franzi o cenho automaticamente
quando a campainha foi tocada. Impossível o homem chegar tão
rápido, parecia que já estava ali me esperando há muito tempo.
Passei pelos três adolescentes boquiabertos de maneira um
pouco extravagante, abri a porta e o vi em todo o seu esplendor.
Jeferson usava um terno preto muito bonito, parecia que iríamos a
um encontro de negócios em vez de um romântico. Sua aparência
continuava adorável, o que podia dizer? Sempre tive uma queda por
bad boys.
— Está linda. — Seus olhos verdes me examinaram. —
Simplesmente perfeita.
Com as bochechas rosadas e queimando de vergonha, dei uma
pequena girada, fazendo com que as pontas do meu vestido
voassem conforme o meu movimento. Me exibir para aquele homem
sempre seria pouco. Os olhares me deixavam feliz, desejada, como
há muito tempo não me sentia.
Segurei na sua mão pensando que a noite era uma criança,
qualquer espetáculo poderia acontecer desse ponto em diante, e
sinceramente? Eu queria mesmo isso, minha timidez prosseguia,
mas não o suficiente para desperdiçar os prazeres a ganhar antes,
durante ou depois do nosso encontro. Caminhava sorrindo como
uma tonta, mas arregalei os olhos ao perceber de qual carro da rua
era o dele, estacionado algumas casas depois da minha. Um
Lamborghini Aventador SuperVeloce Jota, da cor vermelha, já
pensei em quantos milhões aquela “gracinha” custava.
Impressionante.
— Isso é...
— Impressionante? Já me disseram.
A arrogância de Jeferson é divertida no momento para mim, só
esperava que acabasse ali e que o homem não fosse o tipo de
filhinho do papai. Balancei a cabeça, livrando-me dos pensamentos
julgadores, tinha de me lembrar do motivo do encontro: se divertir,
sair um pouco e esquecer o estresse do trabalho.
Não sei o que ele fez ou apertou, mas só fiquei observando a
porta do meu lugar levantando-se sozinha. Pareci uma garotinha de
cinco anos visitando a Disney pela primeira e única vez na vida,
sentei no assento confortável o suficiente para tirar uma soneca se
recostasse a cabeça, tranquilamente. Sensacional, se fosse na
minha época de adolescente irritante teria tirado muitas fotos e as
postado no Orkut.
— O que achou?
— Você é mesmo muito rico. — Falei sem perceber, estava
ocupada demais olhando o lado de dentro do veículo.

— Não costumo receber muito essas respostas.


— Ah, desculpe. É confortável, parece bastante seguro e nem
preciso dizer que é muito rápido?
— Sim, é veloz. Mas como iremos a um encontro, não há
necessidades de extrapolarmos o limite. — Jeferson olhou para
frente com um sorrisinho torto. — Mas se você quiser....
— Não, obrigada. Prefiro continuar viva, sabe, tenho meu
emprego e as horas chatas a cumprir. — Sorri, dessa vez tristonha.
Disfarcei olhando pela janela, assim ele jamais notaria minha
expressão.
— Hora de partirmos. — Jeferson disse um pouco animado
demais.
Olhei para ele de imediato e só tive tempo de colocar o cinto de
segurança, pois quando o repreenderia pelo que quer que estivesse
pensando o desgraçado já ligara o motor. O som foi tão alto, rouco e
potente. Vizinhos fofoqueiros acenderam as luzes de suas casas,
com o impulso gritante de saber de onde vinha o som. Nem tempo
para tal atitude tiveram, num segundo estava perto da minha casa,
no outro já dobrava a segunda esquina.
Mesmo, aparentemente, e eu não sabia mesmo, estávamos na
velocidade limite. Era difícil saber com aquele som de carro de
corrida no máximo. Tive a impressão de que Jeferson gostava de
ser muito exibido, e devia mesmo, qualquer homem com um carro
daqueles tinha a obrigação de exibi-lo. Nessas ocasiões eu
encostaria minha cabeça na janela e aproveitaria a vista, mas
estava tão rápido, os lugares passavam num piscar que meus olhos
e eu mal captavam algo direito.
— Esse que é o normal dessa coisa? — Indaguei, engolindo em
seco. Tive sorte pela janela estar fechada, ou meus cabelos ficariam
bagunçados devido ao vento.
— O quê?

— Perguntei se essa é a velocidade normal dessa coisa. —


Gritei.
— Oras, não chame minha bebê de coisa, Vilma é mais elegante.
— O nome dessa coisa é...Vilma? — Caí na gargalhada, estava
longe de ser uma opção, mas um dever. Já tinha ouvido homens
darem nomes aos seus carros, contudo, aquele parecia... um
pouco... peculiar. Minhas risadas aumentaram, tal atitude pareceu
deixar Jeferson desconfortável. — Desculpe, pelo menos agora sei
como chamá-la.
— Nunca deu nome para algo ou alguma coisa de que gostasse
muito, que nutrisse um certo carinho?
A pergunta foi boa, procurei na minha mente algum momento na
época da minha vida em que dei nomes a objetos inanimados.
Talvez um urso de pelúcia...
— Tinha Teddy, o meu ursinho. Adorava, pena que o cachorro da
vizinha o destruiu quando eu, sem querer, o deixei do lado de fora
da minha casa. — Falei, lembranças desnecessárias para uma
mulher adulta.

— Nossa, pesado. — Jeferson pareceu indiferente, quase cínico.


Olhou na sua direita, diminuiu a velocidade do carro, girou o volante
e virou na próxima esquina.
— Eu era uma criança bastante desatenta.
O carro estacionou, o barulho parou tão de repente que franzi o
cenho, a porta ao meu lado novamente se abriu sozinha, para cima.
Colocando meus pés no chão pude apreciar a vista enorme do
restaurante a minha frente, com dois andares, uma música lenta
tocava, algo fino demais para que eu conseguisse identificar.
Jeferson segurou minha mão, o contato de pele fez meus pelos
arrepiarem, me guiando ao lugar, ele me mostrara cada canto do
lugar. Muitos casais comiam calmamente, felizes, aproveitando a
companhia uns dos outros.
Fiquei maravilhada.
— Senhor Jeferson, como é bom vê-lo por aqui. O mesmo lugar
de sempre? — Perguntou um garoto. Pelo jeito bem sofisticado, o
modo de falar, só podia ser um dos garçons.
— Dessa vez, não. Quero uma mesa afastada das outras no
andar de cima. — Jeferson olhou para mim, então voltou a encarar o
garçom. — Algo a luz de velas, romântico, entende?
— Perfeitamente, senhor. Me acompanhem.
Antes de seguirmos o garçom por uma escada estreita, nos
olhamos com um sorriso, em seguida fomos atrás do garoto. Foi
inevitável deixar de olhar as comidas nos pratos de alguns clientes,
receitas que nunca vi ou comi na minha vida. O que era ótimo, meu
estômago adorava ser surpreendido.
No andar de cima haviam poucas pessoas, significando que os
lugares naquele canto custavam mais caro, e esse fato me deixou
um pouco desconfortável, pois obviamente dividiríamos a conta,
minha carteira choraria no valor final de tudo. Só uma garrafa de
água deveria custar cem reais. Sentamos numa mesa mais afastada
do que os outros, perto da parede onde tinha uma vista linda da lua.
Precisava admitir, Jeferson sabia bem o que fazia.
— Aqui estão os cardápios, senhor. — Entregou a lista do que
pedir a Jeferson. — Senhora. — Depois um para mim, estava tão
tímida que sorri em resposta.
Tudo naquele lugar parecia ter sido esculpido por um artista com
grande habilidade. Quase tive um ataque no momento que vi os
preços distribuídos ao longo daquela lista. Um prato de comida
correspondia a quase um terço do meu salário.
— Como eu convidei, será tudo por minha conta. — Jeferson
falou desviando olhar.
Nem percebi que estava me encarando, talvez tivesse notado
minha surpresa. Foi difícil fingir que estava tudo bem, mas a
garantia de que nenhum tostão sairia do meu bolso foi de grande
ajuda. Faria a minha parte em não pedir nada muito caro, e
segundos depois percebi ser uma burrice, um cara podre de rico
nem sentiria falta do dinheiro.
— Desculpe minha expressão, nunca tinha vindo num lugar como
esse. — Minha risadinha entrecortada pareceu deixa-lo preocupado.
— Uma mulher como você devia ser trazida nesses lugares mais
vezes. E, se depender de mim isso vai acontecer.
Ele parecia um pouco arrogante, mas confiante, já ganhava uns
pontos comigo. Caras desse tipo me deixavam entre muitos
suspiros, o homem sabia exatamente o que dizer na hora certa.
Então provavelmente sim, teríamos outros encontros. No cardápio
nenhum prato me agradava, principalmente por nunca ter ouvido
falar daqueles nomes, e, a mistura de ingredientes informada em
cada prato me deixava curiosa, o gosto devia ser muito bom ou
muito ruim.
— Sabe de uma coisa? Me surpreenda, não vou fingir que
conheço esses pratos. — Fechei o cardápio e o joguei em cima da
mesa.
— Sincera, gosto disso. Pode deixar que pedirei algo delicioso.
— Com um aceno Jeferson chamou o garçom.
— Sim, senhor?
Jeferson conferiu mais uma vez o cardápio e então o fechou.

— Quero dois pratos Ribeye e uma garrafa de vinho tinto.


O garçom acenou depois de ter pego os dois cardápios, antes de
sair anotou no pedido no seu caderninho.
— Deve ser maravilhoso, nunca ouvi falar.
— É ótimo, irá gostar. — Me garantiu Jeferson. — E então,
pretende trabalhar na empresa de Matteo para sempre.
Franzi o cenho, mas é claro que queria permanecer lá para
sempre. No entanto pensei com cuidado na resposta, talvez ele
desgostasse de mulheres que ficavam confortáveis de mais onde
estavam, que não almejavam subir mais.
— Pretendo adquirir quanta experiência eu conseguir, sabe, para
quem sabe um dia decida sair. Mas os meus planos agora é
somente lá mesmo.

— Entendi, isso é bom. Sempre almejando crescer


profissionalmente. Quem sabe, um dia você possa trabalhar para
mim.
Ele gargalhou de maneira um pouco... maldosa. Tive uma
sensação ruim, como se aquelas palavras não fossem brincadeira, e
mesmo sendo verdade, por qual motivo esse pressentimento tão
ruim? Tentei ficar aconchegada na cadeira um pouco mais, aquilo
pareceu funcionar. Tentei me desvencilhar dos pensamentos sobre
aquela proposta disfarçada de brincadeira.
— É...quem sabe. — Gargalhar em resposta foi minha melhor
opção.
— Do que gosta de fazer?
— O quê?
— Você, do que VOCÊ gosta de fazer? — Indagou com um
sorriso estonteante.
Pensei muito nessa pergunta, algumas semanas atrás estava à
procura de emprego, quando consegui o meu chefe dava tanta
ordem que ficava cansada a noite para me divertir, então a resposta
era mais triste do que parecia.

— Ultimamente, nada de fato. Só penso em mais e mais


trabalho, então devo te agradecer por me trazer nessa noite a esse
lugar incrível. É uma distração que há muito tempo não desfrutava
mais.
— Nesse caso, fico agradecido por estar se divertindo bastante
na minha companhia. — Jeferson olhou por cima do meu ombro
com uma expressão curiosa. — Olha só, lá vem nosso pedido.
Quando o garçom colocou os pratos na nossa mesa com a
garrafa de vinho e duas taças de vidro, minha boca se arreganhou
de surpresa. O prato era somente um bife que vinha acompanhado
de purê de batata e queijo provolone. Para compensar o preço, que
devia ser muito caro, o gosto daquilo devia me impressionar.
— Quanto foi cada um? — Perguntei quando o garçom
desaparecera de minha vista.
— Não fique preocupada com isso, tudo por minha conta,
lembra?
— Bom, é que pretendo voltar aqui algum dia...
— Foi cento e cinquenta cada um mais cem do vinho. —
Jeferson cortou um pedaço do seu bife, juntando com um pouco de
purê enfiou tudo na boca.
Parecia não se importar com o alto custo daquela refeição, isso
me impressionou um pouco. Fiquei surpresa por alguns minutos
com o preço daquela comida, nunca pisaria naquele lugar
novamente, só se fosse convidada de alguém rico, como naquele
caso. Sem mais delongas, cortei um pedaço, misturei com o purê e
coloquei na boca, o gosto me fez revirar os olhos, o queijo foi uma
jogada certeira naquela mistura. Era magnifico, pena que o prato
minúsculo fosse insuficiente para agradar meu estômago
completamente, normalmente aquele restaurante devia ser
requisitado por aqueles que faziam dieta.
— Está gostando?
A pergunta de Jeferson veio no momento que a carne descia
pela minha garganta, depois de colocar um pouco de vinho na taça,
bebi um pouco, só então respondi:
— Está ótimo. Nunca pensei que essa quantidade pequena
pudesse ser tão saborosa e satisfatória. — Cortei mais um pedaço,
levando-o à boca. Ao contrário do homem na minha frente, o meu
prato estava quase limpo. — Vou me lembrar desse lugar com
certeza.
— Espero que possa vir aqui mais vezes... comigo.
As palavras podiam ter me pegado de surpresa, mas aquele
homem sabia deixar uma garota confortável o suficiente para
receber cantadas leves, estava tão concentrada na comida que só
concordei.
O tempo passou, a conversa continuou divertida, intensa.
Conversamos mesmo depois que a comida acabara e a última dose
de vinho restou em cada taça. Toda vez que nossos olhares se
cruzavam um sorriso surgia no meu rosto, não queria admitir, mas
estava ficando apaixonada. Fiquei um pouco incomodada quando a
conta chegou, normalmente a dividiria com quem estivesse comigo,
contudo deixaria a situação de lado por Jeferson ter insistido.
Me levando de volta para casa no carro barulhento, mas bonito.
Ele começou a falar sobre sua vida e eu sobre a minha, soube que
ele quase se casou, que seus negócios já chegaram numa fase ruim
e que agora já estava tudo andando nos trilhos. Me mantive
entretida. Percebi o barulho alto ficando cada vez menor, então
soube, cheguei em casa. Saí do carro e ele também.
— Olha só, te trouxe cedo demais? — Jeferson perguntou
olhando o relógio no pulso.
— Achei que o tempo foi muito bem gasto. — Minhas palavras
saíram como uma boba apaixonada, e adivinhem só? Eu realmente
estava apaixonada.
Dessa vez tomei a atitude, o beijando, pegando-o desprevenido.
A surpresa no seu olhar e o quanto o beijo melhorou depois que
começara a retribuir, me deixou louca. O contato tornou-se longo,
nossos laços foram cortados pela falta de ar.
— Nossa.
— É, nossa. — Eu disse, nervosa. — Enfim, acho que é agora
que digo adeus. — Sorri da melhor maneira possível.
— Eu diria que talvez ligaria para você, mas com certeza ligarei
para você.
— E com certeza estarei esperando sua ligação.
Dei um tchauzinho, virando-me, minha expressão continuava
alegre. Uma noite divertida entregue a uma garota triste, uma
distração que tirara momentaneamente a escuridão no seu coração
e na sua mente. Enfim, naquela noite dormiria tranquila.
Capitulo 9
CHARLOTTE

Tinha quase certeza de ter deixado a janela descoberta, pois


acordei com um raio forte de sol no meio da minha cara. Ou seja,
acordara cedo demais, faltando duas horas para me aprontar para o
trabalho. E logo as memórias do convite do meu próprio chefe
encheram meus desesperos, me deixando inquieta. Hoje teria um
segundo encontro, levantei-me da cama, quando coloquei os pés
quentes no chão frio, pensei no modo que recusaria o pedido. Pegar
um atestado do médico poderia ser uma opção, havia sempre a
possibilidade de contar a verdade, mas provavelmente ficaria sem
emprego.
Bocejando por quase trinta segundos inteiros, estiquei meus
braços e alonguei o corpo, ouvir os estalos foi a disposição que me
faltava para fazer a minha higiene antes do trabalho. Dessa vez fui
rápida, em uma hora estava completamente pronta. Já estava
saindo, descendo as escadas animada para ser uma das primeiras
a chegar no prédio.
Vi minha mãe e passei por ela esquecendo de dar bom dia, até
que sua voz me parou.

— Vai para onde? — Perguntou, com os braços na cintura.


— Não é obvio? Trabalhar!
Me virei e então veio o baque.
— Charlotte, hoje é sábado.
Sabe aquele momento em que você é uma completa trouxa?
Minha mente estava tão sobrecarregada que perdi uma hora me
arrumando e acordei cedo para porcaria nenhuma. Matteo disse o
horário e o dia da peça, no sábado por volta das 17:30 ou 18:00.
Minhas bochechas ficaram bastantes vermelhas pela vergonha de
ter sido bastante burra. Dando meia volta observei o semblante de
minha mãe, segurava uma risada na cara dura. Só balancei meus
lidos cabelos, com a cabeça erguida voltei ao meu quarto
carregando o sentimento desesperador.
Sentei na cama, enfiando as mãos nos cabelos, pensei que
estivesse ficando louca, estava esquecendo os dias e datas.
Encontro, relaxamento, trabalho estressante e um chefe maluco
estavam me deixando paranoica. Moralmente péssima, me sentindo
a pessoa mais burra do mudo, despi meu corpo das roupas que o
cobriam, guardei-as na cômoda e dei um pulo, aterrissando no
colchão macio da minha cama. Faltava motivos para continuar
acordada naquele horário no final de semana que era sua folga, por
isso tentaria dormir novamente.
Aproveitar o descanso por mais horas, quem sabe quando eu
acordasse não estaria preparada para Matteo? Existia um grande
talvez aí, no entanto estava muito cansada para me importar com
dúvidas. Matteo podia ser um demônio dentro da empresa e um
anjo fora dela, ou estava muito enganada? Só saberia na noite de
hoje.

Minhas lembranças de repente fizeram-me voltar a noite de


ontem, no encontro, isso faria com que eu dormisse depressa sem
dúvidas. Amei cada palavra, a comida, principalmente o beijo...já
sentia saudades dos seus lábios, mesmo que nosso contato tivesse
sido somente uma vez, foi o suficiente para minha mente voltar a
esse momento diversas vezes, e o melhor? Nunca me cansava da
sensação de fechar os lábios enquanto minha língua invadia sua
boca, uma atitude inesperada até para mim mesma, os homens que
sempre tomavam esse passo nos encontros...
...
Abri meus olhos, conseguia ver apenas flashes do meu quarto,
precisei de um bocejo longo para que minha vista voltasse ao
normal. Rapidamente olhei o meu celular, já eram três da tarde,
tomei um susto com o fato. Precisava estar arrumada no mínimo
umas quatro e meia, depois teria de marcar o local em que Matteo e
eu nos encontraríamos. Esfreguei meus olhos com os punhos da
mão com um pouco de força, corri ao banheiro e quase cai no
momento que tirei a calcinha de maneira ríspida. Joguei o sutiã em
qualquer direção, tomei banho na água fria que quase me fez
desistir do encontro.
Tremendo de frio, consegui lavar o cabelo e hidratá-lo, depois
escovei os dentes na maior pressa. Usei a toalha violentamente no
meu corpo, limpando com uma força desnecessária, no quarto mais
uma vez precisei escolher um vestido, seria covardia escolher o
mesmo vestido de ontem, na minha cabeça seria uma espécie de
“traição” com Jeferson. Podia ser besteira, eu sei, contudo, tal
sentimento em mim prevalecia como uma praga, e jamais queria
estar num encontro carregando o sentimento de culpa.
Escolhi um vestido simples, nada muito caro e que já havia
usado muitas vezes. Era azul, com as pontas nas saias brancas,
caindo até os meus joelhos. A felicidade me preencheu ao olhar a
vestimenta no espelho, logicamente optei pela peça. Qualquer salto
alto me cairia bem, desse modo fiquei despreocupada com o que
escolhi. Fiz o mesmo truque de ontem nos meus cabelos, deixando-
o com alguns cachos.

Usei um perfume forte, capaz de deixar até os comprometidos


um pouco curiosos. Sorri com minha indecência, às vezes tínhamos
de nos sentir poderosas...hoje à noite me daria a folga para fazer o
que quiser, até as últimas consequências. O batom nos meus lábios
era de um vermelho intenso. Preparada, limpei meu quarto,
colocando os objetos de volta no lugar, então desci as escadas,
dessa vez dei falta de minha irmã e o namorado esquisito dela.
— Mãe! — Chamei.
A mulher estava de costas, tentando preparar uma comida,
querendo melhorar seus dotes culinários, talvez. Ela arreganhou a
boca enquanto segurava um prato branco limpíssimo.
— Mãe? Onde está minha irmã?
— Saiu com o namorado para o cinema, acho. — Minha mãe
esqueceu-se da outra filha, focada demais na minha aparência. —
Está mais linda do que ontem.
— Agradeço, dessa vez não tenho hora para voltar. — Sorri
timidamente.
— É com seu chefe?
— Sim.
— Então acho que estará em boas mãos. — Ela disse, voltando
para seus afazeres.
Engoli em seco, ainda no topo da escada. Saquei o celular,
temorosa, mandei mensagem informando o meu enderenço. Então
esperei no sofá enquanto ele não aparecia, pois olhei o horário
novamente e ainda faltava uns trinta minutos. E foram os piores
minutos da minha vida. A angústia, o suor na minha testa quase
estragando minha maquiagem, o roer de unhas sem parar me
mostravam o quanto aquele encontro importava para mim. Não só
por ser tratar de Matteo, todavia se algo desse errado poderia afetar
meu emprego. Precisava ser mais do que tudo, cuidadosa.
Faltando dez minutos para que a peça começasse já imaginei
que chegaríamos atrasados. O meu celular vibrou, e na tela mostrou
uma mensagem de Matteo: já estou na frente da sua casa.
Nossa, em vinte minutos conseguiu rodear a cidade e chegar na
minha casa, um feito e tanto. Do lado de fora, não o vi, mas sim uma
limusine preta muito linda, que enchia meus olhos de admiração.
Timidamente, tentei olhar pelos vidros enquanto caminhava, no
entanto nada consegui enxergar, já próxima à porta ela se abrira
sozinha. No caso, pela mão de Matteo, lindo como sempre, o seu
sorriso arrancava-me suspiros. O terno cinza me deixou um pouco
excitada, admito. Faltaram-me palavras quando minha boca se abriu
e nada saiu.
— Ao invés de tentar falar algo, por que não entra? — Matteo
afastou-se um pouco, cedendo-me o lugar.
— Muito obrigada. Adorei o carro, pelo visto pretende me
surpreender pelo resto da noite.
— Imagino que sim. — O sorriso dele me deixava desarmada de
qualquer argumentação.

O frio dentro daquele veículo fazia meu corpo tremer um pouco,


envergonhada demais para reclamar, só tentei disfarçar como se
estivesse balançando minhas pernas por uma ansiedade
inexistente. Na frente havia um motorista, que olhando para mim
pelo retrovisor soltou um sorriso, logo uma pequena porta começou
a subir, dividindo o carro em dois. Matteo e eu estávamos a sós,
com total privacidade, o homem possuía inteligência.
— Agora, me diga, por qual motivo aceitou sair comigo? —
Indagou Matteo com o semblante sério.
— Bom, você é meu chefe, estaria sem emprego se recusasse.
— Esse pode ter sido um dos seus medos, mas não seu motivo
principal. É uma mulher forte, que vai atrás do que quer, então, por
qual motivo aceitou sair comigo?
Franzi o cenho, Matteo podia estar certo. Normalmente encarava
meus medos de frente, se aceitei seu pedido foi porque no fundo eu
queria ter a chance de sair com um homem do seu nível. Na hora do
convite, senti alegria, formigamento e um pouco de... prazer.
— Depois dos caras com quem já sai, achei que seria legal
experimentar algo diferente.

— Me considera “algo diferente”? — Ele perguntou, com real


curiosidade.
— Sim, pois agora te pergunto, por qual motivo me convidou para
sair, sendo que pode ter qualquer modelo da cidade aos seus pés.
E, já que fui sincera, espero que você também seja. — Falei,
fazendo-o ficar estático, pude jurar ver uma vermelhidão nas suas
bochechas, no entanto pisquei e haviam sumido, me fazendo
duvidar se eram reais ou não.
— Está certa, muitas modelos ficariam aos meus pés facilmente,
mas decidi experimentar algo diferente. — Matteo sorriu.
O desgraçado usou meu argumento contra mim mesma, bem
pensado. Gostei de sua atitude, pensei que a noite seria ótima, pelo
visto seria surpreendente de um jeito bom. Ele teria de se esforçar
para transformar esse encontro num evento divertido, assistir uma
peça parecia ser muito chato, entretanto, com a presença dele isso
poderia ser diferente.

— Gosta de peças? Já foi ao teatro alguma vez? — Perguntou-


me ele.
— A resposta para a primeira pergunta: nunca me interessei,
decidi dar uma chance quando me convidou. E não, nunca fui ao
teatro. — Falei, acomodando meu corpo no banco. — Sei o quanto
esse tipo de arte é importante, é nesses meios que nascem os
grandes artistas.
— Pode apostar que sim. Sempre fui nesses lugares com meus
pais.
Percebi um soar triste na voz, algo havia acontecido com seus
pais. Olhei para o vidro do meu lado enquanto pensava se devia
perguntar ou não, no entanto já quebrei várias regras saindo em um
encontro ao lado do meu chefe, ficar incomodada seria o de menos.
— O que aconteceu com eles?
— Dizem que me tornei uma “coisa” fria demais, então nunca me
visitaram, me mandam um cartão de merda no natal e me ligam
uma vez no ano para darem os parabéns no meu aniversário. — A
testa de Matteo se curvou, olhando para a parede do veículo que
separava nós dois do motorista, sentia muita raiva.
— Sinto muito, já eu, não tenho bem um problema. Meu pai
simplesmente sumiu num dia comum, nenhuma mensagem o
homem deixou, ao menos podia ter se despedido da família. É
horrível a sensação de que um dia a pessoa possa aparecer, não
sei se ele está vivo ou morto, e acho que não importa mais.
De repente Matteo pôs a palma da sua mão sobre o meu ombro.
— Devia continuar a ter esperanças, pois você e sua família não
sabem o motivo do homem ter partido. Às vezes a justificativa poder
ser bastante plausível, sei que é difícil acreditar nas minhas palavras
quando é você que sente na pele o peso do abandono, mas receio
que deve ter fé.

Ergui uma sobrancelha.


— É religioso.
— Muitas vezes sim, outras não. Acredito no destino, o que ele
nos reserva pode ser tão ruim quanto bom, todavia, sempre tenho fé
de que as coisas boas venham com mais regularidades. — O
sorriso de lado me convenceu.
A ter fé e não esperanças, pois já fazia muitos anos que cuidava
da minha família, desde o sumiço dele. No começo senti tristeza, em
seguida raiva, agora o sentimento de amargura pairava no meu
coração. Acho que não há diferença se ele aparecer agora ou nunca
der as caras, o tempo perdido jamais poderia ser recuperado.
— E você devia insistir em manter contato com seus pais,
mostrar que esse homem frio jamais existiu. — Disse com
convicção.
—Tem certeza?
— Acabou de abrir seus sentimentos para uma pessoa que
conhece a pouco tempo. — Fingi pensar por dois segundos. —
Então sim, tenho convicção disso.
— Você é uma mulher interessante.
A parede que nos separava descia lentamente, podia sentir
também o lento movimento do carro, estávamos chegando em
algum lugar. Minha visão de dentro para fora daquele carro foi difícil,
mas esforçando-me consegui observar pessoas arrumadas, usando
peças de roupas caríssimas, entrando no prédio de cor bege
enorme.
— Chegamos, vamos sair! — Disse Matteo, abrindo a sua porta.
O acompanhado, fiz o mesmo. Já estava de noite, uma pena que
meu celular estava em cima do sofá lá de casa, pois queria saber as
horas. Tinha receio da peça ter começado sem nossa presença, ser
o motivo de Matteo chegar atrasado seria uma péssima lembrança
dessa noite.
— O espetáculo está perto de começar, vamos agora! —
Matteo agarrou minha mão, guiando-me pelo interior do teatro, o
mais impressionante eram que podia-se notar todo tipo de pessoas
das mais variáveis classes sociais, do rico até o mais pobre. No final
só queriam apreciar uma boa peça, realmente fiquei impressionada.
O frio no lugar deixava meu corpo tremendo um pouco, pelo menos
naquela noite não precisaria enfrentar o calor forte.
Havia um homem no final da entrada, onde pisaríamos no
corredor, pedindo os ingressos. Matteo educadamente cedeu os
dois em sua mão, com um aceno de cabeça ao atendente,
passamos por este e vimos muitas peças em cartazes e os horários
das apresentações. Muito interessante, mas nenhuma me empolgou
de fato, talvez aquela parte da arte fosse incapaz de me fisgar. Meu
teste seria hoje com esse Romeu e Julieta.
Havia muitas cadeiras com lugares vagos, fomos uns dos
primeiros a entrar no local. No entanto Matteo me guiou para uma
escada na lateral esquerda daquele lugar, subimos e me deparei
com mais cadeiras. Estávamos nos lugares VIP, o fato me encheu
de alegria, nunca estive em nada particular antes. Meu ânimo para a
peça só cresceu, principalmente pelos lugares ótimos da área vip.
— Os lugares estão bons para você? Se quiser podemos voltar
outro dia...
— Não! — disse um pouco alto demais. — Os lugares são
ótimos, ficaremos por aqui mesmo.
Consegui arrancar um sorriso como resposta, um feito e tanto
sobre o homem que eu considerava ter um coração de gelo. Ele
parecia sentir emoções vendo aquelas peças tristes, talvez o único
modo de não se tornar realmente triste. Em menos de duas horas, já
começava a entendê-lo.
— Parece ansioso. — Comentei, sentando-me na cadeira.
— Na verdade não, assisti essa peça umas duas vezes nos
últimos três anos. De vez em quando é divertido reassistir com
outros atores. — Sentando-se na cadeira, ele olhou para o palco,
como se quisesse estar lá.
— Já pensou em atuar?
— Na verdade, sim, experimentei diversas vezes até que percebi
que não fazia muito meu estilo. Negócios, é o que sei fazer. —
Matteo fungou. — Mesmo assim me mantenho dentro do mundo da
arte como espectador.
— É uma ótima forma de lazer, apreciar uma boa arte. Espero
que surja uma paixão em mim também. — Minha expectativa
poderia me decepcionar, por esse motivo removi todas as minhas
perspectivas sobre o tema.
Queria mesmo gostar da apresentação, isso deixaria Matteo feliz,
caso contrário teria de contar a verdade. Estava gostando tanto da
companhia dele, queria evitar estragar tudo. Seus olhos vidrados no
palco me mostravam sua paixão, a ansiedade pelas atuações.
Queria ser surpreendido, desejando que essa terceira peça fosse
melhor do que as outras duas.

Na medida que o tempo passava, os lugares se enchiam de


pessoas, quando as luzes se apagaram o espetáculo começou lá no
palco. Primeiro Julieta apareceu no que parecia ser seu quarto,
então por algum motivo fiquei com os olhos pregados no palco,
ansiosa pelo que ia acontecer.
Os minutos passaram, tive de segurar a mão de Matteo quando o
drama da peça aumentou, os atores eram bons. Romeu aparecera
já fazia alguns minutos, os dois atores conseguiam transmitir certa
química. Já no meio da história podia confessar que estava
entretida, mas não adorando.
— Está gostando? — Matteo indagou num sussurro.

— Estou achando divertida, isso conta?


— Muito. — Matteo sussurrou no meu ouvido. — De qualquer
maneira, está confortável no ambiente.
Um espasmo involuntário no meu corpo deve ter assustado a
quem estava atrás de mim, morrendo de vergonha continuei parada
observando o espetáculo. Sentindo o suor descer na minha testa de
tanto nervosismo, tentei focar em Romeu beijando Julieta. O fim se
aproxima e tudo ficou ainda mais dramático, os sons que
conseguiam produzir eram sensacionais. Logo esqueci dos olhares
das pessoas sobre minhas costas.
Queria não comparar o encontro de ontem com esse de agora,
contudo, foi inevitável. Jeferson me levou a um lugar desconhecido
por mim, com comidas estranhas e deliciosas. Matteo me mostrava,
de certa forma, algo mais íntimo, pessoal. Um lazer que poucos de
sua classe desfrutavam, e devagar, comecei a desvendar o manto
que cobria o homem frio, como era conhecido por todos.
— Quase no clímax.
Ele disse e eu já imaginava o que seria, havia escutado o final
dessa história várias vezes na escola.

— É o mesmo que todos contam?


— Sim.
Continuei observado, passaram-se mais ou menos uma hora e
meia. Perto do final foi impressionante o fato de minha mente estar
a todo vapor, e não cansada ou com sono. Devia ser de alguma
forma pela presença de Matteo, caso estivesse sozinha a situação
seria bem diferente, do tipo de sair sozinha no meio do espetáculo.
Romeu tomara o veneno, aquilo me afetou de uma maneira
estranha, decidindo suicidar-se por uma mentira contada, Julieta
ainda viva. Obviamente sabia como a história acabava, mas havia
várias versões de como os dois acabavam mortos. Mais um pouco
de tempo passara, com Julieta aos prantos, sabendo sobre seu
amante, segurou seu punhal e o enfiou no peito, bem no coração.
Acabando uma história de amor trágica. A cena final me chocou,
como alguém poderia se matar por uma outra pessoa?
Se ainda estivessem vivos Julieta poderia descobrir várias
amantes de Romeu, descobrir que ele era um homem escroto no
final das contas. Romeu poderia descobri que Julieta o chifrava com
vários, era abusiva ou controladora. Como jovens que acabaram de
se conhecer se matariam um pelo outro de maneira tão cruel?

— E então? — Perguntou-me Matteo.


As luzes iluminaram o local novamente, agora entendi os motivos
das pessoas irem nos espetáculos, não iam somente para assistir
uma peça, mas evoluir como pessoas. As perguntas que surgiram
na minha mente depois do fim fizeram meu cérebro imaginar dor,
traumas do passado que deveriam ficar enterrados. Morrer por
alguém? Simplesmente impossível. Ninguém deveria morrer por
mulher ou homem nenhum.
— Estou abismada, realmente adorei. — Levantei com um gosto
amargo na boca. — Infelizmente não creio que tenha sido o
suficiente para me fazer voltar.
— Serviu ao seu propósito, te fazer pensar.
— Espero que minha cabeça consiga encontrar as respostas. —
Senti minhas bochechas ficarem vermelhas no momento que o
braço dele envolveu minha cintura. — Sobre a peça, gostei
bastante...
Tentei mudar de foco.
— Vamos sair um pouco agora, está bem?

Desde que entramos no teatro, durante o espetáculo e agora na


saída, percebi um Matteo mais romântico. Um pouco de medo se
instaurou, admito. A sensação de estar sendo almejada podia ser
adorável, as palavras de Matteo, principalmente aquelas
sussurradas no meu ouvido como agora deixavam-me
completamente arrepiada.
Do lado de fora, com um braço em volta do seu, nós
observávamos as estrelas no céu escuro. A noite linda e calma,
como pequenas ondulações de um rio. A lua, gorda e cheia brilhava
no alto fortemente, tão linda, magnífica. Andávamos colados um no
outro, de repente Matteo ficara calado, lutando contra a vontade de
agir com frieza, aposto.
Talvez ele sempre quisesse sair comigo desde a primeira vez que
me viu, contudo, algo o impedia. Sua personalidade forte o impedia
de compartilhar sentimentos, sentia que o homem queria mais do
que só sexo comigo. Por isso aproveitou a chance de me convidar
para essa peça, nada como um bom show, removendo as máscaras
das pessoas e mostrando o lado oculto.
Queria dizer alguma coisa, iniciarmos um diálogo, mas as
palavras certas não se formavam na minha mente para que pudesse
proferi-las. Ele queria conversar, parecia pensar num assunto
plausível. No entanto conhecia esse tipo de homem calado, sempre
num momento desses queria falar, pensava em algo e nunca de fato
fazia acontecer, achava-se insuficiente nas probabilidades que
pensava.
Havia um carrinho de cachorro quente na outra rua, com
mesinhas e alguns casais comendo enquanto conversavam, algo
tão simples, mas satisfatório. Com pouco conseguiam fazer um
encontro significativo e especial. Observei atentamente, pois no
futuro usaria uma situação dessas com Matteo, a simplicidade podia
ser minha arma surpresa para surpreendê-lo.
— Quero leva-la para minha casa.
O quê?
— O quê? — Indaguei, chocada.
— Digo... se quiser... podemos beber vinho... e ...
Sem acreditar minha boca se abriu, rapidamente virei meu rosto
para Matteo não perceber a expressão surpresa. Ele estava
nervoso, o grande Matteo Marrone Bertolucci estava mesmo
nervoso por minha causa. Aquele foi o maior presente da noite, nem
eu sabia o que dizer ou como agir. Primeiro precisava raciocinar se
foi aquilo mesmo que ouvi, em seguida devo pensar em aceitar ou
recusar.
No final das contas a curiosidade sobre como era o interior da
moradia de Matteo encheu meus pensamentos de tal forma que era
impossível recusar.
— Sim.
— O quê?
— Aceito, quando quiser ir, iremos para a sua casa. — Sorri
timidamente, o ato pareceu deixa-lo da mesma forma. — Mas irá
deixar-me em na minha casa antes das onze.
— Combinado. — O sorriso de Matteo pareceu um pouco
convencido.
Senti um arrepio estranho, como se Matteo não planejasse me
deixar em casa no horário que pedi. A sensação estranha não era
boa nem ruim, parecia mais um... fogo queimando no meu corpo,
focando-se no meio das minhas pernas. Fiquei chocada comigo
mesma, meu cérebro distraiu-se em captar as segundas intenções,
por outro lado meu corpo continuava atento a qualquer sinal de ser
usado.
— Venha, vamos voltar a limusine. — Sua voz saiu suave.
Queria dormir ao seu lado, sem sexo ou troca de caricias,
somente dormir. Queria que aqueles braços enormes envolvessem
minha cintura enquanto o corpo grande cobria o meu. O frio fazia
com que involuntariamente minha proximidade com a dele se
tornasse mais intima, procurando por calor no tecido dos seus
músculos.

— Tão linda, estou feliz que tenha aceitado vir. — Matteo


sussurrou outra vez no meu ouvido.
Quase gozei ali mesmo, meus pensamentos impuros começavam
a ficar descontrolados. Tinha de me comportar como uma garota
fazia, contudo, e infelizmente, não conhecia outras garotas por não
ter amigas.
— Hora de ir! — Enquanto sorria, Matteo abriu a porta para mim.
— Você primeiro.
Sorri estonteante, perfeita imitação dos cavalheiros do século
passado, Matteo podia ser bastante elegante quando queria. Entrei
no veículo para ir rumo a casa do meu chefe.
Capitulo 10
MATTEO

Dentro do veículo estava extremamente frio, mesmo assim deixei


o ar-condicionado funcionando. Uma estratégia pouco conhecida,
deixar a garota com muito frio, chegando na minha casa a moça
desejaria ser esquentada. Deixá-la confortável e bem aquecida seria
meu objetivo principal.
Pela primeira vez na vida, fui capaz de abrir um pouco dos meus
sentimentos a outra pessoa, ninguém compartilhava algo tão íntimo
para pessoas que acabaram de conhecer. A confiança repentina
naquela garota ainda era um mistério. Charlotte conquistou-me tão
rápido, em tão pouco tempo, e sem fazer absolutamente nada para
agradar-me. Meus instintos imploravam por ela, um pedacinho que
fosse. Degustar de uma boa carne necessitava de tempo. Queria
trata-la como uma mulher deveria ser tratada, principalmente
quando os planos futuros a envolviam do meu lado.
— Estamos perto. — Disse a ela.
Percebi que seus olhos estavam distraídos demais com a
paisagem para que prestasse atenção nas minhas palavras. Podia
passar a noite toda só a observando, no entanto podia ser um pouco
incômodo, além de muito esquisito. O carro estava indo muito
devagar devido a estrada lotada, as noites de finais de semana
eram as piores para o trânsito. Sempre cheios e com confusões em
cada esquina.
— Quer um pouco de vinho? — Perguntei, dessa vez mais alto,
tendo a certeza de minha voz invadir seus ouvidos.
— Você tem vinho no carro? — Indagou Charlotte com um
sorrisinho no rosto, não acreditando.
Inclinei meu corpo até o banco da frente e abri um assento falso,
cheio de gelo e com uma garrafa de vinho e dois copos. Foi
desnecessário encará-la para perceber sua surpresa, elas sempre
ficavam quando descobriam. Peguei quatro cubos de gelo,
colocando dois em cada copo, abri a garrafa e derramei um pouco
de vinho nos dois copos de vidro. Entreguei a ela que aceitara de
bom grado. Encostando seus lábios no vidro, colocando um pouco
de vinho na garganta, Charlotte pareceu gostar do meu produto
caro. Uma arma perfeita para desprender todas as amarras da
timidez que as impediam de fazer suas reais vontades. A máscara
de santinha não conseguia enganar nenhum de nós dois. Tinha
meus gostos, ela sabia disso, com certeza, e precisava desvendar
os gostos obscuros dela.
— Está perfeito, quanto foi o vinho? — Ela pareceu ficar com
vergonha da própria pergunta. — Quer saber? Esqueça. Sei que foi
mais caro do que um carro.
E foi mesmo, no entanto era desnecessário tal informação.

— Sempre que fizer uma pergunta a mim, cobre por uma


resposta.
Charlotte me fitou, curiosa.
— E por qual motivo?
— Não quero ter que mentir para você.
O silêncio dentro do veículo que se seguiu foi desolador. Parecia
que minhas palavras foram incômodas, no entanto, continuava a
revelar parte dos meus sentimentos, principalmente referentes a ela.
O som audível, além do vinho entrando nas gargantas, era a do
motor do carro quando voltou a derrapar pela estrada. Meu
motorista parecia impaciente com os outros, assim como eu. Desejei
não encontrar mais nenhum sinal vermelho, a demora me deixava
com raiva, um ódio desnecessário.
— Pensei que estivéssemos perto. — Charlotte comentou.
Quis descontar minha raiva em todos daquela estrada, a mulher
começava a ficar chateada, entediada. Precisava reverter a situação
depressa, de alguma forma, quando chegasse na minha casa faria
com que ficasse entretida. Mais três voltas e finalmente poderíamos
sair daquele veículo, eu mesmo já estava ficando enjoado.
— Desculpe, essa noite está bastante agitada.
— E estamos tomando o remédio perfeito para isso. — Charlotte
bateu levemente seu copo no meu, brindando ao fato.

Sua atitude me arrancou um sorriso, pressenti que ela já se


encontrava um pouco bêbada. Tomei um gole, apreciando o bom
gosto do Château Cheval Blanc. Batucando os dedos da mão direita
na minha coxa, começava a ficar ansioso, pois já avistava minha
casa. Quando o carro começara a desacelerar coloquei um sorriso
sedutor no rosto e aguardei. Finalmente parando, abri a porta do
carro, fechei e Charlotte já estava do lado de fora também.
— Nossa. — Disse ela, chocada.
O tamanho da minha mansão era impressionante mesmo, com
quatro quartos e banheiros, uma cozinha enorme e uma sala ainda
maior eram exemplos dos cômodos básicos, mesmo que os meus
fossem maiores e melhores. Como as mulheres gostam de dizer:
quanto maior, melhor.
— Podemos? — Estendi meu braço. Sem questionar e ainda
impressionada, Charlotte o agarrou. — Vai ficar mais impressionada
do lado de dentro.
Primeiro passamos pelo chão construído em pedras,
verticalmente fino, onde dos lados encontrava-se o enorme jardim,
que era lavado duas vezes ao dia com os irrigadores. Do lado de
fora tudo estava sempre limpo. Na porta tivemos de parar, enfiei a
mão no bolso da calça, então enfiei a chave no buraco da fechadura
com certa violência. Minha desculpa era ótima, minha ansiedade
estava nas alturas, aquela mulher tinha de ser impressionada.
— Bem-vinda a minha casa.
— É linda. — Charlotte soltou-se de meu braço, observando a
sala. Primeiro passara a ver e tocar algumas antiguidades. — Nem
precisa dizer para tomar cuidado. Nossa, como é bonito.
Ela no momento observava um jarro do Egito que foi feito há uns
dois mil anos. Seus olhos e mãos passaram vários momentos
aproveitando aquelas raridades. Depois foi para minha prateleira de
filmes, e depois para a de livros. Em poucos minutos consegui
impressioná-la, nada mal. Deixei Charlotte se divertindo mais um
pouco enquanto me dirigi até a cozinha.
— Fique o tempo que quiser, assista um filme ou leia um livro.
Farei o jantar. — Falei, arrancando um enorme sorriso dela.
— Teatro, passeio e agora um jantar. — Ela juntou as mãos e
fechou os olhos por um momento, sorrindo bastante. — É um
homem maravilhoso e quero que se lembre disso.
Um elogio e tanto, no entanto virei-me com a decepção no rosto,
pois começava a pensar na hipótese de que talvez eu mesmo
pudesse estragar tudo. Teria de me esforçar daqui em diante, mas
primeiro, o jantar. Conquistar o estômago de uma mulher me
renderia uns bons pontos, aprendi isso com minha mãe quando
ainda tínhamos contato, nos meus nove ou dez anos.
Abri a geladeira e tirei os ingredientes para fazer um jantar
agradável, coloquei tudo em cima da mesa e comecei os
preparativos. Um homem normal teria marcado para a mulher estar
na sua casa depois do jantar já estar preparado, no entanto agora
precisei ser rápido, estava agindo na base do improviso. Uma
comida leve, que não demorasse muito. Macarrão penne com
pedacinho de bacon e calabresa, um molho quatro queijos delicioso.
Conquistaria a mulher pelo estômago.
Comecei a cozinhar e ouvi a mulher do jornal noturno falando,
Charlotte abrira a televisão. A Água esquentava numa panela
enquanto numa frigideira eu cortava o bacon e a calabresa. A
mistura torrando, a água quase no ponto. Abri o pacote de
macarrão, derramando-o na panela. Em poucos minutos estaria
pronto, abri o molho e desfiei pedaços enorme de queijo.
Escorrendo o macarrão na pia, rapidamente voltei e misturei tudo,
colocando alguns temperos e o cheiro já estava no ar. Maravilhoso.
Coloquei dois pratos brancos na mesa, com cuidado segurei a
panela com a mão coberta com um pano, e, movendo-me
lentamente, inclinei a panela, colocando uma quantidade
considerável no prato dela, depois coloquei no meu. Peguei a tampa
e cobri o resto macarrão, quem sabe meu estômago poderia ser
saciado outro dia.
O Processo todo levou menos de vinte minutos, se Charlotte
assistia algum filme teve de pará-lo quando a chamei.

— Charlotte, venha comer! — Sentei-me na ponta da mesa,


aguardando sua adorável presença.
— Meu Deus, parece delicioso. — Falou ela, surpresa.
A mulher sentou na ponta do outro lado de onde eu estava,
segurando os talheres nas mãos. Lembrei-me do vinho. Coloquei
educadamente os objetos na mesa, levantei e busquei o vinho no
congelador, bem gelado, perfeito para meu paladar. Removi a tampa
e coloquei a garrafa em cima da mesa.
— Isso é maravilhoso. Onde aprendeu a cozinhar desse jeito? —
Perguntou ela com a massa na boca.
— Com minha mãe, podemos dizer que ela me ensinou muitas
coisas antes de ver o filho dela se mudando para uma cidade nova,
num país novo. — Tentei soar indiferente nas palavras, demonstrar
muita tristeza poderia ser interpretado como fraqueza.
Charlotte fitou a garrafa de vinho, depois veio uma risada que fez
minha testa se curvar numa expressão curiosa.
— O que é engraçado?
— Deve beber muito vinho.
— Bebo mais do que água, pelo menos. — Soltei um riso.
Aquela mulher era mesmo maravilhosa. Sua aparência, voz e até
mesmo o jeito de falar me encantavam. O modo desajeitado que
segurava o garfo, a expressão engraçada quando comia me faziam
admira-la ainda mais. Podia ser paixão? Amor? Não, definitivamente
não amor, esse sentimento vinha depois que duas pessoas
construíam um relacionamento e o faziam durar, apesar de brigas
ou desafios.
— Eu seria muito antiquada se dissesse que queria um pouco
mais? — Indagou, com um sorriso tímido.
— Claro que não, colocarei assim que acabar. — Sorri.
Pelo menos essa mulher passava longe das que queriam ficar
tão magras que deixavam de se alimentar direito. Adorei a sensação
de minha comida estar sendo desejada por quem sinto atração.
Enfiei o garfo na massa, girando o talher devagar fiz com que um
pouco de macarrão enrolasse nas pontas. Levei a comida para a
minha boca, adorando o sabor do molho misturando com os
ingredientes. Caso, e isso seria praticamente impossível, decidisse
mudar de profissão, seria um cozinheiro, um chefe famoso e
profissional.
A refeição acabou e ela recusou a comer mais por estar cheia
demais, então cada um lavou seu prato, mesmo Charlotte não
precisando, insistiu e fez mesmo assim. Bebemos o resto do vinho
enquanto conversamos um pouco, no último gole a mulher recostou-
se na cadeira, e suspirando me encarou.
— Adorei o jantar.
Engoli em seco querendo procurar as palavras certas sem que a
ofendesse de alguma forma. Queria leva-la para cima, conhecer
meu quarto enorme, tirar sua roupa devagar, beijar cada parte do
seu corpo, e então partir para um amor espetacular recheado de
luxúria com muita safadeza.
— Porque não me leva para conhecer o andar de cima? — O
sorriso dela foi difícil de definir, parecia inocente numa primeira
vista.
Aproveitei a chance, exatamente o que eu queria.

— Na verdade, pegue minhas chaves. — Joguei os objetos para


ela, que pegara majestosamente no ar. — Vá primeiro, tenho que
fazer alguns preparativos.
Charlotte pareceu não entender minhas palavras, o que era
ótimo. Sem questionar nada, sozinha ela marchou até a escada
onde desapareceu no momento que saíra da cozinha. Parecia ter a
habilidade de encontrar os lugares rapidamente, poderia usar isso
ao meu favor uma outra hora.
Obviamente sabia que estávamos quase embriagados de tanto
tomar vinho, no entanto, peguei um champanhe, nós dois iremos
estar com muito prazer enquanto quem sabe bebíamos uma dose e
outra nos intervalos a cada transa. Pois é, pretendia fazer sexo mais
de uma vez com ela. Tive a certeza de Charlotte conhecer minhas
intenções no momento que mostrara seu sorriso. Peguei duas taças
limpas de vidro e andei ligeiramente para o andar de cima, ansioso,
louco de alegria. Finalmente no corredor, meus olhos se depararam
com algo chocante, uma visão aterrorizante. De todos os quatros
quartos, pensei que Charlotte abriria o primeiro do corredor, mas
não, tive o azar de vê-la bisbilhotando o último, o que raramente
mostrava a minhas acompanhantes, porque nunca lhes dava as
chaves. Cometi um erro terrível.
Deixando as duas taças caírem no chão, Charlotte me encarou
quando ouviu os objetos se partindo. Sua face incrédula, chocada,
carregada de perguntas aguardando respostas difíceis e
vergonhosas. Ela tinha de entrar logo no último maldito quarto.
Droga! Meu dia estava maravilhoso demais, devia ter desconfiado.
— E-eu estou... um pouco... digamos... impressionada. —
Confessou Charlotte.
Engoli em seco mais uma vez, nervoso. Ótimo, a única mulher
que pensei em construir um futuro estava prestes a sair correndo da
minha casa, e eu a culpava? Absolutamente não. Só as prostitutas
que aceitavam dinheiro tinham coragem de encarar os desafios
daquele quarto, não ela, uma pessoa de classe.
— Não era para ver isso. — Comentei baixinho.

— E posso adivinhar o motivo. — Disse ela, se aproximando de


mim a passos lentos. — Eu sou bem mente aberta, estou chocada
agora, mas tenho certeza de que isso mudará nos próximos dias.
Foi um... digamos... choque temporário.
Apenas maneei a cabeça, bastante tímido e nervoso, com receio
de que ela fosse embora a qualquer momento. Estava surpreso por
sua reação calma, outras não ficariam desse jeito. Na verdade, me
chantageariam de todas as formas possíveis, mas não Charlotte, ela
demonstrava ser mais especial do que eu pensava. Coloquei a
garrafa de champanhe no chão e virei sem dizer nenhuma palavra,
desci correndo os degraus da escada em direção a cozinha,
buscando por uma vassoura e pá, tinha de recolher os cacos de
vidro, alguém poderia acabar ferido. Voltando rapidamente, estava
prestes a recolher tudo, se a mulher não tivesse pousado sua mão
tranquila na minha, que estava tremendo muito.
— Venha, deixe isso para depois. — Ela me guiou ao quarto
certo dessa vez. Abrindo a porta com a chave que eu mesmo dei. —
Por que não esquecemos isso, hum?
Me surpreendi por ser ELA quem estava tomando a dianteira da
situação. Charlotte sabia que tal atitude me deixaria excitado pelo
que deduzira do quarto. Aproveitando o momento, usando do que
acabara de descobrir, bastante esperta.
Antes de deitarmos, o beijo começou suave entre nossos lábios,
unidos como um só, do jeito que Charlotte queria. Meus braços
rodearam a cintura dela, puxei-a para mais perto, podia jurar que
cada pelo do meu corpo se eriçou. Os arrepios pareceram uma
onde elétrica preenchendo todo os meus órgãos, fazendo-os
funcionar com mais intensidade. Minha respiração ficou acelerada,
tanto que separei meus lábios do dela em busca de ar, meu pênis
endurecera, quase encostando na coxa de Charlotte. Olhei-a nos
olhos antes de fazer mais qualquer movimento.
— Não se importa mesmo com o que viu? — Indaguei.
— O que posso dizer? Cada um com seus segredos, você não
está fazendo mal a ninguém, não está traindo ninguém. Por mim
tudo bem. — Ela envolveu meu pescoço com os dois braços,
desviando o olhar para meus lábios e depois aos meus olhos. —
Podemos continuar de onde paramos?

Respondi voltando aos seus doces lábios, mais uma vez


tomando a dianteira, Charlotte pôs as mãos no meu terno,
removendo-o com bastante velocidade. Não parou de me beijar.
Interrompi o beijo e logo tirei minha camisa, aproveitei e removi as
calças. Só de cueca branca, Charlotte parou, colocando a mão no
meu peito, impedindo-me de beijá-la. Seus olhos fitaram minha peça
íntima, engolindo em seco voltou a encarar-me.
— Simplesmente maravilhoso. Meu Deus. — Ela avançou. —
Logo não ficaremos mais nos beijos.
— Estou ansioso, agora me faça um favor.
— O quê?
— Tire a roupa, agora! — Ordenei. Precisava saber se ela
entendeu...
Como mandei, ela realmente removeu todas as suas roupas,
com exceção das peças íntimas. Apontei meu dedo indicador na
direção do seu sutiã, com os seios fartos agora respirando o ar frio
do quarto, passei a língua nos lábios. Por último a calcinha, e nossa,
completamente pelada, aquilo deixou-me ouriçado. Vê-la como veio
ao mundo foi apetitoso, saboroso e muito gratificante.
— Sabe o que fazer agora, não sabe? — Perguntei, como um
chefe.
— Sim

Ela balançou a cabeça, ajoelhando-se e caminhando até minha


virilha. No momento que os dedos dela entraram na borda da minha
cueca, coloquei três dedos no seu queixo e os levantei.
— Sim, o quê? — Indaguei.
— Sim, senhor. — Sussurrou ela.
A situação estava com um ar sério demais para qualquer um dos
dois estragar numa risada quando meu pau, muito duro, pulou na
cara dela. Seu sorriso fez meu membro endurecer ainda mais, tanto
que a pele que cobria a glande, se retraía sozinha, liberando a
cabeça rosada. A língua de Charlotte começou pelo corpo, perto do
saco, deixando um rastro molhado até o topo, então abocanhou
como se fosse uma comida muito saborosa.
Indo para frente e para trás, tive de erguer a cabeça, olhar para o
telhado, fechar os olhos. O calor dos seus lábios em mim,
atordoavam toda a parte debaixo da minha cintura, passei a língua
nos lábios, a mulher sabia o que estava fazendo. Charlotte amarrou
os cabelos num rabo de cavalo, agora usando uma mão, o sexo oral
prosseguiu de forma ainda mais intensa. Logo os barulhos de
sucção tornaram-se audíveis, ela fazia de propósito, deixando-me
mais ouriçado. Fui completamente incapaz de manter meus
gemidos contidos, e também seria um pecado mostrar que o
pequeno serviço dela estava espetacular.
Timidamente coloquei minha mão esquerda no topo do seu
cabelo, minutos depois o agarrei e assumi o controle, movendo sua
cabeça, hora rápida, hora devagar. De qualquer maneira o prazer
em mim continuava da mesma forma: intenso, magnifico... mágico.
Uma onda de choque começou no meu saco escrotal, passando
pelo corpo do meu pênis, indicando-me que já estava prestes a
chegar no clímax, faltava muito pouco, inevitavelmente meus
gemidos aumentaram.
Charlotte pareceu perceber, no entanto, para a sua infelicidade
parei os movimentos. Seu olhar tristonho me deixou bastante feliz,
de uma forma sádica.
— Meu amor, isso está muito longe de acabar. — Falei
sussurrando no seu ouvido.
A levantei devagar, joguei na cama com força, tanto que seu
corpo pulou uma vez no colchão macio. Por cima dela, meu corpo
se uniu ao seu, nossos lábios reencontraram-se com bastante
fervor. Senti as unhas dela rasgando as bandas da minha bunda,
uma dor misteriosamente boa, excitante. Que me fazia desejar por
mais através de gemidos fortes, que logo tornaram-se um pouco
dolorosos, pois as unhas chegaram nas minhas costas, subindo até
os ombros. Um misto de prazer e dor, do jeitinho que eu gostava.
— Isso... continue assim. — Falei baixinho no seu ouvido,
fazendo seu corpo se retorcer debaixo do meu.
Já estava esfregando meu pênis na sua vagina, o liquido pré-
gozo estava saindo em quantidade considerável para o fim das
preliminares e início do que realmente interessava a nós dois. Sorri
ao afastar os lábios, segurei meu pau, movimentando-se devagar,
introduzindo para dentro dela. A medida que o membro fazia contato
com interior de Charlotte, ela aumentava os gemidos, no final,
erámos um só.
Comecei a mover meu corpo devagar, penetrando-a lentamente.
Contorcendo-se debaixo de mim, Charlotte voltou a arranhar meu
bumbum. Um gesto intenso, doloroso, mas que me proporcionava
grande prazer. Aquela mulher começava a entender como um sexo
de verdade devia ser, senti-la por dentro era indescritível. Podia
permanecer no local por longos dias.
Os suores nos nossos corpos aumentavam, juntamente com os
movimentos incansáveis, estávamos gemendo sem parar, EU
estava estocando sem parar, e a cada minuto aumentando a
velocidade. A beijava no rosto, lambia seu pescoço fino, enfiava
minha língua na sua boca enquanto movia meu quadril para frente e
para trás.
— Continue desse jeito... — Falou Charlotte entre gemidos
sofríveis, nem aguentava mais falar.
Um efeito causado por mim nas mulheres que se encontravam
na minha cama. Continuando nossa pequena atividade, fui
surpreendido quando Charlotte colocou as duas mãos no meu peito
e inclinando o corpo rapidamente, conseguiu inverter as posições. A
mulher agora estava em cima de mim, segurando no meu pênis, ela
mesma o introduziu no seu sexo, sedenta por mais.

— Agora é minha vez. — Disse ela, de forma estranha.


Quando seus rebolados começaram, deitei a cabeça na cama,
falando o nome de Deus, não acreditando naqueles prazeres
ardentes. Gemi longa e prazerosamente, parecia um sonho do qual
eu não queria acordar. Nossas respirações estavam mais ofegantes
do que antes, e, quando ela começou a quicar em cima da minha
cintura, pensei que fosse desmaiar. O choque elétrico que
começava no meu membro e espalhava-se pelo resto do meu corpo
deixava-me imóvel.
Consegui com muita dificuldade segurar na sua cintura,
potencializado seus movimentos ainda mais. Charlotte gemia sem
pudor, e no momento que me toquei estar realizando um fetiche de
muitos, que era transar com sua secretária, meu tesão atingiu níveis
astronômicos. Inclinei-me o suficiente para conseguir agarrar na sua
cintura enquanto minha língua encontrava a dela. E mesmo assim, a
mulher continuou se movimentando.
A cada movimento, um gemido. Não parávamos mais de beijar,
parávamos apenas para puxar um pouco de ar, e depois voltamos a
nos encontrar. Meu corpo se contraiu, junto da reação um gemido
grosso escapuliu de meus lábios, a onda elétrica no meu saco
aumentou, sendo rapidamente mandado para o meu pênis, no topo
da cabeça e finalmente me derramei dentro de Charlotte. Ela
sentindo o líquido quente parou os movimentos, cansada,
respirando com grandes intervalos, exausta.
Deitei na cama e ela jogou o corpo dela no colchão, juntos
respirávamos como se nossa vida dependesse disso. Mesmo depois
de ter acabado, cada beijo, cada movimento, suspiro e
principalmente arranhões daquela nossa primeira vez ficaria para
sempre na minha mente, podendo ser revivido sempre que
estivesse sozinho.
— Esse foi o melhor sexo da minha vida, sem dúvidas. — Disse
Charlotte.

— Foi muito bom. — Poderia dizer o mesmo que ela. No entanto,


tive medo por algum motivo ainda desconhecido.
— Quer que eu durma aqui?
— É obvio que sim, gosto muito de você. — Me virei, ficando de
costas para ela, assim meu sorriso estava ocultado. — Além do
mais seria má educação te expulsar tarde da noite.
Recebi um tapa junto de uma risada, logo estávamos rindo
juntos.
...
Permanecemos na cama, um do lado do outro, virados de costas.
Podia imaginar quais eram os pensamentos de Charlotte, as
perguntas que queria me indagar, a hesitação dava-se pelo medo da
resposta. Podia sentir o clima estranho perdurando, o aroma forte
da incerteza estava tão incomodado que virei meu corpo, encarando
seus lindos cabelos cacheados.

— Pode me perguntar o que quiser, principalmente sobre o que


viu no outro quarto.
Charlotte encarou-me no mesmo instante, os olhares lindos e
curiosos me fitando como se quisesse saber de tudo, e de tudo eu
contaria.
— Naquele quarto havia... muitos objetos...
— E sobre o que quer saber, qual objeto mais chamou sua
atenção em específico?
— Todos, foi difícil transparecer calma. — Charlotte desviou o
olhar, voltando a olhar nos meus segundos depois. — Tinha o que
parecia ser um enorme X de madeira, com algemas para mãos e
pés, você prende pessoas lá... mulheres?
— Só aquelas que querem por vontade própria. — Percebi um
certo interesse, por isso escondi minha empolgação. Preciso que ela
faça mais perguntas, pois só assim conseguirei uma chance de
convencê-la a entrar no meu mundo.
— Como fazem para te falar que a dor é demais e querem sair de
lá? Pois aposto que tapa a boca dela, certo?
Comecei a rir um pouco, aquela mulher estava assistindo muito
pornô BDSM.
— Em casos raros, sim. E nesses casos combinamos um código,
quatro piscadas lentas e uma revirada de olhos e eu paro. Quando
estão com a boca livre, é mais fácil escolher uma palavra chave
quando chegar no limite ou querer desistir. — Dei a informação
bastante cauteloso, implorando para que ela tenha entendido.
— Vi velas, um chicote, algemas. Uma máscara de meia com três
buracos, para olhos e boca, semelhante a que alguns ladrões
usavam. E as roupas de couro me assustaram de verdade. —
Charlotte engoliu em seco, parecendo relembrar dos objetos.
— Charlotte, querida. Isso é normal, cada pessoa tem um fetiche.
Se quiser continuar comigo, saiba que qualquer fetiche que tenha,
por mais estranho que seja, pode me contar e daremos um jeito de
realiza-lo. — Disse, pousei uma mão no seu rosto quente, depois
passei os dedos pelos seus cabelos. — Pode me contar tudo, e em
troca pela sua confiança retribuirei com a minha.
— Porque não me mostrou isso antes de virmos para cá. Pelo
que entendi, as mulheres conhecem aquele quarto primeiro.
— Só as mais fortes mentalmente para assuntos estranhos. É
verdade, levei a maioria lá, no entanto, só poucas ficaram. Perdi
muitos encontros, e depois de tantos desastres fui deixando de usar
o quarto. Nunca mais levei ninguém lá. — Olhei-a nos olhos com a
mesma intensidade que Charlotte me encarava. — Seria um erro
assustá-la, pois... quero algo mais sério com você.
Foi difícil imaginar o que se passava dentro daquela cabecinha,
sua cara passou de atenta para assustada, depois tornou-se
pensativa. Por um momento senti medo, ser rejeitado nunca passou
pela minha cabeça, talvez pelo fato de nenhuma mulher nunca ter
me rejeitado.
— É... pode ser uma experiência boa, um relacionamento com
um homem de gostos peculiares parece interessante. — Falou ela
com um meio sorriso.
Pelo menos, a resposta pareceu positiva.
Capitulo 11
CHARLOTTE

Assim que cheguei em casa, tive tempo para pensar em tudo o


que aconteceu na casa de Matteo. Fingir que aqueles objetos de
BDSM não estavam lá seria difícil toda vez que estivesse na
mansão, por um lado, eu não precisava fingir, só tinha de respeitar
seus gostos, por mais bizarros que fossem.
Tive sorte de minha mãe e irmã estarem dormindo, entrei
silenciosamente por já ser de madrugada. Deixá-las dormindo me
pouparia de muitas perguntas, pois meu corpo estava cansado e
minha mente exausta. O frio da madrugada deixava-me tremendo
um pouco, tomar um banho naquela hora estava completamente
fora de questão.
De repente uma pergunta simples surgiu na minha mente.

E se ele pedir por um sexo com aqueles objetos?


Balancei a cabeça.
Não, ele não pedirá, pelo menos não por agora. Pelo seu jeito de
autopreservação esperaria que nosso relacionamento evoluísse de
pequenos beijos ou sexo sexual para algo real. Obviamente era tudo
suposição minha, Matteo poderia pedir para usar dos seus objetos
em mim amanhã mesmo. Subindo as escadas, pensava em
maneiras diversas de recusar educadamente, nenhuma parecia boa
o suficiente e soavam como uma ofensa.
No corredor, por curiosidade decidi abrir meu celular. Minha
intuição estava certa, havia uma mensagem de Jeferson: Espero te
ver de novo, lembro sempre do nosso encontro. Só em ler tais
palavras meu coração pareceu doer dentro do peito. Uma hora ou
outra precisava dizer que não poderíamos mais sair juntos.
De pensativa passei para culpada, obviamente Jeferson e eu não
tinha nada sério, mas infelizmente não conseguia sair com duas
pessoas ao mesmo tempo como esses jovens de hoje em dia
fazem, parece tão fácil. Sinto-me como se estivesse o enganando,
pois, se de alguma forma ele soubesse do outro, e que eu escolhi o
outro, as coisas ficariam complicadas para ele. Nenhuma pessoa do
mundo lidava muito bem com a rejeição. Abrindo a porta do meu
quarto dei poucos passos até minha cama, depois simplesmente caí
no colchão, vestida, só tirei os calçados e me ajeitei no lugar.
Transei com Matteo, mas esse fato não necessariamente
significava que deveria descartar Jeferson, os dois eram legais.
Jeferson ainda poderia me surpreender e Matteo ainda poderia me
decepcionar, por algum motivo acreditava que os dois ainda fariam
isso.
Matteo estava no topo, mas Jeferson poderia fazer algo para me
conquistar e subir no ranking. Os dois eram homens e tanto, dei
graças a Deus por não ter fechado um relacionamento sério com
Matteo, sobrava-me tempo para pensar bastante na minha escolha.
Ambos ricos, loucos por mim, ficava difícil se decidir.

Amanhã era domingo e nada estava programado, talvez


chamasse Jeferson para sair mais uma vez. Assim poderia saber de
uma vez por todas quem eu queria e quem sairia com o coração
partido, relacionamento aberto não era meu estilo, então só poderia
escolher um. Mandei uma mensagem de texto a Jeferson, pedindo-o
para me encontrar na minha casa as sete da noite de amanhã.
Nem esperei uma resposta, pois naquela hora sabia que não viria
nenhuma.
...
Já acordada, havia me trocado e mudado de roupa, uma camisa
comum com um short curto. Não pretendia sair de casa até que
Jeferson viesse me buscar, isso se ele viesse, ainda precisava ver
se recebi qualquer mensagem. Peguei meu celular em cima da
cama, para a minha sorte vi uma mensagem ao desbloquear a tela:
Combinado, te vejo em breve.
Fiquei um pouco feliz e triste ao mesmo tempo. Teria que tomar
uma decisão naquela noite. Já esperava uma reação ruim de
Jeferson, pobre homem. Desci as escadas meio desconcertante em
ouvir a voz do namorado de minha irmã, o garoto era esquisito
demais. No entanto, nada podia fazer quando o coração ficava cego
de amor, nenhum defeito da pessoa importava mais.
Maldição! Maldição! Maldição!

Teria de ficar do lado daquele garoto, infelizmente minha irmã


estava do lado esquerdo do sofá e ele no meio, me deixando
apenas o lado direito vago. Disfarçadamente virei para a cozinha,
rezando que minha mãe estivesse lá, uma desculpa boa, poderia
usá-la caso perguntassem. No entanto não a vi lá, poderia parecer
para minha irmã que eu não gostava do namorado dela, mas era
isso mesmo, a cara dele me deixava desconfortável. Poderia alertar
minha irmã, no entanto uma pessoa cega jamais ouviria.
Mesmo deixando um clima desconfortável, sai dali em busca de
minha mãe. Com ela ao menos uma conversa se iniciaria, mesmo
sendo as perguntas dela sobre mim. Encontrei-a no quintal
estendendo algumas roupas, pelo menos o sol quente as secaria
rápido. Chamei-a para dentro e logo pude ver o sorrisinho pequeno.
— Chegou ontem e nem avisou. — Reclamou ela.
— Lógico! Vocês estavam dormindo! — Falei. Ela pareceu ver o
cinismo na minha voz. Nós duas sabíamos que ela não estava
preocupada comigo e nem que eu ligava se dormiam ou não. —
Olha, queria evitar a conversa que teremos agora.
— Bom, pelo menos sabe que pode adiar o quanto quiser, mas
que sempre teremos essas conversas desconfortáveis. Sou sua
mãe, e enquanto ainda morar aqui, vou querer saber com quem sai.
— A mulher cruzou os braços e sentou na cadeira da mesa da
cozinha, me encarando, aguardando que fizesse o mesmo.
Foi o que fiz no final das contas, sentei e logo o sorriso dela
voltara, de forma mais intensa dessa vez.
— Conte-me tudo. Esperei você, só que estava ficando tão tarde,
o sono venceu minha curiosidade.
Agora fiquei um pouco surpresa. Nada podia vencer a fome de
fofoca da minha mãe, agora eu sabia que havia exceção: a vontade
de dormir. Pois bem, coloquei os braços em cima da mesa, como
sempre, cortaria as partes mais íntimas. Uma filha expor para a mãe
o que fazia na cama era demais e muito errado.
— Matteo me levou ao teatro. — Comecei. — Achei
reconfortante, uma peça muito boa. Depois me levou para conhecer
sua casa... — A mulher na minha frente parecia uma amiga íntima
de tão ansiosa por informações que se encontrava, apenas
continuei — me levou para jantar, em seguida tomamos uma bebida
e ficamos conversando até que finalmente já estava em casa,
dormindo.
— Só isso? — Perguntou a mulher.
Obviamente ela sabia que tinha mais, eu sabia que tinha mais,
no entanto nunca contaria. Principalmente o que descobri num dos
quartos trancados. Dependendo de mim minha própria mãe nunca
saberia daquilo.
— Só quero acrescentar que sei da sua mentira e espero que
tenha se protegido.
— Mãe. — Reclamei. Não usei camisinha, mas tomei
comprimidos adequados. Isso também ninguém precisava saber. —
Já falei que não fiz sexo com ninguém.
— Mas não perguntei isso.
Vê-la com um sorriso de vitória no rosto realmente me irritou.
Levantei bufando da mesa da cozinha, olhando para ela uma última
vez antes de subir as escadas falei:
— Mas pensou, acha que conhece Alexandra e eu? — Soltei um
risinho. — A conhecemos muito melhor. Por isso tento evitar essas
conversas, já sei onde a senhora quer chegar com essas
indagações toda.
A mulher levantou os braços em rendição, levantando-se
também.
— Você é quem sabe, agora vou fazer o almoço. Ou pelo menos
tentar.

Olhando de relance a sala, percebi a ausência daquele


namorado estranho de Alexandra. Subi e no corredor escutei
sussurros, do quarto de minha irmã. Revirei os olhos, seriam muitos
corajosos de fazerem sexo a luz do dia bem debaixo do teto de
minha mãe.
Mas espera um segundo, vi minha irmã no sofá lá na sala.
Suspeitando de algo, andei encostada na parede como uma
sombra, silenciosa. A porta do quarto estava entreaberta, espiei
cuidadosamente o interior do lugar. Consegui observar o namorado
estranho de Alexandra falando no telefone.
— Estou na casa da minha namorada, já falei que posso ver
vocês depois que eu for embora daqui. — Falou ele.
Meu instinto apitou e logo saquei o celular, fazendo questão de
gravar tudo. Ele começou a rodear pelo quarto, parecendo nervoso.
E tive de tomar o dobro de cuidado.
— Olha, já disse que terminarei com ela para ficar com você, só
preciso de tempo. O que mais quer de mim?
Levei a mão à boca de tão chocada. Que desgraçado.

— Mas se ela descobrir sobre você, nos dois estaremos ferrados,


sabe disso, não é? Que bom!
Meu celular grava tudo, cada gesto nervoso, cada palavra que
seriam como facas no coração da minha irmã.
Eu sabia.
EU SABIA!
No momento que ele fechou o celular, dei um pulo silencioso
para o outro lado e corri para meu quarto. Trancando a porta bem
devagar voltei a olhar meu celular, apertei no play e observei o vídeo
novamente. Agora tinha provas mais que o suficiente que servirão
para Alexandra abrir os olhos. Só enviaria o vídeo depois quando já
estivesse perto de sair com Jeferson, quero estar bem longe daqui
quando a confusão estourar.
Mesmo se Alexandra o perdoasse ou quisesse manter o
relacionamento, minha consciência estaria tranquila por tê-la
avisado onde estava metida, revelando a real face do namoradinho
perfeito dela. Pensei em dormir mais um pouco, acordaria um pouco
tarde para o almoço, no entanto não era a primeira vez que me
alimentava fora de hora.
...
Acordei com a garganta tão seca que desci as escadas com uma
das mãos coçando o olho direito e sem falar um pio. Estava
começando a arder, peguei um copo de água bem gelado na
geladeira e o tomei. Tendo o celular na minha outra mão,
desbloqueei a tela e vi mais uma mensagem de Jeferson: Já está
quase na hora, busco você em breve.
Olhei as horas, ainda eram três e quinze da tarde, daria mais do
que tempo de almoçar e me arrumar. O homem exagerou um pouco
no “ Já está quase na hora” por isso comi a refeição preparada por
minha mãe com bastante calma. Sentindo-me mais disposta,
levantei-me da mesa da cozinha e voltei ao quarto. Me arrumar
demoraria horas, dito e feito, no final de tudo me arrumei
exatamente como no primeiro encontro, e já eram quase cinco e
meia.
Então finalmente pensei em fazer uma última coisa antes da
chegada de Jeferson. Fui até o quarto da minha irmã, rezando para
que o namorado não estivesse. A vi deitada na cama, mexendo no
celular de um jeito animado e bobo. Eu destruiria o coração dela, o
partiria em vários pedacinhos. Obviamente, caso houvesse alguma
opção, mas não havia.
— Posso entrar? — Dei três batidas leves na porta. — Está muito
ocupada?
Alexandra fechou a tela do celular com intuito que ninguém
bisbilhotasse, então eu tinha razão, era o namorado traidor. Sentei
na cama ao seu lado e a encarei, com dificuldade, era difícil até para
mim.
— Preciso lhe contar uma informação que obtive hoje mais cedo.
— Tirei o celular do meu bolso. — É sobre seu namorado, minha
desconfiança já restava nas alturas com esse garoto, mas você não
me ouviria, então quando tive uma chance gravei tudo.
— Do que está falando? — Indagou ela, na maior inocência.
Deus, isso seria horrível.
Entreguei meu celular a ela já com o vídeo na tela, ela só
precisaria apertar o play, e foi o que Alexandra fez. Sua cara
continuava sorridente no início, no meio para o fim seu sorriso
desmanchou-se completamente, e quando finalmente acabara de
ver com seus próprios olhos, sua expressão estava neutra. Seu
olhar pareceu assumir uma expressão sombria aos poucos, nunca a
tinha visto daquele jeito.
— Aquele desgraçado ingrato. Você chegou a ouvir com quem
ele está me traindo?
As suas palavras saíram tão calma como uma corrente de vento
refrescando as flores de um bosque, fiquei tão assustada que
gaguejei um pouco. Falar a verdade podia ser doloroso, mas
sempre seria o correto.

— Ele deu a entender que você conhece a pessoa e que se você


descobrisse, então os dois estariam ferrados. Suspeito que seja
alguém de sua confiança. — Parecia errado deixar minha irmã
paranoica, mas quanto mais cedo ela descobrisse e encerrasse
essa situação, melhor.
— Hoje á noite terminarei com ele, aquele FILHO DA PUTA! —
Alexandra arremessou o celular tão longe que o partiu em dois
quando o objeto se chocou contra a parede.
Foi inevitável arregalar os olhos, tal atitude me pegou de
surpresa. Minha irmã parecia tão calma poucos segundos atrás...
mesmo quando meu segundo namorado me traiu minha raiva foi
pouca comprada a dela.

— Desgraçado! — Alexandra jogou o travesseiro no pequeno


abajur em cima da cômoda, fazendo o objeto cair e se espatifar no
chão. — Não acredito nisso, só pode ser uma espécie de
brincadeira de mal gosto.
Agora sentia o peso da negação nos seus ombros, mesmo que lá
no fundo soubesse que era tudo verdade. Poderia tentar acalmá-la,
no entanto tal atitude poderia agravar a delicada situação em que
ela se encontrava agora. Achei melhor sair de fininho, e foi o que fiz.
Minha mãe subiu as escadas correndo, por ouvir o barulho de
objetos quebrando no andar de cima, enquanto eu descia as
escadas. Já estava quase no horário, Jeferson era o tipo de cara
que sempre chegava antes.
Dito e feito, a campainha tocou meia hora antes do combinado,
por algum motivo sabia que se tratava dele. Poderia parecer cruel
terminar tudo em um encontro, mas precisava saber se era
realmente Matteo a quem devia me dedicar ou se Jeferson merecia
uma chance.
Abri a porta e coincidentemente Jeferson estava com a mesma
roupa do nosso primeiro encontro, seu sorriso me deixava excitada
como sempre. Seus olhos mais lindos que nunca brilhavam ao me
olhar da cabeça aos pés.
— Vamos? — Perguntou ele, estendendo o ombro.
— Claro.
Prestes a sair da casa, um barulho ecoou no andar de cima, junto
soaram os gritos cortantes de minha mãe e irmã. Minha face ficou
tão vermelha que poderiam confundi-la com a de um tomate.
— O que foi isso? — Soltou Jeferson, curioso ao olhar para o
interior da minha casa.

— Nada, minha irmã adora assistir seus programas com o som


nas alturas. Já falei que incomoda os vizinhos. — Soltei umas
risadinhas constrangidas.
A noite estava linda, olhava para cima igual a artistas que
observavam uma pintura de arte moderna no museu. As estrelas no
céu chamaram toda sua atenção, quando paramos desci meu olhar
para o carro do Jeferson. E mais uma vez andamos naquele veículo
veloz, num piscar de olhos estávamos no mesmo restaurante. Nada
parecia ter mudado em questão de pessoas, poderia jurar que tinha
o mesmo número do que antes.
— Olá, rapaz. Reserve a mesa de cima para mim. — Disse
Jeferson.
Estava igualmente lotado como da última vez. Fiquei com o
receio de não conseguirmos uma vaga, seria péssimo ter de jantar
em outro lugar. Estranhamente escutei uma discussão lá em cima,
pareciam bastante exaltados. De repente um casal descia aos
prantos, gritando por toda a parte que o restaurante seria
processado, fiquei curiosa para descobrir o motivo da exaltação
toda. No entanto, o garçom voltou e nos levou até nossos lugares,
que era o mesmo de antes. Pude perceber que o pano que cobria a
mesa tinha pequenas dobras, parecia que não deu tempo de
arrumarem desde que as últimas pessoas que comeram ali saíram...
normalmente sempre tinha um pequeno e rápido intervalo para
aquilo.
— Vai querer o mesmo que antes? — Perguntou Jeferson.
— Pode ser, mas dessa vez iremos dividir.
— Não preci...
— Vamos dividir, por favor. Deixe-me pagar também dessa vez.
— Eu disse.

— Está tudo bem com você? Parece incomodada.


Incomodada comigo mesma, infelizmente não consegui
transparecer nada tranquilizador com meu sorriso falso.
— Ah, não é nada. — Falei, passando o olhar pelo cardápio. —
Vou querer uma paleta de cordeiro ao vinho e alecrim. É para duas
pessoas e custa duzentos reais, podemos dividir, o que acha?
— Perfeito.
O resto da noite quase que passou despercebida de tão distraída
que estava, ele tentava falar algo e eu tentava me animar, no
entanto nada funcionava. Só estava enganando a mim e ao próprio
Jeferson, nós dois não teríamos chance e eu já havia feito minha
escolha. Já me sentia mal antes da hora, o prato já estava no fim e
me preparava mentalmente para encerrar o que tínhamos. Jeferson
podia perceber meu desconforto, fiquei com muita pena dele, pois
sua preocupação comigo estava estampado em todo lugar da sua
expressão.
Tomamos algumas taças de vinho, ele disse em como eu estava
bonita e eu retribui dizendo o mesmo. Depois coloquei a taça em
cima da mesa, afastando-a de mim devagar. Respirei fundo e o
encarei, fiquei um pouco assustada por vê-lo ansioso olhando para
mim, parecia saber o que vinha a seguir.

Infelizmente era o necessário.


— Preciso falar com você. — Disse, de maneira ríspida.
— Eu fiz alguma coisa para você? — Ele perguntou, movendo o
olhar para baixo.
— Na verdade eu que fiz, e de certa maneira vou fazer. — Fechei
os olhos, depois os reabri. — Isso entre nós não irá para frente,
infelizmente.
Jeferson pareceu engolir as palavras, pois tomou o vinho e pude
ouvi-lo engolir em seco.
— Tem outra pessoa?

— Sim, sinto muito.


— Esteve com outra pessoa quando esteve comigo?
Franzi o cenho, podia entender sua chateação, assim sendo
manteria a educação.
— Não tínhamos nada sério.
— Eu te amo, não vou desistir de você tão fácil. Quem é o
homem? — Ele falou de maneira sombria.
Senti um frio na espinha, quase sem forças para falar.

— Desculpe, mas não é da sua conta. — Tentei ser o mais


correta possível. — Podemos ser amigos?
— Não entendo, fiz tudo que um homem deve fazer para agradar
uma mulher. Por qual motivo me odeia, entreguei meu coração para
você e agora está jogando-o fora, feito lixo. — Ele parecia nervoso,
segurando uma possível exaltação. — Mandei o casal que estava
aqui embora só para que tivéssemos nosso momento.
Fiquei chocada e um pouco tonta, o casal que desceu as
escadas aos prantos, tiveram de sair da sua mesa por ordens de
Jeferson. Aquilo fez uma pergunta surgir na minha mente, e por
incrível que pareça Jeferson respondeu sem sequer eu ter falado
nada.
— Eu sou o dono do restaurante, se é isso que está se
perguntando. — Sua voz pareceu mais grossa.
— Sinto muito mesmo.
— Não sinta, ainda lutarei por você. Acredite Charlotte, ainda
ficará comigo.
Pobrezinho, ainda querendo lutar, mas tenho fé de sua lucidez no
futuro quando perceber que meu coração pertence a outro homem.

— Está bem, sinto por qualquer coisa. E pode deixar que chamo
um táxi.
— Nada disso, eu a trouxe, deixe que eu a levo. — Jeferson
pareceu bravo ao levantar, mais bravo ainda quando ergueu o braço
chamando pelo garçom. — A conta, por favor.
Esperei muito ansiosa pelo garçom, depois de tudo resolvido
saímos e Jeferson parecia um pouco frio. E eu não poderia culpa-lo,
de maneira nenhuma, poderia aguentar aquilo até em casa. O resto
do caminho foi silencioso, queria puxar qualquer assunto aleatório,
que fizesse nós dois interagir para quebrar aquele clima chato. Ele
não falaria, muito menos eu, faltava coragem da minha parte, e o
homem tinha muita raiva.
Chegando na esquina de casa o carro desacelerou, ninguém
falou nada quando a porta se abriu do meu lado. A fechei e bati na
janela, querendo falar algo, o vidro foi baixado liberando meus olhos
para ver Jeferson.
— Espero que continuemos a nós falar — falei, triste.
— Se soubesse que terminaria num encontro, nem tinha perdido
meu tempo vindo até aqui. — O vidro foi levantado depressa, só deu
tempo de me afastar alguns passos, pois ele pisou com força no
acelerador. Pisquei e Jeferson havia desaparecido na esquina
deixando um rastro de fumaça na pista.

Mesmo sendo tarde da noite as luzes na minha casa estavam


bem acesas. Entrei e vi uma cena chocante na minha sala,
Alexandra acabara de desferir um forte tapa no namorado dela. O
som de pele contra pele foi tão alto que apostava uma nota de cem
reais que alguns vizinhos abriram suas janelas para saber o que
estava acontecendo.
— Seu desgraçado, você vem me traindo há um mês, e com
minha melhor amiga!
— Eu posso explicar... — falou o rapaz.
Está bem, agora fiquei muito chocada. Com a melhor amiga foi
golpe baixo, de ambos, tanto da garota quanto dele. Se eu estivesse
no lugar de Alexandra desferia outra tapa, achava que ela tinha feito
pouco caso ainda.
— Não tem explicação, quero que você vá embora. E se prepare,
pois tem foto do seu pintinho mixuruca no grupo da escola.
— O q-quê? Não pode fazer isso. Posso processá-la. — O garoto
ficou apavorado de verdade.
— Não disse que foi eu que enviei, veio de um número
desconhecido. E tenho uma testemunha ao meu lado. — Alexandra
me fitou, aguardando o óbvio. — Você me ouviu dizendo algo?
— Não mesmo.
— Vou embora antes que você piore a sua situação. — Disse o
garoto. — É melhor estar mentindo, pois tenho fotos íntimas suas
também.
— Como ousa? SAIA JÁ DA MINHA CASA!
O garoto saiu bufando de ódio, passando por mim e quase
esbarrando seu corpo magricela no meu. Restando somente nós
duas, Alexandra desabou no sofá, com os olhos cheio de lágrimas.
— Espero que tenha mentido sobre as fotos.
— É claro que eu menti, não sou escrota a esse ponto. — Disse
ela entre muitas lágrimas.
A noite estava difícil para nós duas. Decidi ficar o tempo que
fosse necessário, Alexandra precisava ser consolada um pouco, e
eu mesma precisava ficar um pouco distraída.
Capitulo 12
MATTEO

O dia estava mais lindo do que nos outros dias, normalmente eu


não ligaria e reclamaria de tudo. Mas passar uma noite com
Charlotte me deixou bastante energético, feliz e disposto a fazer o
meu trabalho na empresa. Chegar animado no escritório não era
para qualquer empresário cheio de problemas como eu,
principalmente hoje que precisaria visitar Jeferson e realizar meu
penúltimo pagamento.
Na empresa, todos pareciam a todo vapor, logo deveria me
preparar também. Olhando no meu relógio fiquei um pouco
decepcionado, ainda faltava uns trinta minutos até que Charlotte
chegasse. Nesse momento olhei para os lados disfarçadamente, em
seguida encarei Melissa na sua mesa, ela parecia bastante
sobrecarregada.
Havia tirado o título de minha secretária por ela sempre estar de
olho nas minhas mulheres. Parecia antiético, eu sei, no entanto, a
troquei de mesa assim mesmo. Agora ela ajudava os empresários e
advogados no geral. Infelizmente precisaria de sua ajuda, pois
apostava que aquela mulher já estava de olho na minha.

— Preciso falar com você! — Disse um pouco rude.


Melissa levantou seu olhar, suas pupilas mexeram-se para a
esquerda e depois para a direita. Ficando ereta pôs o dedo
indicador no meio do seu peito, com uma expressão cínica falou:
— Eu?
Revirei os olhos.
— Sim, você. — Cruzei os braços. — Sei que está afim de
Charlotte.
— Isso já não devia ser novidade. — Ela voltou a curvar o corpo,
mexendo nos papéis, os colocando numa outra pilha. — O que quer
falar comigo, talvez eu tenha tempo.
— Talvez, não. Você sempre tem que ter tempo para mim, agora
me diga, é muito amiga dela?

— Não diria amiga, mas uma colega de trabalho bastante


próxima. — Falou ela, me encarando de forma mortal. — Quer
saber como seduzi-la, não é?
— Talvez.
— Talvez para mim não é resposta. Me dê fatos e talvez eu te
forneça algumas informações. — Ela sorriu.
Melissa nunca deixou para lá o fato de eu ter mudado seu local
de trabalho. Ela sabia que meu relacionamento com Charlotte era
mais sério do que com as outras mulheres que já estive. Por isso
seu interesse em saber mais.
— Tivemos um caso, e quero algo mais sério. — Falei, colocando
as duas mãos na mesa, transparecendo um pouco do meu
nervosismo. — Tenho de acertar dessa vez, não posso estragar
tudo.
— O que eu ganho com isso?

Eu sabia, aquela mulher era esperta, então não podia perder a


chances.
— Mesmo salário, mas posso diminuir essa carga pesada que
tem sido seu trabalho ultimamente.
Melissa olhou para cima com uma mão no queixo, pensando na
proposta ou fingindo pensar para me irritar.
— Eu aceito. Bom, a informação que posso te dar é que ela te
odiava desde a última vez que falei com ela.
— Quando foi isso? — Indaguei.
— Na sexta passada.
— Dormi com ela no sábado. — Franzi a sobrancelha. Se ela me
odiava mesmo, então as chances de leva-la para cama seriam
quase nulas.
— Meus parabéns, agora posso dizer que é homem de verdade.
Tente pegar leve com ela no trabalho, mas não tão leve, aquela
mulher é do tipo que odeia ser a donzela em perigo. — Melissa
soltou as palavras tão séria que balancei a cabeça em afirmativa.
Charlotte conseguiu os meus ingressos numa dificuldade
enorme, confesso que podia ter pedido algo menos complicado.
Daqui em diante facilitaria um pouco o seu trabalho, vê-la feliz seria
meu maior objetivo. Em breve teria de confiar minhas reuniões mais
secretas a ela, assim como fiz com Melissa antes de descobrir que
esta era uma “fura olho” de primeira.
— Tem algo a mais para acrescentar? — Perguntei, ela tinha de
ter mais informações.
— Não tente jogar seu dinheiro na cara dela a todo momento. —
O risinho de Melissa me fez franzir ainda mais o cenho.
— Como?

— Levando-a para lugares caros, no seu carro caro, e depois a


levar para sua casa cara. — Melissa pareceu sentir algo como pena.
— Faça as coisas com um pouco de simplicidade, acredite, ela
notará.
Entendi. Charlotte não reclamou no sábado quando a levei no
teatro com minha limusine, e depois para minha mansão, mas caso
isso se tornasse rotina a situação poderia ficar complicada para o
meu lado.
— Obrigado, e sou um homem de palavra. Ainda hoje essa
papelada irá diminuir. — Falei.
— Obrigada.
— Mais uma coisa. Caso eu e Charlotte não dermos certo, você
será a primeira a pular na cama dela, não é?

— Pode apostar que sim. — Disse Melissa, encarando-me nos


olhos.
Gostei pela sua coragem, não havia nem resquícios de medo nas
suas expressões faciais, isso deixava-me admirado, eram poucos
aqueles que me enfrentavam, sejam homens ou mulheres. Dei um
sorrisinho de lado antes de me virar totalmente, ajeitei meu terno e
peguei um elevador, logo apertei o exato botão que me levaria ao
meu escritório.
Quando as portas se abriram percebi que já dera o horário de
Charlotte, entretanto não a vi passar por mim. Ela deve ter se
atrasado de novo. Erguendo meu olhar tive uma surpresa boa, ela já
mexia no computador, Charlotte havia chegado, passado por mim e
eu nem a notara. De repente estreitei os olhos, Melissa estava com
a visão sobre minhas costas, a mulher deve tê-la visto, mas lógico
que não me falaria.
Cruzando meu caminho com o dela, parei e sorri.
— Bom dia.
— Olá, Matteo. — Disse ela sem levantar o olhar.

Franzi o cenho pela terceira vez hoje. Suas palavras saíram tão
secas que me arrependi do meu “bom dia” tão animado.
Normalmente eu a ignoraria, mandando-a fazer qualquer coisa
envolvendo o trabalho. Naquela situação sua atitude rabugenta me
preocupou, queria saber o motivo, por isso decidi tentar uma
pergunta leve.
— Está bem hoje?
Charlotte finalmente levantou o olhar, parecendo culpada de ter
me respondido daquela maneira.
— Desculpe, senhor. Eu só que... é complicado. — Suspirou ela.
— Descomplique para mim — falei e logo pensei na burrada.
Minha voz saiu como uma ordem, de um chefe chato. O que
normalmente eu era.

— Com todo respeito, senhor Matteo. Minha vida pessoal não é


da sua conta.
Maldição! Mulheres eram muito complicadas, mas se ela queria
espaço então teria.
— Ótimo, faça seu trabalho e não pense em me incomodar. —
Disse ao passar por ela.
Fechando a porta do escritório fiquei sozinho na minha sala com
uma enorme vontade de gritar. Controlei minha vontade de destruir
tudo, a raiva remoendo dentro de mim não sumiria tão facilmente,
decidi despejá-la em quem realmente merecia. Abri a porta do
escritório e saí sem falar nada a Charlotte, iria encontrar-me com
Jeferson para acertamos nossas contas, em breve nunca mais teria
de ver o desgraçado.
Qualquer reunião de última hora ou emergência de qualquer tipo,
Charlotte deveria me ligar, obviamente ela devia ter meu número
anotado num bloco de notas ou qualquer lugar semelhante. Por isso
tratei de tirar essas preocupações da minha mente, no momento
precisava me concentrar num dos meus maiores rivais.
No andar debaixo contatei meu motorista pelo celular, esperei
menos de vinte minutos na pista, pois ele já dobrava a esquina ao
meu encontro. Entrei dentro do carro e, enquanto aguardava tirei um
cheque de dentro do bolso da calça, colocando a quantia de
dinheiro que Jeferson poderia sacar e minha assinatura logo abaixo.
Depois de uns bons trinta minutos sentado no banco traseiro
confortável, chegamos na rua daquele hotel de luxo. É claro que
Jeferson nunca marcaria um encontro na casa dele.
Esperto.
Descendo do carro, pedi para que meu motorista aguardasse um
pouco, pretendia ser o mais breve possível. Como esperado, na
porta do prédio o segurança Eduardo me esperava, ansioso. Me
aproximei dele sem olhá-lo diretamente, ele começou a andar e já
sabia que devia segui-lo se quisesse chegar no andar de cima sem
uma facada ou sem ser roubado pelas prostitutas.
Subimos até o andar e jurei ter visto um dos meus investidores,
casado, entrando num desses quartos com uma tão magra que
pensei ser anoréxica. Concentrei-me nos meus próprios assuntos,
quando entramos no elevador o silêncio constrangedor pairou no
lugar, podia sentir a tensão nos meus ombros. Era difícil permanecer
a metros de uma pessoa que poderia facilmente tirar sua vida.
A porta do elevador se abriu, Eduardo foi o primeiro a sair,
quando eu saí fiquei mais tenso ainda por ver o segundo segurança,
Lucas. Foi estranho vê-lo novamente, sempre era estranho, a
presença dos dois me dava calafrios, mas seguranças serviam para
esse motivo mesmo, dar medo nas pessoas.
Os dois ficaram na porta, um de cada lado enquanto pude passar
adiante. Vi Jeferson sentado à mesa contando algumas notas de
cem reais. Percebendo minha presença rapidamente apontou para a
cadeira da frente, onde eu educadamente sentei.
— Trouxe o meu dinheiro? — Ele perguntou sem olhar
diretamente para mim.
— Claro, pegue. — Deixei minha mão levantada no ar de
propósito, assim ele teria de me encarar para pegar o cheque perto
da minha face.
— Não brinque comigo, Matteo. Estou bastante irritado hoje. —
Sua voz grossa me deixou cheio de adrenalina para retrucar. Ele
pegou a nota depois de ter me encarado com uma expressão
zangada. — Espero que não tente me passar a perna ou meus
seguranças te farão uma visitinha.
— Esse tipo de homem traidor pertence a sua laia, sou honesto.
E por qual motivo tentaria enganá-lo no penúltimo encontro? Só
mais uma visita e terei me livrado de você pelo resto da minha vida.
— Se depender de mim, não. Caso meus planos deem certo, me
verá muito ainda, principalmente no seu escritório. — Sua risada
cínica atiçou minha curiosidade.

— Pode ser direto pelo menos uma vez na sua vida?


— Estava saindo com sua secretária, estamos passamos por
problemas, mas acho que conseguirei conquista-la novamente.
Engolir em seco foi pouco, senti a pressão do meu corpo caindo.
Nunca pensei ser possível ser atingindo com o gosto amargo com o
sentimento da traição, era o que sentia agora, como se tivesse sido
traído. Tanto homem com quem sair e ela saiu logo com Jeferson?
Esse desgraçado...
Sua chateação deve ser por causa desse homem. Ele percebera
minha expressão de assombro, tratei de normalizar minhas caretas.
Ajeitei meu paletó e cruzei as pernas, abrindo um pequeno sorriso
percebi minha confiança retornando aos poucos.
— “Conquista-la novamente”? — Soltei uma risadinha. — Parece
que alguém levou um belo de um fora ou estou equivocado?
— Você não sabe de nada! É temporário, pois ninguém me
rejeita. — A voz de Jeferson pareceu um pouco mais alta do que o
normal.
Se Charlotte conseguiu mesmo ficar envolvida com esse homem,
nós dois tínhamos um problemão, pois do jeito que Jeferson falava
ele parecia ser do tipo abusivo. E senti muita raiva dentro de mim
por ele falar de forma possessiva com Charlotte. Desgraçado, devia
levar uns bons socos na cara, infelizmente seria burrice, os
seguranças estavam atentos a qualquer sinal de perigo.
— Fico me perguntando por qual motivo ela o rejeitara. — Fingi
pensar. — Ela não parece ser do tipo que é conquistada pelo
dinheiro ou por quantos ternos caros vocês possui.
— Fui dispensado por outro motivo! — Quando sua mão bateu
na mesa violentamente confesso que tomei um pequeno susto. —
Um outro homem entrou no radar e a roubou de mim.

Ali estava minha chance, aquele desgraçado merecia por tudo


que já tive de aguentar nas suas mãos.
— Esse homem sou eu. No sábado passado a levei no teatro e
depois para minha casa, e advinha? Passamos para o outro nível,
se é que me entende. — Dei uma piscadela divertida.
A cara do homem ficou tão vermelha que pensei o pior, ele
poderia me matar ou mandar os dois seguranças fazer o pequeno
trabalho sujo.
— Como ousa? — Gritou. — Ela é minha, seu desgraçado.
— Não é mais.
Ele tentou manter o controle a qualquer custo, respirando fundo,
pareceu pensar nas opções para que pudesse lidar com aquela
situação constrangedora.

— Desista dela e encerro seu contrato agora.


Aquela jogada me pegara de surpresa, o homem estava mesmo
disposto a lutar por Charlotte. Devo admitir que devido a minha
natureza dos negócios pensei na possibilidade de aceitar a
tentadora oferta. Rapidamente a raiva transpareceu na minha face,
nunca aceitaria tal barbaridade, Charlotte era uma mulher e não
uma maldita moeda de troca.
— Deseja a mulher, então conquiste-a, um homem de verdade
faria isso. — Sorri. — Mas creio que seus planos com ela não
passarão de sonhos impossíveis, ela está comigo agora.
Tive de mentir, pois não sabia realmente se ela queria realmente
ficar comigo. E eu mesmo desconhecia meus sentimentos naquele
momento, descobrir que ela andava saindo com aquele canalha me
pegou desprevenido. Pelo menos consegui o que queria, deixa-lo
bravo.
— Irá se arrepender dessas palavras, pode apostar. — O maldito
sorriso voltara aos seus lábios, mais cínico do que nunca. — Como
sabe que ela o escolheu? Até onde se sabe a escolha pode ser
momentânea.

O desgraçado sempre conseguia uma maneira de virar o jogo.


Por sorte consegui me controlar, pois tinha de focar em um simples
fato: Charlotte terminou com ele por minha causa. Essa verdade não
poderia ser mudada.
— Sei como seduzir uma mulher, como mostrar que a quero, ao
contrário de você. — Mudei a posição das minhas pernas,
recostando-se mais confortavelmente na cadeira. — Sem querer me
gabar, mas creio que suas chances são zero no campo enquanto eu
estiver nele.
Observei a raiva brilhando nos olhos verdes de Jeferson, ele
queria uma boa briga naquele momento. E isso poderia ocorrer se
não fosse o fato de que ainda faltava um último pagamento. Na
próxima vez teria de trazer meus próprios seguranças, com certeza
aquele viraria um ringue.
— Desculpe, Jeferson. Peguei muito pesado com você? Sinto
muito. — Falei de forma bastante debochada. — Não tem nada mais
para falar comigo, pois pretendo sair ainda hoje com Charlotte.
Jeferson recostou-se na cadeira, batucando — o dedo indicador
e o do meio — na mesa incansavelmente, o barulho ecoando nos
meus dois ouvidos. Parecendo pensar em algum argumento que
pudesse me desestabilizar. Os dentes brancos dele trincavam uns
nos outros, causando um barulho estranho, aquele movimento sim,
deixou-me desconfortável. Um pouco.
— Sabe que posso mandar meus seguranças tirar você da minha
vida... da vida dela, certo?
— Sabe que perderá uma boa quantia de dinheiro, pois ainda lhe
falta o último pagamento, certo?
— Você tem as palavras na ponte da língua, mas não terá língua
por muito tempo, então aproveite. — Jeferson moveu a mão, num
sinal para os seguranças. — O escoltem para fora, sua feição nesse
momento está me dando nojo.
Mostrei meu sorriso mais simpático para ele. Levantando-me
cuidadosamente para não amassar minha roupa, saí daquele lugar
nojento dando graças a Deus, ficar conversando no mesmo
ambiente que aquele nojento deixava minha pessoa nauseada.
Passei por algumas prostitutas e tive de admitir que o canalha
sabia fazer um bom disfarce, aquelas mulheres pareciam normais,
com roupas que serviam para sair a luz do dia. Os homens, maioria
ricos, iam com roupas normais, bermudas e camisetas comum, todo
o trabalho para não chamarem a atenção. Percebi também que no
andar debaixo, além dos seguranças pessoais de Jeferson, havia
alguns na recepção, e do lado de fora os vestidos a paisano,
passeando pelas redondezas do lugar.
Eduardo e Lucas me deixaram lá, no saguão. Andei até a
calçada no mesmo ponto que desci do carro, meu motorista só
estava aguardando, como ordenado. Entrei e logo pude tirar a
tensão da minha respiração, o sentimento de segurança dentro do
meu carro era reconfortante. Dei sinal, e logo caí na estrada.
...
De volta no meu escritório, percebi que minhas mãos tremiam
muito. Ainda sentia raiva por descobrir sobre Jeferson e Charlotte,
desgraçado. Precisava falar com ela, mesmo que a mulher quisesse
ou não. Precisava saber quais suas intenções para com ele,
necessitava de respostas.
Caso houvesse alguma esperança de que os dois voltassem...
não, Charlotte me escolheu. Jamais voltariam a ficar junto, ela não
era do tipo de mulher enganadora... mas talvez...
Droga! Meus pensamentos consumiam-me de dentro para fora.
Chegar nervoso e colocar Charlotte contra a parede parecia uma má
ideia. No entanto, deveria deixar bem claro meu posicionamento,
proibi-la de ver Jeferson por qualquer motivo parecia uma boa.
Poderia parecer abusivo de minha parte, mas sua vida corria perigo
a cada momento, a cada segundo que ela estava com o homem.

No elevador apertei o botão que levava ao meu escritório.


Coloquei as mãos no meu terno, como numa maneira estupida de
manter minhas mãos ocupadas, tentava arrumar algo já perfeito e
só piorava tudo. As portas se abriram e comecei a andar cabisbaixo,
tentando mudar minha expressão raivosa.
— Charlotte, por favor, preciso falar com você na minha sala! —
Disfarcei minha ordem como se fosse um simples pedido. — Precisa
ouvir umas palavrinhas.
A falta de medo na face e expressões corporais foi
impressionante, admito. A mulher levantou-se plenamente, ríspida e
com a cabeça levantada. Esperei ela passar primeiro, em seguida
fechei a porta, finalmente a sós.
— O quer que falar comigo, senhor? — Indagou ela, cruzando os
braços.
— Fui me encontrar com Jeferson, hoje. — A expressão dela não
mudou, no entanto consegui perceber um pouco de suor na testa.
Sorri. — Estava comigo e com ele, normalmente eu não me
importaria, pois não há nada sério entre nós ainda. Parece que
terminou o que tinha com ele, e preciso saber, e então?
— O que quer saber exatamente?
— Como nós ficamos? Digo, nossa relação? Quer algo sério ou
não? — Cruzei os braços e a encarei na mesma intensidade que
ela.
— Ainda não sei... preciso pensar bastante. — Disse ela,
tristemente.

— Preciso que fique longe de Jeferson, então.


Charlotte me encarou com uma expressão furiosa.
— Preciso que saiba de uma coisa, por contrato não posso expor
a situação. — Andei um pouco para perto dela. — Não pode confiar
nele, ele é perigoso.
— Não posso confiar nele, mas em você posso?
Estreitei meu olhar.
— O que está querendo dizer? — Fiquei um pouco afetado com
tal indagação.

— Me relacionei com vocês há pouco tempo, não os conheço


totalmente. E, agora tenho que ouvir de você que não posso falar
com quem eu quero? Sabe como isso se classifica no ambiente de
trabalho? Assédio!
Como ela ousa? Estava querendo protegê-la, e ela me ameaça?
Essa mulher está passando de todos os limites. Olhei para baixo,
fechando os olhos e torcendo para manter o profissionalismo,
acalmando meus nervos, voltei meu olhar a Charlotte.
— Está bem, faça o que quiser. É tão independente, quando
sofrer nas mãos dele não procure.
— Pode deixar...
— Basta, volte ao seu trabalho ou te coloco para fora desse
emprego. — Disse passando por ela e sentando na minha mesa.
Charllote nada disse, só acatou a ordem.
Juntando as mãos em cima da mesa, encostei-as na minha testa,
fechei os olhos e deixei a raiva sumir aos poucos. Era isso que se
ganhava por ser um homem bom, mostrar que se importava demais
nunca ajudava. Precisava me acalmar com algo mais quente...
peguei meu telefone e liguei para Fallon, mesmo sentindo uma
pontada de culpa no coração segui em frente. Charlotte precisava
de tempo para pensar o que queria, provavelmente me dispensaria
depois dessa confusão, tendo isso em mente Fallon poderia diminuir
minha raiva. Mesmo sendo uma mulher muito ocupada, apostava
que teria um tempinho para mim, principalmente quando souber do
motivo daquela chamada.
— Alô, Matteo. — Disse ela, em seguida ouvi um grito da mesma.
Provavelmente direcionado a alguma secretária. — O que quer?
Estou bastante ocupada.
— Preciso de você! Estou muito estressado e pensei que uma
mulher bonita poderia ser um bom remédio. — Falei, sorri de lado
ao ouvir a risada dela.
— Vou fingir que essa cantada foi muito boa. — Ela parecia rir
mais que o normal. — Me encontrarei com você, pois ainda o acho
um fofo.
Minhas bochechas mudaram de cor por um rápido momento.
Fallon devia estar muito estressada, com muita vontade de ser
distraída para ter aceitado o encontro casual, podia entendê-la muito
bem. Controlar uma empresa era difícil para qualquer um, lidar com
insubordinação pelos quatros cantos poderia me deixar maluco.
— Que horas quer o encontro? — Perguntou Fallon num
sussurro safado. — Estou livre quando quiser.
— As duas da tarde tenho um intervalo, que tal?
— E que tal agora? Sua voz me deixa bastante excitada! — A
voz manhosa dela fez meu pau ficar muito duro. E para piorar ela
prosseguiu. — Se quiser eu posso ir aí repetir nossa dose no
escritório.
Deus! Que mulher, capaz de realizar todos os desejos de um
homem. Por que não posso me apaixonar por ela? Seria tão mais
fácil, sem complicações. Ela estava prontinha para mim a todo
momento, e o melhor, sempre decidida, nunca indecisa. Sabia o que
queria e seria capaz de fazer qualquer coisa para conseguir.
Infelizmente o coração gostava de pregar peças cruéis na nossa
cabeça. Naquele caso meu corpo gritava mais alto do que meu
órgão na cavidade torácica. Precisava de alguém para me
satisfazer, necessitava disso.
— Irei encontra-la agora. — Levantei da cadeira, esperando um
pouco para o volume nas minhas calças baixasse um pouco. —
Estou indo aí, prepare-se, chegarei em minutos. A levarei ao meu
hotel.
— Perfeito, te vejo lá.
— Até mais. — Desliguei o celular, andei para o corredor e dirigi
poucas palavras a Charlotte. — Desmarque qualquer compromisso
pelas próximas horas, irei demorar um pouco.
Peguei o elevador sem olhar sua expressão, pois no fim das
contas, não importava.
...
Depois de ter buscado Fallon, nós dois já estávamos nos
finalmente, joguei-a em cima da cama, seu corpo pulou uma vez.
Em seguida deitei o meu sobre o dela, começamos a trocar carícias
juntamente com beijos demorados e prazerosos. Os gostos dos
seus lábios eram incríveis, ela agarrava minha bunda com as unhas,
usando de muita força. Me ergui um pouco, somente para tirar meu
terno, deixando meu peitoral a mostra, quando desabotoei as
calças, ela tirou o vestido ficando com as peças íntimas expostas.

— Pensei que tivesse conhecido alguém! — Disse Fallon.


Mesmo a informação me pegando desprevenido, meu tesão
continuou firme, assim como meu pau.
— E parece que segundo essa pessoa, não temos nada sério.
Então, posso fazer o que quero, e quero você. — Falei, me
curvando para baixo, lambendo sua barriga, deixando um rastro
molhado até seus seios.
— Sabe fazer uma preliminar...aaaaargh. — Seu gemido pareceu
dolorido, sua expressão dizia que gostava disso.
Ela gostava de um pouco de dor, no entanto só estava
lambendo... quando percebi minhas mãos presando seus punhos na
cama percebi que não era dor, mas a sensação de ser dominada.
Um fetiche e tanto, podia me aproveitar daquilo, curtir mais um
pouco. Infelizmente para mim o sexo só seria por necessidade, não
por prazer.
Desci as calças até os joelhos e nesse minúsculo tempo, Fallon
tirou a calcinha e sutiã. Penetrei-a sem rodeios, a primeira estocada
fez uns gemidos saírem da boca dela, na segunda foi um gemido
meu. A terceira foi um pouco mais forte, fazendo as pernas de
Fallon se contraírem, fechando-as na minha cintura. Com o peso
soltei suas mãos, apoiei os braços no colchão, cada um de cada
lado do rosto dela.
— Por favor, não para! — Fallon implorou.
Como um perfeito cavalheiro não podia deixar aquela pobre
mulher passando por necessidades. Aumentei os movimentos, o
suor escorria pelo meu corpo, deixando-me cansado. No entanto,
continuei, pois gostava de um desafio como aquele. O estresse
estava subindo à medida que o prazer aumentava, sexo sempre foi
um bom remédio para raiva.
— Espere! — Tirei as calças por completo e nós dois subimos um
pouco mais para o alto na cama. — Aqui está bom.
Segurei o membro duro, imóvel, com a cabeça já bem
avermelhada e o coloquei no sexo dela. Em cima do corpo macio,
meus lábios encontraram o bico do peito direito, enquanto meu
quadril se movimentava para frente e para trás, minha língua fazia
outro trabalho, um mais eletrizante.
Fallon segurava meus cabelos, forçando minha cabeça para
baixo, enterrado no seu seio só continuei proporcionando o que um
homem podia. Ela lambia os lábios, morta de tesão. A cama depois
de algum momento começou a balançar bastantes, nossos dois
corpos podiam ser bem turbulentos.
— Vire, te comerei de quatro. — Mandei, com a voz já rouca.
Quase que como por instinto a mulher fez o que mandei. — Isso,
muito bem.

De quatro, bem empinada coloquei meu membro na sua vagina,


de joelhos e me posicionando segurei na cintura de Fallon. As
estocadas começaram lentas no intuito do corpo dela se acostumar
na posição. Na primeira estocada forte seu corpo foi para frente, e
usando minhas mãos puxei-a para trás enterrando-me ainda mais
nela.
Fallon enfiou suas unhas no lençol, quase o rasgando. Continuei
metendo até que minhas pernas começaram a doer, ainda
prosseguindo, tive de aguentar até o final. Os gemidos de nós dois
saiam exaustos, cansados. De tanto meu quadril chocar-se contra
sua bunda, a pele de Fallon estava avermelhada.
— Vou gozar! — No momento que pronunciei tais palavras retirei
o pau completamente, os jatos foram espirrados para as costas de
Fallon.
Caí para o lado da mulher, exausto e finalmente satisfeito.
Capitulo 13
CHARLOTTE

Minha recente briga com Matteo foi o suficiente para me deixar


desanimada com tudo e todos, as horas naquela empresa pareciam
não passar. Só queria um pouco de paz, precisava que ele
retornasse logo, tinha uma reunião com uma figura importante no
mundo dos negócios. Quando a noite chegasse ao fim pediria
desculpas a ele, tentaria convencê-lo que Jeferson era um amigo,
nada mais. Que no final das contas escolheria ele, mais ninguém.
Meu coração palpitava só de pensar numa relação séria com
Matteo.
O sol começava a desaparecer e nada do chefe retornar, estava
começando a ficar preocupada. Onde ele poderia estar? Por sorte
nenhuma reunião foi perdida, pois a última seria daqui a meia hora,
ele já ficou quase uma hora fora. Onde ele estava não era da minha
conta, obviamente, no entanto isso poderia prejudicar minha
reputação, uma secretária que é incapaz de avisar ao próprio de
uma reunião importante era mal vista.
Liguei mais de quatro vezes e sempre caía na caixa postal.
Desci, comi qualquer porcaria de tão nervosa, conversei muito com
Melissa e ainda sim, ele continuava sem aparecer, faltava menos de
vinte minutos agora. Batucando os dedos na mesa, me senti
apreensiva, a culpa seria jogada em cima de mim com certeza.
Fechei os olhos tentando ter pensamentos felizes, imaginei o
sexo que tive com Matteo, os movimentos, as estocadas calmas e
violentas, os toques leves... tinha de ter aquela troca de fluídos
novamente, meu corpo necessitava disso. Pensando melhor optei
por expulsar esses pensamentos, ficar excitada no local de trabalho
poderia não ser uma boa ideia. Coloquei as mãos na mesa e
empurrei a cadeira, girei meu corpo numa volta completa e levantei.
Rodeei a mesa e caminhei pelo corredor vazio.
Algumas pessoas já começavam a ir embora. Daqui a uma hora
meu turno seria encerrado e poderia me mandar daqui. Caso Matteo
chegasse atrasado eu o mandaria para aquele lugar, pois sobraria a
mim o trabalho de mandar o homem com hora marcada embora,
esses engravatados costumam ser bastantes arrogantes, ignorantes
e uns completos idiotas. Já tinha uma figura dessa na minha vida
em forma de chefe, dispenso qualquer outro.
O elevador demorou um século, provavelmente já estava ficando
velho, alguém deveria dar uma olhada nessa porcaria. Entrei e
quase levantei as mãos a Deus por não ter ninguém, me encontrava
tão estressada que seria capaz de agredir alguém. Enquanto aquele
objeto não descia rapidamente, tive tempo o suficiente para checar
meu celular, e então liguei mais uma vez para Matteo.

E finalmente o homem atendeu.


— Queria saber o motivo de me ligar tanto!
É... ele ainda estava bravo.
O problema?
Eu também estava.
— Desculpe incomodá-lo, senhor. Mas você ainda tem reuniões
marcadas, alguns clientes podem não gostar de ficar esperando.

— Diga que já estou indo!


— Onde o senhor está? Assim posso informa-los o motivo da
demora, caso o senhor se atrase, é claro.
Matteo fez um som estranho, como se estivesse pensando em
qualquer desculpa esfarrapada.
— Estou num restaurante em outro bairro, tratando de outros
negócios. — Disse, quase se atrapalhando nas palavras. Aquilo me
fez duvidar do homem, obviamente ele mentiu.
Pensando friamente, Matteo na verdade não queria que EU
soubesse onde ele estava. Logo pensei o pior, um encontro... com
outra mulher. É, com certeza seria isso. Estava num hotel com
outra, e eu achando que tinha pelo menos uma chance...
Esconder a tristeza na minha voz foi impossível.

— Tudo bem, chefe. Direi exatamente isso. Só... tente vir


depressa, o último cliente do dia chegará em poucos minutos.
— Está tudo bem?
Ele percebeu.
— Claro, só estou um pouco cansada.
Bocejei de propósito, tentando que minha farsa soasse real.
Tinha de me fazer de cansada, só que por dentro estava arrasada.
Ele fez isso para me machucar, tenho certeza. E eu não podia fazer
nada, até onde se sabe erámos duas pessoas livres, podíamos
fazer o que quisermos. A vingança poderia ser minha também, no
entanto ele era a criança e não eu, precisava desse emprego.
Infelizmente teria de aguentá-lo por mais um tempo.
O elevador ficou mais devagar, então parou. Lutei com a vontade
de chorar, mas por quê? Tivemos somente um encontro casual,
nada mais. Podemos voltar a ser o que erámos antes, secretária e
dono da empresa, nada mais. Algo dentro de mim dizia que a
possibilidade de o rejeitar era uma mentira, o queria mais do que
tudo, desejava me deitar com ele novamente. Nunca antes um
homem me tratara daquele jeito na cama.

O som das portas se abrindo fizeram com que minha mente


voltasse a realidade, por que diabos estava pensando em sexo
dentro de um elevador? O horário e o ambiente eram igualmente
desapropriados. Ninguém precisava saber que minhas partes deram
indícios de estarem úmidas, o cheiro da excitação impregnando o ar
a minha volta. Ajeitando minha compostura, saí ereta pelo corredor.
Estranhamente os homens começaram a passar por mim e paravam
momentaneamente para me encarar, alguns com alianças nos
dedos, outros deixavam clientes falando sozinhos nos celulares.
Tantas opções, era como se eu tivesse acabado de entrar num
restaurante e estivesse agora olhando o cardápio para escolher o
que comer. Muitas carnes diferentes, escuras, claras, durinhas...
sorri. Mas caso realmente eu fosse dormir com alguém, seria
Jeferson, esse sim merecia um pequeno agrado por ter sido tão
carinhoso comigo.
— Está linda, e também... há algo de diferente em você.
Melissa chegou do meu lado de repente, quase tomei um susto.
Apenas sorri para ela e continuei andando, só percebi que ela me
seguia pelos sons de seus enormes saltos no piso do andar.
— Vai embora mais cedo?
— Bem que eu queria, mas não. Só preciso de um copo de água.
— Poderia ter pegado do filtro no seu andar.
Revirei os olhos, a mulher era pior do que os homens quando
queria puxar assunto com uma possível presa.
— Também irei mordiscar algo. Enganar o estômago enquanto
Matteo não chega para a última reunião do dia. — Falei, desejando
que ela fosse embora.
Mas o destino às vezes gostava de me pregar peças.
— Se quiser, depois daqui poderíamos sair para um restaurante
aqui perto. — Melissa tentou.
— É para lá onde leva todas as suas garotas?
— Nenhuma delas reclamou até hoje.
Tive que sorrir, aquela cantada foi engraçada. Ela também riu,
em seguida saiu. Acho que uma grande amizade poderia nascer ali,
caso a mulher realmente estivesse disposta. Perto de dobrar no
corredor que levaria em direção a cantina, parei ao ver as portas se
abrindo. Enfim o homem de negócios chegara, o cliente de Matteo,
e o mesmo ainda não chegou. Como sempre, sobrou para a
secretária.
Aproximei-me dele de forma um pouco astuta, com leves
rebolados, a aliança no dedo dele não o impediu de olhar minhas
curvas. Já garanti uns bons segundos ali, depois ele olhou meus
olhos, abrindo um sorriso ganhei mais uns segundos.
— Olá, creio que o senhor tenha vindo ver Matteo? — Indaguei,
erguendo a mão.

— Olá, sim. Muito prazer. — Ele apertou minha mão


carinhosamente. — Matteo nem precisa ter lábia o bastante para
convencer a mim a assinar um acordo grande, só de tê-la como
secretária já era meio caminho andado.
Quase dois minutos ganhos, Matteo já devia ter chegado. Aquele
desgraçado...
— Muito obrigada!
Nesse momento o alívio tomou conta das minhas expressões
faciais, Matteo finalmente havia chegado. Seu terno parecia que não
foi tirado em momento algum do corpo, aquilo tinha sido para
despistar minhas suspeitas, com certeza ele não queria que eu
soubesse, talvez porque ainda acredita que nós dois temos uma
chance de ficarmos realmente juntos.
— O senhor e Matteo podem conversar agora! — Falei.
Matteo rapidamente sorriu e levantou o braço, estendendo sua
mão no momento que o homem virou para trás, este apertou forte a
mão do meu chefe. Os dois pareciam bastante envolvidos em
assuntos que minha mente não era capaz de entender, mesmo que
fosse bastante inteligente aquela passava longe da minha área.
Quando o futuro negociante passou por mim, virei-me na sua
direção para segui-lo, Matteo entretanto, agarrou minha mão
depressa.
— Preciso muito falar com você. — Ele implorou.
Quase soltei uma risada, amarga e de tristeza.
— Não precisa, não me deve nada, pois não estamos juntos,
estou certa? — Perguntei.
— Infelizmente está, no entanto só você pode mudar essa
decisão. — Matteo afrouxou o aperto no meu braço. — Eu gostaria
que você mudasse a decisão.
— Por qual motivo? Arranja mulher bem rápido para quem está
apaixonado por mim.
Foi nítido a força de vontade de Matteo para não rebater meus
argumentos ou uma nova briga seria iniciada, ele optou por deixar
as coisas assim mesmo: eu jogando na cara dele e este só
aceitando. Sei que ficar incomodada por ele ter estado com outra
era muita hipocrisia, a decisão de não ficarmos juntos foi minha,
mas talvez seja hora de deixar o orgulho de lado... gostava do
homem, merecíamos uma chance.
— Quando terminar a reunião, o estarei esperando na minha
mesa. — Puxei meu braço delicadamente, depois saí da maneira
mais fria no momento. — Tenha uma boa reunião, senhor!
Estendi meu braço na direção do corredor que levava ao
elevador, Matteo ajeitou seu terno e então caminhou na frente,
comigo logo atrás. Entramos dentro do elevador ao lado do homem
de terno, tentei manter minha respiração calma, demonstrar tensão
ao lado do meu chefe podia ser bem ruim. Ainda permaneço
confusa e irritada, tanto que me encostei na parede para me manter
um pouco longe de Matteo e seu cliente.
Estranhamente Matteo também se afastou alguns passos,
ficando próximo de mim. Dois passos para o lado e estava colado
no meu ombro esquerdo. Mexendo a cabeça lentamente, cuidando
para que o outro não visse, ele sussurra:
— Deixe-me ajudá-la na sua decisão de ficar ou não comigo. —
Ele sorriu malicioso.
Neste momento me tremi das cabeças aos pés, derretida com
aquele sorriso deslumbrante, logo faltaram-me palavras para afastá-
lo.
— Gostaria de te beijar, agora. — Ele fingiu tossir quando o
homem olhou para trás. — Mas infelizmente não aqui.
Nossa sorte esse barulho horrível do elevador que ninguém
nunca consertou.
“Ele me quer” Pensei. E tive um pressentimento de que ele
tentaria algo bem ali mesmo, no espaço minúsculo, a qualquer
momento aquele homem sério podia se virar. Matteo não seria
macho a esse ponto...
Ele se ajoelhou e eu arregalei os olhos, não vi o que ele estava
fazendo pois tive de olhar para frente no momento que o outro
homem olhou para trás. Nem o cenho ele franziu, significado que
não suspeitara de nada. Baixando meu olhar, Matteo fingia estar
ajeitando os cadarços de seu sapato social. Voltei a olhar para
frente no mesmo instante, arriscar ser pega não era do meu feitio.
E mais uma vez arregalei os olhos ao sentir dedos nas minhas
pernas, maldita hora que pensei ser uma boa ideia vir de vestido ao
emprego. Logo sua mão alisava minhas pernas enquanto subia
ainda mais, meu corpo tremeu um pouco junto dos pelos que
ficaram arrepiados. Os dedos finalmente começaram a se mexer
loucamente no momento que invadiram a saia do vestido. Engoli em
seco involuntariamente, senti minha calcinha sendo puxada e depois
ficando frouxa enquanto se movimentava pelo meu corpo. No final
rapidamente levantei um pé, depois o outro e ele conseguiu o que
queria, tirar minha peça íntima.
Mas o desgraçado não levantou, Matteo queria mais um pouco.
Dessa vez seus dedos voltaram, mais rápido. Indo ao ponto
principal, buscar o que queria. Ele deixou um formigamento sensual
no momento que o primeiro dedo entrou em mim. O som da minha
respiração nervosa tornou-se audível, tive de ter muitas forças para
conter um gemido. Mexendo o dedo dentro de mim enquanto se
levantava, o segundo foi introduzido, deixando minhas pernas
bambas. Tive de apoiar discretamente uma mão na parede para
continuar em pé.
As malditas portas do elevador concidentemente estavam
demorando para abrir, isso só podia ser obra de Matteo. Não sei
como ele fez, mas... meu Deus! Com três dedos dentro de mim tive
de abrir a boca, um gemido deveria sair, contudo consegui me
controlar. O prazer aumentava, minhas partes ficavam cada vez
mais úmida. Minha respiração ficou mais acelerada e quando
finalmente gozei o som das portas se abrindo impediu que qualquer
som saísse de mim.
O homem saiu e Matteo o seguiu, saí mais tarde, um pouco
desajeitada ao andar. E ainda bem que o corredor estava vazio ou
meu chefe teria de explicar o motivo por estar com a mão melada e
segurando minha calcinha. Os dois homens entraram, a porta foi
fechada, de modo que teria de esperar a reunião acabar para ter um
tempo sozinha com Matteo.

Fechei os olhos por cinco segundos mais ou menos, me deixei


pelo tesão, pois a criatividade dele foi zero, nós dois sabemos que
ele tirou aquela tática de me masturbar no elevador de um filme
erótico. Não imaginei que algum dia da minha vida faria algo tão
insano, tão proibido e depravado dentro de um lugar tão pequeno a
ponto de ser flagrada.
Soube que a partir daquele momento seria impossível me
concentrar em qualquer atividade no meu computador, e mesmo
que conseguisse, quase tudo estava feito, só precisarei ajeitar
alguns detalhes amanhã, nada de muito complicado.
Misteriosamente continuava excitava, querendo aqueles dedos
dentro de mim novamente. Só que dessa vez com mais liberdade.
Os minutos que se passaram pareciam horas, aqueles dois homens
só podiam estar falando devagar para demorarem tanto. O meu
celular vibrou dentro da bolsa, indicando que meu turno terminara,
obviamente fiquei mais um pouco no local, pesquisando por
qualquer porcaria que passasse pela minha mente. Só queria ver
Matteo uma última vez naquele dia cheio de surpresas.
Meu corpo estava esquentando demais, nem o ar frio e intenso
me ajudava a ficar calma, até por quê, eu não queria calma, queria
ação, mas o desgraçado estava demorando demais naquela sala.
Devo admitir, aquele ato inesperado me fez repensar muito a minha
opinião sobre não ter uma relação seria com ele, pois agora, queria
muito.
— Cadê você... — Sussurrei.

Queria me masturbar sozinha ali mesmo de tão excitada, essa


devia ser uma das estratégias dele. Deixar meu corpo coberto em
chamas só para ele vir até mim novamente e apaga-las com sua
mangueira enorme, e coloca enorme nisso. Revirei os olhos com
tais pensamentos.
Ouvindo os sussurros ficarem mais altos a porta abriu, Matteo
abria espaço para o homem passar.
— Obrigado por tudo, e garanto que não irá se decepcionar em
ter assinado esse acordo. — Matteo apertou a mão do homem
usando a sua mão limpa, obviamente.
Seria loucura ter usado a outra, o homem perceberia e isso
acarretaria em perguntas e logo em seguida de grandes
consequências. O engravato sorriu simpaticamente, quando deu as
costas pude ver seu sorriso desaparecendo rapidamente. Fiquei um
pouco surpresa, como sou ligeira pensei que ele devia ter sido
obrigado a aceitar o acordo. Matteo tinha seus meios de persuasão,
uma habilidade bastante eficácia contra mim.
Quando o cliente sumiu pelo elevador, finalmente o encarei.
— Agora que estamos a sós, podemos conversar sobre nós. —
Levantei, respirando fundo. — Dessa vez não sairá daqui, entre logo
nessa sala!
— É para já!

Fiz questão de trancar a porta quando nós dois passamos por


ela. Precisava dele, naquela sala ou no quarto dele, não importava.
Só queria vê-lo sem roupa, depressa.
— Precisa terminar o que começou! — Falei, já abrindo seu terno
devagar.
Matteo segurou minhas duas mãos delicadamente.
— Está maluca? Adoraria fazer qualquer safadeza que quisesse
aqui, o problema é que não passará disso: um momento. — Matteo
ajeitou sua roupa desarrumada. — Quero mais, um compromisso.
— Pensou nisso quando comeu a mulher, quem quer que ela
fosse?
Matteo engoliu em seco, sua expressão ficou triste por rápidos
segundos, em seguida sua mão veio a meu queixo.
— Me quer? Venha comigo para a minha casa, mas antes acho
que precisa falar qual foi sua decisão. Quer tentar uma relação séria
ou não?
Podia dar a resposta, no entanto pensei que seria fácil demais
para ele, ser submisso a mim o devia estar o enlouquecendo, talvez
pudesse brincar um pouco mais com essa situação. Enrolei meus
dedos na gravata e aproximei meus lábios do seu ouvido.
— Saber que esteve com outra, mesmo nossa relação sendo
somente casual, fez com que você ficasse em desvantagem. Mas,
talvez, possa me recompensar. Na sua casa, naquele quarto
proibido, o que acha?
— Desse modo as chances serão nulas, todas as mulheres me
rejeitaram depois. — Sua voz saiu embargada, preocupadíssimo
comigo.
— Já devia ter percebido que não sou como as outras. —
Soltando a gravata, virei de costas. — Posso aguentar o que tiver de
me mostrar, sei que posso, você devia saber disso.
— Sinto muito, talvez uma pequena experiência, uma visita
rápida não lhe deve fazer mal. Que acha? — Matteo parecia um
garotinho de dez anos que não queria perder um amiguinho quando
me fez a pergunta.
— Está bem. Aceito. Depois do que acontecer lá saberá qual é
minha resposta.
...
E mais uma vez estava eu naquela limousine linda, magnífica
tanto por fora como dentro. Estranhamente Matteo parecia normal,
nenhuma mão nas minhas pernas ou olhares famintos, parecia
nervoso em me mostrar seus muitos brinquedinhos. Para mim seria
ótimo, uma mulher como eu deveria ser sempre surpreendida no
bom sentido. Saímos do veículo no momento que ele foi
estacionado, meu vestido balançando por causa do vento me deixou
aflita, estar sem calcinha tornou-se um problema. Minha sorte foi a
rua estar vazia, deserta praticamente, a não ser um casal que
consegui avistar trocando beijos no final da rua.
— Vamos entrar antes que mais alguém, além de mim, veja suas
partes íntimas. — Falou Matteo, o braço nas minhas costas,
empurrando-me levemente na direção da mansão.
— E a culpa seria toda sua. Quero saber onde está minha
calcinha!
— No meu bolso, talvez receba depois que acabarmos.

— Talvez?
— Seja uma garota comportada e terá sua peça de volta. Ou
poderei ficar para mim, como um troféu. — Matteo sorriu.
— Ou talvez você tenha desejos de usar uma.
Matteo desfez o sorriso.

— Se eu fosse o seu submisso você poderia me forçar a usar


uma, no entanto, meu amor, o chefe sou eu. — A expressão séria
permaneceu. — Naquele quarto você será um mero instrumento
para me satisfazer, o seu prazer só dependerá de mim.
As palavras deixaram-me um pouco assustada. Continuei
seguindo em frente, pois meio que já vi em alguns vídeos pornôs
essas relações de dominadores e submissos. Sei que BDSM não
era como nesses vídeos eróticos, por isso abri minha mente, pode
ser divertido adentrar nesse mundo de dor e prazer.
— Entre, primeiro tomaremos algo. Nem pense em negar, um
pouco de álcool fará você se abrir. — Matteo tirou o terno, jogando-o
em cima do sofá.
O acompanhei até a cozinha espaçosa, vendo-o abrindo uma
garrafa de whisky caro. Ele não brincava quando se tratava de
bebida, apostava que servia as mais caras somente paras as mais
bonitas sob seu olhar penetrante. Derramando o líquido na taça, a
espuma levou um pequeno tempo para sumir, depois Matteo
estendeu o braço e graciosamente aceitei a taça. Percebi sua mão
tremendo um pouco, a euforia de presenciar uma rejeição grande da
minha parte o afetava até nos gestos mais simples.
— Não será um bom dominador se ficar tão nervoso assim. —
Comentei, bebendo um pouco enquanto olhava sua reação.
Obviamente foi inútil esconder sua vergonha de mim, usaria esse
poder mais vezes, Matteo ficava fofo quando estava envergonhado.
Suas bochechas rosadas charmosas deixavam-me ouriçada, suas
mãos enfiadas no bolso como quem não soubesse o que fazer a
seguir pareciam me chamar a tirar a roupa bem ali na sua frente.
Homens que me excitavam eram os tímidos sem sombras de
dúvidas.
— Fique despreocupada, assim que cruzarmos as portas
daquele quarto não me reconhecerá mais. Pois descobrirá meu
último lado, o de querer dominar. — Matteo de repente recuperou
sua confiança, tal atitude conseguiu ser surpreendente. — Beberei
junto com você, acabaremos a garrafa mais rápido e mais rápido
poderemos subir, o que acha?
— Acho perfeito.
E eu achando que ficaria nervosa, estou começando a pensar
que aquela bebida não era para me dar coragem, mas Matteo
recuperar a sua.
Capitulo 14
CHARLOTTE

Ele me guiava ao corredor de cima, segurando em sua mão pude


perceber que ainda se sentia nervoso, pois achava que eu iria
desistir a qualquer momento durante o ato. O mostraria que ficaria
até o final, não importando os objetos usados no horário
inapropriado, mas recomendaria algo leve, já que se tratava de
minha primeira vez usando “brinquedos”. A cada passo, a cada
degrau, um pensamento diferente. Imaginar qual método Matteo
usaria me fazia ficar apavorada, admito. Mesmo assim continuaria
firme na decisão de experimentar e expandir novos horizontes.
A garrafa quase vazia estava na sua outra mão, depois do último
gole ele colocou o objeto na parede perto do quarto normal. Quando
ele soltou minha mão, pegou as chaves dentro dos bolsos da calça,
procurando a chave bem devagar ele me fitou.
— Está livre para escolher o que quiser. — O sorriso malicioso
indicou o retorno de sua personalidade arrogante.
Isso foi maravilhoso.
— Com sua ajuda é claro.
— Claro.
Quando entrei meus olhos se arregalaram, obviamente já tinha
visto aquele lugar uma vez, mas agora podia tocar, observar
atentamente e vasculhar. Havia tantos objetos... escolher somente
um parecia ser algo difícil.
O quarto não era grande, mas suficientemente espaçoso para
guardar todas aquelas armas de prazer. Meu Deus, havia elementos
que nunca vira na vida, não sabia nem imaginar o nome daquelas
coisas. O quarto era uma mistura de cinza nos enfeites e marrom
nos pisos e paredes, muitas mulheres deviam ter desistido já
naquele ponto, qualquer pessoa ficaria receosa de prosseguir. Não
eu, o misto de curiosidade e medo me fizeram permanecer no lugar.
— Escolherei algo pequeno, que me faça sentir menos dor, eu
acho.
Matteo soltou uma rápida risada.
— O que foi?
— Os pequenos são os que mais causam dor.
Realmente me surpreendi, qualquer coisa pequena estava fora
de questão.
— Na verdade, todos causam dor se na hora do sexo você não
estiver confortável. Posso lhe proporcionar prazer com qualquer um
desses objetos.
Interessante, qualquer um daqueles objetos me dariam prazer se
manuseados pelas mãos certas. Fiquei um pouco chocada com uma
cruz enorme de madeira onde havia amarras para prender mãos e
pernas.
— Isso é para puni-la. Caso me desobedeça, colocaria uma
venda para sua visão torna-se inútil. — Matteo cheirou meu
pescoço. — Se gostar, poderá ser minha submissa.
— Ou você pode ser meu submisso.
Matteo franziu o cenho, desatando a rir alto logo em seguida,
parou quando percebeu a seriedade no meu olhar.
— Fala sério? Isso nunca acontecerá.
— Sabe, nunca é muito tempo. Digamos que realmente
tenhamos algo sério, chegarmos até o ponto de casarmos no futuro,
acha mesmo que vai resistir as minhas investidas de me obedecer
durante toda uma vida? — Sorri de maneira gananciosa, o que fez
Matteo engolir em seco.
— Tenho certeza de que...
— Não conseguirei? Acredite, uma hora você vai ceder. Mas
vamos se concentrar em mim primeiro. — Voltei a observar aqueles
muitos objetos peculiares.
Passei os dedos num objeto que tinha várias bolas presas numa
corda pequena. Fiquei com medo em saber onde Matteo enfiaria
aquilo, passei para um chicote todo preto, aquilo deixaria marcas
permanentes nas minhas costas. Depois achei o mais simples e
menos perigoso, a escolha perfeita para uma iniciante. Peguei
minha opção e mostrei a Matteo.
— Algemas e uma venda? Ótima escolha para uma primeira vez.
Uma pena que não escolheu as bolinhas tailandesas. — Sua falsa
expressão triste confirmou que acertei em passar daquelas bolinhas
estranhas.
Matteo parecia menos nervoso e mais confiante, isso fez com
que me sentisse bem também. Já estávamos um pouco bêbados, o
álcool ajudando a nos soltar ainda mais um para o outro. A
intimidade ali seria tamanha e inesquecível.
De volta ao corredor, Matteo abriu a porta do quarto onde
fizemos sexo pela primeira vez. Um sexo inesquecível para mim,
mas um ato casual para ele, aposto. Talvez conseguisse fazer dessa
vez, uma memória recorrente na sua mente toda vez que pensasse
em safadeza.
Ele entrou e eu logo atrás, fechando a porta usando um dos
meus pés, logo envolvi seu pescoço com meus braços, beijando-o
ferozmente. A troca de salivas deixou-me tão excitada que de
alguma forma consegui tirar meus saltos altos sem usar as mãos,
movi o pé direito até a parte de trás do esquerdo de modo
desajeitado, tirando o calçado fiz o mesmo com o outro pé depois.
Com os pés expostos no chão gelado, o zíper do meu vestido era
aberto pelas mãos de Matteo, ainda continuávamos a nos beijar e
apressei-me a tirar o sutiã no nosso pequeno intervalo para puxar ar
aos pulmões. Antes de puxar aquele homem novamente, tirei o seu
terno bem devagar, usando de expressões faciais vulgares e que
obviamente fizeram seu amiguinho nas calças ficar atento.
Matteo me rodeou lentamente, observando-me faminto. Com um
dedo entre os meios seios, bem no meio, ele empurrava meu corpo
em direção a cama. Quando minhas pernas bateram na madeira,
me curvei contra minha vontade ao colchão macio. Deitada na cama
mordi o lábio inferior vendo-o subir em cima de mim. Com uma mão
em cada lado da cama, totalmente sobre mim, seu peitoral quase
encostando em mim, senti sua respiração quente bater no meu
rosto, deixando minhas pernas trêmulas e minhas partes muito mais
molhadas.
Agarrei os lençóis finos até meus dedos doerem, fechei os olhos
e gemi quando a língua dele encontrou meu pescoço. Enquanto sua
língua trabalhava, sua mão removia meu sutiã.
— Chegou a hora, colocarei a venda primeiro. — Matteo
mostrou-me o pano. — A qualquer hora, no segundo que quiser
parar é só falar.
Balancei a cabeça, somente. Por um momento fiquei um pouco
temerosa, no entanto confiei no que estava fazendo, cheguei até ali,
iria até o final. A venda foi posta nos meus olhos, sentindo um
aperto em seguida, enxergaria tudo preto daquele ponto em diante.
Sentindo pequenos toques nos meus seios, meu corpo se contorceu
involuntariamente.
— Suba um pouco mais na cama. Isso. Está bom aí. Agora
finalmente colocarei as algemas. — Senti calafrios, engoli em seco
no som da sua voz. Sem ver a sua boca mexendo, as palavras
pareciam vir num tom perigoso.
O peso em cima do meu corpo desapareceu, minhas mãos foram
juntadas e erguidas até a cabeceira da cama, senti o ferro nos meus
pulsos ficando apertados. Fiquei nervosa, mas não a ponto de
desistir. Só nunca fiquei tão submissa a um homem desse jeito,
parecia errado... parecia muito errado a sensação de prazer que
estava sentindo agora.
Engolindo em seco várias vezes, tive receios, obviamente. Só
tinha de seguir o jogo, mudar as regras do jogo agora poderia pôr
tudo a perder. Só fiquei imóvel, esperando qualquer toque, e esse
era um dos segredos daquele ato de ficar cega. Não saber o
momento exato em que será tocada e em qual parte do corpo. A
surpresa, o medo, a felicidade, misturadas nos prazeres sombrios
das nossas mentes me deixavam curiosa pelo que vinha a seguir.
Hora de me surpreender, seu filho da mãe gostoso.
— Agora é só ficar calma, fique calma para mim, está bem?
Fiquei nervosa, isso sim. Não sabia de qual direção a voz dele
vinha, sabia que estava por perto, ao meu redor. Como um
predador, esperando minha guarda baixar para enfim, ele atacar.
— Já está suando? Eu ainda nem comecei.
O sussurro seguido de uma risada foi assustador,
misteriosamente deixando-me quente, louca por mais. Estava tão
animada e ao mesmo tempo assustada que me faltavam palavras,
só conseguia gemer de vez em quando, pois, conseguia sentir o
hálito dele, no meu peito, rosto, vagina...ele continuava se
movimentando.
Tentando me encurralar com meus próprios pensamentos,
tentando desvendar se conseguia me passar o medo ou o tão
esperado prazer. Prazer vindo do medo, atravessando a escuridão
da minha visão e possuindo meu corpo rapidamente, como uma
praga.
— Ainda consegue permanecer calma, impressionante.
Gemi de repente, senti os lábios dele roçando nas minhas partes
íntimas, a cabeça devia estar entre minhas pernas. Saber sua
posição exata me trouxe alivio, pude ficar concentrada somente no
meu prazer. Movi uma das minhas pernas, colocando-a em cima
das costas dele, facilitando a entrada de sua língua. Queria segurar
sua cabeça, seus cabelos...tentei mover as mãos, lembrei então que
estava presa, interceptada de tocá-lo.
— Isso é muito cruel. — Gemi. — M-m-muito... mau.
— E pretendo deixar pior. — Falou ele, tirando a língua, e logo
enfiando-a de volta.
Os movimentos estavam deixando-me louca, agoniada por não
conseguir fazer nada. Estar tão submissa para aquele homem
estava sendo melhor do que eu imaginava. O suor, principalmente
na minha testa, escorregando através da pele e salpicando nos
meus lábios fazia tudo ficar mais intenso. A vontade de fazer muitas
perguntas subia a cada instante, ainda sim, continuei quieta,
emitindo só gemidos curtos.
— Gosta disso, não é? — Matteo riu.
Nada falei, qualquer palavra poderia estragar o clima, não podia
me arriscar. Abri a boca rapidamente ao sentir um de seus dedos
penetrando-me. Minhas pernas tremiam, nem conseguia mais
manter uma em cima dele. Estava impossível de aguentar, então o
segundo dedo veio, logo em seguida o terceiro.
Matteo se encontrava muito impaciente, infelizmente não podia
confirmar, já que minha visão estava neutra. Mas as estocadas um
pouco aceleradas dos seus três dedos indicavam que queria acabar
as preliminares de uma vez. Reclamar seria burrice, também me
encontrava sedenta por mais, ele podia proporcionar muito mais.
Estava tão difícil resistir... cada vez mais fechava as pernas,
quase desistindo, como receber tanto prazer podia ser tão sofrível?
— Sei que está me desafiando, acha que não consigo fazer você
falar?
Não, não irá conseguir. Nenhuma palavra sairá de minha boca
durante o ato.
— Vai ser divertido fazer você ceder. Logo irá se arrepender.
Jamais, ele quer que eu diga que estou gostando. Sorri, um
dominador que não estava tendo o que quer, descobrir sua próxima
jogada seria divertido. Os dedos foram removidos e pude relaxar um
pouco, descansar meu corpo uns segundos. Sorri de arregalar os
dentes no momento que meus ouvidos captaram o som do zíper da
calça dele sendo aberto.
— Não devia ficar muito feliz, diga que está gostando de estar
presa! — Ele me ordenou.
Eu nada falei.
— Vamos, diga. Ou prefere ser punida?
Continuei calada.
— Será a punição então.
Arregalei os olhos debaixo daquela venda, algo macio era
esfregado nas minhas partes. A glande do seu pênis, apostava
nisso. Aquele bastardo sabia fazer uma tortura, ficou um minuto
inteiro naqueles movimentos, de esfregar para cima e para baixo, de
repente, parou.
— Diga!
Não!
— Fale que está gostando, agora!
Nunca!
— Ótimo, tenho o resto da noite para fazer você falar.
Os movimentos voltaram, comecei a me sentir fraca, o prazer
estava tão forte que minha vagina queria mais, mas Matteo não faria
essa bondade. Precisava dizer as palavras de sua vontade, aceitar
ser uma submissa completa, fazer sem questionar o que ele quiser.
Usar o tesão como arma para mudar minha resposta estava
funcionando.
Quase deixei um pouco de saliva escapar da minha boca, ser
destruída pelos seus próprios prazeres estava sendo difícil de
aceitar. Matteo só continuaria se ouvir as palavras que quer saindo
de meus lábios. A cada esfregada podia sentir minha temperatura
caindo, só queria que ele continuasse, partisse para o próximo
passo, a penetração.
— Sabe que a hora é agora, não continue se torturando ainda
mais. — Matteo dizia baixinho.
Mordi meus lábios, tentando resistir à tentação. Meu corpo
necessitava do dele sobre o meu, precisava dizer o que ele queria.
Um jogo que estava impossível de ganhar, o tesão parecia uma faca
sendo cravada no meu peito, lenta e dolorosamente.
Abri minha boca, ele parou os movimentos, aposto que para ver
o momento exato da minha desistência.
— Estou gostando... agora... por favor... FODA LOGO!
Ouvi outra risada, dessa vez mais gutural.
— Não é você quem dita as regras, sou eu. — Falou Matteo.
De repente franzi o cenho, ele começou a tocar a área ao redor
das minhas partes com os dedos. Coxas, virilha, os movimentos
fizeram minha curiosidade crescer. Por isso baixei a guarda, neste
momento, gemi alto demais. Ele me penetrou rápido, o golpe
surpresa que me fizera ficar arreganhada.
— É assim que faço as coisas, agora fique parada. Quero me
satisfazer aqui! — Ordenou Matteo.
Mesmo que fosse de minha vontade, do jeito que me encontrava
desajeitada na cama, seria impossível de mexer qualquer parte do
meu corpo. Totalmente submissa, deixando-o fazer o que quisesse
comigo, do jeito que ele queria. Sentindo suas mãos robustas
agarrando minhas coxas e puxando para suas pernas, para
posicionar sua cintura melhor, as estocadas começaram famintas,
fortes, mas com movimentos devagar.
A palma da mão no meio do meu peito, os dedos entre os dois
seios. Mesmo com as mãos amarradas consegui me esticar para
conseguir subir um pouco em cima de suas pernas. Tão bom...
muito gostoso. Os gemidos dele e os meus entraram numa sintonia
quase musical, incrível, excitante, magnífico.
Ele pôs a mão na minha cintura, empurrando-a para cima, o
suficiente para conseguir lamber um pouco de minha barriga. Queria
soltar minhas mãos daquelas malditas algemas, mas esse era o
intuito, não era? Ficar tão agoniada de prazer que teria de implorar
para ser libertada. Soltando-me de suas garras, pude respirar
aliviada ao colocar o peso do meu corpo de volta no colchão.
Nunca pensei que sexo pudesse ser um exercício tão cansativo,
mesmo assim, queria continuar, atingir o meu limite tornou-se minha
meta naquela noite. Meu corpo subia poucos centímetros e depois
descia, senti-lo dentro de mim nunca era demais. Sem minha visão,
só podia contar com os toques e investida que meu corpo recebia.
As estocadas foram ficando mais fortes, uma metida, depois Matteo
parava por mais ou menos três segundos, em seguida outra
investida forte.
— Hora de mudarmos um pouco a posição. Fique de quatro,
depressa! — A voz ofegante dele deixou-me ouriçada, rapidamente
fiz o que me foi ordenado. — Desse jeitinho mesmo!
Lentamente senti seu pênis me invadindo novamente, do jeitinho
que eu gostava, não esperava por menos daquele homem. Gemi à
medida que estava sendo penetrada, o tom do gemido baixo no
começo e no fim altíssimo. Suas mãos fortes agarraram na minha
cintura, puxando-me para trás, pela força do impacto meu corpo
voltava e ele puxava novamente.
Como sempre acontecia numa posição diferente, os movimentos
começaram lentos, a batida de pele contra pele causava um som de
atrito, algo alto, estranhamente excitante. O amor, a paixão, nossas
respirações em conjunto estavam perfeitas. Amarrada, vendada e
submissa estava sendo tão prazeroso que minha mente
automaticamente reavaliava tudo por qual acreditava na hora íntima.
Matteo tinha seus gostos secretos, e eu, tinha os meus?
Perguntei-me sem parar, algo que me desse prazer, mas que nunca
pediria a nenhum amante para pôr em prática. Era difícil pensar
quando se estava sendo estocada sem parar, tendo o corpo se
movimentando sem descanso.
— Empina mais!
Fiz o que ele me mandou sem conseguir pensar numa
justificativa para recusar. No fim das contas eu não deveria recusar
nenhuma ordem. As estocadas se mantinham regulares, não me
causando desconforto ou dor. Meus joelhos começavam a doer por
estar há tempos naquela posição, uns dez minutos devem ter
passado, e ele não aumentou a velocidade dos seus movimentos.
Queria me torturar por mais tempo, seu intuito era me ouvir pedir por
clemência, aposto.
Poderia pedir um pouco mais de rapidez, sabia que recusaria
pelo simples fato de ele ser quem dava as ordens. Naquela noite só
faria o que me fosse ordenado, numa outra oportunidade eu o
pegaria desprevenido com certeza.
Senti o peito dele nas minhas costas, logo meu cabelo foi
enrolado nos seus dedos e puxados para trás, fazendo minha
cabeça ser erguida a força. Senti sua língua na minha orelha direita,
em seguida vieram as palavras que me fizeram tremer.
— Gema para mim! Mais e cada vez mais. — Sussurrou.
Minha boca abriu-se como se fosse chupá-lo de novo, gemidos
dengosos saíram do jeito que ele pediu, cada vez mais alto. Minhas
partes começavam a arder, um pouco, dando ao prazer uma
pequena apimentada. Meu corpo retrocedeu várias e várias vezes, o
desgraçado estava demorando para gozar.
Como ele fazia isso? Não fazia a menor ideia, ele conseguia
controlar, pois já estávamos há tanto tempo na cama que podia jurar
que já completaria uma hora inteira. Agarrei os lençóis com os
dedos, meu corpo parecia querer explodir. Ouvir sua risada em meio
ao meu desespero me fez corar, ainda sim gemendo muito.
— Vire, deite-se e abra bem as pernas.
Senti-lo tirar seu pau sem ter terminado me deixou com raiva, por
isso troquei de posição, deitei-me na cama normalmente, tendo os
braços erguidos devido as algemas. Pude sentir sua respiração na
minha boca, logo senti seu corpo sobre o meu e então fui penetrada
mais uma vez, dessa vez sem calma. Imaginei que Matteo também
já não aguentava muito tempo, precisava gozar.
Ergui um pouco mais as minhas pernas, facilitando a penetração,
minhas pernas se mexiam à medida das suas investidas. Ele
chupava meu pescoço enquanto movimentava rapidamente seu
quadril, percebi isso pela velocidade das estocadas.
— Minha. Somente minha. — Foram as palavras que saíram da
sua boca entre uma respiração ofegante e outra.
A conexão entre nossos corpos era incrível, nunca antes na
minha vida senti essa imensa energia emanando de outra pessoa.
Os movimentos aumentaram mais do que o normal, soube naquele
momento que o nosso sexo estava perto do fim. Os gemidos de
Matteo tornaram-se mais grossos, fortes. Seus braços rodearam
meu corpo, puxando-me um pouco para baixo, fazendo meus
braços doerem um tantinho pela posição que me encontrava agora.
Sentindo o jato quente jorrando dentro de mim, quase que no
mesmo momento, eu também tinha gozado.
Nossas respirações tornaram-se ainda mais aceleradas, quase
impossível de mexermos qualquer parte do corpo. Suados,
acabados, Matteo saiu de cima de mim, provavelmente virando para
o lado. Pude sentir seu esperma escorrendo pela parte de fora da
minha vagina. De tanta força sobre meus braços, estavam doloridos,
e daí tive a certeza de ter marcas no meu pulso.
Quase agradeci a Deus por ter acabado, e ao mesmo tempo
queria de novo. Minha mente estava tão confusa que não duvidaria
de um colapso momentâneo.
— E então? Conseguiu chegar numa decisão? — Indagou
Matteo.
Minha respiração continuava a queimar minha garganta, ficando
seca.
— Pode apostar. Digo sim a você, Matteo. A partir de hoje
estamos namorando. — Eu disse, convicta que essa era a atitude
certa. — Agora tire as algemas, por favor. Preciso beber um pouco
de água.
— É claro.
Senti um peso enorme saindo da cama, pois o colchão ficou
menos fundo, sustentando somente meu peso. Dentro de minutos
escutei um barulho no alto e finalmente meus pulsos estavam livres.
Massageei um pulso de cada vez com meus dedos, uma pequena
massagem, não estavam tão doloridos, mas havia um certo
incômodo.
— O que achou da sua primeira experiência como uma
submissa? — Ele perguntou.
— Achei interessante. Faz isso há muito tempo?
— Não, comparado a outros dominadores, sou novo. Por isso
não estranhe se eu nunca tiver usado o material mais pesado
daquela sala. — Matteo riu, cansado, mas riu.
Seria bom e vantajoso a nossa relação se começarmos a usar
juntos brinquedos que ele nunca pensou em usar. Compartilhar
novos horizontes fortaleceria nosso elo, faria a confiança crescer,
satisfaremos nossos gostos, impedindo a chance de traição. Uma
das poucas relações que podia me imaginar crescendo ao lado de
outra pessoa.
— Posso te dar uma ordem? — Perguntei, segurando uma
risada.
— O que quer?
— Um copo de água bem gelada.
Matteo revirou os olhos, forçando os braços no colchão e
movimentando o corpo depressa, conseguiu sair da cama num pulo.
Tive uma bela visão de seu bumbum ao vê-lo saindo pela porta e
entrando no corredor. Ganhei um pequeno tempo para pensar mais
um pouco sobre o que acabara de acontecer.
Olhando ao redor consegui perceber alguns detalhes
interessantes no quarto de Matteo. Levantando-me nua, caminhei
até o que parecia ser uma pequena estante onde livros eram
guardados, além de alguns pequenos enfeites. Uma prateleira
inteira estava reservada para alguns livros antigos, nas prateleiras
finais minhas expressões foram mais leves, querendo soltar altas
gargalhadas. Livros de romance erótico? Estava chocada. A maioria
devia envolver BDSM e masoquismo.
Não sabia como ele podia ter tempo para ler muitos livros, o cara
é realmente incrível. Do lado da estante tinha uma pequena
escrivaninha, com uma pequena luminária fornecendo luz aos
papéis em cima da mesa. Mesmo não devendo olhar, a curiosidade
falou mais alto e peguei o primeiro de muitos papéis.
Não entendia muito bem desses acordos milionários, mas
falavam sobre algo relacionados a roubo e dinheiro. Franzi o cenho
ao passar rapidamente olhar e perceber o nome de Jeferson
Ozimandias. Engoli em seco, tendo um pressentimento ruim. No
final falava sobre Matteo não ser envolvido em nada se fossem
descobertos por policiais. Logo embaixo estava a assinatura de
Matteo Marrone Bertolucci.
— Aqui está a água!
Rapidamente movi meu corpo na direção da estante, fingindo
estar observando os livros, colocando disfarçadamente aquele
acordo de volta na mesa. Em seguida me virei e peguei o copo de
água e ingeri tudo rapidamente, refrescando minha garganta.
— Deixe o copo em cima da cômoda, venha se deitar. Já está
tarde.
Só balancei a cabeça, deitei ao lado dele na cama segurando a
vontade de fazer inúmeras perguntas. Mas aí teria de confessar que
andei bisbilhotando aonde não devia, e talvez saber demais poderia
me pôr em uma fria.
Mesmo assim, precisava saber se esse acordo de alguma forma
afetaria nossa futura relação, pois pelo que percebi, Matteo e
Jeferson eram mais íntimos do que eu pensava.
Capitulo 15
CHARLOTTE

Acordei na cama do quarto de Matteo, na maioria das vezes eu


nunca dormia na casa dos homens ou ficantes, no entanto, agora,
tratava-se de meu namorado. Aquela pequena exceção caiu muito
bem, tinha esquecido a sensação boa e quente ao acordar do lado
de uma pessoa do sexo oposto. Vê-lo dormir foi fofo, infelizmente
tinha de me aprontar para o trabalho, levantei da cama, e colocando
meus pés no chão frio, vi meu vestido no chão junto com minhas
peças íntimas. Infelizmente teria de usá-las novamente, só trouxera
estas roupas, mas não antes de um banho.
Queria evitar de acordá-lo, deixa-lo dormir um pouco mais, pois
afinal de contas ele chegava na própria empresa quando quisesse.
Precisava saber se tinha permissão de usar o seu banheiro, por isso
coloquei minhas mãos sobre seu peito e o chacoalhei um pouco,
chamando baixinho por seu nome.
— Matteo. Matteo... Matteo! — Elevei um pouco a voz. Vendo
seus olhos se abrindo bem devagar, quase me senti culpada. Tão
fofo, pelado, ali debaixo dos cobertores, pronto para mais uma
rodada de sexo, se assim fosse meu desejo. — Preciso tomar
banho, posso usar o banheiro desse quarto?
Matteo pareceu não ouvir a pergunta, esfregando os olhos
forçou-se a ficar sentado na cama, bocejando esfregou os olhos
mais uma vez. Piscou várias vezes antes de me encarar, os cabelos
desgrenhados, o semblante cansado, os músculos completamente
relaxados.
Suspirei. Que homem bonito.
— Claro que pode, tem tudo de que precisa lá dentro. Sabonete
para visitantes, shampoo comum e qualquer outra coisa que uma
mulher precise.
Ele não percebeu, claro que não. Mas praticamente cuspiu na
minha cara que várias outras mulheres passaram por aí, ou por qual
motivo teria esses produtos para visitantes no SEU próprio quarto?
Só fiquei um pouco incomodada. Todas elas foram antes de mim,
tinha de ficar neutra em relação a esse assunto, sentir ciúmes de
mulheres que vieram antes de mim, muito antes, era anormal.
Preciso concentrar minhas preocupações no agora.
Caminhei ao banheiro completamente nua, e, sem saber o
motivo, fechei a porta. Matteo já havia visto meu corpo nu e fez
muitas safadezas em cada parte, me perguntei o motivo de tanta
vergonha, tanto que precisei fechar a porta. Talvez no fundo, bem lá
no fundo, estava achando problemático o fato de agora estar
namorando meu próprio chefe. Algo surreal e que poderia acarretar
em vários problemas no futuro, o conselho da empresa poderia não
ficar muito feliz com a situação, afetaria a imagem da empresa de
modo ruim, significando perigo a própria imagem deles como
profissionais.
Sorte a minha ver uma toalha já pendurada, poupava-me tempo,
abri a cortina e entrei debaixo do chuveiro. Tive de sorrir ao ver a
opção de escolher água fria ou quente, na minha casa nem podia
sonhar com isso. Obviamente escolhi a opção quente, de manhã
cedo sempre estava um frio de matar, logo depois vinha as horas
intensas de muito calor.
Deixando a água cair, levantei a cabeça, sentindo o alívio no meu
corpo enquanto a água tocava na minha carne, tirando as sujeiras e
deixando-me disposta a enfrentar mais um dia de trabalho
cansativo. Com os olhos fechados, tateei na parede em busca do
sabonete, podia jurar que estava bem perto de mim, um pouco
afastado do chuveiro, mas alcançável pelo meu braço. De repente
senti algo encostando na minha bunda, quente, um pouco mole...
— Aqui está. — Sussurrou uma voz grossa no meu ouvido.
A sensação de prazer me fez revirar os olhos, um susto e tanto,
que imploraria para Matteo fazer todos os dias.
— Me pegou desprevenida!
— E você gostou. — Ele disse. Acertando em cheio. — Tenha
calma, não precisa se apressar. Seu chefe não irá reclamar se
chegar atrasada no trabalho hoje.
Eu ri, relaxando mais meus ombros, minha vontade era de
desligar o chuveiro e me jogar na cama. Obviamente ninguém
reclamaria, o único que poderia demitir a mim me comeu ontem, e
hoje estava com o pênis roçando na minha bunda embaixo do
chuveiro. Lógico que naquele dia em especifico poderia chegar na
hora que eu bem entendesse.
— Quer me limpar ou quer que eu te limpe? — Perguntei.
— Ou podemos pular essa parte erótica e só aproveitar esse
momento. Que tal? — Perguntou Matteo, pegando o shampoo e
colocando nos cabelos.
A pergunta foi surpreendente, ele não queria transar, pensei que
dar uma deixa de receber uma ordem fosse do seu agrado. A cada
dia aparecia um enigma diferente naquele homem, um de seus
charmes, admito.
— Pensei que gostaria de me dar ordens. — Disse, triste.
— Na hora do sexo, não agora, não em momentos comuns. A
menos é claro, que queira sexo aqui. — Ele fechou os olhos,
enquanto enfiava os dedos no seu cabelo, mexendo tudo.
Realmente surpreendente, um homem que sabia separar sexo de
qualquer outra coisa. Ganhei na loteria praticamente, tive mais
confiança na escolha de namorá-lo que fiz ontem à noite. Só passei
o sabonete pelo meu corpo, depois de vê-lo enxaguar os cabelos,
trocamos, ele pegou seu próprio sabonete e eu fiquei com o
shampoo. Não costumava usar aquela marca, mas naquele
momento servia.
No fim de tudo, desliguei o chuveiro e por um impulso louco o
agarrei pela cintura, o beijando no mesmo segundo, pegando-o de
surpresa. Não sei, simplesmente queria beijá-lo, então fiz isso.
— Isso foi... inesperado?
— Não posso beijar mais meu namorado?
— Claro, é só que... foi inesperado.
— E você gostou. — Sorri.
Matteo revirou os olhos, depois simplesmente saiu molhado para
o quarto, provavelmente pegar uma outra toalha, pois eu já usava
uma para secar meu corpo. Ele voltou e começou a se enxugar na
minha frente enquanto iniciava uma pequena conversa.
— Irá se importar caso as pessoas da empresa descubram sobre
nosso relacionamento? — Perguntou, no momento que secava suas
partes.
— Deveria me importar. — Minha expressão continuava calma,
nada alarmada. — Mas não ligo, se eles sabem ou não, é somente
da minha conta e da sua.
Deixei a toalha no mesmo lugar em que achei e ele fez o mesmo,
nós dois estávamos no quarto agora. Matteo vestindo um de seus
ternos elegantes e eu o mesmo vestido de ontem, poderia ir na
minha casa pegar um outro, contudo, demoraria mais a ir ao
trabalho. A melhor opção seria pegar uma carona ao lado de
Matteo.
— Feche aqui, por favor. — Pedi.
Escutei o som do zíper do meu vestido se fechando, agradeci e
fui até o espelho ajeitar o meu cabelo. Disse no banheiro pouco me
importar se as pessoas sabiam ou não, mas na verdade estava
bastante preocupada, principalmente como mulher. Um dos
comentários mais fortes seria que decidi dormir com o chefe para
subir de cargo ou aumentar meu salário, com toda certeza escutaria
isso de algum empresário ou advogado que rejeitei antes.
Faria o que sempre fiz como mulher, ser forte, não ligar para a
opinião dos outros e fazer o meu trabalho. Devia ficar preocupada
com minha vida e não com a opinião dos outros, estava namorando
um homem lindo, isso acarretaria na inveja e veneno de algumas
mulheres, inveja e desprezo de alguns homens por não os tê-lo
dado nenhuma chance de me desfrutarem. Só precisava passar por
cima dessas situações recorrentes, como sempre fiz.
O foco da minha preocupação estava sobre aqueles papéis na
pequena escrivaninha de Matteo, algo muito grande estava
acontecendo, normalmente eu fingiria que nunca vi. Infelizmente
havia o nome de Jeferson, por isso os dois pareciam se odiar? Por
um acordo? Tudo estava muito estranho, tentaria estar mais íntima
sentimentalmente de Matteo para começar a interroga-lo. A dúvida
me corroía, precisava de explicações.
— Você está bem? — Falou Matteo, o tom curioso.
— Estou sim. Só pensando no que os outros vão pensar.
— Não devia ficar cismada nisso, pois não vão passar de
pensamentos. Caso chegue até mim que andam incomodando você,
as pessoas serão demitidas. — Pelo seu tom, encerrou o assunto
por ali mesmo.
Ele parecia se importar menos com as fofocas do que eu, o fato
dele ser o chefe de todos ajudava nessa confiança toda. Coloquei o
primeiro perfume de cheiro bom que vi no seu guarda-roupas e
coloquei meus saltos altos. Sentei na cama e aguardei que Matteo
terminasse de se arrumar.
— Está demorando demais, parece até uma mulher. — Falei
brincando.
Ele só sorriu para mim através do espelho.
— O que acha? Gravata vermelha ou azul.
Pensei bastante na sua dúvida. Vermelha era bastante
chamativa, o que caía bem num empresário arrogante, confiante e
bom como Matteo. É, vermelho seria o ideal.
— Use o vermelho, não sei, me passa a imagem de uma pessoa
poderosa. Máscula. — Usei uma última palavra como incentivo, tive
certeza do belo elogio que fiz.
— Está certo. Usarei a vermelha.
Observei ele enrolando o pano no seu pescoço, dando algumas
voltas em um nó firme. Virando-se para mim, meus olhos brilharam,
magnífico. O terno preto padrão de todo empresário e advogado
caiu nele como uma luva, parecia um daqueles modelos sexys de
filmes pornôs da categoria ternos. Excitante, sério e galanteador.
Queria remover aquela roupa e implorar para ser dominada ali
mesmo.
Mas no fim...
— Podemos ir? — Foi tudo que eu disse.
...
Estávamos estranhamente quietos dentro da limousine, nenhuma
palavra trocada ou toque de carinho simples. Matteo apoiava o
cotovelo na porta do carro enquanto a mão debaixo do queixo
mantinha seu olhar erguido aos prédios, pessoas e qualquer outra
paisagem que mantivesse seu interesse. O carro parou devagar,
lentamente no ponto certo onde Matteo costumava descer. Abri a
porta do meu lado abruptamente e saí para a rua movimentada, com
carros a toda velocidade deixando um rastro imenso de fumaça para
trás.
Tossir era pouco para descrever o que fiz no meio da rua, tive
que cuspir uma grande quantidade de saliva para tirar aquele gosto
defumado da minha garganta, mal consegui respirar nos instantes
seguintes.
— Precisa ficar calma. Escute. — Falou Matteo, colocando as
mãos na minha cintura. — Ninguém vai falar nada na sua frente e
nem te tratar mal ou qualquer porcaria dessas, apenas confie em
mim. Vamos.
Fui praticamente guiada o caminho todo até o prédio gigante de
muitos andares. A rastro de fumaça realmente conseguiu me
prejudicar, fiquei tonta por alguns segundos, logo consegui
recuperar os sentidos, pois comecei a ver os engravatados nas suas
formas reais: homens e mulheres estressados, andando rápido e
tratando todos que ousassem trocar uma palavra qualquer com
imensa ignorância.
— Se quiser podemos dar as mãos. — Matteo deu risadinhas
cínicas, sabendo que me irritaria.
Afastei-me dele, conseguindo ficar de pé e andar sozinha. Nós
dois obviamente fomos na mesma direção, pois trabalhávamos no
mesmo andar, e pelo amor de Deus, eu era secretária dele.
Precisava estar junto dele, por isso pensei que já existiam fofocas,
principalmente por Melissa já ter me confidenciado dos casos de
Matteo com algumas de suas secretárias.
Era burrice achar que falavam de mim agora, pois devem estar
falando desde o primeiro dia que pisei no prédio. Os abutres só
estavam esperando um motivo bom para aumentarem essas
fofocas, e agora alguns deles poderiam comprovar as suas palavras
venenosas. Matteo estava numa relação séria comigo, e eles que
fossem se danar.
— Só foquemos no trabalho, está bem? Nada de confundir
relações pessoais com profissionais. — Funguei. Revirando os
olhos rapidamente escutei uma risada tímida.
— Charlotte! — Chamaram meu nome de longe, parecia um
sussurro no meio da multidão do salão.
— Te vejo lá em cima. — Disse Matteo.
Havia parado, pois a voz chamara pelo meu nome outra vez.
Sorri desconcertada, as duas bochechas vermelhas, Melissa vinha
andando apressada na minha direção com um sorrisinho de
escárnio. Ela sabia, todos eles sabiam.
— Preciso falar com você, mulher. — Seu braço envolveu o meu
como se fôssemos velhas amigas prestes a fofocar. — Iremos a
minha mesa, falarei com você sobre trabalho, é claro.
— É claro. — Repeti sua última palavra carregada de sua mesma
ironia.
Chegamos na sua mesa e antes de ser carregada por perguntas
sobre mim com Matteo, Melissa atendeu um homem no auge dos
seus quarenta ou quarenta e cinco anos. Seu semblante irritado
deixava claro o quanto odiava o homem falante e raivoso na sua
frente.
Ele saiu e finalmente Melissa virou-se na minha direção.
Colocando as mãos na cintura pude perceber seu julgamento pelo
olhar curioso.
— Está dormindo com Matteo?
— É uma pergunta bastante especifica...
— Eu sabia. — Melissa olhou para os lados, certificando-se que
ninguém tivesse ouvido suas palavras. — Que decepção, tinha
grandes esperanças de que você fosse a única que ele jamais
colocaria as mãos.
Cruzei os braços, quase me sentindo culpada, o que logo
desapareceu. Foi ela quem depositou esperanças fracassadas em
mim, eu não prometi nada, a ninguém, não devo nada, a NINGUÉM.
— Sim, eu dormi com ele e provavelmente farei de novo.
Melissa engoliu em seco afastando um pouco sua cabeça,
surpresa pela minha atitude, pois seria exatamente desse jeito que a
própria reagiria. Seu próximo movimento mudou, ela me olhou de
cima abaixo, dessa vez com uma mão na cintura somente. Parecia
uma pontada de orgulho, mesmo que preferisse morrer a admitir.
Pude ver um rápido brilho no seu olhar.
— Bom para você, azar de quem confiou em você.
— Como assim? — Fiquei assustada.
Então... mais pessoas sabiam?
— Houve uma aposta. De um lado, as pessoas apostaram que
não dormiria com Matteo pelo menos nos cinco primeiros meses, do
outro, pessoas que acreditavam que você não duraria um mês
inteiro sem cair nos braços dele. — Melissa baixou o olhar,
balançando a cabeça, decepcionada consigo mesma.
Fiquei horrorizada, houve uma aposta sobre mim e Matteo? Me
senti completamente ofendida. Se pelo menos eu soubesse disso
antes, poderia ter esperado um pouquinho antes de deixar meu
próprio chefe me levar para a cama, mas aquela não era a questão
do momento.
— Acha que eu não merecia ser consultada? — Indaguei. Brava.
— E de que isso adiantaria? Matteo conseguiria te seduzir
quando ele bem quisesse pelo visto. — Melissa olhou-me mais uma
vez, as expectativas quebradas. — Sério? Podia ter esperado pelo
menos dois meses.
Meu pé direito começou a batucar no chão, a ponta do salto alto
estalando na cerâmica. Involuntariamente ergui minha sobrancelha
esquerda, como ela ousava? Armam uma aposta ridícula pelas
minhas costas, e agora está decepcionada comigo porque ELA
perdeu uns trocados. Ela meteu a porra da sororidade no próprio cu.
Não era de costume pensar em palavrões no meio dos meus
textos mentais, mas Melissa conseguiu um nível de escrotice além
do que eu poderia imaginar, a hipócrita continuava ali, me julgando.
Condenando meus atos, atos esse que tomei de consciência
tranquila.
— Sabe, estou decepcionada com você!
Melissa franziu o cenho, abismada e curiosa com minha audácia.
Talvez nenhuma outra secretária tivesse batido de frente com ela
ainda. Bem, chegou sua hora, doce queridinha.
— Saber que seus próprios colegas, a pessoa que você
considerou ser quase como uma amiga, agiu pelas suas costas em
uma aposta ridícula, e depois. ainda vem aqui na maior audácia com
expressões de desprezo ... isso me deixa fula. — Apontei para o seu
peito, mesmo estando um pouco longe uma da outra. — Mereceu
perder dinheiro, foi sua escolha participar dessa brincadeira besta,
honre a calcinha que usa e assuma sua responsabilidade até o fim.
— Calma, eu só...
— Estava brincando? Bom, eu não curti sua brincadeira. E pode
dizer para aquelas que ganharam a aposta, que se eles apostarem
agora por cada vez que Matteo me levará para cama daqui em
diante, eles ficarão ricos.
Mais uma vez Melissa mudou sua pose, cruzando os braços,
percebi um pequeno sorrisinho nos lábios. Parecia orgulho? Ou
finalmente achou uma oponente digna de vencê-la em qualquer
área. Não, a mulher mostrava-se realmente confiante pelas suas
expressões. Maldição! Mesmo tendo usado bons argumentos ela
ainda parecia melhor do que eu, melhor do que qualquer outra
mulher no prédio.
Suei um pouco frio, confesso. No entanto continuei firme na
minha carranca, meu salto batucava no chão de forma contínua,
sem descansar. Ansiedade podia tornar-se um problema
futuramente, pois Melissa focou seu olhar exatamente no meu pé
em movimentos.
— Finalmente não liga para o que as pessoas estão falando.
Respeito isso. Mas se acha que essa foi a última aposta só por ter
ficado bravinha, tenho péssimas notícias para lhe dar. — Melissa
passou por mim com risadinhas debochadas.
Mesmo tendo mostrada minha força, senti como se tivesse sido
humilhada mais uma vez. Sempre é assim, mostro que sou capaz e
então vem as pessoas, homens e mulheres, e conseguem me
mostrar que ainda estava longe de ser considerada uma mulher
forte. A aposta nem foi tão crucial a minha raiva, fiquei mais brava
por eles já estarem esperando por isso, pela transa de mim com
Matteo.
Acho que devia somente ir para a minha mesa. Pensando um
pouco mais friamente, minha preocupação parecia besta. Passei por
alguns colegas sem ficar me importando com seus olhares
julgadores, a maioria traía seus parceiros, roubava da empresa,
aposto, e tinham atitudes mil vezes pior do que a minha. Droga! Só
dormi com meu chefe! Foi consensual, prazeroso e divertido.
Entrei no elevador com mais dois homens, pelas suas vestes
requintadas e modo estranho de falar, pareciam ser advogados de
outro país. Para defender os interesses de Matteo ou confrontá-lo?
Essa seria difícil responder. Poderia também tratar-se sobre aqueles
papéis de sua escrivaninha... mordi o lábio inferior de revolta, o
sotaque deles era tanto que não entendi nada do que falavam.
Ficaria atenta.
Boa coisa não era.
Ao vê-los saírem no mesmo corredor que o meu, tive certeza que
tratariam de algum assunto com Matteo. Obviamente teria de
impedi-los, nenhum deles marcou reunião, e ninguém era tão
importante a ponto de furar fila e passar na frente de outras reuniões
marcadas. Apressei meus passos ao vê-los a centímetros da porta,
parei na frente deles e soltei meu sorriso mais simpático.
— Infelizmente não posso deixá-los passar, precisam marcar
uma hora comigo antes. — Juntei minhas mãos, deixando-as na
altura da virilha. Parecendo a mulher mais educada e fofa daquele
prédio.
— Por favor, diga a Matteo que velhos colegas desejam falar com
ele. — Falou grosseiramente o mais carrancudo.
— Senhor... as coisas não funcionam assim. Precisam marcar...
— Diga que são Eduardo e Lucas...
— Uma hora. — Completei minha frase.
— Agora!
Pegar um homem ignorante como aquele não seria a primeira
vez e nem a última. Infelizmente tornava-se comum a uma
secretária experiente lidar com pessoas iguais ou piores do que os
dois na sua frente, mesmo o outro parecendo mais dócil. Continuei
sorrindo simpaticamente, afim de poupar o máximo de tempo e não
irritar aqueles homens, virei com grande raiva, desmanchando meu
sorriso na hora. Dei quatro batidas na porta, em seguida a abri um
pouco e enfiei minha cabeça pela abertura, rezando para que
Matteo estivesse no mínimo calmo.
— Desculpe incomodá-lo, dois homens desejam vê-lo. — Falei,
receosa.
Matteo imponente da sua mesa, levantou o olhar da tela do
notebook para mim.
— Eles marcaram hora?
— Não, mas...
— Então não me interessa. Peça para voltarem depois.
— Se chamam Eduardo e Lucas. Desejam insistentemente falar
com o senhor. — Por alguma razão o semblante de Matteo mudara
num piscar. Foi estranho vê-lo, ao que parecia a mim, assustado.
Dando duas tossidas ligeiras ou fingindo. Matteo levantou-se,
ajeitando o paletó e tentando parecer o mais calmo possível.
— Os mande entrar.
Franzi o cenho, ele percebeu e nem precisei falar que faria
muitas perguntas depois. Agora era sua namorada, tinha o direito de
saber o que acontecia com ele, minha preocupação atingiu o nível
máximo. Voltei a olhar os dois homens, usando de um sorriso
extremamente artificial. Fazia parte do trabalho.
— Podem entrar senhores, Matteo os aguarda.
Eles passaram por mim e no momento que ouvi a porta batendo
de leve corri a minha mesa. Sentei-me e só deu tempo de tocar no
telefone, no momento que meus dedos tocaram o objeto, a porta
voltou a abrir e o som da voz de Matteo soou bastante clara.
— Nada de ouvir minha conversa pelo telefone, e isso é uma
ordem. — Disse, bastante ríspido. Ele fechou a porta novamente e a
partir daí escutei somente sussurros inaudíveis.
O assunto oculto era realmente sério.
Fiquei decepcionada e curiosa, infelizmente tinha de ficar
concentrada no meu trabalho. Os dois estranhos chegaram num
momento crucial, onde Jatobá, dono de uma marca de refrigerante,
se encontraria com Matteo. Tive de mandar uma mensagem e
convencê-lo de que a reunião seria atrasada em alguns minutos,
portanto, deveria vir mais tarde.
Horas se passaram e tive de mandar inúmeras mensagens
pedindo desculpas pelos atrasos, mas que todos seriam atendidos
ainda hoje. Um até me ameaçou de processo, o que nem tinha
lógica. Precisei inventar uma desculpa para cinco pessoas, Matteo
estava demorando mais do que o habitual, sempre terminava as
reuniões em uma hora ou uma hora e meia. Estava quase dando
meio dia.
Girei a cadeira surpresa, esperançosa no momento que ouvi um
som de estalo, a porta abrindo bateu na parede, o impacto fraco,
mas que foi capaz de assustar. Os dois homens saíram sorrindo, um
sorriso falso e dissimulado. Ambos apertaram a mão de Matteo,
quando foram embora o semblante feliz do chefe morreu na mesma
hora.
Eu sabia, os homens se detestavam.
— Pode falar o que houve? Pareceu estranho.
— Sinto muito, agora não tenho tempo para isso.
E Matteo fechou a porta na minha cara.
Suspirei, ele realmente parecia querer evitar o assunto. Voltando
ao meu computador, meu celular começara a vibrar dentro da minha
bolsa. Desbloqueando a tela, vi uma notificação de mensagem,
bom, devo confessar que fiquei no mínimo pasma.

Jeferson: Sinto falta da sua companhia, vamos nos encontrar. Sem segundas
intenções.

Está aí a outra pessoa que pode tirar todas as minhas dúvidas.


Afinal, pelo que entendi bem, foi Jeferson quem fez o acordo e deve
ter mandado a Matteo.
Precisava encontrá-lo.
Capitulo 16
MATTEO

Aqueles dois desgraçados comparsas de Jeferson, tiveram a


ousadia de intimidar minha secretária e vir falar comigo no MEU
local de trabalho. Nosso último encontro ocorreria dentro de alguns
meses, mas esse jogo de quem era mais ousado podia ser feito por
mim também. Seu objetivo era óbvio mandando aqueles dois idiotas
aqui, prolongar nosso acordo? Nunca.
Muitas desculpas foram usadas perfeitamente por Lucas e
Eduardo, mais dinheiro, maior porcentagem nos lucros, direito de
tomar mais decisões? Tudo um monte de merda. Ele só queria uma
desculpa para visitar Charlotte no prédio e me manter mais ocupado
em trabalhos ilegais. Respeitava sua tentativa, pois faria o mesmo
se Charlotte estivesse em jogo, mas ela estava comigo e ele
precisava parar com isso. Minhas costas pousaram na cadeira
confortável, e, girando-a com os pés, fiquei de frente para a minha
janela enorme. Tentando me acalmar com a bela visão do sol,
iluminando cada parte da cidade, imaginando o calor infernal nas
pessoas, enquanto eu, estava no doce frio do ar-condicionado.
Encerraria o acordo naquele dia, nunca mais e poderia contar
toda a verdade a Charlotte, conhecendo o verdadeiro Jeferson seria
bem difícil dela querer vê-lo novamente. Jeferson tentaria de todas
as maneiras possíveis tentar me convencer de estender nosso
acordo. Infelizmente para ele, minha decisão já foi tomada.
Nunca mais precisaria ver o verme na minha frente novamente.
Assim eu espero.

Levantei-me pronto para dar um ponto final na situação. Abri a


porta, e esqueci de Charlotte sentada ali, droga. Ela saberia aonde
eu ia, teria de mentir. E odiei tal decisão.
— Preciso ir ao banco. Farei uma transferência enorme. Não
demoro muito. — Essa parte não era mentira.
— Matteo, e os outros clientes? Alguns já querem minha cabeça
servida numa bandeja. O senhor precisa ficar. — Falou a mulher,
desesperada.
— Confio em você, sei que dará conta. Sempre consegue. —
Passei por ela, deixando de ouvir suas reclamações longas.

Sei que foi horrível da minha parte deixa-la sozinha cuidando de


vários investidores furiosos, seu estresse aumentaria bem como sua
raiva contra mim. Um sacrifício necessário naquela hora e que
poderia ser concertado outra hora. Primeiro tinha de cuidar do
Jeferson, depois agradaria Charlotte de alguma forma. No elevador,
recebi uma ligação do desgraçado e logo rejeitei, então o toque do
celular tocou novamente, e de novo, depois mais uma vez.
Ele sabia minha decisão, previu que estava indo até ele encerrar
isso de uma vez por todas. Queria usar sua lábia, me convencer de
aceitar um novo acordo a qualquer custo. Sorri, naqueles minutos
eu detinha um poder sobre o homem, e o esfregaria na sua face
com todo o meu insano prazer.
Obviamente depois de fechar o acordo contrataria seguranças
pessoais para mim e Charlotte, eu conhecia seu verdadeiro lado.
Ninguém saia dos negócios de Jeferson se ele não quisesse, o azar
dele foi ter encontrado alguém com mais poder aquisitivo, que
estava prestes a cortar o último fio de corda ainda me prendendo a
ele. Sua fúria ficaria indescritível, uma retaliação futura era bastante
óbvia.
...
Mais uma vez viajando dentro do meu veículo para o prédio lindo
por fora de Jeferson, mas que era extremamente podre por dentro,
poderia ter uma boa estrutura, uma decoração aceitável. Tudo uma
enganação! Não passava de um puteiro cinco estrelas, cheia de
prostitutas e prostitutos com drogas pesadas, gritaria e gemidos
desenfreados nos quartos. Além de pessoas de grande poder, e
alguns até casados frequentavam o lugar.
Sempre me movia rapidamente, de dentro do carro ao prédio, ser
visto ou fotografado poderia acarretar em sérios problemas a minha
imagem. O carro parou no ponto de sempre, rapidamente saí e movi
meus pés tão rapidamente que jurei estar correndo. Mesmo
andando velozmente, algumas prostitutas tiveram a audácia de
encarar minha figura com bastante fome no olhar.
Desconfortavelmente entrei no lugar decadente, realmente
encantador para despistar qualquer investigação.
Obviamente os agentes disfarçados de funcionários estranharam
minha presença ali, já que daquela vez não foram avisados de que
eu viria. Simplesmente compartilhei o meu melhor sorriso com eles,
deixando-os fulo da vida. A maioria das pessoas não aguentava
minha boa aparência, na verdade tinham inveja por não poderem
ser como eu. Tendo ainda a postura ereta, de cabeça erguida
peguei o elevador já que ninguém teve dúvidas de minha presença
e decidiu fazer perguntas.

Quando o elevador abriu tive de piscar várias vezes até entender


que o casal se pegando fortemente na minha frente, na parede ao
lado do primeiro quarto era real. A mulher estirada na parede, com
as pernas abertas e a cintura do homem mexendo para frente e
para trás loucamente, enquanto a mulher gemia alto, nas alturas. A
cena quase deixou-me desconfortável, se eu não tivesse feito algo
de mais sem-vergonha na noite anterior.
Tentei fingir que não havia nada ali enquanto atravessa o
corredor, a desgraçada daquela prostituta gemia tão alto que achei
ter ficado surdo de um ouvido. Na última porta dei três batidas,
aguardei pela resposta de Jeferson. Ele devia imaginar de quem se
tratava, na verdade creio que já sabia.
— Não se faça de difícil, uma hora isso ia acontecer. —
Debochei.
Ele odiava essa parte em mim.
Por isso nunca daríamos certo.
A porta foi aberta por um de seus seguranças pessoais, Lucas.
Os gemidos da prostituta no corredor tornaram-se um eco quando a
porta foi fechada. Ela simplesmente não parava, como se estivesse
longe de estar exausta, os gemidos pareciam só aumentar.
Impressionante.
— Então você veio antes do combinado.
— Sim, acabar logo com isso sempre foi meu desejo. — Sem
perguntar sentei na cadeira de visitantes, joguei o envelope em cima
da mesa. — Aí está, fui no banco mais cedo. Finalmente, o último
pagamento.
Jeferson agarrou o envelope rapidamente, abrindo com o olhar
vidrado em mim. Desconfiado do motivo real de me ver ali. Um
tempo passou, com os seguranças dele a todo momento nas
minhas costas, preparados para sacarem as armas. Jeferson contou
cada nota separadamente fazendo questão de demorar somente
para me chatear.
— Não precisa perder tempo contando cada nota. — Disse
quase revirando os olhos. — Não é como se eu fosse enganá-lo no
que espero ser nosso último encontro.
Jeferson levantou seu olhar rapidamente a mim e depois voltou a
olhar o dinheiro, seus dedos irritantes davam-me nos nervos. Fingi
tossir um pouco, ajeitei meu terno e mexi um pouco a cabeça, muito
incomodado. Aguardei com calma o termino das contagens.
— Parece tudo certo. — Jeferson disse lentamente.
— Nosso trato está cumprido, não lhe devo mais nada.
— Isso não é bem verdade, mas tudo bem, não precisa mais vir
aqui.
Estava de pé e de costas a Jeferson quando ouvi suas palavras,
engoli em seco. Pisquei tão devagar que jurei estar tendo um
derrame, tive medo de perguntar ao que ele se referiu. A resposta
podia ser muito bem o que eu estava pensando, e se fosse, Deus
me ajude, o nojento merecia uma bela surra.
Olhando no fundo de seus olhos brilhantes, sim, ele se referia a
Charlotte. Tal fato fez meus punhos fecharem, os dedos apertando a
pele da minha mão, a dor milagrosamente foi capaz de fazer o
raciocínio voltar. Havia dois seguranças armados atrás de mim, um
passo errado e meu corpo seria encontrado em alguma vala cheio
de buracos de bala ou nem seria encontrado.
— O que acha que eu te devo? — Perguntei, a voz rouca.
— Nada, companheiro. — Jeferson abriu os braços, rindo. —
Está finalmente livre, pensei que fosse isso que quisesse.
— Ótimo então. — Dei as costas mais uma vez.
— Mas...
Revirei os olhos, pude perceber os sorrisinhos dos dois
seguranças. Outros canalhas.
— Talvez pudesse ouvir algumas propostas.
— Eu não tenho interesse em nenhuma! — Disse, os dentes já
trincando uns nos outros.
— Eduardo! Lucas! Saíam daqui, fiquem nas dependências do
prédio. E se divirtam por minha conta. — Jeferson levantou-se e foi
até a geladeira. — De Matteo cuido eu.
Eduardo e Lucas riram, deram socos um no ombro do outro
como dois irmãos bastantes íntimos. Nem perderam tempo em
contestar a ordem, saíram e fecharam a porta num piscar. Foi
impossível não sentir um pouco de medo, ele mandou as únicas
duas pessoas que me impediam de avançar nele caso o nome de
Charlotte fosse posto em jogo.
— Agora podemos conversar, sente-se por favor. — Jeferson
caminhou com uma garrafa de vinho já aberta numa mão, na outra
havia dois copos de vidro. — Nada como uma bela bebida enquanto
conversamos sobre negócios.
Respirei profundamente decepcionado comigo mesmo por estar
disposto a ouvir mais loucuras. Sentei na cadeira com muita má
vontade, meus olhos lampejaram para o copo sendo preenchido
pelo líquido de cor escura. Ele sabia dos meus gostos para bebidas,
o plano? Deixar-me tão bêbado que seria capaz de aceitar qualquer
proposta, entretanto, naquele dia isso jamais aconteceria. Nada,
simplesmente nada faria com que minha mão segurasse uma
caneta e escrevesse meu nome em qualquer papel.
Colocou o copo de vidro cheio na mesa, com o dedo indicador
arrastou o copo na minha direção. Fazendo um pequeno gesto com
a cabeça, indicando o objeto.
— Não quer beber?
— Passo. Fale quais sãos suas propostas.
Jeferson fingiu surpresa.
— Que tal mais dinheiro na sua conta, o dobro?
— Posso ter o quanto eu quiser, seus serviços não serão mais
requisitados. — Falei com convicção. — Vamos, Jeferson, sei que
pode se sair um pouco melhor.
O homem sorriu, de uma maneira estranha, adorando o jogo de
palavras. Nenhum de nós dois mostraria que estava incomodado
com algo, seria praticamente uma pequena derrota. Seu riso
demonstrava excitação e ao mesmo tempo raiva, raiva de estar
sendo desafiado.
— Um empresário que não quer dinheiro? Isso é muito estranho.
— Jeferson me olhou com desprezo. — Sabe, um dia encontrarei
outro jovem igual a você, e o farei tão rico como você. Caso seja
esperto, aceitaria o acordo se estivesse no seu lugar.
— Para a minha sorte, Jeferson. Não está no meu lugar. E eu
sempre quero dinheiro, mas agora, com o poder que tenho posso
decidir de onde minha renda vem. — Cruzei os braços acima do
peito. — Perguntarei mais uma vez, quais são suas propostas?
Até aquele momento não tinha ouvido nada, algo que realmente
me fizesse pensar, uma coisa que fosse capaz de me manter preso
a ele novamente. Nada conseguiria com que eu prolongasse meu
pacto com o diabo, seria divertido vê-lo tentar pelo menos.
— Sabe o que quero. — Jeferson bebericou um pouco do vinho.

— E sei que não vou lhe entregar.


— Quanto quer por Charlotte?
— Já falamos disso, e ela não é um produto. — Coloquei os
braços nos descansos da cadeira. Segurando minha vontade de
soca-lo. — Se ela vai ficar com você ou continuar comigo? É
escolha totalmente dela.
Jeferson analisou minhas palavras, com cuidado, procurando
uma brecha. Uma maneira de me desestabilizar, seu vinho estava
perto do fim, o copo quase vazio.
— Caso ela decida te trocar por mim, por vontade própria, não
terá nenhum problema com isso?
— Nenhum.
— Interessante.
— Não confunda isso com liberdade para incomodá-la. Caso eu
saiba de que está causando infortúnio a ela...
— Guarde suas ameaças, ainda não tem pelos no saco o
suficiente para tal. — Jeferson nem olhava mais em meu rosto
quando bebeu a última gota de vinho. — Ela virá até mim, pode ter
certeza disso.
Dei algumas risadas baixas.
— Isso é praticamente impossível. Mas lhe digo uma coisa, sua
obsessão por ela vai destruí-lo de dentro para fora. — Falei,
levantando-me.
— E eu acho que seu amor não será o suficiente para mantê-la
quando Charlotte descobrir seus piores segredos. —Jeferson
levantou-se da cadeira, proferindo suas últimas palavras.
Todas insignificantes para mim. Charlotte nunca saberia de nada
disso, nem ela e nem ninguém. Abri a porta e vi uma cena bastante
inusitada, um dos seguranças de Jeferson, Lucas, beijando uma
garota ferozmente enquanto a arrastava para um dos quartos.
Continuei andando e observando a cena escrachada. Os dois
entraram e pude perceber, já bem perto do elevador que o outro
segurança, Eduardo, estava prensando um jovem na parede com
seu corpo.

O homem de mais ou menos uns vinte anos agarrava seus


cabelos, Eduardo tinha as mãos dentro da camisa dele, alisando
seu peito. Seus lábios estavam colocados no pescoço do jovem. Os
olhos do indivíduo que estava nos braços de Eduardo focaram-se
em mim, com surpresa, vergonha e desejo.
— Eduardo, veja. — O jovem cutucou o amante no ombro,
apontou na minha direção depois.
Eduardo me encarou, pensei em várias formas que pudesse
morrer, pois seria óbvio que Eduardo tentaria algo por atrapalhar um
momento tão íntimo, não? Como estive enganado, talvez preferisse
um atentado de morte do que ouvir as palavras a seguir.
— Quer participar?
O sorriso de Eduardo me deixou constrangido, não uma
vergonha fofa ou que no fundo eu gostasse. Era do tipo de querer
sair correndo dali, entretanto não fiz isso, apenas acenei.
— Obrigado, não gosto dessa fruta. — Disse por entre os
ombros.
— Se um dia quiser experimentar eu adoraria te ver por baixo.
Por ele ser segurança de Jeferson, achei que me fez uma
provocação, no entanto, ele era gay também, podia muito bem-estar
dando em cima de mim. Ou os dois, provocação e flerte sem pudor.
Quase dei graças a Deus por ter conseguido entrar no elevador sem
que alguém tivesse a chance de me puxar para um desses quartos.
Sair o mais rápido do lugar virou minha curta missão.

...
De volta ao meu prédio, ao meu corredor, a minha garota. Parei
na frente de sua mesinha, Charlotte estranhou meu sorriso
gratificante, e como poderia não notar? Um sorriso desses vinha
logo depois de ter acabado de satisfazê-la. Queria tanto contar a ela
que finalmente nada mais havia entre eu e Jeferson, infelizmente a
mulher nem saberia do que estava falando. E eu jamais contaria
essa parte suja da minha história, teria de esquecê-la no passado
ao lado de Jeferson.
O desgraçado nunca mais conseguiria poder sobre mim
novamente.
— Dando conta do trabalho?
Quase fiquei arrependido de ter tocado no assunto, a expressão
curiosa de Charlotte transformou-se em raiva num piscar, nem tive
tempo de pedir desculpas.
— É o que precisei fazer, já que o senhor me encarregou de
desmarcar e remarcar tudo. Uma isca aos tubarões praticamente. —
Disse Charlotte. — O que foi fazer de tão importante?

Havia duas maneiras de responde-la, contar meia verdade ou


mentir completamente.
Escolhi a primeira opção.
— Fui até Jeferson, tínhamos um acordo e finalmente acabou. —
Dei de ombros. — Não gostava dele e é por isso que estou tão feliz.
— Não podia ter esperado outro dia? Tem homens que não me
xingam porque sabem que as operadoras gravam tudo.
— Infelizmente tinha de ser hoje, graças aos dois homens que
vieram aqui. — Falei, ficando bravo. — Só esqueça isso, está bem?
Te recompensarei essa noite.
— Cedo! — Ela disse abruptamente.
Erguia a cabeça, estranhando o comportamento repentino.
— Por qual motivo?
— Tenho um pequeno compromisso depois. — Charlotte sorriu, o
que pensei ser para me manipular.
Ela tinha sua vida então obviamente concordei. Não daria um de
curioso e perguntaria aonde ela iria e com quem, Charlotte deve me
contar se for de sua vontade. Minha curiosidade passou pela minha
garganta, chegando até a língua, perto de fazer a pergunta, sorri.
Tive de manter minha boca fechada, simplesmente saí dali. Nunca
queria parecer um homem ciumento e agressivo. Confiar nela seria
essencial, o relacionamento que sempre quis dependia disso.
Voltei a minha sala bagunçada, cheia de papéis precisando de
minha assinatura em cima da mesa. Tive tanta adrenalina misturada
a uma satisfação enorme em ver Jeferson encurralado, que voltar
ao básico deixou-me um pouco chateado. Além do mais, havia os
figurões que deixei bravo com essa história, e que descontavam
suas frustações na minha secretária.

Antes de entrar na chatice dos dias habituais, olhei alguns


restaurantes no notebook para o nosso encontro. Tinha de ser um
perto, Charlotte queria começar cedo para acabar cedo. Coloquei a
mão no queixo, pensando: nada muito sofisticado, talvez ela
sentisse apreciação em algo mais... simples. Minha escolha seria no
restaurante que pedi para Charlotte buscar meu almoço uma vez, é
pertinho daqui.
Sim, seria perfeito, a comida de lá tinha um gosto agradável,
nada muito caro, bebidas boas e baratas. O nome é “Costelão”
boatos de que sempre servem as melhores da cidade, nunca provei
nenhuma, mas seria uma boa ideia experimentar e checar se os
boatos eram verdadeiros.
Sexo ficaria para depois, precisava construir algo além de troca
de fluídos carnais. Encontros públicos, boa convivência, manter uma
agradável conversa sem deixar o clima ficar chato. Tínhamos que
agir mais como namorados e menos como amantes que não
suportavam a distância prolongada entre os dois corpos.
Recostando na cadeira, pensei em unir as duas ideias, mais tempo
como namorados e amantes. Só precisaria fazer uma mistura dos
dois, conseguir controlar a ambos, chegar perto da perfeição.
...
— Está pronta? Acabei tudo lá dentro. — Perguntei a Charlotte,
fechando a porta do escritório e trancando-a. — Ou prefere outro
dia?
Charlotte fez sinais negativos com as mãos, levantando-se e
agarrando a bolsa.
— Não precisamos adiar nada. — Sua expressão simpática fez
crescer minha desconfiança. — Depois de hoje só quero me entreter
um pouco.
Charlotte estava linda, seu cabelo amarrado num rabo de cavalo.
Era difícil saber quando ela o amarrou, devia ser em algum
momento que eu estava dentro da minha sala resolvendo problemas
chatos. Queria jogá-la em cima da mesa, arrancar o vestido, subir
em cima de seu corpo, possui-lo de forma agressiva ou suave. Do
jeito que ela desejasse.
— Está me olhando de uma forma sexual. — Falou ela.
— Estou?
— Está sim. — Ela riu. — Você pretendia comer comida hoje,
lembra?
Envolvendo meu braço na sua cintura começamos a andar.

— Mas pensei que você estivesse no cardápio. — Assumi,


tristonho.
— Matteo! As pessoas podem ouvir.
— Que ouçam, então, ter vergonha de tê-la ao meu lado é
burrice.
Consegui deixa-la muito envergonhada, uma de minhas várias
qualidades. Conseguiria ser um bom namorado e um bom amante
na mesma noite. Faria o possível, usando tudo ao meu poder para
entregar muitos dias felizes àquela mulher.
— Onde vamos?
— Não se preocupe, você conhece. É pertinho daqui. — Sorri.

...
Foi desnecessário chamar minha limousine, fomos andando até o
outro lado do quarteirão. Já estava de noite, as luzes dos postes
iluminavam o bairro, impedindo a escuridão total da pista, onde
carros poderiam bater uns nos outros e causarem acidentes
terríveis. O céu escuro brilhante chamou atenção de Charlotte,
mesmo colocando o braço envolta da sua cintura, ela não baixou a
cabeça, sobrando para mim a missão de não esbarrar em ninguém
ou tropeçar em qualquer objeto.
Ela simplesmente riu, ainda olhando para as estrelas. Depois
olhou para mim, já eu, tirei minha mão da sua cintura. Agarrei seus
dedos, levando para o alto e a girei, o vento soprando por seu
cabelo e esvoaçando seu vestido. Charlotte me abraçou, por Deus!
Quase quis cancelar nosso encontro no restaurante só para
ficarmos vagando pela rua naquele friozinho gostoso. Muitas
árvores ao nosso redor deixavam o ambiente escuro, perfeito para
beijos obscenos. Felizmente, ambos não gostávamos de nos expor,
qualquer pessoa passando com o olhar curioso ficaria nos
observando por vários segundos desnecessários.
As luzes dos prédios e dos estabelecimentos brilhavam forte, o
centro da cidade parecia aquelas ruas chiques de filmes
estrangeiros. Lotadas de bares, restaurantes e outros lugares
focados em proporcionar lazer.
— Queria te dizer palavras bonitas, o que estou sentindo no
momento é impossível de colocar em palavras. Por isso algo
simples é o melhor. — Sorri para ela e ela para mim. — Estou
gostando de ficar aqui fora com você.

O silêncio dela não pareceu uma resposta negativa, longe disso.


Tive a impressão de que ela desfrutava do nosso momento tanto
quanto eu, evitando assim o risco de estragá-lo com palavras.
Chegamos na parte da pequena praça onde o céu era aberto,
onde havia bancos com casais apaixonados se beijando,
conversando e acariciando uns aos outros. Muitas pessoas nos
olhavam de relance, nada de estranho até aquele ponto, um casal
bonito devia ser olhado e apreciado.
— É logo ali, só precisamos passar essa pista. — Disse,
erguendo meu indicador.
O estabelecimento do outro lado estava lotado, para não dizer o
mínimo, quase impossível de ver uma mesa livre. Do lado de dentro
poderíamos encontrar alguma vazia. Precisamos daquele tempinho
depois do dia de hoje, Charlotte mais do que a mim. Maldição! A
mulher passou poucas e boas por minha causa.
Esperamos o sinal ficar vermelho para passarmos pela pista
infestada de carros, esse era o lado ruim daquela cidade, o trânsito
sempre estava cheio. Do lado de fora do estabelecimento os
garçons se esforçavam para entregar os pedidos o mais rápido
possível, atendiam um grande número de pessoas em completo
desespero.
— Com licença! — Falei alto, para o primeiro que passou por
mim.
O garoto não devia ter nem vinte anos direito, cabelo pretos,
rechonchudo. Aguardando ansiosamente minhas próximas palavras
para que pudesse sair dali.

— Pois não?
— Eu e minha namorada queremos uma mesa. — Disse, da
forma mais educada possível.
Não exigi nenhuma mesa específica ou algum lugar, pois estava
tão lotado que só rezei por qualquer cadeira fazia. Andamos por
meia dúzia de pessoas, que assim como nós, estavam em pé em
busca de alguém que as atendesse.
— Aqui está bom? — Perguntou o menino.
A mesa estava encostada na parede, coincidentemente havia
duas cadeiras. Rapidamente fiz Charlotte sentar, disfarçando meu
desespero em cavalheirismo, depois sentei e já chamei a atenção
do garçom antes que ele fosse atender outras pessoas.
— Já podemos pedir, então?

— Mas é claro. — Ele disse entregando-me o cardápio. —


Quando decidirem o que querem é só chamar, estarei encarregado
de atender vocês.
Balancei a cabeça. Finalmente concentrado no que iria pedir,
percebi que todas as opções eram baratas, e a mais cara era o
preço normal de pratos dos outros restaurantes frequentados por
mim. Olhando tudo, guardei os pratos de meu desejo,
graciosamente entreguei o cardápio a Charlotte.
— Matteo... — Ela chamou pelo meu nome, olhando o cardápio.
Evitando assim meu olhar. — Precisamos conversar sobre o que
aconteceu hoje.
— Olhe, sinto muito mesmo...
— Não é isso. Só que... você perdeu muitos clientes. Clientes
esses com muito poder aquisitivo. — Charlotte colocou o cardápio
na mesa, me olhando agora. — Precisa de uma maneira de tê-los
de volta.
Tal atitude me surpreendeu. A mulher estava preocupada com a
empresa e comigo? Uma surpresa e tanto. Seu olhar preocupado
fez surgir preocupações na minha mente também, sim, era verdade.
Precisava recuperá-los de alguma maneira, mas como?
— Que tal uma festa? — Indagou Charlotte.
— Desculpe?
— Sempre vi isso em filmes. Festas de negócios, você já fez
algumas, certo?
— Mas é claro. Para os investidores certos, depois de ter
estudado seus gostos e inserido nas festas. — Deitei minhas costas
na cadeira de madeira, dura e um pouco desconfortável. — Não sei
quem ficou furioso, você sabe.
— Não se preocupe, trabalharemos alguns dias. Direi os nomes
e terá tempo de reunir seus contatos, fazer uma festa tão
estrondosa que a única opção de eles crescerem nos negócios é se
fizerem um acordo com você.

Tais palavras soaram como uma melodia doce aos meus


ouvidos, foi incrível ouvir uma ideia tão boa de alguém que queria
ajudar minha empresa e não prejudicar ou tentar arrancar meu lugar
como chefe. A pequena festa poderia funcionar, nas minhas mãos o
pequeno viraria um enorme arrombo. Os investidores, os outros
empresários fariam um acordo comigo querendo ou não, pois a
fome de poder era o que movia cada um de nós. Eles iam aceitar.
— Sabe, te convidar a esse encontro foi melhor do que o
esperado. — Sorri. — Você só se mostra uma mulher incrível a cada
minuto que passo ao seu lado.
— Sou cheia de surpresas, é por isso que gostou de mim, não?
— Ela riu.
Uma risada gostosa, que foi capaz de arrancar um sorriso de
meus lábios.
— Essa foi uma das razões, sim. — Confirmei, em seguida
apontei na direção do cardápio. — Já decidiu?
— Claro. E antes de pedirmos você tem de aceitar um pequeno
acordo.
— E qual é? — Ergui uma sobrancelha.
— Vamos dividir a conta.
— Olhe, não precisa....
— Preciso sim, por favor. A comida daqui não é tão cara. E nem
tente argumentar, já decidi. — Ela ergueu o braço um pouco,
chamando o jovem rechonchudo. — Esse encontro será por minha
conta!
Capitulo 17
CHARLOTTE

O encontro de três noites atrás foi perfeito, nada de sexual foi


oferecido em troca de nada. Paguei a comida dessa vez, um
momento a sós com meu namorado. Era estranho imaginá-lo como
meu namorado, parecia uma adolescente feliz além da conta por tal
fato. Na cama ao seu lado, estiquei os braços, fui a primeira a
acordar. Bocejei atirando o lençol para o lado de Matteo, roncando
como um bicho, nada que me incomodasse ao ponto de impedir
meu sono.
A festa já estava combinada para aquela noite, reservamos um
salão enorme na mesma rua da empresa. Passamos dois dias
inteiros conversando com pessoas que entendiam do assunto para
escolher um tema e conseguir fazer os preparativos, o maior
estresse dessa organização toda foi ter de pedir desculpas inúmeras
vezes aos empresários e empresarias que ficaram ofendidos por
Matteo fazer pouco casos deles.
Tive de cuidar dessa parte chata, e eles ficaram descontentes por
ouvir minha voz tristonha desesperada outra vez. Falaram que o
tema seria o de sempre, homens indo com seus ternos e mulheres
indo com seus vestidos para seduzir alguns. Tive de revirar os
olhos, era bem comum, no entanto era o que aqueles velhos
conheciam, portanto ficariam mais à vontade. Matteo insistiu de
contratar algumas prostitutas para deixar os empresários do sexo
masculino mais maleáveis a ceder a qualquer proposta
razoavelmente boa.
Fui contra, é claro, mas fui vencida. Pois no final das contas
queríamos a mesma coisa, que os velhotes assinassem com a
empresa. Informou também que flertaria com algumas mulheres,
sentiam poder por serem cobiçadas por homens casados. Mesmo
morrendo de ciúmes e achando uma loucura, concordei. Porque se
ele podia, eu também faria o mesmo caso a oportunidade batesse
na minha porta.
Bêbada de sono, quase caí ao colocar os pés no chão. Matteo
ainda dormia como um alcoólatra largado na rua. Devia aproveitar
esse sono pesado e que estava de folga, para fazer uma pequena
visitinha a Jeferson. Sanar um pouco as dúvidas que permeavam
minha mente, a envenenando, deixando minha cabeça perturbada.
Procurei na minha mala que trouxe a um dia atrás com roupas,
vesti uma calça jeans comum com uma camiseta social. Mandei
uma mensagem rápida e curta a Jeferson, pergunto se podia
encontra-lo e em qualquer lugar. Em menos de trinta minutos o
homem me enviou o endereço do prédio onde ele estava, se ele
morava lá ou se era somente para curtição, eu não sabia. E espero
que ele não tente nada, deixei bem claro da última vez o rumo da
nossa relação, somente amizade.

Nada passaria disso. Sentia-me mal em mentir para Jeferson.


Perto de desistir da ideia, pedi logo um taxi, rapidamente caminhei a
passos baixos para fora, nenhum empregado a vista. Estava muito
cedo para chegarem. Em menos de minutos na calçada olhando
para a janela do quarto onde Matteo dormia, morrendo de medo de
ser flagrada, o carro parou na minha frente de uma maneira abrupta.
Esse parecia ser veloz. Ótimo, iria e voltaria dentro de poucas
horas.
O frio deixando meu corpo paralisado, tendo meu coração
palpitando acelerado, pude lembrar o por que odiava mentir. A
sensação é simplesmente horrível, principalmente mentir para
alguém que se importa com você. Devia ser uma boa mulher e
perguntar a Matteo o que queria saber, sanar minhas dúvidas.
Infelizmente faltava-me coragem, pois pressentia que não iria gostar
das respostas. Nem ficar olhando para as ruas foi capaz de me
distrair de muitos pensamentos pavorosos, qualquer coisa podia
acontecer. Precisava estar preparada, talvez nem seja sério, afinal...
Não vejo Jeferson desde o dia que o rejeitei, tão educado,
mandou seu endereço no momento que viu minha mensagem. Ele
mantinha suas expectativas, pobre homem, eu estava sendo mais
horrível por estar dando esperanças, uma espécie absurda de
abertura. Só queria ser amiga dele, era óbvio, mas Jeferson não
queria o mesmo.
Às vezes achava impossível achar um homem que quisesse
apenas amizade e que não fosse gay. Muitos fingiam aceitar nossa
amizade, quando no final queria somente sexo ou alguma relação
mais séria. Seria desagradável para Jeferson quando percebesse
que não havia chance nenhuma para nós.
O carro começou a movimentação lenta, quase parando, olhando
atentamente pelo vidro da porta pude ver o enorme prédio do
endereço da mensagem. Lindo, havia muitas mulheres do lado de
fora, bem ajeitadas, bonitas. Aquilo era estranho, mas deviam ser
funcionárias, mesmo que não aparentassem. Logicamente pensei
no que poderiam ser, e rapidamente removi esses pensamentos, ter
uma opinião sem provas de uma outra mulher dessa maneira era
desagradável.

— Espere aqui, por favor. Voltarei logo. — Disse ao motorista.


— Pode deixar. — Ele fechou a mão e levantou o dedo polegar
num sinal chamado “joinha”.
Ao ver o sinal fiquei confortável em saber que teria uma carona
rápida de volta à casa de Matteo. Passei pelas mulheres que
passavam o olhar de... desejo?... Por mim. Foi tão estranho que
senti desconforto, ainda assim adentrei ao prédio logo depois de ter
perguntado a um dos porteiros onde exatamente ficava o andar e o
número do apartamento de Jeferson.
Dentro pude ver organização, parecia um filme estrangeiro de
comédia romântica, onde o casal fica hospedado num prédio
magnífico. Voltando meu foco a Jeferson, entrei no primeiro
elevador que vi aberto com mais duas mulheres.
— Segura a porta! — Gritei.
Umas das meninas que parecia vestida para alguma festa de
sacanagem fez esse favor. Ao lado das duas mulheres senti o
sentimento desconfortável de antes, quando vi as outras do lado de
fora.
— Tifanny, passe mais um pouco de maquiagem, está parecendo
uma velha.
— Droga, mulher. Devia ter me dito antes, né. — Disse a outra.
A tal Tifanny usava um vestido vermelho muito indecente, quase
que não era o suficiente para cobrir as coxas. Pelo que pude
entender delas conversando, a outra se chamava Daphne. Ela
estava com um pequeno espelho na mão, enquanto na outra
borrifava algo na cara.
— E você, querida. É nova por aqui, cobra por hora? —
Perguntou Daphne.
Fiquei tão nervosa que nem pensei direito na resposta, por isso a
deixei no vácuo por segundos longos.
— Ah, eu... não trabalho com isso.
— Entendi. Isso é bom. — Daphne guardou suas maquiagens. —
Eu e Tifanny estamos juntando dinheiro para pagar fiança da nossa
amiga que foi presa.
— Presa por quê? — Perguntei.
Mas foi Tifanny quem respondeu.
— Dirigir muito rápido numa estrada vazia, acredita? — Tifaany
mudou sua expressão para uma que aceitava a situação,
conformada. — Liquínia aceitou a prisão sem contestar, era ela
quem estava dirigindo e a fiança é barata. Se abrissem os porta-
malas e achassem os corpos, todas nós estaríamos ferradas.
As portas do elevador se abriram e rapidamente saltei para fora,
olhando de relance por sobre os ombros, percebi que as duas iam
me lotar de perguntas pela minha reação. Por sorte as portas
voltaram a fechar. Mas que tipo de mulheres eram aquelas? Corpos
no porta-malas? Insano. Tomaria o dobro de cuidado com as
mulheres do prédio e as que rondavam pelo quarteirão, preveniria
ao máximo que meu corpo acabasse num porta-malas escuro de um
carro roubado, provavelmente.
Os corredores silenciosos pareciam tenebrosos, o chão sujo
indicava que há pouco tempo, minutos atrás ainda havia
movimentação estrondosa. Assim como o porteiro me dissera, fui
até a última porta. Bati quatro vezes e aguardei, segundos
passaram até que se transformaram em longos minutos, então bati
de novo e chamei por Jeferson.
Dei um passo para trás quando escutei o som da maçaneta.
— Olá, Charlotte. Desculpe a demora, estava ocupado. — Ele
deixou uma pequena abertura para que eu pudesse passar. —
Vamos, entre!
Passei por ele cuidadosamente, mesmo não desconfiando de
nada sempre era bom manter-se prevenida. O apartamento dele era
elegante, parede lisas, chão de concreto bem pintado. Os móveis
estavam realocados de modo que parecesse uma espécie de
propaganda.
— Então... por qual motivo devo agraciar sua presença aqui? —
Perguntou Jeferson, docemente.
Quase revirei os olhos, o homem continuava a falar no óbvio
intuito de querer me deixar encantada com seu jeito. Devo admitir,
pelo menos era duro na queda. Mesmo depois de ter sido rejeitado,
ainda continuava disposto a lutar.
Pobre homem.
Meu coração pertencia a outro.
— Estou aqui para sanar minhas dúvidas. — Engoli em seco. —
Dúvidas essas que você pode tirar.
Jeferson pareceu sorrir, um sorriso arrogante.
— E devo acreditar que seja sobre Matteo?
— Talvez.
— E por qual motivo não faz suas perguntas a ele?
Revirei os olhos, aquilo realmente foi uma péssima ideia.
Comecei a andar rapidamente na direção da porta até o momento
de ter o braço agarrado.
— Sinto muito, não quis ofendê-la. — Jeferson estendeu a mão
na direção do sofá. — Por favor, fique, sanarei todas as suas
dúvidas.
Balancei a cabeça lentamente numa afirmativa curiosa. Ele se
arrependeu tão rápido... sentei no sofá confortável, cruzei os braços.
Jeferson pegou uma cadeira e arrastou pelo chão na minha direção,
e, de frente para mim, sentou-se e fitou meu olhar medroso.
— Pode perguntar o que quiser. — Falou ele, calmamente.
Cruzei as pernas, juntei as mãos em cima dos joelhos, olhando
para baixo pensei em como começar. Era difícil, pois estaria
revelando que desconfiava de Matteo e Jeferson poderia pensar que
suas chances de ter algo comigo cresceram. Abri a boca, dei uma
pequena pausa, o encarei nos olhos, e finamente soltei a pergunta.
— Do que se trata o acordo entre você e Matteo? — Voltei a
desviar o olhar. — Vi alguns papéis, não entendi quase nada, só fez
surgir mais dúvidas. Parecia algo... perigoso.
— Olha só, a flor delicada parece ter espinhos.
— Sem brincadeiras, Jeferson!
— Tudo bem. Digamos que eu esteja disposto a falar, o que eu
ganharia com isso? — Indagou ele, sorrindo de forma estonteante.
Respirei fundo. Era só o que me faltava, uma troca de favores
com segundas intenções, mas se ele jogava sujo, eu também podia
fazer a mesma coisa.
— Aceitou ser meu amigo. É isso que amigos fazem.

Uma expressão raivosa surgiu em seu rosto bronzeado.


— Obrigado por me lembrar do motivo de nunca ter amigos.
Graças a Deus ou qualquer entidade que esteja nos vigiando, que
você é a única. — Jeferson levantou, caminhou na direção da
geladeira, pegou um copo de vidro e o encheu de água. — Quer um
pouco?
— Talvez numa próxima visita.
— Olha só, pretende me visitar novamente? Sinto-me lisonjeado.
— Jeferson voltou a sentar na cadeira, com seu jeitão de mafioso.
— Agora. Tem certeza de que quer ouvir as informações de mim e
não de Matteo? Creio ter de confessar... é um acordo em que ele
não queria fazer, mas fez o necessário para sobreviver.
Por isso eu devia ouvir dele, já entendi. No entanto, tenho a
plena certeza, Matteo dará um jeito de desconversar minhas
perguntas, mudar o foco. O maldito coração voltou a disparar como
uma máquina prestes a explodir. Tinha consciência de que minhas
atitudes eram condenáveis aos olhos de uma relação, onde não
deviam haver segredos entre o casal.
— Conte para mim. — Disse por fim.

— Tudo bem. Matteo veio para cá com muito dinheiro, e como


um empresário cheio de sonhos, logo abriu sua empresa de
investimentos. Para encurtar, muitos advogados, empresários e
investidores mais experientes nesse mundo passaram a perna nele.
— Jeferson bebeu mais um pouco da sua água. — Sua empresa
quase chegou à falência, se não fosse por mim, é claro.
— O que você fez?
— Consegui seu contato e propus um acordo. — Jeferson sorriu.
— Transferiria o dinheiro necessário para que se erguesse, e em
troca ficaria com uma porcentagem de cada negócio que a empresa
viesse a receber.
— E por que algo tão obscuro... digo, por qual motivo precisaram
esconder e por qual motivo a tensão constante entre os dois, você o
ajudou.

— Charlotte, entenda. Um monte de gente começou a ver o


potencial de Matteo, querendo assim destruí-lo ou leva-lo para o
lado deles. Os que odiavam o homem faziam de tudo para acusa-lo
injustamente de várias coisas, tudo mentira logicamente. —
Jeferson bebeu o último gole de água. — Percebi que poderia
respingar em mim, ou Matteo poderia tentar me derrubar para livrar
a própria pele, pois eu também tenho inimigos. Então ofereci um
outro acordo.
— Qual acordo?
— Ameacei tirar todo o dinheiro que investi, isso acabaria com
Matteo. Na proposta, ele deveria concordar que se eu fosse preso
em alguma atividade envolvendo-o ou sua empresa, que seria preso
junto comigo como cumplice.
— Prevenção! De que ele nunca tentaria sabotar um dos próprios
investidores. — Jeferson sorriu, um pouco tristonho. — Como sabe,
ele não se importa muito com as pessoas, tive medo. Por isso usei
uma proteção.
Fiquei um tanto quanto chocada ao descobrir esse lado falso de
Matteo, onde jogaria qualquer um embaixo de um ônibus se isso
significasse salvar a própria pele. Ouvir isso de Jeferson deixou-me
mais afetada, ele tivera razão antes, ter ouvido da própria boca do
meu namorado teria sido menos pior.
— Eu...hã... hum... obrigada. Mas preciso ir agora.
— Por favor, tem algo mais que posso fazer por você? —
Falando mansinho, Jeferson inclinou na minha direção.
— Por favor, não. — Levantei as duas mãos, sinalizando para
que o homem ficasse onde estava. — Só preciso de um tempo,
absorver tudo. Sinto muito ter de fazê-lo perder tempo, preciso ir
para casa pensar no que ouvi aqui.
— Tudo bem. Mas lembre-se, passar um tempo com você nunca
vai ser perda de tempo. — Jeferson sorriu de maneira
compreensiva.
Andou lentamente até a porta, os dedos da mão direita
batucando no copo de vidro, deixando-me aflita com esse barulho.
Ele abriu a porta e dei um abraço nele, uma atitude que fez por
merecer. Jeferson se inclinou mais um pouco, o rosto na direção do
meu, os lábios querendo encostar na minha bochecha. Recuei dois
passos, ainda sorrindo, dar essa liberdade causaria problemas no
futuro.
Voltei ao taxi o mais rápido possível, o motorista estava mexendo
no celular, rindo enquanto olhava vídeos engraçados. Entrei e pedi
para ele voltar até a casa onde tinha me pegado. Coloquei o sinto
num piscar, e percebi ter feito o movimento certo quando os pneus
cantaram na pista, soltando até um pouco de fumaça. O veículo deu
uma volta na pista para voltar por onde veio.
Tinha de sanar minhas próprias dúvidas com Matteo, precisava
saber daquelas informações da boca dele. Ele era meu namorado,
merecia o benefício da dúvida. Vê-lo como um egoísta que não tinha
preocupação alguma com a vida dos outros já não deveria ser
surpresa a mim devido ao seu emprego: chefe de uma empresa. O
homem certamente destruiu algumas vidas pelo caminho que
precisou passar até chegar ao topo.
Normalmente eu estaria pensando em terminar a relação. Mas os
problemas do mundo hoje em dia são causados por isso, não?
Basta uma pessoa acusar, falar o que a outra pessoa fez de errado,
mesmo sem ter prova alguma e, então, a vida do indivíduo era
destruída, principalmente se as informações caíssem na internet. Na
justiça brasileira você era inocente até que se prove ao contrário ou
se as palavras das tais vítimas não convencessem o jure. No caso,
seria bom Matteo convencer de que Jeferson mentiu ou omitiu
grande parte do acordo.
Há um risco enorme de chateá-lo com inúmeras perguntas, e
fazer isso antes da festa planejada podia ser um enorme problema.
Matteo devia estar dormindo ou acabado de acordar, e ninguém
gostava de raciocinar no segundo que acordara. O táxi parou em
frente à casa, pensei bastante antes de abrir a porta, tinha de fazer
algo. Colocar Matteo contra a parede agora ou depois da festa? Ele
saberá que há algo de errado comigo, seus gostos por teatro o
ajudariam a saber se eu estava fingindo estar bem ou não.
Droga!

Há uma esperança pelo menos, e me agarrei nela com todas as


forças. Se a mente dele estivesse tão preocupada, focada na festa,
então eu teria chance de adiar minhas perguntas. Mantê-lo calmo,
concentrado no seu intuito principal: convencer quase todos, ou se
não todos, os empresários a reconsiderarem a ideia de não assinar
com a empresa. Estendi a mão com o dinheiro ao motorista, e,
saindo do carro, olhei a enorme casa na minha frente. Estava na
hora de escolher com quais roupas, ou melhor, qual terno ele usaria
para a festa.
...
No momento escolheríamos qual roupa iríamos usar, primeiro
começou com ele. O problema é que Matteo estava demorando
muito no banheiro, me perguntei o que ele fazia lá dentro. Logo
desmanchei o sorriso caso fosse realmente a imoralidade da minha
imaginação, mas afinal, tal ato não era comum entre os homens?
Procurei ocupar minha mente focando-a em outro lugar.
Caminhei até o seu enorme guarda-roupa, abri a porta e fui na
área dos ternos e paletós. Era praticamente tudo igual, mudando
somente as cores e alguns certos detalhes. Ou talvez eu só não
entendesse de moda masculina mesmo. Foi estranho, quis tentar
escolher algo, pelo menos uma calça diferente. Matteo só possui
roupas para sair casualmente, essas tinham bastante para escolher,
mesmo o próprio não saindo muito.
— O que está fazendo aí? — Perguntou ele.
Saiu do banheiro com a toalha enrolada na cintura, uma bela
visão, admito. Mas o melhor veio depois, ele virou de costas para
mim, perto da cama. Quando removeu o que lhe cobria, fiquei
estática no lugar. Uma bunda grande, provavelmente com muito
treinamento de perna, inclinei a cabeça, com certeza malhava
bastante.

Lamentavelmente ele vestiu uma cueca, acabando minha


tentação e fazendo com que eu voltasse ao mundo real.
— Me ouviu?
— Desculpe! — Voltei a olhar as roupas. — O que disse?
— Charlotte, o que está fazendo? A festa é só de noite. Ou seja,
ainda temos muitas horas. — Matteo cruzou os braços. —
Devíamos passar esse tempo fazendo algo.
— Tipo o quê?
— Tipo... olhe, eu não sei. Pensaremos em alguma coisa. —
Falou Matteo, agora de braços cruzados.
— Experimente os ternos, Matteo.
Ele revirou os olhos, sabendo que teria todo um trabalho, passou
Rexona, olhou-se no espelho e ficou no meu lugar olhando para o
enorme guarda-roupa. Já eu joguei meu corpo na cama, vendo-o
esticar os braços, dando-me mais uma visão perfeita.
— Pensei que vocês mulheres entendessem mais de moda, um
milagre não ter escolhido nada. — Disse ele.
— É, legal. — Parecia que suas palavras entraram num ouvido e
saíram pelo outro. Tão linda, meu Deus, que bundinha. — Concordo
em tudo.
— O quê?
Levantei meu olhar depressa ao vê-lo me encarando.
Rapidamente fiquei morrendo de vergonha. E quer saber? Dane-se!
Eu tinha todo direito de aproveitar.
— Só se vista, vamos ver como fica.
Um tempo se passou, ele se vestiu cuidadosamente, arrumou o
cabelo, passou perfume em todo o peito praticamente. Olhando-se
mais uma vez no espelho antes de se virar a mim, sorriu.
— Então?
Ele escolheu um terno preto, com um bolso para ter um lenço ou
algo desse tipo, via muito nos filmes eles sempre puxando algum
tipo de paninho para uma dessas donzelas secar as lágrimas. A
calça fazia parte daquele pacote, deixando-o extremamente comum
aos outros.
— Acho que podemos fazer melhor. — Falei.
E realmente poderíamos.
E assim passamos as próximas uma hora e trinta minutos.
Experimentando os ternos de diferentes cores, vez ou outra pedia
para trocar algumas calças, parte de cima de uma cor e de baixo
outra. No entanto, só parecia piorar tudo.
— Estou pronto. — Matteo pronunciou de uma maneira cansada,
como se só estivesse querendo sair dali. — Olhe, isso não está
dando certo. Sei que quer apresentar a esses velhos um homem
diferente do que costumam ver quando vão a minha sala, mas aqui
só estamos perdendo tempo precioso.
— Tem razão. Normalmente os homens velhos costumam usar
ternos da cor preta. Tente aquele de cor azul claro, do lado do terno
marrom.
Matteo fez como pedi, se despiu pela vigésima quinta vez e
colocou o terno azul claro. Mais chamativo do que os outros, uma
cor clara no meio da escuridão que seriam os velhotes da festa era
perfeito. Obviamente queria peças mais diferentes, aquela daria
para o gasto.
Matteo olhou-se no espelho, uma face meio incomum. Parecia
desgostoso com o que via.
— Parece bastante, claro, não é?
Seu beicinho o entregou.
— Você é do estilo mais trevas.
— Como?
— Gótico, preto. Gosta de cores escuras. — Levantei. — Pense
bem, essa roupa fará as pessoas olharem para você, pelo menos,
chamará a atenção de quem precisa chamar. — Peguei no
colarinho. — Além do mais, pode trocar se quiser. Uma pessoa só
deve vestir o que for necessário.
Matteo revirou os olhos, no fundo havia concordado com meu
conselho. Ser a presença forte e que todos não conseguiriam
desviar os olhares era o plano principal, os velhos ainda contariam
com mulheres que estariam ao lado deles, deixando-os
desnorteados.
— Agora... — Matteo agarrou minhas duas mãos. — Podemos
sair desse quarto e aproveitar o resto do nosso dia de folga lá
embaixo?
Sorri. Ele queria mesmo sair do lugar, enjoou de tanto trocar de
roupas, e as peças eram bem quentes. Nesse clima infernal era
bom ficar com menos roupa mesmo. Balancei a cabeça, ele tirou a
roupa e colocou um calção, então saímos.
— Da última vez fez nossa janta. Agora, irei fazer o almoço,
depois de ver o que tem para ser preparado aqui, lógico. — Falei.
O homem de barriga faminta não reclamou.
Capitulo 18
CHARLOTTE

A noite veio mais rápido que o esperado, Matteo e eu mal


havíamos acabado de aproveitar nosso tempo juntos e já estávamos
nós vestindo para a festa, faltava poucos minutos. Escolhi um
vestido que caía até os joelhos, da cor vermelha sangue, me senti
magnifica na frente do espelho, adorando meu sorriso e minha
aparência como um todo. Os brincos de argolas em ambas as
orelhas são bonitos o suficiente, o batom da mesma cor garante o
glamour necessário para chamar atenção, e o blush marrom deixam
minha pele coradinha sem contrastar com meu vestido.
Como sempre uma mulher bem preparada como eu estaria
demorando para ficar pronta, as inteligentes sempre gastavam
horas e horas se arrumando, pois, sabiam que certos homens se
curvavam aos seus pés com a aparência certa. Logicamente estava
me referindo aos futuros clientes e não a Matteo, ele em específico
não se deixava levar pelas tentações do mundo. Ainda sim teve de
fazer aquele maldito acordo com Jeferson. Precisava saber da
verdade, infelizmente pergunta-lo agora o distrairia de suas
obrigações essa noite. E não seria o motivo principal dele ter
falhado hoje, pelo menos convencer um daqueles desgraçados
tínhamos que conseguir.
Colocando um belo colar dado pelo meu pai, quando ainda
caminhava por nós, estava finalmente pronta, aquelas pérolas
pareciam verdadeiras. Soube no fundo que não eram, meu pai
nunca teria dinheiro o suficiente para tal luxo. No fim, nada disso
importava, um presente de coração nunca tinha preço.

Era lindo, isso importava.


— Já terminou aí? Chegaremos atrasados, venha logo. — Gritou
Matteo, fora do quarto.
— A pressa é inimiga da perfeição. — Falei alto o suficiente para
penetrar nos seus ouvidos.
Dando uma última checada no espelho, caminhei na direção da
porta, temerosa, pressentindo algo estranho no ar. Uma má
sensação, maligno. Lembro-me de no passado ter tido tal reação
quando meu pai saiu pela última vez, naquele dia algo me disse que
ele nunca mais voltaria. Eu deveria confiar nos meus instintos dessa
vez? Acho melhor não, precisava continuar a manter meu foco na
festa.
— Tudo bem, vamos. — Falei a Matteo.
Ele me fitou no momento que tranquei a porta. Queria fazer
perguntas sobre minha expressão preocupada, pude sentir isso, o
temor de algo estar acontecendo o chateava. Mas não o suficiente
para falar ou fazer gestos de confortos, só voltou a olhar na direção
dos seus passos. Nas escadas mudei minha cara, dando leves
batidas nas bochechas. Sorria, sorria. Isso mesmo, mantenha-se
alto astral, tudo dará certo para nós dois.
— Olhe, agradeço de verdade por ter feito os preparativos. Mas...
caso queira ficar em casa...
— Não! — Disse rispidamente, logo pedi desculpas. — Está tudo
bem comigo, só estou um pouco nervosa. É, vamos conseguir a
assinatura dos velhotes.
— Assim que se fala. — Matteo envolveu o braço no meu.
Juntos caminhamos até sua limusine, dei um leve sorriso ao
motorista. Sentando no sofá confortável do banco de trás, tornei a
ficar preocupada. Oficialmente seria apresentada como namorada
de Matteo, mesmo que essa palavra não fosse realmente
necessária, só de aparecer perto dele as pessoas saberiam.
— Fale o plano novamente. — Pedi.

— Chegaremos, falaremos com todos que precisam de nossa


atenção, depois aproveitaremos um pouco a festa. Nesse momento
as prostitutas agirão, deixando os homens bêbados e mais
maleáveis. Em seguida, elas jamais, em hipótese nenhuma levarão
eles para cama sem antes assinarem um acordo comigo, essa foi
minha ordem pessoal a elas. — Matteo ajeitou seu terno. — Voltarei
a falar com eles bêbados, assinarão os acordos, e você, continue
aproveitando a festa até que eu volte.
— E as mulheres?
— Como?

— Não sou burra, Matteo. Sei que há mulheres do seu interesse


lá também. O que irá fazer para conseguir as assinaturas. —
Perguntei emburrada. – Por acaso as levará para a cama em troca
de assinarem os papéis?
— O quê? Claro que não. — Matteo inclinou-se a mim. — Está
tudo bem? Parecia feliz minutos atrás.
As dúvidas, as malditas dúvidas estavam acabando comigo. Só
precisava resistir até o fim da festa. Respirei fundo, olhei nos olhos
de Matteo e pela primeira vez me arrependi antes de abrir a boca,
no entanto, continuei.
— Estou bem, só nervosa com tudo isso. Se não der certo? Se
esses morcegos velhos só quiserem estar nessa festa para diversão
e nada mais? — Menti tudo, cada palavra. Senti uma coisa horrível
principalmente ao ver que Matteo realmente acreditara.
Pensei em baixar o vidro do carro, um vento frio talvez me
ajudasse a ficar calma. Logo lembrei que ficaria destruída: cabelos
nas alturas, provavelmente borrando batom e maquiagem. Por isso
só desviei o olhar rapidamente de Matteo, desejando que ele
voltasse ao seu lugar sem mais perguntas.
— Só irei flertar com elas, o suficiente para elas acharem que
tem alguma chance. Disse que deveria aproveitar a festa nessa hora
porque eu acho que não gostará da minha interação com outras
mulheres. Só isso. — Matteo disse baixinho.
— Confio em você.
— Não parece.
Olhei para ele chocada, seu rosto virado para o outro lado.
Estávamos bem antes de vestirmos nossas roupas, agora parece
que faltava um pouco para a terceira guerra mundial, como pude
deixar isso acontecer? Deixar as palavras de Jeferson, sem saber
se eram totalmente verdadeiras, atrapalhar meu relacionamento era
injusto, tanto para mim quanto para ele.

Dentro do carro estava frio, o ar-condicionado forte como sempre


pela primeira vez parecia um incômodo. Comecei a batucar meus
pés, as pontas dos saltos altos machucando o carro e causando um
som chato. Matteo nem o motorista pareceram ficar bravos, agora
só via os carros passando numa pista lotada. Bares cheios e boates
com bastante aglomeração.
Diversão.
A palavra necessária. Precisamos mais disso, vendo casais no
parque em frente a um carrinho de cachorro-quente, em mesas
onde vendiam “pratinhos”. Aproveitando ao ar livre, sem grandes
luxos, o básico do básico. Uma noite qualquer na semana, só
porque queriam uns aos outros. Precisava disso, deixei de fazer isso
desde a faculdade quando ainda possuía contatos de amigos
íntimos.
— Desculpe, só faça o necessário. — Falei por fim.
Matteo pareceu contentar-se com tal resposta. Mesmo querendo
fazer mais perguntas, só continuou olhando para qualquer lugar
naquele pequeno espaço que não fosse meu rosto. A verdade é que
ambos estavam nervosos, mesmo que ele não demonstrasse, eu
sabia.
...
As luzes dos prédios acesas a todo vapor iluminavam quase
metade da rua escura, tive de desviar o olhar um pouco. Parecia
que Matteo queria que soubessem da festa, um feito e tanto.
Obviamente era desconhecido por mim tal plano, mas de que
servia?
Será que Jeferson falou a verdade? Balancei a cabeça. Estava
teorizando demais, poderia ser somente uma simples luz forte, com
nenhum objetivo por trás. Colocando a mão na testa me senti um
pouco burra. Deus! Que maluquice!
Saí dos devaneios paranoicos da minha mente ao escutar Matteo
abrindo a porta do seu lado. Saindo também do carro esperei que
ele fizesse a volta completa, como imaginado nessas festas da alta
sociedade, o homem envolveu meu braço com o seu e me guiou ao
prédio. Ereta e de cabeça erguida, respirei fundo. Minha primeira
festa naquelas circunstancias, além de aproveitar tinha de ter foco
nos objetivos.
O porteiro nos deu boas-vindas. Ele parecia fantasiado, um
uniforme preto e um pequeno chapeuzinho na cabeça. Foi incomum
para mim, parecia algo de outro país. Sorri de volta, arregalando
meus dentes brancos e bem cuidados. O outro pareceu ficar com
um pouco de vergonha.
Descobri uma habilidade, então era só uma mulher bem bonita
sorrir que alguns homens ficavam desconcertados? Interessante.
Isso poderia ajudar lá dentro, contra os empresários e advogados.
— Essa é minha primeira festa... desse nível. — Engoli em seco.
— Incrível.
— E só vai melhorar. — Matteo garantiu.
A recepção estava um pouco lotada de convidados, todos
escolhidos a dedo. Por algum motivo não quiseram subir ainda. Os
profissionais responsáveis pelo andar conversavam e atendiam a
todos. Mulheres com vestidos quase mostrando suas partes
íntimas, deviam ser as prostitutas, que facilmente poderiam ser
confundidas com adolescentes que acabaram de entrar na idade
adulta. Algumas já estavam nos braços de homens, e um deles
possuía aliança no dedo. Fiquei desconfortável, mas tinha de seguir
com o jogo.
Matteo e eu paramos, ele passou o olhar pela grande recepção.
Escolhendo o primeiro com quem falaria. E nem precisamos nos
mover, pois a primeira presa começou a andar até nós. Por volta
dos trinta a quarenta anos, o homem estava bem bonito, cabelo
escuro, olhos castanhos claros e um sorriso educado.
Milagrosamente ele negou a investida de uma das prostitutas.
— Olá, Matteo.
— Christian! Como vai?
Os dois apertaram as mãos, olhei a face de Matteo. Normalmente
ele disfarçava suas expressões de ódio, no entanto daquela vez,
parecia realmente feliz em ver o homem.
— Espero que os papéis estejam prontos até o final do mês. —
Christian ajeitou seu paletó. — Em breve seremos mais próximos.
— Conto com isso. — Matteo apontou para o andar de cima. —
Nem pense em ir embora sem aproveitar o que há de melhor.
— Pode apostar. Darei uma pequena e rápida volta lá em cima
antes de ir embora. — Christian sorriu. — Sabe como é, tenho
negócios a tratar com minha esposa essa noite.
Aquele parecia um homem bom pela sua aparência e modo de
agir, gostei de ter uma primeira impressão agradável.
— Quem é ele? — Indaguei.
— Daqui a uma semana, um dos meus clientes mais importantes.
Dono de uma marca famosa de refrigerante. — Matteo sorriu. —
Bonzinho a todos que o observam de fora, e cruel quando tem de
ser.
Tal fato me impressionou, as aparências realmente eram
possíveis de enganar. Um homem bonito, boa pinta, com aliança no
dedo e falando da esposa de maneira feliz e não como se ela fosse
um fardo. Um homem educado e de boa fala, jamais conseguiria
pensar nele sendo cruel. Acreditei em Matteo, pois esse era seu
mundo há mais tempo que o meu, escutar seus avisos e opiniões
tornou-se obrigatório, até para minha própria segurança.
Havia várias mulheres com vestidos ou roupas chiques lá
também, assim como eu, algumas com seus pares e maridos,
outras sozinhas e que não aparentavam estar desesperadas. Se
estava cheio logo na entrada, imaginei que lá em cima deveria estar
pior.
— Ainda tem assuntos a tratar aqui, ou podemos subir? —
Perguntei.

Matteo olhou novamente todo o lugar, pareceu ter falta de


interesse.
— Por enquanto, não. Vamos ao salão de festas.
Subimos e pude escutar uma música lenta baixa, a melodia
agradável enchia meus ouvidos, deixando-me bastante calma. O
elevador parou, quando as portas se abriram o som aumentou
consideravelmente. Era magnífico, nada muito alarmante nos
enfeites, o importante e mais chamativo eram os próprios
participantes. Todos muito bem portados de atitudes e posturas,
quase senti inveja de algumas mulheres, tão magnificas. Mas no
fundo sorri, pois soube que naquela noite eu estava no nível delas.
Muitos portavam um copo aparentemente com vinho e whisky
dependendo da pessoa. Estava louca para me juntar a eles,
participar desse mundo recheado de glamour. Olhei para Matteo
sem ficar surpresa com sua falta de interesse, acostumado com
essa vida até eu estaria preocupada para encontrar os futuros
clientes.
— Então, quem vai ser o primeiro? — Perguntei. Sem desviar os
olhos das pessoas.
— Ainda não sei.
Havia duas bacias cheias de gelos, numa havia quatro garrafas
de vinho e na outra, quatro garrafas de whisky. Não muito distante vi
bandejas e pratos onde havia todo tipo de petisco: mini coxinhas,
canudos, brigadeiro. Inclinei a cabeça para o lado, escondendo um
sorriso, me lembrou uma festa de criança. Mas não me importei
muito com isso, pois também me lembrei da comida de verdade que
viria depois.
Matteo e eu continuamos a andar pelo salão cheio, passamos
por tantas pessoas sem trocar nenhuma palavra que percebi a
intenção de Matteo. Estava atrás de um alvo, já o achara e quando
levantou o sorriso, descobri que paramos a centímetros dela.
— Samantha, há quanto tempo não a vejo. Grato por ter aceitado
meu convite. — Matteo estendeu a mão. — A propósito, lindo
vestido.
Pisquei várias vezes tentando educadamente e sem que ela
visse, desviar o olhar. Matteo realmente não entendia nada de
roupas femininas.
— Essa porcaria? — Ela riu, um pouco alto demais. O vestido
dela era feito de um simples cetim azul, nada muito extravagante
para o nível dela. — Estava trabalhando tanto na minha advocacia
que coloquei o que achei primeiro no armário. Mas não preciso estar
bem arrumada para marcar presença, só de estar aqui é o suficiente
para incomodar os de poder aquisitivo menor que o meu.
— Tenho um acordo especial para você? Podemos conversar, a
sós? — Matteo estendeu o braço.
— Se sua parceira não se incomodar.
Ela olhou de dele para mim, rapidamente sorri e levantei os
braços.
— Nenhum incômodo, além do quê, tenho de falar com algumas
pessoas.
Minto obviamente, seria burrice demais falar de meu ciúme
incompreensível. Era só uma conversa sobre trabalho, e Matteo não
era esse tipo de homem. Ao menos acreditei que não, nunca seria
magoada de forma tão cruel. Era só loucura da minha cabeça.
Quando um garçom na faixa dos vinte e cinco anos passou por
mim, oferecendo uma taça de vinho, aceitei de bom grado. Dei uns
pequenos goles, para refrescar a garganta depois de tanta
desconfiança. Estava querendo emagrecer, portanto fiquei receosa
de pegar alguns salgados, logo revirei os olhos. Sete bolinhas de
frango não iam fazer mal nenhum ao meu estômago. Vinho com
salgadinhos tinham um gosto diferente, incomum. Nem ruim nem
bom, mas o suficiente para enganar a fome por horas.
— Olha só. — Uma mulher loira parou na minha frente. A
expressão debochada. — Você é a nova garota de Matteo? Espero
que dure mais de um mês.

E simplesmente saiu andando dando risadas entrecortadas com


a palma da mão perto da boca. Franzi o cenho, tentando entender o
ódio gratuito. Dei de ombros, pois quem sentava no pau dele era eu,
a loira devia estar morrendo de inveja. Rezei para que não
houvesse nenhuma outra mulher parecida com aquela. Continuei
comendo meus salgadinhos e bebendo minha taça de vinho,
observando as pessoas, interagindo com alguns conhecidos, como
Melissa e os outros colegas de trabalho. Matteo havia terminado de
conversar com aquela advogada de vestido comum, logo partiu na
direção do seu próximo alvo. Um homem velho de aliança, tendo
uma conversa bastante alegre ao lado de uma moça bastante
jovem.
O homem foi rápido, gostava desse jeito. O tempo era precioso e
valia dinheiro para ser desperdiçado. Olhando-o de longe, o vendo
correndo atrás dos seus clientes, a desconfiança e o ciúme
desapareceram e uma pontada de orgulho surgiu. Em menos de
trinta minutos Matteo apertara a mão do senhor e partiu em busca
do próximo.
Rodei meu corpo numa volta completa, numa curiosidade
mórbida. Querendo ver outra situação, uma interessante. Bingo! A
mulher loira falava com um homem aparentemente da mesma
idade. Seu jeito de falar enquanto alisava seu braço, as pernas
quase cruzadas, ela estava flertando. Agora havia entendido. Uma
garota de programa que Matteo contratou e provavelmente a levou
na sala de objetos, ela gostou da experiência e implorou por mais,
mas ele a descartou.
Ela devia saber que era apenas trabalho, só satisfação, nada de
sentimento envolvido. Pelo menos não da parte dele. Virando mais o
meu corpo, pude ver um homem de costas, entrando na porta da
escadaria. Vendo-o de relance quando ele virou de lado, jurei tratar-
se de Jeferson. Andei apressadamente sem chamar a atenção. Vê-
lo numa festa de Matteo, tendo o conhecimento de suas rivalidades,
achei muito estranho.
Tinha de fazer umas perguntas.

Como ele podia ser tão rápido? No momento que cheguei aos
degraus não o vi mais. Corri quase que desesperada até que
consegui ver sua silhueta, movendo-se e sumindo, logo veio um
som alto de porta fechando. Jeferson havia entrando no próximo
andar, pela entrada mais perto. Na primeira porta que encontrei,
virei a maçaneta e entrei. Pude vê-lo dobrando no final do corredor,
a minha direita.
— Jeferson! — Chamei. — Ele não me ouviu, Droga!
Tomei cuidado para correr bem devagar, quase andando. Toda
vida minha mão na parede, me apoiando caso aqueles saltos altos
decidissem quebrar, a queda seria horrível. Virei no mesmo corredor
que ele, pude vê-lo encostado numa parede, perto de uma porta de
escritório qualquer.
— Essa está aberta. — Jeferson sorriu na minha direção. — Vejo
que veio até mim, que tal conversarmos, a sós?
— Como entrou aqui? — Perguntei enquanto andava até ele. —
Achei que você e Matteo se odiassem.
— A festa é para seu namoradinho conseguir novos acordos, não
é? — Jeferson riu. — Por isso estou aqui, tentarei convencê-lo
novamente a aceitar um acordo.
Franzi o cenho, parando perto dele cruzei os braços. Ele queria
que eu entrasse na sala, por um momento pensei realmente em
entrar. Senti o arrepio de perigo percorrer meu corpo, então só me
afastei dois passos, dando a entender qual foi minha resposta.
Jeferson nada disse, mas desmanchou o sorriso.
— Por qual motivo continua insistindo? Devia procurar outro
investidor.
— Seria burrice, só perderia dinheiro. Matteo é dos melhores do
ramo dele, quero ele e não outros.
As palavras foram tão incisivas que desconfiei que se tratasse só
de dinheiro mesmo, parecia que Jeferson perderia mais do que
dinheiro. Tinha mais segredos envolvidos nisso, algo obscuro.
— Por que não me conta toda a verdade, hein? — Indaguei. —
Desde nossa conversa hoje de manhã que venho desconfiando de
Matteo, mas receio que essa desconfiança tenha de ser dada a
você.
— Quer saber, por que não cai fora daqui? Hein? Está virando
um incômodo. — Jeferson elevou a voz.
— Não até responder o que estou querendo saber, qual seu real
acordo com Matteo? — Foi minha maior coragem desde o sexto
ano, quando dei um soco na cara de Maria, uma valentona metida a
besta. — Fale! Ou quem sairá do prédio será você.
— Falarei, porque pelo que vejo não confia no seu namorado o
suficiente para isso. — Jeferson riu, adorando me alfinetar. — Sabe
por qual motivo não falei antes? Isso me afeta também, só por isso.
Engoli em seco, senti um pouco de medo do que ouviria nos
próximos minutos.
— Sou da máfia italiana, vim ao Brasil deixar a minha marca. E
também não tinha muita concorrência, emprestava dinheiro para
quem precisava, e quem não devolvia sumia para sempre. —
Jeferson sorriu ao ver minha cara horrorizada. — Esse prédio em
que trabalha, foi construído com dinheiro de mortes, prostituição,
roubos e tudo de ruim. Matteo queria encerrar o acordo comigo para
sair desse mundo, e infelizmente para ele, conseguiu.
Jeferson sorriu, depois gargalhou como um lunático.

— Ele foi um dos poucos que conseguiu pagar o que devia a


mim. — O homem cruzou os braços, mais calmo dessa vez. — Mas
a vontade de fazer acordos não parou, descobrimos que nos
envolvemos com a mesma mulher...
— Eu! — Fiquei tonta, agora vinha o pior. Tinha certeza.
— E ele me ofereceu uma quantia boa para que parasse de
insistir em você. — Jeferson fez uma cara tristonha. — Viu? Matteo
não presta, desde o começo te tratando como um pedaço de carne,
um animal onde ele decidia seu destino.
Estreitei os olhos, podia ser ingênua, mas não burra. Jeferson
estava tentando me enganar.
— É mentira, seu desespero está na sua face, a voz quase
falhando. Querendo que eu acredite. Seu mentiroso!
— Não importa. Porque se nega a admitir a atração que sente
por mim? — Jeferson começou a se aproximar devagar.

Afastei alguns passos, contudo, ele não parou. Continuou


avançando, até que encostei na parede e ele colocou os braços,
cada um de um lado do meu rosto, deixando-me presa. Me
acuando. Em nenhum momento senti medo, só tentava controlar a
minha raiva, um homem que pensei ser meu amigo está se
mostrando um verdadeiro escroto.
— Jeferson, afaste-se de mim. Por favor. — Pedi com educação,
olhando nos seus olhos.
Ele queria com medo, isso jamais aconteceria. Pelo menos não
por aquelas atitudes que já passei milhares de vezes, o homem teria
de pegar mais pesado, o que eu não deixaria acontecer.
— Por favor, estou avisando.

— O que foi? Há poucas semanas atrás queria ficar comigo,


ainda pode conseguir. Só... precisa... me deixar... — Ele fechou os
olhos, aproximando aqueles lábios, que antes os achava bonito,
nojentos para cima de mim.
Rapidamente coloquei uma mão em cada lado do ombro dele,
me apoiei em seu corpo e levantei meu joelho com toda força que
tive, o acertando em cheio. O golpe no saco foi algo surreal, pois ele
caiu de joelhos no chão num piscar. Gritando de dor, tirando uma
mão do local da dor e a pondo no chão, olhou para mim. Prestes a
me xingar, virou para o lado e vomitou.
Fiz uma cara de enorme nojo, entretanto, Jeferson teve o
merecido agradecimento por ter me acuado na parede. Ficando
nervosa pelo tamanho dos gritos, também de alguém chegar e
flagrar aquela situação, me culpando de agressão quando na
verdade só estava me defendendo. Olhando paras os dois lados,
checando se realmente estávamos só eu e aquele a quem eu
confiava no corredor, saí correndo para o elevador o mais rápido
que consegui. Fui esperta em aprender alguns truques de defesa
pessoal, afinal, uma mulher corria muitos riscos.
Tudo parecia em câmera lenta, o elevador descendo só um
andar, ali sozinha, finalmente transparecendo um pouco de medo,
lembrei do que Jeferson falara. Ele era da máfia, isso complicava
tudo, dinheiro sujo, Matteo havia construído seu império com
dinheiro sujo. Droga! Isso não importava agora, só precisava sair
dali.
Precisava respirar bem longe daquele lugar. Apoiando-me na
parede do elevador ajeitei meu vestido no corpo, estava um pouco
bagunçado devido a correria. O coração acelerado, bem como
minha respiração queimando na minha garganta, deixando-me
eufórica.
As portas se abriram e Matteo terminava de falar com um
homem, aparentemente mais novo. Parando atrás dele, o homem
virou-se para mim, curioso em ver naquele estado apavorado.
— Está... tudo bem? — Indagou Matteo. — Consegui o que eu
queria... podemos aproveitar a festa. Charlotte? Meu bem?
— Quero ir embora. Por favor, podemos ir embora?
— Por qual motivo, aconteceu algo? — Ele perguntou.
Caso contasse a festa viraria um ringue onde Matteo correria até
Jeferson para enchê-lo de porrada, mais do que ele merecia é claro.
Infelizmente mancharia a imagem da empresa como um todo,
principalmente quando o próprio dono saía brigando por aí. As
pessoas falariam, fofocariam, tirariam fotos e os jornais dariam a
notícia.
A estratégia certa seria sair do lugar.
— Só quero sair daqui, por favor.
— Charlotte, não posso deixar os convidados sozinhos. —
Matteo deu alguns passos para frente. Segurando nos meus braços.
— O que aconteceu, onde esteve?

— Te contarei quando formos para sua casa. Preciso sair daqui.


Quase implorei de joelhos. Matteo como bom cavalheiro se
dispôs a deixar os convidados para dar atenção a mim. Eles ficariam
bem com toda diversão, comida e prostitutas. Na rua ligou para o
seu motorista, que em menos de dez minutos apareceu. Entramos e
Matteo não fez nenhuma pergunta, ele obviamente exigiria suas
respostas quando chegássemos na sua casa.
Capitulo 19
MATTEO

No carro de volta para a minha casa tentei não encarar Charlotte


por muito tempo, poderia deixa-la mais desconfortável do que já
estava. Ela estava de pernas cruzadas, tentando manter a
compostura, evitando chorar. Contudo, a maquiagem já estava um
pouco borrada e ela a todo momento estava olhando para o lado de
fora e me evitando. Estava muito curioso para ter mais informações
do que acontecera na festa, o motivo dela ter ficado dessa maneira,
como se alguém a tivesse incomodado.
Só de pensar em tal hipótese, o ódio emanou de mim
naturalmente, imaginar um homem a incomodando deixava-me
puto, com vontade de encher alguém de socos. Coloquei minha mão
em cima da de Charlotte no intuito de mostrar que a manteria
segura não importasse qual fosse a situação e o que ela decidisse
me contar.
— Tentarei ficar do seu lado, não importa o que me diga. —
Depois de encerrar as palavras, ela finalmente olhou na minha
direção, bem nos meus olhos. — Saí tão cedo da festa que os
convidados darão minha falta, farão perguntas e deixarão dúvidas.
Mesmo assim, nada disso importa para mim até ter certeza de que
você está bem. Entendeu?
Charlotte acenou com a cabeça, depois acenou de novo com um
sorriso. Em seguida voltou a olhar para a rua e entrelaçou seus
dedos entre os meus. Engoli em seco por aos poucos, ir voltando a
ficar tranquilo. Aquela mulher era incrível, tinha muitas habilidades
para controlar minhas emoções com gestos simples.
Tentei pensar no que poderia ter acontecido. Todos os
convidados importantes foram escolhidos a dedo, nenhum deles
podia ser tão problemático a ponto de fazer um ataque pessoal a
mim por meio de Charlotte, não seriam loucos. Devia ter sido
alguém que ela conhecia, isso supondo que fosse mesmo um
homem que a incomodara tanto. Podia ter sido só nervosismo por
estar no lugar em que muita gente da alta sociedade estava
rodeando.
O que achava muito difícil.
Olhei para o retrovisor e não demorou muito para que meu
motorista olhasse o reflexo de minha expressão de pouco amigos,
este acenou e acelerou aquele veículo. Mesmo tranquilo com
relação a minha raiva, continuei nervoso por não saber o que
realmente acontecera. Era um empresário, maldição! Jogava com
os fatos e jamais suposições, tinha de esperar Charlotte falar algo.

— Matteo. — Ela chamou.


— Sim?
— Estamos perto de chegarmos na sua casa?
Sorri com o máximo de tranquilidade que consegui.
— Sim, estamos na velocidade máxima permitida. — Alisei a mão
dela um pouco, tentando passar um pouco de calma. — Tente
relaxar até lá.
Ela balançou a cabeça, um sorriso triste e um olhar preocupado.
Aquilo deixou-me tão desesperado por dentro que tive vontade de
pegá-la nos ombros e chacoalha-la até a própria me dizer o que
havia acontecido. Contudo, nunca seria capaz de fazer isso
realmente, seria um desrespeito enorme com o espaço íntimo de
Charlotte.

Ao chegarmos na rua da minha casa, pedi para que meu


motorista só encostasse na calçada. Fui o primeiro a abrir a porta,
no momento que Charlotte saiu eu logo peguei sua mão e a guiei
pelo enorme quintal. Paramos ao ficarmos de frente para a porta,
onde precisei tirar minhas malditas chaves do bolso. Por continuar
nervoso, demorei muito tempo enfiando as mãos em todos os
buracos das minhas vestimentas.
Quando as achei consegui pegar na chave certa de primeira,
depois só precisei enfiá-la na fechadura. Entramos e estava tudo
escuro, ascendi rapidamente as luzes e corri para a cozinha. Agarrei
o primeiro copo de vidro que vi, coloquei um pouco de água bem
gelada e voltei para a sala.
— Por favor, querida. Sente-se no sofá. — Pedi, em seguida
sentei ao seu lado e entreguei o copo. — Aqui. Pegue, beba um
pouco.

Seu corpo tremia tanto que ao levar o copo à boca, derramou um


pouco de água no chão. Aguardei com muita expectativa o que
estava prestes a ouvir. Charlotte engoliu toda a água e segurou o
copo com as duas mãos, olhando para o nada. Depois virou-se para
mim.
— Sei de tudo.
Aquelas três palavras foram capazes de me deixar realmente
nervoso. O que ela sabia? Por um acaso pensava que eu a tinha
traído? Roubado dinheiro da sua bolsa? Dando em cima das suas
amigas? Mas o que diabos significava “eu sei de tudo”.
— Jeferson estava na festa, disse que queria falar com você.
Fiquei mais pálido que um defunto. E como não ficaria? Já
imaginava o que nossa conversa viraria. Maldito Jeferson, não
aceitara perder para mim. Tinha de abrir o bico logo para Charlotte.
Desviei o olhar dela, ela continuou falando, parece que com minha
súbita fraqueza ela ganhara um pouco de confiança.
— Revelou-me tudo de como você construiu essa empresa.
Máfia, e suponho que isso envolva lavagem de dinheiro, prostitutos
e prostitutas. — Charlotte afastou-se alguns centímetros de mim. —
Isso envolve tráfico infantil?

Olhei na sua direção abismado.


— Ficou louca? Nunca perguntei como ele conseguia o dinheiro.
Ele só me emprestava o que eu precisava e pronto. Além do mais,
eu já paguei tudo, me livrei totalmente dele. — Suspirei. — Pelo
menos foi o que pensei.
Tentei colocar a minha mão sobre a dela novamente, Charlotte
afastou-se mais e recolheu sua mão. Aquilo foi um simples gesto,
mas que me machucou bastante. A mulher dos meus sonhos e
desejos estava realmente tendo medo de mim. Duvidando das
minhas palavras verdadeiras, achando-me um completo cafajeste.
Senti uma pontada forte no coração, a respiração tornou-se
trabalhosa e as palavras negaram-se a sair de minha boca.
Como a convencer de que Jeferson era o verdadeiro vilão? Ele
devia ter contado mentiras e mais mentiras, misturando-as com a
verdade e fazendo uma história inverossímil. Balancei minha cabeça
e coloquei as mãos nos cabelos, muito irritado. A história foi
verdadeira o suficiente para deixar Charlotte inclinada a acreditar
nele.
— Não sei em quem acredito agora. — Charlotte sussurrou.
— Não fique do lado dele... — Comecei.
— Só pode estar alucinando! Nunca ficaria do lado daquele
animal. — Charlotte fitou-me, angustiada. — Posso ter acreditado
na parte sobre você, mas nunca ficaria do lado dele. Nunca.
Percebi algo de estranho naquelas palavras, no seu modo de
falar. Dane-se o espaço que teria de dar a qualquer um, ela estava
sofrendo.
— O que ele fez?
Indaguei, minha voz ficou rouca, raiva tornou-se visível nas
palavras e meus gestos. Desviei o olhar dela novamente, nunca
conseguia olhá-la quando pensava em matar alguém que havia a
incomodado. Para o bem dele, era melhor não ter sido nada demais.
— Me acuou na parede. Acuou-me de maneira agressiva, e
também fez ameaças.
Fechei os olhos, naquele momento só pensei em ataca-lo,
contudo seria burrice ser premeditado nessa questão. O filho da
puta tinha poder, muito mais do que eu. Tinha contatos em todos os
arredores do globo terrestre. Se fosse ataca-lo, Jeferson jamais
poderia desconfiar. O pior de tudo, é que ele atormentaria Charlotte,
viria atrás dela novamente.
— Dei um chute no seu saco, ele quase vomitou.
Arregalei os olhos e voltei a olhar para ela, impressionado. Pelo
visto a amizade que tinham foi destruída completamente, a situação
estava pior do que eu imaginava. Se Jeferson não conseguia algo
ele a destruía.
Charlotte estava em perigo.
— Olhe, juro para você que os meus negócios com ele
terminaram. Minha empresa pagou todas as dívidas e está
totalmente limpa. Quero que você preste bem atenção: você o
recusou, deixou bem claro com a joelhada que a relação que tinham
acabara. — Falei e dessa vez coloquei minhas mãos em cima das
dela antes que ela as removesse de cima das pernas. — Preciso
que ligue para a sua família, eles ficarão na minha casa até termos
certeza de que está tudo bem.
— Está me assustando, Matteo.
— É para ficar mesmo assustada. Ele é da máfia, agora atacará
você por meio das pessoas que se importa, as mais íntimas.
Charlotte levou um tempo para aceitar a situação em que se
encontrava. Ficou muito mais intensa, olhando para todos os lados,
procurando uma resposta na mente. Nada, permaneceu muda. A
mulher não tinha ideia do que fazer, o medo ia deixando-a indefesa
aos poucos. Segurei seus dedos sem dizer nada e a levantei, fomos
até o andar de cima, ela me fazendo inúmeras perguntas
desnecessárias, eu ignorando todas.
Entrei no meu quarto e a calei com um beijo lento, nossos lábios
se separaram depois e ela olhou para mim confusa. Num misto de
medo e prazer, soube que o segundo venceu quando Charlotte
inclinou-se e tomou a decisão de me beijar novamente.
Esperei um pouco para afastá-la, e ao fazer isso ela ficou sem
entender.

— Não quer isso? — Perguntou ela.


— Preciso fazer algo antes.
Peguei meu celular e teclei o número do meu motorista
rapidamente, avisei que fosse para a casa de Charlotte e lhe dei o
endereço. Ordenei para que trouxesse todos que moravam naquela
casa e deixei bem claro que seria demitido se ele não convencesse
quem quer que morasse lá. Só rezei para Jeferson ainda não ter
mandando nenhum dos seus homens até lá, o desgraçado podia
tentar todas as artimanhas possíveis para enganar a família de
Charlotte.
Desliguei o celular e avisei para Charlotte o que fiz, ela ao menos
sentiu-se mais segura em saber que sua família ficaria na minha
casa. Eu me sentei na cama, cabisbaixo. Pensando nos alvos de
negócios deixados na festa, ótimas oportunidades perdidas devido a
um desgraçado. A dor de cabeça aumentava gradativamente,
contudo já me sentia um pouco tonto.
Charlotte aproximou-se de mim, parecendo uma tímida.
— Obrigado, errei em duvidar de você.

Levantei o olhar e os movi a qualquer lugar para não encarar seu


rosto.
— Acho que qualquer mulher duvidaria. — Falei rispidamente,
com raiva de mim mesmo. — Deveria ter acabado com esse homem
muito antes de conhecer você.
A mão dela pousou na minha nuca, começou a fazer um leve
carinho. Fechei os olhos, e nossa, como foi bom. Quase melhor do
que qualquer sexo da minha vida, um gesto simples capaz de me
acalmar. Os pelos do meu corpo reagiram aos mais simples dos
toques, dedos pequenos capazes de fazer milagres.
— E eu pensei que você estivesse tensa. — Sussurrei.
— Já consegui ficar calma por saber da segurança da minha
família. Devemos nos concentrar em você agora. — Ela falou, tirou
os saltos altos e moveu-se na cama até ficar de joelhos atrás de
mim. Suas mãos começam a apertar os dois lados dos meus
ombros, massageando-os perfeitamente. — Quero pedir perdão por
ter desconfiado que me faria algum mal.
— Esqueça, já passou. E perdão por voltar nesse assunto.
— Já te disse, qualquer uma no seu lugar também desconfiaria.
— Falei, tentando manter a concentração na massagem gostosa. —
E pare de pedir perdão.
— Perdão... quero dizer, está bem.
Revirei os olhos, às vezes ela sentia-se culpada sem
necessidade. Desconfiou de mim, não desconfia mais, já passou e
agora é hora de seguir em frente para nos mantermos esperto na
questão da nossa própria segurança. Todavia... aquelas mãos
perfeitas estavam conseguindo distrair minha mente de tudo.
Como era gostoso...

— Acho que devemos parar... nossa preocupação deveria estar


focada em outra coisa... — Falei de maneira sonolenta. Já estava
querendo tirar uma pequena soneca.
— Não precisamos, já mandou pegar minha mãe e irmã. E
sabemos que Jeferson terá obsessão por mim, fará de tudo para
tentar prejudicar a mim, e a você. — Charlotte intensificou a
massagem, conseguindo arrancar uns poucos gemidos de mim.
Foi difícil pensar em Jeferson e como resolveria esse enorme
problemão inusitado. Só queria dormir com Charlotte entre meus
braços, sentindo o calor do seu corpo e o doce cheiro dos seus
cabelos.
— Jeferson é assim tão poderoso?

Ela perguntou tão tranquilamente que respondi sem pensar se


mostraria fraqueza ou não.
— Muito, ele não tem trabalhos só aqui. Ganha dinheiro com
muitas coisas ilegais em alguns países, e não posso usar essas
informações. — Abri os olhos para suspirar tristemente. — O
dinheiro que me emprestava com certeza vinha sujo de um desses
lugares. Seria atirar na minha própria cabeça.
— Então se ele por um acaso chegar a ser preso?
— Não vai chegar a esse ponto, se ele não honrar sua palavra de
não tentar fazer nada contra mim depois do fim do nosso acordo, ele
se ferra também. Pois vai estar se entregando também. —
Murmurei, depois virei-me para Charlotte.
— Ele não vai ser preso por ser um mafioso, pois mafiosos não
costumam ser presos.
— Sim, ou eles morrem ou fogem. E se morrem ferram o tanto de
pessoas que conseguirem. — A preocupação sobre o que fazer com
Jeferson voltava aos poucos a minha mente. — E se por um acaso
o derrotamos, ele poderá enviar outros de seus amigos do alto
escalão para vir atrás de nós.

O peito de Charlotte subiu devagar e só depois de longos


segundos desceu, estava sem saber o que fazer, assim como a
mim.
— Nossas opções?
— Imunidade?
— Começo a pensar que há policiais corruptos na mão de
Jeferson.
— Boa garota. — Sorri. — As opções que temos é prendê-lo e
arriscar colocar minha firma no topo de um penhasco frágil.

Se por uma imensa sorte do destino conseguimos prender


Jeferson, ele entregaria todos os papéis e chamaria todas as
testemunhas que poderiam me arruinar, sujar meu nome e arrancar
meu dinheiro.
— E irá deixar ele tirar sua empresa? — Indagou Charlotte.
O tom provocativo na sua voz deixou-me tão excitado que quase
tirei minhas calças naquele minuto. Fiquei chocado e admirado, a
mulher realmente estava ansiando para acabar com o maldito.
Quase pensei em comprar qualquer aliança cara em alguma loja
aberta naquela hora, sair da cama e ajoelhar no chão, e então pedi-
la em casamento.
— Jeferson terá de arrancar das minhas mãos mortas e frias. —
Encerrei.
— Será divertido vê-lo tentar e fracassar. — Ela sorriu, inclinando
na minha direção.
O beijo que selamos foi diferente de todos os anteriores, havia
maldade, tragédia, raiva, rancor e o melhor sentimento antes de
fazer sexo: vingança. O ditado de Charlotte parecia ser bem
simples, ir atrás de Jeferson primeiro antes que o desgraçado viesse
atrás de nós.

Peguei no zíper do seu vestido, pronto para deixa-la totalmente


nua para mim, iríamos ser fantásticos aquela noite na cama, podia
sentir isso, ansiava por isso. Foi aí que a campainha tocou uma vez,
depois uma segunda vez, e assim se seguiu. Minha decepção foi
tão visível ao ponto de Charlotte rir de mim.
Só podia ser meu motorista com a mãe e a irmã de Charlotte.
Tristemente tive de sair do meu quarto e descer as escadas.
Assim que abri a porta depois de cruzar a enorme sala, dei de cara
com uma adolescente espinhenta que parecia uma versão da
Charlotte mais nova. E também uma mulher de idade mais
avançada que parecia uma versão mais velha de Charlotte,
arregalei os olhos de como a situação era irônica.
— Não faz pouco tempo que fui chifrada, o estresse está fazendo
espinhas enorme crescerem na minha cara. E agora me traz para
seus problemas, Charlotte? — Indagou a Alexandra, furiosa.

Franzi o cenho e me virei para Charlotte momentaneamente.


— Podia me agradecer por ser uma boa irmã e me preocupar
com sua segurança. — Charlotte disse de uma maneira cínica.
Voltei a olhar para as duas mulheres, elas vestiam roupas
simples e ao menos a mãe sorria bastante, esta parecia educada.
Ao contrário da irmã que já me dera uma ótima primeira impressão
do seu temperamento curto. Meu motorista já estava de costas para
mim voltando para seu carro.
Nem ele aguentaria aquilo.
— Boa noite, moças. — Sorri. — Por favor, entrem e sintam-se à
vontade.
As duas entraram e a garota foi a primeira a ter seus olhos
brilhando por olhar a enorme sala, cheia de móveis e decorações
que ela nunca sonharia em ter. A mãe foi diferente de todas as
sogras que já conheci, que foi no máximo duas. Seu sorriso na
minha direção era enorme e lindo.

— Acho que meu motorista falou a vocês sobre o problema que


encontram...
— Disse sim. — Interrompeu-me a mãe de Charlotte. — Estou
com medo e ao mesmo tempo impressionada de como foi um
completo cavalheiro em querer proteger a família da sua namorada.
Sorri desviando-me rapidamente a Charlotte, totalmente
constrangida, em seguida segurei a mão da mulher, inclinei-a um
pouco e então depositei um beijo em cima da pele.
— O prazer é todo meu.

As bochechas dela ficaram mais vermelhas do que a da própria


filha. Foi engraçado de ver, contudo não ousaria rir, mantive meu
divertimento dentro do meu sorriso sedutor. Falaria com a Alexandra
também, e procurando por ela a vi jogando-se no sofá. Deixei-a em
paz, pois tive de admitir a mim mesmo que já odiava a garota.
— Então, finalmente conheci seu namorado. — Falou a mãe de
Charlotte para ela. — E que bom partido, não termine, muitas
mulheres devem estar no seu encalço.
— Não posso dizer que é mentira. — Murmurei.
— E engraçado. — A mulher riu. — Pensei que nunca fosse me
mostra-lo. É chique, roupas bonitas, casa grande e tem o próprio
motorista.
Charlotte cruzou os braços.
— E pensei que eu fosse a interesseira da família. — Tagarelou
Alexandra.

— Cale a boca e vá cuidar dos seus dois chifres. — Contra-


atacou a mãe.
Por aquela resposta jamais esperei, tive de controlar e muito
minha vontade de soltar uma enorme gargalhada, seria
desrespeitoso. Fingi ajeitar alguns botões da minha roupa, bem
devagar enquanto as duas continuavam a discutir. Nenhuma xingou
a outra, mas a briga era como a de qualquer outra família. Ao
menos melhor do que a minha, pois nenhuma ameaça de morte
ainda foi feita.
— Tratem de se acalmar. — Charlotte gritou. — Está na hora de
ambas dormirem. Alexandra, segundo quarto a esquerda, e mamãe,
segundo a direita.
Ela aproximou-se da mãe e a abraçou, dando um pequeno beijo
na bochecha dela.
— Trancou toda a casa?

— Tranquei. — A mulher sentou-se ao lado da filha mais nova e


ergueu a cabeça para Charlotte. — Então... está mesmo em perigo?
— Sim, mas tente ficar despreocupada. É só um obsessivo, pode
ser perigoso, mas Matteo é mais.
A mulher sorriu para mim.
— Ah, esse é seu nome? Não nasceu aqui no Brasil, nasceu?
— Não, senhora, sou da Itália. — Disse sério. — E não gosto de
ameaças feitas a mim ou a qualquer pessoa que me importe. Pode
ficar aqui e dormir tranquila, sua filha ficará muito bem.
As três mulheres depois de um tempo começaram a conversar
entre si, e Charlotte tentou explicar a rotina a partir daquele
momento. Nenhuma delas ficaria presa aqui, Alexandra ainda teria
de ir para a escola, meu motorista iria deixa-la e a traria, a mais
velha poderia fazer o que quisesse desde que saísse acompanhada.
Já Charlotte, faria o possível para sempre estar do seu lado. E se
ela precisar de espaço contratarei um segurança que não a
incomode ou que a deixe desconfortável de alguma maneira.

Foi muito bom as duas terem chegado depressa, Jeferson


poderia ter tramado alguma coisa. Ali ao menos estariam totalmente
seguras, embaixo do meu teto e sob minha proteção. E antes de
subirmos, fui na frente das mulheres para trancar o quarto onde
estavam meus brinquedinhos de prazer, pois tive certeza de que
Alexandra bisbilhotaria quando ninguém estivesse olhando.
Dei boa noite para as duas logo depois de ter mostrado o quarto
onde ambas ficariam hospedadas. Ficaram maravilhadas e
Alexandra ainda teve a enorme cara de pau de me indagar por qual
motivo não havia televisão no seu quarto. Como era a irmãzinha de
Charlotte só a ignorei e fechei a porta, ela também se despediu das
duas antes de entrar no meu quarto.
Deitei na cama e ela trancou a porta.
— Finalmente conseguimos um tempo a sós. — Murmurou ela.
— Sem ninguém para atrapalhar. Só tire a roupa e aproveite.
Fiquei deitado de costas para poder olhar Charlotte se
aproximando de mim enquanto tirava os saltos altos. Parou por
alguns segundos e tirou a calcinha, em seguida chegou perto de
mim, virou o corpo e aguardou. Me ergui já excitado, segurei no
zíper do seu vestido e o baixei, Charlotte então tirou o vestido e o
jogou no chão.
Meu coração palpitava rápido, chegando quase a doer. Charlotte
aproximou-se de mim, seus dedos delicados desabotoaram cada
um dos meus botões. Ela tirou tudo, revelando meu peito com
alguns pelos que já cresciam. Jogou as roupas no mesmo lugar que
seu vestido e passou para as minhas calças, removeu o cinto e,
segurando nos passadores, removeu ela mesma a peça. Antes da
cueca, Charlotte passou as unhas de leve na minha cintura, a
sensação foi estranhamente boa, em seguida segurou na minha
alça e tirou minha última peça.
Meu membro duro bateu no rosto dela involuntariamente, em vez
de ficar assustada, ela só o olhou e o agarrou com um sorriso no
rosto. Olhando rapidamente para a minha virilha lembrei que depois
de alguns dias teria de raspá-la, os pelos já começavam a ficar um
pouquinho maiores. E ao contrário de mim, Charlotte pareceu adorar
aquele detalhe, seus olhos brilhavam como se estivesse vendo uma
pedra enorme de um diamante caro.
— Já fizemos isso tantas vezes... não sei como não enjoa. —
Comentou Charlotte.
— Está enjoada dessa atividade?
— Nunca!
— Então continuaremos a fazer.
Mesmo Charlotte tendo feito sexo oral em mim algumas vezes,
daquela vez pareceu receosa em trabalhar no meu pau. O estresse
de imaginar que alguém obsessivo podia te matar a qualquer
momento deixaria qualquer um nervoso. Ela demorou tanto que meu
órgão começara a amolecer.
— Vamos fazer isso uma outra hora...
— Não, por favor, Matteo. Vamos continuar. — Charlotte disse.
Sua mão começou a subir para cima e para baixo no meu pênis,
numa tentativa de deixa-lo novamente ereto. — Paramos aqui,
então daqui seguiremos.
Sorri ao sentir os lábios úmidos, joguei a cabeça para trás e
fechei os olhos. Céus, depois de tudo de ruim que passamos nas
últimas horas, precisava mesmo disso. E como foi bom, Charlotte
optou por não perder tempo com chupadas lentas, foi rápida e
permaneceu desse jeito. Parecia desesperada, eu gostava muito
disso, da urgência de me secar por inteiro. Alguns pequenos
choques passavam pelas minhas coxas de uma maneira gostosa,
joguei-me por completo na cama e a deixei finalizar o trabalho.
Ela parou de repente, percebera que endureci mais que o
normal, prestes a gozar, e então parou. Maldita, depois voltou a
chupar como se nada tivesse acontecido, e demorou muito para o
esperma querer sair novamente. E perto do ápice, Charlotte
interrompeu uma segunda vez, deixando-me louco.
— Por qual motivo? — Indaguei quase sem fôlego.
— Está precisando sofrer um pouco. — Charlotte riu, mas depois
parou de me chupar. — Quero tentar algo, devo ter visto num
desses filmes pornôs de má qualidade. Posso?
— Fique à vontade.
Ela com um pouco de dificuldade e vergonha colocou meu pau
duro entre seus dois seios, bem no meio. Depois pressionou cada
um deles no meu membro, foi aí que compreendi o motivo dela ter
excitado tanto o meu corpo. Provavelmente eu cairia na gargalhada
e encerraria o clima erótico, contudo, no estado atual estava
topando de tudo. Charlotte movia-os para cima e para baixo, mesmo
sendo estranho fiquei tão excitado, que os jatos de porra vieram
rapidamente e espirraram no seu queixo e parte da boca.
— Isso foi... inesperado. — Falei entre muitos suspiros. —
Estranhamente gostei.

Charlotte respirava rapidamente, um sorriso desesperado. Toda


melada levantou e tentou se limpar. A impedi puxando-a para meu
lado da cama, a joguei na cama e subi em cima do seu corpo. Nos
olhamos por quase um minuto inteiro.
— Acho que está na minha vez de te fazer gozar, não acha?
— Do mesmo jeito que fiz com você? Acho difícil...
— Bom, terei de ser criativo.
Capitulo 20
CHARLOTTE

Três dias se passaram desde que Jeferson fez suas ameaças, e


nesses três dias foi difícil de dizer o que eu sentia. Medo? Talvez,
uma mulher normal estaria apavorada, ao contrário de mim, que
estava atenta a tudo e a todos. Nesse meio tempo o desgraçado
sumiu do mapa, nada de ligações ou encontros surpresas, aparecer
na surdina ou pegar-me no meu momento mais frágil. Ele só sumiu,
como se nunca tivesse existido. Peguei a garrafa de vinho aberta na
geladeira e derramei o líquido numa taça que estava em cima da
mesa, depois de beber um gole comecei a girar a taça lentamente.
A situação parecia tão perigosa que tive de cuidar para que
minha família viesse para cá, Alexandra não foi muito com a cara de
Matteo, mas tinha certeza de que agora era ela quem estava solteira
e eu não. Minha mãe já o tratava como um filho, querendo lavar
suas roupas e fazer comida, mesmo que já houvesse empregados
para isso. E me incomodou o fato de que ela nunca bajularia suas
duas filhas mulheres desse jeito.
Bebi mais um pouco de vinho.

Desde que conheci Matteo, vivo cansada mentalmente, seja por


ele ter pegado pesado comigo no começo ou por ter de ficar na
briga desses homens cheios de testosterona. Recostei-me no
armário que ficavam guardados pratos, talheres, copos e outros
desses objetos. Respirei muito devagar, tentando assimilar tudo
isso.
Mais um gole, e minha taça se encontrou vazia.
Estava mais estressada do que qualquer outro sentimento, tantos
sentimentos borbulhando no meu corpo e rondando na minha
cabeça que quase pensei em pedir a Matteo um dia de folga. No
entanto sou uma mulher forte, e o trabalho importava muito para
mim, de maneira que poderia me manter ocupada pensando em
outras coisas. De repente coloquei minhas mãos em cima do balcão
do armário, pois fiquei receosa, talvez nem meu trabalho fosse
capaz de me ajudar no final das contas.
Tinha tantas preocupações, minha família estava segura, era
claro, ficando aqui na mansão. Alexandra tinha de ir para a escola
com um segurança, ela vivia reclamando que passava vergonha. Os
colegas tiravam uma com a cara da nova patricinha filhinha de
mamãe do bairro. Foi quase que totalmente proibida de sair com
suas amigas se não fosse acompanhada pelo segurança. A menina
sempre voltava para casa me xingando e reclamando que sua vida
acabara antes de começar. Que tudo era culpa minha, que não
fosse esse homem de negócios estúpidos ela e mamãe estariam em
casa assistindo novelas, em segurança.
Matteo era o pior, pois simplesmente dizia que estava tudo bem
quando não estava. Via no seu rosto a preocupação em cada
expressão, a todo momento tentando achar uma maneira de
encerrar essa situação sem ferir as pessoas que se importava,
nesse caso: eu. Coitado dos trabalhadores nesses três dias que se
seguiram, a maioria nem ousou enchê-lo de perguntas como
sempre faziam ou perturbá-lo de qualquer outra forma.

A única nessa situação toda que continuava a mesma, era


Melissa. A mulher continuava com o sorriso malandro no rosto
sempre que me via. Faz tempo desde nossa última conversa, onde
desgostamos uma da outra. Infelizmente ambas não estavam
dispostas a pedirem desculpas, ao menos não por agora.
Ondas de problemas que não paravam de me arrastar. Às vezes,
só às vezes, pensava em desistir de tudo. Mas isso não aconteceria
nunca, de nenhuma forma, de jeito algum. Nesse momento escutei
pequenos sons de passos. Matteo apareceu na cozinha, com os
cabelos desgrenhados, a mão direita esfregando o olho, e a boca
estava aberta de tanto que bocejou. Em plena madrugada, com o
sol começando a iluminar os lugares me deparava com um homem
de cueca branca na minha frente.
— Ficou louco, Alexandra ou até minha mãe podem aparecer
para beber água.
Matteo continuou despreocupado, bocejou longamente mais uma
vez antes de falar comigo.

— Problema delas, estou na minha casa. — Ele riu. — E além do


mais sua mãe e irmã já viram mais do que um homem de cueca.
Era verdade, e me senti tola por censurá-lo na sua própria casa.
Por um momento ainda achei que estivesse na minha casa. Fui até
ele e o agarrei pela cintura, aproximando-o de mim e o beijei. Matteo
abriu os olhos um pouco mais, ficando surpreso e quase perdendo
completamente o seu sono. Esfreguei meu dedo do meio no seu
órgão sexual coberto pela roupa íntima, rapidamente o deixei
excitado.
— O que há com você?
Ele me perguntou, quase sem voz.
— Só estou pensativa.
— Então devia ficar pensativa mais vezes. — Continuou ele.

Sorri, peguei a garrafa de vinho e a taça para guarda-las em


seguida. Ele cruzou os braços, me esperando de volta. Depois de
deixar tudo no seu devido lugar, fiquei de frente para Matteo.
Poderia vomitar tudo que estava preso na minha garganta, de como
minha preocupação poderia acabar prejudicando todo mundo. Mas
aquele sorriso... o corpo sem gordura... a cueca com o pau duro.
— Me leve para aquele quarto. — Pedi, educadamente.
Foi tão inesperado que ele piscou algumas vezes antes de
arregalar os olhos, totalmente pasmo. Devia esperar uma atitude
assim dele próprio, nunca de mim. O pobre coitado ainda continuava
a ter uma imagem santa de minha pessoa. Estava no momento de
desmistificar sua opinião sagrada, mostrando do que eu realmente
poderia ser capaz de fazer.
— Quer ir para aquele quarto?
— Sim, isso mesmo. Quero eu mesma escolher os objetos... que
usarei em você.
Matteo riu muito alto, quase exageradamente. Não fiquei com
raiva, assim como irritada. Por Deus, o desgraçado estava muito
bonito daquele jeito inocente, um pouco desorientado.
Impulsivamente mordi meu lábio inferior, imaginando as coisas
terríveis que poderia fazer com ele naquele cantinho obscuro do
corredor de cima. Precisava disso, aliviar minhas preocupações de
uma maneira diferente, e fazer dele meu submisso ajudaria muito
nesse trabalho. Não tinha escapatória para ele dessa vez, era
todinho meu.
Quando ele parou de rir ao ver meu olhar sério, fui eu quem
desatou a rir.
— Qual o problema, meu amor? Está com medo de algo?
O indaguei de maneira safada, dando uma volta com meus
braços no seu pescoço, como uma sucuri.
— Eu... hãn... e-eu...
— Parece um pouco nervoso, vamos lá para cima, irei te acalmar
do meu jeito.

Envolvi meu braço na sua cintura e juntos caminhamos para o


andar de cima, por Matteo ter acabado de acordar, ele continuava
um pouco desnorteado. Imaginando que estava dentro de um filme
pornô BDSM, pelo menos era o que eu apostava. Confuso como
uma criancinha, safado como um adulto. De todas as formas
possíveis o homem continuava um completo fofo aos meus olhos.
Entramos no quarto logo depois de Matteo ter pego as chaves no
seu quarto normal, fomos do jeito que estávamos, eu de sutiã e
calcinha e ele de cueca. Matteo bocejou mais uma vez e então
ascendeu as luzes. Os objetos se revelaram para mim novamente,
quase não lembrava da primeira sensação que tive quando meus
olhos passaram por aqueles instrumentos de prazer assustadores.
Deslizei meus dedos pelos metais de um par de algemas, levantei
meu olhar e o encarei.
— Gostaria de morder seu mamilo – eu disse.
— Amaria lamber todo o seu peito enquanto estivesse sem se
mover – falei, apoiando meus dois braços em cima de um pedaço
de vareta fina.
Meu tom de voz pode ter sido um pouco sinistro, tive certeza
disso segundos depois quando meu amante ficou excitado e
assustado ao mesmo tempo, e tive de admitir a mim mesma, adorei
vê-lo desse jeito.
— Por favor, venha aqui.
— Se não quer que meu pau fique mole, tem de fazer direito.
Ele estava certo, quase estraguei os desejos que eu mesma
construí.
— Venha aqui! — Ordenei.
Ele nada falou, obedeceu sem reclamar. Andou com passos
curtos e lentos, chegando a centímetros de mim, coloquei minhas
mãos em seus ombros e o forcei a se ajoelhar. Vê-lo ajoelhado na
minha frente foi quase um êxtase, ficava a cada segundo mais
molhada. Tirei meu sutiã e o arremessei no chão, então as mãos
firmes com dedos grossos de Matteo agarram a alcinha da minha
calcinha e depois ele a remove no próximo movimento. Agarrei os
cabelos dele e o puxei para as minhas partes, quente, molhado e
diferente. Sentir sua boca na minha vagina foi algo bastante
prazeroso e divertido. Vê-lo se esforçar para me agradar só fazia
meu desejo crescer mais... muito mais.
Ele começou a massagear minhas coxas, bem nas partes
sensíveis com seus polegares. Tentei controlar meus gemidos, mas
alguns foram simplesmente impossíveis de guardar. Logo me cansei
desse ato, por isso imediatamente coloquei dois dos meus dedos
embaixo do queixo de Matteo e o forcei para cima, fazendo-o
levantar como um perfeito submisso. Segurei a cabeça dele com as
duas mãos e o beijei, possuindo sua boca rapidamente, controlando
sua língua. Foi como se luzes pisca-pisca ascendessem dentro de
mim. Ele segurava na minha cintura como se estivesse concordando
com minhas atitudes de controlar aquele jogo.
— Nunca pensei que alguma vez fosse estar do outro lado... —
comentou Matteo, de maneira ofegante.

— Sorte a sua, fui a primeira e única a ter coragem de mandar


em você. — Sorri, maldosa. — Agora cale a maldita boca e
continue.
O puxei de volta para os meus lábios, lhe arrancando quase que
totalmente o fôlego. No entanto, me sentia em muita desvantagem
já que estava completamente nua, enquanto ele não. Satisfazer-me,
Matteo tinha de me satisfazer, e agora eu estava incomodada e
desconfortável. Interrompi sua pequena atividade e me abaixei para
tirar sua cueca, sorri ao levantar o olhar para Matteo.
Depois simplesmente me ergui, seu cenho franzido deixou-me
com vontade de rir.
— Não vai...
— Não!
— Nem por alguns segundos?

Balancei a cabeça negativamente. Tentei fazer uma expressão


impenetrável, para que ele não imaginasse ou tentasse adivinhar
quais pensamentos eu estava tendo no momento. Pela cara de
Matteo, achou tudo aquilo frustrante. O pau já começava a dar
indícios de que ia amolecer, isso não podia acontecer.
Tive muita dificuldade de aceitar esse assunto todo no começo,
admito. Todos esses objetos, a submissão de uma pessoa a outra.
Mas agora quase que eu entendia Matteo completamente, parecia
divertido, uma necessidade prazerosa e divertida. Sorrio para ele, e
foi impossível parar de sorrir. Podia fazer parte desse mundo sem
medo, e começaria com o meu namorado.
— Tem ideia de quanto eu o desejo, maldito miserável?

— Por favor, me mostre — ele implorou.


Aumentando o meu sorriso dei as costas para ele,
movimentando-me como uma cobra preparando o bote. Deslizei
minhas mãos pelos vários objetos ali espalhados, uma vareta, ele
estremece. Muitas bolas para introduzir em lugares desconfortáveis,
Matteo estremeceu mais uma vez. Quando passei meus dedos finos
no chicote preto com várias tiras, percebi mais um estremecimento
de Matteo, contudo, notei um pouco de... curiosidade? Sim, só podia
ser isso mesmo. Escolhi meu primeiro objeto.
Se eu não estivesse enganada, no mesmo segundo que eu tirei o
objeto do lugar em que estava alocado, Matteo arregalou os olhos e
relaxou os ombros, talvez de espanto e alívio. Pensou com toda
certeza que o objeto escolhido pudesse ter sido muito pior. Voltei até
o par de algemas e as escolhi também, seria divertido ver suas
expressões quando eu começasse.
Fiz com que ele andasse até uma tabua enorme de madeira em
pé, onde no topo havia um pedaço de ferro curvado de forma
circular preso nele. Pedi educadamente, mas de forma autoritária,
que ele erguesse os dois braços, então coloquei a corrente que
ligava uma algema a outra sobre o ferro. Então prendi os braços
dele na algema, fazendo-o ficar de pé pelas pontas dos dedos, de
costas para mim.
— Deveria ter tentado me surpreender um pouco mais... — Ele
riu, confiante.
O pobre coitado... tive de rir silenciosamente para mim mesma.
Quando coloquei a venda totalmente preta nos olhos dele, vi sua
boca se contorcer num O perfeito. Agora ele não tinha como saber
onde eu o chicotearia e nem em qual momento. Só podia ouvir
minha voz, o doce e terrível som das minhas palavras. Imaginei se
algum dia eu fosse ter uma rodinha de amigas, nunca, jamais teria
coragem de contar o que estava acontecendo aqui. Seria
oficialmente confidencial, e esperava que Matteo não revelasse
esse segredo a ninguém também.
Desferi a primeira chicotada, ele não gemeu, mas seu corpo deu
um pequeno espasmo e Matteo contraiu o bumbum. No próximo
golpe, ele se retraiu mais uma vez. Dando uma volta ao redor dele o
vi mordendo o lábio inferior, segurando um gemido. Alisei a banda
direita dele com as tiras, amaciando-o. Quando ele pareceu relaxar
desferi um ataque leve na sua coxa, o movimento inesperado tirou
do homem algo que almejava, um gemido forte.
— Se quiser uma pausa ou desistir, diga: inferno — Falei por vias
das dúvidas.
Ele poderia desistir a qualquer momento, pois mesmo
chicoteando-o, a dor nunca poderia ultrapassar o prazer. O abracei
por trás, lambi a parte de trás da sua orelha, meio ofegante e muito
excitada. A respiração de Matteo estava regular, ele resistia bem,
tentando mover a cabeça no som dos meus passos, tentando
adivinhar de onde viria meu próximo golpe.
— Não vou falar isso tão cedo, iremos até... urgh, o fim!
Desferi outra chicotada enquanto ele falava.
— Disse que poderia falar?
Comecei a rodeá-lo novamente, a passos quase inaudíveis.
— Me desobedeça novamente e a próxima chicotada será mais
forte.
Sorri, ficando mais excitada, algo queimava entre minhas pernas.
Nunca pensei que teria esses desejos de dominar alguém. Matteo
podia esperar que isso aconteceria mais vezes no nosso
relacionamento. Aproveitei para golpeá-lo devagar nas costas,
fazendo-o retrair os dedos dos pés. O corpo dele estava suado, ele
quase não conseguia sustentar mais seu próprio peso. E isso era
óbvio, era sua primeira vez como submisso, estava desacostumado
a ser algemado. Toquei na pele vermelha na banda esquerda da
bunda de Matteo, ele estremeceu com meu toque suave, fiz meus
dedos andarei até as suas costas, pousando bem em cima da
marca.
Ele pareceu soltar uma respiração que há minutos estava
guardando, parecia querer desistir e ao mesmo tempo implorar para
que eu continuasse. Como não ouvi a palavra especial que me
fizesse cessar minhas pequenas atividades, prossegui. No entanto
seria redundante continuar a chicoteá-lo, fiquei desconcertada e
confusa. Mais ou menos vinte minutos havia passado e eu já queria
trocar de objetos. Meu coração começou a acelerar, talvez devesse
escolher um chicote mais fino, e que causaria mais ardência do que
esse de várias tiras nas minhas mãos?

O sangue aquecido correndo pelas minhas veias fazia minha


adrenalina crescer, contudo tinha de ficar calma, não podia exagerar
logo na minha primeira vez como dominante, precisava que Matteo
desejasse ser submisso mais vezes. Coloquei a mão no coração
dele, sentindo as batidas aceleradas, olhei para seus lábios e
imaginei que sua boca já estivesse seca.
— Sinto seu cheiro, tão doce, de puro desespero.
Matteo me desafiou no sorriso afrontoso.
— Está enganada...
Parou de responder quando fiz as tiras do chicote passearem por
cima do seu pênis, pelas suas bolas. O medo fez Matteo contrair a
testa rapidamente, ele instintivamente tentou puxar os braços, mas
estava impossibilitado. Moveu as pernas de maneira desengonçada,
a respiração aumentou.
— Estou, é?
Agarrei o pinto dele com pouca força, contudo o suficiente para
lhe arrancar um gemido.

— Gosta disso, hum? — Indaguei.


— Sim.
— Sim, o quê?
— Sim, senhora?
— Melhorou, muito bom garoto — falei, vitoriosa.
Coloquei meus dois joelhos no chão, puxei a pele do corpo para
frente e para trás, até deixa-lo completamente duro. Abocanhei o
membro com tudo, até senti-lo no interior da minha garganta. Foi aí
que Matteo não segurou mais seus gemidos, depois de tantos sons
dele na medida que minha boca trabalhava, parecia estar ficando
rouco. Sentia desejo e um pouco de receio, uma mistura no mínimo
intoxicante.

Meus joelhos já estavam começando a doer de tanto tempo que


permaneci ali, mais ou menos uns dez minutos. Quando Matteo
estava chegando no ápice cessava meus movimentos
abruptamente, continuei torturando-o dessa maneira por mais
alguns minutos. Eu estava quase ouvindo as palavras, o meu
prisioneiro abria-se para mim, desistindo desse orgulho masculino.
Vamos seu desgraçado, diga logo.
Comecei a chupar mais rápido, perto de gozar, quando seu pau
ficou o mais rígido possível parei novamente, impedindo o final.
— Droga, termine por favor.
Sorri, finalmente se rendeu a mim. Tirei minha boca e comecei a
masturba-lo rapidamente, o pobre coitado queria acabar com aquela
tortura. No momento que os jatos começaram a sair da glande eu
estava do lado direito, de modo que todo o esperma melou somente
o chão. O membro começou a amolecer na palma da minha mão,
ainda o masturbei mais um pouco, sem sucesso.
Ele precisava de um tempo para recuperar o fôlego.

Fui ligeira na hora de tirar suas algemas, ele despencou de


joelho no chão, respirando aliviado. Coloquei uma mão no seu
ombro e uma no peito, ajudando-o a se sentar. A experiência nova
devia ter sido demais para ele.
— Tudo bem, querido? Acabou. Quer um copo de água?
Matteo colocou um de seus braços ao redor do meu pescoço e
assim consegui ajuda-lo a levantar.
— Foi interessante, temos de repetir mais vezes. Mas sim, um
copo de água viria bem a calhar.
O deixei por alguns segundos apenas para vestir minhas peças
intimas, em seguida ajudei ele a vestir sua cueca. Saímos daquele
quarto a passos silenciosos, seria trágico se minha mãe ou irmã
presenciassem aquela cena. O coloquei no nosso quarto e desci as
escadas quase correndo para pegar seu copo de água.
...

O observei engolindo todo o líquido, refrescando sua garganta o


máximo que podia. Colocou o copo em cima de uma mesinha ao
deixa-lo vazio. Seu corpo estava suado, os cabelos quase brilhando,
como se tivesse acabado de tomar banho. Curvado, com os dedos
entrelaçados uns nos outros, olhou para mim de maneira
enigmática.
— Não acabamos, acabamos?
Arregalei os olhos, e como não ficaria surpresa?
— Quer continuar? Matteo! Pelo amor de Deus...
— Ainda não te fiz gozar. Só preciso me recuperar mais um
pouco, enquanto isso, pode escolher outro instrumento.

Aquele homem me deixava a cada dia mais chocada, ele tinha


muita vontade de me satisfazer, de me fazer gritar enquanto gozava,
com muitos orgasmos. Quase não tive reação de imediato, o
homem aguentava um pouco mais? Impressionante. E tive de
admitir, um de nós teve seu ápice. Faltava a minha vez, o fogo no
meio das minhas pernas precisava ser apagado.
— Sem surras, não quero que me bata mais, pelo menos hoje.
Talvez em algum próximo dia. — Confessou Matteo. — Vamos só
terminar de uma vez, da maneira mais suave que você conseguir.
— Quero usar as algemas e a venda.
Falei e Matteo ficou um pouco pensativo, imaginando se
aguentaria mais dessas atividades ou não. Queria negar para
acabar logo com isso, contudo gostou tanto da experiência que
demorou mais ou menos um minuto inteiro para responder da
maneira mais ríspida possível. Seu peito subiu e desceu, como se
ele mesmo estivesse aceitando a resposta que daria.
— Sim, pegue os objetos. — Pediu-me ele.
Minha boca levemente se abriu, muito pela surpresa dele
realmente ter aceitado acabar nossa atividade como a começamos.
Devido a sua coragem, me inclinei sobre ele, o abraçando e
beijando-o na bochecha. Corri para o quarto cheio de objetos
peculiares e agarrei as algemas juntamente com a venda. No
momento que voltei, Matteo tirava sua cueca com cuidado, as
pernas trêmulas, as marcas avermelhadas na bunda sumindo. O
local continuava dolorido, talvez minha força nas chicotadas tenha
passado dos limites. Dessa vez teria de pegar um pouco mais leve.
— Não quer dormir?
— Fique despreocupada, isso é normal na primeira vez. —
Matteo jogou-se na cama. — Por favor, venha.
Prendi os pulsos de Matteo na cabeceira da cama com as
algemas e coloquei a venda nos seus olhos. Tive a impressão de
que ele gostava daquilo, de não ver nada e nem poder tocar nada,
esperar o inesperado de mim, a surpresa. Bom, me senti por muitas
vezes naquele jogo, meio... eufórica. Nunca na minha vida imaginei
que pudesse fazer aquela atividade com qualquer homem. Sempre
fui reprimida sexualmente, por causa de religião ou mesmo pela
minha mãe aconselhar quase que desnecessariamente o quanto
homens podiam ser nojentos nos seus gostos.
O pau dele já estava duro novamente, foi fácil me posicionar em
cima da sua cintura. Tendo o máximo de cuidado, coloquei seu
pênis dentro de mim. Meus pelos se eriçaram e pude ver que os
dele também. Apoiei minhas mãos no peito de Matteo, movi meu
quadril lentamente no início, ele engoliu em seco. Às vezes queria
mexer seus braços, o que era impossível, sua boca se abria para
encher meus ouvidos de prazer ao emitir seus gemidos. E quanto
mais ele gemia, mais meus movimentos eram acelerados. Sentava
nele, mexendo para frente e para trás ou para cima e para baixo o
meu quadril enquanto os raios do Sol penetravam as pequenas
frestas que o pano da janela não cobria. Já estava quase que
completamente de manhã. Me imaginar naquele horário, tão cedo,
fazendo aquelas imoralidades? Nunca pensei nisso.
Inclinei o suficiente para meus lábios conseguirem encostar no
seu pescoço. O corpo dele deu leve contrações, os gemidos
continuavam no mesmo tom, baixos, quase sussurrantes. Contudo,
eram muitos, movendo-se um pouco mais comecei a gemer perto do
seu ouvido. Devido a isso, o próprio Matteo começou a mexer seu
quadril, me penetrando ainda mais. Ao contrário dele, meus sons de
prazer aumentaram.
Não o suficiente para que minha irmã e mãe ouvisse do outro
quarto, só para deixa-lo mais louco.
— Está gostando, meu amor?
— Urgh... acho que vou...
Senti o liquido viscoso mergulhando dentro de mim, melando
todo o meu interior, e o excesso escorreu para a saída quando saí
de cima dele e o pau, já mole, tombou para o lado. Joguei-me na
cama ao lado dele, ambos respirando ofegantes. Aquele sexo foi
oficialmente o melhor da minha vida, inesperado, sem escrúpulos e
minhas ordens sendo obedecidas sem serem contestadas.
— Hãn... Charlotte?
— Sim?
— Pode me soltar? — Perguntou Matteo.
O mais rápido que pude o soltei, coitadinho, devia estar com os
pulsos doendo. Tirei sua venda e o encarei, beijando-o em seguida.
Ele me afastou um pouco para conseguir respirar, a perca de fôlego
foi maior para ele. Me aninhei em seu peito e por lá fiquei, o sono
me abatendo aos poucos. Por alguns minutos, nenhum de nós dois
falou um com o outro, vergonha? Talvez. Depois que a excitação
passou sobrou apenas a racionalidade.
— Não tem nada para dizer sobre o que fizemos hoje? —
Perguntei, não levantando minha cabeça para olhá-lo.
Senti vergonha.
Matteo nada falou, nada disse. Só senti seu peito subindo para
cima e para baixo mais lentamente. Provavelmente nervoso,
pensando no que dizer. Por mim a experiência deveria ser repetida
mais vezes, com certeza o imploraria. Poderia até prometer algumas
atividades que ele queira que eu faça na cama, as do seu agrado,
que qualquer homem teria receio de pedir a sua mulher. Faria tudo
no intuito de tê-lo como meu submisso mais uma vez.
— Bem... Achei... um pouco diferente. — Falou Matteo.
Capitulo 21
CHARLOTTE

Foi impossível dormir depois do que fiz horas atrás, nesse


momento me arrumava em frente ao espelho do quarto de Matteo,
enquanto o próprio dormia como um garotinho na cama, nu e
enroscado pelos lençóis. Coloquei um vestido preto, saltos altos e
amarrei meu cabelo num rabo de cavalo. Em seguida passei um
pouco de maquiagem no meu rosto, tudo no mais devido silêncio,
para não o acordar. Nem minha mãe e irmã haviam despertado, irei
sair antes de Matteo para chegar na empresa cedo como sempre
fiz. Pediria para seu motorista me levar, com certeza o homem faria
isso sem problema nenhum.
O medo de Jeferson fazer qualquer ato contra mim ainda
reverberava na minha mente. A todo momento que passei pelo
corredor, desci pelas escadas, atravessei a sala e passei pela porta,
fiquei receosa. No entanto, jamais pararia a minha vida por medo de
um homem qualquer que não aceitou um fora meu. Ninguém seria
capaz de destruir minha vida, torna-la inútil. Andei até o motorista
calmamente, tentando esquecer um pouco de Jeferson, a última
coisa que esse desgraçado merecia era continuar na minha cabeça
em meio a tormentos.
Entrei no carro quando o motorista educadamente abriu a porta
para mim, sentei no assento confortável e logo cruzei as pernas, em
seguida recostei o corpo. Aceitando o fato de que Jeferson
continuaria na minha mente enquanto essa situação toda não fosse
resolvida. O motor rangeu e meus pensamento mudaram de foco,
ajeitei-me no assento e pensei no meu trabalho.

Meu chefe e namorado chegaria horas depois. Como sempre


deixaria tudo preparado, marcaria seus compromissos, desmarcaria
outros e seria educada ao dispensar penetras que iriam querer uma
reunião com ele sem marcar hora. Somente segundos se passaram
até que tive vontade me estapear, o maldito mafioso voltou a minha
mente de novo. Estava impossível pensar em qualquer outro
assunto por mais de três minutos inteiros.
Foi então que comecei a pensar na noite de ontem e tudo que fiz
com Matteo, Jeferson pareceu uma agulha no palheiro. Esqueci dele
quase que totalmente, lembrei-me dos toques, dos beijos e do que
fiz a Matteo. Tive de admitir, aquilo fez minhas partes esquentarem.
Sorri maliciosamente, queria repetir a dosagem.
— Está tudo bem com a senhora? — Indagou o motorista.
Tive de me recompor rapidamente, provavelmente ele havia visto
minha expressão triste, e segundos depois minha mordida no lábio
inferior. Uma mudança muita rápida de humor, fiquei ruborizada, e
quem não ficaria? Fiquei um pouco envergonhada com a pequena
situação.
— Estou muito bem, obrigada por perguntar.
Dei graças a Deus por ter chegado depressa no prédio. Antes de
sair do carro acenei ao motorista em forma de despedida
momentânea. Entrei na firma e as pessoas passavam de um lado a
outro, apressadas, confusas e irritadas. Muitos olhavam alguns
papéis em uma mão enquanto na outra bebiam um pouco de café.
A todo momento que caminhei até o corredor ninguém pareceu
sequer comentar o motivo de Matteo ter se ausentado da festa tão
cedo. Caso descobrissem o real motivo seria um escândalo que
poderia queimar a carreira que meu namorado construiu por todos
esses anos. Precisava ter calma e acreditar que tudo daria certo,
apertei o botão do elevador e aguardei que as portas se abrissem.
Uma pessoa parou ao meu lado, não me atrevi a olhar para o
lado, pois assim como eu, o indivíduo só queria que as portas
abrissem logo. Ao menos foi o que almejei, rezando internamente
para que ninguém puxasse assunto comigo sobre aquela festa.
— Preciso conversar com você.
Era a voz de Melissa, então provavelmente teria de mentir sobre
a festa, pois acreditei realmente que a mulher estava prestes a me
fazer um enorme questionário.
Contudo, não foi o que aconteceu.

— Queria me desculpar por tudo o que disse a você, e pelo que


fiz. Não foi nada legal.
Por fora nada demonstrei, mas por dentro fiquei muito passada.
Foi tão de repente e tão surreal que foi difícil manter minha
expressão neutra na face. Minha vida estava de ponta cabeça,
muitas situações inusitadas acontecendo ao redor de mim e por
minha causa.
— Hãn... olhe, tudo bem. Mesmo, não fique preocupada com
isso. Podemos deixar tudo isso no passado a partir de agora.
— Eu agradeço por isso.
Ela voltou a olhar para frente depois que falou, aguardando a
porta do elevador abrir, as malditas portas que pareciam estar
quebradas. O silêncio prosseguiu sendo ensurdecedor ao ponto de
incomodar. Olhei para baixo, depois para cima, mas nunca para os
lados. O desconforto aumentou e tossi um pouco, foi aí que
finalmente o maldito elevador se abriu. Nós duas entramos ao
mesmo tempo no lugar vazio, cruzei as mãos na frente do corpo e
mantive a cabeça erguida.
— Então... por qual motivo Matteo saiu da festa cedo?

Pisquei os olhos, olhando para chão momentaneamente. Lógico


que a perguntaria viria de um jeito ou de outro.
— Como está sabendo?
— É o assunto do momento aqui no prédio. — Disse Melissa. —
Foi impossível não ouvir o que as pessoas falam.
— E o que elas falam? — Indaguei.
— Que você e ele discutiram e por conta disso tiveram de sair
mais cedo.
Então nos viram de qualquer jeito. Esse era um dos perigos de
ser famoso.

— Não foi nada disso, e infelizmente não posso entrar em


detalhes até perguntar para Matteo o que fazer sobre essa situação.
— Falei da maneira mais sincera possível. — Gostaria muito que
não ajudasse a espalhar essa fofoca.
— Posso fazer isso, não se preocupe. — Falou Melissa.
No primeiro momento que as portas se abriram mais uma vez, já
em outro andar, ela saiu, deixando-me sozinha no elevador. Então
as pessoas de alguma maneira começaram a teorizar? Quando
precisavam imaginar acontecimentos de que não faziam ideias,
muitas loucuras eram ditas. Teorias absurdas eram feitas e
noticiários traziam fatos incomuns e mentirosos.
Os problemas só estavam aumentando e com nenhuma previsão
de resolução. Caminhei pelo enorme corredor que ficava minha
mesa quando o elevador parou nele. Ver aquelas pessoas
preocupadas somente com os assuntos do trabalho me deixou com
inveja, quisera eu ter a sorte de espantar minhas preocupações
envolvendo minha própria segurança. Obviamente sentir os olhos
curiosos sobre as minhas costas, e quando alguém passava por
mim era sempre de cabeça baixa, estavam loucos para fazerem
perguntas, todavia o medo de sofrerem represálias de Matteo os
impedia de tomarem a iniciativa.
Puxei a cadeira para sentar, e abri meu computador vendo as
reuniões marcadas para hoje. Matteo teria reunião com aquela
mulher estilista ou modelo, passei por tantos problemas que não me
lembrava muito bem o que essa desconhecida fazia. Contudo
pensei em desmarcar ela e os outros três seguidos, pois Matteo
provavelmente não teria tempo para eles assim que chegasse no
prédio.
Passei pelo menos uma hora cuidando da sua agenda e tentando
pensar numa estratégia para caso alguma notícia da festa reservada
fosse vazada, isso colocaria Matteo numa situação complicada. Fui
interrompida por uma mensagem que aparecera na tela de meu
computador, era de Melissa.
Tem alguém aqui querendo falar com você.

Revirei meus olhos, quem poderia ser, afinal? Logo o medo


transpareceu minhas próximas expressões de dúvidas. Jeferson,
não, nem ele seria tão burro de aparecer aqui no prédio. Talvez um
de seus capangas? Rapidamente perguntei a Melissa por
mensagem de quem se tratava, e a resposta dela deixou-me
curiosa, pois ela falara que se tratava da minha irmã. Levantei-me e
caminhei até o elevador, apertei o botão e as portas se abriram
ligeiramente. O que Alexandra poderia querer numa hora dessas?
Talvez tenha vindo fazer mais reclamações de como não tinha
privacidade nem na escola com um segurança enorme que foi
designado para vigiá-la e protege-la.
Saí do elevador e entrei na multidão de pessoas andando de um
lado a outro, que gritavam no telefone, sorriam, cochichavam e
havia os olhares. Ah sim, o pior de tudo, os temíveis olhares,
aquelas que te julgavam e te condenavam por algo que supunham
ao seu respeito. Os desgraçados deviam procurar o que fazer,
xeretar a vida alheia era muito feio para adultos.
Melissa parecia muito ocupada na mesa dela, estava em pé,
escrevendo em alguns papéis e digitando quando podia no seu
computador. Cheguei mais perto e pigarreei baixinho, o suficiente
para que ela notasse minha presença.
— Ah, desculpe a minha desatenção. Oh, ela não está mais aqui.
— Melissa falou, girando o corpo e olhando por todo o seu campo
de visão. — Venha, ela deve estar do lado de fora.
Franzi o cenho, Melissa parecia muito desatenta naquele dia e
ainda pensava por qual motivo Alexandra teria ido até meu local de
trabalho. Esperava que o assunto fosse sério, pois poderia ter ligado
ou mandado uma simples mensagem. Do lado de fora, Melissa
olhou por alguns segundos, e prestes a desistir viu a suposta garota
sentada num banquinho embaixo de uma árvore, ainda perto do
prédio.
— Olhe, ali está ela.
Melissa andou na direção da menina e estranhei logo de longe, a
garota não parecia a minha irmã. E quando chegamos nela, tive
certeza de que não se tratava de Alexandra. Contudo, o que
significava aquilo tudo? Melissa ajoelhou-se e tentou falar com a
garota tremendo de tão nervosa que estava.
— Olá, querida, aqui está sua irmã, pode falar.
— Melissa, ela não é Alexandra, não é minha irmã de jeito
nenhum. — Falei, um pouco temerosa.
A garota ergueu o olhar para mim, quase soltando suas lágrimas.
O rosto vermelho e as pernas tremendo deixaram-me assustada.
— Sinto muito, eles ameaçaram minha família, tive de fazer você
sair do prédio.
Nesse momento senti algo duro na minha espinha dorsal,
logicamente não me mexi. Foi no desespero que consegui juntar os
pontos, Melissa não se deu conta de nada, continuava falando com
a jovem. Engoli em seco, meu corpo começou a esquentar, minhas
mãos começaram a tremer e minhas pernas tornaram-se imóveis.
— Não pense em se mexer ou meto bala nos seus joelhos.

Ouvi um pequeno som metálico, e acho que nesse momento ele


destravou a arma apontada a mim. Melissa ouviu, olhou para o
homem atrás de mim e levantou-se assustada, logo outro homem
chegou por trás dela e fez o mesmo. Colocou uma arma nas costas
dela e a ameaçou baixinho.
Como ninguém podia ver aquilo?
Tentei mover os olhos e vi muita movimentação, mas muito longe
da onde estávamos, e eles tinham as armas escondidas nas
camisas sociais deles.
— Estão vendo aquele carro preto estacionado ali. — O homem
encostou o cano da arma mais fortemente e me inclinou na direção
do carro, pude ver o veículo parado perto da calçada. — As duas
moças vão entrar nele. Se gritarem, morrem. Se tentarem correr,
morrem. E se tentarem mandar alguma mensagem escondida,
morrem.
Olhando para o homem rendendo Melissa, pareceu-me familiar,
no entanto não me recordei dele em nenhum lugar da minha mente.
Ambos rodearam nossos braços como se fôssemos suas
namoradas, isso geraria menos desconfiança. Começamos a andar
e fiquei muito perto de Melissa.
— Retiro o meu pedido de desculpas. — Falei.
Melissa revirou os olhos, estava prestes a falar algo.
— Fiquem quietas, porra! — Falou um deles.
Fui a primeira a parar, o homem grande saiu de perto de mim
somente o segundo necessário para abrir a porta do carro e
praticamente me jogar lá dentro. Tive de pular para o canto quando
Melissa foi jogada também de maneira bruta. Os dois homens foram
para os assentos da frente e trancaram as portas.
Melissa tremia da cabeça aos pés, nervosa assim como a mim,
que não parava de pensar que isso tinha algo relacionado a
Jeferson e a sua obsessão doentia. Mesmo o carro tendo ar
condicionado, o calor que senti só aumentava, e quando deram a
partida, muitas imagens passaram pela minha cabeça. Imagens dos
noticiários, de mulheres sendo abusadas e mortas; jogadas numa
vala ou numa floresta. Maldito momento que decidi vir para o
trabalho sozinha, Matteo ficaria ensandecido de raiva. Iria atrás de
Jeferson sem pestanejar, acabaria com a raça dele, e eu desejava
estar viva para presenciar tal momento.
— O que pretendem fazer com a gente? — Melissa perguntou.
Bati nela levemente com meu cotovelo, implorando com olhar
para que ela ficasse quieta. Os homens já estavam sem paciência,
incomodá-los só os deixaria irritado e faria nossas mortes serem
mais rápidas. Aquele que não estava dirigindo olhou para nós duas,
de cenho franzido, irritadíssimo.

— Já não falei para calarem a boca, querem morrer?


Não sei se foi meu medo, ou uma coragem súbita e muito burra.
Mas decidi retrucar de maneira mais grossa ainda.
— Sei que não vão nos matar, isso é coisa de Jeferson, aquele
canalha jamais deixaria que arrancassem um fio de cabelo meu.
O bandido fez uma cara debochada de como quem concordasse
comigo.
— É verdade... mas já essa aqui... — Tirou a arma e apontou
direto para o rosto de Melissa.
Ela gritou e o motorista tomou um susto tão grande que quase
tirou o carro da pista. O que estava apontando a arma ficou mais
puto ainda. Grudou o cano na testa dela, Melissa juntou as mãos e
fechou os olhos para rezar.

— Puta que pariu, tá surda, porra? — Ele praticamente rugiu. —


Fica quieta!
Abracei Melissa e tentei acalmá-la, de forma um pouco bruta, já
que eu mesma estava muito nervosa. E como poderia não estar?
Melissa poderia ser morta e só Deus sabe o que Jeferson estava
guardando para mim. O desgraçado provou ser tão frouxo que nem
foi capaz de fazer o trabalho duro, teve de mandar seus dois
capachos perseguir e prender duas mulheres.
Se bem que...Melissa só devia ter sido capturada por estar no
lugar errado e na hora errada, pobre coitada, foi metida numa
situação que nada tinha a ver. Ela começou a derramar-se em mais
lágrimas, seu rosto parecia um tomate de tão vermelho que
aparentava.
— Calma, vai ficar tudo bem. Tenho plena e total certeza que
sairemos dessa vivas!
Falei mais para mim mesma do que para Melissa. Talvez minha
crença de que a situação pudesse piorar fosse muito maior que
imaginei.

Muitos minutos se passaram até que consegui acalmar minha


companheira, os dois a todo momento olhavam para o lado de fora,
certificando-se que ninguém se aproximava ou desconfiava de nada.
Senti como se eles passassem dez minutos dando voltas e mais
voltas em alguns lugares que já passaram para me desorientar e
não sabermos para onde íamos. O que acabou funcionando, parei
de tentar entender a nossa localização e me concentrei em ajudar
Melissa.
Comecei a achar que estávamos saindo da cidade e indo para o
interior, pois comecei a ver muitos matos e a pista principal começou
a ficar quase que deserta. Me apavorei com a possibilidade de
Melissa e eu virarmos mais um caso de feminicídio, estatísticas
entre várias outras. Nossos sequestradores pareceram ficar mais
calmos à medida que perceberam que ninguém vinha seguindo o
carro, como eu sabia? O homem no assento direito olhava
constantemente para trás.
Quando os dois homens começaram a trocar palavras curtas,
mas descontraídas um com o outro, Melissa aproveitou a pequena
deixa e fingiu me abraçar, bem devagar, enquanto colocava um
celular no meu bolso. Então como simplesmente fosse a atitude
mais fácil do mundo, voltou a ter sua expressão tristonha. Foi ali que
tive de conter meu espanto, era tudo fingimento então? Como ela
conseguia fazer isso, ser tão fria a esse ponto? Bem, não cabia a
mim julgar, era uma maneira muito boa de tentar sobreviver. Fingir
ser uma mulher frágil enquanto bolava alguma maneira de ludibria-
los para tentar sair de uma situação de vida ou morte.
Pude ver pelo vidro do carro no lado direito, uma enorme
construção, mais ou menos como se fosse uma fábrica
abandonada. Um lugar sinistro, mas por qual motivo me levar para
esse lugar? Jeferson não podia estar gastando recursos só para
perder tempo novamente tentando me seduzir, tinha algo de errado
nisso tudo. O carro deu uma volta tão abrupta para sair da estrada
normal e entrar numa de terra, que chacoalhei dentro do carro, pois
havia esquecido de colocar o sinto de segurança.
Verifiquei rapidamente se o celular continuava no bolso dando
dois leves tapas lá, sentindo o aparelho pude ficar mais tranquila. O
meu celular havia ficado na bolsa em cima da minha mesa na
empresa.

— Se preparem, moças. Estamos perto.


Disse um deles, e fiquei pensando, procurando entender por qual
motivo deixaram nossos olhos descobertos. Ao menos eu pude ver
todo o caminho que fizeram até chegar ali. Caso conseguisse
mandar uma mensagem de texto a polícia ou para Matteo.
Não.
Para a polícia primeiro.
O carro parou e eles só abriram as portas quando a poeira de
terra baixou até desaparecer completamente. Ambos saíram
primeiro e apontaram suas pistolas na nossa direção antes de
abrirem as portas. E novamente lá estávamos nós duas, feitas de
reféns por dois homens que não conhecíamos.
— Ande logo, suas lesadas.

— Merda!
Xingou Melissa ao sentir novamente aquele cano gelado na sua
espinha, as lágrimas quase voltaram, mas ela fez questão de
mostra-los que podia segurá-las. Comecei a ter mais certeza de seu
fingimento, a mulher era uma baita de uma atriz. Devia fazer testes
para alguns papéis, e mesmo me esforçando para parecer forte, só
não me mijei ainda pois já havia expelido tudo que pude no banheiro
logo depois da noite com Matteo.
— O que tem aí dentro? —
Sim, fui burra o bastante para perguntar. Burra. Burra. Muito
burra. Me senti realmente como uma lesada, talvez fosse o
nervosismo que estava sendo impossível de controlar. Por sorte não
fui estapeada, eles continuaram só falando palavrões.
— Puta que o pariu, essas mulheres vão acabar matando a
gente, de tanta perturbação. Calem a boca, caralho. — Gritou o que
apontava a arma para mim.
Fomos caladas o trajeto inteiro para o lugar, foi difícil continuar
quieta, minhas pernas estavam tão trêmulas que fiquei
impressionada por ainda conseguir ficar em pé. Do lado de dentro
havia muitos objetos enferrujados, que um simples corte poderia
matar alguém de tétano. Observei que perto de uma escada só tinha
uma cadeira, tentei juntar os pontos rapidamente e cheguei à
conclusão de que se tudo aquilo foi mesmo obra de Jeferson, então
me amarrariam e se livrariam de Melissa.
Isso era ruim.
— Você, sente-se na maldita cadeira. Agora! — Gritou o meu
sequestrador.
Logo que colei minha bunda na madeira da cadeira, ele segurou
meus braços de forma bruta e amarrou o pulso de forma bem firme.
E pude respirar aliviada quando amarraram os pulsos de Melissa no
corrimão da escada, ao menos ela continuaria respirando.
— Não planejávamos pegar duas secretárias. — Confessou um
deles, nervoso.
Então era mesmo obra de Jeferson, e mesmo que tivessem
pegado Melissa, também conseguiram o alvo principal: Eu.
Foi estranho os sons repetitivos que passei a ouvir, eram ecos de
passos e como Melissa e eu estávamos impossibilitadas de andar e
os dois homens continuavam parados conversando, meu coração
palpitou. Finalmente o desgraçado daria as caras?
E lá estava ele, descendo as escadas de ferro que levava para o
andar de cima da fábrica. Estava bonito, tive de admitir. Usava um
terno polilã, e não estava de gravata. Vinha na minha direção como
se fosse o dono do maldito mundo, seu olhar maldoso e sorriso
arrogante quase me deu tanto nojo que por pouco não dei uma
cuspida no chão.
— Charlotte, meu amor. Senti muitas saudades de você.
— Uma pena que não posso dizer o mesmo sobre você,
Jeferson. — Falei, muito puta. — O que pensa que está fazendo,
sequestrando duas mulheres indefesas, perdeu completamente o
juízo?
— Calma, docinho, não mandei que trouxessem essa outra —
olhou de testa franzida para seus homens —, mas darei um jeito
nela depois.
— Por qual motivo trouxe-me aqui, só para me prender? Acho
difícil. — Charlotte cuspiu as palavras. — Aposto que quer
chantagear Matteo.
Jeferson gargalhou tão alto que fiquei impressionada por sua
garganta não ter ficado rouca.
— Sim, mas planejei trazer você aqui para nos divertimos um
pouco — ele sorriu de lado, sentindo prazer na minha expressão de
ânsia que senti das suas palavras —, mas mais uma vez, não contei
com a presença dessa mulherzinha qualquer.
Jeferson alargou o sorriso enquanto se aproximava lentamente
de Melissa, colocou ambas as mãos no corrimão de ferro da
escada, Melissa ficou entre seus braços, rendida e indefesa.
Jeferson aproximou seu rosto, desfazendo o sorriso e encarando-a,
depois de olha-la nos olhos, examinou seu corpo e novamente
voltou a seus olhos.
Seus dois bandidos só riam um para o outro, como se fossem a
melhor brincadeira que estivessem vendo. Continuei trêmula da
cabeça aos pés, desejando que o pior não acontecesse. Jeferson
estava muito diferente do homem que já conheci, nunca o vi agindo
daquela maneira descompensada. Poderia acontecer qualquer coisa
nesse lugar abandonado.
— O que farei com você, hum?

Ele perguntou a Melissa, e tive a impressão de que o homem não


esperava por uma resposta. Então quando ela abriu a boca para
responder, ele a estapeou.
Nesse momento que os dois homens ficaram chocados e
Jeferson continuou sorrindo, consegui me desamarrar daquele nó
vagabundo e chamando atenção dos três homens corri para cima
com tudo que tinha. Como não tropecei nos degraus usando saltos
daquele tamanho? Um completo milagre, eu diria, só assim
conseguir ir para o corredor de cima.
Havia uma passarela muito esburacada que levava ao outro lado,
com certeza a sorte não estaria ao meu favor dessa vez. Então
entrei numa das várias salas que tinha por ali e me escondi atrás de
algumas caixas vazias. Peguei o celular que Melissa meteu no meu
bolso e rapidamente mandei uma mensagem para a polícia, rezando
para não pensarem ser um trote e depois para Matteo.
Só esperava que a mensagem fosse lida o mais rápido possível
quando chegasse nos dois destinos que a enviei.
Eles procuravam por mim.
E uma hora ou outra...
Me achariam.
Capitulo 22
MATTEO

Acordei de maneira abrupta, deitado de bruços e com parte da


minha própria baba molhando meu queixo. A minha garganta estava
seca, meus olhos continuavam pesados e pior, estava na cama
sozinho. Charlotte não estava lá, logo senti muita falta dela e
também vieram as lembranças do que essa mulher fez comigo no
dia anterior. As dores no meu corpo começaram a ficar meio
dormentes quando tentei me mover, contudo não eram tão graves a
ponto da água do chuveiro me causar ardência.
A sensação ruim veio no momento que meus pés tocaram o
chão, um calafrio que começara nos meus dedos, atingiu o topo da
minha espinha e fez meu corpo ficar trêmulo por alguns segundos.
Foi tão esquisito que quase chamei por Charlotte, era como se eu
conseguisse pressentir que algo de ruim aconteceu ou estivesse
prestes a acontecer.
Esse sentimento ruim de angústia permaneceu enquanto fui até o
banheiro tomar um banho de água morna até o momento que vesti
minha roupa para trabalhar. Já era meio dia, e pensei nas
reclamações que Charlotte devia estar ouvido ao ter de falar com
clientes e empresários que não teriam suas reuniões atendidas.
Infelizmente dormi demais, a noite fora muito pesada para meu
corpo, a recuperação obviamente seria demorada. Mesmo todo
fodido, ainda desejava por mais, nenhuma mulher me fez ter essas
sensações, esses prazeres no meu sexo. Não conseguia parar de
pensar nisso, enquanto amarrava minha gravata em frente ao
espelho, com uma expressão séria no rosto, só pensava nas mais
baixas das putarias.

Por qual motivo Charlotte não me esperou? Ela podia demorar


dessa vez, namorar com o chefe dava-lhe certos privilégios que ela
simplesmente recusava-se em usufruir. Contudo, jamais a obrigaria
a fazer qualquer coisa que não quisesse. A mulher devia ter seus
motivos.
“MÃÃÃEEE, ATÉ QUANDO ESSE BRUTAMONTES VAI TER DE
ME SEGUIR”
Revirei os olhos ao ouvir a voz irritante da irmã de Charlotte,
meus ouvidos pareciam querer sangrar. Não nos dávamos muito
bem, e o sentimento parecia ser bastante recíproco. Ao contrário de
sua mãe, que me tratava quase como se eu fosse o seu terceiro
filho. A presença da mulher deixava-me feliz, e nem podia reclamar
muito da fedelha, afinal, estava na adolescência. Umas das piores
fases para quem está em constante crescimento e amadurecimento.
Completamente arrumado saí do meu quarto e entrei no corredor,
e graças a Deus, no exato momento que uma Alexandra muito
emburrada entrara no seu quarto. Assim não precisei cruzar com ela
durante meu curto trajeto até a saída. Meus irmãos podiam até ser
insuportáveis, contudo, Alexandra os vencia de nocaute. Precisava
saber como a mãe de Charlotte conseguia suportá-la todo santo dia.
Meu motorista já estava me esperando, entrei no carro e logo o
perguntei:
— Como Charlotte estava, hoje de manhã?
— Senhor, quando a levei parecia tudo normal. Só meio
preocupada.
— Preocupada?
— Sim, mas essa preocupação sempre esteve presente nas
expressões dela quando lhe dei carona, até quando estava com o
senhor. — O motorista falou, de maneira simples e direta.

De repente meu celular começou a tremer, depois de segundos


parou. Acabei de receber uma mensagem provavelmente, então
liberei a tela e vi uma mensagem de um celular desconhecido:
Fábrica abandonada. Sequestro. Charlotte.

Logo entrei em pânico, o que significa aquilo? Charlotte foi


sequestrada? Como poderia ser possível? E para uma espécie de
fábrica? Aquilo era terrível. Rapidamente mandei que meu motorista
não movesse o carro enquanto procurava o número de Melissa. A
outra mulher também não respondeu, e me perguntei o que estava
havendo. Já começando a suar, saí do carro e corri em direção a
minha casa.
Praticamente arrombei a porta assustando alguns empregados e
corri mais uma vez para o andar de cima, direto para o quarto da
mãe de Charlotte. Bati na madeira com a parte de trás da mão,
devagar da primeira vez. Na segunda vez as batidas ficaram fortes,
e na terceira, insistentes.

— Por Deus, já estou indo. Calminha, calminha.


Ouvi alguns sons estranhos do lado de dentro, mas nada
perguntei, devia estar se vestindo. Quando ela abriu a porta minhas
mãos voaram em seus ombros, por pouco não a chacoalhei como
um pano sujo.
— Sabe para onde Charlotte pode ter ido, além do trabalho?
— Não, minha filha é sempre pontual. Foi para o trabalho, pode
ter certeza. O que aconteceu? Está me deixando nervosa.
— A princípio, nada. Onde está Alexandra? — Perguntei,
coloquei o celular no ouvido, esperando a delegacia atender.
— No quarto, se preparando para sair... Matteo, o que está
acontecendo aqui?

— Mantenha ela aqui na casa, não a deixe sair. Receio que


Charlotte foi sequestrada. — Nesse momento tive de dar as costas,
pois a mulher ficara desesperada, e isso não me ajudaria. — Alô,
policial? Quero denunciar um sequestro!
— Preciso das características da vítima.
Esse policial foi rápido em me atender, lhe agradeceria depois.
Falei sobre as características de Charlotte sem titubear nada, em
seguida falei da mensagem e da fábrica abandonada.
— Senhor, recebemos algo parecido. — Disse o policial, que pela
voz supus ter uns vinte e dois anos. — Foi agora pouco.
— Me passe o endereço.
— Sinto muito, mas é confidencial.
Isso era muito ruim, se Charlotte foi realmente sequestrada por
Jeferson, então a situação ficaria feia se ele soubesse ou visse que
a polícia está chegando perto. Precisava saber onde ficava essa
fábrica abandonada logo. Talvez na minha empresa tenha alguém
encarregado dessa área ou que entenda desses assuntos que
poderá me ajudar.
Voltei a minha carona velozmente, quase como se eu mesmo
fosse um veículo, se isso fosse possível. Meu motorista nem
esperou minhas ordens, só perguntou se ainda seria para o
trabalho, ao concordar, o carro saiu velozmente pela pista. E fiquei
chocado o quanto uma limusine poderia correr. Certifiquei-me então
de colocar o cinto, caso houvesse uma batida eu teria mais chances
de sobreviver.
O modo como ele dirigia deixou-me assustado, parecia que de
algum modo ele sabia a urgência de que a situação necessitava. Em
menos de dez minutos chegamos no meu prédio, então desci o mais
rápido possível, contudo pedi para que ele deixasse o carro ligado.
Pois dependendo do que eu obtivesse lá dentro, meu retorno seria
em poucos minutos.
As pessoas do lado de fora me olharam curiosas, querendo
saber o que acontecera, no entanto nenhuma conseguiu me parar, e
as outras que chegaram a estender a mão, quase as perderam.
Sim, fui ignorante ao ponto de quase derrubá-las, infelizmente para
elas e para mim era um caso de vida ou morte.
Entrei e por lá procurei por Melissa, e nada de acha-la pelos
corredores. Procurei mais um pouco e foi mesmo do que nada.
Perguntei aos meus companheiros mais longevos da empresa e
nenhum sabia nada sobre nenhuma fábrica abandonada. Era difícil
saber onde procurar, pedi que uma mulher do departamento de
marketing digital fizesse uma busca nos arredores, era uma jovem
expert nessas máquinas.
Ela fez uma busca na cidade como ordenado e não encontrou
nada, então ela mesma teve a iniciativa em pesquisar ao redor da
cidade e nos interiores. E depois de vários caminhos sem saída, ela
achou uma fábrica abandonada na saída e entrada da cidade. Só
precisaria seguir a estrada principal e acharia o maldito local.
Agradeci tão depressa que duvidei se a garota realmente escutou
ou não. Voltei para o motorista, ele seguiu minha ordem, havia
deixado o carro em pleno funcionamento. Entrei e no momento que
fechei a porta ele começou a mover o veículo pela estrada.

— Para onde?
— Acho que Charlotte foi sequestrada, e posso estar enganado,
contudo acho que ela está numa fábrica abandonada.
— Tem a localização?
— Seguindo essa estrada para fora da cidade, não tem erro. A
fábrica fica no nosso caminho. — Falei calmamente, tentando me
recompor depois da correria.
Michael mudou a expressão no seu rosto, o carro começou a
acelerar bastante, ele desviava dos outros carros como se fosse um
piloto profissional de corrida. Era impressionante e apavorante.
— Não se preocupe, senhor. Iremos acha-la.
De suas palavras não duvidei nem um pouco, foi incrível o
quanto sua direção mudara. Tornou-se um motorista praticamente
irreconhecível para mim. Obviamente, sem reclamações de minha
parte, quanto mais ajuda viesse para Charlotte, melhor. Em minutos
saímos da estrada e em segundos pude ver a tal fábrica
abandonada. Estava completamente fodida, de dentro para fora e
de fora para dentro. Como alguém poderia sequer pensar em entrar
ali? Só uma pessoa louca o suficiente que nem Jeferson.
Por Deus, rezei que Charlotte ainda estivesse bem. Paramos
longe o suficiente para não sermos notados. Falei para Michael
permanecer dentro do carro e ligar para a polícia caso ouvisse tiros,
e meio relutante ele aceitou. Sai do carro, tentando me movimentar
com o corpo curvado pelos matinhos que haviam ali perto. Se me
vissem poderiam feri-la como aviso, precisava tomar bastante
cuidado, permanecer cauteloso.
Quase perto da entrada da fábrica escutei sons esquisitos,
pareciam de passos apressados, quase como uma correria. Entrei e
continuei me movendo enquanto mantive-me escondido atrás das
máquinas velhas. Espiando alguns lugares, não vi nada demais, só
muitos objetos estragados.

Perto da escada avistei uma mulher presa por algemas, eu a


reconhecia de algum lugar. Quando consegui chegar mais perto a
pessoa virou o rosto na minha direção e pude perceber que se
tratava de Melissa, ela pareceu feliz em ver um rosto conhecido.
Logo levei meu dedo indicador aos lábios para que Melissa não
fizesse nenhum som que pudesse me denunciar.
Tive a vantagem no momento que entrei sem ser visto por
ninguém.
Tinha de continuar assim até encontrar Charlotte.
— Estão... lá em cima. — Disse Melissa num sussurro. —
Cuidado.
Ela analisou-me no momento que tomei a iniciativa de subir as
escadas. Parecia incrédula e com raiva ao mesmo tempo.
— Veio desarmado, porra?
Dessa vez ela não falou num sussurro e quase tive que implorá-
la para calar a boca. Mas sim, vim sem nenhuma arma por estar
meio que desesperado. Não parei para pensar direito, agi mais por
instinto. Estou somente na fé e na coragem, talvez com sorte essa
situação acabasse logo e meu corpo continuasse sem nenhum
buraco de bala.
No andar de cima vi um dos capangas de Jeferson procurando
por algo atrás das máquinas, o próprio Jeferson não estava no meu
campo de visão. Dei pequenos passos na direção desse homem e,
chegando perto, corri silenciosamente até conseguir envolver meu
braço em seu pescoço. Apertei um bocado para fazê-lo engolir seus
gritos. Os gemidos tornaram-se grandes indícios de que buscava
por ar, fui levando-o ao chão na medida que ele perdia a
consciência. Tendo sucesso em apaga-lo, agarrei sua pistola e
chequei se estava realmente destravada.
Agora sim estava preparado para Jeferson.

E onde estava a maldita polícia? Achei essa porcaria deserta


primeiro que eles.
Talvez estivessem resolvendo muitos casos de desaparecidos.
Tentei ficar silencioso para escutar qualquer ruído e nada, não
consegui escutar absolutamente nada. Parecia que Jeferson sabia
da minha presença, e assim como eu, optou por ficar silencioso.
Isso era perigoso, minha vontade era por gritar o nome de Charlotte
aos quatro cantos daquele lugar. Contudo, isso seria burrice já que
denunciaria minha localização.
Precisava me mexer. Por isso continuei avançando agachado,
espiando cuidadosamente antes de me locomover para outro local.
Aquele decrépito lugar parecia não ter fim.
Escutei passos sussurrantes atrás de mim, não me virei, pois
senti uma pequena presença. Minha espinha gelou, havia alguém
atrás de mim, e ao ouvir um click metálico soube que uma arma
estava sendo apontada para mim. Me ergui lentamente com as
mãos para o alto, devagar dei meia volta, e vi que se tratava do
outro capanga de Jeferson, apontando sua pistola na direção da
minha face.
Ele iria atirar a qualquer momento.
Engoli em seco, tentando pensar nos argumentos possíveis para
tentar de alguma forma detê-lo ou ao menos ganhar algum tempo
para que um milagre acontecesse. E foi tudo muito rápido, segundos
depois de minhas preces. Charlotte saiu acocorada de uma sala
escurecida, onde havia, pelo que parecia e pelo formato das
sombras, caixas. Antes de Charlotte fazer qualquer movimento,
inclinou o corpo e esgueirou o pescoço para se certificar em qual
mão estava a arma do agressor.

Ele estava com ambas as mãos erguidas, a direita com a arma e


a esquerda pedindo-me a arma. Do campo de visão dela, precisou
se movimentar um pouco mais para ver. E quando teve certeza,
empurrou com toda a sua força o ombro direito do homem. Um
golpe de sucesso, já que o tiro disparado acertou o chão.
Antes dele pensar em levantar a arma novamente, atirei na sua
perna e joguei meu corpo contra o dele e ambos caímos. Tentei
imobilizá-lo e só consegui depois de quase um minuto, então subi
em cima do corpo dele para desferir muitos socos, até deixa-lo com
tanta dor que seria impossível do homem conseguir fazer qualquer
ato por agora.
Levantando-me, ergui o olhar para Charlotte, estava agora refém
de Jeferson, que tinha um braço envolta do seu pescoço e a arma
apontada para a lateral da sua cabeça. Sorria feito o lunático que
era.
— Foi trabalhoso te achar, querida. Gastei tempo demais, se
escondeu bem. — O canalha falou. — Agora escutem bem o que vai
acontecer... — ele começou a andar quando viu que eu também
andava, estávamos rodeando aquele pequeno espaço — quero que
você, Matteo, vá embora. E talvez essa daqui não morra, como
brinde pode levar aquela outra mulher lá embaixo.
Infelizmente a pistola não estava mais na minha mão, poderia
mirar no seu ombro, o desequilíbrio o faria cair da beirada que não
tinha corrimão nenhum. O maldito objeto estava longe de mim, caso
tentasse pegar, Charlotte estaria perdida. Como conseguiria sair
daquela situação difícil?
— Escute, Jeferson. Não podemos chegar em algum acordo? —
Aproximei um passo. — Por favor, baixe a arma.
— Para trás, desgraçado — ele apontou a arma para mim — ou
eu a mato!
Charlotte pelo visto aproveitou bem a oportunidade, pois fez algo
bastante perigoso. Ela baixou a cabeça e a puxou para trás com
força e velocidade, a nuca chocou-se com o nariz de Jeferson. Ele
levou a mão livre e a que segurava a arma para o ferimento, foi
nesse instante que Charlotte girou seu corpo e o chutou bem no
meio do peito. A ponta do seu salto atingiu em cheio no corpo de
Jeferson, tanto que o homem afastou alguns passos e caiu.
Corri a tempo de ver o corpo de Jeferson batendo numa
máquina, a cabeça chocou-se tão forte que pude ver muito sangue
voando para todos os lados, e só então o corpo chegou ao chão,
completamente destruído, e ali eu soube que o perigo literalmente
estava morto. Escutei os gritos de Melissa, e quem não gritaria, o
buraco atrás da cabeça do homem parecia uma poça de sangue.
Assustaria qualquer um.
— O que aconteceu?
Charlotte caminhou para a beirada e a puxei antes que pudesse
ver o resultado do seu golpe.
— Acabou, só saiba que acabou.

E coincidentemente escutei as sirenes, a polícia anunciava sua


chegada tardiamente. Ao menos serviria para dar uma carona a
mim, Charlotte e Melissa. E lembrando-me dessa última, corri para o
andar debaixo para tentar acalmá-la. A mulher estava praticamente
em choque por ver o um corpo morto na sua frente.
A polícia chegou, de início apontando suas armas para mim e
Charlotte, mandando que levantássemos as mãos. Só ficaram mais
calmos depois de terem ouvido toda a nossa explicação com
cautela. Mesmo não acreditando muito, se convenceram quando
prenderam os dois homens de Jeferson no andar de cima. Ambos
passaram por mim, desferindo todos os xingamentos possíveis na
língua portuguesa.
Soltei uma bela e gostosa risada na cara dele, deixando-os mais
putos da vida.
Prestes a pegar uma carona com os policias, arregaleis os olhos,
pois logo lembrei de minha limusine e de Michael. Esperei que
Melissa fosse solta e junto de Charlotte fomos ao meu veículo. Os
dois comparsas foram presos e os policiais teriam de ficar mais um
pouco para resolverem a situação com o cadáver na fábrica.
Por sorte acreditaram na história quando Melissa e Charlotte
começaram a entregar suas versões dos fatos, do início do
sequestro até chegarem na fábrica, e finalmente a morte de
Jeferson. Tivemos de falar sobre seus negócios obscuros, mas
ocultamos a minha parte nesses negócios. Charlotte foi esperta em
falar que o conheceu num aplicativo de namoro e não no meu
prédio, cortando, naquele momento pelo menos, qualquer conexão
que poderiam fazer dele comigo.
No final das contas acharam que Jeferson era um dos vários
casos de namorados ciumentos que não aceitavam o término. De
qualquer maneira saí vitorioso do confronto de várias maneiras
diferentes, e agora, graças a Deus, estava livre desse homem
horrível que já tive o desprazer de conhecer.
— Podemos ir para casa? — Perguntou Charlotte.
Já estávamos dentro do meu carro e ela acabara de recostar a
cabeça no meu ombro.
— Pode apostar que sim. Eu só quero tirar um longo cochilo ao
seu lado.

...
Na nossa chegada na minha casa, os empregados foram os
primeiros a respirarem aliviados com minha chegada. A mãe e irmã
de Charlotte estavam sentadas, levantaram-se de uma vez e
correram para abraça-la. Meu celular tocou no mesmo instante, era
minha família querendo saber do meu paradeiro. Como eles
souberam dessa confusão? Não perguntei e sinceramente, pouco
me importei, mas o fato que eles pelo menos cederam um pouco de
tempo para saber sobre mim alegrou-me de verdade.
A recepção havia sido mais calorosa do que imaginei,
preocupação comigo? Jamais esperaria isso vindo de qualquer
pessoa. Tive de confessar que realmente fiquei surpreso, até
mesmo Alexandra que parecia odiar Charlotte estava ali a
abraçando como se não a visse há três longos anos, e estivesse
matando a saudade.
Caminhei para o meu quarto e deixei as mulheres terem seu
momento de conforto. Uma família de que eu obviamente ainda não
fazia parte. Antes de subir nos degraus da escada, troquei curtas e
rápidas palavras com mais alguns empregados que ficaram
aliviados com o meu retorno. De felicidade? Provavelmente não.
Alívio de continuarem a terem um emprego? Com certeza que sim.
Mesmo assim era gratificante receber algumas palavras de
apoio, confiança e de conforto. Sabendo que ela estava bem, e
pensando que poderia tê-la perdido num piscar, fiquei pensativo.
Quando entrei no quarto logo fechei a porta, andei lentamente até
minha mesinha, onde normalmente era reservada para ler meus
livros. Um hábito incomum que quase ninguém sabia a meu
respeito: adoro ler.
Enfiei a chave no buraco da fechadura da última gaveta e puxei,
abrindo-o e revelando a minha pequena caixinha. Peguei e a abri,
revelando a enorme e linda aliança, onde o pequeno cristal que
enfeitava o objeto brilhava bastante. Foi passado de gerações até
chegar a mim, o que não agradou nem um pouco meus irmãos,
contudo, minha mãe me deu como sinal de boa sorte antes da
minha partida do meu país.
Ouvi a porta se abrindo e me virei.
Charlotte entrou, curiosa, um brilho estranho no olhar. Observava
o objeto na minha mão, depois começou a desviar o olhar para mim
e voltava a aliança segundos depois.

— O que é isso?
Ignorando sua pergunta, me ajoelhei na sua frente.
Ela colocou uma mão no peito e pareceu entrar em pânico.
— Está louco?
Ignorei sua pergunta mais uma vez. Não tinha motivos para adiar
tal decisão.
— Charlotte Bela Galvão, quer se casar comigo?

Ela se aproximou de mim com passos lentos. Estendeu a mão


esquerda na minha direção e abriu os dedos.
— Sim, por mais loucura que possa parecer. Eu aceito me casar
com você.
EPÍLOGO
Uma semana se passou depois do pedido de casamento de
Matteo, foi estranho os sentimentos que tive: surpresa, pavor e
alegria. Todos misturados e quase que ao mesmo tempo, fui pega
tão desprevenida que quase me embolei nas palavras. Tive rápidos
pensamentos de tudo que passei com ele no nosso curto
relacionamento, e por algum motivo achei o suficiente. Aceitei o
pedido, e por enquanto não estava arrependida.
Estava somente com minhas roupas íntimas, uma calcinha e
sutiã vermelhos, uma cor que demonstrava selvageria. Em pé,
suada e com os braços um pouco doloridos, estava no mesmo
movimento já fazia uns dez minutos. Eu gostava do que fazia
escondido com Matteo, nosso próprio segredo obscuro. Depois de
amarrá-lo, depois de deixa-lo sem fôlego muitas vezes, agora meus
braços se movimentavam para chicoteá-lo levemente. Uma dor que
o corpo dele pudesse aguentar.
Novamente ele estava sendo meu submisso. Na nossa relação
concordamos de que de vez em quando trocaríamos as posições,
na próxima quarta eu seria a submissa. E quando esse dia não
chegava, eu aproveitava para viciar Matteo nos meus métodos.
Suas costas estavam com as marcas das tiras, e sua bunda
também estaria se a cueca não estivesse protegendo. Para ver as
bandas marcadas teria de bater mais forte, e jamais faria isso. A dor
sobrepujaria o prazer.
Certas vezes me sentia num romance semelhante a cinquenta
tons de cinza. No entanto, meu romance com Matteo era melhor do
que o casal principal desse livro.
Que Deus o tenha, ou melhor, que o diabo o torture de muitas
maneiras diferentes no inferno.
Estava escuro, minha mãe e irmã já tinham voltado para casa. Os
empregados já tinham ido embora, não havia ninguém para ouvir os
gemidos dele. Então o chicoteei uma última vez, ouvindo o som
esganiçado contido.
Ele aguentava bem.
Poderia passar uma vida toda fazendo aquilo? Sim, poderia. Eu
amava fazer aqueles atos que chocariam a sociedade se por um
acaso as pessoas descobrissem.
Era legal, prazeroso e divertido.
— A-acabou? — Matteo quis saber.
Sorri.
— Só irei trocar o instrumento. Ah, querido. Estamos muito longe
de acabar.
Nossa lua de mel seria nesses mesmos moldes, e desde já,
estava bastante ansiosa para esse dia.

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