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A oceanógrafa e jogadora profissional, Cordelia Bourne, tem uma

conexão inexplicável com a água e a vida aquática desde que se lembra. Com
dias tirando fotos debaixo d'água e noites passadas transmitindo seu jogo ao
vivo do videogame Tides of Atlantis, mesmo quando adulta, ela se cerca de
qualquer coisa aquática.⁠

Quando ela conhece o surfista profissional Simon Thalassa, seu mundo


inteiro começa a mudar. Um olhar em seus olhos verdes e ela tem a sensação
de que já o conheceu antes, mesmo sabendo que não.⁠

Mas depois de um dia fatídico no mar, as realizações surgem e logo ela


descobrirá que Simon é Poseidon, o Rei dos Mares - e ela tem uma conexão
especial com ele.⁠
Meu polegar voou furiosamente pelos botões rotulados com letras do
meu controle do jogo, meu dedo indicador pressionando o gatilho quando
meus olhos se alinharam com o alvo.

— Tiros na cabeça o dia todo, garotos. — eu disse no microfone do


meu fone de ouvido com um sorriso.

Eu tinha sido uma jogadora desde que eu era pré-adolescente. Nenhum


gênero me desinteressou jogos de tiro em primeira pessoa, jogos de RPG,
estratégia. O que você disser. Eu joguei. No entanto, desde que o jogo Tides
of Atlantis foi lançado, encontrei uma nova vocação. Era uma mistura perfeita
de tiro e esgrima - um jogo de ação de fantasia combinando dicas de ficção
científica em meio ao mundo da Atlântida.

Durante uma tela de carregamento, olhei para o aplicativo Glitch onde


estava transmitindo meu jogo. Vinte novos assinantes em questão de minutos.
Quem diria que você poderia ganhar algum dinheiro extra fazendo com que
outras pessoas assistissem você jogar um videogame?

Um observador comentou: SaucySiren, é como se este jogo fosse feito


para você.

SaucySiren. Minha tag de jogadora e o único nome pelo qual qualquer


um desses estranhos me conheceria.
Eu sorri. — A vida é melhor debaixo d'água, eu acho. — Girando para
frente e para trás na minha cadeira de jogos, eu pulei na hora, brilhando para
mim do canto do meu monitor.

— Até amanhã, pessoal. A verdadeira água está me chamando. —


Acenei para a webcam antes de desligar tudo.

Cantarolando a música Beyond the Sea , andei pelo meu quarto,


juntando os itens necessários. Minha bolsa de câmera cheia de lentes e alças
subaquáticas. Minha mochila cheia de roupa de mergulho, nadadeiras e
máscara. Pensacola, na Flórida, tinha um recife artificial à espreita nas águas
do Golfo, o que nem sempre rendeu as melhores fotos. No entanto, sempre
havia navios afundados para explorar. Como fotógrafa freelance, eu tirava
fotos desses navios quantas vezes as pessoas estivessem dispostas a pagar
por elas.

Meu celular fez um zumbido desagradável da minha mesa de cabeceira.


Sem dúvida, seria minha melhor amiga e parceira no crime, Megan, ligando.
Peguei o telefone em minha mão, deslizando meu polegar pela tela e
segurando-o entre minha orelha e ombro.

— Alô?

— Cordelia Pearl. Você deveria estar aqui dez minutos atrás. — Megan
repreendeu.

Revirei os olhos e corri até um dos maiores itens do meu apartamento - o


meu aquário. — Eu sei! eu sei. Fui pega em Glitch, mas estarei lá em cinco
minutos. Vantagens de morar na praia, certo?

Peixes-anjo de cores vivas e pratos encheram o tanque, nadando até ao


canto em que eu estava perto. Megan os viu fazer isso e me chamou de
encantadora de peixes na época. Eu contra-ataquei com eles sendo criaturas
de hábitos. Eles tinham uma coisa em mente: comida.
— Ainda estamos fazendo o detalhamento do lixo após o mergulho?
Distribuindo panfletos e tal? — perguntou Megan.

Espalhando os flocos de comida de peixe na superfície da água, eu sorri,


observando Linguado, minha boquinha azul e amarela de peixe-anjo trabalhar
comendo. — Eu planejei isso. Você não está fugindo de mim, está?

Silêncio.

Linguado olhou para mim do outro lado do vidro. Seus grandes olhos
piscaram, e eu arqueei uma sobrancelha para ele.

— Meg?

— Ok, Cory, me escute.

Eu gemi e belisquei a ponte do meu nariz. — Sabe o quê? Você não


precisa dar uma desculpa. Se você tem algo acontecendo, tudo bem. Eu
posso fazer isso sozinha. Estou acostumada com isso.

— Bem, agora eu me sinto culpada.

Eu me inclinei para frente e balancei meu dedo para Linguado. Ele deu
um único giro, bateu as nadadeiras e nadou para longe.

Huh. Isso era novo.

— Não se sinta culpada. Verdade. Eu não queria que isso saísse dessa
maneira. — Inclinei minha cabeça para o lado enquanto observava meus
peixes nadando hipnoticamente pelo tanque.

— Eu já te disse ultimamente o quanto eu te amo?

Eu ri. — Você certamente pode me lembrar em cinco minutos. Estou


desligando agora. — Depois de pressionar o grande botão vermelho, deslizei
o telefone no bolso traseiro do short cáqui.
Erguendo as três malas necessárias para um mergulho fotográfico,
cambaleei para fora da porta. E como de costume, eu tinha esquecido de tirar
minhas chaves da minha bolsa antes de carregar. Para o chão, todos os três
sacos foram. Em um acesso de raiva, tranquei a porta e arrastei a carga pelo
concreto até meu jipe amarelo estacionado sob o terraço do complexo.

Com um metro e sessenta, era sempre um evento para carregar o carro.


Fiquei na ponta dos pés no meu Keds branco e deslizei um saco de cada vez
na parte de trás. Subindo no banco do motorista, coloquei meus óculos
escuros e dirigi pela estrada da praia. O sol brilhando em meu rosto e o cheiro
de sal no ar acalmaram qualquer nervos que eu tivesse fervendo. Mechas de
cabelo escuro voaram no meu rosto com o vento que açoitava o
compartimento aberto do jipe.

A vista do oceano nunca deixou de me fazer sorrir. Muitas pessoas


diriam que a praia, a água, era como uma segunda casa. Foi diferente para
mim. Sempre havia uma sensação de inquietação quando eu estava em
qualquer lugar, menos em um lugar onde eu podia sentir a água na minha
pele. No momento em que bateu contra meus pés ou tocou meus dedos, nada
mais importava.

Meg encostou-se ao carro, vasculhando o telefone no estacionamento


perto do cais. Suas malas estavam no chão, circulando seus pés. Eu parei ao
lado dela e levantei meus óculos de sol para descansar na minha cabeça.

— Finalmente. Gus, não estou brincando, me perguntou quatro vezes


quando estávamos indo embora. Meg enfiou o telefone no bolso. — Eu estava
tão perto de dizer a ele para ir embora. Como se ele tivesse mais alguma coisa
para fazer em uma manhã de terça-feira.

Com uma risada, eu pulei e peguei minhas malas. — Não devemos


deixá-lo esperando então.
— Digo isso da maneira menos condescendente possível, mas você fica
adorável toda vez que pega suas malas. — Meg mordeu o lábio inferior
enquanto sorria.

Com quase um metro e oitenta de altura, Meg me fez parecer um


Hobbit. Dado nosso mesmo cabelo castanho chocolate ondulado, olhos
castanhos e o nariz de princesa da Disney que se curvava levemente para
cima na ponta, poderíamos passar por irmãs se não fosse pela diferença de
altura.

Revirei os olhos e ri. — Cala a boca, Jolly Green Giant.

— Ei, eu não recorri a xingamentos. — Meg pegou uma das minhas


malas antes que eu pudesse protestar e se dirigiu para o cais.

Depois de fechar a fechadura da escotilha, corri atrás dela para alcançá-


la. — Eu estou levando o ponto desta vez?

— Oh sim. Há sempre Hammerheads assustadores à espreita neste


navio. E por qualquer motivo, você é feita de repelente natural. 1

— Oh, por favor. É a câmera. — Eu levantei minhas mãos como se


estivesse segurando o equipamento da câmera e balancei meus braços para
frente e para trás. — Funciona como um escudo.

— Talvez para você — ela gargalhou.

— Bem, já era hora — Gus, nosso capitão residente bufou. Seus


cabelos grisalhos brotavam por baixo do boné, e ele pressionou a mão na
barriga de cerveja como se estivesse grávido.

1
Hammerheads: Marca especializada em produtos para natação com a mais
alta tecnologia.
Eu fiz beicinho. — Eu me sinto tão mal que você teve que relaxar em
seu barco no cais por mais trinta minutos.

— Você deveria se sentir mal. Eu quero estar na água, não olhando


para ela de uma maldita prancha de madeira. — Ele resmungou e tirou um
palito da boca, virando-se para o barco.

Uma vez que Gus estava de costas para nós, Meg se virou para mim e
fez gestos zombeteiros para ele. Ela estendeu os braços, imitando uma barriga
grande, e cambaleou pelo cais como um lutador de sumô. Eu soltei uma
gargalhada e bati minha mão sobre minha boca para esmagá-la.

Uma vez que nos colocamos a bordo do barco, Gus partiu para a
localização do navio afundado. Eu coloquei meus antebraços sobre a borda,
olhando para a água, desejando sentir seu abraço. Dezenas de golfinhos
entraram e saíram, seguindo-nos a maior parte do caminho. Toda vez que
suas cabeças rompiam a superfície, eles gritavam em saudação.

— Sabe, você sempre olhou para a água como se fosse um homem


bonito, mas ultimamente, você está olhando para ela como se quisesse pular
em seus ossos. — Meg se apoiou no corrimão ao meu lado.

Eu torci meu nariz. — Existe uma razão pela qual você está
personificando isso como um amante?

— Eu? Você deveria ver seriamente seu rosto. Você está dando-lhe
braços e abdominais corpulentos com esse olhar. Eu não.

— O oceano para mim é como — Bati meu dedo contra meus lábios.
— Brownies encharcados de calda quente para você.

— Vê? O oceano é orgásmico para você.

— Você é impossível. — Eu ri enquanto prendi meu cabelo em um rabo


de cavalo baixo, preparando-o para o mergulho.
O barco diminuiu a velocidade antes de parar completamente.

— Aqui está o lugar, senhoras. Você tem trinta minutos, então aproveite
ao máximo. O relógio começa agora. — Gus apontou para seu relógio de
pulso antes de se sentar em um banco.

Meg abriu o zíper da bolsa, tirando uma roupa de mergulho e


nadadeiras. — Aparentemente, a velocidade do Gus está um pouco longe
demais hoje.

— Talvez Beatrice esteja com ele novamente. Lembra da última vez?


Ele desabafou conosco por dez minutos sobre ela reclamar que ama mais o
mar do que ela? Eu escorreguei em minha roupa de mergulho, fechando-o na
parte de trás.

Meg suspirou e olhou para cima. — O que eu não daria para ter alguém
para reclamar de mim.

— Oh? — Sentei-me para deslizar em minhas nadadeiras. — Eu pensei


que você estaria saindo com Emma. Essa não é a razão pela qual você está
ocupada mais tarde?

Ela franziu a testa, distraidamente segurando sua máscara de mergulho


pela alça.

— Meg? — Eu me levantei e toquei seu braço. — O que é isso?

— Emma terminou comigo.

Eu suspirei. — O quê? Por quê?

— Me bate. Mas ela fez as malas e foi embora ontem à noite. Meg içou
um tanque de oxigênio nas costas e prendeu as correias.

— Meg, por que você não disse nada? E por que você está aqui?
— Eu preciso de uma distração. E mergulhar em águas infestadas de
tubarões com minha melhor amiga para tirar fotos de um navio pirata afundado
é o melhor que eu posso pensar. — Ela deu um meio sorriso e cambaleou até
a borda do barco.

Não era um navio pirata, mas eu não iria corrigi-la agora. Não depois do
que ela tinha acabado de me dizer. A pobre Meg teve inúmeras namoradas ao
longo dos anos em que nos conhecemos. Minha teoria era que a maioria das
mulheres que ela namorou ainda estavam se descobrindo, mas Emma, elas
estavam namorando há dois anos. Não fazia sentido.

— E é por isso que você não quer trabalhar nas costas depois. Porque
você teria que socializar. — Eu ofereci um sorriso tranquilizador.

— Bingo. Eu amo que assim que eu te contar um problema, você pode


muito bem falar sobre isso para mim. — Ela riu e deslizou a máscara de
mergulho de rosto inteiro para baixo.

Imitando as mesmas ações, sentei-me ao lado dela de costas para a


água.

— Você pode me ouvir? — Eu perguntei através da linha de


comunicação da máscara.

Ela saudou. — Alto e claro, Capitã.

Segurando os equipamentos de nossas câmeras, nos inclinamos para


trás e caímos na água. Centenas de bolhas flutuavam ao meu redor – a
maneira da água me acolher em seu domínio. A cada movimento de minha
nadadeira e respiração tirada do meu tanque de mergulho, a água sempre me
lembrava de onde eu estava respondendo com bolhas.

— Está tão claro aqui hoje — disse Meg enquanto descíamos.


Normalmente, o Golfo tinha águas bastante claras, mas uma forte
tempestade poderia torná-la turva. Ele umedeceu aquela cor azul e verde
cristalina pela qual esta parte do Golfo era conhecida.

— Quantas vezes fizemos esse mergulho agora, você diria? —


Perguntei a Meg, espiando o navio à distância.

— Oh caramba. Doze? Treze? — Ela riu. — Toda vez que alguém


começa uma nova revista aqui, parece que é um dos primeiros artigos que
eles querem publicar. Não estou reclamando, pois paga meu aluguel.

— Amém a isso, irmã.

Meg apontou. — O que eu disse-lhe? Três martelos. Já.

— Vai ficar tudo bem, Meg. Não os incomode. Eles não vão incomodá-
la.

— Diga isso para alguém que não come há dias. — ela resmungou.

— Eles comeram. Confie em mim. É por isso que eles exploram o


naufrágio. Procurando por outros peixes escondidos nele.

Ela ficou tão perto de mim que suas bolhas impediram minha visão. —
Como você pode parecer tão confiante?

— Passei muito tempo com eles. Nunca tive nenhum contato próximo,
então algo está funcionando, certo?

— Isso só acontece quando você está por perto. Antes de te conhecer,


quase fui mordida duas vezes. Ela ergueu dois dedos para minha máscara.

— Quase. Mas não. — Eu sorri, mesmo sabendo que ela não seria
capaz de ver.
— Sim, sim. Vamos tirar essas fotos e dar o fora daqui. Tubarões à
parte, este navio sempre me dá arrepios.

Passei os próximos vinte minutos tirando fotos com Meg como minha
câmera de backup. Os tubarões, em sua maioria, se mantinham sozinhos,
exceto um que ficou curioso e nadou até meu corpo. Era como se ele
soubesse exatamente para onde eu apontei a câmera. Eu poderia vender
aquela dose sozinha pelo triplo de qualquer outra dose. As pessoas ficaram
loucas por fotos de tubarões, e esta teria um navio afundado ao fundo com
raios de luz atravessando a superfície da água.

Quando voltamos ao barco, Gus estava dormindo com o corpo


pendurado no volante. Nós duas o cutucamos com os cotovelos para acordá-
lo. Sentei-me no banco durante a viagem de volta às docas, procurando
febrilmente entre as centenas de fotos que tirei, procurando a foto. Quando ele
enfeitou o monitor da minha câmera, eu engasguei.

— Meg, olhe para isso. — Apalpei seu ombro, sem me atrever a tirar os
olhos da minha câmera.

— O que, esse foi o meu globo ocular — , ela repreendeu, afastando


minha mão. — Puta merda, Cory. Essa é uma foto linda.

— Você acha que eu poderia vender isso para uma galeria?

— Você está de brincadeira? Definitivamente, não venda isso para a


revista. Acho que essa é a melhor que já vi de você.

O tubarão-martelo estava perfeitamente centrado, a cor da água de um


azul sereno, o navio ao fundo e os raios deram-lhe um toque extra de magia.
Por mais que eu jogasse um videogame ambientado no mundo imaginário da
Atlântida, uma parte de mim sempre se perguntava – esperava até que fosse
real. E raios de sol como esses se espalhavam por cada centímetro quadrado
dele, fazendo-o brilhar. Foi realmente a melhor foto que eu já tinha tirado.
Uma vez que estávamos de volta ao estacionamento e empacotamos
nossos veículos, troquei minha roupa de mergulho por uma camisa e shorts de
caridade de conservação do oceano.

— Ei, Meg, você ficará bem? — Estremeci, sabendo que era uma
pergunta estúpida.

Ela deu um sorriso fraco. — Hoje não, não estarei. Mas amanhã será
melhor. Eu ligo para você?

— Definitivamente. A qualquer momento. Eu estou lá. — Eu a abracei


antes que ela entrasse em seu carro e partisse.

Girando o atiçador de lixo em uma mão, um saco de lixo branco na


outra, eu estava pronta para começar essa festa de lixo para uma. Toda vez
que eu caminhava pela costa, pegando garrafas, latas ou qualquer outra coisa
que os seres humanos considerassem dignos de jogar na água, recebia
reações mistas dos frequentadores da praia. A multidão mais jovem às vezes
ria ao passar, os mais velhos olhavam para mim como se eu tivesse balanças,
e a multidão muito mais velha me agradecia por ser tão atenciosa. Eu não me
importava com o que os outros pensavam porque era algo que eu queria fazer
– precisava fazer.

A areia branca se infiltrou entre meus dedos dos pés enquanto eu


colocava uma garrafa plástica de água na bolsa com a mão enluvada.

— Você tem um panfleto ou cartão de visita para a instituição de


caridade para a qual trabalha? — Uma mulher tomando banho de sol em uma
toalha me perguntou.

Eu sorri e puxei um cartão do meu bolso da frente. — Estamos


localizados na costa do Golfo. O dinheiro doado ajuda a livrar o Golfo do lixo e,
todos os anos, doamos para um centro de resgate e reabilitação de animais.

— Uau. Isso é incrível. Vou pesquisar quando chegar em casa.


Eu sorri ainda mais. — Bem, muito obrigada, senhora.

A tarde passou enquanto eu descia a costa onde turistas e moradores


locais frequentavam. Eu quase cheguei ao fim quando um homem magro, não
mais de vinte e cinco anos, jogou sua garrafa vazia de Gatorade na areia a
seus pés. Por dentro, eu fumei, olhando para a lata de lixo a um metro e meio
de distância dele. Eles tinham uma lata a cada dez metros para as pessoas
jogarem coisas fora, mas a maioria não se dava ao trabalho de fazer a
peregrinação.

Agarrando a garrafa com um grunhido, eu a segurei no ar e gritei: — De


nada!

Quando o jovem se virou com uma sobrancelha arqueada, fiz um gesto


exagerado de jogar a garrafa na lata de lixo. Ele sorriu e balançou a cabeça.

Qualquer que seja. Isso me fez sentir melhor.

Eu me abaixei para pegar o último pedaço de lixo restante – embalagens


de barras de chocolate e um canudo de plástico. Ugh, esses foram os piores.

— Com licença, senhorita, já nos encontramos antes? — Uma voz


profunda perguntou atrás de mim.

Eu me levantei e me virei lentamente. Esticando meu pescoço para trás


devido a quão insanamente alto ele era, meu olhar se encontrou com um par
de olhos verdes impressionantes. Eu tinha visto aqueles olhos antes, ouvido
aquela voz. Mas como?
Quando seus olhos se encontraram com os meus, uma respiração
engatou em sua garganta. Havia um brilho sutil em seu olhar, mas ele foi
rápido em mascará-lo, exibindo um sorriso branco perolado em vez disso.

— Eu não acho. Eu pareço familiar para você? — Eu protegi meus


olhos com uma mão do sol.

Ele passou os dedos pelo cabelo loiro espetado. — Você tem razão.
Não poderíamos ter nos conhecido. Como eu poderia esquecer um rosto
como o seu?

— Essa linha de cantada funciona? — Sorri e cravei os dedos dos pés


na areia.

Ele sorriu novamente e desviou o olhar, apertando os olhos. — Uma


vez, talvez.

Seus olhos me deixaram em transe, me confundindo. Onde eu tinha


ouvido aquela voz antes? Reparei em seu peito nu - vestido apenas com um
short azul, o sol brilhava contra sua pele bronzeada. Músculos volumosos
esculpidos e um dos abdominais de tanquinho mais proeminentes que eu já vi.

— Você está pegando lixo? — Ele perguntou, tirando-me do meu olhar.

Eu estremeci, e minha mão apertou o atiçador como um dardo. —


Hum? O quê?

— Você tem um saco de lixo. Ou você está catando lixo na praia, ou


está coletando latas. Algo me diz que é a primeira, mas chame de palpite. —
Ele sorriu antes de morder sutilmente o lábio inferior.
Limpando a garganta, enfiei o cabo do atiçador na areia. — Lixo. Sim.
Eu tento fazer isso toda semana.

— Voluntariamente?

— Sim. Eu dirijo uma instituição de caridade de conservação do


oceano. Enquanto limpo a praia, também procuro doações. — Enfiando a
mão no bolso, tirei um cartão de visita e estendi para ele com a cabeça
erguida.

Seu sorriso se iluminou quando ele olhou para o cartão. Arrastando a


mão sobre seu queixo liso, ele ergueu os olhos para os meus. — Eu sou um
atleta, você sabe.

Girei o atiçador na areia e coloquei a outra mão no quadril. — Bem,


bom pra você. O que você faz?

— As ondas principalmente.

— O... — Franzi o cenho e olhei para as vastas águas do Golfo atrás de


mim, depois de volta para ele. — Você é nadador?

Ele entrelaçou os dedos na frente dele. — Adivinhe de novo.

Eu bati meu dedo contra minha bochecha e lentamente estreitei meus


olhos. — Não. Você não é... Deixei o atiçador de pé sozinho, apoiado na
areia, e cruzei os braços. — Não me diga que você é um surfista.

Ele riu e jogou os braços para os lados, fazendo seu bíceps flexionar. —
O que há de errado com os surfistas?

Pise com cuidado aqui, Cory.

— A maioria deles parece ser vaidoso, sujo e pensa que é dono do


oceano.
— A maioria deles. Então, não todos, então? — Seu sorriso se alargou,
acentuando ainda mais seu queixo largo.

— Ainda a ser determinado.

Ficamos em silêncio, olhando um para o outro com uma intenção


curiosa em nossos olhares.

— Eu sou um atleta também — eu soltei em uma tentativa horrível de


acabar com o silêncio.

— Oh? — Ele cruzou os braços fortes. — Deixe-me adivinhar. —


Batendo o dedo contra o lábio, ele olhou para cima como se estivesse
pensando, mas deu uma espiada na minha expressão. — Patinadora.

— Não.

— Ginasta?

Revirei os olhos. — Você vai listar todos os esportes conhecidos por


pequenos atletas?

Ele riu. — Por que você não me diz? Você não pode dizer que é uma
atleta e depois me deixar esperando.

Eu mastiguei o interior da minha boca. Eu tinha cavado o buraco em que


estava agora. Eu poderia muito bem acenar minhas mãos para um resgate.

— eSports. — eu cortei.

Ele se inclinou para frente, aproximando nossos rostos. — eSports?

Eu levantei meu queixo. — Mummm.

— Se importa de explicar o que em nome dos Sete Mares, isso é?


— Videogames. Torneios e tal. Você ganha dinheiro, prêmios e eu tenho
uma conta Glitch onde faço stream algumas noites por semana por um pouco
de dinheiro extra.

Admitir isso sempre foi de duas maneiras, especialmente com os


homens. Ou ficaram intrigados que uma mulher jogasse jogos além de Mario e
The Sims , o que sempre fazia meu sangue ferver. Ou eles achavam que eu
era uma estranha.

— Videogames? Sério? Eu nunca te julguei pelo tipo. Ele se inclinou


para trás com um sorriso sarcástico.

— Você me conhece há cinco minutos inteiros e acha que conhece


meu tipo?

Ele limpou a garganta. — Chame isso de sexto sentido.

— Simon, mano, vamos. Essas ondas não vão surfar sozinhas — outro
surfista do outro lado da praia gritou para o homem na minha frente.

Simon. Surfista.

— Simon? Você é Simon Thalassa? — Eu apontei para ele.

Ele esfregou a nuca. — Culpado como acusado. — Ele ergueu um


dedo para o outro surfista, mantendo seu foco em mim.

Não é à toa que seu rosto parecia familiar. Quase todos os canais de
esportes apresentavam ele e suas habilidades insanas de surf.

— Eu pensei que você queria dizer que surfava por diversão. Você
nunca disse nada sobre ser um profissional legítimo. — Eu me senti ainda
mais curta de alguma forma sabendo dessa informação.

— Faz diferença para você? — Ele sorriu. — Eu ser um profissional me


coloca mais alto ou mais baixo em seu totem mental?
— Ainda a ser determinado — eu sussurrei.

Seus olhos brilharam, e ele virou meu cartão de visita entre os dedos. —
Agora que você sabe meu nome, gostaria de me dar o seu?

— Cory. Meu nome. Cordelia, mas todo mundo me chama de Cory.

O sorriso dele se derreteu em uma curva quente e pegajosa de seus


lábios. Nada sarcástico ou tímido sobre isso. — Cordelia. Joia do mar.

Eu olhei curiosamente para ele. — Isso mesmo. 2

— Bem, Cory. Como atleta profissional, posso colocar todo tipo de


patrocinador na minha prancha de surf, roupa de neoprene. O que você
disser. — Ele sacudiu meu cartão de visita com dois dedos. — Você me dá
um logotipo em alta resolução de sua instituição de caridade, e eu o adiciono.

Meu queixo caiu. — Mas você não sabe nada sobre isso. Como você
sabe que é legítimo?

— Algo me diz que você é boa para isso. E se não, bem, você pode
fazer de mim um idiota. Ele riu. — Foi um prazer conhecê-la, Cory. Espero
encontrar você novamente.

Minha boca permaneceu aberta, sem palavras. Ele estava no meio da


praia quando finalmente consegui dizer: — Para onde envio o arquivo?

Ele colocou as mãos sobre a boca. — Google. Eu não tenho


exatamente onde guardar cartões de visita neste terno. — Ele deu um sorriso
torto, tocando sobre seu peito e ombros nus.

Eu sufoquei um revirar de olhos, mas não pude evitar o sorriso


rastejando em meus lábios. Um homem misterioso foi arrastado para o meu

2
Neoprene: Tecido pra roupa de mergulho
caminho por ventos oceânicos e identidade incompreendida. Era coisa de

contos de fadas.

Depois de dez minutos pegando lixo e tentando não deixar Simon me


pegar olhando para ele surfando, eu terminei o dia. Quando Meg mandou uma
mensagem me pedindo para vir, fiquei aliviada. Ela agiu muito distante durante
nosso mergulho, considerando que ela e Emma estavam juntas há tanto
tempo. Eu sabia dar-lhe espaço. Ela veio até mim quando estava pronta, e isso
foi hoje à noite.

Eu estava na frente de sua porta com um pacote de seis Yoohoo e um


pacote tamanho família de Twizzlers. Ela gostava. Eu esperava que ela
parecesse ter chorado, o cabelo desgrenhado e um lenço de papel enrolado
na mão. Quando ela abriu a porta, o que eu vi foi muito pior. Bolsas escuras
estavam sob seus olhos avermelhados, e lágrimas secas riscavam suas
bochechas. Seu nariz estava vermelho e inchado, e ela roeu as unhas até aos
tocos. Ela usava um terno com a jaqueta jogada em uma bola no chão.

— Meg? — Eu disse em um tom abafado.

Ela agarrou minha mão e me puxou para dentro, roubando os Twizzlers


no processo. Fiquei calada, esperando que ela falasse.

— Eu cheguei em casa, Cory, pronta para assistir Wynonna Earp pela


enésima vez e fantasiar sobre um relacionamento como Wayhaught, mas
então... — Ela soltou um suspiro, rasgando a bolsa Twizzler aberta como um
raptor faminto. Depois de enfiar um na boca, ela o pendurou no lábio e
continuou. — Emma ligou. Pedi para nos encontrarmos para que pudéssemos
conversar. — Ela fez citações aéreas.
Eu me encostei no encosto do sofá dela, vendo minha melhor amiga
abrir seu coração para o que tinha que ser tudo menos um final feliz.

— Então, sendo a idiota apaixonada que eu sou...

Abri a boca para discordar dela, mas ela jogou a palma da mão no ar
para me impedir. Minha boca se fechou.

— Achei que ela queria se reconciliar. Diga-me que ela surtou com
quanto tempo estávamos namorando. Não que eu tenha dado a ela alguma
razão para pensar que precisava que ela colocasse um anel ou algo assim. Eu
só... Ela enfiou o resto do Twizzler na boca e beliscou a ponta do nariz.

— Eu me vesti como se fosse um encontro, só para chegar ao


restaurante. Ela poderia muito bem estar de pijama, Cory. Pijama .

Eu estremeci.

— Basicamente, ela me ligou lá para me dizer que temos que quebrar


todas as formas de contato. Esse cara que ela está saindo não quer que
sejamos amigas. Quero dizer... e ela disse que não se sentia bem em me
contar pelo telefone. Ela pegou um dos Yoohoos e torceu a tampa,
rapidamente ficando frustrada quando não conseguia abri-la.

Atravessei a sala e gentilmente peguei a garrafa da mão dela, abrindo-a


na primeira tentativa com um sorriso caloroso.

— Foi tão rápido, Cory. Dois anos no ralo, e agora eu não deveria nem
falar com ela. Lágrimas brotaram em seus olhos quando ela levou a bebida de
chocolate aos lábios trêmulos.

— Eu sinto muito, muito, Meg. — Eu a abracei de lado.

Ela suspirou e passou os braços em volta de mim, descansando o


queixo no topo da minha cabeça.
— Sabe qual é a parte mais chata? — Ela riu. — Namoro novamente.
Eu odeio isso. Achei que tinha acabado.

Eu a apertei mais forte. — Você é uma prendedora. Não demorará


muito.

Ela me empurrou para trás, estreitando os olhos para mim. — Espere


um minuto. Esse tom na sua voz. O que aconteceu depois que saí da praia?

Eu era tão óbvio?

Mudei meus olhos. — Eu peguei lixo.

— Você não está me contando tudo. Por quê?

— Meg. Seriamente. Não é hora de falar sobre isso. Agora, é sobre


você.

Seu rosto caiu. — Você me conhece. Eu realmente quero passar esta


noite inteira chafurdando em autopiedade? Por que diabos eu chamei você
aqui?

Um sorriso nervoso se espalhou pelos meus lábios. — Para trazer seus


lanches favoritos, ouvir e oferecer todo e qualquer abraço?

— Derrama. — Ela cruzou os braços.

— Você conhece o surfista, Simon Thalassa?

— Você está de brincadeira? Ele é o melhor do país. A maneira como


ele passa a mão pelo cacho é como se estivesse falando com a própria água;
Juro.

— Ele meio que caminhou até mim quando eu estava mexendo no lixo.
Perguntou se já nos conhecemos. — Aqueles olhos insanamente verdes
assombravam minhas memórias.
— Espere. Você tinha? Conheceu ele antes?

— Claro que não. Eu teria dito a você.

Ela enrolou os Twizzlers e Yoohoo em seu braço e me puxou para o sofá.


Depois de me forçar a sentar, ela se sentou na minha frente, alargou as pernas
e se inclinou para frente. — Então, o que você disse?

— Eu disse a ele que não.

Ela estreitou os olhos. — Você deveria estar me distraindo. Não ajuda


nem um pouco quando você está dando respostas simplistas.

— Eu nunca o conheci, mas algo sobre seus olhos e aquela voz... eles
são familiares de alguma forma. — Suspirei e deslizei até minha bunda bater
na almofada de trás. A altura do sofá fez meus pés balançarem, incapazes de
tocar o chão.

— Intrigante — , disse Meg, assentindo.

— De qualquer forma, não é um grande negócio. Conversamos, ele


ofereceu ao grupo de caridade para ser um patrocinador em sua prancha de
surfe e...

Ela agitou as mãos ao redor. — Espere, espere, espere. Ele ofereceu o


quê ?

— Patrocínio. Disse que se eu lhe enviar um arquivo de imagem, ele o


colocará no quadro. Qual é o problema?

Ela pulou. — Cory, é um grande negócio porque ele é um grande


negócio. Provavelmente estaremos repletos de doações. Quero dizer, me
afogar nelas.

— Você realmente acha isso?


— Eu sei que sim. E se ele mencionar o grupo na câmera... Ela girou
nos calcanhares, curvando-se para trás com uma gargalhada. — Teremos
que contratar um PA para lidar com o estouro.

Olhei para meus pés pendurados, balançando-os. — Eu não tinha


pensado muito nisso, eu acho.

— Você deve ter causado uma boa impressão. — Ela se jogou no sofá
ao meu lado.

— Eu não sei o que era, mas toda vez que ele olhava para mim, era
como se ele estivesse confortável. Como se ele realmente soubesse quem eu
era. — Eu coloquei minhas pernas debaixo de mim depois de tirar meus
sapatos. — O que, por sua vez, me fez sentir confortável perto de um
completo estranho.

— Tenho certeza que a boa aparência não ajudou em nada, hein? —


Ela me deu uma cotovelada com metade de um Twizzler pendurado em sua
boca. — Não que eu seja uma especialista, mas pelo que eu vi dele na TV, ele
parecia o tipo que muitas de vocês, garotas heterossexuais, adorariam.

Eu ri. — Sim. Ele é gostoso.

— Quando você vai enviar o arquivo para ele?

— Amanhã. O próximo dia. Não estou com pressa.

Meg revirou os olhos e deixou a cabeça cair dramaticamente no encosto


do sofá. — Se você não enviar amanhã, eu estou fazendo isso por você.
Quanto mais cedo ele tiver, mais cedo poderá entrar no conselho, e podemos
estar rolando em dinheiro de doação.

Ela estava certa. Mas enviar-lhe o arquivo significava abrir outra linha de
comunicação. Eu não diria que não gostava dele por si só com base em nosso
primeiro encontro, mas a familiaridade inexplicável me deixou desconfortável.
— Tudo bem. — Eu puxei o controle remoto da mesa final. — Quer
assistir um pouco de Wynonna?

— Você é uma santa, Cordelia. — Ela estendeu um Yoohoo.

Depois de preparar um dos episódios favoritos de Meg, tirei a tampa e


batemos nossas garrafas juntas. Ficamos acordadas até altas horas da
manhã, assistindo tanto ao show de ficção científica ocidental que eu estaria
sonhando com o elenco para o futuro imprevisível. Com minha cabeça
recostada na almofada e a cabeça de Meg no meu colo, adormecemos.

Em vez de sonhar com Doc Holliday como imaginei que seria, acordei
submersa no oceano. Mas eu não estava me afogando. As respirações
entravam e saíam dos meus pulmões tão naturalmente quanto em terra.
Golfinhos me cercavam, implorando para que eu brincasse com eles. Eu
alcancei um. Seda branca flutuava sobre meu braço de um vestido enrolado
em volta de mim. Um golfinho passou pelos meus dedos, balançando o rabo
com o meu toque.

Sorri para mim mesma e me virei, olhando para o sol lançando raios de
luz através da superfície da água. Empurrando meus pés, comecei a nadar
para cima, mas uma mão forte envolveu meu pulso. Fechei os olhos antes de
abri-los para olhar por cima do ombro. Um homem com longos cabelos loiros
esvoaçantes e uma barba cheia, olhou para mim – um olhar de
resplandecente... esmeralda.
Debaixo d'água, um tentáculo escuro envolveu minha cintura, me
esmagando, tornando cada vez mais difícil respirar. Eu gritei sem sucesso, as
profundezas varrendo minha voz, e eu arranhei e soquei, mas o braço ainda
não me soltou. Isso me puxou mais para baixo até que a escuridão fria do
fundo do mar afundou em meus poros. Meus pulmões queimaram, meus
batimentos cardíacos desaceleraram, os movimentos se tornaram difíceis, até
que finalmente... eu desisti.

Acordei cuspindo, tossindo e ofegante. Meu peito doía, e eu tateei em


volta do meu torso, esperando ver um tentáculo ali. Nada. Parecia tão real.
Meus pulmões ainda doíam pela falta de oxigênio no sonho.

Poxa, subconsciente, podemos ficar com homens misteriosos e bonitos


de agora em diante e não sonhos que tentam me matar?

Esfregando minhas têmporas, caí da cama e me preparei para limpar


minha mente, sabendo que hoje era um dia de jogo e eu precisava me
concentrar. As quartas-feiras sempre foram meu melhor dia de streaming no
Glitch. Várias horas de mim jogando em qualquer jogo que eu estava no
momento e entretendo meus seguidores na esperança de doações. Megan
sabia que, a menos que fosse uma emergência absoluta, as quartas-feiras
eram proibidas. Isso nunca a impediu de tentar me ferrar entrando e
perseguindo a sala de bate-papo dos seguidores. Eu acho que o objetivo dela
era me fazer rachar por estragar o jogo ou fazer minha bufada detestável rindo
na câmera. Ela ainda não tinha vencido. Eu poderia facilmente tê-la chutado
ou deixar meus moderadores saberem para cuidar dela, mas sua ira depois
não valeu a pena.
Deslizando o fone de ouvido sobre meus ouvidos, eu me aninhei na
minha cadeira de jogos. Garrafa de água? Verificado. Travesseiro de lombar?
Verificado. Era hora de começar esta festa semanal. Depois que a tela de
carregamento de Tides of Atlantis terminou e eu registrei meu personagem no
mundo digital do mar, entrei ao vivo no Glitch. Minha câmera ganhou vida e a
sala de bate-papo Glitch brilhou no meu segundo monitor.

Meu moderador principal do dia me informou que tudo estava bem por
meio de uma mensagem de texto direta pelo sistema. Eles me ajudariam a
ficar de olho no bate-papo e filtrar os ovos podres. Aqueles que fariam
comentários rudes ou depreciativos, ou me pediriam para dizer ou fazer coisas
inapropriadas. Fiquei grata pelos mods. Isso me ajudou a manter o foco no
jogo. Com o torneio de eSports a apenas algumas semanas, eu precisava de
toda a prática que pudesse obter.

— Feliz Dia da Corcunda, pessoal. — eu disse com um sorriso largo.

Dezenas de comentários inundaram a tela. A notificação de um novo


seguidor fez um som de campainha.

— Parece que temos um novo seguidor. — Inclinei-me para olhar de


soslaio para o pequeno texto.

Novo Seguidor: KingOfFish69

— Bem-vindo a bordo, Rei dos Peixes. — eu disse, evitando


retransmitir o final imaturo de seu nome de usuário. Ele era provavelmente um
garoto de dez anos que ria toda vez que passava pelas bananas na mercearia
à venda por sessenta e nove centavos.

Percorri o menu, selecionando minhas armas. Eu tinha o hábito de


começar o dia com PVE ou jogador versus ambiente, juntando-me a outros
indivíduos aleatórios para combater monstros atlantes. No entanto, ganhei
mais seguidores do meu estilo PVP ou jogador contra jogador. Particularmente
neste jogo. Ambos os tipos de jogabilidade percorreriam vários mapas. Alguns
estavam em terra, outros debaixo d'água, mas o meu favorito eram os mapas
que englobavam ambos. Se alguém conhecesse bem os mapas, poderia ser o
primeiro a capturar veículos terrestres-marítimos com tecnologia atlante.

Uma vez que meu personagem foi carregado na tela, eu fiz uma rápida
rolagem por todas as atualizações que ganhei da jogada da semana passada.
Uma nova mensagem apareceu no chat.

MissTacoX : Você não conseguiu a última armadura necessária para o


conjunto Nautilus?

Eu suspirei. — Você está certa, Srta. Taco, eu fiz. Eu sou uma guppy.

Minhas referências aquáticas se tornaram um truque tão brega quanto


era. Eu estava no circuito Glitch há mais de um ano e agora até mantinha uma
loja online cheia de camisetas e canecas de café com meus slogans populares
e logotipo para minha tag de jogador: SaucySiren.

Depois de selecionar as manoplas para o conjunto Nautilus, eu sorri,


observando os brilhos dourados e as bolhas piscarem na tela. O equipamento
Nautilus foi um dos melhores conjuntos do jogo. Não só tinha o mais alto nível
de proteção e oferecia um bônus de experiência adicional, ou XP, mas
também parecia incrivelmente impressionante.

Minha personagem girou um total de trezentos e sessenta graus,


enfeitada com sua armadura de ouro branco e metálica recém-equipada,
completa com manoplas, peitoral, ombreiras, caneleiras por cima das calças e
uma saia rodada em volta da cintura. Optei por usar uma tiara pontiaguda
dourada removível que servia como arma corpo a corpo versus um capacete
de rosto inteiro – beleza sobre função, mas compensei isso na jogabilidade. No
entanto, as peças que brilhavam em branco radiante quando em áreas mais
escuras do mapa tornavam essa armadura esteticamente bonita.

FriskeeBizkit : Uau. Sua personagem parece incrível!


HufflePufflenz : Mal posso esperar para ver você arrasar com isso!

Sorri para todas as mensagens que rolavam pelo bate-papo veio


naturalmente, mas me distraí olhando para o meu personagem. Eu tinha dado
a ela o mais parecido possível comigo mesmo com o longo cabelo cor de
chocolate, maçãs do rosto salientes, nariz pequeno e olhos castanhos, mas o
que chamou minha atenção foi o jeito que ela estava na tiara.

KingOfFish69 : Você pode mudar as cores?

FriskeeBizkit : Duh.

NinjaMod : Um lembrete para respeitar todas as perguntas e


comentários de outros espectadores. Obrigado, e surfe!

Meus olhos dispararam direto para o comentário de KingOfFish. —


Sim... você tem um pedido específico, King? — Meu coração disparou
enquanto eu olhava para o bate-papo, ignorando quaisquer outros
comentários que surgissem, esperando que ele respondesse.

KingOfFish69 : A tiara. Faça as joias azul-petróleo e o metal prateado


cintilante… se puder

Sem pestanejar, fiz o que ele pediu. Minha personagem, Aliandra como
eu a chamei, olhou para mim, a tiara pegando os falsos brilhos de luz
adicionados ao jogo enquanto você virava seu personagem de um lado para o
outro.

— Obrigada, KingOfFish. Bela sugestão. — Minhas palmas se


fecharam e eu rapidamente fechei a tela do personagem, levando-a de volta
ao menu principal.

— Vamos começar — eu comecei, mas meus olhos dispararam para o


próximo comentário de King.

KingOfFish69 : Muito bem-vindo. :-*


A pele entre meus olhos se enrugou, focando por muito tempo no emoji
de carinha de beijo que ele havia enviado.

Com um rápido pigarrear, voltei ao meu monitor. — Devemos começar


a noite com um pouco de Pvp ou ir direto para os novatos na praia?

HufflePufflenz : Com esse novo equipamento? Def PvP!

FriskeeBizkit : ^^^^ isso.

Eu sabia a resposta antes de perguntar, mas também aumentou as


classificações para manter os espectadores interativos.

— Vamos começar então. — Fiz uma pausa para um gole de água


enquanto o jogo encontrava outros jogadores para se conectar. — Não se
esqueça de enviar um pouco de amor suspeito, pessoal.

Dezenas de emojis com temas de peixes inundaram o bate-papo –


peixes-palhaço, tubarões, golfinhos e maremotos.

Minha garganta apertou, espiando a imagem que King enviou: uma


tartaruga marinha.

Meus olhos dispararam para a coleção de tartarugas marinhas


bagunçando minha mesa de jogos – pelúcias, Funko POPs, estatuetas de
madeira esculpida.

Percebendo que a tela havia começado a contagem regressiva para o


início da partida, forcei minha atenção de volta ao jogo, enxugando as palmas
das mãos suadas no short.

O mapa selecionado aleatoriamente foi carregado e eu sorri para mim


mesma. Ilha de Faros. Um mapa de terra e mar, um que eu conhecia melhor.
— Esses pobres não têm ideia do plâncton que estão prestes a se livrar.
— Equipei a espada da minha personagem assim que ela apareceu na costa
arenosa.

Vários LOLs, bateria e emojis de rosto rindo rolaram pelo bate-papo.

Uma vez que você estava no jogo, era uma questão de navegar pelo
terreno, encontrar outros jogadores e exterminá-los por pontos. Havia vários
pontos de desova aleatórios com baús de tesouro que davam aos jogadores
reforços temporários de armas - um dos quais era um cânone atlante, capaz
de dizimar alguém com um tiro à distância bem colocado. Eu joguei o mapa
tantas vezes, eu conhecia cada um dos locais, mas a ordem em que eles
apareciam mudou.

KingOfFish69 : Você não está lutando com um tridente?

Meu rosto se contorceu, voltando minha atenção para a tela para ficar
de olho nos outros jogadores. — Ninguém usa o tridente neste jogo. É uma
das armas mais fracas, KingOfFish.

FriskeeBizkit : Sim. Por que usar um garfo quando você pode usar um
cânone?!

HufflePufflenz : Um garfo. RINDO MUITO.

KingOfFish69 : Talvez ninguém esteja usando o garfo corretamente.

Outro jogador se aproximou com a armadura do filme Aquaman ,


exibindo uma semelhança gerada por computador com o rosto de Jason
Momoa. Uma skin comprável que eles colocaram para ganhar quando o filme
foi lançado pela primeira vez.

MissTacoX : Oh merda, é o Rei dos Mares!

KingOfFish69 : Dificilmente.
Eu teria prestado mais atenção ao comentário de King se não fosse por
se transformar em modo de concentração total, me preparando para agir,
reagir e vencer.

NinjaMod : Por favor, lembre-se que quando Siren está no meio do


combate, ela pode não ver seus comentários! É por isso que você está aqui,
afinal, pessoal.

O nome do jogador que se aproximava apareceu acima de suas


cabeças: A CE OFATLANTIA .

— Tudo bem, Ace. Vamos ver quem é betta. — Meus polegares


pairaram sobre os joysticks no meu controle, circulando-o.

A armadura do Aquaman pode ter parecido legal e chamativa, mas eu


sabia que suas estatísticas de defesa eram menos da metade do calibre do
meu conjunto Nautilus. Alguns golpes bem cronometrados e eu ganharia.
Quando ele trouxe sua espada caindo sobre mim, eu levantei a minha,
bloqueando seu golpe. Faíscas exageradas e dores agudas de metal ecoaram
pelo meu fone de ouvido. As partes brilhantes da minha armadura pulsaram
em resposta ao movimento do meu personagem.

FriskeeBizkit : Cara. Essa armadura é DOENTE.

Com um toque duplo no botão B no meu controle, eu fiz um pirulito para


ganhar um ponto de vista diferente sobre ele. Agachada quando ele balançou
sua espada na parte superior do meu corpo, eu rolei novamente e girei ao
mesmo tempo, acertando um golpe em seu torso. Seu nome de usuário piscou
em vermelho, indicando danos graves. Um golpe final antes que seu
personagem tivesse a chance de regenerar a saúde e…

Priscilla, minha Cory Catfish, pousou na minha mesa com um thwap


molhado alto
Com meus olhos saindo da tela por um mero momento, Ace cortou sua
espada na minha cabeça, matando minha personagem 3 e me fazendo
renascer.

Priscilla caiu, tentando respirar. Sem me importar, os espectadores não


tinham ideia de por que de repente eu mergulhei fora da tela, peguei meu
peixe em minhas mãos e corri para o aquário, jogando-o de volta. Depois de
esperar que ela respirasse e nadasse corretamente, voltei para a câmera .

FriskeeBizkit : O que aconteceu?

MissTacoX : Ela desistiu?

— Estou aqui. Estou aqui. Desculpe, todos, um dos meus peixes de


alguma forma pulou do tanque deles. — Franzi minha testa enquanto me
virava no meu assento, olhando para o meu aquário.

Isso nunca tinha acontecido antes, e eu garanti a segurança do tanque o


tempo todo para evitar acidentes como esse enquanto eu não estava em casa.

Muito estranho.

Uma notificação soou de Glitch.

KingOfFish69 acabou de dar 300 conchas!

Meu rosto ficou quente. Conchas foi a palavra que escolhi para trocar
por dólares. Trezentos e sessenta dólares. O máximo que consegui no
passado foi cem, e isso só aconteceu uma vez.

HufflePufflenz : Sr. Bolsas de Dinheiro aqui.

3
Cory Catfish : É uma espécie de peixe
NinjaMod : Outro lembrete amigável para ser cortês com todos os
espectadores! Nós odiaríamos banir alguém por má conduta. Obrigada.

Um nó se formou na minha garganta enquanto eu olhava para a


notificação, observando minha personagem na tela com o canto do meu olho
realizando os saltos inquietos quando você fica ocioso por muito tempo.

— King of Fish, que doação gentil. — Eu puxei a sobreposição de


borracha no polegar direito do meu controle. — Você tem um pedido
especial?

KingOfFish69 : Eu adoraria ver você experimentar o tridente.

Uma risadinha nervosa flutuou do meu estômago. — Ah, eu não sei. Eu


nunca usei. Eu não posso prometer que não morrerei... repetidamente. Isso
não é exatamente divertido de assistir.

KingOfFish69 : Acho que você ficaria surpresa. Tente.

— O que vocês acham, navegantes do mar? Por um show de emojis de


peixe, devo experimentar o tridente? — Meus olhos estavam grudados no
nome de usuário do generoso doador, espiando a enxurrada de emojis voando
pelo bate-papo.

MissTacoX : Temos fé em você, chica!

Depois de coçar minha bochecha, abri meu inventário e troquei minha


arma primária para o tridente. Um coro de cantores masculinos de tom baixo
soou, seguido pelo som de uma arma cortando o ar.

— Aqui vai nada.

Eu estava parada no mapa por tanto tempo que não demorou muito para
encontrar um oponente. Eles estavam correndo pela praia, esperando uma
morte fácil e que eu estivesse AFK (longe do teclado).
NOME DE USUÁRIO : P ROTEIN GEYSER , me atacou com força total, espada
já apontada e usando armadura Nautilus combinando.

— Merda. Merda.

HufflePufflenz : Você tem isso!

Por favor, faça o tridente funcionar da mesma forma que a espada.

Quando ele se aproximou, um flash de um tridente ornamentado


bloqueou minha visão, girando no ar, refletindo raios de luz como se estivesse
debaixo d'água. Como se estivesse no piloto automático, meus dedos
acionaram os botões do meu controle. A imagem ondulou, e eu olhei para o
meu monitor com o tridente do meu personagem espetado no peito do
ProteinGeyser – morte de longo alcance, com um tiro.

Emojis inundaram o chat, seguidos de tantas notificações, o toque


constante fez minha cabeça doer.

HufflePufflenz doou 10 conchas!

MissTacoX : INCRIVELLLL!

KingOfFish69 :

FriskeeBizkit reassinado em um novo nível!

— Muito obrigada a todos. Eu gostaria de agradecer a cada um


individualmente, mas perdi metade das notificações que estão rolando tão
rápido. — Minhas bochechas coraram, e eu pressionei uma das minhas mãos
constantemente frias contra o meu rosto para esfriá-las.

Outras três horas se passaram, e eu usei o tridente por todo o fluxo,


destruindo em todas as rodadas que joguei, terminando como o melhor
jogador com a melhor proporção de mortes. King não digitava muito mais
nada, exceto o sorriso ocasional quando eu executava um movimento
especialmente impressionante com minha arma. A estranha visão não
apareceu na minha cabeça novamente, e eu me perguntei se eu realmente a
tinha visto. Poderia ter sido algo que eu comi antes? Lembrei-me de estourar
alguns Tic-Tacs que encontrei no abismo da minha bolsa, mas não me
preocupei em verificar a data de validade?

Eu agradeci a King uma última vez pelo dinheiro antes de me despedir e


sentei na minha cadeira de jogos por dez minutos, olhando para minha
coleção de tartarugas marinhas antes de finalmente encontrar a vontade de
me mexer. A tela do meu telefone se iluminou na minha mesa, ainda em
silêncio, como sempre fazia antes de entrar ao vivo.

Meg.

— Ei. — eu cumprimentei humildemente.

— Olá você mesmo. Trezentos dólares? Estou surpresa que esse cara
não esperasse favores sexuais por esse tipo de dinheiro.

Mudei-me para o meu aquário, espalhando um pouco de comida na


superfície e observando Priscilla nadar. — Por um lado, eu teria derrubado
isso em um instante, e dois, ele teria sido banido de Glitch por toda a vida.

— Ok. Você está levando tudo literalmente. O que está em sua mente?

— Meu peixe pulou do tanque. — Apertei os olhos, calculando a


distância aproximada do aquário à minha mesa. — É uns bons três metros até
a minha mesa. Você sabe que eu mantenho essa coisa segura, e mesmo se
alguém saísse, eles não chegariam mais do que alguns metros.

— Um acidente estranho. Seu ponto?

Meus olhos se voltaram para uma pintura pendurada sobre minha cama.
Um que eu comprei nas férias em Key West que me chamou como uma sirene
sedutora. Era um detalhe pequeno e minucioso, mas estava claro como o dia
quando me aproximei. Um único tridente dourado estava atrás das ondas,
atraído para se misturar com o coral que brotava de todos os lados.

Eu corri meus dedos sobre ele. — Nunca usei o tridente no jogo.


Sempre. E eu tive as melhores partidas da minha vida.

— Você está puxando uma arrastão aqui, Cory. Parece que você
precisa dormir um pouco. Além disso, temos um passeio de carro amanhã.
Lembra? Uma semana em West Palm com as tartarugas marinhas e câmeras?

— Eu não esqueci. Como eu poderia? Há algo mais. Eu tive esse


pesadelo estranho de um tentáculo me arrastando para debaixo d'água a
ponto de eu me afogar. — Lembrando quão real parecia, eu tracei uma mão
sobre minhas costelas. — Acordei engasgando como se estivesse realmente
acontecendo.

— Um tentáculo? Como Úrsula? Você assistiu a esse filme algumas


noites atrás, não foi?

A Pequena Sereia . Eu tinha mesmo.

— Sim. Sim, acho que você está certa.

— Certo. Bem, pare de pensar demais, como você sempre faz, vá para
a cama e traga esses trezentos ossos com você. Talvez compre algo legal e
feminino.

Eu sorri, deixando minha mão cair da pintura. — Ou talvez eu compre


algo legal e feminino para você .

— Isso foi uma ameaça?

— Boa noite, Meg.

— Boa noite... Sereia atrevida.


Depois de desligar, concentrei-me no tridente na pintura. Quando minha
mão se ergueu por vontade própria, os dedos se estendendo para a arma,
uma voz familiar passou vibrando pelo meu ouvido, a sensação de uma barba
raspando na minha nuca.

Eisaí i thalassa.

Com um suspiro, eu me virei para encontrar meu peixe pairando em um


lado do tanque.
Nós viajamos até West Palm Beach, todas as oito horas, ouvindo um
romance de fantasia pirata On These Black Sands em audiolivro durante a
viagem. Quando nos acomodamos em nosso quarto de hotel para passar a
noite, depois de carregar todo o equipamento do meu jipe para dentro, me
olhei no espelho enquanto Meg tomava banho. O mesmo rosto, o mesmo
reflexo dos últimos trinta e três anos olhou para mim, mas uma noção
inquietante – um sentimento de que eu não me reconhecia mais fez meu
estômago se revirar. O reflexo brilhou por um momento, e eu peguei um
vislumbre de mim mesma em um vestido xadrez com colinas verdes atrás de
mim. Um piscar de olhos e eu teria perdido.

— Devo voltar ao banheiro? — Meg tinha saído em algum momento,


toalha secando o cabelo curto com uma sobrancelha erguida. — Parece que
você está prestes a... auto-indulgente.

Meu peito apertou, e eu bati meu olhar para meus dedos arrastando
entre meus seios. — Eu...

Meg fez uma pausa e inclinou a cabeça para mim, roçando os pés
descalços no tapete até ficar ao meu lado.

— Eu pareço diferente para você, Meg?

Ela enrolou o dedo sob uma alça de sua regata com nervuras, movendo-
se entre mim e o espelho. — Você tem um brilho nos olhos ultimamente.
Como se você estivesse perdida em pensamentos com mais frequência do
que aqui no planeta Terra. Fora isso? Não.

Eu me virei para minha mala, pegando itens de higiene e pijamas.


— Na verdade. — Meg continuou, me seguindo. — Você está
estranha desde que conheceu o surfista. Uma conexão? Acho que sim. Seus
lombos simplesmente queimam por ele, minha querida?

— Meus lombos, Meg? — Eu mordi uma risada.

— Sim. Não é assim que todos os seus romances descrevem?

Revirando os olhos, eu passei por ela. — Talvez se eu gostasse de


estripadores de corpete.

— Corpete, e agora?

— Estou tomando banho. — eu disse, ignorando a pergunta dela com


uma risada enquanto eu entrava no banheiro.

Considerando que os hotéis nunca pareciam ficar sem água quente, eu


aumentei o volume o mais alto que minha pele podia tolerar. Pressionando
minhas mãos contra as telhas de mármore, eu me inclinei para frente,
deixando minha cabeça cair e deixando o calor rolar pelo meu pescoço e
costas. Levantando meus lábios em direção ao chuveiro, eu abri minha boca,
deixando a água se acumular, enchendo-a. Por um momento, pensei que
poderia respirar apesar da água bloqueando minha garganta e narinas. Eu até
tentei. Tossindo, cuspindo e ofegando, eu pressionei minhas costas na parede
do chuveiro, arrastando as gotas de água do meu rosto.

O que diabos havia de errado comigo? Quem se afoga no chuveiro em


pé?

A porta se abriu.

— Você está morrendo aqui, Cory? — perguntou Meg.

Depois de engolir outra porção de ar, respondi: — Não. Apenas


tentando respirar água.
— Ah. Por mais que eu saiba que você deseja ser uma sereia, por favor,
lembre-se…

— Eu não tenho guelras. — Eu apertei meus lábios.

— Bom. Você ainda não flutuou completamente para as nuvens.


Apenas grite se você escorregar ou algo assim porque você está tentando
mergulhar em águas extremamente rasas.

A porta se fechou.

Depois de terminar e conseguir não me matar, voltei para o quarto para


encontrar Meg sentada na beirada da cama, olhando para a tela do telefone.

— Meg?

Sua mão tremeu, e ela não piscou.

Enrolando rapidamente a toalha em volta do meu cabelo molhado,


atravessei o quarto e deslizei a mão em seu ombro. — Meg.

— Ela... — Meg engoliu em seco e olhou para mim com os olhos


injetados de sangue. — Ela me mandou uma mensagem. Ela me quer de
volta.

Meu peito doeu e eu sentei na cama ao lado dela, forçando-a a olhar


para mim enquanto eu gentilmente agarrei seu queixo. — Megara, não faça
isso com você mesma.

Uma das primeiras coisas que descobrimos que ambas tínhamos em


comum quando nos conhecemos foi nosso amor pelo Hércules da Disney
depois que eu a chamei de Megara pela primeira vez. Ficou preso a partir de
então.

— Eu a amo, Cory. — O aperto de Meg apertou o telefone.


Enrolei meus dedos ao redor do telefone, tirando-o de seu aperto. — Eu
sei que você a ama. Mas o que ela fez com você é imperdoável, e eu estaria
disposta a apostar qualquer coisa que a única razão pela qual ela está
mandando mensagens para você é porque o homem com quem ela estava
namorando a largou.

Depois de alguns puxões, Meg soltou com um suspiro.

— Você provavelmente está certa. Eu simplesmente não suporto a ideia


de começar de novo. Já é difícil encontrar outras mulheres gays, muito menos
uma que eu também esteja interessada em namorar. — Meg suspirou e caiu
de costas.

Eu a segui e descansei minha cabeça em seu ombro. — Vai acontecer,


Meg. Você faz você por agora. Se curar. Seja feliz. E acontecerá.

Ela descansou a cabeça na minha. — Não tenho certeza do que eu faria


sem você, Hobbit.

Eu cutuquei suas costelas, e ela soltou um grito. — Posso te fazer um


favor?

— O que você quer dizer?

Segurei o telefone como uma tocha olímpica. — Apagando o número


dela.

— Cory... — Meg se apoiou nos cotovelos, a pele entre seus olhos se


contraindo. — Não sei.

— Você queria ser amiga dela?

— Eu-eu não poderia fazer isso. — Meg mordeu o lábio e desviou o


olhar.
Depois de abrir sua lista de contatos, cliquei no nome de sua ex e
mostrei a tela para Meg.

Com um olhar para o telefone, ela fechou os olhos. — Faça isso.

E assim, eu fiz.

Sentamos no barco no dia seguinte, bebendo nossa segunda lata de


Red Bull. Meg começou a chorar no meio da noite, e eu passava horas
acariciando seu cabelo, tentando convencê-la a voltar a dormir. Ela se sentou
ao meu lado no banco enquanto o capitão nos levava para o local de
mergulho. Ela estava com a cabeça inclinada para cima, deixando o sol
aquecer suas bochechas, os olhos fechados atrás dos óculos escuros.

— Como você está, Megara? Eu bati no braço dela.

Ela respirou longa e profundamente. — Melhor. Muito melhor. O sol


sempre me rejuvenesce. — Ela empurrou os óculos de sol para o topo de sua
cabeça. — Desculpe por mantê-la acordada na noite passada.

— Oh não. Você não está dizendo nada disso. Lembra quando terminei
com Ted?

Ela exagerou seu lábio inferior carnudo saindo, fazendo-o pressionar


contra o meio de seu queixo. — Prefiro não me lembrar de Ted. Mas cara,
nós assistimos compulsivamente a alguns The Vampire Diaries.

Suspirando, eu me inclinei para trás e arrastei a mão pela minha


garganta. — Damon fará qualquer garota terminar um relacionamento, eu
juro.

— Hm, Caroline.
Nós nos olhamos de lado antes de rir.

— Estamos a cinco minutos, senhoras. — o capitão do barco anunciou


para nos dar tempo de nos vestirmos.

Depois de passar pelo processo formal de vestir roupas de mergulho,


nadadeiras e máscaras, colocamos os tanques nas costas umas das outras 4.
Pendurei minha máscara pela alça do meu braço, verificando se tinha um novo
cartão SD na minha câmera. Estávamos mergulhando no North Double
Ledges para procurar locais privilegiados para as tartarugas marinhas. West
Palm, em particular, tinha fortes correntes, o que tornava as condições de
natação duras. Exigiu mergulho à deriva, o que nos levaria sobre o recife com
pouca necessidade de nadar. Também significava uma entrada negativa, uma
descida direta ao fundo sem parar na superfície. Foi um desafio que eu adorei
porque você tinha que ser rápido no obturador para capturar seu assunto a
tempo.

O assistente a bordo gritou: — Mergulhe, mergulhe — assim que a


entrada do mergulho ficou livre, o barco balançou contra a forte corrente.

Meg e eu pulamos, descendo para o fundo assim que nossas nadadeiras


deslizaram abaixo da superfície. Um divemaster se juntou a nós porque nossos
pontos de entrada e saída estavam em lados opostos. Meg serviria como
observadora e reserva para o mergulho, dadas as condições. Com a
frequência com que eu teria que desacelerar para tirar fotos, no entanto, eu
não tinha certeza de qual seria a probabilidade de ficar com o divemaster. Até
Meg e eu nos afastávamos de vez em quando se ela errava meu sinal de que
eu estava parando.

Preparei minha câmera enquanto o vento me carregava, relaxando meus


membros e deixando a água enrolar ao meu redor como uma névoa densa.

4
Divemaster : Pessoa liderando no mergulho.
Peixes de todas as cores e variedades flutuavam em meio ao recife de coral.
Tirando várias fotos, não parei totalmente para elas, me esforçando para
economizar minha energia para as tartarugas marinhas. Um grupo de peixes
nadou até mim, girando meus braços e fazendo círculos repetidos ao redor do
meu torso.

Eu nunca tinha visto peixes agirem assim antes. Especialmente não com
um humano.

Uma tartaruga marinha nadou diretamente abaixo de mim, mas com


meus novos amigos peixes me distraindo, não levantei a câmera a tempo
antes de passar direto por ela.

Droga.

Passamos a hora seguinte tirando fotos de tudo e qualquer coisa que a


revista nos pagasse, incluindo mais de uma dúzia de fotos de tirar o fôlego de
majestosas tartarugas marinhas. Durante esse tempo, mais peixes circularam
meus braços e pernas, uma enguia me encarou e um tubarão-lixa nadou ao
meu lado por quase dez minutos seguidos. Dizer que eu estava desnorteada
seria dizer o mínimo. Uma tempestade havia se aproximado em algum
momento durante nosso mergulho, fazendo com que a corrente ficasse mais
intensa. Nossa deriva constante se transformou em uma catapulta, e não
estávamos mais à vista do divemaster. Fiz um sinal com a mão para Meg,
informando-a para ficar dentro do alcance.

Removendo a boia de marcação de superfície atrasada do meu cinto de


utilidades, comecei a desembaraçá-la, apoiando a câmera ao meu lado com a
alça presa ao pescoço. Estendi a mão atrás de mim para a fonte de ar
alternativa no meu tanque e a coloquei na parte de baixo da boia. Fiz uma
pausa com um pequeno sopro de ar para garantir que não houvesse
vazamentos antes de inflá-lo totalmente e soltá-lo, mantendo o carretel. Uma
vez que Meg e eu estávamos perto uma da outra, comecei a puxar a boia,
sinalizando nossa nova localização para o barco.
Assim que chegamos à superfície, as águas agitadas nos jogaram. O
barco balançou com tanta força que o cais mergulhou dentro e fora da água.
Um tripulante estava na borda com uma capa de chuva com as mãos
estendidas, instruindo-nos a esperar um momento mais seguro para
embarcar. A divemaster já havia chegado, e ela também acenou com as mãos
para nós.

Eu puxei meu regulador da minha boca. — Meg, vá primeiro.

— Você é louca? — Ela gaguejou enquanto nossos corpos balançavam


na água como boias combinando.

— Sou uma nadadora mais forte que você. Nós duas sabemos disso. Eu
estarei atrás de você e te ajudarei a entrar no barco.

O tripulante acenou freneticamente com as mãos para nós nadarmos


até ao barco.

Meg resmungou. — Tudo bem.

Seguindo atrás dela, eu pisei na água com minhas nadadeiras e segurei


a câmera para ela quando ela estava segura a bordo. Envolvendo minhas
mãos ao redor da escada, eu me puxei para cima. Uma enorme rajada de
vento enviou uma onda sobre minha cabeça, me jogando da escada e de volta
para a água escura. Eu gaguejei, lutando pelo meu regulador enquanto as
ondas agitadas me jogavam ao redor como uma boneca de pano e me
levavam para longe do barco.

— Cory. — Meg gritou.

Minha respiração ficou irregular, e consegui enfiar o regulador na boca,


chutando meus braços e pernas o mais rápido possível, mas a corrente era
muito forte. A visão do barco foi ficando cada vez menor.

Uma força repentina borbulhou debaixo de mim até alcançar minhas


pernas e me lançar para frente como dois golfinhos empurrando a sola dos
meus pés, mas... não havia nada além de água e ar. Eu segurei meus braços
ao meu lado, observando as listras de bolhas em cada lado de mim formarem
linhas retas enquanto meu corpo impulsionava através da água com facilidade
contra a corrente. E à distância, avistei vários otários como um tentáculo de
polvo. Ele desapareceu nas sombras antes que eu pudesse olhar novamente
para confirmar.

Assim que me aproximei do barco, a água me ergueu até a escada. Eu


bati minha cabeça sobre meu ombro, determinada a ter um vislumbre da força
misteriosa. Mas não havia nada, exceto as ondas cortando umas contra as
outras e a água ficando preta por causa das chuvas torrenciais.

— Jesus Cristo, Cory, você está bem? — Meg perguntou, me puxando


para o cais.

Gotas de água se acumularam em meus cílios, e eu pisquei para afastá-


las, olhando para a superfície indisciplinada do oceano. — Um pouco
abalada, sim. Mas eu estou bem.

Meg me tirou do meu devaneio quando ela passou os braços em volta


de mim em um abraço encharcado. — Você me assustou pra caralho, Hobbit.

Finalmente capaz de tirar meus olhos da água, eu a abracei de volta e


dei um tapinha entorpecido em suas omoplatas.

A chuva diminuiu quando chegamos à costa, por sorte. Não importava,


no entanto, tínhamos conseguido o que viemos: fotos de tartarugas marinhas.
Percorri as fotos na minha câmera. Apenas duas estavam embaçados. O resto
era brilhante, nítido e centrado.

— Aquele não é o surfista? — Meg deu um tapa no meu ombro e


apontou.

Meu estômago vibrou assim que o vi.


Simon. Ele conversou com uma mulher de biquíni amarelo, girando os
quadris e juntando os seios. Simon sorriu, mostrando aqueles dentes brancos
e brilhantes, mas seus olhos permaneceram grudados no rosto dela. Ele
esfregou a nuca e deu de ombros. Os braços da mulher caíram ao seu lado, e
ela franziu a testa antes de se virar com um movimento do pulso.

O barco balançou quando nos aninhamos contra o cais e eu me sentei


imóvel, congelada. Simon tirou a parte de cima de sua roupa de mergulho de
seu peito, deixando-a pendurada em seus quadris. Minha boca secou ao ver
seu peito nu, apesar de vê-lo dias antes.

Meg estalou os dedos na frente do meu rosto. — O barco carrega por


hora, sabe? — Ela sorriu.

— Certo. — Olhei para o meu relógio. Tínhamos dois minutos antes


que eles nos cobrassem por mais uma hora. — Merda. Vamos nos mexer.

Rindo, peguei meu equipamento em meus braços e manquei sobre a


borda do barco até ao cais, acenando para a tripulação com minha única mão
livre. Quando me virei, fiquei cara a cara... abdominais com Simon. Com um
gole que eu tinha certeza que era audível para todo mundo no cais, eu levantei
meus olhos até encontrar seu olhar.

O sol espreitava através das nuvens acima dele, emoldurando seu rosto
com uma espécie de brilho etéreo.

— Cordelia. É um prazer ver você aqui. — Ele sorriu, brilhante e


magnífico.

— Eu... — Comecei a falar, mas parei abruptamente, espiando o


logotipo da nossa instituição de caridade, um círculo composto por uma onda
azul, no braço de sua roupa de mergulho, bem como um ainda maior na
prancha de surf debaixo do braço.

Eu tinha esquecido completamente de lhe enviar as imagens.


— Como você — eu comecei de novo, mas desta vez, Meg colocou a
mão entre nós.

— Eu sou Meg. Conversamos por e-mail?

Com os dois sendo da mesma altura – gigantes – eu fiquei no nível do


mar, tentando ignorar que eles se elevavam sobre mim.

— Oh, certo. — Simon apertou a mão dela. — Eu coloquei na minha


prancha no mesmo dia. Você gosta? — Ele segurou o tabuleiro para cima,
dando-lhe um giro.

— Nós amamos isso. — Meg me deu uma cotovelada. — Não é,


Cory?

Eu gritei, dado que meus lados estavam além de cócegas. — Sim. Muito
obrigada. Tenho certeza que vai ajudar imensamente nossas doações.

— O prazer é meu. Qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar os


mares e seus... Ele pegou meu olhar, seus olhos parecendo se transformar em
duas piscinas com ondas suaves. — vida aquática.

— Bem, Cory. — Meg deu um tapa nas minhas costas. — Vou parar
na loja de presentes. Me encontre lá?

— Encontrar você? — Eu me virei para encará-la, ainda segurando


uma montanha de equipamentos em meus braços.

— Prazer em conhecê-lo em carne e osso, Simon. — Meg deu um


pequeno aceno, olhou para mim e disparou pelo cais.

— Você... queria alguma ajuda com tudo isso?

Minha garganta apertou, e eu me virei para encará-lo, a bolsa no meu


ombro escorregando e fazendo um baque alto quando atingiu o cais.
Com o mesmo sorriso radiante, ele pegou a bolsa. — Aqui. — Ele
pegou a outra bolsa que estava sobre meus antebraços. — Ouça, você...
quer conversar?

— Conversar? — Minhas sobrancelhas balançaram.

— Sim. Você sabe, como pessoas normais? — Ele riu, seus olhos
caindo para seus pés descalços, parando antes de olhar de volta para mim.

Eu bufei. — Oh cara. Não tenho certeza se já me considerei normal.

— Sei exatamente o que você quer dizer. — Os oceanos em seus


olhos giravam como um tufão enquanto ele olhava para mim. — O que você
disse? — Ele cutucou a cabeça em um banco vago de frente para a praia.

— Claro. Ok.

Enquanto caminhávamos até ao banco, todos os clientes por quem


passamos sussurravam e apontavam para ele. Eu não deveria ter ficado
surpresa, considerando quão famoso surfista ele era. Mas eu nunca fui de
seguir — celebridades — Que tolice minha ter esquecido que estava na
companhia de um deus do surf.

Simon sentou no banco, descansando minhas malas na areia a seus


pés. Ele deu um tapinha no espaço ao lado dele, me dando um sorriso que
poderia ter derretido o top do biquíni que eu usava por baixo da minha roupa
de mergulho. Depois de correr minhas mãos sobre meu cabelo molhado
salgado, sentei-me o mais longe que pude dele sem cair da borda.

Ele olhou para o grande espaço entre nós. — Eu prometo que não
mordo.

— Eu te conheço, mas não te conheço . — Eu ofereci um sorriso fraco.


Mas eu senti como se o conhecesse. Como se eu o conhecesse toda a
minha vida. Isso por si só me abalou mais do que sentar em um banco com um
estranho.

— Acho que preciso ganhar sua confiança, não é? — Ele curvou as


mãos na beirada do banco e se inclinou para frente.

Uma cócega rodou na minha barriga com suas palavras. — O que você
está fazendo em West Palm?

Ele casualmente chutou sua prancha de surf. — Eu tive uma


competição. Uma pequena. Mas eles cancelaram por causa da tempestade.
— Ele olhou para o céu.

Eu também olhei para cima, e nós dois rimos do céu azul e do sol
brilhando forte. Assim era a vida na Flórida.

— Você? — Ele tamborilou os dedos no banco.

— Tartarugas marinhas. — Mordi meu lábio inferior, imitando sua


posição e abraçando meus braços contra minhas coxas.

— Eu sinto muito? — Ele ergueu uma sobrancelha, fazendo sua testa


enrugar.

Eu ri da sua expressão. — Sou oceanógrafo. Uma revista nos contratou


para tirar fotos de tartarugas marinhas. West Palm tem alguns dos melhores
cenários para elas.

— Você tirou fotos? Mesmo durante a tempestade? — Ele apontou


para a água, quase no ponto exato em que fui arrastada.

Bile subiu pela minha garganta. — Sim. Ficou um pouco arriscado lá no


final. — Eu apertei meus joelhos juntos, olhando para eles.
— Você está bem? — Ele abaixou a cabeça, tentando olhar para o meu
rosto.

— Sim. Sim. — Sentei-me em linha reta, esfregando ambas as


clavículas com uma mão. — Eu fui jogada na corrente. Mas havia essa
estranha rajada debaixo d'água. Isso me trouxe de volta ao barco.

Ele tossiu. — Uma rajada, você diz?

— Sim. — Eu me aproximei dele. — Você já experimentou algo assim?

Seu aperto aumentou no banco. — Não posso dizer que tenho. Apenas
ondas e cachos.

De repente, ele não conseguia olhar para mim, e eu deslizei para mais
perto.

Ele disparou como um foguete. — Ouça, eu tenho que ir, mas — Ele
esfregou a parte de trás de seu pescoço. — Eu realmente gostaria de vê-la
novamente. Você consideraria a possibilidade de trocar números?

Fazia tanto tempo desde que um homem pediu meu número


pessoalmente, eu tinha esquecido como responder adequadamente nesta
situação.

— Números? — Saiu como um chiado.

Ele riu, profundo e masculino. — Sim. Números de telefone? Para entrar


em contato um com o outro? Talvez eu possa convidá-la para sair?

Meu coração trovejou no meu peito. — Você? Simon Thalassa. Um


surfista famoso com abdominais por dias... quer me ver de novo?

Ele deu um sorriso sarcástico enquanto batia os dedos contra o


estômago. Tomei conhecimento por uma fração de segundo antes de forçá-los
de volta ao seu rosto.
— Os surfistas com músculos tonificados não podem namorar?

Apertei dois dedos entre os olhos e me levantei. — Desculpe, eu sou


horrível nessa coisa toda... socializar em geral, eu suponho.

Um sorriso pegajoso se espalhou por seus lábios, e ele disse baixinho:


— Você sempre foi.

— O que você disse?

Seus olhos dispararam para os meus. — Eu não disse nada.

Cocei minha bochecha enquanto cravava os dedos dos pés na areia,


desejando que os grãos acalmassem meus nervos.

— Nós sempre poderíamos confiar que o destino nos colocaria no


caminho um do outro novamente, mas eu prefiro fazer isso da maneira antiga.
— Ele cruzou as mãos na frente dele.

Eu gostei dele. Eu fiz. Então, o que diabos havia de errado comigo?

— Eu não tenho meu telefone comigo, mas eu tenho uma caneta? —


Agachada, abri o bolso da frente da bolsa da minha câmera e fiquei com a
caneta na mão como uma pena elegante.

Ele ofereceu seu antebraço bronzeado para mim, mantendo seu olhar
fixo no meu.

Meus dedos roçaram sua pele, a tensão dela - a leve dispersão do


cabelo - fez uma piscina de calor na minha barriga. Agarrando a caneta com
força para evitar que minha mão tremesse, escrevi meu número de telefone
nele. Seu cheiro flutuou no ar na minha frente como névoa de cachoeira -
spray do mar misturado com frutas cítricas e sol. Eu queria derreter contra ele,
moldar a ele.
— Acho que estamos bem, Cordelia — ele sussurrou perto do meu
ouvido.

Meus olhos se abriram e eu pulei para trás, percebendo que minha mão
ainda descansava em seu antebraço, e eu me inclinei em direção a ele.

Enrolei a caneta no meu peito, segurando-a com as duas mãos. — Esse


número é um acordo único. Não deixe lavar.

Ele arrancou a prancha da areia e a dobrou debaixo do braço. — Eu


nunca deixarei a oportunidade de vê-la novamente passar. — Ele desejou
meus olhos para ele, e antes que ele se virasse para ir embora, minha mente
me pregou peças mais uma vez. Porque eu poderia jurar, ele sussurrou: —
Não mais.
Enquanto eu entrava na loja de presentes para me encontrar com Meg
depois de deixar o equipamento no meu Jeep, continuei jogando suas palavras
na minha cabeça. Apertei os olhos para o nada, movendo meu dedo no ar
como se resolvesse uma equação algébrica sem lápis e papel.

Os últimos dias me deixaram com perguntas sem resposta que eu nem


sabia que queria fazer.

— Cory. — Meg gritou, agarrando meus ombros e me sacudindo.

Eu empurrei dentro de seu alcance. — O quê? O quê?

— Eu chamei seu nome três vezes. A dois metros de distância. Que


diabos está errado com você? — Ela levantou a mão em um gesto de
barbatana e moveu-a de um lado do meu rosto para o outro, mantendo os
olhos nos meus.

Eu segui sua mão antes de afastá-la. — Eu não tenho uma concussão


ou qualquer outra coisa que você sinta a necessidade de verificar minhas
habilidades motoras.

— Você vai me contar sobre seu bate-papo com Simon, ou eu tenho


que arrancar isso de você? — Ela jogou uma camisa xadrez sobre o top do
maiô, deixando o resto do traje de mergulho pendurado na cintura.

— Ele... — Eu passei por ela, ocupando minhas mãos e olhos com uma
variedade de lembranças. — Pediu meu número.

— Uau. O homem trabalha rápido e sabe o que quer. Eu gosto disso. —


Meg passou os dedos pelos chaveiros de conchas pendurados em cabides.
— É... quer dizer, provavelmente estou pensando demais. Peguei um
globo de água com um par de tartarugas marinhas nadando entre as palavras
West Palm Beach e o virei de cabeça para baixo para fazer nevar sobre elas.

— Cordelia. Me fala. Desde quando você é tão imprevisível com


informações? Normalmente, você estaria falando mal da minha orelha agora.
Ela arrancou o globo da minha mão, colocando-o de volta e puxando meu
braço. — Venha ver isso.

— Ele tem esse senso de urgência para ele. Como se ele estivesse com
medo, se não agir de acordo com a perspectiva de nós, serei puxada pela
maré, para nunca mais ser vista.

Meg me levou a várias fileiras de prateleiras cheias de esculturas em


miniatura mergulhadas em um brilho perolado.

— Eu não sei, Cory. Não há nada de errado em uma pessoa saber o


que quer e ir atrás disso. Contanto que ele não peça em casamento amanhã,
eu aceitaria. Ela agarrou um tubarão-martelo, passando o polegar sobre sua
barbatana dorsal. — Ele parece perfeito para você.

— Nós não conhecemos esse cara, Meg. — Estremeci, agarrando uma


das tartarugas marinhas, testando seu peso na palma da minha mão.

E era verdade. Eu. Não. Conheço. Ele. Mas sua presença era como um
mergulho à meia-noite — corrente relaxante misturada com incerteza e calma
sinistra.

— Esse é o objetivo do namoro, não é? Conhecendo-o? — Ela manteve


o tubarão-martelo em suas mãos e pegou uma estatueta de tubarão-touro.

Uma pilha de pequenas réplicas de tridentes repousava em um canto


distante, a luz fluorescente do teto refletindo neles, fazendo-os brilhar mais do
que o resto. Coloquei minha mão sobre um deles, e um zumbido alto soou em
meus ouvidos, me deixando tonta. Estremecendo com a interferência bizarra,
peguei um, e o som flutuou para longe, substituído pela voz de Meg ainda
falando sobre Simon.

— Isso é tudo que estou dizendo. Estou simplesmente cuidando dos


seus interesses — continuou Meg, embalando um de cada espécie de tubarão
em seus braços com um sorriso brilhante.

Segurando o tridente contra a luz, eu o girei entre dois dedos. — Se eu


mandar uma mensagem para ele quando chegarmos ao carro, isso vai
agradar você?

— Sim. Sim, vai. Pelo menos uma de nós deveria ter uma vida sexual
bem-sucedida.

— Então você deveria sair com ele , e você deveria transar com ele em
quase uma respiração. Uau. — Passei por ela com os olhos arregalados para
o caixa, batendo o tridente no balcão.

— Nós duas somos adultas. E já se foram os tempos de julgamento


sobre trepar no primeiro encontro. — Ela deu de ombros e pegou um chaveiro
de concha de uma catraca com seu nome nele. — Às vezes, é até uma
questão de liberar o estresse. E tudo bem.

A caixa, uma mulher mais jovem com cachos de cabelo loiro morango e
um nariz pequeno e empinado, sorriu enquanto me ligava, suas bochechas
corando.

— Quero dizer, estou certa? — Meg perguntou, abaixando o rosto para


tentar olhar para a caixa tímida.

A mulher assentiu enfaticamente, mas não conseguiu encontrar o olhar


de Meg.

Reprimindo um sorriso, peguei minha pequena bolsa azul e o recibo,


saindo do caminho de Meg.
Quando a caixa ligou para a dúzia de figuras de tubarões que Meg
colocou no balcão, olhei para o tridente cercado por plástico azul dentro da
bolsa. Se a mesma arma em Tides of Atlantis era tão poderosa quanto quando
eu a empunhava no jogo, por que ela continuou sendo a escolha menos
popular?

— Então, você mora em West Palm, hein? Já visitou Pensacola? —


Meg apoiou os antebraços no balcão, mastigando uma caneta que havia
jogado no último minuto.

Os ombros da caixa se curvaram para frente, mas ela sorriu. — Às


vezes, sim. Eu amo aquela bebida Diesel Fuel. Sem mencionar a enorme pilha
de nachos no McGuire's.

Nunca tendo sido do tipo tímida, Meg empurrou a seta azul na caixa
registradora, fazendo aparecer vários centímetros de fita de recibo em branco.
Depois de rasgá-lo, ela anotou algo e deslizou para ela.

— Meu número. Quando estiver na cidade, você deve entrar em


contato. Eu compro um Diesel Fuel. — Meg enfiou a caneta de volta na boca
antes de bater as palmas das mãos no balcão em sucessão rítmica.

As bochechas do caixa ficaram rosadas, e ela dobrou a fita do recibo


com um sorriso. — Eu terei certeza de fazer isso.

Meg piscou antes de pegar a bolsa cheia de souvenirs de tubarão em


seu braço e se juntar a mim perto da entrada.

— De volta à sela? — Eu dei uma cotovelada nela.

Ela continuou a mastigar a caneta. — Tentando.

Curvando nossos braços, jogamos nossas malas na parte de trás do


meu jipe e engatinhamos, voltando para o nosso hotel para passar a noite.
Meu celular vibrou no porta-luvas, ecoando nas paredes de plástico até que
Meg o abriu e o agarrou.
— Quem é esse? — Eu balancei minhas sobrancelhas para ela.

Com um sorriso malicioso, ela rolou a tela com o polegar. — Parece que
você não terá que ser a primeira a fazer um movimento, afinal. Eu deveria ter
adivinhado.

— É Simon? — Estendi a mão para o telefone, mas ela se afastou.

— Uh-hum. Ele está perguntando se você quer vir para a competição


de surf dele em dois dias.

— Competição de surf? Que tipo de encontro é esse?

Ela abaixou o telefone no colo e me deu um olhar exasperado. — Por


que estou tendo que te ensinar sobre os homens? Isso é tão incrivelmente
atrasado, Cory.

— O que você está falando?

— Ele quer se exibir na competição. Depois, aposto minha camisa


xadrez favorita que ele planeja levá-la para jantar ou beber ou qualquer coisa
para uma bebida. Ela girou a mão em um círculo, esperando a lâmpada
acender no meu cérebro.

— Oh. — Eu torci minhas mãos no volante. — Acho que isso faz


sentido.

Meg assentiu uma vez e descansou meu telefone no porta-copos entre


nós. — Eu já respondi que você estaria lá.

— O quê? Por que você... Agarrei o volante com mais força.

Ela apontou um dedo severo para mim, em silêncio.

— Tudo bem. Suponho que posso fingir estar muito mais no surf do que
realmente estou por um dia.
— Não.

Virei minha cabeça em sua direção. — Não?

Nervos borbulhavam no meu estômago por tirar meus olhos da estrada,


e eu rapidamente os retribuí.

— Você não vai fingir nada. Isso é treta. Você vai assistir Simon mostrar
suas proezas atléticas seminu e sair com ele depois. É isso. — Ela cortou a
mão pelo ar na frente dela.

Eu afundei no meu assento. — Você está consideravelmente ardente


ultimamente.

— Uma nova folha, Cory. Uma nova folha.

Era nosso último dia em West Palm, e alugamos um mergulho em gaiola


para obter alguns close-ups de tubarões premiados, espero. Sentamos em um
banco a bordo do barco e verifiquei se havia um cartão SD, verifiquei se meu
regulador funcionava corretamente e prendi o cabelo em um rabo de cavalo
baixo.

— Eu me acostumei tanto com máscaras de mergulho de rosto inteiro.


— Meg jogou ao redor do bocal de seu regulador com uma risadinha. — Vai
ser uma merda não poder falar com você.

Eu escorreguei em minhas nadadeiras. — Acho que vamos sobreviver


por vinte minutos.

— Vinte minutos, hein? Uau. Cordelia Bourne desenvolveu um ego? —


Meg cutucou meu ombro.
Batendo na perna dela com minha nadadeira, eu gargalhei. — Eu? O
que você está falando?

— Você teve um histórico de tanta sorte ultimamente com suas fotos


que acha que vamos conseguir uma foto de tubarão digna de venda em vinte
minutos?

Apertei os olhos para o sol com um leve encolher de ombros. — Ou


abaixa. — Espreitando sua reação pelo canto do olho, ela não decepcionou.
Sua mandíbula quase tocou seu peito. — Estou brincando, Meg. — Eu sorri
para ela, sacudindo sua canela com minha nadadeira novamente.

— Cinco minutos — anunciou o capitão.

Nós duas nos levantamos, ajudando uma a outra a prender os tanques


em nossas costas. Deve ter sido cômico para qualquer um que me viu ajudar
Meg, considerando que eu praticamente tive que correr para jogar as alças
sobre seus ombros. Depois de nos vestirmos, caímos na borda do barco,
observando a gaiola descer na água de um guindaste acoplado quando o
barco parou completamente.

Olhei para as barras da jaula e puxei o braço de Meg. — Essas barras


não parecem um pouco distantes demais para você?

Ela olhou para a água. — Talvez uma polegada ou duas além do que
normalmente vemos, mas ainda fará seu trabalho. Mantenha os dentes da
faca longe de nós. Depois de piscar para mim, ela puxou os óculos sobre o
rosto.

— Certo. — Forcei um sorriso e empurrei o regulador na minha boca.

O mundo ao nosso redor se acalmou quando pulamos na água. Os


únicos sons que passavam pelos meus ouvidos eram os gemidos de metal do
barco balançando na água, nossa respiração constante e a água se agitando
ao nosso redor. A gaiola desceu depois de nos trancar dentro e puxar a corda
presa pelo operador do guindaste no convés. Os fechos de metal que
mantinham as barras fechadas tilintaram quando ele parou. Nós dois
levantamos nossas câmeras e começamos a nadar em círculos de costas um
para o outro, permanecendo em direção ao centro.

Eles começaram a chupar a água do barco, pedaços estragados de


peixes rasgados flutuando na água, sangue fresco se enrolando em torno
deles em uma espiral. Meu aperto aumentou nas alças da câmera quando
uma cabeça de peixe passou pelo meu olhar. A bile subiu pela minha
garganta, mas eu a engoli. Vomitar no meu regulador não seria uma situação
ideal.

Estávamos flutuando na gaiola por dez minutos, cardumes de peixes


nadando de ambos os lados, mas nada maior – não o grande jogo que
procurávamos. Uma curiosa fêmea de tubarão circulou nas proximidades,
movendo-se em ziguezague enquanto se aproximava da jaula. Dei uma
cotovelada em Meg e apontei, encorajando-a a enquadrar uma foto caso ela
nos agraciasse com sua presença.

O tubarão nadou cada vez mais perto até que de repente se afastou,
deixando um rastro de bolhas atrás dele. Para um tubarão-touro daquele
tamanho fugir por capricho só poderia significar uma coisa - um peixe ainda
maior nadava nas proximidades. Eu olhei em todas as direções, me
esforçando para ver um contorno, movimento, qualquer coisa à distância.

Aconteceu com tanta velocidade, força e poder puro que não o vimos
chegando até que a cabeça de um grande tubarão branco se chocou entre as
barras do lado da gaiola. Bolhas surgiram de nossas bocas enquanto nós duas
gritamos. O tubarão pensou que éramos comida ou uma ameaça ou
possivelmente ambos e planejou um ataque de longo alcance.

Eu levantei a câmera, usando-a como escudo quando o tubarão


começou a se debater e morder – preso. Minha respiração ficou irregular,
olhando com horror para a pobre criatura em pânico, contorcendo-se por sua
vida sem sucesso. Meg nadou até ao canto mais distante e a empurrou de
volta para ele, os olhos arregalados como bolas de praia por trás dos óculos.

Com a respiração mais profunda que consegui, dado um regulador,


estabilizei meu batimento cardíaco. O sangue flutuou das guelras do tubarão,
e eu sabia que se continuasse se debatendo, iria sangrar até a morte.

Se ao menos eu pudesse dizer para parar para que eu pudesse ajudar a


empurrá-lo para poupar suas guelras.

Se ao menos o risco de perder uma mão no processo não fosse


astronomicamente alto.

Isto. Foi. Indo. Para. Morrer.

Eu não poderia viver comigo mesma se eu ficasse ali assistindo ele se


machucar até ficar sem vida e afundar no fundo do oceano – esquecido.

Pare.

Os olhos brilhantes do tubarão olharam para mim, continuando a se


contorcer contra as barras da jaula.

Pare. Pare. Pare.

Nadando mais perto, mantive a câmera entre nós.

A contorção do tubarão diminuiu, mas o sangue que escorria de suas


guelras não.

Uma faísca subiu pela minha espinha e deixei a câmera flutuar até ao
fundo da gaiola. Movendo-me na frente do tubarão, um fôlego, tão perto que
eu podia ver as dezenas de cicatrizes em seu nariz, arranquei o regulador da
minha boca.
— Pare — eu gritei para a água, enviando uma enxurrada de bolhas no
rosto do tubarão.

O tubarão parou, suas guelras batendo desamparadamente contra a


gaiola, sua cauda balançando preguiçosamente para frente e para trás para
mantê-lo flutuando. Eu encarei os olhos do tubarão, mantendo seu olhar
enquanto estendia uma mão trêmula. Os dedos de Meg roçaram minha roupa
de mergulho atrás de mim, mas eu a ignorei, totalmente focada no tubarão, e
tranquei nossos olhares.

O tubarão estremeceu quando me aproximei de suas guelras, mas lutei


contra cada compulsão para se afastar. Enfiando a mão entre as guelras do
tubarão e a gaiola, resmunguei e empurrei com todas as minhas forças. O
tubarão fez um pequeno movimento com a cabeça antes de se soltar – livre.
Como o swell5 no oceano, meu peito disparou, quase estourando, radiante
com a visão do tubarão libertado. Um filme voou sobre o olho direito do
tubarão antes que ele nade para longe com golpes sólidos de sua cauda.

Meus pulmões queimaram. O regulador. Enfiei-o de volta na boca e


tomei vários goles de ar. Meg agarrou meu ombro e me virou, agarrando
freneticamente minhas mãos, verificando se todos os dedos ainda estavam
intactos. Ela empurrou meu ombro antes de puxar a corda, sinalizando para o
barco fazer a gaiola subir. Eu descansei a mão na minha garganta, lembrando
o padrão de turbilhão de bolhas do meu grito debaixo d'água.

Minha cabeça rompeu a superfície, o sol aquecendo minha pele e


acalmando meus nervos abalados. Os gritos do capitão do barco, os pássaros
voando no alto e a água batendo contra o barco desapareceram em meus
ouvidos – eu me sentia uma estranha em minha própria pele.

5
Swell: Ondas fortes causadas por tempestades
Assim que subimos a bordo, Meg arrancou os óculos e agarrou meus
ombros. — Que diabos aconteceu lá embaixo, Cory?

— Senhorita, você está bem? — O capitão perguntou, passando a mão


pela cabeça calva e suada. — Aquele tubarão estava jogando a gaiola como
uma maldita foca. Nunca vi isso acontecer antes.

Franzi minha testa, desviando meu foco para as linhas de riso ao redor
da boca de Meg. — Estou bem.

— Eu tenho isso resolvido, capitão. Você pode nos levar de volta ao


cais o mais rápido possível, por favor? Meg me guiou até ao banco e me
empurrou para sentar.

— Você nunca foi ameaçada por tubarões, Cory, é uma coisa. O que eu
testemunhei lá foi um maldito tubarão sussurrando. — Meg pegou sua
câmera e segurou a tela digital nas costas para mim.

Esfreguei meus lábios, os olhos se deslocando para a tela. Ela tirou


várias fotos sucessivas de mim estendendo minha mão para o tubarão e ainda
mais quando eu pressionei minha mão em suas guelras e empurrei. Fechando
meus olhos, eu me virei, minha cabeça tonta e pulsando. — Você não pode
publicar isso.

— Não merda. Eu queria que você visse por si mesma o que você fez.
Meg descansou a câmera no banco ao lado dela e se aproximou de mim,
esfregando meus braços. — Como você sabia que não iria morder seu
maldito braço, Cory?

Meu corpo sacudiu enquanto ela se esfregava, gotas de água do meu


cabelo molhado caindo na minha mão virada para cima descansando na
minha coxa.

Drip. Drip, drip.

— Eu não.
— Jesus. Por que você fez isso, hein? Por quê? — Ela passou a
esfregar meus ombros.

— Era fazer algo ou vê-lo morrer. — Lágrimas brotaram em meus olhos


com o mero pensamento. — Você sabe que eu não poderia deixar isso
acontecer.

Ela me abraçou de lado, me puxando para perto. Dada a nossa


diferença de altura, pude descansar minha cabeça confortavelmente em seu
ombro. Ela colocou sua cabeça na minha. — Por favor, nunca mais faça isso.
Eu não conseguiria ganhar dinheiro suficiente sozinha. Meio que preciso de
você. — Ela riu, fazendo meu corpo vibrar.

Um sorriso puxou meus lábios, mas desapareceu.

Não havia nenhum sinal revelador das emoções de um tubarão. Nenhum


brilho em seus olhos. Sem lábios finos ou bochechas avermelhadas. Mas eu
sabia com cada fibra do meu ser - que o peixe não apenas me entendia
quando eu gritava, mas também me agradecia antes de nadar para longe.
Eu implorei para Meg vir comigo para a competição de surf porque eu
não saberia o que fazer comigo mesma sozinha na praia vendo um bando de
surfistas. Como previsto, ela se recusou e me disse para me concentrar em
Simon. Se ele tivesse sido o único competidor, isso não teria sido um
problema, mas eu sentei em uma toalha na areia assistindo atleta após atleta
pegar as ondas, e nenhum deles era Simon. Sufocando um bocejo, inclinei
minha cabeça para trás e fechei meus olhos, deixando o sol beijar minha pele.

— Já está entediada, hein? — A voz de Simon falou de perto.

Eu abri meus olhos para encontrá-lo de pé sobre mim com um sorriso


sarcástico, sua cabeça parcialmente bloqueando a luz no céu. —
Transparência completa. Eu vim aqui para assistir a um surfista singular.

— Oh sim? — Simon se jogou na areia ao meu lado, apoiando os


antebraços nos joelhos. — E quem pode ser?

Vários banhistas apontaram e olharam para nós, sussurrando entre si.


Se Simon notou, ele não agiu assim.

— Algum cara que a mídia diz ser a maior coisa a atingir o circuito de
surf desde o leash da prancha. — Eu empurrei meus óculos de sol na minha
cabeça, observando-o de perto e no meu nível.

Aqueles olhos dele nunca deixaram de me fazer sentir inquieta e calma


ao mesmo tempo.

— Uau. Parece talentoso. — Ele piscou para mim antes de cutucar


levemente meu cotovelo com o dele. — Eu aprecio você parar por aqui. Se eu
soubesse que você estava apenas aparecendo para mim, eu teria dito para
você vir mais tarde. Ele riu e voltou o olhar para as ondas, batendo
impacientemente com os dedos em seu antebraço bronzeado.

— Oh? Eles sempre guardam o melhor para o final? — Sentei-me mais


reta, fazendo com que meu quadril roçasse sua coxa.

Ambos os nossos olhares se voltaram para o breve contato antes de


encontrar os olhos um do outro.

Ele inclinou a cabeça para um lado, me observando. — Eles acham que


é melhor para publicidade. Eu não dou a mínima para que ordem eu vou,
desde que eu consiga surfar.

— Você realmente é um bebê aqua, não é? — Eu queria arrastar meus


dedos pelo cabelo dele. Em vez disso, eu os cavei na areia.

Ele assentiu enquanto se apoiava no cotovelo mais próximo de mim, o


cabelo em seu braço roçando minha pele. — Se eu pudesse viver na água —
Seu olhar baixou para meus lábios antes de retornar aos meus olhos. — Eu
viveria.

Uma buzina de neblina desagradável soou do outro lado da praia.

Simon revirou os olhos. — Esse seria meu patrocinador. Sua maneira


deliciosa de me informar que há um surfista para ir antes de mim. — Ele se
levantou de um salto e limpou a areia de sua bunda.

— Você ficará por aqui depois, certo? Há um ótimo pequeno bar de


saladas na praia. — Ele apontou com o polegar. — E as margaritas são
fortes. — O sorriso torto que deslizou sobre seus lábios carnudos, mas
masculinos, fez o interior das minhas coxas doer.

— Eu não estou indo a lugar nenhum.

Sua expressão caiu, e ele olhou para mim, o lado esquerdo de sua boca
se contraindo. Ele deu um passo à frente, mas recuou, balançando a cabeça
rapidamente. — Em um ponto, eu segurarei três dedos acima da minha
cabeça. Esse sinal? É para você.

Tracei um dedo sobre meus lábios. — Vou procurar.

Depois de me lançar outro sorriso premiado, ele saiu trotando, acenando


com o braço para seu patrocinador. Todas as mulheres por quem passava em
seu caminho voltavam seus olhares para ele, observando seus músculos
endurecidos se contraindo e flexionando a cada passo. Um nó se contorceu
no meu estômago. Eu mal conhecia o homem, mas de alguma forma, meu
corpo ainda descobriu uma maneira de ficar com ciúmes. Eu puxei a câmera
da minha bolsa com um grunhido, ajustando o obturador para a iluminação
apropriada.

Jogando a alça sobre o meu pescoço, passei meu olhar por trás do
visor, ampliando e tirando várias imagens das ondas. Fotos de surfe nem
sempre estavam no topo da lista de fotos que meus clientes pediam, mas
algumas de Simon Thalassa podem ser desejáveis.

Desejo.

Um caroço do tamanho de uma concha se formou na minha garganta, e


apertei a câmera com mais força.

Quando a voz do locutor apresentou Simon, os banhistas ao redor se


animaram em suas toalhas de praia. Fiquei de joelhos com a câmera
empoleirada em minhas mãos, avistando Simon correndo pela costa, sua
prancha aninhada debaixo de um braço. A água o acolheu a cada volta das
ondas batendo contra suas panturrilhas. Ele caiu de bruços em cima da
prancha, nadando até aonde as ondas quebravam.

Ele ficou totalmente em pé na prancha enquanto a onda se enrolava,


habilmente equilibrando e surfando na água. Sua mão direita cortou a onda, o
cano enrolando em torno dele como um abraço. Eu coloquei a câmera para
trabalhar, tirando foto após foto, uma após a outra, para capturar qualquer
parte sutil da ação. Seus braços fluíram pela água e quando eu me aproximei,
a forma de um golfinho apareceu, mas desapareceu com a mesma rapidez
com um respingo furioso.

Meus ombros ficaram tensos, mas eu não larguei a câmera, mantendo


meu olhar colado em Simon através do visor. Enquanto fazia uma transição
suave de baixo da onda, ele levantou um braço, exibindo três dedos e um
sorriso largo.

Sorrindo, tirei várias fotos de sua mensagem secreta para mim. Só eu.

Três dedos. Pisquei, meus cílios tremulando contra a câmera – um


tridente.

Uma dormência percorreu meus braços, e eu me sentei de costas. A


câmera teria caído na areia se não fosse pela alça que a mantinha pendurada
no meu pescoço. Esfreguei a pele entre os olhos, flashes do tridente cintilante
sob a água ardendo em meu cérebro como se tentasse romper alguma
barreira mental. Balançando a cabeça, forcei meu foco de volta pelo visor.

Simon surfou outras quatro ondas, não surpreendentemente marcando o


máximo de pontos com os juízes em todas as tentativas. Reunindo minha
toalha e minha bolsa, caminhei até ao círculo do vencedor para vê-lo
recebendo o troféu de primeiro lugar. Ele o pegou com as duas mãos,
segurando-o acima da cabeça, o brilho dourado brilhando sob os raios de sol.
Depois de posar para as câmeras por vários minutos, ele se virou para um
menino segurando uma prancha de surfe sorrindo para ele.

Ele entregou o troféu para o menino e bagunçou seu cabelo. — Algo


para inspirar você. Nunca pare de surfar, ok?

O menino virou-se para a multidão e sorriu largo, faltando os dois dentes


da frente. — Muito obrigado, Sr. Thalassa. Eu não vou! Eu prometo!
Simon manteve o mesmo sorriso caloroso enquanto acenava para a
multidão. Cruzei os braços, sorrindo. Seu olhar caiu sobre mim, de alguma
forma me encontrando no meio da massa de cem pessoas gritando seu nome.
Um grupo de mulheres de biquíni armadas com canetinhas e decotes amplos
o chamou quando ele passou, implorando por seu autógrafo. Fazendo seu
caminho através do mar de pessoas ao meu redor, ele nem olhou para elas,
deixando para trás mulheres carrancudas em seu rastro. Deixei cair meus
braços ao meu lado, engolindo em seco.

Quando ele me alcançou, ele estendeu a mão para eu pegar. — Pronta


para aquela salada?

Eu nunca estive tão empolgada com folhas verdes.

Assentindo sem palavras, eu deslizei minha mão na dele, os calos em


suas palmas raspando contra minha pele, fazendo meus dedos dos pés
agarrarem as solas dos meus chinelos.

Simon me guiou pela multidão, cada fã se afastando assim que nos


aproximamos. Ele era Moisés, separando as pessoas como o mar. Depois de
um pequeno solavanco no calçadão, chegamos a um pequeno restaurante
com assentos no pátio. O nome Vesta's Greenery pairava sobre a entrada em
letras irregulares em azul e verde.

— Você escolhe um lugar aqui e vai pedir sua salada no balcão. Você
tem uma favorita? — Simon puxou um assento para mim em uma mesa com
vista para o oceano.

Sorrindo, sentei-me, enrolando as mãos no colo. — Surpreenda-me.

Um brilho brilhou em seus olhos, e ele deu um aceno firme. — Você


entendeu.

Espreitando por cima do meu ombro, eu peguei um olhar de sua


bermuda abraçando a bunda musculosa escondida embaixo. Minhas
bochechas queimaram, e eu mordi meus lábios quando um sorriso surgiu
sobre eles. Gaivotas sobrevoavam, algumas pousando em postes de luz,
outras bamboleando no cais esperando que humanos derrubassem comida.
Embora houvesse ruídos ambientais de crianças brincando, pessoas rindo e
várias formas de música discreta de cada loja ou restaurante - meus ouvidos
sintonizados na água batendo contra a areia ao longe. Respirei fundo,
absorvendo o cheiro de sal que pairava no ar.

— Aqui estamos. — a voz suave de Simon anunciou seu retorno. Ele


colocou uma tigela grande de ingredientes coloridos na minha frente e me
entregou um garfo.

Peguei o utensílio com um sorriso brilhante e olhei os pedaços de laranja


brotando entre as folhas verdes. Picando um com meu garfo, eu o segurei. —
Manga. Uma salada de manga. Como você sabia que manga era minha fruta
favorita?

Simon despenteou seu cabelo curto antes de deslizar em seu assento na


minha frente. — Eu sou bastante bom em ler as pessoas, e você parecia uma
garota do tipo manga.

A saliva se acumulava no canto da minha boca enquanto eu olhava a


salada de arco-íris na minha frente – manga, alface romana, coentro e tomates
fartos. Reunindo uma variedade no meu garfo, eu deslizei a mordida na minha
boca e quase gemi.

— Eu escolhi bem?

Fechei os olhos e abri um preguiçosamente. — Muito bem.

— Bom. — Ele sorriu e cortou sua salada em pedaços mais manejáveis


— pepinos, tomates, azeitonas e queijo feta polvilhado.

— Grego?
Simon deu uma mordida e arregalou os olhos para mim, empurrando-o
contra sua bochecha. — Eu?

Rindo, bati meu garfo contra o prato. — Sua salada.

— Oh, certo. — Depois de um sorriso tímido, ele engoliu sua comida.


— Sim. Este é o melhor. Menos comida de coelho e mais carne sem ser carne
de verdade, sabe? Seu olhar caiu para a quantidade acumulada de verde no
meu prato. — Sem ofensa.

— Nenhuma tomada. Eu amo comida de coelho.

Como adolescentes tímidos, sorrimos um para o outro, fazendo bolhas


no meu estômago.

— Eu tenho que perguntar. O que te levou ao jogo? Especialmente no


nível profissional? — Simon apoiou os braços na mesa, aproximando nossos
rostos.

Não foi uma resposta tão curta quanto ele provavelmente pensou.

— É meio pessoal. — Mudei todas as mangas para um lado do meu


prato em uma pilha, os tomates do outro. — Tem certeza que quer ouvir?

Ele tomou um gole de água, esperando que eu olhasse para ele. — Só


se você quiser compartilhar.

Eu quero te contar tudo.

— Nunca soube quem eram meus pais. Eu cresci no sistema de adoção


e nunca acabei em uma casa com uma família normal por mais de meses de
cada vez. Nem perto do tempo suficiente para sentir que eles eram minha
família, mesmo uma adotiva. — Tracei uma forma espiralada no meu prato
com o garfo.

— Por que apenas por alguns meses?


Minhas palmas se fecharam. — Eu... — Ele encontrou meu olhar, não
falando, mas me incitando a continuar. — Eu costumava conversar com os
animais.

A visão do tubarão do nosso mergulho na gaiola me encarando antes de


nadar para longe, um leve tom de gratidão surgindo disso, ainda nadou em
meus pensamentos. Eu não podia contar a ninguém sobre isso, nem mesmo
Meg. Ela não podia envolver sua cabeça em torno do tubarão, permitindo-me
ajudá-lo e muito menos dizer que se comunicava comigo.

Ele bateu o dedo na mesa duas vezes. — A maioria das crianças não
faz isso em algum momento?

Eu mantive meus olhos rastreados nele, pronta para avaliar sua reação.
— Eu costumava pensar que eles falavam de volta.

E ainda faço.

Suas narinas se dilataram e ele me encarou. Ele não se inclinou para


longe, não riu, nem mesmo se contorceu.

— Você está me dizendo que nenhuma família iria adotá-la porque você
tinha uma imaginação fértil? — Ele franziu a testa, formando vincos profundos
que vão do nariz até aos cantos da boca.

Dei de ombros, colocando um pedaço de manga na boca com os dedos.


— Essa sempre foi minha teoria. De qualquer forma, acabei em um lar adotivo
com uma dúzia de outras crianças. Você pode imaginar quanta atenção todos
nós recebemos dos pais adotivos com tantas crianças sob o mesmo teto.

Seu dedo bateu contra a mesa novamente. — Você começou a jogar


videogame para escapar.

Coração. Espremido.

— Isso mesmo — eu sussurrei.


Ele limpou a garganta como se estivesse engasgando com alguma coisa
e bebeu um gole de água. — O que uh-que jogos você jogou? —

— Você vai rir. — Inclinei-me para trás e cruzei os braços.

Ele riu.

Arregalando os olhos, estendi a mão.

— Ei. Isso não é justo. Você configura algo assim que está pedindo. —
Ele fez um gesto de vamos. — Derrama.

Enfiei um dedo entre os olhos e os fechei. — Eu era obcecada por Ecco


The Dolphin quando criança, e depois progrediu para Aquaria , Subnautica e,
mais recentemente, Tides of Atlantis .

Ele não riu. Nem mesmo uma risadinha.

Abri meus olhos para encontrar um sorriso radiante em seus lábios.

— Parece que eu não sou o único bebê aqua, hum? — Ele traçou a
ponta do dedo médio em um círculo sobre a toalha da mesa.

— Imagino que minha mãe biológica teve um parto na água comigo. —


Eu mordi meu lábio, me perdendo naqueles olhos dele como um prado
esmeralda sem fim.

— Muito plausível.

Seu pé roçou o meu debaixo da mesa, me fazendo suspirar.

— Merda. Desculpe. Pernas longas. — Ele esfregou a parte de trás de


sua cabeça.

— Elas devem ser para alcançar esses tocos. — Eu apontei para baixo.
Ele descansou o queixo na palma da mão, ainda não deixando seus
olhos vagarem para longe de mim. — Não há nada de errado em ser
pequena.

Suas palavras deixaram minha visão turva, e prendi a respiração antes


de soprar com força. — Quero te perguntar uma coisa, mas não quero que
você pense que sou estranha.

— Bem, você é um jogadora – uma profissional – que é obcecada por


peixe e cata lixo por diversão. Não tenho certeza do quanto mais estranho eu
posso pensar que você é. Um sorriso bobo puxou seus lábios.

Eu deixei cair meu queixo e peguei um tomate do meu prato, jogando


nele.

Suas mãos voaram para cima, bloqueando-o com uma risada gloriosa
rugindo em seu peito. — Eu estou brincando. Eu estou brincando. Pergunta à
vontade. Alguns podem pensar que eu sou estranho também. — Ele coçou as
costelas.

— Você... acredita em vidas passadas?

Ele tossiu em seu punho.

Ansiedade rodou meu cérebro, e eu achatei minhas mãos sobre a mesa.


— Eu sinto muito. Eu não deveria ter perguntado.

— Não. — Ele limpou a garganta. — Não. Eu nunca tive ninguém me


perguntando isso antes e isso me pegou de surpresa porque — Seus dedos
contornaram os meus sobre a mesa. — Sim. Eu acredito.

Respirar ar de repente não parecia suficiente, e meu peito doía - não


com dor, mas com... esperança.

— Por que você pergunta, Cordelia?


Eu deslizei minha mão para longe da dele, a proximidade de sua pele me
enviando através de corredeiras furiosas. — Eu devo ir. Isso tem sido
incrivelmente adorável. Mas o torneio está para breve, e ainda preciso treinar,
e prometi férias a Meg se eu ganhasse e...

E eu estava gaguejando.

— Claro, mas e o torneio? — Ele se levantou, movendo-se atrás de


mim para puxar minha cadeira.

Fiquei sentada o tempo suficiente para garantir que a gelatina em que


minhas pernas se transformaram me sustentaria se eu decidisse ficar de pé.

— A Tides of Atlantis eSports Tournament. Estou inscrita há mais de um


ano. — Colocando minha bolsa sobre um braço, coloquei meus óculos de sol.

— Muito agradável. Posso levá-la de volta ao seu carro?

— Claro — eu gritei.

Ficamos em silêncio nos poucos minutos que levamos para chegar ao


estacionamento. Eu pesquei minhas chaves, deixei-as cair e imediatamente
caí de joelhos para recuperá-las.

Ele me encontrou no asfalto, deslizando a mão sobre a minha trêmula


enquanto eu pegava as chaves. — Eu disse algo errado, Cory?

Muito pelo contrário.

— Não, de jeito nenhum. Você tem sido incrível, Simon. Eu lentamente


me levantei, e sua mão caiu da minha.

— Então, o que é?
Finalmente conseguindo encontrar seu olhar, eu agarrei as chaves,
estremecendo com as impressões de metal empurrando em minha pele. —
Eu não sou boa nisso.

— Boa em quê? Namoro? — Um pequeno sorriso apareceu no canto


de seus lábios. Não foi um gesto de zombaria, mas sim um gesto carinhoso.

— Namoro. Socialização em geral.

— Ei. — Ele segurou meu queixo. — Temos todo o tempo do mundo.


Isto é, se você quiser me ver novamente.

— Sim — eu soltei.

Pode parecer desesperado, Cory.

— Bom. — Ele mergulhou seus lábios perto dos meus e deu um beijo
carinhoso na minha bochecha, parando lá por vários segundos. — Vejo você
em breve, Sea Jewel . 6

Ele se afastou, e eu fiquei ao lado do meu carro, arrastando meus dedos


sobre minha bochecha. O beijo permaneceu na minha pele, ondulando como
uma pedra perturbando a água calma.

6
Sea Jewel : Joia do mar
Com o torneio no dia seguinte, passei cada momento acordada
praticando minha técnica em Marés da Atlântida até meus olhos não
aguentarem mais olhar para a tela. Eu estava nisso há tanto tempo que
comecei a me ver como meu personagem dentro do jogo. Seria o terceiro
torneio em que competi, mas o primeiro focava apenas neste jogo. Simon
continuou a me enviar mensagens de texto, mesmo com um simples Bom dia
ou Ei, linda, mas me deu distância, sabendo que eu precisava praticar. A
maioria dos torneios maiores aconteceu no centro ou sul da Flórida, mas
Pensacola decidiu colocar seu próprio pé no ringue e alugou um espaço no
Pensacola Bay Center para sediar o evento.

Eu transmiti as últimas horas do meu jogo, convidando todos os inscritos


na área para me ver competir no torneio. Em troca de seu apoio, qualquer um
que usasse uma camisa com meu gamertag receberia um pacote de brindes
grátis com o qual eu sairia ligaria.

Na manhã do primeiro dia do torneio, guardei meu controle de jogo,


cabo de carregamento e fone de ouvido. Alguns torneios forneciam fones de
ouvido com tema de jogo para todos usarem, mas eu queria o meu como
backup, se necessário.

Parando na frente do espelho, alisei minha camiseta ajustada, olhando


para o logotipo SaucySiren - uma versão de desenho meu com uma cauda de
sereia azul-petróleo segurando um controle de jogo. Eu ainda tinha que pisar
no centro de convenções e já podia sentir a mistura de nervos e excitação
girando na minha barriga, competindo pelo controle. Não havia como saber se
outros jogadores estariam presentes, mas com quão poucos estávamos
nesses eventos, isso deu um aperto extra nos nervos. Eu não queria deixar
outros jogadores na mão.

Meu telefone tocou na minha mesa de cabeceira. Uma mensagem de


Meg dizendo que ela estava aqui. Meg se ofereceu para me levar ao torneio,
para que eu pudesse me concentrar em manter a calma e não lidar com a
ansiedade do trânsito. Mandei-lhe uma resposta rápida, dizendo que estava
descendo as escadas, e peguei minha bolsa.

Parando na frente do meu aquário, eu mandei um beijo para eles. —


Desejem-me sorte, rapazes.

Vários responderam com vibrantes batidas de suas barbatanas.

Desci as escadas e entrei na caminhonete de Meg com um sorriso.


Dado quão alto eu tive que subir para entrar no veículo gigante, sempre me
senti como montar um cavalo.

— Esta pronta? — A testa de Meg arqueou-se.

— Só perdi uma partida nos últimos três dias. Não tenho certeza de
quanto mais pronta eu poderia estar. — Puxando a porta fechada, eu
descansei minha bolsa no meu colo e me concentrei na minha respiração.

— Essa é minha garota. Mamãe precisa de férias. — Meg piscou para


mim antes de sair do estacionamento e ligar o rádio.

Os sons calmantes de Aurora cantando Under The Water acalmaram


meu batimento cardíaco errático.

— Por favor, não me lembre. Isso só aumenta a pressão que eu já sinto.


Não posso ficar abaixo do terceiro lugar para ganhar dinheiro suficiente para o
cruzeiro.

Meg apertou meu joelho e deu um tapinha na minha coxa. — Relaxa.


Claro, eu adoraria tirar férias, mas não deixe que isso lhe dê um ataque de
ansiedade no meio de uma partida. Eu vou assistir você chutar a bunda de um
cara jovem, francamente.

— Isso... — Colocando minha cabeça sobre o resto, eu a virei para


Meg com um sorriso. — Eu posso fazer.

— Nunca fui a um desses eventos. Alguma coisa que eu deva saber? —


Meg pegou seu Chapstick do console central, espalhando um pouco sobre os
lábios.

— É como qualquer outro evento esportivo. Dura dois dias. Hoje


consiste em grupos e chaves, pois os perdedores são eliminados e,
eventualmente, apenas os oito melhores permanecem. Amanhã é o torneio
final real ou The Big Show com as multidões torcendo por seus jogadores
favoritos. E eles transmitem ao vivo. Então, não seja pega cutucando o nariz
ou algo assim. — Eu mordi de volta um sorriso.

Meg esticou o lábio inferior depois de bater as mãos no volante. —


Anotado.

— Há também uma festa hoje à noite. — Eu mantive meu rosto para


frente, esperando por sua resposta.

— Uma festa? Que tipo? fantasia?

— Definitivamente. Mas é uma festa real. Dançando, bebendo, nerd.

Ela levantou uma sobrancelha e lentamente virou a cabeça. — Festa de


nerds? Eu não fazia ideia.

— Ah, você realmente deveria ver. Podemos não frequentar clubes,


mas nos juntamos para um evento como esse? É melhor você acreditar que
sabemos como derrubar. — Eu abri um sorriso brilhante para ela.

Ela balançou a cabeça. — E pensar que eu te conhecia.


Quando chegamos ao centro de convenções, o logotipo do jogo Marés
da Atlântida em ouro e azul-petróleo pairava sobre o prédio. Eu consegui secar
minhas mãos e manter meus nervos sob controle... até agora. Nós nos
separamos assim que entramos, Meg indo para o banheiro e eu seguindo as
placas para atletas. Vários pares de olhos masculinos me seguiram enquanto
eu rapidamente fazia meu caminho pelo tapete laranja e azul com estampas
de redemoinhos, focando meu olhar para frente.

Uma mulher com óculos largos estilo anos 50 e maquiagem nos olhos
para combinar papéis embaralhados em uma mesa com uma placa que dizia
Registro. Seu cabelo preto puxado para trás em dois pequenos coques no
topo de sua cabeça e olhos cor de chocolate brilharam para mim quando me
aproximei da mesa.

— Ei. — Dei um pequeno aceno. — Eu fiz o pré-cadastro. Cordelia


Bourne?

— Bourne. Bourne. — Ela lambeu a ponta do dedo indicador e folheou


as abas coloridas, puxando uma folha marcada com a letra b. — Cordelia
Bourne. Aqui estamos. Nós só precisamos da sua taxa de registro, e você
estará pronta.

O torneio adicionou uma parte das taxas ao pool geral para os três
melhores jogadores no final do evento. A quantia adicional doada pelo
patrocinador do torneio, Blue Ring Surfing Supply, rendeu uma grande soma
de vitórias, apesar de sua localização em uma cidade menor. Depois de retirar
o cartão de crédito da minha carteira, eu o levantei com as sobrancelhas
levantadas.

— Deixe-me abrir o tablet. A maldita coisa adormeceu de novo — ,


disse a mulher, passando a mão sobre o tablet coberto de impressões digitais,
entregando-o a mim para passar pelo leitor de cartão conectado.
Depois de pagar e assinar horrivelmente meu nome com meu dedo na
tela de toque, ela segurou um cordão para mim.

— Cordão também? Que chique. — Eu sorri, deslizando a alça de


pescoço verde-azulada e dourada sobre minha cabeça.

Ela soprou uma bolha com o chiclete, estourando. — O primeiro pool


começa dentro de uma hora. Parece que você está na estação três. Sinta-se à
vontade para percorrer o salão de exposições enquanto isso. Eles vão
anunciar pelo interfone.

— Obrigada. — Eu me virei, ignorando o aumento constante do meu


batimento cardíaco. — Ah, uma convidada pode ir no chão, ou é apenas para
os participantes?

— Oh, querida, é claro. Quanto mais, melhor para esses fornecedores.


É mais provável que eles vendam alguma coisa. — Ela piscou para mim antes
de voltar sua atenção para outro jogador que se aproximava.

Envolvendo a mão ao redor do cordão, encontrei Meg e a levei para o


salão de exposições. — Eu preciso que você me impeça de comprar tudo à
vista.

— Você? Eu mal consegui convencê-la a comprar roupas íntimas


chiques para você, e você está preocupada aqui? Meg examinou o chão —
fileiras de mesas variando de brinquedos, videogames, autores, camisetas e
celebridades da lista C dando autógrafos.

— Eu estou nervosa. E quando estou nervosa, compro coisas. E


noventa por cento das coisas ditas aqui me fazem gritar só de olhar para elas.
— Engoli em seco e corri para uma mesa com brinquedos Funko POP,
pegando um dos personagens Poseidon do jogo Tides of Atlantis .

— Ei. — Meg o arrancou das minhas mãos, deu um sorriso caloroso ao


vendedor e o colocou de volta na mesa.
— Mas veja como a barba de plástico dele é fofa. — Eu conjurei meus
melhores olhos de cachorrinho.

Meg cruzou os braços. — Você se coloca no torneio e eu pessoalmente


compro para você o lindo pedaço de plástico.

— Suborno. — Eu bati meu quadril contra o dela. — Eu amo isso.

Passamos os próximos trinta minutos examinando as mesas, e eu


finalmente enfiei as mãos nos bolsos do jeans para fazê-los se comportar.

— Atenção, participantes. A primeira rodada de pool está prestes a


começar. Todos os jogadores atribuídos às estações de um a seis, por favor,
façam o seu caminho e estejam prontos para partir nos próximos quinze
minutos. Todos os convidados, por favor, aproveitem o andar do showroom,
pois só permitiremos a entrada de convidados para as finais amanhã.
Obrigado. — a voz de um locutor ressoou no interfone.

— Oh meu Deus. — Minhas mãos instantaneamente se fecharam, e eu


as limpei em minhas calças. — E se eu engasgar? E se eu congelar? E se...

Meg pressionou a mão sobre minha boca, e eu olhei para ela suplicante.
— Você é boa neste jogo. Já te observei inúmeras vezes. Você joga com
milhares de pessoas assistindo você e consegue torná-lo divertido. Imagine
que há uma webcam e uma janela de bate-papo. Você ficará bem.

Eu balancei a cabeça, e ela baixou a mão.

— Vi uma praça de alimentação no nível inferior. Indo para pegar


alguma comida. Manda uma mensagem para mim, sim? — Ela se projetava
atrás dela com o polegar, recuando nos calcanhares.

— Sim. — eu gritei, virando para as placas que direcionavam os


participantes para a arena de jogos.
Durante as piscinas e suportes, a configuração não era totalmente
impressionante - fileiras de monitores e cadeiras giratórias de jogos
posicionadas longe o suficiente para que cada jogador não pudesse ver a tela
dos outros. A rodada final foi quando eles tiraram todas as paradas. Só faltou
uma jaula e parecia uma luta de MMA. Esperei no saguão que eles abrissem a
porta e nos permitissem nos acomodar em nossos lugares.

Um homem mais jovem que eu não reconheci abaixou a cabeça na


minha frente, examinando minha camisa. — Bem, bem. Se não for
SaucySiren. — Sua mecha de cabelo loiro sujo caiu sobre seus olhos azul-
acinzentados, e ele sacudiu a cabeça, jogando-a para fora do rosto.

— Eu sinto muito. Eu conheço você? — Eu balancei minha


sobrancelha.

Ele apontou para seu cordão, exibindo o nome de usuário


ProteinGeyser. O jogador que tentou me atacar quando salvei meu peixe da
morte.

Eu estreitei meus olhos. — Temos algum problema?

— Você teve sorte, Saucy. — Ele fungou uma vez, cruzando as mãos
atrás das costas e se afastando de mim. — Eu não tenho certeza do que você
tentou puxar usando o tridente, mas posso te dizer, esta é a grande liga.

Cada dúvida e incontrolável borbulhar de nervos que eu senti nas


últimas horas se foi.

— Absolutamente. Além disso, o tridente requer habilidade real para


manejá-lo. — Eu levantei meu queixo, tornando-me mais alto ao lado de seu
eu de um metro e oitenta.

Ele se inclinou para trás, pressionando a mão sobre o estômago. —


Uma garota que fala merda. Ah, estou ansioso por isso.
— Todos os jogadores se movam para suas estações — disse o
locutor.

Eu poderia ter continuado os golpes verbais, mas precisava me


concentrar – colocar minha cabeça no jogo.

Especialmente agora.

Um fone de ouvido Tides of Atlantis repousava em cada estação. Depois


de remover meu controle de jogo, sentei-me, me rebolando no assento e
ajustando a altura até me sentir confortável. Geyser estava a várias estações
de distância de mim, o que eu preferia considerando que eu só podia ignorar
seu olhar mortal na lateral da minha cabeça por tanto tempo.

Havia vários estilos de jogo com pessoa contra pessoa – deathmatch em


equipe, capturar a bandeira, controlar zonas, mas o foco de Tides of Atlantis –
era individual Free for All. O jogo desencadeou jogadores em um mapa
giratório, sem saber onde os outros cinco jogadores apareceram. Usando sua
inteligência, ouvindo sinais de jogadores próximos e utilizando ataque e
defesa, você jogava até que o primeiro jogador chegasse a vinte e cinco
terminações.

Quase uma hora se passou quando Geyser e eu estávamos no topo,


empatados cada um com vinte e quatro mortes. O próximo ganharia o pool e
teria um lugar reservado na chave do vencedor. Eles propositadamente
selecionaram mapas com um alcance menor, tornando mais rápido encontrar
alguém e não tantos lugares para se esconder. Segui a costa para ajudar a
rastrear onde estava no mapa, mas abracei a linha das árvores para me
esconder.

— Por que você está se escondendo, Saucy? — Geyser gritou de sua


estação alto o suficiente para eu ouvir através do meu fone de ouvido.

Um som semelhante a uma centena de baleias orcas gritando em


uníssono explodiu na minha cabeça, me fazendo estremecer, mas também me
deixando hiper-focado. Um galho estalou atrás de mim, e eu girei meu
analógico a tempo de ver Geyser saltando no ar com sua espada erguida
acima de sua cabeça, preparando-se para desferir um ataque pesado.
Apertando o botão esquerdo do gatilho no momento oportuno, eu o bloqueei,
enviando faíscas voando. Minhas mãos ficaram tensas junto com meus
ombros e eu respirei fundo.

Eu precisava me concentrar em algo para relaxar minha mente.


Formigamento caiu no meu braço como água ondulando sobre eles. Os olhos
de Simon. Aquele sorriso. Um interesse genuíno em tudo o que eu disse
durante o nosso encontro. Meus polegares voaram sobre os botões,
esquivando-se em momentos críticos, atacando quando vi uma possível
clareira.

Outro jogador nos atacou de lado, tentando tirar vantagem de nós


distraídos pelo outro, mas eu puxei minha segunda arma, um xiphos das
minhas costas, e apertei o botão y, lançando-o no peito do jogador por um
instante. matar. Geyser lançou outro ataque combinado, e eu cronometrei a
deflexão certa para meu personagem realizar um movimento que o deixou sem
espada. Com um toque no botão x, eu joguei um ataque leve... e foi isso.

— Temos o nosso vencedor. Por favor, volte para o foyer e aguarde as


instruções sobre as estações para os suportes atribuídos.

Todos os jogadores pararam para apertar minha mão assim que saímos
da arena com sorrisos largos estampados em seus rostos e parabenizando a
mim e minhas habilidades. Geyser apareceu na minha frente como uma
sombra iminente.

— Você acha que me viu pela última vez? Vou trabalhar na chave dos
perdedores para estar na final amanhã. — Seu braço fino levantou para
apontar para o meu rosto.
Eu me afastei com uma careta. — Pelo menos você tem um plano. Vejo
você amanhã então? — Antes que ele tivesse tempo de responder, eu me
virei com um movimento do meu cabelo.

Esperançosamente, isso o atingiu no rosto.

Os grupos e chaves restantes começaram, eliminando os jogadores


mais fracos, atraindo ansiedade e emoção em uma arena singular a cada hora
que passava. Geyser fez o que prometeu, conquistando o primeiro lugar na
chave dos perdedores e ganhando a última oportunidade para os oito
finalistas. Terminar em segundo na chave dos vencedores não me animou,
mas foi uma vaga garantida nas finais. Eu compensaria isso amanhã.

Eles equiparam um dos muitos grandes salões de baile do centro de


convenções para sediar a festa para jogadores, fãs e convidados. Uma música
eletrônica chamada Freaks de Timmy Trumpet explodiu pela salão, o baixo
vibrando em meu peito. Eu sempre gostei do elemento jazzístico que os
trompetes adicionavam às suas músicas. A sua música tornou-se regular nas
minhas inúmeras listas de reprodução de jogos. Como prometi, havia de fato
pessoas fantasiadas. Alguns estavam vestidos como personagens do enredo
de tela cortada do jogo Tides of Atlantis , enquanto outros festejavam como
sereias, caranguejos e piratas genéricos - que não estavam no jogo.

— Mente. Estourada — murmurou Meg.

Eu dei uma cotovelada nela. — Eu te disse.

— Algum desses jogadores já ficou tão bêbado que não pode competir
no dia seguinte? — Meg deu um passo para o lado quando uma lagosta
gigante em copos passou, segurando bebidas nas duas mãos.

— Geralmente não para as finais, mas ouvi falar de pessoas que


perderam o horário programado para as piscinas e foram desclassificadas
com certeza.
— Eu meio que curto isso. Estilo de vida de estrela do rock como
jogador? — Meg sorriu enquanto batia a mão no quadril ao ritmo.

— Os grandes profissionais vivem assim. As empresas de jogos


pagarão por sua hospedagem, regando-os com presentes de patrocinadores.
Algumas das grandes equipes até têm chefs ao vivo. — Joguei meu cordão,
fazendo-o dar uma volta no meu pescoço.

Meg fez uma pausa e lançou seu olhar para mim. — Nada de merda.

Geyser estava no lado oposto da salão, olhando para mim com um olho
através do mar de corpos saltitantes. Ele ergueu os punhos como se
segurasse uma espada e cortou o ar na frente dele antes de apontar para
mim.

— Quem diabos é isso? — Os ombros de Meg rolaram para trás.

— Aparentemente, meu arqui-inimigo. Ele pode ser mais dramático?

Meg empurrou as mangas do casaco até aos cotovelos. — Precisa de


mim para lembrá-lo como é a humildade?

Agarrei seu cotovelo e a convenci em direção ao bar. — Eu o lembrarei


no jogo amanhã. Confie em mim.

— Eu já te disse o quanto eu amo esse seu lado? — Meg se apoiou no


balcão, curvando-se para frente. — Estou totalmente apaixonada por você
agora. — Ela piscou antes de me cutucar com a bota.

— Ah, fique quieta e enfie uma bebida na sua cara. — Deslizei algum
dinheiro para o barman depois de pegar as duas garrafas de cerveja que
haviam descansado na minha frente.

Depois de entregar-lhe um, virei as costas para o bar apenas para


encontrar um homem não muito mais alto do que eu em uma toga branca -
mais como um lençol - um tridente de plástico debaixo do braço e uma barba
grisalha falsa estava caindo parcialmente seu rosto de cola falhou.

— Você está — Ele balançou enquanto falava e baixou os olhos para a


minha camisa com um suspiro. — Você é . Puta merda. Eu assisto sua
transmissão Glitch toda semana. Você é muito boa. E se posso dizer... Ele se
inclinou, tropeçando em seus próprios pés. — Muito, muito fofa.

Meg deslizou para mais perto de mim.

Depois de acenar discretamente na minha frente por causa do fedor de


seu hálito de cerveja pairando no ar entre nós, eu esbocei um sorriso. —
Obrigada. Agradeço o apoio.

— É por isso que estou vestida assim. Para honrar suas habilidades de
tridente louco.

Lancei um olhar para Meg, que deu de ombros, não interferindo, mas
também não me deixando sozinha. — Oh? Você é um dos personagens?

— Apenas me chame... Poseidon. — Ele se curvou, tropeçando


novamente.

Mordi o interior da minha bochecha para não rir.

— O que você precisa chamar - é um táxi — disse uma voz profunda


por trás de Poseidon.

Simon.
— Poseidon — torceu o nariz e se afastou, arrastando as palavras para
um grupo de jovens rindo e apontando para ele.

— Simon? — Eu não pude evitar o sorriso insanamente largo puxando


minhas bochechas. — O que você está fazendo aqui?

Meg acenou para ele antes de colocar um braço no meu ombro e


descansar o queixo nele. — Lembra quando ele e eu trocamos e-mails sobre
os arquivos do logotipo? Ele me perguntou em que torneio você estava, e
então... eu disse a ele.

Deixei meu queixo cair. — Vocês dois conspiraram pelas minhas


costas?

— Foi pela mais honrosa das razões, eu lhe asseguro. — Seu sorriso
brilhou quando ele pressionou a mão no peito.

— Estou feliz que você veio, mas você não precisava. Eu sei que essa
cena não pode ser muito seu negócio?

Meg de brincadeira deu um soco no meu ombro.

— Você está fazendo suposições sobre surfista gostoso de novo? —


Ele apontou para mim com o polegar e o indicador.

Cruzei os braços. — Gostoso?

— Estou errado?
Seus olhos nunca deixaram de cativar. Desta vez foi o suficiente para me
fazer esquecer como falar, então balancei a cabeça.

— Consegui sentar um ao lado do outro. — Meg empurrou um bilhete


para Simon. — Legal com você?

— Absolutamente. Podemos parecer sem noção, mas empolgados


juntos. — Ele enrolou o bilhete na palma da mão.

— Bruh, você é Simon Thalassa. Eu não acredito nisso, — um homem


magro e mais jovem com cabelos ruivos acima dos ombros vestindo uma
camiseta Halo e calças cargo disse ao nosso lado.

Sem perder o ritmo, Simon esticou a mão para um aperto. — De fato,


eu sou. Como está indo?

— Cara, uma honra conhecê-lo. Verdade. Acompanho suas


competições de surf desde criança.

Meg e eu não existíamos aos olhos desse homem enquanto ele


permanecia fixo em Simon.

— Agradeço o apoio.

— De qualquer forma, desculpe por ter incomodado você.

— Divirta-se. — Simon fez um gesto de — pendurar-se — com o


polegar e o dedo mindinho, o fã respondendo na mesma moeda com um largo
sorriso.

— Mesmo reconhecível em torneios de jogos, hein? — Eu mastiguei


minha unha do polegar.

— Ei, estou tão surpreso quanto você. E você acha que as pessoas
percebem que dizer a elas que você gosta de alguma coisa desde criança é
lisonjeiro e deprimente, tudo em uma frase? Ele soltou uma risada gutural,
esfregando a parte de trás de sua cabeça cortada.

Eu sorri, mas ele desapareceu assim que avistei a hora. — Simon, eu


agradeço que você tenha vindo, mas eu preciso ir para a cama. Vou procurá-
lo na multidão amanhã.

— Devo trazer um daqueles dedos de espuma? Uma buzina de ar,


talvez? Ele deslizou as mãos nos bolsos.

— Só você e um par de pulmões para me animar, Garotão.

— Posso fazer isso.

Nossos olhos se encontraram, girando meu estômago em uma série de


maremotos e sumidouros. Agarrando Meg pela jaqueta, eu a forcei a me forçar
a sair do salão.

— Você não queria sair mais com ele? Estou confusa. — Meg
bagunçou o cabelo.

— Preciso me concentrar. E ele me distrai da melhor maneira possível,


mas ainda assim... me distrai. Eu esfreguei entre minhas sobrancelhas.

— Você entendeu mal, minha amiga. É ótimo ver você assim – vibrando
com alguém.

Eu era uma baleia jubarte faminta com um apetite sem fim por Simon
Thalassa.
Dia de finais.

Meus nervos e excitação travaram um combate mortal dentro do meu


estômago. A arena se transformou da noite para o dia em um espetáculo de
campo de batalha adequado para jogos. Um palco circular central abrigava
seis estações muradas com cadeiras, monitores e fones de ouvido. Assentos
do estádio cercavam o palco, cheio até a borda com centenas de fãs. Telas
gigantes estavam penduradas no teto, alternando feeds de cada uma de
nossas telas ou fotos de nossos rostos. Sempre que eles me mostravam, eu
provavelmente estaria franzindo a testa com a boca aberta o tempo todo.

Eu torci minhas mãos enquanto a música tema do menu do jogo soava


pela arena com bumbos retumbantes e violino e violoncelo etéreos. Enquanto
o locutor nos chamava para nossas estações, eu examinei os assentos, vendo
Meg e Simon sentados no centro, sorrindo para mim. Simon endireitou-se, e
seu sorriso se derreteu em algo completamente diferente quando pegamos os
olhares um do outro.

Antes de uma partida, sempre me construí até sentir que poderia


enfrentar o mundo. Mas aquele olhar nos olhos de Simon me disse que eu
poderia possuir o mundo.

Os nervos estremeceram, e eu me sentei, colocando antolhos


metafóricos do resto da arena enquanto colocava meu fone de ouvido. A
multidão já enlouquecia, mas eu os afogava para me concentrar. Os locutores
falavam de estratégia e segmentos à medida que o jogo avançava, mas não
ouvíamos nada disso.

O jogo começou, e horas se passaram de golpes de espadas, tridentes,


criaturas marinhas míticas que teríamos que matar antes de voltarmos a nos
exterminar. Ficou bem claro que o jogador a ser derrotado era PudgyPop, um
jogador profissional veterano do sexo masculino na idade madura de vinte
anos, isso mesmo, vinte . Ele liderou o ataque com seis rescisões a mais do
que eu e estava a apenas três de vencer tudo. Eu ainda não o encontrei no
jogo e planejava evitá-lo a todo custo. Ser a última morte que alguém
precisava vencer e me fazer perder o título? Não, obrigado.

Eu tinha feito bem em não ficar cara a cara com Geyser até chegarmos
ao fim. Quando seu personagem saiu de trás de uma árvore, senti minhas
bochechas quentes. Estávamos empatados com mortes, e PudgyPop tinha
apenas um restante, o que significava que quem vencesse esse duelo ficaria
em segundo lugar. Processando seus pontos fracos das várias vezes que lutei
com ele, consegui derrotá-lo em trinta segundos, com Pudgy em primeiro
lugar. Terminei em segundo, mas, mais importante, venci Geyser – de novo.

Eles chamaram nós três para um palco elevado do pódio para anunciar
os primeiros vencedores do Torneio Tides of Atlantis . Depois de apertar a mão
de Pudgy, parabenizando-o, eu pulei do palco para os braços de Meg.

— Você fez isso. Estou tão orgulhosa que você limpou o chão com
aquele pau de Geyser. — Ela de brincadeira deu um tapa no meu ombro. —
Pena que você não foi a primeira, no entanto.

— Pug é bom. Muito bom. Ele pode até conseguir um patrocínio com
essa performance. Mas, não importa. O segundo lugar é dinheiro mais do que
suficiente para um cruzeiro.

Simon se aproximou com as mãos nos bolsos e um sorriso atrevido. —


Isso foi incrivelmente gostoso de assistir.

— Oh sim? — Chupei meu lábio inferior enquanto batia meus dedos


contra seu braço.

— Eu amo especialmente o seu rosto de concentração. — Ele levantou


as mãos como se estivesse segurando um controle, franziu a testa e enfiou a
língua no canto da boca.

Rindo, olhei para Meg antes de voltar para ele. — Eu não coloco minha
língua para fora.
— Uh, você coloca, Cory. — Meg deu de ombros.

— Você faz. Honestamente, eu não acho que você poderia fazer uma
cara feia se tentasse. — Simon riu, seus olhos verdes brilhando enquanto ele
olhava para mim.

Eu exibi várias expressões diferentes no meu rosto, incluindo vesgo,


fazendo os tendões do meu pescoço protuberantes e estufando minhas
bochechas como um baiacu.

Meg e Simon balançaram a cabeça.

— Ainda repugnantemente adorável. — Meg murmurou.

Simon baixou os lábios no meu ouvido e sussurrou: — Divirta-se em seu


cruzeiro, Sea Jewel. Me ligue quando voltar, hum? Ele tocou a dobra do meu
braço, um breve roçar de pele que parecia roçar o corpo de uma arraia.

Ele passou por mim, dando uma olhada por cima do ombro antes de sair
da arena. O homem tinha uma presença que poderia fazer o próprio oceano
se curvar à sua vontade. E eu aparentemente estaria flutuando junto com ele.

Meg passou pelas opções de atividades a bordo e, quando nem vôlei e


sinuca nem curiosidades lhe agradaram, fomos direto para o cassino.
Sentamos em bancos adjacentes, o navio tendo partido horas antes. Brinquei
com a alça do meu vestido azul-marinho, balançando o pé coberto de sandália
das minhas pernas cruzadas enquanto pressionava repetidamente o botão ir
na máquina. Várias frutas se alinharam e explodiram na tela, ocasionalmente
adicionando vinte e cinco centavos ao meu total antes de serem retiradas na
próxima rodada.
— O que aconteceu para puxar uma alavanca? Isso parece muito com
um videogame sem nenhuma habilidade e toda a sorte. — eu murmurei,
colocando mais uma moeda na máquina.

— Bem-vinda ao século XXI, minha amiga. — A jaqueta de couro de


Meg rangia cada vez que ela levantava o braço. — Podemos sempre tentar a
sorte na roleta.

— Eu praticamente não teria ideia do que estou fazendo, mas ficaria


feliz em jogar dados para você e assistir. — Sorri para minha melhor amiga e
apertei o botão — Cash Out — com entusiasmo extra. Depois de rasgar o
bilhete exposto de seu slot, eu o enfiei no bolso do meu vestido.

Meg falsamente gritou, esfregando um dedo no canto de cada olho. —


Você seria minha Dama da Sorte? Que atenciosa.

Enlacei meu braço com o dela e, sem pestanejar, ela se aproximou do


primeiro lugar aberto em uma mesa de roleta. Enfiando minha bolsa debaixo
do braço, peguei dois coquetéis aguados de uma bandeja quando o garçom
passou.

Meg deslizou o bilhete de saque das máquinas caça-níqueis para o


dealer, e ele entregou a mesma quantia em fichas. Bebendo meu rum e coca,
espiei a mesa como se soubesse como o jogo funcionava. Claro, havia preto e
vermelho e números, mas todos os quadrados destinados a apostas de
jogadores? Nenhuma pista.

Depois que Meg fez sua aposta, ela empurrou as palmas das mãos
contra a borda da mesa, batendo ociosamente em sua bota. Eu deslizei meu
pé sobre o dela, sugerindo que ela tentasse não mostrar seus nervos em sua
manga sem usar nenhuma palavra. Acotovelando-a, eu segurei a bebida com
um sorriso, balançando-a.

A pequena bola branca saltou sobre a roda de fiar, pingando e latejando


enquanto quicava, finalmente pousando em um número dezessete preto.
Meg jogou a mão que não segurava bebida em um punho no ar. — Eu
não perdi nenhum dinheiro naquela rodada, então é um começo.

— Qual é o seu critério para parar durante a noite? Lucrando? — Bebi


minha bebida, olhando para um homem por cima da borda que estava olhando
para a bunda de Meg em sua calça de couro skinny. E ele não estava tentando
esconder isso.

— Lucrando — Ela bufou. — Isso é raro. Mas faço questão de nunca


sair de um cassino sem pelo menos metade do que comecei, idealmente tanto
quanto comecei.

O homem lambeu os lábios antes de dar um tapa no estômago do


homem ao lado dele e iniciar um movimento direcionado a Meg.

Envolvi meu braço ao redor de suas costas, descansando meu queixo


em seu ombro, esperando que ele entendesse.

Meg ergueu uma sobrancelha para mim. — Pretendente indesejado?

— Mmmm. Seis horas e atualmente recuando.

— Eu farei o mesmo por você nesta viagem se você estiver totalmente


investida no Sr. Surfista, mas enquanto isso, se você não se importar. — Meg
começou antes de segurar o dado que o dealer a deslizou.

Eu soprei neles com um sorriso. — Sim. Estou investida.

Ela jogou por mais vinte minutos, ganhando todo o seu dinheiro de volta,
mais uma centena de dólares extras. Depois de descontar suas fichas, ela se
virou para mim com uma piscadela. — Eu sei o que você quer fazer.

— Oh? Acha que me conhece tão bem?

— Convés superior. A vista do oceano deve ser louca lá em cima.


Eu brinquei com meus dedos atrás das costas, tentando esconder minha
inquietação impaciente. — Tenho certeza de que é bastante agradável.

— Oh meu Deus. — Ela revirou os olhos e me agarrou pela dobra do


cotovelo. — Vamos, você.

Depois de subir as escadas vários níveis, a visão da lua refletindo


naquela água escura ondulante ao nosso redor afogou qualquer respiração
antes que tivesse a chance de escapar da minha garganta.

— As vistas em Pensacola são incríveis, mas isso – cercado por água e


não uma visão da costa é outra questão. — Inclinei meus quadris no corrimão
e joguei meus braços para cada lado de mim. Eu era Kate Winslet, e este foi o
meu momento Titanic.

— Isso é bastante majestoso. Eu tenho que admitir. — Meg se juntou a


mim na grade, inclinando-se para frente e apoiando os cotovelos nela.

Meu telefone tocou na minha bolsa e eu pulei, pegando-o.

Simon: Divertindo-se? Tenho certeza que as vistas são incríveis do deck


superior.

Franzindo a testa, dei uma volta rápida, meio esperando vê-lo a bordo.
Ele apareceu no torneio sem dizer uma palavra até estar lá. Eu não colocaria
nada além dele agora.

Depois de tirar uma foto rápida do oceano do meu ponto de vista,


respondi a ele, anexando-a.

Eu: Você deve ser vidente.

Simon: ☹ Ah. Sem selfie com o oceano atrás de você?


Mordendo o lábio, rapidamente olhei para Meg, que estava distraída
com a vista. Dando um sorriso perolado, eu segurei o telefone na minha frente
e tirei a foto, enviando para ele.

Meg bufou.

Eu virei minha cabeça em sua direção. — O quê?

— É divertido ver você voltar ao que eu imagino ser uma versão


adolescente de si mesma quando você gosta de alguém. — Meg bateu seu
ombro contra o meu.

O calor se acumulou em minhas bochechas enquanto eu mordia outro


sorriso.

Simon: Positivamente linda. 😊

Se ele se referia ao oceano ou a mim, ou ambos, permaneceria um


mistério. As borboletas ainda tocavam uma sinfonia na minha barriga do
mesmo jeito.

— O tempo dirá, mas eu tenho um fraquinho por esse cara. —


Enrolando meu cabelo sobre uma orelha, coloquei o telefone de volta na minha
bolsa e levantei meu olhar a tempo de ver golfinhos saltando na água. Bati no
braço de Meg e apontei. — Olhe para lá.

Meg engasgou e deslizou para mais perto de mim. — Que legal. Eu


nunca vou me cansar de ver golfinhos na natureza. Eles parecem tão
despreocupados.

Eu amei todos os animais aquáticos ao longo da minha vida, mas os


golfinhos tinham um lugar especial no meu coração. Meg tinha razão. Eles
eram despreocupados, joviais e brincalhões – tudo o que eu queria ser e muito
mais.
— Com quantos tubarões mergulhamos em gaiolas e ainda nunca
nadamos com golfinhos? — Eu descansei minha cabeça em seu ombro, ainda
observando o grupo de quatro enquanto eles mergulhavam dentro e fora da
água, comunicando um com o outro em guinchos.

— Algo que precisaremos corrigir quando voltarmos.

Deixando escapar um suspiro satisfeito, eu me levantei e a encarei. —


O que você gostaria de fazer amanhã?

— Eu não sou uma mulher difícil de agradar, Cory. Contanto que não
seja algo que eu vá me envergonhar em público, estou pronta para qualquer
coisa. — Ela agarrou o corrimão e se inclinou para trás, balançando os
quadris para frente e para trás.

Eu estalei minhas unhas contra o metal, desviando meu olhar, e


contemplei minhas próximas palavras. — Você... por acaso viu o panfleto no
saguão? Aquele para o brunch LGBTQ?

Ela levantou uma sobrancelha. — Eu vi. Mas descartei, considerando


que isso significaria abandoná-la.

— Não está me abandonando. Ainda estamos no mesmo barco e


podemos nos encontrar mais tarde. Temos dias neste cruzeiro, Meg. Eu puxei
sua jaqueta. — Você pode conhecer alguém.

— Mas o que diabos você fará então? Ela se curvou para frente,
apoiando os antebraços no corrimão e batendo as unhas inexistentes juntas.

— Tomar sol neste deck. Eu poderia ficar aqui por horas e ser
perfeitamente feliz.

O sol aquecendo minhas bochechas, sussurros leves da água turva


enquanto o motor do navio nos impulsionava através dela, e os ecos dos
pássaros grasnando enquanto voavam acima.
— Tem certeza? — Meg olhou para mim como se o sol estivesse em
seus olhos.

Bati minhas mãos contra o metal ao som de Beyond the Sea . — Sim.
Você vai se divertir. Estou certa disso.

— Obrigada, Cory. — Meg me abraçou de lado e ficamos em silêncio,


observando o oceano.

Eu estava deitada no convés superior por quase uma hora, absorvendo


os raios de sol e girando. Deitei de bruços, e um zumbido vibrou minha bolsa.
Descansando meu queixo no meu antebraço, eu sorri para mim mesma. Ou
comecei a esperar os textos de Simon, ou recentemente desenvolvi uma
forma de PES. Depois de deslizar a tela para desbloqueá-la, meu sorriso se
alargou.

Simon: Você pode me dizer para parar de checar você todos os dias a
qualquer momento. Você sabe disso, certo? 😉

Eu deslizei meus óculos de sol para minha cabeça.

Eu: Te assustaria se eu dissesse que seus textos são o ponto alto do


meu dia?

Beliscando meus lábios, passei meu dedo sobre o botão enviar por um
momento extra antes de pressioná-lo.

Simon: Absolutamente não. Você não tem uma coleção estranha de


taxidermia escondida em um armário em algum lugar ou algo assim, certo?

Eu ri alto, notando os bancos vazios ao meu redor no convés pela


primeira vez. Completamente sozinha e livre para fazer papel de asno como eu
quisesse.
Eu: Eu sou uma conservacionista. O que você acha?

Simon: Tive que verificar. 😉

Uma forte explosão soou nas proximidades, ecoando no casco do navio.


Sentei-me com um suspiro, segurando meu telefone no peito para não deixá-lo
cair. Sem pensar, corri para o parapeito, procurando na direção do distúrbio.

Várias lanchas saltavam contra as ondas, acelerando ao lado do navio


de cruzeiro. Todos eles seguravam aparelhos grandes e finos em suas mãos,
mas estavam muito longe para distinguir o que eram. Um nó lentamente se
enrolou e apertou no meu estômago.

Piratas.

Perdi o equilíbrio quando o navio avançou, ganhando velocidade.

— Atenção todos os passageiros. Se você estiver em sua cabine,


permaneça dentro e não saia até que dermos a autorização. Todos os outros
seguem para os conveses inferiores imediatamente. Isso não é um exercício
— disse uma voz nos alto-falantes.

Meu coração disparou, e eu tropecei para trás, atrapalhado com meu


telefone.

Eu: Piratas.

Simon: Piratas? Piratas, o quê?

Certamente o navio de cruzeiro seria capaz de manobrar as lanchas. Os


barcos foram se afastando, a embarcação ganhando distância, e deixei meus
ombros tensos caírem. A visão mais tênue de vários grandes tentáculos
semelhantes a polvos enrolados sob os barcos em uma barragem de espuma
do mar e ondas, lançando-os mais rápido através da água. Agarrei o corrimão,
respirações escapando de mim.
Simon: Cory, por que você disse, piratas?

Pisquei para afastar as gotas de água se formando em meus cílios e


atirei minha atenção para o meu telefone, caindo de joelhos e rastejando para
fora de vista.

Eu: Estamos prestes a ser embarcados.

Simon: O quê??? Encontre um lugar para se esconder e NÃO saia para


nada.

Deslizei meu telefone para longe e peguei minha blusa e shorts,


colocando-os antes de rastejar para o átrio.

Meg.

A ansiedade rolando através de mim me deixou gelada e tremendo.

Eles fizeram o brunch no lado oposto do navio, vários andares abaixo. Eu


nunca chegaria a ela a tempo.

Eu: Meg, se esconda em algum lugar AGORA. Não venha me procurar.

Meg: Você está louca? Já estou a caminho de você.

— Merda. Merda. Merda .

A explosão de vários canhões de água disparados do navio rugiu ao


meu redor. Depois de encontrar um canto adequado, dei as costas para ele e
fechei os olhos, tentando me acalmar o suficiente para respirar normalmente.
Eu esperava que o som do silêncio feliz seguisse a frustração dos canhões.
Tiros ecoaram nas paredes de metal ao meu redor, e eu bati as mãos sobre os
ouvidos.

Em um idioma que eu não entendia, várias vozes masculinas falaram


com urgência perto da grade onde eu estava apenas momentos atrás. Eu
pressionei minhas costas na parede como se ela fosse me engolir – me
protegendo dentro de seu útero. As vozes se aproximaram, e eu empurrei
minha boca até meus joelhos, suprimindo os gemidos que ameaçavam vazar.

Um barulho alto soou, seguido por um homem gritando, vários tiros


soaram, e eu caí no chão, cobrindo minha cabeça – baques, gritos, mais tiros,
e então... silêncio.

Os guardas do navio? Quem quer que fosse, não fazia ideia de que me
salvaram.

Lentamente me levantei, espiei pela pequena janela circular da porta do


átrio, minha respiração áspera embaçando-a. Nada. Nenhum homem. Sem
armas. Simplesmente um deck molhado.

— Cory? — Os sussurros altos de Meg se infiltraram pela porta atrás


de mim.

Permanecendo de joelhos, alcancei a maçaneta da porta, quebrando-a.


Meg se agachou no átrio, girando em círculos, procurando por mim.

— Meg. — eu sussurrei de volta.

Os olhos de Meg se arregalaram quando ela me viu, lágrimas brotando


em seus olhos – uma raridade para ela. Ela caiu de quatro, rastejando até
mim.

— Você está bem? — Ela agarrou meu ombro, tremores em sua voz.

— Estou feliz que você esteja aqui, Meg, mas isso foi tão estúpido. —
eu repreendi, o medo cobrindo meu coração como cera endurecida.

Ela franziu a testa. — Você pode bater na minha mão mais tarde. Não
sei o que teria feito se algo acontecesse com você e eu não estivesse aqui.
Mais vozes masculinas vazaram pela porta. Eu respirei fundo e deslizei a
mão sobre a boca de Meg.

A linguagem permaneceu indecifrável, mas eu peguei uma palavra


Skylla.

Minha mão caiu dos lábios de Meg, caindo frouxamente no meu colo.
Por que eu reconheci essa palavra?

A porta se abriu e um homem com uma máscara de esqui completa,


jaqueta preta, calças e botas, segurando um rifle, agarrou-me pelos cabelos,
me levantando.

Meg estava com um braço estendido. — Leve-me em vez disso.

O homem balbuciou, acenando com a ponta de sua arma. Estremeci


com a dor surgindo em meu crânio por causa de seu aperto mortal no meu
cabelo. Cravei minhas unhas em sua mão em pânico, e ele puxou com mais
força.

— Por favor. Não a machuque — implorou Meg, erguendo as palmas


das mãos abertas.

O homem apontou para baixo com o cano, gritando sem parar.

— Meg. Apenas faça o que ele diz. Eles provavelmente estão


procurando por um resgate. — Eu tinha ido além do ponto de medo. A
ansiedade desapareceu, substituída por dormência.

— Cory. — A voz de Meg falhou quando ela lentamente caiu de


joelhos, seu peito arfando.

— Vai ficar tudo bem, Meg. — Palavras destinadas a nos acalmar –


uma declaração esperançosa.
Os cantos da mandíbula de Meg balançaram enquanto nos
encarávamos. O homem me puxou para o convés, me empurrando contra a
grade. Meu telefone voou do meu bolso, batendo nas tábuas de madeira,
desalojando a bateria e rachando a tela. Quatro homens amontoados em um
círculo, gritando, apontando e arrastando as mãos sobre suas cabeças
cobertas de máscara.

A água esguichou na lateral do convés, uma miragem se seguiu um


clarão que lembrava a silhueta de um ser humano. Os homens se viraram em
pânico, apontando suas armas. Um homem entrou em pânico, seu dedo no
gatilho se contraindo, enviando uma bala voando direto para o meu ombro.

A dor derrubou meu braço, e tudo que eu podia ouvir era minha
respiração pesada enquanto eu me inclinava para trás, o mundo girando em
caos ao meu redor. O céu azul mergulhou à vista quando minha cabeça caiu
para trás, seguida pelo resto de mim.

Um homem rugiu a palavra não no vento enquanto eu caía e caía,


espirrando nas águas turvas abaixo. A escuridão me alcançou, e eu afundei,
as profundezas abrindo seu abraço frio e aquoso para mim. Um solavanco
atravessou meu peito. Visões deformaram minha mente como uma
apresentação de slides enlouquecida. Cada flash era de mim mesma, mas
não. Eu na Idade Média, meu cabelo castanho escuro caindo em mechas
onduladas até aos joelhos. O império Romano. Um campo de batalha das
Terras Altas. Noruega. América colonial. O Velho Oeste. Os loucos anos vinte
– meu cabelo cortado curto, um vestido de franjas abraçando minhas curvas
em um bar clandestino.

Meus olhos se abriram e eu engasguei, sugando a água pelos meus


pulmões como as guelras de um peixe.

Eu lembro.
Respirar debaixo d'água era tão fácil quanto em terra, o ritmo constante
pelo nariz ou pela boca. Meu cabelo escuro flutuava em mechas claras,
enrolando-se sobre meus braços enquanto a corrente passava por mim –
manchas de escamas azuis bioluminescentes espalhadas pela minha pele.
Algo se mexeu atrás de mim, e eu me virei, arrastando meus dedos pela água
e enviando um redemoinho de bolhas. Simon flutuou na minha frente, uma
crina em sua testa, olhando para mim com aquele olhar esmeralda radiante.

Eu o conhecia.

Quando me aproximei, mantendo meu olhar focado em seus olhos, a


parte específica dele que reconheci, sua expressão caiu. Parecia alguém que
levou um soco no estômago, mas transgrediu em choque e logo alívio.

Ele girou na água, levantando tantas bolhas que impediu minha visão.
Quando ele parou, ele não era mais o surfista de cabelos curtos que eu
conhecera na praia. Ele apareceu como eu o conhecia com seu cabelo
comprido, caindo pelos ombros e barba cheia.

— Poseidon? — Eu disse, a água acolhendo minhas palavras e não as


distorcendo.

Sua testa franziu, e ele nadou em minha direção, deixando-me tocar o


lado de seu rosto. Assim que minha pele roçou a dele, ele fechou os olhos com
um suspiro satisfeito. — Amphitrite

— Eu não entendo o que está acontecendo. — Enrolei meus dedos em


sua barba molhada. Este era o homem que eu conhecia. O Deus. Meu marido.
Meu rei.
Afastei minha mão e desviei o olhar. Era meu marido. As emoções
reprimidas socaram meu crânio – mágoa, abandono, culpa.

— Amph, olhe para mim. — Sua grande mão segurou meu queixo
enquanto ele levantava meus olhos para ele. — Temos muito o que
conversar, mas agora preciso impedir que o resto desses piratas assumam o
navio.

Aquele primeiro grupo de piratas. A força misteriosa que fez todos eles
desaparecerem.

— Você está aqui desde que eu mandei uma mensagem para você.
Você não tem? — Olhei em seus olhos, acolhendo a segurança que eles
sempre exalavam como nossa gruta escondida.

Ele assentiu e pegou minha mão na dele. — Todas as coisas sobre as


quais podemos falar mais tarde.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele nos catapultou pela
água como um grande tubarão branco se preparando para romper a
superfície. Aterrissamos no convés. Com pernas de mar mal treinadas, caí de
joelhos, cuspindo água.

Uma memória chiou em meu cérebro, meus joelhos batendo contra as


pranchas de madeira molhadas de um navio alto clássico. A noite havia
alcançado o céu, uma tempestade fazendo trovejar no céu, a chuva caindo
sobre o barco em massa. Meu vestido de linho encharcado grudava nas
minhas pernas enquanto eu me arrastava, meu longo cabelo escuro grudado
no meu rosto. Um homem corpulento com a cabeça raspada, sua pele
bronzeada com óleo e alcatrão apesar da chuva, veio em minha direção, um
sorriso desdentado puxando seus lábios. Meu peito bombeava com
respirações irregulares enquanto eu recuava nos calcanhares, colidindo com o
mastro de madeira, meu pescoço roçando a corda enrolada em volta dele. Ele
agarrou meus pulsos, e eu gritei, fechando meus olhos.
— Amph, sou eu. — a voz de Poseidon acalmou.

Recusando-me a olhar, balancei a cabeça, tentando afastar a memória.

— Amphitrite. — Poseidon gritou.

Meus olhos se abriram, e eu olhei para ele, meus pulsos presos ao


delicado aperto de Poseidon, preocupação franzida em sua testa.

— Isso é demais, Seid. Tantos anos de memórias. Como vou filtrar


todas elas sem que isso me enlouqueça? — Meus membros ficaram flácidos
enquanto eu caía no convés como se estivesse derrotada.

— Olhe para mim. — Ele puxou um pulso e deslizou os dedos sob meu
queixo.

Fazendo o que ele pediu, eu levantei meus olhos para ele, meu olhar
embaçado com lágrimas.

— Você pode fazer isso porque você tem que fazer. Você precisa
encontrar Meg.

— Meg. — eu respirei, estremecendo com meu cérebro zumbindo.

— Amphitrite. Você vai passar por isso. E eu sei porque você é a mulher
mais forte que eu já conheci. Até duas vezes. — Seu polegar calejado
circulou minha bochecha.

Eu deslizei minha mão sobre a dele e um sorriso fraco curvou meu lábio.

— Mas agora, querida, eu preciso que você se mova .

Meg. Eu não podia perdê-la. Foi o suficiente para me forçar a ficar de pé,
segurando os braços de Poseidon como alavanca.

— Meg está ao virar da esquina. Você terá que ir por conta própria. Não
posso ter ninguém me notando. — Ele beliscou meu queixo com dois dedos.
— Você ficará bem. Eles não vão chegar tão perto de você novamente. Eu
prometo. — Suas últimas palavras saíram de sua língua em um grunhido.

— Vá parar esses idiotas.

Poseidon recuou com a graça do deus do mar que eu conhecia e


apontou para o meu braço. — Você vai precisar fazer isso desaparecer.

— Eu... eu não sei como fazer isso. Eu não me lembro. — Eu levantei


meus braços e olhei para as escamas brilhantes, balançando meus membros
como se essa fosse a resposta.

Ele delicadamente prendeu meus braços ao meu lado, os calos em suas


palmas fazendo meus dedos dos pés enrolarem. — Feche os olhos e pense
nelas desaparecendo. Será que elas voltarão para o mar.

Fazendo como instruído, fechei minhas pálpebras e não pensei em nada


além do vasto oceano vazio. Invocando-o, implorei que escondesse minhas
escamas - meu verdadeiro eu - até que acenei para ele novamente.

Os lábios de Poseidon roçaram minha bochecha, sua barba fazendo


cócegas na minha pele. — Elas foram embora. Vamos conversar sobre tudo
isso.

Com uma respiração trêmula, eu pisquei meus olhos para abrir. —


Quando?

Ele se foi.

Eu pulei na esquina, encontrando Meg enrolada contra a mesma parede


que eu estava. — Meg, sou eu — eu sussurrei, tentando não assustá-la.

— Cory? — Meg olhou para mim com os olhos arregalados antes de se


lançar em mim, me puxando para baixo e me abraçando.
— Estou bem. Tudo ficará bem. Só precisamos ficar paradas — . A
ansiedade que eu sentia se dissipou com o conhecimento de quem estava a
bordo, livrando o convés da escória do lago.

Ela se afastou e tocou meu rosto, meus ombros. — Não entendo. Você
está encharcada, e eu ouvi aquele tiro. Levou tudo em mim para não gritar.

— Eles atiraram, mas erraram. Isso me assustou e eu caí no mar.

Parecia tão errado mentir para Meg. O que é pior, foi a primeira de uma
série de verdades ocultas. Como alguém disse ao sua melhor amiga que era
uma deusa do mar em uma vida passada? Rainha? Os casos em que ela não
conseguia explicar minha conexão com a vida marinha eram porque eu podia
falar com elas e controlá-las.

— Como diabos você voltou ao convés, Cory? — Seus olhos


freneticamente procuraram meu rosto, seus lábios se estreitando.

— Você sabe que eu sou uma nadadora forte. Além disso, eu sabia que
precisava voltar para você. Um sorriso fraco puxou meus lábios.

Mentiras. Mentiras. Mentiras.

Meg era um ser humano inteligente. A situação justificou sua expressão


questionadora, e eu me preparei para o impacto de suas técnicas de
interrogatório ardentes.

— Senhoras e senhores, a situação foi contida. Estamos mudando de


rumo para o porto mais próximo e, como medida de segurança, pedimos a
todos os hóspedes que migrem para o convés inferior durante a viagem. Ao
chegar em San Juan, você receberá um serviço de voo gratuito de volta a
Orlando e um reembolso total. Esperamos que você ainda considere um futuro
cruzeiro com a Calypso Cruises, e pedimos desculpas pela ocorrência de hoje
— disse um locutor no convés pelo interfone.

— Vamos descer abaixo do convés. — Ajudei Meg a se levantar.


Enquanto caminhávamos, Meg ficou mortalmente quieta, alternando
entre esfregar a nuca e passar um dedo pela sobrancelha.

— Você está bem? — Arrisquei mais perguntas fazendo isso, mas não
podia em sã consciência fingir que não estava preocupada. Passamos por
uma provação com risco de vida. Poderia chocar qualquer um.

— Todas as coisas consideradas? Sim. Mas não consigo superar algo.


— Meg sacudiu o punho como se jogasse roleta novamente.

— Oh? — Uma craca se formou na minha garganta.

Eu não estava pronta para essa conversa. Eu ainda tinha que descobrir
as coisas por mim mesma, muito menos explicar para alguém que não tinha
ideia de que nosso mundo existia.

— Não há maneira viável de que o barco tenha alcançado a velocidade


deste navio de cruzeiro. Isso sem falar nos canhões de água. Mal os desfez.
Como? — Ela estalou seu olhar para o meu, sua mandíbula apertando.

Todas as perguntas válidas. E as respostas que eu conhecia estavam


com Poseidon.

— Eu não sei, Meg. — Eu fiz uma careta e a abracei ao meu lado.

Quando chegamos aos conveses inferiores, centenas de pessoas


espalharam as mesas espaçadas, incluindo uma dúzia de balcões de bufê com
vários alimentos e água engarrafada. Levou várias horas para viajar de volta a
San Juan e mais algumas horas para voar para Orlando. Com nossas férias
abreviadas, aceitei uma oferta de emprego para substituir um guia turístico
que estava doente em um aquário em Orlando. Meg não reclamou muito,
considerando que planejava passar o dia com Mickey no Magic Kingdom. Eu
disse a ela para me pegar um par de orelhas de rato da Pequena Sereia.

Vestindo minha impressionante polo azul grande com o logotipo do Brizo


Aquarium sobre meu seio esquerdo, liderei um pequeno grupo de
participantes. Dois pais carregavam seus filhos gêmeos em um carrinho
conjugado, um casal de idosos que não conseguia parar de olhar um para o
outro e duas jovens que passavam mais tempo tirando selfies para as mídias
sociais do que olhando para os peixes.

Nós nos aproximamos do tanque de águas-vivas, e meu coração se


apertou. A ansiedade delas pulsava através de mim em ondas. Elas queriam
estar em mar aberto. Sua apreciação por estar no tanque e fora de perigo era
evidente, mas não se comparava à liberdade. Engolindo a raiva e a irritação
que assolavam meu âmago, eu as afoguei o melhor que pude antes de
repente começar a Operação: Libertar os Peixes no meio de um aquário
público.

— Um fato pouco conhecido, mas as águas-vivas são um dos mais


antigos animais com múltiplos órgãos, existindo há pelo menos seiscentos
milhões de anos. — Referenciei a água-viva flutuante e graciosamente
batendo com a mão, sorrindo para o meu grupo de excursão.

— Uau. Antes dos dinossauros? — O homem mais velho perguntou,


envolvendo seus braços ao redor de sua esposa por trás dela.

— Sim. Mesmo antes dos dinossauros, antes das plantas ou dos fungos
também.

Uma das jovens finalmente ergueu o nariz com um sorriso de escárnio.


— Ainda acho que são alienígenas. Elas não têm cérebro ou qualquer outra
coragem real para esse assunto.

— Ponto justo. Mas eles têm um sistema nervoso avançado. Alguém


sabe o que todos os seus receptores podem detectar? — Eu levantei minhas
sobrancelhas, esperando por uma resposta.

— Vibrações? — A mãe da família de quatro pessoas entrou na


conversa.
Apontei para ela com um sorriso. — Isso é uma coisa.

Quando o silêncio caiu sobre eles, eu cruzei minhas mãos atrás das
costas. — Elas também ajudam a detectar luz e produtos químicos na água.
Com esses sentidos extras e suas habilidades de navegação por gravidade, é
assim que elas se mapeiam pelo ambiente.

— Você já ouviu falar da água-viva imortal encontrada no Mar


Mediterrâneo? — Uma voz profunda e rouca perguntou por trás da multidão.

Cada nervo do meu corpo faiscou como tridentes se chocando.

Poseidon.

O pequeno grupo de turistas deu um passo para o lado enquanto


Poseidon avançava. Ele era a perfeição absoluta com o cabelo solto em
mechas onduladas, barba cheia esculpida, camisa Henley com as mangas
arregaçadas, expondo os músculos bronzeados do antebraço. Eu puxei os
botões do meu pólo, de alguma forma lembrando flashes de nossos tempos
passados juntos na cama. A maneira como ele revirou os quadris. A sensação
de sua barba roçando minhas coxas quando ele...

— Senhorita? — A mulher mais velha perguntou, me fazendo acordar


do meu devaneio.

— Sim. Desculpe. Eu sinto muito. Isso conclui o passeio. Se não houver


dúvidas, aproveite o resto da sua estadia aqui no Brizo Aquarium. — Com um
sorriso rápido e suave para tranquilizar os turistas, eu enrolei minha mão no
braço de Poseidon e o arrastei para uma alcova onde poucos participantes
caminhavam.

Poseidon sorriu largo, seus dentes brancos brilhantes brilhando em


contraste com sua barba mais escura. — Você está adorável nesse polo, mas
eles não tinham um tamanho menor? — Ele riu, apontando para o
comprimento drapeado até meus joelhos como um vestido.
Puxei a bainha, sentindo minhas bochechas quentes. — Como você me
achou?

Suas sobrancelhas balançaram enquanto ele olhava para mim,


esperando que eu respondesse minha própria pergunta.

Eu espalmei minha testa. — Certo. Não me lembro de como usar meu...


Abaixando a voz, inclinei-me para ele. — Não me lembro de como usar meus
poderes.

— Amph, você não vai tê-los todos de qualquer maneira. Você é mortal.
— Ele esfregou meu ombro, um beicinho simpático derretendo em seus
lábios.

Afastando-me dele, caí no banco de frente para o tanque do Mar


Mediterrâneo. — Você não pode me chamar assim em público, Simon .

Poseidon estremeceu antes de se sentar no espaço ao meu lado. —


Você finalmente percebe quem você é, e ainda temos que fingir. A ironia.

— E por que você ainda está em sua verdadeira forma? Como Simon
Thalassa vai explicar o crescimento de cabelos compridos e barba durante a
noite? Corri meus dedos por seus tentáculos loiros e engoli em seco.

Pelo Olimpo, ele era lindo.

— Eu direi a eles mágica. Eles vão pensar que estou sendo um


espertinho e esquecer isso em uma semana. Garantido. — Ele sorriu e
agarrou a borda do banco, movendo seu olhar para observar o peixe – um tom
azul fluindo sobre suas feições das luzes do tanque. — Além disso, eu nunca
quero perder esse olhar em seu rosto quando você viu o verdadeiro eu e
soube quem eu era.

Por mais feliz que eu estivesse em vê-lo e por mais grata que eu não
estivesse mais presa no céu como uma constelação, tivemos um passado tão
difícil, ele e eu.
— Eu não sei por onde começar com isso — eu sussurrei, meu nariz
ardendo, lágrimas ameaçadoras.

— Sim. Não tenho certeza se existe um protocolo escrito para uma


situação como essa, Starfish.

O apelido fez meu coração pular de cisne, e eu bati meu olhar para o
dele, lágrimas nublando minha visão.

Ele deu um sorriso tímido, inclinando a cabeça para um lado, fazendo


com que seu cabelo caísse em gloriosas bagunças sobre um olho. Alcançando
uma mão, ele enxugou uma lágrima rolante da minha bochecha com o
polegar. — Nós dois fizemos algumas coisas. Algumas... coisas horríveis. Mas
foi há uma vida inteira. Eu gostaria de pensar que estamos... Ele se inclinou
para frente, deixando cair as mãos entre os joelhos.

— Tendo uma segunda chance. — Eu terminei para ele.

Ele acenou com a cabeça, levantando os olhos de volta para o peixe


colorido na nossa frente. — Se quisermos.

Por que alguém não iria querer uma segunda chance em nada? Mas
poderíamos honestamente trabalhar com o que tínhamos feito? E mais
importante, o que tínhamos feito um ao outro?

— Qual é a última coisa que você pode lembrar vividamente? — Ele


brincou com uma das várias pulseiras de cânhamo em seu pulso, girando uma
pequena concha presa a uma entre dois dedos.

— De que vida? — Eu bufei, desorientação turvando meu cérebro


assim que tentei me lembrar de todas as vidas que levei.

Seus olhos de jade encontraram os meus. — Nossa.

Beliscando meus joelhos juntos, eu cruzei minhas mãos no meu colo. —


Zeus me exilou para as estrelas. Escuridão pura com um vislumbre ocasional
do Olimpo até que um dia eu simplesmente... Fiz uma pausa, olhando ao
nosso redor para garantir que ninguém estava ao alcance da voz. — Eu era
uma criança na Idade Média.

— Merda. Reencarnação. Foi isso que aconteceu no barco? Você tinha


uma memória? Achou que eu fosse outra pessoa? — Ele se sentou direito.

Eu levantei meus ombros até meus ouvidos antes de deixá-los cair de


volta. — Sim. — Saiu empolado. — E continuo tendo esses flashes
aleatórios como uma apresentação de slides em tempo real em minha mente.

Ele deslizou a mão no meu joelho, e eu passei para uma memória de nós
em nossos tronos na Atlântida, sua mão deslizando sobre o mesmo joelho,
sorrindo para mim. Quando fiquei tensa sob seu toque e desviei o olhar, ele
deslizou a mão para o banco.

A pele entre seus olhos formou um sulco profundo – sua expressão


quando estava imerso em pensamentos. — Nós descobriremos isso, mas eu
acho que isso- — Ele fez uma pausa para apontar entre nós. — É o obstáculo
mais imediato a ser superado.

— Somos um obstáculo agora?

Ele bateu seu ombro contra mim. — Não foi isso que eu quis dizer, e
você sabe disso.

— O que você tem feito todo esse tempo? — Eu deslizei para trás,
fazendo meus dedos dos pés mal tocarem o chão.

Ele soltou um suspiro áspero, fazendo seus lábios vibrarem. — Oh cara.


Bem, uma vez que os mortais pararam de acreditar em nós, todos nós tivemos
que começar a nos disfarçar se quiséssemos ficar entre eles. Já usei muitos
chapéus. Mergulhador militar. Estivador. Capitão do navio. Até trabalhei como
ator por um período.
— Um ator? — Apertei meus lábios, tentando esconder meu sorriso.
— Você?

Ele cutucou meu queixo de brincadeira com o dedo. — Sim? Como isso
é tão inacreditável, senhorita pro gamer?

Eu engasguei, fingindo ofensa com uma mão dramática sobre meu peito,
e então... eu estreitei meus olhos. — Você é KingofFish69.

Um sorriso pegajoso brincou nos lábios de Poseidon, e ele ergueu a


palma da mão. — Culpado.

Revirei os olhos e me inclinei no poste acarpetado atrás de nós. — Você


sabia quem eu era esse tempo todo e tem sido tão... — Meu olhar caiu para a
tatuagem de cavalo cobrindo o interior de seu antebraço. — paciente.

Ele assentiu, batendo o punho contra um joelho. — Muitas coisas


mudaram em mim, Amph. — Ele arqueou uma sobrancelha e examinou a
área.

— Sim. Eu posso dizer. — Sentindo-me ousada, escovei meu dedo


mindinho contra a mão que ele descansava no banco entre nós.

— Você também tem. — Poseidon olhou nossa pele se tocando, e ele


curvou um único dedo com o meu. — Talvez tenha sido necessário. Éons de
distância.

— Renascimento — Eu disse em uma expiração ofegante.

— Vá a um encontro comigo. — Seus olhos verdes brilharam.

— Um encontro? — Uma risada trêmula escapou da minha garganta.

— Se estamos começando de novo, podemos ir com tudo. Além disso,


nunca tivemos um primeiro encontro. Eu meio que... Sua bochecha se
contraiu.
— Reclamou de mim? — Eu levantei uma sobrancelha.

— Não tenho orgulho disso.

— Contanto que você me pegue em um carro e não em um golfinho,


então sim. — Eu apertei meu dedo nele.

Ele riu — profundo e piedoso. — Combinado.

O chefe do aquário me lançou um olhar enquanto apontava para o


último grupo de excursão do dia esperando.

— Droga. Eu tenho que dar uma turnê final. — De pé, me virei para
Poseidon que se elevava sobre mim.

— Amanhã às sete trabalha para você? — Ele enfiou as mãos nos


bolsos da frente.

Eu joguei um dedo sobre a ponta do meu nariz. — Perfeito.

— Legal. Eu, uh, vejo você então. Ele passou a mão pelo cabelo
comprido antes de se virar e se afastar, lançando um último olhar para mim
por cima do ombro.

Dois deuses dilacerados por egoísmos passados se uniram novamente


em busca de esperança e serenidade. Eras atrás, a ideia disso teria me
confortado, mas apesar de nossa história, era como se estivéssemos nos
encontrando pela primeira vez. Eu não era a mesma pessoa que era naquela
época, e estava claro – nem ele. Ainda assim, as Parcas nos deram outra
oportunidade de encontrar a felicidade que perdemos. Poderíamos trabalhar
com isso? Eu poderia lidar com o ataque de memórias de vidas passadas?
Eles parariam? Tudo isso de lado, eu devia a mim mesma tentar.
Meg e eu voltamos para casa no dia seguinte, e ela me presenteou com
o tempo que passou no Magic Kingdom. Eu não contei a ela sobre Poseidon-
Simon aparecendo no aquário porque isso levaria a mais mentiras sobre nossa
conversa. A mentira mantida versus a mentira parecia uma alternativa melhor
neste estágio. Quando ela me deixou no meu apartamento, subi as escadas
no piloto automático, mal me lembrando de como cheguei à porta da frente.
Desbloqueando-o, entrei em transe, removendo as orelhas de sereia de rato
que Meg tinha comprado para mim e descansando-as no balcão, mas errei.
Minha bolsa acabou caindo perto da minha mesa de centro, perdendo aquela
superfície também.

Eu era Michelle Pfeiffer depois de ser trazida de volta à vida por uma
dúzia de gatos em um beco, em espiral para se tornar a Mulher-Gato. Só que
em vez de gatos, era peixe.

Meu olhar se voltou para o meu tanque, onde todos os sete peixes se
amontoavam em um grupo no vidro mais à frente. Apertando os olhos,
pressionei um dedo contra o tanque do lado oposto, fazendo todos correrem
para me cumprimentar.

— Sinto muito por ter mantido todos vocês lá. — Arranhei o vidro,
simulando um gesto de carinho.

Ao contrário das águas-vivas no aquário, meus peixes estavam


contentes no tanque, felizes até. Menos espaço do que um recinto inteiro em
um aquário, mas de alguma forma, a presença deles comigo esse tempo todo
importava mais. Olhei para o relógio analógico com uma borda de concha
pendurada na minha cozinha. Trinta minutos até Poseidon me pegar.
Assentindo para mim mesma, eu prestei atenção. Trinta minutos até meu ex-
marido aparecer para começarmos o primeiro dia de nossa reconciliação... ou
não. Minhas palmas se fecharam, coração acelerado, gotas de suor
escorrendo pelo meu pescoço.

Correndo para o meu quarto, abri as portas do armário e olhei para a


variedade de roupas. Enquanto eu empurrava cabide após cabide de lado, o
pânico se apoderou de mim como uma tartaruga mordedora. Eu ainda era
Cordelia, mas não me sentia eu mesma. Uma mente presa entre dois mundos,
muitas vidas, e um ser que antes dependia de magia agora se tornava quase
impotente. Mortal.

Desistindo de encontrar algo adequado para uma ex-rainha, bati a porta


e invadi minha sala de estar, me jogando no meu sofá azul. Deixando cair o
rosto nas mãos, concentrei-me na respiração lenta e constante, anunciando
mentalmente às lágrimas que ameaçavam uma visita, elas não eram bem-
vindas aqui.

Minha mente falhou, e meu joelho pressionou a terra, agachado atrás de


um escudo redondo de madeira – cheiros de sangue, suor e sujeira flutuando
ao meu redor. Gritei algo em um idioma que não consegui traduzir para a
mulher ao meu lado, seu cabelo puxado em mechas no alto da cabeça, no
meio e na nuca. Tinta preta manchada sobre seus olhos.

Knock. Knock. Knock.

Com um suspiro estrangulado, sentei-me, cortando meus olhos para o


relógio. Cinco minutos adiantado. Pontual agora? Poseidon nunca foi pontual.
Agora de todos os tempos.

Eu me dirigi para a porta da frente com uma careta enquanto esfregava


minhas têmporas. A distância, na verdade, era de vários metros do meu sofá,
mas as paredes pareciam se expandir, criando um caminho estreito que
parecia a quilômetros de distância. Espiando pelo olho mágico para garantir
que era meu deus peixe do outro lado, eu abri a porta, me escondendo atrás
dela, e espiando pelo lado dele.
Um sorriso brilhante brincou em seus lábios. — Oi, oi. Este é um
momento ruim? — Ele pressionou um antebraço acima da minha cabeça no
batente da porta, esperando um convite.

Permanecendo em silêncio, eu balancei a cabeça.

Ele desviou os olhos da esquerda para a direita, ainda esperando e


ainda sorrindo.

Oh, para o Tártaro com isso.

Abri a porta, revelando a mesma camiseta com decote em V e shorts de


jersey que usei durante todo o dia viajando. — Eu não conseguia descobrir o
que vestir. A última que me lembro sobre a verdadeira eu? Bem, não há nada
no meu armário que chegue perto. Ele saiu muito mais choroso do que eu teria
preferido.

O sorriso em seu rosto ainda não havia desaparecido. – Posso entrar,


Amph?

Dei um passo para o lado, segurando minha mão e trancando a porta


atrás dele.

— Há uma razão pela qual você não vai encontrar togas ou vestidos
finos e transparentes. — Ele arrancou o pouco de cabelo abaixo do lábio
inferior, percorrendo os olhos sobre o meu corpo antes de forçá-los a se
afastar.

Cruzando meus braços em um acesso de raiva, eu me inclinei contra o


balcão da minha cozinha. — Sei que estou no século XXI. Eu não esqueci
que sou Cordelia. Estou apenas tendo um... não sei. Uma crise de identidade?

— Você mudou, Starfish. Cordelia é mais você do que a versão mais


antiga de Amphitrite. — Ele cruzou as mãos na frente dele como se não
tivesse certeza do que fazer com elas.
— Esse nome nem parece mais comigo. — Eu fiz uma careta, movendo
meu olhar para meus peixes flutuando no canto do tanque perto de mim,
batendo suas pequenas barbatanas.

— O quê? Starfish? 7

Eu cortei meus olhos para os dele. — Não. Esse nome me faz sentir
borbulhante como sempre fez.

— Bem, talvez Amphitrite não combine mais com você. — Ele inclinou
a cabeça para o lado. Pela maneira como seu joelho direito saltava de vez em
quando, eu poderia dizer que ele estava impaciente. Ele mais do que
provavelmente queria me pegar em seus braços e continuar de onde paramos
– quando estivéssemos felizes juntos.

Talvez eu tenha deixado o nome Amphitrite nas estrelas.

— Então, onde você está me levando neste encontro? Isso vai me


ajudar a decidir qual peça de roupa aleatória pegar do meu armário
explodindo.

Com uma arrogância impossível de esquecer, ele caminhou na minha


frente. Segurando as pontas dos dedos, eles se transformaram em água, e ele
balançou a testa. — Posso?

Apesar da capacidade de respirar debaixo d'água, olhando para ele com


seu poder surgindo nas palmas das mãos, esqueci como respirar o ar da terra
e consegui assentir.

Com as mãos em meus ombros, um vestido se materializou sobre meu


peito em respingos de água e brilhos. Viajou sobre meus quadris e não parou
até chegar aos meus tornozelos, formando um trem fluido. Poseidon soltou

7
Starfish : Estrala do mar
uma respiração rouca antes de dar um passo para longe, me pedindo com um
movimento de seu pulso para olhar para sua obra.

Tracei meus dedos sobre os brilhantes brilhos brancos e prateados que


adornam meu corpo. Uma fenda percorreu minha perna esquerda, parando
logo abaixo do meu quadril, e uma cortina de tecido pendia sobre meu peito.
— Isso parece — Eu engasguei. — O vestido brilhante de Ariel de A Pequena
Sereia ?

Poseidon esfregou a nuca. — Achei que você seria fã desse filme,


especialmente nos tempos modernos.

— Você está certo. — Eu sorri para ele antes de girar várias vezes,
fazendo a cauda balançar ao meu redor e a luz pegar os brilhos do vestido,
trazendo-os à vida.

— Pelo Olimpo, você é linda. — ele murmurou, olhando para mim


boquiaberto. — Não é mais uma constelação, mas as estrelas estão para
sempre com você.

Olhei para ele do outro lado da sala, imaginando-o com sua coroa de
ouro, o tridente combinando com símbolos atlantes esculpidos em seu punho,
agarrado em suas mãos.

— Você está pronta para conversar? — Ele estendeu a mão.

Foi um gesto simples, mas na verdade, sua palma segurava o universo


dentro dele - uma possibilidade de encontrar o felizes para sempre que eu
sempre lutei, mas perdi de vista há tanto tempo. Mas também tinha o potencial
de desgosto.

Agarrando um braço no meu peito, deslizei a outra mão na dele. —


Você está nos levando para lá? Não dirigiremos?

— O que você prefere, Starfish? — Seu aperto apertou minha mão


como se agora que ele me tinha, ele nunca planejasse me soltar.
Eu me aproximei dele, uma respiração entre nós. Fechando os olhos
para deixar os aromas de maresia e sol acenderem dezenas de memórias –
nadadas mágicas à meia-noite, beijos roubados no Olimpo, luzes brilhando em
sua majestosa coroa de ouro. — Quero sentir a magia novamente.

Ele deslizou um braço em volta das minhas costas, me puxando contra


ele. Eu abri meus olhos, olhando para ele.

Sua barba fez cócegas na ponta da minha orelha enquanto ele


sussurrava: — Espere.

A cauda do meu vestido me circulou quando uma onda de água


irrompeu ao nosso redor, mas não nos deixou molhados. A água rodopiava em
espirais sobrepostas e, em um brilho de luz, aparecemos em um telhado com
uma única mesa, duas cadeiras posicionadas uma ao lado da outra e uma
dúzia de velas com chamas bruxuleantes.

— Onde estamos? — Meus braços ainda estavam ao redor de sua


cintura, e eu os deixei lá enquanto observava o belo cenário.

— Um restaurante. — Ele me abraçou e delicadamente descansou o


queixo na minha cabeça. — Eu queria que fosse o mais normal possível, mas
ainda tivesse a liberdade de falar sobre tudo , então aluguei o prédio inteiro
para a noite.

Eu me afastei, olhando para ele com um olho. — Muito romântico de


sua parte, mas como vamos conseguir comida?

Seus olhos se voltaram para as estrelas. — Essa era a única parte que
eu esperava que você ficasse bem por não ser normal?

— Convém-me bem. Nós dois somos péssimos cozinheiros.

Nós rimos em uníssono, apenas deixando as risadas se dissolverem


quando nossos olhos se encontraram, e uma chama cintilou dentro deles. Eu
estava descalça em meu vestido Ariel brilhante em um telhado com o Rei dos
Mares em meus braços. Ele estendeu a mão aos nossos pés, fazendo seus
sapatos desaparecerem, e contornou uma camada de água morna no
concreto.

Eu sorri, deixando meus dedos dos pés salpicarem.

— Achei que faria com que parecesse mais em casa sem inundar o
prédio. — Ele sorriu, deu um beijo rápido no canto da minha testa e nos levou
até a mesa.

Como dois adolescentes com nervosismo no primeiro encontro, nós nos


atrapalhamos em nossos assentos. Eu estava a meio caminho de sentar antes
de perceber que ele puxou a cadeira para mim e teve que reajustar com um
sorriso corado. Ele acenou com a mão sobre a mesa, produzindo abundantes
pratos de folhas verdes com toques coloridos de tomates, pepinos e uma
variedade de outras frutas e legumes.

— Eu posso ver que você estava na cozinha o dia todo com uma
refeição como esta. — Eu pisquei para ele, desdobrando o guardanapo de
pano branco e colocando-o sobre meu colo.

Poseidon roçou cada um de seus ombros. — Muito sangue e suor


entraram nesta refeição. Eu certamente espero que você goste.

Parei o garfo no meio da boca, torcendo o nariz com a menção de


sangue e suor.

Ele riu, nunca tirando os olhos de mim enquanto dava uma mordida.
Depois de ouvir o crunch melódico com cada rotação de sua mandíbula, eu
segui o exemplo. Tivemos inúmeros momentos como este no início do nosso
casamento - tão apaixonados um pelo outro que não conseguimos o
suficiente. Como nos deixamos crescer separados?
Eu queria perguntar algo, mas temia matar o momento antes que
tivéssemos a chance de desenvolver um. Deixando meu olhar cair para o meu
prato, raspando meu garfo nele, eu descarrilei – por enquanto.

— Como esses piratas entraram no navio de cruzeiro? Tirei a


Bloodhound Meg do rastro, mas ela estava certa em achar suspeito.

Poseidon passou o guardanapo sobre a boca. — Skylla.

— Skylla? — Meu garfo tiniu quando o deixei cair. — Pensei que a


maioria das criaturas estivesse morta.

— Atlantis está fora dos gráficos há décadas. Com a falta de segurança


que já teve, trouxe atenção indesejada. Eu queria me manter ocupado, mas
nunca pensei que estaria bancando o guardião das criaturas das profundezas
e do mundo moderno. — Ele sorriu, batendo um tomate de um lado do prato
para o outro.

— Eu não entendo o que estava nisso para Skylla, no entanto. Ajudando


um grupo de bandidos do mar a roubar ou resgatar passageiros em um navio
de cruzeiro?

Ou certamente, ela não estava atrás de mim todo esse tempo? Meu
sonho de mergulhar nas profundezas, tentáculos em volta de mim - a visão
desses mesmos tentáculos fazendo os barcos piratas se moverem mais
rápido...

— Você me pegou lá. Se eu tivesse que adivinhar, ela provavelmente


fez um acordo. Ela sempre quis o controle dos mares, mas esquece um
pequeno detalhe. — Ele inclinou o peito sobre a mesa, deslizando a mão
sobre ela para descansar em cima da minha. — Ela tem que passar por mim.

Memórias de nós lutando sob os mares, protegendo-os, protegendo


nossa família — uma dor torceu meu peito, e eu puxei minha mão para longe,
pressionando minhas costas contra a cadeira.
— Amph? — Ele franziu a testa. — O que é isso?

— Como estão nossas... — As palavras ficaram presas na minha


garganta, agarrando-se a ela como caramelo de água salgada. — crianças?

Eu bati meus olhos para ele, um tridente torcendo no meu estômago


com a visão de seu rosto solene.

Poseidon soltou um suspiro antes de rolar um tomate entre dois dedos.


— Triton está indo muito bem para si mesmo. Ele é capitão de um barco de
pesca e adora. Eu estou supondo que ele ficará lá até que ele não envelhece e
se torne alarmantemente óbvio.

Triton. Meu doce menino. Agora um homem adulto. Um deus por direito
próprio.

— Barco de pesca ?

Poseidon jogou as mãos para cima. — Não é o que você pensa. Ele vai
atrás dos baleeiros, os impede usando todos os meios necessários que não os
façam sinalizar pela Guarda Costeira.

— Por que usar um barco humano? Ele não poderia usar seus poderes?
— Passei o dedo pela bainha da fenda do meu vestido.

Poseidon bateu na mesa com o dedo indicador. — Ele prefere trabalhar


para isso. Diz que significa mais no final do dia. Gostaria de saber de onde ele
tirou isso, hein?

Lágrimas ameaçaram, mas eu as forcei de volta.

Tivemos outro filho, uma filha. Os nervos enrolaram meus pulmões,


espremendo a respiração para fora de mim. — E Rhode? — Ela era tão
pequena da última vez que a vi, tão jovem.
Poseidon lambeu os lábios, desviando o olhar de mim antes de deslizar a
cadeira para mais perto.

— Oh meu — Eu coloquei minhas mãos sobre minha boca. — ela não


é…

— Não. — Ele tirou meus dedos do meu rosto, segurando minhas mãos
em seu grande aperto. — Não, ela não é. Como eu disse, anomalias têm
ocorrido na Atlântida. Ela foi tentar consertá-la, apesar de eu ter dito
firmemente que não, que era muito perigoso.

— Eu me pergunto de onde ela tirou isso. — eu disse fracamente, um


estalo na minha voz.

Poseidon não sorriu. Ele nem sequer olhou para mim, seu aperto
apertando minhas mãos. — A Atlântida a levou. Ela desapareceu.

— O quê? — Eu gritei, empurrando para fora da minha cadeira,


derrubando-a. — O que você quer dizer com ela desapareceu?

Poseidon se levantou, passando a mão pela barba. — Atlantis é o


coração da alteração de dimensões. Tem portais. Um abriu e... a levou.

Andando pelo perímetro do telhado, bati a mão na testa. — E você não


tentou encontrá-la?

— Claro que tenho. Eu rasguei metade do universo procurando por ela.


— Sua voz caiu uma oitava, sem dúvida insultado pela minha acusação.

Pânico. Dor. Fúria. Raiva de mim mesma . Tudo engoliu meus sentidos,
rasgou minhas entranhas.

— E você simplesmente desistiu? Eu parei e olhei para ele do outro lado


do espaço. — Você deveria ter tentado mais.
Ele rolou os ombros para trás, suas narinas dilatadas. — E você deveria
estar lá. É uma das razões pelas quais ela foi. Para te procurar.

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, e eu a enxuguei.

— Como se você estivesse sempre lá para eles. Não se atreva a


colocar tudo isso em mim. Meu lábio inferior tremeu, e eu virei as costas para
ele.

— Eles eram crianças quando você desapareceu, Amphitrite. Eu os criei


.

A expressão severa em seu rosto trouxe de volta memórias de uma de


nossas discussões passadas. Ele esteve fora por dias realizando seus deveres
aquáticos sem dizer uma palavra para mim – para nós. A solidão que eu senti
muitas vezes para contar fez meu estômago apertar.

— Eu sabia que isso não ia funcionar — eu sussurrei.

O calor irradiava de seu peito, pulsando contra minhas costas enquanto


ele estava atrás de mim. — O que você está dizendo?

— Fizemos demais. Eu nem tenho certeza se é reparável. E para você,


tudo isso aconteceu há uma vida, uma vida inteira para superar isso – para
aceitar isso. — Eu me virei para encará-lo com uma carranca. — Para mim?
Foi como se tudo tivesse acontecido dias atrás.

As memórias eram todas tão frescas, correndo pela minha mente,


fazendo o presente se misturar com o futuro. A última discussão eu me lembrei
de termos beliscado meu cérebro – ambos acusando o outro de colocar o
trabalho antes da família.

Sua mandíbula apertou, e ele zombou do chão.


— Eu sei sobre a Medusa. — Mais tortura infligida por Zeus durante
minha prisão da constelação. Vislumbres da Terra e do Olimpo, para
testemunhar aqueles que eu amava pensando que eu tinha ido embora.

Seus olhos estalaram para os meus, e ele balançou a cabeça. — Eu


pensei que você estava morta. Isso foi anos depois que você desapareceu. Foi
uma aventura, no máximo.

— Eu sei. Não estou brava porque você dormiu com outras mulheres
depois que eu fui embora. É o que Athena fez com ela como resultado. — A
pele entre os meus olhos se enrugou enquanto eu imaginava a agonia que ela
deve ter passado, percebendo que ela não podia olhar para ninguém sem que
eles se transformassem em pedra – sem mencionar a cabeça de cobras no
lugar do cabelo.

Poseidon franziu os lábios. — Não tenho orgulho disso.

— Ela ainda está viva?

— Sim. Embora, eu não a vi desde então. Ela se tornou uma reclusa.

Eu balancei a cabeça, me abraçando. — Você deveria corrigir isso.

— Talvez eu vá. — ele disse suavemente, quase inaudível contra os


ventos fortes que se levantaram.

— Eu preciso que você me leve para casa, por favor. — Um ouriço-do-


mar cutucou a parte de trás das minhas pálpebras, tentando forçar as lágrimas
a saírem.

— Podemos resolver isso, Amph. Você só precisa nos dar outra chance.
— Ele torceu as mãos, um sulco profundo se formando em sua testa.

— Não estou dizendo não, mas também não estou dizendo sim. Eu
preciso de um tempo, Seid. Eu preciso processar isso, para...
Antes que eu pudesse terminar minha frase, ele passou os braços em
volta de mim, e nós aparecemos no meu apartamento.

— Obrigada. — Minha garganta me traiu, fazendo minhas palavras


tremerem.

Ele deu um passo para trás, passando as costas da mão sobre o nariz.
— Vou recrutar mais alguns deuses para ajudar a procurar Rhode. Eu não
parei, Amph. Você precisa perceber que ela pode estar em praticamente
qualquer dimensão ou período de tempo. É como procurar um grão de areia
preto em uma duna de bronze.

— Obrigada. — Voltei minha atenção para o tanque de peixes.

— Leve o tempo que precisar. Eu estive esperando tanto tempo. Posso


esperar uma eternidade se chegar a hora.

Pelo Olimpo, o quanto meu rei havia mudado.

Ele ficou na minha frente, delicadamente colocando um dedo sob meu


queixo e virando meu rosto para ele. — Ei. Independentemente de você voltar
para mim ou não, encontraremos Rhode.

Ele tornava tão difícil ficar bravo com ele. Para não simplesmente jogar a
negligência que senti no meio do nosso casamento, a solidão, direto pela
janela. Mas não, tão doce e atraente como ele era, ele teria que admitir isso.
Eu precisava estar no espaço certo para essa conversa. Caso contrário, ele
estaria falando para ouvidos ociosos.

— Me mande uma mensagem quando estiver pronta para conversar. —


Ele recuou lentamente, lutando contra o olhar desapontado em seu rosto com
os lábios apertados.

E com um clarão branco e espuma do mar, o Rei dos Mares


desapareceu na noite, deixando apenas o vestido brilhante agarrado ao meu
corpo como um lembrete pálido de que ele sempre esteve aqui.
Eu tinha me trancado no meu apartamento, perdido minha noite de
streaming habitual no Glitch, alimentado meu peixe, mas mal me alimentado, e
respondi com vagas respostas de uma palavra sempre que Meg me mandava
uma mensagem. A batida na minha porta não foi surpresa porque só poderia
ser uma de duas pessoas. Considerando que Poseidon me disse para deixá-lo
saber quando, e se, eu estava pronta para conversar. Considerando que
estávamos em gelo fino, preparados para rachar, só poderia ser um outro.

Suspirando, parei o filme Fool's Gold passando na Fox e caí até a porta.

— Abra a porta inferno, Cory. Você tem algumas explicações sérias a


dar. — a voz de Meg ressoou do outro lado da porta.

Preparando-me para o impacto, fiz uma oração silenciosa ao meu peixe


antes de cumprimentá-la com um sorriso forçado. — Oi, Meg.

— Ei, Meg? Ah, pode, irmã. — Ela passou por mim, girando em círculos
e quase cheirando o ar do meu apartamento. Estalando os dedos, ela apontou
para a TV. — Uh-hum. Filmes de Kate Hudson.

Quando ela passou por mim em direção à cozinha, eu estava fraca


demais para protestar e me apoiei no batente da porta com os braços
cruzados.

Ela puxou a geladeira aberta. — Você tem sobrevivido com leite vencido
e azeitonas nos últimos dias.

Eu inclinei minha cabeça para o lado, notando quão bonita ela estava
apenas em seu jeans, botas e colete marrom. Eu nunca diria a palavra fofa
para ela, no entanto.
— Seu cabelo está oleoso e suas roupas têm mais rugas do que um
filhote de shar-pei. — Ela levantou meu cabelo sem vida e o deixou cair com
um bufo. — O que aconteceu com Simon?

Eu gemi e passei por ela. Sem se virar, ela alcançou atrás dela, agarrou
minha camisa e me arrastou de volta na frente dela.

— Senta. — Ela apontou para minha espreguiçadeira. Depois que eu


obedeci, ela se sentou na minha frente. — Vamos conversar.

— É difícil explicar. — Eu relaxei até que meu queixo encontrou meu


peito.

— Tenta. — Ela abriu as pernas e se inclinou para frente, descansando


os braços sobre os joelhos. — Você sabe que eu passei pelos sete círculos de
namoro do inferno.

Ela teve. Eu poderia atestar isso.

Sacudi o ar e deixei minha mão cair ao meu lado. Como o Tártaro você
explicou à sua melhor amiga um passado divino que não só ela não sabia que
existia, mas faria você parecer dois mares a menos de um cavalo? — Nós
dois temos coisas que fizemos no passado que não temos certeza se
podemos aceitar.

— Você? O que você fez com ele? Tem esse problema com? Sua única
multa de estacionamento não paga? Passando uma luz amarela?

Ou me sentindo negligenciada há milênios e, em vez de falar com meu


marido, me consumia com a vida aquática?

— Você sabe o quanto eu amo o oceano e os peixes, certo? — Sentei-


me, limpando meu cabelo do meu rosto.

— Tenho uma vaga ideia, sim.


— Em alguns dos meus relacionamentos passados, eu me importava
mais com os mares do que com os humanos, ou seja, com os homens com
quem namorei. — Apertei os olhos, sabendo que as chances eram pequenas
de que ela se alimentasse disso.

Ela juntou os dedos entre os joelhos e olhou para mim.

Droga. Ela não estava comprando.

— E Simon meio que tem o mesmo acordo, quero dizer, ele está
extremamente consumido com sua carreira. — Eu atirei aos meus pés. — Se
fôssemos namorar, não seríamos o número um do outro.

Meg estalou a língua contra sua bochecha, saiu de seu assento e me


puxou de volta para a espreguiçadeira, sentando no braço. — Você se lembra
de Cassandra?

— Sim.

Meg apoiou um joelho no apoio de braço e moveu o olhar para o tapete.


— Você se lembra de como ela teve um problema de jogo no passado?
Estamos conversando, ela ainda estava endividada quando a conheci, tipo de
problema?

Esse relacionamento terminou em desgosto, então eu não tinha certeza


de onde ela estava tentando ir com isso.

— Eu lembro.

— Incomodou-me no início. Realmente me incomodou. A qualquer


momento, ela poderia ter alimentado a tentação, me pedido dinheiro que eu
teria dificuldade em recusar. Havia também o pensamento de: Em que mais
ela poderia ficar viciada? — Meg torceu as mãos no colo.

— Mas ela não o fez. — Eu cutuquei seu quadril com meu ombro. —
Você terminou com ela porque ela não queria se comprometer.
— Esse é exatamente o meu ponto, Cory. — Ela se virou e sorriu para
mim. — Essa relação durou três anos. E foi feliz até que não foi, mas não tinha
nada a ver com o passado dela.

— Você é esperta, Megara. Muito maneira. — Eu sorri para ela.

Ela bateu as mãos nas coxas e se levantou, girando sobre o calcanhar


da bota. — Então. Qual é a moral da história?

— Uh, algo sobre não deixar o passado arruinar as possibilidades de


um futuro? — Eu balancei minha sobrancelha.

Ela piscou uma vez. — Droga. Isso é melhor do que o que eu tinha na
minha cabeça, mas sim.

— Eu entendo o que você está tentando dizer, eu entendo, mas - é mais


complicado do que simplesmente olhar além disso. — Eu me levantei,
imagens do sorriso de Poseidon rodando em meu cérebro. Ele mudou tanto,
mas a ansiedade paralisante que eu senti de todas as vezes que passei
sozinha noite após noite, nem mesmo sabendo para onde ele tinha ido, cavou
em minha pele.

— Realmente não é. — Ela agarrou cada um dos meus ombros,


apertando-os. — Você quer dar uma chance a ele? Uma chance real?

O primeiro ano após nosso casamento arranjado foi o mais feliz. Não nos
cansávamos um do outro — beijar, fazer amor, nadar juntos. Eu queria
aqueles momentos exatos para sempre.

— Sim — Eu respondi, minha voz distorcida.

— Então mande uma mensagem para ele agora. Peça-lhe para vir na
cara dele, convide-o para outro encontro. Se ele estragar tudo, ele estraga
tudo, mas pelo menos você deu uma chance , Cory.
Deslizando meu telefone do meu bolso, eu franzi meus lábios para ela.
— Já te disse ultimamente que te amo?

— Eu acredito que você acabou de fazer. — Ela deu um tapa no meu


ombro.

Abri a janela de texto de Poseidon e fiz uma pausa com o polegar sobre
a tela. — Espere. Esta é tanto a decisão dele quanto a minha. Mesmo se eu
me convencer de que posso lidar com a bagagem dele, quem pode dizer que
ele quer ou pode lidar com a minha?

Meg revirou os olhos e caminhou até meu aquário. — Ele ainda estava
te dando aquele sorriso idiota, mas bonito na noite passada?

— Pode ser. — Agarrei o telefone no peito.

— Algo me diz que ele estará disposto a tentar. — Meg acenou para
um peixe, mas ao contrário de mim, eles só responderam abrindo e fechando
a boca. — Eu não ouço aqueles polegares voando na tela do seu telefone.

Poderíamos ser uma família novamente. Poseidon, Triton, Rhode. Eles


eram crianças quando eu desapareci. Como eles pareciam crescidos? Eles
me reconheceriam?

Bati o telefone na testa, forçando as lágrimas, sabendo que não havia


maneira possível de explicar isso para Meg. Não agora. Mas tanto ela quanto
Poseidon estavam certos. Este poderia ser o destino nos desejando outra
chance. Tinha que haver uma razão para minhas reencarnações contínuas.
Tinha que ser uma razão pela qual inexplicavelmente nos encontramos na
mesma praia exatamente no momento certo.

Comecei a digitar.

Eu: Você pode vir o mais rápido possível?

Simon: Já estou indo.


— Bom. Eu usarei a cabeça, e então estarei fora do seu cabelo antes
que ele chegue aqui. Enquanto Meg caminhava pelo corredor até ao banheiro,
ela deu meia-volta e apontou para mim. — Estou orgulhosa de você.

Minhas malditas palmas se fecharam novamente, e eu olhei para o


tanque de peixes com um suspiro profundo. — Acha que podemos fazer isso,
pessoal?

Suas barbatanas acenaram em uníssono.

— Sempre tão solidário. — Um pequeno sorriso puxou meus lábios.

Ding dong.

Fiquei em pé com os olhos arregalados antes de atravessar a sala e abrir


a porta.

— Ei, Starfish. — Poseidon estava ali em uma camisa branca


abraçando todos os lugares certos de seus braços e peito, jeans desgastados
e aquele cabelo longo e ondulado caindo sobre um olho.

— O que você já está fazendo aqui? — Eu sussurrei, colocando minha


cabeça sobre meu ombro para checar por Meg.

Seus olhos se estreitaram. — Você disse o mais rápido possível. Achei


que deveria fazer a portabilidade. — Ele passou por mim, preguiçosamente
apontando um dedo ao redor do apartamento. — Tem alguém aqui?

Seu tom soou quase ciumento.

— Nem vá lá. — Fiquei na ponta dos pés para cutucá-lo no peito. — É


Meg. Importa-se de me dizer como você vai.

— Você com certeza chegou aqui rápido. — Meg estava no corredor


com as mãos nos quadris.
— Eu estava no posto de gasolina do outro lado da rua quando ela
mandou uma mensagem. Vim direto. — Poseidon se virou para mim e piscou.

— Conveniente. — Meg olhou para nós antes de avançar.

— Eles são, de fato. Postos de gasolina, quero dizer. Poseidon cruzou


as mãos atrás das costas.

Esfreguei a pele entre meus olhos com um suspiro exasperado.

— Certo. Bem, eu vou para que vocês dois possam conversar, mas
primeiro, Cory, pode me emprestar um livro? Tenho serviço de salva-vidas
amanhã. Ela mostrou a língua.

— É claro. Você sabe onde fica minha estante no quarto. Escolha o que
quiser. — Eu dei um sorriso tão caloroso quanto pude. — Só não dobre a
coluna ou então me ajude.

— Eu sei !Eu sei. — Meg ergueu as palmas das mãos em defesa antes
de desaparecer no meu quarto.

— Como você está, Cordelia? Poseidon cruzou os braços como se não


soubesse o que fazer com eles.

Ouvi-lo me chamar de Cordelia em vez de Amphitrite deu quase tantas


bolhas no meu estômago quanto Starfish.

— Melhor. Mente aberta. Você?

— Apologético. Eu pensei nisso. E eu fui um idiota com você.


Sinceramente, não tenho ideia de como pude deixar um emprego me afastar
de alguém como você. — Ele bagunçou seu cabelo, fazendo-o emaranhado
no topo de sua cabeça antes de cair em gavinhas parecidas com algas
marinhas.
— Todas as coisas sobre as quais podemos conversar. Mas não agora.
— Mudei meus olhos para o meu quarto.

— Certo. Depois que ela for embora?

— Eu estava meio que esperando que pudéssemos ir a outro encontro?


— Eu dei de ombros com um braço.

— Você sabe que eu não posso recusar você. — Seus olhos brilharam.
— Tem algum lugar em mente?

— O Bairro? Eles têm pianos de duelo nas noites de quarta-feira e


cervejas. Entre a música alta e o álcool barato, imaginei que estaríamos bem
livres para conversar, mas também ter um encontro de verdade?

Ele riu e abaixou a cabeça. — Inteligente. Eu gosto disso.

A porta se abriu. — Eu finalmente o deixei.

Uma mulher alta e esbelta com ondas de cabelos castanhos escuros até
aos quadris, lábios carnudos, maxilar afiado e olhos pálidos, perfeitamente
amendoados, estava na porta. Seu colar de penas de pavão balançou quando
ela parou, olhando entre Poseidon e eu.

— Hera? — Eu sussurrei.

— Amphitrite? — Ela sussurrou de volta.

— Eu acabei com algo chamado Then a Hero Comes Along ? Presumo


que seja um... Meg parou com o livro no ar, desviando o olhar de nós para
Hera. Sua garganta balançou ao vê-la, os lábios se separando antes que ela
os lambesse e forçasse seus olhos para longe.

— Meg, ei. Sim, essa é uma ótima escolha.

Por favor, Hera, não me chame pelo meu nome divino.


— Ok, mas o que está acontecendo? — Meg usou o livro para apontar
para cada um de nós, evitando contato visual com Hera.

Poseidon passou o braço em volta do ombro de Hera, amassando a


jaqueta de seu terninho listrado preto e branco.

— Minha irmã decidiu fazer uma visita surpresa. Não é mesmo, mana?
— Ele a apertou com um largo sorriso.

A boca de Hera se abriu, sem dizer nada a princípio, olhando para Meg
antes de finalmente deixar escapar: — Isso mesmo.

Meg examinou Hera da cabeça aos pés antes de virar o olhar para mim.
— Você conhece ela?

O buraco ficava cada vez mais fundo a cada mentira que passava.

— Eu o rastreei — disse Hera.

— Meu telefone, ela quer dizer — Acrescentou Poseidon.

— Eu tenho que ir, mas, Cory, está tudo bem aqui? — Meg ergueu as
sobrancelhas para mim, me encarando.

Eu balancei a cabeça enfaticamente. — Absolutamente. Obrigada por


tudo, Meg. Eu te ligo amanhã?

Ela passou por nós, mas Hera se separou de Poseidon, virando-se para
Meg com uma graça que só uma deusa poderia exalar. Ela estendeu a mão
fina, a corrente de ouro pendurada nela captando o brilho do sol espreitando
através das cortinas.

— Eu sou Hera.
Meg endureceu antes de apertar sua mão. — Hera-Hera? Como a
Rainha dos Deuses Gregos? — Uma risada trêmula flutuou da barriga de
Meg.

Ela estava nervosa. Eu nunca a tinha visto nervosa perto de ninguém.

Hera segurou sua mão por mais uma batida antes de traçar o polegar
sobre uma junta e soltá-la. — Isso mesmo. Mas também... uma deusa para a
vida das mulheres. Hera sorriu, brilhante e sensual, revelando seus perfeitos
dentes brancos como a neve.

Uma respiração empurrou do nariz de Meg enquanto ela traçava o local


em sua mão que Hera havia acariciado. — Desculpe. Acho que esqueci muita
mitologia desde o colegial.

— Não precisa se desculpar, minha querida. — Hera deu um passo à


frente, seu salto agulha preto estalando contra o piso de madeira. — Você,
você mesmo... — Ela passou um dedo sobre o lábio inferior com um sorriso
sensual. — São uma deusa.

O peito de Meg arfava, atenuando seu busto sob o colete. — O-


obrigada. Eu realmente preciso ir, mas Hera, foi genuinamente bom conhecê-
la. — Ela sorriu e examinou o rosto de Hera uma última vez antes de sair.

Hera mordeu o dedo, sorrindo enquanto observava Meg sair e fechar a


porta atrás dela. Ela pressionou as costas contra a porta, ainda sorrindo. —
Ela é um tesouro absoluto. Mentalmente. Fisicamente. Quem é ela?

— Meg. A minha melhor amiga.

— Meg. — Hera sussurrou, passando a unha pela clavícula.

— Se importa de explicar o que diabos você está fazendo aqui? — A


voz de Poseidon ressoou.
Hera balançou a cabeça como se despertasse de um devaneio. —
Como eu disse, deixei Zeus.

Poseidon e eu trocamos olhares perplexos.

— Você apenas — Eu agitei meu pulso. — Deixou?

— Pelo menos escrevi um bilhete para ele, se é isso que você quer
dizer. — Hera empurrou a porta e passou por nós, movendo-se para o tanque
de peixes.

— Eu adoraria dizer, Já estava na hora, mas ele deixou? Bem desse


jeito? — Poseidon jogou os braços para os lados.

Hera me olhou. — Zeus não baniu você para as estrelas?

A visão do túnel tomou conta da minha visão, me levando para aquele


momento crucial com Zeus pairando sobre mim, gritando comigo, anunciando
minha punição. Eu não apenas relaxei em meus deveres, mas ignorei ambos
os avisos que Zeus me deu antes de finalmente traçar a linha. Como pude ser
tão tola? O Rei dos Deuses me deu chances, e eu não as aproveitei.

Fechando meus olhos para afastar a memória, dei um breve aceno de


cabeça. — Sim. E agora estou de volta — Cruzei meus braços em um
acesso de raiva. — E não sei como, mas não vamos mudar de assunto do
fato de que você deixou o Rei dos Deuses sem Rainha?

Hera se inclinou para frente, acenando com um dedo para meu peixe,
que o seguiu para frente e para trás. — Não é mais problema meu. Tenho
certeza que ele não terá problemas para encontrar outra. O homem pode ser
bastante convincente, como todos sabemos.

— Você estava disposta a desistir do trono? Uma parte do seu poder?


— Poseidon sentou-se no braço da minha espreguiçadeira.
Hera suspirou e se endireitou, de frente para nós. — Vocês dois sabem
que fomos um casamento arranjado...

— Nós também — Interrompi com uma carranca.

Hera ergueu a mão para mim. — Mas, ao contrário de vocês dois, nós
nunca nos amamos. Nós tentamos. Mas, no final, levamos vidas diferentes,
tivemos inúmeros amantes e cumprimos nossos deveres.

Espiei Poseidon por cima do ombro. Ele estava olhando para o meu
cabelo e me deu um de seus sorrisos mais calorosos – como raios de luz
pulsando sob a superfície da água.

Nós nos amávamos. Então, como nos afastamos tanto?

— Você perguntou se eu estava disposta a desistir da minha coroa e


parte do meu poder? A resposta é sim. Prefiro ser completamente impotente
do que não ser amada. Estou cansada disso. Eu quero algo real. — Hera
arrastou um dedo sob o queixo.

— Uau. — Eu descansei uma mão tranquilizadora em seu antebraço.


— Eu apoio totalmente. Mas Zeus não vai ter uma reação estranha sobre isso,
vai? Lembro-me de como ele aguentou bem a última vez que você o traiu.

— Não é assim desta vez. Eu disse a ele que estava acontecendo, ele
me chamou de besteira como sempre fazia, mas desta vez, eu realmente fiz
isso. — Ela deu um tapinha na minha mão. — Já se passaram três dias. Eu
tenho me escondido, e ele não tentou me impedir. Acredite no que todos
quiserem, mas ele e eu mudamos desde que nos conhecemos. Acho que nós
dois seríamos mais felizes com outras pessoas. Eu só espero que ele não seja
tão teimoso para não simplesmente se contentar com a primeira mortal bonita
que pisca para ele, mas realmente encontra alguém adequado para ele.

— Ele mudou. Mas eu mentiria se dissesse que ele ainda não era
teimoso. Poseidon bufou.
— Além disso, posso finalmente ser a deusa das mulheres e do
casamento sozinha. Tornou-se cansativo ser conhecida apenas pela deusa
casada com Zeus e as pessoas pensando que eu repetidamente o deixei
brincar comigo. Ela rolou os ombros para trás. — É hora de eu fazer um nome
para mim .

Fazia tanto tempo desde que eu tinha visto minha cunhada. Como
rainhas de irmãos reais, sempre nos demos bem, desabafamos uma com a
outra.

Levantei-me na ponta dos pés para abraçá-la. — Isso é incrível.

Ela retribuiu o abraço. — Estou feliz que você está de volta.

— Você precisa de um lugar para dizer? — Eu me afastei, enxugando


as lágrimas que se acumulavam em meus cílios.

— Eu ainda tenho a maior parte do meu poder, Amphitrite. — Ela sorriu


e bateu o dedo no meu ombro. — Mas você... — Seus lábios se inclinaram
para baixo. — Não? Você é mortal. Não entendo.

— Em todas as suas vidas, ela foi uma mortal. Ela tem que aceitar a
realeza novamente com a aprovação de Zeus. — Poseidon deu um tapinha
no topo de suas coxas. — Se ela quiser.

Olhei para ele do outro lado da sala. As memórias que compartilhamos,


boas e ruins, fizeram meu coração inchar como um maremoto. Seríamos tolos
em não explorá-lo. Não só tínhamos sido uma forte aliança em amor e poder,
mas éramos uma força imparável protegendo os oceanos – defendendo a
Atlântida. E agora criaturas das profundezas da Atlântida ameaçavam.

— Ah. — Hera disse, lentamente indo até a porta. — Parece que


vocês dois têm muito o que conversar. Eu compartilhei minhas notícias, então
estarei a caminho, mas Amphitrite...

Eu me virei para olhar para ela com as sobrancelhas levantadas.


— Você se importaria de me contar um pouco mais sobre Meg em
algum momento? Gostaria de saber mais sobre ela.

— Se você gosta dela, então por que não perguntar a ela?

Hera pressionou a mão no peito. — Eu não - quero dizer, como isso


funcionaria?

Me fez cócegas sem fim ver minha irmã e minha melhor amiga
mostrarem vulnerabilidade ao pensarem uma na outra.

— Por que não? — Poseidon acrescentou, pegando meu olhar.

Hera sorriu, mastigando a unha do polegar. — Vou pensar sobre isso.


Vocês dois se maquiam e fazem uma visita ao meu ex-marido. Com um
movimento de seu braço ao redor de si mesma, ela desapareceu em
redemoinhos de névoa roxa escura.

— Bem, este foi um dia agitado. — Poseidon riu enquanto deslizava da


espreguiçadeira, atravessando a sala para ficar na minha frente.

— Ainda não consigo acreditar que Hera não é mais Rainha. Já faz
eras.

— Eu sei. E estou insanamente curioso para ver como meu irmãozinho


lida com isso. Vinte dólares dizem que ele a exige de volta depois do quinto
dia.

Meu peixe dançou em círculos pela água, me fazendo sorrir. — Sem


acordo.

— Sério?

— Se meu retorno provou alguma coisa para mim, é que vivemos em


um universo totalmente diferente do que antes. E aqui... tudo é possível. Eu me
virei para ele, correndo minhas mãos pelo seu antebraço musculoso. — Até
Zeus ouvindo outra coisa além de seu pau.

Poseidon latiu de tanto rir, colocando a mão em concha sobre a boca. —


Acho que nunca ouvi você dizer pau antes, Amph.

— Todos nós mudamos . —

— Espere um minuto. Você disse que quartas-feiras são duelos de


pianos. Isso é hoje. — Ele apontou para o chão com uma sobrancelha
arqueada.

— Sim. Eu quero ir hoje à noite. Já faz muito tempo, Seid. Hora de


limpar o ar. Esta noite .
Eu coloquei meu vestidinho branco com mangas curtas para usar no The
Quarter com Poseidon. Ele me pegou em sua caminhonete Chevy Silverado
azul marinho, segurando a porta aberta para mim tanto dentro como fora, e
mais uma vez quando entramos no bar.

— Você está apostando no charme esta noite, Simon. Esperando ter


sorte? — Eu lhe dei uma cotovelada na lateral.

Ele deslizou a mão sobre a parte inferior das minhas costas, fazendo
uma respiração presa na minha garganta. — Gostaria de pensar que já o fiz,
mas estaria mentindo se o pensamento de você debaixo de mim novamente
me atrai. — Sua barba roçou minha nuca enquanto ele sussurrava em meu
ouvido.

Eu também estaria mentindo se dissesse que o pensamento não


acendeu todos os nervos possíveis do meu corpo.

A visão da costa ao longe me fez congelar. Uma pálida miragem de


meus filhos brincando na maré cintilou em minha mente, minha filha mal tinha
idade suficiente para andar, seu irmão mais velho ajudando-a sempre que ela
caía de bunda. Um gemido flutuou da minha garganta.

— Cory? — A mão de Poseidon pressionou entre minhas omoplatas,


massageando meus músculos.

Fungando, dei-lhe um sorriso caloroso e apertei seu braço. — Estou


bem. Vamos entrar, hein?
Ao passarmos pela porta, os sons altos de dois pianos tocando,
acompanhados por homens cantando e a multidão murmurando, pulsavam em
meus ouvidos.

— Você quer uma bebida? — Poseidon apontou para a barra que se


estendia pelo comprimento da sala, exceto para a pista de dança no canto.

— Absolutamente. — Enfiei minha mão na dele, deixando-o me guiar


pela multidão de pessoas perto do palco, outras apoiadas em mesas altas com
copos de plástico de cores variadas cheios de cerveja aguada.

A decoração do Bairro dava a sensação de voltar no tempo, luzes em


forma de cúpula de vitrais, padrões ornamentados esculpidos no teto de
madeira, anúncios emoldurados por volta de mil e oitocentos. Até o próprio bar
tinha acessórios de latão antiquados para as torneiras de cerveja.

— Aqui vamos nós. Eu acredito que alguém mencionou cerveja barata.


— Poseidon sorriu, fazendo seu bíceps espreitar da camisa azul-marinho com
decote em V que ele usava quando ele entregou um copo de plástico azul com
uma alça para mim. — Eles tinham um monte de cores, mas eu peguei azul
para nós dois.

— Obrigada. — Sorri, pegando o copo com as duas mãos.

Todas as mesas estavam ocupadas, então encontramos um lugar vago


perto de um poste para nos apoiarmos, assistindo ao show. Dois pianos
brancos se enfrentaram enquanto dois homens cantavam The Joker da Steve
Miller Band. Cada piano tinha uma jarra de vidro cheia de dinheiro e cartões
de pedido em cada mesa. O braço corpulento de Poseidon me envolveu por
trás, me puxando contra ele. Ele deixou sua mão descansar no meu quadril.

— Eu realmente sinto muito por negligenciar você — Sua voz baixa


retumbou no meu ouvido.
Eu balancei a cabeça, arrastando meus dedos sobre o masculino
espalhamento de cabelo em seu braço. — Eu sou a única que deveria estar
arrependida. Eu deveria ter vindo até você. Discutir as coisas. Em vez disso...

Ele tirou minhas palavras pressionando um beijo na minha têmpora e me


agarrando com mais força.

— Papai Poseidon. — Eu sorri. — Eu nunca esquecerei o olhar


hipnotizante em seu rosto quando Triton nasceu. Ou a maneira como você
segurava a pequena Rhode como se ela fosse murchar em seus braços. Você
parecia um Titã segurando uma estátua de vidro.

Toda vez que eu falava sobre Rhode, ele arrancava outro pedaço do
meu coração. Mas eu sabia que havia pouco que eu pudesse fazer em minha
forma mortal. Se eu quisesse alguma esperança de ajudar a encontrar minha
filha, eu sabia o que teria que fazer.

— Você se lembra de ensinar Triton a nadar? — Ele descansou o


queixo no meu ombro.

Eu ri, fazendo uma mecha de cabelo cair sobre o meu olhar. — Como
eu poderia esquecer? Ele queria usar todo o seu poder antes de aprender a
nadar normalmente e quase matou uma orca.

Era uma das últimas lembranças que eu tinha do meu filho, anos tímido
de ser uma versão piedosa de um adolescente. E Rhode tinha metade de sua
idade.

Poseidon enrolou o cabelo solto sobre minha orelha e beijou a ponta


dele.

— Obrigada.

— Achei que suas mãos estavam amarradas e você queria ver o show.
— Ele deu de ombros, gesticulando em direção ao palco com sua xícara.
— Não para o cabelo.

— E então, Amph? Ele baixou a voz ao dizer meu nome, pressionando a


ponta do nariz contra o lado da minha cabeça.

— Por criá-los. Eu realmente gostaria de tê-los visto crescer.


Amadurecer em deuses. — Eu funguei de volta as lágrimas.

— Você não tem que me agradecer por isso. Com toda a honestidade,
isso me deixou mais envolvido em suas vidas do que eu poderia estar de outra
forma.

Ele virou minha cabeça para olhar para ele. — E não pense que eles
não ficarão em êxtase ao ver você. Ambos.

Veja-os novamente — meus filhos. Uma família que eu não me lembrava


de ter até poucos dias atrás. O pensamento me excitou tanto quanto me
aterrorizou.

Um grupo de mulheres em uma mesa próxima ficou boquiaberta, deu


risadinhas e sussurrou sobre o homem parado atrás de mim. Poseidon não
pareceu notar a atenção, mas eu notei. Uma mulher mordeu o lábio inferior,
lambendo preguiçosamente o canto da boca e se levantando como se
estivesse vindo para atacá-lo.

Eu queria beijá-lo, para mostrar tudo que ele era meu. Meu rei. O pai dos
meus filhos. Meu.

— Puta merda. Quando é que voltaste? — Um homem deslizou na


nossa frente, bloqueando o caminho da mulher. Seus longos cabelos escuros
e ondulados com mechas loiras passavam pela clavícula.

Dionysos.

— Você me esperava de volta? — Eu levantei uma sobrancelha.


Seus olhos escuros semicerraram-se para mim enquanto seus lábios se
curvavam em um sorriso travesso. — Nada, e eu não digo nada, Pops
cozinha é sempre final. — Ele piscou antes de dar um tapa no ombro de
Poseidon. — Olhe para você balançando seu verdadeiro eu. Eu tenho que
dizer, cara, a barba está onde está. — Dionysos passou a mão sobre sua
própria barba escura.

Poseidon se moveu atrás de mim, sua virilha pressionando contra minha


bunda antes de desaparecer novamente. — Não como se eu tivesse que
perguntar, mas o que você está fazendo aqui, Dion?

— O Bairro em uma noite de quarta-feira? Devassidão e delícias para


serem desfrutadas todas as semanas aqui. — Ele jogou os braços para os
lados, fazendo um giro completo. — A melhor pergunta é: o que vocês dois
estão fazendo aqui? — Ainda sorrindo, ele estreitou os olhos para nós e
lentamente apontou de um de nós para o outro.

— Eu não me lembrava de quem eu era até recentemente. Estamos...


resolvendo as coisas.

Poseidon me deu um aperto reconfortante.

— Porra. Você não se lembrava ? Isso é pesado. — Dion coçou o


queixo com a ponta do polegar.

— E ela é mortal — Acrescentou Poseidon.

Dion franziu as sobrancelhas. — Dupla foda.

— Mas eu me lembro de tudo agora. Mesmo quando eu estava nas


estrelas.

— As estrelas. Que merda foi essa? — Dion tomou um gole de sua


garrafa de cerveja.
Um calafrio percorreu minha espinha enquanto eu conjurava aqueles
momentos presos no espaço e no tempo.

— Você está ciente, mas o mais relaxado que você já sentiu em toda a
sua vida. Conteúdo ainda – distante. — Meu aperto aumentou no meu copo,
fazendo o plástico ranger.

Poseidon esfregou minha parte inferior das costas.

Dion bateu o dedo contra os lábios antes de levantar a xícara,


gesticulando para Poseidon. — Yamás.

Poseidon olhou para ele antes de bater sua xícara contra a de Dion. —
Yamás — A que estamos brindando?

— Sua taça agora está encantada para transformar qualquer líquido em


vinho de ambrosia. Como vocês dois podem soltar e arejar a roupa suja se
apenas um pode ficar bêbado, hein?

Poseidon olhou para sua xícara e a cheirou. — Sim. Vinho de ambrosia.

— Como ficar bêbada vai resolver alguma coisa? — Eu perguntei.

— Vocês dois têm um passado perverso. Confie em mim. Você ficaria


surpresa com o que um pequeno escudo abaixando fará pela alma. —
Pressionando a mão no peito, Dion fez uma reverência simulada. — Agora, se
você me dá licença, eu tenho uma ruiva para mostrar como se divertir. — Ele
se virou.

— Ei, Dion. Seus chifres estão aparecendo. — Poseidon apontou para


sua cabeça.

Dion congelou e sentiu cada lado de sua testa antes de olhar para o
deus do mar e apontar. — Tentando puxar um rápido em mim, não é?
— Funcionou. — Poseidon riu, fazendo o estrondo de seu peito vibrar
nas minhas costas.

— Vocês duas crianças se divirtam. — Dion passou por nós e acenou


com o braço acima da cabeça. — Chels, aqui.

Ficamos em silêncio por vários momentos antes de Poseidon limpar a


garganta. — Nós não temos que beber.

— Eu não costumo dizer isso, mas acho que Dion está certo desta vez.
Talvez isso nos ajude a relaxar e nos traga de volta ao nosso antigo eu. —
Segurei a xícara no ar para brindar.

— Exceto pelas partes negligenciadas, ignorando e se recusando a falar


— Acrescentou Poseidon, levantando sua bebida.

— Exceto aqueles.

Batemos nossas xícaras e, em uníssono, pronunciamos — Yamás.

Uma hora depois…

Minhas bochechas aqueceram, e minha cabeça ficou confusa o


suficiente para me fazer rir. — Você ainda tem aquele golfinho de estimação?

Poseidon estava sentado no banco ao meu lado, sorvendo seu quinto


vinho de ambrosia. — Delphinus? — Ele bufou. — Ele nunca foi meu animal
de estimação. Eu o criei especificamente porque sabia que você não poderia
resistir a esse rosto.

Apertei suas bochechas com uma mão. — Eu resisti ao seu.


— Você acabou cedendo. —Ele sorriu e fingiu morder um dos meus
dedos.

Acariciei o cabelo em seu queixo. — Eu deveria ter agradecido


Delphinus quando eu estava lá em cima.

— Como se ele pudesse ter passado por lá. — Poseidon riu enquanto
massageava meu quadril.

Fazendo um beicinho exagerado, acrescentei: — Estou falando sério.

— Agradecer a ele por quê, Starfish?

— Eu sempre pensei que quando ele me disse que me casar com você
traria paz e harmonia aos mares era simplesmente uma manobra, mas agora...
— Eu tranquei o olhar com ele. — Sei que ele disse a verdade.

— Hum. Você tem razão. Eu deveria ter agradecido mais a ele também.
— Poseidon sorriu com um brilho travesso em seus olhos. — Eu sei que você
disse que começou a jogar videogame para escapar, mas para ser honesto,
ainda me surpreende muito.

— Por que é tão surpreendente? — Eu puxei sua barba.

Ele estreitou os olhos para mim, brincando me cutucando nas costelas,


me fazendo latir. — Eu sei que você não é a mesma mulher com quem me
casei, mas nunca soube que você gosta de jogos de qualquer variedade.

Deixando escapar um suspiro, descansei minha cabeça em seu ombro,


observando os pianistas duelando. — E esta é a parte em que preciso lembrá-
lo de sua ausência contínua no passado.

— Merda. — Poseidon resmungou, ajustando-se no banco, me fazendo


pular.
Levantando minha cabeça, eu joguei meu cabelo para ele e cutuquei
entre seus peitorais.

Então. Muito. Músculo.

— Uh-uh. Você fez esta cama e agora vai ouvi-la. Olhei para o céu. —
Ou algo assim.

Ele riu, batendo os dedos contra o lado da minha bunda. — Vamos


ouvir isso.

— Quando as crianças eram pequenas, eu inventava todo tipo de jogos


para mantê-las entretidas. Quebra-cabeças de conchas, pegue o cavalo-
marinho, adivinhe o peixe. Mas um que eles gostaram particularmente... Minha
testa franziu, só agora me lembrando do que eu chamei de jogo. — era Heróis
da Atlântida.

— O quê? — Poseidon bateu com o dedo no meu queixo. — Você


chamou assim?

Eu balancei a cabeça, olhando distraidamente para sua clavícula. — Eu


conjurei armas de brinquedo para eles e monstros de água, e lutaríamos pela
Atlântida. Rindo, eu pressionei a mão no meu peito. — Geralmente, eles
acabavam brigando entre si, mas essas são algumas das minhas melhores
lembranças com eles.

— Olimpo, Amph. Eu sou um idiota. — Poseidon fez um som de clique


com os dentes, seu olhar caindo para minha mão descansando em seu ombro.

— Eu não teria chamado você de idiota completo, Seid. Mais como - um


trabalho em andamento. E um que eu amei.

Ele apertou minha coxa. — Eu daria tudo para ter um daqueles


momentos com as crianças e você.
— Sou adulta e ainda jogo. Quem pode dizer que eles não param
também? — Beijei a ponta de seu nariz.

— Você, Sea jewel, é outra coisa. — Sua mão arrastou sobre minha
parte inferior das costas.

Minha pele queimava por ele, mas meu cérebro continuava me dizendo
para esperar – Vá devagar.

Golpeando-o no ombro de brincadeira, deslizei do meu banco. — Volto


logo. Eu tenho que usar o banheiro

— Quer que eu te acompanhe? — Poseidon virou em seu banco,


entrelaçando as mãos entre as pernas.

— Acho que posso lidar com isso, Big Guy, mas obrigada. — Dei-lhe
um sorriso por cima do ombro antes de subir as escadas.

A linha estava na porta do banheiro ao longo de uma grade que dava


para o chão do bar. Poseidon permaneceu em seu banco e sorriu para si
mesmo, batendo as pontas dos dedos contra as coxas.

O que você pensa sobre?

Um sorriso puxou meus lábios e desapareceu quando um grupo de


mulheres se aproximou dele.

Uma garota deixa seu cara sozinho por trinta segundos, e as mulheres
tubarões circulam para matar.

Poseidon acenou com as mãos antes de apontar para cima, dizendo


algo para eles que eu não consegui entender. Ele pegou dois guardanapos e
rabiscou sua assinatura antes de entregá-los às mulheres. Uma fez beicinho,
outra deu de ombros, e a terceira não parou de sorrir tanto que fez seus olhos
formarem fendas. Assim que eles saíram, Poseidon olhou para cima, me
avistando e acenando.
Eu balancei meus dedos para ele, sentindo minhas bochechas ficarem
rosadas. Depois de esperar mais dez minutos, forçando-me a apertar os
joelhos e rebolar como um pinguim que eu tive que ir tão mal, eu finalmente
consegui fazer o meu negócio e voltar para o meu deus do mar que esperava.

— Aí está você. Eu estava começando a pensar que você caiu.


Poseidon bufou, virando as costas para o bar e apoiando os cotovelos nele.

— Uau. Você até faz piadas de papai agora. — Sorrindo, puxei a


bainha de sua camisa.

— A próxima música é uma dedicação solicitada a uma senhora


excepcional chamada Cordelia — Anunciou um dos pianistas.

Virei minha atenção para Poseidon, que colocou um dedo sobre os


lábios em um gesto de shoosh. Assim que as primeiras notas tocaram,
lágrimas encheram meus olhos e meu peito apertou.

Além do mar.

— Como você poderia saber que essa é minha música favorita? —


Apoiei-me em um de seus joelhos, sentando em seu colo e enrolando meus
braços atrás de seu pescoço.

Ele deslizou um braço em volta de mim. — Eu ouvi você cantarolar. Não


poderia pensar em uma música mais adequada.

Enquanto os pianistas cantavam, fechei os olhos, balançando ao som da


melodia suave.

— Além das estrelas. Além da lua. O mar realmente nos uniu, Starfish.
— Sua palma quente pressionou contra minha bochecha, fazendo-me abrir os
olhos.

— E isso nunca vai nos separar novamente. — Pressionando minhas


mãos em cada lado de seu rosto, deslizei meus lábios sobre os dele.
O beijo acendeu memórias intermináveis queimando em minha mente,
mas a que mais se destacou foi a primeira vez que nos beijamos - realmente
nos beijamos. Nosso casamento não tinha contado. Foi o momento em que
Poseidon passeou na praia comigo, nadou comigo - fez o dia inteiro totalmente
sobre mim sozinha. No momento em que percebemos que nosso casamento
havia se tornado algo inesperado – um amor um pelo outro.

Ele me puxou mais apertado contra ele, serpenteando sua mão livre pelo
meu cabelo, massageando meu couro cabeludo. O beijo começou sutil e
doce, mas agora se tornou carnal e voraz. Vibrações explodiram em meu
estômago, minha pele, meu corpo, lembrando dele, desejando por ele
novamente. Eu me afastei, pressionando minha testa contra a dele. Seus olhos
verdes olhavam preguiçosamente para mim, sua língua contornando seu lábio
inferior.

— Nade comigo, Seid. — eu sussurrei.

Ele traçou minha mandíbula com um único dedo. — É quase meia-noite.

— Acho que me lembro da meia-noite como sendo a hora perfeita para


nadar. — Eu penteei meus dedos através de suas ondas loiras acinzentadas.
— E o oceano não tem escolha a não ser se comportar como achar melhor.

Seus dedos percorreram minha espinha, sua mão envolvendo a parte de


trás do meu pescoço. — Você quer que eu te dê barbatanas?

— Eu ficaria desapontado se você não o fizesse.

— Então o que estamos esperando?

Mordendo meu lábio, eu pulei de seu colo. Ele colocou dinheiro no


balcão do bar para cobrir nossa conta e, quando os pianistas encerraram o
Beyond the Sea , serviu como música de saída enquanto saíamos pela porta
de mãos dadas. Assim que dobramos a esquina para um beco deserto,
Poseidon nos levou para a praia.
O luar brilhante ricocheteou sobre as ondas batendo contra a areia. Sem
cuidado, pensamento ou preocupação, deslizei o vestido pela cabeça e abri a
mão, deixando-a cair. De pé apenas com meu sutiã e calcinha, levantei uma
sobrancelha para a expressão atordoada de Poseidon.

— Não é o que você lembra, Seid? — Cruzei os braços sobre o


estômago.

Seus dedos calejados seguraram gentilmente meus braços, e ele os


separou lentamente, olhando para minha barriga bronzeada nua com um calor
crescendo em seu olhar. — Não. Você é exatamente como eu me lembro,
Amph. Eu tinha esquecido o quanto senti sua falta. — Sua garganta balançou
quando ele deixou seus olhos vagarem.

— Eu também senti sua falta, Seid. — Dei um passo à frente, jogando


meus dedos sobre seus braços. — Agora, tire sua camisa.

Ele sorriu – confuso e satisfeito. — Eu gosto desse novo lado


comandante em você. — Ele estendeu a mão por cima de um ombro,
juntando o tecido em sua mão grande antes de puxá-lo sobre sua cabeça e
jogá-lo na mesma pilha que meu vestido.

Pura. Bronzeada. Perfeição masculina.

Fosse o álcool alimentando minha ousadia ou a memória de como eu


estava atraída por ele quando estávamos juntos, por qualquer motivo, eu
tracei minhas mãos sobre seus braços musculosos e esculpidos, os cumes de
cada músculo abdominal.

— Eu amo quando você faz isso. — ele disse através de um gemido.


Andando atrás dele, arrastei um dedo sobre sua pele. — Toque-me como se
eu fosse Poseidon o homem, não o rei dos mares.
Fiz uma pausa em suas palavras, piscando um sorriso caloroso para ele.
Uma tatuagem de tridente preto começou entre suas omoplatas, seu punho
percorrendo o comprimento de sua coluna. — Essa é nova.

— Oh sim. Eu não poderia ser o único irmão sem tatuagens. E fiz


questão de superar os dois. — Ele piscou para mim por cima do ombro,
estendendo a mão para mim.

— Claro que você fez. — Quando deslizei minha palma contra a dele, a
lua iluminou ao nosso toque.

— Esta pronta? — Poseidon empurrou o queixo em direção ao oceano


que o aguardava.

— Mais do que nunca — Eu sussurrei, desejando a sensação de sal e


seda contra minha pele.

Caminhamos até a beira da água e não desviamos o olhar um do outro


enquanto a água nos envolvia a cada passo dado. Quando a água atingiu meu
peito, soltei sua mão e mergulhei, dando boas-vindas às escamas que eu tinha
ordenado que aparecessem novamente. Eles brilhavam antes, mas agora
brilhavam com um brilho proveniente dos raios da lua e minha própria
aceitação gradual.

Poseidon se juntou a mim, sorrindo enquanto seu cabelo flutuava em


mechas atrás dele. Ele tocou meu quadril, transformando minhas pernas em
um rabo de sereia azul-petróleo. Na minha vida passada como uma deusa do
mar, eu costumava me dar um rabo para nadar ao lado dos golfinhos, para
manter o ritmo deles. Havia algo especialmente tentador sobre ele me
presentear .

Arrastando meus braços pela água, bati minhas barbatanas, girando


várias vezes em um círculo completo, levantando bolhas. Poseidon riu antes
de envolver um único braço em volta da minha barriga nua, girando comigo,
amassando o meio das minhas costas com seus dedos fortes.
— Eu vou correr com você. — Eu balancei meu rabo para ele.

Seu sorriso se espalhou. — Uma semi-deusa mortal com uma cauda


contra o Rei dos Mares? Isso é quase justo.

— Você está ligado, KingofFish69. — Eu bati minha cauda novamente,


enviando uma onda de choque através da água para ele.

Isso o empurrou para trás, e ele apertou os músculos para parar,


levantando uma sobrancelha para mim. — Você nunca vai esquecer isso, não
é?

— Provavelmente não. Três, dois, um. — Eu rapidamente contei antes


de correr pela água, meus braços presos ao meu lado, e deixando a cauda
fazer sua mágica.

Não demorou muito para que Poseidon o alcançasse. Ele nadou de


costas embaixo de mim, as mãos entrelaçadas atrás da cabeça, um sorriso
presunçoso nos lábios.

— Ei. — Ele acenou para mim.

Eu olhei para ele antes de virar para a direita, chutando o rabo em


overdrive.

Ele apareceu ao meu lado, seus braços musculosos cortando a água


como se estivessem afastando as nuvens. Com os braços em volta de mim,
ele me agarrou. Em uma gargalhada e uma luta fingida de minha parte, ele nos
catapultou para uma gruta. Nós pousamos no fundo do mar, ele em cima de
mim, montado em mim, seus braços me prendendo em cada lado da minha
cabeça. Eu balancei meu rabo entre suas pernas e brilhei para ele.

— Senti sua falta, Amph. Realmente senti sua falta.

Deslizei a mão sobre um de seus antebraços. — Eu também.


— Bem, bem. Deve ser meu dia de sorte. — Avoz de uma mulher ecoou
na pedra que nos cercava.

O rosto de Poseidon se transformou em um predador - frio e raivoso. Ele


ficou de pé, fazendo seu tridente dourado aparecer em suas mãos.

Vários tentáculos escuros enrolados como um polvo emergiram das


sombras, seguidos por seis membros com cabeças de dragão no final de cada
um. Preso aos tentáculos estava o torso de uma mulher de topless, seus
longos cabelos negros protegendo seus seios quando roçavam sobre eles.

— Skylla. — Eu engasguei, empurrando o fundo do mar e flutuando


perto de Poseidon.

— Imagine minha surpresa quando a notícia nas ondas foi que Cordelia
Bourne era mais do que um pequeno mortal. Amphitrite. Rainha dos Mares. —
Os olhos vermelho-sangue de Skylla brilharam, suas unhas pontudas batendo
juntas enquanto ela acariciava uma das cabeças de dragão. — Você de
alguma forma evitou minha ira.

Poseidon me conduziu atrás dele com um braço. — Eu observaria seu


tom, bruxa do mar.

— Ah sim. Você não sabe. Sua adorável ex-deusa é a razão pela qual
eu sou uma bruxa, como você me descreve tão graciosamente.

Foi um acidente. Eu nunca quis que ela se transformasse nisso.

— Para que tártaro você está latindo? — Poseidon bateu o punho do


tridente contra o chão de pedra.

— Eu tenho a chance de ser algo nestes mares com apenas um deus


do mar para enfrentar. E agora que eu sei que a Rainha está de volta? Vou
acabar com ela enquanto ela estiver vulnerável antes que ela decida fazer algo
estúpido.
Skylla soltou um uivo como um canino antes que as cabeças do dragão
estalassem em nossa direção. Poseidon virou-se para mim com um grunhido
e nos envolveu em uma cúpula de água. Nós caímos no chão do meu
apartamento, meus cotovelos batendo contra a madeira. Meus pés deslizaram
enquanto eu me levantava, a cauda de sereia uma memória distante.

— Eu não sei se posso fazer isso — Eu gaguejei, enxugando a água


acumulada em minhas sobrancelhas.

Flashes de guerra em terra, na água – espadas se chocando, pessoas


gritando em agonia – tudo isso atingiu minha mente, me fazendo cair no chão.

— Amphitrite, o que há de errado? — Poseidon estava ao meu lado,


mas as lembranças esporádicas continuaram.

Cada memória, cada vida conduzida, queimando meu cérebro com


flashes brilhantes de branco no meio. Agarrei minha cabeça, gritando,
tentando fazê-la parar.

Pare. Pare. Pare.

— Amphitrite. — Poseidon rugiu, balançando meus ombros.

As memórias desapareceram, e eu pisquei meus olhos abertos, olhando


para Poseidon. Sua mandíbula apertou, e ele esfregou meus braços. Algo
molhado se acumulou no meu lábio inferior, e eu o toquei – quente e vermelho.
Sangue. Meu sangue.

— Maldito Olimpo. — Ele me segurou firme, e eu estava feliz por isso.


Caso contrário, eu poderia ter caído no chão em uma pilha. — Você está
bem?

A pergunta me confundiu. Eu assenti. — Eu vivi tanto tempo como uma


mortal, Seid. Através de tantas vidas. Lutando contra criaturas marinhas –
batalhando de verdade – lidando com os outros deuses, o Olimpo, a política e
os procedimentos, e eu... Meu peito arfava, e eu olhava horrorizada para as
poças recolhidas no chão do meu apartamento alugado.

Foram necessárias várias tentativas para se levantar antes que Poseidon


cedesse, deixando suas mãos caírem com um suspiro. Correndo para o
armário de roupa de cama, voltei com todas as toalhas que possuía, deixando-
as cair no chão e rapidamente enxugando o que pude.

— Amphitrite. — Poseidon acenou, sua forma seminua movendo-se


para ficar ao meu lado.

Ignorando-o e as lágrimas brotando dos meus olhos, continuei a secar o


chão.

— Cordelia. — Ele agarrou meu braço, me parando.

Olhei para ele, enfraquecida segurando uma toalha encharcada em


minhas mãos.

— Se você decidiu pegar o título de volta, ninguém está dizendo que


você precisaria lutar contra criaturas marinhas… a menos que você queira.

Choramingando, joguei a toalha no chão e me afastei dele. — É tão


confuso. Em um momento, eu quero tudo de volta. Você. Os mares. Nossa
família. Reino. Mas então eu me lembro de como me tornei resolvida em levar
uma vida semi-normal.

— Eu não posso simpatizar. Mas estou com inveja de você ter


experimentado a beleza que é a mortalidade. — Ele passou a mão sobre o
peito, livrando-o das gotas de água.

— Preciso descansar um pouco.

Seu jeans grudado em suas pernas, fazendo uma poça se acumular em


seus pés. Correndo para pegar outra toalha, bati em seus pés até que ele os
levantasse. — Deixe-me ficar aqui, Amph. Posso dormir no sofá.
— Ficar? Aqui? Oh, eu não sei... —Eu parei, segurando uma toalha
molhada sob o meu queixo.

— Skylla ameaçou você. E até você trabalhar com essas memórias, é


melhor se eu estiver aqui para tirá-lo delas. Seu nariz sangrou desta vez.
Amph.

— O que Skylla fará? Subir o prédio de apartamentos com seus


tentáculos à vista?

Ele descansou as mãos em meus ombros. — Se ela sabe, outros


também podem. Você sabe tão bem quanto eu que há muito mais deuses
malvados do que não. A chance de derrotar uma rainha antes que ela seja
rainha novamente? Ele franziu a testa.

— Isso é o que estou dizendo. Eu nem pensei nisso. Eu não precisei .

— Deixe-me ficar.

Engoli em seco, olhando para ele enquanto seus dedos roçavam minha
pele.

— Tudo bem. Mas nós dois somos adultos aqui. Apenas durma na
cama comigo.

— Tem certeza? — Ele limpou a garganta e esfregou a parte de trás de


sua cabeça.

— Posso confiar em você?

Ele franziu a testa. — Sim.

— Então vá para a cama, Seid.


Depois de secar nossos cabelos e roupas, cada um de nós ficou em
lados opostos da minha cama. Virei as costas para ele, apertando meus
joelhos juntos quando senti a cama cair de seu corpo pesado.

— Eu tinha uma pergunta antes de irmos dormir — Sua voz retumbou


ao meu lado.

Virei-me de lado, descansando minha cabeça na minha mão. — Sim?

— Skylla disse que você é a razão de ela ser o que é. Isso é verdade?
— Ele deslizou uma mão atrás da cabeça, fazendo seu bíceps se contorcer
antes de se virar para olhar para mim.

— Foi um acidente.

Não havia como esconder o olhar surpreso em seu rosto. Ele se virou de
lado para me encarar. — Se importa em dar a versão rápida?

— É bobagem, mas – Eu pensei que você estava tendo um caso com


ela. Quando ela, você sabe, era apenas uma ninfa?

— Eu era muitas coisas, mas um trapaceiro não era um deles.

Eu acariciei seu braço. — Eu sei! Eu sei. Mas eu estava tão chateada


que você nunca estava por perto, e eu não sabia onde você estava. Rumores
voaram. Eu realmente acreditei neles e fiquei com ciúmes. — Minhas
bochechas bateram quando eu soltei uma respiração.

— Está bem. — Ele acariciou minha bochecha com o polegar.

— Não está bem. Coloquei essas ervas em uma de suas bebidas. Eles
deveriam causar acne ou gases ou bolsas enormes sob os olhos. — Eu
balancei a cabeça. — E pior, não era para ser permanente.

— Bem, você está certa. Isso é muito confuso, mas foi há muito tempo.
Deixe para um ser mítico guardar rancor de mil anos.
— Você a viu ?

— Então siga seu próprio conselho. Desculpar-se.

Eu caí de costas. — Você acha que isso a faria parar? Ela quer que nós
dois fiquemos separados. Eu sou apenas o alvo fácil agora.

— Você não precisa ser.

Virei a cabeça com os olhos suavizados.

— Apenas me prometa que você vai pensar mais sobre isso?

— Claro que eu vou.

Ele assentiu uma vez e beijou minha testa. — Boa noite.

— Boa noite — Eu sussurrei de volta, desanimada desligando a


lâmpada na minha mesa de cabeceira.

Fiquei deitada no escuro com as mãos cruzadas sobre o estômago,


observando o constante subir e descer do deus do mar ao meu lado. Um
homem que podia conjurar tufões e furacões, derrubar porta-aviões ou invocar
qualquer monstro marinho de sua escolha me queria de volta. Ele queria que
eu governasse ao seu lado. Mas acima de tudo, ele queria ser uma família.
Acordei no dia seguinte com minha bunda aninhada contra os quadris
de Poseidon, seus grandes braços em volta de mim, e sua respiração
escalando a parte de trás do meu pescoço. Durante os anos felizes, houve
tantas manhãs como esta. Apenas os pilares dourados da Atlântida me
cumprimentariam contra um humilde quarto de apartamento. Eu poderia voltar
a isso? Parecia absurdo, mas eu ainda fui feita para a vida da realeza? De uma
deusa?

— Está tudo bem? —A voz rouca de Poseidon murmurou perto da


minha orelha.

Sorri para mim mesma, aninhando-me mais perto e puxando seus


braços mais apertados ao meu redor. — Mais do que bem.

— Sobrevivi à noite sem mais bruxas do mar ameaçando sua vida. Isso
é uma vantagem. —Ele sorriu para o meu cabelo, me inalando.

— Ah, bom. Vocês dois já estão dormindo juntos. Progresso. — Avoz


trêmula de uma mulher encheu o quarto.

Nós nos sentamos, e eu agarrei os lençóis ao meu peito como se


estivesse nua. Poseidon conjurou seu tridente, arremessando todas as três
pontas na garganta da mulher loira parada ao pé da cama.

Suas mãos se abriram e acenaram na frente dela, produzindo uma


parede vermelha de glitter rodopiante como um escudo. — Uau, queixo de
espinafre. É Afrodite.

— Afrodite? — Chutei as cobertas e me levantei, alisando meu cabelo.


— O que diabos você está fazendo aqui? E no meio do meu quarto, aliás?
Poseidon estreitou os olhos, mantendo a arma apontada para a deusa
do amor.

— Sério, P? — Afrodite apontou para as pontas.

— Responda a pergunta dela. — Poseidon latiu.

Afrodite agitou os dedos, fazendo o escudo brilhante desaparecer, e


cruzou os braços bufando. — Sim. Você faz um favor à família e fica com um
tridente na garganta.

— Que favor? — Eu levantei uma sobrancelha.

— Tenho certeza que você está se perguntando como você saiu das
estrelas onde meu querido pai tão graciosamente baniu você?

Eu roubei um olhar para Poseidon, que não tirou o olhar de Afrodite, seu
aperto no punho do tridente. — O pensamento passou pela minha cabeça.

Afrodite apontou para o peito dela. — Você está olhando para ela.

— Você? Mas por quê? — Bati um dedo contra meus lábios.

— Por quê? Eu tinha que ter uma razão? Eu sou a deusa do amor. Dê-
me um pouco de crédito? — Ela pendurou os polegares nas presilhas de sua
calça skinny rosa pálido.

Poseidon resmungou, fazendo o tridente desaparecer na espuma do mar


cintilante. Ele se levantou e atravessou o quarto para ficar ao meu lado.

Afrodite apertou as palmas das mãos, enrolando as mãos sob o queixo


com um sorriso brilhante. — Eu não posso dizer o quanto estou feliz em ver
isso.

— Não fique muito animada. Não estamos juntos. — Poseidon passou


os dedos pelo cabelo, seguido pela barba, se arrumando rapidamente.
Ai. Ele falou a verdade, e eu não lhe dei nenhuma pista do contrário, mas
as palavras ainda doíam como a ira de um homem de guerra.

— Você tem razão. Suponho que você estivesse nua quando entrei.
Poo. Afrodite esticou seu lábio inferior enquanto batia seu salto branco contra
o chão de madeira.

— Você vai explicar como você fez isso? — Eu me aproximei de


Poseidon, doendo para sentir seu calor contra minha pele.

— Estou bastante orgulhosa de mim mesma. — Ela bagunçou seus


cachos cor de trigo e bateu palmas. — Com o poder do meu pai, sempre há
brechas. Isso o impede de ser todo-poderoso. Ele transformou você em uma
constelação, certo? O que tornou sua forma orgânica inexistente. Tirar você
direto das estrelas como você era é impossível, especialmente a parte da
deusa. — O pingente de coração dourado pendurado em seu pescoço
balançava em sua corrente enquanto ela andava.

— Vá em frente. — Eu encorajei, pescando o dedo de Poseidon e


enrolando o meu ao redor dele assim que o encontrei. Eu peguei um sorriso
rápido nele com o canto do meu olho.

— Foi um simples feitiço de reencarnação. Você renasceria como um


mortal. Um semideus. E tudo o que você precisa fazer é encontrar Poseidon,
concordar em se tornar rainha novamente, ir até Zeus e, bum , acordo feito.
Ela fez gestos de explosão em cada lado de sua cabeça. — Linda, certo?

— Por mais que eu aprecie o que você fez, você honestamente achou
que teria sido tão fácil encontrar Poseidon em uma vida? — Pressionei minha
bochecha contra o braço de Poseidon. — Eu não conseguia lembrar quem eu
era, e ele não sabia que eu estava viva.

Afrodite estalou os dedos. — Um pequeno descuido de minha parte,


mas com reencarnações contínuas, deu a você todo o tempo necessário para
se unir. No entanto, eu não conhecia a maldição oposta que Athena invocou
na época. — Ela revirou os olhos e olhou para a unha, tirando algo dela.

— Que maldição? — Poseidon deu um passo à frente.

— Em você, menino surfista.

Poseidon riu, olhando para mim e apontando para si mesmo. — Eu? Ela
amaldiçoou um dos reis?

— Sim. Todo aquele negócio da Medusa? Minha irmã é um biscoito


bastante inteligente. Medusa não foi a única punida por sua pequena
brincadeira no templo de Athena.

Não tinha me incomodado. Nós não estávamos juntos. Ele não sabia que
eu estava viva. Ainda não tornava o monstro de olhos verdes menos feroz.

— Pare com isso, Afrodite. — Poseidon rosnou.

— Está bem, está bem. — Afrodite ergueu as mãos e sacudiu o cabelo.


— Ela sabia que não poderia puni-lo tanto quanto fez com a Medusa, mas
quando ela ouviu sobre o meu feitiço, ela amaldiçoou você. Quantas vezes
Amphitrite reencarnasse, se você a visse, não a reconheceria. Até que você se
tornou um homem mudado – altruísta, humilde, amoroso. — Ela mudou seu
peso para um quadril, batendo uma unha contra sua bochecha. — Ela nunca
especificou se era uma ou todas essas coisas.

— Você está brincando comigo? — Poseidon cerrou os punhos. — Eu


poderia ter encontrado Amph centenas ou milhares de anos atrás? Nós já
poderíamos estar juntos?

— Receio que sim, P. Mas ei, vocês finalmente se encontraram, certo?


No entanto, por que o Tártaro ainda não é a rainha de novo? Afrodite ergueu
as sobrancelhas finas e esculpidas.

— É complicado. —Eu murmurei.


— Eu não posso acreditar nela. É melhor você acreditar que estou
dando a Athena um pedaço da minha mente. Poseidon começou a andar,
arrastando as mãos sobre o rosto e a barba.

— Seid. — Toquei seu antebraço, desejando que ele parasse de se


mover e olhasse para mim. — Você mesmo disse. Meu banimento para as
estrelas teve um efeito positivo. Isso fez de você um pai amoroso e um homem
mudado. Se tivéssemos nos conhecido antes que ambos tivéssemos mudado,
isso pode nunca ter funcionado.

A pele entre os olhos de Poseidon se contraiu, e ele pegou meu rosto em


suas mãos. — Você tem razão.

— Ok, então o que exatamente é complicado sobre isso? Vocês dois


percebem quanto amor está correndo por este quarto? Está quase me
estrangulando.

Poseidon estremeceu e balançou a cabeça, pressionando a palma da


mão na têmpora. Suas mãos caíram da minha pele com uma careta. — Só
podes estar de brincadeira comigo. Elani tem o pior momento.

— Elani? Ela conversou com você também? Afrodite se inclinou contra a


minha cama.

— Sim. Ela quer que eu a transforme. Só não achei que seria tão rápido.
— Poseidon esfregou a nuca.

— Se Elani for como meu filho, uma vez que ela sabe o que quer, ela vai
em frente. —Lançando seu olhar para mim, Afrodite sorriu.

— Você está indo? Agora mesmo? — Eu perguntei, tentando esconder


a decepção na minha voz.

— Cinco minutos, Starfish. — Ele beijou minha testa. — Eu prometo


que estarei de volta. É um favor para Eros. —Ele recuou, levantando cinco
dedos antes de desaparecer.
— Eros? O que está acontecendo?

Ela brincou com o amuleto do coração, movendo-o para frente e para


trás na corrente. — Meu filho encontrou o amor verdadeiro.

— Encontrou? E quanto a Psyche?

Afrodite tossiu e coçou a nuca. — Erros foram cometidos, obstáculos


superados, mas o importante é que ele encontrou Elani. Ela é uma joia.

— E ela é mortal... —Eu parei, me virando e entrando na minha sala.

— Ouça. Eu não sou exatamente a melhor para dar conselhos sobre


relacionamentos, mas... —Afrodite me seguiu, dando passos exagerados
plantando seu calcanhar primeiro.

— Você não deveria ser a melhor, deusa do amor? — Mordi de volta


um sorriso enquanto colocava comida de peixe no tanque.

— Você pensaria, mas a maioria das pessoas acha a falta de meu


próprio relacionamento desconfiado. Vai saber. — Ela bufou. — Mas tudo
que eu queria perguntar era por que você está com tanto medo. Você nasceu
para isso, Amphitrite.

— Eu sei. E tudo nele parece em casa, mas... Amassando minha camisa


na barriga, olhei para o peixe. — Não quero voltar a essa velha versão de mim
mesmo.

— Amph.— Afrodite deu um tapinha no meu ombro, me fazendo virar


nos calcanhares para encará-la. — Você viveu mais de uma dúzia de vidas
completas. Ter experimentado praticamente tudo que um mortal pode. O que
faz você pensar por um momento que não aprendeu com todas essas vidas?
Você não fará isso de novo. E nem Poseidon. Por mais falho que fosse, sentia
sua falta como o Tártaro.
Um sorriso fraco puxou meus lábios. Eu queria acalmar os mares mais
uma vez com ele ao meu lado.

— E apesar de Zeus persegui-lo a cada dois anos para se casar com


outra rainha, ele recusou. Ficou muito feio lá em cima no Olimpo uma ou duas
vezes. Esses dois podem lutar como buldogues, eu juro. Afrodite soltou um
suspiro.

Ele nunca mais se casou. Nem mesmo por causa da política.

— Sobre essas outras vidas... — Eu me virei para encará-la com os


braços cruzados. — Recebo flashes de memórias tão vívidos que é como se
eu os estivesse revivendo. É quase debilitante. Eu não poderia arriscar que
isso acontecesse no meio de uma briga, ou quando estou me dirigindo ao
conselho, ou... que tipo de rainha eu seria?

Afrodite agitou seus cílios com os olhos arregalados. — Você se lembra


de todos eles? Todas as suas vidas?

— Sim.

— Bem, merda. — Afrodite franziu a testa e coçou a bochecha. — Eu


não vi isso chegando.

Caindo na beirada da cama, eu amuei. — Tentei suprimir os flashes,


mas o poder por trás deles é muito forte.

— Talvez... — Afrodite sentou ao meu lado. — seria diferente se você


fosse uma deusa novamente. Você terá força para lutar contra eles?

— Eu não acho que deveria correr esse risco. Houve vidas mortais em
jogo com algumas das batalhas que Seid e eu lutamos. Eu nunca me
perdoaria se alguém morresse porque eu congelei durante um flashback. —
Enrolando minhas mãos em punhos, eu as bati contra minhas coxas.
— Que chatice. —Afrodite sussurrou, estalando as unhas antes de
estalar os dedos. — Eu entendi. Mnemósine.

— O Titan?

Balançando a cabeça com uma gargalhada agitada, Afrodite deu um


tapa no meu ombro. — Olimpo, não. Quando papai os aprisionou, ela
transferiu seus poderes para um rio no submundo.

Agarrando o colchão, me virei para ela com uma sobrancelha levantada.


— Que tipo de poderes?

— Memória. — Ela sorriu com o queixo erguido.

Eu respirei fundo, segurando-o até meus pulmões queimarem.

— Amph, você não precisa tomar uma decisão agora, mas me prometa
que vai pensar sobre isso? —Afrodite descansou a mão no meu joelho, me
fazendo pular.

— Claro, pensarei sobre isso.

— Essa é a minha garota. — Afrodite apertou minha coxa.

Minha mente mergulhou nas possibilidades de como seria a vida se


tivéssemos vivido vidas mortais como uma família. Uma imagem animada de
meus filhos cercando o tanque e alimentando os peixes nadou pelo meu
cérebro. Rhode ficou na ponta dos pés, tentando alcançá-la, e Triton a pegou.
Fechando meus olhos, eu empurrei para fora da cama para ficar de pé. — Eu
abandonei minha família uma vez. Não farei isso de novo.

Afrodite me seguiu e me deu um abraço de lado. — Todos nós fizemos


coisas em nossos anos de formação das quais nos arrependemos, mesmo que
alguns de nós nunca admitissem. Olympus sabe que eu poderia ser uma
harpia de verdade naquela época, mas eu gostaria de pensar que todos nós
ainda tivemos nossos momentos.
Rindo, eu a cutuquei na lateral com meu cotovelo. — Cuidado. Você
está começando a soar como Athena.

Afrodite engasgou antes de rir.

Os redemoinhos no tapete ganharam vida enquanto eu olhava para eles,


transgredindo em um pincel na minha mão girando na água. Um vestido verde
esmeralda se agarrava às minhas pernas enquanto eu levava o pincel para a
tela, pintando uma paisagem de colinas verdes e um castelo de pedra
perfeitamente formado contra um horizonte bem iluminado.

— Amph? — A voz de Afrodite ecoou pela minha mente.

A sensação do cabo da escova tornou-se cada vez menos concreta


enquanto eu me afastava da memória. Afrodite puxou a manga da minha
camisa, e eu bati meu olhar para ela.

— Acabou de acontecer, não foi? — A testa de Afrodite franziu


enquanto ela acariciava meu cabelo.

— Quanto tempo eu estava olhando para o espaço?

Ela continuou a me acalmar. — Alguns minutos. Por favor, por favor,


considere o rio, Amphitrite.

— Eu preciso falar com Poseidon. —Eu sussurrei, engolindo em seco.

Afrodite assentiu e deu um passo para trás depois de dar um último


aperto tranquilizador no meu braço. — A parte mais difícil já passou. Vocês se
encontraram. Você vai descobrir.

— Obrigado, Dite.

Ela sorriu, brilhante e radiante. — A qualquer hora, toots. —E ela se foi


em uma explosão de glitter e pétalas de rosa.
Dei um passo para o meu aquário, girando meus dedos pela superfície,
enfeitando-me enquanto as barbatanas ocasionalmente roçavam minha pele.
Fechando os olhos, sussurrei: — Poseidon.

Em uma respiração, ele apareceu atrás de mim, seus braços envolvendo


minha cintura.

Ele beijou minha nuca e estendeu as mãos sobre meu estômago. —


Você ligou, Starfish?

— Tudo bem com Eros e qual era o nome dela? — Eu afundei nele,
traçando minhas mãos sobre seus braços, ainda mantendo meus olhos
fechados.

— Elani. E ummm. Ela é uma deusa do amor, e eles estão ligados. Eu fiz
minha parte. O descanso é com eles. — Ele me puxou mais apertado contra
ele, arrastando seus lábios sobre minha orelha, umedecendo-a.

— Alguma outra interrupção que eu deveria estar esperando nas


próximas vinte e quatro horas?

— Pelo Olimpo, espero que não.

Virando-me para encará-lo, eu segurei sua bochecha. — Falei com


Afrodite sobre minhas constantes memórias intermitentes.

— Oh? Ela tinha alguma ideia de como detê-los?

Deixei meu olhar cair para a pulseira de cânhamo em seu pulso,


correndo meus dedos sobre uma das conchas. — O Rio Mnemósine.

— Eu até esqueci que existia. — Ele sorriu e apertou a minha cintura.


— O que estamos esperando?

— Seid, não sei como funciona. Não há como no Tártaro eu estar


perdendo minhas memórias das crianças, de nós, da minha vida como
Cordelia? Eu não deixarei isso acontecer. —Escorregando para longe dele,
virei as costas e coloquei minhas mãos em concha sobre minha boca para
abafar um gemido.

Sua mão deslizou sobre meu cotovelo. — Então falaremos com Laurel.

— Laurel? — Fungando, eu olhei para ele por cima do ombro.

— A esposa de Apolo. Ele a fez líder das Musas.

O Apolo que eu me lembrava era tudo menos altruísta. Sua arrogância


quase rivalizava com a de seu pai.

— Nada de merda.

Poseidon soltou uma risada calorosa. — Eu sei, eu pensei isso também,


mas Laurel pode nos colocar em contato com uma Musa, e talvez eles possam
nos dar mais informações. Afinal, a mãe deles era Mnemosyne.

Uma esperança recém-descoberta irrompeu em meu peito como um


gêiser. — Sim. Vamos fazer isso.

— Sua carruagem está esperando. — Ele estendeu as mãos para mim


com um sorriso irônico.

Deslizando minhas mãos sobre as dele, eu deslizei em seus braços, e ele


nos levou para longe. Estávamos em um estúdio com barras de balé em três
paredes, espelhos na quarta e alto-falantes alinhados em cada canto. Uma
mulher loira com o cabelo em um coque esticado em uma barra, ofegante
quando ela nos espiou por cima do ombro.

— Poseidon. — Ela respirou, batendo a mão sobre o peito. — Musas,


você me assustou.
Poseidon pressionou a mão na parte inferior das minhas costas, me
incentivando a dar um passo à frente. — Laurel, esta é Cordelia ou como ela
costumava ser conhecida, Amphitrite.

Os olhos azul-celeste de Laurel se arregalaram quando ela voou em


nossa direção, suas sapatilhas batendo no chão. — A Amphitrite?

— Sim, é complicado. —Eu apertei a mão dela.

Laurel sorriu e inclinou a cabeça para o lado. — Você é mortal.

— Como ela disse é complicado — Acrescentou Poseidon com um


sorriso.

— Bem, a que devo a visita do Rei e da Rainha dos Mares? —Ela


cruzou os braços, fazendo o collant preto em seu torso apertar em seu peito.

— Esperávamos que você pudesse chamar uma das Musas para nós.
Qualquer uma delas serviria. Temos algumas perguntas que só elas podem
responder. —Poseidon passou um braço em volta dos meus ombros.

Laurel fechou os olhos por vários momentos antes de abri-los. —


Absolutamente. Euterpe é a única disponível, mas já foi convocada. Deve estar
aqui momentaneamente.

— Obrigada. —Eu me distraí examinando o estúdio. — Este lugar é


seu?

Laurel assentiu com um largo sorriso, exibindo os braços ao lado do


corpo. — Sim. Apolo e eu compramos para ter nosso próprio lugar para
praticar.

— E Apolo? Como vai isso? —Poseidon perguntou rispidamente.

Laurel afastou uma mecha de cabelo loiro dos olhos. — Eu não poderia
pedir um parceiro melhor em praticamente todos os aspectos da vida.
Minhas emoções pareciam estar no limite ultimamente quando o olhar
sereno em seu rosto trouxe lágrimas aos meus olhos. Forçando-os a voltar,
pressionei a mão no meu peito com um sorriso caloroso. As pessoas — até
aos deuses podiam mudar.

Um whoosh soou atrás de nós.

— Desculpas pelo atraso. —Euterpe começou, tirando a poeira de suas


vestes enquanto se movia para ficar ao lado de Laurel. —Eu tive que terminar
de escrever as notas para uma nova peça antes que eu as esquecesse.

— Não importa. —Laurel sorriu e pousou a mão no ombro de Euterpe.


— Poseidon e Amphitrite têm uma pergunta para você.

Os olhos de Euterpe se arregalaram para mim, e ela baixou a cabeça.


— Amphitrite, eu não tinha ideia de que você estava de volta.

Com vigor, balancei a cabeça e levantei a palma da mão. — Não há


necessidade de se curvar. Eu não sou rainha.

— Ainda — Acrescentou Poseidon.

Minhas bochechas aqueceram, e eu sorri.

— O Rio Mnemosine. Como isso funciona exatamente? —Poseidon


cruzou os braços, apertando a mandíbula.

Euterpe deu uma olhada para Laurel antes de olhar de volta para nós.
— Você deseja que as memórias sejam apagadas?

— Eu. Sim. —As palavras saíram como um guincho sussurrado.

— Se você decidir beber do rio da minha mãe, você deve saber disso –
apenas as memórias que você ama permanecerão. Tenha certeza de que
você sabe o que são, ou você perderá até mesmo a mais feliz das memórias
—Ela fez uma pausa, certificando-se de que eu a olhasse nos olhos antes de
concluir.— Para todo sempre.

Eu tropecei para trás, e Poseidon me pegou, pressionando seu peito


musculoso nas minhas costas.

— Você está certa? Não há como identificar as memórias? — Poseidon


traçou seus dedos sobre meus bíceps.

Euterpe balançou a cabeça com uma carranca. —Temo que não seja
tão simples.

— Se você não se importa que eu pergunte, de quais memórias você


está tentando se livrar? —Laurel brincou com o cordão de sua saia de balé.

Eu queria perder completamente as memórias de minhas vidas


passadas? Não, na verdade não. Elas eram tão parte de mim quanto
Amphitrite e Cordelia, mas minha família – Esta vida era muito mais importante.

— Memórias que eu não preciso mais. — Olhei para Poseidon e


deslizei minha mão na dele.

— Você precisa de mim para mais alguma coisa, minha soberana? —


Euterpe virou-se para Laurel.

Laurel inclinou a cabeça. — Não, Euterpe, obrigada. Vá terminar sua


sinfonia.

Euterpe virou-se para nós. — Espero que você consiga as respostas


que procura, Amphitrite. — Depois de um giro de seu braço, ela
desapareceu.

Meu coração batia contra meu peito. — Seid, vamos para o submundo
antes que eu perca a coragem.

— Tem certeza?
Eu balancei a cabeça em vez de responder a ele, sem saber se eu
poderia dizer as palavras.

— Foi um prazer conhecê-la, Amphitrite. Espero que o rio funcione a


seu favor. — Laurel deu um sorriso caloroso, seguido por uma graciosa
reverência.

— Obrigada, Laurel. — Apertei a mão de Poseidon, pedindo-lhe para


nos transportar.

Poseidon me abraçou. — Diga ao Apolo que é a vez dele de hospedar a


noite de pôquer.

Laurel riu e bateu o bloco de madeira de sua sapatilha de ponta contra o


chão. — Eu terei certeza de fazer isso.

Meu cabelo voou atrás de mim quando Poseidon nos levou para o
submundo. Fazia tanto tempo desde que eu estava aqui. O frio no ar e o
cheiro de enxofre ao nosso redor enviaram um arrepio pelos meus ossos.

— Está bem na sua frente, querida. — Poseidon beijou o topo da minha


cabeça. — Tudo o que você precisa fazer é beber se é isso que você quer.

Eu tinha minha testa pressionada contra seu peito; meus olhos se


fecharam com tanta força que fez a pele acima do meu nariz doer. Depois de
tomar uma respiração profunda e calmante, eu me afastei dele e me virei para
a água escura do rio, as arandelas penduradas acima de nós na caverna
úmida refletindo brilhos alaranjados sobre a superfície. Caindo de joelhos,
peguei a água nas palmas das mãos e as segurei na minha frente, pairando
perto dos meus lábios.
Tudo o que restava fazer era beber a água em concha em minhas mãos.
Um gole para parar as imagens esporádicas que passam pelo meu cérebro.
Um gole para me aproximar da minha família. Fechando meus olhos, eu
abaixei minha boca.

— Pare. — A voz de Hades explodiu atrás de mim.

Ofegante, deixei a água em minhas mãos espirrar na costa arenosa.


Girando nos calcanhares, olhei para o imponente deus do submundo. Meu
cunhado anterior, que eu me lembrava de nunca deixar de ser poderoso
enquanto permanecia o mais sensato dos irmãos. Eu gostava de Poseidon,
mas seria a primeira a admitir que ele poderia ser frívolo.

— Hades, é o que ela quer. — Poseidon deslizou a mão sobre o ombro


de seu irmão.

Hades não arrancou seu brilhante olhar branco do meu e afastou a mão
de Poseidon. — Amphitrite, estou igualmente encantado e chocado em vê-la
de volta. Mas me diga, por que você deseja encerrar as memórias?

Torcendo minhas mãos, olhei para Poseidon em busca de apoio. Ele me


deu um breve aceno de cabeça, e eu soltei um suspiro antes de falar. —
Afrodite criou um feitiço de reencarnação. E funcionou inúmeras vezes,
levando-me a dezenas de vidas antes de nascer nesta atual.

Hades assentiu, não parecendo tão surpreso quanto os outros. Seu


cabelo branco flutuante roçou suas vestes escuras. — E as memórias?

— A qualquer momento, flashes de todas as minhas vidas passadas


consomem minha mente. Isso me deixou de joelhos mais de uma vez. —
Esfreguei meu estômago enquanto a náusea borbulhava, lembrando como era
quando meu nariz sangrava.

Hades assentiu novamente, a coroa de chamas em torno de sua cabeça


piscando. — Vivendo através dos tempos, vivendo essas múltiplas vidas –
parece algo que ninguém gostaria de esquecer.

— Prefiro ter a chance de estar com minha família novamente. —Eu


endireito meus ombros, olhando para Hades sem piscar.

— Beber essa água é muito arriscado, Amphitrite. Permita-me oferecer


uma alternativa. — Hades empurrou o queixo para a direita, suas orelhas
pontudas saindo de seu cabelo comprido.

— Alternativa? O que mais está lá? — Poseidon seguiu ao meu lado


enquanto Hades nos conduzia ao longo da costa.

— O Irmão gêmeo de Thanatos, Hypnos. — A voz de Hades soou


como uma dúzia de sussurros em tons variados.

— Hypnos? O cara que ajudou Hera a tentar trair Zeus? Poseidon


arqueou uma sobrancelha para mim.

— Esse seria o único. Embora a maioria só o use para suas habilidades


de sono, ele também tem poderes da mente e do esquecimento. Acredito que
ele pode ajudá-la.

Acelerei meus passos para caminhar ao lado de Hades. — Você sabe


onde ele está?

— Aqui.

Poseidon apontou para baixo. — Aqui?

— Sim. Quando ele acordou com um Zeus furioso pairando sobre ele,
Hypnos pediu refúgio no submundo. Ele está aqui desde então.
Contornamos um canto rochoso para uma caverna menor, sua entrada
brilhando em um laranja acolhedor de um fogo aceso dentro.

— Ele mora lá. Não vou acompanhá-los, pois tenho que alimentar
Cerberus, no entanto, explique a ele a situação e tenho certeza de que ele
ficará mais do que feliz em ajudar.

Hades alimentando Cerberus. O pensamento disso fez um sorriso


rastejar sobre meus lábios.

— Obrigado, irmão. — Poseidon estendeu a mão para ele com um


aceno firme.

Hades a sacudiu antes de dar um tapinha no ombro de Poseidon. —


Estou feliz que você seja feliz, Poseidon. E Amphitrite, bem-vinda de volta.

— Obrigada, Hades.

Depois de acenar um adeus, Hades desapareceu em cinzas e neblina.

— Deixe-me ir primeiro, Starfish. — Poseidon me persuadiu atrás dele


com um braço corpulento.

Ele não teve que me dizer duas vezes. Hypnos era um deus primordial.
Eu não conseguia me lembrar da última vez que estive perto de um.

Nós nos aproximamos da entrada da caverna e, uma vez que estávamos


no limiar, uma voz soou: — Quem está aí?

— Poseidon e Amphitrite. Hades nos enviou. — Poseidon falou para a


entrada.

Quando o silêncio caiu sobre as paredes da caverna por muito tempo


para o conforto, eu agarrei o braço de Poseidon.

— Entre. — Hypnos finalmente respondeu.


Avançamos, nossos pés raspando no chão de pedra. O interior não se
parecia com o que eu imaginava uma caverna. Era aconchegante, quente e
convidativo, com uma lareira crepitante, uma mesa de madeira pitoresca com
uma tigela de frutas no centro. Uma cama modesta com cobertores vermelhos
e dourados repousava em um canto distante, enquanto um jogo de xadrez
residia no outro.

Hypnos saiu das sombras, puxando suas vestes marrons como se não
soubesse o que fazer com as mãos. Seu cabelo castanho escuro caiu em
ondas até aos ossos do quadril, e as pequenas asas pretas em ambos os
lados de sua cabeça se animaram quando ele colocou os olhos em nós.

— Você vai ter que me desculpar como eu nunca tive visitantes aqui
embaixo. — Hypnos engoliu em seco e correu para a mesa, abrindo as mãos
para fazer aparecer uma variedade de carnes, queijos e uma jarra com
canecas. — Por favor sente-se.

O desejo de terminar e acabar com isso ficou em segundo plano em


relação à gratidão de Hypnos por ter companhia.

Puxando a camisa de Poseidon para deixá-lo saber que eu estava bem


em ficar um pouco, sentei-me à mesa com um sorriso. — Você tem uma linda
casa, Hypnos. Você fez uma caverna sombria e úmida parecer uma cabana
por dentro.

Depois de resmungar algo baixinho, Poseidon sentou-se ao meu lado.

— Obrigado, Amphitrite. Estando sozinho por tanto tempo, eu queria me


sentir o mais confortável possível. — Hypnos sorriu e nos pediu para comer,
gesticulando para os pratos de madeira à nossa frente. As asas se dobraram
para trás, circulando sua cabeça.

Depois de colocar algumas frutas no meu prato, servi da jarra — vinho


de ambrosia. — Tenho certeza de que Zeus não te feriria se você se juntasse
a todos na superfície novamente.
Poseidon tossiu e balançou a cabeça discretamente para mim.

— Você não estava lá. — Hypnos franziu a testa e se sentou no banco à


nossa frente. — Sua raiva pelo que Hera e eu tentamos fazer sacudiu as
montanhas ao redor do Olimpo. E eu fugi do covarde correndo. É uma questão
de orgulho neste momento.

— Hera deixou Zeus. — Poseidon colocou uma uva na boca. — Tenho


certeza que ele não daria a mínima para você voltar, Hyp.

As asas bateram quando os olhos de Hypnos se arregalaram. — Eu


vou... considerar.

Eu bati meu dedo contra minha caneca antes de fugir para a beirada do
meu assento. — Ouça, Hypnos. Preciso de um favor se você for capaz e
estiver disposto a fazê-lo.

— A menos que você esteja me pedindo para matar alguém ou ajudar a


trair um rei deus, sou todo ouvidos. —Ele sorriu quando cruzou as mãos sobre
a mesa e se inclinou para frente.

— Eu reencarnei várias vezes ao longo dos tempos, sem me lembrar de


quem eu realmente era. Agora que eu sei quem eu sou, todas essas memórias
chegam como se estivessem levantando uma comporta. Agarrei a caneca,
franzindo a testa. — É muito.

Hypnos assentiu, o sorriso caloroso que ele havia dado momentos antes
ainda presente. — Ah sim. Eu acredito que posso ajudar, Amphitrite.

Eu me inclinei para trás, achatando as palmas das mãos sobre a mesa.


— Você pode? Tão fácil?

— Sim. Eu simplesmente preciso de sua permissão para tocá-la, pois


preciso de acesso direto à sua mente. — O sorriso de Hypnos desapareceu
quando ele desviou o olhar para Poseidon como se procurasse sua permissão
além da minha.
Poseidon olhou para ele.

Eu me levantei e me inclinei na frente de Poseidon, bloqueando-o. —


Você tem minha permissão.

Hypnos limpou a garganta quando se levantou e caminhou em minha


direção, levantando as mãos para pressionar todos os dedos em cada lado da
minha cabeça. — Tudo que eu preciso que você faça é relaxar e tentar manter
sua mente o mais clara possível.

A incapacidade de limpar minha mente de todos os pensamentos foi a


razão exata pela qual eu nunca fui capaz de meditar com sucesso. Eu teria
que cavar fundo.

Fechando meus olhos, forcei minha concentração na minha respiração o


som dela saindo das minhas narinas, a sensação do meu peito subindo e
descendo, o ar enchendo meus pulmões.

— Feito.

Meus olhos se abriram. Hypnos juntou os dedos e deu um passo para


trás.

— Feito? É isso? —Senti minha testa, verificando se havia febre ou


algum resíduo ou... algo?

— Eu tenho esses poderes há muito tempo. Não é preciso muito para


realizar uma tarefa desejada. Suprimi apenas suas memórias de vida
alternativa, mas elas não estão perdidas para sempre. Se você quiser lembrá-
las, então e só então elas virão à tona.

Eu nunca conheci Hypnos e só o conhecia pelos vários minutos que


estávamos aqui, mas enquanto as lágrimas encheram meus olhos, eu joguei
meus braços em volta dele e o abracei.
— Obrigada, Hypnos. Você não tem ideia do quanto isso significa para
mim.

Hypnos enrijeceu com o meu toque no início antes de me abraçar de


volta, o farfalhar de suas penas ecoando em meus ouvidos. — Você é muito
bem-vinda.

Depois que dei um passo para trás, enxugando as lágrimas dos meus
olhos, Poseidon estendeu a mão. — Obrigado, Hyp. Você realmente deveria
considerar visitar o novo mundo. Você seria um grande trunfo lá em cima.

— Obrigado. Eu vou. Se eu conseguir superar o choque de quanto


mudou, talvez eu faça uma visita a vocês dois.

— Nós ficaríamos felizes em lhe mostrar o lugar. A qualquer hora. Devo-


lhe um favor. — Eu enrolei minhas mãos sob meu queixo e sorri.

Hypnos inclinou a cabeça e pressionou a mão sobre o peito. — Minha


querida rainha, você não me deve nada. Eu aprecio a companhia, mas sendo
como ela é , Poseidon, uma mortal, você precisará trazê-la de volta à
superfície. — Ele franziu a testa, mas nos incitou com um movimento de sua
mão.

Poseidon pressionou a mão nas minhas costas antes de me puxar


contra ele. Eu descansei minha cabeça em seu peito, ouvindo seu coração
enquanto eu sorria para Hypnos antes de Poseidon nos levar embora.

O nariz de Poseidon acariciou minha bochecha. — Já se passaram vinte


e quatro horas inteiras e você não teve um flashback, certo?

Nem um pouco. Era uma forma de felicidade que eu não sabia que
sentia falta.
— Nenhuma — Eu sussurrei, aninhando-me contra ele com os olhos
fechados enquanto descansávamos no meu sofá.

— Bom. — Ele beijou o lado da minha cabeça e preguiçosamente


acariciou meus braços.

Abrindo meus olhos, eu puxei seus braços mais apertados ao meu redor.
— Quando eu for a rainha novamente, puxarei qualquer deus ou deusa para
encontrar alguém que possa nos ajudar a encontrar Rhode.

— Estou com você, mas... — Seu corpo enrijeceu, e ele me empurrou


para frente antes de gentilmente agarrar meu queixo para virar meu rosto para
o dele. — Você está dizendo o que eu acho que você está?

Eu balancei a cabeça enquanto as lágrimas encheram meus olhos, e


passei meus dedos por seu cabelo ondulado. — Agora que me lembro de
quem sou, acho que nunca me sentiria completa sem aceitar o que nasci para
fazer. Então sim. Eu me tornarei a Rainha dos Mares novamente, sua Rainha, e
reunirei esta família.

— Amph. — Ele disse através de uma respiração solta. Seu queixo


baixou para me beijar, mas eu pressionei um dedo sobre seus lábios.

— Tenho apenas um pedido.

Ele beijou meu dedo. — Qual?

— O nome Amphitrite pertencia a uma rainha fracassada. Eu quero ser


chamada de Cordelia daqui em diante – O nome na vida onde as coisas se
encaixaram. Destino. — Eu sorri para ele, segurando as lágrimas.

Isso estava acontecendo. Até mesmo uma deusa poderia ficar


deslumbrada.

— Cordelia combina com você. — Ele pressionou a palma da mão na


minha bochecha. — Pensei nisso desde o primeiro momento em que
reencontrei você. Mas eu nunca diria que você foi uma rainha fracassada.
Mais como... um trabalho em andamento.

Eu soltei uma única risada, uma lágrima rolando pelo meu rosto antes de
eu o abordar e beijar o amor da minha vida, o amor de todas as minhas vidas.

Meg.

Afastando-me do beijo com um suspiro, pressionei nossas testas juntas.


— Tem alguém com quem eu preciso falar antes de fazer isso. Ela merece
saber a verdade.

— Meg? — Ele prendeu meu cabelo sobre uma das minhas orelhas. —
Tem certeza de que está pronta para isso? Vai ser muito para ela absorver.

— Eu te contei como nos conhecemos? — Eu sorri para ele.

Ele balançou a cabeça, traçando um de seus dedos sobre minha


bochecha.

— Nós nos conhecemos anos atrás em um mergulho. Bem, estávamos


em mergulhos separados, mas ela estava fotografando barracudas e eu
estava atrás de tubarões de recife. — Sentei-me, montando nele e arrastando
meus dedos sobre a tatuagem de cavalo em seu braço.

Ele agarrou meus quadris e me puxou mais apertado contra ele.

— Meg estava tão envolvida em sua foto que não viu um dos tubarões
em seu lado periférico.

Poseidon sorriu. — Você bateu nele?

— Oh meu deus — Eu o golpeei com uma risada. — Claro que não.


Eu, no entanto, bati seu nariz com meu equipamento de câmera. Quando nós
duas aparecemos, ela me agradeceu uma dúzia de vezes e se ofereceu para
me pagar o almoço por salvar sua vida.
A memória puxou um largo sorriso sobre meus lábios, e eu estava grata
pela ajuda de Hypnos ainda mais agora porque eu não saberia o que fazer se
eu tivesse perdido memórias como esta.

— Eu disse a ela que não era grande coisa, mas ela insistiu, e
passamos as três horas seguintes conversando sobre mergulho,
equipamentos de câmera e o Hércules da Disney , de todas as coisas. —
Passei a unha pelos botões da camisa Henley de Poseidon. — Um mês
depois, concordamos em ser sócias, e o resto, como dizem, é história.

Ele massageou minha parte inferior das costas. — Parece que vocês
duas são muito próximas.

— Somos como irmãs, Seid. Então, acredite em mim, quando eu digo,


pode ser necessário um pouco de convencimento, mas Meg virá.

Poseidon beijou a ponta do meu nariz. — Você conhece sua amiga


melhor do que eu, e posso dizer que isso é algo que você precisa tirar do seu
peito, então, vá. —Ele empurrou seus quadris. — Pegue.

Rindo enquanto ele continuava a me empurrar para longe dele, eu


rastejei de seu colo. — Está bem, está bem. Vou. —Eu mergulhei para outro
beijo com um sorriso. — Eu volto já.

— E eu estarei aqui esperando. Para todo o sempre. —Ele sorriu de


volta para mim antes de bater na minha bunda. — Agora. Vai.

Retrocedendo, eu soprei-lhe um beijo e saí para o corredor.

Uma vez na frente de sua porta, eu bati três vezes. Ansiosa, eu segui
com repetidas batidas leves até que finalmente a porta se abriu.
— Para de chorar em voz alta, Cory. Que diabos está acontecendo? —
Meg perguntou com os olhos arregalados antes de apertar os olhos para o sol.

Eu a abracei forte, mandando-nos atrapalhados em seu apartamento.


Ela riu e deu um tapinha nas minhas costas antes de fechar a porta atrás de
nós.

— Ok, eu sou tudo sobre os abraços, mas sério, o que está


acontecendo? — Ela cruzou os braços, fazendo as linhas com nervuras de seu
top branco esticar.

— Eu tenho algo para lhe dizer. Algo... enorme. Acenei meus braços em
grandes círculos.

Ela franziu os lábios. — Precisamos de uísque para esta conversa?

— Provavelmente? — Um sorriso angustiado puxou meus lábios, e eu


soltei uma risada nervosa.

— Tudo bem. Siga-me até a cozinha.

Observando Meg pegar dois copos e uma garrafa de Jim Beam,


tamborilei meus dedos no balcão.

Qual foi a melhor maneira de fazer isso? Colocar tudo de uma vez? Usar
analogias?

Ela colocou um copo na minha frente e ergueu o dela em um gesto de


aplauso antes de tomar um gole. — Vamos, Cory. — Inclinando um quadril
contra o balcão, ela colocou um braço sobre o estômago e olhou para mim
com expectativa.

— Ok. Então, você sabe como os animais parecem reagir de maneira


diferente para mim? Por exemplo, você está me chamando de encantadora de
tubarões? Bati minha unha contra o copo, mordendo febrilmente meu lábio.
— Uh-hum. Você me disse que era a sua experiência e presença. Você
chamou minha besteira, lembra? Ela apontou para mim com a mão que
segurava o copo.

— Eu fiz. Apague isso porque... você está certa. Eu bati meu olhar para
o dela, os nervos dando cambalhotas na minha barriga.

Ela olhou para mim, mudando sua postura. — Então... você é uma
encantadora de tubarões?

— Mais que isso. — Eu bebi metade da minha bebida e estremeci com


a queimadura descendo pela minha garganta.

— Você sabe que eu não sou uma pessoa do tipo de bate-papo,


Cordelia. Você tem algo a dizer, diga. — Meg tomou um gole de sua bebida.

Coloquei a mão sob seu copo e o inclinei para cima, encorajando-a a


beber muito mais do que um pequeno gole. Com um erguer de sua testa, ela
obedeceu.

— Você acredita em reencarnação? — Eu estava andando na ponta


dos pés de novo, mas não podia simplesmente, não podia sair e dizer que sou
a ex-rainha dos mares agitados.

— Até certo ponto, com certeza. — Ela estreitou os olhos, e depois de


escanear meu rosto, ela terminou sua bebida.

— Meg... — Eu deslizei para frente e pressionei minhas palmas contra


o tampo de mármore. — Eu sou Amphitrite reencarnada.

Uma baleia invisível saiu de meus ombros, apenas para ser substituída
por incerteza e medo.

— Quem é Amphitrite? — Ela casualmente tirou o telefone do bolso de


trás, desviando o olhar.
Isto é o que aconteceu quando uma deusa grega se transformou em
uma constelação – Eles são esquecidos.

Gentilmente pegando o telefone dela, eu o coloquei no balcão. —


Mitologia grega. Rainha dos Mares.

Ela piscou. Seus lábios tremeram, e ela os apertou juntos, o riso


seguindo.

Eu deveria ter previsto. Suspirando, eu me virei e pressionei minhas


costas contra a geladeira.

— Puta merda. Você não está rindo. Cory, tenho a mente mais aberta
do que você, mas está tentando me dizer que é uma deusa grega?

Eu não disse nada, apenas tranquei nossos olhos e dei de ombros.

— Foda-me. — Ela pegou a garrafa de uísque e derramou mais em seu


copo. — Você quer dizer que alguém, uma pessoa real existia naquela época,
e ela era conhecida como Amphitrite, certo? É de quem você é descendente?

— Não, Meg. — Atravessei a sala para ficar na frente dela. — Eu sou


Amphitrite. Eu costumava ser uma deusa, Rainha dos Mares, e casada com
Poseidon. Simon é Poseidon.

Ela cuspiu o uísque e passou as costas da mão na boca. — Espere o


quê?

— É por isso que eu continuei dizendo a você que eu sentia que o


conhecia, que ele já me conhecia. É porque tivemos dezenas de anos juntos
antes de nos encontrarmos novamente séculos depois.

Isso era muito pior do que eu imaginava. Se os papéis fossem invertidos,


eu estaria interrogando minha amiga sobre que narcótico eu estava usando.
— Ok, ok, ok. — Meg fechou os olhos e ergueu o copo. — Digamos
que estou entendendo você até agora. E você e Simon são amantes
desafortunados reunidos nos tempos modernos. Ele também reencarnou?

— Não.

Distante. Pior. Então eu imaginei.

— Estou oficialmente perdida. — Meg bebeu o resto de sua bebida.

— Vamos sentar. Vou explicar tudo do começo ao fim, e você pode


fazer o que quiser. Combinado? —Fiz um gesto em direção à sala de estar.

— Sentar. Sim. — Ela murmurou, arrastando-se contra o tapete da área


antes de reivindicar um assento no sofá.

— Tivemos um casamento arranjado e demoramos um pouco para nos


amar, mas quando o fizemos, fomos uma força imparável. E loucos um pelo
outro.

Olhei para minhas palmas descansando no meu colo e sorri. Quando


eu levantei meu olhar, Meg tinha um sorriso caloroso exibido.

— Mas com o tempo, Poseidon foi consumido por seu trabalho, e eu o


via cada vez menos. Comecei a me sentir negligenciada, deprimida. E eu me
virei para aquele ser que eu sabia que nunca me decepcionaria, o mar. — Eu
torci minhas mãos, fungando. — Eu deveria ter falado com ele sobre isso.
Mas, em vez disso, me distrai no mar, ignorando meus deveres, minhas
responsabilidades e também... minha família.

— Família? — Meg apoiou a cabeça na mão.

Oh garota.

— Eu tenho dois filhos. Triton e Rhode.


— Jesus. — Meg sussurrou, empurrando uma respiração de seus
pulmões. — Continua.

— Como eu não estava cumprindo minhas responsabilidades e não fiz


nenhum movimento para mudar isso, Zeus me baniu para as estrelas. Eu
deveria viver o resto dos meus dias como uma constelação, desprezando
aqueles que eu amava, mas que não existiam mais.

Se eu me concentrasse o suficiente, eu poderia desenterrar memórias


do rosto de Poseidon quando ele percebesse que eu tinha ido embora. Ele
destruiu um átrio inteiro na Atlântida por fúria. E apesar de seus melhores
esforços, ele não conseguiu fazer Zeus ceder em sua decisão. Eles não se
falaram por uma década. Afrodite estava certa – Ele sentiu minha falta.

— Isso parece um pouco duro. Por que Poseidon não foi punido? —
Meg se inclinou para frente, apoiando os braços nos joelhos.

Perguntas e curiosidade significavam progresso. Bom.

— Zeus sempre sabe o que está fazendo. Ele não podia punir
formalmente outro rei, mas me banir, me tirar dele, era punição suficiente.
Esfreguei meus polegares juntos. — Afrodite criou um feitiço para iniciar
minhas reencarnações.

— Tempo esgotado. — Ela fez o gesto de tempo limite. —


Reencarnação plural?

Eu balancei a cabeça. — Incontáveis vezes.

Ela puxou o lábio inferior e olhou para o chão antes de dar um aceno
firme. — Continua.

— Era uma questão de Poseidon e eu nos encontrarmos novamente.


Mas Athena amaldiçoou-o dizendo que se ele me encontrasse, ele não me
reconheceria a menos que tivesse mudado como homem.
E ele tinha de muitas maneiras. Eu estava orgulhoso dele.

— Isso é. Horrível. — Meg franziu a testa, os olhos vidrados.

— É, mas nós nos encontramos. Estamos reunidos e isso é o mais


importante. —Inclinei minha cabeça para o lado, espiando seu joelho errático
saltitante. — Meg? Você está bem?

— Na verdade, não. Estou tentando acreditar em você aqui, Cory. Eu


realmente estou. Mas tudo isso é loucura para mim. — Ela ficou de pé. —
Mas a maneira como você falou sobre tudo isso foi como se fosse sua vida
para contar.

Ela precisava de mais, e eu não a culpo.

Minha balança.

Levantando, eu estendi minhas mãos para ela pegar ou ignorar. —


Posso te mostrar uma coisa?

Seus olhos foram para as palmas das minhas mãos antes de pousar de
volta no meu rosto, e ela pegou minhas mãos. — Tudo bem.

Fechando os olhos, desejei que as escamas se mostrassem as manchas


azuis radiantes brilhando na sala mal iluminada.

Ela engasgou e apertou minhas mãos, me fazendo estremecer.

— Você não está brincando. — Ela olhou com os olhos arregalados


antes de cutucar as escamas no meu braço com um único dedo. Depois de
esfregar os dedos e não ver nenhum sinal de tinta, ela balançou a cabeça. —
A mitologia grega é real?

— Sim, Meg. — Fiz as escamas desaparecerem diante de seus olhos,


fazendo-os se alargar novamente. — E acho que no fundo você sabia que
havia algo diferente em Simon. Eu podia ver as engrenagens girando em seu
cérebro a uma milha de distância.

— Claro, mas eu nunca chegaria à conclusão de que ele era Poseidon.


Eu nem teria acreditado em mim mesma. — Ela bateu as mãos contra as
bochechas como um tambor. — Isso é surreal.

— Eu queria te contar a verdade porque decidi me tornar rainha


novamente.

Meg agarrou meus ombros, uma carranca se formando em sua testa. —


O que isso significa? O que isso implica?

— Quando me casei com Poseidon e assumi a responsabilidade por


todas as águas, isso trouxe uma espécie de harmonia. Na minha ausência,
minha casa se tornou catastrófica. — Eu apertei seus ombros para trás. —
Eu provo a Zeus que sou digna do título novamente e recupero minha casa, o
amor da minha vida e minha família.

— Uau, Cory. — Ela me puxou para ela, me abraçando com força. —


Apenas Uau.

Dadas as novas informações sobre os deuses gregos, devo contar a ela


sobre Hera? Não. Não era a minha verdade para dizer. Essa foi a escolha de
Hera quando e onde se ela realmente queria confessar.

— Você teve notícias de Hera? — Eu me afastei, mantendo uma mão


em seu ombro.

Meg riu, passando as duas mãos pelo cabelo escuro e curto. —Você
me joga essa bola curva e depois quer voltar a conversar com peões sobre
minha vida amorosa?

— Isso não significa que vamos deixar de ser amigas. Também não nos
muda como parceiras de fotografia ou catando lixo na praia para promover
nosso grupo de conservação. Eu preciso de uma capa, afinal. — Eu a
empurrei.

— Ainda podemos ser amigas?

Meus lábios se separaram ao meu lado. — Meg, é claro. Você é tão


família para mim quanto todos os deuses do Olimpo.

Ela me abraçou novamente, fungando, antes de se inclinar para trás. —


Hera e eu tivemos várias conversas por telefone e deveríamos ter um encontro
amanhã.

— O quê? — Eu sorri e dei um tapa no braço dela. — Isso é incrível.


Por que você não parece animada?

— Porque eu não sei como agir na frente dela, Cory. — Ela passou por
mim, esfregando os olhos com as palmas das mãos.

— O que você quer dizer?

— Ela me faz sentir diferente. Agitada. Vibrante. — Meg se virou para


mim, pressionando as pontas dos dedos. — Eu nem sei como categorizá-la.

— Frustrada? — Eu balancei minhas sobrancelhas, tentando segurar o


sorriso pegajoso puxando meus lábios.

— Ninguém. Nenhuma alma jamais me fez sentir assim. — Ela passou


a mão pelo cabelo, prendendo-o em cima da cabeça.

Eu sorri para ela, deixando-a organizar seus pensamentos.

— Eu nem sei o que vestir. — Meg olhou para mim como uma foca
bebê procurando sua mãe. — Ela é incrível, Cory.

— Você quer minha ajuda? — Eu esfreguei seu braço.

Ela forçou a respiração e olhou para o céu. — Pelo amor de Deus, sim.
Nós duas rimos e passamos o resto da noite vasculhando as roupas em
seu armário, bebendo mais uísque e falando sobre minha vida anterior. A cada
hora que passava, ela parecia mais receptiva e aberta ao fato de eu ser uma
deusa. Era a garantia que eu precisava para eu e ela irmos até ao fim. Passei a
noite na casa dela, sabendo que era minha última chance de ser Cordelia, sua
amiga mortal. Poseidon e eu íamos a Zeus e anunciamos que a Rainha havia
retornado e queria sua coroa de volta.
Eu voltei para o meu apartamento da sala de estar de Meg, ouvindo Meg
suspirar enquanto eu desaparecia. Poseidon estava deitado no sofá,
exatamente onde ele disse que estaria me esperando.

Ele se levantou com um sorriso, jogando a revista de fotografia que


estava folheando na mesa de centro. — Como foi?

— Melhor do que eu esperava. — Entrelacei meus dedos atrás das


costas, sorrindo e girando meus quadris.

Ele ficou na minha frente, olhando para mim com as pálpebras


encapuzadas. — E você ainda quer continuar com isso?

— Não há dúvida em minha mente, Seid. — Pulei em seus braços e o


beijei.

Ele persuadiu minhas pernas ao redor dele, envolvendo um braço sob


minha bunda enquanto o outro massageava a parte de trás da minha cabeça.
Com cada carícia de nossos lábios, cada colo de nossas línguas, a
familiaridade se instalou em nossas veias e nossos ossos.

Afastando-me dele com um gemido, eu disse: — Eu menti. Tenho mais


um pedido.

— O que você precisa? — Ele me ajustou em seus braços, fazendo


minha pélvis esfregar contra seu estômago.

Mordi o lábio, gemendo. — Esteja comigo assim – Antes que eu seja


uma deusa. Quero sentir sua magia antes de ter a minha novamente.
Com um gemido de aceitação, ele bateu sua boca contra a minha, nos
mergulhando em uma troca carnal de beijos, beliscões, gemidos.

— Nenhuma outra mulher poderia ter feito jus a você, Cordelia. Eu


estava pronto para passar a eternidade sozinho. — Ele bateu em sua testa
com a minha, nos levando para o meu quarto.

— Shh — Eu sussurrei contra seus lábios. — Estou aqui, Seid. Eu estou


bem aqui.

Ele procurou meu rosto, memorizando cada sarda, cada sulco antes de
me beijar novamente e nos empurrar para a cama. Em vez de pousar em um
colchão, ele nos transportou para uma gruta submarina, mantendo-nos secos
dentro de uma bolha de ar criada preenchendo o espaço. Eu me afastei de
seus lábios por tempo suficiente para sorrir em nossa atmosfera. Paredes de
água nos cercavam, dando uma visão privilegiada da vida aquática nadando
ao redor – Peixes de todas as formas e cores, tartarugas marinhas e golfinhos.
Era como se eles tivessem vindo prestar homenagem ao nosso reencontro.

— Não deveríamos estar preocupados com Skylla aqui? — Eu deitei


embaixo dele, brilhando com seu olhar esmeralda.

— Ela não será capaz de nos sentir através do meu feitiço de proteção.
E eu teria pena de qualquer tolo o suficiente que tentasse interromper o que
está prestes a acontecer. Ele passou a mão pelo cabelo, separando-o do rosto
com uma chama capaz de ferver a água ao nosso redor.

— O que está prestes a acontecer? — Um sorriso sensual derreteu em


meus lábios.

Ele revirou os quadris, pressionando-se contra mim, me fazendo


suspirar. — Vou lembrá-la de como os próprios Sete Mares não se comparam
quão molhada você sempre fica ao meu redor.
Suas palavras me deixaram encharcada, e eu belisquei seus lados com
meus joelhos. — Lembre-me, Seid.

Com uma curva desonesta de seu lábio, ele puxou espirais de água do
oceano, nos disfarçando, e as circulou sobre meu corpo. Cada passagem
sobre minhas roupas as fazia desaparecer, cada roçar dos seus dedos
sedosos e úmidos me fazendo me contorcer sob ele. Seu braço se
transformou em água, juntando-se às espirais enquanto atormentavam minha
pele em conjunto. Ele contornou suas mãos até a parte interna das minhas
coxas, puxando meus joelhos separados para me exibir para ele.

Sua língua lambeu o canto de sua boca enquanto ele olhava para mim, e
com um movimento de sua cabeça, a água espirrou, e ele estava
completamente nu. Sentei-me, estendendo a mão para ele, pronta para vagar
avidamente minhas mãos sobre cada pedaço tonificado dele, mas ele agarrou
meus pulsos.

Quando ele me persuadiu a deitar de costas, seu comprimento roçou


minhas dobras. Ele se inclinou sobre mim, sorrindo como um tubarão tigre. —
Ainda não, Cory. Eu tenho muito o que lembrar primeiro. — Sua sobrancelha
se ergueu.

Ouvir meu novo nome em seus lábios com ele entre minhas pernas foi
quase o suficiente para me mandar para o limite ali mesmo.

Sua barba fez cócegas na minha pele enquanto ele beijava meu
pescoço, viajando para meus seios, chupando cada mamilo antes de arrastar
sua língua pelo comprimento do meu estômago, parando logo acima do meu
clitóris. Sorrindo contra o osso do meu quadril, ele deu às minhas dobras uma
lenta e torturante lambida de sua língua. Minhas costas arqueadas do fundo do
mar, dedos emaranhados em seu cabelo, mantendo-o cativo. Ele usou a ponta
da língua para sacudir, mudando para mordiscar, chupar, lamber e todas as
formas intermediárias. Ele pressionou uma mão firme na minha barriga, me
mantendo imóvel enquanto eu me contorcia de prazer.
Ele fez uma pausa, pairando sobre mim, a evidência do meu apreço por
seus esforços em sua barba. Apoiei-me nos cotovelos, ofegante, olhando para
ele. A primeira vez que dormimos juntos, eu era uma ninfa virgem do mar,
nervosa, com medo, apreensiva. Eu não esperava que ele tomasse o cuidado
que tinha, a paciência. E o sexo tornou-se um incêndio florestal mesmo abaixo
da superfície ao longo do tempo.

Mantendo nossos olhos fixos, ele baixou os lábios entre as minhas


pernas, cobrindo-me com a boca. Suas bochechas se encheram de água
morna, rolando contra minhas dobras em parceria com sua língua rodopiante.
Agarrei o chão acolchoado embaixo de mim, minhas unhas cavando na
superfície esponjosa. Um grito de fazer tremer a terra saiu de meus pulmões
enquanto eu atingia o clímax, tremendo, resistindo e me contorcendo.

Poseidon não tinha planos de me deixar subir para respirar, jogou água
no queixo, rastejou sobre mim e empurrou. Eu engasguei, abrindo meus olhos
e envolvendo meus braços ao redor de seu pescoço.

Poseidon olhou para baixo, balançando dentro e fora de mim. Ele beijou
a ponta do meu nariz, minha bochecha, meus lábios. — Deuses, eu senti sua
falta. Eu senti sua falta.

Cavando meus dedos em seus ombros fortes, eu levantei meus quadris,


fazendo-o ir mais fundo. — Eu também senti sua falta, Poseidon.

Um sorriso masculino satisfeito brincou em seus lábios e uma onda de


água cintilante enrolou no meu cabelo, nos cercando como uma auréola.
Quando um gemido suave e saciado escapou da minha garganta, estendi a
mão atrás de mim, mergulhando minha mão na parede de água e deixando o
mar salgado do lado de fora molhar meus dedos. Uma de suas mãos enrolou
sob minha bunda enquanto ele batia mais forte em mim.

Sentando-me, esfregando-me contra ele, pressionei meus lábios em sua


orelha. — I thálassa eínai to spíti mou allá esý eísai to katafýgió mou. —
Depois de chupar o lóbulo de sua orelha, eu me inclinei para trás, olhando
para ele com olhos famintos.

O mar é minha casa, mas você é meu santuário.

Ele esteve fora da minha vida por muito tempo, e agora com um novo
gosto por ele – A fome nunca será satisfeita.

Seus olhos brilharam, sua mão segurando o lado do meu rosto, antes de
empurrar o fundo do mar, nos lançando para o céu. Mergulhamos pela parede
superior, circulando em águas abertas, enviando peixes correndo em todas as
direções. Bolhas escorriam e redemoinhavam, flutuando por nossos cabelos
em mechas fortes. Na água, era como estar quase sem peso. Segurando em
seus ombros para alavancar, eu me movi para cima e para baixo sobre ele, a
água gelada do oceano fluindo sobre meus mamilos me deixando em euforia.

Minhas escamas apareceram – Vibrantes e cintilantes. Poseidon sorriu


contra meus lábios antes de abrir a boca e enrolar sua língua com a minha. Ele
agarrou meus quadris, me parando, e eu abri meus olhos, piscando, um flash
da coroa dourada em sua cabeça faiscando em meu cérebro.

— Kósmima tis thálassas. — Poseidon disse, suas mãos fortes guiando


meus quadris para cima e para baixo em seu comprimento, aqueles olhos de
jade segurando todo o nosso passado e futuro brilhando dentro deles.

Sea Jewel.

Enquanto Poseidon me abraçava, peixes-anjo nadavam em círculos ao


nosso redor, girando nossos corpos em um tufão descendente. Nossos pés
emergiram pela parede d'água, de volta à secura e proteção da gruta. A água
borbulhava sob meus pés, flutuando até ao fundo do mar, nossos cabelos
encharcados e ondulados, grudados em nossas testas – Nossos peitos.
— Escolhi você naquele dia em que vi você dançando na margem, não
só porque achei que você era a criatura mais linda que já vi, mas... — Ele saiu
de mim, pressionando a mão no meu peito e me apoiando. até a parede de
água mais próxima. — Eu escolhi você porque eu podia ver minha vida com
você com cada balanço de seus quadris. Viu nosso vínculo com cada
redemoinho de seus braços. E visualizava nossos filhos em cada respiração
que você dava.

Isso era o que eu sempre quis. Este. Aqui.

— Oh, Seid — Eu suspirei.

Ele levantou uma das minhas pernas, enrolando-a sobre seu quadril,
pressionando minhas costas contra a parede líquida. Ele fez a parede sólida,
mas viva, o oceano fazendo cócegas na minha pele enquanto eu descansava
contra ela. Ele empurrou em mim centímetro por centímetro, lento e delicioso.
— Eu te amo. Eu sempre te amei. — Antes que eu pudesse dizer de volta, ele
cobriu minha boca com a dele e me encheu até ao cabo.

Naquele momento, ele não precisava me ouvir dizer isso de volta, mas
sabia que eu queria ouvir mais do que tudo. Palavras mal trocadas entre nós
há tanto tempo.

Ele pressionou uma mão acima da minha cabeça e fez a água que nos
sustentava brilhar e pulsar com cada impulso de união. A doce dor se
acumulou entre meus quadris, crescendo e crescendo até atingir seu pico.
Depois de várias estocadas, Poseidon alcançou sua própria euforia,
derramando-se dentro de mim e rosnando em minha nuca.

Eu esfreguei meu nariz contra sua bochecha. — Eu não quero deixar


este lugar. Ainda não. Há muito tempo não me sentia tão confortável no meu
ambiente.

— Nós podemos ficar aqui o tempo que você quiser. — Ele disse, a
satisfação em seu tom tornando sua voz ainda mais rouca.
Corri meu dedão do pé até a parte inferior das costas antes de puxá-lo
apertado contra mim. — Você certamente não perdeu o jeito, deus do mar. —
Eu sorri e passei meus dedos até seu abdômen.

Uma risada profunda retumbou de seu peito. — Crise evitada — Ele


lentamente saiu de mim, ficando de pé e se movendo para o centro da gruta.
— Venha aqui.

Mordi minha unha do polegar enquanto passeava até ele.

Seus braços se transformaram em água quando ele acenou para o chão,


tornando-o ainda mais esponjoso do que antes. Ele se deitou de lado e abriu
os braços bem abertos e convidativos. Deitei-me de costas para ele, quase
arrulhando quando ele passou os braços em volta de mim.

— Você ainda pode fazer o truque do cavalo d'água? — Eu aninhei


minha bunda contra ele, sorrindo para mim mesma com a dureza ainda ali.

— Sua ninfa insaciável. — Ele divertidamente beliscou meu lóbulo da


orelha, empurrando-se com mais força contra mim. Sem me responder, ele
levantou a mão, fazendo-a formar o líquido claro. Gradualmente tomou forma,
transformando-se em um cavalo e galopando pela gruta. Sua juba de água
deixou um rastro brilhante em seu rastro.

Eu ri, beijando seu ombro enquanto ele me obrigou com o show de


água.

— Olimpo, essa risada. — Ele beijou minha bochecha, deixando cair a


mão, o cavalo desaparecendo em uma onda de bolhas.

— Você se lembra daquela lingerie cintilante que eu conjurei em


ocasiões especiais? — Um sorriso perverso vibrou sobre meus lábios.

Seu pau saltou contra mim. — Tá brincando né? Como no Tártaro eu


poderia esquecer isso ?
— Espero me lembrar de como fazer isso. — Eu fiz uma careta,
enrolando seu braço em volta de mim novamente. Brincando com seus dedos,
juntei nossas mãos, notando quão pequena a minha era em comparação.

— É como andar de carruagem, Cory. Uma vez que você tenha o poder
novamente, ele voltará para você.

— E se ele não me aceitar? — Tracei os sulcos em sua palma,


raspando minha unha contra os calos.

— Quem? Zeus? Eu vou fazê-lo se ele não o fizer. Seu braço apertou, e
eu arrastei meu dedo sobre a dispersão de cabelo loiro em seu braço
bronzeado, acalmando-o.

— Você sabe que não é assim que funciona. Temos que nos preparar
para o pior cenário.

— Não. Eu não deixarei ele nos foder uma segunda vez. Ele descansou
o queixo no meu ombro. — Você mudou. Ele pode ser um idiota, mas é um
homem inteligente. Ele verá.

— Então, que outros monstros marinhos retornaram desde que eu fui


embora? Por favor, me diga que o Kraken ainda está adormecido.

Silêncio.

— Seid?

Água borbulhante coletada na ponta dos dedos, e ele massageou um


dos meus seios, fazendo meu estômago formigar e revirar.

— Hum? — Ele preguiçosamente perguntou como se não tivesse


ouvido minha pergunta.

Eu gemi quando seu toque de água de seda viajou para o meu


estômago. — Você está me distraindo para evitar minha pergunta?
— Porque você absolutamente odeia, hein? — Ele deslizou um dedo
dentro de mim, mexendo as bolhas.

Eu arqueei contra ele, gemendo.

— Mais uma razão para você se tornar rainha novamente, Cordelia. —


Ele deslizou outro dedo em mim, aquecendo a água, enviando uma onda
direto para os dedos dos pés. — Podemos lutar contra eles juntos e mandá-
los de volta para seus buracos.

Eu gritei, alcançando a parte de trás de sua cabeça para segurar algo.

— Restaurar Atlantis à sua glória anterior. — Ele sacudiu a água com a


ponta do dedo, moendo contra o meu lugar.

Gemendo seu nome, agarrei seu cabelo, puxando-o para mim para um
beijo.

Depois de me beijar brevemente, ele disse: — E coloque medo em


qualquer um ou qualquer coisa que tente foder com a nossa casa.

Sim. Sim. Tudo isso. Sim.

Depois de um movimento final, eu me desfiz, tremendo em seus braços,


beijando-o novamente. Empurrei seu ombro, forçando-o a ficar de costas, e
montei nele.

Ele sorriu, deixando-me segurá-lo.

— Prometa-me uma coisa. Seremos sempre governantes iguais. Onde


fores eu vou. Os mares são nossos.

Ele agarrou meus quadris e estreitou os olhos. — Prometo pela vida de


Rhea que o que aconteceu antes não se repetirá. Você será minha rainha. Eu
serei seu rei. Nossos tronos se tocando lado a lado.
Um sorriso puxou minha boca, largo e cheio de vida. Eu o beijei com a
alma do mar correndo em minhas veias.

— Agora, deixe-me lembrá-lo de uma habilidade minha que eu lembrei


de você nunca reclamar. — Minhas escamas brilharam.

Um sorriso perverso deslizou sobre seus lábios, e fizemos amor durante


a noite, nos reapresentando e nos unindo, cercados pelo que juramos
proteger, controlar e melhorar - As misteriosas profundezas do mar.
— Ei. — Poseidon estendeu a mão, batendo no meu joelho. — Nós não
temos que fazer isso agora. Os mares esperaram por muito tempo. Eles
podem esperar por mais.

Sentamos na minha sala, Poseidon no meu sofá e eu na minha


espreguiçadeira. Eu jurei para cima e para baixo quando saímos da gruta, eu
estava pronta para ir para Zeus. Para pedir-lhe para ser rainha novamente.

— Só os mares estão esperando? — Eu cutuquei seu pé com o meu.

Ele suspirou e passou os braços em volta dos meus ombros. — Eu


também tenho, sim. Mas, falando sério, leve o tempo que precisar.

— Quanto mais cedo eu recuperar meus poderes – Meu reinado, mais


cedo poderemos encontrar Rhode. — Apertei as palmas das mãos,
deslizando-as entre os joelhos.

— Ajudaria , sim. — Ele deslizou para a beirada de seu assento e


agarrou meus joelhos. — Mas posso lhe dizer com a maior certeza que nossa
filha está viva e bem onde quer que esteja, e você não estaria fazendo nenhum
favor a ela se apressasse para isso.

— Como você pode ter tanta certeza?

— Porque ela tem a força e a inteligência de sua mãe, juntamente com


a coragem e o senso de luta de seu pai. Ela ficará bem até chegarmos a ela.
Tártaro... Ele esfregou a nuca. — Quem sabe? Ela pode não querer voltar.
Minha garganta apertou porque eu sabia que ele estava certo. Se ela
fosse como eu e encontrasse alguém com quem se importasse durante todo o
tempo em que esteve fora, ela não deixaria isso por nada.

— Que maneira de matar minha esperança antes mesmo de a caixa ser


aberta, Seid. — Eu fiz uma careta com um sorriso parcial.

— Eu não quis dizer isso assim. Atravessaremos essa ponte quando


chegarmos a ela. Ele beijou minha têmpora e apertou minha coxa.

— Não vejo Zeus desde que ele me baniu. — Eu torci minhas mãos
juntas, uma ruga se formando na minha testa.

Poseidon esfregou meus ombros. — Zeus não tem poder total sobre
mim. Eu tenho direito de veto. E você acha que Hades votaria contra? Vai ficar
tudo bem, Cory.

Suspirei e olhei para o Olimpo acima. — Eu sei que você e Hades me


protegeriam. Esse não é o ponto.

— O que é isso? — Ele esfregou entre minhas omoplatas.

— É loucura eu querer que Zeus me aceite? Para querer me devolver


meu Reino? Eu não conseguia olhar para ele enquanto apertava minhas mãos
no meu colo.

— Você realmente se importa com o que ele pensa?

— Sob circunstâncias normais? Não. Mas isso é diferente, Seid. Você


estava certo quando disse que ele seria capaz de sentir se eu tivesse mudado.
Então, se ele discordar... — Eu deixei minha voz vacilar, voltando minha
atenção para minha configuração de jogo. Eu negligenciei isso por dias. Meus
espectadores do Glitch provavelmente se perguntaram por que eu desapareci
de repente.
— Tome vinte e quatro horas. Deixe se resolver. Estou lhe pedindo. Por
favor.

Eu pressionei a palma da mão em sua bochecha. — Tudo bem, Seid.


Mas você me faria um favor?

— Qualquer coisa que eu faça por você neste momento, querida, não é
um favor. É um dado. — Ele beijou minha mão. — Fora com isso.

— Você faria uma aparição no meu canal Glitch como Simon Thalassa?
— Apertei um olho. — Isso dispararia minhas classificações através do
telhado.

Uma risada profunda rugiu de sua barriga. — É isso? Vamos fazer isso.
— Batendo as mãos nas coxas, ele se levantou, caminhando até minha mesa
de jogos.

Com um sorriso tão largo quanto meu rosto, eu me joguei na minha


cadeira com rodinhas, apertando os botões de energia do meu console,
monitor e webcam.

— Você queria que eles soubessem que estamos juntos, ou isso vai
arruinar sua imagem? — Ele perguntou com a voz tensa.

Meu coração ficou apertado, e eu girei para encará-lo. — Uma garota


deveria ter vergonha de um cara como você?

— Eu certamente espero que não, mas imaginei que noventa por cento
dos seus seguidores são caras, a maioria dos quais, sem dúvida, tem uma
queda por você. — Ele levantou uma sobrancelha grossa.

— Oh? Você acha que eles só assistem minha transmissão porque sou
mulher e não por causa das minhas proezas nos jogos? — Eu cruzei meus
braços.
Ele olhou para mim e agarrou as costas da minha cadeira, girando-a. —
Você está sendo difícil de propósito, não está?

Eu enrolei meus dedos ao redor da alça de couro pendurada em seu


pescoço, o pingente de tridente de estanho frio contra minha palma. — Pode
ser. Mas eu tenho uma ideia. Eu posso dizer a eles que eu estive fora... Meus
olhos se ergueram para encontrar os dele, e eu mostrei minha balança para
ele. — noivo.

Um gemido escapou de sua garganta e ele enrolou uma mão atrás das
minhas costas. — E não seria uma mentira, seria?

— Não. — Eu sorri e balancei a cabeça, me inclinando para dar um


beijo rápido em seus lábios.

— Se for esse o caso. Você vai precisar de provas. — Ele segurou o


punho entre nós.

Sentei-me para trás, pressionando uma mão no meu peito.

Sua mão se transformou em água e voltou ao normal depois de um


brilho intenso. Um anel descansou em sua palma quando ele virou a mão. —
Eu sei que tecnicamente saltamos adiante e já consumamos o casamento —
Um brilho perverso brilhou em seu olhar. — Três vezes, mas o que você acha
de fazermos as coisas corretamente desta vez, hum?

Minha visão turvou com lágrimas, seios nasais ardendo, e eu coloquei


minhas mãos em concha sobre meu nariz. Sorrindo para mim, ele se ajoelhou
e segurou o anel entre dois dedos.

— Cordelia , Mãe dos meus filhos, minha eterna rainha e cuidadora dos
mares - Você quer se casar comigo?

— Poseidon, pelo amor do Olimpo. — Eu gritei, pulando da minha


cadeira e envolvendo meus braços em volta dele, soluçando.
Ele suavemente riu no meu cabelo e passou um braço em volta de mim.
— Amor, você não disse sim.

— Sim — Eu gritei, empurrando contra seus ombros para ficar em linha


reta. — Todos os anos que passamos separados, sim.

Sorrindo, ele deslizou o anel no meu dedo e permaneceu em seu joelho


enquanto eu levantava minha mão para olhar para ele. Uma sereia prateada
compunha a banda, sua cauda escamosa circulando-a, seu cabelo feito de
intrincados laços de metal enrolados em torno das pontas, que seguravam
uma vibrante pedra água-marinha.

— Seid, é lindo.

Ele me puxou para mais perto, sua cabeça alinhada com meus quadris.
Com um suspiro profundo, ele pressionou sua testa contra meu estômago e
me segurou. Eu descansei minhas mãos na parte de trás de seu pescoço e
abaixei meus lábios, pressionando um beijo em sua cabeça e congelando lá
em um silêncio feliz.

— Eu provavelmente deveria esperar para ir para a câmera agora.


Meus olhos estão inchados e vermelhos. — Eu funguei e ri.

Ele inclinou a cabeça para trás e balançou os dedos sobre o meu rosto.
— Vai ser divertido quando você tiver seus poderes de volta, lembrando de
tudo que você pode fazer com eles.

— Cale-se. — Eu o golpeei no ombro, meu novo anel brilhando com a


luz de uma lâmpada próxima.

— Você gosta disso? — Ele se levantou, me puxando para o seu lado.

Descansando minha cabeça contra seu bíceps, virei o anel da esquerda


para a direita, sorrindo para o brilho. — É tão eu que faz meu coração doer.
— Esta pronta? — Seus olhos se ergueram para o meu sistema de jogo
que estava esperando.

— Sim. Vai ser rápido, prometo. Apenas um check-in para que eles
saibam que estou viva.

Aninhada na minha cadeira, peguei meu fone de ouvido Pelican Beach e


o conjunto padrão genérico que vem com cada console, entregando a ele. —
Você pega o par idiota.

— Ah, você é tão doce. — Ele arrancou o fone de ouvido dos meus
dedos e me cutucou na lateral, me fazendo gritar. Depois que ele colocou
sobre sua cabeça, uma mecha de cabelo caindo sobre seu olhar, ele se virou
para mim com uma sobrancelha levantada. — Como estou?

O homem era fisicamente incapaz de ser pouco atraente.

— Como o operador de telemarketing mais sexy do mundo.

Ele bombeou seu punho. — Acertou em cheio.

Rindo, eu liguei minha webcam e fui ao vivo no Glitch. Não há


necessidade de um moderador com quanto tempo estaríamos. Bati minhas
unhas contra minha mesa, esperando que os espectadores percebessem que
eu tinha ido ao vivo aleatoriamente.

— Oh, eu deveria aparecer fora do quadro, certo? Fazer uma entrada?


— Ele balançou as sobrancelhas com um sorriso tão encantador que eu não
pude deixar de beijá-lo.

— Estou surpresa que você não tenha pensado nisso antes, Rei dos
Mares. — Dei-lhe um sorriso malicioso.

Ele olhou para mim, apontando, e saiu da câmera.


Demorou vários minutos, mas logo, a lista de participantes cresceu às
dezenas, levando às centenas.

— Ah, uau. Ei, navegantes do mar. — Acenei para a câmera com um


sorriso radiante. — Muito obrigada a todos por se juntarem a mim nesta
transmissão aleatória.

Fiz uma pausa para assistir ao feed do bate-papo.

MissTacoX : OMG! Achei que você tinha desistido.

HufflePufflenz : Você foi literalmente o destaque da minha semana. TÃO


feliz em vê-la de volta.

— Eu te disse. — Poseidon murmurou ao meu lado.

Eu o golpeei no joelho. — Desculpe, eu estive ausente, todo mundo. Eu


só estive ocupada... bem... Segurando as costas da minha mão na câmera, eu
empurrei o anel no quadro. — Estou noiva.

MissTacoX : WHAAAA Parabéns!!!

FriskeeBizkit : Quem é o sortudo SOB?!

— Alguns de vocês podem ter ouvido falar dele. Simon Thalassa.

Poseidon mergulhou a cabeça no quadro, segurando a mão no gesto de


soltar. — E aí, peixinhos?

MissTacoX: AHHHH

HufflePufflenz : Estou prestes a perder minha m*** agora.

Poseidon apontou para os comentários e riu – O jade em seus olhos se


intensificou com a câmera. — E você está certo Friskee, eu sou um cara
sortudo, sortudo. — Ele deu um beijo na minha bochecha, me fazendo corar.
MissTacoX : Staaaahp vocês dois são adoráveis!

HufflePufflenz : Se você me disser que ele vai começar a aparecer como


jogador convidado no seu canal, eu perderei completamente a cabeça.

Poseidon passou a mão por seus cabelos ondulados, apertando os olhos


para a câmera.

MissTacoX : Ah. Querido. Deus.

— Bem, acontece que eu sou. É melhor você acreditar que todos


devem nos temer quando nos unirmos em Tides of Atlantis — Poseidon
apontou para a câmera. — E eu estou falando principalmente com você -
ProteinGeyser.

FriskeeBizkit : Daaaaaayuuuum!

MissTacoX : LMAO

Mordi o lábio, tentando esconder o sorriso de comedor de merda que


tanto queria mostrar.

— Sim, de fato. Fiquem atentos, todos. De qualquer forma, eu só queria


aparecer bem rápido para que todos vocês saibam. E prometo que voltarei à
minha transmissão regular nas próximas semanas. — Eu mandei beijos no ar.
— Continue nadando.

FriskeeBizkit : Parabéns!

Dezenas de outros comentários voaram pelo chat, mas não me


preocupei em ler mais enquanto cortava o feed, desliguei a câmera e peguei o
rosto de Poseidon em minhas mãos. — Em breve, o mundo inteiro saberá
sobre nossos alter egos.

— Por que parar no mundo? Há uma galáxia inteira lá fora.


Removendo seu fone de ouvido, seguido pelo meu, eu o espiei pelo
canto do meu olho. — Vamos para a Atlântida.

Ele tossiu em seu punho. — Atlântida , Atlântida?

— Não, Marés da Atlântida . — Fiz referência ao pôster pendurado


acima da minha mesa. — Claro, quero dizer a verdadeira Atlântida.

— Uh-não tenho certeza que é uma ótima ideia, Cory. — Ele coçou a
nuca.

Cruzando meus braços, eu me inclinei para trás na minha cadeira,


girando. — E porque não?

— Para começar, eu disse que é uma bagunça. E em segundo lugar,


Skylla poderá encontrá-la lá. — Ele agarrou meus braços e rolou minha
cadeira na frente dele.

— Eu não me importo quão bagunçada seja. Eu quero vê-la. E meu


pedido de desculpas a Skylla não significaria mais como mortal?

Ele franziu os lábios. — Provavelmente, mas por que arriscar? Você


está muito vulnerável agora.

— Você não deixaria nada acontecer comigo. Além disso, dê-me um


tridente, e me certificarei de usá-lo se ela aparecer. Bati meus dedos no meu
bíceps.

— Oof. — Poseidon respondeu, ajustando-se. — O pensamento de


você com um tridente na mão novamente…

— Você me levará para casa, Poseidon? Acho que vê-la, especialmente


se estiver no estado em que você diz, será o empurrão final para ficar na frente
de Zeus e pedir que ele me restabeleça.

Ele assentiu lentamente. — Tudo bem.


Eu pulei no meu assento, meu telefone vibrando no meu bolso de trás.
— É uma mensagem de Meg.

Uma foto selfie dela e Hera, seus braços em volta uma da outra. Eu não
via Meg tão feliz há tanto tempo, e Hera – Possivelmente nunca. Mostrando a
tela para Poseidon, Eu sorri.

— Bonitinho. Hera já contou a ela?

— Dê a ela algum tempo. Eu não era tão difícil de vender porque eu já


sabia que tudo isso existia, lembra? Movendo-me atrás dele, eu segurei o anel
entre nossos rostos e tirei uma selfie para enviar de volta para ela.

Eu: Estou tão feliz por você, Meg.

Meg: Isso é um anel?!

Eu: Vai acontecer amanhã.

Eu tinha decidido, mas Atlantis era a peça final que eu precisava para
enfrentar o Rei dos Deuses.

Meg: Você será incrível.

Eu: Vocês duas se divirtam. 😉

Deslizando meu telefone, eu levantei meu olhar para um Poseidon


esperando na minha frente com seus braços fortes cruzados.

— Eu ainda não acho que isso seja uma boa ideia. — Ele resmungou.

— Mas um favor é dado?

— Vou me arrepender de ter dito isso, não vou? — Sua barba escondia
o sorriso em seus lábios, mas seus olhos brilhavam, denunciando-o.
— O tempo vai dizer. — Peguei seus braços e os envolvi em volta dos
meus quadris. — Vamos.

Ele nos transportou para debaixo d'água no meio do oceano. Se eu fosse


uma deusa de pleno direito, a visão da Atlântida teria mostrado
imediatamente. Depois que ele acenou com a mão na nossa frente em um
arco, os conhecidos pilares e pináculos aninhados abaixo de qualquer olho ou
mente humana desconhecidos apareceram. Chutando meus pés atrás de
mim, nadei para frente, ofegando nos escombros da cidade outrora poderosa.
O farol azul que brilhava da torre central, irradiando para o céu, tinha ficado
tão escuro que mal dava para ver através das águas turvas que cercavam
nossa casa. Nem sequer tinha energia suficiente para o escudo de cúpula que
produzia, impedindo a entrada de todos os convidados indesejados.

— Você não estava brincando. Como isso aconteceu? — Engoli em


seco, nadando até um prédio com um buraco gigante na lateral.

— As criaturas lutaram pelo controle dele. Eu os parei todas as vezes,


mas sem harmonia, o caos é inevitável.

Sem... eu.

— Eu sabia que você não seria capaz de resistir a voltar aqui. — Skylla
gritou atrás de nós. Seus tentáculos atacaram.

— Cordelia. — Poseidon gritou, fazendo um tridente de prata, o gêmeo


dele, mas mais pequeno, aparecer na minha mão.

Meu velho tridente. Ele tinha guardado.

Girando o tridente na palma da minha mão, eu o segurei acima da minha


cabeça em um movimento de facada. — Eu não quero lutar com você, Skylla.
Simplesmente fale.
— Falar é muito barato, Amphitrite. Estou esperando há muito tempo
para me vingar. Sempre tão paciente. — Ela soltou um grito estridente e
lançou dois tentáculos em mim.

Usando as pontas do meu tridente, desviei um. Poseidon disparou na


minha frente, esfaqueando seu tridente no segundo.

Skylla soltou um grito de gelar o sangue, puxando seu tentáculo das


pontas afiadas, enviando um jato de sangue.

— Skylla, quero me desculpar. Eu era uma pessoa completamente


diferente naquela época. Eu estava com ciúmes. Confusa. — Eu segurei o
cajado do tridente acima da minha cabeça enquanto uma das cabeças de
dragão em seus tentáculos me atacava, fazendo-o morder o metal indestrutível
– Metal atlante.

— Com ciúmes? Por algo que eu não fiz? E então você me transformou
em... nisso? Ela rugiu, jogando seus grandes braços para os lados.

— Eu não sabia que as ervas fariam isso com você, Skylla. — Minha
testa franziu, e eu apertei meu aperto no bastão. — Se eu pudesse largar a
maldição, eu o faria.

O peito de Skylla arfou antes que todas as cabeças de dragão


rosnassem. — Não é bom o suficiente. Nada que você diga ou faça será bom
o suficiente.

— Isso é o suficiente. — A voz de Poseidon explodiu enquanto ele


enviava uma onda sônica pela água com a mão, forçando Skylla a recuar. —
Se você não aceitar o pedido de desculpas dela, então é melhor você sumir e
rezar para que ela não queira caçar você quando ela for rainha novamente.

Eu mantive as pontas apontadas em sua direção, franzindo a testa.


Eu tinha pensado que seria tão simples? Ela aceitaria meu pedido de
desculpas, nós o abraçaríamos, e as cabeças de dragão me deixariam coçar
todos eles debaixo do queixo?

Os punhos de Skylla se fecharam e vibraram em seus lados antes que


ela desaparecesse nas profundezas escuras, um grito esmaecido seguindo-a.
O tridente caiu mole em minhas mãos, e meus ombros caíram para frente.
Poseidon flutuou na minha frente, gentilmente tirando a arma de mim.

— Você está bem? — Apesar da ameaça muito recente à minha vida,


sua voz rouca ainda fazia minha pele formigar.

— Eu me sinto mal. Como eu pude fazer isso com ela?

Ele zombou. — Já fiz muito pior. Confie em mim.

Eu cortei-lhe um olhar exasperado.

— Não está ajudando. Certo. — Ele estalou os dedos, flutuando


pequenas bolhas na frente dele. — Quando você é a Rainha, você pode
acabar com a maldição dela. No mínimo, manipulá-la.

— Eu posso? Mas como? As ervas vieram de... — Mordi meu dedo. —


Não me lembro de quem as peguei.

— Não importa. Ela é uma criatura do mar agora, o que lhe dará os
meios para controlar. Sem mencionar que ela era uma ninfa anterior, como
você.

Eu enrolei minhas mãos sob meu queixo. — Estou tão pronta, Seid. Eu
estou. — Virando-me para olhar para as ruínas e escombros de uma cidade
outrora vibrante e brilhante, suspirei. — E eu devo consertar isso.

— Você irá. — Ele deslizou sua mão na minha, fazendo círculos contra
minha palma com o polegar.
Levantando minha cabeça, eu balancei a cabeça. — Marque uma
reunião com Zeus. A primeira coisa amanhã, estarei diante dele e pedir - não -
exigir meu reinado de volta.

— Você vai exigir ? — Um sorriso malicioso curvou seu lábio superior.

— Não acha que eu posso?

Ele se virou para mim, puxando minha mão para me trazer de encontro a
ele. — Eu te desafio .

— Desafio aceito. — Eu me ajeitei para ele, serpenteando meus braços


ao redor de seu pescoço. — Nós em espiral.

— É melhor você segurar com mais força, futura rainha. — Ele roçou
seus lábios contra os meus, esperando que eu apertasse meu aperto em torno
dele.

Fazendo seu tridente desaparecer, ele segurou em mim com uma mão,
transformando a outra na mesma água do oceano em que flutuamos. Depois
de várias voltas, giramos lentamente em um círculo, seu poder criando
correntes e hélices de bolhas ao nosso redor. O ímpeto cresceu e cresceu até
que giramos em espirais intermináveis em direção à superfície. Rindo, eu
passei pelo pensamento do círculo consistente me deixando tonta como uma
mortal, mas pressionei minha bochecha na dele para me aterrar.

Atravessamos a superfície e balançamos, envoltos nos braços um do


outro. O sol poente lançava tons de roxo, rosa e laranja em listras no céu,
refletindo nas águas cintilantes do oceano.

— Eu te amo — Eu sussurrei, e assistimos o resto do pôr do sol com os


melhores lugares da casa.
Paramos em frente ao prédio da Crane, Crane e Wallace Law em Nova
York. Eu vesti a jaqueta e a saia lápis que eu possuía, estilizei meu cabelo, e
peguei meus saltos altos pretos de um buraco negro no meu armário.

— Eu não posso acreditar que Zeus, Rei dos Deuses, está praticando a
lei. — Eu murmurei, cruzando meus braços.

Poseidon vestiu uma camisa e calça, mas se recusou a amarrar o cabelo


para trás, afirmando que seu irmão teria que superar isso. Ele abriu a porta
para mim, me conduzindo para dentro. — Você não quer ouvir outros
trabalhos de capa que ele teve ao longo dos anos. Confie em mim.

— Você tem razão. Eu não. Ele é pelo menos um bom advogado? —


Segurei minha bolsa em uma mão e agarrei a mão de Poseidon com a outra.

— Infelizmente, ele é o melhor deste lado do país.

— Por que, infelizmente?

— Porque ele é um maldito advogado de defesa criminal. — Poseidon


resmungou, pressionando a mão na parte inferior das minhas costas e me
guiando para a recepção.

— O quê? — Eu bati, preparada para fazer perguntas intermináveis


quando uma mulher da minha altura com cabelo castanho cortado se
aproximou de nós.

— Você é o cliente das três horas do Sr. Vronti? — A mulher enrolou o


cabelo enquanto examinava os braços e o peito de Poseidon.
Deslizando na frente do meu futuro marido, eu abri um sorriso
encantador. — Nós somos.

— Então, você é irmão dele, hein? A maçã certamente não cai longe da
árvore. Posso ver a semelhança. — Ruth mordeu o lábio, inclinando-se para o
lado para espiar ao meu redor.

— Exatamente o que eu amo ouvir. — Poseidon murmurou.

Peguei um de seus braços e o envolvi em volta dos meus ombros.

A mulher limpou a garganta e ajustou os óculos de aro de metal. — Por


aqui, por favor.

A boca de Poseidon pressionou contra minha orelha. — Defendendo


seu território, Starfish? — Ele sorriu para o meu cabelo.

— Pode apostar sua bunda que eu estou. — Eu de brincadeira lhe dei


uma cotovelada nas costelas.

Rindo, ele enrolou a mão sobre meu quadril enquanto seguíamos a


mulher.

— Sou Ruth, assistente do Sr. Vronti. Ele disse que estava ansioso por
esta reunião o dia todo. — Ruth ofereceu um sorriso caloroso por cima do
ombro.

— Aposto que sim — Disse Poseidon com uma tosse.

Mordi o interior da minha bochecha. — Você sempre fica tão mal-


humorado quando sabe que estaremos perto do seu irmão — Eu sussurrei.

— Ele tira isso de mim.


— Aqui estamos. — Ruth abriu a mão para uma sala de reuniões à
espera. — Algum de vocês precisa de algum refresco enquanto espera? Ele
deve demorar apenas mais um minuto ou dois.

— Água? — Parei ao lado de uma das cadeiras rolantes aninhadas na


longa mesa de vidro.

— É claro. Engarrafada ok? — O nariz empinado de Ruth se animou


ainda mais quando ela sorriu.

— Perfeito — Eu respondi antes de me sentar.

Ruth saiu correndo, deixando a porta de vidro se fechar atrás dela.

Sentei-me em linha reta, cruzando minhas mãos na minha frente


primeiro sobre a mesa, deixei-as cair no meu colo e depois de volta à mesa.

Poseidon deslizou sua mão grande sobre as minhas e levantou uma


sobrancelha. — Relaxa. Vai ficar tudo bem.

Assentindo, eu espalmei minhas palmas sobre a mesa. — Na verdade,


estou ansiosa pelo olhar em seu rosto.

Poseidon bufou, e nós dois enrijecemos quando a porta se abriu.

Ruth entrou trotando, colocando duas garrafas de água na nossa frente.


— Eu juro que ele deve demorar apenas mais alguns minutos. Ele está em
uma reunião com a promotoria sobre seu último grande caso, e já passou do
tempo previsto. Isso acontece com frequência. — Ela deu um sorriso
tranquilizador antes de saltar sobre os calcanhares e sair.

Soltei um suspiro exasperado e afundei na cadeira, descansando a


cabeça nas costas. — Ele não mudou nem um pouco.
— Duvido muito que sua pontualidade o faça. Ele gosta de fazer as
pessoas suarem. — Poseidon apoiou os antebraços na mesa, pegando uma
das garrafas em suas mãos.

— Ah, isso já começou. — Eu puxei a gola do meu casaco. — Graças


à Olympus, estou vestindo uma jaqueta sobre esta blusa.

— Quantas vezes você praticou seu discurso no espelho quando eu


deixei você na noite passada? — Os olhos de Poseidon brilharam para mim
enquanto ele tomava um gole da garrafa.

— Apenas duas vezes. — Cruzei os braços em um huff. — OK tudo


bem. Quatro vezes.

— Quer praticar? Posso fingir que sou ele.

Eu torci meu nariz. — Obrigada, mas não, obrigado. Eu não quero que
você finja que é ele.

Rindo, ele inclinou a cabeça para trás e terminou a água.

Eu me levantei, movendo-me para um canto da sala, beliscando a ponta


do meu nariz, e repassando na minha cabeça o que eu planejava dizer a ele.

A porta se abriu e eu congelei de costas para ela.

— Eu diria que sinto muito pelo atraso, mas então me lembro da


companhia — Disse Zeus ao entrar, sorrindo e fechando a porta.

— Como vai, idiota?__ Disse Poseidon.

Por que eu não tinha me virado ainda? Meus saltos estavam claramente
colados ao chão.

— Eh. As coisas estão fadadas a mudar eventualmente. Quem é a


moça?
Eu apertei minhas mãos no meu peito.

Poseidon limpou a garganta.

Rolando meus ombros para trás e limpando qualquer evidência em meu


rosto de que meus nervos estavam no limite, virei em um calcanhar.

Zeus tinha um sorriso presunçoso no rosto, mas se transformou em


choque e raiva quando ele me encarou. — O quê. Porra?

— Surpreso em me ver? — Eu levantei minhas sobrancelhas.

— Você está muito certa que eu estou. — Ele cortou seu olhar para
Poseidon, apontando para mim. — O que é isso tudo, Poseidon?

— Como é o Tártaro? Ela está de volta. Estamos juntos novamente. —


Poseidon empurrou para fora da mesa, ficando de pé e tensionando os
braços.

Zeus revirou os olhos e se afastou de nós. — Oh, pelo amor de Deus.


Um deus Rei pode dar um tempo?

Reunindo cada gota de coragem surgindo através de mim, atravessei a


sala, ficando diretamente atrás de Zeus. — Quero meu reino de volta. Minha
imortalidade. Tudo isso.

— Ó, você quer? — Zeus se virou para me encarar, pairando sobre


mim como as nuvens de chuva que ele comandava. — Difícil. Merda.

Suas palavras me chocaram, deixando meu cérebro confuso.


Sacudindo-o, eu me mantive firme. — Sim. Sei que falhei em minhas
responsabilidades há milhares de anos. Mas me banindo para as estrelas?
Fazendo-me ver minha família gradualmente se esquecer de mim? Você não
acha que foi um pouco, sei lá, duro?
A narina esquerda de Zeus saltou. — Você saiu fácil, Amphitrite porque
você era a esposa do meu irmão. Você gostaria de saber o que aconteceu
com outros deuses que falharam comigo?

— Zeus. — Poseidon rosnou, dando um passo em nossa direção.

— Poseidon. — Zeus apontou para ele, relâmpagos faiscando nas


pontas dos dedos e brilhando em seus olhos. — Nem pense nisso. — Ele
cortou seu olhar de volta para mim. — Eu te dei chances. Duas vezes, na
verdade. Você não prestou atenção aos meus avisos.

— Zeus, por favor. — Recorrer a implorar me deu náuseas. — Nós


dois mudamos. Não vou me afastar dos meus verdadeiros deveres
novamente. Ele me mostrou a Atlântida — O estado em que nossos oceanos
estão. Posso consertar tudo isso. E eu quero mais do que tudo.

O relâmpago desapareceu, e ele baixou a mão, seu olhar vacilante para


o chão.

— Você sabe que não há ninguém mais adequado para isso do que ela.
Pare de ser tão orgulhoso. O peito de Poseidon arfava.

Zeus estalou a língua contra os dentes. — Não tem nada a ver com
orgulho. As decisões que tomo são para a melhoria do universo. Não tem nada
a ver comigo .

— Eu não falharei desta vez, Zeus. Eu não vou. Minha garganta


balançou, pensando em Rhode. — Não posso.

Uma carranca distorceu as feições de Zeus quando ele desviou o olhar


de mim para Poseidon e vice-versa. Ele brincou com uma das abotoaduras —
Z — Em sua camisa, sua mandíbula apertada.

— Amphitrite. Se eu fizer isso, e você falhar de novo, certificarei de que


não há absolutamente nenhuma maneira de você voltar. Você entendeu? — A
bochecha de Zeus se contraiu, uma sugestão de brilho em seus olhos.
— Eu entendo.

Zeus virou a cabeça para Poseidon. — Isso é com você se ela foder
tudo.

— Ela não vai. — Poseidon balançou a cabeça.

Meu coração disparou com as palavras de Poseidon enquanto, ao


mesmo tempo, corria com o intimidante rei deus em pé de igual para igual
comigo, segurando meu destino em sua palma.

Sem perguntar se eu estava pronta, Zeus agarrou meu ombro e fechou


os olhos. Minhas costas arquearam quando o poder familiar surgiu através de
mim, entrelaçando-se com meus ossos e pulsando em minhas veias. As ondas
do mar bateram na minha mente, a textura áspera da pele do tubarão roçou
minhas pontas dos dedos, e o cheiro salgado do mar se instalou ao meu redor.
Assim que a mão de Zeus caiu, a realidade escorreu como gotas de chuva no
convés de um barco – Coletando pouco a pouco até que eu estava na sala de
reuniões como eu mesma, como Cordelia, mas muito mais. Meus próprios
poros correram com poder, implorando para serem livres depois de serem
reprimidos por tanto tempo.

O olhar de Zeus se voltou para a janela atrás de nós, onde os nova-


iorquinos corriam na calçada. — Terminamos aqui? — Ele estalou os dedos,
jogando um pedaço de ambrosia para Poseidon, a substância cristalina laranja
brilhante pousando em sua palma.

— Eu não sonharia em pedir mais nada de você, irmão. — Poseidon


apertou a ambrosia em seu punho, olhando para Zeus.

— Bom. Leve-a para Atlantis, quero que essa situação seja corrigida
hoje . — Zeus dirigiu-se para a porta.

Eu me movi na frente dele em um spray de mar cintilante que combinava


com o de Poseidon. — Espere.
Zeus afinou os lábios. — Oh, há algo mais que eu possa fazer por você,
alteza?

— Rhode. Você pode nos ajudar a encontrá-la. Eu pressionei meus


dedos contra o vidro atrás de mim.

— O que te faz pensar isso?

— Você é o Rei dos Deuses. Certamente você poderia.

Zeus se inclinou para frente, aproximando seu rosto do meu. — Eu não


sou todo-poderoso. Gaia com certeza como o Tártaro se certificou disso. Eu
não posso te ajudar. Agora mexa-se.

Engoli em seco, empurrando minhas mãos tão ferozmente contra a porta


que o vidro rachou. — Não. Eu devo encontrá-la.

Os olhos de Zeus caíram para a porta danificada, e ele suspirou,


passando a mão pelo cabelo curto escuro e bem aparado. — Fale com
Kairos. Ele não poderá levá-la até ela, mas poderá dizer quando ela estiver.

Eu pisquei, meio que esperando que ele lutasse mais. Zeus era...
diferente. Uma versão mais velha dele teria me feito rastejar a seus pés para
ganhar minha realeza de volta – E ele teria brincado comigo, possivelmente
por dias, antes de eventualmente fazer isso como um favor em troca de outra
coisa. Mas agora, ele só hesitou porque estava preocupado que eu não faria
meu trabalho.

Hera deixá-lo abalou seu mundo mais do que ele deixou transparecer?

— Obrigada. — Eu olhei para ele quando me afastei.

Ele rosnou baixinho, abrindo a porta. — Uh-hum.

— Zeus, você está — Eu estendi a mão, mas enrolei meus dedos para
trás. — Você está bem?
Ele parou com um braço rígido na porta. — Nada que Hermes não
possa investigar para mim. — Sua mandíbula se apertou. — Vou esperar o
dobro do trabalho de você.

E com isso, o Rei dos Deuses rondava seu covil como o advogado
mortal.

— Você está pronta para terminar isso, Starfish? — Poseidon deu um


passo para o meu lado, arrastando o dedo sobre minha bochecha.

Como mortal, seu toque eletrizou minha pele, mas como uma deusa,
positivamente a derreteu.

— Ela está me chamando, Seid. — Eu sorri para ele, envolvendo meus


braços ao redor de sua cintura, e depois de garantir que as persianas
estivessem fechadas, eu nos levei para a margem.

As ondas batiam contra meus pés descalços, sussurrando para mim, me


chamando, me pedindo para curá-lo.

— Você se lembra do que dizer, meu amor? — Poseidon pressionou a


mão na minha bochecha.

Apesar de ter sido eras atrás, eu me lembrei de dizer as palavras para


ele pela primeira vez como se tivesse acontecido ontem.

— Eu reivindico os mares e seu rei, como ele me reivindica.

Ele me beijou, fazendo círculos nas minhas bochechas com cada um de


seus polegares. A água se lançou ao nosso redor, atirando gêiseres em
direção aos céus. Um redemoinho de água me envolveu, devolvendo minhas
vestes brancas originais, meu tridente e, finalmente... minha coroa de conchas
de prata com três pequenas pontas. Poseidon colocou a ambrosia na minha
boca e beijou minha testa. Uma faísca de luz explodiu através de mim,
viajando para cada neurônio, separando-os antes de se fundirem, unindo-os
por toda a eternidade.
Imortalidade. Eu tinha esquecido quão agridoce era – Uma finalidade
para sempre.

— Minha Rainha. — Poseidon sussurrou contra minha pele, pegando


minha mão com o anel que ele tinha me dado e dando um passo para trás.

Ele apareceu em sua armadura dourada em uma onda de rajadas –


Peças de ombro, manoplas, lutos, peito nu. Sua coroa pontiaguda de ouro
brilhava em cima de seu cabelo loiro sujo, e ele beijou meu anel.

— Vamos restaurar nossa casa, Cordelia. — Ele estendeu a mão, me


encorajando a caminhar até a beira da água.

Fechando os olhos, respirando a vida que vaporizava ao meu redor das


profundezas do oceano, dei meu primeiro passo para casa. Uma onda sônica
explodiu sobre a superfície, pulsando no céu. Poseidon ficou ao meu lado, mas
não me tocou. Ainda não. Ele me deixou me familiarizar novamente em meus
próprios termos. A cada passo que eu dava na água, meu rastro brilhava e
brilhava, aquecendo ao meu toque. Uma vez que o oceano alcançou meus
quadris, eu girei minhas mãos, lançando orvalho da ponta dos meus dedos.
Centímetro a centímetro minhas pernas desapareceram, substituídas por um
rabo de sereia azul-petróleo. Eu mergulhei, me virando para esperar Poseidon
me seguir.

Ele sorriu, circulando a mão em torno de si, produzindo uma cauda


dourada. — Como eu lhe disse. Como andar de carruagem.

Eu virei meu rabo, esticando minhas mãos para que ele as pegasse. —
Não me lembro do caminho para Atlântida, Seid. Mostre-me?

Entrelaçando nossos dedos, ele nos fez rolar em torno um do outro,


nossas caudas roçando.

— Vamos pegar a rota cênica. O mar, os animais, tudo isso – Você


pode sentir o quanto sentiu sua falta?
Com cada golpe do meu braço na água, ele se afastava como um
abraço.

— Sim — Eu respirei.

Ele puxou minha mão e, nadando lado a lado, me guiou pelo oceano,
nossas coroas brilhando e brilhando como um farol para toda a vida aquática -
Um anúncio de que tanto o rei quanto a rainha haviam retornado. Peixes de
todas as variedades circulavam nossos braços e caudas, tartarugas marinhas
roçando nossos braços enquanto passavam. Um grupo de golfinhos apareceu
abaixo de nós, guinchando sua excitação, me implorando para brincar com
eles.

Poseidon apertou minha mão e ergueu o queixo. — Prossiga. Continue


me seguindo, e eles também. — Ele sorriu para mim, incitando-me a nadar
com eles novamente com uma cotovelada.

Com uma risada jovial, nadei entre os seis golfinhos, combinando cada
golpe de suas caudas batendo as minhas. Dois se moveram de cada lado de
mim, incitando-me a segurar suas barbatanas dorsais. Sorrindo, eu envolvi
minhas mãos ao redor deles e com a força bruta de dois deles juntos, eles me
catapultaram em direção à superfície, me fazendo quebrar. A lua acima brilhou
para mim, fazendo minhas escamas brilharem antes de eu virar para trás e
mergulhar, juntando-me novamente a Poseidon ao seu lado.

— É incrível ver você assim de novo. —Ele arrastou os dedos sobre o


meu rabo no alargamento dos meus quadris.

Eu tremi contra seu toque. — É incrível se sentir assim de novo.

— Estamos quase lá. Você pode sentir isso? — Poseidon produziu seu
tridente dourado, preparando-se para lutar contra qualquer criatura que
pudesse estar à espreita.
Produzindo meu tridente de prata, eu o enrolei contra meu braço,
fechando meus olhos para sentir o pulso de Atlantis. No começo, era fraco,
mas depois de colocar todo o meu poder nele, o ritmo constante como um
poderoso bumbo vibrou no meu peito. Eu abri meus olhos e lá na nossa frente,
sem necessidade de revelar desta vez, estava Atlantis.

Não perdi tempo, alcançando a primeira pilha de escombros. As ruínas


brilharam e se juntaram novamente, selando com um feixe de luz azul.

— Continue. Vou ficar de olho e alertá-la se vir alguma coisa. —


Poseidon enrolou um braço em volta da minha cintura e beijou minha testa
antes de nadar para obter uma visão aérea do nosso entorno.

Continuei a contornar as ruínas de nossa cidade, juntando-a novamente,


rejuvenescendo-a, dando-lhe vida e propósito novamente. Com cada estrutura
concluída, o prédio suspirava como se estivesse aliviado com meu toque de
cura. Fazia tanto tempo desde que usei meus poderes nessa magnitude, o
esforço foi exaustivo a ponto de quase cair no fundo do oceano.

Um grunhido alto vibrou nos prédios ao redor, seguido por vários


tentáculos pretos gigantes envolvendo estruturas e esmagando-as. Um par de
grandes olhos vermelhos brilhantes apareceu das sombras, sua cabeça
bulbosa lustrosa com lodo.

O Kraken.

— Maldito Tártaro. Continue, Cordelia. Eu vou afastá-lo. Precisamos


fazer esse farol funcionar — Gritou Poseidon, girando seu tridente e
embalando-o na dobra de seu braço.

A visão da lula monstruosa pode ter me abalado – Me aterrorizado como


mortal. Como rainha, zombei de sua presença e preparei meu tridente ao meu
lado. Levantando minhas mãos, continuei a curar minha cidade caída, lutando
contra o desejo de desmoronar. Usando o punho do tridente, eu o pressionei
contra o chão – Me apoiando nele, tocando e acariciando cada pedaço de
escombros.

Poseidon rugiu, balançando seu tridente e esfaqueando um tentáculo


antes de arrancá-lo para empalar outro. Fios de sangue negro nublaram as
águas ao redor, e os lamentos do Kraken sacudiram o fundo do mar como um
terremoto subaquático. O brilho dos olhos vermelhos da criatura pulsou, e
lançou dois tentáculos no estômago de Poseidon, jogando-o no prédio que eu
estava consertando, destruindo-o novamente.

— Querido, estou tentando consertar Atlantis? — Eu gritei para ele,


girando minhas mãos para juntar os pedaços caídos novamente.

Poseidon grunhiu, os tentáculos do Kraken o envolveram, apertando-o.


— Sinto muito querida, certificarei de perguntar ao Kraken se ele não se
importaria de me jogar na outra direção. —Com um grunhido, Poseidon
esfaqueou a parte de baixo do tentáculo e a criatura o soltou.

Zoom horizontalmente através da água, Poseidon apontou para o


pescoço do Kraken, usando o tridente e seus braços para sufocá-lo. Todos os
tentáculos da criatura se mexeram, se contorceram e balançaram em
movimentos frenéticos. Poseidon apoiou os pés nos ombros da criatura,
afastando-se e inclinando-se para trás. Com os dentes cerrados, ele rosnou,
puxando cada vez mais forte antes de gritar.

Com o último edifício curado, usei a força que me restava, sacudindo


meu rabo para encontrar o Kraken cara a cara, meu tridente de prata
brilhando nas palmas das mãos. A criatura olhou para mim, lançando seus
tentáculos, tentando envolver minha cintura. Eu cortei para a esquerda,
cortando um tentáculo, esfaqueei para a direita, espetando outro. Revirando o
pescoço, puxei energia do oceano, substituindo apenas uma fração do que
gastei reparando Atlântida. Jogando meus braços para os lados, tridente em
minhas mãos, eu pulsava um eco pela água assim que Poseidon o soltou. O
pulso viajou em cachos até catapultar para o Kraken, voando para longe, a
escuridão consumindo-o e engolindo-o inteiro. Meus ombros caíram, o tridente
caindo flácido em minhas mãos enquanto eu me inclinava contra um pilar, sem
fôlego e tonta.

— Você está bem? —A mão de Poseidon acariciou meu braço.

— Estou bem. — Um sorriso fraco vibrou em meus lábios. — Só não


estou acostumada a exercer tanto poder.

Poseidon sorriu, enrolando um dos meus braços sobre seus ombros


enquanto um dos seus envolvia meus quadris, me apoiando. — Eu tinha
esquecido quão incrivelmente fodas somos juntos em uma briga.

— Você devia se envergonhar. —Eu sorri.

— Parece melhor do que nunca, Cory. — Poseidon nos nadou em


círculos, maravilhado com o que eu havia criado.

— Há uma peça final, Seid. Mas precisarei de sua ajuda. — Eu estendi


minha mão para ele.

Agarrando-a, ele beijou meus dedos e nadou até ao ponto mais alto do
prédio mais alto. Cada um de nós tomou um lado e, segurando nossos
tridentes com as duas mãos, batemos os punhos em uníssono. Um brilhante
feixe de luz azul voou alto, servindo como um roteiro para qualquer digno de
sua glória encontrar Atlântida. Uma cúpula holográfica azul de hexágonos se
formou sobre a cidade, selando-a firmemente.

Poseidon me abraçou ao seu lado e sorrimos para a luz brilhando no


centro da cidade novamente.

— Bem, bem. Olha quem recuperou o poder dela — A voz escorregadia


de Skylla ecoou nos prédios de pedra ao nosso redor.

Poseidon e eu nos viramos em uníssono, preparando nossos tridentes


ao nosso lado.
Ela já estava lá dentro antes de o fecharmos.

— Skylla, espere. Eu posso te ajudar agora. — Eu segurei uma palma


para cima, abrindo minha mão.

Eu não tinha ideia de como iria ajudá-la, mas Poseidon disse que eu
poderia...

— Ninguém pode me ajudar. Você está mentindo em uma tentativa de


salvar sua própria pele. — Os tentáculos de cabeça de dragão de Skylla
bateram e estalaram.

— Você deveria se preocupar com sua pele, Skylla. Você tem sorte que
ela ainda não a espetou onde você flutua. Poseidon girou o punho de seu
tridente em suas mãos.

Fechando meus olhos, chamei meu poder, mantendo minha mão


estendida na direção de Skylla. O que eu poderia fazer por ela? Como? Como
se respondesse aos meus apelos não ditos, minha magia instalou uma
resposta em minha mente como gotas de água.

— Skylla, não posso fazer de você uma ninfa do mar novamente, mas
posso fazer de você uma criatura diferente. Embora eu não possa prometer
que você ainda não desejará carne. Talvez não seja puramente da variedade
humana. — Eu mantive minha mão para cima, pronta para usar meu poder
sobre ela no momento em que ela concordasse.

— Outra criatura? Qual seria o ponto? Todas as criaturas das


profundezas são monstruosas e eu os vi. — Ela rosnou, enrolando duas das
cabeças de dragão em seu peito.

— Eu posso fazer de você uma sereia. — Senti os olhos de Poseidon


traçando sobre mim.

Skylla zombou. — Uma sereia que anseia por carne. Absurdo.


— Estou lhe dando uma oportunidade de se transformar, Skylla. Depois
de hoje a oferta não vale mais. Você prefere ser uma sereia ou uma meia
mulher, meio polvo com tentáculos de cabeça de dragão que soa como um
leão-marinho moribundo sempre que fala? Eu olhei para ela.

Aceite o acordo.

As cabeças do dragão sibilavam, girando e girando como se


entendessem que em breve poderiam não existir.

Skylla franziu a testa, acariciando uma das cabeças com a delicadeza de


tocar um animal doméstico. Ela ergueu o queixo e balançou a cabeça
lentamente. — Não.

Pisquei, deixando cair minha mão ao meu lado antes de levantá-la


novamente. — Não?

— Sua oferta não é para mim. É para você. Sem dúvida, para se sentir
melhor. Você quer me ajudar? — Ela instigou as cabeças do dragão para
frente, suas bocas soltando fogo. — Luta comigo.

Lutar não resolveria nada, mesmo que eu tivesse força em mim.

— Eu não vou. Deixe-me ajudá-la, Skylla. Não se trata apenas de aliviar


minha consciência. Trata-se de desfazer um erro. O que eu posso fazer? —
Eu fiz meu tridente desaparecer, segurando minhas palmas para ela.

— Cordelia, o que diabos você está fazendo? — Poseidon rosnou e


nadou para o meu lado, apontando as pontas douradas de sua arma para
Skylla.

— Só há uma coisa que você pode fazer para me fazer feliz, rainha do
mar. — Ela jogou as mãos para os lados, soltando as dez garras negras. —
Morrer.

Bem-vinda de volta, Cordelia. Bem-vinda de volta, de fato.


Skylla gritou e disparou para frente, Poseidon correndo na minha frente
para bloquear seu primeiro golpe. Fechei meus olhos, abrindo minha mão para
puxar um pouco da energia da água para mim – Revitalizando-me
temporariamente. Recusando-me a esfaqueá-la com meu tridente
acidentalmente, bati palmas, causando uma onda de choque que viaja pela
água e catapulta para Skylla. Ela voou para um prédio próximo,
desmoronando-o novamente, me fazendo careta.

— Seid, faça o que fizer, por favor, não a mate. —Agarrei o cotovelo de
Poseidon, olhando para ele suplicante.

Sua mandíbula se apertou antes que ele desse um aceno curto.

Skylla soltou um grito de gelar o sangue, seus dragões sibilando e


mostrando os dentes. Ela nadou em nossa direção, e eu girei meus braços,
chutando um tornado de água que a fez congelar no lugar, girando. Toda vez
que ela tentava escapar, eu empurrava minhas mãos para frente, criando uma
parede de água invisível.

Poseidon sorriu ao meu lado, seu aperto no punho do tridente.

— Você está tentando superar um par de deuses do mar que podem se


defender até mesmo contra o Kraken, Skylla. Você realmente acha que pode
vencer? —Eu fiz uma careta, ignorando a exaustão puxando meu cérebro.

Skylla rosnou e gritou enquanto continuava tentando escapar da minha


água em redemoinho.

— Ou me deixe ajudá-la ou vá embora, Skylla. Não posso deixar você


destruir a Atlântida novamente. — Eu cerrei um punho, fazendo a rotação
parar, mas segurando-a no lugar.

— Apenas me mate. — As palavras saíram da garganta de Skylla –


estrangulada.
Testemunhar sua expressão angustiada fez um nó se formar na minha
garganta. — Eu não posso fazer isso. Não é o tipo de deusa que eu sou.

As cabeças de dragão se afastaram, suas bocas se fecharam e os


ombros de Skylla caíram. — Coloque-me no chão.

Fazendo o que ela pediu, eu a abaixei no chão e gentilmente puxei


minha mão, permitindo que ela se movesse livremente. — Eu realmente sinto
muito pelo que eu fiz com você. Não podemos permitir que você fique na
Atlântida, mas você pode ter qualquer lugar que desejar para fazer um
santuário sob os mares. E você estará segura.

— Não tenho certeza se serei capaz de perdoá-la, rainha, mas aceito


sua oferta de santuário.

Eu balancei a cabeça para ela, um nó se formando em meu estômago.


— Então escolha o lugar, e nós o faremos. Poseidon colocará um feitiço de
proteção sobre ele.

Skylla desviou o olhar para o meu rei.

Poseidon ficou em silêncio por um instante antes de bater o punho do


tridente contra o fundo do mar. — Será feito. Você tem minha palavra.

Skylla abaixou a cabeça com uma carranca, seus tentáculos se


enrolando na água, empurrando-a através do escudo da cúpula para a
escuridão antes de desaparecer.

— Eu sinto muito. — Poseidon colocou a mão nas minhas costas. —


Eu não posso imaginar que esse é o tipo de encerramento que você esperava,
querida.

— Não é, mas eu não deveria ter esperado que ela me perdoasse.


Estou pelo menos feliz em saber que ela estará segura, onde quer que ela
acabe.
Ele beijou minha têmpora. — Nós cumprimos a ordem do ilustre Zeus.
O que você deseja fazer agora?

Eu descansei minha cabeça em seu ombro e suspirei. — Há alguém


que eu preciso ver. E espero... que ele queira me ver.
O porto de San Diego, Califórnia. Lar do navio Sea Urchin quando não
estava defendendo os mares da superfície, parando os baleeiros. De acordo
com Poseidon, o navio que meu filho Triton manipulou disfarçado de mortal na
última década. Fiquei no cais, observando os membros da tripulação saírem
do enorme navio depois de decolarem. Apesar do clima ter chegado a uns
oitenta e cinco graus amenos, eu tremi de nervos borbulhantes.

E se ele ainda estivesse bravo comigo? E se ele não quisesse nada


comigo?

E eu não podia culpá-lo por sentir nada disso.

Um homem alto com cabelo loiro acinzentado até a clavícula e uma


barba clara saltou para o cais, balançando uma mochila sobre o ombro.

— Vejo você na próxima semana, Tim — Outro homem gritou para ele.

Tim era Triton. Ele tinha que ser.

Quando nos olhamos do outro lado do cais... eu tinha certeza disso. Ele
era a cara de Poseidon com seu cabelo loiro e olhos da mesma cor da pedra
no meu anel. E ele tinha meu nariz e mandíbula afiada. Meu. Filho.

Triton congelou, olhando para mim, uma ruga na testa. Eu tinha


repassado esse cenário uma dúzia de vezes, avaliando todas as
possibilidades. A esperança vibrou no meu estômago, mas a carranca em seu
rosto me fez cambalear.

— Triton — Eu sussurrei, sabendo que ele podia me ouvir apesar da


distância entre nós.
A carranca desapareceu, e ele deixou cair a bolsa no cais com um
baque. Ele caminhou em minha direção, e eu o encontrei no meio do caminho,
batendo as mãos no nariz para não chorar.

— Mamãe? —Ele procurou meus olhos como se tentasse se lembrar do


meu olhar – Tentando se lembrar de um rosto de quando ele era criança.

— Ei Turtle. —8 Eu engasguei seu apelido que eu dei a ele quando


menino, fazendo minhas escamas brilharem na minha pele tão rapidamente
que o olho humano não as perceberia. Mas ele iria.

E agora eu sabia por que toda a minha vida mortal como Cordelia eu
sempre fui tão atraída por tartarugas marinhas. Meu subconsciente estava me
dando dicas a cada passo. A única vida que levei que ela já teve. O destino
sabia que eu finalmente conheceria Poseidon?

Sua camiseta preta abraçava seus braços musculosos e bronzeados.


Não volumoso como Poseidon, mas magro como o corpo de um nadador. —
Não entendo. Como isso... como isso é possível? — Sem aviso, ele me
abraçou, fungando.

Lágrimas rolaram pelo meu rosto enquanto eu envolvia meus braços


firmemente ao redor dele. — Posso explicar tudo, mas não abertamente
assim.

— Certo. Sim. Hum. Eu sei onde podemos ir. — Ele se afastou,


rapidamente virando o rosto para longe de mim e enxugando o rosto.

Depois de trotar para sua bolsa abandonada no cais, ele correu de volta
para mim, enrolando o braço em volta dos meus ombros com um sorriso largo
e me levando para longe.

8
Turtle: Significa em inglês tartaruga.
— Então, deixe-me ver se entendi direito. Você reencarnou um número
insuperável de vezes graças ao feitiço de Afrodite, mas nunca se lembrou de
quem você era? E mesmo que papai visse você, ele não teria reconhecido
você se não tivesse mudado por causa da maldição de Athena? Triton sentou-
se à minha frente com o mesmo olhar de estrabismo que Poseidon fazia
quando confuso.

Ele nos levou para a casa de barcos em que ficou quando ancorado em
San Diego. Era pitoresco, masculino e surpreendentemente bem conservado.

Bati meus dedos na mesa de apetrechos entre nós. — Eu te dei a


versão curta, mas sim. Assim que seu pai me reconheceu, pouco a pouco,
comecei a me lembrar.

— E vocês dois estão juntos novamente? Feliz? E quero dizer


genuinamente feliz, não apenas fingindo salvar a cara? Triton inclinou a
cabeça para o lado, olhando para minha expressão.

Sem dúvida tentando me pegar em uma mentira.

— Nós dois mudamos. E sim. O que somos agora é tudo que eu sempre
quis. — Eu respirei fundo. — Ele... e minha família.

Triton lambeu os lábios, sorrindo apenas com os olhos antes de ficar de


mau humor em sua cadeira. — Ele lhe contou sobre Rhode?

Eu pressionei meus cotovelos contra a mesa. — Sim. Nós vamos atrás


dela.

Os olhos brilhantes de Triton estalaram para os meus. — Você sabe


onde ela está?
— Ainda não. Mas Zeus, de todas as pessoas, nos deu uma vantagem.

— Vou com você assim que descobrir. Sua mandíbula se apertou.

— Triton, eu...

Ele ergueu a mão, interrompendo minhas palavras. — E não estou


aceitando não como resposta. Ela é minha irmãzinha, e eu quero ajudar. Não
sou mais um guppy, mãe. Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.

Lágrimas encheram meus olhos, e eu suspirei, recostando-me na


cadeira. — Não, você certamente não é. — Inclinei-me para frente,
deslizando minha mão sobre a dele que estava sobre a mesa. — Eu sinto
muito, muito, eu não estava lá para ver você crescer.

Ele colocou a outra mão sobre a minha. — Eu sei que você é.


Honestamente, faz tanto tempo que nem estou mais bravo com isso. Durante
minha adolescência? Oh, eu estava com tanta raiva, eu faria mini tufões no
meio do oceano, mas – Eu acabei aceitando. E pai. Ele realmente se
intensificou.

— Estou tão feliz em ouvir isso. — Apertei sua mão com um sorriso
caloroso antes de me sentar.

— Além disso, as memórias que eu tinha de você quando eu era


criança – Mãe, você era a melhor. Eu apreciava aqueles momentos que nós
três passamos juntos. Os jogos. O riso. A natação. Foi o suficiente porque eu
nunca pensei que você voltaria. Ele coçou a parte de trás de sua cabeça,
revelando a pequena tatuagem de tridente no interior de seu bíceps. — Eu
sinto muito. Você queria alguma coisa para beber ou comer ou... não tenho
muito, mas poderia nos conjurar alguma coisa?

Eu acenei minha mão. — Estou bem. Mas eu quero ouvir mais sobre o
Ouriço-do-mar. Como tudo isso começou?
— Na verdade, começou quando eu quase fui pego. — Ele sorriu,
batendo o punho contra a mesa. — Esses baleeiros, mãe. São notícias
horríveis. Eles se disfarçam de 'Navios Científicos', mas tudo o que estão
fazendo é massacrar milhares de baleias. Eu ataquei um navio usando meus
poderes e um dos tripulantes tirou uma foto com seu celular.

— Olimpo. O que você fez?

— Fiz uma onda no convés, varreu a maldita coisa para as profundezas.


— Triton balançou a cabeça, cruzando os braços com um suspiro.

— Pensamento rápido. — O orgulho cresceu em meu peito pelo


homem que meu filho se tornou. — E é por isso que você começou o Ouriço
do Mar como um mortal.

— Sim. Quer dizer, não me entenda mal, eu ainda uso meus poderes,
mas não na extensão que eu gostaria. Espero que agora que você é rainha
novamente, parte da caça às baleias pare.

— Farei o que puder.

— Então, me diga, Cordelia – o que você tem feito todo esse tempo
nesta vida? Biologia Marinha? Surfando como papai? — Triton riu, enrugando
a pele nos cantos dos olhos.

— Biologia Marinha? Sim, eu não acho que em nenhuma das minhas


vidas eu poderia ter durado tanto tempo na escola. — Eu ri, entrelaçando
meus dedos na minha frente. — Sou oceanógrafa e administro uma instituição
de caridade de conservação oceânica com minha amiga Meg.

— Não é nada surpreendente. — Ele bateu na minha mão com um


dedo e um sorriso.

— Eu também sou uma jogadora profissional que transmite no Glitch


toda semana. — Mudei meu olhar para as palmas das mãos, apertando os
olhos.
— Você acabou de dizer que é uma jogadora profissional ? Que jogo?
— Triton pressionou os antebraços na mesa, seus olhos brilhando.

— Tides of Atlantis .

Triton deu um tapa na mesa. — Puta merda. Mãe, isso é incrível. Sem
mencionar incrivelmente legal.

— Sim? Achei que você acharia que eu era uma idiota ou algo assim.

— Você está de brincadeira? Faz todo o sentido, também, com o


quanto eu me lembro de você adorando jogos. É ótimo que você tenha
encontrado algo para te fazer feliz além do oceano.

— Ah, você quer dizer o videogame sobre o oceano? — Eu ri,


descansando meu queixo na minha mão.

— Ei. — Triton jogou as mãos para cima. — Não envolve se molhar.

Eu suspirei, olhando para o meu lindo filho, colocando seu rosto na


memória. — Estou tão orgulhosa de você, Triton.

Suas bochechas ficaram vermelhas e ele coçou a nuca — outro gesto


que herdou de seu pai. — Uau. Nunca pensei que ouviria isso da minha mãe
novamente.

— Bem, acostume-se. Tenho muito tempo perdido para compensar.

— Desde que não envolva surras ou me envergonhe na frente dos meus


amigos, estou no jogo. — Ele piscou para mim com um sorriso largo.

— Ah, entendi. Então, você está dizendo que da próxima vez que eu
fizer uma visita surpresa às docas, eu deveria dar um grande beijo molhado na
sua bochecha na frente de sua tripulação? Eu balancei minhas sobrancelhas.
— Ei agora. — Ele apontou para mim. — As piadas sobre você. Eles
ficariam com ciúmes de suas próprias mães gostosas não estarem lá.

Minhas bochechas aqueceram, e eu balancei a cabeça, rindo. — Oh,


pare, Triton.

— Estou feliz que você esteja de volta, mãe. Eu realmente sou. E assim
que encontrarmos Rhode... estaremos todos juntos novamente.

Suspirei, fechando os olhos e imaginando. — É tudo o que sonhei desde


o momento em que me lembrei de quem eu era, honestamente.

— Nós vamos encontrá-la. Você não desiste de nada depois de decidir.

— Você se lembra disso, não é? Eu sorri.

Uma risada brotou de seu peito. — Papai certamente sabe.

Eu me juntei à risada, e ela continuou por um minuto sólido até que nós
duas enxugamos as lágrimas dos cantos dos olhos dela enquanto elas
paravam. — Isso foi bom, mas eu deveria sair do seu pé. Eu sei que apareci
do nada e — Eu me levantei, mas cortei minha frase uma vez que Triton
apareceu na minha frente.

— Sair do meu pé? Mãe, não te vejo há centenas de anos. O único


lugar que eu quero estar agora é aqui com você se reencontrando. — Ele
apertou meus ombros antes de me puxar para outro abraço. — E
provavelmente pelo menos mais uma dúzia destes.

Rindo, eu o abracei de volta, positivamente radiante por dentro. — Tudo


bem. Combinado.

Passamos horas conversando, relembrando, rindo, e o reencontro foi


tudo o que eu poderia esperar. Estávamos no meio de um jogo de Mãos
Vermelhas, tentando dar um tapa no outro, quando Poseidon apareceu,
lançando um spray de mar por toda a cabine.
— Eu tinha muitas coisas em mente que eu iria andar no meio, mas
minha esposa tentando dar um tapa na parte superior das mãos do meu filho
não era uma delas. — Poseidon arqueou uma sobrancelha.

Sorrindo, saltei da mesa, passei meus braços em volta do pescoço dele


e o beijei.

— Faz séculos desde que eu vi, e ainda é tão nojento quanto eu me


lembro — Brincou Triton.

Poseidon riu. — Como você está, filho?

Triton estendeu a mão para um aperto, e os dois deuses viris


começaram a fazer o que eu chamei de abraço de mano.

— Eu estava indo muito bem antes, mas agora — Triton me deu um


sorriso. — Melhor ainda.

Minha palavra. Ele era muito parecido com o pai.

— Fico feliz em ver que a reunião está indo bem. — Poseidon passou
um braço ao redor dos ombros de Triton e o outro ao redor dos meus quadris,
nos puxando para os seus lados. — Eu tenho algumas noticias.

— Oh? — Olhei para ele.

— Eu rastreei Kairos.

Ofegante, eu me virei para olhar para ele. — Você o encontrou?

— Sim. Podemos ir quando você estiver pronta, mas não quero


apressar vocês dois.

Triton deu um tapa forte nas costas de Poseidon. — Se isso é sobre


Rhode, vocês dois deveriam ir. Mamãe e eu temos muito tempo para nos
atualizar.
Apertei a mão de Triton

— Você está pronta então, S5? — Poseidon arrastou os dedos pelo


meu braço.

— Vou lhe dizer a mesma coisa que disse à mamãe. Quando você for
atrás de Rhode, eu vou com você. Eu não me importo onde ou quando. Eu
estarei lá. — Triton rolou os ombros para trás, ficando da mesma altura que
Poseidon.

— Eu não esperaria nada menos, meu garoto. — Poseidon bateu a


mão no ombro de Triton antes de estender a mão para mim.

Apertei minhas mãos e voei para Triton, levantando na ponta dos pés
para beijar sua bochecha. — Vejo você em breve.

— Eu sei, mãe. Agora vá. — Ele deu um sorriso tranquilizador.

Eu não tirei meus olhos do meu filho quando Poseidon passou os braços
em volta de mim e nos levou para longe.

Aparecemos em um pátio ladrilhado na frente de um prédio caiado de


branco com telhado verde. Luminárias de ferro pendiam das paredes entre
cada abertura de arco arredondado que levava para dentro.

— Onde estamos? — Eu perguntei enquanto Poseidon me levava para


dentro.

— Marrocos.

No interior, as arcadas continuavam, e uma fonte de pedra se erguia no


centro da sala ao lado, cercada por pilares e bancos arredondados. Mais
adiante, o caminho ladrilhado se transformou em um vibrante tapete vermelho
com intrincados desenhos de mosaico. Dobrando uma esquina, eu engasguei
com as prateleiras de livros do chão ao teto – fileiras e mais fileiras deles.
— Uma biblioteca? — Eu sussurrei, mesmo que não houvesse outra
alma à vista.

— A mais antiga do mundo moderno. — Poseidon apertou minha mão,


levando-nos a uma sala cheia de mesas e cadeiras de madeira.

— E Kairos está aqui?

Nós nos mudamos para uma sala com uma mesa grande e singular na
frente da sala. — Ele é o curador. — Poseidon girou em círculos, procurando,
e ainda segurando minha mão, me trazendo com ele. — Kairós?

Um homem apareceu com um livro vermelho murcho nas mãos das


sombras. Havia muito pouco cabelo em sua cabeça, mas o que restava era
totalmente branco junto com a longa barba que pendia de seu estômago. Ele
olhou para nós através de seu monóculo.

— Como você conhece esse nome? — O homem perguntou, fechando


o livro com força, levantando poeira.

— Estamos sozinhos? — Poseidon girou o dedo no ar.

O homem descansou os punhos nos quadris. — Sim.

— Eu sou Poseidon.

— Tio Poseidon. Não tenho certeza se já nos conhecemos. — O


homem sorriu, e em um redemoinho de papel rasgado e números brilhantes,
ele se transformou em um jovem com uma única mecha de cabelo caindo da
testa até aos quadris.

Poseidon olhou para mim com um sorriso malicioso antes de mover seu
olhar de volta para Kairós. — Você vai ter que me desculpar se eu perdi o
rastro dos filhos do meu irmão.
— Nenhuma ofensa foi tomada em menor grau. — Kairós acenou com
a mão. — Como posso ajudá-lo?

— Estávamos esperando... — Dei um passo à frente e fiz uma pausa.


— Desculpe, isso foi rude. Eu sou Cordelia. Anteriormente conhecida como...
Amphitrite.

Kairós sorriu largamente e apertou as pontas dos dedos. — O Rei e a


Rainha dos Mares finalmente se reuniram. Que delícia. Eu rastreei você por
todas as suas vidas, você sabe. Meu, meu, você teve algumas vidas .

Esfreguei a nuca. — Você está me dizendo. Mas esperávamos que você


pudesse nos ajudar a encontrar nossa filha. Ela foi puxada por um portal na
Atlântida, e achamos que pode ter sido em outra época.

— É de Rhode que você fala, eu presumo?

— Sim. — Poseidon respondeu com uma carranca.

Kairós assentiu, juntando os dedos. — Eu posso ver o que o universo


me diz, mas eu precisaria de algo dela.

— Alguma coisa – Mas como poderíamos — Eu comecei, sentindo meu


corpo como se eu realmente tivesse um item de sua posse.

— Aqui.— A voz de Poseidon explodiu, removendo uma das pulseiras


de seu pulso. Um simples feito de barbante com um búzio singular no centro.

Toquei a dobra de seu braço com uma sobrancelha enrugada.

— Quando ela tinha oito anos, ela nos fez pulseiras da amizade e me
deu esta dizendo que era dela. Nós nunca os tiramos. — Ele sorriu, mas o
desamparo o turvou.

— Ah, Poseidon. — Engoli em seco e empurrei meu rosto contra seu


ombro.
— Isso funcionará bem. Obrigado. — Kairós disse, enrolando a pulseira
na palma da mão e fechando os olhos.

Uma faixa circular de faíscas brilhantes se enrolou ao redor dele,


formando uma hélice antes de se estabelecer como uma auréola circulando
seu peito. Estrelas cadentes arquearam-se sobre sua cabeça, seguidas por
rochas flamejantes, gêiseres de lava vulcânica e números descendentes —
eles giraram e giraram até que abruptamente pararam.

Os olhos de Kairós se abriram, brilhando em vermelho. — 1719. O


caribenho.

— Essa ainda é a era de ouro da pirataria. — Poseidon murmurou.

O medo queimou minha espinha. — Pelo Olimpo.

— E ela está viva. — Kairós adicionou antes que ele exalasse e seus
olhos voltassem ao normal.

— Já lhe disse tudo o que posso. E, infelizmente, não tenho meios de


transportá-lo para lá, nem conheço nenhum deus com o poder de fazê-lo.
Kairós juntou os dedos novamente depois de entregar o bracelete para
Poseidon.

— Tem que haver alguém. — Bati a mão na testa.

— Eu conheço uma pessoa, mas não estou muito interessado no risco


que correríamos de liberar o idiota furioso. — Poseidon amarrou a pulseira de
volta em seu pulso, aninhando-a com as outras.

— Cronos? Tártaro nº1. Acabei de te encontrar de novo. A última coisa


que preciso é que você seja comida.

Poseidon agarrou uma das presilhas do meu cinto e me puxou para ele.
— Nós descobriremos isso. Agora que sabemos onde ela está, isso tornará as
coisas muito mais fáceis.
— Posso ajudar vocês dois com mais alguma coisa? — Kairós cruzou
as mãos atrás das costas.

— Você tem sido uma grande ajuda, Kairós. Obrigada. — Enfiei minha
mão na de Poseidon.

— A qualquer momento. — Kairós curvou-se, transformando-se no


homem mais velho antes de ir embora.

— Você acha que ela se misturou com piratas? — Poseidon esfregou o


queixo, lançando adagas no tapete vermelho.

— Não. Há muito mais no Caribe naquela época além da pirataria.


Certamente ela é uma comerciante ou estudiosa ou…

Poseidon me encarou, e nós dois sabíamos, dados seus poderes, a


probabilidade do que seria uma cobertura ideal para ela, mas nenhum de nós
queria dizer isso em voz alta.

Pirata.
Nós quebramos nossos cérebros por dias, perguntando a dezenas de
outros deuses que poderiam ter o poder de viajar no tempo, e continuamente
saímos vazios. Era uma sensação estranha possuir tanto poder quanto a
Rainha dos Mares, mas impotente para encontrar minha filha. Eu tinha
prometido a Meg que minha transição não afetaria nossa amizade e já tinha
ficado em silêncio sobre ela desde que me envolvi em encontrar Rhode.

Bati na porta da frente, alisando minha camisa enquanto esperava que


ela respondesse. O riso flutuou do outro lado — De duas pessoas. Sorrindo,
eu chupei meus lábios quando a porta se abriu. Meg estava sorrindo, e o
sorriso se alargou quando ela me viu.

— Cory, santo inferno. Não tenho notícias suas há dias. — Meg me


puxou para ela para um abraço.

Eu a abracei de volta, espiando a porta da geladeira aberta na cozinha


com uma mão pálida em volta da maçaneta. — Me desculpe por isso. Eu
estive...

Espere. Meg sabia que eu era uma deusa, mas não sabia que Hera não
apenas sabia, mas também era uma. Quando minha vida se tornou tão
complicada?

— Ocupada com algo muito importante. — Dei uma piscadela


exagerada para Meg.

Ela se inclinou para trás até que a compreensão lentamente ocorreu a


ela, e ela assentiu. — Certo. Sim. Muito importante.

— Ei, Hera. — Eu disse em direção à cozinha com um sorriso.


A cabeça de Hera saltou por cima da porta da geladeira. — Amp-er,
Cordelia.

— Vejo que vocês duas estão se conhecendo bem. — Apertando


minhas mãos na minha frente, eu cutuquei Meg nas costelas.

— Acho que passamos quase todos os momentos de vigília juntas nos


últimos dias, não é? — Meg passou um dedo pela ponte do nariz, olhando
para Hera de lado.

Hera apoiou os antebraços na porta da geladeira ainda aberta, e com o


queixo apoiado em um braço, sorrindo, ela respondeu: — E eu não estou
reclamando nem um pouco.

As bochechas de Meg ficaram rosa pálidas.

Mordi o interior da boca para não gritar como uma adolescente. — Eu


esperava, se estiver tudo bem para você, Hera, eu poderia pegar minha amiga
emprestada por algumas horas?

— É claro. Você a viu primeiro. — Hera piscou, batendo as unhas


vermelhas na porta com um sorriso.

Meg sufocou uma risada antes de erguer as sobrancelhas para mim. —


O que você tem em mente?

— É uma surpresa. Encontro você no jipe?

— Claro. Ok? — Meg torceu o nariz antes de se mover para a porta.


— Sinta-se à vontade para ficar aqui. Ah, e bisbilhote se quiser. Não tenho
nada a esconder. — Rindo, Meg bateu a mão no batente da porta antes de
sair.

Isso faria um deles.


Depois de ouvir os passos de Meg desaparecerem, corri para a cozinha.
— Você já contou a ela?

— Disse a ela? Disse a ela o quê?

A porta da geladeira rangeu quando ela se apoiou nela, seus pés


descalços se arrastando no chão de ladrilhos.

— Você sabe exatamente do que estou falando. — Apertei os olhos


para seus pés e avancei até seus braços.

— Claro, eu não tenho. — Hera cuspiu em um sussurro alto.

— Por que você ainda está na geladeira?

Hera estalou a língua no interior de sua bochecha. — Estou nua.

— Oh. — Eu arregalei meus olhos. — Ah . Ah merda. Interrompi


alguma coisa?

— Não. Você não fez. Eu sou apenas eu e saí do banheiro assim para
surpreendê-la.

Eu cruzei meus braços. — Por que você não conjura roupas em si


mesma?

— Porque... — Ela suspirou e bateu a testa contra o braço. — Meus


poderes não estão agindo normalmente. Desde que cortei os laços com Zeus,
um dia eu poderia ser avassaladora e no outro praticamente mortal.

— Isso é estranho. Talvez seus poderes estejam se reajustando?


Voltando ao jeito que eram antes de se tornarem Rainha?

— Eu espero que você esteja certa. — Ela mordeu a unha do polegar.

— Você deveria dizer a ela. Ela já conhece nosso mundo, o que lhe dá
uma enorme vantagem.
Hera bateu a mão na porta. — Você contou para ela?

— Ela é minha melhor amiga. Eu não podia esconder isso dela. E ela
aceitou surpreendentemente bem, considerando todas as coisas.

— Uau. — O olhar de Hera caiu para seus dedos. — Nós tivemos uma
coisa boa acontecendo. Não queria arriscar estragar tudo.

— Diga a ela. Areje tudo, deixe-a processar, e eu prometo a você, não


vai mudar nada. O que vai mudar é você cem por cento ser capaz de ser você
mesma perto dela e, o mais importante, sem mentiras. Eu dei um tapinha no
braço dela.

— Vou pensar, Amph. Ela deu um tapinha na minha mão de volta. —


Obrigada.

Eu estalei meus dedos. — Ah, e eu sei que é uma coisa pequena, mas
agora é Cordelia. Amphitrite é um nome trancado em uma garrafa arrolhada
no mar.

Hera sorriu e assentiu. — Cordelia é. Eu gosto disso.

— É melhor eu ir antes que ela suspeite. Ela é incrivelmente intuitiva. —


Dando um último aperto no braço dela, eu me virei.

— Eu sei. — Hera sorriu, seus olhos indo para quem sabe onde. Um
vestido se materializou sobre seu corpo, e ela engasgou. — Bem, olhe para
isso.

Sorrindo, saí do apartamento de Meg e a encontrei no estacionamento.


Ela se encostou no meu jipe, os pés cruzados no tornozelo, mastigando um
palito de dente e olhando para o asfalto.

— A verdadeira razão pela qual estou desaparecida há alguns dias é


que tenho encontrado informações sobre onde minha filha está, Meg.
— Jesus. Você tem filhos. Eu já esqueci. — Meg agarrou meu ombro.
— Espere. Você disse que ela está desaparecida?

— Um acidente na Atlântida e uma história que eu juro que explicarei na


íntegra algum dia. — Eu puxei sua jaqueta com um sorriso caloroso.

Considerando que Meg aprendeu recentemente que a mitologia grega


era tudo menos mito, tentar descrever a Atlântida e a maneira como ela
funciona parecia implorar para que sua cabeça explodisse.

— Atlantis. — Meg murmurou, olhando para o chão.

— Isso também é real. — Depois de dar um tapinha no braço dela, subi


no jipe, assobiando para ela para chamar sua atenção.

— Antes de sairmos, eu tenho algo para você. — Ela empurrou um


saco plástico rosa para mim com um braço rígido.

Franzindo a testa, peguei a bolsa, mas não olhei dentro dela. — Não é
meu aniversário.

— Apenas. Abra, Cordelia.

Quando olhei para dentro, reconheci o logotipo da Funko e engasguei


antes de puxar a caixa para fora. O brinquedo Poseidon de Tides of Atlantis .
Não se parecia em nada com o verdadeiro Poseidon – meu Poseidon – mas
era a versão que eu conhecia dele em minha vida mortal como Cordelia
Bourne. Ele tinha longos cabelos brancos passando pelo peito com uma barba
igualmente longa, misturando-se. Tentáculos verdes de polvo substituíram
suas pernas, fazendo-me franzir a testa ao pensar em Skylla, mas o habitual
tridente radiante de três pontas continuaria sendo sinônimo do Rei dos Mares.

— Eu prometi que se você ficasse no torneio, eu compraria para você,


lembra? — Ela cutucou meu joelho.

— Eu lembro. — Apertei sua coxa com um sorriso. — Obrigada.


— Então, você é uma deusa agora? Uma deusa de pleno direito? Meg
me perguntou com os olhos arregalados enquanto engatinhava no banco do
passageiro no piloto automático.

— Eu sou. Rainha dos Mares e tudo. — Depois de lhe dar um sorriso


caloroso, coloquei meus óculos escuros e saí do estacionamento.

— Você não parece diferente.

— Bem, bom. Seria uma verdadeira chatice se os mortais pudessem


dizer que eu não era um deles.

Meg estendeu a mão pela janela, deixando o vento acariciar seus dedos.
— Para onde vamos, Cory? Você sabe que eu odeio surpresas. Especialmente
se isso for da variedade divina.

— Vamos nadar.

— Nadar?

Bati minhas mãos no volante ao som de Além do Mar. — Sim. Com


tubarões. E tudo que você precisa é um tanque. — Cortando meu olhar, eu
peguei sua expressão beirando a excitação e terror.

— Eles não gostam de mim. Quem pode dizer que eles vão te ouvir?

— Ah, eles vão ouvir. Os tubarões temem mais os humanos do que o


contrário. O medo é tão potente quanto o sangue na água. — Parando no
estacionamento da praia, fui para os fundos, pegando o tanque de mergulho e
o equipamento.

Meg fechou a porta do carro e veio em minha direção. — Nós estamos


seriamente fazendo isso? E se as pessoas virem?
— Eles não vão. — Entreguei-lhe o equipamento. — Vou nos levar
para longe das armadilhas para turistas e diretamente debaixo d'água, então
verifique seu regulador e vista-se, minha querida.

Ela pegou o tanque e deixou seus braços caírem. — Retiro minha


declaração. Você definitivamente não é a mesma.

Eu fiz uma careta quando me virei para caminhar ao longo da costa. —


Isso é uma coisa ruim?

— Não. Você está mais confiante. Confortável. Como se você tivesse se


acomodado em sua própria pele. — Meg me deu um soco no ombro.

— Eu tenho. E Poseidon ele — Eu apertei minhas mãos no meu peito,


já sentindo falta dele. — Somos uma força a ser reconhecida agora.

— Um casal poderoso. Eu cavo. — Meg pendurou a regata sobre os


ombros depois de vestir sua roupa de mergulho.

Longe o suficiente de qualquer multidão, parei, deixando as ondas da


água baterem em meus dedos dos pés, esperando Meg terminar de se
preparar.

— Basta falar como normalmente fazemos. Eu serei capaz de ouvi-la. —


Eu sorri para ela, ficando na ponta dos pés para puxar uma mecha de cabelo
de sua máscara. — Preparada?

Ela deu um polegar para cima.

Depois de enrolar nossos braços juntos, eu nos levei para as


profundezas onde nadavam vários tubarões-martelo. Meg engasgou, e eu a
agarrei com força para evitar que ela fugisse no local.

— Confie em mim — Eu disse, flutuando para os tubarões e estendendo


minhas mãos para eles.
Ambos nadaram sob meu toque, deixando minhas pontas dos dedos
percorrerem suas mãos e descerem por seus corpos e cauda. Eles repetiram
o movimento, virando-se assim que chegaram ao fim, apenas para receber
carícias novamente.

— Venha aqui, Meg. Eu prometo que eles não vão te morder.

Depois de algumas respirações profundas de sua parte, ela apareceu ao


meu lado com as mãos trêmulas. Gentilmente, peguei um e o segurei. Um
tubarão continuou a circular sob meu toque enquanto o outro mudou para
Meg.

Meg engasgou e riu. — Isso ... Isso é incrível.

Fechando os olhos, desejei que minhas escamas aparecessem, me


sentindo mais em casa com elas irradiando da minha pele. Meg sorriu para
mim por trás de sua máscara, seus olhos brilhando para o tubarão.

— Siga o meu comando. — Virei-me de barriga para baixo, nadando no


estilo de um golfinho sem minha cauda de sereia.

Os tubarões mudaram de rumo, parando em cada lado de mim.


Chutando suas nadadeiras, Meg nos alcançou, e nadamos juntas, cada uma
com um tubarão à nossa direita.

— Uau! Isto. É. Incrível! — Gritou Meg, erguendo os punhos para o alto


e rindo.

Sorrindo, parei de nadar, sintonizando meu ouvido com as ondas


sonoras familiares pulsando no mar. Um grande tubarão branco emergiu das
sombras escuras abaixo de nós, fazendo Meg gritar e nadar atrás de mim. Os
cabeças-de-martelo se afastaram.

Enrolei um braço atrás de mim, dando um tapinha tranquilizador no


braço de Meg. — Eu prometo a você, você está bem. Ela é curiosa.
O grande branco flutuou até ficarmos cara a cara. Ela era uma das
maiores que eu já tinha visto em cerca de seis metros. Ela tinha várias
cicatrizes sobre as guelras e em direção ao pescoço – Algumas do
acasalamento, outras do Olimpo sabe o quê. Ela tinha um brilho exausto em
seus olhos que sufocou meu coração.

Alcançando cada lado da enorme cabeça do tubarão, apertei nossas


testas e fechei os olhos. Sugando cada grama de dor e cada tentáculo de
tristeza dela para mim, transmiti uma fração da verdadeira felicidade
florescendo dentro de mim. Minhas escamas zumbiam contra minha pele.
Pouco a pouco, o brilho no olhar do tubarão voltou. Abri meus olhos, sorrindo
para sua mudança de comportamento. Depois de beijar a ponta de seu nariz,
ela sacudiu o rabo e nadou para longe. Quando me virei para Meg, ela flutuou
imóvel com os olhos arregalados como boias.

— Se de alguma forma eu não estava totalmente convencida de que


você era quem você diz que é, não há como negar agora. — Ela disse, seus
olhos ainda arregalados.

Eu puxei as alças de seu tanque. — Você está bem? Quer encerrar o


dia?

— Você está de brincadeira? Vamos fazer isso até meu suprimento de


ar acabar.

Rimos e nadamos com tubarões, baleias, golfinhos e todas as outras


variedades de animais que Meg pediu para a próxima hora. O puro deleite que
irradiava dela em ondas intermináveis me deu toda a segurança que eu
precisava de que não apenas Meg estava se ajustando ao verdadeiro eu, mas
também o aceitando.
Sentei-me à minha mesa, percorrendo centenas de fotos de um
mergulho recente, marcando a primeira rodada de candidatos para edição e,
eventualmente, vendendo para revistas. Inclinando a cabeça para o lado, notei
uma bolha familiar no fundo de uma foto e dei zoom. Estas foram tiradas antes
do cruzeiro - Antes de me lembrar de quem eu era, e havia Poseidon como
uma miragem, mal capturada na lente. Ele pode ter parecido madeira flutuante
e algas marinhas para o olho humano, mas eu reconheci meu marido pela
forma como seu cabelo flutuava sozinho na água.

— Parece que fui pego. — A voz de Poseidon retumbou perto do meu


ouvido.

Sorrindo, eu girei na minha cadeira para encará-lo, recebendo o beijo


que ele imediatamente mergulhou para dar. — Eu não posso acreditar que
você estava lá o tempo todo, e eu não tinha ideia.

— Era o seu cérebro semideus menos avançado. — Ele bateu no topo


da minha cabeça.

Eu o afastei com uma risada.

— O que nos Sete Mares é isso? — Poseidon apontou para o Funko


Pop Meg que me comprou exibido na minha mesa de jogos.

Mordendo de volta um sorriso, eu segurei a figura para ele. — Poseidon.


Você não se reconhece?

— Isso não parece nada comigo. E por que o Tártaro eu tenho pernas
de bruxa do mar? — O tamanho de sua mão fazia a figura de tamanho
modesto parecer microscópica.

— Apenas outra representação sua, hein. Como os mortais saberiam


como você é? Eles tinham que inventar algo para o jogo.

Ele resmungou e empurrou a figura de volta para mim. — Lembre-me


de escrever uma carta para a empresa de videogames.
Rindo, peguei a figura e a coloquei de volta na minha mesa. — Eu levei
Meg para nadar com os tubarões hoje sem gaiola. Você deveria ter visto o
rosto dela, querido. Meu peito zumbiu.

— Sem brincadeiras. Deve ter sido alguma experiência para uma


mortal. Vantagens de ter uma deusa rainha como melhor amiga, hein? — Ele
bateu um dedo contra minha bochecha.

— Eu devo terminar aqui muito em breve. — Preguiçosamente, apontei


para o monitor do computador.

— Pode esperar? Há algo que preciso fazer, e temo que, se não fizer
enquanto tenho coragem, vou desistir. — Ele estalou os dedos.

De pé, passei a mão sobre seu pulso. — O que é isso, Seid?

— Medusa. Vou me desculpar.

Meu queixo caiu, e ele enfiou um dedo sob meu queixo para fechá-lo. —
Mas você quer que eu vá com você? Isso não iria apenas irritá-la ainda mais?

— Duvido. Você não fez nada. Preciso que ela veja que não há jogo
sujo. Eu farei toda a conversa. Eu só preciso da sua presença lá. Por favor,
Starfish? — Ele descansou as mãos em cada um dos meus ombros.

— Sim. É claro. — Enfiei minha mão na dele, esperando que ele nos
levasse para onde quer que Medusa se escondesse.

Aparecemos na frente de uma caverna escura e um calafrio percorreu


meus ossos. Apertei a mão de Poseidon e ele me puxou para mais perto.

— O poder da Medusa funciona nos deuses? — Eu sussurrei, meu


lábio inferior tremendo do frio úmido dentro da caverna quando entramos.

— Não reis ou rainhas. — ele respondeu simplesmente, sua mandíbula


apertando.
Eu me enrolei ao seu lado assim que a fumaça contornou o chão de uma
caverna próxima. Sons de assobio reverberaram nas paredes enquanto nos
aproximávamos. Ao virarmos a esquina, Medusa estava sentada em uma
única cadeira de madeira em uma mesa de madeira simples no centro de uma
sala de pedra, formações rochosas penduradas no teto – Irregulares e mortais.

— O que diabos você está fazendo aqui? — Medusa rugiu, batendo as


palmas das mãos na mesa e se levantando.

Todos os cabeças de cobra estalaram em nossa direção, assobiando e


mostrando suas presas. O rosto de Medusa permaneceu lindo com profundos
olhos castanhos brilhando amarelos em certos ângulos de seu poder, lábios
carnudos e maçãs do rosto salientes – Mas séculos de dor e sofrimento se
estabeleceram em seu olhar.

— Medusa — Poseidon começou, erguendo as palmas das mãos. —


Juro sob pena de morte que vim fazer as pazes.

— Morte? O que você teria a temer de uma coisa dessas? Você, rei
deus, nunca é punido devido ao seu status, muito menos morto. — Ela cravou
suas longas unhas pretas na madeira, a cauda de seu corpo de cobra
enrolada em torno de uma das pernas.

— O que ele diz é verdade, Medusa. — Fiz a balança aparecer para


provar quem eu era. — Eu posso atestar isso. Se você apenas ouvisse ele.

Seu rosto suavizou por uma fração de segundo antes de endurecer na


mesma pedra que ela transformou todo o resto.

— Amphitrite. Você foi banida para as estrelas por Zeus. — Medusa


zombou, sacudindo o pulso para Poseidon. — Até sua própria rainha foi
punida enquanto você permaneceu ileso.

— Não é verdade. — Poseidon cerrou a mão livre em punho.


— Estou ouvindo. — Medusa estalou as unhas, seu corpo de cobra
movendo-se de trás da mesa.

— Athena me amaldiçoou também depois do nosso encontro. Afrodite


criou um feitiço de reencarnação para trazer Amphitrite de volta, mas ela não
se lembraria de quem ela era sem mim.

Medusa bocejou, sacudindo um dedo contra o pequeno crânio no centro


do cinto pendurado em seus quadris. — Isso não soa tão cruel quanto o que
ela fez comigo.

— Até que mudei como homem, como deus, eu podia ver Amphitrite,
mas não saberia quem ela era. Ela reencarnou inúmeras vezes, e continuamos
sentindo falta um do outro.

Medusa fez uma pausa e então soltou uma gargalhada vilã, as peças de
metal douradas posicionadas sobre seus seios refletindo o fogo das arandelas
penduradas enquanto seu peito saltava.

Poseidon e eu permanecemos em silêncio. Apesar do quanto doeu ouvir


alguém rir de nossa vida de infortúnios, ela teve que lidar com seus próprios
percalços.

— Eu admito, saber que isso ajuda um pouco, mas — Ela se aproximou


de nós, todas as cabeças de cobra recuando e assobiando para Poseidon. —
Você ainda não foi transformado em uma porra de uma górgona. Você não foi
forçado a viver uma vida de reclusão porque tem medo de transformar
crianças inocentes em pedra – Medo de matá-las.

— E essa é a razão pela qual eu impedi Perseu de matar você . —


Poseidon olhou para uma das cobras, e ela gemeu para longe.

Ele fez o quê?

— O quê? — O rosto de Medusa caiu, assim como as cabeças de


cobra, relaxando.
— Hermes pode ser um tagarela quando está bêbado. Ele me contou
tudo sobre o plano de Perseu. As sandálias que ele lhe dera, o capacete de
Hades, um escudo de Athena. Ele planejou se proteger de sua visão com o
escudo e decapitá-la em seu maldito sono. Poseidon cruzou os braços. — Eu
me ofereci para resgatar sua mãe do rei Sérifo em troca de deixá-la sozinha.

— Eu... — Medusa pressionou a mão em seu peito, deslizando para


trás até esbarrar na mesa, encostando-se nela.

Como se eu não pudesse mais amar esse homem.

— Naquele dia em frente ao templo, fiquei furioso com Athena. Você


estava lá, e eu sabia que você me desejava assim que nossos olhares se
encontraram. Eu perguntei. Você concordou. Mas eu deveria saber que
Athena teria sido uma harpia rancorosa que aconteceu em seu templo. E por
isso, me desculpe. Ela amaldiçoou a nós dois, e eu peço desculpas por tudo
isso. — Poseidon soltou minha mão e fez um pergaminho aparecer em sua
palma, aproximando-se de Medusa com ele.

Medusa se inclinou como se Poseidon fosse bater nela, protegendo seu


rosto com um antebraço. — O que é aquilo?

— Uma oferta de paz. Existe um homem amaldiçoado. Tudo o que ele


toca se transforma em ouro. Para promover a maldição, ele se tornou imortal,
então ele tem que viver com isso pelo resto de sua vida não natural.

— Então? — Medusa deu de ombros.

— Ele não pode transformar você em ouro, e você não vai transformá-lo
em pedra quando ele olhar para você.

As cabeças de cobra da Medusa caíram moles, emoldurando seu rosto


e simplesmente balançando, movendo-se umas contra as outras. Ela traçou
um dedo sobre os lábios, olhando para uma das arandelas.
— Se você decidir que quer conhecê-lo, este pergaminho lhe dirá onde
ele está o tempo todo, sempre que você desejar. — Poseidon estendeu o
pergaminho para ela. — Pegue. Por favor.

Trancando o olhar com Poseidon, ela lentamente deslizou o pergaminho


de sua mão, segurando-o na frente dela como se fosse pegar fogo.

— Espero que você possa encontrar felicidade e companheirismo. Você


não merece viver assim. — Poseidon abaixou a cabeça e se virou, voltando
para o meu lado e pronto para nos levar embora.

— Poseidon — Medusa gritou.

Nós congelamos.

— Obrigada — Ela sussurrou.

Poseidon assentiu uma vez e nos levou embora.

Estávamos de volta ao meu apartamento, e eu pulei em seus braços,


beijando-o profundamente, arrastando meus dedos por seu cabelo loiro. Ele
me segurou contra ele mesmo quando nos afastamos.

— Eu sabia que você mudou, mas Seid, você mudou .

— Um homem tem muito tempo para pensar quando perde o amor de


sua vida e não sabe que terá a chance de fazê-la se apaixonar por ele
novamente.

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, e eu o abracei. — Nós


poderíamos ser despedaçados e jogados no caminho um do outro mil vezes
diferentes, e eu me apaixonaria por você a cada instância .

— Mas graças à Olympus, não precisamos. É isso aqui, Cory. É isso.


— Suas ameaças são tão vazias quanto suas mãos. Porque continuo
tirando a espada deles. — Poseidon caiu na gargalhada.

Olhei por cima do ombro para o meu marido. Nós o equipamos com um
canto do meu apartamento para situar sua própria configuração de jogos,
completa com um monitor, console, controle, cadeira e fone de ouvido melhor.

— Você está realmente entrando nisso, não está? — Falei pelo


microfone do meu fone de ouvido, já que estávamos em um bate-papo durante
o jogo.

— É uma loucura, Cory. Eu vivo esta vida e ainda jogá-la através do


jogo dá um ângulo totalmente diferente. Isso faz sentido? — Os gatilhos de
seu controle faziam sons de estalo enquanto ele trabalhava febrilmente nos
botões.

— Tenho certeza de que sua proeza contra os jogadores de IA e


pontuações consistentemente altas não tem nada a ver com isso, hein? — No
jogo, eu girei meu tridente em volta da minha cabeça antes de esfaqueá-lo no
próximo inimigo que se aproximava.

— Você me conhece tão bem. — Poseidon riu quando seu


personagem, que ele criou para parecer o mais próximo possível de si mesmo,
jogou o tridente pelo mapa como um dardo, espetando o inimigo em uma
parede de pedra próxima.

— Acha que você já teve bastante prática? Pronto para levar isso ao
vivo e jogar contra outros jogadores? — Pausando o jogo, me virei na cadeira,
deixando um braço pendurado no encosto da cadeira.
— Nós prometemos ao seu público. Eu odiaria desapontá-los. Mas
primeiro... Poseidon enganchou o pé embaixo da minha cadeira e me puxou
para ele enquanto tirava o fone de ouvido.

Os braços de nossas cadeiras se chocaram, e Poseidon alargou as


pernas, me encorajando a balançar entre elas. Pressionando as palmas das
mãos no assento, meus dedos a um fôlego de sua virilha, inclinei-me para
beijá-lo.

— Eu aprecio você fazendo isso, Seid.

Quando me inclinei, fez minha camisa se abrir. Sorrindo, ele deslizou um


dedo para dentro e arrastou seu toque entre os dois seios. — Quão grata? —
Um grunhido enlaçou suas palavras.

— Você esta mal. — Eu dei um tapa no ombro dele com um sorriso. —


Muito agradecida, mas fazemos isso agora, e eu estarei distraída de todas as
formas. Eu preciso de foco total.

Ele franziu a testa, ainda passando o dedo preguiçosamente pelo meu


peito. — Eu odiaria ser o motivo de você perder assinantes. Você nunca me
deixaria viver isso.

— E a eternidade é muito tempo, Seid. — Penteando meus dedos por


seu cabelo, eu sorri largamente.

Ele inclinou a cabeça para o monitor. — Vamos girar isso. Quanto mais
cedo possuirmos jogadores inimigos, mais cedo poderemos chegar à parte de
apreciação da noite. — Depois de beijar a ponta do meu nariz, ele girou em
sua cadeira, se aproximando da mesa e deslizando o fone de ouvido de volta.

Depois de puxar tudo para cima, tamborilei os dedos na mesa,


esperando o moderador iniciar o bate-papo. Não demorou muito para que
vários nomes conhecidos se juntassem, e depois de respirar fundo, liguei a
webcam.
— Ei, navegantes do mar! Eu sei que prefiro o modo gratuito para todos
em Tides of Atlantis , mas hoje à noite pensei em mudar para um pouco de
Team Deathmatch. — Eu sorri, esperando os comentários inundarem a tela.

FriskeeBizkit: Isso significa o que eu acho que significa?

— Se você não adivinhou, nesta quarta-feira, como será toda terceira


quarta-feira do mês, terei um jogador convidado. Todos, por favor, batam suas
barbatanas para Simon Thalassa. — Clicando na webcam situada no monitor
de Simon, coloquei nossos rostos lado a lado no canto da tela.

Poseidon acenou, seus olhos verdes saltando como esmeraldas


brilhantes. — Ei.

MissTacoX : Sensual, eu sei que ele é seu futuro marido, mas me perdoe
por dizer... ele é HAWT.

Poseidon riu, e minhas bochechas aqueceram.

— Eu não poderia concordar mais com você, Misstaco. Vocês estão


prontos para ver a ação do tridente duplo?

HufflePufflenz : Isso será épico!

Meu coração disparou quando um surpreendente ataque de nervos


vibrou no meu estômago. Eu sempre joguei sozinha. Esta seria a primeira vez
ao vivo com um parceiro - Em mais de uma maneira. Quando o primeiro mapa
foi carregado, eu sorri. Eu conhecia bem.

— Simon, vá para a direita, e eu vou para a esquerda. Há uma parede


que alguns jogadores sempre escalam em cima e tentam atirar com flechas.
Vamos vencê-los ao soco.

Poseidon sorriu para mim através da câmera. — Eu gosto do seu estilo.

MissTacoX : Eu não posso nem com esses dois.


Assim como previsto, outro jogador esperou no topo, com o arco
apontado, esperando a primeira seiva correr abaixo.

— Na minha conta, carregue seu tridente, para que ele faça um som e
chame a atenção deles, então agache-se. — Eu tinha meu personagem
esperando na esquina, tomando cuidado para não me mostrar cedo demais.

Ainda sorrindo, Poseidon fez o que eu pedi, seu tridente de ouro


explodindo com luz branca enquanto carregava. O personagem do adversário
virou as costas para mim, lançando uma flecha em Poseidon, mas ele se
agachou a tempo, evitando.

Segurando o botão direito do gatilho, carreguei o tridente para um


ataque pesado, sabendo que levaria vários segundos para o arco recarregar.
Quando o jogador adversário se virou, eu arremessei as pontas do meu
tridente em seu peito, e eles se desmaterializaram para reaparecer em outro
lugar do mapa.

FriskeeBizkit : Você diz épico, eu digo lendário.

Passamos a hora seguinte fazendo duplas com outros jogadores e


dominando o placar a cada partida que passava. Trabalhamos como uma
máquina bem lubrificada, as engrenagens se alinhando com todas as
estratégias e combinações de combate que tentamos. Isso me fez sentir
saudades dos dias em que lutamos juntos em tempo real, mas apreciei a
segurança que acompanhava o silêncio dos mares.

Depois de dizer adeus e desligar, meus braços estavam em volta do


pescoço de Poseidon antes de seu fone de ouvido bater na mesa, minha boca
cobrindo a dele. Ele riu contra meus lábios enquanto me puxava contra ele.

— Eu realmente não acreditava que você pudesse ficar mais atraente.


— Eu disse através de respirações pesadas.

— Eu me esforço para mantê-la adivinhando, Starfish.


Em um redemoinho de spray cintilante, eu nos transportei para Atlantis.
Uma cama enorme com lençóis dourados em relevo repousava no centro de
um quarto cercado por janelas de paredes hexagonais holográficas azuis. Eu o
criei para privacidade com uma visão clara das águas oceânicas ao redor,
incluindo a vida marinha.

— Isso é novo — Poseidon murmurou enquanto examinava a sala.

— Pensei em fazer uma pequena redecoração. — Eu segurei minha


palma para cima, balançando meus dedos, criando gavinhas entrelaçadas de
água. Eles espiralaram em torno de Poseidon, enrolando-se em seus braços,
pescoço e cabelos.

— Mm. Eu tinha esquecido como isso é bom. — Ele fechou os olhos,


seus músculos tensos com cada golpe que eu fazia com a água.

— A água?

Ele voltou seu olhar de pálpebras pesadas para mim. — Sua magia.

— Entrelace comigo, Seid. — Eu sussurrei em seu ouvido.

Seu nariz roçou minha bochecha, um ronronar baixo vibrando no fundo


de sua garganta. Enquanto ele arrastou seus dedos pelo meu braço, sua
magia borbulhou de sua palma, transformando nossos membros em água.
Continuei girando meu poder em torno de nós, o spray borrifando contra
nossas bochechas. Nossos corpos continuamente se transformavam de água
em carne quando nos beijávamos, fazendo com que minhas entranhas se
contorcessem. Como cair de volta em uma piscina esperando, eu o puxei para
mim, nos transportando para a cama e aterrissando de costas nuas.

Ele pousou em cima de mim, prendendo minha cabeça com os braços,


seus tentáculos loiros contornando minha testa. — Bem-vinda ao lar, rainha.

Como se cimentando a declaração através da ação depois de suas


palavras, ele mergulhou em mim, balançando seus quadris contra os meus.
Nossos poderes de água tinham sua própria reunião, criando padrões no ar —
figuras de oito, hélices, raios de sol. A luz que se derramava das águas do
oceano ao nosso redor lançava sombras azuis através das janelas
holográficas, uma arraia manta escurecendo a sala pelos poucos momentos
que levava para passar com cada aba.

Apertando meus joelhos contra seus lados, arqueei-me nos lençóis,


transformando a cama debaixo de mim em água, me amortecendo e
atormentando minha pele. Eu abri meus olhos, olhando para o Rei dos Mares –
Meu igual. Transformando meus dedos em água, tracei sobre seus lábios,
deixando um rastro brilhante que desapareceu com uma volta de sua língua.
Eu arrastei meus dedos pelo seu peito, fazendo arrepios brotarem a cada
toque que passava.

Ele franziu a testa com um grunhido. — Você continua fazendo isso, e


eu vou me desfazer, Cory.

— Desfaça-se comigo então. — Chupando o lóbulo de sua orelha,


continuei meu tortuoso toque líquido, circulando bem na base de seu eixo.

Seus lábios se tornaram um fluxo líquido quando ele mergulhou para


beijar meu pescoço, disparando vibrações pela minha pele e direto para o meu
núcleo. Ofegante, eu desejei que minhas unhas voltassem, cravando-as em
suas costas enquanto eu gritava, ficando tensa ao redor dele. Como eu pedi,
ele se juntou a mim, tremendo e chacoalhando com sua liberação. Depois de
dar um beijo em meus lábios, ele deslizou atrás de mim para o seu lado,
puxando minha bunda contra ele.

Sorrindo, observei uma família de tartarugas marinhas nadando e


arrulhando nos braços de Poseidon. — Você acha que o escudo vai aguentar
agora contra os monstros marinhos?

— Só se podia esperar. Embora eu não me importaria de lutar contra


um ou dois com você novamente. Ele mordiscou meu ombro.
— Estaria mentindo se dissesse que não desejo o mesmo. — Eu ri e
arrastei meu dedo sobre o cabelo nas costas de sua mão.

Seu nariz esfregou atrás da minha orelha. — Agora que Hypnos


permitiu que você controlasse suas memórias passadas, há alguma que se
destaque mais para você?

— A Era Viking — Bastou apenas um pensamento passageiro para


recordá-lo - Os cheiros de sangue e suor, o peso do meu escudo em minhas
mãos, malocas ao longe com musgo crescendo nos telhados.

— Merda, sério? — Poseidon sentou-se em um cotovelo. — Diga-me.

Virei-me de costas, olhando para o meu marido com um pequeno


sorriso. — Eu era uma escudeira.

— Não estou surpreso com isso, no mínimo.

— A memória que continua rolando na minha cabeça é nós deixando


nossa aldeia para conquistar terras. Eu tinha um marido, um ferreiro. Ele
passava todo o tempo que eu estava fora forjando armas e seria o primeiro na
costa quando nossos barcos atracassem, pronto para me receber. Cortando
meu olhar para os olhos de Poseidon, o brilho que eu esperava cortou através
de seu olhar.

— Espero que encontremos alguém que possa nos transportar para


tempos diferentes para que eu possa chutar a bunda desse cara. — Poseidon
me abraçou mais forte.

Rindo, eu o cutuquei com meu ombro. — Há muito tempo. Não


sabíamos que existia um ao outro. Lembra?

— Eu sei... eu sei. Ainda. — Poseidon beijou o lado da minha cabeça.


— Você morreu em batalha naquela vida?
Meu coração ficou pesado, lembrando a distância que senti no meu leito
de morte. — Não. Eu fiquei doente. Meu marido colocou uma espada em
minhas mãos, mas me lembro de empurrá-la de volta para ele porque não
queria ir para Valhalla sem ele. E ele não era um lutador.

— Isso é uau. — Poseidon murmurou.

— Eu faria o mesmo por você, Seid. Se existisse um lugar assim, os


deuses iriam... Caos, talvez? Eu gostaria de ter certeza de que acabamos lá
juntos. Eu me casei com você para a eternidade. — Eu segurei sua bochecha
na palma da minha mão.

Ele me beijou - Delicado e doce antes de roçar nossos narizes. — Eu te


seguiria até às estrelas agora, Cory.

Um portal azul apareceu ao pé da cama, fazendo com que nós dois


pudéssemos ficar atentos. Um homem de cabelos escuros com uma barba
cheia ostentando uma sobrecapa caiu para fora dela. Nós dois nos sentamos
eretos, Poseidon estalando os dedos para fazer um vestido branco esvoaçante
aparecer sobre meu corpo.

Os braços do homem voaram em um X. — Puta merda. Vocês dois


eram...?

— Adivinhe, Heph. — Poseidon resmungou, sem se preocupar em se


vestir enquanto se movia da cama.

— Hephaestus? — Minha sobrancelha disparou. — Eu não vejo você


há séculos. Mesmo antes de ser banido.

Heph estalou os dentes. — Não posso dizer que estive em torno dos
antigos terrenos o suficiente para socializar com a elite do panteão. Portanto,
não se ofenda.

— Eu não estava... — Poseidon me lançou um olhar que sugeria que


eu estaria perdendo meu fôlego se continuasse essa frase.
— O que você está fazendo aqui? — Poseidon cruzou os braços.

Heph deu um passo à frente e baixou o olhar para a metade inferior nua
de Poseidon. — Sabe, esta é a segunda vez que estou nessa situação em
menos de um ano. Eu questiono severamente minhas escolhas de vida. —
Balançando os dedos, Heph tirou um dispositivo quadrado do bolso do paletó.

Deslizando da cama, eu apertei minhas mãos no meu peito, a esperança


formigando minha pele, me dando arrepios.

— A notícia nas ondas é... Heph girou o dispositivo na palma da mão,


fazendo outro portal aparecer atrás dele. — vocês dois precisam fazer uma
viagem no tempo.

Poseidon e eu trocamos olhares, um brilho faiscando em nossos olhares.

— É melhor pegarmos Triton. — Poseidon pegou minha mão.

Espere, Rhode. Sua família está a caminho.

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